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Copyright © 2022 Carol M. C.

Todos os direitos reservados.

Capa e diagramação
Kamila M. P. e Carol M. C.

Revisão
Kamila M. P.

Texto em conformidade com as normas do novo acordo ortográfico


da língua portuguesa (Decreto Legislativo Nº 54 de 1995).

1ª Edição - 2022

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, mecânico ou eletrônico, incluindo fotocópia e
gravação, sem a expressa permissão da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
Nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

______________________
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da
Para todas as mulheres, que mesmo em momentos difíceis,
conseguem achar forças para enfrentar qualquer desafio… com a
ajuda de muita música, claro.

E aos Stones, por me inspirarem na criação da primeira parte


da trilogia com a maravilhosa música Sympathy For The Devil.
A autora está ciente de que o título do livro é correspondente a
uma música reconhecida internacionalmente. Todos os direitos
autorais da música Sympathy For The Devil estão reservados à
banda Rolling Stones. Sendo assim, o título deste livro é apenas
uma dedicatória a história fictícia, que envolve a música da banda.
O Agente do FBI, John Neeson, é um homem que aprecia seu
estilo de vida cafajeste e cheio de emoções, administrando seu
tempo entre o trabalho, sendo o policial mau, e com as mulheres.
Mas isso muda quando uma baixinha marrenta, com grandes olhos
cor de mel e rosto de boneca, se muda para o apartamento ao lado
do seu, e logo, ele irá perceber que ela tem muito mais do que
beleza e um excelente gosto musical.
Sofya Viatcheslav aprendeu desde cedo que a vida pode ser
dura, mas conseguiu se sair bem, conquistando a sua sonhada
promoção para o cargo de Editora Executiva na maior revista de
moda do mundo. Independente e boemia, Sofya adora ser livre,
cortando qualquer possibilidade de romance. Ao conhecer seu novo
vizinho, Sofya achou que seria mais um dos seus joguinhos de
sedução. Mal sabe ela.
Juntos, os dois começam uma amizade com muitos benefícios
e repleta de boas músicas. Até John perceber que ele quer muito
mais do que isso, jurando não sossegar até conquistar o que quer,
porém não imaginava que a Garota Rock’n Roll seria a mais difícil
de suas missões.
Todas as músicas deste livro estão nesta playlist, organizadas
na ordem cronológica dos capítulos. Por isso, recomendo a leitura
escutando as músicas. Garanto que a experiência será melhor
ainda! Escaneie esta tag no Spotify para começar a leitura:
Comecei essa história louca em 2015, tendo coragem para
postá-la em uma plataforma de Fanfics somente em 2016. E só
agora, ela vem totalmente repaginada e lançada na Amazon. John e
Sofya estão no meu coração, e espero que fiquem no de vocês
também!
Sympathy For The Devil não tem como objetivo incitar ou
apoiar qualquer tipo de abuso, violência, uso de drogas ou
abandono infantil, sendo estes os temas tratados nesta história
ficcional. É importante ressaltar ao leitor a existência de alguns
gatilhos fortes, que poderão causar impactos.
Sendo assim, fica aqui um alerta para a leitura:
Este livro contém cenas de violência, como agressões verbais
e físicas. Nudez e cenas de sexo. Uso de drogas. Linguagem adulta
e obscena. Transtornos psicológicos. Questões sobre abandono
infantil.
Se você possui algum trauma relacionado a estes temas, não
é recomendável a leitura deste livro. Boa sorte e boa leitura!
Acordei assustada, observando o estranho ambiente que me
cerca. Mas que droga! Sempre o mesmo maldito pesadelo... por que
ele é sempre tão real, como uma lembrança viva na mente? Me
lembro de quando acordei naquela noite, há dezessete anos atrás,
quando ela me deixou. Lembro de chacoalhá-la, mas ela não
acordava, de gritar para que ela me ouvisse, de chamar por ajuda,
de rezar para que ela voltasse para mim, mas isso não aconteceu.
Lembro também das sirenes da polícia e da ambulância ecoando no
fundo da minha mente quando uma moça de branco me falou o que
eu me recusava a acreditar — “Sinto muito, querida, mas ela se foi.”
