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Eu Sou Caspen Callahan

Série Os Callahan’s
Livro 5

Lysa Moura

Este livro contém cenas fortes: tortura, sexo,


abuso físico e psicológico.
Copyright © 2021 Lysa Moura
Copyright © 2021 Eu sou Caspen Callahan
Revisão: Sol Baliski
Capa: Queen Hady
Diagramação: Lysa Moura
____________________________________________________________
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL DESTA OBRA, DE QUALQUER
FORMA OU POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICO, MECÂNICO, INCLUSIVE POR MEIO
DE PROCESSOS XEROGRÁFICOS, INCLUINDO AINDA O USO DA INTERNET, SE
PERMISSÃO EXPRESSA DA AUTORA (LEI 9.610 DE 19/02/1998). ESTA É UMA OBRA
DE FICÇÃO. NOMES, PERSONAGENS, LUGARES E ACONTECIMENTOS DESCRITOS
SÃO PRODUTOS DA IMAGINAÇÃO DA AUTORA.
QUALQUER SEMELHANÇA COM ACONTECIMENTOS REAIS É MERA COINCIDÊNCIA.
TODOS OS DIREITOS DESTA EDIÇÃO RESERVADOS PELA AUTORA LYSA MOURA
Caspen Callahan

Honre a máfia e ela te honrará. Traia a máfia e será seu fim.


Essa é a minha regra. Minha única regra. Sem amor, sem
arrependimento, sem sentimentos fúteis que possam mudar meu
foco, tudo de mim vai para a máfia e sempre será assim.
Mas o que acontece quando a pessoa que você ama precisa
de você?

Lori Callahan
Eu o amava. Eu sabia que ele seria meu único, meu para
sempre. Quando o conheci, minhas primeiras palavras foram:
“Quando eu crescer, irei me casar com você”.
Eu errei. Errei feio, porque não é com ele que estou me
casando.
Tudo mudou e nada restou a mim. Tudo foi tirado de mim,
até o homem com o qual eu ia me casar. Só restou ele, Caspen
Callahan...
NOTA DA AUTORA

Os Callahans estão divididos entre as cidades de Nova Iorque,


Califórnia e no estado de Nevada, principalmente Las Vegas.

Família Callahan de Nova Iorque:


Caspen: Chefe dos chefes: O Chefe ou Don é a maior autoridade
dentro de uma família mafiosa, normalmente controlando-a como
um ditador. Possui muitos amigos na política, mídia e em outras
áreas. Ele é o que tem poder absoluto ou quase absoluto sobre
seus subordinados que o respeitam e muitas vezes o temem
dependendo do seu nível de crueldade. O Don não participa de
conflitos armados e costuma ser alvo de muitos atentados contra a
sua vida.
Lorenzo: O Subchefe: é a segunda pessoa com mais autoridade
da família e deve estar sempre pronto para substituir o Don quando
este falecer, se encontrar incapaz de continuar administrando os
negócios, ou simplesmente quando este se mostrar ausente seja
por uma viagem ou coisa parecida.
Heitor: O Conselheiro: não faz parte de fato da hierarquia mafiosa,
apesar disso é um cargo que constitui a administração da família
junto com o Chefe e o Subchefe. A função de um Conselheiro é
servir de consultor para o Chefe e muitas vezes para o Subchefe
também, dando dicas e conselhos sobre o que deve ou não ser
feito. Na maioria dos casos o Conselheiro é formado em Direito para
dar-lhe ainda mais experiência nos negócios e também defender a
família na Justiça quando necessário. O Conselheiro, assim como o
Subchefe e o Don não se envolvem em conflitos armados. Na
família Callahan, Heitor é irmão dos demais.

Carter: Executor: Capo de Manhattan. Pronto para servir e matar


quem entrar no caminho. Caporegimes: conhecidos também como
Capos ou Capitães, os Caporegimes têm uma função de alta
importância na Máfia, afinal são eles os responsáveis por coordenar
os soldados com ordens e funções. Cada Capo possui um grupo
diferente de soldados que o obedecem. Além disso, os Capos
também são responsáveis por administrar certas coisas nas áreas
controladas pela sua família. São eles quem ordenam a maior parte
dos assassinatos, é claro que com a aprovação do Don. Outra
função importante dos Caporegimes é ganhar dinheiro para sua
família. Vale citar também que raramente os Capos participam de
conflitos armados, eles costumam apenas planejá-los. O número de
Capos em cada família varia de acordo com o número de soldados.
Raphael Callahan — Capo do Queens, também é um executor
amigo de Carter.
Dominic Callahan — Capo de The Bronx.

Victor Callahan — Capo de Staten Island.

Soldados: os soldados, ao contrário dos associados são membros


da família e na maior parte das vezes o trabalho sujo fica com eles.
Os soldados também constituem a base da pirâmide mafiosa junto
com a maioria dos Associados. Dentre as funções de um soldado
estão a realização de assassinatos por ordem de seus superiores,
além de muitas vezes ficarem responsáveis por centros comerciais
afiliados à Máfia, dentre outras coisas.
Associados: Os Associados são aqueles que não fazem parte da
família de fato, porém costumam ocasionalmente auxiliar soldados
durante certas operações que exijam força, habilidade, dentre
outros, neste tipo de associado se incluem traficantes, policiais e
outros criminosos. Existe também outro tipo de associado que não
costuma se envolver em conflitos armados, mas pode ser útil para
outras ocasiões como ganho de influência dentre outros, neste caso
estão os políticos.

Theodoro Callahan — Capo de Los Angeles


Os Fimmels comandam o tráfico humano, mulheres, crianças e
bebês, além do tráfico de drogas e armas, mas viveram por muito
tempo na escuridão por causa dos Callahans.
Personagens
Os Callahans
Nadine Callahan e Pietro Callahan

Filhos
Joseph Callahan e sua esposa Lydia Callahan
Franck Callahan e sua esposa Megan Callahan
Iona Callahan e seu esposo Luciano Martinelli
Derek Callahan e sua esposa Allisom Callahan

Filhos dos filhos

Joseph Callahan e Lydia Callahan


Caspen Callahan – Chefe
Heitor Callahan – Conselheiro
Carter Callahan – Capo
Lorenzo Callahan – Subchefe
Amélia Callahan

Franck Callahan e Megan Callahan


Lucas Callahan – Capo
Lori Callahan – Adotada

Iona Callahan e Luciano Martinelli


Hector Callahan – Chefe e Capo em Las Vegas
Dominc Callahan – Capo
Dimitria Callahan

Derek Callahan e Allisom Callahan


Theodoro Callahan – Chefe e Capo em Los Angeles
Victor Callahan – Capo
Rapahel Callahan – Capo
Casais Formados

Carter Callahan e Sophia Callahan


Ariel Clarker Callahan
Nicholas Clarker Callahan

Amélia Callahan e Blake Roden


Aurora Roden Callahan

Lorenzo Callahan e Lauren Reed


Hope Reed Callahan
Jonas Reed Callahan

Heitor Callahan e Happy Wild


Maya Wild Callahan
Enzo Wild Callahan

Outros personagens
Nicholas Clarker Callahan
Lauren Reed
Hope Reed Callahan
Happy Wild
Audrey Wild
Ciara Wood
Willa Evans
Tinna Mitchell – menina do clube
Phillipa Florenza – menina do clube
Lucien Adans – Segurança
Blake Roden – Segurança e assassino
Matt – Segurança
Jace – Segurança
Jordam – Ténico de segurança
Max – Gerente do clube
Annabel – Responsável pelas meninas do clube
Bellatrix – Guia do clube
Igor Moretti – Pai de Sophia e Ariel – Chefe da máfia italiana
Jonnathan Calvin – Pai de Lauren – Maior agiota de Nova
York
Daphenni Reed – Mãe de Lauren
Ruby Calvin – Madrasta de Lauren
Manddy – morta por Caspen, traiu o clube
Lanna – Traiu o clube, estava com o FBI
Marcus – Pega a irmã de Happy
Bruce Wild – Pai de Harry – ex-soldado da máfia
Abby – ex-namorada de Heitor, foi morta
Alice – Esposa de Igor Moretti – ela é morta pelos
Callahan’s
Rodrigues – novo chefe do Cartel – Filho do governador
Savana – Filha de Igor
Antony – Filho de Igor
Justin – Filho mais novo de Igor
André – segurança de Happy
Alice – médica que cuida de Audrey
Melissa – Terapeuta de Audrey
Hernández – Verdadeiro chefe do Cartel
Chris Castle – Homem com quem Lori irá se casar
Maverick – Hacker de Caspen
JJ – amigo de Lori, dono de uma loja de tatuagem
Alex – Homem de Lori – Atirador de elite
Maddox – Homem de Lori
Emílio – Homem de Lori
Charlie – Homem de Lori – Especialista em bomba
Miguel – Homem de Lori
Ester Donovan Hernaz – Mãe de Lori
Renné Hernas – Padrasto de Lori
América Donovan – irmã de Lori e Phillipa
Joe Parker – segurança íntimo de Hernández
Armando Salvatore – Um dos maiores chefes da rede de
tráfico humano do mundo
Os Fimmel's
Hugo Fimmel
Alessandro Fimmel

A Bratva
Ivan Volkov – Pakhan da Bratva
Dimitri Volkov – Filho de Ivan
Vladímir Volkov
Bóris – Sovietnik – Conselheiro
Nikolai – Brigadier – Capitão
Andrei – Brigadier – Capitão
Sumário
Prólogo ----------------------------------------------------- 13
Capítulo 1 -------------------------------------------------- 23
Capítulo 2 -------------------------------------------------- 33
Capítulo 3 -------------------------------------------------- 42
Capítulo 4 -------------------------------------------------- 51
Capítulo 5 -------------------------------------------------- 63
Capítulo 6 -------------------------------------------------- 72
Capítulo 7 -------------------------------------------------- 82
Capítulo 8 -------------------------------------------------- 91
Capítulo 9 -------------------------------------------------- 101
Capítulo 10 -------------------------------------------------- 110
Capítulo 11 -------------------------------------------------- 120
Capítulo 12 -------------------------------------------------- 128
Capítulo 13 -------------------------------------------------- 138
Capítulo 14 -------------------------------------------------- 147
Bônus -------------------------------------------------------- 157
Capítulo 15 -------------------------------------------------- 158
Capítulo 16 -------------------------------------------------- 171
Capítulo 17 -------------------------------------------------- 180
Capítulo 18 -------------------------------------------------- 189
Capítulo 19 -------------------------------------------------- 199
Capítulo 20 -------------------------------------------------- 207
Capítulo 21 -------------------------------------------------- 216
Capítulo 22 -------------------------------------------------- 225
Capítulo 23 -------------------------------------------------- 232
Bônus -------------------------------------------------------- 241
Capítulo 24 -------------------------------------------------- 243
Capítulo 25 -------------------------------------------------- 256
Capítulo 26 -------------------------------------------------- 263
Capítulo 27 -------------------------------------------------- 274
Capítulo 28 -------------------------------------------------- 282
Capítulo 29 -------------------------------------------------- 292
Capítulo 30 -------------------------------------------------- 301
Capítulo 31 -------------------------------------------------- 311
Capítulo 32 -------------------------------------------------- 327
Bônus ------------------------------------------------------- 337
Capítulo 33 -------------------------------------------------- 339
Capítulo 34 -------------------------------------------------- 349
Capítulo 35 -------------------------------------------------- 358
Capítulo 36 -------------------------------------------------- 367
Capítulo 37 -------------------------------------------------- 376
Capítulo 38 -------------------------------------------------- 385
Capítulo 39 -------------------------------------------------- 395
Capítulo 40 -------------------------------------------------- 403
Capítulo 41 -------------------------------------------------- 412
Capítulo 42 -------------------------------------------------- 422
Epílogo ------------------------------------------------------ 431
Bônus -------------------------------------------------------- 442
Agradecimentos -------------------------------------------- 450
Músicas ------------------------------------------------------ 451
Prólogo

Lori, aos seis anos de idade

Olho com curiosidade para o menino que acaba de matar


meu papai bem na minha frente, como se não fosse nada demais.
Ele me salvou, o menino calado e com rosto rude me salvou. Olho
para ele, sem saber o que fazer ou falar. Tudo o que penso é no que
acontecerá comigo. Não tenho ninguém, não tenho uma mãe, um
irmão ou tios. Tudo o que eu tinha era o papai, e agora ele se foi.
Sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto dolorido. Não
fui uma boa menina hoje, comi a comida que sobrou. Eu estava com
fome, mas papai não gostou que não deixei para ele.
É sempre assim, sempre era a culpada de tudo. Quando eu
não fazia o que ele pedia, apanhava. Ele dizia que como uma boa
menina, eu tinha que aprender a cuidar de homens como ele. Não
sei bem o que isso significa, eu só fazia tudo o que ele mandava.
Mas nada era bom o suficiente.
— Você está bem? — O menino pergunta para mim.
— Sim — sussurro para ele, que acena para mim.
— Vamos, vou levá-la para casa. — O menino pega minha
mão e me leva para um carro onde tem um homem que está furioso.
Acho que esse homem também vai me bater, e vai bater no
menino por ter matado meu papai. Ele fala alto com o menino. Só há
homens em volta de nós, e eu fico com medo e me encolho,
apertando a mão do menino. Quero ir para casa e me esconder em
minha cama, debaixo do meu cobertor, meu lugar seguro. Quero
tomar um banho e limpar meus machucados. Aprendi a cuidar de
mim, já que meu papai não fazia. Ele só sabia reclamar e me bater.
— Olá, querida. Qual é seu nome? — O homem que estava
gritando com o menino pergunta, com a voz calma, o que me faz
olhar para ele.
— Lori — sussurro, ainda com medo dele e dos outros
homens.
— Certo. Você tem alguém para ficar com você?
Mordo a boca, sentindo as lágrimas escorrerem pelas
minhas bochechas. Estou sozinha. Com quem ficarei? Quem vai
cuidar de mim agora?
— N-não, só era eu e o papai.
— Certo. Venha, vou levá-la para um novo lar. — Ele
estende a mão para mim, mas não a pego.
Não o conheço e não sei o que ele fará comigo, só confio no
menino que está ao meu lado.
— Oi, Lori. Sou Carter, e você está segura. — O menino diz,
sorrindo pela primeira vez.
Sorrio para ela, mas meu rosto dói, então paro o sorriso.
— Pra onde eu vou? — pergunto a ele.
— Para uma família que irá amá-la e cuidar de você.
Ele me salvou do papai. Eu sabia que papai iria me
machucar muito e estava com medo. Ele nunca tinha me batido
como estava me batendo. Foi assustador.
— Promete? — pergunto a ele.
Carter acena com a cabeça, apertando minha mão na dele.
— Eu prometo. Você será minha prima, agora.
Olho para ele de boca aberta. Primo! Ele será meu primo!
Alguém para brincar comigo, me ouvir e me ajudar com o dever de
casa! Eu tenho um primo agora!
— Eu sempre quis um primo — murmuro para ele.
— Bom, porque agora você tem vários primos e um irmão.
— Sorri para mim.
— Um irmão?! — pergunto, espantada, e ele acena com a
cabeça. — Ele vai gostar de mim?
— Sim, Lori. Ele irá amá-la.
Aceno com a cabeça e pego na mão do homem. Ele me
ajuda a entrar no carro, com cuidado. Carter entra e se senta ao
meu lado. Ele segura minha mão durante todo o caminho para a
minha nova casa, e não posso esperar para conhecer meu novo
papai, minha mamãe e meu irmão, sem falar nos meus primos.
Só espero que tudo seja verdade. Não sei o que será de
mim se for mentira. Não quero ficar sozinha. Não quero apanhar e
ser maltratada na escola. Eu só quero que me amem.

Treze anos de idade


— Eu vou me casar com você, Caspen Callahan — digo ao
meu primo Caspen, que olha para mim, rindo do que acabo de falar.
Ele acha que estou sendo engraçada e fofa ao dizer que irei
me casar com ele; mas estou sendo bem séria, eu o amo. Amo-o
desde o momento em que o vi pela primeira vez, quando fui levada
para a casa dos Callahan’s, na noite em que Carter matou meu pai.
Caspen estava nos esperando com Heitor e Lorenzo, na frente da
casa, junto com meus pais e irmão.
Quando eu o vi, sabia o que ele seria para mim. Ele era
sério e calado, com o rosto sem emoção alguma. Nada, Caspen não
me deu nada, mas passou a mim segurança e poder, e eu me
apaixonei por ele. Hoje, aos meus treze anos, nada mudou. Ainda
vou me casar com ele; e não, não é engraçado.
— Tem uma admiradora agora, Caspen? — Lorenzo
pergunta, rindo.
— Não, só uma prima fofa — responde Caspen.
— Eu não sou fofa — resmungo, cruzando os braços.
— Vá brincar com Amélia, Lori, e deixe os homens
trabalharem — comanda Caspen.
Olho para ele de cara feia e saio batendo o pé. Ouço-os
rindo atrás de mim.
— O que houve? — Amélia pergunta, olhando-me.
— Seu irmão. Ele não acredita em mim quando digo que
vou me casar com ele. — Ela rola os olhos.
— Eca! Lori, ele é meu irmão!
— Sim, e eu o amo. — Cruzo os braços.
— É, eu sei disso, você nunca para de dizer. — Sorri.
— O que eu faço? — pergunto, fazendo beicinho.
Amélia dá de ombros.
— Não faço ideia. Só tenho nove anos, não sei o que é esse
sentimento.
Às vezes esqueço que ela é mais nova do que eu. É chato
em alguns momentos, principalmente em momentos como esse.
Eu amo Caspen, só tenho que fazer com que ele também
me ame.

Dezoito anos de idade

Olho para Caspen, que está saindo para um encontro que


não é comigo. Por mais que eu tente fazê-lo me convidar para sair,
ele nunca convida. Acha engraçado o que sinto por ele. Será que
ele não vê que está partindo meu coração?
Sei que ele sente algo por mim. Já o vi olhando-me em
alguns momentos e já quase o fiz me beijar, mas ele sempre
consegue se afastar de mim.
Não sou mais a menininha inocente que acham que sou.
Sou uma mulher, tenho sentimentos, desejos e sonhos. Quero uma
família, quero me casar, ter filhos e ser uma mulher fodona da máfia
junto com ele, Caspen Callahan. Quero que ele me ame na mesma
intensidade que o amo, mas parece impossível fazê-lo me ver.
— Caspen! — chamo-o.
Ele para e olha para mim. Seu olhar não demonstra nada,
como sempre foi. Ele nunca demonstra sentimentos. Às vezes acho
que ele nem tem coração, que não sente emoções.
— Por favor... — peço a ele.
Seu “encontro” olha para mim de forma engraçada, como se
eu fosse “fofa demais”.
— Vá para casa, Lori, e cresça um pouco. Você não sabe o
que está falando. — Caspen comanda. — Quando eu voltar, iremos
conversar.
Suspiro. Ele irá conversar comigo, e quem sabe posso vê-lo
ver a razão das coisas, mostrar a ele que estou bem séria com os
meus sentimentos.
— Tudo bem, estarei esperando. — Sorrio para ele e olho
feio para a mulher dentro do carro.
Ele será meu, vadia, penso.
Eu estava enganada quanto à nossa conversa. Muito
enganada. Ele não queria conversar só comigo. Ele queria
conversar comigo, com meus pais e com meu irmão.
Caspen quer que eu me trate com uma psicóloga sobre
meus sentimentos por ele. Ele não acha “normal” essa coisa que
nutro por ele — palavras dele, não minhas. Disse que tenho que me
tratar antes que eu faça algo louco e me ponha em perigo, que vivo
correndo atrás dele e que encontrou meu caderno de casamento.
Sim, eu fiz um álbum de casamento dele e meu, mas isso há
anos, quando eu tinha trezes anos. Eu nem me lembrava mais
desse álbum.
Sinto-me violada. Ele mexeu nas minhas coisas e viu algo
que não era para ver. Babaca idiota.

Vinte e sete anos de idade

Tenho que fazer isso. Eu preciso fazer isso.


Olho para o homem que amo, o homem que sempre amei, o
único que tem o meu coração e sempre terá, o mesmo homem que
não sente nada por mim.
Caspen Callahan. O chefe da máfia Callahan. Aquele que
controla toda a Nova Iorque, que controla o tráfico de drogas e as
gangues locais. O homem que todos temem, menos eu.
Sem medo, encaro-o, não demonstrando reação alguma.
Caspen está furioso, não concorda com a minha decisão; mas é
algo que preciso fazer, e não preciso da permissão dele. Sou da
família, mas não propriedade dele.
Se ele me amasse, eu ficaria; mas seria pedir muito de um
homem que é conhecido por não ter coração, por ser frio e sem
alma. O próprio diabo. É assim que o chamam.
— Isso é um erro! — rosna, irritado.
— Se for um erro, será o meu erro — rebato.
— Amélia sentirá sua falta, não pode fazer isso enquanto ela
está viajando.
Sinto-me culpada, mas não posso voltar atrás. Amélia é a
minha melhor amiga, ela irá me entender. O grande motivo de ter
dado a ideia de sua viagem foi para eu fazer isso. Se ela estivesse
aqui, tentaria me fazer ficar, e por ela eu ficaria.
— Ela entenderá, Caspen. De todos, ela é quem mais me
entende. Não voltarei atrás.
Caspen olha para mim. O seu olhar estranhamente parece
quente, tão quente, que me consome... mas logo a frieza volta.
Queria tanto ler mentes, para saber o que ele está pensando.
Sempre tão fechado.
— Isso é loucura! Estamos em confronto, e sair neste
momento não é algo aceitável. — Balança a cabeça.
Suspiro, frustrada com a sua atitude.
— Responda-me, Caspen, e dependendo da sua resposta,
eu fico. Você me ama ou alguma vez já sentiu algo por mim? — O
meu coração acelera enquanto espero a sua resposta.
Vejo o olhar surpreso que ele me dá, mas logo se recompõe.
Olhando-me nos olhos, ele me responde:
— Não, Lori. — Curto e grosso.
O meu coração se aperta. Mordo os lábios, controlando as
lágrimas. Não quero que ele veja o quanto sua resposta me afetou.
Não quero que me veja quebrar mais do que já estou quebrada.
Sorrio para ele.
— Então não há motivo para eu ficar, porque estar perto de
você me adoece. Um amor não correspondido adoece qualquer um.
E não se preocupe, não estarei em perigo, já cuidei de tudo.
Algo se passa em seu olhar, mas Caspen é rápido em
esconder, sempre foi. Irritado, ele se vira, saindo do quarto. Respiro
fundo, controlando as minhas emoções. Cansei de ficar deitada
neste quarto, me recuperando. Se eu quero ficar realmente melhor,
não será em um quarto, com pessoas entrando a todo o momento e
velando o meu corpo, como se eu estivesse morta. Tomei uma
decisão, e não voltarei atrás. Esta é a minha escolha, uma escolha
que eu tinha que ter feito há muito tempo, mas nunca tive coragem,
porque lá no fundo, esperei por Caspen. Está na hora de eu me
encontrar. Está mais do que na hora de me desligar do que sinto por
ele e começar a viver por mim mesma. Vou me curar, mas farei isso
sozinha.
Vinte e nove anos de idade

Olho para Caspen. Tantas coisas aconteceram desde que o


vi pela primeira vez, desde o dia em que me apaixonei por ele. Fui
pega junto com Amélia e a vi sendo agredida fisicamente e
sexualmente... Depois, eu que sofri na mão de um homem louco.
Fui abusada de um jeito que não tem explicação, fiquei
irreconhecível. Sofri durante um grande período de tempo e tive que
me afastar. Afastei-me de todos. Precisei me curar, voltar ou tentar
voltar a ser quem era antes de tudo acontecer.
Foi quando eu o conheci. Ele me salvou no momento em
que eu estava no fundo do poço. Ele me tirou da escuridão e me
trouxe para a luz. Ele me fez voltar a ser quem eu era, me fez lutar
contra os meus pesadelos. Ele me fez amá-lo.
— Você não vai se casar com ele, Lori. Terá que me matar
primeiro. — Caspen diz, olhando para mim.
Sorrio para ele ao sacar minha arma. Aponto para o seu
ombro.
— Bem, se é assim que terá que ser, então, ficarei feliz em
matá-lo.
Ele olha para mim com surpresa, mas logo volta a ser frio.
— Você não fará isso. Será morta se fizer. — Sorri.
Oh, ele realmente não faz ideia do que sou capaz! Ele acha
que é um blefe, então vou mostrar a ele quem sou, em quem me
transformei.
Eu atiro.
— Você... — diz ele, surpreso, olhando para o seu ombro.
Sorrio, vitoriosa.
— Eu te avisei. Se eu precisar te matar para conseguir o
que eu quero, eu vou. Não entre no meu caminho. — A porta do
escritório se abre, e Vovó entra, com Carter e Lorenzo atrás dela.
— Oh, acho que minha menina mostrou quem é que manda.
— Vovó ri, batendo palmas.
— Merda! — Carter exclama, rindo.
— Eu vou me casar com Chris Castle, e ninguém irá me
impedir...
Capítulo Um
“Birds – Imagine Dragons”

Lori
Vou me casar.
Suspiro, balançando a cabeça. Tantas coisas aconteceram
ao longo dos anos, tantas reviravoltas. Nunca imaginei que um dia
eu iria me casar com alguém que não fosse Caspen Callahan.
Durante minha vida toda me preparei para me casar com ele.
Olho para o diário de casamento que fiz anos atrás, diário
esse onde planejei meu casamento com Caspen. Tem fotos nossas,
recortes de decorações do vestido de noiva, das nossas alianças,
tem até meus votos bem ali, escrito naquelas páginas. Votos que
nunca direi, porque o homem com o qual estou me casando não é
Caspen. Irônico, não é mesmo? A promessa que fiz anos atrás será
quebrada em alguns minutos.
Observo-me pelo espelho, meu vestido de noiva acentuando
as curvas do meu corpo, meus cabelos soltos com uma tiara de
flores em volta, minhas bochechas rosadas e meus lábios com um
gloss. Simples, lindo e delicado. Estou totalmente diferente do que
estava no diário.
Todo o meu casamento será diferente do que está naquelas
páginas. Está na hora de escrever um novo capítulo e um novo
diário, onde não existe Caspen Callahan.
Fecho os olhos. Esse é o momento. O momento em que
minha vida mudará completamente. Mordo meus lábios, tentando
segurar as lágrimas. Não quero estragar minha maquiagem, preciso
estar bem e mostrar que estou feliz, porque eu estou. Fiz a decisão
certa.
Chris Castle é um homem incrível. Maravilhoso, amoroso e
tão gentil. Ele me ajudou no momento em que eu mais precisei.
Chris foi meu colete salva-vidas quando eu estava me afundando.
Olho mais uma vez para o meu diário. Caminho na direção
da cama, pegando-o em seguida. Abro-o e sorrio ao ver as coisas
que estão nele, tantos pensamentos e planejamentos. Abro na
página onde meus votos estão.
É surpreendente saber que eu os escrevi quando tinha
dezesseis anos. Cada palavra foi escrita com amor, com sonhos,
desejo e verdade, mas hoje elas são apenas palavras escritas em
uma folha de papel, sem significado algum.
A porta do meu quarto se abre, e imediatamente fecho o
diário. Minha mãe e Amélia sorriem ao me verem.
— Oh, você está linda! — Mamãe diz, com lágrimas nos
olhos.
— Estou mesmo, não é? — pergunto, dando um giro para
elas me verem melhor.
— Sim, querida. Você está perfeita. — Mamãe diz.
Seus braços me envolvem em um abraço apertado.
Todos ficaram surpresos quando apresentei Chris a eles,
pois nunca imaginaram que um dia eu fosse aparecer com um
homem que não fosse Caspen. Mas a maior surpresa para eles foi
quando anunciei que iria me casar.
A única pessoa que foi contra meu casamento foi Caspen, o
que me deixou surpresa, porém não me importei nenhum pouco. Eu
estava decidida, e ninguém iria mudar minha decisão. O resto da
família estavam animados e felizes por mim.
Eu mudei as regras, burlei o sistema e estou para me casar
com alguém totalmente de fora da máfia. Se eu me importo? Nem
um pouco. É a minha vida, minha escolha. Eu escolhi Chris Castle.
— Estão todos aqui? — pergunto, nervosa.
— Sim, querida. Só falta você. — Mamãe diz.
Sorrio para ela.
— Como ele está? — pergunto, referindo-me ao meu futuro
marido.
— Lindo, nervoso e pronto para você. — Ela pisca, o que
me faz rir. — Estou tão orgulhosa de você, querida. — Beija minha
testa.
Pisco várias vezes, tentando conter as lágrimas. Vamos
deixar essa parte para depois da cerimônia, não quero estragar
minha maquiagem. Chris tem que me ver perfeita.
— Obrigada, mamãe.
— Espero que seja tão feliz quanto eu sou com seu pai.
Seja boa, seja gentil e coloque pra quebrar. — Pisca para mim,
dando uma reboladinha.
— Eca! Não preciso saber de detalhes. — Amélia comenta,
rindo.
— Você foi a única aqui que pensou besteira — rebate
mamãe.
— Não fui não. — Amélia balança a cabeça.
— Tudo bem. — Mamãe levanta as mãos. — Vou deixá-la a
sós por alguns minutos. Seu pai já entra para pegá-la. — Beija-me
uma última vez e sai do quarto, deixando-me com Amélia.
— Você vai se casar! — exclama, animada.
Não posso deixar de rir do jeito que ela diz.
— Sim, eu vou! — Bato palmas.
— E não é com meu irmão. — Ri.
Sorrio para ela. Lágrimas se formam em meus olhos. Droga!
Não quero chorar, mas acho que não irei conseguir me segurar.
— Não, não é com seu irmão.
— Você está bem? Tem certeza que é o certo?
Se eu estou bem? Não sei. Tudo o que estou é nervosa,
animada e com medo. E sim, é o que eu quero fazer. Amo Caspen e
sempre irei amá-lo, mas não posso esperar por ele, não posso
deixar meus sonhos de lado para esperar por um homem que não
me quer, que não me dá valor. Não posso ficar na mesma. Caspen
foi o meu passado, e Chris é o meu futuro. Eu o amo e vou ser sua
esposa. Sim, eu tenho certeza, vou me tornar a Sra. Castle em
alguns minutos. — Ela acena com a cabeça.
— Estou tão feliz por você. — Abraça-me.
Fecho os olhos, desfrutando do seu abraço.
Passamos por tantas coisas juntas. O horror que vivemos
estará sempre em minha mente, me atormentando; ver o que
fizeram com ela e não poder fazer nada é o que mais me assombra.
É desconcertante ver alguém que você ama sofrer e não poder
ajudar, ser inútil.
Também sei que ela se sente culpada pelo que aconteceu
comigo, pelo que passei; e por mais que eu diga que não é culpa
dela, lá no fundo, sei bem que não adianta muito. Amélia sempre
sentirá culpa pelas coisas que aconteceram a nós.
Mas a verdade é que a culpa é minha. Toda minha. Foi eu
quem a fez sair naquela noite, foi eu quem a ajudou com todos os
seus planos malucos. Eu que fui dando todas as ideias. A culpa é
toda minha. Mas somos um time, e sei que ela sente o mesmo que
eu: culpa.
— Céus! Estou fazendo-a chorar no seu grande dia! Que
péssima amiga eu sou! — exclama, saindo do abraço.
— Está tudo bem — digo, sorrindo.
— Cadê minha pequena?
— Está com o pai. Aquela é a menininha do papai.
Ela bufa.
A menina de Amélia tem seis meses de idade e é o bebê
mais fofo que já vi em toda a minha vida, porém é uma menina de
garra, porque é escandalosa demais.
— Blake vai sofrer quando ela crescer — comento, e Amélia
ri.
— Já está sofrendo. Ele faz tudo o que ela quer e na hora
que ela quer, e eu sempre saio como a malvada quando digo não.
— Sorrio quando ela cruza os braços e faz biquinho. — Não é
engraçado. Minha filha me odeia.
Começo a rir da cara que ela faz.
— Não, não odeia — digo a ela, rindo.
Amélia sorri para mim.
Aurora ama a mãe, mas é mais grudada com o papai, Blake.
É engraçado vê-los juntos, porque toda vez que Aurora está com
Amélia e Blake aparece, ela se transforma totalmente, Amélia é
esquecida e Blake se torna o paizão, seu favorito.
Pulo quando ouço uma pequena batida na porta. Meu
coração começa a bater forte.
— Pode entrar.
Papai abre a porta e entra no quarto. Percebo que ele
prende a respiração ao me ver. Sorrio para ele.
— Como estou, papai? — pergunto a ele, rindo da sua
expressão.
— Perfeita! Uma princesa! — Sorri para mim.
Abraço-o apertado.
Papai é tudo para mim. Ele foi meu maior porto seguro, o pai
que eu sempre quis ter, o pai que sempre me amou e me apoiou.
Ele é o melhor pai que uma garotinha machucada e desamparada
queria ter.
— Essa é a minha deixa. — Amélia diz, sorrindo para mim.
— Amélia — chamo-a assim que ela abre a porta.
Solto meu pai e vou até minha cama, pegando meu diário.
Volto para Amélia, que me olha desconfiada. Sorrio, dando-lhe meu
diário.
— Pode se livrar dele para mim?
Minha melhor amiga me olha com surpresa.
— Tem certeza? — Aceno em um sim.
— Nesse diário está meu passado, e este é o meu futuro.
Não preciso mais dele.
Amélia fica parada, olhando para o diário em suas mãos, até
que por fim acena e o leva com ela. Volto para o meu pai, que me
espera com um grande sorriso.
— Então, está pronto? — pergunto a ele.
— Porra, não! — responde, rindo. — Nunca estarei pronto
para entregar minha garotinha para um marmanjo. — Rio.
— Papai, não sou mais uma garotinha.
— Querida, você sempre será minha garotinha. Quando
tiver filho, saberá do que estou falando. — Um pedaço de mim
morre quando ele fala isso.
Eu nunca terei filhos, não posso. Dimitri fez um bom estrago
no meu corpo, me impedindo de ter filhos; mas ninguém sabe disso
além de mim, Chris e Amélia.
Eu sempre quis filhos, sempre quis provar para mim mesma
que não nasci igual aos meus pais biológicos, que posso amar um
filho incondicionalmente; mas essa oportunidade foi tirada de mim.
“Muito obrigada, Dimitri!”, penso, com ironia.
Usar-me, possuir-me, dominar e maltratar não foi o
suficiente, ele tinha que tirar essa parte de mim também!
— Lori, querida, você está bem? — Papai pergunta,
preocupado.
Sorrio, acenando com a cabeça.
— Sim, só me perdi. — Aponto para a cabeça, e ele acena.
Papai suspira.
— Querida, você tem certeza do que está fazendo?
Por que todos ficam perguntando isso? Chris é um homem
maravilhoso, me faz rir, é gentil, amoroso e, quando quer, é
possessivo, forte e cheio de vida. Quando estou perto dele, sei que
tudo ficará bem. Sinto-me protegida. Eu o amo e ele me ama, então
sim, estou fazendo o que é certo, e ninguém irá mudar isso.
— Sim, papai, eu tenho certeza.
Papai não parece muito convencido, mas acena, sorrindo
para mim.
Meu pai nunca rebateu minhas decisões, mesmo que não
concordasse. Ele costuma dizer que com cada decisão minha eu irei
aprender coisas novas; que quando eu errar, aprenderei com os
meus erros e me tornaria mais forte.
Foi exatamente o que aconteceu. Cada decisão errada
minha me fez crescer e me tornar quem sou: forte, independente e
sem medo. Nada mais me abala, nem o próprio diabo. Nem mesmo
Caspen. Não sou intimidada por ele, não tenho medo dele e do seu
olhar, ou de quando está com raiva e acaba explodindo. Muito pelo
contrário: eu gosto de provocá-lo, gosto de vê-lo se perder, gosto de
enfrentá-lo. Isso mostra quem sou e quão determinada me tornei.
Sorrio ao me lembrar de como foi contar para Caspen que
eu iria me casar e que não estava pedindo permissão para ele. O
olhar de puro choque que ele me deu, a descrença em sua voz e
quão louco ficou... Ele achou que eu estivesse mentindo, brincando
com ele; mas mostrei quão séria estava.
Caspen Callahan não é mais o meu mundo. Ele é apenas
meu primo, que um dia amei tanto, por quem me ceguei e perdi uma
grande parte da minha vida; como se eu estivesse dormindo por
todo esse tempo, esperando que o príncipe encantado me
acordasse, mas não há príncipe encantado.
Acordei sozinha, e foi quando encontrei Chris. Ele não é um
príncipe encantado. Ele é um homem real da vida real que me
ajudou, me amou e me aceitou como sou.
Caspen está morto para mim. Ele é meu passado, apenas
um sonho que tive.
— Está pronta, querida? — pergunta papai.
Sorrindo, eu aceno com a cabeça.
Estou mais que pronta, esperei muito por esse dia.
Papai segura minhas bochechas com delicadeza, abaixa
minha cabeça e me dá um beijo na testa. Fecho os olhos,
aproveitando esse momento.
Homens como papai são duros, frios e cruéis, porque foi
assim que foram treinados para serem. Mas os Callahan’s não são
assim, porque quando eles estão em família, são homens bons,
amorosos e protetores. Ninguém do lado de fora sabe como eles
são realmente. E tenho orgulho de conhecer essa família, de fazer
parte dela.
Eu não era nada. Uma ninguém. Eles me salvaram, me
acolheram e me amaram. Eu era o lixo, a escória; mas eles me
aceitaram e me fizeram melhor, me moldaram para ser quem sou.
Se o diabo fosse mulher, ele seria eu.
Seguro bem apertado a mão do pai. Estou nervosa, muito
nervosa. Meu corpo todo treme. Bem diferente do que imaginei que
seria: há uma mistura de emoções e um monte de coisas se passa
na minha mente; e olha que ainda não cheguei onde todos estão,
estou apenas descendo as escadas, com papai ao meu lado.
Meu casamento está sendo na casa dos meus pais. Eu
queria algo simples e aconchegante, onde eu me sentisse em paz,
confortável e amada. Foi exatamente aqui que minha nova vida
começou, e quero que seja aqui que minha vida com Chris comece.
— Está tudo bem, querida. Irie com você até o fim. — Papai
sussurra para mim.
Engulo em seco, acenando com a cabeça. Respiro fundo,
tentando controlar minha respiração e o meu tremor.
Assim que chegamos no começo do corredor, todos se
levantam. Mordo os lábios por ver toda a minha família ao meu
redor, mas meu foco está em Chris. Sorrio quando o vejo. Ele pisca
para mim. Abaixo a cabeça, rindo. Sempre sendo o sedutor. Mordo
os lábios quando volto a olhar para ele, que sorri para mim.
A cada passo que dou, a cada batida do meu coração, eu
sei que essa é a decisão mais certa que já tomei. As pessoas dizem
que não se pode amar duas pessoas ao mesmo tempo. Elas estão
erradas. Eu amo Caspen e amo Chris. A única diferença é que meu
amor por cada um deles é diferente. Caspen está no meu passado,
e Chris é o meu futuro.
Aperto ainda mais o braço do meu pai. Ele olha para mim,
acenando com a cabeça, e damos mais um passo.
Esse é o segundo melhor momento da minha vida, porque o
primeiro foi quando conheci meus pais e meu irmão.
Esse é o momento em que me entrego para o homem que
se tornou meu tudo em tão pouco tempo; o homem que me curou,
mesmo eu não querendo. Ele se forçou em minha vida, tornando-se
meu amigo, me segurando nos meus momentos de crise. Ele foi
meu salvador, e sempre serei mais do que grata a ele. Chris me fez
amá-lo.
Meus pensamentos são interrompidos por um assobio. Meu
corpo todo fica em alerta. Olho em volta, assustada, meus olhos se
estreitando; mas já é tarde demais.
À minha volta, todos gritam. Sou jogada no chão pelo meu
pai. Estou atordoada demais para entender o que está acontecendo,
não vejo nada.
Meu pai está em cima de mim, me protegendo. Ouço gritos
e um choro. Um choro de lamento. Eu reconheço na hora de quem é
o lamento, e é quando reúno todas as minhas forças e tiro o meu pai
de cima de mim.
— Lori, querida! — Ele chama, mas meu foco está à minha
frente, e é quando eu o vejo.
— Não, não! — grito, correndo para onde ele está.
Lágrimas transbordam dos meus olhos. Ajoelho-me ao seu
lado, pegando seu corpo e sacudindo-o. Seu sangue mancha meu
vestido branco, mas não me importo nem um pouco. Tudo o que
importa é ele.
— Não, não! — Choro, sacudindo-o. — Por favor, não! —
Meus soluços se transformam em gritos de desespero.
— Lori, ele se foi. — Ouço a voz do meu pai.
— Não, não, não! — Balanço a cabeça.
Recuso-me a acreditar que ele está morto. Não hoje. Esse é
o nosso dia, o nosso para sempre.
— Por favor, volte para mim, respire, eu te amo! — imploro a
ele.
Eu já perdi tanto, toda a minha vida eu venho perdendo, e
quando algo bom acontece, eu perco também. Nada fica comigo.
Parece que tudo o que eu toco sofre. Sou amaldiçoada.
Abaixo a cabeça, beijando o corpo caído. Minhas lágrimas
deixam um gosto salgado em minha boca, minhas mãos estão sujas
de sangue, mas mesmo assim, passo em seu rosto. Seus olhos
estão abertos, me encarando, sem vida.
— Ele se foi, querida. — Papai diz outra vez.
Olho para ele, vendo toda a minha família à minha volta,
todos com olhares de pena, menos Caspen. Ele tem um olhar mortal
concentrado em mim e Chris.
Chris se foi. Provavelmente foi um atirador de elite, bem no
dia do nosso casamento.
Coloco minha cabeça em seu peito e choro, choro como
nunca chorei antes.
Capítulo Dois
“6.18.18 – Billie Eilish”

Olho para baixo do penhasco, vendo as ondas do mar


batendo nas pedras. O vendo gelado bate em meu rosto, fazendo-
me tremer. Abro os braços, sentindo o vento e a leveza do lugar.
Daqui de cima parece que posso tocar nas nuvens, tocar o céu.
Pergunto-me o que aconteceria comigo se eu pulasse. Será
que conseguiria nadar até a praia ou acabaria morrendo por causa
das ondas? Seria libertador poder pular daqui de cima, sentir meu
corpo caindo até se encontrar com a água gelada, fazendo com que
meu corpo se arrepie, fazendo-me sentir que estou viva, porque
nesse momento sinto-me morta.
Suspiro, levantando o pé e o colocando para fora do
penhasco. De olhos fechados, sinto as ondas a me chamarem.
Sinto-me viva, mesmo que seja por apenas alguns segundos. Como
se nada fosse me alcançar aqui, sorrio com a sensação libertadora
que me dá.
Atrás de mim ouço o som do vento nas árvores, os pássaros
cantando, as folhas balançando... Uma plena paz me envolve.
— Por favor, moça, não pule. — Ouço atrás de mim.
Levo um pequeno susto. Abro os olhos, virando a cabeça
para ver quem é.
— Merda! Você quer me matar de susto!? Eu poderia ter
caído! — digo ao homem parado, que me olha cautelosamente.
— Só estava tentando te impedir de pular.
Bufo, rolando os olhos.
— Eu não ia pular. — Cruzo os braços, olhando-o com
expressão irritada.
Quem ele pensa que é ao dizer o que eu ia ou não fazer?
— Não é o que estava parecendo — rebate, olhando-me.
— Nunca é. — Dou de ombros. — Agora, será que pode me
deixar sozinha? — Volto a me virar para o penhasco.
— Moça, por favor, não fique aí, é perigoso.
— Olha, não me importo nem um pouco com o que está
dizendo. Eu sei me cuidar e estou muito bem, obrigada. — Não o
olho ao dizer isso, minha atenção está no mar abaixo de mim. —
Quero ficar sozinha, se não for pedir muito.
— Uau! É linda a visão daqui! — De relance, noto que ele
está do meu lado agora.
Olho para o homem, levantando uma sobrancelha, e ele
sorri.
— Qual é a parte do “quero ficar sozinha” que não
entendeu?
— Não me importo. Acho que vou aproveitar a visão, já que
estou aqui. — Encolhe os olhos. — Sou Chris Castle. — Estende a
mão para mim.
Olho para a sua mão, e depois para ele.
— Lori Callahan.
Ele percebe que não apertarei sua mão e a abaixa.
— Você é difícil.
Sorrio.
— Só não quero conhecer ninguém.
— Ótimo. Não estou aqui para amizades. — Sorri para mim.
— Chato...
Finjo tossir, e ele ri.
— Teimosa. — Não posso deixar de rir.
— É um prazer, Chris.
— Digo mesmo, Lori.

É difícil dizer adeus. Dói na alma. Sinto-me fraca demais


para continuar. Morta por dentro. Não sei se irei aguentar por mais
tempo. Tudo tem sido tirado de mim. É como se eu não merecesse
ser feliz, como se eu fosse indigna. Toda vez que tudo está indo
bem, algo acontece para me derrubar.
Meu coração está partido. Não consigo derramar mais
lágrimas, já tive a minha cota. Tudo o que resta em mim é raiva, um
ódio crescente fervendo aqui dentro.
Olho para o caixão de Chris sendo colocado debaixo da
terra. Tão jovem. Ele não merecia a morte. Tudo por minha culpa.
Ele se envolveu comigo, e olha o que aconteceu. Nós dois
recebemos a morte como presente de casamento.
Seguro bem apertado a rosa vermelha que está em minha
mão, tão forte, que os espinhos afundam em minha mão; mas eu
não sinto nada.
Meu coração está frio; tão frio, que eu poderia congelar
quem me tocasse. Queria ter morrido em seu lugar; queria que
fosse eu ali, sendo enterrada.
Caminho até a beirada do buraco onde o caixão de Chris
acaba de ser colocado e abro minha mão, deixando a rosa cair. Meu
sangue escorre junto com a rosa, que repousa com leveza em cima
do caixão.
— Eu sinto muito — sussurro.
Não faz com que doa menos, mas se ele pudesse ouvir de
alguma forma, eu quero que saiba o quanto eu sinto pela sua morte.
Chris sempre foi incrível, cheio de vida e com sorrisos fáceis. Ele
era fácil de lidar, e sentirei a falta dele a cada segundo do meu dia.
Não sei como será minha vida sem ter Chris nela. Não sei o
que será de mim daqui para a frente. Queria ter tido mais tempo.
Mais tempo para dizer a ele o quanto eu o amava, o quanto ele era
importante para mim; mais tempo para ver seu sorriso e ouvir sua
voz, para beijá-lo, tocá-lo e abraçá-lo. Queria ter tido tempo para
dizer adeus, dizer que sentirei a falta dele e principalmente para
agradecer por tudo o que ele fez a mim, por ter me ajudado, mesmo
eu não querendo. Queria ter tido tempo para sentarmos juntos
naquele penhasco pela última vez, comendo um hambúrguer e rindo
ao nos lembrarmos do dia em que nos conhecemos, o dia em que
ele pediu para eu não pular — como se eu fosse pular. Eu só queria
mais tempo.
— O que eu faço agora, Chris? — pergunto a ele, mesmo
que ele não possa me responder. — O que eu faço agora sem
você? — Uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Sinto uma mão em meu ombro. Olho para cima,
encontrando o olhar triste de meu pai.
— Está na hora, querida — diz, e eu aceno.
Está na hora de dizer adeus, mas não sei como fazer isso.
Não sei como deixá-lo ir. É muito cedo.
Uma semana depois...
As gostas da chuva caem em meu rosto, escorrendo pelo
meu corpo, mas não as sinto. Sentada no chão, em meio à
tempestade que cai, continuo olhando para o túmulo de Chris.
Não consigo, eu simplesmente não consigo deixá-lo ir, nada
importa mais do que ter esses momentos.
Parece que a qualquer momento irei acordar e que na
verdade o dia do meu casamento ainda não chegou. Mas se fosse
apenas um sonho, eu já teria acordado, não é mesmo?
Se eu ainda estiver dormindo, quero acordar o mais rápido
possível. Quero que esse pesadelo acabe logo, quero acordar disso
tudo suspirando aliviada; mas não vai acabar.
Um movimento ao meu lado chama a minha atenção.
Suspiro ao ver Caspen se sentando ao meu lado.
— O que está fazendo aqui? — pergunto.
Quero ficar sozinha, apenas eu e a memória de Chris, sem
Caspen e sem minha família.
— Vim saber se está bem.
Olho para ele. Seu olhar está concentrado nas árvores à
nossa frente.
— Meu noivo foi morto no dia do nosso casamento! — rosno
para ele, irritada. — Como você acha que eu estou?! — desdenho.
Caspen dá de ombros.
— Sinto muito — sussurra.
— Não, você não sente.

Caspen
Ela tem razão. Eu não sinto pela morte de Chris. Sinto por
ela estar sofrendo, mas não pela morte do homem com o qual ela ia
se casar. Hernández fez o meu trabalho, assim ela não terá raiva de
mim por ter acabado com a vida do “marido” dela. Frio? Sim, mas
também estou sendo realista. Eu ia matar Chris.
Não digo nada a Lori, ela está sofrendo. Ver o homem que
seria seu esposo morrer no dia do seu casamento não deve ter sido
fácil para ela. Nada tem sido fácil para ela. Lori teve uma vida difícil,
sofreu demais com o passar dos anos, e quando tudo estava indo
bem, algo assim acontece.
Olho para ela, vendo sua raiva crescendo.
— Você é tão frio — sussurra para mim. — Quero ficar
sozinha, Caspen. — Volta a olhar para o túmulo de Chris.
— Você irá adoecer. Vamos, Lori, está na hora de ir para
casa e deixar tudo para trás. — Levanto-me, ajeitando meu terno
sob medida, que está molhado e sujo.
Estendo minha mão para ela, que me olha com nojo.
— Apenas me deixe. — Sua voz é firme.
Suspiro, balançando a cabeça.
Durante uma semana, Lori vem ao cemitério e se senta
nesse mesmo lugar durante horas, perdida em sua dor; mas estou
casando dessa merda! Chris morreu e ponto! Ela tem que superar
essa merda e seguir em frente! Afundar-se na dor não trará Chris de
volta!
Respirando fundo e me preparando para o seu ataque,
pego-a em meus braços, em seguida a colocando sobre meu
ombro, de cabeça para baixo.
— Caspen! — Ela grita, mas não dou ouvidos.
— Calada, Lori! — rosno para ela.
Lori começa a se debater, dando socos em minhas nádegas
e costas. Dou um tapa em sua bunda, o que a faz gritar.
— Porra, Caspen! Me ponha no chão! — Continua seu
ataque contra mim.
— Se não parar agora mesmo, irei colocá-la sobre minhas
pernas castigá-la! — digo, irritado.
— O quê?! — grita. — Não, você não fará isso! Eu mato
você! — exclama. — Me... ponha... no... chão — fala
pausadamente, com a irritação evidente na voz.
— Não! — grito, dando um forte tapa em sua bunda.
Lori bufa.
— Eu te odeio!
— Não, você queria odiar, mas não odeia.
Ela resmunga algumas palavras, provavelmente me
amaldiçoando.
Quando estou chegando em meu carro, Carter abre a porta,
e eu a jogo dentro. Meu irmão sorri para mim, mas não digo nada.
Não preciso, ele sabe muito bem como estou furioso e louco para
chegar em casa e trocar de roupa.
— Eu vou te matar! Vocês dois! — Lori aponta para mim e
Carter.
— Boa sorte, prima. — Carter pisca para ela.
— Não quero ir para casa. — Lori dirige aqueles malditos
olhos dela para mim.
— Azar o seu, você não tem escolha. — Entro no carro,
batendo a porta.
Ela cruza os braços, batendo os pés. Eu até acharia essa
porra bonitinha, mas estou irritado com suas birras. Entendo a dor
dela, mas está na hora de se erguer e sair dessa merda que ela se
encontra.
O caminho para casa é tranquilo. Lori resolve ficar calada, o
que é ótimo. Eu não iria aguentar suas reclamações.
Chegando na casa dos seus pais, eu a tiro do carro,
levando-a em meu colo para dentro. Seus pais me olham,
provavelmente surpresos por eu estar com ela; mas não estou me
importando nem um pouco com essa merda.
— Se ela sair de casa mais uma vez para ir ao cemitério, eu
mato vocês. — Aponto para eles e para Lucas, que está olhando-me
com um sorrisinho de merda nos lábios.
— Você não tem esse direito. — Lori diz, apontando para o
meu peito. — Eu faço o que eu quiser e na hora que eu quiser! —
grita.
— Bem, e olha no que deu. — Sorrio.
Lori dá um passo para trás, como se eu tivesse batido nela.
Minhas palavras foram duras, mas verdadeiras. Em cada decisão
que Lori tomou, algo de ruim aconteceu; então, a partir de agora,
essa merda mudará, ela querendo ou não.
— Saia! — grita, apontando para a porta.
— Lori...
— Saia, porra! — Empurra-me.
Não faço movimento algum, então ela continua me
empurrando. De repente seus empurrões viram socos, vários e
vários socos em meu peito; mas não faço nada, apenas deixo que
ela me bata, que ela desconte suas frustações e dor em mim. Está
acabando comigo vê-la assim, mas por enquanto não posso fazer
nada.
— Saia, saia, saia! — grita, continuando com os seus
ataques.
Seus gritos se transformam em soluços, seu corpo todo
treme. Ela puxa meu terno, se agarrando a mim enquanto chora.
Envolvo meus braços em sua volta, deixando-a chorar em mim.
Suas pernas ficam fracas e ela cai. Caio junto. Seus pais, seu irmão
e Carter nos observam em silêncio. Aceno para eles, em um gesto a
pedir para nos deixarem a sós. Lori não precisa de uma plateia
nesse momento.
— Eu te odeio — sussurra, em meu peito.
Sorrio, passando as mãos pelos seus cabelos.
— Sim, eu sei, já me disse isso.
Capítulo Três
“Behind Blue Eyes – Limp Bizkit”
Caspen

— Você não sente remorso. — Heitor me acusa.


Olho para ele, dando de ombros. O que eu posso dizer?
Que sinto muito pela morte de Chris, que ele era bondoso e
blábláblá? Não, obrigado. Não sou esse tipo de homem.
— Não — digo a ele, deixando-o ver em meu olhar que
estou bem com isso.
— Chris era um bom homem.
Como se eu não soubesse... Pesquisei toda a vida do cara.
Ele não tinha nenhum erro, sua ficha era limpa. Ele era médico da
marinha, saiu por ter sofrido uma fratura na perna, depois começou
a fazer doutorado em Medicina, ajudava quem precisava, e assim
continuava a lista de perfeição. Nenhuma sujeira em seu nome, mas
nada disso importava para mim. Ele ainda não era bom o suficiente
para eu sentir alguma coisa.
— Sim, eu sei que era.
— Lori o amava.
— Lori me ama. — Estou começando a ficar irritado com
essa fodida conversa!
— Você ia matá-lo.
Suspiro, passando as mãos pelos meus cabelos.
— Sim, eu ia matá-lo, mas Hernández me fez esse favor
sem mesmo eu pedir. — Sorrio.
— Lori o odiaria se matasse Chris.
Bufo para ele.
— Ela já me odeia, irmão. — Meu tom de voz sai irritado.
— O que fará agora?
Essa é a grande pergunta. O que eu farei? Não faço ideia do
que será entre Lori e eu daqui para a frente. Mas de uma coisa eu
sei: ela é minha, e farei de tudo para mostrar-lhe que sinto muito por
tudo o que aconteceu, por tudo o que ela teve que passar.
Fiz uma promessa há muito tempo, prometi que sempre
manteria distância dela depois do que ela viu e das suas palavras
para mim; mas agora, não me importo nem um pouco. Quase a
perdi para outro, não vou deixá-la escapar de novo.
Com o passar dos anos, meu sentimento por ela só cresceu,
se tornou mais forte. Quando ela se tornou de maior, eu passei a
desejá-la; mas como ela me disse: eu sou um monstro e mereço
morrer.
Como eu não morri, meu monstro está pronto para tomar o
que é e sempre foi dele: Lori Callahan.
— Eu a tomarei para mim — respondo à pergunta anterior
de Heitor.
Ele me olha, surpreso. Sorrio para ele, mostrando quão
sério estou falando.
— E sua promessa?
— Minha promessa foi há muito tempo, Heitor, não posso
perdê-la. Quase a perdi duas vezes, não vou esperar mais tempo.
— Ele acena com a cabeça.
Lori pode ter esquecido do que aconteceu, do que viu e do
que me disse, mas eu não. Todos os dias eu lembro. Toda vez que
fecho os olhos, lembro-me daquele dia e de suas palavras. Nunca
irei me perdoar por aquele dia.
Mas agora, cansei de ficar na minha, rejeitando-a. Ela já
sofreu demais, e tudo por culpa minha.
— Tudo bem, irei apoiá-lo. — Aceno com a cabeça.
De todos os meus irmãos, Heitor é meu melhor amigo e o
único que sabe o que aconteceu naquela noite, e é por isso que o
tornei meu conselheiro.
— Agora temos algo mais importante para discutirmos, que
é o atirador que matou Chris — digo a ele.
Heitor sorri para mim.
— Você o encontrou, não é?
— Sim, ele está sob os meus cuidados.
— Não quis contar para os outros por quê?
— Porque assim como Dimitri, ele é de Lori. Essa vingança
é dela. — A porta do meu escritório se abre, e Amélia entra com um
caderno nas mãos.
Nossa atenção se volta para ela.
— Será que não percebeu que a porta estava fechada? —
pergunto, com irritação. — Quantas vezes tenho que dizer para
baterem na porta antes de saírem entrando?
— Como se eu me importasse. — Amélia diz, dando de
ombros. — Quero lhe entregar uma coisa. — Coloca o objeto em
cima da minha mesa.
Olho para o caderno todo cor-de-rosa, cheio de detalhes e
pedrarias.
— O que diabos é isso? — pergunto a ela, desconfiado.
Minha irmã sorri para mim, dando de ombros.
— Um diário onde Lori planejou todo o casamento de vocês
— responde, com um sorrisinho. — Ela me pediu para jogá-lo fora,
mas, sabe, achei algumas coisas bem interessantes e acho que
devia vê-lo — aponta, rindo. — Espero que faça a coisa certa. —
Sorri antes de sair do escritório.
— Porra... — resmungo, e Heitor ri. — Não é engraçado.
— Não para você, mas é pra mim. — Dá de ombros.
Suspiro, balançando a cabeça. Olho para o diário como se
fosse um grande inimigo meu. Não quero abri-lo, mas a curiosidade
de saber o que tem ali dentro é grande demais.
— Vou deixá-los a sós. — Pisca para mim ao sair do
escritório.
Heitor se levanta logo em seguida.
— Bom, vou indo. Acho que você tem coisas mais
importantes pra fazer — debocha.
Sozinho com os próprios pensamentos, penso em como
será daqui para a frente e em como Lori irá reagir à minha mudança;
mas não darei escolha a ela. Só espero que ela possa me perdoar
pelo que aconteceu.

Olho para a bunda da mulher que está de quatro para mim.


Meu pau enterrando sua boceta... Porra, é gostosa... mas um peso
morto para mim e meus irmãos, e é por isso que vamos acabar com
ela.
Samara tem uma língua grande demais e passou a ser um
problema para o clube. Tornou-se uma traidora, e nós costumamos
acabar com traidores. Hoje será seu dia, ela só não sabe disso.
— Mais forte, Caspen... — pede ela.
Sorrio. Sou um sádico. Amo quando elas imploram, amo
quando sentem dor e amo ver a vida saindo dos seus olhos.
Dou um tapa em sua bunda, o que a faz gemer mais alto.
Seguro-a pelos cabelos, puxando sua cabeça para trás. Ela olha
para mim e sorri, lambendo os lábios. Rebola em meu pau,
implorando por mais, e eu dou a ela.
Pegando-a com força, faço-a gozar; sua boceta
convulsionando, apertando meu pau. Ela geme meu nome. Solto
seu cabelo, segurando em sua cintura com força. Minhas investidas
são rápidas e brutais.
Samara irá fazer falta. Ela é sempre tão disponível a
agradar, e é a mais desejada de todo o clube; porém, a que mais
fala, a que conta tudo. É por isso que ultimamente tem sido muito
solicitada, o que me fez desconfiar.
Sua boca grande, que sabe dar uma chupada, também sabe
ser dedo duro. Ela tem contado tudo o que sabe e o que vê por aqui,
ganhando dinheiro para nos vigiar e falar. Ela realmente achou que
eu não descobriria o que tem feito. Realmente pensou que se
safaria dessa; mas ela não me conhece, não sabe do que sou
capaz, e está prestes a descobrir.
— Caspen, por favor... — implora, querendo gozar mais uma
vez; mas não, dessa vez ela ficará na vontade.
— O que você quer?
— Por favor...
Bato em sua bunda, deixando-a vermelha.
— Responda-me! — comando, dando mais um tapa.
— Gozar; eu quero gozar! — grita.
— Sabe o que eu quero, Samara?
— Não — geme a resposta.
— Quero saber o motivo da sua traição.
Seu corpo fica imóvel. Ela me olha de lado, fazendo cara de
desentendida.
— Não sei do que está falando. — Volta a rebolar sua bunda
em meu pau.
— Ah, você sabe sim! — rosno.
— Caspen... — Ela tenta se levantar, mas a prendo no lugar,
com meu pau ainda dentro dela.
— Não continua, porra!
Ela faz o que eu mando, sabendo muito bem que é melhor
obedecer.
— Por favor, eu preciso gozar... — implora.
Estalo a língua, balançando a cabeça.
— Acho que não. Agora me responda: o que fez pensar que
eu não descobriria sua traição?
— Por favor, não sei do que está falando...
Sorrio. Ela pensa que sou tolo. Palavra de uma prostituta
barata.
— Então se eu ligar a TV agora e mostrar o vídeo no qual
está fodendo com um cliente e contando a ele tudo o que viu e ouviu
no clube, me dirá que aquela não é você, e sim uma irmã gêmea?
Pego o controle e ligo a TV à nossa frente, em seguida, jogo
o controle na cama e pego seus cabelos, puxando-os, a fim de fazê-
la olhar para a tela.
— Me diga, sua puta: aquela não é você? — pergunto, ainda
a fodendo.
— Sinto muito, sinto muito! — grita.
— Sente muito? — Rio do quão falso seu pedido de
desculpa é.
— Sim. Por favor, me perdoa!
— Oh, querida... — Viro sua cabeça, para que me olhe, e
aliso o seu rosto. — Não há perdão para o que fez. — Sorrio quando
seus olhos se arregalam.
— Caspen... — Pego a faca, debaixo do travesseiro.
Seu olhar de puro medo me deixa ainda mais excitado.
— Por favor... — implora, agora com lágrimas nos olhos.
— Te vejo no inferno. — Sorrio.
Enquanto gozo, passo a faca em sua garganta, vendo a vida
sair de seus olhos.
— Ahhh! — O grito faz com que eu olhe para a porta, vendo
Lori bem ali.
Porra! Porra! O que diabos ela está fazendo aqui?! Caralho!
Lori sai correndo, e eu corro atrás dela, tentando colocar
minhas calças, com meu pau ainda meio duro.
— Lori, espera! — grito, tentando alcançá-la.
Corro ainda mais, pegando-a pelo braço, mas ela puxa seu
braço para longe.
— Não, não me toque! — grita.
Seu olhar é de puro nojo.
— Que porra está fazendo no clube?! — pergunto a ela.
Lori tem apenas quinze anos, e deveria estar em casa, com
minha irmã, e não na droga do meu clube! Ela é pura demais para
ver ou se envolver com algo assim.
Lori me olha, mas não responde à minha pergunta.
— Responda-me! — comando, irritado.
— E-eu... vim vê-vê-lo.
— Porra, Lori! — Passo a mão pelos cabelos.
Estou irritado por ela ter conseguido entrar aqui. Os
seguranças não a viram, o que significa que são uns merdas!
— Como entrou aqui? — Ela dá de ombros. — Lori... —
Tento alcançá-la.
— Não, não encoste em mim! — rosna, me olhando com
expressão furiosa.
— Querida... sinto muito pelo que viu. — Ela balança a
cabeça.
— Você é um monstro. — Cospe as palavras para mim. —
Eu tenho nojo de você! Nojo!
— Lori, você não entende. — Ela ri.
— Oh, é aí que você se engana — desdenha. — Eu entendo
muito bem. Você é frio, cruel, puro terror, coloca medo em todos os
que te contrariam e acaba com aqueles que te traem. Mas aquilo?
Aquilo foi nojento e cru, e eu te odeio, e espero que alguém o mate
de forma cruel e dolorosa. — Ela se vira e corre para longe.
— Porra! — Soco a parede ao meu lado.
Volto para o quarto onde Samara está caída, com a
garganta cortada. Pego meu celular e ligo para Carter.
— Qual o problema? — Ele pergunta ao atender.
— Lori está aqui e me viu matando Samara. Ela está
completamente fora de si, e se ela está aqui, Amélia também está.
Encontre-as e leve-as para casa — comando a ele.
Não preciso dizer mais nada, ele sabe o que tem que fazer.
Encerrando a chamada, jogo o celular na parede. Eu a
contaminei com minha sujeira, com minha escuridão!

Depois daquele dia, Lori me evitou a todo custo por uns seis
meses; depois, não sei o que aconteceu, mas foi como se ela
tivesse esquecido o que aconteceu, e voltou a ser o que era antes
daquela noite. Soube que estava fazendo sessões com uma
psicóloga, acho que a ajudou a superar o que viu.
Mas para mim, nada tinha mudado, suas palavras
continuaram comigo, sempre batendo na minha mente, várias e
várias vezes.
O problema é que eu a amo. Passei a amá-la com o tempo,
à medida em que ela foi crescendo e se tornando uma mulher; mas
eu sempre soube que não poderia tê-la, não depois do que
aconteceu. Eu não queria que minha sujeira a sujasse, não queria
que meu monstro a machucasse, porque Lori tinha razão, ela
sempre teve razão. Eu sou um monstro, e ela é a luz.
Capítulo Quatro
“Joker’s On You – Charlotte Lawrence”

Lori, uma semana depois...


Olho para mim mesma através do grande espelho do meu
quarto. Estou um lixo, meus olhos vermelhos, meu rosto mais
branco do que normalmente, bolsa de olheira...
Não posso continuar assim, preciso me erguer e começar a
fazer meu planejamento para vingar a morte de Chris. Tudo o que
eu mais quero é colocar Hernández para baixo. Sei que será
perigoso, bem mais perigoso de tudo o que já fiz; mas não estou me
importando com isso, porque é o que quero. Sou capaz de ir ao
inferno para conseguir que ele seja liquidado.
Entro no banheiro, tirando minha roupa e em seguida me
pondo embaixo do jato de água quente. Fecho os olhos, renovando
toda a minha força, limpando minha mente, deixando-a pronta e
concentrada para o que tenho que fazer. Sou uma excelente hacker,
posso entrar em qualquer sistema sem ser detectada e fazer o que
eu quiser. Nada fica escondido de mim. Foi assim que encontrarei
Hernández e seus homens.
Saio do banho e me preparo.
Antes de tudo, terei que ir até Caspen. Ele tem algo que é
do meu interesse. Esse cara pensa que é mais esperto não
contando para os outros sobre seu prisioneiro; mas eu sei, descobri
assim que resolvi rever tudo o que aconteceu no dia do meu
casamento. Caspen tem algo que eu quero, e ele irá dar a mim.
— Mãe, estou saindo! — grito, sabendo que ela está na
cozinha, com o chef.
— Querida, não vou deixá-la... — Suas palavras morrem
quando ela me vê.
Sorrio. Mamãe me olha de cima a baixo, e um pequeno
sorriso cruza seus lábios.
— Oh, você não vai ao cemitério! — exclama.
Balanço a cabeça.
— Não, eu não vou. — Sorrio para ela.
— Você está bem, querida? — Posso ver sua preocupação.
— Sim, estou bem. Irei até Caspen, preciso falar com ele. —
Ela faz uma careta.
Sorrio interiormente.
— Querida... — começa.
— Pode ficar tranquila, não irei arrumar confusão e nem
correr atrás dele.
Mamãe me olha com expressão preocupada, provavelmente
não acreditando muito em minha palavra. Sorrio, sabendo o quanto
aprontei e a enganei.
— Prometo. Só tenho que falar com ele. — Pisco para ela,
que balança a cabeça e volta para a cozinha, resmungando.
Sorrio, sabendo o quanto ela se importa comigo e que só
quer o meu bem; mas como ela já disse: sou cabeça dura, e sempre
que decido algo, vou atrás, até conseguir. Acho que a única coisa
que não consegui foi Caspen. Irônico, não é mesmo? Ele sempre foi
o que eu mais quis e o que eu mais corri atrás para ter.
Agora, tudo o que eu quero é Hernández, e vou fazer de
tudo para conseguir pegá-lo.
Da casa dos meus pais até onde Caspen mora dá uns dez
minutos andando, então, com dois seguranças atrás de mim,
caminho até a grande casa de Caspen Callahan. Sei que tenho mais
seguranças me vigiando, mas só consigo ver dois. Os reforços na
minha segurança foram redobrados depois do que aconteceu no
casamento, e principalmente depois que Caspen me arrastou para
casa, dias atrás.
Cumprimento alguns dos empregados e seguranças. Tia
Lydia aparece saindo do escritório de Caspen. Ela sorri para mim,
com um olhar preocupado.
— Querida, como você está? — pergunta, me abraçando.
Suspiro. Perdi meu noivo bem no dia do nosso casamento;
por que as pessoas insistem e perguntar como estou, sendo que
elas sabem muito bem a resposta?
— Estou bem. — Sorrio para ela. — Um dia de cada vez, é
assim que tem que ser. — Ela acena com a cabeça.
— Sim, certo. Se precisar conversar, é só me chamar. — Ela
sorri para mim.
— Se ela quiser conversar, irá chamar a melhor amiga, e
não você, Lydia. — Vovó Nadine diz ao sair do escritório.
— Nadine... — Lydia a olha de cara feia.
— O quê? A menina acabou de perder o noivo e está triste;
sem falar em ter um monte de gente em cima dela, controlando-a.
Deixe-a em paz, ela precisa lidar com o luto sozinha e do jeito dela.
— Vovó pisca para mim.
Sorrio em agradecimento. Pelo menos tenho alguém que me
entende. Não que eu diga a ela, a velha é convencida demais. Não
precisa de mim para deixá-la ainda mais cheia de ego.
— Caspen está? — pergunto, apontando para o escritório.
— Está sim. Vim aqui para falar com ele sobre algumas
coisas. — Ela sorri para mim.
— E eu para perturbá-lo. — Vovó ri. — Mas já estamos indo.
Aceno para elas, esperando-as saírem. Caminho para o
escritório e bato antes de entrar, mas não o deixo responder, logo
entro.
— Mamãe, já falei que não... — Deixa a frase morrer ao me
ver.
— Não sou sua mãe — digo, cruzando os braços.
Caspen levanta a cabeça, dando a mim um olhar de
surpresa.
— Ah, é você. O que está fazendo aqui?
Sento na cadeira, de frente para a sua mesa. Cruzando as
pernas, eu o olho. Suspiro, sabendo o quanto meu coração acelera
toda vez que estou em sua presença. Caspen me atinge de várias
maneiras, como ninguém mais me atingiu. Perto dele fico sem
fôlego e sem reação. Olhá-lo dói. Saber que ainda me sinto atraída
por ele dói, machuca. Eu queria poder ter o superado.
Caspen levanta uma sobrancelha, com um pequeno
sorrisinho de lado. Bufo.
— O quê? — pergunto a ele.
— Você estava me checando. — Sorri para mim.
Dou de ombros.
— Você tem algo que me interessa — respondo, olhando-o
bem séria.
— Dimitri?
Faço uma careta.
— Você ainda o tem? — pergunto. — Não, não é ele, não
me importo com ele, quero o atirador. — Sorrio.
— E quem disse que o tenho? — Cruza os braços, me
encarando.
— Não sou idiota, Caspen. Sei muito bem o tem, e eu o
quero. — Olho para ele, sorrindo.
Caspen me encara por um bom tempo. Não faço ideia do
que está pensando, porém não irei mudar de ideia. Quero o atirador,
e eu o terei, mesmo que eu tenha que passar por cima do cadáver
de Caspen; e ele sabe muito bem que eu sou capaz de atirar nele
para conseguir o que quero.
Caspen balança a cabeça.
— Tudo bem, vamos. — Levanta-se, e eu faço o mesmo.
Nossas casas são perto uma da outra. Além disso, há um
túnel que liga todas as casas, e também uma saída de emergência;
então, da casa de Caspen conseguimos ir até a casa principal, onde
há a sala de tortura — é assim que chamo, onde Caspen e os
irmãos colocam traidores e prisioneiros e os torturam até obterem
respostas.
Sigo-o em silêncio. Não tenho nada para falar com ele.
Ainda estou com raiva por ele ter me tirado do cemitério, ainda me
sinto chateada com todos esses sentimentos que tenho por ele e
culpada por ainda o amar.
Uma merda total!
Caspen abre a porta. A sala é grande e aberta com vários
quartos em volta — chamo de cela. De um lado, posso ver Dimitri; e
do outro, vejo um homem que acho ser o atirador. Rodrigues está
em outra cela separada da dos outros dois.
— Vejo que veio, que finalmente veio pra mim. — Ouço a
voz de Dimitri.
Vou até sua cela e o olho, fazendo uma careta. Balanço a
cabeça para ele.
— Não, eu não vim aqui por você — digo, olhando-o. — A
verdade é que não dou a mínima para você, não me importo mais.
Por mim você já estaria morto há muito tempo. — Sorrio para ele. —
Você não é mais o dono dos meus pensamentos, Dimitri. Confesso
que por um bom tempo você esteve lá, sempre comigo, sempre me
atormentando, e eu queria muito ter minha vingança contra você;
mas adivinha? Você não vale meu tempo.
— Que porra eu estou fazendo aqui? — pergunta, seu olhar
voltando para Caspen.
— Oh, eu gosto de vê-lo sofrer, de saber que deseja a morte
e que só eu posso dá-la a você. Gosto dos seus gritos, da sua dor.
— Caspen lhe responde.
Dimitri treme, e eu começo a rir.
— Olhe só para você — desdenho, olhando-o de cima a
baixo. — Um rato preso em sua cela, esperando para ser abatido.
— Faço biquinho. — Hum... uma peninha, não é? Onde está o
homem poderoso, cheio de vida e com ar superior? Onde está
aquele homem que não tem medo de nada? Porque o que estou
vendo aqui é miséria. Você está magro, acabado, machucado e
louco, desejando a morte. — Estalo a língua. — Eu diria que o diabo
iria adorar tê-lo no inferno, mas acho que você não terá muita
serventia para ele, já que Caspen acabou com você. Porém, posso
mostrar a você um pouco do que eu faria ao seu corpo com ele. —
Aponto para o homem da outra cela. — O que você acha?
— Você é tão louca quanto ele. — Aponta para Caspen.
— Não, o louco aqui é você, Dimitri, que pensou que poderia
mexer com minha família. — Sorrio, dando as costas para ele. —
Vejamos, você deve ser o atirador que matou meu noivo.
— Sim, é ele. — Caspen diz, olhando-me atentamente.
— Bem, temos que conversar. Ele é meu — aviso a Caspen,
que acena com a cabeça.
— Vou prepará-lo.
— Ótimo. Me avise quando tudo estiver pronto, quero Carter
aqui também. — Sorrio para ele e saio, voltando para a minha casa.
Hoje tirarei um pouco da minha dor, mostrarei que não estou
para brincadeiras e que farei de tudo para conseguir Hernández, e a
pessoa que me dará as respostas será o atirador.
— Ei, eu estava procurando você. — Amélia diz ao entrar
em meu quarto, com Aurora em seus braços.
— Estava com Caspen. Ele me levou até o atirador — digo a
ela, medindo sua reação.
Minha melhor amiga sorri para mim.
— O que fará?
— Mostrarei a ele que não deve mexer com um Callahan,
principalmente no dia do seu casamento. — Dou de ombros, e ela ri,
Aurora ri junto.
Pego minha menina linda dos braços de Amélia.
— Olá, princesa. Como está se sentindo? — Ela ri para
mim.
— Hoje ela está só com a mamãe, não quis Blake. —
Amélia ri, certamente gostando muito disso.
— Como ele se sentiu?
— Rejeitado. — Ela ri.
Aurora é o bebê do papai, sempre quer Blake; e não estou
aumentando. Blake é o papai bobão apaixonado que faz tudo pela
filha.
Se Aurora quer a mãe, Amélia irá aproveitar a oportunidade.
Conheço muito bem minha amiga, ela não deixará Aurora por nada.
— Imaginei que ele se sentiria assim. — Aceno.
— Bem, azar é o dele e o ganho é meu. — Dá de ombros.
— Tenho que me trocar, quero me preparar para o atirador.
— Pisco para ela.
— Tem certeza que quer fazer isso? — pergunta, olhando-
me com cuidado. — É um caminho sem volta.
Amélia há alguns anos torturou e matou o homem que
abusou dela na noite em que saímos às escondidas para
dançarmos. Não foi nossa melhor escolha, e sofremos por isso. Ela,
mais do que eu.
— Sim, eu tenho certeza. — Ela acena com a cabeça.
— Estou aqui se precisar. — Sorri para mim.
Entrego a ela a Aurora, que está agitada em meu colo, louca
para voltar para os braços de sua mãe.
— Uau! Ela realmente quer só você hoje — comento,
sorrindo.
— Uma hora eu sabia que Deus seria bom comigo — brinca.
— Tem alguma pista sobre Hernández?
— Ainda não, mas chegarei lá. Ele não pode se esconder de
mim por muito mais tempo. — Sorrio.
— Boa sorte em achá-lo.
— Oh, eu terei. — Pisco, e ela ri.
Troco de roupa, colocando um vestido justo preto,
mostrando que ainda estou de luto por Chris. Quero que o atirador
conheça a dor e que sofra em minhas mãos. Ele tirou Chris de mim,
e eu tirarei a vida dele.
Quando entro na sala de tortura, Caspen olha para mim,
dando um sorrisinho de lado.
— Preto?
Dou de ombros, meu foco todo no homem nu à minha
frente.
— Estou de luto, esse homem matou meu noivo, então é
justo que eu esteja de preto, em memória de Chris.
— Certo. — Acena para mim.
— Lori, você tem certeza disso? — Carter me pergunta,
ficando ao meu lado e me olhando.
— Eu não estaria aqui se não tivesse certeza — digo a ele,
sorrindo.
— Vamos começar, então — resmunga. — Como você o
quer?
— Assim está bom, por enquanto.
Caminho até o atirador, encarando-o. Seu olhar está focado
em mim. Ele não treme, não reage a mim e nem aos meus primos,
seu olhar está centrado, como se não temesse o que está por vir.
— Você sabe por que está aqui? — pergunto a ele, que
acena.
— Matei seu noivo no dia do seu casamento.
— Tem alguma coisa para me dizer?
— “Sinto muito”? — Ele ri.
Pego um chicote com farpas na ponta, fechando minha mão
em volta do objeto. O atirador olha para mim, me desafiando. Ele
tem um sorrisinho nos lábios. O cara acha que não sou capaz, que
não sou forte o suficiente; mas ele não me conhece, ninguém nessa
sala me conhece o suficiente. Eu mudei, não sou mais aquela Lori
boba e cheia de sonhos, apaixonada por alguém que não a quer. Eu
sofri, me iludi, me machuquei, passei por tantas coisas, que mudei,
esqueci quem eu era e me tornei uma nova pessoa.
Com raiva, levanto o chicote e bato em suas costas. O
objeto causa cortes, e eu sorrio ao ver o sangue escorrer. Sinto-me
satisfeita com o que acabo de fazer.
— Tem algo para me dizer agora?
— Sim: você é uma vadia e seu noivo merecia morrer. —
Ele ri.
Olho para Carter, que dá de ombros.
— Seu filho... — Levanto o chicote e dou várias e várias
vezes em suas costas.
Sangue respinga em mim, mas não me importo, continuo a
bater, até meus braços doerem; mas o homem não solta um grito,
ele apenas olha para frente, concentrado na parede. Algumas vezes
ele apenas ri, o que me deixa com mais raiva.
— Você o matou! — grito, com raiva.
— Sim, e eu faria de novo, e de novo. — Sorri para mim.
Largo o chicote, que cai no chão. Olho para Carter,
acenando.
— O que você quer? — pergunta meu primo.
— Coloque-o curvado sobre a mesa. Quero que amarre
suas pernas em cada perna da mesa, e suas mãos também.
Meu primo chama dois dos seus homens, e eles o colocam
do jeito que pedi. Suas costas estão acabadas com feridas abertas
pelo chicote. Sorrio ao ver. Ainda nem comecei.
Pego sua sniper na mesa, a mesma arma com a qual ele
atirou em Chris.
— É bonita, não é? — Mostro a ele a sua arma. — Faz um
bom estrago. O que acha de brincarmos com ela?
— Você é louca! O chefe devia ter a matado também —
resmunga ele.
— Mas não matou, não é mesmo? — pergunto a ele,
sorrindo. — Agora me diga: quem é Hernández?
Ele ri.
— Vou levar esse segredo para o túmulo.
— Você cavou sua própria cova. Hoje você morre.
— Eu sei...
— E mesmo assim aceitou o trabalho. — Estalo a língua.
— Eu devo a Hernández e estou pagando minha dívida. —
Dá de ombros, como se não fosse nada demais.
— Pegue água com sal, quero jogar em suas costas, acho
que fará arder. — Carter sorri para mim, e volto o olhar para o
homem nu. — Ainda não acabei com você, e suas costas estão
sangrando demais, então vou jogar água com sal para melhorar um
pouco. — digo, rindo.
— É louca! — grita ele.
— Quem está chamando de louca!? — exclamo. — Sou a
pessoa mais sã nessa sala — digo a ele, fazendo beicinho.
Carter joga a água em suas costas, o que faz o cara se
contorcer; mas não pode fazer muito movimento, já que está todo
aberto e preso à mesa. É uma boa visão.
Olhar para as feridas abertas em suas costas me enche de
orgulho e alívio por ter sido eu quem causou o dano.
— Agora diga: quem te contratou? — Largo a arma e pego o
chicote.
— Eu não vou falar, merda!
Posiciono-me bem atrás dele e dou uma chicotada. Ele se
contorce, mas segura o gemido.
— Não mesmo? — pergunto, de modo sarcástico.
— Não... — Mal termina de falar, e dou três chicotadas
seguidas. — Vadia! — grita.
Olho para Carter.
— Mais sal e água.
— Eu não sei quem é Hernández! — O atirador esbraveja,
em seguida aperta os dentes. — E mesmo se eu soubesse, não
diria!
Sorrindo, contorno o corpo dele, em passos lentos. Apesar
de não querer demonstrar fraqueza, a expressão de seu rosto se
contorce. Largo o chicote e pego a sniper novamente.
— Vamos brincar? — pergunto a ele. — Vamos ver se não
irá gritar quando sentir onde enfiaria sua arma. — Sorrio ao ver sua
cara de horror. — Acho que não é tão forte assim, não é mesmo?
— Nem pense em...
Antes que complete a frase, enfio sua própria arma bem no
seu ânus. Ele grita e se contorce.
— Eu sabia que gritaria. — Sorrio para ele. — Agora, quem
é o machão, hein? — Não me controlo e começo a rir enquanto
continuo minha tortura.
Atrás de mim, Caspen e Carter me observam, sem
interferirem. Essa vingança é minha. Ele é meu para matar, ele tirou
algo de mim, então estou tirando tudo dele. Ele já sabia que seria
morto. Ele está sangrando e gritando, do jeito que eu queria. O
sorriso nunca sai dos meus lábios, nem mesmo quando apoio a
sniper na mesa e atiro nele com ela dentro de seu ânus.
Capítulo Cinco
“Sweet but Psycho – Ava Max”

Caspen
Olho para o corpo do homem que Lori acaba de torturar e
matar. Ela fez um estrago nele, e em momento nenhum hesitou. Ela
foi perfeita, fez o que tinha que fazer, sem se importar com o que
virá a seguir; porque quando você tortura alguém e o mata pela
primeira vez, só há duas opções: você gosta do que fez e quer mais
ou você se arrepende, se fecha para o mundo e sente uma enorme
culpa e repulsa.
Pelo jeito ela gostou do que fez, o sorriso em seus lábios
mostra isso. Ela vingou a morte do noivo, noivo esse que eu mesmo
ia matar se não tivessem me poupado.
— Como está se sentindo? — pergunto a ela, que me olha
com um grande sorriso.
— Ótima! –— exclama, excitada. — Será que posso? —
pergunta, apontando para Dimitri.
— Não, ela não... — Dimitri balança a cabeça, se
encolhendo em sua cela.
Sorrio ao ver o desespero dele.
— Outro dia. Hoje você já fez o suficiente.
Lori faz biquinho e bate o pé.
— Mas você disse que ele era meu.
— E ele é, mas não hoje. Ele não irá a lugar algum.
Lori balança a cabeça.
— Okay. — Levanta as mãos. — Vou pra casa, tomar um
banho e trocar de roupa. — Olha para Dimitri. — Depois eu volto
para você — acrescenta, toda animada.
Vejo-a desaparecer pelas escadas que vão em direção à
sua casa. Balanço a cabeça.
— Você acabou de criar um monstro, ela tomou gosto pela
coisa. — Carter diz, olhando-me.
— Acho que você tem um concorrente. — Sorrio para ele.
Carter bufa, fechando a cara. Acho que ele não gosta muito
do que acabo de falar, mas não sei quanto a Lori ter tomado gosto
pelo que acabou de fazer. Adrenalina está correndo pelo seu corpo
agora, mas quando passar e ela parar para pensar no que
aconteceu, tudo pode mudar e ela pode se arrepender.
Pego meu celular e ligo para Amélia.
— Diga-me — atende ela.
— Lori acabou com o atirador, vá ver como ela está —
comando.
Amélia bufa do outro lado da linha.
— Cadê a palavra mágica?
— Agora, Amélia! — rosno, e ela suspira. — Por favor!
— Bom, bom — resmunga, o que me faz sorrir. — Já abriu o
diário?
— Não — respondo e encerro.
Não quero ouvi-la reclamar comigo, não tenho paciência
para isso. O diário de Lori está na mesa do meu escritório. Todo dia
ele me tenta um pouco para abri-lo, mas não o fiz. Não sei se quero
saber o que tem ali dentro.
— Vou mandar nossos homens limparem essa bagunça e
queimarem o corpo até virar cinzas, jogaremos no mar. — Carter
diz, e eu aceno, de acordo.
— Qualquer coisa, estarei no escritório. Tenho algumas
coisas para resolver.
Esfrego o rosto com as mãos, sentindo-me cansado. Ser
quem sou e ter as responsabilidades que tenho faz com que eu me
sinta mais cansado e mais velho do que sou. Tem horas que dá
vontade de desistir de tudo, mas esse é o meu fardo para carregar,
meu dever.
No meu escritório, olho para o diário de Lori. Sentando-me
em minha poltrona, pego o diário, ainda o encarando.
Sei que se eu o abrir, estarei invadindo sua privacidade;
porém ela pediu para Amélia jogá-lo fora, então, não fará algum mal
em abri-lo.

