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Copyright © 2023 Ane Le

Todos os direitos reservados.

Capa: Vic Designer (@vic_designer_)


Revisão: Amanda Mont’Alverne (@revisandobymendy)
Diagramação: Ane Le (@autoraanele)
Ilustração: Carlos Miguel (@carlosmiguelartes)
Imagens: Canva

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos são produtos da imaginação da autora. Quaisquer
semelhanças com nomes, datas e acontecimentos reais são mera
coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
desta obra, através de quaisquer meios tangível ou intangível sem o
consentimento escrito da autora.
Plágio é crime.
A violação autoral é crime, previsto na lei nº 9.610/98, com
aplicação legal pelo artigo 184 do código penal.
Criado no Brasil.
Obra registrada.
SUMÁRIO

Copyright © 2023 Ane Le


SUMÁRIO
SINOPSE
NOTAS DA AUTORA
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Bônus I
Bônus II
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Mais obras da Autora
SINOPSE
Alice Caccini nasceu em berço mafioso. Única menina no meio de
dois irmãos superprotetores, ela era a princesa da máfia mais poderosa
de toda a Itália.

Mas engana-se quem pensa que ela amava fazer parte dessa
organização. Tudo que Alice mais sonhava era em viver uma vida normal.
Proporcionando regalias para ela, Alice sempre ficou escondida de
toda sujeira e sua família a mandou para Milão, com intuito de que ela
estudasse e realizasse o sonho de se tornar uma famosa estilista. Adotando
uma nova identidade para não correr perigo, finalmente ela se sentia livre
e apesar das regras impostas por sua família, Alice pensou estar vivendo a
sua tão sonhada vida normal.

Até que um dia ela encontrou um homem que chamou a sua


atenção e a atração foi instantânea.
Alice não pensava em se envolver com ninguém, mas como resistir
a um homem tão educado, gentil, galante, engraçado e bonito?

Ele era o combo perfeito para que ela vivesse o seu conto de fadas…
mas o que Alice não podia imaginar, era que por trás daquela fachada de
bom moço, escondia um mafioso perigoso.

Alice pensou que estava segura ao fugir daquele homem, mas após
alguns anos ele voltou para tomar o que era dele: ELA!
NOTAS DA AUTORA
Olá, meu querido leitor, tudo bem? Que bom tê-lo por aqui, seja
mais uma vez, seja a primeira vez!

Peço, por favor, que antes de iniciar a leitura, leia essa nota e se
atente aos gatilhos presentes neste livro.

Primeiramente gostaria de agradecer por escolher esse livro para ler


e também lembrá-lo que esse é o 3º livro da série família Caccini.
O primeiro livro: Rocco - império família Caccini
O segundo é: Renzo - império família Caccini

Diante disso, preciso deixar claro que esta é uma história de


romance dark (leve, bem leve), não é um romance clichê com mocinho
bonzinho, mas também não é uma história com final triste rs.

Abordaremos alguns temas que podem gerar gatilhos como: aborto,


vício, morte, violência psicológica, tortura e uso de drogas lícitas e ilícitas.

Enzo é um homem machucado, foi abandonado por seu grande


amor, mas ele não é tão ruim quanto pode parecer. Seu jeito sarcástico e
bem humorado de longe me conquistaram e espero que consigam sentir o
mesmo por ele.
Alice agiu por diversas vezes impensadamente, mas não posso
julgá-la, ela era nova e passou por uma dor muito grande sozinha.
Esse casal é tão… apaixonante! Peço que não desistam deles até
chegar ao final.
Garanto que não irá se arrepender de levar essa leitura até o final,
valerá cada página de descoberta, raiva e muito amor.

Haverá uma passagem de tempo no início do livro, mas


entendam que ela é necessária, pois iniciaremos contando o passado dos
nossos personagens, para só então, trazê-los ao presente e todo caos das
suas histórias.

Contudo, se em algum momento da leitura você se sentir


desconfortável, abandone-a e procure algo mais leve para ler. Considere
sempre a sua saúde mental.

Finalizando, é preciso lembrar que esse livro não é recomendado


para menores de 18 anos, pois além dos temas já mencionados, contém
cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão.

Atenção: Realizo algumas pesquisas para trazer mais autenticidade


à história. No entanto, alguns eventos e acontecimentos são criados para dar
melhor coerência e proporcionar emoções ao leitor.

Espero que aprecie, boa leitura.


Eu perco o controle
Por sua causa meu bem
Eu perco o controle
Quando você me olha deste jeito

Há algo em seus olhos


Que está dizendo esta noite
Eu não sou mais uma criança
A vida nos abriu uma porta
Para uma vida nova e emocionante
(Scorpions - You And I)
Capítulo 1
Alice Caccini

Três anos antes.

Acabei de completar dezoito anos e estou vivendo um sonho!


Bom, deixa eu explicar... Nasci em uma família muito influente aqui
na Itália, mas não digo influente para algo bom, e sim para algo ruim. Os
Caccini são a família de mafiosos mais temida dos últimos tempos. Hoje,
quem assume a cadeira é meu irmão, Rocco. Ele é o novo Don, manda e
desmanda em tudo e em todos ao seu redor, e o meu irmão Renzo é o
subchefe de toda essa merda.
Eu amo minha família, mas não me orgulho do que eles fazem
e para ser bem sincera, eu não queria ter nascido nesse meio. Já não é fácil
ter sangue mafioso correndo em suas veias, ainda mais sendo mulher.
Quando nós mulheres de dentro da máfia completamos dezoito
anos, somos prometidas em um casamento arranjado, mas como eu tive
sorte de ter nascido em berço de ouro, minha família está tentando me
manter longe dessas obrigações. Me mandaram para Milão para estudar
moda e sei que não é muito longe de casa, mas é bem melhor estar aqui do
que no meio de todo o caos que eu vivia.
Segundo o meu pai e meus irmãos, aqui é afastado deles e ao
mesmo tempo não é tão longe. Eles querem que eu fique dentro de todo seu
território, assim corro menos risco, já que eu só estou sendo acompanhada
somente por um segurança de confiança, que está comigo há oito anos. E
que graças a Deus é meu amigo. Sinto-me ainda mais feliz em ter Romeu
aqui comigo.
Também estou usando um sobrenome falso, assim evita que eu fique
visível aos olhos dos inimigos.
Apesar da minha família sempre me manter escondida o máximo
possível, isso acabava fazendo com que quase ninguém me conhecesse.
Mas não podemos contar só com isso.
A partir de hoje me tornei Alice Ferrari, uma estudante de família
influente, que vive para viajar e gastar dinheiro, mas que aos olhos das
pessoas do curso, é uma família tradicional.
Gostei do meu novo sobrenome e acima de tudo, gostei ainda mais
da minha nova vida.
— Romeu, está pronto? — perguntei ao meu amigo.
Hoje vamos descer para jantar no hotel em que estamos hospedados,
dizem que vai ter um show incrível.
— Estou sim. Você acha que vai ter muitos homens gatos lá
embaixo?
— Acho! — exclamei entusiasmada. — Gatos e ricos —
acrescentei.
— Mas tudo hetero — complementou, fazendo uma cara engraçada.
— Dificilmente vou achar um que se interesse por mim.
— Então eles não sabem o que estão perdendo, porque você é um
gato, gato e cheiroso. — Ajeitei a sua gravata e dei um beijo na sua
bochecha.
Romeu é lindo, aparentemente muito machão, mas só na aparência
mesmo. Ele tem essa pinta de bruto que a máfia impõe, já que é um soldado
e nesse meio o que mais existe é preconceito. Ele não se assume e nem
deixa transparecer e até mesmo já ficou com mulheres para ninguém
desconfiar. Poucas pessoas sabem do seu segredo e sou uma das poucas que
o conhece de verdade. Fico com dó do meu amigo, queria muito poder
ajudá-lo. Quem sabe um dia eu consiga.
— Quando você conseguir fugir, vai me levar, não é?
— Claro, você vai comigo para onde eu for — afirmei.
— Ótimo, então vamos pensar nisso logo.
Sabia que ele queria isso tanto quanto eu, ele queria poder ser ele e
viver sua vida sem toda pressão. Apesar de muitos falarem que na máfia só
se sai morto, eu não vou desistir, vou conseguir fugir um dia, só preciso
achar um jeito ou uma pessoa que possa me ajudar.
— Vamos logo, Alice, senão vamos perder o show da noite —
chamou, trazendo-me de volta à realidade.
— Vamos.
Enquanto estávamos no elevador, ele disse que precisa mandar um
relatório para a minha família a cada sete dias, com fotos minhas — bem
comportadas — e toda uma descrição de como estava sendo minha estadia
aqui. Absurdo saber que ele precisava enviar nome, sobrenome e tudo mais
que descobrir de cada pessoa que se aproximava de mim.
Tive que rir de tão ridículo que isso era.
Chegamos ao local e tinha muita gente lá. Já peguei uma taça de
champanhe do garçom que passou servindo e me sentei para apreciar o
show. Aqui estava eu, fingindo que a vida era um mar de rosas. E bom, se
tem uma coisa que eu era boa, era em fingir.
O show foi espetacular. Música boa, comida boa, champanhe bom…
enfim, uma noite agradabilíssima, mas já estava cansada, então decidi ir
para o quarto.
— Amigo, vai ficar?
— Vou, quero aproveitar um pouco mais. Se importa?
— Não, claro que não. — Coloquei-me de pé. — Vou ir deitar, estou
cansada.
— Te encontro no quarto ou quer que eu suba com você?
— Pode ser no quarto. — Inclinei-me para dar um beijo na sua
bochecha. — Aproveita bastante a sua noite.
— Direto para o quarto, ouviu, mocinha? Não faça a minha cabeça
virar um troféu.
— Jamais!
Saí dali, caminhando pelo hotel tranquilamente, afinal tinha poucas
pessoas transitando, a maioria estava curtindo o show da noite.
Sorri à toa, pensando em como estava sendo bom viver aqui, apesar
de ainda ser o meu primeiro dia, mas já sentia o cheiro de liberdade e isso
era tão bom!
Acabei ficando tão alheia aos meus próprios pensamentos que
esbarrei em alguém. O impacto foi tão forte que por pouco eu não caí de
bunda no chão, mas braços fortes me seguraram.
— Olha por onde anda, criança. — Uma voz firme, aveludada,
porém bem entonada, adentrou os meus ouvidos.
Levantei minha cabeça e encarei os olhos do homem mais lindo que
já vi em toda minha vida. Pisquei repetidas vezes, engolindo em seco.
Dio, que homem! Lindo e cheiroso… a combinação perfeita.
— Posso te dar uma foto, se quiser — falou, quebrando o silêncio
que se instalou entre nós.
— Foto? Que foto? — Balancei a cabeça de um lado para o outro,
tentando recuperar-me do nosso esbarrão.
Caramba, esse homem me deixou desnorteada.
— Uma foto minha, posso emoldurar e mandar para você já que
gostou tanto de ficar olhando.
É uh quê???
Mais que homem arrogante.
— Quem disse que gostei? — Arqueei as sobrancelhas, tentando
fazer a minha melhor cara de quem não ficou completamente abalada por
esses olhos lindos, essa voz charmosa, esse cheiro incrivelmente sedutor e
essa boquinha perfeitamente desenhada.
Alice, Alice… olha o perigo.
— Está escrito em letras garrafais e neon no seu rosto, criança.
— Eu não sou criança e você já pode me soltar. — Espalmei as
mãos no seu peito, empurrando-o.
Que peitoral duro e sarado.
Salivei.
— Você tem razão.
— Que eu não sou criança? Claro que tenho razão! — falei,
indignada com a forma que ele estava me chamando.
— Não, quero dizer que você tem razão sobre eu já poder te soltar.
— Abriu um sorriso de estragar qualquer calcinha — inclusive a minha — e
soltou-me. — Da próxima vez, preste mais atenção por onde anda, pode
cair e se machucar.
Dei dois passos para trás e finalmente pude examinar o conjunto
completo da bela obra. Branco, cabelos lisos, olhos estreitos, corpo
musculoso na medida certa, bem desenhado dentro desse terno azul-
marinho feito sob medida e essa barba por fazer que o deixava ainda mais
charmoso.
Tenho quase certeza que estou babando… Por que ele tem que ser
tão bonito assim?
— Toma. — Tirou um lenço branco do bolso do terno e estendeu
para mim.
— Pra que isso? — Olhei para ele, confusa, e o vi sorrir.
— Limpar a baba que está escorrendo no cantinho da sua boca.
Bufei, irritadíssima. O que tinha de bonito, tinha de babaca.
— Você é um metido, seu arrogante! — Virei-me para sair dali o
mais rápido possível e apertei o botão do elevador.
— Calma, criança, não precisa ficar tão nervosa.
Ignorei-o, fingindo que não estou ouvindo. O elevador parecia estar
de brincadeira comigo, então apertei o botão várias vezes.
— Desse jeito você vai quebrá-lo. — Sua voz bonita soou bem atrás
de mim, tão perto que pude sentir seu hálito em minhas costas, mas me
recusei virar para olhá-lo.
— Você está me seguindo por qual motivo mesmo? — perguntei
irritada.
— Eu não estou te seguindo, estou apenas esperando para usar o
elevador, assim como você. — Saiu de trás de mim e parou do meu lado.
Foi inevitável não encará-lo de canto de olho e aquele lindo sorriso estava
lá, estampado, com uma leve pitada de cinismo.
— Era só o que me faltava — resmunguei baixinho.
Quer saber? Que se foda esse elevador, eu que não vou entrar lá com
ele. Que me perdoe os fortes, mas eu sou fraca demais e não sei se
conseguirei dividir um espaço tão pequeno com um deus grego ao meu lado
sem me jogar no seu colo.
Girei nos calcanhares e optei por ir pela escada, por mais que fosse
oito andares acima, eu subiria com gosto.
— Te afeto tanto assim que você não pode dividir o elevador
comigo?
— Quem disse que você me afeta? — Parei de andar na hora e virei-
me para ele como em câmera lenta.
— Você ia pegar o elevador e só porque eu vou pegar também você
desistiu, acho que já tem a sua resposta. — Sacudiu os ombros, como se
tivesse toda a certeza do mundo.
Que raiva! Ele tem razão… deixei transparecer.
— Você não me afeta — defendi-me novamente.
— Claro que não. — Abriu um sorriso no canto da boca. — Então
não temos problemas em dividir o elevador, você não acha? — Colocou-se
de lado e deu-me passagem para voltar.
Respirei fundo, enchendo o meu pulmão.
Vamos lá. Alice, ele é só um cara qualquer, um babaca, um babaca
gostoso, mas não tem porque você ficar assim.
Caminhei até o elevador e entramos. Arrependi-me amargamente no
momento em que as portas se fecharam. Sufocante. O perfume dele tomou
conta de todo o lugar e fechei os olhos, apertando-os.
Eu estava irritadíssima comigo por tudo nele me deixar encantada.
Que cheiro maravilhoso!
— Imperial Majesty.[i]
Abri os olhos rapidamente e o encarei, um vinco se formando na
minha testa.
— Do que está falando?
— O nome do perfume.
— Que legal. — Revirei os olhos.
Agora além de gostoso, ele também sabia ler pensamentos? Estava
tão nítido assim meu encantamento por ele?
— Como é o seu nome?
— Pra que você quer saber? — repliquei, furiosa. Mas não com ele
e sim comigo, por estar tão idiota diante de um homem.
— Calma, criança, estou apenas tentando ter uma conversa
civilizada com você.
— Para de me chamar de criança!
— Então me diga o seu nome.
— Qual o seu nome? — devolvi a pergunta.
— Sabia que é feio responder uma pergunta com outra pergunta?
— Não, papai, não sabia — ironizei. Foda-se que eu estava sendo
infantil, estava no meu direito, ele me irritava só em abrir a boca.
— Não acredito que eu tenha idade o suficiente para ser seu pai…
ainda bem.
— Ainda bem por quê? — Soltei uma lufada, sentindo o meu
coração acelerar.
— Esse papel de pai e filha não combinaria com nós dois.
— E qual papel combinaria com a gente? — Era perigoso jogar esse
jogo, eu sabia, ainda mais quando eu nunca havia jogado, mas a razão
estava muito longe no momento.
— O que você acha?
— Sabia que é feio responder uma pergunta com outra pergunta? —
Usei a fala dele, sorrindo desse jogo de atração.
— 1X0 para você, criança — respondeu rindo.
Preparei-me para responder bem malcriada, mas as portas do
elevador se abriram, indicando que havia chegado o meu andar.
— Tchau, senhor arrogante — despedi-me.
— Tchau, criança.
Saí do elevador e virei-me.
— Meu nome é Alice — falei antes que as portas se fechassem.
Ainda foi possível vê-lo sorrir abertamente e então o senhor
arrogante, e bem gostoso, se foi.
Finalmente soltei o ar que estava preso. Ele conseguiu, com toda a
sua arrogância, beleza e sensualidade, me sufocar.
Que homem intenso.
O cheiro do seu perfume havia ficado impregnado em cada poros do
meu corpo.
No fundo, bem lá no fundinho, aquela Alice safada que estava
adorando aquele joguinho sensual, queria que o elevador tivesse demorado
ainda mais.
Por Deus, Alice, para de doideira!
Acabei de conhecer esse homem e nem o nome dele eu sei.
Entrei no quarto e joguei-me na cama, peguei-me suspirando e
sorrindo ao pensar no grande delícia que esbarrei. É, a vida pode realmente
ser boa.
Capítulo 2
Alice Caccini

Acreditem se quiser, eu sonhei com aquele homem essa noite.


Misericórdia, tamanho foi o impacto que a presença altiva dele me causou.

— Vai me contar sobre ontem? — Romeu perguntou assim que me


sentei para tomar café da manhã.

— Você que tem que me contar sobre ontem — desconversei.

— Fracasso total, não encontrei nenhum gato que estivesse me


dando sopa. — Bebericou seu café fumegante, sem açúcar. — Mas
me fala de você, o que aconteceu ontem depois que nos separamos?

— Por que você acha que aconteceu alguma coisa? — Abri um


pequeno sorriso no canto da boca, voltando a me lembrar do gostoso do
elevador.

— Porque eu te conheço, Alice. — Revirou os olhos.

— Está tão nítido assim? — Senti minhas bochechas esquentarem


de vergonha por deixar transparecer o quanto fui atingida por toda aquela
magnitude.

— Sim. Esses olhinhos brilhando aí, com toda certeza, não são à
toa.

— Tudo bem. — Puxei o ar com força antes de soltar. — Ontem eu


vi o homem mais lindo desse mundo!
— Agora fiquei ofendido. — Levou a mão sobre o peito esquerdo,
fazendo drama.

— Para de drama, Romeu. — Balancei a cabeça de um lado para o


outro, rindo. — Você é lindo, mas ele é... — Suspirei. — Maravilhoso
demais.

— Como se você tivesse conhecido muito homem na sua vida —


debochou, rindo, e jogou um pedaço de pão na boca.

— Não enche, Romeu. — Mostrei a língua, uma atitude de uma


criança de cinco anos, me lembrando da forma como o gostoso de ontem
tinha me chamado.

— E quem é esse homem maravilhoso?

— Não sei.

— Como assim não sabe?

— A gente conversou, mas ele não disse o seu nome.

Romeu parou de comer e apoiou os braços na mesa, encarando-me


seriamente, agora parecendo mais interessado do que nunca no assunto.

— Mas ele parecia perigoso?

— Não nesse sentido que você está pensando.

— Tem certeza?

— Tenho, pode ficar tranquilo. Ele não é nenhum mafioso ou coisa


do tipo, não é inimigo, fica calmo.

— Espero, isso custaria minha vida.


— Se ele fosse inimigo e soubesse quem eu era, ele teria me feito
algum mal ontem mesmo, você não acha? — conclui, afinal, para que ele
esperaria?

— Você tem razão. — Relaxou, voltando a encostar as costas na


cadeira. — Mudando de assunto rapidinho, seu pai ligou ontem de noite.

— O que ele queria?

— Apenas saber como estavam as coisas e disse que o apartamento


estará pronto na segunda, aí depois da faculdade poderemos ir para lá.

Estávamos hospedados aqui no hotel até finalizar a reforma do


apartamento em que seria minha moradia temporária, até finalizar os
estudos.

— Ahn… — murmurei desanimada. — Isso quer dizer dar adeus a


chance de esbarrar com o senhor gostosão arrogante?

— Senhor gostosão arrogante? Ah, pelo amor, Alice! — Gargalhou.

— O quê? Ele é isso tudo mesmo. — Também ri.

— Certo. O que você quer fazer hoje?

— Acho que vou para a piscina, você vem?

— Não, ficarei fazendo a sua segurança.

— Por que não pode se divertir comigo? — Torci o nariz, fazendo


biquinho.

— Não posso ficar dando mole, seu pai pode mandar alguém para
nos vigiar durante o dia.

— Por que ele faria isso? Ele confia em você.


— Exatamente por isso que não posso ficar abusando.

— Então, tá — concordei, contrariada.

Terminamos de tomar nosso café e escutamos alguém bater na porta


do quarto.

— Deixa que eu vejo quem é — disse Romeu, já se levantando.

Ele foi atender a porta e eu fui me arrumar para ir na piscina.


Rapidamente vesti o biquíni azul marinho e não pude deixar de rir ao me
lembrar do terno que aquele cheiroso vestia ontem.

— Quem era? — perguntei, voltando para a sala.

— Uma entrega para você. — Mostrou-me lindas rosas brancas.

— Para mim? — indaguei, surpresa.

— Sim e eu posso apostar que sei quem mandou. — Entregou-me as


flores e eu as cheirei.

Não precisa ser um gênio para saber quem mandou o presente. O


perfume marcante dele estava impregnado nas flores.

Abri o cartão que estava entre as rosas.

"Gostei muito da sua breve companhia ontem, criança. Ou melhor,


Alice. Um belo nome para uma bela jovem.
Fazia um bom tempo que eu não apreciava tanto a companhia de
alguém e isso não pode ser desperdiçado. Gostaria de convidá-la para
jantar comigo hoje na minha suíte e não gostaria de um não como resposta.
Isso é outra coisa sobre mim, dentre tantas, que você ainda não conhece,
mas gostaria que passasse a conhecer. Não sou adepto a recusas e ficaria
chateado se fizesse desfeita.
Te encontro às 20h?
Estarei esperando ansioso.
Senhor arrogante"

Sorri feito boba ao terminar de ler.

— Parece que tem alguém que ficou muito interessado, hein? —


Romeu cutucou o meu braço, chamando a minha atenção.

— Ele só está tentando ser gentil, nossa conversa não foi muito
agradável ontem — desconversei. Não podia imaginar que um homem
como aquele, provavelmente bem mais maduro que eu, estaria interessado
em mim.

Ele não era velho, muito pelo contrário, mas percebia-se que
também não era um adolescente bobo da minha idade.

— Gentil até demais, você não acha?

— Para de ver coisas onde não tem. — Andei até a cozinha,


procurando um vaso para encher de água.

— Você vai? — perguntou, vindo atrás de mim.

— O que você acha? — Virei-me para encarar o meu amigo.

— Eu teria que ir com você, não posso te deixar sozinha com um


estranho.

— Claro que não, Romeu! — respondi de súbito. — Pode ser


estranho eu chegar com um segurança, aqui eu sou apenas Alice, não tenho
porque temer nada.

— Pode ser perigoso, Alice.


— Ele não é perigoso, confia em mim — implorei, fazendo o meu
melhor olhar de dengosa.

— Então tá. — Respirou fundo. — Qualquer coisa você me liga,


mas também me manda mensagem falando que está tudo bem, por favor,
para que eu fique tranquilo.

— Eu nem sei se vou Romeu, calma. — Coloquei as flores dentro


do jarro. — Aliás, nem sei qual a suíte dele, ele nem mencionou.

— O mensageiro que veio entregar disse que vai passar aqui às 20h
para te buscar.

— Mais que pretensioso, quem disse que eu vou?

— Tá na cara, Alice, para de fazer drama.

Nos encaramos e caímos na gargalhada.

Romeu estava certo, a quem eu estava querendo enganar? É claro


que eu queria ir nesse jantar e estar ao lado desse homem mais uma vez.

As horas pareceram uma eternidade e eu enchi o saco de Romeu


com a minha ansiedade.
Finalmente terminei de me arrumar com a ajuda do meu amigo.
Romeu seria um ótimo personal stylist[ii], ele é muito bom com moda.

Sentia tanto por ele não poder ser quem ele realmente era, me doía
tanto ver ele se escondendo, com medo de que as pessoas descubram. Tendo
até que se submeter a ir em prostíbulos com o monstro do seu pai para
provar a sua masculinidade. Meu amigo merecia mais, ele merecia viver
livre, merecia ser ele, as pessoas iam amar tanto conhecer o Romeu que eu
conheço, tenho certeza absoluta disso.

— Pensando em quê? Vai acabar se atrasando. — Estalou os dedos


na frente do meu rosto, trazendo-me de volta dos meus pensamentos.

— Pensando em como nossa vida seria melhor se não tivéssemos


nascido no meio disso tudo.

— A gente vai sair dessa, Alice, talvez esse deus grego seja a sua
chave para a liberdade.

— Eu nem conheço ele, não começa com as suas teorias — o


repreendi. Romeu falava de mim, mas ele era bem mais sonhador que eu.

— Aqui estão os brincos. — Entregou-me a caixa. — Implantei um


rastreador neles.

— Isso é mesmo necessário?

— Sim, sua segurança sempre em primeiro lugar.

Escutamos alguém bater na porta e o relógio da parede marcava


vinte horas em ponto. Deduzimos que era o mensageiro do senhor
arrogante. Ele era mesmo pontual.
— Você não acha que está um pouco demais essa produção toda? —
perguntei, encarando-me mais uma vez no espelho.

— Não. Você é linda e está ainda mais maravilhosa. — Beijou


minha testa com carinho. — Arrasa, amiga, esse pode ser o começo da
nossa liberdade.

— Obrigada por tudo! — Puxei-o para um abraço apertado.

Ah, Romeu, como eu te amo!

Andei em passos vacilantes até a porta e vi o homem ali parado,


usando uniforme do hotel e todo sorridente.

— Boa noite, senhorita! — cumprimentou-me educadamente.

— Boa noite! — devolvi o cumprimento gentilmente, sorrindo para


ele.

— Irei acompanhá-la. — Chegou o corpo para o lado e apontou para


frente, dando-me passagem. — Por favor.

Caminhei na direção que o homem mandou, entramos no elevador e


surpreendi-me ao vê-lo digitar para subirmos diretamente para a suíte
presidencial.

Assim que as portas do elevador se abriram, pude sentir o cheiro do


senhor arrogante. A presença dele era absurdamente marcante.

Com o corpo inteiro tremendo, entrei na suíte. A luz do ambiente


estava fraca e soava uma música baixa e tranquila.

Virei-me para perguntar onde ele estava, mas o homem que havia
me acompanhado já não estava mais ali.
Não sabia o que fazer. Será que devia chamar por ele? Mas sequer
sei o seu nome.

O que eu gritaria? Olá, senhor arrogante. Eu cheguei?

Dei risada do meu pensamento idiota.

— Boa noite, Alice! — Sua voz preencheu os meus ouvidos e o seu


cheiro era ainda mais perturbador de perto.

— Boa noite! — respondi com a voz baixa, pois ainda estou absorta
demais em todos os sentimentos que ele me fazia sentir.

A luz se acendeu por completo e finalmente meus olhos pairaram


sob esse lindo homem.

Ele estava ainda mais maravilhoso sem terno, apenas com uma calça
jeans e uma camisa polo branca… Céus, lindo demais!

— Você está linda! — elogiou-me, sorrindo, e deu dois passos à


frente, se aproximando.

— Obrigada! — Como um animal indefeso, dei dois passos para


trás, recuando diante da sua aproximação.

— Ainda mais linda quando fica com as bochechas coradas. — A


cada palavra dele, sentia meu rosto esquentar mais. — Você não era tão
quieta assim no nosso último encontro — lembrou-me, rindo do meu
constrangimento. — Venha, pedi para prepararem a mesa de jantar na
varanda, a vista é muito agradável.

Apenas assenti e caminhei ao seu lado.

— É lindo! — falei deslumbrada com a visão privilegiada deste


lugar.
— Não mais que você, Alice — disse cortês e puxou a cadeira para
que eu pudesse me sentar.

— Obrigada! — murmurei, colocando um fio de cabelo, que se


soltou, atrás da orelha.

Ele se sentou à minha frente e pegou uma garrafa de vinho.

— Tem idade o suficiente para beber, Alice? — Aquele sorriso


debochado brincava em seus lábios diante a nossa interação.

— Acredito que sim, já que tenho idade suficiente para estar em um


quarto de hotel sozinha com um homem desconhecido — retruquei, não
evitando o sarcasmo na minha voz.

— Bem observado. — Sorriu, servindo-nos a bebida.

Brindamos em silêncio e saboreamos o vinho. Eu, como uma boa


italiana, era apaixonada, principalmente pelos tintos, com sabor balanceado
e suave, porém apresentando um aroma mais frutado e sofisticado. Como
esse que ele nos serviu.

— Alguma restrição alimentar?

— Não.

Gostei da forma como demonstrou preocupação antes de nos servir.

— Me fale um pouco de você enquanto comemos.

— Primeiro me fale o seu nome, essa é uma coisa que ainda não
consegui descobrir a seu respeito.

— Enzo. — Sorri, gostando. Realmente combina com ele. —


Quantos anos, Alice?
— Dezoito.

O homem arregalou os olhos e eu tive vontade de rir, mas não o fiz.

— Realmente, uma criança. — Deu uma grande golada no seu


vinho.

— Não sou criança, Enzo. — Dei ênfase no seu nome. — E você?


Quantos anos?

— Vinte. — Ele riu e eu sabia que estava mentindo.

— É tão velho assim que não pode dizer a sua idade? — Estreitei os
olhos.

— Eu não sou velho, você que é nova demais — argumentou.

— Então fale a sua idade.

— Alguns anos a mais que você.

— Sério isso? — Sorri, achando cômico ele esconder a própria


idade.

O que ele pensa, que eu sairei correndo quando descobrir?

— Exatamente. Agora me fale sobre você, Alice, o que faz aqui?

— Vou estudar, vim para Milão para cursar moda.

— É seu namorado?

Encarei-o sem entender sua pergunta repentina. Do que ele estava


falando?

— O quê? — questionei, completamente confusa.

— O rapaz que está no seu quarto.


— Você acha que eu deixaria o meu namorado no quarto para vir
jantar com você? — Soltei uma gargalhada alta. — Pensei que fosse mais
esperto, Enzo.

— Nunca se sabe do que as mulheres são capazes. — Balançou os


ombros.

— Ele é meu amigo, alguém da confiança dos meus pais e está aqui
para me fazer companhia, apenas isso. — Tentei ser breve e não falar
demais sobre esse assunto.

— Seus pais não moram aqui?

Remexi-me na cadeira, desconfortável com o rumo da conversa,


mas tentei não deixar transparecer.

— Não. E os seus?

— Eu não moro aqui.

— Você é de onde? — Beberiquei o vinho. Não estava surpresa com


a sua afirmação, já era de se imaginar que ele estava só de passagem.

— Alemanha.

— Ah, entendo. E seus pais moram lá? — tomei a liberdade de


perguntar, afinal, ele havia perguntado sobre mim.

— Não. Meus pais faleceram. — Notei uma tristeza passar


brevemente por seus olhos, mas logo se desfez.

— Sinto muito.

— Não sinta, isso já faz tempo.

Assenti.
— Está aqui a trabalho? — perguntei, achando melhor mudar o
rumo da conversa.

— Sim.

— Você trabalha com o quê? — insisti. Detestava respostas rasas


como as que Enzo estava me dando.

— Curiosa, não? — Abriu um pequeno e sedutor sorriso no canto da


boca.

A cada sorriso que ele me dava, era uma borboleta diferente que
voava em meu estômago.

— Só estou querendo te conhecer melhor, pensei que havia me


chamado aqui para isso, mas se não quiser falar, tudo bem — fui sucinta na
minha resposta.

— Administração. — Arqueei uma sobrancelha para ele. —


Administro a empresa que meu pai deixou.

— Legal! Você gosta do que faz?

— Gosto. — O sorriso dele dobrou de tamanho e eu sorri também.

Pela cara dele, ele realmente amava o que fazia.

— É bom fazer algo que a gente goste, assim as coisas funcionam


melhor.

— Penso exatamente igual.

Ficamos em silêncio durante a refeição e o restante do jantar


transcorreu bem. Enzo era uma companhia agradável, gostei muito de estar
com ele, mas acho que já estava um pouco ébria por conta do vinho, então
era hora de encerrar a noite.

— Obrigada pela noite, Enzo, mas preciso ir, já está tarde.

— Costuma dormir cedo, criança?

— Pare de me chamar de criança. — Fechei a cara, deixando


evidente toda a minha insatisfação quanto a esse apelido ridículo que ele me
colocou.

— Ok. — Levantou as mãos em sinal de rendição. — Não te


chamarei mais assim, mas tenho uma condição.

— Condição?

— Dança comigo uma música?

Pisquei algumas vezes… dançar uma música com ele significaria


estar perto demais e eu não sei se conseguiria.

— Acho melhor eu ir. — Levantei-me, pronta para sair.

Enzo também se levantou e parou na minha frente. Seus olhos


estavam cravados nos meus e sua respiração estava perto demais, causando-
me arrepios.

— Apenas uma música, Alice, não vai fazer essa desfeita, vai? —
Mordi o canto da boca, pensativa. — Não seja sem educação, vamos lá, é só
uma música.

— Tudo bem. — Respirei fundo, sentindo-me derrotada por não


conseguir manter o meu não. — Só uma música.
— Só uma música — repetiu baixinho, aproximando o rosto do meu
ouvido.

Que Deus me dê forças para suportar ficar tão perto assim desse
homem.
Capítulo 3
Enzo Ziegler

Vim para Milão para fazer um serviço para a família Caccini, afinal
estamos firmando nossa aliança, que meu pai começou e agora estou dando
continuidade.

Achei que seria uma viagem entediante, mas quando coloquei os


meus olhos nessa menina, fiquei encantando. Linda demais com a sua pele
bronzeada, sobrancelhas marcantes, olhos feiticeiros e uma boca que me faz
desejar beijá-la mais que tudo nessa vida.

Estou pensando até em estender a viagem um pouco, tenho coisas


interessantes para resolver aqui.

— Você não dança nada mal. — Sua voz doce, leve e extremamente
agradável invadiu os meus ouvidos.

— Você também dança muito bem, senhorita — devolvi o elogio e


fui recompensado com um lindo sorriso.

Eu queria ficar mais tempo com ela, então quando ela disse que
queria ir embora, a única coisa que me veio à cabeça foi chamá-la para
dançar comigo e até que não foi uma má ideia, muito pelo contrário, seu
corpo junto ao meu foi a melhor parte dessa noite. Seu cheiro doce, mas não
enjoativo, estava me deixando embriagado e tudo que eu queria era mais de
Alice.
A música acabou e ela se afastou, encarando-me com seus incríveis
olhos feiticeiros.

— Agora eu tenho que ir, muito obrigada por essa noite, Enzo.

— Eu que agradeço, Alice, fazia tempo que não me sentia tão bem
assim na presença de um outro alguém — fui sincero e a vi corar.

Porra! Ela era incrivelmente sedutora quando corava, fato que


deixava-me ainda mais desejoso e, ao mesmo tempo, receoso. Ela era
apenas uma menina de dezoito anos e a forma como ficava envergonhada e
até mesmo sem jeito diante dos meus elogios, dizia-me que ela não estava
acostumada a se relacionar com homens de forma romântica.

Ou seja: era perigoso, perigoso demais.

— A noite foi muito agradável.

— Não tem nada que eu possa fazer para convencê-la a ficar mais?
— insisti, na esperança de que ela ficasse mais um pouco.

— Não. — Sorriu, abaixando a cabeça e encarando os próprios pés.


— Talvez em uma outra oportunidade, mas por hoje é só.

— Tudo bem, uma outra oportunidade me parece ótimo. — Animei-


me bastante em saber que ela estava aberta a outro encontro. — Te
acompanho até o seu quarto.

— Não precisa.

— Faço questão.

Deixei claro em minha voz que não voltaria atrás na minha decisão.
Levá-la até o seu quarto era o mínimo que poderia fazer após essa noite
incrível.
— Então, tá.

Entramos no elevador e uma enorme vontade de agarrá-la me


tomou, mas não iria assustar a menina desse jeito, não queria que ela
pensasse que era um tarado ou algo do tipo, precisava ser mais cauteloso
com ela, afinal, tudo nela cheirava à inocência.

— Tenho boas lembranças desse elevador — comentei sorrindo,


quebrando o silêncio.

— Também tenho, senhor arrogante.

— Espero te ver novamente, Alice — disse sincero, pois realmente


eu esperava por isso.

— Eu também, Enzo.

Ficamos um de frente para o outro e quase não consegui resistir a


vontade que tenho de agarrá-la, prender ela nessa parede e beijar sua boca
gostosa, mas antes que eu fizesse essa estupidez, o elevador se abriu.

Soltei um suspiro de alívio e frustração misturados. Posso jurar que


ouvi o mesmo saindo da boca de Alice.

Não consegui evitar um sorriso, isso era um bom sinal.

— Está entregue — falei, parando em frente à porta da sua suíte.

— Obrigada por me acompanhar até aqui.

— Vai fazer o que amanhã?

— Não sei, é domingo, acho que vou ficar descansando porque


segunda as aulas começam.

— Podemos sair?
— Sair? — perguntou um pouco alterada, o que me fez repensar se
meu convite foi adequado.

— Algum problema?

— É que meu pai não gosta muito que eu saia.

— Entendo. Tudo bem, então.

Confesso que fiquei frustrado. Esse era um dos muitos motivos por
eu nunca ter me interessado por uma menina tão nova.

— Mas podemos fazer alguma coisa aqui no hotel mesmo, o que


você acha? — propõe, deixando-me interessado novamente.

— Acho ótimo, Alice. Pode ser na minha suíte, no horário do


almoço?

— Pra mim parece ótimo.

— Então, até amanhã.

— Até amanhã. — Dei um sorriso para ela e me virei para voltar ao


elevador. — Enzo? — Ouvi-a me chamar e girei um pouco o pescoço para
encará-la. — Você fica melhor quando sorri — falou, com um sorriso
travesso no rosto, bem moleca.

— E você fica melhor de qualquer jeito, Alice.

Sorrimos um para o outro e entrei no elevador, não prolongando o


momento para não perder a cabeça e mandar tudo para a casa do caralho e
beijá-la fervorosamente.

Voltei à minha suíte e encontrei Saymon, meu segurança de


confiança.
— Noite proveitosa, senhor?

— Bastante. Alguma novidade?

— O Don Caccini ligou e pediu para que você retornasse assim que
possível.

— Farei isso agora, obrigado.

Fui para o escritório, que ficava dentro da suíte, e liguei para Rocco
Caccini. Esse cara era chato demais.

— Muito ocupado? — perguntou assim que atendeu a minha


ligação.

— Sim. O trabalho já foi feito.

— Tudo certo então, Enzo. Temos nossa aliança firmada.

— Ok.

— Volta para Alemanha quando? Irei acertar alguns detalhes com


você.

— Tenho coisas pessoais para resolver aqui, assim que voltar te


comunico.

— Viagem produtiva?

— Bastante.

— Então não foi um acordo ruim.

— Não poderia ter sido melhor, Rocco.

Logo lembrei-me de Alice e sorri.


— Ótimo. Vamos nos comunicando, então. Preciso que você
hackeie um servidor para mim, mas isso pode esperar até que você termine
seus afazeres aí.

— Fico lisonjeado pela sua compreensão, querido Don — zombei,


revirando os olhos.

— Só estou deixando porque sei que não vai durar, quem seria a
louca para te suportar? — Pude ouvir sua risada.

— Era só isso ou você quer encher um pouco mais do meu saco?

— Só isso. Até mais.

Desliguei sem responder. Estava sem saco para os irmãos Caccini,


embora goste mais de tratar os assuntos com Rocco do que com Renzo.
Aquele babaca número dois era mais complicado.

Recostei-me na cadeira e voltei os meus pensamentos para a bela


jovem que me fez companhia hoje. Nem me lembro a última vez que estive
tão interessado em alguém ou se já estive tão interessado em alguém desse
jeito.

Eu quero ela, quero muito ela e a terei. Com toda certeza ela será
minha.
Capítulo 4
Alice Caccini

Aqui estava eu, me arrumando mais uma vez para encontrar o


homem que vem povoando os meus pensamentos desde a hora em que o vi.
Enzo tem me atormentado até nos meus sonhos.

Olhei-me no espelho e gostei do que vi, uma produção simples,


porém bonita. Eu escolhi uma regata branca e um short jeans e nos pés uma
rasteirinha, acho que a ocasião pedia algo mais casual.

— Você não está muito simples? — Romeu perguntou, fazendo


careta ao me ver.

— Não, é apenas uma tarde juntos, nada demais — expliquei o


motivo da minha escolha de roupa.

— Nada demais. — Ele imitou minha voz e eu não consegui conter


uma gargalhada.

— Pare de gracinha.

— Você jantou com ele ontem e vai passar a tarde com ele hoje,
você realmente acha que não tem nada demais? — Arqueou as sobrancelhas
e usou aquele tom de voz acusadora que só ele sabia fazer.

— O que tem demais nisso? — Passei por ele, fingindo realmente


não ter importância, mas no fundo, tudo em mim gritava de felicidade,
porque vê-lo dois dias seguintes era bom demais. — Você que fica vendo
coisa onde não tem, nem aconteceu nada.
— Ainda, não é, Alice? Ainda… — assinalou, em tom acusatório.

— Estou indo. Qualquer coisa me liga, tá bom? — Joguei um beijo


para ele, desconversando.

— Vai tranquila, e Alice?

— Sim? — Virei um pouco a cabeça para olhar para ele.

— Aproveite a sua "liberdade". — Fez aspas com os dedos e sorriu.


— Viva tudo que tem para viver, você não sabe até quando isso vai durar —
aconselhou, melancólico.

Voltei e o puxei para um abraço forte, cheio de carinho.

— Daqui a pouco estou de volta.

Despedi-me e ao abrir a porta, encontrei um homem de quase dois


metros de altura, vestido de terno preto, encarando-me. Eu o vi vagamente
na suíte de Enzo.

— Boa tarde! Irei acompanhá-la — informou, todo sério.

— Boa tarde! — cumprimentei, embora eu ainda não tenha


almoçado, então para mim ainda podia ser bom dia.

Segui o homem pelo mesmo caminho que havia feito com o


mensageiro ontem. Entrei na suíte de Enzo e tudo estava quieto e o armário
que estava atrás de mim, já havia sumido.

Caminhei lentamente até a varanda, onde havia sido o nosso jantar


de ontem e o encontrei de costas, apreciando a vista magnífica que ele tinha
daqui. Enzo estava usando apenas uma regata preta, deixando evidente seus
músculos e algumas tatuagens à mostra, além de uma bermuda branca e pés
descalços. Todo o conjunto revelando um homem ainda mais sexy do que
eu imaginava.

Puxei o ar com força, em uma tentativa inútil de tentar acalmar o


meu coração, que retumbava exageradamente dentro do peito.

Pelo amor de Deus, Alice! Você precisa se acalmar, está parecendo


uma adolescente de 15 anos tendo o seu primeiro crush[iii].

Mas caramba… ele era o meu primeiro crush.

Ele se virou, sentindo a minha presença ou ouvindo as batidas


exageradas do meu coração, e me presenteou com um sorriso maravilhoso.
Um sorriso de tirar o fôlego de qualquer um, principalmente o meu.

— Alice, linda como sempre — elogiou com o seu tom de voz


rouco e meu nome saindo da sua boca era surreal de tão bom.

Acompanhei o movimento da sua mão, colocando o cigarro dentro


do cinzeiro e o apagando.

— Você fuma? — perguntei o óbvio.

Só depois que perguntei é que me dei conta do quão idiota era essa
pergunta.

— Fumo, estou tentando parar, mas é complicado — explicou, não


se aprofundando no assunto. — Isso te incomoda?

— Não, claro que não.

Menti, pois na verdade isso me incomodava muito. Meus irmãos e


meu pai viviam fumando e acabei tomando nojo, mas claro que não iria
falar isso para ele, não tenho nada com isso.
— E porque sua expressão demonstra outra coisa? — Fiquei sem
graça diante da sua pergunta e arregalei os olhos. Vendo todo o meu
constrangimento, ele sorriu e estendeu a mão para mim. — Vem, vamos
almoçar. Você ainda não comeu, não é?

— Não.

— Ótimo, venha.

Seguimos para a sala de jantar e desfrutamos de um excelente


almoço. Tudo estava muito delicioso, mas o silêncio e a maneira intensa
com que Enzo me encarava, deixavam-me sem jeito.

— O que você quer fazer agora? — perguntou, rompendo o silêncio


ao finalizarmos a refeição.

— Não sei, o que você tem em mente? — Arrependi-me da pergunta


no momento em que vi o seu sorriso malicioso.

— Melhor saber o que você tem em mente. — Coçou a barba e a


sua pulseira de ouro brilhou.

Ele ficava um charme com essa pulseira no braço.

— Um filme? — propus baixinho, logo sentindo o meu rosto


esquentar. Enzo não parecia um homem que fazia programas como assistir
um filme.

Isso é tão adolescente, Alice.

— Para mim parece ótimo.

Sorri ao vê-lo aceitar sem questionar ou fazer cara feia.


Fomos para a sala e me sentei no sofá enquanto Enzo deitava e
ligava a televisão.

— Deite-se, Alice. Pode ficar à vontade.

— Estou bem assim, obrigada — falei, envergonhada.

Ele balançou os ombros e não insistiu mais.

Os minutos a seguir se passaram com nós dois discutindo sobre qual


filme íamos assistir, e por fim, ficou decidido um filme de comédia, o que
eu havia escolhido.

Em certo momento do filme, peguei-me olhando para Enzo e uma


vontade repentina de sorrir me tomou.

Por que sentia-me estranhamente bem perto dele se mal o conhecia?

Quando me imaginei tendo um encontro com um homem? Um não,


dois. Acho que posso classificar nosso jantar e a nossa tarde de hoje como
encontro, não é?

— Pensativa? — A voz de Enzo me trouxe de volta à realidade e


quando o encarei, ele estava perto demais.

— Acho que estou apenas um pouco cansada, tenho que ir — menti,


já me preparando para levantar e escapar.

A verdade era que eu tinha medo de viver o que seja lá que estivesse
começando.

— Alice? — chamou-me, segurando o meu braço e me impedindo


de levantar. — Por que está sempre fugindo?
Pude sentir uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo diante
do seu toque.

— Eu não estou fugindo.

Não tive coragem de olhá-lo e mentir mais uma vez encarando os


seus olhos.

— Então fica, vamos terminar de assistir ao filme.

— Eu não posso — disse em um fio de voz.

— Por que? — Encostou os dedos no meu queixo e levantou o meu


rosto. — Olhe para mim, por favor.

Eu poderia enumerar vários motivos para explicar o porquê eu não


podia continuar aqui, mas o mais importante deles, sem dúvidas, era que eu
não resistiria a esse homem.

— Eu preciso ir — insisti, engolindo em seco.

— Você vai ficar fugindo para sempre?

— Não tenho porque fugir e não estou fugindo — reiterei o que já


havia dito. A verdade era que eu queria acreditar no que estava dizendo.

— Está sim, está fugindo de mim, toda vez que me aproximo, você
foge. — Sua mão foi parar na minha nuca, segurando-a com firmeza, e
encostou sua testa na minha, misturando nossas respirações.

— Enzo... — Fechei os olhos e seu nome saiu da minha boca como


uma lufada de ar.

— O que, Alice?

— Por favor... — Não sabia o que estava pedindo.


— Me diga, o que você quer? Você quer realmente ir embora?

Não respondi.

Busquei no fundo da minha mente alguma sanidade, mas não


consegui encontrá-la.

— Era o que eu pensava. — Afastou um pouco nossas testas,


encarando-me e seu aperto na minha nuca ficou mais forte, porém não
doloroso.

— Não faz isso — sussurrei, sentindo-me perdida em seus olhos.

— Se eu não fizer isso, vou me arrepender eternamente. Se eu


deixar você sair por aquela porta, pode ser que eu nunca mais a veja e eu
não posso correr esse risco. — Respirou fundo e seus olhos continuaram
encarando os meus. — Eu vou te beijar, Alice, e quando eu fizer isso, não
vai ter mais volta.

Não entendia ao certo o que ele queria dizer com “não tem mais
volta”, mas eu topava. Não importava o que fosse, eu só queria ser beijada
por ele.

A outra mão livre de Enzo foi parar na minha cintura, puxando o


meu corpo um pouco para frente e me apertando de um jeito gostoso. A que
estava na minha nuca continuava me segurando firmemente, me impedindo
de fugir.

Puxei o ar com força, sabendo que não teria volta. Estava tão
entregue que não conseguia dizer não. Eu não quero dizer não.

Fechei os olhos e senti os seus lábios roçarem nos meus. O


nervosismo me afligiu, afinal nunca fiz isso antes e sinto-me perdida. E ele,
como um homem experiente, vai notar minha inexperiência de primeira.
O beijo começou calmo, seus lábios macios brincando
tranquilamente com os meus e, aos poucos, fui conseguindo acompanhá-lo.
Sua língua pediu passagem e eu permiti, deixando que ele explorasse minha
boca por completo. Seus dentes deixaram uma leve mordida em meu lábio
inferior, causando um atrito agradável e depois o chupou.

Apesar de termos almoçado, ainda assim, seu hálito era refrescante e


me fazia querer sentir mais dele a cada segundo que o beijo se intensificava.

Um gemido contido escapou dos meus lábios e pude sentir todo o


meu rosto esquentar.

Eu estava me perdendo em seus beijos e ele estava me consumindo.


Tudo ao meu redor parecia estar girando e é como se fogos de artifícios
estivessem explodindo dentro de mim.

Surreal e inexplicável a sensação de estar nos braços desse homem,


tendo sua boca tomando a minha num beijo fervoroso.

Enzo afastou nossas bocas para que pudéssemos respirar e


estranhamente já sentia falta dos seus lábios encostados nos meus.

— Alice — chamou o meu nome ofegante.

Permaneci de olhos fechados, pois não sabia ao certo como


encararia as suas íris intensas.

— Abra os olhos, por favor.

E eu fiz o que ele pediu. Abri os olhos lentamente e o encarei, não


conseguindo decifrar o que via neles, mas era possível ver através dos seus
todo o brilho que estavam estampados nos meus.

— Me deixe ir — pedi, mesmo que no fundo não quisesse ir.


Entretanto, sabia que mesmo que eu quisesse viver uma vida
diferente, de liberdade, estava receosa em arriscar.

— Nunca — responde subitamente. — Eu não sei o que aconteceu


aqui, eu não sei que droga está acontecendo entre nós dois, mas eu não vou
te deixar ir embora, Alice.

— Enzo, nem nos conhecemos direito. — Tentava ser racional, mas


com ele me olhando desta maneira, era difícil.

— Que se foda! Neste momento, eu quero te beijar e não te


conhecer. — Puxou-me novamente para um beijo fervoroso cheio de
línguas, chupadas e lambidas acaloradas.

— Preciso respirar — soprei contra os seus lábios, rindo.

— Não foge, por favor, não foge disso que está acontecendo —
pediu, ainda com nossas testas encostadas.

Não fui capaz de responder, mas assenti.

Sabia exatamente do que ele estava falando, também sentia o


mesmo. O choque que percorreu nossos corpos sempre que nos tocamos. As
mil e uma borboletas que ficam dançando em meu estômago quando estou
perto dele. O brilho que se destacava em meus olhos quando eu o vejo…
Não sei o que a vida tinha reservado para nós dois quando nos colocou no
mesmo caminho, mas por que não arriscar se toda essa intensidade que não
conseguimos controlar?

— Eu não vou fugir — garanti, não querendo ir para nenhum outro


lugar.

— Se você fugisse, eu iria atrás de você. — Sorriu lindamente e


novamente voltamos a nos beijar.
Nosso beijo, dessa vez, era um pouco mais bruto, mas não menos
gostoso. E quando me dei conta, já estava sentada em seu colo, com as
pernas passadas pela lateral do seu quadril.

Eu queria e iria me perder nos seus beijos e nos seus braços. Porque
tudo em mim gritava, implorava para que isso fosse feito.

Se o universo queria me dar uma chance de ser feliz, eu não


desperdiçaria.

Estava totalmente entregue a esse homem arrebatador.

Eu estava com a boca inchada de tanto beijar Enzo, mas não


conseguia e nem queria parar.

Meu Deus, que homem… meu Deus!

Comecei a ficar um pouco desconfortável e até mesmo


envergonhada ao senti-lo um tanto animado. Toda sua magnificência
debaixo de mim dando claros sinais de que ele estava bem excitado

Caramba, se for tudo isso que estou sentindo… céus, quero nem
imaginar!
Afastei nossas bocas e o encarei com timidez, sentindo meu rosto
pegar fogo.

— Não posso pedir desculpas por isso, é inevitável. — Torceu o


nariz e logo após soltou uma risada.

— Tudo bem. — Tentei me levantar do seu colo, para que ele


pudesse se acalmar, mas ele me segurou firme.

— Fique aqui, está tão bom — pediu, enterrando o rosto no meu


pescoço e aspirando fundo o meu cheiro.

— É só para você se acalmar um pouco — murmurei, explicando


para ele o motivo do porquê iria me levantar.

— O beijo foi gostoso, muito gostoso, acabei ficando excitado, mas


isso não quer dizer que eu vou te levar para cama e venerar o seu corpo o
restante da tarde e a noite inteira… a não ser que você queira isso, ficarei
muito feliz. — Estampou um enorme sorriso travesso no rosto.

Minha respiração pesou e senti o meu corpo inteiro tremer diante da


sua fala.

Opa, Alice… melhor parar por aí, vamos com calma.

— Acho melhor eu ir — disse, finalmente recuperando a minha voz.

— Calma, Alice, não precisa fugir. Não sou nenhum maníaco, não
vou fazer nada que você não queira. — Assenti, verdadeiramente sentindo
confiança nas suas palavras. — Só vamos ficar aqui nos beijando, tudo
bem?

Fiquei ridiculamente envergonhada diante do meu embaraço. Claro


que para ele isso é normal, mas caramba… esse foi o meu primeiro beijo e
eu sentia que mesmo que eu beijasse milhares de carinhas aleatórios por aí,
nada nunca chegaria perto do beijo dele. Mas ir além disso para mim, no
momento, é um pouco demais.

— Vamos assistir outro filme? Acho que perdemos o final desse —


sugeri, querendo melhorar o clima meio embaraçado que havia se instalado
e ele sorriu, assentindo.

— Vamos. Quer escolher?

— Pode escolher dessa vez — falei, saindo do seu colo e me


sentando ao seu lado.

Enzo puxou-me para os seus braços e eu deitei a cabeça no seu


peito, ouvindo as batidas frenéticas do seu coração. Era uma boa melodia.

Ele escolheu um filme de ação bem sangrento e me arrependi


amargamente por tê-lo deixado escolher.

Graças a Deus passamos mais tempo nos beijando do que assistindo


ao filme e eu agradeço por isso, não queria ver esse filme mesmo.

— Está com fome? — perguntou, brincando com uma mexa de


cabelo do meu colo, enrolando-a em seu dedo.

— Um pouco.

— Vamos preparar alguma coisa para comer — propôs, levantando-


se e estendendo a mão para mim, que aceitei de imediato, entrelaçando os
dedos nos seus e indo com ele até a cozinha.

— Senta aqui que eu vou fazer alguma coisa para comermos. —


Puxou uma banqueta para mim e me sentei, nem contrapus, afinal, não
saberia fazer absolutamente nada na cozinha.
— Então você cozinha? — Apoiei os cotovelos na bancada e o
observei tirar as coisas da geladeira.

— Só o básico — esclareceu, começando a preparar dois


sanduíches.

Observei-o atentamente enquanto ele estava de costas para mim,


dando-me uma bela visão da sua bunda grande e bem redonda. Enzo era
espetacular. Um crime de tão lindo. O pacote completo. Além de toda
beleza, ainda era cheiroso, charmoso, beijava bem, tinha umas mãos
enormes que passeavam pelo o meu corpo, deixando-me quente, sem contar
no que eu senti enquanto ele ficou excitado… aquilo era… bom, aquilo era
grande.

O encaixe do nosso beijo foi tão bom, que mesmo com toda a minha
inexperiência, ele conseguiu fazer com que o meu primeiro beijo fosse
maravilhoso.