— e ali, meu mundo desmoronou. Adoraria dizer que isso é só um
pesadelo, mas a realidade é muito cruel, o meu passado é muito
cruel e faz questão de nunca me deixar esquecê-lo.
Lá se vai mais uma noite de sono, não só pelo fato destes
pesadelos virem sempre quando meu emocional está aflorado, mas,
também, por esta ser a primeira noite em meu novo apartamento.
Eu ainda não me acostumei com meu novo lar, e a bagunça por
todo o lugar está me dando nos nervos. Fui para a cozinha e
enquanto esquentava a água para meu chá, relembrava de novo o
pesadelo, que de novo não tem nada. Minha mãe me deixou quando
eu tinha acabado de completar oito anos de idade, eu a amava
tanto, e ainda continuo a amando, mas o seu coração quebrado
acabou a levando de mim.
Posso dizer que ela morreu de amor, não literalmente, mas foi.
Meu pai nos deixou quando eu tinha cinco anos de idade e, desde
então, ela não soube suportar esta perda. E quando falo “perda” e
“nos deixou”, isso sim, foi literalmente. A verdade é que ele nos
abandonou, e o motivo eu continuo não sabendo, mas tenho alguma
noção pelas brigas que ele e minha mãe estavam tendo um pouco
antes dele sair da nossa casa, como no dia em que o vi agarrando
os ombros de minha mãe, gritando — “Você não entende, isso não
é o que eu quero, nunca foi o que eu sonhei!” —. Ao longo dos
anos, deduzi que a vida que nós tínhamos não era o suficiente para
ele. Eu amava aquele filho da puta, amava muito! Mas isso se
transformou em raiva e amargura a partir do momento em que ele
nos abandonou, porque foi depois disso que eu vi a minha mãe
definhar até a morte. Ela sempre foi muito doce, alegre e romântica,
até ele ir embora… foi aí que ela se tornou outra pessoa. Uma
pessoa fraca, alcoólatra que, quando a bebida já não bastava,
recorria às drogas. Ela bebia dia e noite, até que, exatamente
três anos depois da partida do meu pai, ela sucumbiu a tudo isso,
me deixando sozinha.
Eu nasci e cresci em Nova York, para ser mais exata no bairro
de Little Ukraine. Depois da tragédia com a minha mãe, sem
parentes próximos nos EUA e com um pai sumido por aí, acabei
indo para um orfanato no Brooklyn. Claro que as famílias nova-
iorquinas não iriam escolher uma criança de oito anos para adotá-la
e assim, como de fato imaginei, aconteceu. Hoje tenho vinte e cinco
anos e sobrevivi a tudo o que passei. Não foi fácil, mas também não
foi tão difícil assim crescer por lá, principalmente ao lado da minha
melhor amiga-irmã, Shantell Whitaker. Pouco antes de
completarmos dezesseis anos, uma tia distante de Shantell a
procurou, dizendo que sempre procurou pela irmã drogada, porém,
o que achou foi somente sua sobrinha em um orfanato. Então,
Shantell foi embora, me deixando sozinha lá até meus dezoito anos.
Ela e sua tia, Tina, sempre iam me visitar, o que me ajudou bastante
na época, já que estávamos longe uma da outra e estudávamos em
escolas diferentes.
Shantell foi fundamental para me ajudar com toda aquela
merda que estava a minha vida. No orfanato aprendemos a nos
defender das crianças mais velhas que insistiam em ficar no nosso
pé e sempre ajudávamos uma a outra, pois sabíamos o quão era
difícil estar ali, naquele lugar. Diferente do que aconteceu comigo,
a mãe de Shantell a abandonou nas ruas e seu pai está na cadeia,
cumprindo perpétua por homicídio. Alguns anos depois de ir para o
orfanato, Shantell descobriu que sua mãe havia sido
encontrada morta em uma das ruas de Nova York. Ela disse que
não tinha se importado tanto, já que sua mãe nunca havia cuidado
dela como uma mãe realmente deveria, mas sei que no fundo isso
sempre a magoou. E assim como eu, Shantell era pobre e teve uma
infância difícil, então vimos a oportunidade de nos reerguer através
da nossa amizade.