“Querido diário...
Espero que você seja meu melhor amigo. Vou escrever
sempre que puder ou que estiver com medo, com raiva, triste e feliz.
Sempre estarei com você. Também te mostrarei meus planos e
sonhos. Tenho muitas coisas planejadas para nós dois.
Me chamo Lori Callahan e tenho dez anos. Não me lembro
muito do meu passado, mas posso dizer que eu tinha um pai ruim
que me batia sempre, e todo dia eu sentia medo dele, orava para
que tudo sumisse e que eu fosse para um lugar melhor.
E adivinha? Parece que Deus ouviu meus pedidos, porque
uma noite, um menino bonito matou meu pai e me levou para longe
de tudo o que eu conhecia, ganhei uma nova família. Dá para
acreditar? Tenho uma mãe, um pai e um irmão, e tenho primos. Um
monte deles. Também tenho uma vó, ela é louca, mas eu a amo.
Eu nunca mais apanhei, nunca mais tive medo e senti fome,
agora tenho tudo o que quero e é perfeito.
Ah! Eu tenho um primo, ele é calado, quase não fala
comigo, mas sempre que estou por perto, ele reconhece minha
presença e acena para mim. Ele é o único que não me trata com
cuidado e que não me olha com pena. Ele me trata como um igual.
Amo meus pais e meu irmão, amo a família que Deus me
deu, mas eles sempre me tratam com cuidado, como se eu fosse
quebrar e sempre têm aquele olhar de pena. Eu sei que meu
passado não foi bonito, mas não preciso de que tenham pena de
mim, e meu primo Caspen não tem.
Caspen é bem mais velho do que eu, e eu não me importo,
acho que o amo, vou me casar com ele um dia, só preciso crescer
logo e fazê-lo me amar, acho que não será difícil. Mamãe e papai
vivem dizendo que sou especial. Só vou mostrar a Caspen o quão
especial eu sou, e ele vai me amar.
Espero que não demore muito para eu crescer...”

Não consigo conter o riso. Lori sempre foi audaciosa e vivia


atrás de mim e de Lorenzo. Ela sempre conseguia se safar das
artes que ela e Amélia faziam. Acho que ler seu diário me ajudará a
conquistá-la, ele será meu ajudante. Lori não saberá o que a atingiu.
A promessa que fiz anos atrás será quebrada e colocarei todas as
cartas que tenho no jogo. É vencer ou vencer, e meu prêmio é fazer
Lori minha.
Lori

— Não posso te devolver o diário, Lori. — Amélia me diz,


sorrindo.
Estreito meus olhos para ela, desconfiada. O que essa
diabinha fez com meu diário?
— Você pediu para eu jogá-lo fora. — Dá de ombros.
— Mas você não o jogou fora, eu sei disso. — Ela me olha,
encolhendo os ombros. — O que você fez com meu diário, Amélia?
— pergunto, em um tom ameaçador.
— Entreguei ao Caspen. — Ela olha para mim sorrindo.
Balanço a cabeça. Ela não pode ter feito isso! Mas a
conhecendo bem, eu sei que ela fez; e nem posso socá-la, pois ela
está com Aurora nos braços.
— Quando Aurora estiver com Blake, eu vou matar você! —
Ela ri para mim.
Dá de ombros.
— Bem, você estava se casando, e eu aproveitei que o
diário estava comigo e dei a Caspen. Queria que ele visse o que
perdeu. — Pisca para mim.
— Mas eu não me casei! — exclamo. — Agora ele vai
pensar que sou uma louca perseguidora, e tudo sua culpa!
Caspen nunca correspondeu aos meus sentimentos, mas
ele nunca soube o quanto eu o amava; porém agora saberá. Ele
saberá de tudo o que passei e senti... droga! Não sei o que farei.
Sinto raiva nesse momento. Raiva de Amélia; raiva do
Caspen, porque sei que ele lerá o diário; raiva de mim, por ter o
dado para Amélia; e raiva de Chris, por ter morrido.
Lágrimas se formam. Se eu pudesse, voltaria para a sala de
tortura e torturaria outra vez o atirador; mas ele está morto.
Fecho os olhos, sentindo-me tão cansada.
— Sinto muito. — Amélia sussurra para mim.
— Não, você não sente. Eu ainda vou pegar você. —
Aponto, e ela ri.
— Não, você não vai. — Mostra a língua.
— Não conte com isso.
— Como está se sentindo? — Provavelmente está se
referindo ao que fiz com o atirador.
Como estou me sentindo? É uma grande pergunta, não é?
Pensei que ficaria com culpa e remorso pelo que fiz, mas por
incrível que pareça, eu não estou. Sinto-me cheia de adrenalina,
sinto-me um pouco vingada, sinto um pequeno de alívio em meu
peito, como se eu tivesse feito o certo por Chris e pela memória que
ele deixou para trás.
Há tantos sentimentos em meu peito nesse momento,
porque perdi um homem incrível, um homem maravilhoso e que
merecia o mundo. Eu o fiz ser morto, o trouxe para a minha vida, a
minha família, o trouxe para essa teia de mentiras e corrupção.
Sinto-me um monstro por continuar amando Caspen, por desejá-lo,
por ter um fio de esperança. Sou uma traidora.
Apenas a olho e sorrio.
— Estou bem — minto.
Ela me olha com expressão desconfiada. Sabe que estou
mentindo, mas não diz nada, apenas acena com a cabeça; porque
ela sabe, Amélia sabe que quando eu estiver pronta, direi a ela.
— Vou levar essa menina para o papai, está começando a
reclamar. — Amélia faz biquinho.
Sorrio para ela.
— Acho que ela se enjoou de você. — Amélia fecha a cara.
— Não é nenhuma novidade — resmunga.
— Tchau, menina bonita. — Beijo Aurora, que ri para mim.
Amélia sai do meu quarto, levando sua filha resmungona.
Parece que o tempo de Amélia com a filha acabou.
Aproveito que estou sozinha e entro no meu escritório,
escondido dentro do meu closet. Estou tentando rastrear
Hernández.
Estou com raiva, frustrada e cheia de adrenalina. Irei acabar
com Hernández e seus negócios, e espero que ninguém entre no
meu caminho, porque será pego no fogo cruzado, ou eu não me
chamo Lori Callahan.
— Indo a algum lugar? — Meu coração acelera ao ouvir sua
voz.
Olho para o lado, vendo Caspen aparecendo por entre as
árvores. Eu estava saindo pelo caminho que Amélia e eu criamos,
mas pelo visto, fui traída por minha melhor amiga.
— Eu vou matar a Amélia — resmungo, e Caspen ri.
— Ela só estava preocupada com você.
— Não, ela está se metendo onde não foi chamada! —
rebato, com raiva.
— Lori...
— Saia do meu caminho, Caspen — comando, mas ele não
sai do lugar. — Caspen...
— O que irá fazer, Lori? — desdenha.
— O que for preciso para acabar com Hernández, e se eu
tiver que o matar para o tirar do meu caminho, eu farei.
Caspen ri.
— Imaginei que faria isso. Veja bem, Lori, eu não estou
sozinho. — Atrás dele, Carter e Lorenzo aparecem.
Olho para os meus primos. Não consigo me conter e
começo a rir. Chega a ser engraçado que Caspen Callahan tenha
trago reforços para me conter.
— É o melhor que pode fazer? — desdenho, rindo demais.
Veja bem: ele é o chefe, e tenho que o respeitar; mas sou
uma mulher que viu o noivo sendo assassinado, estou com raiva,
não só pelo dia do meu casamento, mas por antes, pelo que
aconteceu comigo, pelo que fizeram a mim. Chris tinha me feito
esquecer, ele tinha me ajudado; mas agora ele se foi, e tudo voltou:
toda aquela dor, toda a raiva que eu sentia e que agora está mais
forte. Caspen acha que estou sozinha, porém eu fiz alianças, me
tornei poderosa e nada nem ninguém entrará no meu caminho.
— Sabe, eu também não estou sozinha. — Eles me olham,
surpresos.
Cinco homens saem por detrás deles, todos uniformizados e
armados.
— Que porra é essa!? — Carter pergunta. — Quem são
eles!?
— Meus homens. Você não devia ter me deixado trancada
dentro de casa por uma semana, Caspen. Logo eu, que sou capaz
de entrar e sair de sistemas sem ser identificada; logo eu, uma
mulher que acabou de ver o noivo ser morto; logo eu, que estou
cheia de raiva e dor. Você não devia ter me proibido de sair, amor.
— Pisco para ele. — Formei minha própria aliança e tenho meus
próprios homens. Agora, saiam da porra do meu caminho! — grito
para eles.
— Você me subestima, Lori. — Caspen sorri para mim.
Olho para os meus homens, que tiram as máscaras para
mim. Todos são homens de Caspen. Onde estão os meus
homens??
— Uau! Sou um bom ator. — Carter pisca para mim.
— Seus homens foram sedados e estão bem. — Caspen
diz, respondendo à minha pergunta silenciosa. — Agora, dê meia
volta e volte para casa — ordena.
— Vá se foder! — grito, apontando minha arma para ele. —
Saia, Caspen, saia do meu caminho!
— Querida, já olhou em volta? Você está em desvantagem.
— Dou de ombros.
— Não me importo. Ao menos conseguirei matar você. —
Sorrio para ele. — Tenho algo para fazer, Caspen, não me impeça.
— Ele acena com a cabeça.
— Eu sei, Sunshine.
Estreito meus olhos para ele. Caspen nunca, ele nunca me
chamou de nada além de Lori.
— Meus homens já estão a caminho do galpão que você
descobriu, eles resolveram o problema — avisa.
Porra!
— Não, não... — Balanço a cabeça. — Era para eu estar lá,
era meu dever acabar com o galpão! — digo, desesperada.
— Agora não é mais. — Caspen sorri.
Eu não penso, simplesmente olho para ele e atiro.
— Merda! Isso está virando rotina agora. — Carter ri.
— Você errou, querida. — Caspen sorri.
— Não, eu acertei. — Um dos seus homens cai bem ao lado
dele.
Acertei em sua perna, fazendo-o cair. Não o matei, mas
minha vontade era de matá-lo. Quero que Caspen saiba que não
estou para brincadeira.
— Essa porra acabou! — Caspen rosna.
Sou pega de surpresa quando ele me pega no colo,
carregando-me de volta para casa; para a sua casa.
— Me solta, porra! — digo, batendo nele.
— Não, vamos ter uma conversinha! — rosna.
— Não quero conversar com você, só me deixe ir, seu
filho...!
Sou calada quando seus lábios se encostam nos meus.
Ele... porra... me... beijou...!
Capítulo Seis
“Heaven – Julia Michaels”

Caspen
Eu a beijei para calá-la. A mulher é um perigo total. Não
parava de falar e sua raiva estava me deixando excitado, então,
resolvi beijá-la. Se eu tivesse uma câmera, gravaria esse momento.
Peguei-a de surpresa, literalmente.
Chegando em meu escritório, ela se solta dos meus braços
e seus lábios se desencostam dos meus. Seus olhos estão
arregalados, e sua boca, aberta, mas ela se recompõe em
segundos. Seu olhar surpreso se transforma em raiva.
— Você...! — Ela grita, avançando.
Dou um passo para trás, mas é tarde demais. Ela me dá um
tapa. Meu rosto arde. Olho para ela, estreitando os olhos.
— Seu... seu filho... — Ela tenta me bater de novo, mas
pego sua mão, segurando-a junto ao meu corpo, e a olho bem nos
olhos.
— Você é minha — digo a ela, olhando-a bem sério.
Lori puxa seu braço do meu aperto, olhando-me com
expressão furiosa.
— Ah! — exclama, colocando as mãos na cintura. — Agora
eu sou sua, né?! — desdenha. — Onde estava o você é minha
quando eu queria ouvir?! Ah, Caspen, você não sabe o quanto eu
queria ouvir essas palavras, o quanto eu queria ser sua e ter seus
lábios nos meus; mas adivinha, querido!? EU NÃO QUERO MAIS —
grita a última frase pausadamente, batendo o pé no chão.
Acho bonitinho sua explosão e quão chateada está. Fica
mais sexy e me deixa mais louco por ela.
— Isso foi antes. Mudei de ideia em relação a nós dois. —
Sorrio de propósito, sei que a deixará com mais raiva.
Ela abre a boca, mas logo a fecha. Encara-me por alguns
segundos, respirando fundo, provavelmente tentando controlar o
temperamento. Continuo sorrindo, e ela bufa, balançando as mãos.
— Você mudou de ideia? — Aceno com a cabeça.
— Sim, mudei. Eu a quero e você me quer, então, por que
não?
Estou adorando provocá-la, e sei que minhas palavras a
deixam com mais raiva.
— Eu te quero? Eu te quero? — Sua voz sai um pouco mais
elevada. Aceno com a cabeça. — Sabe quando eu vou te querer,
Caspen? Quando a porra do inferno congelar! — grita.
— Lori... — Ela levanta a mão, o que me impede de
continuar.
— Não, nada de Lori! Não terá Caspen e Lori, o que eu
sentia por você acabou, tudo o que restou foram mágoas e
ressentimentos.
— Não estou dando a você essa opção, Sunshine. — Sorrio
para ela.
Tirando o cabelo do seu rosto, ela me olha, soltando um
pequeno suspiro. Em seguida, olha para a minha mesa, e depois,
em volta do escritório.
— Quero meu diário de volta.
— Não. — Cruzo os braços.
Lori suspira.
— Caspen, ele é meu, e eu o quero de volta — insiste,
batendo o pé.
Tão linda quando fica irritada. Quero beijá-la de novo. Se eu
soubesse que seus lábios são tão deliciosos, teria a beijado antes.
— Você pediu a Amélia para jogá-lo fora.
— E ela não jogou.
— Não, ela não jogou, ela me deu, e agora ele é meu. —
Dou de ombros.
Ela me encara por vários minutos. Levanto uma sobrancelha
para ela, com um sorrisinho de lado.
— Caspen...
— Não, Lori, não irei devolver. — Minha voz é firme.
Lori acena com a cabeça. Ela se vira para sair, mas para e
me olha mais uma vez.
— Eu vou pegá-lo.
— Boa sorte. — Pisco.
Ela sai batendo a porta. Uma grande risada sai dos meus
lábios. Ela fica uma delícia quando está com raiva! Posso imaginar
como deve ser uma foda raivosa com ela.
Porra! Meu pau já está duro só de imaginar...
Lori pode lutar contra mim, mas ela sabe que eu já ganhei
essa luta, é só uma questão de tempo.
Lori
Ele me beijou. O idiota teve a coragem de me beijar e agir
como se isso fosse acontecer sempre a partir de agora. Ele me
rejeitou durante anos, ignorando meus sentimentos, brincando
comigo, sempre dormindo com outras mulheres, mesmo sabendo
que eu ficaria magoada; e agora, depois que meu noivo morreu, ele
do nada diz que sou dele?! Que merda! Ele bebeu?!
Se ele realmente acha que me terá assim, está muito
enganado! Droga! Esperei tanto por ele... para ele me ver, me amar,
me querer, para ter seu tão esperado beijo, sentir seus lábios nos
meus, suas mãos em mim... Eu esperei tanto por isso, que acabei
cansando e desisti.
Não vou deixar Caspen entrar assim.
Eu amo, infelizmente ainda o amo, e meus lábios ainda
formigam por causa do beijo. Foi um beijo simples, mas vi fogos de
artifícios.
Só que não importa como seu beijo me fez sentir, não
importa em como meu coração está acelerado e minha barriga está
formigando. Nunca terá Caspen e Lori.
De volta à minha casa e em meu escritório escondido em
meu closet, abro meu notebook e me atualizo a respeito do que
aconteceu no galpão.
Caspen estava certo, seus homens encontraram o lugar,
eles acabaram com tudo. Esfrego meu rosto. Era para ter sido eu,
mas minha melhor amiga me traiu, aquela dedo duro!
Meu celular toca.
— Eu vou te matar — aviso-lhe, e ela ri.
— Não, vai não — diz, confiante.
— É sério, Amélia! Que merda você fez?! — pergunto a ela,
irritada.
— Não vou dizer que sinto muito, tá? Eu estava preocupada
com você, então avisei a Caspen; mas, Lori, ele já sabia o que ia
fazer, ele está vigiando-a. — Droga!
Parece que terei que ser mais esperta e calcular melhor
meus passos e o que vou fazer daqui para frente. Não posso ser
pega na próxima vez.
— Tudo bem, mas se fizer de novo, eu juro que te mato.
— Sei, sei, já ouvi isso antes. — Ela está rindo, aquela
diabinha! — Marquei um spá com as meninas amanhã, estarei
passando aí as oito.
— Tudo bem, estarei esperando.
— Eu te amo, amiga, se cuida — diz, rindo.
— Sim, sim, todos me amam; pelo visto, até Caspen...
Ela grita de surpresa, e eu encerro a chamada. Deixá-la-ei
esperar até amanhã.
Amélia liga novamente, mas não atendo. Ela me dedurou,
então é justo.
AMÉLIA: “Sua vaca”.
EU: “Te amo...”
AMÉLIA: “Quero saber que merda foi aquela que falou”.
EU: “Amanhã eu conto para todas”.
SOPH: “O que está acontecendo?”
LAUREN: “Também quero saber, Amélia disse algo
sobre você e Caspen”.
HAPPY: “Será que vocês finalmente estão juntos?”

Amélia é uma fofoqueira, colocou todas as meninas na


conversa. Ela sabe que elas me perturbarão até que eu conte o que
aconteceu.

EU: “Ele me beijou!”


AMÉLIA: “O quê!?”
LAUREN: “Mentira!”
HAPPY: “Finalmente!!!”
SOPH: “Tem certeza que era Caspen?”

Começo a rir com a mensagem de Soph.

EU: “Sim, era Caspen, mas só contarei mais amanhã no


spá. Boa noite, peruas!!”
AMÉLIA: “Volta aqui”.
Lauren: “Não, conte agora, quero saber!”
SOPH: “Lori?”
HAPPY: “Ela não vai falar, meninas. :(

Happy tem razão. Não vou falar, vou fazê-las esperarem.


Culpa da Amélia, por ter estragado minha noite. Sorrio, sabendo que
estão loucas, querendo saber o que aconteceu. Soltei a bomba,
agora terei que contar a elas e ouvi-las conspirarem.
Se elas acham que Caspen e eu seremos um casal, elas
estão enganadas! Minha história com Caspen acabou no dia em que
pedi para Amélia jogar meu diário fora...
Minto: minha história com Caspen acabou no momento em
que eu disse sim para Chris.

— Então... — Amélia começa.


Olho para as minhas amigas a suspirarem. Estamos todas
sentadas em poltronas, fazendo nossas unhas. Não sei por onde
começar, tenho tantas coisas para contar a elas. Estou tão confusa
nesse momento.
— Sim, Amélia? — pergunto a ela, sorrindo.
— Anda logo e nos conte sobre o beijo. — Lauren diz, rindo.
— Sim, porque não foi nem um pouco legal o que você fez
ontem.
Rolo os olhos para Soph.
— Caspen me beijou. — Dou de ombros, como se não fosse
nada demais.
Mas elas sabem muito bem que foi algo a ser falado e
sentido.
— E então? — Happy pergunta.
Olho para as minhas amigas, a fim de fazer suspense. Elas
me olham, ansiosas pela minha resposta.
— Dei um tapa na cara dele — digo, sorrindo para elas.
— Ouch! — Amélia se encolhe.
— Acho que ele não gostou muito do tapa. — Lauren
comenta.
— Bem, digamos que fiquei louca com o que ele fez. Tentei
bater nele de novo, mas Caspen me impediu e disse que sou dele.
— Bufo, rolando os olhos.
— Ah!! — exclama todas elas juntas.
— Isso é TÃO fofo. — Happy sorri para mim.
— Não, não é nada fofo — digo a elas.
— O que quer dizer com isso? — Soph pergunta,
preocupada.
— Sim, também quero saber. Meu irmão finalmente te
reivindicou e você não gostou. — Amélia olha-me com a testa
franzida.
— Não, não gostei nem um pouco. Eu esperei muito tempo
por ele. Vocês não fazem ideia de tanto que pedi para que ele me
visse de forma diferente, para que ele correspondesse aos meus
sentimentos; mas ele sempre foi distante, sempre com ar superior e
sendo claro que nós nunca teríamos nada. E agora, do nada, ele me
vem com essa merda? Não serei esse tipo de mulher que depois de
tudo o que o cara fez com ela, depois de toda humilhação e
rejeição, basta ele beijá-la, que ela diz sim; não, obrigada. Sou uma
mulher de luto pelo noivo morto, quero ser respeitada pela minha
dor, quero ter meu tempo de sofrimento, não preciso das merdas de
Caspen agora. Se ele realmente me quisesse, teria me tomado mais
cedo. Então, sim, ele me beijou e eu me senti viva, me senti
maravilhosa, foi o beijo que eu tanto queria, desejava; mas foi tarde
demais, porque depois do beijo, senti culpa, repulsa, me senti uma
traidora.
Todas me olham com pena, mas Amélia é a única que pega
minha mão e aperta.
— Nós te entendemos, não precisa ficar na defensiva. —
Ela sorri para mim.
— Sim, faça-o sofrer. — Happy pisca.
— Faça com que ele corra atrás de você. — Lauren diz, e
Soph acena, de acordo.
— Podemos ajudá-la com um plano. — Soph mexe uma
sobrancelha.
— Isso! — Amélia bate palmas, após encosta a cabeça na
poltrona, fechando os olhos. — Um dia apenas para mim, isso é
bom.
— Sim, é uma maravilha não ter as crianças. — Lauren diz,
sorrindo. — Amo meus filhos, eles são meu tudo, mas são
cansativos demais, sem falar que Lorenzo fica querendo ensiná-los
a lutar e atirar. Sério, Jonas nem dois anos tem — reclama,
balançando a cabeça.
Sophia bufa.
— Carter deu um canivete e uma arma de choque para
Ariel, e está ensinando-a a usá-los — diz, balançando a cabeça, a
expressão demonstrando que detesta tal atitude. — Sem falar que
fica vendo filmes de lutas com Nicholas. — Sorrio para ela.
— Acho que sou a única que não tem filhos.
— Por enquanto, amiga. Aproveite enquanto pode, porque
depois que os tiver, seu tempo será para eles, e só para eles. —
Lauren diz.
Tristeza aperta meu peito. Elas não sabem, apenas Amélia
sabe, porque ela é minha melhor amiga e prometeu guardar
segredo.
Chris também sabia, ele me fez contar, me abrir para ele; e
agora ele não está mais aqui.
— Ei, você está bem? — Amélia pergunta.
Forço um sorriso para ela.
— Sim, estou só pensando nos filhos — comento, rindo,
mas ela estreita os olhos para mim. — O que acham de massagem?
— pergunto a elas. — Tenho estado muito tensa. — Suspiro.
— Concordo plenamente em um pouco de relaxamento. —
Soph diz, e eu respiro aliviada pela mudança de assunto.
Assim que nossas unhas são feitas, nós nos trocamos,
vestindo um roupão confortável, e vamos em direção à grande sala
de massagem. Assim que deito na maca de massagem, relaxo,
fechando os olhos e aproveitando o meu momento.
Uma música suave toca ao fundo, e de repente a porta se
abre e alguém nos informa de que nossos massagistas entrarão.
— Somos mulheres, mães e estamos aqui para relaxar e
desabafar, então, não reparem nos assuntos que ouvirá. — Amélia
diz aos massagistas.
Como se eles fossem falar alguma coisa... Esse spá é da
família. Cada pessoa contrata e assina um grande termo
confidencial. Nada do que ouvem ou veem aqui pode ser dito. Eles
são treinados para serem surdos, mudos e cegos.
Sinto algo estranho quando nenhum dos massagistas fala.
Tudo é tão silencioso, o ar é estranho e me sinto em alerta na hora,
e é quando sinto o cano de uma arma na minha nuca.
— Você vai se levantar com cuidado e me seguir. Se tentar
algo, suas amigas morrem...
Capítulo Sete
“Pray – JRK (ft. Rooty)”

— Você vai se levantar com cuidado e me seguir. Se tentar


algo, suas amigas morrem.
Como essas merdas entraram aqui? Essa é a pergunta que
me faço quando me levanto com cuidado. Olho em volta e vejo
minhas amigas deitadas, com armas apontadas para elas. Olho
para o homem que tem a arma apontada para mim.
— O que vão fazer? — pergunto a ele.
— Nada, apenas levá-la conosco. — Ele responde, para a
minha surpresa.
Tenho que pensar com clareza, não posso dar um passo
errado e acabar ferindo minhas amigas, então eu apenas aceno
com a cabeça e saio do quarto de massagem, com o cara atrás de
mim. Os outros ficam no quarto. Não sei o que eles estão fazendo
com as meninas, e esse é o meu medo. Mas penso com cuidado,
não posso errar quando for fazer meu movimento.
Olho em volta, mas nada parece fora do normal. Todos
estão trabalhando tranquilamente e os clientes estão sorrindo e se
divertindo. Tenho que agir no momento certo sem errar.
O homem me leva pelo corredor onde fica a sala dos
funcionários, e é quando sei que posso agir. Abaixo minha cabeça,
virando meu corpo. Sou rápida ao jogar minha perna, dando uma
rasteira nele. O homem se desiquilibra, e é quando eu pego sua
arma e aponto para ele.
— Mexeu com a mulher errada. — Bato com a arma na cara
dele, várias vezes.
Sinto raiva, dor e pânico, quero que ele morra; mas não o
mato, apenas bato nele até que desmaie. Após, corro de volta para
a área principal, onde encontro dois seguranças.
— Chamem Caspen. Fomos invadidos, tem três homens na
sala de massagem com as meninas — aviso-lhes.
Não posso voltar para a sala de massagem, será eu contra
três. Por mais que eu seja boa em lutar, não sou expert.
Vou para a sala de segurança. Quero saber como eles
entraram se serem identificados. É quando vejo dois seguranças
caídos, mortos.
— Porra! — esbravejo.
Com cuidado, entro na sala, mas está vazia, então começo
a colocar as câmeras para funcionar, e é assim que vejo que
Amélia, Soph e Lauren têm tudo sob controle na sala de massagem
com os outros dois seguranças. Suspiro aliviada em saber que tudo
está bem e que ninguém reparou no que estava acontecendo.
Olho para as minhas mãos, que estão tremendo. Meu
coração está acelerado. Respiro várias e várias vezes, tentando
controlar um ataque de pânico prestes a vir.
Quase fui levada, e saber disso me traz à lembrança o dia
em que Dimitri me pegou e de tudo o que ele fez comigo.
— Sua putinha, vou te ensinar como é ter um homem.
Encolho-me, lembrando-me do que ele fez com meu corpo,
das suas mãos em mim e da risada que ele dava a cada grito meu.

— Não, por favor, não! — grito, desesperada.


Sinto o tapa em meu rosto, em seguida, sua mão desce
para a minha garganta, e ele me sufoca enquanto me toma. Meu
corpo mole, cansado de lutar contra suas investidas.
— Não... não...

— Shii... Lori, sou eu, Caspen. — Abro os olhos.


Olho em volta. Estou na sala de segurança do spá. Estou
segura de Dimitri, ele não pode mais me tocar.
— Caspen... — sussurro.
— Sim, Sunshine, estou aqui.
Suspiro aliviada. Não era real.
— Ele me queria. O homem veio aqui para me levar — digo
a ele, que acena com a cabeça.
— Você está segura. Eu estou aqui e ninguém irá levá-la —
diz, com cuidado.
— Ele me queria.
— Sim, eu ouvi.
— Lutei contra ele. — Ele sorri.
— Eu o vi, você fez um bom trabalho. — Sorrio para ele. —
Vamos, as meninas querem vê-la — acrescenta, erguendo as mãos
para mim.
— Oh, as meninas! — exclamo, pegando em sua mão e o
deixando me ajudar a me levantar. — Elas estão bem?
— Sim, Sunshine, elas estão bem. — Alívio toma todo o
meu corpo.
Estão bem, todos estão bem. Eu estou bem. Hernández não
chegou até mim, mas ele vai continuar tentando, e sei que cada vez
que acabarmos com algo dele, ele irá retaliar. Hoje ele me queria,
amanhã pode ser outra pessoa; e não deixarei isso acontecer, ele já
tirou Chris de mim, não vai tirar mais ninguém.
Caspen
Hernández a queria. Lori. Ele queria Lori. Apenas ela, e
mais ninguém; e quero saber o porquê. Não vou descansar até
descobrir.
— Eles foram espertos, só não contavam com a esperteza
de Lori. — Lorenzo diz, e tenho que concordar com ele.
Os homens sabiam o que estavam fazendo. Eles passaram
por novos contratados. Já que estávamos contratando massagistas,
eles fizeram um bom trabalho, vigiando e esperando; isso me deixa
com uma pulga atrás da orelha. Há quanto tempo Hernández tem
nos vigiado e o que mais ele tem para nos jogar?
Esses homens entraram em um estabelecimento meu, da
minha família, se passaram por trabalhadores e foram atrás de Lori.
Eles sabiam que ela estaria lá, o que significa que ele está de olho
nela e em cada passo que ela dá.
— Hernández não está para brincadeira, e precisamos
acabar com ele logo de uma vez, antes que ele faça mais — digo a
eles.
O problema? É que não sabemos como achar Hernández,
não sabemos quem ele é e qual é o problema dele com nós.
— Lori está bem? — pergunto a Carter, que acena com a
cabeça.
— Sim, ela está bem até demais — responde, sorrindo. —
Ela quer o cara que tentou pegá-la.
— Parece que tomou gosto. — Lorenzo diz, rindo.
— Traga-a, quero que ela faça perguntas a ele, depois ela
pode fazer o que quiser. — Levanto-me da poltrona, erguendo as
mangas da minha camisa social.
Tenho respostas para obter e homens para matar.

— Por que eu? — Lori pergunta ao homem amarrado entre


uma corda e o teto.
O homem olha para ela, sorrindo.
— Hernández tem planos para você, princesa. — Ele ri.
— Quais planos? — Lori pergunta.
— Não faço ideia. Você acha mesmo que Hernández diria
seu plano para os seus capangas, loirinha? — desdenha.
Lori pega o chicote com bolas de espinhos, em seguida,
batendo com o objeto nas costas dele, que grita.
— O que ele quer comigo!? — grita ela.
— Não sei! — grita o homem, em desespero. — Ele não me
disse, as ordens eram pegar você e levar até ele!
— Tudo bem, acho que não tem mais serventia para mim. —
Ela sorri para ele.
Mas antes que dê outra chicotada nele, eu a paro.
— Não. — Sou bem claro no tom de voz.
Lori abaixa o chicote e me olha.
— Tenho minhas próprias perguntas — acrescento a ela,
que acena com a cabeça.
Lori vai para trás, permitindo-me tomar o controle. Olho para
o homem que tentou levá-la, avaliando o seu corpo e o estrago que
Lori já fez.
— Acho que podemos nos divertir um pouco. O que acha?
— pergunto a ele.
— Eu não sei mais nada, eu juro — implora, balançando a
cabeça.
— Shii... está tudo bem, teremos apenas uma conversa —
ironizo, passando a mão pela sua cabeça.
Ele deve imaginar o tipo de conversa eu teremos.
— Por favor... — implora.
— Você não estava implorando antes, estava? Onde estava
aquele homem poderoso que tentou levar Lori do spá? — desdenho
dele, que choraminga.
Pego uma pequena serra. Amo usar coisas pequenas e
difíceis de cortar, porque a tortura é mais lenta e dolorida.
— Vamos fazer assim: será cada dedo por uma resposta. Se
eu achar que está mentindo, irei serrá-lo; se eu achar que fala a
verdade, será um dedo salvo. — Ele treme.
— Não, eu não sei nada. — Ele chora.
Sorrio ao ver o seu desespero. O prazer que tenho ao vê-lo
sofrer, chorar, implorar para ser poupado é inestimável. Excito-me
ao vê-lo sangrar, em ver as feridas em seu corpo, em saber o
quanto está sofrendo.
— Minha primeira pergunta. Preparado? — Faço uma breve
pausa. — Hernández tem seus olhos em quais negócios meus?
— Eu não sei. — Chora, fechando os olhos.
Estalo a língua, balançando a cabeça. Eu sabia que ele
mentiria. Não sei por que as pessoas mentem em situações como
essas. Elas sabem que vão sofrer se mentirem, e mesmo assim,
preferem a dor.
— Sabe, eu pensei que você era diferente, que tínhamos
uma conexão e que me diria a verdade; mas estou decepcionado,
cara. — Coloco a mão no peito, fazendo teatro.
Pego sua mão, escolhendo qual dedo começarei a serrar.
— O que está fazendo?! — pergunta, em pânico.
— Escolhendo qual dedo será arrancado. — Dou de
ombros.
— Não; eu conto, eu conto! — Tenta puxar a mão.
Mas a seguro firme. Esse cara acha que sou algum
palhaço? Que isso aqui é algum tipo de brincadeira onde ele pode
fazer o que quiser? Será que as aberturas em suas costas não são
o suficiente?
— Acho que não. — Balanço a cabeça para ele, fazendo
beicinho. — Você mentiu, falou que não sabia, agora merece um
castigo por mentir para mim. — Sorrio. — Ah, achei! — exclamo,
mostrando a ele o dedo que irei cortar.
Ele tenta puxar e começa a se contorcer, mas Carter o
segura para mim. Começo a serrar seu dedo. Seus gritos ecoam por
todo o quarto. Sorrio enquanto faço meu trabalho. Sangue escorre
pelas minhas mãos e pinga no chão, formando uma poça.
— Agora sim você pode me responder. Se for sincero, o
próximo dedo será poupado — digo quando termino, em seguida,
coloco seu dedo em um pote. — Então?
Olho para o homem, que está a ponto de desmaiar. Lorenzo
joga água com gelo em seu corpo, e ele grita.
— Responda-me — comando.
— Em todos, tá legal?! — grita, seu corpo está mole e ele
tem dificuldade para continuar a falar. — Hernández tem homens
em todos os seus negócios! — Suspira, os olhos revirando de
fraqueza. — Até em seu clube. — Sorri para mim.
Sinto meu sangue ferver quando ele fala do clube. Olho para
Lorenzo, e ele acena com a cabeça, sabendo o que fazer. Preciso
saber quem do meu clube está na folha de pagamento do
Hernández. Não será fácil descobrir, mas eu vou, e Lori irá me
ajudar.
— Há quanto tempo Hernández está nos vigiando? — Ele
balança a cabeça.
Percebo que ele será difícil; mas eu também sou, e não me
importo nem um pouco em causar dor.
Pego sua outra mão e começo a serrar outro dedo. O som
dos seus gritos é música para os meus ouvidos. É incrível como
homens como eles, que se dizem poderosos e fodões, gritam iguais
a uma garotinha quando são pegos e torturados.
— Pare, pare!! — grita sem fôlego, mas continuo.
Esse é só o começo.
— Vai me responder? Senão, vou tirar outro.
— Por anos, Hernández tem vigiado vocês.
Porra! Sua resposta não é o que eu queria ouvir, não estava
esperando por isso.
Carter fica tenso. Suspiro. Essa porra está indo longe
demais!
— Por que só agora? — pergunto.
Preciso saber! Hernández está nos vigiando há anos, então
por que diabos ele só fez seu movimento agora!?
Esfrego meu rosto, não me importando com o sangue em
minhas mãos. Estou frustrado e parece que tantos anos de trabalho
no final não adiantaram merda alguma.
— Por causa da Loirinha.
— O que ele quer com Lori?
Ele balança a cabeça.
— Não faço ideia, Hernández não compartilha muito. Nunca
o vi, cara, não sei nem como ele é.
Olho-o bem, e sei que falou a verdade. Ninguém sabe quem
é Hernández e onde está. O homem é uma incógnita. Uma incógnita
que eu quero resolver o mais rapidamente possível.
— Tudo bem. — Viro-me para Carter. — Ele é todo seu. —
Sorrio para o meu irmão, que acena.
— Ei, ele era pra ser meu — protesta Lori.
— Você pode ter Dimitri no lugar dele. Mas preciso de você
no clube.
Lori estreita os olhos para mim, porém não rebate, apenas
acena com a cabeça. Passo por ela, mas paro, virando-me para
olhá-la.
— Você foi incrível hoje.
Lori rola os olhos, passando por mim e dando as costas.
— Eu sou sempre incrível, Caspen — resmunga, o que me
faz rir. — E estou começando a pensar que está ficando mole,
sabe? — Vira-se e sorri. — Guarde os elogios para você, porque,
sinceramente? Eu não quero ouvi-los. Te encontro no clube.
Ela desaparece pelo túnel que leva até a sua casa. Sorrio.
Perfeita pra caralho.
Capítulo Oito
“Let It Go – James Bay”

Lori
Olho para Caspen, tentando entender o motivo de eu estar
aqui, em seu clube. Ele sabe que detesto esse lugar, e mesmo
assim me trouxe aqui, para o seu deplorável clube.
Não que seja sujo e nojento. É um clube de rico, tudo muito
bem limpo e arrumado. O problema é todo o podre que acontece
aqui. Nunca foi e nunca será um bom lugar, porque foi exatamente
aqui que eu descobri a sujeira da minha família e quem é Caspen
Callahan. É claro que quando criança eu vi o Carter matando meu
pai aqui, mas achei que ele fosse algum salvador... Bom, eu não
entendia das coisas.
Caspen, o homem pelo qual eu tinha uma queda desde os
cinco anos de idade — é claro que eu não sabia o que sentia ... Foi
exatamente aqui que vi Caspen matar uma mulher.
Foi nojento e cruel, algo que ficou na minha mente por muito
tempo, me fez odiá-lo e tomei trauma. Minha família teve que me
levar a um psicólogo para me tratar, o que resolveu e me fez ver
quem são os Callahan’s.
— Estão todos limpos — digo a ele.
Caspen me encara.
— Tem certeza? — Bufo.
Estou aqui perdendo o meu tempo. Há quatro horas que
estamos na sala do RH. Entrei no sistema e pesquisei cada
funcionário dele, todos estão limpos, sem fichas criminais, sem
antecedentes, sem família, nada com o que se preocupar. Mas
Caspen não acreditou, ele me fez pesquisar de novo e de novo. Não
há mais nada, todos estão bem. Se ele quiser respostas melhores,
terá que interrogar, mostrar poder, impor medo em cada um deles,
quem sabe assim alguém acabará se borrando e se mostrando
traidor.
— Tenho, Caspen. Ninguém está com ficha suja ou
envolvido em alguma sujeira. Será que posso ir agora? — pergunto,
me levantando, mas ele me prende no lugar.
— Não. — Olha-me, sério. — Tem alguns clientes que quero
que pesquise. — Esfrego meu rosto.
Só quero ir para casa e descansar um pouco antes de
começar minha busca por Hernández, mas aqui estou eu, presa
com Caspen, em seu clube, que detesto.
— Não. — Balanço a cabeça. — Estou indo para casa —
aviso a ele, soltando-me de seus braços.
— Lori...
— Nada de Lori, Caspen. Você tem uma equipe que paga
para fazer o que estou fazendo, você não precisa de mim, eles são
bons no que fazem. — Olho-o, irritada por ter perdido meu tempo.
— Você é a melhor. — Dá de ombros. — E preciso saber
sobre Hernández e quem do clube é ligado a ele.
— Você tem cinco pessoas contratadas para fazerem isso.
Use-os. — Ando até a porta, mas ele me para.
— Você não irá a lugar algum. — Segura a porta.
Estreito os olhos para ele.
— É mesmo? — pergunto, cruzando os braços, e ele sorri
para mim. — Tente me impedir.
Tento tirar sua mão da porta, mas ele é mais forte do que
eu, bem mais forte. Fecho os olhos, contando até dez — ou cem,
porque do jeito que estou, poderia matá-lo e colocar fogo neste
clube idiota.
— Caspen...
— Lori...
Abro os olhos para vê-lo sorrindo para mim. Rolo os olhos.
— Tá legal. — Bato o pé. — Por que estou aqui? Quero a
droga da verdade!
Caspen suspira, passando as mãos pelos cabelos.
— Hernández está atrás de você, Lori. Não vou deixá-la
desprotegida. Eu cuido do que é meu, e o melhor para você é ficar
do meu lado, assim, eu mesmo irei te proteger.
Posso ver quão irritado ele está com toda essa situação e
como Hernández tem mexido com ele. Caspen está com ar
cansado.
Suspiro, olhando-o.
— Sério? Essa coisa de “você é minha” de novo — digo,
rindo.
— Você é minha, Sunshine. — Dá de ombros.
— Pare de me chamar assim! — grito, batendo o pé. — Eu
não sou sua, Caspen!
Ele cruza os braços, com uma sobrancelha levantada, em
um gesto a me questionar.
— Sim, amor, você é minha.
Não me controlo e começo a rir.
— Onde estava o “você é minha” quando eu estava parada
bem na sua frente, dizendo a você que eu ia embora? Você não me
pediu para ficar, você não falou que eu era sua, Caspen —
desdenho. — Eu estava implorando mentalmente para que você não
me deixasse ir, para que me impedisse de ir embora; mas você não
falou nada, falou? Você me deixou ir, Caspen! — Bato em seu peito,
com raiva. — Você não me pediu para ficar, e, Deus, como eu
queria que você pedisse! Mas não, ficou lá, olhando-me, deixando-
me ir; e foi aí que errou, porque enquanto me deixava ir, Chris me
recebia de braços abertos!
Vejo em sua expressão que minhas palavras o atingem.
Sinto-me bem em ter falado tudo o que eu estava sentindo.
— Sabe como o conheci? — emendo.
— Sim: você estava à beira de um penhasco e ele te
encontrou lá. — Sorri. Olho para ele com expressão surpresa. — Eu
te disse antes, Lori: eu sabia onde estava e o que estava fazendo.
— E mesmo assim me deu a Chris em uma bandeja. —
Balanço a cabeça.
— Não achei que precisava me preocupar. — Encolhe os
ombros.
— Foi onde errou. Chris estava lá, foi ele quem conversou
comigo, foi ele quem me fez rir de novo e esquecer de tudo o que
tinha me acontecido, foi ele quem me segurou quando eu tinha
meus pesadelos, quem secou minhas lágrimas quando chorei e
quem me amou quando eu não sabia que podia ser amada. Foi
Chris, Caspen, e não você. — Fecho os olhos, lembrando-me dele e
de tudo o que vivemos. — E agora ele está morto, e eu não tenho
nada.
Minhas pernas estão fracas, meus joelhos cedem e eu caio.
Caspen me segura em seus braços. Eu choro por tudo o que está
acontecendo, por toda essa dor que estou sentindo, por toda essa
raiva, essa sede por vingança que tenho; coloco tudo para fora, e
dessa vez é Caspen quem me segura.
Caspen
Culpa. O que estou sentindo enquanto seguro Lori em meus
braços é culpa, por ter a deixado ir quando ela precisava que eu a
fizesse ficar, por ter quebrado seu coração, por ter deixado outro
homem amá-la e cuidar dela, por ter esperado demais.
Não sou o tipo de homem que demonstra sentimentos. Às
vezes penso que não tenho coração, porque não consigo sentir
nada; mas Lori é diferente, ela traz a mim paz, faz com que eu sinta,
faz com que eu queira ser melhor. Ela me fez amá-la quando pensei
que nunca poderia amar.
Eu a fiz sofrer por uma promessa besta e sem sentido. Sou
um homem que cumpre o que fala, por isso segui minha promessa
ao pé da letra, mantendo-me distante, na minha.
Sou o tipo de homem que pega o que quer, que não desiste
e que não se importa com regras; e olha onde isso me levou. Estou
perdendo a mulher que amo.
Não, essa merda não vai acontecer! Está na hora de Lori ver
que não estou brincando e que é minha, custe o que custar.
Com ela em meus braços, eu nos levanto e a levo para o
meu escritório, onde tenho um quarto anexado. Coloco-a na cama e
me deito com ela, até que durma. Levanto-me da cama e a olho a
dormir. Beijo sua testa com carinho e saio, fechando a porta.
Está na hora de mostrar quem é o verdadeiro Caspen
Callahan. Esta noite o diabo vai sair para brincar um pouco.
— Irmão, onde você está indo? — Carter pergunta ao entrar
em meu escritório.
— Sair. O diabo quer brincar um pouco, vou passar um
recado para Hernández — respondo, sorrindo. — E você, irmão, irá
comigo. Quem melhor do que o Ceifador e o Diabo para fazerem a
festa? — Pisco para ele.
— Que recado quer passar para ele? — pergunta, cruzando
os braços.
Sorrio.
— Que estou indo atrás dele e que vou pegá-lo.
Pego meu celular e ligo para Lorenzo, pedindo a ele para
ficar de olho em Lori enquanto eu saio para me divertir um pouco.
Olho para Lori, me certificando de que ela esteja dormindo,
e fecho a porta. Carter está logo atrás de mim, sorrindo. Ele gosta
de matar, de torturar, ele gosta de fazer as pessoas gritarem,
sangrarem. Ele ama trazer a morte.
Porra! Só de pensar em como nossa noite será, já fico
excitado!
Olho para o garoto na minha frente. Não deve passar de
vinte e um anos. Coitado! Ele nunca imaginou que hoje se
encontraria comigo; mas ele está na minha área, vendendo garotas
de quinze anos, tudo em nome do Hernández. Eu não sabia que ele
iria tão baixo, a ponto de vender adolescentes em becos escuros.
— E-eu não sei quem ele é. — O menino chora, encolhido
no chão.
— E mesmo assim faz o que ele manda! — rosno, irritado.
— Ele paga bem — choraminga.
Abaixo-me, ficando cara a cara com ele. Sorrio quando o
vejo tremer.
— Temos um recado para Hernández. Será que pode
entregar a ele? — pergunto.
Ele acena com a cabeça. Olho para Carter, que chega mais
perto. Quando o menino o vê, começa a dar alguns passos para
trás. Enrugo o nariz quando sinto o cheiro forte de mijo.
Merda! Nem comecei, e ele já se mijou... Patético!
— Segure-o — comando a Carter, que obedece.
Rasgo a blusa do garoto, olhando para o seu corpo magro.
Pego minha adaga afiada. Eu a chamo de adaga da morte ou adaga
da justiça. É de ouro branco com prata e diamantes.
Carter coloca um pedaço de pano na boca do garoto, o que
o impede de gritar, e eu começo a esculpir em seu peito:
Vou atrás de você.
O garoto chora, seu corpo tremendo, e em todo o momento
um sorriso está em meus lábios. Hernández irá entender o recado
que tenho para ele; não que esse seja o único.
Solto o garoto, e ele corre, cambaleando enquanto se
encolhe de dor. Entro no pequeno prostíbulo e mato mais dois
homens, em seguida, levando as garotas para um abrigo onde
serão cuidadas e protegidas.
Hernández é sujo, ele é baixo demais, e fico me
perguntando o que ele quer com Lori e o que pretende fazer se
conseguir pegá-la.
Carter e eu continuamos a caçar. Paramos em cada ponto
que não é nosso, em cada beco e esquina, matamos, torturamos,
colocamos medo e terror onde quer que passamos. Sem pena, sem
remorso, acabamos com tudo, fazemos uma limpeza completa; e
estou pronto para continuar, mas já está amanhecendo, e é quando
percebo que passei tempo demais nas ruas e que preciso voltar
para Lori quando ela acordar.
— O que quer dizer com ela se foi? — pergunto a Heitor, já
que Lorenzo não está por perto.
Meu irmão dá de ombros.
— Ela acordou e pediu para ir para casa, então Lucien e
Lorenzo a levaram.
Vejo vermelho. Porra! Era para ela estar aqui, segura,
protegida pelos meus homens e irmãos!
— Era para ela estar aqui, Heitor; protegida por mim —
grunho.
— E onde você estava, irmão? — pergunta, sorrindo.
— Fazendo o meu trabalho — respondo, cruzando os
braços.
— Bem, se quer proteger Lori, terá que ficar com ela
pessoalmente. — Sorri. — Vou pra casa. Happy e meus filhos
estarão acordando daqui a pouco. — Bate em meu ombro e se
retira.
Esfrego o rosto, vendo minhas mãos sujas de sangue.
Preciso de um bom banho, e depois terei uma conversinha com Lori
Callahan. Ela tem que parar de fugir de mim.
Lori
Cansada, mentalmente e fisicamente. Pareço-me mais velha
do que sou. Só quero que tudo acabe e que eu possa ser normal um
pouco, sem lutas, sem tiros, sem pessoas sequestradas, sem nada
dessa confusão que envolve o nome da minha família, sem
sentimentos confusos.
Eu só quero não sentir nada, mas quanto mais eu tento não
sentir, mais eu sinto; e esses sentimentos estão me comendo viva.
Se eu pudesse, iria embora, sairia de tudo isso e começaria
de novo; porém um Callahan não foge de suas responsabilidades,
sem falar que sou um alvo.
— Você foi embora. — Pulo ao ouvir a voz de Caspen.
Olho para a porta do banheiro, para encontrá-lo encostado
no batente. Seus braços estão cruzados sobre o peito, e ele está me
encarando. Seu olhar parece tão cansado. Parece que não sou
apenas eu.
— Você não estava lá, então vi uma oportunidade para sair.
— Dou de ombros.
Caspen sorri para mim.
— Eu acho que está fugindo de mim, Lori. — Desencosta da
porta e caminha até mim, com passos decisivos.
Sinto-me uma presa.
— Está errado — digo, de cabeça erguida.
Ele sorri novamente.
— Tem certeza? — Prende-me à pia do banheiro, seus
braços em cada lado do meu corpo.
Encaro-o, prendendo a respiração, me preparando para o
seu próximo passo.
— Caspen... — sussurro.
— Sim? — pergunta, ainda sorrindo.
Olho bem para ele, sabendo que vou me arrepender do que
vou fazer; mas dane-se tudo. O que adianta ser cautelosa, sendo
que no fim nada dá certo; que eu sempre acabo prejudicada e de
coração partido? O que adianta ser cuidadosa nesse momento,
onde tudo o que quero é fazer algo impensável e jogar a
preocupação ao vento; onde quero ao menos uma vez na porra da
minha vida fazer o que acho certo, fazer algo por mim e só por mim?
— Me beija — comando.
Mas não espero pela sua iniciativa, apenas jogo meus
braços em seu pescoço e meu corpo sobre o dele, em seguida,
beijando-o. Foda-se. É isso o que eu quero, e vou tomar, não me
importando com as consequências. Esse é o meu momento.
Capítulo Nove
“Sacrifice – Black Atlass (feat. Jessie Reyez)”

Tudo acontece muito rápido. O beijo é devastador. Todos os


meus pensamentos se vão nesse momento. Tudo o que importa é o
que está acontecendo nesse momento. Sua boca está na minha, me
devorando, me possuindo. Minha respiração está acelerada. Sinto
meu coração batendo forte, tudo está mais intenso. Eu o sinto por
inteiro.
Minhas mãos passam pelo seu corpo construído para matar
e me encher de prazer... Porra, ele é delicioso!
Finalmente estou tendo o que quero. Sua língua se encontra
com a minha, o beijo se tona mais frenético. Tiro o seu terno e ele
tira a minha blusa, mas para, para me olhar, provavelmente pedindo
minha permissão. Aceno com a cabeça.
— Porra, sim! — rosna ao rasgar meu sutiã. — São lindos
— sussurra, com adoração.
— Caspen... — murmuro, e ele sorri para mim.
Pegando-me pelas pernas, ele me encaixa em sua cintura,
em seguida, leva-me para o meu quarto e deita-me na cama. Sua
boca em meus seios, os beijando, dando-me prazer. Minha pele se
arrepia.
Arranho suas costas enquanto ele explora meus seios.
Arqueio-me quando ele morde, o que me faz gemer seu nome.
— Tão sensível — murmura, olhando-me. — Eu ficava
imaginando que cores eles seriam, mas isso é bem melhor do que
minha imaginação.
— Caspen? — chamo-o, puxando seu cabelo, e sua cabeça
se levanta. — Menos falação e mais ação. — Ele ri.
— Sim, Senhora. — Sua boca morde meus seios com força,
mas não forte o suficiente para machucar.
Com a força do meu corpo, inverto nossas posições, e ele
sorri para mim. Abaixo minha cabeça, beijando seu peito,
explorando cada parte dele, aproveitando tudo o que tenho para
aproveitar, fazendo esse momento ser só meu e para mim.
Caspen aproveita também, me tocando, me excitando,
deixando-me ainda mais pronta para ele.
Tiro sua calça e a cueca boxer, mas antes que eu possa
tocá-lo, ele inverte as posições.
— Minha vez. — Pisca.
Sua boca me explora. Fecho os olhos, apenas aproveitando
esse momento, antes que a culpa me encha. Esse momento é
nosso e apenas nosso.
— Porra, tão gostosa! — rosna, dando pequenas mordidas.
Caspen tira a minha calça e a calcinha, mas para a minha
tortura, ele não vai direto ao ponto. Ele vai com calma, me tocando,
me excitando, instigando, beijando meu corpo, assoprando,
alisando, deixando-me a ponto de explodir, só para fazer tudo de
novo e de novo.
Estou pronta, estou mais do que pronta, preciso dele agora.
— Caspen! — grito, mas ele apenas ri.
— O que você quer, Lori?
— Você.
Caspen sorri para mim.
— Céus! — grito quando sua boca cai em mim, deixando-
me louca.
Agarro seu cabelo enquanto ele me lambe, me chupa e me
morde. Esfrego minha boceta em seu rosto, não tendo nem um
pouco de vergonha do que estou fazendo.
— Mais forte! — peço a ele.
Caspen enfia dois dedos dentro de mim, o que faz com que
meu corpo comece a tremer. Agarro seus cabelos com mais força.
Meus pés se contorcem, sinto como se tivesse várias borboletas
dentro da minha barriga e eu grito meu orgasmo, chamando seu
nome e implorando por mais.
Meu peito sobe e desce, vejo estrelas, suor escorre entre
meus seios. Sorrio, satisfeita.
Abro os olhos para encontrar Caspen me encarando com
um sorriso nos lábios. Retribuo ao sorriso.
— Isso foi... — Ele me corta com um beijo.
— Isso é só o começo — sussurra em meus lábios.
— Ah, é? — pergunto, sorrindo.
— Sim, Sunshine. — Beija meu pescoço, descendo para os
meus seios. — Segure-se em mim, Lori. Não vou ser gentil.
— Não preciso de gentileza, apenas que me tome.
Encaixo minha perna em seus quadris. Caspen me penetra,
e eu jogo minha cabeça para trás, sentindo-me preenchida por ele.
— Oh, Caspen! — grito.
Seus movimentos são rápidos, fortes, concentrados.
Arranho suas costas. Sua boca está na minha. Seguro-me nele,
dando-lhe tudo de mim, como ele dá a mim tudo de si.
Não é perfeito e romântico. É frenético, assustador, faminto,
enlouquecedor, é maravilhoso e de tirar o fôlego. É incrível.
Esqueço de tudo, porque nesse momento só existe nós
dois. Ele é meu, assim como estou sendo dele. Tantos anos
esperando por isso, desejando por isso... É mais do que esperei.
Caspen inverte as posições novamente, em seguida,
sentando-se e colocando-me sentada sobre seu corpo. Segurando
minha cintura, ele nos movimenta. Minha cabeça está para trás, o
que expõe a ele meu pescoço e meus seios.
Seu pau bate bem fundo em mim, fazendo-me gemer.
— Sim, sim, bem assim! — grito.
Caspen sorri, tomando-me da melhor forma que posso
imaginar.
— Não para, por favor! Não para!
— Nunca — grunhe.
Seguro em seus ombros, minhas unhas cravando em seus
músculos. Abaixo a cabeça, beijando-o. Suor escorre pelos nossos
corpos. Fecho os olhos, meu orgasmo se construindo aos poucos.
— Caspen...
— Venha, Lori. — Seu comando é o suficiente para me fazer
quebrar.
Meu orgasmo toma conta do meu corpo. Grito seu nome
enquanto meu corpo treme; mas ainda o sinto em mim, me
tomando, me possuindo, amando meu corpo, até que ele geme. Ele
gozou.
Caspen cai para trás, levando-me junto, minha cabeça em
seu peito, ouvindo as batidas aceleradas do seu coração.
Viro-me, deitando-me na cama. Olho para Caspen, vendo-o
tirar a camisinha de seu pau, em seguida, dando um nó nela e
jogando-a no chão, perto da cama. Tudo foi tão intenso, que nem
percebi quando ele a colocou.
Levanto-me, pegando a camisinha e indo para o banheiro.
Jogo-a no lixo e pego a roupa de Caspen, que está jogada pelo
quarto.
— O que está fazendo? — Caspen pergunta, da cama.
Olho para ele, suspirando. Ele realmente acha que ficará?
— Vamos, se vista e saia. — Jogo a roupa para ele.
— Que diabos, Lori?!
— Se vista e saia, Caspen. É simples e fácil de entender. —
Balanço a cabeça.
— Você só pode estar brincando! — exclama, começando a
ficar irritado.
Olho para ele, não me importando nem um pouco com
minha nudez.
— Pareço estar brincando? — pergunto, apontando para o
meu rosto. — Fizemos sexo, pronto. Agora você pode ir. — Aponto
para a porta do meu quarto.
— Eu não vou sair daqui enquanto não resolvermos isso. —
Cruza os braços, olhando-me.
— Não há nada para resolver, Caspen. Eu estava tensa e
precisava relaxar, você apareceu e eu aproveitei. Pronto. Agora que
nós já fodemos, você pode ir. — Sorrio.
— Que merda! — exclama, irritado. — Nós não apenas
fodemos. — Levanto uma sobrancelha.
— Sim, nós apenas fodemos. — Encolho os ombros. —
Nada demais. Agora vou tomar meu banho, e quando eu sair do
banheiro, quero que já tenha ido. — Entro no banheiro, fechando a
porta.
Merda! Eu fiz isso, tratei-o da mesma forma que tratou
outras mulheres, como se não fosse nada. Queria que doesse nele
como doeu em mim todos esses anos em que me rejeitou.
Minhas mãos estão tremendo e meu coração está super-
acelerado, a adrenalina que passa por mim é demais. A sensação é
muito boa e, droga, quero fazer de novo e de novo! Sem falar que o
sexo é muito, muito bom.
Mas quando olho para a minha mão e vejo o anel que Chris
me deu, sinto-me culpada, e tudo o que eu queria era não sentir
culpa.

Caspen
Olho para a porta do banheiro.
Ela me usou e me expulsou, e não consigo ficar com raiva
dela. Frustrado? Sim, mas não com raiva. Lori teve muita coragem
para fazer o que fez, e sinto-me orgulhoso.
Balanço a cabeça, rindo. Hoje eu vou dar o que ela quer,
deixando-a pensar que ganhou essa; porém, quando eu a tiver de
novo — porque eu vou tê-la de novo, mostrarei quem realmente
manda, e ficaremos na cama por tempo indeterminado.
Levanto-me, vestindo meu terno. Balanço a cabeça, ainda
não acreditando no que ela acabou de fazer. Já vestido, resolvo
surpreendê-la e entro no banheiro.
— Merda, Caspen! O que pensa que está fazendo?! — Lori
grita, tentando se cobrir com as mãos.
Rio. Em seguida, abro o vidro do boxe e a puxo pela nuca,
beijando-a. Mordo seus lábios, o que a faz gemer.
— Te vejo depois. — Pisco para ela, que agora está sem
reação.
Saio do banheiro e sorrio quando ouço seu gritinho irritado.
Fecho a porta do seu quarto, dando de cara com seu irmão. Ele
levanta uma sobrancelha para mim, e eu apenas dou de ombro.
— Acho que finalmente vocês se acertaram — comenta.
— Bem, Lori está sendo um pouco difícil. — Ele ri.
— Boa sorte. Minha irmã sabe ser difícil quando quer.
— Não me diga... — Passo por ele, indo para o andar de
baixo.
Tia Megan me vê e sorri para mim. Em resposta, apenas
aceno para ela. Não quero parar para ouvi-la falar sobre a filha de
todos os blábláblá de mãe. Tenho muito o que fazer, incluindo achar
Hernández.
— O que vocês têm para mim? — pergunto aos meus
hackers, em minha sala de segurança.
— Hernández marcou uma reunião com seus investidores, e
alguns dos nossos homens estarão nessa reunião. — Marevick
entrega a mim alguns arquivos.
Estreito os olhos quando vejo alguns dos meus contatos
marcados como homens de Hernández. Parece que achei meus
traidores, aqueles que serão punidos quando eu os pegar.
— Local da reunião? — pergunto.
— Não há local ainda. Sabemos que Hernández marca suas
reuniões em cima da hora, para não haver intrusos. E já que
acabamos com seu leilão, ele tem se tornado mais seletivo.
— Vou analisar todos os arquivos e tentar achar alguma
coisa que nos ajude a localizá-lo. Hernández não pode se esconder
por muito tempo, não se ele estiver em meu território. Vamos achá-
lo. — Marevick acena com a cabeça.
Saio da sala de segurança, indo para o meu quarto. Preciso
dormir um pouco, antes que eu acabe desmaiando, de tão cansado;
mas minha mente está a mil por hora. Hernández tem se tornado
difícil, e agora, saber que ele tem Lori como alvo piora ainda mais a
situação.
Não sei o que ele quer com Lori, mas não irei permitir que
ele a tenha. Esperei muito tempo para fazê-la minha; perdi anos
com ela, por causa de uma promessa que ela nem se lembra mais.
Fui um tolo por não ter estado com ela quando mais precisou de
mim, por ter a deixado partir. Farei de tudo para recuperar o tempo
perdido e protegê-la de Hernández.
Não sou o tipo de homem que demonstra emoções. Fui
treinado para controlar o que sinto, para não ter medo, para ser frio,
para matar e reinar, controlar e fazer com que todos sintam medo de
mim.
Porém, quero que tudo mude. Continuo sendo o mesmo,
com a diferença de que amo. Amo Lori e seu sorriso, o jeito com
que ela joga o cabelo para trás e cruza os braços, o jeito com que
ela rola os olhos e suspira... amo a força dela, o quão incrível ela é...
Mesmo depois de tudo o que passou, tudo o que sofreu, ela
continua com a cabeça erguida e seguindo em frente. Sei que
muitas das vezes tudo é apenas uma fachada, que ela quer mostrar
a todos que está bem quando tudo o que quer é quebrar; e é por
essa mulher que me apaixonei. Pena que esperei tempo demais.
Chega de esperar.

Lori
Suspiro aliviada quando saio do banheiro e vejo que Caspen
se foi. Sento-me na beira da cama, olhando para as minhas mãos e
tentando conter as lágrimas.
Não há mais ninguém em meu quarto, então não tenho
motivo para tentar ser forte e controlada, posso quebrar à vontade
sem ninguém saber quão fraca sou e como estou me sentindo.
O que acabei de fazer? Por um momento de fraqueza
acabei cedendo e me rendi a Caspen e ao desejo, à paixão que
sinto por ele; e agora, sinto-me culpada... Droga! Não queria me
sentir assim. Não queria sentir esse peso em meus ombros, a culpa
me corroendo, a dor de estar sozinha, mesmo quando tem várias
pessoas à minha volta, não queria sentir essa vontade de torturar
alguém, fazê-lo sangrar e gritar... Eu só não queria amar Caspen!
Porra! Eu só não queria sentir!
Mas sinto. Chris está morto, e eu, viva. Isso é o que eu mais
sinto.
Capítulo Dez
“Bird Set Free – Sia”

Caspen, cinco dias depois...


“Eu o vi, eu o vi matando uma mulher! Não só isso, eles
estavam fazendo sexo. Íntimos, e mesmo assim ele a matou a
sangue frio, sem nem piscar. E eu fiquei lá, parada, olhando tudo
acontecer.
Sei que não deve estar entendendo nada, então vou
explicar: amo Caspen e estava sentindo a falta dele. Fazia dias que
eu não o via, sempre naquele clube dele, então dei um jeito de ir ao
clube com Amélia, minha melhor amiga e irmã do Caspen. Sempre
tivemos curiosidade. Tudo o que sabíamos era que o clube é para
homens e que tem mulheres nuas dançando, e essas coisas
sensuais; então queríamos muito ir para vermos, mas nunca
tivemos uma oportunidade.
Porém, hoje eu não estava aguentando mais ficar em casa,
sem ver Caspen. Eu queria algo emocionante, e Amélia deu a ideia
de irmos escondidas no clube. Nós roubamos o carro do meu irmão
e fomos.
Passamos despercebidas, pois com a roupa que estávamos,
parecíamos mais velhas.
Foi fácil entrar, mas foi difícil achar Caspen. Mas eu o achei.
Sou decidida, e quando quero algo, eu consigo.
Lá estava ele, com a mulher, fodendo, entre gemidos e
tapas. Fiquei paralisada, não consegui dar as costas e fugir. Senti
ciúme e ao mesmo tempo fiquei excitada. Sim, eu só tenho quinze
anos, mas, cara, foi sexy demais! Só não imaginava que ele iria
matá-la, e foi o que ele fez. Ele a matou, e foi quando gritei.
Entrei em pânico, me entende? O homem pelo qual tenho
uma grande paixão matou uma mulher, uma mulher que estava de
quatro, e o pau dele estava dentro dela!
Perdi o controle e falei coisas para ele. Eu nem sei mais o
que pensar. O que eu faço agora? Tenho tantas perguntas, mas não
sei quem pode respondê-las.
Mamãe veio falar comigo. Caspen ligou para os meus pais,
avisando o que aconteceu, e agora terei que conversar com alguém,
falar sobre o que vi.
Mamãe tentou explicar as coisas para mim e o que deve ter
acontecido, mas não quero ouvir. Não agora. Tudo o que quero é
fechar meus olhos e esquecer do que aconteceu; mas toda vez que
os fecho, eu o vejo com sangue nas mãos.
Diga-me, meu querido Diário, o que eu faço?”

Fecho o diário. Esfrego meu rosto, imaginando o que mudou


depois, já que ela continuou a me amar. E quero saber por que ela
continuou me amando depois de tudo o que viu e de todas as vezes
que a rejeitei. Olho para o diário. Quero saber mais, preciso saber
mais; mas me sinto culpado, como se estivesse invadindo sua
privacidade. Tenho que perguntar a ela, quero saber por ela como
continuou me amando depois de tudo; mas temo que trazer isso à
tona faça com que ela se lembre, e se isso acontecer, temo que não
me amará mais; então, eu abro o diário e o leio:

“Ei, estou de volta. Sentiu minha falta? Espero que sim.


Bem, sinto muito por ter ficado tanto tempo sem escrever,
mas estava apenas tentando entender tudo o que aconteceu, sabe?
Mamãe me explicou, e agora sei quem realmente é a minha
família. Como eu pude não perceber? Tenho quinze anos e não
fazia ideia da importância dos Callahan’s, mas agora eu sei! Somos
mafiosos! Shii, não conte para ninguém, é o nosso segredo.
Ainda estou em choque com tudo, mas, sério, eu não fazia
ideia. Eu sabia, é claro, que erámos importantes e que todos nos
respeitavam, mas não fazia ideia do motivo de tanto respeito e
temor. Mas agora eu sei.
Sei também do motivo de Caspen ter matado a mulher. Ela
traiu a família; se aproveitou da boa vontade do Caspen e depois o
traiu. Não que isso justifique o modo que ele a matou, ainda achei
bárbaro e muito cruel. Mas não vou questionar o que não sei. Não é
assunto meu. Mamãe diz que sou nova demais para entender tudo e
que à medida em que eu for crescendo, irei saber; então podemos
continuar com nosso plano de casamento. Tenho tudo planejado, e
Amélia irá me ajudar com tudo. Iremos ser cunhadas além de
primas. Isso é tão legal.
Não vá pensando que estou bem com o que aconteceu. Não
estou, ainda estou chateada com Caspen, ele nem veio me procurar
para se explicar, e acho que me deve um pedido de desculpa.
Quero vê-lo, mas ele tem me evitado. Chega a ser
engraçado. Toda vez que ele percebe que estou por perto, ele foge.
Acho que ele pensa que eu o odeio; e não vou negar, eu o odiei,
durante cinco dias; mas logo percebi que todos temos nossos
monstros, que todos erramos e que somos o que somos.
Carter, meu primo, irmão de Caspen, matou meu pai na
minha frente, e ele tinha apenas oito anos. E eu não fiquei com raiva
dele por isso. Na verdade, fiquei aliviada quando descobri que não
tinha que lidar mais com aquele homem.
Eu sou forte. Pelo menos é o que eu digo a mim mesma
toda vez que fecho meus olhos e me lembro do passado e do que
acontecia comigo quando morava com o homem que eu chamava
de pai. Vou ser forte por Caspen também. Eu o vejo, lá no fundo
vejo, quem realmente é.
Um monstro que precisa ser amado. E eu sou a pessoa que
o amará, porque o monstro que vejo nele é apenas um homem que
precisa se render e se aceitar, que precisa sentir; e eu o farei sentir.
Eu o farei me amar. Se não amarmos um monstro, como ele poderá
mudar e se tornar melhor?”

Ela nunca esqueceu o que aconteceu. Ela apenas me


aceitou.
Não sei o que fazer com essa informação. Passei tanto
tempo longe, mantendo-me afastado, pensando que Lori tinha
esquecido o que aconteceu; mas não. Lori nunca me odiou e ela
nunca esqueceu, apenas aceitou tudo, apenas continuou me
amando e tentando enquanto eu apenas me distanciava.
Levanto-me, guardando o diário em meu cofre, e vou até a
casa de Lori. Preciso falar com ela, preciso saber o porquê de ela
não me odiar. Eu só preciso saber, ouvir dela.
Caminho a passos largos e decididos até lá. Encontro com
Lucas e Audrey, mas não digo nada a eles. Só preciso de Lori, e
mais ninguém.
— Procurando por Lori? — Lucas pergunta.
Aceno com a cabeça.
— Ela foi às compras com Amélia, levou três seguranças
com elas.
Porra! Não era para ela sair assim, sem avisar a mim! Eu
deveria saber que ela iria dar um jeito de sair sem que eu soubesse.
— E ninguém me avisou que elas iriam sair?! — esbravejo,
o que faz com que Audrey se assuste.
— Amélia disse que você sabia e que tinha mandado os três
seguranças. — Dá de ombros.
Balanço a cabeça, irritado demais.
— E você acreditou nela? — Dou um passo para a frente,
ficando cara a cara com ele.
Pelo canto do olho, vejo Audrey se encolhendo.
— Não vou te machucar, pequena — digo, com sarcasmo,
olhando-a, e ela acena com a cabeça, mas posso dizer que ainda
está com medo. — Apenas me responda: você acreditou em
Amélia?
— Sim, já que agora ela tem um bebê e tudo o mais, achei
que não aprontaria.
Não me controlo e começo a rir. Não é uma risada
engraçada. Audrey se encolhe e Lucas dá um passo para trás.
— Sério mesmo? — desdenho. — Amélia não mudou,
Lucas, e o fato de ela ter um bebê não interfere nas coisas que ela
faz. Minha irmã continua a mesma e enganou você mais uma vez!
Não enviei três seguranças para elas saírem! Eu nem sabia que
elas planejavam sair! — digo, furioso. — Elas ao menos disseram
onde iriam?
— Não.
Aceno. Provavelmente elas desativaram os celulares e os
carros, para que não mapeemos seus passos. Elas são espertas.
Droga!
Quando elas voltarem, terei uma conversa com as duas.
E três seguranças?! Apenas três merdas de seguranças?!
Onde elas estavam com a cabeça?!
Lori
— O que está planejando? — Amélia pergunta.
Sorrio para ela. Meu irmão realmente acreditou no que ela
disse e nos deixou sair sem nem questionarem os seguranças. Sim,
eles estão aqui para nos protegerem; mas eles não são homens de
Caspen, são meus. Homens que Caspen pensou que tinha
dispensado ou que estavam do seu lado, mas sou uma mulher que
sabe o que quer e que tem os próprios planos.
— Durante esses cinco dias projetei algo e pedi para alguns
contatos meus fabricarem. Chegou hoje de manhã, e agora vou
implantá-lo em mim. — Dou de ombros.
Amélia olha para mim, provavelmente sem entender o que
estou dizendo.
— Implantar o que em você?
— Depois que descobri que Hernández está atrás de mim,
criei um microchip de plástico com um localizador. Assim, se eu for
pega, vocês poderão me rastrear; e como é de plástico, Hernández
não irá detectá-lo. — Ela me olha de olhos arregalados.
— Você não será pega, Lori.
Dou de ombros.
— Nunca se sabe. Prefiro estar preparada. — Sorrio para
ela.
Entro na loja de tatuagem de um amigo que fiz enquanto
estava fora. Bem, as amizades que fiz no meu período longe é um
assunto do qual não falo e prefiro não falar. São pessoas incríveis
com um passado ruim. Parecidos comigo, e o melhor: eles não
fazem perguntas.
— É aqui que vai colocar o chip? — Amélia pergunta,
olhando em volta.
— Sim. O chip é mais um piercing microdermal nas costas,
assim você pode me localizar e ninguém saberá que é um pequeno
GPS. — Pisco para Amélia. — Posso fazer um pra você, se quiser.
— Vou pensar sobre isso. — Sorri para mim.
— Estou aqui para ver JJ — falo para a recepcionista que
está atrás do balcão.
A loja não é perfeita, mas é organizada e convidativa. Gosto
do lugar e gosto do JJ. Ele é um ex-fuzileiro naval e atual tatuador.
A recepcionista acena com a cabeça e nos convida para
sentarmos. Os seguranças ficam do lado de fora, guardando o lugar.
Não demora muito para JJ aparecer.
— Minha loirinha preferida está aqui! — O homem me
abraça apertado. — Como você está, querida?
— Bem. Sinto falta dele.
— Nós também sentimos. — Sorri para mim. — Está
pronta? — Aponta para uma porta atrás dele.
— Sim, trouxe o chip.
— Ótimo! Ela virá com a gente?
Olho para Amélia, que acena com a cabeça.
— Bom. — Ele pisca para ela, que rola os olhos com o
flerte.
Sorrio para ela, que faz cara feia para mim.
— Você tem baba bem aqui. — Aponto para o seu queixo.
Amélia bufa, batendo em minha mão.
— Calada! — rosna, irritada.
— JJ, essa é minha melhor amiga, Amélia — apresento-os.
— Amélia, esse é JJ, o melhor tatuador. — Minha amiga acena para
ele.
— Fique à vontade. — JJ diz para Amélia.
— Obrigada.
— Então, já fez alguma tatuagem?
Amélia se vira e levanta a blusa, mostrando a cruz em suas
costas. JJ olha, avaliando o trabalho.
— Ficou perfeita.
— Obrigada. Doeu pra caramba. — Ele ri.
JJ olha para mim.
— Querida, é só se deitar, que vou começar — diz,
apontando para a maca.
Tiro minha blusa. Pelo canto do olho esquerdo, vejo JJ
trabalhar em seu equipamento e no meu chip.
— Não faço ideia da merda que está envolvida, mas o que
você fez é foda demais — elogia ele.
— Sim, eu sou muito boa no que faço. — Sorrio.
— Pode apostar que é.
Poucos minutos depois tudo é feito, e não sinto dor alguma.
Já estou de volta na minha casa, pronta para caçar Hernández e
seus negócios.
Entro em meu quarto e vou direto ao meu escritório
escondido.
— Merda! — Levo a mão ao peito quando vejo Caspen
sentado em minha cadeira, olhando para o meu computador.
— Interessante o que tem aqui.
— O que está fazendo aqui, Caspen? — pergunto, cruzando
os braços.
Caspen se levanta, sorrindo. Dou um passo para trás, já que
ele está ficando cada vez mais perto.
— Sim, sim, é muito interessante. Obrigada por ter gostado.
Agora já pode ir. — Aponto para a porta.
— Não vou sair, Lori. Temos que conversar. — Encosta na
minha mesa e cruza as pernas, apoiando os braços na mesa.
Suspiro. Pelo jeito ele não vai sair, então tenho que aceitar e
esperar para ouvir o que tem a dizer.
— Tudo bem, fique à vontade — desdenho, e ele sorri. — O
que quer conversar?
— Você nunca esqueceu — diz, olhando-me bem sério.
Estreito os olhos, balançando a cabeça.
— Pode ser mais claro?
— A mulher que eu matei. Você não esqueceu.
Engulo em seco, balançando a cabeça.
— Não, eu nunca esqueci. — Dou de ombros. — O que isso
importa agora?
— Tudo importa, Lori — diz, ainda me olhando. — Por que
continuou me amando?
Balanço a cabeça. Ele não vai deixar para lá, Caspen não
vai embora enquanto não souber.
— Primeiro, que amar alguém não é passageiro. Não é
porque você matou alguém que eu iria parar de amá-lo. Eu não
mando nos meus sentimentos, Caspen, vai por mim, eu até que
tentei. Eu te odiei por um grande tempo, mas mesmo assim, eu
continuava te amando. — Encolho os ombros. — Passei um tempo
entendendo meus sentimentos, entendendo o que vi e cheguei à
conclusão de que você merecia ser amado e que o monstro que vi
em você eu via em todos. Todos nós temos um lado ruim, temos um
monstro, e alguns, como você, não conseguem controlá-lo. Eu só
aceitei quem você é, quem são os Callahan’s e quão importante é
esse nome. Eu me tornei uma e acabei de mostrar que também
tenho um lado que estava adormecido. É quem somos, Caspen.
Somos monstros, somos cruéis, frios, poderosos; mas merecemos
amar e sermos amados. — Sorrio. — Eu só te amei, Caspen.
— Me amou?
— Sim, amei — minto.
— Você está mentindo, você ainda me ama. — Sorri.
Rolo os olhos.
— Não importa o que sinto agora, Caspen. Eu apenas
desisti. Tenho outro foco nesse momento, e eu e você não é meu
foco. — Contorno a minha mesa e sento na minha cadeira. —
Agora, se me der licença, tenho algo pra fazer. — Balanço a mão,
enxotando-o para fora.
Caspen se vira, inclinando sobre a mesa e ficando cara a
cara comigo.
— É uma pena que eu não seja seu foco, Sunshine, porque
você é o meu. — Pisca. — Não tente sair de novo, Lori.
— É uma ameaça? — desafio-o.
Meu coração está acelerado.
— Não, é um aviso, amor. Estarei de olho.
Antes que ele saia, eu o chamo, e ele se vira, olhando para
mim.
— Por que agora? — pergunto. — Por que depois de tanto
tempo resolveu que me quer?
— Eu sempre a quis, Lori, mas agora não preciso mais
manter uma promessa que fiz anos atrás.
— Que promessa?
— Depois que viu o que fiz, prometi que me manteria longe,
não queria que me odiasse mais do que odiava, pensei que tinha
esquecido do que tinha acontecendo, então fiquei longe, pensando
que se lembrasse do que viu, me odiaria; mas não estou disposto a
te perder, Lori; não mais, e agora que sei que nunca esqueceu, não
irei deixá-la ir. Quase te perdi duas vezes, o tempo acabou, você é
minha e mantenho o que é meu. — Com isso, ele sai, e eu fico de
boca aberta, olhando para a porta do meu escritório.
Merda! Estou ferrada, porque sei que quando Caspen quer
algo, ele consegue! E por mais que eu o ame, também amo o Chris;
e mesmo que ele esteja morto, quero manter, preservar a memória
dele e, principalmente, não quero traí-lo.
O que eu faço?
Capítulo Onze
“Prom Queen – Molly Kate Kestner”

Olho para as informações em meu notebook e sorrio. É isso!