Eu estava me sentindo literalmente a santa do pau oco… uma


virgem, que mesmo receosa, ficou completamente molhada com beijos
quentes e desejou se perder nos braços musculosos daquele homem tesudo
que estava me causando arrepios intensos.

Acabei rindo com o meu próprio pensamento, chamando a atenção


dele.

— Rindo de que, mocinha? — Colocou o prato com um sanduíche e


um copo de suco na minha frente.

— Mudamos de criança para mocinha? — questionei, sorrindo.

— Talvez. — Ele parou do meu lado e beijou o meu pescoço,


fazendo aquele arrepio intenso atravessar todo o meu corpo.
Eu precisava parar de encharcar a minha calcinha, porque daqui a
pouco pingaria no chão.

Enzo sentou-se ao meu lado e começamos a comer.

— Isso está delicioso — elogiei o seu sanduíche, pois estava muito


bom mesmo.

— Deliciosa é você. — Sorriu com malícia e ruborizei. — Gosto


quando você ruboriza.

— Me fala mais sobre você, Enzo — mudei de assunto para evitar o


meu constrangimento.

Apesar de gostar quando ele falava essas coisas, ainda estava me


acostumando a ter alguém me cortejando.

— O que você quer saber?

— Você não me falou a sua idade. — Lembrei que ele não quis me
contar. — Olha, não me importo com isso, mas é que estamos nos
conhecendo, seria legal eu saber a sua, já que você sabe que eu tenho
dezoito.

Ele sorriu e assentiu.

— Tenho trinta e três.

Sorri, não me importando nem um pouco com nossos 15 anos de


diferença.

— Você disse que veio a negócio, não é? — Assentiu. — Ainda está


resolvendo ou já terminou?

— Já resolvi.
— E agora está a passeio? — Dei uma golada no suco, mas sem
desviar os olhos dele, que me encarava fixamente.

— Não.

— Então? — questionei o motivo pelo qual ele ainda estava em


Milão.

— Estou por você.

Meu coração errou uma batida e pisquei umas duas ou três vezes
antes de conseguir responder.

Puta que pariu, gostoso, você não facilitava a minha vida.

— Você não pode ficar falando essas coisas. — Minha voz saiu
como um sussurro. Arriscaria dizer que as batidas do meu coração eram
mais altas do que meu tom de voz.

— Por que não?

— Porque você não está falando sério.

— Estou sim. Por que eu mentiria? — Um vinco se formou no meio


da sua testa enquanto ele me questionava.

— Talvez para me levar para a cama?

Enzo gargalhou alto e só então me dei conta de como eu tinha sido


idiota e infeliz com a minha fala.

— Fico ofendido que você pense assim de mim, Alice. — Ele se


levantou e parou na minha frente, girando a minha cadeira, colocando-me
de frente para ele e se encaixando no meio das minhas pernas, com suas
mãos indo parar na minha cintura. — Estou aqui ainda porque quero estar
com você. Fazia muito tempo que não me sentia bem na presença de uma
outra pessoa, gostei de você e quero estar aqui com você. Como já disse
anteriormente, não sei o que está acontecendo, mas sei que você sente o
mesmo. — Engoli em seco. — Claro que isso não anula o fato de eu querer
te levar para cama. — Arqueei as sobrancelhas, um sorriso se formando nos
meus lábios. — No tempo certo, é claro. Ainda é cedo para conversarmos
sobre isso, você tem que estar pronta e sentir vontade, não vou forçar nada,
mas ficarei esperando. — Aproximou a boca do meu ouvido e sussurrou: —
Ansioso.

Ri e enlacei os braços no seu pescoço. Suas mãos grandes me


puxaram, fazendo com que eu enrolasse as pernas envolta da sua cintura e
fosse para o seu colo.

— Então teremos outras oportunidades? — perguntei, colando


nossos lábios.

— Muitas outras. Não vou deixar você fugir.

— Eu não quero fugir — admiti e seus lábios esmagaram os meus


num beijo ardente e muito, muito sensual.

Essa era a única certeza que eu tinha neste momento: não queria
fugir do Enzo. Queria fugir mesmo era da vida que eu tinha e que Enzo não
sabia. Me senti um pouco triste por estar enganando esse homem que
parecia ser uma pessoa tão boa.

Mas talvez ele seja a minha válvula de escape no meio desse caos.
Capítulo 5
Alice Caccini

Acordei com uma sensação gostosa dentro do peito, minhas


borboletas dançavam incansavelmente ao relembrar meu dia de ontem.
Fiquei até tarde com Enzo e tudo foi tão bom. Depois do sanduíche,
ficamos deitados no sofá conversando amenidades enquanto nos
beijávamos incansavelmente. Certeza que eu cheguei no quarto com a boca
inchada.

Me despedi dele por causa da hora, até queria continuar lá, mas não
queria matar Romeu do coração, por isso vim embora. Enzo trouxe-me até a
porta da minha suíte, gentil, como tinha feito na noite anterior.

Assim que entrei, Romeu me bombardeou de perguntas e resumi um


pouco para ele, mas não foi o suficiente, ele queria saber de todos os
detalhes, minimamente. Queria saber até a frequência das nossas
respirações e como eu estava muito cansada, deixei para falar tudo depois.

Enfim, fui dormir sorrindo à toa, feliz demais pelo o que tinha
acontecido.

Pulei da cama ao me lembrar que hoje era segunda e isso


significava: meu primeiro dia na faculdade e minha mudança para casa
nova. Meu novo lar, minha nova vida, graças a Dio!

— A bela adormecida acordou. — Romeu entrou no quarto e se


sentou na cama com uma carinha acusatória. Eu conhecia bem o meu
amigo, apostava que ele nem dormiu direito, se corroendo de curiosidade.
— Nem vem, estou atrasada. — Joguei uma almofada na sua cara,
rindo.

— Nem vem você, não está nada de atrasada! — Jogou a almofada


de volta em mim. — Pode começar a abrir essa linda boquinha, caso
contrário terei que te amarrar nesta cama e fazer cócegas até que me diga
tudo, tudinho, entendeu, dona Alice?

— Não precisa de ameaças, eu já iria contar mesmo. — Balancei os


ombros — Mas farei isso enquanto me arrumo, pode ser?

— Você falando, meu bem, pode ser do jeito que quiser.

— Fofoqueiro.

— Apenas curioso.

— Tanto faz. — Respirei fundo. — Nem sei por onde começar.

— Do começo para mim parece ótimo — ironizou e eu dei língua


para ele.

— O beijo foi ótimo, Romeu. — Suspirei, sorrindo ao me lembrar.


— Ele beija tão bem, conduziu tão perfeitamente…

— Você cresceu, bambina, já deu até seu primeiro beijinho. —


Apoiou o queixo nas suas mãos e me olhou emocionado.

— Para com essa besteira, Romeu — o repreendi e começamos a rir.

— Tá, me conta mais.

Contei para Romeu tudo que aconteceu, com todos os detalhes,


porque ele não iria sossegar enquanto não soubesse de tudo nos mínimos
detalhes. Senti uma felicidade enorme ao me lembrar do dia anterior, mas
também um pequeno receio, dessa vez quando nos despedimos não falamos
nada sobre o dia que iríamos nos encontrar outra vez.

Será que eu estava sendo emocionada demais?

— Por que você ficou com essa carinha? Parecia tão contente.

— Ele não falou nada sobre a gente se ver novamente. Quer dizer,
ele disse que teríamos outras vezes, mas não disse quando — expliquei.

— Calma, ele vai te procurar — falou, cheio de certezas.

— Como você sabe?

— Somente um idiota desperdiçaria a chance de ficar com você,


amiga, você é incrível, sem contar como é linda!

— Obrigada… você é incrível, nem sei o que seria da minha vida


sem você. — Sentei-me ao seu lado e o abracei.

— Eu também não sei — brincou, rindo. — Agora termina de se


arrumar e vamos logo, você não quer se atrasar no primeiro dia, não é?

— Você tem razão, não quero.

Obriguei a minha mente em parar de pensar no Enzo um pouquinho


e me concentrar nos meus outros afazeres.

Arrumei-me o mais rápido possível, pois estava animada e ansiosa


para meu primeiro dia no curso.

Tudo estava tão bom, levar uma vida "normal" era tão gostoso, não
sabia porque ainda existe essa droga de máfia, a vida era tão mais leve sem
ela. Se todas as meninas pudessem experimentar um pouco dessa liberdade
que estou tendo a oportunidade, seriamos imensamente mais felizes.
Lembrar da máfia deixou-me um pouco triste. Sei que se eu não
arrumar um jeito de sumir nesse mundo, meu conto de fadas logo acabará.
Isso tudo tem prazo certo para acabar e mesmo que esteja começando, eu já
sofria só de pensar no fim.

— Você já sabe, não irei entrar, você precisa levar uma vida mais
normal possível, para não levantar suspeitas. Estarei te rastreando, então
não tire os brincos, coloquei o rastreador neles. Passarei para te buscar na
saída, me ligue qualquer coisa — repassou as instruções, deixando-me na
frente da faculdade.

— Certo. — Puxei o ar com força, abrindo a porta do carro.

— Amiga?

— Sim?

— Ele foi embora.

— Quem foi embora? — perguntei confusa, estreitando os olhos na


sua direção.

— Enzo.

— Como você sabe disso? — Engoli em seco e minha voz saiu um


pouco alterada.

— Eu tentei checar algumas informações sobre ele na recepção.


Como quem não queria nada, apenas um curioso querendo saber da vida de
um milionário. Como não sabíamos o sobrenome, queria ter certeza que
você estava em total segurança. — Comprimi os lábios, ouvindo tudo
atentamente. — Eu nem ia te contar isso agora, não queria estragar seu dia,
mas eu não ia aguentar guardar isso o dia inteiro.
— E o que te informaram sobre ele? Quem te confirmou que ele foi
embora?

— Joguei todo o meu charme irresistível para a recepcionista —


contou, revirando os olhos. — E ela, como uma boa fofoqueira, me contou
que ele é um empresário, bem famoso por sinal, mas que não poderia me
passar informações pessoais, só as que eram de domínio público, afinal, era
o emprego dela que estava em jogo. Aí hoje quando eu desci para verificar
o carro, eu a encontrei e ela me contou, despretensiosamente, que ele havia
ido embora, fez o check out.[iv] — Não falei nada, mas também não
consegui deixar transparecer a tristeza no meu rosto. — Sinto muito, amiga.
— Romeu me abraçou. — Quem perdeu foi ele, você sabe disso.

— Tudo bem, foi só uns beijos, nada demais — menti, me afastando


e tentando não demonstrar como estava arrasada. — Deixa eu correr para
não me atrasar. Te amo! — Deixei um beijo na sua bochecha e saí do carro,
indo em direção à faculdade com o coração ridiculamente doendo.

Mais que idiota, Alice! Você conheceu o homem faz dois dias e já
está assim? Burra! Burra! Iludida!

Caminhei pelo pátio da faculdade pensando em um motivo para ele


ter ido embora, assim do nada, sem se despedir de mim.

Ele deveria se despedir de mim? Foram apenas uns beijos, não


foram?

Mas não custava nada, não conseguia entender o que aconteceu.


Talvez ele não tenha gostado tanto do nosso beijo quanto eu gostei, tudo
bem, eu nem sabia beijar também, era compreensível.
Me dei conta de que minhas borboletas não estavam voando mais.
Acho que fantasiei uma história nada a ver na minha cabeça. Melhor
esquecer tudo isso, melhor esquecer Enzo e focar no que eu vim fazer aqui.

Estudar? Não! Achar uma maneira de fugir desse mundo louco.


Capítulo 6
Enzo Ziegler

Traguei o meu cigarro, soltando a fumaça devagar e bebi um longo


gole do uísque em meu copo. Meus pensamentos estavam distantes,
insistiam em ir até a morena linda que conheci em Milão… Alice.

Mas que droga! Não conseguia parar de pensar nela… quando foi
que eu me senti assim alguma vez na vida?

— Trouxe o que você me pediu. — A voz de Mayla ecoou na sala,


tirando-me dos meus pensamentos.

— Obrigado! — agradeci, deixando o cigarro dentro do cinzeiro e


pegando os papéis da mão dela.

— O que tem essa menina, Enzo? — Encarou-me desconfiada.

— Nada.

— Mentindo para mim, Enzo Ziegler?

Mayla me conhecia tão bem que era difícil esconder as coisas dela.
A conhecia praticamente a minha vida toda.

— Nada demais. — Passei o olho rapidamente pelo papel. —


Conseguiu apenas isso?

— É apenas uma garota mimada bancada pelos pais, isso é mais


comum do que você imagina — falou com desprezo evidente em sua voz.
— Você pode fazer melhor do que esse relatório, Mayla, só conheço
um hacker melhor que você, não me decepcione.

Eu era bom no que fazia, mas Mayla não ficava para trás, ela era
uma hacker foda para caralho e era até vergonhoso ela me entregar esse lixo
de relatório.

— Esse hacker que se diz melhor que eu, anda muito ocupado
ultimamente. Pra que tanto interesse nessa garota? É apenas uma pré-
adolescente, acabou de completar dezoito anos, o que teria demais? Temos
coisas mais importantes para resolver do que ficar pesquisando sobre
garotas mimadas, não temos? — Estreitou os olhos na minha direção e
jogou os braços para o alto, deixando evidente toda a sua irritação. — Ah
que droga, Enzo! Não vai me falar que você ficou com essa ninfeta? Que
merda! — bradou, bastante irritada. — Ela é uma adolescente, desde
quando você fica com alguém que mal saiu das fraldas?

— Não é nada disso, Mayla, não fiquei com ninguém — menti, sem
um pingo de remorso. Foda-se, eu não iria confessar que fiquei encantado
numa adolescente. — Agora senta aí e me conta as últimas novidades.

Mayla vai encher a porra do meu saco se descobrir a verdade. Ela é


minha amiga, meu braço esquerdo — o direito é Saymon. Ambos são
importantíssimos para mim, minha família. Não gostava de mentir para ela,
mas também não queria que ela ficasse fazendo todo um interrogatório e
ainda ficasse com raiva dessa história, sabia que ela ia encrencar com o fato
da Alice ter apenas dezoito anos. Por isso, preferi mentir.

— Enzo? Você está ouvindo o que estou falando? — Balançou a


mão na frente do meu rosto.

— O quê? — Pisquei algumas vezes. — Sim, estou, pode continuar.


— O que eu falei, Enzo?

Porra! Mayla tinha que ser sempre tão complicada?

— Desculpa, Mayla, estava pensando em outra coisa.

— Claro que estava. — Deu uma risada irônica e se levantou. —


Estava pensando nessa garota, não é? — Antes que eu pudesse responder,
estendeu a mão na minha direção. — Não precisa responder, está visível
bem aí na sua cara a resposta. Essa garota só tem dezoito anos, ouviu bem?
A diferença de idade de vocês é enorme, se toca, Enzo! — Virou-se e saiu
pisando firme.

— Mayla — chamei, mas ela me ignorou, como sempre fazia


quando estava com raiva.

— O que foi isso? — Saymon apareceu, olhando para onde Mayla


tinha saído furiosa.

— Nada, ela está apenas nervosa.

— Posso? — perguntou, apontando para a cadeira vazia.

— Claro.

— Ela descobriu sobre a Alice?

— Mais ou menos isso. — Saymon era esperto e quase nada passava


despercebido por ele. — Aceita? — Levantei a garrafa, oferecendo uísque
para ele.

— Sim. — Pegou o copo, se servindo. — Você sabe que isso é


ciúmes, não sabe?

— Não viaja, Saymon.


Meu amigo teimava que Mayla era apaixonada por mim, mas porra,
eu sempre a vi como uma irmã. Sem condições.

— Você sabe, apenas ignora, é mais cômodo para você ignorar —


acusou-me e não pude me defender.

— Vamos mudar de assunto — pedi e ele assentiu, rindo. —


Alguma novidade?

— Renzo ligou, disse para você retornar assim que possível.

— Não vou retornar — bufei, revirando os olhos.

— Não? — Deu uma levantada na sobrancelha, estranhando minha


resposta.

A verdade era que eu estava extremamente irritado e sem saco para


aquela família.

— Não, se aquele idiota quiser, ele liga para o meu celular e quando
eu estiver com paciência, atendo ele.

— Você brinca demais, Enzo. — Saymon sorriu, virando a dose do


seu copo toda de uma vez.

— Não consigo parar de pensar naquela garota — confessei,


passando a mão no rosto, frustrado por estar me sentindo assim.

— Eu sei disso.

— Sabe? — Estreitei os olhos. — Virou vidente ou algo do tipo?

— É nítido na sua cara.

— Tão nítido assim?


— Transparente como a água.

— E o que você acha disso? — questionei, aguardando a sua


opinião. Saymon era um bom amigo e sábio, saberia ao certo como me
aconselhar.

— Acho que você tem que aproveitar a sua vida, daqui a pouco o
conselho vai te cobrar um casamento e você terá que cumprir com suas
obrigações e a moça terá que ser do nosso mundo, você sabe disso, não
preciso ficar te lembrando. Então curte agora, aproveita enquanto pode, se
você quer tanto essa menina, então vai atrás dela.

— Você não acha ela nova demais para mim?

— Tem dezoito anos, tá liberado. — Sorriu. — Mandei preparar o


avião. Arrume suas coisas, vamos voltar para Milão — avisou e porra, esse
era um amigo do caralho mesmo.

— Obrigado, amigo. — Levantei e dei dois tapinhas no seu ombro.

Saymon apenas balançou a cabeça em um gesto de cumplicidade e


eu saí do escritório, indo arrumar minhas coisas.

Devo muito a esse homem, devo a minha vida.

Quando meus pais morreram, Saymon ficou ao meu lado e desde


então é quem cuida de mim. Sempre esteve comigo, nunca me abandonou.
Foi um homem de confiança do meu pai e agora é meu braço direito.

Eu ia desistir dessa fixação por aquela morena, ela é nova e não é


deste mundo da máfia, mas não consigo parar de pensar nela. Meu amigo
tem razão, tenho que aproveitar a vida enquanto ainda posso.

Morena, estou chegando...


Capítulo 7
Alice Caccini

Faz dois dias que Enzo desapareceu e sequer se despediu de mim.


Sou muito iludida e emocionada mesmo, o que um homem como ele —
experiente — iria querer com uma menina que acabou de iniciar a sua vida
adulta?

Até dois dias atrás eu nem sabia o que era beijar na boca.

Balancei a cabeça de um lado para o outro, sorrindo ao me lembrar


do beijo.

— Qual a graça? Posso saber? Quero rir também — Harry


perguntou, cutucando o meu braço.

— Nada não, estava só pensando em uma coisa aleatória.

— Pedi dois lanches e um suco natural — avisou, assim que a


menina veio nos servir e se sentou ao meu lado.

— Ótimo, obrigada!

Conheci Harry na faculdade, ele faz arquitetura e começamos a


conversar no primeiro dia na hora do intervalo, ele era bem simpático e
bonito também.

Não bonito como o Enzo. Acho que não vou encontrar ninguém tão
lindo como ele.

Opa, Alice… esquece esse homem!


— Você tem namorado, Alice? — perguntou, dando a primeira
mordida no seu lanche e eu fiz o mesmo.

— Não.

Hoje Harry me convidou para lanchar com ele após a aula e eu


aceitei, afinal, preciso fazer amizades.

— Que bom. — Abriu um sorriso malicioso e eu estreitei os olhos,


um tanto sem jeito. — Hein. — Pigarreou. — Vai ter uma festinha do
pessoal da faculdade no sábado, topa?

— Ahn, não sei... — Ponderei se eu deveria aceitar ou não.

— Vamos, vai ser legal — insistiu. — O pessoal todo da faculdade


estará lá, você vai poder se enturmar, conhecer as pessoas e poderemos sair
juntos. — Repousou a mão sobre a minha e antes que eu pudesse ter
qualquer reação, uma voz grossa se fez presente.

— Sugiro que tire as suas mãos dela.

Eu e Harry viramos na mesma hora, encarando o homem que tanto


povoava os meus pensamentos.

— Quem é você? — Harry quis saber.

— Não interessa, vaza daqui, moleque — Enzo falou de forma


grosseira e eu fiquei sem reação.

— Por que eu deveria sair? — Harry me encarou. — Você conhece


ele, Alice?

De repente, me dei conta de que fiquei inerte. Balancei a cabeça,


recompondo-me.
— Sim… é… sim, eu conheço — gaguejei de uma maneira ridícula.

Enzo se aproximou, inclinando o corpo para frente. Seu perfume


invadiu minhas narinas, deixando-me tonta e seus lábios tocaram os meus.

Estava tão atônita que nem consegui corresponder ao beijo ou


mesmo empurrá-lo.

— Que merda está acontecendo aqui, Alice? — Harry praticamente


gritou, chamando nossa atenção e Enzo se afastou, encarando-o de forma
furiosa. — Você disse que não tinha namorado — lembrou-me da minha
fala de ainda pouco.

— Você ainda está aqui, moleque? — Enzo praticamente rosnou. —


Some daqui antes que eu quebre a sua cara.

— Enzo, para com isso — finalmente consegui repreendê-lo por


tamanha loucura. — A gente pode conversar depois, Harry? — pedi,
olhando em seus olhos com gentileza.

— Conversar depois é o caralho — Enzo se intrometeu. — Some


daqui, moleque, e não se aproxime mais dela, se você quiser continuar
respirando.

Eu e Harry arregalamos os olhos. Ele se levantou e saiu sem olhar


para trás. Enzo puxou a cadeira, se sentando ao meu lado, e chamou a
menina para atendê-lo, que veio toda sorridente.

— Um suco de laranja e um lanche desse para mim também, por


favor — pediu.

Ouvi a menina sussurrar um: “Claro, o que você quiser.” de um


jeito sensual e saiu rebolando.
Revirei os olhos, ainda processando tudo que havia acabado de
acontecer aqui.

— O que foi? O gato comeu a sua língua? — Sorriu.

Abri a boca diversas vezes para falar alguma coisa, mas nada que
não fosse um surto vinha à minha mente, então estava me mantendo calada.

— Enzo...

— Oi?

— Que droga acabou de acontecer aqui? — perguntei baixinho, mas


nervosa, muito nervosa.

— Eu que pergunto, marcando encontro com aquele moleque,


Alice? Francamente! — Balançou a cabeça de um lado para o outro, em um
sinal nítido de reprovação.

Ah, mas pera aí… quem esse gostoso estava pensando que era para
chegar assim? Achando que manda em mim.

— Francamente digo eu, Enzo. — Estreitei os olhos na sua direção,


bufando. — Quem você pensa que é? Você não tinha o direito de falar com
o Harry assim e muito menos de fazer essa cena!

— Esse moleque estava dando em cima de você, Alice, queria que


eu fizesse o quê?

— Nada, você não tem o direito de fazer nada, você não é nada
meu! — retruquei novamente, cuspindo as palavras com raiva.

— Não fala besteira.


Ele esticou a mão para me tocar, mas eu dei um tapa, impedindo que
encostasse em mim.

— Besteira? Você foi embora sem ao menos me dizer um tchau.


Consideração por mim você não teve nenhuma, por que eu teria por você?

— Tive que resolver uns problemas, mas voltei, voltei por você,
Alice. — Finalmente ele conseguiu tocar na minha mão e aquela
eletricidade infernal voltou a percorrer todo o meu corpo.

Droga de corpo traidor.

— Conta outra, Enzo. — Afastei minha mão do seu toque.

— Estou falando a verdade, Alice, estou aqui por você, voltei por
você e ficarei aqui o máximo que conseguir por você, somente por você.

Eu queria mandá-lo para o inferno, mas poxa, havia tanta


sinceridade nos seus olhos que ele acabou me desarmando.

— Preciso ir. — Peguei minha bolsa e me levantei.

— Espera, Alice, precisamos conversar.

Andei depressa para fora do estabelecimento e vi o segurança mal-


encarado que estava com Enzo no hotel. Passei por ele sem falar nada,
afinal, eu estava nervosa e confusa, não queria parar e dar a chance de Enzo
me alcançar.

— Alice, por favor, espera. — Ele segurou no meu braço, puxando-


me para perto do seu corpo.

— Me solta — pedi, evitando olhá-lo, pois não quero fraquejar.

— Olha para mim, por favor.


Levantei o olhar lentamente e me arrependi no mesmo instante. Por
que tudo nele tinha que ser tão lindo e atraente? Esses olhos eram um
perigo para a minha saúde mental.

As batidas do meu coração aceleraram e minhas borboletas voltaram


a dançar dentro de mim.

Suas mãos desceram para a minha cintura e puxou-me para mais


perto dele, colando nossos corpos. Em silêncio, ele passou os braços em
volta das minhas costas e me abraçou de um jeito tão reconfortante.

Retribuí o seu abraço como se tivesse anos que não nos víamos.
Uma saudade enorme pairando sobre nós. Não havia como explicar essa
conexão de almas que existia entre a gente.

— Senti a sua falta — sussurrou no meu ouvido.

— Eu também — confessei.

— Vamos para a minha casa? Podemos conversar melhor lá.

— Enzo...

— Por favor, Alice, é só conversar… olha, se depois disso você falar


que não quer mais me ver, eu vou embora. Só conversa comigo.

Suspirei pesado e acabei sorrindo, convencida.

— Tudo bem.

Não sabia o que estava acontecendo, não sabia o que estava


sentindo, só sabia que era forte e intenso demais… tinha medo, muito medo
de tudo isso que estava acontecendo, pois as chances de eu sair ferida dessa
história eram enormes, mas resolvi arriscar.
Antes de sairmos, eu disse que precisava fazer uma ligação para o
meu amigo. Como tinha medo de meus irmãos rastrearem ou até mesmo
grampearam o meu celular, liguei para Romeu de um telefone público e o
avisei. Ele fez o maior escândalo quando eu falei da volta de Enzo e que
sairia com ele rapidinho. Meu amigo me orientou a deixar o celular no
armário da faculdade, para não correr o risco de ser rastreada, e também
pediu que eu não tirasse os brincos.

Assim eu fiz. Falei com Enzo que precisava entrar rapidinho na


faculdade e ele ficou me esperando dentro do carro do lado de fora.
Tranquei o armário com o meu celular lá dentro e voltei para o carro.
Fizemos todo o trajeto em silêncio e após uns trinta minutos, estávamos
entrando numa casa enorme, com um quintal lindíssimo.

— Você está morando aqui? — perguntei curiosa, olhando pela


janela.

— Agora sim.

— Por que?

Ele olhou em meus olhos e sorriu. Meu coração errou uma batida e,
como uma boa iludida que eu era, sorri também.

Entramos na casa e ela era ainda mais bonita por dentro. O jardim
que rodeava toda a casa deixava tudo ainda mais charmoso.

— Sua casa é linda! — elogiei, encantada. Enzo tinha muito bom


gosto.

— Sabia que você ia gostar. — Lançou-me uma piscadela e foi até a


adega, pegando um vinho e duas taças.
— Sabia, é? — falei um pouco mais alto, para que ele pudesse me
ouvir por conta da distância.

— Sim. Aceita? — Aproximou-se, oferecendo-me uma taça, mas


balancei a cabeça em sinal negativo. — Você é meiga e delicada, então
pensei que uma casa aconchegante e bonita combinaria com você. —
Deixou as taças e o vinho em cima da mesa.

— Você está dizendo que a comprou para me agradar?

— Exatamente isso.

— Por que?

— É para ser sincero, Alice? — Voltou para perto de mim, parando


na minha frente.

— Sim, gostaria que fosse sincero. — Fitei os seus olhos.

— Eu não sei. — Sorriu. — Quando eu vi essa casa me lembrei de


você e decidi comprar. Se ela faz meu estilo? Não, não faz. — Balançou a
cabeça, sorrindo ainda mais. — Mas queria algo que fosse o seu estilo, que
tivesse o seu jeito e nesses poucos dias que te conheço, achei que essa casa
era exatamente o tipo de casa que você compraria. Estou errado?

— Não — respondi baixinho, mordendo o cantinho da boca,


segurando um sorriso. — Não está errado, eu realmente compraria essa
casa.

— Que bom, fico feliz que eu tenha acertado.

— Por que me trouxe aqui, Enzo? Por que foi embora sem falar
nada e voltou? Por que fez todo aquele show? Por que você acha que tem
algum direito de me cobrar alguma coisa? O que é isso que está
acontecendo?

Sei que eram muitos porquês, mas eu estava muito confusa e


merecia uma explicação. Uma resposta que me fizesse acreditar que eu não
estava enlouquecendo sozinha.

— Eu não sei, Alice. — Puxou o ar com força e mexeu na pulseira


de ouro em seu braço. — Confesso que eu não sei, nunca me aconteceu
antes. — Pisquei algumas vezes enquanto encarava os seus olhos. — A
única coisa que eu sei é que não paro de pensar em você. — Estendeu a
mão, passando os dedos por meu rosto e eu fechei os olhos, gostando do seu
carinho, da quentura dos seus dedos. — Eu quero tanto você, Alice, estou
até assustado com tanto querer. Mas eu quero viver isso, quero você como
nunca quis ninguém na vida.

Senti sua mão passar em volta da minha cintura e a outra segurar


firme a minha nuca. Senti também seu hálito quente e refrescante bem perto
da minha boca, deixando-me embevecida.

— Eu vou te beijar... — avisou, pedindo a minha autorização e eu


apenas dei um leve aceno de cabeça.

Quando nossas bocas finalmente se encontraram e meus lábios


foram esmagados pelos os dele, parecia que milhares de fogos de artifícios
haviam sido soltos dentro de mim.

Aqui, agora, não existia minha vida de mentira. Era apenas eu, ele e
esse sentimento louco e repentino que nos dominou com tanta força.

Perdi-me em sua boca, deixando que a sua língua explorasse-me


como bem quisesse. Ele mordeu o meu lábio inferior, puxando-o e, ao
soltar, chupando-o de um jeito tão sensual que perdi o ar.

Espalmei as mãos no seu peito, afastando-o um pouco. Eu precisava


respirar. Enzo era intenso demais.

— Não consigo e não quero ficar longe de você — soprou contra a


minha boca.

— Eu também não quero ficar longe de você.

— Namora comigo então, morena?

Arregalei os meus olhos e senti minhas pernas bambearem. Ainda


bem que ele estava me segurando ou então eu teria caído feio no chão.

— O quê? — Minha voz saiu esganiçada. — Namorar? Como


assim? Nem nos conhecemos direito!

— Nos conhecemos o suficiente. Eu sei o que estou sentindo, você


sabe o que está sentindo, o que nos impede de ficar juntos?

Pensei em várias coisas que nos impedia, mas resolvi deixar quieto.

— Nada — menti descaradamente, dando vazão a tudo que eu


também sentia.

Meu Deus, Alice, você se tornou a mentirosa nº1 desse planeta.

— Então não tem desculpa, morena. Você não quer namorar


comigo?

— Não é nada disso, é claro que eu quero, só que está um pouco


cedo, você não acha?

— Você disse que quer? Eu ouvi direito? — O sorriso dele se


expandiu, parecendo até uma criança que acabou de ganhar um doce.
— Sim, eu disse que quero, mas também disse que estava cedo. —
O lembrei da minha fala.

Levei um susto quando ele me pegou no colo e distribuiu beijos por


todo o meu rosto e pescoço.

— Minha namorada — falou, cheio de orgulho.

— Enzo, eu disse que estava cedo para isso — repeti o que havia
falado e ele claramente ignorava.

— Quem é que determina o tempo certo para as coisas


acontecerem? Não sabemos o dia de amanhã, morena. Pode ser que não
estejamos mais aqui. E aí, vai desperdiçar o tempo longe desse pedaço de
mal caminho?

Ele jogou baixo agora. Só me vinha à cabeça a voz de Romeu


falando: aproveita, Alice, não sabemos quando vai acabar.

— Certo. — Soltei uma lufada de ar. — Sua namorada. Preciso me


acostumar com esse título.

— Minha, só minha… — declarou, voltando a tomar minha boca


num beijo gostoso.

Sabia que poderia estar me metendo na maior furada do mundo.


Sabia que mesmo que Romeu me apoiasse em todas as minhas loucuras,
primeiro ele iria surtar, antes de concordar. Mas o que eu poderia fazer?
Perto desse homem não conseguia pensar direito, ele me tirava toda e
qualquer razão.

A única preocupação que queria ter hoje era o tanto que queria
beijar essa boca linda e gostosa que ele tem.
Estava tão feliz, que sequer estava pensando nas consequências que
isso poderia trazer.

Existia amor à primeira vista? Se era verdade que existia eu não sei,
mas que eu me apaixonei no momento em que coloquei os olhos em Enzo,
ah, isso eu não tinha dúvidas.

Estava a tarde toda agarradinha com meu namorado. Sorria toda vez
ao pensar nisso,

Que loucura, eu estava namorando. Por essa nem o destino


esperava.

— Preciso ir — avisei para Enzo, pois já estava ficando tarde.

Estávamos deitados na cama, assistindo algum programa qualquer


que se passava na televisão, mas prestando atenção era a última coisa que
estávamos fazendo de verdade.

— Tá cedo. — Torceu o nariz. — Quer dormir aqui?

— Não posso.

— Por que não?

— Meus pais são complicados, ficam me vigiando.


— Posso conversar com eles.

Congelei, engolindo seco.

— O que foi, Alice? Que cara é essa?

— Você não pode falar com os meus pais, meus pais nem podem
saber que eu estou com você. — Enzo olhou-me com os olhos estreitos
diante do meu surto.

— Por que seus pais não podem saber que você está comigo? —
Levantou, claramente incomodado.

— Eles não podem saber que eu estou namorando, Enzo. —


Suspirei. — Meus pais querem que eu apenas estude.

— Você vai continuar estudando, te garanto que não irei atrapalhar


os seus estudos.

— Eu sei, mas eles não pensam assim. Se meus pais descobrirem,


vão querer me mandar embora e aí sim não poderemos ficar juntos — tentei
convencê-lo, explicando de um jeito mais doce.

— Eu falo com eles, tenho certeza que vou convencê-los —


contrapôs, deixando-me com os nervos à flor da pele.

— NÃO! — gritei e Enzo me encarou com um olhar desconfiado.


Passei as mãos no rosto, tentando me acalmar. — Meus pais são
complicados, tenho medo da reação deles, então por favor, vamos continuar
do jeito que estamos, pelo menos por enquanto, depois eu vejo o que eu
faço. — Abaixei a cabeça, envergonhada pela mentira e implorando aos
céus para que ele aceitasse essa minha desculpa esfarrapada.
— Seus pais são ruins para você? Eles te maltratam? — Sentou-se
na minha frente, levantando o meu rosto com cuidado e me olhando com
preocupação.

Eu iria para o inferno… com toda certeza eu iria para o inferno por
estar mentindo desta maneira para esse homem e o envolvendo no meu
mundo sombrio.

— Não, eles só são complicados mesmo e pensam que eu tenho que


estudar para ter um bom futuro. Meus pais não gostam muito da ideia de eu
namorar agora, foi uma das coisas que eles me falaram antes de eu vir
estudar. — Em partes não era de todo uma mentira, meus pais e meus
irmãos deixaram claro todas as regras antes de eu sair de casa.

Obviamente que eles não falaram sobre namorar, até porque não
pensaram que eu fosse capaz de tamanha loucura, mas deixaram nas
entrelinhas, assim como deixam sempre que me ligam, sobre eu não
esquecer de onde venho e os deveres que terei que cumprir.

— Entendi. Tudo bem, então. Mas isso não vai atrapalhar nós dois,
não é?

— Não, não vai — garanti, mesmo sem ter certeza. — Meus pais
viajam muito e quase não nos vemos pessoalmente, mas estão sempre em
contato comigo e nesse tempo que ficarei aqui estudando terei que ir vê-los
poucas vezes.

— E depois?

— Depois que eu terminar os estudos? — Assentiu. — Vou


trabalhar e seguir a minha vida, penso em me mudar, ir para longe da Itália.

— Não gosta daqui?


— Não! — afirmei com tanta intensidade que ele arregalou os olhos
e sorriu.

— Por que você não vem morar comigo na Alemanha? Eu prometo


cuidar de você, posso te proporcionar todo o luxo que seus pais te
proporcionam e até mais.

Um enorme sorriso brincou em meus lábios.

Você vai queimar no inferno, Alice. Sua mentirosa, traidora e


traiçoeira.

Era tudo que minha mente gritava para mim.

— Obrigada! — Apertei suas bochechas com as mãos, formando um


biquinho lindo e dei um beijo. — Prometo pensar com carinho nessa sua
proposta tentadora.

— Esperarei ansioso por sua resposta.

— Certo, temos tempo para pensar nisso, mas agora eu realmente


preciso ir embora.

— Eu te levo.

Balancei a cabeça concordando e peguei as minhas coisas.

Passei para ele o endereço de onde eu estava morando agora já que


não estava mais hospedada no hotel e durante o trajeto, fiquei pensando em
como contaria tudo aquilo para Romeu e o tanto que o meu amigo iria
surtar.

Enzo estacionou o carro na frente do prédio e assim que eu tirei o


cinto, ele me puxou para um beijo de tirar o fôlego. Esse homem era tão
intenso que roubava o meu oxigênio.
Sorri contra os seus lábios e ele também sorriu, encostando nossos
dentes.

— Boa noite, morena!

— Boa noite, Enzo!

Nos despedimos e eu entrei no prédio praticamente correndo, não


olhei para trás para não fraquejar e voltar para dentro daquele carro e me
perder novamente em seus braços.

Mal abri a porta do apartamento e Romeu apareceu, bombardeando-


me de perguntas.

— Onde você estava, Alice? Que merda!

— Oi, você está bem? — Ignorei o seu chilique, passando por ele e
indo para a sala.

— Oi, você está bem? — Ele me imitou com uma voz engraçada e
fazendo gestos estranhos. — Está bem é o caramba! Onde você estava?

— Você sabe, te avisei e não tirei os brincos por nada.

— Esse é o problema, Alice, o GPS parou de funcionar assim que


você chegou em um determinado ponto e eu fiquei desesperado sem sua
localização.

— Como assim parou de funcionar? — Estreitei os olhos,


completamente confusa.

— Não sei, algum bloqueador de GPS[v], por isso quero saber onde
estava!

Achei isso estranho, como assim bloqueador de GPS?


— Na casa de Enzo.

— O deus grego tem uma casa aqui? — confirmei, jogando-me no


sofá e ele se aproximou, sentando ao meu lado. — Me conta isso melhor.

— Nossa, até alguns segundos atrás você estava morrendo de raiva e


agora está aí igual uma velha fofoqueira. — Dei um tapa no seu braço,
rindo.

— Anda logo, dona Alice, pode começar a falar.

Não ia ter para onde correr mesmo, então contei todos os detalhes
para ele, tim-tim por tim-tim, sem me esquecer de absolutamente nada,
inclusive comentando até as caras e bocas e trejeitos que fizemos.

— Você ficou louca? Bateu a cabeça? Como assim está namorando?


— Romeu começou a rir. — Sabe que é cedo para namorar? Por céus! —
Levantou, jogando as mãos para o alto e depois as batendo na lateral do
próprio corpo. Eu nem me movi, pois já conhecia muito bem o jeito dele. —
Você sabe que pode estar cavando a cova desse homem? ALICE, VOCÊ
PIROU! — gritou, o surto só piorando.

— Calma, Romeu, ninguém vai descobrir, você está aqui justamente


para me ajudar — falei tranquilamente enquanto mexia nas unhas, mas por
dentro eu estava assim: se der merda, fudeu! — Pensa que o Enzo pode ser
a nossa salvação, ele até me convidou para ir morar com ele na Alemanha.
Ele tem dinheiro, podemos ir embora para qualquer lugar desse mundo.

— Você tem certeza que pode confiar nele? — Ajoelhou-se no chão,


inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos no sofá.

— Sim, sei que conheço ele a pouco tempo, mas sinto que ele é a
pessoa certa.
— Então fala com ele, vamos embora hoje mesmo! — Empolgou-
se, deixando o surto de medo para trás e aderindo a um novo surto: o de
ansiedade.

— Calma, também não podemos fazer as coisas assim, ele vai


desconfiar. Primeiro eu preciso ganhar a confiança dele e depois eu conto a
verdade.

— Você não pode contar a verdade, ficou louca? Você inventa que
quer sumir da vida dos seus pais por outro motivo. Se você falar a verdade,
o homem vai sair correndo. Quem em sã consciência arriscaria a própria
vida desse jeito?

— Eu seria uma pessoa muito ruim se metesse ele nessa história


sem contar a verdade, Romeu — falei, sentindo a culpa me consumir.

— Ruim você já foi quando se envolveu e deixou a mentira fluir


mesmo sabendo das consequências, agora é um pouco tarde para ter crises
de consciência, não acha? — Um vinco se formou na sua testa e seu olhar
era acusatório.

— Como você é cruel, Romeu! — acusei diante da sua sinceridade


tão nua e crua sendo jogada cruelmente na minha cara, como um tapa.

— Você sabe que eu tenho razão. Já era, Alice. O que está feito, está
feito. Além do mais, você tem sangue Caccini correndo nas suas veias, há
um pouco de perversidade por trás dessa carinha angelical e olhinhos
brilhantes. Então não se faça de rogada, porque você pode até estar
pensando no bem do gostoso, mas com toda certeza está pensando mais em
você.
Balancei a cabeça de um lado para o outro, revirando os olhos e
detestando que Romeu falasse tantas verdades na minha cara.

— Que seja, vamos esperar um pouco e eu farei o que tiver que ser
necessário para nos tirar desse inferno.

— Ótimo! — Sorriu satisfeito, batendo palmas. — Estarei


esperando ansioso por esse momento.

— Eu também... Eu também!

Olhei para o teto branco e suspirei. Eu sabia que mereceria queimar


no fogo do inferno por estar usando uma boa pessoa e a arrastando para
uma escuridão sem volta, mas o que poderia fazer? Romeu tinha razão, eu
pensava nele, em tudo de ruim que aquilo poderia causar, mas pensava mais
em mim.

E tudo que eu desejava no momento era ter a minha vida longe da


máfia. Em conquistar a tão sonhada liberdade.
Capítulo 8
Alice Caccini

1 ano depois.
Os dias tem passado muito rápido, rápido até demais. Já faz um ano
que estou me envolvendo com Enzo e nesse tempo, graças a Deus, tudo tem
dado certo.

Meus pais não desconfiam de nada e muito menos Enzo.

Depois daquele episódio de ciúmes que Enzo teve com Harry, no dia
que começamos a namorar, nunca mais tivemos problemas desse tipo. Enzo
era um amor de pessoa, um cara muito tranquilo e brincalhão.

Sobre o Harry, nunca mais o vi, nem para poder pedir desculpas.
Fiquei sabendo somente que ele tinha se mudado, achei até estranho, mas
talvez ele já tivesse planejado isso e não havia comentado nada comigo nas
poucas conversas que tivemos.

Enfim, o que queria dizer é que meu relacionamento era um mar de


calmaria. Enzo me fazia tão bem, era tão feliz ao lado dele, que até me
esquecia dos problemas que tinha. Quando estava com meu namorado, nada
mais nesse mundo importava, apenas o nosso amor.

Eu o amava, amava muito e embora Enzo nunca tenha dito em


palavras, eu sei que o sentimento é recíproco e que ele sentia por mim
exatamente o que eu sentia por ele.
Neste momento, estava arrumando minhas coisas junto com Romeu.
Estávamos indo passar férias na Alemanha, para ser exata, na casa de Enzo.
Meus pais achavam que estava indo para um trabalho da faculdade, não sei
como Enzo conseguiu isso, mas ele conseguiu fazer minha família acreditar
nisso através do meu professor.

Iria passar três meses na Alemanha e realmente nesse período terão


diversos desfiles de moda no qual vários estilistas famosos estarão,
realmente será um aprendizado muito bom para mim, mas não estou indo
com essa finalidade, sequer sei se vou comparecer a esses eventos na
realidade.

Como não houve nenhuma intercorrência durante o período que


estava aqui estudando, meus pais não se importaram em me deixar ir para lá
com Romeu. O que a princípio achamos estranho, já que os rumores eram
que as máfias italiana e alemã eram rivais, mas Romeu me disse que havia
ouvido sobre uma trégua e por isso, talvez, não houvesse represálias da
minha família em me deixar ir. Juntamente com o fato de quase ninguém
realmente conhecer a irmã dos Caccini, então não haveria problema em ser
reconhecida por qualquer pessoa.

— Animada? — Romeu perguntou assim que fechamos a mala.

— Sim.

— Preocupada também? — Meu amigo me conhecia tão bem.

— Um pouco — confessei. — Vou aproveitar essa viagem e vou


falar com ele.

— Vai contar a verdade?

Assenti, já não estava mais suportando esconder.


— Sim, ele tem o direito de saber, Romeu. — Eu e meu amigo
vínhamos discutindo sobre isso durante todo esse ano. — Depois disso, se
ele ainda me quiser e quiser ir embora com a gente, nós partimos de lá
mesmo.

— Eu acho uma estupidez sem tamanho, mas se você quer… —


Balançou os ombros, se dando por vencido. — E se ele não quiser?

— Aí teremos que recomeçar tudo do zero.

— Certo, temos tempo.

— Temos sim. — Sorri para ele, que me retribuiu o sorriso.

Estava aliviada em saber que finalmente meu amigo aceitou a minha


decisão, embora pensar que Enzo não fosse querer me doía bastante, pois
pensar em perdê-lo era muito doloroso.

Terminamos de arrumar nossas coisas e fomos direto para o


aeroporto. Enzo não teve como ficar para nos levar, ele teve que resolver
alguns problemas, mas estaria nos esperando lá.

Durante todo o trajeto eu fiquei ansiosa para poder vê-lo, já tinha


uns dias que não nos víamos.

Foi uma confusão para convencer os meus pais a me deixarem ir de


maneira convencional e não com o jato da família, mas por fim, Rocco
intercedeu por mim e disse que eu deveria continuar agindo como uma
garota normal. Contudo, não fui com o jato da família, mas a primeira
classe foi reservada apenas para mim e Romeu.

Cochilei junto com Romeu e quando acordamos, já estávamos


pousando. A ansiedade só ficava mais forte conforme ia me aproximando.
— Vamos? — Romeu segurou na minha mão enquanto descíamos
do avião.

— Vamos. — Apertei sua mão com força. — Enzo vai estar nos
esperando e vamos direto para casa dele.

— Amiga? — Parou de andar, me encarando.

— O que foi?

— Está preparada para qualquer coisa?

— Sim, já disse que se nada der certo, a gente recomeça do zero —


garanti, afirmando que independente de qualquer coisa, eu estaria do lado
dele e faria de tudo para nos tirar dessa situação.

— E sobre dormir com ele, na casa dele?

— Não entendi. — Engoli em seco.

— Entendeu sim, não se faça de sonsa. — Soltou a minha mão e


beliscou o meu braço, fazendo-me rir.

Eu sabia do que Romeu estava falando. Durante esse ano eu


consegui enrolar Enzo e ele me respeitou muito. Claro que isso não quer
dizer que não fizemos nada, apenas não rolou penetração, mas do resto já
nos conhecemos bastante e sei que a cada dia que passa estava cada vez
mais difícil segurar essa vontade e esse desejo que existia entre nós dois.

— Me deixa quieta, Romeu. — Revirei os olhos, agarrando a sua


mão e o puxando, cortando o assunto.

Ele ficou rindo e jogando piadinhas sobre a possível perda da minha


virgindade. Juro que nessas horas eu queria enforcar o meu melhor amigo.
Confesso que estava nervosa sobre essa situação. Sabia que ia
acontecer, era inevitável. Na verdade, eu não sei nem como não aconteceu
antes, seguramos até bastante tempo.

Avistei Enzo de longe e soltei a mão de Romeu, correndo em sua


direção. Assim que me aproximei, joguei-me em seus braços, ficando na
pontinha dos pés para alcançar a sua boca.

Ainda que eu estivesse usando meus belíssimos saltos 15cm, Enzo


era bem maior que eu.

— Que delícia, morena — cochichou em meu ouvido, abraçando-


me apertado. — Estava morrendo de saudades!

— Eu também, meu amor!

— Oi, Saymon — cumprimentei o segurança de Enzo.

— Olá, senhorita Alice, tudo bem?

— Tudo melhor agora — afirmei, sorrindo feito boba enquanto


encarava os olhos do meu namorado.

Romeu se aproximou, cumprimentou eles e disse que precisava


fazer uma ligação importante de trabalho e que logo se juntaria a nós no
carro.

Eu sabia que ele ligaria para a minha família passando o relatório


completo do nosso trajeto até aqui… bom, completo, completo não, apenas
o que eles deveriam saber.

Andei abraçada com Enzo até o carro e conversei com Saymon. O


segurança do meu namorado tinha o jeito fechado dele, mas era uma pessoa
maravilhosa. Romeu vivia se jogando aos seus pés, mas ele o ignorava
completamente… tadinho do meu amigo, com a sua paixão platônica.
Saymon já deixou claro que gostava apenas de mulheres, mas Romeu não
desistia, continua incansável na sua missão de conquistá-lo. O que acabava
nos causando boas risadas quando estamos juntos.

— Ansioso para dormir com você na nossa casa, meu amor —


sussurrou no meu ouvido antes de entrarmos no carro, arrepiando todo o
meu corpo e fazendo-me ansiar por isso.

Encarei os seus olhos e dei meu maior sorriso, o mais sincero e feliz
para ele, como resposta.

Esperamos Romeu se juntar a nós e entramos no carro, rumando


para a casa do meu namorado.

Ou melhor, nossa casa, como ele gosta de falar.

Fiquei encantada assim que o carro passou pelos portões, mas


incrivelmente fascinada quando entrei e o interior da casa de Enzo era um
luxo e decorado de uma maneira graciosa.

Sempre fui criada com muita riqueza, mas uau! Isso aqui era
impressionante. Parecia até um castelo, com um quintal enorme e um
jardim na frente de dar inveja.

— Gostou?

— Sim, é lindo! — exclamei, ainda olhando para os lados,


apreciando cada cantinho.

— Como eu sei que você gosta de flores, mandei providenciar o


jardim.

Virei-me para ele boquiaberta.


— Você fez isso só por minha causa?

Quando entrei aqui pensei que já era assim.

— Sim e mandei reformar a casa também, era tudo muito escuro e


masculino, então pedi para que Mayla providenciasse a decoração com
cores claras e elegantes, assim como sei que você gosta. O que mais quero é
que você se sinta em casa.

— Mayla? — perguntei, sem entender de quem ele falava.

— Olá. — Escutei uma voz suave se aproximando de onde


estávamos. — Mayla sou eu, vejo que Enzo não falou sobre mim. — Um
estalar de língua em reprovação ecoou pela sala. — Que feio, hein, Enzo?

Girei o pescoço e vi uma linda mulher loira, com o dobro do meu


tamanho e um corpo super malhado.

Mordi o cantinho da boca, não conseguindo evitar que o ciúmes me


atingisse.

Quem era ela? Enzo nunca falou nada sobre ela.

— Alice, essa é Mayla, ela trabalha para mim — apresentou a loira


magnífica à nossa frente.

— Olá, Mayla. — Forcei um sorriso, sendo o mais educada possível

— Seja bem-vinda, Alice. — Devolveu-me o sorriso e se virou para


Enzo. — E como assim: essa é Mayla, ela trabalha para mim? — Tentou
imitar a voz dele, de um jeito irônico. — Somos uma família, Alice, e
apesar de Enzo nunca ter mencionado meu nome, aqui já ouvimos muito
sobre você e sinto que te conheço tão bem quanto conheço Enzo, de tanto
ouvi-lo falar de você. — Riu, parecendo bem simpática.
— Espero que tenha ouvido coisas boas — falei baixinho, também
tentando sorrir.

— Só tenho coisas boas para falar de você, morena. — Enzo deu-me


um beijo no topo da cabeça.

— Bom, já vou indo. — Mayla pigarreou. — Seu amigo Romeu já


está acomodado. — Olhei para os lados, vendo que Romeu sumiu indo atrás
de Saymon. — Se precisar de qualquer coisa é só me chamar, estarei à sua
disposição.

— Obrigada!

— Depois preciso falar com você sobre os negócios — sussurrou


para Enzo, mas eu consegui ouvir.

— Mais tarde conversaremos.

Mayla se retirou e o silêncio pairou sobre nós.

— Ela trabalha aqui na sua casa? — Não aguentei esperar dez


segundos e tive que perguntar.

— Digamos que sim.

— Eu ouvi ela falando que queria falar com você sobre negócios,
ela trabalha na sua empresa também? — questionei, curiosa por mais
informações, que ele parecia relutante em me dar.

— Sim.

— Ah, entendi… E ela mora aqui por perto? Percebi que não tem
casas nas redondezas — continuei questionando, eu não sossegaria
enquanto não soubesse tudo.
— Ela mora aqui.

— Aqui? — Estreitei os olhos, praticamente berrando a pergunta em


seus ouvidos. — Ela mora com você?

— Está com ciúmes? — Enzo segurou a minha cintura e um sorriso


brincou em seus lábios, mas eu continuei séria, não estava com clima para
as suas brincadeiras. — Não precisa ficar com ciúmes. Mayla e eu fomos
criados praticamente juntos, ela é da família, me ajuda a tomar conta da
casa e organiza os meus negócios. Ela e Saymon são meus braços e minhas
pernas, sem eles eu estaria perdido. — Adiantou-se a explicar diante da
minha cara fechada.

— Hm…

— Pode perguntar, Alice.

— Perguntar o quê? — Fiz-me de desentendida.

— Como se eu não te conhecesse, não é, morena? — Riu, apertando


ainda mais a mão em volta da minha cintura.

— Se você sabe o que quero saber, por que não diz logo? — Bufei,
irritada.

— Não, eu nunca fiquei com ela — finalmente respondeu o que eu


queria saber. — Como eu disse, somos uma família e Mayla me ajudou e
me ajuda muito, igual Saymon. Ambos são como meus irmãos, apenas isso
— reiterou o que já havia dito.

— E por que nunca mencionou ela antes? — tornei a questionar,


porque sei lá, isso não fazia muito sentido na minha cabeça.

— Não achei que fosse necessário, por qual motivo mencionaria?


Suspirei, dando-me por vencida.

— Verdade, você tem razão, não era necessário.

Uma coisa é certa: se ela fosse alguém tão importante assim na vida
dele, ele com certeza teria falado sobre ela, então não tem porque eu sentir
ciúmes. Talvez eu esteja vendo coisas onde não tem.

— Vamos subir e tomar um banho. — Entrelaçou nossos dedos. —


Você está com fome?

— Não, comemos durante o voo. Só quero um banho e descansar ao


seu lado. — Sorri.

— A parte do banho eu concordo, agora tem certeza que quer


descansar? — perguntou, com um sorrisinho malicioso no canto da boca.

— É… acho que podemos deixar para descansar mais tarde.

— Alice, Alice, não brinca comigo. — Arqueou as sobrancelhas e


eu mordi o lábio inferior.

— Quem disse que eu estou brincando? — Concentrei-me em seus


olhos e ele ficou em silêncio me avaliando para saber se o que eu estava
falando era realmente verdade. Eu ri do seu jeito confuso e puxei sua mão.
— Vamos tomar um banho.

Não perdemos tempo, subimos as escadas correndo. Tínhamos


urgência um do outro.
Enzo tomou banho primeiro do que eu e agora eu estava pensativa
enquanto a água quente escorria pelas minhas costas.

Estava em um misto de sentimentos que nem conseguia explicar:


nervosa, ansiosa, com medo, empolgada e um tanto confusa também.

Eu sabia o que eu queria e queria muito, mas tinha medo do futuro.


Apesar de não querer pensar nele, era inevitável. Se eu me entregar de vez,
não tem mais volta, não posso recuar mais, é tudo ou nada, agora mais do
que nunca eu preciso sair dessa vida, sumir desse mundo mafioso.

Queria ser feliz, desejava ser livre. Queria viver todas as coisas que
tinha vontade ao lado do Enzo, eu o amava demais. Esperava e torcia com
todas as forças para que ele entendesse quando eu contar e que ficasse ao
meu lado.

Troquei de roupa dentro do banheiro e saí, encontrando-o todo


arrumado.

— Por que está arrumado? — perguntei, confusa e curiosa.

— Tive uns problemas na empresa e terei que resolver, mas eu volto


logo — explicou, colocando o rolex[vi] no pulso e pegando o celular que
estava em cima da mesinha ao lado da cama.
— A essa hora? — questionei em um tom ameno, estava tentando
não ser chata.

— A empresa funciona 24h, amor, infelizmente imprevistos


acontecem, mas eu prometo que volto o mais rápido possível.

— Tudo bem. Você vai sozinho?

