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Copyright © 2024 Jaque AXT

Capa: Giovana Martins


Revisão: Sônia Carvalho
Leitura crítica: Hylanna Lima
Leitura Beta: Hylanna Lima e Ariel @leiturasdaariel
Ilustradora: Mery Ribeiro
Diagramação: Jaque Axt Autora

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da autora. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.2018.
CAPA
SINOPSE
DEDICATÓRIA
AVISO
NOTA DA AUTORA
AGRADECIMENTOS
PLAYLIST
ESTRUTURA HIERÁRQUICA
ÁRVORE GEOLÓGICA
PRÓLOGO:
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO
CAPÍTULO QUARENTA E CINCO
CAPÍTULO QUARENTA E SEIS
CAPÍTULO QUARENTA E SETE
CAPÍTULO QUARENTA E OITO
CAPÍTULO QUARENTA E NOVE
CAPÍTULO CINQUENTA
CAPÍTULO CINQUENTA E UM
CAPÍTULO CINQUENTA E DOIS
CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS
CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO
CAPÍTULO CINQUENTA E CINCO
CAPÍTULO CINQUENTA E SEIS
CAPÍTULO CINQUENTA E SETE
CAPÍTULO CINQUENTA E OITO
CAPÍTULO CINQUENTA E NOVE
CAPÍTULO SESSENTA
CAPÍTULO SESSENTA E UM
CAPÍTULO SESSENTA E DOIS
CAPÍTULO SESSENTA E TRÊS
EPÍLOGO UM:
EPÍLOGO DOIS:
RECADINHO DA AUTORA
Quando o destino de Felicie Ludwig, uma órfã aprisionada em
uma vida de servidão, cruza com o de Yago Zornickel, herdeiro implacável
da máfia In Ergänzung, suas vidas tomam um rumo inesperado.
Um encontro mágico em um baile de máscaras desencadeia uma
cadeia de eventos que os lança em um turbilhão de perigo, sedução e
segredos.
Contra todas as probabilidades, Yago propõe um casamento de
conveniência, imaginando uma solução para suas obrigações mafiosas sem
esperar que a paixão faísca entre eles.
Felicie vê nisso uma chance de liberdade, mas logo percebe que
pode estar se enredando ainda mais nas teias da máfia.
Entre desejos proibidos e lealdades duvidosas, eles exploram a
possibilidade de um amor redentor.
Mas, pode um coração endurecido pela máfia verdadeiramente
amar?
E Felicie, conseguirá ela encontrar a liberdade que anseia, ou será
coroada a princesa de um império nas sombras?
“Para todas as mulheres que sonham em viver um conto de fadas, às vezes
o príncipe encantado pode ser aquela pessoa que menos se espera...”
SÉRIE HERDEIROS MÁFIA IN ERGÄNZUNG é uma série
e seus livros podem ser lidos separadamente, porém a leitura na sequência é
recomendada:

1. PROTEGIDA DO DON
2. NAS GARRAS DO SUBCHEFE
3. A OBSESSÃO DO CONSELHEIRO
4. PROIBIDA PARA O CAPITÃO
5. SPIN-OFF ACORDO COM O DOUTOR DA
MÁFIA
6. APRISIONADA AO SUBCHEFE
Este é um romance Dark contemporâneo, nada tradicional.
Ele contém assuntos polêmicos, incluindo temas de
consentimento questionável, agressão física e verbal, linguagem imprópria
e conteúdo sexual gráfico.

Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.


A autora não apoia e nem tolera esse tipo de comportamento.
Não leia se não se sente confortável com isso. Se você quer um
príncipe encantado, essa leitura não é para você.
Em especial quero agradecer a todas as minhas Zornickets que
estão no meu coração.
Com o nosso Yago chegamos ao fim de uma era, a era da segunda
geração dos nossos herdeiros suíços. Obrigado por sempre embarcarem em
todas as loucuras com essa autora aqui.
É emocionada, e com lágrimas nos olhos que entrego para vocês
o nosso último Herdeiro, Yago Zornickel.
Tenham uma ótima leitura. Amem e deliciem o mafioso.
Beijos Jaque Axt.
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OUVINDO MÚSICA?
APRISIONADA AO SUBCHEFE tem playlist no spotify

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ESTRUTURA HIERÁRQUICA

- Don/Chefe: No topo da hierarquia está o Chefe, coloquialmente


conhecido como Don. Por ele passam todas as decisões acerca da família, e
para ele devem chegar uma percentagem dos lucros de todas as operações
de seus membros;
- Subchefe: Logo abaixo do Don, está o Subchefe. Serve como
substituto temporário no caso da ausência do chefe e como intermediário
entre este e os outros membros abaixo na hierarquia;
- Conselheiro: O Conselheiro atua como conselheiro do Don, é o
único que de fato pode ponderar as ações do chefe, servindo como uma
segunda opinião. Normalmente é um posto ocupado por alguém de muita
experiência e perícia para intermediar conflitos e negociações;
- Capitão: Subordinados diretamente ao Subchefe estão os Capitães.
Cada um destes, comandam um regime ou equipe, que são compostos por
soldados e associados. Um percentual de todo lucro obtido por esta equipe é
passado diretamente ao chefe da família em forma de tributo;
- Soldados: Os Soldados, é o posto básico da hierarquia. São
membros efetivos da organização, conhecidos como homens feitos. São eles
os responsáveis por conduzir as operações nas ruas e executar os serviços
de maior importância.
- Associados: Os Associados são membros externos da organização.
Embora não façam oficialmente parte da família, atuam como
colaboradores de seus membros efetivos. Dependendo de sua influência e
poder, o associado pode atuar inclusive junto aos postos mais altos da
hierarquia de uma família.
PRÓLOGO:

Passei a mão em meu colar, meus dedos rodavam em volta do


pequeno pingente com uma pedrinha azul. A única coisa que restara do meu
pai.

Entrei na cozinha, avistando a minha cunhada passar um pão em


volta de um plástico.

— FELICIE!!! — O grito dela me fez dar um pulinho em meio ao


meu susto.

— Estou aqui, Kina — falei pigarreando, vendo Kina dar um longo


suspiro.

Seus olhos esverdeados sempre raivosos na minha direção.


— Garota tola, sempre silenciosa, parece que faz isso apenas para me
tirar do sério — bufando pegou aquela embalagem de pão e a colocou sobre
uma bolsa de pano.

Com certeza não era, ela que era desatenta demais e nunca me
notava nos lugares. Estendi minha mão e peguei aquela bolsa de pano da
mão dela.

— Entregue isso para o senhor Brunner e depois vai para a sua


escola...

— O senhor Brunner? Ele é sempre tão... tão... — pigarreei soltando


um gritinho quando senti a mão dela apertar a ponta da minha orelha e a
puxar para trás.

— Ficou surda? Será que preciso abrir mais essa orelha? Ordenei que
leve isso para o senhor Brunner, ele precisa disso, o pobre senhor mora
naquela casa solitária e sozinho.

Quem a via falando assim até julgava que era uma boa mulher, na
verdade, Kina era, com todos, menos comigo. Sem falar nada apenas
assenti, sentindo minha orelha latejar em meio ao puxão ardente da minha
cunhada.

Saí daquela cozinha, peguei a minha mochila escolar que estava no


chão, onde a deixara, passei a alça da bolsa em meu ombro, parei ao lado da
saída da porta, pegando sobre o gancho o meu sobretudo e soltei um suspiro
ao ver que o rasgo que tinha na parte do meu cotovelo se tornou maior.

Isso tinha cara de ser coisa da Leli, ela que fazia esse tipo de ações,
apenas para me ver ir até a mãe dela e pedir mais roupas. Mesmo que
tivesse a mesma idade das gêmeas, elas eram maiores que eu, e eu acabava
ficando com as roupas usadas delas. Provavelmente Leli estava querendo
um sobretudo novo, por esse motivo estava destruindo o meu aos poucos,
dessa forma a mãe seria obrigada a me dar o da filha e comprar um novo
para ela.

Vesti-o daquela forma mesmo, calcei a minha bota de tecido rosa,


talvez nem fosse mais rosa, estava bem desbotada, abri a porta, sentindo o
vento frio se chocar em meu corpo, a meia de lã em minhas pernas curtas
fazia uma entrada de vento tocar em uma parte da minha perna, o que
denunciava que a minha meia estava com um furo e eu nem ao menos
notara.

Segui silenciosamente pela calçada, apertando a minha mão sobre o


bolso do meu sobretudo, a bolsa de pano que estava embaixo dos meus
braços me incomodava em meio ao processo, ainda tendo nas minhas costas
a mochila.

As cercas de madeira das casas estavam úmidas, denunciando que a


temporada de inverno se aproximava.

Sempre que Kina inventava de fazer um dos seus pães de boa ação
sobrava para eu sair mais cedo de casa para entregar isso. Chamava de pão
da boa ação, minha cunhada era conhecida por ser uma mulher de boas
ações.

Estava me aproximando da casa do senhor Erick Brunner quando


senti uma mão forte apertar o meu braço. Virei o rosto sentindo aquele
puxão.

— Se... senhor Brunner — gaguejei arregalando meus olhos.


— O que essa garotinha faz sozinha aqui na rua? — O homem alto,
de cabelos grisalhos tampados por uma boina cinza escura me direcionou
um dos seus sorrisos de dentes amarelados.

— Kina pediu que eu entregasse esse pão ao senhor. — A casa de


Erick ficava no final da rua, eu olhei em volta procurando por alguém que
pudesse ver o que aquele senhor fazia, mas não tinha ninguém ali.

— Os bolos da sua mãezinha são maravilhosos, venha comer


comigo. — O velho que me segurava pelo braço passou a me puxar em
direção à entrada de sua casa.

— Kina não é minha mãe, e eu não estou com fome. — Tentei puxar
meu braço, mas minha força em nada se comparava com a dele. — Tenho
aula, senhor Brunner...

— Ninguém vai notar a sua falta. — Impulsionei meu corpo para


baixo, sendo carregada por aquele homem corpulento.

Minha voz que naquele momento estava trêmula se disparou a gritar,


o que fez aquele homem se virar colocando a sua mão em minha boca,
abafando os meus gritos. Com muita facilidade Erick conseguiu me levar
para dentro da sua casa. Meus olhos apavorados olhavam tudo à minha
volta.

Uma casa pequena e fria, uma mesa de madeira com quatro cadeiras
em cada ponta, os tons marrons predominantes. Julgava que todas as casas
da rua da comunidade tinham o mesmo formato, mas essa era diferente,
com menos divisão que a casa do meu irmão.

— Senhor, não estou com fome — pedi em meio à súplica.


— Não faz mal, eu te obrigo a sentir. — Trancou a porta da sua casa,
pegou a bolsa de pano do meu ombro e me carregou para um dos sofás,
onde me jogou de qualquer forma.

Minhas tranças caíram sobre meu rosto, a mochila que estava nas
minhas costas deslizaram sobre o meu corpo. — Brinque com isso. —
Jogou uma boneca na minha direção, seu material duro se chocando em
minha cabeça

— Não quero brincar — murmurei tentando ser forte.

— Eu mandei você brincar, vou preparar o nosso café e vamos tomá-


lo, depois você vai brincar enquanto eu te observo, e quando me enjoar de
ver essas mãozinhas delicadas brincando, será um sinal de que a brincadeira
terminou. — Encolhi-me no sofá.

— Vou poder ir embora depois? — sussurrei.

— Depende... — ele se virou conforme ainda falava. — Se sobrar


algo do seu corpo...

Com aquelas palavras entrei em desespero, levantei-me do sofá e


corri em direção à porta, mas a encontrei trancada. Bati com minhas mãos
sobre ela, tentando colocar ali toda a minha força, o que foi totalmente em
vão.

— AH! — Um grito agudo saiu dos meus pulmões, enquanto o velho


me puxava pelas minhas duas trancinhas.

— Quer que a brincadeira acabe rápido?

— Nã... não... — choraminguei, sabendo o que aconteceria quando a


brincadeira acabasse.
— Boa menina, agora continue a brincar. — Empurrou-me para a
sala e caí naquele carpete, meus olhos fixos nele.

O tanto que eu pedi para Kina não me mandar naquela casa. Estava
com medo, muito medo, e sabia que ninguém ia sentir a minha falta. Meu
irmão nem ao menos me via como uma irmã, apenas como uma pedra em
seu sapato. Um fardo que foi obrigado a sustentar quando mamãe se foi.

Ivaan se importava mais com as suas enteadas do que comigo, se


fosse uma das gêmeas aqui, com um minuto de atraso, já estariam
colocando todas as buscas atrás delas. Uma lágrima silenciosa caiu sobre o
carpete, quando senti algo se chocar na minha cabeça.

— Brinca, garota inútil — Erick jogou uma colher em minha cabeça.

Sabendo que precisaria fazer aquilo, passei a brincar com o que


poderiam ser minhas últimas horas de vida.

Pela cortina com estampas floridas da casa, notei que o dia parecia se
tornar mais escuro, será que já estava anoitecendo? Sempre soube que
ninguém sentiria a minha falta, mas sentir na pele, doía, doía muito.

— Estou enjoado de te ver brincando. — Não ergui meus olhos, o


medo do que vinha a seguir me deixava temerosa.
Erick Brunner me fez brincar, me obrigou a comer, mantive-me forte,
minha mamãe sempre me ensinava que não devíamos chorar em frente aos
nossos inimigos, isso demonstrava a nossa fraqueza, por mais que eu
estivesse a ponto de chorar, contive minhas lágrimas.

— Levante-se e venha até o colo do papai...

— Você não é e nunca será o meu pai — ferinamente, cuspi as


palavras.

— Para uma garota de dez anos, você é bem corajosa, talvez eu


venha a ser o seu último papaizinho. — Meus olhos se encontraram com
aqueles nojentos olhos esverdeados.

— Tenho doze! Doze anos!

Não me levantei, quem levantou primeiro foi Erick, o homem alto,


ali dentro ele não usava boina. Eu engoli em seco, até qual momento
precisava ser forte? Quando podia chorar? Mamãe se esqueceu de me falar
isso.

Abaixando a mão ele me ergueu por uma das minhas trancinhas


laterais.

— Deveria me agradecer por ao menos ter lhe dado uma última


refeição. — Sorriu como se fosse um homem bondoso.

Estava prestes a respondê-lo quando uma batida na porta, forte, tão


forte que fez Erick me jogar no chão olhando para todos os lados como se
soubesse o que era aquilo. Sem tempo de correr, a porta foi arrombada e por
ela passaram três homens de preto.

Eles eram os meus anjos da guarda? Não, provavelmente, não.


Arrastei-me para trás, empurrando-me com meus pés e minhas costas
tocaram o sofá. Minha atenção captou o primeiro homem, talvez o de mais
destaque entre eles, por conter olhos azuis, tão azuis, que podiam assustar
ou até mesmo gelar a alma de qualquer um que fixasse o olhar neles. Talvez
eu devesse parar de ler escondido livros de fantasia que pegava emprestado
na biblioteca. Se Kina sonhasse que eu os lia, ela ia puxar a minha orelha
com tanta força que possivelmente ficaria sem. De acordo com a minha
cunhada, não precisava ler, não precisava ficar esperta. Meu destino tão
premeditado quanto o de qualquer outra pessoa, era passar a minha vida
inteira em função deles.

— Erick Brunner. — O homem de olhar frio, de rosto liso, podia


parecer um anjo, um anjo de cabelos loiros, mas não, aquele olhar
amedrontador dizia o contrário.

— Oh, sinto muito, prometo que amanhã arrumo o dinheiro. — O


senhor Brunner que a poucos minutos se mostrava um homem altivo e forte,
parecia começar a implorar por clemência.

— Você disse isso há quinze dias, agora não tem mais o amanhã, ou
entrega a quantia agora ou... — a frase dele morreu quando passou a mão na
cintura, pegando uma arma, meus olhos se arregalaram, mais do que o
normal.

Anjos usavam armas? Aquela foi a resposta que me restava para


concluir que aquele homem não ia me salvar, que suas lindas feições não
eram para me salvar. Atrás dele estavam seus dois homens, como se aquele
loiro fosse o líder.

— Piedade, meu capitão... — Erick se ajoelhou, lentamente meus


olhos se fixaram no homem que estava no chão chorando, ele estava
chorando?

— Que o diabo te carregue — o loiro sussurrou, como se fosse um


assoprar, o tiro foi disparado, apertei meus olhos com força, quando percebi
que atingiu em cheio a cabeça do senhor Brunner.

Logo abrindo meus olhos, quando de relance vi aquela arma ser


mirada na minha direção, eles me viram ali, eu que pensei que estava
praticamente transparente aos olhos deles.

— Não, não, não — passei a implorar.

— Você viu isso, menininha? Seu pai merecia morrer, você também
merece isso?

— E... ele não é meu pai, eu não moro aqui... — murmurei temerosa
com medo ao ver os sapatos daquele loiro se aproximando de mim.

Abaixei meus olhos, fixando-os em minhas pernas, percebendo que o


sapato lustroso com pequenos fragmentos de sujeira parou ao meu lado.

— Levante-se — ele não falou, e sim ordenou.

Segurando com a minha mão no chão, levantei-me e passei o meu


olhar no corpo dele, engolindo em seco vendo os seus dedos cobertos por
uma luva que parecia de couro, segurando aquela arma.

Senti o outro dedo do homem segurar em meu queixo e erguendo-o,


ele me fez olhar nos olhos dele, e eu vi que ao lado do seu pescoço tinha
uma tatuagem de cruz, escrito embaixo dela “Über In Ergänzung, nur
Gott” [1]aquilo não me fazia ter dúvidas de que ele fazia parte daquela máfia
que meu irmão tanto falava, os homens que eram conhecidos como os reis
do submundo na Suíça.
— Por favor, não me mate, prometo guardar segredo, apenas me
deixe ir para a minha casa — pedi a ele, sabendo que poderia ser em vão,
mas o fazendo mesmo assim.

— Uma promessa não garante nada, garotinha. — Puxou o lábio fino


um pouco para o lado.

— A minha promessa garante, é tudo que eu posso te dar... —


supliquei outra vez, percebendo que um dos homens se aproximou.

— A garota deve estar falando a verdade, capitão, pois Brunner não


tinha família, muito menos filha, quem garante o que ele faria com essa
menina.

Meus olhos não se desviaram daquele azul, o cabelo loiro penteado


para o lado, um suspiro passava por seus lábios.

— Talvez você seja a primeira pessoa que eu vou poupar a vida,


sinta-se no seu dia de sorte. — Seus dedos soltaram o meu queixo.

Ele guardou a arma em sua cintura e tirou do bolso do sobretudo


longo que ele usava, uma boina, levando-a ao seu cabelo.

Com certeza ele não era o meu anjo da guarda, mas foi a palavra final
daquele homem que me salvou de não morrer ali.

— Leve-a para perto da casa dela, Frei, e garanta que ela não falará
nada do que viu aqui — o loiro ordenou a um dos seus homens.

Por algum motivo senti verdade nas palavras dele, estendi minha
mão, tocando sobre a luva de couro do meu salvador e ele abaixou seus
olhos azuis, que se encontraram com os meus.
— Obrigado por salvar a minha vida, nunca falarei sobre isso com
ninguém. — Ele ficou me olhando por longos segundos, até que a minha
mão soltou a dele.

O outro homem apareceu, pegou em meu braço e me fez caminhar


junto com ele. Praticamente corri ao lado dele, não sem antes pegar a minha
mochila no chão.

A noite já estava caindo. Estava sozinha com aquele homem.

— Eu moro ali, no início da rua. — Apontei e bem naquele momento


meu irmão surgiu no portão, correndo na minha direção ao me ver com
aquele homem de preto. — Esse que está vindo é o meu irmão.

— Ok, preciso que cumpra com o pedido do capitão e nunca terá


problemas na sua vida — apenas assenti, e ele soltou o meu braço.

Aquele homem que tinha olhos castanhos me deixou sozinha, meu


irmão ainda vindo na minha direção, meus olhos se encontrando com os de
Ivaan.

— Felicie, o que aconteceu? Por que essa demora? Por que não foi
pra aula?

Sério que ele estava preocupado comigo? Obviamente estava apenas


preocupado com quem seria o saco de pancada de Kina, caso eu não
estivesse mais por lá.

— Quem são aqueles homens? — Virei meu rosto vendo os três


homens de preto entrando no carro, sei que Ivaan sabia sobre eles.

— Tudo que eu posso dizer é que hoje eles foram os meus salvadores
— falei apenas aquilo.
Não ia falar mais, sabia a família com a qual convivia, sabia que
mesmo falando tudo seria eu a culpada, de alguma forma eles me
culpariam, por isso me calei, caminhando pela calçada, me preparando para
o castigo que receberia.
CAPÍTULO UM

Oito anos depois...

Passei o pano sobre aquele balcão, vendo-o se tornar tão lustroso a


ponto de me espelhar nele. Era dessa forma que Kina gostava, o que me fez
revirar meus olhos, aquela mulher sabia como se tornar ainda mais
rabugenta com o decorrer dos anos.

Endireitei minhas costas, ouvindo a sineta do bar ecoar, sobre ele


adentrando um dos primeiros clientes do meu irmão. Não era atendente,
apenas fazia o serviço mais sujo, do tipo, limpar os banheiros fedidos,
aqueles balcões que necessitavam estar sempre lustrados e perfeitos aos
olhos da esposa do meu irmão.

Soltando um longo suspiro me virei, dando um pigarro ao esbarrar


em Kina.

— O que ainda faz aqui? Não era para estar lá atrás? — A mulher
arqueou uma das suas sobrancelhas.

— Estou indo, o primeiro cliente entrou agora — declarei


prontamente dando um passo para o lado, querendo ir para a cozinha.

As unhas ridiculamente grandes e afiadas de Kina apertaram o meu


braço, e eu pude senti-las fincadas em minha pele.

— Não ache que pode falar assim comigo. — Não olhei na direção
dela, apenas segui para a cozinha mordendo o meu lábio com força e
reprimi ali toda a minha vontade de xingar Kina.

Adentrei a cozinha sozinha, ouvindo a voz da minha cunhada, que


falava com o primeiro cliente. Meus olhos se encontraram com Anali e a
senhora sorriu para mim, como sempre fazia quando me via amuada.

— O que a naja fez agora? — ela perguntou em um sussurro.

— Nada novo sobre a terra. — Revirei meus olhos.

— Querida, você já tem vinte anos...

— Sim, eu sei, mas não tenho para onde ir, não tenho economias,
nem mesmo roupas eu tenho, como vou sair daqui?

— Sabe que tem a minha casa. — A senhora Anali ainda me faz


acreditar que existiam pessoas boas no mundo.
— Não, você já tem o seu marido, a sua filha, nunca lhe daria o
serviço de me colocar como mais uma boca para sustentar. — Balancei
minha cabeça veementemente.

Anali tinha um marido que estava de cama, após sofrer um acidente


de carro, não saía mais dos aparelhos e ficava entubado em sua casa. E uma
filha que sofria com transtornos de bipolaridade. Não seria eu a terceira
pessoa para Anali se preocupar.

— Onde come um, comem até mesmo dez. — Ela quis fazer a minha
cabeça.

Essa não era a primeira, e nem seria a última vez que ela iria fazer
esse convite, mas não queria dar mais trabalho pra ela.

O barulho da porta me fez dar um pulinho de susto, em seguida


ouvindo a minha cunhada bater o seu salto na cozinha.

— Posso saber o assunto da vez? Não tem nada para fazer, Felicie?
— a mulher em sua forma soberba de falar fez com que eu revirasse meus
olhos, virando meu rosto para o outro lado, assim ela não via o meu ato.

Por inúmeras vezes me peguei imaginando como seria segurar no


pescoço de Kina e apertá-lo com força, mas logo acordava para a realidade
e via que aquilo não passava de um sonho. Segui para a pia, onde havia
algumas louças a serem lavadas. Anali era quem preparava os poucos
lanches que eram servidos ali. Ela era a única funcionária do bar.

Quem trabalhava atendendo era o meu irmão, ou Kina, minha


cunhada adorava receber a atenção dos homens que vinham até o bar. Era
como se ela se sentisse rejuvenescida, apenas o meu irmão não via isso,
parecia até que gostava de ver a esposa expondo seus generosos decotes
para todos.

Passei a esponja sobre um copo. Ouvindo o barulho da porta dos


fundos, pelas risadas estridentes sabia de quem se tratava, as gêmeas, elas
iam de vez em quando ali, de vez em quando não, quase todo dia,
principalmente quando tinham certeza de que os homens de poder da nossa
comunidade iam aparecer ali.

— Mãe, mãezinha — Leli veio saltitante em direção a Kina. —


Papaizinho ficou sabendo que hoje teremos o nosso senhor mafioso aqui no
bar.

Não sabia o que me causava mais enjoo, a forma como chamavam


meu irmão de paizinho, sendo que ele nem ao menos era pai delas, e
nitidamente elas apenas usurpavam o dinheiro dele. Ou a forma como elas
chamavam aquele loiro de nosso.

Tá, tá, talvez a parte do nosso, não devia ser da minha conta, afinal,
Yago Zornickel, era o tipo que fazia o gosto de todas as mulheres da
comunidade. Seus cabelos loiros, os olhos azuis, a barba sempre feita,
aquele olhar enigmático que direcionava para as mulheres que estavam na
sua mira.

Mas somente uma mulher sem amor à vida se casaria com alguém
como ele, já o vi em ação, eu o vi tirar a vida de um homem bem na minha
frente e vi-o também atirar em uma mulher no meio do bar da nossa família,
tudo porque ela não quis fazer o que ele mandou.

Ele apenas fez o serviço de mandar seus homens retirarem o corpo do


bar, a sujeira ficou para eu limpar, aquela quantidade de sangue me fez ter
pesadelo por inúmeras noites seguidas. Em todos os sonhos, ele vinha em
minha mente, os olhos se tornando vermelhos como se fosse um diabo, a
arma na sua mão mirava na minha direção como já fizera uma vez, e eu
acordava assustada quando o tiro era disparado.

Por sorte os sonhos acabaram. Mas cheguei a cogitar que nunca mais
conseguiria dormir decentemente.

A família Zornickel seguia sendo uma incógnita para todos na


comunidade, ninguém sabia nada sobre eles, as mulheres eram todas belas,
sempre elegantes, e raramente vinham até a comunidade. Uma vez esbarrei
em uma delas, e fiquei até mesmo sem jeito, mas curiosamente, ela foi
simpática comigo, ao contrário dos homens, que todas as vezes que aparecia
eram estúpidos e arrogantes.

Era como se Lauterbrunnen fosse um reinado e os Zornickel


pertencessem à realeza, não podiam ser tocados, não podíamos nem ao
menos olhar na direção deles, tinha toda uma segurança sobre eles, e a
polícia da comunidade? Ficava totalmente ao lado deles, era como se um
lavasse a mão do outro.

— Fiquem aqui atrás, meninas, não quero as minhas garotas


passeando pelo bar aberto, se por acaso o Zornickel aparecer por aqui aviso
vocês — meu irmão falou daquela forma melosa indo para a frente do bar
sem nem ao menos me notar ali.

Afinal, apenas era lembrada quando precisavam de mim para limpar


algo.

— Já pensou eu Leli Zornickel...


— Não! Nann Zornickel combina mais — a outra gêmea falou e
assim a discussão das duas iniciou.

Era sempre assim, Nann Zornickel, Leli Zornickel. Será que elas
esqueceram que ele matou uma mulher apenas por não fazer o que ele
queria que era acender apenas o maldito do cigarro dele? Se isso era razão
para matar alguém, quem garantia que em uma discussão com a sua esposa
ele apenas não a matava?

Pelo que todos sabiam ali na comunidade, aquele era o último


Zornickel solteiro e por aquela razão as gêmeas estavam alvoroçadas, sendo
que o homem em nenhum momento se mostrou inclinado a uma delas. Ele
nunca nem ao menos se mostrou inclinado a alguma mulher.
CAPÍTULO DOIS

Peguei o pano em meus dedos, seguindo para trás daquela janela com
a película escura, não tinha como me verem de esguelha ali, apenas meus
olhos podiam analisar tudo que se passava ali. Sempre que ele vinha, eu o
ficava encarando, mas obviamente fazia aquilo escondido. Afinal não tinha
como não olhar a beleza peculiar daquele homem.

O loiro tirava dos seus cabelos a boina preta e passava a mão por
eles. O nariz reto e pontudo, a boca sempre franzida, como se estivesse
forçando os lábios. Nunca o vi sorrindo, toda vez que o via ali com seus
homens estava sério, com exceção daquele dia, há oito anos, quando me
esboçou um pequeno sorriso, o qual nem ao menos podia dizer que foi um
sorriso.
Com o estilhaçar de algo indo ao chão, meu devaneio foi quebrado.
Virei o meu rosto e vi Leli entrar alarmada na cozinha.

— Oh, céus. Precisamos que limpe a catástrofe que Nann fez, aquela
garota não sabe nem como se portar na frente de um homem como um
Zornickel — a gêmea causou um alarde diante do que a irmã fez.

Aquilo era tão comum, que nem ao menos fiquei surpresa. Fui até a
pia nos fundos da cozinha, peguei a vassoura, pazinha, um balde e pano.
Não tive visão do estrago que foi feito, então peguei um pouco de cada.

Ao menos assim tinha visão do homem mais cobiçado da nossa


comunidade, afinal olhar não cobrava nada de ninguém, não é mesmo?

Passei pelas portas duplas que davam para a frente do bar, apenas
naquelas ocasiões minha presença ali era solicitada. A voz do meu irmão
deixava explícito que ele tentava puxar assunto com o mafioso.

— Ali, garota. — Minha cunhada apertou meu braço me empurrando


em direção aos dois copos estilhaçados ao chão, torci meu lábio, não sei se
foi pela dor, ou pela quantidade de bebida no chão.

O que Nann tentou fazer? Ela quis bancar a bartender?

Sai de trás do balcão indo para onde os homens caminhavam. Queria


gritar com aqueles abutres que estavam espalhando mais sujeira enquanto
pisavam sobre o líquido.

Não falei nada, fazer isso seria pedir um castigo de Kina, me abaixei
tentando conter a sujeira causada pela bebida derrubada ali, apenas
passando o pano sobre o líquido, empurrando os cacos sobre um pequeno
amontoado.
Estava quase tudo limpo, e nem ao menos tive o vislumbre de olhar
aquele homem sem um vidro com película na minha frente.

— Aí... — sussurrei quando vi um pequeno caco de vidro entrar na


ponta do meu dedo, droga não vi aquilo.

O movimento ao meu lado me fez erguer meus olhos, vendo o


homem se abaixar, aqueles límpidos olhos azuis, tão azuis e perto de mim.
Sem falar nada segurou meu dedo que estava com o pequeno vidro sobre
ele. Minha mão fria com a dele quente fez como se um choque elétrico
percorresse todo o meu corpo.

Minha boca se entreabriu, nada saiu por ela, apenas hipnotizada, por
aquele ato, com aquele homem. Com facilidade tirou o vidro do meu dedo e
ergueu seus olhos, encontrando-se com os meus que estavam sobre o ato
dele.

Seu cabelo loiro para o lado, as tatuagens em seu pescoço, sem nem
ao menos conseguir distinguir os desenhos que estavam ali, pois meu estado
de hipnose não me permitia fazer tal ato.

— Ainda vai sangrar um pouco, precisa estancar o sangue. — A voz


dele era baixa, continha uma rouquidão que parecia natural do seu timbre.

Passou a sua outra mão do lado de dentro do seu paletó, tirou um


pequeno lenço preto, levou-o ao meu dedo e o passou em volta dele,
apertando com um pouco de força, Yago fez um nó.

— O... obrigado — foi tudo que saiu da minha boca. Puxei o ar com
um pouco mais de força que o necessário e senti o cheiro amadeirado dele,
com uma pequena mistura de nicotina.
— Se tem algo que não suporto ver é uma mulher sangrando — o
loiro falou baixo, como se não quisesse que ninguém nos ouvisse.

— Ah... — gaguejei outra vez sem saber o que falar, sem saber como
reagir.

Um pequeno sorriso se formou no canto do lábio dele, tão pequeno e


quase imperceptível, como se ele soubesse o efeito que tinha sobre as
mulheres. Mas o pequeno ato passou, seu semblante se tornou endurecido, e
Yago se levantou. Fiquei olhando para o lugar vazio onde ele estava,
perguntando-me se aquilo realmente aconteceu.

Aquela foi a primeira vez que Yago Zornickel falara comigo, sem ser
o episódio de oito anos atrás.

Rapidamente terminei de arrumar aquela bagunça tentando a todo


custo não me cortar outra vez, minhas mãos trêmulas não facilitaram o meu
ato. Quando me levantei do chão não pude deixar de ouvir o que eles
falavam:

— Minhas gêmeas com certeza serão as mais lindas do baile. — Kina


tinha a sua voz orgulhosa.

Mas que baile era aquele?

— Estamos surpresos em saber que vai. — Meu irmão parecia estar


falando com os dois mafiosos que estavam ali encostados no balcão.

— Temos assuntos do nosso clã para resolver, esse será o nosso único
intuito lá — quem respondeu não foi Yago, e sim o homem que estava junto
dele.
Segurando meus apetrechos em minhas mãos, passei ao lado do
balcão, e instintivamente, como se sentisse algo sobre mim, virei o meu
rosto, encontrando aquele par de olhos azuis fixados em mim, ele os tinha
sem nem ao menos disfarçar, como se quisesse me furar com aquele olhar.

— Vai, garota, tem mais coisas para fazer. — O aperto de Kina em


meu braço fez com que eu quebrasse o olhar primeiro.

A ardência percorria o meu corpo. Entrei sozinha na cozinha e


busquei por Anali que estava no vidro olhando tudo que se passava do outro
lado.

— Garota, que olhar foi aquele? — a mulher sussurrou vindo


correndo na minha direção.

— Do que está falando? — Me fiz de desentendida.

— Nós duas sabemos, viu a forma como o mafioso olhou para você?
E eu poderia jurar que ele apertou as mãos quando viu a bruxa apertando o
seu braço. — Ela soltou um suspiro sonhador.

— Anali, estamos falando de um mafioso, um homem cruel, desde


quando ele vai se importar com algo que não é o seu próprio nariz? —
Tentei ser realista, mas estava sim mexida com o modo como Yago olhara
para mim.

Já recebi inúmeros olhares de homens no bar, e por aquela razão


sabia que Kina sempre me mantinha ali atrás. Mas nenhum outro olhar foi
como aquele, eu senti, senti em cada parte do meu corpo que se arrepiou
como se fosse ele me tocando, com apenas o seu olhar.
— O que você sabe sobre esse tal de baile? — perguntei levando os
meus apetrechos para o lugar.

— Tudo que sei é que o prefeito falou que vai fazer um baile de
máscaras, como se fosse realeza, não sei qual o intuito dessa baboseira. —
Anali deu de ombros.

— Como eu não sabia disso? — perguntei pensando qual dos meus


vestidos ia usar.

— Simples querida, você vive só em função desses usurpadores. —


Ela revirou seus olhos.

— Quero ir nesse baile, sabe como faço?

— Todas as meninas da comunidade estão convidadas, tudo que


precisa é de um vestido e uma máscara.

— Será que se eu pedir algum vestido para Kina ela me cede? —


Meus olhos brilharam diante da hipótese de pelo menos uma vez ser uma
garota normal de vinte anos.

— Olha, se aquela bruxa não lhe der um vestido eu mesma farei isso.
— Piscou um olho em cumplicidade.

Aquele tal de baile me deixou um pouco animada, embora ainda


pudesse sentir aquele frenesi, abaixando meus olhos, vendo sobre o meu
dedo o lenço que Yago amarrara.

Deixei meus apetrechos em seus devidos lugares. Desatei o lenço,


meu dedo já não sangrava mais, senti o tecido e vi ali uma nomenclatura
pequena escrita “In Ergänzung” mesmo sujo de sangue, guardei-o no meu
bolso.
CAPÍTULO TRÊS

Com o meu armário aberto, fiquei olhando as poucas opções de


vestidos que eu tinha. Vestimentas de festa não era o tipo de coisa que as
gêmeas repassavam para mim. Não era uma pessoa adepta a pedir favores a
Kina, talvez uma única ocasião fizesse com que a minha cunhada pudesse
me ajudar.

Segui para fora do quarto, o meu era o último do corredor, o mais


afastado de todos. O cheiro de café impregnando em meu olfato, quando
todos estavam de bom humor e me deixavam tomar café da manhã junto
deles. Por mais que Nann tivesse tido o seu episódio desastrófico na noite
anterior parecia não ter afetado o humor da família que falava empolgada
daquele baile que aconteceria naquele final de semana.
Entrei na cozinha, os quatro direcionando seus olhares para mim,
esperei para saber se podia me sentar ali. Já não olhava mais para o meu
irmão buscando por algum pedido de socorro para com ele. Pois
nitidamente ele preferia a família da sua esposa a mim.

— Sente-se ao meu lado. — Nann apontou para a cadeira ao seu


lado.

Ninguém falou mais nada, em silêncio me sentei ali, e ouvi logo em


seguida Leli falar:

— Mamãe, preciso ser a garota mais linda de todo aquele baile. Yago
Zornickel vai ter olhos apenas para mim...

— Sabemos, Leli, que meus olhos verdes são mais fascinantes que os
seus — Nann ao meu lado passou a falar.

E assim as duas começaram a sua discussão.

— Meninas, chega! As duas serão as mais lindas. — Kina sorriu para


as duas filhas, seus olhos brilhavam para elas.

Talvez aquele fosse um bom momento para solicitar um pedido,


afinal minha cunhada parecia estar de bom humor.

— Eu... ah... — pigarreei quando todos olharam rápido demais para


mim, sendo que eu sempre era quieta — queria pedir um vestido...

Minha voz morreu quando as três dispararam a rir, como se o que


tivesse pedido fosse a coisa mais cara de todo o universo, algo impossível
de eu pedir, mas era apenas um vestido tudo o que eu queria.
— Mamãe, hoje Felicie acordou tão engraçada. — Leli até mesmo
limpava suas lágrimas de tanto rir.

— Querida, uma coisinha estranha como você, não frequenta lugares


como o baile dos Fluckiger. — Kina passou a mão sobre a do marido que
me olhava com certo pesar, como se quisesse que ele não se envolvesse
naquilo.

Em silêncio pedi ajuda do meu irmão, mas consensualmente ele


passou a falar:

— Irmãzinha, é melhor que fique em casa, esse baile vai apenas fazer
com que crie falsas expectativas, precisamos de você em nossa casa.

— Mas o baile não é para todas as garotas da comunidade? —


perguntei confusa.

— Garotas de família e de classe — Leli falou sem nem ao menos


olhar na minha direção, como se eu fosse nada mais que um mero inseto.

Senti as lágrimas começarem a criar lugar em meus olhos. Segurei


sobre as minhas pernas, sem saber o rumo que devia tomar, por meus dedos
senti toda a minha expectativa de ir para aquele baile se esvaindo.

— Se me derem licença. — Levantei-me da cadeira, querendo fugir


daquele constrangimento, sem nem ao menos me dar ao trabalho de prestar
atenção em suas piadinhas.
— Querida, por que desses olhos amuados? — Anali perguntou
parando ao meu lado enquanto enxaguava um dos panos de chão.

— Estou bem, impressão sua. — Tentei sorrir, mas nada saiu.

— Sabe que se eu ainda aceito os desaforos daquela bruxa é porque


você ainda está por aqui, te conheço melhor que ninguém nesse lugar, qual
o problema, minha querida? — A senhora passou a mão em meu ombro.

Virei o meu rosto, daquela vez um sorriso forçado se fez presente em


meus lábios.

— Queria tanto ir naquele baile, ser uma garota como qualquer outra,
como fazer isso sem correr o risco de ir morar na rua?

— Kina não deixou você ir ao baile, não é mesmo? — assenti


mordendo o canto do meu lábio. — Sabia que no fundo a bruxa não te
deixaria ir, você roubaria todo o foco daquelas gêmeas, o que não é muito
difícil de se fazer.

Anali me deu um dos seus sorrisos cúmplices.

— Isso não tem importância, não tenho como ir, não tenho vestido,
não tenho métodos de me locomover até aquele lugar, e mesmo se eu fosse
correria o risco de não ter mais onde morar. — Murchei meus ombros,
desligando a torneira.
— Bom, você tem o mesmo corpo que a minha filha, podemos dar
um jeito, é um baile de máscaras, querida. — Sem entender onde Anali
queria chegar, deixei o meu pano sobre a pia, direcionando meu olhar para a
senhora.

— O que quer dizer?

— Todas as garotas da comunidade vão para esse baile, por que você
não poderia?

— Mas e quanto a minha cunhada? — Aquela ideia louca ainda não


tinha entrado na minha mente.

— A bruxa e toda a família não vão estar lá? Como ela vai descobrir
que você foi? — Anali segurou na minha mão, nossos olhos se fixando um
no outro.

— Mas se eu for descoberta?

— Minha linda, já pensou em deixar o seu medo de lado? Precisa se


arriscar mais, tem apenas vinte anos, ou melhor, já tem vinte anos, me diga
quais loucuras já cometeu? — A senhora tocou o meu rosto, sorrindo de
lado, me incentivando a cometer aquela loucura.

— Já perdi tanto em minha vida, primeiro o meu pai, depois a minha


mãe...

— Essa mulher fez uma bela de uma lavagem cerebral aqui — Anali
tocou a minha cabeça, como se estivesse falando do meu cérebro — Felicie,
você é linda, uma menina apaixonante, com o seu próprio brilho, bondosa
demais, e sempre deixa o medo te dominar, precisa se arriscar minha
querida, você precisa aprender a viver, e não ser dominada por seus medos.
Aquilo que ela falou foi como um balde de água fria sobre mim. Em
meus vinte anos tudo que fiz foi viver em função daquela família, sobre
tudo que eles queriam que eu fizesse. Não sabia nada sobre como era ser
uma garota. Sabia como servir apenas a eles, tudo que eu sabia era limpar
aquele bar e a casa do meu irmão.

Onde eu estava naquilo tudo? Onde me encaixava? Sempre sendo


deixada de lado, sem que ninguém se importasse comigo. Será que ao
menos uma vez, podia me importar comigo mesma?

Apertando a mão de Anali com um pouco mais de força, um sorriso


brotou em meu lábio.

— Não sei como vamos fazer, mas eu quero ir a esse baile.

A mulher sorriu me puxando para um abraço apertado.

— Vamos fazer de você a menina mais linda que essa comunidade já


viu — Anali sussurrou em meu ouvido orgulhosa.
CAPÍTULO QUATRO

O dia do baile havia chegado, e obviamente meu irmão não abriu o


bar naquele dia, deixando muito serviço para que eu fizesse, assim
aproveitando o fato do estabelecimento estar fechado.

Kina pediu que eu deixasse todas as mesas lustradas, até mesmo


esfregasse a parede, tudo para garantir que eu não ia sair do bar. Segurando
a lista na minha mão, lendo aqueles absurdos, nem se eu ficasse aqui a noite
toda conseguiria fazer tudo aquilo.

Ivaan tinha aquele bar há sete anos, por ser localizado bem na rua que
levava em direção à sede dos mafiosos, e pra facilitar mais, um dos poucos
bares da comunidade que permitia todas as vontades daqueles homens
ilegais.
Era como se todos ali soubessem que a In Ergänzung fosse uma
máfia, um grande clã, que tinha seus protegidos, não sabia como funcionava
ao certo, mas todos vendavam seus olhos e os tratavam como os reis
intocáveis.

Eu mesma me pegava curiosa, como devia ser por detrás daqueles


muros? Será que as mulheres eram todas submissas aos seus homens? Tinha
calabouços? Eles matavam com tamanha frieza, o que me deixava certa de
tudo que eu pensava.

Ergui meu olhar para o relógio, vendo o tik tak soar às oito horas da
noite, uma batida se fez presente na porta, meu coração bateu tão forte que
eu podia jurar que ouvi a sua batida ecoar na cozinha vazia.

Segui em disparada para a porta, abrindo-a, vendo ali Anali. A


senhora sorriu de uma forma como se fôssemos assaltar um banco juntas.

— Venha, minha linda, temos uma hora para deixá-la produzida. —


Entrelaçou seus dedos nos meus, e saí do bar, trancando a porta.

Por sorte, meu irmão era pão-duro, e não queria gastar dinheiro com
câmeras de segurança, afinal, na visão dele ele já tinha os fora da lei do seu
lado, quem é que ia mexer com ele? Tranquei a porta, levando a chave no
bolso da minha calça jeans.

Anali caminhou rapidamente em direção ao seu carro que estava


parado ali, abrindo a porta do motorista enquanto eu abria a do passageiro.
Sem perder tempo deu a partida.

O nervosismo junto com a euforia me deixou inquieta mexendo meus


dedos a todo momento, e se o vestido que ela tinha não servisse em mim? E
se eu fosse reconhecida?
— Querida, vai dar tudo certo. — Parecia que Anali sentiu o meu
estado de alerta.

— É o que estou tentando acreditar.

— Apenas pense que por uma noite será uma menina como qualquer
outra, poderá dançar, sorrir, sentir mãos de homens em seu corpo,
possivelmente dar o seu primeiro beijo. — Senti minhas bochechas
esquentarem diante daquela última frase.

— Anali — eu a repreendi sorrindo como se fosse uma jovem prestes


a ir para o seu primeiro encontro.

Sendo que não era um primeiro encontro, era apenas um baile. Um


baile que eu nunca tinha presenciado, a quem eu queria enganar, nunca
tinha presenciado nada em minha vida pacata.

— Querida, por favor, qualquer oportunidade que tiver, beije na boca,


ao menos poderemos dizer que você sabe o que são os lábios de um homem
— não sei por que, mas quando ela falou lábios, me veio na mente aqueles
lábios semicerrados, sempre retos.

Mas logo me atentei a piscar várias vezes apagando isso da minha


mente. Não estou indo naquele lugar por ele, estou indo para vivenciar pela
primeira vez algo diferente, com meus vinte anos, essa era a única vez que
cometia alguma loucura.

O carro passou a diminuir a velocidade quando paramos em frente a


uma casa pequena, já sabia que ali era a casa da Anali. Abri a minha porta e
vi a senhora caminhar rapidamente em direção à cerca de madeira,
passando por ela.
— Venha, Felicie, vamos... temos pouco tempo. — Anali estava
ofegante, assim como eu.

Ambas entramos na casa, o ambiente quente dominando o meu corpo


frio. Lá fora fazia um tempo frio, mas nem ao menos me atentei àquilo.
Provavelmente escolheram para fazer o baile naquela época do ano devido à
condição climática, o inverno estava próximo, mas ainda não tínhamos
neve.

Anali segurou na minha mão, me direcionando para um dos quartos,


passamos em frente à sala onde a filha da senhora assistia televisão, ela
sorriu acenando na minha direção, fiz o mesmo e logo fui puxada por Anali.

Adentramos o quarto, sobre a cama tinha estendido um vestido azul-


claro, todo rodado, com muitos brilhos na parte de baixo.

— Ketti usou esse vestido na festa de quinze anos dela, como pode
ver, está intacto, e vai com certeza caber no seu corpo.

Já estava com o meu banho tomado, creme passado em meu corpo,


tudo que eu precisava era me arrumar. Com a ajuda de Anali passei a me
despir, ficando apenas de lingerie na sua frente.

— Querida, comprei algo para você. — Ela pegou uma pequena


bolsa de papel me entregando.

Eu a abri, vendo ali uma lingerie nova.

— Ah... — gaguejei, aquela peça que eu usava era uma das melhores
que eu tinha.

— Não leve a mal, mas hoje você é a nossa cinderela, e precisa


também de uma lingerie à altura. — Pisquei várias vezes ficando sem
reação.

Há muito tempo não ganhava nada, por aquele motivo não sabia
como reagir com o pequeno gesto.

— Eu... eu... não sei nem como agradecer. — Tentei conter minhas
lágrimas.

— Apenas me agradeça beijando a boca de um homem, precisamos


de experiências na sua vida. — A senhora piscou um olho de forma ladina.

Para trocar a lingerie, segui até o banheiro que tinha no quarto.

Minha boca ainda estava aberta em um pequeno oh, estava parada em


frente ao espelho por longos segundos, meus cabelos castanho-claros
estavam fixos em um coque frouxo, uma coroa com pequenos brilhos fixa
ao coque. A maquiagem era leve contrastando com os meus olhos azuis.

Em meu pescoço o meu colar com aquela pequena pedrinha azul, a


única lembrança que eu tinha do meu pai. O decote quadrado realçava meus
seios medianos, a manga descia por meus braços. O vestido que tocava
suavemente o chão se adaptava perfeitamente bem ao meu corpo, como se
tivesse sido feito para ser meu.
— Se você não for a mulher mais linda desse baile eu me jogo na
frente de um carro. — Anali assobiou ao meu lado.

— Não fala uma coisa dessas — declarei virando o meu rosto.

— Calma, minha linda, não falei se o carro estaria parado ou em


movimento — tinha deboche na sua forma de falar. — Agora espere um
momento, precisamos do traje completo.

Anali saiu do quarto, logo voltando com algo em sua mão, e estendeu
para mim uma linda máscara de pedrinhas, reluzindo em tons azuis
conforme a virava.

— Querida, não pode usar esse colar, será reconhecida. — Segurei


rápido demais a pedrinha.

— Não posso ir sem meus pais — arfei.

— Vamos fazer o seguinte, use-o no seu pulso, por baixo da manga


ele não será visto.

Assenti com aquela ideia.

Por último coloquei a máscara em meus olhos, percebi que estava


linda, e sabia que não seria reconhecida por ninguém. Isso era o que eu
esperava.
CAPÍTULO CINCO

— Enfia essa máscara naquele lugar — para não falar a palavra cu,
freei minha boca, fazendo o meu capitão suspirar ao meu lado.

— É um baile de máscaras — ele insistiu no assunto.

— Use você então. — Balancei meus ombros.

— Já estou usando...

— Use outra, não vou usar esse caralho da máscara, porque nem
queria estar nesse inferno socado de garotas jovens. — Torci meu lábio.

— Bom, elas estão suspirando, talvez usar a máscara ajude a mantê-


las longe — Dexter seguiu insistindo.
Abaixei meu olho, aquela máscara preta, apenas tamparia meus
olhos, manteria minha boca livre, e curiosamente a ideia do meu capitão de
repente não pareceu tão ruim. Peguei aquilo da sua mão.

— Poderíamos ter evitado esse conflito se tivesse mencionado isso


antes — sussurrei amarrando a fita de seda atrás dos meus cabelos.

— Quando você possuir o dom de me ouvir, talvez eu faça isso —


Dexter resmungou atrás de mim.

Não dei atenção aos seus protestos. Segui pelo salão, procurando
pelo senhor Cormac Fluckiger, se o encontrasse com facilidade, tinha a
possibilidade de resolver nossos assuntos rapidamente e assim ir embora
daquele lugar em tempo de não atirar na cabeça de alguma jovem oferecida.

Se não bastasse a minha família insistindo que precisava me casar já


que atingi meus trinta anos, agora tinha que lidar com garotas que achavam
que eu era um bom moço, alguém precisava colocar um pouco de juízo na
cabeça daquelas doidas.

Yan podia muito bem ter vindo com a sua esposa, Luna amava esse
tipo de evento, mas estava certo de que isso tinha dedo da minha mãe. Zara
não perdia a oportunidade de me colocar em uma situação com muitas
meninas solteiras.

A logo atrás do paletó indicava que eu tinha achado Cormac, o


homem usava aquele brasão ridículo provavelmente para ser localizado.

Aproximei-me dele, passei a mão em seu ombro, apertei-o com um


pouco mais de força, fazendo o prefeito da comunidade se virar, seus olhos
se tornando brilhosos quando percebeu que era eu a estar ali.
Porra! Minha vontade naquele momento era de sair correndo dali, e
xingar infinitamente minha mãe, até me lembrar que ela era minha mãe, e
nunca faria isso com ela.

Ao lado de Cormac estava uma menina alta, de longos cabelos loiros,


a filha dele. Razão para eu estar ali naquele momento. Tudo esquematizado
pela minha mãe. Depois de casar três dos seus filhos, achei que passaria
ileso das armadilhas dela.

— Zornickel, é uma honra a sua presença aqui. — O prefeito foi logo


falando com nossas mãos se apertando.

— Espero que sejamos breves, tenho pressa para ir embora — falei


sem ao menos olhar para a filha dele, isso daria a ele uma breve esperança,
a qual nunca existiria.

Não queria um casamento, não com uma daquelas garotas fúteis. Na


verdade, nem ao menos me via casado.

— Ao que foi conversado com o Don, você assinaria o acordo para


selarmos mais um ano de proteção e aliança? — assenti diante do sussurrar
de Cormac.

Quando Yan não conseguia comparecer aos seus compromissos, era


eu que o representava, como já estava acostumado a fazer aquele tipo de
coisa, julguei que apenas ia, assinava e ia embora. Mas obviamente não foi
isso que aconteceu.

— Estou um pouco ocupado agora, podemos subir no meu escritório


daqui a alguns minutos? — Fechei meus olhos, puxando o ar com um
pouco de dificuldade, que porra era aquela de esperar?
— Não sei se entendeu o que eu disse, tenho pressa, quero ir embora,
não tenho paciência para esse tipo de coisa — grunhi apertando meus
punhos e senti o nó dos dedos arderem diante do meu aperto.

— Acredito que existem inúmeras meninas lindas aqui. — A mão


dele pousou sobre as costas da filha.

— Não gosto de garotas lindas — fui direto, com o meu mau humor
transparecendo sobre a minha fisionomia.

— Subchefe. — Virei meu rosto e o semblante de Dexter deixava


explícito que precisava me controlar, mas odiava quando aquelas malditas
coisas fugiam do meu controle.

Não queria estar aqui, Yan deixou bem explícito que precisava
apenas assinar os malditos contratos por ele. Naquele momento queria
esquecer que meu irmão é o Don da nossa máfia, e socar o seu rosto.

— Te espero, Fluckiger, vou atrás de algo para tomar — grunhi me


virando sem dar oportunidade para que a filha dele viesse atrás de mim.

Aquele calor humano me irritava, as vozes cochichadas, e risadas


bobas me deixavam frustrado. Não nasci para aquele tipo de coisa, gostava
do silêncio do calabouço, de fumar o meu bom charuto na paz que era estar
lá solitário. Não era conhecido como o maior possuidor de paciência. Era
direto, não gostava de devaneios. Talvez eu tivesse herdado o gênio ruim do
meu pai, todos os meus irmãos tinham algum traço de bondade da minha
mãe. Enquanto eu, fiquei com o lado ruim dos Zornickel, ou ao menos era
isso que minha mente tentava a todo momento colocar sobre os meus
pensamentos.
— Irmão, está tudo bem? — Dexter perguntou ao nos afastarmos,
quando estávamos sozinhos ele tinha certa liberdade para se direcionar a
mim.

— Tirando o fato de que queria estar em qualquer lugar longe dessa


porra? — Não virei meu rosto, pois não queria ver a cara de reprovação
dele.

Era o caralho do braço direito do Don, um Zornickel, meu ego


inflado devia ter feito de mim um grande arrogante.

Não olhava para nada ao meu lado, meu foco era único, o bar que
tinha ali ao canto, isso se aquele movimento no canto da porta não tivesse
chamado a minha atenção.

Virei meu rosto pela primeira vez naquela noite para analisar algo.
Parando de caminhar, fixando meus olhos na mulher que não andava, e sim
flutuava pelo chão. Dexter também parou ao meu lado. Meus olhos
desceram por aquele vestido azul-claro, rodado em suas pernas, que
apertava sua cintura e revelava que minhas mãos podiam apertá-la com
tranquilidade. O decote era discreto, mas exibia o delicado seio, sobre a
curvatura dele. A boca tinha um brilho labial que chegava a reluzir à
distância deixando explícito o quanto a sua boca era pequena e carnuda,
sobre os olhos uma máscara que combinava com o vestido. Ela só tinha um
defeito, me impossibilitava de ver a tonalidade dos seus olhos ao longe.

Rapidamente aquele pequeno anjo se tornou o olhar de muitas


pessoas, os homens a rodeando, mesmo distante pude sentir o seu sorriso
trêmulo. Passando a mão na minha cintura senti uma vontade desenfreada
de usar a minha arma para tirar todos aqueles abutres de cima daquele doce
anjo.
Quem era aquela mulher? Por que tinha a impressão de já tê-la visto?
Maldição, me recusava a ir até aquela jovem e sanar minha curiosidade para
saber o tom dos seus olhos. Talvez se eu apenas me aproximasse um pouco,
podia tirar a minha dúvida e me afastar.
CAPÍTULO SEIS

Aquela devia ser a minha terceira dança consecutiva. Podia sentir a


minha garganta seca, mas me recusava a sair dali, pela primeira vez em
minha vida estava me sentindo uma mulher jovem. Os sorrisos saíam por
meu lábio automaticamente. Sem nem ao menos precisar forçá-los.

Claro que tentava a todo momento fugir dos olhares da minha


cunhada, eu a peguei olhando para mim em diversos momentos, sei que não
me reconhecera. Mas ver as filhas de braços cruzados sem ter ninguém para
dançar devia estar deixando a mãe irritada.

— Aceita uma taça de champanhe? — o timbre daquele homem


tocou o meu ouvido ao falar.
— Sim, aceito — sorri, afinal queria tomar algo, e os outros homens
não me convidaram para fazer isso.

Entrelaçando meu braço ao dele, seguimos para o lado, indo em


direção ao bar. Onde estavam muitos homens, algumas mulheres, todas
querendo chamar a atenção de um único homem. Meus olhos se dirigindo
ao foco de cobiça delas.

Engoli em seco, encontrando aqueles intensos olhos azuis sobre mim.


Será que ele achava que aquela máscara ia fazer alguém não saber quem era
ele? Ainda mais com aquelas tatuagens em seu pescoço.

Yago se levantou da banqueta onde estava sentado, pensei que ele se


afastaria, mas seus passos vieram em direção a nós, eu e o meu parceiro. O
braço do homem ao meu lado se tornou tenso.

Antes de direcionar o olhar para mim, ele semicerrou a sua visão para
o homem ao meu lado, o qual não recordava o nome.

— Acredito que já excedeu seu tempo com ela — a mão do loiro se


estendeu para mim, seus dedos eram longos.

— Vamos tomar algo — meu parceiro ainda tentou argumentar, Yago


tombou o seu rosto para o lado.

— Preciso repetir? Não gosto de repetir as coisas. — Obviamente


todos ali sabiam de quem se tratava aquele homem que estava na nossa
frente.

Meu parceiro puxou o seu braço, minha mão tocou suavemente o


meu vestido. Abaixei meus olhos para a mão de Yago, aquele medo
delicioso tomou conta do meu estômago.
— Não vai segurar a minha mão? — ele falou amenamente assim que
ficamos sozinhos.

— O senhor não deveria tratar os outros com tamanha soberba —


declarei estendendo a minha mão, que tocou a dele, vendo a forma como a
minha pele um pouco mais dourada que a dele contrastava com seus dedos
brancos, a ponto de ver uma veia passar por ela.

— Alguns mandam, outros obedecem. A lei básica da vida — Yago


abaixou seu rosto dando um passo na minha direção.

Dobrou seu braço, minha mão deslizando pelo paletó dele que não
me surpreendeu ao perceber que devia ser de grife, diante do modo como o
tecido se ajustava sobre ele.

Naquele momento um garçom se aproximou de nós, assim fazendo


com que não precisássemos ir ao bar. Segurei em meus dedos uma taça
delicada, Yago recusou a bebida.

— Posso saber o seu nome? — perguntou enquanto caminhávamos


lentamente.

Levei a taça à minha boca, dando um pequeno gole, sentindo o


líquido passar pela minha garganta, as pequenas bolhinhas se estourando
por onde passavam, o doce do champanhe me fazendo suspirar. Ergui meus
olhos ao sentir que estava sendo observada.

— Isso foi pelo champanhe? — Ele me fez outra pergunta.

— Já tomou? — Ergui a taça, Yago parecia ter pensado antes de


segurar o cristal, mas o pegou.
Yago o levou na sua boca, deu um pequeno gole, a forma como ele
franziu a testa por trás da máscara que usava, me fez sorrir, outro ato que
manteve seus olhos fixos ao meu movimento.

— Isso parece suco, desde quando é bom? — Ele voltou a me


entregar a taça.

— Achei doce, como algo que nunca tomei antes...

— Se nunca tomou, como pode saber? — suas sobrancelhas se


juntaram, a forma como ele falava comigo, me deixava eufórica por mais
do que ele tinha para falar.

— Talvez eu esteja um pouco aérea hoje. — Sorri para o homem


loiro, afinal, se aquele não era um conto de fadas, desconhecia o que podia
ser.

A suposição era de estar apenas deixando aquela noite rolar, sem


olhar o relógio, querendo viver cada minuto intensamente. Sabendo que
amanhã acordaria, com a certeza de que não voltaria a se repetir. Fazia-me
querer sentir mais dos toques daquele homem ao meu lado.

Amanhã Yago não se lembraria mais de mim, seria apenas a mulher


misteriosa.

Ergui meus olhos vendo o movimento repentino na nossa frente.


Arregalei-os ao ver Leli e Nann se aproximando, como se quisessem
arrancar o loiro do meu lado.

— Porra — Yago resmungou perto de mim percebendo que as duas


vinham na nossa direção. — Vem...
Sem perguntar se eu queria segui-lo, apenas me puxou, não com
força, mas querendo que eu fosse junto dele. Atravessamos o salão, um
garçom passou, deixei a minha taça sobre a sua bandeja, ficando naquele
momento satisfeita por ter a minha garganta úmida novamente.

Pelo que notei Yago não gostava de todo aquele assédio em cima
dele. As portas aos fundos do salão de festa estavam abertas, o vento frio se
chocando em meu rosto, devia ser por esse motivo que ninguém estava na
pista de dança aberta, mesmo que fosse linda, o frio impedia qualquer um
de querer ir até ali.

— Não vamos sair nesse frio, vamos? — Arregalei meus olhos ao


perceber que ele queria mesmo sair naquele frio.

— Vamos, preciso respirar, essa cacofonia me faz querer atirar em


cada maldita cabeça. — Meu corpo se tornou tenso, como podia sair com
um homem que acabou de falar que queria atirar em cabeças?

— Desculpa, senhor, não posso. — Balancei veementemente minha


cabeça.

Meu conto de fadas não podia acabar com o meu príncipe atirando na
minha cabeça.

— Não vou usar minha arma em você — falou como se tivesse


notado o motivo da minha recusa.

— Quem me garante isso? — Quis puxar o meu braço, mas Yago não
deixou.

— Como poderia usar minha bala com algo tão belo — declarou sem
desviar os olhos dos meus. — Vem?
— Está frio aí fora. — Mordi o canto do meu lábio.

Yago soltou a minha mão, com facilidade tirando o seu paletó, fiquei
encarando-o atônita. Passando a mão por trás de mim, pousou o paletó em
meus ombros.

— Problema resolvido, agora venha. — Fui pega de surpresa, senti a


mão dele cobrir a minha quando segurou os meus dedos.