Hernández está prestes a saber quem sou e do que sou capaz de
fazer. Vou deixar minha marca, e ele vai saber que foi eu. Quero que
ele saiba que estou nessa, que eu estou atrás dele e que é pessoal.
Ele matou Chris, e eu vou matá-lo. Hernández é meu, e eu
acabarei com ele e terei um sorriso nos lábios enquanto o torturo,
fazendo-o sangrar. Hernández mexeu com a noiva errada. Se ele
me quer, terá que fazer um trabalho melhor em me conseguir.
Descobri um bar em um local afastado. O bar é apenas
fachada para o que realmente acontece, que é produção de drogas.
Hernández costuma produzir umas drogas que estão circulando
pela cidade, drogas essas que estão se tornando um grande
problema por causa dos efeitos. É por isso que queremos essas
drogas fora das ruas, das nossas ruas. Será eu quem acabará com
toda essa produção.
Levanto-me, começando a me vestir. Pego algumas facas,
em seguida as escondendo pelo meu corpo. Pego também minha
arma e algumas outras coisinhas que tenho planejado para esta
noite. Ninguém irá me segurar. Se alguém entrar no meu caminho,
matarei, sendo homem de Caspen ou não.
Olho para as imagens das câmeras de segurança. Tudo
está limpo, mas sei que assim que eu sair de casa, os homens de
Caspen estarão atrás de mim, impedindo-me de ir a qualquer lugar.
É por isso que Amélia entrará em ação, só assim poderei sair sem
ser detectada. Tenho um dos meus homens me esperando com uma
van preta no fim da rua, bem no meio de um ponto cego onde não
há câmeras.
Respiro fundo, pronta para entrar em ação. Envio uma
mensagem para Amélia.

EU: “Pode ir”.


AMÉLIA: “Fique preparada”.

Mal sabe ela que já estou preparada. Sempre preparada e


animada para colocar aquele lugar para baixo.
Abro a porta do meu quarto, vendo um segurança no final do
corredor. Fecho a porta com cuidado, para não ser ouvida. Preciso
sair pela porta secreta que há em meu quarto. Amélia e eu
gostávamos muito dessa coisa de castelo e princesa, gostávamos
de portas secretas e tudo, então papai fez uma para mim, uma que
dá para o jardim; e é por ela que sairei.
A passagem escondida fica atrás de uma estante com livros,
em meu quarto.
Desço com cuidado. Sei que tem um segurança de
prontidão na saída, mas assim que Amélia fingir ser eu, ele irá sair.
Ouço quando o homem se afasta. Abro a porta, olhando
para os lados. Tudo está limpo. O tempo é cronometrado. Tenho
minutos até que percebam que estão atrás da pessoa errada. Ligo
meu celular, acessando às câmeras de segurança. Posso observar
onde estão os seguranças e quão melhor caminho para seguir.
Também observo Amélia correndo e os seguranças atrás dela.
Sorrio, balançando a cabeça. Ela é boa e eles são um
bando de idiotas. Caminho com cuidado, meu capuz escondendo
meu rosto. Passo por todos os pontos cegos. Quando tudo está
tranquilo, eu corro até a van que está estacionada onde pedi; mas
antes de alcançá-la, um dos seguranças de Caspen aparece na
minha frente. Ergo o braço, apontando minha arma para ele, e atiro
em seu peito. Enquanto ele cai, entro, sorrindo para o motorista, um
segurança fiel a mim.
— Pronta? — Aceno com a cabeça.
— Mais que pronta. — Viro a cabeça para olhar na parte de
trás, onde mais dois homens meus estão. — Vocês estão prontos?
— Sim, Senhora. — Acenam.
Depois que Dimitri me pegou e eu fui embora para me
recuperar, percebi que não podia confiar em ninguém e que
precisava dos próprios homens, leais a mim; e foi o que fiz. Eu
treinei muito para me tornar fria e poderosa, para ser destemida; e
eu consegui, eu me tornei quem sou com a ajuda de Chris.
Ele sempre esteve lá por mim. Mesmo nas horas mais
difíceis ele estava lá, me segurando, me dando apoio, me ajudou a
vencer meus pesadelos, a me amar e me aceitar, aceitar o que
aconteceu comigo e mostrou que eu podia confiar nele.
Quero vingança por ele e pelo que perdemos. Tínhamos um
futuro pela frente, e ele foi tirado de nós, de mim. Parece que não
mereço ter paz ou ser feliz.
Estou tão cansada de tudo, que tem momentos em que só
penso em desistir.
Olho para os meus homens. Tenho cinco homens no total.
Eu os conquistei, prometi algo melhor do que eles tinham, dei a eles
algo para lutar.
Esses homens estavam tão ruins quanto eu, todos
procurando um motivo para viver. Eu lhes dei o motivo, e agora eles
são meus.
Olho para Maddox, um ex-soldado que teve um acidente
enquanto estava em ação. Sua perna esquerda foi amputada. Ele
estava lutando contra a depressão. Eu o vi, vi sua alma e dei a ele
um motivo. Ele não é incapaz, e eu lhe mostrei.
Cada um deles tem uma história. Todos eram soldados que
lutavam contra si mesmos, e eu os ajudei, e agora somos uma
equipe. Eles são meus homens, e eu sou a menina deles.
Conheci-o quando fui embora. Eu estava tão mal, que
acabei indo a um grupo de pessoas que lutavam contra os próprios
demônios; e lá estavam eles, com seus pesadelos.
— Chegamos. — Maddox diz, olhando-me.
Olho para o bar decadente. O letreiro está caído de lado,
quase não tem luz em volta e algumas prostituas rondam o lugar,
esperando por qualquer coisa que dê dinheiro a elas.
Olho para Charlie. Ele é um especialista em explosivos e me
ajudará a colocar o lugar para baixo. Tudo irá pelos ares, do jeito
que planejei.
— Vamos lá, homem, vamos trabalhar! — Pego uma maçã e
saio da van, com Charlie e Miguel atrás de mim.
Charlie entra no bar para colocar a bomba no banheiro, e
Miguel colocará do lado de fora, na parte de trás. Emília e Alex
rondam o lugar, certificando de que não teremos problemas.
Maddox fica na van, como esperado. Ele está aqui para ser
nossa rota de fuga, e eu estou aqui para apenas apertar o
detonador. Um plano perfeito.
Charlie e Miguel voltam minutos depois, e Charlie entrega a
mim o detonador.
— Tem certeza? — pergunta. — Há pessoas inocentes
naquele lugar. — Aponta.
— Chris também era inocente, e agora ele está morto;
então, sim, eu tenho certeza. — Pego o detonador de suas mãos. —
Vocês podem entrar na van. Eu vou ficar aqui, quero ver esse lugar
explodir.
Eles acenam com a cabeça, deixando-me.
Não me importo que possa ter pessoa inocente no bar,
porque a verdade é que não tem, não existem pessoas inocentes.
Eu era inocente, e olha o que aconteceu, olha o que me tornei.
Aperto o detonador, e toda a produção de drogas de
Hernández se vai.
Sorrindo, caminho de volta para a van. Jogo minha maçã
para cima, em seguida, pegando-a e dando uma boa mordida. Os
gritos e o desespero das pessoas trazem a mim uma grande
satisfação.
Pego o pedaço de papel que guardei em meu bolso antes
de sair de casa e o coloco em meio ao caos, juntamente com a
maçã.
“Faça o seu melhor. Lori”.
Sorrio. Sim, Hernández saberá que não estou recuando. Se
ele me quer, que ele venha atrás de mim com seu melhor.
— Que porra, Lori! — Olho para frente, vendo Caspen.
Ergo a cabeça, mostrando a ele que não estou nem um
pouco intimidada com sua fúria. Ah, ele está furioso, muito furioso!
Sorrio para ele, que estreita os olhos.
— Gostou? — pergunto. — Foi emocionante demais. —
Suspiro, sorrindo.
— Você está louca!? — pergunta, ficando cara a cara
comigo.
Encaro-o bem séria, até que dou um sorrisinho de lado.
— Não, Caspen, eu não estou louca. Minha mente nunca
esteve tão sã em todos esses anos. — Aponto para o seu peito. —
Agora, se me der licença, vou para casa. — Tento passar por ele,
que segura meu braço.
— Você sabe o que acabou de fazer aqui?
Dou de ombros.
— Sim: eu aticei a fera, agora esperarei ele atacar. —
Sorrio. — Hernández me quer, Caspen, e eu estou esperando por
ele.
— Porra! — Ele me pega pelas pernas, carregando-me
sobre seu ombro para em seguida me jogar em seu carro.
Pelo canto do olho, vejo Carter sorrindo.
— Bom trabalho — elogia ele.
— Obrigada. — Sorrio para ele.
— Não a incentive, Carter! — Caspen rosna.
— Pelo menos alguém aqui aprecia meu trabalho —
resmungo.
— Você acha que não apreciei o que fez? — pergunta, se
virando para mim. — Porra, Lori, o que você fez foi espetacular!
Estou chateado por não ter me chamado, por não ter confiado em
mim para ajudá-la! Somos família, porra! — esbraveja.
Olho para ele, estreitando os olhos.
— Te falar?! — grito, irritada. — Se eu te falasse sobre meus
planos, você me trancaria dentro de casa e faria tudo sozinho! Foi
meu noivo que Hernández matou, e é a mim que ele quer; então,
não vou ficar trancada dentro do quarto, sendo protegida! Eu posso
me proteger sozinha! — Cruzo os braços.
Até parece que falaria alguma coisa para ele... Caspen e eu
estamos trabalhando separados, não há parceria e nunca haverá.
Não confio nele no sentido de deixar. Eu faço o que quero. Será eu
e meus homens, sem Caspen.
Caspen não diz mais nada, apenas dirige de volta para
casa, meus homens o seguindo com a van.
Carter está com um grande sorriso nos lábios.
— Me leve para casa, Caspen — peço a ele.
— Não, você e eu teremos uma conversinha. — Ele para o
carro de frente para a grande casa.
Estreito os olhos. Não quero ter essa conversinha com ele,
mas ao menos ele me trouxe para a casa dos seus pais, e não a
sua casa. Apesar de que de qualquer jeito, ele fica mais aqui do que
lá.
— Tudo bem. — Encolho os ombros.
Entro na casa, encontrando com Amélia. Ela me dá um
pequeno sorriso de desculpa.
— Sinto muito.
— Está tudo bem. — Pisco para ela.
Eu já imaginava que Caspen a faria falar. Ela é irmã dele e
ele sabe ser bem assustador.
Entro no escritório, e Caspen fecha a porta atrás dele. Viro-
me para encará-lo.
— Estou aqui. Fale — incentivo-o.
Ele suspira, dando a volta e encostando em sua mesa,
encarando-me.
— Você não fará mais isso — diz.
Encaro-o, cheia de vontade de rir. Ele realmente acha que
pararei? Logo agora, que estou me divertindo? Só irei parar quando
estiver morta; e vai por mim, não estou com vontade de morrer.
— Não — rebato, cruzando os braços.
— Lori, se eu tiver que te trancar em uma das celas na sala
de tortura, eu vou — ameaça, apontando o dedo para mim.
Abro a boca, mas logo a fecho, em seguida, bufando e
batendo o pé. “Oh, não!”
— Nem ouse! — aviso por fim.
— Me teste.
Estreito os olhos.
— Você matou um dos meus homens, Lori; então, sim, se
tiver que a trancar, igual a uma prisioneira, eu vou.
Dou um passo para frente, ficando próxima dele.
— Você faz, e eu te mato, Caspen. Juro por Deus que eu te
mato. Não me importo se é o chefe da máfia, eu mato você.
— Porra, é por isso que amo você!
Em seguida ele me pega pela nuca, trazendo minha cabeça
para perto. Sua testa encosta na minha. Fecho os olhos, sentindo
suas palavras.
— Não — sussurro, com dor.
Tudo em mim dói nesse momento. As palavras que eu tanto
queria ouvir machucam. Elas me cortam em todas as partes do
corpo. São palavras vazias para mim neste momento.
— Sim — afirma. — Eu te amo. — E me beija.
Capítulo Doze
“Not Afraid Anymore – Halsey”

Caspen
Lori retribui ao beijo, e é a deixa perfeita. Puxo-a para mais
perto, suas mãos em minha nuca, me arranhando. Porra, ela é tão
doce! Tão malditamente doce! Ela me deixa louco, e tudo o que
quero é agradá-la, amar cada parte do seu delicioso corpo, saber do
que ela gosta e quais os pontos que a fazem gemer.
Quero tudo dela, cada pedacinho, cada riso, cada lágrima e
preocupação, eu a quero. Por mais que ela negue, Lori é minha, ela
já se entregou a mim.
— Tira, tira — comanda, puxando minha blusa social.
Beijo seu pescoço, tirando sua blusa. Ela geme baixinho.
Sua pele está arrepiada. Minha boca desce do pescoço para os
seus seios. Ela joga a cabeça para trás e suas mãos seguram meus
ombros. Desço, ficando de joelhos e beijando cada parte do seu
corpo. Abro o zíper de sua calça, puxando-a para baixo, junto com
sua calcinha.
— Caspen... — sussurra.
Viro-a, colocando-a em cima da mesa, com as pernas
abertas para mim. Ela é linda, tão perfeita e rosada lá embaixo.
— Tão molhada. — Lambo meus lábios, pronto para prová-
la.
— Merda, Caspen! — grita quando a lambo.
Ela tenta fechar as pernas, mas as seguro, bem abertas.
— Gostosa pra caralho — sussurro em sua boceta.
Lori geme à medida que me aproveito do seu corpo, se
esfregando em mim, pedindo por mais. Enfio dois dedos dentro
dela.
— Sim, sim, bem aí... — geme.
Sorrio. Subo minhas mãos, brincando com seus seios.
— Caspen... — Ela goza.
Continuo a saboreá-la. Lori está tremendo. Levanto-me,
tirando minha calça e em seguida colocando a camisinha. Puxo-a
para mim, logo após, entrando nela. Lori me segura, sua cabeça em
meu pescoço. Ela me beija, dando pequenas mordidas.
— Se movimente, Caspen — pede, gemendo.
Mordo seu ombro, e ela grita. Meus movimentos são
rápidos. Não estamos fazendo amor, estamos fodendo na mesa do
meu escritório. Puxo seu cabelo, fazendo com que sua cabeça caia
para trás, em seguida, abaixo minha cabeça e mordo seus mamilos.
— Porra! — grita.
Sorrio entre seus seios. Suas pernas se fecham em minha
cintura.
— Tão molhada! Sua boceta está apertando meu pau, Lori!
— rosno.
Estamos tão perdidos um no outro, que não percebemos
que a porta do escritório foi aberta.
— Minha nossa! — Congelo ao ouvir a voz, e acredito que
Lori também.
Olho para trás, vendo vovó olhar para a minha bunda. Ela
sorri para mim.
— Bela bunda, meu neto!
Lori me empurra, pulando para fora da mesa e correndo
para o banheiro, suas bochechas estão coradas.
— Vovó, não sabe bater? — pergunto, irritado com ela.
— Não sabe trancar a porta?
Pego minha roupa, indo para o banheiro. Abro a porta para
encontrar uma Lori sentada no vaso, com as mãos no rosto.
— Sinto muito — digo a ela.
No fundo, estou com muita vontade de rir. Claro que estou
irritado por termos sido interrompidos, mas essa merda é
engraçada. Nunca imaginei que seria pego fazendo sexo, não por
vovó.
— Não ria. — Lori diz, olhando-me. — Deus! Estou tão
envergonhada! — Balança a cabeça.
— Ei, está tudo bem.
Mas Lori não quer me ouvir, ela apenas tapa o rosto com as
mãos.
— Ei, vocês dois, eu ainda estou aqui! — Vovó grita, e eu
reviro os olhos.
— Já estou indo! — grito de volta.
Visto minha roupa, sempre observando Lori. Ela se levanta
e também começa a se vestir.
— Vamos, ela não vai sair enquanto não aparecermos. —
Estendo minha mão para ela.
Lori olha para a minha mão estendida, e depois, para mim.
Ela sorri, passando por mim e saindo do banheiro.
Se ela quer continuar sendo difícil, por mim tudo bem, gosto
desse jogo.
— Pronto, vovó, estamos aqui. — Vovó está nos olhando
com um grande sorriso.
— Pelo amor, velha, não estamos juntos, então tire esse
sorriso do rosto! — Lori diz.
Vovó fecha a cara, colocando as mãos na cintura.
— Você me chamou de velha? — pergunta, irritada.
— E foi só isso que ela ouviu. — Lori rola os olhos. — Sim.
E adivinha? A Senhora é velha, vovó, e eu te amo muito, mas não
pense que isso — Aponta entre nós dois — é mais do que viu aqui.
Acho que Caspen acabou de se tornar meu amigo de foda, sabe?
Estou precisando ficar menos tensa ultimamente, e ele é um bom
alívio. — Dá de ombros.
Porra, essa doeu!
Estreito os olhos para Lori, que sorri para mim. Ela está
decidida a não ter nada comigo, e eu estou decidido a mostrar que
ela é minha. Vamos ver quem ganha essa.
Vovó olha para mim e ri.
— Ai, doeu até em mim. — Olha para Lori. — Isso mesmo,
garota, faça ele sofrer um pouco.
— Ei, eu estou bem aqui — rebato.
— Sério? Nem tinha percebido. — Vovó diz, sorrindo.
— Bem, vou deixá-los a sós. — Lori diz, em seguida, vai até
vovó e dá um beijo em sua bochecha, saindo do escritório logo
após.
— Ela fugiu como se o escritório estivesse pegando fogo;
como se eu fosse contagioso — murmuro, balançando a cabeça,
com um pequeno riso nos lábios.
— Bem, você tem a evitado por anos, agora ela está dando
a você o que merece. Como se sente, querido neto?
Suspiro, tentando ajeitar meu terno, que está todo
amassado da foda interrompida que Lori e eu acabamos de ter.
— Diga-me, vovó, o que te traz aqui?
— Queria saber se já pensou sobre a minha teoria de que
Hernández possa ser mulher — argumenta, se sentando em frente a
mim.
Vovó e suas teorias sem pé nem cabeça. Não faço ideia de
onde ela tirou isso.
— Vovó, Heitor viu ele quando fugiu na noite do leilão, era
homem.
— E você supôs que fosse Hernández?
— Sim, ele fugiu de nós, vovó. — Estou ficando frustrado
com essa conversa.
— Pensei que vocês fossem espertos e teriam a mente
aberta para as coisas e teorias, mas é um bando de bundões que só
veem o que querem. — Balança a cabeça.
— O que quer dizer?
— Pergunte a Amélia quantas pessoas tinha no quarto onde
Hernández estava. Você tem que parar de pensar que mulheres não
são espertas e que não podem enganar você, meu neto. — Sorri. —
Aprendi com seu avô que há uma coisa chamada distração. Você vê
aquilo que eu quero que veja. — Pisca para mim.
Ela se levanta da cadeira e sai do escritório, deixando-me
com os próprios pensamentos. Se Hernández for mulher, por qual
motivo ela está atrás de nós e por que quer Lori?
— Eu já te disse que Hernández não é mulher. — Heitor diz,
olhando-me. — Eu o vi, ele deu aquele sorrisinho de lado para mim
quando escapou. — Cruza os braços.
— É, eu sei, mas não podemos deixar nada escapar,
precisamos pensar longe, e o que vovó disse está me incomodando
— digo.
— O que você vai fazer? — Lorenzo pergunta.
— Chamei Amélia. Quero saber mais sobre aquela noite e
quem estava no quarto com Hernández. — Ele acena com a
cabeça.
— Me recuso a acreditar que Hernández seja mulher. —
Heitor diz, cruzando os braços.
— E é onde está o grande erro, irmão. — Amélia diz,
entrando no escritório, com Lori atrás dela.
Lori em momento nenhum olha para mim, o tempo todo
focada em Amélia. Sorrio, achando engraçado o esforço que ela faz
para demonstrar que não está afetada por mim.
— O que quer dizer? — pergunto à minha irmã.
— Bem, havia quatro pessoas dentro do quarto. Uma
podemos dizer que seria Hernández; depois, tinha mais dois
seguranças e uma mulher. Mas estávamos tão focados em pegar
Hernández, que fomos apenas atrás do cara que estava fugindo.
— Temos imagens da mulher? — pergunto.
Amélia balança a cabeça.
— Não. O governador pediu para que as filmagens fossem
todas excluídas. Esse era o acordo, lembra? Ele não queria que
nada ilegal ficasse relacionado a ele. — Suspira. — Tudo o que
tenho são relatórios sobre o dia e algumas fotos, mas nada com
relação à mulher dentro do quarto.
— Isso não diz nada. Não que signifique que ela seja
Hernández. — Heitor rebate.
— Mas também não significa que não seja. — Vovó, como
sempre, aparece sem ser chamada.
— Vamos lá, velha, conte-nos no que está pensando. —
Lorenzo implica, e vovó estreita os olhos para ele.
— Sei onde você dorme, moleque. Meus pensamentos são:
primeiro, Hernández não gosta de ser identificado, então por que ele
deixaria que nós o víssemos? Segundo: ele sempre age por meio de
alguém, então, o homem que fugiu seria esse alguém. E terceiro:
ele apenas usou uma distração em vocês, que estavam tão
sedentos em pegá-lo, que esqueceram dos outros que estavam com
ele; então, enquanto vocês corriam para o homem que estava
fugindo, Hernández saía tranquilamente do hotel, sem ser
identificado. Ah! — exclama, sorrindo e estendendo a mim o
envelope que está em suas mãos. — Essa é uma foto da mulher
que estava no quarto, mas a vadia estava de cabeça baixa, não dá
para identificá-la. — Dá de ombros.
Abro o envelope, pegando as fotos e as tirando de dentro.
Observo as três, mas como vovó disse, não dá para ver o rosto. A
mulher está com um vestido vermelho. Dá para perceber que ela
não é jovem, deve ter mais de cinquenta anos; mas seu corpo é
conservado, seus cabelos são loiro-escuros; mas nada do rosto, e
sem ver o rosto, a foto é inútil.
Passo as fotos para os outros, que as observam em silêncio.
Esfrego meu rosto com a mão, sentindo-me mais cansado do que já
estava. Não durmo há mais de dois dias.
— Tá, digamos que Hernández possa ser uma mulher. —
Heitor começa. — Que diabos vamos fazer com essa informação?
Porque, sério, se for mulher, é uma vadia sem coração. Ela estava
leiloando crianças! — conclui, fazendo cara feia.
Nós somos máfia, trabalhamos com tudo, menos com tráfico
humano. Nossas mulheres trabalham para a nossa organização
porque querem, elas têm apoio financeiro, têm tudo do bom e do
melhor, e quando quiserem sair, elas estarão livres para ir.
O que Hernández faz é desumano. Saber que uma mulher
vende e escraviza mulheres e crianças é pior ainda.
— Bem, nós vamos procurar por todas as mulheres
envolvidas com a máfia e o cartel. Teremos que cavar bem fundo,
até encontrar a mulher da foto — comando. — Mas temos que ir
com calma. Vou informar a todos na família: Theodoro, que está em
Los Angeles; Hector, que está em Las Vegas; e os outros, que estão
aqui. Não vamos sair por aí falando que Hernández é uma mulher,
porque a verdade é que não temos a certeza. Só estamos
expandindo nosso conhecimento, não podemos passar informações
erradas. — Todos acenam com a cabeça em acordo.
— O que eu quero saber é que se for mulher, que diabos ela
quer comigo? — Lori pergunta, e seus olhos se encontram com os
meus. — E quando nós a pegarmos; e nós vamos pegá-la, ela ou
ele é meu.
— Não, Sunshine, é nosso. Todos nós teremos um pouco de
Hernández.
Meus irmãos olham para mim, todos com um sorriso de
merda no rosto, por causa do apelido da Lori. Vovó está acenando
com a cabeça e Amélia suspira.
Nós não gostamos de torturar mulheres, mas se Hernández
for uma mulher, não posso dizer que controlarei meus irmãos e Lori.
Hernández pegou uma das nossas, sequestrou crianças, maltratou
pessoas... Seja quem for, ele será punido. E sim, deixarei Lori cuidar
dele um pouco.
— Vocês sabem o que fazer, estão dispensados — digo a
todos. — Lori, quero falar com você — digo, antes que ela fuja de
mim.
Lori suspira, ficando no lugar, enquanto os outros saem.
— Bom, o que quer falar comigo? — pergunta, olhando-me.
Ela vai ser difícil, posso perceber pela sua postura e pelo
quão tensa está. Suspiro, balançando a cabeça.
— Sunshine, você precisa parar de fugir de mim. — Ela ri.
— Não estou fugindo de você, Caspen. Estou vivendo minha
vida do jeito que quero. — Dá de ombros.
Controlo-me para não perder a cabeça. Eu sabia que ela
seria difícil, mas, Jesus, essa mulher é osso duro!
— Lori...
— Olha, Caspen — interrompe-me —, não sei o que você
acha que nós temos, mas a verdade é que não temos nada.
É claro que temos! — rosno.
Lori balança a cabeça.
— Não, não temos, Caspen.
— Me diga, então, Lori, o que nós temos?
— Não temos nada, é isso o que quero dizer a você,
Caspen. — Bate o pé, irritada. — Nós tivemos uma foda e meia?
Acho que é assim que vou dizer, já que fomos interrompidos da
última vez; e foi só isso, eu estava estressada, tensa e precisava
relaxar, e você serviu ao propósito, eu relaxei e ponto, é isso.
— Você estava tensa e precisava relaxar? — Ela acena com
a cabeça. — Então estava me usando?
— Bem, fiz exatamente o que você fez com as mulheres
com as quais saía. Você as usava, então, nem sei por que está tão
surpreso que eu te usei. — Sorri.
Porra! Essa mulher está me quebrando! O que me magoa
não é saber que ela me usou, e sim saber que eu a magoei a ponto
de ela me usar, de ela achar que o que fizemos foi apenas sexo. Eu
fui um idiota, mas estou tentando. Eu só não sei o que fazer para ela
ver que realmente a amo, que a quero, que ela é minha.
Estou mais que irritado. Estou decepcionado comigo
mesmo.
— Saia, Lori — comando, e ela suspira.
— Homens e seus egos feridos — murmura, balançando a
cabeça.
— Chame vovó, peça para ela entrar. — Ela bate a porta ao
sair.
Irritado com o que acaba de acontecer, jogo tudo o que está
em minha mesa no chão. Tenho que fazer algo para merecê-la, para
conquistá-la, mas não faço ideia do que fazer; não estou, porra,
acostumado com isso! Sempre tenho o que quero, e agora não!
— Me chamou? — Vovó pergunta, entrando em meu
escritório. — Uau! Você sabe que terá que arrumar tudo, né? —
Olha para a minha bagunça.
— O que eu faço, vovó?
— Pode ser um pouco mais específico? Não sou adivinha.
— Sorri.
— Lori. O que eu faço para conquistá-la?
Vovó sorri novamente, se sentando na minha frente e em
seguida pegando minha mão.
— Querido, mostre a ela que se importa, que a quer, mas
não com apenas palavras, e sim com atitudes e pequenas
demonstrações. Não será algo rápido e fácil, mas aquela menina te
ama, ela só precisa acreditar que você a ama. — Aceno com a
cabeça.
— Então tenho que usar estratégias? — Ela ri.
— Sim e não. Dê a ela presentes. Nada de joias, não agora,
vai parecer que está comprando-a; mas dê algo que seja importante
para ela, que mostre que a conhece e que se importa: flores, cartas,
bombons, elogios, coisas que ela goste e sejam importantes e de
grande afeto. — Sorri.
Uma ideia vem em mente. Sei exatamente por onde
começar.
— Obrigado, vovó. Sei o que fazer. — Beijo sua mão.
— Oh, querido, pode sempre contar comigo, eu sei das
coisas. — Pisca para mim, corando. — Bem, mas sei o que pode
fazer por mim. — Abre o maior sorriso, e eu estreito os olhos.
— E o que é?
Já sei que pedirá algo que não irei gostar.
— Uma foto da sua bunda para eu mostrar às minhas
amigas do bingo.
Fico sem palavras e de boca aberta, acredito que até
vermelho. Vovó ri da minha reação.
— Vovó! — exclamo ao me recompor.
— Tudo bem, não custa nada tentar, não é?
Capítulo Treze
“Loved me Back to Life – Sia”

Lori
— Você continua vindo aqui. — Ouço atrás de mim.
Viro minha cabeça para trás, vendo Chris aparecer entre as
árvores.
— Vou pensar que está me seguindo. — Ele dá de ombros.
— Só queria ver se apareceria de novo. Fico pensando que
a qualquer momento poderia pular. — Ele diz, chegando mais perto,
até estar ao meu lado.
Olho para baixo do penhasco. Bem que é uma tentação
pular daqui para ver o que aconteceria. Eu morreria ou sairia
nadando até a costa? O mar está calmo hoje e o dia está
ensolarado. Daqui a vista é perfeita.
Desde o dia em que fui embora de casa, eu sempre venho
aqui, olhar para baixo. Pensar em pular faz com que eu me sinta
viva, me dá aquela pequena emoção que faz meu coração voltar a
bater, porque a maioria dos dias eu o sinto morto.
Não há explicação. É uma sensação que corre pelas veias,
como se eu tivesse tomado uma dose de adrenalina que faz com
que meu corpo se acenda. Faz com que eu sinta, medo, emoção,
liberdade... Todas as emoções que eu achava que estivessem
mortas, destruídas, voltam quando venho ao penhasco. É
emocionante, tornou-se um vício.
— Não vou pular — digo, olhando-o.
Chris olha para mim, acenando com a cabeça.
— Nunca se sabe. — Encolhe os ombros.
— Você não sente essa vontade de pular? — pergunto,
curiosa.
Chris sorri para mim.
— Sim, eu tenho vontade de pular. Gosto do desconhecido,
de não saber o que acontecerá.
— Parece ser libertador. — Ele ri.
— Sim, e ao mesmo tempo assustador. — Concordo com a
cabeça.
— Um dia eu vou pular.
— Eu pulo com você.
Sorrio para ele, percebendo quão verdadeiro está sendo.
— O que acha de jantar comigo? Como amigo, nada mais
do que isso. Quero saber por que uma mulher bonita como você tem
um peso tão grande nas costas. Vou ajudá-la a carregar esse peso.
— Estende a mão para mim, e eu a tomo.
Eu saí para ficar sozinha, juntar minha merda; mas olhando
agora para Chris, percebo que não quero mais ficar sozinha, que
preciso de alguém na minha vida, mesmo que ela esteja aos
pedaços.
— Sua mão é quente — comento, e ele ri.
— O que posso fazer? Eu sou todo quente. — Pisca, e eu
rio.
Eu ri... Pela primeira vez, depois do que aconteceu, eu ri.
Não qualquer riso, mas um grande riso. Lágrimas se formam em
meus olhos ao saber que Dimitri não me quebrou totalmente. Ainda
há um fio de alegria em mim, uma pequena vontade de superar o
que aconteceu.
As marcas do que ele fez comigo ainda estão em meu
corpo, em meus sonhos, mas não tomaram totalmente meu
coração. Dimitri ainda não possuiu minha alma, e é isso que estou
tentando fazer. Estou tentando manter minha alma intacta.
— Não seja tão espertinho — brinco.
— Querida, você ainda não viu nada — brinca também. — O
que quer fazer?
Penso sobre sua pergunta. Todos os dias venho aqui e me
perco. Não faço nada além ficar aqui, perdida no tempo, apenas
observando e esperando algo, alguma mudança; hoje eu a tive, e
agora não sei o que fazer. O que eu quero fazer? Minha resposta
seria esquecer, esquecer tudo o que aconteceu, mas não acho que
essa seja a resposta que Chris queira ouvir.
— Seja sincera, Lori. O que você realmente quer fazer? —
Ele pergunta como se soubesse o que estou pensando.
— Esquecer. Eu quero apenas esquecer.
Chris acena com a cabeça.
— Eu não sei o que lhe aconteceu, não faço ideia do quanto
é o seu sofrimento, mas vou ajudá-la. — Ele diz, apertando minha
mão.
Sinto uma onda de conforto ao ouvir suas palavras, uma
grande paz, como se ele fosse colocado na minha vida por um único
objetivo.
— Obrigada — sussurro.
Para a minha surpresa, ele me abraça. Encosto minha
cabeça em seu ombro, deixando algumas lágrimas rolarem. Deus! É
tão besta o que estou fazendo! Mal o conheço e aqui estou,
chorando no ombro de um homem bonito.
— Céus! Sou uma bagunça! — digo, rindo enquanto seco
meus olhos. — Sinto muito.
— Não sinta, querida. — Passa a mão pelo meu rosto. —
Está tudo bem. Chorar faz parte, e sempre que quiser chorar, meu
ombro está disponível. Nada melhor do que ter uma mulher bonita
em seus braços. — Sorri, o que me faz corar. — Acho que isso é um
pequeno sorriso.
— Sim, é.
— Bom, muito bom.
Ele segura minha mão durante todo o caminho para baixo
do penhasco. É nesse momento que me sinto diferente, meu
coração bate um pouco mais rápido e um pequeno fio de
eletricidade passa por mim. Em todo o momento em que Chris está
comigo, eu não penso sobre quem eu quero, sobre quem é minha
família. Eu não penso em Caspen, é apenas Chris e eu.

Semanas depois...
— Está tudo bem, estarei ao seu lado. — Chris diz.
Estávamos em frente a uma igreja onde é realizado um
grupo de apoio para pessoas como eu, pessoas que precisam de
ajuda tanto quanto eu preciso.
Não estou melhor. Sinto-me vazia toda vez que Chris vai
embora, e não quero sentir isso, não quero me tornar dependente
dele. Quero poder deitar à noite e não ter pesadelos, quero poder
andar nas ruas sem sentir medo de ser tocada, sem entrar em
pânico. Eu quero melhorar.
Tudo o que eu quero é ter um futuro sem medo, ser mais
forte e enfrentar meus inimigos de frente, matar todos os meus
pesadelos.
Olho para Chris.
— Obrigada. — Sorrio.
É engraçado como as coisas acontecem. Fugi para ficar
sozinha e acabei fazendo um amigo, um amigo pelo qual estou me
apaixonando. Chris é simplesmente maravilhoso. Ele sabe me
escutar, sabe me fazer rir e esquecer o que aconteceu. Ele apenas
está lá para mim sempre que eu preciso, me segurando, me
apoiando, me ouvindo. Ele só está ao meu lado, sem pedir nada em
troca. Ele me deu o que eu queria de Caspen. Ele me deu atenção,
amor.
Em troca, quero ser melhor, para ele e para a nossa
amizade — ou quem sabe algo mais, porque pela primeira vez em
muito tempo eu tenho esperança de ser feliz.
— Vamos? — pergunta ele.
Aceno com a cabeça.
À medida em que entramos na igreja, meu coração acelera
e minhas mãos começam a suar. Faz tanto tempo que não vou a um
culto. Às vezes até esqueço que Deus existe.
Mas quando coloco meus pés dentro da igreja, sinto alívio.
Sinto uma grande paz, como se eu estivesse sendo abraçada.
Parece que essa dor, essa escuridão que há dentro de mim não é
mais minha para carregar. Sinto como se meu fardo fosse retirado
de mim. É agridoce.
— Você está bem? — pergunta Chris.
Sorrio, acenando com a cabeça.
— Sim, estou — respondo, engolindo em seco.
— Você sentiu?
— Sim, eu senti. Parece que...
— Ele está aqui. — Chris me interrompe.
Realmente parece que Deus está aqui. Bem, é uma igreja,
não é mesmo? Mas sinto mais que isso, como se Ele realmente
estivesse aqui, comigo, me abraçando; e era o que eu realmente
precisava.
Chris me leva até uma sala onde há dez pessoas sentadas
em círculo. Duas cadeiras estão vazias, e imagino que seja para
Chris e eu.
Chris conhecia esse grupo, porque já participava. Ele era
médico da marinha, mas saiu porque se machucou. Não foi fácil
depois que ele saiu, e eu o entendo. Ele via a morte todos os dias.
Mas ele amava o trabalho, e depois que saiu, passou a ter
ataques de pânicos.
Fico grata a ele por conversar comigo, por mostrar quem é e
por ter me apoiado quando contei quem sou. Meu nome vem com
um grande peso, e Chris quis carregar esse peso comigo ao ser
meu amigo.
— Olá. — Uma mulher que aparenta ter uns cinquenta anos
nos cumprimenta. — Sou Geórgia, organizadora do grupo. Seja
bem-vinda. — Sorri e me dá um pequeno abraço.
— Obrigada.
— Fique à vontade. — Sorri mais uma vez, colocando a mão
em meu ombro. — É bom te ver, Chris. — Olha para ele. — Como
tem passado?
— Estou bem. E feliz por estar aqui. Pessoas novas? —
Aponta para cinco homens sentados, olhando em volta, parecendo
nervosos.
— Sim, eles eram do Exército. — Ela explica, olhando-os.
Olho-os. Eu os vejo. A cada um deles. A escuridão que os
rodeia, o medo, a dor, o pesar em cada um. Eles são iguais a mim.
Sinto por cada um deles.
Sento-me em silêncio. Assim que minha presença é
reconhecida eu sorrio. Os homens me olham, estreitando os olhos.
Não desvio o olhar, e um deles sorri. Acho que uma escuridão
reconhece a outra.
— Boa tarde. — Geórgia começa. — Temos dois convidados
hoje. Um é Chris Castle, ele já foi um de nós. — Sorri para Chris,
que retribui. — Junto com Chris nós temos Lori Callahan. Seja bem-
vinda, querida.
Aceno para ela.
— Obrigada. É bom estar aqui — digo, com toda a
sinceridade.
— Espero que se sinta à vontade para compartilhar um
pouco de você hoje. — Aceno para ela. — Bem, quem quer
começar?
Chris levanta a mão. Olho para ele, surpresa.
— Eu sou Chris e sofria de ataques de pânico. Eu era um
médico na Marinha e todos os dias eu via a morte. Mas foi em um
dia específico que tudo se desmoronou. Estávamos em uma
missão. Não posso entrar em detalhes. Eu sabia que teríamos
feridos, estava preparado para cuidar de todos, minha equipe estava
à prontidão, mas não imaginávamos que nós éramos o alvo, nossa
sede explodiu. — Para, visivelmente nervoso.
Pego sua mão, em um gesto a lhe dar apoio, mostrando que
estou do seu lado e que ele pode continuar.
— Fui jogado a quatro metros de onde estava, em uma
parede, mas não desmaiei. Meus olhos estavam bem abertos. Vi
tudo, minha equipe pegava fogo e eu não pude fazer nada. Não
conseguia me mexer. Eu tentava ajudar, mas era inútil. Só fiquei ali,
vendo tudo queimar. — Seu olhar está concentrado em um ponto
específico da sala, ele não pisca. — Sofri uma grande lesão na
perna e no ouvido esquerdo, isso me impediu de voltar; mas minha
maior lesão era mental. Bem, vocês podem imaginar o que
aconteceu. Qualquer barulho me fazia gritar e fugir. Eu me encolhia
em um canto, no meio da rua. Teve uma vez que estava em uma
cafeteria e um pneu estourou, então gritei e joguei duas pessoas no
chão, pensando que era uma bomba. Foi horrível, e foi quando
percebi que precisava de ajuda.
Olho para ele, percebendo que muito do que aconteceu ele
não contou a mim. Saber tudo o que viveu, tudo o que enfrentou,
por incrível que pareça, me deixa aliviada, como se eu não fosse a
única quebrada aqui. Pode parecer maldade e egoísmo da minha
parte, mas mesmo assim é um alívio. Não um alívio por saber que
Chris ainda seja quebrado, e sim saber que ele superou tudo o que
passou. Isso me dá esperança, significa que eu também posso
superar.
— Então é isso, essa é a minha história. — Sorri. — Esse
grupo me ajudou muito, estar aqui foi o que me fez seguir em frente
e melhorar. Um dia de cada vez.
Tão logo ele termina, manifesto-me:
— Eu quero falar. — Todos ficam surpresos.
— Fique à vontade, querida. — Geórgia diz, com um sorriso
encorajador.
— Sou Lori Callahan. — Alguns me olham surpresos, e eu
sorrio para eles. — Sim, meu sobrenome causa esse efeito nas
pessoas. Há muitas especulações sobre minha família, mas uma
coisa é verdadeira: temos inimigos. — Mantenho o sorriso, tentando
reunir foças. — Bem, eu era, digamos, uma pessoa livre e que
gostava de aprontar. Em uma noite, eu e minha amiga saímos às
escondidas e fomos pegas. Eu não sofri nada, mas minha melhor
amiga sim, e eu vi tudo. Me senti culpada por um tempo, mas minha
amiga, como é maravilhosa, me fez ver que não foi culpa minha e
que ela estava bem; e ela realmente estava. — Paro para pensar
em Amélia e quão forte ela foi ao enfrentar tudo o que passou. —
Um tempo depois eu fui a presa. — Mordo os lábios.
Olho para Chris, que acena com a cabeça para mim, em um
gesto a mostrar que tudo dará certo.
— Eu fui torturada e abusada sexualmente. A pessoa que
me pegou era um monstro, frio, cruel e sem coração. Quando me
resgataram, eu era outra pessoa; ainda sou outra pessoa. Sempre
que fecho meus olhos, eu o vejo, eu o sinto, suas mãos sujas, seu
riso cru e aqueles olhos mortos. E-eu ainda acho que a qualquer
momento ele virá atrás de mim, mesmo sabendo que ele não pode
mais me alcançar. — Engulo.
Minhas mãos estão tremendo, sinto as lágrimas em meus
olhos e meu nariz arde. Falar sobre o que aconteceu dói demais.
Algo foi tirado de mim naquele dia, e sei que nunca mais
serei a mesma.
— Você foi incrível hoje, Lori! — Chris diz, olhando-me com
carinho.
Estamos na porta da casa em que estou ficando. Jantamos
e depois caminhamos pela beira da praia. Foi um dia difícil e ao
mesmo tempo libertador para mim.
— Você estava lá comigo, fez com que fosse mais fácil. —
Sorrio.
Chris é incrível, e eu sou grata por ele ter entrado na minha
vida, por ele não ter me deixado ir.
Ele ergue a mão, passando por minha bochecha. Fecho os
olhos, sentindo seu toque tão suave. Não sinto medo quando ele me
toca. Pelo contrário, sei que estou segura. Seu toque é
reconfortante. Sua testa encosta na minha. Mordo os lábios,
esperando-o, ansiosa para saber o que ele fará em seguida. Sua
respiração está tão próxima. Coloco minha mão em seu ombro, me
apoiando nele.
— Quero beijá-la — sussurra.
— Tudo bem.
E é quando seus lábios encostam nos meus e o mundo é
virado de cabeça para baixo.
Capítulo Catorze
“Watch Me – The Plantoms”

Caspen
Essa é a minha primeira tentativa de mostrar para Lori que
somos um. Um par, e não apenas Lori e Caspen; de mostrar que a
quero do meu lado, que ela é minha, que foi feita para mim, que ela
pode confiar em mim e que pode ter meu apoio.
É por isso que irei levá-la esta noite para invadir a reunião
que Hernández marcou. A reunião será em uma doca, em
Manhattan. Foi marcada uma hora atrás e será daqui a duas horas.
Como descobrimos? Alguns dos nossos — bem, eles eram alguns
dos nossos — estão na lista íntima de Hernández. Meus hackers
conseguiram descobrir alguns duas caras e invadiram o sistema do
celular deles, assim, quando o local e o horário da reunião foram
enviados, nós recebemos.
Não sei por que as pessoas insistem em nos trair, em tentar
trabalhar para dois senhores do crime ao mesmo tempo. Uma dica:
não dá certo. Escolha um lado e fique nele. Não traia aquele que te
apoia, que te sustenta, não é legal, e meus traidores saberão disso
esta noite. Estou cansado de ser traído.
Há uma guerra lá fora. Escolha seu lado e lute com ele,
porque só há um vencedor nesse jogo de poder. E adivinhe? Eu irei
vencer.
— Entre — digo quando batem na porta do meu escritório.
A porta se abre. Olho para cima e vejo os cinco homens de
Lori entrarem. Encaro-os, mostrando-lhes meu lado escuro,
mostrando que eu tenho o poder aqui, que eles são ratos em minha
gaiola.
— Sentem-se — comando.
Minha voz soa rouca. É como se meu monstro tomasse o
controle.
— Olha, cara... — Levanto a mão, cortando-o.
— Me chamo Caspen Callahan, não cara. Vocês sabem
quem sou e o que faço. Esta é minha casa e vocês estão nela. Não
precisam me tratar com respeito, mas sejam educados e não me
chamem de cara. Da próxima vez, ficará sem a língua. Todos
entenderam? — Eles acenam.
— Desculpe-me. — O homem diz ao se sentar. — Sou
Emílio.
— Sim, eu sei quem vocês são, sei o que fizeram e tudo
sobre a vida de vocês, pesquisei quem são no momento em que se
envolveram com Lori. — Sorrio.
Maddox e Alex não demonstram medo, eles não
demonstram nada, apenas me encaram, avaliando-me. Charlie e
Miguel têm um ar de indiferença. O único mais temeroso é Emílio.
Ele está desconfortável, posso ver que está louco para sair daqui.
— O que quer? — Maddox pergunta.
Encosto as costas em minha poltrona e cruzo as pernas,
olhando-os, mostrando a eles que eu mando aqui e que tenho o
poder, mostrando que eles não são nada para mim, que eu poderia
acabar com a vida deles em um piscar de olhos.
Maddox e Alex mostram conhecimento, mas não medo. Eles
não têm medo de morrer, e isso é bom.
— Vou direto ao ponto — começo. — Lori é minha mulher.
Maddox ri.
— Ela sabe disso?
Olho-o em silêncio. Dou-lhe um sorrisinho de lado, meus
olhos se estreitando. Ele suspira, olhando atrás de mim, no canto
mais escuro do escritório, onde Carter está, com sua foice na mão.
— Quem é ele? — Maddox pergunta.
— Meu irmão.
— Ele é o Ceifador. — Miguel diz. — Lori me falou sobre ele.
— Aceno, mostrando que ele está certo.
— Não tenho medo. — Maddox me encara.
— Eu sei que não, mas o que ele dará a você é pior do que
a morte. — Sorrio.
— Mas algo me diz que você é pior do que ele — aponta
Alex.
Aceno, de acordo.
— Carter tortura e os mata, eu gosto de brincar com eles,
por horas, dias, semanas, meses ou anos. Depende do meu humor.
— Porra! — exclama Maddox, rindo.
— Mas voltando à conversa que fui rudemente interrompido:
Lori é minha mulher, mas ela não confia em mim. Estou dando a ela
motivos para confiar, e hoje será o primeiro. — Pego a pasta de
cima da minha mesa, em seguida, jogando-a para os cinco. —
Esses são os homens que estarão em uma reunião marcada por
Hernández. Os que estão marcados de vermelho são homens meus
que estão com Hernández, traidores, duas caras. Nós iremos invadir
o lugar e acabar com tudo. Meu foco principal é achar Hernández e
acabar com esses homens.
— E o que nós e Lori temos com isso? — pergunta Alex.
— Irei levar Lori comigo. — Dou de ombros. — Quero vê-la
em ação, quero ver a mulher cruel que ela me mostrou quando
torturou e matou o atirador que tirou a vida de Chris, eu a quero
lutando comigo ao meu lado. E como ela vai, vocês também irão. O
foco de vocês é mantê-la viva. Deixe-a fazer o que quiser. Enquanto
isso, vocês a protegem.
— E faríamos isso por quê? — pergunta Maddox.
Sorrio.
— Além de eu estar mandando? — desdenho. — Porque
tenho poder, porque quero manter Lori viva tanto quanto vocês,
porque ela os salvou da autodestruição, porque ela virá comigo, e
onde ela for, vocês vão. Por isso. — Sorrio novamente para eles,
porque sei que fiz meu ponto.
Maddox suspira. Eu sei que não gostou nem um pouco do
que acabo de dizer, mas é a verdade. Eu sou o rei aqui, eles não
são nada.
Nesse momento Lori entra no escritório, olhando-nos com
expressão desconfiada.
— Que merda está acontecendo aqui? — pergunta.
Olho para ela e quão irritada está. Ela é linda, porra! Eu a
quero, aqui e agora!
Percebendo meu olhar nela, Lori cora, desviando o olhar.
Seu foco vai para Carter, e ela estreita os olhos.
— Está tentando intimidar meus homens, Caspen? —
pergunta, batendo o pé.
Sorrio, coçando o queixo.
— Jamais, Sunshine. — Pisco para ela. — Estávamos
apenas conversando.
— Sim? Posso saber sobre o que é essa conversa?
— Fique à vontade. — Aponto para a cadeira à minha
frente, ao lado de Maddox.
Lori se senta com a postura reta, encarando-me.
— Descobrimos onde será a reunião de Hernández.
Lori se anima com o que acabo de dizer. Sorrio ao ver o
quanto ela quer saber mais. Mas logo fica pensativa. Ela pega meu
ponto quando franze a testa para mim.
— Você está me contando isso por...?
— Você irá comigo. — Dou de ombros.
Seus olhos se arregalam. Sua boca se abre, mas ela logo a
fecha, me olhando bem séria.
— Onde está a pegadinha, Caspen? — pergunta,
desconfiada.
— Não há pegadinha, Sunshine. Quero que confie em mim.
Estou levando-a comigo, e seus homens também vão. — Ela olha
para eles, que acenam com a cabeça.
— Tudo bem, estou dentro. — Sorri para mim. — Mas isso
não significa que confio em você — avisa, se levantando da cadeira.
— Estarei esperando do lado de fora.
Com isso, ela sai de cabeça erguida. Não posso conter o
sorriso que surge em meus lábios. Essa mulher é um perigo, mas é
o meu perigo; e sei que ela não confiará em mim tão fácil, mas
estou disposto a esperar, a ir com calma e mostrar a ela quão sério
estou, porque no fim, Lori será minha de qualquer forma, como eu
sou todo dela.
Lori
Olho para Caspen e engulo em seco. O homem
descontraído e cheio de sorrisinhos se foi. Nesse momento eu vejo
o Diabo — assim que todos o chamam. Ele está focado, o olhar em
seu rosto não tem vida, é cruel, morto, como se ele tivesse sido
substituído. Gosto do que vejo. Parece que o monstro saiu para
brincar.
Sorrio. À nossa volta a ação começa. Tiros são dados, mas
Caspen não vacila, ele apenas caminha em meio ao caos. Seus
homens e meus homens nos protegendo. Todos que tentam chegar
até nós dois são mortos.
Caminho ao seu lado, gostando dessa sensação de poder,
enquanto à nossa volta tudo está explodindo, homens estão
morrendo e nós estamos intocáveis, caminhando como se nada
estivesse acontecendo.
Um homem aparece na nossa frente, com uma arma
apontada para Caspen, que apenas dá um sorrisinho sem
expressão. Ele pega a arma do cara, em seguida a jogando. O
homem o olha com puro horror.
— Não, não. — Caspen o segura pelo pescoço, levantando-
o do chão e jogando-o longe. O homem bate em alguns caixotes. —
Idiota — resmunga, alisando seu terno Prada. — Você está bem? —
Vira-se para mim.
— Estou ótima — respondo, rindo.
— Bom, fique à vontade. Faça o que quiser.
— Estou onde quero estar. Vamos em frente, a minha
diversão está lá dentro. — Aponto para um navio que está
encostado na doca.
Caspen descobriu que dentro do navio serão negociadas
armas e mulheres. A reunião é sobre isso. Exportação ilegal.
Estamos aqui para colocarmos tudo para baixo.
— Sigam em frente. Assim que entrarem, haverá um
corredor. Sigam por ele até o final. Do lado direito haverá uma porta
que leva para o andar de cima, onde toda a reunião está
acontecendo. — Amélia nos guia através dos pontos em nosso
ouvido. — Todos que guardavam o lugar estão caídos.
— Pronta? — Caspen pergunta, estendendo a mão para
mim.
Sem pensar, eu coloco minha mão na dele. Uma corrente
elétrica passa pelo meu corpo. Acho que Caspen também pode
sentir, já que ele sorri para mim.
— Vamos matar algumas pessoas! — rosna, com aquele
tom ameaçador dele, que traz arrepios ao meu corpo.
Entramos em uma parte do navio. Homens estão caídos,
mortos. Sorrio. Com minha arma na mão, fico em alerta sobre
qualquer barulho; mas tudo está calmo, não há sinal de ameaça...
por enquanto, já que há homens na parte principal do navio. Estão
distraídos demais para darem atenção ao que acontece do lado de
fora.
Subimos as escadas para o grande salão. Há uma porta
dourada onde podemos ouvir vozes do lado de dentro. Caspen a
chuta. Os homens se assustam e levantam suas armas, apontando-
as para Caspen; mas logo atrás de nós, nossos homens invadem,
não dando nenhuma chance aos nossos inimigos.
— Estou profundamente magoado por não ter sido
convidado. — Caspen coloca a mão no peito, em encenação.
Seu olhar passa por todo o lugar, olhando para alguns dos
“seus homens de confiança”. Todos traíras que irão morrer.
— Olha o que temos aqui, tantos rostos conhecidos. —
Caspen caminha em volta do lugar.
Ele tira seu terno, em seguida, jogando-o no chão, após
ergue a manga de sua camisa, pronto para a ação. Lambo e mordo
os lábios.
— Caspen... — Um homem começa a falar, mas é
interrompido quando Caspen o soca na cara.
O soco é tão forte, que o homem cai, e de seu nariz jorra
sangue, sujando o chão. Com o canto do olho, vejo um homem sair
das sombras, com uma arma na mão.
— Caspen! — grito, e é quando tudo ao nosso redor
explode.
Corro para o meio do caos, lutando com quem entrar na
minha frente. Levo uns socos, mas dou mais do que recebo. Esses
homens não sabem lutar, me admira que sejam homens da máfia.
Quando percebem que sei lutar e que estou aqui para
acabar com eles, reagem mais, mas não são tão bons quanto eu.
Estou cheia de raiva, dor, fúria dentro de mim, e isso faz com que eu
seja mais forte.
Mato quem entra na minha frente. Estou tão cega de raiva,
que não vejo nada em volta. Meu foco está em acabar com esses
homens e chegar até Hernández.
Sou pega de surpresa quando meu corpo é jogado no chão.
Olho para o homem em cima de mim, tentando me enforcar. Tento
bater nele com as mãos, mas ele é maior e mais forte, então
impulso minhas pernas para cima, cruzando-as em seu pescoço e
apertando bem forte. Seu aperto fica mais fraco, e aproveito para
jogar meu corpo para frente, fazendo-o cair para trás. Pego minha
arma, apontando-a para o meio de sua testa, e atiro.
Volto para o meio da luta, vendo o homem que deduzo ser
Hernández. Ele está em um canto, sorrindo para tudo o que está
acontecendo. Dois homens estão o guardando...
Não, ele não é Hernández. É o mesmo homem do hotel do
leilão, mas não é o verdadeiro Hernández.
Aponto minha arma para o primeiro homem que guarda
Hernández e atiro, fazendo-o cair morto no chão. O segundo
homem também cai. Olho para trás, vendo Maddox com sua arma.
Ele matou o segundo homem, deixando o suposto Hernández
sozinho. Sorrio, caminhando até ele.
— Olá, Hernández — digo, e ele cruza os braços, não
demostrando medo.
— Lori Callahan, estou atrás de você. É difícil pegá-la
sozinha. — Sua voz soa rouca.
Ouço a luta atrás de mim morrer. Todos os homens de
Hernández são rendidos, ele agora está sozinho. Não há ninguém
para ajudá-lo, e ele percebe isso, porque olha assustado.
Ponto feito! Esse cara não é Hernández, porque sei que o
verdadeiro não sentiria medo.
— Acho que pode passar um recado para o verdadeiro
Hernández, já que sabemos muito bem que não é você.
— E como sabe disso? — desafia.
— Porque ele não estaria aqui. — Caspen responde. —
Estar aqui fingindo ser ele só confirma que não é. Hernández é
conhecido porque não revela sua identidade. — Caminha até ele e o
pega pela nunca.
Ele o arrasta até o meio da sala, onde estão todos os
homens presentes na reunião.
— Se vocês acreditaram que esse era Hernández, estão
enganados. Hernández não está aqui, esse aqui é um dos seus
capangas. Mas esta noite iremos fingir que esse é Hernández e
mostraremos a você o que iremos fazer com o verdadeiro e com
cada um de vocês. — Caspen diz, sorrindo.
Em seguida joga o falso Hernández no chão. Ele o chuta,
fazendo-o gemer. Sorrio ao ver o sofrimento do homem. E olha que
Caspen mal começou!
Carter dá um passo à frente, em seguida o ajudando a
despir o homem e o amarrando, com uma corda que trouxe,
deixando-o de pé. Olha para cima, e sorri ao ver uma viga de ferro,
um sorriso maldoso. Pendura-o pelo teto.
— Não parece tão ameaçador pra mim. — Caspen
murmura. — Lori, o que você acha? — Sorri.
— Não, nem um pouco ameaçador — digo, rindo. — O que
vamos fazer com você, hein? — Chego até ele, olhando para o seu
corpo.
Como o ser humano é tão frágil! Basta amarrá-lo e torturá-
lo, que percebemos quão insignificante é.
Mas em compensação, aguentando muito. Hoje verei o
quanto esse homem pode aguentar.
— Não temos muito, vamos ter que improvisar. — Caspen
diz, pegando uma faca de dentro de seu terno.
— Eu trouxe meu pequeno kit de tortura, não saio sem ele.
— Carter sorri. — Vamos começar?
— Lori, quer ir primeiro? — Caspen pergunta, olhando-me.
Minha criança interior aparece, pronta para brincar com o
corpo do homem. Pulo, batendo palmas. O que eu posso dizer?
Gostei de torturar, amei como me senti, da eletricidade em meu
corpo, da queimação de adrenalina, da sensação de poder, de
colocar o que eu sentia para fora de forma diferente, de mostrar que
todos nós somos monstros por dentro e que algumas pessoas como
eu gostam de liberá-lo de vez em quando.
Caspen e eu deixamos o homem irreconhecível. Não o
matamos, pois queremos que Hernández o veja, que ele saiba que
estamos perto de alcançá-lo.
— Diga a Hernández que eu não me importo se ele é uma
mulher, diga que não terei misericórdia, que a deixarei pior do que
você, e se ela me quer, que ela venha me encontrar cara a cara, só
assim vejo se darei um pouco do meu tempo a ela — sussurro ao
seu ouvido. — Eu vou pegar você — falo pausadamente, palavra
por palavra.
Sei que ele tem um ponto, como eu tenho; sei que
Hernández está ouvindo tudo, de onde estiver.
Bônus

Hernández
“Eu... vou... pegar... você”. Ouço cada palavra que Lori diz.
Sorrio pela sua coragem e por quão forte e determinada ela se
tornou; mas ela terá que mudar, terá que se tornar a menina boba e
obediente que eu queria, porque eu tenho planos para ela. Planos
que foram traçados anos atrás, e é por isso que matei seu noivo. Ele
iria atrapalhar, era uma pedra em meu sapato, precisava ser
eliminado; e foi o que fiz: eliminei a concorrência.
Demorei anos para me tornar quem sou, e não serão os
Callahan’s que irão me destruir. Eles venceram dessa vez, mas
tenho várias cartas na manga, e jogarei com tudo. Que o melhor
vença.
Capítulo Quinze
“I Can't Stop the Feeling – Justin Timberlake”

Caspen
O que aconteceu na doca saiu nos jornais. Depois que
saímos, a polícia invadiu o lugar, prendendo alguns homens de
Hernández que deixamos para trás; mas os nossos, aqueles que
nos traíram, estão presos, sendo torturados e mortos aos poucos.
Papai, como a um bom prefeito, foi um excelente ator em
frente às câmeras, sobre o combate ao crime organizado.
Hernández agora está sendo caçado não só por nós, mas também
pelas autoridades.
Mas hoje, todo o foco está sendo no almoço em família.
Toda a família está vindo para o grande almoço que meus pais
estão fazendo, a fim de mostrarem a todos os que estão de fora
quão unida e poderosa é a nossa família, mostrarem que não temos
nada a esconder e que somos os melhores, mostrarem aos nossos
inimigos que temos o controle de tudo. Tudo uma verdadeira merda
para mim, mas papai é o prefeito, ele tem que mostrar o que o povo
quer ver: uma família com boas intenções, um prefeito que quer o
melhor para o povo.
Besteira e mais besteira, mas é assim que tem que ser: o
pai sendo o prefeito e amado por todos, temos o controle total da
cidade.
Bem, o recado será dado, e Hernández entenderá. Essa
cidade é nossa, ele não entrará e a tomará de nós. Foram anos para
construirmos as próprias regras, nosso legado, nossa máfia
moldada como queremos. Lutamos, pessoas morreram para
chegarmos onde estamos. Não será um idiota do Cartel que
acabará com nosso poder, com nossa conquista. Hernández terá
que me matar se quiser tomar minha cidade.
A porta do escritório da casa dos meus pais se abre.
Levanto a cabeça e sorrio.
— Tio Caspen! — Maya grita, correndo para os meus
braços.
Eu a pego em meu colo, dando um beijo em suas
bochechas.
— Ei, minha lutadora! — Sorri quando faço cócegas nela.
Não sei o motivo da ligação que Maya tem comigo, como ela
se apegou a mim tão rápido, como eu me apeguei a ela; mas acho
que ela lidou com tantas coisas, com tantos monstros, que viu o
meu. Ela viu minha escuridão e gostou. Não teve medo, porque ao
contrário dos outros monstros, o meu não faria mal a ela. Nunca.
— Pensei que tivesse esquecido de mim. — Faço beicinho.
Maya ri, rolando os olhos.
— Não, seu bobo. Eu estava cuidando do meu irmãozinho
— explica, tocando meu nariz, como se fosse a mais velha daqui.
— E como ele está? — Não posso conter o sorriso.
Maya é incrível. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ela
ainda sorri, ainda tem esse brilho no olhar, ainda é uma criança. Sua
alma é pura, e acho que é por isso que a amo tanto. Uma criança
espetacular. Nunca pensei em ter filhos, mas se um dia eu tiver com
Lori, ela será assim. É claro que farei com que minha filha seja mais
delicada, pois quando Maya está com Hope e Ariel, só Deus para
controlá-las. As três ainda explodirão algo, sinto isso bem no fundo
da minha alma. Essas meninas darão um puta trabalho!
— Tio, o que está pensando? — pergunta ela, olhando-me
atentamente. — Está franzindo a testa. — Suas mãos delicadas
alisam minha testa. — Vai ficar com rugas, tio. — Aponta, e sorrio
para ela.
— Nada, só estava pensando no que tem aprontado.
Maya coloca as mãos no peito, em horror.
— Eu não apronto nada.
— Tudo bem. O que você quer, pequena terrorista? — Tão
logo me arrependo da pergunta que faço.
Maya pega minha mão, me levando para fora do escritório,
em direção à sala de brinquedos que meus pais fizeram para Hope
e que foi sendo acrescentada à medida em que Ariel e Maya
entraram para a família.
— Eu disse que ele viria! — exclama para as suas primas,
que pulam.
— Eba! Festa de pijama com Tio Caspen! — grita Ariel,
batendo palmas.
Fechos os olhos, fazendo uma oração silenciosa. Deus me
ajude!
Maya me coloca sentado em um banco cor-de-rosa. Olho
em volta, vendo-as correndo pelo lugar, pegando uma maleta lilás e
uma caixa.
— Feche os olhos, Tio Caspen. — Hope pede, sorrindo para
mim.
Respiro fundo, fechando os olhos e deixando-as
trabalharem em mim. Sinto uma delas tirando meus sapatos e
minhas meias, outra está com minhas mãos, e acho que Maya está
mexendo em meu cabelo. Do fundo da minha alma escura, eu
realmente espero que elas não me deixem parecido com um
palhaço. Não irei aguentar essa merda, mas por elas tentarei. Um
homem como eu deixando três meninas me transformarem...
Balanço a cabeça.
— Fique quieto, tio! — Maya briga comigo.
Mordo os lábios, evitando rir. Elas são exigentes.
— Tio! — exclama Hope. — Está rindo. Assim não consigo
pintar suas unhas.
— Que porra! — exclamo, abrindo os olhos e olhando para
as minhas unhas.
PINTADAS DE COR-DE-ROSA! Olho em horror para Hope,
que está sorrindo para mim. Estreito os olhos para ela, que cruza os
braços, me encarando.
— Não xingue na nossa frente, é feio. — Ariel briga comigo.
— Agora volte a se sentar, Tio Caspen, temos que terminar. Não
seja um bebê chorão. — Aponta para o banco.
— Você vai pagar por isso. — Ela dá de ombros.
— Não seja um bebê chorão. — Hope me empurra de volta
para o banco.
— Feche os olhos, não os abra até mandarmos. — Maya
diz.
Suspiro. Essas meninas serão minha morte! Hernández não
coloca medo em mim, mas essas três garotinhas sim. Se eu der
mole, elas tomarão meu lugar futuramente. Tenho que ter a porra de
cuidado com elas.
Lori
Olho para as minhas amigas, todas com suas meninas nos
braços. Sinto uma pequena pontada no peito.
Sei que posso adotar um filho, e se um dia isso acontecer,
ele será amado, muito amado; mas o que eu queria era a sensação,
aquela sensação de engravidar, ver minha barriga crescer, ter os
enjoos, comer o que eu quiser, ser mimada... a sensação de tê-lo
crescendo dentro de mim.
Bem, os médicos disseram que será impossível eu
engravidar, teria que acontecer um milagre; mas depois de tudo o
que aconteceu a mim, eu não acredito em milagres. Sim, eu acredito
em Deus, mas não acho que Ele se importe comigo; não mais,
então só cansei, cansei de orar a Ele, casei de pedir a Ele.
Não estou sendo pirracenta e nem chata com isso, só que é
difícil pensar que Deus quer o meu melhor depois de tudo o que
aconteceu a mim. Acredito que não sou merecedora Dele, então só
sigo em frente.
Olhe para mim: sou quebrada, falha, pecadora e continuarei
assim, porque quero continuar pecando, quero continuar torturando,
quero matar Hernández, mesmo sabendo que ele possa ser ela.
Quero vingança, e nem Deus me impedirá de obter.
Suspiro, sabendo que estou sendo dramática demais para
esse momento. Ergo minha cabeça e coloco um grande sorriso nos
lábios, caminhando até Amélia, Soph, Happy e Lauren, minhas
amigas.
— Ei, vacas.
— Aí está ela. Pensei que estava se escondendo. — Amélia
sorri para mim.
— E por qual motivo eu estaria me escondendo? — Cruzo
os braços encarando-a.
Lauren bufa.
— Mulher, Caspen está em cima de você, querendo te
devorar, e você está fugindo dele — comenta, rindo.
Rolo os olhos.
— Caspen está sendo irritante sobre essa coisa de “Você é
minha” — falo, fazendo aspas com os dedos. — Agora ele cismou
que me fará confiar nele. — Rolo os olhos novamente.
— E você não está nem um pouco gostando disso. —
Amélia ri.
— Bem, é engraçado vê-lo atrás de mim. — Dou de ombros.
— Mas vamos ser sinceras aqui: não confio nele e não o quero, não
mais — minto na cara de pau.
Oh, eu o quero, e muito! Mas ele não é minha prioridade, e
querê-lo não significa nada. Eu o quis por muito tempo e sobrevivi
sem ele, portanto, será assim que continuarei: sem ele.
Elas me olham, provavelmente sabendo da merda que estou
falando.
— Sim, tanto que estava transando com ele. — Soph
comenta.
— O que posso fazer? — defendo-me. — Ele estava lá,
disponível; eu estava com raiva, estava tensa e precisava relaxar;
então fui lá e fodemos. — Sorrio. — Nada melhor do que uma boa
transa para relaxar.
Happy bufa, Amélia e Soph balançam a cabeça e Lauren
apenas me encara, de boca aberta.
Atrás de mim ouço o riso da vovó. Viro a cabeça para olhá-
la.
— Essa é a minha neta! — Bate palmas. — Isso, garota!
Faça-o correr atrás de você, faça-o implorar por você, e se tiver que
transar com ele, também faça. É bom para relaxar. — Pisca para
mim.
— Vovó! — exclamo.
— Que foi? — Bate o pé. — Sou velha, mas ainda dou para
o gasto, minha amiga aqui ainda é usada. — Sorri.
— Lá, lá, lá... — Tapo os ouvidos. — Não estou ouvindo
nada! — exclamo.
Vovó balança a cabeça, um grande sorriso em seus lábios.
— Vocês, crianças, tão ingênuas! — Sai rindo.
Olho para as minhas amigas, que estão de boca aberta.
Amélia está rindo. Fecho os olhos. Imagens da vovó fazendo sexo
aparecem em minha mente. ECA!
— Não fechem os olhos, será pior — comento com elas, que
riem.
Rio junto. Só a velha mesmo para falar esses absurdos,
como se fosse tão natural! Bem, sexo é natural e todos fazem, mas
vamos lá: vovó tem o quê? Oitenta e três anos, mais ou menos?
Não quero imaginá-la fazendo sexo!
— Mamãe! — A voz de Maya interrompe meus
pensamentos.
— Ei, amor. — Happy sorri para a sua filha.
— Temos uma grande surpresa! — exclama, animada. —
Tio Caspen brincou com a gente. Ele foi difícil no começo, mas
conseguimos arrumá-lo. — Bate palmas. — Venha, Tio Caspen! —
grita.
Olho para a porta da casa, esperando-o sair, mas ele não
sai. Olho para as meninas, que se olham entre si, certamente
imaginando o porquê de Caspen ainda não ter saído. Maya olha
para trás, rolando os olhos e colocando as mãos na cintura. Seu
cabelo cheio de cachos balança de um lado para o outro.
Sua cor está bem mais bela. Quando foi encontrada, estava
pálida, sem vida, sem brilho; agora está negra e exuberante,
brilhosa, perfeita.
— Vamos, Tio Caspen, não temos o dia todo. — Maya
reclama, irritada.
— Deus! Ela faz o que quer com Caspen. — Happy
murmura.
— O que me deixa mais espantada é que meu irmão deixa
— comenta Amélia.
Concordo com ela. Caspen nunca foi o tipo de homem que
adora crianças, mas com Maya é diferente. Ele a ama e a deixa
fazer o que quiser consigo, é surpreendente de ver e acreditar.
— Oh, céus! — exclama Lauren, com os olhos arregalados.
Olho para onde ela está olhando. Minha mão vai
automaticamente para a boca, e não consigo controlar o riso. Meu
corpo todo treme, meus olhos não estão acreditando no que estão
vendo.
— Caspen! — Carter diz, aparecendo e olhando-o de cima a
baixo.
— Calado! — Caspen rosna, estreitando os olhos para o
irmão.
— Meu Deus! — Amélia diz, rindo. — Isso é demais!
Minha cabeça cai para trás e gargalho. Essa merda é tão
engraçada! Caspen está com uma peruca longa cor-de-rosa, seus
olhos estão cheios de glitter, tem brilho nos lábios e cílios postiços
mal colados. Suas unhas estão pintadas de cor-de-rosa, e não faço
ideia de como as meninas conseguiram essa proeza, mas ele está
de saltos altos vermelhos, mancando.
— Esse é o meu sapato? — pergunta Happy.
— Ele não está lindo? — indaga Hope.
Olho para Hope, sabendo muito bem que elas fizeram de
propósito, as meninas sacanearam com Caspen, e ele deixou.
— Está espetacular — digo a ela, que acena com a cabeça.
— Vocês estão adorando essa merda! — Caspen olha
irritado em nossa direção.
— Sim, o que posso fazer? — pergunto a ele.
— Ei, irmão, acho que pode começar a dançar em seu
clube, ganharia bem — comenta Lorenzo, dando um tapinha em seu
ombro.
— Oh, sim. Se ele mostrasse a bunda, então... — Vovó
suspira. — Uma bela bunda, meu neto. — Pisca para ele.
Não me controlo e rio ainda mais. Caspen está indescritível,
engraçado demais, todo torto, não conseguindo ficar de pé, toda
hora lambendo os lábios, seu terno está todo amassado e a peruca
está pegando em seus olhos.
— Tem certeza que não quer mudar de profissão, irmão? —
Carter pergunta, rindo.
— Eu vou te matar!
— Desfila para nós, Tio Caspen. — Ariel pede.
— Não, querida.
— Por favor. — Maya pede, fazendo beicinho.
Caspen suspira e começa a desfilar. Na verdade, ele tenta,
mas toda hora entorta os pés, xingando baixinho. Todos à sua volta
começam a rir. Caspen olha para mim, estreitando os olhos. Eu
tento, juro que tento, mas não dá para conter o riso. No fim do
desfile, ele faz uma pose, jogando o cabelo, e pisca para mim,
mandando beijinho.
— Perfeito, Tio Caspen! — Maya sorri.
Caspen tira os sapatos e a pega no colo. Hope e Ariel
abraçam suas pernas, e ele beija as três.
— Vou tirar isso para almoçarmos — resmunga, correndo
para dentro da casa.
— Quem diria que Caspen tem um lado brincalhão —
comenta Happy, olhando para a porta por onde Caspen entrou.
— Ele não tem, isso tudo é para Maya. — Amélia diz,
sorrindo. — Sua filha o tem na palma da mão, ele faz tudo por ela.
— Concordo com Amélia.
Caspen não brinca, quase não sorri, apenas os sorrisinhos
de lado e sarcásticos. Ele não ri, não há brilho de alegria em seu
olhar; mas quando Maya está por perto, ele se torna outra pessoa. É
incrível ver. Fico fascinada, observando, me perguntando como ele
será quanto tiver filhos.
O pensamento me deixa triste, porque não serei eu quem
dará filhos a ele.
Caspen
Porra de cola de cílios! Essa merda está por todo o meu
olho e incomoda pra caramba! E como se tira essa porcaria de
esmalte!? Não sai, e quando sai, fica tudo manchado! É irritante,
mas não consegui dizer não para Maya e as meninas, então as
deixei fazerem o que quiserem, e me arrependo profundamente.
Como as mulheres usam saltos? Essa merda é uma tortura!
Meus pés estão doendo demais! Acho que já sei um novo método
para torturar os homens que estão esperando pela morte. Colocarei
saltos em seus pés e mandarei eles andarem em uma esteira de
academia. Acho que é uma bela tortura. Vão detestar.
Nunca mais! Nunca mais deixarei as meninas fazerem essa
coisa! Não e não!
Solto um suspiro frustrado, tentando tirar o esmalte das
unhas. É irritante como isso parece ser permanente. Não tenho
paciência alguma com isso, simplesmente jogo o algodão no lixo.
Tiro meu terno e o jogo fora também, já que está todo sujo de
maquiagem e tinta. Olho meu reflexo no espelho, ainda vendo brilho
nos meus lábios e sombra em meus olhos. Porra! Entro no chuveiro,
esfregando meu rosto e meu corpo. A água quente é bem-vinda, e
espero que tire toda essa merda de meninas de mim. Não posso
acreditar que isso realmente aconteceu comigo. Desisto de ter uma
filha, e se eu tiver, ela não gostará dessas coisas. De jeito nenhum!
Mas não há como controlar. Hope, Ariel e Maya, elas
gostam de lutar, caçar e tudo o que meus irmãos ensinam, mas elas
também gostam de princesas e todas essas drogas que a Disney
ensina; então prefiro não ter filha. Quero meninos, mais fácil.
Lori e eu precisamos conversar sobre isso futuramente.
O banho me ajuda a relaxar, mas assim que volto para o
andar de baixo, onde todos estão, volto a ficar irritado com as
risadas e piadas. Sei que meus irmãos não me deixarão em paz
depois dessa, mas o que posso fazer? Já aconteceu, então terei
que aguentar. É claro que terá troco, não sou o tipo de homem que
aguenta merda sem fazer algo de volta.
— Vejo que não conseguiu tirar o esmalte — comenta
Heitor, se sentando ao meu lado.
Olho para as minhas mãos e suspiro, balançando a cabeça.
— Isso não sai, não sei o que fazer. — Ele acena com a
cabeça.
— Coloca de molho na acetona, depois passa o algodão.
Vai demorar, mas vai sair; vai por mim. — Ele sorri, satisfeito.
— Como você aguenta?
— Ela é minha filha, Caspen, e eu farei de tudo por ela e
para ela, então se ela me manda sentar, eu sento e a deixo fazer o
que quiser. — Dá de ombros.
— Não quero ter meninas.
Ele ri.
— Já conversou com Lori sobre isso?
Balanço a cabeça.
— Não, ela nem sabe que eu sei. Acho que ela pensa que é
um segredo, e a deixo pensar assim.
Sei que Lori não pode ter filhos. O médico disse que é bem
arriscado ela engravidar. Todos sabem, mas acho que Lori carrega
isso como um segredo, e ninguém falou o contrário. Somos família,
e famílias guardam segredos.
— Ela vai pirar quando descobrir que todos sabem —
comenta meu irmão.
— Ela tem que aprender que não se guarda nada dessa
família. Olhe para vovó, a velha sabe de tudo.
— Às vezes penso que ela é uma bruxa.
— Ela não é uma bruxa, ela é sábia. — A voz de vovó fala
atrás da gente.
— Jesus, vovó! A Senhora é uma ninja! — Heitor coloca as
mãos no peito.
Vovó sorri, dando um tapinha no ombro de Heitor.
— Cuidado com o que fala, neto, sei onde você dorme. —
Estreita os olhos para ele. — Onde se viu? Além de me chamarem
de velha, me chama de bruxa e Senhora! — resmunga ao se
afastar.
— O que fizeram para a velha soltar fogo pelo nariz? —
Lorenzo pergunta ao surgir.
— Nada, só falei que acho que é uma bruxa.
— Quem é bruxa? — Carter pergunta, também se
aproximando.
— Vovó — respondo.
Lori
O almoço está sendo uma loucura. Caspen volta ao seu
humor mal-humorado, todo irritado e com aquele olhar concentrado.
As crianças só sabem falar e gritar, correndo em volta de todos.
Vovó resmunga, olhando para os netos de cara feia, como se
estivesse planejando algo; e nem quero saber o que ela tem em
mente.
Sorrio ao ver o clima mais descontraído e leve. Ninguém fala
sobre Hernández, sobre guerra, ninguém comenta sobre os olhos
no porão ou sobre o que aconteceu na doca, todos estão rindo —
menos Caspen, brincando e conversando sobre nada, apenas
coisas normais sobre o dia a dia. Quem olhasse de fora nunca
imaginaria que nossa família é mafiosa e que somos mortais.
Somos mafiosos, mas também somos unidos, protegemos
aqueles que amamos, lutamos pela nossa causa e destruímos quem
tentar nos destruir. E estou feliz. Pela primeira vez desde que Chris
morreu, eu tenho um sorriso nos lábios, e ele é verdadeiro.
Caspen
Ela está sorrindo. Lori não sabe que eu estou observando-a.
Minha mulher tem um grande e verdadeiro sorriso e, porra, se não é
o sorriso mais lindo que já vi?! Tudo o que sei nesse momento é que
farei de tudo para manter esse sorriso em seu rosto.
Capítulo Dezesseis
“Too Good At Goodbyes – Sam Smith”

Lori
Acordo com minha mãe me chamando em meu quarto,
dizendo que tem alguém na porta com uma entrega para mim; mas
o que me deixa desconfiada é que ela está radiante, com um grande
sorriso nos lábios, dando pulinhos. Algo diz que essa alegria dela
está relacionada à entrega.
Estreito os olhos.
— Vamos, Lori, o rapaz não tem o dia todo. — Puxa-me
para fora da cama.
— Mamãe, estou cansada. Por que não recebeu por mim?
— pergunto, tentando me cobrir e voltar a dormir.
Mamãe bufa, irritada, puxando o cobertor do meu corpo, e
tenta me empurrar para fora da cama.
— A entrega é para você, Lori, só você pode receber.
Franzo a testa, tentando imaginar quem poderia ter
mandado a mim algo, e é quando meu coração dispara.
Hernández, só pode ser ele!
Levando-me com pressa, não me importando nem um
pouco com a roupa que estou usando, apenas corro para fora do
quarto. Minha mãe sai correndo atrás de mim, chamando e tentando
me segurar, mas não a ouço, apenas corro pela casa e chego até a
porta. Seja lá o que Hernández mandou, não pode ser bom.
Droga! Eu não trouxe meu celular comigo. Preciso avisar ao
Caspen, ele precisa saber.
Merda! Se for uma bomba? Um animal morto? Uma pessoa
morta?
Não, pessoa não pode ser, mas pode ser parte de um
corpo... Oh, meu Deus! Estou pirando, completamente pirando!
Alguma coisa tem que ser feita, Hernández foi longe demais!
Mandar algo para a minha casa... MINHA CASA! Um absurdo! Se
ele me quer, poderia ter vindo me pegar.
Essa mulher — se for mulher — é louca, louca de pedra e
precisa ser parada! Isso não está certo!
— Lori, querida, vá com calma. — Mamãe me alcança.
Viro-me, olhando para ela.
— Não, mamãe, Hernández foi longe demais! Ele tem que
ser parado! Tenho que pegar o que quer que seja e mostrar para
Caspen, ele precisa saber que Hernández pirou, todos precisam
saber! — grito, histérica.
Minhas mãos estão tremendo, eu estou prestes a ter um
ataque de pânico, posso sentir isso. Não quero pirar, mas sinto que
já estou. Porém o que posso fazer? Um maníaco mandou algo para
a minha casa! O que eu deveria fazer!? Receber o que quer que
seja e sorrir!? Não, porra! Recuso-me a achar normal! Eu vou matar
Hernández!
— Querida...
Balanço a cabeça, tirando suas mãos da minha, e corro para
a porta. Paro quando olho o que está esperando por mim. Minha
boca se abre, em surpresa.
— Isso não é de Hernández — resmungo, baixinho.
— Não, querida, não é. — Mamãe diz, sorrindo.
— Lori Callahan? — O garoto pergunta.
Engulo em seco, balançando a cabeça.
— São para você. — Entrega a mim o lindo e grande buquê
de margaridas, rosas brancas, hortênsias lilases e girassóis.
Pego o buquê, com a boca aberta, em surpresa. O garoto
entrega uma carta, que pego com a mão tremendo.
Não posso acreditar que ele fez isso! Eu vou matá-lo!
Minha mãe sorri para mim. Ela sabe que foi ele, e pela sua
alegria, ela amou.
Sem falar nada e ainda tremendo, volto para o meu quarto.
Estou atordoada demais para falar. Tudo o que eu quero é
desaparecer. Essas flores... essas flores são as que estão em meu
diário, menos o girassol.
Sento na beira da cama, colocando o buquê ao meu lado.
Ainda com as mãos tremendo, abro a carta, tão logo vendo a
caligrafia de Caspen.

“Sunshine, não sei se você se lembra, mas essas são as


flores que estão em seu diário, as flores que você disse que queria
para o nosso casamento. E tenho que concordar com vocês: elas
são perfeitas para o nosso dia, mas espero que não se importe.
Tomei a audácia de incluir o girassol porque ele me lembra de você:
tão cheio de vida, cheio de cor, tão amarela como à uma luz. O
girassol significa lealdade, luz (calor), e é isso que você significa
para mim. Você é cheia de vida, tão brilhante e leal, e mesmo que
tenha escuridão à sua volta, você sempre busca a luz, sempre
encontra o melhor nas pessoas, assim como aconteceu comigo.
Você viu meu monstro e me aceitou, você ergueu as mãos para
mim, mostrando-me a luz. Foi por isso que incluí o girassol no
buquê, porque eu queria que soubesse que você é luz em meio à
minha escuridão, sem falar que eu quero que saiba que também as
quero em nosso casamento, pois quero que todos saibam que você
é o meu Girassol.
Com amor, Caspen”.