— Não. — Deu um nó na gravata, ajeitando-a e ficando ainda mais


lindo.

— Vai com quem? — Balancei as pernas, curiosidade me corroendo


por dentro.

— Saymon e Mayla. — Enzo se aproximou e me abraçou.

— Hm, entendi.

— Já conversamos sobre isso, não precisa ficar enciumada, a Mayla


é apenas uma grande amiga e trabalha comigo, não tem motivos para sentir
ciúmes. Eu amo você e quero só você!

Queria pular por ouvi-lo falar que me amava com todas as letras,
mas me contive apenas com um enorme sorriso.

— Desculpa. Você tem razão, não tem motivos para ter ciúmes. —
Passei os braços em volta dele, também o abraçando e colamos nossos
lábios.

— Descanse, eu volto em breve.

— Tá bom. Te amo! — Apertei-o mais um pouco.

— Até logo, morena.

Enzo me beijou mais uma vez e saiu.


Olhei ao redor do quarto e me senti sozinha e perdida dentro dessa
casa sem ele.

Peguei o meu livro dentro da bolsa e deitei na cama para ler, vendo
se assim o tempo passava.

— Quem é? — perguntei ao ouvir duas batidas na porta.

— Sou eu, perua, posso entrar?

— Claro. — Ajeitei-me na cama e Romeu entrou.

— Uau, a suíte máster é um espetáculo! — elogiou, olhando tudo à


sua volta.

— A casa é linda mesmo — falei um tanto desanimada.

— O que foi, boneca? — Sentou-se ao meu lado, me encarando.

— Nada — menti, não querendo enchê-lo com as minhas bobeiras.

— Como se eu não te conhecesse, não é, Alice? O que aconteceu?

— É bobeira, nada relevante. — Fiz careta, rindo de mim mesma.

— Ciúmes da tal mulher que trabalha com o Enzo?

— Como você sabe? — Estreitei os olhos. — Percebeu alguma


coisa entre eles? — Avaliei-o com atenção.

— Não. — Riu do meu ridículo desespero. — Eu te conheço e


quando ela se apresentou, eu imaginei que você fosse ficar com ciúmes.

— E o que você acha disso? — Torci o nariz, respirando fundo e me


preparando para a sua sinceridade cruel.
— Dos ciúmes? Normal... Até certo ponto, é claro. Você gosta dele,
é normal que sinta ciúmes, mas sinceramente? Não vejo motivos para isso.
Enzo é apaixonado e louco por você, não acredito que ele tenha interesse
em outra mulher.

— Você acha isso?

— Tenho certeza.

— E ela, você acha que ela tem sentimentos por ele?

— Olha, não tenho certeza e nem quero encher a sua cabecinha com
besteiras, mas acho que sim. A maneira com que ela olha para ele não me
pareceu fraternal, diferente dele. Então acho que você não tem nada com o
que se preocupar. Pelo que entendi, ela sabe o seu lugar.

— Você tem razão. — Suspirei pesado. — Ele nunca me deu


motivos para sentir ciúmes e ela me tratou tão bem, acho que estou
exagerando.

— Também acho. Agora me conta como você está se sentindo.

— Bem melhor agora depois de conversar com você, como sempre,


você sendo o meu alívio.

— Estou perguntando em outro sentido, o que você está sentindo


sobre sua relação com Enzo. Você acha que está preparada? — Referiu-se
ao nosso relacionamento sexual.

— Sim, mas estou com um pouco de medo.

— Você sabe que não vai ter como voltar atrás, não sabe?

— Sei.
— Sabe que te apoiarei em qualquer decisão?

— Sei sim. — Sorri carinhosamente para ele, que me retribuiu com


um afago afetuoso no rosto.

— Eu trouxe uma coisa para você, espera.

Romeu correu porta afora e pegou uma sacola que parecia estar no
canto da porta e eu não havia visto. — Aqui. — Entregou-me, animado.

— Um presente? Obrigada, amigo!

Adiantei-me para abrir o presente o mais rápido possível e


surpreendi-me ao ver uma linda camisola na cor rosé e uma mini calcinha
que formava o conjunto… bem sexy, mas, ao mesmo tempo, sem ser vulgar.
Como explicar? Linda, linda e linda!

— Eu amei, é linda!

— Use e abuse.

— Obrigada amigo, eu te amo! — Me joguei em seus braços,


abraçando-o forte e distribuindo vários beijinhos em seu rosto.

— Eu também te amo. Sua felicidade é a minha.

Eu amo meu amigo. Romeu era mais que um amigo, era meu irmão.
Sabe aquela pessoa que vive tudo ao seu lado? Desde a sua vitória até a sua
derrota? Então, ele é essa pessoa e eu sou muito grata por tê-lo em minha
vida.

Lembro que no começo Enzo morria de ciúmes dele, até o dia que
descobriu sobre a sua sexualidade. Descobriu não, né? Romeu contou.
Depois disso, eles dois se tornaram grandes amigos também e aí sim minha
felicidade ficou maior. Saber que meu namorado e meu melhor amigo se
dão bem era gratificante demais.
Capítulo 9
Enzo Ziegler

Tive que deixar minha linda mulher em casa para resolver um


problema que os idiotas dos irmãos Caccini arrumaram. Vou te falar, que
família pé no saco, essa.

— Enzo, qual o motivo dessa pressa toda? Vamos fazer essa merda
direito! — Mayla reclamou, já impaciente com a minha ansiedade.

— Não enche o saco, Mayla. — Bufei, detestando esse mau humor


dos infernos que ela tem estado nos últimos dias.

— Como se você não soubesse o motivo da pressa dele. — Saymon


riu.

— Ah, qual é, Enzo! — Ela revirou os olhos. — Vai deixar esse


relacionamento interferir no seu trabalho? Por acaso essa garota já sabe o
que você faz?

— Não se mete nisso — bradei, deixando claro que não queria que
ela se metesse na minha história com Alice. — Todo mundo dentro daquela
casa sabe que é proibido falar sobre esse assunto, isso vale para você
também — avisei.

— Eu sei, calma. Não vou falar nada, mas acho que você precisa
jogar limpo com a garota. Ela tem o direito de saber onde está se metendo e
se quer se meter nesse meio. — Desaprova minha atitude em esconder de
Alice a minha verdadeira face. — Cuidado, Enzo, mentira tem perna curta e
pode destruir qualquer relação, seja ela a mais forte de todas.

Detestava saber que ela estava certa, mas não tinha coragem de abrir
o jogo agora, tinha medo que ela me abandonasse, que vá embora com
medo de mim. Não podia arriscar, não posso perdê-la.

— Chega dessa conversa, vamos ao que interessa logo — contrapus,


achando melhor encerrar esse assunto e terminar logo aqui para voltar para
casa.

Resolvemos tudo que tínhamos para resolver, matamos quem tinha


que morrer e terminamos mais rápido do que eu imaginava.

O que me deixou aliviado e contente. Agora só queria voltar para os


braços da minha morena e amar ela a noite inteira.

— Enzo? — Mayla me chamou assim que chegamos em casa e eu


estava começando a subir as escadas.

— Oi? — Parei, mas não virei para olhá-la.

— Lembra do que eu te falei. Tudo que começa errado, termina


errado. Gosto de você e quero te ver feliz — foi tudo que ela disse antes de
sumir e me deixar ainda mais pensativo.

Porra! Mayla queria me fazer ter uma crise de consciência fodida


agora? Um ano depois? Era meio tarde para me arrepender agora.

Balancei a cabeça de um lado para o outro e subi, indo para o meu


quarto. Entrei sem fazer barulho, não queria acordar Alice no meio da
noite.
Mas meu coração quase parou quando a vi deitada na minha cama,
vestindo apenas uma camisola de cor rosé. Havia pouca iluminação, apenas
a luz do abajur a iluminava e por Deus, era o suficiente para que eu tivesse
a visão mais linda do mundo.

Minha morena deitada na minha cama, seus cabelos escuros


espalhados por meu lençol branco, vestida como uma deusa… isso era
demais para o meu coração.

Fui direto para o banheiro tomar um bom banho, tirar todo o cheiro
de sangue que residia em mim e estar à altura para deitar ao lado dela.

Vesti minha cueca boxer e uma bermuda confortável e assim que me


coloquei ao seu lado, acariciei o seu lindo rosto.

Tentei, juro que tentei não acordá-la, mas foi inevitável.

— Você voltou — constatou, ainda de olhos fechados, abrindo um


lindo sorriso.

— Eu sempre voltarei para você — garanti, pois essa era a maior


verdade.

Seus olhos se abriram e o brilho que enxerguei neles aqueceu a


minha alma.

— Eu acho bom que volte mesmo. — Seus dedos tocaram o meu


rosto.

Aproximei o meu rosto do seu e toquei os seus lábios com os meus,


começando um beijo leve e tranquilo. Alice deu passagem para que a minha
língua invadisse a sua boca e o que antes era calmo, agora havia se tornado
abrasador.
Contornei meus braços em volta da sua cintura e puxei o seu corpo,
colando-o no meu.

A excitação começou a dominar o momento e minha mão desceu


pela curva das suas costas, indo parar na sua bunda empinada, dura e
redonda.

Essa mulher foi desenhada pelo melhor pintor do mundo, não tenho
dúvidas.

— Eu quero… quero você — Alice sussurrou contra minha boca.

Afastei um pouco nossos rostos para encará-la, eu queria ter certeza


de que ela estava certa do que estava falando.

Porra, eu esperei um ano para tê-la por completo e vê-la agora,


sorrindo para mim, deixando evidente em seus olhos toda a sua convicção,
me travou de uma forma que eu nem sei explicar, muito menos sabia o que
falar ou como agir. Como a porra de um adolescente que nunca transou na
vida, eu travei ao ouvir a minha mulher falar que me quer, que quer transar
comigo.

— Enzo — ela me chamou rindo. — Eu disse que quero você, por


completo.

Ai, caralho… o quão bestalhão eu estou sendo?

— É que… — Puxei o ar com força, enchendo os meus pulmões, e


sorri. — Esperei tanto por isso que mal posso acreditar que esse dia
finalmente chegou. — Deixei um beijo carinhoso em sua testa. — Eu te
quero muito mais, morena. — Enterrei meu rosto no seu pescoço,
cheirando-a e beijando sua pele quente, sentindo-a se arrepiar.
As unhas de Alice percorreram minhas costas, braços e, ao afastar
um pouco o seu corpo do meu, arranhou o meu peito e minha barriga.

A suavidade dos seus toques fez meu corpo se arrepiar por inteiro.

Apesar de inexperiente, Alice era corajosa e ousada. Empurrou-me,


fazendo com que eu deitasse de barriga para cima e distribuiu beijos por
todo o meu corpo, descendo uma trilha molhada na minha barriga com a
sua língua.

— Alice… — gemi, chamando o seu nome, e ela sorriu, olhando-


me de um jeito safado.

Seus dedos encaixaram na lateral da minha bermuda, puxando-a


para baixo e deixando-me apenas de cueca.

Alice queria me matar, só pode. Ela encarava o volume marcando na


minha boxer e passou a língua pelos lábios, umedecendo-os.

Ah, porra! Gostosa do caralho!

Puxei-a pelo braço, colocando-a na cama e passei o olhar por todo o


seu corpo, que com certeza foi esculpido pelos deuses.

Ela não desviou os olhos de mim em nenhum momento, encarando-


me fixamente e tentadoramente sôfrega.

A beijei, não conseguindo ficar longe por muito tempo dos seus
lábios doces. Assim como eu, era possível sentir que Alice também estava
embevecida. O tesão, juntamente com uma química indescritível, se fazia
presente enquanto nossas línguas duelavam em completo desespero um pelo
outro.
Abandonei os seus lábios, pois sabia que precisava de mais, e agora
que Alice queria me dar tudo, eu não perderia tempo.

Lambi e mordi o seu pescoço, deixando a leve marca dos meus


dentes ali. Abaixei a alça da sua lingerie e beijei os seus ombros antes de
baixá-la por completo e libertar seus lindos seios.

Eu já havia visto eles antes, pequenos, enrijecidos e os mais belos


que os meus olhos já viram, mas porra, como explicar a sensação que estava
sentindo hoje ao estar diante deles, sabendo que não seria apenas isso?

Sem perder tempo, eu abocanhei o mamilo direito, chupando-o com


vontade. Alice agarrou os meus cabelos, puxando os fios e gemendo baixo e
deliciosamente para mim. Eu sabia que ela era sensível naquela região, pois
várias vezes gozou comigo apenas chupando os seus peitos.

Mordisquei levemente o bico e depois passei a língua, amenizando o


atrito que causei ali, para só então passar para o outro, fazendo o mesmo,
chupando, mordendo e lambendo.

— Ah, Enzo! — choramingou.

Abandonei os mamilos, pois hoje eles não eram a prioridade e mordi


sua barriga por cima do tecido da camisola, descendo até o meio das suas
pernas, abrindo-as e enfiando a minha cabeça entre suas coxas, puxando o
ar com força, embriagando-me com o cheiro da sua excitação.

Eu queria beijar cada pedacinho do seu corpo, mas eu estava fodido,


literalmente. Sentia-me pior do que quando transei pela primeira vez,
ansioso e afobado. Tudo que eu queria era me enterrar até o fundo da sua
boceta e gozar intensamente como a porra de um neandertal, marcando-a
com o meu sêmen e mostrando o quanto era minha.
Abaixei a sua calcinha e fui nocauteado ao vê-la totalmente
depilada.

— Oh, morena… que covardia! — Mordi o interior da sua coxa e


ela riu, aparentemente gostando de me enlouquecer.

Mordi o outro lado antes de abrir sua vulva com os meus dedos e
passar a língua por seu clitóris.

— Enzooo — seu gemido, desta vez, estava mais intenso e foi o


estopim para mim.

Suguei Alice com toda vontade que carreguei comigo durante esses
doze meses que passei batendo punheta incansavelmente pensando em
como seria gostoso fodê-la.

Certeza que depois de hoje, Alice me pagaria pela maldita dor no


braço que eu carrego por culpa dela.

A fodi com a minha língua, entrando e saindo enquanto o meu dedo


polegar apertava o seu pontinho sensível e pulsante.

— Oh, céus… caramba… — Ela falava várias coisas sem sentido,


contorcendo-se e seu corpo começou a estremecer.

Era foda como ela era sensível.

Lambi a sua boceta por inteiro e parei no seu clitóris, tomando dela
um orgasmo incrivelmente gostoso.

Eu me joguei no precipício no momento em que Alice gozou na


minha boca, pois a partir dali eu sabia… não conseguiria nunca mais
esquecer o seu gosto.
Queria continuar chupando-a mesmo depois do seu orgasmo, seu
gosto me deixou viciado, mas suas mãos puxaram os meus cabelos e
quando a olhei, ela me deu o sorriso mais safado e lindo do mundo.

Ela era ainda mais linda após gozar.

— Quero você dentro de mim — pediu, sorrindo.

Porra, ela queria me matar, só pode.

— Tem certeza que quer isso? — precisei perguntar novamente


antes de tirar a minha boxer.

— Sim, tenho certeza, e para de perguntar se eu tenho certeza, Enzo.


Só… só me come.

Sorri diante da resposta dela. Levantei-me apressadamente e tirei


minha cueca, jogando-a para longe.

Sinceramente? Nem sei o que faria se ela dissesse que não. Estava
há um ano no cinco contra um, meus dedos já estavam calejados e estava a
um passo de enlouquecer sem estar dentro dela.

Claro, respeitaria se sua decisão fosse negativa, mas ficaria


arrasado.

Meu braço e ombro já não aguentavam mais, precisava de um


descanso.

Coloquei o meu corpo sobre o dela e encaixei-me na sua entrada,


ficando parado. Acariciei o seu rosto com o dorso da mão e beijei os seus
lábios antes de começar a empurrar lentamente para dentro dela, parando ao
sentir a sua barreira.

— Tudo bem?
— Sim, mas tem como ser de uma vez só? Acho que assim vai doer
menos.

Empurrei mais um pouco e caramba.... Meu pau estava sendo


esmagado, ela era muito apertada. Tinha que pensar em alguma merda,
senão iria acabar gozando sem ter feito nada e com o pau pela metade
dentro dela, e isso com toda certeza seria uma humilhação das grandes.

Com o máximo de cuidado que consegui, entrei de vez nela,


ouvindo-a choramingar e fazer uma careta de dor.

— Te machuquei? Doeu muito? Me desculpa por isso, morena. —


Beijei-a com carinho.

— Tudo bem, foi melhor assim. — Sorriu contra os meus lábios. —


Pode se mexer.

Quase gritei de tanta felicidade, tudo que eu mais queria era me


mexer. Comecei a me movimentar em um vai e vem lento, mas gostoso,
sem abandonar os seus lábios, tomando os seus gemidos para mim.

Alice começou a relaxar, abrindo mais as pernas e gemendo mais


ousadamente. A porra de um gemido manhoso, que não facilitava em nada
para o meu lado. Ela estava me deixando louco.

Acelerei um pouco, entrando mais forte e duro. Nossas pélvis se


chocando. Suas unhas começaram a arranhar meus ombros e costas e
minhas mãos apertavam os seus seios. Eles eram pequenos e cabiam
perfeitamente na palma da minha mão, lindos demais!

Ela era quente como brasa e estava me deixando completamente


incendiado. Pensei que o gosto de Alice era a coisa mais gostosa que eu já
havia experimentado, mas isso foi antes de saber o quão alucinante era estar
enterrado até o fundo da sua boceta.

Pensei que a estava marcando, mas era Alice que me marcaria para
sempre após o nosso primeiro sexo.

Essa foi a primeira vez da minha morena, mas sem dúvidas, a minha
melhor vez.

— Eu te amo, Alice — soprei em sua boca.

— Ah! Eu vou… eu vou… — Alice atingiu o clímax, levando-me


junto.

Esporrei dentro dela, urrando como um desesperado, gozando como


nunca.

Encostei nossas testas enquanto tentávamos controlar nossas


respirações e sorrimos.

A beijei, mesmo ofegantes, eu a beijei com todo o amor que existia


dentro de mim. Aquele momento havia ficado marcado para sempre em
mim.

Ao afastar nossas bocas e olhar em seus olhos brilhantes, lembrei-


me do que Mayla disse e o medo de perdê-la me assombrou.

— Promete nunca me deixar? — falei de súbito, surpreendendo-a.


Um leve vinco se formou em sua testa, mas logo ela sorriu.

— Eu nunca vou te deixar, eu te amo! — Acariciou o meu rosto.

Suas palavras acalmaram o meu coração.

Alice era o meu oxigênio.


Capítulo 10
Alice Caccini

Três meses depois.


Já tinha alguns dias que não estava me sentindo bem, indisposta, um
pouco enjoada pela manhã e parecia que todos os dias um caminhão tinha
passado por cima de mim e a única coisa que queria saber era de dormir.

Romeu insistiu para que fizéssemos um exame hoje, ele cismou que
estava grávida.

Me recordei que a única vez que eu e Enzo não usamos preservativo


foi na nossa primeira vez e era impossível que eu tenha ficado grávida.

Como assim impossível, Alice?

Sua hipócrita!

Certo, é possível que eu tenha engravidado e estou enlouquecendo


com essa possibilidade. Contudo, pode ser que esse momento seja o
empurrão que eu esteja precisando para criar coragem e contar tudo para
Enzo.

Obviamente que estou com medo, mas ao lado dele sinto-me segura
e irracional o suficiente para acreditar que vamos resolver tudo… juntos.

Daqui uns dias terei que voltar para Itália, meu período de estudos
aqui na Alemanha estava acabando, ou seja, as coisas têm que serem
resolvidas antes, ou então acabaremos mortos, nós quatro: eu, Enzo, o
possível bebê e Romeu.

Estava deitada em uma espreguiçadeira tomando um pouco de sol


para ver se me animo, enquanto Romeu saiu com o seu peguete. Sim, meu
amigo conheceu um rapaz e tem saído bastante com ele nos últimos dias.

— Decidiu tomar um pouco de sol hoje, senhorita Alice? — Escutei


uma voz que até então era desconhecida para mim e abaixei o meu óculos,
encarando um rapaz sorrindo, em pé ao meu lado.

— Olá — cumprimentei, devolvendo o sorriso. Deve ser novo


trabalhando aqui, pois nunca o tinha visto antes. — Você é? — Sentei-me,
colocando o óculos de sol na cabeça.

— Ramon, prazer. — Estendeu a mão e eu apertei gentilmente.

— Você é novo aqui, não é?

— Sim. Entrei há uns dias.

— Ah, sim. Seja bem-vindo!

Logo eu percebi que ele era novato, ninguém nessa casa falava
comigo além das mulheres, e de homem mesmo só Saymon e Enzo, os
outros que trabalham aqui mal me olhavam.

— Obrigado! É a senhorita que gosta de flores? — Assenti. — Por


isso um jardim tão bonito, logo percebi que combinava com você.

— O jardim é realmente incrível — concordei com ele.

Ramon, o novo funcionário, me contou que tentou cuidar das flores,


ajudando o jardineiro, mas que foi espetado por um espinho que, segundo
ele, doeu muito para tirá-lo.
— As rosas são bonitas, mas costumam ser perigosas — concluiu,
rindo.

Balancei a cabeça, também sorrindo. Ramon era simpático e acabei


rindo de mais uma história que ele me contou sobre as flores. Logo percebi
que prolonguei demais a conversa quando o meu estômago resmungou,
anunciando que estava com fome.

— Acho que vou entrar, já deve estar na hora do almoço — falei,


me despedindo dele.

— Verdade, acabei me distraindo. Tenho que fazer a ronda na casa.

Me levantei e acabei ficando tonta, quase caindo para trás, mas


Ramon me segurou, evitando com que eu caísse no chão.

— Está tudo bem?

— Está sim, apenas fiquei um pouco tonta. — Abri um sorriso


amarelo. — Deve ser o sol, acabei ficando aqui fora por tempo demais.

— Sim, está até vermelha. — Ele passou o dorso da mão na minha


bochecha e me encarou de um jeito estranho, deixando-me desconfortável.
— Você é realmente muito bonita, Alice.

— Ahn. — Pigarreei. — Obrigada, mas agora pode me soltar, por


favor.

— Nunca havia visto uma beleza tão singela quanto a sua —


continuou elogiando e me segurando.

— Me solta, por favor — pedi mais uma vez, educadamente.

— O que foi? Não gosta de funcionário? Só gosta de patrão? —


Soltou-me, rindo, mas ainda bem próximo de mim. A maneira rude como
ele falava nem parecia a mesma pessoa de antes.

— O quê? — Pisquei algumas vezes, tentando entender o que estava


acontecendo aqui.

Ele era louco?

— Quando o patrão te abandonar, você será apenas mais uma como


tantas outras.

— Do que você está falando, Ramon? Enlouqueceu? — Fui mais


firme nas minhas palavras e dei um passo para o lado, tentando passar, mas
ele se colocou na minha frente, impedindo-me.

— Vou deixá-la ir, mas você não irá falar nada para ninguém do que
aconteceu aqui, entendeu?

Apenas balancei a cabeça em um leve aceno, concordando. Estava


com o corpo trêmulo pela mudança brusca e assustadora que tinha
acontecido.

— Filho da puta! — Enzo apareceu de sabe Deus onde e empurrou


Ramon para longe. — Você está bem? — Virou-se para mim, perguntando.

— Sim. — Joguei-me em seus braços, sentindo-me finalmente


segura.

— Senhor... — Escutamos a voz de Ramon e me encolhi dentro do


seu abraço.

Enzo empurrou os meus braços com cuidado para longe e se virou


para Ramon, dando um soco forte no rosto do seu funcionário.

— Eu vi quando segurou a minha mulher daquela maneira, seu


infeliz. Esqueceu que tenho câmeras pela casa? — Deu outro soco,
jogando-o no chão. — Você estava pensando o que, seu imbecil?

Ele o segurou pelo pescoço e deu mais um três socos no rosto do


homem. Havia sangue escorrendo por seu nariz e boca.

Desesperada e, finalmente, conseguindo entender toda a situação,


gritei por ajuda. Estava com medo de que Enzo acabasse matando o homem
por conta da raiva.

Saymon e Mayla apareceram correndo diante dos meus gritos e


tiraram Ramon da fúria de Enzo. Mayla estava segurando Enzo,
sussurrando algo para que ele se acalmasse e Saymon segurava o
ensanguentado.

— Leve-o, Saymon, depois resolvemos isso — Enzo ordenou, a voz


exalando fúria.

Vi Saymon sair carregando o homem como se fosse um saco de lixo.

Tudo bem que ele foi um idiota, mas não deveriam levá-lo para o
hospital? Com certeza ele precisa de uns pontos e colocar o nariz no lugar.

— O que você vai fazer com ele? — perguntei para Enzo.

Estou tão nervosa, com o corpo todo tremendo, que mal conseguia
assimilar as coisas direito.

— Enzo apenas o demitirá, Alice. Fica tranquila — Mayla


respondeu por ele, mas nem questionei, pois Enzo não parecia que iria me
responder mesmo. — Vai lá dentro se limpar, Enzo, vou entrar com Alice
também e então vamos almoçar.

— Eu vou ficar com ela.


— Você está sujo de sangue. Alice está nervosa. Melhor você se
limpar, se acalmar e então conversar com ela — Mayla falou olhando em
seus olhos, como se estivesse implorando para ele aceitar o que ela propôs.

— Já volto — ele falou comigo, se dando por vencido, dando-me


um selinho rápido e indo em direção a casa.

Eu continuei parada, um pouco assustada e com o coração apertado.


Uma sensação ruim, que nem consigo explicar, se apossou de todo o meu
corpo.

— Que confusão, hein, Alice Caccini? — Meu coração errou uma


batida.

O que ela disse?

Pisquei uma, duas, três… incontáveis vezes, encarando-a com a


garganta seca e o coração retumbante.

— O que você disse? — minha pergunta saiu quase inaudível.

— Eu disse Alice Caccini. Não é esse o seu nome?

— Do que está falando? Acho que você está me confundindo. —


Fechei minhas mãos, tentando controlar o suor gelado que escorria da
palma.

Mayla riu.

— Ah, garota, quer mentir logo para mim? Logo eu, uma mentirosa
de mão cheia? — Sorriu ainda mais. — Mas fique tranquila que o seu
segredo está guardado comigo a sete chaves. — Ela passou a mão na boca,
como se tivesse fechando-a com um zíper.

— Mayla… eu… eu…


— Relaxa, Alice. — Virou-se de costas para mim, olhou-me sobre o
ombro e sorriu. — Vamos almoçar — chamou com a maior naturalidade e
saiu andando.

Levei a mão no rosto, sentindo-me mal. Jesus, estava dando tudo


errado.

Que merda… que merda!

Quis me estapear por levar essa mentira tão longe. Quão idiota eu
era para pensar que toda essa cascata de mentiras ficaria encoberta?

Demorou até demais para alguém descobrir.

Enzo não pode descobrir por outra pessoa que não seja por mim.

Mayla garantiu que não contaria nada, então podia me acalmar,


pensar na melhor maneira de chegar para ele e falar: sabe, Enzo? Eu não
sou quem você pensa que sou. Já assistiu filmes de mafiosos? Sabe que eles
realmente existem, não é? Não é só ficção. Pois bem, nasci na família
mafiosa mais poderosa da Itália, fui estudar em Milão, sempre quis ter uma
vida normal e te encontrei. Então eu menti, mudei minha identidade, te
enfiei nessa enrascada e agora você tem duas opções: ou foge comigo
tentando sobreviver ou meus irmãos irão te matar, me matar e matar
Romeu.

Porra, Alice! Mas que burrada você foi fazer?

Céus, eu realmente merecia o inferno por ter colocado essa confusão


na vida desse homem.

Forcei as minhas pernas a andar até lá dentro quando Enzo apareceu


na porta me chamando para almoçar. Assim que me aproximei, ele me
abraçou e me beijou. Seu semblante já estava tranquilo e ele nem parecia o
mesmo homem furioso de minutos atrás.

Quase não consegui comer e a todo momento meus olhos eram


direcionados para Mayla, que abria um sorriso tranquilo ao me olhar. Mas
mesmo diante da tranquilidade dela, meu coração não estava em paz.

Passei o dia todo deitada na cama, esperando o meu porto-seguro


chegar. Eu precisava de Romeu aqui para pensar no que faria. Eu sabia que
contaria para Enzo, mas queria que o meu amigo me ajudasse a encontrar as
palavras.

Enzo toda hora me questionava o que estava acontecendo e sempre


me esquivava falando que estava com dor de cabeça, o que não era mentira,
minha cabeça parecia que ia explodir.

Agora no começo da noite ele teve que sair para resolver uns
assuntos da empresa e agradeci tanto por isso.

— Meu amor? — Romeu abriu a porta, sorrindo ao me ver.

Sentei-me na cama e, como uma criança procurando por colo,


estendi os braços para ele, enquanto as lágrimas rolavam.
— O que houve? — Ele entrou no quarto praticamente correndo e
me abraçou. — O que aconteceu, Alice?

— A Mayla já sabe quem eu sou — sussurrei, soluçando. — Eu não


sei o que vou fazer, Romeu. Eu acho que estou grávida e estou com medo
de Enzo me abandonar ao descobrir a verdade.

— Quem seria louco de abandoná-la, meu amor? — Passou os


dedos carinhosamente no meu rosto, enxugando o meu rosto. — Vou pegar
um copo de água para você e já volto para conversarmos, tudo bem? Você
não pode ficar nervosa assim, se estiver grávida, e eu acho que está, não faz
bem para o bebê.

Apenas assenti e o vi sair.

Mas Romeu pareceu demorar uma eternidade, o que me deixou


nervosa. Já ia atrás dele quando ele apareceu, ao lado de Mayla e sem o
copo d'água que disse que ia buscar.

— Que cara é essa? — direcionei a pergunta ao meu amigo,


ignorando a entrada de Mayla.

— Venha comigo, quero te mostrar uma coisa — ela me chamou e


estreitei os olhos, desconfiada.

— O que quer me mostrar?

— Confie em mim, você precisa saber de uma coisa — insistiu e


então voltei a olhar novamente para Romeu, que estava quieto demais para
o meu gosto.

— Amiga... — Romeu começou a falar, mas logo se calou.


— O que está acontecendo, Romeu? — Alterei a voz, sentindo-me
muito nervosa.

— Vai com ela, você precisa ver com os seus próprios olhos.

— Ver o quê? Não estou gostando dessa sua cara.

— Vai com ela, vou ficar aqui e arrumar suas coisas.

— Arrumar minhas coisas? Como assim? Alguém pode me explicar


o que está acontecendo? — Cruzei os braços. Meu coração estava batendo
de forma acelerada.

— Amiga, você confia em mim? — Romeu se aproximou,


segurando meu rosto entre suas mãos.

— Claro que confio.

De olhos fechados. Confiava minha vida à ele.

Que pergunta idiota essa do Romeu.

— Então vai com a Mayla, eu vou te esperar aqui.

Queria questionar, mas ele estreitou os olhos, como se tivesse


implorando para que eu ficasse quieta e fosse junto a ela.

Puxei o ar com força e em silêncio, eu a segui. Caminhamos até uma


escada que parecia levar para algum andar no subsolo da casa, que eu
desconhecia.

— Estamos indo para onde? — quebrei o silêncio, receosa.

— Você verá, apenas fique em silêncio e não fale nada ou poderão


nos ver.
Entrei com ela em passos vacilantes, escutando alguns gemidos de
dor e ficando ainda mais desconfiada, mas ao nos aproximarmos mais um
pouco, escutei duas vozes conhecidas: Enzo e Saymon.

— O que eles fazem aqui? — cochichei.

— Veja com seus próprios olhos, mas antes me prometa que não vai
fazer nenhum barulho?

— Sim, prometo, agora deixa eu ver — falei ansiosa.

A curiosidade era tanta que eu prometeria qualquer coisa para que


ela saísse da minha frente.

Mas assim que Mayla chegou para o lado, dando-me visibilidade,


arrependi-me do exato momento em que topei vir até aqui.

Não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo.

A sensação de desespero me invadiu e por segundos esqueci-me


como respirava.

— Calma, não surta. — Mayla segurou no meu braço, ajudando-me


a me manter de pé.

Dei dois passos para trás, encostando-me na parede e agachei,


levando a mão ao peito esquerdo, massageando-o em uma tentativa em vão
de tentar minimizar a dor que me consumia.

— Mayla? — chamei por ela tão baixo que pensei que não fosse me
ouvir, mas ela se aproximou, mostrando que ouviu. — Por que Enzo está
fazendo isso? — O nó que se formava em minha garganta estava se
tornando insuportável.

— Isso é o que ele é, Alice — respondeu simplesmente.


Balancei a cabeça de um lado para o outro, sentindo as lágrimas
quentes escorrerem pelo o meu rosto.

— Não é possível… não pode ser — sussurrei, chorando em


silêncio.

Eu queria gritar, eu queria correr, eu queria voltar no tempo, eu


queria… Deus, eu queria não acreditar.

Enzo, o meu Enzo que idealizei ser o melhor homem do mundo,


estava ali dentro torturando o funcionário que me faltou com respeito e
rindo de toda a dor do homem.

— Enzo é o Capo da máfia alemã, Alice. Aquele Enzo que viveu


esses doze meses com você não existe. — Apontou para o pequeno
cômodo. — Aquele lá dentro é quem ele verdadeiramente é.

Fechei os olhos, tentando me acalmar, puxando devagar o ar que


parecia ter sumido dos meus pulmões. Meu estômago se contraiu e a ânsia
me atingiu com força. Imediatamente levei a mão na boca, evitando que o
vômito saísse.

Meu Deus, não é possível. Não podia ser possível.

Isso é castigo… só podia ser castigo.

— O que eu faço? — Abri os olhos e encarei Mayla.

— Tem duas passagens compradas, uma para você e outra para o


seu amigo, vocês irão voltar para Milão e de lá no mesmo instante para a
sua casa. O voo sai daqui trinta minutos e já tem um carro esperando por
vocês lá fora. — Assenti. Mayla parecia já ter pensado em tudo. — Eu vou
fazer o que puder para segurar Enzo, mas sugiro que suma e não o deixe te
encontrar nunca mais.
— Se você descobriu quem eu sou, ele também vai descobrir. —
Havia um desespero enorme na minha voz.

— Pode deixar que eu cuido disso, não é à toa que ele até hoje não
descobriu sobre você.

— Você já sabia? — Estreitei os olhos.

— Desde o começo.

— E porque não disse nada?

— Não quis contar nada para Enzo, ele estava feliz e eu não queria
estragar isso, achei também que fosse só um passatempo, mas as coisas
fugiram do controle. Até hoje eu fiz de tudo para que ele não descobrisse
sobre você e nem que a sua família desconfiasse. Ou você acha que
conseguiu esconder esse tempo todo de todos por conta de uma ajuda
divina? — Pisquei, atordoada. — Ouvi sobre o que você está passando, se
for gravidez, tire essa criança, para o bem de todos. — Abri a boca para
responder, mas me faltou palavras. — Acho melhor você ir, vai se atrasar.

— Obrigada, Mayla — foi tudo que consegui dizer antes de


praticamente sair correndo.

Voltarei para casa dos meus pais e vou desistir da faculdade, ficarei
mais escondida do que nunca agora e precisarei orar bastante para duas
coisas: não estar grávida e Enzo não me encontrar.

Que Mayla seja tão boa quanto foi durante esse ano, que ela consiga
passar Enzo para trás e me manter escondida. Esses eram meus únicos
desejos nesse momento.
Capítulo 11
Alice Caccini

Algumas semanas se passaram desde que fugi da casa de Enzo.


Graças a Mayla conseguimos sucesso com a nossa fuga. Dois dias depois
que já estava em casa, contando as mesmas mentiras para os meus pais, que
havia desistido do curso, eu descobri que realmente estava grávida. O
mundo parecia estar desabando sobre a minha cabeça e eu não sabia o que
fazer.

Como a filha e a irmã mimada que sou, meus pais e meus irmãos
aceitaram tranquilamente a minha mentira quando eu disse que queria
passar mais tempo com eles e que não sabia se realmente queria continuar
estudando moda, mas que se futuramente eu quisesse seguir essa carreira, já
tinha aprendido o suficiente.

Romeu, como sempre, esteve ao meu lado sendo o meu porto-


seguro. Ele mentiu para a minha família falando que já havia alguns dias
que eu estava triste e que comentava das saudades que eu tinha da minha
família.

O que é ridículo, considerando que desde que cheguei me mantive


praticamente o tempo todo trancada dentro deste quarto, chorando,
remoendo e sentindo falta da história de amor que pensava estar vivendo.

Comecei a sentir muitas dores e um sangramento pequeno e


contínuo, seguido por cólicas fortes. Romeu, mais uma vez, me ajudou.
Meu amigo, que já teve um envolvimento com um ginecologista, conseguiu
uma consulta para mim, tudo no sigilo, porque minha família jamais
poderia imaginar que eu estava grávida e foi aí que eu tive a pior
constatação da minha vida: perdi o meu filho.

Gritei tanto, jogando-me nos braços do meu fiel amigo e, junto


comigo, Romeu chorou como se ele também tivesse perdido um filho.

Éramos assim que nos sentíamos, como se fossemos um só. Eu


sofria por suas dores e ele pelas minhas, mas estávamos sempre juntos.

Ontem Romeu entrou no meu quarto trazendo uma barra de um


delicioso chocolate, que eu amava, mas nem isso foi capaz de me animar.

— Eu trouxe com tanto carinho, meu amor, você não deveria fazer
essa desfeita — resmungou enquanto eu afundava o meu rosto no
travesseiro.

Eu só queria sumir.

— Não quero comer.

— Por quanto tempo acha que vai conseguir enganar a sua família
com essas desculpas de que está sentindo cólica e dores de cabeça? Alice,
eles já estão começando a desconfiar, você tem que reagir.

Respirei fundo, virando-me e me sentando de frente para ele.

— Qual será o meu castigo? A morte? Estou pronta para enfrentá-


la, uma parte de mim já morreu mesmo. — Balancei os ombros, dramática.

— É, mas eu não estou pronto. Então trate de reagir e voltar a viver


comigo. — Estendeu o doce na minha direção. — Come esse chocolate, ele
vai te fazer bem e não seja ingrata.
Peguei a barra da sua mão, sem muita opção, mas também com
vontade de comê-la. Abri-a e dei a primeira mordida no quadradinho,
sentindo-o derreter em minha boca.

— Às vezes a vida é amarga mesmo e não há muito o que fazer a


não ser aceitar, conviver com isso e tentá-la adoçar um pouco ao longo do
dia. — Lançou-me uma piscadela, sorrindo.

Estendi o chocolate para ele, que deu uma mordida enorme.

— Não era para morder tudo isso, Romeu! — o repreendi.

— Levanta da cama, saia desse quarto e seja a Alice que eu


conheço, aquela que enfrenta tudo de cabeça erguida. Que é mais do que
uma simples princesinha chata da máfia. — Romeu inclinou o corpo para
frente e sussurrou no meu ouvido. — Não se esqueça que você é uma falsa
princesa, sua perversa.

Tombei a cabeça para trás, sorrindo.

— Eu te amo e não sei o que seria da minha vida sem você —


confessei, abraçando-o apertado.

Romeu me fez rir e, em meio a todo esse caos, isso significa muito
para mim.

— Eu também te amo e tenho orgulho do quão forte você é.

Hoje Romeu ainda não tinha aparecido por aqui, ainda bem, pois ele
falaria horrores por me ver deitada nessa cama, sem ânimo nenhum.

Eu queria me reerguer, mas era difícil, não conseguia mencionar o


tamanho da minha dor. Eu tive tantas coisas em pouco tempo, mas elas
foram tiradas de mim mais rápido do que imaginei.

Pensar que posso estar pagando pelos meus pecados me dói


profundamente.

Sofria por ter vivido uma mentira com um homem que tanto amei,
mas sofria ainda mais por ter perdido o fruto desse nosso amor. Eu perdi
muito e a única coisa que me restou foi meu amigo, meu irmão. Romeu tem
me dado tanta força.

Vamos, Alice, levante-se e seja quem você sempre foi.

A voz de Romeu ecoou por minha mente e foi exatamente isso que
decidi fazer. Levantei e fui logo tomar um banho, optando por vestir roupas
mais coloridas e alegres.

Meu amigo vai ficar todo orgulhoso quando me ver.

Por falar nele, olhei no relógio e estranhei ele não ter chegado ainda.

Saí do quarto e ao descer as escadas, encontrei toda a minha família


reunida na sala.

— Alguma data importante que não estou lembrando? — perguntei,


com o corpo um pouco trêmulo por pensar que fui desmascarada.

É horrível quando temos segredos, porque a todo tempo as pessoas


parecem olhar para você como se soubessem dos seus pecados.

— Alice... — minha mãe falou com a voz regada de tristeza.

Meu coração acelerou ao pensar na possibilidade de Enzo ter me


encontrado.
— O que foi, mãe? Por que estão todos com essas caras? —
Balancei a perna, nervosa.

— Filha, sabemos como Romeu era importante para você, como


vocês são amigos desde novos e que ele sempre esteve ao seu lado… —
meu pai começou a falar, mas logo parou.

— E o que isso tem a ver? — questionei, estreitando os olhos.

Onde ele quer chegar com isso?

— Noite passada o pai de Romeu descobriu que ele tinha um


relacionamento com outro homem — desta vez, quem comentou foi o meu
irmão, Renzo.

— E cadê o Romeu? Cadê ele? — Alterei o tom de voz, sentindo o


meu sangue gelar.

— Alice... Você tem que ser forte. — Rocco se aproximou de mim,


mas eu o empurrei, encarando todos na sala.

— Que droga! — berrei, irritadíssima. — Cadê o Romeu? Por que


vocês estão enrolando tanto para falar?

— O Romeu morreu, minha filha — minha mãe murmurou, com os


olhos cheios de lágrimas.

Meu mundo girou e uma dor dilaceradora me consumiu. Eu gritei,


gritei muito. Eu queria que o mundo inteiro ouvisse a minha dor. Eu queria
que Deus ouvisse a minha dor e me devolvesse a única pessoa que havia me
restado.

Meus joelhos fraquejaram, batendo contra o chão, mas não doeu, eu


estava anestesiada, tudo por dentro de mim estava morrendo aos poucos. Eu
sentia a vida se esvaindo do meu corpo pouco a pouco, de uma maneira
lenta e dolorosa.

Minha mãe se ajoelhou na minha frente e me abraçou, então eu


desabei ainda mais, chorando de soluçar em seus braços. Tudo que eu
queria era que ela desse um beijinho no meu machucado e que ele sarasse,
assim como ela fazia quando eu era criança.

Não... Meu amigo não. Meu Deus, por que isso está acontecendo
comigo?

Você é uma princesinha malvada, Alice.

A voz do meu amigo se fez presente, junto com as lembranças de


todas as vezes que rimos juntos dos seus comentários.

Empurrei os braços da minha mãe para longe, me levantando,


secando brutalmente as lágrimas com o dorso da minha mão e encarei os
meus irmãos.

— Quem matou ele? — perguntei com um nó doloroso na garganta.

— O pai dele — Rocco disse, sem nenhuma expressão no rosto.

— E cadê esse monstro? Está morto? Eu quero a cabeça dele! —


afirmei, mais determinada do que nunca.

Eu vou enterrar o meu amigo, mas o vingarei.

— Ele fugiu, Alice. — Renzo tentou se aproximar de mim, mas me


afastei.

— Então o encontre! — esbravejei. — Eu quero ele morto, eu quero


matar ele, eu quero a cabeça dele em uma bandeja! — gritei, já sentindo as
gotas quentes escorrerem pelo o meu rosto.
— Calma, Alice. Iremos encontrá-lo e faremos como você quiser —
meu pai garantiu.

— Não me peçam para ter calma quando mataram a pessoa que eu


tanto amo por um motivo idiota desse. A culpa é dessa droga de máfia.
Viver dentro disso é um inferno!

Afastei-me de todos eles, indo para o jardim, ajoelhando-me na


grama e olhando para o céu.

— Eu merecia pagar pelos meus pecados, ele não. — Mesmo


sabendo que era errado, eu estava brigando com Deus. — Eu perdi tudo…
eu perdi tudo. — Solucei e abaixei a cabeça, encostando o rosto na grama,
apertando-as entre os meus dedos.

O ar não parecia conseguir chegar nos meus pulmões e sentia que


iria morrer sufocada.

— Você disse que não importava o que acontecesse, que sempre


estaríamos juntos… você mentiu, Romeu. — Bati na grama, dando socos e
mais socos, machucando a minha mão. — Você não tinha o direito de
morrer, de me abandonar. — Continuei a chorar, reclamar e contestar a
Deus. — Por favor, volta… eu te amo, Romeu. Eu te amo tanto!

Deitei-me na grama, não tendo mais forças para nada. Acabou tudo.
Sentia-me mais vazia do que nunca.

Cadê meu amigo para me consolar e me dar forças?


Capítulo 12
Enzo Ziegler

Dias atuais.
Encontro-me mais uma vez sentado nesse escritório, planejando
minha vingança contra Alice. Já passei tantas horas, incontáveis dias,
muitos meses nessa mesma mesa, sentado nessa mesma cadeira, procurando
qualquer coisa que me levasse até ela e não achava respostas. Eu queria
respostas para arrancar de mim toda a dor e vazio que estava sentindo.
Foram dois anos atrás de Alice e finalmente eu a encontrei. Para a
minha total surpresa, ela não era quem dizia ser. Alice Ferrari, a filha
mimada de pais ausentes, na verdade era Alice Caccini, a irmã mais nova de
Rocco Caccini, o homem que hoje é o meu maior aliado no submundo da
máfia.
Confesso que quando descobri, fiquei atordoado e até pensei em
justificar a sua partida.
Queria encontrar Alice e conversar com ela, dizer que agora estava
tudo bem, éramos aliados e que nosso casamento não teria problemas,
bastava eu conversar com a sua família, mas tudo foi por água abaixo
quando Mayla trouxe uma moça na minha casa e essa mulher contou que
trabalhava junto com o médico que atendeu Alice logo após a sua fuga. O
que eu descobri deixou meu coração dilacerado, eu nunca poderia imaginar
que a mulher que eu amei mais que tudo na vida, era capaz de tirar o nosso
filho.
Eu não conhecia a verdadeira Alice, eu me enganei a respeito dela,
deixei me iludir, deixei a emoção tomar conta e fui deixando a razão de
lado, coisa que nunca mais vai acontecer.
Alice tirou nosso filho, ela foi capaz de matar o nosso filho!
Quando a mulher me trouxe o laudo do aborto dela e me confessou
que foi uma escolha da Alice, eu duvidei, claro que duvidei, a mulher que
eu pensei conhecer não era capaz disso. Fui atrás do médico e ele me
confirmou o que já sabia.
Foi a partir daí que eu realmente comecei a odiá-la.
Já se passaram vinte e quatro meses da sua partida e eu ainda
conseguia sentir a dor de quando eu descobri que ela havia me deixado.
Claro que com o tempo foi amenizando, mas eu ainda conseguia me
lembrar com perfeição da maldita, sentir o seu cheiro e posso jurar que
sentia o seu toque. Isso me faz sofrer pra caralho.
Até hoje não consegui entender como Alice conseguiu me enganar
durante um ano sobre a sua identidade e pior ainda, sumir no mapa sem
deixar qualquer rastro. Eu, um hacker de alto reconhecimento, comecei a
duvidar da minha habilidade.
Mas como nada fica escondido para sempre, eu a encontrei e serei o
seu maior pesadelo.
Não sei o motivo que a fez ir embora de repente, nunca entendi o
porquê. Vivíamos tão bem, nos amávamos tanto. Pelo menos era isso que eu
pensava. Contudo, devo ter me enganado, o amor só existia da minha parte.
Alice poderia ter me falado quem era e, mesmo que eu ainda fosse
inimigo da sua família, me aliaria só para tê-la. Eu faria qualquer coisa para
ter aquela mulher.
Durante meses eu sofri muito, vivia bêbado e fumava tantos cigarros
por dia que o cheiro de álcool e nicotina estavam impregnados em mim.
Não dormia, não comia, só queria beber. Cheguei a emagrecer quase vinte
quilos.
Nunca havia me imaginado nessa situação. Saymon e Mayla mais
uma vez foram o meu pilar, a minha base, sem eles eu já teria caído há
muito tempo.
Deixei o meu império largado, Saymon teve que tomar as rédeas da
situação e administrou tudo com maestria. Serei eternamente grato por isso.
Eu já não pensava em mais nada, apenas nela, naquela maldita que
me abandonou.
Depois de um longo tempo de sofrimento, eu consegui me reerguer,
não foi fácil, mas eu sobrevivi.
O amor dói, como dói. Hoje eu entendia o porquê do meu pai
sempre dizer que não podíamos deixar esse sentimento nos dominar. O
amor nos tornava fracos e eu pude comprovar.
"O amor nos deixa fraco, o ódio nos fortalece"
E foi exatamente assim que eu consegui me recuperar. Todo o amor
que eu sentia por Alice se transformou em ódio e vingança. Eu ainda a
queria, claro que queria, mas também queria destruí-la. Queria que ela
sentisse exatamente o mesmo que eu senti e vou fazer com que ela se
arrependa eternamente por ter brincado comigo, por ter tirado a vida do
nosso filho. É uma promessa.
— Ainda nesse escritório? Já está tarde. — Mayla entrou sem bater
na porta, tirando-me dos meus pensamentos obscuros. — Que tal você ir
para o meu quarto? — sugeriu, assanhada.
Mayla estava com uma camisola sexy e um sorriso safado no rosto.
Ela era uma mulher linda, não podia negar, linda e atraente.
Não estava nos meus planos me envolver com ela, apesar de sempre
saber do seu interesse, eu preferia fingir que não via. Porém, em um dia de
muita bebedeira, onde novamente ela me ajudou, acabamos na cama e
depois disso, ela sempre insistia para repetirmos a dose. Apesar de relutante
e de não me lembrar da noite em que ficamos juntos, acabei cedendo.
Sempre deixei claro para Mayla que era somente sexo.
Saymon foi totalmente contra, mas continuei com essa loucura, onde
não existe cobrança e muito menos sentimentos, apenas nos curtimos e
apreciamos um sexo quente e gostoso.
— Vou daqui a pouco — avisei e ela se aproximou, empurrando
minha cadeira giratória e se sentando no meu colo.
— Poxa, queria tanto agora. — Inclinou o rosto para sussurrar no
meu ouvido. — Estou com tanto tesão.
Empurrei sua perna, abrindo-a e passei a mão por cima da sua
calcinha, sentindo-a extremamente molhada. Puxei-a de lado e acariciei a
sua boceta, ouvindo-a gemer e rebolar contra os meus dedos por alguns
minutos.
— Eu vou gozar... — comunicou, já melando os meus dedos com o
seu gozo intenso.
Continuei dedilhando-a até que tivesse seu prazer por completo.
— Chupa — ordenei, tirando os dedos de dentro dela e fazendo-a
chupar. — Agora ajoelha e me chupa.
Abri minha calça, libertando o meu pau que já estava duro feito
rocha. Mayla o cobriu com sua boca quente e molhada, dando-me prazer.
Mayla ainda não sabia que eu iria atrás de Alice, pretendia contar
outra hora. Sabia que ela iria surtar, com razão, ela pensava que eu ainda
estava disposto a perdoá-la e retomar nosso relacionamento, mas as coisas
não são mais desse jeito e a última coisa que desejo é perdoá-la.
Eu vou sim atrás da Alice, vou atrás dela porque ela é minha, minha
por direito e se ela sabe quem eu sou, ela tem consciência disso.
Vou atrás dela porque ela merece sentir um pouco da dor e
sofrimento que me causou.
Maldita! Nem nessas horas ela sai dos meus pensamentos.
Capítulo 13
Alice Caccini

"O tempo é a única esperança de quem já perdeu os sonhos"

Carrego isso comigo para que eu possa seguir em frente todos os


dias. Não tem sido fácil. Embora tenha passado bastante tempo, para mim
as coisas ainda parecem recentes demais, eu sentia como se tudo tivesse
acontecido ontem, a dor era existente e avassaladora.

Eu nunca superei a morte do meu melhor amigo, ainda me pegava


chorando em algumas noites, juntamente pela dor de ter perdido ao mesmo
tempo, o meu grande amor e o nosso filho.

Uma avalanche de problemas caíram sobre mim tão de repente e eu


me vi sozinha e perdida no mundo. Sabe aquele momento que você olha
para o céu, respira fundo e não espera mais nada da vida? Eu estava desse
jeito, mas decidi que não poderia ficar assim para sempre.

Se Romeu estivesse aqui ele falaria: reage, Alice.

A vida precisava continuar.

Eu precisava seguir em frente, levantar a cabeça, sacudir a poeira e


voltar a viver. E foi exatamente isso que fiz.

Levantei da cama em um dia, após várias semanas de luto, resolvi


que iria colocar alguns planos em prática e era isso que tinha me mantido de
pé.
Hoje estou realizando um sonho que não é só meu, mas também do
meu amigo. Romeu jamais será esquecido. Sempre o amarei.

Sobre Enzo? Bom, é algo que por mais que eu tente insistentemente,
eu não consigo apagar da minha vida. Já tentei de todas as formas matar
esse amor que a cada dia parece só crescer aqui dentro do peito.

Já se passaram mais de um ano sem que eu tivesse qualquer contato


com ele e o amor que sinto só aumentou. Eu sentia tanta, mas tanta
saudades dele que não consigo nem mensurar.

Tem dias que acordo sufocada com todos esses sentimentos e não
sei o que fazer. Sentia que a qualquer momento ia morrer de tanto
sofrimento acumulado, mas Deus é tão bom que me mandou um novo anjo.

Cris é o fotógrafo que está fazendo toda a campanha do meu novo


ateliê.

Eu e ele nos conhecemos através do nosso trabalho e hoje nos


tornamos bons amigos. Eu não estou substituindo Romeu, até porque meu
amigo é insubstituível, estou apenas dando novas oportunidades para que
outras pessoas tenham espaço na minha vida.

Confesso que está sendo tão bom, eu me sentia tão sozinha e agora
tenho com quem conversar. Ainda não consigo me abrir totalmente para ele,
tenho medo de me apegar muito às pessoas e depois perdê-las, exatamente
como aconteceu há um tempo atrás.

Tem também minha cunhada Luara, ela é uma pessoa maravilhosa e


estamos nos dando muito bem, acredito que vamos ser boas amigas.

A vida é muito louca, não é? Leva pessoas que imaginamos que


teremos a vida inteira e nos traz pessoas que nem sonhamos em conhecer.
Eu estava curtindo e aproveitando essa nova fase, essas novas
oportunidades.

O sonho do ateliê era do meu inesquecível Romeu, ele tinha bom


gosto para moda e eu não poderia deixar isso morrer.

Não terminei a faculdade em Milão, mas tinha bastante


conhecimento e quis pagar para ver. Apresentei meus croquis para algumas
pessoas da área, que entendem muito mais que eu e fui bastante elogiada, o
que me fez ter ainda mais coragem. Tem alguns desenhos desses que tenho
guardado comigo que foi Romeu quem desenhou e eu faço questão de que
todos eles levem o nome dele.

Tudo isso é por mim, para que eu possa seguir em frente e ter algo
com que ocupar a mente, mas tudo isso também é por ele, meu irmão, a
pessoa que mais acreditou, confiou e investiu em mim.

A A&R Ateliê[vii] veio para preencher as lacunas da minha vida. Hoje


eu me dedicava integralmente ao meu trabalho e aguardava ansiosamente a
inauguração.

Estava tão feliz que nem tinha palavras para expressar o quanto era
grata a vida por esse recomeço.

Ainda tenho recaídas. Eu era fraca e às vezes pensava em desistir,


mas a vontade de crescer e ser feliz era maior.

Quanto ao pai de Romeu, ninguém nunca mais teve sinal dele, mas
minha vontade de vingança ainda existe, eu não desisti, mais cedo ou mais
tarde alguém há de achar esse infeliz e aí eu vou querer a cabeça dele dentro
de uma bandeja para mim. Jamais perdoarei o que ele fez com meu amigo.
Jamais.
Entrei com o pé direito no meu Ateliê e a felicidade de ver tanta
gente aqui no dia da inauguração foi imensurável. Todo trabalho, todo
esforço para que todas as peças estejam prontas aqui hoje valeu a pena.

Cumprimentei algumas pessoas, dei algumas instruções para o


pessoal do buffet e para o pessoal do bar. Hoje tinha que estar tudo perfeito.

Conversei com Cris para acertar alguns detalhes e, ao olhar de


relance para um canto mais afastado da festa, que não sei porquê me
chamou atenção, assustei-me ao enxergar um homem parecido com Enzo
ali.