No fim do ensino médio, e depois de muito batalhar, ganhei
uma bolsa para cursar jornalismo na Columbia University. Modéstia
à parte, sempre fui muito inteligente e esforçada, além de bonita,
claro. Com isso, assim que entrei na faculdade e saí do orfanato,
ganhei algum dinheiro trabalhando no próprio jornal da faculdade.
Foi aí que pude chamar Shantell para dividirmos um pequeno
apartamento no Harlem. Minha amiga, por sua vez, sempre amou
dançar e tentava, desesperadamente, uma bolsa na Juilliard.
Enquanto tentava ganhar sua sonhada bolsa, seu emprego de
garçonete nos ajudou com o aluguel. No ano em que me formei, fui
chamada para estagiar em uma das maiores revistas de moda do
mundo, a Glam Magazine EUA. Eu amo o segmento da moda, mas
ainda não é o meu objetivo. Quando eu me formei já era uma
repórter especial e, na mesma época, Shantell finalmente conseguiu
a bolsa do seu tão sonhado curso de dança na Juilliard. Ela se
mudou para Midtown Manhattan com alguns amigos do seu curso e
fiquei com o apartamento só para mim, até dois dias atrás.
Enfim nossas vidas estavam tomando o rumo que sempre
almejamos, Shantell está trabalhando com os melhores dançarinos
de Nova York e eu fui finalmente promovida a editora executiva da
revista, por isso consegui comprar um apartamento melhor e mais
perto do trabalho. Eu realmente precisava achar um apartamento só
para mim, em que o orçamento coubesse no meu bolso e de fácil
acesso ao meu trabalho, mas isso foi uma tarefa extremamente
difícil no bairro de Upper West Side, apesar disso, consegui. Graças
a minha irmã do coração e seu namorado misterioso, que ainda não
conheço. Isso é outra coisa que também está me dando nos nervos.
Enfim, tudo bem, porque aqui estou eu, no meu novo
apartamento! Ele é bem rústico, com paredes de tijolinhos e
assoalhos de madeira, um pouco antigo, mas espaçoso e perfeito
para mim, com uma suíte, um pequeno escritório, cozinha, sala e
sala de jantar.
Sim, perfeito, mas eu estou completamente cansada e
estressada com tudo isso. O apartamento está uma bagunça por
conta da mudança, e o serviço de caminhão de mudança ainda não
havia entregado boa parte dela. Caixas e mais caixas, além de mais
trabalho com a minha nova posição de editora
executiva, contas, planilhas e já nem me lembro mais, são tantas
coisas! E aí vem aquele maldito pesadelo, para me deixar pior
ainda. Estou cansada e não consigo pregar o olho.
Peguei meu celular na bancada da cozinha enquanto tomava
meu chá, e quase o cuspi todo no chão quando a tela acendeu.
Mais um problema, um não tão difícil de lidar, mas que estava me
deixando muito irritada nestas últimas semanas: Chris Pattvish.
O cara não entende que eu não quero nada além de sexo e agora
está me aporrinhando dia e noite. Ele pode até ser extremamente
gostoso e nota 7, 7,5 na cama, mas totalmente chiclete e
achou mesmo que conseguiria fazer com que eu mudasse de
opinião sobre só ficar no sexo. Isso até semana passada, quando
perdi a paciência em nosso jantar e mandei ele ficar longe de mim,
de uma vez por todas. Aquela melação tinha que parar e eu dei meu
jeito, porque não tenho tempo, e nem paciência, para isso. Mas ele
não vem aceitando muito bem e fica me ligando, mandando
mensagens a todo tempo desde então. Isso me cansa demais.
Amo minha vida de solteira e pretendo continuar assim, sem
nada barrando minha liberdade. Também adoro sair, beber e transar
com quem eu bem entender. Não pretendo ficar igual minha mãe,
definhando por amor e deixando o que realmente importa de lado, e
assim vou indo muito bem, obrigada! Coloquei a caneca na pia, que
também está uma bagunça, e decidi que amanhã passarei o dia
todo tentando organizar cada detalhe, mas, para isso realmente
acontecer, precisarei de uma boa noite de sono antes.
