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Copyright © 2023 Ary Nascimento

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa e diagramação: Layce Design


Primeira revisão: Ana Terra Bourbon
Segunda revisão e copidesque: Christiane Calixto
Leitura Crítica: Wilka Andrade
Leitura beta: Hylanna Lima, Laizy Shayne e Mirian Lemos

Todos os direitos reservados.


Esta obra segue as regras da nova ortografia da língua portuguesa.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,


através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento
escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Sinopse

Renzo Bellini se rendeu ao amor apesar de seus traumas do


passado. Isto porque a determinada e sedutora Antonella Esposito
insistiu até conseguir derreter de vez o coração de gelo do seu rei da
arrogância. Pelo menos no que diz respeito à mulher e aos filhos,
que são o centro de seu mundo, o coração do Renzo voltou a bater
mais forte e se aquecer.
Ele é capaz de qualquer coisa por sua família e, além de lidar
com as responsabilidades que a máfia, o casamento e a paternidade
lhe exigem, ainda precisará se encarregar de controlar as
irresponsabilidades de seus irmãos, principalmente do Gaetano, que
não está disposto a facilitar a vida do irmão mais velho.
Acontecimentos importantes abalarão as estruturas da Cosa
Nostra e Ndrangheta, deixando nossos anti-heróis em alerta.
Contudo, os dias difíceis do Renzo serão menos tempestuosos
porque, agora, ele tem sua rainha ao seu lado.
O Natal dos Bellinis e Espositos tinha tudo para ser um
momento único de confraternização entre as famílias, todavia, nada
é previsível no mundo da máfia. Mais uma vez, Cosa Nostra e
Ndrangheta se unirão e lutarão para manter a paz e proteger seus
bens mais preciosos.
Mafiosos são intensos, possessivos, superprotetores e letais
quando algo ameaça aqueles que mais amam: suas mulheres e
filhos.
Aviso importante

ATENÇÃO, leitor!
Este livro aborda um assunto sensível, que é a violência física.
O tema foi abordado, pela autora, de forma leve, delicada e muito
responsável. Contudo, ainda assim pode despertar gatilhos em você.
Caso isso aconteça, fique à vontade para interromper a leitura até se
sentir confortável outra vez.
Além disso, antes de embarcar nesta novela, fique ciente de
que ela é uma continuação. Portanto, será necessário ler o livro
Irresistível para o mafioso, volume um da trilogia Irmãos Bellini, que
antecede a esse.

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Sinopse
Aviso importante
Outras obras
Playlist
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo
Atenção!!!
Playlist

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Dedicatória

A Deus, em primeiro lugar.


À minha família, que é minha base.
A Andrea Carla Lima, minha terapeuta, que tem cuidado com
tanto amor e eficiência dessa mente problemática que vocês
consideram criativa.
A Laizy, minha assessora de mídias, que não me dá descanso,
não me deixa dormir, comer ou bater papo no WhatsApp, sempre
ansiosa, me cobrando mais um capítulo. Ela é meu docinho de
limão, pois pega no meu pé, porém está sempre fazendo minhas
vontades e, mesmo enlouquecendo, atende lindamente aos meus
pedidos de última hora.
A Kika, minha leitora crítica, com sua mente brilhante e
sempre tão conectada à minha.
À querida Ana Terra Bourbon, que entende minha essência e
me traz inspiração.
À minha assessora, Hylanna, que é meu braço direito e
também o esquerdo, que cuida de absolutamente tudo para que eu
dedique meu tempo apenas a escrever para vocês.
A Mirian Lemos, minha leitora beta, que opina, torce e vibra
comigo a cada conquista, que está sempre empenhada em me
levantar. Obrigada por ser esse presente que a literatura me deu.
À minha revisora, Chris Calixto, que corrige e floreia meus
textos da maneira mais bonita e amorosa, para chegar o melhor até
vocês. Ela acompanha minha loucura, revisando em tempo real, para
que eu possa trazer ao mundo, o mais rápido possível, todo amor
que coloco em cada página.
E, como sempre, às minhas queridas, gentis e fiéis leitoras,
que receberam com tanto amor meu último lançamento, inspirando-
me na escrita e, consequentemente, a antecipar a próxima história
(mesmo indo contra minha terapeuta, que me orientou a dar uma
pausa).
Mais uma vez, sem férias, mas…
Vamos nessa!
“Se há uma coisa que eu sei que é verdadeira, é que não importa o
quão grande é o seu poder e império, ele não é nada se você não
tem uma mulher amada e os frutos desse amor para compartilhá-
lo...”
Prólogo

Gaetano
Calábria - Itália

Ah, o Natal... que época feliz! As mulheres enlouquecem os


homens com as merdas de preparativos, compras de presentes,
roupas e blá blá blá. Que alegria!
Na mansão do meu irmão, que era ao lado da nossa antiga
casa, o caos era organizado pela minha cunhada. Naquele dia,
Antonella corria de um lado para o outro da sala, quase se perdendo
no meio de tantas caixas com enfeites coloridos, completamente
surtada; isso depois de ditar ordens a todos. No minuto seguinte,
Renzo, Rocco e Ginevra sumiram pelos cômodos, executando seus
pedidos. E eu… Bem, eu continuava deitado no sofá da casa deles,
filosofando e torcendo para permanecer invisível, depois do almoço
delicioso que Gine preparou para nós.
Após o nascimento dos trigêmeos, fazíamos todas as
refeições lá. Como eles roubaram Gine de nós, nada mais justo.
Contudo, não era só isso. Nella gostava de ver a mesa cheia, afinal
foi criada com quatro irmãos e se acostumou com a bagunça na
hora das refeições. E o fator mais importante: nenhum de nós
conseguia ficar longe dos bebês.
A casa do meu irmão se transformou num lar, e isso era tudo
o que precisávamos encontrar ao cruzar o portão do nosso
condomínio. Ao pisar naquele ambiente sagrado, deixávamos o
inferno do lado de fora.
Além disso, era bom ver a interação entre os dois. Renzo não
estava apenas apaixonado pela bonitinha, ele ficou arriado de quatro
por ela; meu irmão lambia o chão em que Nella pisava, idolatrava a
mulher pra caralho, fazia todas as vontades dela e seria capaz de
matar qualquer um que se aproximasse o suficiente para respirar o
mesmo ar que ela. O homem que não queria se apaixonar acabou
fodido de tanto amor.
O mais incrível disso tudo era que meu irmão não se
importava mais. Ele não pensava demais como fazia antes... Em vez
disso, ele vive. Rocco, Glenda, Gine e eu ficamos felizes por, depois
de tantos anos, vê-lo em paz. Se existia um cara que merecia
desfrutar dessa felicidade, era ele.
Para dizer a verdade, a vida de todos nós mudou com a
chegada da Antonella. Depois do Renzo, nossa querida Mary, como
Nella gostava de chamar Gine, era o exemplo mais visível; a mulher
ficou mais contente e cheia de saúde sem precisar carregar nas
costas o peso de três caras amargurados e infelizes. Sem contar que
minha cunhada supriu um pouco a falta que Glenda fazia a ela.
Nella só veio para somar; ela era maravilhosa. E olha que
nem mencionei sua maior qualidade e melhor ação: os trigêmeos.
Este era o motivo de, além do Renzo, nós também a amarmos tanto
— de maneiras diferentes, mas sem deixar de ser amor. Enzo,
Lorenzo e Valentina, juntamente com a Isa, trouxeram luz para a
nossa família.
Quando Glenda foi embora para a Sicília — após se casar com
Ethan Esposito —, levou grande parte da alegria da nossa vida.
Éramos três marmanjos capazes de explodir a porra do mundo, mas
ficamos perdidos sem a nossa baixinha. Nossa irmã era a diversão
da casa, uma lufada de ar fresco que dispersava a podridão que nos
envolvia. Permanecer na mansão sem ela se tornou algo quase
insuportável. Vivíamos um paradoxo: sempre prontos para enfrentar
qualquer merda que aparecesse, mas desnorteados sem a nossa
caçula.
Naquele período, meus irmãos e eu ficamos obcecados pelo
trabalho, pois era a única maneira de fugir do vazio. Estávamos tão
imersos em nossas próprias desolações que sequer nos demos conta
de que Ginevra ficou abandonada em casa; ela vivia triste pelos
cantos. Foi uma fase infeliz do caralho.
Quando ficamos órfãos, Glenda se tornou nossa razão de
viver. Era nela que pensávamos para não sucumbir, porque a
vontade de nos entregarmos à parte podre do submundo era
grande. Foi por ela que nos unimos e nos tornamos os Bellinis que
todos temiam e respeitavam. Renzo assumiu o papel de pai, e Rocco
e eu exercemos nosso papel de irmãos, sempre pensando no bem-
estar dela.
Tive minha adolescência reduzida após a morte repentina de
Isabella e Salvatore, e precisei crescer mais cedo, porque, embora
Renzo tenha se esforçado para segurar a barra toda sozinho, seus
cuidados precisaram ser quase exclusivamente voltados à Glenda,
que era uma recém-nascida. Então, Rocco e eu entendemos que
tínhamos de ser fortes e nos unirmos ao nosso irmão no
enfrentamento daquele pesadelo.
Nós sobrevivemos, no entanto, quando Glenda partiu, o
sentimento de perda acionou gatilhos que foderam, mais uma vez,
nossa cabeça já tão fodida. O que nos trouxe de volta um pouco de
paz foi a chegada da Antonella. Quando minha cunhada entrou em
nossas vidas, tudo mudou para melhor.
Apaixonamo-nos por ela e, um tempo depois, nossa casa
ficou movimentada novamente, cheia de crianças e de amor. Na
verdade, era a casa dela e do meu irmão que estava com essa luz,
por isso Rocco e eu não saíamos de lá em nossos momentos de
folga. Se Renzo pensou em se mudar para se livrar de nós e ter mais
privacidade em seu casamento, o tiro saiu pela culatra.
— Gaetano Bellini! — Assustei-me com o grito da diavola,
como meu irmão chamava a esposa.
— Porra! Quer me matar, bonitinha? — dramatizei, colocando
a mão sobre o peito.
Não colou. Antonella continuou me olhando com a
sobrancelha levantada e o nariz empinado. Ela ficava lindinha pra
caramba com aquela cara de brava.
— Vou te matar se você não levantar a bunda daí, agora, e
começar a ajudar.
— O que quer que eu faça? Estou te dando todo apoio moral,
não é o suficiente?
— Não! Não é! — ela esbravejou. — Abra essas caixas que
estão aí perto de você e me ajude a montar a árvore de Natal.
— Todas essas caixas?
— Uma por uma e sem resmungar.
— Por que eu? Onde estão Renzo e Rocco? Você sumiu com
eles e, agora, quer que eu trabalhe por três?
— Renzo está colocando as crianças para tirar o cochilo da
tarde, e Rocco foi ajudar Gine a instalar a iluminação externa,
portanto a missão da árvore é nossa.
— Renzo é espertinho, pegou logo a tarefa mais fácil e
prazerosa.
— Não se iluda, cunhado. Você não imagina a aventura que é
colocar três bebês de 2 meses para dormir — minha cunhada
respondeu, num tom mais leve. — Agora, ande logo. Venha me
ajudar.
— Qual o sentido disso, porra? Não sei pra quê essa merda de
decorar a casa se passaremos o Natal na Sicília — reclamei, já me
levantando, porque não era doido de contrariá-la.
— Para nós! — Ela me olhou incrédula, como se eu tivesse
dito a coisa mais idiota do mundo. — Estaremos aqui nos próximos
dias e, quando voltarmos, ainda teremos o clima natalino. É o
primeiro Natal da minha prole, cunhado. Quero tirar muitas fotos
fofas deles com a decoração.
— Está bem. Farei esse sacrifício por eles, então. E o que
você me pede sorrindo que eu não faço chorando?
— Muito bem. Gosto assim. Renzo diz que sou a rainha da
Ndrangheta, portanto, todos vocês são meus súditos e me devem
obediência — ela brincou
Eu ri, fazendo uma reverência à vossa majestade, em seguida
comecei a abrir as benditas caixas.

Depois de abrir dezenas de embalagens, que continham todo


tipo de enfeite, e enfiar tudo na árvore que ia quase do chão ao
teto, finalmente acabamos. Eu nunca tinha visto tantos esquilos,
papais-noéis, bolas e afins.
— Uau! — Nella exclamou, com os olhos brilhantes. —
Fizemos um bom trabalho, cunhado!
— Nós, não. Você. Eu apenas abri as caixas, te entreguei os
enfeites e segurei a escada para que a deusa da vida do meu irmão
não caísse. Mas só fiz isso porque temo pela minha vida. Se eu a
deixasse cair, Renzo me mataria.
— Você fez isso porque me ama. Admita — ela brincou.
— A verdade mesmo é que não quero que meus sobrinhos
fiquem sem mãe — impliquei.
— Eles nunca ficarão! — Uma voz grave soou próximo a nós
e, dessa vez, eu me assustei de verdade.
— Caralho, Renzo! Quer me matar? Parece um fantasma; não
faz um barulho, porra!
— Olha o palavrão na frente do meu filho — Antonella me
repreendeu, pois Enzo estava no colo do pai, bem acordado.
Nella se aproximou deles. Até então, meu sobrinho estava
com cara de bravo, mas foi só a mãe chegar perto, ele se derreteu
inteiro. O moleque era uma cópia do Renzo: vivia de cara fechada,
sorrindo apenas para os pais, e se irritava com facilidade. Tão
novinho e cheio de personalidade.
— Ele não quis dormir. Ficou quieto enquanto eu estava
deitado também, mas, quando levantei da cama, ele ameaçou
chorar. Trouxe-o comigo, para que não acordasse os irmãos.
— Eu fico com ele — ofereci-me, já me aproximando para
pegar meu sobrinho, antes que Nella arrumasse mais trabalho para
mim, mas, quando fiz menção de pegá-lo, o mini Renzinho me deu
as costas e deitou a cabeça no ombro do pai, deixando claro que
meu colo era indesejado.
Renzo riu, orgulhoso, antes de beijar a cabecinha do filho e se
afastar de mim para lhe mostrar a árvore de Natal. Imediatamente,
Nella ligou os pisca-piscas, e os olhos do moleque brilharam;
aparentemente, ele gostou da novidade. Eu sorri, encantado com a
cena, e pensei no que minha cunhada disse sobre fazer todo esforço
valer a pena. Se Enzo, que é mal-humorado, amou, imagina os
outros dois.
— É nossa árvore de Natal, meu amor. Não é linda? Você
gostou? — Nella brincou com o bebê, e ele deu seus gritinhos
apaixonados, respondendo à mãe.
Renzo admirava a interação entre os dois com cara de bobo, e
eu estava feliz pra caralho pela família que meu irmão construiu.
Embora eu não fosse um cara romântico nem que almejasse essa
vida familiar para mim, era reconfortante presenciar o amor e a
cumplicidade entre eles.
Sorrindo, peguei meu celular do bolso e fotografei os três, de
costas para mim e de frente para a árvore. Era uma cena bonita
para guardar para a posteridade.
Capítulo 1

Antonella
Tive um dia cansativo e feliz, e para a noite com meu marido,
estava cheia de planos. Assim que os trigêmeos dormiram, e nós os
colocamos pela primeira vez em seu próprio quarto, Renzo ficou
observando-os por mais alguns minutos, provavelmente aflito por
deixá-los longe de seus olhos durante a noite inteira. Mal ele sabia
que eu tinha planos. Aproveitando sua distração, fui para nosso
quarto, peguei a bolsa que escondi no closet mais cedo e corri para
o banheiro; tomei banho, para me preparar para o grande evento
que eu tinha planejado.
Renzo e eu havíamos transado inúmeras vezes depois do meu
resguardo, porém eu ainda sentia falta de nós dois, do nosso ritmo
habitual na cama, da nossa pegada. Queria fazer amor com meu
marido sem restrições, limitações ou cuidados excessivos. Esse
momento havia chegado; após 60 dias do parto, eu me sentia mais
do que pronta.
Abri a bolsa, peguei a fantasia minúscula recém-adquirida e a
admirei, sorridente. Animei-me só de imaginar a cara do Renzo ao
me ver vestindo-a. Perfeita! Bem piranhona, do jeito que eu gosto.
Vesti a calcinha, que era um pouco mais que três fios de
renda, em seguida coloquei por cima a saia de couro vermelha com
a beirada branca, levemente rodada e obscenamente curta, que era
acompanhada por um cinto preto; o último item a vestir foi o
corpete vermelho que deixava meus peitões cheios de leite
espetaculares.
Caprichei na maquiagem e apliquei o batom vermelho-
sangue. Quase pronta! Mantive os cabelos soltos e coloquei o gorro
na cabeça.
— Gostosa! — Pisquei para o meu reflexo no espelho.
Completei o figurino com botas de couro pretas e de cano
alto, apliquei umas gotinhas de perfume da fragrância importada me
coma com força, e voilà.
— Me aguarde, Renzo Bellini.
Abri a porta do banheiro e caminhei sedutoramente,
rebolando mais que a Beyoncé, até a cama onde Renzo estava
sentado. Quando me aproximei o suficiente, ele se levantou, afoito.
— Senta aí! — Empurrei seu peito com o dedo indicador, e ele
me obedeceu. — Faltam alguns dias pro Natal, mas sua mamãe Noel
veio te visitar mais cedo, papai.
Peguei o controle do sistema de som que deixei na mesa de
cabeceira e soltei a música que deixei engatilhada para aquele
momento; era Jingle bell rock, na versão do filme Meninas malvadas.
Enquanto isso, Renzo me observava, hipnotizado, quase babando;
seu rosto ficou rubro, e sua respiração, ofegante.
Decidida a enlouquecer meu homem e despertar seu lado
selvagem na cama, me movi de forma sinuosa e provocante,
seduzindo não apenas ele, mas a mim mesma também. Libertei-me,
sem pudor, deixando de lado a Antonella mãe e resgatando a mulher
ousada e indomável que eu era na cama.
Rebolei e, de olhos fechados, deslizei as mãos pelo meu
corpo, me entregando ao momento, entorpecida pelo tesão
acumulado e pela abstinência do nosso sexo bruto e animalesco.
Renzo não aguentou ficar sentado, e eu sequer vi quando ele
se levantou e avançou em mim. Ele agarrou firmemente na raiz do
meu cabelo, me imprensou contra a parede e me beijou com
violência. Nossas bocas se engoliram, seu corpo esmagou o meu,
seu pau duro pressionou minha barriga e me deixou melada, pronta
para ele.
Em um movimento rápido, ele me virou de costas, grudou
meu corpo na parede e deu um tapa forte na minha bunda.
— Vou ser bruto com você, porque sei que é o que minha
putinha quer — Renzo sussurrou, de forma rude, e eu assenti, louca
de lascívia, mesmo não sendo uma pergunta.
Ele ainda segurava meu cabelo e me mantinha sob seu
domínio, sem me machucar, exatamente como eu gostava. E eu
estava quase chorando de tesão, sentindo meus fluidos escorrerem
por minhas coxas, e minha boceta palpitar, implorando para ser
fodida com força.
— Você quer meu pau atolado na sua boceta e, depois, na
sua bunda, te fodendo bruto? — ele inquiriu, e eu assenti
novamente. — É disso que você gosta, Antonella?
— Sim — respondi, com um miado. — Por favor, me fode
agora — implorei.
— Safada!
Ele deu outro tapa estalado nas minhas nádegas, antes de se
agachar, rasgar minha calcinha, empinar mais minha bunda e enfiar
a língua na minha fenda. Foi inevitável gritar com a sensação e
agradecer aos céus por nosso quarto ter paredes à prova de som.
Renzo me castigava sem piedade, chupando, lambendo,
penetrando e masturbando meu nervo sensível e inchado com sua
língua quente. Em resposta, meu corpo inteiro tremia e implorava
por mais. Arreganhei as pernas, e ele intensificou as lambidas, me
causando um frisson e buscando, no fundo do meu âmago, um
orgasmo avassalador que, quando me atingiu, quase me fez perder
os sentidos.
Depois de me beber, meu homem se levantou e me penetrou
por trás, abrindo minha carne com seu volume. Ele entrou até o
fundo e deu início às estocadas brutas que me sacudiam e me
faziam gemer. Renzo não só tomou para si o meu corpo, mas
também possuiu minha alma.
— Gostosa pra caralho! Sua boceta está me engolindo,
implorando, pingando… É assim que você gosta, safada?
— Mais! Eu quero mais! — pedi, me empinando.
Empenhado em satisfazer meu desejo, ele levantou minha
perna esquerda e foi mais fundo e rude, me levando à loucura. As
mãos que massageavam meus seios inchados e sensíveis
escorregaram pelo meu abdômen até encontrarem minha vagina.
Com movimentos intensos, ele me masturbou, me jogando direto no
precipício. Gozei outra vez, louca, ensandecida, em êxtase.
Antes que eu me acalmasse, Renzo me virou de frente para
ele, levantou meu corpo e me sentou na mesa, derrubando o
notebook e a luminária; abriu minhas pernas e se ajoelhou no meio
delas, sugando meus fluidos e me fazendo tremer com sua
intensidade. Àquela altura, meu corpo não passava de uma massa
sôfrega e descontrolada que emitia gemidos e convulsionava,
abalada pelo orgasmo recente.
Renzo subiu o corpo novamente, ficando na minha altura,
tirou meus seios pesados para fora do corpete e mamou em cada
um deles, aliviando a pressão latejante do leite.
Joguei a cabeça para trás, dopada pelas sensações, fraca,
entorpecida, débil, porém querendo mais. Arreganhei-me,
convidando-o a continuar, e meu marido me penetrou outra vez,
firme e brusco, do jeito que eu gostava. Gemi, gritei e arranhei suas
costas, enquanto recebia estocadas sem dó, sem pausa ou
delicadeza.
Quando, enfim, a tempestade de excitação tomou meu corpo
inteiro, e o prazer se formou outra vez em meu baixo ventre, eu
gozei, sentindo meu marido inchar dentro de mim e se esvair
comigo.
Enquanto gozava, Renzo urrava, me chupava e mordia,
marcando minha pele como sua. Quando achei que ele tinha
acabado, meu homem insaciável me virou de costas para ele sob a
mesa e, depois de se lambuzar mais um pouco, meteu na minha
bunda. Porra! Eu amava sexo anal; Renzo tinha me viciado. Sentia-
me devassa, louca, delirante…
Empinei-me cada vez mais, desfrutando daquele prazer, e fui
devorada por sua fome bestial.
— Caralho! Esse cuzinho quente e apertado ainda vai me
matar. Vou encher ele de porra. — Suas palavras sujas me
consumiam.
Levei minha mão à boceta e me estimulei, enquanto ele
socava na minha bunda sem dó. Aquele foi o nosso fim. Gozamos
juntos, ardorosamente, embevecidos e sem fôlego.
Algum tempo depois, Renzo saiu de dentro de mim, me
pegou no colo, e nós fomos para o banheiro. Ele ligou o jato de
água quente do chuveiro, fazendo nossos corpos relaxarem entre
beijos e carícias.

— Foi por isso que colocou os bebês para dormirem no quarto


deles pela primeira vez? — Renzo perguntou, quando estávamos na
cama, limpos e aquecidos, embaixo do edredom e nos braços um do
outro.
— Sim. Mas fiz a Gine prometer que ficaria lá com eles. Não
tive coragem de deixá-los sozinhos. Ela deve ter chegado logo
depois que você saiu.
— Graças a Deus, porque eu estava com o coração apertado
pra caralho. Quis respeitar sua decisão e toda aquela história de que
os filhos precisavam se acostumar com a independência, mas a
verdade é que fiquei tenso. Até achei que não conseguiria dormir
esta noite — meu marido falou, aliviado, e eu ri.
Renzo era o melhor e mais zeloso pai do mundo, no nível dos
pais da minha família. Ele tinha o sangue dos Bellinis, todavia
possuía uma alma de Esposito que, sem dúvida, era gêmea com a
minha.
— Nem eu conseguiria dormir tranquilamente. Daqui a pouco,
eles acordarão para mamar, e não resistirei em trazê-los pra cá. Não
foi à toa que mantive os mini berços no nosso quarto.
— Ótimo, mi amore. Prefiro que fiquem aqui, diante dos meus
olhos. — Meu marido suspirou, aliviado, e beijou minha cabeça. —
Agora… Posso saber o que você disse à Gine?
— Que eu queria te pegar de jeito esta noite e seria uma
cena imprópria para menores de 18 anos, portanto precisava que ela
ficasse com nossa prole por um tempinho.
— Não, Antonella! Você não disse essa porra a ela. — Renzo
me olhou, desacreditado, mas com ares de riso.
— Claro que disse. Gine é mulher. Ela me entende
perfeitamente.
— Antonella… — ele fez uma pausa, procurando as palavras
—, Ginevra é um ser puro. Como vou olhar pra ela amanhã?
— Normal. Você acha que ela pensa que foi a cegonha que
trouxe os trigêmeos? Pelo amor de Deus, Renzo. Gine sabe que a
gente transa.
— Mas precisa saber o dia e o horário?
— Tá reclamando? Pra mim, valeu a pena.
— Porra! Valeu muito a pena.
— Então, deixe de ser bobo e aproveite os últimos minutos
agarradinho comigo, antes do trio voltar. — Suspirei, satisfeita,
sentindo o calor do corpo dele aquecer o meu; ele me apertou em
seus braços e beijou minha cabeça. — Te amo, meu rei.
— Eu também te amo, mi amore.
Renzo

— Bom dia, folgados — brinquei com meus irmãos, que já


estavam à mesa da sala de jantar quando cheguei com Antonella e
nossos filhos para o café da manhã.
— Bom dia — eles responderam juntos.
— Alguém acordou feliz hoje. O que será que aconteceu
durante a madrugada? Deve ter sido algo espetacular, visto que
ontem à noite estava cuspindo fogo — Rocco me provocou,
sarcástico.
— Você sabe muito bem por que eu fiquei puto ontem;
aquele contêiner que caiu no mar me deu um prejuízo do caralho.
Mas isso não é assunto para falarmos à mesa, principalmente na
presença dos meus filhos — respondi, pegando o carrinho dos
bebês, para acomodá-los perto de mim e da mãe deles.
No dia anterior, eu fiquei a ponto de explodir, pois perdemos
uma quantidade generosa de coca por incompetência de alguns
soldados que não souberam amarrar direito a porra de um contêiner
no navio; ao menos foi isso que eles alegaram, mas eu investigaria
mais a fundo a situação.
— As águas do porto ficarão impróprias para banho por um
bom tempo — Gaetano debochou.
— Não sei qual é a graça nisso. — Olhei de cara feia para o
adolescente que eu tinha em casa. — Uma fatia sai do seu bolso
também, irmãozinho.
— Calma, Renzo. Sei que o leite está caro, mas os trigêmeos
jamais ficarão desamparados — Rocco caçoou.
— Vocês estão engraçadinhos hoje. O que andaram
aprontando? — minha mulher perguntou.
— Esse é nosso humor habitual, cunhada. Esqueceu que seu
marido é o ranzinza da família? — Rocco rebateu.
— Eu gosto assim… — Antonella apertou minha coxa e me
fitou com cara de safada —, perigoso — ela completou. Porra! Meu
pau ficou duro.
— Tapem os ouvidos da Valentina, por favor. Minha sobrinha é
pura demais para ouvir essas obscenidades vindas dos pais —
Gaetano comentou, com ares de riso.
— Com os dois tios sem-vergonha que tem por perto, minha
bambina teria de viver com tampão nos ouvidos — Gine brincou.
— Nós estamos quietos, Gine. São os próprios pais que dão
mau exemplo — Gaetano implicou.
Quando eu ia rebater sua provocação, o celular da Antonella
tocou, nos interrompendo. Ela atendeu na mesa mesmo.
— Oi, Bellinha. Posso te ligar daqui a pouco? Estou tomando
café da manhã. — Minha esposa ficou um minuto em silêncio, em
seguida abriu um enorme sorriso. — Não acredito! Te ligo em meia
hora pra saber os detalhes!
— O que aconteceu com a sua prima? — Gaetano sequer
disfarçou a curiosidade, assim que a chamada foi encerrada.
Eu o encarei, observando sua estranha reação, contudo ele
estava tão preocupado com a fofoca que nem percebeu.
— Coisas de menina, cunhado. Deixe de ser curioso —
Antonella respondeu, e meu irmão perdeu a graça. Estranho.
Continuei encarando o Gaetano, até que ele percebeu meu
olhar avaliador e tentou disfarçar, tomando um longo gole do seu
suco.
Terminamos a refeição sem mais piadinhas e, quando nos
retiramos da mesa, minha mulher foi até o escritório para retornar a
ligação para a prima. Gine ficou arrumando a sala de jantar,
enquanto meus irmãos e eu fomos para a sala de estar. Levei os
trigêmeos, que dormiam tranquilamente em seus carrinhos, e
coloquei-os ao lado do sofá em que me sentei. Era domingo e, nos
fins de semana, minha atenção era totalmente voltada para minha
família; eu me recusava a trabalhar.
— Quando vamos à Sicília? — Rocco perguntou.
— No dia 15. Antes disso, fica complicado. Não posso me
ausentar por tanto tempo. Eu nem poderia ir tão cedo, mas
Antonella está ansiosa para ver a família, então estou me esforçando
por ela.
Enzo resmungou, e eu balancei o carrinho com o pé, porém
não teve jeito, ele começou a chorar, e eu precisei pegá-lo no colo.
Assim que o segurei e acomodei seu corpo em meu peito, ele se
acalmou; beijei sua cabecinha com a cabeleira preta igual à minha,
tão macia quanto algodão, e inalei seu cheiro gostoso, o melhor
cheiro do mundo. Meu filho era perfeito. Os três eram.
— Vou dar uma saída — Gaetano avisou, se levantando.
— Não vai almoçar em casa? — questionei.
— Volto pro almoço, irmão. Só preciso… sair e buscar alguma
distração. Estou me sentindo entediado.
Meu irmão virou as costas, sem dizer mais nada, e saiu de
casa.
— Gaetano ficou estranho desde que a Nella recebeu a
ligação da prima — Rocco comentou.
— Você também percebeu?
— Só um idiota não perceberia, Renzo. Tenho certeza de que
rolou alguma coisa entre os dois quando Bella veio à Calábria. Por
mais que Gaetano tente parecer indiferente a ela, ele não está.
— Só espero que o stronzo não tenha transado com aquela
menina. A última coisa que quero e preciso é me indispor com
Inácio.
— Gaetano não seria louco a esse ponto, Renzo.
— Será? Nunca subestime a vontade de fazer merda do nosso
irmão.
— Acredito que tenha rolado uma sacanagem, mas que ele
não chegou a comer a garota.
— Não se refira à prima da minha mulher nesses termos.
Stronzo!
— Tudo bem. Acho que eles não fizeram amor — o idiota
debochou, e eu o olhei de cara feia. — O papo está bom, mas
também vou dar uma saída, irmão. Volto pro almoço — ele avisou,
se despediu dos sobrinhos e saiu.
Minutos depois, enquanto eu brincava com Enzo, Antonella
voltou para a sala, animada.
— Onde está todo mundo? Eu ia fazer um almoço especial pra
nós — ela comentou, antes de sentar ao meu lado e cheirar a
cabecinha do nosso filho. O safadinho se desmanchou em sorrisos
para a mãe.
— Eles disseram que voltarão pro almoço.
— Ótimo! Agora, adivinha o que Bella me contou.
— Não faço ideia, mi amore. Conte a fofoca. Sei que está
doida para falar.
— Estou mesmo, mas só pra você. Bellinha está sendo
cortejada por um cara — ela disse, sorridente, e eu franzi o cenho.
— É um termo arcaico, mas só consigo pensar nessa palavra para o
que eles estão vivendo.
— Quem é o cara?
— Nathan Lucchesi.
— Que porra é essa? Esse cara estava interessado em você,
Antonella.
— Você disse certo, estava. Agora, ele e minha prima estão se
conhecendo melhor. E eu aprovo, porque o cara é gente boa.
— O cara te queria, e aposto que ainda quer, Antonella. Ele só
está se aproximando da Bella com o intuito de chegar em você. Está
usando sua prima como estepe — falei, puto.
— Não deixe o ciúme te cegar, Renzo. Pare de neurose, pelo
amor de Deus. O cara só estava atraído por mim, não apaixonado.
Bella é uma mulher linda e interessante, certamente Nathan
percebeu que, antes, olhava na direção errada.
— Não gosto dele.
— Tudo bem, afinal não é você que o cara está cortejando.
Quem tem que gostar é Bella — minha mulher me provocou,
debochada.
— Mal criada! — resmunguei, e ela segurou meu rosto e me
deu um selinho. — Não quero aquele cara perto de você, Antonella
— falei sério, mas ela não me deu a mínima.
— Se ele se casar com minha prima, você terá que engolir.
— É sério assim? Eles estão juntos a ponto de sair
casamento?
— Não. Por isso que eu disse cortejando. Ainda não rolou
nada, mas Bella sabe que ele está interessado. Os dois saíram para
jantar esses dias, e talvez a família Lucchesi passe o Natal conosco.
— Achei que o Natal seria só entre nós.
— Normalmente é, mas, vez ou outra, recebemos algum
convidado que não oferece riscos. Segundo os meninos, Nathaniel é
um homem… tolerável. Meu pai gosta dele, então convidou a família
dele. Mas eles ainda não confirmaram presença.
— Desde que ele não chegue perto de você, ficaremos bem
— declarei, firme.
Antonella abriu a boca para rebater, mas Enzo chorou,
acordando o irmão. No mesmo instante, ela pegou nosso
primogênito para amamentar, e eu peguei Lorenzo, antes que ele
acordasse Valentina.
Enquanto minha mulher amamentava meu filho, eu só
conseguia olhar para os dois e pensar no quanto era um homem
sortudo.
— Este menino é guloso igual a você, Renzo — minha esposa
brincou, observando Enzo sugar seu seio com vontade.
— Eu te entendo, filho. — Beijei a cabeça dele, e Lorenzo
resmungou nos meus braços.
Levantei-me com ele, entretendo-o até que chegasse sua vez
de mamar. Em alguns minutos, Valentina também acordou. Eles
funcionavam sempre assim, numa sincronia incrível, e eu fazia tudo
para ajudar Antonella, todavia, naquela tarefa, eu nada podia fazer.

Gaetano e Rocco realmente apareceram para o almoço, e nós


tivemos uma refeição tranquila. À tarde, enquanto Antonella e
nossos filhos tiravam um cochilo, fui responder alguns e-mails no
escritório, para não acumular trabalho antes da nossa viagem à
Sicília.
Estava distraído, organizando umas planilhas, quando a porta
do escritório se abriu. Eu nem precisei levantar o olhar para saber
que era meu irmão caçula, o mal-educado.
— O que você quer, Gaetano? — perguntei, vendo-o se jogar
na cadeira à minha frente.
— Nada. Só vim ver meu irmão. Não posso?
— Deixa de ser cínico, porra. O que está te incomodando?
— Por que acha que tem algo me incomodando?
Levantei o olhar do notebook e o encarei, antes de responder
num tom sóbrio.
— Porque te conheço desde que nasceu, Gaetano. Sei quando
meu irmão está inquieto por algum motivo.
— Não é um incômodo. É só… Bem, estou… curioso. O que
Bella disse para Nella?
— Eu sabia! — exclamei. — Qual é o seu lance com aquela
menina, Gaetano? Preciso ter noção do tamanho do problema que
você está me arrumando.
— Lance nenhum, Renzo. Bella é uma mulher linda, e eu
estarei mentindo se disser que não me sinto atraído por ela. Mas
não existe nada entre nós. Não se preocupe.
— Eu não sou idiota, porra. Sei que você não está sendo
honesto comigo. Tenho certeza de que aconteceu alguma coisa
entre vocês no tempo que Bella passou aqui. Só espero que ainda
tenha restado, pelo menos, um pingo de juízo na sua cabeça, para
não ter tirado a virgindade daquela menina. Isso, sim, seria um
problemão.
— Fique tranquilo, irmão. Não haverá nenhum problema para
você. Mas você não respondeu à minha pergunta.
Olhei-o, incrédulo. Gaetano estava incomodado demais com
aquela fofoca sobre a Bella. Essa possessividade toda tem alguma
razão, e eu nem quero pensar qual é.
— Não respondi nem vou responder. É coisa delas, cara.
Sugiro que você esqueça Bella ou… case-se com ela. Estou te dando
uma escolha. Aproveite.
— Obrigado, mas eu passo, irmão. Ainda não chegou minha
hora. Quem sabe um dia.
— Vá achando que ela ficará te esperando — soltei as
palavras e voltei ao trabalho, ignorando completamente a presença
dele.
Meu irmão ainda ficou um tempo me olhando, louco para
perguntar mais alguma coisa, porém consciente de que eu não
responderia. Quando se deu por vencido, ele saiu do escritório
calado.
Capítulo 2

Renzo
Alguns dias depois

Parado no meu quarto, em frente aos mini berços em que


meus filhos dormiam serenamente, pensei em como minha vida
mudou após meu casamento. Antonella, Enzo, Lorenzo e Valentina
foram minha rendição.
Matei meu primeiro homem aos 17 anos, quando ainda era
um adolescente na idade. Contudo, naquela época, um monstro já
nascia em mim, pois não tive um pingo de remorso pela vida que
ceifei; talvez por se tratar de um estuprador. Ser frio e cruel exigia
pouco esforço de mim.
A frieza corria nas minhas veias desde cedo, tanto que
Salvatore se orgulhava em dizer que eu era um legítimo Bellini, que
carregava uma valiosa herança passada de pai para filho: a
crueldade. Meu pai sempre acreditou que, um dia, eu seria capo da
Ndrangheta e governaria sem piedade. Nisso, ele estava certo.
Quando Antonella entrou na minha vida, meus irmãos e Gine
esperaram ansiosamente pela minha rendição, confiantes de que a
perspicácia e vitalidade dela esmagariam, sem dó, todas as minhas
incertezas. Aquela mulher era adoravelmente linda e louca. Quem
resistiria?
Sentia-me bem sendo o homem que todos temiam, o ser que
acreditavam ser incapaz de amar. No entanto, após a chegada da
minha esposa e dos meus filhos, dentro do nosso lar, esse não era
mais eu; precisava colocar minha máscara ao sair pelos portões de
casa, pois a luz que vinha deles era tão brilhante que ofuscava
minha escuridão. Na rua, era necessário manter a camuflagem do
Renzo de antes.
Meu casamento não foi ideia minha. Eu não me casaria em
hipótese alguma se, naquela época, pudesse escolher; minha vida
era dedicada aos meus irmãos e à máfia, o que me fazia acreditar
piamente não haver lugar para uma mulher nela. Esse pensamento
perdurou até meus olhos encontrarem a diavola.
Antonella mudou tudo e, todos os dias, me leva ao limite.
Depois dela, acreditei que um homem, mesmo um como eu, era
capaz de amar. Quando eu chegava em casa e olhava para ela e
nossos filhos, a vida fazia sentido.
Já era tarde pra caralho, e eu continuava sem sono. No dia
seguinte, teríamos a festa de Natal da Ndrangheta: um baile de
máscaras — invenção das esposas dos conselheiros, que sempre
organizavam aquele tipo de evento. Isso me deixou um pouco
apreensivo, afinal os trigêmeos iriam conosco.
Os três foram vistos uma única vez desde que nasceram, em
um casamento ao qual comparecemos, e se tornaram a atração da
festa, gerando burburinhos pela famiglia; todos estavam curiosos
para conhecê-los. Naquela ocasião, hesitei em levá-los, pois meus
filhos não eram algo que eu quisesse compartilhar. Todavia, uma
hora isso aconteceria; a famiglia sempre queria conhecer os filhos do
capo.
Antonella parecia não se afetar com aquela bajulação. Ela era
a rainha da Ndrangheta e não se importava com a atenção excessiva
que recebia de todos, principalmente das mulheres dos membros.
Minha esposa era sociável, acessível e se enturmava com facilidade.
Embora fosse uma mãe leoa, encarava numa boa a curiosidade
sobre os trigêmeos. No final das contas, eu sempre seria o mais
possessivo de nós dois, tanto com ela quanto com as crianças.
Decidido a tentar dormir, dei um beijo na cabecinha de cada
um dos meus filhos e fui para cama, na qual minha mulher já estava
adormecida. Antes de me acomodar, parei por alguns segundos,
como sempre fazia, para admirar o quanto ela era dolorosamente
linda. Antonella ainda não tinha voltado totalmente ao corpo de
antes da gravidez, e eu nem sabia se um dia voltaria, ainda assim,
aos meus olhos, ela continuava perfeita. Além disso, seu sorriso, que
sempre fora radiante, ficara muito mais encantador.
Eu enlouquecia, nos eventos aos quais comparecíamos,
quando presenciava qualquer homem olhando para ela. Eles eram
cuidadosos e tentavam ser discretos, porém nada passava
despercebido aos meus olhos quando o assunto era minha mulher.
Sentia-me tentado a acabar com a raça de cada um deles, mas tinha
consciência de que, se fosse punir todos os filhos da puta que a
olhassem, nunca pararia de matar.
— Você está babando — Antonella falou, abrindo os olhos e
sorrindo, tirando-me das minhas divagações. Levei um susto do
caralho.
— Estava fingindo dormir só para flagrar minha cara de idiota
ao te olhar? — falei, deitando ao lado dela.
— Claro — ela admitiu, com ares de riso. — Depois que me
tornei mãe, meu sono ficou mais leve. Acordei assim que você
entrou no quarto. Aliás, você demorou. O que estava fazendo? — ela
perguntou, aconchegando-se em meu peito.
— Organizando as buscas do contêiner de coca que caiu no
mar. Essa porra está me irritando.
— Você precisa achá-lo para ter certeza de que não foi
roubado, não é?!
— Exatamente. E estou torcendo para encontrarmos, porque
prefiro lidar com incompetentes do que com traidores.
— O que mais?
— O quê?
— Eu te conheço, Renzo Bellini. Sei que também está aflito
por causa da festa de amanhã. — Era incrível como ela percebia até
os detalhes que eu tentava esconder.
— Não gosto de expor você e as crianças. Sei que é inevitável
em muitas situações, mas…
— Ficará tudo bem, amor. — Antonella beijou meu peito, bem
em cima do coração, suspirou e voltou a dormir.
Apertei-a em meus braços, cheirei seu cabelo e tentei relaxar.
Em poucos minutos, adormeci também.
Antonella