Não... Não era possível.

Meu coração bateu tão acelerado que pensei que fosse parar. Minhas
mãos suaram e a impressão que eu tive era que eu ia desmaiar.

Precisei respirar fundo e piscar algumas vezes, firmando o meu pé


no chão para não cair.

— Alice, tudo bem? — Cris perguntou segurando no meu braço.

— Sim, tudo — menti, tremendo por inteira. — Já volto, só um


minuto.

Caminhei depressa até o homem e toquei o seu ombro, assim que ele
se virou, senti alívio imediato. Não era ele.

Onde eu estava com a cabeça para pensar que ele apareceria aqui?
Calma, Alice, ele nunca vai te achar, calma!
Capítulo 14

Alice Caccini

O idiota do meu irmão estava agora arrumando confusão por causa


de umas fotos que minha cunhada tirou, acreditem, não tem nada demais
nas fotos, ficaram todas lindas. Luara é uma mulher bonita, tem que
valorizar a beleza dela, mas não, nesse mundo da máfia o que esses homens
querem é esconder a beleza das suas mulheres.

Eu odeio ter nascido na máfia. Meu sonho é fugir de toda essa


merda!

Uma vez até que tentei, planejei tudo direitinho, mas quando chegou
a hora, eu descobri uma coisa que me fez mudar os planos e agora me
encontrava aqui, perdida no meio desse mundo cruel. Pelo menos eu
consegui estudar e abrir meu próprio negócio, a maioria das mulheres do
nosso mundo não fazem nem metade disso, o que é muito triste.

Fui direto para o meu escritório, estava sem saco para ouvir meu pai
e meu irmão falando que ela era responsabilidade de Rocco e que não
podemos nos meter. Que coisa mais ultrapassada!

Levei um grande susto ao abrir a porta e encontrar o meu passado


sentado bem na minha cadeira.

— Mio Dio, che spavento![viii]

— Ti sono mancato, amore mio?[ix]


Pronunciou as palavras em italiano perfeitamente, com todo o seu
charme.

— O que faz aqui? — perguntei tentando controlar o pânico que


estava me consumindo.

— É assim que você recebe o grande amor da sua vida? Você já foi
mais carinhosa. — Abriu um sorriso debochado, típico dele.

— O que você quer? — Ele pareceu ignorar a minha pergunta e


continuou me encarando severamente, sem responder. Meu corpo todo
estava tremendo muito. — Eu vou sair — avisei já me virando, mas a sua
voz firme me fez parar.

— Se eu fosse você não faria isso, você não vai querer contar toda a
verdade para sua família, ou vai?

Apertei os olhos com força. Desgraçado!

— O que você quer? — repeti a pergunta, fechando a porta e me


virando novamente para ele.

— Vim para prestigiar e parabenizá-la, seu ateliê ficou muito bonito.

— Obrigada! Era só isso? — Eu estava, eu juro que estava tentando


ser indiferente, mas olhar para esse homem me fazia reviver um passado
que, apesar de tudo, foi incrivelmente bom.

— Claro que não, meu amor, não viria de tão longe só para isso.

— Não me chame assim.

— Assim como? De meu amor? — Levantou-se e caminhou


tranquilamente até onde eu estava. A cada passada que ele dava, meu
coração acelerava ainda mais.
— O que você quer? De verdade, o que você quer? — perguntei
com a voz esganiçada.

— Quero você e quero o meu filho.

Cambaleei para trás, sentindo-me tonta.

— Que filho? Está louco?

— Acha que eu sou idiota? — Avançou em mim, extremamente


nervoso e jogou-me no sofá.

Soltei um grito com o susto do impacto.

— Não me machuque — pedi, encolhendo-me com medo.

— O que aconteceu com a criança? Eu recebi uma cópia do exame


que você fez naquele dia antes de fugir. Você estava grávida de um filho
meu! — berrou, cuspindo as palavras com extrema raiva na minha cara.

— Eu perdi — confessei, sentindo o meu coração despedaçado ao


reviver essas lembranças.

— Mentirosa! — gritou, fazendo-me tremer de medo.

— É verdade, eu estou falando a verdade.

— Como isso aconteceu? — Se afastou, passando as mãos no


cabelo, bagunçando-os.

— Eu voltei e não tive coragem de contar. As máfias eram rivais. —


Pensei um pouco sobre aquela época. — Aliás, o que você está fazendo
aqui?

— Não somos mais rivais há alguns anos, selamos um bom acordo.


— Arregalei os olhos, ainda mais temerosa. — Continua contando —
apressou-me, curioso pela história que nos envolvia.

— Estava em Nova York para um desfile, senti uma dor absurda,


uma cólica muito forte e quando dei por mim, estava sangrando muito.
Corri para o hospital. — Engoli seco, reviver aquilo me doía muito, mas
muito mesmo. Puxei o ar, tomando forças para continuar. — Quando
cheguei no hospital… — minha voz falhou, ficando embargada por um
choro que estava próximo. — Bom, o resto você já sabe. — Não quis
continuar falando para não chorar.

— Você tirou nosso filho, Alice?

Estreitei os olhos, sua acusação era ridícula!

— O quê? Claro que não! — afirmei, totalmente indignada com o


seu questionamento.

— Você tirou nosso filho. Porra, Alice! — Deu um tapa na minha


mesa. — Podia ter ficado comigo.

— Eu não tirei! — gritei, me levantando para me defender.

— Você acha que vou acreditar nisso? — Virou, mostrando-me os


seus olhos furiosos, com um ódio direcionado a mim que eu nunca havia
visto antes. — Você fugiu quando descobriu quem eu era, você sabia que
nossas máfias eram inimigas, que nós dois não poderíamos ficar juntos e
que muito menos você poderia ter esse bebê.

— Eu não tirei, você precisa acreditar em mim. — Aproximei-me


dele, não conseguindo segurar mais as lágrimas. Doía, doía muito reviver e
doía ainda mais a sua desconfiança. Jamais o tiraria. Jamais tiraria o meu
filho. — Você me conhece, sabe que eu seria incapaz de fazer isso.
Eu sei que naquela época eu não poderia ter aquele filho, mas eu ia
fazer de tudo para tê-lo, eu jamais conseguiria abrir mão dele por livre e
espontânea vontade. Morreria por ele.

— Eu te conheço? — Deu uma risada alta, que arrepiou-me os


cabelos de tão pavorosa. — Eu não te conheço, eu nunca te conheci. Você
mentiu para mim, foi covarde, preferiu me abandonar do que enfrentar as
coisas ao meu lado.

— Você também mentiu para mim! — revidei, agora sem medo. Eu


não deixaria ele jogar a culpa toda nas minhas costas, muito menos me
acusar de uma coisa que eu não fiz.

— Ah, claro! — Riu. — Você queria que eu me apresentasse assim:


Oi, eu sou um mafioso, muito prazer?

— E você queria que eu falasse que era de uma família de mafiosos?

— Bastava falar seu nome verdadeiro, apenas isso. O resto eu


mesmo ia saber.

— Eu sei que errei nisso, mas que droga! Eu só queria viver uma
vida normal.

— Que vida normal, Alice? Que porra de vida normal? Você sabe
que nesse mundo não tem vida normal. Você deixou a gente se aproximar,
você deixou essa merda toda chegar até aqui.

— Você também! — Joguei as mãos para o alto, exausta. — Para de


jogar a culpa toda em mim.

— Alice, se você tivesse falado seu nome verdadeiro, eu jamais teria


me aproximado de você e nada disso teria acontecido.
— Esse é o problema — sussurrei.

Ficamos nos encarando por um tempo. Meu Deus! Eu amo tanto


esse homem.

— Você sabe qual o seu futuro? — Quebrou o silêncio após longos


segundos, que mais pareciam uma eternidade, perdida em seu olhar.

— Qual?

— Você é minha, Alice.

Meu coração disparou… caramba, eu sempre fui dele, eu sempre


quis ser dele.

— Você não está com raiva?

— Se prepare para se despedir disso tudo. — Levantou o dedo,


rodando, indicando que estava falando do meu ateliê. — E da sua vida aqui
na Itália.

— Do que está falando?

— Vou falar com seu irmão.

— Você não pode fazer isso — implorei, o desespero voltou a me


consumir.

— Não posso? É claro que posso. Aliás, não só posso, como eu vou.

— Por favor, não faça isso.

— Você vai me pagar muito caro por ter ido embora, por ter tirado a
vida do meu filho.
Nos seus olhos havia uma mistura de raiva e muita, muita dor. Eu
entendo que ele tenha sofrido muito, mas poxa, eu também sofri bastante.

— Pelo amor de Deus, eu não fiz isso!

— Aproveite seus últimos dias de paz.

Ele saiu da sala me deixando desesperada. O que ele vai fazer? Vai
contar para todo mundo? Eu estou perdida!

Me escondi tanto dele. Pensei que ele nunca fosse me encontrar,


afinal, já se passaram dois anos e acreditei que a máfia que ele comandava
era rival a do meu irmão. Eu fugi tanto dessa vida da máfia, mas não tem
como fugir do que nasce para ser o nosso destino, não é?

Levei a mão ao peito esquerdo numa tentativa frustrada de acalmar


o meu coração, que batia desesperadamente.

Enzo me encontrou… o meu passado estava de volta e eu não sabia


o que fazer. O que ele faria comigo?

Eu menti, menti mais uma vez olhando nos olhos dele. Tive medo,
pude comprovar o quanto Enzo estava consumido pela raiva e rancor por
mim, então não tive outra alternativa.
Quando ele perguntou do nosso filho eu disse a primeira coisa que
veio à minha cabeça que fosse razoavelmente aceitável. Enzo acreditaria
que eu não tirei o nosso filho se eu contasse que já havia voltado para a casa
dos meus pais?

Enzo sabia que voltar para casa grávida era um suicídio, mas o que
ele não sabia era que eu estava disposta a morrer pelo nosso bebê.

Eu tive que falar que estava em Nova York num desfile quando tudo
aconteceu.

Por céus, eu vivo de mentiras.

Diante de tamanho desespero, era impossível segurar as lágrimas.

Tinha medo de sair por aquela porta e descobrir que ele contou para
minha família. Não sei o que vai ser de mim se ele falar toda a verdade.

— Alice? Você está aí? Posso entrar? — Escutei a voz de Cris me


chamando do outro lado da porta.

Coloquei a mão na boca para abafar o choro e o soluço. Não queria


ver e falar com ninguém.

Cris abriu a porta e eu abaixei a cabeça para esconder meu choro

— Alice, o que aconteceu? Por que está chorando?

Não aguentei disfarçar por muito tempo e quando Cris se ajoelhou


na minha frente, eu o abracei com força e permiti-me liberar todo o choro.

Não sabia que precisava tanto de um ombro amigo até ter um.

— O que aconteceu com você, minha pequena? Hoje é a


inauguração do seu ateliê e está tudo indo tão bem, por que está desolada
dessa forma?

— Fantasmas, Cris, fantasmas que voltaram do passado para me


assombrar, eu nunca mais terei paz, estou perdida. — Funguei, aos prantos.

— Como assim? O que aconteceu? Quer conversar? — Balancei a


cabeça em sinal negativo. Eu não queria conversar, só queria um ombro
amigo para chorar.

— Só preciso de um abraço.

Ele não falou mais nada, apenas puxou-me para um abraço


confortando-me e deixou que eu chorasse minhas mágoas em seus ombros.
Nem sei por quanto tempo ficamos assim, mas eu consegui me acalmar.

— Obrigada, Cris. — Afastei-me e sorri, um pouco sem graça ao


ver sua camisa molhada com as minhas lágrimas. — E me desculpa.

— Não precisa pedir desculpas. Agora quer falar sobre o que te


deixou assim?

— Prefiro não falar sobre o assunto.

— Tudo bem, mas se precisar conversar saiba que você tem em mim
um amigo.

Eu ainda não conseguia confiar e me apegar a ninguém, tinha a


sensação de que a qualquer momento a vida iria me dar outra rasteira e eu
perderia novamente todas as pessoas que gosto.

— Cris, posso te fazer uma pergunta?

— Claro.
— Vamos supor que duas pessoas vivem em um relacionamento
totalmente errado, um relacionamento onde é impossível que essas duas
pessoas fiquem juntas, um relacionamento escondido da família. Um dia, a
mulher decidiu ir embora escondida desse homem que ela estava se
relacionando. Descobriu que estava grávida e acabou perdendo esse bebê
num aborto espontâneo, você acreditaria?

— Eu não entendi quase nada, mas você quer saber se eu acreditaria


que ela perdeu o bebê? — Assenti. — Sim, não tenho motivos para não
acreditar.

— Mesmo que se essa mulher levasse a gravidez adiante, poderia


custar a vida dela?

— Acho que entendi aonde você quer chegar. Nesse caso você quer
saber o que eu pensaria se eu fosse o homem do outro lado da história?

— Sim.

— Eu estaria magoado?

— Provavelmente, com ódio também.

— A raiva cega as pessoas, talvez não acreditaria. Bom, só passando


pela situação para saber, não posso falar sem saber do contexto exato.

— Entendo. — Suspirei pesado.

— A família dessa suposta pessoa é conservadora? Eles têm


costumes e tradições a seguir?

— Sim.

— Concluindo que ela fugiu, então o término entre essas duas


pessoas foi conturbado… — Ele pareceu pensar antes de responder. — É,
talvez eu pensasse que essa pessoa tirou o nosso filho porque não poderia
tê-lo, mas procuraria ouvir a versão dela primeiro. Talvez ela tenha optado
por tirar por conta dos riscos que correria, então acho que eu entenderia.

— Mas ela não tirou, ela perdeu, só que da forma que ela perdeu, eu
duvido muito que alguém fosse acreditar que não foi de propósito.

— A pessoa contou a verdade ou contou mentiras sobre a perda do


bebê?

— Um pouco dos dois.

— Então sugiro que agora a pessoa sustente a mentira, porque se ela


voltar atrás, ficará pior se souber que essa pessoa mentiu.

— Você tem razão…

Cocei o rosto, pensando em como eu fui burra de ter mentido sobre


onde eu estava quando perdi o bebê, mas agora, como justificar para ele
sobre a minha mentira? Eu só fiquei com medo de que ele não acreditasse
caso eu contasse que tudo aconteceu quando eu voltei para a casa dos meus
pais. Se bem que Enzo não acreditou em mim de qualquer jeito.

— Você está melhor? — Cris trouxe-me de volta dos meus


pensamentos.

— Sim.

— Tenho que resolver algumas coisas lá fora antes de ir para casa.


Você quer que eu fique?

— Não, pode ir. — Levantamos juntos e caminhamos até a porta. —


Obrigada mais uma vez por ter ficado aqui comigo e aguentado o meu
choro.
— Alice? — Cris me chamou quando já estava do lado de fora do
escritório.

— Sim?

— Eu acredito em você! — Sorriu e virou-se, saindo dali.

Fechei a porta e sorri, sabendo que pelo menos alguém acreditava


em mim.

Talvez se eu estivesse do lado dele na história, eu também não


acreditaria em mim…
Capítulo 15
Alice Caccini

Os dias estavam passando e graças a Deus eu não tive mais notícias


de Enzo.

Eu era tão contraditória, que ao mesmo tempo que ficava feliz com
o seu sumiço, sentia-me estranhamente triste.

Feliz por saber que meu segredo estava seguro e triste porque meu
coração bobo não cansava de amar esse homem.

— Amiga, chegou uma encomenda para você. — Cris entrou no


meu escritório, já quase no final do expediente, carregando flores, mas que
ainda não estavam abertas, embora desse para ver que eram da cor branca.

— Quem mandou isso? — questionei ao vê-las.

— Amiga são flores de Kadupul — Cris falou chocado, parecendo


entender bem de flores.

— Que flores são essas? — Peguei-as das suas mãos.

— As flores são lindas, caras e estranhas.

— Como assim estranhas? — Estreitei os olhos na sua direção.

— Eu já ouvi algo sobre essas flores, se eu não me engano elas são


bem caras, mas também lembro de ter ouvido algo sobre elas não durarem.
Calma aí. — Ele pegou o celular e abriu o google, pesquisando sobre a tal
flor, que para mim, até então, não havia nada de estranho com elas, apenas
ainda não estavam abertas.

— O que menino? Fala logo! — pedi, já não aguentando mais esse


suspense que Cris estava fazendo.

— É considerada uma flor rara e frágil, pois seu tempo de vida é


efêmero. Floresce somente duas vezes por ano, entre dezembro e março,
vivem algumas horas e morrem, sendo uma flor noturna que floresce por
volta da meia noite e morre ainda na madrugada.

— Nossa... — Minhas mãos ficaram trêmulas, quase deixando as


flores caírem e já imaginando quem as mandou.

— Quem será que mandou essa flor tão exótica para você?

— Não faço ideia — menti descaradamente e com os dedos suados,


abri o cartão.

"Espero que tenha gostado das flores, morena. E as aprecie


enquanto pode. Essas flores possuem uma fragrância calma, relaxante e
extremamente agradável, assim como você, porém a duração delas é
pequena, assim como a sua liberdade que durará pouco. Espero que
aprecie bastante... As flores e o seu tempo.
E.Z"

— O que foi, Alice? Ficou mais branca que as flores.

— Problemas, Cris, problemas… — sussurrei, sem conseguir tirar


os olhos do cartão.
Minhas mãos estavam trêmulas e suadas e comecei a sentir uma leve
dor de cabeça. Dei dois passos para trás, apoiando-me na mesa para não
cair.

— Calma. Vou buscar um copo de água para você. — Cris saiu


praticamente correndo.

Deixei as flores no canto da mesa e fechei os olhos, tentando me


manter calma, mas os abri assim que escutei a porta sendo aberta.

— Obrigada pela águ... — Parei de falar assim que vi que não era o
Cris.

— Seu amigo está ocupado. — Sua voz grave invadiu os meus


ouvidos, trazendo novamente o tremor ao meu corpo.

— O que fez com ele? — indaguei, com medo.

— Nada, apenas disse que precisava conversar com você.

Fechou a porta com o pé e como um caçador perto de pegar a sua


presa, ela se aproximou lentamente.

— O que você está fazendo aqui, Enzo? — Esforcei-me ao máximo


para não gaguejar.

Ele não respondeu e parou na minha frente. Ergui o meu corpo, em


uma tentativa ridícula de me igualar ao seu tamanho e o encarei
firmemente.

Eu poderia até estar me tremendo toda por dentro de medo, mas


jamais deixarei que ele veja isso.

Assustei-me ao sentir suas mãos firmes segurarem na minha cintura,


colando os nossos corpos.
— O que você está fazendo? — ofeguei, minha voz saindo quase
como num sussurro.

Mais uma vez o silêncio predominou e Enzo aproximou os seus


lábios dos meus. Travei, piscando repetidas vezes, tentando entender que
merda esse homem estava fazendo.

Espalmei as mãos no seu tórax, empurrando-o, mas sem conseguir


movê-lo. O aperto na minha cintura ficou mais forte e como se ele fosse me
devorar, Enzo atacou a minha boca com fome.

Não vou retribuir o beijo… não vou retribuir o beijo… não vou…

Enzo continuou beijando-me mesmo com os meus lábios fechados.

Ele vai beijar sozinho. Eu não vou beijá-la.

Ah, caramba! Que saudades dessa boca gostosa!

Fraca.

Covarde.

Burra.

Isso que eu sou.

Sem conseguir sustentar a negação por muito tempo, fechei os meus


olhos, agarrei o seu terno com força e retribui o beijo fervorosamente. Dei
passagem para a sua língua e como há anos atrás, o encaixe foi perfeito.

O beijo tinha desejo, mas muito maior que ele, era a saudade que se
fazia presente. Eu o puxava contra o meu corpo e ele me puxava contra o
seu, como se pudéssemos nos fundir.
Uma mão sua abandonou a minha cintura, esticando-se, sem
abandonar os meus lábios, para jogar algumas coisas de cima da minha
mesa no chão. Um tapa estalado atingiu a minha bunda, fazendo-me gemer
contra a sua boca e fui erguida, sendo colocada sentada sobre a mesa. O
meu vestido levantou e o seu corpo enorme encaixou-se no meio das
minhas pernas e eu pude sentir o seu pau duro friccionar contra a minha
calcinha, encharcando-me.

Seus dedos adentraram as laterais da minha calcinha, puxando-a


para baixo.

— Enzo, não faz isso… para — pedi manhosa.

Nem eu mesma sabia o que eu realmente queria.

No fundo, eu queria ser forte o suficiente para empurrá-lo para


longe, mas como eu poderia fazer isso quando a minha calcinha já estava
super molhada e minha boceta latejando?

— Fica caladinha — ordenou, mordendo com força o meu lábio


inferior.

Senti o gosto metálico na minha boca, que logo foi substituído por
uma chupada.

Estremeci ao sentir os seus dedos tocarem o meu clitóris.

— Já está assim, Alice? — perguntou, sentindo os seus dedos


molhados, com um sorriso satisfeito estampando os seus lábios.

— Ah! — gemi, não tendo tempo para respondê-lo quando os seus


dedos pressionam com mais força.
Seus dedos me massagearam de um jeito incrivelmente bom e meu
corpo começou a dar sinais de que estava perto de gozar. Ele pareceu
perceber e parou, sorrindo para mim.

Estreitei os olhos na sua direção e antes que eu pudesse abrir a boca


para reclamar, ele se ajoelhou na minha frente e enterrou a cabeça no meio
das minhas pernas, passando a língua pela minha vagina, lambendo-a com
gosto.

Segurei firmemente nos seus cabelos para guiá-lo e me manter no


lugar.

— Enzo… ohh! Enzoo! — gritei quando ele bateu com força na


minha boceta, quase fazendo-me gozar de uma vez.

Fui interrompida ao escutar alguém bater na porta. Tentei empurrá-


lo, mas ele segurou as minhas pernas com força.

— Alice, está tudo bem aí? — Cris perguntou.

— S-s-sim — gaguejei, mordendo o dorso da mão para não gemer


alto.

Enzo parecia estar gostando da minha tortura, pois acelerou ainda


mais os movimentos da língua.

— Tem certeza?

— Tenho, claro que eu tenho. — Olhei para Enzo e ele sorriu,


lambendo-me toda de baixo para cima. — Se quiser pode ir embora, já, já
estou indo também.

Vai embora, Cris, pelo amor de Deus!

Estava quase implorando para que ele parasse de fazer perguntas.


— Então eu estou indo.

— Tchau. — Mordi a boca com força para não gemer.

Eu vou gozar, caramba, eu vou gozar…

Meu orgasmo foi interrompido mais uma vez quando ele se


levantou, não me deixando gozar.

— Enzo! — bradei nervosa. — Você não vai me deixar gozar?

— Cala a boquinha, Alice. — Abriu a braguilha, abaixando um


pouco a calça e a cueca, liberando seu pau extremamente duro.

Passei a língua pelos lábios, salivando ao vê-lo e me lembrando


como era bom chupá-lo.

— Você não vai chupá-lo hoje — avisou, já se encaixando na minha


entrada.

Sem aviso ou calma, ele me invadiu, de uma só vez, preenchendo-


me completamente. Tombei a cabeça para frente, mordendo o seu ombro
por cima do paletó, sentindo a ardência da sua invasão.

— Porra, Alice! — grunhiu, puxando os meus cabelos, fazendo-me


olhar em seus olhos.

Ali, perdidos um no outro, eu pude ver em seus olhos o Enzo de


anos atrás. Aquele Enzo brincalhão, carinhoso e amoroso que eu tanto amei.
Não tinha ódio nos seus olhos, só havia saudades refletidas pelos meus.

— Sempre fui sua — sussurrei, sentindo os olhos arderem com as


lágrimas se aproximando.
O vi engolir em seco, mas ele não falou nada e começou a se
movimentar lentamente para fora, tirando o pau quase por completo e
entrando com brusquidão, balançando o meu corpo com força para trás,
fazendo os pés da mesa rangerem.

A sala foi preenchida pelo barulho dos nossos corpos se chocando e


nossos gemidos, juntamente com o som da mesa se mexendo
constantemente pelo que estava acontecendo em cima dela.

Enzo estocou incansavelmente duro e forte, dando-me um orgasmo


incrivelmente delicioso.

— Ah! Enzoooo! — Cravei as unhas na sua nuca e mordi o seu


lábio inferior enquanto o meu corpo tremia, chegando ao clímax.

Pude sentir o seu líquido quente sendo esporrado dentro de mim


logo em seguida.

— Alice — soprou meu nome contra a minha boca.

Colamos nossas testas e misturamos nossas respirações enquanto


recuperamos o fôlego.

Repentinamente, Enzo se afastou, se vestindo em seguida.

— A gente se vê por aí — falou, já dando as costas para sair.

— Enzo? Você vai embora? — perguntei desacreditada.

— Sim, não tenho mais nada para fazer aqui.

— Você veio até aqui só para isso? — minha voz saiu carregada de
mágoa. Não podia acreditar que ele estava fazendo isso.

Pior, não podia acreditar que eu fiz isso.


— Exatamente.

— Seu desgraçado! — Levantei, avançando nele e dando tapas no


seus braços. — Me deixa em paz, some, me deixa em paz! — berrei,
extremamente irritada.

— Nunca! — Segurou meus punhos, encarando-me severamente. —


Eu nunca vou te deixar em paz. Você é minha e será para sempre minha. Eu
quero o que é meu e eu vou ter.

— Eu não sou sua! — gritei contra o seu rosto.

— Você é minha desde de quando pus meus olhos em você. Você é


minha desde quando se entregou para mim, mas você sabe disso, eu não
preciso ficar aqui falando, você não é burra, Alice, conhece as regras.

— Enzo... — Uma lágrima escapou dos meus olhos.

— O que você quer, Alice? — Soltou-me e dei um passo para trás.

— A gente pode ficar bem? Tentar acertar as coisas?

— Você quer acertar as coisas? — Soltou uma gargalhada alta. —


Não tem como consertar as coisas, Alice.

— Então o que você quer? — questionei, já cansada desse jogo dele.

— Quero que você pague por tudo que me fez passar.

— Eu também passei por muitas coisas, Enzo, você acha que foi o
único que sofreu?

— Você é uma mentirosa, Alice, uma mentirosa — gritou,


aproximando bem o rosto do meu.

— Você também mentiu — o acusei.


Quem Enzo pensava que era? Um santo?

— E sobre o nosso filho, Alice? Você estava falando a verdade?

— O quê? De novo essa história? — Joguei os braços para o alto,


cansada de Enzo. — Eu já falei a verdade. Que droga!

— Você vai me pagar muito caro por tudo, muito… — garantiu e


saiu do escritório.

Pude sentir a sua ameaça e um frio percorreu a minha espinha. Ele


vai cumprir, eu sei que vai, eu consegui ver em seus olhos. Enzo me odeia,
ele me odeia.

Meu Deus!

O desespero tomou conta de mim. Eu estava perdida,


completamente perdida nas mãos desse homem.
Capítulo 16
Alice Caccini

Engana-se quem pensava que Enzo me deixou em paz. Embora não


tenha o visto durante esses dias que se passaram, ele fez questão de se fazer
presente, com flores que possuíam algum significado meio estranho e
bilhetes ameaçadores.

Não estava suportando mais essa pressão, eu estava a ponto de


surtar.

Cris sabia todos os significados das flores. Embora eu gostasse


muito de flores, não conhecia muito bem sobre elas, por isso ele sempre me
ajudava a descobrir qual a ameaça da vez quando chega alguma delas.

— Amiga, chegou seu presente do seu admirador secreto, mas dessa


vez não são flores, poxa... — Cris entrou na sala, todo animado.

Ele jurava que era um admirador secreto e eu tinha vontade de rir de


toda essa animação dele.

Acabamos criando uma amizade muito gostosa com o tempo. Ele,


além de fotógrafo e design, virou meu assistente pessoal e eu tenho amado
cada momento que estamos juntos.

Tenho certeza que ele e Romeu iam se dar muito bem.

Ah, que saudades do meu amigo.

— Amiga, não vai abrir? Aliás, são dois presentes.


— Dois? — indaguei, curiosa e também desanimada.

— Sim, um é bem gostoso por sinal. Vai, anda, abre logo.

Abri a embalagem do presente e fui tomada por milhares de


sensações diferentes.

Lembranças boas, lembranças tristes, saudades, desejo, amor… meu


Deus, tantos sentimentos de uma só vez.

Puxei o ar com força, tentando controlar a sensação de choro que


começou a tomar conta de mim.

— Alice, o que tem aí? Que cara é essa?

Deixei a caixa em cima da mesa e levantei o presente para que ele


pudesse ver.

— Amiga, que camisola linda, certeza que essa cor rosé ficará
lindíssima em você! — Abriu um largo sorriso, que logo se fechou quando
me encarou. — Por que você está chorando?

— Isso são lembranças do meu passado — Lembrei, ainda


atordoada e com a voz embargada pelo choro.

Essa é a camisola que Romeu me deu, que eu usei no dia em que me


entreguei por completo para Enzo. Ele guardou, ele guardou todo esse
tempo.

— Você vai querer ler o cartão ou eu posso jogar fora?

— Quero — respondi de imediato, pegando o papel da sua mão.

Sabia que estava me torturando, podia simplesmente jogá-lo fora,


mas a curiosidade não deixava.
"Gostou da penúltima surpresa, meu amor? Guardei todo esse
tempo com muito carinho e cuidado. Use-a no nosso dia especial.
E.Z"

Penúltima? Dia especial? Do que ele estava falando?

Lembrei-me de que minha família toda estava estranha comigo, teria


isso alguma relação? Não, não era possível!

Se ele tivesse contado para eles sobre nós dois, uma hora dessas eu
já estaria sendo escorraçada por meus pais e meus irmãos.

Recordo-me que Cris havia dito que eram duas surpresas.

— Qual é a outra surpresa?

— Tem certeza que está em condições de receber?

— Tenho sim.

Na verdade não tenho, mas estava curiosa.

— Tudo bem, vou mandar entrar.

— Mandar entrar? — Ergui uma sobrancelha, meu corpo inteiro


entrando em alerta.

— É um lindo homem que está ali fora. — Lançou-me uma


piscadela, todo animado.

— Homem? Aquele que veio aqui outro dia?

— Aquele Deus grego? — Assenti. — Não, amiga, é outro, não tão


Deus igual aquele, mas muito gostoso também. Esse veio para que você
possa desenhar um terno sob medida para ele.

— Peça para entrar então, por favor.

Respirei aliviada por saber que não era Enzo e que era trabalho,
assim poderia me distrair.

Rapidamente arrumei as coisas do presente e o enfiei na gaveta ao


lado da minha mesa.

— Pode entrar. — Ouvi Cris abrindo a porta e autorizando a entrada


do cliente.

— Licença — ele pediu educadamente.

Surpreendi-me ao olhar para a porta e encontrar um velho


conhecido.

— Harry? — Estreitei os olhos, surpresa.

— Alice? — perguntou, também surpreso, sorrindo. — Que prazer


revê-la.

Levantei-me e caminhei até ele.

— Quanto tempo. Como você está?

— Bem e você? — Ele me abraçou apertado e eu retribuí o gesto


carinhoso.

— Estou bem — menti — Sente-se, por favor. — Apontei para a


cadeira e voltei para a minha.

— Obrigado.

— O que te trouxe aqui?


— Estou fazendo um trabalho para a empresa do meu pai por essas
áreas e vi você entrando aqui esses dias, vim conferir se era mesmo você e
também conhecer um pouco mais do seu trabalho.

— Certo. — Sorri. — Você já terminou a faculdade?

— Sim terminei, e você?

— Não, infelizmente eu desisti, mas consegui realizar meu sonho e


abri esse ateliê — falei com orgulho da minha realização.

— Que legal, Alice! Seu ateliê é lindo, as roupas são muito bonitas.
Vim para prestigiar o seu trabalho, gostaria de um terno da sua criação e um
italiano me pareceu perfeito.

— Ah, sério? Fico lisonjeada, muito obrigada!

— Eu irei embora dentro de alguns dias, você acha que precisa de


quanto tempo?

— Vou pedir para que Cris tire suas medidas e começarei a trabalhar
nele hoje mesmo.

— Ótimo!

— Apareça sempre, Harry, você é muito bem-vindo! Não suma


como da outra vez — falei em tom de brincadeira.

— Não sumi porque eu quis, Alice — Harry respondeu com um


semblante sério e pude perceber o seu desconforto.

— Aconteceu alguma coisa naquela época?

— Sim, o seu namorado… — Ele parou por alguns segundos,


parecendo pensar. — Aliás, você ainda namora aquele psicopata? — Senti
minhas bochechas esquentarem em vergonha e balancei a cabeça em sinal
negativo. — Ele me ameaçou e me espancou, fui obrigado a ir embora,
temia por minha vida e da minha família.

Fechei os olhos, sentindo toda a humilhação e constrangimento me


consumir. Passei as mãos no rosto e o encarei sem jeito.

— Eu sinto muito, Harry, não sei nem o que falar. Me perdoe, de


verdade. Não sabia que ele havia feito isso e muito menos que ele era
assim.

— Tudo bem, Alice, o pouco que te conheci, eu tinha certeza disso,


sabia que você não compactuava com tal coisa. Eu queria te alertar, mas não
tive como, desculpe.

Oh, céus, ele ainda está se desculpando. Coitado.

— Não precisa se desculpar, eu que lhe devo milhões de desculpas.


Estou tão envergonhada, não sei o que falar — confessei.

— Não precisa se envergonhar de uma coisa que você não tem


culpa. — Ele olhou para o celular. — Eu tenho que ir, te busco para um café
outro dia?

— Claro. — Levantei junto dele para me despedir. — Até mais. Cris


vai estar lá fora e pegará as suas medidas, será bem rapidinho…

Ele me interrompeu.

— Eu volto amanhã para fazer isso e aproveito para te buscar para


um café, pode ser?

— Por mim está ótim...

Nem terminei de falar e escutamos a porta abrir bruscamente.


— Busca um caralho, tá ótimo um cacete. O que você está fazendo
aqui, seu merda? — Enzo entrou cuspindo fogo.

— Amiga, esse Deus entrou aqui feito um foguete, nem se eu fosse


o superman não conseguia segurar esse homem lindo em toda sua glória e
fúria — Cris explicou.

Puxei o ar com força, buscando um pouco de sabedoria e sanidade


mental para lidar com todas essas merdas que estão acontecendo nos
últimos dias. Meu coração estava batendo aceleradíssimo.

A situação não era boa, Harry ainda permanecia ao meu lado, Enzo
com um olhar mortífero, eu desesperada e Cris sem entender nada.

Vamos lá, Alice, faça alguma coisa, agora!

— O que você está fazendo aqui, Enzo? — Forcei para que a minha
voz saísse o mais tranquila possível, mesmo que por dentro eu tivesse
surtado.

— O que esse merda faz aqui, essa é a pergunta correta, Alice.

— Eu não sei se você sabe, mas esse — apontei para toda a minha
sala — é o meu local de trabalho e esse homem, que o nome é Harry, veio
aqui para fazer um terno comigo, que aliás, esse lugar aqui é para isso, para
criar roupas! — gritei, perdendo qualquer paciência que me restava.

Enzo estava infernizando a minha vida de tal maneira que eu estava


a ponto de enlouquecer.

— Que se dane tudo isso! Eu não quero esse cara aqui, não quero
esse cara em lugar nenhum, por que eu não matei esse merda? — Enzo
passou a mão na barba, visivelmente nervoso.
— Alice, você me disse que não tinha mais nada com esse cara! —
Harry acusou-me, também nervoso.

— E eu não tenho! Meu Deus! Esse homem é um louco que está


estragando a minha vida! — falei, exausta de toda a situação que Enzo vem
causando na minha vida desde que reapareceu.

— Cala a boca! — Enzo gritou olhando para o Harry. — Não me


faça te matar aqui, na frente das pessoas. — Paralisei diante da sua ameaça,
sentindo o meu sangue gelar. Seu olhar se voltou para mim. — Você não
sabe o que diz, não é, Alice? — Sorriu, ironicamente.

— Sai daqui, sai daqui, Enzo, me deixa em paz! — vociferei,


histérica.

— Quem vai sair daqui é esse moleque! Saymon está te esperando


lá fora — informou, apavorando-me.

— Não! Para com isso, Enzo! — Lembrei-me com exatidão de


quando eu o vi torturando aquele homem. — Deixe as pessoas em paz.
Você não é o dono do mundo, você não pode fazer o que quer, quando quer
e com quem quiser.

— Errada novamente, eu posso fazer tudo isso aí que você disse —


respondeu tranquilamente, como se realmente acreditasse que ele fosse o
dono do mundo.

— É muito prepotente mesmo. — Bati as mãos na lateral do corpo,


exasperada.

— Você prefere ir com as suas próprias pernas ou quer que eu te


arraste para fora? — perguntou para Harry, ignorando-me.
— Enzo, para com isso! — gritei mais uma vez. — Deixa ele ir
embora em paz.

— Por que eu faria isso, Alice?

Porque sim, seu psicopata, louco, perturbado…

Calma, Alice, você precisa ter calma.

— Porque eu estou pedindo... — falei entredentes, engolindo a


vontade de mandá-lo para o inferno. — Eu estou implorando — apelei,
faria qualquer coisa para que Harry ficasse bem.

— Hoje é o seu dia de sorte, hein, garotão? — Enzo se aproximou


de Harry e eu também dei um passo à frente. Bateu com força no ombro
dele, quase desmontando o pobre coitado. — Vai lá, vai para a sua casa
tranquilo, mas tome cuidado, olhe para todos os lados e fique atento quando
atravessar a rua.

— Isso é uma ameaça? — Harry perguntou, o encarando.

— Não. Eu não faço ameaças.

— Tchau, Alice. Amanhã eu volto!

Meu Deus! Ele é burro ou o quê? Era só fechar a porra da boca e ir


embora!

— Volta um caralho. — Enzo o pegou pela gola da camisa,


levantando-o do chão e o encarando de uma maneira assustadora. — Você
está brincando com a sorte, seu merda?

— Solta ele, Enzo, por favor. — Segurei o seu braço, tentando puxá-
lo, mas sem sucesso
— Eu deixei ele ir tranquilo, mas esse merda gosta de brincar com o
perigo.

— Solta ele, ele não vai mais voltar, não é, Harry? — O homem
ficou quieto e meu desespero só ia aumentando. — Não é, Harry? —
perguntei novamente, dessa vez gritando.

— Sim, eu não vou mais voltar, irei embora hoje mesmo. —


Finalmente ele abriu a boca.

Enzo soltou ele com toda força e o pobre coitado caiu no chão.
Pensei em ir ajudá-lo, mas antes mesmo de eu agir, escutei ele falando.

— Nem pense nisso, Alice, se você encostar nesse merda, estará


assinando a certidão de óbito dele.

Fiquei parada e Harry se levantou, saindo rapidamente da sala.

Encarei Enzo, deixando evidente todo o meu ódio por ele. O que
não era muito diferente de ser visto nos olhos dele.

— Você está atrapalhando a minha vida, os meus negócios. Você


não pode entrar aqui a hora que quiser, que merda, Enzo! Esse é o meu
trabalho! — berrei.

— Esqueça tudo isso, Alice, nada disso mais será seu, pode começar
a vender suas coisinhas, você não tem mais tempo para continuar aqui.

— Do que você está falando? Eu não vou vender nada! — Enfrentei,


cuspindo as palavras com raiva na sua cara.

— Problema seu, depois não diga que eu não a aconselhei.

— O que você vai fazer, Enzo? — Abaixei o tom de voz, um pouco


apreensiva.
— Tomar o que é meu.

— Me deixe em paz, pelo amor de Deus! — Levantei os braços,


irritada.

— Peça a Deus mesmo, talvez ele tenha piedade e misericórdia de


você, porque eu não tenho.

— Me escuta, Enzo. — Passei as mãos no rosto, respirando fundo.


Eu precisava de calma. — Aqui estão todas as minhas coisas, este ateliê é
uma realização profissional minha, essa é a minha vida. O que tivemos já
acabou, não complique as coisas, esqueça tudo que aconteceu, eu não fiz
nada por maldade, eu juro.

— Quem jura é mentiroso — ironizou.

— Para de complicar as coisas.

— Você quem complicou tudo, Alice, você!

— Eu errei sozinha nessa história? Você fala como se o erro fosse só


meu! — rebati.

— Feche as portas desse lugar o quanto antes.

— Eu não vou fechar nada! — garanti, gritando.

— Licença, sei que não faço parte dessa história, mas como assim
fechar? Eu ficarei sem meu emprego? — Olhamos para Cris, finalmente
dando conta de que ele estava ali, quieto, apenas assistindo toda essa cena
ridícula. Ele colocou a mão no peito, fazendo um drama.

Ambos o encaramos e se fosse em outra situação eu iria rir da sua


cara de assustado, mas agora não tenho cabeça para isso.
— É... Vou me retirar. Se precisar de qualquer coisa, Alice, é só
gritar. — Assenti e ele praticamente saiu correndo.

— Você tem sangue doce para libélulas.

— Ah, não seja ridículo com esses comentários — repreendi Enzo.

— O recado foi dado Alice, tic-tac. — Estalou a língua — Você está


ficando sem tempo.

Nem tive tempo para responder, ele me deu as costas e saiu,


deixando-me atordoada, como em todas as vezes.

Por que esse homem voltou? Só para se vingar? Preciso de paz, eu


estou enlouquecendo.

— Amiga, você viu como esse Superman pegou aquele homem pela
gola da camisa e levantou? Ele não fez nenhum esforço. — Cris entrou todo
afobado, fazendo comentários.

— Não quero falar disso, Cris. Esse homem vai destruir a minha
vida, eu estou perdida, não tem saída, não vejo nenhuma solução.

Me sentei no sofá, estava desolada, me encontrava em um beco sem


saída.

— Usa a kriptonita.

— O quê? — Estreitei os olhos na sua direção, não entendendo


absolutamente nada.

— É a única coisa que pode enfraquecer o Superman.

O encarei desacreditada.
— Você está de brincadeira, não é? Pelo amor de Deus, Cris! — Me
levantei, indo pegar a minha bolsa. — Vou para minha casa que eu ganho
mais.

— Tchau, bonequinha, fica bem, tá? — Deu-me um abraço forte.

Despedi-me dele e saí dali com a alma pesada por tantos problemas.
Esperava que dias melhores estivessem por vir, não aguentava mais.
Capítulo 17
Alice Caccini

Levantei mais tarde hoje, dei-me o sábado de folga após toda a


loucura que Enzo vinha causando na minha vida. Respirei aliviada, fazia
exatamente dois dias que eu tinha paz, nada de cartas ameaçadoras e muito
menos a presença daquele energúmeno.

Abri a janela e sorri ao ver o sol, o dia estava lindo!

Fui ao banheiro fazer a minha higiene matinal e me preparar para o


dia. Combinei de passar o dia com Cris, hoje iriamos ao shopping
aproveitar muito esse dia lindo.

Saí do banheiro e dei de cara com a minha mãe sentada na minha


cama.

— Bom dia, mamma! — Aproximei-me, abaixando e beijando a sua


bochecha.

— Bom dia, minha doce menina.

— Quer falar comigo? — questionei, estranhando ela estar no meu


quarto a essa hora.

— Sim.

Sentei-me à sua frente.

— Pode falar.
— Seu irmão quer conversar com você, mas antes eu queria dizer o
quanto te amo — falou, com os olhos marejados.

— Eu também te amo, mamãe, mas o que está acontecendo? —


Remexi-me na cama, desconfiada.

— Vou pedir para que o seu irmão entre, nos vemos lá embaixo.

Ela saiu do quarto e eu fiquei ali sentada e confusa. Meu irmão


entrou com a mesma cara triste que minha mãe estava.

— Buongiorno, sorella.[x]

— Buongiorno, fratello.[xi]

Rocco se sentou à minha frente, onde minha mãe estava sentada


anteriormente.

— Vou ser direto, sem rodeios para que isso não precise levar mais
tempo do que o necessário.

— O que está acontecendo? — Engoli em seco, com receio do que


estava por vir.

— Você sabe que sempre deixamos você fora dos negócios, que
permitimos que você estudasse, tivesse um trabalho, uma vida até então
normal. Só que chega uma hora que as coisas fogem do nosso alcance, você
entende? — Assenti. — Você já passou da idade de se casar, conseguimos
adiar o máximo, mas chegou um momento que não tem como adiar mais.

— Eu vou me casar, é isso? — inquiri, detestando como eles faziam


rodeios para falar.

— Sim.
Fechei os meus olhos e respirei fundo, segurando minhas lágrimas.

— Ele é daqui? — perguntei ainda de olhos fechados, se eu olhar


para o meu irmão iria chorar e eu não queria isso.

— Não.

— É muito velho?

— Não.

Ufa! Isso é bom.

— Isso vai acontecer quando?

— O noivado vai ser hoje, daqui a pouco.

— O quê? — Abri os olhos, arregalando-os.

— Foi uma escolha dele, ele quer casar o quanto antes.

Talvez essa fosse a minha salvação para que Enzo me deixasse em


paz? E se ele descobrir que eu vou casar e decidir contar tudo? E quando
meu futuro marido descobrir que não sou mais virgem? Meu Deus, de
qualquer forma estou ferrada!

Caixão e vela preta para você, Alice. Sua burra!

— Alice? Está ouvindo o que estou falando? — Rocco chamou a


minha atenção.

— Não, pode repetir, por favor?

— Tem mais alguma pergunta para fazer?

— Ele é um homem importante na máfia? Como que isso


aconteceu?
— Sim, jamais deixaria você se casar com qualquer um, tem que ser
um homem a sua altura. Ficamos devendo um favor para ele e em troca ele
pediu a sua mão.

— Então eu fui entregue como uma moeda de troca. — Revirei os


olhos, com desdém.

— Não complica as coisas, Alice. Você sabia que esse dia iria
chegar.

— A gente sempre sabe, Rocco, mas nunca estamos preparados para


quando ele chega.

— Infelizmente não posso fazer nada, são regras e regras tem que
ser cumpridas. Não posso mudar as coisas só porque você é minha irmã. Eu
queria, acredite, queria te tirar de toda essa merda, mas infelizmente eu não
posso. — Apesar de toda a sua seriedade, pude sentir carinho em suas
palavras e como ele está desconfortável com essa situação.

— Tudo bem. — Inclinei-me para frente o abraçando e ele ficou


sem jeito, mas logo me abraçou de volta.

Rocco sempre foi mais fechado, ele demonstrava seus sentimentos


da maneira dele. Renzo já era diferente, eu sempre o abraçava e beijava
muito.

— Vou descer, não demora para se arrumar.

— Daqui a pouco estarei lá — avisei, abrindo um sorriso amarelo.

Rocco saiu do quarto e eu deixei minhas lágrimas rolarem. Levantei


e fui para a janela, observando a movimentação lá no jardim, Então é por
isso que tem tantas pessoas arrumando as coisas aqui em casa, hoje era o
meu noivado.
Um vento gelado bateu no meu rosto, secando minhas lágrimas.

— Filha?

Escutei a voz da minha mãe chamando-me novamente, mas não a


olhei, não queria que ela visse que estou chorando.

— Oi, mamma? Já vou me arrumar e descer.

— Filha, vire-se para mim, por favor.

Contrariada, fiz o que ela pediu.

— Está tudo bem, vou me ajeitar. — Sequei as lágrimas com o


dorso da mão.

— Vem cá no colinho da mamma.

Puxou-me para a cama, deitando minha cabeça em seu colo e


fazendo carinho nos meus cabelos.

— Figlia. — Escutei a voz do meu pai entrando no quarto.

— Ciao papà. — Sentei-me na cama para olhá-lo.

— Você vai ficar bem, o rapaz me parece uma boa pessoa.

— Eu o conheço, papá? — Arrisquei perguntar, mesmo sabendo


que quase não conheço ninguém de dentro desse meio.

— Acredito que não, ele não é daqui.

— Qual é mesmo o nome dele, amor? — minha mãe perguntou.

— Enzo — meu pai respondeu e meu coração errou uma batida.

— Enzo? Enzo de quê? — Minha voz saiu falhada.


— Enzo Ziegler, ele é o capo da máfia Alemã, será muito bom para
os nossos negócios.

— Não! — gritei, levantando-me rapidamente da cama.

— Minha filha, o que acontece? — minha mãe perguntou, ambos


estavam surpresos com a minha atitude repentina.

— Eu não quero me casar com ele, vocês não podem deixar que eu
me case com ele, por favor, não façam isso comigo — pedi, desesperada,
andando de um lado para o outro.

— Por que esse desespero todo, Alice? Por acaso você conhece esse
rapaz? — Meu pai olhou-me desconfiado.

E agora? Eu conto toda verdade? O que eu faço? Se eu contar terei


que me casar com ele do mesmo jeito. Eu preciso fazer com que eles
mudem de ideia, que eles cancelem isso.

— Estou esperando uma resposta, Alice.

— Não papai, eu não o conheço — menti. — Mas já ouvi falar e não


quero me casar com esse homem. Além do mais, eu terei que ir embora, não
quero ir embora da Itália, por favor papai, cancele esse casamento, por
favor — implorei, as lágrimas voltando a inundar o meu rosto.

— Não tem como cancelar, Alice, o acordo já foi feito. Se arrume e


desça.

— Por favor, papai. — Corri até ele, segurando o seu braço. — Não
faz isso, tudo que eu te peço é que não me deixe casar com esse homem,
por favor papai, eu imploro — pedi aos prantos, eu estava desesperada.

Olhei para a minha mãe e ela estava chorando junto comigo.


— Se arrume e desça, Alice — meu pai ordenou de maneira rude,
pouco se importando com o meu choro e saiu.

— Mãe?

— Infelizmente não posso fazer nada, minha filha, estou de mãos


atadas, me desculpe.

Ela também saiu do quarto, me deixando ali sozinha com o meu


desespero.
Capítulo 18
Enzo Ziegler

Terminei de me arrumar, passei o perfume que estava usando no dia


em que conheci a minha noiva. Hoje é um dia especial, era o meu noivado,
e eu tinha que estar à altura da minha querida Alice.

— Pronto? — Saymon perguntou.

— Sim.

— Mayla ligou, disse que não está conseguindo falar com você e
quer saber porque você não atende as ligações dela.

— Com ela eu me entendo depois, estou sem saco para ouvir os


sermões dela.

Saymon apenas riu e fomos para o carro.

Durante o trajeto, conversamos sobre os negócios. Eu já estava há


muito tempo na Itália, precisava voltar e resolver minhas coisas. Não podia
deixar meus negócios por tanto tempo.

Cheguei a casa dos Caccini e um soldado me encaminhou até a sala.


Eu quis chegar mais cedo que o conselho para saber como estão as coisas.
Conhecendo bem minha morena, ela jamais aceitaria isso sem surtar antes.

Ao me aproximar, pude ouvir os gritos.

— Alice, de onde você conhece o Enzo? — Ouvi o Rocco inquirir.


— Deixa que eu mesmo conto essa linda história, querida noiva —
falei, entrando na sala, atraindo todos os olhares.

— Seu maledetto! — Alice gritou, tentando avançar em mim, mas


Melanie conseguiu segurá-la a tempo.

— Quantos elogios eu tenho recebido de vocês ultimamente —


debochei, não me importando nem um pouco com o show de Alice. — Pelo
visto, a família Caccini me ama muito.

— Vamos, Enzo, comece a falar, não tenho todo o tempo do mundo


— Rocco ordenou, impaciente.

— Claro, Don. — Sorri de uma maneira debochada para Alice.


Estava satisfeito em ver todo o desespero em seus olhos. — Conheci a sua
irmã em Milão, nos conhecemos enquanto ela estava estudando e eu estava
em uma missão… aquela missão que fiz para selar o acordo das nossas
máfias. — Rocco assentiu, se lembrando do que eu estava falando. — Sua
irmã me disse o nome dela, mas com um sobrenome diferente, o que ela
usava para não associá-la com a máfia e poder viver uma vida normal. Eu
não podia imaginar que ela era Alice Caccini.

— Cala boca, cala a maldita boca, seu maledetto! — ela berrou,


implorando para que eu ficasse em silêncio.

— Calada, Alice, deixa ele terminar — Vincent, o pai dela, interviu.


— Prossiga, Enzo.

— Claro. — Ajeitei o paletó despreocupadamente antes de


continuar. — Nos relacionamos na época, ela era muito nova, você tinha o
quê, Alice? 18 anos? — perguntei apenas para provocá-la, não esperava a
sua resposta. Ela estava chorando copiosamente. — Eu também não contei
para ela que era um mafioso, vivemos juntos quase dois anos desse jeito.
Ela foi para Alemanha nas férias dela, vocês lembram? Então, ela foi para
ficar comigo. Alice inventou inúmeras mentiras sobre os pais e a família e
como a única coisa que me interessava era estar com ela, acabei acreditando
e não me aprofundei em sua vida particular.

— Você também mentiu quando não contou que era um mafioso,


seu infeliz! — Alice revidou.

— Ah, claro, eu ia chegar para uma pessoa fora da máfia e falar: olá,
eu sou um mafioso. — Ri. — Enfim, ficamos juntos esse período e depois
ela sumiu, eu não a vi mais, não consegui manter contato e quando fui até
Milão, descobri que ela não estava mais fazendo o curso lá.

— Foi na época em que ela pediu para vir embora — Renzo


lembrou.

— O que aconteceu, Alice? — Giovana perguntou, querendo ouvir a


versão da filha.

— Eu descobri que ele era um mafioso, então eu fui embora. Pensei


que nunca mais íamos nos ver, porque naquela época eu não sabia que as
máfias tinham firmado um acordo, mas ele me encontrou, descobriu quem
eu era e apareceu na inauguração do meu ateliê — respondeu cabisbaixa,
envergonhada diante de toda a situação exposta.

— Exatamente, eu fui atrás dela na tentativa de uma conversa


amigável, mas ela me disse que nunca se casaria comigo e aqui estamos no
dia do nosso noivado. Como é a vida, não? — debochei.

— O que aconteceu entre vocês? — Rocco procurou saber mais


detalhes.
— Enzo, não! — Alice clamou por meu silêncio, mas eu não ficaria
calado.

— Tudo que acontece entre um homem e uma mulher. Eu não sabia


que ela pertencia à máfia. Fui o seu primeiro homem e agora estou aqui
para reivindicar o que é meu por direito.

Nesse momento uma tensão tomou conta de todos que estavam na


sala. — Seu desgraçado! — Renzo veio para cima de mim, mas parou ao
ouvir a ordem firme do seu pai.

— Não, Renzo! — Vincent bradou. — Irresponsável foi a sua irmã,


ela não pensou nas consequências dos seus atos, nem na hora e nem o que
isso poderia trazer depois. — Direcionou seu olhar decepcionado para a
filha. — Passou pela a sua cabeça, Alice, que se você se casasse com outro
homem, ele ia perceber a sua desvirtude? Você estaria morta!

— Pai, eu estava apaixonada. — Tentou se defender. — Ele mentiu,


não disse que era desse meio, eu só descobri porque acordei durante a noite
e vi ele matando um rapaz que tinha dado em cima de mim naquele dia, eu
não podia imaginar, ele era tão diferente.

— Você também mentiu, Alice, e pior ainda, fugiu! Você sabia que
o seu destino estaria ligado a mim eternamente e mesmo assim foi embora
— falei, completamente decepcionado e magoado. Eu amei tanto essa
mulher.

E ainda amo.

— Então, como tudo já está esclarecido, vamos oficializar esse


noivado logo — Rocco declarou, com a sua expressão inabalável de
sempre.
— Vocês ainda vão fazer isso? Ele quer vingança! Ele quer vingança
porque eu fui embora! — minha noiva ainda tentou argumentar.

— Isso são consequências dos seus atos impensados, Alice. Você


pertence a ele antes mesmo de oficializar o noivado. Ele ainda está fazendo
muito em se casar com você, se fosse qualquer outro a deixava morrer ou ir
para um prostíbulo. — Alice assentiu para o irmão mais velho, sabendo que
não havia mais nada a se fazer.

— Mesmo eu não precisando do acordo, saiba que ele ainda está de


pé — afirmei para o Don.

— Você mentiu, fingiu que precisava daquele acordo, por quê? —


ele me questionou.

— Porque eu quis ajudar. — Dei de ombros.

— Grazie! — Apenas assenti. — Vamos nos reunir com os outros


membros e oficializar. Enzo, posso contar com sua discrição? — Rocco
estendeu a mão para mim.

— Com toda certeza, Don Caccini. — Apertei, selando de uma vez


por todas o nosso acordo.

Caminhamos todos para a sala de jantar. Passei ao lado de Alice e


informei:

— Acabou o show, amorzinho. Como eu disse anteriormente, você é


minha!

