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A

SENHORA
DA
MÁFIA
JOSIANE VEIGA
A SENHORA DA MÁFIA

JOSIANE VEIGA

1ª Edição
2020
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização
escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser
considerado mera coincidência.

Título:
A SENHORA DA MÁFIA

Romance

ISBN –
9798602752205
Texto Copyright © 2020 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:

Ele queria transformá-la em sua cadela, sua escrava. Ela acabou por ser sua
SENHORA.

LUCAS VOLTOU...

Aos doze anos, ele foi salvo das ruas pelos Bianconi. Órfão de mãe, abandonado
pelo pai, havia se entregado a degradação das drogas quando Pierre o resgatou...
... Apenas para usá-lo.
Aos dezoito anos, já era um assassino. E essa condição custou a vida de alguém que
ele amava, seu irmão, Victor.
Depois de anos preso, ao encontrar a liberdade, soube que não conseguiria lutar
contra os Bianconi por meios justos. Ele precisava se tornar o rei de uma novo
grupo.
Com sua experiência, Black Rose, em pouco tempo, já era uma das maiores
organizações criminosas do país.
Todavia, não bastava. Sua condição exigia vingança contra àqueles que o induziram
a ser quem era.
Para fazer isso, seu caminho cruzou com o de Renata.
A garota perfeita, virgem e pronta para desposar o novo líder dos Bianconi, Bruno.
Tê-la para si se tornou um objetivo. Mas, amá-la não estava nos planos.
Sexo, fogo, paixão... Lucas não esperava que uma garota tão simples e delicada
pudesse fazê-lo repensar todos os seus objetivos.
Perdido em sua teia de desejos, tudo que ele queria era possuí-la.
E ele faria isso...
Nota da Autora
Acho que é o primeiro livro que escrevo assim, sem
intervalos de tempo na história. A inspiração veio de “Minha
filha quer Casar”, onde um mafioso tem que casar a filha, e a
trama se decorre quase sem quebras de cenas, como se tudo
tivesse ocorrido no mesmo dia. Eu me inspirei nas sequências,
mas não na história, pois já tenho livros que se passam na Lei
Seca (Quem Tem medo do Lobo Mau?) e eu queria algo mais
atual e que decorresse no nosso tempo.
Lucas esteve presente e foi peça fundamental de ANJO
E DEMÔNIO, e havia uma promessa de que ele teria um livro
próprio, apesar de estar ciente de que haverá mais livros onde
Lucas será um personagem fundamental. Nesse momento estou
trabalhando também em “O Completo Caos”, onde ele retorna.
O livro tem esse ritmo. É rápido. Forte. Não amenizei
cenas pesadas. Nem usei de eufemismo no hot. É um livro para
não respirar.
Espero que não ofenda ninguém pelo teor dos
personagens. Tenho total ciência de que ele é, de certa forma,
doentio.
Muito obrigada por ter comprado esse romance, e espero
que se divirta.
Josiane Biancon da Veiga
Sumário
JOSIANE VEIGA
Nota da Autora
RENATA
LUCAS
RENATA
LUCAS
RENATA
LUCAS
RENATA
LUCAS
RENATA
LUCAS
Renata
Lucas
Renata
Lucas
Lucas
Renata
Lucas
Renata
Lucas
Demais livros do universo Bianconi
1
RENATA

A dívida era alta. Mais alta do que eu conseguia calcular, e não havia
como pagar aquela conta.

Não, ao menos, por meios legais.

Meu avô vendia drogas. Toda a família, na verdade. Um negócio


arriscado que envolveu-nos com os Bianconi, aquele grupo mafioso,
segmentado da Itália — mas que agia no interior do Rio Grande do Sul — e
que a anos era uma dor de cabeça para a justiça brasileira.

Nosso envolvimento começou como sempre começam os negócios


errados. Meu avô, chefe da nossa família - Braun, comprou uma quantia
absurda para revender no vale dos sinos. A cocaína foi entregue a terceiros
que deviam distribui-la em bairros pobres daquela região.

Com o novo governo, as batidas policiais se intensificaram. Muita


droga foi apreendida. Sem o material para venda, não podíamos pagar os
Bianconi e sabíamos que era questão de tempo para sermos assassinados por
causa da dívida.

Ou, ao menos, seria assim com Pierre, o antigo líder morto numa
cidadezinha da Serra.

Pierre era extremamente violento e não aceitava atrasos. Meu avô


sempre manteve as coisas em dia com ele. Mas, depois que ele morreu e
Bruno assumiu seu posto, foi que tudo piorou.
Como posso explicar isso? É difícil colocar o ponto em que a dívida de
minha família me pôs num vestido de noiva e Bruno em meu destino.

Meninas sonham com o dia do casamento, não é? Ou, ao menos, eu


sempre sonhei, mesmo na vida errada que a minha família me forçava.

Não que eu os odiasse por isso. Não creio que eram maus em sua
totalidade. Apenas, fizeram más escolhas. Meu avô as fez, aliás, na década de
70, quando as drogas começaram a ganhar força no Rio Grande do Sul.

Meu pai morreu numa emboscada. Meus tios ou estavam traficando ou


estavam presos. Minha mãe sumiu da minha vida tão logo pôde, deixando-me
com meu avô, Olívio, para servir aos propósitos dele.

Eu era a única menina na casa. As mulheres que serviam aos meus


parentes ficavam em outra. Meu avô não queria que eu tivesse contato com o
que ele chamava de cadelas. Esse isolamento me levou a ficar mais próxima
dos meus. Eles eram tudo que eu tinha.

Deito na cama olhando para o cabide pendurado no meu armário e meu


estômago revira com o que está por vir.

Eu quero fugir, mas sei que isso não é uma opção. Para onde eu iria?
Eles me encontrariam, não importa onde me escondesse.

Eu sei disso. Todos que se atreveram a fugir, sofreram as


consequências.

Não há como escapar desta vida. Eles sabem que não posso resistir.
Nunca deixaria meu irmão Emanuel para trás, mesmo sabendo o destino que
o aguardava...
Isso é o que sei: ele provavelmente se tornará como nosso avô um dia,
mas, agora, ele é inocente e a única pessoa que eu realmente amo nesta terra.
Ainda há esperança de que ele cresça e seja diferente daqueles homens cruéis.

Cubro meu rosto com as mãos, destruída pelo pensamento.

Meu irmão foi a única coisa que sobrou de minha mãe, após a morte do
meu pai. Ela, cansada dessa vida de sobressaltos, deixou os dois filhos
pequenos e fugiu. Eu a odeio por isso, ao mesmo tempo que não a culpo.

Suspiro.

Emanuel é a única coisa que pode me machucar, e todos sabem disso.


Eles não o usaram como uma ameaça, mas não hesitariam se eu decidisse
ignorar a autoridade de vovô.

Não há uma linha que meu avô não cruzaria para conseguir o que quer.
Então faço o que devo. E o que devo é ser uma mercadoria... Uma
mercadoria virgem para Bruno Bianconi desfrutar e desbravar.

Eu sabia que esse dia chegaria, o dia em que eu seria vendida para um
homem procurando uma mulher sem máculas para chamar de sua. Nas
organizações criminosas com vínculo europeu era assim. Eles tinham as
famosas “cadelas” para sexo selvagem, e moças castas para dar-lhes filhos
que dariam continuidade aos negócios.

Mas isso não importa. Aceitei meu destino para dar uma chance a
Emanuel. Se, com o poder dos Bianconi, eu pudesse resgatá-lo e lhe dar uma
oportunidade de crescer longe da nossa família... Tudo valeria a pena.

Não, não quero me casar com Bruno Bianconi, mas não há escolhas.
Eu não decido. Meu avô decide.
Vi Bruno poucas vezes, e ele sempre me observou com desejo. Quando
a dívida com meu avô foi cobrada, minha mão e virgindade foi
satisfatoriamente aceita para quitar a conta. Além disso, meu avô sempre quis
um vínculo com os Bianconi. Agora ele o teria.

Lágrimas espessas cruzam meu olhar. Quase não posso suportar estar
na mesma sala que meu noivo, mas vou andar pelo corredor de uma capela
em apenas algumas horas. Tudo para agradar minha família. Tudo para ser
leal. Tudo por Emanuel.

Sou um peão neste jogo. Meu avô, Olívio, ao me usar, garantirá a


posição de nossa família junto aos Bianconi. De qualquer ângulo, estou
ferrada.

Não querendo mais encarar a roupa, giro o rosto para o lado. Uma
lágrima escorre do meu olho, mas eu rapidamente a limpo. Não adianta
chorar porque não muda nada.

Nada mais importa.

Meu avô exige lealdade.

Essa é a loucura de famílias como a minha. Falamos de fidelidade,


amor e respeito, mas essas coisas só se aplicam se você fizer o que lhe
disserem.

Sento-me, sabendo que preciso me arrumar. Um casamento entre duas


famílias do crime chamaria a atenção e haveria muitos convidados.
Especialmente famosos que bancavam os bondosos na televisão, mas
financiavam nossa espécie adquirindo nossa droga.

E agora eles seriam testemunhas dessa transação comercial. Uma fusão


de nomes e dinheiros oriundos da ruína das pessoas. Esse casamento vai nos
solidificar como uma das famílias mais poderosas. É por isso que meu avô
faz tanta questão. Pelo menos é o que eu penso. Não conheço nenhum desses
detalhes porque não tenho permissão para fazer essas perguntas.

Pego meu Kindle e o escondo debaixo do travesseiro antes de ir para o


banheiro. Eu amo meus livros. Literatura é meu lugar feliz. É lá que
experimento amores saudáveis, porque sei que na minha vida isso não
acontecerá.

Paro quando pego meu próprio reflexo no espelho. É como se minha


mãe estivesse olhando de volta para mim. Eu me aproximo, estendendo a
mão para tocá-lo. É um lembrete de como éramos parecidas. Meu coração dói
por ela não estar aqui hoje. Como ela pôde me deixar? Como uma mulher
pode partir sem olhar para trás deixando uma parte de si a mercê de pessoas
como meu avô?

Eu engulo, lutando contra as lágrimas. Não vou chorar. Eu disse a mim


mesma que não iria, mas essas lágrimas não são por causa do casamento
forçado que estou prestes a entrar, mas por tudo o mais que será forçado em
mim hoje à noite. Minha inocência será arrancada por um homem que
detesto, enquanto minha esperança foi despedaçada pela mãe que se foi, e
que provavelmente nunca voltará.

Eu mantenho as lágrimas afastadas e procuro minha raiva. Isso sempre


me serve melhor. Isso ajuda a me manter entorpecida.

Raiva... Raiva controlada.

Certa vez deixei que a imprudência me fizesse questionar meu destino.


Por que eu não podia ir à escola, sendo obrigada a ter aulas particulares? Por
que eu não podia sair, ver garotos, ter amigas? Ainda tenho uma pequena
cicatriz na minha testa, onde meu avô havia revidado as questões com um
soco. Um de seus anéis berrantes deixou aquele presentinho bem na linha do
cabelo. Eu posso facilmente esconder a marca com meu cabelo, mas certa
cicatriz mental ficou cravada no meu íntimo.

Viro quando ouço a batida dupla suave. É a assinatura do meu


irmãozinho. Quando abro a porta, ele parece tão animado quanto eu por hoje.
Se não fosse por Emanuel, provavelmente teria tentado fugir.

— Como você está? — Emanuel tenta parecer solidário enquanto traz


a questão.

Eu finjo um sorriso.

— Eu estou bem.

— Irmã... — seu tom é confortador. Ele passa por mim e entra no meu
quarto.

Ele é só um adolescente. Catorze anos. Temo o dia em que se


transformará em um deles, um dos bandidos, alguém que não liga para nada
além de poder. É então que as linhas do certo e do errado começam a ficar
tremidas para mim. Eu amo meu irmão, e ele provavelmente poderia fazer um
monte de coisas e eu continuaria amando ele. Mas, não quero que faça parte
do lado sujo do mundo.

Ele franze a testa para o meu vestido, depois esfrega a mão pelo rosto.

— Eu odeio essa merda.

— Eu sei. Mas, isso tem que ser feito. Se não fosse Bruno, teria sido
outra pessoa. Você sabe que vovô iria me usar de qualquer maneira. Ele não
me guardou simplesmente pra nada.

— Que ódio! — Meu irmão anda de um lado para o outro na frente da


minha cama.

Agarro seu braço e escolho minha expressão mais firme, deixando que
ele saiba que estou falando sério, mostrando a ele que é isso que precisa ser
feito.

Ele volve o olhar para mim, e eu posso ver facilmente que não está
nada tranquilo.

— Você parece a mamãe.

Olho para longe de Emanuel e engulo o nó na garganta. Não vou


mostrar a ele que estou com medo nem como aquelas palavras me tocaram.

— O mesmo olhar dela antes de nos deixar.

— Eu nunca vou te deixar. Mas precisa entender que esse casamento


vai acontecer, não importa o quê. Não há sentido em lutarmos contra isso. Se
você tentar bancar o revoltado, vai ser punido. Sabe que vovô não brinca em
serviço. Emanuel, prometa-me que não fará nada imprudente.

De repente ele me entrega um embrulho pequeno. Encaro com


curiosidade.

— Anticoncepcionais — ele aponta. — Não dê o prazer aos Bianconi


de se tornar a vaca parideira deles.

Nossa pouca bravura ali, estampada entre nós. Sorrio. Está certo. Não
vou trazer um bebê para este mundo.
Meu irmão se inclina, beijando-me na testa.

— Bruno é um pedaço de merda — Emanuel murmura.

Não sei muito sobre o meu noivo. O que eu sei, eu não gosto. Ele
assumiu os Bianconi após a morte de Pierre e pegou o grupo em ruínas. Ele
abafou as guerras internas com violência e assassinato. Ele vendia mulheres
para a prostituição na Europa. Céus, soube que até bebês ele vendia. Não
tinha escrúpulos, nem honra.

O que fiz para merecer destino tão ruim?

— Vá — ordeno a ele. — Eu tenho que me arrumar.

Empurro-o em direção à porta.

— Vejo você na igreja. — Mais uma vez forço um sorriso.

Ele não. Emanuel deixa sua raiva aparecer. Isso é perigoso porque
ninguém brinca com os Bianconi.
2

LUCAS

O véu transparente cobria seus cabelos. Era como uma deusa gentil, de
branco. Lembrava Nossa Senhora em um dos muitos quadros católicos que
Pierre gostava de ter em casa.

Enfiei a pistola no coldre e ajustei o paletó.

Ela não me olhou.

Nem quando entrei na Igreja.

Nem quando dei o tiro que matou seu novo marido.

Nem mesmo quando ele caiu de cara diante do padre aterrorizado.

Ela permanecia quieta enquanto eu andava na sua direção.

A cerimônia foi realmente bela. Ninguém poderia dizer o contrário.


Sentei-me na fila de trás e vi a jovem noiva de cabelos escuros caminhar
incerta pelo corredor. A catedral estava cheia, todos os membros dos
Bianconi presentes.

Ela fez como todas as boas filhas da máfia — deu sua palavra para
amar e valorizar o pedaço de merda cujo sangue agora mancha o chão.

Bruno... um merda.

Como Pierre. Como Gabriel. Como Ivan... Tantos e tantos que matei.

Observei o corpo. Alguns Bianconis se levantaram de seus bancos, mas


nenhum ousou erguer uma arma contra mim.
Até porque... eu também era um Bianconi.

Talvez o mais marcante daquela família.

Tudo começou quando minha mãe morreu de câncer. Foi horrível, a


dor que a agoniou nos seus últimos dias, a desesperança, a incerteza, a
piedade das pessoas em me ver, um garotinho, a ficar sozinho no mundo sem
alguém para me amparar.

Quando fecharam seu caixão, fecharam meu coração ali, também. Foi a
única vez que eu gritei. Aquela dor insuportável me tomou de tal forma que
eu só me lembro de ver tudo se apagando em minha frente, enquanto caia no
chão de uma funerária pobre, repleta de gente curiosa que não se importava
com meu destino.

Meu pai levou exatos dez dias para arrumar outra mulher. E dois para
me mandar embora. Eu era um moleque e fui para as ruas terríveis de Porto
Alegre roubar e me drogar para tentar amenizar meu sofrimento.

Então o conheci.... Meu Salvador. Pierre Bianconi me perdoou uma


dívida de maconha. Encarou-me com olhos de quem se importava, e me deu
um teto e uma nova família.

Ele era meu novo pai...

Todavia, esse meu novo pai era ciumento, exigente, terrível.

Esse novo pai me fez matar. Me fez traficar... Enviou-me para uma
cidadezinha no Interior chamada Esperança para ser aluno de outro jovem
que ele resgatou: Victor.

Victor, meu mentor, foi a única coisa boa que tive naqueles dias. Meu
irmão... meu amigo.

Pierre me destruiu quando me fez ver Victor morrer.

Naquela época, Pierre havia dado ordens para Gabriel, outro irmão,
raptar uma jovem que Victor amava. O resultado fatídico desse sequestro se
deu porque acreditei que poderia salvar aquela inocente. Naquela manhã, eu
atirei em Gabriel, eu matei meu irmão, eu o vi caindo numa poça de sangue,
o primeiro sangue Bianconi que manchou minhas mãos.

Depois disso, eu precisei matar meu pai. O homem que eu amava. Ver
Pierre morrer foi como ver minha mãe morrer, novamente.

Depois disso, fui preso. Condenado à doze anos de reclusão. Acreditei


na redenção por meio da punição, mas percebi que as leis eram muito porcas
quando, quatro anos depois, fui posto em liberdade, ao ter cumprido um terço
da pena.

Então era isso: não existia redenção. E a lei que tentou me punir de
maneira tão fraca ainda vacilou em acabar com os Bianconi. Apesar de eu ter
matado Pierre e Gabriel – seu sucessor óbvio – a família permanecia atuante
e forte, agora sob as mãos de Bruno.

Foi então que resolvi usar tudo que Pierre me ensinou, porque, de
verdade, eu precisava de algum motivo para permanecer vivo. E que motivo
poderia ser melhor que vingança? Com contatos na cadeia, criei a Black
Rose, e fiz a mesma lavagem cerebral de Pierre naqueles homens, dando a
eles algo a que lutar: uma nova família.

Dominar os pontos de tráfico não foi difícil. Eu conhecia todos os


pontos fracos dos Bianconi e usei disso ao meu favor. Claro, Bruno tentou me
matar, mas eu devolvia suas investidas na mesma moeda.

Consegui ordenar avanços em áreas comandadas por Bruno. Alguns


mulas morreram. Mas, enfim, assumi vários pontos importantes, colocando o
Black Rose num destaque dentro do ramo do crime.

Em pouco tempo, já tinha o respeito de outras organizações criminosas.


Facções tentaram acordos, e eu só aceitei alguns porque via vantagem em ter
proteção extra.

Contudo, o que eu queria era o fim dos Bianconi. Queria que aquela
família desaparecesse. Os demais homens da família tinham que entender que
eu não deixaria nenhum líder se levantar. Eles deviam me entregar as posses
e debandar para o meu lado, jurar-me lealdade e viver pela Rosa Negra.

Nada menos que isso seria aceito.

Olho para o crânio quebrado e sorrio para Bruno.

Volvo na direção das demais pessoas, algumas assustadas, e indico que


sou o novo pai, o novo senhor. Aqueles que não me seguirem serão
executados.

Por que faço isso? Por justiça. A judicial não existe. Então, eu estou
fazendo a minha própria. Estou deixando o nome de Victor vivo. Eles
destruíram meu irmão amado, agora eu acabava com eles.

— Vai me matar também? — A voz é tão quieta, como a superfície de


um lago frio e escuro.

Viro-me na direção dela. É a noiva. Meu olhar decaí a cascata perfeita


de seus cabelos, a inclinação de seus ombros pálidos, a fileira de botões nas
costas de seu vestido. Eu poderia rasgá-los com facilidade.

Poderia...

Mas, o amor traz dor. O amor trouxe a morte de Victor. Eu não queria
me arriscar a ter o mesmo fim. Por isso, eu nunca prestava muita atenção nas
mulheres com quem dormia. Nunca, pelo menos, demorei-me em admirar
seus cabelos ou a palidez de sua pele.

Por algum motivo, contudo, estava fazendo isso com aquela noiva.

— Você vai me matar? — ela insistiu, a voz novamente doce, o tom


tão triste que me assustou.

Estendo a mão e caminho meus dedos pelo véu dela.

— É o que você gostaria que eu fizesse?

Ela não se mexe.

— Com medo, querida? Aposto que desejou a morte quando foi


oferecida para esse merda.

— Sim, eu desejei.

— Você desejou... — Eu enterro meus dedos no tecido fino e puxo o


véu livre, a tiara caindo no chão e seu cabelo fluindo escuro e ondulado.

— Apenas vá em frente. — Ela se vira para mim, o dourado de seus


olhos como uma adaga que vai direto para onde meu coração deve estar.

Mas, como muitos dos meus inimigos aprenderam, não há nada lá. Sem
coração. Sem piedade.
Mas há necessidade. E desejo. Ela me acende com seus lábios
petulantes e olhos grandes.

Ok, essa beleza é minha. Como um insulto final à família, serei o dono
dessa criatura inocente, a dobrarei e a quebrarei até que ela seja algo novo. A
virgem vai se tornar uma cadela. A minha cadela.

Bruno não merecia essa noiva. Não essa criatura celestial diante de
mim que praticamente pede que eu acabe com ela.

Ela não parece fazer parte de todo esse ritual. Não se encaixa nessa
igreja, nesse vestido, com esse noivo.

Desço a mão por seu corpete. Todos estão nos olhando, mas ninguém
interrompe. Olívio solta um suspiro assustado de um lado. Aquele velho
medonho vendeu a neta. Quando me contaram que Bruno se casaria com uma
garota de dezoito anos, inocente e frágil, eu quase ri.

Bruno... O irascível Bruno. Lembro-me de saber que ele tentou roubar


o filho de uma das cadelas, Cris, para vender o moleque na Europa. Aquilo
me enojou.

Eu seguro as costas dela e a guio até uma sala anexa. A igreja


permanece em silêncio, enquanto alguns dos meus homens andam entre as
cadeiras decoradas, expondo armas.