Porra! Esse filho da mãe mexeu com minhas estruturas! Ele


leu mais do meu diário! Droga! Preciso pegá-lo, antes que ele vá
longe demais. Não posso deixá-lo chegar até mim. Ele não vai me
reconquistar, não vou deixar.
Olho para o buquê ao meu lado, com lágrimas nos olhos. É
lindo, tão cheio de vida, de cor, e foi exatamente assim que imaginei
nosso casamento. Quão ingênua eu fui! Nada do que eu queria
aconteceu, Caspen e eu nunca aconteceu; agora ele lê meu diário e
acha que pode fazer tudo o que está lá acontecer...
Não, não irei cair no seu charme no quão atencioso ele está
sendo e nem em seu esforço para me conquistar. Caspen não
merece, não depois de tanto tempo me rejeitando.
Sim, as flores são lindas, mas não irei aceitá-las. De jeito,
porra, nenhum!

Caspen
A porta do meu escritório bate aberta, e Lori entra com o
buquê que mandei para ela, mas pelo seu semblante, está furiosa.
Ela para e me olha. Sorrio para ela, que bufa em resposta. Cruzo os
braços, dando a ela a primeira fala, mas Lori apenas me encara.
Levanto uma sobrancelha. Lori olha para o teto, resmungando
palavras que não consigo entender. Depois de alguns minutos, ela
abaixa a cabeça, me encarando.
— Caspen... — resmunga, entredentes.
— Lori — rebato.
— Que merda é essa? — pergunta, mostrando o buquê em
suas mãos.
— Um buquê.
Ela se mostra mais irritada ainda. Tão linda quando está
com raiva, e é por isso que incentivo. Deixá-la assim me excita, dá
vontade de beijá-la, de tirá-la do chão.
— Eu sei que é um buquê! — grita. — O que eu quero saber
é por que diabos me mandou isso! — exclama, jogando o buquê em
mim.
Pego-o, não querendo estragá-lo.
— Não gostou?
Ela gostou, só não irá dizer, porque ela é orgulhosa e está
ferida. Eu a magoei, e sei disso, também já sabia que um buquê não
seria o suficiente; mas é um bom começo. Não é essa reação que
eu quero, mas ao menos sei que estou causando alguma reação a
ela. Amor e ódio...
Sei que ela amou o buquê e a carta porque posso ver a
marca das lágrimas em suas bochechas, mas com certeza ela odiou
amá-los. Ela quer descontar em mim sua raiva por ter amado o que
enviei. É assim que Lori é.
— Não, não gostei. Essa merda vai parar agora, Caspen!
Não quero receber mais dessas coisas, entendeu!? — Bate o pé,
cruzando os braços em cima do peito.
Olho para os seus seios e lambo meus lábios, louco para
prová-los, para senti-los se arrepiarem em meus lábios, para ouvi-la
gemer meu nome enquanto a chupo.
— Olhos aqui em cima, Caspen! — grita, irritada.
— Não posso me controlar, eu a quero. — Olho em seus
olhos.
— Sim? Isso é uma pena — desdenha, sorrindo. — Não
envie mais nada para mim, vou jogar tudo fora.
— Onde está a carta?
Minha pergunta a pega de surpresa, porque ela me olha
com expressão atordoada.
— O quê??
— Você disse que tudo o que eu mandar, jogará fora. — Ela
acena com a cabeça. — Você jogou o buquê em mim, então onde
está a carta que enviei junto?
Ela pisca engolindo em seco, e eu sorrio.
— Joguei fora.
— Mentirosa.
Lori bufa, irritada, em seguida se vira e sai do escritório
batendo a porta. Sorrio ao saber que atingi um ponto, bem onde eu
queria. Não só o buquê, mas minha carta a abalou, ela sentiu. Não
estou para brincadeiras, quero que Lori saiba o que sinto. Passei
tanto tempo guardando tudo, que agora só quero colocar para fora,
porque monstros também amam.
Estou em meu escritório, pensando sobre o meu próximo
passo: o que mandarei para Lori?
É nesse momento que meu celular toca. Olho para o
identificador, vendo o contato de Carter. Suspiro. Meu irmão não é
de ligar para mim por qualquer coisa.
— O que houve? — Ouço-o dando ordens do outro lado. —
Carter?
— Desculpe, irmão, mas preciso que venha para o clube
agora. Traga Lori e Lauren com você. — Ele pede com urgência.
Fecho os olhos, sabendo que algo aconteceu com uma das
minhas meninas. Esfrego o rosto, me preparando para o que está
por vir.
— Que merda aconteceu, Carter? — pergunto, irritado com
sua enrolação.
— Phillipa foi atacada, Caspen. Ela não está bem. A merda
que fizeram com ela foi feia, Caspen!
Fecho os olhos com força.
Porra!! Hernández está indo longe demais! Ele tem que ser
parado! Que mexa comigo, mas não com o meu clube! Não com as
minhas meninas!
— Estou indo. Chame o médico da família, cuide dela, estou
chegando. — Encerro a chamada.
Saio do escritório chamando Lorenzo.
— Irmão. — Ele responde.
— Preciso de Lauren. Phillipa foi atacada, preciso da sua
mulher.
Lauren tem uma relação de amizade com Phillipa. Elas
trabalharam juntas no clube, e agora, Lauren comanda as meninas,
que confiam nela.
— Merda! Tudo bem, vou avisar a ela.
Corro para fora de casa, indo para Lori. Entro em seu closet,
sabendo que ela está procurando por Hernández.
— Merda! O que está fazendo aqui? — pergunta, irritada.
— Não tenho tempo para as suas merdas, Lori! — Levanto a
mão, impedindo-a de falar. — Vamos, Phillipa foi atacada por
Hernández, ela precisa de você, Lauren irá junto.
Não espero por ela, simplesmente me viro e saio do seu
quarto, sabendo que ela está atrás de mim.
Durante o caminho para o clube, faço algumas ligações.
Quero meus homens trabalhando para obterem informações. Quero
pegar o culpado e quero que ele seja punido. Ninguém pega uma
das minhas meninas, machuca e sai impune. A pessoa que atacou
Phillipa vai pagar com a vida, porra! Esta noite o Diabo sairá para
brincar.
Lori
Engulo em seco ao olhar o corpo de Phillipa. Sinto ânsia
subindo pela minha garganta e me lembro de mim e de Amélia. Eu
fui ela um tempo atrás. Seu corpo está todo machucado, seu rosto é
irreconhecível, ela está toda marcada.
Sinto por ela, porque sei que não será mais a mesma. Ela
vai mudar, sua vida mudará, sua alma mudará, e me sinto triste por
ela. Sei que ela queria algo melhor, sei que ela desejava sair daqui.
Lágrimas se formam em meus olhos. Meu corpo todo treme,
e logo sinto braços fortes me puxando. Bato em um corpo duro e
sinto seus lábios em minha cabeça. Suspiro, fechando os olhos.
Tenho que me manter firme, preciso ser forte por Phillipa, estou aqui
para mostrar que tudo está bem, que ela sairá dessa, que ela tem a
mim para ajudá-la, mostrarei a ela como viver depois do que
aconteceu. Phillipa é responsabilidade minha e de Lauren.
Saio dos braços de Caspen e vou até onde Phillipa está.
Sento-me na beira da cama, pegando em suas mãos. Ela olha para
mim e chora.
— Ei, estou aqui, vou cuidar de você. — Ela acena com a
cabeça.
Phillipa não fala, mas eu sei que ela entende o que quero
dizer.
Lauren está conversando com o médico que avaliou Phillipa.
Pego algumas palavras da conversa. Respiro aliviada ao saber que
ela não foi abusada sexualmente; mas seu corpo foi totalmente
explorado, ela tem cortes e queimaduras no corpo, em sua coxa
direita tem uma queimadura escrita “propriedade de Hernández”.
Esse filho da puta fez seu ponto, e eu vou fazer o meu! Ele acha
que essa merda é um jogo, mas não é. Hernández está
desesperado, o círculo está se fechando. Ele está sendo caçado,
seus homens estão sendo pegos, e logo, logo Hernández
aparecerá, porque não deixarei lugar para ele se esconder.
Levanto-me da cama, indo até Caspen, que abaixa a
cabeça, e minha boca encosta em sua orelha.
— O homem que fez isso com ela — sussurro —, ele é meu.
— Viro minha cabeça para olhá-lo.
Caspen olha para mim, sorrindo, e acena com a cabeça.
— Ele é nosso, Sunshine.
Capítulo Dezessete
“Fire on Fire – Sam Smith”

Caspen
Meu sangue ferve quando vejo Phillipa e o estado em que
se encontra. O médico disse que ela tem costelas quebradas,
ferimentos de faca e queimadura. Hernández a marcou, colocou seu
nome nela. O filho da puta teve a coragem de marcar Phillipa!
Agora ela está dormindo no quarto, na casa dos meus tios.
Seu quarto é ao lado do quarto de Lori, só assim sei que ela estará
segura, já que Lori tem meus seguranças e seus homens a
protegendo.
Não vai ser fácil para Phillipa, mas ela nos tem, e nós a
protegeremos. Amélia já está cuidando de tudo para o seu
tratamento. Ela precisará passar por terapia para superar.
Suspiro, balançando a cabeça. Estou cansando dessa
merda toda! Quero que tudo acabe. Nunca temos um dia tranquilo.
Sinto uma mão em meu ombro. Olho para o lado e vejo
Carter.
— Encontramos quem fez isso com ela, ele estava tentando
sair da cidade.
Sorrio.
Hernández está jogando um jogo sujo. Toda vez que
pegamos algum homem dele, ele pega um dos nossos. O problema
é que os Callahan’s não toleram violência contra uma mulher,
principalmente se ela for inocente.
— Leve-o para o porão. Deixe-o nu, amarrado em uma
cadeira, e molhe seu corpo — comando.
Carter acena com a cabeça, sorrindo.
Ele gosta de torturar, nasceu para ceifar a vida das pessoas.
Hoje iremos nos divertir: Carter, eu e Lori. Nós três teremos um
pedaço do desgraçado que ousou tocar em Phillipa.
Caminho até onde Lori está e toco em seu ombro. Ela
levanta a cabeça para olhar para mim. Lágrimas brilham em seus
olhos.
— O encontraram? — sussurra, provavelmente não
querendo acordar Phillipa.
Aceno com a cabeça.
— Tem certeza que quer fazer isso?
Lori não está com cabeça agora e pode acabar fazendo uma
loucura. É por isso que prefiro que ela fique e deixe Carter e eu
cuidarmos do responsável por ter colocado as mãos em Phillipa.
Mas essa é uma decisão dela.
— Sim. Ela é minha amiga, Caspen. Devo isso a ela.
Ela se levanta, dando um último olhar para Phillipa. Nesse
momento Lauren entra no quarto.
— Carter pediu para eu ficar com ela — diz.
Aceno com a cabeça.
Lori abraça Lauren, sussurrando ao seu ouvido. Lágrimas
escorrem pelos olhos de Lauren. Lori a solta, olhando mais uma vez
para Phillipa.
Saímos do quarto em silêncio. Olho para Lori, que está
concentrada. As lágrimas que tinha em seus olhos não estão mais
lá. Tudo o vejo é uma profunda escuridão. Não vejo mais a minha
Lori, a mulher cheia de vida, com luz à sua volta; a mulher que
passou por muito, mas que ainda tem um sorriso nos lábios; a
mulher que me aceitou; que carrega o mundo em seus ombros.
Não, ela não está mais lá. Tudo o que eu vejo é a Lori com sede de
sangue, a Lori de gelo. Não vou negar que amo as duas, porque
ambas fazem parte de uma pessoa só.
Seguro sua mão. Ela se vira para olhar para mim. Um
sorriso sem vida cruza seus lábios, e eu vejo em seu olhar o
demônio que a assombra.
— Vamos brincar? — pergunta, com falsa alegria.
— Sim, Sunshine, nós vamos brincar. — Ela acena.
Esta noite o homem que machucou Phillipa é o nosso
brinquedo.

Lori
Ouvi dizer que todos temos o bem e o mal dentro de nós e
decidimos o que fazer com esses dois lados. Eu decidi mantê-los
comigo. Quando quero ser bondosa, eu sou; e quando quero ser
má, eu sou. Nesse momento eu estou além, muito além de má.
Tudo o que quero é tirar a vida do homem que machucou
minha amiga. Quero fazê-lo sofrer, quero que ele grite, sangre,
quero levá-lo ao inferno... Pensando bem: não, quero trazer o
inferno até ele.
Serei a estrela da noite, farei o próprio show e o corpo do
homem será meu palco.
Sorrio. Caspen abre a porta da sala de tortura. O homem
está sentado e nu em uma cadeira de ferro, seu corpo está
molhado, ele treme e seus olhos estão arregalados, olhando de um
lado para o outro.
— Olá. — Aceno para o homem. — Ei, Dimitri. — Sorrio
quando ele se encolhe em um canto. — Um dia eu venho para você,
tenho assunto mais importante com esse aqui. — Aponto para o
homem na cadeira.
— Uma mulher? — O homem ri. — Sério mesmo? Patético
— desdenha.
Caminho até ele e coloco minha mão em seu queixo,
levantando sua cabeça e olhando bem em seus olhos. Deixo-o ver
quão escura minha alma está, deixo-o ver que esta noite ele vai
saber o que é estar no inferno.
— Não, querido, não sou apenas uma mulher, sou o seu
pesadelo. — Sorrio.
Solto seu queixo e dou a volta, ficando próxima às suas
costas. Puxo seu cabelo, me curvando para baixo, e encosto meus
lábios em sua orelha.
— Hoje o diabo saiu para brincar com seu corpo. Vou te
cortar, e você vai gritar, seu corpo vai tremer com as correntes
elétricas quando eu o eletrocutar, sua pele vai queimar, seus olhos
vão arder, você vai implorar para morrer, mas a morte será fácil
demais para você. Eu vou fazê-lo gemer, mas não de uma boa
maneira. Você vai pedir perdão, mas hoje Deus não estará te
ouvindo. Ninguém irá te ouvir — sussurro ao seu ouvido.
Ele treme, e eu sorrio. Olho para Caspen, que está me
olhando de um jeito tão intenso e tão assustador, que faz com que
meu corpo trema. Ele sorri, provavelmente sabendo do efeito que
tem sobre mim. Sorrio de volta, lambendo os lábios, a fim de
provocá-lo.
— Mais tarde. — Gesticula para mim.
— Só em seus sonhos. — Pisco.
Ele ri.
— Vocês são loucos, fora do normal, monstros! — O homem
grita, o que faz com que eu volte a me concentrar.
— E você é um homem morto. — Solto seu cabelo, voltando
a ficar de frente para ele. — Vamos começar? — Olho para Carter,
que acena com a cabeça.
Carter puxa o aparelho elétrico para causar choques.
— Você riu por eu ser mulher. Vamos ver quanto tempo eu
levo para fazê-lo chorar. Dimitri, olhe bem, porque depois será você,
querido. — Aponto para ele.
Fecho os olhos, aproveitando esse momento, e elevo a
cabeça, respirando fundo. O cheiro da vingança é tão reconfortante.
Abro os olhos quando o homem grita. Carter acabou de
enfiar dois pregos, um em cada perna, e cada prego tem um fio que
leva até o aparelho.
— Acho que não colocou os pregos direito, primo. —
Levanto uma perna, e com meu salto, aperto mais fundo o prego em
sua perna.
— AHH! — grita, em desespero.
Olho para os seus olhos, mas não há lágrimas... ainda.
— Não o fiz chorar. — Faço biquinho. — Precisamos de
mais intensidade aqui. — Olho para Caspen.
Caspen pega um bande com água e gelo e joga no homem.
Vou até o aparelho e o ligo no mínimo. Não quero fazer muito
estrago ainda. O homem grita desesperadamente, e o cheiro de
carne queimada enche o lugar.
— Está tão silencioso aqui, vamos animar o lugar. — Pego
meu celular e ligo minha playlist.
Take Me To Church, de Hozier, é a música que começa a
tocar; e eu danço, não me importando com quem está olhando. Vou
até o homem, dançando para ele. Sorrio quando vejo lágrimas em
seus olhos. Bato palmas.
— Caspen! — grito, animada. — Ele está chorando! —
exclamo, sorrindo.
— Sim, Sunshine, ele está. — Acena.
— Bem, vamos dar a ele mais para chorar.
Caspen se junta a mim, e Carter fica apenas observando,
porque será ele quem dará o golpe final com sua foice. Ele será o
único a tirar a vida do homem. Caspen e eu o deixaremos quase
morto.
É emocionante! Phillipa merece. Se pudesse, eu a traria
aqui para dar o golpe final; mas matar não é para qualquer pessoa.
A pessoa que mata carrega para sempre o peso da morte. Eu não
me importo em carregar o meu peso, mas algumas pessoas se
importam, algumas pessoas sentem culpa; ao contrário de mim, que
não sinto nada.
Tirar uma vida não é direito meu, mas tiraram meus direitos,
tiraram minha virgindade, minha inocência, tiraram minha liberdade,
meu sim e meu não, então vou tirar tudo o que eu conseguir, vou
acabar com quem acabou comigo. Dimitri, Hernández e quem
aparecer na minha frente. Não vou parar até me sentir saciada,
vingada, não vou parar até conseguir me sentir viva de novo. Chris
morreu, eu vivi.
Caspen
Observo quando Carter caminha até o homem semimorto na
cadeira. Seu corpo cheio de cortes e queimaduras, como está o de
Phillipa. Lori e eu o torturamos por horas, fazendo-o implorar pela
vida, gritar por perdão. Ele abriu a boca sem que eu pedisse, ele
disse que Hernández tem planos para Lori, que ela é a peça-chave
para o seu plano, que ela é o que Hernández mais quer, mas
Hernández sabe que Lori não irá até ele de boa vontade, e é por
isso que está indo devagar. Ele quer que seja uma escolha de Lori,
e para isso vai usar as pessoas mais próximas.
Hernández está jogando bem, mas não vou entregar Lori
para ele. Lori é minha, minha mulher, minha luz, não vou deixá-la ir.
Hernández terá que me matar primeiro, se quiser pegar Lori.
Mas o que fica martelando na minha mente é: por que Lori?
Está na hora de me aprofundar no passado de Lori Jones
antes de ela se tornar Lori Callahan.
Lori
Aconteceu tão rápido, em um piscar de olhos. Em um
momento ele estava vivo; e no outro, não. Carter apenas passou
sua foice em seu pescoço, fazendo-o sangrar. Eu vi a vida saindo
dos seus olhos. Fascinante! É incrível perceber o quanto a vida é
frágil, delicada e quão rápido podemos morrer.
— Lori? — Caspen me chama, e eu saio de meu devaneio.
— Sim? — pergunto, olhando-o.
— Vamos, acabou. — Ele ergue a mão para mim.
Olho para a sua mão, não sabendo o que fazer.
Resolvo não me envolver mais do que já estou. Passo por
ele, deixando sua mão no vácuo, e saio, voltando para a minha
casa. Preciso de um banho e ver Phillipa. Sei que não estará
melhor, mas quero vê-la, quero que ela saiba que não está sozinha.
É patético, porque sempre estaremos sozinhos. Nascemos
assim e morreremos assim; mas é bom ter uma falsa segurança, é
bom ouvir: você não está sozinha.
— Lori. — Caspen me para, segurando meu braço.
Olho para ele.
— Você está bem? — pergunta, preocupado.
Dou a ele um sorriso falso. A verdade é que não sei como
estou, mas tenho que fingir, não é mesmo? Tenho que continuar
dizendo: está tudo bem, eu estou bem; porque tenho que acreditar
nessas palavras, preciso acreditar nelas, e quem sabe tudo
realmente fique bem.
Essa é a única esperança que tenho, de que tudo vai ficar
bem, de que meus pesadelos não voltarão, de que eu vou conseguir
sair dessa sozinha, porque não há mais um Chris Castle para me
ajudar, para segurar a minha mão, para me apoiar e dizer que está
comigo, que não vou passar por tudo sozinha.
— Sim, estou bem.
— Mentirosa — rebate, olhando-me nos olhos.
— O que você quer, Caspen? — pergunto, com irritação.
— A verdade — pede, bem sério.
Dou um riso sem graça.
— A verdade é que eu me odeio, me sinto culpada por tudo
e quero saber o que Hernández quer comigo e o que fiz para
merecer tanta merda que a vida tem jogado em mim! A verdade é
que Chris está morto por minha culpa, porque se envolveu comigo!
Essa é a porra da verdade, Caspen! Está feliz agora!? — grito.
Estou cansada! Estou tentando, juro que estou tentando ser
forte, ser firme e cheia de atitude; mas só estou cansada de tentar,
de mostrar essa fachada quando, no fundo, bem no fundo de mim,
sinto que estou prestes a desmoronar; e o pior é que não sei se terá
alguém para me segurar quando eu cair.
Caspen me puxa para os seus braços. Coloco minha cabeça
em seu peito, fechando os olhos.
— Vai ficar tudo bem — sussurra para mim.
Não digo nada, porque não quero quebrar esse momento.
Sei que assim que eu sair de seus braços, minha guarda vai se
levantar e eu vou fugir, porque não posso deixar Caspen entrar. Ele
já me magoou uma vez, duas vezes será por burrice da minha parte.
— Isso não muda nada — digo, quando ele me solta.
Caspen está com um sorrisinho nos lábios. Rolo os olhos.
— Vamos, Sunshine, está amanhecendo e você precisa
descansar.

Meu sono é cheio de pesadelos. Toda vez que fecho os


olhos, vejo Dimitri, Hernández e todos os nossos inimigos, todos à
minha volta, rindo de mim, batendo em mim, tocando em mim. O
que aconteceu com Phillipa fez meus sonhos voltarem.
Assim que acordo, vou direto para o banheiro, tomar banho,
para tentar tirar a lembrança dos toques, dos chutes, tapas e tudo o
que aconteceu nos sonhos.
Esfrego meu corpo até arranhar, até arder, e mesmo assim
não é o suficiente. Nada é o suficiente para tirar as lembranças, só
preciso reaprender a viver com elas.
Capítulo Dezoito
“Pray – Sam Smith 9 (ft. Logic)”

Estou cansada, emocionalmente esgotada. O que


aconteceu com Phillipa fez com que antigos pesadelos voltassem à
minha mente, me assombrando. Meu coração sente o peso de tudo
o que aconteceu comigo. Lembro de Chris e do quanto sinto falta
dele, e para piorar, tudo faz com que eu me sinta culpada e confusa.
Meus sentimentos por Chris estão confusos demais, e me sinto
culpada por ainda amar Caspen, não sei o que fazer. Ele tem
tentado ficar mais perto e todos os dias eu o rejeito, mas a cada dia
que passa, parece que morro com cada não que dou a ele.
Não sei o que vou fazer. Caspen me magoou demais, e
agora ele tem tentado compensar, fazer com que eu acredite nele,
com que eu o ame; mas uma parte de mim não consegue. Como
vou aceitá-lo, se ele não me aceitou antes? Como vou ficar com ele,
sendo que ainda estou de luto?
Por causa dele, pego-me duvidando dos meus sentimentos
por Chris. Eu realmente amei Chris? Só de pensar nisso, sinto
ânsia, culpa.
Agora sinto raiva por duvidar desse amor, raiva de Caspen.
Preciso de respostas, mas não sei onde as encontrar, não
sei o que fazer e como seguir em frente. Sinto que estou me
perdendo em meio a toda essa confusão.
Essa raiva, essa dor, a angústia que estou sentido... Parece
que vou explodir!
Sinto uma lágrima solitária escorrendo pela minha
bochecha. Seco-a com a mão, em um gesto raivoso. Não quero
chorar. Já chorei tanto, que me recuso a chorar mais.
Eu sou uma farsa, fingindo para todos; mas é assim que
tenho que ser. Ninguém pode saber quão quebrada estou, quão
perto estou de desistir. Tenho que colocar meu olhar frio e ser forte,
mesmo não querendo.
Decidida, saio de quarto, caminhando até o quarto onde
Phillipa está. Aceno para os dois seguranças que estão próximos à
porta. Bato e entro.
Encontro Lauren sentada ao seu lado. Phillipa está
acordada, e sorri ao me ver.
— Ei — sussurra.
Aproximo-me dela, sentando-me ao seu lado com cuidado,
para não a machucar.
— Como está se sentindo? — Tão logo suspiro, sabendo
que minha pergunta foi uma merda. — Desculpa, foi uma pergunta
besta.
— Não, está tudo bem — diz, sorrindo. — Ai, dói sorrir, acho
que fizeram um estrago, hein — brinca.
— Ei, você vai ficar bem. — Pego em sua mão. — Estamos
aqui para você.
Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Phillipa, você pode confiar em nós. — Lauren diz. —
Tudo vai ficar bem, está segura agora.
— Sinto muito por ter envolvido você nessa. — Ela balança
a cabeça.
— Não, a culpa não é sua. Quando procurei trabalho no
clube, eu sabia onde estava me envolvendo, faz parte. — Aperta
minha mão. — Só encontre-o e acabe com ele. Hernández tem que
ser detido. — Algo passa em seu olhar.
Tento identificar o que foi aquilo, mas Phillipa desvia o olhar.
— Quer nos dizer o que aconteceu? — pergunto.
Phillipa olha para a porta, mas logo seu olhar fica
desfocado. Ela se tranca no próprio mundo, fechando todas as suas
emoções.
— Eu estava saindo do apartamento. Como estava
atrasada, resolvi esperar o táxi na porta do prédio, e foi quando fui
puxada pelos cabelos e levada ao beco ao lado do prédio... — A
porta se abre e Caspen entra com Lorenzo.
Ele para em um canto do quarto, cruzando os braços,
permitindo que Phillipa continue a contar a nós o que aconteceu.
— E-ele... — Ela para, lágrimas rolam pelo seu rosto
machucado.
Aperto sua mão.
— Ei, está tudo bem, você está segura.
Olho para Caspen, que acena com a cabeça.
— Você está protegida aqui, Phillipa — diz, entredentes.
Toda essa situação é uma merda! Fazer Phillipa reviver o
que aconteceu é ruim, mas precisamos saber. Quem sabe ela viu
alguma coisa ou ele falou algo que possa ajudar.
— Ele disse que tinha um recado para você. — Olha-me. —
Hernández quer que você sabia que ele a quer, e o que ele fez
comigo é só o começo. O próximo será alguém mais próximo, e ele
não vai parar até pegá-la. Ele disse que vai destruir tudo, até sobrar
você, Lori, que você é dele. — Termina a última frase em um
sussurro.
— Porra! — Caspen ruge, o que faz Phillipa tremer.
— Caspen — repreendo-o.
— Sinto muito, não tive a intenção de deixá-la com medo.
Ela tenta sorrir para ele. A menina forte, cheia de vida e sem
medo se tornou um casulo, uma concha vazia que tem medo de
tudo. Phillipa nunca havia tido medo de Caspen. O capanga de
Hernández acabou com toda a sua força.
Culpada. Eu sou culpada pelo que aconteceu com ela. Eu
sou culpada pela morte de Chris. Tudo o que Hernández está
fazendo é por mim. Se eu me entregar, será que tudo irá acabar?
— Nem pense nisso, porra! — exclama Caspen, olhando-
me.
— O quê? — Lauren pergunta, olhando de Caspen para
mim.
— Lori, não. — Caspen diz mais uma vez.
— Dá para falar o que está acontecendo? — Lauren
pergunta.
— Lori está pensando em se entregar. — Caspen responde.
— Não, isso não vai acontecer. — Lorenzo resmunga,
balançando a cabeça.
— Eu só estava pensando — murmuro.
— Não, Sunshine. Você se entregar não está nos planos.
Hernández não vai parar, porque ele sabe que se você for até ele,
nós iremos até você. — Caspen está sério e mortal.
Ele está certo, mas mesmo assim não consigo deixar de
pensar no e se. Não estou gostando de me sentir culpada por tudo o
que está acontecendo. Quero respostas. Por que eu? O que
Hernández quer comigo?
— Nós lutamos, Sunshine. — Caspen caminha até mim, se
curvando para ficar na minha altura, e pega meu queixo. — Está
entendendo? Nós lutamos. — Olha em meus olhos.
Meu corpo treme. Ele está perto demais. Lambo os lábios,
mordendo-os no fim.
— Sim, nós lutamos — respondo-o.
Ele olha para a minha boca e sorri.
— Bom.
Caspen me solta, em seguida, seu olhar vai para Phillipa.
— Você ficará aqui sobre os nossos cuidados, terá depois
seguranças em sua porta, dia e noite. Tudo o que precisar, é só
chamar. Você está segura agora, Phillipa.
Ela engole em seco, acenando com a cabeça.
— Obrigada — sussurra.
— Não nos agradeça. Essa merda aconteceu com você por
culpa nossa, então, nós devemos a você. Estou pagando com sua
proteção. — Vira-se e sai do quarto, com Lorenzo atrás dele.
— Essa merda foi quente. — Lauren comenta, rindo.
— Foi assustador. — Phillipa murmura.
— Foi apenas Caspen.
Caspen – Dois dias depois...
— Então, o que iremos fazer? — Carter pergunta a mim.
Olho para os meus irmãos, que estão esperando por uma
resposta minha. Todos querem ir atrás de Hernández, todos querem
vingança pelo que aconteceu com Phillipa. Todos queremos saber o
que Hernández quer com Lori. Qual a relação dos dois? Por que ele
a quer? Quem é Hernández?
O que mais me incomoda é o fato de que Hernández possa
ser mulher. Saber que uma mulher sequestra mulheres e crianças,
que abusam delas, vendendo-as e drogando por dinheiro... saber
que uma mulher mandou agredir Phillipa, sequestrar Lori e leiloar
uma criança de dez anos... É nisso que me recuso a acreditar.
Minha família lutou durante anos para as mulheres terem
voz, para elas escolherem o que e quem querem ser, para terem o
próprio espaço, tomarem as próprias decisões; e saber que uma
mulher não respeita outra, que as usa como se não fossem nada faz
com que nossa luta seja em vão.
Somos muitas coisas: cruéis, egoístas, mortais, letais,
somos o crime, a morte; mas nunca prejudicamos uma mulher ou
uma criança. Sim, já matei mulheres, matei aquelas que ousaram
me trair, aquelas que tentaram me matar; mas nunca uma mulher
inocente, nunca as obriguei a venderem o corpo, nunca dei drogas a
elas, nunca abusei delas e principalmente nós nunca prejudicamos
uma criança.
Olho para os meus irmãos e primos.
Convoquei-os para uma reunião porque cansei de ficar
brincando de pique-pega com Hernández.
— Vamos atrás dos negócios dele. — Olho-os. — De todos
os negócios dele, cada prostíbulo, cada clube, cada fábrica de
drogas, cada ponto de armas. Vamos atrás de tudo o que ele tem,
acabar com sua organização, assim só sobrará ele, então
Hernández terá que dar as caras. Quero-o sem saída, cada porra
sua destruída, só assim que aparecerá. Quero que ele caia. Matem
quem entrar no caminho, não quero ninguém vivo. As mulheres,
coloquem em segurança. Se tiver crianças, cuidem delas; mas os
homens eu os quero mortos.
— Porra! — Carter acena, sorrindo, provavelmente animado
com o fato de que estou dando carta branca para matar quem nos
impedir de chegar ao nosso objetivo.
— Lorenzo, entre em contato com Vladimir, avise-o que
estamos em guerra, pergunte se ele sabe algo sobre Hernández. —
Meu irmão acena com a cabeça. — Carter, quero-o nas ruas com
Lucas. Os outros, fiquem de olho. Qualquer coisa, me avise. Quero
estar por dentro de tudo. Acabem com cada coisa de Hernández,
está na hora de brincar um pouco. — Sorrio.
Todos sabem muito bem que quando os mando brincar,
significa caos, fogo, explosões e que não haverá uma alma viva
para contar.
Hernández cavou a própria cova. Fui paciente, apenas
brincando com ele, dando recados, mostrando do que sou capaz,
mas ele não deu importância e continuou retaliando. Cansei de
joguinhos. Cansei de Hernández. Espero que ele esteja preparado,
porque estamos indo com tudo.
— Hector e Theodoro, fiquem atentos. Sei que Hernández
está expandindo para Las Vegas e Los Angeles. Impeça-o. Acabe
com os planos dele. Quero-o sem nada. — Olho para os meus
primos.
Eles sorriem para mim, acenando com a cabeça.
Hector e Theodoro são tão mortais quanto eu. Eles gostam
de brincar antes de darem o golpe final.
— Amélia, ajude Lori. Ela está na cola de Hernández, ajude-
a a encontrá-lo.
— Por que continua se referindo a Hernández como ele? —
Minha irmã pergunta. — Sabemos que é ela.
— Porque ela se refere como homem, e se é assim que
Hernández quer, é assim que será.
— Não se importa que ela seja mulher?
— Não, não me importo se é mulher ou é homem, estará
morto de qualquer jeito quando eu o encontrar. — Olho-a, mas não
dou chance de me questionar outra vez.
Não estou com cabeça para ter um bate-boca com Amélia,
tudo o que quero é que façam o que eu mando.
— Agora quero que as duas saiam, tenho outros assuntos
que não envolvem as duas — comando.
Lori bufa, rolando os olhos.
— Sabe que vou descobrir de qualquer jeito, não é? —
Encara-me.
— Sim, mas ainda assim não as quero aqui. — Dou um
encolher de ombros.
— Idiota — resmunga, deixando o escritório.
— Tudo bem. O que quer nos falar? — Heitor pergunta.
Tem algo que está me incomodando desde o dia em que saí
do quarto onde Phillipa está se recuperando. Preciso dizer aos
meus irmãos e primos, eles precisam ficar atentos.
— O ataque contra Phillipa. Minha mente não está aceitando
muito bem.
Lorenzo estreita os olhos, mas Carter concorda com a
cabeça.
— Sim, eu já estava pensando sobre isso — comenta
Carter.
— Phillipa disse que ele deixou um recado, dizendo que o
próximo ataque será com alguém mais próximo. Minha pergunta é:
por que diabos ele matou Chris, que era noivo de Lori; e depois,
Phillipa, que não é tão chegada a Lori; e depois disse que o próximo
será alguém mais próximo? Algo nisso não está batendo, não está
certo. Hernández sempre teve um plano, sempre indo em uma
direção, e agora, do nada muda? Ele podia ter atacado Tinna, que é
mais chegada a Lori, já que Tinna namora Lucien; e ele, sendo
segurança de Sophia, deixa Tinna mais próxima da família. Agora,
Phillipa? Não, não está certo. — Estou com o semblante confuso.
Não quis dizer minha dúvida perto de Lori e Amélia, porque
sei que elas iriam defender Phillipa e ficariam com raiva e mais na
defensiva. Elas ainda não precisam saber que desconfio desse
ataque e que acho tudo muito duvidoso. Quero ir mais fundo nisso.
Não vou tomar decisões precipitadas, mas estarei de olho. Não sou
um chefe à toa. Sou bom no que faço e acredito no que penso.
Esse ataque não foi por acaso.
— Pensei a mesma coisa. — Carter diz, olhando-me. —
Hernández tem um padrão, e precisamos saber onde Phillipa se
encaixa nesse padrão.
— Lori encontrou algo sobre ela? — Lorenzo pergunta,
cruzando os braços.
— Não, disse que ela estava limpa, nada de errado —
respondo.
— Precisamos ir até seu apartamento. Talvez a casa fale o
que ela não está nos dizendo. — Lorenzo sugere.
Sorrio, de acordo.
— Não. — Balanço a cabeça.
O pai suspira, olhando para mim.
— Caspen...
— Pai, é uma péssima ideia.
— Mas é necessário. Temos que fazer esse baile, temos
que arrecadar fundos para a cidade. É o esperado, meu filho, e
como prefeito, eu irei fazer.
Balanço a cabeça.
No momento em que estamos e com Hernández por aí, não
acho uma boa ideia fazer um baile de arrecadação de fundos para a
cidade. As coisas podem sair do controle rapidamente. Hernández
pode fazer um movimento no baile, e seria perigoso demais arriscar;
mas ele é o prefeito, e toda a cidade está esperando por esse baile.
O dinheiro ajudará instituições de caridade de alguns lares com
baixa renda.
— Precisaremos triplicar a segurança, será algo arriscado —
aviso-lhe.
— Sim, eu sei, e é por isso que precisarei da ajuda de todos.
— Olha para todos nós.
Suspiro, esfregando meu rosto. Vai ser muito cansativo
organizar tudo.
— Tem mais. — Ele olha-me com cuidado.
— Já esperava por isso, as coisas sempre podem piorar —
comento.
— Houve uma votação com a associação de moradores. O
baile terá tema e todos usarão máscara. — Papai sorri para mim.
— Porra! — exclamo, batendo as mãos na mesa. — Está
brincando, né? — Ele balança a cabeça. — Máscaras?! Eles
querem que todos usem máscara!? Como iremos controlar a
movimentação e saber quem entra e quem sai?! — Balanço a
cabeça.
— É por isso que a entrada será liberada apenas com
convites. Estamos organizando tudo, mandarei para você uma lista
dos convidados quando ela estiver pronta.
— Tudo bem, vou montar a segurança, farei de tudo para o
baile ser perfeito. — Levanto-me, deixando a mesa de jantar.
Não posso acreditar que essa merda está acontecendo!
Todos sabem sobre Hernández, até o FBI está à procura dela, e
mesmo assim a cidade fará um grande baile para obter dinheiro...
Era só cada um ter dado um pouco, colocado em uma conta e
depois distribuído pela comunidade; mas não, o baile não é apenas
sobre ajudar as pessoas, e sim sobre fazer mais negócios...
Patético!
Capítulo Dezenove
“Princesses Don’t Cry – Carys”

Olho para o prédio à minha frente.


— Tem certeza que estamos no lugar certo? — pergunto a
Carter.
— Sim, é aqui que ela vive.
Algo está muito errado aqui. Se Phillipa realmente mora
nessa merda de prédio, significa que tem algo fora do lugar. Ela
ganha muito bem trabalhando no clube, era para estar em cobertura
no centro da cidade, e não em um lugar como esse. Onde está indo
a porra do dinheiro que ela recebe trabalhando para mim?! Que
merda está acontecendo à minha volta, que não estou sabendo!?
— Caspen, isso aqui me cheira a pura merda. — Carter
comenta, ao meu lado.
— Sim, estou sentindo o cheiro também.
— Não está certo, cara — murmura, olhando em volta,
sempre atento.
— E eu não sei disso?! — rosno. — Olha para isso! Phillipa
não era para morar em um lugar como esse, Carter! — Aponto para
o prédio.
— Vou olhar em volta, obter algumas respostas. — Aceno
com a cabeça.
Continuo encarando o prédio à minha frente. O lugar é
péssimo, o prédio parece ter saído de um filme de terror, a pintura
está degastada, o cheiro de urina e vômito está por todo o lugar, tem
drogados em cada canto, sem falar nas prostitutas em cada
esquina.
Estreito os olhos quando vejo um dos homens de Lori
parado em um canto escuro. Merda, ela está aqui! Caminho até
Maddox.
— Ela está lá dentro? — pergunto.
— Sim.
— Por quanto tempo?
Ele dá de ombros.
— Não muito. Assim que ela subiu, vocês apareceram.
— O quanto ela sabe?
— O suficiente para vir até aqui. E parece que ela não
gostou do que viu. Pelo que me disse, todos que trabalham em seu
clube ganham bem, não era para Phillipa morar nesse pedaço de
lixo. — Aceno com a cabeça.
— Não, não era — murmuro. — Quem está com ela lá em
cima?
— Alex e Miguel. Eu e Emílio ficamos para vigiar o lugar.
— Algo que preciso saber?
— Não, apenas que tem algo acontecendo com Phillipa; e
você, Caspen, precisa descobrir o que é. Essa merda tem que parar.
Sorrio. Quão audacioso ele está sendo.
— Não me diga o que tenho que fazer, Maddox. Fale comigo
assim mais uma vez, e eu o mato. — Olho-o bem.
— Não tenho medo da morte.
Sorrio mais uma vez. Eu sei que ele não teme a morte,
nenhum dos homens de Lori teme.
— Oh, eu sei disso. Mas eu não apenas mato, Maddox, eu
brinco primeiro. Lori já contou o que fiz com o homem que a pegou e
abusou? — Ele nega com a cabeça. — Não? Imaginei isso. Bem,
ele está preso até agora, eu o mantive só para mim, sua vida está
em minhas mãos. Ele é torturado toda a semana, e quando está à
beira da morte, chamo seu medo para curá-lo; e quando Dimitri fica
bem, eu começo tudo de novo. É isso o que faço, eu brinco com
cada vítima minha, até levá-la para o inferno. — Sorrio quando vejo
o medo em seu olhar. — Não me diga como fazer meu trabalho,
Maddox. — Bato em seu ombro.
— A área está limpa, irmão. — Carter diz, aparecendo ao
meu lado. — Olha o que temos aqui. Parece que sua garota é
esperta, cara. — Sorri.
— Sim, já percebi isso — resmungo. — Estou subindo, algo
me diz que Lori precisará de mim.
Por dentro é bem pior. O cheiro é mais forte, o chão range
enquanto ando, as paredes estão mofadas. Meus olhos queimam,
minha garganta coça só por estar neste lugar horrível. Deus! Como
Phillipa mora em um lugar como esse?!
Os sons de gemidos, crianças gritando, o cheiro das drogas
e do mofo... Sinto-me enjoado. Tudo o que quero é me virar e sair
desse lugar.
O apartamento de Phillipa fica no terceiro andar. Com
cuidado, subo as escadas. Esse lugar precisa ser esvaziado e
demolido, não há condições de viver assim. Pergunto-me o porquê
de Phillipa viver aqui. Se ela precisava de dinheiro, era só ter vindo
até mim, eu a ajudaria. O que mais ela esconde?
No terceiro andar, encontro com Alex e Miguel, guardando a
porta do apartamento de Phillipa, onde Lori está. Eles acenam para
mim.
— Saiam — comando, mas nenhum dos dois sai do lugar.
Estreito os olhos.
— Eu mandei saírem! — rosno, em um tom mortal. —
Agora! — exclamo.
Eles saem, mas posso ver a relutância. Não que eu me
importe.
Abro a porta do apartamento, olhando para dentro. Não
ouço nada e nem vejo Lori. Por dentro o apartamento até que é um
pouco melhor do que por fora. As paredes estão pintadas de branco
e preto com decorações em amarelo e cinza. Está tudo organizado,
mas mesmo assim, ainda parece decaído. Nas paredes tem várias
fotos.
— Lori?
Não obtenho resposta. Olho pelo lugar, mas não vejo nada
de anormal. Não parece que o lugar foi arrombado, então bate com
o que Phillipa disse.
Uma porta aberta no fim do corredor chama minha atenção.
À medida que caminho até lá, ouço um choramingo. Meu corpo fica
em alerta total. Abrindo a porta, vejo Lori sentada no chão. No meio
de suas pernas há um caixa aberta, e em suas mãos, uma pequena
foto. Sua cabeça está abaixada, seus ombros tremem. Chego até
ela e me ajoelho ao seu lado.
— Sunshine?
Lori treme, levantando a cabeça, e me olha. Seus olhos
estão vermelhos, e vejo lágrimas escorrendo por suas bochechas.
— Es-essa sou eu. — Entrega a mim a foto que está
segurando.
Olho para a foto que agora está em minhas mãos. Nela há
uma mulher muito bonita e jovem, sorrindo; e em seus braços está
uma versão bem mais jovem de Lori, parece que tinha uns quatro
anos. Lori estava sorrindo para a mulher.
— E-eu tinha me esquecido — sussurra, olhando para mim.
— Essa é minha mãe, Caspen.
Aceno com a cabeça.
— Por que Phillipa tem uma foto minha com minha mãe?
Essa é a grande e fodida pergunta para a qual não tenho
resposta.

Lori – Momentos antes...


Caspen não queria que eu soubesse que ele desconfia de
Phillipa e do atentado contra ela, mas eu o conheço melhor do que
ele possa imaginar, eu sabia que ele estava de olho nela.
Depois da conversa que ele teve com Phillipa e de tudo o
que ela contou, parei para analisar tudo e cheguei à conclusão de
que algo está errado. Esse ataque foi muito aleatório, então resolvi
esperar por Caspen, e ele pensou o mesmo do que eu. Sabia que
ele não me falaria nada, não depois que tivesse certeza de suas
suspeitas ou de algo contra ela.
Não pude ficar parada, eu tinha que pesquisar por mim
mesma, e aproveitei o momento em que ele se distraiu conversando
com seus homens.
— Tem certeza que é onde ela mora? — Maddox pergunta,
olhando para o local onde estamos parados.
— Sim, esse é o endereço.
Maddox estreita os olhos.
— Você me disse que Caspen paga muito bem. Que merda
ela está fazendo em um lugar como esse?!
— É o que iremos descobrir. — Abro a porta do carro e saio.
Maddox, Alex, Miguel e Emílio saem junto comigo.
Não consigo acreditar que Phillipa mora aqui. Tem algo
muito errado nisso tudo. O que ela tem feito com o dinheiro que
recebe de Caspen? Se ela precisava de dinheiro, poderia ter ido até
ele, Caspen teria a ajudado. Phillipa sabe disso, pois trabalha para
ele há muito tempo.
Não parece que esse ataque foi por mim. Está parecendo
pessoal.
Preciso descobrir qual a relação de Phillipa com Hernández.
Por que ele a atacou?
— Maddox e Emílio ficam aqui. Alex e Miguel, sobem
comigo. — Eles apenas acenam com a cabeça.
O lugar é péssimo. Não sei como essas pessoas
conseguem viver aqui. O prédio está em péssimas condições.
Prefiro subir as escadas até o terceiro andar do que ir de elevador,
não quero correr o risco de ele cair ou parar no meio do caminho.
Não estou pronta para morrer ainda.
Paro em frente à porta do seu apartamento. Respiro fundo e
abro a porta.
Por dentro é melhor do que por fora, mas não muda o fato
de que Phillipa está vivendo em péssimas condições.
— Fiquem aqui, vigiem o lugar. Qualquer coisa, me chame
— comando a Alex e Miguel, que acenam para mim.
Entrando no apartamento, fecho a porta atrás de mim. Olho
em volta e vejo várias fotos de Phillipa, algumas com Soph e
Lauren, outras com Tinna e algumas meninas do clube. Sorrio ao
ver uma foto dela comigo e com Amélia. Foi no aniversário de Hope.
Todo o lugar está organizado, não vejo nada fora do lugar ou
algo que me faça desconfiar. Só há duas portas no apartamento:
uma é a porta do banheiro, e a outra porta é a do quarto. Entro em
seu quarto. Olho em volta, observando cada pequeno detalhe.
Preciso começar a procurar, preciso de algo, qualquer coisa que
ligue Phillipa a tudo isso.
Abro seu guarda-roupas, procurando algo, qualquer coisa
que possa me ajudar. Sinto-me péssima invadindo seu espaço
pessoal, meu coração dói por fazer isso, mas é preciso. Tenho que
saber mais, não posso virar a cara para o que está acontecendo,
esse apartamento é tudo o que tenho.
Não vejo nada em seu guarda-roupas, então vou até sua
cômoda, logo abrindo cada gaveta, mas também não há nada ali.
Suspiro. Será que isso foi em vão? Merda! Estou começando a
achar que é paranoia minha.
Não. Tenho que continuar procurando.
Se eu fosse ela, onde esconderia algo importante?
Algo clica em minha mente. Ajoelho em frente à sua cama e
me agacho, olhando embaixo.
Bingo! Caixas. Há umas três caixas embaixo da cama. Pego
todas, trazendo-as para fora. Sento no tapete, no meio do quarto.
Abro a primeira, onde há várias fotos. Olho uma por uma. Sorrio,
vendo como Phillipa era mais jovem: seu cabelo cheio de cachos,
sua pele morena e o grande sorriso em seus lábios. Ela estava feliz
nessa foto.
Vejo várias e várias fotos, e uma chama a minha atenção.
Ela está ao lado de uma mulher loira, e nos braços da mulher há um
bebê pequeno, uma menininha. A foto parece mais recente, de uns
dois anos atrás.
Procuro por mais fotos na caixa. No fundo, dentro de uma
pequena caixa de madeira, há uma foto antiga. Com as mãos
tremendo em nervosismo, pego-a.
Oh! Não, não pode ser... Essa sou eu! Eu, minha mãe, a
mesma mulher que está na foto com Phillipa e um bebê no colo.
Lágrimas escorrem. Sinto uma grande dor no peito.
Não pode ser! Algo está faltando... Como é possível!? Como
não lembro de nada!?
Meu coração está em pedaços. Por que só agora? Depois
de tanto tempo... O que fiz para merecer tudo isso?
Meu corpo treme com meus soluços. Fecho os olhos.
Dói demais ver essa foto, ver a mulher que me abandonou,
a mulher que pensei que tivesse morrido, a mulher que não me quis,
que me deixou com um monstro...
— Sunshine?
Levanto a cabeça na direção da voz masculina. É Caspen,
que se ajoelha ao meu lado. Olhar para ele só faz com que tudo se
torne mais real, mais doloroso.
— Es-essa sou eu. — Entrego a foto para ele.
Caspen olha a foto, franzindo a testa. Certamente percebe o
que está acontecendo. O fato de Phillipa ter uma foto minha com
minha mãe...
— E-eu tinha me esquecido — resmungo baixinho,
engolindo em seco. — Essa é minha mãe, Caspen. — Ele acena. —
Por que Phillipa tem uma foto minha com minha mãe?
Nenhum de nós tem a resposta. Só uma pessoa tem a
resposta para a minha pergunta, e nesse momento ela está deitada
na cama, em um quarto ao lado do meu.
— Não sei, Sunshine.
— Há mais, Caspen. — Aponto para a caixa. — Phillipa
também tem foto com ela. Fotos recentes com ela e um bebê. —
Mostro a outra foto a ele.
Caspen avalia a foto em suas mãos, e pelo olhar dele,
chega à mesma conclusão que eu.
Um pequeno soluço sai dos meus lábios. Caspen envolve
seu braço em minha volta. Encosto minha cabeça em seu ombro,
sentindo-me desamparada, fraca em meio a essa descoberta, sem
saber o que fazer.
— Phillipa é minha irmã, Caspen...
Capítulo Vinte
“Carry You – Ruelle (feat. Fleurie)”

Por que dói tanto?


— Leve-me para casa — peço a Caspen. — Eu só preciso ir
para casa — murmuro.
Caspen se levanta, levando-me com ele. Sinto-me cansada
e sem força, como se eu tivesse lutado em uma batalha. Sinto
também raiva, pura raiva dos segredos, das mentiras, de tudo o que
vem acontecendo. Sinto raiva de Phillipa, por ter me enganado por
todo esse tempo.
— Dói demais, Caspen — sussurro.
— Estou com você, Sunshine.
— Sinto meu corpo mole, Caspen.
Ele pega-me no colo, carregando-me para fora do
apartamento.
— Recolham as caixas no quarto, quero-as em meu
escritório — comanda aos meus homens.
— Ela está bem? — Alex pergunta.
— Ela vai ficar. — Leva-me para fora do prédio.
Do lado de fora, o vento sopra meu rosto. Fecho os olhos,
encostando minha cabeça em seu peito.
— O que aconteceu? — Carter pergunta.
— Muita merda — respondo.
Não sei o que há em mim, mas uma crise de riso me
envolve. Meu corpo todo treme e gargalhadas saem de mim.
Caspen e Carter olham para mim com expressão preocupada, mas
não consigo controlar.
— E-eu tenho u-uma irmã — gaguejo para Carter. — Phillipa
é minha irmã. — Seus olhos se arregalam, em surpresa.
— Nós não sabemos ao certo. — Caspen diz.
Bufo, balançando a cabeça.
— Ah, porra que não! — grito. — Eu tenho uma irmã, e
minha mãe me abandonou com um monstro! — Lágrimas se
misturam à minha risada.
— Sunshine...
— Não, Caspen! Essa merda é fedida! Eu sou fodida! — Rio
em meio às lágrimas.
— Onde está a mulher forte e corajosa que amo?
Levanto a cabeça para olhá-lo. Seus lindos olhos em
encaram com tanta intensidade, que meu coração se aperta.
Balanço a cabeça.
— É tudo mentira. Não sou nada disso. Sou uma farsa,
Caspen — sussurro.
— Vamos, vamos para casa. — Entra no carro, comigo em
seus braços.
Fecho os olhos, tentando assimilar tudo o que aconteceu,
tudo o que descobri e o que farei sobre isso. Terei que falar com
Phillipa, pedir explicações. Quero saber, preciso saber.
O caminho de volta para casa é em total silêncio. Minha
mente trabalha a todo o momento com os prós e os contras sobre
minha descoberta. Faço estratégias e crio força, força que é
necessária para o momento. Não penso sobre estar no colo de
Caspen e o jeito que ele alisa meu cabelo e beija minha cabeça, não
penso sobre suas mãos em mim e suas palavras de conforto;
porque não quero pensar sobre isso, não quero avaliar minha
situação com ele, não quero sentir.
— O que está fazendo? — Caspen pergunta, olhando-me.
— Saindo do seu colo. — Saio dos seus braços e me sento
ao seu lado. — Assim está melhor.
Ele sorri. Seco minhas lágrimas com as mãos e arrumo meu
cabelo. Tenho que estar preparada para quando chegarmos em
casa.
— Sunshine... — Levanto a mão, impedindo-o de falar.
— Estou bem, Caspen. Só quero chegar em casa. — Ele
acena.
Assim que o carro para em frente à minha casa, eu pulo
fora. Olho para a minha casa. No andar de cima, vejo a luz do
quarto onde Phillipa está hospedada. Meu coração se enche de
raiva e ressentimento. Aquela traidora!
— Lori... — Ele pega em meu braço.
— Não, Caspen.
Corro para dentro de casa, cheia de fúria. Papai e mamãe
olham para mim, sem entenderem. Meu irmão tenta me parar, mas
dou um soco em seu estômago.
Subo a escada com a maior rapidez. Quero que ela me olhe
nos olhos e me diga o porquê. Ela tem mentido para mim e para a
minha família por anos. Ela pode saber quem é Hernández.
— Lori, espera. — Caspen chega até mim.
— Não, não vou esperar, já esperei tempo demais, eu quero
saber! — Olho-o. — Hernández tem feito um inferno em nossas
vidas, Caspen, não vou deixar que essa farsa continue!
— Você não pode ir lá, não agora, Lori.
— Não me impeça, Caspen. — Continuo subindo a escada.
Caminho pelo corredor, mas Caspen me agarra pela cintura.
— Deixe-me ir! — grito, lutando contra ele.
Seu aperto é firme. Não está me machucando, mas não me
deixa ir. Tento socá-lo ou chutá-lo, mas nada adianta, Caspen
continua a me segurar. Ele me arrasta para o meu quarto, em
seguida, fechando a porta e impedindo-me de sair.
— Merda, Caspen! — grito.
Ando pelo meu quarto. Passo a mão pelo meu rosto, irritada
demais. Estou frustrada, quero enforcar Phillipa! Ela nos enganou,
veio para a minha casa, se fez de coitada... porra!
— Pense, Lori, você não pode entrar lá. — Caspen diz, com
calma, olhando-me.
Começo a rir.
— A porra que não posso! — grito, batendo em seu peito. —
Ela nos enganou, fingiu ser uma pobre coitada, eu a acolhi, a trouxe
para a minha casa, ela está no quarto ao lado do meu, ela é a porra
da minha irmã! — Lágrimas se formam em meus olhos. — Ela
conhece a minha mãe, Caspen! Eu quero respostas! Eu as quero
agora! — exclamo, batendo o pé.
— Lori, ela está machucada, ela mal se levanta da cama,
Hernández fez isso com ela. Já parou para pensar que ele sabe que
ela é sua irmã e fez isso com ela para atingir você? Temos que
pensar com cuidado, temos que a ter ao nosso lado, e não contra
nós.
Começo a rir sem controle.
— Tê-la ao nosso lado? — Bato em seu peito. — Ela esteve
ao nosso lado por todos esses anos e nunca veio até mim, nunca
me contou a verdade! Já parou para pensar que ela possa saber
quem é Hernández? Ela com certeza sabe quem é ela! Já pensou
que ela está aqui porque ele mandou?! Já parou para pensar que
talvez minha mãe possa estar relacionada a esse Hernández!?
Talvez seja uma amiga dela, algum parente, alguém que ela
conheça! Porra, Caspen, eu quero respostas!
— Já, eu já pensei em tudo isso! — Caspen grita, o que me
faz pular, em surpresa. — Eu sou o chefe, Lori! Tenho que pensar
em tudo, e é o que estou fazendo agora! Não quero que entre
naquele quarto e faça algo irresponsável!
— Como matar Phillipa? Porque é isso que quero fazer
nesse momento. Quero matá-la por mentir, por nos enganar, por
estar todo esse tempo por perto e nunca ter falado que era minha
irmã. Não me impeça de ir até ela, Caspen!
— Não posso, Sunshine. — Balança a cabeça.
— Por favor, deixe-me ir.
— Não.
— Deixe-me ir! — Tento passar por ele, mas Caspen me
segura.
— Você não sairá desse quarto, Lori. — Sua voz é firme e
seu olhar é bem sério.
— Me impeça — desafio.
Caspen olha para os meus lábios, cheio de fome. Meu corpo
treme. Aproveito esse momento de distração para sair do seu
aperto, mas ele é esperto. Seu aperto se intensifica, sua outra mão
segura minha nunca. Tento virar o rosto para não o olhar, mas ele
me segura no lugar, fazendo-me encará-lo.
— Deixe-me ir — peço.
Sua cabeça se aproxima da minha. Prendo a respiração,
esperando o próximo passo.
— Não. — Sua voz é um sussurro.
Abro a boca para protestar, mas ele me cala com um beijo.
Agarro seu braço, arranhando-o. Seu beijo se torna mais
possessivo, cheio de sentimentos não revelados, cheio de palavras
não ditas, com tamanha intensidade, que me deixa sem ar. Caspen
rasga minha blusa. Olho para ele, em surpresa, mas ele apenas ri
em meus lábios. Aproveito e ajudo-o a tirar seu terno e a blusa
social. Seus lábios descem para o meu pescoço e vão até meus
seios. Tirando meu sutiã, ele olha para os meus seios.
— Tão perfeitos, tão rosados.
Lambe os lábios e me devora. Jogo a cabeça para trás.
Minhas costas encostam na parede. Fecho os olhos, apenas me
deixando sentir o que ele está fazendo com meu corpo.
Seus lábios descem pela minha barriga. Caspen tira minha
calça juntamente com a calcinha. Sinto sua respiração em minha
boceta.
— Caspen... — resmungo.
Ele ri. Ele sabe muito bem o que está fazendo comigo.
Caspen está brincando, tomando meu tempo; e não quero isso.
Quero rápido, forte e brutal. Não preciso de romantismo.
— Segure-se, Sunshine.
— O qu... Oh, merda! — grito quando sua boca me devora.
Seguro-me em seus cabelos. Olho para baixo, encontrando
seu olhar. Minha boceta se aperta quando vejo sua língua agindo.
Ele sorri. Rolo os olhos. Tão cheio de si.
— Seu gosto é delicioso, Sunshine! — rosna.
Ele me lambe mais, e eu tremo com a sensação. Agarro seu
cabelo enquanto ele me devora. A sensação é incrível, tudo o que
ele faz com meu corpo é incrível. Caspen sabe exatamente do que
gosto, do que preciso, ele sabe como me excitar.
Meu corpo treme quando sinto seu dedo entrar em mim.
Puxo seu cabelo com mais força. Mordo os lábios, tentando
controlar o grito, mas isso é intenso demais.
— Caspen! — grito.
Ele continua a me provar, devorar, me instigar, e eu gozo.
Suor escorre entre meus seios, meu coração bate forte. Caspen se
levanta. Seu olhar é tão intenso, tão devastador, que me sinto fraca.
Seus lábios descem aos meus, e eu provo o próprio gosto.
— Enrole suas pernas em mim — comanda.
Caspen me pega pela cintura. Enrolo minhas pernas nele, o
que faz com que seu pau deslize dentro de mim. Encostada na
parede, ele me toma, forte e brutal. Agarro-me a ele, seu pau me
preenchendo por completo.
— Isso, assim! — grito.
Minha cabeça é jogada para trás.
— Mais forte, por favor...
— Assim? É assim que gosta? — pergunta, batendo em
mim com mais força.
— Sim, bem assim! — grito.
— Tão gostosa, tão molhada, Sunshine! — rosna. — Sua
boceta é tão gostosa em volta do meu pau!
Sua boca cai sobre meus seios. Ele me morde com leveza,
e vou à loucura. Porra, Caspen é bom; tão bom, tão gostoso!
Meu corpo cai sobre o dele. Mordo seu ombro quando sinto
vir, meu orgasmo tomando conta do meu corpo. Aperto os olhos.
Meu corpo convulsiona. Cravo minhas unhas em suas costas.
Caspen rosna, seu pau batendo mais forte em minha boceta, sua
boca morde meus seios e o sinto vir; mas ele não para. Caspen
continua me fodendo forte, rápido, possessivamente.
— Porra! — grunhe.
Tirando-me da parede, ele nos leva até a cama. Deita-se,
trazendo-me consigo. Minha respiração está acelerada e suor
escorre pelo meu corpo. Sinto-me cansada.
Tudo o que aconteceu mais cedo, tudo o que descobri,
minha briga com Caspen e tudo o que acaba de acontecer me deixa
esgotada.
Bocejo. Caspen ri ao meu lado.
— Durma, Sunshine. — Beija minha testa.
Apago não o vendo sair do quarto.

Caspen
Olho para o corpo adormecido de Lori. Sorrio. Ela se
entregou a mim, foi simplesmente perfeita. Seu corpo, o jeito que ela
geme e chama meu nome quando goza, quão calma ela fica depois
do sexo...
Olhando para ela uma última vez, saio do seu quarto,
trancando a porta.
No andar de baixo encontro Lucas, que para ao me ver.
— O que aconteceu? — pergunta.
— Quero-o em meu escritório daqui a duas horas. — Ele
acena com a cabeça.
— Minha irmã está bem? — pergunta, preocupado.
— Ela vai estar. — Aperto seu ombro e saio da casa.
Do lado de fora encontro Carter com os homens de Lori.
Meu irmão está olhando para as três caixas que estão com Maddox,
Alex e Miguel. Ele olha para mim, e eu simplesmente balanço a
cabeça, não querendo falar nada nesse momento. Preciso ir para
casa, tomar um banho e pensar sobre tudo o que descobrimos.
Tenho muita coisa acontecendo e preciso lidar com cada
uma delas. Não será fácil, preciso de um plano, preciso controlar a
raiva e a vontade de acabar com Phillipa.
Sim, não é apenas Lori que está com raiva e querendo
vingança. Porra, Phillipa trabalha para mim há anos, eu a acolhi, a
tornei uma das minhas meninas, dei a ela uma família, amizades e
meu apoio, a oportunidade de algo melhor; mas ela não quis. Ela
não só me traiu, mas traiu minha família.
Porém, do mesmo jeito que quero acabar com ela, eu tenho
que ser esperto, ser cauteloso e usá-la ao meu favor.
— Reunião em duas horas na minha casa — digo a eles,
que acenam com a cabeça. — Levem as caixas, quero ver o que
mais tem dentro delas. Tranquei Lori no quarto e estou levando a
chave reserva que ela tem. Ela vai sair de qualquer jeito. Olhe-a e
não a deixe fazer besteira — digo a Maddox, que acena para mim.
— Quanto tempo acha que ela vai ficar pirando no quarto
antes de abrir a porta e sair? — Carter pergunta, rindo.
Dou de ombros.
— Isso vai depender de quão pirada ela vai ficar ao
descobrir o que fiz. Não ficarei aqui para lidar com ela, eles vão. —
Aponto para os homens de Lori. — Boa sorte — digo a eles.
Não espero por uma resposta, apenas me viro, entro no
carro e dirijo até a minha propriedade.
Algo que tenho certeza é: a coisa vai ficar feia.
Capítulo Vinte Um
“Before You Go – Lewis Capaldi”

Lori
Estico meu corpo na cama, sentindo-me relaxada. Abro os
olhos, olhando em volta do meu quarto. Estou sozinha. Bom, muito
bom! Não queria ter que lidar com Caspen, não depois do sexo
incrível que fizemos.
Merda! Sorrio para mim mesma. Essa coisa entre Caspen e
eu tem que acabar, não posso ficar caindo na dele. Tenho que
continuar sendo firme e decidida a fazê-lo correr atrás de mim,
quero que ele sofra um pouco, não posso ser fácil.
Já está sendo, Lori.
Levanto-me da cama, recolhendo minhas roupas jogadas no
chão e indo em direção ao banheiro. Coloco minhas roupas para
lavar e me ponho sob o chuveiro, em seguida, ligando-o e lavando o
suor do meu corpo.
Penso em como vou seguir adiante. Tenho que ser
cautelosa, não posso ser impulsiva igual das duas últimas vezes. É
claro que tive um motivo. Quando atirei pela primeira vez em um dos
guardas de Caspen, eu não o matei. Pensei que tinha o matado,
mas não matei, ele está bem. Mas dei a ele um aviso, deixei bem
claro que da próxima vez eu o matarei.
Digamos que ele estava fazendo coisas inapropriadas. Ele é
pago para cuidar das meninas na casa de recuperação, mas prefere
ficar as perseguindo do que cuidar delas. Ele foi tirado do posto e
colocado para fazer outra coisa, bem longe.
O segundo homem de Caspen no qual eu atirei, eu matei, e
não me arrependo nem um pouco. Ele era um filho da puta
desprezível que quase estuprou uma das meninas no abrigo, e ouvi
algumas conversas dele dizendo o que faria comigo quando tivesse
tempo... Desprezível! Caspen ainda não sabe, Amélia pediu para
que eu não contasse a ele, então resolvi por mim mesma.
Ele está tão focado em pegar Hernández, que esqueceu de
vigiar os próprios homens. Sorte dele que tem a mim para fazer
isso. Resolvi o problema, e quando o momento certo chegar, contar-
lhe-ei. Mas agora tenho que ter cuidado e fazer o que Caspen pediu.
Tenho que estar com Caspen e confiar nele. Não gosto
muito disso, mas temos que trabalhar juntos para fazermos
Hernández cair. Tenho que atuar na frente de Phillipa, fingir que tudo
está bem. Sou boa nisso, já mostrei várias vezes ao fingir que não
me importo. Fiz isso quando explodi o bar onde era local de
produção de drogas. Todos me julgaram como fria por ter feito isso
com pessoas inocentes, mas a verdade é que não tinha ninguém
inocente ali, pois verifiquei o lugar, sabia que estaria vazio de
clientes. Porém fingi que tinha, fingi que não me importava, porque
para acabar com um louco tenho que ser mais louca, mais fria.
Todos acreditaram. Por anos todos têm acreditado em mim.
Pensam que sou fria, cruel; eu treinei para isso, e por um tempo
acreditei que tinha me tornado uma pessoa sem alma, sem coração;
mas não sou. No fim do dia, em meio à escuridão, eu sou apenas
Lori Callahan, a mulher assombrada pelo passado. Porém ninguém
sabe, e é assim que quero. Não quero que vejam que sou fraca,
fraqueza não é aceito na máfia. Eu faço parte da máfia, eu sou uma
fraude.
Estou pronta para dar o meu melhor para fingir que nada
estava acontecendo e que eu não tinha tantas perguntas em minha
mente. Na frente de Phillipa eu colocarei minha máscara, fingindo
que não sei a verdade. Sem falar no que aconteceu entre Caspen e
eu. Meu corpo ainda o sente, e só o pensamento do que fizemos me
excita... Droga! Estou caindo na dele.
— Que merda! — grito, quando tento abrir a porta do quarto,
mas está trancada.
Olho para a fechadura, não vendo a chave. Minha boca se
abre. Não acredito nessa merda! Só pode ser brincadeira! Ele me
trancou! Caspen me trancou no quarto!
Mordo a língua, tentando controlar meu grito. Vou até meu
closet, procurando pela minha chave reserva, mas o filho da mãe a
levou. Tento sair pela porta secreta, e adivinha? Também trancada.
Pego meu celular, discando seu número, mas o desgraçado não
atende. Fecho as mãos, tentando controlar meu temperamento. Se
não fosse algo sério, seria até engraçado.
Preciso ir até ele, tenho que sair daqui, quero ver Phillipa,
olhar bem em seus olhos e ver quão dissimulada ela é; por outro
lado, quero saber dos planos de Caspen.
Porra! Ele quer que eu confie nele, mas pelo visto não confia
em mim!
Até parece que ficarei aqui... Ele está enganado se pensa
que não sei abrir uma porta trancada!
Abro a porta do quarto em questão de segundos.
— Merda, você realmente saiu! — Maddox diz.
Estreito os olhos para ele, que sorri.
— Quanto tempo Caspen disse que eu levaria para abrir a
porta? — Ele ri.
— Ele não disse, falou que dependeria de quanto tempo
ficaria louca ao descobrir o que ele fez.
— Vou matá-lo! — digo, furiosa.
Maddox apenas sorri.
— Precisa fazer mais cópias da chave do seu quarto —
comenta, me seguindo.
— Sim, eu sei disso — digo, sorrindo. — Vamos, tenho que
me encontrar com Caspen e pegar minhas chaves de volta. Bem,
primeiro vou ter uma conversinha com ele e seus modos. Onde se
viu me trancar no próprio quarto? Idiota!
Atrás de mim, ouço Maddox rir.
— Continue rindo, e eu irei despedi-lo.
Meu aviso não adianta muito, já que ele ri ainda mais. Rolo
os olhos. Homens!
Caspen
Olho para os meus irmãos, meus primos e alguns dos
homens de Lori; todos esperando por mim, por minha palavra. Até
papai está aqui, tive que o chamar. Ele saberá o que fazer com os
pais de Lori quando descobrir o que tenho a dizer. Essa merda
mudará tudo.
As coisas ficarão fora de controle. Quando eu contar o que
descobrimos essa noite, tudo irá se desmoronar.
Respiro fundo, me preparando para a explosão que
acontecerá. Olho para Lucas, irmão de Lori.
— Aqui — digo, entregando a ele a foto onde contém
Phillipa e uma mulher com um bebê nos braços.
Lucas pega a foto, olhando-a, sem entender o que está
acontecendo.
— Não estou entendendo. — Desvia os olhos da foto e me
olha.
— O que está vendo, Lucas?
— Phillipa com uma mulher. Parece que elas estão em um
quarto de hospital. A mulher teve um bebê?
— Olhe esta foto. — Entrego a foto onde tem a mesma
mulher, porém mais velha e com Lori no colo.
— Merda! — Lucas diz, de olhos arregalados. — Essa é a
mãe de Lori.
— A mesma, e pelo que parece, é a mãe de Phillipa
também. — Aponto.
Meu escritório se enche de resmungos e palavrões com o
que acabo de dizer.
— Como é possível? — Lucas pergunta. — Pesquisamos
sobre a mulher, ela abandonou Lori com aquele monstro, não tem
nada sobre ela, como se nunca tivesse existido.
— Mas ela existe. Agora o problema é quem ela é e por que
Phillipa nunca nos contou nada.
— Hernández sabe que elas são irmãs, foi por isso que ele
a atacou.
Balanço a cabeça. Todos olham para mim em silêncio.
Todos sabem que há mais, muito mais.
— Não, não acho que seja apenas isso — confesso,
olhando-os.
— O que acha que está acontecendo, filho? — O pai
pergunta.
— Acho que Phillipa e a mãe têm uma ligação direta com
Hernández, acho que elas sabem quem ele ou ela é.
— Mas Phillipa foi atacada. Se ela estivesse com ele,
Hernández não a teria mandado bater nela quase até a morte. —
Lorenzo diz, olhando-me.
— Não, não teria...
— A não ser...? — Carter pergunta.
— A não ser que ela não tenha feito o que ele mandou —
digo por fim.
— O que iremos fazer? — Lucas pergunta, com um olhar
mortal. — Phillipa está na minha casa, não sabemos o que ela quer
e qual a sua intenção.
— Sim, é por isso que eu os trouxe aqui. Quero saber como
está a operação em fazer Hernández cair e quero que você e sua
família mantenham Phillipa. Quero-a por perto, quero saber o que
ela faz, com quem ela fala, quero seguranças por perto. Ela será
vigiada dia e noite. — Lucas acena com a cabeça. — Cabe a você
se vai contar para os seus pais ou não, mas se contar, quero que
eles mantenham as aparências. Phillipa não pode desconfiar, iremos
até ela no momento certo. — Sorrio.
Quero Phillipa acreditando que não sabemos de nada e que
está segura conosco, mas ela acabou de entrar no meu domínio.
Ela fez sua cova e vai deitar nela.
— A operação está indo muito bem, temos tudo sob
controle, todos os negócios de Hernández estão caindo, em poucas
semanas ele não terá porra nenhuma. — Lorenzo diz, sorrindo.
— Ótimo! Quero-o sem nada. Ele virá até nós
pessoalmente. Se não for pelos negócios, será por Lori e Phillipa.
Não tratem Phillipa com indiferença. Ela pode ser inocente no fim
das contas, não sabemos ainda. Mantenham cautela, mas não a
julguem.
— Será difícil, já que ela não nos contou tudo o que sabia.
Ela nos enganou por anos. — Lucas rebate.
— Sim, eu sei. Mas até sabermos a verdade dos fatos,
quero-a acreditando em nós, em nosso apoio. E também não
sabemos o que a fez manter segredo de nós.
Não estou defendendo-a, mas há dois lados na história, e
antes de fazermos qualquer coisa, eu quero saber o lado de Phillipa.
Ela irá responder diretamente a mim, e só a mim. Até lá eu a quero
acreditando em nosso apoio.

— Você, porra, me trancou! — Lori exclama ao entrar em


meu escritório.
Ela para na minha frente, cruzando os braços sobre o peito
e batendo os pés.
— E mesmo assim você conseguiu sair — digo, sorrindo.
Seus olhos se estreitam.
— Você sabia que eu sairia, e mesmo assim me trancou.
Por quê? — Senta-se à minha frente.
Jogo minha poltrona para trás e cruzo as pernas. Lori é
linda. Toda vez que a vejo, ela tira meu fôlego. Toda vez que ela
está por perto, minha vontade é de colocá-la por cima do meu
ombro, levá-la para uma ilha e ficar lá com ela, para sempre, sem
ninguém para nos interromper, sem Hernández, sem inimigos,
apenas nós dois.
Não sou o tipo de homem que fica explicando e mostrando
sentimentos, mas por Lori não quero me conter. Eu a amo e
mostrarei a ela sempre que quiser.
— Porque eu precisava de tempo.
— Tempo para quê? — rebate, impaciente.
— Para contar para os outros o que aconteceu essa noite,
Lori. — Ela bufa, irritada.
— E você acha que eu não queria estar aqui? Eu tinha que
participar da reunião, quero saber o que faremos! — explode,
olhando-me com raiva.
— Eu estava te protegendo, Lori.
Não quero discutir com ela. Não esta noite. Tudo o que
aconteceu foi bem cansativo. Mesmo assim, minha mente está a mil
por hora, tenho que planejar, pensar e formar planos, fazer ligações,
procurar por respostas.
— Me proteger? — pergunta, de maneira incrédula. — Me
diga, Caspen, do que estava me protegendo?
— Dos olhares de pena, Lori. Eu estava protegendo-a dos
olhares que receberia quando os outros descobrissem sobre
Phillipa, sobre sua mãe. Eu sabia que se sentiria desconfortável,
que colocaria essa máscara de que tudo está bem, de que você
estava bem, sendo que você não está, Lori. Eu deixaria você fingir
essa noite, então te poupei. — Olho-a nos olhos.
— Você não sabe o que é melhor para mim, Caspen! Você
não tinha o direito de ter me trancado, eu estou bem! — grita, se
levantando da cadeira.
Levanto-me junto com ela, paro bem na sua frente e seguro
seus braços, fazendo-a olhar para mim.
— Mentira. Tudo o que ouvi foi mentira, Lori! — rosno, o que
a faz parar com o ataque de raiva e me olhar. — Você está
arrasada, está triste, se sentindo desamparada e traída, você quer
conhecer sua irmã, mas também quer questioná-la, você está com
raiva e em busca de vingança. Mas você não está bem, Lori.
Lori olha para mim por um tempo, mas logo suspira,
balançando a cabeça. Lambendo os lábios, ela olha para mim.
— Acho que estou uma bagunça — murmura, o que me faz
rir.
Lori relaxa em meus braços. Eu a puxo, dando a ela um
abraço, e sua cabeça descansa em meu peito. Por esse momento
ela deixa-me segurá-la. Uma pequena vitória.
— O que iremos fazer, Caspen? — pergunta de repente,
levantando a cabeça e olhando para mim.
— Nós lutaremos, Lori. Nós lutaremos.
Abaixo a cabeça, beijando sua testa. Lori fecha os olhos,
deixando-me tê-la, mesmo que seja por apenas por alguns minutos,
porque eu sei que em algum momento ela estará lutando contra
mim e seus sentimentos.
Capítulo Vinte e Dois
“Photograph – Ed Sheeran”

Lori
Olho para o pequeno pacote em minhas mãos. Meu coração
bate forte. Não faço ideia do que tem no pacote, mas sei que é algo
relacionado ao que escrevi em meu diário. Minhas mãos tremem,
estou com medo de abrir, com medo de que eu o ame ainda mais.
Estou com medo desses sentimentos. Por mais que eles não sejam
sentimentos novos, está se tornando mais intenso, mais
apaixonante. Sei que será algo que irei amar, que me tocará
profundamente. Não faço ideia do que irei fazer.
Sento-me na cadeira de balanço, em frente à piscina, coloco
o embrulho em meu colo e o abro. Dentro há uma caixa de veludo
vermelha. Meu coração bate ainda mais forte. Há um grande laço
dourado com uma carta. Sinto meu estômago embrulhar. Respiro
fundo e abro a carta.

“Sunshine, fiquei por um bom tempo pensando, imaginando


qual seria o próximo passo que eu daria, o que eu enviaria para
você que significasse muito para mim e que fosse importante para
você. Então algo em seu diário me chamou atenção. Você tinha dito
que em nosso casamento queria algo novo, algo velho, algo usado,
algo azul e algo que se lembrasse da cor dos meus olhos. Me
perguntei o que via na cor castanho escuro, porque para mim é
simples demais. Passei muito tempo pensando no que enviar,
Sunshine, porque eu queria que fosse especial para você, eu queria
mostrar que me importo, que eu presto atenção, então mandei fazer
algo especial para você, algo que tenha uma parte de mim. Mas não
só isso, eu também queria mostrar a você que amo você, amo seus
olhos, eles refletem quem você é. Sei que demorei com o presente,
e sinto muito. Espero que goste do que lhe enviei. Tentei fazer uma
combinação entre a cor dos nossos olhos, queria que soubesse que
a amo e que é incrível o brilho em seus olhos, a forma em que eles
se iluminam quando você ri, e fico extasiado quando a vejo sorrir,
quando vejo o brilho em seu olhar.
Não vou enrolar muito, fiz uma junção de diamante negro
com o azul, uma parte de mim com uma parte sua, algo novo, algo
nosso. Com amor, Caspen...

PS: Sua luz ilumina minha escuridão.”

Com lágrimas nos olhos e as mãos tremendo, abro a caixa


vermelha. Dentro há um colar de ouro branco com um pingente em
formato de coração. Ele fez perfeitamente uma junção de ambos.
No meio há um coração em diamante negro, e em volta do diamante
negro há um coração em diamante azul. Sorrio. É tão lindo, tão
perfeito, e saber que ele planejou e mandou fazer exatamente desse
jeito, algo que combinasse, algo que fosse um pouco dos dois, me
deixou sem palavras.
Passo os dedos pelo delicado colar. Não sei o que fazer.
Merda! Estou me sentindo tão fraca. Nesse momento há uma
grande necessidade, uma grande vontade de correr até Caspen e o
abraçar, agradecer pelo colar, dizer que o amo, que o quero; mas a
tristeza, a rejeição de todos esses anos, a mulher que quer que ele
sofra um pouco mais me segura no lugar e diz que preciso ser forte
e esperar um pouco mais. A mulher vingativa e curiosa que vive em
mim diz que tenho que esperar pelo próximo presente.
Sorrio ao imaginar o que mais ele fará. O que mais enviará?
O pensamento traz aquele friozinho na barriga.
Envolvo o colar em minhas mãos, trazendo-o para mais
perto, o abraço perto do meu peito e olho para o azul da piscina,
pensando no que farei e em todos esses sentimentos que estão me
dominando.
Será que Chris me perdoaria? Eu não queria que nada disso
tivesse acontecido, eu tentei evitar meu envolvimento com ele, juro
que tentei, mas posso dizer que ele é igual a Caspen: quando quer
algo, vai atrás, não desiste até conseguir...

— Não, Chris — digo, balançando a cabeça.


Ele está maluco. Essa é a única explicação que tenho,
porque quem em sã consciência iria querer namorar comigo? Estou
quebrada, além da reparação, sem falar que se envolver comigo
seria suicídio. Sou uma princesa da máfia.
Seria extremamente cruel trazer alguém para essa vida. Não
posso deixá-lo entrar para essa vida, não posso condená-lo à morte.
Ele seria um alvo se ficasse comigo, e mesmo assim, aqui está ele,
querendo-me.
— Lori, olhe para mim — pede ele.
Balanço a cabeça.
— Não, Chris, olhe você para mim. — Abro os braços,
dando uma volta. — Olhe bem para mim, Chris, estou quebrada,
sou defeituosa, tudo o que há dentro de mim é essa escuridão, essa
dor que não vai embora, essa vontade louca de fazer algo, de
machucar alguém por vingança, eu sou feia. — Lágrimas escorrem.
Cada palavra que sai da minha boca machuca, mas é a
mais pura verdade.
— Ficar comigo é suicídio, você sabe quem sou, sabe de
onde venho, você se tornaria um alvo, você pode morrer só por ficar
comigo. — Olho-o.
Chris me segura, olhando em meus olhos. Sorri.
— Lori, tudo o que vejo quando olho para você é uma
mulher que passou por muito, mas ainda continua viva, lutando,
uma mulher forte que não se deixou abater, que continuou de pé e
que continua lutando. Vejo uma mulher incrível e eu estou
apaixonado por ela. Não me importo quem é, não me importo em
virar um alvo ou morrer, desde que eu esteja com você. — Beija-me.
Meu coração acelera e parece que tem milhares de
borboletas em minha barriga. Seus lábios nos meus são macios, tão
delicados e cheios de paixão.
Seguro-o, impedindo-me de cair. Sinto-me fraca nesse
momento, tudo o que ele disse tocou profundamente meu coração,
mas há uma batalha dentro de mim. Eu estou apaixonada por Chris,
mas ainda não esqueci completamente Caspen.
É bem confuso e não quero pensar sobre isso agora. Tudo o
que quero é sentir Chris e o que ele tem para me dar, mesmo que
seja por pouco tempo, porque não vou deixá-lo se envolver comigo,
não quero colocá-lo em perigo.
— Querida, pare de pensar e me beije — sussurra contra
meus lábios.
Sorrio, beijando-o de volta, e por aquele momento esqueço
de tudo, esqueço dos meus problemas, de quem sou e de Caspen,
eu esqueço completamente de Caspen, porque nesse momento tem
um homem maravilhoso que me quer, que está apaixonado por mim
e que está disposto a arriscar a própria vida só para ficar comigo.
Eu apenas me entrego a esse beijo e ao pouco contato que
me deixo ter. Sua língua explora minha boca, suspiro em seus
lábios, e ele sorri.
— Eu a quero, Lori, e nada importa para mim além de você.
É uma decisão minha, querida, e eu escolho ficar com você. Juntos
nessa, lembra? — Aceno com a cabeça.
Lambo meus lábios, olhando-o os olhos.
— Juntos nessa.
— Eu e você. — Sorri.