Ela me olhou com tristeza e raiva, ao mesmo tempo passando por


suas íris, mas não respondeu.

A cerimônia foi feita e o noivado oficializado.


— Temos que adiantar esse casamento o quanto antes, não quero
que ninguém suspeite, não quero nem sonhar em alguém descobrindo essa
merda — Rocco comentou.

— Por mim está ótimo. — Estava ansioso para me casar com ela
logo.

— Grazie por toda discrição e por estar nos ajudando.

— Não precisa agradecer.

— Consigo providenciar um casamento para daqui três dias, o que


você acha?

— Por mim podia ser amanhã.

Ele abriu um sorriso diante do meu comentário. Raramente o vi


sorrindo, nem que seja por deboche.

— Como posso confiar que depois do casamento nosso acordo ainda


continuará de pé?

— Sou um homem de palavra. Nosso acordo ainda está de pé, Don


Caccini. Mandei deixar seu presente no galpão, faça bom uso dele, agora
preciso ir.

— Em três dias vocês estarão casados — avisou.

— Ótimo!

Decidi que é hora de ir embora, passei entre as pessoas e encontrei


Alice sozinha em um canto, olhando pela janela.

— Daqui três dias, meu amor. — Ela me olhou sem entender, um


vinco se formando na sua testa. — Até lá — despedi-me, saindo e a
deixando confusa.

Já estava perto do meu carro quando ouvi uma voz feminina me


chamar.

— Enzo? — Virei-me para ver quem era, encontrando a mãe de


Alice ali.

— Em que posso ajudar, senhora Caccini? — perguntei


educadamente.

Ela era bonita e Alice e Rocco se pareciam mais com ela, já o idiota
do Renzo se parecia mais com o pai.

— Tem um minuto do seu tempo para que eu possa trocar algumas


palavras com você?

— Claro.

— Me chama de Giovana, por favor, sem formalidades, você será da


família agora. — Assenti, sorrindo. — Desculpe minha intromissão de vir
falar com você, mas entenda, eu sou mãe.

— Guardarei segredo sobre essa conversa Giovana, fique tranquila


— assegurei, pois sei que mulheres não devem se meter nesses assuntos,
mas eu entendo o seu lugar de mãe.

— Eu agradeço muito. — Sorriu, lembrando ainda mais a minha


morena. — Bom, não vou tomar muito do seu tempo. Eu não sei de toda a
história de vocês, mas o pouco que eu pude presenciar ali naquela sala eu
senti que entre vocês existem muitas coisas mal resolvidas, muita mágoa,
muito rancor, muita raiva, digo isso de ambas as partes. Talvez um seja
maior do que o outro, mas quero que saiba que Alice é uma boa menina,
não acredito que ela tenha feito maldade, ela é apenas uma menina.
— Giovana, eu entendo seu lado de mãe e respeito, mas não quero
falar sobre esse assunto.

Não quero ouvir ninguém defendendo Alice. Ela não merece defesa.

— Tudo bem, eu entendo. Eu só quero te pedir para que não


maltrate minha filha, não a faça sofrer, por favor. Eu vejo que você é um
bom menino e dificilmente eu me engano a respeito disso, seja maleável,
deixe toda essa mágoa e rancor no passado, viva o presente e aproveite sua
nova família. A gente perde muito tempo querendo que as pessoas sofram o
mesmo tanto que nos fizeram mal e esquecemos de viver as coisas boas que
a vida pode nos proporcionar. Maldade, raiva, rancor, todas essas coisas
ruins não nos levam a lugar algum.

— Vou me lembrar disso, Giovana — disse para encerrar o assunto.

— Obrigada, Enzo. Eu espero que vocês sejam muito felizes. Eu sei


que você não é um menino ruim — repetiu, ficando na ponta dos pés,
mesmo estando de salto, e acariciou o meu rosto. Lembrei de quando minha
mãe fazia isso e sorri. — Vai com Deus. — Sorriu carinhosamente para
mim e eu retribuí.

— Até mais, Giovana.

Despedi-me dela e saí dali com as suas palavras martelando na


minha cabeça.
Capítulo 19
Alice Caccini

Eu tive apenas três dias, isso mesmo, três dias para confeccionar o
meu vestido de noiva. Foram três noites sem dormir direito e com muita
ajuda de Cris, o vestido ficou perfeito, exatamente do jeito que era para ser.

Quando Romeu fez esse esboço e me mostrou, fiquei encantada, era


o desenho mais lindo que ele já tinha feito. Meu amigo falava que tinha
feito especialmente para mim, então não poderia me casar com outro que
não fosse esse lindo presente que Romeu deixou para mim.

Eu sonhava com o dia do meu casamento com Enzo em que eu iria


usar esse vestido, mas não pensei que seria nessas circunstâncias.

Aliás, eu era tão inocente, que um dia me imaginei casando fora da


máfia. Quão sonhadora eu podia ser?

Dava até dó de usar esse vestido lindo para essas pessoas ignorantes,
que não sabiam apreciar um belo vestido como esse.

Obviamente os meus pais vão questionar, vão falar que é ousado e


inapropriado, mas não trocarei.

Era um vestido estilo sereia, com um toque vintage. Decote


profundo e alças finas, demarcando bem a cintura.

Juro que é a coisa mais linda do mundo!


A maquiagem eu mesma quis fazer e optei por uma maquiagem
leve, com rímel, blush e batom nude na boca. Fiz uns cachos nas pontas do
cabelo e o deixei solto, colocando brincos longos para destacar.

Olhei pela janela do quarto e vi meu pai caminhando pelo jardim, no


meio das pessoas que ali estavam trabalhando e chegando para o
casamento.

Nós dois não nos falamos depois do meu noivado. A decepção era
tão visível em seus olhos que quando o encarei, senti-me destruída por
dentro. O olhar dos meus irmãos não era diferente. Eu decepcionei todos
que me amavam.

Apenas a minha mãe e minhas cunhadas olhavam-me com


compreensão e carinho.

— Licença, é aqui que tem uma noiva linda? — Melanie deu duas
batidas na porta, antes de entrar.

— Oi, Mel, entra.

— Uau... Alice, uau... Você está... Maravilhosa! — ela exclamou ao


me ver.

— Obrigada, Mel, você está lindíssima também — retribui o elogio.

Realmente, meus irmãos deram muita sorte, minhas cunhadas eram


lindas e simpáticas.

— Alice do céu, seu noivo vai enfartar no altar. — Luara entrou no


quarto falando.

— Tomara que seja antes do sim — brinquei e elas riram.

— Você está um arraso, mulher, linda demais!


— Obrigada, meninas, vocês são lindas! Meus irmãos não valem
nada, mas deram muita sorte.

As duas assentiram, sorrindo.

— E como você está? — Mel quem perguntou.

— Bem — menti e ambas estreitaram os olhos na minha direção. —


Certo. — Respirei fundo, abrindo um pequeno sorriso. — Estou
conformada, pelo menos estou me casando com o homem que eu amo. Na
verdade não sei se ele ainda é o mesmo homem, mas eu ainda o amo —
confessei, sem vergonha alguma de falar dos meus sentimentos.

— A história de vocês é louca, mas tão bonita — Luara comentou.

— Nem fala, já suspirei várias vezes por vocês dois — Mel falou
rindo, arrancando risadas de mim e Luara.

— Filha, está na hora. — Minha mamma entrou no quarto avisando,


mas logo que ela me viu, arregalou os olhos. — Filha, você não acha que
está um pouco ousado demais? Seu esposo pode não gostar. — Levou a
mão ao peito, parecendo preocupada. — Não arrume confusão, Alice —
pediu apreensiva.

— Desculpe se a minha fala vai parecer um pouco rude, mas ele não
tem que achar nada, mamma. O vestido é meu, foi desenhado por Romeu e
eu não vou abrir mão de usá-lo por nada e nem ninguém.

— Minha filha, você será esposa dele daqui alguns minutos, tente
não desobedecê-lo, por favor, não quero que nada aconteça com você.

— Pode ficar tranquila, não vou fazer nada que possa me machucar.
Mas o vestido não está em negociação, é esse ou então não terá casamento.
— Podemos ligar para Kharoll, ela consegue um vestido para você
em poucos minutos — sugeriu que ligássemos para a estilista que por anos
foi quem atendeu a nossa família.

— Não, mamãe. Está decidido, vou me casar com esse vestido. —


Fui firme na minha fala. — A senhora ouviu que foi o Romeu quem
desenhou? Eu quero me casar com ele! Essa será a última decisão que
poderei tomar por livre e espontânea vontade, depois ficarei feito uma
cadela fazendo tudo que meu esposo mandar.

Vejo Luara e Mel abaixarem a cabeça.

— Desculpa, meninas, não quis dizer que vocês são assim, me


desculpem, por favor — pedi, já arrependida por minhas palavras.

— Tudo bem, Alice, nós entendemos o que você quis dizer — Mel
me tranquilizou com toda a sua calmaria.

— Eu concordo com tudo, ao meu ver você não disse nenhuma


mentira. Te esperamos lá embaixo. — Luara sorriu e segurou na mão de
Melanie, levando-a dali.

— Minha filha… — minha mãe ainda tentou argumentar, mas eu a


interrompi.

— Papai já está pronto? Estou descendo.

Ignorando o pedido da minha mãe, coloquei o anel de noivado no


meu dedo. Enzo deu-me um lindo anel com um diamante branco cravejado.
Ele sabe que eu gosto da cor branca e adorei a escolha que ele fez.

Peguei o meu buquê, também de rosas brancas, e desci as escadas às


pressas, com minha mãe atrás de mim falando na minha cabeça.
Assim que entrei na sala, meu pai me olhou com a mesma expressão
chocada que minha mãe me olhou quando entrou no quarto.

Gente, o que tem demais em um vestido com um decote e justo?


Essas pessoas não sabem o que é bonito. Mulher tem que usar o que ela
quiser e se sentir bem, que saco!

— Vincent, eu tentei falar com ela, mas ela não quis me ouvir —
mamãe explicou.

— Deixe-a, Giovana, Alice não é mais nossa responsabilidade, a


partir de agora ela passará a ser de total responsabilidade de Enzo — falou
com evidente mágoa e raiva em sua voz.

Não iria me condenar por um erro que cometi anos atrás, já estava
pagando o preço por isso. Se ele quer me odiar, então ok, problema dele.

— Então vamos logo — falei, sem paciência para os discursos


conservadores do meu pai.

Talvez eu não fosse tão diferente dos meus irmãos quanto eu


pensava, afinal, estava pouco me importando com a opinião dos outros.

O jardim da casa dos meus pais foi todo decorado e estava


extremamente lindo, cheio de flores.

Entrelacei o meu braço no do meu pai e assim que a marcha nupcial


começou a tocar, entramos. Fiquei olhando fixamente para o chão, pois não
queria olhar para Enzo.

Pude observar algumas pessoas comentarem sobre o vestido, mas


não me importei.
Meu pai entregou-me para Enzo sem falar absolutamente nada. Isso
me chateou? Não vou negar que sim, mas tudo bem, ele estava no direito de
odiar a filha pecadora dele.

Só esperava que ele não tivesse tantos pecados para pagar, já que era
um ótimo julgador.

Levantei a cabeça, encontrando os olhos de Enzo fixos em mim. Por


Deus, por que eu amo tanto esse homem?

— Você está linda, Alice! — elogiou-me, sorrindo. — Adorei a


escolha do vestido. — Meu coração quase parou quando ouvi e um enorme
sorriso brotou em meus lábios.

Fiquei tão feliz que ele tenha gostado da minha escolha e que não
esteja me repudiando como tantas outras pessoas.

A cerimônia aconteceu bem rápido, fizemos nossos votos, dissemos


sim um para o outro, trocamos alianças e pronto… estávamos casados, para
toda eternidade.

— Eu vos declaro marido e mulher — o juiz de paz sentenciou. —


Pode beijar a noiva.

— Para sempre minha — Enzo falou, prendendo-me de um jeito


surreal em seu olhar, como se não houvesse mais ninguém ao nosso redor.

Lentamente fui fechando os olhos, conforme o seu rosto se


aproximava do meu. Suas mãos firmes seguraram em minha cintura,
colando nossos corpos e os seus lábios tocaram os meus.

Meu corpo tremeu e eu tive vontade de chorar. Não sabia explicar o


que estava sentindo, se era felicidade extrema por estar me casando com o
homem que eu amava, ou tristeza por saber o quanto ele me odiava.
A festa aconteceu e foi legal, eu dancei muito com Melanie e Luara.
Rimos e comemos bastante. Quem nos via de fora, até pensaria que esse era
o casamento mais feliz do mundo e que éramos mulheres realizadas na vida.

Enzo chegou perto de mim apenas duas vezes, na hora de cortar o


bolo e na hora da dança, depois ele se afastou e até lançava uns olhares na
minha direção, mas não passou disso.

O caminho feito até o apartamento que Enzo estava hospedado aqui


na Itália foi feito em absoluto silêncio, a única vez que ouvi alguém falar foi
quando Saymon nos parabenizou.

Assim que pisei dentro do apartamento, senti um calafrio percorrer


todo o meu corpo. Parecia até a minha primeira vez, de tão nervosa que eu
estava.

— Suba, o quarto é o primeiro à sua direita — orientou-me.

— Você não vai subir? — Virei-me para perguntar e o encontrei me


olhando fixamente.

— Daqui a pouco, vou esperar você se ajeitar, enquanto isso vou


beber alguma coisa. — Apontou para o pequeno bar montado na sala.
— Você não fuma mais? — decidi perguntar, era algo que eu havia
reparado desde quando o encontrei. Enzo não cheirava mais a nicotina e não
o vi pegar no cigarro hora nenhuma desde que nos reencontramos. Logo ele
que fumava tanto.

— Não.

— Ah, sim! Fico feliz por você. — Sorri. Feliz por mim também por
não ter que aguentar mais aquele cheiro horrível. — Vamos ficar morando
aqui?

— Não, vamos embora amanhã bem cedo.

— Ahh! — Mordi o cantinho da boca, desanimada com a sua


resposta. — Você gostou mesmo do meu vestido? — Apesar de estar
puxando conversa por estar nervosa, eu queria mesmo saber.

— Muito, ele combinou perfeitamente com você.

— Foi Romeu quem desenhou. — Senti minha voz falhar ao falar


do meu amigo e engoli em seco.

Enzo assentiu e ficamos alguns segundos em silêncio.

— Agora suba, Alice — ordenou, mas não com ignorância, sua voz
era calma.

— A gente não precisa disso, não sei se você se lembra, mas eu não
sou mais vir... — Nem conclui a frase e ele me interrompe.

— Só sobe, Alice. Apenas hoje, faça o que estou te pedindo sem


questionar.

Encarei os seus olhos e balancei a cabeça em sinal afirmativo. Virei-


me e subi as escadas, indo para onde ele havia indicado. Assim que abri a
porta, a camisola rosé, que usei na nossa primeira vez e que ele havia me
enviado, estava em cima da cama.

Como ela veio parar aqui se estava comigo no ateliê?

Balancei a cabeça de um lado para o outro. Tanto faz como veio


parar aqui, Enzo sempre conseguia o que queria mesmo. Deve ter invadido
meu ateliê para pegar.

Tirei o vestido com todo cuidado, colocando-o em cima de uma


poltrona que tinha no canto do quarto e fui para o banheiro. Não quis encher
a banheira, então tomei um banho rápido de chuveiro.

Assim que terminei de me vestir, senti a sua presença atrás de mim e


me virei, encontrando-o encostado na parede, com as mãos no bolso da
calça, sem paletó e a camisa social tinha uns três botões abertos. Havia um
pequeno sorriso brincando em seus lábios.

Enzo era lindo!

— Linda, Alice — elogiou-me, com a voz baixa e rouca.

— Você não está nada mal também — falei sorrindo e ele também
sorriu com a minha resposta.

Eu estava morrendo de saudades desse Enzo, era esse o meu amor, o


homem que eu amava e sempre amei.

Ele se aproximou de mim lentamente e eu não recuei, fiquei ali


paradinha. Não tinha intenção nenhuma de recuar.

Uma mão encaixou na minha nuca, segurando meus cabelos com


firmeza e a outra na minha cintura, puxando-me contra ele.
— Cheirosa. — Aspirou o meu cheiro, passando a barba pelo meu
pescoço.

Pude sentir o quanto estava duro, roçando em minha barriga. O que


só me deixou ainda mais desejosa.

Seus lábios distribuíram beijos pelo meu pescoço. Nossos olhos se


encontraram, fazendo meu coração acelerar.

Enzo não precisava fazer nada para me deixar com tesão, bastava
ele me olhar como estava me olhando agora: com puro desejo em seus
olhos. Ele me olhava como se na sua vida só existisse eu. E isso era bom
pra caramba.

Sorrimos juntos, sem desviar os nossos olhos e para a minha


surpresa, Enzo aproximou o seu rosto rapidamente, beijando o meu sorriso.
O choque que percorreu todo o meu corpo quando seus lábios encostaram
nos meus foi o suficiente para grudar em sua nuca e aprofundar o beijo. Eu
queria e merecia mais dos seus beijos.

Caminhamos tropeçando nas coisas até chegarmos na cama, onde


ele me deita com cuidado, sem desgrudar nossas bocas. O beijo era voraz,
cheio de luxúria, mas com evidente amor.

Em completo desespero, comecei a tentar abrir os botões da sua


camisa e ele abaixou as alças da minha camisola, libertando os meus seios,
que receberam atenção das suas mãos. Após tirar sua camisa, abriu sua
braguilha, tocando no seu pau por cima da cueca.

Ele interrompeu o beijo para que pudéssemos respirar e ao descer a


mão, tocando no meio das minhas pernas, rosnou.
— Porra, Alice. Sem calcinha. — Enfiou um dedo dentro de mim e
tombei a cabeça para trás gemendo.

— A calcinha não era necessária — falei, choramingando ao sentir


mais um dedo me invadir.

— Porra, Alice! Eu vou fodê-la tanto — prometeu, fazendo-me


ansiar por isso. — Agora chupe. — Tirou os dedos de dentro de mim e
levou até a minha boca. Eu os chupei sem desviar os olhos dele, lambendo
todo o seu dedo.

Ele gemeu, parecendo apreciar a cena erótica. Puxou meus cabelos


com força e encostou nossas testas.

— Você é minha, Alice. — Passou a língua por meus lábios,


lambendo-os. — Toda minha! — Mordeu meu lábio inferior e desceu,
mordendo o meu queixo e indo para os meus seios.

Nossa… Enzo chupou os meus peitos com tanta vontade, sugando,


mordendo e lambendo o bico enrijecido, que eu estava a ponto de gozar,
mas assim que ele percebeu, parou. Tirou minha camisola e quando beijou a
minha barriga, senti o meu corpo inteiro tremer.

Tudo que eu pensei era que ali já havia sido morada, mesmo que por
poucos dias, do fruto do nosso amor.

— Não chora — pediu, encarando-me, e sorriu, dando outro beijo


naquela região. — Eu nunca aceitaria te perder — afirmou, fazendo-me
engolir em seco.

Eu também não queria que ele me perdesse.

Enzo se levantou, terminando de tirar a sua roupa, e eu salivei ao ver


seu pau majestoso. Caramba, esse homem foi desenhando, ele era todo
lindo!

Ajoelhou-se no pé da cama, puxando-me para a beirada, massageou


e beijou os meus pés, esse era um costume que ele sempre tinha de fazer
quando íamos transar, Enzo dizia que me venerava. Seus beijos subiram por
minhas pernas, junto com as suas enormes mãos que me apertavam,
levando-me ao delírio.

Ele nem me chupou ou tocou, mas eu já queria gozar.

Sua língua finalmente chegou na minha boceta e, ao sentir a


quentura, meu corpo estremeceu e eu gritei.

— Enzo, eu vou gozar — avisei, não estava conseguindo mais me


segurar.

— Se controla, Alice. — Sorriu, safado e praticamente me devorou,


chupando-me sedento.

Agarrei nos lençóis da cama e os espasmos me atingiram com força.

— Ahhh! Enzo! Ah! — Deixei que o orgasmo tomasse conta de


mim e explodi num delicioso gozo.

Enzo não quis esperar que eu me recuperasse e rapidamente se


levantou, encaixando-se e me invadindo de uma só vez. Gritei e ele tomou
os meus lábios, bebendo dos meus gemidos enquanto entrava e saia de
dentro de mim. Rápido. Forte. Duro. Fundo.

Cravei minhas unhas em seus braços, arranhando-o com força


enquanto delirava de tesão com os seus movimentos intensos de vai e vem.
Estava tão molhada que Enzo não teve dificuldade alguma de deslizar o seu
pau para dentro de mim com força.
— Enzo, eu vou gozar de novo — avisei, arqueando o corpo de
encontro ao seu, buscando por mais atrito.

— Então goze, Alice — seu pedido, sussurrado contra os meus


lábios, foi o estopim para que eu me deixasse levar pelo segundo orgasmo
da noite, gozando fortemente.

— Ah, Alice! — Enzo chupou meus lábios de maneira sensual e


gostosa. — Você é incrivelmente deliciosa — falou calmamente enquanto
se enterrava dentro de mim, mas desta vez devagar.

Após dar-me prazer por completo, ele se afastou, pegando algo na


mesinha ao lado da cama. Estreitei os olhos, confusa e um tanto assustada
quando vi que em sua mão estava uma pequena lâmina e um band aid[xii].

— O que vai fazer com isso? — indaguei, apreensiva.

— Fica quietinha — pediu, rapidamente passando a lâmina bem


devagar no interior da minha coxa, logo cobrindo o lugar com o curativo.
Não senti nem a ardência por ter feito um corte tão pequeno.

Enzo beijou-me, jogando o que estava na sua mão no chão e entrou


em mim novamente, fazendo-me esquecer da loucura que acabou de
acontecer.

Novamente ele se afastou e estendeu a mão para mim. Segurei-a,


sem saber o que me esperava e com as pernas bambas, caminhamos até o
closet.

— Aqui. — Colocou a mão sobre o balcão de vidro que ficava no


centro do cômodo. — Fique de quatro aqui para mim, Alice. Bem
empinada, na frente do espelho, quero fodê-la podendo apreciar a beleza do
meu pau entrando na sua boceta.
Estremeci diante da sua fala e, posso jurar que quase gozei sem que
Enzo me tocasse. Não havia nada mais sexy que a sua voz rouca junto com
o seu olhar demonstrando evidente tesão.

Fiz exatamente o que pediu, debrucei sobre o balcão, abri bem as


pernas e me empinei. Um tapa estalado na minha nádega direita me fez
arfar, seguido por outro na esquerda.

— Você fica ainda mais gostosa quando me obedece sem questionar


— sussurrou no meu ouvido e mordeu o meu pescoço.

Desceu mordidas por minhas costas e bunda, dando tapas e depois


beijando o local ardido.

— Enzo, por favor… — choraminguei, ele estava me torturando.

— O que você quer, Alice? — Mais um tapa, seguido de uma


mordida e beijos.

— Ahhhh!

— Pede e eu te darei. — Outro tapa, dessa vez na minha boceta. Eu


gritei. — É pau que você quer?

— Simmmm — praticamente implorei.

— Então pede. — Novamente bateu na minha boceta. Eu já estava


pingando.

— Enzo, me fode! — berrei, desesperada para gozar.

E assim ele fez. Entrou em mim, batendo a sua pelve contra a minha
bunda e metendo com força, segurando forte em minha cintura para me
manter de pé. Enzo parecia gostar da visão privilegiada que estava tendo,
pois seus olhos pareciam estar em chamas, enquanto ele urrava.
Fechei os olhos e apertei o balcão com força, sentindo os espasmos,
mais uma vez, me atingirem.

— Abre os olhos, morena, quero que você veja sua cara de safada
enquanto goza — pediu, apertando-me ainda mais forte e entrando ainda
mais fundo.

Era alucinante.

E eu gozei, como gozei. Explodi num gozo arrebatador e se não


fosse por suas mãos enormes me amparando, eu teria caído no chão, porque
minhas pernas viraram gelatinas.

Senti Enzo gozar logo depois, esporrando seu líquido quente dentro
de mim.

Como um bom cavalheiro que lembrava que ele era, pegou-me no


colo e levou-me para o banheiro, colocando-me dentro da banheira e
ligando a água morna. Eu estava exausta, não conseguia nem falar, porém
estava completamente satisfeita.

Poder assistir as minhas expressões enquanto gozava, logo após


vendo a dele, foi erótico demais, muito satisfatório.

Ele não ficou no banheiro comigo, voltou para o quarto e voltou


segundos depois, com uma toalha enrolada na cintura. Tirou-me com
cuidado da banheira, enrolando-me num roupão e voltando comigo no colo
para o quarto.

O lençol da cama já havia sido trocado. Fui colocada na cama,


tampada e não esperei nem mais um segundo, fechei os olhos e deixei o
sono tomar conta de mim .
Capítulo 20
Alice Caccini

Acordei com a claridade do sol invadindo o quarto, olhei para o lado


da cama e não o encontrei, inclusive, parece que ele nem deitou aqui, pois
seu lado da cama estava bem arrumado.

Foi inevitável não sentir uma pontinha de tristeza ao saber que


depois do sexo incrível que tivemos na nossa noite de núpcias, ele me
deixou dormindo sozinha.

Ontem foi tão gostoso que cheguei a me iludir, pensando que as


coisas ficariam bem entre nós dois.

Despertei-me dos meus pensamentos ao ouvir alguém bater na


porta.

— Senhora Ziegler. — Fiz uma careta ao ouvir Saymon me chamar


assim. — Iremos sair dentro de uma hora — falou alto para que eu pudesse
ouvir.

— Tá bom, Saymon, obrigada. — Levantei da cama e fui para o


banheiro fazer minha higiene matinal.

Olhei-me no espelho e revirei os olhos, agora não era mais uma


Caccini, agora era a senhora Ziegler.

Adiantei, deixando meus pensamentos de lado e fui para o closet,


encontrando minhas malas no canto. Abri e peguei a roupa que estava por
cima, a mais fácil.
Desci as escadas em passos vacilantes, não sabia qual Enzo estaria
me esperando. Encontrei-o sentado na varanda tomando café e vendo
alguma coisa no celular. Aproximei-me lentamente.

— Bom dia! — falei com a voz trêmula.

— Tome seu café logo, já estamos de saída. — Enzo nem me olhou,


apenas informou, se levantou e saiu.

Fechei os olhos, respirando fundo.

Perdi até a fome com esse jeito mal-humorado dele. Tomei apenas
um café preto e me levantei. Saymon me avisou que as malas já estavam no
carro e que Enzo me esperava na garagem.

Entrei no banco do carona e Enzo já ocupava o lugar do motorista.


Saymon entrou no carro da frente, dando partida e assim que saímos, mais
um carro veio nos seguindo atrás.

— Estamos indo para a sua casa na Alemanha? — arrisque


perguntar.

— Sim.

— Eu posso passar na minha casa para me despedir dos meus pais?


E do Cris?

Engoli em seco, já sabendo que deixaria toda a minha vida aqui para
trás.

— Lá não é a sua casa — corrigiu-me, ainda sem me olhar,


prestando atenção no trânsito.

Dei de ombros.
— Certo, posso passar na casa dos meus pais? — reformulei a frase.

— Não temos tempo — respondeu de maneira ríspida.

— Por que estamos indo embora às pressas?

— Tenho assuntos para resolver, já fiquei tempo demais aqui.

Não ousei perguntar mais nada. Olhei pela janela e me mantive em


silêncio durante todo o trajeto até o aeroporto, onde pegamos um jato
particular e fomos para a Alemanha. Ele apenas me perguntou se eu queria
comer algo enquanto viajávamos e depois não falou mais nada.

Dormi bastante durante o voo e mesmo assim, quando pousamos,


sentia-me cansada.

Enquanto Enzo dirigia para a sua casa, lembranças da primeira vez


que estive aqui surgiram em minha mente, fazendo meus olhos marejar.

Coloquei os pés dentro de casa e meu coração parecia querer sair do


peito, batia acelerado demais.

Olhei para os lados, engolindo em seco, segurando a vontade de


chorar. Se eu não tivesse ido embora, talvez já estivesse casada com Enzo
há algum tempo e nosso filho estaria aqui, já grandinho e correndo pela
casa.

Se eu pudesse voltar atrás...

— Suba com as coisas para o quarto, Saymon, irei para o escritório.


— A voz dele despertou-me e o encarei.

— Sim, senhor.

Saymon começou a pegar as malas para levá-las ao quarto.


— Enzo, você chegou. — Mayla apareceu na sala sorrindo, mas seu
sorriso sumiu quando me viu. — Seja bem-vinda de volta, Alice.

— Oi, Mayla — devolvi o cumprimento sem emoção, não estava


afim de ser simpática com ninguém.

— Querido, vamos para o escritório conversar? — chamou,


passando a mão pelo braço de Enzo.

Querido? Ela chamou ele de querido?

— Enzo, vamos subir? — chamei, minha voz saindo carregada de


raiva.

— Eu não vou, mas você pode subir, Alice. Você tem muitas coisas
para organizar.

Organizar? Do que ele está falando?

— Vai lá, Alice. — Mayla sorriu para mim de uma maneira


debochada.

Ou no passado ela realmente quis me ajudar ou só queria liberar o


caminho mesmo.

Quer saber? Não ia ficar aqui aturando esses dois. Subi as escadas
em passos fortes, meus saltos fazendo um barulhão ecoar por toda a casa.

Entrei no quarto feito um furacão e bati a porta com toda força que
eu tinha.

Que raiva! Eu estava morrendo de ciúmes.

Toc-toc.
— Dona Alice? — Ouvi a voz de Maria, a mulher que trabalhava na
casa há muitos anos e que fazia uma comida deliciosa.

Abri a porta e sorri para ela.

— Maria, que bom revê-la. — Puxei a pequena senhora para um


abraço.

— Fico muito feliz em ver a senhora de volta nessa casa. Deseja


alguma coisa para comer ou beber?

— Não, estou bem. Obrigada!

— O senhor Enzo pediu que eu delegasse algumas funções para a


senhora. — Torceu o nariz, parecendo um pouco sem graça.

— Que funções, Maria? — Estreitei os olhos, confusa.

— A princípio a senhora irá arrumar o closet e o quarto, depois me


ajudará na cozinha, e ao longo da semana irei distribuindo alguns afazeres
para que você possa fazer. — Pisquei algumas vezes e abri a boca,
desacreditada. — Desculpe, dona Alice, são ordens, eu tenho que segui-las.
— Abaixou a cabeça, envergonhada.

— Tudo bem, você não tem culpa. — Segurei em sua mão,


tranquilizando-a.

— Irei providenciar as coisas que a senhora vai precisar para limpar


o quarto.

— Maria, eu nunca fiz isso, não sei nem por onde começar — fui
sincera e ela riu.

— Eu vou auxiliar a senhora.


— Por favor, pare de me chamar de senhora. Me chame apenas de
Alice.

— Como preferir. — Assentiu sorrindo e saiu para buscar as coisas


que iria precisar para limpar aqui.

Eu estava espumando de ódio. Aquele boçal ia me colocar para


limpar o chão que ele e a vaca da Mayla pisavam.

Não estava falando que limpar chão fosse uma coisa indigna, mas
ele estava fazendo isso para me humilhar.

Ele sabia que eu nunca sequer peguei uma vassoura na vida. Que
raiva! Agora estava com vontade de pegar a vassoura e sentar na cabeça
dele.

Maria voltou e me explicou o que tinha que fazer. Suspirei cansada


antes mesmo de começar. O quarto era grande, o banheiro era grande, tinha
o closet ainda que tinha que organizar todas as roupas e depois ainda tinha
que ajudá-la com a janta.

Mas como eu não era mais uma mulher que desistia das coisas fácil,
muito menos daria a ele o gostinho de me ver sofrendo. Arregacei as
mangas e fui para o closet, por onde eu iria começar. Confesso que senti
vontade de deixar as roupas dele todas fora de ordem, mas não ia arrumar
confusão.

Arrumei o quarto, troquei os lençóis da cama como foi recomendado


por Maria e por fim fui para o banheiro. Lavei, deixando tudo limpinho.

Nossa, eu estava exausta! As faxineiras precisavam ser mais


reconhecidas, o serviço era cansativo demais.
Joguei-me no sofá que tinha no canto do quarto, ofegante, suada e
exausta. Tudo que eu queria era um banho, paz e cama.

— Oi, Alice. — A porta se abriu e eu dei um pulo da cama ao ouvir


de quem era aquela voz.

— Você? O que está fazendo aqui? — Arregalei os olhos.

Após o susto inicial, abri um enorme sorriso e corri em sua direção,


não me importando em estar suada e jogando-me em seus braços.

— Você chegou agora? Enzo te trouxe? Estou tão feliz em vê-lo! —


Embolei-me nas palavras, atropelando tudo.

— Sente-se, temos muito o que conversar — Cris falou com um


semblante sério, estava até estranhando esse seu jeito.

Nos sentamos um de frente para o outro e tornei-me a ficar eufórica.

— É tão bom te ver aqui, você vai ficar, não é? Você não sabe o que
o energúmeno do Enzo fez comigo, você acredita que ele me colocou para
limpar esse quarto e eu vou ter que ajudar a Maria nas tarefas de casa? Não
que isso seja uma coisa indigna, mas ele estava fazendo de propósito, ele
queria me humilhar na frente da Mayla. Aposto que eles tem um caso e ela
não me ajudou no passado por gostar de mim e sim para ficar com ele.

— Alice, calma, deixa eu falar... — pediu, segurando na minha mão.


— Eu sei de tudo isso que Enzo fez com você.

— Sabe? — Estreitei os olhos, confusa. — Você chegou a tempo?


Por que não veio me ver antes?

— Ele me disse que faria, mas eu não estou de acordo.


— Ele te disse? — exclamei, chocada que até com Cris que ele nem
conhece, ele tem falado sobre essas coisas.

— Eu preciso te contar algumas coisas, mas quero que você escute


tudo com muita atenção e mente aberta.

— Claro, pode falar, estou prestando atenção. — Ajeitei-me no sofá,


encarando-o.

— Eu conheço o Enzo há algum tempo.

Mas que porra é essa?

— Conhece? Como assim conhece? E por que nunca me disse nada?


— minha pergunta saiu estridente.

Meu coração começou a ficar apertado.

— Eu fui morar nos Estados Unidos para cursar fotografia e design


em Harvard[xiii]. — Cris fez uma pausa dramática e encarou-me com certa
tristeza.

— Continua! — Não foi um pedido, eu estou exigindo que ele


continue contando.

— Eu sou irmão por parte de pai da Mayla, sou o filho fora do


casamento. — Ia abrir a boca para falar, mas ele me impediu. — Deixa eu
terminar e depois você tira as suas conclusões, ok?

Assenti, sem saber ainda o que falar ou pensar.

— Durante esse período de faculdade, perdi minha mãe e acabei


ficando sozinho, então Mayla me convenceu a voltar para Alemanha e aqui
eu conheci Enzo. Não estava fácil conseguir um bom emprego e viver uma
vida normal, porque apesar de eu ser um bastardo, eu ainda tenho sangue da
máfia correndo em minhas veias. Enzo me ofereceu um emprego e eu
aceitei. Eu sempre gostei de fotografar paisagens e flores, sempre fui muito
apaixonado por flores, gostava de estudá-las Ele sugeriu que eu cuidasse do
jardim e o salário era o dobro do que eu podia imaginar ganhar como
fotógrafo, e podia residir aqui, na casa dele. Sendo assim, passei a ser seu
funcionário.

— Claro... Por isso você conhecia tanto sobre flores — concluí. Cris
sabia o significado de todas as flores que Enzo me enviava.

— Exatamente.

— Como eu não me lembro de você? — Pisquei, confusa.

— Eu voltei exatamente um mês depois de você ir embora.

— Você me enganou esse tempo todo... — sussurrei, sentindo o meu


coração doer ao processar o que ele estava falando significava.

— Não.

— Não? — Dei uma risada irônica.

— Em partes sim, eu te enganei, mas minha amizade foi totalmente


verdadeira.

— Continua… — pedi entredentes, eu precisava saber de mais.

— Depois de alguns meses, ele descobriu quem você era e onde


morava, descobriu que você havia perdido um grande amigo e que se sentia
muito sozinha, então ele pediu que eu fosse para lá, fez a carta de
recomendação, no nome de outra pessoa, claro, e o resto você já sabe.

— Aí eu recebi a recomendação sobre você, te contratei, deixei você


entrar na minha vida, te tornei meu amigo e você me traiu, você me
enganou. — Mordi o canto da boca, respirando fundo e segurando a lágrima
que queria descer, pois eu sabia se deixasse ela escorrer, não conseguiria
segurar a enxurrada que viria depois.

— Me desculpa, Alice, eu não tinha escolha. — Abaixou a cabeça.


— Trabalho para ele e preciso cumprir as suas ordens.

— Por isso ele sabia que Harry estava lá, por isso a camisola no
quarto, você contava tudo, você me enganou. — Levantei, atordoada,
afastando-me dele.

— Eu não contava tudo, eu nunca contei os seus segredos.

— Ah, jura? — Ri, histericamente. — Você mentiu para mim, você


me enganou, seu falso! — gritei, querendo voar no seu pescoço e
estrangulá-lo.

— Me desculpe, Alice.

— Você é gay?

— Sim, isso também é verdade. — Abriu um sorriso fraco.

Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando me acalmar e


organizar os meus pensamentos.

— Eu perdi meu melhor amigo e demorei a confiar em outra pessoa,


mas eu abri meu coração e confiei em você, fiz de você meu amigo... —
Comecei a andar de um lado para o outro. — Eu não merecia ser traída
dessa maneira! — berrei. — Enzo não podia ter feito isso comigo, ele sabia
como Romeu era importante na minha vida e ele foi lá e colocou você para
se fingir de meu amigo num momento difícil da minha vida, onde eu tinha
perdido tudo, tudo!
— Eu não fingi ser seu amigo. — Apertei bem os olhos, bufando. —
Me desculpa.

— Não me peça desculpas, porra! — continuei gritando. — Eu


odeio vocês, odeio todos vocês!

Cris se levantou, se aproximando de mim. Estendi a mão, impedindo


que chegasse mais perto.

— Não! Não chegue perto de mim!

— Alice, tenta me entender.

— Te entender? — Gargalhei. — Você me entendeu? NÃO! Você


não me entendeu, você traiu a minha confiança, você traiu minha amizade!
É por isso que eu odeio a máfia, é exatamente isso que ela faz com as
pessoas, as usam, as destrói.

— Desculpa.

— Nunca mais me dirija à palavra.

Virei as costas e saí do quarto, marchando em passos firmes para o


escritório de Enzo.

Abri a porta com tudo, sem bater.

— Seu desgraçado! — xinguei Enzo. — Você usou o Cris para me


enganar, para vigiar a minha vida! — acusei-o, cuspindo as palavras com
raiva.

— Acalme-se, Alice, vamos conversar — pediu, com toda a sua


tranquilidade irritante.
— O quê? Você vai negar? Vai dizer que é mentira? Ele já me
contou tudo!

Pouco me importava que eu estava feito uma louca, gritando por


todos os cantos. Eu queria extravasar, liberar essa mágoa que estava me
sufocando.

Enzo entrou na minha vida há três anos feito um rolo compressor e


continua a me esmagar.

— Não vou negar nada, apenas conversar.

— Enzo, melhor nem perder o seu tempo conversando agora, olha


como ela está descontrolada, não vai te ouvir — Mayla falou. Só então me
dei conta de que ela estava ali.

— Cala a boca, sua vadia, não se mete! — Despejei um pouco da


minha fúria nela.

— Olha como você fala comigo, garota!

— Mayla — Enzo chamou a atenção dela.

— Enzo, ela que está me ofendendo.

— Saí! Saí! Sai daqui, sua vadia! — vociferei, totalmente irritada.


— É melhor você sair antes que eu meta a mão na sua cara!

Estava tão atordoada que fiquei fora de mim. Os dois me olhavam


com espanto, Enzo acenando para ela que saísse da sala sem falar nada.

— Alice, você precisa se acalmar. — Ele se levantou, aproximando-


se de mim.
— Não chegue perto de mim. — Apontei o dedo na sua direção. —
Vocês me enganaram! — Quando dei por mim, já estava chorando.

A decepção era muito grande. Perdi meu melhor amigo, fiquei


fragilizada, conheci uma outra pessoa incrível e descobri que era tudo
mentira.

— Eu sei que nesse momento você está nervosa e não consegue


pensar direito. Eu pedi sim que Cris se aproximasse de você, queria que ele
te vigiasse sim, não vou mentir. — Encarei os seus olhos. — Mas eu queria
que ele fosse seu amigo, eu fiquei sabendo que você perdeu o Romeu,
imaginei o quanto você estava sofrendo. — Me inclinei para frente,
apoiando as mãos nos joelhos e chorando copiosamente. — Eu queria que
ele preenchesse as lacunas.

— Ninguém nunca vai ocupar o lugar que era do Romeu, eu abri um


novo espaço para o Cris. Eu o aceitei em minha vida, confiei nele, contei
tantas coisas para ele, achei que ele estivesse do meu lado, mas era tudo
mentira, ele traiu a minha confiança. Doía, a traição da amizade doía muito.

— É impossível substituir o Romeu, eu sei disso. — Ele se abaixou


na minha frente e segurou no meu rosto. — Posso imaginar o quanto você
sofre com isso até hoje. O Cris era uma válvula de escape.

— Você quer me destruir, você quer acabar comigo, não é? A única


coisa que você esqueceu é que eu já sou destruída a muito tempo. Eu perdi
o homem que amo, perdi meu filho, meu melhor amigo e agora outro
amigo. Não tem nada que faça que vai doer mais do que todas essas coisas.

Me levantei e dei as costas para Enzo, voltando para o meu quarto,


mas quando passei pela sala, Cris estava lá, em pé e me encarando com
lágrimas nos olhos.
Traidor…

— Alice, um dia você vai me perdoar?

Parei no primeiro degrau da escada e pensei em respondê-lo, gritar


em seu ouvido tudo que eu estava sentindo, mas desisti. Estava magoada
demais para discutir.

Subi sem falar mais nada, entrei no quarto e me joguei na cama,


pronta para chorar mais e tentar diminuir pelo menos um pouco toda a dor
que me consumia.
Capítulo 21
Alice Caccini

Duas semanas depois daquele episódio e as coisas estavam mais


tranquilas do que eu imaginava.

Tenho ignorado todos eles e eles também me ignoravam, menos o


Cris, esse tentava puxar conversa comigo diversas vezes, mas em todas ele
era ignorado com sucesso.

Enzo só ficava dentro do escritório ou na rua resolvendo as


podridões do seu império.

Não fazia nenhuma refeição com eles, como na cozinha ou no


quarto, não queria estar perto e nem fingir que éramos todos uma grande
família feliz. Enzo nem se importava, porque nunca veio atrás para saber
onde eu estava e se estava comendo. Se eu falar que isso não me entristecia,
eu estaria mentindo, mas deixava pra lá.

Cada dia que passava, eu e Maria nos tornávamos mais próximas,


afinal, passava o dia todo com ela, ajudava na limpeza da casa e na cozinha.
Tenho aprendido muita coisa, já sabia até cozinhar o básico… nunca se sabe
quando vai precisar, não é? Eu nunca me imaginei passando por isso e cá
estou eu.

Estava muito desconfiada sobre a relação de Mayla e Enzo, já tentei


até extrair alguma informação com Maria, mas ela não fala nada,
absolutamente nada.
No passado, todas as vezes que perguntei a ele sobre ela, ele me
garantiu que não enxergava ela dessa forma, mas vai saber, as coisas
mudam.

Essa vaca tentava me humilhar de todas as formas. Quando me via


arrumando alguma coisa, passava e soltava alguma piadinha ou risadinha
irônica. Vinha na cozinha só para me perturbar e encher o saco, mas eu
acabei facilmente com as suas gracinhas quando ameacei contar para Enzo
que foi ela quem me “ajudou” no passado.

Ajudou, sei… a vaca queria o caminho livre.

Não falei nada com Enzo ainda, porque do jeito que ele estava,
duvido que acredite em mim.

— Vou avisar ao senhor Enzo que temos que fazer compras —


Maria me avisou, lavando as mãos e secando para ir até lá.

— Deixa que eu aviso.

— Tem certeza?

Maria sabia que eu estava tentando me manter o mais afastada


possível de todos eles.

— Tenho sim.

Talvez eu indo pedir, ele deixe eu ir ao mercado. Não aguentava


mais ficar trancada aqui, queria sair um pouco.

Aproximei-me do seu escritório e a porta estava entreaberta. Escutei


as vozes de Enzo e Mayla, ambos pareciam um pouco alterados.

— Não estou com tempo, Mayla. — Escutei Enzo falar.


— Enzo, desde que a Alice chegou aqui, você não tem nem
conversado comigo direito, o que mudou?

— Nada mudou, apenas estou com muita coisa para resolver e sem
cabeça para essas bobagens.

— Bobagens? — Ela soltou uma risada irônica. — Desde quando


sexo para você é bobagem?

Arregalei os olhos ao ouvir isso.

Eu entendi bem, ela falou sexo? SEXO?

Porra, eles estão transando!

Enzo era um mentiroso, um safado!

Enfiei as unhas na palma da mão, tentando me controlar.

— Já disse que não estou com tempo para essas coisas e muito
menos para essas conversas, não enche o meu saco. — O tom de voz dele
era rude.

— Olha a maneira que você está falando comigo? Antes daquela


garota voltar para essa casa, você não falava assim comigo.

Ela fez uma voz manhosa e eu revirei os olhos, sentindo nojo.

— Aquela garota, Mayla, se chama Alice, ela é minha esposa e dona


dessa casa.

Receba essa, sua vaca!

Quase pulei, mas me contive.


— Você já se esqueceu de tudo que passou por causa daquela
garota? Se não fosse eu e Saymon, você nem aqui estaria mais. Faça o
favor, Enzo, você ficou na merda por ela, ela te deixou na merda! Você acha
que dessa vez vai ser diferente? Você está se iludindo se acha que alguma
coisa mudou, Alice não gosta de você!

Quem ela pensava que era para afirmar o que sentia ou não?
Mocréia!

— Eu sei que somos amigos, mas isso não te dá e nunca te deu o


direito de se meter na minha vida dessa forma. Sou extremamente grato por
tudo que vocês dois fizeram e é exatamente por isso que vou relevar o que
você está falando, mas eu espero, de verdade, que você não esqueça com
quem está falando, pode chegar uma hora em que eu vou esquecer dessa
gratidão.

— Me desculpe, só estou com medo de que você esqueça tudo que


já passou e perdoe ela.

— Quanto a isso você pode ficar tranquila, não vai acontecer.

Meu coração se apertou e suspirei chateada ao ouvir isso.

— Então me toca, Enzo, estou com saudades da gente, saudades do


nosso sexo insano.

Rapidamente coloquei a mão na boca para impedir que eu fizesse


qualquer barulho. Não acredito que ela falou isso!

Céus, eles transam… porra, eles transam!

Pensei em entrar, mas resolvi esperar para ver qual a reação dele.
— Vai falar que não gosta do nosso sexo? Hein? Deixa eu te lembrar
como é gostoso.

Estava enojada.

— Não, Mayla, porra! Eu já disse que não quero — falou alto e de


maneira ríspida. — Eu sou casado!

— Um casamento de mentira, o que é que tem? E mesmo que fosse


um casamento de verdade, eu não me importo.

— Não. Eu já disse que não. Não vou trair a minha esposa nem com
você e nem com ninguém. Sou casado e peço que você respeite isso. Nossa
relação é estritamente profissional a partir de agora e se quiser, nossa
amizade pode permanecer, mas com respeito. Não teremos nenhum tipo de
envolvimento além desse.

— Você está de brincadeira, não é? Você não pode estar falando


sério. Você continua apaixonado por ela e ela não está nem aí para você,
você ouviu? Nem aí! essa menina não gosta e nem nunca gostou de você.

Ah, sua cadela! Minha vontade era entrar e dar uns tabefes na cara
dela, mas preferi ouvir mais um pouco.

— Isso não vai fazer com que eu a traia, nada vai fazer, agora deixa
eu trabalhar em paz.

— Você sabia que é feio ouvir atrás da porta?

Gritei ao tomar um susto.

— Que droga, Saymon! — vozeei, levando a mão no coração.

Na hora do susto, acabei esbarrando e abrindo de vez a porta. Virei-


me lentamente e encontrei os dois me encarando.
— A quanto tempo você está aí, Alice? — Enzo perguntou com uma
expressão preocupada.

— Tempo suficiente — respondi de cara fechada.

E se Saymon não tivesse me descoberto, eu estaria por mais tempo


ainda.

Mayla sustentava um sorriso debochado no rosto.

— Cadela rejeitada — falei com ela, que rapidamente fechou a cara


e o sorriso morreu.

— Enzo, eu até tento ignorar essa garota, mas ela abusa! — Mayla
resmungou.

— Pode tirar essa pose de boa moça, sua vadia. Estava agora mesmo
dando em cima de um homem casado e sendo totalmente rejeitada. É ruim,
não é, Mayla? É ruim querer um homem que você nunca vai ter.

Ela avançou na minha direção, mas Enzo foi mais rápido e se


levantou, segurando ela.

— Nunca, jamais na sua vida, pense em fazer qualquer coisa com


ela ou esquecerei todos os anos que te conheço e toda e qualquer
consideração que eu tenha por você — afirmou, olhando-a nervoso.

Mayla olhou dele para mim com fúria e saiu dali sem falar mais
nada.

Estou vibrando por dentro, mas ao mesmo tempo com muito ódio de
Enzo.

— Podemos conversar, Alice? — perguntou quando ficamos a sós.


— Não. — Virei-me para voltar para a cozinha, mas ele segurou o
meu braço, puxando-me para dentro do escritório e fechando a porta.

— Tentei com educação, mas você sempre prefere o jeito mais


difícil.

Apenas o encarei, sem responder nada. Nesse momento era capaz de


estrangulá-lo, aliás, os dois, de tanta raiva que estava sentindo.

Eu poderia estapear a cara dele, gritar, fazer o maior escândalo, mas


eu só estaria alimentando o seu ego. Por mais que eu quisesse muito surtar
nesse momento, não, não vou fazer isso.

— Se você puder adiantar o que quer conversar comigo, tenho


coisas para fazer — respondi, esforçando-me ao máximo para ser
indiferente.

— Isso foi depois que você foi embora, eu nunca fiquei com ela
quando estava com você — rapidamente se explicou, evidentemente
nervoso, passando a mão na barba.

— Tanto faz. — Levantei as sobrancelhas, encarando-o firmemente.

— Tanto faz? — Estreitou os olhos na minha direção, desacreditado


da minha reação. — Tem certeza que é só tanto faz?

— Sim, tanto faz. Você me disse que nunca viu ela com desejo, mas
estava mentindo. Você não me deve satisfação, Enzo, não precisa ficar se
explicando, eu já entendi tudo.

— Você tem razão, não te devo satisfação, mas queria que soubesse
que nada foi feito por suas costas, eu nunca te trai, quando aconteceu você
já tinha ido embora há muito tempo.
— Claro, eu virei as costas e ela foi te consolar. — Ri,
debochadamente. — Tadinho de você, Enzo.

— Se você não tivesse ido…

Interrompi a sua fala, completando para ele.

— Se eu não tivesse ido embora isso não teria acontecido, é isso que
estava falando? Será mesmo que não teria? Talvez o desejo sempre existiu,
Enzo.

— Não fale besteiras. — Deu um passo à frente e eu recuei. —


Nunca havia olhado para Mayla com desejo.

— Isso é você quem está dizendo, não sou obrigada a acreditar,


assim como você não acredita em nada do que eu falo.

Travamos uma batalha visual e mesmo querendo recuar, não fiz,


sustentei o olhar de Enzo até que ele pigarrou, rompendo o contato e foi
para a sua mesa.

— Mais tarde uma pessoa virá aqui arrumar o seu cabelo e cuidar de
você — avisou, deixando-me confusa. — Tenho um jantar de negócios e
você vai me acompanhar.

Assenti e saí do escritório, voltando para a cozinha, mas tive o


desprazer de encontrar Mayla no corredor.

— Ô garota, espera!

Até pensei em ignorar, mas o lado ruim que existia em mim fez
questão de parar e enfrentá-la.

Eu lá sou mulher de fugir de uma briga?


— O que você quer? — perguntei ríspida, virando-me para encará-
la.

— Está se sentindo vitoriosa, não é? — Riu com deboche. — Você


não tem noção do quanto o Enzo te odeia, é só uma questão de tempo para
ele voltar a deitar na minha cama.

— Será mesmo, Mayla? Você realmente acredita nisso? — Agora


fui eu quem riu em deboche. — Nem você acredita nas suas loucuras.
Tanto eu, quanto você, sabemos na cama de quem o Enzo quer deitar e te
garanto que não vai demorar muito para ele estar lá.

— Ele nunca vai ficar em paz com você, ele nunca vai te perdoar
por ter tirado o filho dele.

— Eu não tirei o meu filho, mas eu não te devo explicação. — Já ia


saindo, mas antes despejei o meu veneno. — Será que Enzo te perdoaria por
ter me contado quem ele era? Por ter me ajudado a fugir? — Sua expressão
mudou completamente, ela ficou séria e bastante preocupada. — Não mexe
comigo, Mayla. Posso fazer o inferno na sua vida também. Não se engane
por eu ter essa aparência tranquila. Cuidado, eu posso ser muito pior do que
você.

— Você não é nem louca, garota! Eu te ajudei na época, sua ingrata!


— Cerrou os punhos, bufando.

— Será que você me ajudou mesmo, Mayla? Ou só estava querendo


o meu lugar?

— Vai lá, conta pra ele, vamos ver em quem ele vai acreditar.

A cachorra sabe que Enzo duvida de tudo que eu falo, mas tudo
bem, uma hora ele vai acreditar.
— Veremos. — Dei as costas para ela e voltei para a cozinha.

— O que o Senhor Enzo falou? — Maria perguntou.

— Falou sobre o quê? — Pisquei desordenada.

— Sobre as compras, ele deixou você ir?

— Maria, acredita que aconteceu tanta coisa lá que eu esqueci de


falar sobre as compras?

Ela riu.

— Como assim, o que aconteceu? — Puxou-me pela mão e nos


sentamos na mesa que fica aqui dentro. — Conte-me tudo.

Contei pra ela sobre a conversa de Enzo e Mayla que eu ouvi e


depois minha pequena discussão com ele e Mayla.

Mas Maria não parecia surpresa quando falei sobre os dois.


Obviamente que ela já sabia, morando aqui era difícil nunca ter visto os
dois juntos.

— Eu não podia falar nada, mas eu tinha certeza que quando você
voltasse, o senhor Enzo não ficaria mais com aquela chata — sussurrou essa
parte, sorrindo. — Ele te ama, menina, o senhor Enzo te ama muito, eu
pude comprovar o sofrimento daquele homem quando você foi embora.

— Ele sofreu muito?

— Sim, muito. Eu nunca tinha visto o senhor Enzo daquela forma,


minha menina — contou com tristeza. — Ele quase morreu sem você e
desde que você voltou para essa casa, ele é outra pessoa, até o brilho dos
olhos dele que tinha se apagado voltou a brilhar.
— Você acha que ele me ama mesmo, Maria? Porque ele me trata
super mal, nem me olha direito, muito menos faz questão de chegar perto de
mim.

— Minha menina, acredite nessa velha senhora que conhece esse


menino praticamente desde que ele nasceu. Ele te ama, só está magoado,
com raiva e quer que você pague por todo sofrimento que ele sofreu, está
cego, você precisa abrir os olhos dele.

— Eu também sofri… uh! Como sofri.

Meu coração fica apertado quando me lembro de toda a minha


trajetória até aqui.

— Eu imagino, mas na cabeça dele não, na cabeça dele você foi


embora porque não o amava o tanto que ele te ama.

— Isso é a maior loucura que aquela cabeça oca inventou, porque eu


o amo Maria, o amo muito — afirmei.

— Então lute por ele, lute por ele antes que aquela bruxa da Mayla
faça a cabeça dele, pode ter certeza que ela vai armar para vocês de novo.

— Ele pode até não me querer mais, mas eu te garanto que com ela
ele não vai ficar, isso eu te garanto, Maria, eu jamais vou deixar aquela vaca
ficar com meu homem, jamais!

— É assim que se fala.

Começamos a rir dessa conversa louca. Mas minha decisão já estava


tomada e eu não ia voltar atrás.
Capítulo 22
Enzo Ziegler

Estava na sala esperando Alice descer. Hoje ela ouviu a minha


conversa com Mayla e eu vi em seus olhos o quanto ficou magoada e com
raiva.