A garota me encara assustada quando chegamos ao local privativo.

O que ela deve considerar que quero?

Não importa. Me aproximo e rasgo aquele vestido vulgar, os botões


estalando exatamente como eu desejava, e o tecido se separando com um som
áspero que é agradável aos meus ouvidos.

Ela se inclina para a frente, tentando se afastar de mim, mas eu puxo


novamente, dividindo-o até a cintura.

— Tire essa merda — Eu dou um passo para trás enquanto ela gira.

Ela segura o vestido rasgado no peito. Enfim parece sair do seu torpor.

— O quê?

Eu gosto mais disso, o fogo em seu tom. Chega de água morta. Em vez
disso, há calor. Ira.

Eu quero mais disso.

— Eu disse para tirar. Não gosto desse vestido.

— O que você quer? Me deixar nua? — Ela levanta o queixo. — Se vai


me matar, acabe logo com isso, mas vou morrer com o mínimo de dignidade.

Eu poderia dobrá-la sobre a mesa do padre agora, devastá-la e ir


embora. Eu deveria. Não preciso de mais confusão na minha vida.

Em vez disso, eu mantenho minha posição.

— Tire.

O tom que eu uso é o mesmo que muitos homens já ouviram antes de


eu matá-los.

Ela não responde, mas o queixo dela treme.

— Se você não tirar, eu farei isso por você.


Eis algo que apreciaria fazer. Rasgar aquele vestido pelas costas,
desnudar aquele corpo. Só o pensamento já fez meu sangue ficar quente.

Com um olhar que poderia partir o coração de um homem normal, ela


deixou cair o tecido rasgado e cruzou as mãos trêmulas sobre os seios,
mesmo usando um sutiã branco.

— Agora saia disso.

— Por quê? — Ela indagou, desconfiada.

— Eu já te disse. Eu não gosto desse vestido. No momento em que


você estiver fora dele, mandarei que um dos meus homens o queime.

Eu estalo meus dedos e Enzo entra na sala.

— Pai?

— Pegue esse vestido e descarte-o junto com Bruno.

— Sim, senhor. — Ele caminha até ela e pega um pedaço da saia


esfarrapada, depois espera que a noiva obedeça ao meu comando.

— Saía, eu já disse — Eu me movo e ofereço minha mão como apoio.

Seu toque suave aqueceu minha pele e flexionei minha mão.

Quando ela está livre, vejo que ela está usando calcinha branca
recatada e sapatos brancos de salto baixo. Sem renda, sem liga, nada
intencionalmente sensual. Ela não tinha a intenção de ter uma noite de
núpcias quente, embora eu tenha certeza de que Bruno planejava algo bem
degradante.

Ela balança a cabeça enquanto aperta as coxas com força e mantém


uma das mãos sobre os seios.

É bela. Gosto da maneira como sua cintura se estreita e seus quadris se


alargam, as coxas grossas e os pequenos tornozelos. Ela era mulher demais
para Bruno.

— Ah menina, você está me dando ideias... — eu murmuro.

— Vai me bater?

O pensamento de alguém bater nela envia uma sacudida de gelo em


minhas veias. Eu sou um homem violento, mas bater em uma mulher? Ainda
existe uma veia machista em mim que encara as mulheres como flores para as
quais não se levanta a mão.

Ela tenta soltar a mão. Não deixo. Seu calor permeia minha pele e
minha sede de sangue desaparece.

Eu a conduzo da sala em direção à frente da igreja.

— Qual o seu nome?

— Você não sabe? — Ela continua tentando se cobrir, então eu paro,


desabotoo meu casaco e o coloco sobre seus ombros.

Meus homens já haviam espalhado os convidados, a maioria já havia


ido embora em silêncio. Todos temiam abrir a boca. Todos me temiam.

O doce sabor do poder.

Ela fecha o casaco, mesmo que seja enorme em seu corpo, e olha para
mim com surpresa.

— Obrigada.
— De nada. — Pego a mão dela novamente e continuo andando.

Estamos deixando essa merda para trás.

— Onde estamos indo? — pergunta enquanto saímos na noite fria.

— Isso importa? — Eu olho para ela.

Ela pensa por um momento, depois balança a cabeça.

— Não. Suponho que não.

Ajudo-a a entrar na traseira da Hilux preta e depois deslizo para o lado


dela.

Um tiro quebra a janela ao meu lado e eu abaixo por instinto, levando-a


comigo.

Um sorriso quase escapa dos meus lábios. Eu sei que os Bianconi não
vão lutar. Então, o tiro deve ter vindo do avô dela.

Contudo, será que o velho vai se atrever a tentar obter a neta


novamente?

Essa pequena agora é minha.


3

RENATA

— Vá rápido!

Seu tom é frio, a voz na direção do motorista soa como se nada demais
houvesse ocorrido.

O cheiro de pólvora ainda me sufoca, mas a colônia amadeirada dele


parece me deixar ainda mais estressada. Quando ele olha para mim, há calor
em seus olhos.

— O que aconteceu? — Observo a janela quebrada.

— Eu cuidarei disso. — Ele se senta no banco e pega o telefone.

Seus dedos grossos batem rapidamente, disparando uma mensagem


que, suponho, deve estar carregada com raiva. Alguém tentou matá-lo, ao
líder da Black Rose. Aquilo não ficaria impune.

Fecho os olhos e aperto o casaco com mais força ao meu redor.

Eu sabia quem ele era. Todos sabiam. Lucas Bianconi. Aquele que
matou Pierre, o fundador daquela família maldita que dominava o tráfico de
drogas no Sul. E eu sabia que ele andava tomando vários pontos dos italianos.
Minha dúvida era o quanto ele demoraria para se irar contra a minha família.

Mesmo assim, após rasgar meu vestido de noiva, ele foi gentil o
suficiente para me conceder algo para me cobrir.

Isso, claro, depois de ter assassinado meu marido. O quão grata eu era
por isso?
Estremeço com a emoção que me atravessa, porque não é tristeza, é
alívio. Agora estou praticamente nua com um inimigo desconhecido que me
mostrou compaixão suficiente para me deixar confusa.

Ainda não entendo sua urgência em destruir meu vestido de noiva. Eu


também odiava o vestido. É lindo, claro, mas não para mim. É extremamente
chamativo, e eu prefiro roupas mais simples.

Eu sabia que era um objeto. Me tornar um elemento não desejado era o


mínimo que eu devia fazer para me manter segura. Assim, usava tudo que
não chamasse atenção extra para mim. Meu vestido de noiva era o oposto
completo disso. Ele parecia exatamente o tipo de roupa que uma princesinha
usaria para ser passada para seu príncipe. Exceto que Bruno não era um
príncipe. Só se fosse o príncipe das trevas. Acima de tudo, eu estava com
medo da nossa noite de núpcias. Mais ainda, porque eu sabia o quão excitado
ele estava quando o padre disse que ele podia me beijar.

Virei minha cabeça, apenas para dar-lhe minha bochecha. Sua boca
apenas roçou o lado da minha, e até isso pareceu demais para mim.

Ele queria. Senti pelo seu suspiro acuado de quem não pôde me beijar,
me chupar nos lábios. Não sei por que decidi cutucar o animal em evitar sua
boca, mas o fiz.

Seu olhar prometeu vingança, mas pela graça de Deus ele estava morto
agora. Morto pelo homem ao meu lado.

Sem saber quais são os motivos de Lucas, apenas fico em silêncio ao


seu lado. Até agora, ele matou meu marido e me fez tirar a roupa. Eu quase
entro em pânico de como essa situação toda é ridícula. Uma risada histérica
vem de mim.
Ele levanta uma sobrancelha.

— O que é tão divertido? Eu esperava que você estivesse tremendo de


medo, não de riso.

Eu só não rio mais forte porque ele está certo. Meu riso é porque estou
mais confusa com o motivo de ele me dar um casaco do que com a morte de
Bruno. Eu deveria estar tremendo de medo, mas por quê? O que mais esse
homem pode fazer comigo que seria pior do que o que meu marido teria feito
à noite, em nossa cama de casamento?

Quando finalmente recupero o fôlego, pergunto:

— Por que você odiava tanto o meu vestido?

— Essa pergunta ao invés do porquê matei seu noivo? — rebate.

Seus olhos escuros vagam por mim como se ele estivesse tentando me
entender. Finalmente dou uma boa olhada nele. É bonito. Tem olhos tristes,
mas um jeito gentil. Suas mãos tem tatuagens nos dedos. Iniciais. V e F.

— É difícil me importar com aquele que se dizia meu marido. Você


sabe. Fui vendida.

Pela primeira vez, o homem - possivelmente meu salvador ou meu


futuro pesadelo - abre um sorriso.

— E eu cheguei a tempo, não é? Um dia depois e ele teria te fodido.


Salvei sua inocência.

— Fodido? Ele teria consumado o casamento, se é o que quer dizer. —


eu corrijo. Não sou uma vagabunda para ele falar nesse tom comigo.
— Quanta pureza...

— Você sempre rasga vestidos de mulheres que nem conhece? — Eu


atiro de volta e mordo minha língua.

O que há de errado comigo? Primeiro provoquei Bruno e agora estou


atentando o homem que o matou. Bruno era um gatinho comparado ao leão
ao meu lado.

Todos os Bianconi ficaram em choque quando este homem entrou na


igreja e matou seu chefe. Mas, nenhum deles se atreveu a confrontá-lo.

De repente, me dei conta de que meu irmão podia ter sido uma vítima.
Se ele viu Lucas me levando embora, poderia ter reagido e ter sido morto.
Agradeci mentalmente a Deus por algo ter impedido Emanuel.

Meu olhar encontra o dele. Lucas está me observando enquanto minha


mente processa o fato de que ele está tentando me ler. Finalmente, diz:

— Rasgar um vestido não é nada para mim. Eu rasguei porque quis. Eu


faço tudo o que eu quero.

Eu me viro para olhar pela janela. Claro que sim. O pequeno vislumbre
de esperança que senti daquela salvação desapareceu. Eu não sei por que tive
isso para começar. Parece que só vou de um diabo para outro.

— Meu irmão — eu digo quando o carro fica quieto. Eu debati em


trazê-lo à tona. Não quero que esse homem conheça o poder que ele poderia
ter sobre mim com o conhecimento do quanto meu irmão significava. No
entanto, preciso saber que ele está seguro. Sinceramente, não sei se ele está
matando minha família inteira enquanto conversamos. — Por favor, não o
machuque.
— Eu sei quem é. E sei que é apenas um menino. Não entro em brigas
com crianças.

— Mas ele entrará numa briga com você. — Soltei um longo suspiro.
— Ele virá me procurar, mesmo que saiba que poderia matá-lo. — Viro o
rosto para o homem cujos traços me advertem cautela. Seu rosto está vazio, e
eu não consigo lê-lo. — Farei qualquer coisa para mantê-lo seguro. —
Coloquei minhas cartas na mesa.

Ele pega uma mecha do meu cabelo e a esfrega entre o polegar e o


indicador.

— Qualquer coisa? Se fizer qualquer coisa de um jeitinho gracioso vou


garantir que seu irmão esteja seguro.

Seu tom é quente. Cálido.

— Prometa. — Inclino meu queixo em desafio.

Suas narinas se abrem diante do meu desafio, mas ele fala


uniformemente.

— Depois que você fizer seus votos para mim hoje à noite, prometo
que farei tudo o que estiver ao meu alcance para manter seu irmão seguro.

Votos? Ele me queria? Esposa? Ou... como eles chamavam... Cadela?

De qualquer maneira, isso é a melhor coisa que uma pessoa do meu


meio já ofereceu. Ele está cedendo.

— Que tipo de votos você quer? — Pergunto. Não porque tenho


direito, mas porque estou curiosa.
— Casamento. — Ele diz isso de maneira tão simples que me
assombra. — Você assinou os papeis do casamento?

Neguei. Não havia dado tempo.

— Você também não se deitou na cama com aquele homem. — Ele se


inclina para perto de mim. — Já se deitou com qualquer outro homem?

Eu lhe dou a verdade embaraçosa.

— Nunca me deitei com nenhum homem.

Ele solta um pequeno grunhido enquanto se inclina mais para mim. Eu


não me afasto. Digo a mim mesma que é porque não quero mostrar medo,
mas quero muito saber o que ele vai fazer. É errado, esse fascínio que cresce
a cada segundo. Lucas me surpreende. E agora, a proposta de casamento me
deixou ainda mais confusa e com mais fome para resolver o mistério do
assassino ao meu lado. Ele passa o nariz pelo meu pescoço e me respira. Meu
corpo aquece instantaneamente, novas sensações crescendo e se desenrolando
dentro de mim.

— Eu posso sentir o cheiro em você. — Ele morde minha jugular, e eu


suspiro. — A inocência. Você nem deixou que ele te beijasse na cerimônia,
deixou?

Eu me perguntava se alguém notou.

Ele notou.

Viro minha cabeça, meu olhar encontra o dele. Eu preciso afastá-lo.


Sua boca está fazendo coisas comigo que não deveria estar fazendo.

Está de volta a mesma emoção que tive quando ele tirou o vestido de
mim e exigiu que fosse queimado. Meu marido estava morto e seu assassino
me excitava. Ninguém jamais saberia disso. Eu só podia admitir para mim
mesma. Essa confissão nunca passaria pelos meus lábios. Porque era errado.
E isso me assusta.

— Ele nunca provou seus doces lábios? — Sua voz é um rosnado


contra a minha carne. — Diga-me!

— Não — respiro.

Bruno mal levantou meu véu. Eu não aguentava o pensamento de sua


boca na minha. Foi estúpido, porque eu sabia o que viria horas depois. Bem,
eu pensei que sabia. Agora tudo mudou.

— Você já beijou um homem?

Eu balancei minha cabeça negativamente. Não havia porque mentir.


Ele iria me decifrar do jeito que quisesse.

Lucas beija debaixo da minha orelha e meu corpo estremece.

Quantas vezes eu sonhei com meu primeiro beijo? Passei a maior parte
da minha vida em romances literários. Eu pensei que se eu nunca pudesse ter
amor, poderia pelo menos ler sobre o sentimento, e então o fiz. Eu devorei
cada romance com a mesma voracidade que estou sendo devorado por esse
estranho sombrio que mata tão facilmente quanto respira.

— Nunca foi provada. Ele lambe os lábios. — Bom. — Sua boca


desce sobre a minha.

O beijo é duro no começo. Meu corpo inteiro se ilumina com um


desejo desconhecido. Eu não deveria estar sentindo isso. Não com esse
homem.

Ele rosna contra a minha boca.

— Abra sua boca. Você não vai virar a cabeça para mim no casamento
e fugir dos meus lábios. Eu vou te morder e de beijar o quanto eu quiser.

Eu separo meus lábios, cedendo às suas demandas. Digo a mim mesma


que é porque não tenho outra escolha, mas a verdade é que quero sentir como
é ser beijada por esse homem. Sua mão cava no meu cabelo.

Eu gemo em sua boca quando ele aprofunda o beijo. É mais que um


beijo. Estou perdida.
4

LUCAS

Não me considero um cara mau. Apenas, os anos no presídio em


Charqueadas me moldaram como alguém que não tem muito com o que
simpatizar.

O mundo era uma bosta. Todos nós, parte da merda. Deus devia puxar
logo a descarga e acabar com tudo, mas – se havia algum ser divino – por
algum motivo Ele ainda acreditava na humanidade e não a destruía.

Talvez uma das razões fosse aquela garota... Porque ela é algo tão
delicado que acho que não merece a ira divina. Ah, mais doce do que
qualquer coisa que já conheci. E é minha para eu usar do jeito que eu quiser.

Eu a acompanho até minha casa. Nas escadarias frontais Magali me


encara com olhos esbugalhados.

— Leve-a para o meu quarto. Faça as medições dela. Peça roupas


novas. Ela também vai precisar de um vestido de noiva...

— Senhor? — Os olhos escuros de Magali se arregalam, as rugas na


testa se transformando em sulcos profundos.

— Você me ouviu.

Meu tom é baixo. Magali não suportava gritos. Eu a conheci na cadeia,


ela ia visitar um dos filhos que vivia sendo preso por causa das drogas. Um
moleque infeliz e arrogante que abusava da boa vontade da mãe, uma senhora
simples com nome de personagem de quadrinhos, que trabalhava duro como
doméstica para levar alimentos e cigarros para um filho que a tratava como
lixo sempre que a via.

Eu quis matar o filho dela quando o vi gritar com a mãe à primeira vez.
Ela se encolheu tanto, tão pequena e miúda que meu coração se encheu de
piedade. Ah, se aquele desgraçado soubesse o que é crescer sem mãe, talvez
valorizasse mais a dele.

Por sorte, o filho dela morreu numa rebelião três semanas antes de eu
sair da cadeia. Como havíamos feito amizade, ela me deu um lar para me
ajudar a estabilizar, e eu a trouxe comigo quando criei a Black Rose.

— Está certo, Lucas. — Ela engole em seco e volta sua atenção para
minha noiva.

Viro na direção da jovem. Analiso-a. Eu lembro dos relatórios que me


entregaram sobre os Brauns. O nome dela me fugiu por algum momento, mas
agora retornava.

— Magali, essa é Renata...

— Senhor? — Magali interrompe a apresentação. Ela torce as mãos no


avental, demonstrando nervosismo. — Você pretende se casar com ela?

Obviamente, ela havia captado a mensagem de que eu havia ido até o


casamento de Bruno para lhe matar. Ela sabia que a noiva do desgraçado se
chamava Renata. Agora, eu trazia a noiva até minha casa e avisava que
precisava de um vestido de noiva. Com certeza ela pensou que eu havia
enlouquecido.

— É isso. — Eu dou um tapinha no ombro dela. — Você acertou.


Agora, por favor, acompanhe Renata ao meu quarto e faça todos os arranjos
para uma pequena cerimônia a ser realizada aqui, essa noite, digamos que
daqui umas três horas. Convide os chefes de todas as facções de Porto
Alegre, com especial atenção aos Brauns. Garanta que eles recebam o convite
primeiro. — Eu me inclino e dou um beijo na testa da minha noiva. — Vá
agora. Se prepare.

Ela parece pestanejar. Sabe que não tem escolha, mas ainda assim
parece temer seguir em frente. Decido deixar as coisas claras rapidamente.

— Eu sou o pai dessa família, docinho. — Aceno a mão na direção da


minha grande propriedade. — Você será uma linda mãe, contudo ainda
carece ser lapidada. — Eu me inclino para mais perto, meus lábios
pressionando contra sua orelha. — Sou um Rei. Você será uma Rainha. E
como tal, você terá muito poder. Mas, a mim jamais governará. Ao contrário,
serei eu que terei todo o poder sobre ti, seu corpo, do qual pretendo
apresentar minha reinvindicação hoje à noite. Prepare-se.

Um calafrio a percorre, e eu sei - assim como sei quando um homem


quer me matar - que ela me quer entre as coxas. Em breve.

É estranho, mas eu sinto. Existe química. Por quê? Não sei. Lembro de
quando Victor colocou tudo a perder por conta de seu amor por Francine. Ele
ficou cego. Preciso tomar cuidado para que meu desejo não sufoque meu
raciocínio.

Estalo meus dedos, e Magali se apressa e pega o cotovelo de Renata,


depois a leva pela escada para dentro.

Uma vez que ela está fora de vista, eu ando em direção ao meu
escritório. Enzo abre a porta para mim e me segue para dentro, junto com um
punhado dos meus homens mais confiáveis.
— Corpo de Bruno? — Abro a jarra de cristal e me sirvo uma bebida.

— Já cuidamos disso.

— Os homens dele?

— Thiago está na zona sul agora fazendo um inventário de pessoas e


bens. Saberemos quem está conosco antes do fim do dia. Os que não
estiverem serão mortos, conforme suas ordens.

Enzo serve uma bebida enquanto provo a minha.

Duvido muito que todos os Bianconis se rendam e duvido mais ainda


que meus homens consigam matar a todos. São como baratas. Você até
consegue matar o que vê, mas nos bueiros sempre se alastram mais.

Penso em Renata e em como ela seria mais uma vítima dos Bianconi
naquela noite, caso eu não tivesse surgido.

Sua pele é clara demais até mesmo para alguém de origem alemã. Os
Brauns a mantiveram escondida em sua mansão, isso é certo. Mas, o que me
pergunto é o quão escondida? Ela não viu o sol em todos esses anos? O
cabelo dela é macio e eu acho - não, eu sei - a pele dela também é macia.
Como uma pétala de rosa. Acabei de pensar em sua pele como uma pétala de
rosa? Porra, essa garota está mexendo com a minha mente. E talvez eu goste.
Tomo um grande gole da minha bebida.

— Pai... — Enzo paira no meu cotovelo.

Ele está esperando o tempo todo enquanto eu estou perdido em


pensamentos sobre a viúva que será minha noiva.

Não, não é uma viúva. Eu odeio o pensamento dela ter pertencido a


outro. É uma coisa estúpida de se preocupar, mas eu faço. Mesmo que ela
disse os votos vazios, ela nunca lhe pertenceu. Bruno nunca a tocou. Ela
estava me esperando.

Enzo limpa a garganta.

— A garota?

— Renata Braun é minha.

Viro-me para os homens mais mortais da cidade, todos leais a mim.

— O casamento vai ser um teste. Eu convidei todos os grupos que já


negociaram com os Bianconi. Se eles não vierem, saberemos que estão contra
nós. Se eles querem guerra, é o que terão. Por isso quero todos bem armados
durante a cerimônia. Se a violência começar, nós a acabaremos. E se eu tiver
que abater mais pessoas? Que assim seja. Os Bianconi, tecnicamente, não
existem mais. Apenas um dos filhos de Pierre sobreviveu. Eu. Não admitirei
que outro use esse sobrenome. Um dia, os homens nesta sala serão os únicos
filhos que importam, a única família que têm alguma opinião. Mas, até então,
manteremos laços. E com Renata como minha esposa, os Brauns serão
apertados com muito mais força em minhas mãos.

— Inteligente. — Ricardo bate na ponta da pistola, sua impaciência é


uma das características mais marcantes. — E para sua sorte ela tem um
corpo...

Em segundos, estou do outro lado da sala, meu copo quebrado no chão


e minhas mãos firmes no rosto do meu filho.