Eu me apaixonei por ele, eu o amei profundamente e sinto a


sua perda, sinto falta do seu sorriso e do jeito que ele fazia eu sentir.
Sinto falta do quanto ele lutou por mim, o quanto ele me ajudou,
sinto falta dele todos os dias. Às vezes pego meu celular, pronta
para ligar para ele, contar como foi meu dia e meus medos, mas aí
me lembro que ele não está mais aqui. A cada pequena coisa eu
lembro dele. Não quero esquecê-lo, ele fez parte da minha vida, ele
me ajudou demais e quero lembrar sempre dele, do seu riso, do jeito
que ele me olhava e como ele pegava minha mão.
Chris agora é apenas uma lembrança. Uma lembrança
dolorosa. Uma lembrança cheia de amor e risos.
Mas Chris está morto, e Caspen está vivo.

— Queria me ver? — pergunto, entrando no escritório de


Caspen.
— Sim — responde olhando para mim. — Recebeu meu
presente? — Olha para o meu pescoço.
— Sim, recebi.
— E não está usando por quê? — Cruza os braços.
— Porque eu não quis? Não sou obrigada a usar o que me
envia, Caspen, eu te disse para parar de me mandar coisas. — Ele
assente.
— Bem, vou continuar mandado o que eu quiser, até você
se entregar para mim. — Sorri.
Droga! Esse sorriso mexe com todas as minhas estruturas.
É sorriso de predador, mas sincero.
— Se me chamou aqui só para saber se recebi o que
enviou, será que já posso ir?
— Não, tenho algo para falar com você. — O sorriso morre
de seus lábios e vejo o homem de negócios e focado.
— Então pode falar, não tenho todo o tempo, Caspen. —
Cruzo os braços, encarando-o.
— Como você já sabe, papai fará um baile de arrecadação
para a cidade. Será um baile de máscaras, o que acho ridículo e
desnecessário, mas é o que a cidade espera do prefeito. Como
somos da família, todos terão que comparecer, e sei que Hernández
dará um jeito de entrar no baile. Você irá comigo, será mais fácil de
protegê-la. — Olha-me, provavelmente esperando alguma reação
minha.
Pergunto-me o que esse povo tem com máscaras. Sério
mesmo? Um baile com o tema O Fantasma da Ópera, e todos
devem usar máscara? Realmente desnecessário, mas é votado pelo
conselho da cidade, não há como mudar. O baile será feito e temos
que torcer para tudo ocorrer muito bem.
— Não irá falar nada?
Encolho os ombros.
— O que há para falar? Você quer que eu vá com você, tudo
bem para mim, só assim poderei ficar de olho no que fará durante o
baile. — Sorrio.
Caspen balança a cabeça.
— Então só concordou para ficar de olho no que farei?
— Veja bem, se você resolver fazer algo caso Hernández dê
as caras, eu estarei do seu lado, o ajudando. Você me quer do seu
lado no baile. Pois, bem, você não irá se livrar de mim, Caspen.
Tudo o que fizer, eu estarei ao seu lado. — Ele ri quando termino.
— Só por isso?
— Sim, não vejo outro motivo.
— Tudo bem, Sunshine, vou aceitar sua resposta, por
enquanto. — Sorri.
Suspiro.
— Posso ir agora?
— Só mais uma coisa.
— O quê? — pergunto, olhando-o.
— Você é a pessoa mais incrível que conheço, Lori. Você é
forte, uma lutadora, e tudo o que vejo quando a olho é esse brilho
que ilumina todo o lugar em que está, ilumina minha alma. Não
deixe que os últimos acontecimentos tirem seu brilho, não caia na
escuridão, Sunshine, vamos passar por isso, estou do seu lado, nós
iremos pegar Hernández, tenha fé. — Meus olhos se enchem de
lágrimas.
— Você tem fé, Caspen?
Ele balança a cabeça.
— Não, mas preciso que você tenha, Sunshine, porque sua
fé é o que me dá paz, sua fé é o suficiente para mim.
Engulo em seco, acenando com a cabeça, em seguida saio
do seu escritório. Encosto meu corpo na porta.
Céus! Isso foi intenso, bem intenso.
Capítulo Vinte e Três
“Radioactive – Imagine Dragons”

Caspen – Dias depois...


— Não há nada! — exclama Lori, irritada.
Estamos tentando localizar a sua mãe, mas não há nada
dela. É como se ela não existisse. O que é bem estranho, já que
não só existe, como teve um bebê há dois anos.
Tentamos fazer reconhecimento facial, mas não
encontramos nada. Provavelmente fez várias cirurgias plásticas
para não ser reconhecida, então, ou ela está fugindo de alguém ou
não quer se reconhecida por nós.
Comparamos ela com a foto da mulher saindo do hotel, a
mulher que achamos ser Hernández, mas não dá para saber se são
a mesma pessoa.
Não sei mais o que posso fazer para acalmá-la. Sei que
quer respostas, todos nós queremos, e por enquanto a única pessoa
que pode dar o que queremos é Phillipa, mas não acho que seja o
momento certo. Ela ainda está se recuperando, e por mais que eu
queria acabar com ela, não seria justo intimidar uma mulher de
cama. Não que eu ache Phillipa inocente, ela deixou de ser inocente
no momento em que escolheu Hernández. Ela trabalha para mim,
me conhece e sabe o poder que tenho, ela sabe que pode confiar
em mim e na minha proteção, e mesmo assim me traiu.
É bem provável que ela tenha escolhido Hernández, e olhe
o que ele fez.
— Minha equipe está procurando, Lori, logo teremos
respostas.
Ela bufa, rolando os olhos.
— Já esperei tempo demais, Caspen, preciso ir até Phillipa.
— Encara-me.
Sei que está sendo difícil para ela ter que esperar, mas
Phillipa só irá se encolher e inventar uma desculpa, e ela sabe que
não prejudico mulheres no estado em que ela está. Seria um golpe
baixo da minha parte. No momento certo iremos até ela.
Olhando para Lori agora, tudo o que quero é ir até ela e
abraçá-la, segurá-la em meus braços, dando-lhe o apoio, o suporte
que ela precisa, porém, agora não. Não é o momento de discutir.
— Não. — Sou firme na minha palavra. — Phillipa precisa
de mais tempo, Lori. — Sorrio. — Sem falar que no estado em que
ela está, não aguentará tortura e nem ser intimidada. Ela vai
aprender da pior forma, Lori, e para isso preciso que ela esteja
curada. — Olho em seus olhos.
Não queria dizer a ela meus planos, não queria dizer a ela
que tenho planos para a irmã dela, que farei meu pior para ela. Não
gosto de torturar e matar mulheres, mas quando elas me traem,
muda tudo. Não tolero traidores.
— Ela é minha irmã — sussurra.
— E mesmo assim nunca te contou, ela te traiu, Sunshine.
Lori acena com a cabeça.
— Tudo bem, mas quero estar presente quando for falar
com ela.
— Você estará, Sunshine. Juntos, lembra? — Ela acena
com a cabeça.
— Tudo bem, enquanto isso continuarei a fingir que tudo
está bem. — Ela me dá um sorriso seco que não chega aos olhos.
— Parece que sou boa nisso: fingir.
Ela sai do escritório. Suspiro vendo a porta se fechar atrás
dela. Passo a mão pelo cabelo. Porra! Essa coisa com Hernández, e
agora, Phillipa está me deixando louco! Parece que a cada dia
envelheço mais!
Nasci para ser chefe, fui treinado para ser a máfia, para
viver a máfia, para honrar a máfia, sempre quis o poder, o dinheiro e
causar medo, ter toda a cidade em minhas mãos; mas essa merda
está me cansando! Não que eu queira desistir, mas tem dias em que
penso como seria se eu fosse normal.
Solto um riso sem graça. Ser normal não é para mim. Nunca
será.
— Posso ver as rodas girando em sua mente, irmão. —
Heitor diz, entrando no escritório, junto com Carter e Lorenzo.
— Elas nunca param.
— Em que está pensando? — Heitor pergunta.
— Em como minha vida seria se fôssemos pessoas
normais.
Carter se engasga, rindo. Seu riso é rouco, mortal e sem
sentimento.
— Essa merda não é para nós, irmão — comenta, ainda
rindo. — Eu nunca seria o tipo de cara que viveria em um escritório,
seria um tédio. — Faz uma pequena careta.
— Não, não é para nós. — Lorenzo concorda.
— Não é apenas isso que está em sua mente. — Heitor diz,
me olhando com o semblante sério.
Porra! Meu irmão sabe me ler muito bem!
— Não, não é apenas isso, é sobre Hernández. — Ele
acena.
— Acho que você desconfia de quem possa ser Hernández,
não é? — Soa como uma pergunta, mas não é.
Eu aceno, de acordo.
— Sim, eu tenho minhas teorias sobre quem seja
Hernández. — Lorenzo suspira e Carter sorri.
— Sim, também tenho algo em mente. — Carter esfrega o
queixo, olhando-me.
Pelo seu olhar, sei que é exatamente o que estou pensando.
— Pensei que eu era o único que achava isso. — Lorenzo
diz, e eu rio.
— Acho que todos nós estamos pensando o mesmo. —
Heitor diz, e eu aceno.
— Porra! Sim, nós estamos — digo.
Eu posso estar errado, pode ser apenas uma coincidência,
posso estar sendo paranoico, mas não sai da minha mente o fato de
tudo estar interligado. São muitas coincidências para deixar passar.
Essa pulga atrás da minha orelha me diz que não é apenas algo da
minha mente. Todos os pontos estão se conectando, todos os fatos
estão indo para um só lugar, uma única pessoa.
Lori
Do lado de fora do quarto de Phillipa, paro, respirando
fundo, e bato na porta. Não sei se estou pronta para vê-la, mas
tenho que tentar. Ela pode desconfiar se eu demorar mais dias para
visitá-la.
O fato é que ela é minha irmã, e não dizer a ela que sei
disso está me matando, não perguntar a ela o porquê está me
quebrando. Ela vem mentindo para nós faz anos.
— Pode entrar. — Ouço a voz de Lauren.
Lauren tem se mostrado bem controlada, ela tem se mantido
firme e fica com Phillipa frequentemente.
Abro a porta e entro. Phillipa sorri para mim, e eu me
controlo para não gritar com ela, para não fazer perguntas. Coloco
um pequeno sorriso nos lábios.
— Como está se sentindo?
Olho para os seus machucados. Ela está se curando bem,
mas não consegue andar direito e ainda tem dificuldade para
respirar.
— Melhor. Sei que vai demorar para eu ficar completamente
boa, mas estou melhor do que ontem — brinca.
Mordo a língua, controlando as tantas perguntas que tenho.
Ela é tão diferente de mim. Enquanto sou loira, ela é morena
de olhos castanho-claros, quase verdes; seu cabelo é escuro e
longo, maior que o meu.
— Você está bem? — Phillipa pergunta.
Lauren olha para mim, fazendo cara feia. Preciso relaxar,
chegar mais perto, mas é tão difícil. Eu tenho uma irmã, e ela está
bem na minha frente, machucada. Ela sabia que somos irmãs, e é o
que mais me machuca.
Sorrio para Phillipa. Chego mais perto e me sento na
beirada da cama.
— Sim, eu só estou com raiva de tudo o que aconteceu. Nós
vamos pegar Hernández, Phillipa. — Ela acena com a cabeça.
— Eu sei que vão, só quero que tudo acabe. — Lágrimas se
formam em seus olhos. — Eu tenho medo. Toda vez que fecho os
olhos, vejo-me lá, deitada enquanto sou brutalmente espancada. —
Esfrega o peito.
Minha grande pergunta é: Hernández atacou Phillipa por
qual motivo? Por saber que ela é minha irmã e isso me afetaria? Por
Phillipa ter se recusado a fazer o que ele pediu? Qual é a relação de
Hernández, Phillipa e minha mãe?
Essas perguntas ficam martelando em minha mente várias e
várias vezes. Tenho também várias respostas, cada uma mais louca
do que a outra, mas não menos verdadeira.
Era para eu ter falado com Caspen. Ele pode estar
pensando o mesmo que eu, ele pode saber de algo que não sei, ele
pode tirar minhas dúvidas; mas toda vez que fico perto dele, me
sinto fraca, tenho vontade de envolver meus braços em seu corpo e
me segurar nele, apoiar minha cabeça em seu peito, ouvindo seu
coração bater, sentir suas mãos em minhas costas, me acalmando.
Estou caindo, caindo profundamente por ele mais uma vez, e acho
que dessa vez não tenho salvação.
— Ei, você está protegida aqui, nada vai te acontecer,
Hernández não pode chegar até você. — Seguro em sua mão.
Ela sorri.
Hernández não deve ser sua preocupação. Hernández não
é o monstro dessa vez, nós somos.
— Eu não sei como agradecer pelo que estão fazendo por
mim, pensei que morreria.
Oh, querida, não agradeça ainda. Quero dizer isso a ela,
mas continuo a fingir. Ela é minha irmã, e vou protegê-la de
Hernández, mas não posso protegê-la de Caspen. Só espero que
ela tenha uma boa desculpa, assim quem sabe ele pegue leve com
ela.
— Você não vai morrer, Phillipa, nós estamos aqui para te
proteger. — Lauren diz, Phillipa olha para mim e eu aceno.
Estou tentando, juro que estou tentando ser compreensiva,
ser cuidadosa, mas só de olhar para Phillipa, vejo traição.
— Obrigada, muito obrigada, eu não sei o que faria sem
vocês. — Lágrimas escorrem pelos seus olhos.
Respiro fundo. Aperto minhas mãos fechadas ao lado do
corpo e mordo a língua, controlando-me.
Dou a ela um sorriso seco. Não sei se ela percebe, mas
nesse momento não estou me importando muito.
Levanto-me, indo em direção à porta do quarto.
— Tenho que ir — informo a elas. — Preciso continuar
minha busca por Hernández, ele vai pagar, Phillipa, me certificarei
disso — digo, tentando aliviar um pouco a tensão em volta.
Ela sorri, acenando com a cabeça.
Saio do quarto fechando a porta com cuidado.
Tudo o que eu queria era bater a porta com força e gritar.
Não sei por quanto tempo mais aguentarei fingir.
Caspen
Olho para a movimentação em meu clube e sorrio. Hoje a
casa está cheia. As meninas estão perfeitas, e os clientes,
satisfeitos. É assim que eu gosto. Essa tensão sexual que rodeia o
lugar, os sorrisos nos rostos dos clientes, o dinheiro sendo passado.
As luzes diminuem e Missy, nossa nova contratada, entra no
palco para o seu primeiro número no pole dance. Tomo um gole do
meu whisky, sentindo o sabor descendo pela minha garganta, e a
queimação bem-vinda.
— Porra! Ela é boa! — Carter comenta ao meu lado, seus
olhos na direção de Missy.
— Sim, ela vai ser perfeita para o clube.
O corpo de Missy é pura perfeição. O jeito que ela se move
pelo pole dance, ao ritmo da música... Ela está hipnotizando a
todos, mais e mais dinheiro está sendo distribuído.
Sorrio, sabendo que fiz a coisa certa ao contratá-la.
— Ela só perde para a minha mulher. — Carter se gaba.
Balanço a cabeça, rindo do jeito orgulhoso que ele fala
sobre ela. Conheço o sentimento, ninguém se compara à minha
Lori.
— Ela sabe que está aqui?
— Sim, ela está lá atrás, na sala das meninas, com Tinna.
Balanço a cabeça. Esta noite será a última de Tinna. Ela
acabou de se formar na faculdade e já conseguiu um emprego no
hospital da cidade. Estou orgulhoso dela. Ela se tornou parte da
família, mas já era hora de seguir em frente. Trabalhar no clube foi
só um meio para conseguir dinheiro para a sua faculdade. Não são
todas que conseguem sair dessa vida.
Uma pequena festa está sendo preparada para ela, temos
tudo planejado. Ela sairá daqui sabendo que somos gratos por tudo
o que fez e que estamos orgulhosos de tudo o que conquistou.
Porra! Estou ficando molenga demais! Acho que amar
alguém nos faz mais sentimentais.
Meu celular toca em meu bolso. Pego-o, vendo o contato de
Lorenzo na tela.
— Sim?
— Está feito. — Ele diz, rindo.
— O que está feito, Lorenzo? Pode ser mais específico?
— Hernández, Caspen. Ele caiu, todos os seus negócios.
Está feito, agora só temos que esperar ele dar as caras.
— Porra, sim! — grito.
— Papai já está sabendo, as autoridades estão dentro, está
tudo acabado. — Suspiro aliviado.
Ele não tem mais nada, não tem ninguém, está sozinho,
vulnerável, ele é nosso agora.
Assim que Missy acaba de dançar, as luzes do palco se
acendem. Deixo minha bebida no bar e caminho até o palco,
subindo ali. Pego o microfone e encaro a todos.
— Espero que tenham gostado da Missy. Seja bem-vinda,
querida. — Pisco para ela que fica envergonhada. — Ela é nova
aqui, e espero que a tratem muito bem. — Um coro de vivas é dado,
e eu levanto a mão. — Mas temos mais um motivo para comemorar.
— Paro, dando aquele ar de suspensa. — Senhores, essa noite
todos os negócios de Hernández foram para baixo. Sim, isso
mesmo, Hernández está vulnerável e logo será pego. — Uma das
minhas meninas entrega a mim um copo com bourbon, e eu levanto
o copo para o alto. — Essa noite as bebidas são por minha conta.
Hoje à noite vamos comemorar! — grito, rindo.
Desço do palco. Carter dá tapinhas em meu ombro, seu
sorriso é largo. Amanhã as notícias estarão em todos os jornais.
O clube se enche, meus primos aparecem para a
comemoração, nossos homens estão rindo, todos animados com a
notícia.
Por essa você não esperava, não é, Hernández? Agora
somos só nós dois, e eu sairei o vencedor.
Sorrio. Hernández irá atacar, e temos que estar preparados.
Seus negócios foram destruídos, mas sei que ele tem homens
prontos para seguirem suas ordens. Mas no fim, será apenas
Hernández e eu.
Bônus

Tinna
Sorrio para as meninas. Todas estão aqui por mim, para
comemorar minha saída.
Meu peito se aperta. Sentirei falta delas. Foram anos
trabalhando juntas, anos conhecendo umas às outras, não sei o que
eu faria sem elas, sem esse clube.
Seco as lágrimas em minhas bochechas.
Todas essas pessoas são incríveis.
— Ei, é para estar sorrindo, e não chorando. — Sophia me
abraça.
— Só estou emocionada.
— Você merece, mulher. Agora vamos comemorar, essa
noite é sua. — Ela bate palmas.
Todas as meninas do clube vêm até mim para um abraço.
Fecho os olhos enquanto elas me envolvem de uma vez só.
— Essa noite é sua, Tinna, há um novo começo. — Lauren
diz, rindo.
— Sim! — grito.
A noite fica ainda melhor quando descobrimos que os
negócios de Hernández caíram. Ele tem sido uma dor na bunda de
todos, e saber que finalmente estamos acabando com ele me deixa
aliviada demais.
— Ei, querida, senti sua falta. — Lucien diz, me abraçando
por trás.
Rolo os olhos. Esse homem tem me perseguido desde o dia
em que nos conhecemos.
— Você não vive sem mim. — Beijo-o nos lábios.
— Merda! Não, não vivo. — Ele sorri.
Oh, ele é tão cheio de si, e eu o amo. Não foi algo fácil e
rápido de acontecer, vai por mim, eu vi o que acontece quando se
apaixona por um homem da máfia. Não é flores e corações, tive
medo de sofrer, tive medo de passar pelo que Lauren passou, de ter
meu coração quebrado; mas Lucien mostrou que amar um homem
da máfia pode ser totalmente diferente e que cada um tem sua
história.
— O que acha de irmos comemorar em casa? — Lucien
pergunta, mexendo as sobrancelhas.
— Acho uma ótima, ótima ideia. — Mordo os lábios.
— Porra, mulher...
Capítulo Vinte e Quatro
“Wallflower – Kimberly August”

Caspen – Quinze dias depois...


Ainda acho uma ideia louca esse baile, mas não há para
onde correr, não há como cancelar, o baile está acontecendo. Para
mim, esse baile é como um convite aberto para Hernández fazer
sua jogada. Há quinze dias os negócios de Hernández na cidade
foram completamente para baixo, e até agora, ele não fez nada.
Tudo está tão calmo, que desconfio do que ele possa estar
planejando. Seja o que for, não gostarei do resultado.
Hernández deve estar desesperado agora que seus
negócios foram para baixo, e uma pessoa desesperada é capaz de
qualquer coisa. Ele vai fazer o que for preciso para chegar ao seu
objetivo, e nesse momento o que ele quer é Lori.
Agora que Hernández está sem saída, ele irá atrás dela com
tudo, e temos que nos preparar para o seu ataque.
Suspiro, sabendo muito bem que tenho que estar cem por
cento atento esta noite. Meus homens estão preparados e a equipe
que papai contratou para recepcionar os convidados estão todos
atentos, todos prontos para agirem caso algo aconteça. A única
coisa em que não temos vantagens é sobre a aparência de
Hernández. Não fazemos ideia de como ela é, esse é o nosso maior
problema, pode ser qualquer um. Qualquer mulher naquele baile
pode ser Hernández, qualquer pessoa naquele lugar pode trabalhar
para Hernández, não há como saber. Estamos cegos nessa.
Porra! Como isso é frustrante!
Esta noite tenho que proteger Lori. Serei sua sombra, ela
não irá a lugar algum sem mim, e quando eu não puder estar com
ela, meus homens estarão. Não a quero fora da minha vista, ela é
muito importante para mim, não vou deixar Hernández chegar a ela.
Essa mulher é meu tudo, me recuso a deixá-la ir de novo. Falhei
com ela quando Dimitri a pegou, não falharei de novo. De jeito
nenhum, porra!
Eu nunca tinha me sentido assim, parece que ela me fez ter
alma. Eu me sentia morto.
Detesto essa merda de sentimentos, me sentir vulnerável,
fraco; mas quanto mais a amo e mais fraco fico, mais determinado
fico.
Termino de me arrumar para ir buscar Lori em sua casa.
Sorrio ao saber quão incrível ela estará. Mal posso esperar para vê-
la e tê-la ao meu lado a noite toda.
— Caspen? — Heitor chama, abrindo a porta do meu
quarto.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, preocupado.
Esta noite tem tudo para dar errado, não quero arriscar.
— Não, só vim dizer que tudo está certo para esta noite.
Temos tudo sob controle.
Até quando?, quero perguntar a ele, mas apenas aceno com
a cabeça.
Meu irmão me dá um sorrisinho ao olhar para mim.
— Tudo isso para Lori? — pergunta, rindo.
Dou de ombros.
— Tenho que ser irresistível para ela. — Ele ri ainda mais.
— Cara, você está completamente chicoteado por ela. —
Balança a cabeça.
É realmente estranho até para mim todo esse sentimento
que tenho por Lori, mas não consigo esconder o que sinto. Escondi-
me por anos, guardei tudo, fiz meu papel como chefe, mas quem
disse que um homem como eu não pode amar?
— Como se você não estivesse por Happy. — Ele ri
novamente.
— Touché. — Estala os dedos.
— Saia daqui e deixe-me terminar. — Meu irmão me olha,
franzindo a testa. — No que está pensando?
— Você acha que Hernández irá aparecer? — Posso ver a
preocupação estampada em seu olhar.
Esfrego o queixo.
— Sinceramente? — pergunto. — Não faço a mínima ideia,
mas algo me diz que essa festa é perfeita para ele fazer algo, e é
por isso que não podemos dar brecha, temos que estar preparados
para qualquer coisa que ele resolva fazer. — Ele suspira.
Balançando a cabeça, Heitor encosta no batente da porta,
cruzando os braços. Ele apenas fica olhando para o nada,
pensando.
— Estou cansado disso tudo, cansado de Hernández,
Caspen, quero que tudo isso acabe — resmunga.
— Eu também quero, irmão.
— Não aguento mais ver o medo no olhar de Happy, medo
por nossos filhos, por sua irmã, medo por nós. — Frustrado, ele
passa as mãos pelos cabelos.
— Nós iremos achá-lo, Hernández está em um beco sem
saída agora, nós iremos pegá-lo. — Ele acena.
— Espero que sim, porque já estou de saco cheio de tudo
isso. — Com isso, ele se vira e me deixa sozinho em meu quarto.
Heitor tem toda a razão. Essa coisa com Hernández já está
estressando a todos. Esse vai e vem, esse esconde-esconde está
me irritando, e o pior é que não posso fazer nada, porque não sei
quem ela é. Tudo o que temos é uma foto em que seu rosto está
para baixo.
Merda! É tão frustrante.
Com raiva, soco o espelho, que se quebra. Olho para o
sangue escorrendo pelos meus dedos, tão bonito, tão forte.
Indo ao banheiro, pego uma toalha de rosto, em seguida,
molhando-a e passando sobre minha mão machucada. Os cortes
não são grandes, então simplesmente lavo minha mão e passo uma
pomada, para não inflamar.
Não limpo o espelho nem recolho os pedaços de vidro no
chão. Não quero me atrasar, não quero fazer Lori esperar por mim.
Esta noite é tudo sobre ela, apenas ela.

Lori
Em minhas mãos está o colar que Caspen me deu. Estou
tentando decidir se uso ou não esta noite. Combina perfeitamente
com meu vestido azul-claro mesclado com azul petróleo até chegar
na cor de laranja. O vestido é cheio de fios no busto, descendo para
a barriga, transparente em algumas partes. Encaixa-se
perfeitamente em meu corpo e também combina com minha
máscara, que é azul e simples, mas perfeita.
Meu coração bate forte, minhas mãos estão suando e meu
estômago está embrulhado. Passarei a noite toda ao lado de
Caspen, por isso estou muito nervosa.
Não faço ideia do que esperar. Esta noite está deixando
todos nervosos, ansiosos e duvidosos. Sabemos que este baile é
uma má ideia, mas não somos nós que decidimos, o conselho da
cidade decidiu. Este baile é importante, todo ano acontece.
O único problema é que temos Hernández pairando sobre
nós. Uma droga, eu sei. Nunca temos um minuto de paz, sempre
um palhaço aparece, tentando nos derrubar. Não que eles
consigam, mas Hernández se tornou esperto, estrategista, ele sabe
o que está fazendo, ele planeja primeiro e executa depois.
Olho para o grande espelho em meu quarto, colocando o
colar em frente ao meu pescoço.
Droga! Ele é lindo, perfeito para o vestido, mas se eu o usar
hoje, Caspen pensará que estamos de trégua, ele irá se sentir mais
do que já se sente.
— Grande dilema, Lori, grande dilema — murmuro. — Ah,
que se dane! Irei usá-lo esta noite!
Coloco o colar em meu pescoço, sorrindo ao ver quão
perfeitamente se encaixa.
— Querida, você está pronta? — Mamãe entra no meu
quarto, e para boquiaberta ao me ver. — Uau! Você está tão linda!
— exclama, colocando as mãos no peito.
Sorrio.
— Essa coisa feia? — brinco com ela, que ri.
Mamãe dá um pequeno abraço em mim. Sua mão passa
delicadamente pelo meu rosto.
— Você está linda, minha filha. — Sorri, e posso ver seu
amor por mim através dos seus olhos. — Estou orgulhosa de você,
de tudo o que está fazendo, e quero que saiba que sou grata por ser
minha filha, minha menina. — Lágrimas se formam em meus olhos.
— Oh, mamãe, está me fazendo chorar. — Ela ri.
— Podemos arrumar sua maquiagem. — Ela pisca. —
Caspen já chegou, ele deve estar se perguntando o que aconteceu
para estarmos demorando tanto. — Ri.
— Ele pode esperar. Agora, deixa eu ver a Senhora. — Giro
o dedo.
Mamãe dá uma voltinha. Sorrio quando ela para, olhando
para mim.
— Acho que papai vai ficar louco quando a vir. — Mamãe
cora.
— Bem, digamos que era para estarmos lá já — murmura.
Começo a rir, colocando as mãos na barriga.
— Acho que é por isso que vi um amassado bem aqui. —
Aponto para o seu vestido.
— Não tem nada amassado, me certifiquei disso. — Sorri.
— Vocês dois são demais. — Ela estreita os olhos para
mim.
— Estamos jovens ainda, temos que aproveitar. — Balança
uma sobrancelha.
— Eca! Falou igual à vovó!
— Muito convívio com ela, menina. — Pisca. — Agora é
melhor descer, antes que seu homem venha buscá-la.
Bufo, rolando os olhos.
— Caspen não é meu homem, mamãe.
Agora é a vez de ela de bufar, juntamente com um riso.
— Continue acreditando nisso. — Dá um tapinha em minha
bunda.
— Mamãe! — exclamo.
— Bem durinha — brinca.
Balanço a cabeça.
De uma coisa não posso reclamar: meus pais são perfeitos.
Eles me amam incondicionalmente, são as melhores pessoas do
mundo, são heróis para mim.
Papai aparece, puxando minha mãe para si. Sorri para mim,
dando uma piscadinha.
— Vai lá e o deixe sem palavras, passarinho. — Aproxima-
se, com mamãe em seus braços, e beija minha testa.
— Ah, pode deixar, que eu vou. — Sorrio.
Papai leva mamãe enquanto eu fico parada bem no topo da
escada, me preparando para encontrar com Caspen.
Deus! Eu nunca tinha me sentido tão nervosa assim em toda
a minha vida! Toda essa ansiedade e esse embrulho no estômago...
Não sei se consigo, minhas pernas estão tremendo, chegaria a ser
engraçado se a situação não fosse importante.
Respirando fundo, dou o primeiro passo, com cuidado, para
não tropeçar no vestido. Desço a escada. Perco o fôlego quando
vejo Caspen parado, esperando por mim. Ele está sexy demais.
Oh, meu Deus! Acho que vou desmaiar!
Seu olhar é de um predador pronto para se lançar sobre a
presa. Arrepios passam pelo meu corpo à medida que seu olhar me
devora. Seus olhos se estreitam.
— Não, porra! Não — resmunga.
Olho para ele, sem entender do que está falando e por que
mudou o semblante tão de repente.
— Caspen? — pergunto, olhando-o.
— Não, não e não. Você não irá assim para o baile. —
Aponta para o meu vestido.
Mordo os lábios, impedindo-me de rir.
— Sim, eu vou.
— Porra que vai! — exclama, passando a mão pelo cabelo.
Estreito os olhos ao ver sua mão machucada. Pego-a na
minha, olhando de mais perto.
— O que houve?
— Apenas um acidente — responde, seco. — Agora suba e
troque de roupa — comanda.
Cruzo os braços e o encaro. Ele realmente acha que vou
trocar de roupa? Coitado! Só em seus sonhos!
— Não.
— Não?! — pergunta, abismado.
— Não, eu não vou trocar de roupa. E não sei o que te faz
pensar que eu faria isso.
Olho-o bem nos olhos. Ficamos por alguns minutos apenas
nos encarando.
Por fim ele suspira, balançando a cabeça.
— Deus me ajude — resmunga.
Seus olhos passam pelo meu corpo mais uma vez.
— Céus, Sunshine! Não serei capaz de me controlar se
alguém te olhar com desejo. Porra, essa roupa é demais! — Bufa,
em frustração.
— Bem, não posso fazer nada. — Sorrio.
Seu olhar para em meu pescoço, e ele sorri.
— Não diga nada — aviso-lhe, e seu sorriso fica maior.
Meu coração acelera.
Droga! Esse homem é um pecado. Quero tanto passar as
mãos pelos seus cabelos e beijá-lo.
— Se continuar a me olhar desse jeito, não iremos sair
daqui — sussurra ao meu ouvido.
Para provocá-lo, lambo meus lábios, dando uma pequena
mordida e sorrindo, em seguida, passo a mão pelo seu peito,
chegando mais perto dele e encostando meus lábios em sua orelha.
— Quando o baile acabar, eu deixo você tirar meu vestido.
— Mordo sua orelha, e percebo que ele treme.
— Porra, mulher!

Antes de sairmos do carro, Caspen me segura, olhando-me


atentamente. Espero por ele, sei que tem algo para dizer.
— Não saia do meu lado, e quando for a algum lugar, esteja
sempre em minha visão. Não posso perder você de vista —
comanda.
Aceno, de acordo.
— Você acha que Hernández estará aqui? — pergunto.
Suspirando, ele concorda com a cabeça.
— Sim, ele irá aparecer.
— Estou contando com a presença dela.
Pego Caspen de surpresa, já que ele me olha com os olhos
arregalados. Um sorriso puxa no canto da sua boca, mas logo ele
fecha a cara, olhando-me, sério.
— Você não fará nada se Hernández aparecer.
Olho bem para ele, que suspira, balançando a cabeça.
— Lori...
— Caspen, se Hernández aparecer, eu só terei uma
conversinha com ela, nada demais. — Dou um tapinha em sua
perna. — Ela não fará nada para nos prejudicar, terá mais de cem
pessoas no lugar, ela não será maluca de tentar algo.
— Você não a conhece, Sunshine. Hernández está em
desespero, e uma pessoa desesperada é capaz de tudo.
O jeito que ele me olha, todo preocupado, me deixa
desconfortável. Onde está o homem que não teme nada; que é
sempre tão cheio de confiança e atitude?
— Onde está o homem temido, cheio de si e todo poderoso?
— Está bem aqui, Lori, porém a minha mulher está na mira
de um louco, e é por isso que estou tomando todo o cuidado
possível.
Suas palavras trazem arrepios ao meu corpo. Ele disse com
tanta convicção, seu olhar tão intenso, como se ele estivesse
olhando minha alma. Engulo em seco, sentindo-me sufocada.
— Tudo bem — sussurro.
Caspen abre a porta do carro. Vejo fotógrafos tentando tirar
fotos dele, mas sua cabeça está abaixada. Dando a volta no carro,
ele abre a porta do meu lado e estende a mão para mim. Seguro em
sua mão, saindo do carro. São tantos flashes, que fica difícil ver
direito. Meu nome é chamado várias vezes. Caspen, sendo Caspen,
não dá atenção a ninguém, apenas nos leva para dentro. Seguro o
riso. Tão simpático!
— Não vai tirar fotos? — provoco.
— Não. — Curto e grosso, como imaginei.
Entrando no grande salão, Caspen passa o braço sobre
minha cintura. Damos nossos nomes, que são conferidos. Posso ver
a quantidade exuberante de seguranças no lugar.
Do lado de dentro, pessoas sorriem, conversam e se
abraçam. Olho para Caspen, vendo através da máscara que cobre
apenas a área de seus olhos a pequena careta que ele faz ao ver a
quantidade de pessoas no baile. Sei muito bem o que ele está
pensando. “Desnecessário”.
Essas pessoas nem se importam com os outros, estão todos
aqui apenas para mostrarem quanto dinheiro eles têm, uma
competição de quem doa mais. É mais uma obrigação do que algo
feito do coração.
— Ele não para de te observar. — Soph comenta, bebendo
seu champanhe em seguida.
Sorrio. O tempo todo, seus olhos estão em minha direção.
Não fico colada com ele, vai por mim, não iria aguentar ficar ouvindo
sobre negócios e política. Sério, acho que homens só sabem falar
disso. Bem, também tem um outro assunto: mulheres.
Não, obrigada. Prefiro ficar com as meninas, é bem mais
interessante do que ficar ao lado de Caspen, o tempo todo ouvindo
conversas. Todos machistas e sem fundamentos, que se acham
demais.
— Ele acha que Hernández vai aparecer e fazer algo —
digo.
— Sim, Lorenzo também acha, e é por isso que está tão
tenso. Tentei fazê-lo relaxar minutos atrás, mas não funcionou. —
Lauren dá um sorrisinho de lado.
Happy cospe a bebida.
— Lauren! — exclama.
Ao meu lado, Amélia ri tanto, que lágrimas se formam dos
seus olhos.
— Ué? Estava tentando ajudá-lo a esquecer o estresse. —
Dá de ombros, com um sorrisinho.
— Esse baile está chato demais. — Amélia diz, olhando ao
redor.
— Só quero ir para casa — comento, soltando um pequeno
suspiro. — Estamos aqui tem duas horas, e tudo está no mesmo. —
Faço beicinho.
Essas pessoas não sabem fazer uma festa. Tudo tão calmo,
com músicas lentas. As únicas coisas boas são a comida e a
bebida, fora isso, está tudo na mesmice.
— Prometi a Caspen que ele poderia tirar meu vestido
quando chegássemos em casa — digo a elas, pegando-as de
surpresa.
— Finalmente se rendeu? — Soph pergunta.
Balanço a cabeça.
— Não, mas gosto de me divertir com Caspen, e o olhar que
ele me deu foi espetacular — comento, rindo.
— Acho que ele está louco para ir pra casa. — Lauren diz,
olhando para Caspen.
Olho para ele, sorrindo. Seu olhar percorre meu corpo, e em
seguida ele pisca para mim. Tremo com isso, sentindo-me corar, e
seu sorriso aumenta. Esfrego meu pescoço, sentindo-o queimar.
Merda! Estou com tesão. Caspen caminha até mim, estendendo a
mão.
— Venha, vamos dançar.
Coloco minha mão na sua, e ele me leva até a pista de
dança, onde alguns casais estão colados.
— Obrigada.
— Percebi que estava entediada. — Ri.
— Pode apostar que estou. Esses bailes são sempre chatos
— murmuro ao seu ouvido.
Seu corpo treme com sua risada. Meu coração acelera por
conta de nossa proximidade.
— Esta noite, Sunshine, em casa, eu tirarei seu vestido e
beijarei cada pedacinho do seu corpo. Você tem me provocado com
esse seu corpo exposto, com seu riso e o jeito que se move. Esta
noite irei amá-la, prová-la, saboreá-la. Você é minha, Lori, só minha.
— Beija meu pescoço, o que me faz arrepiar.
Eu o quero! Droga, eu o quero demais! Minha vontade é de
encontrar algum lugar para ternos nosso caminho pervertido um no
outro. O que sinto quando estou perto dele é tão intenso, tão
doloroso, tão irreal, assustador... Sei que se eu me entregar a ele de
corpo e alma, estarei dando uma parte de mim, e se eu der essa
parte, essa pequena parte de mim, estarei perdida para sempre.
Caspen tem o poder de me quebrar. Não sei se eu quero ser aquela
menina boba e apaixonada de antes, aquela que acreditava no
conto de fadas e que um dia seria amada por Caspen Callahan.
— Vou ao banheiro — aviso a Caspen, que acena com a
cabeça.
O baile ocorre tranquilamente, todos estão se divertindo.
Caspen e eu dançamos um pouco, já que ele é meu par. Conversei
com as meninas, mas agora preciso de um tempo para mim, colocar
minha mente no lugar, pensar no que devo fazer e em como
encontraremos Hernández.
Caminho para o banheiro, sentindo o olhar de Caspen a me
seguir. Sei que se ele pudesse, entraria comigo, mas é o único lugar
onde ele não pode ir atrás.
Depois de fazer xixi, lavo as mãos e retoco meu batom
vermelho. Sorrio ao saber que Caspen ama essa cor de batom.
A porta do banheiro se abre, mas não dou atenção a quem
entrou, meu foco está em meu reflexo no espelho.
— Olá, Lori Callahan...
Capítulo Vinte e Cinco
“Smile – Maisie Peters”

Caspen
De longe observo Lori entrar no banheiro. Minha vontade é
de ir até ela, de entrar no banheiro com ela e protegê-la. Tudo está
tão calmo, que chego a desconfiar. Ainda estou esperando o
momento que Hernández fará sua grande entrada, porém, até agora
não há sinal dele. É como se não fosse aparecer. Esse silêncio é
como se não valêssemos a pena.
Suspiro. Estou começando a ficar paranoico quando se trata
de Hernández. Não sou louco em pensar que ele desistiu de tudo,
mas talvez esse baile não fosse algo que ele daria importância,
talvez ele tenha outra coisa planejada. Ou talvez esteja esperando o
momento certo para aparecer. Hernández é louco, essa mulher
mostrou quão esperta e calculista é. Ela pode estar desesperada,
mas não irá fazer um movimento qualquer.
Esfrego meu rosto, sentindo-me tenso demais. Tudo o que
quero é acabar logo com toda essa merda e voltar a ter paz.
Rio, sem graça. Nunca temos paz. Toda vez que um inimigo
cai, outro aparece.
— Parece que sua cabeça vai explodir, de tanto que trinca
os dentes e franze a testa. — Lorenzo comenta, parando ao meu
lado. — O que se passa em sua cabeça?
— O de sempre. — Meu olhar está focado na porta do
banheiro. — Fico imaginando em que momento Hernández
aparecerá e no que ele fará.
Olho para o meu irmão, que balança a cabeça, passando a
mão pelo rosto, em seguida suspira, olhando para onde Lauren está
com Sophia.
— Eu faço o mesmo, parece que a qualquer momento tudo
pode mudar — resmunga. — Penso que haverá uma explosão e
gritaria por todo o lado. — Ri, sem graça. — Estou ficando louco.
— Somos dois, então, porque eu estou igual, sempre
olhando para os lados, totalmente em alerta e pronto para agir
quando necessário. — Passo as mãos pelo cabelo. — Sem falar
que pareço mais um perseguidor, do jeito que estou com Lori.
Lorenzo ri, balançando a cabeça.
— Sim, parece mesmo, está até assustando algumas
pessoas. Acho que é por isso que ela fugiu para o banheiro, sabia
que você não iria atrás dela. — Ri mais uma vez.
— Do que as maricas estão falando? — Amélia aparece ao
meu lado. — Onde está Lori? — Olha em volta.
— Banheiro — respondo. — E estávamos falando de
Hernández e no seu não aparecimento.
— Bem, é por isso que estou aqui — comenta ela, olhando-
me. — Acabei de olhar a lista de convidados. Nada fora do normal,
ninguém suspeito. Também olhei as câmeras, não vi nada de
alarmante, tudo normal.
Paro para pensar sobre o que ela acabou de dizer: tudo
tranquilo, nada alarmante, ninguém suspeito; mas quem aqui seria
suspeito? Olhe para nós: minha família, somos mafiosos; mas
ninguém saberia dizer, não é mesmo? Temos nossos negócios
legalizados, somos os maiores doadores da cidade, o pai é prefeito,
minha mãe é uma dama de negócios; então, quem diria que somos
suspeitos? Qualquer mulher neste baile pode ser Hernández, e é
exatamente isso que me preocupa.
“Droga!”
— Esse é o problema, não é? — Lorenzo pergunta,
olhando-me. — Pode ser qualquer um.
— Sim, isso é o que mais me preocupa. Não sabemos quem
é, porra! Nem sabemos se Hernández está aqui! — rosno, irritado.
— O que vamos fazer? — Amélia pergunta, olhando-me
com seu olhar preocupado.
— Não há nada que possamos fazer, Amélia. Estamos sem
saída nesse momento, tudo o que podemos é esperar. Não
sabemos se Hernández está aqui e não há como identificá-lo, então
nós esperaremos, ficaremos atentos e prontos para ele — digo a
ela, que bufa, irritada.
Quero fazer algo, quero interrogar cada pessoa nesse baile,
intimidar, até que Hernández seja identificado; mas não posso fazer
isso, não posso estragar o baile da cidade, não posso estragar a
identidade de bondosos que nós criamos. Tudo o que podemos
fazer é esperar. É uma merda, eu sei, mas é o certo.
— Não gosto de esperar — protesta Amélia.
— Também não gosto, Amélia, mas o que poderíamos fazer
nessas circunstâncias? — pergunto a ela. — Olhe em volta, todos
aqui pensam que somos bons, que somos perfeitos, não podemos
estragar isso. — Ela balança a cabeça.
Não podemos estragar o disfarce que conquistamos, a
confiança que essas pessoas têm em nós, porque é isso que
Hernández quer: nos fazer cair. Não darei a vitória a ela, não iremos
jogar seus jogos. Estamos no poder agora, tiramos tudo dela, cada
coisinha que ela tinha, agora é só esperar ela aparecer, é só uma
questão de tempo.
De repente um pequeno estouro enche o lugar e as luzes se
apagam.
— Que merda! — exclama Heitor, entre as pessoas
assustadas.
— Lori! — grito.

Lori – Momentos antes...


— Olá, Lori Callahan. Você é uma mulher difícil de
encontrar...
Essa voz faz com que meu corpo fique em alerta. Viro-me
com cuidado para encarar a mulher que está atrás de mim, olhando-
me com um olhar superior. Sua cabeça está erguida, como se ela
fosse alguém importante. Avalio-a, e um pequeno sorriso puxa meus
lábios. Acho engraçado o jeito com que ela me encara.
— Hernández... — desdenho, e ela estreita os olhos. —
Finalmente saiu da toca, e ainda continua sendo um covarde, já que
não tira a máscara. Patético! — Sorrio para ela, que continua a me
olhar.
— Ah, querida... tão nova e se acha tanto. Veja bem, você
está aqui, sozinha e comigo, então me diga: o que me impede de
levar você?
Caminho até ela, ficando cara a cara com a megera. Olho-a
bem nos olhos, não vacilando em momento algum.
— Você está desesperada, querida, tão desesperada, que
resolveu dar as caras. Tiramos tudo de você, todos os seus
negócios, seus homens ou estão mortos ou presos. Seu olhar de
superioridade não me engana. Se você saiu da toca, é que não te
sobra mais nada além de mim. — Sorrio ao vê-la vacilar por alguns
segundos.
Passo por ela, dando uma volta. Não há nada demais nela.
É uma pessoa comum que passaria por despercebido, nada de
interessante. Ela foi esperta, muito esperta ao se tornar Hernández,
ninguém diria que essa mulher é cruel. Um monstro.
— A grande pergunta aqui é: o que eu farei com você? —
Sopro seu pescoço.
Sorrio ao perceber que ela treme, mas sou pega de
surpresa quando ela se vira e segura meu braço. Sua raiva emana
do seu corpo. Puxo meu braço do seu aperto.
— Se encostar em mim mais uma vez, eu te mato — aviso.
Ela olha para mim por alguns segundos. Não desvio o olhar,
quero que ela saiba quão sério estou falando. Não me importarei
com a audiência que teremos, não me importarei em acabar com o
nome da minha família, matarei essa vadia com um sorriso nos
lábios, e será meu maior prazer.
— Você me deve! — Ela diz, com raiva.
Seu olhar é frio, não há nada neles, nenhuma emoção, tudo
o que vejo é um poço fundo e vazio.
— Eu não te devo porra nenhuma.
Seu riso enche o banheiro, o que faz com que minha pele se
arrepie. Não é por medo, mas sim por tristeza. O riso dela é tão
cheio de raiva. É triste de ouvir, ela realmente pensa que devo algo
a ela.
— Você me deve tudo! — Em seu grito contém desespero.
— Toda a porra de uma vida você me deve, Lori Callahan, e eu vou
fazê-la pagar! — O olhar que ela me dá é de pura loucura.
Olho bem em seus olhos, e é quando eu vejo lá no fundo o
reconhecimento. Esse olhar, a cor dos seus olhos, eu vejo.
Prendo a respiração. Dói demais reconhecê-la, dói demais
saber a verdade.
— Você matou Chris — acuso-a.
Meu peito se aperta ao lembrar dele, lembrar que ele foi
morto por minha culpa.
— Ele estava no caminho. — Dá de ombros.
— Por quê? — Minha garganta arranha.
Sinto-me triste e ao mesmo tempo com raiva, uma grande e
profunda raiva por tudo o que ela fez, pelas pessoas que ela
prejudicou. Sinto raiva por Chris, por Phillipa, por Maya e por mim.
Eu estava bem, estava feliz. Tudo estava indo tão
tranquilamente, tão calmamente, perfeito. Agora tudo está um caos,
tudo o que sinto é raiva e tristeza, dor, uma grande e profunda dor
que me rasga por inteira. Sem falar na culpa, a culpa que me corrói,
que me come aos poucos.
— Porque eu quero, porque gosto do controle, porque você
sempre foi um meio, um objeto a ser vendido, algo para ganhar
dinheiro. Você é minha. — Sorri. — Meu objeto, meu, para fazer o
que quiser.
— Então veio me levar? — Ela balança a cabeça.
— Não, eu apenas vim para vê-la, para deixá-la saber que
estou vindo para você, estou vindo para Phillipa e estou vindo para
a sua tão querida família — desdenha, com um riso louco.
— Faça o seu melhor.
— Eu sempre faço, querida — desdenha, ainda rindo. —
Não, espera, é Sunshine. Não é assim que Caspen te chama? —
Pisca para mim.
— Eu vou te matar.
Não me importo quem ela é, não me importo com a ligação
que temos, eu vou acabar com ela. Ela irá sofrer em minhas mãos,
e irei gostar de cada segundo.
— Boa sorte com isso, Sunshine. — Ri.
— Eu vou pegar você — falo pausadamente cada palavra,
apontando o dedo para ela.
Hernández dá um passo à frente, ficando cara a cara
comigo. Ela sorri para mim, e sua mão passa por um fio de meu
cabelo.
— A gente se vê, querida.
Imediatamente as luzes se apagam, seguido de uma
explosão. Prendo a respiração, esperando por ela, mas nada
acontece. Meu coração bate acelerado.
— Lori! — Ouço a voz de Caspen.
— Aqui! — grito de volta.
A luz se acende no momento em que a porta do banheiro se
abre. Caspen aparece com um olhar louco. Corro, me jogando em
seus braços e o abraçando. Ele me segura, envolvendo seus braços
em mim. Fecho os olhos, sentindo-o beijar minha cabeça.
Amélia e Lorenzo entram logo em seguida, olhando para
todos os lados.
— Você está bem? — pergunta ele. — O que aconteceu? —
Segura-me, olhando-me por inteira.
— Estou bem, está tudo bem.
— Sunshine, o que aconteceu? — Percebo o desespero em
sua voz.
— Hernández, ela aconteceu. Caspen, eu sei quem ela é.
— Porra! — grita, passando as mãos pelo rosto.
O olhar louco e a respiração rápida dizem que está por um
fio.
— Caspen, Hernández é a minha...
— Sua mãe.
Capítulo Vinte e Seis
“Hard Sometimes – Ruel”

Caspen
— Sua mãe — termino por ela, que me olha com expressão
espantada.
— Você sabia?! — Ela pergunta, um pouco histérica.
Balanço a cabeça.
— Não, mas eu desconfiava, e parece que eu estava certo.
Lori olha para mim.
— A porra da minha mãe é Hernández! — grita, ainda
histérica.
Seu olhar é de tristeza misturada com pura raiva, suas mãos
tremem. Dou um passo para frente, mas Lori vai para trás.
— Sunshine...
— Minha mãe é um monstro! — Sacode a cabeça. —
Aquela mulher é horrível! — esbraveja.
Tudo o que Lori precisa nesse momento é colocar o que
sente para fora, então tudo o que faço é ficar parado, deixando-a
falar.
— Como ela teve ousadia de vir até mim?! Toda cheia de si,
achando que é intocável! Ela me tocou, aquela louca me tocou! —
Aponta para o próprio braço, que está vermelho.
— Não, não é só isso, ela é nojenta!
Vejo lágrimas em seus olhos. Quero segurá-la, tocá-la,
saber se está bem, mostrar a ela que estou aqui, que pode contar
comigo, que pode se desfazer em meus braços.
— Eu não entendo — sussurra, olhando-me com um grande
pesar.
Ergo minha mão, passando por sua bochecha. Lori suspira,
fechando os olhos.
— Nós vamos pegá-la, Sunshine. — Ela balança a cabeça.
— Não entendo o que fiz para ela me odiar tanto! Ela disse
que eu devo a ela, que sou um objeto para ela fazer o que quiser,
ela tem planos para mim, Caspen! A vaca disse que eu devo a ela!
Porra! Eu não devo a ninguém! — grita, furiosa, batendo o pé.
Ela vai até a poltrona, no canto do banheiro, que fica de
frente para um grande espelho do chão ao teto, e se joga ali.
Suspirando, coloca as mãos no rosto, seu corpo tremendo. Vou até
ela, me ajoelho à sua frente e seguro seu queixo, fazendo com que
ela me olhe.
Tudo o que vejo é puro pesar, um pesar tão grande, tão
devastador, que me enche de fúria. Suas palavras, a dor misturada
com raiva em sua voz me faz querer ir atrás de Hernández. Quero
encontrar Hernández e matá-la, quero ter o prazer de olhar em seus
olhos enquanto tiro sua vida. Essa mulher está começando a
alcançar Lori.
A porta se abre. Olho para trás, vendo Carter entrando e
Lorenzo saindo. Amélia está parada, olhando para o seu tablet. Seu
olhar é concentrado, ela provavelmente está vendo as imagens das
câmeras de segurança, tentando identificar Hernández.
— O apagão foi feito de propósito. — Carter diz.
Porra!
Eu sabia que algo estava errado no momento em que as
luzes se apagaram, sabia que não era apenas uma coincidência. Foi
exatamente por isso que corri para alcançar Lori.
— É claro que foi de propósito — resmunga, Amélia. —
Hernández fez isso para poder sair daqui sem ser pega, mulher
esperta. — Sorri. — Mas eu sou mais, não é mesmo?
Balanço a cabeça, concordando com ela.
— Como estão os convidados? — pergunto a Carter.
— Bem, papai e mamãe estão controlando tudo, Hernández
não pegou ninguém, o apagão foi apenas para ela fugir, não há
nenhum dano. Heitor está com Soph, Lauren e Tinna; Lorenzo saiu
para ajudar o pai. Tudo está no controle.
— Perfeito, consegui. — Amélia ri.
— Será que pode nos dizer o que está fazendo? — pergunto
a ela.
— Bem, quando Hernández fez o apagão, ela também
tentou apagar as filmagens, acho que não queria que soubéssemos
quem ela é, mas ela não foi tão boa assim, então consegui
recuperar as imagens e conseguirei saber quem ela é daqui a
algumas horas. Quero analisar cada imagem e comparar com a
lista. — Sorri. — Lori, vou precisar que me diga como ela estava
vestida e como era sua máscara, irei tentar achá-la nas filmagens e
comparar com a lista, assim saberei seu nome, já que
provavelmente ela deve usar outro nome.
— Tudo bem, posso dizer exatamente como essa vadia
estava! — rosna, com raiva. — Eu a quero morta — diz com tanta
determinação.
Sei que ela está chateada e cansada de tudo isso, sei que
está com raiva de tudo o que Hernández fez, mas não posso mudar
o fato de que Hernández é sua mãe, e mesmo ela sendo um
monstro, não muda o fato de que Lori possa se ressentir de acabar
com ela. Matar já é difícil para alguns, matar a própria mãe é pior. É
uma parte que perde da sua alma. Não há como recuperar depois.
— Todos nós queremos. — Carter diz.
Pelo olhar do meu irmão, sei que ele quer um pouco de
Hernández. Acho que todos nós queremos um tempo com aquela
mulher.
— Bem, pelo que posso ver, Hernández não será mais um
problema, então tudo o que nos resta é aproveitarmos o resto do
baile. — Amélia diz.
Lori ri.
— Esqueci que temos que voltar. Tudo o que quero é
encerrar a noite — resmunga.
Não podemos sair, papai é o prefeito, não cairia bem
sairmos depois de um “simples” apagão, as pessoas desconfiariam.
— Como está se sentindo, Lori? — Carter pergunta,
olhando-a com cuidado.
Todos estamos com medo de que ela exploda e perca o
controle. Não é fácil descobrir que a própria mãe te abandonou com
um monstro e depois de anos aparece matando o seu noivo,
tentando sequestrar você e batendo em sua irmã, irmã essa que
nem sabia que existe. Porra, que confusão!
— Estou com raiva, muita raiva, chateada, frustrada e me
perguntando o que diabos está acontecendo, o que eu fiz para
merecer tudo isso? — Ela olha para o meu irmão. — Eu só quero
que aquela mulher sofra. Ela é horrível, e saber que é minha mãe
faz com que tudo fique pior! — grunhe, e seu olhar se volta para
mim. — Ela não vai parar, Caspen, essa mulher me quer, ela tem
planos não só pra mim, mas para Phillipa também. — Balanço a
cabeça.
É exatamente isso que eu esperava. Hernández não vai
parar, ela quer Lori, e o fato de ter aparecido no baile só mostra
quão determinada está.
— Ela não terá nenhuma das duas, ela não chegará até
você, Sunshine — digo, mas Lori balança a cabeça, com um olhar
triste.
— Ela já chegou, Caspen — sussurra, lágrimas se formam
em seus olhos.
Eu falhei. Porra! Esta noite era para eu protegê-la, ficar com
ela, cuidar dela, e eu falhei. No primeiro momento em que ela ficou
sozinha, Hernández a atacou bem debaixo dos nossos narizes!
— Sinto muito. Falhei em protegê-la.
— Caspen, ela veio até mim no banheiro. Não é culpa sua.
— Lori diz, dando um pequeno sorriso.
— Não importa, era para eu ter pedido à minha irmã para te
acompanhar.
— Seria um pouco estranho, não acha? Você já estava
sendo protetor demais, estávamos recebendo alguns olhares
estranhos, imagina se mandasse Amélia me acompanhar até o
banheiro?
— Não me importo com os outros, Sunshine. Sua proteção é
minha prioridade — digo, olhando-a.
Realmente não me importo nem um pouco com o que os
outros pensam. Eu sei que estavam dando olhares, cheguei a ouvir
que eu sou um dominador e que Lori é minha escrava, uma mulher
submissa. Eu queria rir. Eles não conhecem a Lori que eu conheço.
— Bem, esse baile está sendo interessante, várias
revelações no banheiro. — Lori tenta brincar. — Acho melhor
sairmos, antes que pensem que estamos tento uma festinha privada
aqui dentro.
— Oh, que nojento! Eles são meus irmãos. — Amélia faz
careta.
Lori dá de ombros.
— Hoje em dia nada mais me espanta.
Lori se levanta, esfregando as mãos em seu vestido,
caminha até o espelho e começa a retocar a maquiagem, passando
seu batom vermelho. Do espelho ela olha para mim e sorri.
— Vamos, já que não podemos sair, então iremos aproveitar
o restante da noite. — Encaixa seu braço no meu, levando-me para
fora do banheiro.
Algumas pessoas nos olham desconfiadas, e Lori sorri.
— Eles acham que estávamos fazendo sexo — sussurro ao
seu ouvido.
Percebo que seu corpo treme, pois seus braços se
arrepiam. Sorrio, sabendo que estou a afetando.
— Nesse momento não estou me importando muito com o
que essas pessoas pensam — sussurra de volta.
Balanço a cabeça. Essa mulher me surpreende a cada
minuto que passa. Sei que ela está abalada, conheço-a muito bem,
o jeito que ela respira, como suas mãos estão suadas e tremendo, o
olhar e o sorriso que ela dá. Lori está fervendo por dentro, e sei que
ela vai enlouquecer ainda mais quando chegarmos em casa. Na
situação que ela está, qualquer um enlouqueceria.
Porém, nesse momento ela vai fingir que tudo está bem,
porque ela é esse tipo de mulher, forte, determinada e cheia de
sentimentos, mas controlada até. Ela sabe que haverá perguntas, e
é por isso que ela vai continuar fingindo até o momento em que
estiver sozinha.
Eu estarei lá quando esse momento chegar, quando ela
olhar para os lados e não ver ninguém. Quando estiver na
segurança do seu quarto, ela vai quebrar, e eu serei a pessoa que
estará lá para ela. Sempre.
Lori – Duas horas depois...
Olho para a imagem na minha frente. Meu corpo tremendo
de pura raiva, puro ódio. Minhas mãos estão fechadas ao meu lado.
Tudo o que eu quero é entender, mas acho que não há como
entender algumas pessoas. Não há como entender Hernández. Sua
alma é tão cruel, que não quero me contaminar ao tentar entendê-la.
Depois de longas e intermináveis duas horas, o baile acaba.
Foi um total sucesso, tirando, é claro, o apagão, mas conseguimos
arrecadar um bom dinheiro para a comunidade, e os convidados
estavam mais que satisfeitos; o que é bom, pois esse era o
propósito.
— É ela, minha mãe. — Aponto para a tela.
Minha mãe e de Phillipa. Um monstro sem alma, pior do que
imaginei; o que torna tudo muito mais doloroso, mais triste. Difícil de
acreditar que exista alguém tão cruel assim, alguém capaz de
maltratar os próprios filhos. Parece que não sei nada sobre os
horrores dessa vida.
Essa mulher mandou matar Chris. Essa mulher que pegou
Audrey e tentou vender Maya, a porra da minha mãe! Dá para
acreditar!?
Eu nasci de um monstro! Pensei que meu pai fosse mau,
mas estava completamente enganada, ele não era nada em
comparação a ela, a essa mulher desprezível.
Ao meu lado, percebo que Caspen fica tenso. Olho para ele.
Sua concentração está na imagem à nossa frente.
Estamos todos na sala de reuniões, em sua casa. À nossa
frente, uma grande tela de TV mostrando as imagens da entrada do
baile, onde Hernández está acompanhada por um homem
desconhecido.
— O que descobriu? — Caspen pergunta, sua voz é rouca.
Ele está tão tenso, que fico preparada para o momento em
que irá estourar; porque ele vai, essa calma dele e o jeito todo
controlado irá logo, logo ir pelos ares. Conheço-o o suficiente para
saber quando irá perder a compostura.
— Essa é a filmagem da entrada — explica Amélia —, onde
cada convidado passa dando seu nome para ser conferido na lista;
e pela descrição que Lori deu, essa é Hernández. — Aponta para a
tela.
— Sim, minha adorável mãe — desdenho.
Amélia ri. Olho para os meus pais, que estão encarando a
tela. Eles estão calados, mas posso ver pelos olhares que estão
chateados.
— Eu sou sua mãe, essa mulher não é nada. — Mamãe diz,
encontrando meu olhar.
Sorrio para ela, deixando-a saber que a amo.
— Quem é ela? — Caspen pergunta.
Amélia morde os lábios, olhando para o irmão com cautela.
Merda!
Seja lá o que ela vai dizer, não é nada bom.
— Fala logo, Amélia! — ruge Caspen.
Seguro sua mão.
— Esta é Ester Donovan Hernaz, uma socialite. Ela está no
ramo da estética. — Amélia explica.
Lydia suspira, colocando as mãos na boca. Mamãe arregala
os olhos, e Caspen apenas fica olhando-as, sem entender
— Devo saber quem ela é? — Caspen pergunta, olhando
para a sua mãe e a minha.
— Filho... — Joseph diz, com cuidado.
— Pai? — Caspen cruza os braços, esperando.
— Ela é uma das sócias da sua mãe. O spá do qual
tentaram levar Lori é dela e da sua mãe. — Joseph explica.
Oh, porra!
Não me controlo e começo a rir. Sei que não é nem um
pouco engraçado, mas essa merda é bem estranha. Ela nos
enganou, todo esse tempo ela tem estado bem debaixo dos nossos
narizes. Ela foi mais esperta, se manteve por perto. Vadia!
— Sinto muito, é que ela nos enganou direitinho — digo,
entre risos.
Suspiro, me abanando com as mãos.
Ao meu lado, Caspen se mantém firme, o que me deixa
surpresa.
— Esse não era o nome que estava na certidão de
nascimento de Lori. — Caspen comenta. — O nome que estava lá
indicava uma mulher desconhecida, sem paradeiro, como se nunca
tivesse existido.
— Isso é porque provavelmente ela não queria ser
reconhecida, provavelmente deve ter dado um nome falso para
colocar na certidão, sem falar que provavelmente Ester nem seja
seu nome verdadeiro. — Amélia explica. — É por isso que não
encontramos nada sobre a mãe de Lori. Ela também fez várias
cirurgias plásticas para não ser reconhecida. Fiz algumas
pesquisas. Ester Donovan Hernaz casou com Renné Hernaz, tem
uns dez anos, mas só se tornou conhecida quando o marido morreu
de ataque cardíaco, há quatro anos. Foi quando começou a
comandar tudo e virou sócia da mãe. Ela tem nos vigiado por todo
esse tempo desde então. Mas claro, há algumas brechas que só ela
pode nos responder. — Mostra várias imagens.
Caspen se levanta. Seu corpo treme de pura fúria. Andando
de um lado para o outro, ele mexe as mãos, sua cabeça está baixa.
Ele resmunga algumas palavras. De repente para. Sua cabeça se
levanta, e é quando vejo...
Seus olhos... Deus! Seus olhos estão pretos, suas írises
dilatadas, sua respiração é forte, seu peito infla.
— Que porra! — explode, quebrando completamente a
mesa de vidro à nossa frente.
Ele está furioso.
— Essa mulher! — Aponta para a tela. — Ela se infiltrou
nessa família, sabe-se lá o que ela tem planejado durante todo esse
tempo! — grita. — Eu a quero, porra! Morta, acabada, quero que ela
veja o inferno através de mim, quero que ela sofra! Encontre-a! —
Aponta para Amélia e Carter.
— Isso vai ser um pouco complicado. — Amélia diz, com
cuidado.
Merda! Ainda há mais.
— Fale — comanda Caspen.
— Ela é do conselho da cidade, ela é amada pela
comunidade. Para derrubá-la nós temos que expor ela. Tem gente a
ajudando, Caspen. Ela planejou o baile, ela planejou que fosse de
máscara para não ser detectada, ela tentou apagar as filmagens
para não sabermos quem ela é. Ela planejou tudo para chegar até
Lori.
— Então por que ela não a levou? — Mamãe pergunta.
— Porque ela queria nos afetar, ela queria mostrar que
ainda tem o controle, que ainda tem o poder e que pode chegar até
Lori quando quiser. — responde Caspen. — E foi onde ela errou,
porque agora sabemos quem ela é, Amélia conseguiu recuperar as
filmagens, essa é a vantagem que temos.
— E vamos usar isso contra ela — digo, sorrindo. — Mas
agora temos que saber o que mais ela tem planejado. Qual é o
próximo passo dela?
Caspen olha para mim, dando um sorrisinho de lado e...
merda! Meu coração bate forte. Esse olhar dele, tão sombrio, tão
mortal, me deixa excitada...
Esfrego minhas pernas juntas. Caspen desce seu olhar e
sorri ainda mais. Ele sabe o efeito que faz em mim.
É completamente louco, não é? Ficar excitada em um
momento como esse... Estou excitada com esse poder que ele
exala, o jeito com que seus olhos estão, o jeito com que seu corpo
se move e como ele se comporta, tão poderoso, tão orgulhoso e
confiante.
— Uau! Ficou calor aqui tão de repente, não acham? —
Vovó comenta.
Caspen mantém o sorriso, em seu olhar uma promessa do
que ele fará comigo quando estivermos a sós. Até que ele limpa a
garganta, afrouxando sua gravata.
— Temos alguém bem debaixo dos nossos narizes que
pode responder todas as nossas perguntas — diz, olhando para
todos.
Engulo em seco.
Phillipa. Ele quer Phillipa.
Sorrio. Acho que minha irmã terá uma visitinha do diabo.
Capítulo Vinte e Sete
“Natural – Imagine Dragons”

Não sei se estou preparada para essa conversa, para o que


vai acontecer. Caspen está mortal ao meu lado, e sei que ele não irá
pegar leve com Phillipa, não sei como me sinto sobre isso.
Ele segura minha mão, dando um pequeno aperto, e meu
coração derrete ao saber que mesmo estando tão frio, ele se
importa comigo e com o que estou sentindo.
Meu coração parece que vai sair do peito. Sinto-me um
pouco enjoada com tudo, sem falar no quão nervosa estou. As
coisas ficarão feias a partir de agora. Caspen não será bonzinho e
não sei como me sentirei quando ele começar a falar com Phillipa,
porque de uma coisa eu sei: se ela mentir para ele, as coisas ficarão
bem feias.
Caspen detesta traidores. Ele não tolera mentirosos. Não sei
por que as pessoas continuam mentindo e traindo Caspen, elas
sabem do que ele é capaz e do quão cruel ele é. Phillipa já viu
Caspen em ação, porra! Ela já o viu matando uma das meninas que
o traiu anos atrás, ele a matou na frente de todos, e mesmo assim
ela teve a coragem de trai-lo. Ela sabia do risco que corria caso ele
descobrisse.
Por quê? Por que ela arriscou tudo?
Acho que estamos prestes a descobrir.
Acompanho Caspen até a casa dos meus pais. Ele é
silencioso, o jeito que ele se move, a confiança que ele exala é
demais até para mim. Caspen segura minha mão, puxando-me para
si. Bato em seu corpo. Meus olhos se arregalam.
— Ela é sua irmã, Sunshine, mas acima disso, ela é uma
traidora. Não pegarei leve, você precisa ser forte e manter a
postura, entendeu? — Sua voz é baixa, rouca, trazendo arrepios ao
meu corpo.
Engulo em seco antes de acenar com a cabeça.
— Entendi.
— Bom. — Beija meus lábios.
Duro, forte, possessivamente.
Entrego-me a ele por esse momento. Sei que ele quer me
distrair do que realmente acontecerá, mas confio nele, sei que fará o
certo.
— Esteja comigo — pede em meus lábios.
— Tudo bem — sussurro.
Como ele ainda está segurando minha mão, nos leva até o
quarto onde Phillipa está. Com cuidado, abre a porta. A luz do
banheiro está iluminando o quarto, e no meio da cama está Phillipa,
toda encolhida.
Caspen tira sua mão da minha, caminhando até Phillipa em
silêncio. Sinto mais uma presença no quarto. Viro a cabeça para o
canto mais escuro do quarto, vendo Carter parado, apenas
observando. Ele acena com a cabeça para mim, com um pequeno
sorriso mortal em seus lábios. Esses homens se movem como
fantasmas!
Com admiração, observo quando Caspen se curva sobre
minha irmã. Com cuidado, ele ergue a mão, pegando em seu
pescoço, o que faz com que ela acorde assustada.
— O-o qu-que está acontecendo? — Ouço a voz tremida
dela.
Saio de onde estou, fazendo com que minha presença seja
reconhecida. Minha irmã olha para mim, e eu sorrio para ela.
— Olá, irmã.
Ela arfa.
— Nós temos algumas perguntinhas para você! — Caspen
rosna. — Se mentir para mim, Phillipa, juro que não irei pegar leve.
— Solta seu pescoço.
Phillipa engasga, se encolhendo na cama. Olho para o seu
corpo tão frágil, tão pequeno em comparação ao de Caspen.
Ela poderia ter vindo até nós, ter pedido nossa ajuda, nossa
proteção.
— Como descobriram? — pergunta ela, olhando para mim.
— Fomos à sua casa, encontramos as caixas embaixo da
sua cama. — Ela se encolhe com minhas palavras.
— Sinto muito. — Sua voz sai em um sussurro, ecoando
pelo quarto.
Seu olhar cai para as suas mãos. É nítido que ela não sente,
e eu quero saber o porquê.
— É muito tarde para se desculpar, Phillipa. — Caspen diz.
— Vão me matar? — Sua cabeça se levanta, e ela olha para
mim, como se eu fosse ajudá-la.
Nesse momento eu não sinto por ela. Tudo o que quero é
respostas, é saber a verdade. Ela mentiu, ela nos enganou, e tudo a
troco de quê?
— Isso vai depender do que nos contará. — Caspen a
responde. — Agora vamos para um passeio. — Ele a puxa para fora
da cama.
Não se importando em como ela está, Caspen a leva para
baixo. Caminhamos em silêncio até a casa de Caspen.
Phillipa está descalça e completamente exposta ao ar
gelado da noite. Atrás de nós, Carter nos segue em silêncio. Phillipa
não faz ideia de que ele está presente. Acho que se soubesse, seu
medo só aumentaria. Carter é cruel, mortal, ele é o Ceifador.
— Que lugar é esse? — Phillipa pergunta quando é
empurrada para dentro da sala de tortura de Caspen.
— Seu maior pesadelo. — Caspen responde.
Phillipa treme, olhando em volta. Seus olhos se arregalam
quando ela vê Dimitri em uma cela.
— Esse é o nosso convidado mais longo, ele está aqui tem
um bom tempo. Não é, Dimitri? — Caspen ri. — Gosto de torturá-lo.
Ele é o homem que prejudicou Lori, e está aqui pagando pelo que
fez; e você, Phillipa, será a companhia dele, se não abrir a boca,
entendeu?
Phillipa olha para os lados, procurando uma saída, e é
quando vê Carter. Percebo que lágrimas se formam em seus olhos e
logo escorrem.
— Não, por favor — implora.
Caspen ri. Estalando a língua, ele balança a cabeça.
— Agora, Phillipa, seja uma boa menina e apenas responda
às perguntas, e quem sabe eu a deixo viver. — Sorri para ela.
Phillipa acena com a cabeça.
— Tudo bem.
— Boa menina. — Aperta seu ombro, o que a faz tremer. —
Agora, Phillipa, nos diga: há quanto tempo você sabe que Lori é sua
irmã? — Prendo a respiração.
Phillipa olha para mim, seu olhar pedindo desculpa.
Mantenho-me firme, não demonstro nada, porque a verdade é que
não sinto nada. Eu senti alegria ao descobrir que tenho uma irmã,
depois, raiva por saber que ela mentiu para mim, mas não sinto
nada nesse momento.
Meu maior foco é Hernández, então meus sentimentos por
Phillipa não são nada, comparado ao que sinto por Hernández.
— Tem dois anos e meio.
— Conte-nos tudo o que sabe sobre Hernández, Phillipa. —
Caspen comanda. — Agora! — grita, e ela pula.
— Eu estava voltando do trabalho quando ela apareceu em
meu apartamento; não aquele, é claro. Eu morava bem, tinha tudo o
que eu queria, até ela. — Ela se abraça, sua cabeça se abaixa, uma
lágrima cai no chão. — Assim que entrei no apartamento, eu a vi,
ela estava lá com mais dois homens, ela tinha duas caixas na mão.
Perguntei quem ela era, ela disse que era minha mãe. No começo
não acreditei, até que ela me mostrou fotos, ela tinha provas de que
era minha mãe...
— Porra! — Caspen grita, a interrompendo. — Por todo
esse tempo, você nos traiu! Podia ter vindo até mim!
— Eu não sabia, eu não sabia que ela era mãe de Lori! —
grita Phillipa. — Descobri há pouco tempo, ela veio até mim,
pedindo minha ajuda, vocês não entendem!
— Estão explique, porra!
— Tenho uma irmã — sussurra. — Aquela mulher tem uma
menininha linda e tão amorosa, mas ela não a ama. Ela odeia a
todos nós. Ela disse que venderia, ela iria vender América se eu não
a ajudasse. Ela é inocente, só tem dois anos. Eu faço de tudo por
ela, e foi assim que tive que sair do apartamento em que estava,
tudo o que ganho vai para a minha irmã. Ester não a alimenta, não
cuida dela, ela vive trancada em uma gaiola de cachorro. Se eu
fosse até vocês, ela venderia minha irmã.
Merda! Por essa eu não esperava. Eu sabia que Hernández
é má, mas nunca imaginei que ela faria isso com a própria filha, e
ainda um bebê!
Rio. A quem eu quero enganar? Hernández é um monstro, é
claro que ela venderia a própria filha.
— Por que apanhou? — Caspen pergunta a ela.
— Ela queria que eu levasse Maya de volta, ela tinha um
comprador para Maya. Ela vale muito dinheiro. Mas eu recusei, e
como podem ver, ela não gostou muito. — Dá de ombros. — Ester é
de falar, ela não me contou nada que valha a pena falar, só descobri
de Lori quando Maya foi pega. Ela queria que eu me aproximasse
mais, que eu pegasse Maya e que desse um jeito de levar Lori junto.
— Ri, parando de falar por um instante. — Ela mandou me darem
uma surra, ela queria passar um recado para mim, queria que eu
levasse Maya de qualquer jeito, eu só não sabia o que fazer. Não
posso levar Maya, mas também não posso deixar que ela venda
minha irmã.
— Você devia ter vindo até mim! — Caspen diz, com raiva.
— Você teria minha proteção, nós teríamos pego sua irmã, teríamos
acabado com Hernández!
— Não, não teriam, você não entende! Ela tem olhos e
ouvidos em todos os lugares. Você destruiu parte dos negócios dela,
mas não todos. A cidade a ama.
— A cidade nos ama mais. Você devia saber disso, Phillipa!
— Caspen rosna. — Olhe bem para esse lugar, esse é o seu novo
lar até tudo estar acabado! — Acena para Carter.
Vejo como meu primo pega Phillipa pelo braço, levando-a
para dentro de uma cela onde há uma cama e um banheiro no
canto. Meu peito se aperta ao saber que tem uma menininha
sofrendo nas mãos daquele monstro. Hernández precisa ser parado.
— Caspen? — Phillipa o chama.
— Sim?
— Encontre minha irmã, protege-a dela, por favor —
implora.
— Eu não te devo nada, mas por Lori eu irei salvá-la de
Hernández.
Pela última vez olho para minha irmã, que está frágil.
Hernández fez um bom trabalho em fazer a vida dela miserável.
Saber que há um bebê em seus cuidados me mata por dentro.
A cidade a ama, mas nós vamos fazer a cidade a odiar.
Esse é o começo do fim de Hernández.

Caspen
Porra! Uma criança! Hernández tem a própria filha trancada
em uma porra de gaiola de cachorro! Que tipo de pessoa faz isso
com a própria filha?!
Um monstro! Hernández é completamente um monstro!
Quando eu a pegar, irei acabar com ela da pior forma. Serei tão frio
e cruel quanto ela é.
— O que iremos fazer, Caspen? — Lorenzo pergunta.
Olho para os meus irmãos e primos. Só há um jeito de
acabar com tudo, de acabar com Hernández.
— Temos que expor Ester, mostrar a todos quem ela
realmente é. Só assim ela deixará de ser amada. Temos algo a
nosso favor. Ela não sabe que sabemos quem ela é, e vamos usar
isso contra ela.
Temos que ir com calma, ser cautelosos, um passo de cada
vez, já chegamos até aqui. Não há nada que me impedirá de
derrubar essa mulher. Ela entrou no caminho errado, achou que
fosse mais esperta, mas estou nesse posto há muito mais tempo.
Não, ela não irá me derrotar. Não darei essa chance a ela.
— Começaremos por onde? — Lucas pergunta.
O seu olhar diz que essa luta é pessoal para ele. Hernández
quase vendeu a mulher que ele ama, sem falar que está atrás da
irmã dele. Ele a quer tanto quanto eu.
— Comecem verificando tudo sobre Ester. Quero que cavem
fundo, quero cada detalhe sujo dela, todos os negócios legais dela,
cada passo que ela dá eu quero saber, sejam a sombra dela —
comando. — Agora quero que saiam, deixe-me a sós com Lori.
Todos obedecem. Quando por fim somos apenas Lori e eu,
falo para ela:
— Venha aqui, Sunshine. — Bato em minha perna.
Lori suspira, caminhando até mim, e se senta em meu colo.
Fico surpreso com sua entrega fácil, ela sempre tem algo sarcástico
ou engraçadinho para dizer a mim.
— Como está sua mente? — pergunto, tirando fios de
cabelo do seu rosto.
Ela respira fundo, e seu olhar se encontra com o meu.
— Estou esperando-o tirar meu vestido. — Sorri.
Droga! Essa mulher me pegou de surpresa. Não esperava
isso dela.
Dou–lhe meu melhor sorriso.
— Tem certeza, Sunshine?
— Só me faça esquecer essa noite, Caspen.
Capítulo Vinte e Oito
“Fire Meet Gasoline – Sia”

Pego Lori em meus braços e a levo para o meu quarto.