Meus saltos tocando o caminho com lajotas, a presença imponente ao


meu lado, fazendo com que erguesse meus olhos a cada momento, como se
quisesse me certificar que era ele mesmo ali.

Com a ajuda dele subi os três lances de escada. O espaço era circular,
em volta havia cercas feitas de ferro com muitas flores, tornando tudo muito
encantador.

— Já que concedeu uma dança para todos os homens, me concede


essa valsa? — Ele se colocou na minha frente, sem soltar a minha mão.

— Sabe valsar? — perguntei no impulso.

— Está duvidando dos meus dons? — Se fez de ofendido.

— Jamais, senhor. — Como não nos apresentamos, segui chamando-


o de senhor, embora soubesse o seu nome. — Será um prazer.

Sorri sentindo a outra mão dele segurar em minha cintura, puxando-


me para perto dele.
CAPÍTULO SETE

Senti o aperto firme de Yago em minha cintura, como se a mão dele


conseguisse me cobrir, ergui meu rosto, os olhos dele fixos aos meus,
mesmo por detrás daquela máscara era nítido o seu olhar estável.

— Qual o seu nome? — perguntou novamente. E eu apenas sorri. —


Não vai contar?

— Meu nome não é importante. — Balancei suavemente o meu


ombro.

Em minha mão senti a camisa dele, continuava tímida em segurar


sobre o tecido dela, vendo sobre o canto da calça aquela arma, me
mantendo longe dela. Yago ergueu uma das mãos, passando-a em meu
ombro, pousando-a em minha nuca. O seu toque fez um arrepio percorrer
todo o meu corpo.

— Então não sou digno de saber o seu nome? — Seguimos nos


movendo lentamente pelo salão.

— Essa noite vim apenas para viver cada momento — diante


daquelas palavras arrastei minhas mãos pelas costas dele, sentindo a forma
como Yago era firme.

— Isso não é justo, tenho quase certeza de que sabe o meu nome. —
O sorriso ladino fez parte do meu lábio.

— Desculpe desapontá-lo, senhor — menti, mas talvez eu quisesse


apenas conversar mais com ele.

— É para acreditar nas suas palavras? — A mão dele que estava na


minha cintura se arrastou pelas minhas costas, o paletó de Yago sobre os
meus ombros me cobrindo do frio, embora naquele momento sentisse tudo,
menos frio.

— Depende, senhor. — Instintivamente umedeci meus lábios, como


se os tivesse secos.

— A menos que não seja dessa comunidade, não tem como não saber
quem sou eu.

— Vejo que é um convencido nato. — Yago sorriu de canto diante


das minhas palavras.

— A forma como me olhou a primeira vez deixou claro que sabia


quem eu era. — A mão que estava na minha nuca deslizou fazendo com que
o seu polegar acariciasse a minha bochecha.
— Deduziu tudo isso pela minha forma de olhar? — Ter Yago tão
perto, era como estar em um sonho. E ainda não queria acordar dele.

— Sim, não sei por que, mas tenho impressão de que conheço esses
olhos azuis, quem é você, me diga, ou posso me tornar um homem louco —
ele insistia no assunto, e toda aquela tensão palpável, fez com que eu me
sentisse mais cativa daquele homem.

— Seria um desperdício um homem lindo como você se tornar louco.


— Mordi a ponta do meu lábio reprimindo o meu sorriso ladino.

Yago naquele momento não falou mais nada, deixando apenas a


música nos embalar, seus olhos a todo momento sobre os meus, o polegar
suavemente se arrastando pela minha bochecha.

A canção estava chegando próximo de finalizar, ainda seguíamos


juntos, nos olhando, como se fôssemos ali naquele espaço um só.

— Posso pedir algo para o senhor? — sussurrei ainda embalada pela


sinfonia.

— Diga, pequena.

Não falei imediatamente, pois estava com receio da resposta dele.


Mesmo assim, sentindo-me ousada, ainda olhando naquelas intensas esferas
azuis.

— Me dê o meu primeiro beijo? — pedi, sem obter uma resposta


imediata dele.

Comecei a ficar tensa, minhas mãos que seguravam na camisa dele


suando. Julguei que naquele momento o choque de realidade viria à tona, e
o loiro me rejeitaria.
— Nunca foi beijada, pequenina? — murmurou de repente.

— Não...

— E por que seria eu o primeiro a fazer isso?

— Por que não você? — refiz a minha pergunta sobre a dele.

— Qual a sua idade? Como que uma garota tão bela nunca foi
beijada? — sussurrou, arrastando agora a sua mão para a minha bochecha.

— Vinte anos — dessa vez falei a verdade. — Talvez eu não tenha


muito tempo para homens.

Um sorriso forçado se fez presente em meu lábio.

— Ou talvez seja um anjo que caiu do céu — murmurou


aproximando o rosto do meu.

— Estou muito longe de ser um anjo, senhor... — minha voz morreu


quando aqueles lábios retos que sempre via à distância estavam parados na
minha frente.

— Pois para mim não existe outra definição que não seja anjo —
sussurrou com seu hálito se chocando na minha boca.

Não me movi naquele instante, meus pés pareciam que estavam


fixados ao chão, como se estivessem pregados ali. Meu coração batia tão
forte em meu peito, a ponto de quase ouvir as batidas dele. O lábio de Yago
tocou o meu.

O que parecia loucura, afinal sabia o que ele era, sabia que esse
homem à minha frente era um matador, talvez todo esse perigo que o
circulava me deixou excitada, embriagada por mais dele, querendo me
aventurar nos bosques proibidos.

Yago encaixou o lábio no meu. Pela primeira vez em toda a minha


vida tinha um homem que tocava o meu lábio com o dele, notei que ele
entreabriu a sua boca, fiz o mesmo, a língua dele adentrando a minha boca,
tocando na minha que timidamente retribuiu o ato, meus olhos se fecharam,
minha respiração se perdeu em algum lugar.

A mão dele que estava em minhas costas por baixo do paletó me


puxou para mais perto. O beijo era vagaroso, Yago parecia explorar cada
canto da minha boca, seus lábios não eram agressivos, meu corpo parecia
estar em chamas, e instintivamente queria mais daquilo, mais daquele beijo.

Seu rosto virou para o lado fazendo assim um suspiro escapar por
meus lábios, aquele ato me pegando desprevenida. Mas o que me fez
acordar daquele sonho e me afastar dele foi o barulho de celular. Afastando-
se suavemente de mim, ele tirou o celular do seu bolso. Meus olhos se
abaixaram e ali no visor eu vi 00:00.

Engoli em seco, como não percebi que já era tão tarde? Preciso voltar
para o bar, preciso passar a madrugada fazendo todas as coisas que Kina me
pediu, se não ela vai descobrir que eu dei uma escapada. A realidade me
dando um soco no estômago, fazendo com que eu percebesse que tudo
aquilo não voltaria a se repetir.

— Preciso ir — falei de repente sabendo que Anali estava do lado de


fora me esperando.

Tirei o paletó dele e entreguei-o na mão de Yago.


— Como assim, precisa ir? — O loiro me fez erguer meus olhos para
ele.

— Deu o meu horário, preciso ir. — Senti o medo de ser descoberta


vir à tona quando meus olhos me guiaram para a porta por onde passei
antes, vendo ali Kina, mesmo que ela não soubesse que era eu, estava ali
destilando o seu ódio.

— Me diga o seu nome, me passe o seu número —Yago pediu


segurando em meu pulso.

Oh, céus, como eu queria falar o meu nome. Mas não podia, quando
Yago soubesse quem eu era, sentiria vergonha de ter beijado uma simples
faxineira.

— Saiba que eu nunca vou esquecer o meu primeiro beijo. — Sorri


puxando o meu braço, vendo as mãos dele se arrastarem pela minha pele.

Saindo daquele pequeno lugar, passei a correr indo pelo lado


contrário ao da festa, ainda ofegante, extasiada, afinal dei o meu primeiro
beijo. E foi melhor do que eu esperava.

Avistei o carro de Anali com as luzes acesas assim como


combinamos, precisando ir às pressas até ela.
CAPÍTULO OITO

Ainda estava segurando em meus dedos aquele colar. O automóvel se


movia pelas ruas rapidamente, nem ao menos me atentei aos detalhes à
minha volta. Assinei os contratos com o Cormac Fluckiger, indo embora
rapidamente em seguida.

— Subchefe? — como se estivesse me chamando pela milésima vez,


Dexter parecia um pouco impaciente sentado ao lado do motorista.

— O que foi?

— Deseja fazer alguma parada, ou podemos ir para a sede? — ele


perguntou sabendo que sempre gostava de fazer a minha parada.
— Podemos ir para a sede. — Sendo que naquele momento meus
pensamentos estavam sob apenas um par de olhos.

Pelo retrovisor avistei Dexter me analisando, como se estivesse


tentando distinguir qual bicho me picou para me negar a uma noite de sexo
no bordel de Nora. Lá eu tinha a garota que queria, podendo até mesmo ter
várias por uma noite inteira, mulheres de programa eram as melhores, não
existia responsabilidade afetiva, e podia rejeitá-las que não aconteceria toda
uma choradeira.

Em toda a minha vida me considerei um homem prático, julguei que


essa era a razão pela qual fugia de mulheres com quem posso me
comprometer.

Venho de uma família grande, irmãos casados e com filhos, todos


eles devotos às suas esposas, incluindo o meu pai. Já presenciei inúmeras
vezes alguns deles com um humor péssimo quando a sua esposa não estava
bem, ou até mesmo acudindo-as quando estavam chorosas. Não me via em
um papel como aquele. Sendo eu, o homem a acudir, tendo que cuidar de
alguém. Era bom estar sozinho, gostava da solidão.

Passando o colar em meus dedos, senti a textura dele, o pequeno


pingente na ponta. Lembrei-me da forma como o trouxe comigo, na
verdade, nem foi tão difícil, sendo que a garota apenas puxou sua mão e ele
se abriu na minha. Aquilo era a prova que aquela pequena cinderela era
real. Afinal quem era aquela mulher?

Sabia que já tinha visto aqueles olhos azuis em algum momento da


minha vida. Estava frustrado. O carro entrou nos portões enormes da nossa
sede. Após um longo trecho, parou ao lado de todos os outros carros do
nosso clã, e sem que eu tivesse tempo de abrir a porta, o motorista a abriu.
Levando o colar no bolso de dentro do meu paletó, saí do automóvel.

A noite estava amena, o frio noturno não atingia meu corpo, talvez eu
fosse um tanto frio, como diziam meus irmãos.

Dirigi-me à porta, que foi logo se abrindo quando me aproximei,


algumas luzes ainda seguiam acesas, as mesmas que sempre permaneciam
durante à noite, assim o local não ficava totalmente escuro. Segui em
direção à escada, virando o meu rosto ao ver meu pai e meu irmão sentados
no sofá.

Virei-me para os dois, franzindo a minha testa.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei indo para perto dos dois.

— Estou apenas tomando um copo de uísque, esperando o meu filho


voltar. — Revirei meus olhos diante das palavras do meu pai que tinha um
copo em sua mão.

— Essa noite foi a vez de Petrus ter febre, e como Luna já não
dormiu nada na noite passada falei para ela dormir, embora eu tenha quase
certeza de que será praticamente impossível aquela pequena se deitar na
cama e adormecer — meu irmão falava com carinho ao se lembrar da
esposa.

— É algo viral? — questionei querendo saber mais sobre o meu


sobrinho.

— Sim, pois Heinz teve febre ontem e hoje amanheceu com o nariz
congestionado, e agora o irmão está apresentando os mesmos sintomas. —
Balancei a cabeça.
Yan ergueu o seu rosto, olhou para trás de mim, eu virei o meu olhar
querendo ver o que ele via e presenciei a minha cunhada usando o seu
longo robe, totalmente discreto para caminhar na casa. Luna tinha os
cabelos negros soltos em seu ombro, os olhos azuis que contrastavam com a
beleza dela.

— Por que não estou surpreso que você saiu da cama? — Meu irmão
foi logo se levantando do sofá.

— Precisava me certificar de que a febre dele havia abaixado. — Ela


sorriu de forma culpada para o marido

— Acabei de sair do quarto dele, segue sem febre — Yan passou ao


meu lado, parou de andar e falou comigo daquela vez. — Deu tudo certo
com o prefeito?

— Sim, deu, mas ainda vamos conversar a respeito de me jogar em


um covil de jovens casamenteiras. — Fiz uma careta lembrando-me
daquelas garotas.

— Culpe a sua cunhada e a mamãe, elas seguem achando que uma


mulher traria mais vida para os seus dias. — Virei o meu olhar para Luna
que sorriu de forma ladina para mim.

— Desculpe, cunhado, mas queremos tanto vê-lo feliz. — Luna tinha


aquele modo doce de falar que às vezes chegava a ser irritante.

— E quem disse que não sou feliz? — Cruzei meus braços.

— Você é solitário, o que é uma grande diferença. — Balançou seus


ombros.
— Já te falaram que está andando muito com a dona Zara Zornickel?
Tá se tornando uma cópia dela. — Franzi meu lábio vendo o meu irmão
entrelaçar a mão sobre a da esposa.

— Obrigado, cunhado, isso foi um elogio. — Revirei meus olhos


vendo-os subir as escadas.

Yan puxou a esposa para perto dele, os dois tinham uma conexão que
nem mesmo eu conseguia compreender, na verdade, não compreendia
nenhuma conexão dos homens casados da minha família. Não conseguia
entender por qual razão eles faziam de tudo por suas esposas.

Aproximei-me do meu pai. Ele que tinha os olhos fixos em mim,


como se soubesse ler meus pensamentos.

— Não ligue para o que eles falam, quando chegar a sua vez vai se
apaixonar...

— Não quero me apaixonar e duvido que isso vá acontecer comigo


— resmunguei pegando o copo dele de uísque.

— Bom eu tinha o mesmo pensamento, até encontrar a sua mãe. —


Heinz deu de ombros.

— Deve ser por isso que somos tão parecidos, então. — Voltei a
entregar o seu copo depois de tomar um longo gole da bebida. — Vou
dormir, estou cansado, e irritado pelo que dona Zara aprontou dessa vez.

Virei-me indo para a escada.

— Filho — papai me chamou, e eu olhei para ele. — Não culpe a sua


mãe, ela ainda tem a visão que uma mulher pode fazer a diferença na sua
vida.
— Não a culpo, apenas fico irritado por sempre todos dessa família
serem tão invasivos. — Torci meu lábio vendo o meu pai sorrir sabendo que
o que falei era verdade.

Subi um degrau por vez, indo até o terceiro andar, o mais vazio de
toda a sede, onde tinha certeza de que ficaria no silêncio, adentrei o meu
quarto, passando a mão no lado de dentro do meu paletó pegando aquele
colar novamente. Centrei o meu olhar naquela pedrinha, me vindo flashes
de memória.

A garota ajoelhada, a ponta do dedo sangrando, o mesmo colar em


seu pescoço, não era um colar que todos usavam, era diferente. Porra! A
garota misteriosa era ela, a faxineira daquele bar. O bar que apenas
frequentava, pois o dono sempre me trazia informações privilegiadas de
quem passava pela cidade.

Não gostava daquele lugar e lembrava-me muito bem de ter detestado


a forma como aquela outra mulher tratou a minha garota misteriosa.

Não sabia por qual razão, mas me veio uma vontade desenfreada de
ir atrás da menina naquele instante mesmo, agora que sabia quem ela era, ia
sanar todas as minhas curiosidades a respeito da garota, uma delas era dar
um nome para aqueles olhos lindos, precisava descobrir o nome dela.
CAPÍTULO NOVE

— Ei, coisinha. — Empurrei o meu corpo e senti como se um pé me


chutasse, não com força.

— Já vou — murmurei forçando meus olhos ao abri-los.

— Dormiu no bar? — A voz de Kina entrou em meu ouvido como se


fosse uma pedra socando o meu cérebro.

— Sim, só assim para terminar tudo — murmurei esfregando meus


olhos enquanto me levantava do chão. — Terminei eram cinco horas da
manhã, não queria sair sozinha na rua.

Talvez não tivesse sido tão esperto da minha parte dormir no chão, as
minhas costas naquele momento estavam gritando comigo.
— Não quero ver ninguém reclamando de dor nas costas, ninguém
mandou não ser mais eficiente e terminar antes. — Kina em seu tom de
soberba se virou e antes de entrar na parte da frente se virou, me
direcionando aqueles olhos de águia. — Não ache que só porque fez tudo
isso vai ter folga, pode fazer o seu dever.

Apenas assenti, levantei-me do chão e esfreguei meus olhos.


Verifiquei o horário no relógio de parede, vendo que eram três horas da
tarde, ao menos eu consegui dormir bastante.

Podia estar cansada, incrivelmente dolorida de ter dormido no chão.


Mas faria outras mil vezes a mesma coisa, o baile foi incrível, as muitas
danças que dancei, o fato de ter finalizado a noite daquela forma. Ainda
podia sentir o lábio de Yago sobre o meu, a língua dele como se estivesse
dançando com a minha, uma melodia lenta e sensual. Queria repetir aquilo,
mas tinha total certeza de que ele nunca ia saber quem era eu.

Aquilo foi um sonho, não ia voltar a se repetir.

— Posso saber onde estão esses pensamentos? — Levei um


sobressalto sorrindo ao ver Anali entrar na cozinha.

— Nossa, ainda não acordei direito — murmurei.

— Acordou agora, querida? Dormiu aqui? — ela perguntou


arregalando seus olhos.

— Sim, isso porque finalizei a minha lista às cinco da manhã, não


quis ir embora. — Esfreguei meus olhos.

— Deixa que eu preparo um café para você, escondido da bruxa —


ela sussurrou com um sorriso cúmplice.
— Ela já está aqui — murmurei de volta.

— Não tenho dúvida disso, veio se certificar que você não tinha ido
ao baile. — Revirou os olhos.

— Falando nisso, Anali, o meu colar, caiu no seu carro, quando me


troquei nele ontem?

Antes de entrar no bar, troquei o vestido dentro do automóvel de


Anali deixando todos os rastros da festa dentro dele.

— Não, querida, ainda mexi no vestido essa manhã, teria encontrado


se o tivesse visto.

Murchei meus ombros diante do que ela falara.

— Não acredito que perdi o meu colar — resmunguei passando a


mão em meu pescoço sem encontrá-lo ali.

— Vou dar mais uma olhada no carro hoje quando chegar o fim do
expediente — Anali tentou me confortar.

— Tudo bem, obrigada. — Um sorriso forçado se fez presente nos


meus lábios.

A senhora colocou a água no fogo para ferver, olhei à minha volta


buscando pelo que eu precisava fazer.

— Ontem não tivemos muito tempo para conversar, apenas me


responda uma coisa, para sanar a minha curiosidade, me diga que ao menos
deu o seu primeiro beijo?

Automaticamente sorri me entregando, deixando explícito que sim, o


melhor beijo que uma garota poderia ter como o seu primeiro beijo.
— Oh, céus, o brilho no seu olhar a entregou, me diga como foi? —
Anali assim como eu, sussurrava olhando à nossa volta para não sermos
pegas.

— Foi bom, foi perfeito, eu queria repetir a dose. — Soltei um longo


suspiro sonhador. — E você não vai acreditar com quem é que foi...

— Não... não... — Anali estava se segurando para não soltar um


gritinho eufórica. — Não me diga que é quem eu estou pensando?

— Sim, ele mesmo, o loiro mafioso. — Um largo sorriso se fez


presente quando me lembrei do homem.

Do seu semblante duro, da forma soberba que ninguém parecia


importante ao seu redor que não fosse ele. O cheiro almiscarado dele ainda
presente na minha memória, os breves sorrisos.

— Uau... nossa, eu sabia, sabia que ele iria te notar, não tinha como
não notar a sua beleza, já prevejo ele vindo resgatá-la em um cavalo branco.
— O sorriso sonhador de Anali me fez quebrar as expectativas dela.

— Anali, ele não sabe quem eu sou, não falei o meu nome, fiquei
com medo, essa noite vai ficar para sempre na minha memória como se
fosse um sonho. Mas eu tenho certeza de que Yago Zornickel nem sonha
quem sou eu. — Daquela vez um sorriso forçado se fez presente em meu
lábio.

Nosso assunto foi interrompido quando dei um pulinho vendo as


gêmeas entrando eufóricas na cozinha.

— Como que ninguém sabe quem era aquela garota horrível? — Leli
foi quem falou parecendo até mesmo irritada.
— Não acredito que ela foi a única que dançou com o Zornickel, e
ainda beijou ele. BEIJOU O MEU HOMEM! — Nann fez com que eu
torcesse o meu lábio diante do seu grito.

Aproximei-me de Anali, a senhora se contendo para não soltar uma


gargalhada.

— Bom, pelo menos eu dancei com o Linford. — Leli se mostrou


orgulhosa para atingir a irmã.

— Isso, deixe o território limpo para mim — Nann contra-atacou.

— Irmãzinha, aprenda que sempre precisamos ter uma segunda carta


na mão, caso o Zornickel não te queira, tenha um segundo pretendente. —
Sempre quando as duas falavam de homem, eu nem gostava de prestar
atenção, afinal os assuntos eram meio desastrosos e acabava com uma
batendo na outra.

— Meninas, chega — daquela vez quem interveio foi o meu irmão


que direcionou o olhar para mim. — Onde você dormiu?

— É, onde dormiu, Felicie? — As gêmeas falaram em uníssono,


cruzando os braços me olhando.

— Aqui no bar, terminei os afazeres eram cinco horas da manhã, por


esse motivo resolvi ficar por aqui — respondi prontamente.

A porta que dividia a cozinha, foi aberta, Kina apareceu dando um


dos seus sorrisos para o meu irmão.

— Sim, ela dormiu aqui, até achei que fosse um morador de rua
quando adentrei a cozinha — Kina disse de forma soberba.
O barulho da sineta da porta de entrada do bar revelou que tinha
algum cliente entrando.

— Deixa que vou atender — quem falou foi meu irmão.

Curiosas, as gêmeas foram até o vidro onde dava para ver o bar,
querendo saber quem estava entrando ali. Nann deu um dos seus gritinhos.

— Ah, é ele, o mafioso... meu Deus, como estou? Será que ele veio
nos ver após o baile de ontem?

— Cala boca, Nann, ele nem reparou no seu rosto. — Leli deu um
cutucão na irmã debochando.

Troquei um rápido olhar com Anali, afinal o que Yago estava fazendo
no bar, a essa hora, um dia após darmos aquele beijo?
CAPÍTULO DEZ

Estaquei atrás daquela janela de vidro quando todos se


encaminharam para a frente do bar. Pude ouvir os passos de Anali, parando
ao meu lado.

— Ele veio atrás de você, garota — a senhora sussurrou ao meu lado.

— Não, ele não sabe quem sou eu — murmurei temerosa, um tanto


ansiosa.

De onde estávamos conseguíamos ouvir o que eles falavam se


mantivessem a sua voz em um tom moderadamente normal. O movimento
de Yago fez com que eu engolisse em seco. Ele tirou algo de dentro do seu
paletó, mostrando para o meu irmão.
— Droga, é o meu colar — sussurrei alarmada.

— Eu disse, garota. — Recebi um cutucão de Anali.

— To ferrada... — levei a ponta do meu dedo à boca.

Meu irmão tentou tirar o colar da mão de Yago, mas o loiro foi mais
rápido fechando a mão, mantendo-o em seus dedos.

— De quem é esse colar? — Yago perguntou.

Rapidamente Kina empurrou a primeira filha que tinha na sua frente.

— Dela, estávamos loucas atrás dele. — A minha cunhada estendeu a


mão como se quisesse o colar para ela.

Mas Yago semicerrou os olhos, como se soubesse que aquela não era
a dona do colar, ele apenas perguntou de quem era julgando que falariam o
meu nome. O mafioso sabia que o colar era meu, ele sabia quem era a dona.

— Cadê a outra garota? Existe uma terceira menina, a qual cortou o


dedo da última vez em que eu estive aqui, ela é a dona do colar, não
queiram me enganar, eu sempre sei de tudo. — Engoli em seco, sentindo
minhas mãos começarem a suar.

— Ah... ela... é somente a nossa faxineira, e não está mais na cidade


há dois dias — Kina voltou a mentir.

— Bruxa — Anali resmungou ao meu lado.

— Anali, o que está fazendo? — Arregalei meus olhos quando a


senhora me segurou pelo pulso, puxando-me.
— Vou fazer por você o que já deveria ser feito. — A senhora não
parou me levando carregada.

Passando pelas portas duplas, o nosso ato chamou a atenção deles.

— Pronto, aqui está ela. Felicie Ludwig, a sua cinderela, e não me


venha com essa história de que não é ela. — Anali se colocou na minha
frente quando Kina quis reagir. — Só tolero os seus desaforos por causa
dessa menina, e se ela quiser sair daqui, eu saio junto!

Meus olhos assustados se ergueram em direção a Yago, que mantinha


seus olhos sobre mim, como se analisasse cada pequeno detalhe do meu
rosto sem a máscara que usava no dia anterior.

— Felicie, entre naquela maldita cozinha agora — Kina estava


irritada e eu nunca tinha visto aquela mulher dessa forma.

Passando ao lado de Anali, Kina conseguiu segurar em meu braço,


fincando ali as suas unhas afiadas.

— Entre agora, garota ingrata — declarou entredentes.

Virei meu rosto vendo o homem loiro se aproximar, já estava tudo


bagunçado, se eu ficasse seria crucificada pelo resto da minha vida por
aquela família.

— Solte ela, agora — O rosnado de Yago fez o meu corpo inteiro


vibrar.

Kina não me soltou, se os fogos saíssem pelos olhos humanos, com


certeza naquele momento iriam sair pelos da minha cunhada.
— Felicie, por todos esses anos que teve uma cama para dormir, um
prato de comida para comer, entre nessa maldita cozinha agora. — O aperto
de Kina passava a doer em meu braço.

Yago estendeu sua mão, como se soubesse todo o tormento que eu


passava naquela casa, colocando a outra mão em sua cintura, segurando na
sua arma.

— Nossa, quanta generosidade, vá, minha querida, pela segunda vez,


não deixe o seu medo te sabotar — Anali entrou na minha defesa.

Quis puxar o meu braço, mas a mulher não soltou, a ardência


percorrendo todo o meu corpo. Mas o que me fez arregalar os olhos
realmente foi o fato de uma arma surgir bem na frente da minha visão.

— Ou solta ela agora, ou não pensarei antes de apertar esse gatilho


— urrou o homem loiro fazendo as gêmeas soltarem gritos de pavor.

— Saiba que isso ainda não acabou. — Kina largou o meu braço, e
ao me soltar, ela empurrou com um pouco de força, o que fez com que eu
perdesse o equilíbrio, sentindo um braço forte me segurar.

Ergui meu rosto e encontrei aqueles olhos azuis límpidos, ele me


colocou de pé, seu toque firme me deixando levemente entorpecida.

— Se eu souber que tocou mais alguma vez nela, saiba que não
hesitarei e usarei a minha arma. — Yago me puxou pra perto dele.

Naquele momento senti-me como um boneco sendo passada de um


lado para o outro.

— Agora que a minha menina está livre, não tenho mais nada para
fazer aqui. — Anali bateu as mãos uma na outra indo para a cozinha.
— Venha, pequena — Yago murmurou para mim.

Segurando no meu pulso o segui, sem saber o que seria de mim. Sem
saber qual seria o meu destino, ouvindo o tilintar do sino quando passamos
pela porta.

— Preciso da minha bolsa — declarei querendo voltar, mas sendo


impedida quando Yago fez com que eu erguesse os olhos e visse Anali
vindo na minha direção.

— Aqui, querida, acho que isso é tudo que você tem. — Senti minha
bochecha esquentar diante da minha vergonha, em saber que minha vida era
resumida a uma bolsa que tinha apenas os meus documentos.

Sempre andava com meus documentos, pois nunca sabia o que seria
do meu dia.

Voltei o meu olhar para Yago que ainda segurava o meu pulso.

— Você pode vir para a minha casa, querida — Anali falou quando
peguei a mochila da sua mão.

— Eu... eu... — não queria aceitar, pois sabia que ela tinha uma
família para sustentar e agora aparentemente também estava desempregada.

— Ela vem comigo — a voz de Yago fez nós duas erguermos o rosto
para ele. — Tenho uma proposta para fazer a você, por isso virá comigo.

O tom de voz dele era sempre mais baixo do que o normal, calmo
como se falasse daquela forma para testar as pessoas ansiosas que falavam
com ele.
— Felicie? — Anali me chamou querendo saber se iria com o loiro,
afinal sempre falava que tinha medo da forma de vida que ele levava.

Voltei meus olhos para Yago, me perguntando se devia ir ou não com


aquele homem. Talvez devesse arriscar, afinal, em menos de 24 horas, fui
em um baile escondido, dei o meu primeiro beijo, saí da casa onde morava,
o que tinha mais a perder? Já que estava no meio da loucura, ia entrar nela
de cabeça.

— Vou com ele — falei para Anali.

— Você tem meu número anotado, qualquer coisa me liga, querida.


— Piscou um olho me deixando sozinha com o homem loiro.

Anali sabia que eu me virava bem sozinha, afinal sempre fui sozinha.
Estava com medo, porém ansiosa e um tanto amedrontada com tudo isso.
CAPÍTULO ONZE

Não podia levá-la para a sede, na verdade, não esperava que ela
praticamente acabaria em meus braços com tamanha facilidade. Ao meu
lado estava a pequena mulher encolhida, as mãos no meio das suas pernas.

Ela usava uma roupa horrível, uma calça jeans tão surrada que
parecia até mesmo um jeans velho, o casaco de lã chegava a exalar cheiro
de algum produto de limpeza, a mulher tinha os cabelos em uma trança no
canto do seu ombro. Não se parecia em nada com a mesma mulher ousada
da noite anterior.

Felicie estava retraída, sua posição revelava alguém amedrontado.


— Por que não me disse seu nome na noite passada? — perguntei
ainda curioso.

Qualquer garota teria se orgulhado em dizer o seu nome, mas ela não,
não o falou, como se não quisesse que a encontrasse.

A menina virou seu rosto, os olhos azuis se encontrando com os


meus, ao contrário da tonalidade azul dos meus olhos, que assim como os
do meu pai eram de um azul muito claro. Já os daquela garota eram um
azul-escuro, tão escuro que de longe podia jurar que era escuro, ou talvez
fosse a luz ambiente.

— Olha pra mim. — Ela fez um gesto para o seu corpo, como se
estivesse fazendo pouco caso de si mesma.

— Estou olhando, qual o problema? — perguntei arqueando uma


sobrancelha confuso.

— Quando souber que eu não tenho nada mais que essa bolsa vai me
largar em qualquer lugar. — A menina amuada abaixou o rosto como se
estivesse se sentindo a espécie mais inferior de qualquer inseto.

— Não me importo com o que você tem ou deixa de ter — falei


erguendo a minha mão e toquei o seu delicado queixo, fazendo-a erguer o
rosto para mim.

— Sou desinteressante, uma garota tão entediante quanto qualquer


outra — Felicie seguia se martirizando.

— Quem falou isso para você? Aquela mesma mulher que apertou o
seu braço? — completei a frase ao tirar as minhas conclusões.

— Sim...
— Pequena, apenas uma pessoa amargurada falaria que alguém tão
bela quanto você seria desinteressante. Bom com esses trajes, talvez... —
minha frase morreu quando as bochechas dela se tornaram vermelhas.

— Eu... eu... não tenho roupas decentes, usava tudo que não servia
mais nas gêmeas — ela gaguejou desviando o olhar para o chão já que eu
ainda segurava o seu queixo.

— Agora faz total sentido esses trajes horríveis. — Felicie seguia


corando absurdamente. — E o cheiro de produto de limpeza, quer dizer que
estava trabalhando?

— Ah... — ela fez um gesto engraçado como se estivesse puxando o


ar querendo sentir o seu próprio cheiro. — Estou com cheiro ruim?

— É, um pouco. — Torci meu lábio.

— Ah... nossa... — ela se afastou de repente, um movimento que me


pegou desprevenido, pois não queria que ela saísse de perto de mim. —
Passei a noite limpando o bar, precisava terminar para não ser pega...

— Não ser pega? — Estranhei o que ela falara.

— Ninguém soube que eu fui ao baile, minha cunhada me passou


milhões de coisas para fazer no bar, assim garantiria que eu não iria. Mas eu
fui com a ajuda de Anali, eu queria ao menos um dia ser uma garota
normal, nem que fosse por apenas uma noite. — Felicie ergueu seus olhos
para mim.

Agora fazia todo o sentido ela não querer falar o seu nome, saber que
ela passou a noite trabalhando enquanto eu estava em minha cama
confortável dormindo fez com que algo se apossasse de mim, uma vontade
desenfreada de esfregar o rosto daquela família dela no chão da rua.

— E você conseguiu? — perguntei curioso.

— Desde que eu perdi meus pais, essa foi a melhor noite da minha
vida. — Seus olhos brilharam tão repentinamente que ali eu vi a garota que
conheci na noite passada.

— Qual foi a melhor parte? — minha pergunta foi totalmente


premeditada querendo ouvir a sua resposta.

Felicie corou, ela estava envergonhada, a forma como ela ficava


envergonhada com facilidade me deixava fascinado.

— A noite toda foi incrível — ela não quis entrar em detalhes.

— Seja mais específica — murmurei segurando novamente em seu


queixo.

Os olhos dela pousaram sobre os meus lábios, em seguida, ela os


ergueu para os meus, e eu fiquei acariciando a sua pele com o meu dedo.

— O beijo... — a voz dela morreu com a sua vergonha estampada.

— E quer repetir? — perguntei, podendo sentir a tensão nos


preencher rapidamente.

— Sim. — Ela ficou parada como se achasse que eu fosse fazer


aquilo ali mesmo, no carro com os meus dois homens no banco da frente.

Aproximei meu lábio do rosto dela, e presenciei quando seus olhos se


fecharam. Felicie era tão pequena, que cabia perfeitamente em meus braços
para protegê-la. Meus lábios tocaram a testa dela, dando ali um beijo
demorado, os olhos dela se abriram e me olharam como se não tivesse
entendido o que eu fiz.

— Não vou repetir o beijo pequena — sussurrei.

— Ah... — outra vez ela ficou vermelha.

— Não sem antes conversarmos sobre algo.

— Sobre algo? — A menina parecia confusa e ao mesmo tempo


curiosa.

— Vamos até a minha casa conversar...

— Onde mora a sua família? — Ela se afastou arregalando seus


olhos.

— Não, não vamos na sede, embora eu more lá. Eu tenho uma casa,
próxima da sede, mas não moro nela. — Dei de ombros.

Tinha a minha casa, pois construindo-a há dois anos nutri as


esperanças da minha mãe de que assim arrumaria uma esposa. Durante
aquele tempo mantive Zara Zornickel ocupada com a construção e toda a
mobília dela, só que agora com ela pronta, era necessário que eu me casasse
e colocasse crianças no mundo. Afinal diante das palavras da minha mãe
casamenteira essa era a ordem da vida.

— Você tem uma casa e não mora nela? — Felicie perguntou ainda
confusa.

— É, ela ficou pronta há um mês, mas ainda não pensei na hipótese


de ir morar nela. — Dei de ombros.
— Uau, nossa... — A menina entreabriu a sua boca. — O que quer
falar comigo?

— Podemos deixar para quando estivermos a sós? — perguntei e ela


engolindo em seco afirmou com a cabeça.

Sabia que podia parecer loucura da minha parte propor isso para ela.
Mas o que acontecia era que nunca, nenhuma outra garota conseguiu a
minha atenção como aquela. Por aquele motivo, se fosse prático, ela podia
ser minha, colocaria dentro dela um filho e assim minha mãe ia parar de
encher a minha paciência.

No começo podia ser que fosse difícil para nós dois, mas depois que
ela estivesse com um bebê na barriga podia ocupar o seu tempo com a
criança.

Tão prático quanto acordar todas as manhãs.


CAPÍTULO DOZE

— Esse portão dá para a entrada central. — O homem apontou para o


portão alto que parecia feito de algum tipo de ferro.

Fiquei olhando enquanto o carro passou reto por ele, não entramos
por aquela entrada o que me fez soltar um suspiro aliviada, o carro seguiu
passando ao lado do muro alto. Nunca tinha ido para aquele lado da
comunidade e fiquei admirada em como o muro era longo.

Aproximamos de um segundo portão, que foi logo se abrindo ao ver


o carro chegar, passamos por aquela entrada, ali próximo tinha uma casa,
uma enorme casa branca, toda rodeada por árvores. Possivelmente a casa
mais linda que eu já vi em minha vida.
O automóvel diminuiu a velocidade e parou em frente a ela. Antes
das portas se abrirem, Yago falou:

— Dexter, me aguarde aqui fora, e não fale com ninguém.

— Sim, subchefe — o homem sentado ao lado do motorista


concordou.

As portas se abriram, o homem estendeu uma das mãos para mim,


que temerosa segurei tendo-a como apoio para sair do carro. Logo ao meu
lado surgiu Yago. Ele estendeu a mão para mim, e suavemente coloquei a
minha sobre a dele. Seguimos andando. Tendo até mesmo um caminho de
lajotas em direção à varanda da casa, onde havia um banco de madeira
suspenso em duas correntes, como se fosse um balanço.

Na entrada da porta branca havia um pequeno visor onde Yago deu


dois cliques na tela em que apareceram vários números, que ele digitou uma
sequência e liberou a porta, que se abriu.

Fez um movimento com a mão para que eu entrasse primeiro. Ainda


um tanto admirada entrei olhando tudo à minha volta. Minha boca se abriu
admirada, e eu pude ouvir os passos dele logo atrás dos meus.

— Nossa, aqui é tudo tão limpo — murmurei dando um giro quando


cheguei na sala, vendo ali um lustre de cristais. Tudo tão branco,
aconchegante, uma casa totalmente adaptada para uma família.

— Limpo? — Ele parecia admirado com o que eu falei.

— É organizado. Lindo. — Passei minha mão sobre o tecido do


encosto do sofá, que parecia um couro branco, certificando-me de que
minhas mãos estavam limpas. — Você toca?
Apontei vendo um lindo piano marrom-claro de cauda, ao lado da
escada, sobre um degrau que aquele lado da casa possuía.

— Com certeza não, não tenho o dom para isso, nem um pouco de
paciência para tal feito. — Fez uma careta olhando aquilo.

— Então por qual razão tem um piano na sua casa?

— Coisa da minha mãe, ela toca isso, e acha que meus futuros filhos
podem gostar dessa coisa, ou até mesmo a minha esposa. Sabe tocar,
Felicie?

— Ah... — pigarreei diante dele falar a palavra esposa e logo em


seguida perguntar se eu sabia tocar. — Sei tocar apenas acordeão, ou
sabia...

— Por quê? — Yago parecia interessado.

— Leli quebrou, pois disse que o barulho a irritava, e desde então


não toco mais, meu pai me deu quando eu tinha três anos, era uma das
poucas coisas que tinha dele, sempre tocávamos juntos, mas ele se foi muito
cedo. — Não queria adentrar no assunto, lembrar-me daquilo sempre me
deixava muito triste.

Yago tirou o seu paletó deixando-o sobre um móvel, por sorte ele não
quis falar sobre o assunto. Observei-o ir até um canto da sala onde havia o
que parecia ser um pequeno bar, pegou em sua mão um copo, e o encheu de
um líquido cor de âmbar.

— Quer tomar algo?

— Alcoólico? Ah, com certeza não. — Fiz uma careta deduzindo que
ele me oferecia uma das suas bebidas.
— Não, não vou te oferecer álcool, embora eu acredite que não tenha
muita coisa na despensa. — Ele veio na minha direção, fazendo um gesto
para sentar-se no sofá — antes de qualquer coisa gostaria de conversar algo
importante com você.

Sentou-se no sofá, fiz o mesmo, minha mão se arrastou sobre o couro


trabalhado em um tecido que parecia mais duro.

Fiquei com o meu corpo tenso diante do que Yago gostaria de falar
comigo, foquei meus olhos nos dedos longos dele que passavam sobre a
borda do copo apoiado no encosto do braço.

— Felicie, isso tudo pode ser seu, apenas vai precisar me dar algo em
troca — a forma como Yago falara me fez franzir a testa olhando naquele
momento para os impactantes olhos azuis.

— Como assim? — Obviamente nada era tão fácil.

— Precisa ser minha — falou aquilo com uma tranquilidade que


chegava a ser assustadora.

— Como assim? — repetia a mesma coisa.

— Quero que se case comigo, me dê um filho, e tudo isso será seu.


— Entreabri a minha boca, mas nada saiu.

Yago levou o seu copo de bebida em seus lábios, quase que pedi para
ele me dar um gole daquilo, pois estava sóbria demais para entender aquela
conversa.

— Está falando sério? — indaguei depois de algum tempo em


silêncio.
— Sim, por qual motivo brincaria? — Arqueou uma sobrancelha.

— Por que eu? — Minha voz saiu baixa.

— Simples, porque eu quero você, me dê uma família e em troca te


dou o mundo — aquelas palavras dele eram capazes de mexer com
qualquer mulher, ainda mais alguém que não tinha para onde ir como eu.

— Mas como isso funcionaria? — perguntei em meio a minha


inocência.

— Vamos primeiramente nos casar, comprar roupas para você, depois


posso pensar na minha família.

— Sua família? — Torci meu lábio um tanto temerosa.

— Sim, qual o problema com eles? É a segunda vez que menciono a


minha família e você faz essa careta — Yago até mesmo parecia estar se
divertindo com a minha reação.

— Ah... é que na comunidade sempre rolavam boatos...

— Boatos? — O loiro se mostrou interessado.

— É... do tipo elas têm de tudo, mas precisam se submeter a certas


coisas... — mordi meu lábio sabendo que isso podia dizer respeito a mim se
eu me tornasse a esposa daquele homem.

— Que tipo de coisas? — Yago apertou o seu lábio.

— É, sabe como submissão, sadomasoquismo... — minha frase


morreu quando o loiro abriu um sorriso, um grande sorriso e mostrou os
dentes, quando ele sorria chegava a ser mais lindo do que sério.
— Ainda bem que são apenas boatos. — Yago balançou a cabeça
tomando um novo gole da sua bebida.

— Então não é verdade? — questionei curiosa.

— Não, se tem uma coisa que as mulheres daquela sede não são é
submissa, mas não precisa espalhar, assim continuamos sendo perigosos —
tinha um tom de deboche na sua voz.

— Não é como se eu tivesse muitas pessoas para falar. — Balancei


meus ombros.

Yago voltou a me olhar, como se quisesse um parecer da minha parte.

— O que mais vou precisar fazer se aceitar isso?

— O básico, não poderá ir para lugar nenhum sem me avisar, de


preferência até conseguir engravidar ficará nessa casa. E obviamente, ser
fiel ao seu marido.

— Ser fiel? — Franzi minha testa.

— Sim, do tipo não se deitar com nenhum outro homem.

Aquilo me fez entreabrir a boca, afinal nem ao menos tinha me


deitado com um, quanto mais sair me deitando com vários.

— Isso é um problema pra você? — Yago semicerrou os olhos para


mim.

— É que eu acabei de dar o meu primeiro beijo, se tem algo que não
penso é esse tipo de coisas.
— Mas vai por mim, passará a pensar. Por esse motivo será fiel
somente a mim — quando ele falou isso deduzi que o mesmo ia ser para
ele, por aquele motivo não perguntei nada.

— Como pensaria sobre isso se acabei de sair de uma prisão e estou


indo para outra — murmurei confusa.

— Tecnicamente será aprisionada em um casamento comigo — ele


não mentiu para mim.

Meus olhos foram para um enfeite de mesa no centro da sala. Yago se


mexeu ao meu lado, me pegando desprevenida quando segurou no meu
queixo e fez com que meus olhos se voltassem para ele novamente,
sentindo o seu toque causar aquele formigamento delicioso.

— Felicie, seja minha esposa, deixa eu cuidar de você, por favor, se


não for você não será mais nenhuma outra — a voz dele continha um misto
de súplica.

Como alguém como eu, que por muito tempo não tinha ninguém
cuidando de mim, uma pessoa que se importasse comigo, agora tinha um
homem implorando pela minha atenção, querendo a minha companhia.

Diante de todas as loucuras que já cometi naquelas 24 horas, o que


era mais uma, o que tinha a perder? Nada, afinal eu não tinha nada.

Era sozinha, me venderia pela comodidade que era uma vida


confortável. Talvez todo o poder de persuasão daquele homem no final
ajudasse também. Suas belas feições, fazendo algo que sempre julguei ser
uma loucura.

Aceitar o pedido de casamento de um mafioso.


CAPÍTULO TREZE

— E o que precisamos fazer primeiro? — perguntei sem responder


que sim, ou que não.

— Isso é um sim? — Yago queria a minha resposta.

— É, sim. — Umedeci meus lábios, sentindo-me nervosa por ter


tomado aquela decisão.

— Bem, vamos para uma comunidade aqui ao lado, não quero um


casamento aqui nas proximidades, não quero que ninguém fique sabendo
por enquanto que estou casado — o modo como ele falou me deixou meio
angustiada, afinal, por qual razão ele não queria que ninguém soubesse?
— Algum problema comigo? — perguntei, conforme o dedo dele que
estava sob o meu queixo, deslizava até o meu lábio, o qual tocou, como se
estivesse acariciando-o.

— Nenhum pequena, apenas não quero que ninguém da minha


família saiba por hora, sei que eles não são de passear pela comunidade,
mas temos nossos homens, e sempre chega a eles essas notícias — Yago
falou baixo sem desviar os olhos dos meus lábios.

— Por que eles não podem saber que você vai se casar? — Fiz outra
pergunta.

— Você gosta de falar, não é mesmo? — Senti minha face corando, a


quentura tomando conta das minhas bochechas. — Talvez tenhamos um
problema sobre isso, pois eu faço mais o tipo que aprecia o silêncio.

— Não vou poder falar? — Franzi minha testa.

— Vai conseguir se controlar? E não falar?

— Provavelmente não. — Um sorriso forçado se fez presente nos


meus lábios.

— Do que mais você gosta? — Ele parecia querer saber mais sobre
mim.

— Bem... acredito que fui tão privada nesses anos que eu não sei do
que gosto. — Desviei meus olhos dos dele, sentindo-me envergonhada.

— Pequenina, quantos anos tinha quando foi morar com aquela


família?
— Eu tinha sete anos quando mamãe se foi, não tinha mais família,
precisei ficar com meu irmão, ele já era casado com Kina, e tinha duas
filhas, meu irmão parece amar mais as duas enteadas do que a mim mesmo.
Sentia-me um estorvo naquela família, uma pedra no calçado deles que
eram obrigados a aceitar.

— Então por treze anos viveu com eles? — assenti. — Sabe o que
não entendo, é que você tem vinte anos, por que não saiu da casa deles?

— Todos esses anos vivi em função deles, não saía, não conheci
nada, apenas ali, quando ainda não tinham o bar, sempre tinha que deixar a
casa arrumada, e depois com o bar tinha que deixar ambos arrumados. Não
sei fazer nada além disso. Tenho medo do mundo, de sair por aí sem rumo
certo. Medo desse casamento louco que acabei de aceitar — falei toda a
verdade para ele.

— Então está explicado, você não era uma pedra, era a empregada
que aqueles infelizes não precisavam pagar. A real razão daquela mulher te
querer ao lado deles era para não perder a mão de obra gratuita. Te fizeram
uma lavagem cerebral, anjo, ninguém merece passar pelo que você passou.
— Yago fez com que eu voltasse a olhar nos seus olhos.

— Tenho muito medo do que vem a seguir, sinto como se estivesse


sozinha...

— Não está sozinha, estou aqui — sabia que ele não queria falar
daquele momento, da presença física dele, e sim deixando explícito que
tomaria conta de mim.

O rosto dele foi se aproximando do meu, sei o que Yago pretendia


fazer, mas naquele momento me recordei de não ter comido ainda. Meu
bafo deveria estar horrível.

— Não. — Virei o meu rosto.

— Não, o quê? Você não faz o tipo vingativo só por não a ter beijado
no carro. — A forma como o loiro franziu as sobrancelhas foi engraçada.

— Não é isso, ainda não comi nada, meu bafo deve estar horrível. —
Senti minhas bochechas esquentarem.

— Bem que eu senti um cheiro ruim. — Arregalei meus olhos,


levando a mão na minha boca soprando para tentar levar o cheiro no meu
nariz. — É brincadeira, pequena, vamos levar você para comer, e no
caminho paramos em algum shopping.

— Vamos para onde? — perguntei curiosa.

Yago se levantou do sofá, não insistindo no beijo, o que me fazia


acreditar que podia realmente estar com o bafo de quem acabara de acordar.
Mas meus devaneios foram logo quebrados quando ele me respondeu:

— Vamos para Berna, fica a algumas horas de Lauterbrunnen, se


tivermos sorte encontro o pastor que casou o meu primo com vida para
fazer o nosso casamento.

— Realmente vamos sair da comunidade? — Meus olhos brilharam


diante daquela notícia.

— Não faço o tipo que mente, eu disse que iríamos sair daqui. Meu
primo Owen se casou em Berna escondido de todos, vou apenas trilhar o
mesmo caminho dele. Como quem não quer nada, fiz algumas perguntas a
ele de como tinha sido, fingindo que tinha um pastor causando problemas
por lá. Assim Owen me passou todos os dados do homem que casou ele, até
mesmo a capela em que foi realizada.

— Caramba, você pensou em tudo. — Entreabri a minha boca


admirada. — E se eu dissesse que não?

— Seria obrigado a encontrar outra garota. — Senti como se eu fosse


apenas uma pessoa a preencher um vazio na vida dele.

— Qual a razão de tal ato tão repentinamente? Pois ao que parece


decidiu isso agora, e quando você me disse que se não fosse eu, não seria
outra — eu o enchi de perguntas, como se fosse uma arma atirando várias
balas.

— Realmente, você fala demais e presta atenção em tudo que falo. A


verdade é que não me vejo casando com ninguém, não quero amar, não
tenho paciência para ficar de romance, apenas quero uma esposa. Você é
linda, tem carisma, é doce, o tipo de mulher que tenho certeza de que Zara
aprovaria, sem contar que é totalmente pura. Deixo a minha mãe calma, dou
um neto para ela. Sigo com a minha linhagem, ninguém mais enche a porra
do meu saco com o lance de casamento. Percebeu, estou livre.

— Totalmente pura? — Fiz uma careta sem entender aquilo.

— Sim, nunca foi tocada por um homem, apenas eu poderei tocar em


cada parte do seu corpo. — Eu corei com aquelas palavras.

O fato de ser tocada por um homem fez com que eu me


envergonhasse, afinal nunca fiquei nua para nenhum outro homem. Nem ao
menos fui tocada por um. A primeira vez foi no baile quando dancei com
vários deles.
— Isso é importante?

— Para mim é, muito importante. Não sou do tipo calmo, o que você
está vendo na sua frente, talvez seja eu querendo conquistar a sua
confiança...

— Então quer dizer que posso não gostar de conviver com você? —
Engoli em seco com aquela possibilidade.

— Provavelmente, agora vamos. Antes que mude de ideia. — Yago


soltou um longo suspiro, segurou no meu pulso e me levou para junto dele,
saindo daquela casa espetacular.
CAPÍTULO QUATORZE

Comecei a perceber que a convivência com outra pessoa não era


apenas baseada em moldar a outra à sua maneira. Fazia uma hora que
estávamos em movimento, e a menina ao meu lado continuava inquieta, ela
simplesmente não parava. Mexia os dedos, cutucava alguma unha, ou
aquele jeans surrado.

— Parem na primeira lanchonete de beira de estrada que virem, de


preferência se for algum hotel — pedi para os meus dois homens.

Dexter apenas assentiu. Talvez estivesse demorando tempo demais


para colocar comida no estômago daquela garota, será que aquela maneira
de agir dela era fome?
Meu capitão já sabia da minha ideia meio fora do normal. Ele até
tentou questionar, me induzir a conversar com meus familiares, mas era o
caralho que ia fazer isso. Não queria ninguém opinando. Estava decidido.
Por sorte Dexter era o tipo de homem leal, confiava nele a ponto de ter
certeza de que ele não contaria sobre isso a ninguém.

Felicie seguia se cutucando, impaciente. Como se estivesse se


controlando para não falar. Algo nela me fascinava, talvez fosse apenas a
beleza da garota.

Após longos minutos, notei o carro entrando em um hotel de beira de


estrada. Sei que ali é longe da comunidade, longe a ponto de ninguém se
incomodar em fofocar sobre a minha escapada com a garota borralheira.

Estacionamos em frente ao hotel, desci do automóvel, e o segundo


carro estacionou ao nosso lado. Ali estavam os soldados que faziam a nossa
escolta, eles desceram do carro e foram os primeiros a entrar. Avistei a
pequena garota vindo a passos lentos na minha direção.

— Por que não podemos entrar primeiro? — Sabia que ela soltaria
uma das suas curiosidades.

— Meus homens precisam averiguar a área primeiro, não posso


correr o risco de ser atingido. — Dei de ombros ao falar.

— Então eles são como o seu escudo?

— É, teoricamente falando, sim.

— Dão a vida deles pela sua? Isso é loucura...

— Esses homens são treinados para isso, proteger os superiores


deles. Não tem nada de loucura em ser leal ao clã deles. — Abaixei o meu
rosto semicerrando meus olhos, querendo que ela parasse de falar, sempre
quando a amedrontava dava certo, e deu, Felicie se calou ficando ali ao meu
lado.

Logo foi autorizada a minha entrada. Segurei no pulso da menina


querendo que ela andasse ao meu lado. A garota tinha certa tendência a
andar vagarosamente, sempre olhando para tudo à sua volta. Segurar no
pulso dela fazia com que andasse mais depressa.

Adentrei a espelunca, parando em frente ao balcão de recepção.

— Quero um quarto, e comida para todos nós — referi-me aos meus


homens também. Sem devaneio queria que o garoto do outro lado do balcão
fosse ágil.

— Sim, senhor. — Foi logo pegando uma chave em sua mão. — Em


meia-hora vamos servir o jantar, o quarto fica no segundo andar, porta 202.

Segurando a chave da mão dele, sem soltar a mão da menina, me


virei para Dexter.

— De um jeito de conseguir uma roupa para a garota.

— Como vou fazer isso? — questionou.

— Dê seus pulos, quero roupas limpas para ela! — ordenei sem abrir
brecha para um diálogo.

Felicie seguiu praticamente correndo atrás de mim, enquanto a levava


para o seu quarto, ela precisava de um banho. Seu cheiro de limpeza não era
agradável para nenhum olfato humano. Paramos em frente à porta
correspondente à chave que me foi dada. Coloquei-a na fechadura e a abri.
Entrei primeiro, olhando tudo à minha volta. Meus homens não
olharam ali, por essa razão me certificaria.

— Fique parada aí — ordenei segurando a minha arma, na cintura,


sem tirá-la dali.

Verifiquei todo o quarto, em seguida a suíte. Apenas pedi esse quarto


para que Felicie pudesse tomar um banho, depois vamos seguir rumo a
Berna. Não posso demorar muito tempo, caso contrário minha família vai
desconfiar que estou aprontando algo.

Voltei para onde deixei Felicie, ela ainda estava parada no mesmo
lugar, sem nem ao menos ter movido o seu pé.

— No banheiro, tem toalha, roupão e kit de higiene. Vá tomar banho


enquanto te espero aqui em fora. Essas roupas, jogue fora.

— Jogar fora? — A menina arregalou os olhos. — Mas ainda não


estão rasgadas, podem ser usadas...

— Jogue fora, Felicie, não quero ver a minha futura esposa usando
esses trapos! — Fui direto percebendo que meu tom rude fez a menina se
assustar e praticamente sair correndo para o banheiro.

Ela fechou a porta, segui para a cama, onde me sentei, olhando para a
porta fechada. Fiquei em silêncio e pude ouvir o arrastar das roupas pelo
corpo dela. Perguntei-me como seria ter aquela pequena mulher nua. Estava
sendo muito pervertido desejar ardentemente uma garota virgem?

Porra! Tudo que eu conseguia pensar era em como ela devia ser linda
nua, nos lábios levemente carnudos, nos olhos azul-escuros, na pele que
tinha uma tonalidade dourada como se fizesse bronzeamento artificial, ao
contrário da minha que parecia mais um fantasma. Ao menos podia ter
puxado a melanina da minha mãe, mas até mesmo isso tinha que ser os
Zornickel escancarado.

O barulho do chuveiro sendo ligado me fez prender o fôlego, e surgiu


na minha mente as mãos dela se arrastando por seu corpo. Caralho, precisei
me conter para não correr em direção à porta do banheiro, abri-la e pegar a
menina de surpresa. Por sorte a batida na porta do quarto me fez levantar
em um supetão.

Seguindo até ela, abri a porta, me deparando com Dexter.

— Foi mais fácil do que pensava, o hotel tem uma lojinha, não é algo
digno da esposa de um subchefe. Mas ao menos não vai infestar o carro
com aquele cheiro ruim — Dexter torceu o lábio, até mesmo eles sentiram.

— Leve nossos homens para comer, em seguida vamos continuar a


viagem — Dexter assentiu sem questionar, se virando e indo embora.

Peguei a bolsa de papel e deixei-a sobre a cama, esperando que ela


saísse do banheiro primeiro.

Após longos minutos de tortura, o chuveiro desligou, ela se demorou


ainda alguns minutos, pude até mesmo ouvir o barulho da torneira da pia
ser ligada. A maçaneta da porta se virou e ali outra vez tranquei a minha
respiração, como se fosse um maldito garotinho viciado em uma mulher.

— Yago — ela sussurrou meu nome, seu timbre suave, meu nome
nunca saiu tão deliciosamente perigoso nos lábios de alguém. — Posso sair
com esse roupão?
Mesmo que não a estivesse vendo, podia jurar que naquele momento
suas bochechas deviam estar corando.

— Sim, Felicie, saia. — Saia para eu poder me deliciar com suas


belas curvas.

Mas obviamente quando a mulher saiu do banheiro, o roupão grande


demais para o seu tamanho me impediu de ter qualquer visão privilegiada
do seu corpo.

Assim como esperava o rosto dela estava corado e as mãos


escondidas embaixo das mangas.

— Aqui tem roupa para você, vista-as e vamos descer para jantar —
a menina apenas assentiu e seguindo ao meu lado, colocou a mão para fora
do tecido e pegou a sacola.

— Tem tudo que eu preciso aqui?

— Acredito que sim — respondi.

— É que eu fiz tudo como você mandou, joguei todas as roupas fora,
incluindo até as minhas peças íntimas. — Arqueei minha sobrancelha,
tentando não focar na palavra íntima.

— Provavelmente isso não deve ter aí, não iria pedir para o meu
homem comprar uma lingerie para a minha futura esposa. Deixa que eu
resolvo isso. Fique sentada aí.

Obedientemente, Felicie, se sentou. Quando ela não estava sendo


curiosa, até que parecia uma bela esposa submissa.
CAPÍTULO QUINZE

Enquanto estava sozinha, decidi abrir a bolsa, observando dentro dela


algumas peças de roupa, tirei primeiro uma meia-calça que parecia um
tecido quente, dentro tinha uma saia rodada, preta de prega. Um casaco
fino, e um outro de lã, todas as roupas tinham etiquetas, eram novas.

Ainda estava extasiada, roupas novas, com cheiro de novo. Ao


contrário das outras que sempre foram surradas demais.

Ergui meus olhos quando Yago voltou ao quarto, ele foi rápido.
Notando que eu tinha tirado tudo da bolsa, veio na minha direção, e me
entregou uma sacola menor. Aquela eu fiquei com vergonha de abrir na
frente dele, sabendo o que deveria ter ali dentro.
— Dentro da sacola tem três peças de lingerie, quero que use a preta.
— Arregalei meus olhos.

— Três? — murmurei espantada.

— Vá, Felicie, troque de roupa, precisamos descer para comer —


pediu impaciente.

Apenas me levantei da cama, pegando todas as roupas sobre ela. Indo


em direção à suíte, fechando a porta atrás de mim. Primeiro abri a sacola
que Yago trouxe, vendo que ali dentro tinha três peças íntimas, pegando em
minha mão a preta. Abri o roupão, peguei a calcinha e a vesti em seguida.

Virei meu rosto para trás olhando a minha bunda, percebendo que ele
pegara o tamanho certo para mim. Tirei o roupão, o sutiã também ficou
certo. Como ele acertou meu número?

Rapidamente vesti a meia-calça a qual cobria meus pés também, o


casaco era fino, como se ele fosse uma segunda pele. Fechei o zíper da sala
no lado da minha cintura, deixando-a por cima do casaco, por último usei o
casaco de lã. Parei em frente ao espelho grande que tinha ali.

— Está pronta, Felicie? — Uma batida na porta fez com que eu


imaginasse que ele sabia cada peça de roupa que estava vestindo.

— Sim, estou. — Sem avisar Yago abriu a porta a qual eu não tinha
trancado.

Nossos olhos se encontraram através do espelho, logo em seguida o


dele desceu por meu corpo, me analisando. Virei-me e fiquei de frente para
o mafioso.
— Agora, sim está parecendo uma mulher de vinte anos. —
Caminhou na minha direção, parando na minha frente.

A saia ficou um pouco acima do meu joelho, o casaco de lã em tons


claros, ficou rente ao zíper da saia, parecia que a roupa tinha sido feita
sobre medida para mim.

— Como sabia o tamanho das minhas roupas? — perguntei curiosa.

— Bom, as suas roupas quem comprou foi Dexter, não é como se


fosse difícil adivinhar o tamanho da sua vestimenta. É só olhar para o seu
corpo e teremos uma dedução. — Deu de ombros de forma despreocupada.

— Mas e quanto às minhas peças íntimas? — perguntei sem pensar,


sentindo minha face outra vez corar.

— Isso quer dizer que serviu em você? — assenti quando os olhos


dele desceram por meu corpo. — Bem, eu apenas deduzi que pela sua
estatura aquele seria o seu número.

— Baseado no quê? Deduziu? — Obviamente minha língua


descontrolada tinha que fazer outra pergunta.

— Na minha vasta experiência com mulheres — Yago parece ter


falado isso apenas para me desestabilizar.

E foi o que ele conseguiu, pois me fez perceber que ele, sim, era
experiente, eu por outro lado, não sabia nada sobre o sexo oposto.

— Ah, aposto que isso foi para me punir pela forma invasiva que
tenho mania de fazer muitas perguntas — resmunguei.
— Às vezes me sinto falando com meus sobrinhos. Mas sem sombra
de dúvidas isso não foi uma punição, está muito leve para ser punição —
Yago se virou me deixando ali sozinha.

Segurei em minha mão a pequena sacola com a lingerie, ia precisar


usar os meus calçados velhos, por aquele motivo segurei-o em minha outra
mão.

Segui Yago, indo em direção à cama para me sentar e colocar o


calçado, meu movimento atraiu a atenção do mafioso.

— Não vai usar essa coisa velha — Torceu o lábio.

— Não tenho outro calçado. — Ergui meus olhos.

— Vamos resolver isso lá embaixo. — Veio na minha direção.