A Flórida é um paraíso, mas não quando se está a trabalho,
então é bom estar de volta a Nova York, ou seja, estar em casa
novamente. Eu, meu parceiro, Preston Davis, e minha equipe
estamos atrás de um traficante, que vem dando muito trabalho ao
nosso governo, ao qual nós trabalhamos e nos paga muito bem, por
sinal. Sendo assim, precisava saber quem é o fornecedor daquele
traficante, como a droga entra em nosso país e para onde
é distribuída, porém perdemos o rastro do infeliz em Tampa Bay.
Além do mais, preciso saber o que está por trás de tudo isso,
principalmente depois de subir de cargo, no final do ano passado.
Em meus trinta e cinco anos de vida e, depois de quinze anos
servindo ao FBI, eu finalmente me tornei o chefe da agência de
Nova York e pretendo ser o melhor, por isso eu dou o meu máximo,
para continuar sendo o melhor. Isso vem de família, meu avô, meu
pai e meu irmão foram agentes do FBI, então não tive muita escolha
em relação a profissão, porém, se fosse para ter escolhido,
escolheria exatamente essa, porque sei que nasci para isso.
É sábado de manhã e eu estou exausto. Foram cinco dias de
investigações e trabalho árduo, além de quase 24h sem pregar o
olho. Já no corredor do meu apartamento, ouvi alguns barulhos
vindos do apartamento ao lado do meu, que antes estava vazio. Me
lembrei que durante a semana a senhora Johnson havia me ligado,
dizendo que tinha encontrado um novo comprador para
este apartamento. Eu tinha deixado claro para que ela me
esperasse para fechar o negócio, porém ela alegou que o
comprador era de confiança e estava realmente precisando comprar
um apartamento neste bairro, o que levantou um pouco minhas
suspeitas, mas isso irei tirar a limpo amanhã de manhã. Eu sou o
dono do edifício, por isso tudo precisa passar pela minha aprovação
antes. A família da minha mãe fez sua fortuna com aluguéis,
compras e vendas de imóveis em Nova York ao longo de sua
história, e fundou a Richard's Imobiliária. Esse edifício faz parte da
Richard’s, por isso o escolhi, é ideal para mim, fica bem próximo a
agência, e temos uma velha amiga de confiança, a
senhora Johnson, que o administra.
Estava colocando a chave para abrir a porta quando notei que
um dos barulhos vindo de lá era uma música... uma bastante
conhecida, por sinal. Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones,
tocava em alto e bom som, que ficou ainda mais alto quando a porta
do apartamento vizinho se abriu, me surpreendendo com o que eu vi
saindo de lá.
— ESTOU INDO! — gritou uma voz feminina, se debruçando
na grade do corredor. — Puta que pariu, que frio! — continuou,
colocando os pequenos braços em volta do corpo e descendo
a escada correndo.
E, Jesus, ela está quase nua em pleno inverno de abril,
vestindo apenas uma camiseta preta, um short jeans curto e
calçando chinelos... aquilo é uma visão, e que visão! Não acredito
que o mais novo comprador do apartamento ao meu lado é, na
verdade, UMA compradora, uma mulher! O que me
deixa preocupado, já que é um problema. Confesso que estava
esperando um sujeito de meia idade, gordo e barbudo sair de lá,
mas então a vejo. Gostosa pra caralho, corpo escultural, com seus
cabelos castanhos e longos presos em um rabo de cavalo, mas não
consegui ver seu rosto. Fui me aproximando mais da beira da
escada e da entrada do apartamento ao lado, observei as caixas e
entendi o porquê da pouca roupa quando senti o ar quente, que
vinha de dentro, batendo em mim. Escorei nas grades para tentar
ver o que estava acontecendo lá embaixo.
— Até que enfim vocês chegaram! — disse a minha mais nova
vizinha.
— Me desculpe, senhorita, mas tivemos muitas mudanças
ontem — respondeu um homem na portaria.
— A senhorita gostaria de ajuda com estas caixas? —
Reconheci a voz do James, o porteiro.
— Ah, minha querida, vejo que finalmente o restante de suas
coisas chegou. Mas... é só isso? — perguntou a senhora Johnson.
— Pois é, pelo visto só chegaram essas quatro caixas, não é
mesmo? — disse a vizinha misteriosa.
— Aham, tivemos alguns contratempos, mas até o final desta
tarde iremos trazer o resto.
— Tudo bem, mas, por favor, que seja até hoje! — respondeu
ela, quando escutei o barulho nas escadas.