Fechando a porta atrás de mim, coloco-a em pé.
Deus! Como ela está linda! Esse vestido em seu corpo tem
me deixado louco a noite toda!
Seus cabelos estão bagunçados e seus lábios manchados
de vermelho, prontos para serem devorados por mim.
Ergo a mão, passando pelo seu pescoço. Lori fecha os
olhos, jogando a cabeça para o lado, dando acesso a ela. Chego
mais perto, minhas mãos descendo pelos seus braços. Abaixo a
cabeça, assoprando seu pescoço. Lori treme, e eu sorrio.
— Veja, Sunshine, eu mal a toquei e você já está tão
receptiva a mim. Seu corpo sabe quem está no comando, e tenho
certeza que sua boceta está molhada, esperando meu toque —
sussurro ao seu ouvido.
Beijo seu pescoço, dando pequenas mordidas em seu
ombro. Seu corpo treme e ela suspira em um pequeno gemido.
Perfeita. Seu corpo é tão sensível ao meu toque, ela parece
um pêssego suculento, pronto para ser saboreado. Sua pela branca
com pequenos rosados quando ela cora, tão delicada e ao mesmo
tempo tão voraz.
Com cuidado, tiro seu vestido. Aproveito para beijar seu
corpo, minhas mãos a alisando com leveza, mostrando como é ser
adorada por mim. Mordo seu ombro, e ela geme meu nome.
Seu vestido cai aos seus pés, deixando-a apenas de
calcinha para mim. Sua respiração está acelerada. Observo seu
peito subir e descer. Sorrio.
— Seu corpo, o jeito que respira, esse seu olhar assustado
e ao mesmo tempo excitado me deixa louco, Sunshine — sussurro
ao seu ouvido.
Coloco seu cabelo de lado e desço minha mão pelo seu
pescoço, passando pelos seus seios. Ela encosta seu corpo no
meu, sua bunda esfregando em meu pau. Brinco com seus seios um
pouco, sentindo-os preencherem minha mão. Sua cabeça encosta
em meu ombro. Beijo seu pequeno ponto sensível atrás da orelha.
— Caspen...
— Estou aqui, amor — rosno. — Bem aqui. Veja, Lori, seu
corpo é tão perfeito, seus seios se encaixam em minhas mãos, tão
rosados, estão arrepiados.
Desço minha mão para a sua barriga, até chegar na sua
calcinha.
— Se eu te tocar bem aqui, vou encontrá-la molhada?
— Sim... — responde, em um pequeno gemido.
— Quão molhada você está, Sunshine?
— Muito, muito molhada, Caspen. — Sorrio ao ouvir o apelo
em sua voz.
Tiro minha mão de sua calcinha. Lori solta um pequeno
suspiro, em protesto. Ela está tão desesperada quanto eu. Meu pau
está prestes a explodir, mas não quero ir rápido. Ela quer esquecer
esta noite, e é exatamente isso que farei.
Beijo-a bem devagar, seu pescoço, seu ombro, suas costas,
até chegar em suas nádegas. Dou um pequeno tapa, o que a faz
pular.
— Porra, essa bunda, Sunshine! — rosno. — Um dia vou
fodê-la bem aqui. Você quer?
Aperto sua bunda enquanto espero sua resposta, mas tudo
o que ganho é sua respiração e um pequeno gemido.
— Responda-me. — Dou um tapa mais forte em sua bunda.
— Sim! — grita. — Eu quero!
— Boa menina. — Beijo onde dei o tapa. — Sua bunda fica
linda com a marca da minha mão, tão rosadinha. — Dou uma
pequena mordida.
Enfio minha mão dentro de sua pequena calcinha.
Porra! Ela está pingando de encharcada!
— Porra, Sunshine! Você me faz perder o controle!
Seu gemido é música para os meus ouvidos.
Abro suas pernas um pouco mais e tiro sua calcinha, dando
a mim livre acesso de sua boceta.
— Por favor...
— Por favor o quê?
— Toca-me — implora.
— É um prazer! — rosno.
Pego-a desprevenida e a jogo na cama, em seguida, abro
suas pernas e caio de joelhos. Olho para a sua boceta depilada.
— Essa boceta é minha, seu corpo é meu, você é minha,
Sunshine.
Não espero por uma resposta, apenas caio de boca em sua
boceta deliciosa e suculenta. Essa mulher será a minha morte!
Lori
Que merda ele está fazendo comigo!? Céus, sua boca me
devora, o jeito que ele me toca e me dá prazer é sensacional! Sexo
com Caspen é enlouquecedor, mas isso... o que estamos fazendo
agora é muito mais do que apenas sexo. Ele está amando meu
corpo, me admirando, me adorando, e me sinto muito bem.
Contorço-me na cama. Agarro os lençóis, puxando-os.
Minha cabeça cai para trás. Caspen segura minhas pernas,
mantendo-as abertas para si. Olho para baixo, encontrando seu
olhar em mim.
— Assim! — grito quando seu dedo entra em mim,
provocando meu ponto G.
Solto os lençóis, envolvendo minhas mãos em sua cabeça,
e puxo o cabelo de Caspen, em seguida rebolo gostoso em seu
rosto, tomando o meu prazer.
É demais! O prazer, a sensação, tudo o que ele está
fazendo para mim é demais para aguentar.
Uma lágrima escorre pela minha bochecha. Nunca tinha me
sentido assim, tão amada, desejada.
— Caspen! — grito quando o orgasmo domina meu corpo.
De olhos fechados, deixo a sensação me dominar. Meu
corpo treme, minhas pernas estão moles e minha respiração está
muito acelerada. Sinto a mão de Caspen em meu rosto, secando
minha lágrima. Meus olhos se abrem. Ele sorri para mim.
— Você está bem? — pergunta.
Sorrio de volta.
— Melhor que bem.
Caspen abaixa a cabeça, dando a mim o próprio gosto com
um beijo. Seu pau esfrega em minha boceta. Gemo em seus lábios.
— Preciso de você, Caspen — sussurro.
— Sou todo seu, Sunshine.
Ele se encaixa em mim, seu pau me preenchendo. Seu
olhar me deixa sem reação. Ergo a mão, passando pelo seu rosto.
Ele beija meus dedos com maestria. Sorrio.
— Toma-me, Caspen, eu sou sua.
— Porra, Lori! — grunhe. — Sua boceta está apertando meu
pau, tão gostosa, tão molhada.
Suas palavras fazem algo ao meu corpo, o jeito com que ele
fala, a voz rouca traz arrepios, aquela eletricidade deliciosa, o
embrulho em minha barriga à medida que seu pau me toma mais e
mais rápido, mais profundo.
Suas mãos seguram as minhas, sua testa encosta na
minha. Sinto sua respiração, ouço seu coração tão acelerado quanto
ao meu. É lindo, mágico e ao mesmo tempo tão cru, tão primitivo.
Estamos possuindo um ao outro. É libertador.
Caspen
Olhar para o corpo de Lori embaixo do meu é delicioso. O
jeito que ela se move à medida que a tomo, o olhar apaixonado e
excitado, seus seios balançando, seu peito subindo e descendo, o
jeito que ela morde os lábios de prazer, seus gemidos... Tudo me
deixa tão louco, tão excitado.
— Caspen... — sussurra.
— Estou aqui, Sunshine. — Beijo seus lábios. — Deixe vir.
Goze em meu pau, Lori.
Ela se desmorona. Seus gritos e gemidos preenchem o
quarto. Sorrio, sabendo que sou o homem dela.
Pegando-a de surpresa, viro-a, deixando-a de quatro.
Mostrei-lhe como é que eu a amo, agora irei mostrar como é ser
fodida por mim.
Inclino sua cabeça, deixando apenas sua bunda para cima.
Com uma mão, seguro sua nuca, e com a outra, pego suas mãos e
as seguro em suas costas.
— Vou fodê-la agora, Sunshine — sussurro.
Bato meu pau em sua boceta, e ela grita meu nome.
Vê-la assim é gostoso demais, sua bunda exposta para
mim... Ela me olha de lado, e eu sorrio.
— Vê-la assim, tomá-la assim é gostoso demais, Lori —
sussurro, e sua boceta me aperta.
Minha garota safada gosta quando falo sujo com ela, é bom
saber.
— Essa boceta é minha, seu corpo é meu, Sunshine. Só
meu.
Solto sua cabeça, minha mão indo para a sua bunda. Aliso-
a, preparando-a para o tapa.
— Caspen! — geme quando minha mão colide com sua
bunda, deixando-a rosada.
Gostosa demais. Não irei demorar muito para gozar, tê-la
assim é demais.
Solto suas mãos.
— Se toque, Lori, quero que goze mais uma vez —
comando.
Caralho, ela me aperta ainda mais enquanto se toca! É
gostoso de ver, de sentir.
Seguro sua cintura e a tomo ainda mais forte, mais rápido,
meus gemidos se misturando com os dela. Jogo a cabeça para trás,
pronto para gozar.
— Agora, Lori! Venha comigo!
Gozamos juntos, minha porra escorrendo pela sua boceta.
Perfeito pra caralho.
Deito na cama, puxando-a para mim, sua cabeça em meu
peito. Beijo sua testa com um sorriso nos lábios.
— Estamos sujos — sussurra.
— Não me importo.
— Eu sim.
Com um suspiro, levanto da cama, trazendo-a junto, e a levo
para o banheiro, em seguida, ligando o chuveiro.
— Venha, Sunshine. — Ergo minha mão para ela. — Vou
lavá-la. — Lori pega minha mão, e juntos entramos no boxe.
Coloco-a debaixo da água e começo a lavá-la, minhas mãos
passando pelo seu corpo. Fechando os olhos, ela encosta a cabeça
na parede. Seu corpo nu e molhado me deixa excitado.
— Caspen... — sussurra em um gemido quando lavo sua
boceta.
— Sim, Sunshine?
— Por favor.
Lori não precisa pedir duas vezes, eu tomo seu corpo ali
mesmo. Ela é deliciosa e não me cansarei de tê-la.

Lori
— Como está se sentindo? — Caspen pergunta.
Estávamos deitados em sua cama. Depois do sexo louco no
banheiro, ele me secou e me colocou deitada ao lado dele, minha
cabeça em seu peito, ouvindo os batimentos do seu coração.
Beijo seu peito.
— Como se acabasse de ser fodida. — Tento desviar do
assunto.
Caspen ri, seu peito tremendo.
— Espertinha — resmunga. — Estou falando sério,
Sunshine. Como está se sentindo?
Sei que se refere ao que aconteceu essa noite, mas tudo o
que eu queria era esquecer; porém, conhecendo Caspen como
conheço, ele não deixará o assunto de lado.
— Estou cansada. — Percebo que ele espera por mais.
Não é um assunto fácil e não gosto de dizer como me sinto.
É difícil para mim demonstrar fraqueza ou quão sentimental estou.
— Sunshine... — diz, puxando meu queixo e fazendo com
que minha cabeça se levante.
Seu olhar está em mim, e ele tem aquela expressão
preocupada no rosto.
— Estou chateada e muito confusa. Essa noite conheci a
vadia da minha mãe, que por fim é Hernández, e agora sei que
tenho uma irmã bem novinha que está sendo maltratada por aquela
vadia. Minha cabeça está explodindo de tudo o que descobri, de
tudo o que aconteceu, que me sinto cansada, como se eu fosse
quebrar ou enlouquecer a qualquer momento. Não sei o que fazer,
Caspen. — Suspiro, balançando a cabeça.
Meu peito se aperta em saber que aquele monstro tem uma
criança aos seus cuidados. Não só isso, mas que ela pretende
vendê-la. Um monstro! Hernández é um monstro!
— Nós iremos pegá-la, Sunshine, te dou a minha palavra.
— Eu sei que vamos, Caspen. — Olho para ele, dando um
pequeno sorriso. — Mas quando? Quando vamos pegá-la? Por
quanto tempo aquela criança ficará com aquele monstro, sendo
maltratada? Isso me preocupada, Caspen. Não gosto nem de
pensar. — Fecho os olhos.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto. É triste demais. Nunca
imaginei que teria uma irmã, e agora tenho duas, sendo que uma
está em uma maldita gaiola de cachorro, sendo mantida como um
animal e pronta para ser vendida. Não aguento. Só de pensar em
tudo, me sinto mal, muito mal.
— Eu te prometo, Sunshine, nós vamos acabar com
Hernández e salvar sua irmã daquele monstro. — Beija minha testa.
Fecho os olhos.
— Obrigada, Caspen. Muito obrigada por estar comigo. Eu...
— Não consigo terminar a frase.
Caspen sorri.
— Não precisa dizer. Eu sei, Sunshine. — Aceno com a
cabeça. — Eu digo por nós dois. Eu te amo, Lori Callahan.
Sorrio.
Não é que eu não o ame. Eu o amo, demais, amo-o tanto,
que chega a doer; mas não sei se meu amor é o suficiente, não sei
se eu sou o suficiente. Caspen, como o chefe, tem que ter herdeiro,
e eu não posso dar isso a ele. Eu nunca poderei ter um bebê de
Caspen Callahan.
Capítulo Vinte e Nove
“Shameless – Camila Cabello”

Caspen
“Querido Caspen...
Fiquei muito tempo pensando no que dizer e em como
expressar o que sinto por você. É estranho, até porque tenho
apenas dezesseis anos, e aqui estou eu, escrevendo meus votos de
casamento; porque é claro, nós um dia iremos nos casar. Posso até
estar sendo otimista demais com essa ideia, mas é assim que sou,
não desisto facilmente, e você vale a pena lutar.
Ouvi você dizendo que era um monstro, mas não concordo
nem um pouco. Veja bem, monstros não têm sentimentos, não
sentem amor, não sentem culpa, pesar; monstros, Caspen, não
sentem nada. E você, Caspen Callahan, você sente, você se culpa
por eu ter visto você matar aquela mulher, você ama sua família,
você tem esse lado protetor seu que é incrível, então, não, você não
é um monstro, só é um homem marcado pela vida e que luta para
proteger os seus. É o que vejo quando olho para você.
Não vou negar que é um pouco cruel e frio, mas é assim
que um homem deve ser. Quando olho em seus olhos, vejo uma
escuridão, e em meio a essa escuridão vejo um homem que deseja
ser amado. E eu amo-o. Imensamente.
Lembro-me exatamente do dia em que o vi pela primeira
vez. Carter tinha matado meu pai e me trouxe até a casa da família,
e lá estava você, parado nos degraus da entrada, olhando-me. Você
não me olhou com pena, você apenas me encarou e acenou com a
cabeça, e me senti aliviada, porque naquele momento eu sabia que
seria aceita, que todos me amariam.
Pareço ser louca, não é mesmo? Escrevendo meus votos
tão nova. As pessoas sempre dizem: ‘você está louca’; ‘você é
jovem demais’; ‘tem muito pela frente’; ‘você nem sabe o que é amar
ainda’.
Juro que essas palavras me deixam louca, porque tudo é
mentira. Vai por mim, eu sei o que eu quero, e eu te quero. Eu te
amo, Caspen, te amo com todas as minhas forças, te amo com
tanta intensidade, que chega a ser difícil olhá-lo às vezes.
É por isso que aqui estou eu, escrevendo tudo o que sinto,
fazendo meus votos de casamento, sentada em minha cama, no
meio da noite, pensando em como dizer a você e à nossa família e
aos amigos como me sinto.
É bem assustador saber que estarei lendo tudo isso para um
público, e eles vão pensar que eu estava louca quando escrevi.
Talvez eu realmente esteja, não é mesmo?
E se nós nunca nos casarmos? Então tudo o que estou
escrevendo será apenas uma pequena memória do que eu pensei
que aconteceria. Não gosto nem de pensar.
Era para eu estar dizendo meus votos, e aqui estou,
divagando. Eu só quero que saiba que vejo você, o bom, o mau, o
louco, o irritado, o protetor, o apaixonado. Eu vejo você, Caspen, eu
o vejo desde o primeiro dia que o vi.
Acho que preciso parar de enrolar tanto, não é mesmo?
Eu não vou prometer nada, porque promessas podem ser
quebradas, e nem vou jurar amor eterno. Porém vou continuar
amando-o até que não haja mais vida na terra. Eu vou ficar do seu
lado, mesmo quando não quiser ninguém por perto. Digamos que
sou um pouco irritante nesses assuntos.
Quando estiver em seu pior momento, não vou sair correndo
igual louca, não. Eu estarei com você, ao seu lado, no seu pior e no
seu melhor. Irei respeitar suas decisões, mesmo eu não estando de
acordo. Estaremos juntos, sempre. Será você e eu, Caspen, e
nossos filhos, é claro, eu quero uns quatro.
Sei que pode parecer muito, mas quero amá-los como sou
amada pelos meus pais, quero que eles tenham irmãos que possam
contar uns com os outros, é isso que quero. Eu, você e nossos
filhos.
Sei que esses votos não são votos tradicionais, mas nós
não somos tradicionais, não é mesmo?
Bem, isso é o que importa. Eu te amo e vou amá-lo sempre,
não importa o que aconteça, não importa o que a vida nos jogue,
será eu e você contra o mundo.
Acho que nada me impedirá de amá-lo, Caspen, ninguém
poderá apagar ou substituir o amor que sinto por você. Não faço
ideia da idade que terei quando eu estiver lendo meus votos para
você, mas nada vai mudar o que escrevi, nem o tempo, nem as
circunstâncias, nada tirará meu amor. Sei que você é um homem
difícil de lidar, e acho que até nos casarmos, você se tornará mais
duro, mais inquebrável, mas vou quebrar essa sua armadura, vou
me fazer presente, mostrar a você quão determinada estou até você
aceitar que somos feitos um para o outro.
Bem, esses são meus votos para você. Todos os dias irei
quebrar sua armadura, todos os dias me farei presente, todos os
dias eu o amarei mais, eu cuidarei mais de você, mais de nós dois,
não vou deixá-lo cair. Seremos um time, Caspen.
Diante de todos de nossa família, eu declaro que iremos
lutar todos os dias contra nossos demônios, iremos derrotar nossos
inimigos, iremos proteger nossa família. Diante de todos, declaro
meu amor a você.
Com amor, Lori.”
Não consigo me conter e leio mais uma vez seus votos de
casamento. Cada palavra, tudo foi escrito com tanta devoção, tanto
sentimento, que a imaginei bem na minha frente, com sua voz
suave, dizendo tudo o que acabei de ler.
Merda!
Não sou um homem de ficar sentido, mas a Lori de anos
atrás nunca imaginou que não poderia ter filhos. Eu sei, porra; eu
sei que o fato de ela não poder ter filhos a deixa arrasada! Dá para
ver quando ela olha para os meus sobrinhos. Ela tem aquele pesar,
uma pequena tristeza toda vez que olha para as crianças.
— Ainda lendo esse diário? — Heitor pergunta ao entrar em
meu escritório do clube.
— Não sabe bater na porta? — pergunto de volta, olhando-
o.
— Não, não sei bater. — Dá de ombros.
Suspiro, balançando a cabeça. Fecho o diário e o guardo na
gaveta da minha mesa de escritório.
— E sim, eu continuo lendo-o, me faz entender melhor Lori e
seus sentimentos, me faz um homem melhor para ela.
Heitor olha para mim e começa a rir. Olho para ele,
começando a ficar irritado com sua atitude. Quem ele pensa que é?
— Você, um homem melhor? — Ri ainda mais. — Caspen,
nós não somos homens melhores.
— Eu sei, mas quando estamos com quem amamos, nós
nos tornamos melhores.
— Irmão, nunca imaginei que um dia você diria isso. Está
chicoteado, cara. — Balança a cabeça.
Agora é minha vez de dar de ombros, não me importando
nem um pouco. O que posso fazer? Eu achava que amar alguém
me tornaria fraco, mas agora sei que é pura desculpa.
Amar Lori me tornou mais forte, mais determinado, mais
mortal. Não me importo em dizer que amo Lori e que me tornei um
homem melhor por ela, não tenho vergonha em dizer que leio seu
diário. É quem me tornei. Se alguém estiver incomodado, é só vir
até mim para dizer.
— Diga-me por que veio até mim? Algum relatório sobre
Hernández?
— Estamos na cola de Ester já faz uns dias. Por enquanto,
tudo está bem calmo, ela não fez nenhum movimento,
provavelmente esperando o momento certo; e enquanto isso, nós a
vigiamos dia e noite, temos sempre alguém na cola dela. Não
podemos apenas acabar com ela, a sociedade precisa saber quem
ela é.
Somos muitos bons em mentir e enganar, e é exatamente o
que estamos fazendo. Ester pensa que sua identidade está salva,
ela pensa que tem vantagem.
Tudo o que Ester tem é uma falsa segurança, uma falsa
proteção. Chega a ser patético. É engraçado saber que temos a
vantagem. Passamos muitos meses tentando identificar Hernández,
tentando ficar à frente, e por um erro bobo, nós temos o controle.
Eu sabia que Hernández uma hora iria falhar. Todos eles
falharam. Por isso gosto de esperar, levar meu tempo. Não há
motivo para agir precipitadamente quando o inimigo é fraco.
— Lorenzo me deu um relatório mais cedo, estou esperando
o momento certo, precisamos de um pouco mais. Ester está
acabada, ela só não sabe disso. — Sorrio.
— E Phillipa, o que fará com ela?
Passo a mão no cabelo. Essa é outra questão na qual tenho
que pôr um fim. Sei que o que ela fez foi por uma boa causa —
proteger a irmã mais nova, mas ela poderia ter vindo até mim, ela
sabia que eu teria resolvido tudo. Hernández agora seria uma velha
lembrança, se Phillipa tivesse pedido minha ajuda. Mas o que eu
farei com ela? Essa é uma grande fodida pergunta.
— Não faço ideia. Ela é irmã de Lori, e sei que depois,
quando essa merda acabar, Lori irá querer conhecer melhor Phillipa,
mas não a quero por perto, ela não veio até mim. Phillipa me traiu, e
não aceito traidores, você sabe disso.
Heitor acena com a cabeça.
— Não sabe ainda o que fazer.
— Sim. Não vou matá-la, mas a quero fora. Fora de nossas
vidas e bem longe daqui.
Meu irmão enruga a testa. Sei bem o que ele está
pensando: Lori.
— O que Lori pensa sobre isso? — questiona.
Bufo. Ele sabe muito bem que eu não disse nada a ela
ainda, não acho que seja o momento certo para termos essa
conversa. Nosso principal foco é Hernández, e não Phillipa.
— Lori ainda não sabe dos meus planos para Phillipa, mas
não acho que ela irá se impor. Phillipa não só me traiu, mas ela
também escondeu a verdade de Lori, não acho que por agora Lori
irá perdoá-la.
— Você tem razão, Phillipa agiu de má fé. Ela errou com
todos nós. O que ela fez não tem perdão, não da minha parte e nem
da de Lorenzo, já que Lauren é amiga de Phillipa... Bem, era amiga.
Isso é o que mais me irrita em toda a situação. Phillipa era
parte da família, sendo amiga de Sophia e Lauren, nós nos
importávamos com ela, sem falar que era uma das minhas meninas.
Sempre protejo minhas meninas, e mesmo assim ela achou que eu
não era bom o suficiente.
Phillipa não sabe disso, mas o fim dela será pior que a
morte.
Lori
Olho para Phillipa. Em sua cela, ela parece tão pequena, tão
frágil. Fico me perguntando: por quê? Por que ela fez tudo isso?
Patético, triste até.
— Valeu a pena? — pergunto a ela.
Phillipa se assusta com minha voz. Levanta a cabeça e olha
para mim. Seus olhos estão vermelhos de chorar. Ela treme.
— Eu só queria protegê-la.
Balanço a cabeça, triste por saber que minha irmãzinha está
sofrendo nas mãos daquele monstro.
— E olhe que irônico, você está aqui, trancada, enquanto
ela continua com aquele monstro. — Ela se encolhe.
Sei que é crueldade da minha parte apontar o que está
acontecendo com nossa irmã, mas a culpa é dela, foi ela quem
resolveu agir pelas nossas costas, foi ela quem se colocou nessa
situação.
— Sinto muito — sussurra.
— Está feito, Phillipa. Dizer que sente muito não muda o que
fez, não faz ser menos doloroso. Deus, não sei como foi tão ingênua
ao pensar que tudo ficaria bem!
Estou com raiva, muita raiva ao saber que tudo está
acontecendo porque a bonita não pensou direito. Era para tudo ter
acabado há muito tempo, era para ela ter contado a nós.
Suas desculpas não são nada para mim, não nesse
momento.
— E-eu não p-pensei, eu só queria América protegida.
— E com você aqui ela está muito protegida com Ester —
desdenho.
Ela se encolhe, como se eu tivesse dado um soco nela.
Bem que eu queria, mas não é justo bater em uma mulher
que já está machucada. Hernández já a fez pagar.
— Qual era o plano, Phillipa? Você está aqui, e agora?
— Eu só tinha que dar um jeito de levar Maya para ela —
responde, baixinho, e sua cabeça se abaixa, provavelmente por
estar envergonhada.
— E América? O que aconteceria com América? Deixa eu te
responder: ela continuaria trancada como um animal e futuramente
seria vendida também, porque é assim que Hernández é. Um
monstro.
Não consigo mais ficar perto dela. Vê-la dói demais, saber o
que ela fez acaba comigo.
Duas horas depois...
— Você foi vê-la. — Caspen diz assim que me vê; ele está
sentado na minha cama.
— O que está fazendo aqui, Caspen?
Não quero discutir com ele, não hoje. Estou emocionalmente
esgotada, tudo o que quero é deitar e tentar dormir.
— Sunshine, eu me preocupo com você, e eu sabia que
você iria até Phillipa. — Ele me encara.
Caspen dá um tapinha na cama. Suspirando, sento ao lado
dele, olhando para a porta do quarto.
— Eu só queria entender. Só queria vê-la e entender como
ela pôde nos trair. — Viro minha cabeça, erguendo-a para olhá-lo.
— Ela agiu por impulso, ela acreditou em Hernández.
Nada nesse momento irá tirar a dor e a tristeza que sinto.
— Eu fico pensando em América e como ela deve estar,
penso no que Ester está fazendo com ela. É doloroso demais,
Caspen. — Lágrimas se formam em meus olhos.
Sinto-me como se estivesse bem no meio de um furacão e
nada do que eu faça faz com que eu saia dele. É um turbilhão de
emoções que me aperta, deixando-me sem ar.
Eu sinto por Chris, por ele ter morrido pelo simples fato de
ter se envolvido comigo, sinto porque eu sabia que teríamos um
lindo futuro. Mas sinto também porque se Chris estivesse vivo, eu
perderia Caspen, perderia esse lindo homem sentado ao meu lado,
o homem que faz meu coração acelerar, que me faz tremer, que me
fez amar mais uma vez, que me tirou da autodestruição pela morte
de Chris.
Eu sinto pelos pais de Chris, e até hoje não tive a coragem
de encará-los, mesmo que eles não me culpem pela morte do filho.
Sinto pela minha família, por estarem envolvidos nessa
confusão; sinto por Lauren e Sophia, porque eram amigas de
Phillipa.
Eu sinto por mim, porque toda vez que tento seguir em
frente, uma onda vem para me empurrar para trás; porque sempre
que acho que estou bem, algo acontece, fazendo com que eu sofra.
Eu estou tentando, juro que estou tentando ser forte, mas
tem horas em que tudo o que quero é que alguém seja forte por mim
e me carregue.
— Caspen?
— Sim, Sunshine. — Ele responde olhando-me.
— Me ame. — Ele sorri.
Seus lábios tomam os meus, e eu me agarro a ele, dando
tudo me mim, e assim o deixo me segurar, me amar como eu
preciso.
Capítulo Trinta
“War of Hearts – Ruelle”

Sinto falta de escrever em meu diário, de dizer como me


sinto, falar tudo o que está se passando em minha mente. Quero um
novo diário.
Está sendo difícil organizar minha mente. Caspen disse que
me ama e eu não o respondi de volta. Eu o amo, mas não sei se
estou pronta para dizer em voz alta. Caspen me magoou demais, e
por mais que ele tenha se mostrado diferente e cheio de sentimento,
ainda tenho medo de dizer as palavras a ele. Medo de que seu amor
por mim acabe, que seja apenas um jogo para me ganhar. Eu sei
que assim que eu falar que o amo será real, não terá volta, será
intenso, e tenho medo dessa intensidade.
Sem falar que estou tão cansada de fingir. Fingir loucura,
fingir alegria toda vez que vou torturar alguém, essa loucura que
ponho em mim para não deixar transparecer quão arrasada estou
por ter chegado a ponto de gostar do que estou fazendo. Sempre
coloco o sorriso louco nos lábios e danço, me faço de louca, quando
tudo o que sinto é dor.
Eu só quero que tudo acabe, só quero seguir em frente, só
quero deixar tudo isso para trás. Quero um novo dia, um novo
amanhecer, sentar ao lado de Caspen e poder ver o sol se pôr
tranquilamente no horizonte, sem me preocupar com o dia de
amanhã.
Porém, eu sei que não terei o felizes para sempre. Caspen
pode me amar, mas até quando? Será que ele continuará me
amando quando descobrir que não posso dar a ele um herdeiro?
Não, não será fácil assim, e é por isso que tenho lutado
tanto contra meus sentimentos. Não quero sofrer mais uma vez por
ele, porque se eu lhe der meu coração, ele terá o poder de esmagá-
lo.
Queria meu diário, queria poder escrever em suas páginas o
que sinto, isso me deixava mais tranquila. Era como se o peso do
que sinto ficasse no diário.
A porta do meu quarto se abre, tirando-me dos meus
pensamentos tristonhos e sombrios.
— Ei, querida, posso entrar? — Mamãe pergunta, com
cautela.
— Pode sim, mãe. — Sorrio para ela, dando um tapinha ao
meu lado, na cama.
Mamãe entra e se senta ao meu lado. Ela me olha,
avaliando-me. Faz tempo que nós não conversamos. Sinto falta de ir
até ela. Estou tão focada em Hernández, que acabei esquecendo
que tenho uma mãe maravilhosa e que está preocupada comigo. Eu
esqueci de perguntar como ela se sente com tudo isso.
Mamãe é tão controlada e cheia de confiança, que esqueço
que é humana, me ama e se preocupa. Sinto falta dela, do pai, sinto
falta da minha família, de como erámos antes de tudo acontecer.
— Como você está, minha filha?
Olho bem para ela, vendo quão cansada está, o peso em
seus ombros e a preocupação em seus olhos.
Encosto minha cabeça em seu ombro. Fechando meus
olhos, eu a deixo me segurar como ela me segurava quando eu era
mais nova e tinha pesadelos.
Não há nada melhor do que o colo de mãe, do que ficar em
seus braços, sob sua proteção.
Lágrimas se formam em meus olhos ao saber o quanto perdi
durante esse tempo que fiquei longe. Ser aceita por essa família foi
libertador, saber que eu sou amada.
— Querida? — Mamãe sussurra.
Inclino a cabeça para olhá-la.
— Estou com medo, mãe.
Uau! Dizer em voz alta é tão libertador! Estou há muito
tempo querendo falar, gritar, fazer com que todos ouçam.
Sim, eu estou com medo, morrendo de medo de perder
minha sanidade, de fracassar, medo de que Hernández venda
minha irmãzinha, de que seja tarde demais.
— Também estou, querida. — Mamãe sussurra.
— Também?
Mamãe dá um pequeno sorriso.
— Sim, querida, eu tenho medo.
— M-mas...
— É o que se espera de mulheres como nós, mulheres da
máfia. Não podemos demonstrar nossos medos, nossas dúvidas,
temos que continuar firmes e fortes; mas no fundo, bem lá no fundo,
todos nós sentimos medo, é normal, é o que nos torna humanos. —
Ela alisa com a mão um fio solto do meu cabelo, colocando-o atrás
da orelha.
— Não sei o que fazer.
— Só continue o que está fazendo, seja forte por fora e
deixe-se quebrar por dentro, seja cruel quando for preciso, seja
apenas você, minha menina. — Ela dá um tapinha em minha perna.
— Você é minha filha, Lori, minha filha. — Seu olhar é intenso e
cheio de amor. — Nada irá mudar isso, entendeu?
— Eu te amo.
Lágrimas se formam em seus olhos. Ela me abraça, eu a
abraço de volta, sentindo as próprias lágrimas escorrendo pelo meu
rosto. Ficamos ali, em meu quarto, uma grudada na outra. Não vou
soltá-la tão rapidamente, irei aproveitar esse momento o máximo
que eu puder. Nada melhor do que o colo de mãe.

Será que ele não se cansa? O que ele pretende ao


continuar com isso? Ele quer acabar com meus sentimentos? Quer
me destruir emocionalmente, só pode! Caspen quer acabar comigo,
me deixar no chão, ele insiste em continuar com as cartas e os
presentes.
Com as mãos tremendo e o coração prestes a explodir, abro
a caixa que acabo de receber. Dentro há apenas uma carta. É
estranho, Caspen nunca enviou apenas carta, sempre vinha com
algo a mais, um presente...
Pego a carta em minhas mãos. Sua letra é tão linda, tão
detalhada. Respiro fundo ao abrir a carta.

“Sunshine, eu li mais uma parte do diário, uma parte que me


deixou totalmente sem palavras. Seus votos, Sunshine, eu li os
votos que fez para mim. Eu não fazia ideia de que você realmente
tinha me visto, o meu eu, minha escuridão, o homem que sou, mas
como sempre, você me surpreendeu, Sunshine.
Fiquei sem palavras ao ler tudo que escreveu, Lori, você
realmente conseguiu me deixar perplexo, e pensar que você
escreveu tudo com apenas 16 anos me deixou ainda mais surpreso.
Então eu estava pensando, Sunshine, acho que é a minha vez de
surpreendê-la, de deixá-la sem fôlego.
Você escreveu seus votos, Lori, acho que agora é a minha
vez, não acha? Só espero que meus votos sejam tão bons quanto
os seus.”

Estreito os olhos quando a carta acaba. Só isso? Onde


estão os votos? Mexo na caixa, tentando achar outra carta, mas não
há nada.
— Acho que meus votos precisam ser ditos pessoalmente.
— Pulo de susto ao ouvir a voz de Caspen.
Lá está ele, parado junto à porta do meu quarto. Ele ocupa
todo o espaço. Meu corpo treme quando vejo a intensidade do seu
olhar e quão dominador ele é. De braços cruzados, entra em meu
quarto. Ele exala confiança, poder.
O ar se enche de tensão, minha respiração fica presa em
minha garganta, e eu espero por ele, por suas palavras.
— Querida, Sunshine... — Ergue a mão, ponho minha mão
na sua e me levanta, fazendo com que eu fique de frente para ele.
Minhas pernas estão tremendo. Estou nervosa e ansiosa
para ouvir o que ele tem a dizer.
— Porra, não sei fazer isso! — resmunga.
Rolo os olhos, contendo minha risada.
— Acho que não é muito bom com palavras — comento,
olhando-o.
— Não, não sou, mas mesmo assim quero fazer
pessoalmente, quero olhar em seus olhos e dizer o que quero, o que
preciso. — Ele diz, olhando-me, e eu prendo a respiração. —
Sunshine, quando a vi pela primeira vez, eu não vi uma criança que
precisava de pena, eu vi uma menina que precisava de proteção, de
amor, de cuidado, e eu prometi que faria aquilo; mas com o passar
do tempo eu falhei. Eu falhei com você, fiz uma promessa estúpida
e paguei o preço por isso. Eu a perdi, Sunshine, eu vi você
escorregando entre minhas mãos. Eu a deixei ir. Porra, Lori, eu a
deixei ir! E quando percebi, já era tarde demais. Porém, nunca é
tarde demais para lutar pelo que ama. Eu sei, eu sei, sou um
homem frio, cruel, duro e que mata sem piscar os olhos; mas você
me viu; você, mesmo sendo tão nova, me viu, me aceitou, me amou,
e eu fui burro demais para reconhecer e aceitar o que estava bem
na minha frente.
— E o que estava bem na sua frente, Caspen?
— Você, você estava bem na minha frente o tempo todo.
Você estava lá, e eu era cego demais para ver, e eu quase a perdi,
Lori. Porra, eu quase a perdi, e não sei o que faria se eu a tivesse
perdido! Eu te amo, Lori Callahan, te amo demais. Não sei lidar com
o que sinto... — Percebo que está desconcertado, pois ele hesita
um pouco. — Caralho, não estou nem sabendo como agir nesse
momento... — Desvia o olhar levemente — só sei que não estou
fazendo sentido, estou?
Sorrio, balançando a cabeça.
— Está sendo divertido vê-lo tentar. — Sorrio.
Suas palavras estão fazendo efeito em mim. Ele só não
sabe disso, mas tudo o que está dizendo parte meu coração. Sei
que está sendo difícil para ele, Caspen não é o tipo de homem que
faz declarações de amor, e mesmo assim está aqui, se tornando
vulnerável, dando uma parte dele para mim, e isso me quebra.
Tudo o que quero é me jogar em seus braços e dizer o
quanto o amo e quero ficar com ele, mas me seguro, pois quero
ouvir o que mais ele tem a dizer. Sou gananciosa.

Caspen
Merda! Essa droga é mais difícil do que eu imaginava! Não
sirvo para isso, essa coisa de sentimentos não é para mim, e ainda
assim estou dizendo a ela como se sinto.
— O que importa é o quanto a amo, e sei que fui um
completo idiota, fui uma merda por todos esses anos. Mas agora
estou aqui, bem diante de você, de corpo e alma. — Dou um sorriso
sem graça, envergonhado pela expressão que usei. — Não vou sair.
Sei que você não quer dizer as palavras, sei que acha que vou
quebrar seu coração, mas não me importo. Meu amor é grande
demais, posso amá-la por nós dois. — Olho para baixo. — Sei que
são apenas palavras, mas irei mostrar-lhe todos os dias como me
sinto. Não vou desistir, vou provar que meu amor é real, verdadeiro
e que você é minha. Você é toda minha, Sunshine, seu corpo, seus
gemidos, seus beijos, seu coração e sua alma, assim como sou todo
seu, e vou lutar por você, por mim, por nós. Vou lutar todos os dias
até que você se entregue, até que se renda, Lori. Meus votos são
esses. Eu vou amá-la, respeitá-la, vou cuidar de você e protegê-la,
darei a minha vida pela sua, minha vida pelos nossos filhos...
— Não. — Sua voz é firme, mas fraca, bem fraca.
Seus olhos se enchem de lágrimas, sua cabeça balança de
um lado para o outro. Meu coração se aperta ao ver o sofrimento em
seu olhar. Estreito os olhos.
— Sunshine? — Ergo minha mão, tentando chegar até ela,
mas ela dá um passo para trás.
— Não, Caspen. — Sua voz transmite dor.
Porra! Eu estraguei tudo, como sempre...
Quero entendê-la, quero saber o que causou esse
sofrimento, o que eu disse para deixá-la assim. Tudo estava indo
bem...
— Lori, o que houve? Me diga o que eu disse para deixá-la
assim.
— Nós, eu e você, não podemos. — Lágrimas rolam, e ela
balança a cabeça.
Abraça-se como se estivesse se protegendo. Há medo e dor
em seu olhar.
— Por quê? Por que não podemos, Lori?
Não posso acreditar nessa merda! O que diabos aconteceu
para ela ficar assim?
— Nós só não podemos! — grita.
Tento chegar até Lori, mas ela apenas balança a cabeça, se
afastando.
— Me diga o porquê! — grito de volta. — Por que não
podemos ficar juntos!? — Não lhe dando tempo de se afastar, eu a
seguro pelos braços, trazendo-a para perto de mim e fazendo com
que ela olhe em meus olhos. — Você me ama, Lori?!
Ela desvia o olhar.
— Olhe para mim! — comando, e sua cabeça se inclina. —
Você me ama?! Responda-me!
— Sim, eu o amo. — Sua voz treme, mas o que importa é
que por fim ela diz as palavras que tanto quero ouvir.
— Então mais nada importa.
Lori luta comigo, tentando se afastar, mas não a deixo ir.
— Importa sim, Caspen — choraminga. — Você não
entende?! Estou fazendo o certo, estou te libertando de mim, de
quem sou! — Bate em meu peito.
Há tanta dor nela, que tudo o que quero é segurá-la para
sempre, fazê-la entender que o certo é nós dois juntos.
— Me diga, me diga, e a deixarei ir.
Ela para de lutar e me encara. Vejo-a lutando na própria
mente, mas por fim, sussurra:
— Não posso ter filhos.
Lori
— Não posso ter filhos — digo.
Deus! Nunca pensei que diria em voz alta de novo! Essas
são as palavras que temo, dizer a ele que sou estragada, que não
posso ter o que mais quero... As palavras que estragarão nosso
futuro juntos.
Olho para Caspen, esperando-o me soltar, mas tudo o que
vejo é um sorriso se abrindo em seus lábios.
— Não é engraçado! — digo, com raiva.
— Eu sei que não.
— Então por que está rindo? — pergunto, irritada com o ar
de confiança que ele exala.
— Porque eu sei.
— Sabe o quê, Caspen?!
— Sei que não pode ter filhos, Sunshine. — Minha boca se
abre em surpresa.
Não era o que eu esperava, mas se tratando de Caspen, eu
já deveria saber. Caspen sempre sabe de tudo.
— Desde quando?
— Desde sempre. — Continuo de boca aberta. — Eu
sempre soube. — Sorri.
— E mesmo assim você me quer?
— Sunshine, não me importo, foda-se, tudo o que quero é
você. Você.
Não consigo me conter e choro ainda mais. Caspen me
segura bem apertado, deixando-me chorar em seus braços.
Ele me quer... ele me quer, mesmo sabendo que não posso
dar a ele herdeiros.
Parece que um grande peso foi tirado das minhas costas.
Ele realmente me ama.
— Oh, Sunshine, você realmente achou que eu não ia
querê-la? — Sorri. — Eu te amo, e não importa para mim, nós
vamos ter filhos, Lori, vamos ter quantos filhos você quiser. — Beija
meus lábios.
— Tem certeza?
— Sim, Lori, eu tenho certeza. Vamos dar às nossas
crianças o mesmo amor que seus pais deram a você. Juntos,
lembra?
Aceno com a cabeça.
— Sim, eu lembro.
Tomando-me em seus braços, ele me beija. Meu corpo
corresponde a ele, enchendo-se de vida.
Caspen me leva até a cama, tirando minha roupa, amando
cada pedacinho do meu corpo. Ele toma tudo de mim, e eu deixo,
porque eu tomo tudo dele. Caspen é meu, e eu sou dele.
Capítulo Trinta e Um
“Storm – Ruelle”

Não! Não! De novo não!


O frio se infiltra em minha pele. Minhas mãos estão
amarradas juntas no teto, estou pendurada, nua e à mercê de
Dimitri.
De suas mãos, de suas palavras e de tudo o que ele faz
com meu corpo, ele está me destruindo, tirando tudo de mim,
tirando minhas escolhas, tirando a vida que há em minha alma. A
cada golpe, cada grito meu, ele ri como um maníaco, com gosto.
Eu só quero sair daqui, ser salva, estar em segurança em
minha casa, na minha cama; mas não sei se essa é uma opção
viável, Dimitri não me deixará ir; então, eu só quero que tudo acabe
logo, que meu corpo aceite a escuridão.
Tento me mexer, mas as amarras machucam meus pulsos,
os cortando, a corda pinica minha pele e faz sangrar. Estou cansada
de ficar nessa posição, meu corpo está dormente.
— Não, não. Você não vai desmaiar, princesa. — Sua voz
me dá nojo!
Água gelada é jogada em meu corpo. Grito com o choque.
— Ah, agora sim, agora podemos continuar com nosso jogo.
— Dimitri sorri.
Seu sorriso é sem humor, é negro.
Meu corpo se arrepia, esperando por mais dos seus golpes,
pela dor que virá com suas investidas. Fecho os olhos, orando para
que minha família me encontre, para que eu seja tirada daqui. Meu
corpo está cansado, minhas costas estão machucadas, posso sentir
o sangue escorrendo, as feridas abertas.
— Agora, princesa, eu vou fazer doer, vou rasgá-la de
dentro para fora. O que acha de ser fodida por uma faca?
Meu coração para de bater e meus olhos se abrem, em puro
choque. Em suas mãos está uma faca de serra. Meu corpo se
sacode.
Não, ele não pode fazer isso!
Mas a quem estou tentando enganar? É claro que Dimitri
pode fazer o que ele tem em mente! Eu aqui, amarrada, sem saída
e à disposição dele... Ele não só pode como vai fazer. Ele vai me
rasgar, me cortar, machucar, e tudo com um sorriso sombrio nos
lábios.
Dimitri puxa meus cabelos. Engulo meu grito. Não quero dar
essa satisfação a ele, não quero mais gritar, nem implorar para que
me solte, ele não vai me soltar; então por que tentar?
— Ah, ela está tentando ser forte — murmura. — Vamos ver
quão forte você é.
Dois dos seus homens ficam ao meu lado. Meu corpo treme,
mas não digo ou faço nada. Eles pegam minhas pernas, levantando-
as e abrindo-as de lado. Meu sexo fica exposto para Dimitri, que
lambe os lábios.
Ânsia sobe à minha garganta. Não quero acreditar que isso
está acontecendo comigo, que estou passando por algo assim; mas
é real, eu estou aqui, eu vou ser brutalmente abusada sexualmente,
e não há nada que mudará isso. Eu apenas me fecho.
Enquanto Dimitri me corta, me domina, me invade de todas
as maneiras brutalmente possíveis, eu me fecho, me tranco na
própria mente, não dando nada a ele. Viro uma concha, um corpo
sem alma, sem sentimento.
Enquanto sua boca está em meus seios, me mordendo até
tirar sangue, suas mãos estão em meu sexo, me cortando,
torturando, fazendo-me sangrar, rasgando meu canal vaginal.
Eu grito bem alto, não pela dor e pelo que ele está fazendo
comigo, eu grito de raiva, pura e completa raiva, grito de ódio, de
fúria.

— AHHH! — Debato-me.
— Sunshine... — Ouço uma voz sussurrar
Braços me seguram apertado, mas continuo me debatendo,
tentando me livrar de Dimitri e do que ele está fazendo.
— Sunshine, abra seus olhos.
Meu corpo sacode e lágrimas escorrem. Abro os olhos, e é
quando percebo que não estou mais naquele lugar, que não estou
amarrada e nem sendo torturada.
— Isso mesmo, Sunshine, olhe para mim.
— Caspen... — sussurro, olhando-o.
— Isso mesmo, amor, estou aqui, somos apenas nós dois.
— Ele tira alguns fios de cabelo do meu rosto.
Estou suada, minha respiração é pesada, fazendo com que
seja difícil respirar. Esfrego meu peito, tentando fazer com o que
peso que sinto saia de cima de mim.
— Eu não estou lá.
Os lábios de Caspen encostam em minha testa.
— Não, Sunshine, você não está lá. — Ele sorri para mim.
— Somos apenas nós dois, amor.
Encosto minha testa em seu peito.
— Sinto muito — murmuro.
— Você não precisa se desculpar, Sunshine, não fez nada
de errado. — Alisa meus cabelos com a mão. — Quer me dizer
sobre o sonho?
Ergo a cabeça para olhá-lo. O olhar de Caspen é cru, e meu
corpo treme.
— Eu estava lá. — Minha voz é tão baixa, que não sei se
me ouviu; mas seu olhar escurece e seu corpo fica tenso. — Estava
mais uma vez naquele lugar com Dimitri, foi tão real.
— Ei, está tudo bem, você não está mais lá. Acabou. —
Aceno com a cabeça.
— Eu sei, é só que foi assustador. Eu só queria morrer, só
queria que tudo acabasse.
Minhas palavras tocam Caspen, porque seus olhos se
enchem de lágrimas. Mas ele não chora. Não, Caspen nunca chora.
— Você sonha muito com aquele dia?
— Não, fazia tempo que não sonhava mais com o que me
aconteceu.
— O que acha que desencadeou o sonho esta noite? — Ele
pergunta, preocupado.
— Minha entrega a você, eu ter finalmente deixado ir o fato
de que não posso ter filhos. Eu me abri, eu disse em voz alta meu
maior temor, eu apenas aceitei que estou quebrada, machucada,
que estou estragada, defeituosa — digo olhando-o.
Seu olho esquerdo treme, o que significa que ele se irritou
com minhas palavras.
— Porra! Você não é defeituosa, e você, porra, não está
estragada! — rosna com aquele voz rouca que faz meu corpo se
arrepiar. — Você é uma mulher incrível que passou por algo ruim, só
isso. Você é uma sobrevivente, Sunshine. — Sorri.
— Não me sinto assim.
Caspen suspira, balançando a cabeça.
— Você confia em mim? — pergunta, olhando para mim
com tanta intensidade, que traz arrepios ao meu corpo.
Essa é uma grande pergunta, não é? Mas a resposta é
óbvia. É a única resposta que tenho.
— Sim. — A palavra mal sai da minha boca quando ele
muda de atitude.
O Caspen amoroso, preocupado e apaixonado se foi. Seu
olhar se torna frio, cruel, calculista. Esse é o verdadeiro Caspen
Callahan, o homem pelo qual me apaixonei. Um monstro.
Caspen sai da cama, me levando com ele. Estamos nus,
mas ele não parece se importar, apenas me leva para o andar de
baixo. Passamos por alguns seguranças, mas eles não prestam
atenção em nós.
Era para eu estar histérica e envergonhada, mas estou tão
atônita, que não me importo.
Estamos no meio da noite, nus, andando de uma casa a
outra, e tudo o que quero saber é o que ele está fazendo e por quê.
— Caspen...
— Calada, Lori. Apenas fique calada.
Meu corpo se arrepia com o seu comando e quão
assustador ele soou. Era para eu estar com medo, assustada com
seu jeito dominador e o olhar assustador dele, mas tudo o que sinto
é excitação. Pura excitação.
O ar frio da noite beija minha pele, trazendo-me arrepios.
Caspen me leva para a sua casa. A mão dele está firme na
minha, possessiva, dominante, não me dando chance de escapar.
Eu não quero escapar.
Entrando em sua casa, ele me leva para a sua área de
tortura, e é quando uma pitada de medo se infiltra em mim.
Não! Ir para lá, assim, nua?! Não depois do sonho que
acabei de ter!
Com minha mão livre, esfrego meu braço, sentindo-me
sozinha e receosa. Mas é engraçado que apesar do medo, eu sinto
eletricidade, desejo.
Meus pés descalços pisam no piso gelado. Meu corpo treme
ainda mais, porque aqui, no porão, tudo é mais frio, com pouca
iluminação, o ar é mais gelado, pesado. Houve tantos gritos, tantas
mortes aqui. É um sentimento diferente. Estou exposta em um lugar
sombrio, parece que as almas daqueles que morreram aqui
continuam, me vigiando, me julgando. Não sei descrever o que
sinto.
Em silêncio, Caspen nos leva até uma sala que fica ao lado
da cela de Dimitri. Meu corpo treme ao olhá-lo.
— Caspen, o que está fazendo!? — pergunto, tentando
esconder meu corpo.
Ele vai até a cela e mexe em alguns botões ali, em seguida
para na minha frente e segura meus braços para longe do meu
corpo.
— Confia em mim?
O fato de confiar nele não significa que não tenho medo do
que ele pode fazer...
Meu olhar se volta para onde Dimitri está.
— Ele não pode nos ver, Sunshine.
— O quê!? — Estou atônita demais com toda a situação.
— Dimitri não pode nos ver, o vidro só permite que nós o
vejamos, mas do lado dele é apenas um grande espelho. Eu uso
esse quarto para observá-lo e torturá-lo mentalmente.
Engulo em seco.
— O que está fazendo? Por que estamos aqui?
— Confia em mim?
— Sim, confio.
Caspen caminha até um armário. Seus passos são
confiantes, o poder que ele tem exala pelo quarto, fazendo com que
eu me sinta tão pequena, tão indefesa...
Esfrego meus braços, tentando afastar a sensação de estar
sendo observada, de desconforto. Balanço um pouco quando
Caspen se vira, e vejo o que está em suas mãos.
— Não. — Balanço a cabeça.
Meu coração bate forte e minha respiração fica pesada.
Lembranças do que aconteceu voltam em minha mente.
— Agora, Sunshine, você me obedecerá e será a boa
menina que é. — Sua voz é mortal.
Caspen está em seu modo monstro, sua escuridão reflete
em seus olhos. Meu corpo treme, se arrepiando. É estranho, porque
sinto medo do que ele fará, mas ao mesmo tempo meu corpo treme
em antecipação, ansioso, desejando saber o que Caspen tem em
mente.
Céus! Ele está duro. Seu pau longo e grosso aponta para
mim, pronto para me tomar, e esse V que ele tem é pura perfeição.
Caspen limpa a garganta. Ergo o olhar. Um pequeno sorriso
puxa o canto da sua boca.
Lambo meus lábios, e Caspen solta um pequeno rosnado.
— Suas mãos. Me dê suas mãos, Sunshine — comanda
com a voz rouca, cheia de desejo; mas tão sombria.
Sua voz é como veludo passando pelo meu corpo, beijando
minha pele. Olho para ele. Ergo minhas mãos para frente. Meu
coração bate forte. Meu medo se mistura com o prazer. Sei que ele
não irá me machucar, mas sei também que seja lá o que ele fará
comigo, trará lembranças dolorosas.
Caspen passa a corda em minhas mãos. A corda pinica, e
em instantes estou de volta naquela sala escura e fria, com Dimitri
na minha frente.
— Está gostando, princesa? — desdenha ele. — Tenho
muito mais para você...
— Lori, volte para mim. — Caspen comanda, tirando-me das
lembranças.
Meu foco se volta para ele e no que está fazendo.
Amarrando minhas mãos juntas, ele as levanta sobre minha cabeça,
as amarrando no gancho que há no teto. A corda pinica meus
pulsos, mas não machuca, não me incomoda. Pelo contrário.
Quando me movimento e a corda pinica em meus pulsos, um fio de
eletricidade passa pelo meu corpo, chegando na minha boceta.
Meus olhos se arregalam e Caspen sorri, provavelmente
sabendo o que está acontecendo comigo.
Ele me deixa amarrada, exposta a ele, de frente para o vidro
onde Dimitri está.
Caspen se instala atrás de mim, seu peito tocando minhas
costas, com a boca ao meu ouvido. Sinto sua respiração.
— Olhe para ele, Lori — comanda, com sua voz firme.
Meu corpo treme. Meu olhar se volta para Dimitri e no jeito
que ele está enrolado em um canto, dormindo em um colchão que
está no chão. Seu corpo está magro, muito magro.
Ele está tão diferente. Olhando para ele agora, nunca teria
dito que ele era forte, muito forte e assustador. Ele exalava poder,
exalava uma maldade que dava medo; mas agora ele não exala
nada. Tudo o que eu vejo é um homem destruído, magro demais,
fraco demais, condenado à morte.
— Olhe bem para ele, Sunshine. Veja como ele está: fraco,
um perdedor. Ele não pode mais tocá-la, ele não pode chegar até
você. Ele é um nada, sem valor — diz ao meu ouvido, e sua mão
calejada passa pelo meu corpo, começando pelos meus olhos. —
Ele não merece suas lágrimas. — Sua mão desce para os meus
lábios. — Ele não merece seus gritos.
Meu corpo corresponde ao seu toque. Mexo-me, fazendo
com que a corda me pinique. Meu corpo treme com a eletricidade.
Meu olhar está no corpo deitado de Dimitri, mas meu corpo
está com Caspen, na sensação do seu toque, na sua voz rouca e
grossa em minha orelha, no calor que seu corpo traz ao meu. Estou
amarrada e à mercê de Caspen, tão diferente de como eu estava
com Dimitri.
É quando percebo o que ele está fazendo. Caspen está
substituindo as memórias ruins. Ele está fazendo uma troca, porque
agora me lembrarei desse momento, de nós dois.
Caspen continua a me tocar, sua mão descendo para o meu
pescoço. Ele dá um pequeno aperto, deixando-me com dificuldade
para respirar.
— Não é ele que está a tocando, Sunshine, sou eu. — Meu
corpo treme quando sinto seus dentes arranharem meu ponto
sensível atrás da orelha. — Ele está lá, indefeso, e eu estou bem
aqui, tendo-a para mim. — Continua a me tocar, e meus seios se
arrepiam quando sinto suas mãos neles.
Caspen circula meus mamilos com os dedos. Fechando os
olhos, encosto minha cabeça em seu ombro, dando total acesso a
ele.
— Não, não. — Para de me tocar, e eu suspiro, sentindo
sua falta. — Seus olhos, quero seus olhos nele, Sunshine. Quero
que veja que ele não pode mais tocá-la. Nunca mais. — Belisca
meu mamilo, e a dor se mistura com o prazer.
Tudo o que ele faz comigo, sinto em meu núcleo, bem lá
embaixo.
— Dimitri não pode mais chegar a você, Sunshine; mas eu,
eu posso. — Ele diz a última palavra mordendo meu ombro com
força.
Sei que terei uma marca amanhã, mas não me importo,
porque a dor mostra que estou viva, que ainda sinto e que é
suportável quando há prazer, porque a mordida que Caspen acaba
de me dar faz com que minhas partes latejem. Quero mais, mais
dele, de suas mãos e de sua boca.
Caspen continua a me tocar, mostrando que somos apenas
nós dois, sem Dimitri, sem Hernández, apenas ele e eu, e que nada
mais pode me tocar, me machucar.
Lágrimas se formam em meus olhos por conta da
intensidade que é esse momento, do poder que sinto de Caspen; a
escuridão dele, a crueldade dele está me tomando, me abraçando,
fazendo parte de mim.
— Vou mostrar amor, vou mostrar que a dor pode ser bem-
vinda, vou quebrá-la e fazê-la esquecer Dimitri.
Suspiro com suas palavras, com o tremor de sua voz e quão
frio ele soou. Caspen me contorna, ficando de frente para mim. Seu
olhar... Deus, seu olhar é profundo, tão profundo, que todo o ar dos
meus pulmões sai, se torna difícil respirar! É devastador!
Caspen pega meu queixo. Ele me encara. Sua mão aperta
meu queixo, não a ponto de machucar, mas dói um pouco. Sua
cabeça se aproxima da minha. Ele toma minha boca em um beijo
cruel, como se estivesse me punindo. Sua língua chicoteia a minha.
Entrego-me a ele, ao seu beijo, em como ele me domina. Seu beijo
me desequilibra, é como se ele estivesse tomando uma parte de
mim.
Caspen geme em minha boca. Sorrio ao saber que ele está
tão afetado quanto eu.
Terminando o beijo, ele me solta. Meu peito sobe e desce,
minha visão está nublada, estou em uma névoa, drogada de desejo.
É isso o que ele faz comigo. Ele é uma droga que me deixa
viciada.
É loucura eu amá-lo? Amar essa escuridão que há nele?
Porque se for, então estou louca.
Observo Caspen atentamente, o jeito que ele se move,
como seus músculos se contraem. Observo-o com puro fascínio,
hipnotizada.
Meus olhos se arregalam quando ele puxa um chicote do
armário, um chicote igual ao que Dimitri usou em mim, cheio de
cordas grossas, cordas essas que me cortaram, que me fizeram
sangrar. Minha respiração se torna errática. Minha vontade é de me
encolher em um canto. Meu corpo treme de medo, mesmo sabendo
que Caspen nunca me machucaria dessa forma.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, lágrimas
escorrem pelas minhas bochechas. Caspen para na minha frente.
Ele lambe minhas lágrimas. O olhar que ele tem é escuro, não
demonstrando nada.
— Não chore, Sunshine — sussurra, com rouquidão.
— Por favor, não.
Caspen apenas sorri.
Surge em minha mente imagens do que Dimitri fez comigo,
das chicotadas em minhas costas, da ardência...
Mas Caspen passa as cordas do chicote em meu corpo com
cuidado, bem devagar, instigando-me, como se as cordas beijassem
meu corpo. E eu esqueço tudo sobre Dimitri e o que ele me fez,
concentrando-me apenas no agora.
Caspen passa as cordas do chicote entre minhas pernas, as
esfregando em meu clitóris. Arrepios possuem todo o meu corpo, se
acumulando em meu estômago, passando pela minha espinha,
despertando meus órgãos internos, me despertando por inteiro. Meu
corpo, que estava tenso, agora relaxa ao toque das cordas do
chicote, isso me excita.
O chicote beija minhas costas, pegando-me de surpresa. Eu
estou tão excitada, tão distraída, que não percebo o momento que
sou chicoteada. Dói, mas não é a mesma dor que Dimitri causou.
Arde, queima, mas ao mesmo tempo me excita, me faz querer mais.
Nunca imaginei que ser chicoteada traria a mim prazer, me
faria ficar molhada e desejar por mais. Eu quero mais, mais da dor,
mais do prazer, muito mais.
— Sinta, Sunshine, sinta o chicote beijando suas costas,
sinta a libertação que é. — Ele rosna.
Meu centro lateja. As palavras de Caspen fazem um ponto
em meu corpo.
O chicote volta a me tocar de forma íntima e delicada, mas
assim como da primeira vez, quando relaxo, Caspen bate em mim.
— Ahh! — grito, jogando a cabeça para trás.
— Olhe para Dimitri, veja como ele está. Ele não pode tocá-
la, Lori, ele nunca mais irá tocá-la, somos apenas nós dois, sou eu
que estou chicoteando-a, é o meu chicote que está beijando suas
costas, e eu tenho certeza que a cada beijo que meu chicote dá em
você, mais excitada você fica.
Porra! Suas palavras me fazem tremer de desejo, puro
desejo. Minha respiração fica pesada, meus olhos estão na direção
de Dimitri. Ele não pode mais me machucar, ele não pode chegar
até a mim, ele não é nada.
Lágrimas escorrem dos meus olhos. Sinto-me
sobrecarregada, minha excitação é grande demais, o jeito que
Caspen está, o poder emanando do seu corpo, o ritmo com que ele
domina o chicote, me torturando, me instigando, a dor e o prazer
que ele causa em mim com o chicote... A cada chicotada, mais eu
me excito, mais molhada fico, mais drogada pela dor, pelo prazer,
pela sensação esmagadora em meu peito. Caspen está
preenchendo meu corpo com tantas sensações. É pesado,
demolidor, cruel até, mas ao mesmo tempo libertador.
E é quando meu orgasmo me toma. É tão cru, tão
magnífico... Merda! Nunca imaginei que gozaria dessa forma.
Meus braços estão dormentes, meus pulsos pinicam,
minhas costas ardem, mas tudo o que sinto é na sensação em meu
clitóris, em quão molhada estou e como preciso de Caspen. Eu
preciso dele, preciso de mais, não é o suficiente. Mal aliviou o
prazer que estou sentindo.
— Caspen — choramingo.
— Sunshine, você não faz ideia de quão linda suas costas
estão com minhas marcas, é como uma obra de arte. Pura
perfeição.
Sinto sua respiração em meu pescoço. Ele beija meu ombro,
bem em cima da mordida que deu momentos atrás.
— Seu corpo, o jeito que ele responde às lambidas do
chicote, o jeito que seu corpo está em exibição é perfeito, magnífico
— sussurra ao meu ouvido. — Você é minha, Lori Callahan.
Lambo os lábios ao senti-los secos. Minha respiração está
errática.
Ouço o chicote cair no chão ao meu lado, e no lugar das
cordas do chicote, sinto algo macio, aveludado passando pelas
minhas nádegas e entre minhas pernas. Sua mão livre brinca com
meus seios. Olho para a sua mão, vendo que ele está com luvas de
veludo. É por isso que é tão macio, tão gostoso.
Suas mãos brincam com meu corpo, me instigando, dando-
me tanto prazer, que chega a doer. Minhas costas ardem, queimam,
mas o prazer que sinto é tão intenso, que não me importo com a
queimação.
Caspen fica de frente para mim. Seu olhar me faz fraca.
Minhas pernas estão trêmulas. Sinto como se meu coração fosse
sair pela boca.
O prazer é intenso, a forma com que ele me toca, me
possui... é devastador. Meus olhos se fecham, e eu apenas sinto,
deixo-o me tomar. Sua mão entre minhas pernas é substituída pela
boca.
— Caspen! — grito.
Ele se ajoelha de frente para mim, abrindo minhas pernas, e
cheira meu sexo, dando pequenas lambidas em meu clitóris.
— Porra, Sunshine! Você está tão molhada, tão sensível!
Sua boceta é minha, seu corpo é meu, seus gemidos, seu prazer,
tudo é meu. Eu possuo você.
O tremor de sua voz entre minhas pernas faz com que eu
me perca. É intenso.
Meu segundo orgasmo me bate com tanta força, com tanto
poder, que lágrimas escorrem dos meus olhos.
Caspen toma tudo de mim, meu orgasmo, meus gemidos,
meus gritos, meu corpo, ele me possui com sua boca e com suas
mãos.
Ele me leva ao orgasmo várias e várias vezes, e por incrível
que pareça, meu corpo não reclama. Pelo contrário, ele pede por
mais.
Devastador.
Caspen por fim para o seu ataque ao meu corpo. Ele se
levanta, olhando-me de forma tão significativa, tão poderosa. Seus
lábios batem nos meus. Ele me beija, possuindo-me. Sinto o próprio
gosto, o gosto da minha libertação.
Liberando meus pulsos, eu envolvo meus braços em volta
do seu pescoço. Enrolo minhas pernas em sua cintura. Seu pau
bate em minha entrada, e com um impulso, ele está dentro de mim.
Caspen caminha até o vidro, me apoiando ali. Minhas costas ardem,
mas a ardência é bem-vinda, tudo o que Caspen está dando a mim
é bem-vindo.
Olho em seus olhos enquanto ele me toma. Cada impulso é
mais poderoso, mais intenso, mais dominador que o outro. Nesse
momento, palavras não são necessárias, nossos olhares falam entre
si.
Não tenho palavras para explicar esse momento e tudo o
que Caspen fez por mim. Nunca imaginei que seria assim, que ser
chicoteada daria imenso prazer a mim, desejo; e experimentar todas
essas emoções com Caspen é só a cereja do bolo.
Caspen me beija. Agarro-me a ele, minhas unhas
arranhando seus braços, seus ombros e suas costas. Ele não
diminui o ritmo. Pelo contrário, ele bate em mim com mais força,
com mais domínio. Minhas costas esfregam no vidro, e a queimação
faz com que minha excitação aumente. Os lábios de Caspen soltam
os meus. Sua testa encosta na minha. Seu suor se mistura com o
meu.
— Você... é... minha... — diz, entre um impulso e outro, com
a voz carregada de desejo. — Seu prazer é meu, seu corpo é meu,
cada parte sua me pertence, Sunshine.
— Caspen... — Minha respiração é ofegante.
Seu nome sai como um gemido de meus lábios. Ele chupa
meus seios, e minha boceta convulsiona em seu pau.
Eu me perco nele, nesse momento. É libertador. Eu nunca
tinha me sentido dessa forma. Caspen mostrou a mim sua
escuridão, e ela se fundiu com a minha. Nossas almas estão
misturadas nesse momento, eu posso vê-las entrelaçadas, e é lindo.
Tão lindo, que traz lágrimas aos meus olhos. A união de nossas
almas, da sua escuridão com a minha é emocionante.
O que Dimitri fez comigo me transformou em cinzas. Ele era
como fogo, tudo o que ele tocava se transformava em cinzas. Ele
me tocou, mas sou como fênix, eu renasci das cinzas, e Caspen
está aqui para me segurar.
— Venha... para... mim. — Caspen comanda, ofegante, e
meu corpo obedece.
Meu orgasmo me rasga, queimando de dentro para fora. Eu
grito o nome dele tão alto, que acho que acordo a casa toda. É tão
poderoso, que me deixa mole em seus braços, e sou levada pela
escuridão.

Caspen
Lori desmaia em meus braços. Ela vem com tanta força, que
acaba sucumbindo ao cansaço.
Tiro meu pau de dentro dela, minha porra escorrendo entre
suas pernas. Apoio sua cabeça em meu ombro e pego um cobertor
de dentro do armário, em seguida nos cobrindo. Sorrio. Acho que
Lori nunca imaginou que seu corpo corresponderia às chicotadas
que dei a ela. Ela precisava. Precisava se libertar, precisava saber
que Dimitri não tem mais o poder.
Foi magnífico! Seu corpo, o jeito que ela se entregou... foi
perfeito, do jeito que imaginei que seria. Ela se entregou para mim,
e esse é só o começo.
Em meu quarto, a coloco deitada em minha cama, de
barriga para baixo, expondo suas costas com marcas das
chicotadas. Sorrio. Essas são minhas marcas.
Porra...
Deixando-a em minha cama, vou até o banheiro e pego um
óleo. Lori suspira de prazer quando esfrego suas costas. Ela se
mexe e seus olhos se abrem.
— Isso é bom. — Suspira.
Sorrio para ela.
— Como está se sentindo? — pergunto, preocupado.
— Dolorida, mas bem, muito bem. — Sorri.
Assim que termino de passar o óleo em suas costas, volto
para o banheiro, molho uma toalha de rosto na água quente e volto
para limpar entre suas pernas. Sorrio ao ver suas bochechas
coradas enquanto a limpo. É engraçado vê-la assim, envergonhada.
Assim que termino de limpá-la, beijo sua testa, jogando o
pano no canto da cama. Deito do seu lado e a puxo para mim. Lori
envolve seu corpo no meu, deitando sua cabeça em meu peito.
Beijo sua cabeça.
— Durma, Sunshine, seus pesadelos não podem mais
alcançá-la — sussurro.
Ouço-a suspirar. Ela se aconchega em mim, e em instantes
sinto sua respiração se acalmar. Minha respiração se mistura com a
dela, no mesmo ritmo, na mesma sintonia, e juntos, caímos no sono.
Capítulo Trinta e Dois

Uma semana depois...


— Não, não, por favor! Vocês pegaram o homem errado! —
O homem grita, tentando se soltar das amarras em suas mãos e
seus pés.
Não me importando nem um pouco com seus gritos, eu o
arrasto para o meu porão, onde é à prova de som, meu lugar
favorito para arrancar informações.
Meus homens abaixam a cabeça, em sinal de respeito,
quando passo por eles. Adentrando mais meu porão, ao meu lado
está Carter.
— Me deixem ir, eu não fiz nada de errado! — O homem
implora.
Olho para ele. Bem, tamanho não é sinal de bravura, não é
mesmo? Entro na grande sala. Em volta está a cela onde estão
Phillipa e Dimitri.
O homem arfa ao ver Phillipa, e pelo olhar que ela dá a ele,
os dois se conhecem. Perfeito. Sorrio. As coisas estão ficando mais
interessantes por aqui.
— Bem, acho que peguei a pessoa certa, não é? — Jogo-o
no chão, de frente para a cela onde Phillipa está.
— Não sei do que está falando, sou inocente.
Ele continua mentindo... Patético demais!
Puxo-o pelo cabelo, fazendo-o encarar Phillipa. O olhar dela
está em branco, mas quanto mais ela o encara, vejo seu olhar se
transformar em raiva, pura raiva.
— Você está me dizendo que não a conhece?
— Não, não faço ideia de quem ela seja.
Atrás de mim, meu irmão bufa. Ele também não está caindo
na mentira.
Decepcionante. Eles nunca cooperam, sempre preferem o
caminho mais difícil. Se eles cooperassem, contando a mim tudo, eu
facilitaria para eles; mas não, sempre fazendo charme, dizendo que
não sabem de nada e um monte de mentiras atrás de mentiras.
Não que eu me importe em tirar as informações, é mais
divertido e minha alma se alimenta com os gritos, a dor e o sangue.
Puxo seu cabelo com mais força, e percebo que estremece
de dor. Olho para Phillipa, observando sua reação. Ahh, acho que
ela não gostou da negação do homem.
— Mentiroso! — cospe Phillipa, com raiva.
— Olha o que temos aqui. — Sorrio.
Olho para os meus homens e para Carter, que está com
cara de tédio.
— Ela está mentindo. Não a conheço. — Sua voz treme.
Estalo a língua, balançando a cabeça.
— Phillipa? — chamo, e seu olhar se concentra em mim.
— Sim?
— Quem é esse homem?
— Esse é o braço direito da Ester. Ele é o homem em quem
ela mais confia. — Suas palavras saem com puro ódio.
Seus olhos se enchem de lágrimas ao olhar para ele.
— Ele é um monstro. — A dor em sua voz faz com que eu
acredite nela.
— Sua vadiazinha, eu sabia que Ester não devia confiar em
você! — Ele grita. — Ela vai vender sua irmãzinha quando souber
que a traiu. — Ri.
Phillipa se encolhe. Um choramingo sai de seus lábios.
Arrasto-o pelos cabelos para o meio da grande sala. Ele se
debate, tentando se soltar do meu aperto. Sorrio. Irei mostrar quem
é o monstro aqui.
— Sabe, não lido muito bem com mentiras. — Ele se
encolhe. — Você mentiu para mim. Se tivesse me dito a verdade, as
coisas seriam tão fáceis; mas escolheu ir pelo caminho difícil. —
Chuto-o.
Detesto pessoas como ele! Se acham tanto, mas quando
são pegos, tremem de medo, viram merdinhas.
— Sabe o que faço com mentirosos? — emendo. — Eu me
divirto com eles.
Estalo meus dedos, e meus homens sabem o que devem
fazer.
Em todo o momento, apenas o observo a ser amarrado ao
teto. Sorrio ao vê-lo lutar, ao ver o medo estampado em seu rosto.
— Você realmente pensou que tinha tudo sob controle, não
é? — pergunto, olhando-o de cima a baixo. — Ester realmente acha
que está um passo à frente, mas adivinha? Nós temos a vantagem
agora.
— Ela vai saber que sumi, vai desconfiar e vai agir —
desdenha.
Ele realmente acha que eu não sei disso? É claro que Ester
vai perceber que seu homem de confiança sumiu e obviamente irá
ligar os pontos. É isso que eu quero. Sei o que estou fazendo,
esperei por isso, planejei essa jogada. Quando descobri quem era o
homem com Ester no baile, eu o pesquisei, vigiei, calculei meus
passos e esperei. Não sou o tipo de homem que tem paciência, mas
quando preciso, eu espero; e foi o que fiz. Esperei o momento certo
para agir, esperei que Ester ficasse confortável, que ela relaxasse,
tivesse uma falsa sensação de segurança.
— E quando ela agir, nós a teremos onde a queremos. —
Dou as costas a ele, indo até a grande mesa, onde contém objetos
de tortura. — Agora quero algumas informações, e será você que
dará a mim.
— Não.
Levanto uma sobrancelha.
— Ouviu isso, irmão? Ele disse não.
Carter ri.
— Ele não está pedindo — pronuncia-se meu irmão. — Ele
irá tomá-las de você.
— Não direi nada, prefiro morrer.
— Ah, mas você vai morrer, fique tranquilo; porém não será
uma morte rápida ou fácil. Eu farei doer. Farei com que implore para
eu matá-lo logo. Irei fazê-lo gritar, sangrar, e tudo com um belo
sorriso no rosto. Você acha que Ester é uma mulher cruel? Vou
mostrar a você o que é ser cruel. — Pego um chicote com pontas
afiadas e bato em suas costas, arrancando a pele.
Ele grita, e seu grito é como uma sinfonia aos meus ouvidos,
com uma melodia tão linda.
Algumas pessoas acham que estou amolecendo, que me
tornei um homem apaixonado mole, que não sou o mesmo de antes;
e é onde se enganam, porque sou pior, muito pior. Antes eu não
tinha com quem me preocupar, por quem lutar; agora eu tenho, e
farei de tudo para proteger a mulher que amo. É por isso que estou
fazendo o trabalho sujo, quando Carter deveria.
— Agora que experimentou um pouco do que tenho para
você, me diga: onde Ester guarda informações sobre seus negócios,
sobre sua vida?
Joe olha para mim. Sim, esse é o nome dele.
— Isso é tudo o que tem? — desdenha.
— Oh, cara... — Carter ri atrás de mim. — Você não devia
ter falado isso. — Balança a cabeça.
Sem dizer mais nada, me posiciono atrás dele. Trabalho em
suas costas mostrando que não estou para brincadeiras. Algumas
partes de sua pele ficam caídas, por conta das chicotadas, sangue
escorre pelas suas costas, enquanto ele reprime seus gritos.
Quando não há mais espaços para chicotadas, penso no que farei a
seguir. Sorrio com o pensamento. Pego um alicate e puxo pele por
pele, deixando suas costas em carne viva. Agora ele grita, se
debate, mas continuo a esfolá-lo.
Sangue escorre. Olho para baixo, percebendo que ele se
cagou todo. Aceno para dois dos meus homens, e cada um pega
um balde com água. Juntos, eles jogam água em Joe, que grita.
Sorrio. Porra, deve estar doendo demais!
— Agora você quer me responder, ou devo continuar?
— Você é louco!? — Ele grita, arfando e chorando.
— Responda-me — comando, irritado.
Não tenho todo o tempo do mundo, tenho negócios para
cuidar, planos para fazer, Ester para destruir e tenho Lori para ver.
Não estou com paciência para ouvir esse idiota dizer que sou louco.
— Sim, sim, eu vou falar. — Sorrio.
— Bom! Pode começar.
Lambendo os lábios, ele me encara. Seu rosto está
vermelho, de tanto que gritou. Lágrimas escorrem de seus olhos.
— Ela tem um cofre, um grande cofre em sua mansão. É lá
que fica todo o passado, presente e tudo o que ela planeja. Ester
não coloca nada pessoal de sua vida no sistema. Não há nada em
seu computador, porque ela sabe quão fácil é de entrar, então ela
tem tudo em papel. Eu dei essa ideia a ela. — Sorri.
Esperto. Essa ideia é realmente brilhante. É por isso que
não encontramos nada sobre ela antes.
Porra!
Teremos que entrar.
Olho para Carter, que acena com a cabeça. Ele pensa o
mesmo que eu. Temos que formar um plano e invadir a casa de
Ester para pegarmos o necessário para acusá-la de ser Hernández.
— Há quanto tempo trabalha para ela? — Volto minha
atenção para Joe.
— Desde o tempo em que ela era casada com Renné
Hernaz. — Aceno com a cabeça.
— Qual é o próximo passo? O que ela tem planejado?
Joe olha para mim e começa a rir.
— Posso ser o braço direito dela, mas Ester é esperta
demais. Ela sabia que poderiam me pegar. Ela não me conta seus
planos antes da hora. Não sei nada do que ela planeja. — Sua voz
está arrastada.
Seu corpo treme. Sei que não está mentindo, porque é
assim que Hernández faz. Ester é uma mulher esperta, meticulosa,
ela sabe o que está fazendo.
— Mas ela tem planos — acrescenta —, e todos eles
envolvem sua querida filha, Lori, aquela loira gostosa. — Sorri, igual
um sádico.
Aceno com a cabeça.
— Qual é a sua relação com Ester?
— Sou seu braço direito, um dos poucos que ela confia.
Ele sabe muito bem que não foi o que perguntei.
— Não. — Aproximo-me dele para olhá-lo nos olhos. —
Você sabe que não foi isso que perguntei. Qual sua relação com
Ester? — Faço a pergunta mais uma vez, pausando em cada
palavra.
— Somos amantes.
É essa a resposta que eu estava querendo ouvir.
Sem saber, Joe fez meu dia, fez com que as coisas fossem
bem mais fáceis para mim. Não precisarei invadir a casa de Ester,
não precisarei das informações para fazê-la cair, ela mesma irá cair
por si.
Ester não é o tipo de pessoa que tem sentimentos. Ela não
ama as filhas; pelo que desconfio, matou o marido; não tem amigos
íntimos, tudo para ela se resume em dinheiro e poder.
Mesmo assim ela manteve seu amante, confiando nele —
pouco, mas confia. Ela o fez seu braço direito, seu homem de
confiança, então, o que ela fará quando vir sua cabeça em uma
caixa de presente?
— Já tenho o que preciso — digo, dando-lhe as costas.
Joe ri.
— Só? — desdenha. — Pensei que o poderoso Caspen
Callahan fosse mais do que isso.
Viro-me, sorrindo para ele, um sorriso cru. Deixo-o olhar em
meus olhos, porque sei que não há nada neles, apenas escuridão,
um vazio.
— Por que acha que vou me sujar com você quando tenho
quem faça? O que eu queria eu obtive, agora você é deles. —
Aponto para os meus homens, que são tão cruéis quanto eu.
Seu olhar é de puro horror. O filho da puta achou que ele
teria uma morte rápida depois que contasse tudo. Por que acabar
com a diversão? E, bem, ele tocou no nome da Lori, quero que o
bastardo sofra por ter dito o nome da Lori, por ter a desrespeitado
na minha frente.
— Quando terminarem, queimem o corpo, só deixem a
cabeça — comando aos meus homens. — E Carter? Reúne a
família.
As vozes à minha volta estão cada vez mais altas, causando
uma dor de cabeça insuportável. Esfrego a têmpora, tentando aliviar
a pressão. Todos falam ao mesmo tempo, e isso está me irritando
demais! Todos formando planos sem sentido, todos querendo fazer
parte de alguma forma em derrotar Ester; mas a verdade é que Lori
e eu seremos os únicos que faremos isso, ninguém mais.
Mas ninguém percebe isso, todos querem uma parte de
Hernández. Ester queria causar com nossa família, e ela conseguiu,
porém não de uma boa forma.
Cansado de toda essa falação desnecessária, levanto-me
da minha poltrona, batendo as mãos na mesa, com força.
— Já chega! — grito.
Todos se calam e me encaram, surpresos; menos Lori, que
está com um sorrisinho nos lábios. Suspiro, cansado demais de toda
essa merda de família. Olho para cada um deles, mostrando que
não quero mais discursão, não quero saber o plano deles e todas as
merdas que querem fazer para derrotar Ester. Tudo o que quero é
que eles se calem e me ouçam.
— Agora que todos se calaram... — Paro, fazendo meu
ponto — precisamos nos decidir sobre o que faremos agora, mas
sem essa falação insuportável! — rosno as palavras.
— Tudo bem, você quem manda, chefe. — Amélia rola os
olhos ao falar.
Blake a puxa para os seus braços quando dou meu olhar
mortal, mas minha irmã não se intimida, ela apenas sorri para mim.
Ao meu lado direito está Lorenzo, o segundo no comando.
Carter está na parte de trás, em um canto, apenas observando tudo.
Heitor está à minha frente, e os outros estão espalhados pelo
escritório.
— Minha pergunta é: como vamos invadir a casa de Ester e
pegar o que queremos? — Dominic, meu primo, pergunta. — Já que
ela guarda tudo em um cofre em casa, teremos que invadir para
obter as informações e fazê-la cair.
Com isso, a falação volta com força total. Suspiro,
balançando a cabeça.
— Devemos invadir com tudo. — Raphael diz.
— Não, seríamos os malvados, temos que ir com calma,
enganá-la. — Lucas diz, pensativo.
— Vamos tirá-la de casa e entrar. — Victor fala, sorrindo.
Cada um dá uma ideia do que deveríamos fazer. Sinto a
porra da minha cabeça latejar.
— Porra! — esbravejo, e eles se calam. — Será que não
podem calar a porra da boca e me escutar por um momento!?
— Se você começar a falar, nós agradeceríamos. — Amélia
diz.
Às vezes acho que minha irmã gosta de me irritar.
Atrás dela, Blake sussurra ao seu ouvido, e ela bufa para
ele.
— Nós não vamos invadir — digo por fim, não querendo que
a falação comece de novo.
— Como assim não vamos invadir? Temos que pegar as
informações. — Lucas soa irritado.
Olho bem para ele, que se encolhe.
Não estou com cabeça para lidar com questionamentos,
então, deixo-o saber o que farei se ele ou qualquer um dentro desta
sala me interromper ou questionar.
Cansei de jogar com Ester! Quero tudo acabado, quero
Ester morta e enterrada, quero seu legado no chão. Está na hora da
minha jogada, e essa será a jogada final.
— Como tinha dito, não precisaremos fazer nada, Ester virá
até nós. — Sorrio, já imaginando sua reação ao ver o que enviarei a
ela.
— Como? — Lori pergunta, olhando-me.
— Enviaremos a cabeça de Joe Parker, seu amante e braço
direito, para ela — respondo, com um sorriso cruel nos lábios. —
Ester ficará fora de controle ao ver a cabeça do homem que ela
confia em uma caixa. Ela saberá que sabemos quem ela é. Ester
agirá por impulso, com raiva, ela virá até nós, e estaremos prontos
para ela.
Meu olhar se encontra com o de Lori, que sorri para mim.
Seus olhos brilham com malícia. Ela quer Ester, e ela a terá.
Bônus

Ester
Minhas mãos tremem de raiva.
— AHHH! — grito, jogando tudo o que está em minha mesa
de escritório no chão.
Olho para a cabeça de Joe, toda ensanguentada dentro da
caixa. Ainda tremendo, pego o pequeno bilhete que veio pregado na
cabeça.
“Para a minha mãe querida, com profunda satisfação, Lori”.
Eu vou matá-la! Vou fazê-la sofrer, vou acabar com todos
que ela ama! Minha querida filha pagará pelo que fez ao Joe!
— Oh, querido, eu sinto muito — sussurro.
Não que eu o amasse, a única pessoa que amo sou eu
mesma e o dinheiro; mas Joe foi um bom amante, ele era fiel a mim,
ele sempre me ajudou em tudo.
Se Caspen sabe sobre Joe, ele sabe também sobre Phillipa.
Aquela putinha não sabe fazer nada direito!
Meu celular toca. Tremo ainda mais ao ver
DESCONHECIDO escrito na tela.
— Sim?
— Eu quero o que é meu, Ester, estou ficando sem
paciência. Nosso acordo foi feito anos atrás, cansei de esperar. —
Sua voz traz arrepios ao meu corpo.
— Ela será entregue a você.
— Espero que sim, porque se ela não for, eu irei atrás de
você. — Com isso ele encerra a chamada.
Anos atrás fiz um acordo com o diabo, e agora ele quer o
pagamento. E eu darei a ele.
Capítulo Trinta e Três
“War of Hearts – Ruelle”

Lori
Um pequeno suspiro deixa meus lábios quando observo um
Caspen nu voltar para a cama e se deitar ao meu lado. Ouvindo
meu suspiro, ele dá aquele sorrisinho malicioso. Balanço a cabeça,
sentindo minhas bochechas arderem.
Pelo amor de Deus!
Não sei por que fico desse jeito. Pareço uma adolescente
que acaba de esbarrar no garoto mais cobiçado da escola, e ele
pisca para ela, o que a deixa corada. Bem clichê, eu sei.
Porém, Caspen tem me deixado toda amolecida. Acho que
foi depois do que ele fez para mim. Depois do que fizemos na sala
de tortura, depois que ele explorou meu corpo, me levou ao limite,
fiquei um pouco mais relaxada, consciente de mim mesma e de
minhas emoções.
— O quê? — pergunto, fingindo que não acabo de ser pega
olhando-o.
— Nada, é você quem estava me cobiçando.
Bufo, rolando os olhos.
— Eu? Te cobiçando? Acho que está tendo muitas ideias. —
Cruzo os braços, fazendo cara de quem não sabe de nada.
— Ei — Caspen tira meus braços do peito —, não os
esconda de mim. — Sua voz enviando arrepios ao meu corpo.
A intensidade do seu olhar, o modo com que ele lambe os
lábios ao olhar para os meus seios, traz uma pontada em meu sexo.
Cruzo as pernas, e ele ri. O filho da mãe sabe que fiquei
incomodada!
— Não, pare de me olhar assim. — Estreito os olhos.
Caspen sorri para mim, um grande sorriso predador.
— Te olhar como, Sunshine? — Lambendo os lábios, ele
olha para o meu corpo exposto.
Merda, merda!
Caspen tem uma fome por mim e pelo meu corpo, que tem
momentos que não aguento. Depois do que aconteceu na sala de
tortura, ele não me deixa. Caspen se tornou mais possessivo e
protetor, sempre querendo saber onde estou e se estou em
segurança, e quando tem tempo, ele sempre me arrasta para algum
lugar, tomando meu corpo de modo primordial. Não que eu esteja
reclamando, mas o homem tem uma fome assassina por mim,
parece que ele nunca se cansa.
— Como se quisesse me foder. — Engulo em seco.
Caspen abre o maior sorriso. O ar fica preso em minha
garganta ao vê-lo sorrir desse jeito. É tão difícil ver um sorriso
verdadeiro em seus lábios, e quando ele realmente sorri, faz com
que eu fique sem fôlego.
O que esse homem faz comigo? Sempre me sinto fraca ao
lado dele. Perco minha razão quando ele está por perto, e meu
corpo amolece quando me toca.
— Querida, eu quero fodê-la. — Sua voz é tão grossa, cheia
de promessas.
Meu corpo treme e sinto aquele friozinho no estômago.
— Porém, sei que está dolorida, então vou esperar
amanhecer. — Pisca para mim.
Suspiro.
Meus pensamentos se voltam para Ester. Não quero pensar
sobre ela, não quando estou com Caspen, mas não consigo evitar.
Temos uma guerra pela frente. Ester irá revidar, e temos que nos
prepararmos para o que ela fará. Confesso que estou apreensiva,
não por mim, mas pela família, pelas crianças, pelas pessoas que
Ester pode machucar. Ela é louca e já provou que fará de tudo para
conseguir o que quer, e esse é meu maior medo.
— No que está pensando? — Caspen interrompe meus
pensamentos.
Inclino a cabeça para o lado, para olhá-lo. Ele tem um vinco
de preocupação na testa.
— Em Ester e no que ela fará. Acho que fez o certo ao
mandar a cabeça de Joe para ela?
Esfregando a barba rala que ainda está nascendo, ele
pensa. Seus braços me envolvem e eu descanso minha cabeça em
seu peito, ouvindo seu coração. Sua respiração está tão calma.
— Não sei se foi o certo, mas fiz o que foi preciso para
acabar logo com isso. Estou cansado de jogar com ela, quero que
tudo acabe logo.
Sinto seus lábios em minha cabeça. Fecho os olhos,
aproveitando esse momento.
Ter Caspen todo amoroso e carinhos é raro, então tenho
que aproveitar o máximo, porque eu sei que quando a guerra
começar, tudo o que eu terei dele será frieza. Ele se tornará o
monstro, se deixará envolver em sua escuridão.
— Fico pensando no que ela fará e em quem ela atingirá.
— Não será bonito, mas alguns sacrifícios são necessários
para o bem maior.
Suas palavras me dão medo, porque eu sei que ele
realmente acredita nisso, o que significa que pessoas inocentes
serão pegas nesse fogo cruzado e poderão morrer por causa dessa
guerra que Ester criou.
— Não quero perder ninguém –— sussurro as palavras a
ele.
— Não vamos, Sunshine, tudo dará certo.
Sei que suas palavras são apenas para me dar uma falsa
sensação de que não teremos perdas.
A verdade é que não sabemos. Não sabemos o que irá
acontecer.
— Olhe para mim, Sunshine — comanda.
Ergo a cabeça, encontrando seu olhar. Caspen abaixa sua
cabeça, beijando minha testa. Fecho os olhos, deixando-me sentir
seus lábios em minha pele, deixando-me acalmar por seu pequeno
contato.
Seus lábios se afastam da minha testa, e eu abro os olhos,
encarando-o.
— Não vou deixar que nada aconteça com nossa família.
Ester não irá nos alcançar.
Aceno com a cabeça. Sinto-me emotiva demais para falar.
Logo após, volto a encostar minha cabeça em seu peito, fecho mais
uma vez os olhos e relaxo meu corpo, sua mão acariciando minhas
costas. Sua carícia me relaxa, minha respiração fica uniforme com a
sua. Cansada e emocionalmente esgotada, caio no sono.
Caspen
Observo o corpo de Lori se acalmar e sua respiração
ficando cada vez mais leve. Ela resmunga baixinho e se encaixa em
meus braços. O sono a leva em instantes. Com cuidado, a deixo
confortavelmente na cama, olhando-a uma última vez para então me
levantar. Visto-me sem fazer barulho e saio do quarto, indo em
direção ao escritório. No caminho, pego meu celular, enviando uma
mensagem em grupo.
“Encontrem-me em meu escritório”.
Não espero por uma resposta. Sei que está tarde, mas
preciso dos meus irmãos, temos que planejar e nos organizarmos. A
preocupação de Lori me deixou inquieto. Tenho que proteger a
família, e é o que farei.
Entrando em meu escritório, as luzes se acendem. Dou a
volta em minha mesa, sentando em minha poltrona e esperando por
meus irmãos. Carter é o primeiro a chegar, logo depois entra
Lorenzo e Heitor.
— O que é tão importante assim, que não pode esperar até
amanhecer? — Heitor me olha, irritado.
Parece que não gostaram de serem chamados no meio da
noite. Não que eu me importe com isso, não é problema meu.
Suspiro, passando as mãos pelos cabelos. Estou frustrado,
cansado e louco para voltar para a cama e me deitar ao lado de
Lori, mas tenho um dever com a família, com a máfia, com meus
homens, tenho que proteger a todos.
Olho para os meus irmãos, que estão esperando meu
pronunciamento. Carter dá aquele olhar entediado. Encaro-os em
silêncio. Sei que irei irritá-los, mas não gosto quando sou
questionado. Se os chamei aqui, é porque tenho algo importante
para dizer, não para que me questionem.
— Detesto quando faz isso. — Lorenzo comenta.
— Detesto quando sou questionado — rebato, olhando-os.
— Tudo bem, não o questionarei mais. — Heitor diz. —
Agora pode nos apreciar e nos dizer o que tem para falar?
— Quero que peguem suas coisas e se mudem para a casa
principal — comando, dando a eles meu olhar não me questione. —
Lorenzo, preciso que reúna nossos homens, precisamos de
proteção, muita proteção. Não sabemos quando e por onde Ester
atacará, então quero o máximo de proteção. Redobre a proteção do
clube, mande mais homens para o refúgio de mulheres abusadas de
Amélia e também para a casa dos pais de Lori. Não quero dar
chance para Ester. Ela não terá brecha.
— Isso é tudo? — Lorenzo pergunta.
— Não. Quero bloqueio total, ninguém sai e ninguém entra.
Quero alerta total. Ester é influente, ela tem aliados, precisamos ser
cuidadosos.
— Concordo. Ester se mostrou bem louca, ela faz qualquer
coisa quando está em desespero. Não quero Sophia e meus filhos
na mira dela. — Carter se pronuncia. — Se essa mulher tentar
chegar perto da minha família, vou acabar com ela. — Ele me
encara, com um olhar que acusa que realmente matará Ester se ela
ousar chegar perto da sua família.
De todos na minha família, Carter é o único que não me
teme. Ele me respeita, mas temer, não. Carter não se importa com
regras e consequências, ele é o mais parecido comigo, e o respeito
por isso.
Aceno para ele.
— Comecem a se mover, quero tudo resolvido até o
amanhecer — comando.
Não dou a eles muito tempo, porque não sabemos quando
Ester agirá. É mais fácil colocar seguranças em uma casa só,
tornando-a uma fortaleza. Cada parte da propriedade será protegida
e guardada. Não quero buracos. Não vou dar nada a Ester, ela não
terá escapatória.
Esfrego os olhos, sentindo-me cansado demais. Essa merda
toda com Ester está ficando fora de controle. Saindo do escritório,
volto para o meu quarto, para acordar Lori. Um pequeno sorriso se
forma em meus lábios ao vê-la. Seu corpo está enrolado nos
lençóis, seus cabelos derramados entre dois travesseiros, ela está
toda jogada na cama. Não me contendo, pego meu celular e tiro
uma foto.
— Ei, Sunshine — sussurro, tirando alguns fios de cabelo do
seu rosto.
Lori resmunga algumas palavras incoerentes, mas não
acorda, apenas dá um tapa em minha mão. Mordo os lábios,
contendo a risada.
— Ei, amor, acorde, precisamos ir — digo um pouco mais
alto.
Lori se vira, expondo seus seios. Ela pisca algumas vezes
ao abrir os olhos, bocejando, e me encara.
— Aconteceu alguma coisa? — resmunga.
— Não, amor, mas vamos ficar na casa principal junto com
todos, é para a proteção.
Ela senta na cama, ainda sonolenta. Esfregando os olhos,
tira o lençol do corpo e se levanta. Entrego a ela sua roupa.
Lori se veste em silêncio. Sei que está preocupada, o
pequeno vinco em sua testa denuncia.
Vestida, Lori para na minha frente, olhando para mim. Dou
um passo em sua direção, envolvo meu braço em sua cintura e a
puxo para mim.
— Não precisa ficar preocupada, Sunshine, tenho tudo sob
controle. — Beijo o vinco em sua testa.
— Vamos acabar com ela. — Um pequeno sorriso se forma
em seus lábios.
— Sim, nós vamos. Juntos. — Beijo seus lábios.
Porra, essa mulher!