Mas, porra, ela não podia me julgar. Eu sofri pra caralho sem ela,
quase morri sem essa mulher.

Tudo bem que nada justifica eu ter ficado justo com a mulher que
falei para ela não sentir absolutamente nada. E pode até ser horrível o que
vou falar, mas eu realmente não sentia nada por Mayla, nenhum desejo. Fui
levado pela carência e pelo momento.

Tá legal, posso até ter errado nisso, mas ela me deixou, foi embora
sem se importar com tudo que sentíamos e estávamos construindo.

Tinha o nosso bebê também.

Porra! Eu daria tudo para vê-la grávida, carregando o nosso filho no


seu ventre.

Se Alice já era a coisa mais linda que vi na vida, imagina quando


estiver grávida? Ficarei mais rendido do que já sou. Se isso for possível.

Seus saltos ecoam na escada e finalmente eu a vejo. Linda como


sempre.

Não tinha jeito, eu era completamente louco e apaixonado por ela.


Se existe amor à primeira vista, eu a amei desde o momento em que
coloquei os meus olhos nela.

— Vamos? — Sua voz suave invadiu os meus ouvidos e a saudades


de ouvi-la gemendo para mim era enorme.

— Está linda, Alice! — elogiei-a.

— Obrigada! — respondeu secamente, sequer esboçou um sorriso.

Queria agarrá-la, beijá-la e falar o quanto sentia saudades, mas


como era um burro rancoroso, fiquei em silêncio e fomos para o carro.

Não trocamos uma palavra durante o caminho, o fizemos todo em


silêncio, apenas trocamos alguns olhares, mas não passou disso.

Durante o jantar, eu quase não pude dar atenção para Alice, tive que
participar de muitas reuniões e várias conversas chatas desses idiotas que só
sabem puxar o meu saco.

Mas acho que ela até agradeceu, duvido que quisesse estar perto de
mim.

Saymon fez companhia a ela, eu ordenei que ele não saísse do seu
lado nem por um segundo. Sei que ninguém aqui seria louco o suficiente
para chegar perto dela, mas nunca se sabe quando tinha um doido querendo
morrer.

Finalmente consegui me livrar desses bajuladores de merda e pude


ir ao encontro de Saymon e Alice.

Confesso que estava com saudades de sentir o cheiro maravilhoso


que exalava da minha mulher. Às vezes pegava-me indo no quarto durante a
madrugada, enquanto ela estava dormindo, só para sentir o seu cheiro.
Algumas vezes até arriscava acariciar o seu rosto, mas tomando cuidado
para não acordá-la.

Sou a porra de um covarde.

Procurei eles por todos os cantos do salão e não os encontrei. Liguei


para Saymon, que me informou que eles estavam no jardim.

— Que porra aconteceu? — perguntei para Saymon assim que me


aproximei e a vi sentada num banquinho chorando.

— Eu não sei, ela não quis falar, acho que bebeu demais.

— Vai a merda, Saymon! — Alice falou tudo embolado e


soluçando.

— O que aconteceu, Alice? — Aproximei-me dela e me abaixei na


sua frente, encarando-a.

— Eu acho que vi o pai do Romeu, aquele maledetto que matou o


meu melhor amigo.

Nossa! Saymon estava certo, Alice bebeu demais. O cheiro de


álcool nela estava tão forte que até eu que não bebi nada, estava ficando
bêbado.

— Você poderia me mostrar quem é?

— Não, estou um pouco tonta e tem muita gente ali dentro. Enzo…
— ela segurou forte no meu paletó, quase me derrubando — , mata ele? Por
favor, mata ele, arranca a cabeça daquele infeliz.

— Eu vou matá-lo, eu te prometo — afirmei olhando em seus olhos,


pois eu faria mesmo isso. Faria por ela e também por Romeu, que eu
gostava bastante. — Agora vem comigo, vamos para casa. — Segurei em
seus braços.

— NÃO! — gritou e voltou a chorar. — Eu não quero ter que


esbarrar com aquela mocreia, se eu topar com ela, vou matá-la.

— Tudo bem, vamos para um dos meus apartamentos.

— Bem melhor. — Fungou. — Agora me ajuda a levantar. —


Segurei nas suas mãos e a ajudei. Saymon riu. — Tá rindo de quê, Saymon?
Eu não estou bêbada — resmungou, não gostando de ter visto ele rindo
dela.

— Jamais pensaria isso de você, senhorita.

— Senhora. Senhora Ziegler. Sou uma mulher casada.

Não aguentei e tive que rir junto com Saymon. Alice foi
cambaleando até o carro, reclamando que estávamos rindo dela.

Durante o trajeto ela ficou deitada em meu colo, falando coisas que
mal dava para entender, enquanto Saymon dirigia. Pedi que ele me levasse
para o apartamento mais próximo que eu tinha.

Assim que entrei no cômodo, levei-a para o banheiro e dei um


banho morno nela, enquanto escutava ela reclamar e me xingar. Essa era a
Alice que eu conhecia.

Coloquei nela uma camisa minha que tinha aqui e a coloquei deitada
na cama.

— Enzo? — ela me chamou antes que eu saísse do quarto.

— Oi?
— Vem cá. — Bateu do seu lado vazio na cama.

Aproximei-me da cama e me sentei ao seu lado, constatando que ela


estava chorando novamente.

— O que foi dessa vez?

— Por que você me odeia tanto? — Engoli em seco, ficando em


silêncio. — Por mais que você me faça sofrer, que você queira me humilhar,
eu não consigo te odiar. Você foi o meu primeiro e único homem, o amor da
minha vida, o pai do meu filho, foi um grande amigo do meu melhor amigo,
você foi uma pessoa tão importante na minha vida que eu não consigo te
odiar, e eu queria que você sentisse por mim o mesmo que eu sinto por
você.

— Eu não te odeio, Alice — falei baixinho.

— Você ficou com aquela mulher. — Seu choro se intensificou, eu


acariciei o seu rosto e ela não se esquivou do meu toque. — Eu nunca te
esqueci sequer por um segundo, eu nunca pensei em outro homem, me dói
tanto saber que você ficou com aquela mocreia, logo ela que armou para
nos separar.

Eu a encarei em confusão. Do que Alice estava falando?

— O que você disse? — perguntei sem entender.

— Naquela noite, naquela noite que você estava torturando o


homem, ela me chamou no quarto para me mostrar quem você era. Ela já
sabia quem eu era, ela já sabia que eu era Alice Caccini e te escondeu,
desde o começo ela te escondeu, por isso você nunca descobriu quem eu era
de verdade. Você é o melhor hacker que eu conheço, acha mesmo que eu
iria conseguir me passar por outra pessoa por tanto tempo sem que você
descobrisse? — Balancei a cabeça de um lado para o outro, sentindo-a doer
com tanta informação. — Mas agora eu entendo que ela fez tudo
programado. Por causa disso tudo eu perdi nosso filho, eu sofri muito,
fiquei com o psicológico muito abalado, não sabia o que ia ser da minha
vida, eu só sabia que ia ter nosso filho de todo jeito. Só sabia chorar e não
comia direito, ficava trancada no meu quarto, até que comecei a sangrar e
Romeu conseguiu uma consulta com um médico de confiança e foi aí que
descobri que havia perdido o nosso bebê. — Soluçou, chorando
copiosamente. — Depois eu perdi o meu amigo também e fiquei
completamente sem rumo.

— Você não disse que estava em Nova York? — questionei, mas eu


já sabia que ela estava mentindo. Alice nunca deu entrada em hospital
nenhum, pelo menos nunca constou nos registros, nem com o sobrenome
falso, muito menos com o verdadeiro.

— Eu menti, menti porque sabia que se eu falasse que tinha voltado


para a casa, você iria achar que eu tirei para não sofrer as consequências,
afinal, quem seria louca de voltar para uma casa cheia de mafiosos, grávida
de um desconhecido? Eu sabia o que podia me acontecer, mas eu estava
disposta a arriscar, eu morreria por nosso bebê. Ele não tinha culpa dos
pecados que eu havia cometido. Eu não queria ter perdido o nosso filho,
Enzo. Minha família poderia me matar assim que ele nascesse, eu morreria
feliz. — Sua voz saiu esganiçada e eu pude sentir a dor em cada palavra.

— Shh! Não chore mais, já passou. — Tentei acalmá-la, secando


suas lágrimas com os dedos.

— Você acredita em mim, Enzo?


— Acredito, acredito sim. — Puxei-a para um abraço. — Eu sempre
acreditei, mas fui idiota o suficiente para deixar a raiva e a mágoa falarem
mais alto.

— Só preciso que você acredite em mim. — Apertou-me.

— Eu acredito. Agora descansa e amanhã a gente conversa.

— Você me ama? — Levantou a cabeça para me olhar.

— Amo, Alice, eu sempre amei.

— Então por que me maltrata?

— Porque eu sou um idiota.

— Nisso eu concordo. — Abri um sorriso e ela fez o mesmo. —


Então não me maltrata mais, só me ame, eu sinto falta do seu amor, do
nosso amor.

— Eu também sinto falta, minha morena.

— Eu amo quando você me chama assim. — Seu sorriso ficou ainda


maior.

— Também amo te chamar assim.

— Você vai matar mesmo ele? — Alice estava tão bêbada que
ficava emendando um assunto por cima do outro.

— O pai do Romeu? — Assentiu. — Eu vou matá-lo, eu te prometo.

— Eu te amo! — sussurrou, apoiando a cabeça no meu colo e sua


respiração foi ficando profunda e lenta, demonstrando que estava dormindo.
Ajeitei-a na cama, colocando sua cabeça no travesseiro e cobrindo o
seu corpo com o cobertor.

— Eu te amo muito, minha morena! — declarei, beijando sua testa


carinhosamente e saindo do quarto.

Assim que cheguei na sala, servi dois copos de uísque e chamei


Saymon, precisava conversar com ele e desatei a contar tudo que Alice me
confidenciou.

— Eu acredito que seja verdade, Mayla é capaz de qualquer coisa


para ficar com você, sempre te disse sobre a loucura dela — comentou a
respeito dela ter armado para mim e Alice.

— Amanhã, Saymon, amanhã eu terei uma conversa definitiva com


a Mayla — afirmei. Isso não sairá impune, se foi por causa da armação dela
que eu perdi minha mulher, ela pagará por isso.

— Eu estou do seu lado, você sabe disso. — Anui. — Agora vá


viver com a Alice da maneira que vocês merecem, esse sofrimento já se
estendeu por muito tempo. Não acha que chegou a hora de serem felizes?
— Levantou um copo para um brinde.

— Tenho certeza que chegou a hora. — Levantei o meu copo


também, batendo levemente no seu e viramos o líquido todo de uma vez.

Saymon foi para a varanda fumar, pois evita ficar perto de mim
nessas horas. Ex-viciado pode recair a qualquer momento. E eu fiquei aqui
de cabeça quente pensando que perdi anos ao lado de Alice, alimentando
um ódio sem necessidade, porque deixei Mayla entrar na minha cabeça.

Porra! Como fui burro!


Capítulo 23
Alice Caccini

Fiz um esforço enorme para abrir os meus olhos, mas não consegui.
Misericórdia, parecia que tinha uma banda de rock tocando dentro da minha
cabeça. Exagerei na bebida ontem.

Lembrete: não beber descontroladamente nunca mais.

Sentei-me na cama, sem abrir os olhos ainda e comecei a tatear a


mesinha que ficava ao lado da cama, na esperança de encontrar algum
analgésico.

Talvez Enzo tenha sido misericordioso e deixou um remedinho para


mim.

Não teve jeito, tive que abrir um pouco os olhos para finalmente
conseguir encontrar um remédio e um copo de água no cantinho da mesa.

Amo ainda mais o Enzo por isso.

Tomei o remédio e voltei a deitar, fechando os meus olhos, mas sem


dormir, só esperando a dor de cabeça aliviar um pouco.

Alguns minutos depois já estava me sentindo melhor. A dor não


sumiu completamente, mas não estava mais insuportável como antes.

Levantei e decidi tomar um banho gelado para me recuperar da


ressaca.
Ao sair do banheiro, encontrei uma roupa limpa em cima da cama
para mim. Uma lingerie branca, short jeans e uma blusa branca, com direito
a chinelos novos.

Vesti-me rapidamente e desci para encontrar Enzo. Lembrava-me de


nada sobre ontem a noite depois que comecei a beber. A única coisa que me
recordo é de ter visto o pai de Romeu. Tinha certeza que era aquele infeliz,
e quando ele me viu, rapidamente sumiu.

Enzo estava sentado à mesa, tomando café. Lindo como sempre, de


roupa social, com três botões da camisa aberta.

Ai, meu Deus! Que saudades que eu tinha desse homem.

— Bom dia! — Minha voz saiu mais baixa do que eu planejava.

— Bom dia, Alice! — Olhou-me, com sua expressão neutra. — Está


bem?

Ele parecia estar de bom humor, e isso era bom.

— Estou melhor, obrigada pelo remédio.

— Sente-se e tome café comigo, sairemos logo.

Assenti, me sentando. Estava cheia de fome, servi um café puro e


peguei um pedaço de bolo.

Observei Enzo me encarando.

— Eu fiz alguma coisa de errado ontem? — arrisquei perguntar,


mesmo com medo da sua resposta.

— Fez. — Meu coração gelou. — Me xingou.


— Ah, então não fiz nada de errado. — Vi o vislumbre de sorriso
em seu rosto e eu também sorri, voltando a prestar atenção no meu prato.

— Disse que me amava também. — Parei com o talher no meio do


caminho e levantei a cabeça, encarando-o envergonhadamente. — Que eu
sou o homem da sua vida e que você nunca, sequer por um segundo, deixou
de me amar.

— Você está mentindo. — Estreitei os olhos, balançando a cabeça


de um lado para o outro, negando-me a acreditar em tamanho vexame.

— Verdade, me disse várias outras coisas, posso repetir tudo, se


quiser. — Riu.

— Não é necessário.

— Tem certeza? Posso refrescar a sua memória.

O sorriso debochado permaneceu em seu rosto lindo, irritando-me.


Ai que vontade de socar a cara dele!

— Já disse que não é necessário.

— Tudo que disse é verdade?

O encarei novamente e percebi que dessa vez, sua expressão estava


séria.

Eu poderia dizer que não, que eu estava bêbada e que não me


lembrava de nada, que falei por falar, apenas para não confessar o quanto
fui e ainda sou apaixonada por ele, mas não ia fazer isso.

Chega de mentiras, chega de esconder as coisas, agora é hora de


jogar limpo, como tinha que ter sido desde o começo.
— Se eu falei deve ser verdade — falei, sem desviar o olhar do dele.

— Ontem você me disse isso em um estado de embriaguez, gostaria


de saber de você sóbria.

— Quer ouvir que eu te amo, Enzo? — Mordi o cantinho da boca,


repreendendo um sorriso.

— Talvez eu esteja carente e queira ouvir. — Sorriu.

— Talvez eu queira ouvir de você primeiro, para só então, depois,


falar.

Abaixou a cabeça, sorriu e coçou a barba.

— Certo, Alice. Você sabe jogar melhor que ninguém. E eu quero


muito falar para você muitas coisas, mas no momento certo. — Remexi-me
na cadeira. — Entretanto, precisamos conversar sobre o que você me
contou ontem sobre a Mayla.

— O que eu falei? — Pigarreei, nervosa.

— Que ela te buscou no quarto aquela noite, levou-a para o porão e


mostrou que eu estava torturando o soldado. Que ela te ajudou a fugir e que
também sempre soube quem era você, inclusive foi ela quem ajudou a
esconder sua verdadeira identidade.

Puta merda! Eu contei tudo!

Respirei aliviada, finalmente as mentiras estavam indo embora.

— É tudo verdade.

— Eu acredito, mas gostaria de ouvir todos os detalhes.


Assenti. Se ele queria saber tudo detalhadamente, eu contaria, pois
me lembrava do dia em que eu fui embora como se fosse hoje.

Contei para Enzo tudo desde o princípio, do meu sonho e de Romeu


de fugir da máfia e tentar uma vida normal. De que eu depositei minhas
esperanças desse sonho se realizar nele. E finalmente falei sobre o fatídico
dia. Que Mayla chamou-me pelo nome verdadeiro no jardim, contando que
sabia sobre mim desde o começo e que ajudou a esconder a minha
verdadeira identidade de Enzo e, que naquela noite, ela me levou até o
porão e me ajudou a fugir, que já tinha até a passagem comprada para mim
e Romeu.

Enzo permaneceu em silêncio após ouvir tudo, me deu um leve


aceno de cabeça e se levantou.

— Vamos, Alice, temos um assunto para resolver. — Estendeu-me a


mão.

— Que assunto? — Segurei na sua mão, sentindo-me um pouco


apreensiva.

— O nosso.

O que Enzo iria fazer? Acompanhei-o em silêncio e quando deu


partida no carro, perguntei sobre o assunto que me interessava.

— E sobre o pai de Romeu?

Eu jamais esqueceria o que aquele maldito fez com o meu amigo. Só


sossegarei quando ele estiver morto.

— Eu ainda não sei nada sobre ele, mas fique tranquila, não me
esqueci da promessa que te fiz.
Balancei a cabeça em sinal positivo e sorri.

Sabia que essa vingança não traria o meu amigo de volta, mas eu
poderei viver em paz sabendo que vinguei a sua morte. Jamais viverei
aliviada sabendo que aquele assassino está vivendo tranquilamente por aí,
enquanto o meu amigo morreu a troco de nada.

Só vou descansar quando ele estiver a sete palmos abaixo da terra,


queimando no inferno.

Enzo me daria esse presente, eu sabia que sim.


Capítulo 24
Enzo Ziegler

Pedi para que Saymon preparasse a sala de reuniões e que


convidasse todos os envolvidos.

Cansei de tantas mentiras, hoje eu queria colocar todas as coisas a


limpo, todas as cartas na mesa e dependendo de como as coisas terminarem,
acabar com toda e qualquer consideração que eu sentia por certas pessoas.

Eu era uma pessoa boa, muito boa por sinal, mas não pisa no meu
calo, porque aí eu me transformo em uma pessoa muito ruim.

Demoro muito para chegar ao extremo de qualquer situação, mas


uma coisa que eu não tolerava era que mentissem para mim, que me
enganassem, me passassem para trás. Não nasci para ser feito de idiota.

— Vou resolver um assunto e daqui a pouco peço para Maria te


chamar — avisei Alice.

— Tá bom. — Sua voz estava estremecida, demonstrando que


estava apreensiva e com um pouco de medo.

Queria poder dizer que ela não precisava nunca mais ter medo de
nada nessa vida, que enquanto eu respirar, nada de ruim acontecerá, que
ninguém fará nada contra ela e nem contra nós dois, mas esse ainda não é o
momento para termos essa conversa. Depois que resolvermos nossas
pendências, falaremos sobre nós dois.
Entrei na sala com Saymon ao meu lado e os dois me olharam
apreensivos, sem entender o motivo dessa reunião de última hora.

— Bom dia! — cumprimentei-os e sou retribuído.

— O que aconteceu para você marcar essa reunião de última hora?


— Mayla perguntou.

Sentei-me e esperei que Saymon fizesse o mesmo para dar


continuidade.

— Já que você perguntou, vamos direto ao ponto. Eu poderia


enrolar, fazer toda uma encenação e tudo mais, mas você sabe que não sou
bom com essas coisas, comigo as coisas só funcionam de um jeito, não
gosto de mentiras e não gosto de enrolação.

— O que aconteceu?

Mayla estava inquieta e eu percebi que ela já fazia ideia do porque


estava aqui, enquanto Cris parecia estar alheio a toda a situação.

— Sobre a noite que Alice foi embora, o que você tem para me
dizer? — Fui direto ao assunto.

Por um momento seus olhos se arregalaram, mas ela logo retomou a


sua postura.

— Nada, sei aquilo que você sabe e todos sabem.

— Vou perguntar novamente, Mayla, e espero que dessa vez você


não minta para mim. O que aconteceu naquela noite?

— Eu não sei, Enzo, já falei! — Se exaltou e eu continuei a


encarando. — O que foi? Aquela garota já fez sua cabeça contra mim, foi
isso, não foi? Eu sabia que quando ela voltasse, íamos viver esse inferno
novamente. Você não percebe, não é? Está tão cego de paixão que não
consegue enxergar que essa menina é a sua ruína, dessa vez ela vai te matar,
Enzo! — vociferou.

— Não estou entendendo todo o seu nervosismo, estamos apenas


conversando e eu estou perguntando o que aconteceu naquela noite. Eu não
te acusei de nada, acusei, Saymon?

— Não, Senhor.

— Você se exaltou porque, Mayla? — indaguei.

— Indiretamente você está me acusando sim, tenho certeza que


aquela garota foi fazer a sua cabeça, é somente isso que ela faz.

— Saymon, peça a Maria que chame Alice, por favor.

Ele assentiu, se levantando e voltando com Alice. Esperei que


ambos ocupassem os seus lugares.

— Alice, fala para mim o que aconteceu naquela noite em que você
foi embora, por favor — pedi.

Ela me olhou por alguns segundos e eu acenei, encorajando-a a


falar.

— Quando o segurança mexeu comigo no jardim, você entrou para


se limpar e eu fiquei sozinha com a Mayla e ela me chamou de Alice
Caccini. Na hora eu estremeci e não quis acreditar no que eu estava
ouvindo, então ela repetiu e disse que sabia desde o começo, que foi ela
quem me ajudou a esconder de você o meu verdadeiro nome. Fiquei
apreensiva, mas ela me garantiu que não contaria nada para você. — Alice
fez uma pausa, respirando fundo.
— Sua… — Mayla ameaçou interromper Alice, mas eu levantei a
mão, impedindo-a.

— Ainda não te dei o direito de falar, então fique em silêncio até


que ela termine. — Mayla engoliu em seco. — Continue, Alice.

— Naquela mesma noite, ela foi no meu quarto, chamando-me para


ir com ela até um lugar que até então eu não sabia que existia nessa casa.
Mayla já tinha falado com Romeu sobre o assunto e ele me encorajou a ir.
Enfim, cheguei lá, estava Enzo e Saymon torturando o segurança que mais
cedo havia mexido comigo. Quer dizer, só Enzo estava torturando, Saymon
estava assistindo — corrigiu-se. — Eu não queria acreditar naquilo, mas
enfim, estava diante dos meus olhos quem ele era. Pensei que as máfias
ainda eram rivais e isso iria gerar uma guerra fodida e ela também sabia que
eu não queria viver nessa vida de máfia e tudo mais. Mayla já havia
programado tudo, havia um carro esperando na frente de casa e minha
passagem e de Romeu já estava comprada. Mayla também sabia que eu
vinha passando mal e disse, naquela noite, que se fosse gravidez, era melhor
eu tirar. Embora eu tenha perdido o meu filho, eu não o tirei.

Mayla se exaltou assim que Alice terminou de falar.

— Sua mentirosa! — berrou, dando um tapa forte na mesa e se


levantando.

— Eu não estou mentindo, o Romeu infelizmente morreu, não está


aqui para confirmar minha história, mas eu garanto que estou falando a
verdade. Como eu ia saber daquele porão tão escondido? Como eu ia saber
que Enzo estava lá torturando um homem? É só juntar as peças do quebra-
cabeça. Temos aqui uma mulher rejeitada e todos nós sabemos o que uma
mulher nessas condições é capaz de fazer.
Mayla avançou na direção de Alice, mas Saymon a segurou.

— Pegue suas coisas e saia imediatamente desta casa! — ordenei.


— Te avisei uma vez e vou repetir, não chegue perto de Alice.

— Você está me colocando para fora? Você está preferindo uma


ninfeta que conheceu a pouco tempo do que eu? Logo eu que fiquei ao seu
lado toda vida? Que te ajudei quando essa aí te largou e te deixou na
merda?

— Agradeça por eu apenas estar te colocando para fora, você


merecia ser torturada e morta, primeiro pela sua mentira e segundo por
ofender minha mulher, sugiro que não faça isso nunca mais. — Mayla
abaixou a cabeça. — Não vou exigir um pedido de desculpa da sua parte
porque para mim isso não faria a menor diferença, não mudaria o meu
pensamento e eu sei que não seria verdadeiro da sua parte. A não ser que
você faça questão. — Olhei para Alice que balançou a cabeça negando. —
Já pedi para que Maria arrumasse todas as suas coisas, quero que você saia
imediatamente e não volte nunca mais. Você não faz mais parte da família e
nem da máfia, só não te matarei por consideração há todos esses anos, mas
que esteja avisada que essa é a última vez que tenho qualquer tipo de
consideração por você e não se esqueça nunca com quem você está falando,
te dei um aviso desse outra vez, não voltarei a repetir.

Saymon a soltou e ela saiu da sala sem olhar para trás.

— Enzo, eu não sabia de nada disso — Cris se manifestou pela


primeira vez desde que a confusão começou.

— Eu sei, só pedi que estivesse presente para ter certeza. Acredito


que sua presença aqui nesta casa também não será mais necessária, mas vou
deixar que Alice decida isso.
— Por mim você pode ficar — ela falou baixinho.

— Obrigada, Alice, agradeço muito por tudo também, Enzo, mas


acompanharei minha irmã, acho que a saúde mental dela não está muito boa
nesse momento, ela precisará de ajuda, se o senhor puder me liberar.

— Pode ir.

Ele se despediu de Saymon, que também saiu da sala, e parou perto


de Alice.

— Sei que talvez você nunca me perdoe pelo que fiz, mas quero que
saiba que meus sentimentos por você são e sempre foram verdadeiros. No
meu coração, nossa amizade e todos os momentos que vivemos juntos serão
eternos, eu gosto muito de você e desejo que você seja muito feliz, você
merece tudo de bom.

Deixou um beijo na bochecha dela e saiu, deixando-nos sozinhos, e


quando ele saiu, ela estava com o olhar fixo na porta e eles estavam
marejados. Apesar de Alice querer demonstrar uma personalidade forte, eu
conhecia muito bem o coração dela. Ela gostava muito de Cris e aposto que
não tinha mais mágoa nenhuma dele.

— Vamos viajar — falei, decidindo de última hora.

Queria abraçá-la e demonstrar todo o meu amor, mas Alice merecia


muito mais que palavras simples.

— Viajar? — Olhou-me, piscando confusa.

— Sim.

— Para onde? E por quê? — questionou, como a boa curiosa que é.

— Você verá quando chegar lá, é surpresa.


Ela abriu a boca para responder, mas desistiu, abriu um pequeno
sorriso e se levantou, deixando-me sozinho na sala.

Relaxei na cadeira, respirando fundo e lembrei-me da fala de


Saymon: realmente estava na hora de ser feliz com a minha morena.
Capítulo 25
Alice Caccini

Depois de toda confusão, Enzo me informou que teríamos que fazer


uma viagem. Pensei em questioná-lo para onde iríamos e o porquê de
estarmos indo, mas achei melhor engolir minha curiosidade. O dia já havia
sido de muitas emoções e embora eu achasse que estávamos de boa, não
quis arriscar que ele fizesse alguma ignorância comigo.

Não podia negar que gostei de ver Mayla saindo daquela casa, eu
não a queria mais ali. Mayla nunca quis me ajudar, ela usou da minha
imaturidade e, provavelmente, sabia muito bem o porquê me escondia, usou
da minha fragilidade para me afastar de vez de Enzo, deixando assim, o
caminho livre para ela.

Eu estava tão cega em querer viver fora da máfia, que me ceguei


para as outras coisas.

Mas confesso que fiquei chateada por Cris ter ido embora também.
Apesar de não estar conversando com ele, eu sabia que todos os dias ele
estava ali. Já não sentia mais raiva dele, claro que ainda tinha um pouco de
mágoa, mas eu gostava muito dele.

Foram longas e incansáveis horas de voo e assim que pousamos em


Belize, fomos de barco até o nosso destino e eu fiquei encantada em ver
para onde Enzo me trouxe: Cayo Ambergris[xiv].
Eu fiquei encantada com essa ilha de Belize quando eu e Romeu
estávamos pesquisando lugares para eu e Enzo passarmos a lua de mel.
Saudades de ter o meu amigo comigo para sonhar.

As fotos mostravam belíssimas praias com areia branca e um mar


azul turquesa caribenho, o que estava podendo comprovar com os meus
próprios olhos enquanto fazíamos o trajeto até o nosso destino final: nossa
hospedagem.

Falei com Enzo sobre, mostrei até fotos na época… ele lembrou!

Olhei para ele diversas vezes, emocionada, mas não consegui falar
nada e ele apenas sorria para mim.

— Vou resolver umas coisas sobre nossa hospedagem, aproveita


para descansar — ele avisou assim que entramos no quarto do hotel que
vamos ficar.

— Tá bom.

Assim que Enzo saiu, fui para o banheiro tomar banho, enrolei-me
no roupão e deitei-me desse jeito. Viajar era cansativo demais e eu queria
ficar bem descansada para aproveitar as belezas deste lugar. Acabei
pegando no sono rapidamente.
Acordei ao escutar uma música tocando por todo o ambiente. Abri
os olhos e demorei um pouco, por conta da sonolência, a entender qual
música estava tocando. Um enorme sorriso se formou em meu rosto quando
reconheci a melodia: Scorpions - You And I. Enzo amava essa música e já
cantou-a para mim diversas vezes.

Levantei-me e na poltrona, que ficava no canto do quarto, havia uma


lingerie branca e um vestido da mesma cor. Vesti a lingerie e o vestido,
passei um batom clarinho e passei o perfume que Enzo gostava.

Desci as escadas devagar, olhei pela sala e não encontrei ele. O som
estava vindo da parte externa da casa.

Assim que abri a porta, encontrei-o de costas para mim, olhando


para o mar, com uma camisa branca e uma bermuda cor creme.

Caminhei em sua direção, sentindo a areia gelada em meus pés, uma


sensação tão boa. Estava tudo tão lindo, a música, um pano estendido no
chão com algumas coisas de comer e vinho, cheio de velas e flores
espalhadas, um cenário simples e bem romântico na beira da praia, do jeito
que eu gostava.

Enzo virou-se de frente para mim e eu tive um mini infarto… é um


pecado esse homem ser tão lindo! Sua camisa estava um pouco aberta e
seus cabelos bagunçados. Ele era um Deus grego!

Enzo, aos trinta e seis anos, estava ainda mais bonito do que quando
o conheci a três anos atrás. O tempo só o fez bem.

— Linda! — elogiou-me baixinho, sorrindo e mordendo o lábio


inferior.

— Lindo! — retribui o elogio, também sorrindo.


Ficamos nos encarando em silêncio, o vento refrescante bateu em
nossos rostos, balançando nossos cabelos e a música tocando suavemente
ao fundo fazia o cenário ser ainda mais incrível.

— Vamos nos sentar? — Apontou para o pano estendido no chão,


com duas almofadas para que pudéssemos sentar.

Balancei confirmando e nos sentamos um de frente para o outro e


ele me entregou uma taça de vinho, servindo-se também.

— Está com fome?

— Não.

Eu realmente não estava com fome, não de comida. Minha fome era
outra, minha fome era de amor e carinho.

— O que estamos fazendo aqui, Enzo? — Tomei coragem para


perguntar.

— Temos muitas coisas para conversar, achei que íamos precisar de


um lugar mais tranquilo.

— Hum — limitei-me a responder, tomando um longo gole do


vinho.

— Por que não esperou para conversar comigo naquela época? Por
que fugiu e me abandonou?

Puxei o ar com força, enchendo os pulmões antes de responder.

— Eu era jovem, muito imatura, fiquei com medo. Tinha aquele


sonho de ser livre da máfia, enfim, só tenho como explicar como
imaturidade, nada além disso.
— Você me amava?

— Sempre te amei — garanti, não respondendo somente no


passado, mas trazendo a resposta também para o presente.

— O seu amor não era forte o bastante para enfrentarmos os


problemas juntos?

— Era e é... — Suspirei. — Eu errei, sei que errei, mas não me


julgue, eu era muito jovem e estava com muito medo. Eu tenho muito medo
desse mundo, a máfia, essa coisa de ser mafioso me deixa com receio e na
hora eu só queria ir embora, fugir... Me desculpa, não agi certo.

— Eu cometi erros piores que o seu, Alice, é você que tem que me
perdoar.

— Você quer ser perdoado?

— É o que eu mais quero, morena... Uma vida inteira vai ser pouco
para te recompensar por esses dias que tanto te fiz mal. Eu estava cego de
raiva, queria que você pagasse por todo o sofrimento que me causou.

— Eu também sofri. — Abaixei a cabeça.

— Olhe nos meus olhos — pediu e imediatamente levantei a cabeça,


voltando a encará-lo. — Eu acredito que sofreu, perder um filho não é fácil,
doeu em mim quando descobri, posso imaginar o quanto doeu em você
naquela época. — Senti meus olhos marejados, aquele ainda era um assunto
delicado para mim. — Queria estar do seu lado, queria ter enfrentado junto
com você essa dor. Eu acredito em você. Hoje, enxergando as coisas sem
ódio, eu sei que você não seria capaz de ter tirado.

— Não, eu não seria capaz — reafirmei sua fala.


— O médico que te atendeu naquele dia me disse que foi uma
escolha sua. Desculpa mais uma vez, Alice, eu desconfiei, mas tive meus
motivos.

— Ele te disse isso? — perguntei chocada, arregalando os olhos. —


Não posso acreditar nisso!

— Quando a gente voltar, podemos procurá-lo, eu posso imaginar


quem armou tudo isso, mas se quiser, podemos esclarecer as coisas.

— Eu faço questão! — Fui sucinta na minha decisão. — Não, Enzo,


eu não quero, a minha verdade é o que importa e, para mim, ela é o
suficiente. — Voltei atrás, não iria ficar provando mais nada para ninguém.

— Para mim também é o suficiente. — Enzo sorriu, mas logo ficou


em silêncio, encarando-me, parecendo meio perdido. — Será que um dia
você vai me perdoar pelas coisas que te fiz e falei?

— Depende… — Mordi o cantinho da boca, segurando uma risada.

— De que?

— Você vai voltar a fazer isso novamente? — Balançou a cabeça em


sinal negativo. — Então eu acho que te perdoo.

— Acha? — Abriu um sorriso no canto da boca.

— Vai me tratar feito princesa? — Coloquei a taça ao meu lado e


engatinhei até ele.

— Eternamente, morena. — Ele também deixou a sua taça de lado e


me puxou para os seus braços, deitando comigo em cima dele e derrubando
algumas coisas.

— Eu te amo, Enzo! — me declarei, sem receio.


— Eu te amo, morena! — Fez carinho no meu rosto.

Aproximamos nossos rostos e antes de nos beijarmos, sorrimos,


verdadeiramente felizes por estarmos juntos novamente, dando mais uma
chance para o nosso amor.

— Faz um filho comigo? — soprou contra os meus lábios.

Afastei o rosto um pouco para encará-lo e sorri, um sorriso largo e


emocionado.

— Quantos você quiser. — Puxei sua nuca, colando nossos lábios


em um beijo ardente e repleto de saudades.

Nesse momento o que eu queria era paz, meu marido e uma vida
feliz.

Não era orgulhosa, nunca fui e nunca vou ser, o que eu queria era
viver.

"Quem vive de orgulho morre de saudade"

A última coisa que eu queria era morrer de saudades desse homem


delicioso.

Não paramos de nos beijar nem por um segundo. Estava com minha
boca inchada, mas pouco me importava, eram tantas saudades acumuladas
que eu precisava recompensar todo esse tempo perdido.

Quando eu digo saudades, estava me referindo a esse Enzo, esse que


eu conheço, que eu amei e sempre vou amar. Aquele Enzo que só queria
vingança não era o MEU, esse de agora sim, esse de agora é o meu amor,
meu marido!
Desde a noite em que nos casamos essa é a primeira vez que
estamos nos amando tão gostoso.

— Quero aproveitar todos os segundos ao seu lado, meu amor —


falou, todo apaixonado.

— Eu também, a gente não vai se separar nunca mais — afirmei,


pois não suportaria me separar mais uma vez dele.

— Nunca!

Sua boca voltou a tomar a minha com fome e suas mãos passearam
por debaixo do meu vestido, incendiando todo o meu corpo com o seu
toque.

— Enzo, vai tirar minha roupa aqui? — perguntei intrigada quando


ele começou a tirar o meu vestido.

— Sim. — Mordeu meu pescoço.

— Alguém pode nos ver. — Minha voz saiu com dificuldade porque
ele beijava e mordia o meu pescoço, arrepiando-me, mas ainda tive um
pouco de sensatez antes de me entregar por completo.

— Ninguém vai nos ver e se alguém te visse assim, certamente


nunca mais enxergaria na vida. — Abriu um sorriso safado. — Só curte o
momento.

Não questionei mais nada e apenas aproveitei.

Enzo tirou o meu vestido, sem desviar os olhos dos meus, o clima
exalando tesão.

— Eu amo você de qualquer jeito, mas de branco você fica mais


maravilhosa do que o normal — elogiou, todo galante.
Seus dedos beliscaram o bico do meu peito por cima do fino tecido
de renda da lingerie e o aperto, junto com o vento gelado, fizeram-me arfar,
pendendo a cabeça para trás e gemendo.

O vento podia até estar gelado, mas a quentura do meu corpo era
superior, então pouco me importei com a brisa fria.

A outra mão foi parar no meio das minhas pernas, acariciando-me.


Fechei os meus olhos, desfrutando dessa sensação divina que era estar sob
os toques de Enzo.

— Ah, Enzo… — choraminguei ao sentir sua boca abocanhar o meu


seio direito ainda por cima do tecido.

— Geme baixinho, morena — pediu, deixando uma mordida no


outro mamilo, agora no esquerdo. — Quero seus gemidos só para mim.

Meu sutiã foi aberto, sendo jogado para o lado e finalmente pude
sentir a sua língua contornar o bico do meu peito. A outra mão continuava
no meio das minhas pernas, levando-me cada vez mais à loucura.

Meus cotovelos, que antes estavam sustentando o meu corpo


elevado, cederam, não suportando a sensação maravilhosa que todo o meu
corpo estava sentindo.

Enzo aproveitou que eu estava deitada, pegou a garrafa de vinho e


despejou um pouco no vão entre os meus seios, lambendo o líquido logo em
seguida.

Uma baita cena erótica que eu jamais vou esquecer.

Ele jogou mais um pouco de vinho no meu mamilo e lambeu, logo


em seguida fazendo o mesmo com o outro.
— Vinho com você, combinação mais que perfeita. — Sorriu,
voltando a me lambuzar.

Eu estava quase gozando, era muita tentação para que eu pudesse


aguentar. E ele pareceu sentir, pois parou a tortura, tirou minha calcinha e
antes de devorar a minha boceta, ele a admirou, sorrindo de um jeito tão
safado que eu também sorri, amando a maneira como ele me admirava por
completo.

Mas meu sorriso logo deu lugar para um gemido sôfrego quando sua
boca fez um ótimo trabalho, junto com a sua língua, levando-me ao
orgasmo em poucos segundos.

— Enzoooo… ahhhh! — Agarrei com força o pano que estava


estendido no chão e prendi sua cabeça com as minhas pernas.

— Tão receptiva, minha doce Alice. — Ele passou os dedos por


seus lábios que estavam brilhando por minha lubrificação e os levou na
boca, chupando-os, querendo degustar até a última gota do meu gozo.

Enzo era sexy pra caramba e pelo visto, estava disposto a me matar
de tesão.

Inclinei-me para frente, puxando-o pela camisa, e tomei os seus


lábios em um beijo fervoroso. Não havia calma ou beleza alguma nesse
beijo. Era intenso e selvagem.

Rompi o beijo, empurrando-o e apressadamente comecei a abrir o


zíper da sua bermuda, e com a sua ajuda, a abaixei junto com a sua boxer.
Seu pau duro e incrivelmente lindo saltou para fora, desesperado por
atenção. Não perdi tempo, segurei-o e lambi a sua glande, sentindo o gosto
do seu líquido pré-ejaculatário.
— Não me maltrata desse jeito, morena — pediu, segurando nos
meus cabelos e gemendo baixinho.

Fui descendo com a boca, engolindo-o o máximo que eu conseguia,


deixando-o completamente molhado com a minha saliva.

Eu o chupei com gosto, engolindo-o mais do que eu aguentava,


engasgando e continuando, queria tudo dele.

— Não dá. — Ele puxou os meus cabelos, tirando a minha boca e


trazendo-me para o seu colo, encaixando-se na minha entrada. — Preciso te
foder, urgente. — Puxou minha cintura para baixo, fazendo-me deslizar por
seu pau.

— Ahhh! — ofeguei, encostando minha testa na dele. Era uma


sensação inexplicável senti-lo dentro de mim. Completa. Cheia. Amada.
Satisfeita.

Cavalguei enquanto seus lábios tomaram os meus, beijando-me


ardentemente.

Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas eu eternizei esse
momento na minha memória. Nessa noite, eu e Enzo nos amamos com
paixão e muito fogo sob a luz do luar.

Dessa vez fizemos amor com cuidado, carinho e um boa dose de


ousadia, mas foi amor, um amor delicioso.

Gozei enquanto cavalgava e ele inverteu as posições, vindo por cima


de mim, buscando o seu próprio prazer e dando-me mais um orgasmo.

Ele se jogou ao meu lado, puxando-me para o seu peito, onde eu


deitei, ouvindo as batidas aceleradas do seu coração.
— Hoje eu fiz um filho em você — ele comentou e eu tive que rir,
mas no fundo, eu queria que fosse verdade.

Então tudo que me veio à mente foi: que Deus te ouça, pois tudo que
eu mais quero é construir uma família ao seu lado e viver até a eternidade
feliz, amando e sendo amada.

— Eu te amo, Alice! — Apertou-me mais em seus braços, beijando


a minha cabeça.

— Eu te amo, Enzo! — Acariciei o seu peito.

Eu finalmente estava em paz.


Capítulo 26
Alice Caccini

Essa foi uma das melhores noites da minha vida, dormi


tranquilamente nos braços do meu marido. Estava tão ansiosa para essa
nova vida, esperava que dessa vez tudo desse certo.

Eu ainda tinha medo do que a Mayla pudesse fazer. Uma mulher


rejeitada e maldosa como ela, era capaz de qualquer coisa, mas tinha
certeza de que ao lado de Enzo, eu estava segura.

— Quando a gente voltar, podemos ir visitar a sua família, se quiser,


é claro — Enzo propôs assim que nos sentamos para tomar café, pegando-
me de surpresa.

Hoje vamos passear na praia.

— Eu acho uma ótima ideia, estou com saudades deles. Mas não vai
te atrapalhar nos negócios?

— Não.

Me inclinei para frente e deixei um beijo carinhoso nos seus lábios.


Afastei-me logo para que as coisas não esquentassem, fazendo-nos desistir
de ir à praia. Sem contar que estava exausta de ontem, depois daquele sexo
gostoso na praia, namoramos praticamente a noite inteira, quando fomos
dormir o sol já estava raiando.

— O que vamos fazer depois da praia? — perguntei animada.


— Podemos descansar um pouco e de noite vou te levar para jantar
em um lugar bem legal.

— Gostei! — Abri um enorme sorriso, realmente eu havia gostado


da ideia de ir jantar em um lugar legal.

— Agora tenho uma coisa para você.

— E o que seria? — Estreitei os olhos, curiosa.

Enzo mexeu no bolso e tirou o meu celular, entregando-me.

— A escravidão acabou? — brinquei sorrindo e peguei o meu


celular.

— Acabou. — Abriu um pequeno sorriso no canto da boca.

— Obrigada por devolver o meu telefone, estava com saudades de


poder falar com a minha família.

— Eu sei, desculpe-me por isso. — Sua mão repousou sobre a


minha.

— Águas passadas — afirmei, não queria ficar pensando no passado


e nos nossos erros cometidos, agora era hora de recomeçarmos. — Agora
vamos para a praia?

— Vamos, vou só buscar alguns salgadinhos para levar.

Levantou-se e foi buscar a pequena bolsa que ele havia preparado


para levar, colocando dentro alguns petiscos e salgadinhos. Desde que o
reencontrei, percebi que o novo vício de Enzo era comer isso.

— Por que come tantos salgadinhos? Isso não faz mal para a saúde?
— questionei, preocupada com a sua saúde.
Já estávamos caminhando para a praia.

— Quando você foi embora eu fiquei desesperado, viciei ainda mais


na bebida e no cigarro, mas o cigarro era pior. Eu fumava
desesperadamente, era a forma que achei para me acalmar, e quando eu
foquei em encontrá-la, eu fiz uma promessa: se você voltasse, eu não
fumaria mais… e você voltou. — Sorriu, fazendo-me sorrir também. —
Então desde que te encontrei eu parei, foi e ainda é muito difícil, vício é
uma praga, mas eu estou conseguindo. Então como salgadinhos porque é a
única coisa que me tira essa vontade maldita de fumar o tempo todo, agora
tenho outros vícios.

— Salgadinhos — brinquei.

— E você!

Toda vez que Enzo falava essas coisas bonitas para mim, meu
coração ficava retumbante dentro do peito. Parei de andar e o puxei pela
camisa, beijando-o. Meu Deus, como eu amo esse homem!

— Se continuar me beijando assim, só teremos duas saídas: voltar e


transar feito loucos ou repetirmos a dose de ontem, transando na areia —
sussurrou contra os meus lábios.

— E perder esse dia incrível de sol? — Afastei-me rapidamente


dele. — De jeito nenhum!

— Então não fica me instigando. — Apontou com a cabeça para a


sua bermuda, que já mostrava o evidente volume.

Aproximei-me novamente, colocando-me na sua frente, tampando a


visão de qualquer pessoa que pudesse passar.
— Enzo Ziegler, você dê um jeito de acalmar esse carinha aí
embaixo, viu? Você não vai para a praia assim!

Ele riu.

Caramba, Enzo era muito, mas muito bonito mesmo. Hoje ele estava
com uma camisa de um tecido mais fino de cor branca e uma bermuda azul
da cor do mar, de óculos escuros, cabelos bagunçados por conta do vento e
um sorriso nos lábios de destruir qualquer calcinha. Inclusive a minha já
era.

— Não vou conseguir me acalmar com você babando assim em


cima de mim, Alice. — Enzo trouxe-me de volta ao presente e só então foi
que eu percebi que estava literalmente secando toda a beleza do meu
marido.

— Quem manda ser tão lindo? — Balancei os ombros, afinal, não


era culpa minha. Qualquer pessoa em sã consciência babaria nele. — Agora
vamos, quero aproveitar o sol. — Segurei na sua mão, puxando-o.

Aproveitamos o dia delicioso na praia, foi maravilhoso. Enzo era


brincalhão, divertido, amoroso, carinhoso e me tratava tão bem, que eu já
nem lembrava mais daquele Enzo malvado de antes.
Depois da praia, nós namoramos e descansamos um pouco. Agora
estava me arrumando, pois vamos sair para jantar.

Coloquei meu vestido que tinha a cor azul tiffany, passei uma
maquiagem leve e calcei minhas sandálias.

Ele me esperava em pé, aos pés da escada, com as mãos no bolso da


calça, charmoso como sempre.

— Como pode ficar um pouco mais linda a cada segundo que passa?
— falou galanteador.

— Você que é lindo! — Segurei seu rosto com carinho, eu estava da


sua altura pois ainda faltavam dois degraus para descer, e o beijei
delicadamente.

— Vire-se. — Mandou, em tom de ordem. Arqueei as sobrancelhas


e ele sorriu. — Por favor — pediu gentil, da maneira correta.

Virei-me de costas para ele e Enzo colocou em meu pescoço um


colar com pedras brancas e uma única pedra no meio azul em formato de
uma gota de água, coisa mais linda.

Passei a mão por cima do colar, encantada.

— É lindo! — expressei-me, apaixonada nesse presente.

— Use os brincos também.

Voltei a ficar de frente para ele e peguei, dentro da caixinha que ele
estava segurando, os brincos, que também tinham o formato de uma gota.
Tirei os que estava usando e troquei pelos que ele me deu.

— Gostou? — indagou-me.
— Muito! Obrigada por esse presente. — Sorri, agradecida e
circulei o seu pescoço com os meus braços, dando um selinho casto em seus
lábios e sussurrando contra a sua boca. — Eu te amo!

— Eu também te amo, morena.

Não enrolamos nos agarrando, pois eu estava ansiosa para chegar


logo no restaurante. Estava amando o que eu havia conhecido da ilha,
encantadíssima com a beleza desse lugar.

Já no restaurante não foi diferente, a decoração era toda praiana,


com luzes baixas, ambiente aberto com visão privilegiada do mar e boa
música.

— Gostou? — perguntou atencioso enquanto puxava a cadeira para


mim.

— É lindo, tudo aqui é lindo!

— Espero que eu esteja incluso em tudo que é lindo aqui —


brincou, sentando-se ao meu lado.

— Com toda certeza.

Uma moça se aproximou com o uniforme do restaurante, toda


sorridente para nos atender.

— Boa noite, senhor Ziegler. — Abriu um enorme sorriso para ele,


só para ele, ignorando-me totalmente. — Me chamo Celine e estou à
disposição para atendê-lo. — Colocou o menu diante dele.

— Boa noite! — Ele retribuiu o cumprimento me encarando e pude


ver que estava segurando uma risada.

Ele estava achando isso engraçado?


A atendente ainda encarava o meu marido e eu quase surtei ao vê-la
umedecer os lábios na sua direção. Pigarreei, chamando a sua atenção.

— Boa noite, senhorita? — falou comigo, finalmente me notando.

— Senhora, senhora Ziegler. — De imediato já deixei avisado que


eu era, mas ela não pareceu se importar, voltando a atenção totalmente para
ele.

— Seja muito bem-vindo. O que deseja?

Gente, mas ela nem está fazendo questão de disfarçar, quanta falta
de educação.

— Escolheu, amor? — Enzo a ignorou e olhou para mim ao


perguntar.

— Pode escolher, amor — frisei bem o amor para ver se ela


entendia e abri um sorriso doce para ele.

— Gostaria desse menu aqui. — Apontou para o prato de frutos do


mar que estava no cardápio. — E uma garrafa de Domaine Romanée Conti
1995.

O sorriso da mulher ficava cada vez mais largo.

Ah, me poupe, não vou aturar isso não

— Celine — a chamei e ela me olhou curiosa.

— Sim?

— Faz um favor? — pedi para que se aproximasse e assim ela fez,


inclinando-se um pouco para frente. — Pare de dar em cima do meu marido
e faça apenas o seu trabalho. — A mulher arregalou os olhos e eu segurei
uma risada. — Obrigada por seu atendimento, ele é excelente! — Sorri e ela
se afastou rapidamente.

Enzo começou a rir e eu o encarei de maneira séria, arqueando as


sobrancelhas.

— Está rindo de quê?

— Você com ciúmes.

— Ah, e você estava gostando de ser assediado por ela?

— Não, claro que não. — Riu ainda mais e eu tive que rir também.

O restante do jantar ocorreu tranquilo, a comida era muito gostosa, o


vinho maravilhoso e a companhia ainda mais agradável.

— Vou ao banheiro e já volto — avisei, já me levantando.

— Tá bom.

Bebi muito vinho, já estava um pouco alegre e com muita vontade


de fazer xixi.

Depois de me aliviar, lavei minhas mãos e aproveitei para retocar o


batom.

— Assassina! — Escutei a mulher que estava perto da porta falar.

— Oi? — questionei, olhando para os lados, mas constatando que só


havia eu aqui dentro, então não tinha como ela estar falando com outra
pessoa.

— Assassina! — ela repetiu, dessa vez mais alto.


— Assassina? — Estreitei os olhos na sua direção. De que ela estava
falando?

— Você é Alice Caccini, não é?

Assenti.

— Agora sou Alice Ziegler. — Mostrei minha aliança. Espera! Ela


sabia o meu nome? — Como sabe o meu nome?

— Harry me mostrou um catálogo com fotos suas, quando ele


estava na Itália. Você sabe onde ele está agora, Alice?

— Eu não sei onde ele está. Por que me chamou de assassina?

Agora estou ainda mais confusa com o rumo dessa conversa.

— Eu também não sei onde ele está, provavelmente morto! Ele já


havia me avisado sobre a ameaça que sofreu e que foi espancado na época
da faculdade, e mesmo assim quis arriscar ir ao seu ateliê. Eu o alertei, mas
ele nunca havia te esquecido e quis pagar para ver, mas me avisou o que
poderia acontecer caso ele sumisse. A culpa é toda sua! — acusou-me
fervorosamente e saiu, deixando-me em estado de choque.

Como assim morto? Ela estava mentindo, não teria como ela saber
sobre isso. Enzo não o matou, ele não tinha porque fazer isso, ele não é tão
ruim assim. Foi só uma visita de amigos, ele não faria isso, ele não pode ter
feito isso.

Caminhei de volta para a mesa, cada passo dado com cuidado. Não
me sinto bem, o vinho e o que eu ouvi daquela mulher não me fizeram bem.

— Tudo bem, Alice? — Enzo perguntou e só então percebi que


estava parada na frente dele, o encarando.
— Vamos embora? — falei no automático, ainda estava sem reação.

— Já? Não vai querer a sobremesa?

— Não, eu quero ir embora!

— O que aconteceu, Alice?

Ele se levantou, aproximando-se de mim, mas eu recuei um passo.

— Não estou me sentindo muito bem, acho que bebi muito vinho,
quero deitar — menti, não querendo arrumar confusão dentro do
restaurante.

— Tá bom, vou pagar a conta e vamos.

E assim ele fez, pagou a conta e fomos embora. Não conseguia parar
de pensar no que aquela mulher me disse. O inimigo era tão ardiloso que ela
foi me encontrar justo aqui, quando eu e Enzo estávamos bem.

Seria uma armação de Mayla?

— Alice? — Ouvi sua voz me chamar quando já estava subindo as


escadas. — O que aconteceu?

Virei-me lentamente para ele e respirei fundo.

— Vou te perguntar uma coisa, por favor, não minta para mim —
pedi, já sentindo as batidas retumbantes do meu coração

— Jamais mentiria. Geralmente quando vocês dizem isso é porque


já sabem a resposta.

Assenti, mas eu ainda não tinha certeza da resposta, ou talvez eu


tivesse e não queria acreditar.
— O que você fez com o Harry?

— Pra que vamos falar disso agora? — Estreitou os olhos.

— Você disse que ia responder. — Cruzei os braços, encarando-o


seriamente, eu queria uma resposta e ele iria me dar.

— Eu disse que não mentiria, não disse que ia responder a sua


pergunta.

— Você me disse que ia deixar ele ir embora, me disse que não ia


fazer mal para ele! — gritei, já me alterando, sentindo meu corpo tremer.

— Quer sentar e conversar sobre isso ou quer ficar ai em cima


gritando?

— Só me responde, por favor, me responde. Cadê o Harry?

— Deve estar no inferno — respondeu com muita naturalidade


enquanto pegava uma bebida e eu senti meu estômago embrulhar.

Segurei no corrimão da escada para sustentar o meu corpo.

— Você o matou? — sussurrei a pergunta, pensei até que ele nem


fosse responder.

— Sim — afirmou, em alto e bom tom para que eu entendesse de


uma vez por todas.

Meus olhos queimaram e as lágrimas já se aproximavam. Respirei


fundo, sentindo uma chateação muito grande me consumir. Eu detestava
que na máfia eles matassem pessoas inocentes por puro capricho.

Dei as costas e fui para o quarto, deixando Enzo sozinho.


Tudo bem que eu pedi que ele matasse o pai de Romeu e agora falar
sobre matar as pessoas pode soar um pouco hipócrita da minha parte, mas
aquele homem não é nenhum inocente, ao contrário de Harry, que era um
trabalhador e cidadão comum, que só deu o azar de esbarrar nas pessoas
erradas.
Capítulo 27
Enzo Ziegler

Estava sentado na varanda bebendo e comendo salgadinhos.


Vontade de fumar do caralho!

Só estava esperando os ânimos se acalmarem para subir e conversar


com Alice. Conhecendo ela bem como a conheço, nesse momento ela
estava deitada na cama fingindo que estava dormindo depois de tomar um
banho quente para se tranquilizar.

Mas já dei tempo suficiente para ela se acalmar, então decidi que era
hora de subir.

Deixei o pacote e o copo ao lado na mesinha e subi. Entrei no quarto


e ela estava fazendo exatamente o que eu imaginava.

Sentei ao seu lado, liguei o abajur e a chamei.

— Vamos conversar, Alice. — Ela continuou em silêncio. — Não


precisa continuar fingindo que está dormindo, consigo perceber pela sua
respiração que não está.

Ela pareceu convencida de que não tinha para onde correr, bufou e,
irritadamente, sentou-se na cama.