— A senhorita tem certeza de que não quer mesmo ajuda? —
Ofereceu James, novamente.
— Não, obrigada, James e senhora Johnson, eu me viro.
Tenham um bom dia!
Escutei os passos ficarem mais perto e a vi equilibrando as
caixas em suas mãos e braços com dificuldade, confesso que foi
uma cena engraçada, mas não posso ficar aqui parado só
observando. Dei alguns passos na direção dela para ajudá-la.
— Eu ajudo você. — disse firmemente. E não foi um pedido.
— Está tudo bem, eu... — Ela parou de falar assim que nossos
olhares se encontraram, quando peguei a primeira caixa da pilha
amontoada em seus braços, revelando seu rosto.
Fiquei sem reação, parado, apenas a olhando. Deus... como
ela é linda! Com grandes olhos cor de mel que destacam seu rosto
de boneca. Um rosto tão lindo e angelical que tenho certeza que
esconde bem mais coisas que nada condizem a ele.
— Oi! — continuou ela, dando um sorriso tímido.
— Oi! — respondi, pegando outra caixa de seus braços. —
Nova vizinha, hein?!
— Acredito que sim — respondeu ela, revelando um sorriso
maior ainda.
Deus, olhe para esse sorriso! Lindo demais. Comecei a me
mexer e parei em frente a sua porta.
— Ah, entre, por favor! Pode colocá-las no chão.
Coloquei as caixas no chão, ao lado de tantas outras, assim
como ela fez. Levantei o corpo e olhei ao redor, voltando a olhá-la
depois. Que curvas, hm... olhe só essa bunda!
— Acabou de se mudar? — perguntei, me arrependendo na
hora de ter feito uma pergunta tão idiota quanto essa. Mas é claro
que ela tinha acabado de se mudar!
— Sim! Tentado organizar essa bagunça, como pode ver —
gesticulou com os braços para o apartamento.
— Eu acabei de chegar de viagem, mas posso te ajudar nisso,
se quiser.
— Não, tudo bem, não quero atrapalhar. A senhora Johnson
me avisou que você estava fora, você é dono do edifício, certo?
— Sim, eu sou, me desculpe por não ter me apresentado
antes. — Estendi minha mão para me apresentar. — Neeson, John
Neeson, muito prazer — falei sorrindo.
— Sofya, Sofya Viatcheslav. O prazer é todo meu, John —
apresentou-se com um sorriso e pegando minha mão de volta.
Trocamos olhares e continuamos com as mãos juntas, nos
cumprimentando. Hm, mãos pequenas, macias e delicadas, porém,
com um aperto bem firme, gostei disso. Desvencilhamos as mãos e
ela continuou.
— Espero que não tenha problema em eu não ter esperado
sua volta para me mudar para cá — disse ela, colocando as mãos
no bolso de trás de seu short. — Eu realmente precisava de um
novo apartamento.
— Sem problemas. Confio no julgamento da senhora Johnson
— menti, mas o que eu poderia fazer, não é mesmo? Ela é uma
delícia e agora é minha nova vizinha, além de ela ter mesmo cara
de confiável, como a senhora Johnson havia me dito ao telefone, e
tenho certeza de que ela usou isso para dobrar a pobre senhora.
— Que bom, obrigada! — sorriu ela, sem jeito, e eu preciso
sair daqui logo, pois meu pau já estava ficando duro.
— Não por isso. Bom, se não se importa, eu acabei de chegar
de viagem e preciso ir agora — disse, indo em direção à porta e
tentando disfarçar a ereção que já estava começando a ficar
evidente.
— Sem problemas, não quero tomar seu tempo. Muito
obrigada pela ajuda!
Ela foi me acompanhando até a porta e ficou escorada no
batente, até eu chegar em minha porta, a abrindo.
— E se você precisar de alguma coisa… — falei, apontando
para minha porta. — É só chamar — continuei, jogando uma
piscadela e entrando aos poucos em casa.
— Com certeza — sorriu ela de volta.
— Bem... seja bem-vinda e até logo, vizinha! — falei, dando
uma entonação a mais no “vizinha”.
— Obrigada! Até logo, vizinho — respondeu ela, igualmente no
meu tom, voltando para o seu apartamento.