Pegou a bolsa da minha mão com facilidade e me ergueu em seus


braços.

— Por qual razão fez isso? — perguntei segurando no paletó dele


com força com medo de cair.

— Como não vai usar essa coisa, não vou deixar que ande descalça
pelos corredores. — Foi direto em direção à porta.

— E se eu cair? — Ainda apertava com força o seu paletó.

— Pequena, eu nunca vou deixar que caia. — Abaixou o rosto, me


encarando com aqueles límpidos olhos azuis.

— Você pode tropeçar...


— Nunca tropeço, ainda mais tendo em meus braços a futura mãe
dos meus filhos — falando daquela forma fez com que eu engolisse em
seco e o timbre rouco dele fez meu corpo vibrar de forma estranha.

Calei-me, sem soltar o paletó dele, e ele desceu a escada, indo para o
lado de trás do hotel, onde tinha uma loja pequena de roupas. Com
facilidade o loiro me sentou sobre uma banqueta. Logo uma mulher se
aproximou. A forma como ela olhou para Yago fez com que eu me sentisse
desconfortável.

— Deseja algo mais, senhor? — Um meio sorriso se fez presente nos


lábios dela.

Apenas por ela ter falado algo mais fez com que eu percebesse que
Yago esteve aqui antes.

— Minha noiva precisa de um sapato — ele me chamou de noiva?

Ergui meus olhos e Yago os mantinha sobre mim. Bom, ao menos


daquela forma ficou explícito que éramos mesmo um casal. Talvez um
ciúme tivesse me preenchido, ciúme por ver outra mulher olhando o meu
futuro marido de forma maliciosa.

— Me diga o seu número, querida? — falei para a mulher. — Deseja


algum sapato em específico?

— Algo que contenha saltos — quem respondeu foi Yago.

— Não sei se conseguirei andar com saltos altos — declarei para o


loiro.

— Não é necessário tão alto, algo no estilo do que estava usando no


baile.
Apenas assenti, passando a provar vários calçados, até que uma
sandália de salto médio que se ajustou bem aos meus pés, em um tom
escuro e combinava com a minha saia, já que a meia-calça era branca, me
agradou.

— Está perfeito esse — respondi e Yago apenas assentiu.

Ele foi até o balcão, de longe fiquei analisando a reação dele, a


mulher querendo puxar assunto e ele nem ao menos se deu ao trabalho de
responder a nenhuma de suas perguntas. Apenas naquele instante me dei
conta de que comigo ele falava, e bastante até.

Será que era devido as minhas muitas perguntas?

Yago se voltou para mim, sem esboçar nenhum sorriso, segurando


em meu pulso como de praxe me puxando, o que começava a me deixar
irritada.

Saímos da loja, indo em direção à sala de jantar que tinha naquele


hotel, ao entrarmos no ambiente, o cheiro dominando o meu olfato, minha
barriga até mesmo se contorceu animadamente.

— Nossa, que cheiro divino — murmurei com meus olhos brilhando.

— Venha, você precisa se alimentar. — Seguimos até uma das mesas


vazias, nos sentando juntos.

Logo Dexter se juntou ao Yago, ambos conversando sobre algum


assunto que nem ao menos me interessou diante da fome que eu estava.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Apertei minhas pálpebras, sem lembrar nem ao menos como acabara


dormindo.

— Pequena, preciso sair do carro — Yago sussurrou ao meu lado.

Repentinamente me movi ao perceber que a minha cabeça estava


sobre as pernas dele, e minhas pernas dobradas em cima do banco.

— Co-como? — gaguejei levando a mão aos meus olhos, coçando-


os.

Meus pés tocaram o chão do automóvel, direcionando a minha visão


para Yago.
— Você dormiu em uma postura muito desconfortável, por esse
motivo deitei sua cabeça em minha perna, estava em um sono tão ferrado
que nem ao menos percebera o meu ato. — Entreabri a minha boca com
aquele fato. — Fique aqui, vou até a capela, fiquei sabendo que tem um
pastor que mora aqui.

Apenas assenti, Yago saiu do carro, sendo seguido por seus homens,
ele bateu na porta fechada e ao lado da minha porta tinha um homem
cuidando da minha segurança.

No suporte do carro marcava oito horas da noite, meus olhos se


voltaram para o loiro quando as portas da capela foram abertas e um
homem fez um gesto com a mão para que eles entrassem, como se já
soubesse de quem se tratava.

Por longos segundos fiquei naquele carro sozinha, até que o mafioso
saiu da capela, indo em direção ao carro. Abrindo a minha porta, estendeu a
mão para mim.

— Venha. — Fez um movimento para que o seguisse.

Segurando na sua mão, saí do carro. O vento noturno tocou o meu


corpo, mas não estava sentindo frio.

— Vamos nos casar agora? Assim repentinamente? — perguntei


assustada.

— Achou que seria como? Pastor Jacó tem apenas esse horário e o
velho caindo aos pedaços se recusa a fazer a cerimônia amanhã. Ao menos
a idade avançada não o fez menos ganancioso — murmurou sem que eu
entendesse o que Yago falou.
Eu me mantive em silêncio, caminhando ao lado de Yago e
adentramos aquela pequena capela, que parecia até mesmo abandonada,
mas o lugar estava limpo, o que deixava claro que tinha pessoas que a
frequentavam.

Ao centro do pequeno altar havia um senhor vestindo uma bata,


preparando a sua mesa, Dexter que estava perto tinha em sua mão algumas
folhas as quais entregou ao pastor.

— Hoje vamos nos casar perante o Senhor, amanhã vamos assinar o


nosso estado civil no cartório, e assim será oficialmente, a minha senhora
Zornickel.

O modo como ele falou me fez engolir em seco, mudaria o meu


sobrenome, não seria mais a Felicie Ludwig, e sim a Felicie Zornickel. Em
menos de 24 horas minha vida simplesmente mudara, se tornando um
verdadeiro ponto de névoa, sem saber se a loucura que eu estava cometendo
seria realmente benéfica para mim, mas eu me arriscaria mesmo assim.

Paramos em frente ao altar, o senhor que usava óculos de grau me


avaliou por cima dos óculos.

— Como está aquele ruivo que eu juntei em matrimônio? — o pastor


perguntou para Yago.

— Curiosamente o senhor tem uma mão boa para casamentos, sendo


que eles estão juntos até hoje e têm um filho tão endiabrado quanto eles —
as palavras que Yago usou fizeram o pastor chamar a atenção dele.

— Estamos na casa do Senhor. Fico extasiado em saber que eles


estão juntos, afinal aquele foi o casamento mais louco que já realizei, ao
menos essa não está algemada. — Os olhos do senhor se concentraram em
minha mão percebendo que não tinha nada ali.

— Felicie está aqui por livre e espontânea vontade — Yago retrucou


meio impaciente.

— Ela me parece bem apreensiva para quem quer isso. — O pastor


não tirou seus olhos de mim.

— Estou nervosa, apenas isso. — Tentei dar o meu melhor sorriso


forçado.

Mas finalmente o pastor deu aquele assunto por encerrado.

Tínhamos ao nosso lado nossas testemunhas, Dexter e os outros


homens de Yago. O pastor deu início à cerimônia, ele não fez delongas.
Indo ao assunto, sendo prático.

— Agora repita comigo. — Os olhos dele estavam contraídos aos


meus enquanto falava junto com o homem:

— Eu, Felicie Ludwig, prometo a minha fidelidade, a minha honra, o


meu respeito ao meu marido. Ser uma esposa presente na vida de Yago
Zornickel. Honrar com meus compromissos de esposa. Na alegria ou na
tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a morte
nos separe. — Tudo aquilo parecia algo referente a ele, como se eu
precisasse ser devota de corpo e alma àquele homem, mesmo assim repeti
tudo, chegando a vez de Yago.

— Eu, Yago Zornickel, prometo à minha esposa o meu respeito, ser


um marido presente na vida de Felicie Ludwig. Honrar com a felicidade
dela, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na
pobreza, até que a morte nos separe — os votos dele foram bem menores
que o meu, e algo que eu percebi foi que Yago não mencionou nada sobre
fidelidade.

Ele não precisa ser fiel à esposa dele? Isso queria dizer que ele podia
se deitar com qualquer outra mulher enquanto estivesse casado comigo? O
que valia para mim, não valia para ele?

Durante as próximas falas do pastor fiquei refletindo sobre aquilo,


martelando em minha mente. Sabia que quando estivéssemos sozinhos
questionaria aquilo.

Quando o pastor mencionara algo sobre as alianças pensei que não


teríamos uma, até que Yago tirou de dentro do seu bolso interno uma caixa
pequena de veludo, abrindo-a e revelando dentro dois pares de aliança. Até
mesmo naquilo ele pensara?

Primeiro fui eu que coloquei no dedo dele o anel, servindo


perfeitamente bem. Depois ele colocou em meu dedo, ficando um pouco
folgada, talvez precisasse dar uma apertada quando fosse a uma joalheria.
Aquele anel era lindo, com um pequeno diamante azulado ao centro dele.
Meus olhos admirados se encontraram com os do meu marido.

Nossa união foi abençoada perante o pastor.

— Eu vos declaro marido e mulher, o que Deus uniu homem nenhum


separa. O marido pode beijar a noiva.

Voltei o meu olhar ao meu agora marido. Yago segurou nos dois
lados do meu rosto. Seu corpo se colou ao meu, ele aproximou a boca da
minha, e instintivamente meus olhos se fecharam.
O beijo foi suave, nossos lábios se encaixaram. E eu apenas me
entreguei àquele momento, mesmo que nem ao menos tenha sentido a
língua dele sobre a minha, um beijo rápido, logo ele se afastou.

Abri meus olhos encarando os límpidos olhos dele.

— Agora você é minha — sussurrou com tamanha possessividade


que parecia que estava me tratando como um objeto.

— Espero que eu não tenha cometido o maior erro da minha vida —


murmurei sentindo a mão dele se encaixar na minha.

— Se tiver cometido um erro, agora não tem mais volta. Acabou de


ser aprisionada ao seu marido.

Yago não sorriu, não esboçou nenhuma reação, e eu apenas me


perguntava onde estava aquele homem carinhoso que aparecia só de vez em
quando. Sinais revelavam que ele se tornava atencioso quando queria algo
de mim.

Possivelmente, tinha muito a aprender com meu marido.


CAPÍTULO DEZESSETE

O carro estava em movimento, obviamente Yago ao meu lado não


falava nada. E se mantinha sempre em silêncio.

— Vamos ser sempre assim? — perguntei de repente,

— Assim como? — Virou o seu rosto, através das luzes dos postes
percebia a tonalidade dos olhos dele sobre os meus.

— Assim, você em silêncio, nunca falando nada...

— Em algum momento deixei você falando sozinha? Pelo que me


recordo, respondo todas as suas perguntas impertinentes. — Arregalei meus
olhos.
Não soube o que dizer de imediato, até que acabei falando:

— Ah, tudo bem, entendi. Você não conversa, apenas responde


perguntas — concluí voltando o meu olhar para a estrada.

Yago não disse nada, apenas se calou, como se ficar calado fosse
melhor. Não insisti, apenas mexendo naquele anel na minha mão, como se
pudesse sentir o peso dele. Tão lindo, um pequeno gesto de união.

Não perguntei para onde iríamos, ele disse que iríamos ao shopping,
mas acreditava que não seria naquele momento. Adentramos em uma rua
mais movimentada, comecei a me questionar se ali era o centro de Berma,
era tudo tão diferente da nossa comunidade.

O automóvel foi diminuindo a velocidade, paramos em frente ao que


parecia um hotel. Bem diferente do outro em que paramos, esse era maior, e
parecia bem mais luxuoso. A minha porta foi aberta. Peguei a minha bolsa
com as duas outras lingeries. Segurando-a em minha mão, enquanto saí do
carro.

— Vou entrar com a minha esposa, passaremos a noite aqui para


amanhã de manhã irmos ao cartório. Deixe dois soldados de guarda, e assim
vão revezando — a voz de Yago estava séria quando falava com Dexter.

Naquele hotel ele não ordenou que os soldados fizessem a revista,


segurando na minha mão, decentemente fomos em direção à recepção, onde
uma linda jovem nos atendeu.

— Em que posso ajudá-los?

— Quero um quarto para mim, e para a minha esposa. E mais dois


com duas camas de casal cada, para os meus homens que estão do lado de
fora. — A mulher passou a digitar no computador.

Aquele hotel tinha até mesmo computador comparado com o outro


que tinha um caderno. A jovem ergueu o seu olhar para o meu marido e em
seguida o passou para mim como se quisesse analisar que éramos mesmo
um casal.

— Aqui, senhor, terceiro andar, quarto 409. — Estendeu o seu cartão.


— Os outros dois quartos já estão reservados, basta os seus seguranças
passarem aqui.

Yago apenas assentiu, como se não tivesse se importando da mulher


chamar os tais “soldados” de segurança. Pelo visto Yago já tinha uma forma
de trabalhar com Dexter, pois nem ao menos falou para ele que tinha
deixado os quartos reservados. Ou devia estar informando por mensagem,
já que estava com o celular na mão.

Paramos em frente ao elevador, Yago o chamou, me posicionei ao


lado do meu marido sendo que ele não estava segurando na minha mão
naquele momento.

— Com licença. — Virei o meu rosto quando alguém chamou pela


minha atenção. — É seu?

O homem tinha estendido um brinco.

— Ah, não é não — declarei sabendo que não estava de brinco.

— Tem certeza? — A mão do homem quis tocar em meus cabelos,


como se os colocasse para trás, se certificando que o brinco não era meu.

— Ficou louco, porra! — Yago passou a mão na minha cintura, me


puxando para trás. Levei um susto com o rápido acesso de raiva dele —
Não encoste um dedo na minha esposa se não quiser perdê-lo!

Arregalei meus olhos, com o meu marido segurando a arma na sua


cintura.

— Calma, calma... apenas pensei que ela estava sozinha... afinal não
é todo dia que vemos uma gatinha...

O homem mesmo gaguejando foi atrevido, sendo interrompido


literalmente por um rosnado do meu marido, que já tinha ultrapassado todas
as barreiras da sanidade, prestes a pegar a sua arma. Eu já vi Yago em ação,
estava ciente de que ele sabia manusear aquela coisa. Por sorte as portas do
elevador se abriram bem naquele momento.

Segurei a mão do meu marido e senti todo o corpo dele tenso. Sem
me importar com aquele desconhecido, com toda a minha força empurrei o
corpo duro feito uma rocha para dentro do elevador, que se fechou, e apertei
no número três.

— Quero matar aquele desgraçado por fazer gracinhas com a minha


esposa — ainda inerte em seus pensamentos, Yago falou entre dentes.

— Vai matar um homem por ter supostamente dado em cima de


mim? — Franzi a minha sobrancelha diante de tamanha loucura.

— Ninguém dá em cima da minha mulher e sai ileso. — Ele quis dar


um passo em direção à porta, prestes a apertar no botão do térreo outra vez.

As portas se abriram, tentei fazer com que Yago viesse comigo para o
nosso quarto no terceiro andar. Coloquei a minha perna na porta, para assim
mantê-la aberta e falei decidida para ele.
— Venha comigo, não vamos fazer da nossa primeira noite de
casados uma noite de sangue.

Meu marido baixou os olhos, encontrando-se com os meus. Estava


quase implorando em um pedido de súplica.

— Se quiser ir até aquele homem, vá. Mas vá sozinho. Saiba que não
compactuo com nada disso. Foi apenas um moleque, um garotinho que não
sabe nada sobre a vida — completei. — Me dê o cartão do nosso quarto.

Estendi a minha mão, querendo que ele me desse o cartão pois não ia
presenciar a loucura que ele queria cometer.

Yago olhou para a minha mão e ao invés de me dar o cartão, a


segurou, saindo do elevador comigo.

— Que essa seja a última vez que alguém dê em cima de você bem
na minha frente. Não sei reagir bem a isso — resmungou irritado ao meu
lado.

— Espero que seja a última também — sussurrei.

Seguimos até o nosso quarto, meu marido passou o cartão na porta


liberando a nossa entrada. Fez um movimento para que eu entrasse
primeiro, e foi isso que fiz, olhando à minha volta, segurando aquela
pequena bolsa com força em meus dedos.

O quarto tinha apenas uma cama de casal, grande e ao lado uma


suíte.

— E agora? — perguntei me virando e procurei pelo meu marido que


não estava mais ali.
Soltei um longo suspiro, não acreditava que Yago ia fazer aquilo, não
acreditava que ele ia tirar a vida de um homem apenas por aquele breve
momento, o pobre nem ao menos devia ter visto em meu dedo a minha
aliança.
CAPÍTULO DEZOITO

Fechei a porta deixando Felicie sozinha no quarto. Minhas mãos


pressionadas. A raiva percorria todo o meu corpo, queria voltar naquele
maldito andar. Aliviar aquela necessidade desenfreada que brotava dentro
de mim de matar o maldito desgraçado que deu em cima dela.

Felicie era minha, PORRA!

Segui em direção ao elevador, apertei no botão diversas vezes, nada


ia me parar, eu queria aquele maldito desgraçado morto!

As portas se abriram, entrei nele, passei a mão na minha cintura e


senti ainda ali o metal da minha arma. Os números foram descendo, em
meio à minha impaciência as portas se abriram, levando a mão no bolso de
dentro do meu paletó, buscando pelo meu celular, senti algo, o colar dela, a
joia que ainda estava comigo.

Senti aquilo sobre os meus dedos, enquanto buscava pelo homem,


que diante das palavras de Felicie era apenas um garoto novo. Encontrei-o
no balcão de recepção, onde estava claramente flertando com a atendente
ali, a mesma cantada que deu na minha esposa.

— Subchefe? — Virei meu rosto percebendo Dexter ali do meu lado.


— Algum problema?

Pisquei apenas uma vez, recobrando a minha consciência e percebi a


loucura que estava prestes a fazer, tudo por quê? Um acesso de ciúmes?

— Estou bem — declarei, fazendo-o perceber que devia estar louco


por ficar parado ali na frente.

— Deseja algo? — Dexter voltou a perguntar vendo meus olhos fixos


no garoto parado ali no balcão.

— Não, vou me deitar. Amanhã pela manhã vamos ao cartório, e


logo depois levarei Felicie ao shopping, ela precisa de um guarda-roupa,
não tem nada para usar — concluí a frase resmungando.

— Sua família sabe de algo?

— Não, a princípio acham que estou resolvendo assuntos com


clientes. — Dei de ombros despreocupado.

— Ótimo, subchefe.

Apenas brevemente balançamos nossas cabeças. Dexter voltara para


o lado de fora, já que eu o havia mandado organizar a nossa segurança
noturna. Entrei no elevador, vendo-o se abrir no meu andar. Meus passos
me guiando para o meu quarto, tirei o cartão do meu bolso liberando a
porta.

Buscando pela minha Felicie, encontrei-a sentada na cama,


segurando em sua mão uma cartilha que parecia de bebidas.

— Marido? — Ela me olhou levantando-se da cama.

Era estranho ter alguém me chamando de marido. Mas era isso que
eu era, o marido dela, agora um homem casado.

— Quer beber algo? — Arqueei uma sobrancelha.

— Bem, eu já pedi. — Ela mordeu levemente o lábio como se


estivesse se perguntando se tinha feito errado.

— Como o fez? — Estranhei o fato dela ter feito sozinha.

— Na cartilha estava escrito como solicitar pelo telefone, e como o


meu marido resolveu sumir em um passe de mágica, quis ter algo para
ocupar o meu tempo. — Felicie tinha uma facilidade para se comunicar
estonteante, ela era delicada, falava com suavidade, como se fosse
literalmente um anjo.

Ou talvez eu que estivesse ficando viciado nela.

— Ia ocupar o seu tempo com uma garrafa de champanhe? — Franzi


minha sobrancelha, indo em direção a ela.

— Bom, eu não tenho celular pra ficar vendo esses videozinhos


engraçados. Podemos ter um gatinho? — Ela mudou tão rápido de assunto
que foi impossível não sorrir da loucura que foi essa mudança.
— Quer um celular? — As bochechas dela ficaram rosadas, ela tinha
vergonha de aceitar presentes. — Vou te dar um celular...

— Vamos poder tirar fotos juntos? — Ao menos esqueceu o assunto


do gato.

— Creio que não. — Fiz uma careta diante dessa possibilidade.

— Você é tão lindo, por que não? — Felicie não fazia o tipo que
usava filtro, ela falava sem pensar, talvez se devesse ao fato de ter sido
sempre privada.

— Está me chamando de lindo? — Parei na frente dela, segurei o seu


queixo e fazendo com que olhasse para cima na minha direção.

— Não é como se não soubesse disso — sussurrou.

— Ouvir da sua boca é diferente — murmurei arrastando meu dedo


pelo lábio dela. —Quero que faça uma coisa.

— O quê? — A pequena quis saber.

— Quero que vá ao banheiro, use a lingerie branca que comprei pra


você e deixe os seus cabelos soltou para mim — sussurrei sem desviar meus
olhos dos dela.

— Ficar somente de lingerie na sua frente? — A garota parecia


realmente assustada.

— Sim, você sabe como acontece uma relação entre um homem e


uma mulher, não é mesmo? — Não queria usar a palavra sexo, mas tinha
certeza de que ela compreendera o que eu falei.
— Ah... sim, eu sei. Aprendemos na escola, e bem, eu assistia filmes
de romance às vezes, mas não era nada muito explícito. — Felicie mexia os
seus dedos em seu ato nervoso.

— Quero consumar o nosso casamento essa noite, Felicie, não quero


correr o risco de que algo aconteça, por esse motivo já vamos fazer sexo
hoje — a forma direta com que falei fez a menina dar um passo para trás.

— Eu bem... pensei... que precisaria me preparar. — Sorri diante do


nervosismo dela.

— Não é como se fosse correr uma corrida, é apenas sexo. — Dei de


ombros.

— Para você, pra mim não. — A garota balançou a cabeça.

— Vamos começar assim, troque a lingerie, o champanhe deve estar


chegando, vamos beber um pouco juntos e conforme for rolando, tudo vai
acontecendo — mesmo em seu estado de nervosismo, Felicie confirmou.

Peguei a pequena sacola, tirando de dentro a lingerie que tinha


escolhido especialmente para aquela noite, queria vê-la usando, me
deslumbrar com suas belas curvas.

Entreguei-a na mão dela, e senti a sua pele fria. Fiquei vendo-a ir


para o banheiro. A garota estava nervosa, e confesso que também estava,
nunca fiz isso, nunca tirei a virgindade de uma mulher. E agora estava com
uma virgem no mesmo quarto que eu, e curiosamente aquela virgem era a
minha esposa.

O barulho na porta me tirou do meu devaneio, indo em direção a ela,


abrindo-a e vendo que tinha um carrinho junto do homem.
— Soubemos que são recém-casados, por isso como cortesia da casa
trouxemos um carrinho de doces.

Apenas assenti diante daquilo. Peguei o carrinho trazendo-o para


dentro do quarto. Antes que Felicie saísse do banheiro, tirei a proteção de
cima, vi vários tipos de chocolate, até mesmo uma pequena cachoeira de
chocolate e tudo que eu consegui pensar olhando aquilo foi na minha
esposa coberta de doce para eu lamber.

O barulho da suíte atraiu a minha atenção, e pela porta eu a vi,


cabisbaixa saindo do banheiro, tampando as partes do seu corpo
envergonhada quando tudo que eu queria era vê-la totalmente nua.

Porra! Felicie era ainda mais linda do que eu imaginava sem roupas.
CAPÍTULO DEZENOVE

Apertei minhas mãos ao lado do meu corpo, mesmo com o rosto


abaixado podia sentir os olhos do meu marido sobre mim.

— Felicie, olhe para mim — sua fala não foi uma pergunta, e sim
uma ordem.

Ergui meu rosto timidamente. Meus cabelos caíam sobre o meu


ombro. Quando estava no banheiro, me senti sexy ao me olhar no espelho,
mas quando olhei o meio das minhas pernas a vergonha me tomou.
Raramente me davam alguma lâmina de cortar os pelos, a última que Kina
me deu usei para tirar os pelos das minhas pernas e axilas, deixando a
minha intimidade de lado. E agora estava morrendo de vergonha de Yago
ver aquilo e achar horrendo, pois estava horrível.
— Venha até mim — pediu, e sem tirar a mão da frente dos meus
seios, e da minha intimidade, segui na direção dele.

A lingerie branca era delicada, sensual, e de renda, quando tirasse a


mão da frente da minha calcinha ele ia poder ver os pelos, e se apagarmos a
luz?

— Quero que tire as mãos que estão sobre os seus seios — pediu
outra vez.

— Podemos fazer isso de luz apagada? — Meu marido arqueou


suavemente a sua sobrancelha.

— Por qual razão iria querer fazer de luz apagada, quando tudo que
eu mais quero é apreciar o seu corpo?

Minhas mãos estavam suando frio, o medo, a vergonha, e se ele rir de


mim? E se achar aquilo horrível? Yago devia fazer o tipo de homem que
gostava de uma mulher toda depilada.

— Estou com vergonha — murmurei abaixando o meu rosto.

Senti a mão dele tocando a minha que estava sobre o meu seio e
abaixei-a. Lentamente ergui o meu rosto, buscando pela reação dele ao ver
os meus seios por baixo do sutiã de renda que deixava marcados os meus
mamilos, os quais eu senti se tornarem intumescidos com aquele olhar do
meu marido.

— Você é incrivelmente linda, por qual razão teria vergonha? — Ele


ergueu o dedo, passando sobre o tecido do sutiã, os dedos resvalando pelos
mamilos intumescidos, fazendo o meu corpo vibrar por aquele contato.
— Por isso... — a minha face naquele momento atingiu milhões de
tons vermelhos, sabendo que em algum momento tinha que me mostrar nua
para ele, sendo que foi o intuído no nosso contrato.

Yago abaixou os olhos, fixando-se sobre a minha intimidade.

— Isso é um problema para você? — A voz dele estava com uma


rouquidão um tanto sensual.

— Eu que pergunto isso, é para o senhor, meu marido? — murmurei.

— Bom, eu prefiro lisinhas, mas não deixa de ser apetitosa e meus


dedos coçarem para tocá-la. — Seus olhos azuis encontraram os meus, a
luxúria explícita ali,

— Também prefiro, mas quando me deram a lâmina eu tive que


escolher e quando chegou a vez da minha intimidade, a lâmina já estava
sem corte. — Mordi o meu lábio.

— Podemos resolver o seu problema depois, pois agora temos outras


preocupações. — Yago tirou a mão do meu mamilo.

Tirou o seu paletó, pegou a sua arma, que ele mexeu, deixando-a
desengatilhada e sobre um móvel, passou a mão na barra da sua camisa de
botões, tirou-a de dentro da calça e sem conseguir desviar meus olhos fiquei
analisando-o abrir cada botão.

Revelando o seu peito nu, totalmente liso, as tatuagens dele eram


apenas no pescoço mesmo, fechando-o por completo. Quando tirou a
camisa vi que tinha o antebraço esquerdo fechado em tatuagem também, e
algum desenho logo embaixo da sua axila. O braço direito não tinha
tatuagens.
Os olhos do meu marido se encontraram com os meus quando ficou
apenas de calça, passou um pé por cima do outro e tirou os sapatos.

Minhas mãos ao lado do meu corpo chegavam a estar úmidas diante


do meu nervosismo por aquele momento. Segui os movimentos dele quando
pegou uma taça em cima daquele carrinho, e foi apenas naquele instante
que me dei conta que ali tinha mais coisas do que eu pedi.

— Não pedi tudo isso — murmurei.

— Por alguma razão eles souberam que éramos recém-casados, ou


pode ter sido coisa do Dexter. — Balançou suavemente os ombros.

Dexter e ele pareciam se dar muito bem, embora o homem parecesse


ser jovem demais, o que me deixou curiosa para saber a idade dele. Mas
contive a minha curiosidade.

Meu marido estendeu uma taça para mim, dei um passo na sua
direção e segurando-a, rapidamente levei-a aos meus lábios, precisando
daquele alívio, de algo que umedecesse a minha garganta e talvez me desse
um pouco mais de coragem.

Ao contrário de mim, Yago tomou com um pouco mais de


tranquilidade. Nossos olhos se encontrando em meio ao processo. Ele
deixou a taça sobre um móvel, e empurrou aquele carrinho para o lado da
cama, fazendo um movimento com a mão para que fosse até ele.

— Gosta de chocolate, esposa? — Aquela foi uma das poucas vezes


que ele me chamou de esposa quando estávamos sozinhos.

— Amo doce. — Sorri de lado.


Parei na frente dele, tomei o resto do meu champanhe e por não estar
acostumada a ingerir bebida alcoólica apenas com aquela taça senti meu
corpo mais alto.

Com um morango na mão dele, levou-o até aquela pequena cascata


de chocolate, banhou-o no chocolate, levando-o em direção à minha boca,
e eu entreabri meus lábios. Mordendo a ponta da fruta mastigando
suavemente sentindo o gosto delicioso, fechei meus olhos com um suspiro
que escapou da minha boca.

Levei um sobressalto quando senti o lábio do meu marido tocar o


meu, abri meus olhos e encontrei-o ali, colado ao meu corpo.

— Suspire assim novamente, mas quando estiver beijando seus


lábios — sussurrou, ao segurar na minha cintura e com facilidade me
ergueu, deitando-me na cama, seu corpo cobrindo o meu, os nossos lábios
colados.

Yago deu início ao beijo, lento, suave, a língua dele tocava a minha e
arrancava suspiros do fundo da minha garganta.

Não parou, o beijo se tornou mais intenso, eu podia até sentir o ponto
da minha intimidade se tornar cada vez mais úmido e apertei as minhas
pernas uma sobre a outra. Um gemido rouco escapou da minha boca quando
ele afastou o rosto, nossos olhos se encontrando, o lábio levemente rosado
dele se tornado vermelho diante do nosso beijo.

— Você é tão apetitosa que poderia passar uma semana sem parar me
fartando do seu corpo — a forma como ele falou fez com que eu me
sentisse o morango mais suculento de todos.
Yago se levantou, abriu o seu cinto, tirou-o da sua calça, jogando-o
ao chão, não fui capaz de desviar meus olhos quando ele abriu a calça,
abaixando-a, revelando uma cueca azul-escura, daquelas no estilo boxer,
que apertavam as suas coxas, aquele homem era tão branco que podia ser
facilmente confundido com aquele vampiro do filme que eu assisti quando
passava em uma madrugada no televisor, Edward Cullen, uma versão
vampiresca com tatuagem e bem mais selvagem.

Mas o que me apavorou foi o volume protuberante dentro da cueca,


marcando o tecido e arregalando meus olhos, encontrei com os do meu
marido.

— Pequena. — Ele passou a mão sobre a pequena cascata de


chocolate, sem se importar com a sujeira que aquilo causaria, pegou uma
quantidade generosa e levou a mão sobre o meio dos meus seios.

— Ah... — arfei quando o chocolate sujou até mesmo a peça de


lingerie nova, mas Yago não parou, descendo por toda a minha barriga a
calda de chocolate.
CAPÍTULO VINTE

De cima foquei meus olhos sobre a barriga coberta de chocolate, no


meio dos seios o doce escorria. Minha pequena esposa deliciosa. Seus olhos
azuis estavam focados em mim, pelo peito que subia e descia sabia que
estava ofegante.

Coloquei uma perna em cada lado do corpo dela, abaixei o meu rosto,
deslizei a minha língua no meio dos seios dela, lambendo o chocolate e me
deliciando com aquela fartura de chocolate sobre a pele inocente da minha
esposa.

Senti os dedos delicados de Felicie tocando o meu cabelo,


arrastando-os por minha cabeça. Empurrei o sutiã para o lado, tendo os
seios dela totalmente expostos para mim, os mamilos estavam
intumescidos, nos quais resvalei a minha língua, em seguida chupando com
um pouco mais de força ouvindo o gemido da minha esposa.

Empurrei a outra parte do sutiã para o lado, apertei aquele mamilo


com a minha mão e conforme sugava o primeiro, belisquei o outro com
meus dedos, ouvindo os gemidos de Felicie se tornarem mais frequentes.

Ela não se privava, gemia alto, me entregando toda a sua inocência.

Raspei o meu nariz por sua pele, passei a sugar o outro mamilo dela,
seus seios eram de tamanho mediano, proporcional ao seu corpo, minha
mão o cobriu por inteiro, apertou-o, sabia que aqueles seios foram tocados
apenas pelas minhas mãos, apenas eu a vi nua, somente eu tinha o poder
sobre aquela garota.

Minha fome pelo corpo dela era imensa, mas precisava ser paciente,
precisava lembrar que essa era a primeira vez dela, não podia assustá-la
logo na sua primeira transa.

Passei a descer a minha boca por seu corpo, lambi o chocolate que
estava em sua barriga, conheci cada canto da pele da minha esposa, sua
barriga lisinha, a pele dourada, o sobe e desce da respiração ofegante de
Felicie.

Aproximei-me da barra da calcinha, meus olhos estavam focados


naquele pequeno tecido, por onde através dos pequenos furinhos eu tinha a
visão da sua boceta, e apesar de ter lambido o chocolate da pele dela,
ficaram alguns traços, sabendo que ela ia ficar com a pele grudenta.

Segurei nos dois lados da sua calcinha, passei a deslizar por suas
pernas, as quais se ergueram sutilmente durante o processo, voltei o meu
olhar para a mulher, ela se apoiou em seu cotovelo, os olhos me analisando.
Minhas mãos rasparam pela perna dela, eu as abri, fazendo com que
as mantivesse dobradas para eu poder me agraciar com as suas belas dobras.

— Marido — Felicie sussurrou de repente quando o meu olhar focou


na sua pequena boceta.

Mesmo com aqueles pelos ali. Nada a fazia ser menos linda, os pelos
castanhos cobriam boa parte da boceta dela, segurei na parte de dentro das
suas pernas, resvalei meu dedo e pude ver o brilho do seu mel grudado
sobre os pelos pubianos.

Porra, ela estava tão excitada que eu podia jurar que meu pau
deslizaria como luva em sua boceta.

Toquei as dobras quentes, sentindo minha boca salivar diante do meu


dedo que deslizou sobre a boceta dela. Abaixei o meu rosto, rocei o meu
nariz na boceta pequena dela, puxei a minha respiração com força e senti o
seu cheiro de prazer impregnando-se no meu olfato.

— Tão quente... — sussurrei sobre a pele sensível dela soprando. —


Deliciosa, molhadinha...

— Ah... — Felicie gemeu alto quando coloquei minha língua para


fora, deslizando-a por toda a sua boceta, sentindo as suas dobras em minha
língua.

Não parei, impulsionando o meu dedo indicador em suas paredes,


sentindo a forma como ela era apertada, meu dedo a tocava por dentro, e
como estava molhada.

Felicie se encontrava no ápice do seu prazer, não parava de sugar a


boceta dela, estralando minha língua na sua parede. Não queria que ela
chegasse ao seu limite, não ia deixar que ela gozasse, ia se apertar no meu
pau. Mesmo que estivesse sendo a melhor maravilha do mundo lamber a
boceta da minha esposa, me obriguei a parar, sabendo que podia fazer isso
quantas vezes eu quisesse, pois aquela inocente mulher, estava aprisionada
a mim.

Um suspiro de frustração escapou pelo lábio entreaberto dela quando


parei. Encontrei-me com os olhos dela, ficando de pé e segurei na barra da
minha cueca. Sabia que tudo que o meu pau fodidamente dolorido queria
naquele momento era a boceta dela.

— Frustrada, esposa? — Sorri com malícia.

— O que foi isso? — perguntou com as bochechas rosadas, o corpo


com pequenas gotículas de suor.

— Quase teve um orgasmo, mas eu parei, porque quero que se


contorça sobre o meu pau — falei aquilo vendo os olhos dela descerem por
meu membro o qual segurava descendo e subindo a minha mão.

Arregalando os olhos, minha esposa não conseguiu desviar os olhos


do meu pau.

— Isso tudo vai entrar em mim? — perguntou na inocência.

— Vou te comer com tanta força que com o tempo nem vai sentir o
tamanho dele — murmurei cobrindo o seu corpo com o meu.

— Sempre fala de uma forma que me faz parecer algo comestível. —


Seus olhos estavam brilhando pela luxúria explícita neles.

— Isso porque você é comestível. — Meu lábio se encaixou ao dela.


Intensifiquei minha língua dentro da sua boca, um beijo lento, Felicie
apenas se deixava guiar, ela aprendia as coisas fácil, e quando me dei conta,
já se encontrava fazendo o mesmo que eu, a língua dela quente sobre a
minha boca, deslizando uma na outra.

— Vou te penetrar agora, pode ser que doa um pouco — sussurrei e


ela apenas apertou o meu braço.

Pressionei meu pau na entrada dela, apertei com um pouco mais de


força e senti como se estivesse rasgando-a, afastei um pouco o meu rosto,
percebi os olhos dela fechados, ela os comprimia com força, demonstrando
que nitidamente estava sentindo a dor.

— Abra os olhos, pequena — sussurrei acariciando a sua bochecha.


— Agora se concentre em mim...

Ela assentiu sem falar nada, não parei o meu pau até chegar no final
dela, como se sentisse suas barreiras totalmente abertas para mim. Tirei
meu membro e o introduzi novamente.

Abaixei meu rosto, beijando os lábios dela, em um primeiro


momento Felicie não retribuiu o beijo. Mas logo passou a fazê-lo.

Beijava-me com luxúria, nossas línguas naquela melodia lenta,


ambos nos envolvendo, sem me dar conta que estocava com força dentro
dela, enquanto minha esposa fincava suas unhas em minhas costas. Os
gemidos de prazer sendo engolidos por meus lábios.

Senti meu corpo quente, as gotículas de suor por toda a minha pele.
Como um lobo selvagem passei a foder aquela boceta com força, apertando
os seios dela com uma das minhas mãos, minha esposa tombava a cabeça
pra trás, afastando os lábios dos meus. Os gemidos altos escapavam por
seus lábios entreabertos.

Mesmo que estivesse a comendo com força, ela se entregou, na sua


primeira vez, senti suas paredes latentes se apertando em volta do meu pau.

Aquilo foi o estopim para explodir em um longo e demorado gozo.


Jorrei dentro dela, estocando uma última fez e em meio a um rosnado,
apertei minhas mãos no lençol para não a assustar com a minha força.

Meus olhos se encontraram com os dela quando ambos nos


deliciamos com o ato. Caí para o lado, segurei na sua cintura e a trouxe para
cima de mim, deixando que nossas respirações aceleradas se acalmassem
primeiro.
CAPÍTULO VINTE E UM

Desliguei o chuveiro, abri o box de vidro, peguei a toalha sobre o


gancho, sequei o meu corpo e em seguida, vesti o roupão.

Yago foi meio frio após o nosso ato sexual, ou será que devia usar a
palavra sexo? Não era mais uma mulher virgem.

Parei em frente ao espelho, passei a mão sobre ele que estava


embaçado e observei minha imagem nítida ali. Meus olhos azul-escuros,
meu cabelo amarrado em um coque, já que o tinha lavado no outro hotel,
não o lavei novamente.

Com um longo suspiro saí do banheiro, avistando a zona que estava


ali, as cobertas da cama reviradas, tinha até mesmo chocolate sobre o tecido
da cama.

Estava sozinha, pois Yago se vestiu e falou que precisava fazer uma
ligação. Fui até a cama, passei a organizar os cobertores, tirei o que estava
sujo, deixei-o em um canto do chão, dei a volta na cama, pegando a
pequena tigela de morango, o chocolate não caía mais na cascata, mas
estava no fundo da tigela parado.

Coloquei o morango ali passei a comer, perguntando-me onde devia


estar o meu marido.

A nossa primeira vez foi maravilhosamente boa, no início quando o


membro dele me penetrou, pensei que seria arregaçada, mas logo foi se
tornando prazeroso, os lábios dele sobre os meus fizeram tudo se tornar
mais delicioso.

Perdi-me nos minutos, comendo o morango, lembrando-me a todo


momento daqueles intensos olhos azuis. Estava tão distraída no meu
mundinho que nem ao menos percebi quando a porta se abriu. Ergui meus
olhos percebendo o loiro à minha frente.

Arqueava sutilmente a sua sobrancelha, como se estivesse se


perguntando algo internamente.

— Vai ficar com dor de barriga diante de todo esse doce. — Meu
marido se aproximou e se abaixou na minha frente.

Tinha morango na minha boca, como se fosse hipnotizada por seu


ato, parei de mastigar, vendo-o passar o dedo no canto da minha boca.

— Tem um pouco de chocolate aqui. — Levou a mão à sua boca e


lambeu o dedo.
— Ah... acho que extrapolei — murmurei sentindo minhas
bochechas corarem.

— Está parecendo um dos meus sobrinhos comendo doce, com o


rosto cheio de chocolate.

Engoli aquele morango em seco, e falei:

— Quanto orgulho, por duas vezes fui comparada a crianças —


resmunguei.

Desviei de Yago, deixei a pequena tigela de morango sobre o


carrinho e me encaminhei para o banheiro sem olhar na direção dele. Parei
em frente ao espelho, vendo que tinha um pouco de chocolate no meu
queixo. Ótimo, ele tinha razão para me chamar de criança.

Abri a torneira limpando o meu queixo, quando pelo reflexo do


espelho vi o meu marido se aproximando.

— Ficou brava? — perguntou se encostando no parapeito da porta.

— Não — menti, e isso estava muito explícito.

Desliguei a torneira, tentando passar por ele para ir me deitar, mas fui
impedida quando me puxou pelo braço.

— Não minta pra mim, sempre saberei quando está mentindo. —


Virei o meu rosto, observando-o pelo meu ombro.

— Não estou mentindo — segui no que falara inicialmente.

— Sim, Felicie, está mentindo, pela forma que está pressionando a


sua mandíbula, está com raiva. E isso faz com que eu perceba que
possivelmente não posso acreditar em você, se mente por algo tão
supérfluo. — Arregalei meus olhos diante das palavras acusatórias.

— Não pode acreditar em mim? Depois de me casar com um homem


que nem ao menos conheço direito, entregar a minha virgindade para você,
me moldar à sua vida em questão de horas, não pode confiar em mim? Se
tem alguém aqui que não deveria confiar em você, esse alguém sou eu!
Afinal o meticuloso aqui é você! Esqueceu que eu sou a que fala demais. —
Quis puxar o meu braço, mas Yago não deixou.

Com raiva puxei novamente, meu marido em contra-ataque moveu o


seu braço e fez com que esbarrasse em seu peito.

— Agora está com raiva? — murmurou sem desviar os olhos da


minha boca.

— Querendo socar o seu rosto perfeito — retruquei.

Yago sorriu, descaradamente ele sorriu como se a minha raiva fosse


motivo de graça.

— Vai se ferrar. — Empurrei o seu peito.

— Pequena, apenas estou achando graça porque estava me


perguntando se algo tão belo poderia ter sentimentos de raiva, e olha, você
com raiva, fica uma gracinha...

— Você quis me deixar com raiva para testar a minha reação? Me


chamou de desconfiável para me deixar com raiva? — Sem acreditar
naquilo arregalei meus olhos.

— É, bem... — meu marido deu de ombros se entregando na sua


artimanha.
— Não acredito nisso, não. — Yago abriu um grande sorriso e me
puxou pela cintura, fazendo meu peito se chocar com o dele.

— Anjo, fico me perguntando se você é real...

— Apenas pare de me comparar aos seus sobrinhos, fico me sentindo


uma criança. — Fiz um bico em meu lábio.

— Tudo bem, vou parar. Até porque você tem apenas alguns hábitos
meio infantis. — Torceu o lábio como se quisesse continuar me
provocando.

— Esse seu lado provocador não condiz com suas expressões sempre
sérias. — Ergui minha mão tocando o seu rosto.

— Isso porque você criou na sua mente uma visão minha totalmente
errada.

— Acredito que todos da comunidade devem pensar o mesmo que


eu. — Arrastei a minha mão pela bochecha dele, sentindo-a lisa, sem rastros
de pelos.

— Ninguém precisa saber nada a meu respeito. Não sou um


monumento público para viver dando informações sobre mim. — Meu
marido soltou a mão da minha cintura.

— Então prefere que tenham a imagem errada de você? — questionei


curiosa.

— Na realidade ninguém tem a imagem errada de mim, o que todos


veem ou ouvem ao meu respeito, é verdade. Talvez você seja a minha única
exceção. Isso porque falar com você parece até mesmo uma coisa fácil de
fazer — sua voz era calma e amena.
— Bom, uma pena que não posso dizer o mesmo, falar com você é
difícil, na maioria do tempo complicado, isso quando não me olha com os
olhos sérios e nem me responde o que perguntei. — Soltei a mão do seu
rosto, cruzando-as.

— Pequena, pensa pelo lado bom, terá o resto da sua vida para se
adaptar...

— Me adaptar? Não tem como se adaptar um pouco ao meu


convívio? — eu o cortei meio desesperada.

— Provavelmente não, não sou de me adaptar a ninguém, e você é


minha, então precisa se moldar ao seu marido.

— EU? — Dei um gritinho diante daquilo. — Não sou sua


propriedade.

— Se tornou oficialmente minha bem naquela cama, quando me


entregou a sua virgindade, se aprisionando ao seu marido, sou o único
homem na sua vida, Felicie, o único que irá te ver nua — na voz dele
existia uma possessividade que já aparecera antes, começando a me deixar
preocupada.

Sem abrir brecha para uma nova discussão, Yago entrou no banheiro
falando que ia tomar banho.

O que eu fiz da minha vida? Parecia que literalmente tinha saído de


uma prisão para me meter em outra. E pior, eu gostava de estar aprisionada
a ele, por mais que a minha atual prisão estivesse com pouco tempo.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Há muito tempo não dormia em uma cama tão aconchegante,


simplesmente capotara na noite anterior, usando o roupão mesmo.
Lembrava-me de Yago demorar no banho, deitei-me na cama e acabei
adormecendo.

Um suspiro escapou da minha boca antes de abrir meus olhos, puxei


o ar com suavidade por minhas narinas e senti aquele perfume masculino,
meus olhos se abrindo repentinamente quando encontrei aqueles olhos azuis
bem abertos, como se me olhassem há muito tempo.

— Sempre faz isso quando acorda? — sua voz rouca denunciou que
ele dormira também.
— Isso o quê? — franzi a minha testa confusa.

— Esses gemidos, parecendo uma gata manhosa.

— Isso é um problema? — Aquela era a primeira vez que eu dormia


com alguém, e não sabia se o que eu estava fazendo era correto.

— Tecnicamente não, a não ser pelo fato de que fico me


questionando o estrago que essa boquinha pode fazer. — A mão dele foi
parar embaixo da sua cabeça, fiquei analisando o peito liso dele, apenas um
pouco definido, o braço embaixo da cabeça fazia os músculos ficarem
tensionados.

— Estrago?

— Não é o estrago que está passando pela sua mente, e sim o estrago
que seria ela chupando o meu pau. — Seus olhos não se desviaram dos
meus, como se quisessem analisar a minha reação diante do que falara.

— Ah... — foi tudo que saiu pela minha boca.

— Não sabia que poderia fazer isso, não é mesmo? — Seu corpo
cobriu o meu e segurou nas minhas duas mãos, levando-as sobre a minha
cabeça.

— Essas coisas são tão íntimas — murmurei constrangida.

— Quer mais intimidade do que a minha boca chupando a sua


boceta? — Ele não media as palavras para direcioná-las para mim.

— Também não sabia que dava para fazer aquilo, tudo que eu sabia
era o básico do básico. — As feições dele duras sobre mim, a tensão
preenchendo o nosso meio.
— Existem muitas coisas que eu posso fazer com você, mas não
vamos descobri-las agora, temos que ir ao cartório. — Rapidamente ele saiu
de cima de mim.

Virei o meu rosto vendo-o passar a mão no seu membro por baixo da
cueca, não era a mesma cueca de ontem.

— Tem uma nova muda de roupa para você naquela sacola, use-a
junto com a última lingerie que eu te dei — assenti vendo nesse momento
que estava completamente nua debaixo da coberta.

— Cadê o meu roupão? — questionei confusa.

— Quando saí do banho você estava capotada na cama, não iria


deixar que dormisse com aquele roupão, apenas o tirei, não é como se não a
tivesse visto nua antes — declarou despreocupadamente.

— Como não senti a sua mão?

— Bom, pode não ter sentido conscientemente, mas gemeu algumas


vezes feito uma gata manhosa buscando por atenção. — Ele parou em
frente a uma sacola de papel, tirando de dentro uma calça social.

— Não, eu não fiz isso...

— Fez, você fez sim, e foi bem sensual, quando estiver consciente
vou adorar que faça isso, sentando-se no meu pau. — Passou a mão sobre o
membro que ainda estava duro.

Fiquei olhando a cena, um tanto umedecida na parte de baixo, mas


juntei o meu autocontrole e tentei ser a mesma de antes de ser tocada por
ele. Afinal, antes de ser tocada por Yago era bem consciente das minhas
necessidades sexuais, não ia ser agora que me tornaria uma maluca sexual.
Pegando a coberta mais fina, puxei sobre o meu corpo, levantando-
me da cama coberta.

— Não acredito que está fazendo isso?

— Isso o quê? — perguntei virando o meu corpo para ele.

— Se cobrindo para mim.

— Desculpe, marido, mas em menos de 24 horas, nunca nem ao


menos tinha tocado em um homem, ninguém antes tinha me visto nua, nem
sequer tinha sido tocada intimamente, não é porque perdi a minha
virgindade que perdi a minha timidez junto com ela, não estou preparada
para ficar desfilando nua na sua frente — retruquei pegando a bolsa com a
lingerie e a que ele me estendera com a minha outra muda de roupa.

— Você é bem confusa...

— Ótimo, porque você também não é nenhum livro aberto —


resmunguei sorrindo para o meu marido que balançou a cabeça para mim.

Agora era oficialmente, de papel passado e registrado a senhora


Felicie Zornickel, não tinha mais volta, me casei com o mafioso na igreja,
fomos registrar o nosso estado civil no cartório. Entramos no carro, os
papéis estavam na mão do meu, então marido, um homem que eu mal
conhecia.

Não sabia dos seus defeitos, das suas qualidades, o que ele era capaz
de fazer. Tudo que sabia eram as histórias nada boas que contavam da máfia
da qual ele fazia parte, e agora era esposa dele. O mesmo homem que vi
matar um homem bem na minha frente quando eu era criança.

Sei que ele não devia se recordar de mim. Yago já salvara a minha
vida uma vez e ele nem ao menos se recordava disso.

— Vamos para o shopping Dexter — o homem assentiu sobre o


comando do meu marido.

Yago estava até mesmo disposto a caminhar comigo no shopping?


Homens geralmente não gostavam daquelas coisas, ou talvez fosse apenas
ele dando uma de possessivo sem me deixar andar sozinha.

Meu marido segurou na minha mão enquanto saímos de mais uma


loja de roupas, Yago não fazia nada mais que ficar sentado em uma poltrona
vendo-me desfilar com milhões de vestidos, muitos deles nem ao menos
sonhava usar na minha vida.
Ele comprou diversas roupas, das mais casuais às mais elegantes, até
mesmo lingeries, aquelas ele não me fez desfilar, mas me auxiliou a
escolher cada uma delas, Yago parecia gostar de me ver usando peças
íntimas, me senti envergonhada em certos momentos, pois ele comprava das
mais ousadas até as mais simples.

Estávamos quase terminando a nossa estadia no shopping, faltava


apenas comprar os pijamas, sendo que em uma única loja compramos
praticamente tudo, meu marido quis que eu ficasse longe dele na hora de
fazer o pagamento, tudo para eu não ver o preço.

Ele estava cumprindo com a sua parte do acordo, me dando a vida de


luxo que toda mulher gostaria de ter. Mas isso parecia tão vazio, supérfluo.

Uma loja de instrumentos chamou a minha atenção, parei em frente à


vitrine, meu marido parou ao meu lado.

— Olha que lindo — murmurei vendo o acordeão, lembrando-me do


que eu tinha e tocava junto do meu pai.

— Posso comprar para você...

— Ah, não, não precisa. — Virei meu rosto para ele assustada. — Já
está fazendo demais por mim, não vou abusar.

Voltei a olhar aquele acordeão, o amadeirado escuro, as teclas


brancas, o tecido trançado no meio em tons vermelhos, as lágrimas se
acumulando em meus olhos, rapidamente passei a mão embaixo do meu
olho, limpando a única lágrima que ousara cair.

— Vamos. — Fiz um movimento para seguirmos andando.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Após levar a minha esposa para almoçar, decidi que estava na hora de
voltarmos para a realidade, quando precisaria encarar a minha família, e os
muitos interrogatórios deles.

Felicie estava ao meu lado, mexendo os dedos um no outro


impaciente. Pedi ao Dexter que comprasse algo enquanto fazia com ela as
compras, queria que passasse por meus olhos qualquer peça de roupa
escolhida para ela usar. Afinal era da minha esposa que estávamos falando.

O carro estava em movimento, quando Dexter passou a bolsa com o


celular que pedi para ele comprar, afinal, Felicie não podia ficar sem
conseguir se comunicar comigo. Ela virou o seu rosto, seus olhos se
encontrando com os meus, deduzindo que aquilo era para ela.
— O que é isso? — perguntou desconfiada.

— Um presente para você. — Entreguei-o para ela.

— Falei que não deveria gastar todo o seu dinheiro comigo, só


aquelas roupas devem ter custado o meu rim. — A menina não pegou a
sacola da minha mão.

— Felicie Zornickel, vai aceitar, não tem como ficar sem poder se
comunicar com ninguém — da forma como falei deixei explícito o que era.

— Comprou um celular? — Seus olhos expressivos se tornaram


grandes.

— Sim, pequena. — Debrucei-me colocando em suas pernas o


pacote.

— Isso é demais, sei que não deve ter pegado o aparelho mais
simples, por que precisa ser assim? Tudo do mais absurdamente caro? —
Ela nem ao menos mexeu na sacola, como se buscasse razões para o meu
presente.

— Não vou comprar o mais barato, ou o mais simples, quando a


minha esposa merece o melhor. Entenda uma coisa, Felicie, agora você é a
minha esposa, e a minha esposa não vai usar nada simples. — Não desviei
meus olhos dela, fazendo que assim entendesse que de onde saiu aquele
presente ia sair muito mais.

Nem ao menos eu entendia aquela necessidade desenfreada de mimar


a garota.

Felicie soltou um longo suspiro, se dando por vencida. Sabia que ela
não devia estar acostumada com aqueles gestos, mas também sabia que em
breve ia se acostumar com meus presentes, com a forma que merecia ser
tratada. Afinal ela ia carregar o meu filho. E obviamente existiriam ocasiões
que passaria mais tempo longe de casa.

A verdade era que não me via dormindo em um lugar que ela não
estivesse, apenas pela primeira noite que tivemos, me peguei cogitando as
próximas vezes que íamos acordar juntos.

Felicie tirou de dentro da sacola aquela pequena caixa, girando em


sua mão o aparelho. Mesmo sem querer assumir seus olhos brilharam diante
do presente e aquilo me deixou ainda mais obcecado por aquela pequena
mulher. Seus olhos se ergueram na direção dos meus.

— Obrigado pelo presente meu marido, amei. — O breve acesso de


raiva foi substituído por um lindo sorriso contagiante.

Aproximei o meu lábio do dela.

— Da próxima vez deixa o show de simplicidade de lado, apenas me


dê esse lindo sorriso, e agradeça. — Encaixei meu lábio no dela, sentindo a
maciez delicada.

— Não consigo me acostumar com isso, nunca me deram nada, e de


repente aparece um homem na minha vida, querendo me dar tudo, em troca
do que, uma família? Faz com que eu me sinta suja, e de certa forma
compactuando com isso. — Os dedos dela resvalavam pela minha pele,
nosso nariz roçando um no outro.

— Não está acostumada ainda, mas em breve se acostumará...

— Não sei — seu murmurar parecia muito indeciso.


Passei minha mão sobre a nuca dela e espalmei-a sobre os seus
cabelos, os fios se encaixando em meus dedos.

— Entenda, apenas não confunda as coisas, isso, sim, é uma troca de


favores. Você vai me dar a minha família, podemos ter uma boa
convivência, mas nunca existirá sentimentos da minha parte — falei sério,
sem querer que ela compreendesse algo errado.

— Então estou sendo mesmo comprada com presente? — Seus olhos


variavam entre os meus lábios e meus olhos.

— Sim, tecnicamente, sim. Mas veja como uma troca de favores.

— Você falou sobre não envolver sentimentos, que podemos ter uma
boa convivência, uma família de fachada, e nos seus votos, não foi
mencionada a palavra fidelidade, isso quer dizer que nosso casamento será
aberto a outros casos? — Senti o nervosismo de Felicie começar a se tornar
explícito.

— Nunca falei nada que lhe prometeria ser fiel.

— Mas fez com que eu prometesse, isso não é justo.

— Quer outros homens? — Forcei meus olhos, semicerrando-os,


aquilo fez com que uma bola de agonia se tornasse presente em meu
estômago.

— Não! Mas por que você pode e eu não? Por que existe essa
diferença? — Minha esposa seguia em seus questionamentos.

— Bom, você acabou de falar que não quer outro homem, e já eu,
não posso dizer o mesmo — a minha fala foi agressiva e me culpei a partir
do momento que a falei.
Felicie não questionou, mesmo os olhos se tornando brilhantes pelas
lágrimas que estavam se acumulando ali, ela as segurou, bravamente, sem
querer mostrar suas fraquezas para mim.

— Entendi, não sou o suficiente para o grande Yago Zornickel. —


Com brusquidão ela passou a sua mão no meu antebraço, tirando-o dali.

Endireitei-me no banco, meus olhos se encontrando com os de


Dexter pelo retrovisor, ele apenas balançou a cabeça deixando explícito o
quão babaca eu fui com ela.

Voltei a olhar para Felicie, não falei mais nada, não era isso que eu
queria? Uma família de fachada? Algo que não envolvesse sentimentos,
pelo menos assim ela entenderia, e não cobraria de mim futuros
sentimentos. Estava sendo frio, e calculista, traçando a rota que havia
calculado no começo de tudo isso.

A pequena abriu o celular.

— Pedi que configurassem ele para que já pudesse usar — declarei


querendo que seus lindos olhos azuis se encontrassem com os meus.

— Tá — foi tudo que saiu da sua boca, sem os olhos na minha


direção, sem aquele brilho de felicidade. Sem nada.

E foi eu que provoquei isso, eu que busquei pelo distanciamento da


minha pequena e inocente esposa.

Agora precisava arcar com as consequências, por mais que nisso


recaísse o intuito dela se afastar de mim. Será que precisava ser assim, ela
não devia me privar dos seus sorrisos. Porra!
Queria tudo de Felicie, mas não queria entregar nada de mim em
troca, não pretendia acabar como meus irmãos, colocando no centro do
universo até mesmo os sentimentos dela.

Dar todos os presentes que ela merecia era fácil, agora quando
envolvia sentimento, se tornava diferente.

Não devia ser tão confuso.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Passei toda a viagem em silêncio, ao menos tinha o celular para


poder me distrair. Esse foi o ponto positivo de ter aceitado aquilo. O carro
passou em frente à entrada principal, o que me fez soltar a respiração
aliviada, cheguei a pensar que Yago me faria encarar a família dele naquele
exato momento.

Entrando no segundo portão, o automóvel estacionou em frente à


casa do meu marido. A minha porta foi aberta, segurando o celular em uma
das minhas mãos, e com a outra meus dedos tocaram a mão do soldado
estendida para mim.

A última vez que estive aqui era uma mulher solteira, agora era
casada e presa àquele homem. Se pesquisar em um dicionário a palavra
emocionada, com certeza estará o meu nome como referência. Não me
arrependia de ter tomado aquela decisão, apenas me emocionei ao pensar
que por um momento meu marido podia ser apenas meu.

Meus passos me guiaram em direção à porta de entrada, sabendo que


meu marido estava falando com seus homens, nem ao menos me atentando
ao que eles falavam.

As palavras de Yago ainda reverberam repetidamente na minha


mente. O significado por trás delas. Como pude pensar que eu, uma mulher,
virgem, inocente e de tudo mais uma grande tonta, podia prender um
homem como Yago Zornickel apenas para mim? Obviamente ele me queria
para um único pretexto, gerar o seu filho. O resto ele fazia com as mulheres
fora de casa.

Aquela era a relação tranquila que ele falou? Ele ia me dar o mundo,
em troca precisava aceitar que ele ia se deitar com quem quisesse?
Precisava dividir o meu marido com todas?

Fiquei ali parada em frente à porta esperando que ele aparecesse para
digitar a senha. Seus passos se fizeram audíveis quando se aproximou
digitando-a, sem nem ao menos me falar a sequência de números. A porta
foi liberada. Entrei primeiro que ele, diante do movimento com a mão que
fez para eu entrar.

Aquilo tudo era meu? Tirei o meu salto do lado de dentro da porta,
onde tinha o suporte para calçados.

Nem nos meus melhores sonhos me vinha algo como aquilo, uma
pena que as consequências eram maiores.
— Deixem as roupas da minha esposa na sala — Yago falou logo
atrás de mim. — Você vai poder ter empregados para auxiliar na
organização da casa, e se preferir pode deixar que alguém arrume o seu
closet. — Virei meu corpo olhando as lindas feições do meu marido pela
primeira vez após horas.

— Não preciso de ajuda para arrumar um armário, e não preciso de


ninguém para fazer o que faço em toda a minha vida — resmunguei.

— Bom, mas a sua vida não é mais a mesma, agora é minha esposa,
terá que cumprir o seu papel de esposa. — Cruzou os braços.

— E quais seriam esses papéis? Além de ceder o meu corpo para que
você coloque um filho nosso dentro de mim? — questionei sabendo que
estava deixando a raiva dominar o meu corpo.

Yago não respondeu rapidamente, buscando pela minha reação,


querendo ver até onde ia a minha braveza. Percebi em tão pouco tempo de
convivência que meu marido gostava de notar as reações das pessoas, nem
sempre era reativo, e na maioria das vezes esperava para ver se ia explodir.

— Comparecer a eventos ao meu lado, frequentar os lugares em que


for solicitada — respondeu ao perceber que não explodi.

— Tudo bem, apenas fale quando achar que o seu fantoche precisa
estar pronto ao seu dispor — com toda a calma que restava dentro de mim,
eu o respondi.

Outra vez ele ficou me olhando, buscando pela minha reação, que
droga, ficar me esperando explodir, era bem irritante.
Fomos interrompidos pelos homens que deixaram minhas novas
roupas ali na sala. Percebi a quantidade infinita de roupas e meus olhos se
arregalaram, pois nem ao menos pensara que eram tantas.

— Estranho, porque isso parece ser bem mais do que eu provei e


você gostou — sussurrei alarmada.

— Todas as roupas que você tocou nos mostruários e não provou por
medo de não ser o meu gosto, mandei que a vendedora colocasse na conta
— prontamente me respondeu.

— Yago, mas toquei em muitas roupas. — Meus olhos se


arregalaram mais ainda.