Renzo e eu deixamos os trigêmeos sob os cuidados de Gine,


Rocco e Gaetano e subimos para nos arrumar para o baile de
máscaras. Eu me sentia animada, pois nunca tinha ido a nenhum, e
ansiosa para usar a máscara que mandei fazer para mim,
combinando com a do meu marido. Ficou um arraso.
Minutos depois, Renzo surgiu atrás de mim, em frente ao
espelho do closet. Bem mais alto do que eu, ele acariciou meus
braços com delicadeza e beijou meus cabelos. Ambos nus, após o
banho.
— Ainda preciso perder uns 5kg para voltar ao corpo de antes
— comentei.
— Você não precisa fazer isso, porque está maravilhosa desse
jeito.
Renzo deslizou as mãos pelas curvas do meu corpo, em
seguida abaixou a cabeça e beijou suavemente o meu ombro.
Quando me puxou um pouco mais para si, seu pau duro me
cutucou.
— Agora não podemos, amor. Controle seu meninão, porque
estamos atrasados.
— Meninão, Antonella? Porra! Assim você acaba com a minha
masculinidade. Não basta inventar de me chamar de fofo, agora
quer chamar meu pau de meninão? — Renzo falou, sério, mas
quando ri de sua indignação, ele acabou rindo também. — Não tem
graça. Estou cheio de tesão. Preciso te foder, ou o martírio de aturar
essa festa será ainda maior.
— Aguente firme, meu rei. Na volta, prometo te recompensar.
Pisquei para meu marido e me esquivei de seus braços,
deixando-o para trás com sua ereção. Fui secar meus cabelos no
banheiro e, ao voltar para o closet, Renzo já havia saído do quarto.
Tranquilamente, fiz uma maquiagem leve, visto que usaria uma
máscara, e coloquei a roupa escolhida para a noite: um vestido de
seda preto, com as costas nuas e que abraçava minhas curvas, me
deixando sensual e gostosa.
Coloquei um par de brincos que combinava com o colar que
Said me deu quando veio à Calábria para conhecer meus filhos e,
por último, apliquei umas gotinhas de perfume e o batom vermelho
piranhona, herança imaterial da minha nonna Lili.
— Perfeita! — falei, para mim mesma, diante do meu reflexo
no espelho.
— Perfeita é pouco. Você é a mulher mais linda da Itália, e
não estou falando apenas desta noite. — Renzo apareceu à porta do
closet, todo gostoso com seu smoking preto e gravata borboleta.
— Obrigada, marido. Você também está lindo e… delicioso. —
Aproximei-me dele e lhe dei um selinho.
— Vamos? — Renzo me ofereceu o braço.
— Só vou pegar nossas máscaras. — Corri até o armário,
peguei a caixa com nossos adereços e aceitei seu braço. — Agora,
sim. Vamos.
Sair com três recém-nascidos era sempre uma aventura.
Depois do nascimento deles, Renzo comprou um Volvo XC90, um
carro espaçoso e o mais seguro da categoria, pois, além de
blindado, suportava a explosão de granadas e dinamites. Ainda na
fábrica, meu marido mandou adaptar os três assentos do meio,
colocando as cadeirinhas das crianças posicionadas de frente para os
dois bancos de trás, no qual nos sentávamos. Era o veículo perfeito
para nossa família.
Naquela noite, Antonio e Gabriele nos acompanhavam, além
dos carros dos nossos cunhados, que vinham logo atrás com seus
respectivos soldados e Gine. Como nenhum cuidado era suficiente
para deixar Renzo tranquilo, outros quatro veículos com soldados
nos escoltavam. Meu marido era neurótico quando se tratava da
nossa segurança, e eu não o julgava por isso.
Ainda dentro do carro, no caminho para o salão onde
aconteceria o baile, arrumamos nossos adereços. Fiquei excitada ao
ver meu marido com aquela máscara preta que lhe dava um ar
misterioso e percebi que ele sentiu o mesmo ao me olhar. Mais
tarde, quero que ele me coma exatamente como estamos agora.
Quando chegamos ao local da festa, o salão estava repleto de
homens fazendo a segurança, além de lotado de convidados
mascarados. Fomos os últimos a chegar, e os membros da
Ndrangheta, juntamente aos seus familiares, nos receberam com
entusiasmo. Felizmente, desde a morte de Pellegrini e Sandro, as
coisas estavam tranquilas entre os conselheiros.
Os bebês foram acomodados no carrinho triplo, e Renzo os
empurrou até a mesa reservada para nós.
— Senhor, peço permissão para buscar minha esposa e o
Gabriel, agora que que o senhor e sua família estão acomodados —
Antonio falou.
— Pode ir. Leve um soldado com você. — O homem assentiu
e saiu apressado.
A ornamentação da festa ficou de muito bom gosto; até
aquele momento, todas as festas da Ndrangheta que frequentei
foram bem organizadas pelas esposas e filhas dos conselheiros. Elas
tentavam me inserir no trabalho, mas, além de não ser minha praia,
meus filhos não me deixavam tempo para nada. Quando eles
estivessem mais independentes, eu pretendia voltar à ativa, de
modo presencial, atuando na minha área mesmo.
Ao longo dos minutos seguintes, os membros que não nos
receberam na entrada do salão se aproximaram da nossa mesa, um
a um, para nos cumprimentar. Como sempre, Renzo mantinha o
semblante fechado, ao contrário de mim que os tratava a todos com
simpatia — até às solteiras safadas que davam olhadas discretas
para o meu marido, mesmo sabendo que ele estava fora do
mercado. As coitadas não resistiam, e eu não as culpava nem me
importava. Ele era gostoso mesmo e todo meu.
Podem olhar, garotas. No fim da noite, é dentro de mim que
ele estará. Ri do meu pensamento, antes de ser cumprimentada por
mais uma solteirona que tentou disfarçar sua atração pelo meu
homem. Em seguida, cumprimentei um membro que eu sequer
sabia quem era. Quando os cumprimentos finalmente terminaram,
Renzo relaxou um pouco.
As horas foram passando e, minutos depois, a música que
tocava no sistema de som foi silenciada quando uma orquestra subiu
ao pequeno palco, acompanhada por um cantor.
— Boa noite a todos! — o vocalista falou, animado. —
Convido o senhor e a senhora Bellini a nos dar a honra de abrir a
pista de dança.
— Nem fodendo — Renzo resmungou.
— É claro que nós vamos.
Contrariando-o, levantei primeiro. Sem opção, meu marido
também saiu da mesa e estendeu um braço para mim. Renzo odiou
aquela exposição, na mesma proporção que eu amei ser o centro
das atenções. Ao som de aplausos dos convidados e gargalhadas
dos meus cunhados, caminhamos até o centro da pista.
— Essa música é linda e triste — sussurrei, quando a melodia
iniciou, e nós começamos a nos mover.
— Nocturne, Chopin n° 20 — ele respondeu, surpreendendo-
me.
— Não sabia que você era fã de música clássica.
— Salvatore amava Chopin e ouvia todos os dias, então
aprendi a gostar. Ele tocava essa música no piano e me ensinou a
tocá-la também.
— Que outros atributos andou escondendo de mim, Renzo
Bellini? — inquiri, sorrindo. — Você tocará pra mim!
— Eu não toco, mi amore, só arranho. E faz mais de 20 anos
desde a última vez; estou enferrujado. Além do mais, o piano me
traz más lembranças, então é melhor não.
— Pelo contrário. Esse é um bom motivo; precisamos
construir lembranças boas.
— Faço isso todos os dias com você.
Embora as palavras do Renzo fossem doces, a máscara neutra
continuava em seu rosto; isso sempre acontecia quando estávamos
em público. Um dia, eu gostaria de aprender essa façanha, porque
qualquer um que me olhasse percebia que eu era completamente
apaixonada por aquele homem, e isso era perigoso.
Embora não gostasse de dançar, meu marido era um
excelente dançarino. Ele guiou nossos movimentos com elegância,
conduzindo meus passos e me fazendo flutuar pela pista. Ao final da
música, soaram mais aplausos, e eu sorri em agradecimento; Renzo
acenou de leve para os convidados, e aquilo foi o ápice de sua
simpatia. Às vezes, meu rei rabugento tentava.
Quando a orquestra iniciou outra canção, a pista foi tomada
por novos casais, e nós nos sentamos novamente. Com o passar do
tempo, as pessoas começaram a beber e, logo, a festa ficou
animada. A essa altura, a orquestra já tocava músicas mais
dançantes.
Meus cunhados saíram de fininho, deixando apenas Gine,
meu marido e eu à mesa com meus filhos.
— Para onde seus irmãos fugiram? — perguntei, enquanto
Renzo ajeitava a chupeta que tinha caído na boca da Valentina.
— Provavelmente, foram comer alguma boceta por aí.
— Aqui?
— Sim. Ou talvez tenham ido a outro lugar. Nunca se sabe.
Olhei na direção da pista de dança e vi Greta, com seu
barrigão, no meio da bagunça, dançando acompanhada por algumas
meninas. Ela parecia mais contente e confiante do que da última vez
que nos vimos. A poucos metros dali, em outra mesa, Antonio a
observava, com Gabriel sentado ao seu lado.
— Seu primo já está grandinho — falei ao Renzo. — Quantos
anos ele tem?
— Não tenho certeza. Acho que uns 3 anos.
— Por que não aproveitamos a oportunidade para que ele
conheça os priminhos?
Meu marido me olhou, pensativo, em seguida voltou sua
atenção à mesa do Antonio, acenando para que o soldado viesse até
nós. O homem pegou Gabriel no colo e obedeceu, sem hesitar.
Naquela noite, Renzo liberou meu soldado para curtir com a
família, depois que nos escoltou até lá. Na volta para casa, outro
homem de confiança o substituiria, para que ele pudesse retornar
para casa com a esposa.
— Chamou, senhor?
— Coloque o menino no chão — Renzo falou, num tom sério,
e Antonio obedeceu. No mesmo instante, Gabriel encarou meu
marido com um olhar curioso, como se nunca o tivesse visto. —
Como vai, rapazinho? — ele apertou a mãozinha do menino, que
sorriu inocentemente.
— Diga oi ao Renzo, Gabriel — Antonio instruiu.
— Oi — o garoto falou, com sua voz infantil e fofa.
— Quero que você conheça meus filhos. — Renzo apontou
para o carrinho. — Esses são Enzo, Lorenzo e Valentina. — Meu
marido apresentou um a um.
Os trigêmeos estavam quietinhos, bem acordados e satisfeitos
com a mamada recente.
— Eles são muito pequeno.
— Você também já foi desse tamanho, sabia? — falei,
aproximando-me do menino. — Muito prazer. Sou Antonella, mas
pode me chamar de Nella — ofereci o apelido, sabendo que seria
mais fácil para ele.
— Cumprimente a senhora, Gabriel — Antonio orientou outra
vez. Gabriel parecia tímido, mas era uma criança simpática.
— Oi, Nella. — Ele sorriu, fofo, e eu beijei sua bochecha
gordinha. Ele é cara da Greta.
— Quantos anos eles têm? — o menino perguntou,
debruçando-se sobre o carrinho dos trigêmeos para observá-los
melhor.
— Quase 3 meses — Renzo respondeu.
— Quando eles forem maiorzinhos, pedirei à sua mama pra
você passar o dia lá em casa para brincar com eles. Você gostaria?
— perguntei, e Gabriel assentiu, sorrindo de orelha a orelha. —
Então, combinado. — Apertei sua mãozinha, retribuindo o sorriso.
— Papa, estou com fome — ele falou ao Antonio,
surpreendendo-nos com a maneira como chamou meu soldado.
Olhei para Renzo, avaliando sua reação, e vi que ele olhava
para o homem com uma expressão de aprovação.
— Vou te levar para comer. — Antonio pegou o filho no colo
outra vez. — Com licença, senhor.
Assim que meu soldado se afastou, olhei para Gine e vi que
ela estava com os olhos marejados.
— Isso foi… lindo — ela disse.
— Foi mesmo. Tantos pais desprezam os próprios filhos, e
Antonio assumiu um filho do coração, igual ao meu primo Chase —
declarei, emocionada.
— A morte do Leonardo foi um livramento para aquele
menino. Tenho certeza de que Antonio será um pai maravilhoso para
ele, assim como Chase é para Aurora.

Depois do jantar, mesmo com o barulho, os trigêmeos


dormiram, e Renzo me chamou para ir embora, para que as crianças
pudessem ter um sono calmo. Nessa hora, Rocco e Gaetano já
tinham aparecido e também concordaram em ir; nós iríamos para
casa, e eles, para a Acadie.
Começamos a nos despedir de todos, porém, antes de
sairmos do salão, pedi que Renzo esperasse eu ir até o banheiro.
— Melhor eu ir com você.
— Não precisa, Renzo. Este salão é da máfia e tem tantos
soldados que se tornou uma fortaleza. Fique aqui com as crianças.
Eu já volto.
Fui rapidamente ao banheiro, aliviei minha bexiga e, quando
saí do cômodo, ouvi uma discussão que parecia vir da parte de trás
dos toaletes.
— Você está vestida e agindo como uma vagabunda; está me
envergonhando na frente de todos, sua puta. — A voz era masculina
e estava arrastada, como se o homem estivesse bêbado.
De repente, identifiquei claramente o barulho de um tapa,
seguido por um choro feminino. Aquilo me assustou, na mesma
proporção que fez meu sangue ferver de raiva. Irritada, saí dali
depressa, não em direção à mesa na qual meu marido me esperava,
mas ao socorro da mulher que necessitava de ajuda.
Cheguei ao local e o que vi foi uma cena de horror: o cara
sacudiu a mulher, que era duas vezes menor que ele, em seguida
jogou-a no chão e se preparou para chutá-la.
— Não faça isso! — gritei, assustando-os. — Você vai matá-la,
seu troglodita.
O homem me encarou, e não reconheci seu rosto. Ele não foi
à mesa nos cumprimentar quando chegamos, e eu sequer o tinha
visto no salão.
— Ela é minha esposa, e eu faço o que bem entender com
essa puta. Não se meta — o maldito me afrontou.
A mulher tentou se levantar, contudo parecendo meio zonza,
só conseguiu se sentar; seu rosto vermelho estava banhado pelas
lágrimas, e um pouco de sangue escorria pelo canto da sua boca.
Então, agindo por instinto, corri para ajudá-la a sair dali, antes que
aquele infeliz a machucasse mais.
— Já falei pra não se meter, porra! — O homem puxou meu
braço, afastando-me de sua vítima. — Deixe essa vagabunda no
chão, que é o lugar dela.
— Tire essas mãos sujas de mim, seu desgraçado, ou pode
terminar sem elas. Não vou deixar essa garota sozinha nas suas
garras, seu animal. Você era a pessoa que deveria protegê-la, e não
machucá-la. — Avancei outra vez em direção à mulher. — Deixe-a
em paz!
— Quem você pensa que é pra me dar ordens, sua putinha?
— o bêbado repugnante falou. — Se não sair da minha frente agora
mesmo, apanhará também, pra aprender a não se meter no que não
é da sua conta
— Sou Antonella Bellini, seu maldito. E você é um homem
morto — falei, tirando a máscara. Eu não o conhecia, mas por sua
expressão de pavor, ele sabia exatamente quem eu era.
— O que você disse, Stefano? — A voz colérica do Renzo soou
atrás de nós. Quando o olhei, ele parecia mortífero.
O homem desviou a atenção para meu marido, e seu rosto
perdeu a cor. Eu poderia jurar que suas pernas também tinham
estremecido por um breve momento.
Capítulo 3

Renzo
Quando minha mulher demorou minutos a mais que o normal
no banheiro, eu já sabia que alguma porra estava acontecendo.
Seguindo meus instintos, saí atrás dela, e Gabriele me seguiu.
— Quem você pensa que é pra me dar ordens, sua putinha?
— Identifiquei uma voz masculina e senti meu sangue ferver. Meus
instintos me alertaram, imediatamente, de que era alguma coisa
com a Antonella. — Se não sair da minha frente agora mesmo,
apanhará também pra aprender a não se meter no que não é da sua
conta — o homem falou, visivelmente bêbado e irritado.
— Sou Antonella Bellini, seu maldito. E você é um homem
morto. — Era ela. Eu sabia.
Corri, seguindo as vozes, e os encontrei atrás dos banheiros.
— O que você disse, Stefano? — rosnei.
Minha fúria transbordou ao encontrá-lo, enraivecido, olhando
Francesca abraçada à Antonella, tremendo e chorando. Como o
maldito ousou ofender a honra da minha mulher, além de espancar a
própria esposa? Apesar de essa porra de comportamento ser comum
no mundo machista da máfia, eu não tinha conhecimento do caso
deles.
— Eu... — O verme engoliu em seco e, diferente do valentão
que agredia a esposa indefesa, diante de mim ele pareceu se dar
conta de que tinha acabado de assinar sua sentença de morte.
— Leve a garota daqui e entregue-a aos pais — ordenei a
Gabriele, e a menina saiu dos braços de Antonella para acompanhar
meu soldado, sem hesitar.
Aproximei-me do infeliz e, imediatamente, ele recuou um
passo, fazendo menção de correr. Covarde do caralho. Sem perder
tempo, tirei minha pistola do coldre, engatilhei e apontei para ele,
fazendo-o desistir daquela estupidez. Eu o pegaria de qualquer jeito,
e ele sabia disso.
— Nem adianta correr. Você já está morto — sentenciei, e o
pânico em seus olhos alimentou minha fúria.
— O que está acontecendo aqui? — Gaetano perguntou,
chegando ao meu lado.
— Depois te explico. Por ora, mande os soldados levarem
esse desgraçado para o galpão e o manterem amarrado até eu
chegar lá.
Meu irmão assentiu e saiu arrastando Stefano, torcendo seus
braços atrás das costas. Nesse momento, voltei minha atenção para
Antonella, que observava tudo calada.
— Venha comigo. Preciso falar com você — falei, sério.
Segurei em sua mão, conduzindo-a para uma das salas de controle
do salão, onde dois soldados monitoravam a festa através das
câmeras. — Deixem-nos a sós — ordenei, e os homens saíram
rapidamente.
Tranquei a porta atrás de nós e olhei para minha esposa
atacada. Mesmo sabendo que eu estava puto com seu
comportamento, Antonella sustentou meu olhar, mantendo o nariz
empinado, pronta para me desafiar.
Antonella

— Nunca mais faça isso, Antonella! — Renzo usou a mesma


voz que fazia seus homens correrem para obedecê-lo, e seus
inimigos se dobrarem de medo; estava descontrolado, com o dedo
em riste e cheio de braveza. — Jamais se coloque em risco dessa
maneira outra vez.
— Aquele verme espancou a mulher, e é de mim que você
está com raiva? Eu nunca seria omissa diante de uma situação como
aquela, Renzo.
Meu marido grunhiu, aproximando mais o rosto do meu; seus
olhos transbordavam fúria. Outras pessoas teriam se encolhido
diante da força daquele olhar. Eu, não.
— Resolverei isso com Stefano depois. Agora, meu assunto é
com você. Nunca mais confronte um homem armado — ele falou,
entredentes. — Isso é a porra de uma ordem.
— Você não pode me dar ordens, porque não sou um soldado
para obedecer cada comando seu — enfrentei-o, e ele respirou
fundo, buscando calma.
— Eu posso e dou! Como seu marido, exijo que nunca mais
se arrisque dessa forma. Aquele bastardo estava tão bêbado que
sequer te reconheceu. Ele poderia ter atirado em você antes que eu
chegasse.
— Admito que agi sem pensar, mas não me arrependo. Ele
teria matado a mulher, se eu não me envolvesse. Como eu poderia
ignorar isso, Renzo? Não tenho sangue de barata.
— Da próxima vez, me chame imediatamente, porra. Pare de
tentar resolver as coisas sozinha. — Ele explodiu cheio de grosseria.
— Não vê o perigo que correu?
— Não fale assim comigo! — impostei a voz e vi um lampejo
de arrependimento no olhar do meu marido.
Renzo andou de um lado para o outro com as mãos na
cintura, parecendo um animal acuado, respirando pesadamente. Em
seguida, parou à minha frente outra vez e esfregou o rosto, nervoso,
embora seu olhar estivesse mais brando.
— Não posso te perder, Antonella. — Ele suspirou novamente,
segurou meu rosto com as duas mãos e descansou a testa na
minha. — Pense em nossos filhos. — Suas palavras fizeram meu
coração amolecer.
Eu entendia seu ponto de vista, pois realmente agi por
impulso e me coloquei em perigo, contudo não aceitaria ser tratada
como um de seus soldados. Renzo era o amor da minha vida, meu
marido e parceiro; precisávamos nos tratar com respeito mútuo.
— Você não vai me perder — sussurrei, espalmando minha
mão em seu peito num gesto afetuoso, sentindo seu coração
acelerado. — Mas nunca mais fale comigo desse jeito. Sou sua
esposa, então resolveremos nossos assuntos na conversa. Você está
certo em se preocupar, não em gritar.
— Por favor, prometa-me não fazer mais nada por impulso. —
Aquele pedido sôfrego partiu meu coração, e a intensidade e o brilho
agitado de seu olhar me quebraram.
— Eu prometo — sussurrei.
— Você me dobra tão facilmente. Caralho! Eu me transformo
em um idiota rendido por você.
Ele segurou meus quadris com firmeza e me tirou do chão,
sentando-me na mesa e derrubando algumas coisas; pegou a
máscara que estava em minhas mãos e colocou no meu rosto
novamente.
— Quero te foder assim. Você está sexy pra caralho com essa
máscara.
Seu corpo se encaixou no meio das minhas pernas, e sua
boca engoliu a minha, com fervor. Instantaneamente, uma descarga
de amor e adrenalina tomou meu corpo. Preciso dele, tanto quanto
ele precisa de mim.
Sempre que transávamos depois de uma briga, Renzo parecia
querer me marcar novamente como propriedade dele. Cresci em
meio a homens possessivos, mas meu homem os superava. Meu
marido era o mais possessivo e dominante de todos.
Ele levantou meu vestido até a cintura, e seus dedos
agarraram minhas coxas antes de irem para o meio das minhas
pernas e rasgarem minha calcinha. Ouvi o barulho do zíper de sua
calça sendo aberto, enquanto eu ainda devorava sua boca, e me abri
mais para ele. Renzo rosnou e se empurrou para dentro de mim com
dureza, enterrando-se em mim num único golpe. Ele me fodeu
rápido, com estocadas impiedosas que sacudiam todo o meu corpo;
seu pau deslizava para dentro e fora de mim com facilidade. Eu
estava pingando por ele.
— Aaaa — gemi, descontrolada, afastando minha boca da
dele, mas ele a engoliu outra vez, intensificando nosso beijo.
Agarrei-o o quanto pude, conforme ele me tomava cada vez mais
forte.
De repente, Renzo parou de me beijar por um momento e me
encarou de forma intensa e transparente.
— Você me enlouquece. Se coloca em perigo, ignora o que
digo, empina esse nariz e me enfrenta. Gosta de me desafiar, não é,
diavola?
— Adoro! Sou uma menina má e mereço ser castigada.
Senti o pau dele se expandir no meu sexo em reação à minha
provocação. Ele entrou mais fundo, socando-o na minha boceta sem
piedade, do jeito que a gente gostava.
— Você é minha, Antonella. Toda minha, caralho! Vou te
proteger até a porra do último dia da minha vida. Nunca mais se
arrisque daquele jeito! — Essa era uma ordem disfarçada de pedido.
Seu jeito mandão na hora do sexo me excitava.
— Ohhhh — gemi, alucinada, quando ele intensificou as
estocadas.
O orgasmo chegou como uma explosão, levando todas as
minhas forças. Meu corpo tremeu, ondulou e amoleceu.
Renzo me segurou firme e continuou metendo
freneticamente, em busca do próprio prazer. Quando seus jatos
quentes e grossos me invadiram, sua respiração ficou alterada, e ele
grunhiu, deixando a cabeça cair no meu ombro. Eu podia sentir as
batidas descompassadas do seu coração, e seus músculos tensos
relaxarem sob minhas mãos.
Enterrei o rosto no vão do seu pescoço, e ambos ficamos
quietos durante os segundos seguintes, até que nossas respirações e
ritmo cardíaco normalizassem. Logo depois, Renzo saiu de dentro de
mim, e sua porra escorreu por minhas coxas, sujando a mesa na
qual eu estava sentada.
— Não se mexa — ele pediu, em seguida foi até o banheiro
que ficava ali mesmo e voltou com lenços umedecidos para me
limpar. Depois que tirou o excesso, eu fui ao banheiro e me
recompus totalmente, enquanto ele limpava a mesa. — Vamos
embora. — Meu marido me deu um selinho. — Vou deixar vocês em
casa e sairei para resolver a situação do Stefano.
Assenti, ciente de que ele mataria o cara. Eu é que não
intercederia por aquele babaca abusivo. Queria mais era que o
desgraçado morresse e desse descanso à pobre garota.
Renzo

Depois de deixar Antonella, Gine e as crianças em casa, segui


para o galpão. A meu pedido, Gaetano ficou com elas na mansão, e
Rocco, eu nem sabia por onde andava.
Algum tempo depois, quando Gabriele estacionou em frente
ao galpão, pulei do carro cheio de ódio, pronto para acabar com a
raça daquele filho da puta. Entretanto, para minha surpresa, Rocco
chegou antes de mim. Stefano já estava bastante ensanguentado e
com o rosto desfigurado.
— Que porra é essa? Mandei que o amarrassem e esperassem
por mim.
— Desculpa, chefe. O subchefe chegou e tomou a frente da
situação — um dos soldados se apressou em se desculpar.
— Que porra deu em você, Rocco? Esse maldito desrespeitou
minha mulher. O assunto dele era comigo.
— Antonella é minha cunhada, e você é meu irmão. Eu tomei
as dores dos dois. Além disso, esse covarde espancava a mulher, e
eles têm um filho pequeno. Stefano é um desgraçado.
Apesar da justificativa, fiquei puto pra caralho com meu
irmão, porque Stefano já estava quase morto, não havia muito mais
que eu pudesse fazer para vingar seu comportamento com a minha
mulher. Rocco passou por cima da minha ordem, porém eu não
discutiria com ele na frente dos soldados. Então, fiz o que me
restava: aproximei-me do bastardo, apenas para dar meu recado.
— Meu irmão fez as honras da casa, e você não aguenta nem
mais um sopro, então o que me resta é te mandar para o inferno,
seu covarde, agressor de mulheres. Você não passa de um rato que
espancava a esposa e ousou ofender a rainha da Ndrangheta.
O homem mal tinha forças para me olhar; seu sangue
escorria e pingava no chão formando uma poça, prova de que
morreria em questão de minutos. Então, apenas para aliviar um
pouco da minha ira, saquei a pistola e disparei dez tiros consecutivos
no desgraçado.
— Sumam com o corpo. Esse verme não merece velório nem
enterro — ordenei aos soldados, depois olhei para Rocco. — Vamos
embora.
Meu irmão apenas me seguiu, calado. Ele sabia que eu estava
puto devido à sua atitude contrária às minhas ordens. Saímos do
galpão juntos, mas cada um entrou em seu carro.
Antonella

Assim que Renzo saiu de casa, Gine e eu subimos para


arrumar os trigêmeos para dormir. Eles deram um pouco de
trabalho; estavam agitados, afinal aquela foi uma noite diferente em
sua rotina.
Quando meus filhos finalmente dormiram, Mary e eu voltamos
para a sala com a babá eletrônica em mãos. Gaetano, vulgo minha
babá sempre que dava alguma merda, nos esperava tomando sua
bebida. Gine foi direto para a cozinha, e eu me sentei no sofá, ao
lado do meu cunhado.
— Que inveja! Queria tanto poder beber agora. Ainda sinto
arrepios ao lembrar daquele babaca batendo na esposa.
— Não se preocupe, Nella. Seu marido acabará com ele.
Mas… Se está tão agitada, por que não bebe? Você não está mais
grávida.
— Mas estou amamentando. Esqueceu?
— Realmente, esqueci. Acho que estou um pouco bêbado —
ele respondeu, deitando a cabeça no encosto do sofá, depois tomou
mais um gole de sua bebida. — Foi uma noite de merda mesmo.
Aliás, essas festas sempre acabam assim. Nem sei por que a famiglia
insiste em se reunir.
— Trouxe um cházinho de folhas de maracujá para acalmar os
ânimos — Gine anunciou, entrando na sala com uma bandeja em
mãos.
— O que acalmaria os meus ânimos seria Renzo me dar uma
pistola de presente, para eu usar em situações como a desta noite.
— Nem fodendo! Seria um perigo pra sociedade, bonitinha.
Nenhum de nós estaria seguro com você armada por aí em sua fase
de TPM.
Soltei uma gargalhada escandalosa e, acidentalmente, cuspi o
chá na camisa do meu cunhado, ao mesmo tempo em que
engasgava e a bebida saía até pelo meu nariz.
— Porra, Nella! — Gaetano levou um susto ao ser atingido
pelo líquido morno em sua blusa branca, porém, logo em seguida,
me olhou assustado. — Você está bem?
Eu ainda tossia um pouco, então ele deu tapinhas leves nas
minhas costas, até eu recuperar o fôlego.
— Isso foi extremamente atraente: o chá escorrendo pelo seu
nariz, você tossindo com o rosto vermelho e os olhos arregalados.
Sem contar que pareceu uma lhama, cuspindo em mim. Não é à toa
que Renzo morre de amores e não consegue ficar uma noite sequer
longe da rainha da Ndrangheta — ele debochou, fazendo-me rir
mais. — Você é realmente irresistível, cunhada.
Às vezes, por causa de sua natureza extrovertida e leve, eu
esquecia que aquele homem à minha frente era um mafioso
assassino.
— Não me faça engasgar de novo, idiota — eu pedi,
controlando a respiração e enxugando os olhos marejados de tanto
rir.
No minuto seguinte, me espantei ao ver Renzo entrar em
casa ao lado de Rocco, ambos de cara fechada. Foi mais rápido do
que eu pensava. O olhar do meu marido ainda estava sombrio; os
vestígios do monstro ainda dominavam seu semblante austero.
— Que bom que chegou. — Levantei rapidamente do sofá e
corri para beijá-lo. Ao encostar nele, senti seus músculos tensos. —
Suponho que aquele babaca esteja morto.
— Sim, ele está — ele respondeu seco.
— Então, se o problema foi resolvido, por que ainda está
tenso? Esqueça esta noite. Vá tomar banho para tirar esse cheiro de
sangue e esfriar a cabeça antes de chegar perto dos nossos filhos.
Esse é o nosso lar; nada de trazer energias negativas para cá.
Sem dizer uma palavra sequer, Renzo me deu as costas e
caminhou em direção à escada.
— Meninos, fiquem à vontade. Também vou me recolher,
porque a noite foi longa. Boa noite. — Meus cunhados acenaram, e
eu subi atrás do Renzo.
Quando cheguei ao nosso quarto, meu marido já estava se
despindo no banheiro, ainda com o semblante extremamente sério.
Tirei minha roupa também e o acompanhei até o box.
— Por que está com essa cara?
— Quando cheguei ao galpão, Rocco praticamente já tinha
matado o cara.
— O objetivo não era esse quando levaram o bastardo pro
galpão? Por que isso é um problema?
— Além de meu irmão ter passado por cima das minhas
ordens, me desrespeitando como seu superior, eu não pude
descontar a raiva que sentia daquele filho da puta agressor. E o que
meus soldados pensarão de um capo que não tem o respeito do seu
subchefe?
— Você é o melhor capo que a Ndrangheta já teve, porque
governa sem misericórdia, mas recompensa quem é leal e protege
os que merecem proteção. Entendo seu ponto de vista, mas,
acredite, o impulso do Rocco não irá te desabonar. Você já construiu
seu respeito, amor. Relaxe. — Beijei sua boca de leve e vi sua
expressão suavizar.
— Você está certa, mi amore. Ainda assim, amanhã terei uma
conversa com ele.
— Isso, deixe para amanhã. Por hoje, vamos relaxar.
Deslizei as mãos pelo corpo dele, abaixando-me até ficar de
joelhos à sua frente, vendo seu pau começar a enrijecer. Salivando,
lambi sua glande e, quando o coloquei na boca, ele já estava
completamente duro.
— Aaaa. Caralho… — Renzo rosnou, jogando a cabeça para
trás.
Suguei e me deliciei com seu membro, até fazê-lo relaxar,
gozando em minha boca.
Renzo

Antonella dormiu serenamente nos meus braços, depois de


amamentar os bebês. Eu acordei para ajudá-la, como sempre fazia,
e não consegui dormir mais, pois minha mente ainda estava agitada.
Se eu tivesse descontado minha ira naquele merda, certamente
conseguiria dormir com facilidade, mas Rocco me tirou esse direito.
Custei a conseguir adormecer e, assim que o dia amanheceu,
pulei da cama, me troquei e desci. A casa estava silenciosa; nem
Gine havia acordado ainda. Saí da mansão e fui direto para a casa
do Rocco — ele e Gaetano já tinham suas próprias casas.
Pelo horário, ele certamente ainda estaria dormindo. Testei a
porta. fechada. Então, toquei a campainha insistentemente, até que
ele viesse me atender.
— Porra, Renzo! Você não dorme, não, caralho? — Meu irmão
resmungou, ao abrir a porta com o rosto inchado. Antes que ele me
desse espaço, eu o afastei para o lado e entrei na casa.
— Eu teria dormido melhor se você não tivesse se metido nos
meus negócios.
— Não foi nada demais, cara. Quando eu soube o que tinha
acontecido, fiquei puto e fui ao galpão para acabar com aquele
miserável. Achei que estaria te fazendo um favor.
— Não minta pra mim — censurei, entredentes.
— Não estou mentindo, porra. Por que mentiria?
— Eu não sei. Quero ouvir isso de você. Qual era seu real
interesse em matar Stefano?
— Você sabe que odeio covardes. Aquela menina não tem
nem 20 anos, e eles têm um filho pequeno, Renzo. Perdi a cabeça,
porra! — ele respondeu, alterado, andando de um lado para o outro
da sala de estar. — Fui ver se ela estava bem, e Edoardo me contou
o que também tinha acabado de descobrir. A garota disse ao pai que
apanhava calada desde que se casou com aquele maldito. — A voz
do meu irmão era uma corrente de fúria. — O olho da Francesca
estava ficando roxo, e a boca, machucada; seu olhar exalava pânico.
Pensei em como agiria se tivesse acontecido aquilo com a Glenda e
me descontrolei. Queria fazer aquele desgraçado sentir a dor que
causou à mulher, então enfiei a porrada nele. E só não o matei
porque você mandou que te esperassem.
— Nunca mais haja por impulso, muito menos desobedeça às
minhas ordens, Rocco. Sou seu irmão, mas também sou seu capo e
exijo respeito. Não vou admitir que enfraqueça minha autoridade
perante a organização.
— Todos sabem que você não é um fraco, Renzo.
— Stefano morreu, principalmente, porque desacatou minha
mulher, porra! Você sabe que não poderíamos nos meter no
casamento deles. Se eu soubesse que aquele infeliz agredia a
esposa, teria conversado com o pai dela e o incentivado a desfazer o
casamento, sem que nos metêssemos entre os dois. Se o motivo da
morte dele foi Antonella, era pelas minhas mãos que deveria ser
punido.
— Mas foi você quem o matou.
— Não seja cínico, Rocco. Se eu tivesse chegado minutos
depois, Stefano já estaria morto.
Meu irmão suspirou e esfregou o rosto.
— Tudo bem, Renzo. Me desculpe. Não acontecerá outra vez.
— Ótimo. Te encontro no café da manhã.
Meu irmão assentiu, e eu saí de sua casa com a sensação de
que havia algo nessa história que precisaria ser investigado.
Contudo, mais uma vez, não o confrontei. Rocco não era criança,
uma hora teria de falar o que tanto tentava me esconder.
Capítulo 4

Renzo
Alguns dias depois

— Os números da Acadie estão crescendo exponencialmente.


Nenhuma boate na Calábria chega nem perto do nosso movimento
— Rocco comentou, orgulhoso.
Ao contrário do meu irmão, eu não me empolgava por sermos
os donos da casa noturna mais badalada da cidade; meu foco era
sempre o nosso principal negócio: a coca. Os dados que
alimentavam as planilhas à minha frente diziam que estávamos indo
muito bem e que, mais do que isso, a tendência era melhorar,
devido à nova tecnologia adquirida pela Ndrangheta. No entanto, o
rombo causado pela carga perdida no mar não me descia.
— Nossa moeda é a coca, Rocco. Coloque na sua cabeça que
a Acadie é apenas um disfarce para lavarmos dinheiro.
— Pode até ser, mas tem nos rendido bons números — ele
insistiu.
— Como estão as buscas pelo contêiner? — Gaetano mudou
de assunto.
— O submarino encerrará as atividades às 14h. Se realmente
não encontrarem nada, o que é bem provável, ainda hoje
entraremos em ação contra os traidores.
— Ótimo — Gaetano falou, animado e doido por sangue.
Adquirimos aquele submarino recentemente, com a intenção
de expandir os negócios, abastecendo o mercado de drogas mundo
afora. A embarcação comportava quatro toneladas de cocaína,
equivalente a cerca de 140 milhões de euros, e dificilmente seria
interceptada, visto que só era detectada por radares de alta
complexidade, pouco frequentes na rota que traçamos. Ainda que
fosse identificado, o submarino conseguiria escapar facilmente na
imensidão dos oceanos.
O investimento naquele empreendimento foi alto, mas já
tinha valido a pena, pois sua primeira missão foi encontrar o
contêiner com coca que, segundo os homens responsáveis pela
missão do dia, tinha caído no mar.

Às 14h30, meu celular tocou e um dos meus soldados


anunciou a resposta que eu tanto ansiava: não havia contêiner
naufragado naquela região. Fomos traídos.
— E então? — Gaetano perguntou, agitado, assim que
finalizei a chamada.
— Reúnam alguns homens e levem para o galpão os cinco
soldados que trabalhavam no dia da perda do contêiner. Eles nos
traíram, e nós arrancaremos a verdade deles a qualquer custo.
Quero saber qual foi a porra do destino dessa droga.
— Você não vem? — Rocco inquiriu, já se levantando.
— Estarei lá em algumas horas, mas podem começar sem
mim. Assim que eu sair da consulta dos trigêmeos, me juntarei a
vocês. Por ora, tenho que ir, porque Antonella está me esperando.
Meus irmãos saíram para cumprir a missão, e eu fui buscar
minha mulher e meus filhos em casa. Era o dia da consulta de três
meses deles e, embora fosse de rotina, eu fazia questão de
acompanhar de perto. Nada estava acima dos meus filhos; eles
sempre seriam minha prioridade.
Antonella

Chegamos ao consultório da doutora Vittoria — pediatra


indicada pela Nicole — e, logo, fomos atendidos.
Enquanto a médica tirava a roupa do Enzo para examiná-lo,
meu bebê chorava copiosamente, e eu me contorcia de angústia,
esforçando-me para não pegá-lo e acalmá-lo. Eu segurava Lorenzo,
e Renzo embalava Valentina, ambos chorando também, em
solidariedade ao irmão. Os três costumavam ser bastante
sincronizados neste quesito.
Embora tentasse acalmar a filha, meu marido não desviava a
atenção do que a médica fazia com Enzo. Seu olhar era de um
protecionismo feroz.
— Essa porra está gelada pra colocar no peito dele. Por isso
meu filho está chorando dessa maneira — meu marido falou,
aborrecido, apontando para o estetoscópio que a doutora Vittoria
usava para auscultar[1] o coração do bebê.
— Renzo... — Olhei para ele, pedindo calma, mas fui
ignorada.
— É assim mesmo, pai. Eles detestam ser examinados, mas é
necessário. Com o estetoscópio em contato direto com a pele,
consigo ouvir com mais precisão e detectar, caso haja, alguma
irregularidade.
— Mas hoje está fazendo frio. O menino está sofrendo — ele
rebateu, aflito.
— Já estou acabando — a pediatra respondeu,
pacientemente.
Se aquela mulher não fosse tão bem paga para cuidar dos
nossos filhos, ela certamente já teria abandonado essa missão, pois,
a cada consulta, meu marido superprotetor questionava alguma
coisa.
Quando chegou a vez de Lorenzo, depois a da Valentina, foi a
mesma choradeira. Renzo, que estava vermelho de tão nervoso, só
se acalmou quando os exames finalmente foram concluídos, e os
bebês se acalmaram.
— Os três estão ótimos, saudáveis e na idade de tomar a
vacina meningocócica, que é contra meningite. Querem vaciná-los
logo?
— Sim, por favor — respondi, imediatamente.
— Vou pedir à enfermeira para preparar as doses.
Renzo se manteve calado, visivelmente aflito com aquele
sofrimento imposto aos nossos filhos. Entretanto, era algo
necessário, que poderia evitar uma doença perigosíssima.
Meu marido parecia estar sendo torturado quando precisou
segurar Valentina para ser vacinada. A dor em seu olhar ficou
evidente, e ele sequer fez questão de esconder.
— Essa vacina provoca alguma reação? Na época da Glenda,
algumas aplicações causavam reações, mas não lembro sobre essa
especificamente — Renzo questionou, assim que acalmamos as
crianças, após a picada.
— Normalmente, só reação local. Provavelmente, a coxa
ficará vermelhinha, e eles sentirão sensibilidade ou até dor na
região.
— E o que podemos fazer pra amenizar a dor? — perguntei.
— A compressa fria pode ajudar.