— Nunca mais diga isso de sua mãe!


Ele levanta as mãos, surpresa demonstrada através dos olhos. Ricardo é
leal. Ele me deixaria acabar com ele aqui e agora, se eu quisesse. Ele não
revidará, não contra mim. É por isso que solto minha mão e dou um passo
para trás.

Eu me tornei uma cópia de Pierre. Meu pai era um predador, caçava


jovens promissores, os induzia a sua família, e os usava para seus propósitos.
O pensamento me irrita. Não quero ser assim.

É verdade que eu encontrei Ricardo depois do jovem ter levado uma


surra por causa de uma dívida. Ele estava sangrando no chão e eu estendi
minha mão. Ofereci amor. Amor paterno. Era exatamente o que faltava
àqueles jovens, quase todos filhos de mães solteiras que precisavam trabalhar
muito e pouco tempo tinham para perceberem que seus filhos caminhavam na
direção do mal.

— Perdão, pai! — Ele ainda levanta as mãos, palmas na minha direção.


— Por favor, perdoe-me, pai.

— Você está perdoado. — aperto seu ombro. — Eu não deveria ter


posto as mãos em você. — Cerro os dentes, então me forço a relaxar. —
Ainda careço ensinar muitas coisas a vocês. Em especial, precisam entender a
hierarquia dessa família. Renata será a mãe de todos vocês. Será a Rainha da
Rosa Negra. E será a mãe dos meus filhos biológicos, que vou amar tanto
quanto amo a cada um de vocês.

Enzo assobia.

— Nosso pai está apaixonado pela garota — Enzo brinca.

O rosto de Ricardo vai de sombrio a um sorriso.


— O senhor foi atingido pela flecha do cupido.

— Não seja ridículo. — Eu dou um tapinha em sua bochecha; então


me sirvo outra bebida. — Não há nada além de uma boa estratégia de
negócios.

— Você a viu há poucas horas e já decidiu que ela será nossa mãe —
Ricardo suspira. — Chorem meninas, nosso pai está fora do mercado.

Enzo ri. Ele dá uma cotovelada em Ricardo, depois lhe estende um


copo.

— Mais buceta para nós, hein?

— Muito bem. — Ricardo pega o copo e levanta-o. — Um brinde ao


nosso pai e sua nova rainha.

Os outros servem bebidas apressadamente e levantam os copos


também.

Bebemos, o licor me aquecendo ao descer.

Eu limpo minha garganta.

— Agora, vamos falar sobre quem precisamos matar para garantir que
este casamento seja o mais tranquilo possível. — Eu levanto um dedo. —
Antes disso, Enzo, chame meu alfaiate.
5

RENATA

Quando entramos pela primeira vez no que eu acreditava ser o quarto


principal, Magali me cutucou em direção ao banheiro para tomar banho. Eu
fiz como me foi dito. Se existia algo que eu sabia, era seguir o fluxo.

Tentei não ficar muito tempo no banheiro. Por mais que a água quente
me aliviasse a angústia e o nervoso que passei durante aquele dia, eu
precisava me preparar para o que ainda viria.

Quando saí do quarto, algumas mulheres estavam lá, segurando bonitos


vestidos. Magali, ao fundo, falava ao telefone, com diálogos roucos sobre
moda e costura.

Percebi a pressa. Todas elas pareciam nervosas em cumprir o que lhes


fora ordenado, sem atrasos.

Meu avô odiava atrasos. Odiava servos que não cumpriam seu papel.
Como Lucas era?

... Os homens o chamaram de pai...

Quando se nasce nesse meio, você sabe as regras. Os Bianconi eram


uma família sem laços sanguíneos. Eu sabia um pouco da história, apesar de
nunca entender como Lucas pôde matar seu “pai”, Pierre.

Que tipo de homem ele era? Agora sou a noiva do chefe da Black
Rose. O que eu devo esperar disso?

Pressionando a mão na minha bochecha, olho os vestidos enquanto


Magali afofa as saias. Acho que ainda estou chocada que tudo isso esteja
acontecendo.

Eu nunca tinha visto pessoalmente Lucas Bianconi antes de hoje. Eu


ouvia falar dele, principalmente porque meu avô o odiava. Mas, visão, eu só
havia tido pelas fotos que circulavam em casa, quando armavam para tentar
assassiná-lo – em vão. Se eu tivesse que adivinhar o porquê de tanto ódio por
parte da minha família, diria que é porque meu avô o teme. Isso deveria me
assustar, mas estou menos alarmada com a ideia de me casar com Lucas do
que quando acordei de manhã pensando que tinha que passar o resto dos
meus dias com Bruno.

Eu deveria estar triste? Eu não estou. Não sinto remorso por Lucas ter
matado Bruno. Isso me colocou em posição de estar com um homem mais
poderoso - aquele que pode proteger a mim e a Emanuel – e que até agora me
tratou com mais respeito do que minha própria família. A vontade de Lucas
de oferecer proteção ao meu irmão é o que me fez concordar em ser dele. Sua
aparência e a atração do meu corpo são um bônus adicional, e me pergunto se
essa centelha de calor pode se transformar em algo mais. Eu nunca pensei
sobre desejo. Não quando sabia que qualquer casamento que tivesse seria
arranjado para fins estratégicos. Mas, com Lucas, quase parece romântico.

Eu ainda tenho que seguir com meus votos. Aquele porto seguro não é
gratuito e pode parecer que eu estou fazendo a escolha, mas todos sabemos
que na realidade não tenho voz no assunto. Bruno já desapareceu no meu
passado. Lucas é o meu futuro.

— Posso escolher o que eu quiser? — Olho os vestidos de noiva.

Então, encaro Magali. A mulher tem sido gentil comigo desde o


segundo em que a conheci.
— Claro. É o seu casamento. Lucas disse que você poderia ter o que
quisesse.

Olho para os vestidos. São todas diferentes versões de um branco


simples e delicado.

— Você não gosta de nenhum deles? Podemos pedir mais. — Magali


começa a puxar o telefone.

— Existe realmente tempo para isso? — Eu pergunto.

Já está ficando tarde e estou trabalhando no meu segundo casamento


naquele dia. Minha cabeça ainda está girando com o que Lucas havia
sussurrado para mim. Eu temia à noite quando acordei essa manhã, mas agora
estou me perguntando se o sexo com Lucas será algo agradável.

Magali interrompe minha linha de pensamento.

— Este é o seu dia. Todo mundo vai esperar até que você esteja pronta.
Até encontrar o vestido que seu coração deseja. É o que Lucas quer.

Notei que Lucas a trata com respeito. Meu avô nunca tratou nenhuma
mulher com respeito. Se você era mulher na minha família, estava lá para
servir ao seu propósito.

Um sorriso surge nos meus lábios com a satisfação que sinto quando
penso na raiva que meu avô deve estar sentindo essa noite. Seus grandes
planos de fundir a família com os Bianconi haviam sido arruinados, e agora
vou me sentar à frente da Rosa Negra. O único que eles temem.

As costureiras ainda estão oferecendo seus vestidos, seus olhos


esperançosos em mim. Magali não estava brincando quando disse que todo
mundo esperaria por mim.

— Lucas Bianconi é um homem que espera? — Pergunto.

Se alguém pode me dar mais informações sobre meu futuro marido é


Magali.

— Normalmente, não. Mas, hoje é um dia especial, e ele está de ótimo


humor.

Ótimo humor porque matou Bruno.

Ainda assim, continuo olhando os vestidos. Não é que eu não goste de


nenhum deles, é que estou acostumada com as pessoas sempre me dizendo o
que devo vestir. Nunca houve uma escolha. Nunca ousei reclamar de algo
que me foi dado, a menos que quisesse lidar com meu avô.

Eu aponto para o mais simples de todos os vestidos. Pelo menos parece


que sim. É elegante, mas não vistoso ou exagerado.

— O resto pode ir. — Magali faz sinal para as outras mulheres


saírem.

A porta do quarto se abriu para eles saírem. Percebo dois homens de


terno ali. Eu só os vislumbro antes que a porta se feche novamente.

— Eu não acho que você pode usar um sutiã com este, mas eu trouxe
algumas roupas de baixo — diz a mulher que ficou de pé, uma pitada de
orgulho em sua voz.

Suponho que seja uma honra ser escolhido para servir a Black Rose.

— Eu posso fazer as alterações rapidamente, para que o vestido fique


perfeito em você.

Ela vira o vestido e minha boca se abre de surpresa. Sinto minhas


bochechas aquecerem só de olhar as peças de lingerie.

Eram delicadas, de seda... sensuais. Eram exatamente o tipo de roupa


de baixo que você usa para seduzir um homem.

No meu primeiro casamento, fiz questão de escolher calcinha branca e


grande, de algodão, a mais simples possível, a que menor despertasse
qualquer libido em um homem. Não queria dar a Bruno a satisfação de me
ver tentadora. Não posso deixar de sentir o contrário sobre Lucas. Quero que
ele me tire a roupa e encontre o presente da minha virgindade. Deslizo a
calcinha pelas minhas pernas sob o roupão e prendo as ligas. Eu me sinto
bonita. Esta é a primeira vez na minha vida que eu me sinto assim. É a
primeira vez que eu quero que alguém pense que eu sou sensual.

— Cabelo e maquiagem — Magali chama quando a costureira


rapidamente tira minhas medidas.

Ela sai correndo com o vestido e, novamente, a porta se abre e duas


novas mulheres entram.

Peço para não usarem maquiagem pesada e nem spray no cabelo.

— Você é tão gentil. — Magali inclina a cabeça para me olhar. — As


mulheres que saem com Lucas não costumam pedir as coisas com tanta
docilidade.

Meus olhos disparam em direção ao telefone sentado na mesa de


cabeceira.
— Se eu pedir gentilmente... poderia usar o telefone?

— É claro. — Ela dá um passo para trás, apontando para ele. —


Apenas antecipo que, independente de qualquer coisa, de estar sozinha no
quarto ou não, cada palavra que dizer ao telefone, chegará aos ouvidos de
Lucas.

Eu luto para não revirar os olhos, só porque eu não quero ser rude com
ela. Nada daquilo me surpreende. Lucas se tornou muito poderoso; ele sabe
tudo o que se passa sob o seu teto, ou já teria sido derrubado pelos Bianconi.

Mesmo assim, não tenho intenção de tramar contra ele. Lucas foi mais
gentil do que qualquer outro homem que conheci. Até me deixou escolher
meu vestido.

Minha mente continua tentando transformá-lo em algo que ele não é.


Está tentando torná-lo um cara legal porque eu preciso desesperadamente
disso. Eu o assisti matar alguém apenas algumas horas atrás.

E se eu for a próxima vítima? E se ele está me dando a ilusão de ter


controle sobre as coisas para me tornar mais dócil?

De qualquer forma, eu não tinha nada a perder. Seria leal a ele


enquanto ele mantivesse meu irmão seguro. Se ele quebrasse esse voto, eu
quebraria o nosso, e demonstraria a Lucas que as mulheres também podiam
ser fortes inimigas.
6

LUCAS

Sento no sofá perto da lareira e levo o cálice aos lábios. Gostava de


conhaque. Era uma característica que sempre me incomodava porque era a
bebida favorita de Pierre.

Observo Enzo que se aproxima de mim com olhos ansiosos.

— Todos as líderes estão chegando. — Ele balança a cabeça. — Todos


os grupos, exceto um.

— Ah, os Brauns. — Suspiro. — Tão corajosos e tolos ao mesmo


tempo.

Ele se inclina contra o batente da porta, seu terno escondendo um


assassino calculista. É por isso que ele é meu filho mais confiável. Eu gostava
da forma como o rosto dele parecia sempre inocente, quando na verdade
escondia um demônio.

— Essa negligência não pode ficar impune, é claro.

— Como pretende puni-los, pai? Sequestrar alguns de seus caras,


estripá-los, deixá-los à sua porta?

Eu gostei daquela ideia. É o clássico Bianconi, mas isso pode exigir um


pouco mais de requinte.

— Quem é a amante de Olívio?

Enzo se vira e chama Ricardo.


O outro entra, a cabeça erguida e olhos desafiadores.

— Quem Olívio Braun anda comendo? — Enzo pergunta ao irmão.

— Ah, é uma pobre coitada que trabalha na rodoviária. Eva, acho.

— Diarista?

— Não, trabalha numa lanchonete.

— Traga-a para o casamento. Mas não a machuque. Apenas a traga


aqui.

Ricardo acena e sai.

— Você está pronto para isso? — Enzo se aproxima e se senta na


beira da minha mesa.

— Para dominar todo o comércio ilegal do Sul? Expandir meu poder


para Santa Catarina e o Paraná? Quem sabe me tornar o Pablo Escobar do
Brasil? Ser o que Pierre jamais conseguiu?

— Estou falando do casamento — Enzo encolhe os ombros. —


Entendo que essa é uma jogada estratégica, mas há mais. É como se
estivesse... apaixonado por ela — completa —, mesmo que você não a
conheça. É mesmo possível?

Eu hesito, porque apenas o pensamento focado naquela mulher aquece


meu sangue até derreter. Ela está lá em cima agora experimentando vestidos e
calcinhas de renda que eu arrancarei com os dentes.

Céus, vou arruiná-la essa noite. Ela nunca vai querer outro homem
depois que eu pegar sua boceta e a fazer gozar no meu pau.
O corpo gostoso de Renata é um deleite por si só. Mas o fogo secreto
que dança sob sua superfície é um atrativo ainda maior. Uma princesa que foi
maltratada por anos. O que ela pode ser quando estiver livre? Uma vez que
ela estiver fora de sua gaiola e amarrada a nada, exceto meus braços, como
agirá? Eu já sei. Eu vi nos olhos dela apenas algumas horas atrás. Ela será
uma rainha.

— Pai?

Eu volto para Enzo.

— Eu não sou um homem impulsivo. Você sabe disso. Eu já fui e as


coisas saíram do meu controle facilmente. Já lhe contei como cometi meu
primeiro assassinato?

Enzo balança a fronte.

— Um rapaz chamado Marcelo, não é?

— Era um garoto — murmuro. — Um garoto bom. Apenas gostava de


usar maconha, mas era o tipo de cara que cuidava de animais de rua... —
Existe culpa na minha voz. Pigarreio, escondendo a fraqueza. — Pierre
sempre nos alertou para não vendermos fiado. Mas, um dia Marcelo
choramingou na minha frente que estava sem dinheiro e precisava. Eu vendi.
Acreditava que ele fosse pagar. Vendi sem a autorização de Victor e quase
coloquei meu irmão em apuros. Victor era meu mentor, cada erro meu era
pago por nós dois. Então Pierre exigiu que cobrássemos a dívida, e caso não
recebêssemos devíamos matar Marcelo. E foi isso. Um local isolado, um
tiro... uma morte. Eu tinha o quê? Dezessete? Dezenove? Nem consigo me
lembrar... Matar alguém porque você não respeita as regras... porque você
age sem pensar... Isso é algo que eu não quero mais fazer.
Ele concorda.

— Mas há algo nela. — admito. — Eu não consigo explicar. Mas,


quando olho para ela, penso se não vou agir no impulso novamente...

Enzo levanta uma sobrancelha, zombeteiro. Depois, sorri.

Eu levanto e aponto para a porta.

— Chega de amolação. Dê o fora daqui. Você precisa se preparar. Não


posso ter meu padrinho parecendo um mendigo.

— Certeiro. — Ele aperta o peito como se tivesse levado um tiro e sai.

Vou até a janela, verifico o jardim. Os trabalhadores já estão colocando


cadeiras e flores em todo o chão de mármore. A cerimônia será pequena, mas
impactante. As grandes facções estarão aqui. Braun pode ter recusado meu
convite, mas quando eu tiver a neta dele sob meu domínio, ele terá que reagir.

Meu celular vibra no bolso. Pego e verifico a mensagem.

De repente, um estrondo.

Vou para a porta da frente enquanto Matheus corre.

— Você ouviu?

— Sim. — Saio na noite e encontro meus guardas.

— O peguei tentando pular o muro. — Anderson me entrega uma


pistola. — Tinha isso com ele.

— Qual é o seu nome, garoto?

Pego a pistola e a reviso, depois esvazio o tambor. As balas rolam para


longe, mas um dos meus homens vai e as apanha. Inclino minha cabeça para
o lado e olho nos olhos zangados do garoto.

— Por que você aparece na minha casa com uma arma carregada? —
Eu uso o punho para acertá-lo levemente no topo da cabeça. Eu não quero
machucá-lo, a menos que eu precise. Ele é jovem, mas já é alto o suficiente
para aparentar ser mais velho. Provavelmente foram necessários dois guardas
para segurá-lo, e ele tem um lábio rachado para mostrar que só foi
interceptado com violência.

— Quer morrer, é isso?

— Estou aqui pela minha irmã. — Ele cospe sangue aos meus pés.

Irmã dele. Renata.

De repente, o reconheço das pequenas fotos que meus homens haviam


tirado nos dias que antecederam o casamento de Bruno.

Que merda.

Renata me pediu para proteger o garoto, mas aqui ele está tentando
contra mim e os meus.

— Você é Emanuel. — Entrego sua arma para Enzo.

— E você vai soltar a minha irmã! — Ele se esforça contra meus


soldados, os dentes cerrados.

— Vou? — Quase dou risada. Ele é corajoso. Lembra-me Victor. —


Ela não vai a lugar nenhum. E você também não — volvo para Matheus. —
Leve-o para cima.
Meus filhos o puxam, mas logo os interrompo.

— Espere. Limpe o lábio dele antes. Não preciso de uma noiva tendo
chiliques na noite de núpcias — Aponto para o garoto. — Você vai se
comportar?

Ele me encara.

— Se você concordar, eu vou deixar você andar livremente. Mas se


você continuar achando que é o machão, meus filhos o arrastarão como uma
cadela.

Seus lábios se contraem, mas ele diz:

— Eu vou me comportar.

— Bom. Minha senhora terá prazer em vê-lo.

— Sua senhora? — Os olhos de Emanuel se arregalam. — Você está


falando sério sobre se casar com ela?

— Não receberam o convite? Tenho certeza que seu avô lhe mostrou
— dou risada. — Falo tão sério quanto fui sobre matar o ex-noivo dela. —
Coloquei uma pitada de aço no meu tom. — Vou deixar passar essa pequena
incursão, embora, em outras circunstâncias, isso seria uma declaração de
guerra entre nossas famílias.

Ele fez uma careta. A guerra não é uma piada, não quando as ruas
ficam vermelhas de sangue e fazem os homens caírem como dominós.

— Para sua sorte, eu lhe concedi minha proteção.

Ele não podia parecer mais confuso.


— Proteção?

Volto meu olhar para Matheus.

— Limpe-o.

— Claro, pai. — Matheus caminha à frente dos guardas. — Vou ficar


de olho nele.

Volto para casa e subo as escadas. Algo se mexe dentro de mim quanto
mais perto chego da porta do meu quarto. Ela está lá. Eu posso sentir sua
respiração, quase posso provar sua doçura na minha língua.

Tenho um horário a cumprir, meu alfaiate deve terminar com o meu


terno. Mas quero vê-la mais do que a vestimenta. O sentimento cresce, e eu
percebo que é fome dela. Ela será minha em apenas algumas horas, mas
agora quero provar meu prêmio.

Meus homens a guardam, os olhos voltados para a frente enquanto


estão no corredor.

— Ninguém entra. — Eu não tenho que dizer as palavras. Eles já


sabem, mas eu digo a eles de qualquer maneira.

— Sim, senhor. — Eles acenam com a cabeça.

Eu levanto meus dedos e bato suavemente.

— Sim? — Sua voz soa através da madeira.

Abro a porta. E estou impressionado. Ela está vestindo apenas uma


túnica enquanto se senta na frente de um espelho.

Encaro Magali que está sentada em um sofá. Não digo nada. Ela sabe
que deve ir. Então se levanta e se afasta.

Sigo em direção ao meu prêmio.

Renata agora está de pé, com os olhos arregalados, os lábios


entreabertos.

— O quê?

Eu a puxo para mim e reivindico sua boca. Nada no céu ou no inferno


pode impedir a necessidade que sinto por ela, a fome que faz meu sangue
virar brasa ardente. Esse tipo de desejo parece impossível, perigoso e que a
tudo consome. Eu quero mais disso. Eu serei completamente consumido por
isso.

Inclinando a cabeça, mergulho minha língua em sua boca. Ela faz um


som alto e agudo e agarra minha camisa.

Eu a provo, passando minhas mãos pela túnica, sentindo suas curvas


exuberantes enquanto exploro sua boca. Tomando uma das mãos dela,
pressiono-a contra a frente da minha calça. Ela merece saber o que ela faz
comigo. Um filete de medo - algo estranho para mim - percorre minha
espinha quando percebo o quão profundamente investido nela já estou. Ela é
minha mulher, afinal.

Mesmo assim, pretendo dominá-la de todas as maneiras, até que ela


grite meu nome e desmorone sob mim.

Sua mão hesitante desliza pelo meu pau e volta novamente. Meus
quadris puxam para ela, e eu quero tanto ficar entre suas coxas que gemo em
sua boca. Recuando, olho para os lábios machucados, os olhos semicerrados.
— Eu precisava de um gosto do que terei mais tarde.

Ela solta um pequeno suspiro.

— Você beija como se matasse.

Eu seguro sua bunda e a levanto até que ela esteja em cima de mim.
Prendendo-a contra a parede, tomo sua boca novamente, trabalhando minha
vontade nela enquanto trituro meu pau contra o calor entre suas pernas.

Se eu não parar, eu vou transar com ela. É bom demais, seus seios
pressionados contra o meu peito, suas mãos segurando meus ombros. Mas, eu
terei tempo para isso. Eu terei a noite... a vida... o resto dos meus dias para
isso. Então eu tenho que deixá-la ir, colocá-la de pé e recuar. É preciso de
cada grama de força que possuo, mas me viro e caminho até a porta.

— Esteja pronta para essa noite. Porque uma vez que você é minha,
não vou parar. Eu vou querer tudo de você, até que não sobre mais nada.

Abro a porta e, antes que ela se feche, pego sua palavra suavemente
falada.