— Em algum momento você ainda vai entender que não estou


blefando quando declaro que a minha esposa merece o melhor.

— Isso é exagero, logo meu corpo vai mudar, e se engravidar rápido,


não vou conseguir usar todas essas roupas. — Fiz um movimento com a
mão.

— Bom, tudo que entra uma hora sai, depois você volta a usar essas
roupas. — Balançou os ombros como se tudo aquilo que me dera não fosse
nada.

Sem saber mais o que falar acabei apenas balançando a minha


cabeça, foram três idas e vindas dos homens do meu marido, enchendo a
sala de roupa. Aquilo podia ser um paraíso para várias mulheres. As sacolas
refletindo as marcas de grife mais usadas da nossa geração.

Mas tudo que eu via ali era uma quantidade exorbitante de roupas,
era apenas uma mulher, por qual razão ter tantas?
Sentia-me como se fosse a bonequinha de luxo de Yago Zornickel.

— Vou sair — a voz do meu marido fez com que erguesse meus
olhos daquelas bolsas. — Preciso que fique aqui hoje, vou trabalhar, ver se
alguém desconfia de algo, e pensar na melhor forma de contar para eles que
estou casado.

— Tudo bem — apenas assenti, não ia mostrar para o meu marido


que era frágil, que tudo aquilo no fundo estava me assustando.

— A dispensa ainda está vazia, mas já pedi que Dexter providencie


comida para você. — Outra vez balancei a minha cabeça. — Tem o meu
número salvo na agenda do seu celular, qualquer coisa pode me mandar
mensagem.

Uma terceira vez balancei a minha cabeça, talvez ele quisesse que eu
falasse algo, mas sentia como se fosse enganada, ele não falou antes de nos
casarmos que apenas eu teria que ser fiel, deixou tudo nas entrelinhas. E eu
que acreditei no meu conto de fadas, julguei que tudo seria perfeito.

Minha mente seguia processando todos os fatos, me perguntando o


que ia ser daqui pra frente?

— Bom, vou indo nessa. — Meu marido deu poucos passos na minha
direção, parando diante de mim, segurando nos dois lados da minha
bochecha, fazendo com que olhasse nos olhos dele. — Vai me ligar caso
aconteça qualquer coisa?

— Tenho outra pessoa para ligar que não seja você? — murmurei
sem conseguir desviar meus olhos daquelas imensidões azuis.
— Não, você não tem, sou apenas eu a única pessoa que você vai ter
pelo resto da sua vida — a possessividade dele sempre presente em todas as
suas falas firmes.

— Ótimo, caso algo ocorra, vou ligar para a única pessoa que eu
tenho — sussurrei percebendo em minha fala a birra presente.

— Boa garota. — Abaixando a sua cabeça, aproximou o lábio da


minha testa e deu um beijo.

Só faltou dar dois tapinhas no meu rosto como se estivesse me


tratando como o seu animalzinho de estimação.

Aquela foi a nossa despedida, ele se virou me deixando ali sozinha,


olhando para a porta fechada, a casa enorme vazia, aquelas bolsas
espalhadas pela sala, nem ao menos se deu conta de que não me mostrou a
casa, nem falou onde seria o meu quarto.

Mas aquilo não se tornaria um problema, pois eu ia descobrir.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

Adentrei todos os quartos da casa, escolhendo o maior deles, sem


saber se meu marido ia dividir o aposento comigo. No segundo andar tinha
quatro cômodos, e dois deles estavam vazios quando o último parecia um
quarto de visitas, me vindo à mente se aqueles dois aposentos vazios eram
para os futuros filhos dele.

Tudo estava perfeitamente arrumado, o quarto que devia ser


considerado o do casal era enorme, a suíte tinha uma banheira redonda.

Sem nada para fazer levei todas as bolsas para o andar de cima,
deixando-as no closet, as diversas subidas e descidas de escadas, me
fizeram até mesmo suar.
Quando estava levando a última bolsa ouvi o barulho da porta sendo
aberta, por uma curta fração de segundos cheguei a cogitar que podia ser
meu marido, mas era apenas Dexter.

— Senhora Zornickel — o homem me saudou segurando em sua mão


algumas sacolas de comida. — Alimentos para a senhora.

Apenas assenti indo até ele e pegando as três sacolas de sua mão, não
eram pesadas.

— Meu marido, onde está? — perguntei, mas o homem apenas me


lançou um olhar com pesar e respondeu.

— Trabalhando — sendo vago, se virou me deixando sozinha.

Claro que Dexter não responderia, era fiel demais ao seu chefe.

A noite caiu, e nem ao menos rastros de Yago eu tive, a casa era


ainda mais solitária no período da noite, os homens do meu marido
vigiando a residência pareciam até mesmo fantasmas do lado de fora.

Dexter deixou duas marmitas prontas, pensei que era uma para mim e
outra para o meu marido, foi quando ele não apareceu em nenhum momento
que percebi que as duas eram para mim.
Passei a tarde arrumando o closet, e nem ao menos terminei ainda
porque ficaram algumas sacolas com roupas, pela forma que se dividiam os
espaços entre o closet, deduzi que um lado era meu e outro de Yago, por
aquele motivo apenas usei um dos lados.

Cheguei até mesmo a tomar banho na banheira, procurei por lâmina


de barbear e não encontrei nada, assim mantendo a minha coleguinha
daquela forma.

Bocejei parando ao lado da cama, que estava com cobertas. A


residência só não tinha alimentos, e roupas do meu marido, pois de resto
estava totalmente completa. Vendo a televisão fixa na parede, busquei pelo
controle, encontrando-o no móvel ao lado da cama.

Escolhi um programa qualquer de culinária, meu cansaço era tanto


que apenas deixei a televisão ligada para me iludir que não estava sozinha.

Apertei meus olhos quando a cama ao meu lado afundou, estava em


um sono leve, podia sentir o exato momento em que alguém se sentou ao
meu lado. A televisão não falava mais, o silêncio preenchia o ambiente
novamente.
Puxei a minha respiração suavemente e pude sentir aquele cheiro se
impregnar no meu olfato, nicotina, perfume almiscarado, uísque..., mas o
que fez os meus olhos se abrirem foi a leve fragrância de perfume de
mulher.

A luz do abajur estava acesa, o que permitiu que eu conseguisse ver


Yago sentado ali. Ele tinha os olhos fixos em mim, ambos em silêncio
ficamos nos olhando por longos segundos, como se um esperasse pelo outro
para falar. Mas nenhum falou quando ele se levantou indo para a suíte.

Sem entender o que tinha acontecido voltei a ficar sozinha, aquele


cheiro de perfume feminino me deixando reflexiva, onde ele estava?

Passando a mão por baixo do travesseiro peguei o celular, apertando


o botão apenas querendo ver o relógio, quando o que me chamou a atenção
foi a notificação de mensagem do meu marido, o único contato salvo na
minha agenda.

Estava escrito: “Desculpa, errei com você”.

Diante daquelas palavras a única coisa que me veio à mente foi


apenas o fato dele estar com outra mulher. Enquanto passei o dia sozinha, a
noite solitária, vendo o horário, arregalando meus olhos ao constatar que
eram três horas da manhã.

Esperei que Yago saísse do banheiro, sentei na cama, puxei a coberta


para perto de mim, deixando o celular ao meu lado, não tinha o hábito de
mexer naquilo, e não seria agora que ia criar.

Ouvi o momento em que o chuveiro desligou. Levei a ponta do meu


dedo à boca apreensiva. A porta se abriu quando ele saiu com uma toalha
enrolada na cintura, nossos olhos imediatamente se encontrando.
— Tem algo para me falar? — Já que ele não queria falar, seria eu a
fazer a primeira pergunta.

— Não — foi vago indo até os pés da cama onde havia uma bolsa de
couro, abriu-a e tirou de dentro uma calça social.

Fiquei olhando-o, esperando que fosse tirar alguma roupa de dormir,


mas não o fez, deixando explícito que não ia dormir.

— Vai aonde? — Fiz outra pergunta.

— Preciso sair — foi vago outra vez.

— Acredito que mereço saber o motivo dessa mensagem. —


Desbloqueei o celular apontando o visor para ele.

— Não existe motivo, foi apenas uma mensagem, e nela está tudo
muito bem explicado. — Seus olhos apenas brevemente me olharam
quando os abaixou novamente.

— Explicado? Não tem nada explicado aqui, errou? Errou por qual
razão, não se manda uma mensagem assim e espera que a outra pessoa vai
apenas ler e ficar “ah, que legal, ele errou comigo”, errou, por quê? Ficou
com outra mulher? Fez algo que poderia me machucar? Se você é
acostumado a não dar respostas, é bom que não largue mensagens cifradas
pelo ar e julgue que a outra pessoa ficará quieta — como uma metralhadora
passei a falar sem parar.

Meu marido soltou uma longa bufada de ar, percebendo o quanto


podia ser irritante.

— Não traí você — retrucou.


— Não? E esse perfume na sua roupa? Não vem me dizer que é da
sua mãe, conheço a essência pelas clientes que frequentavam o bar,
provavelmente as mulheres da sua família devem usar algo muito melhor
que isso, considerando o tanto de coisa de grife que tem me dado. — Ele
tentou sorrir, o desgraçado tentou sorrir.

— Às vezes a forma com que é observadora me pega meio


desprevenido, tem apenas a carinha de inocente, Felicie, é mais esperta do
que eu esperava — Yago parecia ter orgulho na forma de falar, mas para
mim aquilo não era motivo para se orgulhar

— Está me chamando de burra? Casou comigo julgando que estaria


em um casamento com uma mulher burra e superficial? — Apertei a minha
mão sobre aquela coberta.

— Não eu não te chamei de nada disso... bem... embora realmente eu


tenha me casado com você achando que seria mais fácil. — Pigarreou.

Não falei nada vendo Yago pegar as suas roupas e voltar para o
banheiro, onde demoradamente se trocou e logo em seguida saiu, estava
impecavelmente arrumado, o cabelo loiro penteado para trás, parecendo um
príncipe do mal.

— Vai me deixar sozinha novamente? — perguntei em um fio de


voz.

— Tenho assuntos para tratar — sempre sendo vago.

— Da próxima vez que pretender fazer isso, voltar no meio da


madrugada, tirar o meu sono, mandar uma maldita mensagem sem nexo,
não venha, não mande mensagem, me deixe sozinha, não interrompa o meu
sono, fique com essa outra mulher com quem estava, mas apenas me deixe
ter uma noite de sono em paz. — Sem olhar na direção dele me deitei na
cama.

Apaguei a luz do abajur para que tudo ficasse escuro e eu não visse a
cara dele.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

O quarto se tornou escuro, meus olhos fixos na cama onde não


enxergava nada, naquele momento tudo que queria era agarrar aquela
pequena criatura de língua solta, aquele meio metro não condizia com a
quantidade de palavras que saíam da sua boca.

Felicie irritada parecia um cachorro fofo querendo latir raivoso.

Não traí a minha esposa, teoricamente de acordo com o que deixei


explícito, por mais que não tivesse dado detalhes, podia fazer aquilo quando
bem entendesse. Mas obviamente, não ia trair aquela pequena, não naquele
momento quando tudo que eu queria era o calor do corpo dela. As curvas
delicadas, a boca que desatava a falar.
Sei que ela sentiu o perfume na minha roupa, não devia ter me
sentado ao lado dela, mas me sentei, pois queria vê-la dormindo, o modo
como seu semblante ficava relaxado quando dormia.

O cheiro na minha roupa era do maldito perfume do bordel, tivemos


um problema lá com um dos capitães, o qual matou uma mulher, e nesse
meio tempo que estive naquele lugar, Nora fez o desserviço de mandar duas
das suas garotas se esfregarem em mim enquanto eu ordenava a limpeza do
lugar.

Quase acabei matando mais alguma das putas, isso porque odiava
quando vinham se esfregar em mim e não solicitara aquele tratamento.

Agora estava aqui, parado, olhando para o nada, minhas mãos


suavam diante da necessidade de avançar até aquela pequena e deixá-la
perceber que naquele momento ela era suficiente para mim. Apenas naquele
momento, ao menos aquilo era o que eu esperava.

Passei a caminhar, sentindo minhas pernas baterem ao lado da cama,


sabendo que estava onde queria, do lado da minha esposa.

Abaixei-me, com facilidade e encontrei os ombros dela, que segurei,


empurrando-os para trás.

— O que falou, pequena? — sussurrei, podendo sentir a respiração


dela se tornar ofegante.

— Mandei voltar para a sua outra mulher — sem pestanejar, mas


com a voz temerosa ela respondeu.

— E por qual razão teria outra mulher? — perguntei abaixando o


meu rosto, parando quando pude sentir a respiração dela se chocar com a
minha.

— Não queira achar que eu sou boba, senti em sua camisa o cheiro
de perfume feminino, pelo menos foi sensato em se banhar. — Notei que no
escuro ela não me via e abri um pequeno sorriso.

— Se tem algo que não acho sobre você é isso, pequena, você não é
boba, às vezes um pouco ingênua. — A mão de Felicie rapidamente agarrou
no meu paletó, desajeitadamente, apenas querendo me empurrar para longe
dela.

— Estou com sono! — sabia que ela falou aquilo para me afastar
dela.

— Engraçado, pois acabara de falar que fiz com que perdesse o seu
sono — murmurei aproximando ainda mais o meu rosto do dela, querendo
tocar o meu lábio sobre aquelas pétalas de rosa, de tão suaves e macios que
eram os lábios dela.

Felicie virou o rosto, devia ter previsto que eu a beijaria. Estava


sendo mais difícil do que esperava lidar com a pequena fera.

— Vai me negar um beijo? — murmurei.

— Pode ter beijado outra mulher e eu tenho nojo de tocar os lábios


que há poucos minutos podem ter estado sob outra boca. — Apertei com
um pouco mais de força o ombro de Felicie.

— Falei que não estivesse com outra mulher — declarei entredentes.

— Não, você não falou — minha esposa me confrontou. — Deixar


escrito nas entrelinhas não faz isso afirmar algo, pare de mandar frases
cifradas, fale explicitamente, esteve com outra mulher, Yago?
Até mesmo quando ela me chamava pelo meu nome, com os lábios
levemente carnudos, com aquela voz, aveludada.

— Não, Felicie, eu não estive...

— Então, por quê? Por que tinha cheiro de mulher na sua roupa? —
Diante de tamanha convicção dela, minha esposa impulsionou a mão em
meu paletó sentando-se na cama, meu rosto foi vagarosamente para trás, o
nariz dela roçando o meu. Podia sentir a respiração ofegante de Felicie.

Ela queria uma resposta minha, porra! Era por isso que não queria
um casamento de verdade, por aquela razão, ficar dando para a minha
esposa satisfação de onde eu fui. Era assim que começava, logo ia estar
igual a um lunático precisando avisar até mesmo quando ia ao banheiro.

— Não está contente com a minha resposta? Falei que não fui para a
cama com ninguém, mas se ficar nessa cobrança vou fazer questão de estar,
assim vai ter razão para ficar bravinha!!! — Segurei nos dois pulsos de
Felicie e a empurrei para trás, com um pouco mais de força do que
esperava.

Minha esposa se chocou na cama, reclamando diante do meu


empurrão.

Rapidamente acendi a luz do abajur, assustado, achando que podia tê-


la machucado. Meus olhos se adaptaram na pequena deitada, passando a
mão na cabeça. Apoiei o meu joelho na cama, me certificando se a tinha
machucado.

Sem esperar que ela falasse algo, empurrei o seu cabelo para o lado, e
percebi que não tinha acontecido nada.
— O que está fazendo? — a mulher logo perguntou querendo se
esquivar de mim.

— Me certificando de que não a machuquei — respondi vendo-a ir


para o outro lado da cama. Seus olhos azuis intensos se encontraram com os
meus.

— Como pode? Como pode ir de um tremendo babaca para um


marido preocupado? — murmurou como se tentasse me desvendar.

— Isso porque sempre irei me preocupar com a minha esposa,


mesmo ela sendo impulsiva e invasiva — respondi.

— Não sou invasiva, somos casados, o mínimo que poderia falar era
onde estava!

— Somos casados sim. Apenas esqueceu que isso nunca será um


casamento de verdade, vamos agir como tal, mas certas coisas não vão ser
necessárias falar, uma delas é aonde eu vou, ou deixo de ir. A começar por
assuntos que se tratam do meu clã. — Felicie puxou a coberta, pela forma
com que apertava o tecido, nitidamente, se controlava, mas sabia que ela
não conseguiria, falar...

— Claro, assuntos do clã, os seus irmãos também têm como assunto


sair e voltar com cheiro de perfume de mulher? — Ali estava a minha
esposa reativa.

— Isso não é da sua conta...

— Claro, nada é da minha conta, como exatamente vamos ter um


casamento tranquilo assim como você falou que seria, se nem ao menos me
conta as coisas? — Felicie me cortou.
— Talvez eu tenha me enganado ao seu respeito, cheguei a cogitar
que poderíamos, sim ser um casal tranquilo, quando nitidamente não somos.
— Virei-me, dando as costas para ela, antes de passar pela porta, falei sem
olhar nos olhos de Felicie. — Às 9 horas vou passar aqui para te pegar,
vamos até a sede, a minha família precisa descobrir a merda em que eu me
envolvi.
CAPÍTULO VINTE E SETE

Parei em frente ao closet, olhando aquelas muitas roupas, qual roupa


se usava para conhecer a família mafiosa do seu marido?

Estava atrasada, sabia que em breve Yago ia aparecer para me buscar,


acabei dormindo demais, primeiro não conseguia dormir, e quando o sono
apareceu, foi como se me entregasse como uma pedra.

Levei um susto quando a porta do closet se mexeu, abrindo-a,


rapidamente, inutilmente quis tapar a minha lingerie com as mãos, quando
meu marido desceu os olhos pelo meu corpo. Sem nem ao menos disfarçar,
como se eu fosse um pedaço de bolo do mais apetitoso.
— Ainda não se trocou? — perguntou com a voz contendo aquele
timbre rouco.

— Não sei qual roupa usar. — Ele lançou seus olhos para as roupas
que eu já tinha arrumado.

— Arrumou praticamente tudo — admirado ele falou.

— Não é como se eu tivesse muita coisa para fazer — sussurrei


vendo-o caminhar em direção aos vestidos.

— Tem um vento fraco lá fora, pode usar esse vestido. — Pegou um


tecido azul-marinho, estendendo-o para mim.

— Deixa aí que eu já pego. — Movimentei a minha cabeça.

— Sabe que eu já te vi sem roupas. — Revirou os olhos ainda com o


vestido esticado para mim.

— Sim, eu tenho uma memória muito boa por sinal, mas acontece
que eu não quero que me veja nesse momento, afinal nosso casamento não
é... como eu posso dizer... um casamento de verdade, isso não inclui fazer
coisas que casais normais fazem, sabe, do tipo trocar de roupa um na frente
do outro. — Dei de ombros, fazendo-o cair na própria armadilha quando
não quis me falar aonde foi.

Yago ficou me olhando por longos segundos, com uma suspirada


pesada, deixou o vestido sobre a prateleira, sabendo que aquela discussão
eu tinha ganhado.

— Feche a porta quando sair. — Virei-me para que Yago não tivesse
a visão da minha bunda.
— Vejo que é realmente muito boa de memória, boa até mesmo para
jogar minhas palavras contra mim mesmo...

— Podemos ter uma boa convivência, marido, afinal é só ninguém


falar um da vida do outro, assim como você não quer me contar aonde vai,
também não preciso falar sobre a minha rotina, ou mostrar o meu corpo,
afinal não somos um casal de verdade — fiz questão de frisar novamente,
dando o meu melhor sorriso forçado.

Yago outra vez ficou me olhando por longos segundos, repensando


em todas as suas ações comigo.

Sem falar nada se virou fechando a porta junto dele. Fiquei ali
sozinha, vesti o vestido, o qual tinha um zíper nas costas, obviamente não
conseguiria fechar, será que esse foi o intuito dele? Fazendo com que eu
pedisse a sua ajuda? Pois naquele momento o meu orgulho seria maior,
olhei os outros e percebi que havia vários de manga longa, pegando um sem
zíper.

Troquei as duas peças, dessa vez colocando um em um tom de verde-


musgo, ficou um pouco justo em meu corpo, o decote quadrado disfarçou
meus seios, isso devia ser bom para conhecer a família do seu marido pela
primeira vez.

Peguei um dos saltos pretos, calçando-o, meu cabelo já estava


arrumado, soltos um pouco abaixo da altura do meu ombro, como Yago
tinha até mesmo comprado maquiagem, passei o básico antes de escolher
qual roupa ia usar.

Borrifando o perfume saí do closet, e encontrei com o meu marido


sentado na cama, mexendo no meu celular.
— Ei! Deixei você pegar o meu celular? — Fiz uma careta querendo
ir até ele pegar o meu aparelho.

Os olhos dele se ergueram, e franziu a sobrancelha ao perceber que


não estava com o vestido que ele escolhera.

— Por que não usou o vestido que te dei? — Levou o celular nas
suas costas para que eu não o pegasse.

— Aquele vestido tinha zíper, e eu não queria a sua ajuda — fui


direta estendendo a minha mão para que me desse o aparelho.

Não tinha nada acusatório nele, mas tinha fotos, fotos minhas que
tirei ontem quando provei algumas roupas, no bloco de anotações alguns
poemas que eu gostava de escrever, tinha vergonha que ele pudesse ver, ou
até mesmo rir de mim por aquelas fotos, ou poemas.

— Acha mesmo que me aproveitaria de um simples fato para ficar


perto de você quando posso simplesmente fazer isso. — Deixou o meu
celular na cama, segurou com força na minha cintura, abriu as suas pernas e
me colocou no meio delas. — Esqueceu que nosso casamento é de fachada,
mas dentro de você precisa crescer um filho meu? Então, eu ainda tenho
poder sobre cada uma dessas curvas até termos certeza de que aqui dentro
cresce o meu filho.

Arfei quando Yago arrastou o seu nariz em minha barriga, a mão


descendo pela minha perna, resvalando na minha meia fina.

— Eu te odeio tanto por essa cláusula — resmunguei com a minha


voz entrecortada pela respiração falhando.
— Odeia, esposa, odeia mesmo ser tocada por mim? Engraçado, pois
mesmo usando essa meia fina posso sentir a sua perna arrepiada, achou uma
lâmina para cortar os pelos da sua boceta? — perguntou erguendo o seu
rosto, nossos olhos se encontrando.

— Não, procurei, mas não encontrei...

— E não vai encontrar, pois tirei todas elas dessa casa, porque eu que
vou depilar a boceta da minha esposa. — Arregalei meus olhos quando
Yago se levantou da cama.

Nosso clima que estava carregado pela discussão naquele momento


dominava a tensão dos nossos corpos. Meu marido segurou nos dois lados
do meu rosto, roçando seu membro que parecia ereto em meu vestido.

— Está vendo o que faz comigo, está sentindo? — murmurou ao


abaixar o seu rosto, o nariz tocando o meu.

— Sim, estou me sentindo muito bem — murmurei sentindo minha


face corar.

— Então quer dizer que sabe o poder que seu corpo tem sobre o
meu?

— Assim como o de qualquer outra mulher deve ter, enquanto não


me falar onde estava na noite passada, pode ter tudo de mim, mas será
contra a minha vontade. Acredito em você quando disse que não estava com
outra mulher. Mas se você quer impor milhões de regras, eu tenho uma,
meu corpo, minhas regras, e eu não vou beijar, consensualmente o homem
que acha que não mereço saber onde estava. — Virei o meu rosto ao
perceber que ele queria me beijar.
— Outra vez isso, Felicie? — Yago bufou.

— Deveria ter feito uma entrevista comigo antes de nos casarmos,


afinal não me conheceu, e eu também não te conheci direito, provavelmente
ambos erramos. — Eu tinha uma mania de adorar jogar as coisas que ele
falou para mim, contra ele novamente.

Depois do balde de água fria que joguei sobre nós, meu marido
segurou em meus dedos, seguindo em direção à porta.

Pelo visto agora iríamos conhecer a família dele. E com toda certeza
do mundo, não estava preparada para estar em uma casa cheia de mafiosos.
CAPÍTULO VINTE E OITO

O carro saiu pelo portão da nossa casa, queria perguntar se tinha


como chegar na sede pelo lado de dentro, mas o tratamento de silêncio que
um estava dando para o outro fez com que mantivesse a minha boca calada.
Sem mencionar o frio na minha barriga que vinha a todo momento.

Esfreguei uma das mãos sobre a outra, vendo o carro adentrar o outro
portão. Queria fazer uma nova pergunta, mas se fizesse aquilo era como se
eu desse o próximo passo, mas como não sei controlar a minha língua,
acabei falando:

— Sua família sabe?

— Não. — Arregalei meus olhos, encontrando com os dele.


— Não sabe? Não falou nada? Você não veio aqui ontem? E se
algum deles me matar? — passei a ativar meu modo metralhadora.

— Caralho, você nem ao menos toma fôlego para falar tudo isso —
Yago resmungou parecendo irritado. — Não falei, afinal, por que vou forçar
dois momentos irritantes, se posso fazer em um único? E ninguém vai te
matar, garota.

Balançou a cabeça de certa forma parecendo que eu fosse louca.


Bom, quando ativava o modo metralhadora até mesmo eu me achava meio
doida. Como se toda a voz que me foi privada uma vez agora viesse à tona.
Ou talvez se devesse ao fato de não ser mais aquela menina medrosa, ou ao
menos tentando não ser, tipo quando davam asas a alguém que não sabia
voar, querendo ir cada vez mais longe. Sem deixar que mais ninguém
passasse por cima dos meus princípios.

Paramos em frente à casa, abaixei o rosto pela janela, admirada com


o tamanho daquilo, por Deus, era bem maior do que eu esperava, como se
fosse um castelo medieval.

Minha porta foi aberta, podia jurar que devia estar babando. A mão
do meu marido foi estendida para mim.

— Vai vir? — Tirou-me do meu devaneio.

Segurando em sua mão, sentindo-a quente, ele não tinha usado mais
aquela boina, e as luvas de couro, não devia estar sentindo frio para não
usar aquilo. Meus pés tocaram o chão de cascalho. Toda a volta daquela
sede era feita de gramado, árvores. Devia ser lindo aquele lugar quando
estava nevando.
— Quer um pano? — Yago perguntou fazendo com que virasse o
meu rosto para ele.

— Isso é lindo demais — murmurei fascinada.

Meu marido puxou suavemente a minha mão fazendo com que eu o


acompanhasse. Aproximamo-nos de três lances de escada, como se
estivéssemos sendo esperados e a porta se abriu. Por ela uma senhora que
nem ao menos olhou direito para o meu marido apenas assentiu. Devia ser a
governanta, afinal, aquela casa enorme devia ter uma governanta.

Passamos pela senhora, sem soltar a minha mão, meu marido foi por
aquele lugar, meu salto tilintando suavemente no chão. Ainda admirada,
olhando tudo à minha volta, era tudo muito estiloso, moderno, grande, com
lustres enormes.

Sem me avisar, adentramos em uma sala repleta de pessoas em um


lugar amplo, dois sofás enormes naquela grande sala. Um lindo piano de
cauda aos fundos do ambiente, aquele instrumento sendo maior do que
aquele tinha na nossa casa. Aquela era a família dele? Apertei a mão de
Yago com um pouco mais de força, ao menos ele podia ter me avisado que
todos estariam ali reunidos.

Todos ali presentes nos direcionaram um olhar interrogativo, nem ao


menos consegui contar quantas pessoas haviam ali, mas se pudesse chutar
um número, deviam ser umas sete. Eles no mínimo se perguntavam o que
estava acontecendo.

— Bom, conheçam a minha esposa — aquilo foi tudo que ele falou,
arregalei meus olhos, ele não podia preparar o território, não podia me
apresentar primeiro? Precisava ser assim, seco, sem nem ao menos suavizar.
Obviamente os homens ali presentes se levantaram, não sabia quem
são eles, não sabia nada sobre a família de Yago.

— Como é que é? — um deles perguntou, o mais tatuado dentre eles,


contendo até mesmo tatuagens em sua cabeça ao lado do cabelo, no corte
curto.

— Isso mesmo que ouviu, não queriam que eu me casasse, aqui está
a minha esposa, Felicie Zornickel. — Meu marido deu um empurrãozinho
nas minhas costas, como se me empurrasse para os leões, dei dois passos
ficando mais próxima do centro da sala

Quando ele pronunciou o sobrenome, os que não tinham acreditado


passaram a acreditar.

— Luna, leve os meninos para o quarto de brinquedos — o homem


tatuado sentado em uma poltrona pediu para a mulher pequena levar os dois
meninos que estavam ali na sala.

Pronto, aquele ia ser o momento que acabariam comigo.

— Sim, querido. — A mulher me olhou rapidamente, levantando-se


do sofá onde estava, seus olhos azuis contrastavam com os cabelos negros,
me fazendo ficar fascinada na beleza daquela mulher.

Por ela o ter chamado de querido, devia ser a esposa dele. O que me
fez ficar confusa, será que eles eram simpáticos com suas esposas?

A tal de Luna, pegou a mãozinha das duas crianças que estavam


brincando no centro da sala.

Assim que as crianças saíram um outro homem se manifestou, aquele


parecia ter o cabelo mais espesso, até mesmo com alguns cachos.
— Ficou maluco? Porra, Yago!!! — o homem gritou me causando até
mesmo medo, dando um passo para trás, segurei com as minhas duas mãos
sobre as do Yago ao meu lado.

— PAPAI! — O grito infantil veio de uma menina que surgiu dos


fundos, com ela tinha uma outra mulher, essa era mais alta, de longos
cabelos loiros e um olhar suave, as esferas escuras combinando com a
beleza daquela mulher.

O homem que acabara de dar um grito rapidamente mudou o


semblante, sorrindo para a pequena menina de cabelos loiros, com os olhos
muito parecidos com o do pai dela.

— Meu doce. — A visão dele se abaixando e dando um beijo na testa


da menina foi bem mais do que eu esperava, não falavam que esses homens
eram ruins?

— Eu... hãn... me desculpem, não sabia que estavam tendo um


conflito. — A loira pigarreou e parou ao lado de quem devia ser o seu
marido.

— Tudo bem, Belinda, se puder, leve Yelena com você para o quarto
de brinquedos. Luna já está lá — quem pediu foi o tatuado, estava quase
implorando para que aquela pequena criança ficasse talvez eles não me
matassem se tivesse uma menina presente.

— Que tal irmos brincar com os primos? — A loira que


aparentemente se chamava Belinda falou com a filha.

Presenciei o momento em que Belinda trocou um olhar com o seu


marido, aquele de cabelos que pareciam cacheados, ele piscou um olho para
ela, sorrindo de forma genuína, explicitamente eles se amavam.
— Meu docinho, papai já vai lá te pegar para irmos brincar. — O pai
passou a mão no cabelo da filha, que foi saltitando em direção à mãe, que
segurou na mão dela, e quando elas estavam próximas da escada, a pequena
menina de beleza radiante parou de andar, olhando para trás.

— Ah, vovô, essa noite eu sonhei que você me dava uma deliciosa
barra de chocolate.

Ela passou a língua em volta do lábio, alisando a barriga com a mão,


fazendo graça. Quase sorri daquela cena achando muito fofa, aquilo se não
estivesse prestes a possivelmente morrer.

— Ah, que sonho interessante esse. — Virei o rosto em direção de


quem tinha falado, o homem com uma bengala.

Mesmo que fosse um senhor com mais idade, era nítido naquele
olhar que eu via o meu marido ali, xerocado no pai dele, uma versão com
cabelos mais escuros, sendo que os de Yago eram de uma tonalidade mais
clara.

As duas se foram e ali com aquela garotinha foi a minha


oportunidade de permanecer viva. Tinha quase certeza de que iam me
decapitar.

Talvez estivesse sendo um pouco exagerada, ou apenas era uma


medrosa.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

Continuava encolhida no meu canto, me perguntando se realmente


meu marido ficaria ao meu lado caso algo acontecesse comigo, será que ele
sairia em minha defesa?

Yago nem ao menos parecia estar se importando comigo, como se


fosse apenas uma tática absurda de falar para todos que agora tinha uma
esposa.

— Vamos manter uma conversa civilizada, sem gritos e histerias? —


a única mulher presente ali falara.

Aquele rosto me parecia familiar, o rosto da mulher que encontrei


andando na calçada da nossa comunidade. Obviamente ela não devia se
lembrar de mim, mas aquela beleza nunca passaria despercebida por mim.

— Como manter uma conversa civilizada quando o meu irmão


aparece casado? — o mesmo que gritou antes voltara a falar.

— Mamãe tem razão, gritos não vão nos levar a lugar algum. — O
tatuado se voltou para mim. — Será que ao menos pode apresentar a sua
esposa? Não cometeu a loucura de se casar com alguém que não sabe nada
sobre a vida, não é mesmo?

Ergui meu rosto esperando que Yago falasse algo.

— O nome dela vocês já sabem, Felicie, sei o suficiente sobre a vida


dela...

— Ótimo, será que sempre preciso ser o mais sensato dessa casa? Ele
sabe o suficiente, o suficiente para colocar uma infiltrada entre nós, e poder
nos matar. — Aquele de cabelo meio cacheado chegava a passar a mão em
seu cabelo diante da impaciência.

— Se serve de consolo eu não conseguiria nem ao menos matar um


animal indefesso que dirá um ser humano. — Talvez o fato de ter falado fez
com que todos olhassem para mim, meu marido puxou minha mão, e eu
ergui meu olhar sussurrando: — Ah, eu não podia falar?

— Apenas não fale — Yago retrucou.

— Então, você entre na minha defesa, se eu sair daqui em um caixão,


eu volto dos mortos para te levar comigo, tá vendo esses olhares raivosos,
você sabe sim bastante coisa sobre mim, mas se acharem melhor posso
listar, não estou a fim de virar churrasco de mafiosos. — Virei meus olhos
para todos ali percebendo que até mesmo o mais irritado de todos eles se
segurava para não gargalhar.

— Adoraríamos saber mais sobre você, querida, a propósito, eu sou


Zara, a mãe, hum... do seu marido. — Arregalei meus olhos quando ela se
apresentou como mãe de Yago, aquela mulher parecia mais a irmã dele do
que mãe. — Esse aqui é o meu filho mais velho, Yan. Esse aqui não é o
mais irritado de todos, mas ele se acha o dono da razão, Yank, o meu
segundo filho, e por último, meu marido Heinz.

A senhora fez o que o meu marido não fez, as apresentações, tocando


o ombro de cada um deles.

Não sabia o que fazer, devia dar um aperto de mão? Ficar quieta no
meu canto? Por sorte a senhora veio na minha direção, Yago soltou a minha
mão e ela me abraçou, tínhamos a mesma altura, o cheiro delicioso de Zara
impregnando em meu olfato.

— Seja bem-vinda à nossa família — ela falou, se afastando e


segurou na minha mão, ao erguer os olhos para o filho, semicerrando-os.

Claramente a mãe não aprovara a atitude do filho.

— Você é aqui da comunidade? — Zara perguntou me puxando para


o sofá, fazendo com que me sentasse ao lado dela.

Meu marido ficou de pé, como se estivesse querendo manter


distância do pai dele.

— Sim, ela é da comunidade — Yago foi quem respondeu, mas a


mãe seguiu ignorando o filho.
Todos ali presentes queriam saber sobre mim. E eu não os julgava,
afinal Yago soltou aquela bomba e esperava que os familiares que
aparentemente não recebiam ninguém de diferente no círculo social
aceitassem bem.

— Meu nome é Felicie Ludwig, perdi meu pai com cinco anos para
um acidente de carro, minha mãe não suportou a perda do marido e tirou a
própria vida quando eu tinha sete anos, com essa idade fui morar com meu
irmão e a esposa dele, que ela já tinha filhas gêmeas. Minha cunhada não
era a melhor pessoa, e durante todos esses anos foi como se eu fosse a
empregada deles, e a pessoa que mais deveria me proteger não queria cuidar
de mim que era o meu irmão. Mas bem, eu tinha um lugar onde dormir,
uma mesa onde comer. E isso foi o bastante por todos esses anos — passei a
falar um pouco de como era a minha história, algo que possivelmente nem
mesmo meu marido sabia.

— E como vocês se conheceram? — o irmão mais velho dele, Yan


perguntou.

— Em um baile de máscaras — respondi prontamente.

— O baile? — Yan olhou meio admirado para o irmão que


obviamente não falou nada, dando de ombros.

— É, o baile, eu pedi meu primeiro beijo e ele me deu. — Talvez eu


tivesse feito aquilo para deixar o meu marido um pouco constrangido
perante a família dele.

— Sem detalhes, Felicie, você não conhece as cobras caninanas que


tenho como irmãos. — Yago torceu o lábio para mim.
— Na verdade, ele só me reencontrou, pois, alguns dias antes eu
tinha me cortado no bar onde eu trabalhava e ele me ajudou com o sangue
que tinha em meu dedo, na ocasião eu usava em meu pescoço um colar. E
naquele momento ele se lembrou de mim pelo meu colar, que estava em
meu pulso no dia do baile, pois não queria ficar sem ele, e a minha família
não podia descobrir que eu estava lá, por alguma razão, o colar foi parar na
mão dele. E Yago foi atrás de mim no bar. Olha que incrível, marido, não é
que parece mesmo a história da cinderela, você me salvou. Pena que não é
um príncipe — resmunguei fazendo o meu marido semicerrar os olhos
irritado para mim.

— Querida, você pode contar mais, nunca soube tantos assuntos do


meu filho como agora. — Zara segurou na minha mão sorrindo
abertamente.

— Realmente de todos os meus filhos, o único que eu não esperava


essa loucura era você, Yago, o mais pé no chão, o mais sensato, que
continuasse solteiro, ao invés de fazer essa pobre jovem infeliz — o pai
tinha um tom autoritário com o filho.

— Não estavam me enchendo a paciência que precisava me casar,


pois bem, aí está a minha esposa, e tudo que ela falou, é verdade, preciso te
ensinar a omitir certos detalhes. — Yago parecia querer furar meus olhos
naquele momento.

— Ele não faz a minha vida infeliz não, disse que vai me dar o
mundo, às vezes fico me perguntando se arrematei o último romântico. —
Tinha percebido que era boa em debochar.

— Felicie — Yago grunhiu para mim.


— Ah, claro, esqueci, ele disse que vai me dar tudo, mas em troca ele
passa noites com outras mulheres, ou aparece no meio da madrugada
fedendo a perfume barato de mulher...

— Isso, porque ele foi resolver um assunto no bordel da Nora, não


tem quem não entre lá e não saia com cheiro de perfume de puta — foi Yan
que me cortou parecendo até mesmo que estava defendendo o irmão ou
querendo fazer uma possível discussão entre nós se tornar amenizada.

Voltei o meu olhar para Yago, ele os manteve sobre mim.

— Seria tão mais fácil se você soubesse dialogar — resmunguei.

— E você soubesse controlar a sua língua — meu marido retrucou.

— Yago — Yan chamou a atenção do irmão. — Você convive


conosco, sempre soube como era a vida de casado, mesmo assim resolveu
fazer esse casamento, e ao que parece com praticamente todas as intenções
erradas. Respondam uma coisa: o casamento já foi consumado?

— Sim — meu marido respondeu.

— Pode ter um filho seu dentro dela?

— Sim — Yago estava respondendo o questionário.

— Ótimo, ou você a trata bem, ou ela ficará nessa casa até termos
certeza de que dentro dela cresce um Zornickel. Nitidamente ambos não
estão se suportando, obviamente isso não daria certo, você odeia falar e dar
satisfação da sua vida, e ao que tudo indica ela é o oposto. Tome uma
decisão na sua vida, enquanto isso, ela ficará na nossa proteção — Yan
parecia o chefe de todos eles, tinha a voz altiva.
— Felicie é minha esposa, e vai voltar para a minha casa — Yago
falou sério.

— Primeiro, vai provar que vai saber cuidar dela, depois vai tirar ela
daqui — até mesmo o pai dele saiu em minha defesa, o que estava
acontecendo, como tudo se virou tão rápido?

Parecia que era o meu marido que estava contra mim. Ou eram eles
que sabiam mais sobre Yago do que eu mesma sabia?

Fiquei confusa olhando para todos à minha volta, sem saber o que
estava acontecendo ali na minha frente.

— Yago? — Chamei pelo loiro que por um bom tempo foi como a
visão de um príncipe para mim.

Ele ficou me olhando por longos segundos, até que finalmente falou.

— Eles têm razão, cometemos um erro, eu cometi quando te envolvi


nisso, estou te ferindo, tirando a sua essência, não merece alguém tão frio
quanto eu ao seu lado. — Abri minha boca diversas vezes sem entender.

— Venha, Felicie, vou te dar um quarto. — Zara se levantou do sofá


estendendo o braço para mim.

— Yago? — Sentia meus olhos se encherem de lágrimas, não


acreditava que ele ia colocar um ponto final, me deixar assim.

Droga, isso nem era um casamento de verdade!

— Vá, Felicie, você mesmo disse que isso era um erro. — Meus
olhos turvos se concentraram nas mãos apertadas dele, como se ele
estivesse lutando com os seus demônios.
— Você não tinha esse direito — retruquei. — Não tinha!

Segurei na mão da senhora antes que cometesse o meu primeiro


assassinato. Ele não tinha o direito de me prometer mundos e fundos, e na
primeira tropeçada desistir de mim, como se apenas a opinião dele
importasse, a minha não. Por mais que passássemos muito tempo brigando,
não era assim que planejava me afastar dele.
CAPÍTULO TRINTA

Vi minha mãe levar Felicie, os olhos marejados da minha esposa


refletindo na minha alma, que porra estava acontecendo comigo?

Não gostava das manias daquela garota, detestava a forma como ela
falava demais, inferno, estava querendo estrangulá-la há poucos minutos,
como que agora estava querendo gritar e implorar que ela viesse comigo
para a nossa casa, afinal o lugar dela era lá, ao meu lado, junto do marido
dela!

Voltei o meu olhar para o meu irmão, Yan sempre foi uma das minhas
referências, mas naquele momento estava odiando-o por ter tomado a
decisão de tirar a minha garota de mim, de ter me induzido a julgar que não
era bom pra ela.
— Porra, Yan, por que não fica na sua? — Rugi com o meu irmão.

Ele semicerrou seus olhos esverdeados na minha direção, franzindo a


testa.

— Eu? Você tem trinta anos, deveria ter convicção quando disse para
a menina ficar aqui, quem é o marido dela, é você, e não eu. Errei uma vez
quando quase afastei Yanni da esposa dele, mas esse caso é diferente, eu
queria que você tivesse ido atrás dela. Mas você não foi. E outra, não
separei os dois, continuam muito bem casados, Felicie está aqui, está
protegida. E se você fez dela uma Zornickel. Vamos protegê-la. — Yan
deixou a sua frase fechada, como se não quisesse que eu tocasse mais
naquele assunto.

— Interferiu no casamento de Yanni e não aprendeu, agora está


interferindo no meu casamento — grunhi começando a sentir a raiva
descontrolada se apossar de mim.

— Não foi apenas ele que interferiu, fomos todos nós — a única voz
que podia me fazer parar reverberou. Heinz bateu a sua bengala no chão,
assim fazendo meus olhos se encontrarem com os do meu pai. — Você,
Yago, de todos os meus filhos é o que mais tinha medo se acaso fosse se
casar, não revela seus sentimentos para nós, todos temos receio do que pode
fazer com aquela menina. Eu tenho receio, e olha que costumo não ter medo
de nada. Por uma época da minha vida, errei por muitos motivos com a sua
mãe, e não quero que erre com aquela menina.

— Não sou agressivo com Felicie — falei de repente para os


presentes.
— Fisicamente? E psicologicamente? Somos todos errados nessa
família, e se tem algo que conheço bem é a minha esposa, e sei que ela vai
abraçar aquela menina como se fosse filha dela assim como fez com todas
as noras. E saiba que quando decidiu se casar com ela, deveria ter parado e
pensado, na família que tem, na mãe que tem. Zara tem esse instinto
protetor, e pode ter certeza de que na sua mãe vai ter uma grande barreira,
ou trate a sua esposa como ela dever ser tratada ou...

— Não vou me separar de Felicie! — cortei o meu pai quando ele


deu a entender que ia dizer a palavra divórcio.

— Então passe a agir como o marido dela! Não titubeie na frente dos
outros, não faça ela quase chorar na frente de outras pessoas, não mande ela
se calar quando estiverem na presença de outras pessoas. E o mais
importante, se orgulhe da esposa que tem. — Meu pai sempre foi a minha
imagem de homem. Cresci vendo-o tratar a minha mãe com afeto e carinho,
nele tinha a imagem de um homem, de um pai, de um marido.

E sabia, que não era um terço igual a ele.

— Você mesmo disse que errou quando se casou com a mamãe.

— E é por esse motivo que tento abrir os olhos de todos os meus


filhos, ela pode estar grávida, não queira que ela fuja de você e passe dois
anos escondido e faça com que perca o nascimento do seu filho, o primeiro
ano dele. Se eu fui falho, quero que meus filhos não sejam.

Nunca foi segredo para ninguém que mamãe fugiu carregando o


primeiro filho do meu pai em seu ventre, Yan nasceu longe da nossa máfia,
mas papai a encontrou e a trouxe de volta. Quando ele a trouxe decidiu
mudar, e isso fez com que o casamento deles finalmente desse certo. Logo
que eles voltaram, mamãe engravidou de Yank. Yan tem trinta e oito anos,
Yank, trinta e seis anos, e apenas anos depois eles decidiram ter outro filho,
no caso eu, com trinta anos, e não satisfeitos, querendo a raspa do tacho,
achando que finalmente viria a tão sonhada filha da minha mãe, tiveram
Yanni quando Zara estava no resguardo, Yanni não tinha nem um ano de
diferença de idade comigo. Ele tinha vinte e nove anos, como recentemente
fiz trinta, logo ele me alcançaria.

Mamãe se conformou com seus quatro filhos homens e não quis


tentar um quinto, a possibilidade de vir outro homem era grande.

Todos os quatro filhos de Heinz viviam no seio da máfia, Yanni era o


que morava longe, em Nova Iorque, com a sua esposa e filhos, auxiliando
no comando da nossa filial junto do meu primo Owen Zornickel, o segundo
Subchefe.

Soltei um longo suspiro, a raiva ainda me dominava.

— Só peço algo para vocês, não interfiram na minha vida, me deixem


errar, não sou perfeito, e estou longe de ser, posso ter errado em propor que
uma garota que mal conhecia se casasse comigo, errei mais vou arcar com
as consequências. Eu decidi me casar com Felicie, e eu vou permanecer
casado com ela — decidido, falei para todos ali presente.

— Me orgulho de você por filtrar seus erros, encontrá-los e não


desistir facilmente, apenas frise isso para a sua esposa, afinal nós não somos
casados com você. Pelo que senti, ela sofre com o mesmo mal que nós
sobre você, a falta de diálogo. Entenda, se quer viver com uma pessoa, vai
precisar dialogar, ainda mais quando são apenas os dois. — Papai que
estava sentado, apoiou a mão na sua bengala e levantou-se.
A idade batia até para a pessoa que eu considerava ser a mais forte,
papai soltou um longo suspiro vindo na minha direção, não me movi, sem
saber o que ele pretendia fazer.

— Diante de toda essa bomba que lançou para nós, fico feliz em
saber que pude ver o meu último filho solteiro, casado, agora só resta trazer
o meu neto. — Segurou no meu ombro com a sua mão que não estava na
bengala e me puxou para um abraço.

— Cala boca, seu velho capenga, vai nos irritar por muitos anos —
retruquei de uma forma debochada, como sempre falávamos, e com uma
liberdade que somente naqueles momentos tínhamos.

— A idade vem, e às vezes vem com força. — Afastamo-nos, Heinz


ergueu a sua mão dando um tapinha em minha bochecha.

Papai tinha cabelos grisalhos misturados aos castanhos, a barba


sempre muito bem-feita, ele não se parecia com a idade que tinha, a sua
fisionomia era de um homem mais jovem, mas a perna sempre foi o seu
empecilho o que o fazia reclamar às vezes de dor.

— Cuide da sua esposa, e entenda que a melhor coisa na vida de um


homem é a mulher que está ao seu lado, não seja um babaca como eu fui
nos meus primeiros anos de casado, vou pedir que a sua mãe não interfira
no casamento de vocês. Mas qualquer deslize saiba que os braços protetores
dela vão estar abertos para Felicie — Heinz voltou a falar e eu apenas
assenti.

Não sabia o que falar, apenas queria aquela mulher que falava aos
quatro ventos, sem papas na língua, a forma doce com que sorria, que
suspirava, não podia permitir que Felicie ficasse longe de mim quando tudo
que eu queria era ela ali comigo, por mais que ainda não soubesse como
lidar com todas aquelas emoções que cresciam dentro de mim.
CAPÍTULO TRINTA E UM

A mãe de Yago abriu uma das portas para que eu entrasse primeiro,
olhando tudo à minha volta, parecia até mesmo um quarto de visitas.

— A senhora vai me achar muito tola se eu chorar? — pedi me


virando para ela, sem conseguir conter as minhas lágrimas.

— Pode chorar, minha querida. — Sorrindo para mim, Zara segurou


na minha mão me levando para a cama, onde me sentei.

— Estou com tanta raiva dele nesse momento, poderia socar aquele
rosto perfeito, esfolar ele no chão — falei sem pensar, com as lágrimas que
caíam por minha face.
— Te entendo completamente, já passei por muito disso. — Virei o
meu rosto, abrindo um sorriso forçado.

— Droga, estou aqui xingando o seu filho, bem na sua frente —


resmunguei.

— Ao menos você falou rosto perfeito, e convenhamos que todos os


meus filhos têm um rosto perfeito, na arte de fazer filho bonito, eu domino.
— Zara afagou a minha mão com carinho. — Saiba, querida, que estou aqui
por você, sei os filhos que criei, conheço cada um deles, cada
personalidade, e sei que você tirou a sorte grande de pegar o mais difícil.
Yago nunca foi de se abrir conosco, ele tem esse jeitão meio fechado, muito
ele herdou do pai, Heinz é da mesma forma. Até mesmo impulsivo.

— E... ele disse que ia me dar tudo, me fez mudar a minha vida, me
moldar na dele. E o mínimo que eu pergunto, ele não me responde. Que
maldito bordel é esse? Por que ele não falou que foi nesse lugar? É tão
difícil assim me falar das coisas? — perguntei passando a minha outra mão
embaixo dos meus olhos, querendo limpar as minhas lágrimas inutilmente
que não paravam de cair.

— Bordel da Nora é um bordel de beira de estrada onde tem muitas


meninas bonitas e acaba que quando eles eram solteiros iam lá...

— Incluindo o meu marido? — Zara balançou a cabeça afirmando —


Ele me disse que não ficou com nenhuma mulher, mas agora já não sei mais
o que pensar.

Apertei minhas pálpebras com força, a indecisão me tomando.

— Não é querendo defender Yago, mas se tem algo que ele não é, é
mentiroso, se ele falou que não ficou com outra mulher é porque
provavelmente não ficou, mas sim ele foi até o bordel na noite anterior.

— Qual é o problema de me falar? — questionei ainda confusa.

— Isso é uma incógnita que não vou poder te responder, é como se


aquele garoto fosse uma caixinha de surpresas, tudo que fala se torna algo
que nos deixa intrigados, pois nunca foi de revelar nada. A propósito, o seu
relato foi um grande fato para nós, afinal jurava que meu filho não sabia
como tratar uma mulher — os olhos de Zara brilharam ao falar do filho.

— Em certos momentos ele até é um príncipe, mas em outras a


vontade que tenho é de arrastar o rosto dele na parede. — Um sorriso se fez
presente em meu lábio, até mesmo a minha sogra sorriu.

Uma batida na porta fez com que nós duas erguêssemos os olhos, por
ela passaram as duas mulheres que eu vi antes na sala.

— Entrem, queridas — Zara falou, rapidamente tentei limpar minhas


lágrimas, mas foi meio em vão.

As duas mulheres apareceram na nossa frente, a loira a mais alta das


duas.

— Queridas, essa é a Felicie, a esposa de Yago. — Algo que com


certeza elas já deviam saber, mas Zara gentilmente fez a apresentação
formal. — Felicie, essa é a Belinda, esposa de Yank, mãe daquela garotinha
linda que você viu na sala, a Yelena.

— Ou apenas Beli. — A loira sorriu com elegância, levantei-me da


cama abraçando a mulher que era mais alta que eu.

Belinda tinha um cheiro suave e gostoso. Afastei-me dela, e Zara


apresentou a outra mulher.
— Essa é a Luna, esposa do Yan, mãe do pequeno Heinz e do Petrus.
— Sorri para ela, Luna tinha o mesmo tamanho que o meu.

— É um prazer, querida — Luna tinha a voz baixa e suave.

Trocamos um abraço apertando, a esposa de Yan possuía uma beleza


diferente das mulheres aqui do nosso país, muitos traços marcantes, ela
devia der latina, ou isso podia ser apenas uma suposição da minha cabeça.

Afastei-me da mulher. Ambas trocaram um rápido olhar com Zara.


Estava admirada com a beleza de todas ali presentes.

— Sei que as duas estão se mordendo por dentro para saber como
tudo aconteceu, na hora certa vão descobrir — minha sogra falou.

— Todos vocês moram aqui? — perguntei curiosa.

— Não, moro na casa que tem aqui ao lado. — Lembrei-me de ter


visto um caminho ao lado da sede, e um pouco ao longe uma casa.

— Ah, sei sim.

— Yago já te levou na casa de vocês? — Minha sogra queria saber,


afinal eles não sabiam de nada ainda.

— Sim, estávamos lá.

— E você gostou? Deixei dois quartos vazios para os meus netos. —


Zara pensara em todos os detalhes.

— A casa é perfeita, um lugar que jamais pensei viver antes, tentei


arrumar o closet ontem, mas Yago comprou mais roupa do que esperava —
declarei lembrando-me da bagunça que eu deixara.
— Comprou? — foi Belinda que perguntou.

— É, ele foi comigo no shopping comprar todas as minhas roupas,


cheguei a pensar que era a bonequinha de luxo, só se esqueceu de
mencionar o fato de que todas as roupas que eu tocasse ele mandaria a
vendedora pegar também, agora estou com uma quantidade exorbitante de
roupas. — Meus olhos brilharam diante do grandiosíssimo gesto que o meu
marido fez.

— Espera, Yago foi com você ao shopping? Estamos falando do


mesmo Yago? — Belinda parecia realmente surpreendida.

— É, existe outro nessa família? — perguntei olhando confusa para a


minha sogra, afinal existiam dois Heinz.

— Não existe não, querida, é apenas uma novidade para nós, ele
nunca pisou em um shopping com qualquer membro da nossa família,
muito menos comprou roupas para nós e pelo que entendi, ele comprou um
closet inteiro só para você. — Minha sogra se levantou da cama.

— É, eu não tinha roupas, e ele comprou tudo, absolutamente tudo


que eu precisava. — As três abriram a boca em um pequeno “oh”.

— Bom, podemos contratar uma chefe do lar para a sua casa, o que
você acha, assim terá alguém para auxiliar você? — minha sogra foi quem
falou.

— Será que aquela ainda vai ser a minha casa? — resmunguei sem
saber mais o rumo da minha vida.

— Bom, com tudo que ele aparentemente fez, obviamente não vai
deixar você ficar longe dele.
— Estaria sendo muito abusada se pedissem para contratar uma
pessoa? — pedi vendo a careta que a minha sogra fez.

— É que contratamos apenas afiliados ao nosso clã, existe todo um


código de ética por trás. — Zara sorriu com pesar.

— É que eu tenho uma pessoa, ela sempre fez tudo por mim, até
mesmo largou o emprego dela. Anali tem uma filha que precisa dela, um
marido acamado, tenho tanto medo de que ela não consiga um emprego e
foi a pessoa que mais fez por mim nesses últimos anos — mesmo Zara
falando que não tinha como, continuei a insistir no assunto.

— Se você der todos os dados dela, posso pedir para o meu marido
dar um jeito, não existe nada que eu peça com jeitinho que Yan não dá um
jeito de fazer. — Luna piscou um olho para mim.

— É, o Don tem poder sobre tudo, e Yan é o nosso Don, o chefe de


todo o clã, e Luna sabe como dobrar ele — Belinda foi quem declarou em
parceria.

— Se Yan é o Don, Yago, o subchefe, o seu marido é o quê? —


perguntei curiosa tentando entender mais sobre eles.

— Conselheiro do Don, é ele que tem aquela vozinha no ouvido do


Don — Belinda respondeu como se estivesse levando na brincadeira a
forma com que falara.

Passei para Luna tudo que eu sabia a respeito da minha amiga.


Tornou-se fácil falar com elas, como se nem mesmo me conhecendo direito,
me abraçassem, e me fizessem sentir um membro da família.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Foi avisado que o almoço estava pronto quando ainda estávamos no


quarto conversando, cheguei a pensar que teria a presença do meu marido
durante a refeição, mas nem ao menos vi a sombra de Yago. Assim como
passei a tarde ao lado das mulheres da casa e não soube onde ele estava.

A noite chegara e já não sabia se iria ficar ali naquela enorme sede,
ou se Yago ia aparecer e me levar para a nossa casa.

A quem eu pretendia enganar, queria a presença dele, na mesma


intensidade que o queria distante. Tudo sempre se tornava tão confuso
quando se tratava do nosso relacionamento.
Ergui o meu olhar quando vi o pequeno Heinz entrar na sala,
passando a mão em seus cachos loiros, o menino olhou à sua volta, e foi em
direção ao avô. Era incrível como um puxou totalmente a família do pai e o
outro, Petrus, o filho mais velho de Yan e Luna era muito parecido com a
mãe.

— Vamos tocar um pouco de piano com a vovó Petrus? — Zara fez


um movimento com a mão para que o neto a seguisse.

Animadamente, o menino se levantou do sofá, ele devia ter em média


uns 9 anos, os cabelos castanho-escuros aparados curtos.

Como se um filme visto de fora, eles em nada se pareciam com o que


eu esperava, eram calmos, e abertos uns aos outros. Aquilo talvez baseado
na minha curta experiência ali.

Estava distraída vendo Zara e Petrus tocando piano, a melodia


preenchia o ambiente, o menino parecia estar aprendendo a canção,
conforme a avó auxiliava os dedinhos dele.

Senti o sofá afundar ao meu lado, virando o rosto rapidamente, vendo


que era ele, o meu marido que surgiu não sei de onde.

— Vamos? — Yago sussurrou comigo fazendo com que me


surpreendesse.

— Pensei que o melhor para mim era ficar aqui. — Arqueei


sutilmente a minha sobrancelha olhando para o meu marido.

— E é, mas não tem nenhuma roupa sua aqui, então vai vir comigo...

— Sério? Essa é a sua melhor desculpa? — Não desviei meus olhos


de Yago.
— Estou tentando ser calmo...

— Nitidamente visível, assim como quer sempre algo de mim, é


calmo, mas depois mostra quem realmente é — falei e me levantei do sofá.

Meu movimento foi notado por todos, até pela minha sogra que
estava no piano. Yago fez o mesmo tocando nas minhas costas com a sua
mão.

— Estamos de saída — anunciou querendo me levar para a porta.

— Podemos confiar em você, não é mesmo filho? — Zara foi quem


perguntou para Yago.

Ninguém daquela vez foi contra o desejo dele, como se aprovassem a


decisão de Yago me levar para a casa, mas em seus olhares o receio era
nítido.

— Sabem que sim — foi tudo que o meu marido respondeu,


empurrando sutilmente as minhas costas.

Não o vi o dia inteiro praticamente, mas ao menos daquela vez não


estava com cheiro de perfume barato, do lado de fora estava Dexter, que
veio na nossa direção, mas nos olhos verdes estava explícita a aflição dele.

— Subchefe, a minha esposa entrou em trabalho de parto, me dá a


permissão de ir até o pronto atendimento? — pediu alarmado.

— Sim, Dexter — meu marido assentiu com a cabeça, tirando do


bolso do sobretudo dele uma boina que colocou em seus cabelos.

Gostaria de entender melhor aquele lance de hierarquia na máfia,


pois no topo dela estavam o Don, conselheiro e o subchefe. Pelo que
entendi hoje pela breve explicação de Zara, os três precisavam ser
protegidos por todos, assim como os soldados deviam dar as suas vidas
pelos três membros, e antes dos soldados estavam os capitães, que tinham
subgrupos que comandavam os soldados.

Será que o quesito família ajudava? Será que no topo da base ficavam
apenas os familiares, então aquilo queria dizer que o próximo Don devia ser
Petrus ou o pequeno Heinz.

A mão de Yago passou novamente nas minhas costas e me tirou do


meu devaneio. Naquele horário da noite já soprava um vento frio, meu
marido, ao meu lado estava protegido, ao contrário de mim.

A porta foi aberta, fazendo com que eu entrasse rapidamente no


carro.

Assim que meu marido se sentou ao meu lado, não contive a minha
curiosidade e acabei falando:

— Não sabia que Dexter era casado.

— Sim, faz alguns anos, a esposa está grávida do primeiro filho


deles, pelo que entendi é uma gravidez de risco, para a mãe e filho — Yago
respondeu até mais do que esperava.

Fiquei em silêncio, pois aquilo me deixou preocupada. O barulho de


algo vibrando ao meu lado fez com que virasse o meu rosto e visse Yago
aceitando a ligação, falando com alguém.

— Sim, vou solicitar para que um dos nossos capitães averiguem


essa encomenda — aquilo foi tudo, ele encerrou a ligação e eu mantive
meus olhos no visor do celular dele.
Aproximei meu rosto do celular, vendo ali a minha foto na proteção
de tela.

— Uma foto minha? — Yago nem ao menos tinha percebido que


estava olhando ali.

Bloqueou o visor, e seu rosto se virou, encontrando-se com o meu.

— Isso é para não esquecer a razão de ter cometido essa loucura —


resmungou parecendo irritado por eu ter visto aquilo.

— Ah, tá! Agora a culpa é minha, você usa a minha foto como fundo
de tela do seu celular, e a culpa é minha — retruquei percebendo que o
carro já estava estacionando em frente à nossa casa.

Sem esperar que alguém abrisse a porta saí rapidamente, ouvindo os


passos do meu marido atrás de mim, podendo sentir o exato momento em
que a sua mão circulou meu pulso, me puxando para perto dele, enquanto
minha outra mão apertava o paletó dele, mantendo ali o meu peso para não
vir a cair no chão.

— Qual o seu problema? — Ergui meu rosto apavorada.

— Você! Você é o meu problema, um problema que eu criei, e que


agora sou obrigado a aturar — ali estava ele querendo me colocar como
culpada.

— Obrigado? É simples, todo poderoso Yago Zornickel, apenas me


dê o divórcio, do que adianta você me dar o mundo se nele eu não tenho um
minuto de paz? Quando não está longe de mim, está ao meu lado, me
reduzindo a nada, não quer esse comprometimento, não precisa ter, não me
quer ao seu lado? Não precisa me ter! Posso muito bem ficar naquela sede.
— Apontei o dedo para aquele lugar ao longe. — É enorme o suficiente
para nunca nos esbarrarmos. Nitidamente isso tudo foi um erro. Um erro
que por um minuto que fosse pensei que seria a minha salvação.