Fechei a porta e encostei-me nela logo depois, dando um
grande suspiro. Meu cansaço foi substituído por uma ereção e uma
excitação louca. Espero que ela não tenha percebido o jeito que
fiquei, mas, meu Deus, o que é aquela mulher?! Aquela bundinha
redondinha, aqueles peitos maravilhosos, que não são fartos, mas
que cabem direitinho em toda palma de minhas mãos, as
preenchendo por completo. Só de lembrar me deixa com água na
boca... aquelas pernas torneadas, aqueles olhos grandes de
boneca, seus cabelos, que belo conjunto para uma pessoa
de 1,60 de altura! Mas confesso que estou um pouco preocupado,
aquilo é um problema para mim. Eu sigo aquela regra que "onde se
ganhava o pão, não se come a carne", ou coisa parecida, e isso se
aplica no trabalho e, agora, pela primeira vez em anos morando
aqui, irei precisar aplicá-la aqui também, ou pelo menos tentar.
Eu sou um cafajeste e não tenho vergonha de assumir isto.
Amo mulheres, todas as mulheres, independente da cor, etnia,
religião, tamanhos... mas amo ainda mais suas curvas, ou seja, as
voluptuosas, por isso não sosseguei até hoje, tem muita mulher por
aí e pretendo experimentá-las, uma por uma, enquanto tiver a
oportunidade. Já tive muito problemas com elas claro,
como mulheres melosas que ficavam no meu pé depois de uma
transa, namorados e maridos furiosos, e o pior, mulheres que
acharam realmente que fossem “a escolhida”, que acharam que
conseguiriam mudar minha vida, pensando que eu poderia lhes dar
algo sério. Não, não quero isso para mim, ainda não, não agora.
Estou bem vivendo assim, com uma para cada semana.
E se minha mais nova vizinha fosse mais uma das malucas
que vivem no pé depois de uma transa? Não posso arriscar e, por
isso, será um problema para mim. Merda, nesse momento eu
realmente queria que o mais novo comprador no apartamento ao
lado fosse um homem de meia idade, gordo e barbudo mesmo.
Seria tão mais fácil! Sou extremamente fácil para as mulheres, o
que deixa meu lado predador sempre alerta, e como inibir isso com
aquilo bem ao meu lado? Eu preciso, de agora em diante, tentar
pensar mais com a cabeça de cima do que com a de baixo em
relação àquele pedaço de mau caminho, pois senão, entrarei em um
grande problema.
Oi? Oi? Foi só isso que eu consegui dizer quando aquele
espetáculo de homem, alto, grande, com os olhos azuis mais lindos
que eu já vi na vida, me ofereceu ajuda... só isso! Mas também, foi o
máximo que consegui dizer, já que meu corpo ficou mole e as caixas
que estavam em minhas mãos quase foram parar no chão. E o pior
mesmo foi saber que ele é meu vizinho de porta! Meu Deus, como
irei suportar aquilo? Ele é maravilhoso, enorme, uma parede de
músculos bem definidos, uma barba charmosa e bem cuidada,
cabelo castanho escuro, nem tão curto e nem tão grande, com os
fios jogados para cima de maneira meio bagunçada, e, o que
é ainda melhor, uma bunda linda, uma verdadeira obra de arte. E,
bem... que pacote, já que, quando o vi entrando em seu
apartamento, não pude deixar de observar o volume que havia no
meio de suas pernas, confesso que fiquei salivando, mas a última
coisa que preciso é me envolver com uma pessoa que está perto
demais de mim e, principalmente, do meu refúgio. E se ele fosse
igual a Chris e alguns outros caras com quem eu já transei? Não
quero pagar para ver.