— Igualmente.
7

RENATA

Lá estava eu. A túnica desarrumada, a presença do meu futuro marido


em cima de mim, um terror e uma ansiedade que parecia dominar todos os
meus sentidos.

Lucas cheirava a uísque. Mas, claramente, não estava bêbado. Ao


contrário, parecia mais lúcido e pronto do que nunca. Alguém pode cheirar a
poder? Porque ele tinha esse cheiro, também.

Eu pressiono meus dedos nos lábios. Eles estão machucados e inchados


pela maneira como Lucas reivindicou minha boca. Eu podia provar seu
desejo por mim no beijo, podia senti-lo na minha mão enquanto o acariciava
através de suas calças, enquanto esfregava sua dureza entre minhas pernas,
enquanto estava presa na parede. Meu próprio prazer cobre a linda calcinha
de seda que uso. Não posso evitar minha atração. Quero acreditar que é
apenas por causa de sua promessa em manter meu irmão seguro, mas esse
raciocínio está rapidamente desaparecendo. É algo mais profundo.

Eu quero ele. O mesmo homem que matou Bruno há poucas horas. O


mesmo homem que exigiu que eu me casasse com ele. O mesmo homem que
é o mais temido em nosso mundo.

Eu o desejo mais do que imaginava possível. Estou contando os


minutos até que ele deslize seu anel no meu dedo e seu pau dentro de mim.

Sei que será uma dor insuportável. A perca da virgindade e da


dignidade. Ele vai me consumir. Ele vai me arrasar. Ele não vai apenas meter
seu pênis na minha vagina, ele vai adentrar minha alma. Raptada, refém dos
meus instintos. Não é preciso pensar muito para saber que serei sua
cadelinha...

Preocupo-me por um momento. Logo em seguida, ignoro esse


sentimento. Porque isso vai acontecer, e não há escolhas. Existe apenas a
aceitação.

Estou atraída por ele, mesmo que ele seja um assassino. Mesmo que ele
seja tudo o que sempre acreditei jamais ser capaz de amar. Ele está tão
mergulhado nesta vida quanto eu. Estaria sendo ingênua ao pensar que Lucas
é diferente dos homens com quem eu cresci. Talvez até fosse, mas não
importa. Sou dele antes mesmo da consumação.

Ainda assim, algo nele é distinto. Por que mais eu me sentiria assim se
não o fosse? Eu nunca senti atração por alguém. Claro, meu avô me manteve
trancada, mas muitos de seus homens cruzaram por mim. Nenhum deles
chamou minha atenção. Eles nunca me fizeram pensar ou desejar as coisas
que eu quero que Lucas faça comigo.

Minhas bochechas ficam rosadas com a imundície que gira em minha


mente. Talvez eu não seja a boa garota que meu avô criou, mas mais um
espírito selvagem como minha mãe.

Eu mordo meu lábio. Seu pênis estava tão grosso na minha mão. Fecho
os olhos e tento imaginar como caberia na minha boca. Meus pensamentos
são interrompidos quando a porta se abre novamente. Olho para cima e vejo
Lucas parado na porta.

— Eu esqueci uma coisa — ele diz enquanto caminha abruptamente


em minha direção.
Erguendo meu queixo com o dedo, ele me beija suavemente e sussurra
no meu ouvido:

— Não toque sua doce vagina. Eu quero que seu primeiro orgasmo seja
na minha língua ou no meu pau.

Eu suspiro, percebendo que estava me tocando. Horrorizada com


minha reação natural, puxo meus dedos da minha calcinha e para fora da
túnica.

— Você tem câmeras aqui? — Afasto meu olhar dele e observo ao


redor da sala.

Minhas coxas pegam fogo com o pensamento de que ele estava me


assistindo.

— Não há câmeras aqui — diz ele friamente.

Já estive com homens suficientes para saber o que eles fazem. Vi as


mulheres irem e virem do quarto do meu avô. Meus olhos voam para a cama
onde a costureira colocou meu vestido, mas então olho nos olhos dele
novamente. Provavelmente é estúpido, mas acredito nele. Ele está dizendo a
verdade, o que é um alívio.

Sua mão volta ao meu queixo, seu toque impossivelmente suave.

— Mas vou colocar câmeras aqui se descobrir que você está se


tocando. Talvez eu nem sempre consiga impedi-la de fazê-lo, mas pelo
menos apreciaria o prazer de observá-la.

Meus mamilos apertam sob o tecido só de pensar nele me vendo


sentindo prazer. É como se ele pudesse ler minhas fantasias imundas. Duvido
que pudesse me assistir de outra maneira que não fosse olhar na tela. Caso
contrário, ele estaria em cima de mim. Eu posso ver nos olhos dele agora. Ele
está lutando contra o desejo de me jogar na cama e seguir o fluxo. Aposto
que está lutando contra si mesmo desde que chegamos aqui. Antes, quase
cedeu e depois saiu. Mas ele voltou, o mesmo fogo em seus olhos. Ele me
quer tanto que eu quase sinto o gosto. O pensamento me faz sentir mais
poderosa do que nunca na minha vida.

Estreito meus olhos.

— Quantas mulheres você teve nesse quarto? Não tenho certeza se


quero deitar na mesma cama em que você fodeu outras. Prefiro que você
mantenha suas amantes em outro lugar. — Afasto-me mais uma vez.

Eu sou uma criança testando seus limites. Eu sei disso, mas me sinto
enérgica pela primeira vez e quero ver o quanto consigo me safar. Vou até a
cama e pego meu vestido.

— Apenas o pensamento de você com outra mulher aqui está


arruinando esse vestido. Esse é o segundo vestido que você destruiu em um
dia — eu o repreendo.

Então espero. Estou pronta para a raiva dele desencadear, mas um


sorriso puxa seus lábios. Quase parece antinatural em seu rosto.

— Somente você e Magali são permitidas no meu quarto — avisa.

Eu largo o vestido de volta. Sei que ele está dizendo a verdade. Ele não
tem motivos para mentir. Seu sorriso cresce, como se tivesse vencido a
batalha que estávamos tendo. Mas não posso deixar que ele tenha a última
palavra.
— Bem, você e Magali precisarão fazer isso em outro lugar a partir de
agora — digo acidamente, sabendo que minhas palavras são totalmente
ridículas.

Ele faz a última coisa que eu espero que ele faça. Ele joga a cabeça
para trás e ri.

— Você acha que eu estou fodendo Magali? — Ele continua a rir.

O som rico vibra através do meu corpo. Não, eu não acho que ele esteja
dormindo com Magali, mas estranhamente a ideia me incomoda.

Tento reprimir isso. Sentir ciúmes de um homem que provavelmente


terá dezenas de amantes durante nosso casamento é imaturo e ridículo. Um
Bianconi encheria a casa de cadelas assim que pudesse.

De repente, sua mão agarra meu quadril e ele me puxa para encará-lo.
Eu olho em seus olhos aquecidos.

Seus lábios roçam os meus, levemente.

— Magali é como uma mãe para mim. A única que tive.

— Uma mãe?

— Minha mãe morreu quando eu era uma criança. Pierre me adotou,


mas nenhuma das suas cadelas foi uma mãe para mim. Depois de ser preso,
conheci Magali. E ela está na minha vida desde então. — Ele se afasta um
pouco, seus olhos ainda intensos, embora agora um pouco tristes. — E a sua?

— Ela foi embora. — Eu odeio o som dessas palavras. — Quando eu


era pequena, me deixou. Um dia ela estava lá, no outro se foi.
— Ela saiu sem dizer uma palavra?

— Isso. — Eu não posso acreditar que ainda sinto mágoa. — Não sei
se ela me amava ou não. Acho que sim, mas não suportou a vida que levava.

— Seu pai não sabe para onde ela foi?

— Ele morreu pouco depois, e meu avô não me deixa perguntar ou


falar sobre isso. — Dou de ombros. — Então, ou ele não sabe, ou ele sabe,
mas não vai me dizer.

Ele parece ter um pensamento que não passa pelos lábios.

— O quê?

Ele se aproxima mais uma vez.

— Sobre o assunto de antes, não haverá amantes, preciso que saiba


disso. Eu posso te prometer isso.

Percebo que nunca conheci um homem como Lucas Bianconi. Porque


sei, sem pensar muito, que sua palavra é uma garantia.

Seus lábios se aproximam, e eu o deixo tomar minha boca. As coisas


que ele pode fazer com a língua me deixam louca, e acho difícil pensar
quando ele me abraça com força e me domina tão facilmente.

Quebro nosso beijo antes que tudo vá longe demais e eu acabe na


cama.

— Eu preciso me arrumar se você quiser que esse casamento aconteça


hoje à noite.

Ele recua um pouco, levantando minhas duas mãos para sua boca.
— Eu posso sentir seu doce perfume na ponta dos dedos — diz antes
de colocar um dos dedos em sua boca e chupá-lo. Um rosnado baixo vem do
fundo dele. — Lembre-se do que eu disse. Sem tocar-se.

Minhas mãos caem quando Lucas as solta. Depois, se vira, e sai do


quarto.

Meu corpo parece ser consumido pelo fogo.


8

LUCAS

Edemar se aproxima pelo corredor. Ao lado dele, o garoto parece


desejar meu assassinato através do pensamento.

— Sei que é uma situação complicada, moleque. Mas, terá que aceitar.
Sua irmã agora será minha esposa.

— Ela sempre será uma Braun.

Era um desafio? Não gosto daquilo. Estou sendo o mais gentil possível
em respeito a Renata, mas o rapaz insistia em tentar me incomodar.

Desafios eram encarados por mim como declarações de guerra. Isso na


rua. Em minha casa, jamais ocorreu.

— Tenho certeza de que você é durão na casa dos Braun. Mas aqui,
você é um convidado. Espero que aja de acordo.

— Estou livre para sair?

Porra, esse garoto ainda fede a fraldas. Provavelmente eu era muito


parecido com ele quando tinha sua idade, mas isso foi há muito tempo.

Afasto os pensamentos quando me lembro dos erros cometidos. Das


tentativas de Victor de limpar a minha barra.

— Quantos anos você tem?

— Anos suficientes para defender a minha irmã. — Seu orgulho


resplandecia em sua voz.
A inclinação de sua cabeça, o olhar em seus olhos - talvez ele tenha
absorvido essas características da minha Renata. Mesmo assim, ele precisa
saber quem é o dono desta casa.

— Tudo bem. Comporte-se. Todo mundo aqui conhece as regras do


jogo. Você é irmão da minha noiva. Mantenha sua “aborrecência” em
controle, e tudo ficará bem.

— Você não pode simplesmente levá-la assim. — Ele se aproxima de


mim.

Parece não entender o quanto está perto de levar uma surra.

— Você fez essa objeção quando seu avô a vendeu para Bruno
Bianconi? — Eu passo a bola para ele. Agora toda a culpa é transferida.
Estou colocando-o contra a parede. Ele precisará fazer um movimento.

Porque, afinal de contas, não sou qualquer um para ser desafiado.


Quero que esse garoto goste de mim, eventualmente me veja como um irmão,
mas não me importo se isso não acontecer. Ele não vai me insultar na frente
dos meus homens.

Seu olhar se afasta e depois volta para os meus olhos.

— Eu disse ao meu avô para deixá-la em paz.

Agora, há uma noção do quanto ele agiu.

— Normalmente, no nosso meio, mulheres são mercadorias de troca.


Se ela não servir para um casamento, para que servirá? — cutuco.

Ele encolhe os ombros e me olha com desconfiança, mas continua:


— Ela é talentosa. Sempre gostou de escrever. Ela podia ser uma
artista. Uma jornalista. Era o que ela devia ser.

A ideia desperta meu interesse. Pretendo passar bastante tempo


aprendendo sobre minha noiva, examinando cada parte dela para tentar
entender essa necessidade insaciável que sinto e a conexão rápida que temos.

Enfim, ele parece relaxar um pouco, seus ombros não tão altos, seu
temperamento se esvaindo.

Eu dou um passo para trás.

— Ela gosta de escrever histórias?

— Histórias, crônicas...

— Você já leu as coisas que ela escreve?

— Eu não gosto de ler. — Ele olha para os guardas corpulentos do


lado de fora da porta do quarto de Renata. — Romances são coisas de
mulher. Eu não gosto disso.

Eu sorrio. Ele leu o trabalho dela.

O menino continua:

— Mas eu sei que ela é uma boa escritora. Ela não perderia em nada
para esses autores de novela. Mas Renata não tinha permissão para fazer o
que queria. — Ele franze a testa, seu rosto jovem se transformando
momentaneamente em um muito mais velho. — Nosso avô teria surtado se
soubesse. Então ela escondeu seu dom e, finalmente, parou.

— Por quê?
— Porque meu avô decidiu que ela seria parte importante para uma
aliança com os Bianconi. Bruno gostava dela. Sempre que vinha em nossa
casa, ficava encarando-a. Quando o noivado foi oficializado, ela nunca mais
pegou uma caneta na mão para escrever.

Interessante. Eu arquivo essas informações, pretendendo retirá-las e


analisá-las mais tarde. Renata ainda tem mais do que eu imaginava, e isso só
me faz querer mais. Mas prometi a ela - e a mim mesmo - que esperaria. Não
importa o quanto eu queira ir lá e falar com ela, beijá-la, transar com ela,
fazê-la gemer, eu não vou. Essa união será sem máculas, e depois tornarei
nosso vínculo tão sólido que nada jamais o abalará.

— O que você acha que vai conseguir com ela?

A arrogância está de volta, como se Emanuel tivesse acabado de


lembrar que ele deveria estar jogando pesado.

— Uma esposa?

— Meu avô não te considera um Bianconi legítimo porque você matou


Pierre. Meu avô admirava muito Pierre e diz que as coisas eram mais fáceis
quando Pierre comandava. Não entendo porque iria querer ter algum vínculo
com minha família. E você pode ter a mulher que quiser. Case com outra.
Qualquer uma te abriria as pernas.

Ah, esse jovem realmente achava que qualquer uma me despertava


como a irmã dele o fez?

— Toda mulher pode abrir as pernas para mim, mas nem toda pode ser
minha esposa.

Ele passa a mão pelos cabelos escuros.


— Você matou o marido dela e depois a roubou. Isso nunca vai
funcionar.

— Impérios foram construídos com menos. — Eu sorrio, mas sei que


o gesto está frio. A única que parece capaz de me aquecer está atrás da porta
do meu quarto, com a calcinha molhada e as bochechas rosadas.

— Ela não é um despojo. — Ele coloca mais força em sua voz.

— Concordo.

As portas do quarto se abrem e Renata sai, os olhos indo para o irmão.

— Emanuel! — Ela corre para ele, e ele a pega nos braços.

A onda de ciúmes cruza por mim, e isso me incomoda. Afinal, não sou
um homem ciumento. E também o homem a quem ela abraçava é o irmão
dela. Mas estou começando a pensar que tudo será repensado quando se trata
de Renata. Eu nunca fiquei com ciúmes antes, mas ela está em mim. Está nas
minhas células. Eu sinto Renata. De todas as formas, ela é minha.

— Oh meu Deus, Emanuel, você está aqui. — Ela o abraça. — Você


está realmente aqui e está seguro.

— Estou bem. Você está bem?

— Estou bem. Como você chegou aqui? Vovô sabe? — Ela se afasta e
inspeciona o rosto dele. — Ei, o que aconteceu com seu lábio?

— Vou deixar vocês terem privacidade para conversar. — Digo as


palavras, apesar de querer arrancá-la dele e trancá-la no meu quarto para que
eu possa deixar minha marca em cima dela.
É o irmão dela. Sou muito merda, puta que pariu!

Aceno e desço as escadas. Ela precisa de tempo com o irmão, e eu


preciso garantir que o casamento ocorra conforme o planejado.

Meu alfaiate corre para mim, o terno envolto em seus braços finos.

— Por favor, senhor. Mais uma vez.

— Tudo bem. — Eu aceno para o meu escritório exatamente quando


Ricardo entra na porta da frente com uma loira no braço.

— Gostaria que o senhor conhecesse Eva Santos.

Eu ando até ela e aperto sua mão quente. Enfim, a amante de Olívio
Braun.

— Bem-vinda.

— Ah, obrigada? — Ela olha em volta. Está assustada. — Mas não


sei por que estou aqui.

— Você é uma convidada. — Eu sorrio, e ela recua um pouco. Sei que


sou um homem bonito, mas também tenho um pouco mais, uma frieza que
parecia ter se estabelecido quando saí da cadeia e descobri que os Bianconi
continuavam iguais. Tornei-me um predador, e sempre que há presas por
perto, elas podem sentir.

Pelo jeito que a Eva está me olhando, posso ver que ela é uma presa.
Do tipo fácil. Não é à toa que Olívio Braun foi atrás dela.

— Uma convidada? — Ela engole em seco.

Eu aceno para a sala de estar da frente.


— Por favor sinta-se em casa. A cerimônia começará em cerca de uma
hora. Magali cuidará de suas necessidades.

Como se convocada pela menção de seu nome, Magali aparece do


corredor dos fundos.

Eva está visivelmente aliviada pela presença da outra mulher.

Eu puxo Ricardo para o lado.

— Alguém viu você levá-la?

Ele sorri.

— Todos.

Eu dou um tapinha nas costas dele.

— Bom. Diga aos homens que os problemas estão a caminho. Estejam


prontos.

Faço uma pausa e olho para as escadas para onde minha doce noiva
espera.

Renata Braun será minha hoje à noite.


9

RENATA

Emanuel está ali. Vivo. Bem. Seguro em meus braços. Mal consigo
acreditar que, apesar daquele dia cheio de reviravoltas, meu irmão ainda era a
base sólida a qual minha alma ancorava.

O aperto mais nos braços. Quero afundá-lo em mim. Sinto a dor da sua
perda diminuída. Pensei que jamais o veria novamente. Mas, ele está ali...
aqui... no centro do meu amor.

— Você está realmente bem? — Estendo a mão, segurando seu rosto e


espiando seu lábio recém-cortado.

— Renata, eu estou bem — ele puxa minha mão para baixo.

Mordo o lábio para não sorrir, tendo esquecido que ainda estamos no
corredor e os guardas permanecem a nos espreitar. Meu irmão não quer ser
tratado como uma criança. Mas, ele sempre será uma à meus olhos.

— Venha. — Faço um sinal para ele entrar no meu quarto.

Seus olhos vagam, absorvendo tudo. Nossa própria casa é um palacete,


mas a de Lucas é algo completamente diferente. Ela tem vida própria. Isso
me lembra um castelo gigante e assustador, daqueles vitorianos que víamos
nos filmes de terror na infância. Tudo naquele ambiente é elegante, mas não
exagerado. É de tirar o fôlego, mas sem muitos ornamentos. Eu estive muito
envolvida com Lucas para me preocupar em absorver tudo até perceber meu
irmão processando os detalhes.

As portas se fecham atrás de nós, e eu viro e aponto para sua boca.


— Quem fez isso no seu lábio?

Ele encolhe os ombros.

— Eu caí quando escalei o muro.

— Você tentou... Oh, meu Deus... Tem ideia do perigo que correu?

— Eu tinha que tentar chegar até você. — Suas sobrancelhas se unem.


— Para te salvar desse... Você também já ouviu falar de Lucas Bianconi, né?
Sua reputação é ainda pior que a de Bruno. Ele fez coisas ruins, Renata. Ele é
um homem mau. Eu não podia simplesmente deixá-lo te levar.

Eu largo minha mão do peito dele. Eu sabia que Emanuel tentaria me


encontrar. Essa é uma das razões pelas quais eu me acalmei imediatamente
quando Lucas me fez seu voto em proteger Emanuel. Sem isso, estremeço ao
pensar no que teria acontecido.

— Nós não estamos em vantagem, irmão. E qualquer coisa estúpida


que fizer poderá tirar de mim o único motivo que tenho para viver.

Emanuel é por quem faço todos os sacrifícios. Eu quero que ele seja
capaz de levar a vida que quiser. Era mais fácil quando era mais jovem,
porque não tinha idade suficiente para minha família começar a usá-lo. Tenho
saudades de quando podia segurá-lo no colo. Quando ele chegou à
adolescência, comecei a me preocupar constantemente. Eu vivia com medo
por sua vida. Assim, tenho que me sacrificar para mantê-lo seguro. Pelo
menos foi o que disse a mim mesma essa manhã.

Claro que, desde meu encontro com Lucas, as coisas que ele me
despertou, comecei a imaginar que talvez houvesse mais pelo que viver. Mas,
não era tola para me afundar nessas esperanças. Aprendi que a expectativa
não é boa quando você está cercado por homens que não cumprem leis civis
e, muito menos, morais.

A questão de que tipo de homem Lucas é ainda permanece


indeterminada. Ele vai acabar sendo como Bruno? Talvez ele aja da mesma
maneira que meu avô assim que conseguir o que quer de mim. Ele não parece
ser assim, mas faz apenas algumas horas desde que nos conhecemos. Pelo
que sei, Lucas está fazendo seu teatro para que ele não tenha uma noiva
chutando e gritando pelo corredor.

Tanto faz, enfim. Eu me caso com ele e permaneço leal a ele enquanto
sua palavra de manter Emanuel seguro seja cumprida.

— Eu sinto muito. — Emanuel passa as mãos pelos cabelos


desgrenhados.

Aproximo-me e o abraço. Aperto meu queixo em seus cabelos


bagunçados.

Tenho tentado ser severa com ele, mas meu abraço tem tudo, menos
rispidez.

Respiro fundo. Agora, Emanuel está aqui, comigo. Posso pedir a Lucas
que permaneça assim. Que nosso avó nunca o tenha novamente.

— Você não deveria ter se colocado em perigo. Não sou uma princesa
em uma torre trancada, esperando pelo príncipe em um cavalo branco, a
duelar com o dragão. Aprendi bastante assistindo e ouvindo todos os
negócios sujos que nosso avô tramava. Eu não sou ingênua... bem, não tanto
quanto você pensa. Eu aceitei o casamento com Bruno com os olhos bem
abertos, e agora estou fazendo o mesmo com Lucas. Mas talvez, desta vez, eu
não precise esperar pelo horror.

— Insinua que ele te agrada? Lucas Bianconi? — Seus olhos se


estreitam. Há medo nele.