Quis empurrar o peito dele, o vento se chocando em meu corpo. Mas


Yago não me soltou, ao contrário disso, segurou na minha cintura com força
e me puxou, fazendo meu corpo se colar ao dele.

— Eu quero você porra! — Grunhiu em meio à sua raiva.


CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

A mão do meu marido apertou as minhas coxas, com facilidade me


erguendo em seu colo. Não pude resistir, não consegui resistir àquele beijo
urgente. Caminhando comigo em seu colo, foi em direção à porta da casa.
Seus dentes agressivos se chocando com os meus.

Senti minhas costas baterem na porta da casa, meu marido sem me


soltar, tentava digitar a senha. Xingando várias vezes até que finalmente
liberou a porta e entramos na casa onde tínhamos a nossa privacidade.

Arrastamo-nos para dentro, sentindo minhas costas se chocarem


novamente na parede, minhas mãos apertavam a nuca dele, à medida que os
dedos inquietos de Yago erguiam o tecido do meu vestido.
— Te odeio, mafioso — minha voz rouca saiu com o gemido
entrecortado.

— Odeio a forma como desejo ardentemente você também — arfei


quando senti o tecido da minha calcinha ser rasgado quando ele puxou com
facilidade.

— Me odeio por estar aqui me entregando a um babaca como você.


— Os lábios dele foram descendo pelo meu pescoço.

Passei a mão na sua cabeça tirando a boina, jogando-a no chão.

Meu marido passou a andar, a mão deslizando pela minha bunda.

— Preciso comer essa boceta atrevida agora — grunhiu, me


colocando sobre os degraus da escada, segurando no tecido do meu vestido
e passando-o pela minha cabeça.

— Oh... por favor, antes que me arrependa de ter cedido. — Tombei


minha cabeça pra trás, minhas mãos abertas sobre o piso do chão.

Rapidamente, Yago tirou o seu sobretudo, paletó, e a camisa de


dentro da calça, abrindo-a, abaixando-a apenas o suficiente para liberar o
pênis. Sem falar nada me virou sobre os degraus, desferindo um tapa em
minha bunda, tão forte que me fez soltar um gritinho.

— Ah!

— Isso é por ter falado demais na frente da minha família — a voz


dele preencheu o ambiente diante da rouquidão explícita. — Isso é por
achar que eu não te defenderia.

Desferiu um segundo tapa.


— Ai! — dei um novo gritinho querendo me virar, mas a mão dele
segurou com força na minha cintura.

— Não acabei, vai sentir toda a raiva que eu senti e estou sentindo...

— Maldito! — arfei quando ele me bateu novamente, o estralo


deixando a minha pele ardida.

— Isso é por ter essa bunda gostosa, e perfeita para mim. — Senti o
exato momento em que seu pênis resvalou pela minha bunda.

Inutilmente estava molhada, desejando os toques dele, suspiros


escapando pela minha boca, e até mesmo aqueles tapas me deixaram ainda
mais úmida.

O pau do meu marido pincelou a minha entrada, ao mesmo tempo


que a minha mão se apertava sobre o piso do degrau e o suor escorria pela
minha testa. Mordi meu lábio quando fui preenchida por Yago, seu membro
protuberante me tomando por completo.

Foi até o fundo, tocando-me por inteira. Virei meu rosto de lado,
daquela forma tive um breve vislumbre de Yago, da forma como me tomava
com força, das mãos dele apertando a minha bunda.

— Ah! — novamente soltei um gritinho quando sua mão se


espalmou em meu cabelo, puxando-o para trás, fazendo com que tivesse a
visão dos olhos dele sobre os meus.

Sem parar de me penetrar, agarrando os fios, rugindo conforme me


penetrava com força.

— Diga, Felicie, quem é o seu dono — seus dentes cerrados, a voz


dominante, exigindo que falasse quem era o meu dono.
Engoli em seco, queria que ele me tomasse daquele jeito todas as
vezes, com força, fazendo sentir cada parte do seu pênis que me penetrava
com força.

— Vamos, Felicie, diga para o seu marido quem pode te fazer ter um
orgasmo? — voltou a exigir.

Nada saía da minha boca, meus olhos se revirando a todo momento,


querendo me entregar àquela sensação de satisfação alucinante.

— Se não falar não vai ter o que quer... — Um sorriso sádico se fez
presente nos lábios do meu marido, deixando explícito o prazer dele com a
minha angústia.

— Yago... — murmurei, a única coisa que saiu pela minha boca.

— Fale, Felicie! — ordenou penetrando com mais força, puxando


meu cabelo com tamanha dor, que podia sentir em cada fio do meu couro
cabeludo.

— Sou sua, somente sua, inteiramente sua, Yago Zornickel. —


Choraminguei de dor, de prazer, com aquela junção louca.

Meu marido não parou, não soltou meu cabelo, não deixou de me
olhar, nossos corpos suados, a pélvis dele batendo em minha bunda, o
barulho ecoando na casa, sem conseguir me controlar, eu me entreguei.

Um gemido rouco escapava por minha boca, meus dedos se


apertavam, enquanto meu marido a todo momento me olhava, como se
estivesse captando cada reação minha, até que nem ao menos ele se
conteve.
— Porra! — Rosnou indo fundo, me preenchendo com o líquido
dele.

Os movimentos dele pararam quando a última estocada foi feita, ele


me virou sobre a escada, me dando a visão do suor que desceu pela lateral
do rosto dele. Nossas respirações ofegantes, nenhum dos dois disse nada.

Como se esperássemos a alma voltar para o corpo. Ou o medo da


reação do outro, será que agora voltaríamos a brigar, o que íamos fazer?

— Yago? — murmurei o seu nome.

— Sim, pequena? — ele ainda tinha a voz rouca, levantou-se, ergueu


a sua calça, passando a mão na minha cintura e me pegando em seu colo
com facilidade.

Uma das mãos estava em meu pescoço, enquanto a outra na minha


bunda. Deixamos nossas roupas ali no chão mesmo e seguimos em direção
ao nosso quarto. Quando adentramos o nosso aposento passei a falar:

— No primeiro empecilho vai me deixar? — declarei sentindo meus


pés tocarem o chão, minhas duas mãos sobre a minha boceta.

— Não estava raciocinando direito. — Passou a abrir os botões da


sua camisa. — A minha família quer a sua proteção, acham que de alguma
forma, posso feri-la.

— E pode? — perguntei.

— Posso, não fisicamente, seria incapaz de ferir algo tão belo, mas
não tenho controle sobre meus instintos, e posso acabar machucando-a
psicologicamente. — Ele tirou a camisa, jogando-a no chão.
— Sou mais forte do que você pensa — murmurei mordendo a ponta
do meu lábio analisando o peito dele.

— Não, você nunca me viu bravo, sou vingativo, e gosto de ferir as


pessoas nas maiores fraquezas delas — meu marido voltou a falar.

— E faria isso comigo? — Nossos olhos se encontraram novamente.

— Não sei, realmente eu não sei, é como se em você encontrasse um


ponto de alívio que eu nunca tive, e não sei até que ponto isso pode ser
bom, não com a minha tendência a estragar tudo que toco. — Yago abriu a
sua calça, tirando os seus sapatos ficando completamente nu. — Mesmo
que não pareça, se existe uma pessoa que não quero ferir, esse alguém é
você.

Estendendo a mão para mim. Novamente fomos de 0 a 100 em


questão de segundos.

— Venha tomar banho de banheira comigo — pediu e eu fui.


CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Caminhando até uma das gavetas, a banheira já estava cheia e


preparada para o nosso banho, sabia onde estava a lâmina que escondi para
que a pequena não usasse sem que eu estivesse presente.

Peguei aquele prestobarba, me virando para Felicie, que observou a


lâmina em minha mão.

— Estava aí o tempo inteiro? — perguntou admirada.

— Sim, apenas escondi, quero ser eu a depilar a sua boceta. — Abri


um breve sorriso.

— Isso... isso... é tão íntimo. — Suas bochechas foram se tornando


avermelhadas diante da sua vergonha.
— Mais íntimo que chupar a sua boceta com a minha boca? —
Adoro ser descarado com ela e deixá-la constrangida. — Entre na banheira,
e sente-se na beirada, dobre as pernas, deixando a sua intimidade totalmente
exposta para mim.

Felicie obviamente titubeou, mas acabou virando o corpo,


delicadamente passando um pé por vez na banheira, colocando um pé
dobrado sobre a borda e o outro dentro da banheira, as espumas cobrindo
uma parte da perna dela.

Caminhei até a banheira, as mãos dela estavam sob a intimidade,


senti a espuma tocando minhas pernas quando entrei, me abaixando,
ficando sobre um calcanhar enquanto a outra perna estava dobrada. Segurei
o pulso dela, tirando-o daquele lugar.

— Você é linda, Felicie, não se tampe para o seu marido —


murmurei pegando um pouco de água, jogando em cima da intimidade dela.

— Nunca tinha ficado nua para ninguém, e de repente um homem


quer me depilar — a voz tímida dela fez com que olhasse novamente para
ela.

— Não é qualquer homem, é o seu marido — declarei voltando a


olhar para a sua boceta.

Peguei a água da banheira, passando-a sobre as dobras dela.


Esfreguei de uma forma lenta, queria que ela sentisse o meu dedo ali.
Aproximei a lâmina e passei a deslizar nos pelos dela, começando por cima.

Assim que passei a lâmina arrastei o meu dedo, de uma forma lenta,
erguendo meus olhos em alguns momentos, notando que ela mordia os
lábios.
Lentamente segui passando a lâmina, aproximando-a dos lábios
vaginais, tomando cuidado para não a cortar, fazia tudo minuciosamente,
jogando poucas gotículas de água para tirar os pelos. Bati a lâmina ao lado
da banheira sobre um pequeno suporte, assim não entrava na água.

— Yago... — A voz da minha esposa saiu sôfrega, ergui meus olhos


percebendo sua boca entreaberta.

— Posso ver o mel escorrendo da sua bocetinha — murmurei


deslizando o meu dedo pelos lábios vaginais melados.

— Isso está me torturando de uma forma muito boa. — A cabeça


dela tombou para trás.

Mas não parei de depilar a minha esposa, passando a lâmina por


todos os cantos, me certificando de não ter esquecido nenhum detalhe.

Deixei o prestobarba em cima do suporte onde o estava batendo.


Peguei um pouco de água em minha mão, limpei-a, e me aproveitei do
momento, estimulando a sua boceta, sentindo-a lisinha.

Se com aqueles pelos ela já era perfeita, agora estava divina, tão lisa,
pequena, impecável. Aproximei meu rosto, abrindo os lábios vaginais com
os meus dedos, passando a minha língua bem ali no meio. Ouvindo o
gemido dela.

Passei a dedilhar com o meu dedo sua vulva, enquanto a chupava


com a língua. Sem parar, querendo que aquela pequena se entregasse na
minha boca, me desse todo o seu mel.

Minha língua estralou sobre a sua boceta deliciosa, os suspiros de


Felicie se tornaram altos, e ela já não conseguia mais se controlar, a sua
mão apertava meu cabelo, a bocetinha dando pequenas pressionadas em
minha boca. Com a mão vaga apertei a sua coxa, me deliciando com aquele
belo banquete.

Até que Felicie não se conteve mais, se contorceu, apertando meus


cabelos com força e se entregou àquele orgasmo. Suguei todo o mel dela,
sabendo que tudo aquilo era meu, aquela mulher e tudo que habitava nela.

Raspando a minha mão sobre a cintura dela, levantei o meu rosto,


espalmando as mãos em seu cabelo, trouxe o seu rosto para perto do meu, a
beijei, com força, com desejo, e aproximei o seu corpo do meu sentando-me
na banheira, fazendo com que Felicie sentasse sobre minhas pernas.

— Cavalgue em meu pau minha pequena — estava quase


implorando.

— Cavalgue? — Ela não entendeu a expressão.

— Apenas se sente no meu pau e rebole essa bundinha deliciosa. —


Espalmei uma das minhas mãos em sua bunda, fazendo o meu pau no nosso
meio se alegrar com aquela bocetinha.

Felicie se apoiou no meu ombro, segurei-a sobre o meu pênis assim


fazendo ela se sentar sobre ele, minha esposa foi descendo lentamente.

Fechei meus olhos sentindo aquela sensação maravilhosa de ser


preenchido pela bocetinha dela. Eu a instruí para que subisse e descesse, e
ela rapidamente pegou o jeito.

Os cabelos bagunçados dela, refletiam a mulher quente que tinha


como esposa. Sem parar, apertei os cabelos de Felicie com uma das mãos,
ao passo que a outra apertava a sua bunda, querendo que ela rebolasse cada
vez mais em meu pau.

Aquela pequena parecia até uma ninfa do sexo. Porra, estava me


tornando um maldito viciado naquela mulher atrevida.

— Yago... — Choramingando o meu nome, abraçando o meu


pescoço com força. Ela não parava.

A dor sufocante do prazer me dominando, as paredes apertadas de


Felicie resvalando sobre o meu pau. Passei a intensificar as estocadas,
rugindo enquanto estocava fundo dentro dela, sem me importar com a água
que caía da banheira.

Minha esposa tombou a sua cabeça pra trás diante do puxão que dei
em seu cabelo.

— Geme, esposinha, geme alto pro seu marido, me dê tudo de você,


todos os seus suspiros, todos os seus gemidos, minha, somente minha,
completamente minha. — Grunhi aproximando meu rosto do pescoço dela,
dando alguns beijos molhados.

Sem conseguir mais me segurar, gozei duro dentro dela, forte,


estocando rudemente.

— Ah... Yago... — em meio a um gritinho baixo e sôfrego Felicie se


entregou pela terceira vez, seu corpo caiu sobre o meu e a cabeça tombou
em meu ombro. — Por Deus...

Suspirou baixinho e sabia que ela estava cansada, depois de três


orgasmos obviamente ela não aguentaria mais. Talvez se fizéssemos vários
sexos por dia ela ficaria tão cansada que nem ao menos se recordaria de
falar.

Passei minhas mãos em suas costas sentindo o seu corpo pequeno


sobre o meu, a forma como se encaixava perfeitamente em mim.

— Vamos nos banhar e colocá-la pra dormir. — Suspirei tirando o


cabelo dela do seu ombro.

— Tudo que eu quero para esse momento é uma cama — Felicie


sussurrou como se fosse uma gatinha manhosa.
CAPÍTULO TRINTA E CINCO

Passei a toalha em meu corpo e terminei de me secar, prestes a


enrolar o tecido um pouco abaixo da minha axila, quando Yago pegou a
toalha de mim.

— Ei. — Virei meu corpo sem entender a razão dele ter feito aquilo.

— Por que vai enrolar isso no seu corpo? — meu marido questionou
confuso.

— Para ir até o closet pegar o meu pijama? — minha voz saiu um


tanto alta.

— Mas não vai mesmo...


— Yago! — Dei um soquinho em seu ombro quando me pegou em
seu colo, saindo do banheiro.

Seguimos em direção à cama, meu marido me deitando sobre ela.

— Vai dormir assim. — Seus olhos desceram pelo meu corpo, os


dedos deslizando pelo meio dos meus seios.

— Sem roupa? — Arregalei meus olhos diante daquela possibilidade.

— Sim. — Meu marido pulou por cima do meu corpo, se deitando ao


meu lado.

— Você também vai dormir assim? — perguntei parecendo uma


criança fazendo perguntas bobas.

— Sim, pensei que você estava cansada, mas até mesmo cansada
parece um gravador furado. — Yago estava deitado de lado.

Ergueu a mão, passando sobre o meu cabelo, colocando-o para trás.

— Estou cansada, mas quem dorme pelado? — voltei a fazer uma


pergunta.

— Eu? Várias pessoas por sinal, e agora você. — O loiro se sentou


na cama, pegando o cobertor, cobrindo nós dois.

— Mas e se alguém entrar?

— Felicie, quem vai entrar na casa que é minha e sua? Se não


tivermos intimidade para fazer isso na nossa casa, onde faremos? — Meu
marido naquele momento estava até falando bastante.

— Ainda assim, é estranho.


— Estranho seria se você não fizesse milhões de perguntas. —
Puxando o meu corpo, Yago soltou um longo suspiro.

Fiquei em silêncio, Yago desligou a luz do quarto pelo botão que


tinha ao lado da cama, deixando o quarto totalmente escuro, e senti a mão
dele se arrastar pela minha barriga, espalmando a mão sobre ela.

Encolhi-me sobre o peito dele, fechando meus olhos, mas o sono que
devia vir acompanhado do cansaço não veio, me deixando inquieta. Queria
começar a falar, sobre qualquer assunto, mas como fazer isso com uma
pessoa que detestava falar?

— Qual é o problema, pequena? — Yago perguntou, a forma como


ele me chamava de pequena fazia com que me sentisse única.

— Não consigo dormir, quero conversar. — O suspiro alto dele


preencheu o ambiente silencioso.

— Sobre o que quer conversar — perguntou sem soltar a mão da


minha barriga.

— Como está a esposa de Dexter? — fiz a primeira pergunta que me


veio à mente.

— Não sei, mandei mensagem para ele, mas ainda não me respondeu
— prontamente Yago me deu a sua resposta.

— E como vai ficar nós dois? — fazer perguntas era comigo mesmo.

— Como assim?

— Depois da conversa que tivemos na casa dos seus pais, quando


você pareceu não se importar comigo. — Virei-me na cama, deitando com a
minha barriga pra cima, podendo ouvir o meu marido se mexer ao meu lado
também.

— Se pareceu isso, percebo que errei realmente. Quero que


continuemos de onde paramos. No mesmo intuito do princípio.

— O mesmo intuito do princípio é você sendo esse homem frio, sem


querer me dar satisfação de nada — resmunguei meio desanimada.

— Posso te prometer que vou tentar? É estranho isso para mim,


queria esse casamento justamente para não precisar ficar dando satisfação
da minha vida, e nem ao menos posso fazer isso, pois sinto que estou
ferindo-a toda vez que a ignoro.

Fiquei em silêncio, Yago se importava comigo, e com o que eu


sentia, se não se importasse não estaria nem aí para os meus sentimentos.

— Isso só prova que tudo que falavam ao seu respeito é mentira —


declarei sentindo a mão dele se arrastar em minha bochecha.

— Por favor, que fique apenas entre nós — a voz dele parecia meio
assustada, e engraçada.

— Nem mesmo com a sua família você conversa, como consegue ser
tão solitário assim? Quando vivia naquela casa, com a minha antiga família,
me sentia sozinha, triste, sem ter ninguém para falar e isso me fazia muito
mal — resmunguei puxando mais assunto com ele.

— Ainda bem que você mencionou, antiga família, pois agora o seu
lugar é ao meu lado. E quanto ao fato da solidão, eu gosto de ficar sozinho,
gosto de ler um bom livro no silêncio, apreciar uma boa música, tomar o
meu uísque, sempre fui o mais quieto dos meus irmãos, e isso nunca foi um
problema, ter os meus pensamentos apenas para mim, fazia com que os
outros não se intrometessem no que eu faço — processei tudo que ele tinha
me falado.

— Isso é bem chato, na verdade, ficar sozinho. Tenho percebido que


gosto do barulho, baixei hoje no meu celular um aplicativo de música e a
sua mãe me ensinou que posso conectar no sistema de som da casa. —
Rapidamente meu marido se mexeu subindo sobre o meu corpo, sentindo o
peso da sua mão em meu ombro.

Não me contive, e acabei soltando uma gargalhada alta.

— Nem fodendo vai fazer isso — Yago retrucou.

Ergui minha mão tateando o corpo dele, sentindo-a resvalar pela


cintura de Yago.

— Vou sim, até baixei milhões de músicas. — Meu marido ficou em


silêncio, como se estivesse se concentrando na minha gargalhada, até
mesmo lágrimas de diversão se acumularam em meus olhos. — Marido?

— Fico me perguntando o que eu tinha na cabeça para escolher a


garota mais oposta de mim para ser a minha esposa? — falou voltando a se
deitar ao meu lado.

— Dizem que os opostos se atraem. — Estava começando a conter as


minhas lágrimas.

Meu marido voltou a passar a mão na minha barriga, me puxando


para perto dele. Seu cheiro masculino predominava no meu olfato.

— É tão estranho, ainda não me acostumei ao fato de ter alguém me


tocando, me acariciando — sussurrei, soltando um suspiro relaxado.
A mão de Yago se levantou passando na minha cabeça, acariciando
os meus cabelos.

— Pois você merece se acostumar, minha pequena, merece o mundo.


— Seu hálito quente se chocou ao lado do meu rosto, nossos corpos colados
um no outro.

Um bocejo escapou da minha boca, e acabei me encolhendo no corpo


do meu marido.

— Todos os dias podiam ser assim — sussurrei.

— Assim como?

— Você, aqui comigo, fazendo com que eu pareça a garota mais


importante de todo o mundo — murmurei sentindo o nariz dele arrastar no
meu cabelo.

— Acho que tem alguém com sono, durma, pequena.

Yago ignorou a minha pergunta, e seria exigir demais dele uma


resposta a respeito daquilo.

— Marido? — murmurei fechando meus olhos.

— Fala, Felicie. — Parecia que ele estava perdendo um pouco da sua


paciência, o que me fez sorrir.

— Ainda quero o meu gatinho. — Sendo embargada em meio ao


meu sono, pude ouvir as últimas palavras dele.

— Durma, Felicie, e pode ir esquecendo um bichano na nossa casa...

Nossa casa, minha e dele... nossa...


CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Acordar com a cama vazia ao meu lado não foi a melhor forma de se
acordar. Ainda precisava me acostumar ao fato de que não éramos um casal
de verdade, embora ele fizesse parecer que éramos em alguns momentos.

Saí da cama lentamente, vestindo um dos vestidos de manga


comprida sem saber o que faria no meu dia, sabendo que precisava terminar
de arrumar o meu closet. Sem calçar um sapato, apenas amarrando o meu
cabelo em um coque no topo da cabeça, decidi sair do quarto.

Com alguma sorte encontraria o meu marido em casa. Aproximei-me


da escada, segurando na proteção. Descendo um degrau por vez, lembrei-
me das nossas roupas jogadas ali na noite anterior, e agora não estavam
mais.
Estranhei o fato de estar ouvindo vozes, uma delas parecendo meio
familiar. Entrei na cozinha de onde estava vindo o som, parando
repentinamente, percebendo a pessoa que estava ali.

— Anali. — Senti meus olhos se encherem de lágrimas.

Fui em direção à senhora que também veio ao meu encontro.


Abracei-a com força, como se finalmente pudesse sentir um alívio que me
apertava por dentro, sufocando-me. Anali sempre foi como um ponto de
alívio, ela que via o melhor em mim, orientando-me a ir mais além do que
julgava que era capaz.

— Oh, minha querida — sussurrou em meio ao abraço.

— Parece que faz uma eternidade que não nos vemos — declarei
quando nos afastamos, passei a mão embaixo dos meus olhos e limpei as
minhas lágrimas.

— Eu quem o diga, a última vez que te vi, pelo que me lembro estava
solteira. — Ergueu as sobrancelhas daquela forma ladina que sempre fazia.
— Levou bem ao pé da letra quando eu disse para você não ter medo, não é
mesmo?

Minhas bochechas esquentaram e percebi o movimento do loiro ao


nosso lado.

— É... — Mordi o meu lábio. Sem saber o que falar, mudando


rapidamente de assunto. — Afinal, o que faz aqui?

— Fiquei sabendo através do meu irmão que você pediu que


contratassem Anali, fiquei ofendido por não ter pedido isso para mim —
Yago foi quem respondeu.
— Eu... hum... é que a sua mãe falou que poderíamos ter uma chefe
do lar, e quem melhor que Anali? Posso até mesmo ter alguém para
conversar. — Meus olhos brilharam de alegria vendo a senhora que por
anos foi a minha única amiga.

— Sempre quando desejar algo, quero que conte primeiro para mim,
sou o seu marido, posso fazer tudo que estiver ao meu alcance por você —
sempre carregado no seu timbre possessivo ao falar.

— E sei disso, mas foi apenas uma ocasião em que a sua mãe falou e
me veio Anali na mente, Luna disse que iria me ajudar, e por alguma razão
foi parar rapidamente nos seus ouvidos — resmunguei percebendo como as
notícias corriam rápido.

— Bem-vinda aos Zornickel, onde privacidade teoricamente não


existe e a notícia chega mais rápido do que sinal de internet. — Piscou um
olho passando a mão em meu ombro. — Anali vai ser a nossa chefe do lar,
foi umas das exceções que meu irmão abriu, ele disse que como você pediu
está dando de presente de casamento, para você, pois disse que eu não
mereço. Anali vai vir todos os dias, assim como qualquer funcionária, vai
ter a sua carga horária, e salário. Espero que goste do seu novo emprego,
senhora Willer.

Meu marido estendeu a mão para Anali, chamando-a pelo seu


sobrenome, minha amiga retribuiu o aperto de mão.

— Agradeço por esse emprego, senhor Zornickel. — Anali balançou


a cabeça, sem saber como se portar na frente do meu marido.

Não a julgava, Yago tinha toda aquela marra no olhar que fazia
qualquer um se amedrontar.
— Preciso ir para a sede, acredito que devem ter muito para
conversar. — Ergui o rosto, quando Yago falou.

Nossas bocas se tocaram em um selinho rápido, os dedos dele


roçaram meu queixo, fazendo até mesmo um sorriso brotar em meus lábios
e minhas pernas se tornarem bambas. Será que sempre ia ter aqueles efeitos
colaterais pós Yago?

Ele se foi, me deixando sozinha com Anali, que logo soltou um


assobio de forma descontraída.

— Garota, que arraso de casa. — Sorriu dando uma volta encantada


com tudo.

— É linda, não é mesmo? Ainda não me adaptei a toda essa loucura.

— Obviamente vou querer saber de tudo, como que você foi de


Ludwig para Zornickel em questão de dias? — Caminhei pela cozinha
percebendo vários alimentos sobre a bancada.

— Na verdade, foram horas. Yago disse que precisava de uma


esposa, e não queria um casamento por amor, então em troca falou que me
daria o mundo se eu aceitasse ser a esposa dele, me libertando daquela casa,
claro que achei uma loucura, e como estava vivendo da loucura, eu aceitei.
— Virei meu pescoço analisando os alimentos que tinha ali.

— Horas? Então saiu do bar e foram direto se casar?

— É praticamente isso, agora sou a senhora Zornickel, que loucura,


né? Tenho tudo, menos um marido de verdade. — Um sorriso forçado se
fez presente nos meus lábios.
— Querida, se isso que eu vi na minha frente não for de verdade,
nem ao menos sei mais o que pode ser. — Anali me fez pensar no gesto
dele, sem ver nada demais sobre aquele simples gesto.

— Real? Mas não houve nada demais, ele vive frisando para mim
que somos apenas um casal de fachada. — Balancei meus ombros.

— Bom, quem muito fala sobre algo, é porque quer fugir desse
sentimento — minha amiga largou aquela incógnita e se aproximou dos
alimentos. — Quanta comida.

— A dispensa está vazia, agora vamos poder abastecê-la. — Aquilo


me fez sorrir, afinal, agora sim a casa ia estar completa, só faltavam as
roupas do meu marido.

Será que ele não ia trazer as suas roupas? Sempre trazia poucas
mudas apenas para uma troca, não sabia por qual razão ele estava fazendo
isso. Ou apenas não teve tempo de trazer todo o resto ainda.

Ignorei todos esses pensamentos contraditórios, porque não me


levariam a nada naquele momento, querendo aproveitar o máximo que
podia de Anali, afinal tínhamos muito assunto para conversar.
CAPÍTULO TRINTA E SETE

30 dias depois...

Peguei o celular ao lado da cama, querendo alguma notificação do


meu marido, mas nada estava explícito ali. Apenas a mensagem de Zara
falando que ele estava em uma missão.

Sentei-me na cama passando a mão em meus cabelos. Olhei à minha


volta, e soltei um longo suspiro. Yago se afastou de mim, de uma forma que
jamais julguei que podia me doer.

Depois que a minha menstruação desceu, como um choque de


realidade, Yago foi recuando, vinha cada vez menos para a nossa casa,
dormia mais dias na sede. Não estava gravida, mesmo que tivéssemos feito
sexo por vários dias antes da minha menstruação vir, não engravidei.

Fazia 48 horas que não via Yago. Não respondia as minhas


mensagens. Não sabia onde era aquela maldita missão, até mesmo Luna e
Belinda não sabiam, que diabos!

Irritada com aquele sumiço, abri a nossa caixa de mensagens e


digitei:

“Saiba que se você não aparecer nessa casa hoje, ou responder essa
maldita mensagem, vou sumir da sua vida!”

A mensagem não foi entregue, levantei-me da cama sentindo uma


leve tontura, piscando várias vezes os meus olhos para que ela se dissipasse.
Aquele já era o segundo dia que acordava daquela forma, devia ser a
irritação do sumiço do meu marido.

Vesti uma das calças jeans, junto de um casaco de lã, o tempo estava
se tornando cada vez mais frio, e pequenos indícios de neve já se faziam
presentes. Saí do meu quarto, o cheiro delicioso do café da manhã
preparado por Anali impregnado no ar. Minha barriga se revirou, a fome
fazendo com que até mesmo os meus lábios salivassem.

Desci a escada, entrando na cozinha, ao lado dela, conjugado,


tínhamos a sala de jantar, onde a mesa estava preparada e eu pude perceber
que se encontrava meio bagunçada como se alguém tivesse comido.

— Quem esteve aqui? — questionei arqueando a minha sobrancelha.

— Seu marido, apenas se sentou, comeu um pouco e saiu — Anali


respondeu segurando em sua mão um pano.
— Ele veio na nossa casa? — Estranhei aquilo.

— Sim, até parecia que queria subir a escada, mas o celular tocou e
ele saiu rapidamente — Anali queria me confortar.

— Sabe o que não entendo, por que ele está assim distante?
Estávamos bem, não é porque a minha menstruação desceu que eu não
posso ter um filho, por Deus, será que preciso procurar um médico, e ter o
laudo de que não sou infértil? Qual a razão de ele estar agindo assim? O que
eu fiz de errado? Será que agora, literalmente, ele está querendo ser apenas
o marido de fachada? Não sei mais o que pensar, Anali, não sei... — bati
minhas mãos em minha cintura.

— Querida independentemente de qualquer coisa, a culpa não é sua,


é uma jovem de apenas vinte anos, está na idade que é permitido errar,
permitido se arrepender, permitido chorar, não se cobre, um casamento não
é feito apenas de uma pessoa, sinto como se você estivesse correndo em
círculos, quando a culpa não é sua. — Com carinho Anali sorriu para mim.

Não sei o que seria dos meus dias nessa casa sem ela, mesmo que
estivesse ali como chefe do lar, estávamos conversando a todo momento.

— Acho que preciso comer, esse cheiro delicioso tá me matando —


fui dramática mudando de assunto antes que começasse a chorar.

Puxei uma cadeira, sentei-me, me perguntando de qual lugar vinha


toda aquela fome que estava sentindo.

— Nossa, cuidado para não passar mal, querida — Anali parou ao


meu lado falando.
Nem ao menos tinha me atentado que estava comendo rápido. Como
se precisasse de tudo aquilo pra ontem.

Meu celular vibrou ao meu lado, com pressa o peguei em minha mão,
achando que podia ser o meu marido. Mas era Zara fazendo um convite
para mim:

“Querida, o que acha de irmos no centro da comunidade, na


estilista?”

Minha sogra em todos os momentos fazia com que me sentisse parte


da família, mesmo tendo um marido que me tratava como um nada em
alguns momentos. Afinal era assim que estava me sentindo em relação
àquele loiro.

O braço de Zara estava entrelaçado com o meu, meus cabelos se


mexiam conforme o vento frio se chocava sobre ele.

— Sogra — chamei por ela, depois de tanto ela pedir, peguei a mania
de chamá-la de sogra. — Ele está na sede, não é mesmo?

— Sim, está, e pediu que eu a trouxesse à comunidade para tirar as


suas medidas com a estilista...
— Por qual razão? Tenho tantos vestidos naquele closet, por que
preciso de mais? — perguntei virando o meu rosto.

O motorista nos deixou em frente ao estúdio da estilista, mas


resolvemos dar uma caminhada pela galeria após tirarmos as nossas
medidas.

— Um vestido nunca é demais. — Zara sorriu com o seu modo


elegante.

— Sabe que essa é a primeira vez que venho na comunidade após o


meu casamento? É estranho estar aqui, com todos esses olhares sobre mim.
— Torci o lábio.

— Todas as vezes que venho nesse lugar tenho esses olhares, então já
me acostumei a toda essa invasão. — Zara balançou levemente o ombro.

— Existem tantas teorias a respeito da família de mafiosos, e quem


faz parte do clã não revela nada do que sabe, na verdade, nem ao menos se
sabe quem é capitão, soldado ou associado da máfia — falei baixo
conforme caminhávamos.

— Isso porque sempre somos discretos, e não é permitido que falem


sobre o assunto com qualquer outra pessoa de fora, por isso apenas ficam as
teorias pairando no ar.

Calei-me olhando à minha volta, percebendo alguns olhares sobre


mim. Minha cunhada Kina falou para todos tudo atravessado o que eu tinha
feito, de acordo com o que Anali descobriu, ela distorceu a história, e fez
parecer que fosse uma ingrata, que fugi com o mafioso deixando-os
desolados e preocupados.
Pedi que Anali não retrucasse nada sobre o que ela descobrisse, não
queria ser assunto daquele povo, apenas preferia que pensassem o que
quisessem.

Soltei o braço da minha sogra, parando em frente a uma vitrine de


uma loja infantil, vendo ali várias roupinhas de bebê, me perguntando
quando chegaria a minha vez?

— Querida, o que acha de entrarmos? — minha sogra perguntou


sorrindo.

— Não sei se é uma boa ideia, nem ao menos estou grávida —


resmunguei desanimada.

— Bom, isso pode ser um incentivo. — Piscou um olho.

— Não sei... — minha voz morreu quando Zara saiu do meu lado, se
afastando para entrar na loja, me deixando ali sozinha.

Uma pessoa gritando me fez virar, meus olhos se arregalaram quando


aquele carro desgovernado veio na minha direção. Meus pés travaram no
chão, o medo refletindo em cada músculo do meu corpo.

Devia correr, tudo ao meu lado parecendo estar em câmera lenta.


Minha pulsação rápida, cada batida ecoando na minha mente, o barulho da
freada do carro gritando nos meus ouvidos.

Fechei meus olhos, o grito abafado prendendo-se no fundo da minha


garganta. Tudo que eu consegui pensar foi nos cabelos loiros do meu
marido, nos poucos sorrisos que ele me dava.

Quando aquela dor dilacerante me preencheu, meu corpo se chocou


contra aquela parede da loja, tudo se tornou escuro, e eu apaguei, me
entregando à dor.
CAPÍTULO TRINTA E OITO

— Porra, como isso foi acontecer? — Rosnei entrando naquela


maldita sala de espera do pronto-socorro.

Meus olhos encontrando com os da minha mãe, cheios de lágrimas,


que logo se levantou do sofá, e veio na minha direção, jogando-se em meus
braços.

— Não sei... foi tudo tão rápido. — Fungou apertando o meu peito,
suas mãos agarrando com tanta força que podia sentir as unhas arranhando
a minha pele.

Não falei nada, apenas afaguei os cabelos dela. Mamãe não era, e
nunca seria culpada pelo que aconteceu, pedi que meus homens fossem até
o local do acidente, queria saber quem estava no carro.

Ergui meu rosto vendo o meu pai colocar a sua mão nas costas da
mamãe, que saiu dos meus braços, indo para os dele.

— O que o médico disse? — perguntei para a minha mãe, que


mesmo nos braços do meu pai, levantou os olhos para mim.

— Ainda nada, tudo que eu sei é que ela está passando por exames
— mamãe fungou enquanto falava.

Passei a mão em meu cabelo, irritado! Não era para ter acontecido
aquilo, aquela noite ia para nossa casa, precisava conversar com Felicie,
tirar toda aquela confusão de dentro do meu peito. Precisei passar alguns
dias longe dela, tinha necessidade daquele espaço, Felicie foi como um
furacão de grau gravíssimo, devastando com tudo dentro de mim.

A sua forma maluquinha, espalhafatosa, dominava a minha alma.


Estava tão convicto de que ela engravidaria logo de início, que quando ela
disse que veio a sua menstruação, cogitei que fosse um sinal, um maldito
sinal do destino que tudo que estávamos fazendo era errado.

Saciar-me das curvas dela por todas aquelas noites, não devia ser
suficiente, Felicie merecia muito mais do que um homem sem coração que
não sabia retribuir todo o carinho que ela tinha direito.

Estava disposto a dar a ela sua liberdade e uma casa em um lugar que
ela pudesse viver longe de mim. Podia ser que longe de mim ela
encontrasse alguém digno de todos os seus sorrisos genuínos, pois eu não
era.
Todos da minha família já sabiam daquela minha decisão e
obviamente foram todos contra, afinal de acordo com a minha mãe eu
mudei quando ela apareceu na minha vida, mudei? Só podia ser impressão
dela, afinal não mudei nada.

Não podia ser ingrato e manter aquele pequeno anjo ao meu lado, ela
merecia muito mais que um homem ranzinza como eu. Nunca ia poder amá-
la. Aquilo que sentia era apenas saudade, e saudade era um sentimento
passageiro, ia passar, e logo aqueles sorrisos que brilhavam na minha
memória iam sumir, se dissipar.

Meus dois irmãos estavam ali, Yan e Yank junto de Belinda. Luna
decidiu não vir, porque ela ficou com as crianças na companhia da babá.

Virei o rosto quando notei o meu irmão atendendo o seu celular, seus
olhos encontrando com os meus, nitidamente estava falando com um dos
nossos homens.

— Sim... vamos ficar de olho — Yan assentiu mais algumas vezes,


encerrando a ligação.

— O que falaram? — perguntei sem nem ao menos esperar ele


desligar o celular direito.

— A mulher que atropelou ela está aqui neste pronto-socorro. —


Meu irmão soltou um longo suspiro.

— Fala o nome dessa pessoa logo, sei que você sabe. — Rugi
sabendo que era capaz de terminar de matar aquela pessoa com as minhas
próprias mãos.
— Kina Ammann — quando meu irmão falou o nome da maldita da
cunhada de Felicie minhas mãos se fecharam em punhos cerrados. Meus
olhos se tornaram nublados.

— Vou terminar de matar essa maldita — rosnei.

Ninguém tocava na minha garota, ninguém tentava tirar a vida da


razão da minha existência. Podia ser covarde a ponto de mandá-la para
longe, sabendo que não sou digno da bondade da minha esposa. Mas
mesmo longe, ninguém nunca ia fazer mal para Felicie.

Virei meu corpo, prestes a estourar aquele hospital se fosse


necessário, nada me impediria de ir atrás da maldita que quis tirar a vida da
minha pequena. Isso se não fosse aquele homem de jaleco branco, me
fazendo parar estagnado.

— Família da senhora Zornickel? — o doutor perguntou tirando a


touca cirúrgica da sua cabeça.

— Sou o marido dela — rapidamente falei.

— Felicie está com o cirurgião ortopédico Bryan Lins, ela está com
uma fratura exposta na tíbia, serão necessários fixadores externos. O exame
de sangue da senhora acabou de sair e como não informado sobre o estado
foi pedido que informasse a família dela...

— Que caralho de informação é essa? Como está a minha esposa?


Espero que ela saia com vida dessa sala cirúrgica!!! — Rosnei sendo
segurado pelo braço por algum dos meus irmãos.

— Ah, os exames feitos nela deram todos bons, ela estava consciente
na hora que chegou na emergência, apenas não falava palavras conexas, os
exames neurológicos estão bons, assim como todos os outros, apenas
encontramos o beta HCG dela alto demais...

— Porra! Não fala em código — Grunhi.

— Isso quer dizer que ela pode estar grávida, irmão — Yan declarou
puxando o meu corpo pra trás.

— Isso, como o exame acabou de sair, vamos fazer um ultrassom


assim que possível, a cirurgia está em andamento, não tem como ser
alterada nesse momento, qualquer novidade venho informar a família. —
Quis agarrar aquele doutor pelo pescoço e perguntar para ele se achava que
eu era um tolo para ficar esperando.

— Não posso esperar, preciso ir ficar com ela. — Grunhi querendo


me soltar a todo custo de Yan.

Yank se colocou à minha frente e segurou meu rosto, fixando seus


olhos nos meus.

— Yago, para, caralho! Se contenha, não tem nada que possa fazer
nesse momento, sua esposa está na cirurgia, apenas espere!!!

— Como posso sentar e esperar se ela está sofrendo nesse momento.


— Meus olhos passaram a queimar, uma dor nunca antes sentida.

— Ela está em boas mãos, precisamos esperar. — Yank tinha a voz


firme.

— Estamos aqui por você, irmão — Yan que me segurava com mais
firmeza, falou querendo me dar força.
— Vou matar cada um daquela maldita família se algo acontecer com
a minha esposa. — Passei a aliviar o meu corpo.

— E vai ter todo o nosso apoio. — Yan percebendo que eu estava


começando a me acalmar aliviou o aperto dos seus braços.

Senti aquela dor dentro do meu peito, a dor do desespero, a dor de


poder perder para sempre aquele sorriso.

Não tinha como, não tinha como viver em um mundo onde aquela
maluquinha não existisse.
CAPÍTULO TRINTA E NOVE

Os minutos se tornaram horas, minha família não me deixou sair da


sala de espera tudo pelo meu acesso de raiva quando o que eu queria era
matar a desgraçada que atropelou a minha esposa. Não era a favor de tocar
em mulher, mas aquela maldita tocou em Felicie, quis tirar a vida dela.

Nada naquele acidente, foi apenas um acidente, foi tudo proposital,


pegar Felicie desprevenida, como se estivessem apenas analisando os
passos dela, pois foi só mamãe se afastar que o carro veio em direção a ela.

A todo momento olhava para a porta, procurando por qualquer


indício do doutor da minha esposa, e nada.
Meu celular vibrou no meu bolso, tirando-o do lado de dentro do
paletó, por longos segundos vendo o sorriso estampado da pequena naquele
papel de parede, sempre tão tranquila, os sorrisos mais genuínos, um
fascínio que nunca tive por outra pessoa.

Senti cada músculo do meu corpo se retesar, a raiva se apossando de


mim, como podia ter sido tão descuidado? Era a minha esposa, se eu
estivesse na nossa casa, ela não teria saído, e eu teria rompido o nosso
casamento. Ela não merecia um marido frio como eu, sem sentimentos, sem
poder retribuir o que tanto Felicie merecia.

Mesmo que ela fosse a razão da minha vida, não podia ser a razão da
vida dela.

Desbloqueei o aparelho, lendo a mensagem de Dexter:

“Estamos no estacionamento do hospital. Ivaan Ludwig está dentro


do hospital, conseguimos algumas câmeras de segurança, nelas estava
nítido que os dois monitoravam os passos da sua esposa. Ivaan saiu do
carro quando Kina jogou o carro sobre a Felicie. Tudo muito nítido na
câmera de uma doceria que tinha em frente ao acontecido.”

Passei a mão na minha calça, limpando o suor que se acumulara nela,


sentindo a raiva crescente dentro de mim, cada vez maior.

Dexter estava passando pelo luto mais estranho que eu já vi. Ele se
fixara tão grandemente no trabalho que chegava a dormir dentro dos carros
de segurança. Tentei por diversas vezes falar com ele, mas como não era
bom com palavras, não insisti.

A esposa de Dexter não sobreviveu ao parto da filha dele, e a menina


que nasceu prematura viveu por poucas horas. Falei que ele poderia tirar
alguns dias de férias, mas foi como entrar em um ouvido e sair no outro.
Meu capitão não deixou de frequentar nenhum dia a sede, sempre ao meu
lado.

A morte da esposa dele pegou todos de surpresa sendo que os dois


eram jovens, ele tinha apenas 22 anos e ela 20, se conheceram na
adolescência e quando a menina completou 18 anos eles se casaram. Dexter
entrou para a In Ergänzung com 16 anos, sendo um dos soldados mais
jovens, pelo fato de seu pai sempre ter sido um capitão fiel ao clã, assim
instruindo o filho desde muito cedo no mesmo caminho.

Meus pensamentos foram dissipados quando no corredor vi aquele


rosto familiar passando, sabia quem era aquele homem, olhando para o
lado, me atentei que a minha família não prestava atenção no que eu estava
fazendo.

— Preciso ir ao banheiro — falei para o meu irmão Yank.

Mas os meus olhos se encontraram com Yan, ele percebeu que ia para
qualquer lugar, menos para o banheiro.

— Vou com você — Yan se levantou.

Apenas assenti, assim como ele disse que viria junto, nenhum dos
outros se importou. Sabendo que meu irmão estava seguindo os meus
passos, me afastei da sala de visitas onde se encontrava a minha família.

— Aonde vai? — Yan sussurrou.

— Vai me ajudar? — Sem falar em qual lugar estava indo, perguntei.

— Obviamente sim. — Meu irmão ficou do meu lado sem


questionar.
— Acabei de ver Ivaan, o irmão de Felicie passando na frente da
nossa sala de espera. Dexter me passou todas as informações sobre o
acontecido. Estão os dois por trás disso, vou matar aquele maldito
desgraçado. — Apertei minhas mãos em punhos cerrados, sentindo a dor
em cada no dos meus dedos.

— Vamos lá, então. — Aquele era o irmão que eu conhecia, sem


pestanejar em absolutamente nada.

Seguimos andando, quando o vi parando em frente a um elevador,


silenciosamente parei atrás dele, meu irmão também, assim que as portas se
abriram, ele entrou, por sorte tudo colaborou para não ter ninguém
querendo entrar também.

Yan apertou o botão para as portas se fecharem rapidamente assim


fazendo com que ninguém entrasse junto conosco.

— Somente uma pessoa burra o suficiente viria no mesmo lugar em


que a sua vítima está internada. — Rosnei, vendo-o se virar na minha
direção. — Veio se certificar se tinha feito o trabalho completo?

Dei um passo na direção dele.

— Não sei do que está falando! — Ivaan olhou em sua volta


buscando por qualquer lugar para fugir.

— Sei de tudo, não queira me fazer de idiota! Minha esposa está


naquela maldita cirurgia por sua causa. Sua e da sua maldita esposa. —
Grunhi socando a parede ao lado do rosto dele.

— Se sabe de tudo, sabe também que ela virou a minha vida de


ponta-cabeça, desde que Felicie saiu da nossa casa a minha vida virou um
pandemônio, minha esposa nunca mais foi a mesma, ela pediu que
fizéssemos isso, pois só teria paz quando a visse em um caixão — aquelas
palavras me causaram repulsa.

— Está falando da sua irmã! Porra, é a sua irmã!

— Foda-se! Nunca a considerei como irmã, não me enganava com


aqueles olhos amuados, meus pais sempre preferiram mais a ela do que a
mim, tudo que aquela pirralha passou era merecido. Felicie merece morrer
naquela mesa de cirurgia. Kina foi a melhor coisa que aconteceu na minha
vida, e eu realizo todos os desejos da minha esposa. — Sem pensar, minha
mão agarrou o pescoço daquele monte de merda.

— Yago, aqui não. — As portas se abriram quando Yan falou,


parando no térreo.

Agindo rapidamente Yan agarrou em um lado do braço de Ivaan


enquanto fiz o mesmo no outro lado.

— Se der um pio, mataremos aquelas gêmeas do capeta. — Rosnei


entredentes.

— Elas não fizeram nada, minhas meninas são ingênuas demais...

— Cala a porra da sua boca! — Sem conter nada de paciência,


empurrei o desgraçado que caminhou sem falar nada.

Ivaan sabia de tudo que éramos capazes de fazer, e nunca


pestanejávamos, se falei que ia fazer aquilo, é porque ia. Mas primeiro faria
até o último suspiro de vida daquele inútil passar por meus dedos. Ninguém
mexia com a minha esposa e saía com vida!
CAPÍTULO QUARENTA

Chegamos do lado de fora do hospital, ainda carregando o inútil ao


nosso lado.

— O que vão fazer comigo? — ele perguntou ainda olhando para


todos os lados.

Dexter que estava em um dos nossos carros parados ali, abriu a porta
vindo na nossa direção.

— Vem conosco — pedi ao meu capitão.

Ninguém respondeu a pergunta de Ivaan, indo para o lado de um dos


nossos carros, o mais afastado de todos eles, onde tinha certeza de que não
havia nenhuma câmera de segurança e mesmo se tivesse não teria
importância, um dos donos daquele hospital era associado da nossa máfia.

— Dexter, troque de lugar comigo — ordenei.

Yan apenas assentiu quando nossos olhos se encontraram. Meu irmão


era prol da nossa família, Felicie era um membro da nossa família.

Empurrei o corpo de Ivaan contra o carro e passei a mão no lado de


dentro do meu bolso, pegando o meu canivete.

— Acreditou mesmo que iria tentar contra a vida da minha esposa e


sairia ileso? Eu sei de tudo, sou a porra do subchefe da In Ergänzung, e
ninguém mexe com a minha família! — Grunhi colando o meu corpo no
dele.

Com uma das mãos segurei na boca de Ivaan, assim o contendo


quando começasse a gritar, embora quisesse ouvir cada grito daquele
maldito.

— Cada vez que enfiar esse canivete na sua barriga vai se lembrar de
cada maldito momento que fez a sua irmã de empregada — minha voz saiu
abafada, meus olhos fixos nos dele, vendo ali o medo explícito, desenhado
nas suas íris.

O seu grito saiu estrangulado pela minha mão que tampava sua boca,
com força levei aquele canivete até onde pude, percebendo os olhos dele
cada vez mais esbugalhados.

Tirei o canivete, fincando uma nova vez, os braços dele tentando


começar a se debater, Yan e Dexter o segurando com força.
— Sinta, seu maldito, sinta o que fez com a minha esposa. — Passei
a enterrar repetidas vezes, sem parar, entrando e saindo. — Sinta a dor que
causou nela, a rejeição de uma garotinha.

A raiva se impregnava em toda a minha alma, queria vingar a minha


esposa que estava naquela maca de cirurgia, a dona dos sorrisos mais
lindos.

Os gritos dele foram se tornando mais espessos, podia ver o sangue


que queria começar a jorrar pela boca dele, sem tirar a minha mão, percebi
que ele ia se engasgar com o próprio sangue.

— Yago — meu irmão parecia me chamar com a sua voz distante.

Não conseguia prestar atenção nele, pois precisava matar aquele


homem, precisava com toda a minha alma, ter certeza de que mandei aquele
maldito para o inferno.

— Meu irmão, ele já está morto, pode parar. — Percebi que Yan
voltara a falar, sem me dar conta de que nem ao menos estava piscando.

Passei a piscar várias vezes, virando o meu rosto para Yan,


atordoado, lentamente olhando para o homem que parecia uma peneira ali.

— A essa hora ele já deve estar ardendo nas brasas do inferno. —


Dexter soltou o braço do homem assim como Yan fez, o corpo caindo ao
chão.

Virei meus dedos, o sangue pingando por cada um deles.

— Porra, me sujei pra caralho — resmunguei de repente.


— Tenho uma camisa se quiser trocar — Dexter se prontificou, ele
estava com as vestimentas limpas, e se virando, foi até o carro em que
estava antes.

— Dexter não está indo dormir na casa dele, não é mesmo? — meu
irmão perguntou preocupado.

— Estou desconfiado que não, até mesmo está andando com roupas
no carro — logo o nosso assunto se dissipou quando Dexter voltou com
uma camisa preta.

Dois dos nossos soldados se aproximaram, um deles com uma


garrafa de água, passei a lavar a minha mão com a água que eles
despejavam em meus dedos, foram necessárias três garrafas de água.

Tirei o meu paletó, entregando o meu celular na mão de Yan assim


como o meu canivete que limpara também. Tinha um grande apego
emocional com aquele canivete por esse motivo sempre andava com ele.

Troquei a camisa vestindo aquela que Dexter me dera, me


certificando de que não tinha sujado a minha calça. Éramos treinados pra
matar, e não fazer muita sujeira, embora daquela vez tivesse extrapolado.

— Quero que limpem essa bagunça, desovem o corpo em algum rio


longe daqui, não quero que esse corpo seja encontrado — meu irmão
ordenou com a sua pose de Don destemido.

Dexter, que era o único capitão presente tomou a frente de tudo,


fazendo os soldados se movimentarem. Passei por aquela bagunça que
causei, me aproximando do meu irmão, ambos voltando a caminhar em
direção ao hospital.
— Está mais aliviado? — Yan perguntou.

— Aliviado só vou estar quando tiver a certeza de que a tal da


cunhada foi para o mesmo lugar que o irmão dela. — Estava com sangue
nos meus olhos.

— Se ela está internada é fácil, apenas ordene uma dose alta de


algum remédio. — Yan sempre sendo prático.

— Queria uma morte mais lenta, ou melhor que ela sentisse como o
idiota do irmão da minha esposa sentiu — murmurei pensativo.

— Bom, existem remédios que devem proporcionar isso. — Yan fez


com que eu refletisse sobre aquele assunto.

Na verdade, de todas as escolhas essa era a que menos causava


sujeira, e depois do estrago que fiz no estacionamento, talvez tudo que
menos queria era aquela lambuzeira outra vez.

— Gostei dessa ideia meu irmão, ter a morte de Ivaan em meus dedos
já faz com que me sinta mais aliviado e vingado, vamos dar um jeito de
fazer a outra ir com o marido. — Entramos no hospital caminhando em
direção à sala de visita.

Ao entrarmos no ambiente, todos nos olharam, meu pai franziu a


testa quando percebeu que eu estava com outra camisa.

— Cadê o seu paletó, meu filho? — mamãe perguntou, de primeira


ela não percebeu que a camisa era outra. — Espera, essa não é a marca das
camisas que usa, por que trocou?

— Digamos que fui resolver um assunto, alguma novidade? —


emendei outra pergunta querendo que não se concentrasse no fato de estar
com outra camisa.

— Por enquanto estamos na mesma. — Mamãe seguiu com a


sobrancelha franzida querendo descobrir o que eu escondia apenas com
aquele olhar de águia que sempre fazia.

— Não vou falar onde estava, senhora Zara Zornickel, o que precisa
saber é que fui vingar a minha esposa, afinal ninguém mexe com uma
senhora Zornickel. — Heinz abriu um pequeno sorriso para mim deduzindo
o que eu tinha feito.

Mamãe não se aprofundou no assunto, ela já imaginava o que tinha


acontecido. Todos nos calamos quando aquele homem de jaleco branco
apareceu, daquela vez era outro, não o mesmo da outra vez.

— Família da senhorita Zornickel?

— Senhora, pois ela é muito bem-casada comigo. — Rosnei na


minha melhor forma possessiva, fazendo aquele doutorzinho entender que
só porque salvou a vida da minha esposa, não tinha nenhum direito sobre
ela.
CAPÍTULO QUARENTA E UM

Meu corpo parecia flutuar sobre um mar de rosas, aquela dor


dilacerante passou, tudo que restara foi a suavidade, o conforto, será que
era isso a morte?

Não consegui abrir os meus olhos, não tinha forças, tentei... tentei e
tentei, mas não consegui. Aquele sussurrar ao meu lado fez com que eu me
concentrasse nele, conhecia aquelas vozes, não estava sonhando, então, não
estava morta?

— Ainda vai romper o seu casamento depois de tudo que aconteceu?


— a voz feminina sussurrou, como se achassem que eu não estava ouvindo.
— Não sei, mãe, o estado dela é delicado, não posso ser egoísta e
deixá-la em um momento como esse — aquela voz tão familiar para mim
fez com que o mar de rosas parecesse um mar de espinhos.

A dor vinha direto no meu coração, como facas sendo atiradas, ele ia
romper o nosso casamento? Aquela era a razão do sumiço de Yago? Não
queria mais nada comigo?

Quis gritar, espernear, mas tudo que meu subconsciente fez, foi me
levar para uma nova rodada de sono, meu corpo exausto se entregando
àquela imensidão.

Outra vez, mas daquela estava tudo silencioso, será que ninguém
mais ia falar ao meu lado? Encontrava-me flutuando novamente, como se
pudesse mexer meus braços e rodar, rodar e rodar. Estava tudo tão bom, por
que precisava acordar?

— Como ela está? — Aquela voz tão conhecida por mim reverberou
ao meu lado, mesmo ele falando baixo, parecia que soou gritando dentro de
mim.

— A senhora Zornickel está bem, o quadro dela está instável, não


entendemos a razão para ela não ter acordado ainda — aquela voz nova se
pronunciou, assim como a outra voz, entrou gritando dentro de mim.

Era simples, eu não queria acordar, que me deixassem flutuar,


deixassem aquela tranquilidade me levar, por que precisava acordar se estar
aqui era tão bom? Não tinha nada me incomodando, um marido que vivia
fugindo de mim.

Outra vez me deixei levar por aquela imensidão, daquela vez ela
tinha cor clara, não consegui descansar muito bem sobre ela, mas me
entreguei.

— Pequena — o sussurrar ao meu lado me despertou, o leve flutuar


se tornando incômodo, querendo me concentrar no que ele ia falar para
mim. — Volte para mim...

Por que ia voltar? Para você me dizer que não me queria mais?
Preferia ficar aqui, flutuando.

Senti algo tocando na minha mão, como se fossem pequenas


formigas tocando a minha pele, não era ruim, era bom, faíscas, gostosas
faíscas. Tentei puxar meus dedos, e talvez aquilo fez com que ele
percebesse que estava em algum lugar dentro de mim, perdida.
— Felicie, volta para o seu marido. — A voz dele entrava em meu
subconsciente de uma forma aveludada. — Por favor, não me deixe, volte
para mim...

Eu te deixar? Você quem quis me deixar primeiro. Não queria


acordar, não queria acordar e saber que todas as suas palavras eram
mentiras. Por aquele motivo preferia me entregar à imensidão e apenas
flutuar.

— Minha linda. — Daquela vez a voz era feminina, tão suave,


delicada, reconheceria em qualquer lugar sendo a da minha sogra.

Até mesmo Zara estava ali? Por que eles não me deixavam dormir
mais cinco minutinhos? Isso me fazia lembrar de mamãe quando ela me
acordava e eu apenas queria dormir mais.

Será que se eu fosse daquela pra melhor, me encontraria com ela,


teríamos o nosso final feliz em família? Sentia tanto a falta deles, como
seria se eles não tivessem me deixado? Será que teria crescido como uma
menina normal?

— Felicie, você precisa acordar, tem um mundo de possibilidade


aqui para você, precisa reagir, minha linda, seu marido está esperando por
você, a sua família está esperando por você. — Senti o toque dela sobre a
minha mão, mas daquela vez, não consegui mexer meus dedos, não houve a
corrente elétrica, não tinha o mesmo poder que a mão dele tinha.

Não queria acordar, não podia acordar, queria dormir mais, poder
dormir tudo que eu não pude em toda a minha vida. Por aquele motivo,
voltei a me entregar à imensidão, criando uma afinidade com ela, me
jogando sobre ela.

Outra vez aqui? Porque não me deixavam flutuar, estava tudo tão
bom, queria ficar lá, sozinha, talvez estivesse convivendo demais com
aquele loiro que parecia um príncipe, ele podia ser o meu príncipe, mas
príncipes não abandonavam, e ele queria me abandonar.

— Sei que deve estar bom aí, querida. — Ao ouvir aquela voz senti
por um breve momento uma vontade incessante de sorrir, mas não consegui.

Anali estava ali? A minha amiga, a única mulher que me fez perceber
que não merecia viver naquela prisão, mas do que adiantava? Vim parar em
outra, um casamento que desde o princípio nunca deia ter acontecido.

— Se você soubesse que aqui tem um homem desesperado pela sua


recuperação, ele já brigou com os médicos, dorme todas as noites ao seu
lado, até mesmo foi obrigado a ir para casa tomar banho, mas ele não foi,
confesso que o cheiro dele não está nada agradável — Anali parou de falar
quando parecia estar sorrindo.

Dormiu aqui todas as noites? Como assim todas as noites? Se apenas


me entregava à imensidão por minutos, vocês não me deixavam dormir, e
não os odiava, pois amava cada um.

Falando em imensidão ela estava vindo outra vez, daquela vez me


puxando pelos pés, fazendo-me escorregar sobre ela.

Apenas queria abrir meus olhos para xingar aquela pessoa que me
tirou do meu momento de flutuação. Aquele choque me fez sair do meu
estado de inércia.

— Minha pequena — ele parou como se estivesse escolhendo as


palavras para falar. — Não aguento mais te ver nesse estado, meu coração
se debate loucamente em meu peito, estou um caos, nunca pensei que
alguém poderia me deixar tão confuso como você me deixa. Sinto a sua
falta, sinto a falta dos seus sorrisos delicados, sinto falta de chegar na
nossa casa e ouvir o sistema de som ligado no último volume, sinto falta
das suas perguntas, se um dia apreciei a solidão isso foi antes de conhecer
o meu pequeno furacão...
A voz dele morreu quando puxou a respiração com força. Ele só
podia estar mentindo, como podia sentir falta de algo que dizia odiar?

— Sei que deve estar se perguntando como posso sentir falta de algo
que eu odiava, mas agora eu vejo que nunca foi ódio, tudo que eu não
gostava não se intitulava a você, pois sinto falta das coisas mais absurdas
quando se trata da minha esposa... você precisa voltar... precisamos de
você, nosso filho precisa da mãe dele acordada...

A palavra filho fez todo o meu corpo ficar em estado de alerta e


como se tivessem ligado um interruptor dentro de mim, meus olhos se
abriram para a vida.
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

Meus olhos se concentraram nos azuis que estavam fixos aos meus,
não consegui falar nada, minha garganta estava seca.

— Pequena, você acordou? — A mão dele se ergueu querendo tocar


o meu rosto.

Fiz uma careta virando o rosto, impedindo a mão dele de tocar na


minha face.

— Água — murmurei com a ardência predominando a minha


garganta.

Yago não questionou, pegou uma garrafa de água, que parecia estar
pronta para mim ali ao lado da cama, com um canudo, levando-a à minha
boca, senti aquilo tocando o meu lábio e com suavidade puxei o líquido,
sentindo-o percorrer por toda a minha garganta.

Quando ele percebeu que já tinha tomado a quantidade que gostaria,


tirou da minha boca o canudo e pelo canto dos olhos, eu o vi tocando um
botão. A luz vermelha em cima da minha cama acendeu. Não demorou
muito para um doutor aparecer, nem ao menos tinha falado ainda com o
meu marido, de tão rápido que aquele médico veio.

— Ela acordou. — Meu marido parecia receoso.

— Ótimo, vamos fazer alguns testes. — O homem se colocou na


minha frente, por incrível que parecesse aquele homem era bem jovem. —
Qual o seu nome?

— Felicie Ludwig — de propósito falei meu nome de solteira.

— Tem certeza? — o doutor perguntou olhando uma prancheta onde


devia ter o outro sobrenome.