No caminho para casa, Renzo me contou que havia


comprovado a traição em relação à perda do contêiner com drogas e
que, por isso, me deixaria na mansão com as crianças e sairia para
resolver a situação. Contudo, pediu que eu ligasse, imediatamente,
caso houvesse qualquer problema com nossos filhos.
Depois que meu marido se despediu de nós, dei banho nos
trigêmeos, amamentei-os e os coloquei para dormir. Dos três,
Valentina foi a que ficou mais enjoadinha; logo ela, que costumava
ser a mais calminha, estava manhosa e agoniada. Para ficar de olho
nela, resolvi trabalhar no quarto, usando o notebook do Renzo.
Passei boa parte da tarde me dedicando a montar os cardápios.
Estava terminando de montar o plano alimentar do orfanato
quando meu celular tocou. Ao ver o nome da Bella no visor, atendi
de imediato.
— Oi, Bellinha. Como estão as coisas por aí?
— Tudo ótimo, Nella. E os bebês?
— Tudo bem também. No momento, estão dormindo.
Tomaram vacina hoje, e acho que Valentina está mais sensível, mas
os meninos tiraram de letra.
— Que judiação. Tão novinhos e já sentindo dor.
— Partiu meu coração ver o choro deles, mas Renzo ficou pior
que eu. Você precisava ver a aflição dele. — Sorri, achando graça ao
lembrar. — Mas vai passar. Se Deus quiser, amanhã minha florzinha
estará ótima. E por aí, como está seu lance com Nathan?
— Ele me levou pra jantar ontem, novamente, e…
— E…
— Nós nos beijamos.
— Puta merda! Como você me conta isso assim, sem aviso?
Quase gritei e acordei meus filhos — falei, controlando a euforia. —
Conte mais! Como foi? Ele beija bem? Tem pegada?
— Calma, sua doida. Nem foi tão animador assim. Não que
ele não beije bem ou não tenha pegada, mas foi só… foi só um beijo
mesmo, nada de mais.
— Isso está errado, Bella! Definitivamente errado! Quando
Renzo me beijou pela primeira vez, o chão tremeu, minhas pernas
amoleceram, meu útero coçou, e eu… sei lá, vi estrelas. Resumindo,
aconteceu de tudo um pouco. Aí você me diz, igual a uma
songamonga, que foi só um beijo?
— Você e Renzo não são parâmetro. Vocês dão choque, são
fogo e pólvora, tanto que quando a coisa engatou, vieram logo
trigêmeos.
— Querida, todo primeiro beijo de alguém especial deveria
ser assim. Se não aconteceu com vocês, sinto dizer que Nathan não
é o cara.
— Também não é assim, Nella. Ele é gentil, atencioso,
decente, me trata com respeito… Enfim, é um cara que vale a pena.
— Não era isso que eu esperava ouvir. Aliás, não senti um
pingo de empolgação nos seus elogios. As qualidades que você citou
são o mínimo. Eu queria ouvir que ele é gostoso, safado, pauzudo,
que só com um beijo te deixou molhada… Esse é o tipo de elogio
que se espera de um casal iniciante.
— Você é louca. — Bella gargalhou do outro lado da linha. —
Isso é com o tempo.
— Não é não! Você sabe muito bem que Renzo estragava
minhas calcinhas só de me olhar.
— Mas nem com todo mundo é assim. Às vezes não é paixão,
e sim um sentimento mais terno, calmo…
— Ninguém quer sentimento terno e calmo, não, Bella.
Acorda, garota! Deixa a calmaria pra quando vocês tiverem com dez
anos de casados. Agora é paixão, tesão, loucura… Se não te
emociona, cai fora logo!
— Não vou dispensar o cara só por causa disso. Conhecê-lo
está me fazendo bem. Gosto dos nossos jantares, do quanto me
distraio quando estamos juntos…
— Cacete! Que humilhação pra esse cara! Nunca diga isso ou
ele brochará na hora — falei séria, mas minha prima riu outra vez.
— Mas é a verdade. Gosto da companhia, das conversas, das
gentilezas dele. Nathan é inteligente, bem-humorado… Enfim, é
legal estar com ele.
— Parabéns! Você arrumou um amigo.
— A amizade é o começo de tudo, Antonella.
— Não! O fogo no rabo é o começo de tudo. A amizade é
consequência.
— Deixa de ser chata, garota. Nathan e eu estamos bem, nos
conhecendo aos poucos, e eu quero continuar saindo com ele.
— Se você está dizendo, quem sou eu para desencorajar.
Bella suspirou do outro lado da linha. Eu conhecia minha
prima, sabia que ela não era morna daquele jeito. Aquele lance com
Lucchesi não daria em nada, mas eu deixaria que ela descobrisse
isso sozinha.
— Quando vocês vêm? Estou louca pra apertar os trigêmeos.
— Dia 15. Também estou morrendo de ansiedade.
— Nem acredito que passaremos este Natal juntos. Estamos
todos morrendo de saudade. Aliás, tia Camila está nas nuvens, já
até decorou um quarto para você, Renzo e os trigêmeos ficarem.
— Ficaremos com meus pais, então. Meus cunhados e Gine
podem ficar na casa do Ethan. A Mary vai amar matar a saudade da
Glenda.
— Por falar nisso, como eles estão? Seus cunhados, Gine…
— Todos ótimos.
A linha ficou alguns segundos em silêncio, em seguida Bella
fez a pergunta que eu sabia que ela queria realmente fazer.
— E o safado do Gaetano, continua o mesmo?
— O mesminho: aquele que te faz suspirar mais do que o seu
quase futuro namorado.
— Não começa, Antonella. Gaetano é um prostituto. Nunca
daria certo entre nós.
— Você nunca me contou o que aconteceu entre vocês
naquele período que esteve aqui. Sempre que pergunto, você foge
do assunto.
— Talvez porque não tenha nada pra contar.
— Me engana que eu gosto, Bella Esposito. Quando eu
chegar aí na Sicília, você me contará os detalhes sórdidos da sua
temporada aqui na Calábria.
— Não sei do que você está falando.
Eu abri a boca para chamá-la de cínica, porém um chorinho
sentido me interrompeu.
— Tenho de desligar. Valentina acordou e está manhosa.
Preciso dar atenção a ela.
— Claro. Cuida bem dela. Um beijo a todos.
Desliguei a chamada e fui direto pegar minha filha no
bercinho. Assim que cheguei perto, notei seu rosto avermelhado e
coloquei a mão em sua pele, detectando uma quentura acima do
normal. Peguei-a em meus braços, nervosa, e seu choro incessante
acordou os meninos, que começaram a choramingar. Eu já ia sair do
quarto para chamar Gine quando ela entrou no cômodo.
— O que ela tem, filha? Não parece um choro comum — Gine
perguntou, postando-se ao lado dos bercinhos para entreter Enzo e
Lorenzo.
— Não sei. A pediatra disse que a única reação da vacina
seria dor local, mas ela está muito quente.
— Vou ligar pro Renz...
— Não, Gine. Ligarei para a pediatra primeiro. Deixa só eu
colocar a Valentina no peito para acalmá-la um pouco.
Sentei-me na cama, ofereci o seio para minha filha, que
berrava como nunca, todavia ela virou o rostinho, negando-se a
mamar. Isso nunca tinha acontecido. Nas outras vacinas que ela
tomou, nunca teve uma reação tão severa, então eu estava
começando a me apavorar.
Enquanto Gine ainda tentava acalmar os meninos, peguei
meu celular e disquei o número da doutora Vittoria, com os dedos
trêmulos.
Renzo

Algumas horas antes

Quando cheguei ao galpão, meus irmãos já tinham arrancado


a verdade dos soldados traidores: os bastardos roubaram a droga
para vender a traficantes locais, a um preço menor que o nosso. O
nível de amadorismo dos caras foi inacreditável, pois algo desse tipo
jamais passaria despercebido.
— Juro que tento agir com diplomacia com meus homens,
mas tem sempre um rato infiltrado querendo me foder. Pelo jeito,
meu aviso na cerimônia de iniciação não surtiu efeito. Vocês foram
burros o suficiente para me trair — falei aos soldados que estavam
sentados, amarrados e sangrando à minha frente; todos da última
remessa que contratamos. — Seria fácil demais sacar minha pistola,
agora, e dar um tiro em cada filho da puta que me traiu, mas
traidores não merecem uma morte fácil. Mais uma vez, usarei esses
merdas como exemplo para todos vocês. — Deslizei meu olhar
furioso sobre os outros homens que estavam me assistindo.
Aproximei-me do soldado que tinha encabeçado o roubo do
contêiner e minha mão foi direto para seu pescoço, apertando-o por
alguns segundos, antes de jogá-lo no chão, quebrando a porra da
cadeira na qual ele estava sentado. Mantive-o imóvel, pressionando
meu joelho contra seu peito, esganando-o.
A cada segundo, minha fúria aumentava, e meus dedos
apertavam sua garganta ainda mais forte, cortando a passagem de
oxigênio. Encarei-o, saboreando o pavor estampado em seus olhos
conforme o ar lhe faltava. Enquanto sua vida se esvaia, o homem se
debatia e tentava se soltar, já ficando roxo, porém eu era mais forte
e mais bem treinado.
Quando vi que o maldito estava prestes a perder a
consciência, aliviei a pressão dos meus dedos em volta do seu
pescoço, e ele tentou desesperadamente respirar, me encarando
com os olhos arregalados, exatamente como eu queria vê-lo. No
minuto seguinte, saquei minha pistola e pus fim ao seu sofrimento,
atirando em sua testa. Mais um traidor no inferno.
Eu estava guardando minha arma no coldre quando meu
celular tocou. Peguei-no no bolso e fiquei em estado de alerta ao ver
o nome de Antonella no visor, pois ela não costumava me ligar à toa.
— Alô.
— Renzo… — Sua voz chorosa me fez gelar.
— O que aconteceu? — Foi só o que saiu da porra da minha
garganta apertada.
— Valentina está queimando de febre e não para de chorar. A
doutora Vittoria já está vindo pra cá, mas achei melhor te avisar.
— Estou indo.
Desliguei o telefone, fazendo um esforço do caralho para
manter a calma. Meus irmãos me olharam, preocupados, todavia
não perguntaram nada.
— Preciso resolver outro assunto. Matem todos eles —
ordenei e saí do galpão às pressas; Gabriele me seguiu. Ao
entrarmos no carro, orientei meu soldado: — Para a minha casa, o
mais rápido possível.
Do andar de baixo, eu já ouvia os gritos da minha filha. Subi
a escada pulando de dois em dois degraus, desesperado, e quando
entrei no quarto, Antonella andava de um lado para o outro com
Valentina nos braços, enquanto Gine balançava o carrinho, tentando
acalmar os meninos.
— Renzo! Ainda bem que você chegou. — Minha mulher
correu para mim, com um olhar angustiado.
— Há quanto tempo ela está assim? — perguntei, aflito.
— Há algum tempo já. Está com 39°C. Eu não queria me
desesperar e te preocupar, mas a doutora Vittoria ainda não chegou
e...
— Calma. Eu estou aqui. Ela ficará bem. Crianças às vezes
têm febre, é normal. Glenda me deu vários sustos como esse e
nunca foram nada sério.
Pus a mão na testa da Valentina, constatando que realmente
estava muito quente e molinha. Na mesma hora, senti uma pontada
no peito, e o pavor me dominou. As palavras que usei para acalmar
minha esposa não foram capazes de me consolar.
— Não vamos esperar a pediatra. Melhor levá-la à emergência
agora mes…
Antes que eu terminasse de falar, ouvimos uma batida na
porta, e Vittoria entrou, acompanhada por Gabriele.
— Desculpem a demora. Eu estava entrando em um plantão
num hospital distante daqui.
— Ela está com muita febre e não quis mamar. O que minha
filha tem? — Antonella perguntou, aflita.
— Vamos descobrir agora. Deite-a na cama, por favor.
Antonella fez o que a médica pediu, em seguida a mulher
tirou a roupa da Valentina, deixando-a apenas com a fralda. Ela
examinou atentamente o local em que aplicou a vacina mais cedo,
em seguida auscultou o peito, explorou os ouvidos e a garganta da
minha filha.
— Não há sinal de infecção, então, provavelmente é reação à
vacina.
— A senhora disse que a reação era apenas dor local, por isso
fiquei desesperada — Antonella comentou.
— E mantenho minhas orientações. É raro ocorrer a febre,
mas cada criança reage de uma maneira. Como nem a garganta
nem os ouvidos estão infeccionados, e o pulmão está limpinho, não
há necessidade de antibiótico, só o uso do antitérmico mesmo.
— Sempre achei que febre fosse sinal de infecção.
— E é. Contudo, quando o antígeno é liberado no organismo,
as reações são semelhantes às de uma inflamação no local e, em
alguns casos, o corpo reage elevando a temperatura. É normal — a
pediatra nos tranquilizou. — Vista a roupa nela, mãezinha. Vou
preparar o medicamento.
— Quanto tempo dura essa reação? — perguntei, enquanto
Antonella vestia nossa filha e a pegava no colo.
— Entre 24 e, no máximo, 48 horas. Acredito que amanhã
essa princesa já esteja bem — a mulher respondeu, fazendo um
carinho na cabeça da minha filha. — Darei dipirona líquida, e a febre
cederá rapidamente.
A médica pegou o medicamento em sua maleta e se
aproximou da Valentina. A menina parecia mais calma no colo da
mãe, porém, quando a médica pingou as gotas do remédio em sua
boca, voltou a berrar com força total, fazendo careta. Porra, aquilo
partiu meu coração.
— Veja se ela mama um pouco, para aliviar essa tensão —
Vittoria aconselhou.
Imediatamente, Antonella ajeitou nossa filha em seus braços
e ofereceu o seio. Valentina o sugou com voracidade, acalmando-se
um pouco.
— Graças a Deus! Antes, nem o peito ela quis.
— Não há o que temer. Logo, a febre chata passará e ela
ficará ótima. Ficarei aqui até o medicamento fazer efeito e a febre
ceder.
Minha esposa agradeceu à médica, e eu também fiquei
aliviado. Aquele era o primeiro susto que nossa filha nos dava e,
definitivamente, eu não estava pronto para essa porra.

Doutora Vittoria foi embora uma hora depois, quando


Valentina já estava completamente sem febre e adormecida no peito
da mãe. Depois de colocá-la no berço, minha esposa amamentou os
meninos, que àquela altura estavam no meu colo e no da Gine,
ansiosos esperando sua vez de comer.
Eles estavam bem, apenas esfomeados, então ajudei minha
mulher a acomodá-los um em cada seio, pois nenhum dos dois
queria esperar muito tempo.
Minha admiração por Antonella aumentava a cada dia. Ela
parecia exausta, depois do susto que nossa filha nos deu, contudo
permanecia firme, alimentando nossa cria, aninhando-a com seu
amor maternal; mesmo cansada, esperou pacientemente até que os
dois estivessem satisfeitos. Eu os coloquei para arrotar e, depois de
ter certeza de que dormiam profundamente, cuidei da minha esposa
durante o nosso banho.
Ao pegar meu celular, antes de dormir, vi que havia dezenas
de notificações indicando mensagens de Rocco e Gaetano
perguntando pela sobrinha. Eles não jantaram conosco naquela
noite, pois, ao saírem do galpão, foram para a Acadie. Ambos
tentaram me ligar mais cedo, porém eu estava ocupado com as
crianças e não atendi. Então, ligaram para Gine, que explicou a
situação.
Minha cabeça estava explodindo. Era sempre uma aflição
quando Glenda tomava suas vacinas, por isso achei que não me
abalaria tanto, devido à certa experiência que adquiri no assunto.
Entretanto, a sensação no meu peito parecia pior em relação ao
sofrimento dos meus filhos.
Na época da minha irmã, eu era mais jovem e encarava
situações como aquela com mais tranquilidade. Contudo, com a
chegada dos trigêmeos, tornei-me um neurótico.
Respondi rapidamente aos meus irmãos, dizendo que os
bebês estavam bem e perguntei se eles tinham finalizado a missão
sem nenhum contratempo. Quando a resposta positiva chegou,
larguei o celular na mesa de cabeceira, deitei e puxei Antonella para
meus braços. Finalmente, este dia de merda acabou.
Capítulo 5

Antonella
Fazia um frio cortante quando desembarcamos no aeroporto
de Palermo naquela manhã de dezembro, então Renzo ajeitou o
cobertor dos nossos filhos, antes de sairmos da aeronave; ele
carregava os meninos no bebê conforto, enquanto Gaetano levava
Valentina.
Depois de recebermos rápidos abraços, as crianças foram
tiradas deles pelos meus pais e pela Glenda, que nos aguardavam
com uma frota de soldados da Cosa Nostra, visto que Noah avisou
que não precisaríamos levar nenhum da Ndrangheta. Como era
época de Natal, Renzo também liberou Gabriele e Antonio para
comemorarem com suas famílias.
Um tempo depois, fomos recebidos no complexo com um
farto café da manhã organizado pela vó Lili e vô Enzo; meus irmãos,
tio Inácio, tia Nina, Bella, Vito, Vincenzo, Sophia e os filhos também
estavam presentes. Foi uma bagunça.
Valentina e Lorenzo se adaptaram bem à confusão, pois eram
sociáveis como eu. Contudo, Enzo, que era ranzinza igual ao pai, não
parou de resmungar, certamente incomodado por passar de colo em
colo.
Eu me sentia tão feliz por estar perto da minha família que
era impossível parar de sorrir. Vez ou outra, percebia Renzo me
olhando com ares de riso, admirado com minha alegria.
Meus cunhados engataram em um papo animado com os
meninos, porém, em várias ocasiões, flagrei Gaetano olhando para
Bella que, na maioria das vezes, retribuía o olhar. Esses safados
acham que me enganam. A química entre os dois era perceptível.
Nathan não tem a menor chance, só falta Bella descobrir isso, e o
prostituto do meu cunhado se render.
Gaetano parecia enfeitiçado pelo canto da sereia sempre que
olhava para minha prima. Renzo se preocupava com esta situação,
principalmente tendo em vista que havia Nathan nesta equação.
Meu marido alegava que o irmão tinha um interesse doentio em
arrumar problemas, e eu sabia que ele tinha razão.
— Quero todos na Vanity esta noite — Edward falava, quando
me aproximei do grupinho no qual ele, Gael, Louis, Vito e Ethan
conversavam com meus cunhados.
Os outros homens estavam espalhados pela sala. Meu marido
conversava com Vincenzo e Theo num canto; meu pai estava
reunido com meu avô e tio Inácio em outro; minha mãe e nonna Lili
batiam um papo aparentemente engraçado com Glenda, Sophia,
Lunna, Beatrice, Gine e Bella há poucos metros dali.
— Você e Renzo também, Nella — Edward chamou minha
atenção. — Deixem os trigêmeos com a mamma e a nonna.
— O que terá de especial na Vanity hoje? — perguntei,
curiosa.

— A tradicional Prima di Natale[2]! — meu irmão exclamou,


animado. — Theo mandou fechar um camarote só para nossa família
e amigos, e todos os outros já estão esgotados.
— Estarei lá. Na Calábria, meu carrasco não me dá folga.
Aqui, quero extravasar essa porra de ano tenso do caralho —
Gaetano falou, mirando Bella. Dessa vez, ela o ignorou.
— Para de secar minha irmã, stronzo! — Vito cutucou meu
cunhado, assustando-o.
— Ai, caralho. — Gaetano colocou a mão no estômago
atingido, rindo, porém não se defendeu. Além de tudo, é descarado.
— Bella já emagreceu uns 5 kg desde que Gaetano chegou.
Pelo menos disfarça, cunhado, até porque minha prima tem
pretendente — Ethan provocou, e Gaetano fechou a cara.
— Vocês estão viajando. Não estou secando ninguém.
— Não sejam injustos, Gaetano não faria isso. Ele é um cara
discreto e odeia confusão — Rocco zoou o irmão.
— Cuidado, Gaetano. Nathan tem cara de bonzinho, mas
também é mafioso e está caidinho pela Bella — Gael pilhou a
conversa, e eu só fiquei observando as expressões do meu cunhado.
— Quero que aquele playboyzinho de merda se foda. Não
estou vendo nenhum anel no dedo da Bella — Gaetano respondeu,
irritado.
— Então, você está admitindo seu interesse? Será você o cara
que colocará o anel na Bella? — Louis inquiriu, segurando o riso.
— Não. Não será — Vito rebateu, antes que Gaetano pudesse
responder. — Quero a minha irmã bem longe desse galinha.
— Mas… talvez ela não queira ficar longe de mim, Vitinho.
— Vá se foder, cara. Fica longe da Bella! A menos que queira
entrar no páreo para casar com ela. — Dessa vez, Vito assumiu um
semblante sério.
— Se não sabe brincar, não brinca — Gaetano respondeu, se
esquivando.
— Foi o que imaginei. Com a Bella não tem brincadeira, então
fique longe da minha irmã — Vito falou, sério, mas o brilho no olhar
do Gaetano demonstrou que ele adorou o desafio.
Naquele momento, Raphaela, Julie, Maria Eduarda, Mia,
Brenda e Cecília me chamaram para contar alguma coisa, e eu me
afastei da conversa dos meninos.
Apesar de não ser domingo, o almoço foi na casa do tio
Matheo. Meus filhos continuavam sendo a atração, vindo para o meu
colo apenas nas horas de mamar. O falatório dos tradicionais
almoços dos Espositos continuava o mesmo, e isso foi reconfortante
para mim. As crianças corriam por todos os cantos, enquanto os
adultos se reuniam em volta da grande mesa. Como senti saudade
daquilo.
Eu já havia me acostumado com a Calábria; gostava da minha
vida lá, amava meu marido, nossa casa e nossa vida, mas ali, no
complexo, sempre seria o lugar onde eu também me sentiria
totalmente em casa.

— Quero ir à boate com os meninos — falei, entre um beijo e


outro, confiante de que, naquele momento, Renzo diria sim a tudo.
— Claro que quer — ele respondeu, enquanto beijava meu
pescoço e apertava minha bunda, puxando-me mais para si e me
esfregando em seu pau duro.
Estávamos em um raro momento a sós, no quarto que meus
pais reservaram para nós. Depois de mamar, os trigêmeos ficaram
no andar de baixo com os avós, os tios, e as primas, Isa e Alice.
Nossas sobrinhas não queriam desgrudar dos bebês; estavam
apaixonadas por cada um deles. Isa Raphaela, por exemplo, mal
sabia andar, mas queria segurar os priminhos no colo. Fofa.
— E você vai comigo! Ou… posso ir com meus primos.
— Nem fodendo, Antonella Bellini. Só se eu estivesse morto
pra permitir que você fosse sozinha a uma boate — ele resmungou,
antes de mordiscar meu queixo.
— Então, vamos tomar banho para aplacar esse fogo, e
depois que você me proporcionar alguns orgasmos, nos arrumamos.
Puxei-o para o banheiro e passamos pela porta tirando a
roupa, nos beijando e esbarrando nas paredes. Certamente, seria
um banho demorado.
Renzo

Quando chegamos à boate, o camarote reservado à nossa


família estava lotado. Meus irmãos foram conosco; Edward, Louis,
Gael, Vito, Ethan e Glenda já estavam lá; e Antonella disse que Bella
chegaria, em poucos minutos, acompanhada do Nathan. Esta notícia
não me agradou em porra nenhuma, porque eu não acreditava que
aquele cara realmente havia perdido o interesse na minha mulher, e
também porque eu conhecia bem meu irmão caçula. Se algo
realmente aconteceu entre Bella e Gaetano na Calábria, ele não
reagirá bem ao vê-la com outro.
Ainda que meu irmão não estivesse interessado em um
compromisso sério com a garota, era nítido que estava balançado
por ela. Quando visse os dois juntos, sua possessividade tornaria as
coisas perigosas naquele camarote.
Saí dos meus pensamentos apenas quando nos aproximamos
do bar, e Glenda pulou nos meus braços. Era incrível como o cheiro
familiar da minha irmã sempre me acalmava.
— Que bom te ver aqui! Só a santa Antonella para conseguir
arrastar Renzo Belline pra night — ela disse, sorridente, quando nos
afastamos.
— Essa santa conseguiu muitos milagres desde sua aparição,
baixinha — Rocco entrou na brincadeira, puxando nossa irmã para
um abraço.
— Nem acredito que vocês três estão aqui. Minha felicidade
fica completinha quando vocês vêm pra Sicília — Glenda
comemorou, em seguida puxou o braço de Gaetano, que estava de
costas para nós cumprimentando os caras. — Você não vai dar
atenção à sua irmã, desalmado?
— Claro que vou, bruxinha. Minha atenção sempre será sua.
Você é e sempre será a mulher da minha vida. Estava apenas
zoando seu marido, pra não perder o costume — nosso irmão se
defendeu.
— Deixa meu marido em paz, seu implicante. — Glenda
apertou a bochecha do Gaetano.
— Porra, Glenda! Aí não! Se continuar apertando minha
bochecha desse jeito, arruinará minha reputação de mafioso
perigoso.
— Deixa de ser bobo. Estamos entre família aqui.
— Estou vendo uma porrada de gente que não é da família —
Gaetano rebateu.
— São todos conhecidos dos meninos, selecionados a dedo, e
não nossos inimigos. A família Esposito é muito seletiva. Não se
preocupe.
Eu conversava com meus irmãos, mas continuava de olho na
minha esposa, que cumprimentava seus familiares. Então, quando
um cara desconhecido se aproximou deles, fui imediatamente até lá.
O cara estava prestes a puxar Antonella, para cumprimentá-la
com um beijo, quando cheguei e segurei na cintura da minha
mulher. Naturalmente, ela se virou para falar comigo e deixou o cara
no vácuo.
— Amor, esse é Gabriel — minha esposa o apresentou, e eu
acenei para o moleque. — Gabriel, este é meu marido, Renzo Bellini.
— Acho que me lembro de você. Eu estava muito bêbado,
mas tenho quase certeza de que foi você quem apareceu do nada
no meu aniversário e arrastou Antonella da festa — o cara falou,
rindo, e minha mulher o acompanhou. Eu, claro, não achei a menor
graça.
— Foi ele mesmo. Na época, éramos noivos. Ele tinha
acabado de chegar da Calábria, e nós tínhamos muito o que
conversar — Antonella explicou.
— Renzo, vai beber o quê? — Edward nos interrompeu.
— Uísque. Puro.
— E você, Nella?
— Um coquetel de frutas. Enquanto eu estiver amamentando,
nada de álcool.
Edward chamou o barman e fez nossos pedidos, em seguida
engatou num papo com Gabriel. Cumprimentei os outros e, logo
depois, voltei minha atenção novamente para Antonella.
— Mande uma mensagem pra sua mãe, para saber se as
crianças estão bem — falei baixo, para que só ela ouvisse.
— Além da minha mãe e da minha vó, Gine está lá; os bebês
estão acostumados com a Mary, então não vão estranhar. Deixei
leite suficiente nas mamadeiras e, se qualquer coisa acontecer, elas
certamente irão nos ligar. Relaxa, amor.
— Vou tentar.

Estávamos no bar, tomando nossas bebidas e conversando,


quando notei Gaetano ficar tenso ao meu lado. Acompanhei seu
olhar e, logo, entendi aquela reação: Bella havia entrado no
camarote de mãos dadas com Nathan. Porra!
Uma expressão sombria preencheu o rosto do meu irmão e,
quando ele ameaçou sair de perto de mim, segurei seu braço com
firmeza.
— Se controle, porra. — A autoridade na minha voz o parou,
mas o brilho perigoso em seu olhar me dizia que eu não conseguiria
segurá-lo por muito tempo. — Coloque a cabeça no lugar, caralho.
Ela está com ele.
Pela primeira vez, meu irmão desviou o olhar deles para mim.
— Mas não é dele.
— Nem sua! Então, a menos que pretenda pedir a menina em
casamento, deixe-a em paz.
— Não sou mais um moleque, Renzo. Sei me cuidar sozinho.
— Eu te conheço, Gaetano. Estou tentando te livrar de um
problema.
— Não se esforce tanto. Eu gosto de problemas — ele falou,
na maior cara de pau.
— Por acaso, seu passatempo favorito é me irritar?
— É o que faço de melhor, irmão. Esse é meu maior talento.
— Embora sua entonação demonstrasse certo divertimento, eu sabia
que aquela noite poderia acabar mal, se eu não conseguisse detê-lo.
Gaetano era impetuoso, de temperamento forte,
esquentado… E, pelo que demonstrava, era possessivo. Se Nathan
tivesse o mesmo temperamento do meu irmão, aquela situação
poderia terminar em um banho de sangue.
— Gaetano, olha para mim — ordenei, mas ele me ignorou;
seus olhos continuavam vidrados em Bella e Nathan
cumprimentando as pessoas. — Olha pra mim, caralho. — Minha voz
soou inflexível, e eu consegui sua atenção de volta. — Se quer essa
menina, você pode conversar com ela ainda esta noite e, se for de
comum acordo, conversaremos com Inácio para vocês noivarem e se
casarem. Caso contrário, se esse não for seu interesse, repetirei pela
última vez, afaste-se e deixa-a viver a vida.
Apesar de estar olhando para mim, Gaetano não parecia dar
ouvidos ao meu conselho. Então, voltei a falar.
— Nathan está levando Bella a sério. Pelo que eu soube, está
cheio de boas intenções, com planos de casar com ela. — O rosto do
meu irmão se contorceu por um momento, antes de ele se controlar
outra vez. — Se suas intenções não são compatíveis com as dele,
afaste-se de uma vez por todas! Não avisarei de novo.
Ele finalmente pareceu sair do transe e respirou fundo,
nitidamente contrariado.
— Relaxe, Renzo. Está tudo sob controle. Se ela o quer, que
assim seja.

Depois de cumprimentar os conhecidos, Bella e o carinha


caminharam em nossa direção. Sem fazer questão de disfarçar e
agindo de forma imatura, Gaetano deu as costas aos dois e foi
conversar com Louis e Gabriel, que estavam um pouco mais
afastados. Melhor assim!
— Boa noite! — Bella e Nathan falaram em uníssono, e nós
respondemos.
— Vocês demoraram — Antonella reclamou.
— Passamos primeiro no hotel em que Nathan está
hospedado com a família, porque os pais dele queriam me ver —
Bella respondeu, naturalmente. Pelo visto, a porra é séria.
— Bebe alguma coisa, Nathan? — Edward ofereceu.
— Não, obrigado. Estou dirigindo.
— Está sem seu soldado? — Vito inquiriu, insatisfeito.
— Esta noite, sim. Mas fique tranquilo, protegerei sua irmã.
De qualquer maneira, seu pai colocou um carro com o soldado dela
e mais um para nos escoltar — Nathan contou, com ares de riso.
— Seu Inácio é sempre exagerado — Bella comentou,
revirando os olhos.
— Precavido — Vito a corrigiu.
Embora eu não confiasse ou simpatizasse com Nathan, tinha
que admitir que o cara era decente e aparentava ter bom caráter. Ele
parecia à vontade entre os Espositos, e se os caras gostavam dele,
era um sinal positivo.
As meninas ficaram ao nosso lado, conversando entre si, e
nós fizemos o mesmo, falando sobre assuntos aleatórios; Rocco se
juntou a Gaetano e os outros caras, e os quatro se mantiveram
afastados.
As horas foram passando e, depois de muita insistência
minha, Antonella ligou para mãe. Após constatarmos que as crianças
estavam bem, concordei em ficar mais um pouco.
As meninas se afastaram um pouco para dançar, e nós
continuamos conversando no bar do camarote. Naquele momento,
flagrei Gaetano olhando para Bella, indiscretamente. Nathan só não
notaria se fosse cego; no entanto, o rapaz não comentou nem
demonstrou ter notado.
Meu irmão estava mais bêbado do que costumava ficar, e
aquilo não me agradou. Entretanto, eu não podia andar atrás dele
como uma babá.
Certa hora, vi Bella se dirigindo ao toalete que ficava ali
mesmo no camarote, e o stronzo do Gaetano foi atrás dela. Porra!
Olhei para os lados, avaliando se seria mais prudente ir atrás dos
dois ou distrair Nathan e, incerto de que fazia a coisa certa, optei
pela segunda opção. Talvez seja bom os dois conversarem, assim
Bella dá, logo, um fora naquele inconsequente.
Gaetano

Entrei no banheiro feminino e tranquei a porta atrás de mim.


Bella se olhava no espelho e arregalou os olhos ao me ver pelo
reflexo.
— Ficou louco? Saia já daqui! — ela exclamou, virando-se
para mim, mas sua voz não soou convincente.
— Tem certeza de que quer que eu saia? Na Calábria, você
me queria por perto. Aliás, bem perto.
— A Calábria ficou no passado, Gaetano! Esse foi o
combinado entre nós, esqueceu? Não tem porquê você agir dessa
maneira agora. Passou. Já foi.
— Pra mim, não passou. Eu ainda te quero! — fui enfático,
porque tudo o que eu mais queria era beijá-la; minhas mãos
coçaram para tocá-la.
Bella era a morena mais perturbadoramente linda que eu já
tinha visto, e isso acabava com o pouco de juízo que eu tinha. Se
era que eu tinha algum.
— Querer não é poder! — ela debochou. — Você deixou claro
que não poderia me oferecer o pacote completo, e eu aceitei seus
termos, porque queria o mesmo. Nós curtimos, nos divertimos, eu
voltei pra Sicília… Agora, estou vivendo minha vida, cumprindo
nosso combinado. Faça o mesmo.
Ela parecia decidida, pois sequer titubeou para falar; estava
indiferente a mim e, por algum motivo, essa porra me incomodou.
— O que está acontecendo entre você e aquele merdinha? —
inquiri.
— Não fale assim do Nathan! — ela me repreendeu, num tom
firme. Vê-la defendendo aquele maldito me irritou mais do que
qualquer outra coisa.
— Sei que você não gosta dele. — Dei um passo à frente, e
ela deu um passo para trás, encostando-se na pia.
— Você não sabe nada sobre mim, Gaetano.
— Eu sei do que você gosta. — Encostei meu corpo no dela,
agarrando sua cintura, e ela não me repeliu. Vi o exato momento em
que os pelos de seus braços se arrepiaram ao meu toque. — Ele
também mexe com você desse jeito?
Bella não respondeu. Aparentemente, ela estava tão
necessitada daquele contato quanto eu.
— Dúvido! — falei, esfregando nossos narizes, e ela fechou os
olhos, permitindo-se amolecer em meus braços. — Aquele filhinho
de papai nunca conseguirá te satisfazer como eu te satisfaço. Não
adianta lutar. Você é minha.
Minhas palavras foram um gatilho para ela reagir. Quando eu
ajustei o rosto para beijá-la, ela empurrou meu peito com força, nos
afastando.
— Não sou sua! — Ela me encarou, com o nariz empinado e o
dedo em riste. — Não sou de ninguém! E me respeite! Tenho
compromisso com outra pessoa, e ele não merece isso. Nathan é um
cara decente e está disposto a me oferecer tudo o que uma mulher
merece. Então, fique longe de mim, seu babaca.
— Acha mesmo que, quando ele souber o que aconteceu
entre nós, continuará sendo esse cara decente? — debochei.
— Acho!
— Acorda, Bella! Nenhum cara aceita uma porra dessa. Seu
santinho do pau oco explodirá ao descobrir que você não é tão pura
quanto ele pensa!
Surpreendi-me com o tapa repentino e estalado que levei no
rosto; certamente, ele deixou minha bochecha vermelha. Porra! Ela
é tão delicada e, ao mesmo tempo, tem uma força admirável.
— Cala a boca, seu idiota! Nathan jamais explodiria comigo,
porque não é machista como você. Lave sua boca pra falar dele.
— Se ele sequer gritar com você, eu o mato! — falei, mais
sério do que em qualquer outro momento.
— Não preciso da sua proteção, Gaetano. Me esqueça e vá
viver a porra da sua vida, porque farei o mesmo.
Com o rosto vermelho de raiva, ela saiu do banheiro e me
deixou para trás, confuso pra caralho. Mesmo depois de alguns
minutos após sua saída, eu continuei sem entender que caralho
tinha acabado de acontecer ali.
Renzo

Bella saiu do banheiro como um foguete, aparentemente


irritada, e em vez de vir até nós, onde Nathan permanecia entretido
em um papo com Ethan e Gael, foi até minha irmã e Antonella.
Gaetano saiu poucos minutos depois, e eu não consegui identificar,
através de sua expressão, como a conversa tinha sido para ele.
Vito e Rocco conversavam com três mulheres e, quando
Gaetano chegou, foi apresentado a uma delas; a menina se mostrou
interessada. Dali em diante, eu dividi minha atenção entre Antonella
e meu irmão rebelde.
A garota fazia de tudo para chamar a atenção do Gaetano,
mas eu o conhecia o suficiente para saber que ele não estava
interessado. Meu irmão não parava de encarar Bella e ignorar a
menina, entretanto, quando Nathan se aproximou da prima da
minha mulher, segurou sua cintura e cheirou seu cabelo, o
adolescente idiota que eu tinha em casa puxou a loira pela cintura e
a beijou.
Bella viu, porém virou o rosto, ignorou os dois e continuou
conversando com o namorado. Também me aproximei das meninas
e abracei Antonella por trás.
— Nós já vamos embora. Vocês vão ficar? — Bella anunciou.
— Acho que também já podemos ir — concordei, olhando
para minha mulher.
— Sim. Meus peitos estão cheios de leite; meus bebês devem
estar sentindo minha falta — Antonella falou.
— Vou chamar Ethan também. Não gosto de deixar Isa muito
tempo sem um de nós dois — Glenda anunciou.
Minutos depois, despedimo-nos dos solteiros que esticariam a
noite e saímos da boate. Com Bella indo conosco, eu fiquei
sossegado em deixar Gaetano para trás. No dia seguinte, teríamos
uma conversa séria.
Capítulo 6

Renzo
Quando chegamos à casa dos meus sogros, subi para ver
meus filhos, e Antonella ficou no andar de baixo para comer alguma
coisa. Entrei silenciosamente no quarto em que eles estavam,
observei-os dormindo serenamente em seus bercinhos e só então
respirei aliviado. Para mim, aquela imagem traduzia a paz; nada era
capaz de acalmar tanto o meu coração quanto ver minha família em
segurança.
Desliguei a babá eletrônica para que, quando eles
acordassem, não incomodassem minha sogra e ajeitei a coberta dos
meninos. Quando me aproximei do bercinho da Valentina, ela sorria
em seu sono. Minha filha era perfeita, tão delicada e preciosa quanto
a mãe.
Nunca pensei que pudesse amar tanto o sorriso de alguém
quanto amava o da Antonella, porém o sorriso dos meus filhos me
trazia a mesma sensação de realização. Vê-los sorrir era meu
objetivo na vida, e eu os protegeria até meu último suspiro.
Quando minha esposa entrou no quarto, eu ainda admirava
os trigêmeos. Ela se juntou a mim e, assim como eu, observou-os
com adoração.
— Ainda me pergunto como fomos capazes de fabricar
tamanha perfeição — ela sussurrou e me abraçou por trás, deitando
a cabeça em minhas costas.
Desde que chegamos à Sicília, minha mulher demonstrou
estar mais feliz e radiante do que sempre foi. Vê-la assim me fazia
um bem do caralho.
— Não me admira em nada, já que você é perfeita.
— Acho os três parecidos com você.
— Lorenzo tem traços seus — comentei, rindo.
— Quase nada. Fui salva por um nariz e uma boca. Quanta
humilhação! Pari essas crianças na garra, sem anestesia, e nem se
parecem comigo. A vida é injusta demais. — Eu ri e me virei para
ela.
— A vida não é mesmo nada justa, mi amore. Nunca é. Mas
prometo tentar tornar o mundo um lugar melhor para você e nossos
filhos viverem.
Antonella sorriu e me beijou. Só pela maneira como sua boca
procurou a minha, eu soube que ela estava com tesão.
— Venha! — Ela me puxou pela jaqueta de couro, até
entrarmos no banheiro. — Vamos tomar um banho pra apagar esse
fogo.
Quando fechei a porta atrás de nós, minha mulher me
encarou e começou a se despir sedutoramente. Antonella era a
criatura com mais sex appeal que existia na Terra. Era
humanamente impossível resistir a ela, por isso eu era tão
possessivo.
Ela tirou o sutiã, e eu parei de babar e comecei a tirar minha
roupa também. Quando ela tirou a calcinha, eu já estava nu e louco
de tesão, então puxei-a pela cintura e beijei sua boca com
possessividade.
Ela gemeu e arranhou minhas costas, esfregando a boceta
melada em mim. Afoito, agarrei-a pela cintura, sentei-a na bancada
da pia, abri suas pernas e me ajoelhei no meio delas, com o rosto
bem de frente para sua boceta deliciosa. Passei a língua por toda a
sua extensão, e ela gemeu baixinho, segurou meus cabelos e elevou
os quadris, me oferecendo mais.
Enquanto a lambia, enfiei um dedo nela e senti seu corpo
estremecer. A safada levantou as pernas e apoiou os pés na
bancada, arreganhando-se mais para mim. Segurei em seus quadris,
fartei-me com a carne melada e a penetrei com o segundo dedo,
sentindo seu corpo ondular, delirante. Dediquei minha atenção ao
nervo sensível, movimentando a ponta da minha língua ali, enquanto
a fodia com os dedos.
— Aaaaa — ela gemeu, rouca, esfregando-se na minha cara e
resmungando palavras desconexas, enquanto eu sugava sua boceta
alagada pelo gozo.
Nos seus últimos espasmos, levantei-me e beijei sua boca,
engolindo seus gemidos, antes que acordasse as crianças.
— Sua vez — ela disse, com cara de safada, ao cessar nosso
beijo.
Antonella me encostou na bancada, se ajoelhou à minha
frente e, sem desviar seus olhos dos meus, sugou meu pau com
avidez. Porra! Joguei a cabeça para trás, controlando meu ímpeto de
debruçar seu corpo sobre aquela bancada e fodê-la com brutalidade.
A boca dela era o paraíso, mas sua boceta era meu oásis, e eu
queria me fartar nela.
Deixei que ela me sugasse até eu quase gozar, depois puxei-a
para cima e virei-a de costas para mim. Já estava pronto para me
enterrar nela quando fui surpreendido por suas palavras:
— Hoje, eu quero só na bunda. — A voz melosa e sedutora
que ela usou para proferir aquelas palavras devassas quase me fez
gozar.
— Caralho! Você quer me enlouquecer. Assim você me mata
de tesão e me deixa maluco, Antonella. — Meu pau inchou, pulsou e
ficou melado, ansioso por aquele cu gostoso.
— Cala boca e fode, logo, a sua putinha.
Antes que eu gozasse na porra da mão, lambuzei meu pau
nos fluidos dela, guiei-o até o buraquinho delicioso da minha mulher
e penetrei vagarosamente. Por mais que ela adorasse sexo anal, se
eu entrasse de uma vez só, poderia machucá-la.
Nem precisei pedir que ela relaxasse; tão viciada em anal
quanto eu, Antonella soube o que fazer. Ela relaxou e, logo, eu
estava totalmente dentro. Segurei em sua cintura e estoquei, de
início devagar, até ela se acostumar com as investidas. Pelo reflexo
do espelho, eu conseguia ver sua expressão de êxtase: a boca
entreaberta emitindo gemidos baixos, os olhos revirados de prazer, e
a pele, suada e vermelha. Ela gostava de ser fodida na bunda e,
caralho, eu amava comer o cu dela. Essa mulher nasceu pra mim!
Quando Antonella rebolou no meu pau, percebi que estava
pronta, então levei uma mão ao seu seio, acariciando-os, estimulei
seu clitóris com a outra e intensifiquei as estocadas em seu cu.
— Goza, safada. Goza, enquanto eu como seu rabo. —
Minhas palavras sacanas sempre eram afrodisíacas para ela.
Quando seu corpo convulsionou, eu soube que o orgasmo
estava chegando, e ela não conseguiria se conter. Imediatamente,
tirei a mão do seu seio e tapei sua boca, para que não acordasse os
bebês. Num timing perfeito, ela se libertou entre gemidos abafados.
Ainda socando em sua bunda, observei atentamente seu
rosto no espelho, admirando-a se desmanchando de prazer. Foi a
cena mais excitante e erótica que já vi. Impossibilitado de me
segurar, esporrei forte, enchendo seu cu com a minha porra, e fiz
uma força sobrehumana para não urrar de êxtase.
Depois dos orgasmos potentes, tomamos um banho rápido e
caímos na cama, exauridos.
No dia seguinte, após o café da manhã, fui até a casa da
Glenda, pois tinha um assunto sério para resolver.
— Bom dia — minha irmã disse, sorridente, e me abraçou.
— Bom dia, baixinha. — Apertei-a em meus braços e beijei
sua testa.
— Entra! — Ela me puxou para dentro, ainda vestida em um
pijama e com cara de sono, até chegarmos à sala de jantar onde
estavam Ethan, Gine e Isa. — Veio tomar café conosco?
— Não. Já comi. Obrigado — respondi, em seguida
cumprimentei Gine e Ethan com um bom-dia.
— Titio — Isa me chamou, empolgada. Ela estava sentada em
sua cadeira de alimentação, então fui até lá e beijei sua cabeça
cheirosa.
— Oi, principessa. Você está cada dia mais linda, sabia? —
elogiei, e ela sorriu.
— E a cada dia mais parecida comigo. Se isso foi um elogio
para mim, obrigado, cunhado. Você também é arrumadinho — Ethan
brincou.
— Até hoje, me pergunto como é possível a Isa ser tão linda
e, ao mesmo tempo, tão parecida com um pai feio.
— Papa monito — Isa defendeu, me olhando com cara feia.
— Isso mesmo, filha. Papai é lindo igual a você — Ethan
falou, orgulhoso.
— Igal eu — ela repetiu, e eu fui obrigado a deixar passar.
Beijei outra vez sua cabeça e me dirigi novamente à minha
irmã.
— Onde está o irresponsável do seu irmão caçula?
— Dormindo. Nem vi a hora que ele chegou.
— Vou acordá-lo. Preciso falar com ele — avisei, e Glenda
assentiu.
Subi até o quarto em que Gaetano sempre ficava quando
íamos à Sicília. Felizmente, a porta estava destrancada. Entrei de
qualquer jeito, fazendo um pouco de barulho propositalmente, e ele
deu um pulo e se sentou na cama.
— Porra, Renzo! Quer me matar de susto já de manhã,
caralho?
Ignorando seu resmungo, peguei o controle das cortinas na
mesa de cabeceira e abri todas elas, deixando a luz entrar.
— Fecha essa porra. Estou com uma dor de cabeça do
caralho.
— Foda-se! Você adora me provocar dores de cabeça, então
estamos quites.
— O que fiz dessa vez, carrasco?
— Posso te dar uma lista. — Sentei-me na poltrona, de frente
para a cama. — Que tal começarmos falando sobre a maneira
descarada como você ficou olhando para Bella, sendo que ela estava
acompanhada? Correu o risco do cara ver e, com razão, arrumar um
problema.
— Quero que aquele merda vá se foder!
— É ele que está com ela, porra. Não você! — falei, sério, e vi
o olhar do Gaetano escurecer de raiva. Sem me importar em
provocá-lo, continuei: — Insatisfeito, você foi atrás dela no banheiro
e, para fechar com chave de ouro, usou a garota que estava
interessada em você para provocar ciúme na Bella, agindo como um
adolescente imbecil. Está bom pra você ou quer mais?
— Será que você pode me deixar acordar direito, antes de me
bombardear com críticas? Fui dormir quase de manhã, caralho! —
ele reclamou, esfregando o rosto.
— Foi dormir quase de manhã fazendo merda; fodendo a
garota que não tinha nada a ver com essa história, desrespeitando-a
e usando-a como estepe.
— Eu não fodi ninguém, Renzo. Dispensei a menina assim
que vocês saíram e fiquei bebendo com seus cunhados. Admito que
fui um idiota. Mas não sei o que me deu, cara — ele falou, um pouco
mais calmo, em seguida se levantou.
— Caralho! Vá logo vestir um short, Gaetano. Não sou
obrigado a ter essa visão do inferno. Porra! Era só o que me faltava.
O bastardo riu e caminhou calmamente em direção ao closet,
sem vergonha alguma. Minutos depois, voltou vestido.
— Sei que você ficou impressionado com o tamanho, mas não
tenho culpa de ser acima da média. Além disso, ninguém mandou
você invadir meu quarto. Eu durmo pelado, porra.
— Você sequer trancou a porta, bastardo. E se fosse a Isa?
— Ah, caralho, esqueci. Fui um idiota outra vez. Mas… em
minha defesa… eu estava muito bêbado e não estou acostumado a
ter crianças em casa.
— Pare de usar a bebida pra justificar suas merdas. Você está
acostumado a beber.
— Não como ontem.
— Espero que não tenha voltado pra cá dirigindo.
— Claro que não, porra. Acha mesmo que sou tão
irresponsável?
— Quer mesmo que eu responda?
— Óbvio que não. — Ele riu, com a cara mais descarada do
mundo. Meu irmão não tinha jeito. — Alguns soldados nos
trouxeram. Nenhum de nós estava em condições de dirigir.
— Menos mal.
Gaetano foi para o banheiro e, após alguns minutos, voltou
com uma cara melhor.
— Realmente, não sei o que aconteceu comigo ontem. Bella é
irresistível pra caralho, irmão. Quem pode me culpar?
— Eu posso! Quer a garota? Então, assuma seu interesse.
Converse com ela, depois com Inácio... Ainda dá tempo, porque eles
estão se conhecendo; Nathan não fez um pedido oficial de noivado.
Se vocês se sentem atraídos um pelo outro, cheguem a um acordo.
Se bem que… Depois da merda que você fez ontem, beijando a loira
na frente de todo mundo, nem sei se Bella vai querer olhar na sua
cara.
— Você acha que ela também está atraída por mim? — meu
irmão perguntou, com cara de idiota, como se aquilo fosse a única
coisa importante dentre todas as que falei.
— Acho, Gaetano. Mas ela parece ter uma personalidade
forte. Você terá que fazer as coisas direito se quiser conquistá-la.
— Ela me deu um tapa na cara, quando estávamos no
banheiro — ele contou, com ares de riso, como se fosse uma coisa
boa. Preferi ignorar e focar no que era sério.
— Se Bella aceitou ser cortejada pelo Nathan é porque se
sente pronta para assumir um compromisso. Então, se você a quer,
terá de oferecer o mesmo que ele.
— Namorar, noivar e casar? — Gaetano inquiriu, como se eu
tivesse dito algo absurdo.
— Exatamente isso!
— Não, muito obrigado. Não estou pronto pra isso, Renzo. É
um passo muito grande. Não quero casar nem tão cedo. Rocco é o
próximo, e eu não vou furar fila.
— Deixa de ser idiota. Essas coisas, a gente não escolhe,
aparecem na nossa vida. Se você não tomar uma atitude agora,
Bella se casará com Nathan, e aí será tarde demais para reivindicá-
la.
— Ela não fará isso. Conversamos sobre isso na Calábria, e
ela também disse que não pensava em se casar tão cedo.
— Talvez, o que aconteceu na Calábria tenha mudado o
pensamento dela.
— Como assim?
— É difícil construir uma lógica quando não sei o que
exatamente aconteceu entre vocês, Gaetano, mas sei que vocês não
fizeram promessas um ao outro e, muito menos, firmaram um
compromisso, já que ambos seguiram suas vidas depois que ela
voltou pra Sicília. — Meu irmão me olhou atentamente, como se
estivesse ávido por respostas, tentando entender a própria vida. —
As mulheres pensam diferente de nós, cara. Talvez ela tenha se
arrependido, se sentido usada e, por isso, decidiu mudar de postura
e encontrar um cara que a valorize. Então, escute meu conselho: se
quer aquela menina, sua única chance é assumir um compromisso
com ela agora. Amanhã pode ser tarde demais.
— Não me imagino casado, irmão. Bella é linda, gostosa,
inteligente… Mas, porra, não estou pronto para dedicar o resto da
minha vida a uma mulher só — ele disse, sem tanta convicção, mas
não o alertei em relação a isso. Ele aprenderá com os próprios erros.
— Olhe pra mim, sou um cara casado e feliz pra caralho. Você
deveria me usar como exemplo e perder esse medo, mas se não
quer, não vou insistir. Só tenha consciência de que terá de aguentar
as consequências das suas escolhas. Outra coisa, você está proibido
de importunar Bella e, principalmente, provocar Nathan. Respeite o
relacionamento dos dois. Isso é a porra de uma ordem!
Gaetano não respondeu, pois sabia que não havia espaço
para discussão. No entanto, seu olhar deixava claro que não me
obedeceria. Seria uma confusão do caralho, e todos sabiam disso,
exceto meu irmão idiota.
Bella