Eu engulo em seco. Há medo em mim, também. Mas, por motivos


diferentes.

Vou me casar até o final da noite. O pensamento deveria me assustar,


mas Lucas não me mostrou nada que me faria sentir medo.

— Ele tem sido gentil comigo.

Não conto que concordei em casar com Lucas se ele prometesse manter
Emanuel seguro.

— Eu tenho que me casar. É assim que é. Você sabe disso, e eu


também.

— Porra. Eu odeio essa merda! — Ele grita a última parte.

— Sra. Bianconi? Uma batida forte soa na porta antes de se abrir. Um


dos guardas está do lado de fora. — Está tudo bem? — Seus olhos passam
de mim para meu irmão.

— Ainda não “senhora Bianconi”. — Meu irmão se vira para o


guarda.

Eu agarro seu ombro para puxá-lo de volta. Ele vai se machucar se não
aprender a controlar seus impulsos. Emanuel apenas dá um passo atrás por
conta própria. Na verdade, acho que não posso movê-lo, a menos que ele me
permita.
— Deixe-me sozinha com meu irmão — digo ao guarda, apontando
com a mão. Fico surpresa quando tudo o que ele faz é acenar com a cabeça e
fechar a porta, realmente seguindo o meu pedido. Ficamos ali por um
momento em silêncio.

— Ele ouviu você. Isso é... inesperado. — Emanuel solta um longo


suspiro. Eu acho que pode estar aliviado. — Olhe, Renata, todo mundo tem
medo de Lucas Bianconi. — Ele se vira para olhar para mim. — Todos
falam sobre ele e os homens que ele matou. Dizem que a cadeia o mudou
muito. Falam que ele não descansará enquanto todos os Bianconis sejam
mortos. Que jurou isso. Enfim, ele não é um bom homem. Você precisa saber
no que está se metendo.

Espero um calafrio percorrer meu corpo, mas tudo que sinto é calor.
Não sei se devo agradecer por isso ou não. Estou baixando minha guarda com
muita facilidade? Talvez. Mas o que há para perder? Eu sequer sou dona de
mim mesma.

— Me acompanhará na cerimônia? — pergunto com apenas um brilho


forçado. Qual é o sentido de me debruçar sobre todas as coisas ruins que
acompanham meu noivo? A realidade é que isso vai acontecer. Só sei que
não tenho que me envolver em dormência como antes de me casar com
Bruno. Com Lucas, não me sinto como um preso no corredor da morte
caminhando em direção a minha execução. Isso tem que significar alguma
coisa.

— Você quer que eu te entregue? Isso seria cuspir na cara do nosso


avô.

— Lucas disse que eu poderia ter o que quisesse. — Dou de ombros.


— E eu quero que você me acompanhe pelo corredor.
Uma batida soa na porta.

— Sim?

Magali abre a porta.

— Devo ajudá-la em seu vestido? — Ela pergunta.

— Sim, por favor. — Olho para o meu irmão. — Espere lá fora um


momento.

Ele aceita meu beijo na bochecha. No gesto, sussurro:

— Mantenha sua boca fechada. Nós vamos sobreviver a tudo isso


como sempre. Nós somos fortes.

Nos afastamos. Ele me encara.

— Seria uma honra acompanhá-la, Renata. Torço para esse homem


nunca a machuque.

Ele se vira e sai.

Eu o vejo partir, entendendo suas reservas. Ele quer estar ao meu lado,
mas não quer me entregar a um homem que vai me machucar. Uma coisa é
assistir meu sacrifício, como fez esta manhã com Bruno. Outra é ser a pessoa
que me coloca no altar.

Magali ajuda a ajeitar o vestido em mim.

— Você está linda — ela diz, ao finalizar a fileira de botões nas minhas
costas.

— Obrigada.
Eu me viro para olhar no espelho que fica no canto da sala. Desta vez,
eu realmente me sinto bonita. Minha frequência cardíaca aumenta quando me
pergunto o que Lucas pensará quando me ver.

Magali dá um passo atrás de mim.

Logo ela traz um par de sapatos com pedras adornando. Eu sei que são
preciosas. Me pergunto quanto dinheiro Lucas gasta em coisas daquele tipo.

— Desça quando se sentir pronta — Magali dá um pequeno aperto na


minha mão antes de sair da sala.

Quero dizer a ela que, assim, ficarei para sempre no quarto, mas sei
que é infantil, então apenas aceno.

Meu irmão está parado na porta.

— Você está incrível. — Ele estende a mão para mim. Eu aceito. —


Nós poderíamos fugir. — Ele levanta uma sobrancelha. Os dois guardas na
minha porta não parecem achar graça na piada dele.

— Não com esses sapatos. — eu provoco e deslizo meu braço no dele.

Ele me guia escada abaixo.

— Você sabe para onde estamos indo ou como isso está acontecendo?
— Pergunto quando chegamos ao final. Percebo que os dois guardas estão
nos seguindo, mas mantêm uma boa distância.

— Estamos indo para o inferno — ele murmura.

Eu balanço minha cabeça, negativamente. Dance conforme a música,


irmão, é o que meus olhos refletem.
Emanuel murmura um pedido de desculpas. Ficamos ali por um
momento, sem saber para onde ir. Olho para duas portas duplas onde acho
que posso ouvir vozes. Vou nessa direção e agarro a maçaneta.

— Talvez você não deva...

Eu abro a porta.

— Abrir portas aleatórias... — Emanuel termina a última parte em voz


baixa.

Alguns homens todos de terno se voltam para olhar na minha direção.


Meu futuro marido está sentado atrás de uma mesa e sei que interrompi uma
reunião. Eu posso sentir todo o sangue sumir do meu rosto. Você nunca
interrompe uma reunião.

Nunca. Aprendi essa lição ainda bem jovem. Ainda sentia o peso da
mão de meu avô no meu rosto por, certo dia, ter invadido uma reunião sem
saber.

Meus olhos encontram os de Lucas enquanto ele se levanta. Seu olhar


viaja pelo meu corpo, o sorriso malicioso em seu rosto me dizendo que ele
gosta do vestido.

— Minha deusa...

A sala inteira está quieta enquanto ele contorna a mesa.

— Venha! — Ele estende a mão e faz um gesto para eu entrar em seu


escritório.

— Me perdoe, eu... Eu devia ter batido na porta...


Ele mantêm seus olhos escuros em mim.

— Você não precisa bater em nenhuma porta de sua casa.

Eu tento manter um sorriso, sem saber como reagir, não crendo em


suas palavras, preparada para receber uma punição.

— Venha para mim. — Ele faz um gesto com os dedos novamente.

Eu sei que todo mundo está nos observando. Vou até ele e coloco
minha mão na dele. Se eu for a esposa dele, terei que saber diferenciar suas
palavras doces da mentira e da verdade.

Por fim, leve, percebo que ele não vai me destroçar diante dos olhares.
Seu sorriso gentil segue-se a um beijo leve nos meus dedos.

Lucas Bianconi era um homem de muitas surpresas.


10
LUCAS
Veja a porra de vida que eu levei:

1) Perdi minha mãe na tenra infância.


2) Fui largado nas ruas, onde me tornei dependente químico.
3) Adotado por um desgraçado que me usou, me fez acreditar
que me amava como filho, mas apenas me manejava como
uma arma.
4) Perdi meu irmão, meu amigo, por culpa desse pai.
5) Fiquei preso por anos.
6) Ao sair da cadeia, esperei ver justiça, mas só vi mais
miséria.

E então, diante desse agouro total, de repente a sorte me bate à porta.

Quando vejo minha futura esposa em seu vestido, seus olhos brilhando,
seus cabelos escuros caídos sobre seus ombros e seu corpo fazendo o tecido
branco vibrar, minha boca fica seca e eu sei que as coisas vão mudar. Uma
onda de positividade me toma.

Eu me importo que ela interrompa uma reunião? Foda-se a reunião. Eu


a quero deitada na minha mesa, com meu rosto entre as suas pernas.

Mas devo ser paciente. Então a fiz sentar no meu colo.

— Continue. — Eu me inclino para trás para que ela possa se


estabelecer nas minhas pernas.

Eu sei que ela está chocada. Não me importo. Eu quero sentir suas
nádegas firmes contra minhas coxas.
Ela empoleira-se como um pássaro no começo, mas depois eu a puxo
para mais perto. Uma vez que passei meus braços em volta dela, ela se
recosta contra mim.

Enzo limpa a garganta e olha para todos os lugares, menos para minha
noiva.

Eu sinto o constrangimento. Não me importo.

— Encontramos a remessa que faltava no armazém perto de Alvorada.

— Quanto? — Eu pergunto.

— Tudo, exceto o que Bruno torrou antes de seu casamento.


— Ricardo sorri.

Ela endurece com a menção do nome de Bruno. Eu corro minha mão


pelo braço dela e a tranquilizo. Seus olhos encontram os meus.

Percebo uma cicatriz na testa. É pequena, branca e bem na linha do


cabelo.

— O que aconteceu aqui?

Ela abaixa o queixo ainda mais.

— Isso foi há muito tempo. Meu avô, Olívio. Ele não gostou quando
perguntei sobre minha mãe, então ele... — ela para de falar, mas não
precisava dizer mais nada. Eu sei o que aquele bastardo fez e ele pagará por
isso.

Ninguém toca no que me pertence.

— Tudo bem, querida. Não precisa ficar acanhada.


Ela pressiona os lábios, depois respira fundo.

— Sinto muito. – ela repete, enfatizando o quanto se sentia errada por


ter entrado na sala.

— Não há nada para se desculpar.

Renata tem medo de mim?

É engraçado porque quero que todos tenham medo de mim. Mas não
ela.

— Nunca precisará me temer. Você entende?

— Eu... — Suas sobrancelhas se unem.

— Juro, aqui diante de todos os meus filhos, que nunca levantarei


minha mão para você. Você não precisa ter medo de mim. Eu cortaria minha
mão antes dela causar qualquer dano em ti.

Sua boca se abre em um “o” surpreso, o que me dá muitas ideias sujas.

Eu espalhei minha mão pelas costas dela, amando cada centímetro de


sua pele quente.

— Você foi vendida por seu avô. Concorda?

— Sim — ela responde rapidamente.

— Mas, entre nós dois, não há preço. Eu não a comprei de Olívio.


Nosso acordo é entre nós, nada relacionado aos Brauns.

Eu percebo um leve sorriso se formar no canto dos seus lábios. Sei que
Renata se sente um pouco dona de si mesma e adoro esse sentimento.
Eu me acomodo e continuo correndo meus dedos ao longo de sua pele
quente.

— Agora, que outras notícias me trazem, filhos?

Enzo pega o telefone e sorri.

— Adivinhe quem apareceu no portão da frente.

Inclino-me e pressiono meus lábios no ouvido de Renata.

— É o seu avô. — Correndo minha mão até a parte de trás de seu


pescoço, eu a coloco lá, possuindo-a, mas não a sufocando. — Ele acha que
pode tirar você de mim. Ele pode, minha deusa?

— Não. — Sua voz ofegante dispara uma sacudida de calor no meu


pau, e eu mudo meus quadris para que ela possa sentir o que ela faz comigo.

— Você quer voltar para ele? — Deslizo minha mão por sua saia lisa
até chegar à bainha, depois levanto os dedos pela panturrilha até a coxa.

— Não — Ela faz um pequeno som doce na garganta.

Movo meus dedos mais alto, provocando a borda de sua liga de renda,
a que vou ter nos dentes mais tarde nesta noite.

— Você quer ficar comigo?

Seus olhos se arregalam e eu lambo sua orelha. Quando meus dedos se


movem mais alto e roçam sua calcinha, ela aperta meu braço.

— Sim.

A mesa nos protege de olhares abaixo do peito, e eu me aproveito


disso.

— Molhada para mim? — Eu sussurro em seu ouvido, depois acaricio


ao longo da renda até chegar ao ponto ideal entre suas coxas que parece
derreter.

Seu corpo aperta quando eu pressiono a ponta do meu dedo contra ele,
em seguida, arrasto-o lentamente para frente e para trás. Ela fecha os olhos, a
cabeça pendendo para trás enquanto eu beijo sua garganta, meus dedos
trabalhando contra sua calcinha encharcada enquanto meu pau exige ser
libertado apenas para mergulhar na virgem apertada no meu colo. Preciso
parar, acabar com essa tortura, mas não paro. Eu continuo esfregando seu
ponto doce até que ela se contorce no meu colo, seus quadris se movendo em
pequenas rajadas enquanto eu a provoco e sua bunda esticada provoca meu
pau duro.

Corro os dentes pelo pescoço gracioso e depois mordo debaixo da


orelha. Ela engasga, seu corpo oscilando, então me afasto. Não é uma tarefa
fácil, mas paro e separo meus dedos, depois aliso a saia dela.

Lambendo-a dos meus dedos, volto minha atenção aos meus homens.
Eles parecem muito interessados em nós, embora o sorriso de Ricardo deixe
claro que, ao menos ele, compreendeu tudo.

Quando Renata abre os olhos, suas bochechas estão vermelhas. Eu


quase a fiz gozar na frente dos meus homens? Sim. Eu estou constrangido por
causa disso? Não. Eles precisam saber que ela é minha, e que tocá-la quando
eu quiser é meu direito.

— Esses homens são seus filhos agora, esposa. Eles vão morrer por
você, Renata. Você nunca precisará temê-los. — Pressiono minha testa na
dela. — Não seja tímida comigo.

— Tudo bem. — Ela assente, embora sua voz ainda esteja trêmula.
Talvez de nervos, talvez desejo. Dado o delicioso estado de sua calcinha, eu
diria o último.

— Agora, eu preciso ter uma breve palavra com seu avô antes da
cerimônia. — Coloquei Renata de pé e me levanto, depois agarro meu paletó
e o visto. — Ricardo, traga Magali.

Renata sorri para mim, uma mão indo para o meu peito.

— Obrigada por tudo...

— Não afague muito o ego de nosso pai — Ricardo abre a porta do


corredor e faz Magali entrar. — Ele ficará mais insuportável que já é.

Percebo os risinhos baixos, mas não dou importância.

— Magali, cuide da minha noiva. Por favor, acompanhe-a até a sala


dos fundos para se preparar junto com o irmão.

— Sim senhor.

— Querida...

Renata se vira, com os lábios entreabertos.

— Sim?

— Da próxima vez que te ver, estaremos jurando diante de Deus e de


todos os outros aqui que pertencemos um ao outro. Você está pronta?

Ela não baixa o olhar, mantendo os olhos firmemente nos meus.


— Sim.

Beijo a mão dela, então a deixo com Magali.


11
Renata

Meu avô veio ao casamento? Sentir as mãos de Lucas subirem e


descerem em minha espinha me fez esquecer todo o resto, mas o fato de que
meu avô se encontrava ali, naquela casa, havia abafado um pouco as
sensações em meu corpo.

Um arrepio percorre-me, mesmo sabendo que Lucas nunca deixaria


Olívio fazer nada comigo. Não é que eu tenha medo por mim, não mesmo. É
mais uma preocupação sobre o que vai acontecer com Lucas. Meu avô tentará
matá-lo? Esse pensamento está pesando no meu peito. Agora, eu não só tenho
que me preocupar com Emanuel, mas também com Lucas. Ainda não entendo
bem o motivo, mas não posso negar esse fato.

Eu resisto ao desejo de esfregar os olhos e borrar o delineador.

Estou cansada. Foi um dia muito difícil. E meus nervos estavam em


frangalhos.

Estou surpresa com a maneira como Lucas falou sobre seus negócios
na minha frente. Sei que é melhor não falar das coisas que ouvi, mas meu avô
nunca saiu por aí falando abertamente sobre negócios. Não como Lucas. É
como se quisesse que eu soubesse o que está acontecendo.

É estranhamente satisfatório ser incluída em sua reunião, mas sinto que


haverá muitas coisas que serão mantidas à surdina. E estou bem com isso.
Não quero saber de tudo. Prefiro me manter a distância. Talvez isso salve
minha sanidade.
Quando ouço gritos vindos do corredor, me viro para a porta. Eu
conheço a voz. Um calafrio se instala no fundo dos meus ossos. O calor que
Lucas havia colocado ali desaparece. Meu avô está realmente aqui. A
facilidade com que ele controla meu humor causa medo dentro de mim. É um
poder que acho que ele sempre terá sobre mim, por mais que tente lutar
contra isso.

— Onde está meu irmão? — Pergunto a Magali.

Ele não entrou no escritório comigo e quando eu saí, não o vi.

— Ele está no corredor, esperando para levá-la até o altar. É isso que
você quer, não?

— Sim.

Dou um sorriso forçado para Magali. Não é que não gosto dela, mas
sim ainda não sei o que esperar daquela mulher. Sinto que Magali é meu
principal recurso quando se trata de Lucas. Só não tenho certeza se ela
responderá todas as minhas perguntas. A lealdade é profunda, e eu sou
praticamente uma estranha para eles, apesar de estar a momentos de me
juntar à família.

Da forma como Lucas está agindo, já sou uma parte dela em seus
olhos. O pensamento envia outro daqueles formigamentos quentes através do
meu corpo. Minha mente volta a como ele me tocou na frente de seus
homens. Ele não me colocou à mostra, mas mostrou que eu era dele, e se ele
quisesse me dar prazer, ele o faria. Lucas não se importava com quem estava
por perto. É tão diferente do que estou acostumada. Ele até mostra afeto a
seus homens de certa forma, deixando-os falar com uma familiaridade que
meu avô odiaria.
Na família Braun, as mulheres são usadas para o sexo, nada mais. Mas
os olhos de Lucas brilham com calor sempre que ele vê o desejo que pode
despertar em mim. Ele gosta de me excitar, me levar até o limite, apenas para
me deixar com a promessa de seu prazer.

Lucas está tentando me conquistar. Pode ser outro dos meus


pensamentos ingênuos, mas estou começando a sentir que ele me quer como
sua companheira, não apenas um prêmio garantido. Ele deixou claro que eu
serei sua, mas ainda está me facilitando. Quer que eu me entregue à ele, e
estou achando incrivelmente fácil de fazer isso.

— Lucas já foi casado antes? — A pergunta surge sem pensar nos


meus lábios.

Quero dizer, Lucas é mais velho que eu. Ele provavelmente está na
casa dos trinta e poucos. É muito tempo passado neste mundo sem mim.

Sinto algo no meu âmago. Uma porcaria ciumenta está me comendo.

Magali levanta uma sobrancelha.

— Não. E pensei que ele jamais se casaria. Não depois do que


aconteceu com Francine.

— Francine? — minha voz se enche de ciúmes. Eu lembro do F


tatuado nos seus dedos, ao lado de um V.

— Francine era uma moça boa que havia ido estudar em uma pequena
cidade chamada Esperança. Ela era filha de um pastor. Uma pessoa gentil,
Lucas sempre fala dela com muito carinho. Na época Lucas havia sido
enviado a mesma cidade para ser “ensinado” por Victor, um dos “filhos”
mais velhos de Pierre. Parece piegas dizer, mas Lucas e Victor eram
realmente irmãos. Eles se amavam como tal.

— Lucas se apaixonou por ela? — meu pensamento insistia naquele


tópico.

— Oh, não... Lucas era um garoto, naquela época. Quem se apaixonou


foi Victor. E se apaixonou daquela forma desesperada, que você perde o
raciocínio, a vontade própria. Francine era uma boa menina, e Victor era um
traficante. As coisas não tinham como terminar bem.

— E não terminaram?

— Pierre descobriu a paixão do filho mais velho. Ele ordenou que


Gabriel, seu sucessor, fosse até Esperança e a estuprasse. Gravasse tudo em
vídeo para depois enviar a gravação para Victor. Pierre estava cego de
ciúmes. Ele era um pai muito possessivo.

— E o que aconteceu?

— Lucas viu quando Gabriel pegou Francine. Ele contou a Victor e


eles foram ao seu resgate. Mas, tudo saiu errado. Basta dizer o que você já
deve saber. Todos que entraram naquela casa naquele dia estão mortos, a
exceção de Lucas.

Lucas matou a todos? Ou Pierre matou o seu amado irmão e a


namorada, e por isso Lucas o matou, assim como a Gabriel? As perguntas
ficaram pendentes. Eu realmente não sabia o que esperar do meu futuro
marido. Ele era um assassino frio, isso vi no jeito que ele matou Bruno e
ficou parado olhando para mim com olhos escuros e famintos. Contudo,
haveria apenas frieza em sua alma?

— Ele não planejava trazer-me para essa casa hoje, não é?


Minha dúvida faz Magali sorrir ainda mais.

— Não, fiquei chocada ao vê-la aqui. Lucas sempre foi discreto. Ele
nunca trouxe mulheres para o lar que divide com seus filhos. Mas, aqui está
você. E irá se casar com ele! — Ela ri e balança a cabeça, seus cabelos
grisalhos e amarrados em um coque arrumado. — Os Bianconi são famosos
porque sempre tem o que querem. É por isso que ele foi tão longe. Mais do
que seu próprio pai, Pierre. Ele sabe qual deve ser a decisão certa. Acho que
ele deu uma olhada em você, e seu destino foi selado.

— Meu destino foi selado há muito tempo. — Suspiro e me viro para


dar uma última olhada no espelho com o véu no lugar.

Outro grito ecoa pelo corredor. Meu avô está além de acirrado. De
repente, sou atingida pelo medo desse casamento não acontecer. Claro, meu
destino sempre esteve definido, mas meu avô poderia parar com isso? Ele
poderia tentar fazer com Lucas um acordo melhor?

Pelo barulho que ouço e pelo estrondo que se segue, sei que alguém foi
atingido e sem dúvida caiu no chão. A comoção cresce, e não posso
confundir os sons de armas sendo puxadas e engatilhadas. Corro para a porta
e a abro. Emanuel fica parado bloqueando meu caminho.

— O que está acontecendo? — Eu tento espiar, mas Emanuel está


bloqueando minha visão.

— Seu futuro marido está colocando nosso avô no lugar dele. —


Emanuel tem o maior sorriso que eu já vi.

Sua presunção me deixa à vontade pela primeira vez.

— Você está gostando demais disso. — Estendo a mão, ajeitando seu


terno.

— Lucas deu um soco na cara dele.

Eu suspiro, um prazer culpado me tomando.

Emanuel estica a mão, movendo meu cabelo para mostrar a pequena


marca que Olívio deixou há tanto tempo.

— Agora ele vai ter sua própria marca. Lucas pode não ter dito por que
o atingiu lá, mas eu sei o porquê.

Eu fico em choque por um momento. Violência como essa não deve


me excitar, mas estou nas nuvens. Aquela vingança me deixou tão feliz. Eu
sempre sonhei em ver meu avô com a mesma marca que eu tinha.

— Lucas fez isso por mim. — Eu toco a cicatriz.

— As coisas são diferentes aqui. Lucas não é como Olívio ou Bruno —


meu irmão informa.

Ele olha em volta e vejo alguns guardas nos observando. Pergunto-me


se eles temem que eu corra, ou se eles estão aqui para minha segurança.

— Acredito que, ao matar Bruno, Lucas salvou nossas vidas, irmão.

Emanuel assente enquanto me oferece seu braço.

— Acha que nosso avô vai participar da cerimônia?

— Não acredito que tenha escolha.

Não me incomodaria se meu avô não estivesse no meu casamento, mas


o pensamento de ele ser forçado a fazer algo que não quer me dá um grande
prazer.

Sorrio ao perceber que ele finalmente saberá como é estar sob o


domínio de outra pessoa.

Eu amo o Lucas que o está colocando no seu devido lugar.

Eu também estou ansiosa para estar sob o domínio do meu marido essa
noite. Meu avô pode odiar, mas tenho a sensação de que vou amar cada
segundo.
12
Lucas

Eu sempre consigo o que eu quero. Ter todas as facções aqui


representadas, até os Brauns, denota meu poder.

Eu já sou o dono de Porto Alegre. Sou o dono do Rio Grande do Sul.


Aos poucos, estava destruindo outros chefes do tráfico da região Sul. Paraná
e Santa Catarina estavam basicamente dominadas.

Era questão de tempo para o Sudeste ser meu. O norte. O nordeste.


Nada me satisfaria.

— É por você, Victor. — murmuro, baixo. — É por você também,


pai...

Eu matei Pierre, mas ele ainda vivia. Era minha estranha forma de ser
grato.

Olívio está sentado na primeira fila, com a amante ao seu lado. Eva
parece ter percebido o perigo - talvez seja o sangue escorrendo do corte na
testa de Olívio que denunciou a situação - e se aproxima dele, com os olhos
arregalados.

Ela não será prejudicada. Mas não me incomoda que tema por sua vida.
Foder com Olívio era uma má escolha. Agora é hora de pagar.

Os outros chefes sentam-se com suas esposas, os rostos na maior parte


sem expressão. Tenho certeza de que eles ficaram um pouco surpresos por
estarem participando de um segundo casamento hoje, especialmente um com
a mesma noiva, mas estão escondendo isso, esperando para ver como essa
situação se desenrola. Eles não precisam se perguntar. No final da cerimônia,
controlarei os Bianconis, assim como a todos eles, e terei uma posição forte
acima dos Brauns.

— Lucas. — O padre ocupa seu lugar na frente da sala, suas roupas


formais dando o tom certo. Deve estar apavorado, mas não se atreve a
demonstrar isso.

Afinal de contas, não se trata de um casamento falso ou de algo


forçado a uma noiva relutante. É um casamento, um vínculo de almas, um
encontro de mentes, e é o primeiro passo verdadeiro em direção à minha
dinastia. Com Renata ao meu lado, tudo será meu. Que isso irrite Olívio é um
bônus.

O quarteto de cordas começa a tocar uma música que ouvi em


casamentos a vida toda, e os convidados parecem relaxar um pouco.

Eu ajusto minha gravata enquanto Enzo se aproxima de mim, seu terno


quase tão bom quanto o meu.

— Está tudo bem, pai?

— O joalheiro seguiu minhas instruções?

Ele assente e espia o movimento.

— Eles estão em um casamento ou um funeral? — sussurra.

— Se alguém sair da linha, pode ser os dois.

— Lucas, se você estiver pronto, podemos prosseguir. — O padre


tenta sorrir, seus velhos olhos lacrimejantes.
É um casamento do crime, mas ele não tem muita escolha.

Magali paira na entrada do salão.

— É isso. Fora do mercado. — Enzo me lança um olhar de soslaio. —


A menos que o senhor pretenda ter uma casa de cadelas, aqui ao lado.

— Renata será minha única distração.

O pensamento de escravas sexuais me repugna. Eu vi muitas meninas


sendo submetidas a degradação nas mãos de Pierre.

— Eu vi como olha para ela. Acredito que encontrou a tampa da sua


panela — ele brinca.

— Eu nunca pensei que isso iria acontecer.

Ela seria minha própria Francine. Mas, não minha destruição. Porque
ao contrário de Victor, eu jamais deixaria de estar atento a tudo, para protegê-
la.

Aprendi com o erro do meu irmão.

Aprendi que a vida era cruel e desumana, e quando se tem uma mulher,
você faz o que é necessário para brindá-la dos perigos.

Mal posso acreditar que a encontrei. Todo esse tempo, várias facções
tentaram me vender suas filhas, pequenas criaturas inocentes com olhos
arregalados e cabeças vazias. Mas Renata é diferente. Há fogo nela e, com o
tempo, pode queimar quente o suficiente para forjar nossa própria família.

— Pai, você acha que Olívio vai explodir quando a vir?

Eu olho para o velho. Seu rosto está vermelho e ele aperta a mão da
pobre amante como se fosse uma válvula de escape.

— Se ele fizer, o mate.

Ricardo está parado na porta de entrada, a cabeça girando enquanto


olha para os convidados. Estamos todos armados até os dentes, apesar dos
nossos ternos disfarçarem bem.

A música muda para a marcha do casamento, e prendo a respiração


enquanto Ricardo abre as portas.

Minha mente para, meu coração tropeça e eu fico completamente


imóvel quando ela aparece.

Numa visão de elegância discreta, ela trava os olhos comigo enquanto


Emanuel a acompanha pelo corredor. Os convidados ficam - todos, exceto
Olívio – em pé enquanto minha deusa caminha entre eles como uma nobre
através de uma multidão de camponeses.

Meu amor, meu coração, a metade da minha alma que estava faltando
até que eu a encontrasse naquela capela, após matar seu noivo e a tomar para
mim.

É assim que deve ser.

Vou matar quantos forem necessários para reivindicá-la, porque somos


um.

Renata mantém os olhos em mim, cada passo a aproximando. Quando


Emanuel a passa para mim, não consigo parar de sorrir. Ela olha para baixo,
recatada por um momento, depois olha nos meus olhos. A alegria dela
corresponde à minha quando voltamo-nos para o padre.
Ele começa sua introdução, uma versão cortada do mesmo serviço que
ele realizou de manhã. Eu continuo olhando para ela, a beleza ao meu lado. O
véu dela flutua pelas costas e estou satisfeito por ela ter escolhido não cobrir
o rosto. Minha musa nunca deveria se esconder, nem de mim, nem de
ninguém. Uma rainha deve ser vista, desejada, cobiçada, mas dominada
apenas por seu rei. E como pretendo dominá-la quando essa cerimônia estiver
concluída...

— Renata. — O padre sorri para ela. — Você aceita esse homem


como seu esposo?

Ela morde o lábio por um segundo, e meu mundo inteiro se equilibra


nas próximas palavras de sua doce boca.

— Sim.

O sorriso que se segue é algo que nunca esquecerei.

O padre repete a mesma pergunta para mim, e não hesito. Não quando
minha Renata está em jogo.

— Eu aceito — aperto suas mãos quentes nas minhas.

— O anel? — O sacerdote olha para Enzo.

Meu filho mais querido enfia a mão no bolso. Ele me entrega os dois
anéis. São simples e de ouro. Não tivemos tempo para gravar nada nele, mas
seu simbolismo diz mais que palavras.

Os olhos de Renata se arregalam e ela estende a mão trêmula.

Eu a firmo, como sempre, e deslizo o anel. Ela pega a aliança


masculina e faz o mesmo.
Estamos ligados pela aliança, pelo coração, pela alma, e esmagarei
qualquer um que tentar destruir esse pacto.

— Você pode...

Não deixo o padre terminar. Em vez disso, eu a puxo em meus braços e


a reivindico com um beijo esmagador. Seu grito mudo, assustado, é mel na
minha língua, e eu a dobro, apoiando-a completamente enquanto a faço
minha para todos verem.

Ela agarra meu bíceps, seu corpo fica lânguido em meus braços
enquanto ela confia em mim para segurá-la. Nosso beijo se aprofunda a
níveis certamente inadequados até que eu a puxe de volta e me arranco dela.

— Em breve... — sussurro em seu ouvido. — Vou ter mais que seu


beijo.

Ela estremece quando nos viramos para as pessoas.

— Prostituta! — Olívio se levanta e aponta para minha noiva. —


Você se casou com Bruno, e o cadáver dele sequer está frio, e agora se casa
com esse bastardo!

Todo o ar sai da sala quando Olívio começa a xingar Renata, cada


palavra cruel de seus lábios como um veneno que a faz se dobrar, seus
ombros se curvando e a cabeça caindo.

— Puta como sua mãe! Estou feliz por tê-la matado. — Ele dá um
passo em sua direção, com as mãos estendidas. — Eu a estrangulei com
essas mãos, como se devem fazer as putas... Como todas as putas como você
merecem, e eu vou matar você também...
O tiro o interrompe, o buraco em sua testa escorrendo sangue quando
ele cai de costas em sua amante. Os convidados se levantam, alguns deles
correndo em direção à porta. Mas Ricardo fica na frente deles, arma na mão.

— É o casamento do meu pai — ele diz, alto. — Ninguém fará a


desfeita de não participar da cerimônia!

Todos travam.

— Renata é minha. — Eu levanto minha voz. Minha pistola ainda


esfumaçada. — Ninguém vai insultar minha esposa. Aponto para o corpo de
Olívio. — Isso é o que acontecerá com qualquer pessoa que tente me
machucar, ou a meus filhos, ou a minha esposa.

Pego a mão trêmula de Renata na minha enquanto a amante de Olívio


começa a gritar, o sangue manchando seu vestido.

— Este casamento está encerrado. — Faço um sinal para Ricardo abrir


a porta para que os convidados possam sair.

A maioria deles sai correndo, embora alguns outros chefes do tráfico


não se apressem. Eles já viram esse tipo de violência antes e sabem que
Olívio estava fora de controle. Mesmo assim, eles me lançaram olhares de
soslaio. Eu sorrio de volta para eles.

Emanuel, ao fundo, está com os olhos em Olívio. O garoto pode ser um


problema. Só o tempo irá dizer. Mas ele tem minha proteção, e não vou
quebrar minha palavra para Renata.

Uma vez que a sala está limpa, pego minha noiva nos braços e a
carrego pelas escadas. Se ela quiser chorar sua mãe, irei permitir. Se ela
quiser falar sobre o nosso futuro e o que a morte de Olívio significa, nós o
faremos. Mas só depois que eu a ter de todas as maneiras que importam.
13
Renata

Meu marido me tem nos braços. Ele é tão forte que parece que segura
uma pena. Seu rosto não tem expressão e minha mente tenta acompanhar
tudo o que aconteceu.

Olívio está morto. Penso de novo, as palavras tão finais.

Meu avô está morto. Um tiro na cara. O sangue borbulhando pelo


buraco. Seus olhos apagados. A chama da alma a deixá-lo.

Ele está morto.

Ele admitiu ter assassinado minha mãe antes de meu marido colocar
uma bala no seu crânio. Fiquei tão chocada com a explosão sobre minha mãe
quanto com a rapidez com que Lucas reagiu. Assim que as ameaças saíram
da boca de Olívio, Lucas o matou sem hesitação. Ele já fez isso antes, e agora
eu sei que fará qualquer coisa para proteger minha honra. Meus dedos cavam
seu paletó enquanto eu me agarro a ele, nunca querendo deixá-lo ir.

É uma relação suja, imunda, perturbadora. Não me importo mais com


isso.

Aquele homem matou duas pessoas em menos de vinte e quatro horas,


diante dos meus olhos. E, ainda assim, me sinto mais segura com ele do que
jamais me senti dentro da minha própria família.

Foda-se. Não vou morrer questionando o quão irracional é nosso


vínculo.
Meu avô matou minha mãe, então que ele apodreça no inferno. Ele a
levou para longe de mim, e agora Lucas retornou o favor tirando-lhe a vida.

Ela não me deixou. Não por vontade própria. Meus olhos lacrimejam
com esse pensamento. Emanuel e eu não fomos abandonados. Mesmo que ela
se foi. Mesmo que não mude nada, isso significa muito para mim. Ela nos
amou e foi roubada de nós. Agora o ladrão de sua vida pagou em sangue.

— Você está com medo, querida? — Lucas pergunta.

— Sim — admito.

Estou com medo de muitas coisas agora. Uma deles é o que acontecerá
a seguir e o que acontecerá com meu irmão, Emanuel. Lucas me prometeu
sua segurança, então tenho que confiar nisso. Perguntar novamente agora
seria um sinal de desrespeito. Ele não fez nada para me fazer pensar que ele
iria quebrar seu voto. Definitivamente haverá consequências sobre os atos de
Lucas no casamento, mas eu sei em meu coração que ele protegerá Emanuel
do pior.

— Com medo de mim? — Ele entra em nosso quarto e chuta a porta


fechada atrás dele.

Balanço a cabeça. Pensando bem, acho que nunca tive medo dele.
Mesmo quando atirou no meu noivo e me levou consigo. Tudo o que senti foi
alívio. Eu ainda sinto isso.

— Eu não tenho medo de você.

— Minha brava mulher. A maioria das pessoas jamais me diria isso.

Ele me coloca na cama, e eu o solto para que possa olhar em seus olhos
escuros. Não, eu não tenho medo dele.

— Estou com medo que possa se machucar — admito. Essa é a


verdade.

Só conheço o homem há algumas horas e nesse curto período de tempo


me apaixonei por ele. O pensamento de algo ruim lhe acontecendo faz minha
alma queimar.

Mas haverá consequências. Eu sei. No mundo do crime, é assim. Ele


matou dois homens. Também não são apenas dois homens quaisquer, e sim
homens poderosos. Aqueles que eram os chefes de suas famílias. Famílias
que procurariam vingança.

Eu engulo em seco. Meus tios iram reagir quando souberem o que


aconteceu com o pai.

Isso é o que mais me assusta.

— Você vai tentar me deixar? — Ele inclina a cabeça, um pequeno


sorriso nos lábios, e descansa a mão na minha linha do busto.

— O quê? Não, claro que não.

— Você não está aqui comigo. Seus pensamentos não estão aqui
comigo. Sou um pouco ciumento, não se vá para longe quando estiver na
minha presença.

Ele rasga meu vestido no centro. Eu suspiro com a violência disso, com
o calor que se acumula no meu núcleo por sua agressão.

— Lucas. — Estendo a mão, precisando tocá-lo. Como um homem


pode ser tão mortal e tão doce eu nunca vou entender. — Haverá guerra.
Você sabe que vários ambicionavam o lugar de Bruno. Nada será mais
conivente para eles assumirem o cargo do que praticar vingança. Além disso,
eu tenho tios... eles vão...

— Não me importo. No caso dos Brauns, Olívio matou sua mãe. —


Eu fecho meus olhos por um momento, apenas pensando nela. Ele muda seu
corpo, inclinando-se em cima de mim. Sua boca roça suavemente contra a
minha. — Quem a magoar conhecerá a morte. Eu provei esse ponto hoje.
Você não viverá com medo.

— Eu tenho medo de perder você — eu respiro contra sua boca. — Os


Bianconi...

— Eu era o favorito de Pierre, meu amor. — conta, para minha


surpresa. — Seu filho mais amado. Sei que muitos pensam que ele preparava
Gabriel para o suceder, mas era em mim que ele pensava para isso. E eu o
matei. Nem o pior dos Bianconi suportou minha fúria. O próprio diabo não
poderia me tirar de você. — Sua língua desliza pelos meus lábios. Eu os
separo em convite. Ele avidamente toma minha boca. Há muito a ser dito.
Tanta coisa está acontecendo, mas agora tudo que eu quero é estar conectada
a ele.

Deslizo minhas mãos por seu peito e pescoço, depois enfio meus dedos
em seus cabelos curtos enquanto envolvo minhas pernas em torno dele,
puxando-o para perto.

Ele rosna na minha boca.

— Muitas roupas — digo enquanto tento puxar o terno de seu corpo.

Ele me empurra para trás com um grunhido e fica ao lado da cama. Eu


levanto até os cotovelos para ver como se despe de suas roupas, seus olhos
nunca deixando meu corpo.

Meu rosto esquenta com o pensamento de meu peito nu estar em plena


exibição para ele. Toda a renda que estou usando coça para ser arrancada
pelos dedos dele. Concentro-me nele enquanto cada camada de sua roupa cai
no chão. Ele está na minha frente em toda a sua glória nua. Mesmo sem um
pingo de roupa, ele exala confiança e poder. Meus mamilos endurecem
quando meu corpo pede que ele me dê prazer. Umidade se acumula entre
minhas coxas, fazendo a seda grudar em mim.

Meus olhos percorrem seu corpo. Sento-me, estendendo a mão para


passar o dedo por uma das muitas cicatrizes que cobrem seu torso.

— Você vê por que estou com medo? — digo antes de me inclinar e


beijar uma das marcas.

Ele puxa o véu livre, jogando-o fora antes que seus dedos cavam no
meu cabelo.

— Essa é a vida que levamos, querida. Não há fuga. Eu já tentei fugir.


Já tentei redenção. Não existe. Vivemos e morremos por ela. Aproveitamos,
então, o que há no meio do caminho.

Eu beijo outra marca.

— Contudo, te juro que terei cuidado. — Ele me beija suavemente


uma vez antes de deslizar a língua na minha boca.

Suas mãos exploram meu corpo. As pontas dos dedos alcançam e


provocam meus mamilos até que eu esteja ofegando com a necessidade.
Antes que possa me inclinar para trás, ele interrompe nosso beijo e se afasta
mais uma vez.

— O que há de errado? — Encontro seus olhos, me perguntando se é


algo que fiz.

— Nada poderia estar errado quando se trata de você. Você é perfeita.

Minhas bochechas se aquecem.

Ele dobra um dedo para mim.

— Levante-se.

Eu saio do lado da cama, hesitante, porque nunca estive de lingerie na


frente de um homem antes. Lucas me faz sentir sensual, embora. A
necessidade que ele tem de mim aparece nos olhos dele, me fazendo querer
me apresentar a ele.

— Muitos homens tentaram e falharam em me matar, mas, com seu


corpo gostoso, você quase conseguiu.

Balanço a cabeça. Estou ficando mais confiante.

Ele lambe os lábios.

— Você me deseja?

— Quero você, Lucas.

Ele rosna quando pega minha boca mais uma vez, desta vez me
beijando sem fôlego.

— Você já me tem. — Sua mão se abaixa para esfregar sobre minha


calcinha de renda. — Eu posso sentir seu desejo através da seda e renda. Eu
pretendo lamber toda essa doçura de você quando estiver na minha língua.
Mas primeiro, quero que você se dispa lentamente para mim.

Ele recua, seus olhos nunca me deixando. É como se ele estivesse


reconhecendo que muitas das minhas escolhas nas últimas vinte e quatro
horas não foram minhas, e ele quer que isso seja diferente. Ele quer que eu
escolha dar meu corpo a ele.

Eu me viro, dando-lhe minhas costas. Então deslizo meus dedos na


parte superior da minha calcinha enquanto espio por cima do ombro, antes de
me curvar todo o caminho para tirá-las das minhas pernas. Eu dou a ele um
pequeno espetáculo enquanto o faço. Quero dar ao meu marido o que ele está
pedindo. Para mostrar a ele que quero estar aqui. Quero ser dele.

Começo a me virar para jogá-la de lado, mas ele já está comigo.


Minhas costas batem na cama quando ele desce sobre mim. Ele me beija e
depois arrasta os lábios até os meus seios. Sua língua espreita para lamber
meu mamilo empinado antes que ele chupe em sua boca. Eu gemo o nome
dele e enfio meus dedos em seus cabelos.

Eu nunca experimentei uma sensação de prazer como a que Lucas está


me dando agora. Meu corpo arqueia em direção à ele. Ele libera meu mamilo
do sutiã e depois continua sua jornada pelo meu corpo, chupando e lambendo
enquanto avança. Meu estômago treme quando puxa a língua para baixo.

Seu dedo roça levemente o pequeno pedaço de pelos entre as minhas


pernas.

— Sua boceta está tão molhada. Ela sabe que me pertence? Que eu sou
o dono dela? — Antes que eu possa responder, ele me puxa contra si.
Sua boca cai em mim, e sinto o primeiro lamber elétrico de sua língua
no meu clitóris.
14
Lucas

Sempre achei pejorativo a frase “vou comer essa mulher”. Parece que
você está dando a garota um ar de objeto, algo que só existe para satisfazer
sua necessidade natural, instintiva, animal. Contudo, agora eu realmente
quero comer a minha mulher, porque ela é como um banquete, preparado
inteiramente para eu desfrutar. Uma lambida lenta me dá seu gosto doce, e
enterro meu rosto entre suas coxas enquanto ela agarra os lençóis.

Lambo com a ponta da minha língua por toda a sua carne macia. Sei
que serei o único que conhecerá essa delícia. Apenas minha, de mais
ninguém.

Ela geme. O som é tão gostoso que meu pau pulsa com intensidade.

Lambo de novo e de novo. Parece que nunca vou me cansar.

— Você quer gozar no meu pau, minha deusa?

— Quero!— Ela arqueia ousadamente, enquanto eu pressiono minha


língua dentro de sua vagina virgem. Eu chupo e lambo, devorando cada
pedaço dela, cobrindo minha boca com sua umidade e me aprofundando
dentro dela para mais.

Pressionando minhas mãos contra o interior de suas coxas, eu a abro


até onde consigo, depois me concentro em seu clitóris. Suas pernas tremem
quando eu chupo o local e dou amor com a ponta da minha língua.

Eu corro meus dedos por sua coxa, depois coloco um dentro dela. Ela
aperta em volta de mim, seu corpo tenso.
— Relaxe... — Lambo seu clitóris mais rápido. — Você vai amar isso,
mas eu preciso prepará-la para mim.

Meu pau se contrai quando eu a acaricio com minha língua, meu dedo
empurrando mais fundo dentro dela. Ela fica tensa novamente, mas eu alivio
a incerteza, lambendo-a enquanto mantenho a pressão dentro dela. Quando
meu dedo está revestido e suas paredes me aceitam, deslizo outro dedo.

Ela se abaixa e agarra meu cabelo, suas unhas arranham meu couro
cabeludo enquanto eu pulo para dentro e para fora, minha língua chicoteando
seu clitóris enquanto ela se contorce. Estou aprendendo suas nuances de
mulher, aprendendo o que a faz se sentir melhor, gravando cada pequeno som
que emite, o que faz suas pernas tremerem, o que a faz mover seus quadris
para o meu ritmo. Eu sempre a agradarei, sempre darei à minha mulher tudo
que precisa.

Virando meus dedos para cima, eu os enrolo, e ela sacode. Eu sorrio


contra sua boceta molhada, depois sigo seu clitóris com seriedade. Ela joga a
cabeça para trás, seu corpo arqueando, seus seios perfeitos implorando para
serem sugados, e então seus quadris agarram, sua respiração para e sua
boceta aperta meus dedos. Com um gemido baixo, ela se desenrola, seu corpo
sob meu controle enquanto arranco seu primeiro orgasmo, lambendo e
empurrando enquanto ela puxa meu cabelo e sacode em pequenas ondas.
Quando ela respira novamente, dou-lhe uma última lambida, depois rastejo
em seu corpo.

Compartilhando seu gosto com ela, eu beijo seus doces lábios, e ela
estende a mão e agarra meus ombros. Meu pau repousa contra sua entrada
molhada, e é tudo o que posso fazer para não empurrar para dentro dessa
pequena boceta apertada e possuí-la implacavelmente.
Mas essa é a primeira vez dela. Sei que devo me controlar.

Ela não está facilitando as coisas, não quando afunda as unhas nos
meus ombros e balança os quadris contra mim.

— Por favor.

Essa ovelha nem sabe o que pede para esse velho lobo mau. Todavia,
sou diferente, estou diferente... não sei bem. É por causa dela... Algo nela me
mudou.

Eu posso ser forte, muitos diriam implacável, mas essa mulher me


segura, e nunca quero que isso pare.

— Fique quieta para mim. — Pressiono uma mão em seu ombro,


prendendo-a enquanto relaxo meu pau em sua abertura apertada.

Ela fica tensa, fechando os olhos.

— Olhe para mim. — Continuo a entrar nela, meu aperto em seu


ombro nunca vacila mesmo quando ela se contorce. — Segure firme. Porra,
você é tão apertada.

Mordo um gemido quando meu pau fica coberto por seu mel, a pressão
de suas paredes escorregadias como nada que eu já tenha conhecido.

Ela abre bem os olhos. Está mais tensa. Difícil de entrar.

Eu a beijo enquanto deslizo o mais longe que posso, meus músculos


tremendo com o controle que estou exercitando.

Nunca senti tanta perfeição, seu corpo me tomando tão


confortavelmente que minhas bolas exigem liberação. Mas não vou conceder.
Não até que Renata esteja tão excitada que trace arranhões nas minhas costas.

Sua boca se abre e eu a beijo enquanto ela relaxa lentamente. Com um


movimento rápido, me afasto e me encaixo bem no fundo. Os espasmos de
sua vagina são enlouquecedores e engulo seu grito de dor. Estou revestido
por sua umidade e deslizo para dentro e para fora em movimentos lentos. A
euforia de estar dentro dela obscurece minha mente, e eu quero que ela se
sinta tão bem quanto eu.

Ela relaxa ainda mais, e eu solto meu ombro. Apoiando-me nos


cotovelos, conforto sua dor.

— Só vai doer assim, agora. Depois, vai passar. Eu prometo. Farei


você se sentir melhor.

Renata assente enquanto me inclino para o pescoço e chupo o local


abaixo da orelha. Ela estremece e abre as pernas um pouco mais. Não preciso
mais de um convite.

Começando um ritmo lento e suave, sei que estou sendo um gentil


amante desse começo de sua vida sexual. Ao menos, no início, estou me
esforçando. Depois que ela conhecer cada veia do meu mastro, não sei se
serei tão paciente.

Eu a ajudo, adorando-a com meu pau e minha boca enquanto a faço


minha.

Uma vez que ela está solta, seu corpo flexível, sua respiração difícil, eu
acelero. Ela arqueia, seus peitos pressionando contra mim. Eu não posso
resistir, então me inclino e chupo um na minha boca. Seu gemido envia uma
agradável explosão de calor através do meu corpo, e eu mordo suavemente.
Quando suas unhas arranham minhas costas, eu mordo mais.

Renata engasga, sua boceta se apertando ao meu redor.

— Você está sentindo o mesmo que sentiu quando eu te chupei? —


Encontro seus olhos novamente, nossos corpos suados deslizando um contra
o outro enquanto a dança erótica de nossa carne ricocheteia. — Você vai
gozar no meu pau?

— Eu vou gozar no seu pau. Vê como estou gozando? — Ela me


aperta ainda mais.

— Quer ficar toda suja com minha porra, não é? — Eu sussurro em seu
ouvido. — Sinto que gostaria de ser preenchida com o meu pau e revestida
com a minha semente, não é? Você vai ser a minha putinha suja, não vai?

— Oh, Lucas — ela geme enquanto eu puxo seu cabelo e chupo sua
garganta, prendendo sua pele macia entre meus dentes.

Abaixando-me, afasto minha mão entre nós e pressiono meu polegar


em seu clitóris.

Ela congela, seus quadris travam, e enquanto eu giro aquele pequeno


local doce, ela desmorona, sua boceta me segurando enquanto ela cava as
unhas nas minhas costas, segurando-me enquanto monta sua onda de prazer.

A pressão é demais, Renata soa como um afrodisíaco, e eu não consigo


parar minha libertação. Empurro dentro dela, pressionando contra seu ventre,
e gemo quando caio junto com ela, dando-lhe minha semente, meu amor.
Aperto contra ela, puxando cada pedacinho de seu orgasmo até que passe.

Vou até os cotovelos e a beijo, derramando meu amor nela enquanto


nossas almas se unem como uma só. Ela é minha como eu sou dela, e
ninguém nunca ficará entre nós.
15
Lucas

Renata é como uma joia preciosa. É tão bonita que chega a doer. E não
estou falando de meu pau dolorosamente adormecido em sua coxa, e sim uma
dor diferente, algo inexplicável que parece amortecer meus sentidos.

Ela dorme no meu peito, sua respiração fazendo cócegas na minha


pele. Pego meu telefone e verifico. Enzo e Ricardo me enviaram várias
mensagens, embora soubessem que eu não verificaria a situação até tirar a
virgindade da minha noiva e deixar minha marca no seu corpo.

Missão cumprida.

Os textos estão todos na mesma linha. Olívio, avô de Renata, juntou-se


aos remanescentes dos Bianconi e mobilizou um grupo razoável para me
derrubar. Isso antes de sua morte. Agora, um dos seus filhos, Otávio, assumia
seu posto.

Eu suspiro.

Renata se mexe. Ela olha para cima, seus olhos sonolentos e saciados.

— Durma, querida. — Puxo seus dedos nos meus lábios e os beijo.


Quando me levanto, ela me agarra.

— Onde você vai?

— Trabalhar. — acaricio seus cabelos macios. — Você conhece essa


vida.

— Por favor, tenha cuidado.


— Acha que deixarei que me matem e eu perca meus dias ao seu lado?
— Eu beijo seus lábios, dando-lhe um adeus gentil enquanto deslizo o resto
do caminho para fora da cama.

— Eu preciso que você volte para mim. Vivo. — Ela se senta agora, o
lençol agarrado ao peito.

Reconheço seu desespero, seu medo. Após tê-la possuído, toda seu
valor escorreu pelo ralo conforme seu hímen se rompia. Chefes de grupos não
iriam querer o resto que Lucas Bianconi desfrutou. Se eu morresse, ela ficaria
à mercê de qualquer coisa. Talvez até de se tornar uma cadela, como muitas
outras.

A ideia me atinge com força, e quase hesito. Afastando-me da imagem


perfeita na cama, corro para o meu armário e visto algumas roupas.

Meus homens precisam se mexer, e uma estratégia já está se formando


em minha mente. No final desta noite, pretendo encerrar meus problemas
derramando o sangue que falta.

— Eu vou voltar. — Giro para ela e a beijo novamente, lentamente


desta vez, saboreando sua boca enquanto meu corpo se aquece novamente.
— Eu não posso deixá-la sem vigilância. Não quando o tesouro entre suas
pernas merece outra boa lambida e uma foda especialmente completa.

Ela cora lindamente.

Eu a beijo novamente, depois me afasto da cama antes que seja tragado


a ela.

— Durma agora. Voltarei antes do amanhecer e farei você gemer.


Saio pela porta e percebo dois de meus filhos, em vigília.

— Nenhum de vocês deve sair do lado dela. Compreendem? Ela deve


ser protegida a todo custo. Ela é a mãe, agora.

— Sim, pai.

Eu bato nos seus ombros.

— Meus bons garotos...

Virando-me, encontro Enzo no corredor, seu cabelo uma bagunça e seu


rosto desenhado.

— Eles foram para um de nossos armazéns.

— Qual?

— O da Avenida Mauá.

Enzo me segue escada abaixo. Sorrio quando encontro uma boa parte
dos meus filhos reunidos abaixo. Abrindo os braços, transmito confiança.

— Não é uma noite perfeita para deixarmos claro que ninguém mexe
com a Black Rose?

Um rugido sobe dos meus garotos, e eu ando entre eles, preparando-os


para a guerra.

Eu sou um pai zeloso.


16
Renata

O teto é de gesso branco com detalhes moldados, desenho abstrato que


parece ir ao infinito, como se a parede fosse apenas um obstáculo aos olhos,
não a imaginação do seu artista.

Deitada na cama, olhando para o teto, sinto meu coração pesado. Tento
dormir, mas não consigo parar de pensar em Lucas. Mesmo que seja
madrugada, não posso ficar nesta cama mais um segundo. Sento-me e
balanço minhas pernas para o lado.

Estou ferida por Lucas. O sexo foi um tanto bruto, ou ao menos foi o
que senti. De início, ele até tentou manter a calma, mas acabou por se deixar
levar quando ondas quentes nos arrastaram em direção ao orgasmo.

Eu saio da cama e procuro algo para vestir. Meu estresse está enorme.
Não conseguirei dormir sabendo que Lucas está à mercê de todo mal do
mundo.

É uma faca de dois gumes. Eu não queria que ele fosse em direção ao
perigo, mas sabia que Lucas precisava ir. É o único caminho, e é como as
coisas funcionam para gente como nós.

Não há como parar. Não há como fugir. No final, se tivermos


prudência, ficaremos seguros. Emanuel também. Eu deveria encontrá-lo, ter
certeza de que não está se metendo em algo. Meu irmão tende a ser
imprudente, às vezes. Para começar, aparecer aqui apenas reforça o fato de
que pode ser descuidado. Minha esperança é que aprenda, com o tempo, a
não reagir tão rapidamente.
Faço uma pausa quando vejo uma pequena arma na mesa de cabeceira.
Não me lembro de ter estado lá antes. Acho que teria notado, mas estava
meio envolvida em outras atividades, por isso posso ter perdido sua presença.

Depois me dou conta de que Lucas poderia ter deixado a arma para
mim. Estendo a mão e pego. Eu cresci em torno delas, mas, estranhamente,
nunca toquei em uma. Mas eu já as vi sendo usadas e sei como funcionam.

Um sentimento de calor passa por mim. Mesmo tendo homens na


minha porta para me proteger, Lucas ainda deixou uma arma caso tudo saísse
errado.

Não sei por que estou chocada com o fato de que ele está cumprindo
todas as suas promessas. Ele me disse tantas vezes desde que nos
conhecemos que sou a sua deusa. Contudo, não estou acostumada com um
homem que realmente cumpre o que fala.

Pego a arma enquanto vou em direção ao armário. É então que percebo


que não tenho roupas aqui.

Coloco a arma no closet gigante. Parece que um lado já foi


completamente reservado para mim. Meus dedos roçam ao longo da linha de
roupas de Lucas até encontrar uma camisa que é do meu agrado. É branca e
simples. Trago-a ao nariz para ver se consigo sentir o cheiro do meu marido.

Sim... Isso me conforta, e eu deslizo sobre minha cabeça antes de pegar


a arma e voltar para o quarto. Encontro minha calcinha no chão. Eu a agarro
quando entro no banheiro para tentar parecer um pouco apresentável antes de
andar pela minha nova casa.

Bato na porta antes de abri-la, sabendo que dois homens estão lá fora,
guardando-a com suas vidas.

Um guarda se vira para mim enquanto o outro vigia o corredor. Os


olhos do homem me pegam e depois se voltam para o meu rosto. Existe
respeito ali.

— Precisa de algo, mãe?

Entro em choque.

Mãe...

Sou mais jovem que eles, mas percebo em seus olhares vazios a
necessidade de afeto e a completa devoção à causa da rosa negra.

Seus olhos não estão mais em mim, mas focados em algo atrás de mim.
Percebo que ele está constrangido pela minha vestimenta.

— Não. Eu já volto — digo enquanto recuo e fecho a porta em seu


rosto.

Não sei como reagir àquilo. Minhas bochechas esquentam quando


volto para o armário para tentar encontrar algum moletom ou algo maior
vestir.

Lucas Bianconi não parece ser do tipo que veste roupas casuais. Parece
que ele nasceu para vestir um terno. Portanto, não tenho muita esperança de
encontrar algo útil, mas verifiquei mesmo assim. Sem sorte. Eu olho no
espelho. A camisa quase bate nos meus joelhos. É praticamente um vestido. É
o que eu raciocino comigo mesma antes de decidir que minha preocupação
era maior que meu pudor.

Eu abro a porta novamente. Os dois olham rapidamente para mim antes


de se concentrar novamente no corredor. Acho que devo ser invisível para
eles? Eles foram instruídos a dar a vida por mim, mas não a olhar para mim?
Eu quase rio de como essas ordens soam ridículas.

— Meu... filho? — As palavras saem amortecidas de minha boca. Será


que eles iriam rir de mim por elas? — Como se chamam?

Eles me encaram novamente, existe naturalidade no semblante.

— Sou Leonardo — o que conversou comigo antes disse. — E esse é


João Carlos.

São jovens. Vinte e poucos anos, no máximo. Não preciso pensar


muito para saber que são meninos que Lucas resgatou de alguma situação
abusiva.

— Onde está seu pai?

— Vou localizá-lo, senhora — responde Leonardo.

Devo agradecer? Ou como sua mãe, eles estão apenas fazendo sua
obrigação em me agradar? Não quero parecer deslocada, mas vai demorar um
pouco para me acostumar com a maneira como os homens me tratam aqui.

— Obrigada, querido.

Novamente, as palavras escapam. Eu já me sinto maternal apenas pela


maneira como me chamam?

— Qualquer coisa que precisar, mãe. — Ele assente, pegando o


telefone.

Eu preciso de um desses também.


Viro-me para ver Magali em pé no final do corredor.

— Renata! Está com fome? Venha, vou fazer algo para você comer.
Em breve você terá um bebê dentro da barriga e precisará de toda força extra
que conseguir.

Minhas bochechas esquentam. Eu me sinto... flutuando.

Minha mão vai para o meu estômago.

Fiz questão de me proteger da gravidez quando me casei com Bruno.


Eu tinha esquecido minhas pílulas quando Lucas colocou as mãos em mim.
Em minha defesa, eu não tive exatamente tempo de pegá-las com meus
pertences após ele irromper na Igreja.

Magali agora está na minha frente. Ela segura meu rosto com uma mão
gentilmente. É o toque de uma mãe, suave e doce.

— Você vai encher essa grande casa de risadas e amor. Já começou.


— Ela dá um firme aceno de cabeça, seu rosto ficando sério. — Lucas
terminará a guerra nessa noite. Ele sabe o que está em jogo. — Os olhos dela
encontram os meus, tranquilizando-me. — Chega de conversa sobre guerra.
Sei que é madrugada, mas você deve estar faminta. Não a vi comendo ontem.
— Ela se vira com um passo seguro e caminha pelo corredor. Não sabendo
exatamente o caminho de minha nova casa, eu a sigo.

— Emanuel! — Eu digo quando entro na cozinha e o vejo andando de


um lado para o outro. Eu corro até ele.

— Onde você conseguiu isso? — Ele tenta pegar a arma que ainda
tenho na mão. Nem Magali nem os dois guardas disseram uma palavra sobre
eu tê-la.
Eu puxo minha mão de volta.

— Meu marido me deu.

O queixo de Emanuel fica apertado. Ele quer dizer algo sobre a arma,
mas não o faz. Espero que seja porque respeita a decisão de Lucas de me dar
uma arma e não vai questionar.

— Cuidado com isso, Renata — adverte antes de se sentar no balcão.


— Você não teve nenhum treinamento.

— E, na necessidade, precisamos de treinamento?

Ele torce o nariz e balança a cabeça.

Um pouco mais serena, observo a grande cozinha. É elegante e


moderna, com bancadas em mármore liso. Eu ando, me sentando em um
banquinho ao lado de Emanuel e coloco a arma na bancada. Passo o dedo
pelo mármore branco e cinza, sonhando acordada com pequenos Lucazinhos
correndo por todo o lugar. A cozinha pode ser parte integrante de nossas
vidas. É onde as famílias se reúnem. Eu quero isso com Lucas.

— Você está feliz, Renata? — As palavras do meu irmão me separam


dos meus pensamentos.

— Eu sei que parece rápido, mas eu posso sentir na minha alma que
estou exatamente no lugar que devia.

Emanuel processa a informação. Depois de um tempo, ele acena com a


cabeça em aceitação.

— O que faz acordado?


— Lucas não me deixou ir com eles — admite, me fazendo idolatrar
meu marido.

— Você queria ir? Lutar pela Black Rose?

Ele encolhe os ombros.

— Você é minha família. E se você escolheu a Rosa Negra — ele


aperta minha mão — , eu também a escolho.

Magali termina de esquentar a comida e então a coloca na bancada. A


tensão em Emanuel quebra um pouco quando seu estômago ronca.

É uma Ala Minuta simples. Não importa. Devoramos tudo em poucos


minutos.

E tudo fica em paz. Paz. Alguns momentos que parecem eternizar


naquela cozinha. Apenas o som de grilos ao longe e o soar de uma coruja em
alguma das grandes e pomposas árvores.

Mas, não há paz nessa vida.

Meu coração para quando um estalo alto soa, seguido por um alarme
estridente. Minha mão vai para a arma, meus dedos envolvendo o aço frio.

— Renata! — Magali agarra meu pulso e me puxa da cozinha.

Emanuel me segue.

— O que está acontecendo?

Não sei por que faço a pergunta. Eu sei a resposta.

Guerra.
Magali me leva até as escadas quase correndo e me mostra uma sala de
vidro no lado oposto dos quartos. Mais tiros soam e os homens gritam.

Alguém na porta da frente chama:

— São os homens de Otávio.

Giro em direção as escadas. Percebo o movimento lá. Meus filhos se


posicionam no corredor atrás de nós, com as armas apontadas.

Magali abre uma porta pesada e me puxa para dentro de uma sala
forrada com telas planas. É como uma caixa de vidro. Fico imediatamente
claustrofóbica.

— O que...?

— Sala segura. — Ela faz sinal para Emanuel entrar.

O pânico floresce no meu coração.

— Emanuel, aqui! — ordeno quando ele parece hesitar em entrar na


sala.

— Eu tenho que ir.

— Não! — Eu corro para a porta, mas ele a fecha na minha cara.

— Emanuel! — Grito e bato na porta robusta. O painel é pesado.


Posso jurar que é brindado. Girando, encaro Magali. — Por favor, abra. Ele
será morto.

— Eu não posso. — Ela balança a cabeça.

— Por que não? — Olho em volta, procurando por uma alça, um


botão, qualquer coisa. Mas a parede e a porta são completamente lisas.

— Lucas deixou ordens estritas para sua segurança. E todos nós


devemos cumprir. Você é a mãe.

— O quê? — Eu choro.

Seu rosto suaviza um pouco quando ela me puxa, afastando-me da


porta.

— A mãe de todo seu clã. Ele te escolheu para ser a mulher mais
respeitada e mais digna da Black Rose. Você dará início a sua dinastia.

Engulo em seco e tento pensar com calma.

— Acho que entendi. — Não, era difícil demais para entender. — Mas
Emanuel está lá fora. Meu irmão é apenas uma criança. — Observo enquanto
ele desce as escadas e um dos homens de Lucas lhe dá uma arma. — Não!

No meu desespero, começo a rezar para Lucas aparecer. Tento confiar


que ele manterá todos nós seguros. Ela aponta para as telas que tem as
câmeras de vigilância. O quarto seguro era também o quarto de vigília. Eu
mal as havia notado.

No portão da frente quebrado, carros pretos aceleram cantando pneu.

— Lembre-se de que essa não é a primeira vez que idiotas vêm para
destruir a Black Rose. — Ela se vira e abre um armário ao longo da parede
sem janelas. Puxando um rifle semiautomático, ela o prende como um
profissional e o coloca na ampla mesa de mogno abaixo das telas. — Se eles
passarem pelos rapazes, eu estarei pronta.

Minha arma parece um brinquedo comparado à dela.


Magali se aproxima. Dá um tapinha no meu braço de maneira maternal.

— Ninguém vai te machucar. Não no meu turno.

Olho para outra tela e vejo Lucas sair de um dos utilitários esportivos.
Mais carros surgem na estrada, e então a verdadeira guerra começa.
17
Lucas

Você nunca esquece um assassinato. E nem se redime por ele. Não


adianta dizer um “sinto muito” e prosseguir, porque não há volta. Não existe
redenção. Se você rouba alguém, poderá devolver o que roubou. Se você
engana, poderá pedir desculpas e dizer a verdade. Para cada crime, existe
uma punição adequada. Contudo, quando você mata um inocente, é o fim.

Na pequena cidade de Esperança, muitos anos antes, eu matei um


jovem drogado cujo único crime era abafar a dor da indiferença familiar em
drogas que eu mesmo lhe vendia.

Durante muitos anos me convenci de que o matei porque Pierre me


forçou. Mas, enquanto descarregava minha arma em outros homens diante do
meu portão, percebi que o matei porque nessa vida, ou era eu ou era ele.
Ambos não podiam coexistir. Eu preferi viver, então covardemente o joguei
numa armadilha e lhe dei um fim.

Da mesma forma, agora. Eu miro nos crânios para não ter erro. Para
não deixar sobreviventes. E nada do que eu possa fazer depois disso me
redimirá desse pecado. Eu prestarei contas a Deus um dia, porque a justiça
mundana brasileira é um fracasso total.

Volvo meus olhos para minha mansão.

Matei Marcelo naquela pequena cidade porque queria sobreviver ao


meu pai. Hoje mato porque quero que, como pai, que minha família fique
segura.
Paro em frente à casa. Um rastro de sangue atravessa o caminho, e um
corpo permanece no paisagismo. Um dos homens de Olívio.

— Mais estão chegando! — Eu assobio, e surgem filhos da frente e


dos lados da minha casa.

Os pneus guinchando anunciam a chegada de mais bandidos


encarregados de me derrubar. Otávio não estará entre eles. O filho mais novo
de Olívio, e tio de Renata, é muito covarde para sujar as mãos.

Mas isso acaba hoje. Estou cansado. Eu tenho Renata e quero crianças.
Eu tenho homens que realmente me importam. Se eu derrubar o sistema de
tráfico atual, posso criar um novo esquema que não perturbe muito as leis
civis. Podemos viver como na era da Lei Seca. Ninguém precisa morrer
porque organizações disputam território. Serei o senhor de tudo.

Um veículo branco corre em minha direção, um passageiro saindo do


lado com uma submetralhadora atirando a esmo contra mim. Escondo-me
atrás do carro enquanto as balas se chocam contra o metal e algumas janelas
atrás de mim se quebram.

A preocupação acende no meu peito, depois esmorece, porque eu sei


que Magali levou Renata para um local seguro ao primeiro sinal de problema.

Uma vez que o carro branco derrapa e quase bate em um carvalho que
adorna a entrada da mansão, saio do esconderijo e atiro nas janelas. Meus
filhos me seguem, vários deles correndo pelo caminho em direção ao portão
quebrado. Eles lançaram uma série de tiros contra os invasores que se
aproximavam, gritos de dor disparando pela noite.

Olhando para cima, garanto que Enzo está pronto. Mal posso vê-lo,
mas não preciso. Vejo o fuzil pela janela.

Emanuel sai pela porta da frente e fica ao meu lado.

— Garoto... — mostro Enzo com um sinal. — Você está pronto para


isso?

Ele sacou a pistola.

— Eu sou um Black Rose, agora.

— Você tem certeza? — Estou surpreso, mas incrivelmente orgulhoso


que ele tenha escolhido o meu lado.

Ele dá um aceno duro.

— Se Renata confia em você, eu também vou confiar.

Não tenho tempo para dizer a ele que o terei como a um filho, que um
dia será igual a mim e estará livre para começar sua própria família, sua
própria operação.

O garoto chegou na hora certa, porque outra carga de soldados de


Otávio abate alguns dos meus filhos enquanto tentam nos sobrecarregar em
números. Caminhão após caminhão, cheio de jovens com a vida destruída das
drogas, arrasa meu gramado e profana meus filhos mortos. Tiros saem de
cada janela, brilham iluminando a noite enquanto enchem meu carro e minha
casa com balas de metal. Emanuel devolve o fogo, escondendo-se atrás de
uma Amarok comigo.

A raiva ferve dentro de mim com a porra do desrespeito nesse ataque, e


fica ainda mais quente quando penso em minha Renata lá dentro,
provavelmente aterrorizada quando nossas vidas são ameaçadas. Eu entro
dentro da Amarok e tiro uma metralhadora carregada, deixada lá para
momentos como esse.

Enzo toca um único tom agudo através do sistema de som da


propriedade. Os atacantes não sabem o que isso significa. Mas meus filhos
sabem. Eles se espalham de volta para a casa, correndo por suas vidas.
Quando ouço o calibre cinquenta começar a zumbir, sorrio.

É o inferno e eu sou o diabo.

O baque pesado de cada bala enorme do fuzil é como uma explosão de


fogos de artifício bem ao meu lado. A vegetação voa, os galhos das árvores
caem e nossos inimigos se dobram sob o ataque inevitável.

Entro na confusão, matando qualquer um que tentar correr em direção


à minha casa. Ninguém chega a escadaria sem antes receber um tiro meu.

Meus filhos estão atrás de mim, fervendo como eu. Não são meu
sangue, mas tem parte da minha alma.

Um dos caminhões explode e as chamas disparam para a noite


enquanto a carnificina completa meu gramado. Uma vez satisfeito, eu levanto
minha mão. A noite se enche de gemidos, gritos e sirenes.

Isso vai levar um grande suborno para o delegado, mas ele já varreu
crimes meus para debaixo do tapete antes.

— Pai? — Matheus murmura atrás de mim, seus olhos em movimento


nos corpos despedaçados.

Eu me viro e bato no meu peito com um punho.

— Vitória!
— Para a Rosa Negra! — Ele grita de volta.

— Termine com os que sobreviveram — Eu aceno para frente.

Outros se unem a Matheus e correm para o campo como um enxame de


gafanhotos e, em breve, não há mais gemidos ou gritos de dor. Apenas as
sirenes agora.

Enzo sai da casa e examina os danos.

— Aquela arma é magnífica. — Ele comenta. — Valeu cada centavo.

— Encontrou um novo amor? — brinco.

Eu dou um tapinha no ombro dele.

— Diga ao delegado que ele ganhará o que quiser. Basta dizer o preço.

Virando-me para a casa, pulo os degraus da frente.

— Onde você está indo? — Ele indaga.

Eu limpo uma mão no meu rosto, e tiro o sangue. Não é meu.

— Estou indo ver sua mãe.

Meus filhos se separam de mim enquanto ando até a sala segura.

Abrindo um painel oculto, digito o código e a porta dá um click.

Antes que eu consiga me mover, Renata pula em meus braços.

— Eu pensei que eles iam matar você. — Ela treme quando a abraço.
Percebe meu sangue. — Oh meu Deus, está machucado?
— Não. — Eu me viro e a carrego para o meu quarto principal. —
Este sangue não é meu.

— Acabou? Essa guerra...

— Contra os Bianconi? — dou uma gargalhada. — Meu amor, eu sei


bem como eles funcionam. Enquanto houver um vivo, sempre haverá guerra.
Foi assim comigo. Quando não me mataram, eu voltei e me vinguei. Todos
eles tiveram o mesmo treinamento. — Ando até o banheiro principal, coloco-
a no balcão e depois tiro a roupa, jogando minhas roupas ensanguentadas de
lado.

Seus olhos se arregalam quando eu chego ao chuveiro e ligo a água


quente. Então seu olhar viaja para o meu pau duro como uma rocha. Matar
por ela aumentou tanto meu sangue que não consigo pensar em mais nada
que não seja fodê-la.

— Venha — ordeno.

Ela desce do balcão e se aproxima. Pego a frente da camisa que Renata


veste — acho que a minha, aliás — e a rasgo.

Botões estalam no azulejo quando suas curvas deliciosas são reveladas.


Meu pau está duro, pronto para reivindicar minha mulher. Essa guerra pode
não ter terminado, mas eu já venci.

Inclinando-me, capto um mamilo na boca. Seu grito de surpresa é cheio


de inocência, mas o jeito que ela passa as mãos pelos meus cabelos – já é de
uma mulher que entende o que significa prazer.

Tiro a calcinha e a carrego para o chuveiro. O sangue escorre pelo ralo


enquanto a água quente flui sobre nós.
Pressionando as costas contra o azulejo, beijo sua garganta.

A morte e a vida, tão lado a lados.

— Lucas! — Ela puxa meu rosto para o dela e nós compartilhamos


um beijo ardente.

Quando pressiono meu pau em sua boceta, ela geme um pouco. Eu sei
que ela está dolorida, mas minha necessidade dela não pode ser negada. Com
movimentos lentos, eu provoco seu clitóris, correndo meu pau ao longo de
sua pele quente e molhada. Em pouco tempo, ela está agarrando meus
ombros e arqueando contra mim, seu corpo é meu para o que eu quiser.

Sua respiração é irregular, seus olhos selvagens enquanto eu mergulho


nela. Engolindo seu grito, eu empurro todo o caminho para dentro, enchendo
minha deusa com meu pau enquanto o sangue de seus inimigos lava pelo
ralo.
18
Renata
Eu fiz a minha escolha. Não a melhor escolha, mas a que precisava
fazer.

Escolhi Lucas. E agora era dele, de corpo e alma. Enquanto seu corpo
cheio de adrenalina me entorpece de prazer embaixo da água, analiso meu
futuro.

Sou da Rosa Negra. Com meu nome, meu sangue. Aqueles homens
serão minha família, assim como Emanuel. Estou orgulhosa por ter sido
escolhida por ele para dar início a sua dinastia.

De repente, seus olhos encontram os meus. Eu traço meu dedo em seu


rosto e beijo seus lábios com fome, querendo que saiba que estou lá com ele.
Nós dois precisamos disso. Meu corpo não se importa com a pequena dor de
perder minha virgindade apenas algumas horas atrás. O desejo de estar
conectada a ele da maneira mais primitiva é maior.

— Mete com mais força — sussurro as palavras contra seus lábios,


deixando-o saber que preciso dele.

Lucas rosna com minhas palavras e começa a me penetrar mais fundo.


Nós dois deixamos o momento nos levar, esquecendo tudo ao nosso redor.

— Eu nunca vou negar qualquer coisa que você pedir — jura.

Uma de suas mãos agarra minha bunda, seus dedos me aranham.

— Isso será rápido. Na próxima vez passarei horas adorando você do


jeito que merece, mas hoje tenho obrigações, minha deusa.
Ele estende a mão livre para esfregar meu clitóris, meu corpo enrolado
firmemente em torno dele. Seu toque é o que me leva ao limite. Eu grito seu
nome. Meu corpo trava em torno dele com força, nunca querendo deixar seu
abraço. Agarro-me a ele porque esse homem se tornou meu tudo. Eu sei que
ele sempre será meu tudo.

— Isso mesmo, venha. Vou derramar cada gota de mim nessa boceta
apertada.

Minha respiração estremece com as palavras dele. Seu calor derrama


dentro de mim, e eu gemo seu nome enquanto meu corpo inteiro fica
relaxado em seu aperto. Não preciso me preocupar em me segurar. Ele faz
isso por mim enquanto lava meu corpo com ternura.

Quanto tudo termina, Lucas desliga a água e me leva do chuveiro. Ele


nos seca antes de me sentar no balcão ao lado da pia. Sai por um momento, e
depois retorna com as roupas.

Enquanto ele me ajuda a vestir-me, penso no contraste de suas ações.


Ele é um assassino frio, um homem que comanda uma máfia. Ao mesmo
tempo, ele é suave e gentil comigo.

— Você quer me dizer alguma coisa?

Ele me lê facilmente. Coloco minhas mãos em seu peito.

— Você quer voltar para sua família? — Eu posso sentir seu corpo
tenso sob as pontas dos meus dedos.

— Não.

Ele relaxa sob o meu aperto.


Eu olho para encontrar seus olhos.

— Não importa o pouco tempo que lhe conheço, eu sinto que o amo.

Lucas sorri.

— É claro que me ama. Sou extremamente amável — ele brincou.


Depois, respirou fundo. — Eu também te amo, esposa. — Ele se inclina, me
beijando profundamente. Quando ele se afasta, pressiona sua testa na minha.
Eu corro minhas mãos por suas costas largas e nuas.

— Mas amor não surge assim... Amor não devia vir com o tempo?

— Existem pessoas que passam a vida ao lado de outra e nunca


experimentam o amor. Eu não me importo que nos conhecemos há poucas
horas, sei o que eu sinto. E você logo terá certeza do que sente, também.
Porque é inevitável.

Eu tento puxá-lo para mim, querendo que ele me leve de volta para
nossa cama.

— Você me tenta, esposa. — Ele me levanta do balcão. Depois dos


negócios, sou todo seu. — Lucas me dá uma piscadela que não ajuda a
esfriar minha luxúria por ele.

Coloco uma camisa limpa, que uso como vestido. Chinelos


confortáveis logo estão nos meus pés.

— Magali irá cedo comprar roupas para você — ele avisa.

— Obrigada.

— Nunca pensei que ver uma mulher usando minhas roupas me


deixaria tão encantado — ele murmura.

Ele faz com que me sinta bonita. É um sentimento novo, potente. O


brilho em seus olhos me aquece.

Pouco depois Lucas está vestido com sua calça e camisa social. É
quase risível. Ele parece um homem de negócios, pronto para uma reunião
em sua empresa.

Tudo normal, não fosse os negócios o crime organizado e a reunião


algo a se tratar de mais assassinatos.

Esta é a nossa vida. Eu odiava isso há uma semana, mas agora aceito
esse destino. Por Lucas. Ele faz toda a diferença.

Lucas pega minha mão na dele. Ele me leva para fora do quarto e pelo
corredor. Nós descemos as escadas. Eu vejo todos os meus novos filhos
esperando. Muitos ainda tem sangue espalhado pelas roupas. Ele me guia por
um corredor em que não me aventurei ainda. Meu irmão fica na frente de
uma porta e sai do caminho.

Lucas acena com a cabeça enquanto abre a porta que leva ao porão.
Quando olho para as escadas, tudo é concreto. Não é nada como o resto da
casa. Está frio e vazio. Um arrepio percorre minha espinha, porque eu sei
quem estará no pé da escada. Será o fim da família Braun, mas o começo de
minha nova vida como Black Rose.
19
Lucas
Sinto orgulho de Renata. E orgulho de mim mesmo por tê-la escolhido.
Ela é forte. Ela avança pelas escadas sem vacilar. Cada passo a aproxima de
uma decisão que definirá o curso de nossa família, mas ela não pestaneja.

Renata é admirável. Ela é a mulher certa para ser a mãe da Black Rose.

Eu a conduzo mais fundo no porão, até a parte de trás, onde o chão está
manchado de sangue.

A Black Rose é construída sobre o sangue de seus inimigos. Esse


sangue deve ser derramado continuamente para nos manter fortes, para
proteger o que é nosso.

Andamos até chegarmos a uma sala de blocos de concreto com uma


pesada porta de aço. Ricardo e Enzo estão de ambos os lados, com os olhos
em mim.

Renata aperta minha mão. Aceno para Enzo, e ele abre a porta.

Ela engasga — talvez com o cheiro — mas me segue para dentro.


Uma lâmpada nua paira acima, a luz dura no espaço pequeno. É um local
sujo porque é um local destinado a cadáveres.

Otávio Braun está sentado no centro, com os braços e as pernas atados


a uma cadeira, o olho esquerdo inchado e fechado.

Normalmente, Otávio já estaria morto. Seu sangue estaria misturado


com todo o resto. Esse local é como um deus pagão que exige seu sacrifício.
Ano após ano, ele recebe sua oferta em sangue. Hoje é diferente, no entanto.
Afinal, a decisão não é minha.
Eu a puxo, segurando-a na minha frente, em meus braços, enquanto
encaramos o tio dela.

— Tem algo a dizer, Otávio?

Ele cospe sangue no chão.

— Para você?

— Para sua sobrinha.

Ele olha diretamente para ela.

— Só vejo uma puta em minha frente.

— Fale com cuidado, desgraçado. Ela é quem decide o seu destino.

Renata fica ainda mais tensa e se vira para mim.

— Você sofreu mais nas mãos dos homens Braun do que qualquer um.
É justo que decida o que acontece com a sua casa.

Ela volta o olhar para Otávio.

Eu sei o que sente. Já experimentei a mesma sensação anos antes, ao


puxar o gatilho que matou Pierre.

— Fui mantida em cárcere durante toda a minha vida. Esses homens


mataram minha mãe e me venderam para Bruno Bianconi. Por que deveria
me importar com o que acontece com ele?

— Renata. — O tom de Otávio muda, suaviza, fica sedutor. — Por


favor, minha querida sobrinha. Não...

— Conte-me sobre minha mãe. — O gelo em sua voz envia uma


necessidade latejante diretamente para o meu pau.

— Como assim, Renata? Sabe que nada fiz contra ela.

— Não diretamente, não é? Foi meu avô que a matou. Mas, quero
saber o aconteceu com ela.

Ele desvia o olhar com um único olho bom.

— Diga-me! — Seu grito bate nas paredes de blocos de concreto.

Agora ele começa a tremer, e uma nova poça de mijo escorre dele.

— Ela... ela queria ir embora. Levar Emanuel e você. Seu pai estava
morto, então Olívio, ele não a deixou ir, então...

— Você sabia? — Ela dá outro passo à frente, e eu sigo, mantendo-a


pressionada contra mim, mostrando a ela o quanto sua força me excita.

— Eu sabia o quê?

— Você sabia que a matariam?

Ele desvia o olhar novamente. Patético.

— Você sabia, não sabia? — Suas palavras são como um chicote que o
atinge. — Você sabia, e concordou em matá-la, não é? É assim que
funciona. Os homens decidem e as mulheres morrem?

Ele treme tanto que a cadeira sacode.

— Todas essas vezes que chorei por ela... Todos vocês... Meus primos,
tios, meu avô... Todos vocês aprovaram sua morte, não é? — Com um
movimento rápido, ela pega uma chave de fenda sobre uma mesa lateral e se
aproxima dele. — Você é uma das razões de ela estar morta.

Segurando a chave de fenda, ela o golpeia.

Ele grita e o sangue escorre pela testa.

— Renata, eu tentei salvá-la.

— Conte suas mentiras para outra pessoa. — Ela joga a chave de


fenda para baixo e se afasta enquanto Otávio chora como o pedaço de merda
insignificante que ele é.

Aproximo-me de Renata e beijo seus cabelos.

— Sinto muito. — Otávio soluça. — Não me mate. Sua mãe sabia dos
riscos. Ela escolheu se casar com seu pai. Ela...

Ela sabia dos riscos. Francine não. Francine amou Victor e morreu por
causa disso. Esse merda não merecia destino diferente.

— Ela foi vendida para ele, não foi? Do mesmo jeito que me venderam
para Bruno.

Ele engasga, agora completamente sem desculpas.

— Renata, por favor. Eu sou seu sangue.

Ela se vira e passa os braços em volta do meu pescoço, depois me dá


um beijo que incendeia minha alma.

— Meu marido é meu sangue. Os homens lá em cima são meus filhos.


Eu sou a Senhora desse lugar. Eu sou a mãe da Black Rose.

Com um olhar que poderia incendiar uma cidade, ela se vira para ele.
— E mataremos todos aqueles que procurarem nos destruir.

Enzo e Ricardo, atrás de nós, sabem o que fazer. Não vou dar a Otávio
a honra de matá-lo.

Posso ouvir seus gritos de desespero enquanto saio da sala com Renata
segurando meus braços.

Depois viro para o meu escritório, batendo a porta atrás de mim.

— E os Bianconi? — Ela está sem fôlego quando eu a sento na mesa.


Baixo meu zíper, expondo meu pênis pesado, duro. — Lucas... Precisamos
conversar!

Otávio está morrendo aos nossos pés, a velha família se desintegrando


à medida que construímos a nossa. Eu me ajoelho e a lambo, chupando até
que ela esteja ofegante, com as mãos no meu cabelo. Então eu levanto,
empurro meu pau e a reivindico.

Ela arranha meu pescoço, sua boca é uma coisa selvagem na minha
enquanto eu a fodo com força. Ela aguenta. A mesa arranha o chão enquanto
puxo sua bunda para a frente, ficando tão profunda nela que ela vai me sentir
fodida pelo resto do dia.

— Os Bianconi também conheceram seu fim.

Envolvendo as pernas em volta de mim, ela diz:

— Mais.

Eu dou a ela, cada golpe punitivo me tornando louco por ela.


Empurrando fundo, eu a revisto com meu prazer enquanto ela geme e sua
buceta espasma ao meu redor. Nosso amor é explosivo, o desejo queimando
tudo o que veio antes. Ninguém pode resistir a nós.

— Acredite em mim. Os Bianconi também conheceram seu fim —


repito.

É uma promessa. Vou cumpri-la ao lado de Renata.


Demais livros do universo Bianconi

Ela era o paraíso, mas ele foi feito para o inferno.

Victor Bianconi era membro da máfia que tinha origem na Itália e agora dominava a Serra Gaúcha. Ele
havia sido salvo por aqueles bandidos e devia a eles mais que a vida, toda a sua lealdade.
Sem princípios morais que pudesse carregá-lo, ele sempre acreditou que cumprir seu papel de vilão
bastaria... Até ela aparecer.
Francine Stein era de uma boa família. E era, igualmente, uma boa pessoa. O tipo de gente que jamais
iria se aproximar de um bandido como Victor.
Mas, o destino provou-se ser mais forte que tudo.
Anjo e Demônio queriam coexistir.
Aquilo seria, definitivamente, o apocalipse.
Quando eu tinha dez anos, os Bianconi me levaram... me estupraram... me escravizaram... Mas, com a
morte do chefe da máfia, eu consegui fugir.
E não havia lugar mais seguro para me esconder do que a pequena cidade de Esperança, lugar onde
Pierre Bianconi conheceu seu fim.
O que eu não esperava é que nessa cidade eu conheceria um homem que desejava uma esposa e um
filho. Um bom homem...
Como eu poderia ser isso para ele?
Fugir não é a melhor solução?
Contudo, o que fazer quando me descubro grávida?
Os Bianconi estão me caçando, e o único abrigo que consigo imaginar é nos braços fortes do único
homem por quem senti algo... O pai do meu filho.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por
literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais
de Andersonte livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.

WWW.JOSIANEVEIGA.COM.BR

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