Horas depois...
Não foi fácil reunir todos os meus homens em pouco tempo,
mas Lorenzo conseguiu. Todos estão em seus devidos lugares,
prontos para qualquer ataque. O clube e o refúgio estão seguros,
meus primos que moram em outros Estados estão em alerta, todos
prontos para qualquer ataque de Ester.
Não que eu ache que ela atacará outro lugar, seu foco é
Lori. Ela atacará os mais próximos a ela.
— O que faremos agora? — Heitor me olha com
expectativa.
Sorrio.
— Nós esperaremos.
— Você quer esperar? — Lucas pergunta.
Ele é sempre o mais irritadinho e mais afobado, sempre
quer agir por impulso, parece que não lhe ensinei nada.
— Sim, eu fiz a minha jogada, enviei a cabeça do seu
amado, agora vamos esperar.
— E se ela não fizer nada? — Lucas questiona.
Olho bem para ele. Cruzo minhas pernas, bem relaxado. Eu
sei o que estou fazendo, estudei Hernández por todo esse tempo,
eu já tinha ouvido falar dele há muito tempo. Ele não era um
problema até que se tornou meu maior problema, e quando
aconteceu, passei a observar. Quando é atacado, ele ataca de volta.
Ester vai atacar, e é só uma questão de tempo.
Não que eu tenha todo o tempo do mundo, mas vou esperar,
valerá a pena.
— Ela irá, Lucas. E nós não podemos atacá-la, não
podemos ir atrás dela, ela precisa agir, ela tem que nos dar uma
brecha, e assim mostraremos ao mundo que Ester é Hernández.
Agora cale a boca, você está me cansando.
Ele rola os olhos.
Não sei o que está acontecendo com Lucas, mas sei que
tudo é sobre Audrey, ele está assim por causa dela.
Meu celular vibra em cima da minha mesa.
— Sim? — Atendo, sabendo que é um dos meus
seguranças.
— Senhor, nós temos um grande problema no portão
principal. — Sua voz treme.
— Qual o problema?
— Senhor, Ester está aqui, e não é bom. — Ele sussurra.
Não sinto medo em sua voz, mas sim nojo, raiva, ódio. — Ela não
está sozinha, há uma criança com ela.
— Estou indo.
Olho para os meus irmãos com um pequeno sorriso nos
lábios. Encerro a chamada, em seguida, colocando o celular em
meu bolso.
— Parece que temos uma visita no portão da frente — digo
a eles.
— Porra!
— Caralho!
— Já não aguentava mais esperar. — Esse é Carter.
— Vamos, é feio deixar nossa principal convidada
esperando — comento, sorrindo.
Do lado de fora do meu escritório estão Lori e Amélia.
Estreito os olhos, balançando a cabeça.
— Não — digo.
Um único comando, mas as duas apenas me olham,
entediadas.
— Sunshine...
— Caspen...
À nossa volta, toda a nossa família nos cerca. Droga!
Parece que Ester será recepcionada em grande estilo, e essa é uma
situação perigosa demais. Não sabemos o que ela fará.
— Vamos acabar logo com isso.
Capítulo Trinta e Quatro

Lori
Nada me preparou para o que vejo. Eu sabia que Ester é um
monstro, mas o que está bem na minha frente é pior do que ser um
monstro. Não há palavras para descrever o que Ester realmente é.
É desumano, bárbaro.
Aparto o braço de Caspen e o sinto tremendo. Ele também
está perplexo com a situação. Pisco algumas vezes e passo a mão
em frente ao rosto, como se a imagem à minha frente fosse minha
imaginação, mas não é.
Meu peito dói demais, as lágrimas embaçam minha visão.
Ester está bem à nossa frente, com minha irmã ao seu lado.
O horror é que minha irmãzinha está com uma coleira de ferro em
volta do pescoço, seu corpo está magro e machucado. A pequena
está tremendo. Seu choro parte meu coração.
Dou um passo à frente para chegar até ela, mas Caspen
segura meu braço.
— Deixe-me ir — sussurro entredentes.
— Não. — Sua voz é firme e forte, não deixando brecha
para discussão.
Olho para ele, estreitando os olhos. Caspen não me olha,
seu olhar está focado à sua frente, em Ester e minha irmã. Ele
segura minha mão em um aperto. Controlo-me o máximo que posso
para não correr até Ester e pegar minha irmã.
— Aí está. Olá, querida filha. — Ester sorri para mim.
Ela não está nem um pouco afetada com o que está
acontecendo à sua volta. Ao meu ver, ela está confiante demais de
que sairá daqui, e é o que me preocupa.
Há homens armados de todos os lados, Caspen está pronto
para uma guerra, e mesmo assim, Ester se comporta como se ela
estivesse no controle de tudo.
— O que você quer, Ester? — Caspen pergunta.
Prendo a respiração quando ela joga minha irmã aos seus
pés. América chora, envolvendo seu corpo em suas mãos, como se
estivesse se protegendo.
— Não! — grito, desesperada. — Solte-me, Caspen!
— Lori...
— Deixe-me pegá-la! — imploro.
Mordo meus lábios, tentando segurar o choro, mas é
impossível, não aguento. Meu corpo treme quando um pequeno
soluço escapa dos meus lábios.
— Não posso, Sunshine. Se controle. — Caspen me encara.
Seu olhar... Deus! Seu olhar está morto, não há nada lá!
Sinto sua frieza. Respirando fundo, aceno com a cabeça, deixando-
o lidar com tudo.
Tudo o que quero é tirar minha irmã daquele monstro, cuidar
dela, apagar todas as memórias ruins.
Como uma mãe pode fazer isso com a própria filha?
Minha mão vai automaticamente para a minha barriga.
Enquanto eu quero gerar o próprio filho e não posso, Ester
gerou três e foi incapaz de dar amor. Parte meu coração saber que
minha irmã nasceu desse monstro, desse ser desumano. Ester não
merece ser mãe!
Olho para Ester, que tem um grande sorriso nos lábios. Seu
pé direito está em cima da minha irmã, pisando nela.
— Que bom que perguntou o que eu quero, Caspen. — Ela
sorri.
Empurrando América com o pé, cospe ao lado da filha.
— Quero uma troca. — Seu olhar se concentra em mim. —
Lori por essa pirralha. — Sorri.
— E o que faz você pensar que aceitarei a troca? — Caspen
pergunta, cruzando os braços, provavelmente querendo mostrar que
não está nem um pouco afetado pelo que está acontecendo.
Porém, eu sei a verdade. Há um leve tremor em seu corpo,
ele está tenso. Isso é o suficiente para eu saber que ele não gosta
do que está vendo e está se controlando para não atacar. Caspen
está por um fio.
— Você está cercada, Ester. — Caspen sorri para ela.
— Querido, eu vim preparada e conheço muito bem a ética
de vocês. Eu quero Lori, e em troca, vocês podem ficar com ela.
— E se eu não aceitar?
— Vou vendê-la. — Ester diz com um grande sorriso.
Minha respiração fica presa em minha garganta.
— Você sabe quantos homens gostam de garotinha assim?
— acrescenta. — Tão pequena, tão apertadinha. Ela será treinada
para ser uma boa escrava, um coisinha dessa. — Lambe os lábios.
Nojo! Sinto nojo de suas palavras, de saber que ela está
certa! Realmente há homens nojentos a ponto de abusarem de uma
criança.
Percebo que o corpo de Caspen fica ainda mais tenso, mas
ele não demonstra. Seu olhar está em branco.
Esse é o verdadeiro homem da máfia, o homem que
conquistou e que reina até hoje. Eu sei que ele quer acabar com
Ester.
— Eu vou — digo, encarando Ester.
— Não. — Caspen diz, olhando-me.
Ester sorri.
— Eu sabia que viria, querida. — Rolo os olhos.
— Eu disse não. — A voz de Caspen é fria, mas ele está
com raiva, muita raiva. — Você não vai a lugar nenhum. — Encara-
me.
O jeito que ele me olha... Por um segundo vejo medo em
seu olhar, mas ele é rápido em esconder. Caspen não pode
demonstrar fraqueza agora, todos precisam dele, do chefe da máfia,
do Caspen Callahan.
— Caspen... — Olho-o nos olhos, dando um pequeno
sorriso — eu preciso ir, amor, preciso fazer isso.
— Não, você não precisa. Meus homens podem acabar com
tudo. Só precisa do meu comando, e tudo está acabado.
Balanço a cabeça.
— E depois? — sussurro. — O que acontecerá depois,
Caspen? Eu preciso ir, preciso de respostas, quero saber o motivo
de sua obsessão comigo, quero respostas. Caspen, a Ester é a
única que pode dá-las a mim. — Ergo minha mão para o seu rosto,
acariciando sua bochecha e sentindo sua barba áspera em minha
palma.
Caspen fecha os olhos. Um pequeno suspiro deixa seus
lábios.
— Não posso perdê-la.
Sorrio para ele. Encosto minha testa na sua, fechando os
olhos. Sinto sua mão em minha nuca. Ele me mantém por perto.
Seus lábios encostam nos meus, dando-me um beijo casto.
— Não posso perdê-la, Sunshine.
— Você não vai, não vai me perder, Caspen.
Caspen me segura mais apertado. Abro os olhos,
encontrando seu olhar concentrado em mim.
— Quando você for, ela irá fugir, ela irá levá-la para o mais
longe possível! — rosna.
Aceno com a cabeça.
— Eu sei disso.
— Será difícil achá-la, Sunshine. Ela irá dificultar para nós.
— Sei disso também, mas, Caspen... — Sorrio — você
saberá minha localização.
Sei que nossa conversa está demorando, mas não me
importo. Nesse momento eu só quero tê-lo mais um pouco. É
egoísmo da minha parte, todos estão nos esperando, e a cada
minuto que se passa, as coisas vão ficando mais tensas; mas eu só
quero um pouco mais de Caspen, um pouco mais desse contato, de
suas mãos em mim, de sua voz, só um pouco mais dele, de nós.
— Como? Como irei saber sua localização?
Sorrio e encosto minha boca em sua orelha.
— Tenho um chip localizador em mim. Meu piercing
microdermal nas costas é um chip localizador. Amélia pode explicar
melhor quando eu for.
Caspen me olha por alguns segundos, perplexo, balançando
a cabeça. Um sorriso se forma em seus lábios.
— Porra, mulher! — ruge, rindo. — Você sabe como me
surpreender!
Dou de ombros.
— O que posso dizer? — Pisco para ele.
— Tudo bem, vamos fazer isso. — Ele acena com a cabeça.
Viro-me para Ester, que nos olha com seu olhar odioso.
— Eu vou, nós aceitamos a troca.
Atrás de nós, todos suspiram. Acho que ficaram surpresos
com a aceitação de Caspen. Mas o que eles não sabem é que eu
não precisava da aprovação dele. Faria a troca de qualquer jeito.
— Foi o que pensei, você sempre faz a coisa certa. — Ester
sorri para mim.
Ela pega minha irmã, a levantando do chão. Seu
choramingo faz com que eu me encolha. Dói em mim vê-la assim,
seu olhar assustado, as lágrimas em seus olhos.
— Venha, querida, vamos para casa. — Ester estende a
mão.
— Solte-a primeiro — comando.
Ester levanta uma sobrancelha, me questionando.
— Solte-a, e eu irei.
Rolando os olhos, ela solta América, a empurrando para
frente, mas minha irmã não sai do lugar. Abaixo-me para dar a ela
mais segurança.
— Venha, querida. — Sorrio, estendendo minha mão para
ela.
América se encolhe, com medo. Ester a empurra mais uma
vez, fazendo-a cair. Minha irmã solta um pequeno grito, seu corpo
treme, e eu choro junto com ela.
— Ande logo, não tenho todo o tempo do mundo! — Ester
diz, com raiva.
América corre em minha direção, mas para na minha frente.
Ela me olha assustada. Suas bochechas estão sujas.
— Olá, princesa. Eu sou Lori, e está vendo aquelas pessoas
atrás de mim? — Minha voz é suave, bem calma, mostrando que
não vou machucá-la.
América acena com a cabeça. Seus olhos vão para a minha
família. Todos estão com lágrimas nos olhos, olhando-a com tanto
amor e carinho.
— Eles são sua família e estão loucos para conhecê-la. Não
precisa ter medo, eles vão cuidar bem de você. Agora quero que
seja forte e vá até eles, tudo bem?
América acena para mim. Tiro um fio de cabelo do seu rosto,
colocando-o atrás de sua orelha. Ela se encolhe um pouco ao meu
toque, mas sei que é só reflexo do que Ester lhe fez.
— Estarei de volta logo, eu prometo a você. — Puxo-a para
os meus braços.
Ela fica tensa, mas não me importo. Tudo o que quero é
correr com ela para dentro, levando-a bem longe de Ester, mas
quero respostas.
— Eu te amo, irmãzinha. — Beijo sua testa e a entrego para
Caspen.
Meu homem a pega em seus braços. Reconheço seu olhar
de amor, compaixão, tristeza e ódio, muito ódio.
— Cuide dela — peço a ele.
— Eu te amo — sussurra.
Sorrio para ele, em seguida olho para Amélia.
— Você sabe o que fazer. — Ela acena para mim.
Dando as costas para a minha família, caminho até Ester,
ficando ao seu lado.
— Vamos logo com isso.
Caspen
Caralho! Quando ela disse que iria, eu vi quão firme estava.
Ela já tinha se decidido e não havia nada que a fizesse mudar de
ideia.
América treme em meus braços. Passo minha mão por seus
cabelos, tentando acalmá-la.
— Shh, está tudo bem — sussurro para ela.
América me agarra, suas mãozinhas segurando-me como
se eu fosse seu colete salva-vidas.
Observo Lori se afastando com Ester e seus homens. Meu
peito se aperta em saber que ela está com um monstro. Uma mulher
sem alma.
Trinco meus dentes, tentando controlar toda essa raiva que
emana do meu corpo, essa fúria que quer explodir.
Ester acaba de se condenar. Ela pensa que está um passo à
frente, e esse foi o seu erro. Lori estava preparada para ela, porra!
Minha Sunshine me surpreendeu! Sorrio, orgulhoso de sua atitude.
— Querido, ela se foi. — Mamãe diz, ao meu lado.
— Nós vamos recuperá-la. — Ela sorri para mim.
— Sim, eu sei disso, querido. — Mamãe sorri para mim. —
Vamos para dentro, precisamos de um plano.
— Tudo bem. A Senhora pode cuidar dela? — pergunto,
tentando entregar América à minha mãe.
Mas parece que América tem outro plano, porque ela não
desgruda de mim, e quando tento passá-la para a minha mãe,
chora, balançando a cabeça.
— Ei, está tudo bem, não vou deixá-la — digo, tentando
acalmá-la.
Mamãe sorri para mim. Balanço a cabeça.
— Vou preparar comida e um banho para ela. Sophia foi
pegar algumas roupas que não cabem mais em Ariel para vesti-la.
Sophia e Lauren desceram com as meninas. Acho que ela ficará
mais confortável quando vir que há crianças aqui, ajudará.
— Obrigado — sussurro.
Com América em meus braços, caminho para a sala de
reuniões, onde alguns dos meus homens estão me esperando.
Meus irmãos me olham surpresos. Encolho os ombros.
O que eu posso fazer? América está com medo, ela não
conhece ninguém nesta casa. A única mulher que ela conhecia era
um monstro. Por enquanto sou o único em quem ela confia. Ela só
precisa de tempo para se acostumar com tudo.
— O que faremos agora? — Maddox pergunta.
Olho para ele, e um sorriso se forma em meus lábios. Meus
irmãos conhecem esse sorriso.
— Nós iremos trazê-la de volta e colocar tudo para baixo...
Capítulo Trinta e Cinco

— Nós iremos trazê-la de volta e colocarmos tudo para


baixo.
— E como faremos isso? — Emílio pergunta, olhando-me
atentamente. — Nós nem sabemos para onde ela foi levada. — Seu
tom aumentando, o que faz com que América se encolha em meus
braços.
Um suspiro sai dos meus lábios. Olho bem para Emílio,
pedindo-lhe silenciosamente para calar a maldita boca.
Não conseguirei resolver nada com América em meus
braços. Sei que ela só confia em mim nesse momento, mas preciso
que ela fique com minha mãe. Meus homens estão furiosos, tê-la
por perto só fará com que seu medo aumente.
— Lorenzo, tome o controle de tudo até eu voltar —
comando a ele.
A porta da sala de reuniões se abre e Amélia entra. Ao me
ver com América, ela dá um pequeno sorriso triste.
— Mamãe disse para levá-la para cima. As crianças estão
com ela — informa.
— Já volto. — Saio da sala, deixando meus homens ao
comando de Lorenzo.
Com América em meus braços, subo a escada até a ala das
crianças. Mamãe é a primeira a me ver. Caminho até o centro da
grande sala de brinquedos, com cuidado, em seguida me ajoelho,
colocando América em pé, de frente para mim. Ela me olha com
expectativa. Sorrio.
— Ei, princesa. — Minha voz é calma e baixa, pois não
quero assustá-la.
Olho para o seu pescoço.
— Primeiro nós vamos tirar isso aqui de você.
Ergo minhas mãos com cuidado, em seguida, abrindo o
fecho e tirando a argola de seu pescoço. América treme. Controlo
minha respiração para não demonstrar a ela minha raiva, meu ódio.
Seu pescoço está vermelho, cheio de cortes e bolhas. Atrás
de mim, mamãe, Happy, Lauren e Sophia soluçam. Olho para elas.
— Nossa! Precisamos cuidar dela, Tio Caspen. — Ariel diz,
vindo em minha direção. — Olá. Eu sou Ariel e nós vamos ser
amigas. — Sorri para América, que a encara. — Você fala? —
Estreita os olhos.
— Ariel, querida, ela está assustada. — Sophia diz para a
filha.
— Ela não precisa ficar com medo da gente, mamãe, somos
família. — Ariel rola os olhos. — Olha, essa é Hope e Maya, elas
são minhas primas. — Alterna o olhar entre América e as outras
crianças. — Você quer ficar com a gente? Vamos comer e depois
brincar. — Estende a mão para América.
Prendo a respiração, esperando para ver o que América
fará. Ela olha para mim, seus olhos tristes, mas ao mesmo tempo
curiosos. Ela quer ir com Ariel, mas está com medo.
— Posso ir? — pergunta a mim.
Dando um sorriso, eu aceno com a cabeça.
— Sim, querida, você está segura aqui — incentivo-a.
— Não mais isso? — Aponta para a coleira em minhas
mãos.
— Não. Nunca mais.
Respiro aliviado quando América coloca suas mãozinhas
sobre a de Ariel.
— Cuidem dela, chamem o médico, dê a ela um banho e o
que comer — comando para a minha mãe, que acena com a
cabeça.
— Fique tranquilo, filho, América será cuidada. — Mamãe
coloca a mão em meu ombro direito, dando-me um pequeno sorriso.
— Agora traga sua Sunshine de volta. — Aceno para ela.
Dando uma última olhada em América, saio da sala das
crianças e volto para a sala de reuniões, onde todos me esperam.
Está na hora de começar a planejar a guerra. Ester cavou a
própria cova, e está na hora de enterrá-la.

Lori
Olho para Ester. Pergunto-me o que ela tem planejado para
mim e para onde está me lavando. Quando fizemos a troca, Ester
jogou um celular fora e me revistou. É claro que ela não encontrou
nada. Ela nem imagina que seu fim está chegando.
Um pequeno sorriso se forma em meus lábios. Ester está
tão confiante, tão cega, que não percebe que essa troca foi fácil
demais. Ela acha que Caspen realmente me trocaria por uma
criança.
Eu quero respostas, quero saber o que ela tem contra mim,
o porquê do seu desespero em me ter. Do que Ester tem medo?
Ah, ela está com medo, medo de alguém, isso eu tenho
certeza. Seu desespero incida medo, muito medo, e saber disso traz
uma grande satisfação em mim.
Meu corpo se enche de adrenalina com o que está por vir.
Hoje será o dia em que Hernández cairá, o dia em que tudo
acabará, o dia em que me libertarei. Ester trouxe a mim dor, raiva,
angústia. Onde ela tocava, tudo se destruía. Hoje, eu irei destruí-la.
— Por que está sorrindo? — Seu olhar está ficado em mim.
Wow! Ela está irritada.
Sorrio ainda mais, dando de ombros.
— Para onde está me levando?
Ester me avalia. Encaro-a, não dando nada a ela, apenas
um olhar calculado e um sorriso nos lábios.
— Um lugar seguro.
Viro minha cabeça para o lado, tentando olhar pela janela do
carro, mas os vidros são escuros.
— Tenho perguntas. — Ester bufa.
— Eu sei que tem.
O silêncio no carro volta a nos rodear.
Não sei por quanto tempo estamos na estrada. O carro dá
várias voltas, e tenho em mente que seja para despistar. Ester quer
ter certeza de que não estamos sendo seguidos.
— Por quê? — Viro-me para encará-la.
Ester levanta a sobrancelha esquerda, em questionamento.
— Por que tudo isso? — pergunto mais uma vez.
Ester me encara por alguns minutos. Lambo os lábios, em
nervosismo. Aperto as mãos, tentando parar os tremores. Olho bem
para a mulher à minha frente. O que ela tem contra mim? Por que
eu? Sou sua filha, e mesmo assim não vejo reconhecimento, não
vejo nada em seu olhar, em sua expressão, em sua atitude. Como
uma pessoa consegue ser assim? Pergunto-me se seu monstro foi
criado ou se ela já nasceu com ele.
— O que eu te fiz? — pergunto, buscando qualquer coisa
em seu olhar.
— Você nasceu.
Suas palavras são como socos em meu estômago. Não é
porque quero que ela me ame como mãe, pois eu já tenho uma
mãe. Dói em mim saber que essa mulher teve filhos e não os amou,
que foi dado a ela o milagre de gerar um bebê e ela não apreciou
esse milagre. Dói em mim que ela não sabe o que é amor. Um
monstro. Um ser humano sem alma. Isso é tão triste, deprimente.
— Não pedi para nascer — rebato, irritada. — Por que não
abortou?
O carro faz uma parada, as portas se abrem e sou puxada
para fora. Pisco algumas vezes, me acostumando com a vista à
minha frente.
A mansão onde estamos está escondida no meio de uma
floresta. O vento beija minha pele, fazendo com que eu trema. Os
galhos das árvores balançam de um lado para o outro, o barulho do
vento traz paz.
Fecho os olhos, esquecendo de onde estou e com que,
apenas aproveitando essa tranquilidade que sinto. Sorrio, sabendo
que a qualquer momento Caspen aparecerá com seus homens e
tudo isso terá acabado.
Meu pequeno momento é quebrado quando sou empurrada
para frente.
— Vamos, garota, isso aqui não é nenhum retiro ou passeio,
estamos aqui a negócios.
Bato em sua mão, fazendo com que ela pare de me tocar.
Seu toque me deixa enjoada.
— Não me toque! — rosno, olhando-a de cara feia.
Do lado de dentro, fico encantada com a casa. É tão clara,
tão delicada, que me deixa surpresa. Pensei que seria escura e tão
fria quanto Ester; mas não, a casa é agradável.
— O que quer dizer, que estamos aqui a negócios? —
pergunto, olhando-a.
É a vez de Ester sorrir para mim.
— Minha dívida será paga. Você, minha querida filha, é a
passagem para a minha liberdade. Você é o pagamento da minha
dívida — diz com um grande sorriso nos lábios.
Franzo a testa, em questionamento.
— Você me vendeu?! — grito. — Você é louca, porra!
Respiro fundo, tentando controlar minha raiva. A vontade
que tenho é de me jogar nela e apertar seu pescoço até que eu veja
a vida saindo de seus olhos, mas sei que seria pega, sei que seus
homens me impediriam de matá-la, e não é o momento certo. Tenho
que esperar.
— Você queria respostas, estou dando-as a você. — Ester ri
sem emoção, seu olhar é frenético. — Não a abortei porque você
era minha passagem para a liberdade.
Abro a boca, mas logo a fecho. Balançando a cabeça,
encaro Ester. Ela não está fazendo sentido algum nesse momento,
mas estou gostando do jeito em que ela se encontra. Seu olhar é
frenético, suas mãos tremem e posso ver a veia de seu pescoço.
Seu coração deve estar acelerado. Ela está com medo.
— Tem como ser mais clara? Você não está fazendo sentido
nenhum — digo a ela, cruzando os braços.
Um dos seus homens entra, ficando ao seu lado. Ele
sussurra algo ao seu ouvido, e Ester acena com a cabeça.
— Estaremos em meu escritório. Assim que ele chegar,
levo-o até nós. — Ela comanda.
— Sim, Senhora. — O homem acena com a cabeça.
— Vamos, seu novo dono logo chegará. — Ela me pega
pelo braço, arrastando-me consigo.
— Já falei para não encostar em mim! — Bato em seu
braço.
Não vejo para onde está me levando. Luto contra o seu
aperto em meu braço. Tropeço quando sou empurrada para dentro
de uma sala.
— Ah, sim, essa sala parece mais com você — murmuro.
Ester bufa.
— Quem você pensa que é para me vender?! — grito com
ela.
— Sua mãe. — Ela sorri para mim, aparentemente nem um
pouco afetada com minha raiva.
— Minha mãe? — Um riso sai dos meus lábios. — Você não
é minha mãe! Você nunca foi minha mãe! Você é um monstro!
— E você é a filha do monstro. — Suas palavras me pegam
de surpresa. — O que faz de você minha querida filha, um monstro
igual a mim. — Ergue a mão para tocar meu rosto.
Seguro sua mão, torcendo-a, o que a faz gemer de dor.
— Eu disse para não encostar em mim! — Largo sua mão, e
ela continua a gemer.
— Sua alma é tão escura quanto à minha, Lori, você sabe
disso, só tem medo de admitir.
Dou um passo à frente, ficando cara a cara com ela. Encaro-
a com nojo, despeito e puro ódio.
— Sim, minha alma é escura, e eu admito isso, mas ao
contrário de você, eu sou capaz de amar — Sorrio quando vejo o
sorriso morrer de seus lábios —, e eu sou amada de volta, eu tenho
quem me ame; e você, Ester? Quem te ama? — desdenho, ainda
sorrindo.
Sei que estou a irritando, que ela está por um fio, e é isso
que eu quero, quero que ela quebre, quero que ela enlouqueça,
quero que ela se perca.
— Ninguém a ama, Ester. — Sinto o lado direito da minha
bochecha arder com o tapa que ela me dá.
O sorriso em meus lábios aumenta quando vejo-a vermelha
de raiva.
— Pra você eu sou um objeto, mas pra mim você é um
nada. Sem valor. — Continuo a atacando.
Percebo que seu corpo treme.
— Você não tem ninguém. O único homem que amou você
está morto, minha família o matou. — Sorrio ainda mais.
Porra, isso é bom! Olhar para ela nesse momento, mostrar
que mesmo que eu esteja aqui, mesmo que ela me tenha, eu ainda
tenho meu controle, eu ainda tenho poder.
— Como se sentiu quando recebeu a cabeça do seu amante
de presente?
— Você, sua putinha...! — Ester perde o controle e se joga
para cima de mim.
Viro-me, desviando-me do seu ataque.
— Oh! Você gostava dele. — Começo a rir. — Um monstro
que acabou se apaixonando por um criado. Oh, espera, ele não era
um criado, era seu braço direito, o homem que você confiava. Agora
ele não tem nem braço e nem cabeça. — Jogo a cabeça para trás,
caindo na gargalhada.
Não consigo me controlar, eu preciso falar, preciso instigá-la,
deixá-la com raiva, eu quero um confronto, esperei muito tempo por
isso. Estamos sozinhas, não tem ninguém para nos interromper.
Não que eu vá matá-la, mas eu quero uma briga, quero descontar
nela tudo o que estou sentindo, tudo o que ela causou a mim, a dor
que ela me fez sentir. Por Audrey, por Phillipa, por América, por
Chris... Porra! Ela matou Chris, a morte dele ainda pesa em meus
ombros. Ele não merecia a morte. Por mim, eu quero essa briga por
mim. Principalmente por mim, pelo meu passado, porque eu lembro
de tudo, lembro do homem que era meu pai, o homem que me
maltratou, até que Carter o matou, levando-me para longe. Essa
briga é por mim, porque eu sei que quando Caspen a tiver, eu não a
terei só para mim. Ester será passada de mão em mão, ela irá
sofrer, e eu quero que ela sofra, mas primeiro ela será minha.
Nesse momento somos apenas mãe e filha tendo o
confronto da história, o acerto de contas. Vejo o exato momento em
que Ester se prepara para me bater. Sua mão se ergue. Não me
encolho, eu apenas me concentro nela. Não tento sair do seu foco,
eu preciso desse tapa, dessa dor, dessa adrenalina, porque quando
eu a pegar, ela não terá chance.
— Não ouse tocá-la! — Uma voz quebra o grito de Ester e a
faz congelar.
Seus olhos se arregalam. Vejo o exato momento em que
seu corpo treme de medo. Ela se encolhe aos meus olhos,
parecendo uma criancinha com medo do bicho papão.
Interessante... muito interessante.
Olho para o homem que acaba de controlar Ester com um
único comando. Meus olhos se estreitam quando o encaro. Minha
boca se abre em surpresa.
— Eu conheço você.
Capítulo Trinta e Seis

— Eu conheço você. — Ao ouvir minha voz, a atenção do


homem se volta para mim.
Fico tensa. Seu olhar se estreita ao passar pelo meu corpo.
Quando seus olhos se encontram com os meus, eles brilham, mas
logo se tornam um olhar duro, sombrio, porém não é dirigido a mim,
porque seu foco se volta para Ester, que está tremendo.
É estranho vê-la desse jeito, com medo, o olhar de pânico.
Confesso que sinto uma leve satisfação ao vê-la assim.
— Uma Callahan? Você me trouxe uma Callahan? — Sua
voz é mortal.
Esfrego meus braços. Ele é tão frio, que está me afetando.
Dou um passo para trás, tentando ficar o mais longe possível dele e
de Ester. Não quero me envolver na briga deles.
— Ela é a minha filha.
— Sua filha é a porra de uma Callahan! — O homem grita, e
Ester se encolhe ainda mais.
— Ela é minha filha, não uma Callahan. — Sua voz é
tremida, e sua cabeça se abaixa, em submissão.
Por essa eu não esperava! Não consigo controlar o riso.
Suas cabeças se viram para mim. Ops, acho que eles
ouviram meu riso.
— Sinto muito — digo com cuidado —, mas não estou
entendendo o que está acontecendo aqui. — Dou um pequeno
sorriso ao homem. — Bem, a verdade é que me dá uma grande
satisfação ver Ester desse jeito, como se fosse um bichinho
abandonado. Me sinto bem em vê-la com medo. — Olho para Ester,
dando a ela uma piscadinha.
O homem suspira, balançando a cabeça, e passa as mãos
pelos cabelos, que já estão brancos.
— Sinto muito, sou...
— Senador Armando Salvatore — termino por ele.
Armando estende a mão para mim. Coloco minha mão
sobre a dele e o cumprimento.
— Pode me explicar o que está acontecendo e o motivo de
eu estar aqui? — peço a ele.
— Você é filha de Ester? — Ele pergunta, olhando-me nos
olhos.
Seu olhar é intenso. Ele não é o tipo de homem que brinca.
Não, Armando é o tipo de homem que mata sem pena.
— Infelizmente ela me deu à luz. Minha mãe é Megan
Callahan. — Ele acena com a cabeça.
Sua mão solta a minha, e eu sinto um grande alívio. Não
gosto da sensação da sua mão na minha, não gosto da sensação
que ele traz, não é boa.
Armando se vira, pegando Ester desprevenida, e dá um belo
de um tapa em seu rosto, fazendo-a cair no chão. Meus olhos se
arregalam, porque nem eu estava esperando por essa atitude.
— Puta, inútil! — ruge, com raiva. — Você me trouxe uma
Callahan!
Ele vai até Ester para atacá-la, mas entro na sua frente,
impedindo-o.
— Não!
Seu olhar de fúria dirigido a mim faz com que meu corpo
trema, mas me mantenho firme.
— Ela é minha — acrescento.
Armando me olha com surpresa. Sei que ele pode fazer o
que quiser comigo nesse momento, porém, sou uma Callahan, não
vou deixá-lo chegar até mim. Ester é minha, ela sofrerá em minhas
mãos.
— E o que a faz pensar que ela é sua? — Cruzando os
braços, ele espera pela minha resposta.
— O fato de ela ter me deixado com um monstro de pai
quando era mais nova; o fato de ela ter matado meu noivo no dia do
nosso casamento, bem no momento em que eu caminhava até ele;
o fato de ela ter leiloado uma criança, ter tradado uma criança como
um animal... Ela é minha, só minha! — respondo, com raiva.
— Droga! — rosna. — Eu sabia que devia ter acabado com
você há muito tempo. Olha as merdas que você fez! — grita com
ela.
Coloco-me na frente dele mais uma vez.
— Será que pode me explicar o que está acontecendo aqui?
— peço a ele, ficando irritada com toda essa situação.
Aliás, onde diabos está Caspen?
— Sua mãe...
— Ester — interrompo-o.
— O quê?
— Ester. Ela é Ester, não minha mãe.
— Tudo bem. — Suspira, irritado.
Ele olha para mim, e eu balanço minha mão, em um gesto a
pedir para continuar. Um pequeno sorriso puxa o canto da sua boca.
Rolo os olhos. Ele me acha engraçada, era só o que me faltava
agora.
— Bem, você sabe que sou senador, o que você não sabe é
que gerencio o submundo do tráfico humano.
Não me controlo e começo a rir. Era só o que me faltava!
Bravo! Excelente mesmo! As coisas começam a ficar bem
interessantes por aqui!
Bem, era de se imaginar, não é mesmo? Ester leiloa
pessoas, é claro que ele estaria envolvido nessa merda.
— Não parece surpresa.
Paro de rir e o encaro.
— Minha família é mafiosa. — Levanto um dedo. — Ester
está envolvida em várias coisas nojentas e sujas. — Levanto um
segundo dedo. — E agora você está aqui para me levar com você.
— Levanto um terceiro dedo. — É claro que não estou surpresa. É
só um bônus para a minha fodida vida. Nada me surpreende.
Sei que estou sendo sarcástica, mas nesse momento não
me importo muito. Essa situação toda é hilária para mim. Olha onde
fui me meter! O que mais está por vir?
— Pode continuar, por favor — peço a ele.
— Você tem senso de humor, não herdou dessa daí. — Olha
com ódio para Ester.
— Ela não me criou. Continua, continua, quero saber onde
tudo me envolve.
— Ester é uma das minhas escravas.
— Eu era! — Ester diz, com raiva.
Armando dá a ela um olhar mortal, o que a faz calar a boca.
— Escrava? — pergunto, querendo ter certeza do que
acabo de ouvir.
Quando Armando acena com a cabeça, bile sobe à minha
garganta.
— Eu já tinha um comprado para ela, Renné Hernaz, mas a
vadia fugiu no dia da compra, me dando um grande prejuízo. Ela
queria liberdade, se livrar de mim, como se pudesse. Eu sou o dono
dela e mais algumas centenas de mulheres, não há vida sem mim.
— Dá um sorriso voltado para Ester.
Meu corpo treme, minha pele se arrepia. Aí está o homem
do submundo. Quando ele entrou na sala, eu só via o senador, um
homem sério de negócios, um homem de respeito, frio, cruel,
temido, mas um homem. Agora, com esse sorriso que ele dá a
Ester, eu vejo o que ele realmente é, vejo o demônio por trás do
homem.
— Eu a cacei. Ester conseguiu se esconder de mim
durantes anos, mas sou um homem persistente, e quando minhas
presas fogem, eu amo sair para caçá-las. Encontrei Ester, a levei de
volta, e ela se casou com Renné; mas, sabe, Lori, ela te escondeu
de mim, ela não me contou que tinha tido uma filha. — Sorri,
passando os olhos pelo meu corpo. — Mas Ester queria sua
liberdade, ela queria ser livre de mim, de Renné, ela queria poder,
então ela fez um acordo comigo.
Suspiro, já sabendo o que ele vai dizer.
— Ela fez uma troca, ela me daria a você e você a libertaria
— murmuro.
— Sim, ela me mostrou uma foto sua. Eu sabia que seria
uma boa venda, você me traria um bom dinheiro. — Ergue a mão,
passando seu dedo indicador em minha bochecha.
Não mostro quão enojada estou com seu toque, não o deixo
ver meu tremor, continuo firme, encarando-o.
— Imagine a minha surpresa quando ela veio até mim no dia
em que eu a venderia sem você. Seu pai estava morto e você tinha
sumido. — Balança a cabeça. — E mais uma vez eu tive uma
grande perda. Eu ia encontrá-la, mas Ester sabia que se eu a
achasse, ela continuaria presa a mim, então, disse-me que iria
encontrá-la. Aceitei esperar. Ela vem te procurando há anos. Matou
o marido, pensando que se livraria de mim, como se fosse possível.
Teve mais duas filhas, pensando que eu as aceitaria. Não, Lori, eu
queria você, você foi-me prometida, e eu esperei, esperei, e agora
tudo foi em vão. — Estala a língua.
Tirando seu dedo de minha bochecha, ele dá um passo para
trás. Suspiro aliviada.
— Não, não. Você me prometeu, quero minha liberdade,
leve-a. — Ester implora.
— Calada! — grita Armando, dando mais um tapa em Ester.
Dessa vez não o impeço. Saber que ela teve Phillipa e
América para vendê-las, usá-las como objetos, deixá-las nas mãos
de pessoas como Armando, me traz fúria. Nunca senti antes uma
fúria tão grande, tão viva, tão ardente dentro de mim.
Fecho minhas mãos em punho, apertando-as com força, a
fim de controlar minha raiva, minhas unhas cravam a palma da
minha mão. A picada de dor me acalma um pouco.
Armando segura Ester pelo queixo, levantando-a do chão.
Lágrimas escorrem de seus olhos.
— Você me trouxe uma Callahan! Sua filha é uma Callahan,
Ester! Você, porra devia ter me falado quem ela era! — Soltando
seu queixo, ele a joga no chão, em seguida, chutando-a na barriga.
— Demorei anos para ficar fora do radar dos Callahan’s, anos para
ter uma boa relação com eles, e agora, por sua causa, tudo está
acabado! — Bate nela mais uma vez.
— Pegue-a e a leve, eles não sabem nada de você, não
sabem onde ela está! Apenas a leve e me deixe! — Ester grita,
tentando se defender.
Limpo minha garganta, a fim de fazer com que os dois me
olhem.
— Sobre isso... — Não termino minha fala, pois do lado de
fora, um grande estrondo é ouvido.
Ouço gritos e tiros. Olho para Ester, dando-lhe meu melhor
sorriso.
— Hoje teremos nosso acerto de contas, Ester.
Caspen
Com Amélia ao meu ouvido, guiando-me em cada passo
que dou, acabo com os homens que entram em meu caminho.
Carter tem a minha frente e Lorenzo fica atrás, assim sou protegido
por todos os lados.
Entrar na casa protegida de Ester não é fácil, mas estamos
em número maior, temos mais poder, mais força e estratégia. É fácil
formar um plano depois de termos a localização de Lori, o problema
é que Ester está bem protegida.
Esta noite será a noite onde tudo acabará.
— Vire à esquerda. Há uma grande porta de madeira,
parece ser um escritório. Tem três pessoas dentro da sala, duas
mulheres e um homem. Há dois homens na porta, guardando-a. —
Amélia diz, pelo ponto em meu ouvido.
Aceno com a cabeça para Carter. Os dois homens na porta
são mortos rapidamente por ele, que abre caminho para mim. Chuto
a porta, arrombando-a. Suspiro aliviado ao ver Lori. Passo um
rápido olhar pelo seu corpo, certificando-me que ela está bem. Viro-
me em direção a Ester, mas sou surpreendido quando vejo Armando
Salvatore.
— Ora, ora, o que temos aqui! — Sorrio. — Uma grande
surpresa, não é mesmo?
Armando suspira, acenando com a cabeça.
— Caspen. — Faz uma reverência com a cabeça.
— O que está fazendo aqui, Armando? — Cruzo os braços
ao esperar por sua resposta.
Seu olhar alarmado vai em direção a Carter e Lorenzo.
— Eles não vão matá-lo — digo a ele, que relaxa um pouco.
— Agora me diga o que está fazendo aqui. E não me faça perguntar
mais uma vez — aviso, com meu tom ameaçador.
Não me importo que ele seja um senador e um homem do
submundo do tráfico humano. Ele não é nada comparado a mim e à
minha organização. Sim, Armando é poderoso e temido; mas e eu?
Eu sou o Diabo, é assim que eles me chamam.
— Apenas um mal-entendido — responde.
— Veja, querido... — Lori diz, chegando a mim — Ester está
devendo a Armando, e adivinha quem é o pagamento de sua
dívida? — Sorri para mim.
Meu corpo fica tenso, já sabendo a resposta para a sua
pergunta. É por isso que Ester a queria tanto. Se alguém faz uma
dívida com Armando, é melhor pagá-la, senão se torna dele, uma de
suas escravas.
— Parece que minha mãe aqui quer me dar a Armando em
troca da liberdade dela. — Lori sorri para Ester. — O que acha,
amor? Você concorda com essa troca? — Olha para mim, dando
uma piscadinha.
Olho para Armando, erguendo uma sobrancelha em
questionamento. Suspirando, ele passa as mãos pelos cabelos
brancos.
— Eu não sabia que a filha de Ester é uma Callahan. Se eu
soubesse, não teria continuado com isso — explica.
— Ela não é uma Callahan, ela é minha filha! Leve-a e me
dá a porra da minha liberdade! — Ester grita, em desespero.
Em uma tentativa vã, Ester corre, pegando uma arma
debaixo da sua mesa e apontando-a para mim. Sorrio para ela, nem
um pouco afetado.
— O que você vai fazer, Ester? Atirar em mim? —
desdenho, dando meu riso sem emoção.
Vejo um pequeno tremor em sua mão, mas logo ela se
controla, me fitando.
— Se for preciso, sim, eu atirarei.
— E o quê? — pergunto, dando um passo para frente. —
Você está em desvantagem, Ester, largue a arma — comando.
Balançando a cabeça, ela ergue a arma, apontando-a para o
meu rosto. Mordo o lábio, irritado com essa situação. Ester está
realmente fazendo-me sair do meu controle. Não quero cair na
escuridão agora, preciso ter meu equilíbrio para o que tenho
planejado.
— Não seja tola — aviso-lhe.
Do lado de fora do escritório, a guerra continua. Há tiros,
sons de lutas e gritos, muitos gritos, mas não me importo. Meu foco
está em Ester.
— Se você for atirar, é melhor atirar logo, estou perdendo a
paciência — aviso-lhe.
Para a minha surpresa, ela sorri para mim, e um brilho louco
passa por seus olhos. Ela vai atirar.
Meu corpo se prepara para desviar do tiro e pegar a arma
de sua mão, mas Ester surpreende a todos quando no último
momento desvia sua mira. Ela atira, porém não é em mim. O alvo de
Ester muda, ela atira em Lori.
— Porra!
Capítulo Trinta e Sete

Lori
Ela atirou! A cadela atirou em mim. Ninguém estava
esperando que ela mudasse seu alvo no último minuto. Eu com toda
a certeza não estava esperando.
Sinto o impacto em meu braço. Não sinto a dor de imediato
porque estou pra lá de surpresa. Tropeço um pouco para trás, mas
sinto Lorenzo me segurar. Olho para Ester de boca aberta. Que
vadia! A dor queima meu ombro. Minha visão embaça com as
lágrimas, em uma mistura de dor e raiva.
— Porra! — Caspen esbraveja.
Vejo-o pular em Ester, tirando a arma de sua mão e
jogando-a para Carter, que a pega, guardando-a em sua cintura logo
após.
Caspen a entrega para Lorenzo, que me solta para segurá-
la.
— Sunshine, você está bem? — O olhar dele é de pura
preocupação.
Caspen observa meu ombro. Sangue escorre pelo meu
braço, deixando-me toda suja e pegajosa.
— Estou bem, só dói como uma cadela, mas minha raiva é
maior.
— A bala atravessou, então não está correndo perigo. —
Observo Carter tirar a camisa, em seguida a rasgando e
entregando-a para Caspen, que a enrola em meu ombro para
estancar o sangue.
— Caspen, eu vou matá-la! — grito para ele. — Ela atirou
em mim, essa vadia vai pagar! — digo a ele, irritada.
Caspen sorri para mim, dando um aceno.
— Ela será sua, amor. — Beija minha testa com carinho.
— Ela é sua? — Armando pergunta, olhando para nós dois.
Eu tinha esquecido que ele ainda está aqui.
— Sim, ela é minha. — Caspen responde, com um olhar
ameaçador.
Armando levanta a mão, em sinal de rendição.
— Merda! Essa mulher é louca! — Balança a cabeça. —
Não acredito que ela me trouxe uma Callahan! A mulher do chefe!
— exclama.
— Temos um problema, Armando? — Não perco a ameaça
na voz de Caspen.
— Não, nenhum, não quero me envolver. Ester me devia,
mas agora sua dívida será sua morte. Acabe com ela. — Seu olhar
não está em Caspen, está e mim.
— Eu vou — digo a ele, que sorri, dando um pequeno
aceno.
— Caspen, será que pode pedir a seus homens para não
me matarem? Não quero sair daqui em um caixão. — Armando
pede a Caspen.
— Vamos sair daqui juntos. Fique ao meu lado, assim meus
homens saberão que você não é uma ameaça. Mas não tente nada,
Armando. Meus homens não hesitarão em matá-lo.
Merda! Começo a me sentir fraca e cansada demais. A dor
em meu braço está começando a piorar. Aperto o braço de Caspen.
Ele olha para mim, seu olhar escurece. A raiva está estampada em
seu rosto. Seu olhar passa pelo meu corpo, parando em meu braço.
É tão intenso, que me deixa sem fôlego. Minhas pernas ficam
fracas, perco o equilíbrio, mas Caspen me segura em seus braços.
— Droga! — esbraveja. — Lorenzo, tome a frente, avise aos
nossos que estamos saindo. Carter, leve Ester, quero que seus
homens vejam que nós a temos — comanda. — Está na hora de
todos verem quem eu sou.
O modo com que ele se comporta muda, Caspen se
transforma no monstro que todos temem. Olho para ele com
admiração. Esse é o homem que eu amo, todo ele, o bom e o mau,
aquele que todos temem e respeitam.
Ninguém diz que Caspen tem um lado diferente, um lado
amoroso e preocupado. Sinto-me extasiada ao vê-lo demonstrar
isso sem ter medo do que as pessoas irão dizer. O lado que ele
escondeu durante tantos anos. Saber que ele é capaz de amar, de
me amar, é como chuva em uma seca, ou seja, um milagre.
Minhas mãos formigam para tocá-lo, para senti-lo, mas
tenho que me controlar, me manter firme, porque é isso que ele
precisa nesse momento, que eu seja fria e forte, que eu mostre
respeito, mostre que eu sou sua rainha.
— Você está bem, Sunshine? — Sinto sua respiração ao
meu ouvido.
Meu corpo treme ao ouvir o som rouco e forte de sua voz.
Fecho os olhos, respirando fundo, a fim de controlar a sensação de
tê-lo por perto.
Como posso ficar excitada nesse momento? Meu braço dói
demais, me sinto fraca e pronta para ir para casa, e mesmo assim,
meu corpo corresponde a ele.
— Sim, estou bem.
Acenando com a cabeça, Caspen me envolve em seus
braços.
— Amélia, avise aos meus homens que estamos saindo. —
Caspen diz.
Sorrio ao saber que minha melhor amiga está por trás de
tudo, guiando Caspen e seus homens.
Lorenzo abre a porta, saindo primeiro, e logo atrás, Caspen
sai com Ester, segurando-a pela nuca, obtendo todo o controle de
seu corpo. Não há escapatória para Ester, e pelo seu olhar, ela sabe
que é o seu fim.
Do lado de fora, Lorezno abre caminho para Caspen e eu.
Atrás de nós dois está Armando. Dou uma olhadinha para ele, e
sorrio ao ver quão tenso está com toda essa situação.
À nossa volta estão os homens de Caspen, todos armados.
No chão estão os homens de Ester, alguns mortos, outros feridos e
outros apenas derrotados.
Caspen caminha com tanta confiança, sua cabeça erguida,
olhando para o caos à sua frente. Um pequeno sorriso puxa o canto
de sua boca.
Toda a carnificina o excita, o deixa ligado. Ele gosta de ver a
morte, a dor, a derrota.
— Perdemos alguém? — pergunta ele ao meu irmão.
— Não. Alguns à beira da morte, sim, mas nenhum morto.
— Meu irmão lhe responde, e seus olhos vão para mim. — Merda!
— resmunga quando vê o estado do meu braço.
— Estou bem. — Dou um pequeno sorriso a ele, que acena
com a cabeça.
Pelo seu olhar, sei que não está satisfeito com o meu estou
bem. Pisco para ele, que balança a cabeça.
Caspen me leva consigo para o meio da grande sala. A
porta principal se abre, e mais homens de Caspen entram com os
homens de Ester. Caspen se posiciona bem no meio da sala. Seus
homens mostram respeito ao abaixarem a cabeça.
Abrindo caminho, ele permite que Carter coloque Ester à
nossa frente, de frente para os seus homens.
— Fico feliz que todos estejam aqui. — Caspen começa, e
um sorriso puxa seus lábios. — Como podem ver, a chefe de vocês
está sob o meu domínio. — Vejo os homens de Ester engolirem em
seco. — Ester Donovan é minha propriedade, assim como vocês.
Hoje, meus caros, é o fim de Ester.
Tirando-me dos seus braços, ele caminha pela sala,
desafiando a quem ousar salvar Ester. Um homem tem a coragem
de dar um passo à frente, mas Caspen é mais rápido, pegando sua
arma, apontando para o homem e atirando bem no meio de sua
testa, o que o faz cair no chão. Em seguida Caspen caminha até
Ester, pegando-a pelos cabelos.
— Essa mulher é uma escória, ela é um nada, e hoje terá o
que merece. Ela maltratou a filha e atirou em minha mulher. Hoje,
Ester Donovan morrerá sob minhas mãos — anuncia.
Os homens de Caspen gritam em comemoração. Caspen
levanta a mão livre, silenciando a sala.
— Quem tentar salvá-la, será morto. Vocês são meus agora,
meus homens, meus capachos. Ajoelhem-se! — ordena.
Toda a sala fica em silêncio. Prendo a respiração,
esperando os homens se ajoelharem. A tensão à nossa volta é
grande demais.
— Se vocês querem continuar vivos, é melhor se renderem.
— Caspen diz, sua voz fria. — Eu disse: ajoelhem-se! — Sua voz
agora é mais grave, mais alta e bem mais mortal.
Um por um, eles se ajoelham, abaixando suas cabeças, em
total rendição a Caspen. Ester solta um grito, se debatendo,
tentando sair do aperto de Caspen.
— Seus traidores! — grita Ester. — Eu vou matar vocês!
Caspen estala a língua, balançando a cabeça.
— A única que morrerá aqui é você, Ester. — Sorri para ela.
— Levantem-se — comanda.
Eles se levantam e esperam pela ordem de Caspen, que
joga Ester para Carter, que a pega, mantendo-a sob controle.
Caminha até mim e para ao meu lado.
— Essa é Lori Callahan, minha mulher, a elas vocês darão
todo o respeito — diz, bem sério.
Aquela pequena, mas forte eletricidade passa pelo meu
corpo conforme ele fala. Sorrio interiormente.
— Tenho algumas regras que irei discutir com vocês em
outro momento, mas duas delas é essencial saberem de imediato:
não prejudicamos mulheres inocentes, não tocamos em crianças e
nem em idosos. Quem ousar ir contra, será eliminado. — Caspen se
vira para Lorenzo. — Coloque ordem em tudo. Voltarei mais tarde.
— Lorenzo acena com a cabeça.
Envolvendo seus braços em mim mais uma vez, Caspen
nos leva para fora da casa, onde dois carros estão nos esperando.
Assim que o ar da noite bate em meu corpo, sinto-me fraca demais
para continuar, minhas pernas se dobram, minha visão escurece.
Antes que eu caia no chão, Caspen me pega no colo. Sorrio para
ele, mas em instantes tudo apaga.
Caspen
— Onde está a porra do médico?! — grito, assim que entro
em casa, com Lori desmaiada em meus braços.
— Estou bem aqui. — O médico diz, bem atrás de mim.
— Oh, meu Deus! — Tia Megan diz, ao ver Lori em meus
braços. — Meu bebê! — exclama, com lágrimas nos olhos.
— O que aconteceu, filho? — Mamãe abre caminho, já que
temos uma grande plateia à nossa volta.
— Ester, foi Ester que aconteceu.
— Aquela mulher... aquela mulher atirou em meu bebê. —
Megan diz, tentando alcançar Lori em meus braços.
Suspiro frustrado. Tudo o que quero é levar Lori para o
quarto, para que ela seja examinada, mas com toda essa gente à
minha volta se torna impossível. Olho para o pai e Tio Franck,
implorando a eles com meu olhar para que os dois levem essas
mulheres daqui, mas é a vovó quem vem ao meu socorro:
— Já chega! — Bate as mãos, abrindo caminho para ela
passar. — Deixe-o levá-la para o quarto! Lori precisa do médico, e
não de vocês em cima dela! — Empurra Megan para fora do
caminho.
Sophia, Lauren e Harry abrem caminho para que eu possa
passar.
Estou preocupado com Lori. No momento em que Ester
apontou a arma para mim, eu sabia que ela não atiraria, mas nunca
imaginei que ela iria atirar em Lori, o que prova ainda mais que ela
não tem amor algum, nem por ela mesma e nem por suas filhas.
Quando ela atirou em Lori, pensei que tudo tivesse ido para
baixo, meu coração parou de bater, pensei que tivesse a perdido;
mas quando vi que ela estava bem e furiosa por ter levado um tiro,
meu peito se encheu de alívio.
Lori ficará bem. Ela não corre risco. Eu não posso perdê-la,
não agora que a tenho, não depois de tudo o que fiz para conquistá-
la.
Com cuidado, coloco-a na cama, não querendo machucá-la.
Dou espaço para o médico examiná-la. Vovó fica junto à porta,
impedindo a entrada de outros.
Sei que é egoísmo da minha parte e que a mãe de Lori tem
o direito de estar aqui, mas nesse momento, quero Lori só para
mim.
Ando de um lado para o outro, enquanto os minutos se
passam e o médico cuida de Lori. Meu olhar sempre nela.
— Ela está bem? — pergunto, por fim, preocupado.
— Sim, ela está bem. Ela perdeu sangue, mas não é nada
preocupante, ela vai ficar bem. A bala atravessou, então apenas
limpei e dei ponto. Agora ela precisa descansar e cuidar dos pontos.
Aceno com a cabeça. Pego um envelope de dinheiro do
meu terno e entrego a ele.
— Agradeço pelo seu serviço. — Ele acena com a cabeça.
— Estarei com minha equipe cuidando de seus homens. Se
precisar de mim, sabe meu número — diz, dando um aperto em
meu ombro.
Vovó o deixa passar. Olho para Lori, que está adormecida.
Sento-me ao seu lado na cama, tirando alguns fios de seus cabelos
loiros do rosto.
— Porra, Sunshine, pensei que a perderia — sussurro. —
Não posso perdê-la, Lori, acho que eu enlouqueceria. — Solto um
pequeno riso sem emoção.
Curvo-me sobre ela, dando um beijo em sua testa.
— Descanse, amor. Estarei de volta quando acordar. —
Viro-me em direção à porta.
Tia Megan e mamãe discutem com vovó.
— Quietas! — digo, entredentes.
Sinto uma pequena pontada na cabeça. Droga! Essas
mulheres estão me dando nos nervos!
— Lori precisa descansar, e não de vocês em cima dela.
— Ela é minha filha. — Megan rebate.
— Ela é minha mulher, e sua saúde e seu bem-estar são a
minha prioridade. Ela precisa descansar por agora. Quando ela
acordar, ela irá decidir se quer vê-las. — Lanço a elas um olhar que
as faz entenderem que não quero discussão.
Tia Megan olha para mim. Sorrio para ela, cruzando os
braços. Encaro-a, esperando-a dizer algo a mais. Por fim ela abaixa
o olhar, e seus ombros caem, em sinal de derrota.
— Tudo bem, esperarei por ela.
— Vovó, você fica aqui, ela precisará de ajuda ao acordar.
— Sim, chefe! — Sorri para mim.
Rolo os olhos. Essa velha é um problema! Saio do quarto.
No andar de baixo, encontro os homens de Lori esperando
por mim.
— Ela está bem. Preciso que vocês fiquem, quero-a segura.
Ninguém entra no quarto sem a permissão dela — digo a eles.
Não espero por resposta. Tenho Ester para ver e homens
novos para comandar. Eles precisam saber que sou eu quem os
comanda agora, suas vidas são minhas. Eles vivem por mim,
porque eu permito.
Capítulo Trinta e Oito

Sorrio ao ver Ester em minha sala de tortura. Todo o seu


comportamento arrogante, controlador e cheio de atitude se foi.
Tudo o que vejo agora é uma mulher fraca e aterrorizada. Não
consigo deixar de sentir satisfação ao ver seu corpo tremendo e o
olhar, toda a sua expressão.
Ela sabe. Ester sabe que é o seu fim. Ela tem pouco tempo.
Não há nada que ela possa fazer que a livrará da morte.
Quero ver sua dor, me alimentar dos seus gritos, da sua
agonia, quero vê-la sofrer, ver a vida sumir de seus olhos. Quero
que Ester sinta. Eu vejo, ao lado dela eu vejo a morte a esperando
para levá-la ao inferno, porque é para lá que ela irá.
Ao me ver, ela treme ainda mais. Lambendo os lábios, ela
se encolhe em um canto. Estalo a língua, balançando a cabeça.
Lamentável.
— Chefe. — Lucas diz, abaixando a cabeça.
Paro em frente a Ester, olhando-a.
— O que faremos com ela? — Carter pergunta, de braços
cruzados, olhando para Ester com expressão de nojo.
— Coloque-a na cela ao lado da de Phillipa. Ela ficará
trancada até o braço de Lori melhorar, Lori comandará tudo. Ester é
dela. — Ele acena com a cabeça.
Um pequeno sorriso se forma nos lábios de Ester. Semicerro
os olhos para ela.
— Onde está a graça? — pergunto, em tom mortal.
— Minha filha não me matará, ela não será capaz. Pode
parecer forte, mas sou a mãe dela, ela não terá coragem —
resmunga.
Não me controlo e começo a rir. Meu riso é bem alto,
preenchendo todo o lugar. Ester se encolhe.
Não consigo me conter. O que ela acaba de dizer é pura
piada. Ester não conhece a filha que tem!
Curvo meu corpo para olhá-la nos olhos.
— Você realmente pensa que Lori não a matará? — Balanço
a cabeça, em descrença total. — Ester, ela não só a matará, como
irá torturá-la. O que mais Lori quer é fazê-la pagar por tudo o que
fez a ela. Você mandou matar Chris, lembra dele? O noivo de sua
filha, você o matou no dia do casamento deles. Lori irá acabar com
você.
Sorrio ao vê-la engolir em seco.
— Todos os que estão nessa sala querem um pedaço seu,
Ester, mas a única que irá tocá-la é Lori. Ela irá comandar seu
castigo. — Pisco para ela.
Dando as costas a ela, olho para Lucas e dois dos meus
homens.
— Quero-os aqui, de olho nela. Ninguém sai e ninguém
entra, entenderam?
Os três acenam com a cabeça, em sinal de acordo.
— Bom — Viro-me para Carter —, vamos, temos homens
para liderar.
Parando meu carro de frente para os grandes portões da
casa de Ester, saio do carro, abotoando meu terno feito sob medida.
Ao meu lado, Carter olha para mim, esperando-me para entrar.
No caminho para a casa de Ester, recebi notícias sobre
meus homens feridos. Cinco não resistiram aos ferimentos e
morreram.
Não gosto de perder meus homens. Sinto-me como se eu
tivesse falhado. Mas esse é o preço. Eu sabia que não seria fácil e
que os homens de Ester revidariam. Meus homens também sabiam
o que estava enfrentando.
Frustrado, passo as mãos pelos cabelos, sabendo que do
lado de dentro tenho que ser firme. Não posso demonstrar quão
ansioso estou para voltar para casa e ficar com Lori. Meu dever
nesse momento é com a máfia, preciso mostrar poder. Esses
homens precisam se curvar a mim, me respeitar como o novo chefe
deles.
— Pronto? — Carter pergunta.
Sorrio para ele. Colocando minha cara de jogo, de chefe,
encaro as grandes portas.
— Eu nasci pronto. — Carter balança a cabeça, com um
pequeno sorriso nos lábios.
Abrindo a porta, meus homens me dão caminho, cada um
abaixando a cabeça enquanto passo. Olho para todos os homens
que estão no grande salão de entrada, todos esperando por mim.
Os homens de Ester estão todos atentos, me observando,
avaliando qual será meu próximo passo — talvez até mesmo
procurando por uma fraqueza minha. Mas eu? Eu não demonstro
nada além de poder. Mostro quem realmente sou: o Diabo
escondido em um homem.
— Vocês são meus. — Encaro-os, esperando qualquer
reação contrária. — Eu sou o dono de cada um agora, sua lealdade,
devoção, seu corpo, sua alma, tudo meu. Em troca da sua lealdade,
darei minha proteção, compartilharei minha riqueza, meu poder. —
Ergo os braços, dando uma voltinha. — Eu sou o rei de vocês. —
Sorrio para eles.
Todos os olhos estão em minha direção. Ando pela sala,
encarando um por um. Alguns engolem em seco, outros apenas me
encaram e alguns desviam os olhos. Medo, todos eles estão com
medo de mim, do que eu posso fazer, do meu poder. Todos junto
com Ester me subestimaram.
— Ester está morta para todos vocês. Não devem mais
nada a ela. São meus, e quem não estiver de acordo, é melhor sair.
— Aponto para a porta e espero.
Vendo que ninguém se move, levanto uma sobrancelha, em
um gesto de questionamento.
— Alguém? — pergunto, apontando para a porta. — Fiquem
à vontade. — Sorrio.
Dois homens dão um passo para frente. Com cuidado, eles
caminham em direção à porta, mas antes que possam abri-la, Carter
atira nos dois.
— Esse foi o erro deles. Pensaram que haveria saída. Não
há saída para a vida que escolheram levar. Ester falhou com vocês,
não explicando o que significa estar na organização. Mais alguém
aqui quer morrer? — Todos me olham com devoção, algo que eu
não esperava.
Caminho entre eles, os avaliando. Observo que alguns são
jovens demais para estarem aqui, o que não me surpreende. Vindo
de Ester, posso esperar por tudo.
Paro de frente para um jovem que chamou minha atenção.
Ele é magro e alto. O olhar dele é duro, determinado, e ele parece
ser mais velho do que é, mas posso ver que é jovem demais para
estar aqui. Há algo nele que me atrai, algo puro. Vejo nele o mesmo
que vejo quando olho para Maya.
— Qual seu nome? — Seu corpo dá uma leve tremida, mas
ele não desvia o olhar.
— Osmar, Senhor — responde, com determinação.
Aceno para ele.
— Quantos anos você tem?
— Quinze anos.
— E está com Ester há quanto tempo?
— Tem três anos que ela me tirou das ruas e me fez dela. —
Osmar faz uma careta ao dizer me fez dela.
Porra! Ester é louca! Ela abusou de uma criança, trazendo-o
para o mundo do crime cedo demais!
Osmar é alto demais para a sua idade, mas ele é magro,
muito magro para a sua altura. Posso ver algumas feridas em seus
braços e há uma cicatriz em seu rosto.
Olho para Carter, que expressa um olhar mortal. Sei que ele
está imaginando vários tipos de tortura para Ester.
— Quer algo melhor, garoto? — Ele engole em seco.
— Essa vida é tudo o que conheço, Senhor, não sei se
mereço algo melhor.
Sorrio com sua sinceridade. Seu olhar é de desejo, mas logo
esse desejo é apagado por uma frieza.
— Carter, leve-o, ele será meu ajudante, nosso aprendiz. —
Meu irmão acena com a cabeça, e eu olho para o garoto, que está
com os olhos arregalados. — Você irá para a escola, rapaz, terá um
ensino, e depois irá treinar comigo e com meu irmão, Carter. —
Aponto para Carter, que está ao meu lado. — Você é o único de
menor aqui?
— Sim, os outros ela vendeu.
Raiva enche meu corpo, tomando-me de uma forma que me
consome, me domina.
Vendeu... Ester tem vendido garotos de rua... droga! Tenho
que consertar todas as merdas que ela fez!
— Caspen? — Lorenzo chama. — A polícia já foi informada,
só estão esperando pelo seu aval.
Aceno com a cabeça para ele.
— Bem, não temos muito tempo — digo aos homens de
Ester. — Vocês serão testados e treinados por Raphael e Dominic.
Eles são meus capos, meus homens de confiança. Tudo o que farão
será aprovado por mim. Vocês irão se instalar em uma propriedade
minha, sua família será cuidada e protegida, as regras serão
informadas a vocês ainda hoje. E por último, não tentem me
derrubar. Muitos tentaram, e nenhum sobreviveu. Se me traírem,
seu destino será a morte, vocês serão levados ao inferno por mim.
Estejam avisados. — Aceno para Raphael e Dominic, que agora
estão no controle junto com os outros. — Venha, garoto, vamos para
casa — digo a Osmar, que corre para me acompanhar. — Lorenzo,
lide com a polícia. O pai fará uma coletiva com a empresa, é o dever
dele como prefeito lidar com tudo o que aconteceu. Vamos, garoto,
vamos para casa.
Lori
Mexo-me desconfortavelmente na cama. Meu braço queima
conforme me movo. Meus olhos se abrem. Pisco algumas vezes,
olhando ao redor. Agora que estou acordada, posso me concentrar
nas vozes na porta do quarto, vozes essas que me acordaram.
— Nadine, deixe-me entrar. — Ouço a voz da minha mãe.
— Não. — Vovó diz.
— Olha, sua velha teimosa, é a minha filha que está aí
dentro, vocês não podem me impedir de entrar!
— Senhora, sua filha está bem, ela precisa de descanso, e
são ordens de Caspen. Ninguém entra nesse quarto até Lori acordar
e permitir. — Ouço Maddox.
Olho para a porta do quarto, vendo vovó parada, impedindo
a entrada da minha mãe. Não vejo Maddox, mas creio que ele
esteja do lado de fora, com os outros homens.
— Caspen não manda em mim. — Mamãe diz, irritada. —
Pelo amor de Deus! Ela é minha filha, tenho o direito de estar com
ela!
Suspiro, balançando a cabeça. Mamãe não irá sossegar
enquanto não entrar no quarto. Conhecendo-a bem, sei que ela fará
algo louco para entrar. Ela está mais do que irritada, a ponto de
enlouquecer e fazer algo.
— Pelo amor, deixe-a entrar, ela vai matar vocês se
continuarem impedindo-a — digo, sentindo minha garganta
arranhar.
Vovó se vira, olhando-me com preocupação.
— Tem certeza? Posso tirar todos daqui, se quiser. — Sorri
para mim. — Só eu sei quão chata sua mãe pode ser. Se quiser, eu
a arrasto pelos cabelos, a levando embora — sugere dando aquele
sorriso sapeca dela.
— Oh, pelo amor de Deus, Nadine, minha filha permitiu
minha entrada, saia da frente! — Mamãe empurra vovó para fora do
caminho e entra como um furacão.
Sorrio. Mamãe está descabelada, sua testa está franzida e
posso ver seu olhar cheio de preocupação.
— Eu fiquei tão preocupada, querida — diz, ao se sentar na
cama, ao meu lado.
Tirando alguns fios de cabelos do meu rosto, ela olha para
mim, avaliando meu estado.
— Você não pode acreditar no quanto tenho lutado com
esses aí. Caspen proibiu qualquer um de entrar. Pode acreditar
nisso? Quem ele pensa que é? Sou sua mãe — reclama, indignada.
Não posso deixar de sorrir com o que ela acaba de me dizer.
É bem típico de Caspen. Não estou nem um pouco surpresa com
sua decisão, e sou agradecida. Conhecendo bem a mãe que tenho,
eu não teria conseguido descansar, pois mamãe estaria em cima de
mim, não me deixando em paz.
— Esse é Caspen, mamãe. Não estou surpresa. — Lambo
os lábios ao senti-los secos.
— Quer um pouco de água, querida? — Mãe pergunta, e eu
aceno com a cabeça.
Mamãe se levanta, indo em direção ao outro lado do quarto,
onde há uma bandeja com água. Coloca um pouco no copo e traz
até mim.
— Obrigada. — Sorrio.
— Precisa de mais alguma coisa? Está com fome? Com
dor? Quer que eu chame o médico? Um banho seria bom, não
acha?
Por fim ela olha para mim, esperando por minha resposta.
Sorrio. Entregando o copo de água a ela, balanço a cabeça.
— Estou bem, não se preocupe. — Ela bufa, revirando os
olhos.
— Não se preocupe, não se preocupe. Essas são as
palavras dela — resmunga. — É claro que estou preocupada, você
é minha filha e levou um tiro, chegou aqui desmaiada nos braços de
Caspen e estava suja de sangue. Como você quer que eu fique? —
Para, a fim de respirar, seu peito subindo e descendo.
Mordo o lábio, tentando controlar o riso. Na porta está vovó,
balançando a cabeça, em descrença.
— Você está cansando-a, Megan. Lori precisa de descanso,
e você não está ajudando.
— Ela é minha filha.
Vovó bufa.
— Sim, você já falou isso várias e várias vezes, e estou
cansada de ouvir isso. Ela é sua filha, sim, eu sei, levou um tiro e
precisa descansar, e você ficar em cima dela, a sufocando, não é
confortável para ela.
Mamãe olha para mim, pedindo desculpa.
Eu a entendo. Ela só está preocupada, mas mamãe é
sufocante quando fica preocupada, e realmente às vezes não ajuda
nem um pouco.
Uma pequena batida na porta distrai mamãe de vovó. Olho
para a porta, vendo Amélia.
— Será que podemos entrar? — pergunta. — Com sua
permissão, é claro. — Pisca para mim.
— Claro, podem entrar. — Aceno para ela.
— Graças a Deus!
Amélia entra no quarto. Atrás dela estão Sophia, Happy e
Lauren.
— A velha estava sendo persistente. — Lauren diz, sorrindo
para mim.
— Vou deixá-la careca se continuar me chamando de velha.
— Vovó aponta para Lauren, que manda beijo para ela.
Todos nós gostamos de provocar vovó, a chamando de
velha.
— Como está se sentindo? — Sophia pergunta.
— Bem, o braço queimando um pouco, mas nada que eu
não possa aguentar.
— Você nos assustou, tinha muito sangue. — Happy diz.
— O que eu posso fazer? Gosto de ser dramática — brinco,
dando uma piscadinha para ela. — Todos estão bem? — Sento-me
na cama, e mamãe ajeita o travesseiro atrás de mim, deixando-me
mais confortável. — Como está América?
Queria que tivesse sido apenas algo da minha imaginação,
que eu não tivesse visto o que vi; mas é real, América existe, e ela
estava realmente sendo maltratada por Ester. A coleira em seu
pescoço, as correntes em seus braços, os machucados, o jeito que
ela andava, a dor em seus olhos, o medo... tudo era real.
Bile sobe à minha garganta. Pulo da cama, correndo para o
banheiro, e ajoelho-me ao lado do vaso, colocando tudo para fora.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, embaçando minha visão.
— Saiam! — A voz de Caspen ecoa pelo banheiro, em uma
ordem.
— Mas... — Mamãe tenta rebater.
— Agora!
Ouço passos se distanciando e a porta batendo, segundos
depois, sinto as mãos de Caspen tirando meu cabelo do rosto e
colocando-o para trás. Um pano morno é colocado em minha nuca.
Caspen me segura em seus braços até que tudo acabe, até que
minhas lágrimas passem, que a dor acabe, que a bile suma. Caspen
apenas me segura.
Capítulo Trinta e Nove

Caspen – uma semana depois...


Tudo está finalmente acabado. Ester finalmente foi
desmascarada, saiu em todos os meios de comunicação sobre o
ocorrido. Nós ficamos como os mocinhos. O pai, como prefeito da
cidade, fez uma nota sobre o que aconteceu.
“Fico satisfeito em comunicar que tudo está sob controle.
Assim que descobrimos sobre Hernández, montamos uma força
tarefa junto com os Federais para acabar com o crime em nossa
cidade. Estou satisfeito com os resultados. Ester era uma de nós,
era amiga da minha esposa, frequentava minha casa. Nunca
imaginei que ela seria Hernández, até que ela levou a noiva do meu
filho. Trabalhamos com cuidado e com perfeição para que tudo
ocorresse bem. Tudo se saiu como planejado. Todos estamos bem.
Ester está foragida, mas será questão de tempo. A justiça está
começando a ser feita nesta cidade e contamos com a colaboração
de todos”.
Essas foram as palavras do meu para a cidade.
Uma força tarefa? Trabalhamos com os Federais? Pura
mentira! Fizemos todo o trabalho sozinhos, mas a cidade não sabe
disso e nunca saberá. Saímos como heróis, como os mocinhos que
salvam as donzelas do perigo.
Patético! Se eles soubessem a verdade, não seríamos os
mocinhos.
Mas é assim que tem que ser. A sociedade não pode saber
quem somos e o que fazemos, então aceito o título de mocinho.
Acho que combina bem comigo. “O homem apaixonado que salvou
sua noiva”.
Já os homens de Ester estão se saindo bem no treinamento
com Raphael e Dominic. Vai demorar até eu ter total confiança
neles, mas é um bom começo, e acho que com o tempo serão bons
homens, bons soldados.
O garoto Osmar está indo bem também. Ele ficou encantado
com tudo. Digamos que a mãe se apaixonou por ele, e agora ele é o
filho mais novo dela, o qual ela mima demais. Não irei reclamar com
o jeito que ela trata e cuida do garoto. Tudo é muito novo para ele, e
parece que ele precisa do que a mãe está lhe dando.
Osmar irá se transformar em um grande homem, o olhar
determinado e decidido que ele tem mostra quão dedicado é. Ele vai
ser grande nessa organização, estou contanto com isso. Sei que ele
passou por muito, posso ver um pouco da sua escuridão em seus
olhos, do peso em seus ombros. Não foi fácil para ele e não será
mais fácil daqui para frente, mas agora ele tem uma família, ele tem
em quem se inspirar, ele tem pessoas o apoiando, ele irá ficar bem.
Depois do que aconteceu na casa de Ester, Armando
desapareceu. O que é bom para ele. É claro que ainda fico de olho
e controlando tudo. Não quero que a merda em que ele está
envolvido chegue na minha cidade, porque aí as coisas ficarão
feias.
Armando é esperto, ele não trará seu envolvimento com o
tráfico sexual para a cidade. Ele sabe que será uma guerra à qual
ele não vencerá, mesmo sendo senador. O que o mundo faria se
descobrisse que o senador é um dos chefes da maior rede de
escravidão sexual do mundo? Ele seria massacrado. É por isso que
ele não entra em uma guerra conosco, ele sabe que não venceria.
Não há como vencer os Callahan’s.
Uma pequena batida na porta do meu escritório tira-me dos
meus pensamentos.
— Entre — digo, olhando para a porta.
A porta se abre e Lori entra com América. Sorrio para as
duas.
— Caspen! — América grita, animada.
Soltando a mão de Lori, ela corre até mim e escala minhas
pernas até sentar em meu colo.
— Dodói melhor. — Sorri para mim, apontando para Lori.
— Ela está falando do meu braço. — Lori explica, sorrindo
para mim.
— É mesmo? Isso é incrível! — exclamo para América, que
bate palmas e ri.
É incrível vê-la tão diferente, tão cheia de vida e animada
em comparação a como ela estava quando Ester a trouxe. Não
parece ser a mesma criança.
É claro que ela está sendo tratada psicologicamente, não
queremos que ela tenha problemas futuros. América merece o
melhor, e nós daremos a ela.
— O que posso fazer por você, boneca? — pergunto a ela,
que me olha com expectativa.
América abre um grande sorriso. Suspiro, já me
arrependendo de ter feito a pergunta.
— Brincar. — Ela ri. — Eu, você, Lori e as meninas.
Olho para Lori, que encolhe os ombros, rindo.
— Ela quer você, então acho que terá que fazer um
pequeno sacrifício. Maya, Hope e Ariel estão esperando-o. — Lori
pisca para mim.
Suspiro, balançando a cabeça.
— Ah, você veio aqui só para me levar até as outras
terroristas? — Faço cócegas em América, que se contorce, rindo.
Olho para Lori, que tem lágrimas nos olhos e um grande
sorriso nos lábios.
Alívio é o que vejo em seu semblante, puro alívio,
provavelmente em saber que América está bem e que agora é
amada e cuidada.
— Sim, as meninas esperam. — América diz, entre
gargalhadas.
— Vamos lá, leve-me para a tortura.

Lori
Droga! Não consigo conter as lágrimas que insistam em cair.
Observar América, o sorriso em seus lábios, o riso que sai de sua
boca, aquele brilho alegre em seus olhos... Em uma semana, aquela
tristeza que ela tinha se foi. Ela não é mais América filha de Ester,
ela é América minha irmã. Vou amá-la com toda a força que tenho,
protegê-la com a minha vida.
Paramos no quartinho onde as crianças costumam brincar.
— Dodói dói? — América olha para mim, com olhos
estreitados.
Ajoelho-me à sua frente. América me abraça, o que me
pega de surpresa. Sua cabeça encosta em meu ombro.
— Chora não. Beijo e passa — sussurra.
— Oh, querida, meu dodói não dói, só estou feliz.
Tirando a cabeça de meu ombro, ela olha para mim. Posso
ver que não está satisfeita com o que eu disse.
— Chorando feliz?
— Sim, amor, são lágrimas felizes. — Ela sorri para mim.
— Bom! Vou brincar. — Ela corre, pulando em Caspen, que
a pega, girando-a no ar.
Sorrio ao ouvir o riso dela, ao ver o brilho alegre em seu
olhar, saber que tudo ficará bem e que agora ela tem uma família.
Agora ela me tem, América agora é uma Callahan.
— Você está bem? — Pulo ao ouvir a voz de Caspen.
Viro a cabeça para o lado, vendo-o me encarando com seus
olhos escuros. Sorrio, balançando a cabeça.
— Agora estou. — Ele acena com a cabeça.
— Ela nos tem agora. — Ele olha para América, que brinca
com as outras meninas.
Um pequeno sorriso puxa o canto dos seus lábios. Suspiro
alto.
Não me contento. Deus! Sinto falta dele, do seu toque, da
sua boca em mim, da intensidade do seu olhar. Esses últimos dias
têm sido tão agitados, tudo o que aconteceu com Ester, as notícias,
a imprensa que não sai do meu pé, querendo uma declaração
minha...
Caspen olha para mim sorrindo.
— O que foi? — pergunto, estreitando os olhos.
— Esse seu olhar — sussurra.
— Que olhar?
Abaixando a cabeça, ele encosta a boca em minha orelha.
Meu corpo treme com o pequeno contato.
— Esse olhar de foda-me. — Dá uma mordidinha em minha
orelha, o que faz com que meu corpo se arrepie.
Meus olhos se fecham automaticamente.
Deus me ajude! Estou a ponto de perder toda a compostura.
Caspen me segura quando minhas pernas fraquejam. Ele ri,
e meus olhos se abrem.
— Não é engraçado — digo, olhando-o de cara feia.
— Sunshine, você está tão sensível a mim, ao meu toque.
Sentindo minha falta?
Rolo os olhos, cruzando os braços. Desvio meu olhar do
dele.
— Não, nem um pouco.
— Mentirosa. — Ele beija minha bochecha.
— Quero ver Ester. — Volto a encarar Caspen.
Ele balança a cabeça, negando meu pedido.
— Caspen, eu preciso ver Ester, preciso da minha vingança,
preciso fazê-la sofrer.
Uma necessidade cresce em mim.
— Seu braço não está bom ainda. — Estreita os olhos para
mim.
— Não aguento mais esperar, Caspen, quero que ela morra,
que pague pelo que fez, quero que tudo realmente acabe. — Olho-
o, bem séria.
E saber que ela está tão perto de América... que ela ainda
respira, me enfurece, a raiva cresce em mim, dominando meu
corpo, fazendo com que tudo em mim corroa.
Fecho minhas mãos em punho, tentando controlar a raiva
que sinto, a vontade avassaladora que tenho de ir até Ester e dar
um fim nela.
Quero que ela sofra, que ela sinta toda a dor que ela causou
a mim, à minha família, a América, quero que ela grite, implore pela
vida, chore de dor, quero levá-la ao inferno. Eu serei o demônio dos
pesadelos de Ester. Eu trarei dor, sofrimento, tortura e a morte até
ela. Eu serei seu carrasco.
— Sunhine...
— Caspen... — rebato, não desviando o olhar.
Suspirando, ele passa as mãos pelos cabelos. Seu olhar vai
para as meninas que brincam animadamente de boneca. Caspen
não fala nada por um tempo, apenas as observa. Pelo vinco em sua
testa, sei que ele está pensando sobre me levar até Ester. Entendo
a preocupação dele. Levei um tiro o braço, ainda tenho os pontos.
Sei que ele quer que eu fique cem por cento bem antes de me lavar
até Ester, mas essa é uma escolha minha. Preciso dar um fim a tudo
isso, preciso encarar essa parte da minha vida, colocar Ester onde
ela merece, para eu poder seguir em frente.
— Tudo bem. — Caspen desvia o olhar das meninas para
olhar para mim. — Hoje à noite Ester é sua.
Enquanto caminhamos pelo corredor mal iluminado que nos
leva até a grande sala de tortura, aperto a mão de Caspen. Com a
cabeça erguida, passo pelos seguranças, que abaixam a cabeça,
em sinal de respeito, enquanto passamos.
Com um grande sorriso nos lábios, entramos na grande
sala, onde Carter já espera por nós. Solto a mão de Caspen e
caminho até a cela onde Ester se encontra, meu olhar passando
pela cela de Phillipa. Minha irmã sorri para mim, provavelmente
sabendo muito bem o motivo da minha presença.
Paro bem em frente ao vidro da cela de Ester, olhando-a.
Seu olhar se encontra com o meu, e deixo-a ver toda a raiva dentro
de mim. Essa fúria será liberada sobre ela.
Sorrio ao ver o medo em seu olhar. Seu corpo treme. À
medida que a olho mais, Ester se encolhe. Alimento-me dela, do seu
medo, do tremor em seu corpo. Vê-la assim é tudo para mim. Saber
que eu estou causando seu medo e que causarei sua dor, seus
gritos, seu desespero... Quero que ela sofra, assim como fez todos
à sua volta sofrerem.
Na verdade, só quero que esse pesadelo acabe. Não posso
continuar vivendo enquanto Ester continuar respirando. Mesmo ela
estando aqui, presa, ela continua sendo uma ameaça.
— Lori? — Caspen me chama.
Viro a cabeça para trás, olhando-o. Ele está preocupado,
acha que não serei capaz de acabar com Ester, por ela ser minha
mãe...
Ela não é minha mãe! Não para mim. Nunca foi e nunca
será. Ester é um nada para mim.
— Tem certeza?
Olho à sua volta. Todos estão me esperando, todos
pensando que falharei, até meus homens, meus homens estão
duvidando de mim... Fecho a cara, deixando apenas um sorrisinho
malicioso puxar o canto dos meus lábios. Volto a olhar para Ester.
Ah, sim! Eu tenho certeza. Nunca tive tanta certeza em toda
a minha vida!
— Sim — respondo.
Chuto o vidro da cela, o que faz com que Ester pule de
susto.
— Chegou o dia do acerto de contas, hoje é o dia em que
você morre, Ester...
Capítulo Quarenta

— Chegou o dia do acerto de contas. Hoje é o dia em que


você morre, Ester. — Viro-me para Carter. — Coloque-a em
posição. Vamos começar. — Bato palmas, animada.
Colocando minha criança interior para fora, eu apenas faço
o meu papel de louca, assassina, torturadora, a pessoa que não
sente nada. Deixo-me ser envolvida pela escuridão, pelo frio, pela
dor, pela fúria que me cerca. Todos esses sentimentos são bem-
vindos nesse momento.
Sorrio quando vejo Ester lutar com Carter. As correntes
tintilam. Ela está presa como um animal, do mesmo jeito que
América estava. Há correntes em seu pescoço, seus pulsos e
tornozelos, todos com pregos que cravam sua pele, deixando-a
ferida, sangrando. Quanto mais ela luta contra Carter, mais ela
sangra.
Ela sabe que vai perder, e mesmo assim não para. Observo
a boca de Carter se mover. Ele está resmungando, está irritado,
muito irritado, e mesmo assim está bem controlado, já que não
bateu em Ester.
Carter não gosta de machucar mulheres, ele faz de tudo
para evitar, mas Ester não está ajudando nem um pouco.
— Ah, pelo amor de Deus! — exclamo, entrando na cela.
Pego Ester pelos cabelos, dando uma sacudida nela.
— Fique quieta. — Jogo sua cabeça contra o vidro.
Ester escorrega. Sangue escorre de seu pescoço. Carter a
pega mais uma vez, a levando para fora e colocando-a bem no
centro da grande sala.
— Como a quer? — Olha para mim.
— Pendurada e nua, quero-a exposta. — Ele acena com a
cabeça.
Carter a coloca do jeito que pedi. Satisfeito, ele sai,
deixando-me tomar o controle. Dou um passo para frente e fico de
cara com ela, olhando-a nos olhos. Prazer me envolve ao vê-la
assim, como ela merece. Hoje, ela pagará por tudo o que fez. Esta
noite será o fim de Ester Donovan.
— Como está se sentindo? — Dou uma volta, contornando o
seu corpo, avaliando, imaginando tudo o que posso fazer com ela.
Não vai ser bonito, e não me importo nem um pouco. Ester
conhecerá a dor através de mim.
Parando mais uma vez à sua frente, espero por sua
resposta. Ester olha para mim com puro ódio. Um pequeno sorriso
se forma em meus lábios.
— Você vai para o inferno por me matar — diz, olhando-me
com desdém. — Sou sua mãe.
— Eu já estive no inferno, não há nada que eu não possa
aguentar. — Sorrio para ela.
— Você é louca! — grita, balançando o corpo, e tão logo seu
grito de raiva se transforma em grito de dor.
Os pregos de suas correntes cravam ainda mais em seu
corpo. Faço beicinho.
— Eu? Louca? — Bato meu dedo indicador em meus lábios,
em seguida viro minha cabeça para a cela onde Dimitri está. —
Acho que já ouvi isso antes, não é mesmo? — Dimitri me olha com
horror.
O olhar de Ester passa pelo meu corpo. Mesmo sangrando
e com dor, ela não perde o olhar de desdém, de superioridade.
Cruzo os braços, esperando, pois sei que ela vai falar.
— Olhe para você — desdenha. — Quem se veste de
branco para torturar alguém? — Sua voz ecoa com algo que não sei
definir ao certo... raiva, ódio, nojo... sei lá.
Olho para a minha roupa, que escolhi para esse momento.
Sim, estou de branco. Um terno branco, sapatos brancos, como
uma tela.
— Sabe, enquanto eu estava me preparando para esse
momento, algo veio em minha mente, uma imagem. Antes eu usaria
seu corpo como uma tela em branco, e eu seria o artista que a
moldaria, você seria minha obra de arte; mas ao me vestir para esse
momento, resolvi mudar. — Paro para dar ênfase ao que estou
dizendo.
Ergo a mão, passando o dedo indicador pelo sangue que
escorre entre seus seios.
— Veja. — Mostro o sangue em meu dedo. — Olha como o
vermelho é lindo, como ele se destaca no branco, como fica mais
vivo. Bonito, não é? — Sorrio para ela. — Hoje, Ester, hoje eu serei
a tela, por isso me vesti de branco. Seu sangue será a tinta que
pintará meu corpo. Esta noite me banharei com seu sangue até
você dar o último suspiro. — Continuo a sorrir. — Uau! — exclamo,
balançando a cabeça. — Como isso foi poético, não acha? — Bato
palmas, animada. — Vamos começar?
Olho para as minhas opções de tortura e pego um alicate,
sorrindo. Paro de frente para Ester, mostrando o que tenho nas
mãos. Percebo que ela treme.
— Vamos começar pelas mãos. O que acha?
Ah, ela bem que tenta ficar longe do meu alcance, mas sua
luta é em vão. Pego sua mão.
— Bem me quer... — Começo a cortar o primeiro dedo.
Ela solta gritos estridentes conforme o alicate vai fazendo o
estrago, e isso é música para os meus ouvidos. Demoro bastante no
primeiro dedo, o que faz ficar melhor ainda.
— Mal me quer. — Vou para o segundo dedo, e ela chega a
se morder de dor.
Levo mais uns quinze minutos no segundo dedo, me
deliciando com a arte enquanto ouço a melodia agradável de seus
gritos cada vez mais agonizados. Ela chega a chorar.
Bem me quer, mal me quer... assim vou cortando todos os
dedos, um por um. O som dos ossos se quebrando, a luta dela
contra mim, seus gritos, o sangue pingando em minha roupa... tudo
é tão, tão satisfatório!
Ela luta, Ester luta demais, mas o que adianta? Nada que
ela faça a tirará daqui, do seu castigo.
Assim que termino de cortar cada dedo de suas mãos, eu
pego seu rosto, apertando seu queixo, fazendo-a olhar para mim.
— Olhe para mim, mamãe, veja bem em meus olhos o
prazer que sinto ao fazê-la sofrer.
Ester cospe em mim, e imediatamente dou um tapa em seu
rosto, com o alicate. Ela cospe novamente, e alguns dentes saem
com seu cuspe. Sorrio.
— Bem, pelo que vejo, ainda falta os dedos dos pés. —
Pisco para ela. — Está precisando de uma pedicure. — Sorrio. — O
que acha, amor? Ela não precisa de um tratamento especial nos
pés? — Olho para Caspen, que está com um pequeno sorrisinho
nos lábios.
— Pode apostar que precisa.
— Pronta? — Foco meu olhar em Ester.
— Vá se foder... — Sua voz soa amarga.
Sangue. Muito, muito sangue.
Olho para o espelho.
Sim, pedi para Carter trazer um grande espelho e colocá-lo
atrás de mim, de frente para Ester. Queria que ela observasse o que
estava sendo feito a ela, que ela sofresse ainda mais.
Sorrio ao ver meu reflexo. O vermelho do sangue em minha
roupa branca, o destaque, a linda obra de arte. Magnífico! Muito
melhor do que imaginei!
— É tão brilhante — murmuro, olhando-me com pura
fascinação. — Tão vivo. O cheiro é forte, lembra cobre. — Dou uma
voltinha. — Olha, Ester, olhe como seu sangue ficou perfeito em
mim. — Sorrio.
Aquele brilho, aquele desdém, o ódio e o poder que estavam
lá horas atrás não estão mais. Seu olhar está quase morto.
Satisfação escorre pelas minhas veias, em ondas elétricas.
Seu corpo está machucado, ela não tem mais os dedos das
mãos, seus seios estão cortados, escrevi em seu corpo o nome de
todos os que ela prejudicou. Audrey, Maya, Chris, Phillipa, Osmar,
América... todos esses nomes e mais alguns estão esculpidos em
seu corpo, fazendo-a sangrar.
Meu olhar cai sobre Caspen, que me olha tão intensamente,
como se quisesse me tomar, me dominar, me foder nesse exato
momento. Seu olhar cru deixa-me ligada, meu corpo se acende,
tudo dentro de mim queima, me consome com tanta intensidade,
que se torna difícil respirar. Mordo os lábios, e Caspen sorri. Sabe
aquele sorrisinho sem-vergonha? Sim, é esse sorriso que ele me dá.
Ele sabe muito bem o que esse olhar está fazendo comigo.
— Porra. — Carter resmunga. — Se forem transar aqui, é
melhor falarem logo, que sairemos.
Caspen não diz nada, apenas sorri ainda mais. Desvio o
olhar, sentindo minhas bochechas corarem.
— Noj-nojento. — Ester tosse, jorrando sangue pela boca.
Meu olhar recai sobre ela.
— Fazer um menor de idade de escravo não é nojento?
Vender crianças para velhos sujos não é nojento? Me poupe, Ester!
Guarde sua voz para os gritos que ainda tirarei de você. — Mando
beijo para ela.
Volto a olhar para Caspen.
— O que acha, amor? Devemos dar um show a eles? —
pergunto, mexendo as sobrancelhas.
Caspen joga a cabeça para trás, soltando uma gargalhada
que faz meu corpo se arrepiar. Esfrego minhas pernas, sentindo
uma pequena pontada de prazer bem lá embaixo.
— Venha cá — comanda, com aquele tom de voz que faz
meu corpo derreter.
Corro até ele, me jogando em seus braços. Caspen pega-
me pela bunda. Enrolo minhas pernas em sua cintura, sentindo seu
pau em minha boceta através da roupa. Sorrio ao olhar em seus
olhos. Sua boca toma a minha em um beijo de tirar o fôlego. O beijo
é intenso, quente e muito sensual. Sua língua lambe a minha, ele
morde meus lábios. Um pequeno suspiro sai da minha boca.
Caspen bebe de mim, ele toma tudo com apenas um beijo. Esqueço
que estou suja de sangue e que temos plateia à nossa volta, porém
não me importo nem um pouco. Esse beijo é tudo e um pouco mais.
Caspen aperta minha bunda, e eu me esfrego nele, ficando
cada vez mais molhada. O sangue em meu corpo o deixa sujo. É
cru, sujo, depravado; mas muito, muito excitante!
— Será que vocês podem parar e se concentrar no que
interessa? — Carter nos interrompe.
Meus olhos se abrem e pego Caspen sorrindo.
— Empata foda — resmungo, saindo de seus braços.
Caspen ainda me segura quando coloco meus pés no chão.
Ainda estou fraca com o beijo.
Volto para Ester, parando na sua frente.
— Pronta para recomeçar, mamãe? — Sorrio para ela.
Ester está por um fio, à beira da morte, mas ainda não
acabei com ela, e foi por isso que Carter deu uma injeção de
adrenalina nela minutos atrás.
Uma ideia se forma em minha mente quando a olho. Quero
que ela sofra, quero que ela tenha um fim doloroso. Queria poder
passar dias a torturando, fazê-la sofrer por meses ou até anos,
assim como Dimitri; mas enquanto ela continuar viva, não poderei
seguir em frente, não conseguirei ter paz.
Um grande e belo sorriso se forma em meus lábios. A morte
perfeita!
— Esse sorriso... No que está pensando? — Caspen
pergunta, estreitando os olhos para mim.
— Seja o que for, não vai ser bonito. — Carter comenta,
balançando a cabeça.
Olho para as celas, onde os prisioneiros viraram a cara,
para não olharem o que fiz com Ester. Olho para os mafiosos à
minha volta.
— Ah, vai ser lindo! Vai ser perfeito, mas muito doloroso,
muito e muito doloroso, e Ester vai sofrer, ela vai implorar por
misericórdia. — Sorrio, olhando para Ester.
Seus olhos estão arregalados. Ela treme de dor, de frio e
provavelmente de medo, mas não me importo nem um pouco.
Quero seu sofrimento, sua dor, quero suas lágrimas, seus gritos.
— O que tem em mente?
Caminho até Carter e sussurro ao seu ouvido tudo o que
preciso para acabar de vez com Ester. Carter solta um pequeno
assobio, acenando com a cabeça, e olha para Caspen.
— Sua mulher é cruel, muito cruel! — comenta.
— Perfeita para mim. — Caspen sorri.
Carter bufa e sai da sala, indo buscar o que preciso.
— Sunshine, o que você fará?
Sorrio, balançando a cabeça.
— É surpresa. — Pisco. — O que faço com você? — Olho
para Ester. — Quero continuar a brincar com seu corpo, a me pintar
com seu sangue, mas sei que o jeito que irei levá-la à morte é
dolorido, é quente e irá comê-la lentamente.
Olho-a atentamente. Avalio seu corpo e sua situação. Ela
está cheia de adrenalina, sei que posso continuar a torturá-la um
pouco mais, porém o que tenho planejado para ela é mais doloroso.
Não será uma morte fácil. Será lento, bem lento, é o tipo de morte
que não desejo ter, mas quero que ela tenha.
Sei que estou sendo horrível nesse momento, que querendo
ou não, Ester é minha mãe, que eu deveria ter amor, compaixão e
pena dela, entretanto, tudo o que sinto ao olhá-la é horror, ódio,
tristeza, um grande e profundo incômodo. Ela não merece amor e
pena, ela não merece ter uma chance. Tudo o que ela fez, todas as
pessoas que ela prejudicou, maltratou... Não, ela não merece uma
chance.

Uma hora depois Carter volta com tudo o que pedi. Caspen
arregala os olhos, sua boca se abre e ele me olha surpreso. Sorrio
para ele.
Atrás de mim, Ester começa a se debater. Ela sabe, ela
sabe o que a espera, ela sabe como será seu fim.
— Tem certeza? — Caspen pergunta, olhando-me com
cautela.
— Aqui é preparado para isso? — Aponto para o
equipamento que Carter trouxe.
— Sunshine, aqui é preparado para todo o tipo de tortura
que imaginar — responde Caspen, sorrindo.
— Então sim, eu tenho certeza. — Sorrio para ele.
— Quando estiver pronta. — Pisca para mim.
— Não, não. Me mate logo, não quero passar por isso. —
Ester sussurra, seus olhos arregalados.
Ela tenta se soltar das amarras, o que é em vão e só a
machuca ainda mais. Suspiro, balançando a cabeça.
— Ester, Ester... você não vê que não tem voz aqui? Você
não está em posição de fazer exigências. Aqui você não tem valor,
não há escolha para você.
— Filha... — implora, olhando-me.
— Não, não sou sua filha.
— Phillipa... — Ester olha para onde Phillipa está.
Chega a ser engraçada toda essa situação.
— Quero que morra. — Phillipa diz, com puro ódio.
— Não há ninguém para salvá-la. Esse é o seu fim, aceite-o.
Olho para Carter, acenando com a cabeça. Observo
enquanto ele substitui as correntes de Ester por mais grossas e
mais resistentes. Ester luta um pouco, mas está fraca e machucada,
sua pequena luta não adianta de nada. Caspen segura minha mão e
Carter termina de preparar a sala. Olhando para mim, ele acena
com a cabeça. Solto a mão de Caspen e me aproximo de Ester,
olhando-a nos olhos. Sorrio para ela, um sorriso verdadeiro, um
sorriso de alívio. Conforto toma conta do meu corpo, uma paz me
envolve nesse momento.
— Aproveite o calor. — Pisco e dou as costas a ela. — Ah!
— Volto-me, sorrindo maldosamente. — Te vejo no inferno, mamãe.
Capítulo Quarenta e Um

Caspen
— Te vejo no inferno, mamãe.
Porra! Minha mulher é demais! Nunca teria se passado em
minha mente que Lori teria essa ideia cruel, muito cruel. É um dos
piores jeitos de morrer. Pura tortura.
— Vamos. — Tomo sua mão na minha, a levando para uma
outra sala, onde podemos observar em segurança Ester morrer.
Aceno para Carter. Ele sabe o que fazer, como prosseguir
com a morte de Ester.
— Você está bem, Sunshine? — pergunto, preocupado.
Ela pode estar se saindo muito bem, se mostrando forte e
determinada, mas lá no fundo, não deve estar sendo fácil. Nunca á
fácil tirar uma vida, principalmente quando se trata de sua mãe.
Não que Ester seja uma boa mãe. A mulher é um ser
humano sem alma, incapaz de sentir e amar, mas não muda o fato
de que ela é mãe de Lori.
— Sim, estou muito bem.
Olho em seus olhos, procurando algo, mas não encontro.
Ela realmente está bem. Um pequeno sorriso puxa o canto da sua
boca.
— Não se preocupe comigo, Caspen, estou bem, realmente.
Ester não merece meu amor, minha pena ou qualquer coisa que
demonstre compaixão. De mim ela não terá nada. — Aceno com a
cabeça.
Seu olhar se volta para o vidro à nossa frente. Do outro lado,
Carter prepara Ester. Meu irmão pega o galão de gasolina, em
seguida, o despejando no corpo de Ester. Lori aperta minha mão.
Olho para ela, vendo o grande sorriso em seus lábios.
Ela está gostando! Deus, Lori está gostando de ver o
sofrimento de Ester! Porra, gostando é pouco, ela está amando! O
brilho em seus olhos e o sorriso em seus lábios demonstram o
quanto ela está aproveitando toda essa situação. Parece que ela
está no próprio mundo, o próprio parque de diversão. Olhar para ela
nesse momento me deixa hipnotizado, é prazeroso.
Antes de Carter atear fogo, ele olha para Lori, esperando
sua confirmação. Respirando fundo, ela dá a ele um aceno de
cabeça.
Ester vai à loucura tentando se soltar. Bem, ela não tenta
muito, já que seu corpo está quebrado demais.
Meu irmão sorri ao acender o fósforo. Percebo que Lori
prende a respiração e espera. Ela volta a respirar quando Carter
joga o fósforo em Ester, que grita.
Hipnotizada, Lori está hipnotizada, concentrada em ver
Ester queimar; e eu me concentro nela, em minha Sunshine,
observando cada emoção que ela transmite. Sinto-me orgulhoso
dela e de tudo o que fez, de como ela se comportou em meio a tudo
o que aconteceu. Lori foi forte em todo o momento, sabendo lidar
com cada situação.
O cheiro de carne queimando começa a entrar na sala em
que estamos. Lori fecha os olhos, inspirando o cheiro, mas a reação
que ela tem não é boa. Colocando uma mão na boca e outra no
estômago, ela corre para um canto da sala, onde há um balde, e
despeja tudo para fora. Olho para Carter, que dá de ombros. Vou até
ela e seguro seu cabelo.
— Você está bem? — Esfrego suas costas.
Lori balança a cabeça.
— O cheiro de carne queimada está me enjoando —
resmunga.
— Vamos para casa — digo, tentando levá-la para longe,
mas Lori se nega a sair.
— Não, quero vê-la queimar — diz, olhando-me. — Quero
ver seu corpo virar cinzas.
Suspiro.
— Tudo bem.
Lori se levanta e volta para a frente do vidro.
— É lindo. — Ela diz olhando para o corpo de Ester.
Não há mais luta. Sem gritos, sem choro, apenas um corpo
morto queimando até não restar mais nada.
— Vê-la assim, saber que finalmente acabou, que ela não
existe mais, que não trará mais nenhum mal... é lindo. O fogo
tomando seu corpo, levando seus gritos, trazendo dor a ela,
comendo sua pele... Ver o fogo a consumindo, levando-a às
cinzas... Essa é a coisa mais linda que já vi. — Seus olhos se
encontram com os meus.
Eles brilham.
Seguro-a contra meu corpo. Lori suspira de contentamento.
Juntos, observamos Ester virar pó. Lori não se enjoa de novo, ela
apenas se concentra no fogo em Ester.
— Como está se sentindo, Sunshine? — Beijo seus cabelos.
— Ela se foi — sussurra.
Consigo identificar a felicidade em sua voz.
— Sim, ela se foi.
Lori ergue a cabeça para olhar para mim.
— Estou me sentindo muito, muito bem, Caspen. — Seu
sorriso aumenta.
Suspiro aliviado, sabendo que tudo deu certo no final e que
agora ela pode encontrar a paz de que tanto necessita.
Encostando sua testa em meu peito e fechando os olhos,
ela solta um pequeno suspiro. Seguro-a contra meu corpo, meus
braços a envolvendo de forma protetora.
Essa mulher em meus braços me surpreende a cada
momento. Ela é uma força a ser reconhecida. A mulher que amo
imensamente, a mulher que tira meu fôlego, aquela que me viu,
realmente viu quem sou e me aceitou. Essa mulher é minha, toda
minha, só minha, e tenho orgulho de dizer que a amo e a admiro.
Não sou o tipo de pessoa que demonstra sentimentos, o tipo
que faz juras de amor, mas por Lori, pela minha Sunshine, serei o
homem mais romântico e carinhoso que existe. Por ela eu serei o
que ela quiser.
— Acabou — diz por fim.
— Sim, amor, acabou. — Sorrio para ela.
— O que faremos agora? — pergunta, olhando para mim.
— Nós seguimos em frente. — Sorrio mais, e ela retribui.
— Seguimos em frente — repete em um sussurro.
Lori
Nada. Não sobrou nada de Ester, nenhum vestígio do seu
corpo, apenas cinzas. Aproveite o inferno, vadia, penso, um sorriso
se formando em meus lábios.
É assim que acaba. Finalmente consigo sentir aquela paz
que tanto necessitava, aquele sentimento de que tudo ficará bem e
que a ameaça foi exterminada. Ester não pode mais nos alcançar,
ela não tem mais poder sobre nossas vidas, e América finalmente
está livre dessa mulher mesquinha.
— O que iremos fazer com eles? — Caspen aponta para
Dimitri e Phillipa.
Olho para os dois encolhidos em suas celas. Phillipa olha
para mim. Quero conhecê-la, quero ter essa relação de irmãs, mas
nesse momento, não confio nela. Sei que ela tentou proteger
América e fez o melhor que pôde, mas se ela tivesse vindo até nós,
as coisas seriam diferentes, Ester teria sido eliminada bem antes, e
tanto Phillipa quanto América teriam nossa proteção. Ela traiu
Caspen com suas escolhas, agora ela tem que pagar por elas.
Já de Dimitri não tenho muito o que dizer. Ele me torturou,
abusou de mim, tirou um pedaço da minha alma, um pedaço de mim
que não há como consertar. Ele tirou minha escolha, quero que ele
sofra mais um pouco. Quero que Dimitri fique com a pergunta:
quando será a minha vez?; quero-o incomodado, assustado.
— Dimitri, pode deixar aqui. Virei para ele em poucos dias.
— Olho para Dimitri, dando uma piscadinha para ele, que treme;
depois olho para a minha irmã. — Não sei o que fazer com ela.
Phillipa é minha irmã e quero conhecê-la melhor, mas nesse
momento só quero distância. Preciso pensar um pouco. Só preciso
de tempo — respondo a Caspen, que acena com a cabeça para
mim.
— Tome seu tempo, Sunshine.
Sua cabeça se abaixa, e sua boca toma a minha em um
beijo calmo, mas muito, muito sensual. Entrego-me ao beijo,
deixando-o tomar as rédeas. Envolvo meus braços em volta do seu
pescoço e fico na ponta dos pés. Meus lábios se abrem, dando a ele
livre acesso. Suas mãos seguram-me pela cintura. Solto um
pequeno gemido quando ele me puxa para mais perto e eu sinto sua
protuberância em mim.
— Caralho, Sunshine! Você me deixa louco! — resmunga
em meus lábios.
— O mesmo aqui — sussurro.
Mordisca meus lábios, sua língua acaricia a minha, ele me
devora feito um louco.
— Preciso de você — digo, entre beijos.
Caspen me pega, levando-me para fora. Ele não para o
beijo, apenas me leva em seus braços para o andar de cima, em
direção ao seu quarto.
Seu beijo é envolvente. Meu corpo clama pelo dele. Sinto-
me consumida, tão cheia de desejo, de adrenalina, que tudo o que
eu quero é ele. Preciso dele nesse momento como preciso de ar
para respirar. Seu calor me envolve, levando-me à loucura.
Fechando a porta do quarto com o pé, Caspen nos leva
direto para o banheiro. Não se importando que estamos vestidos,
ele apenas abre o chuveiro, nos colocando debaixo.
— Caspen...
— Shhhh, Sunhine, deixe-me limpá-la. — Ele beija minha
testa com carinho.
Esse homem é um mistério para mim. Segundos antes
estávamos envolvidos com tanta paixão, que pensei que foderíamos
sem sentindo; mas aqui está ele, cuidando de mim, me despindo
com cuidado, com um brilho nos olhos, que demonstra amor e
respeito.
Em silêncio, me despe, suas mãos calejadas alisando meu
corpo com tanto cuidado, como se eu pudesse quebrar a qualquer
momento.
Não que ele pense que sou frágil, não creio nisso; mas
nesse momento ele está cuidando de mim dessa forma, como se eu
precisasse de delicadeza, e isso traz lágrimas aos meus olhos. É
um momento tão bonito.
Pegando uma esponja, ele passa o sabão e depois esfrega
meu corpo, tirando todo o sangue seco de minha pele. Em cada
parte de onde limpa o sangue, Caspen dá um beijo.
Meus olhos se fecham e eu sinto, apenas sinto-o, o seu
cuidado, o seu carinho e o seu amor. Sinto seus lábios em meu
corpo, suas mãos me limpando. Um pequeno suspiro deixa meus
lábios quando ele começa a lavar meus cabelos. Seu toque é como
um calmante em meu corpo.
— Isso é bom — resmungo —, muito bom.
Caspen solta um pequeno riso.
— Fico feliz em agradar.
Meu corpo começa a relaxar no banho. Sinto-me cansada.
Esgotada, para dizer a verdade. Todo o momento de libertação que
tive enquanto torturava Ester, o enjoo com o cheiro de pele sendo
queimada, tudo o que aconteceu está me envolvendo, deixando
cansada demais.
O cansaço bate em meu corpo rápido demais, e me vejo
caindo nos braços de Caspen.
— Descanse, amor, estarei ao seu lado quando acordar.

Caspen
Esgotada. Lori estava esgotada com tudo o que aconteceu.
Não que eu a culpe. Foram horas e horas de tortura, sem parar para
comer ou descansar, e no fim, tudo o que ela tinha no estômago foi
colocado para fora quando o cheiro de pele queimada a atingiu.
Coloco-a na cama com cuidado e a cubro com um lençol,
dando um beijo em sua testa. Volto para o banheiro, porque agora é
a minha vez de me limpar.
Lavo meu corpo, tirando o sangue, a sujeira e o cheiro de
queimado. Assim que saio do banho, me visto, dou uma última
olhada em Lori e saio, voltando para a sala de tortura.
— Como está Lori? — Carter pergunta.
— Dormindo. Tudo isso a esgotou. — Ele acena com a
cabeça.
— Ela foi forte. — Ri, balançando a cabeça. — Ela na
verdade foi é louca! — Contém orgulho em sua voz. — Queimar
Ester?! A melhor ideia que ela já teve! Foi simplesmente perfeito! O
melhor jeito de matar alguém, de fazer uma pessoa sofrer até no
momento da morte. — Solta um assobio.
— Ela foi perfeita — comento, orgulhoso.
— Sim, irmão, você encontrou a mulher perfeita para você.
— Ele aperta meu ombro.
— Nisso eu concordo plenamente. — Sorrio. — Chame os
meninos e peça-lhes para limparem essa bagunça. — Aponto para a
sala onde Ester foi queimada minutos atrás.
— Já os chamei, eles estão a caminho. E esses dois? O que
fará com eles?
— Dimitri irá continuar aqui, ele é de Lori. — Olho para
Phillipa. — Agora, ela, ela precisa desaparecer até que seja da
vontade de Lori vê-la.
— Quem precisa desaparecer? — Raphael se intromete na
conversa, esfregando as mãos juntas.
Atrás dele estão os homens que limparão o lugar e levarão o
resto de Ester... bem, suas cinzas.
Raphael olha em volta da sala.
— Uau! Quem foi queimado aqui? — pergunta, olhando do
chão ao teto.
— Ester — digo, e ele ri.
— Vocês colocaram a vadia para queimar! — Balança a
cabeça, rindo. — Ótima ideia!
— Não fomos nós, foi Lori — digo a ele.
— Porra! Tenho que dar os parabéns à minha priminha, ela
sabe como matar alguém! — Sorri. — Bem, quem precisa
desaparecer? — pergunta, ficando sério.
Aponto para Phillipa, que está nos encarando.
— Ela, quero que ela suma.
Raphael olha para Phillipa, observando-a por alguns
minutos.
— Quer que ela suma? Em qual sentindo, chefe?
Sorrio para ele.
— Só a quero longe. Lori não a quer por perto por enquanto,
então, leva-a, fique de olho nela até que Lori decida vê-la.
Raphael esfrega o queixo, provavelmente pensando no que
acabo de falar. Por fim ele suspira, balançando a cabeça.
— Quer que eu fique de babá — resmunga.
Ele não gosta, nenhum dos meus homens gosta de ficar de
babá, mas é o que quero, é necessário. Não confio em Phillipa,
então a quero longe e isolada de tudo e de todos. Ela precisa pagar
pelo que fez.
— Tudo bem, sei para onde a levar. — Ele se vira, ficando
de frente para Phillipa e dando-lhe uma olhada desdenhosa. —
Você e eu, querida, será só nós dois.
— Bem, agora que temos tudo resolvido, irei cuidar da
minha mulher. Vejo vocês depois.
Ester está morta, seus homens agora são meus homens.
Toda a ameaça está neutralizada, Lori finalmente é minha...
Porra! Tudo está perfeito, como deve ser! O rei continua em
seu trono, e ao seu lado está sua rainha...
Capítulo Quarenta e Dois

Lori – Um mês depois...


Hoje é um dia melancólico, tão calmo. Eu estou em paz
depois de muito tempo. Aceitei tudo o que aconteceu durante esses
últimos anos, aceitei que não podemos ter tudo e que pessoas vêm
e vão. Não posso mudar meu passado, mas posso ditar meu futuro,
e é o que estou fazendo.
Sorrio ao olhar para a lápide de Chris.
Sinto falta dele, sempre sentirei. Chris me ajudou quando
mais precisei, e sempre serei grata a ele.
Hoje não é um dia triste para mim, e é por isso que estou de
vestido branco até os joelhos. O vestido é colado ao meu corpo, de
mangas compridas, e nas costas é aberto. Meus calçados são um
par de sandálias de salto com diamantes cravados nas tiras. São
simples, mas elegantes. Em minha mão está uma única rosa
vermelha.
Caspen está no carro, me esperando. Eu não quis que ele
viesse comigo, pois esse é o meu momento, um momento de
despedida, de aceitação, um momento em que darei um fim ao meu
passado com Chris. Eu preciso disso para a minha paz ser
completa, para tirar toda a dor, toda a tristeza e a culpa que sinto
por sua morte, por ter sido ele e não eu.
Chris fez parte da minha vida, e sempre o terei em meu
coração, porém ele se foi, e preciso deixá-lo ir.
Um pequeno sorriso se forma em meus lábios ao me
lembrar dos momentos que tive com Chris. O jeito que ele me
olhava, quão protetor e atencioso ele era e a forma que ele me
segurava, como se eu fosse seu mundo todo.
Eu realmente o amei. Ele me tirou da autodestruição, ele me
ajudou quando mais precisei. Sei que meu amor por ele não é o
mesmo amor que sinto por Caspen, é até errado comparar. Amo os
dois de formas e medidas diferentes, mas não amo um mais que o
outro.
Abaixo-me com cuidado, para ficar mais perto do túmulo.
Passo a mão pela lápide, tirando a poeira. Com um grande aperto
no peito, coloco a única rosa de minha mão em cima da lápide.
— Ei, querido... — sussurro, sentindo minha garganta se
fechar.
Fecho os olhos, respirando fundo, a fim de controlar as
emoções que me envolvem nesse momento. Minha visão embaça
com as lágrimas, mas me recuso a derramá-las, me recuso a chorar
em um dia tão pacífico e perfeito. O sol brilha acima de mim, o vento
está fresco, não há nuvens, os pássaros cantam nas árvores em
minha volta... Um dia lindo que deve ser lembrado com amor e
sorrisos.
— Acho que fiquei muito tempo sem vir visitá-lo — comento,
sorrindo. — Não sei bem como dizer tudo o que está em minha
mente. Há tantas coisas que eu gostaria de falar, mas acho que
agora não importa mais, não é? Você não irá ouvir, você não está
aqui. — Balanço a cabeça, e meu coração bate forte.
Quero acreditar que ele possa estar me ouvindo, que ele
possa me ver de onde está. Chris sempre será uma parte de mim,
ele sempre estará em minhas memórias.
Engulo em seco.
— Sinto muito — sussurro.
Ao meu redor, o vento passa pelo meu corpo, trazendo
arrepios. De alguma forma isso reconforta minha alma, me acalma.
Sinto que Chris está aqui, ao meu lado, ouvindo cada palavra que
digo.
— Sinto muito mesmo — repito, alisando sua lápide. —
Sinto por tudo. Você não merecia ter morrido, não merecia o fim que
teve. Eu queria que tudo tivesse acontecido diferente, queria que
estivesse vivo, queria poder ao menos ter me despedido de forma
correta. Você se foi de modo tão rápido, tão horrível. Ainda posso
vê-lo. Se eu fechar os olhos, ainda posso ver o momento que você
se foi, seu corpo, o sangue... Foi difícil para mim, muito difícil aceitar
que você se foi, em seguir em frente, saber que você não estaria
mais aqui, ao meu lado. Ainda é difícil, mas agora... — Comprimo os
lábios — agora tenho alguém para me apoiar, alguém para me
segurar quando eu precisar, para fazer a dor ser mais fraca. Estou
feliz agora, estou em paz com tudo o que aconteceu. Finalmente
acabou, eu descobri quem era Hernández, que era a minha mãe
biológica. Dá pra acreditar? Tenho duas irmãs. Tantas coisas
aconteceram, Chris. Quero que saiba que sempre o levarei comigo,
você sempre será uma parte de mim, alguém que amei, alguém que
cuidou de mim, que foi meu maior apoio. Sinto muito por não poder
estar aqui comigo, compartilhando minhas alegrias. Sinto muito
porque sua vida foi tirada de você, porque não teve oportunidade,
sinto muito por tudo. Você merecia mais, merecia muito mais.
Espero que esteja em paz, que tenha encontrado sua felicidade, que
esteja bem. Adeus, querido. — Posiciono a rosa perfeitamente no
meio da lápide, olhando uma última vez.
Um sorriso se forma em meus lábios. Tudo vai ficar bem.
Levanto-me e caminho de volta para o carro, onde Caspen me
espera pacientemente. Sorrio ao entrar no veículo. Caspen pega
minha mão, dando um beijo.
— Você está bem, Sunshine? — pergunta, olhando-me
atentamente.
Ergo meu corpo, chegando mais perto dele e dando um
beijo em sua bochecha.
— Sim, estou bem. — Sorrio mais, a fim de dar a ele a
certeza do que falo.
É a verdade, tudo está bem agora. Não há mais dor, não há
culpa, tristeza e aquele sentimento esmagador em meu peito me
apertando, me sufocando. Não, não há mais nada que me oprime.
Tudo o que sinto é paz, uma grande paz, e eu sei que tudo ficará
bem.
— Vamos para casa. — Caspen diz, sorrindo para mim.
Aperto sua mão na minha.
— Sim, vamos para casa.
Vamos para a nossa casa.

Caspen – Uma semana depois...


Olho para Lori, o grande sorriso estampado em seu rosto.
Ela tem aquele brilho nos olhos. Suas mãos estão tremendo, não de
medo, mas de adrenalina, de emoção. Ela está animada, ansiosa
para fazer o que veio fazer. Ela quer isso. Acho que no fundo, ela
sempre quis, sempre teve aquela vontade dentro dela, que foi
negada.
Não vou negar seu desejo, e é por isso que estou aqui,
porque vou junto com ela. Não a deixarei sozinha, e também estou
louco para pular.
— Nervosa? — Ela olha em frente, concentrada no mar.
Esse lugar é muito lindo e tão calmo, tão reconfortante; e a
entendo, entendo por que ela vinha aqui. Se Deus existe, imagino-o
aqui, olhando para o mundo, nos observando.
— Nenhum pouco — responde. — E você? — pergunta
sorrindo.
Observo-a, seus cabelos balançando ao vento, o sol
iluminando seus fios dourados, a cor dos seus olhos combinando
com o mar à nossa frente... Ela é perfeita! Tão fodidamente perfeita,
que tira o meu ar, faz com que eu perca a capacidade de pensar
direito. Eu me torno um tonto, um tolo perto dela.
— Não. Na verdade, estou ansioso para pular, para
compartilhar esse momento com você, Sunshine. — Puxo-a para os
meus braços, tomando seus lábios nos meus.
Lori se derrete contra meu corpo, sua boca se abrindo,
dando a mim permissão para explorá-la. Ela me segura pelos
braços. Não faço ideia por quanto tempo ficamos assim, só sei que
aproveito cada precioso minuto que tenho com ela.
Minha língua acaricia a sua, e ela geme em meus lábios.
Tomo seu gemido para mim, tomo seu beijo, seu corpo, seu amor e
tudo o que ela tem a oferecer para mim.
Sou egoísta quando se trata dela, sempre a quero por perto,
ter minhas mãos em seu corpo, ter minha boca na sua e ver o
sorriso em seus lábios, saber que ela é minha, toda minha, isso me
dá um sentimento de posse.
Mordisco seus lábios, o que a faz suspirar. Sorrio em seus
lábios, sabendo muito bem que seu corpo está em chamas. Quero-
a, assim como ela me quer.
— Tenho algo para você — digo a ela, soltando seus lábios;
Lori abre os olhos, encarando-me com aquele olhar animado dela.
— Estava esperando o momento certo para lhe dar, e acho que
esse é o momento. Aqui, diante desse penhasco, só eu e você.
Esse é o momento. — Retiro a carta do meu blazer e lhe entrego.
Lori sorri para mim.
Essa seria a última carta, a que definirá nosso futuro. Tenho
a carregado comigo em todo o momento, esperando a hora certa
para entregá-la a Lori; e aqui, agora, é exatamente a hora certa.
Aqui, à beira desse penhasco, eu sei que é o momento certo para
dar esse passo. Esse momento é perfeito, e sei que fiz a escolha
certa. Pelo grande sorriso de Lori e o olhar que ela dá, eu sei que
faço o certo. Este momento ficará guardado em nossas lembranças.
Não estou nervoso, como pensei que estaria. Estou muito
confiante, para dizer a verdade. Eu sei o que ela irá dizer, sei que
esse é o nosso começo, é o primeiro dia do nosso para sempre.
Clichê, eu sei, mas é a verdade, é como me sinto.
Porra! Estou ficando mole demais com essa merda de para
sempre.
Lori
Sinto o grande sorriso se formando em meus lábios quando
pego a carta de Caspen. Minhas mãos estão tremendo de
ansiedade. Estou louca para saber o que tem na carta.
Quando Caspen enviou a primeira carta para mim, foi um
choque total, não esperava essa atitude dele, principalmente que ele
mandasse algo relacionado ao meu diário. Não posso acreditar que
ele leu meu diário! Era algo meu, meu segredo!
No começo me senti violada, mas acho que me acostumei.
Bom, acho que apenas aceitei. Esse é Caspen, ele faz o
que quer e quando quer. Não venceria dele, não que eu quisesse
vencer dele, sem falar que nunca pensei que esse homem tivesse
um pouco de romantismo dentro dele, e me surpreendi.
Ele me surpreendeu com todas as cartas que enviou, com
cada palavra escrita, com os presentes e seus significados, ele
simplesmente me deixou sem palavras.
Com as mãos tremendo e o coração saindo pela boca, abro
a carta. Antes de começar a lê-la, olho para Caspen, que acena com
a cabeça.

“Sunshine, se você soubesse quantas vezes já escrevi essa


carta, ficaria louca. Toda vez que começo, acho que não está certo
e refaço-a de novo. Quero que seja perfeito, quero que essa carta
seja perfeita, mas acho que não vou conseguir chegar à perfeição.
Porra, eu não sou perfeito, então é óbvio que não conseguirei
escrever algo digno a você.
Merda! Estou sendo tão ridículo!
Acho que vou jogar essa carta fora e escrever tudo de novo.
Melhor não, estou ficando sem ideias e não quero acabar
escrevendo besteiras — acho que já estou — estou divagando, não
é?
Eu só quero que esse momento seja especial. Tenho
pensando muito sobre isso, sobre nós dois, nosso futuro e como eu
quero que sejamos. Você me tira o foco, Sunshine, me tira da minha
razão. Não sei o que está fazendo comigo, mas tudo o que penso,
tudo o que faço, todas as minhas ações são em volta de você.
Isso é amor, não mesmo? Amo-te tanto, que todas as
minhas ações são pensando em você. Não sou uma pessoa de
mostrar sentimentos, mas quando se trata de você, Sunshine, não
consigo me controlar, não consigo me conter, e foda-se se isso me
torna mesmo homem.
Fui um homem difícil e sei que a magoei imensamente, sei
que não a mereço, mas, porra, sou um fodido possessivo e não vou
deixá-la, mesmo não a merecendo eu não abrirei mão de você.
Li seu diário, e sei que ficou furiosa e se sentiu violada, mas
confesso que seu diário me ajudou bastante, ele tem sido meu livro
de autoajuda, é por causa dele que sei tudo sobre você. Ele me
ajudou a conquistá-la, conhecê-la de uma forma que nunca imaginei
conhecer, e isso só me mostrou quão incrível você é e quão sortudo
eu sou por me amar.
Não tenho vergonha de dizer que peguei dicas de um diário.
Porra, uma coisa que não tenho é vergonha! Estou divagando, não
estou?
Acho que é isso que acontece comigo quando se trava de
você, me torno bobo e fico divagando. Droga!
Bem, o que quero dizer é que te amo imensamente e não
sei como posso demonstrar tudo o que sinto por você, mas,
Sunshine, se você me permitir, passarei o resto da minha vida
mostrando a você o quanto a amo. É por isso que estou aqui,
escrevendo essa carta.
Cheguei em uma parte do seu diário onde você desenhou
nossas alianças de casamento. Já pode imaginar onde quero
chegar. Sim, eu tive a audácia de pagar o desenho e ir até um
joalheiro. Ele fez, Sunshine, ele fez nossas alianças, assim como
você as desenhou.
E é isso que quero perguntar a você, quero que seja minha
para sempre, quero que seja a mãe dos meus filhos, minha melhor
amiga, minha mulher, minha rainha. Quero poder acordar do seu
lado todos os dias, quero ter seu sorriso, o brilho dos seus olhos,
seu corpo, seus abraços, quero tudo, Sunshine.
Você aceita se tornar minha? Casa comigo?”

Termino de ler a carta com a visão embaçada pelas lágrimas


que derramo. Ele acabou comigo, essa carta abalou toda a minha
estrutura.
Viro a cabeça para olhar para Caspen. Levo a mão à boca,
contendo o meu gritinho quando o vejo de joelhos, com a caixa
aberta, mostrando as duas alianças que desenhei.
Não posso acreditar! Ele fez isso! É tão lindo!
As lágrimas escorrem, minhas mãos tremem
descontroladamente e meu coração bate tão forte, que parece que
sairá do meu peito a qualquer momento.
— Casa comigo, Sunshine? — Caspen pergunta, sorrindo.
— Sim, sim! — grito, me jogando em seus braços.
Caspen nos levanta do chão, beijando-me intensamente.
Entrego-me ao seu beijo, agarrando-me a ele para nunca mais
soltá-lo.
É real! Esse momento é real! Ele é meu e eu sou dele!
Caspen quebra o beijo para colocar o anel em meu dedo, e
faço o mesmo com ele. De mãos dadas, olhamos para o penhasco.
— Está pronta?
— Sim — respondo, acenando com a cabeça.
— No três?
— No três. — Sorrio.
— Um.
— Dois.
— Três!
Nós literalmente pulamos do penhasco, pulamos para uma
nova vida, para um novo começo, um novo caminho, sem pensar
duas vezes, apenas pulamos para o desconhecido, e é maravilhoso.
A melhor sensação da minha vida!
Epílogo

Um mês depois...
Sorrio para Caspen. Não posso acreditar que estávamos
fazendo isso. Deus! Sonhei tanto com esse momento! Não há
palavras para explicar o quanto esperei por esse dia, o quanto
sonhei e ansiei por esse momento, o momento em que eu me
tornaria dele e ele se tornaria meu.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Caspen ergue a mão,
passando o dedo em minha bochecha. Meu coração bate forte. A
intensidade no olhar de Caspen me deixa sem chão. Ele sorri para
mim.
Amor, puro amor transborda do meu coração.
Passamos por muito, chegou a um momento que desisti
dele, de nós, desse amor não correspondido. Estava tão cansada de
lutar sozinha, tão cansada de não ser correspondida, cansada de
tudo. Chegar até esse momento custou muito.
Olho para toda a nossa família, todos presentes para esse
momento. Sorrio ao ver América no colo de Osmar.
Nossos filhos... Sim, Caspen e eu oficializamos a adoção
dos dois, eles são nossos agora, e eu amo os dois.
O sol se põe atrás de nós dois, sob o mar. Estamos no
penhasco, o mesmo penhasco em que conheci Chris, o mesmo
penhasco em que Caspen me pediu em casamento, o mesmo
penhasco do qual pulamos.
Estamos fazendo isso! Estamos realmente fazendo isso!
Não posso acreditar! Era meu sonho de criança, um sonho que por
um tempo pensei ser impossível de realizar; mas aqui estamos nós,
nos casando.
Quero dar pulinhos de alegria... Não, quero dar pulinhos e
gritinhos de alegria. Oh, meu Deus! Estou tão eufórica, que está
sendo difícil me controlar.
— Sunshine...
— Eu, essa sou eu — digo, apontando para mim mesma.
Pareço uma criança boba. Todos riem do que acabo de falar.
Controle-se, Lori, digo mentalmente a mim mesma.
— Sim, amor, você é a minha Sunshine. — Caspen pisca
para mim.
Deus! Sinto minhas bochechas arderem!
— Continua, por favor — digo a ele, sorrindo.
— Tudo bem. — Caspen acena com a cabeça ao limpar a
garganta. — Lori, não sei mais o que dizer para você, já que eu já
disse meus votos alguns meses atrás; mas aqui, diante da nossa
família, quero que todos saibam quão sortudo eu sou por tê-la, por
você ter me dado mais uma chance, por ter me aceitado e me
amado mais uma vez. Eu quase a perdi, por minha culpa, por causa
do meu ego eu quase a perdi. Não tenho vergonha de admitir que
tive uma grande ajuda ao ler o seu diário. — Nossos familiares riem.
— Sim, sim, eu li o diário dela. — Caspen diz, olhando-os, e logo
seu olhar se volta para mim.
Meus olhos parecem cachoeira, de tantas lágrimas
derramadas. Mas não me importo nem um pouco. O homem que eu
amo está se declarando para mim, e é tudo o que importa.
— Seu diário virou meu melhor amigo, e através dele eu
pude conhecê-la melhor, e o que vi me deixou sem palavras,
encantado e mais apaixonado... — Meneia a cabeça,
desconcertado. — Porra...
— Olha a boca, tem criança no local. — Vovó Nadine o
repreende.
— Porra! — América repete, batendo palmas.
Balanço a cabeça, mordendo minha bochecha, para impedir
o riso.
— Oh, céus! — Mamãe e Lydia dizem ao mesmo tempo.
— Isso está ficando bom. — Meu irmão ri.
— Será que eu posso continuar? — Caspen se irrita.
— Sim, sim, é claro, irmão, só não demore muito, estou
ficando entediado. — Heitor diz, rindo.
— Devíamos ter nos casado em Vegas — sussurra Caspen
ao meu ouvido, o que me faz rir.
— Assim está perfeito — digo a ele, que balança a cabeça.
— Como eu estava dizendo... — Continua. — Não sei bem
fazer essa coisa de votos, principalmente na frente de tantas
pessoas.
— Está ficando mole, irmão! — grita Lorenzo, rindo.
Caspen fica vermelho de raiva, e eu seguro o riso.
— Posso matá-los? — pergunta a mim.
— Não, você precisará deles no futuro.
Caspen suspira, frustrado. Não posso deixar de rir com esse
momento descontraído.
— O que eu estou tentando dizer — Eleva a voz — é que
sou sortudo por ter me dado uma segunda chance, por ter me
aceitado como sou. Você, Sunshine, me fez ver as coisas de forma
diferente, me fez perceber que amá-la não me torna fraco. Pelo
contrário, amá-la me torna mais forte, mais decidido, mais firme,
amá-la me torna mortal, porque agora tenho você e nossos filhos
para proteger. Você é minha luz, Sunshine. Nesse momento eu te
tomo como minha mulher, minha melhor amiga, como a mãe dos
meus filhos, nesse momento te tomo como minha esposa. Você é
minha para proteger e amar. Eu te amo, Sunshine.
Caspen me puxa para os seus braços, beijando-me. Meu
coração transborda de amor por ele e pelas palavras que acaba de
dizer.
Parando o beijo, ele coloca a aliança em meu dedo.
— Quero ver Lori superar os votos de Caspen agora! —
Carter grita, rindo. — Apostei em você, Lori, não me faça perder.
— Caspen foi melhor, tenho certeza disso. — Raphael diz,
rindo.
— Vamos lá, cunhada-prima, dê o seu melhor! — Lorenzo
grita.
Não posso acreditar que eles fizeram uma aposta! Essa
família vai me deixar de cabelos brancos antes do tempo.
— Não sei se vou ser melhor que você, e não me importo
com isso. — Olho feio para os meus primos, que me mandam beijos
e piscadinhas. — Lembro-me exatamente a primeira vez que o vi.
Você não me olhou com pena, não me olhou como uma criança
quebrada e maltratada que eu era. Você apenas me olhou e acenou
para mim, e foi quando me apaixonei por você. É claro que era um
amor bobo de criança, mas esse amor foi crescendo à medida que
eu envelhecia, foi me dominando e tomando conta de mim, fazendo
parte de mim, e eu não sabia a diferença entre respirar e amá-lo,
porque amar você se tornou tão fácil como respirar, os dois se
tornaram um só.
— Porra, já perdi a aposta! Lori ganhou. — Raphael
reclama.
Caspen rosna, e eu apenas balanço a cabeça, rindo.
— Por um tempo eu o perdi e quase me casei com outra
pessoa, mas a vida tem um jeito estranho de fazer as coisas. Chris
se foi, e você estava lá para me segurar, para ser meu porto, para
me apoiar enquanto eu estava me perdendo, e foi aí que foi nos
dado uma segunda chance. A vida nos deu uma segunda chance.
Essa é a nossa segunda chance, Caspen, esse momento é nosso.
Você foi o homem que amei desde quando eu era uma garotinha,
você foi meu príncipe-vilão encantado. Sua escuridão reflete a
minha, mas a nossa luz ilumina nossos caminhos. Eu te amei no
passado, eu te amo agora e te amarei no futuro. Apoiarei suas
decisões, estarei ao seu lado em todo o momento, serei sua amiga,
sua mulher e a mãe dos seus filhos. Esse é o nosso começo. —
Lágrimas embaçam minha visão, o que torna difícil colocar o anel no
dedo de Caspen.
— Deixe-me ajudá-la. — Caspen me ajuda. — Pronto. —
Posso ouvir o riso em sua voz.
— Eu vos declaro casados. — O pastor diz.
Nossa família grita, Caspen me beija e tudo está perfeito.
Esse é o nosso começo.
Osmar e América se juntam a mim e Caspen. Abraçamos
nossos filhos. Tudo está perfeito.
Duas semanas depois...
— Três! — grito, horrorizada.
Ao meu lado, Caspen ri, todo orgulhoso. Dou um tapa em
seu ombro, querendo que ele pare de rir, porque não é engraçado!
— Três, Caspen! Há três bebês dentro de mim! — grito.
Olho para a tela à minha frente. Não consigo acreditar que
estou realmente grávida de trigêmeos! Trigêmeos!
— Como isso aconteceu? — pergunto, sem entender.
Minha chance de engravidar era de um por cento, e agora
não só engravidei, como engravidei de três! Nunca imaginei que
isso aconteceria comigo!
— Querida, acho inapropriado eu dizer na frente da médica
como eu a engravidei. — Caspen sorri para mim.
Suspiro, balançando a cabeça.
— Você sabe muito bem o que eu quis dizer. — Olho para
ele de cara feia.
Caspen sorri para mim. Ele abaixa a cabeça, seus lábios
encostando em minha testa. Uma lágrima escorre do meu olho,
descendo pela minha bochecha.
Estou grávida, algo que sempre quis que acontecesse. Um
milagre em minha vida. Estou assustada, mas tão, tão feliz, que
sinto que vou explodir.
— Três bebês — sussurro para Caspen.
— Sim, amor, três bebês, e... porra, estou muito orgulhoso!
— Sorri, todo cheio de si.
— Estou tão ferrada!

Caspen
Porra! Três bebês! Isso é incrível demais! No começo não
acreditei no que vi, mas é real, estava lá, três lindos bebês, três
corações batendo! Fodidamente incrível demais! Eu sou a porra do
cara mais feliz do mundo! Tenho uma mulher maravilhosa que amo,
dois filhos incríveis e mais três por vir... sem falar que tudo está em
paz. Continuamos sendo os reis de Nova York, ninguém irá tirar o
nosso trono.
— Cara, você está ferrado. — Lorenzo balança a cabeça.
— Você está é com inveja.
Lorenzo ri, balançando a cabeça.
— Já pensou se forem três meninas? — Carter ri do meu
olhar horrorizado.
Não, não e não! Tem que ser três meninos e pronto! Nada
de meninas, já terei trabalho com América e seu doce sorriso. Não
irei aguentar ter mais três meninas.
— Oh, ele se assustou agora. — Heitor ri.
— Não é engraçado.
— Vocês estão rindo, mas se esquecem que todos têm
meninas — acrescento, olhando para eles com satisfação quando
me olham horrorizados.
— Estamos ferrados. — Carter comenta.
— Já estou imaginando quando o primeiro garoto aparecer.
— Lorenzo suspira, passando as mãos pelo cabelo.
— Tenho um arsenal pronto. — Heitor murmura.
— Nada de namorados até os trinta anos — comento, e
todos concordam.
Que Deus me ajude, mas oro para que os trigêmeos sejam
todos meninos.
Lori – Meses depois...
Sorrio ao ver meus três bebês. Eles são lindos, perfeitos,
cheios de saúde e com uma garganta potente.
À nossa volta está nossa família, todos babando por nossos
bebês. Caspen está sorrindo de orelha a orelha, todo animado e
cheio de orgulho por ser pai de dois meninos e uma menina.
Tive uma cesariana. Minha gravidez foi de risco, então tive
que ter muito cuidado. Caspen foi todo protetor, não me deixando
fazer nada, me mimando sempre que queria. Não que eu esteja
reclamando.
— Já escolheram os nomes? — Mamãe pergunta, olhando-
nos.
Meus bebês já têm cinco dias de nascidos, mas como eu
estava cansada, me recuperando, Caspen e eu não tínhamos
anunciado os nomes deles.
— Sim. — Caspen responde, sorrindo.
Ele olha para mim, que aceno com a cabeça.
— Nossos meninos serão Mason Carter Callahan e Myles
Lorenzo Callahan. Agora, nossa menina é...
— Betanhy Sunday Callahan — digo, sorrindo. — E o
padrinho de todos é Heitor.
— Porra! — Heitor resmunga, emocionado.
— Você deu nossos nomes a eles. — Lorenzo diz, olhando-
nos com surpresa.
— Vocês são meus irmãos, estão sempre comigo, dando-
me apoio, nunca me questionando ou indo contra minhas decisões,
então esse é o nosso jeito de agradecer-lhes. — Caspen diz.
Posso ver que ele está se controlando para não chorar. Meu
homem forte.
— Isso é tão lindo. — Lydia diz, lágrimas derramando de
seus olhos.
— Tão emocionante. — Mamãe diz.
— Vocês todos são tão molengas. — Vovó diz,
descontraindo a todos. — Essas crianças serão mimadas demais.
Deus nos ajude! — Ela ergue as mãos para o alto, as balançando.
Todos nós rimos.
Bocejo, me sentindo cansada.
— Está na hora de vocês irem. — Caspen diz.
— O quê? — Sophia protesta.
— Nem os peguei ainda. — Lauren faz beicinho.
— Amanhã eles irão para casa, e vocês poderão pegá-los e
mimá-los. Agora Lori precisa descansar. — Caspen os leva até a
porta, fazendo com que todos saiam.
— Não precisava ser assim — comento, olhando-o.
— Estavam muito em cima. Você está cansada e os bebês
precisam de tranquilidade. — Dá de ombros. — Como está se
sentindo?
— Feliz, animada e um pouco preocupada. Eles são tão
pequenos, Caspen. Se deixarmos eles caírem? — pergunto, com
pura preocupação.
Caspen ri, mas não acho engraçado. Eles realmente são
pequenos e frágeis; tão frágeis, que tenho medo de falhar com eles.
— Está tudo bem, Sunhine. Você é uma ótima mãe para
América e Osmar, irá se sair muito bem com os trigêmeos. — Ele
beija minha testa com carinho.
Suspiro, satisfeita.
Caspen tem razão. Eu sou uma mãe fodona, não falharei
com eles, não falharei com minha família, afinal de contas, sou uma
Callahan. Um Callahan nunca falha.

Caspen – Oito meses depois...


Observo minha esposa com nossos filhos. Seus risos
preenchem a sala de brinquedos onde ela está com nossos
trigêmeos e América. Um sorriso se forma no canto de meus lábios.
Lori é perfeita como mãe. Nossos filhos a veneram. Ela é
tão natural, que parece que nasceu para ser mãe... e para ser
minha. Sou o homem mais sortudo da porra desse mundo!
— Eles estão crescendo. — Osmar comenta, ao meu lado.
— Sim, eles estão. O tempo está passando tão rápido.
Somos sortudos, meu filho, sortudos por tê-los em nossas vidas.
— Eu sei, pai.
Osmar entra na sala e senta de frente para as crianças. Lori
ergue a cabeça. Ao me ver, ela sorri para mim, se levantando. Deixa
Osmar com as crianças e caminha em minha direção.
— Ei.
— Ei, Sunshine. — Puxo-a para os meus braços, beijando o
topo de sua cabeça.
Lori encosta a cabeça em meu peito, soltando um pequeno
suspiro.
Essa mulher, nossos filhos, minha família, eles são o motivo
pelo qual me levanto todos os dias, luto pelo nosso nome.
— Eu te amo, Sunshine.
— Eu o amo mais, Caspen Callahan.

Fim...

Acompanhem os bônus nas páginas seguintes. Beijos e até


o próximo Callahan...
Bônus

Lori
Parada em silêncio na escuridão, olho para Dimitri, que está
dormindo tranquilamente em sua cela. Pobre e patética criatura! Tão
magro, tão fraco, tão insignificante. Quem diria que aquele homem
cruel que abusou de mim e me torturou ficaria desse jeito? Ele está
todo encolhido no colchão, mal sabe que sua hora chegou.
Chuto sua perna, o que o faz pular de susto. Seus olhos se
abrem. Sorrio, e Dimitri treme ao me ver.
— Olá — digo, com minha voz falsa em alegria. —
Adivinha? Chegou a sua vez, querido.
— Não! — Balança a cabeça, seu corpo todo tremendo.
Enrugo o nariz ao sentir o cheiro de urina. Merda! Nojento
demais!
— Sim, hoje você irá se juntar a Ester. — Bato palmas. —
Agora, levante-se, não tenho o dia todo. — Ele balança a cabeça, se
recusando a sair do lugar.
Suspiro, sabendo que terei que pedir ajuda a Carter e
Caspen. Vai ser pior para ele, mas quem está ligando?
— Vai se fazer de difícil? Tudo bem, gosto dos difíceis —
digo, sorrindo. — Torna a brincadeira mais interessante. — Dou uma
piscadinha, e ele solta um grunhido. — Amor, preciso de você! —
grito para Caspen.
— Me chamou, Sunshine? — Caspen pergunta ao entrar na
cela.
Seu olhar se foca em Dimitri encolhido no canto, em cima do
colchão, ainda tremendo. Um pequeno sorriso se forma nos lábios
dele ao ver a situação de Dimitri.
— Como pode ver, ele não sai do lugar — explico.
Caspen caminha até Dimitri, o puxando para cima e
arrastando-o para fora da cela. Dimitri tenta lutar, se debatendo,
tentando se soltar das mãos de Caspen, porém ele está fraco
demais.
— Oh, céus! — Dimitri grita ao ver a sala principal.
Sorrio a vê-lo com mais medo ainda. Seus olhos se enchem
de lágrimas, seus gemidos e gritos preenchem o espaço.
— Já está gritando? Nem comecei ainda — comento,
balançando a cabeça, em descrença. — Você está me entediando,
Dimitri. Pensei que seria mais divertido.
Olho para as unhas da minha mão, dando um pequeno
bocejo.
Droga! Estou realmente entediada. Suspiro.
— Vou demonstrar bondade para você. — Sorrio para ele,
que se encolhe.
— Você é louca! — resmunga.
— Não, querido, eu não sou louca, só estou me vingando.
O cara me sequestrou, me espancou, me torturou, abusou
do meu corpo, quase me matou, e eu que sou a louca! Oras!
Sinto-me revoltada. Eu só quero fazê-lo sofrer um pouco,
quero que ele sinta o que senti. Não há mal algum em querer um
pouco dos seus gritos, da sua dor, do seu sofrimento.
— Bem, como eu estava dizendo, vou matá-lo logo, e
tcharam! — Abro meus braços, mostrando a ele a forma como irá
morrer. — É assim que morrerá. — Sorrio. — Não é incrível?
Enquanto você dormia, Carter e seus homens prepararam tudo isso
especialmente para você. — Bato palmas. — Um tratamento vip que
irá corroer sua pele. Você será transformado. — Pisco para ele, que
choraminga.
À nossa frente há um chuveiro improvisado, onde Dimitri irá
tomar o banho da morte.
— Não! Não! Por favor, não! — grita, tentando fugir de
Caspen.
O chuveiro improvisado é feito de vidro.
— Aproveite seu banho. — Sorrio, dando tchauzinho a ele.
Carter o pega do aperto de Caspen e o despe, deixando-o
tremendo e mijado. Dimitri chora igual um bebê. Aceno com a
cabeça para Carter, que o coloca dentro do boxe de vidro, logo após
o trancando lá dentro.
— Diga a Ester que eu mandei um oi! — grito, rindo. —
Pode começar.
Carter liga o chuveiro. Aos poucos, gotas de ácido pingam
em Dimitri, o que o faz gritar e bater no vidro. No começo são
poucas gotas, bem devagar, fazendo-o sofrer, fazendo doer. À
medida que o tempo passa, as gotas vão caindo mais rápidas e com
mais força, corroendo mais partes do corpo dele.
Seus gritos, sua dor, suas lágrimas me alimentam, me
acalmam de uma forma indescritível. Sinto prazer em vê-lo sofrer.
Sei que não mudará nada do que aconteceu comigo, mas me sinto
aliviada ao saber que dei o troco, que fiz o mesmo com ele, tirei
suas escolhas, seu poder, tirei tudo dele, e agora estou tirando sua
vida.
Nada mais justo. Ele tentou destruir minha vida, minha
família, e agora eu estou o destruindo.
Encosto minha cabeça no peito de Caspen, e seus braços
me envolvem. Em silêncio, observamos Dimitri morrer. Não há nada
a ser dito, esse é o fim. Nossos inimigos estão mortos, está tudo
acabado, não há mais monstros do passado.
— Acabou — sussurro.
— Sim, Sunshine, acabou. Dimitri está morto.

Alguns dias depois...


Meu coração bate forte, meu corpo está tremendo, em
expectativa do que Caspen tem preparado para mim.
Estou pendurada ao teto e vendada. Caspen quis assim, ele
quer que eu apenas ouça e sinta, que eu me entregue a ele, que eu
confie nele. Esse é um momento nosso, algo que resolvemos fazer
uma vez por semana, algo que me tire da zona de conforto.
Amo esse momento e espero ansiosamente por isso, por
essa excitação, pela intensidade, pela emoção que esse momento
traz. O não ver, não saber o que está acontecendo à minha volta me
deixa excitada, me dá aquela sensação de arrepio que começa bem
na pontinha do dedo do pé até o último fio de cabelo da cabeça,
aquela eletricidade que corre em suas veias como um rio que corre
em direção ao mar.
Pulo quando sinto seus lábios em meu ombro, dando
pequenos beijos molhados. Um pequeno gemido deixa meus lábios.
Suas mãos deslizando entre meus seios, descendo até meu ponto
sensível, mas ele não me toca lá. Ele me tortura, me instiga aos
poucos, fazendo-me desejar por ele, pelo seu toque, pelo prazer
que ele pode me dar. Meu corpo se torna instrumento nas mãos de
Caspen, ele me toca, me dedilha, me domina do jeito que quer.
— Você está tão gostosa assim, Sunshine — rosna, próximo
ao meu ombro. — Seu corpo é tão sensível ao meu toque. Veja,
está toda arrepiada. — Sinto que ele está sorrindo.
— Caspen... — Seu nome sai como um gemido.
— Shhh... — Ele me silencia. — Sei o que precisa,
Sunshine. — Morde meu ombro.
Caspen continua a me beijar e a explorar meu corpo,
fazendo com que eu necessite dele, que eu queime por mais, muito
mais do que ele está me dando. Ele está me levando ao limite. Suas
mãos me tocam em toda a parte, seus lábios beijam todo o meu
corpo, mas nunca indo mais, nunca me dando o que realmente
preciso, nunca indo onde quero.
— Eu sei, Sunshine. — Beija meu pescoço, em seguida
seus lábios sobem até minha orelha. — Você quer que eu a toque
aqui. — Sua mão desliza entre minhas pernas.
Meu corpo se arrepia e um choramingo escapa dos meus
lábios. Minha cabeça cai para trás. Lambo meus lábios ao senti-los
secos.
— Sei que quer que eu a toque bem aqui. — Toca meus
seios, dando pequenos beliscos.
Ele ri quando xingo baixinho.
— Está vendo, Sunshine? Eu sei o que você quer, mas não
é o que precisa, não agora. — Beija meu ponto sensível, atrás da
orelha. — Não, agora você precisa se conhecer, precisa sentir,
precisa de pequenos toques, pequenas sensações, até que exploda
sem eu realmente a tocar. Quero que goze só com pequenos
toques, quero tirar tudo de você. — Sua voz está rouca, cheia de
desejo.
Suspiro, sabendo que ele irá me esgotar, me levar ao limite
várias e várias vezes, até que eu ceda.
— Caspen...
— Bem aqui, Sunshine — sussurra. — Deixe-se vir.
Caspen me surpreende ao tirar minha venda. Pisco algumas
vezes, me acostumando com as luzes. A iluminação é baixa, dando
um ar romântico. De frente para mim há um espelho. Engulo em
seco ao me ver. Caspen está atrás de mim, e pelo espelho nós nos
encaramos.
— Veja, Sunshine, observe a si mesma, quão rosada suas
bochechas estão, quão enrugados estão seus mamilos, quão
molhada está. Seus olhos estão arregalados e sua respiração é
pesada. Sei que seu coração está acelerado e sua pele arrepiada.
— Ele sorri para mim. — Tão... — Ofega — porra... gostosa!
Suas mãos passam pelo meu corpo. Observo pelo espelho
meu corpo correspondendo a cada toque. O olhar dele é escuro,
intenso, possessivo. Ele me toca, me beija, fazendo-me desejar por
mais. Meu corpo começa a tremer, convulsionar ao seu toque. Estou
perto, tão perto...
Mas ele para ao perceber.
— Caspen... — Meu corpo para de tremer quando meu
orgasmo é cortado.
Caspen se vira, indo até o armário, no canto do quarto.
Meus olhos se arregalam quando vejo uma faca em suas mãos.
Caspen me olha intensamente. Aceno com a cabeça.
Ele sabe muito bem o que a visão da faca em suas mãos
causa em mim, principalmente porque estou amarrada e indefesa;
mas confio nele.
Caspen volta a se posicionar atrás de mim. Toca o cabo de
madeira da faca em mim, passando-a pelo meu corpo. Excitação se
mistura com medo. Não medo de ele me machucar, porque sei que
Caspen não me machucará; mas medo das lembranças.
Porém elas não aparecem, porque tudo o que vejo é
Caspen.
Caspen a passa pelo meu corpo, me instigando nos seios,
fazendo-os se arrepiarem. Descendo, passa a faca pelas minhas
costas, barriga, até chegar entre minhas pernas.
— Abre-as para mim — comanda, em um grunhido.
Minhas pernas se abrem, e ele toca lá com o cabo da faca,
deixando meu clitóris mais sensível. Excitação escorre entre minhas
pernas.
Caspen faz isso com maestria. Meu orgasmo começa a se
construir mais uma vez. Meu corpo treme, gemidos saem dos meus
lábios. Olho-nos pelo espelho. A visão é espetacular!
— Veja, Sunshine, olhe como você goza lindamente. —
Beija meu pescoço. — Tão... porra, perfeita!
Não aguentando a sensação, meus olhos se fecham.
— Caspen... — Meu orgasmo me faz convulsionar.
— Porra, Sunshine!
Caspen deixa a faca cair no chão. Ele me desamarra, em
seguida, levando-me para a cama, deitando meu corpo, logo após
se eleva sobre mim. Sorrindo, ele toma minha boca na sua. Ainda
tremendo, beijo-o de volta. Caspen me segura, e minhas pernas se
enrolam em sua cintura, seu pau esfregando em minha boceta.
— Quero tocá-lo — sussurro em seus lábios.
— Agora não. Tudo é sobre você, só você. — Caspen entra
em mim com um impulso.
Agarro-me a ele enquanto me toma. Suas investidas são
cada vez mais rápidas, mais famintas, como se ele estivesse com
fome e meu corpo fosse seu alimento. Arranho suas costas, meus
seios balançando conforme ele empurra para dentro de mim, seu
pau batendo naquele ponto sensível.
— Caspen...
— Tão gostosa, tão molhada para mim.... — Ele geme. —
Foda-se, Sunshine! Vou gozar em você! — Caspen retira seu pau
de dentro de mim, se masturbando. — Toca-se, goze junto comigo.
Deslizo minha mão entre minhas pernas. Nós dois nos
tocamos um para o outro.
Meus dedos dos pés se contorcem, meu corpo todo se eleva
da cama. Caio em ondas enquanto gozo, gritando o nome de
Caspen. Sinto seu gozo em minha barriga.
Caspen cai ao meu lado. Nossas respirações estão
aceleradas. Sorrio, satisfeita. Viro-me de lado, observando Caspen,
que está de olhos fechados e boca aberta. Sua respiração está
acelerada.
— Sinto seus olhos em mim — comenta, abrindo os olhos e
sorrindo.
— Tenho algo para contar.
— Estou ouvindo.
Sorrio, sabendo que ele irá pirar quando ouvir o que tenho a
dizer, pois pirei quando descobri.
— Estou grávida.
— Porra! — grita, me pegando em seus braços, em seguida
me beija intensamente. — Caralho!! Porra, porra! Vou ser pai outra
vez!!
Agradecimentos

Bem, pensei em fazer um bônus de Lucas e Audrey, porém


resolvi não fazer, porque quero que seja algo novo para vocês. Não
me matem, amo todos.
Foi uma série bem gostosa de escrever, e fiquem tranquilos,
não acaba aqui, tem mais alguns da família para vocês conhecerem.
Agradeço imensamente a você que acompanhou esses
irmãos e que piraram com eles e com essa família louca e cheia de
emoções. Muito obrigada mesmo. Não sei o que faria sem o apoio
de todos vocês. Aos meus parceiros e amigos, obrigada por
confiarem em mim. Beijos a todos.
Músicas

Birds – Imagine Dragons


6.18.18 – Billie Eilish
Behind Blue Eyes – Limp Bizkit
Joker’s On You – Charlotte Lawrence
Sweet but Psycho – Ava Max
Heaven – Julia Michaels
Pray – Rooty (ft. JRK)
Let It Go – James Bay
Sacrifice – Black Atlass (feat. Jessie Reyez)
Bird Set Free – Sia
Prom Queen – Molly Kate Kestner
Not Afraid Anymore – Halsey
Loved me Back to Life – Sia
Watch Me – The Plantoms
I Can't Stop the Feeling – Justin Timberlake
Too Good At Goodbyes – Sam Smith
Fire on Fire – Sam Smith
Take Me To Church – Hozier
Pray – Sam Smith (ft. Logic)
Princesses Don’t Cry – Carys
Carry You – Ruelle (feat. Fleurie)
Before You Go – Lewis Capaldi
Photograph – Ed Sheeran
Radioactive – Imagine Dragons
Wallflower – Kimberly August
Smile – Maisie Peters
Hard Sometimes – Ruel
Natural – Imagine Dragons
Fire Meet Gasoline – Sia
Shameless – Camila Cabello
War of Hearts – Ruelle
Storm – Ruelle

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