— Bom dia, princesa — meu pai me cumprimentou, com


carinho, quando cheguei à mesa para o café da manhã.
Só estavam ele e minha mãe; Vito devia estar dormindo
ainda, pois nem vi a hora que chegou.
— Bom dia, papa. Bom dia, mamma
— Que carinha é essa? — dona Nina perguntou.
— Estou com dor de cabeça.
— Você bebeu? — meu pai inquiriu, insatisfeito. Às vezes, seu
Inácio achava que eu ainda era uma criança.
— Não, pai. Só dormi pouco.
— Tem certeza? Nathan foi bom pra você?
— Nathan foi um cavalheiro, como sempre muito gentil e
educado.
— Pena que não é desses que a gente gosta — minha mãe
resmungou, em seguida fingiu tossir. Sonsa.
— O quê, Nina?
— Não falei nada, marido. Está louco?
Meu pai a encarou, sério, mas eu ri. Minha mãe é uma figura.
Após o café da manhã, fui à casa da Sophia para ver meus
sobrinhos. No caminho até lá, escutei uma voz familiar chamar meu
nome, e meu coração idiota acelerou. Porra! Não acredito que ele
ainda terá a cara de pau de falar comigo. Cachorro!
— Bella, espera! Preciso falar com você.
Parei e olhei para trás a tempo de ver Gaetano andando
rápido na minha direção. Merda! Precisava ser tão bonito e…
ordinário?
— O que você quer? — falei, com firmeza, quando ele chegou
perto.
— Me desculpar por ontem à noite.
Automaticamente, a imagem dele beijando aquela loira no
camarote da boate veio à minha mente e me deixou com mais raiva.
— Por qual das babaquices você quer se desculpar?
— Pela forma como falei com você no banheiro. Fui um idiota
machista e mereci aquele tapa.
— Claro que mereceu. — Suspirei, desarmando-me um pouco
diante de sua humildade. — Está tudo bem, Gaetano. Esquece.
Vamos fingir que nada daquilo aconteceu e seguir em frente. Somos
bons nisso.
— Por que você está tão irritada?
Seus olhos azuis me analisaram, como se ele fosse capaz de
sugar até minha alma. Meu estômago se contorceu, e meus pelos se
eriçaram quando ele chegou mais perto, e seu cheiro de macho
gostoso invadiu minhas narinas.
— Porque você existe! — esbravejei, forçando-me a lembrar
do babaca que ele tinha sido na noite anterior, e ergui outra vez
minhas barreiras, dando um passo para trás e mantendo uma
distância segura.
— Acho que essa irritação toda quer dizer outra coisa…
— A autoestima do homem era para ser engarrafada e
vendida a preço de ouro. Você se acha demais, Gaetano Bellini —
ironizei, e ele manteve o sorrisinho cafajeste até ouvir minhas
próximas palavras. — Nós somos tão diferentes. Enquanto você
usava aquela pobre coitada, ontem, só para me provocar, eu
realmente estava seguindo em frente, feliz com minha escolha.
— Aquele babaca não tem nada a ver com você — ele falou,
entredentes, com a expressão fechada. — Ele não te merece.
— E quem merece? Você?
— Eu... Eu não sei o que dizer. Também não sou o cara certo
pra você, mas estou confuso. Quando penso naquele cara tocando
em você, fico… enfurecido. Mas não posso, Bella. Me desculpe.
— Não estou te pedindo nada, Gaetano. Pelo contrário, deixei
você e tudo o que vivemos para trás. Estou seguindo com a minha
vida.
— Não fale assim, porra! Já admiti que estou confuso. Não sei
o...
— Você não está confuso nem indeciso, porque quando um
homem quer uma mulher, ele vai até o inferno por ela; tenho vários
exemplos ao meu redor. O que você quer é me seduzir, me cozinhar
para me possuir na hora que bem entender até quando for
conveniente. Mas eu não sou esse tipo de mulher. Você me teve
casualmente, porque eu também te quis. Agora, não te quero mais.
Sem esperar que ele respondesse, virei as costas e saí, mal
conseguindo respirar, nervosa, trêmula e com muita raiva de como
aquele babaca me desestabilizava.
Cheguei à porta da casa da Sophia bufando, então parei para
respirar profundamente durante algum tempo, antes de tocar a
campainha. Contudo, como se pressentisse minha presença, a
terrorista abriu a porta e me flagrou.
— O que está fazendo aí parada? — Ela quase me matou de
susto. — Que cara é essa?
— Não é nada. Eu já ia tocar a campainha.
— Pra cima de mim, Bella? Claro que aconteceu alguma coisa.
Quero saber tudo. Venha. — Sophia me puxou para dentro.
— Depois conversaremos. Meu irmão deve estar em casa, e
eu...
— Vincenzo foi para a academia. Podemos fofocar à vontade.
— Ela abriu caminho, e eu entrei na sala.
Bombom e Ayla assistiam ao desenho, enquanto Dante estava
sonolento no carrinho próximo a eles.
— Crianças, vejam quem chegou! — Sophia exclamou, e eu
corri para abraçar meus sobrinhos. Perto deles, era impossível ficar
irritada.
Dei atenção às crianças, sob o olhar afiado da minha
cunhada, que demonstrava estar se coçando para saber a fofoca que
eu tinha para contar.
— Bella, venha me ajudar a fazer a mamadeira do Dante —
minha cunhada me chamou, sonsa, pegando o carrinho do filho. —
Anthony, fique aí quietinho com a sua irmã. Qualquer coisa, chame a
mamãe na cozinha — ela orientou o filho, já saindo do cômodo, e eu
a segui, sabendo que não teria como escapar daquela conversa. —
Fala logo, garota. Essa cara só pode significar duas coisas:
frustração com o soca-fofo ou tesão encubado pelo soca-forte.
— Você não vai fazer a mamadeira do bebê? — Tentei desviar
sua atenção.
De todas as primas, eu era a que tinha maior dificuldade em
me abrir. As meninas contavam tudo umas às outras, mas eu não
conseguia. Minha mãe dizia que eu era fechada como meu pai, já
que ela era a maior língua solta. E não tinha a ver com desconfiança
nelas, e sim com um conflito interno que me impedia de falar sobre
meus sentimentos mais íntimos. No entanto, Sophia sempre
conseguia arrancar as coisas de mim.
— Dante mamou quase agora, eu só menti porque queria
saber da fofoca — ela admitiu, na maior cara de pau. — Anda, Bella,
desenvolve.
— Em primeiro lugar, quem é o forte e quem é o fofo?
— Óbvio que o fofo é Nathan, e o forte, eu diria até
fortíssimo, é o Gaetano. — Eu ri.
— Você não presta, Sophia. Coitado do Nathan. Nem dá pra
saber se ele é fofo, porque nunca rolou nada além de beijos entre
nós.
— Já que você não negou, quer dizer que Gaetano já fez jus
à fama. Você experimentou, né, safada? — Ela estreitou os olhos
para mim, ávida pela confirmação.
— Eu não disse isso. É que o cachorro do Gaetano tem cara
de soca-forte. Não dá pra negar.
— Meu amor, os Bellinis são o trio soca-forte, conheço de
longe. Nella já confirmou que a linguiça calabresa é superpicante e
soca-fortíssimo.
— Deixa meu irmão te ouvir falando assim — brinquei.
— Ele nunca ouvirá e, se você contar, negarei até a morte. Ele
sabe que é o soca-forte master que cutuca até meu útero. Não tem
motivo para sentir ciúme.
— Mas sente e muito!
— Pare de fugir do assunto, Bella.
— Esbarrei com Gaetano no caminho pra cá, e ele… Merda!
Ele meio que me desestabiliza e me irrita na mesma proporção.
— Todos os homens gostosos são irritantes. Mas, por que
vocês não aproveitam a estada dele aqui para se divertir um pouco,
já que a tensão sexual entre vocês dá para ser sentida de longe?
— Estou com Nathan, Sophia.
— Me poupe, Bella. Você só deu uns beijinhos no soca-fofo, e
isso é fácil de reverter. Qual é o problema com Gaetano? Não me
diga que ele é traumatizado igual ao Renzo?
— Não, é só safado e mulherengo mesmo. Ele até vivenciou
as mesmas coisas que o irmão e ficou com a cabeça meio ferrada,
mas nada como o Renzo. Ele me falou sobre isso uma vez.
— Hummm. Isso tem cara de conversa de travesseiro.
— Nós conversamos bastante quando eu estive na Calábria.
— Esquivei-me, sem confirmar ou negar nada.
— Então, você não quer ficar com Gaetano, porque ele é
mulherengo?
— Claro! Ele é um cafajeste declarado, Sophia. Não quer nada
sério, só curtição, e eu já passei dessa fase. Talvez seja bom ter
alguém com quem dividir a vida. — Minha voz soou triste.
Justamente aquele canalha que me fez ter essa
conscientização. O que vivemos na Calábria foi tão bom que me fez
desejar mais daquela rotina; me fez querer ir além. Pena que ele era
a pessoa errada.
— Eu olho pra vocês, todas casadas e felizes, e sinto vontade
de ter isso também.
— Estamos todas casadas com homens mulherengos, Bella.
Nenhum deles escapa, um é pior que o outro. Meu irmão, por
exemplo, era um cafajeste de carteirinha, mas se transformou num
paizão apaixonadinho. Cesare é outro; bad boy e safado assumido,
mas mata e morre pela Julie e pela Luísa. Temos o dedo podre, mas,
no final, dá tudo certo.
— Gaetano é pior do que todos. Ele já deixou claro sua
aversão por relacionamentos sérios. De qualquer maneira, estou
gostando de ficar com Nathan.
— Sei. — Minha cunhada estreitou os olhos outra vez. — Com
aquela cara de bonzinho, é arriscado você dormir durante o sexo
oral.
— Sophia! — repreendi. — Você é impossível.
— Só falo verdades, mas se você quer pagar pra ver... — Ela
levantou as mãos em sinal de rendição. — Você e Gaetano só estão
adiando o inevitável, meu amor. Mais pra frente, você me dará
razão.
— Ou não. Agora, chega desse assunto. — Fui até o carrinho
onde Dante começava a resmungar, querendo atenção, e o peguei.
— Este, sim, é um homem que vale a pena.
Beijei a bochecha gordinha do meu sobrinho, e meu dia se
iluminou ao ser presenteada com seu sorriso sem dentes.
Capítulo 7

Antonella
Naquela noite, aconteceria a festa de Natal da Cosa Nostra, e
tínhamos marcado um dia no SPA para cuidar de nós. Isso me fez
acordar superanimada, pois fazia tempo que eu não curtia um dia
assim com minhas tias e primas.
— Bom dia, meu pedacinho de estresse e arrogância —
cumprimentei meu marido, que ainda estava sonolento ao meu lado.
— Se acordou me xingando é porque está animada. — Renzo
entrou na brincadeira.
— Não te xinguei, marido. Essas são qualidades suas que eu
amo. Mas, sim, estou animada. Aliás, animadíssima!
— Posso saber por quê?
— Porque é dia de relaxar na companhia das minhas primas
e, mais tarde, teremos festa. Mesmo que eu não seja tão fã dos
eventos da famiglia, será ótimo sair um pouco.
— Eu tinha me esquecido dessa comemoração de hoje. Como
se não bastasse passar por essas merdas na Calábria, tenho que
frequentá-las aqui também — meu rei da rabugice resmungou.
— Deixa de ser ranzinza, Renzo. Ninguém mandou se casar
com uma mulher fora da Ndrangheta. Terá que aturar duas festas,
sim, e sem cara feia.
— Você devia ter vergonha de falar isso, sua descarada. Foi
você que me seduziu, ou melhor, praticamente me obrigou a casar.
— Dessa vez, ele me arrancou uma gargalhada.
— Só dei o que você já queria: motivos para se render.
Admita que, para um homem que não queria sentimentalismo, você
gamou rapidinho na morena aqui.
— Isso é impossível de negar, mi amore. Você foi minha
rendição. Eu te amo, minha rainha maluca.
Eu estava levantando para ir ao banheiro quando ele me
agarrou pela cintura, me jogou na cama e subiu em cima de mim, já
me beijando e se encaixando no meio das minhas pernas. Suas
mãos deslizaram sobre minha pele, e meu corpo reagiu
automaticamente àquele toque.
Seu pau duro pressionava minha vagina por cima da calcinha
de renda já melada, e a coisa começava a pegar fogo, quando fomos
interrompidos por um choro cheio de raiva. Era Enzo, que costumava
acordar faminto e mal-humorado.
— Sua miniatura acordou — brinquei, e meu marido saiu de
cima de mim, rolando seu corpo para o lado com um semblante
sofrido.
— Ele tem um timing perfeito. É impressionante!
— Pegue-o, por favor, enquanto faço xixi e escovo os dentes
— pedi, levantando da cama.
— Assim você me complica, meu filho. Papai precisa
desestressar. — Escutei Renzo falando ao Enzo, enquanto eu entrava
no banheiro rindo.
— Tem certeza de que dará conta dos trigêmeos com a ajuda
do meu pai e dos seus irmãos? — perguntei ao Renzo, quando
descíamos para tomar o café da manhã na casa dos meus pais.
— Desde que você tire o leite para eles, porque não posso te
substituir nisso, nós ficaremos bem. — Ele beijou a cabeça dos
meninos, que estavam em seu colo. Valentina estava comigo.
— Vou tirar com a bomba e deixar na geladeira.
— Então, tudo certo.

Estávamos reunidas e, como sempre, Bella — a última solteira


da nossa geração — era o assunto. Raphaela, Julie, Sophia e eu
fazíamos as unhas um pouco mais afastadas das outras, que
chegaram mais cedo e já recebiam cuidados na pele e no cabelo,
então tínhamos liberdade para fofocar à vontade, longe dos ouvidos
de nossas mães.
— Como estão as coisas com Nathan? — Julie puxou o
assunto.
— Muito bem. Iremos juntos à festa de hoje — Bella
respondeu.
— Gaetano também vai, não é, Nella? — Sophia perguntou.
— Sim. Por quê?
— Sei lá. Só fiquei pensando que seria interessante assistir a
algo emocionante esta noite. Um duelo entre Bellini e Lucchesi
certamente animará essa festa chata da máfia.
— Não viaja, Sophia. Estamos na Sicília, não no Velho Oeste
— Raphaela zombou.
— Duelo é uma maneira de dizer, engraçadinha.
— Não haverá duelo algum, terrorista. Não sou uma mocinha
indefesa que está sendo disputada — Bella ironizou.
— Depende do ponto de vista. Gaetano está bem incomodado
com esse seu relacionamento com Nathan. Naquele dia, lá na boate,
ele não parou de te olhar um minuto sequer, e Renzo me contou que
precisou contê-lo várias vezes — comentei.
— Aquele prostituto só está com o orgulho ferido, porque
antes eu suspirava por ele como uma tola e, agora, não mais —
Bella acusou.
— Por que você não o coloca contra a parede? Não
literalmente, embora eu imagine que você também queira fazer isso.
— Nós rimos. — Tome as rédeas da situação e diga: assume suas
vontades ou some, Gaetano, seu soca forte cafajeste gostoso! —
Sophia aconselhou, nos fazendo rir.
— Vocês podem conversar abertamente, como dois adultos
que são. Às vezes, o diálogo muda tudo — Julie se manifestou. —
Cesare e eu, por exemplo, quase nos perdemos por falta de
comunicação.
— Concordo. O diálogo é muito importante em qualquer
relacionamento. Se você o quiser e entender que ele também está
atraído por você, coloque as cartas na mesa — Raphaela ponderou,
sensata.
— Isso é um complô? O que aquele idiota ofereceu para
vocês tomarem partido dele desta maneira? — Bella disse, dramática
e divertida, porém, em seguida, sua voz soou magoada e firme ao
mesmo tempo. — Gaetano já teve a chance de acertar as coisas
entre nós, e não o fez. Ele é um homem adulto e perfeitamente
capaz de tomar suas próprias atitudes. Não tenho que encostá-lo na
parede, não preciso disso. E não é orgulho, é amor próprio!
Eu não sabia exatamente o que havia acontecido entre os
dois, contudo, de alguma maneira, estava evidente que meu
cunhado magoou minha prima.
— Não vou pedir que ele olhe para nós, que pense na nossa
situação ou que me trate como mereço. Não vou pedir que se
desculpe pelas atitudes equivocadas e, muito menos, que assuma
um compromisso comigo. Se eu precisar pedir, não quero mais.
Todas nós ficamos em silêncio, porque Bella estava certa.
Essa era a forma como tínhamos sido criadas, reconhecendo nosso
valor inestimável.
— Vamos mudar de assunto — Julie sugeriu, e nós
concordamos. — Qual a cor do vestido de vocês?
— Vermelho, como sempre — Sophia declarou.
— O meu será azul royal — Rapha contou.
— E o meu, dourado — Julie falou.
— Ainda estou na dúvida, então vocês só saberão na hora —
comentei.
— Também ainda não escolhi o meu — Bella completou.
Renzo

— Opa, o que foi isso? — Gaetano exclamou, me olhando,


chocado. Ele estava sentado em uma poltrona, de frente para mim,
com Lorenzo no colo.
— Isso o quê? — perguntei, preocupado, não identificando
nada de errado.
— Acho que seu filho me confundiu com um vaso sanitário. É
melhor você pegá-lo para...
— Está com nojo do meu filho, Gaet...
— Cacete! Isso foi uma rajada. Ele vai me sujar todo, Renzo.
Toma. Pega logo. — Meu irmão suspendeu o sobrinho enquanto
examinava a própria calça à procura de algum vestígio. Eu ri. — O
que vocês dão pra esse menino comer? Vá trocá-lo, rápido. Deixe o
Enzo comigo. — Eu ri ainda mais. — Pare de rir e troque de bebê
comigo.
— Fique sabendo que Enzo também está fazendo as
necessidades. Estou apenas esperando ele terminar para limpá-lo.
— Que porra é essa? Até o cocô deles é sincronizado? —
Gaetano exclamou.
— Eles costumam mamar juntos, então é normal que façam
mais ou menos na mesma hora.
— Não sei como você consegue ficar tão calmo diante… disso.
— Não tenho nojo dos meus filhos, stronzo — repreendi. —
Eles são apenas saudáveis. Só Valentina que é um pouco constipada,
tadinha.
— Por isso que seu sogro escolheu ficar com ela.
— Não seja idiota. Lorenzo teve cinco filhos, tenho certeza de
que um pouco de cocô não o intimida.
— Um pouco? É por isso que dizem que o amor é cego. Deus
me livre! — meu irmão resmungou. — Você não faz ideia da
revolução que está acontecendo na fralda deste bebê. Estou
realmente assustado. Acho que ele tem algum problema. Sério.
Tive que rir outra vez. Todo esse desespero por causa do
cocô de um bebê?
— Não seja exagerado, Gaetano.
— Não é exagero, Renzo. Esse moleque parece um vulcão em
erupção. Sem contar que o fedor… Porra! Achei que ele só bebesse o
leite da Antonella, mas minha cunhada é tão cheirosa… Não faz
sentido esse odor terrível que está saindo desse moleque.
— Andou cheirando minha mulher, bastardo?
— O que foi? — Lorenzo entrou na sala com Valentina no colo
e olhou diretamente para a cara de pavor do meu irmão.
— Graças a Deus! — Gaetano levantou, afobado, e esticou os
braços, oferecendo meu filho ao avô. — Tome. Vamos trocar de
bebê.
— Segure meu filho direito, porra. Pare de frescura — chamei
sua atenção.
— Por que esse desespero? — meu sogro inquiriu, ainda sem
entender.
— Ele está se cagando e vai me atingir — meu irmão
respondeu, com cara de nojo.
— E por que você não entrega ao pai dele? Já limpei tanta
merda de bebê que atingi minha cota.
— Enzo está cagando também. Eles são sintonizados. Deve
ser essa coisa de gêmeos — Gaetano anunciou, ainda empurrando
meu filho em direção ao avô. — Por favor, Lorenzo, me dê minha
princesinha.
— Mas é um fresco mesmo. — Meu sogro riu, antes de fazer
a vontade do meu irmão. — Quero ver quando for pai. Esse nojo
acabará rapidinho.
— Não serei pai por, pelo menos, dez anos. Então, não há
necessidade de passar por isso agora. Até lá, talvez eu conquiste um
pouco da serenidade de vocês. — Gaetano cheirou a cabeça da
sobrinha. — Com você, o titio está seguro. Você é uma daminha,
não faz essas coisas.
Enquanto Lorenzo e eu cuidávamos dos meninos no quarto,
Gaetano ficou com Valentina na sala. Rocco estava ajudando Ethan
nos cuidados com a Isa.

Estávamos entrando pela tarde, e as mulheres ainda não


tinham retornado do SPA. Antonella já é perfeita, não tem nada pra
melhorar. Por que tanta demora?
Depois de um tempo, Ethan, Isa e Rocco se juntaram a nós
na casa do meu sogro. Meus cunhados, que tinham saído para
resolver alguma coisa, também chegaram naquele momento.
— Vou esquentar o leite. Fiquem de olho neles, por favor —
pedi e fui à cozinha.
Pus as mamadeiras na água quente, até que ficassem na
temperatura adequada, e voltei para a sala. Enzo já resmungava,
faminto.
— Deixa eu te ajudar — Gaetano se ofereceu, pegando um
dos recipientes.
— Melhor não, Renzo. Ele vai entalar a criança — Edward
zombou.
— Fique sabendo que tenho experiência nesse quesito. Já dei
muitas mamadeiras à Glenda.
— Agora é o Ethan quem dá — Gael debochou.
— Vá se foder, bastardo. — Olhei-o de cara feia, assim como
Rocco e Gaetano, mas fomos ignorados.
— Respeita a minha esposa, babaca. — Ethan deu um tapa
de leve na cabeça do primo.
— Quer dar a mamadeira, mas quase morreu na hora de lidar
com o cocô — Lorenzo zoou.
— Cocô é covardia. Alice também caga fedido pra caralho —
Louis comentou.
— E a Luisa? Uma vez, ela quase matou o Cesare. Tinha
merda até no rosto dele. Foi uma cena horrível — Edward comentou,
com cara de nojo. — Parece que eles fazem de propósito. Com as
mães, é uma coisinha de nada; com o pai, arregaça a fralda. — O
idiota nos fez rir.
— Por isso que não quero ser pai tão cedo — Rocco admitiu.
— Muito menos eu — Gaetano concordou.
— A hora de todos vocês chegará! — Lorenzo falou, rindo.
— E vocês verão o quanto é maravilhoso — Ethan declarou.
— Acho que nasci para ser apenas tio — Louis rebateu.
— Os que falam assim são os que mais têm filhos —
comentei. — Eu achava que nunca me casaria e seria pai, mas tive
logo trigêmeos. E isso é culpa da genética da família de vocês, então
se preparem.

As meninas chegaram no fim da tarde, quando eu já tinha


dado banho nos bebês com a ajuda do meu sogro. Antonella estava
maravilhosa, porém nada diferente da maneira como a enxergava
antes.
Eu me arrumei primeiro e, enquanto minha mulher se
arrumava, vesti as crianças com as roupas que ela separou e desci
com eles para esperá-la na sala.
— Você está linda com esse vestido de princesa que a mamãe
escolheu pra você, il mio piccolo[3] — falei à minha filha.
Valentina estava no meu colo, enquanto os meninos estavam
no carrinho. Ela se derreteu em sorrisos para mim, depois agarrou
minha gravata e tentou puxá-la em direção à boca. Tão perfeita que
me lembra um anjo.
Beijei a cabecinha cheirosa da minha filha, enquanto sua
mãozinha ágil tentava, sem sucesso, arrancar minha gravata.
— Será que elas ainda vão demorar? — Lorenzo perguntou,
se referindo às nossas mulheres.
Eu estava prestes a respondê-lo, todavia Antonella surgiu na
escada e todos os pensamentos lógicos desapareceram da minha
mente. Ela usava um vestido verde-esmeralda, longo, que ondulava
em volta de suas pernas e deixava suas curvas marcadas; o modelo
era trançado no pescoço, então deixava seus ombros à mostra. Os
seios fartos de leite eram um espetáculo à parte, delineados por um
decote que poderia ser menor ao meu ver. Seus cabelos brilhantes
caíam em cascata, emoldurando o rosto perfeito.
Minha mulher estava majestosa e elegante, fazendo jus à
rainha que eu a considerava. A rainha da Ndrangheta. Minha rainha
maluca.
Levantei-me, ainda com Valentina nos braços, e fui ao
encontro da Antonella.
— Minha princesa. — Olhei para nossa filha, em seguida
encarei minha esposa — E minha rainha. Você está maravilhosa, mi
amore.
Diante do elogio, o sorriso dela iluminou todo o ambiente.
— Você também está lindo, marido — ela retribuiu a
exaltação, ajeitando a gravata borboleta que Valentina havia
bagunçado minutos antes, depois me deu um selinho.
Caminhamos até onde estava o carrinho com os meninos, e
Lorenzo levantou a barriguinha, sorrindo para a mãe e pedindo colo.
Os dois bebês vestiam calça, blusa e suspensório. Meus pequenos
mafiosos.
— Não direi que você está linda, porque isso sempre foi. Você
está… espetacular, filha — meu sogro elogiou a filha, antes de pegar
Enzo no colo; meu filho já começava a resmungar, solicitando
atenção. Enquanto Lorenzo pedia colo sorrindo, meu filho mais velho
chorava.
Ouvimos barulho de salto e, ao olharmos na direção da
escada, vimos Camila se aproximando.

— Mia dea[4]! — meu sogro elogiou a esposa, com olhos


brilhantes. — Vamos. Estamos atrasados.
Vestimos nossos sobretudos, envolvemos os bebês com uma
manta grossa e saímos de casa. Antonella e eu fomos em um carro
com os trigêmeos e dois soldados, e meus sogros, em outro. A
maioria da família já tinha ido na frente.
O salão era o mesmo no qual comemoramos o Réveillon no
ano anterior, quando eu estava prestes a me casar com Antonella.
Quem diria que, um ano depois, estaríamos de volta e carregando
nossas crianças nos braços.
Arrumamos os trigêmeos no carrinho triplo e seguimos para a
entrada do salão. Como sempre, os paparazzi conversavam com
Vittorio e Raphaela, mas alguns tiravam fotos dos que chegavam,
inclusive nós. Felizmente, o carrinho impedia que vissem o rosto dos
bebês. De qualquer maneira, nós não paramos, pois não queríamos
expor as crianças.
Dentro do salão, o hostess recolheu nossos agasalhos e nos
encaminhou à mesa da família. Lorenzo e Camila entraram logo
atrás de nós. Puxei a cadeira para Antonella sentar, sentei-me ao seu
lado e acomodei o carrinho, que ocupava bastante espaço, próximo
a mim.
Nossa mesa era grande e localizada bem no centro do salão.
Rocco e Gaetano se sentaram próximos a Glenda, Gine, Isa e Ethan.
Noah havia se acomodado em uma das cabeceiras e, na outra,
estava Matheo Esposito.
Pouco tempo depois de me acomodar, notei que Gaetano
parecia puto. Procurei o provável motivo daquele mau humor e
avistei-a sentada ao lado do Nathan, à mesa dos pais dele. Além
deles, havia um rapaz que eu não conhecia; devia ser parente deles,
devido à semelhança com Nathan, mas não era irmão, pois Lucchesi
só possuía um filho.
De tempos em tempos, meu irmão caçula encarava Bella
como um falcão. Enquanto isso, Rocco não tirava os olhos do celular,
estampando um semblante de irritação. Ultimamente, todo o meu
tempo livre era dedicado à minha esposa e meus filhos, porém, em
breve, eu teria uma conversa séria com os dois, pois sentia que, de
alguma maneira, ambos estavam perdidos.
As festas da famiglia eram sempre iguais: uma sucessão de
cumprimentos exigidos pelo protocolo da máfia e interações com
pessoas com quem eu não tinha qualquer interesse em socializar. As
comemorações da Cosa Nostra eram ainda maiores do que as da
Ndrangheta, visto que envolviam os afiliados, então exigiu mais
paciência da minha parte.
Em determinado momento, deixamos os bebês com Gine e
Camila para dar uma circulada pelo salão. Enquanto passávamos, os
pescoços viravam discretamente em nossa direção e alguns olhares
lascivos secavam Antonella, algo que me irritou pra caralho.
— Vamos falar com Bella. — Minha mulher me puxou na
direção da mesa dos Lucchesis e, ao chegarmos lá, sua prima e o
namorado se levantaram para nos cumprimentar.
— Renzo e Antonella, que prazer revê-los — Nathaniel foi o
primeiro a falar conosco.
— Como vai, Lucchesi?
Apertei a mão do homem de forma sucinta, pois não era
muito fã dele; o cara era forçado e oportunista, visivelmente doido
para ter uma das Espositos como nora. Em seguida, apertei a mão
de sua esposa, do Nathan e da Bella. Antonella fez o mesmo, porém,
no momento de cumprimentar a prima, abraçou-a.
— Estou ótimo, principalmente agora que meu filho e essa
linda moça estão se entendendo — Nathaniel declarou, com um
sorriso tão grande que achei que fosse me engolir. Sua indiscrição foi
tamanha que deixou Bella e Nathan constrangidos.
— Antonella Esposito, há quanto tempo! — Uma voz
masculina, animada demais, chamou nossa atenção. Era o cara que
estava sentado na mesa do Lucchesi anteriormente.
— Dylan? Meu Deus, muito tempo mesmo! — Antonella abriu
um sorriso para o bastardo, e eu odiei aquela porra.
O cara segurou a mão dela por mais tempo do que deveria e
a beijou, enquanto eu o fuzilava com o olhar, sem disfarçar.
— Este é Renzo Bellini, meu marido. Renzo, esse é Dylan,
primo do Nathan.
— Como vai? — O homem apertou minha mão rapidamente.
— Vou bem — respondi, seco.
— Pelo sumiço, você não está mais morando na Sicília. — Ele
voltou a atenção para minha mulher, me ignorando.
— Agora, moro na Calábria. Meu marido é o capo da
Ndrangheta.
— Já ouvi falar. — Ele me olhou e, dessa vez, se dirigiu a
mim. — Eu conhecia Leonardo, seu primo. Aliás, sinto muito pela
sua perda.
— Não sinta. Leonardo pediu pra morrer. Toda ação gera uma
reação.
— Claro.
— Sentem conosco — Nathaniel convidou.
— Não, obrigado. Vamos dar uma circulada por aí —
respondi, seco. — Com licença.
— Até logo — Antonella se despediu, simpática.
— Vou com vocês — Bella falou, rapidamente, postando-se ao
lado da prima.
— Eu te acompanho — Nathan fez menção de se aproximar.
— Não precisa. Fique com sua família. Ficarei um pouco com
minhas primas, depois voltarei pra cá — a garota o dispensou, o
cara assentiu, e nós saímos dali.
Circulamos pelo salão por mais um tempo, parando para falar
com algumas famílias. Bella nos acompanhou, porém, apesar de
demonstrar simpatia e educação com todos, parecia incomodada
com algo. Então, resolvi dar um pouco de privacidade às duas.
Talvez ela queira se abrir com a prima.
— Me esperem aqui. Vou ao banheiro e já volto.
As duas assentiram, e eu me afastei, indo realmente ao
banheiro. Quando entrei no cômodo, estava vazio; dirigi-me a uma
das cabines e, logo, ouvi passos e vozes.
— Caralho! Antonella está absurdamente gostosa. Você viu
aqueles peitos perfeitos. Porra! Quase salivei.
Senti meu sangue ferver diante daquelas palavras.
Desgraçado!
— Pare com essa porra, cara. A menina é casada. Se não
quiser morrer, é melhor respeitar a mulher dos outros.
— Até tentei disfarçar, mas aqueles peitos me chamavam.
Estão bem maiores do que quando a conheci. E, porra, eu amo
peitos! — o bastardo exclamou, com ares de riso.
Eu já estava explodindo de raiva dentro do reservado, mas
me controlei para ver até onde aquele filho da puta iria.
— Ela deu à luz há pouco tempo, por isso está assim —
Nathan explicou. — Esquece aquela mulher, Dylan. Ela é casada com
o capo da Ndrangheta, porra.
— Você foi um stronzo por deixá-la escapar — o maldito
ignorou o conselho do primo. — Se eu estivesse mais perto, não a
largaria.
— Não rolou, cara. Além do mais, estou realmente satisfeito
com a Bella. As duas são igualmente lindas e inteligentes.
— Mas Antonella tem cara de safada. A gostosa deve adorar
pau e ser a maior puta na cama.
Ouvir aquilo fez minha ira me cegar. Praticamente arrebentei
a porta da cabine e voei no infeliz, encurralando-o na parede; o cara
nem teve tempo de reagir. Dylan foi ficando cada vez mais vermelho,
enquanto eu apertava seu pescoço com força.
— Calma, Renzo. Ele é um babaca, mas não falou por mal —
Nathan tentou intermediar uma pacificação, mas eu não queria
conversar, queria sangue.
— Eu vou te matar por ter desrespeitado minha esposa, seu
filho da puta! — esbravejei, apertando ainda mais meus dedos em
volta da garganta do desgraçado.
— Renzo, se acalme. Prometo que Dylan irá embora assim
que você o soltar. Não estrague a festa da sua família — Nathan
falou, com cautela, sem se aproximar muito.
Enquanto o babaca ficava roxo em minhas mãos, meu desejo
de vingança me consumia. Eu queria esganá-lo até a morte, mas
isso me daria certa dor de cabeça, além de afetar o Noah, já que o
imbecil era um aliado. Pensando nas consequências, afrouxei o
aperto em seu pescoço e o desencostei da parede, em seguida meu
punho voou em seu rosto, quebrando seu nariz.
O bastardo caiu no chão, com o rosto sangrando e meio
desnorteado. Aproximei-me dele, e o covarde se encolheu.
— Eu deveria cortar sua língua por falar da minha mulher de
forma tão desrespeitosa.
O olhar apavorado do maldito só aumentava minha sede de
sangue. Meu lado perverso e violento se aflorava em qualquer
situação que envolvesse Antonella, meus filhos ou meus irmãos.
— Nunca mais toque no nome da minha mulher, muito menos
chegue perto dela, ou eu te matarei, desgraçado. Você só não
morrerá hoje em consideração à festa do Don. — Chutei seu
estômago, vendo, com prazer, o bastardo se encolher. Em seguida,
olhei para Nathan. — Leve-o para bem longe. Não quero mais ver a
cara desse infeliz.
Luccheci assentiu, visivelmente contrariado, e eu saí da porra
do banheiro. Do lado de fora, antes de voltar para perto da minha
mulher, respirei fundo, tentando acalmar meu ímpeto de voltar lá e
matar o filho da puta.
Antonella

— Por que está com essa cara? — perguntei à Bella, assim


que Renzo se afastou de nós.
— É o pai do Nathan, Nella. Lucchesi é meio… ganancioso.
Ele me cansa, às vezes, porque parece estar desesperado para ver o
filho comigo. Fica puxando o saco e tal. Estou sem paciência esta
noite.
— Então, por que não senta conosco, em vez de ficar na
mesa deles?
— Porque Nathan ia querer sentar lá comigo, e não quero ver
Gaetano provocando-o a noite toda.
— Se você e Nathan realmente se casarem, em algum
momento aqueles dois ficarão no mesmo ambiente. Não terá jeito.
— Casar? Não estou pensando nisso agora, Nella. Às vezes,
nem sei o que estou fazendo. Estou confusa, precisando de mais
tempo para decidir o que quero para o meu futuro.
— Você não é obrigada a nada, Bella. Gaste o tempo que
precisar e, se a companhia do Nathan não estiver mais te
agradando, pule fora e pronto.
— Não é tão simples assim. Eu gosto da companhia dele,
mas… acho que ele está em um ritmo diferente do meu. Diferente
dele, não quero atropelar as coisas.
— Então, vá no seu ritmo. Tenho muita coisa pra te dizer
sobre isso, mas não é a melhor hora nem lugar. Conversaremos
outra hora.
Bella assentiu, e nós passamos a falar sobre temas mais leves
e aleatórios.
Minutos se passaram e nada do Renzo voltar. Estranhei a
demora, porque ele evitava ao máximo se afastar de mim. Quando
meu marido apareceu no meu campo de visão, eu automaticamente
soube que havia alguma coisa muito errada.
Capítulo 8

Antonella
— O que aconteceu? — perguntei, assim que Renzo parou ao
meu lado.
Meu marido respirou fundo e passou a mão no rosto,
visivelmente alterado. Assustei-me ao ver que os nós de seus dedos
estavam levemente esfolados.
— O que é isso na sua mão? Não me diga que bateu em
alguém. — Embora eu soubesse que seu silêncio era uma tentativa
de evitar explodir de vez, me irritei mesmo assim. — Renzo, estou
falando com você — falei, um pouco mais ríspida.
— Me dê um minuto, Antonella — ele respondeu,
entredentes, e eu me calei. Bella nos olhava sem entender nada.
A respiração do Renzo estava pesada, e eu conhecia aquele
fogo que ardia em seus olhos. Era raiva. Estávamos em um canto
mais afastado do salão, perto da área externa; felizmente, não havia
ninguém por ali.
— Escutei aquele filho da puta do Dylan se referindo a você
de forma obscena enquanto conversava com Nathan no banheiro.
Estou fazendo um esforço tremendo para não mandar a prudência
pra casa do caralho e matá-lo agora mesmo — ele nos explicou,
depois de alguns minutos.
— Nathan também falava da Nella? — Bella perguntou,
espantada.
— Não, mas também não demonstrou indignação com as
merdas que o primo disse, apenas o aconselhou a parar com o
assunto, pois Antonella era casada.
— Aí vocês brigaram no banheiro — constatei, apontando
para as juntas de seus dedos.
— Não. Eu acabei com ele; soquei a cara do maldito e quebrei
seu nariz. Agora, ele já deve estar indo embora. Nathan prometeu
que, se eu não o matasse, o tiraria da festa.
— Renzo, olhe pra mim. — Segurei seu rosto com as duas
mãos. — Dylan é só mais um babaca machista e cafajeste como
muitos na máfia. Tenha calma.
— Calma? Não me peça isso, Antonella. O bastardo falou da
mulher errada, falou da minha mulher, porra!
— Eu sei, mas você já quebrou o nariz empinado dele. Ele já
teve o que mereceu e pronto, não vale a pena alimentar essa raiva.
Respire fundo e se acalme. Já passou. Ele já foi. — Dei um selinho
no meu marido, na tentativa de melhorar seu humor. — Vamos
continuar curtindo a nossa festa.
Agarrei a mão dele e da Bella e os puxei para o centro do
salão, onde ficava nossa mesa. Renzo não fez questão de disfarçar a
cara de puto, contudo já estava perto da hora do jantar, depois só
faltaria o discurso e poderíamos ir embora.
Bella

Eu estava há quase uma hora sentada com minha família,


sem sinal algum do Nathan, e, sinceramente, me sentia bem com
isso. Embora eu não quisesse admitir, as coisas que Sophia e
Antonella disseram ficaram martelando na minha cabeça. Eu não
tinha motivos para forçar uma situação entre nós. Ele era um cara
legal, provavelmente seria um bom marido… Mas e eu? Estou pronta
pra isso?
Às vezes, para um relacionamento dar certo, a
compatibilidade é mais importante do que o amor. Casais que se
amam se separam o tempo todo por falta de compatibilidade, e, sem
dúvida, Nathan e eu éramos incompatíveis. Ele queria sossego, e eu
queria um pouquinho daquela faísca que experimentei há algum
tempo, uma dose de adrenalina correndo pelas minhas veias, me
incentivando a fazer loucuras que, provavelmente, me trariam
consequências futuras, talvez até arrependimentos, mas que
valeriam a pena só pela vivência do momento.
Suspirei e levantei o olhar, como se estivesse sendo sugada
pela força de atração de um ímã. Logo de cara, encontrei um par de
olhos azuis me analisando.
Gaetano não desviou o olhar ao ser flagrado, e eu me irritei
comigo mesma por não conseguir desviar o olhar do seu. Pior do
que isso era que o órgão burro que morava em meu peito não se
controlou e bateu descompensadamente quando nossos olhares se
cruzaram. Isso acontecia com frequência quando nos fitávamos
assim, intensamente; a pele da minha nuca se arrepiava, e eu sentia
uma agitação em meu ventre ao lembrar dos nossos beijos e da
pegada firme daquele prostituto. O cafajeste era gostoso e sabia
disso.
Numa fração de segundo, seu olhar feroz, que antes estava
vidrado em mim, passou a focar algo além de mim, acima dos meus
ombros. Virei-me naquela direção e dei de cara com Nathan
caminhando até nossa mesa. Merda!
Olhei novamente para a frente, a tempo de ver Gaetano o
fuzilando com o olhar, sem qualquer discrição. Nathan só não notaria
se fosse idiota. Aliás, ele nunca comentava sobre esses olhares do
Gaetano; se percebia, ignorava-o com classe.
— Posso falar com você? — ele pediu, assim que chegou à
nossa mesa.
— Claro. Já terminei de jantar.
Levantei-me, pedi licença aos demais, ignorando o olhar
assassino do Gaetano, e me retirei, seguindo Nathan até um local
mais reservado.
— Vou ter de ir embora. Quer que eu te leve para casa? — ele
se ofereceu, aparentemente irritado.
— Não precisa, vou com a minha família. Mas… o que
aconteceu?
— Aconteceu que Dylan é um idiota, e o marido da sua prima,
esquentado demais.
— Renzo contou por alto sobre o incidente no banheiro, mas,
pelo que entendi, seu primo mereceu. Dylan disse coisas ruins sobre
Antonella.
— Como disse, ele é um babaca. Mas Renzo não precisava ter
quebrado o nariz do cara. Agora, terei de levá-lo à porra do hospital.
— Não sei o que ele disse, mas não deve ter sido nada bom,
levando em consideração o estado de fúria do marido da Nella.
— Renzo é muito possessivo. Tenho pena da sua prima.
— Renzo é possessivo como qualquer um dos homens da
minha família, mas não é abusivo. Ele apenas ama e protege a
mulher.
— Na minha opinião, ele é abusivo, sim, e sua prima
provavelmente é uma mulher oprimida, que se acostumou a ser
dominada por ele.
— Nathan, você não sabe do que está falando. Antonella é
uma mulher bem resolvida, e homem algum a dominaria. Isso me
parece despeito da sua parte.
— Despeito? Por quê? — Sua voz soou cheia de indignação.
— Talvez porque já tenha demonstrado interesse na minha
prima, antes de ela se casar. Todo mundo sabe disso.
— Eu só achava a Antonella bonita, Bella. Nada mais que isso.
Minha opinião sobre Renzo Bellini não tem nada a ver com essa
história.
— Tenho certeza de que Renzo teve motivos para...
— Ele é um cara descontrolado — Nathan se irritou um pouco
mais. — Se eu não estivesse presente, ele teria matado meu primo.
— O que Dylan disse para irritá-lo tanto?
— Coisas desnecessárias que não quero repetir. Esqueça isso.
— Mesmo admitindo que não foram coisas legais, você ainda
o defende?
— Foram coisas de homem, considerações idiotas…
— Esse seu papo está soando machista, é melhor parar por
aí. Vá socorrer seu primo. Amanhã conversaremos.
Nathan suspirou e se aproximou um pouco mais de mim.
— Não fique chateada. Amanhã, explico melhor o que
aconteceu. — Ele tentou me dar um selinho, mas eu me desvencilhei
de forma elegante, oferecendo um abraço contido.
— Tudo bem. Vá logo. Vou voltar para onde está minha
família — falei, já virando as costas.
Confusa e com um turbilhão de pensamentos revoltos, não
voltei de imediato para a mesa; em vez disso, me dirigi para a área
externa do salão. Fazia bastante frio ali e havia alguns soldados
pelas redondezas, mas isso não me incomodou. Eu estava sozinha
com minhas reflexões, e isso era exatamente o que eu precisava.
Sentei-me em um dos bancos e abracei meu próprio corpo,
alisando meus braços para esquentar. De repente, alguém colocou
um paletó sobre meus ombros. Reconheci o cheiro na mesma hora:
Gaetano.
— Quer congelar? Ah, esqueci que você é a própria rainha do
gelo — ele disse, sarcasticamente, sentando-se ao meu lado sem ser
convidado.
— Cada um tem de mim o que merece. — Fiz questão de
olhá-lo e usar um tom provocante. — Posso te queimar ou ser mais
fria que um iceberg.
— Prefiro sua versão quente, mas posso lidar com essa mais
fria. Conheço meios especiais de derreter essa geleira, basta você
querer.
— Cai fora, Gaetano. Quero ficar sozinha. Além do mais,
daqui a pouco é você quem congelará sem seu paletó.
— Não se preocupe comigo. O foco dessa conversa é você. O
que aquele almofadinha fez? Por que foi embora antes da hora?
Vocês brigaram?
— Tantas perguntas… Não está interessado demais na minha
vida?
— Não. Agora, me conta.
— Não aconteceu nada entre nós. Seu irmão quebrou o nariz
do primo dele, e ele foi socorrê-lo. Só isso.
— Renzo?
— Sim. Parece que ele ouviu o idiota do Dylan falando algo
obsceno sobre a Antonella e aí socou a cara dele.
— Entendi. Então, ele teve sorte de sair apenas com o nariz
quebrado. Nella é um assunto delicado para o Renzo. O bastardo
mexeu com a mulher errada.
— Sei disso.
— Mas e você? Por que está assim?
— Nada. Estou apenas entediada.
Caí na besteira de encará-lo outra vez, e sua boca pareceu
ainda mais convidativa. Por que ele está sendo tão legal, merda?
— Tenho a impressão de que ficou uma mágoa entre nós,
apesar do nosso acordo lá na Calábria. — Ele tocou no assunto que
eu mais queria evitar, principalmente naquele momento.
— Não ficou mágoa alguma, Gaetano. Inclusive, estou
cumprindo a minha parte. Quem continua atrás de mim é você.
— Claro. Continuo te querendo, não tenho motivos para
esconder isso de você. A diferença é que, para mim, as coisas
continuam bem resolvidas. Sou o mesmo Gaetano de antes, mas
você parece diferente agora.
— Só encerrei nosso assunto quando entrei no jato de volta
para a Sicília. Aprenda uma coisa: há situações em que não vale a
pena insistir.
— Sei que também foi divertido pra você, Bella. Então, por
que não damos continuidade à diversão? — Ignorei sua pergunta. —
Você me disse que, assim como eu, não pretende se casar tão cedo.
Não entendo por que aceitou ser cortejada por aquele cara.
— Porque as pessoas mudam de ideia, Gaetano. Nathan é um
cara legal, e eu decidi tentar...
— Você não parece feliz. Além disso, gente que é só legal é
entediante.
— Não coloco minha felicidade nas mãos de outra pessoa,
Gaetano. Não dependo de homem pra ser feliz.
Soei tão rude que ficamos em silêncio durante os minutos
seguintes. Eu não fazia ideia do que Gaetano estava pensando,
porém ele tinha razão ao dizer que eu não estava feliz. Amanhã,
colocarei um ponto final na minha história com Nathan e seguirei em
frente, sozinha.
— Esta festa está chata demais para o meu gosto — ele
quebrou o silêncio. — Nós dois estamos entediados e precisamos
nos divertir. Vamos nessa? — Gaetano levantou e esticou a mão,
esperando por mim. Indecisa, não me movi. — Vamos lá, Bella.
Ainda somos amigos, não é? Vamos ver o que a noite siciliana tem a
nos oferecer. Prometo não tentar nada.
Mandando o pouco juízo que eu tinha para o espaço, segurei
sua mão e me levantei também.
— Como amigos? — inquiri, e ele assentiu. Apesar do sorriso
cafajeste que havia no canto da sua boca, confiei que ele cumpriria
sua palavra. — Vamos nessa!
Andamos a passos largos e sem falar com ninguém até a
saída do salão, onde Gaetano pediu ao manobrista que pegasse seu
carro o mais rápido possível. Poucos minutos depois, o veículo
chegou, e nós entramos.
— De quem é esse carro?
— Alugado.
— Meu Deus! Meu pai vai nos matar.
— Pensaremos nisso depois. Por ora, coloque o cinto, baby.
Obedeci, e ele deu a partida. Ambos tínhamos consciência da
merda em que estávamos nos metendo, mas éramos dois
irresponsáveis que queriam se divertir.
— Nós somos loucos.
— Você gostaria de ser normal? — ele inquiriu, rindo.
— Não mesmo — respondi, rindo também. — Deixarei pra me
arrepender amanhã. Hoje, só quero mandar esse tédio pra longe. Só
vou enviar uma mensagem pra Nella, antes que coloquem a Cosa
Nostra inteira atrás de nós.
— Faça isso. Renzo vai ficar louco, quando ela contar a ele,
mas vai superar.
Antonella

No momento em que Noah subiu ao palco para discursar, meu


celular vibrou no meu colo. Peguei-o e vi notificações de mensagens
enviadas pela Bella.

Bella: Estou saindo com Gaetano. Não


aguentávamos mais essa festa sem graça e
resolvemos sair para nos divertir de verdade, mas
COMO AMIGOS. Avise à minha mãe, por favor.
Ela saberá o que dizer ao meu pai.

Eu: Cacete! Vocês são loucos? Tio Inácio matará


meu cunhado, e Renzo vai infartar. Não posso ficar
viúva, garota. Tenho três filhos pra criar!

Bella: Minha mãe dará um jeito de amenizar as


coisas. Ela sabe como dominar seu Inácio. Não se
preocupe.
Eu: Não quero nem ver a confusão que dará essa
história, mas, se já fugiram, divirtam-se!

A resposta que recebi foi apenas um emoji piscando.


Procurei tia Nina com o olhar e avistei-a do outro lado da
mesa, segurando Dante no colo, ao lado do tio Inácio.
— O que houve? — Renzo não deixava passar nada, sempre
notava minhas inquietações.
— Bella e Gaetano fugiram da festa para se divertir por aí.
— O quê? — A expressão do meu marido era de puro choque.
— Isso mesmo que você ouviu.
— Sozinhos, sem avisar a ninguém e sem nenhum soldado?
— Exatamente.
— Caralho! Vou matar o Gaetano. — Meu marido massageou
a têmpora, como se tentasse espantar uma dor de cabeça.
— Talvez nem precise. Quando tio Inácio descobrir, ele
mesmo fará isso.
Renzo tirou o celular do bolso, selecionou o contato do irmão
e tentou ligar, mas, obviamente, o rebelde sem causa não atendeu.
— Juro que, dessa vez, matarei aquele moleque irresponsável
— ele falou, entredentes, ligando pela segunda vez. Sem sucesso.
— Calma, amor. Bella disse para eu contar à tia Nina, que ela
conseguirá administrar a situação com meu tio.
— Por que sua prima fez isso? E o Nathan?
— Ela escreveu em caixa-alta que saíram apenas como
amigos. — Mostrei a mensagem ao Renzo. — Só nos resta fingir que
acreditamos.
— Eu já devia ter colocado um rastreador no Gaetano. — Eu
ri daquele comentário, mas meu marido me olhou indignado. Pelo
jeito, falava sério. — Como você consegue achar graça na merda
que esses dois estão fazendo?
— Não se preocupe tanto, amor. Tio Inácio ficará puto, mas
reconhecerá que Bella é adulta e capaz de tomar as próprias
decisões. Ele não dará mais que um bom sermão no seu irmão.
— Mesmo assim, Antonella. Bella nunca sai sem um soldado,
porque seu tio é zeloso com ela. Gaetano deveria respeitá-lo.
— Hoje, o soldado dela será seu irmão. Ele é bom, não é?
— Não duvido das habilidades dele para dar conta de
protegê-la, mas existem regras que precisam ser respeitadas,
Antonella.
— Vamos nos desesperar com calma — brinquei, mas Renzo
não riu. — Olha lá, meu tio levantou. Vou aproveitar para falar com
a tia Nina. Fique com os bebês. Eu já volto.
Meu marido assentiu, e eu me dirigi à minha tia. Como
Vincenzo estava perto, sentei ao lado dela e, sem dizer nada,
mostrei minha conversa com a Bella.
— Não sei a quem essa menina puxou — tia Nina disse,
sarcástica. Segundo ela mesma, Bella era sua versão mais jovem,
uma mulher que amava ser livre.
— O que dirá ao tio Inácio?
Ela nem teve tempo de responder, pois as pessoas
irromperam em uma salva de palmas, anunciando o fim do discurso
do Noah. Em seguida, antes que tivéssemos oportunidade de
retomar o assunto, meu tio chegou à mesa.
— Não encontrei Bella nem Nathan em lugar algum, Nina.
Onde eles estão? — tio Inácio parecia descontente.
— Nathan precisou levar o primo ao hospital, porque meu
marido quebrou o nariz dele — contei, porque essa parte minha tia
não sabia.
— O quê? Que porra é essa?
— Renzo ouviu Dylan falando coisas escrotas sobre mim no
banheiro. Para não matá-lo e estragar a festa, meu marido apenas o
socou — falei naturalmente, e tia Nina riu.
— Bem feito — ela completou.
— Que bastardo! E Nathan, como reagiu à idiotice do primo?
— meu tio perguntou.
— Não sei a história completa. Certamente, Renzo reportará
tudo a vocês depois.
— Então, Bella foi embora com ele sem me avisar? — ele
perguntou, em tom de reprovação.
— Não, marido. — Graças a Deus, tia Nina tomou a frente na
resposta, porque eu não saberia como conduzir aquela parte da
conversa. — Ela foi dar uma volta com Gaetano.
— O quê? Com a autorização de quem? — tio Inácio inquiriu,
alterado.
— Com a minha autorização.
Tia Nina demonstrou calma, beijando e cheirando a cabeça do
Dante, que dormia tranquilamente, mesmo com o barulho da festa.
— Não acredito que você deixou minha filha sair com aquele
moleque irresponsável sem me falar nada.
— A filha também é minha, Inácio. Respondo tanto quanto
você. E Bella é maior de idade.
— Não interessa, Nina. Minha filha não sabe o que é bom pra
ela. Sem contar que Gaetano é um mulherengo do caralho. O cara
nem esconde que não quer saber de compromisso. Além disso, Bella
está conhecendo Nathan. Não fica bem, para a reputação dela, sair
da festa com outro.
— Ninguém os viu sair. E ninguém ousaria falar dela.
— Isso não está certo, Nina — ele declarou, passando as
mãos impacientemente pelos cabelos. — Qual soldado foi com eles?
— Nenhum! Gaetano é treinado e saberá proteger nossa filha.
— Não estou acreditando nessa porra! — Meu tio sacou o
telefone do bolso, discou alguns números e colocou o aparelho
próximo ao ouvido.
— Ela não atenderá — minha tia avisou.
— Como você sabe?
— Ela é minha filha, Inácio.
— E você se orgulha disso, não é?
— De ser livre, independente e feliz? Sim, me orgulho
bastante. Inclusive, você adorou esse meu lado quando nos
conhecemos.
— É perigoso, Nina! Tanta coisa pode acontecer. Era para eles
terem levado, ao menos, dois soldados.
— Está falando isso só pela segurança deles?
— Claro. — Minha tia o olhou de cara feia. — Óbvio que não é
só isso. Não quero aquele malandro sozinho com a minha filha.
Continuei só observando, sem ousar me envolver naquela
discussão. Os dois iriam se entender.
— Gaetano é do bem, Inácio. O garoto pode até estar meio
desviado, mas uma hora achará seu caminho, como aconteceu com
todos vocês. Que eu saiba, na nossa família também não tem
nenhum santinho e, ainda assim, estão todos casados bonitinho.
— Terei uma conversa séria com aquele moleque quando ele
trouxer minha filha de volta. E se Bella chegar com um fio de cabelo
a menos, eu o matarei sem dó. Vamos embora. Quero ver que horas
eles chegarão em casa.
— Vito não vai com a gente? — minha tia perguntou.
— Não. Ele vai pra Vanity, com os primos e o Rocco.
— Com licença. Vou voltar para o meu marido e os meus
filhos — falei.
— Renzo sabe dessa irresponsabilidade do irmão? — tio
Inácio perguntou, cuspindo fogo.
— Também soube só depois que os dois já tinham saído e
não ficou nada satisfeito — respondi. — Nós também vamos
embora.
— Vá tranquila, meu bem. Eu resolvo aqui com o homem das
cavernas. — Tia Nina piscou para mim, e eu saí da mesa.
Quando me aproximei do Renzo novamente, ele segurava
Enzo no colo. Meu filho parecia estar no limite de sua pouca
paciência, pois resmungava, incomodado com toda a agitação do
lugar.
— As crianças estão cansadas. Vamos embora — ele
comunicou, e eu assenti. — Gine irá com Glenda e Ethan para casa.
Rocco sairá com seus irmãos.
— Meu tio falou.
— Como foi a reação dele sobre Gaetano e sua prima terem
saído juntos?
— Ficou puto, como previsto, mas sobreviverá. Tia Nina o
controlará.
— Aquele stronzo do Gaetano sequer atende a porra do
telefone. Estou a ponto de explodir — Renzo declarou. — Vamos. No
complexo, converso com Inácio.

Depois de cuidar dos trigêmeos e colocá-los para dormir,


Renzo e eu descemos com a babá eletrônica em mãos para esperar
Bella e Gaetano chegarem. Passava de 1h da manhã e nem sinal
deles; os dois haviam saído do salão por volta das 23h.
— Vou lá conversar com Inácio — meu marido avisou quando
chegamos à sala. — Fique aqui, para o caso dos bebês acordarem.
Sentei no sofá entediada. Meia hora depois, meus pais
chegaram, e eu passei a responsabilidade para eles; deixei a babá
eletrônica com minha mãe e fui atrás do meu marido. Encontrei-o à
porta da casa da tia Nina, conversando com tio Inácio e Raphael.
— Como se não bastasse roubar as filhas alheias, eles agora a
sequestram antes. Ainda bem que já casei as minhas. Estou livre
desses ladrões. — Ouvi Raphael perturbar meu tio.
— Antonella? Quem está com as crianças? — Renzo
perguntou, assim que me viu.
— Meus pais. Eles acabaram de chegar — respondi, e ele
voltou sua atenção para tio Inácio novamente.
— Seu irmão foi muito irresponsável, Renzo. O que deu na
cabeça dele para sair com a minha filha àquela hora e sem
segurança?
— Inácio, não aprovo a atitude do Gaetano, mas confio que
ele protegerá Bella com a própria vida, se for necessário. Meu irmão
é bem-treinado e não deixará que nada aconteça à sua filha.
— Mesmo assim, não gosto de facilitar as coisas para meus
inimigos. Além disso, não estou entendendo essa atitude da Bella.
Se ela está conhecendo melhor o Nathan, por que saiu com seu
irmão?
— Segundo eles, saíram como amigos.
— Ou está rolando alguma coisa nos bastidores e nós não
sabemos. Esses irmãos são ladrões profissionais, Inácio. Veja o
Renzo… Disfarçou, alegando que não queria se casar, e está aí com
nossa Nella e três bebês nas costas. Lorenzo perdeu a filha e nem
viu.
Foi impossível não rir diante daquele comentário. Raphael era
terrível.
— Pare de botar pilha, caralho — tio Inácio o repreendeu, e
eu ri ainda mais.
— Eu sou realista. Aceita, Inácio. Aceita, logo, que dói menos.
É melhor se preparar desde já, porque roubarão sua filha e a levarão
para a Calábria antes do que você imagina. Quando você pensar em
reagir… perdeu!
— Vá se foder, Raphael. Permiti que Bella conhecesse melhor
o Nathan e, embora ainda esteja em análise, ele parece ser um cara
decente.
— Não tire conclusões precipitadas, Inácio — Renzo se
manifestou. — Quando o filho da puta do primo dele se referiu à
Antonella de forma pejorativa, a única preocupação de Nathan era o
fato de ela ser casada. Essa não me pareceu ser a postura de um
homem decente
— Me conte essa história direito — tio Inácio pediu.
Enquanto Renzo contava o que havia acontecido no banheiro
do salão de festas, avistamos o carro alugado por Gaetano
chegando. Meu cunhado parou em frente à casa do meu tio, desceu
e abriu a porta para Bella descer. Ambos pareciam despreocupados
com as consequências de seus atos.
Meu tio se apressou em ir até Gaetano e o ameaçou, com o
dedo em riste.
— Nunca mais saia com a minha filha sem a minha
permissão! — Enquanto tio Inácio estava transtornado, a expressão
do Gaetano permaneceu serena. — Principalmente sem a proteção
de alguns soldados.
— Eu a trouxe de volta sã e salva, Inácio. Não fizemos nada
de mais.
— Não interessa! Minha filha não é bagunça.
— Pai, não exagera! — Bella falou, tranquila.
Havia algo a mais no semblante da minha prima, algo que eu
não soube identificar. Não era tristeza, mas ela também não parecia
estar totalmente feliz como eu imaginei que estaria.
— Gaetano e eu somos amigos. Saímos para bater um papo
em um bar protegido pela máfia. Estou bem e, agora, se me derem
licença, preciso dormir. — Bella se virou para meu cunhado, sorriu
para ele e, sem cerimônia em relação à plateia, beijou sua
bochecha. — Obrigada pela noite.
Antes de nos dar as costas e entrar em casa, minha prima
desejou um boa-noite seco a todos nós.
— Também já vou, agora que a menina está entregue. Boa
noite a todos. — Gaetano também estava um pouco estranho e
aquilo me intrigou.
— Você está avisado, Bellini. Nunca mais saia com a minha
filha sem a minha permissão. Estou pouco me fodendo se você é da
família. Me respeite — tio Inácio o confrontou outra vez, e eu vi um
brilho perigoso no olhar do meu cunhado.
Gaetano não gostava de ser tratado daquela maneira, ainda
assim não respondeu à afronta. Em vez disso, acenou cordialmente
para nós e saiu. Renzo já estava se virando para ir atrás dele quando
segurei seu braço.
— Não. Deixe isso pra amanhã. Está tarde. Todos precisamos
descansar, antes de ter qualquer conversa.
A contragosto, meu marido assentiu, e nós voltamos para a
casa dos meus pais em silêncio.
Capítulo 9

Renzo
Na manhã seguinte, ainda puto pra caralho, entrei no quarto
do Gaetano já despejando minha revolta com suas atitudes
irresponsáveis.
— Você tem merda na cabeça, porra?
— Bom dia, meu carrasco favorito. Seja bem-vindo ao meu
humilde quarto — ele ironizou.
Meu irmão sentou na cama, tranquilamente, esfregando o
rosto. Ao que parecia, não se surpreendeu com minha visita, bem
como não demonstrou arrependimento pela merda que fez na noite
anterior.
— O que você pensa que está fazendo, Gaetano? Acha que o
Inácio terá sangue de barata a vida toda? — explodi. Mesmo
suspirando de insatisfação, ele teve a decência de se manter calado,
me ouvindo atentamente. — O cara estava controlando uma raiva
dos infernos e, tenha certeza, ele não fez isso em consideração a
mim ou a você, mas à própria filha e à esposa. Se não fosse por
elas, a reação dele teria sido bem pior.
— Calma, Renzo. Você está fazendo tempestade em um copo
d'água.
— Tempestade em… — bufei de ódio ao ver o pouco caso que
Gaetano fazia da situação. — Sabe o que eu faria se um moleque
irresponsável, que já deixou claro que não pensa em casamento,
saísse sozinho com a Valentina e sem a minha autorização? Eu o
mataria! E seria uma morte dolorosa.
— Inácio me conhece, cara. Ele sabe que eu protegeria a
Bella com a minha própria vida.
— Não interessa, porra! Além de tudo, a menina tem
compromisso com outro cara e…
— Foda-se aquele babaca. Ele não a merece — meu irmão se
alterou também. — Ela estava triste e infeliz, porra. Eu só queria
fazê-la sorrir!
— Já que se importa tanto e quer cuidar da felicidade dela,
assuma a porra de um compromisso. Faça as coisas da forma
correta e pare de agir como um adolescente inconsequente.
— Não quero me casar agora, Renzo. Na máfia, namoro,
noivado e casamento acontecem em um pulo, e eu não estou pronto
pra essa porra. Bella é linda, maravilhosa, inteligente e divertida,
mas eu não sirvo para ser marido de ninguém, muito menos dela.
Essa porra não é pra mim.
— Então, deixe a menina em paz.
— Do jeito que você fala, parece que faço mal a ela.
— E não faz? Acha mesmo que não confunde a cabeça dela
agindo assim? Acha que ela pensa como você, que consegue separar
os sentimentos do casual? — inquiri, e ele me olhou pensativo, como
se nunca tivesse parado para analisar a situação por esse prisma. —
As mulheres são diferentes de nós, Gaetano. Se Bella confia em você
a ponto de largar tudo para trás e fugir de uma festa com você, é
porque está apaixonada.
— Corta essa, Renzo. Ela não está apaixonada! Ela só curte
aventuras, assim como eu.
— Você acredita mesmo nisso? — questionei, mas não obtive
resposta. — Claro que não, só está se enganando, afinal é
conveniente pra você. Vou te falar pela última vez, Gaetano: assuma
um compromisso com aquela menina ou se afaste definitivamente e
deixe-a viver a vida dela. Bella é da família, é uma menina sensível e
merece um cara que a valorize.
— Eu a valorizo.
— Assim? Sem querer um compromisso com ela?
— Tudo bem, Renzo. Você venceu. Ficarei na minha e deixarei
a garota em paz — ele falou entredentes, visivelmente irritado. — Se
é só isso, pode sair.
— Não coloque todos nós em uma situação ruim, Gaetano. Se
o Inácio tivesse perdido a cabeça ontem e quisesse te dar a porra de
um tiro, você acha que eu teria sangue frio para ficar assistindo o
cara matar meu irmão? E se um de nós revidasse? Olha a merda que
ia dar, porra! Ele é tio da minha esposa; nossa irmã também é
casada com um deles; somos aliados e estamos na casa deles. Pelo
menos uma vez na vida, pare de pensar com a porra do pau e
coloque a cabeça no lugar.
— Você está certo.
— Se quiser a Bella da maneira correta, conte comigo. Caso
contrário, apenas se afaste — dei um ultimato e saí do quarto para
esfriar a cabeça.
No andar de baixo, apenas Gine, que tinha aberto a porta
para mim, estava lá. A casa continuava totalmente silenciosa, assim
como quando cheguei, pois ainda era cedo.
— Tome um café antes de ir, meu filho. Acabei de passar.
Eu gostava de tomar o café da manhã na companhia da
minha mulher, mas Ginevra me olhou de maneira tão afetuosa que
foi impossível negar o convite.
— Só um café puro, Gine, porque vou comer com a Antonella
daqui a pouco. Pra falar a verdade, nada mais que um café me
desceria agora.
— Gaetano está dando dor de cabeça, não é? — ela
perguntou, servindo o líquido fumegante em uma xícara.
— Quando é que ele não está? — Sentei-me à mesa da
cozinha, ao lado dela. — Espero sinceramente que meus filhos não
tenham puxado a personalidade inconsequente do tio. Já basta um
Gaetano na minha vida.
— Também não é assim, Renzo. Meu menino é bom. É um
pouquinho irresponsável, mas, logo, amadurecerá.
— Ele está brincando com a filha dos outros, Ginevra. Não
foram esses os princípios que eu o ensinei nem o exemplo que dei.
— Eu sei, filho. Mas… sabe o que eu acho? Gaetano gosta
daquela menina, só não se deu conta disso ainda.
— Independente disso, ele não pode desrespeitar o Inácio
dessa forma. Eu nunca aceitaria que fizessem isso com a Glenda,
jamais aceitarei que façam com a Valentina, então também não
quero que meus irmãos façam com as filhas alheias.
— Não fique tão nervoso. As coisas vão se ajeitar. Agora, você
tem esposa e três pequenos anjos que precisam de seus cuidados.
Seus irmãos já são homens feitos, deixe que se resolvam.
— Rocco é outro que me preocupa. Ele está escondendo
alguma coisa e já faz tempo; finge estar bem, mas sei que, no
fundo, há algo tirando sua paz. O que me estranha é ele ter perdido
a confiança em mim para contar qualquer coisa.
— Não é questão de confiança. Rocco sempre foi um rapaz
fechado, assim como você. Seu irmão certamente não quer te
preocupar com os assuntos dele.
— Mas eu me preocupo de qualquer maneira.
— Pois tente se preocupar menos. Você terá um longo
caminho com os trigêmeos, e eles precisarão de toda a sua energia.
Deixe Rocco e Gaetano resolverem os próprios problemas. Você verá
que os dois não são tão irresponsáveis quanto aparentam.
— Vou tentar, Gine. — Beijei sua mão, em seguida tomei o
último gole do meu café. — Deixe eu ir. Antonella já deve ter
acordado, e eu costumo ajudá-la com as crianças.
— Claro, meu filho. Vá cuidar da sua família. — Ela beijou
meu rosto ternamente, e eu saí.
Quando retornei à casa dos meus sogros, ainda estavam
todos em seus quartos. Fui para nossa suíte e me deparei com
Antonella e meus filhos ainda dormindo serenamente. Lindos.
Aproximei-me dos bercinhos a tempo de ver Lorenzo se
espreguiçando, prestes a acordar. Quando abriu os olhinhos e me
viu, ele sorriu para mim. Definitivamente, ele tinha puxado à mãe
aquele bom humor matinal. Tudo o que tirava minha paz ficou para
trás diante daquele sorriso inocente.
Peguei meu filho no colo, enrolei-o na manta e,
silenciosamente, fui com ele para a sacada do quarto. Respirei fundo
o ar da manhã e observei a área verde do complexo. Exceto os
soldados espalhados pelo local, aquele parecia ser um lugar familiar,
de paz.
Fazia um silêncio absoluto, então pus Lorenzo encostado em
meu peito, de costas para mim. Como se tivesse a mesma percepção
que eu em relação àquela paisagem, ele agitou os braços e pernas,
parecendo empolgado com o balançar das árvores.
Meus momentos com meus filhos eram sempre de paz. Nada
externo conseguia desfazer aquela sensação de plenitude que
invadia meu peito ao segurar qualquer um deles e saber que tinha
sua mãe, a mulher que eu amava, ao meu lado. Antonella me deu
tudo e ainda que eu me arrastasse aos seus pés, jamais seria capaz
de retribuir o que ela trouxe junto a si para a minha vida.
— Você também gosta daqui igual à mamãe, não é, meu
filho? — Beijei sua cabecinha cabeluda. — Mas seu lugar é na
Calábria, com o papai. É lá que, um dia, você reinará ao lado do seu
irmão e, talvez, se seus tios tomarem juízo, ao lado de seus primos.
— Lorenzo deu um gritinho animado, como se aprovasse minhas
palavras. Aquele não era o destino que eu queria para eles, mas
sabia que era inevitável. — Prometo nunca deixá-los sozinhos, mas
você e Enzo deverão me ajudar na missão de proteger sua irmã,
assim como seus tios e eu sempre protegemos a tia Glenda.
Enquanto o papa viver, estarei ao lado de vocês e lutarei para adiar,
ao máximo, minha partida.
Senti a presença de Antonella, antes mesmo de escutá-la.
Instantes depois, braços delicados me envolveram por trás.
— Madrugou, né? Aposto que acordou mais cedo só para
brigar com Gaetano, meu velho rabugento.
— Não estrague meu momento de paz com meu filho falando
daquele irresponsável. — Virei-me de frente para ela e quase tive
uma síncope ao perceber que usava apenas a microcamisola, sem o
robe. Imediatamente, postei-me à sua frente. — Antonella, tem uma
porrada de soldados espalhados pelo complexo, e você está
seminua, caralho. Vamos entrar
— Bom dia pra você também, marido. — Ela me abraçou pelo
pescoço e beijou minha boca.
Entre nós dois, Lorenzo se balançou, animado com a
presença da mãe. Fui andando devagar com ela agarrada a mim,
levando-a de volta para o quarto e protegendo-a dos olhares dos
soldados.
— Bom dia, meu bebê — ela falou com o filho, ao cessar
nosso beijo, e ele se jogou em seus braços.
Um resmungo raivoso quebrou o silêncio do quarto, e eu
soube que era nosso primogênito mal-humorado. Fui até o berço e
peguei Enzo no colo.
— Oi, meu filho — cumprimentei-o, e ele deu um sorriso
contido para mim enquanto se espreguiçava em meus braços.
Sentei-me com ele na cama, e Antonella colocou Lorenzo ao
meu lado, para ir ao banheiro. Quando voltou, minha mulher o
pegou novamente, dessa vez para amamentar, enquanto eu entretia
Enzo. Depois de mamar e arrotar, Lorenzo ficou quietinho na cama,
e foi a vez do irmão se alimentar. Nesse meio-tempo, Valentina
acordou, e eu a segurei nos braços até que chegasse sua vez.
Depois, demos banho nos três. Essa era nossa rotina matinal desde
que os trigêmeos nasceram.
No início, tudo o que envolvia meus filhos parecia apavorante.
Eu tinha medo de machucá-los ou deixá-los cair durante o banho,
porém adquiri confiança com o passar dos dias, relembrando minha
experiência com a Glenda, embora a nova jornada fosse tripla.
— Nós temos planos para hoje à noite — Antonella me avisou
enquanto penteava os cabelos da Valentina e ajeitava nela a tiara
com um laço enorme.
— Temos? — perguntei, tentando me lembrar de algum
compromisso marcado.
— Sim, temos! — Seu tom de voz soou diferente.
— O que você está aprontando, Antonella Bellini?
— Eu, você, muito sexo e suor! — ela respondeu, cheia de
malícia. — Reservei a mesma suíte daquele hotel onde tivemos
nossa primeira vez. Seremos só nós dois.
— E quem ficará com as crianças?
— Minha mãe e Mary. Já combinei com elas. Hoje, teremos
um vale night! Encare-o como o meu presente de Natal para você.
— O melhor presente. Mal posso esperar — respondi, ansioso.
Antonella

Passei o dia inteiro excitada, pensando naquela noite. Estava


cheia de planos e ansiosa para, finalmente, usar os acessórios que
comprei há um tempo. Eu esperava que Renzo ficasse surpreso, e
que meus brinquedinhos despertassem seu lado mais selvagem.
Passei um bom tempo tirando leite com a bomba elétrica,
para encher mamadeiras para os trigêmeos. Como combinado, Gine
dormiria no nosso quarto com os bebês, e minha mãe a ajudaria a
cuidar deles durante a noite. Os três já dormiam melhor e
acordavam apenas uma vez para mamar durante a madrugada.
Arrumei uma pequena mala, visto que Renzo e eu
passaríamos a noite fora. Coloquei os acessórios escondidos entre
umas peças de roupas e fechei rapidamente para ele não ver. Meia
hora antes de sairmos, eu estava de roupão, e ele praticamente
pronto. Eu só ia amamentar os trigêmeos, colocá-los para dormir e,
depois, seríamos só nós dois.
Disposto a ganhar tempo até nossa saída, enquanto eu
alimentava os bebês, um por um, Renzo os colocava para arrotar e
os ninava até que pegassem no sono firme para que, só depois,
pudesse deitá-los nos berços. Após acomodarmos os três, Gine
chegou para assumir seu posto de Mary Poppins, a melhor babá do
mundo.
— Te espero lá embaixo — Renzo me avisou, pegando a
mala. Ele se despediu de Gine, deu uma olhada nos filhos e saiu do
quarto.
Naquela noite, fazia muito frio e nevava bastante. Eu deveria
me agasalhar, mas tinha outros planos. Vesti apenas minha lingerie
bem sensual e minúscula, calcei minhas meias 6/8 e meus scarpins
louboutin, em seguida joguei um sobretudo bem grosso por cima; fiz
uma maquiagem sexy, marcando bem os olhos, e finalizei pondo
algumas gotinhas de perfume pelo corpo.
Quando saí do closet, flagrei minha mãe e Gine admirando o
sono dos trigêmeos.
— Que tal? — perguntei, abrindo o sobretudo e dando uma
reboladinha, brincando com as duas.
Minha mãe se jogou na cama, rindo silenciosamente para não
acordar as crianças, e Ginevra pôs uma mão sobre a boca, ficando
vermelha como um tomate.
— Creio em Deus Pai! Você vai matar meu menino, Nella —
Gine exclamou, espontaneamente, fazendo-me tapar a boca para
não gargalhar.
— A intenção é essa, querida Mary. Mas não se preocupe que
é no bom sentido.
— A-DO-REI! Só podia ser minha filha mesmo. Você está um
arraso, Nella — dona Camila me elogiou, sentando-se na cama outra
vez.
— Aprovada?
— Aprovadíssima! Bem piranhona, do jeito que a gente gosta
— minha mãe brincou.
— Vocês não são fáceis — Gine tapou o rosto, rindo.
— Agora, deixa eu ir, porque a noite promete. Cuidem bem
dos meus bebês e, qualquer coisa, liguem. Não hesitem em nos
interromper.
— Vá tranquila, filha. Mostre pro Renzo o poder de uma
Esposito.
— Vá em paz, Nella. Nós cuidamos de tudo por aqui — Gine
complementou.
Antes de sair, me aproximei dos berços, fiz levemente o sinal
da cruz na testa de cada um deles — hábito que aprendi com minha
nonna — e mandei beijos de longe para minha mãe e Ginevra.
Ao fechar a porta do quarto, deixei a versão mãe para trás e
assumi a versão poderosa, sexy, confiante e fatal. Me aguarde,
Renzo Bellini.

Reservei o mesmo quarto em que tivemos nossa primeira vez,


mas paguei um pouco mais caro, porque fiz um pedido especial:
exigi uma cama dossel, pois se encaixaria perfeitamente nas minhas
fantasias.
— Da última vez que estivemos aqui, não era essa cama —
Renzo comentou, colocando a mala em um canto. Ele tirou a jaqueta
de couro, a carteira do bolso, e a arma da cintura, colocando tudo
na mesa de cabeceira.
— Devem ter reformado num estilo art déco. Eu gostei. —
Alisei os lençóis macios e, quando levantei o olhar, Renzo me olhava
com adoração.
— Você está mais linda do que já é — ele declarou, com a voz
rouca, me causando arrepios.
— E você ainda nem viu o que estou vestindo por baixo —
provoquei-o.
— Nem preciso ver. Sei que está perfeita. Mas me referi ao
seu olhar, sua boca, seu cabelo, seu sorriso...
Ele se aproximou de mim e agarrou minha cintura.
Imediatamente, senti meu sexo pulsar.
— Por que não pede um champanhe para nós? Temos que
comemorar — sugeri, alisando seu peitoral rígido.
— Esqueceu que ainda não pode beber, mi amore?
— A pediatra liberou uma tacinha quando houver um intervalo
grande entre as amamentações. Como só vou alimentá-los
novamente amanhã, e a quantidade de álcool será pequena, já terá
saído do meu organismo. Apenas hoje, me darei esse luxo.
Renzo deslizou o nariz pelo meu pescoço, me deu um selinho
e foi até o telefone para fazer nosso pedido. Minutos depois, quando
a bebida chegou, eu coloquei uma música sensual para tocar,
enquanto Renzo enchia nossas taças.
— Um brinde ao nosso eterno amor — propus, e ele sorriu,
batendo sua taça de leve na minha.
Eu amava aquele sorriso, pois ele era reservado apenas para
mim e as crianças em nossos momentos íntimos. Renzo não era um
homem de muitos sorrisos, mas quando sorria, era lindo de ver.
Terminamos nossa primeira taça, e a introdução da música I
put a spell on you, de Annie Lennox, começou a tocar.
Surpreendendo-me, meu marido colocou nossas taças sobre a mesa
e me puxou para dançar.
— “Lancei um feitiço em você, pois você é meu…” — Fiz
questão de cantar o primeiro verso de forma bem sedutora, olhando
em seus olhos. Renzo sorriu.
Dei-lhe as costas e, com meu corpo colado ao seu, rebolei até
o chão, me esfregando nele. Depois, me virei de frente e subi,
resvalando minhas mãos por suas coxas torneadas, abdômen sarado
e peitoral musculoso. Meu marido era incrivelmente gostoso.
Renzo me puxou pela cintura com firmeza, deixando nossos
rostos bem próximos, e mordeu meu lábio inferior; inclinou
levemente meu corpo, fazendo minha cabeça pender para trás.
Enquanto eu segurava em seus bíceps, ele me girava delicadamente
no ritmo sensual da música.
Ele inclinou o corpo por cima do meu, sem interromper os
movimentos suaves, e sua língua quente deslizou pelo meu pescoço.
Depois, meu marido mordeu meu queixo e beijou minha boca com
voracidade. Em pouco tempo, interrompi o beijo, dei um passo para
trás e abri o sobretudo, revelando minha lingerie.
— Caralho, Antonella! — Seu olhar faminto e visceral causou
um frisson no meu estômago. — Assim você me mata. — Sua voz
saiu rouca de tesão, e o volume em sua calça já era brutal.
Deixei o sobretudo cair no chão e andei rebolando até a mala.
Sob seu olhar predador, peguei os dois pares de algemas e a venda.
Seu sorriso enigmático ao ver os objetos me excitou ainda mais.
Renzo começou tirar a própria roupa, enquanto eu caminhava
de volta para ele, lentamente.
— Adorei a surpresa — ele disse, antes de me beijar.
— Hoje, vou te dominar e fazer tudo o que eu quiser —
sussurrei próximo ao seu ouvido, quando afastamos nossas bocas.
— Não! Eu vou dominá-la! — Ele usou a voz de comando que
me enlouquecia, e minhas pernas fraquejaram.
Renzo me pegou no colo e me levou para a cama, colocando-
me cuidadosamente no centro do colchão; algemou meus braços
nos pilares do dossel, me deixando quase louca de tesão.
Com os braços imobilizados, comecei a esfregar uma perna
na outra, tentando aliviar um pouco daquela excitação. Enquanto
isso, Renzo ficou apenas me admirando, vendo meu corpo ferver por
ele.
— Linda pra caralho. Perfeita. Deliciosa.
Ele se aproximou, tirou meus sapatos, vendou meus olhos e
se afastou. Mesmo sem conseguir enxergar, eu sabia que ele estava
me olhando outra vez.
Segundos depois, senti sua presença novamente e minha
respiração ficou mais ofegante. Senti seu peso na cama e, em
seguida, suas mãos deslizaram por minhas coxas, abriram minhas
pernas e colocaram minha calcinha, quase inexistente de tão
minúscula, para o lado.
Quando Renzo encaixou a boca na minha vagina e sugou meu
clitóris, eu gritei. Ele deslizou a língua em vários sentidos no meu
sexo, e sensações de choque percorreram o meu corpo. Foi forte e
intenso, como nunca antes. De olhos vendados, as sensações
pareceram ainda mais afloradas. Cheiro, pele, lábios, língua quente e
ágil, mãos firmes, a barba bem-aparada, arranhando levemente
minha pele e me causando arrepios. Ele atiçou novos sentidos e
gostos em mim.
Suas mãos deixavam um rastro de fogo pelo meu corpo,
enquanto ele o explorava com a boca, chupando-me de forma
intrínseca, proporcionando-me um prazer avassalador que me
devorava por inteiro. Ondas de choque faziam meu corpo se
contorcer e ondular sob o seu toque. Eu o sentia e o enxergava,
mesmo sem poder vê-lo.
Renzo diminuiu um pouco a pressão da sucção no meu
clitóris, e meu corpo reagiu. Senti o orgasmo se aproximando. Eu
pingava, latejava, ardia e delirava, gritando, gemendo e me
contorcendo, louca de prazer; tremia, enquanto lágrimas escorriam
pelo meu rosto, tamanha era a intensidade e o êxtase que me
dominavam.
Quando o orgasmo chegou, possuiu-me por inteira, fazendo-
me esguichar e convulsionar. Gemi descontroladamente. Renzo me
bebeu até a última gota e subiu o corpo para junto do meu,
encaixando-se no meio das minhas pernas. Senti sua pele quente
em contato com a minha, os músculos maciços tensionados, o pau
duro pressionando minha coxa, e sua respiração ofegante soprando
baforadas quentes no meu rosto.
Nossas bocas se comeram num beijo de tirar o fôlego, e eu
gritei em seus lábios quando ele me penetrou forte e bruto, de uma
vez só, quase me rasgando ao meio. Minha boceta palpitava ao
passo que se abria para recebê-lo mais e mais. Sem poder tocá-lo,
arranhá-lo e extravasar minha loucura, enlacei minhas pernas em
sua cintura, trazendo-o mais fundo dentro de mim, enquanto ele
continuava me penetrando forte, duro e sem controle, gemendo
rouco entre os beijos e buscando o nosso prazer com estocadas
brutas, do jeito que a gente gostava.
Nossos corpos suados se chocavam, e nossos gemidos
ecoavam pelo quarto. Ele me fodia sem parar, me beijava e mamava
nos meus seios, que ele havia puxado para fora do sutiã.
Renzo tirou minhas pernas de sua cintura, levantou-as para
apoiar em seus ombros e me penetrou mais fundo, ao mesmo
tempo em que deslizava o polegar até o meu ânus. Quando ele
pressionou o dedo ali, eu fui ao delírio. No segundo seguinte, seu
pau penetrava minha boceta, e seu dedo invadia meu ânus,
deixando-me fora de mim.
— É assim que a minha putinha gosta?
— Sim. Me fode gostoso. Fode sua puta sem dó. Mais forte!
Renzo foi ao delírio e intensificou as estocadas, até que um
segundo orgasmo me atingiu e quase me tirou de órbita. Meu corpo
se tornou uma massa trêmula enquanto os espasmos me atingiam
violentamente. Antes que eu me recuperasse, ele puxou o pau da
minha vagina e penetrou no meu ânus, de uma vez só, fazendo-me
enlouquecer de vez.
Suas estocadas brutas me levavam ao céu e ao inferno. Ele
comia meu cu sem parar, enquanto suas mãos passeavam pelo meu
corpo, apertavam meus seios e voltavam para massagear meu
clitóris. E, quando ele penetrou um dedo na minha vagina, eu me
perdi e gozei novamente, dessa vez levando-o comigo.
Renzo urrou e me encheu com sua porra, desabando o corpo
em cima do meu, até que nossa respiração e ritmo cardíaco
desacelerassem.
Mais do que o sexo delicioso e incomparável, ou os orgasmos
avassaladores que ele havia me proporcionado, a grandiosidade dos
nossos sentimentos me abalavam.
Quando ele abriu as algemas e tirou a venda dos meus olhos,
eu o abracei com todo o meu amor, ciente de que nós dois nunca
nos perderíamos, que nossos sentimentos nunca se extinguiram,
pois eram imutáveis, eternos. Éramos um do outro,
irrevogavelmente.

Temos uma ilustração forte dessa cena...


Vem para o direct do Instagram ver!
@arynascimento.oficial
Capítulo 10

Antonella
Na manhã seguinte, eu já estava morrendo de saudade dos
meus filhos. Quando eu chegasse em casa, ficaria agarradinha a eles
durante o restante do dia, para compensar minha ausência.
Contudo, a noite com meu marido foi tão memorável que valeu a
pena o esforço de ficar longe das crianças por algumas horas.
Depois da nossa foda quente e brutal, fizemos amor mais
duas vezes e foi igualmente maravilhoso. Renzo era um homem
potente e insaciável, que me proporcionava sensações inimagináveis
e me levava ao limite do prazer, à beira da loucura.
Estávamos terminando o café da manhã para irmos embora.
Já havíamos tomado banho e, dessa vez, eu usava uma roupa
quente e confortável. Apesar de termos dormido menos de duas
horas, eu me sentia radiante e cheia de energia.
Toda mulher precisava, pelo menos de vez em quando, deixar
um pouquinho de lado sua versão mãe e resgatar a versão mulher,
sexy e selvagem, para se sentir bonita, gostosa, adorada…
exatamente como eu me sentia naquela manhã. O jeito com que
Renzo me olhava, como se eu fosse a pessoa mais preciosa do
mundo, fazia toda a diferença também. A bem da verdade, era
recíproco. Éramos preciosos um para outro; nossa família era
preciosa; tudo o que construímos até ali — o amor, a parceria e a
cumplicidade — eram inestimáveis.
— Já que você me deu um presente adiantado, acho justo
entregar um dos seus também. — Renzo se levantou da mesa,
caminhou lentamente até sua jaqueta, pegou uma caixinha de
veludo e me entregou.
— Mais joias? — exclamei, parecendo uma criança
empolgada.
Eu ganhava muitas delas. Todos os meses, em nossos
aniversários de casamento, chegavam peças exclusivas de Dubai.
Eu, claro, não me cansava de ser mimada.
— Abra — ele respondeu, rindo da minha reação.
Ao abrir a caixa, senti vontade de chorar. Era uma
preciosidade, não apenas em relação ao valor material, mas ao seu
significado: mais pingentes para o meu bracelete. Peguei o primeiro
e admirei a delicadeza de cada detalhe. Eram os trigêmeos;
Valentina no meio, e os dois irmãos, um de cada lado, segurando
suas mãos.
O presente era tão perfeito que me faltaram palavras. Sorri
para o meu marido, emocionada e incapaz de externar o que sentia.
Ele sorriu de volta para mim, segurou minha mão por cima da mesa
e a beijou.
— Que bom que gostou, mi amore — ele disse,
demonstrando entender o sentimento que eu não conseguia
transformar em palavras.
— Gostar é pouco. Amei tanto que sou incapaz de descrever.
— Finalmente, consegui falar.
Coloquei o objeto em cima da mesa e peguei o outro, um
pingente de girassol. Desde o nosso casamento, quando Renzo me
deu o buquê, ele sempre dizia que eu era seu girassol.
— São lindos, amor — elogiei, com a voz embargada. —
Ainda nem comprei seu presente de verdade e, agora, diante da
grandiosidade do que você me deu, nem sei o que comprar.
— Você e nossos filhos são meu maior presente, Antonella.
Não preciso de mais nada.
Levantei do meu lugar e fui me sentar em seu colo. Beijei-o
em todo o rosto, em seguida apertei-o em meus braços.
— Você também é nosso presente mais valioso. Obrigada por
ser esse marido incrível, pai maravilhoso e homem honrado. Eu te
amo e tenho um orgulho imenso de você, Renzo Bellini. Meu rei.
Meu tudo.
— Também te amo, Antonella Bellini. Sou o que sou porque
você me amou.

De volta à nossa casa, fomos direto apertar os bebês. Os três


estavam na sala, com meus pais, e ficaram eufóricos ao nos ver.
Passamos o restante daquele dia mimando-os muito, para
compensar o tempo que os deixamos.
Ao mesmo tempo que a noite tinha sido maravilhosa — e eu
sabia que precisávamos daquilo —, também me senti culpada por ter
passado tantas horas longe das crianças. Eu tinha certeza de que
Renzo se sentia da mesma forma, pois não saiu de perto dos filhos
por um minuto sequer.

No dia seguinte, aconteceu a festa de Natal do orfanato, e


todas as mulheres da minha família estavam presentes.
Amanda contratou um Papai Noel para chegar de helicóptero
e distribuir os presentes, e a criançada foi ao delírio. Eles também
enlouqueceram ao me ver chegar, gritaram e me abraçaram
coletivamente, dizendo estarem morrendo de saudade da tia Nella.
Obviamente, meu coração se encheu de alegria com aquela
demonstração de afeto.
As crianças amaram conhecer os trigêmeos, ficaram
encantados. Lorenzo e Valentina adoraram a atenção, ao contrário
do Enzo, que se manteve sisudo. Mesmo com o semblante mais
fechado, ele não chorou, e isso era um claro sinal de que estava
curtindo a bagunça com as outras crianças.
Os trigêmeos estavam soltinhos, passando entre os colos da
avó, das minhas tias e primas. Até meu mais velho lidou bem com
isso, e eu adorei poder deixá-los livres. Apesar de todas as
recomendações do Renzo, eu sabia que ali, naquela fortaleza
cercada por soldados, os três estavam protegidos, então deixei que
aproveitasse a interação com outras crianças e adultos. Seria bom
para eles conviver com outras pessoas, pois, se dependesse do pai,
meus filhos nunca sairiam de casa.
Sophia, Julie, Rapha, Brenda, Cecília, Luna, Beatrice, Gine,
Glenda e nossas mães também estavam no meio da bagunça feita
pelas crianças do orfanato e pelos próprios filhos; apenas Bella ficou
mais isolada, sentada num canto afastado. Ao notá-la distraída,
aparentemente pensativa, me levantei de onde estava, um pouco
mais perto das meninas, e fui até minha prima.
— Por que está sozinha aqui? — inquiri, sentando-me ao seu
lado.
— Por nada. Gosto de observar a alegria das crianças, e daqui
tenho uma visão panorâmica.
— Você anda estranha. Como estão as coisas com Nathan?
— Não estão. Terminei o que, na verdade, nem tinha
começado.
— Por quê? Você estava tão convicta de que deveria tentar…
— É injusto querer que Nathan conserte algo que não foi ele
quem quebrou. Não posso criar essa expectativa nem fazer isso com
um cara que foi tão legal comigo desde o início.
— Gaetano realmente te magoou, não foi?
Aguardei por uma resposta, mas ela não veio. Encarei-a, mas
seu olhar estava inexpressivo. Minha prima era fechada demais.
Seria mais fácil arrancar alguma coisa do meu cunhado do que dela,
o problema era que, provavelmente, nem ele saiba o que tinha feito.
— Não consigo imaginá-lo te magoando propositalmente. Não
é da índole dele. Gaetano é meio louco e inconsequente, mas
também é do bem, foi ensinado a tratar uma mulher com respeito.
Foi Renzo quem terminou de criá-lo e observo isso na personalidade
dos dois. Aliás, dos três, porque Rocco não é diferente.
— Ele não fez nada pra me magoar, Nella. Fique em paz —
Bella respondeu, sem me olhar.
— Sei que está acontecendo alguma coisa nos bastidores da
relação de vocês, mas não consigo identificar o que é. O que vocês
fizeram no dia em que fugiram da comemoração de Natal?
— Nada de mais. — Bella sorriu. — Nos divertimos, rimos
bastante, conversamos, bebemos… — Ela suspirou.
— Vocês estavam estranhos quando voltaram para casa. Eu
percebi.
— Talvez tenhamos nos dado conta de que a liberdade de
sermos nós mesmos acabou no momento em que passamos pelos
portões do complexo. A partir dali, fomos quem pudemos ser. Eu
poderia continuar sendo quem eu queria, mas Gaetano não estava
pronto para essa conversa.
— Você precisa tentar pra saber.
— Não é fácil assim, Nella. Seu cunhado parece ter dupla
personalidade. Ele é uma pessoa quando estamos a sós, quando só
eu posso enxergá-lo. Mas é outra, completamente diferente, diante
do restante do mundo.
— Para mim, isso é um bom sinal. Renzo também é outra
pessoa quando está só comigo.
Bella ignorou meu comentário otimista e voltou a falar como
se estivesse divagando, falando mais para si mesma, pois não me
olhava.
— Quando estamos a sós, ele é... apenas um garoto sendo
feliz. E não tem nada a ver com ser infantil ou imaturo. Ele não
deixa de ser másculo e viril, mas demonstra leveza, despreocupação
com as coisas e pessoas ao redor, esquece as regras e exigências.
— Entendo o que você está dizendo.
— Sabe quando somos mais jovens e sabemos que estamos
fazendo algo que não é legal aos olhos dos outros, ainda assim não
nos importamos com a opinião alheia? — Dessa vez, ela voltou sua
atenção para mim. — Na hora, é mais forte do que nós e fazemos
mesmo assim. Pensamos: se formos pegos, daremos um jeito. —
Assenti, e ela continuou falando: — Gaetano é esse tipo de jovem,
inconsequente e feliz, quando está comigo.
Pela primeira vez, desde que começamos a conversar, o rosto
da Bella transpareceu emoções; ela parecia orgulhosa. Contudo, seu
semblante, logo, se fechou outra vez.
— Mas tudo muda quando outras pessoas, principalmente da
família, estão por perto. Ele se transforma num adulto responsável
que prefere não arriscar, se priva do que quer fazer, pensando nas
convenções… Ele pensa tanto no que pode dar errado que deixa de
viver o momento, e isso me irrita.
— Também acho que ele é o verdadeiro Gaetano quando está
com você. Então, não se sinta menosprezada, Bella. Você conhece
um lado dele que ninguém mais conhece; isso te torna única.
Acredite em mim, meu cunhado só está com medo e...
— Bella! Nella! Vamos tirar uma foto com todos para guardar
de recordação — tia Amanda nos interrompeu.
— Vamos lá. Outra hora, conversaremos melhor — minha
prima falou, já se levantando para fugir do assunto. Ela estampou
um sorriso forçado no rosto e caminhou à minha frente.

Quando cheguei em casa, depois da festa do orfanato,


encontrei Renzo saindo do banho e quase babei. Ele usava apenas
uma toalha enrolada na cintura, e segurava outra, secando os
cabelos; algumas gotinhas de água escorriam por seu peitoral e
abdômen, despertando-me um desejo lascivo de lambê-lo todinho; o
volume do seu pau, mesmo não estando ereto, era evidente sob a
toalha, o que me fez querer cair de joelhos e colocá-lo na boca. Meu
homem era gostoso demais e me deixava molinha.
— Vai ficar só olhando? — ele perguntou, olhando-me dos
pés à cabeça.
— Acabei de chegar da rua. Não estou tão cheirosa quanto
você — Aproximei-me e o abracei pelo pescoço. Ele retribuiu o
abraço, me puxou para mais perto de si e me cheirou.
— Para mim, você está sempre cheirosa. — Renzo me deu um
selinho. — Onde estão as crianças.
— Lá embaixo, com meu pai e os tios.
— Quero vê-los. Estou com saudade. Vocês passaram quase o
dia todo fora.
— Por falar nisso, o que você fez na nossa ausência?
— Competição de tiro com os caras.
— O quê? Como assim?
— Fomos para o estande de tiros e testamos quem era o
melhor. A competição foi acirrada, porque seus primos são
extremamente competitivos. Foi engraçado.
— Quem ganhou?
— Inácio. Ele trabalhou muito tempo como executor, quando
ainda era solteiro. Claro que tinha de ser muito bom de mira. Romeu
também é ótimo.
— Todos participaram?
— Matheo e Enzo só assistiram e riram da confusão. Raphael
acusou todos de roubo, então Pietro e Lorenzo não pararam de
perturbá-lo com isso. Foi uma tarde tranquila.
— E você, como se saiu?
— Muito bem. Minha mira é perfeita, você ainda não
percebeu? — Sua resposta soou maliciosa, e eu adorei seu jeito
descontraído. — Tecnicamente, houve um empate, porque somos
todos bons, mas Inácio e Romeu se destacaram levemente.
— Eles podem ter se destacado lá no estante, mas, aqui, você
certamente é o melhor. Sua mira é impecável — sussurrei em seu
ouvido, entrando na brincadeira.
— É mesmo? Então, hoje à noite, vou te mostrar como ela
está ainda mais certeira. — Ele foi me levando até a porta, ainda
abraçado comigo, e a trancou. — Vai ser uma rapidinha, baby, antes
que nos interrompam.
Quando Renzo me virou de costas, me pressionou contra a
porta, agarrou meus cabelos e levantou meu vestido, eu me
entreguei. Ali mesmo, ele me possuiu. Rápido, forte, potente e
delicioso como sempre.

No tradicional almoço de domingo, na casa do tio Matheo,


recebemos a visita inesperada do Nathan, que apareceu logo após
nossa refeição e pediu para conversar com Bella. Ele carregava um
enorme buquê de flores vermelhas, então minha prima não teve
coragem de negar seu pedido.
Renzo

Eu estava ao lado do Gaetano quando Nathan surgiu em


nosso campo de visão, acompanhado por um soldado e com flores
nas mãos.
— O que esse filho da puta quer aqui? Ela terminou com ele,
caralho — Gaetano rosnou.
— Se controle, porra — falei baixo. — A presença dele
também não me agrada, por causa do episódio com o filho da puta
do primo dele. Os caras também não estão muito satisfeitos com
ele, mas isso não é da sua conta.
— Não é da minha conta, é o caralho. Não deixarei esse
engomadinho ficar importunando a menina. Ela está claramente
constrangida.
Gaetano fez menção de se levantar, mas minhas palavras o
pararam.
— Vai falar com Inácio? Assumir seu interesse na filha dele e
firmar um compromisso?
— Para de fazer chantagem, caralho! Me incomodo como
amigo, porque gosto dela.
— Sei. Veja como Rocco e eu também estamos incomodados
— falei, sarcástico, e meu irmão me fuzilou com o olhar.
Bella aceitou as flores do Nathan e saiu para conversar com
ele. Ao vermos a cena, senti o corpo do Gaetano tensionar.
— Se controla, cara. Deixa a Bella em paz. Quem tem que se
preocupar com isso é o pai dela, não você. — Em vez de falar
alguma coisa, meu irmão apenas se levantou. — Aonde você vai?
— Dar uma volta por aí, papai. Não posso?
— Desde que não faça uma besteira, fique à vontade.
Antonella

— Meninas, recebi uma nova remessa de biquínis brasileiros


— Sophia comentou, assim que Bella voltou de sua conversa com
Nathan; ainda estávamos reunidos na área externa da casa do tio
Matheo.
— Um mais indecente que o outro — Vincenzo disse,
insatisfeito.
— Você adorou os que escolhi.
— Adorei, mas pra você usar no quarto, sozinha comigo —
meu primo debochou, e Sophia o ignorou.
— É verão no Brasil, época que saem os novos modelos, cada
um mais lindo que o outro. Que tal deixarmos as crianças com os
pais e irmos lá em casa para vocês escolherem alguns? — a
terrorista convidou, animada.
Embora tentasse disfarçar, todas sabíamos que, na verdade,
Sophia queria mesmo era encurralar a Bella, até ela contar o que
tinha conversado com Nathan.
— Ótima ideia — concordei, porque era outra fofoqueira.
Como eu, as outras meninas também concordaram. Então, nós
fomos.
Realmente os biquínis estavam lá. Dezenas deles, por sinal.
Sophia os espalhou na cama, para que víssemos os detalhes, mas eu
sabia que, em menos de dez minutos, ela puxaria o assunto.
— Se eu vestir um biquíni desse, Chase terá um infarto —
Brenda comentou, escandalizada com uma das peças minúsculas.
— Pois eu adorei. É esse mesmo que quero usar. — Bella
puxou o biquíni das mãos da Brenda.
— O que acham deste? — Luna levantou um traje vermelho.
Lindo. — Theo achará indecente.
— Ele achará qualquer um indecente — Sophia provocou, e
nós rimos.
— Esse está ótimo, cunhada. Meu irmão que lute — comentei.
— Gente, amei este aqui. Amo amarelo! — Cecília exclamou,
colocando um dos modelos à frente do corpo, enquanto se olhava no
espelho. Era realmente maravilhoso.
— Noah vai surtar, mas quem liga? Você é morena. Ficará
linda de amarelo — Julie falou.
— Cesare também vai enlouquecer ao ver esse aí que está na
sua mão — Rapha comentou, rindo.
— Vai mesmo. Em Ibiza, usei um maiorzinho, e ele quase
infartou. E a gente ainda nem era casado — Julie respondeu.
— Rapha, olha esse. Achei a sua cara. — Sophia jogou um
biquíni no colo da irmã.
— A minha cara, Sophia? Um biquíni rosa fluorescente? —
Raphaela encarou-a, indignada, e a terrorista se jogou na cama,
rindo. — Debochada! Você sabe bem que sou discreta.
— Eu não sou nada discreta. Adoro brilhar! Passa esse pra cá.
— Beatrice pegou a peça luminosa das mãos da Raphaela.
— Esse branco também é um arraso, mas talvez fique
transparente — Cecília comentou, olhando outro conjunto lindo.
— Não fica! Todos os modelos são forrados com um tecido
especial, para não ter esse problema — Sophia explicou.
— Esse, sim, é minha cara. — Raphaela mostrou um conjunto
preto, lindíssimo e muito elegante. Realmente, era a cara dela.
— Digno da primeira-dama da máfia — Beatrice comentou.
— E só é indecente se for comparado aos modelos italianos —
Glenda falou.
— Verdade. É um dos mais discretos — concordei.
— Amei esses três aqui. — Glenda mostrou suas escolhas. —
Vou ficar com todos. Ethan reclamará, mas ele reclamaria até de um
maiô.
— Também já escolhi os meus. Pena que não sei quando
poderemos usar. Ainda falta muito pro verão chegar por aqui.
— Não precisamos do verão quando temos piscina aquecida,
querida — Sophia lembrou. — Aliás, tenho uma ótima ideia, como
sempre. Vamos experimentá-los agora! Rápido, se troquem, porque
vamos para a piscina. E quando chegarmos lá, vou querer saber
tudo o que Nathan te falou, Bella.
— Estava demorando. Eu sabia que tudo isso era uma
armadilha para mim — Bella comentou, rindo.
— Apenas uni o útil ao agradável, querida. Agora, levantem
essas bundas da cama e se arrumem. Estamos merecendo relaxar
na piscina.
— Eu não vou. Tenho um compromisso mais… interessante
com meu namorado. — Beatrice se levantou da cama, segurando
seus biquínis novos, e saiu rebolando, com cara de safada.
— Melhor avisarmos aos meninos, porque eles estão com as
crianças.
— Não se preocupe com isso, Luna. Posso apostar que eles
nos encontrarão rapidinho. Às vezes, acho que Vincenzo colocou um
chip em mim — Sophia comentou, enquanto se despia na frente de
todas nós, sem cerimônia, para vestir seu microbiquíni.

— Comece a falar, Bella — Sophia pediu, assim que nos


acomodamos na piscina.
— Nathan pediu desculpa por não ter sido mais enérgico com
Dylan, na situação que envolvia o nome da Nella. Ele disse que
entende a atitude do Renzo, pois teria feito o mesmo se ouvisse
algum bastardo falando de mim. Mas admitiu que, na hora, ficou
meio atordoado com a situação e não pensou direito em como agir.
E aí pediu outra chance comigo — Bella contou, sem entusiasmo.
— Renzo contou a todos o que aconteceu no banheiro. Tio
Inácio e seus irmãos também ficaram insatisfeitos com a inércia
dele. Aliás, ninguém gostou — comentei.
— O que o idiota do Dylan falou? — Glenda questionou. —
Perguntei ao Renzo, mas ele se recusou a repetir. Como vi que a
situação o deixou muito irritado, não insisti.
— Ele também não queria me contar, mas o infernizei até ele
falar — contei. — Dylan disse que eu tenho cara de safada que
adora um pau.
— Ah, porra! Sacanagem o cara apanhar por causa disso. Ele
só disse verdades — Sophia debochou, e eu joguei água nela,
enquanto as meninas gargalhavam.
— Adoro um pau, sim, mas só o do meu rei rabugento.
— O cara foi um escroto por falar isso. Mereceu ter o nariz
quebrado — Glenda comentou, e as meninas concordaram.
— Qualquer um dos meninos teria agido da mesma forma.
Renzo agiu certíssimo ao defender a honra da mulher dele — Brenda
declarou.
— Uma vez, Theo quase socou um tal de Domenico, em uma
das festas em que estávamos quando ainda éramos noivos, só
porque o cara me abordou — Luna comentou.
— São todos possessivos com as gostosas aqui — Sophia
disse, dando uma reboladinha. — Mas, e aí, Bella, o que você falou?
Dará outra chance pro soca-fofo?
— Prometi pensar, mas só porque queria que ele fosse
embora logo. Tenho quase certeza de que ele percebeu minha falta
de interesse, pois sugeriu recomeçarmos como amigos, sem
pressão.
— E você aceitou? — Glenda inquiriu, mas, antes que Bella
abrisse a boca para responder, fomos flagradas.
— Aqui! Encontramos as fujonas! — Vincenzo falou alto, à
porta da área da piscina. Logo, todos os outros maridos chegaram.
Capítulo 11

Antonella
— Com quem vocês deixaram as crianças? — perguntei,
massageando os seios.
— Com as avós — Theo respondeu.
— Vou amamentá-los. Meus seios estão cheios, eles devem
estar querendo mamar. Volto já — anunciei, caminhando em direção
à borda da piscina, e Renzo se aproximou para me ajudar, mas fiz
impulso e saí sozinha.
— Volte pra água — ele disse, com seu tom arrogante, assim
que fiquei de pé à sua frente.
Renzo estava com uma das mãos sobre o peito, como se
estivesse à beira de um infarto; sua expressão era de horror, e isso
me assustou.
— O que foi? O que você tem? — perguntei, realmente sem
entender.
— Que porra de biquíni indecente do caralho é esse? — ele
respondeu, puto, abraçando-me e protegendo meu corpo como era
possível.
Não apenas eu, mas todos ao redor acharam graça daquela
reação exagerada. Entretanto, meu rei ciumento e arrogante
permaneceu sério.
— Pelo amor de Deus, Renzo. Estou com a minha família. Só
tem meus primos e irmãos aqui.
— Rocco não é seu parente, nem Cesare ou Vittorio.
— Rocco é seu irmão, e os outros são maridos de minhas
primas, portanto… primos também.
— Vincenzo é primo da Sophia… — ele rebateu, insinuando
que aquela não era uma justificativa plausível, visto que meus
primos se casaram.
— Para de ciúme, Bellini. O único tarado da família é o
Vincenzo, e ele já está casado. Já cansei de falar isso — Edward o
repreendeu enquanto tirava a roupa, ficando apenas de cueca boxer,
e pulava na piscina.
— Minha mulher não é sua prima, bastardo. — Desta vez, foi
Ethan quem reclamou, puto da vida. — Coloque a porra de um
short.
— Nem a minha — Theo e Chase falaram juntos. — Vá
colocar uma roupa adequada, stronzo. — Theo corrigiu nosso irmão,
reforçando o que Ethan tinha falado.
— Cecília, saia dessa piscina agora. Vamos pra banheira da
nossa casa, só nós dois. Será bem melhor. — Noah se aproximou da
borda, segurando um dos roupões que tínhamos largado por ali.
— Ah, não, amor! — ela resmungou. — Coloque um short e
junte-se a nós.
— Vamos todos trocar de roupa e nos juntar a elas, então —
Gael sugeriu.
— Nem fodendo eu saio daqui. A água está quentinha.
Tragam um short para mim — Edward pediu, na maior cara de pau,
em seguida mergulhou.
— Abusado — Louis bufou.
Quando os meninos começaram a sair da área da piscina,
todos resmungando, Renzo finalmente me largou e correu para
pegar um roupão para me cobrir.
— Nós vamos ver as crianças. Vou alimentá-los, mas depois
voltaremos — falei às minhas primas, enquanto meu marido
colocava o roupão em mim como se eu fosse uma criança.
— Onde estão suas roupas? — Renzo perguntou. — Lá fora
está frio, é melhor você se vestir. Só esse roupão não será suficiente
pra te aquecer.
— Estão ali. — Apontei para o vestiário e fui até lá para me
trocar.

— Esse menino tem meu nome, mas puxou ao Matheo, não


dá um sorriso. Estou há meia hora tentando, mas ele só me olha
assim, invocado. — Ouvi a voz do meu nonno quando chegávamos à
área externa da casa do tio Matheo, onde eles ainda estavam
reunidos.
— Ele sorri sim, pai. Pra Nella, pro Renzo, às vezes até pra
mim. Ele só não é tão aberto quanto Lorenzo e Valentina — meu pai
defendeu o neto. — Me dê aqui, aposto que ele vai rir pra mim.
— Deixem meu filho em paz. Ele só é um pouco
emburradinho, porque puxou ao pai — falei, brincando, e Enzo sorriu
para mim. — Viu? Ele sempre sorri para a mama.
Peguei meu bebê e beijei sua bochecha gordinha. No instante
em que me sentei com ele no colo, o esfomeado já procurou meu
peito.
— Onde vocês estavam? — dona Camila perguntou,
segurando o Lorenzo; Valentina estava no colo da nonna Lili.
— Na piscina, estreando os biquínis que Sophia adquiriu para
nós.
— Biquínis? Aquilo é um micropedaço de pano — Renzo
resmungou.
— Os meninos devem estar enlouquecidos — Mia comentou,
rindo. — São um bando de ciumentos.
— Estão mesmo. E, para piorar, Edward pulou na piscina só
de cueca. Ethan, Chase, Theo e Noah quase piraram — contei, e
minha mãe caiu na gargalhada.
— Perturbado igual à mãe. Não foi a mim que ele puxou —
meu pai acusou, e meus avós e tios riram.
— Não, Lorenzo? — Pietro debochou. — Você foi o último a se
casar, vivia nos perturbando.
— Isso é verdade. Várias vezes, quase dei um tiro nele —
Raphael comentou.
— Você está falando de quê mesmo? Antes de casar,
perturbava o Pietro o tempo todo — meu pai acusou o Raphael.
— A verdade é que nenhum de vocês presta! — Nonno Enzo
declarou, rindo.
— E você presta, não é, Enzo? Vivia me provocando quando
assumi compromisso com a Melissa — tio Matheo acusou, e meu avô
deu uma gargalhada.
— Verdade, eu também não presto, confesso!
— Há sempre um solteiro para perturbar a vida dos casados
— Romeu falou.
— No meu caso, casei logo, para evitar a concorrência — Tio
Inácio declarou.
Eles seguiram com as provocações, enquanto eu me
concentrava em terminar de amamentar minha prole. Minutos
depois, os trigêmeos dormiram, e Renzo os acomodou no carrinho.
Chamei-o para voltarmos para a piscina, mas, antes, passaríamos na
casa da minha mãe para ele vestir um short por baixo das roupas de
frio.
Quando saíamos de casa, demos de cara com Gaetano
chegando. Ele parou o carro próximo de nós, beirando a calçada.
— Onde vocês estão indo?
— Pra piscina. Estão todos lá. Vamos? — convidei-o.
— Defina todos.
— Todos os primos.
Meu cunhado ficou pensativo por um momento, porém
concordou em nos encontrar lá depois que trocasse de roupa.
Quando retornamos à piscina, todos se divertiam, fazendo a
maior algazarra. Renzo e eu deixamos nossas roupas no vestiário e
caímos na água também. Minutos depois, Gaetano se juntou a nós.
Eu amava nossos momentos em família, principalmente os
assim, descontraídos. Ali, eles não eram os mafiosos tensos,
armados e perigosos que mostravam fora do complexo; éramos
apenas família.
Nas duas semanas que antecederam o Natal, os homens
casados diminuíram drasticamente o ritmo de trabalho. Em vez de
irem à empresa, trabalhavam de casa, enquanto os solteiros
cuidavam das boates — o que, para eles, nem era considerado um
trabalho.
Antes de me conhecer, Renzo trabalhava sem pausas. Cansei
de ouvir Glenda e Gine contarem que ele nunca tirava férias.
Contudo, depois que entrei em sua vida, e, principalmente, após o
nascimento dos nossos filhos, ele se tornou um homem mais caseiro
e leve. Essa mudança me deixou contente e contribuiu muito para
minha adaptação na Calábria.

A piscina era enorme, então, naturalmente, nós nos


dividimos; as meninas ficaram conversando de um lado, e os
meninos, do outro.
— Bella, não esqueci daquele assunto. Você aceitou ser amiga
do Nathan? — Sophia desenterrou a conversa que tínhamos antes
de os meninos chegarem.
— Sim, disse que tudo bem sermos amigos, afinal Nathan não
é uma má companhia. Eu só… Não estou aberta a um
relacionamento agora.
— Aberta a um relacionamento com ele, né, querida? Tenho
certeza de que isso não se aplica ao Gaetano, porque você olha para
ele como se visse seu doce favorito — Sophia perturbou.
— Meu sonho é ganhar mais uma cunhada Esposito — Glenda
comentou, empolgada.
— E o meu é ter Bella na Calábria comigo — comentei.
— Vocês estão muito sonhadoras. Gaetano não pensa em
casamento, e eu nem ia querer me casar com ele, porque nos
mataríamos dentro de casa.
— Não sei porquê. Aos meus olhos, vocês parecem se dar
bem — Raphaela comentou.
— Às vezes, sim. Mas, na maioria do tempo, ele é irritante.
Sem chance!
— O que te irrita é não resistir a ele. Sei bem como é isso,
porque eu sentia a mesma coisa com o Chase — Brenda comentou.
— Exatamente! — Raphaela exclamou.
— Não é isso. Gaetano é… muito instável. Além de ser um
prostituto, é claro.
— Vocês viram que ele fuzilou Nathan com o olhar, quando o
cara chegou? — Cecília comentou, e todas concordaram.
— Quando está no destino, nada impede que aconteça. Eu
era a mulher mais traumatizada do mundo… Na verdade, ainda sou
um pouco. No entanto, me apaixonei, me casei e me tornei mãe,
coisa que nunca achei que seria possível — Luna declarou.
— Também, quem resistiria ao meu irmão? Theo é um
príncipe — comentei.
— É mesmo — minha cunhada concordou, toda
apaixonadinha.
— Gaetano não é um cara mau com as mulheres. Ele só tem
um pouco desse receio bobo que a maioria dos homens tem em
relação ao casamento — Glenda defendeu o irmão.
— Também acho que é só isso — concordei.
— Eu tenho um plano! — Sophia se pronunciou, animada.
— Nem vem, Sophia. Seus planos são sempre loucos — Bella
recusou, de cara. — É sério, gente, eu estou bem assim. Deixa o
Gaetano viver a vida dele, e eu a minha. Não sei por que vocês
cismaram com isso.
— Porque qualquer um pode sentir a faísca que existe entre
vocês, e eu estou doida pra vê-la se transformar em um fogaréu —
Sophia respondeu.
— Vamos deixar Bella em paz, meninas. Que tal mudarmos de
assunto? — Rapha sugeriu.
A partir dali, falamos sobre sexo e não paramos mais, porque
quando as mulheres se juntam para falar de sacanagem, são piores
do que os homens.

Naquela noite, nos reunimos na casa do Noah para uma noite


de fondue. Dessa vez, levamos as crianças e tivemos momentos
maravilhosos em família.
Renzo e eu fomos embora quando os trigêmeos ficaram
impacientes, demonstrando cansaço. Minutos depois, quando já
estávamos abraçados sob o edredom, prontos para dormir, meu
marido e eu iniciamos uma conversa.
— Acho que você não deveria interferir tanto na situação
entre Bella e Gaetano — opinei.
— Por que está dizendo isso? Gaetano precisa de freio,
Antonella. Ele tem de entender que sua prima é uma garota da
máfia, não um casinho qualquer. Não vejo problema algum num
relacionamento casual entre dois solteiros, desde que não seja uma
filha da famiglia. Você sabe muito bem como as coisas funcionam no
nosso mundo.
— Eu sei, Renzo. Mas, talvez, seja necessário deixar as coisas
fluírem para Gaetano conseguir perceber o que realmente sente. Ou
você acha que ele não tem interesse algum na Bella?
— Gaetano quer sua prima, mas também quer a liberdade de
um homem solteiro, mi amore. Ter essas duas coisas é impossível. E
digo mais, meu irmão precisa encarar essa realidade, antes que
Inácio se estresse com ele.
— Você também tinha medo de relacionamento e olhe só
para nós. As pessoas mudam, Renzo.
— Eu não tinha medo de relacionamento, Antonella. Tinha
medo de me apaixonar e perder o controle sobre mim mesmo. São
coisas diferentes. Olha, se Gaetano quiser ficar com a Bella de forma
honrada, terá meu apoio; caso contrário, prefiro que ele deixe a
menina em paz.
— Nathan sugeriu à Bella que começassem do zero, apenas
como amigos.
— Ela aceitou?
— Pelo que entendi, sim. Disse que, apesar de ele ser um
cara legal, ela não está a fim de um relacionamento agora.
— Talvez ele seja realmente o cara certo para ela.
— Está defendendo o Nathan, Renzo Bellini?
— Defendendo, não. Inclusive, acho que ele precisa ter mais
pulso firme em suas opiniões. O cara parece um pau mandado do
pai e foi um babaca naquela situação com o bastardo do Dylan, mas
acredito que esteja realmente interessado na sua prima.
— Mas ela não está na mesma sintonia.
— Na minha opinião, as coisas entre eles esfriaram por causa
da presença do Gaetano. Qualquer um consegue ver que os dois
estão, no mínimo, atraídos um pelo outro. Talvez, quando voltarmos
para a Calábria, Bella e Nathan se acertem.
— Ou não. Na verdade, posso apostar que não.
Gaetano

— Qual o seu lance com a minha prima? — Edward


perguntou, sem rodeios.
Estávamos Rocco, ele e eu conversando e tomando uma
bebida em um dos camarotes da Vanity.
— Lance nenhum, cara. Bella é linda e tentadora pra caralho,
mas não a mereço.
— Não merece mesmo. No entanto, mesmo assim você a
quer.
— Gaetano acha que engana alguém — Rocco debochou,
enquanto virava o resto de sua bebida em uma golada e pedia outra
ao barman. Ultimamente, meu irmão parecia estar com a cabeça
mais fodida do que a minha; alguma coisa o estava deixando mais
irritado que o normal.
— Querer não é poder, meu caro — respondi ao Edward,
ignorando a provocação do Rocco. — Mulheres bonitas são meu
fraco, mas Bella é pra casar, já eu, não.
— Vai esperar a menina se casar com outro só porque tem
medo de se amarrar? — meu irmão me alfinetou outra vez.
— Qual é o seu problema comigo, cara? Você se casará antes
de mim, então cuide da sua vida amorosa e deixe a minha em paz.
Não estou com um pingo de pressa. — Dessa vez, não consegui
ignorá-lo.
— Se ficar esperando por mim para se casar, você está
fodido. Não vou me casar tão cedo.
— Então, porque está me criticando? É meio hipócrita da sua
parte, não acha?
— Você tem uma mulher que te quer, caralho! Deixe de ser
idiota e imaturo. Aproveite a oportunidade. Já que sempre nos
casamos por causa dessas tradições fodidas, ao menos se case com
alguém que te atrai. — Rocco virou a outra dose de uísque e se
levantou. — Vou embora. Boa noite pra vocês.
— Não vá dirigindo, bastardo. Você bebeu demais — falei.
— Relaxe. Estou com a minha babá. Você sabe, cortesia da
Cosa Nostra — ele ironizou e nos deu as costas.
— Esse aí está mais fodido do que você — Edward disse.
— Tenho certeza disso. O problema é que ele não conversa
com ninguém, é pior do que o Renzo nesse sentido.
— Como diz Raphael: um homem sem uma mulher para
perturbar seu juízo é só um garoto. — Nós rimos daquela filosofia.
— Agora voltando ao assunto da Bella, eu só quero que você
entenda que está lidando com uma princesa, cara. — Edward deixou
de lado sua habitual postura extrovertida e assumiu um semblante
sério. — Nossas meninas são criadas com total zelo, para que
cresçam cientes de que merecem o melhor. Não somos como outras
famílias da máfia, que desrespeitam e desvalorizam suas mulheres.
Portanto, não brinque com a minha prima. Entendo sua insegurança,
mas não entenderei se você machucá-la.
— Justamente por saber o quanto Bella é especial, estou
tentando me manter afastado.
— Jura? Tive uma impressão diferente no dia da
comemoração de Natal da famiglia, já que vocês fugiram juntos da
festa.
— Ela estava triste, cara. Não resisti a fazê-la sorrir.
— Se a tristeza dela te incomoda, você deveria dar mais
atenção ao que sente.
— Não vou negar que sinto um grande carinho e atração por
ela, mas não tenho responsabilidade com a emoção dos outros.
Digamos que sou um cara… egoísta. Sequer cuido de mim mesmo.
— Vai dizer que é traumatizado como o Renzo? Você nunca
me pareceu...
— Meus irmãos e eu temos a cabeça fodida na mesma
proporção, afinal ambos presenciamos o lado feio do amor —
interrompi seu julgamento. — Mas cada um assimilou, administrou e
canalizou a dor à sua própria maneira. Diferente do Renzo, que tinha
medo de se apaixonar e se perder, eu simplesmente não quero me
apaixonar.
— Na realidade, nenhum de nós quer, mas acaba
acontecendo.
— Não comigo. Eu posso controlar isso. A última coisa que
quero é essa escravidão, essa responsabilidade. Sou um cara livre.
Não sou nem posso ser de ninguém, porque pertenço apenas a mim
mesmo.
— Já ouvi isso tantas vezes — Edward debochou.
— Não tenho responsabilidade emocional com os sentimentos
de ninguém. Certamente, estragaria tudo e magoaria uma mulher
indefesa com a minha instabilidade emocional, e essa é uma
covardia da qual eu nunca me perdoaria. Você pode até achar que
estou desvalorizando a Bella, mas, na verdade, estou protegendo-a.
— Já parou para pensar que pode ser tarde demais?
— Tarde demais para quê?
— Para recuar. Talvez vocês já estejam envolvidos demais.
— Pode ter certeza de que não estamos. Nós gostamos das
mesmas coisas, é divertido quando passamos um tempo juntos,
mas… Somos apenas… compatíveis. Diferente de outras mulheres,
Bella nunca me deixa entediado. E ela nem precisa chupar meu pau
ou qualquer coisa do tipo para conseguir isso.
— Vá se foder, bastardo! Respeite minha prima!
— Isso foi um elogio, caralho. Ela me mantém interessado
apenas com sua conversa, sua presença… Bella é uma mulher
diferenciada. Quem a tiver será um cara de sorte.
— É por isso que você odeia tanto o Nathan? Porque ele é um
cara de sorte que terá a Bella?
— Não! Porque ele é um babaca que não a merece. Nathan é
um fraco, filhinho de papai.
— Você não faz ideia do quanto está fodidamente equivocado.
Mas é tarde demais, parceiro. — Edward colocou a mão no meu
ombro, sorriu de maneira sarcástica e, antes que eu questionasse
seus devaneios, chamou o barman. — Traga mais uma rodada,
porque meu amigo aqui está precisando.
O garçom assentiu e, imediatamente, serviu mais uma dose
dupla de uísque para nós. Edward me entregou um copo, pegou o
outro e o ergueu.
— Vamos beber, Gaetano, porque amar está foda!
Renzo

Na manhã seguinte

Antonella acordou com cólicas; era a primeira vez que sua


menstruação descia desde o nascimento dos trigêmeos. A obstetra
tinha explicado que era normal haver essa pausa e que o corpo dela
voltaria a funcionar corretamente quando estivesse pronto.
Ajudei-a a amamentar os trigêmeos, depois dei banho neles
sozinho, enquanto ela descansava. Depois que os três ficaram
calminhos, deitei-os ao lado dela e desci para buscar um
medicamento. Além do remédio, minha sogra me entregou uma
bolsa térmica aquecida, para fazer compressa.
Depois que levei tudo para amenizar as dores da minha
mulher, desci novamente, dessa vez para buscar seu café da manhã.
Antonella não comeu quase nada, quem acabou comendo fui eu.
Aos poucos, o medicamento deixou-a sonolenta. Então,
depois que ela cochilou, levei nossos filhos para fora do quarto, para
que pudesse descansar tranquilamente. No térreo, tive a ideia de ir
até a casa da Glenda.
— Bom dia, irmão. — A baixinha abriu a porta para nós,
sorridente. — Que surpresa mais linda para a titia. Entrem.
Ela escancarou a porta, para que eu conseguisse passar com
o carrinho triplo, e eu logo avistei Ginevra, Ethan e Isa à mesa do
café.
— Bom dia — cumprimentei-os, e eles responderam em
uníssono.
Caminhei até eles e dei atenção especial à minha sobrinha,
beijando sua bochecha gordinha. Em retribuição, ganhei um abraço
apertado. Isa era uma princesa, tinha o mesmo jeito meigo da
Glenda.
Gine largou seu café e pegou Valentina no colo. Glenda pegou
Enzo e deixou Lorenzo dormindo no carrinho.
— Por que Nella não veio com vocês? — minha irmã
perguntou.
— Ela está com cólicas menstruais. Então, trouxe as crianças
para um passeio, para ela descansar.
— Fez bem, meu filho. Tem que ajudar sua esposa — Gine
falou, orgulhosa.
— Senta aí, cara. Come alguma coisa com a gente — Ethan
ofereceu.
— Obrigado. Eu já comi. Gaetano e Rocco ainda estão
dormindo?
— Óbvio. Os vagabundos saíram ontem. Gaetano chegou
quase de manhã — Ethan comentou.
Conversamos sobre assuntos aleatórios, enquanto eles
comiam, depois Ethan resolveu ir à academia e Gine foi adiantar
algumas coisas da preparação do almoço, que ela fazia questão de
fazer. Glenda e eu fomos para a sala com as crianças.
— Você faz ideia do quanto meu peito explode de amor e
felicidade ao te ver assim, todo paizão, casado e sem medo de
amar? Rezei tanto por isso, Renzo — Glenda declarou, emocionada,
segurando minha mão.
Ela estava sentada em um colchão que colocou no chão para
os sobrinhos e Isa ficarem à vontade; eu estava sentado no sofá, de
frente para eles.
— Também estou feliz, irmã, por mim e por você. Só falta
Gaetano e Rocco encontrarem um caminho.
— Eles se ajeitarão na hora certa. Gine e eu seguimos
rezando para que cada um deles encontre uma Antonella para
chamar de sua. Aliás, acho que Gaetano já encontrou.
— Outra Antonella é impossível, porque minha mulher é
perfeita e única. Eles terão de lutar muito para encontrar alguém
parecido.
— Bella também é maravilhosa.
— E o idiota do seu irmão está estragando tudo. Mas quem
sou eu pra julgá-lo? Também quase estraguei tudo no início do meu
casamento e foram justamente os dois que me fizeram enxergar a
realidade.
— Eles não são tão imaturos e cafajestes quanto parecem,
irmão. Afinal, foi você quem os criou.
— Quando voltarmos para a Calábria, terei uma conversa
franca com os dois. É mais fácil enxergarmos com clareza quando
estamos de fora, como no meu caso. O conflito é bem maior para
quem está vivenciando a situação.
— Exatamente. Deu certo para você e dará certo para eles
também. Nunca duvidei do amor da Antonella por você.
— Pois é. Qualquer mulher no lugar dela teria desistido de
mim, porque fui um escroto em vários momentos. Mas ela ficou,
lutou por nós, me resgatou de um lugar sombrio e me trouxe à luz.
É por isso que amo minha rainha maluca, assim como sei que Ethan
te ama. Eu gostaria muito que aqueles dois desajuizados também
conhecessem a parte boa do amor.
— Eles conhecerão, irmão. Não se preocupe.
Capítulo 12

Renzo
Alguns dias depois

Ao sair do quarto com Antonella e os trigêmeos, na manhã da


véspera de Natal, senti como se me teletransportasse para o
passado; um incômodo invadiu meu peito ao inspirar o aroma já
esquecido, mas tão familiar, dos biscoitos natalinos.
Minha mãe amava o Natal, tanto que, no dia 24 de dezembro,
acordava bem mais cedo do que o habitual para fazer muitos
biscoitos para nós com a ajuda de Ginevra. Gaetano e Rocco
amavam, assim como eu. Dona Isabella preparava fornadas com
sabores, cores e formatos diferentes, deixando a casa com um
aroma delicioso durante todo o dia.
Depois que ela se foi, pedi que Gine interrompesse aquela
tradição, pois a lembrança era dolorosa demais. Na verdade, até
Antonella entrar na minha vida, o Natal era uma data triste para
mim.
Saí dos meus devaneios ao sentir a mãozinha da Valentina
puxando minha barba como se quisesse chamar minha atenção e
me salvar dos pensamentos nostálgicos. Ela e Lorenzo estavam no
meu colo, enquanto Enzo era carregado por Antonella.
— Ela também ama a barba do papai — minha mulher
brincou, beijando a mão da nossa filha.
Imediatamente, o incômodo que eu sentia se esvaiu e meu
mundo ficou colorido outra vez, e as razões eram minha esposa e
meus filhos. Por causa deles, e por eles, eu deixei de apenas existir
e passei a viver.
Ao chegarmos à sala de jantar, encontramos Camila pondo
uma fornada de biscoitos na mesa, bem parecidos com os da dona
Isabella. Pelo visto, esse é um talento de todas as mães.
Excepcionalmente naquela manhã, meus cunhados já
estavam sentados à mesa; Theo, Luna e Alice também marcaram
presença.
— O Natal é milagroso mesmo. Vocês já estão até de pé a
essa hora — debochei.
— Não se iluda, cunhado. Estamos aqui por livre e
espontânea pressão. A mamma exige que tomemos o café da
manhã da véspera de Natal juntos — Louis contou.
— Claro! A ceia será na casa do Matheo, o almoço de Natal,
na casa dos seus avós… Este é o momento só da nossa família:
todos os meus monstrinhos juntos, do jeito que a mamãe ama —
minha sogra brincou. — E este ano é ainda mais especial, porque
além da minha nora linda e minha princesa Alice, temos a presença
do meu genro querido e meus trigêmeos mais que perfeitos.
— Podemos começar os trabalhos? Já vou avisando que os de
coração são meus — Edward brincou, referindo-se aos biscoitos. —
Gael pode ficar com as árvores, Theo pega os papais-noéis, e Louis,
os bonecos de neve.
— As estrelinhas são da Alice, não é, meu amor? — Theo
declarou, entregando um biscoito naquele formato para a filha.
— Quero os anjos — Luna escolheu.
— E eu? — minha esposa entrou na brincadeira, fazendo
beicinho.
— Você terá que ficar com as bengalas, Nella — Gael disse.
— Ótimo! Eu adoro uma bengala — a safada da minha mulher
falou, cheia de malícia.
— Pelo amor de Deus, respeite o espírito natalino, filha. Senti
até uma palpitação no peito por causa dessa sua frase de duplo
sentido. Deixe o papai continuar se iludindo, achando que foi a
cegonha que trouxe os trigêmeos para a nossa família — Lorenzo
declarou com a mão no coração, fazendo drama. Nós rimos.
A refeição transcorreu num clima leve e bem-humorado.
Quando terminamos, Antonella, Luna e minha sogra foram para a
casa da Melissa, para ajudar nos preparativos para a ceia de Natal, e
os caras e eu ficamos cuidando das crianças.

Na sala da casa dos meus sogros, com Enzo e Lorenzo


deitados no carrinho, eu esperava Antonella descer com Valentina
para irmos à casa do Matheo; meus sogros e cunhados já tinham
saído há alguns minutos.
Para variar, Enzo começou a resmungar de impaciência com
aquela demora.
— O que foi, meu filho? Você não está com fome, não está
sujo… Deixa de ser invocado, cara. O papai está aqui, e a mamãe já
vai descer. Aliás, sugiro que você vá se acostumando com isso,
porque as mulheres demoram pra se arrumar. Se prepare, pois ainda
terá que esperá-las muitas vezes na vida.
Enquanto eu conversava com meu filho mais velho, seu olhar
estava vidrado em mim, como se compreendesse cada palavra que
eu dizia.
— O papa também era um cara impaciente, sabia? Pois é! Aí
ele se apaixonou pela sua mãe, e o lobo virou um cordeirinho —
falei, achando graça, e Enzo também sorriu. Finalmente. — Mas
nunca, nunca mesmo, conte isso a alguém. Um dia, você também
irá se apaixonar e entenderá o que estou dizendo.
Notei uma movimentação no topo da escada e, ao olhar
naquela direção, vi Antonella descendo o primeiro degrau com
Valentina no colo. Levantei-me para esperá-las no pé da escada.
Minha esposa deslizava pelos degraus com a elegância de uma
rainha, que de fato ela era; em seus braços, minha filha estava
igualmente graciosa, fazendo jus ao posto de nossa princesinha.
Fiquei sem palavras quando elas finalmente chegaram até
mim, lindas pra caralho; as duas mulheres da minha vida de vestido
vermelho. Antonella conseguiu ficar ainda mais gostosa naquela
roupa que potencializou sua beleza e suas curvas exuberantes.
— Vocês estão incrivelmente lindas. É impossível descrever.
Eu estava completamente rendido e não me importava com
isso. Minha mulher e meus filhos eram o meu mundo, e eu sempre
lutaria por eles. Ninguém jamais os tiraria de mim. Eles eram meus
para amar e proteger até o último dia da minha vida.
— Você está muito linda, principessa — falei, beijando a
mãozinha da Valentina. Ela sorriu e se jogou em meus braços.
Peguei-a no colo e cheirei sua cabecinha.
— Agradecemos os elogios, marido. Você também está uma
perdição.
— Obrigado — fiz o meneio formal de cabeça em
agradecimento, e Antonella riu. Em seguida, ofereci meu braço para
que ela segurasse. — Vamos?
— Espera. Quero te dar algo antes de sairmos.
Antonella levantou o braço e, apenas naquele momento, notei
que ela carregava uma pequena bolsa de papel verde.
— É o seu presente. Abra e use esta noite.
Com certa dificuldade, por estar com a minha filha no colo,
abri a bolsa e encontrei uma caixa verde da Rolex. Ela me ajudou a
abri-la e expôs um relógio maravilhoso. De imediato, gostei da
escolha do modelo.
— É lindo, mi amore. Obrigado.
— É de titânio. Robusto, forte e resistente como você.
— Coloca pra mim, por favor.
Antonella tirou o outro relógio que estava no meu braço,
colocou-o na mesinha da sala, em seguida afivelou o modelo novo.
Coube perfeitamente.
— Ficou perfeito em você — ela disse, sorrindo. — Fiquei com
receio de a pulseira vir no tamanho errado.
— Quando você comprou? Sequer desconfiei.
— Ontem, quando fui ao shopping com as meninas.
— Obrigado — agradeci outra vez e beijei-a.
— Agora, sim, podemos ir.
Acomodei Valentina no carrinho triplo, ao lado dos irmãos, e
seguimos para a comemoração.
Antonella

Quando chegamos à casa do tio Matheo, todos já estavam lá.


O cheiro de comida era inebriante e fez meu estômago roncar; uma
música suave e em volume ambiente era o pano de fundo das
conversas eufóricas da família reunida.
Antes que os cumprimentássemos, minha mãe, Gine e minhas
tias se aproximaram para carregar os bebês, para paparicá-los; era
sempre assim. Então, Renzo me deu um selinho e se afastou para
falar com os irmãos, que estavam reunidos em um canto com meus
primos. Eu fui para a mesa de doces, beliscar alguns petiscos, depois
me juntei às minhas primas.
Conversávamos assuntos aleatórios, até que a campainha
tocou. Logo, a governanta da tia Melissa abriu a porta, e Nathan
entrou.
— Ué! — Sophia exclamou. — Achei que vocês não estavam
mais juntos, Bella.
— Nem sei se, um dia, já estivemos — minha prima
murmurou, desanimada. — Acontece que o convite para a festa de
Natal foi feito bem antes de Nathan e eu nos desentendermos, e
nossos pais não o retirariam só porque não estamos mais juntos.
Seria falta de educação com os Lucchesi.
— Bem, para mim não faz diferença que ele esteja, ou não,
aqui. Mas, pelo jeito, faz uma grande diferença no humor do
Gaetano — Sophia falou, rindo e apontando com a cabeça na
direção oposta. — Vejam o olhar letal dele para cima do Nathan.
Realmente, meu cunhado nem disfarçou seu desgosto pela
presença do pretendente da Bella. Enquanto o observava, vi quando
Renzo falou algo em seu ouvido, e ele deu as costas para Nathan,
retomando o papo com os meninos.
Gentil e educado como costumava ser, Nathan cumprimentou
os homens, depois, as mulheres — de forma respeitosa, como o
protocolo da máfia exigia. Seus pais não puderam comparecer,
porém ele fez questão de honrar o convite feito pela minha família.
Quando chegou ao nosso grupinho, Nathan cumprimentou,
uma a uma, apertando a mão. Contudo, na vez da Bella, ele beijou
sua mão.
— Com todo respeito, vocês estão lindas, meninas — ele nos
elogiou, galanteador. Nós agradecemos.
Em seguida, para a desgraça do meu cunhado, Nathan foi em
direção ao grupo deles e ficou por lá. Ele se enturmava fácil e já
tinha um pouco de intimidade com os meninos.
Depois do ocorrido na festa da organização, ele estava sendo
avaliado pelos homens Espositos. Na ocasião, Nathan fez questão de
conversar com tio Inácio, meu pai e Renzo, desculpou-se e deixou
claro que abominava as atitudes do primo, então os meninos lhe
deram uma segunda chance. Ele reafirmou seu interesse pela Bella,
mas disse que respeitaria o tempo dela. Meu marido me contou tudo
na noite passada, quando cheguei do shopping.
A noite transcorreu agradável, sem incidentes. As meninas e
eu tivemos um tempo para nós, já que as crianças estavam com os
pais ou avós, e isso foi maravilhoso para podermos relaxar um
pouco.
Leninha e Raphaelzinho não desgrudavam do Vittorio, assim
como Aurora e Matheozinho ficavam agarrados ao Chase, quando
não estavam brincando. Alice, Isa e Luisa também eram os
chicletinhos dos pais, tanto que só se afastavam para brincar com
Ayla, que era a mais velha e comandava a gangue. Uma verdadeira
mini Sophia, pensei. Nicholas era a sombra do Noah, já Elena era
bastante agarrada à nonna Amanda. Bombom e Nicholas eram muito
amigos; viviam juntos, quando não estavam com os pais. Em outras
palavras, nossa família era linda, e eu amava quando estávamos
juntos.
Eu observava minhas prole passando de colo em colo, sob o
olhar atento do Renzo. Os trigêmeos só voltavam para mim na hora
de mamar, assim como Dante ia para o colo da Sophia.
Eu estava faminta quando o jantar finalmente foi servido na
grande mesa. Comemos num clima tranquilo, com Raphael e os
meninos brincando e nos fazendo rir; e Sophia, como sempre, dando
um show à parte com suas pérolas. Enfim, a noite passou
agradavelmente, como sempre acontecia quando estávamos em
família.
Após a ceia, colocamos as crianças para dormir, pois os
presentes só seriam abertos no dia seguinte, na noite de Natal.
Meus pais levaram os trigêmeos para casa, assim que acabei de
amamentá-los. Eles só acordariam para mamar novamente às 3h da
manhã, então Renzo e eu ficaríamos mais um pouco, conversando e
curtindo a noite.
Nossos avós e a maioria dos meus tios também encerraram a
noite após a ceia e as felicitações. Depois disso, a quantidade de
álcool servida aumentou, e os ânimos se exaltaram. Exceto Sophia e
eu, que estávamos amamentando, todos os outros se permitiram
encher a cara, principalmente meus irmãos, meus cunhados e
Nathan.
— Será que a mulher mais linda desta festa me concederia
uma dança? — Renzo perguntou, sorrindo.
— Você me convidando para dançar? Definitivamente, está
alterado pela bebida — brinquei, já envolvendo seu pescoço com os
braços.
— Não gosto, mas sei que você gosta, então o objetivo é te
satisfazer sempre, mi amore.
Começamos a nos mover suavemente e, instantes depois,
meu coração quase parou quando meu marido me girou, me puxou
novamente para seus braços e cantou baixinho um trecho da música
no meu ouvido:
— “Eu me rendo para quem você é. Nada me faz mais forte
do que seu coração frágil. Se eu apenas tivesse sentido como é ser
seu. Bem, eu teria sabido para quê eu tenho vivido por todo esse
tempo”.[5]
Mesmo sabendo o quanto Renzo é discreto, não pude deixar
de beijá-lo, sem me importar com a plateia. Claro que todos fizeram
questão de assobiar e bater palmas para o nosso show, mas meu rei
rabugento nem se importou; seus olhos não desgrudaram de mim.
Continuamos dançando mais algumas canções.
Não demorou para Noah e Cecília, Theo e Luna, Chase e
Brenda, Ethan e Glenda também se recolherem. Renzo e eu
combinamos de não demorar muito mais, pois dali a uma hora
nossos bebês acordariam. Então, curtimos ao máximos os minutos
seguintes, exatamente como estávamos: flutuando nos braços um
do outro.
Bella

Cacete! Definitivamente eu não devia ter bebido. Àquela


altura, Gaetano parecia mil vezes mais bonito, gostoso e irresistível
do que costumava ser aos meus olhos. O pior era que o cafajeste
sabia que estava mexendo comigo e fazia questão de me olhar como
se tivesse me comendo — e não era com os olhos. Que Deus me
ajude a sobreviver a esta noite!
Como eu não tinha um pingo de vergonha na cara, peguei
outra taça de vinho quando o garçom passou ao meu lado. Tomei,
logo, dois longos goles, observando Renzo e Antonella dançando.
Próximo a mim, Sophia, Rapha e Julie não paravam de falar,
empolgadas com algum papo que eu sequer consegui prestar
atenção. Seus maridos conversavam em um grupinho mais afastado,
próximo a Vito, Edward, Gael, Louis, Nathan, Rocco e Gaetano.
Assim como minha atenção não estava na conversa das
meninas, a do Gaetano também estava alheia à dos meninos. Uma
força maligna puxava meu olhar para o dele, fazendo meu corpo
inteiro pegar fogo.
Gaetano era a minha loucura, minha insanidade, a parte de
mim que não se importava com o certo ou o errado, a parte de mim
que queria apenas aproveitar o melhor que a vida tinha a oferecer,
sem pensar nas consequências.
Incomodada com a minha libido descontrolada, fui em direção
ao jardim da tia Melissa, mais especificamente ao orquidário, pois
precisava respirar e tentar pôr os pensamentos em ordem, e ali era
o lugar ideal por ser calmo e silencioso.
Segundos depois, ouvi passos atrás de mim e suspirei. Antes
mesmo de olhar naquela direção, eu soube que era ele. Dito e feito,
quando me virei, Gaetano parou diante de mim. Encaramo-nos pelo
que pareceu uma eternidade. Seus olhos, normalmente gelados,
pareciam duas labaredas enquanto me fitavam com visível
necessidade e desejo. A intensidade daquele olhar visceral fez
minhas pernas fraquejaram.
Eu não queria lutar contra nós naquele momento, pois estava
tão cansada de enfrentar uma batalha inútil contra meus desejos. Eu
só queria beijá-lo, pelo menos, mais uma vez. Uma última vez.
Nós já havíamos conversado e chegado ao consenso de que o
mais sensato era nos mantermos afastados, porém não seria tão
errado se fosse uma despedida. Gaetano parecia estar conectado
com a minha mente, pois logo após aquele meu pensamento, sua
boca colou na minha, me devorando, enquanto suas mãos fortes
agarravam minha cintura e nossas línguas se moviam de maneira
sincronizada. Foi um beijo cheio de paixão e tesão reprimido, como
se nossa vida dependesse daquilo.
Estávamos entrelaçados até a alma, então só nos afastamos
quando o ar rareou em nossos pulmões. Olhamo-nos em silêncio,
afetados pela intensidade do momento, ofegantes e sem saber o
que dizer. Gaetano soltou minha cintura, segurou meu rosto com as
duas mãos e, dessa vez, me beijou de maneira terna e gentil,
finalizando com um selinho demorado. Este último beijo foi diferente
e me afetou de uma maneira dolorosa. Senti vontade de chorar, mas
me controlei.
— Preciso ir — sussurrei, sentindo as emoções à flor da pele.
Tentei passar por Gaetano, sem olhá-lo, mas ele segurou meu
braço e me puxou de volta para junto de si.
— Bella, eu…
— Por favor, me larga — pedi, firme, embora estivesse
prestes a surtar com a bagunça de sentimentos que explodiam na
minha cabeça e no meu coração.
O que aconteceu depois foi muito rápido: Gaetano foi
arrancado de perto de mim, e Nathan socou seu rosto
violentamente. Gaetano revidou com um soco brutal, que fez Nathan
cair no chão, em seguida avançou nele. Estava um pouco escuro ali,
e eu estava confusa por causa da bebida, então não consegui
raciocinar direito e pedir ajuda. Fiquei assistindo, atônita e nervosa,
aos dois rolando no chão, se socando por minha causa.
— Parem com isso, por favor — gritei, aflita, pois ambos
estavam armados, o que poderia acarretar em uma tragédia.
Obviamente, fui ignorada. Gaetano levantou-se do chão,
puxando Nathan pelo colarinho da camisa, e lhe deu uma cabeçada.
— Chega, Gaetano! — gritei ainda mais alto, mas ele parecia
não me ouvir, pois continuou agredindo Nathan com socos e
joelhadas no estômago. Graças a Deus, Renzo chegou nessa hora,
acompanhado de Rocco e Antonella.
— Vocês estão malucos, porra? — Renzo falou com
autoridade, mas sem aumentar a voz, afastando Nathan das
agressões do irmão. Rocco se aproximou para segurar Gaetano. —
Parecem dois moleques. Esse é um ambiente familiar, caralho!
Respeitem!
— Seu irmão estava tentando beijar Bella à força. Cheguei a
tempo de vê-lo segurando o braço da menina, enquanto ela pedia
para ele largá-la — Nathan acusou, e Renzo me olhou chocado,
esperando por uma confirmação.
— Não foi isso que aconteceu, Nathan. Você se precipitou,
droga! — falei, brava. Preocupada, me aproximei do Gaetano e
examinei o pequeno corte em sua boca. Com o coração partido,
toquei seu lábio machucado, me sentindo culpada. — Você está
bem?
— Não se preocupe, isso não foi nada. Eu estou bem — ele
respondeu, com a expressão mais suave. Contudo, quando olhou
para trás de mim, encarando Nathan, seu olhar voltou a ser tomado
pela fúria.
Virei de costas para Gaetano, voltando minha atenção para
Nathan outra vez.
— Gaetano e eu estávamos conversando, tranquilamente,
antes de você chegar. Eu ameacei sair, e ele me segurou, porque
ainda queria falar alguma coisa. Você não devia ter se intrometido
sem saber o que estava acontecendo.
Eu estava enraivecida com a situação, porém aliviada por
Nathan, aparentemente, não ter presenciado nosso beijo. De
qualquer maneira, eu não deixaria Gaetano ser acusado de algo que
não fez.
— Agradeço sua preocupação, mas não precisava ter se
envolvido nisso, Nathan. Nunca mais faça isso! Sou perfeitamente
capaz de resolver meus próprios assuntos sozinha. Além do mais,
Gaetano jamais me forçaria a qualquer coisa.
— Bella, eu…
— Agora não, Nathan. É melhor você ir embora. Também vou
para a minha casa. Vamos todos esquecer o que aconteceu esta
noite.
Sem dar a oportunidade de qualquer um deles render o
assunto, me afastei o mais rápido que pude. Eu precisava ficar
sozinha.
Renzo

— Me solta, cara. Já estou mais calmo — Nathan pediu,


fazendo força para se desvencilhar dos meus braços.
— Sua acusação foi muito grave, Nathan. Não acuse o meu
irmão de algo tão sério sem ter certeza do que está dizendo — falei
rispidamente, soltando-o.
Diante de nós, Gaetano bufava igual a um touro, louco para
atacar outra vez. Ainda bem que Rocco continuava segurando-o,
pois meu irmão mais novo parecia um animal furioso, pronto para
estraçalhar sua presa.
— Era o que parecia quando cheguei aqui — Nathan
respondeu, puto.
— Você não deveria ter agido por impulso — Rocco o
repreendeu.
— Eu não queria causar transtorno algum. Vou embora.
— Você bebeu demais. É melhor pedir para algum soldado te
levar — Antonella sugeriu.
— Meu soldado está lá fora. Ele me trouxe e me levará de
volta para o hotel. — Nathan ajeitou a roupa e se retirou.
— Me larga, porra! — Gaetano se desprendeu dos braços do
irmão.
— Que porra você está pensando da vida, seu moleque
irresponsável? — Perdi a cabeça e gritei com Gaetano, assim que
Nathan sumiu de vista.
— Moleque irresponsável é o caralho! Foi aquele bastardo que
veio pra cima de mim, porra! Queria que eu apanhasse calado como
um frouxo? Ele deu sorte que vocês chegaram, ou eu…
— Ia fazer o quê? Matar um aliado aqui, dentro do complexo,
um lugar familiar, cheio de mulheres e crianças, a casa do nosso
Don?
— Ele partiu pra cima de mim, do nada, se meteu onde não
devia, porra! Apenas revidei.
— E o que você e Bella faziam aqui sozinhos?
— Estávamos só conversando. Ainda assim, essa porra não é
da conta de ninguém, muito menos da dele. Bella não tem mais
compromisso com Nathan, se é que um dia já teve.
— Gaetano, já falei mil vezes o que penso sobre isso. Se quer
aquela garota, faça as coisas direito.
— Renzo está certo, irmão. Assuma logo essa porra e acabe
com essa agonia — Rocco falou, enquanto Antonella só observava
nossa conversa.
— Me deixem em paz! Vocês não sabem de porra nenhuma!
— Gaetano esbravejou e fez menção de sair.
— Aonde você vai? — inquiri, receoso de que ele fizesse outra
merda.
— Não sei, porra!
— Sabe, sim! Você vai para a casa da Glenda, tomar um
banho e dormir para esfriar a cabeça — falei, com o dedo em riste,
me aproximando dele. — Isso é a porra de uma ordem. Não ouse
desobedecê-la.
— Calma, Renzo. Ele vai pra casa descansar, não vai,
Gaetano? — Antonella se colocou entre meu irmão e eu, tentando
amenizar os ânimos alterados. — Vá pra casa, cunhado. Amanhã é
outro dia.
A forma carinhosa com que minha mulher lidou com aquela
situação hostil tornou o clima mais ameno. Em resposta, Gaetano
apenas assentiu e saiu; Rocco foi atrás dele.
De longe, fiquei observando os dois entrarem na casa da
Glenda. Só depois, segurei na mão da minha mulher e a conduzi à
casa dos meus sogros, pois eu também precisava esfriar a porra da
cabeça.
Antonella

Renzo chegou à casa dos meus pais ainda bastante nervoso,


pois se preocupava demais com o irmão, temia que Gaetano
acabasse magoando Bella e arrumando um problema com tio
Inácio.
Entramos no nosso quarto em silêncio, para não acordar os
bebês, e ele se sentou na cama, abrindo a camisa social como se
estivesse se sentindo sufocado.
— Se acalme, amor. Já passou. — Ajoelhei-me na cama, atrás
dele, e massageei seus ombros.
— Nem sei mais como agir com Gaetano. Ele é muito
teimoso, vai acabar arrumando um problema sério.
— Vai ficar tudo bem. Ninguém precisa ficar sabendo do que
aconteceu esta noite. Vamos fazer o que Bella disse: esquecer isso.
— Eu sei o que aconteceu, Antonella. Pior ainda, sei o que
pode acontecer. — Renzo se levantou da cama, nervoso.
— Você está se preocupando demais. Venha. Vamos tomar
banho.
Fui até meu marido, segurei sua mão e o conduzi ao
banheiro. Ele não resistiu quando tirei sua roupa com calma, e
esperou que eu tirasse a minha também. Embaixo do chuveiro,
quando colei nossos corpos e o beijei, Renzo relaxou. Naquela
madrugada, fizemos amor de um jeito mais calmo. Meu marido
precisava de mim, de sentir meu amor, e foi isso que ofereci.
Os bebês acordaram assim que saímos do banheiro, e Renzo
me ajudou a cuidar deles; fomos dormir quase às 4h da manhã.

O almoço de Natal seria na casa dos meus avós, e eu estava


louca para encontrar Bella e entender direito o que aconteceu
naquela madrugada. Quando chegamos lá, todos já estavam
reunidos, e a refeição tinha sido servida há poucos minutos, então
não tive oportunidade de conversar com minha prima antes de
comer. Depois veio a sobremesa, a troca de presentes… As horas
foram passando sem que eu tivesse chance de tocar no assunto com
ela de forma reservada.
Meu cunhado compareceu ao almoço, porém saiu logo em
seguida. Pelo jeito, a história não vazou, visto que não houve
qualquer comentário sobre o assunto enquanto estávamos reunidos.
No início da noite, quando todos começavam a ir embora,
finalmente tive um tempo a sós com Bella. Renzo foi empurrando o
carrinho das crianças para a casa dos meus pais, e eu caminhei
alguns metros atrás, conversando com ela.
— Como você está? — perguntei.
— Bem. Só fiquei um pouco chateada com aquela confusão
desnecessária.
— Acho que ninguém, além de nós, ficou sabendo.
— Menos mal.
— O que aconteceu realmente, Bella?
— Aconteceu que Gaetano e eu bebemos demais e nos
beijamos. Isso não devia ter acontecido, já que ambos chegamos a
um consenso de que seríamos apenas amigos, mas… o fogo no rabo
foi maior do que nossa palavra.
— Mas você se arrepende de ter rolado?
— Claro que não. Fiz e está feito! Nos beijamos, foi gostoso, e
era para a vida ter seguido em frente, se Nathan não tivesse
chegado na hora errada e arrumado aquela briga.
— Ele viu o beijo de vocês?
— Não. Acho que ninguém viu.
— Menos mal.
— Pois é. Nathan me ligou hoje, se desculpou pelo vexame e
pediu para nos encontrarmos e conversarmos com calma.
— E você aceitou?
— Não. Eu disse que preciso de um tempo, que falaremos em
outro momento.
— É melhor. Os ânimos ainda estão um pouco alterados.
— Não tenho raiva dele, sabe? Nathan é um cara legal.
Inclusive, ele disse que gosta de mim e que não desistirá de nós,
mas me dará o tempo que eu preciso. Nós nos dávamos tão bem,
Nella. Mas aí Gaetano chegou e bagunçou.
— Pra ser sincera, acho que você e Nathan não tinham
futuro, mesmo se meu cunhado não tivesse entrado na jogada.
— Ele merecia que eu gostasse dele — Bella disse, num tom
triste.
— Mas você não gosta, e isso não é sua culpa.
— Bem, vamos dar tempo ao tempo. Não quero pensar nem
falar mais disso por agora.
— Claro. Você precisa mesmo esfriar a cabeça e acalmar o
coração. — Abracei-a de lado. — Conte comigo.
— Obrigada.
Bella foi para a casa dos pais dela, e eu acelerei os passos
para alcançar meu marido e entrarmos juntos em casa.
Passei o resto da noite grudada nos meus filhos e no Renzo.
Ele ainda estava um pouco tenso, todavia bem melhor do que na
noite anterior. Meu marido não tinha conversado com Gaetano
depois do acontecido, e isso era bom. No momento, todos
precisavam de um tempo para esfriar a cabeça e colocar as ideias no
lugar.
Capítulo 13

O algoz
Madrugada depois do Natal

Eu estava há quase 15 noites nas redondezas, protegido pela


escuridão, observando o complexo de casas cercado por muros
altos, resguardado por sistemas de segurança avançadíssimos e
homens armados até os dentes. Nos terrenos ao redor, não havia
outras casas, apenas mata densa e silêncio. Eles não queriam
vizinhos, pois cultivavam segurança e privacidade.
O lugar parecia impenetrável, era uma verdadeira fortaleza no
qual os Espositos salvaguardavam suas mulheres e filhos de forma
feroz.
Era quase impossível enxergar bem nas sombras, então, ao
longo dos dias em que estive estudando o perímetro, usei óculos de
visão noturna. Eu sabia que também havia homens deles espalhados
pela vegetação, camuflados na escuridão. Assim como eu, meus
homens vestiam preto dos pés à cabeça e estavam equipados com
armas modernas e todo o arsenal de que precisaríamos para agir,
inclusive dispositivos de alta tecnologia que, se tudo desse certo,
seriam capazes de desligar os sensores de movimento que
acionavam os alarmes do baluarte à nossa frente.
A vingança foi planejada há mais de um ano e, nesse período,
meu grupo foi treinado meticulosamente para não falhar na missão.
O plano era audacioso: infiltrar-me no complexo sem ativar os
sensores de alarme.
Às 3h da manhã, quando acontecia a troca de turno dos
soldados, foi o nosso momento de atacar. Cheguei perto do primeiro
sensor de movimento, que ficava em uma área mais afastada das
mansões, e gesticulei para que meus homens o contornassem sem
acioná-lo. Estávamos em 50 soldados, um quantitativo pequeno se
comparado ao número de homens que encontraríamos protegendo
os Espositos, todavia convoquei apenas os realmente confiáveis,
bem-treinados e fiéis.
Apesar de estarmos em desvantagem numérica, o elemento
surpresa estava a nosso favor. Moviamo-nos como fantasmas,
evitando até mesmo o farfalhar das folhas sob nossos pés.
À medida que nos aproximávamos dos muros, a tensão
aumentava. Cada um dos meus homens tinha consciência do desafio
que enfrentaria nos minutos subsequentes; as chances de
morrermos eram enormes, pois ninguém jamais conseguiu cruzar
aqueles muros.
O plano corria bem até que, mesmo com toda a perícia, um
mínimo descuido ativou um dos sensores. O som agudo e
ensurdecedor do alarme cortou a noite, disparando luzes vermelhas
e refletores quase tão potentes quanto a luz do dia em todas as
direções. Logo, seríamos encontrados.
— Evacuar imediatamente! — ordenei, para evitar o
massacre.
Atendendo ao meu comando, minha equipe recuou até a
vegetação, porém era tarde demais. Os soldados do complexo
chegaram a tempo de nos confrontar, e o tiroteio começou. Alguns
de meus homens caíram mortos, e eu me conformei em deixá-los
para trás, contudo também deixei corpos de soldados da Cosa
Nostra pelo caminho.
Quando o fogo cruzado diminuiu, eu e o que sobrou dos
meus homens fugimos, nos embrenhando mata adentro. A tentativa
de invasão foi malsucedida, e eu sabia que havia muita chance de
isso acontecer, porém a incógnita foi plantada na cabeça deles:
quem é o algoz?
Conseguimos fazer barulho, criar tumulto no paraíso dos
Espositos e, por enquanto, isso teria de bastar. Entretanto, eu jamais
desistiria. Aquele foi um presente meu para aqueles bastardos,
apenas um prelúdio do que poderiam esperar para o ano vindouro.
A Ndrangheta também estava na minha mira, pois se tornava
mais poderosa a cada dia, ganhando destaque rápido,
principalmente após a união entre o capo desta organização e a
herdeira de Lorenzo Esposito. Meu intuito era destruí-los, o quanto
antes, para enfraquecer a Cosa Nostra e, finalmente, tomar o poder
para mim.
A semana entre o Natal e o Ano-Novo seria o momento
perfeito para o ataque, pois estariam todos juntos. Infelizmente, não
foi dessa vez, mas chegamos muito perto. Além disso, teríamos
outro momento oportuno. Um dia, o trono da famiglia será meu, e
todos se curvarão diante de mim.
Apesar da frustração na nossa missão, eu não tinha me dado
por vencido; ainda tinha planos para aquele dia feliz.
Antonella

Acordei com o resmungo do Enzo e olhei o relógio na


cabeceira, eram quase 3h da madrugada. Levantei-me rapidamente,
antes que ele acordasse os irmãos, e Renzo sentou na cama, se
preparando para me ajudar caso fosse preciso.
Minutos depois, quando eu terminava de amamentar Enzo,
Lorenzo acordou. Meu marido o tirou do bercinho, e nós os
trocamos. Enquanto ele colocava Enzo para arrotar, coloquei Lorenzo
no peito, ciente de que Valentina acordaria dali a pouco. Nossa filha
era sempre a última a acordar e, como uma daminha, ficava quieta
no berço esperando sua vez; só chorava se demorasse demais.
Assim que Lorenzo terminou de mamar, entreguei-o ao
Renzo, que já tinha posto nosso mais velho de volta no berço, e
peguei minha princesinha. Depois de amamentar minha bebê, ela
dormiu novamente enquanto eu ainda dava leves batidinhas em
suas costas para fazê-la arrotar. Essa era nossa rotina de todas as
noites.
Os três dormiram outra vez, e meu marido e eu voltamos
para a cama. Segundos depois, levei o maior susto da minha vida
quando um barulho ensurdecedor ecoou pela noite, e refletores
foram acesos, iluminando todo o quarto. Em seguida, ouvimos
muitos disparos de arma de fogo.
Renzo pulou da cama, vestiu uma camisa e pegou sua arma
imediatamente. Como se pressentissem o perigo, as crianças
começaram a chorar, e eu me levantei atordoada para pegá-los,
enquanto meu marido voltava do closet carregando os bebês
conforto.
— Vamos acomodá-los, caso precisemos sair — Renzo falou,
já posicionando Enzo no assento e afivelando o cinto. Fiz o mesmo
com Valentina, enquanto ele ajeitava Lorenzo. — Vou ver o que está
acontecendo. Quando eu sair, tranque a porta. Não saia daqui.
No momento em que Renzo abriu a porta do quarto, meu pai
surgiu em meu campo de visão, assustando-me ainda mais.
— Precisamos levar Antonella e os bebês pro quarto do
pânico — seu Lorenzo avisou.
Só então, lembrei-me daquele cômodo que ficava esquecido
na casa. Felizmente, não precisamos usá-lo até aquela noite. Meu
pai contava que os alarmes do complexo foram acionados uma única
vez, antes de eu nascer, e que ninguém foi encontrado no território
da mansão. Àquela época, deixaram apenas um bilhete.
— Vamos! — Renzo gritou, segurando minha mão e um bebê
conforto, enquanto meu pai carregava os outros dois.
Quando chegamos ao cômodo claustrofóbico, minha mãe já
estava lá.
— Não importa o que vejam pelas câmeras, não saiam daqui!
— meu pai ordenou, falando tão sério como eu nunca tinha visto.
— Escute o seu pai. Logo, voltaremos para buscá-los — Renzo
falou.
Meu estômago apertou, e uma vontade de chorar tomou
conta de mim, mas durou apenas um instante, antes de eu me
controlar novamente. A última coisa que eles precisam é que eu seja
fraca neste momento.
— Estaremos te esperando aqui. Por favor, tome cuidado —
respondi, avançando para abraçar meu marido.
Renzo beijou minha testa, em seguida se afastou de mim
para beijar a cabeça dos filhos que ainda choravam, assustados com
aquela agitação incomum. No segundo seguinte, saiu correndo atrás
do meu pai.
— Fique calma, Nella. Ficará tudo bem — minha mãe tentou
me consolar, mas não pude deixar de notar que seus olhos estavam
marejados e arregalados.
— Me ajude a acalmar as crianças, mama — pedi, e ela
assentiu.
Dona Camila pegou Enzo no colo, enquanto eu acomodei
Lorenzo em um braço para apoiar Valentina no outro. Eu não
costumava segurá-los assim — quem tinha essa facilidade era Renzo
—, pois meus filhos eram grandes e pesados. Contudo, naquele
momento de aflição, uma força que eu nem sabia que tinha me
fizeram dar conta do recado.
Mesmo andando de um lado para o outro do quarto, para
acalmar minha cria, eu não conseguia parar de olhar as imagens das
câmeras de seguranças que eram transmitidas em alguns monitores
que existiam ali; elas mostravam todas as áreas do complexo.
Vi que as casas estavam com luzes acesas, e os homens da
família, assim como centenas de soldados corriam armados por toda
a parte. Tentei focar minha atenção em Renzo, no meu pai e nos
meus irmãos, porém a confusão era tanta que ficou difícil
acompanhá-los.
Renzo

Senti-me aliviado ao ser lembrado que todas as mansões dos


Espositos possuíam um quarto do pânico. Assim como eles, a
segurança da minha família era prioridade, então adotei a ideia na
minha casa e na dos meus irmãos na Calábria.
Minha maior preocupação era Antonella, meus filhos, Glenda,
Isa e Gine, porém, certamente, Ethan havia adotado o mesmo
protocolo, deixando minha irmã, minha sobrinha e Ginevra seguras
em casa, assim como deixamos minha esposa, minha sogra e os
trigêmeos.
Quando Lorenzo e eu saímos da mansão dele, demos de cara
com uma confusão do caralho. Soldados corriam por toda parte, e os
homens da família já estavam em ação. Noah estava visivelmente
nervoso, mas mantinha o equilíbrio ao gritar ordens que os caras
corriam para cumprir.
— O tiroteio começou na área leste — Edward avisou, quando
nos aproximamos.
Empunhando nossas armas, corremos em direção ao local
indicado pelo meu cunhado. Quando identifiquei a silhueta do Ethan,
fui direto falar com ele.
— Glenda, Isa e Gine estão seguras?
— Sim. Estão no quarto do pânico — meu cunhado
respondeu, sem me olhar, concentrado no que acontecia ao nosso
redor; meus irmãos estavam por perto também.
Na área leste, haviam diversos corpos pelo chão, e uma
concentração de soldados que vasculhava o perímetro.
— Verifiquem se há alguém vivo! — Noah gritou para os
soldados, enquanto averiguávamos o perímetro em busca dos
invasores.
Após mais de duas horas de buscas, concluímos que não
havia mais ninguém na área do complexo, exceto os mortos. Os
bastardos deixaram alguns corpos para trás, assim como a Cosa
Nostra perdeu homens.
— Vamos voltar para buscar as mulheres e as crianças. Nos
reuniremos, em meia hora, na casa do meu avô — Noah instruiu, em
seguida se dirigiu ao soldado que estava postado próximo a ele. —
Continue coordenando as buscas. Procurem homens vivos, mortos,
qualquer coisa, até ter certeza de que não resta mais nenhum risco
iminente. Depois, retirem os corpos daqui. Para os nossos, faremos
um enterro decente; já os invasores, identifiquem suas identidades,
depois joguem-nos em uma cova como indigentes. Mantenha-me
informado.
— Sim, senhor.
O soldado se afastou para executar o serviço, e nós voltamos
para as mansões. O dia estava clareando.

No momento em que abri a porta do quarto do pânico,


Antonella se jogou em meus braços, e Camila fez o mesmo com
Lorenzo. A pele da minha mulher estava suada, e seu corpo,
levemente trêmulo. Afastei-a um pouco para observar seu rosto e
notei a aflição em seu olhar. Tranquilizei-a, segurando seu rosto com
as duas mãos e dando-lhe um beijo rápido.
— Fique calma. Estamos todos bem.
— Também estou bem, só... Estava me sentindo
claustrofóbica aqui, além de preocupada com vocês — ela
respondeu, firmemente.
Aquele refúgio era confortável por ser equipado com frigobar,
cama, despensa abastecida, computador, celulares, carregadores,
cofre com armas e monitores que davam acesso total à parte
externa da mansão; também possuía um banheiro que atendia às
necessidades básicas. Contudo, era realmente sufocante por não ter
janelas, ser blindado e à prova de som do chão ao teto, o que
acarretava uma sensação maior de isolamento.
— Acabou. Já passou. — Beijei a testa dela com carinho. —
Eles estão bem? Demoraram a dormir? — perguntei, aproximando-
me da cama na qual meus filhos repousavam serenamente, e senti a
porra de uma fisgada no peito. Caralho, os malditos chegaram tão
perto...
— Dormiram logo depois que vocês saíram daqui.
— Precisamos ir — Lorenzo chamou nossa atenção.
Peguei os meninos no colo, Antonella pegou Valentina, e nós
saímos do cômodo a passos largos. Ao chegarmos no térreo, nos
deparamos com meus cunhados fazendo um lanche na cozinha.
— Vou preparar nosso café da manhã — Camila anunciou.
— Não precisa, amor. Só viemos buscá-las. Temos reunião na
casa do tio Matheo em alguns minutos, e todas as mulheres e
crianças ficarão lá conosco. É mais seguro — Lorenzo falou.
Estava um barulho do caralho na sala de estar do Matheo,
pois todas as mulheres falavam sem parar, algumas crianças
brincavam pelo cômodo, e outras choravam.
— Vamos tomar café da manhã primeiro. Já está sendo
preparado — Melissa falou com sua habitual gentileza, chamando a
atenção de todos. — Vocês precisam estar fortes para resolver
assuntos difíceis. O dia está só começando.
— Não temos tempo pra isso, nonna. Comam vocês.
— Nada disso, Noah! Meia hora para a alimentação não
prejudicará os planos. Tratem de comer bem. — Desta vez, a
senhora foi enfática, e o Don assentiu.
Após uma rápida refeição, nos reunimos na sala de jogos,
pois o escritório não comportaria tanta gente.
— Os bastardos foram levados para o IML, para serem
identificados; meus homens de confiança estão trabalhando nisso
com a equipe do lugar — Noah comunicou.
— Acionarei meu contato na Bratva, mas acredito que, se
algo tivesse partido de lá, ele já teria me avisado — Inácio declarou.
— Talvez tenha sido um ataque mais sigiloso, pai — Vincenzo
constatou, com sabedoria. — Nem tudo o que é planejado,
principalmente no porte que foi este ataque, é estendido à
organização.
— Eu sei. Mas Arseny faz parte da cúpula, dificilmente não
saberia.
— E se estiverem desconfiados dele? Temos que avaliar todas
as hipóteses — Vito falou, e Inácio assentiu.
— Ou esse cara está nos traindo. Se o bastardo trai a própria
organização, por que não nos trairia? — Theo declarou.
— Não acredito nessa possibilidade. Além de ele ser muito
bem-pago, Yuri sempre foi bom em ler as pessoas e jamais colocaria
alguém que julgasse corruptível para trabalhar comigo — Inácio foi
enfático.
— Ninguém é incorruptível — Pietro argumentou.
— Sei disso. Vamos ser cautelosos.
— Peço que disponibilizem o jato de vocês para que eu traga
reforços da Calábria. Precisamos, no mínimo, triplicar a segurança
aqui no complexo, e apenas a minha aeronave seria insuficiente —
comuniquei.
— Faça isso, Renzo. Neste momento, toda ajuda é bem-vinda,
principalmente após as baixas que tivemos — Noah respondeu.
— Perdemos muitos soldados? — Matheo inquiriu.
— Quase 50, pai — Raphael se manifestou pela primeira vez.
— Os desgraçados pegaram nossos homens durante a troca
de turno. Essa porra foi planejada meticulosamente — Ethan
comentou.
— Sem dúvida. E o elemento surpresa contou bastante para
termos tantas mortes — Edward complementou.
— E deles, quantos morreram? — Lorenzo questionou.
— Cerca de 15 — Chase respondeu, em seguida fez uma
sugestão ao pai. — O senhor também deveria ligar para o meu avô.
Peça ao meu tio e ao Thomaz para nos enviar alguns soldados.
— Eu já havia pensado nisso — Romeu respondeu.
— Posso convocar seguranças da minha agência para ajudar
— Cesare ofereceu.
— Também tenho homens para disponibilizar — Vittorio se
manifestou.
— Vamos esquematizar tudo da melhor maneira. Como os
homens de vocês não são treinados pela máfia, podem reforçar a
segurança das mulheres junto aos nossos soldados — Noah
declarou.
— Podemos pedir reforço de Nova Iorque também — Enzo
sugeriu.
— E da Camorra — Louis lembrou.
— Entraremos em contato com todos os nossos aliados.
Precisamos do máximo de ajuda — Noah respondeu.
— Organizarei a vinda dos nossos homens imediatamente —
Rocco declarou, afastando-se com o celular na mão.
— Quando teremos informações sobre as identidades dos
invasores? — Gaetano inquiriu.
— Depende de alguns fatores — Pietro respondeu. — Não é
uma tarefa fácil, mas temos uma equipe especializada trabalhando
para agilizar isso
— Já investigaram a possibilidade de ter sido um ataque
planejado pela Yakuza? — Louis perguntou, pensativo.
— Estou em contato com nosso infiltrado para apurar — Noah
respondeu.
Durante as horas seguintes, todos os esquemas possíveis
foram organizados. Homens viriam da Calábria, de Las Vegas e Nova
Iorque para nos dar suporte, e mais soldados da Cosa Nostra foram
convocados a atuar nessa força-tarefa.
Ainda não tínhamos notícias do IML, mas o complexo já havia
sido revirado de uma ponta à outra, e nada foi encontrado.
Estávamos seguros outra vez.
Encerrávamos a reunião quando o celular do Noah tocou.
Atentamo-nos para receber maiores informações.
— O quê? Alguma criança se feriu? Qual foi a dimensão do
estrago? — Noah ficou vermelho de raiva, e nós ficamos aflitos, à
espera de uma resposta. — Enviarei mais soldados imediatamente e
chegarei em meia hora.
Quando o Don encerrou a ligação, seu olhar enfurecido
demonstrava que uma merda muito grande tinha acontecido.
— Fala logo, Noah — Pietro pediu, nervoso.
— Um helicóptero acabou de jogar uma bomba no orfanato,
pai.
— O quê? — Uma voz feminina, aterrorizada, chamou nossa
atenção.
Amanda, que estava parada à porta da sala de jogos, ouviu
sobre o atentado e caiu em um choro compulsivo. Pietro pulou de
seu lugar, derrubando a cadeira às suas costas, e correu para
consolar a esposa; Noah também se aproximou para ajudar.
— Calma, mãe. As crianças estão bem. O dano foi causado
próximo aos portões; nenhum interno ficou ferido.
— Oh, meu Deus, por quê? Por que fizeram uma maldade
dessas com as minhas crianças? Imagina o susto que levaram. Eles
estavam tão felizes depois da festa de Natal que proporcionamos —
a mulher lamentou, inconsolável.
— Calma, Amanda. Noah acabou de dizer que as crianças
estão bem — Pietro consolou-a.
— Preciso ir até lá. A cabecinha deles deve estar a mil,
tadinhos! Mesmo que não tenham se machucado fisicamente, devem
estar com medo.
— Em hipótese alguma, mãe. Não é seguro. Sofremos dois
ataques em menos de 24 horas, certamente os bastardos continuam
à espreita. Nós iremos até lá, e eu prometo enviar notícias para a
senhora.
— Você não está entendendo, Noah. Aquelas crianças
precisam de mim — a mulher voltou a chorar, dessa vez um pouco
mais contida. — Elas estão acostumadas comigo e com as meninas.
Nós somos um porto seguro.
— Faremos como Noah disse e, se as coisas estiverem
seguras por lá, venho de helicóptero te buscar — Pietro falou.
— Promete? — Amanda fungou.
— Prometo. — Ele beijou a testa da esposa com carinho e
conduziu-a para fora do cômodo.
Noah deu a reunião por encerrada e os seguiu. Logo depois,
também começamos a sair. Chegamos quase ao mesmo tempo à
sala de estar.
— O que aconteceu? — Julie perguntou, aflita, ao ver o
estado em que a mãe retornou à sala.
— As crianças estão bem — Noah anunciou primeiro, para
não espalhar o pânico —, mas o orfanato sofreu um atentado.
A tentativa do Don de manter as mulheres calmas foi
frustrada. Elas se apavoraram com a notícia, e o caos se formou; era
choro e lamentação por toda a parte.
Imediatamente, aproximei-me da minha mulher para consolá-
la. Sua pele estava gelada, seu corpo tremia, e seus olhos estavam
assustados. Eu nunca vi minha mulher nesse estado de nervos.
— Não entendo como podem fazer mal a crianças inocentes
— ela lamentou. — Estou chocada, Renzo. Eu certamente ficaria mal
com essa notícia em qualquer época, mas, agora que sou mãe, meu
coração está ainda mais apertado.
— Eu sei, mi amore.
Puxei-a para um abraço e foi inevitável olhar para os meus
filhos, dormindo em segurança, no carrinho ali ao lado. Os trigêmeos
eram minha parte mais sensível — além da minha mulher — por isso
eu entendia o choque dela.
— Eles precisam de mim, Vittorio. Preciso ir até lá. — Ouvi
Raphaela, que estava próximo a nós, falar em um tom nervoso com
o marido. — É comum acontecer estresse pós-traumático em
situações como essa. As crianças devem estar em pânico e
precisando mais do que nunca de ajuda psicológica.
— Calma, Raphaela. Agora não é seguro. Precisamos verificar
o que aconteceu e reforçar a segurança do orfanato antes de
qualquer uma de vocês ir pra lá.
A alguns metros de nós, Julie chorava abraçada à mãe,
enquanto Cesare e Pietro as consolavam; Noah e Cecília também
estavam próximos, tentando acalmar Amanda, que não parava de
tremer; Mia e Camila demonstraram estar abaladas tanto quanto as
outras, então Romeu e Lorenzo ficaram com elas.
Beatrice e Gine se mantiveram mais serenas, por isso foram
incumbidas de distrair as crianças maiores; Brenda, assim como
Raphaela, quase implorou para ser levada ao orfanato, para ajudar
no atendimento às crianças, mas Chase tentou dissuadi-la; e Luna
chorava abraçada ao Theo. Antonella me contou a história sofrida da
menina, que já morou e trabalhou no orfanato, então certamente
era ainda mais doloroso para ela.
Nina, Melissa e Liliane também estavam calmas; Sophia,
Antonella e Bella demonstraram ser as mais centradas. Próximo dali,
Maria Eduarda e Raphael ajudavam Vittorio e a esposa; Glenda e Isa
estavam sentadas no sofá com Ethan.
Enquanto o caos acontecia naquela sala, meus irmãos
observavam tudo perdidos. Vi o exato momento em que, meio sem
jeito, Gaetano trocou algumas palavras com Bella, em seguida se
afastou.
Diante daquele surto coletivo e da bagunça causada pelos
dois atentados, nós precisávamos agir e nos preparar para qualquer
merda que estivesse por vir. Então, depois de reforçarmos a
segurança do complexo e do orfanato com os reforços que já
estavam a caminho, nosso foco seria desmascarar e contra-atacar
nosso algoz.

O estrago no orfanato não foi tão grande quanto


imaginávamos; certamente, os bastardos só queriam chamar nossa
atenção, nos encurralar. A bomba atingiu alguns dos soldados que
faziam a segurança dos portões, sete deles morreram e três ficaram
gravemente feridos.
Assim como no complexo, solicitamos uma varredura
completa no local. Embora nada tenha sido encontrado, o muro
precisava ser consertado, e o portão, refeito, pois a bomba o tinha
destruído completamente. Até que tudo fosse resolvido,
precisávamos encontrar um lugar seguro para onde levar as crianças
e os funcionários; seria imprudente deixá-los ali nas horas seguintes.
— Os hotéis da família estão lotados — Noah anunciou, após
contactar alguns gerentes.
— Podemos conversar com os administradores do orfanato
Santa Catarina de Sena e fazer uma doação generosa, para que eles
acomodem nossas crianças e funcionários por, no máximo, 72 horas.
Uma vez, Amanda me contou que o local é enorme, mas não abriga
tantas crianças; na época, ela queria que eu comprasse o lugar,
justamente por ter mais potencial do que é usado. Ela já fez várias
visitas e doações a eles, talvez possa mediar essa negociação; e nós
nos comprometemos em levar camas e alimentos para todos —
Pietro sugeriu.
— Será ótimo se sua esposa puder conversar com os
administradores. Facilitará o processo — comentei.
— Verdade. Vá buscar minha mãe e leve-a até lá para
resolver essa parte, pai. Enquanto isso, nós organizaremos a obra
por aqui.
Depois de resolvermos o ponto principal, que era a segurança
das crianças e funcionários, retomamos o assunto sobre os reforços.
— Os jatos com os soldados da Calábria estão quase
pousando — avisei.
— De Vegas e Nova Iorque também — Romeu acrescentou.
— Ótimo. O próximo passo será triplicar a segurança no
complexo, agilizar a obra aqui no orfanato e montar um reforçado
esquema de segurança para levar as crianças até o outro abrigo —
Noah declarou.
Só estávamos o Don, Pietro, Romeu e eu no orfanato dos
Espositos, pois o restante dos homens ficou no complexo para
garantir a segurança das nossas mulheres e crianças, ao menos até
o reforço chegar.
Antonella

Renzo chegou em casa no início da madrugada, mas eu


estava acordada, esperando por ele. Mais cedo, já tínhamos nos
falado, e ele me colocou a par da situação.
— Que bom que chegou, meu amor. — Pulei da cama para
abraçá-lo. — Você está com fome?
— Não. Comi qualquer coisa na rua. Agora, só preciso de um
banho e cama.
— Tudo certo com as crianças?
— Sim. Elas e os funcionários foram remanejados e estão
seguros no outro orfanato. — Meu marido se despiu. — Noah
chamou uma equipe de engenheiros para avaliar a estrutura da
fundação e, felizmente, não houve danos maiores. A parte do muro
que foi danificada já está sendo reconstruída e, amanhã, o portão
novo será instalado.
— Graças a Deus. Dos males, o menor.
— De qualquer maneira, os engenheiros farão uma análise
mais minuciosa amanhã, com o dia claro, a pedido do Don. Os caras
garantiram que a estrutura do orfanato não foi afetada, pois,
aparentemente, a bomba era de pequeno porte. Ainda assim, Noah
quer excluir qualquer chance de problemas futuros. Os bastardos só
queriam nos assustar.
— E conseguiram — falei, enquanto Renzo entrava no banho.
— Eu soube que os novos soldados chegaram. Rocco e Gaetano
receberam os da Calábria e os distribuíram na segurança do
complexo.
— Chegaram muitos no orfanato também, tanto no de vocês
quanto no que as crianças estão agora. Nessas horas, o apoio dos
aliados é fundamental.
— Ainda bem que temos muitos — declarei. — E o resultado
do IML? Receberam?
— Ainda não. Também não descobrimos nada através dos
nossos contatos na Bratva e Yakuza. Só há duas opções que
expliquem essa merda que aconteceu: ou foi uma operação muito
sigilosa, ou fomos traídos. De agora em diante, mesmo sem
sabermos contra quem, estamos em guerra.
Suas palavras me deram um calafrio e me deixaram
temerosa. Agora, com os meus filhos, só posso rezar que isso acabe
o quanto antes.
— Estávamos há um bom tempo vivendo em paz. Não
entendo o que pode ter acontecido — lamentei.
— Nós descobriremos — Renzo disse, secando o corpo, já
fora do box. — Até lá, vocês não sairão de casa. Infelizmente, terão
de ficar apenas no complexo, enquanto trabalhamos para encontrar
os responsáveis por essa merda toda.
Epílogo

Antonella
Alguns dias depois

Despertei com uma sensação gostosa se espalhando pelo


meu corpo, um arrepio inquietante que me tomava por inteiro.
Minhas mãos agarraram o lençol da cama, com firmeza, antes
mesmo que eu entendesse o que estava acontecendo. Aos poucos,
tomei consciência de que Renzo preenchia o espaço entre minhas
pernas, me chupando e arrancando pequenos espasmos do meu
corpo.
Meu marido andava mais insaciável do que nunca. Era sempre
assim: algo perturbava sua mente, ele buscava refúgio dentro de
mim, e eu amava recebê-lo. Nossa conexão se firmava cada vez
mais com o passar do tempo, tornando a necessidade que tínhamos
um do outro quase igual à que tínhamos de respirar.
Involuntariamente, um gemido rouco escapou da minha
garganta quando, além de sua língua quente deslizar pelo meu
clitóris, Renzo enfiou um dedo em mim. Eu mal tinha acordado e já
pingava por ele. Consciente do que eu queria, levantei os quadris e
segurei em seus cabelos, incentivando-o. A vontade de gritar de
prazer era quase incontrolável, mas se eu acordasse os trigêmeos,
teria de dar adeus aos orgasmos.
Ele agarrou minha bunda com suas mãos fortes e manteve
meu corpo elevado, me devorando e se deliciando com a minha
excitação. Mordi meus lábios até quase sangrar, contendo os
gemidos, e esfreguei minha boceta em seu rosto, buscando o que
nós dois precisávamos: a plenitude de quando nos conectávamos.
Quando isso acontecia, todos os nossos problemas pareciam
desaparecer, restando apenas nós dois e nosso amor.
Renzo lambeu toda a minha extensão, circulou e esfregou a
ponta da língua no meu clitóris, me sugando e me masturbando com
uma fome animalesca, me levando à loucura.
O orgasmo que veio foi brutal. Meu corpo convulsionou, e eu
apertei o lençol com uma mão, enquanto puxava seus cabelos com a
outra; lágrimas escorreram pelos meus olhos. A sensação de prazer
foi tão avassaladora que eu mordi os lábios até sentir gosto de
sangue; fiquei zonza e delirante.
Depois de ser sugada até a última gota, meu corpo desabou
na cama, e Renzo subiu o dele, encaixando-se no meio das minhas
pernas e entrando em mim de uma vez só. Arranhei suas costas,
mordi seu ombro e enlacei minhas pernas em volta de sua cintura,
trazendo-o mais fundo em mim, sentindo minha carne se abrir ao
máximo para recebê-lo.
Ele estava tão louco de tesão quanto eu, então suas
estocadas foram fortes e brutas, do jeito que a gente gostava. Ele
meteu sem parar, se apoderando do meu corpo e da minha alma. Eu
sentia seu pau entrar e sair, deslizando nos meus fluidos, me
preenchendo até quase tocar meu útero.
Nossas bocas se procuravam, famintas, enquanto ele socava
o pau na minha boceta com desespero. Eu deslizava a unha por suas
costas, apertava sua bunda, puxando-o mais para dentro de mim, e
rebolava de encontro às suas investidas, aumentando o atrito da
penetração.
Quando o ar faltou em nossos pulmões, nossas bocas se
deixaram e gemidos quase inaudíveis escaparam de nossas
gargantas; o fogo e a paixão nos consumia. Entrelaçados naquela
névoa de amor, paixão, tesão e loucura, éramos um só.
Senti a proximidade do orgasmo outra vez e rebolei,
desesperada, em busca do meu prazer. Renzo mordeu meu queixo e
minha orelha, chupou meu pescoço, meus ombros e meus seios,
ainda metendo em mim sem parar. Quando o gozo me atingiu, meu
corpo inteiro se contraiu, e minha boceta o sugou e apertou.
— Ah, caralho! — ele gemeu, baixinho, controlando o próprio
orgasmo.
Mal terminei de gozar, ele me virou de costas, se lambuzou
em mim e entrou na minha bunda. Mordi o travesseiro, querendo
gritar, enquanto ele me comia sem dó. Empinei-me o máximo que
pude, movendo minha bunda de encontro ao seu pau, incentivando
as fortes estocadas.
Renzo mantinha os braços esticados por cima dos meus, com
suas mãos entrelaçadas às minhas. Meu corpo sacudia com a
intensidade das estocadas, e eu sentia seu pau inchar cada vez
mais. Logo, ele se derramou dentro de mim, enterrando o pau na
minha bunda e a cabeça no meu pescoço, urrando baixinho no meu
ouvido, enquanto terminava de me foder e gozar.
Seu corpo desabou sobre o meu, e nós permanecemos
conectados por alguns segundos. Nossa respiração estava
completamente descontrolada, nossa pele molhada de suor, e o
coração batendo descompensado.
Quando Renzo saiu de dentro de mim, rolou o corpo para o
meu lado na cama, deitou de barriga para cima e me puxou para os
seus braços.
— Eu te amo. Porra! Eu te amo pra caralho, minha rainha.
Você é minha vida. Eu enlouqueceria sem você — ele se declarou,
ainda ofegante, me abraçando.
— Também te amo, meu rei. Sempre estarei ao seu lado para
te amar e manter sua sanidade.
— Obrigado por tudo, Antonella. Pelos nossos filhos, por ter
me trazido de volta à vida, por ser o que eu nem sabia que queria e
precisava. Obrigado, mi amore.
Emocionada demais para responder, apenas me aconcheguei
mais em seus braços e relaxei, sentindo seu coração bater rápido.
O dia começava a amanhecer quando nos entregamos ao
sono, saciados e felizes. Ainda que o mundo estivesse pegando fogo
lá fora, ali dentro nós estaríamos seguros, pois estávamos nos
braços um do outro.

Desde o atentado ao complexo e ao orfanato, as coisas


ficaram tensas em nossa família. Os meninos não pararam de
trabalhar, um minuto sequer, para identificar os culpados e, apesar
de ser véspera de Ano-Novo e os preparativos para a nossa
comemoração já estarem acontecendo, o clima não era dos
melhores. Nós, mulheres, nos esforçamos para manter a calma e
esconder essa tensão dos nossos filhos, visto que nossos maridos
estavam uma pilha de nervos.
O orfanato já funcionava normalmente, pois a obra tinha sido
concluída, e a segurança reforçada. Contudo, apenas Amanda e
Rapha voltaram ao trabalho, mesmo assim indo de helicóptero, que
era mais seguro. O resto de nós não saía de casa para nada.
Os sistemas de alarme do complexo e do orfanato foram
renovados e, além disso, Noah negociou com os Estados Unidos e
Israel a implantação do sistema de proteção Iron Dome, criado para
evitar ataques aéreos. Ele detectava os dispositivos inimigos por
meio de um radar, calculava rapidamente a ameaça e contra-atacava
disparando mísseis capazes de dizimar o artefato do inimigo. O
sistema seria usado no complexo e no orfanato para evitar novos
incidentes.
A partir daquele momento, o complexo, que já era uma
fortaleza, se tornaria impenetrável. O problema era que não
poderíamos viver para sempre presos ali. Renzo, inclusive, ficou
bastante preocupado com essa situação, visto que não teríamos o
mesmo suporte na Calábria; não tão rápido.
Por esse motivo, pensando em nossos filhos, talvez nossa
estada no complexo se prolongasse até que a Calábria estivesse tão
segura quanto a Sicília. A maior preocupação deles era descobrir o
inimigo para poder combatê-lo. Os corpos no IML ainda não tinham
sido identificados, e isso dificultava ainda mais as coisas, porém
novos especialistas foram contratados para agilizar o processo.
Os homens da minha família trabalhavam dia e noite, todavia,
naquela véspera de Ano-Novo, pedimos que tirassem uma folga. Eles
aceitaram, pois não acreditavam na possibilidade de sermos
atacados novamente num espaço tão curto de tempo. Certamente,
nosso algoz tinha consciência da dificuldade que enfrentaria se
tentasse encarar aquela segurança reforçada, então precisaria de
muito mais tempo para planejar outra investida.

Depois do almoço, Renzo e eu tiramos um tempo para os


nossos filhos. Ele esteve muito ocupado nos últimos dias, e os bebês
sentiram sua falta. Além disso, essa ausência forçada deixou meu
marido mais estressado.
— Eles estão crescendo rápido demais. Daqui a pouco, estão
se sentando sozinhos, engatinhando, andando... Não quero perder
nada, nenhuma fase. Na verdade, sinto que preciso mais deles do
que eles de mim.
— Logo, logo essa fase ruim passará, e você terá tempo de
sobra para se dedicar a eles — falei, beijando seu rosto.
Valentina estava no colo do pai; Enzo e Lorenzo continuavam
em um colchonete, no chão da sala dos meus pais, entretidos com
alguns brinquedos. Minha mãe tinha ido ajudar na organização da
ceia de Ano-Novo; meu pai e meus irmãos estavam espalhados pelo
complexo, mas eu não sabia exatamente onde.
— Como estão as coisas na Calábria? — puxei assunto.
— Tudo em ordem. Sigo monitorando tudo diariamente.
Rocco e Gaetano me ajudam, cada um fazendo sua parte do
trabalho. Como eu trouxe soldados nossos para cá, a Camorra
enviou alguns homens para a Calábria, a meu pedido. Os
conselheiros também estão fazendo a parte deles. Depois da morte
de Pellegrini e do filho, eles estão menos venenosos e dispostos a
dar suporte à Cosa Nostra nesse momento de necessidade, levando
em consideração que Noah e a organização são nossos maiores e
melhores aliados.
Renzo parou de falar para dar um beijo na testa da Valentina,
e ela se derreteu em sorrisos para ele.
— Está rindo de quê, minha principessa? — ele brincou, e ela
sorriu ainda mais, dando gritinhos.
Renzo mordeu sua barriguinha, e nossa filha gargalhou.
Aquele foi o som mais gostoso do mundo.
— Tenho fé de que ficaremos todos bem — declarei,
energizada por aquela interação entre os dois amores da minha vida.
Tudo era esquecido quando eu olhava para eles.
Depois de passar a tarde com nossos filhos, nos arrumamos
para a comemoração da virada do ano. Quando chegamos à casa
dos meus avós, a maioria dos meus familiares usava roupas em tons
claros. Meus bebês, meu marido e eu vestíamos branco, para honrar
a tradição, mas Renzo fez questão de usar ao menos uma calça
escura, para fazer jus ao seu gosto.
A ceia seria na casa dos meus nonni, e o almoço do primeiro
dia do ano, na casa do tio Matheo. Sempre fazíamos assim, quando
não íamos para a Ilha da Mel.
Apesar de tudo o que vivenciamos nos últimos dias, o clima
entre nós estava animador. Ali, no nosso mundinho, conseguimos
esquecer o resto e aproveitar os momentos de paz e alegria em
família. Dessa vez, não teríamos convidados de fora e estávamos
mais à vontade com isso.
Renzo se juntou aos irmãos, aos cunhados e aos meus
primos, e eu fui ficar com as meninas. Gine, nossas mães e avós
estavam para lá e pra cá, organizando os últimos detalhes da ceia.
— Para tudo! Amei seu vestido, Nella. Achei bem piranha de
classe — Sophia me contemplou com esse “elogio”, assim que
cheguei à rodinha.
— Por que piranha? Estou bem mocinha comportada. O
vestido é longo, não é muito justo...
— Mas tem um decote avantajado e é transparente na saia —
ela rebateu.
— Qualquer coisa fica decotada em mim, querida, por causa
destes peitões cheios de leite — segurei meus seios e balancei
levemente, fazendo as meninas rirem. — E a saia é transparente,
mas tem o short por baixo. Renzo não gostou muito, mas eu ignorei
sua rabugice.
— Eu amei! — a terrorista declarou. — Aliás, estamos todas
lindas. Apesar de estarmos vivendo em cárcere privado, não
podemos descer do salto. Jamais!
— Os meninos também estão gatos — Julie comentou.
— Estão mesmo, todos eles. Mas, olhem para o meu marido...
Não é um homem delicioso, todo grandão, clássico, viril… — Rapha
suspirou. — Eu fico molinha.
— Olha como ela está toda saidinha. Só pode ser efeito do
champanhe — Bella brincou.
— Por falar nisso, você não vai beber hoje, Bella? — falei,
para mexer com ela, e ganhei língua como resposta.
— Além do meu sogro, meu marido é o único loiro, então,
sem dúvida é o mais bonito, porque se destaca — Glenda disse,
quase babando.
— E o meu? Olhem bem para aquela cara de arrogante.
Quem resiste a um homem gostoso e arrogante? — brinquei, e as
meninas riram.
— Chase tem cara de safado, jeito de safado e é safado! —
Brenda entrou na brincadeira. — Estou muito bem-servida. Senti até
uma palpitação ao olhar pra ele
— Meu marido tem cara de marrento. Eu amo, por isso
sempre fui apaixonada por ele — Cecília declarou. — Fico até
arrepiada. Olha isso. — Ela mostrou os pelos do braço eriçados, e
nós rimos.
— Vincenzo tem cara de bandido gostoso, e é assim mesmo
que eu adoro — Sophia falou, com cara de safada.
— Não farei propaganda do meu homem — Luna disse, e
suas bochechas ficaram vermelhas. Era incrível como ela ainda
corava ao falar do Theo.
— Também não farei muita propaganda do Cesare, mas
preciso dizer que vocês não fazem ideia da loucura que é aquele
homem. — Julie se abanou, olhando na direção do marido. — Uma
vez, nós transamos em cima da moto dele e foi uma experiência
deliciosa. Meu bad boy é perfeito.
— Em cima da moto deve ser muuuuito excitante. Aliás, é um
dos lugares que está na minha lista — Sophia declarou.
— Qualquer lugar fora da cama é excitante. Eu adoro —
comentei.
— E minha mãe que transou no banheiro de um bar — Luna
contou, rindo.
— Beatrice é das minhas! — Sophia disse, rindo. — Falando
na diaba, onde ela está?
— Por aí, brincando com a Alice. As duas não se desgrudam.
Acho que minha mãe tenta compensar, através da minha filha, as
fases que não passou comigo.
— Ela está certa. Faz bem para ela, para você e para a Alice
— Raphaela comentou. — Os meus não desgrudam do Vittorio ou do
meu pai. Eu estou em terceiro lugar.
— Isa também é apaixonada pelo avô — Glenda falou.
— E os meus? Mas, fala sério, quem resiste ao seu Raphael?
Às vezes, ele é mais criança do que as próprias crianças — Sophia
disse, e nós concordamos, rindo.
— Meus filhos também estão muito apegados aos avós e aos
tios. Estou até pensando em como eles morrerão de saudade
quando voltarmos para a Calábria — admiti.
— Deve ser uma merda ter de morar longe da família — Bella
comentou.
— Vá se conformando com a ideia, Bella, porque prevejo, em
um futuro não muito distante, que você também entrará num
jatinho rumo à linguiça calabresa — Sophia perturbou nossa prima,
nos fazendo rir.
— Você não presta, garota. Cismou com isso — Bella a
repreendeu, mas não segurou o riso.
— Falando nisso, e o Nathan? Você ainda fala com ele?
— Sempre. Ele me liga com certa frequência, e nós
conversamos como amigos. Ele é um cara legal, gentil, educado… E
não perde uma oportunidade de deixar claro que está apaixonado
por mim.
— Uau! Bella está arrasando corações pela Itália — Sophia
provocou.
A noite continuou em um clima leve. Num dado momento,
nos reunimos para a ceia e assistimos à queima de fogos de artifício,
que acontecia todos os anos à meia-noite. Dessa vez, deixamos as
crianças ficarem acordadas, pois estavam eufóricas para ver a
explosão de cores no céu.
Naquela hora, meus filhos cochilavam no carrinho, mas Renzo
e eu os pegamos no colo, ajustamos os protetores auriculares em
suas orelhas, e os acordamos a tempo de presenciar o espetáculo;
meu marido segurou Enzo e Valentina, e eu fiquei com Lorenzo.
Foi lindo. Durante dez minutos ininterruptos, o céu da Sicília
ficou bastante colorido e iluminado, encantando a todos nós.
— Buon anno, mi amore. — Renzo me deu um selinho terno.
— Buon anno, mio re — respondi, toda derretida. — Eu te
amo com todas as forças do meu coração.
Depois de nos beijarmos e apertarmos muito os nossos filhos,
cumprimentamos os outros e continuamos curtindo a noite em um
clima tranquilo e feliz.
Renzo

No dia seguinte, nos reunimos na casa do Matheo para o


primeiro almoço do ano. Felizmente, nossa virada de ano tinha sido
sossegada, assim como estava sendo aquela manhã de primeiro de
janeiro.
— Minha filha ficou ainda mais linda depois de dar à luz —
Lorenzo comentou, orgulhoso, olhando para Antonella; ela estava
perto da mãe e das primas, conversando e rindo.
— Concordo plenamente. Aliás, nem sei como ela conseguiu
essa proeza — respondi, admirando minha mulher à distância.
— Acho uma gracinha o Renzo todo apaixonadinho —
Gaetano zombou.
— Eu também. Estou apaixonado pelo nosso irmão
apaixonado — Rocco comentou, fazendo os caras rirem.
— Ha, ha, ha! Vocês são tão engraçados. — Fingi-me de puto,
e eles riram ainda mais. — E vocês, estão rindo de quê? — Encarei
cada um deles. — Como diz Sophia: é um mais cadelinha que o
outro.
— Isso é verdade. São tão cadelinhas que falta pouco para
latir e abanar o rabinho — Edward zombou.
— Sua hora chegará, Edward. Não se preocupe. E eu estarei
assistindo ao seu tombo de camarote — Ethan rebateu a
provocação.
— Nem ousarei me defender, porque sou um cadelinha
veterano e não me importo com isso. Melissa merece o melhor de
mim — Matheo admitiu, nos surpreendendo, pois era um cara calado
e discreto; era raro presenciarmos um momento como aquele.
— Também sou rendido pela minha maluca e nunca neguei —
Enzo declarou.
— As malucas são as melhores. A Nina, por exemplo, quando
não me enlouquece de amor, faz eu surtar de raiva — Inácio
comentou, rindo.
— Concordo. A vida sem a Sophia me enlouquecendo seria
um tédio, um desastre total — Vincenzo brincou.
— E quando os dois são malucos? Aí é melhor ainda. Nesse
quesito, Julie e eu somos compatíveis — Cesare se manifestou.
— Deixa de ser abusado, Cesare. Foi você quem deixou
minha filha assim. Julie era calminha igual à mãe — Pietro defendeu.
— Não tenho culpa se ela só se revelou comigo, sogro.
— Deixa, Pietro. Não vale a pena. Eles são assim, além de
roubarem nossas filhas, fazem uma lavagem cerebral nelas,
desfazendo todo o trabalho que tivemos para criar e educar. Esses
ladrões de filhas alheias são bandidos da pior espécie — Raphael
falou sério, mas arrancou risadas de todos.
— Cecília é perfeita. Ela foi feita pra mim — Noah declarou,
todo apaixonado. Isso me surpreendeu, pois era difícil vermos o Don
abrir o coração dessa maneira.
— Luna também — Theo comentou.
— Brenda é arisca e me desafia o tempo todo, do jeitinho que
eu gosto — Chase contou.
— Raphaela é uma princesa. Devo admitir que você
caprichou, Raphael — Vittorio disse.
— Ela puxou a mim, porque a mãe é brava. Só eu sei a
violência doméstica que suporto com a Maria Eduarda. Mas… não sei
viver sem aquela mulher.
— Não farei propaganda da Glenda com vocês, afinal ainda
temos solteiros na família.
— Ciumento do caralho — Gael brincou.
— Bem que a Glenda podia ter uma irmã — Louis falou.
— Deus me livre! Vocês já roubaram uma, é o suficiente —
Gaetano respondeu, fazendo drama.
— E você está doido pra se vingar — Raphael provocou o
meu irmão. — Já disse que sinto o cheiro de ladrão de filhas alheias
de longe. Abre seu olho, Inácio.
— Belinha não quer saber de casamento. Ela vai para um
convento — Inácio brincou.
— Eu achava a mesma coisa da Antonella. Olha no que deu:
ela não só casou, como foi embora e teve trigêmeos. Cuidado,
Inácio! — Lorenzo mexeu com o cunhado.
— Fiquem tranquilos que eu não roubarei ninguém. Rocco se
casará primeiro, então é melhor que fiquem de olho nele, em vez de
prestar atenção em mim — Gaetano se defendeu.
— Vai sonhando, stronzo — Rocco rebateu.

Depois do almoço, fomos para a área externa, onde foi


servido um café. Estava uma falação do caralho, até que um soldado
anunciou a chegada de um visitante, e Matheo autorizou a entrada.
Não sabíamos quem era, até Nathan entrar e surpreender a todos
com um buquê de flores nas mãos.
— Boa tarde a todos. Obrigado por me receberem. Feliz Ano
Novo.
A maioria respondeu seu cumprimento, mas Gaetano fechou
a cara e ficou tenso ao meu lado.
— Quero aproveitar esta oportunidade, em que estão todos
reunidos aqui, para fazer algo que já deveria ter feito há muito
tempo — ele falou, olhando para Bella, depois voltou sua atenção
para o pai dela. — Inácio, com todo respeito, farei um pedido à sua
filha.
Naquele momento, não se ouvia uma respiração sequer.
Todos já imaginavam o que aconteceria a seguir, porém ninguém
conseguia acreditar. Foi muito inesperado.
Como na porra de uma cena de filme romântico, Nathan
dobrou um dos joelhos diante da Bella e, sem nenhuma cerimônia,
abriu uma caixinha de veludo vermelho, revelando um anel.
— Bella Smith Esposito, você aceita se casar comigo?
Bella arregalou os olhos e tapou a boca, chocada. Ao meu
lado, Gaetano fez menção de se levantar, todavia, mais uma vez, eu
o impedi de fazer uma loucura. Ou melhor, tentei impedi-lo.
— Não vá fazer uma besteira, porra! Controle-se! —
murmurei.
Quando ele se virou para mim, havia fogo em seus olhos.
Naquele momento, eu soube que alguma merda iria acontecer.
— Não desta vez, irmão.

Fim.
Atenção!!!

NÃO DEIXE DE LER O AVISO A SEGUIR.


É IMPORTANTE

Chegamos ao fim de mais um lindo trabalho e, mais uma vez,


meu coração está transbordando de amor e gratidão.
Esta é uma novela de Natal que dá continuação à história de
Renzo e Antonella, um dos casais mais amados do Aryverso até o
momento. Ao concluir o livro Irresistível para o mafioso — primeiro
volume da trilogia Irmãos Bellini —, senti que os protagonistas
mereciam contar um pouco mais de sua vida depois do felizes para
sempre. Então, em vez de escrever apenas um conto curtinho, optei
por estender os acontecimentos. Também aproveitei para dar uma
pequena amostra do que vocês podem esperar de "Gaebella" —
volume dois desta trilogia.
Espero que tenham gostado desta novela. Como sempre,
coloquei todo o meu amor e dedicação em cada página.
Todas as lacunas e momentos ocultos entre Bella e Gaetano
serão detalhados no próximo livro, no qual eles serão os
protagonistas. A resposta para o pedido de casamento feito pelo
Nathan, a descoberta dos responsáveis pelo atentado ao complexo e
ao orfanato, o desenrolar da guerra que foi deflagrada… A
explanação desses temas acontecerá na próxima história.
Ah, antes que eu esqueça de contar, também teremos
diversos surtos do Inácio, provocações do Raphael para aliviar um
pouco o clima, além de muito hot, cenas de ciúme e, claro, tretas,
porque é isso que nós amamos.
Espero que tenham curtido nossa aventura de Natal. E, a
partir de agora, apertem os cintos, porque virá muito mais por aí.

Até breve.
Beijos da Ary
Gostou do livro?
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Obrigada!

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[1]
Termo técnico para a ação de escutar os sons internos do corpo, normalmente
do coração e do pulmão.
[2]
Antes do Natal. É uma festa organizada por algumas boates em vários países.
No Brasil, costumamos chamar de After de Natal.
[3]
Minha pequena.
[4]
Minha deusa.
[5]
Tradução livre do trecho da música Turning Page, do Sleeping At Last.

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