Fechei a porta e seu perfume másculo, marcante e delicioso,
ainda estava em minha sala. Quando fechei a venda do
apartamento com a senhora Johnson, ela me foi clara, dizendo que
deveríamos esperar pelo dono do edifício para concluir a venda,
mas com o meu jeitinho com as palavras — e a minha carinha de
pedinte que eu sempre uso ao meu favor — ela aceitou fechar o
negócio na mesma hora, porém quando ela falou do tal "dono
do edifício", eu nunca iria imaginar que fosse um Deus Grego como
aquele, e sim um cara meio velho, gordo e barbudo. O porquê? Eu
não sei, mas minha calcinha se manteria seca se fosse esse o caso
e, já que não é, terei que fazer de tudo para controlar minha garota
lá embaixo. Ao julgar por como ele me olhou, também terá que se
controlar, visto que quando colocamos as caixas no chão eu percebi
como ele me comia com os olhos. Tudo bem que a minha roupa
chamava um pouco a atenção, devido a época do ano, mas eu
odeio o inverno e, principalmente, andar com muita roupa, ainda
mais em casa, por isso sempre deixo o aquecedor no máximo e
ando com o mínimo de roupa possível pela casa.
Comecei a abrir as caixas que haviam chegado e, infelizmente,
não eram o restante das minhas roupas. Estou tão puta com aquele
serviço de mudanças, argh! Mas estou organizando o que é
possível, afinal, a maioria da mobília é nova, então comecei pela
cozinha, não aguentava mais vê-la bagunçada e nesta noite, já que
não vou sair, irei fazer meu primeiro jantar aqui. Eu tinha chamado
Shantell, mas ela irá a um jantar na casa de seu namorado. É um
pouco triste ver sua melhor amiga-irmã namorando e perder um
pouco de espaço na vida dela, mas o que me conforta é que ela
realmente está feliz e, pelo que ela me fala, este tal de Preston
parece ser um cara legal, diferente dos que ela já namorou. Por isso
terei que entender, mas deixei claro a ela que quero conhecê-lo o
mais breve possível.
Eu amo cozinhar, é um hobbie que me relaxa, assim como
correr e dançar. A cozinha é um lugar sagrado para mim e isso foi o
diferencial na compra deste apartamento. Ela não é tão grande, mas
é linda, com armários em madeira rústica geladeira com porta dupla
em inox fazendo o conjunto com o forno também em inox, ambos
encostados na parede, já o cooktop inox e a pia estão do outro lado,
colocados em uma grande pedra de mármore preto. Em frente a
eles há uma bancada em madeira rústica, um pouco mais baixa,
contrastando com os banquinhos de aço inox. É perfeita! E assim,
fui logo procurando espaços para meus aparelhos super especiais
da Kitchenaid, que me custaram uma boa fortuna, mas são os meus
xodós.
É domingo a noite e eu já tinha conseguido organizar setenta
por cento do apartamento, graças ao serviço de mudança que
cumpriu o prazo e entregou o restante da mudança ontem. Ainda
falta organizar uma das partes principais: o meu closet. Eu
tenho milhares de roupas, infinitos sapatos, uma coleção enorme de
lingeries e bolsas para todos os gostos. Esse é um dos meus
maiores prazeres em trabalhar para uma das revistas de moda mais
famosas dos EUA e do mundo: ganhar a maioria disso tudo, das
melhores marcas e grifes do mundo da moda. E eu não sabia por
onde começar… para falar a verdade, eu não sabia se aquele closet
iria ser grande o suficiente para aquilo tudo. E foi por isso que
resolvi chamar alguém especializado em organização que, por
acaso, é meu amigo e um dos melhores — e maiores! — colunistas
de moda e organização da revista, possivelmente do país e do
mundo também. Nigel Thompson, em pessoa! Liguei para ele,
que virá ainda hoje.
O interfone tocou e é ele, por isso o mandei subir. Estou com
meu roupão fofo, rosa bebê, que vai até os joelhos, e meus
chinelos. Já conheço Nigel muito bem, por isso não temos mais
esse tipo de formalidade um com o outro. Ouvi as batidas na porta e
fui abrir.
— Olá, vizinha.
Meu novo vizinho gostosão está bem na minha frente,
em minha porta me surpreendendo, e está mais lindo ainda com
uma blusa de moletom cinza, de Princeton, uma calça de moletom
preta, tênis esportivo, e, é claro, aquele sorriso... um sorriso torto
que quase fez minha calcinha cair. Ele me olhou de cima a baixo,
não escondendo o olhar de cafajeste.
— Olha só! Olá, vizinho. Algum problema?
— Hm, não exatamente, mas você não assinou alguns papéis
da escritura do apartamento e, como a senhora Johnson deixou a
papelada comigo para que eu entregasse para a imobiliária, percebi
que faltaram algumas coisas.
— