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Série Os Callahan’s
Livro 5
Lysa Moura
Lori Callahan
Eu o amava. Eu sabia que ele seria meu único, meu para
sempre. Quando o conheci, minhas primeiras palavras foram:
“Quando eu crescer, irei me casar com você”.
Eu errei. Errei feio, porque não é com ele que estou me
casando.
Tudo mudou e nada restou a mim. Tudo foi tirado de mim,
até o homem com o qual eu ia me casar. Só restou ele, Caspen
Callahan...
NOTA DA AUTORA
Filhos
Joseph Callahan e sua esposa Lydia Callahan
Franck Callahan e sua esposa Megan Callahan
Iona Callahan e seu esposo Luciano Martinelli
Derek Callahan e sua esposa Allisom Callahan
Outros personagens
Nicholas Clarker Callahan
Lauren Reed
Hope Reed Callahan
Happy Wild
Audrey Wild
Ciara Wood
Willa Evans
Tinna Mitchell – menina do clube
Phillipa Florenza – menina do clube
Lucien Adans – Segurança
Blake Roden – Segurança e assassino
Matt – Segurança
Jace – Segurança
Jordam – Ténico de segurança
Max – Gerente do clube
Annabel – Responsável pelas meninas do clube
Bellatrix – Guia do clube
Igor Moretti – Pai de Sophia e Ariel – Chefe da máfia italiana
Jonnathan Calvin – Pai de Lauren – Maior agiota de Nova
York
Daphenni Reed – Mãe de Lauren
Ruby Calvin – Madrasta de Lauren
Manddy – morta por Caspen, traiu o clube
Lanna – Traiu o clube, estava com o FBI
Marcus – Pega a irmã de Happy
Bruce Wild – Pai de Harry – ex-soldado da máfia
Abby – ex-namorada de Heitor, foi morta
Alice – Esposa de Igor Moretti – ela é morta pelos
Callahan’s
Rodrigues – novo chefe do Cartel – Filho do governador
Savana – Filha de Igor
Antony – Filho de Igor
Justin – Filho mais novo de Igor
André – segurança de Happy
Alice – médica que cuida de Audrey
Melissa – Terapeuta de Audrey
Hernández – Verdadeiro chefe do Cartel
Chris Castle – Homem com quem Lori irá se casar
Maverick – Hacker de Caspen
JJ – amigo de Lori, dono de uma loja de tatuagem
Alex – Homem de Lori – Atirador de elite
Maddox – Homem de Lori
Emílio – Homem de Lori
Charlie – Homem de Lori – Especialista em bomba
Miguel – Homem de Lori
Ester Donovan Hernaz – Mãe de Lori
Renné Hernas – Padrasto de Lori
América Donovan – irmã de Lori e Phillipa
Joe Parker – segurança íntimo de Hernández
Armando Salvatore – Um dos maiores chefes da rede de
tráfico humano do mundo
Os Fimmel's
Hugo Fimmel
Alessandro Fimmel
A Bratva
Ivan Volkov – Pakhan da Bratva
Dimitri Volkov – Filho de Ivan
Vladímir Volkov
Bóris – Sovietnik – Conselheiro
Nikolai – Brigadier – Capitão
Andrei – Brigadier – Capitão
Sumário
Prólogo ----------------------------------------------------- 13
Capítulo 1 -------------------------------------------------- 23
Capítulo 2 -------------------------------------------------- 33
Capítulo 3 -------------------------------------------------- 42
Capítulo 4 -------------------------------------------------- 51
Capítulo 5 -------------------------------------------------- 63
Capítulo 6 -------------------------------------------------- 72
Capítulo 7 -------------------------------------------------- 82
Capítulo 8 -------------------------------------------------- 91
Capítulo 9 -------------------------------------------------- 101
Capítulo 10 -------------------------------------------------- 110
Capítulo 11 -------------------------------------------------- 120
Capítulo 12 -------------------------------------------------- 128
Capítulo 13 -------------------------------------------------- 138
Capítulo 14 -------------------------------------------------- 147
Bônus -------------------------------------------------------- 157
Capítulo 15 -------------------------------------------------- 158
Capítulo 16 -------------------------------------------------- 171
Capítulo 17 -------------------------------------------------- 180
Capítulo 18 -------------------------------------------------- 189
Capítulo 19 -------------------------------------------------- 199
Capítulo 20 -------------------------------------------------- 207
Capítulo 21 -------------------------------------------------- 216
Capítulo 22 -------------------------------------------------- 225
Capítulo 23 -------------------------------------------------- 232
Bônus -------------------------------------------------------- 241
Capítulo 24 -------------------------------------------------- 243
Capítulo 25 -------------------------------------------------- 256
Capítulo 26 -------------------------------------------------- 263
Capítulo 27 -------------------------------------------------- 274
Capítulo 28 -------------------------------------------------- 282
Capítulo 29 -------------------------------------------------- 292
Capítulo 30 -------------------------------------------------- 301
Capítulo 31 -------------------------------------------------- 311
Capítulo 32 -------------------------------------------------- 327
Bônus ------------------------------------------------------- 337
Capítulo 33 -------------------------------------------------- 339
Capítulo 34 -------------------------------------------------- 349
Capítulo 35 -------------------------------------------------- 358
Capítulo 36 -------------------------------------------------- 367
Capítulo 37 -------------------------------------------------- 376
Capítulo 38 -------------------------------------------------- 385
Capítulo 39 -------------------------------------------------- 395
Capítulo 40 -------------------------------------------------- 403
Capítulo 41 -------------------------------------------------- 412
Capítulo 42 -------------------------------------------------- 422
Epílogo ------------------------------------------------------ 431
Bônus -------------------------------------------------------- 442
Agradecimentos -------------------------------------------- 450
Músicas ------------------------------------------------------ 451
Prólogo
Lori
Vou me casar.
Suspiro, balançando a cabeça. Tantas coisas aconteceram
ao longo dos anos, tantas reviravoltas. Nunca imaginei que um dia
eu iria me casar com alguém que não fosse Caspen Callahan.
Durante minha vida toda me preparei para me casar com ele.
Olho para o diário de casamento que fiz anos atrás, diário
esse onde planejei meu casamento com Caspen. Tem fotos nossas,
recortes de decorações do vestido de noiva, das nossas alianças,
tem até meus votos bem ali, escrito naquelas páginas. Votos que
nunca direi, porque o homem com o qual estou me casando não é
Caspen. Irônico, não é mesmo? A promessa que fiz anos atrás será
quebrada em alguns minutos.
Observo-me pelo espelho, meu vestido de noiva acentuando
as curvas do meu corpo, meus cabelos soltos com uma tiara de
flores em volta, minhas bochechas rosadas e meus lábios com um
gloss. Simples, lindo e delicado. Estou totalmente diferente do que
estava no diário.
Todo o meu casamento será diferente do que está naquelas
páginas. Está na hora de escrever um novo capítulo e um novo
diário, onde não existe Caspen Callahan.
Fecho os olhos. Esse é o momento. O momento em que
minha vida mudará completamente. Mordo meus lábios, tentando
segurar as lágrimas. Não quero estragar minha maquiagem, preciso
estar bem e mostrar que estou feliz, porque eu estou. Fiz a decisão
certa.
Chris Castle é um homem incrível. Maravilhoso, amoroso e
tão gentil. Ele me ajudou no momento em que eu mais precisei.
Chris foi meu colete salva-vidas quando eu estava me afundando.
Olho mais uma vez para o meu diário. Caminho na direção
da cama, pegando-o em seguida. Abro-o e sorrio ao ver as coisas
que estão nele, tantos pensamentos e planejamentos. Abro na
página onde meus votos estão.
É surpreendente saber que eu os escrevi quando tinha
dezesseis anos. Cada palavra foi escrita com amor, com sonhos,
desejo e verdade, mas hoje elas são apenas palavras escritas em
uma folha de papel, sem significado algum.
A porta do meu quarto se abre, e imediatamente fecho o
diário. Minha mãe e Amélia sorriem ao me verem.
— Oh, você está linda! — Mamãe diz, com lágrimas nos
olhos.
— Estou mesmo, não é? — pergunto, dando um giro para
elas me verem melhor.
— Sim, querida. Você está perfeita. — Mamãe diz.
Seus braços me envolvem em um abraço apertado.
Todos ficaram surpresos quando apresentei Chris a eles,
pois nunca imaginaram que um dia eu fosse aparecer com um
homem que não fosse Caspen. Mas a maior surpresa para eles foi
quando anunciei que iria me casar.
A única pessoa que foi contra meu casamento foi Caspen, o
que me deixou surpresa, porém não me importei nenhum pouco. Eu
estava decidida, e ninguém iria mudar minha decisão. O resto da
família estavam animados e felizes por mim.
Eu mudei as regras, burlei o sistema e estou para me casar
com alguém totalmente de fora da máfia. Se eu me importo? Nem
um pouco. É a minha vida, minha escolha. Eu escolhi Chris Castle.
— Estão todos aqui? — pergunto, nervosa.
— Sim, querida. Só falta você. — Mamãe diz.
Sorrio para ela.
— Como ele está? — pergunto, referindo-me ao meu futuro
marido.
— Lindo, nervoso e pronto para você. — Ela pisca, o que
me faz rir. — Estou tão orgulhosa de você, querida. — Beija minha
testa.
Pisco várias vezes, tentando conter as lágrimas. Vamos
deixar essa parte para depois da cerimônia, não quero estragar
minha maquiagem. Chris tem que me ver perfeita.
— Obrigada, mamãe.
— Espero que seja tão feliz quanto eu sou com seu pai.
Seja boa, seja gentil e coloque pra quebrar. — Pisca para mim,
dando uma reboladinha.
— Eca! Não preciso saber de detalhes. — Amélia comenta,
rindo.
— Você foi a única aqui que pensou besteira — rebate
mamãe.
— Não fui não. — Amélia balança a cabeça.
— Tudo bem. — Mamãe levanta as mãos. — Vou deixá-la a
sós por alguns minutos. Seu pai já entra para pegá-la. — Beija-me
uma última vez e sai do quarto, deixando-me com Amélia.
— Você vai se casar! — exclama, animada.
Não posso deixar de rir do jeito que ela diz.
— Sim, eu vou! — Bato palmas.
— E não é com meu irmão. — Ri.
Sorrio para ela. Lágrimas se formam em meus olhos. Droga!
Não quero chorar, mas acho que não irei conseguir me segurar.
— Não, não é com seu irmão.
— Você está bem? Tem certeza que é o certo?
Se eu estou bem? Não sei. Tudo o que estou é nervosa,
animada e com medo. E sim, é o que eu quero fazer. Amo Caspen e
sempre irei amá-lo, mas não posso esperar por ele, não posso
deixar meus sonhos de lado para esperar por um homem que não
me quer, que não me dá valor. Não posso ficar na mesma. Caspen
foi o meu passado, e Chris é o meu futuro. Eu o amo e vou ser sua
esposa. Sim, eu tenho certeza, vou me tornar a Sra. Castle em
alguns minutos. — Ela acena com a cabeça.
— Estou tão feliz por você. — Abraça-me.
Fecho os olhos, desfrutando do seu abraço.
Passamos por tantas coisas juntas. O horror que vivemos
estará sempre em minha mente, me atormentando; ver o que
fizeram com ela e não poder fazer nada é o que mais me assombra.
É desconcertante ver alguém que você ama sofrer e não poder
ajudar, ser inútil.
Também sei que ela se sente culpada pelo que aconteceu
comigo, pelo que passei; e por mais que eu diga que não é culpa
dela, lá no fundo, sei bem que não adianta muito. Amélia sempre
sentirá culpa pelas coisas que aconteceram a nós.
Mas a verdade é que a culpa é minha. Toda minha. Foi eu
quem a fez sair naquela noite, foi eu quem a ajudou com todos os
seus planos malucos. Eu que fui dando todas as ideias. A culpa é
toda minha. Mas somos um time, e sei que ela sente o mesmo que
eu: culpa.
— Céus! Estou fazendo-a chorar no seu grande dia! Que
péssima amiga eu sou! — exclama, saindo do abraço.
— Está tudo bem — digo, sorrindo.
— Cadê minha pequena?
— Está com o pai. Aquela é a menininha do papai.
Ela bufa.
A menina de Amélia tem seis meses de idade e é o bebê
mais fofo que já vi em toda a minha vida, porém é uma menina de
garra, porque é escandalosa demais.
— Blake vai sofrer quando ela crescer — comento, e Amélia
ri.
— Já está sofrendo. Ele faz tudo o que ela quer e na hora
que ela quer, e eu sempre saio como a malvada quando digo não.
— Sorrio quando ela cruza os braços e faz biquinho. — Não é
engraçado. Minha filha me odeia.
Começo a rir da cara que ela faz.
— Não, não odeia — digo a ela, rindo.
Amélia sorri para mim.
Aurora ama a mãe, mas é mais grudada com o papai, Blake.
É engraçado vê-los juntos, porque toda vez que Aurora está com
Amélia e Blake aparece, ela se transforma totalmente, Amélia é
esquecida e Blake se torna o paizão, seu favorito.
Pulo quando ouço uma pequena batida na porta. Meu
coração começa a bater forte.
— Pode entrar.
Papai abre a porta e entra no quarto. Percebo que ele
prende a respiração ao me ver. Sorrio para ele.
— Como estou, papai? — pergunto a ele, rindo da sua
expressão.
— Perfeita! Uma princesa! — Sorri para mim.
Abraço-o apertado.
Papai é tudo para mim. Ele foi meu maior porto seguro, o pai
que eu sempre quis ter, o pai que sempre me amou e me apoiou.
Ele é o melhor pai que uma garotinha machucada e desamparada
queria ter.
— Essa é a minha deixa. — Amélia diz, sorrindo para mim.
— Amélia — chamo-a assim que ela abre a porta.
Solto meu pai e vou até minha cama, pegando meu diário.
Volto para Amélia, que me olha desconfiada. Sorrio, dando-lhe meu
diário.
— Pode se livrar dele para mim?
Minha melhor amiga me olha com surpresa.
— Tem certeza? — Aceno em um sim.
— Nesse diário está meu passado, e este é o meu futuro.
Não preciso mais dele.
Amélia fica parada, olhando para o diário em suas mãos, até
que por fim acena e o leva com ela. Volto para o meu pai, que me
espera com um grande sorriso.
— Então, está pronto? — pergunto a ele.
— Porra, não! — responde, rindo. — Nunca estarei pronto
para entregar minha garotinha para um marmanjo. — Rio.
— Papai, não sou mais uma garotinha.
— Querida, você sempre será minha garotinha. Quando
tiver filho, saberá do que estou falando. — Um pedaço de mim
morre quando ele fala isso.
Eu nunca terei filhos, não posso. Dimitri fez um bom estrago
no meu corpo, me impedindo de ter filhos; mas ninguém sabe disso
além de mim, Chris e Amélia.
Eu sempre quis filhos, sempre quis provar para mim mesma
que não nasci igual aos meus pais biológicos, que posso amar um
filho incondicionalmente; mas essa oportunidade foi tirada de mim.
“Muito obrigada, Dimitri!”, penso, com ironia.
Usar-me, possuir-me, dominar e maltratar não foi o
suficiente, ele tinha que tirar essa parte de mim também!
— Lori, querida, você está bem? — Papai pergunta,
preocupado.
Sorrio, acenando com a cabeça.
— Sim, só me perdi. — Aponto para a cabeça, e ele acena.
Papai suspira.
— Querida, você tem certeza do que está fazendo?
Por que todos ficam perguntando isso? Chris é um homem
maravilhoso, me faz rir, é gentil, amoroso e, quando quer, é
possessivo, forte e cheio de vida. Quando estou perto dele, sei que
tudo ficará bem. Sinto-me protegida. Eu o amo e ele me ama, então
sim, estou fazendo o que é certo, e ninguém irá mudar isso.
— Sim, papai, eu tenho certeza.
Papai não parece muito convencido, mas acena, sorrindo
para mim.
Meu pai nunca rebateu minhas decisões, mesmo que não
concordasse. Ele costuma dizer que com cada decisão minha eu irei
aprender coisas novas; que quando eu errar, aprenderei com os
meus erros e me tornaria mais forte.
Foi exatamente o que aconteceu. Cada decisão errada
minha me fez crescer e me tornar quem sou: forte, independente e
sem medo. Nada mais me abala, nem o próprio diabo. Nem mesmo
Caspen. Não sou intimidada por ele, não tenho medo dele e do seu
olhar, ou de quando está com raiva e acaba explodindo. Muito pelo
contrário: eu gosto de provocá-lo, gosto de vê-lo se perder, gosto de
enfrentá-lo. Isso mostra quem sou e quão determinada me tornei.
Sorrio ao me lembrar de como foi contar para Caspen que
eu iria me casar e que não estava pedindo permissão para ele. O
olhar de puro choque que ele me deu, a descrença em sua voz e
quão louco ficou... Ele achou que eu estivesse mentindo, brincando
com ele; mas mostrei quão séria estava.
Caspen Callahan não é mais o meu mundo. Ele é apenas
meu primo, que um dia amei tanto, por quem me ceguei e perdi uma
grande parte da minha vida; como se eu estivesse dormindo por
todo esse tempo, esperando que o príncipe encantado me
acordasse, mas não há príncipe encantado.
Acordei sozinha, e foi quando encontrei Chris. Ele não é um
príncipe encantado. Ele é um homem real da vida real que me
ajudou, me amou e me aceitou como sou.
Caspen está morto para mim. Ele é meu passado, apenas
um sonho que tive.
— Está pronta, querida? — pergunta papai.
Sorrindo, eu aceno com a cabeça.
Estou mais que pronta, esperei muito por esse dia.
Papai segura minhas bochechas com delicadeza, abaixa
minha cabeça e me dá um beijo na testa. Fecho os olhos,
aproveitando esse momento.
Homens como papai são duros, frios e cruéis, porque foi
assim que foram treinados para serem. Mas os Callahan’s não são
assim, porque quando eles estão em família, são homens bons,
amorosos e protetores. Ninguém do lado de fora sabe como eles
são realmente. E tenho orgulho de conhecer essa família, de fazer
parte dela.
Eu não era nada. Uma ninguém. Eles me salvaram, me
acolheram e me amaram. Eu era o lixo, a escória; mas eles me
aceitaram e me fizeram melhor, me moldaram para ser quem sou.
Se o diabo fosse mulher, ele seria eu.
Seguro bem apertado a mão do pai. Estou nervosa, muito
nervosa. Meu corpo todo treme. Bem diferente do que imaginei que
seria: há uma mistura de emoções e um monte de coisas se passa
na minha mente; e olha que ainda não cheguei onde todos estão,
estou apenas descendo as escadas, com papai ao meu lado.
Meu casamento está sendo na casa dos meus pais. Eu
queria algo simples e aconchegante, onde eu me sentisse em paz,
confortável e amada. Foi exatamente aqui que minha nova vida
começou, e quero que seja aqui que minha vida com Chris comece.
— Está tudo bem, querida. Irie com você até o fim. — Papai
sussurra para mim.
Engulo em seco, acenando com a cabeça. Respiro fundo,
tentando controlar minha respiração e o meu tremor.
Assim que chegamos no começo do corredor, todos se
levantam. Mordo os lábios por ver toda a minha família ao meu
redor, mas meu foco está em Chris. Sorrio quando o vejo. Ele pisca
para mim. Abaixo a cabeça, rindo. Sempre sendo o sedutor. Mordo
os lábios quando volto a olhar para ele, que sorri para mim.
A cada passo que dou, a cada batida do meu coração, eu
sei que essa é a decisão mais certa que já tomei. As pessoas dizem
que não se pode amar duas pessoas ao mesmo tempo. Elas estão
erradas. Eu amo Caspen e amo Chris. A única diferença é que meu
amor por cada um deles é diferente. Caspen está no meu passado,
e Chris é o meu futuro.
Aperto ainda mais o braço do meu pai. Ele olha para mim,
acenando com a cabeça, e damos mais um passo.
Esse é o segundo melhor momento da minha vida, porque o
primeiro foi quando conheci meus pais e meu irmão.
Esse é o momento em que me entrego para o homem que
se tornou meu tudo em tão pouco tempo; o homem que me curou,
mesmo eu não querendo. Ele se forçou em minha vida, tornando-se
meu amigo, me segurando nos meus momentos de crise. Ele foi
meu salvador, e sempre serei mais do que grata a ele. Chris me fez
amá-lo.
Meus pensamentos são interrompidos por um assobio. Meu
corpo todo fica em alerta. Olho em volta, assustada, meus olhos se
estreitando; mas já é tarde demais.
À minha volta, todos gritam. Sou jogada no chão pelo meu
pai. Estou atordoada demais para entender o que está acontecendo,
não vejo nada.
Meu pai está em cima de mim, me protegendo. Ouço gritos
e um choro. Um choro de lamento. Eu reconheço na hora de quem é
o lamento, e é quando reúno todas as minhas forças e tiro o meu pai
de cima de mim.
— Lori, querida! — Ele chama, mas meu foco está à minha
frente, e é quando eu o vejo.
— Não, não! — grito, correndo para onde ele está.
Lágrimas transbordam dos meus olhos. Ajoelho-me ao seu
lado, pegando seu corpo e sacudindo-o. Seu sangue mancha meu
vestido branco, mas não me importo nem um pouco. Tudo o que
importa é ele.
— Não, não! — Choro, sacudindo-o. — Por favor, não! —
Meus soluços se transformam em gritos de desespero.
— Lori, ele se foi. — Ouço a voz do meu pai.
— Não, não, não! — Balanço a cabeça.
Recuso-me a acreditar que ele está morto. Não hoje. Esse é
o nosso dia, o nosso para sempre.
— Por favor, volte para mim, respire, eu te amo! — imploro a
ele.
Eu já perdi tanto, toda a minha vida eu venho perdendo, e
quando algo bom acontece, eu perco também. Nada fica comigo.
Parece que tudo o que eu toco sofre. Sou amaldiçoada.
Abaixo a cabeça, beijando o corpo caído. Minhas lágrimas
deixam um gosto salgado em minha boca, minhas mãos estão sujas
de sangue, mas mesmo assim, passo em seu rosto. Seus olhos
estão abertos, me encarando, sem vida.
— Ele se foi, querida. — Papai diz outra vez.
Olho para ele, vendo toda a minha família à minha volta,
todos com olhares de pena, menos Caspen. Ele tem um olhar mortal
concentrado em mim e Chris.
Chris se foi. Provavelmente foi um atirador de elite, bem no
dia do nosso casamento.
Coloco minha cabeça em seu peito e choro, choro como
nunca chorei antes.
Capítulo Dois
“6.18.18 – Billie Eilish”
Caspen
Ela tem razão. Eu não sinto pela morte de Chris. Sinto por
ela estar sofrendo, mas não pela morte do homem com o qual ela ia
se casar. Hernández fez o meu trabalho, assim ela não terá raiva de
mim por ter acabado com a vida do “marido” dela. Frio? Sim, mas
também estou sendo realista. Eu ia matar Chris.
Não digo nada a Lori, ela está sofrendo. Ver o homem que
seria seu esposo morrer no dia do seu casamento não deve ter sido
fácil para ela. Nada tem sido fácil para ela. Lori teve uma vida difícil,
sofreu demais com o passar dos anos, e quando tudo estava indo
bem, algo assim acontece.
Olho para ela, vendo sua raiva crescendo.
— Você é tão frio — sussurra para mim. — Quero ficar
sozinha, Caspen. — Volta a olhar para o túmulo de Chris.
— Você irá adoecer. Vamos, Lori, está na hora de ir para
casa e deixar tudo para trás. — Levanto-me, ajeitando meu terno
sob medida, que está molhado e sujo.
Estendo minha mão para ela, que me olha com nojo.
— Apenas me deixe. — Sua voz é firme.
Suspiro, balançando a cabeça.
Durante uma semana, Lori vem ao cemitério e se senta
nesse mesmo lugar durante horas, perdida em sua dor; mas estou
casando dessa merda! Chris morreu e ponto! Ela tem que superar
essa merda e seguir em frente! Afundar-se na dor não trará Chris de
volta!
Respirando fundo e me preparando para o seu ataque,
pego-a em meus braços, em seguida a colocando sobre meu
ombro, de cabeça para baixo.
— Caspen! — Ela grita, mas não dou ouvidos.
— Calada, Lori! — rosno para ela.
Lori começa a se debater, dando socos em minhas nádegas
e costas. Dou um tapa em sua bunda, o que a faz gritar.
— Porra, Caspen! Me ponha no chão! — Continua seu
ataque contra mim.
— Se não parar agora mesmo, irei colocá-la sobre minhas
pernas castigá-la! — digo, irritado.
— O quê?! — grita. — Não, você não fará isso! Eu mato
você! — exclama. — Me... ponha... no... chão — fala
pausadamente, com a irritação evidente na voz.
— Não! — grito, dando um forte tapa em sua bunda.
Lori bufa.
— Eu te odeio!
— Não, você queria odiar, mas não odeia.
Ela resmunga algumas palavras, provavelmente me
amaldiçoando.
Quando estou chegando em meu carro, Carter abre a porta,
e eu a jogo dentro. Meu irmão sorri para mim, mas não digo nada.
Não preciso, ele sabe muito bem como estou furioso e louco para
chegar em casa e trocar de roupa.
— Eu vou te matar! Vocês dois! — Lori aponta para mim e
Carter.
— Boa sorte, prima. — Carter pisca para ela.
— Não quero ir para casa. — Lori dirige aqueles malditos
olhos dela para mim.
— Azar o seu, você não tem escolha. — Entro no carro,
batendo a porta.
Ela cruza os braços, batendo os pés. Eu até acharia essa
porra bonitinha, mas estou irritado com suas birras. Entendo a dor
dela, mas está na hora de se erguer e sair dessa merda que ela se
encontra.
O caminho para casa é tranquilo. Lori resolve ficar calada, o
que é ótimo. Eu não iria aguentar suas reclamações.
Chegando na casa dos seus pais, eu a tiro do carro,
levando-a em meu colo para dentro. Seus pais me olham,
provavelmente surpresos por eu estar com ela; mas não estou me
importando nem um pouco com essa merda.
— Se ela sair de casa mais uma vez para ir ao cemitério, eu
mato vocês. — Aponto para eles e para Lucas, que está olhando-me
com um sorrisinho de merda nos lábios.
— Você não tem esse direito. — Lori diz, apontando para o
meu peito. — Eu faço o que eu quiser e na hora que eu quiser! —
grita.
— Bem, e olha no que deu. — Sorrio.
Lori dá um passo para trás, como se eu tivesse batido nela.
Minhas palavras foram duras, mas verdadeiras. Em cada decisão
que Lori tomou, algo de ruim aconteceu; então, a partir de agora,
essa merda mudará, ela querendo ou não.
— Saia! — grita, apontando para a porta.
— Lori...
— Saia, porra! — Empurra-me.
Não faço movimento algum, então ela continua me
empurrando. De repente seus empurrões viram socos, vários e
vários socos em meu peito; mas não faço nada, apenas deixo que
ela me bata, que ela desconte suas frustações e dor em mim. Está
acabando comigo vê-la assim, mas por enquanto não posso fazer
nada.
— Saia, saia, saia! — grita, continuando com os seus
ataques.
Seus gritos se transformam em soluços, seu corpo todo
treme. Ela puxa meu terno, se agarrando a mim enquanto chora.
Envolvo meus braços em sua volta, deixando-a chorar em mim.
Suas pernas ficam fracas e ela cai. Caio junto. Seus pais, seu irmão
e Carter nos observam em silêncio. Aceno para eles, em um gesto a
pedir para nos deixarem a sós. Lori não precisa de uma plateia
nesse momento.
— Eu te odeio — sussurra, em meu peito.
Sorrio, passando as mãos pelos seus cabelos.
— Sim, eu sei, já me disse isso.
Capítulo Três
“Behind Blue Eyes – Limp Bizkit”
Caspen
Depois daquele dia, Lori me evitou a todo custo por uns seis
meses; depois, não sei o que aconteceu, mas foi como se ela
tivesse esquecido o que aconteceu, e voltou a ser o que era antes
daquela noite. Soube que estava fazendo sessões com uma
psicóloga, acho que a ajudou a superar o que viu.
Mas para mim, nada tinha mudado, suas palavras
continuaram comigo, sempre batendo na minha mente, várias e
várias vezes.
O problema é que eu a amo. Passei a amá-la com o tempo,
à medida em que ela foi crescendo e se tornando uma mulher; mas
eu sempre soube que não poderia tê-la, não depois do que
aconteceu. Eu não queria que minha sujeira a sujasse, não queria
que meu monstro a machucasse, porque Lori tinha razão, ela
sempre teve razão. Eu sou um monstro, e ela é a luz.
Capítulo Quatro
“Joker’s On You – Charlotte Lawrence”
Caspen
Olho para o corpo do homem que Lori acaba de torturar e
matar. Ela fez um estrago nele, e em momento nenhum hesitou. Ela
foi perfeita, fez o que tinha que fazer, sem se importar com o que
virá a seguir; porque quando você tortura alguém e o mata pela
primeira vez, só há duas opções: você gosta do que fez e quer mais
ou você se arrepende, se fecha para o mundo e sente uma enorme
culpa e repulsa.
Pelo jeito ela gostou do que fez, o sorriso em seus lábios
mostra isso. Ela vingou a morte do noivo, noivo esse que eu mesmo
ia matar se não tivessem me poupado.
— Como está se sentindo? — pergunto a ela, que me olha
com um grande sorriso.
— Ótima! –— exclama, excitada. — Será que posso? —
pergunta, apontando para Dimitri.
— Não, ela não... — Dimitri balança a cabeça, se
encolhendo em sua cela.
Sorrio ao ver o desespero dele.
— Outro dia. Hoje você já fez o suficiente.
Lori faz biquinho e bate o pé.
— Mas você disse que ele era meu.
— E ele é, mas não hoje. Ele não irá a lugar algum.
Lori balança a cabeça.
— Okay. — Levanta as mãos. — Vou pra casa, tomar um
banho e trocar de roupa. — Olha para Dimitri. — Depois eu volto
para você — acrescenta, toda animada.
Vejo-a desaparecer pelas escadas que vão em direção à
sua casa. Balanço a cabeça.
— Você acabou de criar um monstro, ela tomou gosto pela
coisa. — Carter diz, olhando-me.
— Acho que você tem um concorrente. — Sorrio para ele.
Carter bufa, fechando a cara. Acho que ele não gosta muito
do que acabo de falar, mas não sei quanto a Lori ter tomado gosto
pelo que acabou de fazer. Adrenalina está correndo pelo seu corpo
agora, mas quando passar e ela parar para pensar no que
aconteceu, tudo pode mudar e ela pode se arrepender.
Pego meu celular e ligo para Amélia.
— Diga-me — atende ela.
— Lori acabou com o atirador, vá ver como ela está —
comando.
Amélia bufa do outro lado da linha.
— Cadê a palavra mágica?
— Agora, Amélia! — rosno, e ela suspira. — Por favor!
— Bom, bom — resmunga, o que me faz sorrir. — Já abriu o
diário?
— Não — respondo e encerro.
Não quero ouvi-la reclamar comigo, não tenho paciência
para isso. O diário de Lori está na mesa do meu escritório. Todo dia
ele me tenta um pouco para abri-lo, mas não o fiz. Não sei se quero
saber o que tem ali dentro.
— Vou mandar nossos homens limparem essa bagunça e
queimarem o corpo até virar cinzas, jogaremos no mar. — Carter
diz, e eu aceno, de acordo.
— Qualquer coisa, estarei no escritório. Tenho algumas
coisas para resolver.
Esfrego o rosto com as mãos, sentindo-me cansado. Ser
quem sou e ter as responsabilidades que tenho faz com que eu me
sinta mais cansado e mais velho do que sou. Tem horas que dá
vontade de desistir de tudo, mas esse é o meu fardo para carregar,
meu dever.
No meu escritório, olho para o diário de Lori. Sentando-me
em minha poltrona, pego o diário, ainda o encarando.
Sei que se eu o abrir, estarei invadindo sua privacidade;
porém ela pediu para Amélia jogá-lo fora, então, não fará algum mal
em abri-lo.
“Querido diário...
Espero que você seja meu melhor amigo. Vou escrever
sempre que puder ou que estiver com medo, com raiva, triste e feliz.
Sempre estarei com você. Também te mostrarei meus planos e
sonhos. Tenho muitas coisas planejadas para nós dois.
Me chamo Lori Callahan e tenho dez anos. Não me lembro
muito do meu passado, mas posso dizer que eu tinha um pai ruim
que me batia sempre, e todo dia eu sentia medo dele, orava para
que tudo sumisse e que eu fosse para um lugar melhor.
E adivinha? Parece que Deus ouviu meus pedidos, porque
uma noite, um menino bonito matou meu pai e me levou para longe
de tudo o que eu conhecia, ganhei uma nova família. Dá para
acreditar? Tenho uma mãe, um pai e um irmão, e tenho primos. Um
monte deles. Também tenho uma vó, ela é louca, mas eu a amo.
Eu nunca mais apanhei, nunca mais tive medo e senti fome,
agora tenho tudo o que quero e é perfeito.
Ah! Eu tenho um primo, ele é calado, quase não fala
comigo, mas sempre que estou por perto, ele reconhece minha
presença e acena para mim. Ele é o único que não me trata com
cuidado e que não me olha com pena. Ele me trata como um igual.
Amo meus pais e meu irmão, amo a família que Deus me
deu, mas eles sempre me tratam com cuidado, como se eu fosse
quebrar e sempre têm aquele olhar de pena. Eu sei que meu
passado não foi bonito, mas não preciso de que tenham pena de
mim, e meu primo Caspen não tem.
Caspen é bem mais velho do que eu, e eu não me importo,
acho que o amo, vou me casar com ele um dia, só preciso crescer
logo e fazê-lo me amar, acho que não será difícil. Mamãe e papai
vivem dizendo que sou especial. Só vou mostrar a Caspen o quão
especial eu sou, e ele vai me amar.
Espero que não demore muito para eu crescer...”
Caspen
Eu a beijei para calá-la. A mulher é um perigo total. Não
parava de falar e sua raiva estava me deixando excitado, então,
resolvi beijá-la. Se eu tivesse uma câmera, gravaria esse momento.
Peguei-a de surpresa, literalmente.
Chegando em meu escritório, ela se solta dos meus braços
e seus lábios se desencostam dos meus. Seus olhos estão
arregalados, e sua boca, aberta, mas ela se recompõe em
segundos. Seu olhar surpreso se transforma em raiva.
— Você...! — Ela grita, avançando.
Dou um passo para trás, mas é tarde demais. Ela me dá um
tapa. Meu rosto arde. Olho para ela, estreitando os olhos.
— Seu... seu filho... — Ela tenta me bater de novo, mas
pego sua mão, segurando-a junto ao meu corpo, e a olho bem nos
olhos.
— Você é minha — digo a ela, olhando-a bem sério.
Lori puxa seu braço do meu aperto, olhando-me com
expressão furiosa.
— Ah! — exclama, colocando as mãos na cintura. — Agora
eu sou sua, né?! — desdenha. — Onde estava o você é minha
quando eu queria ouvir?! Ah, Caspen, você não sabe o quanto eu
queria ouvir essas palavras, o quanto eu queria ser sua e ter seus
lábios nos meus; mas adivinha, querido!? EU NÃO QUERO MAIS —
grita a última frase pausadamente, batendo o pé no chão.
Acho bonitinho sua explosão e quão chateada está. Fica
mais sexy e me deixa mais louco por ela.
— Isso foi antes. Mudei de ideia em relação a nós dois. —
Sorrio de propósito, sei que a deixará com mais raiva.
Ela abre a boca, mas logo a fecha. Encara-me por alguns
segundos, respirando fundo, provavelmente tentando controlar o
temperamento. Continuo sorrindo, e ela bufa, balançando as mãos.
— Você mudou de ideia? — Aceno com a cabeça.
— Sim, mudei. Eu a quero e você me quer, então, por que
não?
Estou adorando provocá-la, e sei que minhas palavras a
deixam com mais raiva.
— Eu te quero? Eu te quero? — Sua voz sai um pouco mais
elevada. Aceno com a cabeça. — Sabe quando eu vou te querer,
Caspen? Quando a porra do inferno congelar! — grita.
— Lori... — Ela levanta a mão, o que me impede de
continuar.
— Não, nada de Lori! Não terá Caspen e Lori, o que eu
sentia por você acabou, tudo o que restou foram mágoas e
ressentimentos.
— Não estou dando a você essa opção, Sunshine. — Sorrio
para ela.
Tirando o cabelo do seu rosto, ela me olha, soltando um
pequeno suspiro. Em seguida, olha para a minha mesa, e depois,
em volta do escritório.
— Quero meu diário de volta.
— Não. — Cruzo os braços.
Lori suspira.
— Caspen, ele é meu, e eu o quero de volta — insiste,
batendo o pé.
Tão linda quando fica irritada. Quero beijá-la de novo. Se eu
soubesse que seus lábios são tão deliciosos, teria a beijado antes.
— Você pediu a Amélia para jogá-lo fora.
— E ela não jogou.
— Não, ela não jogou, ela me deu, e agora ele é meu. —
Dou de ombros.
Ela me encara por vários minutos. Levanto uma sobrancelha
para ela, com um sorrisinho de lado.
— Caspen...
— Não, Lori, não irei devolver. — Minha voz é firme.
Lori acena com a cabeça. Ela se vira para sair, mas para e
me olha mais uma vez.
— Eu vou pegá-lo.
— Boa sorte. — Pisco.
Ela sai batendo a porta. Uma grande risada sai dos meus
lábios. Ela fica uma delícia quando está com raiva! Posso imaginar
como deve ser uma foda raivosa com ela.
Porra! Meu pau já está duro só de imaginar...
Lori pode lutar contra mim, mas ela sabe que eu já ganhei
essa luta, é só uma questão de tempo.
Lori
Ele me beijou. O idiota teve a coragem de me beijar e agir
como se isso fosse acontecer sempre a partir de agora. Ele me
rejeitou durante anos, ignorando meus sentimentos, brincando
comigo, sempre dormindo com outras mulheres, mesmo sabendo
que eu ficaria magoada; e agora, depois que meu noivo morreu, ele
do nada diz que sou dele?! Que merda! Ele bebeu?!
Se ele realmente acha que me terá assim, está muito
enganado! Droga! Esperei tanto por ele... para ele me ver, me amar,
me querer, para ter seu tão esperado beijo, sentir seus lábios nos
meus, suas mãos em mim... Eu esperei tanto por isso, que acabei
cansando e desisti.
Não vou deixar Caspen entrar assim.
Eu amo, infelizmente ainda o amo, e meus lábios ainda
formigam por causa do beijo. Foi um beijo simples, mas vi fogos de
artifícios.
Só que não importa como seu beijo me fez sentir, não
importa em como meu coração está acelerado e minha barriga está
formigando. Nunca terá Caspen e Lori.
De volta à minha casa e em meu escritório escondido em
meu closet, abro meu notebook e me atualizo a respeito do que
aconteceu no galpão.
Caspen estava certo, seus homens encontraram o lugar,
eles acabaram com tudo. Esfrego meu rosto. Era para ter sido eu,
mas minha melhor amiga me traiu, aquela dedo duro!
Meu celular toca.
— Eu vou te matar — aviso-lhe, e ela ri.
— Não, vai não — diz, confiante.
— É sério, Amélia! Que merda você fez?! — pergunto a ela,
irritada.
— Não vou dizer que sinto muito, tá? Eu estava preocupada
com você, então avisei a Caspen; mas, Lori, ele já sabia o que ia
fazer, ele está vigiando-a. — Droga!
Parece que terei que ser mais esperta e calcular melhor
meus passos e o que vou fazer daqui para frente. Não posso ser
pega na próxima vez.
— Tudo bem, mas se fizer de novo, eu juro que te mato.
— Sei, sei, já ouvi isso antes. — Ela está rindo, aquela
diabinha! — Marquei um spá com as meninas amanhã, estarei
passando aí as oito.
— Tudo bem, estarei esperando.
— Eu te amo, amiga, se cuida — diz, rindo.
— Sim, sim, todos me amam; pelo visto, até Caspen...
Ela grita de surpresa, e eu encerro a chamada. Deixá-la-ei
esperar até amanhã.
Amélia liga novamente, mas não atendo. Ela me dedurou,
então é justo.
AMÉLIA: “Sua vaca”.
EU: “Te amo...”
AMÉLIA: “Quero saber que merda foi aquela que falou”.
EU: “Amanhã eu conto para todas”.
SOPH: “O que está acontecendo?”
LAUREN: “Também quero saber, Amélia disse algo
sobre você e Caspen”.
HAPPY: “Será que vocês finalmente estão juntos?”
Lori
Olho para Caspen, tentando entender o motivo de eu estar
aqui, em seu clube. Ele sabe que detesto esse lugar, e mesmo
assim me trouxe aqui, para o seu deplorável clube.
Não que seja sujo e nojento. É um clube de rico, tudo muito
bem limpo e arrumado. O problema é todo o podre que acontece
aqui. Nunca foi e nunca será um bom lugar, porque foi exatamente
aqui que eu descobri a sujeira da minha família e quem é Caspen
Callahan. É claro que quando criança eu vi o Carter matando meu
pai aqui, mas achei que ele fosse algum salvador... Bom, eu não
entendia das coisas.
Caspen, o homem pelo qual eu tinha uma queda desde os
cinco anos de idade — é claro que eu não sabia o que sentia ... Foi
exatamente aqui que vi Caspen matar uma mulher.
Foi nojento e cruel, algo que ficou na minha mente por muito
tempo, me fez odiá-lo e tomei trauma. Minha família teve que me
levar a um psicólogo para me tratar, o que resolveu e me fez ver
quem são os Callahan’s.
— Estão todos limpos — digo a ele.
Caspen me encara.
— Tem certeza? — Bufo.
Estou aqui perdendo o meu tempo. Há quatro horas que
estamos na sala do RH. Entrei no sistema e pesquisei cada
funcionário dele, todos estão limpos, sem fichas criminais, sem
antecedentes, sem família, nada com o que se preocupar. Mas
Caspen não acreditou, ele me fez pesquisar de novo e de novo. Não
há mais nada, todos estão bem. Se ele quiser respostas melhores,
terá que interrogar, mostrar poder, impor medo em cada um deles,
quem sabe assim alguém acabará se borrando e se mostrando
traidor.
— Tenho, Caspen. Ninguém está com ficha suja ou
envolvido em alguma sujeira. Será que posso ir agora? — pergunto,
me levantando, mas ele me prende no lugar.
— Não. — Olha-me, sério. — Tem alguns clientes que quero
que pesquise. — Esfrego meu rosto.
Só quero ir para casa e descansar um pouco antes de
começar minha busca por Hernández, mas aqui estou eu, presa
com Caspen, em seu clube, que detesto.
— Não. — Balanço a cabeça. — Estou indo para casa —
aviso a ele, soltando-me de seus braços.
— Lori...
— Nada de Lori, Caspen. Você tem uma equipe que paga
para fazer o que estou fazendo, você não precisa de mim, eles são
bons no que fazem. — Olho-o, irritada por ter perdido meu tempo.
— Você é a melhor. — Dá de ombros. — E preciso saber
sobre Hernández e quem do clube é ligado a ele.
— Você tem cinco pessoas contratadas para fazerem isso.
Use-os. — Ando até a porta, mas ele me para.
— Você não irá a lugar algum. — Segura a porta.
Estreito os olhos para ele.
— É mesmo? — pergunto, cruzando os braços, e ele sorri
para mim. — Tente me impedir.
Tento tirar sua mão da porta, mas ele é mais forte do que
eu, bem mais forte. Fecho os olhos, contando até dez — ou cem,
porque do jeito que estou, poderia matá-lo e colocar fogo neste
clube idiota.
— Caspen...
— Lori...
Abro os olhos para vê-lo sorrindo para mim. Rolo os olhos.
— Tá legal. — Bato o pé. — Por que estou aqui? Quero a
droga da verdade!
Caspen suspira, passando as mãos pelos cabelos.
— Hernández está atrás de você, Lori. Não vou deixá-la
desprotegida. Eu cuido do que é meu, e o melhor para você é ficar
do meu lado, assim, eu mesmo irei te proteger.
Posso ver quão irritado ele está com toda essa situação e
como Hernández tem mexido com ele. Caspen está com ar
cansado.
Suspiro, olhando-o.
— Sério? Essa coisa de “você é minha” de novo — digo,
rindo.
— Você é minha, Sunshine. — Dá de ombros.
— Pare de me chamar assim! — grito, batendo o pé. — Eu
não sou sua, Caspen!
Ele cruza os braços, com uma sobrancelha levantada, em
um gesto a me questionar.
— Sim, amor, você é minha.
Não me controlo e começo a rir.
— Onde estava o “você é minha” quando eu estava parada
bem na sua frente, dizendo a você que eu ia embora? Você não me
pediu para ficar, você não falou que eu era sua, Caspen —
desdenho. — Eu estava implorando mentalmente para que você não
me deixasse ir, para que me impedisse de ir embora; mas você não
falou nada, falou? Você me deixou ir, Caspen! — Bato em seu peito,
com raiva. — Você não me pediu para ficar, e, Deus, como eu
queria que você pedisse! Mas não, ficou lá, olhando-me, deixando-
me ir; e foi aí que errou, porque enquanto me deixava ir, Chris me
recebia de braços abertos!
Vejo em sua expressão que minhas palavras o atingem.
Sinto-me bem em ter falado tudo o que eu estava sentindo.
— Sabe como o conheci? — emendo.
— Sim: você estava à beira de um penhasco e ele te
encontrou lá. — Sorri. Olho para ele com expressão surpresa. — Eu
te disse antes, Lori: eu sabia onde estava e o que estava fazendo.
— E mesmo assim me deu a Chris em uma bandeja. —
Balanço a cabeça.
— Não achei que precisava me preocupar. — Encolhe os
ombros.
— Foi onde errou. Chris estava lá, foi ele quem conversou
comigo, foi ele quem me fez rir de novo e esquecer de tudo o que
tinha me acontecido, foi ele quem me segurou quando eu tinha
meus pesadelos, quem secou minhas lágrimas quando chorei e
quem me amou quando eu não sabia que podia ser amada. Foi
Chris, Caspen, e não você. — Fecho os olhos, lembrando-me dele e
de tudo o que vivemos. — E agora ele está morto, e eu não tenho
nada.
Minhas pernas estão fracas, meus joelhos cedem e eu caio.
Caspen me segura em seus braços. Eu choro por tudo o que está
acontecendo, por toda essa dor que estou sentindo, por toda essa
raiva, essa sede por vingança que tenho; coloco tudo para fora, e
dessa vez é Caspen quem me segura.
Caspen
Culpa. O que estou sentindo enquanto seguro Lori em meus
braços é culpa, por ter a deixado ir quando ela precisava que eu a
fizesse ficar, por ter quebrado seu coração, por ter deixado outro
homem amá-la e cuidar dela, por ter esperado demais.
Não sou o tipo de homem que demonstra sentimentos. Às
vezes penso que não tenho coração, porque não consigo sentir
nada; mas Lori é diferente, ela traz a mim paz, faz com que eu sinta,
faz com que eu queira ser melhor. Ela me fez amá-la quando pensei
que nunca poderia amar.
Eu a fiz sofrer por uma promessa besta e sem sentido. Sou
um homem que cumpre o que fala, por isso segui minha promessa
ao pé da letra, mantendo-me distante, na minha.
Sou o tipo de homem que pega o que quer, que não desiste
e que não se importa com regras; e olha onde isso me levou. Estou
perdendo a mulher que amo.
Não, essa merda não vai acontecer! Está na hora de Lori ver
que não estou brincando e que é minha, custe o que custar.
Com ela em meus braços, eu nos levanto e a levo para o
meu escritório, onde tenho um quarto anexado. Coloco-a na cama e
me deito com ela, até que durma. Levanto-me da cama e a olho a
dormir. Beijo sua testa com carinho e saio, fechando a porta.
Está na hora de mostrar quem é o verdadeiro Caspen
Callahan. Esta noite o diabo vai sair para brincar um pouco.
— Irmão, onde você está indo? — Carter pergunta ao entrar
em meu escritório.
— Sair. O diabo quer brincar um pouco, vou passar um
recado para Hernández — respondo, sorrindo. — E você, irmão, irá
comigo. Quem melhor do que o Ceifador e o Diabo para fazerem a
festa? — Pisco para ele.
— Que recado quer passar para ele? — pergunta, cruzando
os braços.
Sorrio.
— Que estou indo atrás dele e que vou pegá-lo.
Pego meu celular e ligo para Lorenzo, pedindo a ele para
ficar de olho em Lori enquanto eu saio para me divertir um pouco.
Olho para Lori, me certificando de que ela esteja dormindo,
e fecho a porta. Carter está logo atrás de mim, sorrindo. Ele gosta
de matar, de torturar, ele gosta de fazer as pessoas gritarem,
sangrarem. Ele ama trazer a morte.
Porra! Só de pensar em como nossa noite será, já fico
excitado!
Olho para o garoto na minha frente. Não deve passar de
vinte e um anos. Coitado! Ele nunca imaginou que hoje se
encontraria comigo; mas ele está na minha área, vendendo garotas
de quinze anos, tudo em nome do Hernández. Eu não sabia que ele
iria tão baixo, a ponto de vender adolescentes em becos escuros.
— E-eu não sei quem ele é. — O menino chora, encolhido
no chão.
— E mesmo assim faz o que ele manda! — rosno, irritado.
— Ele paga bem — choraminga.
Abaixo-me, ficando cara a cara com ele. Sorrio quando o
vejo tremer.
— Temos um recado para Hernández. Será que pode
entregar a ele? — pergunto.
Ele acena com a cabeça. Olho para Carter, que chega mais
perto. Quando o menino o vê, começa a dar alguns passos para
trás. Enrugo o nariz quando sinto o cheiro forte de mijo.
Merda! Nem comecei, e ele já se mijou... Patético!
— Segure-o — comando a Carter, que obedece.
Rasgo a blusa do garoto, olhando para o seu corpo magro.
Pego minha adaga afiada. Eu a chamo de adaga da morte ou adaga
da justiça. É de ouro branco com prata e diamantes.
Carter coloca um pedaço de pano na boca do garoto, o que
o impede de gritar, e eu começo a esculpir em seu peito:
Vou atrás de você.
O garoto chora, seu corpo tremendo, e em todo o momento
um sorriso está em meus lábios. Hernández irá entender o recado
que tenho para ele; não que esse seja o único.
Solto o garoto, e ele corre, cambaleando enquanto se
encolhe de dor. Entro no pequeno prostíbulo e mato mais dois
homens, em seguida, levando as garotas para um abrigo onde
serão cuidadas e protegidas.
Hernández é sujo, ele é baixo demais, e fico me
perguntando o que ele quer com Lori e o que pretende fazer se
conseguir pegá-la.
Carter e eu continuamos a caçar. Paramos em cada ponto
que não é nosso, em cada beco e esquina, matamos, torturamos,
colocamos medo e terror onde quer que passamos. Sem pena, sem
remorso, acabamos com tudo, fazemos uma limpeza completa; e
estou pronto para continuar, mas já está amanhecendo, e é quando
percebo que passei tempo demais nas ruas e que preciso voltar
para Lori quando ela acordar.
— O que quer dizer com ela se foi? — pergunto a Heitor, já
que Lorenzo não está por perto.
Meu irmão dá de ombros.
— Ela acordou e pediu para ir para casa, então Lucien e
Lorenzo a levaram.
Vejo vermelho. Porra! Era para ela estar aqui, segura,
protegida pelos meus homens e irmãos!
— Era para ela estar aqui, Heitor; protegida por mim —
grunho.
— E onde você estava, irmão? — pergunta, sorrindo.
— Fazendo o meu trabalho — respondo, cruzando os
braços.
— Bem, se quer proteger Lori, terá que ficar com ela
pessoalmente. — Sorri. — Vou pra casa. Happy e meus filhos
estarão acordando daqui a pouco. — Bate em meu ombro e se
retira.
Esfrego o rosto, vendo minhas mãos sujas de sangue.
Preciso de um bom banho, e depois terei uma conversinha com Lori
Callahan. Ela tem que parar de fugir de mim.
Lori
Cansada, mentalmente e fisicamente. Pareço-me mais velha
do que sou. Só quero que tudo acabe e que eu possa ser normal um
pouco, sem lutas, sem tiros, sem pessoas sequestradas, sem nada
dessa confusão que envolve o nome da minha família, sem
sentimentos confusos.
Eu só quero não sentir nada, mas quanto mais eu tento não
sentir, mais eu sinto; e esses sentimentos estão me comendo viva.
Se eu pudesse, iria embora, sairia de tudo isso e começaria
de novo; porém um Callahan não foge de suas responsabilidades,
sem falar que sou um alvo.
— Você foi embora. — Pulo ao ouvir a voz de Caspen.
Olho para a porta do banheiro, para encontrá-lo encostado
no batente. Seus braços estão cruzados sobre o peito, e ele está me
encarando. Seu olhar parece tão cansado. Parece que não sou
apenas eu.
— Você não estava lá, então vi uma oportunidade para sair.
— Dou de ombros.
Caspen sorri para mim.
— Eu acho que está fugindo de mim, Lori. — Desencosta da
porta e caminha até mim, com passos decisivos.
Sinto-me uma presa.
— Está errado — digo, de cabeça erguida.
Ele sorri novamente.
— Tem certeza? — Prende-me à pia do banheiro, seus
braços em cada lado do meu corpo.
Encaro-o, prendendo a respiração, me preparando para o
seu próximo passo.
— Caspen... — sussurro.
— Sim? — pergunta, ainda sorrindo.
Olho bem para ele, sabendo que vou me arrepender do que
vou fazer; mas dane-se tudo. O que adianta ser cautelosa, sendo
que no fim nada dá certo; que eu sempre acabo prejudicada e de
coração partido? O que adianta ser cuidadosa nesse momento,
onde tudo o que quero é fazer algo impensável e jogar a
preocupação ao vento; onde quero ao menos uma vez na porra da
minha vida fazer o que acho certo, fazer algo por mim e só por mim?
— Me beija — comando.
Mas não espero pela sua iniciativa, apenas jogo meus
braços em seu pescoço e meu corpo sobre o dele, em seguida,
beijando-o. Foda-se. É isso o que eu quero, e vou tomar, não me
importando com as consequências. Esse é o meu momento.
Capítulo Nove
“Sacrifice – Black Atlass (feat. Jessie Reyez)”
Caspen
Olho para a porta do banheiro.
Ela me usou e me expulsou, e não consigo ficar com raiva
dela. Frustrado? Sim, mas não com raiva. Lori teve muita coragem
para fazer o que fez, e sinto-me orgulhoso.
Balanço a cabeça, rindo. Hoje eu vou dar o que ela quer,
deixando-a pensar que ganhou essa; porém, quando eu a tiver de
novo — porque eu vou tê-la de novo, mostrarei quem realmente
manda, e ficaremos na cama por tempo indeterminado.
Levanto-me, vestindo meu terno. Balanço a cabeça, ainda
não acreditando no que ela acabou de fazer. Já vestido, resolvo
surpreendê-la e entro no banheiro.
— Merda, Caspen! O que pensa que está fazendo?! — Lori
grita, tentando se cobrir com as mãos.
Rio. Em seguida, abro o vidro do boxe e a puxo pela nuca,
beijando-a. Mordo seus lábios, o que a faz gemer.
— Te vejo depois. — Pisco para ela, que agora está sem
reação.
Saio do banheiro e sorrio quando ouço seu gritinho irritado.
Fecho a porta do seu quarto, dando de cara com seu irmão. Ele
levanta uma sobrancelha para mim, e eu apenas dou de ombro.
— Acho que finalmente vocês se acertaram — comenta.
— Bem, Lori está sendo um pouco difícil. — Ele ri.
— Boa sorte. Minha irmã sabe ser difícil quando quer.
— Não me diga... — Passo por ele, indo para o andar de
baixo.
Tia Megan me vê e sorri para mim. Em resposta, apenas
aceno para ela. Não quero parar para ouvi-la falar sobre a filha de
todos os blábláblá de mãe. Tenho muito o que fazer, incluindo achar
Hernández.
— O que vocês têm para mim? — pergunto aos meus
hackers, em minha sala de segurança.
— Hernández marcou uma reunião com seus investidores, e
alguns dos nossos homens estarão nessa reunião. — Marevick
entrega a mim alguns arquivos.
Estreito os olhos quando vejo alguns dos meus contatos
marcados como homens de Hernández. Parece que achei meus
traidores, aqueles que serão punidos quando eu os pegar.
— Local da reunião? — pergunto.
— Não há local ainda. Sabemos que Hernández marca suas
reuniões em cima da hora, para não haver intrusos. E já que
acabamos com seu leilão, ele tem se tornado mais seletivo.
— Vou analisar todos os arquivos e tentar achar alguma
coisa que nos ajude a localizá-lo. Hernández não pode se esconder
por muito tempo, não se ele estiver em meu território. Vamos achá-
lo. — Marevick acena com a cabeça.
Saio da sala de segurança, indo para o meu quarto. Preciso
dormir um pouco, antes que eu acabe desmaiando, de tão cansado;
mas minha mente está a mil por hora. Hernández tem se tornado
difícil, e agora, saber que ele tem Lori como alvo piora ainda mais a
situação.
Não sei o que ele quer com Lori, mas não irei permitir que
ele a tenha. Esperei muito tempo para fazê-la minha; perdi anos
com ela, por causa de uma promessa que ela nem se lembra mais.
Fui um tolo por não ter estado com ela quando mais precisou de
mim, por ter a deixado partir. Farei de tudo para recuperar o tempo
perdido e protegê-la de Hernández.
Não sou o tipo de homem que demonstra emoções. Fui
treinado para controlar o que sinto, para não ter medo, para ser frio,
para matar e reinar, controlar e fazer com que todos sintam medo de
mim.
Porém, quero que tudo mude. Continuo sendo o mesmo,
com a diferença de que amo. Amo Lori e seu sorriso, o jeito com
que ela joga o cabelo para trás e cruza os braços, o jeito com que
ela rola os olhos e suspira... amo a força dela, o quão incrível ela é...
Mesmo depois de tudo o que passou, tudo o que sofreu, ela
continua com a cabeça erguida e seguindo em frente. Sei que
muitas das vezes tudo é apenas uma fachada, que ela quer mostrar
a todos que está bem quando tudo o que quer é quebrar; e é por
essa mulher que me apaixonei. Pena que esperei tempo demais.
Chega de esperar.
Lori
Suspiro aliviada quando saio do banheiro e vejo que Caspen
se foi. Sento-me na beira da cama, olhando para as minhas mãos e
tentando conter as lágrimas.
Não há mais ninguém em meu quarto, então não tenho
motivo para tentar ser forte e controlada, posso quebrar à vontade
sem ninguém saber quão fraca sou e como estou me sentindo.
O que acabei de fazer? Por um momento de fraqueza
acabei cedendo e me rendi a Caspen e ao desejo, à paixão que
sinto por ele; e agora, sinto-me culpada... Droga! Não queria me
sentir assim. Não queria sentir esse peso em meus ombros, a culpa
me corroendo, a dor de estar sozinha, mesmo quando tem várias
pessoas à minha volta, não queria sentir essa vontade de torturar
alguém, fazê-lo sangrar e gritar... Eu só não queria amar Caspen!
Porra! Eu só não queria sentir!
Mas sinto. Chris está morto, e eu, viva. Isso é o que eu mais
sinto.
Capítulo Dez
“Bird Set Free – Sia”
Caspen
Lori retribui ao beijo, e é a deixa perfeita. Puxo-a para mais
perto, suas mãos em minha nuca, me arranhando. Porra, ela é tão
doce! Tão malditamente doce! Ela me deixa louco, e tudo o que
quero é agradá-la, amar cada parte do seu delicioso corpo, saber do
que ela gosta e quais os pontos que a fazem gemer.
Quero tudo dela, cada pedacinho, cada riso, cada lágrima e
preocupação, eu a quero. Por mais que ela negue, Lori é minha, ela
já se entregou a mim.
— Tira, tira — comanda, puxando minha blusa social.
Beijo seu pescoço, tirando sua blusa. Ela geme baixinho.
Sua pele está arrepiada. Minha boca desce do pescoço para os
seus seios. Ela joga a cabeça para trás e suas mãos seguram meus
ombros. Desço, ficando de joelhos e beijando cada parte do seu
corpo. Abro o zíper de sua calça, puxando-a para baixo, junto com
sua calcinha.
— Caspen... — sussurra.
Viro-a, colocando-a em cima da mesa, com as pernas
abertas para mim. Ela é linda, tão perfeita e rosada lá embaixo.
— Tão molhada. — Lambo meus lábios, pronto para prová-
la.
— Merda, Caspen! — grita quando a lambo.
Ela tenta fechar as pernas, mas as seguro, bem abertas.
— Gostosa pra caralho — sussurro em sua boceta.
Lori geme à medida que me aproveito do seu corpo, se
esfregando em mim, pedindo por mais. Enfio dois dedos dentro
dela.
— Sim, sim, bem aí... — geme.
Sorrio. Subo minhas mãos, brincando com seus seios.
— Caspen... — Ela goza.
Continuo a saboreá-la. Lori está tremendo. Levanto-me,
tirando minha calça e em seguida colocando a camisinha. Puxo-a
para mim, logo após, entrando nela. Lori me segura, sua cabeça em
meu pescoço. Ela me beija, dando pequenas mordidas.
— Se movimente, Caspen — pede, gemendo.
Mordo seu ombro, e ela grita. Meus movimentos são
rápidos. Não estamos fazendo amor, estamos fodendo na mesa do
meu escritório. Puxo seu cabelo, fazendo com que sua cabeça caia
para trás, em seguida, abaixo minha cabeça e mordo seus mamilos.
— Porra! — grita.
Sorrio entre seus seios. Suas pernas se fecham em minha
cintura.
— Tão molhada! Sua boceta está apertando meu pau, Lori!
— rosno.
Estamos tão perdidos um no outro, que não percebemos
que a porta do escritório foi aberta.
— Minha nossa! — Congelo ao ouvir a voz, e acredito que
Lori também.
Olho para trás, vendo vovó olhar para a minha bunda. Ela
sorri para mim.
— Bela bunda, meu neto!
Lori me empurra, pulando para fora da mesa e correndo
para o banheiro, suas bochechas estão coradas.
— Vovó, não sabe bater? — pergunto, irritado com ela.
— Não sabe trancar a porta?
Pego minha roupa, indo para o banheiro. Abro a porta para
encontrar uma Lori sentada no vaso, com as mãos no rosto.
— Sinto muito — digo a ela.
No fundo, estou com muita vontade de rir. Claro que estou
irritado por termos sido interrompidos, mas essa merda é
engraçada. Nunca imaginei que seria pego fazendo sexo, não por
vovó.
— Não ria. — Lori diz, olhando-me. — Deus! Estou tão
envergonhada! — Balança a cabeça.
— Ei, está tudo bem.
Mas Lori não quer me ouvir, ela apenas tapa o rosto com as
mãos.
— Ei, vocês dois, eu ainda estou aqui! — Vovó grita, e eu
reviro os olhos.
— Já estou indo! — grito de volta.
Visto minha roupa, sempre observando Lori. Ela se levanta
e também começa a se vestir.
— Vamos, ela não vai sair enquanto não aparecermos. —
Estendo minha mão para ela.
Lori olha para a minha mão estendida, e depois, para mim.
Ela sorri, passando por mim e saindo do banheiro.
Se ela quer continuar sendo difícil, por mim tudo bem, gosto
desse jogo.
— Pronto, vovó, estamos aqui. — Vovó está nos olhando
com um grande sorriso.
— Pelo amor, velha, não estamos juntos, então tire esse
sorriso do rosto! — Lori diz.
Vovó fecha a cara, colocando as mãos na cintura.
— Você me chamou de velha? — pergunta, irritada.
— E foi só isso que ela ouviu. — Lori rola os olhos. — Sim.
E adivinha? A Senhora é velha, vovó, e eu te amo muito, mas não
pense que isso — Aponta entre nós dois — é mais do que viu aqui.
Acho que Caspen acabou de se tornar meu amigo de foda, sabe?
Estou precisando ficar menos tensa ultimamente, e ele é um bom
alívio. — Dá de ombros.
Porra, essa doeu!
Estreito os olhos para Lori, que sorri para mim. Ela está
decidida a não ter nada comigo, e eu estou decidido a mostrar que
ela é minha. Vamos ver quem ganha essa.
Vovó olha para mim e ri.
— Ai, doeu até em mim. — Olha para Lori. — Isso mesmo,
garota, faça ele sofrer um pouco.
— Ei, eu estou bem aqui — rebato.
— Sério? Nem tinha percebido. — Vovó diz, sorrindo.
— Bem, vou deixá-los a sós. — Lori diz, em seguida, vai até
vovó e dá um beijo em sua bochecha, saindo do escritório logo
após.
— Ela fugiu como se o escritório estivesse pegando fogo;
como se eu fosse contagioso — murmuro, balançando a cabeça,
com um pequeno riso nos lábios.
— Bem, você tem a evitado por anos, agora ela está dando
a você o que merece. Como se sente, querido neto?
Suspiro, tentando ajeitar meu terno, que está todo
amassado da foda interrompida que Lori e eu acabamos de ter.
— Diga-me, vovó, o que te traz aqui?
— Queria saber se já pensou sobre a minha teoria de que
Hernández possa ser mulher — argumenta, se sentando em frente a
mim.
Vovó e suas teorias sem pé nem cabeça. Não faço ideia de
onde ela tirou isso.
— Vovó, Heitor viu ele quando fugiu na noite do leilão, era
homem.
— E você supôs que fosse Hernández?
— Sim, ele fugiu de nós, vovó. — Estou ficando frustrado
com essa conversa.
— Pensei que vocês fossem espertos e teriam a mente
aberta para as coisas e teorias, mas é um bando de bundões que só
veem o que querem. — Balança a cabeça.
— O que quer dizer?
— Pergunte a Amélia quantas pessoas tinha no quarto onde
Hernández estava. Você tem que parar de pensar que mulheres não
são espertas e que não podem enganar você, meu neto. — Sorri. —
Aprendi com seu avô que há uma coisa chamada distração. Você vê
aquilo que eu quero que veja. — Pisca para mim.
Ela se levanta da cadeira e sai do escritório, deixando-me
com os próprios pensamentos. Se Hernández for mulher, por qual
motivo ela está atrás de nós e por que quer Lori?
— Eu já te disse que Hernández não é mulher. — Heitor diz,
olhando-me. — Eu o vi, ele deu aquele sorrisinho de lado para mim
quando escapou. — Cruza os braços.
— É, eu sei, mas não podemos deixar nada escapar,
precisamos pensar longe, e o que vovó disse está me incomodando
— digo.
— O que você vai fazer? — Lorenzo pergunta.
— Chamei Amélia. Quero saber mais sobre aquela noite e
quem estava no quarto com Hernández. — Ele acena com a
cabeça.
— Me recuso a acreditar que Hernández seja mulher. —
Heitor diz, cruzando os braços.
— E é onde está o grande erro, irmão. — Amélia diz,
entrando no escritório, com Lori atrás dela.
Lori em momento nenhum olha para mim, o tempo todo
focada em Amélia. Sorrio, achando engraçado o esforço que ela faz
para demonstrar que não está afetada por mim.
— O que quer dizer? — pergunto à minha irmã.
— Bem, havia quatro pessoas dentro do quarto. Uma
podemos dizer que seria Hernández; depois, tinha mais dois
seguranças e uma mulher. Mas estávamos tão focados em pegar
Hernández, que fomos apenas atrás do cara que estava fugindo.
— Temos imagens da mulher? — pergunto.
Amélia balança a cabeça.
— Não. O governador pediu para que as filmagens fossem
todas excluídas. Esse era o acordo, lembra? Ele não queria que
nada ilegal ficasse relacionado a ele. — Suspira. — Tudo o que
tenho são relatórios sobre o dia e algumas fotos, mas nada com
relação à mulher dentro do quarto.
— Isso não diz nada. Não que signifique que ela seja
Hernández. — Heitor rebate.
— Mas também não significa que não seja. — Vovó, como
sempre, aparece sem ser chamada.
— Vamos lá, velha, conte-nos no que está pensando. —
Lorenzo implica, e vovó estreita os olhos para ele.
— Sei onde você dorme, moleque. Meus pensamentos são:
primeiro, Hernández não gosta de ser identificado, então por que ele
deixaria que nós o víssemos? Segundo: ele sempre age por meio de
alguém, então, o homem que fugiu seria esse alguém. E terceiro:
ele apenas usou uma distração em vocês, que estavam tão
sedentos em pegá-lo, que esqueceram dos outros que estavam com
ele; então, enquanto vocês corriam para o homem que estava
fugindo, Hernández saía tranquilamente do hotel, sem ser
identificado. Ah! — exclama, sorrindo e estendendo a mim o
envelope que está em suas mãos. — Essa é uma foto da mulher
que estava no quarto, mas a vadia estava de cabeça baixa, não dá
para identificá-la. — Dá de ombros.
Abro o envelope, pegando as fotos e as tirando de dentro.
Observo as três, mas como vovó disse, não dá para ver o rosto. A
mulher está com um vestido vermelho. Dá para perceber que ela
não é jovem, deve ter mais de cinquenta anos; mas seu corpo é
conservado, seus cabelos são loiro-escuros; mas nada do rosto, e
sem ver o rosto, a foto é inútil.
Passo as fotos para os outros, que as observam em silêncio.
Esfrego meu rosto com a mão, sentindo-me mais cansado do que já
estava. Não durmo há mais de dois dias.
— Tá, digamos que Hernández possa ser uma mulher. —
Heitor começa. — Que diabos vamos fazer com essa informação?
Porque, sério, se for mulher, é uma vadia sem coração. Ela estava
leiloando crianças! — conclui, fazendo cara feia.
Nós somos máfia, trabalhamos com tudo, menos com tráfico
humano. Nossas mulheres trabalham para a nossa organização
porque querem, elas têm apoio financeiro, têm tudo do bom e do
melhor, e quando quiserem sair, elas estarão livres para ir.
O que Hernández faz é desumano. Saber que uma mulher
vende e escraviza mulheres e crianças é pior ainda.
— Bem, nós vamos procurar por todas as mulheres
envolvidas com a máfia e o cartel. Teremos que cavar bem fundo,
até encontrar a mulher da foto — comando. — Mas temos que ir
com calma. Vou informar a todos na família: Theodoro, que está em
Los Angeles; Hector, que está em Las Vegas; e os outros, que estão
aqui. Não vamos sair por aí falando que Hernández é uma mulher,
porque a verdade é que não temos a certeza. Só estamos
expandindo nosso conhecimento, não podemos passar informações
erradas. — Todos acenam com a cabeça em acordo.
— O que eu quero saber é que se for mulher, que diabos ela
quer comigo? — Lori pergunta, e seus olhos se encontram com os
meus. — E quando nós a pegarmos; e nós vamos pegá-la, ela ou
ele é meu.
— Não, Sunshine, é nosso. Todos nós teremos um pouco de
Hernández.
Meus irmãos olham para mim, todos com um sorriso de
merda no rosto, por causa do apelido da Lori. Vovó está acenando
com a cabeça e Amélia suspira.
Nós não gostamos de torturar mulheres, mas se Hernández
for uma mulher, não posso dizer que controlarei meus irmãos e Lori.
Hernández pegou uma das nossas, sequestrou crianças, maltratou
pessoas... Seja quem for, ele será punido. E sim, deixarei Lori cuidar
dele um pouco.
— Vocês sabem o que fazer, estão dispensados — digo a
todos. — Lori, quero falar com você — digo, antes que ela fuja de
mim.
Lori suspira, ficando no lugar, enquanto os outros saem.
— Bom, o que quer falar comigo? — pergunta, olhando-me.
Ela vai ser difícil, posso perceber pela sua postura e pelo
quão tensa está. Suspiro, balançando a cabeça.
— Sunshine, você precisa parar de fugir de mim. — Ela ri.
— Não estou fugindo de você, Caspen. Estou vivendo minha
vida do jeito que quero. — Dá de ombros.
Controlo-me para não perder a cabeça. Eu sabia que ela
seria difícil, mas, Jesus, essa mulher é osso duro!
— Lori...
— Olha, Caspen — interrompe-me —, não sei o que você
acha que nós temos, mas a verdade é que não temos nada.
É claro que temos! — rosno.
Lori balança a cabeça.
— Não, não temos, Caspen.
— Me diga, então, Lori, o que nós temos?
— Não temos nada, é isso o que quero dizer a você,
Caspen. — Bate o pé, irritada. — Nós tivemos uma foda e meia?
Acho que é assim que vou dizer, já que fomos interrompidos da
última vez; e foi só isso, eu estava estressada, tensa e precisava
relaxar, e você serviu ao propósito, eu relaxei e ponto, é isso.
— Você estava tensa e precisava relaxar? — Ela acena com
a cabeça. — Então estava me usando?
— Bem, fiz exatamente o que você fez com as mulheres
com as quais saía. Você as usava, então, nem sei por que está tão
surpreso que eu te usei. — Sorri.
Porra! Essa mulher está me quebrando! O que me magoa
não é saber que ela me usou, e sim saber que eu a magoei a ponto
de ela me usar, de ela achar que o que fizemos foi apenas sexo. Eu
fui um idiota, mas estou tentando. Eu só não sei o que fazer para ela
ver que realmente a amo, que a quero, que ela é minha.
Estou mais que irritado. Estou decepcionado comigo
mesmo.
— Saia, Lori — comando, e ela suspira.
— Homens e seus egos feridos — murmura, balançando a
cabeça.
— Chame vovó, peça para ela entrar. — Ela bate a porta ao
sair.
Irritado com o que acaba de acontecer, jogo tudo o que está
em minha mesa no chão. Tenho que fazer algo para merecê-la, para
conquistá-la, mas não faço ideia do que fazer; não estou, porra,
acostumado com isso! Sempre tenho o que quero, e agora não!
— Me chamou? — Vovó pergunta, entrando em meu
escritório. — Uau! Você sabe que terá que arrumar tudo, né? —
Olha para a minha bagunça.
— O que eu faço, vovó?
— Pode ser um pouco mais específico? Não sou adivinha.
— Sorri.
— Lori. O que eu faço para conquistá-la?
Vovó sorri novamente, se sentando na minha frente e em
seguida pegando minha mão.
— Querido, mostre a ela que se importa, que a quer, mas
não com apenas palavras, e sim com atitudes e pequenas
demonstrações. Não será algo rápido e fácil, mas aquela menina te
ama, ela só precisa acreditar que você a ama. — Aceno com a
cabeça.
— Então tenho que usar estratégias? — Ela ri.
— Sim e não. Dê a ela presentes. Nada de joias, não agora,
vai parecer que está comprando-a; mas dê algo que seja importante
para ela, que mostre que a conhece e que se importa: flores, cartas,
bombons, elogios, coisas que ela goste e sejam importantes e de
grande afeto. — Sorri.
Uma ideia vem em mente. Sei exatamente por onde
começar.
— Obrigado, vovó. Sei o que fazer. — Beijo sua mão.
— Oh, querido, pode sempre contar comigo, eu sei das
coisas. — Pisca para mim, corando. — Bem, mas sei o que pode
fazer por mim. — Abre o maior sorriso, e eu estreito os olhos.
— E o que é?
Já sei que pedirá algo que não irei gostar.
— Uma foto da sua bunda para eu mostrar às minhas
amigas do bingo.
Fico sem palavras e de boca aberta, acredito que até
vermelho. Vovó ri da minha reação.
— Vovó! — exclamo ao me recompor.
— Tudo bem, não custa nada tentar, não é?
Capítulo Treze
“Loved me Back to Life – Sia”
Lori
— Você continua vindo aqui. — Ouço atrás de mim.
Viro minha cabeça para trás, vendo Chris aparecer entre as
árvores.
— Vou pensar que está me seguindo. — Ele dá de ombros.
— Só queria ver se apareceria de novo. Fico pensando que
a qualquer momento poderia pular. — Ele diz, chegando mais perto,
até estar ao meu lado.
Olho para baixo do penhasco. Bem que é uma tentação
pular daqui para ver o que aconteceria. Eu morreria ou sairia
nadando até a costa? O mar está calmo hoje e o dia está
ensolarado. Daqui a vista é perfeita.
Desde o dia em que fui embora de casa, eu sempre venho
aqui, olhar para baixo. Pensar em pular faz com que eu me sinta
viva, me dá aquela pequena emoção que faz meu coração voltar a
bater, porque a maioria dos dias eu o sinto morto.
Não há explicação. É uma sensação que corre pelas veias,
como se eu tivesse tomado uma dose de adrenalina que faz com
que meu corpo se acenda. Faz com que eu sinta, medo, emoção,
liberdade... Todas as emoções que eu achava que estivessem
mortas, destruídas, voltam quando venho ao penhasco. É
emocionante, tornou-se um vício.
— Não vou pular — digo, olhando-o.
Chris olha para mim, acenando com a cabeça.
— Nunca se sabe. — Encolhe os ombros.
— Você não sente essa vontade de pular? — pergunto,
curiosa.
Chris sorri para mim.
— Sim, eu tenho vontade de pular. Gosto do desconhecido,
de não saber o que acontecerá.
— Parece ser libertador. — Ele ri.
— Sim, e ao mesmo tempo assustador. — Concordo com a
cabeça.
— Um dia eu vou pular.
— Eu pulo com você.
Sorrio para ele, percebendo quão verdadeiro está sendo.
— O que acha de jantar comigo? Como amigo, nada mais
do que isso. Quero saber por que uma mulher bonita como você tem
um peso tão grande nas costas. Vou ajudá-la a carregar esse peso.
— Estende a mão para mim, e eu a tomo.
Eu saí para ficar sozinha, juntar minha merda; mas olhando
agora para Chris, percebo que não quero mais ficar sozinha, que
preciso de alguém na minha vida, mesmo que ela esteja aos
pedaços.
— Sua mão é quente — comento, e ele ri.
— O que posso fazer? Eu sou todo quente. — Pisca, e eu
rio.
Eu ri... Pela primeira vez, depois do que aconteceu, eu ri.
Não qualquer riso, mas um grande riso. Lágrimas se formam em
meus olhos ao saber que Dimitri não me quebrou totalmente. Ainda
há um fio de alegria em mim, uma pequena vontade de superar o
que aconteceu.
As marcas do que ele fez comigo ainda estão em meu
corpo, em meus sonhos, mas não tomaram totalmente meu
coração. Dimitri ainda não possuiu minha alma, e é isso que estou
tentando fazer. Estou tentando manter minha alma intacta.
— Não seja tão espertinho — brinco.
— Querida, você ainda não viu nada — brinca também. — O
que quer fazer?
Penso sobre sua pergunta. Todos os dias venho aqui e me
perco. Não faço nada além ficar aqui, perdida no tempo, apenas
observando e esperando algo, alguma mudança; hoje eu a tive, e
agora não sei o que fazer. O que eu quero fazer? Minha resposta
seria esquecer, esquecer tudo o que aconteceu, mas não acho que
essa seja a resposta que Chris queira ouvir.
— Seja sincera, Lori. O que você realmente quer fazer? —
Ele pergunta como se soubesse o que estou pensando.
— Esquecer. Eu quero apenas esquecer.
Chris acena com a cabeça.
— Eu não sei o que lhe aconteceu, não faço ideia do quanto
é o seu sofrimento, mas vou ajudá-la. — Ele diz, apertando minha
mão.
Sinto uma onda de conforto ao ouvir suas palavras, uma
grande paz, como se ele fosse colocado na minha vida por um único
objetivo.
— Obrigada — sussurro.
Para a minha surpresa, ele me abraça. Encosto minha
cabeça em seu ombro, deixando algumas lágrimas rolarem. Deus! É
tão besta o que estou fazendo! Mal o conheço e aqui estou,
chorando no ombro de um homem bonito.
— Céus! Sou uma bagunça! — digo, rindo enquanto seco
meus olhos. — Sinto muito.
— Não sinta, querida. — Passa a mão pelo meu rosto. —
Está tudo bem. Chorar faz parte, e sempre que quiser chorar, meu
ombro está disponível. Nada melhor do que ter uma mulher bonita
em seus braços. — Sorri, o que me faz corar. — Acho que isso é um
pequeno sorriso.
— Sim, é.
— Bom, muito bom.
Ele segura minha mão durante todo o caminho para baixo
do penhasco. É nesse momento que me sinto diferente, meu
coração bate um pouco mais rápido e um pequeno fio de
eletricidade passa por mim. Em todo o momento em que Chris está
comigo, eu não penso sobre quem eu quero, sobre quem é minha
família. Eu não penso em Caspen, é apenas Chris e eu.
Semanas depois...
— Está tudo bem, estarei ao seu lado. — Chris diz.
Estávamos em frente a uma igreja onde é realizado um
grupo de apoio para pessoas como eu, pessoas que precisam de
ajuda tanto quanto eu preciso.
Não estou melhor. Sinto-me vazia toda vez que Chris vai
embora, e não quero sentir isso, não quero me tornar dependente
dele. Quero poder deitar à noite e não ter pesadelos, quero poder
andar nas ruas sem sentir medo de ser tocada, sem entrar em
pânico. Eu quero melhorar.
Tudo o que eu quero é ter um futuro sem medo, ser mais
forte e enfrentar meus inimigos de frente, matar todos os meus
pesadelos.
Olho para Chris.
— Obrigada. — Sorrio.
É engraçado como as coisas acontecem. Fugi para ficar
sozinha e acabei fazendo um amigo, um amigo pelo qual estou me
apaixonando. Chris é simplesmente maravilhoso. Ele sabe me
escutar, sabe me fazer rir e esquecer o que aconteceu. Ele apenas
está lá para mim sempre que eu preciso, me segurando, me
apoiando, me ouvindo. Ele só está ao meu lado, sem pedir nada em
troca. Ele me deu o que eu queria de Caspen. Ele me deu atenção,
amor.
Em troca, quero ser melhor, para ele e para a nossa
amizade — ou quem sabe algo mais, porque pela primeira vez em
muito tempo eu tenho esperança de ser feliz.
— Vamos? — pergunta ele.
Aceno com a cabeça.
À medida em que entramos na igreja, meu coração acelera
e minhas mãos começam a suar. Faz tanto tempo que não vou a um
culto. Às vezes até esqueço que Deus existe.
Mas quando coloco meus pés dentro da igreja, sinto alívio.
Sinto uma grande paz, como se eu estivesse sendo abraçada.
Parece que essa dor, essa escuridão que há dentro de mim não é
mais minha para carregar. Sinto como se meu fardo fosse retirado
de mim. É agridoce.
— Você está bem? — pergunta Chris.
Sorrio, acenando com a cabeça.
— Sim, estou — respondo, engolindo em seco.
— Você sentiu?
— Sim, eu senti. Parece que...
— Ele está aqui. — Chris me interrompe.
Realmente parece que Deus está aqui. Bem, é uma igreja,
não é mesmo? Mas sinto mais que isso, como se Ele realmente
estivesse aqui, comigo, me abraçando; e era o que eu realmente
precisava.
Chris me leva até uma sala onde há dez pessoas sentadas
em círculo. Duas cadeiras estão vazias, e imagino que seja para
Chris e eu.
Chris conhecia esse grupo, porque já participava. Ele era
médico da marinha, mas saiu porque se machucou. Não foi fácil
depois que ele saiu, e eu o entendo. Ele via a morte todos os dias.
Mas ele amava o trabalho, e depois que saiu, passou a ter
ataques de pânicos.
Fico grata a ele por conversar comigo, por mostrar quem é e
por ter me apoiado quando contei quem sou. Meu nome vem com
um grande peso, e Chris quis carregar esse peso comigo ao ser
meu amigo.
— Olá. — Uma mulher que aparenta ter uns cinquenta anos
nos cumprimenta. — Sou Geórgia, organizadora do grupo. Seja
bem-vinda. — Sorri e me dá um pequeno abraço.
— Obrigada.
— Fique à vontade. — Sorri mais uma vez, colocando a mão
em meu ombro. — É bom te ver, Chris. — Olha para ele. — Como
tem passado?
— Estou bem. E feliz por estar aqui. Pessoas novas? —
Aponta para cinco homens sentados, olhando em volta, parecendo
nervosos.
— Sim, eles eram do Exército. — Ela explica, olhando-os.
Olho-os. Eu os vejo. A cada um deles. A escuridão que os
rodeia, o medo, a dor, o pesar em cada um. Eles são iguais a mim.
Sinto por cada um deles.
Sento-me em silêncio. Assim que minha presença é
reconhecida eu sorrio. Os homens me olham, estreitando os olhos.
Não desvio o olhar, e um deles sorri. Acho que uma escuridão
reconhece a outra.
— Boa tarde. — Geórgia começa. — Temos dois convidados
hoje. Um é Chris Castle, ele já foi um de nós. — Sorri para Chris,
que retribui. — Junto com Chris nós temos Lori Callahan. Seja bem-
vinda, querida.
Aceno para ela.
— Obrigada. É bom estar aqui — digo, com toda a
sinceridade.
— Espero que se sinta à vontade para compartilhar um
pouco de você hoje. — Aceno para ela. — Bem, quem quer
começar?
Chris levanta a mão. Olho para ele, surpresa.
— Eu sou Chris e sofria de ataques de pânico. Eu era um
médico na Marinha e todos os dias eu via a morte. Mas foi em um
dia específico que tudo se desmoronou. Estávamos em uma
missão. Não posso entrar em detalhes. Eu sabia que teríamos
feridos, estava preparado para cuidar de todos, minha equipe estava
à prontidão, mas não imaginávamos que nós éramos o alvo, nossa
sede explodiu. — Para, visivelmente nervoso.
Pego sua mão, em um gesto a lhe dar apoio, mostrando que
estou do seu lado e que ele pode continuar.
— Fui jogado a quatro metros de onde estava, em uma
parede, mas não desmaiei. Meus olhos estavam bem abertos. Vi
tudo, minha equipe pegava fogo e eu não pude fazer nada. Não
conseguia me mexer. Eu tentava ajudar, mas era inútil. Só fiquei ali,
vendo tudo queimar. — Seu olhar está concentrado em um ponto
específico da sala, ele não pisca. — Sofri uma grande lesão na
perna e no ouvido esquerdo, isso me impediu de voltar; mas minha
maior lesão era mental. Bem, vocês podem imaginar o que
aconteceu. Qualquer barulho me fazia gritar e fugir. Eu me encolhia
em um canto, no meio da rua. Teve uma vez que estava em uma
cafeteria e um pneu estourou, então gritei e joguei duas pessoas no
chão, pensando que era uma bomba. Foi horrível, e foi quando
percebi que precisava de ajuda.
Olho para ele, percebendo que muito do que aconteceu ele
não contou a mim. Saber tudo o que viveu, tudo o que enfrentou,
por incrível que pareça, me deixa aliviada, como se eu não fosse a
única quebrada aqui. Pode parecer maldade e egoísmo da minha
parte, mas mesmo assim é um alívio. Não um alívio por saber que
Chris ainda seja quebrado, e sim saber que ele superou tudo o que
passou. Isso me dá esperança, significa que eu também posso
superar.
— Então é isso, essa é a minha história. — Sorri. — Esse
grupo me ajudou muito, estar aqui foi o que me fez seguir em frente
e melhorar. Um dia de cada vez.
Tão logo ele termina, manifesto-me:
— Eu quero falar. — Todos ficam surpresos.
— Fique à vontade, querida. — Geórgia diz, com um sorriso
encorajador.
— Sou Lori Callahan. — Alguns me olham surpresos, e eu
sorrio para eles. — Sim, meu sobrenome causa esse efeito nas
pessoas. Há muitas especulações sobre minha família, mas uma
coisa é verdadeira: temos inimigos. — Mantenho o sorriso, tentando
reunir foças. — Bem, eu era, digamos, uma pessoa livre e que
gostava de aprontar. Em uma noite, eu e minha amiga saímos às
escondidas e fomos pegas. Eu não sofri nada, mas minha melhor
amiga sim, e eu vi tudo. Me senti culpada por um tempo, mas minha
amiga, como é maravilhosa, me fez ver que não foi culpa minha e
que ela estava bem; e ela realmente estava. — Paro para pensar
em Amélia e quão forte ela foi ao enfrentar tudo o que passou. —
Um tempo depois eu fui a presa. — Mordo os lábios.
Olho para Chris, que acena com a cabeça para mim, em um
gesto a mostrar que tudo dará certo.
— Eu fui torturada e abusada sexualmente. A pessoa que
me pegou era um monstro, frio, cruel e sem coração. Quando me
resgataram, eu era outra pessoa; ainda sou outra pessoa. Sempre
que fecho meus olhos, eu o vejo, eu o sinto, suas mãos sujas, seu
riso cru e aqueles olhos mortos. E-eu ainda acho que a qualquer
momento ele virá atrás de mim, mesmo sabendo que ele não pode
mais me alcançar. — Engulo.
Minhas mãos estão tremendo, sinto as lágrimas em meus
olhos e meu nariz arde. Falar sobre o que aconteceu dói demais.
Algo foi tirado de mim naquele dia, e sei que nunca mais
serei a mesma.
— Você foi incrível hoje, Lori! — Chris diz, olhando-me com
carinho.
Estamos na porta da casa em que estou ficando. Jantamos
e depois caminhamos pela beira da praia. Foi um dia difícil e ao
mesmo tempo libertador para mim.
— Você estava lá comigo, fez com que fosse mais fácil. —
Sorrio.
Chris é incrível, e eu sou grata por ele ter entrado na minha
vida, por ele não ter me deixado ir.
Ele ergue a mão, passando por minha bochecha. Fecho os
olhos, sentindo seu toque tão suave. Não sinto medo quando ele me
toca. Pelo contrário, sei que estou segura. Seu toque é
reconfortante. Sua testa encosta na minha. Mordo os lábios,
esperando-o, ansiosa para saber o que ele fará em seguida. Sua
respiração está tão próxima. Coloco minha mão em seu ombro, me
apoiando nele.
— Quero beijá-la — sussurra.
— Tudo bem.
E é quando seus lábios encostam nos meus e o mundo é
virado de cabeça para baixo.
Capítulo Catorze
“Watch Me – The Plantoms”
Caspen
Essa é a minha primeira tentativa de mostrar para Lori que
somos um. Um par, e não apenas Lori e Caspen; de mostrar que a
quero do meu lado, que ela é minha, que foi feita para mim, que ela
pode confiar em mim e que pode ter meu apoio.
É por isso que irei levá-la esta noite para invadir a reunião
que Hernández marcou. A reunião será em uma doca, em
Manhattan. Foi marcada uma hora atrás e será daqui a duas horas.
Como descobrimos? Alguns dos nossos — bem, eles eram alguns
dos nossos — estão na lista íntima de Hernández. Meus hackers
conseguiram descobrir alguns duas caras e invadiram o sistema do
celular deles, assim, quando o local e o horário da reunião foram
enviados, nós recebemos.
Não sei por que as pessoas insistem em nos trair, em tentar
trabalhar para dois senhores do crime ao mesmo tempo. Uma dica:
não dá certo. Escolha um lado e fique nele. Não traia aquele que te
apoia, que te sustenta, não é legal, e meus traidores saberão disso
esta noite. Estou cansado de ser traído.
Há uma guerra lá fora. Escolha seu lado e lute com ele,
porque só há um vencedor nesse jogo de poder. E adivinhe? Eu irei
vencer.
— Entre — digo quando batem na porta do meu escritório.
A porta se abre. Olho para cima e vejo os cinco homens de
Lori entrarem. Encaro-os, mostrando-lhes meu lado escuro,
mostrando que eu tenho o poder aqui, que eles são ratos em minha
gaiola.
— Sentem-se — comando.
Minha voz soa rouca. É como se meu monstro tomasse o
controle.
— Olha, cara... — Levanto a mão, cortando-o.
— Me chamo Caspen Callahan, não cara. Vocês sabem
quem sou e o que faço. Esta é minha casa e vocês estão nela. Não
precisam me tratar com respeito, mas sejam educados e não me
chamem de cara. Da próxima vez, ficará sem a língua. Todos
entenderam? — Eles acenam.
— Desculpe-me. — O homem diz ao se sentar. — Sou
Emílio.
— Sim, eu sei quem vocês são, sei o que fizeram e tudo
sobre a vida de vocês, pesquisei quem são no momento em que se
envolveram com Lori. — Sorrio.
Maddox e Alex não demonstram medo, eles não
demonstram nada, apenas me encaram, avaliando-me. Charlie e
Miguel têm um ar de indiferença. O único mais temeroso é Emílio.
Ele está desconfortável, posso ver que está louco para sair daqui.
— O que quer? — Maddox pergunta.
Encosto as costas em minha poltrona e cruzo as pernas,
olhando-os, mostrando a eles que eu mando aqui e que tenho o
poder, mostrando que eles não são nada para mim, que eu poderia
acabar com a vida deles em um piscar de olhos.
Maddox e Alex mostram conhecimento, mas não medo. Eles
não têm medo de morrer, e isso é bom.
— Vou direto ao ponto — começo. — Lori é minha mulher.
Maddox ri.
— Ela sabe disso?
Olho-o em silêncio. Dou-lhe um sorrisinho de lado, meus
olhos se estreitando. Ele suspira, olhando atrás de mim, no canto
mais escuro do escritório, onde Carter está, com sua foice na mão.
— Quem é ele? — Maddox pergunta.
— Meu irmão.
— Ele é o Ceifador. — Miguel diz. — Lori me falou sobre ele.
— Aceno, mostrando que ele está certo.
— Não tenho medo. — Maddox me encara.
— Eu sei que não, mas o que ele dará a você é pior do que
a morte. — Sorrio.
— Mas algo me diz que você é pior do que ele — aponta
Alex.
Aceno, de acordo.
— Carter tortura e os mata, eu gosto de brincar com eles,
por horas, dias, semanas, meses ou anos. Depende do meu humor.
— Porra! — exclama Maddox, rindo.
— Mas voltando à conversa que fui rudemente interrompido:
Lori é minha mulher, mas ela não confia em mim. Estou dando a ela
motivos para confiar, e hoje será o primeiro. — Pego a pasta de
cima da minha mesa, em seguida, jogando-a para os cinco. —
Esses são os homens que estarão em uma reunião marcada por
Hernández. Os que estão marcados de vermelho são homens meus
que estão com Hernández, traidores, duas caras. Nós iremos invadir
o lugar e acabar com tudo. Meu foco principal é achar Hernández e
acabar com esses homens.
— E o que nós e Lori temos com isso? — pergunta Alex.
— Irei levar Lori comigo. — Dou de ombros. — Quero vê-la
em ação, quero ver a mulher cruel que ela me mostrou quando
torturou e matou o atirador que tirou a vida de Chris, eu a quero
lutando comigo ao meu lado. E como ela vai, vocês também irão. O
foco de vocês é mantê-la viva. Deixe-a fazer o que quiser. Enquanto
isso, vocês a protegem.
— E faríamos isso por quê? — pergunta Maddox.
Sorrio.
— Além de eu estar mandando? — desdenho. — Porque
tenho poder, porque quero manter Lori viva tanto quanto vocês,
porque ela os salvou da autodestruição, porque ela virá comigo, e
onde ela for, vocês vão. Por isso. — Sorrio novamente para eles,
porque sei que fiz meu ponto.
Maddox suspira. Eu sei que não gostou nem um pouco do
que acabo de dizer, mas é a verdade. Eu sou o rei aqui, eles não
são nada.
Nesse momento Lori entra no escritório, olhando-nos com
expressão desconfiada.
— Que merda está acontecendo aqui? — pergunta.
Olho para ela e quão irritada está. Ela é linda, porra! Eu a
quero, aqui e agora!
Percebendo meu olhar nela, Lori cora, desviando o olhar.
Seu foco vai para Carter, e ela estreita os olhos.
— Está tentando intimidar meus homens, Caspen? —
pergunta, batendo o pé.
Sorrio, coçando o queixo.
— Jamais, Sunshine. — Pisco para ela. — Estávamos
apenas conversando.
— Sim? Posso saber sobre o que é essa conversa?
— Fique à vontade. — Aponto para a cadeira à minha
frente, ao lado de Maddox.
Lori se senta com a postura reta, encarando-me.
— Descobrimos onde será a reunião de Hernández.
Lori se anima com o que acabo de dizer. Sorrio ao ver o
quanto ela quer saber mais. Mas logo fica pensativa. Ela pega meu
ponto quando franze a testa para mim.
— Você está me contando isso por...?
— Você irá comigo. — Dou de ombros.
Seus olhos se arregalam. Sua boca se abre, mas ela logo a
fecha, me olhando bem séria.
— Onde está a pegadinha, Caspen? — pergunta,
desconfiada.
— Não há pegadinha, Sunshine. Quero que confie em mim.
Estou levando-a comigo, e seus homens também vão. — Ela olha
para eles, que acenam com a cabeça.
— Tudo bem, estou dentro. — Sorri para mim. — Mas isso
não significa que confio em você — avisa, se levantando da cadeira.
— Estarei esperando do lado de fora.
Com isso, ela sai de cabeça erguida. Não posso conter o
sorriso que surge em meus lábios. Essa mulher é um perigo, mas é
o meu perigo; e sei que ela não confiará em mim tão fácil, mas
estou disposto a esperar, a ir com calma e mostrar a ela quão sério
estou, porque no fim, Lori será minha de qualquer forma, como eu
sou todo dela.
Lori
Olho para Caspen e engulo em seco. O homem
descontraído e cheio de sorrisinhos se foi. Nesse momento eu vejo
o Diabo — assim que todos o chamam. Ele está focado, o olhar em
seu rosto não tem vida, é cruel, morto, como se ele tivesse sido
substituído. Gosto do que vejo. Parece que o monstro saiu para
brincar.
Sorrio. À nossa volta a ação começa. Tiros são dados, mas
Caspen não vacila, ele apenas caminha em meio ao caos. Seus
homens e meus homens nos protegendo. Todos que tentam chegar
até nós dois são mortos.
Caminho ao seu lado, gostando dessa sensação de poder,
enquanto à nossa volta tudo está explodindo, homens estão
morrendo e nós estamos intocáveis, caminhando como se nada
estivesse acontecendo.
Um homem aparece na nossa frente, com uma arma
apontada para Caspen, que apenas dá um sorrisinho sem
expressão. Ele pega a arma do cara, em seguida a jogando. O
homem o olha com puro horror.
— Não, não. — Caspen o segura pelo pescoço, levantando-
o do chão e jogando-o longe. O homem bate em alguns caixotes. —
Idiota — resmunga, alisando seu terno Prada. — Você está bem? —
Vira-se para mim.
— Estou ótima — respondo, rindo.
— Bom, fique à vontade. Faça o que quiser.
— Estou onde quero estar. Vamos em frente, a minha
diversão está lá dentro. — Aponto para um navio que está
encostado na doca.
Caspen descobriu que dentro do navio serão negociadas
armas e mulheres. A reunião é sobre isso. Exportação ilegal.
Estamos aqui para colocarmos tudo para baixo.
— Sigam em frente. Assim que entrarem, haverá um
corredor. Sigam por ele até o final. Do lado direito haverá uma porta
que leva para o andar de cima, onde toda a reunião está
acontecendo. — Amélia nos guia através dos pontos em nosso
ouvido. — Todos que guardavam o lugar estão caídos.
— Pronta? — Caspen pergunta, estendendo a mão para
mim.
Sem pensar, eu coloco minha mão na dele. Uma corrente
elétrica passa pelo meu corpo. Acho que Caspen também pode
sentir, já que ele sorri para mim.
— Vamos matar algumas pessoas! — rosna, com aquele
tom ameaçador dele, que traz arrepios ao meu corpo.
Entramos em uma parte do navio. Homens estão caídos,
mortos. Sorrio. Com minha arma na mão, fico em alerta sobre
qualquer barulho; mas tudo está calmo, não há sinal de ameaça...
por enquanto, já que há homens na parte principal do navio. Estão
distraídos demais para darem atenção ao que acontece do lado de
fora.
Subimos as escadas para o grande salão. Há uma porta
dourada onde podemos ouvir vozes do lado de dentro. Caspen a
chuta. Os homens se assustam e levantam suas armas, apontando-
as para Caspen; mas logo atrás de nós, nossos homens invadem,
não dando nenhuma chance aos nossos inimigos.
— Estou profundamente magoado por não ter sido
convidado. — Caspen coloca a mão no peito, em encenação.
Seu olhar passa por todo o lugar, olhando para alguns dos
“seus homens de confiança”. Todos traíras que irão morrer.
— Olha o que temos aqui, tantos rostos conhecidos. —
Caspen caminha em volta do lugar.
Ele tira seu terno, em seguida, jogando-o no chão, após
ergue a manga de sua camisa, pronto para a ação. Lambo e mordo
os lábios.
— Caspen... — Um homem começa a falar, mas é
interrompido quando Caspen o soca na cara.
O soco é tão forte, que o homem cai, e de seu nariz jorra
sangue, sujando o chão. Com o canto do olho, vejo um homem sair
das sombras, com uma arma na mão.
— Caspen! — grito, e é quando tudo ao nosso redor
explode.
Corro para o meio do caos, lutando com quem entrar na
minha frente. Levo uns socos, mas dou mais do que recebo. Esses
homens não sabem lutar, me admira que sejam homens da máfia.
Quando percebem que sei lutar e que estou aqui para
acabar com eles, reagem mais, mas não são tão bons quanto eu.
Estou cheia de raiva, dor, fúria dentro de mim, e isso faz com que eu
seja mais forte.
Mato quem entra na minha frente. Estou tão cega de raiva,
que não vejo nada em volta. Meu foco está em acabar com esses
homens e chegar até Hernández.
Sou pega de surpresa quando meu corpo é jogado no chão.
Olho para o homem em cima de mim, tentando me enforcar. Tento
bater nele com as mãos, mas ele é maior e mais forte, então
impulso minhas pernas para cima, cruzando-as em seu pescoço e
apertando bem forte. Seu aperto fica mais fraco, e aproveito para
jogar meu corpo para frente, fazendo-o cair para trás. Pego minha
arma, apontando-a para o meio de sua testa, e atiro.
Volto para o meio da luta, vendo o homem que deduzo ser
Hernández. Ele está em um canto, sorrindo para tudo o que está
acontecendo. Dois homens estão o guardando...
Não, ele não é Hernández. É o mesmo homem do hotel do
leilão, mas não é o verdadeiro Hernández.
Aponto minha arma para o primeiro homem que guarda
Hernández e atiro, fazendo-o cair morto no chão. O segundo
homem também cai. Olho para trás, vendo Maddox com sua arma.
Ele matou o segundo homem, deixando o suposto Hernández
sozinho. Sorrio, caminhando até ele.
— Olá, Hernández — digo, e ele cruza os braços, não
demostrando medo.
— Lori Callahan, estou atrás de você. É difícil pegá-la
sozinha. — Sua voz soa rouca.
Ouço a luta atrás de mim morrer. Todos os homens de
Hernández são rendidos, ele agora está sozinho. Não há ninguém
para ajudá-lo, e ele percebe isso, porque olha assustado.
Ponto feito! Esse cara não é Hernández, porque sei que o
verdadeiro não sentiria medo.
— Acho que pode passar um recado para o verdadeiro
Hernández, já que sabemos muito bem que não é você.
— E como sabe disso? — desafia.
— Porque ele não estaria aqui. — Caspen responde. —
Estar aqui fingindo ser ele só confirma que não é. Hernández é
conhecido porque não revela sua identidade. — Caminha até ele e o
pega pela nunca.
Ele o arrasta até o meio da sala, onde estão todos os
homens presentes na reunião.
— Se vocês acreditaram que esse era Hernández, estão
enganados. Hernández não está aqui, esse aqui é um dos seus
capangas. Mas esta noite iremos fingir que esse é Hernández e
mostraremos a você o que iremos fazer com o verdadeiro e com
cada um de vocês. — Caspen diz, sorrindo.
Em seguida joga o falso Hernández no chão. Ele o chuta,
fazendo-o gemer. Sorrio ao ver o sofrimento do homem. E olha que
Caspen mal começou!
Carter dá um passo à frente, em seguida o ajudando a
despir o homem e o amarrando, com uma corda que trouxe,
deixando-o de pé. Olha para cima, e sorri ao ver uma viga de ferro,
um sorriso maldoso. Pendura-o pelo teto.
— Não parece tão ameaçador pra mim. — Caspen
murmura. — Lori, o que você acha? — Sorri.
— Não, nem um pouco ameaçador — digo, rindo. — O que
vamos fazer com você, hein? — Chego até ele, olhando para o seu
corpo.
Como o ser humano é tão frágil! Basta amarrá-lo e torturá-
lo, que percebemos quão insignificante é.
Mas em compensação, aguentando muito. Hoje verei o
quanto esse homem pode aguentar.
— Não temos muito, vamos ter que improvisar. — Caspen
diz, pegando uma faca de dentro de seu terno.
— Eu trouxe meu pequeno kit de tortura, não saio sem ele.
— Carter sorri. — Vamos começar?
— Lori, quer ir primeiro? — Caspen pergunta, olhando-me.
Minha criança interior aparece, pronta para brincar com o
corpo do homem. Pulo, batendo palmas. O que eu posso dizer?
Gostei de torturar, amei como me senti, da eletricidade em meu
corpo, da queimação de adrenalina, da sensação de poder, de
colocar o que eu sentia para fora de forma diferente, de mostrar que
todos nós somos monstros por dentro e que algumas pessoas como
eu gostam de liberá-lo de vez em quando.
Caspen e eu deixamos o homem irreconhecível. Não o
matamos, pois queremos que Hernández o veja, que ele saiba que
estamos perto de alcançá-lo.
— Diga a Hernández que eu não me importo se ele é uma
mulher, diga que não terei misericórdia, que a deixarei pior do que
você, e se ela me quer, que ela venha me encontrar cara a cara, só
assim vejo se darei um pouco do meu tempo a ela — sussurro ao
seu ouvido. — Eu vou pegar você — falo pausadamente, palavra
por palavra.
Sei que ele tem um ponto, como eu tenho; sei que
Hernández está ouvindo tudo, de onde estiver.
Bônus
Hernández
“Eu... vou... pegar... você”. Ouço cada palavra que Lori diz.
Sorrio pela sua coragem e por quão forte e determinada ela se
tornou; mas ela terá que mudar, terá que se tornar a menina boba e
obediente que eu queria, porque eu tenho planos para ela. Planos
que foram traçados anos atrás, e é por isso que matei seu noivo. Ele
iria atrapalhar, era uma pedra em meu sapato, precisava ser
eliminado; e foi o que fiz: eliminei a concorrência.
Demorei anos para me tornar quem sou, e não serão os
Callahan’s que irão me destruir. Eles venceram dessa vez, mas
tenho várias cartas na manga, e jogarei com tudo. Que o melhor
vença.
Capítulo Quinze
“I Can't Stop the Feeling – Justin Timberlake”
Caspen
O que aconteceu na doca saiu nos jornais. Depois que
saímos, a polícia invadiu o lugar, prendendo alguns homens de
Hernández que deixamos para trás; mas os nossos, aqueles que
nos traíram, estão presos, sendo torturados e mortos aos poucos.
Papai, como a um bom prefeito, foi um excelente ator em
frente às câmeras, sobre o combate ao crime organizado.
Hernández agora está sendo caçado não só por nós, mas também
pelas autoridades.
Mas hoje, todo o foco está sendo no almoço em família.
Toda a família está vindo para o grande almoço que meus pais
estão fazendo, a fim de mostrarem a todos os que estão de fora
quão unida e poderosa é a nossa família, mostrarem que não temos
nada a esconder e que somos os melhores, mostrarem aos nossos
inimigos que temos o controle de tudo. Tudo uma verdadeira merda
para mim, mas papai é o prefeito, ele tem que mostrar o que o povo
quer ver: uma família com boas intenções, um prefeito que quer o
melhor para o povo.
Besteira e mais besteira, mas é assim que tem que ser: o
pai sendo o prefeito e amado por todos, temos o controle total da
cidade.
Bem, o recado será dado, e Hernández entenderá. Essa
cidade é nossa, ele não entrará e a tomará de nós. Foram anos para
construirmos as próprias regras, nosso legado, nossa máfia
moldada como queremos. Lutamos, pessoas morreram para
chegarmos onde estamos. Não será um idiota do Cartel que
acabará com nosso poder, com nossa conquista. Hernández terá
que me matar se quiser tomar minha cidade.
A porta do escritório da casa dos meus pais se abre.
Levanto a cabeça e sorrio.
— Tio Caspen! — Maya grita, correndo para os meus
braços.
Eu a pego em meu colo, dando um beijo em suas
bochechas.
— Ei, minha lutadora! — Sorri quando faço cócegas nela.
Não sei o motivo da ligação que Maya tem comigo, como ela
se apegou a mim tão rápido, como eu me apeguei a ela; mas acho
que ela lidou com tantas coisas, com tantos monstros, que viu o
meu. Ela viu minha escuridão e gostou. Não teve medo, porque ao
contrário dos outros monstros, o meu não faria mal a ela. Nunca.
— Pensei que tivesse esquecido de mim. — Faço beicinho.
Maya ri, rolando os olhos.
— Não, seu bobo. Eu estava cuidando do meu irmãozinho
— explica, tocando meu nariz, como se fosse a mais velha daqui.
— E como ele está? — Não posso conter o sorriso.
Maya é incrível. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ela
ainda sorri, ainda tem esse brilho no olhar, ainda é uma criança. Sua
alma é pura, e acho que é por isso que a amo tanto. Uma criança
espetacular. Nunca pensei em ter filhos, mas se um dia eu tiver com
Lori, ela será assim. É claro que farei com que minha filha seja mais
delicada, pois quando Maya está com Hope e Ariel, só Deus para
controlá-las. As três ainda explodirão algo, sinto isso bem no fundo
da minha alma. Essas meninas darão um puta trabalho!
— Tio, o que está pensando? — pergunta ela, olhando-me
atentamente. — Está franzindo a testa. — Suas mãos delicadas
alisam minha testa. — Vai ficar com rugas, tio. — Aponta, e sorrio
para ela.
— Nada, só estava pensando no que tem aprontado.
Maya coloca as mãos no peito, em horror.
— Eu não apronto nada.
— Tudo bem. O que você quer, pequena terrorista? — Tão
logo me arrependo da pergunta que faço.
Maya pega minha mão, me levando para fora do escritório,
em direção à sala de brinquedos que meus pais fizeram para Hope
e que foi sendo acrescentada à medida em que Ariel e Maya
entraram para a família.
— Eu disse que ele viria! — exclama para as suas primas,
que pulam.
— Eba! Festa de pijama com Tio Caspen! — grita Ariel,
batendo palmas.
Fechos os olhos, fazendo uma oração silenciosa. Deus me
ajude!
Maya me coloca sentado em um banco cor-de-rosa. Olho
em volta, vendo-as correndo pelo lugar, pegando uma maleta lilás e
uma caixa.
— Feche os olhos, Tio Caspen. — Hope pede, sorrindo para
mim.
Respiro fundo, fechando os olhos e deixando-as
trabalharem em mim. Sinto uma delas tirando meus sapatos e
minhas meias, outra está com minhas mãos, e acho que Maya está
mexendo em meu cabelo. Do fundo da minha alma escura, eu
realmente espero que elas não me deixem parecido com um
palhaço. Não irei aguentar essa merda, mas por elas tentarei. Um
homem como eu deixando três meninas me transformarem...
Balanço a cabeça.
— Fique quieto, tio! — Maya briga comigo.
Mordo os lábios, evitando rir. Elas são exigentes.
— Tio! — exclama Hope. — Está rindo. Assim não consigo
pintar suas unhas.
— Que porra! — exclamo, abrindo os olhos e olhando para
as minhas unhas.
PINTADAS DE COR-DE-ROSA! Olho em horror para Hope,
que está sorrindo para mim. Estreito os olhos para ela, que cruza os
braços, me encarando.
— Não xingue na nossa frente, é feio. — Ariel briga comigo.
— Agora volte a se sentar, Tio Caspen, temos que terminar. Não
seja um bebê chorão. — Aponta para o banco.
— Você vai pagar por isso. — Ela dá de ombros.
— Não seja um bebê chorão. — Hope me empurra de volta
para o banco.
— Feche os olhos, não os abra até mandarmos. — Maya
diz.
Suspiro. Essas meninas serão minha morte! Hernández não
coloca medo em mim, mas essas três garotinhas sim. Se eu der
mole, elas tomarão meu lugar futuramente. Tenho que ter a porra de
cuidado com elas.
Lori
Olho para as minhas amigas, todas com suas meninas nos
braços. Sinto uma pequena pontada no peito.
Sei que posso adotar um filho, e se um dia isso acontecer,
ele será amado, muito amado; mas o que eu queria era a sensação,
aquela sensação de engravidar, ver minha barriga crescer, ter os
enjoos, comer o que eu quiser, ser mimada... a sensação de tê-lo
crescendo dentro de mim.
Bem, os médicos disseram que será impossível eu
engravidar, teria que acontecer um milagre; mas depois de tudo o
que aconteceu a mim, eu não acredito em milagres. Sim, eu acredito
em Deus, mas não acho que Ele se importe comigo; não mais,
então só cansei, cansei de orar a Ele, casei de pedir a Ele.
Não estou sendo pirracenta e nem chata com isso, só que é
difícil pensar que Deus quer o meu melhor depois de tudo o que
aconteceu a mim. Acredito que não sou merecedora Dele, então só
sigo em frente.
Olhe para mim: sou quebrada, falha, pecadora e continuarei
assim, porque quero continuar pecando, quero continuar torturando,
quero matar Hernández, mesmo sabendo que ele possa ser ela.
Quero vingança, e nem Deus me impedirá de obter.
Suspiro, sabendo que estou sendo dramática demais para
esse momento. Ergo minha cabeça e coloco um grande sorriso nos
lábios, caminhando até Amélia, Soph, Happy e Lauren, minhas
amigas.
— Ei, vacas.
— Aí está ela. Pensei que estava se escondendo. — Amélia
sorri para mim.
— E por qual motivo eu estaria me escondendo? — Cruzo
os braços encarando-a.
Lauren bufa.
— Mulher, Caspen está em cima de você, querendo te
devorar, e você está fugindo dele — comenta, rindo.
Rolo os olhos.
— Caspen está sendo irritante sobre essa coisa de “Você é
minha” — falo, fazendo aspas com os dedos. — Agora ele cismou
que me fará confiar nele. — Rolo os olhos novamente.
— E você não está nem um pouco gostando disso. —
Amélia ri.
— Bem, é engraçado vê-lo atrás de mim. — Dou de ombros.
— Mas vamos ser sinceras aqui: não confio nele e não o quero, não
mais — minto na cara de pau.
Oh, eu o quero, e muito! Mas ele não é minha prioridade, e
querê-lo não significa nada. Eu o quis por muito tempo e sobrevivi
sem ele, portanto, será assim que continuarei: sem ele.
Elas me olham, provavelmente sabendo da merda que estou
falando.
— Sim, tanto que estava transando com ele. — Soph
comenta.
— O que posso fazer? — defendo-me. — Ele estava lá,
disponível; eu estava com raiva, estava tensa e precisava relaxar;
então fui lá e fodemos. — Sorrio. — Nada melhor do que uma boa
transa para relaxar.
Happy bufa, Amélia e Soph balançam a cabeça e Lauren
apenas me encara, de boca aberta.
Atrás de mim ouço o riso da vovó. Viro a cabeça para olhá-
la.
— Essa é a minha neta! — Bate palmas. — Isso, garota!
Faça-o correr atrás de você, faça-o implorar por você, e se tiver que
transar com ele, também faça. É bom para relaxar. — Pisca para
mim.
— Vovó! — exclamo.
— Que foi? — Bate o pé. — Sou velha, mas ainda dou para
o gasto, minha amiga aqui ainda é usada. — Sorri.
— Lá, lá, lá... — Tapo os ouvidos. — Não estou ouvindo
nada! — exclamo.
Vovó balança a cabeça, um grande sorriso em seus lábios.
— Vocês, crianças, tão ingênuas! — Sai rindo.
Olho para as minhas amigas, que estão de boca aberta.
Amélia está rindo. Fecho os olhos. Imagens da vovó fazendo sexo
aparecem em minha mente. ECA!
— Não fechem os olhos, será pior — comento com elas, que
riem.
Rio junto. Só a velha mesmo para falar esses absurdos,
como se fosse tão natural! Bem, sexo é natural e todos fazem, mas
vamos lá: vovó tem o quê? Oitenta e três anos, mais ou menos?
Não quero imaginá-la fazendo sexo!
— Mamãe! — A voz de Maya interrompe meus
pensamentos.
— Ei, amor. — Happy sorri para a sua filha.
— Temos uma grande surpresa! — exclama, animada. —
Tio Caspen brincou com a gente. Ele foi difícil no começo, mas
conseguimos arrumá-lo. — Bate palmas. — Venha, Tio Caspen! —
grita.
Olho para a porta da casa, esperando-o sair, mas ele não
sai. Olho para as meninas, que se olham entre si, certamente
imaginando o porquê de Caspen ainda não ter saído. Maya olha
para trás, rolando os olhos e colocando as mãos na cintura. Seu
cabelo cheio de cachos balança de um lado para o outro.
Sua cor está bem mais bela. Quando foi encontrada, estava
pálida, sem vida, sem brilho; agora está negra e exuberante,
brilhosa, perfeita.
— Vamos, Tio Caspen, não temos o dia todo. — Maya
reclama, irritada.
— Deus! Ela faz o que quer com Caspen. — Happy
murmura.
— O que me deixa mais espantada é que meu irmão deixa
— comenta Amélia.
Concordo com ela. Caspen nunca foi o tipo de homem que
adora crianças, mas com Maya é diferente. Ele a ama e a deixa
fazer o que quiser consigo, é surpreendente de ver e acreditar.
— Oh, céus! — exclama Lauren, com os olhos arregalados.
Olho para onde ela está olhando. Minha mão vai
automaticamente para a boca, e não consigo controlar o riso. Meu
corpo todo treme, meus olhos não estão acreditando no que estão
vendo.
— Caspen! — Carter diz, aparecendo e olhando-o de cima a
baixo.
— Calado! — Caspen rosna, estreitando os olhos para o
irmão.
— Meu Deus! — Amélia diz, rindo. — Isso é demais!
Minha cabeça cai para trás e gargalho. Essa merda é tão
engraçada! Caspen está com uma peruca longa cor-de-rosa, seus
olhos estão cheios de glitter, tem brilho nos lábios e cílios postiços
mal colados. Suas unhas estão pintadas de cor-de-rosa, e não faço
ideia de como as meninas conseguiram essa proeza, mas ele está
de saltos altos vermelhos, mancando.
— Esse é o meu sapato? — pergunta Happy.
— Ele não está lindo? — indaga Hope.
Olho para Hope, sabendo muito bem que elas fizeram de
propósito, as meninas sacanearam com Caspen, e ele deixou.
— Está espetacular — digo a ela, que acena com a cabeça.
— Vocês estão adorando essa merda! — Caspen olha
irritado em nossa direção.
— Sim, o que posso fazer? — pergunto a ele.
— Ei, irmão, acho que pode começar a dançar em seu
clube, ganharia bem — comenta Lorenzo, dando um tapinha em seu
ombro.
— Oh, sim. Se ele mostrasse a bunda, então... — Vovó
suspira. — Uma bela bunda, meu neto. — Pisca para ele.
Não me controlo e rio ainda mais. Caspen está indescritível,
engraçado demais, todo torto, não conseguindo ficar de pé, toda
hora lambendo os lábios, seu terno está todo amassado e a peruca
está pegando em seus olhos.
— Tem certeza que não quer mudar de profissão, irmão? —
Carter pergunta, rindo.
— Eu vou te matar!
— Desfila para nós, Tio Caspen. — Ariel pede.
— Não, querida.
— Por favor. — Maya pede, fazendo beicinho.
Caspen suspira e começa a desfilar. Na verdade, ele tenta,
mas toda hora entorta os pés, xingando baixinho. Todos à sua volta
começam a rir. Caspen olha para mim, estreitando os olhos. Eu
tento, juro que tento, mas não dá para conter o riso. No fim do
desfile, ele faz uma pose, jogando o cabelo, e pisca para mim,
mandando beijinho.
— Perfeito, Tio Caspen! — Maya sorri.
Caspen tira os sapatos e a pega no colo. Hope e Ariel
abraçam suas pernas, e ele beija as três.
— Vou tirar isso para almoçarmos — resmunga, correndo
para dentro da casa.
— Quem diria que Caspen tem um lado brincalhão —
comenta Happy, olhando para a porta por onde Caspen entrou.
— Ele não tem, isso tudo é para Maya. — Amélia diz,
sorrindo. — Sua filha o tem na palma da mão, ele faz tudo por ela.
— Concordo com Amélia.
Caspen não brinca, quase não sorri, apenas os sorrisinhos
de lado e sarcásticos. Ele não ri, não há brilho de alegria em seu
olhar; mas quando Maya está por perto, ele se torna outra pessoa. É
incrível ver. Fico fascinada, observando, me perguntando como ele
será quanto tiver filhos.
O pensamento me deixa triste, porque não serei eu quem
dará filhos a ele.
Caspen
Porra de cola de cílios! Essa merda está por todo o meu
olho e incomoda pra caramba! E como se tira essa porcaria de
esmalte!? Não sai, e quando sai, fica tudo manchado! É irritante,
mas não consegui dizer não para Maya e as meninas, então as
deixei fazerem o que quiserem, e me arrependo profundamente.
Como as mulheres usam saltos? Essa merda é uma tortura!
Meus pés estão doendo demais! Acho que já sei um novo método
para torturar os homens que estão esperando pela morte. Colocarei
saltos em seus pés e mandarei eles andarem em uma esteira de
academia. Acho que é uma bela tortura. Vão detestar.
Nunca mais! Nunca mais deixarei as meninas fazerem essa
coisa! Não e não!
Solto um suspiro frustrado, tentando tirar o esmalte das
unhas. É irritante como isso parece ser permanente. Não tenho
paciência alguma com isso, simplesmente jogo o algodão no lixo.
Tiro meu terno e o jogo fora também, já que está todo sujo de
maquiagem e tinta. Olho meu reflexo no espelho, ainda vendo brilho
nos meus lábios e sombra em meus olhos. Porra! Entro no chuveiro,
esfregando meu rosto e meu corpo. A água quente é bem-vinda, e
espero que tire toda essa merda de meninas de mim. Não posso
acreditar que isso realmente aconteceu comigo. Desisto de ter uma
filha, e se eu tiver, ela não gostará dessas coisas. De jeito nenhum!
Mas não há como controlar. Hope, Ariel e Maya, elas
gostam de lutar, caçar e tudo o que meus irmãos ensinam, mas elas
também gostam de princesas e todas essas drogas que a Disney
ensina; então prefiro não ter filha. Quero meninos, mais fácil.
Lori e eu precisamos conversar sobre isso futuramente.
O banho me ajuda a relaxar, mas assim que volto para o
andar de baixo, onde todos estão, volto a ficar irritado com as
risadas e piadas. Sei que meus irmãos não me deixarão em paz
depois dessa, mas o que posso fazer? Já aconteceu, então terei
que aguentar. É claro que terá troco, não sou o tipo de homem que
aguenta merda sem fazer algo de volta.
— Vejo que não conseguiu tirar o esmalte — comenta
Heitor, se sentando ao meu lado.
Olho para as minhas mãos e suspiro, balançando a cabeça.
— Isso não sai, não sei o que fazer. — Ele acena com a
cabeça.
— Coloca de molho na acetona, depois passa o algodão.
Vai demorar, mas vai sair; vai por mim. — Ele sorri, satisfeito.
— Como você aguenta?
— Ela é minha filha, Caspen, e eu farei de tudo por ela e
para ela, então se ela me manda sentar, eu sento e a deixo fazer o
que quiser. — Dá de ombros.
— Não quero ter meninas.
Ele ri.
— Já conversou com Lori sobre isso?
Balanço a cabeça.
— Não, ela nem sabe que eu sei. Acho que ela pensa que é
um segredo, e a deixo pensar assim.
Sei que Lori não pode ter filhos. O médico disse que é bem
arriscado ela engravidar. Todos sabem, mas acho que Lori carrega
isso como um segredo, e ninguém falou o contrário. Somos família,
e famílias guardam segredos.
— Ela vai pirar quando descobrir que todos sabem —
comenta meu irmão.
— Ela tem que aprender que não se guarda nada dessa
família. Olhe para vovó, a velha sabe de tudo.
— Às vezes penso que ela é uma bruxa.
— Ela não é uma bruxa, ela é sábia. — A voz de vovó fala
atrás da gente.
— Jesus, vovó! A Senhora é uma ninja! — Heitor coloca as
mãos no peito.
Vovó sorri, dando um tapinha no ombro de Heitor.
— Cuidado com o que fala, neto, sei onde você dorme. —
Estreita os olhos para ele. — Onde se viu? Além de me chamarem
de velha, me chama de bruxa e Senhora! — resmunga ao se
afastar.
— O que fizeram para a velha soltar fogo pelo nariz? —
Lorenzo pergunta ao surgir.
— Nada, só falei que acho que é uma bruxa.
— Quem é bruxa? — Carter pergunta, também se
aproximando.
— Vovó — respondo.
Lori
O almoço está sendo uma loucura. Caspen volta ao seu
humor mal-humorado, todo irritado e com aquele olhar concentrado.
As crianças só sabem falar e gritar, correndo em volta de todos.
Vovó resmunga, olhando para os netos de cara feia, como se
estivesse planejando algo; e nem quero saber o que ela tem em
mente.
Sorrio ao ver o clima mais descontraído e leve. Ninguém fala
sobre Hernández, sobre guerra, ninguém comenta sobre os olhos
no porão ou sobre o que aconteceu na doca, todos estão rindo —
menos Caspen, brincando e conversando sobre nada, apenas
coisas normais sobre o dia a dia. Quem olhasse de fora nunca
imaginaria que nossa família é mafiosa e que somos mortais.
Somos mafiosos, mas também somos unidos, protegemos
aqueles que amamos, lutamos pela nossa causa e destruímos quem
tentar nos destruir. E estou feliz. Pela primeira vez desde que Chris
morreu, eu tenho um sorriso nos lábios, e ele é verdadeiro.
Caspen
Ela está sorrindo. Lori não sabe que eu estou observando-a.
Minha mulher tem um grande e verdadeiro sorriso e, porra, se não é
o sorriso mais lindo que já vi?! Tudo o que sei nesse momento é que
farei de tudo para manter esse sorriso em seu rosto.
Capítulo Dezesseis
“Too Good At Goodbyes – Sam Smith”
Lori
Acordo com minha mãe me chamando em meu quarto,
dizendo que tem alguém na porta com uma entrega para mim; mas
o que me deixa desconfiada é que ela está radiante, com um grande
sorriso nos lábios, dando pulinhos. Algo diz que essa alegria dela
está relacionada à entrega.
Estreito os olhos.
— Vamos, Lori, o rapaz não tem o dia todo. — Puxa-me
para fora da cama.
— Mamãe, estou cansada. Por que não recebeu por mim?
— pergunto, tentando me cobrir e voltar a dormir.
Mamãe bufa, irritada, puxando o cobertor do meu corpo, e
tenta me empurrar para fora da cama.
— A entrega é para você, Lori, só você pode receber.
Franzo a testa, tentando imaginar quem poderia ter
mandado a mim algo, e é quando meu coração dispara.
Hernández, só pode ser ele!
Levando-me com pressa, não me importando nem um
pouco com a roupa que estou usando, apenas corro para fora do
quarto. Minha mãe sai correndo atrás de mim, chamando e tentando
me segurar, mas não a ouço, apenas corro pela casa e chego até a
porta. Seja lá o que Hernández mandou, não pode ser bom.
Droga! Eu não trouxe meu celular comigo. Preciso avisar ao
Caspen, ele precisa saber.
Merda! Se for uma bomba? Um animal morto? Uma pessoa
morta?
Não, pessoa não pode ser, mas pode ser parte de um
corpo... Oh, meu Deus! Estou pirando, completamente pirando!
Alguma coisa tem que ser feita, Hernández foi longe demais!
Mandar algo para a minha casa... MINHA CASA! Um absurdo! Se
ele me quer, poderia ter vindo me pegar.
Essa mulher — se for mulher — é louca, louca de pedra e
precisa ser parada! Isso não está certo!
— Lori, querida, vá com calma. — Mamãe me alcança.
Viro-me, olhando para ela.
— Não, mamãe, Hernández foi longe demais! Ele tem que
ser parado! Tenho que pegar o que quer que seja e mostrar para
Caspen, ele precisa saber que Hernández pirou, todos precisam
saber! — grito, histérica.
Minhas mãos estão tremendo, eu estou prestes a ter um
ataque de pânico, posso sentir isso. Não quero pirar, mas sinto que
já estou. Porém o que posso fazer? Um maníaco mandou algo para
a minha casa! O que eu deveria fazer!? Receber o que quer que
seja e sorrir!? Não, porra! Recuso-me a achar normal! Eu vou matar
Hernández!
— Querida...
Balanço a cabeça, tirando suas mãos da minha, e corro para
a porta. Paro quando olho o que está esperando por mim. Minha
boca se abre, em surpresa.
— Isso não é de Hernández — resmungo, baixinho.
— Não, querida, não é. — Mamãe diz, sorrindo.
— Lori Callahan? — O garoto pergunta.
Engulo em seco, balançando a cabeça.
— São para você. — Entrega a mim o lindo e grande buquê
de margaridas, rosas brancas, hortênsias lilases e girassóis.
Pego o buquê, com a boca aberta, em surpresa. O garoto
entrega uma carta, que pego com a mão tremendo.
Não posso acreditar que ele fez isso! Eu vou matá-lo!
Minha mãe sorri para mim. Ela sabe que foi ele, e pela sua
alegria, ela amou.
Sem falar nada e ainda tremendo, volto para o meu quarto.
Estou atordoada demais para falar. Tudo o que eu quero é
desaparecer. Essas flores... essas flores são as que estão em meu
diário, menos o girassol.
Sento na beira da cama, colocando o buquê ao meu lado.
Ainda com as mãos tremendo, abro a carta, tão logo vendo a
caligrafia de Caspen.
Caspen
A porta do meu escritório bate aberta, e Lori entra com o
buquê que mandei para ela, mas pelo seu semblante, está furiosa.
Ela para e me olha. Sorrio para ela, que bufa em resposta. Cruzo os
braços, dando a ela a primeira fala, mas Lori apenas me encara.
Levanto uma sobrancelha. Lori olha para o teto, resmungando
palavras que não consigo entender. Depois de alguns minutos, ela
abaixa a cabeça, me encarando.
— Caspen... — resmunga, entredentes.
— Lori — rebato.
— Que merda é essa? — pergunta, mostrando o buquê em
suas mãos.
— Um buquê.
Ela se mostra mais irritada ainda. Tão linda quando está
com raiva, e é por isso que incentivo. Deixá-la assim me excita, dá
vontade de beijá-la, de tirá-la do chão.
— Eu sei que é um buquê! — grita. — O que eu quero saber
é por que diabos me mandou isso! — exclama, jogando o buquê em
mim.
Pego-o, não querendo estragá-lo.
— Não gostou?
Ela gostou, só não irá dizer, porque ela é orgulhosa e está
ferida. Eu a magoei, e sei disso, também já sabia que um buquê não
seria o suficiente; mas é um bom começo. Não é essa reação que
eu quero, mas ao menos sei que estou causando alguma reação a
ela. Amor e ódio...
Sei que ela amou o buquê e a carta porque posso ver a
marca das lágrimas em suas bochechas, mas com certeza ela odiou
amá-los. Ela quer descontar em mim sua raiva por ter amado o que
enviei. É assim que Lori é.
— Não, não gostei. Essa merda vai parar agora, Caspen!
Não quero receber mais dessas coisas, entendeu!? — Bate o pé,
cruzando os braços em cima do peito.
Olho para os seus seios e lambo meus lábios, louco para
prová-los, para senti-los se arrepiarem em meus lábios, para ouvi-la
gemer meu nome enquanto a chupo.
— Olhos aqui em cima, Caspen! — grita, irritada.
— Não posso me controlar, eu a quero. — Olho em seus
olhos.
— Sim? Isso é uma pena — desdenha, sorrindo. — Não
envie mais nada para mim, vou jogar tudo fora.
— Onde está a carta?
Minha pergunta a pega de surpresa, porque ela me olha
com expressão atordoada.
— O quê??
— Você disse que tudo o que eu mandar, jogará fora. — Ela
acena com a cabeça. — Você jogou o buquê em mim, então onde
está a carta que enviei junto?
Ela pisca engolindo em seco, e eu sorrio.
— Joguei fora.
— Mentirosa.
Lori bufa, irritada, em seguida se vira e sai do escritório
batendo a porta. Sorrio ao saber que atingi um ponto, bem onde eu
queria. Não só o buquê, mas minha carta a abalou, ela sentiu. Não
estou para brincadeiras, quero que Lori saiba o que sinto. Passei
tanto tempo guardando tudo, que agora só quero colocar para fora,
porque monstros também amam.
Estou em meu escritório, pensando sobre o meu próximo
passo: o que mandarei para Lori?
É nesse momento que meu celular toca. Olho para o
identificador, vendo o contato de Carter. Suspiro. Meu irmão não é
de ligar para mim por qualquer coisa.
— O que houve? — Ouço-o dando ordens do outro lado. —
Carter?
— Desculpe, irmão, mas preciso que venha para o clube
agora. Traga Lori e Lauren com você. — Ele pede com urgência.
Fecho os olhos, sabendo que algo aconteceu com uma das
minhas meninas. Esfrego o rosto, me preparando para o que está
por vir.
— Que merda aconteceu, Carter? — pergunto, irritado com
sua enrolação.
— Phillipa foi atacada, Caspen. Ela não está bem. A merda
que fizeram com ela foi feia, Caspen!
Fecho os olhos com força.
Porra!! Hernández está indo longe demais! Ele tem que ser
parado! Que mexa comigo, mas não com o meu clube! Não com as
minhas meninas!
— Estou indo. Chame o médico da família, cuide dela, estou
chegando. — Encerro a chamada.
Saio do escritório chamando Lorenzo.
— Irmão. — Ele responde.
— Preciso de Lauren. Phillipa foi atacada, preciso da sua
mulher.
Lauren tem uma relação de amizade com Phillipa. Elas
trabalharam juntas no clube, e agora, Lauren comanda as meninas,
que confiam nela.
— Merda! Tudo bem, vou avisar a ela.
Corro para fora de casa, indo para Lori. Entro em seu closet,
sabendo que ela está procurando por Hernández.
— Merda! O que está fazendo aqui? — pergunta, irritada.
— Não tenho tempo para as suas merdas, Lori! — Levanto a
mão, impedindo-a de falar. — Vamos, Phillipa foi atacada por
Hernández, ela precisa de você, Lauren irá junto.
Não espero por ela, simplesmente me viro e saio do seu
quarto, sabendo que ela está atrás de mim.
Durante o caminho para o clube, faço algumas ligações.
Quero meus homens trabalhando para obterem informações. Quero
pegar o culpado e quero que ele seja punido. Ninguém pega uma
das minhas meninas, machuca e sai impune. A pessoa que atacou
Phillipa vai pagar com a vida, porra! Esta noite o Diabo sairá para
brincar.
Lori
Engulo em seco ao olhar o corpo de Phillipa. Sinto ânsia
subindo pela minha garganta e me lembro de mim e de Amélia. Eu
fui ela um tempo atrás. Seu corpo está todo machucado, seu rosto é
irreconhecível, ela está toda marcada.
Sinto por ela, porque sei que não será mais a mesma. Ela
vai mudar, sua vida mudará, sua alma mudará, e me sinto triste por
ela. Sei que ela queria algo melhor, sei que ela desejava sair daqui.
Lágrimas se formam em meus olhos. Meu corpo todo treme,
e logo sinto braços fortes me puxando. Bato em um corpo duro e
sinto seus lábios em minha cabeça. Suspiro, fechando os olhos.
Tenho que me manter firme, preciso ser forte por Phillipa, estou aqui
para mostrar que tudo está bem, que ela sairá dessa, que ela tem a
mim para ajudá-la, mostrarei a ela como viver depois do que
aconteceu. Phillipa é responsabilidade minha e de Lauren.
Saio dos braços de Caspen e vou até onde Phillipa está.
Sento-me na beira da cama, pegando em suas mãos. Ela olha para
mim e chora.
— Ei, estou aqui, vou cuidar de você. — Ela acena com a
cabeça.
Phillipa não fala, mas eu sei que ela entende o que quero
dizer.
Lauren está conversando com o médico que avaliou Phillipa.
Pego algumas palavras da conversa. Respiro aliviada ao saber que
ela não foi abusada sexualmente; mas seu corpo foi totalmente
explorado, ela tem cortes e queimaduras no corpo, em sua coxa
direita tem uma queimadura escrita “propriedade de Hernández”.
Esse filho da puta fez seu ponto, e eu vou fazer o meu! Ele acha
que essa merda é um jogo, mas não é. Hernández está
desesperado, o círculo está se fechando. Ele está sendo caçado,
seus homens estão sendo pegos, e logo, logo Hernández
aparecerá, porque não deixarei lugar para ele se esconder.
Levanto-me da cama, indo até Caspen, que abaixa a
cabeça, e minha boca encosta em sua orelha.
— O homem que fez isso com ela — sussurro —, ele é meu.
— Viro minha cabeça para olhá-lo.
Caspen olha para mim, sorrindo, e acena com a cabeça.
— Ele é nosso, Sunshine.
Capítulo Dezessete
“Fire on Fire – Sam Smith”
Caspen
Meu sangue ferve quando vejo Phillipa e o estado em que
se encontra. O médico disse que ela tem costelas quebradas,
ferimentos de faca e queimadura. Hernández a marcou, colocou seu
nome nela. O filho da puta teve a coragem de marcar Phillipa!
Agora ela está dormindo no quarto, na casa dos meus tios.
Seu quarto é ao lado do quarto de Lori, só assim sei que ela estará
segura, já que Lori tem meus seguranças e seus homens a
protegendo.
Não vai ser fácil para Phillipa, mas ela nos tem, e nós a
protegeremos. Amélia já está cuidando de tudo para o seu
tratamento. Ela precisará passar por terapia para superar.
Suspiro, balançando a cabeça. Estou cansando dessa
merda toda! Quero que tudo acabe. Nunca temos um dia tranquilo.
Sinto uma mão em meu ombro. Olho para o lado e vejo
Carter.
— Encontramos quem fez isso com ela, ele estava tentando
sair da cidade.
Sorrio.
Hernández está jogando um jogo sujo. Toda vez que
pegamos algum homem dele, ele pega um dos nossos. O problema
é que os Callahan’s não toleram violência contra uma mulher,
principalmente se ela for inocente.
— Leve-o para o porão. Deixe-o nu, amarrado em uma
cadeira, e molhe seu corpo — comando.
Carter acena com a cabeça, sorrindo.
Ele gosta de torturar, nasceu para ceifar a vida das pessoas.
Hoje iremos nos divertir: Carter, eu e Lori. Nós três teremos um
pedaço do desgraçado que ousou tocar em Phillipa.
Caminho até onde Lori está e toco em seu ombro. Ela
levanta a cabeça para olhar para mim. Lágrimas brilham em seus
olhos.
— O encontraram? — sussurra, provavelmente não
querendo acordar Phillipa.
Aceno com a cabeça.
— Tem certeza que quer fazer isso?
Lori não está com cabeça agora e pode acabar fazendo uma
loucura. É por isso que prefiro que ela fique e deixe Carter e eu
cuidarmos do responsável por ter colocado as mãos em Phillipa.
Mas essa é uma decisão dela.
— Sim. Ela é minha amiga, Caspen. Devo isso a ela.
Ela se levanta, dando um último olhar para Phillipa. Nesse
momento Lauren entra no quarto.
— Carter pediu para eu ficar com ela — diz.
Aceno com a cabeça.
Lori abraça Lauren, sussurrando ao seu ouvido. Lágrimas
escorrem pelos olhos de Lauren. Lori a solta, olhando mais uma vez
para Phillipa.
Saímos do quarto em silêncio. Olho para Lori, que está
concentrada. As lágrimas que tinha em seus olhos não estão mais
lá. Tudo o vejo é uma profunda escuridão. Não vejo mais a minha
Lori, a mulher cheia de vida, com luz à sua volta; a mulher que
passou por muito, mas que ainda tem um sorriso nos lábios; a
mulher que me aceitou; que carrega o mundo em seus ombros.
Não, ela não está mais lá. Tudo o que eu vejo é a Lori com sede de
sangue, a Lori de gelo. Não vou negar que amo as duas, porque
ambas fazem parte de uma pessoa só.
Seguro sua mão. Ela se vira para olhar para mim. Um
sorriso sem vida cruza seus lábios, e eu vejo em seu olhar o
demônio que a assombra.
— Vamos brincar? — pergunta, com falsa alegria.
— Sim, Sunshine, nós vamos brincar. — Ela acena.
Esta noite o homem que machucou Phillipa é o nosso
brinquedo.
Lori
Ouvi dizer que todos temos o bem e o mal dentro de nós e
decidimos o que fazer com esses dois lados. Eu decidi mantê-los
comigo. Quando quero ser bondosa, eu sou; e quando quero ser
má, eu sou. Nesse momento eu estou além, muito além de má.
Tudo o que quero é tirar a vida do homem que machucou
minha amiga. Quero fazê-lo sofrer, quero que ele grite, sangre,
quero levá-lo ao inferno... Pensando bem: não, quero trazer o
inferno até ele.
Serei a estrela da noite, farei o próprio show e o corpo do
homem será meu palco.
Sorrio. Caspen abre a porta da sala de tortura. O homem
está sentado e nu em uma cadeira de ferro, seu corpo está
molhado, ele treme e seus olhos estão arregalados, olhando de um
lado para o outro.
— Olá. — Aceno para o homem. — Ei, Dimitri. — Sorrio
quando ele se encolhe em um canto. — Um dia eu venho para você,
tenho assunto mais importante com esse aqui. — Aponto para o
homem na cadeira.
— Uma mulher? — O homem ri. — Sério mesmo? Patético
— desdenha.
Caminho até ele e coloco minha mão em seu queixo,
levantando sua cabeça e olhando bem em seus olhos. Deixo-o ver
quão escura minha alma está, deixo-o ver que esta noite ele vai
saber o que é estar no inferno.
— Não, querido, não sou apenas uma mulher, sou o seu
pesadelo. — Sorrio.
Solto seu queixo e dou a volta, ficando próxima às suas
costas. Puxo seu cabelo, me curvando para baixo, e encosto meus
lábios em sua orelha.
— Hoje o diabo saiu para brincar com seu corpo. Vou te
cortar, e você vai gritar, seu corpo vai tremer com as correntes
elétricas quando eu o eletrocutar, sua pele vai queimar, seus olhos
vão arder, você vai implorar para morrer, mas a morte será fácil
demais para você. Eu vou fazê-lo gemer, mas não de uma boa
maneira. Você vai pedir perdão, mas hoje Deus não estará te
ouvindo. Ninguém irá te ouvir — sussurro ao seu ouvido.
Ele treme, e eu sorrio. Olho para Caspen, que está me
olhando de um jeito tão intenso e tão assustador, que faz com que
meu corpo trema. Ele sorri, provavelmente sabendo do efeito que
tem sobre mim. Sorrio de volta, lambendo os lábios, a fim de
provocá-lo.
— Mais tarde. — Gesticula para mim.
— Só em seus sonhos. — Pisco.
Ele ri.
— Vocês são loucos, fora do normal, monstros! — O homem
grita, o que faz com que eu volte a me concentrar.
— E você é um homem morto. — Solto seu cabelo, voltando
a ficar de frente para ele. — Vamos começar? — Olho para Carter,
que acena com a cabeça.
Carter puxa o aparelho elétrico para causar choques.
— Você riu por eu ser mulher. Vamos ver quanto tempo eu
levo para fazê-lo chorar. Dimitri, olhe bem, porque depois será você,
querido. — Aponto para ele.
Fecho os olhos, aproveitando esse momento, e elevo a
cabeça, respirando fundo. O cheiro da vingança é tão reconfortante.
Abro os olhos quando o homem grita. Carter acabou de
enfiar dois pregos, um em cada perna, e cada prego tem um fio que
leva até o aparelho.
— Acho que não colocou os pregos direito, primo. —
Levanto uma perna, e com meu salto, aperto mais fundo o prego em
sua perna.
— AHH! — grita, em desespero.
Olho para os seus olhos, mas não há lágrimas... ainda.
— Não o fiz chorar. — Faço biquinho. — Precisamos de
mais intensidade aqui. — Olho para Caspen.
Caspen pega um bande com água e gelo e joga no homem.
Vou até o aparelho e o ligo no mínimo. Não quero fazer muito
estrago ainda. O homem grita desesperadamente, e o cheiro de
carne queimada enche o lugar.
— Está tão silencioso aqui, vamos animar o lugar. — Pego
meu celular e ligo minha playlist.
Take Me To Church, de Hozier, é a música que começa a
tocar; e eu danço, não me importando com quem está olhando. Vou
até o homem, dançando para ele. Sorrio quando vejo lágrimas em
seus olhos. Bato palmas.
— Caspen! — grito, animada. — Ele está chorando! —
exclamo, sorrindo.
— Sim, Sunshine, ele está. — Acena.
— Bem, vamos dar a ele mais para chorar.
Caspen se junta a mim, e Carter fica apenas observando,
porque será ele quem dará o golpe final com sua foice. Ele será o
único a tirar a vida do homem. Caspen e eu o deixaremos quase
morto.
É emocionante! Phillipa merece. Se pudesse, eu a traria
aqui para dar o golpe final; mas matar não é para qualquer pessoa.
A pessoa que mata carrega para sempre o peso da morte. Eu não
me importo em carregar o meu peso, mas algumas pessoas se
importam, algumas pessoas sentem culpa; ao contrário de mim, que
não sinto nada.
Tirar uma vida não é direito meu, mas tiraram meus direitos,
tiraram minha virgindade, minha inocência, tiraram minha liberdade,
meu sim e meu não, então vou tirar tudo o que eu conseguir, vou
acabar com quem acabou comigo. Dimitri, Hernández e quem
aparecer na minha frente. Não vou parar até me sentir saciada,
vingada, não vou parar até conseguir me sentir viva de novo. Chris
morreu, eu vivi.
Caspen
Observo quando Carter caminha até o homem semimorto na
cadeira. Seu corpo cheio de cortes e queimaduras, como está o de
Phillipa. Lori e eu o torturamos por horas, fazendo-o implorar pela
vida, gritar por perdão. Ele abriu a boca sem que eu pedisse, ele
disse que Hernández tem planos para Lori, que ela é a peça-chave
para o seu plano, que ela é o que Hernández mais quer, mas
Hernández sabe que Lori não irá até ele de boa vontade, e é por
isso que está indo devagar. Ele quer que seja uma escolha de Lori,
e para isso vai usar as pessoas mais próximas.
Hernández está jogando bem, mas não vou entregar Lori
para ele. Lori é minha, minha mulher, minha luz, não vou deixá-la ir.
Hernández terá que me matar primeiro, se quiser pegar Lori.
Mas o que fica martelando na minha mente é: por que Lori?
Está na hora de me aprofundar no passado de Lori Jones
antes de ela se tornar Lori Callahan.
Lori
Aconteceu tão rápido, em um piscar de olhos. Em um
momento ele estava vivo; e no outro, não. Carter apenas passou
sua foice em seu pescoço, fazendo-o sangrar. Eu vi a vida saindo
dos seus olhos. Fascinante! É incrível perceber o quanto a vida é
frágil, delicada e quão rápido podemos morrer.
— Lori? — Caspen me chama, e eu saio de meu devaneio.
— Sim? — pergunto, olhando-o.
— Vamos, acabou. — Ele ergue a mão para mim.
Olho para a sua mão, não sabendo o que fazer.
Resolvo não me envolver mais do que já estou. Passo por
ele, deixando sua mão no vácuo, e saio, voltando para a minha
casa. Preciso de um banho e ver Phillipa. Sei que não estará
melhor, mas quero vê-la, quero que ela saiba que não está sozinha.
É patético, porque sempre estaremos sozinhos. Nascemos
assim e morreremos assim; mas é bom ter uma falsa segurança, é
bom ouvir: você não está sozinha.
— Lori. — Caspen me para, segurando meu braço.
Olho para ele.
— Você está bem? — pergunta, preocupado.
Dou a ele um sorriso falso. A verdade é que não sei como
estou, mas tenho que fingir, não é mesmo? Tenho que continuar
dizendo: está tudo bem, eu estou bem; porque tenho que acreditar
nessas palavras, preciso acreditar nelas, e quem sabe tudo
realmente fique bem.
Essa é a única esperança que tenho, de que tudo vai ficar
bem, de que meus pesadelos não voltarão, de que eu vou conseguir
sair dessa sozinha, porque não há mais um Chris Castle para me
ajudar, para segurar a minha mão, para me apoiar e dizer que está
comigo, que não vou passar por tudo sozinha.
— Sim, estou bem.
— Mentirosa — rebate, olhando-me nos olhos.
— O que você quer, Caspen? — pergunto, com irritação.
— A verdade — pede, bem sério.
Dou um riso sem graça.
— A verdade é que eu me odeio, me sinto culpada por tudo
e quero saber o que Hernández quer comigo e o que fiz para
merecer tanta merda que a vida tem jogado em mim! A verdade é
que Chris está morto por minha culpa, porque se envolveu comigo!
Essa é a porra da verdade, Caspen! Está feliz agora!? — grito.
Estou cansada! Estou tentando, juro que estou tentando ser
forte, ser firme e cheia de atitude; mas só estou cansada de tentar,
de mostrar essa fachada quando, no fundo, bem no fundo de mim,
sinto que estou prestes a desmoronar; e o pior é que não sei se terá
alguém para me segurar quando eu cair.
Caspen me puxa para os seus braços. Coloco minha cabeça
em seu peito, fechando os olhos.
— Vai ficar tudo bem — sussurra para mim.
Não digo nada, porque não quero quebrar esse momento.
Sei que assim que eu sair de seus braços, minha guarda vai se
levantar e eu vou fugir, porque não posso deixar Caspen entrar. Ele
já me magoou uma vez, duas vezes será por burrice da minha parte.
— Isso não muda nada — digo, quando ele me solta.
Caspen está com um sorrisinho nos lábios. Rolo os olhos.
— Vamos, Sunshine, está amanhecendo e você precisa
descansar.
Caspen
Olho para o corpo adormecido de Lori. Sorrio. Ela se
entregou a mim, foi simplesmente perfeita. Seu corpo, o jeito que ela
geme e chama meu nome quando goza, quão calma ela fica depois
do sexo...
Olhando para ela uma última vez, saio do seu quarto,
trancando a porta.
No andar de baixo encontro Lucas, que para ao me ver.
— O que aconteceu? — pergunta.
— Quero-o em meu escritório daqui a duas horas. — Ele
acena com a cabeça.
— Minha irmã está bem? — pergunta, preocupado.
— Ela vai estar. — Aperto seu ombro e saio da casa.
Do lado de fora encontro Carter com os homens de Lori.
Meu irmão está olhando para as três caixas que estão com Maddox,
Alex e Miguel. Ele olha para mim, e eu simplesmente balanço a
cabeça, não querendo falar nada nesse momento. Preciso ir para
casa, tomar um banho e pensar sobre tudo o que descobrimos.
Tenho muita coisa acontecendo e preciso lidar com cada
uma delas. Não será fácil, preciso de um plano, preciso controlar a
raiva e a vontade de acabar com Phillipa.
Sim, não é apenas Lori que está com raiva e querendo
vingança. Porra, Phillipa trabalha para mim há anos, eu a acolhi, a
tornei uma das minhas meninas, dei a ela uma família, amizades e
meu apoio, a oportunidade de algo melhor; mas ela não quis. Ela
não só me traiu, mas traiu minha família.
Porém, do mesmo jeito que quero acabar com ela, eu tenho
que ser esperto, ser cauteloso e usá-la ao meu favor.
— Reunião em duas horas na minha casa — digo a eles,
que acenam com a cabeça. — Levem as caixas, quero ver o que
mais tem dentro delas. Tranquei Lori no quarto e estou levando a
chave reserva que ela tem. Ela vai sair de qualquer jeito. Olhe-a e
não a deixe fazer besteira — digo a Maddox, que acena para mim.
— Quanto tempo acha que ela vai ficar pirando no quarto
antes de abrir a porta e sair? — Carter pergunta, rindo.
Dou de ombros.
— Isso vai depender de quão pirada ela vai ficar ao
descobrir o que fiz. Não ficarei aqui para lidar com ela, eles vão. —
Aponto para os homens de Lori. — Boa sorte — digo a eles.
Não espero por uma resposta, apenas me viro, entro no
carro e dirijo até a minha propriedade.
Algo que tenho certeza é: a coisa vai ficar feia.
Capítulo Vinte Um
“Before You Go – Lewis Capaldi”
Lori
Estico meu corpo na cama, sentindo-me relaxada. Abro os
olhos, olhando em volta do meu quarto. Estou sozinha. Bom, muito
bom! Não queria ter que lidar com Caspen, não depois do sexo
incrível que fizemos.
Merda! Sorrio para mim mesma. Essa coisa entre Caspen e
eu tem que acabar, não posso ficar caindo na dele. Tenho que
continuar sendo firme e decidida a fazê-lo correr atrás de mim,
quero que ele sofra um pouco, não posso ser fácil.
Já está sendo, Lori.
Levanto-me da cama, recolhendo minhas roupas jogadas no
chão e indo em direção ao banheiro. Coloco minhas roupas para
lavar e me ponho sob o chuveiro, em seguida, ligando-o e lavando o
suor do meu corpo.
Penso em como vou seguir adiante. Tenho que ser
cautelosa, não posso ser impulsiva igual das duas últimas vezes. É
claro que tive um motivo. Quando atirei pela primeira vez em um dos
guardas de Caspen, eu não o matei. Pensei que tinha o matado,
mas não matei, ele está bem. Mas dei a ele um aviso, deixei bem
claro que da próxima vez eu o matarei.
Digamos que ele estava fazendo coisas inapropriadas. Ele é
pago para cuidar das meninas na casa de recuperação, mas prefere
ficar as perseguindo do que cuidar delas. Ele foi tirado do posto e
colocado para fazer outra coisa, bem longe.
O segundo homem de Caspen no qual eu atirei, eu matei, e
não me arrependo nem um pouco. Ele era um filho da puta
desprezível que quase estuprou uma das meninas no abrigo, e ouvi
algumas conversas dele dizendo o que faria comigo quando tivesse
tempo... Desprezível! Caspen ainda não sabe, Amélia pediu para
que eu não contasse a ele, então resolvi por mim mesma.
Ele está tão focado em pegar Hernández, que esqueceu de
vigiar os próprios homens. Sorte dele que tem a mim para fazer
isso. Resolvi o problema, e quando o momento certo chegar, contar-
lhe-ei. Mas agora tenho que ter cuidado e fazer o que Caspen pediu.
Tenho que estar com Caspen e confiar nele. Não gosto
muito disso, mas temos que trabalhar juntos para fazermos
Hernández cair. Tenho que atuar na frente de Phillipa, fingir que tudo
está bem. Sou boa nisso, já mostrei várias vezes ao fingir que não
me importo. Fiz isso quando explodi o bar onde era local de
produção de drogas. Todos me julgaram como fria por ter feito isso
com pessoas inocentes, mas a verdade é que não tinha ninguém
inocente ali, pois verifiquei o lugar, sabia que estaria vazio de
clientes. Porém fingi que tinha, fingi que não me importava, porque
para acabar com um louco tenho que ser mais louca, mais fria.
Todos acreditaram. Por anos todos têm acreditado em mim.
Pensam que sou fria, cruel; eu treinei para isso, e por um tempo
acreditei que tinha me tornado uma pessoa sem alma, sem coração;
mas não sou. No fim do dia, em meio à escuridão, eu sou apenas
Lori Callahan, a mulher assombrada pelo passado. Porém ninguém
sabe, e é assim que quero. Não quero que vejam que sou fraca,
fraqueza não é aceito na máfia. Eu faço parte da máfia, eu sou uma
fraude.
Estou pronta para dar o meu melhor para fingir que nada
estava acontecendo e que eu não tinha tantas perguntas em minha
mente. Na frente de Phillipa eu colocarei minha máscara, fingindo
que não sei a verdade. Sem falar no que aconteceu entre Caspen e
eu. Meu corpo ainda o sente, e só o pensamento do que fizemos me
excita... Droga! Estou caindo na dele.
— Que merda! — grito, quando tento abrir a porta do quarto,
mas está trancada.
Olho para a fechadura, não vendo a chave. Minha boca se
abre. Não acredito nessa merda! Só pode ser brincadeira! Ele me
trancou! Caspen me trancou no quarto!
Mordo a língua, tentando controlar meu grito. Vou até meu
closet, procurando pela minha chave reserva, mas o filho da mãe a
levou. Tento sair pela porta secreta, e adivinha? Também trancada.
Pego meu celular, discando seu número, mas o desgraçado não
atende. Fecho as mãos, tentando controlar meu temperamento. Se
não fosse algo sério, seria até engraçado.
Preciso ir até ele, tenho que sair daqui, quero ver Phillipa,
olhar bem em seus olhos e ver quão dissimulada ela é; por outro
lado, quero saber dos planos de Caspen.
Porra! Ele quer que eu confie nele, mas pelo visto não confia
em mim!
Até parece que ficarei aqui... Ele está enganado se pensa
que não sei abrir uma porta trancada!
Abro a porta do quarto em questão de segundos.
— Merda, você realmente saiu! — Maddox diz.
Estreito os olhos para ele, que sorri.
— Quanto tempo Caspen disse que eu levaria para abrir a
porta? — Ele ri.
— Ele não disse, falou que dependeria de quanto tempo
ficaria louca ao descobrir o que ele fez.
— Vou matá-lo! — digo, furiosa.
Maddox apenas sorri.
— Precisa fazer mais cópias da chave do seu quarto —
comenta, me seguindo.
— Sim, eu sei disso — digo, sorrindo. — Vamos, tenho que
me encontrar com Caspen e pegar minhas chaves de volta. Bem,
primeiro vou ter uma conversinha com ele e seus modos. Onde se
viu me trancar no próprio quarto? Idiota!
Atrás de mim, ouço Maddox rir.
— Continue rindo, e eu irei despedi-lo.
Meu aviso não adianta muito, já que ele ri ainda mais. Rolo
os olhos. Homens!
Caspen
Olho para os meus irmãos, meus primos e alguns dos
homens de Lori; todos esperando por mim, por minha palavra. Até
papai está aqui, tive que o chamar. Ele saberá o que fazer com os
pais de Lori quando descobrir o que tenho a dizer. Essa merda
mudará tudo.
As coisas ficarão fora de controle. Quando eu contar o que
descobrimos essa noite, tudo irá se desmoronar.
Respiro fundo, me preparando para a explosão que
acontecerá. Olho para Lucas, irmão de Lori.
— Aqui — digo, entregando a ele a foto onde contém
Phillipa e uma mulher com um bebê nos braços.
Lucas pega a foto, olhando-a, sem entender o que está
acontecendo.
— Não estou entendendo. — Desvia os olhos da foto e me
olha.
— O que está vendo, Lucas?
— Phillipa com uma mulher. Parece que elas estão em um
quarto de hospital. A mulher teve um bebê?
— Olhe esta foto. — Entrego a foto onde tem a mesma
mulher, porém mais velha e com Lori no colo.
— Merda! — Lucas diz, de olhos arregalados. — Essa é a
mãe de Lori.
— A mesma, e pelo que parece, é a mãe de Phillipa
também. — Aponto.
Meu escritório se enche de resmungos e palavrões com o
que acabo de dizer.
— Como é possível? — Lucas pergunta. — Pesquisamos
sobre a mulher, ela abandonou Lori com aquele monstro, não tem
nada sobre ela, como se nunca tivesse existido.
— Mas ela existe. Agora o problema é quem ela é e por que
Phillipa nunca nos contou nada.
— Hernández sabe que elas são irmãs, foi por isso que ele
a atacou.
Balanço a cabeça. Todos olham para mim em silêncio.
Todos sabem que há mais, muito mais.
— Não, não acho que seja apenas isso — confesso,
olhando-os.
— O que acha que está acontecendo, filho? — O pai
pergunta.
— Acho que Phillipa e a mãe têm uma ligação direta com
Hernández, acho que elas sabem quem ele ou ela é.
— Mas Phillipa foi atacada. Se ela estivesse com ele,
Hernández não a teria mandado bater nela quase até a morte. —
Lorenzo diz, olhando-me.
— Não, não teria...
— A não ser...? — Carter pergunta.
— A não ser que ela não tenha feito o que ele mandou —
digo por fim.
— O que iremos fazer? — Lucas pergunta, com um olhar
mortal. — Phillipa está na minha casa, não sabemos o que ela quer
e qual a sua intenção.
— Sim, é por isso que eu os trouxe aqui. Quero saber como
está a operação em fazer Hernández cair e quero que você e sua
família mantenham Phillipa. Quero-a por perto, quero saber o que
ela faz, com quem ela fala, quero seguranças por perto. Ela será
vigiada dia e noite. — Lucas acena com a cabeça. — Cabe a você
se vai contar para os seus pais ou não, mas se contar, quero que
eles mantenham as aparências. Phillipa não pode desconfiar, iremos
até ela no momento certo. — Sorrio.
Quero Phillipa acreditando que não sabemos de nada e que
está segura conosco, mas ela acabou de entrar no meu domínio.
Ela fez sua cova e vai deitar nela.
— A operação está indo muito bem, temos tudo sob
controle, todos os negócios de Hernández estão caindo, em poucas
semanas ele não terá porra nenhuma. — Lorenzo diz, sorrindo.
— Ótimo! Quero-o sem nada. Ele virá até nós
pessoalmente. Se não for pelos negócios, será por Lori e Phillipa.
Não tratem Phillipa com indiferença. Ela pode ser inocente no fim
das contas, não sabemos ainda. Mantenham cautela, mas não a
julguem.
— Será difícil, já que ela não nos contou tudo o que sabia.
Ela nos enganou por anos. — Lucas rebate.
— Sim, eu sei. Mas até sabermos a verdade dos fatos,
quero-a acreditando em nós, em nosso apoio. E também não
sabemos o que a fez manter segredo de nós.
Não estou defendendo-a, mas há dois lados na história, e
antes de fazermos qualquer coisa, eu quero saber o lado de Phillipa.
Ela irá responder diretamente a mim, e só a mim. Até lá eu a quero
acreditando em nosso apoio.
Lori
Olho para o pequeno pacote em minhas mãos. Meu coração
bate forte. Não faço ideia do que tem no pacote, mas sei que é algo
relacionado ao que escrevi em meu diário. Minhas mãos tremem,
estou com medo de abrir, com medo de que eu o ame ainda mais.
Estou com medo desses sentimentos. Por mais que eles não sejam
sentimentos novos, está se tornando mais intenso, mais
apaixonante. Sei que será algo que irei amar, que me tocará
profundamente. Não faço ideia do que irei fazer.
Sento-me na cadeira de balanço, em frente à piscina, coloco
o embrulho em meu colo e o abro. Dentro há uma caixa de veludo
vermelha. Meu coração bate ainda mais forte. Há um grande laço
dourado com uma carta. Sinto meu estômago embrulhar. Respiro
fundo e abro a carta.
Tinna
Sorrio para as meninas. Todas estão aqui por mim, para
comemorar minha saída.
Meu peito se aperta. Sentirei falta delas. Foram anos
trabalhando juntas, anos conhecendo umas às outras, não sei o que
eu faria sem elas, sem esse clube.
Seco as lágrimas em minhas bochechas.
Todas essas pessoas são incríveis.
— Ei, é para estar sorrindo, e não chorando. — Sophia me
abraça.
— Só estou emocionada.
— Você merece, mulher. Agora vamos comemorar, essa
noite é sua. — Ela bate palmas.
Todas as meninas do clube vêm até mim para um abraço.
Fecho os olhos enquanto elas me envolvem de uma vez só.
— Essa noite é sua, Tinna, há um novo começo. — Lauren
diz, rindo.
— Sim! — grito.
A noite fica ainda melhor quando descobrimos que os
negócios de Hernández caíram. Ele tem sido uma dor na bunda de
todos, e saber que finalmente estamos acabando com ele me deixa
aliviada demais.
— Ei, querida, senti sua falta. — Lucien diz, me abraçando
por trás.
Rolo os olhos. Esse homem tem me perseguido desde o dia
em que nos conhecemos.
— Você não vive sem mim. — Beijo-o nos lábios.
— Merda! Não, não vivo. — Ele sorri.
Oh, ele é tão cheio de si, e eu o amo. Não foi algo fácil e
rápido de acontecer, vai por mim, eu vi o que acontece quando se
apaixona por um homem da máfia. Não é flores e corações, tive
medo de sofrer, tive medo de passar pelo que Lauren passou, de ter
meu coração quebrado; mas Lucien mostrou que amar um homem
da máfia pode ser totalmente diferente e que cada um tem sua
história.
— O que acha de irmos comemorar em casa? — Lucien
pergunta, mexendo as sobrancelhas.
— Acho uma ótima, ótima ideia. — Mordo os lábios.
— Porra, mulher...
Capítulo Vinte e Quatro
“Wallflower – Kimberly August”
Lori
Em minhas mãos está o colar que Caspen me deu. Estou
tentando decidir se uso ou não esta noite. Combina perfeitamente
com meu vestido azul-claro mesclado com azul petróleo até chegar
na cor de laranja. O vestido é cheio de fios no busto, descendo para
a barriga, transparente em algumas partes. Encaixa-se
perfeitamente em meu corpo e também combina com minha
máscara, que é azul e simples, mas perfeita.
Meu coração bate forte, minhas mãos estão suando e meu
estômago está embrulhado. Passarei a noite toda ao lado de
Caspen, por isso estou muito nervosa.
Não faço ideia do que esperar. Esta noite está deixando
todos nervosos, ansiosos e duvidosos. Sabemos que este baile é
uma má ideia, mas não somos nós que decidimos, o conselho da
cidade decidiu. Este baile é importante, todo ano acontece.
O único problema é que temos Hernández pairando sobre
nós. Uma droga, eu sei. Nunca temos um minuto de paz, sempre
um palhaço aparece, tentando nos derrubar. Não que eles
consigam, mas Hernández se tornou esperto, estrategista, ele sabe
o que está fazendo, ele planeja primeiro e executa depois.
Olho para o grande espelho em meu quarto, colocando o
colar em frente ao meu pescoço.
Droga! Ele é lindo, perfeito para o vestido, mas se eu o usar
hoje, Caspen pensará que estamos de trégua, ele irá se sentir mais
do que já se sente.
— Grande dilema, Lori, grande dilema — murmuro. — Ah,
que se dane! Irei usá-lo esta noite!
Coloco o colar em meu pescoço, sorrindo ao ver quão
perfeitamente se encaixa.
— Querida, você está pronta? — Mamãe entra no meu
quarto, e para boquiaberta ao me ver. — Uau! Você está tão linda!
— exclama, colocando as mãos no peito.
Sorrio.
— Essa coisa feia? — brinco com ela, que ri.
Mamãe dá um pequeno abraço em mim. Sua mão passa
delicadamente pelo meu rosto.
— Você está linda, minha filha. — Sorri, e posso ver seu
amor por mim através dos seus olhos. — Estou orgulhosa de você,
de tudo o que está fazendo, e quero que saiba que sou grata por ser
minha filha, minha menina. — Lágrimas se formam em meus olhos.
— Oh, mamãe, está me fazendo chorar. — Ela ri.
— Podemos arrumar sua maquiagem. — Ela pisca. —
Caspen já chegou, ele deve estar se perguntando o que aconteceu
para estarmos demorando tanto. — Ri.
— Ele pode esperar. Agora, deixa eu ver a Senhora. — Giro
o dedo.
Mamãe dá uma voltinha. Sorrio quando ela para, olhando
para mim.
— Acho que papai vai ficar louco quando a vir. — Mamãe
cora.
— Bem, digamos que era para estarmos lá já — murmura.
Começo a rir, colocando as mãos na barriga.
— Acho que é por isso que vi um amassado bem aqui. —
Aponto para o seu vestido.
— Não tem nada amassado, me certifiquei disso. — Sorri.
— Vocês dois são demais. — Ela estreita os olhos para
mim.
— Estamos jovens ainda, temos que aproveitar. — Balança
uma sobrancelha.
— Eca! Falou igual à vovó!
— Muito convívio com ela, menina. — Pisca. — Agora é
melhor descer, antes que seu homem venha buscá-la.
Bufo, rolando os olhos.
— Caspen não é meu homem, mamãe.
Agora é a vez de ela de bufar, juntamente com um riso.
— Continue acreditando nisso. — Dá um tapinha em minha
bunda.
— Mamãe! — exclamo.
— Bem durinha — brinca.
Balanço a cabeça.
De uma coisa não posso reclamar: meus pais são perfeitos.
Eles me amam incondicionalmente, são as melhores pessoas do
mundo, são heróis para mim.
Papai aparece, puxando minha mãe para si. Sorri para mim,
dando uma piscadinha.
— Vai lá e o deixe sem palavras, passarinho. — Aproxima-
se, com mamãe em seus braços, e beija minha testa.
— Ah, pode deixar, que eu vou. — Sorrio.
Papai leva mamãe enquanto eu fico parada bem no topo da
escada, me preparando para encontrar com Caspen.
Deus! Eu nunca tinha me sentido tão nervosa assim em toda
a minha vida! Toda essa ansiedade e esse embrulho no estômago...
Não sei se consigo, minhas pernas estão tremendo, chegaria a ser
engraçado se a situação não fosse importante.
Respirando fundo, dou o primeiro passo, com cuidado, para
não tropeçar no vestido. Desço a escada. Perco o fôlego quando
vejo Caspen parado, esperando por mim. Ele está sexy demais.
Oh, meu Deus! Acho que vou desmaiar!
Seu olhar é de um predador pronto para se lançar sobre a
presa. Arrepios passam pelo meu corpo à medida que seu olhar me
devora. Seus olhos se estreitam.
— Não, porra! Não — resmunga.
Olho para ele, sem entender do que está falando e por que
mudou o semblante tão de repente.
— Caspen? — pergunto, olhando-o.
— Não, não e não. Você não irá assim para o baile. —
Aponta para o meu vestido.
Mordo os lábios, impedindo-me de rir.
— Sim, eu vou.
— Porra que vai! — exclama, passando a mão pelo cabelo.
Estreito os olhos ao ver sua mão machucada. Pego-a na
minha, olhando de mais perto.
— O que houve?
— Apenas um acidente — responde, seco. — Agora suba e
troque de roupa — comanda.
Cruzo os braços e o encaro. Ele realmente acha que vou
trocar de roupa? Coitado! Só em seus sonhos!
— Não.
— Não?! — pergunta, abismado.
— Não, eu não vou trocar de roupa. E não sei o que te faz
pensar que eu faria isso.
Olho-o bem nos olhos. Ficamos por alguns minutos apenas
nos encarando.
Por fim ele suspira, balançando a cabeça.
— Deus me ajude — resmunga.
Seus olhos passam pelo meu corpo mais uma vez.
— Céus, Sunshine! Não serei capaz de me controlar se
alguém te olhar com desejo. Porra, essa roupa é demais! — Bufa,
em frustração.
— Bem, não posso fazer nada. — Sorrio.
Seu olhar para em meu pescoço, e ele sorri.
— Não diga nada — aviso-lhe, e seu sorriso fica maior.
Meu coração acelera.
Droga! Esse homem é um pecado. Quero tanto passar as
mãos pelos seus cabelos e beijá-lo.
— Se continuar a me olhar desse jeito, não iremos sair
daqui — sussurra ao meu ouvido.
Para provocá-lo, lambo meus lábios, dando uma pequena
mordida e sorrindo, em seguida, passo a mão pelo seu peito,
chegando mais perto dele e encostando meus lábios em sua orelha.
— Quando o baile acabar, eu deixo você tirar meu vestido.
— Mordo sua orelha, e percebo que ele treme.
— Porra, mulher!
Caspen
De longe observo Lori entrar no banheiro. Minha vontade é
de ir até ela, de entrar no banheiro com ela e protegê-la. Tudo está
tão calmo, que chego a desconfiar. Ainda estou esperando o
momento que Hernández fará sua grande entrada, porém, até agora
não há sinal dele. É como se não fosse aparecer. Esse silêncio é
como se não valêssemos a pena.
Suspiro. Estou começando a ficar paranoico quando se trata
de Hernández. Não sou louco em pensar que ele desistiu de tudo,
mas talvez esse baile não fosse algo que ele daria importância,
talvez ele tenha outra coisa planejada. Ou talvez esteja esperando o
momento certo para aparecer. Hernández é louco, essa mulher
mostrou quão esperta e calculista é. Ela pode estar desesperada,
mas não irá fazer um movimento qualquer.
Esfrego meu rosto, sentindo-me tenso demais. Tudo o que
quero é acabar logo com toda essa merda e voltar a ter paz.
Rio, sem graça. Nunca temos paz. Toda vez que um inimigo
cai, outro aparece.
— Parece que sua cabeça vai explodir, de tanto que trinca
os dentes e franze a testa. — Lorenzo comenta, parando ao meu
lado. — O que se passa em sua cabeça?
— O de sempre. — Meu olhar está focado na porta do
banheiro. — Fico imaginando em que momento Hernández
aparecerá e no que ele fará.
Olho para o meu irmão, que balança a cabeça, passando a
mão pelo rosto, em seguida suspira, olhando para onde Lauren está
com Sophia.
— Eu faço o mesmo, parece que a qualquer momento tudo
pode mudar — resmunga. — Penso que haverá uma explosão e
gritaria por todo o lado. — Ri, sem graça. — Estou ficando louco.
— Somos dois, então, porque eu estou igual, sempre
olhando para os lados, totalmente em alerta e pronto para agir
quando necessário. — Passo as mãos pelo cabelo. — Sem falar
que pareço mais um perseguidor, do jeito que estou com Lori.
Lorenzo ri, balançando a cabeça.
— Sim, parece mesmo, está até assustando algumas
pessoas. Acho que é por isso que ela fugiu para o banheiro, sabia
que você não iria atrás dela. — Ri mais uma vez.
— Do que as maricas estão falando? — Amélia aparece ao
meu lado. — Onde está Lori? — Olha em volta.
— Banheiro — respondo. — E estávamos falando de
Hernández e no seu não aparecimento.
— Bem, é por isso que estou aqui — comenta ela, olhando-
me. — Acabei de olhar a lista de convidados. Nada fora do normal,
ninguém suspeito. Também olhei as câmeras, não vi nada de
alarmante, tudo normal.
Paro para pensar sobre o que ela acabou de dizer: tudo
tranquilo, nada alarmante, ninguém suspeito; mas quem aqui seria
suspeito? Olhe para nós: minha família, somos mafiosos; mas
ninguém saberia dizer, não é mesmo? Temos nossos negócios
legalizados, somos os maiores doadores da cidade, o pai é prefeito,
minha mãe é uma dama de negócios; então, quem diria que somos
suspeitos? Qualquer mulher neste baile pode ser Hernández, e é
exatamente isso que me preocupa.
“Droga!”
— Esse é o problema, não é? — Lorenzo pergunta,
olhando-me. — Pode ser qualquer um.
— Sim, isso é o que mais me preocupa. Não sabemos quem
é, porra! Nem sabemos se Hernández está aqui! — rosno, irritado.
— O que vamos fazer? — Amélia pergunta, olhando-me
com seu olhar preocupado.
— Não há nada que possamos fazer, Amélia. Estamos sem
saída nesse momento, tudo o que podemos é esperar. Não
sabemos se Hernández está aqui e não há como identificá-lo, então
nós esperaremos, ficaremos atentos e prontos para ele — digo a
ela, que bufa, irritada.
Quero fazer algo, quero interrogar cada pessoa nesse baile,
intimidar, até que Hernández seja identificado; mas não posso fazer
isso, não posso estragar o baile da cidade, não posso estragar a
identidade de bondosos que nós criamos. Tudo o que podemos
fazer é esperar. É uma merda, eu sei, mas é o certo.
— Não gosto de esperar — protesta Amélia.
— Também não gosto, Amélia, mas o que poderíamos fazer
nessas circunstâncias? — pergunto a ela. — Olhe em volta, todos
aqui pensam que somos bons, que somos perfeitos, não podemos
estragar isso. — Ela balança a cabeça.
Não podemos estragar o disfarce que conquistamos, a
confiança que essas pessoas têm em nós, porque é isso que
Hernández quer: nos fazer cair. Não darei a vitória a ela, não iremos
jogar seus jogos. Estamos no poder agora, tiramos tudo dela, cada
coisinha que ela tinha, agora é só esperar ela aparecer, é só uma
questão de tempo.
De repente um pequeno estouro enche o lugar e as luzes se
apagam.
— Que merda! — exclama Heitor, entre as pessoas
assustadas.
— Lori! — grito.
Caspen
— Sua mãe — termino por ela, que me olha com expressão
espantada.
— Você sabia?! — Ela pergunta, um pouco histérica.
Balanço a cabeça.
— Não, mas eu desconfiava, e parece que eu estava certo.
Lori olha para mim.
— A porra da minha mãe é Hernández! — grita, ainda
histérica.
Seu olhar é de tristeza misturada com pura raiva, suas mãos
tremem. Dou um passo para frente, mas Lori vai para trás.
— Sunshine...
— Minha mãe é um monstro! — Sacode a cabeça. —
Aquela mulher é horrível! — esbraveja.
Tudo o que Lori precisa nesse momento é colocar o que
sente para fora, então tudo o que faço é ficar parado, deixando-a
falar.
— Como ela teve ousadia de vir até mim?! Toda cheia de si,
achando que é intocável! Ela me tocou, aquela louca me tocou! —
Aponta para o próprio braço, que está vermelho.
— Não, não é só isso, ela é nojenta!
Vejo lágrimas em seus olhos. Quero segurá-la, tocá-la,
saber se está bem, mostrar a ela que estou aqui, que pode contar
comigo, que pode se desfazer em meus braços.
— Eu não entendo — sussurra, olhando-me com um grande
pesar.
Ergo minha mão, passando por sua bochecha. Lori suspira,
fechando os olhos.
— Nós vamos pegá-la, Sunshine. — Ela balança a cabeça.
— Não entendo o que fiz para ela me odiar tanto! Ela disse
que eu devo a ela, que sou um objeto para ela fazer o que quiser,
ela tem planos para mim, Caspen! A vaca disse que eu devo a ela!
Porra! Eu não devo a ninguém! — grita, furiosa, batendo o pé.
Ela vai até a poltrona, no canto do banheiro, que fica de
frente para um grande espelho do chão ao teto, e se joga ali.
Suspirando, coloca as mãos no rosto, seu corpo tremendo. Vou até
ela, me ajoelho à sua frente e seguro seu queixo, fazendo com que
ela me olhe.
Tudo o que vejo é puro pesar, um pesar tão grande, tão
devastador, que me enche de fúria. Suas palavras, a dor misturada
com raiva em sua voz me faz querer ir atrás de Hernández. Quero
encontrar Hernández e matá-la, quero ter o prazer de olhar em seus
olhos enquanto tiro sua vida. Essa mulher está começando a
alcançar Lori.
A porta se abre. Olho para trás, vendo Carter entrando e
Lorenzo saindo. Amélia está parada, olhando para o seu tablet. Seu
olhar é concentrado, ela provavelmente está vendo as imagens das
câmeras de segurança, tentando identificar Hernández.
— O apagão foi feito de propósito. — Carter diz.
Porra!
Eu sabia que algo estava errado no momento em que as
luzes se apagaram, sabia que não era apenas uma coincidência. Foi
exatamente por isso que corri para alcançar Lori.
— É claro que foi de propósito — resmunga, Amélia. —
Hernández fez isso para poder sair daqui sem ser pega, mulher
esperta. — Sorri. — Mas eu sou mais, não é mesmo?
Balanço a cabeça, concordando com ela.
— Como estão os convidados? — pergunto a Carter.
— Bem, papai e mamãe estão controlando tudo, Hernández
não pegou ninguém, o apagão foi apenas para ela fugir, não há
nenhum dano. Heitor está com Soph, Lauren e Tinna; Lorenzo saiu
para ajudar o pai. Tudo está no controle.
— Perfeito, consegui. — Amélia ri.
— Será que pode nos dizer o que está fazendo? — pergunto
a ela.
— Bem, quando Hernández fez o apagão, ela também
tentou apagar as filmagens, acho que não queria que soubéssemos
quem ela é, mas ela não foi tão boa assim, então consegui
recuperar as imagens e conseguirei saber quem ela é daqui a
algumas horas. Quero analisar cada imagem e comparar com a
lista. — Sorri. — Lori, vou precisar que me diga como ela estava
vestida e como era sua máscara, irei tentar achá-la nas filmagens e
comparar com a lista, assim saberei seu nome, já que
provavelmente ela deve usar outro nome.
— Tudo bem, posso dizer exatamente como essa vadia
estava! — rosna, com raiva. — Eu a quero morta — diz com tanta
determinação.
Sei que ela está chateada e cansada de tudo isso, sei que
está com raiva de tudo o que Hernández fez, mas não posso mudar
o fato de que Hernández é sua mãe, e mesmo ela sendo um
monstro, não muda o fato de que Lori possa se ressentir de acabar
com ela. Matar já é difícil para alguns, matar a própria mãe é pior. É
uma parte que perde da sua alma. Não há como recuperar depois.
— Todos nós queremos. — Carter diz.
Pelo olhar do meu irmão, sei que ele quer um pouco de
Hernández. Acho que todos nós queremos um tempo com aquela
mulher.
— Bem, pelo que posso ver, Hernández não será mais um
problema, então tudo o que nos resta é aproveitarmos o resto do
baile. — Amélia diz.
Lori ri.
— Esqueci que temos que voltar. Tudo o que quero é
encerrar a noite — resmunga.
Não podemos sair, papai é o prefeito, não cairia bem
sairmos depois de um “simples” apagão, as pessoas desconfiariam.
— Como está se sentindo, Lori? — Carter pergunta,
olhando-a com cuidado.
Todos estamos com medo de que ela exploda e perca o
controle. Não é fácil descobrir que a própria mãe te abandonou com
um monstro e depois de anos aparece matando o seu noivo,
tentando sequestrar você e batendo em sua irmã, irmã essa que
nem sabia que existe. Porra, que confusão!
— Estou com raiva, muita raiva, chateada, frustrada e me
perguntando o que diabos está acontecendo, o que eu fiz para
merecer tudo isso? — Ela olha para o meu irmão. — Eu só quero
que aquela mulher sofra. Ela é horrível, e saber que é minha mãe
faz com que tudo fique pior! — grunhe, e seu olhar se volta para
mim. — Ela não vai parar, Caspen, essa mulher me quer, ela tem
planos não só pra mim, mas para Phillipa também. — Balanço a
cabeça.
É exatamente isso que eu esperava. Hernández não vai
parar, ela quer Lori, e o fato de ter aparecido no baile só mostra
quão determinada está.
— Ela não terá nenhuma das duas, ela não chegará até
você, Sunshine — digo, mas Lori balança a cabeça, com um olhar
triste.
— Ela já chegou, Caspen — sussurra, lágrimas se formam
em seus olhos.
Eu falhei. Porra! Esta noite era para eu protegê-la, ficar com
ela, cuidar dela, e eu falhei. No primeiro momento em que ela ficou
sozinha, Hernández a atacou bem debaixo dos nossos narizes!
— Sinto muito. Falhei em protegê-la.
— Caspen, ela veio até mim no banheiro. Não é culpa sua.
— Lori diz, dando um pequeno sorriso.
— Não importa, era para eu ter pedido à minha irmã para te
acompanhar.
— Seria um pouco estranho, não acha? Você já estava
sendo protetor demais, estávamos recebendo alguns olhares
estranhos, imagina se mandasse Amélia me acompanhar até o
banheiro?
— Não me importo com os outros, Sunshine. Sua proteção é
minha prioridade — digo, olhando-a.
Realmente não me importo nem um pouco com o que os
outros pensam. Eu sei que estavam dando olhares, cheguei a ouvir
que eu sou um dominador e que Lori é minha escrava, uma mulher
submissa. Eu queria rir. Eles não conhecem a Lori que eu conheço.
— Bem, esse baile está sendo interessante, várias
revelações no banheiro. — Lori tenta brincar. — Acho melhor
sairmos, antes que pensem que estamos tento uma festinha privada
aqui dentro.
— Oh, que nojento! Eles são meus irmãos. — Amélia faz
careta.
Lori dá de ombros.
— Hoje em dia nada mais me espanta.
Lori se levanta, esfregando as mãos em seu vestido,
caminha até o espelho e começa a retocar a maquiagem, passando
seu batom vermelho. Do espelho ela olha para mim e sorri.
— Vamos, já que não podemos sair, então iremos aproveitar
o restante da noite. — Encaixa seu braço no meu, levando-me para
fora do banheiro.
Algumas pessoas nos olham desconfiadas, e Lori sorri.
— Eles acham que estávamos fazendo sexo — sussurro ao
seu ouvido.
Percebo que seu corpo treme, pois seus braços se
arrepiam. Sorrio, sabendo que estou a afetando.
— Nesse momento não estou me importando muito com o
que essas pessoas pensam — sussurra de volta.
Balanço a cabeça. Essa mulher me surpreende a cada
minuto que passa. Sei que ela está abalada, conheço-a muito bem,
o jeito que ela respira, como suas mãos estão suadas e tremendo, o
olhar e o sorriso que ela dá. Lori está fervendo por dentro, e sei que
ela vai enlouquecer ainda mais quando chegarmos em casa. Na
situação que ela está, qualquer um enlouqueceria.
Porém, nesse momento ela vai fingir que tudo está bem,
porque ela é esse tipo de mulher, forte, determinada e cheia de
sentimentos, mas controlada até. Ela sabe que haverá perguntas, e
é por isso que ela vai continuar fingindo até o momento em que
estiver sozinha.
Eu estarei lá quando esse momento chegar, quando ela
olhar para os lados e não ver ninguém. Quando estiver na
segurança do seu quarto, ela vai quebrar, e eu serei a pessoa que
estará lá para ela. Sempre.
Lori – Duas horas depois...
Olho para a imagem na minha frente. Meu corpo tremendo
de pura raiva, puro ódio. Minhas mãos estão fechadas ao meu lado.
Tudo o que eu quero é entender, mas acho que não há como
entender algumas pessoas. Não há como entender Hernández. Sua
alma é tão cruel, que não quero me contaminar ao tentar entendê-la.
Depois de longas e intermináveis duas horas, o baile acaba.
Foi um total sucesso, tirando, é claro, o apagão, mas conseguimos
arrecadar um bom dinheiro para a comunidade, e os convidados
estavam mais que satisfeitos; o que é bom, pois esse era o
propósito.
— É ela, minha mãe. — Aponto para a tela.
Minha mãe e de Phillipa. Um monstro sem alma, pior do que
imaginei; o que torna tudo muito mais doloroso, mais triste. Difícil de
acreditar que exista alguém tão cruel assim, alguém capaz de
maltratar os próprios filhos. Parece que não sei nada sobre os
horrores dessa vida.
Essa mulher mandou matar Chris. Essa mulher que pegou
Audrey e tentou vender Maya, a porra da minha mãe! Dá para
acreditar!?
Eu nasci de um monstro! Pensei que meu pai fosse mau,
mas estava completamente enganada, ele não era nada em
comparação a ela, a essa mulher desprezível.
Ao meu lado, percebo que Caspen fica tenso. Olho para ele.
Sua concentração está na imagem à nossa frente.
Estamos todos na sala de reuniões, em sua casa. À nossa
frente, uma grande tela de TV mostrando as imagens da entrada do
baile, onde Hernández está acompanhada por um homem
desconhecido.
— O que descobriu? — Caspen pergunta, sua voz é rouca.
Ele está tão tenso, que fico preparada para o momento em
que irá estourar; porque ele vai, essa calma dele e o jeito todo
controlado irá logo, logo ir pelos ares. Conheço-o o suficiente para
saber quando irá perder a compostura.
— Essa é a filmagem da entrada — explica Amélia —, onde
cada convidado passa dando seu nome para ser conferido na lista;
e pela descrição que Lori deu, essa é Hernández. — Aponta para a
tela.
— Sim, minha adorável mãe — desdenho.
Amélia ri. Olho para os meus pais, que estão encarando a
tela. Eles estão calados, mas posso ver pelos olhares que estão
chateados.
— Eu sou sua mãe, essa mulher não é nada. — Mamãe diz,
encontrando meu olhar.
Sorrio para ela, deixando-a saber que a amo.
— Quem é ela? — Caspen pergunta.
Amélia morde os lábios, olhando para o irmão com cautela.
Merda!
Seja lá o que ela vai dizer, não é nada bom.
— Fala logo, Amélia! — ruge Caspen.
Seguro sua mão.
— Esta é Ester Donovan Hernaz, uma socialite. Ela está no
ramo da estética. — Amélia explica.
Lydia suspira, colocando as mãos na boca. Mamãe arregala
os olhos, e Caspen apenas fica olhando-as, sem entender
— Devo saber quem ela é? — Caspen pergunta, olhando
para a sua mãe e a minha.
— Filho... — Joseph diz, com cuidado.
— Pai? — Caspen cruza os braços, esperando.
— Ela é uma das sócias da sua mãe. O spá do qual
tentaram levar Lori é dela e da sua mãe. — Joseph explica.
Oh, porra!
Não me controlo e começo a rir. Sei que não é nem um
pouco engraçado, mas essa merda é bem estranha. Ela nos
enganou, todo esse tempo ela tem estado bem debaixo dos nossos
narizes. Ela foi mais esperta, se manteve por perto. Vadia!
— Sinto muito, é que ela nos enganou direitinho — digo,
entre risos.
Suspiro, me abanando com as mãos.
Ao meu lado, Caspen se mantém firme, o que me deixa
surpresa.
— Esse não era o nome que estava na certidão de
nascimento de Lori. — Caspen comenta. — O nome que estava lá
indicava uma mulher desconhecida, sem paradeiro, como se nunca
tivesse existido.
— Isso é porque provavelmente ela não queria ser
reconhecida, provavelmente deve ter dado um nome falso para
colocar na certidão, sem falar que provavelmente Ester nem seja
seu nome verdadeiro. — Amélia explica. — É por isso que não
encontramos nada sobre a mãe de Lori. Ela também fez várias
cirurgias plásticas para não ser reconhecida. Fiz algumas
pesquisas. Ester Donovan Hernaz casou com Renné Hernaz, tem
uns dez anos, mas só se tornou conhecida quando o marido morreu
de ataque cardíaco, há quatro anos. Foi quando começou a
comandar tudo e virou sócia da mãe. Ela tem nos vigiado por todo
esse tempo desde então. Mas claro, há algumas brechas que só ela
pode nos responder. — Mostra várias imagens.
Caspen se levanta. Seu corpo treme de pura fúria. Andando
de um lado para o outro, ele mexe as mãos, sua cabeça está baixa.
Ele resmunga algumas palavras. De repente para. Sua cabeça se
levanta, e é quando vejo...
Seus olhos... Deus! Seus olhos estão pretos, suas írises
dilatadas, sua respiração é forte, seu peito infla.
— Que porra! — explode, quebrando completamente a
mesa de vidro à nossa frente.
Ele está furioso.
— Essa mulher! — Aponta para a tela. — Ela se infiltrou
nessa família, sabe-se lá o que ela tem planejado durante todo esse
tempo! — grita. — Eu a quero, porra! Morta, acabada, quero que ela
veja o inferno através de mim, quero que ela sofra! Encontre-a! —
Aponta para Amélia e Carter.
— Isso vai ser um pouco complicado. — Amélia diz, com
cuidado.
Merda! Ainda há mais.
— Fale — comanda Caspen.
— Ela é do conselho da cidade, ela é amada pela
comunidade. Para derrubá-la nós temos que expor ela. Tem gente a
ajudando, Caspen. Ela planejou o baile, ela planejou que fosse de
máscara para não ser detectada, ela tentou apagar as filmagens
para não sabermos quem ela é. Ela planejou tudo para chegar até
Lori.
— Então por que ela não a levou? — Mamãe pergunta.
— Porque ela queria nos afetar, ela queria mostrar que
ainda tem o controle, que ainda tem o poder e que pode chegar até
Lori quando quiser. — responde Caspen. — E foi onde ela errou,
porque agora sabemos quem ela é, Amélia conseguiu recuperar as
filmagens, essa é a vantagem que temos.
— E vamos usar isso contra ela — digo, sorrindo. — Mas
agora temos que saber o que mais ela tem planejado. Qual é o
próximo passo dela?
Caspen olha para mim, dando um sorrisinho de lado e...
merda! Meu coração bate forte. Esse olhar dele, tão sombrio, tão
mortal, me deixa excitada...
Esfrego minhas pernas juntas. Caspen desce seu olhar e
sorri ainda mais. Ele sabe o efeito que faz em mim.
É completamente louco, não é? Ficar excitada em um
momento como esse... Estou excitada com esse poder que ele
exala, o jeito com que seus olhos estão, o jeito com que seu corpo
se move e como ele se comporta, tão poderoso, tão orgulhoso e
confiante.
— Uau! Ficou calor aqui tão de repente, não acham? —
Vovó comenta.
Caspen mantém o sorriso, em seu olhar uma promessa do
que ele fará comigo quando estivermos a sós. Até que ele limpa a
garganta, afrouxando sua gravata.
— Temos alguém bem debaixo dos nossos narizes que
pode responder todas as nossas perguntas — diz, olhando para
todos.
Engulo em seco.
Phillipa. Ele quer Phillipa.
Sorrio. Acho que minha irmã terá uma visitinha do diabo.
Capítulo Vinte e Sete
“Natural – Imagine Dragons”
Caspen
Porra! Uma criança! Hernández tem a própria filha trancada
em uma porra de gaiola de cachorro! Que tipo de pessoa faz isso
com a própria filha?!
Um monstro! Hernández é completamente um monstro!
Quando eu a pegar, irei acabar com ela da pior forma. Serei tão frio
e cruel quanto ela é.
— O que iremos fazer, Caspen? — Lorenzo pergunta.
Olho para os meus irmãos e primos. Só há um jeito de
acabar com tudo, de acabar com Hernández.
— Temos que expor Ester, mostrar a todos quem ela
realmente é. Só assim ela deixará de ser amada. Temos algo a
nosso favor. Ela não sabe que sabemos quem ela é, e vamos usar
isso contra ela.
Temos que ir com calma, ser cautelosos, um passo de cada
vez, já chegamos até aqui. Não há nada que me impedirá de
derrubar essa mulher. Ela entrou no caminho errado, achou que
fosse mais esperta, mas estou nesse posto há muito mais tempo.
Não, ela não irá me derrotar. Não darei essa chance a ela.
— Começaremos por onde? — Lucas pergunta.
O seu olhar diz que essa luta é pessoal para ele. Hernández
quase vendeu a mulher que ele ama, sem falar que está atrás da
irmã dele. Ele a quer tanto quanto eu.
— Comecem verificando tudo sobre Ester. Quero que cavem
fundo, quero cada detalhe sujo dela, todos os negócios legais dela,
cada passo que ela dá eu quero saber, sejam a sombra dela —
comando. — Agora quero que saiam, deixe-me a sós com Lori.
Todos obedecem. Quando por fim somos apenas Lori e eu,
falo para ela:
— Venha aqui, Sunshine. — Bato em minha perna.
Lori suspira, caminhando até mim, e se senta em meu colo.
Fico surpreso com sua entrega fácil, ela sempre tem algo sarcástico
ou engraçadinho para dizer a mim.
— Como está sua mente? — pergunto, tirando fios de
cabelo do seu rosto.
Ela respira fundo, e seu olhar se encontra com o meu.
— Estou esperando-o tirar meu vestido. — Sorri.
Droga! Essa mulher me pegou de surpresa. Não esperava
isso dela.
Dou–lhe meu melhor sorriso.
— Tem certeza, Sunshine?
— Só me faça esquecer essa noite, Caspen.
Capítulo Vinte e Oito
“Fire Meet Gasoline – Sia”
Lori
— Como está se sentindo? — Caspen pergunta.
Estávamos deitados em sua cama. Depois do sexo louco no
banheiro, ele me secou e me colocou deitada ao lado dele, minha
cabeça em seu peito, ouvindo os batimentos do seu coração.
Beijo seu peito.
— Como se acabasse de ser fodida. — Tento desviar do
assunto.
Caspen ri, seu peito tremendo.
— Espertinha — resmunga. — Estou falando sério,
Sunshine. Como está se sentindo?
Sei que se refere ao que aconteceu essa noite, mas tudo o
que eu queria era esquecer; porém, conhecendo Caspen como
conheço, ele não deixará o assunto de lado.
— Estou cansada. — Percebo que ele espera por mais.
Não é um assunto fácil e não gosto de dizer como me sinto.
É difícil para mim demonstrar fraqueza ou quão sentimental estou.
— Sunshine... — diz, puxando meu queixo e fazendo com
que minha cabeça se levante.
Seu olhar está em mim, e ele tem aquela expressão
preocupada no rosto.
— Estou chateada e muito confusa. Essa noite conheci a
vadia da minha mãe, que por fim é Hernández, e agora sei que
tenho uma irmã bem novinha que está sendo maltratada por aquela
vadia. Minha cabeça está explodindo de tudo o que descobri, de
tudo o que aconteceu, que me sinto cansada, como se eu fosse
quebrar ou enlouquecer a qualquer momento. Não sei o que fazer,
Caspen. — Suspiro, balançando a cabeça.
Meu peito se aperta em saber que aquele monstro tem uma
criança aos seus cuidados. Não só isso, mas que ela pretende
vendê-la. Um monstro! Hernández é um monstro!
— Nós iremos pegá-la, Sunshine, te dou a minha palavra.
— Eu sei que vamos, Caspen. — Olho para ele, dando um
pequeno sorriso. — Mas quando? Quando vamos pegá-la? Por
quanto tempo aquela criança ficará com aquele monstro, sendo
maltratada? Isso me preocupada, Caspen. Não gosto nem de
pensar. — Fecho os olhos.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto. É triste demais. Nunca
imaginei que teria uma irmã, e agora tenho duas, sendo que uma
está em uma maldita gaiola de cachorro, sendo mantida como um
animal e pronta para ser vendida. Não aguento. Só de pensar em
tudo, me sinto mal, muito mal.
— Eu te prometo, Sunshine, nós vamos acabar com
Hernández e salvar sua irmã daquele monstro. — Beija minha testa.
Fecho os olhos.
— Obrigada, Caspen. Muito obrigada por estar comigo. Eu...
— Não consigo terminar a frase.
Caspen sorri.
— Não precisa dizer. Eu sei, Sunshine. — Aceno com a
cabeça. — Eu digo por nós dois. Eu te amo, Lori Callahan.
Sorrio.
Não é que eu não o ame. Eu o amo, demais, amo-o tanto,
que chega a doer; mas não sei se meu amor é o suficiente, não sei
se eu sou o suficiente. Caspen, como o chefe, tem que ter herdeiro,
e eu não posso dar isso a ele. Eu nunca poderei ter um bebê de
Caspen Callahan.
Capítulo Vinte e Nove
“Shameless – Camila Cabello”
Caspen
“Querido Caspen...
Fiquei muito tempo pensando no que dizer e em como
expressar o que sinto por você. É estranho, até porque tenho
apenas dezesseis anos, e aqui estou eu, escrevendo meus votos de
casamento; porque é claro, nós um dia iremos nos casar. Posso até
estar sendo otimista demais com essa ideia, mas é assim que sou,
não desisto facilmente, e você vale a pena lutar.
Ouvi você dizendo que era um monstro, mas não concordo
nem um pouco. Veja bem, monstros não têm sentimentos, não
sentem amor, não sentem culpa, pesar; monstros, Caspen, não
sentem nada. E você, Caspen Callahan, você sente, você se culpa
por eu ter visto você matar aquela mulher, você ama sua família,
você tem esse lado protetor seu que é incrível, então, não, você não
é um monstro, só é um homem marcado pela vida e que luta para
proteger os seus. É o que vejo quando olho para você.
Não vou negar que é um pouco cruel e frio, mas é assim
que um homem deve ser. Quando olho em seus olhos, vejo uma
escuridão, e em meio a essa escuridão vejo um homem que deseja
ser amado. E eu amo-o. Imensamente.
Lembro-me exatamente do dia em que o vi pela primeira
vez. Carter tinha matado meu pai e me trouxe até a casa da família,
e lá estava você, parado nos degraus da entrada, olhando-me. Você
não me olhou com pena, você apenas me encarou e acenou com a
cabeça, e me senti aliviada, porque naquele momento eu sabia que
seria aceita, que todos me amariam.
Pareço ser louca, não é mesmo? Escrevendo meus votos
tão nova. As pessoas sempre dizem: ‘você está louca’; ‘você é
jovem demais’; ‘tem muito pela frente’; ‘você nem sabe o que é amar
ainda’.
Juro que essas palavras me deixam louca, porque tudo é
mentira. Vai por mim, eu sei o que eu quero, e eu te quero. Eu te
amo, Caspen, te amo com todas as minhas forças, te amo com
tanta intensidade, que chega a ser difícil olhá-lo às vezes.
É por isso que aqui estou eu, escrevendo tudo o que sinto,
fazendo meus votos de casamento, sentada em minha cama, no
meio da noite, pensando em como dizer a você e à nossa família e
aos amigos como me sinto.
É bem assustador saber que estarei lendo tudo isso para um
público, e eles vão pensar que eu estava louca quando escrevi.
Talvez eu realmente esteja, não é mesmo?
E se nós nunca nos casarmos? Então tudo o que estou
escrevendo será apenas uma pequena memória do que eu pensei
que aconteceria. Não gosto nem de pensar.
Era para eu estar dizendo meus votos, e aqui estou,
divagando. Eu só quero que saiba que vejo você, o bom, o mau, o
louco, o irritado, o protetor, o apaixonado. Eu vejo você, Caspen, eu
o vejo desde o primeiro dia que o vi.
Acho que preciso parar de enrolar tanto, não é mesmo?
Eu não vou prometer nada, porque promessas podem ser
quebradas, e nem vou jurar amor eterno. Porém vou continuar
amando-o até que não haja mais vida na terra. Eu vou ficar do seu
lado, mesmo quando não quiser ninguém por perto. Digamos que
sou um pouco irritante nesses assuntos.
Quando estiver em seu pior momento, não vou sair correndo
igual louca, não. Eu estarei com você, ao seu lado, no seu pior e no
seu melhor. Irei respeitar suas decisões, mesmo eu não estando de
acordo. Estaremos juntos, sempre. Será você e eu, Caspen, e
nossos filhos, é claro, eu quero uns quatro.
Sei que pode parecer muito, mas quero amá-los como sou
amada pelos meus pais, quero que eles tenham irmãos que possam
contar uns com os outros, é isso que quero. Eu, você e nossos
filhos.
Sei que esses votos não são votos tradicionais, mas nós
não somos tradicionais, não é mesmo?
Bem, isso é o que importa. Eu te amo e vou amá-lo sempre,
não importa o que aconteça, não importa o que a vida nos jogue,
será eu e você contra o mundo.
Acho que nada me impedirá de amá-lo, Caspen, ninguém
poderá apagar ou substituir o amor que sinto por você. Não faço
ideia da idade que terei quando eu estiver lendo meus votos para
você, mas nada vai mudar o que escrevi, nem o tempo, nem as
circunstâncias, nada tirará meu amor. Sei que você é um homem
difícil de lidar, e acho que até nos casarmos, você se tornará mais
duro, mais inquebrável, mas vou quebrar essa sua armadura, vou
me fazer presente, mostrar a você quão determinada estou até você
aceitar que somos feitos um para o outro.
Bem, esses são meus votos para você. Todos os dias irei
quebrar sua armadura, todos os dias me farei presente, todos os
dias eu o amarei mais, eu cuidarei mais de você, mais de nós dois,
não vou deixá-lo cair. Seremos um time, Caspen.
Diante de todos de nossa família, eu declaro que iremos
lutar todos os dias contra nossos demônios, iremos derrotar nossos
inimigos, iremos proteger nossa família. Diante de todos, declaro
meu amor a você.
Com amor, Lori.”
Não consigo me conter e leio mais uma vez seus votos de
casamento. Cada palavra, tudo foi escrito com tanta devoção, tanto
sentimento, que a imaginei bem na minha frente, com sua voz
suave, dizendo tudo o que acabei de ler.
Merda!
Não sou um homem de ficar sentido, mas a Lori de anos
atrás nunca imaginou que não poderia ter filhos. Eu sei, porra; eu
sei que o fato de ela não poder ter filhos a deixa arrasada! Dá para
ver quando ela olha para os meus sobrinhos. Ela tem aquele pesar,
uma pequena tristeza toda vez que olha para as crianças.
— Ainda lendo esse diário? — Heitor pergunta ao entrar em
meu escritório do clube.
— Não sabe bater na porta? — pergunto de volta, olhando-
o.
— Não, não sei bater. — Dá de ombros.
Suspiro, balançando a cabeça. Fecho o diário e o guardo na
gaveta da minha mesa de escritório.
— E sim, eu continuo lendo-o, me faz entender melhor Lori e
seus sentimentos, me faz um homem melhor para ela.
Heitor olha para mim e começa a rir. Olho para ele,
começando a ficar irritado com sua atitude. Quem ele pensa que é?
— Você, um homem melhor? — Ri ainda mais. — Caspen,
nós não somos homens melhores.
— Eu sei, mas quando estamos com quem amamos, nós
nos tornamos melhores.
— Irmão, nunca imaginei que um dia você diria isso. Está
chicoteado, cara. — Balança a cabeça.
Agora é minha vez de dar de ombros, não me importando
nem um pouco. O que posso fazer? Eu achava que amar alguém
me tornaria fraco, mas agora sei que é pura desculpa.
Amar Lori me tornou mais forte, mais determinado, mais
mortal. Não me importo em dizer que amo Lori e que me tornei um
homem melhor por ela, não tenho vergonha em dizer que leio seu
diário. É quem me tornei. Se alguém estiver incomodado, é só vir
até mim para dizer.
— Diga-me por que veio até mim? Algum relatório sobre
Hernández?
— Estamos na cola de Ester já faz uns dias. Por enquanto,
tudo está bem calmo, ela não fez nenhum movimento,
provavelmente esperando o momento certo; e enquanto isso, nós a
vigiamos dia e noite, temos sempre alguém na cola dela. Não
podemos apenas acabar com ela, a sociedade precisa saber quem
ela é.
Somos muitos bons em mentir e enganar, e é exatamente o
que estamos fazendo. Ester pensa que sua identidade está salva,
ela pensa que tem vantagem.
Tudo o que Ester tem é uma falsa segurança, uma falsa
proteção. Chega a ser patético. É engraçado saber que temos a
vantagem. Passamos muitos meses tentando identificar Hernández,
tentando ficar à frente, e por um erro bobo, nós temos o controle.
Eu sabia que Hernández uma hora iria falhar. Todos eles
falharam. Por isso gosto de esperar, levar meu tempo. Não há
motivo para agir precipitadamente quando o inimigo é fraco.
— Lorenzo me deu um relatório mais cedo, estou esperando
o momento certo, precisamos de um pouco mais. Ester está
acabada, ela só não sabe disso. — Sorrio.
— E Phillipa, o que fará com ela?
Passo a mão no cabelo. Essa é outra questão na qual tenho
que pôr um fim. Sei que o que ela fez foi por uma boa causa —
proteger a irmã mais nova, mas ela poderia ter vindo até mim, ela
sabia que eu teria resolvido tudo. Hernández agora seria uma velha
lembrança, se Phillipa tivesse pedido minha ajuda. Mas o que eu
farei com ela? Essa é uma grande fodida pergunta.
— Não faço ideia. Ela é irmã de Lori, e sei que depois,
quando essa merda acabar, Lori irá querer conhecer melhor Phillipa,
mas não a quero por perto, ela não veio até mim. Phillipa me traiu, e
não aceito traidores, você sabe disso.
Heitor acena com a cabeça.
— Não sabe ainda o que fazer.
— Sim. Não vou matá-la, mas a quero fora. Fora de nossas
vidas e bem longe daqui.
Meu irmão enruga a testa. Sei bem o que ele está
pensando: Lori.
— O que Lori pensa sobre isso? — questiona.
Bufo. Ele sabe muito bem que eu não disse nada a ela
ainda, não acho que seja o momento certo para termos essa
conversa. Nosso principal foco é Hernández, e não Phillipa.
— Lori ainda não sabe dos meus planos para Phillipa, mas
não acho que ela irá se impor. Phillipa não só me traiu, mas ela
também escondeu a verdade de Lori, não acho que por agora Lori
irá perdoá-la.
— Você tem razão, Phillipa agiu de má fé. Ela errou com
todos nós. O que ela fez não tem perdão, não da minha parte e nem
da de Lorenzo, já que Lauren é amiga de Phillipa... Bem, era amiga.
Isso é o que mais me irrita em toda a situação. Phillipa era
parte da família, sendo amiga de Sophia e Lauren, nós nos
importávamos com ela, sem falar que era uma das minhas meninas.
Sempre protejo minhas meninas, e mesmo assim ela achou que eu
não era bom o suficiente.
Phillipa não sabe disso, mas o fim dela será pior que a
morte.
Lori
Olho para Phillipa. Em sua cela, ela parece tão pequena, tão
frágil. Fico me perguntando: por quê? Por que ela fez tudo isso?
Patético, triste até.
— Valeu a pena? — pergunto a ela.
Phillipa se assusta com minha voz. Levanta a cabeça e olha
para mim. Seus olhos estão vermelhos de chorar. Ela treme.
— Eu só queria protegê-la.
Balanço a cabeça, triste por saber que minha irmãzinha está
sofrendo nas mãos daquele monstro.
— E olhe que irônico, você está aqui, trancada, enquanto
ela continua com aquele monstro. — Ela se encolhe.
Sei que é crueldade da minha parte apontar o que está
acontecendo com nossa irmã, mas a culpa é dela, foi ela quem
resolveu agir pelas nossas costas, foi ela quem se colocou nessa
situação.
— Sinto muito — sussurra.
— Está feito, Phillipa. Dizer que sente muito não muda o que
fez, não faz ser menos doloroso. Deus, não sei como foi tão ingênua
ao pensar que tudo ficaria bem!
Estou com raiva, muita raiva ao saber que tudo está
acontecendo porque a bonita não pensou direito. Era para tudo ter
acabado há muito tempo, era para ela ter contado a nós.
Suas desculpas não são nada para mim, não nesse
momento.
— E-eu não p-pensei, eu só queria América protegida.
— E com você aqui ela está muito protegida com Ester —
desdenho.
Ela se encolhe, como se eu tivesse dado um soco nela.
Bem que eu queria, mas não é justo bater em uma mulher
que já está machucada. Hernández já a fez pagar.
— Qual era o plano, Phillipa? Você está aqui, e agora?
— Eu só tinha que dar um jeito de levar Maya para ela —
responde, baixinho, e sua cabeça se abaixa, provavelmente por
estar envergonhada.
— E América? O que aconteceria com América? Deixa eu te
responder: ela continuaria trancada como um animal e futuramente
seria vendida também, porque é assim que Hernández é. Um
monstro.
Não consigo mais ficar perto dela. Vê-la dói demais, saber o
que ela fez acaba comigo.
Duas horas depois...
— Você foi vê-la. — Caspen diz assim que me vê; ele está
sentado na minha cama.
— O que está fazendo aqui, Caspen?
Não quero discutir com ele, não hoje. Estou emocionalmente
esgotada, tudo o que quero é deitar e tentar dormir.
— Sunshine, eu me preocupo com você, e eu sabia que
você iria até Phillipa. — Ele me encara.
Caspen dá um tapinha na cama. Suspirando, sento ao lado
dele, olhando para a porta do quarto.
— Eu só queria entender. Só queria vê-la e entender como
ela pôde nos trair. — Viro minha cabeça, erguendo-a para olhá-lo.
— Ela agiu por impulso, ela acreditou em Hernández.
Nada nesse momento irá tirar a dor e a tristeza que sinto.
— Eu fico pensando em América e como ela deve estar,
penso no que Ester está fazendo com ela. É doloroso demais,
Caspen. — Lágrimas se formam em meus olhos.
Sinto-me como se estivesse bem no meio de um furacão e
nada do que eu faça faz com que eu saia dele. É um turbilhão de
emoções que me aperta, deixando-me sem ar.
Eu sinto por Chris, por ele ter morrido pelo simples fato de
ter se envolvido comigo, sinto porque eu sabia que teríamos um
lindo futuro. Mas sinto também porque se Chris estivesse vivo, eu
perderia Caspen, perderia esse lindo homem sentado ao meu lado,
o homem que faz meu coração acelerar, que me faz tremer, que me
fez amar mais uma vez, que me tirou da autodestruição pela morte
de Chris.
Eu sinto pelos pais de Chris, e até hoje não tive a coragem
de encará-los, mesmo que eles não me culpem pela morte do filho.
Sinto pela minha família, por estarem envolvidos nessa
confusão; sinto por Lauren e Sophia, porque eram amigas de
Phillipa.
Eu sinto por mim, porque toda vez que tento seguir em
frente, uma onda vem para me empurrar para trás; porque sempre
que acho que estou bem, algo acontece, fazendo com que eu sofra.
Eu estou tentando, juro que estou tentando ser forte, mas
tem horas em que tudo o que quero é que alguém seja forte por mim
e me carregue.
— Caspen?
— Sim, Sunshine. — Ele responde olhando-me.
— Me ame. — Ele sorri.
Seus lábios tomam os meus, e eu me agarro a ele, dando
tudo me mim, e assim o deixo me segurar, me amar como eu
preciso.
Capítulo Trinta
“War of Hearts – Ruelle”
Caspen
Merda! Essa droga é mais difícil do que eu imaginava! Não
sirvo para isso, essa coisa de sentimentos não é para mim, e ainda
assim estou dizendo a ela como se sinto.
— O que importa é o quanto a amo, e sei que fui um
completo idiota, fui uma merda por todos esses anos. Mas agora
estou aqui, bem diante de você, de corpo e alma. — Dou um sorriso
sem graça, envergonhado pela expressão que usei. — Não vou sair.
Sei que você não quer dizer as palavras, sei que acha que vou
quebrar seu coração, mas não me importo. Meu amor é grande
demais, posso amá-la por nós dois. — Olho para baixo. — Sei que
são apenas palavras, mas irei mostrar-lhe todos os dias como me
sinto. Não vou desistir, vou provar que meu amor é real, verdadeiro
e que você é minha. Você é toda minha, Sunshine, seu corpo, seus
gemidos, seus beijos, seu coração e sua alma, assim como sou todo
seu, e vou lutar por você, por mim, por nós. Vou lutar todos os dias
até que você se entregue, até que se renda, Lori. Meus votos são
esses. Eu vou amá-la, respeitá-la, vou cuidar de você e protegê-la,
darei a minha vida pela sua, minha vida pelos nossos filhos...
— Não. — Sua voz é firme, mas fraca, bem fraca.
Seus olhos se enchem de lágrimas, sua cabeça balança de
um lado para o outro. Meu coração se aperta ao ver o sofrimento em
seu olhar. Estreito os olhos.
— Sunshine? — Ergo minha mão, tentando chegar até ela,
mas ela dá um passo para trás.
— Não, Caspen. — Sua voz transmite dor.
Porra! Eu estraguei tudo, como sempre...
Quero entendê-la, quero saber o que causou esse
sofrimento, o que eu disse para deixá-la assim. Tudo estava indo
bem...
— Lori, o que houve? Me diga o que eu disse para deixá-la
assim.
— Nós, eu e você, não podemos. — Lágrimas rolam, e ela
balança a cabeça.
Abraça-se como se estivesse se protegendo. Há medo e dor
em seu olhar.
— Por quê? Por que não podemos, Lori?
Não posso acreditar nessa merda! O que diabos aconteceu
para ela ficar assim?
— Nós só não podemos! — grita.
Tento chegar até Lori, mas ela apenas balança a cabeça, se
afastando.
— Me diga o porquê! — grito de volta. — Por que não
podemos ficar juntos!? — Não lhe dando tempo de se afastar, eu a
seguro pelos braços, trazendo-a para perto de mim e fazendo com
que ela olhe em meus olhos. — Você me ama, Lori?!
Ela desvia o olhar.
— Olhe para mim! — comando, e sua cabeça se inclina. —
Você me ama?! Responda-me!
— Sim, eu o amo. — Sua voz treme, mas o que importa é
que por fim ela diz as palavras que tanto quero ouvir.
— Então mais nada importa.
Lori luta comigo, tentando se afastar, mas não a deixo ir.
— Importa sim, Caspen — choraminga. — Você não
entende?! Estou fazendo o certo, estou te libertando de mim, de
quem sou! — Bate em meu peito.
Há tanta dor nela, que tudo o que quero é segurá-la para
sempre, fazê-la entender que o certo é nós dois juntos.
— Me diga, me diga, e a deixarei ir.
Ela para de lutar e me encara. Vejo-a lutando na própria
mente, mas por fim, sussurra:
— Não posso ter filhos.
Lori
— Não posso ter filhos — digo.
Deus! Nunca pensei que diria em voz alta de novo! Essas
são as palavras que temo, dizer a ele que sou estragada, que não
posso ter o que mais quero... As palavras que estragarão nosso
futuro juntos.
Olho para Caspen, esperando-o me soltar, mas tudo o que
vejo é um sorriso se abrindo em seus lábios.
— Não é engraçado! — digo, com raiva.
— Eu sei que não.
— Então por que está rindo? — pergunto, irritada com o ar
de confiança que ele exala.
— Porque eu sei.
— Sabe o quê, Caspen?!
— Sei que não pode ter filhos, Sunshine. — Minha boca se
abre em surpresa.
Não era o que eu esperava, mas se tratando de Caspen, eu
já deveria saber. Caspen sempre sabe de tudo.
— Desde quando?
— Desde sempre. — Continuo de boca aberta. — Eu
sempre soube. — Sorri.
— E mesmo assim você me quer?
— Sunshine, não me importo, foda-se, tudo o que quero é
você. Você.
Não consigo me conter e choro ainda mais. Caspen me
segura bem apertado, deixando-me chorar em seus braços.
Ele me quer... ele me quer, mesmo sabendo que não posso
dar a ele herdeiros.
Parece que um grande peso foi tirado das minhas costas.
Ele realmente me ama.
— Oh, Sunshine, você realmente achou que eu não ia
querê-la? — Sorri. — Eu te amo, e não importa para mim, nós
vamos ter filhos, Lori, vamos ter quantos filhos você quiser. — Beija
meus lábios.
— Tem certeza?
— Sim, Lori, eu tenho certeza. Vamos dar às nossas
crianças o mesmo amor que seus pais deram a você. Juntos,
lembra?
Aceno com a cabeça.
— Sim, eu lembro.
Tomando-me em seus braços, ele me beija. Meu corpo
corresponde a ele, enchendo-se de vida.
Caspen me leva até a cama, tirando minha roupa, amando
cada pedacinho do meu corpo. Ele toma tudo de mim, e eu deixo,
porque eu tomo tudo dele. Caspen é meu, e eu sou dele.
Capítulo Trinta e Um
“Storm – Ruelle”
— AHHH! — Debato-me.
— Sunshine... — Ouço uma voz sussurrar
Braços me seguram apertado, mas continuo me debatendo,
tentando me livrar de Dimitri e do que ele está fazendo.
— Sunshine, abra seus olhos.
Meu corpo sacode e lágrimas escorrem. Abro os olhos, e é
quando percebo que não estou mais naquele lugar, que não estou
amarrada e nem sendo torturada.
— Isso mesmo, Sunshine, olhe para mim.
— Caspen... — sussurro, olhando-o.
— Isso mesmo, amor, estou aqui, somos apenas nós dois.
— Ele tira alguns fios de cabelo do meu rosto.
Estou suada, minha respiração é pesada, fazendo com que
seja difícil respirar. Esfrego meu peito, tentando fazer com o que
peso que sinto saia de cima de mim.
— Eu não estou lá.
Os lábios de Caspen encostam em minha testa.
— Não, Sunshine, você não está lá. — Ele sorri para mim.
— Somos apenas nós dois, amor.
Encosto minha testa em seu peito.
— Sinto muito — murmuro.
— Você não precisa se desculpar, Sunshine, não fez nada
de errado. — Alisa meus cabelos com a mão. — Quer me dizer
sobre o sonho?
Ergo a cabeça para olhá-lo. O olhar de Caspen é cru, e meu
corpo treme.
— Eu estava lá. — Minha voz é tão baixa, que não sei se
me ouviu; mas seu olhar escurece e seu corpo fica tenso. — Estava
mais uma vez naquele lugar com Dimitri, foi tão real.
— Ei, está tudo bem, você não está mais lá. Acabou. —
Aceno com a cabeça.
— Eu sei, é só que foi assustador. Eu só queria morrer, só
queria que tudo acabasse.
Minhas palavras tocam Caspen, porque seus olhos se
enchem de lágrimas. Mas ele não chora. Não, Caspen nunca chora.
— Você sonha muito com aquele dia?
— Não, fazia tempo que não sonhava mais com o que me
aconteceu.
— O que acha que desencadeou o sonho esta noite? — Ele
pergunta, preocupado.
— Minha entrega a você, eu ter finalmente deixado ir o fato
de que não posso ter filhos. Eu me abri, eu disse em voz alta meu
maior temor, eu apenas aceitei que estou quebrada, machucada,
que estou estragada, defeituosa — digo olhando-o.
Seu olho esquerdo treme, o que significa que ele se irritou
com minhas palavras.
— Porra! Você não é defeituosa, e você, porra, não está
estragada! — rosna com aquele voz rouca que faz meu corpo se
arrepiar. — Você é uma mulher incrível que passou por algo ruim, só
isso. Você é uma sobrevivente, Sunshine. — Sorri.
— Não me sinto assim.
Caspen suspira, balançando a cabeça.
— Você confia em mim? — pergunta, olhando para mim
com tanta intensidade, que traz arrepios ao meu corpo.
Essa é uma grande pergunta, não é? Mas a resposta é
óbvia. É a única resposta que tenho.
— Sim. — A palavra mal sai da minha boca quando ele
muda de atitude.
O Caspen amoroso, preocupado e apaixonado se foi. Seu
olhar se torna frio, cruel, calculista. Esse é o verdadeiro Caspen
Callahan, o homem pelo qual me apaixonei. Um monstro.
Caspen sai da cama, me levando com ele. Estamos nus,
mas ele não parece se importar, apenas me leva para o andar de
baixo. Passamos por alguns seguranças, mas eles não prestam
atenção em nós.
Era para eu estar histérica e envergonhada, mas estou tão
atônita, que não me importo.
Estamos no meio da noite, nus, andando de uma casa a
outra, e tudo o que quero saber é o que ele está fazendo e por quê.
— Caspen...
— Calada, Lori. Apenas fique calada.
Meu corpo se arrepia com o seu comando e quão
assustador ele soou. Era para eu estar com medo, assustada com
seu jeito dominador e o olhar assustador dele, mas tudo o que sinto
é excitação. Pura excitação.
O ar frio da noite beija minha pele, trazendo-me arrepios.
Caspen me leva para a sua casa. A mão dele está firme na
minha, possessiva, dominante, não me dando chance de escapar.
Eu não quero escapar.
Entrando em sua casa, ele me leva para a sua área de
tortura, e é quando uma pitada de medo se infiltra em mim.
Não! Ir para lá, assim, nua?! Não depois do sonho que
acabei de ter!
Com minha mão livre, esfrego meu braço, sentindo-me
sozinha e receosa. Mas é engraçado que apesar do medo, eu sinto
eletricidade, desejo.
Meus pés descalços pisam no piso gelado. Meu corpo treme
ainda mais, porque aqui, no porão, tudo é mais frio, com pouca
iluminação, o ar é mais gelado, pesado. Houve tantos gritos, tantas
mortes aqui. É um sentimento diferente. Estou exposta em um lugar
sombrio, parece que as almas daqueles que morreram aqui
continuam, me vigiando, me julgando. Não sei descrever o que
sinto.
Em silêncio, Caspen nos leva até uma sala que fica ao lado
da cela de Dimitri. Meu corpo treme ao olhá-lo.
— Caspen, o que está fazendo!? — pergunto, tentando
esconder meu corpo.
Ele vai até a cela e mexe em alguns botões ali, em seguida
para na minha frente e segura meus braços para longe do meu
corpo.
— Confia em mim?
O fato de confiar nele não significa que não tenho medo do
que ele pode fazer...
Meu olhar se volta para onde Dimitri está.
— Ele não pode nos ver, Sunshine.
— O quê!? — Estou atônita demais com toda a situação.
— Dimitri não pode nos ver, o vidro só permite que nós o
vejamos, mas do lado dele é apenas um grande espelho. Eu uso
esse quarto para observá-lo e torturá-lo mentalmente.
Engulo em seco.
— O que está fazendo? Por que estamos aqui?
— Confia em mim?
— Sim, confio.
Caspen caminha até um armário. Seus passos são
confiantes, o poder que ele tem exala pelo quarto, fazendo com que
eu me sinta tão pequena, tão indefesa...
Esfrego meus braços, tentando afastar a sensação de estar
sendo observada, de desconforto. Balanço um pouco quando
Caspen se vira, e vejo o que está em suas mãos.
— Não. — Balanço a cabeça.
Meu coração bate forte e minha respiração fica pesada.
Lembranças do que aconteceu voltam em minha mente.
— Agora, Sunshine, você me obedecerá e será a boa
menina que é. — Sua voz é mortal.
Caspen está em seu modo monstro, sua escuridão reflete
em seus olhos. Meu corpo treme, se arrepiando. É estranho, porque
sinto medo do que ele fará, mas ao mesmo tempo meu corpo treme
em antecipação, ansioso, desejando saber o que Caspen tem em
mente.
Céus! Ele está duro. Seu pau longo e grosso aponta para
mim, pronto para me tomar, e esse V que ele tem é pura perfeição.
Caspen limpa a garganta. Ergo o olhar. Um pequeno sorriso
puxa o canto da sua boca.
Lambo meus lábios, e Caspen solta um pequeno rosnado.
— Suas mãos. Me dê suas mãos, Sunshine — comanda
com a voz rouca, cheia de desejo; mas tão sombria.
Sua voz é como veludo passando pelo meu corpo, beijando
minha pele. Olho para ele. Ergo minhas mãos para frente. Meu
coração bate forte. Meu medo se mistura com o prazer. Sei que ele
não irá me machucar, mas sei também que seja lá o que ele fará
comigo, trará lembranças dolorosas.
Caspen passa a corda em minhas mãos. A corda pinica, e
em instantes estou de volta naquela sala escura e fria, com Dimitri
na minha frente.
— Está gostando, princesa? — desdenha ele. — Tenho
muito mais para você...
— Lori, volte para mim. — Caspen comanda, tirando-me das
lembranças.
Meu foco se volta para ele e no que está fazendo.
Amarrando minhas mãos juntas, ele as levanta sobre minha cabeça,
as amarrando no gancho que há no teto. A corda pinica meus
pulsos, mas não machuca, não me incomoda. Pelo contrário.
Quando me movimento e a corda pinica em meus pulsos, um fio de
eletricidade passa pelo meu corpo, chegando na minha boceta.
Meus olhos se arregalam e Caspen sorri, provavelmente
sabendo o que está acontecendo comigo.
Ele me deixa amarrada, exposta a ele, de frente para o vidro
onde Dimitri está.
Caspen se instala atrás de mim, seu peito tocando minhas
costas, com a boca ao meu ouvido. Sinto sua respiração.
— Olhe para ele, Lori — comanda, com sua voz firme.
Meu corpo treme. Meu olhar se volta para Dimitri e no jeito
que ele está enrolado em um canto, dormindo em um colchão que
está no chão. Seu corpo está magro, muito magro.
Ele está tão diferente. Olhando para ele agora, nunca teria
dito que ele era forte, muito forte e assustador. Ele exalava poder,
exalava uma maldade que dava medo; mas agora ele não exala
nada. Tudo o que eu vejo é um homem destruído, magro demais,
fraco demais, condenado à morte.
— Olhe bem para ele, Sunshine. Veja como ele está: fraco,
um perdedor. Ele não pode mais tocá-la, ele não pode chegar até
você. Ele é um nada, sem valor — diz ao meu ouvido, e sua mão
calejada passa pelo meu corpo, começando pelos meus olhos. —
Ele não merece suas lágrimas. — Sua mão desce para os meus
lábios. — Ele não merece seus gritos.
Meu corpo corresponde ao seu toque. Mexo-me, fazendo
com que a corda me pinique. Meu corpo treme com a eletricidade.
Meu olhar está no corpo deitado de Dimitri, mas meu corpo
está com Caspen, na sensação do seu toque, na sua voz rouca e
grossa em minha orelha, no calor que seu corpo traz ao meu. Estou
amarrada e à mercê de Caspen, tão diferente de como eu estava
com Dimitri.
É quando percebo o que ele está fazendo. Caspen está
substituindo as memórias ruins. Ele está fazendo uma troca, porque
agora me lembrarei desse momento, de nós dois.
Caspen continua a me tocar, sua mão descendo para o meu
pescoço. Ele dá um pequeno aperto, deixando-me com dificuldade
para respirar.
— Não é ele que está a tocando, Sunshine, sou eu. — Meu
corpo treme quando sinto seus dentes arranharem meu ponto
sensível atrás da orelha. — Ele está lá, indefeso, e eu estou bem
aqui, tendo-a para mim. — Continua a me tocar, e meus seios se
arrepiam quando sinto suas mãos neles.
Caspen circula meus mamilos com os dedos. Fechando os
olhos, encosto minha cabeça em seu ombro, dando total acesso a
ele.
— Não, não. — Para de me tocar, e eu suspiro, sentindo
sua falta. — Seus olhos, quero seus olhos nele, Sunshine. Quero
que veja que ele não pode mais tocá-la. Nunca mais. — Belisca
meu mamilo, e a dor se mistura com o prazer.
Tudo o que ele faz comigo, sinto em meu núcleo, bem lá
embaixo.
— Dimitri não pode mais chegar a você, Sunshine; mas eu,
eu posso. — Ele diz a última palavra mordendo meu ombro com
força.
Sei que terei uma marca amanhã, mas não me importo,
porque a dor mostra que estou viva, que ainda sinto e que é
suportável quando há prazer, porque a mordida que Caspen acaba
de me dar faz com que minhas partes latejem. Quero mais, mais
dele, de suas mãos e de sua boca.
Caspen continua a me tocar, mostrando que somos apenas
nós dois, sem Dimitri, sem Hernández, apenas ele e eu, e que nada
mais pode me tocar, me machucar.
Lágrimas se formam em meus olhos por conta da
intensidade que é esse momento, do poder que sinto de Caspen; a
escuridão dele, a crueldade dele está me tomando, me abraçando,
fazendo parte de mim.
— Vou mostrar amor, vou mostrar que a dor pode ser bem-
vinda, vou quebrá-la e fazê-la esquecer Dimitri.
Suspiro com suas palavras, com o tremor de sua voz e quão
frio ele soou. Caspen me contorna, ficando de frente para mim. Seu
olhar... Deus, seu olhar é profundo, tão profundo, que todo o ar dos
meus pulmões sai, se torna difícil respirar! É devastador!
Caspen pega meu queixo. Ele me encara. Sua mão aperta
meu queixo, não a ponto de machucar, mas dói um pouco. Sua
cabeça se aproxima da minha. Ele toma minha boca em um beijo
cruel, como se estivesse me punindo. Sua língua chicoteia a minha.
Entrego-me a ele, ao seu beijo, em como ele me domina. Seu beijo
me desequilibra, é como se ele estivesse tomando uma parte de
mim.
Caspen geme em minha boca. Sorrio ao saber que ele está
tão afetado quanto eu.
Terminando o beijo, ele me solta. Meu peito sobe e desce,
minha visão está nublada, estou em uma névoa, drogada de desejo.
É isso o que ele faz comigo. Ele é uma droga que me deixa
viciada.
É loucura eu amá-lo? Amar essa escuridão que há nele?
Porque se for, então estou louca.
Observo Caspen atentamente, o jeito que ele se move,
como seus músculos se contraem. Observo-o com puro fascínio,
hipnotizada.
Meus olhos se arregalam quando ele puxa um chicote do
armário, um chicote igual ao que Dimitri usou em mim, cheio de
cordas grossas, cordas essas que me cortaram, que me fizeram
sangrar. Minha respiração se torna errática. Minha vontade é de me
encolher em um canto. Meu corpo treme de medo, mesmo sabendo
que Caspen nunca me machucaria dessa forma.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, lágrimas
escorrem pelas minhas bochechas. Caspen para na minha frente.
Ele lambe minhas lágrimas. O olhar que ele tem é escuro, não
demonstrando nada.
— Não chore, Sunshine — sussurra, com rouquidão.
— Por favor, não.
Caspen apenas sorri.
Surge em minha mente imagens do que Dimitri fez comigo,
das chicotadas em minhas costas, da ardência...
Mas Caspen passa as cordas do chicote em meu corpo com
cuidado, bem devagar, instigando-me, como se as cordas beijassem
meu corpo. E eu esqueço tudo sobre Dimitri e o que ele me fez,
concentrando-me apenas no agora.
Caspen passa as cordas do chicote entre minhas pernas, as
esfregando em meu clitóris. Arrepios possuem todo o meu corpo, se
acumulando em meu estômago, passando pela minha espinha,
despertando meus órgãos internos, me despertando por inteiro. Meu
corpo, que estava tenso, agora relaxa ao toque das cordas do
chicote, isso me excita.
O chicote beija minhas costas, pegando-me de surpresa. Eu
estou tão excitada, tão distraída, que não percebo o momento que
sou chicoteada. Dói, mas não é a mesma dor que Dimitri causou.
Arde, queima, mas ao mesmo tempo me excita, me faz querer mais.
Nunca imaginei que ser chicoteada traria a mim prazer, me
faria ficar molhada e desejar por mais. Eu quero mais, mais da dor,
mais do prazer, muito mais.
— Sinta, Sunshine, sinta o chicote beijando suas costas,
sinta a libertação que é. — Ele rosna.
Meu centro lateja. As palavras de Caspen fazem um ponto
em meu corpo.
O chicote volta a me tocar de forma íntima e delicada, mas
assim como da primeira vez, quando relaxo, Caspen bate em mim.
— Ahh! — grito, jogando a cabeça para trás.
— Olhe para Dimitri, veja como ele está. Ele não pode tocá-
la, Lori, ele nunca mais irá tocá-la, somos apenas nós dois, sou eu
que estou chicoteando-a, é o meu chicote que está beijando suas
costas, e eu tenho certeza que a cada beijo que meu chicote dá em
você, mais excitada você fica.
Porra! Suas palavras me fazem tremer de desejo, puro
desejo. Minha respiração fica pesada, meus olhos estão na direção
de Dimitri. Ele não pode mais me machucar, ele não pode chegar
até a mim, ele não é nada.
Lágrimas escorrem dos meus olhos. Sinto-me
sobrecarregada, minha excitação é grande demais, o jeito que
Caspen está, o poder emanando do seu corpo, o ritmo com que ele
domina o chicote, me torturando, me instigando, a dor e o prazer
que ele causa em mim com o chicote... A cada chicotada, mais eu
me excito, mais molhada fico, mais drogada pela dor, pelo prazer,
pela sensação esmagadora em meu peito. Caspen está
preenchendo meu corpo com tantas sensações. É pesado,
demolidor, cruel até, mas ao mesmo tempo libertador.
E é quando meu orgasmo me toma. É tão cru, tão
magnífico... Merda! Nunca imaginei que gozaria dessa forma.
Meus braços estão dormentes, meus pulsos pinicam,
minhas costas ardem, mas tudo o que sinto é na sensação em meu
clitóris, em quão molhada estou e como preciso de Caspen. Eu
preciso dele, preciso de mais, não é o suficiente. Mal aliviou o
prazer que estou sentindo.
— Caspen — choramingo.
— Sunshine, você não faz ideia de quão linda suas costas
estão com minhas marcas, é como uma obra de arte. Pura
perfeição.
Sinto sua respiração em meu pescoço. Ele beija meu ombro,
bem em cima da mordida que deu momentos atrás.
— Seu corpo, o jeito que ele responde às lambidas do
chicote, o jeito que seu corpo está em exibição é perfeito, magnífico
— sussurra ao meu ouvido. — Você é minha, Lori Callahan.
Lambo os lábios ao senti-los secos. Minha respiração está
errática.
Ouço o chicote cair no chão ao meu lado, e no lugar das
cordas do chicote, sinto algo macio, aveludado passando pelas
minhas nádegas e entre minhas pernas. Sua mão livre brinca com
meus seios. Olho para a sua mão, vendo que ele está com luvas de
veludo. É por isso que é tão macio, tão gostoso.
Suas mãos brincam com meu corpo, me instigando, dando-
me tanto prazer, que chega a doer. Minhas costas ardem, queimam,
mas o prazer que sinto é tão intenso, que não me importo com a
queimação.
Caspen fica de frente para mim. Seu olhar me faz fraca.
Minhas pernas estão trêmulas. Sinto como se meu coração fosse
sair pela boca.
O prazer é intenso, a forma com que ele me toca, me
possui... é devastador. Meus olhos se fecham, e eu apenas sinto,
deixo-o me tomar. Sua mão entre minhas pernas é substituída pela
boca.
— Caspen! — grito.
Ele se ajoelha de frente para mim, abrindo minhas pernas, e
cheira meu sexo, dando pequenas lambidas em meu clitóris.
— Porra, Sunshine! Você está tão molhada, tão sensível!
Sua boceta é minha, seu corpo é meu, seus gemidos, seu prazer,
tudo é meu. Eu possuo você.
O tremor de sua voz entre minhas pernas faz com que eu
me perca. É intenso.
Meu segundo orgasmo me bate com tanta força, com tanto
poder, que lágrimas escorrem dos meus olhos.
Caspen toma tudo de mim, meu orgasmo, meus gemidos,
meus gritos, meu corpo, ele me possui com sua boca e com suas
mãos.
Ele me leva ao orgasmo várias e várias vezes, e por incrível
que pareça, meu corpo não reclama. Pelo contrário, ele pede por
mais.
Devastador.
Caspen por fim para o seu ataque ao meu corpo. Ele se
levanta, olhando-me de forma tão significativa, tão poderosa. Seus
lábios batem nos meus. Ele me beija, possuindo-me. Sinto o próprio
gosto, o gosto da minha libertação.
Liberando meus pulsos, eu envolvo meus braços em volta
do seu pescoço. Enrolo minhas pernas em sua cintura. Seu pau
bate em minha entrada, e com um impulso, ele está dentro de mim.
Caspen caminha até o vidro, me apoiando ali. Minhas costas ardem,
mas a ardência é bem-vinda, tudo o que Caspen está dando a mim
é bem-vindo.
Olho em seus olhos enquanto ele me toma. Cada impulso é
mais poderoso, mais intenso, mais dominador que o outro. Nesse
momento, palavras não são necessárias, nossos olhares falam entre
si.
Não tenho palavras para explicar esse momento e tudo o
que Caspen fez por mim. Nunca imaginei que seria assim, que ser
chicoteada daria imenso prazer a mim, desejo; e experimentar todas
essas emoções com Caspen é só a cereja do bolo.
Caspen me beija. Agarro-me a ele, minhas unhas
arranhando seus braços, seus ombros e suas costas. Ele não
diminui o ritmo. Pelo contrário, ele bate em mim com mais força,
com mais domínio. Minhas costas esfregam no vidro, e a queimação
faz com que minha excitação aumente. Os lábios de Caspen soltam
os meus. Sua testa encosta na minha. Seu suor se mistura com o
meu.
— Você... é... minha... — diz, entre um impulso e outro, com
a voz carregada de desejo. — Seu prazer é meu, seu corpo é meu,
cada parte sua me pertence, Sunshine.
— Caspen... — Minha respiração é ofegante.
Seu nome sai como um gemido de meus lábios. Ele chupa
meus seios, e minha boceta convulsiona em seu pau.
Eu me perco nele, nesse momento. É libertador. Eu nunca
tinha me sentido dessa forma. Caspen mostrou a mim sua
escuridão, e ela se fundiu com a minha. Nossas almas estão
misturadas nesse momento, eu posso vê-las entrelaçadas, e é lindo.
Tão lindo, que traz lágrimas aos meus olhos. A união de nossas
almas, da sua escuridão com a minha é emocionante.
O que Dimitri fez comigo me transformou em cinzas. Ele era
como fogo, tudo o que ele tocava se transformava em cinzas. Ele
me tocou, mas sou como fênix, eu renasci das cinzas, e Caspen
está aqui para me segurar.
— Venha... para... mim. — Caspen comanda, ofegante, e
meu corpo obedece.
Meu orgasmo me rasga, queimando de dentro para fora. Eu
grito o nome dele tão alto, que acho que acordo a casa toda. É tão
poderoso, que me deixa mole em seus braços, e sou levada pela
escuridão.
Caspen
Lori desmaia em meus braços. Ela vem com tanta força, que
acaba sucumbindo ao cansaço.
Tiro meu pau de dentro dela, minha porra escorrendo entre
suas pernas. Apoio sua cabeça em meu ombro e pego um cobertor
de dentro do armário, em seguida nos cobrindo. Sorrio. Acho que
Lori nunca imaginou que seu corpo corresponderia às chicotadas
que dei a ela. Ela precisava. Precisava se libertar, precisava saber
que Dimitri não tem mais o poder.
Foi magnífico! Seu corpo, o jeito que ela se entregou... foi
perfeito, do jeito que imaginei que seria. Ela se entregou para mim,
e esse é só o começo.
Em meu quarto, a coloco deitada em minha cama, de
barriga para baixo, expondo suas costas com marcas das
chicotadas. Sorrio. Essas são minhas marcas.
Porra...
Deixando-a em minha cama, vou até o banheiro e pego um
óleo. Lori suspira de prazer quando esfrego suas costas. Ela se
mexe e seus olhos se abrem.
— Isso é bom. — Suspira.
Sorrio para ela.
— Como está se sentindo? — pergunto, preocupado.
— Dolorida, mas bem, muito bem. — Sorri.
Assim que termino de passar o óleo em suas costas, volto
para o banheiro, molho uma toalha de rosto na água quente e volto
para limpar entre suas pernas. Sorrio ao ver suas bochechas
coradas enquanto a limpo. É engraçado vê-la assim, envergonhada.
Assim que termino de limpá-la, beijo sua testa, jogando o
pano no canto da cama. Deito do seu lado e a puxo para mim. Lori
envolve seu corpo no meu, deitando sua cabeça em meu peito.
Beijo sua cabeça.
— Durma, Sunshine, seus pesadelos não podem mais
alcançá-la — sussurro.
Ouço-a suspirar. Ela se aconchega em mim, e em instantes
sinto sua respiração se acalmar. Minha respiração se mistura com a
dela, no mesmo ritmo, na mesma sintonia, e juntos, caímos no sono.
Capítulo Trinta e Dois
Ester
Minhas mãos tremem de raiva.
— AHHH! — grito, jogando tudo o que está em minha mesa
de escritório no chão.
Olho para a cabeça de Joe, toda ensanguentada dentro da
caixa. Ainda tremendo, pego o pequeno bilhete que veio pregado na
cabeça.
“Para a minha mãe querida, com profunda satisfação, Lori”.
Eu vou matá-la! Vou fazê-la sofrer, vou acabar com todos
que ela ama! Minha querida filha pagará pelo que fez ao Joe!
— Oh, querido, eu sinto muito — sussurro.
Não que eu o amasse, a única pessoa que amo sou eu
mesma e o dinheiro; mas Joe foi um bom amante, ele era fiel a mim,
ele sempre me ajudou em tudo.
Se Caspen sabe sobre Joe, ele sabe também sobre Phillipa.
Aquela putinha não sabe fazer nada direito!
Meu celular toca. Tremo ainda mais ao ver
DESCONHECIDO escrito na tela.
— Sim?
— Eu quero o que é meu, Ester, estou ficando sem
paciência. Nosso acordo foi feito anos atrás, cansei de esperar. —
Sua voz traz arrepios ao meu corpo.
— Ela será entregue a você.
— Espero que sim, porque se ela não for, eu irei atrás de
você. — Com isso ele encerra a chamada.
Anos atrás fiz um acordo com o diabo, e agora ele quer o
pagamento. E eu darei a ele.
Capítulo Trinta e Três
“War of Hearts – Ruelle”
Lori
Um pequeno suspiro deixa meus lábios quando observo um
Caspen nu voltar para a cama e se deitar ao meu lado. Ouvindo
meu suspiro, ele dá aquele sorrisinho malicioso. Balanço a cabeça,
sentindo minhas bochechas arderem.
Pelo amor de Deus!
Não sei por que fico desse jeito. Pareço uma adolescente
que acaba de esbarrar no garoto mais cobiçado da escola, e ele
pisca para ela, o que a deixa corada. Bem clichê, eu sei.
Porém, Caspen tem me deixado toda amolecida. Acho que
foi depois do que ele fez para mim. Depois do que fizemos na sala
de tortura, depois que ele explorou meu corpo, me levou ao limite,
fiquei um pouco mais relaxada, consciente de mim mesma e de
minhas emoções.
— O quê? — pergunto, fingindo que não acabo de ser pega
olhando-o.
— Nada, é você quem estava me cobiçando.
Bufo, rolando os olhos.
— Eu? Te cobiçando? Acho que está tendo muitas ideias. —
Cruzo os braços, fazendo cara de quem não sabe de nada.
— Ei — Caspen tira meus braços do peito —, não os
esconda de mim. — Sua voz enviando arrepios ao meu corpo.
A intensidade do seu olhar, o modo com que ele lambe os
lábios ao olhar para os meus seios, traz uma pontada em meu sexo.
Cruzo as pernas, e ele ri. O filho da mãe sabe que fiquei
incomodada!
— Não, pare de me olhar assim. — Estreito os olhos.
Caspen sorri para mim, um grande sorriso predador.
— Te olhar como, Sunshine? — Lambendo os lábios, ele
olha para o meu corpo exposto.
Merda, merda!
Caspen tem uma fome por mim e pelo meu corpo, que tem
momentos que não aguento. Depois do que aconteceu na sala de
tortura, ele não me deixa. Caspen se tornou mais possessivo e
protetor, sempre querendo saber onde estou e se estou em
segurança, e quando tem tempo, ele sempre me arrasta para algum
lugar, tomando meu corpo de modo primordial. Não que eu esteja
reclamando, mas o homem tem uma fome assassina por mim,
parece que ele nunca se cansa.
— Como se quisesse me foder. — Engulo em seco.
Caspen abre o maior sorriso. O ar fica preso em minha
garganta ao vê-lo sorrir desse jeito. É tão difícil ver um sorriso
verdadeiro em seus lábios, e quando ele realmente sorri, faz com
que eu fique sem fôlego.
O que esse homem faz comigo? Sempre me sinto fraca ao
lado dele. Perco minha razão quando ele está por perto, e meu
corpo amolece quando me toca.
— Querida, eu quero fodê-la. — Sua voz é tão grossa, cheia
de promessas.
Meu corpo treme e sinto aquele friozinho no estômago.
— Porém, sei que está dolorida, então vou esperar
amanhecer. — Pisca para mim.
Suspiro.
Meus pensamentos se voltam para Ester. Não quero pensar
sobre ela, não quando estou com Caspen, mas não consigo evitar.
Temos uma guerra pela frente. Ester irá revidar, e temos que nos
prepararmos para o que ela fará. Confesso que estou apreensiva,
não por mim, mas pela família, pelas crianças, pelas pessoas que
Ester pode machucar. Ela é louca e já provou que fará de tudo para
conseguir o que quer, e esse é meu maior medo.
— No que está pensando? — Caspen interrompe meus
pensamentos.
Inclino a cabeça para o lado, para olhá-lo. Ele tem um vinco
de preocupação na testa.
— Em Ester e no que ela fará. Acho que fez o certo ao
mandar a cabeça de Joe para ela?
Esfregando a barba rala que ainda está nascendo, ele
pensa. Seus braços me envolvem e eu descanso minha cabeça em
seu peito, ouvindo seu coração. Sua respiração está tão calma.
— Não sei se foi o certo, mas fiz o que foi preciso para
acabar logo com isso. Estou cansado de jogar com ela, quero que
tudo acabe logo.
Sinto seus lábios em minha cabeça. Fecho os olhos,
aproveitando esse momento.
Ter Caspen todo amoroso e carinhos é raro, então tenho
que aproveitar o máximo, porque eu sei que quando a guerra
começar, tudo o que eu terei dele será frieza. Ele se tornará o
monstro, se deixará envolver em sua escuridão.
— Fico pensando no que ela fará e em quem ela atingirá.
— Não será bonito, mas alguns sacrifícios são necessários
para o bem maior.
Suas palavras me dão medo, porque eu sei que ele
realmente acredita nisso, o que significa que pessoas inocentes
serão pegas nesse fogo cruzado e poderão morrer por causa dessa
guerra que Ester criou.
— Não quero perder ninguém –— sussurro as palavras a
ele.
— Não vamos, Sunshine, tudo dará certo.
Sei que suas palavras são apenas para me dar uma falsa
sensação de que não teremos perdas.
A verdade é que não sabemos. Não sabemos o que irá
acontecer.
— Olhe para mim, Sunshine — comanda.
Ergo a cabeça, encontrando seu olhar. Caspen abaixa sua
cabeça, beijando minha testa. Fecho os olhos, deixando-me sentir
seus lábios em minha pele, deixando-me acalmar por seu pequeno
contato.
Seus lábios se afastam da minha testa, e eu abro os olhos,
encarando-o.
— Não vou deixar que nada aconteça com nossa família.
Ester não irá nos alcançar.
Aceno com a cabeça. Sinto-me emotiva demais para falar.
Logo após, volto a encostar minha cabeça em seu peito, fecho mais
uma vez os olhos e relaxo meu corpo, sua mão acariciando minhas
costas. Sua carícia me relaxa, minha respiração fica uniforme com a
sua. Cansada e emocionalmente esgotada, caio no sono.
Caspen
Observo o corpo de Lori se acalmar e sua respiração
ficando cada vez mais leve. Ela resmunga baixinho e se encaixa em
meus braços. O sono a leva em instantes. Com cuidado, a deixo
confortavelmente na cama, olhando-a uma última vez para então me
levantar. Visto-me sem fazer barulho e saio do quarto, indo em
direção ao escritório. No caminho, pego meu celular, enviando uma
mensagem em grupo.
“Encontrem-me em meu escritório”.
Não espero por uma resposta. Sei que está tarde, mas
preciso dos meus irmãos, temos que planejar e nos organizarmos. A
preocupação de Lori me deixou inquieto. Tenho que proteger a
família, e é o que farei.
Entrando em meu escritório, as luzes se acendem. Dou a
volta em minha mesa, sentando em minha poltrona e esperando por
meus irmãos. Carter é o primeiro a chegar, logo depois entra
Lorenzo e Heitor.
— O que é tão importante assim, que não pode esperar até
amanhecer? — Heitor me olha, irritado.
Parece que não gostaram de serem chamados no meio da
noite. Não que eu me importe com isso, não é problema meu.
Suspiro, passando as mãos pelos cabelos. Estou frustrado,
cansado e louco para voltar para a cama e me deitar ao lado de
Lori, mas tenho um dever com a família, com a máfia, com meus
homens, tenho que proteger a todos.
Olho para os meus irmãos, que estão esperando meu
pronunciamento. Carter dá aquele olhar entediado. Encaro-os em
silêncio. Sei que irei irritá-los, mas não gosto quando sou
questionado. Se os chamei aqui, é porque tenho algo importante
para dizer, não para que me questionem.
— Detesto quando faz isso. — Lorenzo comenta.
— Detesto quando sou questionado — rebato, olhando-os.
— Tudo bem, não o questionarei mais. — Heitor diz. —
Agora pode nos apreciar e nos dizer o que tem para falar?
— Quero que peguem suas coisas e se mudem para a casa
principal — comando, dando a eles meu olhar não me questione. —
Lorenzo, preciso que reúna nossos homens, precisamos de
proteção, muita proteção. Não sabemos quando e por onde Ester
atacará, então quero o máximo de proteção. Redobre a proteção do
clube, mande mais homens para o refúgio de mulheres abusadas de
Amélia e também para a casa dos pais de Lori. Não quero dar
chance para Ester. Ela não terá brecha.
— Isso é tudo? — Lorenzo pergunta.
— Não. Quero bloqueio total, ninguém sai e ninguém entra.
Quero alerta total. Ester é influente, ela tem aliados, precisamos ser
cuidadosos.
— Concordo. Ester se mostrou bem louca, ela faz qualquer
coisa quando está em desespero. Não quero Sophia e meus filhos
na mira dela. — Carter se pronuncia. — Se essa mulher tentar
chegar perto da minha família, vou acabar com ela. — Ele me
encara, com um olhar que acusa que realmente matará Ester se ela
ousar chegar perto da sua família.
De todos na minha família, Carter é o único que não me
teme. Ele me respeita, mas temer, não. Carter não se importa com
regras e consequências, ele é o mais parecido comigo, e o respeito
por isso.
Aceno para ele.
— Comecem a se mover, quero tudo resolvido até o
amanhecer — comando.
Não dou a eles muito tempo, porque não sabemos quando
Ester agirá. É mais fácil colocar seguranças em uma casa só,
tornando-a uma fortaleza. Cada parte da propriedade será protegida
e guardada. Não quero buracos. Não vou dar nada a Ester, ela não
terá escapatória.
Esfrego os olhos, sentindo-me cansado demais. Essa merda
toda com Ester está ficando fora de controle. Saindo do escritório,
volto para o meu quarto, para acordar Lori. Um pequeno sorriso se
forma em meus lábios ao vê-la. Seu corpo está enrolado nos
lençóis, seus cabelos derramados entre dois travesseiros, ela está
toda jogada na cama. Não me contendo, pego meu celular e tiro
uma foto.
— Ei, Sunshine — sussurro, tirando alguns fios de cabelo do
seu rosto.
Lori resmunga algumas palavras incoerentes, mas não
acorda, apenas dá um tapa em minha mão. Mordo os lábios,
contendo a risada.
— Ei, amor, acorde, precisamos ir — digo um pouco mais
alto.
Lori se vira, expondo seus seios. Ela pisca algumas vezes
ao abrir os olhos, bocejando, e me encara.
— Aconteceu alguma coisa? — resmunga.
— Não, amor, mas vamos ficar na casa principal junto com
todos, é para a proteção.
Ela senta na cama, ainda sonolenta. Esfregando os olhos,
tira o lençol do corpo e se levanta. Entrego a ela sua roupa.
Lori se veste em silêncio. Sei que está preocupada, o
pequeno vinco em sua testa denuncia.
Vestida, Lori para na minha frente, olhando para mim. Dou
um passo em sua direção, envolvo meu braço em sua cintura e a
puxo para mim.
— Não precisa ficar preocupada, Sunshine, tenho tudo sob
controle. — Beijo o vinco em sua testa.
— Vamos acabar com ela. — Um pequeno sorriso se forma
em seus lábios.
— Sim, nós vamos. Juntos. — Beijo seus lábios.
Porra, essa mulher!
Horas depois...
Não foi fácil reunir todos os meus homens em pouco tempo,
mas Lorenzo conseguiu. Todos estão em seus devidos lugares,
prontos para qualquer ataque. O clube e o refúgio estão seguros,
meus primos que moram em outros Estados estão em alerta, todos
prontos para qualquer ataque de Ester.
Não que eu ache que ela atacará outro lugar, seu foco é
Lori. Ela atacará os mais próximos a ela.
— O que faremos agora? — Heitor me olha com
expectativa.
Sorrio.
— Nós esperaremos.
— Você quer esperar? — Lucas pergunta.
Ele é sempre o mais irritadinho e mais afobado, sempre
quer agir por impulso, parece que não lhe ensinei nada.
— Sim, eu fiz a minha jogada, enviei a cabeça do seu
amado, agora vamos esperar.
— E se ela não fizer nada? — Lucas questiona.
Olho bem para ele. Cruzo minhas pernas, bem relaxado. Eu
sei o que estou fazendo, estudei Hernández por todo esse tempo,
eu já tinha ouvido falar dele há muito tempo. Ele não era um
problema até que se tornou meu maior problema, e quando
aconteceu, passei a observar. Quando é atacado, ele ataca de volta.
Ester vai atacar, e é só uma questão de tempo.
Não que eu tenha todo o tempo do mundo, mas vou esperar,
valerá a pena.
— Ela irá, Lucas. E nós não podemos atacá-la, não
podemos ir atrás dela, ela precisa agir, ela tem que nos dar uma
brecha, e assim mostraremos ao mundo que Ester é Hernández.
Agora cale a boca, você está me cansando.
Ele rola os olhos.
Não sei o que está acontecendo com Lucas, mas sei que
tudo é sobre Audrey, ele está assim por causa dela.
Meu celular vibra em cima da minha mesa.
— Sim? — Atendo, sabendo que é um dos meus
seguranças.
— Senhor, nós temos um grande problema no portão
principal. — Sua voz treme.
— Qual o problema?
— Senhor, Ester está aqui, e não é bom. — Ele sussurra.
Não sinto medo em sua voz, mas sim nojo, raiva, ódio. — Ela não
está sozinha, há uma criança com ela.
— Estou indo.
Olho para os meus irmãos com um pequeno sorriso nos
lábios. Encerro a chamada, em seguida, colocando o celular em
meu bolso.
— Parece que temos uma visita no portão da frente — digo
a eles.
— Porra!
— Caralho!
— Já não aguentava mais esperar. — Esse é Carter.
— Vamos, é feio deixar nossa principal convidada
esperando — comento, sorrindo.
Do lado de fora do meu escritório estão Lori e Amélia.
Estreito os olhos, balançando a cabeça.
— Não — digo.
Um único comando, mas as duas apenas me olham,
entediadas.
— Sunshine...
— Caspen...
À nossa volta, toda a nossa família nos cerca. Droga!
Parece que Ester será recepcionada em grande estilo, e essa é uma
situação perigosa demais. Não sabemos o que ela fará.
— Vamos acabar logo com isso.
Capítulo Trinta e Quatro
Lori
Nada me preparou para o que vejo. Eu sabia que Ester é um
monstro, mas o que está bem na minha frente é pior do que ser um
monstro. Não há palavras para descrever o que Ester realmente é.
É desumano, bárbaro.
Aparto o braço de Caspen e o sinto tremendo. Ele também
está perplexo com a situação. Pisco algumas vezes e passo a mão
em frente ao rosto, como se a imagem à minha frente fosse minha
imaginação, mas não é.
Meu peito dói demais, as lágrimas embaçam minha visão.
Ester está bem à nossa frente, com minha irmã ao seu lado.
O horror é que minha irmãzinha está com uma coleira de ferro em
volta do pescoço, seu corpo está magro e machucado. A pequena
está tremendo. Seu choro parte meu coração.
Dou um passo à frente para chegar até ela, mas Caspen
segura meu braço.
— Deixe-me ir — sussurro entredentes.
— Não. — Sua voz é firme e forte, não deixando brecha
para discussão.
Olho para ele, estreitando os olhos. Caspen não me olha,
seu olhar está focado à sua frente, em Ester e minha irmã. Ele
segura minha mão em um aperto. Controlo-me o máximo que posso
para não correr até Ester e pegar minha irmã.
— Aí está. Olá, querida filha. — Ester sorri para mim.
Ela não está nem um pouco afetada com o que está
acontecendo à sua volta. Ao meu ver, ela está confiante demais de
que sairá daqui, e é o que me preocupa.
Há homens armados de todos os lados, Caspen está pronto
para uma guerra, e mesmo assim, Ester se comporta como se ela
estivesse no controle de tudo.
— O que você quer, Ester? — Caspen pergunta.
Prendo a respiração quando ela joga minha irmã aos seus
pés. América chora, envolvendo seu corpo em suas mãos, como se
estivesse se protegendo.
— Não! — grito, desesperada. — Solte-me, Caspen!
— Lori...
— Deixe-me pegá-la! — imploro.
Mordo meus lábios, tentando segurar o choro, mas é
impossível, não aguento. Meu corpo treme quando um pequeno
soluço escapa dos meus lábios.
— Não posso, Sunshine. Se controle. — Caspen me encara.
Seu olhar... Deus! Seu olhar está morto, não há nada lá!
Sinto sua frieza. Respirando fundo, aceno com a cabeça, deixando-
o lidar com tudo.
Tudo o que quero é tirar minha irmã daquele monstro, cuidar
dela, apagar todas as memórias ruins.
Como uma mãe pode fazer isso com a própria filha?
Minha mão vai automaticamente para a minha barriga.
Enquanto eu quero gerar o próprio filho e não posso, Ester
gerou três e foi incapaz de dar amor. Parte meu coração saber que
minha irmã nasceu desse monstro, desse ser desumano. Ester não
merece ser mãe!
Olho para Ester, que tem um grande sorriso nos lábios. Seu
pé direito está em cima da minha irmã, pisando nela.
— Que bom que perguntou o que eu quero, Caspen. — Ela
sorri.
Empurrando América com o pé, cospe ao lado da filha.
— Quero uma troca. — Seu olhar se concentra em mim. —
Lori por essa pirralha. — Sorri.
— E o que faz você pensar que aceitarei a troca? — Caspen
pergunta, cruzando os braços, provavelmente querendo mostrar que
não está nem um pouco afetado pelo que está acontecendo.
Porém, eu sei a verdade. Há um leve tremor em seu corpo,
ele está tenso. Isso é o suficiente para eu saber que ele não gosta
do que está vendo e está se controlando para não atacar. Caspen
está por um fio.
— Você está cercada, Ester. — Caspen sorri para ela.
— Querido, eu vim preparada e conheço muito bem a ética
de vocês. Eu quero Lori, e em troca, vocês podem ficar com ela.
— E se eu não aceitar?
— Vou vendê-la. — Ester diz com um grande sorriso.
Minha respiração fica presa em minha garganta.
— Você sabe quantos homens gostam de garotinha assim?
— acrescenta. — Tão pequena, tão apertadinha. Ela será treinada
para ser uma boa escrava, um coisinha dessa. — Lambe os lábios.
Nojo! Sinto nojo de suas palavras, de saber que ela está
certa! Realmente há homens nojentos a ponto de abusarem de uma
criança.
Percebo que o corpo de Caspen fica ainda mais tenso, mas
ele não demonstra. Seu olhar está em branco.
Esse é o verdadeiro homem da máfia, o homem que
conquistou e que reina até hoje. Eu sei que ele quer acabar com
Ester.
— Eu vou — digo, encarando Ester.
— Não. — Caspen diz, olhando-me.
Ester sorri.
— Eu sabia que viria, querida. — Rolo os olhos.
— Eu disse não. — A voz de Caspen é fria, mas ele está
com raiva, muita raiva. — Você não vai a lugar nenhum. — Encara-
me.
O jeito que ele me olha... Por um segundo vejo medo em
seu olhar, mas ele é rápido em esconder. Caspen não pode
demonstrar fraqueza agora, todos precisam dele, do chefe da máfia,
do Caspen Callahan.
— Caspen... — Olho-o nos olhos, dando um pequeno
sorriso — eu preciso ir, amor, preciso fazer isso.
— Não, você não precisa. Meus homens podem acabar com
tudo. Só precisa do meu comando, e tudo está acabado.
Balanço a cabeça.
— E depois? — sussurro. — O que acontecerá depois,
Caspen? Eu preciso ir, preciso de respostas, quero saber o motivo
de sua obsessão comigo, quero respostas. Caspen, a Ester é a
única que pode dá-las a mim. — Ergo minha mão para o seu rosto,
acariciando sua bochecha e sentindo sua barba áspera em minha
palma.
Caspen fecha os olhos. Um pequeno suspiro deixa seus
lábios.
— Não posso perdê-la.
Sorrio para ele. Encosto minha testa na sua, fechando os
olhos. Sinto sua mão em minha nuca. Ele me mantém por perto.
Seus lábios encostam nos meus, dando-me um beijo casto.
— Não posso perdê-la, Sunshine.
— Você não vai, não vai me perder, Caspen.
Caspen me segura mais apertado. Abro os olhos,
encontrando seu olhar concentrado em mim.
— Quando você for, ela irá fugir, ela irá levá-la para o mais
longe possível! — rosna.
Aceno com a cabeça.
— Eu sei disso.
— Será difícil achá-la, Sunshine. Ela irá dificultar para nós.
— Sei disso também, mas, Caspen... — Sorrio — você
saberá minha localização.
Sei que nossa conversa está demorando, mas não me
importo. Nesse momento eu só quero tê-lo mais um pouco. É
egoísmo da minha parte, todos estão nos esperando, e a cada
minuto que se passa, as coisas vão ficando mais tensas; mas eu só
quero um pouco mais de Caspen, um pouco mais desse contato, de
suas mãos em mim, de sua voz, só um pouco mais dele, de nós.
— Como? Como irei saber sua localização?
Sorrio e encosto minha boca em sua orelha.
— Tenho um chip localizador em mim. Meu piercing
microdermal nas costas é um chip localizador. Amélia pode explicar
melhor quando eu for.
Caspen me olha por alguns segundos, perplexo, balançando
a cabeça. Um sorriso se forma em seus lábios.
— Porra, mulher! — ruge, rindo. — Você sabe como me
surpreender!
Dou de ombros.
— O que posso dizer? — Pisco para ele.
— Tudo bem, vamos fazer isso. — Ele acena com a cabeça.
Viro-me para Ester, que nos olha com seu olhar odioso.
— Eu vou, nós aceitamos a troca.
Atrás de nós, todos suspiram. Acho que ficaram surpresos
com a aceitação de Caspen. Mas o que eles não sabem é que eu
não precisava da aprovação dele. Faria a troca de qualquer jeito.
— Foi o que pensei, você sempre faz a coisa certa. — Ester
sorri para mim.
Ela pega minha irmã, a levantando do chão. Seu
choramingo faz com que eu me encolha. Dói em mim vê-la assim,
seu olhar assustado, as lágrimas em seus olhos.
— Venha, querida, vamos para casa. — Ester estende a
mão.
— Solte-a primeiro — comando.
Ester levanta uma sobrancelha, me questionando.
— Solte-a, e eu irei.
Rolando os olhos, ela solta América, a empurrando para
frente, mas minha irmã não sai do lugar. Abaixo-me para dar a ela
mais segurança.
— Venha, querida. — Sorrio, estendendo minha mão para
ela.
América se encolhe, com medo. Ester a empurra mais uma
vez, fazendo-a cair. Minha irmã solta um pequeno grito, seu corpo
treme, e eu choro junto com ela.
— Ande logo, não tenho todo o tempo do mundo! — Ester
diz, com raiva.
América corre em minha direção, mas para na minha frente.
Ela me olha assustada. Suas bochechas estão sujas.
— Olá, princesa. Eu sou Lori, e está vendo aquelas pessoas
atrás de mim? — Minha voz é suave, bem calma, mostrando que
não vou machucá-la.
América acena com a cabeça. Seus olhos vão para a minha
família. Todos estão com lágrimas nos olhos, olhando-a com tanto
amor e carinho.
— Eles são sua família e estão loucos para conhecê-la. Não
precisa ter medo, eles vão cuidar bem de você. Agora quero que
seja forte e vá até eles, tudo bem?
América acena para mim. Tiro um fio de cabelo do seu rosto,
colocando-o atrás de sua orelha. Ela se encolhe um pouco ao meu
toque, mas sei que é só reflexo do que Ester lhe fez.
— Estarei de volta logo, eu prometo a você. — Puxo-a para
os meus braços.
Ela fica tensa, mas não me importo. Tudo o que quero é
correr com ela para dentro, levando-a bem longe de Ester, mas
quero respostas.
— Eu te amo, irmãzinha. — Beijo sua testa e a entrego para
Caspen.
Meu homem a pega em seus braços. Reconheço seu olhar
de amor, compaixão, tristeza e ódio, muito ódio.
— Cuide dela — peço a ele.
— Eu te amo — sussurra.
Sorrio para ele, em seguida olho para Amélia.
— Você sabe o que fazer. — Ela acena para mim.
Dando as costas para a minha família, caminho até Ester,
ficando ao seu lado.
— Vamos logo com isso.
Caspen
Caralho! Quando ela disse que iria, eu vi quão firme estava.
Ela já tinha se decidido e não havia nada que a fizesse mudar de
ideia.
América treme em meus braços. Passo minha mão por seus
cabelos, tentando acalmá-la.
— Shh, está tudo bem — sussurro para ela.
América me agarra, suas mãozinhas segurando-me como
se eu fosse seu colete salva-vidas.
Observo Lori se afastando com Ester e seus homens. Meu
peito se aperta em saber que ela está com um monstro. Uma mulher
sem alma.
Trinco meus dentes, tentando controlar toda essa raiva que
emana do meu corpo, essa fúria que quer explodir.
Ester acaba de se condenar. Ela pensa que está um passo à
frente, e esse foi o seu erro. Lori estava preparada para ela, porra!
Minha Sunshine me surpreendeu! Sorrio, orgulhoso de sua atitude.
— Querido, ela se foi. — Mamãe diz, ao meu lado.
— Nós vamos recuperá-la. — Ela sorri para mim.
— Sim, eu sei disso, querido. — Mamãe sorri para mim. —
Vamos para dentro, precisamos de um plano.
— Tudo bem. A Senhora pode cuidar dela? — pergunto,
tentando entregar América à minha mãe.
Mas parece que América tem outro plano, porque ela não
desgruda de mim, e quando tento passá-la para a minha mãe,
chora, balançando a cabeça.
— Ei, está tudo bem, não vou deixá-la — digo, tentando
acalmá-la.
Mamãe sorri para mim. Balanço a cabeça.
— Vou preparar comida e um banho para ela. Sophia foi
pegar algumas roupas que não cabem mais em Ariel para vesti-la.
Sophia e Lauren desceram com as meninas. Acho que ela ficará
mais confortável quando vir que há crianças aqui, ajudará.
— Obrigado — sussurro.
Com América em meus braços, caminho para a sala de
reuniões, onde alguns dos meus homens estão me esperando.
Meus irmãos me olham surpresos. Encolho os ombros.
O que eu posso fazer? América está com medo, ela não
conhece ninguém nesta casa. A única mulher que ela conhecia era
um monstro. Por enquanto sou o único em quem ela confia. Ela só
precisa de tempo para se acostumar com tudo.
— O que faremos agora? — Maddox pergunta.
Olho para ele, e um sorriso se forma em meus lábios. Meus
irmãos conhecem esse sorriso.
— Nós iremos trazê-la de volta e colocar tudo para baixo...
Capítulo Trinta e Cinco
Lori
Olho para Ester. Pergunto-me o que ela tem planejado para
mim e para onde está me lavando. Quando fizemos a troca, Ester
jogou um celular fora e me revistou. É claro que ela não encontrou
nada. Ela nem imagina que seu fim está chegando.
Um pequeno sorriso se forma em meus lábios. Ester está
tão confiante, tão cega, que não percebe que essa troca foi fácil
demais. Ela acha que Caspen realmente me trocaria por uma
criança.
Eu quero respostas, quero saber o que ela tem contra mim,
o porquê do seu desespero em me ter. Do que Ester tem medo?
Ah, ela está com medo, medo de alguém, isso eu tenho
certeza. Seu desespero incida medo, muito medo, e saber disso traz
uma grande satisfação em mim.
Meu corpo se enche de adrenalina com o que está por vir.
Hoje será o dia em que Hernández cairá, o dia em que tudo
acabará, o dia em que me libertarei. Ester trouxe a mim dor, raiva,
angústia. Onde ela tocava, tudo se destruía. Hoje, eu irei destruí-la.
— Por que está sorrindo? — Seu olhar está ficado em mim.
Wow! Ela está irritada.
Sorrio ainda mais, dando de ombros.
— Para onde está me levando?
Ester me avalia. Encaro-a, não dando nada a ela, apenas
um olhar calculado e um sorriso nos lábios.
— Um lugar seguro.
Viro minha cabeça para o lado, tentando olhar pela janela do
carro, mas os vidros são escuros.
— Tenho perguntas. — Ester bufa.
— Eu sei que tem.
O silêncio no carro volta a nos rodear.
Não sei por quanto tempo estamos na estrada. O carro dá
várias voltas, e tenho em mente que seja para despistar. Ester quer
ter certeza de que não estamos sendo seguidos.
— Por quê? — Viro-me para encará-la.
Ester levanta a sobrancelha esquerda, em questionamento.
— Por que tudo isso? — pergunto mais uma vez.
Ester me encara por alguns minutos. Lambo os lábios, em
nervosismo. Aperto as mãos, tentando parar os tremores. Olho bem
para a mulher à minha frente. O que ela tem contra mim? Por que
eu? Sou sua filha, e mesmo assim não vejo reconhecimento, não
vejo nada em seu olhar, em sua expressão, em sua atitude. Como
uma pessoa consegue ser assim? Pergunto-me se seu monstro foi
criado ou se ela já nasceu com ele.
— O que eu te fiz? — pergunto, buscando qualquer coisa
em seu olhar.
— Você nasceu.
Suas palavras são como socos em meu estômago. Não é
porque quero que ela me ame como mãe, pois eu já tenho uma
mãe. Dói em mim saber que essa mulher teve filhos e não os amou,
que foi dado a ela o milagre de gerar um bebê e ela não apreciou
esse milagre. Dói em mim que ela não sabe o que é amor. Um
monstro. Um ser humano sem alma. Isso é tão triste, deprimente.
— Não pedi para nascer — rebato, irritada. — Por que não
abortou?
O carro faz uma parada, as portas se abrem e sou puxada
para fora. Pisco algumas vezes, me acostumando com a vista à
minha frente.
A mansão onde estamos está escondida no meio de uma
floresta. O vento beija minha pele, fazendo com que eu trema. Os
galhos das árvores balançam de um lado para o outro, o barulho do
vento traz paz.
Fecho os olhos, esquecendo de onde estou e com que,
apenas aproveitando essa tranquilidade que sinto. Sorrio, sabendo
que a qualquer momento Caspen aparecerá com seus homens e
tudo isso terá acabado.
Meu pequeno momento é quebrado quando sou empurrada
para frente.
— Vamos, garota, isso aqui não é nenhum retiro ou passeio,
estamos aqui a negócios.
Bato em sua mão, fazendo com que ela pare de me tocar.
Seu toque me deixa enjoada.
— Não me toque! — rosno, olhando-a de cara feia.
Do lado de dentro, fico encantada com a casa. É tão clara,
tão delicada, que me deixa surpresa. Pensei que seria escura e tão
fria quanto Ester; mas não, a casa é agradável.
— O que quer dizer, que estamos aqui a negócios? —
pergunto, olhando-a.
É a vez de Ester sorrir para mim.
— Minha dívida será paga. Você, minha querida filha, é a
passagem para a minha liberdade. Você é o pagamento da minha
dívida — diz com um grande sorriso nos lábios.
Franzo a testa, em questionamento.
— Você me vendeu?! — grito. — Você é louca, porra!
Respiro fundo, tentando controlar minha raiva. A vontade
que tenho é de me jogar nela e apertar seu pescoço até que eu veja
a vida saindo de seus olhos, mas sei que seria pega, sei que seus
homens me impediriam de matá-la, e não é o momento certo. Tenho
que esperar.
— Você queria respostas, estou dando-as a você. — Ester ri
sem emoção, seu olhar é frenético. — Não a abortei porque você
era minha passagem para a liberdade.
Abro a boca, mas logo a fecho. Balançando a cabeça,
encaro Ester. Ela não está fazendo sentido algum nesse momento,
mas estou gostando do jeito em que ela se encontra. Seu olhar é
frenético, suas mãos tremem e posso ver a veia de seu pescoço.
Seu coração deve estar acelerado. Ela está com medo.
— Tem como ser mais clara? Você não está fazendo sentido
nenhum — digo a ela, cruzando os braços.
Um dos seus homens entra, ficando ao seu lado. Ele
sussurra algo ao seu ouvido, e Ester acena com a cabeça.
— Estaremos em meu escritório. Assim que ele chegar,
levo-o até nós. — Ela comanda.
— Sim, Senhora. — O homem acena com a cabeça.
— Vamos, seu novo dono logo chegará. — Ela me pega
pelo braço, arrastando-me consigo.
— Já falei para não encostar em mim! — Bato em seu
braço.
Não vejo para onde está me levando. Luto contra o seu
aperto em meu braço. Tropeço quando sou empurrada para dentro
de uma sala.
— Ah, sim, essa sala parece mais com você — murmuro.
Ester bufa.
— Quem você pensa que é para me vender?! — grito com
ela.
— Sua mãe. — Ela sorri para mim, aparentemente nem um
pouco afetada com minha raiva.
— Minha mãe? — Um riso sai dos meus lábios. — Você não
é minha mãe! Você nunca foi minha mãe! Você é um monstro!
— E você é a filha do monstro. — Suas palavras me pegam
de surpresa. — O que faz de você minha querida filha, um monstro
igual a mim. — Ergue a mão para tocar meu rosto.
Seguro sua mão, torcendo-a, o que a faz gemer de dor.
— Eu disse para não encostar em mim! — Largo sua mão, e
ela continua a gemer.
— Sua alma é tão escura quanto à minha, Lori, você sabe
disso, só tem medo de admitir.
Dou um passo à frente, ficando cara a cara com ela. Encaro-
a com nojo, despeito e puro ódio.
— Sim, minha alma é escura, e eu admito isso, mas ao
contrário de você, eu sou capaz de amar — Sorrio quando vejo o
sorriso morrer de seus lábios —, e eu sou amada de volta, eu tenho
quem me ame; e você, Ester? Quem te ama? — desdenho, ainda
sorrindo.
Sei que estou a irritando, que ela está por um fio, e é isso
que eu quero, quero que ela quebre, quero que ela enlouqueça,
quero que ela se perca.
— Ninguém a ama, Ester. — Sinto o lado direito da minha
bochecha arder com o tapa que ela me dá.
O sorriso em meus lábios aumenta quando vejo-a vermelha
de raiva.
— Pra você eu sou um objeto, mas pra mim você é um
nada. Sem valor. — Continuo a atacando.
Percebo que seu corpo treme.
— Você não tem ninguém. O único homem que amou você
está morto, minha família o matou. — Sorrio ainda mais.
Porra, isso é bom! Olhar para ela nesse momento, mostrar
que mesmo que eu esteja aqui, mesmo que ela me tenha, eu ainda
tenho meu controle, eu ainda tenho poder.
— Como se sentiu quando recebeu a cabeça do seu amante
de presente?
— Você, sua putinha...! — Ester perde o controle e se joga
para cima de mim.
Viro-me, desviando-me do seu ataque.
— Oh! Você gostava dele. — Começo a rir. — Um monstro
que acabou se apaixonando por um criado. Oh, espera, ele não era
um criado, era seu braço direito, o homem que você confiava. Agora
ele não tem nem braço e nem cabeça. — Jogo a cabeça para trás,
caindo na gargalhada.
Não consigo me controlar, eu preciso falar, preciso instigá-la,
deixá-la com raiva, eu quero um confronto, esperei muito tempo por
isso. Estamos sozinhas, não tem ninguém para nos interromper.
Não que eu vá matá-la, mas eu quero uma briga, quero descontar
nela tudo o que estou sentindo, tudo o que ela causou a mim, a dor
que ela me fez sentir. Por Audrey, por Phillipa, por América, por
Chris... Porra! Ela matou Chris, a morte dele ainda pesa em meus
ombros. Ele não merecia a morte. Por mim, eu quero essa briga por
mim. Principalmente por mim, pelo meu passado, porque eu lembro
de tudo, lembro do homem que era meu pai, o homem que me
maltratou, até que Carter o matou, levando-me para longe. Essa
briga é por mim, porque eu sei que quando Caspen a tiver, eu não a
terei só para mim. Ester será passada de mão em mão, ela irá
sofrer, e eu quero que ela sofra, mas primeiro ela será minha.
Nesse momento somos apenas mãe e filha tendo o
confronto da história, o acerto de contas. Vejo o exato momento em
que Ester se prepara para me bater. Sua mão se ergue. Não me
encolho, eu apenas me concentro nela. Não tento sair do seu foco,
eu preciso desse tapa, dessa dor, dessa adrenalina, porque quando
eu a pegar, ela não terá chance.
— Não ouse tocá-la! — Uma voz quebra o grito de Ester e a
faz congelar.
Seus olhos se arregalam. Vejo o exato momento em que
seu corpo treme de medo. Ela se encolhe aos meus olhos,
parecendo uma criancinha com medo do bicho papão.
Interessante... muito interessante.
Olho para o homem que acaba de controlar Ester com um
único comando. Meus olhos se estreitam quando o encaro. Minha
boca se abre em surpresa.
— Eu conheço você.
Capítulo Trinta e Seis
Lori
Ela atirou! A cadela atirou em mim. Ninguém estava
esperando que ela mudasse seu alvo no último minuto. Eu com toda
a certeza não estava esperando.
Sinto o impacto em meu braço. Não sinto a dor de imediato
porque estou pra lá de surpresa. Tropeço um pouco para trás, mas
sinto Lorenzo me segurar. Olho para Ester de boca aberta. Que
vadia! A dor queima meu ombro. Minha visão embaça com as
lágrimas, em uma mistura de dor e raiva.
— Porra! — Caspen esbraveja.
Vejo-o pular em Ester, tirando a arma de sua mão e
jogando-a para Carter, que a pega, guardando-a em sua cintura logo
após.
Caspen a entrega para Lorenzo, que me solta para segurá-
la.
— Sunshine, você está bem? — O olhar dele é de pura
preocupação.
Caspen observa meu ombro. Sangue escorre pelo meu
braço, deixando-me toda suja e pegajosa.
— Estou bem, só dói como uma cadela, mas minha raiva é
maior.
— A bala atravessou, então não está correndo perigo. —
Observo Carter tirar a camisa, em seguida a rasgando e
entregando-a para Caspen, que a enrola em meu ombro para
estancar o sangue.
— Caspen, eu vou matá-la! — grito para ele. — Ela atirou
em mim, essa vadia vai pagar! — digo a ele, irritada.
Caspen sorri para mim, dando um aceno.
— Ela será sua, amor. — Beija minha testa com carinho.
— Ela é sua? — Armando pergunta, olhando para nós dois.
Eu tinha esquecido que ele ainda está aqui.
— Sim, ela é minha. — Caspen responde, com um olhar
ameaçador.
Armando levanta a mão, em sinal de rendição.
— Merda! Essa mulher é louca! — Balança a cabeça. —
Não acredito que ela me trouxe uma Callahan! A mulher do chefe!
— exclama.
— Temos um problema, Armando? — Não perco a ameaça
na voz de Caspen.
— Não, nenhum, não quero me envolver. Ester me devia,
mas agora sua dívida será sua morte. Acabe com ela. — Seu olhar
não está em Caspen, está e mim.
— Eu vou — digo a ele, que sorri, dando um pequeno
aceno.
— Caspen, será que pode pedir a seus homens para não
me matarem? Não quero sair daqui em um caixão. — Armando
pede a Caspen.
— Vamos sair daqui juntos. Fique ao meu lado, assim meus
homens saberão que você não é uma ameaça. Mas não tente nada,
Armando. Meus homens não hesitarão em matá-lo.
Merda! Começo a me sentir fraca e cansada demais. A dor
em meu braço está começando a piorar. Aperto o braço de Caspen.
Ele olha para mim, seu olhar escurece. A raiva está estampada em
seu rosto. Seu olhar passa pelo meu corpo, parando em meu braço.
É tão intenso, que me deixa sem fôlego. Minhas pernas ficam
fracas, perco o equilíbrio, mas Caspen me segura em seus braços.
— Droga! — esbraveja. — Lorenzo, tome a frente, avise aos
nossos que estamos saindo. Carter, leve Ester, quero que seus
homens vejam que nós a temos — comanda. — Está na hora de
todos verem quem eu sou.
O modo com que ele se comporta muda, Caspen se
transforma no monstro que todos temem. Olho para ele com
admiração. Esse é o homem que eu amo, todo ele, o bom e o mau,
aquele que todos temem e respeitam.
Ninguém diz que Caspen tem um lado diferente, um lado
amoroso e preocupado. Sinto-me extasiada ao vê-lo demonstrar
isso sem ter medo do que as pessoas irão dizer. O lado que ele
escondeu durante tantos anos. Saber que ele é capaz de amar, de
me amar, é como chuva em uma seca, ou seja, um milagre.
Minhas mãos formigam para tocá-lo, para senti-lo, mas
tenho que me controlar, me manter firme, porque é isso que ele
precisa nesse momento, que eu seja fria e forte, que eu mostre
respeito, mostre que eu sou sua rainha.
— Você está bem, Sunshine? — Sinto sua respiração ao
meu ouvido.
Meu corpo treme ao ouvir o som rouco e forte de sua voz.
Fecho os olhos, respirando fundo, a fim de controlar a sensação de
tê-lo por perto.
Como posso ficar excitada nesse momento? Meu braço dói
demais, me sinto fraca e pronta para ir para casa, e mesmo assim,
meu corpo corresponde a ele.
— Sim, estou bem.
Acenando com a cabeça, Caspen me envolve em seus
braços.
— Amélia, avise aos meus homens que estamos saindo. —
Caspen diz.
Sorrio ao saber que minha melhor amiga está por trás de
tudo, guiando Caspen e seus homens.
Lorenzo abre a porta, saindo primeiro, e logo atrás, Caspen
sai com Ester, segurando-a pela nuca, obtendo todo o controle de
seu corpo. Não há escapatória para Ester, e pelo seu olhar, ela sabe
que é o seu fim.
Do lado de fora, Lorezno abre caminho para Caspen e eu.
Atrás de nós dois está Armando. Dou uma olhadinha para ele, e
sorrio ao ver quão tenso está com toda essa situação.
À nossa volta estão os homens de Caspen, todos armados.
No chão estão os homens de Ester, alguns mortos, outros feridos e
outros apenas derrotados.
Caspen caminha com tanta confiança, sua cabeça erguida,
olhando para o caos à sua frente. Um pequeno sorriso puxa o canto
de sua boca.
Toda a carnificina o excita, o deixa ligado. Ele gosta de ver a
morte, a dor, a derrota.
— Perdemos alguém? — pergunta ele ao meu irmão.
— Não. Alguns à beira da morte, sim, mas nenhum morto.
— Meu irmão lhe responde, e seus olhos vão para mim. — Merda!
— resmunga quando vê o estado do meu braço.
— Estou bem. — Dou um pequeno sorriso a ele, que acena
com a cabeça.
Pelo seu olhar, sei que não está satisfeito com o meu estou
bem. Pisco para ele, que balança a cabeça.
Caspen me leva consigo para o meio da grande sala. A
porta principal se abre, e mais homens de Caspen entram com os
homens de Ester. Caspen se posiciona bem no meio da sala. Seus
homens mostram respeito ao abaixarem a cabeça.
Abrindo caminho, ele permite que Carter coloque Ester à
nossa frente, de frente para os seus homens.
— Fico feliz que todos estejam aqui. — Caspen começa, e
um sorriso puxa seus lábios. — Como podem ver, a chefe de vocês
está sob o meu domínio. — Vejo os homens de Ester engolirem em
seco. — Ester Donovan é minha propriedade, assim como vocês.
Hoje, meus caros, é o fim de Ester.
Tirando-me dos seus braços, ele caminha pela sala,
desafiando a quem ousar salvar Ester. Um homem tem a coragem
de dar um passo à frente, mas Caspen é mais rápido, pegando sua
arma, apontando para o homem e atirando bem no meio de sua
testa, o que o faz cair no chão. Em seguida Caspen caminha até
Ester, pegando-a pelos cabelos.
— Essa mulher é uma escória, ela é um nada, e hoje terá o
que merece. Ela maltratou a filha e atirou em minha mulher. Hoje,
Ester Donovan morrerá sob minhas mãos — anuncia.
Os homens de Caspen gritam em comemoração. Caspen
levanta a mão livre, silenciando a sala.
— Quem tentar salvá-la, será morto. Vocês são meus agora,
meus homens, meus capachos. Ajoelhem-se! — ordena.
Toda a sala fica em silêncio. Prendo a respiração,
esperando os homens se ajoelharem. A tensão à nossa volta é
grande demais.
— Se vocês querem continuar vivos, é melhor se renderem.
— Caspen diz, sua voz fria. — Eu disse: ajoelhem-se! — Sua voz
agora é mais grave, mais alta e bem mais mortal.
Um por um, eles se ajoelham, abaixando suas cabeças, em
total rendição a Caspen. Ester solta um grito, se debatendo,
tentando sair do aperto de Caspen.
— Seus traidores! — grita Ester. — Eu vou matar vocês!
Caspen estala a língua, balançando a cabeça.
— A única que morrerá aqui é você, Ester. — Sorri para ela.
— Levantem-se — comanda.
Eles se levantam e esperam pela ordem de Caspen, que
joga Ester para Carter, que a pega, mantendo-a sob controle.
Caminha até mim e para ao meu lado.
— Essa é Lori Callahan, minha mulher, a elas vocês darão
todo o respeito — diz, bem sério.
Aquela pequena, mas forte eletricidade passa pelo meu
corpo conforme ele fala. Sorrio interiormente.
— Tenho algumas regras que irei discutir com vocês em
outro momento, mas duas delas é essencial saberem de imediato:
não prejudicamos mulheres inocentes, não tocamos em crianças e
nem em idosos. Quem ousar ir contra, será eliminado. — Caspen se
vira para Lorenzo. — Coloque ordem em tudo. Voltarei mais tarde.
— Lorenzo acena com a cabeça.
Envolvendo seus braços em mim mais uma vez, Caspen
nos leva para fora da casa, onde dois carros estão nos esperando.
Assim que o ar da noite bate em meu corpo, sinto-me fraca demais
para continuar, minhas pernas se dobram, minha visão escurece.
Antes que eu caia no chão, Caspen me pega no colo. Sorrio para
ele, mas em instantes tudo apaga.
Caspen
— Onde está a porra do médico?! — grito, assim que entro
em casa, com Lori desmaiada em meus braços.
— Estou bem aqui. — O médico diz, bem atrás de mim.
— Oh, meu Deus! — Tia Megan diz, ao ver Lori em meus
braços. — Meu bebê! — exclama, com lágrimas nos olhos.
— O que aconteceu, filho? — Mamãe abre caminho, já que
temos uma grande plateia à nossa volta.
— Ester, foi Ester que aconteceu.
— Aquela mulher... aquela mulher atirou em meu bebê. —
Megan diz, tentando alcançar Lori em meus braços.
Suspiro frustrado. Tudo o que quero é levar Lori para o
quarto, para que ela seja examinada, mas com toda essa gente à
minha volta se torna impossível. Olho para o pai e Tio Franck,
implorando a eles com meu olhar para que os dois levem essas
mulheres daqui, mas é a vovó quem vem ao meu socorro:
— Já chega! — Bate as mãos, abrindo caminho para ela
passar. — Deixe-o levá-la para o quarto! Lori precisa do médico, e
não de vocês em cima dela! — Empurra Megan para fora do
caminho.
Sophia, Lauren e Harry abrem caminho para que eu possa
passar.
Estou preocupado com Lori. No momento em que Ester
apontou a arma para mim, eu sabia que ela não atiraria, mas nunca
imaginei que ela iria atirar em Lori, o que prova ainda mais que ela
não tem amor algum, nem por ela mesma e nem por suas filhas.
Quando ela atirou em Lori, pensei que tudo tivesse ido para
baixo, meu coração parou de bater, pensei que tivesse a perdido;
mas quando vi que ela estava bem e furiosa por ter levado um tiro,
meu peito se encheu de alívio.
Lori ficará bem. Ela não corre risco. Eu não posso perdê-la,
não agora que a tenho, não depois de tudo o que fiz para conquistá-
la.
Com cuidado, coloco-a na cama, não querendo machucá-la.
Dou espaço para o médico examiná-la. Vovó fica junto à porta,
impedindo a entrada de outros.
Sei que é egoísmo da minha parte e que a mãe de Lori tem
o direito de estar aqui, mas nesse momento, quero Lori só para
mim.
Ando de um lado para o outro, enquanto os minutos se
passam e o médico cuida de Lori. Meu olhar sempre nela.
— Ela está bem? — pergunto, por fim, preocupado.
— Sim, ela está bem. Ela perdeu sangue, mas não é nada
preocupante, ela vai ficar bem. A bala atravessou, então apenas
limpei e dei ponto. Agora ela precisa descansar e cuidar dos pontos.
Aceno com a cabeça. Pego um envelope de dinheiro do
meu terno e entrego a ele.
— Agradeço pelo seu serviço. — Ele acena com a cabeça.
— Estarei com minha equipe cuidando de seus homens. Se
precisar de mim, sabe meu número — diz, dando um aperto em
meu ombro.
Vovó o deixa passar. Olho para Lori, que está adormecida.
Sento-me ao seu lado na cama, tirando alguns fios de seus cabelos
loiros do rosto.
— Porra, Sunshine, pensei que a perderia — sussurro. —
Não posso perdê-la, Lori, acho que eu enlouqueceria. — Solto um
pequeno riso sem emoção.
Curvo-me sobre ela, dando um beijo em sua testa.
— Descanse, amor. Estarei de volta quando acordar. —
Viro-me em direção à porta.
Tia Megan e mamãe discutem com vovó.
— Quietas! — digo, entredentes.
Sinto uma pequena pontada na cabeça. Droga! Essas
mulheres estão me dando nos nervos!
— Lori precisa descansar, e não de vocês em cima dela.
— Ela é minha filha. — Megan rebate.
— Ela é minha mulher, e sua saúde e seu bem-estar são a
minha prioridade. Ela precisa descansar por agora. Quando ela
acordar, ela irá decidir se quer vê-las. — Lanço a elas um olhar que
as faz entenderem que não quero discussão.
Tia Megan olha para mim. Sorrio para ela, cruzando os
braços. Encaro-a, esperando-a dizer algo a mais. Por fim ela abaixa
o olhar, e seus ombros caem, em sinal de derrota.
— Tudo bem, esperarei por ela.
— Vovó, você fica aqui, ela precisará de ajuda ao acordar.
— Sim, chefe! — Sorri para mim.
Rolo os olhos. Essa velha é um problema! Saio do quarto.
No andar de baixo, encontro os homens de Lori esperando
por mim.
— Ela está bem. Preciso que vocês fiquem, quero-a segura.
Ninguém entra no quarto sem a permissão dela — digo a eles.
Não espero por resposta. Tenho Ester para ver e homens
novos para comandar. Eles precisam saber que sou eu quem os
comanda agora, suas vidas são minhas. Eles vivem por mim,
porque eu permito.
Capítulo Trinta e Oito
Lori
Droga! Não consigo conter as lágrimas que insistam em cair.
Observar América, o sorriso em seus lábios, o riso que sai de sua
boca, aquele brilho alegre em seus olhos... Em uma semana, aquela
tristeza que ela tinha se foi. Ela não é mais América filha de Ester,
ela é América minha irmã. Vou amá-la com toda a força que tenho,
protegê-la com a minha vida.
Paramos no quartinho onde as crianças costumam brincar.
— Dodói dói? — América olha para mim, com olhos
estreitados.
Ajoelho-me à sua frente. América me abraça, o que me
pega de surpresa. Sua cabeça encosta em meu ombro.
— Chora não. Beijo e passa — sussurra.
— Oh, querida, meu dodói não dói, só estou feliz.
Tirando a cabeça de meu ombro, ela olha para mim. Posso
ver que não está satisfeita com o que eu disse.
— Chorando feliz?
— Sim, amor, são lágrimas felizes. — Ela sorri para mim.
— Bom! Vou brincar. — Ela corre, pulando em Caspen, que
a pega, girando-a no ar.
Sorrio ao ouvir o riso dela, ao ver o brilho alegre em seu
olhar, saber que tudo ficará bem e que agora ela tem uma família.
Agora ela me tem, América agora é uma Callahan.
— Você está bem? — Pulo ao ouvir a voz de Caspen.
Viro a cabeça para o lado, vendo-o me encarando com seus
olhos escuros. Sorrio, balançando a cabeça.
— Agora estou. — Ele acena com a cabeça.
— Ela nos tem agora. — Ele olha para América, que brinca
com as outras meninas.
Um pequeno sorriso puxa o canto dos seus lábios. Suspiro
alto.
Não me contento. Deus! Sinto falta dele, do seu toque, da
sua boca em mim, da intensidade do seu olhar. Esses últimos dias
têm sido tão agitados, tudo o que aconteceu com Ester, as notícias,
a imprensa que não sai do meu pé, querendo uma declaração
minha...
Caspen olha para mim sorrindo.
— O que foi? — pergunto, estreitando os olhos.
— Esse seu olhar — sussurra.
— Que olhar?
Abaixando a cabeça, ele encosta a boca em minha orelha.
Meu corpo treme com o pequeno contato.
— Esse olhar de foda-me. — Dá uma mordidinha em minha
orelha, o que faz com que meu corpo se arrepie.
Meus olhos se fecham automaticamente.
Deus me ajude! Estou a ponto de perder toda a compostura.
Caspen me segura quando minhas pernas fraquejam. Ele ri,
e meus olhos se abrem.
— Não é engraçado — digo, olhando-o de cara feia.
— Sunshine, você está tão sensível a mim, ao meu toque.
Sentindo minha falta?
Rolo os olhos, cruzando os braços. Desvio meu olhar do
dele.
— Não, nem um pouco.
— Mentirosa. — Ele beija minha bochecha.
— Quero ver Ester. — Volto a encarar Caspen.
Ele balança a cabeça, negando meu pedido.
— Caspen, eu preciso ver Ester, preciso da minha vingança,
preciso fazê-la sofrer.
Uma necessidade cresce em mim.
— Seu braço não está bom ainda. — Estreita os olhos para
mim.
— Não aguento mais esperar, Caspen, quero que ela morra,
que pague pelo que fez, quero que tudo realmente acabe. — Olho-
o, bem séria.
E saber que ela está tão perto de América... que ela ainda
respira, me enfurece, a raiva cresce em mim, dominando meu
corpo, fazendo com que tudo em mim corroa.
Fecho minhas mãos em punho, tentando controlar a raiva
que sinto, a vontade avassaladora que tenho de ir até Ester e dar
um fim nela.
Quero que ela sofra, que ela sinta toda a dor que ela causou
a mim, à minha família, a América, quero que ela grite, implore pela
vida, chore de dor, quero levá-la ao inferno. Eu serei o demônio dos
pesadelos de Ester. Eu trarei dor, sofrimento, tortura e a morte até
ela. Eu serei seu carrasco.
— Sunhine...
— Caspen... — rebato, não desviando o olhar.
Suspirando, ele passa as mãos pelos cabelos. Seu olhar vai
para as meninas que brincam animadamente de boneca. Caspen
não fala nada por um tempo, apenas as observa. Pelo vinco em sua
testa, sei que ele está pensando sobre me levar até Ester. Entendo
a preocupação dele. Levei um tiro o braço, ainda tenho os pontos.
Sei que ele quer que eu fique cem por cento bem antes de me lavar
até Ester, mas essa é uma escolha minha. Preciso dar um fim a tudo
isso, preciso encarar essa parte da minha vida, colocar Ester onde
ela merece, para eu poder seguir em frente.
— Tudo bem. — Caspen desvia o olhar das meninas para
olhar para mim. — Hoje à noite Ester é sua.
Enquanto caminhamos pelo corredor mal iluminado que nos
leva até a grande sala de tortura, aperto a mão de Caspen. Com a
cabeça erguida, passo pelos seguranças, que abaixam a cabeça,
em sinal de respeito, enquanto passamos.
Com um grande sorriso nos lábios, entramos na grande
sala, onde Carter já espera por nós. Solto a mão de Caspen e
caminho até a cela onde Ester se encontra, meu olhar passando
pela cela de Phillipa. Minha irmã sorri para mim, provavelmente
sabendo muito bem o motivo da minha presença.
Paro bem em frente ao vidro da cela de Ester, olhando-a.
Seu olhar se encontra com o meu, e deixo-a ver toda a raiva dentro
de mim. Essa fúria será liberada sobre ela.
Sorrio ao ver o medo em seu olhar. Seu corpo treme. À
medida que a olho mais, Ester se encolhe. Alimento-me dela, do seu
medo, do tremor em seu corpo. Vê-la assim é tudo para mim. Saber
que eu estou causando seu medo e que causarei sua dor, seus
gritos, seu desespero... Quero que ela sofra, assim como fez todos
à sua volta sofrerem.
Na verdade, só quero que esse pesadelo acabe. Não posso
continuar vivendo enquanto Ester continuar respirando. Mesmo ela
estando aqui, presa, ela continua sendo uma ameaça.
— Lori? — Caspen me chama.
Viro a cabeça para trás, olhando-o. Ele está preocupado,
acha que não serei capaz de acabar com Ester, por ela ser minha
mãe...
Ela não é minha mãe! Não para mim. Nunca foi e nunca
será. Ester é um nada para mim.
— Tem certeza?
Olho à sua volta. Todos estão me esperando, todos
pensando que falharei, até meus homens, meus homens estão
duvidando de mim... Fecho a cara, deixando apenas um sorrisinho
malicioso puxar o canto dos meus lábios. Volto a olhar para Ester.
Ah, sim! Eu tenho certeza. Nunca tive tanta certeza em toda
a minha vida!
— Sim — respondo.
Chuto o vidro da cela, o que faz com que Ester pule de
susto.
— Chegou o dia do acerto de contas, hoje é o dia em que
você morre, Ester...
Capítulo Quarenta
Uma hora depois Carter volta com tudo o que pedi. Caspen
arregala os olhos, sua boca se abre e ele me olha surpreso. Sorrio
para ele.
Atrás de mim, Ester começa a se debater. Ela sabe, ela
sabe o que a espera, ela sabe como será seu fim.
— Tem certeza? — Caspen pergunta, olhando-me com
cautela.
— Aqui é preparado para isso? — Aponto para o
equipamento que Carter trouxe.
— Sunshine, aqui é preparado para todo o tipo de tortura
que imaginar — responde Caspen, sorrindo.
— Então sim, eu tenho certeza. — Sorrio para ele.
— Quando estiver pronta. — Pisca para mim.
— Não, não. Me mate logo, não quero passar por isso. —
Ester sussurra, seus olhos arregalados.
Ela tenta se soltar das amarras, o que é em vão e só a
machuca ainda mais. Suspiro, balançando a cabeça.
— Ester, Ester... você não vê que não tem voz aqui? Você
não está em posição de fazer exigências. Aqui você não tem valor,
não há escolha para você.
— Filha... — implora, olhando-me.
— Não, não sou sua filha.
— Phillipa... — Ester olha para onde Phillipa está.
Chega a ser engraçada toda essa situação.
— Quero que morra. — Phillipa diz, com puro ódio.
— Não há ninguém para salvá-la. Esse é o seu fim, aceite-o.
Olho para Carter, acenando com a cabeça. Observo
enquanto ele substitui as correntes de Ester por mais grossas e
mais resistentes. Ester luta um pouco, mas está fraca e machucada,
sua pequena luta não adianta de nada. Caspen segura minha mão e
Carter termina de preparar a sala. Olhando para mim, ele acena
com a cabeça. Solto a mão de Caspen e me aproximo de Ester,
olhando-a nos olhos. Sorrio para ela, um sorriso verdadeiro, um
sorriso de alívio. Conforto toma conta do meu corpo, uma paz me
envolve nesse momento.
— Aproveite o calor. — Pisco e dou as costas a ela. — Ah!
— Volto-me, sorrindo maldosamente. — Te vejo no inferno, mamãe.
Capítulo Quarenta e Um
Caspen
— Te vejo no inferno, mamãe.
Porra! Minha mulher é demais! Nunca teria se passado em
minha mente que Lori teria essa ideia cruel, muito cruel. É um dos
piores jeitos de morrer. Pura tortura.
— Vamos. — Tomo sua mão na minha, a levando para uma
outra sala, onde podemos observar em segurança Ester morrer.
Aceno para Carter. Ele sabe o que fazer, como prosseguir
com a morte de Ester.
— Você está bem, Sunshine? — pergunto, preocupado.
Ela pode estar se saindo muito bem, se mostrando forte e
determinada, mas lá no fundo, não deve estar sendo fácil. Nunca á
fácil tirar uma vida, principalmente quando se trata de sua mãe.
Não que Ester seja uma boa mãe. A mulher é um ser
humano sem alma, incapaz de sentir e amar, mas não muda o fato
de que ela é mãe de Lori.
— Sim, estou muito bem.
Olho em seus olhos, procurando algo, mas não encontro.
Ela realmente está bem. Um pequeno sorriso puxa o canto da sua
boca.
— Não se preocupe comigo, Caspen, estou bem, realmente.
Ester não merece meu amor, minha pena ou qualquer coisa que
demonstre compaixão. De mim ela não terá nada. — Aceno com a
cabeça.
Seu olhar se volta para o vidro à nossa frente. Do outro lado,
Carter prepara Ester. Meu irmão pega o galão de gasolina, em
seguida, o despejando no corpo de Ester. Lori aperta minha mão.
Olho para ela, vendo o grande sorriso em seus lábios.
Ela está gostando! Deus, Lori está gostando de ver o
sofrimento de Ester! Porra, gostando é pouco, ela está amando! O
brilho em seus olhos e o sorriso em seus lábios demonstram o
quanto ela está aproveitando toda essa situação. Parece que ela
está no próprio mundo, o próprio parque de diversão. Olhar para ela
nesse momento me deixa hipnotizado, é prazeroso.
Antes de Carter atear fogo, ele olha para Lori, esperando
sua confirmação. Respirando fundo, ela dá a ele um aceno de
cabeça.
Ester vai à loucura tentando se soltar. Bem, ela não tenta
muito, já que seu corpo está quebrado demais.
Meu irmão sorri ao acender o fósforo. Percebo que Lori
prende a respiração e espera. Ela volta a respirar quando Carter
joga o fósforo em Ester, que grita.
Hipnotizada, Lori está hipnotizada, concentrada em ver
Ester queimar; e eu me concentro nela, em minha Sunshine,
observando cada emoção que ela transmite. Sinto-me orgulhoso
dela e de tudo o que fez, de como ela se comportou em meio a tudo
o que aconteceu. Lori foi forte em todo o momento, sabendo lidar
com cada situação.
O cheiro de carne queimando começa a entrar na sala em
que estamos. Lori fecha os olhos, inspirando o cheiro, mas a reação
que ela tem não é boa. Colocando uma mão na boca e outra no
estômago, ela corre para um canto da sala, onde há um balde, e
despeja tudo para fora. Olho para Carter, que dá de ombros. Vou até
ela e seguro seu cabelo.
— Você está bem? — Esfrego suas costas.
Lori balança a cabeça.
— O cheiro de carne queimada está me enjoando —
resmunga.
— Vamos para casa — digo, tentando levá-la para longe,
mas Lori se nega a sair.
— Não, quero vê-la queimar — diz, olhando-me. — Quero
ver seu corpo virar cinzas.
Suspiro.
— Tudo bem.
Lori se levanta e volta para a frente do vidro.
— É lindo. — Ela diz olhando para o corpo de Ester.
Não há mais luta. Sem gritos, sem choro, apenas um corpo
morto queimando até não restar mais nada.
— Vê-la assim, saber que finalmente acabou, que ela não
existe mais, que não trará mais nenhum mal... é lindo. O fogo
tomando seu corpo, levando seus gritos, trazendo dor a ela,
comendo sua pele... Ver o fogo a consumindo, levando-a às
cinzas... Essa é a coisa mais linda que já vi. — Seus olhos se
encontram com os meus.
Eles brilham.
Seguro-a contra meu corpo. Lori suspira de contentamento.
Juntos, observamos Ester virar pó. Lori não se enjoa de novo, ela
apenas se concentra no fogo em Ester.
— Como está se sentindo, Sunshine? — Beijo seus cabelos.
— Ela se foi — sussurra.
Consigo identificar a felicidade em sua voz.
— Sim, ela se foi.
Lori ergue a cabeça para olhar para mim.
— Estou me sentindo muito, muito bem, Caspen. — Seu
sorriso aumenta.
Suspiro aliviado, sabendo que tudo deu certo no final e que
agora ela pode encontrar a paz de que tanto necessita.
Encostando sua testa em meu peito e fechando os olhos,
ela solta um pequeno suspiro. Seguro-a contra meu corpo, meus
braços a envolvendo de forma protetora.
Essa mulher em meus braços me surpreende a cada
momento. Ela é uma força a ser reconhecida. A mulher que amo
imensamente, a mulher que tira meu fôlego, aquela que me viu,
realmente viu quem sou e me aceitou. Essa mulher é minha, toda
minha, só minha, e tenho orgulho de dizer que a amo e a admiro.
Não sou o tipo de pessoa que demonstra sentimentos, o tipo
que faz juras de amor, mas por Lori, pela minha Sunshine, serei o
homem mais romântico e carinhoso que existe. Por ela eu serei o
que ela quiser.
— Acabou — diz por fim.
— Sim, amor, acabou. — Sorrio para ela.
— O que faremos agora? — pergunta, olhando para mim.
— Nós seguimos em frente. — Sorrio mais, e ela retribui.
— Seguimos em frente — repete em um sussurro.
Lori
Nada. Não sobrou nada de Ester, nenhum vestígio do seu
corpo, apenas cinzas. Aproveite o inferno, vadia, penso, um sorriso
se formando em meus lábios.
É assim que acaba. Finalmente consigo sentir aquela paz
que tanto necessitava, aquele sentimento de que tudo ficará bem e
que a ameaça foi exterminada. Ester não pode mais nos alcançar,
ela não tem mais poder sobre nossas vidas, e América finalmente
está livre dessa mulher mesquinha.
— O que iremos fazer com eles? — Caspen aponta para
Dimitri e Phillipa.
Olho para os dois encolhidos em suas celas. Phillipa olha
para mim. Quero conhecê-la, quero ter essa relação de irmãs, mas
nesse momento, não confio nela. Sei que ela tentou proteger
América e fez o melhor que pôde, mas se ela tivesse vindo até nós,
as coisas seriam diferentes, Ester teria sido eliminada bem antes, e
tanto Phillipa quanto América teriam nossa proteção. Ela traiu
Caspen com suas escolhas, agora ela tem que pagar por elas.
Já de Dimitri não tenho muito o que dizer. Ele me torturou,
abusou de mim, tirou um pedaço da minha alma, um pedaço de mim
que não há como consertar. Ele tirou minha escolha, quero que ele
sofra mais um pouco. Quero que Dimitri fique com a pergunta:
quando será a minha vez?; quero-o incomodado, assustado.
— Dimitri, pode deixar aqui. Virei para ele em poucos dias.
— Olho para Dimitri, dando uma piscadinha para ele, que treme;
depois olho para a minha irmã. — Não sei o que fazer com ela.
Phillipa é minha irmã e quero conhecê-la melhor, mas nesse
momento só quero distância. Preciso pensar um pouco. Só preciso
de tempo — respondo a Caspen, que acena com a cabeça para
mim.
— Tome seu tempo, Sunshine.
Sua cabeça se abaixa, e sua boca toma a minha em um
beijo calmo, mas muito, muito sensual. Entrego-me ao beijo,
deixando-o tomar as rédeas. Envolvo meus braços em volta do seu
pescoço e fico na ponta dos pés. Meus lábios se abrem, dando a ele
livre acesso. Suas mãos seguram-me pela cintura. Solto um
pequeno gemido quando ele me puxa para mais perto e eu sinto sua
protuberância em mim.
— Caralho, Sunshine! Você me deixa louco! — resmunga
em meus lábios.
— O mesmo aqui — sussurro.
Mordisca meus lábios, sua língua acaricia a minha, ele me
devora feito um louco.
— Preciso de você — digo, entre beijos.
Caspen me pega, levando-me para fora. Ele não para o
beijo, apenas me leva em seus braços para o andar de cima, em
direção ao seu quarto.
Seu beijo é envolvente. Meu corpo clama pelo dele. Sinto-
me consumida, tão cheia de desejo, de adrenalina, que tudo o que
eu quero é ele. Preciso dele nesse momento como preciso de ar
para respirar. Seu calor me envolve, levando-me à loucura.
Fechando a porta do quarto com o pé, Caspen nos leva
direto para o banheiro. Não se importando que estamos vestidos,
ele apenas abre o chuveiro, nos colocando debaixo.
— Caspen...
— Shhhh, Sunhine, deixe-me limpá-la. — Ele beija minha
testa com carinho.
Esse homem é um mistério para mim. Segundos antes
estávamos envolvidos com tanta paixão, que pensei que foderíamos
sem sentindo; mas aqui está ele, cuidando de mim, me despindo
com cuidado, com um brilho nos olhos, que demonstra amor e
respeito.
Em silêncio, me despe, suas mãos calejadas alisando meu
corpo com tanto cuidado, como se eu pudesse quebrar a qualquer
momento.
Não que ele pense que sou frágil, não creio nisso; mas
nesse momento ele está cuidando de mim dessa forma, como se eu
precisasse de delicadeza, e isso traz lágrimas aos meus olhos. É
um momento tão bonito.
Pegando uma esponja, ele passa o sabão e depois esfrega
meu corpo, tirando todo o sangue seco de minha pele. Em cada
parte de onde limpa o sangue, Caspen dá um beijo.
Meus olhos se fecham e eu sinto, apenas sinto-o, o seu
cuidado, o seu carinho e o seu amor. Sinto seus lábios em meu
corpo, suas mãos me limpando. Um pequeno suspiro deixa meus
lábios quando ele começa a lavar meus cabelos. Seu toque é como
um calmante em meu corpo.
— Isso é bom — resmungo —, muito bom.
Caspen solta um pequeno riso.
— Fico feliz em agradar.
Meu corpo começa a relaxar no banho. Sinto-me cansada.
Esgotada, para dizer a verdade. Todo o momento de libertação que
tive enquanto torturava Ester, o enjoo com o cheiro de pele sendo
queimada, tudo o que aconteceu está me envolvendo, deixando
cansada demais.
O cansaço bate em meu corpo rápido demais, e me vejo
caindo nos braços de Caspen.
— Descanse, amor, estarei ao seu lado quando acordar.
Caspen
Esgotada. Lori estava esgotada com tudo o que aconteceu.
Não que eu a culpe. Foram horas e horas de tortura, sem parar para
comer ou descansar, e no fim, tudo o que ela tinha no estômago foi
colocado para fora quando o cheiro de pele queimada a atingiu.
Coloco-a na cama com cuidado e a cubro com um lençol,
dando um beijo em sua testa. Volto para o banheiro, porque agora é
a minha vez de me limpar.
Lavo meu corpo, tirando o sangue, a sujeira e o cheiro de
queimado. Assim que saio do banho, me visto, dou uma última
olhada em Lori e saio, voltando para a sala de tortura.
— Como está Lori? — Carter pergunta.
— Dormindo. Tudo isso a esgotou. — Ele acena com a
cabeça.
— Ela foi forte. — Ri, balançando a cabeça. — Ela na
verdade foi é louca! — Contém orgulho em sua voz. — Queimar
Ester?! A melhor ideia que ela já teve! Foi simplesmente perfeito! O
melhor jeito de matar alguém, de fazer uma pessoa sofrer até no
momento da morte. — Solta um assobio.
— Ela foi perfeita — comento, orgulhoso.
— Sim, irmão, você encontrou a mulher perfeita para você.
— Ele aperta meu ombro.
— Nisso eu concordo plenamente. — Sorrio. — Chame os
meninos e peça-lhes para limparem essa bagunça. — Aponto para a
sala onde Ester foi queimada minutos atrás.
— Já os chamei, eles estão a caminho. E esses dois? O que
fará com eles?
— Dimitri irá continuar aqui, ele é de Lori. — Olho para
Phillipa. — Agora, ela, ela precisa desaparecer até que seja da
vontade de Lori vê-la.
— Quem precisa desaparecer? — Raphael se intromete na
conversa, esfregando as mãos juntas.
Atrás dele estão os homens que limparão o lugar e levarão o
resto de Ester... bem, suas cinzas.
Raphael olha em volta da sala.
— Uau! Quem foi queimado aqui? — pergunta, olhando do
chão ao teto.
— Ester — digo, e ele ri.
— Vocês colocaram a vadia para queimar! — Balança a
cabeça, rindo. — Ótima ideia!
— Não fomos nós, foi Lori — digo a ele.
— Porra! Tenho que dar os parabéns à minha priminha, ela
sabe como matar alguém! — Sorri. — Bem, quem precisa
desaparecer? — pergunta, ficando sério.
Aponto para Phillipa, que está nos encarando.
— Ela, quero que ela suma.
Raphael olha para Phillipa, observando-a por alguns
minutos.
— Quer que ela suma? Em qual sentindo, chefe?
Sorrio para ele.
— Só a quero longe. Lori não a quer por perto por enquanto,
então, leva-a, fique de olho nela até que Lori decida vê-la.
Raphael esfrega o queixo, provavelmente pensando no que
acabo de falar. Por fim ele suspira, balançando a cabeça.
— Quer que eu fique de babá — resmunga.
Ele não gosta, nenhum dos meus homens gosta de ficar de
babá, mas é o que quero, é necessário. Não confio em Phillipa,
então a quero longe e isolada de tudo e de todos. Ela precisa pagar
pelo que fez.
— Tudo bem, sei para onde a levar. — Ele se vira, ficando
de frente para Phillipa e dando-lhe uma olhada desdenhosa. —
Você e eu, querida, será só nós dois.
— Bem, agora que temos tudo resolvido, irei cuidar da
minha mulher. Vejo vocês depois.
Ester está morta, seus homens agora são meus homens.
Toda a ameaça está neutralizada, Lori finalmente é minha...
Porra! Tudo está perfeito, como deve ser! O rei continua em
seu trono, e ao seu lado está sua rainha...
Capítulo Quarenta e Dois
Um mês depois...
Sorrio para Caspen. Não posso acreditar que estávamos
fazendo isso. Deus! Sonhei tanto com esse momento! Não há
palavras para explicar o quanto esperei por esse dia, o quanto
sonhei e ansiei por esse momento, o momento em que eu me
tornaria dele e ele se tornaria meu.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Caspen ergue a mão,
passando o dedo em minha bochecha. Meu coração bate forte. A
intensidade no olhar de Caspen me deixa sem chão. Ele sorri para
mim.
Amor, puro amor transborda do meu coração.
Passamos por muito, chegou a um momento que desisti
dele, de nós, desse amor não correspondido. Estava tão cansada de
lutar sozinha, tão cansada de não ser correspondida, cansada de
tudo. Chegar até esse momento custou muito.
Olho para toda a nossa família, todos presentes para esse
momento. Sorrio ao ver América no colo de Osmar.
Nossos filhos... Sim, Caspen e eu oficializamos a adoção
dos dois, eles são nossos agora, e eu amo os dois.
O sol se põe atrás de nós dois, sob o mar. Estamos no
penhasco, o mesmo penhasco em que conheci Chris, o mesmo
penhasco em que Caspen me pediu em casamento, o mesmo
penhasco do qual pulamos.
Estamos fazendo isso! Estamos realmente fazendo isso!
Não posso acreditar! Era meu sonho de criança, um sonho que por
um tempo pensei ser impossível de realizar; mas aqui estamos nós,
nos casando.
Quero dar pulinhos de alegria... Não, quero dar pulinhos e
gritinhos de alegria. Oh, meu Deus! Estou tão eufórica, que está
sendo difícil me controlar.
— Sunshine...
— Eu, essa sou eu — digo, apontando para mim mesma.
Pareço uma criança boba. Todos riem do que acabo de falar.
Controle-se, Lori, digo mentalmente a mim mesma.
— Sim, amor, você é a minha Sunshine. — Caspen pisca
para mim.
Deus! Sinto minhas bochechas arderem!
— Continua, por favor — digo a ele, sorrindo.
— Tudo bem. — Caspen acena com a cabeça ao limpar a
garganta. — Lori, não sei mais o que dizer para você, já que eu já
disse meus votos alguns meses atrás; mas aqui, diante da nossa
família, quero que todos saibam quão sortudo eu sou por tê-la, por
você ter me dado mais uma chance, por ter me aceitado e me
amado mais uma vez. Eu quase a perdi, por minha culpa, por causa
do meu ego eu quase a perdi. Não tenho vergonha de admitir que
tive uma grande ajuda ao ler o seu diário. — Nossos familiares riem.
— Sim, sim, eu li o diário dela. — Caspen diz, olhando-os, e logo
seu olhar se volta para mim.
Meus olhos parecem cachoeira, de tantas lágrimas
derramadas. Mas não me importo nem um pouco. O homem que eu
amo está se declarando para mim, e é tudo o que importa.
— Seu diário virou meu melhor amigo, e através dele eu
pude conhecê-la melhor, e o que vi me deixou sem palavras,
encantado e mais apaixonado... — Meneia a cabeça,
desconcertado. — Porra...
— Olha a boca, tem criança no local. — Vovó Nadine o
repreende.
— Porra! — América repete, batendo palmas.
Balanço a cabeça, mordendo minha bochecha, para impedir
o riso.
— Oh, céus! — Mamãe e Lydia dizem ao mesmo tempo.
— Isso está ficando bom. — Meu irmão ri.
— Será que eu posso continuar? — Caspen se irrita.
— Sim, sim, é claro, irmão, só não demore muito, estou
ficando entediado. — Heitor diz, rindo.
— Devíamos ter nos casado em Vegas — sussurra Caspen
ao meu ouvido, o que me faz rir.
— Assim está perfeito — digo a ele, que balança a cabeça.
— Como eu estava dizendo... — Continua. — Não sei bem
fazer essa coisa de votos, principalmente na frente de tantas
pessoas.
— Está ficando mole, irmão! — grita Lorenzo, rindo.
Caspen fica vermelho de raiva, e eu seguro o riso.
— Posso matá-los? — pergunta a mim.
— Não, você precisará deles no futuro.
Caspen suspira, frustrado. Não posso deixar de rir com esse
momento descontraído.
— O que eu estou tentando dizer — Eleva a voz — é que
sou sortudo por ter me dado uma segunda chance, por ter me
aceitado como sou. Você, Sunshine, me fez ver as coisas de forma
diferente, me fez perceber que amá-la não me torna fraco. Pelo
contrário, amá-la me torna mais forte, mais decidido, mais firme,
amá-la me torna mortal, porque agora tenho você e nossos filhos
para proteger. Você é minha luz, Sunshine. Nesse momento eu te
tomo como minha mulher, minha melhor amiga, como a mãe dos
meus filhos, nesse momento te tomo como minha esposa. Você é
minha para proteger e amar. Eu te amo, Sunshine.
Caspen me puxa para os seus braços, beijando-me. Meu
coração transborda de amor por ele e pelas palavras que acaba de
dizer.
Parando o beijo, ele coloca a aliança em meu dedo.
— Quero ver Lori superar os votos de Caspen agora! —
Carter grita, rindo. — Apostei em você, Lori, não me faça perder.
— Caspen foi melhor, tenho certeza disso. — Raphael diz,
rindo.
— Vamos lá, cunhada-prima, dê o seu melhor! — Lorenzo
grita.
Não posso acreditar que eles fizeram uma aposta! Essa
família vai me deixar de cabelos brancos antes do tempo.
— Não sei se vou ser melhor que você, e não me importo
com isso. — Olho feio para os meus primos, que me mandam beijos
e piscadinhas. — Lembro-me exatamente a primeira vez que o vi.
Você não me olhou com pena, não me olhou como uma criança
quebrada e maltratada que eu era. Você apenas me olhou e acenou
para mim, e foi quando me apaixonei por você. É claro que era um
amor bobo de criança, mas esse amor foi crescendo à medida que
eu envelhecia, foi me dominando e tomando conta de mim, fazendo
parte de mim, e eu não sabia a diferença entre respirar e amá-lo,
porque amar você se tornou tão fácil como respirar, os dois se
tornaram um só.
— Porra, já perdi a aposta! Lori ganhou. — Raphael
reclama.
Caspen rosna, e eu apenas balanço a cabeça, rindo.
— Por um tempo eu o perdi e quase me casei com outra
pessoa, mas a vida tem um jeito estranho de fazer as coisas. Chris
se foi, e você estava lá para me segurar, para ser meu porto, para
me apoiar enquanto eu estava me perdendo, e foi aí que foi nos
dado uma segunda chance. A vida nos deu uma segunda chance.
Essa é a nossa segunda chance, Caspen, esse momento é nosso.
Você foi o homem que amei desde quando eu era uma garotinha,
você foi meu príncipe-vilão encantado. Sua escuridão reflete a
minha, mas a nossa luz ilumina nossos caminhos. Eu te amei no
passado, eu te amo agora e te amarei no futuro. Apoiarei suas
decisões, estarei ao seu lado em todo o momento, serei sua amiga,
sua mulher e a mãe dos seus filhos. Esse é o nosso começo. —
Lágrimas embaçam minha visão, o que torna difícil colocar o anel no
dedo de Caspen.
— Deixe-me ajudá-la. — Caspen me ajuda. — Pronto. —
Posso ouvir o riso em sua voz.
— Eu vos declaro casados. — O pastor diz.
Nossa família grita, Caspen me beija e tudo está perfeito.
Esse é o nosso começo.
Osmar e América se juntam a mim e Caspen. Abraçamos
nossos filhos. Tudo está perfeito.
Duas semanas depois...
— Três! — grito, horrorizada.
Ao meu lado, Caspen ri, todo orgulhoso. Dou um tapa em
seu ombro, querendo que ele pare de rir, porque não é engraçado!
— Três, Caspen! Há três bebês dentro de mim! — grito.
Olho para a tela à minha frente. Não consigo acreditar que
estou realmente grávida de trigêmeos! Trigêmeos!
— Como isso aconteceu? — pergunto, sem entender.
Minha chance de engravidar era de um por cento, e agora
não só engravidei, como engravidei de três! Nunca imaginei que
isso aconteceria comigo!
— Querida, acho inapropriado eu dizer na frente da médica
como eu a engravidei. — Caspen sorri para mim.
Suspiro, balançando a cabeça.
— Você sabe muito bem o que eu quis dizer. — Olho para
ele de cara feia.
Caspen sorri para mim. Ele abaixa a cabeça, seus lábios
encostando em minha testa. Uma lágrima escorre do meu olho,
descendo pela minha bochecha.
Estou grávida, algo que sempre quis que acontecesse. Um
milagre em minha vida. Estou assustada, mas tão, tão feliz, que
sinto que vou explodir.
— Três bebês — sussurro para Caspen.
— Sim, amor, três bebês, e... porra, estou muito orgulhoso!
— Sorri, todo cheio de si.
— Estou tão ferrada!
Caspen
Porra! Três bebês! Isso é incrível demais! No começo não
acreditei no que vi, mas é real, estava lá, três lindos bebês, três
corações batendo! Fodidamente incrível demais! Eu sou a porra do
cara mais feliz do mundo! Tenho uma mulher maravilhosa que amo,
dois filhos incríveis e mais três por vir... sem falar que tudo está em
paz. Continuamos sendo os reis de Nova York, ninguém irá tirar o
nosso trono.
— Cara, você está ferrado. — Lorenzo balança a cabeça.
— Você está é com inveja.
Lorenzo ri, balançando a cabeça.
— Já pensou se forem três meninas? — Carter ri do meu
olhar horrorizado.
Não, não e não! Tem que ser três meninos e pronto! Nada
de meninas, já terei trabalho com América e seu doce sorriso. Não
irei aguentar ter mais três meninas.
— Oh, ele se assustou agora. — Heitor ri.
— Não é engraçado.
— Vocês estão rindo, mas se esquecem que todos têm
meninas — acrescento, olhando para eles com satisfação quando
me olham horrorizados.
— Estamos ferrados. — Carter comenta.
— Já estou imaginando quando o primeiro garoto aparecer.
— Lorenzo suspira, passando as mãos pelo cabelo.
— Tenho um arsenal pronto. — Heitor murmura.
— Nada de namorados até os trinta anos — comento, e
todos concordam.
Que Deus me ajude, mas oro para que os trigêmeos sejam
todos meninos.
Lori – Meses depois...
Sorrio ao ver meus três bebês. Eles são lindos, perfeitos,
cheios de saúde e com uma garganta potente.
À nossa volta está nossa família, todos babando por nossos
bebês. Caspen está sorrindo de orelha a orelha, todo animado e
cheio de orgulho por ser pai de dois meninos e uma menina.
Tive uma cesariana. Minha gravidez foi de risco, então tive
que ter muito cuidado. Caspen foi todo protetor, não me deixando
fazer nada, me mimando sempre que queria. Não que eu esteja
reclamando.
— Já escolheram os nomes? — Mamãe pergunta, olhando-
nos.
Meus bebês já têm cinco dias de nascidos, mas como eu
estava cansada, me recuperando, Caspen e eu não tínhamos
anunciado os nomes deles.
— Sim. — Caspen responde, sorrindo.
Ele olha para mim, que aceno com a cabeça.
— Nossos meninos serão Mason Carter Callahan e Myles
Lorenzo Callahan. Agora, nossa menina é...
— Betanhy Sunday Callahan — digo, sorrindo. — E o
padrinho de todos é Heitor.
— Porra! — Heitor resmunga, emocionado.
— Você deu nossos nomes a eles. — Lorenzo diz, olhando-
nos com surpresa.
— Vocês são meus irmãos, estão sempre comigo, dando-
me apoio, nunca me questionando ou indo contra minhas decisões,
então esse é o nosso jeito de agradecer-lhes. — Caspen diz.
Posso ver que ele está se controlando para não chorar. Meu
homem forte.
— Isso é tão lindo. — Lydia diz, lágrimas derramando de
seus olhos.
— Tão emocionante. — Mamãe diz.
— Vocês todos são tão molengas. — Vovó diz,
descontraindo a todos. — Essas crianças serão mimadas demais.
Deus nos ajude! — Ela ergue as mãos para o alto, as balançando.
Todos nós rimos.
Bocejo, me sentindo cansada.
— Está na hora de vocês irem. — Caspen diz.
— O quê? — Sophia protesta.
— Nem os peguei ainda. — Lauren faz beicinho.
— Amanhã eles irão para casa, e vocês poderão pegá-los e
mimá-los. Agora Lori precisa descansar. — Caspen os leva até a
porta, fazendo com que todos saiam.
— Não precisava ser assim — comento, olhando-o.
— Estavam muito em cima. Você está cansada e os bebês
precisam de tranquilidade. — Dá de ombros. — Como está se
sentindo?
— Feliz, animada e um pouco preocupada. Eles são tão
pequenos, Caspen. Se deixarmos eles caírem? — pergunto, com
pura preocupação.
Caspen ri, mas não acho engraçado. Eles realmente são
pequenos e frágeis; tão frágeis, que tenho medo de falhar com eles.
— Está tudo bem, Sunhine. Você é uma ótima mãe para
América e Osmar, irá se sair muito bem com os trigêmeos. — Ele
beija minha testa com carinho.
Suspiro, satisfeita.
Caspen tem razão. Eu sou uma mãe fodona, não falharei
com eles, não falharei com minha família, afinal de contas, sou uma
Callahan. Um Callahan nunca falha.
Fim...
Lori
Parada em silêncio na escuridão, olho para Dimitri, que está
dormindo tranquilamente em sua cela. Pobre e patética criatura! Tão
magro, tão fraco, tão insignificante. Quem diria que aquele homem
cruel que abusou de mim e me torturou ficaria desse jeito? Ele está
todo encolhido no colchão, mal sabe que sua hora chegou.
Chuto sua perna, o que o faz pular de susto. Seus olhos se
abrem. Sorrio, e Dimitri treme ao me ver.
— Olá — digo, com minha voz falsa em alegria. —
Adivinha? Chegou a sua vez, querido.
— Não! — Balança a cabeça, seu corpo todo tremendo.
Enrugo o nariz ao sentir o cheiro de urina. Merda! Nojento
demais!
— Sim, hoje você irá se juntar a Ester. — Bato palmas. —
Agora, levante-se, não tenho o dia todo. — Ele balança a cabeça, se
recusando a sair do lugar.
Suspiro, sabendo que terei que pedir ajuda a Carter e
Caspen. Vai ser pior para ele, mas quem está ligando?
— Vai se fazer de difícil? Tudo bem, gosto dos difíceis —
digo, sorrindo. — Torna a brincadeira mais interessante. — Dou uma
piscadinha, e ele solta um grunhido. — Amor, preciso de você! —
grito para Caspen.
— Me chamou, Sunshine? — Caspen pergunta ao entrar na
cela.
Seu olhar se foca em Dimitri encolhido no canto, em cima do
colchão, ainda tremendo. Um pequeno sorriso se forma nos lábios
dele ao ver a situação de Dimitri.
— Como pode ver, ele não sai do lugar — explico.
Caspen caminha até Dimitri, o puxando para cima e
arrastando-o para fora da cela. Dimitri tenta lutar, se debatendo,
tentando se soltar das mãos de Caspen, porém ele está fraco
demais.
— Oh, céus! — Dimitri grita ao ver a sala principal.
Sorrio a vê-lo com mais medo ainda. Seus olhos se enchem
de lágrimas, seus gemidos e gritos preenchem o espaço.
— Já está gritando? Nem comecei ainda — comento,
balançando a cabeça, em descrença. — Você está me entediando,
Dimitri. Pensei que seria mais divertido.
Olho para as unhas da minha mão, dando um pequeno
bocejo.
Droga! Estou realmente entediada. Suspiro.
— Vou demonstrar bondade para você. — Sorrio para ele,
que se encolhe.
— Você é louca! — resmunga.
— Não, querido, eu não sou louca, só estou me vingando.
O cara me sequestrou, me espancou, me torturou, abusou
do meu corpo, quase me matou, e eu que sou a louca! Oras!
Sinto-me revoltada. Eu só quero fazê-lo sofrer um pouco,
quero que ele sinta o que senti. Não há mal algum em querer um
pouco dos seus gritos, da sua dor, do seu sofrimento.
— Bem, como eu estava dizendo, vou matá-lo logo, e
tcharam! — Abro meus braços, mostrando a ele a forma como irá
morrer. — É assim que morrerá. — Sorrio. — Não é incrível?
Enquanto você dormia, Carter e seus homens prepararam tudo isso
especialmente para você. — Bato palmas. — Um tratamento vip que
irá corroer sua pele. Você será transformado. — Pisco para ele, que
choraminga.
À nossa frente há um chuveiro improvisado, onde Dimitri irá
tomar o banho da morte.
— Não! Não! Por favor, não! — grita, tentando fugir de
Caspen.
O chuveiro improvisado é feito de vidro.
— Aproveite seu banho. — Sorrio, dando tchauzinho a ele.
Carter o pega do aperto de Caspen e o despe, deixando-o
tremendo e mijado. Dimitri chora igual um bebê. Aceno com a
cabeça para Carter, que o coloca dentro do boxe de vidro, logo após
o trancando lá dentro.
— Diga a Ester que eu mandei um oi! — grito, rindo. —
Pode começar.
Carter liga o chuveiro. Aos poucos, gotas de ácido pingam
em Dimitri, o que o faz gritar e bater no vidro. No começo são
poucas gotas, bem devagar, fazendo-o sofrer, fazendo doer. À
medida que o tempo passa, as gotas vão caindo mais rápidas e com
mais força, corroendo mais partes do corpo dele.
Seus gritos, sua dor, suas lágrimas me alimentam, me
acalmam de uma forma indescritível. Sinto prazer em vê-lo sofrer.
Sei que não mudará nada do que aconteceu comigo, mas me sinto
aliviada ao saber que dei o troco, que fiz o mesmo com ele, tirei
suas escolhas, seu poder, tirei tudo dele, e agora estou tirando sua
vida.
Nada mais justo. Ele tentou destruir minha vida, minha
família, e agora eu estou o destruindo.
Encosto minha cabeça no peito de Caspen, e seus braços
me envolvem. Em silêncio, observamos Dimitri morrer. Não há nada
a ser dito, esse é o fim. Nossos inimigos estão mortos, está tudo
acabado, não há mais monstros do passado.
— Acabou — sussurro.
— Sim, Sunshine, acabou. Dimitri está morto.