— O que você quer conversar? — Olhou-me com raiva nos olhos.

— Esse é o nosso mundo, você não pode simplesmente aceitar?


— E eu tenho escolha? Não, eu não tenho. Tenho que aceitar e
pronto.

— Você quer ter escolha? O que você escolheria? — perguntei com


medo da sua resposta.

— Não vou responder isso. — Balançou a cabeça de um lado para o


outro.

— Me diga, Alice, o que você escolheria? — insisti, pois mesmo


com receio da sua resposta, eu queria ouvi-la.

Ficamos nos encarando, em silêncio, era como se tivéssemos


travando uma batalha visual.

— Você já sabe a resposta. — Abaixou a cabeça.

— Eu gostaria de ouvir e queria que você olhasse para mim


enquanto conversamos.

— Enzo… — sussurrou.

— Fala, Alice, me fala qual seria a sua escolha.

— Eu nasci na vida errada, eu não consigo achar essas coisas


normais e isso me magoa. Me desculpa, mas eu não acho normal matar uma
pessoa, tirar a vida, os sonhos, as oportunidades das pessoas. Não podemos
simplesmente olhar para a pessoa e falar: olha, hoje eu vou matar fulano
porque ele fez uma coisa que não me agradou. Isso não é justo!

— Entendi. Se você pudesse escolher, você não queria ter a vida que
tem hoje?

— Enzo, não leve as coisas por esse lado.


— Para que lado eu devo levar, Alice? Me explica, porque eu não
estou entendendo.

— Eu te amo, mas certas coisas que faz me amedronta. Eu quero


viver com você, mas longe de toda essa merda, quero construir uma família
com você, mas não quero nossos filhos nesse meio. Já pensou o nosso filho
passando por todo o treinamento? Nossa filha sendo obrigada a casar com
alguém que ela nem gosta? Eu não consigo imaginar, sofro só de pensar no
futuro.

— Esse é o meu mundo, esse é o nosso mundo, é quem somos, não


tem como mudar.

— Tem meu amor, vamos embora, vamos sumir no mundo, eu e


você juntos, nada mais importa — sugeriu, segurando na minha mão e
sorrindo.

— Você ainda pensa em fugir? Ir embora? Você não aprendeu nada?


As coisas não funcionam assim. — Puxei minha mão do seu toque. — Eu
não escolhi ser o Capo, eu herdei esse trono, eu não posso simplesmente
largar tudo e ir embora, você sabe o que acontece com quem faz isso? —
Não esperei a sua resposta e continuei. — Você pode imaginar o que
aconteceria com nós dois? Com você? Você quer viver fugindo? É esse o
futuro que você quer para os nossos filhos? Para nós dois? Se formos pegos,
estamos mortos. Se imaginarem que a gente pensa em fazer isso, estamos
mortos! Que droga, Alice! — exasperei-me, levantando nervoso e chateado
com ela.

— Desculpe...

— Não peça desculpas por aquilo que você não se arrepende, eu sei
que tudo que você mais deseja é ir embora e viver a tão sonhada "vida
normal" que você sempre quis.

— Você quer o quê? Você matou um cara porque ele simplesmente


era meu amigo, você quer que eu ache isso lindo? — Ela também se
alterou.

— Não pedi para você achar lindo!

— Eu vou viver com medo de que qualquer pessoa chegue perto de


mim. Caramba, Enzo, não é fácil viver nessa merda!

— Essa merda, Alice, é o que temos, é o que somos, você querendo


ou não, é o que você é!

— Eu não sou isso! Eu não sou uma droga de uma mafiosa, eu não
quero matar ninguém! — bradou, nervosa.

— Não quer? Até ontem estava pedindo a cabeça de um homem.


Qual é a nossa diferença?

— Ah, pelo amor, tenha dó, tem muita diferença!

— Qual? O seu pecado é menor do que o meu? Você pedir para


matar um homem é normal, mas eu matar um homem é bizarro?

— Eu tenho motivos para pedir isso!

— E eu tenho motivos para matar! — contrapus e ela bufou.

— Você matou ele a troco de nada.

— Matei porque ele queria o que é meu. Eu avisei antes e ele voltou
porque quis.

— Ele não queria, éramos colegas de faculdade, não tinha maldade.


— Isso é o que você acha, não o que ele achava.

— Não invente desculpas para minimizar a sua culpa.

— Culpa? — Comecei a rir. — Você acha que eu carrego alguma


culpa comigo? Olha bem nos meus olhos e veja se tem alguma culpa ou
remorso. Eu matei porque eu quis matar ele. Eu matei porque ele assumiu
que queria você. Porra, eu não sinto nem um pouco de culpa.

— Ele não falou isso, você está tentando deixar a situação mais
confortável para justificar o que fez.

— Eu não preciso deixar nada mais confortável para mim não,


Alice, não tenho porque mentir, se eu estou falando que ele disse é verdade,
pode perguntar ao Saymon, mas para ter certeza de que não estou mentindo
eu digo que não faria nenhuma diferença, mesmo que ele não tivesse falado
nada, eu o mataria de qualquer forma.

— Você é como meus irmãos, você gosta dessa vida… — comentou


baixinho.

— Gosto. — Não precisei nem de um segundo para responder, pois


sim, eu gostava e muito. Mafioso era o que eu era.

— Você já se arrependeu, Enzo? — Arqueei uma sobrancelha. —


Alguma vez na vida, você já se arrependeu por ter matado alguém?

— Você quer que eu diga a verdade ou quer que eu diga algo que
não vai te machucar?

— A verdade. — Sua voz saiu embargada.

— Não, eu nunca me arrependi.

— Você gosta?
— De matar? — Assentiu. — Quem merece sim, não mato nenhum
inocente.

Vejo uma lágrima rolar em sua bochecha, que ela limpa rapidamente
com o dorso da mão.

— Não sei o que dizer...

— Não precisa dizer nada. Somos muito diferentes, pensamentos


diferentes. Você não aceita e pelo visto não vai aceitar nunca quem somos e
como vivemos. Somos como o silêncio e barulho, tempestade e calmaria.
— Seus olhos marejados pelas lágrimas me encaravam. — Vou te deixar
pensar no que quer da vida e se você quiser ir embora, sumir no mundo, eu
te ajudo. — Seus olhos se arregalaram e meu coração ficou apertado. —
Não quero que você viva uma vida inteira infeliz.

— Enzo... — me chamou baixinho quando eu já estava abrindo a


porta do quarto para sair.

— Fala. — Não me virei para olhá-la, não queria que ela visse como
estava abalado.

— Você está falando sério?

Meu coração ardeu com a sua pergunta. Como se alguém tivesse


enfiado um punhal nele, rasgando-o sem piedade. Alice cogitava ir embora
e isso me doía profundamente.

— Sim, Alice, eu prometo. Se você quiser sumir, eu te ajudo e dou


um jeito de ninguém nunca mais te encontrar. Posso até forjar a sua morte, a
gente dá um jeito. — Forcei para a minha voz não sair tremida. — Arrume
as suas coisas.

— Por que?
— Vamos embora amanhã cedo.

Fechei a porta e saí. Desci rápido as escadas e fui em direção a


praia, precisava de ar para respirar, estava sufocado pra caralho. Soltei um
grito tentando diminuir a dor que estava dilacerando o meu peito.

Meu pai sempre teve razão, o amor é a pior desgraça que existe na
vida de um homem.

Alice era minha fortaleza, mas também era minha fraqueza.

Eu a amo tanto que sou capaz de abrir mão dela para que seja feliz.
Está decidido, se essa for a sua escolha, mesmo que me mate por dentro,
vou deixá-la ir.
Capítulo 28
Alice Caccini

Hoje fez uma semana que voltamos de viagem e não nos falamos
mais. Ele tem me evitado ao máximo, não faz nenhuma refeição em casa e
só vem para dormir e ainda dorme em outro quarto. Nem trabalhar no
escritório aqui dentro ele não quer mais e isso tem me deixado tão triste.

Pensei que minha escolha de cara seria ir embora, mas não, dói tanto
pensar em ficar longe dele e dos seus carinhos, que não tive coragem de
tomar nenhuma decisão ainda. Eu sei, sou covarde, sonhei tanto com esse
momento de poder ser livre e quando tenho a oportunidade, não consigo
aproveitar.

Passados os dias, continuei ajudando Maria. Não tenho mais


obrigação de fazer nada e nos primeiros dias ela nem queria aceitar, mas de
tanto eu insistir, ela acabou cedendo e eu quero continuar ajudando ela, pois
tem me feito bem.

Terminei de arrumar a biblioteca, tomei um banho, colocando um


vestido fresquinho, pois está bastante calor e vou direto para a cozinha jogar
conversa fora com ela.

— Que cheiro gostoso! — falei ao entrar na cozinha.

Maria cozinhava tão bem.

— Oi, minha menina, está com fome?


Ela tinha me chamado de minha menina igual chamava Enzo de
meu menino. Eu achava isso tão fofo.

— Estou sim.

— Senta aí que eu já te sirvo.

Tenho jantado na cozinha com ela nesses últimos dias. Enzo não
vinha para casa comer e eu não ia me sentar naquela mesa enorme sozinha,
já que Maria se recusava a sentar lá para jantar comigo.

— Ele não vem jantar hoje de novo?

— Por que está fazendo isso com vocês dois? — perguntou,


sentando-se à minha frente.

— O que eu posso fazer, Maria? Não consigo achar essas coisas


normais. — Dei de ombros.

— Você não precisa concordar, menina, apenas se mantenha


imparcial.

— Você acha que eu consigo?

— Por que ainda não foi embora? Ele te deu a chance que você
tanto queria.

— Eu não sei, de verdade, eu não sei. Eu deveria estar feliz por


conseguir a liberdade que lutei por tantos anos, mas eu só consigo sentir
tristeza — confessei, torcendo o nariz.

— Não é o que o seu coração deseja. Pare de pensar só nas coisas


ruins e foque nas coisas boas. Olha, Alice, eu conheço o Enzo há tantos
anos, praticamente o criei junto com sua mãe. Meu menino é um homem
tão bom. — Dei uma leve levantada na sobrancelha, abrindo um pequeno
sorriso. — Eu sei de todas as coisas erradas que ele faz, mas meu menino
não é um homem ruim, ele faz o que a posição dele impõe que ele faça.
Olhe em sua volta, quantos casamentos dentro da máfia são iguais ao seu?
Olha quantas mulheres sofrem com seus maridos. Meu menino não faz
nenhuma maldade com você, muito pelo contrário, ele te ama, te respeita.
Não é qualquer uma que tem a sorte que você teve. Pensa bem, a vida passa
tão rápido, perdemos tempo com tantas bobeiras. Aproveite o homem que
você tem, curta seu casamento, faça valer a pena.

Penso nas suas palavras e me lembro das palavras de Luara.

"Não tem como a gente voltar atrás, está feito, é nosso destino,
temos que ser espertas e inteligentes. A única maneira de viver bem e em
paz é jogando com as armas que temos."

— Você tem razão, Maria! — Abri um largo sorriso.

— Meu menino cresceu aprendendo que amar é errado e mesmo


assim ele te amou, Enzo é dócil igual a mãe — falou com ternura ao se
lembrar da mãe dele. — Por que você está jogando sua felicidade fora tão
fácil? Se você ficar sentada esperando que as coisas venham até você sem
esforço, lamento te informar, mas você nunca vai ser feliz.

— Obrigada, Maria, muito obrigada, estava precisando ouvir essas


palavras. — Levantei, dando um beijo estalado na sua bochecha. — Vou
ligar para ele, sei lá, vou dar um jeito de encontrá-lo.

Estava decidida a fazer pelo o meu casamento o que eu já deveria ter


feito a muito tempo: esforçar-me para dar certo e ser feliz.

— Ele está no escritório. — Levei um susto ao ouvir a voz de


Saymon.
Olhei para trás e ele estava parado na porta, comendo uma maçã, o
que me fez pensar que ele estava aí a algum tempo.

— Saymon, é feio ouvir a conversa dos outros — Maria o


repreendeu e eu achei graça.

— Isso não vai se repetir, Maria. — Ele bateu continência e todos


começamos a rir. — Está esperando o que para ir lá, Alice? — ele
perguntou e eu nem sabia a resposta, acho que estava nervosa e ansiosa. —
Concordo com tudo que a Maria disse, você está desperdiçando seu tempo
lutando por uma coisa boba, vai ser feliz e faça ele feliz, vocês merecem.

Era a primeira vez que ele trocava mais do que meia dúzia de
palavras comigo.

Caminhei até ele, sorrindo e o abracei.

— Obrigada, Saymon!

— Não tem porque agradecer, só não faça mais isso. — Estreitei os


olhos, confusa. — Me abraçar... Quero permanecer vivo.

Revirei os olhos, abrindo um sorriso sem graça e saí da cozinha,


indo direto para o escritório.

Parei na frente da porta, respirando fundo e sem muita coragem, dei


duas batidinhas na porta.

— Pode entrar. — Ouvi ele autorizar.

Bora, Alice! Entre aí e vá pegar o seu homem!

Entrei bem devagar, fechei a porta e caminhei para frente da sua


mesa, tomando coragem para falar tudo que eu sentia, mas estava tão
nervosa que minha voz parecia ter sumido. Não estava olhando, mas sabia
que seus olhos estavam em mim.

— Pode falar, Alice.

— Quero conversar. — Levantei a cabeça para olhá-lo.

— Sente-se. — Apontou para a cadeira à sua frente.

— Eu pensei na sua proposta — falei.

— E então?

Passei pela cadeira que ele me indicou e parei na sua frente. Ele
afastou um pouco a cadeira para me olhar e eu me aproximei, passando as
pernas em volta da sua cintura e os braços pelo seu pescoço, sentando-me
no seu colo.

Enzo me encarou de um jeito engraçado, um tanto surpreso com a


minha atitude inesperada.

— Eu não quero ir embora, ficar sem você nunca foi uma opção. Me
desculpa, meu amor. — Dei um selinho na sua boca. — Me desculpa por
ser tão boba. Eu te aceito como você é, isso não quer dizer que eu concorde,
mas eu aceito. Eu te amo com todos os seus defeitos, não quero e nem vou
embora, nunca. Vamos ficar juntos para sempre!

Não dei tempo para ele responder e ataquei a sua boca. Ele retribuiu
o beijo com fervor.

Enzo distribui beijos e mordidas por meu pescoço e colo. Abaixou


as alças do meu vestido, libertando meus seios e começou a chupa-los.
Estava tão excitada e podia sentir toda a sua excitação também.
— Por favor, me diga que está sem calcinha — grunhiu,
desesperado.

— Não, não estou. — Soltei um gemido quando ele mordeu o bico


do meu peito. — Mas podemos dar um jeito nisso.

Tentei me levantar, mas ele me impediu, segurando-me firmemente


pela cintura.

Suas mãos foram até a lateral da minha calcinha e a rasgou. Me


afastei um pouquinho, sem sair do seu colo e abri sua calça, abaixando-a
um pouco, junto com a sua cueca, liberando seu pau rígido.

Apoiei-me em seus ombros, levantando-me um pouquinho, ele


encaixou seu pau na minha entrada e eu fui sentando lentamente, sentindo-o
me preencher de pouco em pouco. Soltei um gemido sôfrego quando me
senti ser preenchida por completo.

Suas mãos seguravam firmes em meu cabelo e cintura, enquanto sua


boca chupava incansavelmente os meus seios.

Comecei a cavalgar vagarosamente, apreciando cada segundo.

— Eu te amo! — declarei, gemendo ainda mais alto quando ele


empurrou forte contra mim.

— Eu também te amo, morena. — Mordeu meu lábio inferior,


chupando-o depois. — Gostosa... Porra!

Nossos corpos estavam suados, estávamos ofegantes e insaciáveis


por prazer.

— Eu vou gozar... — avisei, choramingando.

— Eu também...
Ele apoiou uma mão no meu ombro, me impulsionando a sentar
ainda mais rápido e com a outra apertava meu quadril com força. Joguei a
cabeça para trás, inebriada por tanto prazer.

— Olha para mim, Alice, quero ver você gozar.

Fiz o que ele pediu e gozei enquanto chamava o seu nome. Fui
preenchida por seu jato quente de sêmen.

Encostei minha testa na sua, tentando controlar minha respiração e


sorri.

— Eu quero viver para sempre ao seu lado — falei pausadamente,


ofegante.

— Ficaremos sempre juntos! — Segurou minha nuca e beijou-me


com cuidado e sensualidade. A língua de Enzo brincava com a minha,
explorando minha boca.

— Você me deixaria ir embora? — Afastei nossas bocas para


perguntar.

— Nunca!

Um enorme sorriso se formou no meu rosto e meu coração ficou


satisfeito com sua resposta. A verdade é que depois que conheci o
aconchego dos braços de Enzo, não existia outro lugar no mundo onde eu
queria estar.

Senti seu pau pulsar dentro de mim, avisando que nossa transa não
havia acabado por aí.

Enzo me levantou, colocando-me de costas para ele, com as mãos


apoiadas na sua mesa, abriu bem as minhas pernas, levantando o meu
vestido e entrou em mim novamente. Dessa vez não foi carinhoso, não
estávamos mais fazendo amor, era um sexo quente e bruto, mas não menos
delicioso.

Estava sentada na cozinha, olhando para o prato, enquanto escutava


Maria falar alguma coisa aleatória que não conseguia prestar atenção.

Estava tão desanimada e triste, isso tinha se tornando um padrão nos


últimos tempos.

— O que foi, minha menina? — Maria parou na minha frente,


chamando a minha atenção.

— Nada demais, Maria.

— E esse nada demais está te tirando até a fome?

Sorri fraco. Em alguns meses ela me conheceu melhor do que muita


gente que me conhecia há anos.

— Eu não estou conseguindo engravidar — contei baixinho,


bastante chateada.

— Calma, minha menina, você vai conseguir.


— Ah, não sei, Maria! Já tem alguns meses que eu e Enzo estamos...
— Parei, olhando-a com vergonha. — Você sabe... Já tem uns meses e nada,
eu não fiquei grávida, tô começando a achar que posso ter algum problema.

— Eu até achei que você já estivesse, anda comendo tão bem nos
últimos dias e até deu uma engordadinha.

— Eu também pensei, mas fiz o teste hoje cedo e deu negativo —


falei, fazendo uma careta de desânimo.

— Não fique assim, minha menina, você vai conseguir. No tempo


certo você vai engravidar.

— E se eu não conseguir? Você acha que Enzo continuaria me


amando? E o conselho? Eu estou com medo. — Passei as mãos no rosto,
eram tantos pensamentos que me atormentavam.

Talvez eu tivesse adquirido algum problema depois que perdi meu


filho e aquele médico infeliz não me falou nada.

— Enzo vai continuar te amando, com toda certeza, ele é louco por
você. Sobre o conselho, eu não sei, mas tenho certeza que ele daria um
jeito, mas não vamos pensar nisso, você vai conseguir.

— Minhas cunhadas engravidaram logo depois que casaram. Luara


tem o Luigi, já te falei como meu sobrinho é lindo? — Ela balançou a
cabeça afirmando e eu abri um sorriso doce ao me lembrar do pequenino.
— E Mel está grávida também, talvez o problema seja eu...

— Já pensou que o problema pode ser o Enzo? Acho que você


deveria conversar com ele e vocês dois procurarem um médico.

— Tenho medo da reação dele — confessei, pois sempre que


terminamos de transar e estamos conversando, ele fala que me engravidou,
então eu sei que é algo que ele quer muito. E eu também quero.

— Alice, deixa eu te falar uma coisa. — Maria puxou a cadeira,


sentando-se ao meu lado. — Eu reparei que você é muito insegura, minha
menina, precisa trabalhar esse lado seu. Enzo já provou e prova todos os
dias o quanto te ama e que não vai te abandonar por nada nesse mundo.

Ela mais uma vez tem razão, ele faz questão de enfatizar isso todos
os dias.

— Você tem razão, vou conversar com ele sobre isso hoje e vou
procurar um médico, muito obrigada, Maria! — Virei-me para o lado, a
abraçando.

— Alice. — Escutei a voz potente do meu marido.

— Oi, meu amor, chegou cedo. — Levantei-me, correndo para


abraçá-lo, mas logo percebi que ele não estava com uma cara muito boa. —
O que aconteceu? — perguntei desconfiada.

— Vamos para a Itália.

— Agora? Por que?

— Seu irmão, Renzo, foi baleado, precisamos ir.

— O quê? — Meus olhos se arregalaram e eu abri a boca, abalada.


— Como ele está? Como ele está, Enzo? — As lágrimas já tomavam conta
dos meus olhos.

— Eu não sei, amor, mas já tem um avião nos esperando e já


arrumei algumas coisas suas, vamos?

Segurei firmemente na sua mão e olhei para Maria, que abriu um


sorriso doce, me falando que iria ficar tudo bem.
A viagem toda eu não consegui pregar os olhos, só conseguia pensar
no meu irmão, queria vê-lo para ter certeza de que estava tudo bem. Queria
ver Melanie também, saber como ela e os bebês estavam diante de tudo que
aconteceu.

Após longas horas de viagem, em que pareceu que ia durar uma


eternidade, chegamos e fomos direto para o hospital. Assim que
aterrissamos e chegamos no hospital, pudemos ver que graças a Deus Mel
estava bem. Já meu irmão não estava no seu melhor momento e precisava
de doação de sangue.

Mal pude acreditar quando Enzo disse que tinha a mesma tipagem
sanguínea que ele precisava, se disponibilizando a doar e sendo solícito
quando disse ao médico que doaria o quanto fosse necessário para salvar a
vida do meu irmão.

Mas apesar da sua boa vontade, ele não poderia doar tanto, mas
Giovanni, irmão da Mel, também era compatível e doou também. Ambos
salvaram a vida do meu irmão e eu era muito grata aos dois.

— Obrigada! — Melanie agradeceu, emocionada.

— Não me agradeça, Melzinha, isso sairá caro para seu marido o


resto da vida. — Dei um tapa no braço dele. Isso era hora de Enzo fazer
graça? — Ai, amor, eu acabei de tirar sangue, estou fraco, você tem que
cuidar de mim e não me bater.

Começamos a rir do drama do meu marido. Quem vê assim nem


parece que é um sanguinário.

— Obrigada, meu amor, a cada dia eu te amo mais e mais —


agradeci, abraçando-o com ternura.
— Mereço até uma recompensa — sussurrou no meu ouvido.

— Merece — respondi sorrindo e seus olhos brilharam.

Um mês que estávamos na Itália esperando a recuperação do meu


irmão. Ele acabou ficando um mês internado, em coma, mas finalmente
acordou. Foram trinta dias de tortura, mas finalmente acabou.

Enzo não se opôs em ficar aqui aguardando comigo, ele era tão
compreensivo, me ajudou, me deu forças, foi meu apoio e meu emocional
nesses últimos dias. Adiou todos os seus compromissos para estar aqui ao
meu lado e eu valorizava tanto essas demonstrações de carinho e cuidado.

Ainda não conversei com ele sobre a questão: filhos. Mas no fundo
eu sabia que ele achava estranho ter passado todo esse tempo e eu ainda não
estar grávida, mas como um bom gentleman que é, não comentou nada.

Visitamos Renzo, meu marido implicou com ele sobre ter doado
sangue e meu irmão revidou, então já tinha certeza de que ele estava bem.

— Amor, agora temos que voltar para casa, tenho muitos assuntos
para resolver — falou assim que saímos do quarto do hospital, dando
privacidade a Melanie e Renzo.

— Tudo bem.
Embora eu ame estar na Itália ao lado da minha família, sabia que
aqui não era mais o meu lar e que ele tinha milhões de coisas para resolver
na Alemanha que foram adiadas para ele ficar aqui comigo.

— Se despeça da sua família, o avião está nos esperando.

Abracei meus pais, Rocco e Luara, e pedi para eles falarem com
Renzo e Melanie, não queria atrapalhar o momento deles.

— Quando chegarmos em casa tenho um presente para você —


avisou, já quando estávamos a caminho do aeroporto.

— O que é? — indaguei, curiosa.

— Surpresa.

— Me dá uma dica pelo menos — pedi, estava muito ansiosa e não


aguentaria até chegar em casa.

— É uma coisa que você queria muito.

— De comer? — Balançou a cabeça em sinal negativo, sorrindo. —


Roupa, sapatos, joias? — Continuou negando, deixando-me ainda mais
confusa. — Me fala o que é, por favor — insisti.

— Chegando lá você vai saber o que é, mas te garanto que a partir


de hoje, você vai ficar em paz.

Não tentei mas persuadi-lo porque sabia que era em vão, ele não ia
falar mesmo.

Agora era segurar a ansiedade e esperar chegar em casa para saber o


que é esse presente que vai me deixar em paz.
Parecia que a viagem demorou mais do que o normal, tudo porque
fiquei contando as horas, os minutos e os segundos para chegar.

Quando aterrissamos, Enzo queria parar para comer alguma coisa,


mas eu não aceitei, quis ir direto para casa.

Chegamos e ele ainda tentou me enrolar. Oh, raiva! Fiquei com


vontade de socar a cara dele. Minha menstruação deveria estar para vir
porque eu estava super nervosa, com o corpo cansado e com uma fome
infinita e sempre ficava assim quando estava para entrar na TPM.

— Você tem como me mostrar a surpresa agora ou vai continuar me


enrolando? — falei nervosa, cruzando os braços.

Esperei ele tomar banho, tomei um banho também, esperei ele fazer
alguns telefonemas, comemos e agora estava aqui impaciente esperando.

— Vou te mostrar agora — afirmou, com um sorriso debochado no


rosto. — Você precisa ser mais paciente, meu amor.

— Anda, Enzo, você está me matando de curiosidade.

Ele riu e segurou na minha mão. Saímos de dentro da casa e


caminhamos para o fundo do quintal, paramos na frente de um galpão e eu
achei estranho.

— O que estamos fazendo aqui?

— Seu presente está aí dentro. — Apontou com a cabeça para o


lugar.

Entrei com ele em passos vacilantes, esse lugar me fazia arrepiar,


macabro.

— Tragam-no — Enzo ordenou aos seus soldados.


Apertei ainda mais forte a mão dele.

Os homens rapidamente voltaram com um homem dentro de uma


espécie de gaiola. Ele está bastante machucado e por causa disso demorei
um pouco para reconhecer o seu rosto, mas logo o reconheci, eu
reconheceria esse maldito rosto em qualquer lugar.

— Então foi você — o infeliz falou com a voz bem baixa e com
bastante dificuldade.

Não respondi, apenas olhei para Enzo e abri um enorme sorriso em


agradecimento, soltando a sua mão e saindo do galpão às pressas.

— O que foi, meu amor? — Ele veio atrás de mim, segurando o


meu braço.

— Obrigada por isso, agradeço muito por fazer esse infeliz pagar
pelo que fez com o Romeu, mas eu não quero saber o que você vai fazer
com ele, não tenho estômago para isso.

— Desculpa, pensei que queria vê-lo.

Fiquei na ponta dos pés, segurei o seu rosto entre minhas mãos e dei
um beijo carinhoso nos seus lábios

— Não se desculpe, eu estou feliz demais. Eu quero ele morto, só


não quero vê-lo morrer. — Dei outro beijo nele, esse mais demorado que o
outro. — Faça ele sofrer, muito — pedi e ele sorriu.

— Pode deixar comigo, morena.

Seu sorriso se expandiu, eu sabia que ele estava no seu playground e


que agora a diversão iria começar.
Capítulo 29
Alice Caccini

Não podia negar que estava feliz demais em saber que Enzo
conseguiu pegar aquele maldito que matou o meu amigo e o faria pagar
caro por isso. Queria que ele sofresse tudo que Romeu sofreu na vida por
causa do preconceito dele. Tenho certeza que Enzo vai fazer com que a cada
segundo de tortura ele se arrependa por tudo que fez a Romeu.

Voltei para dentro de casa saltitante, cantando alegremente.

Enzo tinha razão, eu finalmente teria paz.

— Que cheiro delicioso é esse? — perguntei assim que entrei na


cozinha e senti o aroma gostoso, que mais me parecia chocolate. — Hum,
chocolate? — gemi de satisfação.

— É bolo de chocolate — afirmou. — Estou fazendo especialmente


para você.

— Ai, que delícia! Eu amo bolo de chocolate.

— E eu não sei, minha menina?

Olhei para a panela onde ela estava mexendo o brigadeiro e salivei.

— Quer raspar a panela? — perguntou rindo.

— Quero! — respondi lacônica, toda feliz.


Ela jogou a calda em cima do bolo e me deu a panela. Não demorou
dois minutos e eu já havia devorado todo o conteúdo do recipiente.
Resultado dessa afobação? Comecei a me sentir mal por ter comido tão
rápido.

— Você está bem? — Maria indagou, se aproximando de onde eu


estava sentada.

— Não, Maria, acho que comi muito rápido.

Saí correndo em direção ao banheiro mais próximo e vomitei tudo


que tinha ingerido. Maria veio atrás de mim e segurou o meu cabelo, depois
levantou o meu rosto para que eu pudesse parar de vomitar.

Lavei minha boca e meu rosto, ainda sentindo o gosto amargo do


vômito na minha garganta. Maria me levou para a cozinha e me serviu um
copo de água gelado, que desceu muito bem, dando um certo alívio ao meu
estômago.

— Você precisa ver isso, minha menina — falou com carinho,


acariciando os meus cabelos.

— Foi a primeira vez que aconteceu, acho que fui com muita sede
ao pote.

— Eu acho que foi outra coisa. — Sorriu.

— O quê?

— Será que não tem um bebê aí dentro? — Apontou para a minha


barriga.

— Será? — Meu coração se encheu de esperança e eu olhei para a


minha barriga, já imaginando ela grande, gerando mais um fruto do meu
amor e de Enzo.

— Marque um médico e faça um exame.

— Não vou aguentar esperar todo esse tempo. — Referi-me a


esperar uma consulta com o médico. — Preciso saber disso agora. —
Levantei-me decidida a descobrir logo e acabar com essa ansiedade que
passou a me consumir.

— Peça para algum soldado ir comprar um teste para você.

— Não, não quero que Enzo saiba, se for positivo eu quero fazer
uma surpresa — falei, animada.

— Então o que você vai fazer?

— Vou na farmácia eu mesma.

— Ele vai ficar sabendo do mesmo jeito.

— Agora ele está ocupado e quando ele descobrir, eu já vou ter a


resposta. Eu mando notícias, mas se caso ele perguntar, eu fui ao
supermercado. — Dei um beijo na sua bochecha, peguei meu celular e saí
da cozinha animada.

Encontrei Saymon na entrada da casa conversando com algum


soldado.

— Oi, Saymon.

— Senhora — ele me cumprimentou com um aceno contido de


cabeça.

Ele só falava dessa maneira séria comigo quando estava perto dos
outros funcionários, segundo Enzo era para poder dar exemplo, mas eu não
gostava disso.

— Eu vou ao supermercado rapidinho — informei.

— O Senhor Ziegler sabe disso? — perguntou desconfiado,


provavelmente por não ter recebido nenhuma informação.

— Ele está ocupado, você sabe bem com o que. — Assentiu,


sabendo do que eu estava falando. — Me disse que era para te pedir
qualquer coisa que eu fosse precisar. — Fiz minha melhor cara de menina
pidona.

— Tudo bem, vou pedir para um soldado te acompanhar.

Apenas concordei e aguardei o soldado chegar, orando para que ele


não fosse nenhum fofoqueiro e contasse para Enzo antes de mim.

Fizemos o trajeto todo em silêncio. Entrei no supermercado e revirei


os olhos com esse soldado parecendo a minha sombra. Precisava arrumar
uma maneira de despistar ele, caso contrário não ia conseguir fazer
nenhuma surpresa, tudo eles passavam para o Enzo.

Comprei algumas bobeiras só para disfarçar, pagamos e fomos


direto para o carro. Quando chegamos no estacionamento, havia um
pequeno tumulto, algumas pessoas estavam discutindo e pedi para que ele
guardasse as poucas compras e enquanto ele se distraía para guardar as
coisas no porta-malas, eu corri em direção às pessoas.

Saí do estacionamento e atravessei a rua correndo, quando olhei


para trás, vi ele do outro lado da rua me procurando e aproveitei para entrar
na farmácia.

Depois eu explicaria para o soldado o porquê eu fugi. Sabia que era


errado, mas poxa, não conseguia fazer nada sem passar pelo Enzo antes, eu
só queria fazer uma surpresa, nada demais.

Pedi ao atendente dois testes e fui ao banheiro da farmácia. Fiz os


dois e esperei os três minutinhos que dizia na embalagem.

Meu coração retumbava dentro do peito. Queria muito que desse


positivo.

Meu celular apitou e surpreendentemente era uma mensagem de


Cris.

Cris: Alice, te vi agora na rua, próximo a farmácia, será que


podemos conversar?

Eu: Sobre o quê? Estou com um pouco de pressa.

Respondi e rapidamente olhei para o teste, meus olhos se


arregalaram e meu coração disparou.

Cris: Estou indo embora da Alemanha e queria me despedir de


você. Sei que não mereço te pedir isso, mas se você puder me dar a
oportunidade de me explicar mais uma vez, ficarei grato.

Eu: Se for rápido, tenho um compromisso marcado.


Não conseguia ser uma pessoa ruim e, apesar de tudo, gostava muito
dele.

Cris: É rápido, não irei tomar muito o seu tempo. Atrás dessa
farmácia tem uma pracinha, podemos nos encontrar lá?

Eu: Sim.

Guardei os testes na bolsa, saí do banheiro, agradeci aos atendentes


e pedi que falassem, caso um homem mal-encarado viesse me procurar, que
eu estava na pracinha e fui ao encontro de Cris. Olhei na rua e não encontrei
o soldado, ele estava me procurando por aqui, será que não me viu entrar na
farmácia? Bom, falarei com Cris, voltarei para o carro, onde ele
provavelmente está me esperando, pedirei desculpas e explicarei para Enzo
o motivo que enganei o coitado, tenho certeza que ele vai entender e amar a
surpresa.

A pracinha era bem perto da farmácia, não demorei dois minutos


para chegar e quando cheguei, procurei Cris em todos os lugares, mas não o
encontrei.

Peguei meu celular dentro da bolsa para mandar uma mensagem


para ele, mas parei ao sentir algo gelado encostar nas minhas costas.

— Fica quietinha. — Escutei uma voz feminina falar comigo, não


precisei nem olhar para saber quem era.

— O que você quer, Mayla? — perguntei sem olhar para trás.


— Você vai andar comigo até aquele carro preto ali na frente, sem
fazer nenhuma gracinha ou eu atiro sem pensar duas vezes.

Respirei fundo, pois sabia que ela realmente seria capaz disso.

— Cadê o Cris?

— Não te interessa, vamos, anda. — Apertou ainda mais a arma


contra as minhas costas, empurrando-me.

Fiz o que ela pediu e sem que ela visse, deixei minha bolsa em cima
do banco da praça.

Caminhei com ela até o carro e entrei.

Era evidente que eu estava com medo, mas eu sabia que Enzo iria
me encontrar. E embora eu tenha errado em ter fugido do segurança,
tadinho tão calminho que nem teve tempo de perceber que eu faria isso, eu
não fiz de má intenção, eu só queria fazer uma surpresa e tudo teria dado
certo, se não fosse pela Mayla. Oh, mulherzinha rejeitada, insuportável.

Provavelmente essa vaca já estava nos vigiando e só esperando uma


oportunidade de me pegar desprevenida. Pelo visto, eu dei a ela tudo que
precisava. E agora só podia torcer pra que tudo acabasse bem.
Capítulo 30
Enzo Ziegler

Depois de torturar muito aquele traste, pedi para os meus homens


deixarem ele um pouco de molho na água e depois colocá-lo de volta na
gaiola, não iria matá-lo agora, ele precisava sofrer mais. A morte de Romeu
finalmente estava sendo vingada.

Voltei para casa procurando Alice, mas não a encontrei em lugar


nenhum.

— Maria, você viu a Alice? — perguntei para a senhora que estava


na cozinha mexendo na panela.

— Ela saiu para ir ao supermercado mais cedo, deve estar voltando.

— Peça para ela ir ao meu escritório quando chegar, por favor.

— Sim, senhor.

Fui direto para o escritório para resolver algumas pendências. Voltei


de viagem com tanta coisa pendente que iria precisar de muitos dias para
colocar tudo em ordem, mas valeu a pena. Fiquei ao lado da minha mulher,
é assim que tem que ser, era o seu marido e precisava estar presente em
todos os momentos da sua vida.

— Senhor... — Saymon entrou no escritório com uma cara estranha.

— Diga, Saymon.

Eu o conheço muito bem para saber que tinha alguma coisa errada.
— A Alice...

Nem deixei ele terminar e já me levantei, nervoso.

— O que tem a Alice?

— Ela sumiu.

— Como assim sumiu? — gritei, exasperado.

— Vou chamar o soldado para explicar.

O rapaz entrou no escritório todo nervoso.

Tentei manter uma postura imparcial, mesmo que por dentro eu


estivesse morrendo de tanta raiva e medo.

— Sente-se e me conte o que aconteceu.

O rapaz se sentou e eu fiz o mesmo.

— Fomos ao supermercado, ela comprou algumas coisas e fomos


direto para o estacionamento. Chegando lá, ela pediu que eu colocasse as
compras no porta-malas. Lembro que estava tendo uma pequena confusão
no estacionamento e quando eu olhei, ela tinha se misturado no meio dessas
pessoas e saiu correndo, eu fui atrás dela, mas não a encontrei.

— Você está me dizendo que ela fugiu?

— Isso mesmo, senhor.

— O seu trabalho era vigiá-la e protegê-la. Está me dizendo que


falhou?

— Sim, senhor. — Abaixou a cabeça, envergonhado.

— Você viu para onde ela foi?


— Não, senhor.

— Então você não tem nenhuma serventia para mim.

Saquei minha arma, que ficava na mesa do escritório e dei um tiro


certeiro na sua testa.

— Peça para que limpem isso — falei com Saymon. — Estou indo
para a sala de comando, vou vasculhar as câmeras que ficam ao redor do
supermercado, ligue para os irmãos dela também.

— Sim, senhor.

Estava nervoso, não podia acreditar que ela tivesse simplesmente


sumido dessa forma, ela não ia fugir, estávamos bem, muito bem.

Olhei todas as câmeras que tinha acesso, vi que ela entrou na


farmácia e depois que saiu foi para uma rua onde as câmeras não estavam
funcionando e isso me fez ficar ainda mais desconfiado.

Pedi que Saymon mandasse alguns homens para o local.

— Interroguem todos de dentro da farmácia e procurem em tudo


quanto é canto daquela rua — ordenei.

Fiquei impaciente e apreensivo esperando por alguma resposta.

Abri a garrafa de uísque e a bebi no gargalo mesmo, preciso de todo


álcool possível, preciso me acalmar.

Queria fumar. Porra, eu queria muito fumar!

— Saymon, me dá um cigarro.

— Não tenho — mentiu descaradamente para mim.


— Você fuma, como não tem a porra de um cigarro?

— Não tenho — repetiu, deixando claro que não iria ceder ao meu
pedido.

— Não mente pra mim, caralho, me dá a porra do cigarro! — Dei


mais uma longa golada na bebida.

— Não vou te dar.

— É uma ordem! — Dei um tapa na mesa, irritado.

— Não darei da mesma forma.

— Caralho, Saymon, me dê um cigarro! — Eu estava praticamente


implorando, desesperado.

Sem Alice, eu precisava de nicotina. Porra! Eu precisava muito.


Alice era a cura do meu vício. A parte boa e desorganizada da minha vida.
Ela era quem fazia o meu coração bater. E eu estava muito, mas muito
desesperado.

— Você pode ser meu chefe, mas também é meu amigo, não vou
deixar você cair mais uma vez, você precisa ter foco, não é matando seus
funcionários, não é um cigarro e nem essa droga de bebida que vai te ajudar
a encontrar sua mulher, você tem que ter foco, Enzo, precisa ficar bem para
poder encontrá-la.

— E se ela não quiser ser encontrada? E se ela foi embora? — Essa


hipótese fazia meu coração ficar esmagado dentro do peito.

— Mesmo assim, cara, se concentre nas coisas que você tem que
fazer. Sei o quanto você ama ela, mas não pode fazer disso a sua derrota.
Soltei a garrafa enquanto o encarava. Ele estava certo, eu tinha que
fazer de tudo para encontrá-la, não podia perder a cabeça agora.

As horas foram passando, meus soldados voltaram, a mulher da


farmácia informou que ela usou o banheiro e saiu, deixando avisado, caso o
soldado a procurasse, que ela havia ido até a pracinha, que ficava próxima a
farmácia.

— Senhor, os senhores Caccini estão aí fora — avisou.

— Peça para entrarem.

Deixei a garrafa ao meu lado e cocei os olhos, estava cansado e o


desespero não estava me ajudando a pensar em uma solução para encontrá-
la.

— Enzo, Saymon. — Rocco entrou na sala junto com o seu irmão.

— O que aconteceu, Enzo? — Renzo perguntou. Ele já parecia bem


melhor do susto que passou quando levou os tiros.

— Ainda não sei. Ela saiu para ir ao supermercado e sumiu. O


soldado que estava a acompanhando disse que enquanto ele guardava as
compras ela saiu correndo.

— Cadê esse soldado? Ele só sabe isso? — Rocco perguntou.

— Está morto — respondi e o silêncio se instalou por alguns


segundos. — Ela foi até a uma farmácia e depois para uma pracinha
próxima, não consigo imaginar o que foi fazer lá sem o soldado.

— Senhor. — Saymon entrou na sala novamente — Um menino


entregou isso no portão.

Ele me entrega uma carta.


— Que menino? — questionei curioso e abri a carta.

— É um desses meninos de rua, senhor, já o interroguei e ele não


sabe de nada. Disse que um homem entregou isso a ele e deu um dinheiro
para que trouxesse aqui, ele deve ter 12 anos.

Minhas mãos tremiam conforme eu ia lendo o que estava escrito.

"Meu amor, não sinta raiva de mim, eu tive meus motivos para fazer
isso.
Te amo e sempre te amarei!
Obs.: Estaremos sempre juntos.
Com amor, Alice"

— O que tem nessa carta? — Renzo estreitou os olhos na minha


direção e eu entreguei para que eles pudessem ler.

— Mais que porra! — Rocco bateu na mesa. — Alice não aprendeu


nada!

Levantou nervoso enquanto o irmão apenas passava as mãos no


rosto, visivelmente nervoso também.

— Você sabe que se não quiser continuar casado com ela podemos
levá-la e decidir o que fazer, ou você pode tomar qualquer decisão referente
a isso — explicou Rocco.

— Não estou com cabeça para pensar nisso.

Saymon entrou na sala trazendo a bolsa dela.


— Uma moça viu ela deixando essa bolsa na praça e entregou na
farmácia — Saymon avisou e me entregou.

Vasculhei a sua bolsa, surpreendo-me ao ver dois testes de gravidez


próximo ao seu celular.

Como a mulher da farmácia não falou que ela comprou isso? Que
porra! Um bando de mentirosos nesse mundo.

Saymon ficou em silêncio me encarando, ele provavelmente já


mexeu na bolsa procurando alguma informação. Enquanto os irmãos me
encaravam sem entender o meu espanto.

— A mulher viu ela? — Referi-me à mulher que encontrou a bolsa,


pois já sabia que o pessoal da farmácia eram uns filhos da puta que
omitiram essa informação. Vontade de metralhar aquela porra.

— Sim, disse que ela entrou no carro com uma outra pessoa, mas
não conseguiu ver quem era pois estava de costas e de blusa de frio com
capuz, mas parecia ser uma mulher.

Desgraçada! É ela!

— O que foi? — Rocco perguntou impaciente.

— Ela não fugiu, Mayla está com ela!

— Você tem certeza? — Renzo parecia duvidar que a irmã não


havia fugido.

— Absoluta! Ela não iria embora grávida. — Coloquei os testes em


cima da mesa e os dois me olharam assustados. — Não deixaria a bolsa
para trás e nem me mandaria essa carta, ainda mais dizendo que estaríamos
sempre juntos.
Mexi no celular dela e encontrei as últimas mensagens que trocou
com Cris, pedi para que o encontrassem e que o trouxesse para mim, vivo.

Depois de algumas horas de busca, Saymon disse que ninguém o


encontrou. Eu vasculhei todas as câmeras da cidade, mas aquela cachorra
deu um jeito de desligar todas enquanto ela fazia o trajeto.

Por que eu não matei essa vadia? Olha o que a porra de uma
consideração tá me causando, uma dor de cabeça dos infernos e minha
esposa correndo risco. Consideração é um caralho, mandarei Mayla para o
inferno sem dó.

— Senhor? — Saymon retornou ao escritório depois de um tempo.

— Sim?

— O Cris está aqui e quer falar com o senhor.

Eu e os irmãos Caccini nos encaramos, achando isso estranho ele ter


ido por livre e espontânea vontade até minha casa.

— Peça-o para entrar.


Capítulo 31
Alice Caccini

O carro parou de se movimentar e com ajuda de uma outra pessoa


que não era a Mayla, eu desci do carro. Sabia que não era ela porque a mão
era mais forte e áspera, parecendo ser de um homem.

Será que era o Cris? Não conseguia enxergar nada com esse negócio
na cabeça.

Caminhei como se estivesse pisando em ovos, não sabia para onde


estavam me levando, muito menos ver onde estava pisando.

Fui muito burra em ter acreditado nas mensagens do Cris, mas não
desconfiei, não pensei que ele fosse capaz de me fazer mal e já tinha tanto
tempo que a irmã dele estava sumida, na minha cabeça ela já tinha
superado.

Com ajuda dessa pessoa desconhecida, sentei-me em uma cadeira,


logo o saco preto que estava na minha cabeça foi retirado e abri os olhos
com dificuldade, a claridade agora estava me incomodando.

— Vamos bater um papinho. — Mayla era quem estava sentada à


minha frente.

Ela segurava um papel e uma caneta, acenou para o rapaz e ele


desamarrou minhas mãos. Eu não sei quem ele era, nunca o vi antes.

— É o seguinte. Primeira coisa: sem gracinhas, não pensarei duas


vezes antes de te matar. Segunda coisa: vamos escrever uma cartinha de
amor para seu maridinho. — Estendeu o papel e a caneta para mim.

— O que você quer que eu escreva aqui?

— Uma despedida. Quero que seja breve, sem muitas informações,


mas seja o mais natural possível.

Pensei no que escreveria aqui. Se eu escrever essa carta, será que


Enzo vai achar que eu fui embora? Preciso pensar em uma maneira de
colocar alguma informação para que ele perceba que essa carta não é uma
despedida de verdade.

— Anda garota, faz logo o que eu mandei — apressou-me, exigindo


que eu escrevesse logo.

Fiz o que ela mandou e escrevi.

— Coloquei essa observação porque a gente sempre usa essa frase


em todas as nossas mensagens. — Entreguei o papel para ela que me olhou
desconfiada. — Você disse que era para ser o mais natural possível —
justifiquei-me, torcendo para ela acreditar.

— Ok. — Ela se virou para o rapaz. — Leve isso e dê um jeito para


que chegue nele sem levantar suspeitas.

O homem apenas assentiu e saiu, deixando apenas nós duas ali. Eu


até pensei em fazer alguma coisa, mas ela estava armada e pela sua cara,
podia perceber que estava totalmente desequilibrada.

— Você acabou com a minha vida — falou enquanto passava as


mãos pelo rosto repetidas vezes, completamente descontrolada.

— Eu não fiz nada com a sua vida — respondi tranquilamente.


— Fez! — berrou. — Você apareceu do nada, fez com que Enzo se
apaixonasse por você. Você tem ideia disso? Enzo nunca tinha se
apaixonado por ninguém antes, nunca! — continuou gritando,
descontrolada. — Ele perdeu a cabeça no momento em que te conheceu,
você enfeitiçou ele. Depois que você apareceu, tudo deu errado, tudo!

— Eu fui embora como você orientou, Mayla, ele foi atrás de mim,
fui obrigada a casar. Você não poderia ter evitado isso? — Entrei no seu
jogo louco.

— Eu tentei, tentei de todas as formas, fiz de tudo para que ele não
te encontrasse, mas no fundo eu sabia que uma hora ou outra ele ia te achar,
eu deveria ter te matado quando foi embora.

Encarou-me com ódio nos olhos e eu senti medo.

— Por favor, não faça nada comigo, eu prometo que vou embora
novamente e te garanto que dessa vez ele não vai me encontrar.

— Ele vai te encontrar, enquanto você estiver viva ele nunca vai te
deixar. Eu vi como ele ficou quando você foi embora, você o destruiu de
todas as formas possíveis e depois, quando voltou, foi como se nada tivesse
acontecido, foi como se você curasse todas as feridas dele apenas com sua
maldita presença... — Ela parou de falar e pareceu estar pensando.

Eu sabia bem do que ela estava falando, também me curei quando


voltei para os braços dele.

— Ele se viciou em álcool, bebia todos os dias desde quando


acordava até a hora que apagava de tanto beber, fumava incontáveis
cigarros. Eu e o Saymon não sabíamos mais o que fazer, ele estava a ponto
de morrer a qualquer momento...
Mayla pareceu estar revivendo todo esse período e era visível que
ela realmente gostava dele, a dor em seus olhos não negava isso.

Eu sinto muito por tudo que ele passou, muito mesmo, se eu pudesse
voltar atrás, com o pensamento que tenho hoje, faria diferente.

Até pensei que o sentimento dela podia ser apenas ressentimento por
ter sido rejeitada, mas não, ela o amava, o amava muito, mas um amor
doentio, era perceptível.

— Ele abandonou todas as suas funções na máfia, ficou um trapo,


um lixo, um lixo por sua culpa! — Jogava na minha cara, culpando-me. —
Eu ajudei ele, eu cuidei dele e depois que você voltou, ele simplesmente me
ignorou. Se não fosse por causa de mim, ele estaria morto!

— Eu também sofri, perdi um filho.

— Cala boca, sua maldita! Não me fala nesse bastardo. Graças ao


céus você perdeu essa criança, é uma pena que você não tenha morrido
junto. — Meus olhos se arregalaram diante da sua fala monstruosa. — Eu
fiz com que ele te odiasse, achei que substituindo o amor pelo ódio seria o
suficiente, ameacei e paguei o médico para afirmar que você tinha tirado
esse bastardo, mas não foi o suficiente, ele ainda sim te queria, de qualquer
forma aquele idiota te queria! — Bateu com força na própria perna,
assustando-me.

— Calma, Mayla — pedi, com medo de que ela perdesse o controle.


— Ainda podemos resolver isso.

— Você não entende? — Riu. — Ele sempre vai ser obcecado por
você, sempre! Na vida do Enzo nunca existiu outra mulher, eu fui apenas
um remédio para as suas feridas, mas você era a cura, você sempre foi a
cura dele, agora me diga, o que você tem que eu não tenho? Por que ele não
pode me amar?

— Nada, eu não tenho nada que você não tem.

— Mas isso vai acabar. — Enxugou as lágrimas com o dorso da


mão. — Eu não vou ficar com ele, mas você também não vai. — Ela se
levantou e apontou a arma para mim.

— Calma, vamos conversar. — Levantei as mãos, nervosa, temendo


o que poderia acontecer.

Meu corpo inteiro estava tremendo.

— Não temos nada para conversar, vai para o inferno, sua cadela.

Fechei os meus olhos, esperando o tiro, mas ele não veio. A porta
foi aberta com tudo e o comparsa dela entrou apressado.

— Temos que sair daqui, temos que sair daqui agora! — falou,
assustado.

— Por que?

— Ele nos encontrou, estão invadindo a casa.

Ele saiu correndo, deixando Mayla comigo dentro do quarto. Ela me


encarou atordoada, parecendo não saber o que fazer.

— Vai embora, vai embora antes que ele te pegue — aconselhei.

Parecia que ela não estava me ouvindo, estava olhando


repetidamente para a porta e para mim.

Aproveitei que ela se virou para a porta e corri para uma outra porta
que tinha dentro do quarto, acredito que seja um banheiro.
— Sua cadela! — gritou, disparando dois tiros.

Tranquei e respirei aliviada por finalmente estar segura.

Senti o meu braço arder e quando o toquei, vi sangue na minha mão.


Merda! Ela me acertou!
Capítulo 32
Enzo Ziegler

Cris entrou no escritório e Saymon indicou a cadeira para que ele


sentasse.

Fiquei o encarando e tentando entender o que fez ele vir até aqui
sabendo que a qualquer momento eu poderia matá-lo.

— Senhor Ziegler — cumprimentou-me formalmente. — Senhores


— cumprimentou também os irmãos de Alice.

— Onde está Alice? — Fui direto ao assunto.

— Eu não estou com ela.

— Disso sabemos — respondi irônico.

— Quero dizer que não tenho nenhuma participação nessa história.

— E por que deveríamos acreditar em você? — Rocco questionou.

— Porque estou aqui! Com todo respeito, mas os senhores acham


mesmo que se eu tivesse alguma culpa, eu teria vindo até aqui, arriscando a
minha vida?

— As mensagens eram suas no telefone dela — comentei e ele


assentiu.

— Mayla estava descontrolada. Desde quando saímos daqui, ela só


pensava em como ia se vingar e isso não estava deixando-a viver em paz.
Eu não aguentava mais vê-la daquela forma, procurei ajuda médica, mas
nada resolvia essa obsessão. Depois de muitos dias de conversa, eu
consegui convencê-la a ir embora comigo para os Estados Unidos, deixei
claro que se ela não me acompanhasse eu ia sozinho...

— E onde a Alice entra nessa história? — Renzo perguntou, já


impaciente com tantos rodeios.

— Eu comprei as passagens, nosso voo estava marcado para hoje de


tarde. No aeroporto, ela disse que precisava ir ao banheiro e sumiu. Fiquei
lá e ela não apareceu, procurei no banheiro e não a encontrei, eu decidi ir
sozinho, mas então dei falta do meu celular, foi aí que imaginei o que ela
estava fazendo.

— E você sabe onde ela está? — perguntei, ele era a minha única
esperança no momento.

— Não tenho certeza, mas uns dias atrás eu vi que ela estava
querendo alugar um casebre, não muito longe daqui. Achei estranho, mas
ela disse que estava querendo ficar sozinha, que queria se afastar de tudo e
todos, enfim, a Mayla é boa em manipular as pessoas, mas disso você já
sabe — falou olhando para mim.

Ele está certo, Mayla é muito boa em manipular as pessoas.

— Onde é? Consegue me passar o endereço? — pedi, meu coração


explodindo de alegria por finalmente ter uma pista.

— O endereço certo eu não sei, mas posso passar aproximadamente


e aí é só procurar por aquele perímetro.

Assenti, entregando-o um mapa da cidade e ele circulou o local


aproximado.
Começamos a nos preparar para sair, precisava encontrá-la o quanto
antes.

— Enzo? — Cris me chamou baixinho.

— Sim?

— Você tem que ser rápido, Mayla não está bem, a vida da Alice
corre risco — alertou-me.

— Serei rápido, obrigado por sua ajuda.

Ele apenas balançou a cabeça.

— Vou pedir que espere aqui até que eu volte. — Mais uma vez
assentiu. — Depois disso você estará livre.

— Vai matá-la? — Referiu-se a irmã.

— Você já sabe a resposta.

Em silêncio ele abaixou a cabeça.

Saí apressado para buscar o armamento e ir atrás da minha esposa e


meu filho.

Vasculhamos todo o perímetro e nada de achar um casebre velho,


estava quase anoitecendo e eu estava a ponto de enlouquecer.

— Enzo — Rocco me chamou em um canto — Eu já passei por uma


merda dessa, Renzo também já passou, sei que é foda, a gente fica louco,
mas se tem um cara que é inteligente, esse cara é você. Se concentra, cara,
coloca essa cabeça para funcionar, sua mulher e seu filho dependem de
você.
— Não estou conseguindo pensar, estou desesperado — confessei,
passando as mãos no cabelo.

Senti uma mão tocar o meu ombro, era Renzo.

— Estamos juntos, cara, vamos achar uma saída juntos. Você vai
voltar para casa com Alice e vai ser feliz com sua família, fica tranquilo, vai
dar tudo certo.

— Valeu.

— Agora coloca essa cabeça oca para funcionar, você só presta para
pensar, então faz o seu serviço — Renzo falou em tom de deboche e eu abri
um sorriso fraco.

— E nem para pensar você presta — rebati e ele riu.

— Viraram irmãos mesmo — Rocco zombou.

Nós três rimos.

— Saymon — eu o chamei. — Alguma coisa?

— Não, senhor.

Preciso pensar, preciso pensar.