— Apenas quero saber sobre essa história de filho. — Não desviei


meus olhos do doutor, estava bem, embora minha voz estivesse meio falha.

— Qual é o seu sobrenome de casada? — o médico perguntou


ignorando a minha pergunta.

— Droga! Zornickel, não por muito tempo, não é mesmo? —


Vagarosamente, virei meu rosto, vendo ali do outro lado o meu marido.

Ele não expressou nenhuma reação, sendo o marido impenetrável que


sempre foi quando algo não ia de acordo com o que ele esperava.
— Ótimo — nitidamente o doutor falou aquilo por educação, mas o
rosnado que Yago fez ao meu lado não foi nem um pouco educado.

— O que está ótimo doutor Lins? — Yago parecia até mesmo um


homem das cavernas falando.

— Ah... o estado de saúde da senhora Zornickel. — O pobre doutor


pigarreou. — Agora que está acordada vamos refazer alguns exames, vou
solicitar que a obstetra venha falar com a senhora.

Apenas pisquei meu olho, o Doutor se afastou, se mostrando


temeroso com a presença do meu marido ali ao lado. Voltei a ficar sozinha
com ele, descendo meus olhos pelas vestimentas dele, lembrando que Anali
disse que ele precisava ir para casa tomar banho.

— Posso saber que história é essa de pôr enquanto? — O loiro


cruzou seus braços.

Fechei meus olhos percebendo que ninguém ia falar nada sobre o


assunto do filho. Não voltei a abri-los, querendo ignorar a todo custo aquele
homem.

— Felicie Zornickel, acabou de acordar, estou tentando ser paciente,


mas tudo que eu penso é na maldita palavra por enquanto, o que quis dizer
com isso — ele voltou a insistir.

— Tem outra pessoa que possa ficar aqui comigo? Você está com o
cheiro horrível. — Obviamente era mentira, nem ao menos estava sentindo
o cheiro dele.

Apenas usei o assunto que Anali me confidenciou.


— Não vou sair do seu lado até que receba alta. — Abri meus olhos,
encarando aqueles lindos olhos azuis.

— Vou pedir que tirem você daqui — fui firme mesmo estando com
a voz fraca.

— Só saio daqui carregado. — Franziu as sobrancelhas.

— Se é assim, que assim seja — resmunguei fechando meus olhos


outra vez.

— Porra, Felicie, qual é o problema, por favor me fale. — Yago


grunhiu deixando explícita a forma que estava desesperado.

Abri meus olhos, sentindo uma dor presente em minha perna quando
tentei mexer nela, meus olhos se enchendo de lágrimas diante daquela dor
aguda. Quis me levantar e olhar melhor. A dor me dominando com ainda
mais força.

— Schii, pequena, não pode forçar seus pés, deixa que eu ajusto a
cama — Yago mudou a forma de falar, daquela vez mais carinhoso.

Inclinou a cama, ajudando-me a manter o meu corpo meio inclinado,


meus olhos que estavam cheios de lágrimas viram o meu pé preso por uma
corrente que o mantinha um pouco erguido.

— Oh, céus. — Os pinos em minha perna rodavam logo abaixo do


meu joelho, tinha um corte ali.

— A sua tíbia foi fraturada, por ela ter ficado exposta, foi necessário
colocar uma pequena barra fixada por parafusos sobre o seu osso, para a
reconstrução dele — meu marido explicou ao meu lado.
Aquele treco em volta da minha perna era assustador, não consegui
falar nada, meus olhos foram para a minha outra perna, aquela estava com
uma faixa, um curativo.

— E ali? — quis saber.

— Pontos sobre o corte. Foi sorte que o carro pegou apenas sobre
uma das suas pernas, e que apenas o osso quebrou. Tudo nesse acidente foi
uma grande sorte. — Ergui meus olhos.

— Como pode haver sorte se estou nessa cama de hospital? —


resmunguei meio impaciente.

— Eu vi nas câmeras, por centenas de vezes fiquei olhando e me


martirizando por vê-la naquela situação, não tinha como você ter saído com
vida, o que ajudou foi o fato do seu corpo ser jogado sobre aquela vitrine de
vidro e cair em cima de um colchão infantil — Yago falou sobre todo o
assunto.

— Não me lembro de nada — murmurei sem me recordar de nada,


sem saber como tudo aconteceu, apenas me recordando do momento em
que acordei aqui.

— Não sei o que seria de mim se tivesse perdido você...

— Não precisa mentir, eu ouvi a sua conversa com a sua mãe, ouvi
quando disse que iria romper o nosso casamento — murmurei ignorando o
olhar dele.

— Agora está explicado o fato de estar assim tão irredutível.

Fomos interrompidos pela doutora que entrou na sala e assim como o


doutor ela era jovem. Segurando em sua mão uma prancheta, sorriu para
mim com leveza e parou ao lado da cama.

— Sou a doutora Estela Lancaster — apresentou-se para mim


olhando os meus monitores. — Estou monitorando o seu caso, e confesso
que esse bebê é um guerreiro.

Minha boca se entreabriu várias vezes, então realmente existia um


bebê?

— Quando chegou na emergência foi levada às pressas para a


cirurgia, sem podermos esperar pelos seus exames de sangue, durante a sua
cirurgia na tíbia descobrimos sobre a gestação. As medidas foram tomadas,
fizemos o ultrassom e para a nossa surpresa o feto estava saudável. — Ela
sorriu.

— Mas como isso pôde acontecer? Sendo que eu tive o meu ciclo —
perguntei atônita.

— Teve normal? Não foi uma quantidade reduzida?

— Sim, agora que perguntou, sim, foi...

— Algumas mulheres têm o sangramento que chamamos de nidação,


é pouca coisa, podendo até mesmo ser confundido com menstruação.

As palavras me faltavam, Yago se afastou de mim quando


descobrimos que não estava grávida, ele não queria mais nada comigo e
agora estava grávida, será que era por isso que ele mudou de ideia a respeito
de romper o casamento?

Ainda temos o acordo, e possivelmente vou precisar viver junto dele


como uma família de fachada, ele apenas ia me querer ali pelo bebê que
crescia dentro de mim.
— Agora que você acordou vamos refazer o ultrassom, tudo bem? —
apenas assenti, pois, diante de todas aquelas notícias ruins, algo bom crescia
dentro de mim.
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS

Ao meu lado foram colocados todos os equipamentos do ultrassom, a


mulher se sentou na cadeira e com o auxílio de Yago colocaram a minha
camisola hospitalar de lado, a coberta tampando a minha calcinha. Em meus
dedos tinha sondas, por esse motivo ficava ruim de mexer a minha mão.

— Vai sentir um pouco gelado na sua barriga — Estela falou


colocando o gel que causou um leve arrepiar.

Virei o meu rosto para o visor quando ela passou a esfregar o


aparelho em minha barriga, vários borrões surgiram, até que ela parou sobre
algo mais escuro, como se fosse um balão.
— Esse é o saco gestacional, e aqui. — Ela apontou para aquela
pequena coisinha ali dentro do saco gestacional. — É o bebê.

Meus olhos se encheram de lágrimas, era quase impossível enxergar


algo, ali estava o meu filho, o meu pequeno milagre. A doutora passou a
tirar as medidas, anotando tudo no seu computador.

— Quando foi a sua última menstruação, querida? — ela perguntou e


eu precisei parar para pensar, lembrando que foi umas duas semanas antes
do baile de máscaras, respondi a data para ela conforme fazia as contas na
minha mente. — De acordo com as medidas, e a sua última mostra você
está de seis semanas...

— Como isso é possível se estamos casados há menos tempo que


isso? — meu marido perguntou.

— A contagem é feita a partir da última menstruação da mulher —


ela respondeu prontamente.

Não conseguia parar de olhar para aquele pequeno pontinho, em


pensar que estava dentro de mim.

— Vamos tentar ouvir o coração? Pode ser que não consigamos, pois
ainda é muito novo — ela parou de falar mexendo em alguns botões.

De repente foi como se o tempo parasse e tudo que eu podia ouvir era
aquele, tum, tum, tum, rapidamente, um coraçãozinho batendo rápido. Senti
a mão do meu marido afagando a minha, não a tirei, pois aquele momento
era nosso, meu, dele e do nosso filho.

Um filho que no começo queria desesperadamente para manter o pai


dele ao meu lado, mas agora era diferente, ouvir da boca dele que queria
romper o nosso casamento, foi como levar uma facada no coração.

Queria aquele filho, com tudo que habitava dentro da minha alma, eu
queria o meu bebê, mas também queria o pai dele por mim, não pelo bebê,
desejava que Yago quisesse ficar ao meu lado por quem eu era.

— É perfeito — murmurei ainda encantada com aquele batuque.

Ela tirou o aparelho, Yago pegou o papel que ela estendeu limpando a
minha barriga, nossos olhos se encontrando em meio ao processo. Podia ver
em meus braços vários arranhões, o que me fazia pensar em meu rosto,
como será que ele estava?

A doutora Estela passou todos os detalhes sobre o nosso filho, os


remédios que precisaria tomar, as precauções, e o número do consultório
dela caso quisesse manter minhas consultas com ela quando saísse do
hospital.

Sair dali era tudo que queria naquele momento.

Voltei a ficar sozinha com Yago, tentei puxar a minha mão que ainda
estava sobre a dele, mas obviamente ele não deixou. Nossos olhos se
encontraram, ele não disse nada, como se estivesse esperando que eu falasse
algo, e obviamente não me controlei, acabei sendo a primeira a falar:

— Se afastou de mim quando achamos que tinha descido para mim.


Pensou que eu não estava grávida, sumia direto, não respondia às minhas
mensagens, não fez o que prometeu e ouvi nitidamente quando falou para a
sua mãe que não sabia o que ia fazer, se sou esse problema que faz parecer
ser, me dê o divórcio, um filho não precisa mudar os seus pensamentos.
Yago não esperava por aquela enxurrada de frases minhas, meu
marido ficou em silêncio, como sempre demorando para me dar a sua
resposta.

— Tem razão, tem razão sobre tudo, fui falho quando deveria ter
estado ao seu lado eu fugi. Julguei que o ideal era ficarmos longe, o fato de
você aparentemente não estar grávida foi como um sinal para mim, um sinal
de que aquilo tudo era um erro. Estava me tornando um maldito viciado em
você, queria que chegasse todas as noites rapidamente apenas para estar na
sua cama, isso não é normal, querer desesperadamente viver a todo
momento ao lado de alguém não é normal. Merece bem mais que um
homem confuso como eu ao seu lado — daquela vez fui eu que fiquei em
silêncio, assimilando as palavras dele.

Então ele se afastou por orgulho? Por que julgou que estar ao meu
lado era um erro? Por Deus! Sou a esposa dele, como podia ser um erro?

— Tem razão, eu mereço — murmurei fechando meus olhos, lutando


contra as minhas lágrimas.

— Quer o divórcio, Felicie? — ele perguntou fazendo com que meus


olhos se abrissem outra vez.

— Sim, se for por essas razões tão banais que falou, eu quero! —
declarei encarando aqueles lindos olhos azuis.

— Se os motivos são banais, saiba que não ganhará. — Um suspiro


escapou da minha boca.

Erguendo a minha mão, olhando os arranhões que tinham sobre ela,


me perguntava como devia estar meu rosto.
— Ótimo, veremos até quando vai continuar essa sua convicção,
pode ser corajoso para tudo, menos para si mesmo, para encarar o que sente
dentro de si. No primeiro indício de “vício” novamente, tenho certeza de
que sairá correndo — retruquei frisando o fato de ele me chamar de vício.

Sem titubear em minhas palavras fui firme, olhando para o meu pé


naquele estado, fiz uma careta diante da leve dor de cabeça que senti
fechando meus olhos.

— Está sentindo algo? — ignorando o que eu tinha falado ele se


mostrou preocupado com a minha reação.

— Estou sim, apenas um pouco de dor de cabeça — murmurei. —


Acho que não deve ter sido bom acordar para me estressar com você.

Mantive meus olhos fechados, levando um sobressalto quando o


hálito mentolado dele se chocou no meu.

— Saiba, Felicie, que eu vou cuidar de você, serei a sua perna


quebrada, te levarei para todo lugar, cuidarei da minha esposa, e do meu
filho, mesmo que você continue me odiando.

— Só acredito vendo, pois, todas as provas que tive a seu respeito


foram fracas, falhas, demonstrando o quão covarde é perante o nosso
casamento. — Nossos olhos fixos um no outro, meu marido tocou o meu
lábio com o dele.

— Farei questão de fazer você perceber que posso ser bem mais que
isso...

— Estou esperando, senhor Zornickel. — Ele se afastou quando uma


batida na porta se fez presente.
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO

Obrigaram-me a sair do lado da minha esposa após ela ter acordado e


recobrado toda a sua consciência. Consciência aquela que veio carregada de
boas informações, até mesmo as que não devia ouvir.

Porra! Felicie não era para ter ouvido sobre os meus planos de
separação, não tinha que ser daquela forma. Minha esposa acabou de
acordar, e jogou na minha cara o quão fraco eu era. E não a julgava, pois me
sentia fraco, eu fui com ela, não lutei pelo nosso casamento, na primeira
oportunidade a deixei sozinha.

Saí do banho na nossa casa, vesti um terno limpo, olhando o nosso


closet agora completo pelas roupas dela, e as minhas.
Assim tinha que ter sido desde o princípio, eu e ela, mas não foi.
Fraquejei horrivelmente com Felicie.

Como pude ser tão contraditório com as minhas próprias convicções?

Desci as escadas, aquela casa não era a mesma como quando chegava
e a ouvia escutando suas músicas em volume alto, por diversas vezes me
pegava olhando-a escondido. Felicie era perfeita, a garota mais perfeita que
já conheci, e estava disposto a entregá-la de bandeja para outro homem.

Era um fraco, fraco demais.

PORRA!!!

Passei a mão em meus cabelos úmidos, distraído, franzindo a minha


sobrancelha ao ver ali na minha sala meus irmãos Yan, Yank e Yanni
acompanhados do meu pai.

— Isso é o quê? Um complô? O que fez todos se juntarem aqui? Até


mesmo você Yanni? — Estranhei o fato do meu irmão mais novo ter saído
de Nova York.

— Precisei sair da minha cobertura para ensinar o meu irmão cabeça


oca a ser um bom marido — aquele era o jeito carinhoso dele de falar.

Vindo na minha direção, abrindo os seus braços, demos um abraço


apertado, um dando aquele tapa de respeito nas costas do outro. Afastei-me
dele, olhando em seus olhos verdes.

— Sério que isso é uma intervenção no meu casamento? — Olhei


para todos eles.
Aproximei-me da sala, sentando-me no sofá e recebi um copo de
uísque do pequeno Heinz que estava ali presente. O filho mais novo de Yan
o acompanhava para tudo que era lugar. Até mesmo já conhecia todos os
nossos gostos, e porra o moleque tinha só quatro anos.

— Mamãe falou que sua esposa ouviu muitas das conversas que
estavam falando próximo dela, incluindo a de vocês dois quando disse que
iria se separar. — Yan tomou a frente como sempre, seu filho se
aproximando dele, meu irmão segurava com uma das suas mãos seu copo
de uísque e com a outra puxava o filho para se sentar na perna dele. —
Estamos aqui para saber exatamente quais são as suas intenções com ela.
Você trouxe essa garota para a nossa família, fez todo mundo se apegar ao
modo dela, Baby propôs até mesmo uma votação para saber quem estava ao
seu lado e ao lado dela.

— Porra, Yanni, sua esposa é uma megera — reclamei com meu


irmão mais novo que sorriu passando a mão no ombro do meu pai,
sentando-se ao lado dele.

Minha sala era composta por dois sofás grandes, estava sentado no
mesmo sofá que Yan, na minha frente se encontravam meu pai, e meus dois
outros irmãos.

— Adoro as megeras — Yanni zombou enquanto meu pai balançava


a cabeça para se conter na sua risada.

— Precisamos entender o que se passa na sua mente, sendo que


nunca revela nada para nós, saiba que na votação você ficou em minoria. —
Yan deu de ombros.
— Como que fiquei? As mulheres com certeza ficaram ao lado dela,
mas e vocês? — Todos eles me olharam. — Seus grandes filhos da puta,
foram contra mim?

— Tio, não pode falar palavra feia, a mamãe briga. — O pequeno


Heinz fez aquela expressão de negação típica dos Zornickel.

— Sua mãe não está aqui agora. — Pisquei um olho de forma


descontraída.

— Tio Klaus estava presente e ele foi influenciado pela Edvige —


Yanni tentou arrumar uma desculpa.

— Tá, sei, se for assim todos vocês foram influenciados por suas
esposas — eles se calaram outra vez. — Vão se foder, alguém por acaso
ficou do meu lado?

— Eu fiquei, tio Yago. — Heinz levantou a mãozinha se mostrando


meu parceiro.

— Ótimo, muito capaz da minha família me deserdar e acabar


ficando com a minha esposa — resmunguei.

— Quem duvida é louco — Yank se fez presente naquele momento.

— O que querem aqui quando nitidamente estão contra mim? —


Cruzei meus braços e dobrei a minha perna sobre a outra, apoiando ali o
meu copo.

— É por esse motivo que estamos aqui. Vai cuidar dela? Vamos
precisar adaptar a sede? — Yan perguntou preocupado.
— Sim, eu vou cuidar dela, não acredito que julgaram que não
cuidaria da minha esposa — outra vez todos se calaram duvidando de mim.
— Já mandei vocês se foderem hoje?

— Cala boca, meu filho está presente! — Yan só me repreendia


quando estava ultrapassando todos os limites da aceitação.

— Okay, vou cuidar sim de Felicie, ela vai ficar na nossa casa, e serei
eu a lidar com ela — fui sério no meu tom de falar, sem deixar nenhuma
brecha.

— Ainda acredito que seria melhor vocês dois ficarem na sede, lá


tem mais pessoas para auxiliarem. — Meu pai se mostrou preocupado.

— Estou disposto a reconquistar a confiança da minha esposa, e


espero que todos me entendam, manter ela aqui é a melhor forma que vejo
pra isso.

— Sabe que está lidando com bem mais do que uma simples
confiança, qualquer deslize seu pode acabar fazendo ela odiá-lo ainda mais.
— Papai estava preocupado, pois sabia como era o meu gênio
despreocupado com tudo.

— Errei com Felicie, errei quando pensei que ela poderia ser mais
feliz com outro homem do que comigo, errei julgando que não merecia
aquela mulher, ainda me acho indigno dela. Mas ter a sensação de perder
ela foi sufocante, como se me tirassem o ar para respirar. Me fazendo
perceber que somente eu posso protegê-la de todo o mal, somente eu posso
estar ao lado daquela mulher, não posso me permitir cometer o mesmo erro
pela segunda vez. — Levei o copo à minha boca, pois precisava recuperar o
meu fôlego.
— O garoto tá aprendendo a ser homem — Yank zombou balançando
a sua cabeça.

— Está certo, meu irmão, e saiba que estamos ao seu lado, se votei
contra você foi porque não tinha visto você falar uma frase tão longa há
muito tempo. — Yan me fez revirar os olhos.

— Yago está apaixonado, que lindo. — Yanni sempre ia ser o mais


palhaço e não tinha quem mudasse aquilo nele.

— Vão se fo... — Eu me contive quando recebi o olhar de


reprimenda de Yan.

— Calma, a mulher dele está grávida, ele vai se obrigar a conter essa
boca suja, agora não vai ser somente o Yago despreocupado. — Yank
trocou um rápido olhar com Yan.

— Falando em pai, Zara falou que Felicie disse para ela que vocês
ouviram o coração do bebê hoje — papai queria saber.

— Às vezes esqueço como mamãe é rápida com as notícias —


resmunguei.

— Claro, afinal precisamos de notícias, se depender de você,


morremos esperando — Yan entrou em defesa da nossa mãe.

— Ouvimos o coração, Felicie chorou, fiquei sem saber o que fazer,


depois fui quase rejeitado pela minha esposa, ela já acordou me odiando,
mas como sou um bom Zornickel raiz, não vou desistir dela. Gostaram do
resumo da minha manhã? — Arqueei uma sobrancelha olhando para todos
eles.
— Gostei da parte que ela te rejeitou, pois mesmo morando longe, sei
o quão babaca pode ser irmãozinho — Yanni, sem filtros, voltou a fazer
suas gracinhas.

— Pelo menos todas as mulheres da família estão felizes com o novo


bebê e vou poder dizer que meu último filho faltante se casou — papai
falou meio pensativo.

— Se você falar a palavra ir em paz eu pego essa sua bengala e bato


no senhor — Yank retrucou meu pai fazendo todos nós rirmos.

Sabíamos que Heinz tinha a idade avançada, estava com 78 anos, não
era mais nenhum jovem, foi ele que nos criou, ele que nos fez sermos quem
somos, e se tinha um homem que era mais porra louca que ele desconhecia.

Assim que todos entenderam que não ia desistir da minha esposa, o


assunto mudou, começando a vir as piadas, Yanni falava sobre Nova York,
e deixava claro que Owen também estava pensando em vir, sendo que todos
eram muito apegados a Felicie.

Yanni e Baby ainda não conheciam Felicie pessoalmente, mas por


videochamadas, já, assim como meu primo Owen e sua esposa Polina, não a
conheciam pessoalmente, mas obviamente, a conheceram também pelas
videochamadas. E como não tinha como não se apaixonar por Felicie, eles
se apegaram a ela.
CAPÍTULO QUARENTA E CINCO

Esfreguei a mão na minha calça social, ainda me sentindo


constrangido por estar segurando aquele treco enorme em minhas mãos. De
acordo com a minha mãe, não existia mulher que resistisse a um buquê de
flores como um pedido de desculpas.

Mas obviamente ela colocou alguns prós e contras, deixando algumas


cláusulas em aberto que aquele podia ser apenas o primeiro passo para
reconquistar a minha esposa.

Como uma frase podia estragar com tudo? Como fui capaz de falar
aquilo na frente dela? Caralho, aquilo nem ao menos justificava o fato de
ter ficado aqueles dias fugindo de Felicie. Agora ela estava grávida, com
um pequeno fruto nosso dentro dela, e nem ao menos queria a minha
proximidade.

E nem ao menos era culpa dela, e sim tudo culpa minha.

Parei em frente à porta do quarto dela, sabendo que ali dentro


estavam a minha mãe e Anali, as duas se dispuseram para ficar com a
minha esposa assim me obrigando a sair. Ou teoricamente fui expulso do
quarto pela pequena.

Com uma batida na porta, anunciei a minha entrada, coloquei a


minha cabeça para dentro, o quarto estava com a luz acesa e as três
conversavam animadamente. O sorriso lindo no semblante da minha
pequena se esvaiu assim que me viu.

Entrei segurando aquela coisa na minha mão, ainda com o


constrangimento explícito em meu olhar, porra, como era difícil ser
romântico. Não nasci para aquilo.

Felicie ficou analisando o buquê de rosas vermelhas, seus lindos


olhos azuis se tornando brilhantes, por mais que ela não quisesse assumir,
estava fascinada.

— Dizem que os buquês de rosas são um belo pedido de desculpa —


murmurei vendo-a mexer seus braços para segurar o buquê.

Abaixei o meu rosto beijando a testa dela. Felicie tinha um dos seus
olhos roxos, com a batida sobre a vitrine acabou que feriu ali, mas por sorte
não houve ferida exposta, alguns arranhões superficiais na face, sobre a
testa, as bochechas, começando a criar pequenas cascas.
— São lindas, Yago, primeira vez que ganho flores. — Ela quis
manter a compostura de durona, mas não resistiu levando o nariz até aquele
buquê, dando uma longa cheirada.

Naquele momento virei meu rosto vendo que mamãe tinha tirado
fotos, fiz uma careta para Zara, afinal qual a razão daquilo?

— Qual é, meu filho? Não vou perder a primeira vez que meu filho é
romântico, vocês ficam tão lindos juntos. — Mamãe fez aquele semblante
sonhador que sempre fazia quando via seus filhos encaminhados. — Mas
querida, não aceite somente isso de desculpa, esse homem precisa rastejar
bem mais...

— Zara! — repreendi minha mãe.

— Yago! Filho de quem é, se não for domado, vai pensar que será
tudo muito fácil sempre. — Estava quase colocando-a para fora assim
manteria minha esposa longe daquelas falas que podiam persuadi-la.

— Tudo bem, sogra, eu ainda tenho na minha lista um gatinho. —


Virei meu rosto rapidamente para Felicie.

— Em qual momento viraram tão amiguinhas assim a ponto de estar


chamando a minha mãe de sogra? Tá parecendo a Luna, Belinda e Baby —
resmunguei torcendo o meu nariz. — Pode ir tirando essa história de gato
da sua mente.

— No momento que você achou melhor se afastar, quando julgou


que era melhor ficar longe, alguém precisava curar a falta que um marido
fazia na nossa casa, por sorte era apenas a sua mãe. — Puxei meu lábio para
o lado.
— Zara Zornickel, você está transformando a minha esposa em uma
miniatura sua. — Fiz novamente uma careta para a minha mãe.

Mamãe abriu um dos seus sorrisos convencidos, se virando para a


minha esposa, foi até ela, segurou na mão de Felicie e deu um beijo suave
em sua bochecha.

— Cuide de minha nora e do meu netinho. — Piscou um olho se


afastando.

Logo Anali fez o mesmo, ambas se despediram e obviamente minha


mãe fez várias intimações para cuidar de Felicie. Algo que logicamente eu
faria.

Voltei o meu olhar para a minha esposa, ela estava observando o


grande buquê de flores em seus braços, os olhos azuis brilhando com aquele
meu gesto, olhei à minha volta percebendo que sobre um dos balcões do
quarto dela tinha um jarro.

— Posso colocar no vaso se achar melhor — declarei vendo-a


assentir.

Peguei o jarro, colocando um pouco de água dentro dele, voltei para


perto da minha esposa, peguei o buquê dos braços dela e o coloquei dentro
do jarro.

— O que você quis insinuar quando mencionou que por sorte era
apenas a minha mãe? — Perguntei franzindo a minha testa, parando ao seu
lado.

Voltei ao assunto que me deixou bastante intrigado. Felicie que


mexia na ponta das suas unhas, ergueu os olhos na minha direção.
— Ué, o óbvio. — Ela balançou suavemente o ombro.

— Acredita mesmo que seria burro o suficiente para deixar algum


homem se aproximar da minha esposa? — Semicerrei meus olhos.

— Foi ao ponto de cogitar a nossa separação — Felicie era o tipo de


mulher que quando se soltava tinha a resposta na ponta da língua.

— Ótimo, agora sou burro. — A pequena de olhar doce abriu um


pequeno sorriso, como se estivesse zombando de mim. — Está achando
graça?

— Bom, você se chamou de burro, e isso foi muito engraçado para


mim. — Mordeu o canto do lábio.

Revirei meus olhos, percebendo que teríamos uma longa noite pela
frente.

— Vai passar a noite aqui comigo? — ela perguntou como se


estivesse lendo meus pensamentos.

— Às vezes me pergunto como sabe o que estou pensando, estava


nesse momento pensando sobre isso...

— Bom, você faz o mesmo comigo — ela me cortou, o que fez


ambos se calarem, porra, até mesmo naquilo tínhamos que nos conectar.

Somos tão diferentes, mas ao mesmo tempo conectados.

— Não sei por que ainda duvidou se iria ficar aqui com você,
obviamente vou. Por mim nem teria saído daqui, mas me expulsaram —
terminei a frase resmungando

— Ao menos agora está cheiroso — a pequena voltou a zombar.


— Quem vê pensa que eu estava fedendo — retruquei.

O assunto morreu quando Felicie, passou a mexer os dedos


impaciente.

— O que quer me perguntar? — Conhecendo a esposa que tinha,


sabia que quando ela fazia aqueles pequenos movimentos repetidos, queria
perguntar algo.

— Ninguém quer me falar sobre o acidente, eu quero saber.

— Pedi que ninguém falasse até você ganhar alta, não quero que
tenha preocupações.

— Foram eles, não é mesmo? Meu irmão, minha cunhada... — seus


olhos foram se enchendo de lágrimas. — Não sei o que eu fiz de tão ruim
na vida deles para me odiarem tanto.

Minha esposa foi logo tirando suas conclusões e acertando.

— Sim, foi a sua cunhada que estava no carro, e pelas câmeras de um


estabelecimento percebemos que seu irmão estava junto. Sinto muito. —
Segurei na mão dela, percebendo seus dedos frios, fazendo-a parar com os
movimentos repetidos.

— Por quê? O que eu fiz para eles? Não sou uma pessoa má, por qual
motivo meu irmão sempre me odiou. — Ergui meu dedo limpando a
lágrima que caíra.

— Pelo que entendi sempre houve um pouco de ciúmes dele pelos


seus pais gostarem mais de você, a razão certa nunca vamos descobrir — a
forma como falei deixou explícito o que eu tinha feito.
— Você o matou... — sussurrou arregalando os olhos.

— Prometi que iria te proteger, e ele foi uma ameaça, ele mexeu com
a minha esposa, mexeu com a esposa de um mafioso, e isso não tem perdão.
Matei ele, matei vingando a minha esposa, ele poderia ser o Papa, mas se
fizesse algum mal a você, mataria — minhas palavras foram diretas, sem
devaneio, fazendo-a perceber que era mais do que importante para mim.

— E enquanto a Kina?

— Teve um mal súbito, ninguém entendeu bem, já que ela estava se


recuperando bem das sequelas do acidente — respondi.

— Foi você?

— Entenda Felicie, você é a minha esposa, e qualquer pessoa que


mexer com a minha esposa terá o mesmo fim, sim, eu mandei que
mexessem nas dosagens dos medicamentos dela.

Felicie ficou em silêncio por longos segundos, como se estivesse


processando os fatos.

— O que fizeram com meu irmão?

— Deve estar boiando por algum rio. Não tenha pena dele, Felicie,
não tenha piedade do homem que te fez de empregada por anos, foi a favor
de todas as loucuras que aquela mulher fazia com você, e queria a sua
morte, aquele acidente não foi apenas um acidente, era para ser a sua morte,
a sua morte! — frisei a última frase sendo um tanto rude e percebendo que
os olhos tristes dela estavam começando a chorar pela morte do irmão,
queria tirar aquilo de Felicie.

— Esse é o seu mundo, não é mesmo?


— Sim, esse é o meu mundo, e é assim que resolvemos as coisas.

— E eu faço parte dele, agora?

— Sim faz e fará parte dele por toda a sua vida.

— Então preciso aceitar que isso foi o melhor, se não fosse agora
seria mais para a frente, se não fossem eles, poderia ser eu — ela falou
decidida, aquela era a minha esposa, uma mulher à altura para estar ao meu
lado.
CAPÍTULO QUARENTA E SEIS

Alguns dias depois...

— O doutor disse que eu poderia andar com a ajuda das muletas —


resmunguei quando meu marido me pegou em seu colo.

— Por qual razão vai usar aquilo, se tem os dois braços do seu
marido? — retrucou subindo os lances de escada da nossa casa.

Zara que estava junto abriu a porta para Yago passar. Finalmente
ganhei a alta do hospital, não aguentava mais ficar naquele quarto, ainda
mais sendo monitorada a todo momento por Yago, ou das vezes que ele foi
inconveniente com o médico apenas pelo homem estar fazendo o trabalho
dele.

Meus olhos se arregalaram quando entramos na sala e avistei todos


ali presentes, meu marido soltou uma longa bufada de ar.

— Qual a necessidade disso? — resmungou apenas para eu ouvir.

— Pois eu amei. — Sorri para todos ali.

Estavam os três irmãos de Yago, suas esposas e filhos. Isso contando


com o primo dele, aquele ruivo com a loira ao seu lado, os tios, nossa casa
nunca esteve tão cheia. Talvez naquele momento iria conhecer todos os
Zornickel.

— Como esse mal-educado fez um casamento para ninguém saber,


resolvemos agora comemorar o casamento de vocês, e obviamente conhecer
a esposa pessoalmente. — O irmão mais novo de Yago veio na nossa
direção.

Meu marido com cuidado me auxiliou a sentar no sofá, estava


encantada por ter todos ali.

— É um prazer te conhecer pessoalmente, cunhadinha — Yanni se


abaixou dando um beijo na minha bochecha, ele era bem diferente do meu
marido, tinha olhos esverdeados, cabelos em um tom de castanho mais
escuro, e um sorriso fácil nos lábios, como se estivesse sempre sorrindo. —
Essa é a minha esposa, Baby.

— Olá, querida, que ocasião maravilhosa para nos conhecermos


pessoalmente. — Ela se abaixou me abraçando.
Yago apareceu com uma pequena banqueta para que eu pudesse
apoiar os meus pés.

— Pode deixar para apresentar a sua creche em outro momento,


Yanni, vai ocupar a tarde inteira com a quantidade de filhos — meu marido
tinha aquela zombaria mórbida fazendo Baby o retrucar.

— Isso vindo de você, o maior antifilhos da Suíça que engravidou a


esposa.

— Nunca fui antifilho, apenas falava que não queria, pelo simples
motivo de não ter encontrado a pessoa certa.

Fiz uma careta quando Yanni levou a mão à boca assobiando para
chamar seus filhos. Logo veio o menor de todos eles, ao seu lado, a menina
de cabelos longos e olhar ladino, ela puxava pelos braços o outro menino,
por último veio o menino mais velho, com olhos negros, e cabelo meio
revoltado.

— Esse é o meu filho mais velho, Luke, depois a nossa Ava. — Luke
apenas ergueu a mão acenando, ao contrário da pequena Ava que se jogou
nos meus braços, me fazendo soltar uma careta. — Cuidado, filha, ela está
machucada.

— Ah, desculpe, você é linda demais, tio Yago é um bundão...

— Ava!!! — Baby repreendeu a filha.

— Mas foi você que disse isso mamãe, esqueceu? — A menina se


afastou fazendo com que eu soltasse uma gargalhada e Yago resmungasse
algo que eu não entendi.
— Esses dois são Chase e Colin, rápido se apresentem e não falem
nada, a sua irmã já conseguiu falar mais do que devia. — Yanni empurrou
com cuidado os dois filhos. — Não que ela tenha mentido.

— Por que eu ainda aturo vocês? — Yago perguntou.

— Porque somos família. — Yanni apertou o ombro do irmão. — E


eu sei que no fundo do seu coração de pedra você nos ama.

— Ah, claro, com toda certeza — Yago revirou os olhos.

Assim que as crianças se afastaram, quem se aproximou foi Polina,


era surreal a beleza daquela mulher, cabelos loiros, os olhos azuis-
esverdeados meio puxados para o lado, ela se abaixou sorrindo com
delicadeza, me abraçando.

— Sinto-me totalmente comovida com a sua situação, casamentos


escondidos meio que fazem parte dessa família. É um prazer te conhecer
Felicie — ela falou enquanto se levantava.

O marido dela apenas acenou a cabeça, passando a mão na cintura da


esposa.

— Casamentos escondidos são a garantia que darão certo — o ruivo


tinha aquele tom de deboche típico dos Zornickel.

— Isso quando não se matam nos primeiros dias — quem respondeu


foi Yan que acompanhava tudo mais de longe.

— Calado que o que eu fiz foi te ajudar — Owen retrucou.

Sei que eles se casaram escondidos, pois Zara me falou, foi um


casamento totalmente forçado. Polina não queria o casamento, mas para
ajudar o primo, Owen se casou com a prometida de Yan escondido, assim
Yan podia se casar com Luna. Mas o que Owen não esperava era que Polina
era tudo, menos uma virgem indefesa e quase colocaram a sede da Suíça
abaixo.

— Esse é nosso filho — Polina falou passando a mão no ombro do


menino alto que tinha quase a mesma altura que ela — Aaron, diz oi para a
esposa do Yago.

— Oi — ele falou meio despreocupadamente. — Vou nessa atrás do


Luke.

Afastou-se da mãe indo para os fundos da casa.

— Que sorte, um único filho e esse quase não fala — Yago zombou.

— Devo ter falado muito de você na minha gravidez, para ele vir
com esse gênio — Polina respondeu o meu marido.

— Não sei, tenho a impressão de que Aaron não vai seguir no nosso
clã — Owen falou meio desanimado.

— Por qual motivo acha isso? — Yan perguntou.

— Ele não se encaixa, gosta de tudo relacionado à máfia, mas não


gosta de estar na boate, não quer aprender sobre a In Ergänzung, e se esse
não for o destino dele, eu vou aceitar, independentemente de qualquer coisa,
Aaron é meu único filho, e não posso fazê-lo engolir algo que não sente em
seu coração. — Ao lado de Owen um homem muito parecido com ele
segurou em seu ombro.

— Fazemos os filhos para o mundo, e pode ser que o caminho de


Aaron não esteja selado a In Ergänzung, mas isso nunca deixará de fazer
dele o seu filho. — Naquele momento percebi que era Otto o pai de Owen.

Uma mulher ruiva se aproximou, a tia de Yago, mãe de Owen, ela era
alta, exuberante e linda, trocamos um abraço, assim como o marido dela me
abraçou. Estavam todos ali, os outros tios de Yago, Klaus e Edvige, que eu
já tinha conhecido estavam presentes.

Perdi-me no tempo, até mesmo me esquecendo da minha perna


naquele estado deplorável.

Era incrível como eles me receberam, tão facilmente me fizeram


parte daquele grande clã.
CAPÍTULO QUARENTA E SETE

— Tia Felicie vai acontecer com você igual aconteceu com a mulher
do Dexter? — Abaixei o olhar vendo os intensos olhos azuis de Yelena
fixos em mim.

— Ah, não minha linda. — Sorri erguendo a minha mão e colocando


o cabelinho dela atrás da sua orelha.

— Por que ela morreu? — A menina parecia muito curiosa.

— Como posso te explicar. — Levei a mão à minha boca,


encurralada naquela pergunta difícil. — Ela foi morar com o papai do céu.

A garotinha revirou seus olhos, passando a mão em seus longos


cabelos loiros.
— Isso é o que sempre me falam — resmungou cruzando os
bracinhos.

— Essa menininha está te incomodando? — Belinda se aproximou


sentando-se ao lado da filha.

— Como alguém tão linda como ela pode incomodar alguém? —


Pisquei um olho para Yelena. — Ela apenas queria saber sobre Dexter.

— De novo esse assunto, filha? — Beli franziu a testa parecendo


confusa.

— Queria entender, mamãe... — a menina fez um bico.

— Tem apenas sete anos, não precisa entender esses assuntos, seu
único dever é estudar e brincar — ela falou com carinho para a filha.

— Amanhã vou fazer oito, vou poder saber algo? — Os olhinhos


azuis da menina brilharam.

— Acredito que não, muito jovem ainda, talvez com uns dezoito anos
— a mãe respondeu.

Yelena passou a fazer contas em seus dedos, novamente fazendo uma


careta.

— Mas, mamãe, ainda é muito tempo. — Ergui meu rosto ao ver o


pai da menina parado na frente da filha.

— Posso saber qual o motivo dessa testa franzida?

— Ninguém me fala nada. — Yelena voltou a mexer nos longos


cabelos loiros, jogando-os para trás como se fosse uma menina adulta.
— Você é apenas uma criança, minha filha, não se preocupe com
isso. — Yank se abaixou batendo a ponta do dedo no nariz da filha.

— Agora que Dexter não tem mais uma esposa, ele vai poder se casar
com outra mulher? — Yelena voltou a fazer uma pergunta sobre Dexter.

Yank e Belinda trocaram um olhar meio demorado.

— Não sei, querida, se ele quiser sim — foi Belinda que respondeu à
pergunta da filha.

— E pode ser eu? — a pergunta da menina deixou os dois de olhos


arregalados.

— Com toda certeza, não! Você tem somente sete anos, ele é um
homem de 25. Precisa ao menos ser alguém da sua idade. — Yank fechou o
semblante para a filha.

— Meninos da minha idade são sem graça...

— Minha linda, mas você é jovem demais para pensar em garotos.

— Mas mamãe, eu posso me casar quando for grande, igual fizeram


com Amélia e o marido dela. — A menina geniosa seguiu encurralando os
pais.

— Quem contou para você a história dela? — Yank franziu a testa.

— O primo Petrus. — A garotinha balançou os ombros.

— Vou pegar aquele fedelho — Yank resmungou.

— Minha filha, não queremos prometer você a nenhum homem, você


é tudo que temos de mais precioso, não vai ser prometida, não precisará se
casar com alguém que não quer, queremos o melhor para você e o melhor é
atingir a sua maioridade, sair, fazer faculdade, conhecer novas pessoas...

— Sem marido? — A menina ainda não tinha sanado toda a sua


curiosidade.

— Não, você não precisa se casar — o pai respondeu para ela.

— Nunquinha?

— De preferência nunca mesmo — o pai tinha um modo protetor


para falar.

— Ah, que chato. — Dando-se por vencida, ela pulou do sofá e saiu
correndo.

Yank olhou para a esposa, falando:

— Fico me perguntando de onde essa menina tira essas coisas? Por


via das dúvidas, mantenha ela bem longe de Dexter, porra! Ela tem só sete
anos, sete! — Yank passou a mão em seus cabelos. — Vou falar para Yago,
é ele que vive com esse capitão.

Belinda apenas assentiu, fiquei sentada com Beli, ela passou a mão
em seus longos cabelos loiros, ela e a filha eram muito parecidas, com a
única exceção dos olhos, sendo que a menininha tinha os olhos azuis do pai,
e Belinda tinha a tonalidade castanho-escuro.

— Dizem que ter filha menina é mais fácil, isso quando não temos
uma pequena geniosa. — Belinda puxou o ar com força, soltando-o
lentamente.
— Logo ela esquece, deve ser apenas uma fixação de criança —
tentei acalmar a mãe.

— Não sei, minha filha não faz do tipo que teima com algo, e ela
segue nesse assunto por uns três dias, sabia que tinha algo por trás dessa
curiosidade dela. Qual a razão de uma menina de sete anos querer ser
prometida para alguém?

— Será que ela não anda vendo muitos desenhos de princesas e está
idealizando no Dexter um príncipe. — Foi a primeira coisa que me veio à
mente.

— Só pode, vou redobrar minha atenção sobre aquela pequena


travessa, tenho total certeza de que ela ainda não desistiu desse assunto —
murmurou.

Zara se aproximou de nós, se despedindo, afinal estavam todos


cansados. Iam aproveitar que amanhã era o aniversário da pequena Yelena e
fariam a festa com todos os familiares presentes. Obviamente a menininha
estava radiante que estariam todos em sua festa.

Do lado de fora a noite já começava a cair, jantamos todos juntos na


sala de jantar da nossa casa. Zara até perguntou se precisava de ajuda
comigo. Lógico que Yago disse que não, pois ele tomaria conta de mim.

A verdade é que estava nervosa, até mesmo ansiosa. Meu marido


tinha mudado, ele demonstrava que estava mudando e aquilo me deixava
ainda mais tensa, era um Yago atencioso, até mesmo amoroso.

Amoroso? Não com certeza ele não era amoroso, aquela palavra
remetia a amor, e lógico, ele não me amava. Assim como eu também não.
Isso, eu não o amava. Ao menos era aquilo que queria colocar na
minha mente.

Não tinha como amar alguém que queria estar longe de mim, que no
primeiro tropeço preferiu estar longe. Quando ele se visse encurralado ia
novamente se afastar, era aquilo que Yago fazia, se afastava quando a água
batia na bunda. E eu não seria tola de me entregar a ele daquela forma, de
corpo e alma, entregando o meu amor. Um sentimento que eu não sentia.

Ia ficar frisando aquilo na minha mente toda vez que achasse que
podia sentir algo por ele, toda vez que seus dedos tocassem o meu corpo e
sem querer eu quase me entregar para o meu marido. Teria que ser forte,
carregava dentro de mim o nosso filho. Não sabia o que queria de Yago.
Mas com certeza era bem mais que apenas o status de esposa dele.

Bem mais que o simples fato de ser somente uma esposa, queria
mais, muito mais, e quando eu descobrisse o que era aquele muito mais,
poderia ter mais nitidez sobre as minhas dúvidas.
CAPÍTULO QUARENTA E OITO

Passei a cutucar a ponta do meu dedo sentindo o nervosismo


preencher o meu corpo, outra vez estava sozinha com ele, na nossa casa.
Ergui meu rosto, ao notar os passos dele.

— Quer tomar banho agora? — perguntou e apenas naquele


momento me dei conta que para tomar banho precisaria de ajuda, algo que
teria que vir dele.

— Posso ficar um dia sem tomar banho. — Dei de ombros.

— Tem certeza? — Seu cabelo loiro estava impecavelmente


penteado para o lado, o rosto liso revelava que ele fizera a barba
recentemente.
Enquanto Yago estava comigo no hospital, algumas vezes os fios
começavam a crescer, deixando claro que ele tinha o hábito de sempre estar
tirando.

— Tenho sim, peço para Anali me ajudar amanhã. — Eu o vi


pegando a minha muleta, deixando-a mais longe de mim.

— Sabia que isso era pretexto para me ter longe de você, sabe que já
te vi sem roupa não é mesmo? — Meu marido arqueou a sobrancelha.

— Agora é diferente, se puder me ajudar, quero dormir. — Ergui meu


braço.

Desviando meus olhos dos dele, com facilidade me pegou em seu


colo, segurei em sua camisa, fiz uma careta quando aquela armadilha na
minha perna pendeu para trás.

— Sentiu dor? — Encontrei com os olhos dele fixos nos meus.

— Não, apenas uma leve fisgada — murmurei percebendo os


primeiros botões da camisa dele abertos.

— Estou monitorando os horários dos seus remédios, o próximo é


para daqui a uma hora — ele falou despreocupadamente.

— Está monitorando mesmo? São vários remédios. — Meus olhos se


arregalaram diante daquela constatação.

— Até mesmo os da sua gravidez, está na planilha do meu celular.

Okay, aquilo sim me deixou surpresa, surpresa a níveis extremos.


Não eram muitos os remédios que podia tomar devido à gravidez. Mas não
vinha tendo problemas com dores, apenas algumas fisgadas nas pernas de
vez em quando. O doutor disse que aquilo era normal. E pensar que teria de
passar quatro meses com aquela armadilha na minha perna.

Meu marido empurrou a porta do nosso quarto, aquela era a primeira


vez que entrava ali naquele dia. Olhei em volta, estava tudo no seu lugar.
Com cuidado ele me colocou sentada sobre a cama, meus olhos se erguendo
para a porta do closet aberta, notando ali o lado que antes do acidente eram
composto por prateleiras brancas e vazias, agora cheia de ternos pretos.

— Trouxe suas roupas? — perguntei sem pensar.

— Sim, pedi que a minha mãe mandasse trazer quando você estava
no hospital.

— Por quê?

— O primeiro passo deveria vir de algum lugar, e não tem como


morar aqui sem roupas. — Deu de ombros. — Tem certeza de que não quer
tomar banho?

— Bom, você passou dias sem tomar banho ao meu lado, o que é um
dia?

— É bem diferente, vai passar quatro meses fugindo de mim? Não


confio em Anali para te ajudar no banho, não que desconfie dela, mas tenho
receio de que ela possa te deixar cair. — Ele passou a dobrar as mangas da
camisa.

— O banheiro não foi adaptado? — perguntei sabendo que tinham


adaptado toda a casa para o meu estado.

— Sim, mas mesmo assim...


— Tá... tá..., mas se olhar para o meu corpo eu te soco. — Dei-me
por vencida.

— Sabe que isso vai ser teoricamente impossível.

— Mantenha seus olhos no meu rosto — declarei altiva.

— Vou preparar o pacote para colocar na sua perna. — Virando-se,


Yago saiu do quarto.

Não demorou muito tempo e ele voltou, segurando em sua mão um


pacote adaptado, com facilidade passou na minha perna tampando aqueles
ferros que rodavam uns dez centímetros abaixo do meu joelho, ligados na
minha perna por parafusos.

Yago grudou o pacote no meu joelho com fita, assim poderia molhar
que não passaria para o ferimento que ainda não estava nem ao menos
próximo da cicatrização.

Segurando na barra do meu vestido, Yago começou a erguê-lo, com


facilidade passando pela minha bunda, levantei meu braço permitindo que o
passasse pela minha cabeça.

— Seus olhos aqui. — Fiz um movimento para os meus olhos.

— Toda vez que vejo esses hematomas no seu corpo tenho vontade
de ressuscitar aqueles malditos apenas para matá-los outra vez. — Grunhiu
me fazendo lembrar do meu irmão.

Às vezes me sentia culpada por não sentir a morte dele como devia
por ser meu irmão, mas não senti. Ele nunca me quis na sua vida, por
aquela razão não foi como sentir algo profundamente.
— Vou precisar tirar a sua calcinha — ele rapidamente mudou de
assunto percebendo que não tocaria no assunto da morte de Ivaan, algo que
evitava falar. Apenas queria esquecer que um dia vivi aquela fase da minha
vida.

— Ainda tenho duas mãos bem saudáveis. — Revirei meus olhos


segurando nos dois lados da calcinha e apoiei o pé bom no chão.

Abaixando com dificuldade, o tecido prendeu no meu joelho, tentei


baixar, mas meu marido foi mais rápido se ajoelhando na minha frente e
tirando a calcinha, ergueu seus olhos na minha direção.

— Olha aquele bicho na porta. — Olhei curiosa sem ver nada, voltei
o meu olhar para o meu marido que tirava a mão do seu bolso.

Busquei pela minha calcinha no chão, estranhando não a ver ali, mas
logo voltei o olhar para o meu marido e ao perceber que ele observaria a
minha intimidade, tapei-a rapidamente.

— Sabe que coloquei minha língua diversas vezes no meio das suas
pernas...

— Por favor, calado! — pedi quase que em uma ordem, vendo-o


abrir um meio sorriso.

— Quem vai tirar o seu sutiã se as duas mãos estão na sua... — olhou
para baixo indicando a minha boceta.

— Droga — resmunguei sentindo meu rosto começar a esquentar.

— Felicie, prometo que não farei nada com você, por mais que eu
tenha vontade, que minhas mãos cocem para endeusar cada parte do seu
corpo, sei que esse é um momento de fragilidade seu, não vou ultrapassar
seus limites durante o banho. Apenas por tê-la aqui, no nosso quarto, com
vida e ainda mais tendo dentro de você o nosso filho, por hora é o que me
faz extasiado, posso dar minhas investidas em outros momentos. Não
precisa corar agora minha pequena — ele falou uma grande frase.

Ainda não estava acostumada com aquele Yago falador. Sem falar
mais nada deixei-o colocar as mãos atrás de mim, abrindo o meu sutiã, foi
necessário tirar a mão da minha boceta para tirá-lo completamente.

— Se quiser posso ajudar ali embaixo — murmurou olhando


fixamente para minha intimidade, que eu sabia que os pelos estavam
grandes.

— Essa é a sua forma de não dar as suas investidas? — minha voz


saiu meio rouca me traindo.

— Bom, realmente é só uma ajuda, sei que você não gosta dos pelos
grandes. — Seus intensos olhos azuis se fixaram nos meus.

— Talvez eu queira a sua ajuda, seria muito vergonhoso pedir a ajuda


de Anali — resmunguei.

— Preferia que a sua bocetinha fosse propriedade apenas dos meus


olhos...

— Seu lado ciumento consegue ser bem controlador — zombei


erguendo meus braços enquanto Yago me segurava com facilidade.
CAPÍTULO QUARENTA E NOVE

Dar banho nessa pequena foi como enfrentar uma prova de


resistência, me manter inerte as suas curvas que me fascinavam, e o que
caralho eu tinha na minha mente para propor ajudá-la a se depilar?

Porra, foi a maior tortura que já passei na minha vida. Nem mesmo
os meses que fui testado psicologicamente e fisicamente para ficar apto a
ser um dos membros desse clã, foi tão torturante do que ver a lâmina
passando sobre as dobras dela, ao mel que se formava sobre as dobras da
minha esposa, e mesmo com Felicie respirando com dificuldade ela não se
entregou. Sendo resistente, não se jogando aos meus braços. Se ela foi,
como eu não podia ser?
Por aquela razão não a provoquei, apenas fiz o meu trabalho, embora
a minha vontade fosse querer acabar com a minha boca no meio das suas
pernas.

Só de pensar na cena, meu pau já começava a latejar dentro da minha


cueca, nunca fiquei tantos dias sem sexo. E tudo por culpa minha, se não
tivesse saído de perto dela, nada disso teria acontecido.

A luz do abajur ao lado da cama estava acesa, e eu concentrado na


respiração suave da minha esposa. Seu sono profundo me fazia ter uma
pontada de inveja. Não conseguia dormir, era como se a minha mente me
obrigasse a ficar acordado para velar o sono dela. E se por um acaso
acabasse dormindo e batesse na perna dela machucada? E se ela se virasse e
acabasse movimentando a perna?

Precisava ficar acordado, e cuidar da minha esposa.

O pé dela que estava com o ferro se encontrava apoiado sobre um


travesseiro adaptado para isso, assim ela não conseguia movimentar o pé a
ponto de se machucar. Mas na minha cabeça, aquilo podia dar errado e
mesmo assim Felicie se ferir.

Porra, estava ficando ainda mais obcecado por aquela menina do que
já era.

Fui tirado dos meus pensamentos quando ao meu lado a respiração de


Felicie passou a se tornar mais ofegante. Virei meu rosto percebendo pela
luz fraca do abajur as pálpebras dela ficando contraídas.

— Não... eu não sou filha dele... — Ela sussurrou em meio ao seu


sonho. — Sou eu... a sua esposa...
Estranhei o fato dela estar falando aquilo, como se estivesse
sonhando comigo, estava prestes a acordá-la, afagando o seu rosto quando
ela voltou a falar:

— Não me deixe... não me mate com... — Virou o rosto, seus olhos


se abrindo abruptamente, olhando para o teto.

Como se estivesse processando o que tinha sonhado, virando o rosto


para mim.

— Eu... eu tive um sonho, um sonho horrível — murmurou sem


desviar os olhos azuis dos meus.

— Sim, presenciei alguns fatos, quem iria te deixar? — perguntei


torcendo que o monstro do sonho dela não fosse eu, embora temesse pela
resposta.

— Você... — umedeceu seus lábios.

— O que eu fazia? — voltei a perguntar, assim permitindo que ela


dialogasse comigo.

— Você queria me matar, me matar quando nos vimos a primeira vez


naquela casa, mas o homem que tinha me pegado na rua não era o senhor
Brunner, era o meu irmão. — Os olhos dela se encheram de lágrimas como
se estivesse vivenciando aquele momento, um momento pelo qual não sabia
do que ela estava falando.

— Brunner? Do que está falando, pequena? — Aproximei-me mais


do seu corpo.

Felicie percebeu que eu não sabia daquele acontecimento, piscando


várias vezes, refletindo aquele fato.
— Eu... hãn... nunca falei algo com você, afinal esse era um segredo
apenas meu, me achava meio boba por vê-lo como o meu príncipe, e tinha
receio de falar e acabar com você pensando que eu era uma maluca que
ficava sempre analisando todos os seus movimentos quando ia no bar —
mesmo gaguejando ela falou me deixando ainda mais curioso.

— Do que está falando, Felicie?

— Quando eu tinha doze anos, você me salvou da casa do senhor


Brunner, aquele velho me pegou da rua, me fez ficar brincando para ele por
quase um dia inteiro, e quando estava cansado de me ver brincando ia fazer
só Deus sabe o que. Mas você apareceu, com seus homens, e o matou, bem
na minha frente, ali eu o vi pela primeira vez. Você ia me matar, mas me
deu a chance de ir embora, e eu não podia falar sobre aquilo pra ninguém. E
nunca falei, era como se tivéssemos um segredo apenas nosso — conforme
ela ia falando, os fatos iam surgindo na minha mente.

Recordava-me dela, só não tinha ligado a minha Felicie àquela


menininha de tranças no cabelo e olhar amedrontado.

— Sim, me lembro desse dia. — Com cuidado passei a minha mão


por trás da nuca dela, trazendo-a para o meu peito nu. — E você me viu
como um príncipe?

Perguntei me contendo para não sorrir daquela constatação.

— Ali foi a primeira vez em que me salvou, poderia ter me matado,


mas me deixou ir confiando na palavra de uma criança. Você era o meu
príncipe de olhar enigmático, feições duras e loiro — ela sussurrava ao
passo que ia falando.
— Poderia ter me falado disso antes, gostaria de saber que nos
conhecemos quando você ainda era uma criança. E me achava um príncipe.
— Mordi meu lábio abaixando o meu rosto vendo-a erguer os olhos na
minha direção.

— Isso mesmo, achava. Todo o encanto caiu por terra quando


percebi que meu príncipe foge quando tudo se torna mais sério —
resmungou com aquele semblante ladino.

— Mas nunca mandei você me ter como um príncipe, sou tudo


menos isso...

— E eu sei, afinal, você matou um homem na minha frente,


maltratava todos quando ia no bar. Nunca pensei que era bonzinho, pelo
contrário, adorava ficar te olhando à distância, mas morria de medo de
chegar próximo a você, sabe aquela sensação de intocável?

— Não, eu não sei, estou sentindo cada dedo seu sobre o meu peito,
você tinha medo de mim? Ou se sentia atraída? — perguntei erguendo a
minha mão, tocando o seu queixo.

— Não sei... sempre sinto cada parte do meu corpo se acender


quando me toca — sussurrou engolindo em seco.

— Não sou e nunca serei bonzinho, com os outros, mas para com a
minha família eu dou a minha vida. E você é a minha família, a minha
esposa, a mãe do meu filho — sem titubear queria aquela mulher, almejava
pelos suspiros dela, o calor dos nossos corpos suando um sobre o outro. —
Tive tanto medo de perder você, chegar nessa casa e encontrá-la silenciosa
não é a mesma coisa do que chegar e encontrá-la barulhenta.

— Pensei que odiasse minhas músicas altas.


— Não odeio mais, pode ouvi-las em uma altura que toda a Suíça
possa ouvir, se isso garantir que quando chegar no nosso lar te encontrarei,
dançando sorrindo, me dando esses sorrisos que apenas você sabe me dar.
— Tracei o seu lábio com o meu polegar.

— Meu último pensamento quando aquele carro me atingiu foi você,


nos seus olhos, na sua voz, na forma como sempre foi protetor comigo. Não
queria ir embora sem lhe dar um último abraço...

— Não vai para lugar nenhum sem mim, pequena — eu a cortei.


CAPÍTULO CINQUENTA

Como resistir àqueles olhos azuis? Como ser inerte ao homem que
me olhava como se eu fosse a mulher mais importante de todo o universo?

Sentia seus dedos deslizando por meu lábio, a forma como se


concentrava em cada detalhe do meu rosto.

— Pode me dar o abraço que desejou me dar, agora — ele sussurrou.

— Sim, esse pensamento foi o último ao apagar, embora o primeiro


ao acordar tenha sido ouvir da boca do homem que considerava o meu
príncipe, que ele não queria mais nada comigo — falei a verdade,
percebendo que ele ficou pensativo.

— Fui fraco...
— Sim...

— Me arrependo por isso...

— Qual o nível? — perguntei arfando quando a outra mão do meu


marido desceu pela lateral da minha cintura.

— Nível máximo, preciso que entenda, quando fizemos o acordo, na


minha mente deveria ser tudo muito prático, queria que fosse apenas a
minha esposa, somente mais uma mulher na minha vida, não a mais
importante. Ingenuamente julguei que seria apenas a minha esposa de
fachada, mãe dos meus filhos. — Apertando o tecido de cetim da minha
camisola ele a faz subir, assim causando arrepios ao tocar a minha bunda.

— O que mudou? Afinal já estou grávida e mesmo assim está aqui,


me tocando.

— Tudo mudou, eu mudei, meus conceitos mudaram. A mulher que


era para ser apenas mais uma na minha vida se tornou a mais importante.
Não existe outra que faça eu me jogar em frente de um carro em
movimento. Mudou quando não quis nenhuma outra ao meu lado que não
fosse você, mudou quando passei a procurar em outras tudo que só
encontrava em seu lindo rosto, mudou quando apenas o seu sorriso
predominava meus pensamentos, mudou quando meus sentimentos
começaram a ser envolvidos e tudo que eu queria era estar ao seu lado,
somente ao seu lado, e isso começou a me deixar confuso, afinal, nunca
senti essa necessidade desenfreada antes. Fiquei louco, como poderia deixar
uma mulher me dominar? Não era para ser assim, então eu quis me afastar.
Mas não pense que eu lhe daria a liberdade por completo, nos separaríamos,
eu não podia ser o seu homem, mas você seria a possuidora do meu coração
para todo o sempre, mesmo à distância continuaria protegendo-a.
As suas palavras me pegaram desprevenida, ter um marido
dialogador era novidade para mim.

— Mesmo assim, me deixaria à mercê de qualquer outro homem?

— Seria a consequência do meu ato. — Apertou a minha bunda.

— Não conseguiria ver outra mulher tocando-o — arfei quando a


mão do meu marido passou por baixo da minha calcinha.

— Também não conseguiria ver outro homem tocando a minha


mulher.

— Isso não faz sentindo, tudo isso é confuso. — Mordi meu lábio.

— Minha pequena, não tente me entender, pois eu mesmo não me


entendo, apenas saiba que todos esses meus pensamentos mudaram.
Mudaram quando vi aquele maldito doutorzinho de merda sorrindo para a
minha esposa, mudaram quando cogitei a hipótese de outra pessoa ter os
sorrisos que deveriam ser apenas meus, o corpo que apenas as minhas mãos
poderiam tocar. Porra, você é minha, entende isso? — a voz dele se tornou
extremamente possessiva, deixando um breve arfar escapar novamente pela
minha boca.

— Sim, meu príncipe, eu entendo. — Fechei meus olhos prestes a me


entregar para ele.

Porém, fomos interrompidos por um barulho estridente no quarto.


Yago tirou a mão da minha bunda e senti a falta do seu toque.

— É o despertador, hora do seu remédio — falou me fazendo abrir os


olhos.
— Droga... — um pequeno sorriso escapou do seu lábio.

— Pensei que seria mais difícil, esposa — ele murmurou com aquele
típico deboche.

— Azar o seu, pois nesse momento vou recuperar minhas forças —


zombei quando ele com cuidado me ajudou a sentar na cama.

— Tenho uma vida inteira para seguir seduzindo a minha esposa. —


Yago se levantou passando a mão em sua calça revelando ali o volume
protuberante.

— Ao menos eu não deixo rastros de que fui persuadida — murmurei


vendo-o passar a mão no seu membro apenas para me provocar.

— Assim como não deixou no banho enquanto passava a lâmina na


sua bocetinha, nem ao menos era necessário sabão de tão fácil que descia a
lâmina por ela.

Senti minha face corar, obviamente ele sabia tudo sobre o corpo de
uma mulher, até mesmo quando eu queria sair por cima e ganhar algumas
poucas disputas. Meu marido se virou saindo do quarto, sabia que ele estava
indo buscar o meu remédio.

Fiquei ali deitada esperando por ele. Agora não existiam mais
segredos, confidenciei a ele sobre a primeira vez em que me resgatou.

Não demorou muito para ele voltar com um copo de água e os


comprimidos, com o seu auxílio engoli os dois, tomando toda a água do
copo.

— Sabe o que eu percebi? — ele perguntou deixando o copo no


móvel ao lado da cama.
— O quê?

— Durante todo esse tempo, você sempre esteve em vantagem, não


sabia quase nada sobre a sua vida, enquanto isso, sobre mim, você sabia
tudo. — Ele se deitou ao meu lado.

— Bem, algumas informações que eu obtinha não eram verdade, o


mafioso malvadão não é tão malvadão assim. — Mordi meu lábio
reprimindo a minha risada.

— Com você abro algumas exceções...

— Até mesmo para um gatinho? — Abri um dos meus sorrisos


ladinos.

— Você sabe como ser persuasiva, né? Mas gato não, são bichanos
manhosos demais, desapegados da vida, e só sabem miar e pedir comida.
Qual a graça nisso?

— São fofinhos, peludos, fazem um miau tão lindo, e têm aquele


ronronar gostoso de se ouvir — declarei diante do sorriso ainda nos meus
lábios. — Sempre quis ter um gatinho.

Um bico se formou no meu lábio, quem sabe assim conseguia


persuadi-lo.

— Sabe que está sendo chantagista, né?

— Está funcionando? — questionei.

— Tá quase. — Balançou a cabeça como se realmente estivesse


disposto a ceder.
— Estou começando a aprender a lidar com você, marido. — Ergui a
minha mão passando-a em seu peito quente, sentindo os pequenos
gominhos que marcavam o seu abdômen.

— O que estou percebendo é que está se tornando uma pequena


chantagista...

— O que eu posso fazer para te ganhar?

— Pequena, apenas por estar ao meu lado você já me ganha. — Seu


sorriso sedutor quase me fez derreter.

— Acho que consigo persuadi-lo, então. — Levei a mão à minha


boca bocejando.

— Durma, pequena, você está cansada...

— Mas eu quero continuar aproveitando que você está falador — eu


o cortei.

— Amanhã continuarei falador com você.

— Promete?

— Prometo, agora durma e descanse. — Colocando o meu cabelo


atrás da orelha não desviou os olhos de mim.

— Fique comigo aqui, Yago? — pedi em meio aos meus receios.

— Mesmo que me mande para longe, nada mais me tirará do seu


lado. — Aproximou o lábio da minha testa e me deu um beijo terno.
CAPÍTULO CINQUENTA E UM

Hoje era meu aniversário, será que ia ganhar muitos presentes?


Apertei meus olhos quando ouvi o barulho da porta do meu quarto. Mal
sabe a mamãe que já estava acordada. Quem conseguia dormir no seu
próprio aniversário?

— Minha linda — mamãe sussurrou ao meu lado.

Não consegui fingir por muito tempo abrindo um grande sorriso,


pulando da cama enquanto falava um pouco alto demais:

— É o meu aniversário. — Ergui minhas mãos me jogando nos


braços de mamãe.

— Yelena. — Mamãe levou um susto com o meu entusiasmo.


Ambas acabamos sorrindo. Com a ajuda da minha mãe escolhi um
dos meus vestidos favoritos. Peguei um dos meus laços para colocar em
meus cabelos.

— O que acha de fazermos uma trança, minha linda?

— Não, quero eles soltos, iguais aos seus. — Passei a mão em meu
cabelo me olhando no espelho.

— Fica tão linda de trança, filha, por qual motivo não quer fazer? —
Mamãe me fez revirar os olhos.

— Mamãe, hoje é o meu aniversário de oito anos, estou ficando mais


velha, tranças são coisas de menininha. — Fiz um bico olhando o
movimento em frente à porta do nosso quarto.

— Então pode fazer essas tranças, pois a senhorita vai ser a minha
menininha para sempre. — Papai se abaixou para que eu fosse até ele.

Abri os meus braços, corri em sua direção e me joguei sobre os dele,


sentindo o seu cheiro forte de homem.

— Feliz aniversário, minha princesinha — murmurou em meu


ouvido.

— Papai, mas agora eu estou crescendo — declarei orgulhosa.

— Vamos com calma, minha menina, deixa para crescer quando for
mesmo necessário. — Afastei-me dele.

— Até parece que não querem que eu cresça. — Fiz um bico


cruzando meus braços.
— Tecnicamente, não queremos. — Mamãe passou a mão em meu
ombro, querendo que eu os seguisse para a cozinha.

— Já vou, preciso ir ao banheiro. — Esquivei-me dela, correndo para


o banheiro.

Encostei-me atrás da porta, colocando meu ouvido sobre ela, ouvindo


os passos de papai e mamãe, eles deviam estar saindo nesse momento.
Podia sentir meu coração bater forte, um tumtumtum muito alto.

Com cuidado abri a porta, olhei para fora, encontrando o meu quarto
vazio. Na pontinha dos meus pés segui até o lado da minha cama, abrindo a
primeira gaveta, peguei uma folha pequena, a caneta e escrevi no meio dela:

Dexter Tanner quer ser o meu marido?

( ) Sim ( ) Não

Sabia tudo sobre aquele homem de olhos verdes, ele era alto e bonito.

Mamãe pediu que eu tirasse aquele assunto da minha cabeça, mas se


eu fosse devagar ele podia arrumar outra mulher. Afinal, ele já foi casado.

Fiquei muito triste pela esposa dele, mas já passou. Precisava ser
rápida.

Não entendia qual a razão daquilo ser tão errado. Vovó se casou
forçadamente, Polina também, até mesmo a tia Astrid. Aquilo nem ia ser
um casamento forçado, porque eu queria. Uma menina de oito anos não
podia ser decidida?
Peguei aquele papel, dobrei e coloquei-o em meu bolso, saí do quarto
saltitando, sorrindo ao ver papai e mamãe parados ao lado do bolo,
iniciando a cantiga de aniversário, a qual eu cantei junto.

Por último abracei os dois novamente e comemos aquele bolo


delicioso de chocolate juntos.

Que demora do meu tio Yago, a todo momento ficava olhando para a
porta procurando por ele. Sabia que quando ele chegasse o capitão que
estava sempre ao lado dele, estaria junto. Balancei meus pezinhos
impacientes batendo-os no sofá onde estava sentada.

— O que foi? — Levei um susto vendo a minha prima Ava se sentar


ao meu lado.

— Nada — menti.

— Mentirosa. — Revirei meus olhos.

— Nada, Ava — resmunguei.

— Se não me falar vou contar para todo mundo que é apaixonada


pelo capitão do tio Yago. — Ergui minha mão dando um beliscão na minha
prima. — Aí... doida...
— Isso é pra você aprender. — Fiz um bico como sempre fazia.

— Você é louca, agora mesmo que vou falar. — Ava fez menção de
se levantar, tínhamos apenas alguns dias de diferença de idade.

— Fica aqui, eu quero fazer uma coisa, promete segredo? — Ava


ergueu o seu dedinho.

Fiz o mesmo com os nossos dedinhos se entrelaçando.

— Estou esperando o titio Yago chegar e eu vou até o capitão dele


pedi-lo em casamento — sussurrei percebendo que ninguém prestava
atenção em nós duas.

— Sua louca, ele vai te achar uma doida. — Ava revirou os olhos.

— Vai me ajudar, ou não? — pedi.

— Claro, né, primos são pra essas coisas. — Bem naquele momento
titio Yago passou pela porta.

Lógico que ele e a esposa vieram na nossa direção. Afinal, eu era a


aniversariante. Titio Yago estava tão diferente com a titia Felicie, ele
sempre era o mais rabugento de todos os meus tios, e agora até mesmo
sorria demais. Depois diziam que uma mulher não fazia a diferença na vida
de um homem. Palavras da vovó Zara, adorava ficar perto dela, sempre
aprendia muitas coisas.

Afastei-me deles, Ava disse que gritaria caso alguém me procurasse,


não o meu nome, apenas para eu perceber e voltar correndo.

Saí pela porta onde titio Yago entrou, olhando à minha volta, vendo
ali o meu futuro marido. Segui em direção a ele, tentando ter toda a
confiança do mundo. Parei ao lado do homem alto, de imediato Dexter não
me viu, com o meu dedo cutuquei o seu braço.

O homem se virou, lentamente abaixando o rosto, seus olhos verdes


franzidos ao me ver ali.

— O que faz aqui, garotinha?

— Hoje é o meu aniversário — falei orgulhosa.

— É? Parabéns, então. — Levou o cigarro à sua boca, virando-se


para a frente.

Talvez não fosse tão fácil como esperei, ele estava me ignorando.

— Quero entregar algo para você — falei cutucando o seu braço de


novo.

Dexter pareceu soltar um longo suspiro, se virando para mim. Tirei


do meu bolso o papel, com uma caneta na minha mão e entreguei-o para
ele.

— Ficou louca, fedelha? — Levei um susto quando ele foi ríspido


comigo, amassando o meu papel em meio à sua raiva. — Quer me ver
morto? Se o seu pai descobrir isso, posso me considerar um homem
morto!!!

Arregalei meus olhos e senti as lágrimas de medo brotando nos meus


olhos. Não era para ser assim, Dexter nem ao menos me devolveu o papel,
amassando-o e colocando-o em seu bolso.

— Yelena? — Meu corpo gelou quando ouvi a voz da minha vovó


atrás de mim. — Algum problema, capitão?
— Não senhora, se me derem licença. — O homem alto se virou indo
embora.

Senti os braços da minha vovó em meu ombro.

— O que tinha naquele papel, querida? — Zara sempre tinha a voz


calma comigo.

— Vovó, qual o problema comigo? — Virei me jogando nos braços


da minha vovó chorando.

— Meu anjo, não tem nada de errado, e se for o que estou pensando,
que fiquei sabendo pela sua mãe, saiba que é jovem demais, uma criança
ainda, não precisa pensar em casamento...

— Mas e se ele se casar com outra de novo? — Ergui meus olhos.

— Esse homem não é para você, ele é muito mais velho, e você,
minha querida, merece o mundo. — Piscou um olho, ajudando a secar
minhas lágrimas e a entrar na casa.

O que ninguém entendia, é que eu queria aquele homem!


CAPÍTULO CINQUENTA E DOIS

— Yago, eu preciso usar as muletas — resmunguei quando ele me


sentou no sofá da sala da sede após parabenizarmos a pequena Yelena.

— Tem os dois braços do seu marido para isso. — Olhou-me com


aqueles intensos olhos azuis.

— Mas o médico disse que era bom usar as muletas, depois vai ficar
mais difícil para recuperar os meus movimentos — falei o óbvio que em
nada surtiu efeito.

— Quando eu não estiver próximo você pode usar as suas muletas.


— Revirei meus olhos como se estivesse falando com uma criança birrenta.
Concentrei-me em Zara que passava pela porta com a mão em volta
do ombro da pequena Yelena, ela parecia estar chorando, o que me deixou
preocupada, sendo que ela tinha sumido, será que aconteceu algo?

Não fui a única a perceber aquilo, o pai dela foi até a filha pegando-a
no colo. A menina se debulhou em lágrimas abraçando o pai e ninguém
entendeu o que estava acontecendo. Meu marido se aproximou dos dois,
todos os homens ali circulando a garotinha, como se estivessem
protegendo-a.

— Vou matar aquele desgraçado — de repente Yank falou sendo


segurado pelo meu marido.

— Não, você não vai. — Yago parecia irritado com o que quer que
estivesse acontecendo.

— Yago tem razão. — Zara interveio na situação. — O homem não


tem nada a ver com o acontecido, pelo contrário, ele foi firme pedindo que
Yelena ficasse longe dele.

— Mas é da minha filha que estamos falando — Yank voltou a frisar.

— Sim, mas o que Dexter tem a ver com isso? O meu capitão está
passando por um caralho de vida, após perder a esposa e a filha, quer mais o
que dele? Quer que ele assuma a sua filha de oito anos? Quer fazer essa
união entre eles? Porra, Yank, tire essa névoa do seu olho, o que Dexter fez
foi o certo!!! — Yago rugiu com o irmão mais velho que ele.

Naquele momento a minha preocupação teve um motivo, afinal já


tinha deduzido o que havia acontecido.
— Minha filha não vai ser prometida a ninguém — Yank voltou a
falar.

— Então convenhamos que o que ele fez foi o certo? — Naquele


momento Yank parou para refletir diante das palavras do meu marido, que
parecia fazê-lo refletir sobre o assunto.

— Sim, tem razão. — Yank soltou um longo suspiro conforme


sussurrava.

Belinda apareceu ao lado do marido, pegando a filha do colo dele.

— Mas não me sinto confortável em saber que ele está aqui por perto
— Yank voltou a falar como se estivesse protegendo a sua filha.

— Dexter já havia me pedido uma transferência, não queria dar a ele,


pois aprecio a lealdade e trabalho rápido dele. Mas se estiverem de acordo
podemos transferi-lo para Nova Iorque — meu marido declarou olhando
para Yan e Owen.

— Bom, vou sair no lucro, todos sabemos o quão leal Dexter é para o
nosso clã. — Owen que era o subchefe de Nova Iorque esboçou um sorriso.

— Diante das atuais circunstâncias, vamos fazer isso — Yan deu a


palavra final, fazendo todos assentiram.

Yelena já não estava mais ali perto, todas as mulheres a levaram para
a cozinha assim podendo acalmá-la.

— Falei para aquela doida que isso não ia dar bom. — Virei o rosto
vendo a pequena Ava sentar ali.
— Nossa, de onde você veio? — Levei um breve susto com a
aparição silenciosa da menina.

— Yelena deve ter um parafuso a menos. — O outro filho de Yanni


se aproximou.

Aquele devia ser o Chase, afinal os dois tinham quase o mesmo


tamanho.

— Alguém já falou que vocês são muito avançados para o seu


tamanho? — perguntei sorrindo para os dois.

Os dois balançaram os ombrinhos, logo a mãe deles se aproximou,


ela era baixa, ainda mais baixa que eu, passando a mão no ombro do filho.

— Esses dois estão te perturbando, Felicie? — Baby perguntou com


carinho.

— Ah, não, são ótimas companhias. — Sorri.

— Viu, mamãe? — Ava cruzou os bracinhos orgulhosos.

— Ava, vamos ver onde estão Luke e Aaron? — Chase soltou um


sorriso ladino para a irmã revelando que os dois pretendiam aprontar.

Fiquei ali com Baby, que soltou um longo suspiro.

— Quando seu marido fizer a sua cabeça para terem vários filhos,
não caia na pilha dele, é maravilhoso ter muitos filhos, mas por Deus, tem
dias que eu escapo a um fio de não ficar louca. — Baby se sentou ao meu
lado.

Baby era uma mulher fácil de conversar, logo estávamos todas


conversando. Polina, Belinda, Luna, e até mesmo as tias do meu marido.
Dexter se despediu de todos que eram próximos dele, era fim de tarde
e os Zornickel de Nova Iorque estavam voltando para as suas casas. O
capitão aproveitou a oportunidade para ir junto. De acordo com as palavras
dele, não existia muitas coisas que ele precisava levar.

Mesmo que Yago não quisesse assumir, senti pelo olhar dele que
ficou sentido com a ida de Dexter. Os dois tinham uma boa convivência.

Assim que todos eles foram embora, voltei o meu olhar para Yago,
queria que ele viesse me pegar, afinal estava cansada e com vontade de usar
o banheiro. Meu marido se aproximou, se abaixando ao meu lado.

— Preciso ir ao banheiro — falei baixo.

— Vou te levar. — O que me fez revirar os olhos. — Qual a razão


dessa revirada de olho?

— Não queria que o meu marido me visse usando o banheiro.

— Não é nada anormal. — Ele me deu um daqueles pequenos


sorrisos.

— Pra você, que não precisa fazer isso — murmurei quando ele me
pegou em seu colo.
— Se isso se tornar menos constrangedor para você, posso começar a
usar o banheiro de porta aberta.

— Nossa, quanto romantismo — resmunguei.

Paramos em frente à porta do banheiro e Yago entrou comigo. Não


era a primeira vez que fazíamos aquilo, com o auxílio dele, me ajudando a
sentar na privada.

— O que é colocar a minha esposa no banheiro comparado a depilar


ela quando nem ao menos posso tocá-la. — Com praticidade ergueu o meu
vestido, me sentando.

— Quanta humilhação, já podemos dizer que vivemos tudo em tão


pouco tempo de casados, nunca pensei compartilhar tantos
constrangimentos com um homem.

— O seu homem, tem uma grande diferença. — Piscou um olho para


mim.

— É meu? — perguntei querendo que ele dissesse que sim.

— Sim — sem esperar pela minha pergunta, me deu um selinho


rápido o suficiente para sentir os seus lábios molhados.

— Agora se vira, não vou fazer xixi com você me olhando. — Meu
marido se virou conforme revirava os olhos.
CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS

Voltamos para a sala da casa, ergui meus olhos para o movimento ali
presente, Yan estava no telefone com alguém com o qual ele falava meio
alterado.

— O que houve, Yank? — Yago perguntou sentando-me sobre o sofá.

— Estamos com problema no bordel da Nora outra vez — Yank


respondeu fazendo-me tremer diante daquela constatação.

— Qual é a da vez? — Yago perguntou quando Yan encerrou a


ligação.

— Um dos nossos homens foi esfaqueado, qual é a porra do


problema com esses homens? Caralho, eu mesmo vou até esse maldito
bordel fechar ele, se eu ver alguma daquelas putas naquele maldito lugar
novamente eu mato. — Yan parece realmente irritado.

O Don da máfia passou a caminhar pela sala indo em direção à


escada, sendo acompanhado por Yago e Yank. Meus olhos se ergueram para
a minha sogra, tentando descobrir o que estava acontecendo.

— Sogra? — chamei por ela.

— Sim, querida, eles vão até aquele lugar. Há algum tempo Yan vem
querendo fechar aquele estabelecimento, isso foi apenas mais uma das
razões, aquele bordel está trazendo muitos problemas, até mesmo chamando
a atenção do delegado, que já pediu que Yan encerrasse aquele
estabelecimento se não quisesse chamar a atenção para o nosso clã.

— Mas porque esse bordel é ligado a esse clã? — perguntei curiosa


vendo todos se entreolharem.

Nenhuma delas queria me falar, como se estivessem se controlando,


ou até mesmo querendo me esconder o fato.

— Tem algo a ver com o meu marido, não é mesmo?

— Tudo saiu de controle quando Yago parou de frequentar o bordel,


se antes elas tinham algum pingo de senso e se mantinham quietas era
porque Yago estava sempre por lá mantendo-as caladas...

— O que está querendo dizer é que o meu marido era como se fosse
o cafetão delas? — Engoli em seco, aquela visão me trazendo gastura.

Ergui meu rosto quando os homens adentraram o local, Yago ouvindo


o que eu disse.
— Sim, isso mesmo, nosso clã ganhava uma parte do lucro delas, em
troca dávamos a proteção para elas, mas o acordo foi desfeito quando eu me
casei e elas não aceitaram bem o fato de eu ter me casado. Assim
desfazendo a sociedade. Então estamos tendo essas desavenças que estão
trazendo problemas para todo o clã — meu marido respondeu a minha
pergunta.

— E como sempre, você nunca me conta nada...

— Não é uma coisa que você precisava saber — Yago balançou


suavemente o seu ombro.

— Ótimo, assim como terão coisas que não vou precisar compartilhar
com você, afinal, nem tudo precisa ser compartilhado. — Senti a raiva
começar a me dominar.

— Mamãe, eu preciso ir junto, vou passar para você o horário dos


remédios dela. — Yago simplesmente me ignorou, me tratando como uma
criança que não sabia a hora dos seus remédios.

— Eu sei tomar os remédios, é só você deixar ao meu alcance —


retruquei um pouco mais alto.

— Não, você não pode ficar andando, a sua perna pode ser
prejudicada. — Aquele era o marido extremamente protetor que eu
conhecia.

— Tenho as muletas para isso, mas até mesmo elas você conseguiu
manter longe do meu alcance. — Bufei.

— Se achar melhor pode ficar, Yago — Yan falou vendo o nosso


embate.
— Não, eu preciso ir junto, esse é um problema que precisa ser
resolvido por mim — meu marido respondeu o seu irmão.

— Aproveite e fique por lá. — Cruzei meus braços deixando de olhar


para ele.

Senti as lágrimas que se formavam em meus olhos, a vontade de


gritar com ele. Sempre me tratando como um cristal, um cristal que já
estava quebrado.

Até quando ia descobrir aqueles segredos sórdidos dele? Como o fato


de ser praticamente um dos donos daquele lugar, como ganhar dinheiro das
mulheres que vendiam o seu corpo, as mesmas que ele usava.

— Vão logo, deixe que eu cuido dela. — Ouvi a voz da minha sogra.

Percebendo que Luna e Belinda não pareciam se importar por seus


maridos estarem indo para um bordel, enquanto eu estava surtando, irritada!

Não fiquei olhando o meu marido ir, apenas os passos deles se


tornaram mais distantes, revelando que estavam saindo.

— Como vocês conseguem? — perguntei, precisando de apoio.

— Como conseguimos deixar nossos maridos irem para um bordel e


não nos importar? — Luna que perguntou e eu assenti — Somos casadas há
anos com eles, não existe razão para desconfiarmos dos nossos maridos.
Uma confiança que foi adquirida no decorrer dos anos. Não se culpe
querida, nenhuma de nós confiava 100% em seus maridos quando os
conhecemos. Eu mesma, estava apaixonada por Yan que era noivo de outra
mulher. E Yan me escondeu esse fato, nos deitamos juntos. E eu só fui
descobrir no dia seguinte que ele era prometido de outra. Foram longos dias
até voltar a confiar nele. E nosso casamento só pôde ser realizado porque
Owen sequestrou a noiva de Yan e se casou com ela...

— Ah... nossa... Polina era noiva do Yan? — indaguei confusa.

— Sim, era. Como competir com aquela mulher linda? — Luna


sorriu de lado, sendo que Luna era exuberante.

— Às vezes fico confusa aqui no meio... — murmurei.

— Não tem alguém que entre para essa família e se sinta à vontade,
sempre ficamos confusas, mas não é uma confusão ruim, é algo bom. Pois
sempre teremos alguém para nos proteger. Sei que agora deve estar furiosa
com o seu marido. E não é querendo entrar na defesa dele, mas Yago te
ama, nunca vi ele tratando uma mulher da forma que te trata. — Virei meu
rosto para Belinda.

— Não existe amor, existe apenas um homem querendo garantir que


seu filho nasça saudável — resmunguei.

— Bom, não temos que nos intrometer nesse quesito e tenho certeza
de que se o eu te amo não veio ainda, ele vai vir. — Belinda piscou um
olho.

Voltei o meu olhar para a porta, que estava vazia, por onde o meu
marido tinha passado. Sei que ele não seria capaz de me trair, o que me
deixava triste era sempre descobrir aqueles segredos dele.

Precisava trabalhar a minha mente para aceitar que Yago era um


mafioso, e o passado dele sempre seria mais pesado que o meu, a carga
emocional que ele carregava era diferente da minha.
Enquanto eu passava toda a parte da minha infância trancada, ele
vivia uma vida regada a muito luxo e mulheres.

Ele era experiente, enquanto eu, não tinha nada.

Por sorte elas me ajudaram a subir as escadas, e ir para o quarto de


Yago, onde antes ele dormia sozinho, eu precisava descansar a minha perna,
e ter um momento de relaxamento.
CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO

— Vocês não podem chegar no meu bordel e simplesmente se


acharem os donos. — Nora bateu no seu peito confrontando o meu irmão.

— Somos os donos de tudo isso aqui, assim como toda essa


comunidade me pertence! — Yan foi firme em suas palavras.

— Acham que eu sou o quê? Uma tola? Uma boba? Não! Isso aqui é
meu, e minhas meninas fazem o que bem entenderem, inclusive matar cada
um dos seus mafiosos...

— Foi avisado várias vezes, como a senhora não consegue entender.


— Em uma fração de segundos, Yan pegou a sua arma, atirando
certeiramente na cabeça de Nora.
Não pisquei meus olhos, não reagi. Pedi inúmeras vezes que ela
seguisse as normas como todos na comunidade faziam, mas ela julgou que
podia desafiar o meu irmão.

— Quem quer ser o próximo? — Yan rosnou impaciente.

As putas que estavam ali correram cada uma se escondendo atrás de


algum lugar, um movimento brusco fez Yan mover a sua arma, quando no
meu ponto de visão apareceu uma garotinha, pequena, com os cabelos
castanhos bagunçados, os olhinhos cheios de água.

— Irmão, não! — falei sabendo que eu vi a menina primeiro.

Rapidamente segui até ela, a garotinha ergueu seus olhos cor de mel
na minha direção.

— Mama — a menina parecia desnutrida, pedindo por comida.

Sem pensar duas vezes, me ajoelhei, deslizando a mão em seus


cabelinhos, colocando-os para trás. Passei a mão por baixo das perninhas
dela, pegando-a em meu colo e podendo sentir que ela usava fralda, mas
aquela estava molhada.

— De quem é essa criança? — perguntei e ninguém respondeu.

— Mama. — A garota apontou para Nora ao chão. — Sangue...

Ela fez um biquinho, falando as palavras erradas. Não sabia que Nora
tinha uma filha.

— De quem é essa criança, se ninguém responder vou descer a arma


em todas vocês — rosnei, vendo uma mulher se prontificar.

— É a filha da Nora — a mulher falou amedrontada.


— E quem é o pai? — questionei sabendo que podíamos entregar a
menina para o pai dela.

— Ninguém sabe, Nora nunca falava dos homens com quem se


relacionava, e nunca eram homens aqui da comunidade. — A puta voltou a
se encolher em seu canto.

Troquei um rápido olhar com Yan, não podia deixar aquela menina
aqui sozinha, não vivendo naquelas condições. Meu irmão pareceu entender
os meus pensamentos, apenas assentindo, e voltando a falar com as outras
garotas ali presentes:

— Quero que todas vocês arrumem um lugar para ficar em um mês,


este bordel está fechado, e quando completar os trinta dias, mandarei meus
homens virem demolir essa coisa.

Ninguém falou nada diante das palavras de Yan, ele ainda estava
sendo bondoso em dar esses trinta dias, elas desafiaram um clã de mafiosos,
tiveram a oportunidade de ficar quietas em seu canto, continuando a fazer o
que faziam, mas julgaram que podiam mais, e aquele era o fim delas, assim
como seria o fim de qualquer outro que nos desafiasse.

Virei as costas junto dos nossos homens, meu irmão ordenando que
limpassem aquela bagunça. O nosso soldado que tinha sido esfaqueado foi
levado para o hospital. Assim que saí daquele bordel, o vento frio nos
atingiu.

Tirando o meu paletó cobri a pequena menina em meu colo. Sentei-


me no banco de trás do carro vendo Yan se sentar ao meu lado e Yank no
banco do passageiro da frente.
— O que vai fazer com essa menina? — Yank foi quem perguntou
quando o carro já dava a partida.

— Não sei, apenas não podia deixar ela naquele lugar sujo —
declarei quando tudo que vinha na minha mente era a minha Felicie.

Na forma como ela por anos foi empregada, vivendo nas situações
mais precárias, não podia deixar que o mesmo acontecesse com aquela
menina indefesa.

— Por um momento pensei que essa garota era sua filha — Yan falou
ao meu lado fazendo com que eu virasse o rosto para ele.

— Minha filha? Ficou louco? Acho que estive umas duas vezes na
cama de Nora, e nunca fiz sexo sem camisinha. Felicie foi a minha única
exceção. — Franzi a minha testa para Yan.

— Melhor, ficaria difícil arrumar argumentos para te defender se


aparecesse com uma filha — Yank zombou do banco da frente.

O caminho até a sede foi tranquilo, abaixei o rosto percebendo que a


garotinha dormia encolhida em meus braços.

O automóvel foi diminuindo a velocidade parando em frente à sede, a


minha porta foi aberta, saí do carro e a menina em meus braços nem ao
menos se mexera, revelando que estava em um sono profundo, seu cheiro
não era de uma criança, tinha cheiro ruim, e com odor de urina.

Passei pelo tempo frio, a porta foi aberta para nós três, as vozes
vinham da sala, onde todos adentramos, o primeiro olhar que busquei foi o
da minha esposa, ela estava sentada na poltrona que geralmente meu pai se
sentava com o seu pé um pouco elevado. Até mesmo Heinz cedera o seu
lugar para ela? Definitivamente, Felicie tinha conquistado o coração de
todos ali presentes.

Não consegui desviar os olhos da minha esposa, ela estava com


aquele olhar assustado vendo a menina em meus braços, que mesmo
tampada pelo paletó apareciam os seus cabelinhos.

— O que aconteceu, quem é essa criança? — minha mãe foi quem


perguntou.

— Ela apareceu no bordel, e bem, a mãe dela acabou tendo um fim,


não poderia deixar ela lá sozinha — falei percebendo que a garotinha
começava a acordar.

— Ah, que alívio, por um momento pensei que era uma filha sua. —
Zara me fez arregalar os olhos.

— Ótimo viu, se mais alguém teve esse pensamento pode ir


mudando, ainda não sou pai — retruquei percebendo que a maioria soltou
um suspiro de alívio incluindo a minha esposa.

Mamãe parou ao meu lado, sorrindo para a menininha.

— Vem com a titia? — ela falou movimentando os seus braços. A


menininha se agarrou ainda mais em minha camisa apertando-a.

— Mãe, eu acredito que ela use fralda, mas está suja. — Fiz uma
careta.

— Tenho algumas fraldas de Heinz que sobraram, ele não usa mais,
deve ter alguma coisa na gaveta — Luna se prontificou indo para a escada.
— Qual o seu nome? — perguntei para a menina, percebendo seus
olhinhos cor de mel sobre os meus.

— Kata. — A menina me fez franzir a testa. Afinal que nome era


aquele?

— Deve ser Katarina — mamãe deduziu.

Com muito sacrifício, Zara conseguiu pegar a menina do meu colo,


mesmo com ela indo, seus olhos não desgrudaram de mim. E por um
segundo tive vontade de levar aquela garotinha para a minha casa. Mas
primeiro precisaria conversar com a minha esposa.

— Pedi que os nossos homens buscassem pelos documentos da


menina — meu irmão falou me fazendo assentir conforme caminhava em
direção a Felicie.

Parei ao seu lado me abaixando, vendo-a torcer o nariz, afinal estava


com o cheiro da pequena na minha camisa.

— Podemos ir? — perguntei e sem querer olhar direto nos meus


olhos ela assentiu.

Lógico que Felicie estava com raiva de mim, afinal, escondi dela que
eu tinha aquele bordel como uma sociedade, que eu já tinha desfeito.

Mesmo tendo um casamento de fachada, não podia ficar


frequentando um bordel perante o olhar de todos.
CAPÍTULO CINQUENTA E CINCO

Com o auxílio de Yago, saí do carro, observando a nossa casa com


algumas luzes acesas.

— Descansou quando eu saí da sede? — ele perguntou conforme


subia os três lances da escada.

— Sim, no seu quarto — falei vendo-o digitar a senha na porta.

— Nosso quarto. — Ergui meus olhos encontrando com os dele.

— Não sei se é assim que se encaixaria. — Mordi a ponta do meu


lábio conforme entramos na nossa casa, agradecendo o calor da residência
já que do lado de fora estava muito frio.
— Sim, tudo que é meu, agora é seu. — Passamos a subir as escadas.

Meu marido nos levou para o nosso quarto e foi logo me sentando na
cama, afastando as minhas pernas com cuidado e se colocando no meio
delas.

— Te devo um pedido de desculpas, não falei sobre o acontecido, e


não foi por maldade, apenas não sabia que era essencial. Saí daquela
sociedade quando nos casamos, mesmo que fosse um casamento apenas de
fachada, não iria ficar me deitando com várias mulheres...

— Qual o motivo de você ter essa sociedade? — perguntei confusa.

— Abaixo de toda a nossa hierarquia, tem os associados, pessoas que


dão uma parte do seu lucro, e em troca damos a nossa proteção, ou até
mesmo um custo-benefício para eles fazerem render o dinheiro — meu
marido explicou por cima, fazendo-me recordar daquela parte que Zara me
explicara.

— E vocês podem romper essa sociedade?

— Sim, a sociedade pode ser rompida, mas com a quebra do contrato


foi necessário eu pagar uma parte em dinheiro. — As mãos de Yago
acariciavam o meu joelho.

— E você pagou?

— Sim, paguei. Mas Nora não se deu por vencida, pois ela queria a
nossa proteção, e mesmo com nossos homens ainda frequentando aquele
lugar não estava bom para ela. Nora queria tudo por escrito, passou a
chamar a atenção dos civis, fazer o que sempre pedíamos que não fizessem.
Se tem algo que prezamos é a boa vizinhança com todos. Não gostamos que
saiam falando sobre a nossa família abertamente. E ela estava fazendo isso,
mentiras, calúnias. E Yan deu um ponto final.

— Matou ela? — murmurei sabendo o que meu cunhado tinha feito.

— Sim.

— E você trouxe aquela garotinha com você?

— Sim...

As mãos de Yago foram subindo por meu vestido, nossos olhos fixos
um no outro.

— E agora somos o quê? Ainda somos um casal de fachada? Afinal


já tenho um filho nosso em meu ventre — murmurei com a minha voz
abafada pelos gemidos que queriam escapar.

— Um casal? Quer mais que isso? — A ponta do dedo do meu


marido resvalou na minha calcinha.

— Sim, eu quero você por inteiro para mim — murmurei fechando


meus olhos. — Quero que pare de me tratar como uma criança...

— Pequena, abra seus olhos e olhe no fundo dos meus olhos. — Fiz
o que ele mandou. — Não lhe trato como uma criança. Você nunca foi
cuidada por ninguém, e agora que tem alguém cuidando de você, acha que
está sendo tratada como tal, quando não está. Eu quero cuidar da minha
esposa, quero poder te mimar, deixar bem explícito por todos os dias da
nossa vida o quanto eu te amo.

Segurando no meu queixo ele aproximou o lábio do meu,


sussurrando lentamente:
— Eu te amo, minha pequena cinderela. — Foi impossível não sorrir
para aquilo.

— Então isso é um sim? Somos um casal de verdade? Você é meu?


Eu sou sua? — O lábio dele se encaixou suavemente sobre o meu.

— Sim, eu sou seu, de corpo e alma, desde a primeira vez que a


protegi, naquela casa... — senti a língua dele tocando a minha iniciando um
beijo lento.

— Não vamos deixar que mais nada nos atrapalhe — murmurei entre
o beijo.

— Mais nada...

— Eu te amo, meu loiro — um gemido escapou da minha boca


quando Yago chupou o meu lábio.

— Repete...

— Te amo, meu príncipe, falar isso é como tirar algo que estava
entalado dentro de mim — sussurrei revirando meus olhos em meio àquele
prazer que dominava o meu corpo.

— Então quer dizer que já me amava antes? — Seus dedos passaram


pela minha nuca, me deitando sobre os lençóis.

— Acho que sempre te amei, apenas não queria assumir. — Seu


corpo foi cobrindo o meu. Ergui minha mão desabotoando os botões da sua
camisa.

— Yago, seu cheiro. — Fiz uma careta na qual ele sorriu. — Vamos
impregnar os nossos lençóis com esse cheiro horrível.
— Tem razão, por mais que eu queira me enterrar no meio das suas
pernas, vamos tomar um banho primeiro, dessa vez eu posso dividir o box
com você — perguntou me ajudando a sentar.

— Depende. — Mordi o canto do meu lábio descendo meus olhos


pelos botões que ele passava a desabotoar.

— Depende do que exatamente? — Jogou a sua camisa no chão


revelando o seu peitoral.

— Se vou ganhar um banho exclusivo. — Um sorriso ladino se


formou em meus lábios.

— Tudo que a minha esposa quiser eu faço... — abriu o cinto,


abaixou a calça por último descendo a cueca, ficando completamente nu.

— Bom... eu ainda quero um gatinho. — Fiz um bico, e ele


gargalhou diante do meu gesto. Ter Yago gargalhando era um momento
raro, e eu sempre me pegava analisando-o naqueles momentos.

— Nada tira da sua mente esse bendito gatinho não é mesmo? — ele
falou enquanto ia no banheiro pegar os acessórios para tampar os ferros da
minha perna.

Deixou-me com a visão da bundinha branca dele, e eu coloquei a


ponta do dedo na minha boca, perguntando-me como seria passar a mão ali.
Yago se virou me pegando no flagra. Vindo na minha direção, sem pudor,
andando nu na minha frente. Intimidade era algo que compartilhávamos
abertamente, afinal o que era mais humilhante que ser depilada pelo seu
marido por duas vezes?
— O que a deixou com esses olhinhos brilhando? — perguntou com
malícia.

— Seu bumbum é maior que o meu. — Torci o lábio.

— Isso porque sou maior que você. — Deu de ombros.

Fiquei analisando-o colocar o plástico na minha armadilha, com todo


o cuidado meu marido o fechou para não passar a água.

— Você leva jeito para ser enfermeiro — zombei.

— Por favor, que essa seja a primeira e última vez, não quero passar
pela dor de quase te perder outra vez. — Terminando de fechar o plástico,
segurou na minha cintura, aproximando o rosto da minha barriga. — Dá pra
acreditar que aqui dentro cresce o nosso filho?

Seus olhos se ergueram para os meus, sem tirar o lábio da minha


pele. Levantei minha mão tocado os fios loiros dele.

— Nosso filho... meu e seu, isso parece o meu conto de fadas meio
torto. — Sorri babando na cena que era ver o meu marido abraçando a
minha cintura como se estivesse abraçando o nosso filho.

— Se isso me faz o seu príncipe, eu aceito esse conto de fadas. Mas


que seja apenas um segredo nosso, não quero perder a minha posse de
mafioso marrento. — Yago se levantou e com a ajuda dele tiramos a minha
roupa.
CAPÍTULO CINQUENTA E SEIS

Abaixei-me ficando na frente de Felicie, ela estava sentada na cadeira


adaptada do box. Nossos olhos se encontraram sobre as gotículas de água
que escorriam pelo chuveiro. A mão delicada da minha esposa se ergueu
tocando o meu rosto, seus dedos suaves acariciando a minha bochecha.

— Você já me tomou aqui embaixo — a pequena sussurrou em meio


a sua vergonha apontando para a sua intimidade.

— Sim. — Meus lábios se encostaram nos dela lentamente.

— Eu queria fazer o mesmo em você. — Minha esposa mordeu o


canto do seu lábio, enquanto me afastei suavemente.
— Quer chupar o meu pau? — Ergui minha mão, meus dedos
passando em volta do seu lábio.

— Sim marido — mesmo com toda a sua vergonha explícita, ela não
titubeou.

Endireitei meu corpo, a água passando a cair nas minhas costas,


abaixando a minha mão, espalmei em seu cabelo, meus dedos se enlaçando
naquele emaranhado de fios sedosos, os olhos azuis intensos da minha
pequena fixos em mim.

— Segure na base dele — ordenei vendo-a fazer o ato e seus dedos


curiosos seguravam na base.

Seu toque era delicado, como se estivesse explorando o meu pau, e


eu deixei que primeiro sanasse a sua curiosidade.

— Agora leve os seus dedos até a ponta, na cabeça do meu pau. —


Como se estivesse lidando com algo frágil, Felicie não soube como fazer o
movimento. — Pode apertar com firmeza, assim.

Peguei a mão dela, levando até a base do meu pau, deixando que seus
dedos circulassem o membro e apertando a minha mão por cima da dela,
passei a movimentar os dedos dela, para cima e para baixo, fazendo-a
perceber que não precisava lidar com fragilidade. Tirei a minha mão
percebendo que com facilidade, ela pegou o jeito.

— Agora vai levar na sua boca, sem usar os dentes, fazendo os


mesmos movimentos que fez com a mão, entrando e saindo, quanto mais
usar a língua mais me deixará excitado, pode chupar com força, eu gosto...
— seus olhos erguidos na minha direção piscaram, como se tivesse
entendido o que eu tinha falado.
Com o impulso da minha mão, fiz a sua boca tomar o meu pau. O
lábio levemente carnudo circulando o meu pênis, a imagem da perfeição
bem ali embaixo dos meus olhos.

— Sem dentes, pequena — murmurei com a voz rouca quando senti


o atrito do dente dela sobre a pele do meu pau. — Use os lábios, a língua...
isso... assim...

Fechei meus olhos brevemente sentindo o lábio dela, a língua


resvalando na minha pele quente. Tirei o pênis fora da sua boca,
abruptamente apenas para ouvir o barulho da sucção da sua língua
estralando.

— Fiz algo de errado? — ela perguntou com a luxúria explícita em


seu semblante.

— Pelo contrário, está perfeita, para o primeiro oral, sua nota é dez.
— Sorri com malícia.

Esfreguei o membro na sua bochecha, minha esposa manteve o olhar


no meu, fixa e excitante, a minha pequena de olhar angelical agora com um
pau deslizando por sua pele.

— Quem é o seu dono? — pedi com a minha possessividade me


dominando.

— Você — ela sussurrou.

— Quem é o único que pode te tocar, te dominar e ainda por cima tê-
la por inteiro? — grunhi segurando na base do meu pênis batendo em seu
rosto.
— Oh... você meu marido. — Felicie levou um breve susto quando
voltei a penetrar a sua boca com o meu pênis.

— Então toma o meu cacete por completo nessa boquinha gostosa —


rugi como um homem das cavernas.

Minha adorável esposa tomou todo o meu pau, levando um susto


quando se engasgou querendo parar, mas naquele momento nada me faria
parar até que gozasse no fundo da garganta dela.

— Toma, Felicie, toma todo o meu pau; — Apertei o seu cabelo com
mais força, ouvindo o barulho alto da sucção da sua boca. — Não vai
vomitar, é apenas o meu pau fazendo-a entender o que é ser a esposa de um
mafioso...

Os olhos dela lacrimejaram, mesmo sabendo que estava extrapolando


todos os limites para o primeiro oral dela, não consegui parar, queria
dominar aquela pequena por inteiro.

Fodendo a boca dela com brutalidade, Felicie engolindo todo o meu


membro quando se engasgava. Até que um rugido rouco escapou pela
minha boca e acabei gozando no fundo da sua goela, segurando a cabeça
dela com meu pau no fundo, fazendo-a engolir até a última gota, sem
derramar nada.

Após meus últimos espasmos, tirei meu pênis da sua boca, seus olhos
vermelhos se encontrando com os meus.

— O que foi isso? — Felicie sussurrou surpresa.

— Isso foi o seu marido querendo que entendesse que sempre estará
aprisionada nesse casamento comigo. — Abaixei tirando a mão do seu
cabelo, segurando em seu queixo.

— Talvez essa prisão seja muito boa. — Um pequeno sorriso brotou


no canto do seu lábio.

— Gostou de ser fodida na boca?

— Gostei de ver o meu marido rugindo como um lobo, e eu fui a


causadora desse prazer — seus dedos passaram a tocar o meu rosto.

— Você me faz sair de todas as minhas zonas de conforto, sou um


louco obcecado por cada detalhe seu — murmurei devorando seus lábios
com força.

Sinto o meu gosto em meio ao beijo, aquilo me deixava ainda mais


louco.

— Vou pegá-la em meu colo, e caso fique desconfortável, me fala —


pedi passando a mão em sua bunda, erguendo-a.

Sinto a barra de ferro dela tocando o canto da minha coxa, como


estava protegido pelo protetor não doeu a minha pele.

— Não dá, a pressão que faz o meu pé para baixo, faz ele doer —
Felicie murmurou.

— Que se foda, vamos para a cama, preciso foder a sua boceta —


grunhi abrindo o box, sem nem ao menos fechar o chuveiro, levando-a para
a nossa cama.

— Yago, vamos molhar toda a cama...

— Trocamos as roupas depois — declarei deitando-a na cama,


abrindo suas pernas, sem aviso prévio, meu pau penetrou as dobras dela.
Sentindo-a quente, pulsante e deslizante. Meti com brutalidade,
necessitando daquele contato da minha esposa.

Parecia que nada antes dela fazia sentido, era como ver o mundo com
um outro olhar, talvez até mesmo mais colorido.

Minhas mãos deslizavam por sua bochecha, sentindo a pele macia,


nossos olhos fixos um no outro, como se nossa alma se conectasse.

— Eu te amo, Yago — Felicie sussurrou quando passei a tomá-la


com menos força, sentindo meu pênis deslizar por toda a sua boceta.

— Eu te amo, Felicie, amo como nunca amei ninguém. — Desci o


meu lábio, tomando a sua boca com carinho.

O sexo que começara bruto, passou a ser lento, calmo. A conexão


que precisávamos, como dois teimosos que não viviam um longe do outro.

Sem forçar, sem extravasar a raiva, a primeira vez que eu fazia sexo
por amor, com a minha esposa, com a única mulher que já dominou o meu
coração. Parecia que no final quem estava acabando aprisionado, era eu,
aprisionado pelo coração doce da minha amada.

— Meu príncipe... — Felicie choramingou se entregando,


contorcendo-se sobre o meu pau, suas paredes latejantes estrangulando-o de
uma forma extremamente gostosa.

— Caralho. — Rugi gozando uma segunda vez. — Como eu te amo,


minha pequena...
CAPÍTULO CINQUENTA E SETE

— Não, Yago, essa parte é do outro lado. — Naquele momento as


lágrimas saíam copiosamente pelos meus olhos enquanto ria sem parar do
meu marido tentando colocar a roupa de cama.

— Nasci para ser um mafioso, e não um arrumador de cama. — Ele


revirou seus olhos.

— Isso, assim mesmo — elogiei quando ele fez da forma certa,


conseguindo trocar o protetor de colchão, e agora colocando outro. — Tá
quase, meu amor, falta pouco.

Ele parou de fazer o que estava fazendo, seus olhos se encontrando


com os meus.
— Do que me chamou? — Aquele sorriso ladino se fez presente em
seus lábios, vindo na minha direção.

— Meu... amor... — pausadamente falei, mordendo o canto do meu


lábio ao vê-lo se encaminhar na minha direção.

Suas mãos segurando em cada lado do encosto do sofá, os olhos se


fixando aos meus quando se abaixou.

— Porra, isso me deixa excitado — o seu sussurrar estava perto do


meu rosto.

— Marido, a cama ainda não está arrumada — murmurei em meio ao


meu deboche.

— Podemos dormir nela assim mesmo e partir para uma segunda


rodada de sexo? — O dedo dele delineou os meus lábios.

— Adoraria, mas prefiro a cama arrumada...

— Quer continuar se divertindo à minha custa?

— Vai desistir facilmente dessa tarefa?

Yago endireitou o corpo, soltando um longo suspiro ao olhar para a


cama.

— Nunca desisto de nada — falou tentando ser convicto, quando a


convicção não estava presente em seu olhar.

— Vai, marido, sempre estarei ao seu lado para lhe dar o apoio moral.
— Yago voltou o seu olhar para mim.

— Ou rir à minha custa.


— Convenhamos que não é sempre que vemos um mafioso, o
subchefe de uma grande máfia, arrumando uma cama.

— Isso mais se parece com um dragão de quatro cabeças. — Mesmo


suspirando meu marido voltou a arrumar a cama.

Sabia que o pretexto do sexo dele era exatamente para não arrumar a
cama, tentei não rir dos desastrosos atos do meu marido, mas era quase
impossível, quem com trinta anos não sabia arrumar uma cama? Sim, Yago
Zornickel.

Após muitos xingamentos, andando de um lado para o outro da cama,


seus olhos se encontrando com os meus por muitos momentos, até mesmo
ele ria da sua própria desgraça.

Por fim conseguiu arrumar a cama, colocando as outras roupas para


lavar, pois tínhamos molhado todas elas. Nunca pensei que podíamos estar
nesse nível de relacionamento... isso é o que quero colocar na minha mente.
Pois sempre me pegava sonhando com um marido presente e em um
casamento de verdade com Yago.

— Pronto, esse dragão foi vencido — declarei instintivamente


levando a mão à minha barriga como se já sentisse o meu bebê ali dentro.

Meu marido parou de andar, seus olhos sobre a mão em minha


barriga.

— Não existe visão mais linda que essa. — Voltou a vir novamente
na minha direção. Colocando meus fios de cabelo atrás da orelha. — Minha
esposa... nosso filho...
Aproximou o lábio do meu, dando um beijo suave, lento, podendo
sentir a forma como nos encaixávamos, os arrepios que os toques dele me
causavam. Como eu amava aquele homem.

Nosso beijo foi interrompido quando o barulho da campainha ecoou


na casa.

— Quem deve ser a essa hora? — Meu marido forçou os olhos,


refletindo em quem devia ter tocado a campainha — Vou lá ver.

Apenas assenti, Yago estava apenas com uma calça de moletom, nem
ao menos colocou uma camisa para ir atender a porta, talvez soubesse que
era alguém da sua família.

Assim que ouvi o barulho da porta ser aberta, a voz de Zara ecoou na
residência junto com o chorinho de uma criança, olhei para os lados vendo
as minhas duas muletas ali. Estiquei meus braços pegando-as.

Soltando poucos gemidos, consegui me levantar e com o apoio delas,


cheguei próximo do parapeito do segundo andar, onde os dois podiam ter a
minha visão parada ali, e eu podia vê-los. A pequena Katarina se agarrava
no peito de Yago.

— Felicie, não pedi que esperasse no quarto? — O tom de


reprimenda de Yago vinha pelo excesso de proteção dele.

— Fiquei curiosa. — Balancei meus olhos.

— Desculpem incomodar vocês, mas ela não parava de chorar


pedindo por você — Zara falou apontando para o filho.

Ter a imagem do meu marido com aquela pequena menina em seu


colo fez um instinto protetor se apossar de mim. Ela se apegou a ele. Uma
linda menina, indefesa, vivendo naquele lugar. Vindo na minha mente o
meu passado pela forma em que sempre fui deixada de lado.

— Podemos ficar com ela? — pedi repentinamente fazendo os dois


me olharem como se não esperassem por aquela decisão. — Bem... hãn...
Katarina já se apegou ao Yago, por que não podemos adotar ela?

Gaguejei com medo da minha decisão ser contestada.

— Eu acho isso ótimo. — Os olhos de Zara brilharam.

— Tem certeza, pequena? — Meu marido tinha explícito no seu olhar


que queria tanto a garotinha quanto eu.

— Sim, nunca tive tanta certeza de algo — concordei abrindo um


grande sorriso.

— Sendo assim, trouxe uma mala de roupa com fraldas para ela, e
algumas roupinhas de Heinz, são roupas de menino, mas amanhã vamos
comprar muitas roupinhas para essa mocinha, e como aqui tem dois quartos
vagos, já vamos deixar um totalmente preparado para ela. — Minha sogra
foi rapidamente pensando em tudo. — Viu, filho, como eu sempre tenho
razão em tudo, os dois quartos eram essenciais para os meus dois netos.

Zara nem ao menos esperou o filho falar algo, chamando a pequena


Katarina de neta. Como pode essa família ser tão amorosa? Abraçar os
indefesos como um deles, como se sempre tivéssemos feito parte daquele
grande clã.

Minha sogra logo voltou com uma bolsa em sua mão estendendo-a
para o seu filho.
— Aqui dentro tem tudo que uma garotinha de três anos precisa, leite
em pó, mamadeira, fraldas. Sabem trocar fralda? — Zara franziu a testa
confusa.

— Ah, não! Me recuso a trocar fralda — meu marido foi logo


reclamando.

— Eu troco, posso fazer isso em cima da cama. Nunca troquei uma


fralda, mas não deve ser tão difícil e amanhã Anali vai estar aqui, ela pode
me ajudar. Vai ser bom ter uma companheira. — Sorri com carinho quando
a pequena lá de baixo ergueu seus olhinhos cor de mel para mim.

— Perfeito, amanhã também estarei aqui logo pela manhã com o


nosso arquiteto, podemos ir planejando os dois quartos. — Zara sempre
ficava empolgada com tudo.

Despedindo-se de nós, ela saiu da nossa casa. Meu marido segurava a


pequena em seu colo com uma das mãos e na outra a bolsa dela, seus olhos
se encontrando com os meus.

— Talvez eu não estivesse preparado para ser pai tão


antecipadamente. — Sorriu de uma forma forçada.

— Ela literalmente te escolheu. Parece que o mafioso insensível tem


certa mania de resgatar mocinhas indefesas. — Apoiei meu braço com mais
força na muleta sentindo a minha perna começar a doer.

— Tudo para as minhas duas mulheres indefesas. Agora vamos,


porque alguém não pode ficar em pé por muito tempo — o marido protetor
estava presente outra vez.
A forma como ele nos chamou de mulheres da sua vida fez o meu
coração bater mais rápido, uma necessidade desenfreada de proteger aquela
pequena de todo o mal, e ficar para sempre ao lado deles.
CAPÍTULO CINQUENTA E OITO

Passei pela porta da sede, o ambiente estava silencioso, os meninos


deviam ter ido se recolher. Meus saltos ecoando no chão.

Cada vez que passava por aquela porta me vinham as recordações de


quando entrei pela primeira vez por ela. Quando quase matei o meu marido,
quando ele quase me matou. Como duas pessoas que se odiavam tanto
podiam até mesmo se amar em uma intensidade indescritível.

Adentrei a sala onde esperava encontrá-lo, eram 39 anos de um


casamento duradouro, não tinha como não conhecer aquele homem. Heinz
conhecia todos os meus defeitos, todas as minhas qualidades, até mesmo os
meus hábitos mais irritantes e os mais delicados.
Aqueles olhos azuis frios como um iceberg se ergueram na minha
direção, meu marido não era mais o mesmo de 39 anos atrás, mas a paixão
sempre se refletirá em seu olhar.

Deitado com a cabeça na coxa dele estava o pequeno Heinz, o


segundo menino do nosso filho mais velho, os cachos loiros bagunçados
pelo avô que estava passando a mão neles. Segui em direção aos dois, me
sentando ao lado do meu marido.

— Ele dormiu? — sussurrei abaixando meus olhos vendo que o


menino contraiu a pálpebra com força deixando claro que estava fingindo.

— Sim, no sono mais pesado possível — meu marido tinha aquele


tom de deboche.

Os passos que surgiram na sala me fizeram erguer os olhos notando


que Petrus entrava. Ao contrário do irmão mais novo, Petrus tinha os
cabelos negros e olhos azuis da mãe, ele era uma cópia de Luna, coçando a
cabeça ele fez uma careta olhando para o caçula.

— Vamos dormir, cabelinhos de anjo — Petrus chamou o irmão


daquela forma para provocá-lo.

— Vou te mostrar o cabelo de anjo. — O menino que há poucos


segundos fingia estar dormindo pulou do colo do avô correndo para o irmão
mais velho.

E novamente a história se repetia. Vi meus quatro filhos crescendo


em meio às suas provocações, brigas e xingamentos, e agora meus netos
iam pelo mesmo caminho. Mesmo que se provocando, era nítido o amor
deles, e a cumplicidade. Eles não seriam um Zornickel, se não tivessem esse
sangue esquentado nas veias.
— Ei, os dois pinschers, bora subir para dormir. — Meu filho mais
velho entrou na sala afastando a briga das crianças.

— Ainda vou ser maior que você — Heinz retrucou da sua forma
esquentada.

— Pois eu vou ser mais forte. — Petrus mostrou a língua.

— Isso me faz lembrar velhos tempos — meu marido zombou ao


meu lado.

Yan ergueu o olhar para o pai soltando uma gargalhada sabendo que
ele e os irmãos faziam a mesma coisa.

— Com uma grande diferença, não pretendo ter mais filhos. — Yan
torceu o lábio.

— Pelo menos já tem dois meninos garantidos para a cadeira do Don


— meu marido falou orgulhoso.

— Minha cadeira. — Petrus se mostrou interessado na conversa.

— Não quero ela mesmo. — O pequeno Heinz orgulhoso balançou


os ombrinhos.

— Nasci primeiro, isso aqui um dia vai ser tudo meu. — Petrus tinha
a ganância dos Zornickel, sempre olhando para tudo ao seu lado,
observador.

Yan até mesmo ia encaixando-o em vários serviços do clã. Mesmo


que o primogênito dele por muitas vezes passasse o seu tempo lendo, pois
de acordo com ele, um chefe de um clã precisava ser inteligente para
comandar a máfia. Ao contrário de Heinz que sempre estava ao lado do pai
querendo a ação. Heinz tinha apenas quatro anos, e uma personalidade
forte, ele gostava de estar no centro do clã. Mas já ouvi meu marido falando
que Petrus era o mais adequado para estar na frente, era pensativo, não agia
no impulso, gostava de liderar, comandar.

— Prefiro muito mais usar a minha arma. — O garotinho de quatro


anos fez um gesto com a mão.

— Uma arma que nem tem. — Os dois iam começar a brigar outra
vez quando o pai segurou na gola de ambas as camisas.

— Vamos, minhas pequenas feras, chegou a hora de dormir. — Com


um filho em cada braço Yan se virou levando os meninos.

— A história se repete. — Meu marido segurou na minha mão,


nossos dedos se entrelaçando.

— Fico me vendo inúmeras vezes com essa família. — Sorri. — Sei


que Luna saberá colocar juízo na cabeça de Yan quando precisar, assim
como sempre faz, que nossos netos serão a futura geração que esse clã
merece.

— Vamos deixar o nosso legado nas melhores mãos. — Virei o meu


rosto, encontrando com os olhos do meu marido.

— Sim, meu querido, vamos. — Ergui minha mão tocando os fios


grisalhos da barba de Heinz.

— Meu pai nunca esperava que aquele filho torto dele pudesse ter
essa grande família — Heinz se pegou divagando.

— Seu pai não esperava ver você apaixonado, quem dirá, com essa
grande família — zombei.
— Petrus teria orgulho do legado que deixou. — Com o polegar
acariciei a sua bochecha.

— Com toda certeza, ele teria. — Aproximei o meu lábio do dele.

Sentindo a maciez do nosso beijo. Como em todos, ele era quem


guiava o ato.

— Será que posso ter a minha esposa no meu colo? — ele sussurrou
com a voz rouca.

— Podemos ser pegos — murmurei.

— Às vezes gosto de me sentir um jovem adolescente, com a perna


fodida, mas jovem — com facilidade, Heinz me ajudou a sentar em seu
colo.

Erguendo um pouco o meu vestido, sem que a minha bunda ficasse


exposta.

— Querido, podemos fazer uma viagem? Depois que a perna da


Felicie sarar, quando o nosso neto nascer — pedi segurando no seu ombro.

— Uma viagem de 40 anos de casamento? — ele perguntou


acariciando a minha coxa.

— Os melhores 40 anos da minha vida. — Nossos olhos ficaram


fixos um no outro.

— E quanto a garotinha? — Meu marido queria saber sobre a


pequena Katarina.

— Acredite se quiser, mas Felicie pediu para a menina ficar lá, eles
vão adotar a garotinha, dá pra acreditar na guinada que a vida de Yago deu?
O nosso menino mais marrento de todos, casado, com um filho a caminho e
acabou de adotar uma menina, que loucura. — Meus olhos passaram a se
encher de lágrimas de orgulho.

— Com essa eu posso dizer que o meu trabalho nessa terra foi
concluído com sucesso, todos os meus filhos casados, com filhos, uma
família estabelecida — Heinz murmurou pensativo.

— Heinz Zornickel, seu trabalho nessa terra está muito longe de


acabar. Pois ainda existe a sua esposa que merece ser muito... muito
mimada. — Sorri fazendo drama.

— Com toda certeza, meu único papel agora será mimar a minha
doce e adorável garotinha. — Passando a mão sobre a minha nuca ele
puxou com um pouco de firmeza fazendo nossos lábios se encaixarem.

Perdi-me em meio ao nosso beijo, sabendo que sempre seria naqueles


braços, os únicos braços capazes de me domar. O homem da minha vida, o
Don da máfia que me comprou e com muitas intercorrências da vida me fez
dele.
CAPÍTULO CINQUENTA E NOVE

Coloquei a pequena sentada na cama, a garota que era realmente


pequena, comparada a uma criança. Segui em direção à minha esposa,
ajudando-a sentar-se na nossa cama. Felicie sorriu para a menina.

— É um robô? — A menina apontou para a perna da minha esposa.

— Ah... — sem saber o que responder Felicie me olhou, mas logo


tomando conta do assunto sem precisar da minha ajuda. — Você gosta de
robôs?

— Estanhos — ela falava um pouco errado, mas nada que nos


dificultasse a entender.
— Então, isso não é um robô. Apenas tive um acidente, e foi
necessário colocar isso. — A garotinha seguia olhando sem entender.

Tenho certeza de que Felicie ia falar que era um robô, caso a menina
gostasse de robôs. Mas como ela disse o oposto à minha esposa entrou na
onda.

— Ah... xixi. — A menininha abriu as perninhas vendo que a calça


que usava não estava molhada. — Sem xixi...

Olhou na nossa direção confusa.

— Você sabe usar o banheiro, querida? — minha esposa perguntou.

— Não, mamãe biga quado faço xixi. — Os olhinhos dela se


encheram de lágrimas. — Vão bigar cumido?

Um pequeno beicinho se fez presente nos lábios dela, as lágrimas


começando a brotar a ponto de cair algumas.

— Claro que não, pequeno anjo. Você está usando fralda, não vai se
molhar, e se molhar, nós usamos outras roupas, e se você quiser posso te
ajudar a usar o banheiro, o que acha? — Felicie com cuidado se aproximou
da pequena limpando as lágrimas.

— Sem catigus no quarto ecuro?

— Nunca mais. — Felicie compartilhou com a menina um dos seus


sorrisos lindos.

— Posu molar aqui com vucês? — mesmo com a voz rouca pelo
breve choro, com as palavras erradas, ela pediu.
Minha esposa abriu ainda mais o seu sorriso, deixando claro que
queria aquilo.

— Sim, minha pequena, pode morar aqui para sempre. — Com


cuidado Felicie pegou a menina, tomando-a em seu colo, afagando seus
cabelinhos castanho-escuros. — Vamos poder brincar, e fazer muitos
penteados nesses cabelinhos.

Pela primeira vez vi aquela menininha abrir um grande sorriso, os


olhinhos brilhando pela alegria dela. Uma gargalhada gostosa de ouvir
quando a felicidade dela era contagiante.

— Se você fez xixi na fralda, eu posso trocar ela, e acredito que deve
estar cansada, o que acha de dormir aqui na nossa cama, conosco essa
noite? — minha esposa pediu e a garotinha abriu um grande sorriso
entusiasmado.

— Eba!!!

— Meu amor, você pode pegar a bolsa dela? — Porra, eu amava


quando ela me chamava de meu amor.

Virei-me pegando a bolsa da menina, apoiando-a na cama, eu a abri,


vendo dentro as fraldas, a mamadeira, e o pó do leite.

— Aqui. — Entreguei a fralda para ela junto com um lenço. —


Enquanto você a troca, vou lá embaixo preparar a mamadeira, não deve ser
tão difícil, está tudo dividido aqui.

Peguei a mamadeira com a água dentro, e um pote com os suportes


de leite divididos.
— Bom, já estamos em teste na função de papais. — Pisquei um olho
para a minha esposa diante das palavras dela.

— Precisa de minha ajuda por aqui? — perguntei prestes a sair do


quarto.

— Não, pode ir preparar a mamadeira — assentiu saindo dali.

Talvez eu ainda não estivesse preparado para trocar a fralda de uma


garotinha, por aquele motivo praticamente saí correndo dali.

Cheguei na minha cozinha, jogando o pó dentro da água da


mamadeira, fechei-a novamente, agitando-a. Voltei a abrir a mamadeira,
colocando no micro-ondas por poucos segundos. Testei a temperatura na
palma da minha mão até ter certeza de que estava boa para a pequena tomar.

Voltei para o quarto, entrando em silêncio. Fiquei fascinado ao ver a


minha pequena esposa cantando uma cantiga para Katarina, a menina que
estava deitada no meio da cama olhava com carinho para Felicie. Apenas a
luz do abajur estava acesa.

Minha esposa conseguiu trocar a menina e ainda a deitar na cama?


Definitivamente ela nasceu para ser mãe daquela garotinha.

Eu me aproximei delas, Katarina estendeu suas mãozinhas quando


viu a mamadeira, dei para ela e sem precisar de auxílio ela a tomou.

Passando a mão sobre os cabelos da minha esposa, ajudei-a a se


deitar e posicionar o seu pé, com cuidado colocando em cima do travesseiro
adaptado.

— Será que ela não vai chutar o seu pé enquanto dorme? — sussurrei
preocupado.
— Vamos ficar de olho, quero Katarina aqui ao nosso meio. —
Felicie estava realmente animada como nunca a vi antes.

— Tudo bem, vou ficar de olho nas minhas duas mulheres. —


Abaixei-me dando um selinho em seu lábio.

Dei a volta na cama, deitando-me embaixo das cobertas, percebendo


que a menina tinha tomado toda a mamadeira. Peguei-a da sua mão e
deixei-a ao lado da cama.

— Quer a luz do abajur ligado, Kat? — Felicie perguntou.

— Sim. — A pequena se virou abraçando a minha esposa.

— Pronto, perdi o meu posto de protetor — resmunguei percebendo


que Katarina abraçou Felicie.

— Sempre seremos as suas protegidas, marido — Felicie murmurou


mandando um beijo no ar para mim.

Passei o meu braço por cima da pequena, assim abraçando as duas


garotas.

Porra, se um dia eu preferi a solidão, foi porque ainda não tinha


encontrado aquela pequena mulher e seus sorrisos doces.

— Pode cantar de novo, mamãe? — Katarina perguntou chamando


Felicie naturalmente de mamãe.

Minha esposa não a repreendeu e nem questionou, apenas passando a


cantar em meio a um sussurro e sem deixar de olhar para elas, fiquei ali,
fascinado, obcecado por aquelas duas meninas.
Como podia me considerar um homem de pouca sorte se tinha essas
duas. E logo teria mais uma terceira pessoinha naquela casa.

Fechei meus olhos, me embalando pelo sussurrar calmo da minha


pequena, o cheiro infantil de Katarina, sabendo que mesmo que ela tivesse
entrado hoje na minha vida seria capaz de mover um mundo inteiro por ela.

Katarina podia não ser minha filha de sangue, mas tinha certeza de
que faria tudo por aqueles doces olhos cor de mel. Não existia uma pessoa
que seria capaz de negar o quanto ela era preciosa nas nossas vidas.

A canção de ninar era para Katarina dormir, mas acabei me


embalando junto com ela.
CAPÍTULO SESSENTA

Sair da minha casa e deixar Felicie aos cuidados de Anali não era
bem o que eu queria, mas precisava resolver aquele problema antes que
algo saísse fora do planejado.

O carro parou em frente ao bar da antiga família da minha esposa, se


era que podia chamar aquilo de família.

Saí pela porta de trás do carro, olhando à minha volta, torcendo o


meu lábio diante daquela espelunca. Segui caminhando até a porta de
entrada, dei um empurrão entrando no bar acompanhado dos meus homens.

O barulho atrás do balcão denunciou a presença de alguém se


escondendo. Parando em frente daquilo, olhei para baixo encontrando ali as
duas gêmeas encolhidas.

— Se levantem agora — rosnei impaciente.

As duas abraçadas se levantaram, duvidava que alguma daquelas


duas podia fazer algo.

— Si... sim, senhor? — uma delas falou gaguejando.

— Quero saber, como estão? — perguntei aquilo obviamente com


segundas intenções.

— Be... bem — ela respondeu gaguejando.

— Ótimo, estão gostando de não ter ninguém no encalço das duas?


— sem me responder as duas apenas assentiram. — Vou ser bem breve,
quero vocês duas longe do caminho da minha esposa, quero que esqueçam
que Felicie um dia existiu em suas vidas. Saibam que estarão na minha mira
pelo resto de suas vidas, se eu souber que pensaram, ou sequer falaram o
nome da minha Felicie, estará tudo acabado, para vocês duas...

Ergui minha mão, fazendo um movimento de arma, como se


estivesse atirando na cabeça de cada uma.

— Si... sim, senhor — apenas uma delas respondia.

— Ficamos bem entendidos, então? — Como se estivesse falando


com uma criança voltei a frisar.

— Sim, senhor — a outra respondeu e era isso que eu queria, as duas


reconhecendo o que tinha falado.

— Ótimo, garotas, espero que tenham uma longa vida, se acaso se


mantiverem longe da minha vida, pois estou dando apenas uma chance,
qualquer deslize, mato sem dó nem piedade assim como fiz com os vermes
dos seus pais — as duas apenas assentiram.

Sem esperar por mais um pio delas, me virei saindo daquele bar.
Meus homens já foram orientados a ficar de olho naquelas duas ratas. Não
que eu acreditasse que essas gêmeas pudessem fazer algo, mas não queria
acabar brincando com a sorte.

Precisava manter a segurança de Felicie, por aquele motivo estava de


olho em qualquer que fosse o empecilho na nossa família.
CAPÍTULO SESSENTA E UM

Ficava fascinada em ver a pequena brincando no chão da sala com a


boneca que Anali trouxe para ela. Minha amiga ficou sabendo da pequena
por mensagem e disse que ia ganhar Katarina com presentes. Assim
trazendo uma boneca que a filha não brincava mais, o que me fez agradecer
sendo que ela não tinha nada para brincar.

Katarina fez uma careta quando o barulho da ferramenta se fez


presente no andar de cima.

— Sua sogra é bem engajada nesse negócio de decoração — Anali


declarou entrando na sala olhando para o andar de cima.
— Zara decorou toda essa casa, quer mais o quê? — falei com
carinho ao me lembrar da minha sogra.

O barulho da porta de casa sendo aberta revelou o movimento de


passos masculinos e ergui o meu rosto sabendo quem eu encontraria, o meu
marido.

Yago passou a mão em seu cabelo tirando a sua boina. Era impossível
não ficar fascinada com a beleza daquele homem. Com uma sacola na sua
mão, ele veio em direção à pequena sentada no chão da sala.

— Estava passando por uma loja de brinquedos, e achei isso a sua


cara. — Tirou de dentro um pacote de presente, estendendo-o para Katarina.

— Pesenti. — Com os olhinhos brilhando Kat o pegou da mão de


Yago.

— Ah, precisa de ajuda. — Meu marido ainda ficava meio perdido


com a tarefa de ter uma criança em casa, assim como eu também ficava.

Com o auxílio de Yago, Katarina abriu a embalagem, revelando


dentro dela uma boneca de pano.

— Duas — com um gritinho ela abraçou as duas bonecas.

— Isso, muito bem, duas bonecas. — Yago se levantou orgulhoso. —


Viu, ela sabe contar até dois.

Sorri diante do orgulho dele em ver a inteligência da nossa pequena.

Naquele momento a minha sogra desceu a escada, mesmo estando lá


em cima e ordenando tudo, ela conseguia manter a classe.

— Olá, querido — Zara saudou.


— Imaginei que a senhora já estaria aqui. — Yago que ainda tinha
em suas mãos uma sacola com algo dentro se virou para mim. — Esse é
para o meu outro filho.

Estendeu uma embalagem para mim, e havia quem jurava que aquele
homem não sabia ser romântico.

Com cuidado abri as fitas que prendiam o pacote, assim revelando


um pequeno body de bebê, escrito a seguinte frase “sou do papai”.

— A primeira roupinha do nosso bebê, é claro, obviamente, seria


escrito isso, pois nessa casa vocês três são meus. — Yago apontou para mim
e a nossa pequena no chão.

— Isso é tão a sua cara Yago — zombei amando aquele pequeno


gesto do meu marido.

Minha sogra se aproximou olhando por cima do braço do seu filho, o


presente que ele dera.

— E ainda dizem que uma mulher não muda a vida de um homem,


meu filho, você está rendido — Zara provocou o filho vendo-o revirar os
olhos.

— Estou completamente rendido. — Yago piscou um olho de forma


sedutora para mim me fazendo corar na frente da mãe dele. — Mudando de
assunto, antes que eu roube a minha esposa de vocês, passei no bar, apenas
para ver como estavam as coisas...

— No bar? Quer dizer no bar que estou pensando?

— Sim, nesse mesmo, mas fique tranquila, não matei ninguém,


apenas assustei aquelas gêmeas desmioladas, sei que elas não seriam
capazes de fazer nada, mas quero que fiquem cientes de que não devem em
hipótese alguma chegar perto de você, foi somente uma ameaça básica. —
Yago balançou os ombros como quem não quer nada.

— Porque ainda me surpreendo com você. — Arqueei uma


sobrancelha.

— Minha pequena, quando se tratar da sua segurança, vou fazer o


possível e o impossível por ela. — Aproximando os lábios dos meus, ele me
deu um selinho demorado.

Era estranho pensar daquela forma, mas era como se não imaginasse
mais a minha vida longe daquele homem.
CAPÍTULO SESSENTA E DOIS

Seis meses depois...

— Meu amor. — Sorri segurando na sua camisa. — Sabe que agora


eu posso andar, não é mesmo?

— Por qual razão vai andar se tem o seu marido para levá-la no colo?
— O semblante ladino estava explícito em seus olhos enquanto me deitava
em nossa cama.

— Pela razão de agora ter duas pernas boas para andar? — Arqueei
uma sobrancelha.
Meu médico me orientou a andar nessas primeiras semanas com o
apoio de uma bengala, ainda mais com o peso que a minha barriga estava
tendo agora.

Os olhos de Yago desceram pelo meu corpo, parando por longos


segundos na minha barriga.

— Você consegue ser ainda mais linda com essa curva. — Yago se
colocou sobre as minhas pernas, ergueu o meu vestido, passou-a pela minha
bunda, fazendo a minha barriga ficar à mostra.

— São as curvas do nosso menino. — Sorri vendo-o aproximar o


lábio da minha barriga.

— Axel fala para essa sua mãe teimosa, que ela precisa assumir que
fica ainda mais linda, sem colocar a culpa em você — Yago falou próximo
da minha barriga trazendo aqueles pequenos calafrios que era ter o meu
filho se mexendo.

— Nem nasceu ainda e já é puxa saco do pai — declarei fazendo uma


careta diante do desconforto que era ter meu filho se mexendo.

No começo era como sentir borboletas no estômago, uma delícia


quando ele se mexia, mas cada vez que ele se tornava maior, o espaço ia
ficando pequeno e ele começava a chutar as minhas costelas.

Escutei pezinhos se arrastando no chão, Yago também escutou, por


aquele motivo rapidamente abaixou o meu vestido, me sentei na cama,
vendo a pequenina esfregando os olhos conforme entrava no quarto.

— Tive um sonho. — Katarina empurrou os cabelinhos desajeitados


atrás da orelha.
— E como foi esse sonho? — Yago perguntou se abaixando abrindo
os braços para ela ir até ele.

— Não lembro. — Ela sorriu daquela forma ladina.

Katarina passou as suas mãozinhas em volta do ombro de Yago.

— Quer que o papai te coloque para dormir novamente? — A


pequena sorriu balançando a cabecinha.

Com um gesto de volto logo, Yago foi para o quarto de Katarina. Ela
tinha um quartinho somente dela, com a cama das princesas, todas em tons
rosados como ela mesma escolheu. Até mesmo Axel já tinha o seu
quartinho. Foi apenas descobrirmos o sexo do bebê que minha sogra já
definiu toda a decoração e eu praticamente agradeci, com o meu pé ainda
machucado quando descobrimos o sexo do bebê, não consegui cuidar de
nada. Queria ter o meu tempo todo para o meu marido e a minha filha.

Katarina se apegou à nossa casa de uma forma muito rápida, não


imaginava uma filha mais perfeita que ela.

Foi necessário que Yago fizesse um teste de paternidade para incluir


o seu nome no registro de Katarina e óbvio que deu negativo para a
paternidade. Mas com a ajuda de um falsificador conseguimos comprovar
que Yago era o pai dela, mesmo ele não sendo. Agora Kat era nossa, sempre
ia ser nossa.

A mãe dela morreu, ninguém procurou pela garotinha, então não


havia dúvidas, Katarina seria nossa menininha para todo sempre.

Yago a salvou assim como me salvou. Não tinha como ele não ser o
nosso príncipe.
Percebendo que os dois estavam demorando, peguei a bengala ao
lado da cama, caminhando com cuidado, indo em direção ao quarto que
estava com a porta aberta. Parei no parapeito da porta. Sorri ao ver o meu
marido cantando a canção de ninar para Kat.

Aquela pequena danadinha conseguiu até mesmo fazer o mafioso


cantar canções de ninar, não tinha nada que ela pedisse que ele não fizesse
sorrindo.

Passei a mão na minha barriga sentindo o meu menino mexer. Os


olhos de Yago se encontraram com os meus, ele acariciava o cabelo de Kat,
enquanto ela estava com os olhinhos fechados.

Katarina não era mais a mesma garotinha assustada que chegou aqui,
ela tinha muito medo, vivia chorando por qualquer coisa achando que
iríamos brigar com ela. Até perceber que tudo que ia receber de nós era
amor e compreensão.

Não tinha como não se sentir sensibilizado pela situação dela, não
sabia o que ela passava nas mãos da mãe dela, pois tudo a assustava.

Minha filha mudou durante esses seis meses, até mesmo deixou de
usar fraldas, usando sozinha o banheiro, dando orgulho para nós a cada dia
que passava.

Aos poucos Yago foi levantando percebendo que a menina já dormia,


e estendeu a mão para mim quando me aproximei dele.

Nossos dedos estavam entrelaçados quando saímos do quarto da


nossa filha deixando a porta meio aberta para ela ir até o nosso quarto caso
acordasse. Passamos em frente à porta fechada do quarto do nosso filho.
Axel ia ficar no quarto ao lado do nosso por ser um bebê.
— Precisamos dormir, amanhã o dia vai ser cansativo, todos os
Zornickel reunidos para o aniversário de 40 anos de casados dos seus pais,
isso vai ser uma catástrofe — falei de uma forma divertida.

— Tá pra nascer família mais misturada que a nossa, colombianos,


italianos, russos, americanos, brasileiros, tem mais? — Meu marido me
olhou enquanto entramos no nosso quarto novamente.

— Suíços, é claro, não podemos nos esquecer de nós — zombei


segurando a minha gargalhada quando Yago me pegou em seu colo.

— A suíça mais linda. — Ele me beijou nos lábios.

— O meu suíço mais lindo. — Mordi o lábio dele puxando-o para


trás.

Com cuidado Yago me deitou na nossa cama, o corpo dele cobrindo o


meu, com a barriga se tornando cada vez maior, era necessário usarmos
novas posições para fazermos amor, ou melhor sexo. Pois com Yago nem
sempre era amor e carinho, às vezes ele queria algo mais selvagem e louco.
E por Deus, como eu amava viver cada momento intenso ao lado dele.

— Pequena — me chamou em meio ao beijo. — Te amo para todo


sempre, obrigado por nunca desistir de mim...

— Príncipe, quem me salvou foi você, me resgatou daquela prisão e


mesmo me trazendo para outra, nunca fui tão feliz em ser aprisionada a um
homem. Te amo, meu eterno protetor. — Juntei nossos lábios em meio
àquela ternura.

Empurrei o seu corpo para o lado, montei sobre o seu peito e


esfreguei a minha boceta sobre o seu pênis que naquele momento estava
extremamente duro.

— Senta essa bocetinha no meu pau, faça-me feliz apenas como você
sabe fazer — meu marido pediu implorando.

— Não tem nada que você me peça que eu não faça chorando... de
prazer. — Sorri de forma maliciosa.

E aquela era somente mais uma das muitas noites nossas juntos. Na
nossa casa, na nossa família.

Yago não somente me resgatou, como me deu tudo, uma nova


possibilidade de viver, um clã que me recebeu de braços abertos.

Era completamente louca e apaixonada por aquele loiro que se


tornou, o meu príncipe.
CAPÍTULO SESSENTA E TRÊS

Quarenta anos, quarenta anos que estava casado com aquela


encantadora mulher, quarenta anos dos mais intensos de toda a minha vida.
Quarenta anos que entrei naquele bordel de quinta categoria e me encontrei
com aqueles doces olhos.

Se pudesse fazer tudo de novo, faria. Zara era o alicerce daquela


família, quem segurou cada pilar daquela sede, sempre sendo firme em
todas as suas convicções.

Não eram quatro dias, muito menos quatro anos, eram quarenta anos,
praticamente a metade da minha vida vivendo ao lado dela.
Não era de ficar emocionado, mas naquele momento eu estava.
Flashes vinham na minha memória, o nascimento do meu primogênito que
eu perdi, o reencontro com eles depois de um ano do nascimento de Yan.
Cada detalhe da gravidez dos meus outros filhos, quis viver
incessantemente cada momento junto dela, perdi a gravidez de Yan, por isso
com Yank, Yago e Yanni estive ali, em cada suspiro agonizante dela, cada
contração que fazia aquela mulher forte gritar, estive ali. Segurando na mão
dela, fazendo-a perceber, que nunca, por nada nessa vida, cometeria o erro
de deixá-la escapar de mim outra vez.

Segurei com força em minha bengala e passei a caminhar pela


enorme sala de visitas da minha sede.

Minha família estava toda ali reunida, meus irmãos, os filhos deles,
seus netos. Assim como os meus.

Aquela sede nunca transbordou um clã tão gigantesco.

Éramos a In Ergänzung, tínhamos aliança com a Cosa Nostra, com a


Bratva, algo que era quase impossível de se fazer, nós fizemos, colocamos
dois grandes inimigos um na frente do outro. Obviamente Sergey Petrov e
Valentino Vacchiano nem ao menos se olhavam nos olhos, mas ao menos
mantinham a boa vizinhança. E não podíamos deixar de lado o cartel com a
jogada de mestre que meu filho teve ao trazê-los como nossos aliados.

Nunca houve dúvidas, desde que bati meus olhos naquele pequeno
garoto de um ano, sabia que ele seria o futuro da In Ergänzung. Nunca tive
dúvidas sobre Yan, ele nasceu para estar no comando, assim como sentia o
mesmo do seu filho Petrus. Ah, se meu pai soubesse o garoto inteligente
que carregava o seu nome.
Parei ao lado da minha esposa, passando a mão em seus dedos
gelados, como sempre Zara estava nervosa.

— Sabe que são apenas renovações de votos, não é mesmo? —


murmurei encontrando com os olhos dela que se ergueram na minha
direção.

— Está passando tão rápido, são 40 anos, por que precisa ser tudo
assim? Tão depressa? Podemos desacelerar o tempo? Quero ficar mais cem
anos ao seu lado. — Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Minha pombinha, deixa de pensar nos pontos negativos, sempre


sofrendo por antecedências, ainda vamos viver muitos anos juntos. —
Acariciei a sua bochecha limpando as suas lágrimas.

— Promete? — Fez um daqueles bicos quando estava tentando ser


manhosa.

— Sim, alguma vez prometi algo e não cumpri? — Pisquei um olho


vendo todos se aproximarem de nós.

— Vamos para a capela logo, estou com fome — obviamente seria o


meu irmão Klaus o primeiro a reclamar.

Sem soltar a mão da minha esposa, seguimos em direção à porta, o


vento frio nos atingindo, ainda não estava nevando, mas as rajadas de vento
denunciavam que em breve teríamos neve.

Meu irmão Otto se colocou ao meu lado.

— Quem diria, quarenta anos e a sua esposa permanece viva —


soltou uma das suas piadinhas.
— Olha para o seu próprio umbigo — retruquei abrindo um meio
sorriso.

— Minha ruiva é tão louca quanto eu. — Otto deu de ombros.

— Deve ser por isso que ela permanece viva então, os loucos se
completam. — Virei meu rosto vendo o meu irmão soltar uma gargalhada.

Éramos uma grande matilha, nem mesmo a maior máfia podia


enfrentar nós todos juntos. Aproximei-me da capela, segurei a minha esposa
para ficarmos do lado de fora deixando nossos convidados entrarem
primeiro.

— Está nervosa? — perguntei puxando a minha pequena para o meu


peito, mesmo com uma das mãos na bengala conseguia segurá-la com
facilidade.

— Um pouco, sempre fico nervosa nas nossas renovações. — Ela


sorriu de canto.

Recebemos o aval para entrar na capela.

A mesma capela que nos casamos há quarenta anos, a mesma capela


em que sempre renovamos os nossos votos.

Ficamos de frente para o pastor, ele deu início à breve cerimônia,


renovando os nossos votos, optamos em trocar nossas alianças dessa vez.
Sem conseguir desviar os meus olhos da minha amada esposa, queria a todo
momento puxá-la para o meu peito e acalentar suas lágrimas.

O pastor liberou a hora de cada um falar os seus votos, Zara até


tentou falar, mas minha esposa quando chorava, não conseguia falar nada.
Todos os nossos convidados passaram a gargalhar, sem conseguir me
conter sorri abraçando a minha pequena.

— Minha linda... — murmurei beijando o topo da sua cabeça.

O pastor deu continuidade passando a palavra para mim, não escrevi


nenhum voto, tinha tudo na minha mente, sem soltar a mão da minha
esposa, com a outra segurando na bengala, passei a falar:

— Nessa mesma capela há quarenta anos nos casamos, tivemos um


primeiro ano de casamento conturbado, incluindo uma bengala para o resto
da minha vida. — Olhei para o negócio na minha mão, ouvindo uma breve
gargalhada de todos os presentes, pois diante do tiro que levei da minha
esposa, foi necessário o uso da bengala. — Passei dois anos longe de vocês,
perdi o nascimento do nosso primogênito, perdi a sua presença por um
comportamento intolerável meu. Se pudesse mudar algo no meu passado
com certeza seria esse primeiro ano. Faria tudo de novo, mas dessa vez para
garantir a sua presença junto comigo. Nessa mesma capela, batizamos os
nossos filhos, casamos meus irmãos, incluindo alguns dos meus filhos, isso
se não fosse o desnaturado que fugiu para se casar longe. — Fiz uma cara
feia para Yago que apenas deu de ombros. — Não o julgo, você é um
Zornickel, nascemos para errar muito, e depois acertarmos. Nessa mesma
capela eu selei com a mulher mais perfeita de todo o mundo, o meu
casamento, a minha união, a mulher que nunca teve dúvidas, desde o
primeiro olhar sabia que seria você a minha primeira-dama. Até que a morte
nos separe, sempre seremos eu e você, afinal, esse Heinz, não funciona sem
essa Zara...

Soltei a mão dela tocando o seu coração, minha esposa chorando


enquanto me olhava.
— Te amo, meu mafioso marrento, te amo por toda a minha vida.

Segurando nos dois lados do meu rosto, ela me beijou. Sem esperar o
aval do pastor, apenas precisava sentir a minha esposa em meus braços.

Afastamo-nos, meus olhos vagaram para todos ali presentes, meus


filhos agora todos casados, o orgulho de qualquer homem, se existia
realização maior que essa desconhecia. Mesmo que alguns deles
parecessem meio cabeça-dura, todos tomaram os seus rumos. E tudo que eu
podia fazer era agradecer. E aproveitar os anos que me restavam ao lado da
mulher que me aturou por esses quarenta anos.

Pois mesmo quando fosse embora, tinha certeza de que voltaria para
puxar a perna de cada maldito homem que ousasse se aproximar da minha
esposa.

Zara Zornickel nasceu para ser única e exclusivamente minha.

Voltei meus olhos para ela.

— Te amo até a eternidade... — murmurei voltando a beijar seus


delicados lábios.

— Te amo até a eternidade, meu mafioso. — Senti seus dedos


tocando o meu cabelo.
EPÍLOGO UM:

Quatro anos depois...

— Não, Yago isso é loucura. — Meu irmão colocou suas mãos sobre
a mesa, apertando o canto do mogno com força.

— Seria loucura se ele fosse mais jovem, Petrus já tem treze anos,
vai continuar colocando o seu primogênito nessa redoma de vidro? — Yank
tomou o meu partido levando à sua boca o seu charuto.

— Quero ver quando chegar a sua vez o que vai fazer, Yago. — Yan
suspirou levando a mão no cabelo.
— Axel respira a máfia, assim como o pequeno Heinz, qual o
problema com Petrus? — Cruzei minhas pernas, pegando o charuto que
Yank estendeu para mim.

— Nenhum problema, ele tem tudo para ser o novo Don, apenas não
sinto que ele está preparado...

— O garoto nasceu preparado pra isso. O problema é que você


parece instigar mais o seu filho mais novo, do que o mais velho, e ambos
sabemos que Petrus possui uma sabedoria sem igual, ele tem tudo para ser o
melhor Don que esse clã já teve, apenas precisa ser inserido mais nos
assuntos da máfia. Deixa o garoto manusear uma arma, começar a nos
acompanhar quando houver algum problema. Se não inserir ele agora, Yan,
ele vai sofrer quando for para a inicialização. —Yank finalmente conseguiu
abrir os olhos do nosso irmão mais velho.

Bem nesse momento uma batida se fez presente na porta, nós três nos
viramos olhando para o menino que colocou a cabeça para dentro.

— Mandou me chamar tio Yago? — Fiz um sinal para Petrus entrar.

Havia algum tempo estávamos tendo aquela conversa com Yan, ele
parecia irredutível quanto ao fato de inserir filho mais velho nos assuntos da
máfia, isso porque o filho se parecia intelectual demais para tais feitos.
Quando na verdade, sempre notei Petrus pelos cantos observando tudo.
Meu sobrinho, diferente de todos nós, não era sanguinário desde nascença,
mas ele sabia o seu lugar naquele clã. Sabia que um dia seria o chefe à
frente de tudo aquilo.

— Vem, filho — Yan chamou o primogênito.


O menino que tinha uma estatura alta caminhou até o pai, parando ao
lado dele, segurando no seu ombro.

— Sim, papai? — Petrus com aqueles olhos curiosos perguntou.

— Chegou a hora de você passar mais tempo ao meu lado. — Yan


manteve o olhar em seu filho como se quisesse ver a reação dele.

— Finalmente. — O garoto sorriu diante daquela constatação.

— Se você queria tanto estar aqui, por que sempre se mostrava


indiferente? — Yan passou a mão na cintura do seu filho.

— Não é indiferente, pai. Você sempre nos ensinou a não meter o


bedelho onde não somos chamados, por esse motivo seguia sempre
observando tudo, e tendo as minhas ajudas por fora. — Ele me entregou
quando direcionou o olhar para mim.

— Yago? — meu irmão me chamou.

— Alguém precisa ser o incentivador desses meninos. — Dei de


ombros.

— Pelas minhas costas? — Meu irmão arqueou a sobrancelha.

— Em toda família tem aquele tio mais maneiro, nessa, sou eu. —
Sorri em meio ao meu deboche. — Mas pode ficar tranquilo, não foi nada
demais.

— Agora posso sempre ficar aqui ao seu lado, papai? — Petrus


perguntou curioso olhando tudo à sua volta.

— Sim, até completar os dezessete anos e ir para a inicialização por


um ano, com dezoito você será oficialmente um membro desse clã, sendo
um dos nossos capitães, até chegar a hora de assumir essa cadeira — Petrus
ficou olhando para a cadeira, como se estivesse se imaginando nela.

A euforia em seus olhos, a ganância por querer tudo aquilo, o olhar


de um menino que nasceu para ser o Don.

Petrus foi logo puxando uma cadeira para se sentar ao lado do pai.

A neve deu uma cessada, deixando toda a visão na minha frente em


vários tons de branco e cinza. O carro deslizava pela rua conforme seguia
para a minha casa, chegar em casa todo fim de tarde era como chegar ao
paraíso, encontrar a minha esposa, meus filhos.

O automóvel passou pelo portão, o dia ainda estava claro, um sorriso


se abriu em meus lábios quando o carro parou ao lado das três pessoas mais
importantes na minha vida. Peguei a minha boina, colocando-a em minha
cabeça. Saí com meus pés tocando a neve enlameada por onde o carro havia
passado.

— Papai. — Axel foi o primeiro a me ver.

Segui em direção a ele, abrindo os meus braços e pegando o meu


filho no meu peito. Caminhamos em direção à minha esposa e nossa filha.
— Está tendo uma guerra de neve aqui? — perguntei sabendo que ia
brincar com eles.

— SIM! — Axel gritou com seus olhos azuis se encontrando com os


meus.

Diante do grito de entusiasmo ergui o meu filho, jogando-o para


cima.

— Papai, o meu gorro. — O gorro dele caiu no chão revelando seus


cabelos loiros bagunçados.

Quando o peguei em meus braços fui atingido por uma bola de neve.
Ergui o meu rosto.

— O papai não é de nada. — Minha garotinha fez uma careta,


provocando-me.

Coloquei Axel no chão, novamente vestindo o gorro em sua cabeça.

— Chegou a hora da nossa vingança — sussurrei piscando um olho


para ele. — Você pega a Kat, e eu pego a sua mãe.

Como um bom pequeno terrorista meu filho assentiu. Ambos nos


posicionamos, fazendo uma bola de neve em nossas mãos, correndo até as
duas.

Felicie soltou uma gargalhada alta correndo de mim, era fácil atingir
a minha pequena esposa, ela não era tão rápida quanto eu. Joguei a bola em
seus pés, apenas para não a atingir.

A pequena se virou achando que eu estava longe, estava prestes a


abraçá-la quando ambos nos desequilibramos e acabei caindo por cima do
seu corpo, mantendo o meu peso sobre as minhas mãos ao lado do seu
corpo.

Os olhos azul-escuros se encontraram com os meus, a ponta do nariz


avermelhada diante do frio. Nos cabelos um gorro deixando-os soltos por
baixo dele.

— Te peguei — murmurei.

— Você sempre me pega. — Ela fez um bico.

— Isso porque a senhora está sempre na minha mira — zombei


abaixando o meu rosto mordendo o bico que tinha em seus lábios.

— Montinho... — fiz uma careta quando ouvi Axel gritar sabendo


que ele ia se jogar em cima de nós.

— Ah... não... — Felicie murmurou sorrindo.

O pequeno se jogou em cima de mim, em seguida a pequena


Katarina, logo a gargalhada estava armada e conseguindo me virar, peguei
os dois desprevenidos.

Katarina era considerada como uma filha legítima nossa, pedi para os
meus irmãos nunca falarem para os seus filhos que ela não era uma
Zornickel de sangue, não queria que ela fosse tratada com indiferença por
ser adotada, então perante a certidão de nascimento dela, com o meu nome
estando como o pai dela, ela sempre ia ser uma Zornickel legítima, e
ninguém precisava saber da verdade.

Perdemo-nos em meio ao horário e quando percebemos já estava de


noite.
Se um dia desejei uma vida diferente daquela, era porque não tinha
encontrado aqueles três que completavam o meu coração.

Felicie foi a minha luz no fim do túnel. Com o seu jeito doce, ela me
moldou, me fez ser o homem mais feliz, me deu uma família, e me ganhava
todos os dias com os seus sorrisos.

Apenas de acordar e dormir ao seu lado, sabia que estava no lugar


certo. Com a minha Cinderela, com a jovem garota que se aprisionou em
um casamento comigo sem saber qual seria o seu futuro.
EPÍLOGO DOIS:

Seis anos depois...

— Mamãe, porque o tio Yank estava muito bravo ontem? — Kat


perguntou enquanto colocava em seu copo o suco de laranja.

— Ele não estava bravo, apenas com saudade da filha que foi estudar
em Nova Iorque. — Pisquei um olho para ela, sabendo que Yank está sim,
bravo.

Aquilo porque ficou sabendo que na primeira noite de caloura,


Yelena já estava em uma festa de fraternidade. Todos os irmãos tentaram
colocar um pouco de juízo na cabeça do pai da garota, mas ele estava a
ponto de ir buscar a filha na faculdade. Aquilo porque foi apenas a primeira
noite dela.

— Que maneira estranha de demonstrar saudade. — Katarina franziu


as sobrancelhas.

Com o decorrer dos anos seus cabelos se tornaram mais escuros,


lisos, e incrivelmente lindos, minha filha estava com o cabelo amarrado em
um coque.

— Mãe, eu posso sair com o Heinz? — Axel entrou correndo na sala,


puxando uma cadeira e se sentando de frente para a irmã, fazendo uma
careta para ela.

— Sair com Heinz? — Virei o meu rosto sem entender o que ele
queria dizer com sair.

— No mínimo fazer essas coisas chatas que eles fazem, correr pela
floresta, atirar pedras nos pobres bichinhos indefesos. — Katarina torceu o
lábio.

Ela era toda delicada, ao contrário do irmão que era virado em um


caos completo.

— Qual o assunto da vez? — Meu marido entrou na sala, ergui meu


rosto, sorrindo para ele, como sempre. Yago estava lindo, com seu cabelo
loiro penteado para o lado, o rosto liso sem os traços de barba.

Estávamos casados há onze anos e nunca o vi com barba, apenas


pequenos rastros que logo os tirava.

— O mano e suas aventuras. — Kat revirou os olhos.


Um estrondo na porta de casa me fez erguer os olhos, sabendo de
quem se tratava só uma pessoa entrava daquela forma na nossa casa.

— Caramba, vocês estão comendo ainda? O dia já raiou faz horas —


Heinz bateu em seu relógio como se estivesse nos repreendendo.

— Nem todo mundo acorda antes do dia raiar, na verdade, só os


idiotas fazem isso — Katarina provocou o primo que semicerrou os olhos
para ela.

— É por esse motivo que você tem esse semblante de cansada,


parecendo uma morta viva — ele nunca sairia por baixo.

Heinz não perdeu os cachos da infância, ele os tinha sempre


bagunçados, se dizia ocupado demais para aparar os cabelos. Luna vivia
pegando no pé do filho mais novo para ele ao menos deixá-la cuidar do
cabelo dele, e obviamente, Heinz não deixava, sempre sendo o mais
hiperativo de todos os Zornickel e o mais rabugento também.

— Morto vivo é você — Katarina retrucou.

— Não tem o que falar, por esse motivo fica me imitando. — Heinz
revirou os olhos, indo até a mesa e pegando um pedaço de torrada com os
dedos sujos.

— Credo, Heinz, olha a sua mão, seu nojento. — Heinz olhou para a
mão e para provocar ainda mais a minha filha levou tudo à boca,
mastigando com ela aberta.

Aqueles dois viviam se provocando, algo que julgava que ia parar


com o tempo, mas parecia que estava se tornando ainda mais frequente.
— Anticorpos, o que não te mata, engorda — o menino falou de boca
aberta enquanto mastigava.

— Esse não nega ser um Zornickel — resmunguei para o meu


marido que fazia uma careta segurando a sua risada da porquice que o
sobrinho estava fazendo.

— Vamos logo, antes que Katarina jogue essa faca em você. — Axel
se levantou da sua cadeira.

— Ei, garotinho, não vai comer? — chamei a atenção do meu filho.

Axel pegou umas cinco torradas em sua mão.

— Assim tá bom, mãe?

— É, bom não está — resmunguei sabendo que ele estava doido para
sair.

— Veio pelo morro, Heinz? — Yago perguntou vendo o estado


deplorável do menino que devia ter vindo pelo morro, passando no meio
das árvores.

— Sim, levei alguns tombos, por isso estou sujo, a neve nojenta está
derretendo e ficando escorregadia — Heinz bateu a mão na roupa
denunciando o seu estado.

— Apenas se cuidem, garotos, e fiquem com seus celulares ligados,


caso precisemos ligar para os dois, ou se meterem em alguma enrascada —
Yago falou em seu típico tom de ordem, os dois meninos assentiram, se
viraram e sairam correndo.
— Axel, use a sua jaqueta com o gorro — falei um pouco mais alto
para o meu filho que gritou concordando.

Axel tinha quatro anos de diferença que Heinz, meu filho tinha dez
anos e Heinz quatorze. Mesmo com aquela diferença de idade os dois
viviam correndo juntos, aquilo porque Heinz amava viver no meio do caos,
procurando enrascada para se envolver.

Axel era uma cópia fiel do meu marido, até mesmo o corte de cabelo
ele gostava de fazer igual, os dois estavam sempre juntos, o nosso filho
vivia aquela máfia, respirava o clã, e por diversas vezes dizia que ia seguir
os passos do pai.

— Mãe, vou para o meu quarto, quero terminar de ler um livro. Tia
Anali está quase chegando, prometi a ela que iria até a casa dela, visitar a
Liza, a senhora me deixa dormir lá? — ela perguntou fazendo um bico,
juntando as mãozinhas.

Katarina gostava muito de Anali, mesmo que a minha amiga não


tivesse mais capacidade para trabalhar, ela vinha mesmo assim, criamos um
vínculo muito grande. Depois que o marido dela se foi, Anali passou a vir
aqui com mais frequência, e trazia a filha dela junto. Liza tinha transtornos
mentais, mas por incrível que parecesse ela sempre se acalmava com a
presença de Kat.

Olhei para o meu marido vendo-o assentir, não era a primeira vez que
Katarina dormia na casa de Anali, sempre deixávamos soldados de guarda
na casa quando ela ia. Afinal, tínhamos medo de que algo pudesse
acontecer com a nossa filha. Ninguém da família da mãe biológica dela veio
atrás da menina, por aquele motivo Kat era ainda mais oficialmente uma
Zornickel.
As gêmeas, Nann e Leli, fiquei sabendo que se casaram e tinham suas
famílias, bem longe de mim. Pois se havia algo que queria era distância
delas.

— Sim, minha querida, você pode. — Com um pulinho de alegria,


Kat se virou e foi correndo para o seu quarto.

Fiquei sozinha com o meu marido, virando o meu rosto para ele.

— Luna pediu que fosse até a sede, ela está querendo programar uma
festa de aniversário para o Yan. — Sorri vendo a careta que Yago fez.

— Nunca faça essas festas surpresas para mim — ele resmungou.

— Meu amor, conheço o marido que tenho e o quanto ele detesta


essas coisas — zombei sentindo a mão dele acariciar o meu rosto.

— Em onze anos não tem como não nos conhecermos. — Sorriu de


lado. — Essa casa fica tão silenciosa sem os pestinhas gritando.

Falou de uma forma carinhosa.

— Nem quero pensar que em cinco anos será a nossa filha indo para
a faculdade — murmurei suspirando.

— Se tivermos alguma sorte, ela vai ficar por aqui.

— Não quero a mesma sorte que Yank — debochei do irmão do meu


marido.

— Vai ser um longo dia ao lado dele reclamando que o lugar da filha
dele deveria ser ao seu lado, e não em Nova Iorque, longe dos seus olhos.
Mesmo ela estando perto de Yanni e Baby, não é suficiente para ele. —
Yago soltou uma longa lufada de ar.
— Querido, em algum momento alguém falou que seria fácil a vida
de adulto? — declarei vendo o rosto dele se aproximar do meu.

— Não sei a vida dos outros, mas a minha é maravilhosa, tenho uma
esposa, linda, doce e super quente na cama. — Seu lábio tocou sutilmente
no meu. — Anos podem se passar, mas o meu amor por você, jamais
passará...

— Te amo, meu amor.

Yago me salvou no momento que me tirou daquela casa, quando eu


era uma criança, me salvou ao me tirar da casa do meu irmão. Nossos
destinos sempre estiveram entrelaçados de alguma forma, e estar ao lado
dele, era o que me fazia feliz. Como eu amava aquele mafioso.

FIM.
RECADINHO DA AUTORA
Querida leitora, gostaria de pedir que deixasse uma avaliação, é muito importante saber
sua opinião.

Ainda pode haver alguns erros no texto, que já estão sendo corrigidos. Então, peço que
deixem a opção de Atualização Automática — existente na sua página Dispositivos e Conteúdo,
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versão atualizada do livro.

Obrigado, por terem lido meu livro, ficarei muito feliz em encontrá-los(as) em minhas
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Agora fiquem por dentro de alguns dos meus lançamentos.


Beijos da Jaque Axt.
A PERDIÇÃO DO MAFIOSO
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Enrico Ferrari é o subchefe da Cosa Nostra. Um homem que traçou o seu destino optando
pela vida solitária com mulheres em sua cama sem precisar assumir um compromisso.
Pietra Vacchiano, a princesinha da máfia, filha do chefe da Cosa Nostra, sempre nutriu um
amor platônico, que ela escondia de todos, pelo subchefe.
Enrico viu Pietra crescer e a tem como uma sobrinha, mas ela o ama, ama de todas as
formas.
O destino acaba fazendo os dois precisarem dividir a mesma casa. A garota, que sempre
escondeu os seus desejos pelo subchefe, acaba fazendo eles aflorarem ao provocá-lo.
Um romance proibido: ele não pode desejá-la por ser filha do seu chefe e melhor amigo.
Ela quer que ele a deseje.
Enrico fará de tudo para a garota não o ver como um príncipe, mas parece que a garota
ama o errado, o anti-herói.
Pietra se tornará a perdição do subchefe da máfia, e, quando ele menos esperar, não
conseguirá escapar das teias de sedução em que a garota o colocou.
Um dark romance em que o príncipe não existe, e o anti-herói é quem conquista a cena.
A REDENÇÃO DO MAFIOSO
TRILOGIA FILHOS DA MÁFIA: LIVRO DOIS

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Santino Vacchiano, herdeiro da temida Cosa Nostra, é a personificação do poder e sedução.


Ele sabe que a honra familiar está acima dos seus desejos pessoais e quando é confrontado pelo dever
de um casamento por contrato, Santino sabe que sua noiva é apenas mais uma obrigação do seu
título. O que o mafioso não esperava era encontrar na sua jovem esposa, a única mulher imune aos
seus encantos, um desafio enlouquecedor.
Cinzia Bianchi nunca foi livre e o pouco controle que teve de si mesma está prestes a ser
entregue nas mãos de um predador impiedoso a quem foi prometida desde a adolescência. Apesar de
destinada a um casamento forçado, com um homem que despreza e que desafia cada fibra do seu ser,
Cinzia não desistiu de lutar por seu sonho de um casamento por amor. Ela só não imaginava que a
paixão violenta que manteve em segredo durante tanto tempo ameaçava consumir cada uma das suas
certezas.
▪ Ele é um cafajeste que não vive sem mulheres em sua cama.
▪ Ela é uma romântica, idealista e com a língua afiada.
Será que o mafioso pode se render à primeira mulher que o enfrentou como nenhuma
jamais ousou fazer?
DOMINADA PELO REI DO CARTEL
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Ferney Aragón é o chefe do Cartel Los Sombríos, um homem que carrega a fama de ser
impiedoso e não poupar a vida de ninguém.
Amélia Zornickel é a princesinha delicada da Máfia, ela foi criada em uma redoma de
vidro, fazendo todos à sua volta se encantarem com o seu brilho.
Amélia foi dada em casamento ao chefe do Cartel quando tinha quinze anos, o casamento
foi realizado um dia antes de completar dezenove anos.
Uma garotinha que foi entregue à fera da Colômbia.
Dois opostos: ele é a fera, ela a princesinha.
Ferney se vê preso a uma união com uma menina que é o oposto de tudo que ele já
conhecera. O monstro do Cartel não conhece sentimentos bons, ele foi cruelmente lesado pela vida,
por esse motivo nunca deixou que ninguém se aproximasse.
Mas será que Amélia e toda sua generosidade irá tocar um território totalmente
desconhecido dentro do Rei do Cartel?
Um homem cruel, uma mulher amorosa, os opostos podem se encaixar quando tudo já
poderia ser considerado perdido?
PROTEGIDA PELO DON
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Yan Zornickel é o novo chefe da máfia In Ergänzung, um homem que sempre teve o rumo da
sua vida moldado pelo seu pai. Centrado e reservado, falava com propriedade que se casaria com a
sua prometida, teria herdeiros e nunca se envolveria sentimentalmente com ninguém.
Isso até um pequeno furacão de cabelos negros e olhos azuis intensos cruzar o caminho dele.
Em uma noite atípica de Nova Iorque, Yan quase atropela uma desconhecida, uma garota que
estava fugindo.
Luna Rivera foi mantida em cativeiro por dez anos. Quando estava sendo transportada para o
seu comprador, ela conseguiu fugir.
Ela correu. Correu sem destino. Precisava apenas fugir, até quase ser atropelada por um
homem misterioso e todo tatuado. Yan imediatamente sai em proteção da garota, ceifando a vida
daqueles que vinham atrás dela.
Luna pensou que havia encontrado um herói, o que ela não imaginava é que ele estava longe
de ser um. Uma garota inocente, que passou dez anos da sua vida sendo maltratada, sem ver a luz do
dia.
Um homem que pretende proteger a garota, mas que não será nem um pouco amistoso com
ela.
Será que Luna encontrou o herói? Ou será que Yan terminará de quebrar a garota que surgiu
em sua frente?
Ele não busca amor.
Ela busca uma nova chance de viver.
Será que, em meio aos seus próprios demônios, eles vão se apaixonar?
NAS GARRAS DO SUBCHEFE
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Owen Zornickel é o subchefe da máfia In Ergänzung e cuida de todo o território em Nova


Iorque. Um ruivo temido por todos, com gênio forte e que sempre soube o rumo que daria à sua vida.
Casamento nunca se tratou de algo importante pra ele, então, para salvar o seu primo de um
matrimônio sem amor, ele raptou sua prometida e se casou com ela escondido de todos.
Polina Petrov sempre soube que se casaria com o chefe da máfia, ela foi treinada para ser a
primeira-dama, mas tudo mudou quando foi sequestrada no meio da noite por um ruivo que se acha o
dono da razão.
Ela foi submetida a um casamento relâmpago com um homem que ela mal conhecia. Eles vão
se odiar desde o primeiro momento.
Owen vai se arrepender da sua atitude imprudente, mas o arrependimento vem tarde demais,
pois eles já estão casados: a russa já é a sua esposa, o casamento já foi consumado.
Ambos se tornaram inimigos unidos por um casamento.
Será que o amor pode nascer em meio a uma guerra constante entre eles?
O subchefe da máfia cederá ao amor ou afastará a primeira mulher que resolveu enfrentar
todos os piores demônios dele?
A OBSESSÃO DO CONSELHEIRO
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Yank Zornickel é o conselheiro da máfia In Ergänzung, um homem discreto, que se julga o


dono da razão por saber de tudo ao seu redor.
Um homem centrado que sempre tem tudo sob o seu controle.
Em uma missão da máfia, ele encontra uma mulher. Uma mulher que poderia ser encantadora,
mas que foi encontrada em um estado que nem se poderia dizer que ela era um ser humano digno.
Belinda Krüger fugiu do Brasil, querendo escapar das mãos do seu marido agressor. Em sua
tentativa de fuga para a Colômbia, ela foi sequestrada por homens cruéis. Belinda foi abusada, passou
pelos piores tormentos que uma mulher poderia passar e viveu em condições repugnantes.
Tornou-se uma mulher perturbada, criando diversos tormentos para si, até ser colocada na
proteção da máfia.
Yank não esperava se ver fascinado por aquela mulher, Belinda será a obsessão do
conselheiro. Ele vai querer saber o que se esconde por trás daquela mulher cheia de armaduras e.
além de tudo, fará de tudo para protegê-la e vingá-la daqueles homens que um dia ousaram tocar
nela.
Belinda fugia do seu agressor, foi sequestrada por traficantes de mulheres, e acabou sendo
salva pela máfia. Agora ela está sob o domínio de mafiosos.
HEINZ – COMPRADA PELO MAFIOSO
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO UM

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Heinz Zornickel, está sendo pressionado a gerar herdeiros para seu clã, sendo um dos Don
mais temido, o problema é que nenhuma mulher o atrai o suficiente para querer tê-la todas as noites
em sua cama e por isso segue sua vida sem se importar com casamento ou com um futuro sem filhos.
O que muda quando ele para em uma boate, onde o dono lhe deve uma alta quantidade de dinheiro.
Lá ele conhece a doce Zara Dixon, filha do proprietário, que será uma bela recompensa pela dívida
do pai dela.
Zara Dixon cresceu em um meio conturbado, porém nunca deixou que isso a impedisse de ser
uma garota sonhadora e iniciar seu curso de literatura inglesa. Até o dia que o mafioso mais temido
aparece na boate do seu pai, querendo tomá-la como pagamento de uma dívida.
Zara não vê escolha, pois a vida do seu pai está em jogo. E Heinz quer a garota e fará de tudo
para tê-la.
Será que Zara será solícita ao homem?
Em um mundo onde o machismo predomina, a jovem terá que ter altivez para poder ser
ouvida pelo homem que quer tomá-la para si.
AVISO: Este é um romance Dark contemporâneo, nada tradicional.
Ele contém assuntos polêmicos, incluindo temas de consentimento questionável, agressão
física e verbal, linguagem imprópria e conteúdo sexual gráfico.
Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
A autora não apoia e nem tolera esse tipo de comportamento.
Não leia se não se sente confortável com isso. Se você quer um príncipe encantado, essa
leitura não é para você.
KLAUS – RAPTADO POR ELA
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO DOIS

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Klaus Zornickel desde criança seguiu seu caminho sozinho, passando de um internato para
outro, até descobrir que fugir era a melhor escolha, o que o leva ao mundo do tráfico.
Tudo muda quando, já adulto, sua família de sangue vem atrás dele e ele descobre pertencer a
uma família de mafiosos.
Por ser irmão do Don é nomeado subchefe da máfia In Ergänzung.
Vivendo na sombra do seu irmão, acaba sendo confundido e raptado no lugar do chefe.
Edvige Vogel nutre um sentimento de raiva pelo Don da In Ergänzung, seu plano de vingança
foi arquitetado por anos e tinha tudo para dar certo, isso se não tivessem raptado a pessoa errada.
A mulher se encontra num beco sem saída quando vê a pessoa errada na sua frente e ele em
nada se parece com o Don.
O homem na sua frente é sedutor e tem um sorriso fácil.
Duas pessoas destinadas a se odiar, mas com um desejo mútuo entre eles.
Ela será capaz de resistir ao subchefe?
Será que sua mágoa por esse clã conseguirá unir mundos opostos?
Será que pela primeira vez, a In Ergänzung poderá unir um homem e uma mulher?
OTTO – PROMETIDA AO SUBCHEFE
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO TRÊS

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Otto Zornickel, o subchefe da In Ergänzung que está à frente dos negócios em Nova Iorque,
desde jovem soube que seu destino estava traçado com a doce Astrid Lehmann, devido a um contrato
firmado enquanto ela ainda era um bebê.
Com o passar dos anos, ele virou um mulherengo, colocando na sua cabeça que nunca
tomaria essa mulher como sua, inclusive decide que não irá consumar a união após o casamento.
Porém, ele não imagina que aquela criaturinha havia crescido e se tornado uma linda
mulher.
Astrid é a personificação da mulher perfeita, mas a sua língua afiada tira qualquer homem
do eixo. Ela foi criada para ser a mulher perfeita para ele, o problema é que quando ela saiu do
colégio interno descobriu a liberdade e não quer ser mandada por um homem.
Será que eles conseguirão se entender?
Será que Otto não cairá em tentação se entregando a doce ruiva?
Será que Astrid deixará seu gênio indomável de lado e se entregará a essa paixão ardente que ambos
negam que existe entre eles?
VERENA – VENDIDA AO CHEFE
MAFIA IN ERGÄNZUNG: LIVRO QUATRO

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Verena Zornickel foi treinada para servir a um único homem, seu futuro marido.
Aos treze anos descobre que foi prometida ao Don da Cosa Nostra.
Tommaso Vacchiano é um dos Dons mais temidos. Chefe sarcástico, sem meias palavras,
ninguém consegue parar o homem.
Ele deseja firmar uma aliança com a In Ergänzung e obtém isso através de um jogo sujo. Em
um momento de fragilidade do Don da máfia Suíça, Heinz, o convence a selar o casamento da sua
irmã, Verena, com ele.
Dois clãs de poder...
Pessoas influentes.
Em um mundo onde o machismo reina, uma mulher de coração bondoso entra para a família
italiana.
O casamento sela a união de dois clãs, algo que tem tudo para se tornar um tormento na vida
da jovem menina.
Um homem atormentado por um passado obscuro, prestes a descobrir que na sua vida só
precisa de uma luz no fim do túnel.
Verena será capaz de tocar o coração de Tommaso?
Mas afinal, ele tem coração?
A SENTENÇA: A ENTEADA VIRGEM DO CONSIGLIERE
MAFIA IN ERGÄNZUNG: SPIN-OFF

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Angelina Vacek, ainda quando criança viu sua mãe se suicidar.


Anos depois deste acontecimento, que a marcou profundamente, encontra o diário da mãe e
descobre o real motivo dela ter cometido tal ato. Diferente do que todos pensavam, a mãe não tirou a
vida por causa do marido, mas por ter sido rejeitada por seu amante, o conselheiro da máfia.
Angelina quer se vingar, mas o que ela não sabe é que o homem em questão é uma incógnita.
Ela não pode falar para ninguém sobre o caso da mãe, pois, o pai, que ainda é vivo, não quer que essa
história venha à tona.
Decidida, ela vai atrás do consigliere, travando assim uma guerra entre o desejo e a vingança.
Jordan Weber é o consigliere da In Ergänzung, um homem discreto e observador.
Sua vida pessoal é uma incógnita para todos.
Um homem frio e rude, será capaz de fazer de tudo para calar a garota que sabe algo sobre sua
vida.
Ele odeia a garota, mas se sente atraído pela garra que ela tem.
Angelina deveria ser proibida para ele, mas a deseja mesmo assim.
Diante desse impasse, se vê obrigado a lutar contra seus demônios, pois se vê entre a razão e a
emoção.
Ele se vê dominado por sentimentos que o deixam desestabilizado, perdendo totalmente o
controle com a jovem que é apenas uma isca no seu mundo de devassidão.
Angelina vai descobrir segredos que ninguém antes pôde imaginar sobre o consigliere da In
Ergänzung.
Desejo e vingança podem andar juntos?
O fato dela ainda ser virgem pode despertar algum sentimento de posse dentro dele?
UMA BABÁ ESPECIAL PARA A FILHA DO CEO
(LIVRO ÚNICO)

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Tiziano Vitale é um CEO cafajeste que vive a vida regada a luxo.
Ambicioso, transformou sua empresa de perfumes em um império.
Sempre negou o fato de ter uma filha, escondendo de todos a sua existência.
Porém, tudo muda quando a mãe da garota sofre um grave acidente e ele se vê obrigado a
assumir a guarda da menina de cinco anos.
Uma criança que vem se recusando a ter uma babá...
Um pai que nega a existência da menina em sua casa.
Pai e filha não se entendem.
Monalisa Sartori, foi demitida devido a uma injustiça da sua ex-patroa, e sem poder se dar ao
luxo de ficar desempregada aceita a proposta para trabalhar na casa de um milionário.
Ao ver a situação de tristeza que a menina se encontra devido à falta da mãe, Monalisa decide
conquistar seu coraçãozinho.
O que ninguém esperava é que a mulher não conquistaria somente a menina, mas o milionário
também.
Tiziano se vê envolvido em uma teia de sedução e decide ter a babá em sua cama, mas ela se
nega, dando prioridade ao coração da garotinha.
Monalisa conseguirá resistir às investidas do patrão?
No jogo do prazer e sedução, eles deixarão os sentimentos de fora?
MEU DJ ARROGANTE: UMA NOIVA PARA HECTOR
(LIVRO ÚNICO)

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Ela é uma garota comum, que sempre acaba falando demais, ele é um homem famoso e
discreto. Tudo está para mudar quando ela fala em um jantar que eles estão noivos.

FAKE DATING.
UM CONTRATO DE 30 DIAS.
ELA TEM UM CRUSH NELE.
ELE ODEIA SE ENVOLVER COM FÃS.
UMA SÓ CAMA

Juan Hector Zimmerman, conhecido no mundo dos famosos como DJ Hector City, um homem
que tem um passado discreto que odeia cavoucar sua história nada orgulhosa.
Ele que vem de uma longa linhagem de ouro, a ovelha perdida da família, o único que não
seguiu os passos dos Zimmerman, não querendo acabar em uma sala de escritório, bancando o
empresário de terno e gravata.
Juan abandonou tudo, tornando-se um grande DJ, o homem mais bem pago da atualidade, com
isso, tem uma extensa fila de mulheres ao seu redor.
Kelsey Pierce, trabalha como assistente em uma rádio.
Ela é fã dele, desastrada, e sempre acaba falando demais ou cometendo loucuras quando está
bêbada.
Eles se conhecem pessoalmente em uma entrevista para a rádio.
Um jantar é marcado.
E no calor do momento ela acaba falando que eles são noivos.
Ele tem uma imagem a zelar, odeia que seu nome esteja entre os holofotes.
Ela é o oposto do que ele procura em uma mulher, a começar pelo fato de ser uma fã dele.
Pessoalmente eles vão se odiar tanto a ponto de se desejarem.
Uma cláusula é certa, eles não podem se relacionar fisicamente, mas será que conseguirão
resistir aos prazeres de seus corpos?
O SHEIK CONTROLADOR – LIVRO UM
TRILOGIA SHEIKS PROTETORES

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Fazza Bin Khalifa Ahmad Al-Sabbah é o emir de Agu Dhami, um sheik controlador que tem
todos em suas mãos.
Helena Simões é apaixonada pelos Emirados Árabes Unidos. Seu sonho sempre foi conhecer
um sheik, por isso envia e-mails ao emir de Agu Dhami que infelizmente não são respondidos.
Isso muda quando um e-mail que não era para ser enviado é lido pelo sheik.
Fazza fica encantado pela brasileira, imediatamente, dá um jeito de trazê-la ao seu encontro e
usando seu poder de persuasão faz Helena assinar um contrato de casamento.
O que ela não sabe é que o contrato não pode ser quebrado, a menos que pague uma alta
quantia.
Helena se vê nas garras do sheik e é obrigada a se casar com ele.
Mas há um porém, ela precisará dividi-lo com suas duas outras esposas.
Uma mulher disposta a ter o sheik só para si...
Um homem que quer controlar tudo à sua volta, principalmente sua nova esposa…
Um relacionamento que começou da forma mais errada possível.
Isso poderá dar certo?
O SHEIK OPRESSOR – LIVRO DOIS
TRILOGIA SHEIKS PROTETORES

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Hassan Amin Hussain Al-Bughdadi é o governante de Budai, um dos emirados mais rico entre
os sete emirados árabes. Um Emir centrado, sem pretensões de gerar um herdeiro, ou até mesmo de
ter uma esposa.
Isso até conhecer um joalheiro, e descobrir que a dona da inspiração para aquele colar é a linda
filha daquele senhor.
O Sheik ficou fascinado pelo colar, propondo o casamento sem nem ao menos conhecê-la.
Malika Ali Al-Makki é a filha do joalheiro, sempre quis se casar por amor, apaixonada pelo
Sheik Khalil, julgou que ele seria o seu marido.
Isso até um dos maiores homens a querer.
Hassan quer a jovem.
E usará de todo o seu poder para tê-la.
Mas será que Malika conseguirá se entregar ao seu novo marido, mesmo sabendo que seu
coração em pedaços pode pertencer a outro?
Hassan pode ser um Sheik Opressor, mas fará de tudo para proteger a sua nova esposa, mesmo
que para isso precise controlar a vida da garota.
A VIRGEM DO CEO
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- Uma tia que busca o pai do seu sobrinho...


- Um pai cafajeste que não sabe que tem um filho...
- Um primeiro encontro desastroso...
- Um homem que se pergunta como uma maluca e, além de tudo, virgem foi parar na sala da
sua casa...

Zion Clifford é CEO da Enterprises Holdings Clifford, vive uma vida regada de luxo, além
de ter sempre belas mulheres ao seu lado e não tem vergonha de esbanjar toda a luxúria que seu
dinheiro pode proporcionar.
Tem na vida uma única paixão, sua boate, onde ele reina ao lado do seu amigo e sócio, Alex
Carter.
Um lugar onde nada é proibido, um mundo onde as mulheres podem tudo.
Hattie Parker, uma jovem estudante que passa a cuidar do sobrinho rebelde depois que a mãe
do menino morre em um acidente de carro.
Devido a rebeldia do sobrinho, ela decide procurar o então pai do garoto para quem sabe ele
ter uma figura paterna em que possa se espelhar.
O que ela não esperava era que o pai em questão é um grande monumento, uma beldade em
pessoa. Só tem um porém, ele é um completo cafajeste, arrogante e não dá atenção a ninguém que
não tenha pelo menos um metro e setenta de altura e peitos de fora.
Hattie faz de tudo para atrair a atenção do "intocável", como Zion é conhecido, até que
consegue invadir a casa dele.
O que ela não esperava era um primeiro encontro desastroso.
Zion nunca se deparou com mulher mais desastrada, de língua afiada e linda, muito linda. Já
Hattie se vê diante de um dos maiores pegadores de Los Angeles.
O propósito desse encontro será apenas unir pai e filho?
Como a atração que surgiu logo de imediato, será negada diante de uma mulher inocente que
odeia homens convencidos?
Como a tensão que existe entre os dois será escondida debaixo do tapete se não param de se
alfinetar a todo momento?
Uma mocinha que pode ser virgem, mas que não se intimida diante da grandiosidade de
riquezas que tem o CEO.
Um romance "cão e gato" que vai enlouquecer a cabeça do leitor.
UM CONTRATO COM O MILIONÁRIO
A PROSTITUTA E O SUGAR DADDY
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Otávio Mancini, CEO de uma rede de academias, vive uma vida perfeita, é casado, pai de dois
filhos adultos, com o terceiro neto a caminho.
Tem uma rotina sólida, com uma família invejável da alta sociedade. Isso até sua mulher pedir o
divórcio.
Diante disso, Otávio se vê sem escolha e a tristeza o assola.
Davi, seu amigo, vendo sua tristeza e desanimo, contrata uma garota de programa para alegrar a
noite de Otávio, lhe dando boas-vindas a nova vida de solteiro.
Paola Garcia, uma jovem ambiciosa que usa do seu charme para conseguir todos os luxos que
almeja.
O que ela não esperava era encontrar um cliente atraente e que a tratasse como uma princesa,
nem que fosse apenas por uma noite.
Ele se encanta pela beleza da garota e se sente atraído por cada detalhe do seu corpo, tanto que
decide fazer uma proposta a ela, manter exclusividade, sendo sua garota de programa particular.
Será que eles conseguirão manter apenas o profissionalismo?
Será apenas desejo carnal que existe entre os dois?
Isso é o que vamos descobrir em Um contrato com o milionário.
[1]
Über In Ergänzung, nur Gott: Idioma alemão “Sobre In Ergänzung, só Deus”.

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