Olhei em volta e um pouco mais para frente percebi uma marca de


pneu na estrada que não era do nosso carro e me aproximei só para
confirmar.

— Achei — gritei. — Essa marca de pneu não é do nosso carro e


tenho certeza que é ela quem nos levará até eles.

Meu coração se encheu de esperança. Eu tinha que estar certo, não


poderia perder mais tempo.
As chances eram grandes, quem mais estaria andando nesse fim do
mundo?

Seguimos para onde as marcas nos levavam. O bom era que só tinha
um trajeto a ser feito aqui nesse lugar, não tinha outras ruas.

Bingo! Achamos um casebre abandonado com as mesmas


descrições que o Cris nos deu e um carro parado em frente. Começamos a
nos preparar para invadir.

Cercamos a casa e entramos sem dificuldades e como eu já havia


imaginado, ela não tinha ninguém.

— Cadê os homens? — Renzo perguntou estranhando que estava


vazio.

— Não tem — afirmei.

— Está me dizendo que ela já estava nos esperando? Mesmo


sabendo que vai morrer? — Rocco perguntou.

— Exatamente, e esse é o meu medo, ela não está jogando para


ganhar.

Um homem veio correndo em nossa direção e arregalou os olhos


quando nos viu.

Apontamos as armas para ele e ele revidou. Quando ele puxou o


gatilho, disparamos em sua direção, abatendo-o.

Andei na frente e entrei no quarto, encontrando Mayla totalmente


diferente, transtornada, suando, com uma arma na mão e se tremendo
inteira.

— Cadê a Alice?
— Deve estar morta dentro daquele banheiro. — Apontou com a
cabeça para a outra porta, sorrindo.

Meu coração disparou.

— Larga essa arma — ordenei.

— Você acha que eu vou morrer do jeito que você quer? — Soltou
uma risada medonha. — Eu não vou te dar esse gostinho. — Apontou a
arma para a própria cabeça. — Eu fiz de tudo por você e mesmo assim você
preferiu outra pessoa, eu espero que ela te faça sofrer muito e que te
abandone novamente.

Antes que ela atirasse, tirando a própria vida, apertei o gatilho


acertando seu ombro, fazendo sua arma cair. Aproximei-me rapidamente,
enquanto ela gemia de dor, com a mão na ferida e chutei sua arma para
longe.

— Você não vai morrer fácil assim — falei, satisfeito por vê-la viva.
— Levem ela — pedi para os irmãos Caccini.

Enquanto eles levavam Mayla aos gritos para o carro, eu corri para
abrir a porta do banheiro.

— Alice? Meu amor sou eu, está me ouvindo? — Minha voz saiu
desesperada.

Escutei ela destrancar a porta e quando ela abriu, meu coração


gelou, ela estava com o braço sangrando muito, pálida de um jeito que
nunca vi.

— Que bom que você chegou. — Abriu um sorriso fraco para mim
e se jogou em meus braços.
Rapidamente tirei a minha camisa, a peguei no colo e pressionei a
sua ferida com a camisa, tentando estancar. Saí correndo com ela da casa
em direção ao carro, precisava levá-la ao hospital com rapidez

— Vai ficar tudo bem meu amor, eu prometo. — Beijei sua testa
suada.

— Eu confio em você. — Sorriu de uma maneira linda e doce. —


Que bom que vocês estão aqui — falou baixinho ao ver os irmãos.

Eles abriram um sorriso sincero para ela.

— Eu levo ela — Saymon falou se referindo a Mayla.

— Obrigado!

— Vou com ele e depois encontro vocês no hospital — Rocco


avisou.

— Eu dirijo e você fica com ela. — Renzo pegou a chave do carro e


eu sentei com ela ainda no meu colo no banco de trás. — Fica tranquilo, ela
é uma Caccini, vai ficar bem — brincou para tentar amenizar a situação.

— Ziegler — ela falou com dificuldade, tossindo. — Sou uma


Ziegler — afirmou e eu sorri, um enorme sorriso ao ouvi-la falar com tanto
orgulho.

Só precisava que ela ficasse bem, precisava dela, precisava da nossa


família, eu precisava do seu amor.

Sem minha morena eu não era nada.

Essa é e sempre foi a mulher da minha vida!


Dei entrada no hospital com Alice em meus braços quase
desacordada. Não conseguia mensurar o meu desespero ao vê-la daquela
forma e o pior de tudo era que eu não podia nem entrar, tinha que ficar
aguardando aqui fora.

O vício sem dúvidas é a pior praga que pode existir, eu estava cada
vez mais louco para fumar.

Andava de um lado para o outro procurando centralizar minhas


emoções, mas não estava conseguindo resultado.

— Você vai fazer um buraco no chão de tanto andar de um lado para


o outro — Renzo comentou.

— Me deixa quieto — pedi, extremamente irritado.

— Vou lá fora fumar um cigarro, já volto — avisou e eu apenas


assenti.

Bastardo! Tudo que eu queria era ir fumar também, mas não ia


quebrar minha promessa.

Sentei, levantei, andei de um lado para o outro, passei as mãos


repetidas vezes no rosto, estava suando feito um louco e inquieto para
caralho.
— Trouxe para você. — Renzo voltou, entregando-me um pacote de
salgadinhos e eu abri um pequeno sorriso de lado, agradecendo pela
gentileza.

— Senhores. — O médico da minha confiança que estava atendendo


ela, finalmente apareceu. — A senhora Ziegler já está no quarto. O projétil
pegou de raspão no braço esquerdo, não houve danos e o estado de saúde
dela é estável.

Finalmente pude respirar aliviado.

— Posso vê-la? — perguntei ansioso.

— Pode sim, mas antes preciso te falar uma coisa.

Estranhei a cara que o médico fez e estreitei os olhos na sua direção,


pedindo que ele falasse.

— Infelizmente não consegui salvar o bebê. — Fechei os olhos e


abaixei a cabeça. — Quando ela chegou já estava com um sangramento
muito forte, colo do útero aberto, o que infelizmente ocasionou o aborto. O
que é muito comum acontecer nessas primeiras semanas de gestação e o
estresse pode ter contribuído. Sinto muito! — Assenti. — Vou levá-lo até o
quarto, ela deve estar acordando nesse momento.

— Ela já sabe?

— Não, ainda não a vi depois que acordou.

— Deixa que eu conto, por favor.

— Como o senhor preferir. Vamos?

— Vamos.
— Enzo?

— Oi?

Olhei para Renzo antes de acompanhar o médico, ele estava com o


semblante triste, assim como eu.

— Sinto muito, estou aqui para qualquer coisa que vocês


precisarem. Você é da família. — Apertei a sua mão e ele me puxou para
um abraço, o que me pegou de surpresa.

— Valeu, irmão. — Dei dois tapinhas nas suas costas.

— Vai lá ver a sua esposa, depois eu passo lá no quarto para dar um


abraço na minha irmã.

Segui o médico e quando entrei no quarto, ela já estava acordada.

— Oi, amor. — Aproximei-me beijando a sua testa.

— Oi — falou, ainda com a voz fraca. — Obrigada por ter ido me


buscar e me desculpa, por favor, me desculpa, eu só queria fazer uma
surpresa sobre o nosso bebê.

Senti meu coração sendo esmagado quando ela tocou no assunto.

— Não se preocupe com isso, o importante é que você está bem.


Logo vamos para casa e poderemos viver nossa vida em paz, sem ninguém
para nos incomodar.

— Você achou a minha bolsa?

— Sim, achei, você foi muito esperta, estou orgulhoso de você. —


Acariciei o seu rosto, abrindo um pequeno sorriso.
— Então você já sabe do bebê? Está feliz? Queria fazer uma
surpresa bem bonitinha, mas não deu. — Sorriu docemente, nocauteando-
me ao vê-la tão feliz. — Eu não queria enganar o segurança, sinto muito por
isso também e prometo que nunca mais se repetirá.

— Sim, já sei sobre o bebê.

Procurei uma forma de contar para ela, uma maneira que a


machucasse menos, mas não estava encontrando as palavras certas.

— Por que você está com essa cara, amor? Não está feliz pelo bebê?
Está chateado comigo?

— Não, morena, não é nada disso. — Suspirei, chateado e sem saber


como falar.

— Então por que está assim?

— Eu estou procurando palavras, algum jeito de te contar que seja


menos doloroso, mas não estou encontrando nenhuma forma de amenizar,
me desculpa, morena, não queria que doesse em você...

Seus olhos estavam cheios de lágrimas e os meus também.

— Não. — Apertou os olhos com força, deixando as lágrimas


escorrerem. — Diz que é mentira...

Não precisava ser claro nas palavras, ela sabia do que estava
falando.

— Eu sei que está doendo, em mim também dói, morena, mas eu


prometo que vou fazer de tudo para que você fique bem, vamos ser felizes,
vamos construir uma família, a gente pode ter quantos filhos você quiser e
se você não quiser também, não tem problema, eu não me importo com
isso.

— Você não se importa? — Encarou-me, secando o rosto com o


dorso da mão. — Enzo, se eu não te der filhos o conselho vai me massacrar.

— Alice, não se preocupe com isso, quero ter filhos com você se for
da sua vontade e não por causa da droga do conselho.

— Eu quero ter filhos com você, quero ter uma família, mas acho
que isso não é para mim, perdi nosso primeiro filho e agora o segundo,
quantos mais eu vou perder? — Chorou copiosamente e a puxei para um
abraço. — Se você não quiser continuar comigo, eu entendo, sei como você
deseja ser pai.

— Ficou louca, Alice? — Segurei seu rosto entre minhas mãos,


fazendo com que ela me olhasse. — Estou com você porque eu te amo. Se a
gente tiver um filho vai ser apenas um bônus do nosso amor, mas isso não
muda em nada e nem nunca vai mudar, não fala uma coisa dessa nem de
brincadeira. — Dei um selinho nos seus lábios. — Para de duvidar do meu
amor, por favor, eu te amo e nunca vou te deixar, nada vai mudar isso, nada!

— Me desculpa. — Puxou-me pela camisa, abraçando-me


fortemente. — Eu te amo e quero viver para sempre com você, só estou
triste, me desculpa.

— Está tudo bem, vai ficar tudo bem, eu prometo. — Acariciei suas
costas e cabelo.

Irei fazer de tudo para sarar essa ferida no coração da minha


morena, vou viver para fazê-la feliz.
Mayla vai se arrepender amargamente por ter feito isso, ela vai
implorar para morrer, isso eu garanto.

Os irmãos dela entraram no quarto e eu os deixei a sós.

Fui até a cafeteria para pegar um café, depois de ter certeza de que
ela estava bem, consegui finalmente comer e beber alguma coisa.

— Quero um café também. — Escutei Rocco pedir.

— Renzo está com ela? — perguntei, pois não queria deixá-la


sozinha.

— Está sim. — Ele se sentou na minha frente. — Renzo me contou


o que aconteceu, sinto muito, não sei o que é passar por isso, mas posso
imaginar como é doloroso. Não sou bom com palavras, mas saiba que pode
contar comigo e com nossa família para qualquer coisa, você é marido da
minha irmã e nosso irmão, estamos juntos para tudo que vocês dois
precisarem.

— Valeu, Rocco.

— Daqui a pouco vocês terão várias crianças correndo no quintal da


sua casa, fica tranquilo.

— Valeu mesmo, Rocco. No momento só quero que Alice fique


bem, depois, se caso ela desejar, podemos pensar nisso. — Beberiquei o
meu café e ele fez o mesmo.

— Minha irmã deu muita sorte, você é um cara bacana e tenho


certeza que cuidará bem dela. — Se levantou, ajeitando o paletó e deixando
seu café sobre a mesa. — Estamos indo, qualquer coisa é só ligar.
— Ligo sim. Vamos para Itália quando Mel estiver perto de ganhar
os bebês, estou precisando de dinheiro mesmo — brinquei.

— Então aposte na próxima, porque dessa vez eu vou ganhar —


garantiu, muito seguro da sua aposta.

— Você não pode ganhar todas. — Também me levantei e apertei a


sua mão. — Até mais.

— Até.

Era óbvio que eu estava triste. Minha esposa estava triste, então eu
também ficaria. Claro que eu queria ter filhos com ela, amo Alice demais e
quero tudo dela. Mas não vou pressioná-la nunca. Se Alice não quiser mais
ter filhos, então assim será. Que se foda a porra do conselho! Por minha
mulher eu passarei feito um trator, esmagando tudo e todos que forem
necessários para vê-la feliz.
Capítulo 33
Alice Caccini

Se passaram três semanas após todo o ocorrido e eu me sinto bem


melhor. Confesso que os primeiros dias foram difíceis demais, eu sofri,
acabei deixando a tristeza e a dor me abaterem, mas graças ao meu marido
eu estou conseguindo superar.

Enzo é um homem maravilhoso, me dá forças, cuida de mim e me


ama intensamente, eu realmente tive muita sorte em tê-lo na minha vida e
agradeço todos os dias por isso.

Não conversamos sobre o que aconteceu com a Mayla, eu não quero


saber o que ele fez com ela.

Quando voltei para casa, Cris veio me ver. Eu o abracei tão forte que
quase o sufoquei, eu não sabia o quanto estava precisando de um abraço
amigo até vê-lo na minha frente. Apesar das circunstâncias em que nos
conhecemos e nos tornamos amigos, ele é uma pessoa muito especial na
minha vida e sou muita grata por toda força e por todas as vezes que foi
meu ombro amigo.

Pedi para que ele ficasse e voltasse a morar aqui, mas ele disse que a
vida dele aqui já não fazia mais sentido e foi embora para os Estados
Unidos. Temos nos falado todos os dias e estava muito feliz em saber que
ele está feliz e que encontrou enfim seu caminho. Como ele nunca foi
reconhecido por seu pai, então ele não se tornou oficialmente um membro
da máfia, o que é uma grande vantagem para ele, pois assim podia viver
uma vida tranquila e longe de todas as obrigações que a máfia impõe.

Estava sem fazer nada e fui até o escritório para dar um cheiro e um
amasso no meu maridão. A porta estava entreaberta então decidi entrar sem
bater, mas parei ao ouvir a conversa.

— Ela pediu para vê-la? — Escutei Saymon perguntar para Enzo.

Sabia que era feio ouvir atrás da porta, mas eu queria saber de quem
eles estão falando.

— Sim, disse que antes de morrer queria falar com a Alice.

— E você?

— Até parece, não vou deixar que Alice chegue perto dela.

— Vocês estão falando da Mayla? — perguntei, avisando da minha


presença e que ouvi a conversa deles.

Os dois ficaram me olhando sem falar nada por alguns segundos.

— Com licença — Saymon pediu e saiu do escritório.

— É dela? — repeti a pergunta para Enzo.

— Esquece isso, morena. — Ele tentou desconversar, chamando-me


para sentar em seu colo.

— Ela quer me ver? — continuei insistindo.

Fiquei surpresa por dois motivos. O primeiro por saber que ela quer
me ver e o segundo por saber que ela ainda está viva.

— Sim, ela quer te ver.


— Me leve até ela — pedi, decidida a querer vê-la também.

— Até parece, Alice! — Enzo revirou os olhos, deixando claro o


quanto achava absurdo a minha decisão.

— Por favor — falei com carinho. — Eu gostaria de ouvir o que ela


tem a dizer, por favor.

Enzo coçou a cabeça, parecendo pensar um pouco, mas por fim


acabou cedendo.

— Tudo bem, morena, se você quiser ir, eu te levo.

— Então vamos.

— Agora?

— Sim, me leve até ela agora, por favor.

Mesmo com uma cara contrariada ele se levantou e caminhamos


para o galpão.

Entrei e fiz uma careta, o local estava um pouco escuro e com um


terrível odor de xixi.

Me aproximei dela que estava sentada com as mãos e os pés


algemados, muito machucada, com o rosto praticamente desfigurado.

Coloquei a mão na boca e meu coração acelerou. Meu Deus! O que


ele fez com essa mulher?

— Oi — ela disse baixinho, com dificuldade.

— Oi.
Meus olhos se inundaram de lágrimas quando ela tentou abrir os
dela, mas por conta do inchaço não conseguiu e soltou um gemido de dor.

— Você está com sede? — perguntei.

— Sim, muita.

— Me traga um copo de água — pedi para o soldado que estava ao


lado.

Ele olhou para o Enzo para confirmar se podia.

— Faça o que ela pediu — ele falou para o soldado.

O homem trouxe a água e eu dei a ela, que bebeu tão rápido que
quase se engasgou.

— Quer mais?

— Não, obrigada! — Sua voz estava muito fraca, quase inaudível.


— Será que podemos conversar a sós?

— Claro. — Virei a cabeça para olhar para Enzo, que negou com a
cabeça — Por favor, espera lá fora — insisti.

— Seja rápida — avisou e chamou o soldado, ambos se retirando.

— Pode falar, estamos sozinhas — avisei assim que eles saíram.

— Sei que é um pouco tarde para me arrepender, mas eu gostaria de


te pedir desculpas. Quero morrer em paz e gostaria de me desculpar com
você. Você nunca me deu motivos para que eu fizesse o que fiz, o amor
cega a gente e hoje eu entendo o que meu irmão sempre dizia. Cris me
falava que tudo que é demais acaba se tornando ruim e é a mais pura
verdade, eu amei tanto o Enzo que acabou se tornando um sentimento ruim
e eu te odiei pelo simples fato de ele te amar. — Ela tossiu, cuspindo
sangue. — Me desculpe, Alice.

— Está tudo bem, eu te desculpo, claro que te desculpo. —


Enxuguei uma lágrima que escorreu do meu rosto.

Eu não sabia ser ruim, e não desculpar essa mulher, que eu sabia que
iria morrer, era demais para mim. A desculpei de coração para que ela fosse
em paz.

— Posso te pedir uma coisa?

— Se estiver ao meu alcance.

— Pede para o Enzo me matar logo, por favor, eu não aguento mais
sofrer...

Pude sentir a dor em suas palavras e isso acabou comigo,


esmagando o meu coração.

— Eu sei que ele nunca me deixaria viver e para ser bem sincera?
Eu não mereço e nem quero viver, mas gostaria que esse sofrimento
acabasse — concluiu.

— Eu vou falar com ele.

— Obrigada!

A porta do galpão se abriu e ele entrou.

— Vamos, Alice — me chamou, deixando claro que o meu tempo


com ela acabou.

— Tchau, Mayla — despedi-me com o coração doído. Por mais que


ela tivesse feito tudo aquilo comigo, eu não gostava de ver uma pessoa
sofrendo tanto assim.

Saí dali de dentro sufocada e com vontade de vomitar.

Enzo esperou a minha respiração se acalmar para voltarmos para


dentro de casa.

— Amor, posso te pedir uma coisa? — falei, parando de andar. Ele


também parou para prestar atenção.

— Qualquer coisa morena, menos que eu não a mate.

— Acaba com o sofrimento dela, por favor, faz isso pra gente poder
seguir em frente e em paz, vamos virar essa página e viver nossa vida.

— Você quem manda, morena. — Sorri, feliz por ele não ter negado
o meu pedido. — Faço qualquer coisa por você. — Puxou-me para um
abraço.

— Eu sei, obrigada por isso. — Fiquei na ponta dos pés para


conseguir alcançar a sua boca e beijá-la. — Eu te amo!

Ele também falou que me ama, abraçando-me fortemente, deixando


um beijo carinhoso na minha testa e pedindo para que eu entrasse em casa.
Fiz o que ele pediu, pois sabia que agora ele iria atender o meu pedido e
finalmente colocar Mayla para descansar e se tornar apenas uma página na
nossa vida.
Capítulo 34
Enzo Ziegler

Obs.: Não vou descrever essas cenas de tortura em especial. Eu gosto de escrever histórias
Dark, mas um Dark mais leve e tortura contra uma mulher seria muito difícil para mim descrever,
então espero que vocês entendam e me desculpem se acabei frustrando as pessoas que queriam esses
detalhes.

Voltei para o galpão para acabar com o sofrimento dessa infeliz e


mandá-la para o inferno de uma vez por todas. Só estava fazendo isso a
pedido da minha morena, fazia qualquer coisa por ela e se isso iria deixá-la
feliz e em paz, eu faria.

Por mim eu a deixaria sofrendo até não aguentar mais, mas Alice é
muito boa e esse era o motivo pelo qual eu não queria que ela viesse falar
com essa desgraçada, eu sabia que ela ia convencer a minha morena a
acabar com o sofrimento dela.

Quando Saymon e Rocco a trouxeram para o galpão, o irmão de


Alice deu um trato nela. Quando cheguei ela já estava machucada, mas não
o suficiente e me lembro do prazer que senti naquele dia em torturá-la.

Eu arranquei todas as suas unhas, arranquei alguns dentes, a queimei


e bati muito nela, descontei todo o meu ódio.

Nunca bati em uma mulher, mas essa mulher não era uma mulher
inocente, essa mulher era a culpada por meus dois filhos terem morrido, por
todo o meu sofrimento, por ter afastado o amor da minha vida, por ter a
sequestrado, e o pior de tudo, por ter machucado minha morena. Isso era
inadmissível para mim.

Se eu me senti mal por ter a espancado durante essas três semanas?


Não! Não me arrependi e nem nunca me arrependerei.

Todos os dias em que eu pensava no sofrimento da Alice e nas


nossas perdas, eu vinha aqui para descontar minha raiva. Todas as
madrugadas em que minha morena acordava com pesadelos, eu ficava ao
seu lado até que voltasse a dormir e depois vinha aqui para descontar toda a
minha frustração.

Eu dei todas as chances para que a Mayla ficasse viva e fosse viver
sua vida, tive consideração por todos os anos em que ela ficou ao meu lado
e me ajudou, mas ela não soube aproveitar.

— Enzo... — chamou-me com a voz fraca.

— Vou acabar com o seu sofrimento, mas não porque eu quero e sim
porque a Alice pediu. — Deixei claro para ela que não estava sendo
benevolente porque queria.

— Obrigada! — Abriu um pequeno sorriso. O rosto todo sujo e


cheio de sangue. — Eu desejo que vocês dois sejam muito felizes.

— Não me deseje nada, nem se esforce para usar palavras bonitas


comigo. Eu não sou a Alice, conheço você muito bem para saber que é uma
pessoa ruim e manipuladora, comigo esse teatrinho de mulher arrependida
não cola, não mais.

— Me desculpa por tudo...

— Vai para o inferno.


Saquei minha pistola e disparei até descarregar na sua cabeça.

— Nos veremos no inferno, Mayla. — Sorri, satisfeito. — Limpa


essa bagunça — ordenei aos dois soldados que estavam aqui dentro.

Voltei para casa, tomei banho e fui jantar com minha esposa.

Fiquei parado na porta da cozinha vendo-a rir e brincar com Maria,


feliz em ver que ela estava bem e se recuperando.

No começo foi muito difícil ver todo o seu sofrimento, isso estava
me matando por dentro, estava de mãos atadas e não tinha nada que eu
pudesse fazer para tirar essa dor dela e isso era frustrante demais. Mas aos
poucos ela foi superando, e juntos, estamos construindo nossa linda história
de amor. A partir de agora tenho certeza que só terá coisas boas e momentos
felizes, chega de sofrimento, chega de ver minha morena triste. Enquanto
eu respirar, farei todo o possível para manter sempre esse lindo sorriso em
seu rosto.

— Oi, amor, a janta já está quase pronta. Está com fome? — Se


aproximou de mim quando percebeu minha presença.

— Estou e essa comida está cheirando de longe.

— Maria tem me ensinado muita coisa, estou quase virando uma


masterchef.

— Tenho certeza que sim. — Puxei-a pela cintura, beijando-a com


paixão.

Ajudei a arrumar a mesa de jantar e jantamos. A comida que Alice


preparou, com a supervisão de Maria, estava uma delícia.
Ela fez questão de tirar a mesa e colocar as vasilhas na lavadora. Eu
a esperei para irmos para o quarto, pois queria mostrar a surpresa que
preparei para ela. Estava ansioso para mostrar, mas queria fazer isso quando
ela estivesse recuperada, para que pudesse recomeçar, aproveitar.

— Tenho uma surpresa para você — falei assim que entramos no


quarto e fui no closet pegar a caixa que havia escondido lá.

— Ah! Obrigada, amor. — Sorriu e pegou a caixa da minha mão,


abrindo-a.

Ri ao ver seus olhos se arregalaram quando viu o conteúdo do


presente. Eu estava feliz em vê-la feliz. Agora ela estava chorando, abriu a
boca para falar, mas estava tão extasiada que não conseguiu.

Alice olhou detalhadamente a planta, o slide no tablet com o projeto


e a chave do seu novo ateliê.

— Amor... — Finalmente conseguiu falar alguma coisa, mas logo


foi interrompida pela emoção e se jogou nos meus braços, chorando.

— Gostou?

— Eu amei, eu amei! — repetia diversas vezes enquanto beijava


todo o meu rosto.

— Pode começar a trabalhar amanhã mesmo se quiser, está tudo


pronto e tem tudo que você possa precisar.

— Ai, meu Deus! Eu não acredito. — Fungou. — Estou tão feliz.


Muito obrigada, muito obrigada, eu te amo, eu te amo!

Sua alegria me contagiava e era isso que me deixava


verdadeiramente feliz.
O sorriso de Alice é o meu combustível para viver.

Acordei antes de Alice, como em todos os dias. Salivei ao vê-la


deitada com a minha camisa, com seus cabelos espalhados por meu peito e
com a poupa da bunda amostra.

Ajeitei-a no travesseiro com cuidado e desci, indo parar com a


cabeça no meio das suas pernas. Alice estava sem calcinha, porque ontem à
noite transamos como dois loucos. Estávamos insaciáveis e eu ainda estou.

Passei a língua por sua boceta quente e gostosa e ela choramingou,


manhosa.

A safada abriu ainda mais as pernas e agarrou os lençóis com força,


mas continuou de olhos fechados, gemendo deliciosamente enquanto eu
sugava o seu clitóris.

Coloquei dois dedos dentro dela, girando-os, e Alice não aguentou,


gozou de maneira espetacular, deixando-me satisfeito com os seus fluídos.

Ela era doce e o seu gosto era o meu preferido do mundo. Suguei até
a última gota do seu gozo e só parei porque ela puxou os meus cabelos.

Abaixei a cueca e encaixei-me na sua entrada, sorrindo para ela.


— Bom dia, morena — falei, dando um selinho nos seus lábios.

— Bom dia, amor — respondeu, ainda ofegante pelo gozo.

— Carinha linda de quem gozou. — Acariciei o seu rosto e brinquei


com o pau na sua entrada.

— Carinha linda de quem vai me fazer gozar ainda mais. — Mordeu


o meu lábio inferior, maliciosa e sorriu.

Deslizei o meu pau por sua entrada quente. Era uma sensação fodida
de tão boa, não dava para explicar.

Tomei seus lábios em um beijo quente, sugando, lambendo e


mordendo. Deixando-os inchados e entrando cada vez mais rápido e fundo
nela.

Tomava todos os gemidos de Alice para mim, enquanto fodia com


força sua boceta viciante.

— Eu quero gozar — soprou contra os meus lábios, arranhando


minhas costas.

Nossos corpos continuavam se chocando. Saía lentamente de dentro


dela e entrava com força, empurrando até o fundo, batendo nossas pélvis.

Estava enlouquecendo de tanto tesão, latejando de tanta vontade de


gozar.

Puxei a camisa para cima, liberando os seus seios e chupei-os.

— Enzooo! — Alice gritou quando mordi o bico do seu mamilo e


contraiu a boceta ao redor do meu pau, levando-me à loucura.
Ela gozou fortemente, puxando os meus cabelos para atacar a minha
boca com fome, enquanto gritava o meu nome e me beijava
desesperadamente.

Eu fui junto, gozando logo depois dela.

Fui parando de me movimentar lentamente e joguei-me para o lado,


puxando-a para os meus braços, beijando a sua testa.

— Eu te amo daqui até a lua, morena.

Ela levantou a cabeça me encarando e sorriu.

— Até a lua?

— Sim, indo e voltando.

Alice gargalhou e me beijou.

— Eu te amo daqui até o sol, meu amor. Indo e voltando —


completou, sorrindo.

Que nos amávamos, isso era inegável. Se existiram outras vidas,


com toda certeza nós nos amamos em todas elas. Pois uma vida só seria
muito pouco para nós dois.
Capítulo 35
Alice Caccini

Alguns anos depois.

Parei na porta do quarto olhando meu marido brincando com nosso


filho, eu amava olhar a interação dos dois. Minha família é a maior
realização da minha vida.
Sorri ao me lembrar de quando contei para Enzo que estava grávida,
a felicidade e a preocupação dele era tão grande, que transbordava. Lembro
também como ele cuidou de mim durante a gestação, mal deixava eu
levantar da cama. Quantas e quantas vezes eu tive que brigar com ele para
me deixar fazer alguma coisa? Não aguentava mais ficar deitada.
No fim tudo ocorreu bem, tive meu filho, meu lindo filho, tão
parecido comigo. Ravi era minha cópia, tanto na aparência, quanto na
personalidade. Eu amo os meu meninos… meus meninos!
Lembrava exatamente do seu chorinho ao nascer, doce e forte, ao
mesmo tempo. Eu sempre soube que era um menino, tanto que eu ganhei
todo o dinheiro da aposta. Enzo e todo o restante da minha família apostou
em menina, menos meu irmão, Rocco, que sempre acertava de todos, por
isso estamos deixando ele de fora das apostas.
Meu marido queria muito uma menina, o que era estranho, porque
os homens da máfia sempre preferem ter meninos, mas meu marido nunca
foi igual aos outros homens da máfia e isso eu podia garantir.
O seu amor por nosso filho é imensurável, ele é um pai
extraordinário, me orgulho tanto.
Eu pensava que já tinha visto tudo de maravilhoso no meu marido,
mas sem dúvidas ser pai é o melhor papel que ele exerce na vida. Que
perfeição de homem, de marido e de pai. Eu sou completamente
apaixonada!
Agora mesmo como em todas as noites durante esses três anos,
estava observando ele brincar com o nosso filho e daqui a pouco ele iria
colocar Ravi para dormir enquanto conta uma história, é a mesma rotina
todas as noites e eu não me cansava de ver.
Tudo que passamos só serviu para tornar nossa vida ainda melhor,
hoje éramos tão felizes que eu nunca vou conseguir mensurar o quanto. Era
tanta felicidade que não cabia no peito e acaba transbordando.
Ainda temos problemas, como todo casal, mas nunca dormimos uma
noite sequer brigados, no fim do dia tudo se resolve na nossa cama.
Eu ainda tinha medo de viver na máfia, temia por meus filhos, mas
ao lado do meu marido eu tenho forças para enfrentar qualquer dificuldade.
Eu sempre ouvi que o amor transforma, cura e liberta e hoje posso
afirmar com convicção que essa é a mais pura verdade.
Sem contar que amar e ser amado é uma delícia.
— Oi, morena. — Enzo se aproximou de mim após fazer o nosso
filho dormir.
— Oi. — Acariciei o seu rosto.
— Vamos deitar, seus pés estão inchados.
Amava a maneira como ele cuida e se preocupa comigo.
Cruzei meus dedos nos seus e fomos para o nosso quarto de mãos
dadas. Deitei-me e ele fez o mesmo ao meu lado, como em todas as noites,
deitou a cabeça de leve sobre a minha barriga de quase nove meses e a
acariciou.
— Será que agora vem a nossa menina?
— Daqui uns dias iremos descobrir.
— Podemos ir tentando até fazer uma, o que você acha?
— Acho que dois já estão de bom tamanho. — Sorri, apavorada
com a ideia de engravidar novamente.
Eu estava uma bolota.
— Está falando sério? Queria ter uns vinte filhos.
Tomei a cabeça para trás, gargalhando.
— Ficou doido, é? No máximo três e olhe lá.
— Você é linda, mas quando está gerando o fruto nosso amor você
fica ainda mais linda, não sei como consegue — falou todo apaixonado e
me beijou.
— Eu te amo, Enzo, amo nossa vida e nossa família! — declarei
contra os seus lábios.
— Eu te amo, minha morena, e amo tudo que vem de você!
Obrigada universo, obrigada, obrigada e obrigada! Nunca serei grata
o suficiente por tanta felicidade, sou muito abençoada.
Nossa história de amor não era perfeita, mas era nossa e é a melhor
que eu poderia ter.
Talvez se eu soubesse há anos atrás que viver tudo isso ao lado de
Enzo era a melhor coisa do mundo, não teria cometido tantos erros. Mas os
erros foram necessários para me tornar a pessoa que sou hoje.
Não era mais uma menininha imatura e precipitada. Hoje sou uma
mulher madura, esposa e mãe. E penso duas, três, milhares de vezes antes
de tomar uma decisão, pois penso em todas as consequências primeiro e se
eu suportaria vivê-las.
Com toda certeza o meu amigo, Romeu, está orgulhoso da Alice que
me tornei. Embora ele não esteja aqui fisicamente, Romeu e nossa amizade
sempre existirá em meu coração.
Meus filhos e todos ao meu redor ouviram falar dele, pois ele jamais
será esquecido.
No final, eu tive muita sorte. Nessa história eu vivi uma amizade
verdadeira, um amor incrivelmente maravilhoso e construí uma família
magnífica.
Quem é que não deseja ser feliz assim?
Esse não é o fim, é só o começo da nossa história de amor... Até a
eternidade!
Bônus I
Luara

Os anos se passaram e não mudou muita coisa na minha louca e


gostosa história de amor. Continuamos em constante evolução.
Eu e Rocco temos dois filhos lindos, Luigi e Giulia. Decidi não ter
mais filhos e meu amor respeitou a minha decisão.
Hoje meus filhos já estão grandes. Luigi está iniciando o seu
treinamento e isso me entristece e me preocupa ao mesmo tempo, mas meu
marido faz de tudo para me tranquilizar.
A iniciação do meu filho está sendo difícil, assim como será quando
minha filha tiver que se casar por obrigação, mas eu não quero sofrer por
antecedência, um dia de cada vez e vivendo cada fase.
Viver na máfia não é fácil e nem nunca será, para nós mulheres
sempre é mais difícil, mas aos poucos vamos conquistando o nosso espaço.
Eu tenho me dedicado ao meu trabalho e estou muito feliz com
minha vida.
Quem acompanhou um pouco da minha história ao lado do diabo,
sabe que eu percorri muito chão para chegar à vida estável e feliz que tenho
hoje.
Não me arrependo de nada, muito pelo contrário, sai ano, entra ano
e as coisas só têm melhorado.
Rocco ainda é complicado e um pouco rude, mas esse jeito dele
sempre muda quando está comigo e nossos filhos.
Não nego que ainda temos muitas desavenças no nosso casamento.
Meu marido é extremamente ciumento e controlador, tem essa nossa
diferença de idade também que acaba deixando-o inseguro — embora ele
nunca admita sua insegurança —, mas eu consigo controlar um pouquinho
desse jeito dele com todo o meu amor.
Não me importa quem meu marido é na rua, não me importa a nossa
diferença de idade, a única coisa que realmente me importa é nossa família,
é quem ele é comigo e com nossos filhos.
Não, não estou me cegando para tudo que ele é e para tudo que ele
faz, muito pelo contrário, sei exatamente quem é meu marido e do que ele é
capaz, apenas me conformei. Não tem como mudar isso, tem coisas na vida
que simplesmente não mudam nunca e essa com toda certeza é uma delas.
Olho para o começo da minha história, uma jovem imatura e infeliz
com seu destino.
Me lembro exatamente do dia em que descobri que meu destino
estava traçado desde quando nasci, consigo ver nitidamente o meu
desespero naquela época.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo e conversar com a Luara de
antigamente, eu diria tantas coisas, eu a acolheria tanto.
Eu faria a doce Luara do passado entender que o caminho não seria
fácil, que o processo seria doloroso, mas que ela resistiria bravamente e que
sua recompensa seria linda e cheia de amor.
Me olho no espelho hoje e vejo tanta mudança. Antes uma menina e
agora uma mulher madura e mega feliz com minha família.
Só consigo sentir gratidão por tudo!
Terminei de me ajeitar após o meu banho e me deitei na cama ao
lado do meu marido.
Tivemos uma noite quente, como tantas outras. Eu não me canso
nunca do meu marido, nunca mesmo.
— Está tão pensativa, o que anda te perturbando? — Observador
como ninguém, meu marido de cara sabe que estou pensativa.
— Nada me perturba, estou apenas lembrando e pensando em tudo
que vivemos para chegar até aqui.
— Te fiz sofrer muito, não é?
— Só um pouquinho — falei em tom de brincadeira.
— Sei do meu erro e tento compensá-lo todos os dias.
— Não tem nada para ser compensado.
Acariciei o seu rosto com minhas mãos e ele fechou os olhos.
— Eu te amo, Luara, te amo com tudo que há em mim, te amo com
toda força desse mundo, te amo tanto que jamais conseguiria explicar, você
e nossos filhos são tudo em minha vida.
Meus olhos se enchem de lágrimas, eu o amo tanto e ouvir isso dele
para mim é como se fosse sempre a primeira vez, não me acostumo nunca.
— Eu te amo mais, nunca pensei que pudesse te amar tanto, mas eu
amo e amo muito!

Rocco

Olho minha mulher enquanto dorme serenamente com os cabelos


negros espalhados por nossos lençóis.
Luara é fascinante, eu a amo tanto que nunca saberia explicar a
imensidão desse amor.
Morro de ciúmes da minha rainha de olhos claros, pele bronzeada e
cabelos negros. Ela é jovem e linda! Ficou mais linda ainda depois que foi
mãe. Criou curvas que antes não eram tão visíveis, mas que agora se
destacam facilmente em qualquer roupa.
Fico louco… louco de desejo e de ciúmes.
Tenho vontade de matar todos os homens que se arriscam a olhar,
mas me contenho para não chateá-la com essas coisas.
Essa mulher deitada ao meu lado é a mulher da minha vida. A mãe
dos meus filhos. A única mulher capaz nesse mundo de me mudar por
completo.
Sou totalmente rendido, ela me tem na coleira e sabe bem disso,
faço tudo para poder ver o sorriso lindo em seu rosto.
Me controlo todos os dias para não deixar meu lado escuro me
dominar, não quero magoá-la nunca mais.
Sei que ela está chateada com a iniciação de Luigi, mas não posso
evitar isso.
Estou tentando ao máximo pegar o mais leve possível para que ela
não se magoe tanto, só que infelizmente eu sei que ela vai se magoar.
Tenho uma proposta irrecusável de casamento para o meu filho, ele
herdará o meu trono e terá que assumir todas as suas funções, sendo assim,
precisará estar casado.
Terei que abordar esse assunto com ela, mas vou esperar o momento
certo e tentarei usar as palavras certas para que ela entenda da melhor
maneira.
Quanto a Giulia, eu ainda não aceitei nenhuma proposta — surgiram
várias —, todos querendo casar seus herdeiros com minha princesinha.
Recusei todas as propostas, não estou preparado para saber que
minha bonequinha vai se casar. Giulia é a segunda paixão da minha vida, é
tão doce, somente ela e a mãe conseguem tirar o melhor de mim.
Eu amo Luigi, meu primogênito veio para selar meu amor e da sua
mãe, mas como homem e herdeiro, eu preciso tratá-lo diferente,
infelizmente as regras da máfia exigem um tratamento mais rígido.
Mesmo tendo que tratá-lo de forma rígida, eu nunca deixei de
demonstrar o quanto o amo e o quanto meu filho é importante na minha
vida, apesar das regras, ele sabe o valor que tem para mim.
Daqui uns dias terá um jantar na casa de Enzo e Alice, estamos
fechando um acordo com a máfia dos EUA e o filho do Capo estará lá, se
por acaso esse maledetto se interessar por minha filha, não sei nem o que
vou fazer.
Luara se mexeu e resmungou.
— Por que ainda está acordado amor? — Abriu os olhos,
perguntando sonolenta.
— Admirando sua beleza enquanto dorme. — Acariciei sua
cabeleira negra e beijei sua boca, carinhosamente.
— Depois de tantos anos, ainda não se cansou de me admirar? —
Sorriu contra os meus lábios.
— Não me cansarei nunca.
Seu sorriso se alargou, um daqueles sorrisos que me fazem ter a
certeza de que tudo valeu a pena e que tudo, absolutamente tudo ao lado
dela sempre vai valer a pena.
Bônus II
Melanie

Abri a porta do quarto das meninas e elas já estão dormindo,


tranquilamente.
Meus filhos são lindos!
Caminhei até o quarto de José, meu filho mais novo, e encontrei
Renzo o colocando na cama.
Sorri, eu amava essa rotina que ele tinha com nossos filhos.
Sou muito agraciada, meus três filhos são maravilhosos e meu
marido um pai exemplar.
Não consigo encontrar palavras para descrever Renzo como pai.
Como marido ele já tinha se tornado um homem extraordinário, mas como
pai é ainda melhor.
Fui direto para o nosso quarto e me deitei, esperando meu marido e
pensando em como sou feliz.
É, a vida passa depressa demais. Piscamos e já vivemos tantas
coisas que seria impossível descrever todas.
Quem diria que aquela menina ingênua e fraca de antigamente se
tornaria essa mulher forte e decidida de hoje?
Hoje tenho uma vida estável e feliz ao lado do meu amor e dos meus
filhos.
Renzo é o grande amor da minha vida. Nossa história é cheia de
aprendizado.
Crescemos juntos e descobrimos o amor juntos, mas tivemos que
percorrer muito chão para chegar até aqui e passamos por muitos momentos
difíceis.
Posso afirmar com total certeza que valeu a pena, cada momento,
tudo, exatamente tudo valeu a pena.
É tão gostoso dividir a vida ao lado dele.
Não vou falar que vivemos uma vida perfeita, até porque eu estaria
mentindo. Temos nossas brigas, como todo casal, mas no final do dia tudo
se resolve.
A morte continua sendo apenas da porta para fora da nossa casa,
quando ele está com nossa família é apenas o pai dos nossos filhos e meu
marido.
Confesso que às vezes até me esqueço da sua vida de mafioso,
embora algumas vezes seu temperamento difícil me força a lembrar.
Depois das nossas gêmeas Beatriz e Bianca e nosso menino José —
em homenagem ao meu pai —, decidi não ter mais filhos, acho que três já é
suficiente, embora Renzo queira um time de futebol. A vida foi muito boa
conosco e nossa família é e será perfeita desse jeito.

Renzo
Entrei no quarto e encontrei minha mulher deitada em nossa cama,
com os cabelos cor de cobre espalhados por nossos lençóis, e ela me
presenteia com um enorme sorriso e eu me desmancho inteiro.

Essa mulher é a mulher mais linda do mundo, sou muito


apaixonado, tá doido!

Deitei-me ao seu lado e a puxei para os meus braços, beijando seus


lábios macios.

Ficamos abraçadinhos e em silêncio eu agradeço, seja lá quem for


que me ouve, eu agradeço por tudo que tenho, por essa mulher magnífica e
por meus filhos lindos.

Sou merecedor? Não, e tenho total consciência disso, mas jamais


deixaria de agradecer sequer um dia por esses presentes.

E farei tudo que estiver ao meu alcance para que a cada dia Melanie
seja ainda mais feliz.

Essa ruivinha é a coisa mais linda do mundo, não me canso de


apreciar sua beleza.

Eu amo minha vida de mafioso, mas não tem explicação para essa
vida de marido e pai.

Saio para trabalhar já pensando na hora de voltar para casa, jantar


com minha família, brincar um pouco com meus filhos, depois colocá-los
para dormir e enfim me aconchegar nos braços daquela que eu amo.

Quando eu imaginei estar vivendo dessa forma? Nem nos meus


melhores sonhos!
— Pensativo? — minha ruivinha perguntou.

— Apenas agradecido.

— Por?

— Você e nossos filhos!

— Eu te amo, meu amor — se declarou, com os olhos mais


brilhantes do que as estrelas.

— Sou o homem mais feliz do mundo ao seu lado, minha ruivinha,


eu te amo!
EPÍLOGO
Enzo Ziegler

Estou deitado ao lado da minha morena relembrando os últimos


acontecimentos.

Primeiro foi há uns dois anos atrás quando eu conheci meu irmão,
sim, meu pai traiu minha mãe e teve um filho fora do casamento. Quando
descobri, o moleque já estava grande e só fiquei sabendo pois a mãe dele
ficou muito doente e precisou de alguém para ficar com o filho dela.

O nome dele é Adler, fizemos o DNA, embora eu já soubesse que


ele é meu irmão — o moleque é minha cara — e como já era de se esperar,
o resultado foi positivo.

A princípio ele não quis vir para minha casa, gênio difícil,
igualzinho ao papai, mas consegui convencê-lo e agora estou treinando-o
para assumir suas funções dentro da máfia. O cargo dele é de subchefe e
embora tenha começado seu treinamento tarde, é perceptível que o sangue
de um mafioso corre em suas veias, mata a sangue frio, sem qualquer
resquício de remorso em seus olhos.

Dentro de tantos acontecimentos, tem também o que mais está me


perturbando: o último jantar que dei na minha casa.

Estamos fechando um acordo com a máfia dos EUA, o que será


muito bom para os nossos negócios, tanto o meu quanto os dos Caccini —
já que agora unimos nossas máfias e estamos trabalhando totalmente
juntos — esse sem dúvidas será um dos melhores negócios que já fechamos
nos últimos anos. O negócio deles tem crescido muito e nos trará inúmeros
benefícios.

O Capo preferiu fechar negócio aqui na Alemanha do que ir para a


Itália, então estou dando uma pequena festa para recepcioná-los.

Alice está linda, como sempre, e depois que foi mãe ela ficou ainda
mais maravilhosa. Minha esposa é perfeita!

Temos dois filhos, Ravi e nossa princesa Jade, pensa em uma


boneca linda. É minha filha! Perfeição em forma de criança.

Eu sou apaixonado por minha esposa e meus filhos.

O Capo chegou acompanhado da sua esposa e do seu único filho.


Logo darei início ao jantar. Sei como Alice se sente extremamente
desconfortável com essas coisas então faço de tudo para que seja o mais
rápido possível.

O jantar ocorreu tranquilamente, eu e Rocco explicamos e ouvimos


tudo, não restou nenhuma dúvida entre nosso acordo, mas o Capo disse que
tinha uma proposta decisiva para fazer, então estamos todos no escritório
esperando ele falar.

— Eu acho que unir nossas máfias será muito bom, para ambos,
mas um acordo apenas de boca é muito vago, não que eu esteja falando que
vocês não irão cumprir com a palavra de vocês, mas o futuro é incerto,
preciso de certezas, me entendem?

— O que você propõe? — Rocco perguntou.

— Um acordo de casamento.
Meu coração gelou. Rocco e Renzo também ficaram visivelmente
desconfortáveis. Todos temos filhas e mesmo sabendo que isso vai
acontecer, não estamos preparados.

— Com quem? — perguntei receoso, bebendo quase o uísque todo


do meu copo de vez.

— Meu filho bateu o olho naquela linda criança de cabelos escuros


e ficou encantado, disse que quer se casar com ela, gostaria de firmar
nosso acordo dessa forma.

Meu sangue ferveu e quase quebrei o copo ao apertá-lo com força,


sei que estava falando da minha pequena Jade.

— Eles são apenas crianças — Rocco tentou intervir.

— Meu filho já é um adolescente e a criança aparenta ter uns sete


ou oito anos, não é tão criança assim, e eles não vão se casar agora. Eu
não vejo problema em fazer esse acordo, muitos acordos são feitos no
nascimento, assim como foi o seu Don, estou errado? — Referiu-se à
história de Rocco e Luara.

— Não! — praticamente gritei.

— Eu entendo você como pai, mas você não está pensando como
Capo — o infeliz argumentou.

Sei que ele estava sendo coerente com sua fala, mas pouco me
importava. Foda-se! Ele que vá para a casa do caralho com a sua
coerência e seu filho.

— Minha resposta continua sendo não! — reafirmei, bem sério.


— Tudo bem. Então não temos acordo, mas se caso você mudar de
ideia, vocês podem me procurar.

Ele se levantou e foi embora. Juro que eu queria ter metido uma
bala no meio da testa dele.

Fiquei atordoado, estou me tremendo de nervoso, tive que buscar


autocontrole sabe de onde para não quebrar a cara daquele maldito.

Rocco tentou conversar comigo, mas para não avançar nele e


acabar arrumando confusão, eu apenas o ignorei.

— Não temos outra saída? Precisamos tanto assim dele? — minha


esposa perguntou preocupada, ela sabia o motivo das minhas noites mal
dormidas.

Ultimamente estamos sofrendo constantes ataques das autoridades e


se tem uma máfia que tem essas pessoas na folha de pagamento —
chantagem — é a máfia dos EUA.

Rocco tem me cobrado constantemente um posicionamento, mas


não estava encontrando solução, já estava em desespero.

— Não sei o que fazer, morena — confessei, chateado pra caralho


com essa situação.

Aquele moleque tinha que ter gostado logo da minha filha? Porra,
eu entendo que ela é linda, mas é a minha princesinha.

— Amor, sei que é difícil, dói em mim, mas não teremos saída,
infelizmente, de qualquer forma quando ela fizer dezoito anos teremos que
fazer isso — falou, com a voz embargada, mas cheia de sabedoria.
— Me desculpa por isso, morena, me desculpa mesmo — pedi, de
cabeça baixa.

— Vamos enfrentar mais essa batalha juntos, sempre juntos. —


Segurou minha mão, apertando-a, demonstrando que está comigo.

— Eu te amo, morena, obrigado por sempre estar ao meu lado.

— Eu te amo, estaremos juntos até a eternidade.

— Para sempre! — falamos juntos e sorrimos.

Alice me ensinou muita coisa durante esses anos de relacionamento


e uma delas foi que o amor é capaz de vencer qualquer dificuldade. Ao lado
dessa mulher eu enfrento tudo e todos.

Sem dúvidas, essa é a mulher mais forte e corajosa que já conheci,


sempre disposta a enfrentar todos os problemas, sempre de cabeça erguida.

Minha esposa nunca ficou atrás, sempre esteve ao meu lado e é ela
quem me torna esse homem forte, sem ela eu não sou nada, caminhamos
juntos.

Eu a amo e sempre amarei, nossa história é a mais linda história de


amor que já vi e vivi.

Agradeço a todos que caminharam junto com a gente até aqui e


fizeram parte da nossa incrível história de amor.

FIM!
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus todos os dias por ter me mostrado o caminho em
um dos momentos mais difíceis da minha vida, que foi através dessa luz
que descobri o amor pela escrita.

Deixo meu agradecimento mais que especial também para todos que
estão ao meu lado me dando apoio todos os dias: à todos vocês que
chegaram aqui e me deram uma oportunidade.

À minha grande amiga Val, que sempre está ao meu lado me dando
apoio.

À Joice também, que sempre está me mandando mensagens


carinhosas.

À minha Mands, que revisa os meus livros com todo carinho e


paciência.

Não posso deixar de agradecer a minha família também, que sempre


esteve ao meu lado me encorajando.

Enfim, gratidão ao universo pelas bênçãos recebidas.

Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu dessa história.


Alice e Enzo, sem dúvidas, tem uma das minhas histórias de amor que eu
mais gosto.

Embora tenha toda a passagem de tempo para contar desde o


princípio o amor deles, a história foi incrível e em alguns momentos peguei-
me chorando com a dor dos personagens e sorrindo com a felicidade deles.

Eu amo o Enzo e o quanto ele é um homem foda para Alice!


Eu amo a maturidade que a Alice adquire ao longo do livro.

E sem dúvidas, eu sofri muito com a perda do Romeu, esse


personagem foi incrível para mim e a amizade dos dois foi a coisa mais
linda e verdadeira.

Enfim, espero que tenham apreciado mais essa história de amor e


reviravoltas

Não esqueçam de avaliar.

Um grande beijo e até a próxima.

Ainda teremos as histórias dos filhos e coadjuvantes. Fiquem de


olho no meu instagram (autoraanele).
Mais obras da Autora

Uma dívida entre as máfias Russa e ‘Ndrangheta, resultou em um


casamento como pagamento.

Luara cresceu com espírito livre, sonhadora e não imaginava que uma
tempestade estava para chegar. Sofreu a maior decepção da sua vida quando
descobriu que o seu pai, o homem que sempre acreditou ser o seu herói, deu
a sua mão em casamento quando ela ainda era um bebê para o homem que
hoje era considerado o mais temido de todos os tempos, como quitação de
uma dívida.
Ela estava prestes a entrar para a escuridão, já que estava de casamento
marcado com o Don da máfia mais temida e poderosa de toda a Itália,
conhecido por seus inimigos como Diabo.

E agora, o que ela faria ao saber que tinha uma passagem apenas de ida para
o inferno?
LEIA AQUI
Melanie Salvatierra é uma jovem de apenas 17 anos, que foi criada por seu
pai, o Capo da máfia mexicana. Ela nunca havia saído de casa, foi criada
numa redoma até o seu pai descobrir que lhe restavam poucos dias de vida.
Num ato desesperado de deixar a sua filha protegida, o Capo mexicano
selou um acordo com a máfia italiana, prometendo a sua única filha em
casamento para o subchefe.
O Subchefe da máfia italiana, Renzo Caccini, é um homem de 34 anos, frio
e calculista. Ele executa os serviços mais sujos e silenciosos dentro da
organização. Conhecido por todos como “a morte”, ele é um exímio
matador.
Sua vida era organizada e tranquila, mas tudo mudará quando uma
ruiva, dezessete anos mais nova, passar a ser sua responsabilidade.
Ao completar a maioridade, Melanie é obrigada a se casar com Renzo e
mergulhar de cabeça na escuridão do subchefe sombrio e gélido.
Revelações serão feitas e ela descobrirá que toda a sua vida foi uma
completa mentira.

ATENÇÃO: Este livro é um Dark Romance e pode conter gatilhos como:


traição, morte, violência psicológica, tortura e uso de drogas lícitas e
ilícitas.

LEIA AQUI
Ele é um mafioso impiedoso.
Ela foi salva por ele.
Ele é sombrio.
Ela o considera um anjo.

Chiara Collalto foi salva pelo Don quando tinha apenas 12 anos e, desde
então, é mantida sob os seus cuidados.

Lucca Savoia é um homem implacável nos negócios. Com um


temperamento difícil e de poucas palavras, ele não tem paciência para os
assuntos do coração.

Em uma noite turbulenta, ao ir à casa de um traidor, Lucca se depara com


uma linda menina de cabelos longos correndo em sua direção, caindo nos
seus braços.
O mafioso frio se torna o protetor da linda menina de olhos expressivos.
LEIA AQUI
O que você vai encontrar nesta leitura: Relacionamento com homem mais
velho. Mocinha virgem. Hot de tirar o fôlego. Um pouco de ação e
moderadamente uma comédia para tirar a tensão. +18

Lorenzo Savoia é o subchefe da máfia italiana. Um homem de 34 anos, que


não acredita no amor e aprecia sua vida de libertinagem.
Acostumado a ter uma, duas ou até mais mulheres na cama, ele nunca se
contentou com apenas uma.
Até ela chegar...

Giovanna Ferri foi salva pelo subchefe e agora pertence a ele.


Após a morte dos seus pais, foi levada por seu tio para o convento, onde
ficou até completar 21 anos.
Ela estava em completo desespero por seu tio dá-la como esposa a um
homem trinta anos mais velho.
Até que ele chegou...

Lorenzo não queria uma mulher dentro da sua casa, ainda mais uma mulher
tão desorganizada como Giovanna.
Em meio ao caos da convivência, eles descobrem que o amor não bate na
porta, ele entra sem pedir licença.
LEIA AQUI
[i]
À fragrância possui uma mistura de almíscar, cravo quente, baunilha, bergamota e tangerina
siciliana picada.
[ii]
É um profissional especializado em moda e estilo pessoal que trabalha com indivíduos para
ajudá-los a melhorar sua aparência.
[iii]
É ter uma queda ou um interesse por alguém.
[iv]
É o procedimento usado pelas agências de viagens e pela rede hoteleira para identificar a saída de
um hóspede de um hotel.
[v]
É um sistema de navegação por satélite que fornece a um aparelho receptor móvel a sua posição,
assim como o horário...
[vi]
Relógio de pulso de luxo.
[vii]
Iniciais de Alice e Romeu. Empresa fictícia.
[viii]
Meu Deus, que susto!
[ix]
Sentiu minha falta, meu amor?
[x]
Bom dia, irmã.
[xi]
Bom dia, irmão.
[xii]
É um curativo adesivo para qualquer corte, arranhão ou machucado.
[xiii]
É uma universidade privada situada na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts, nos
Estados Unidos.
[xiv]
Cayo Ambergris é uma pequena ilha de Belize, na qual vivem cerca de 15 mil pessoas, sendo
que a maioria habita em San Pedro, na extremidade sul.

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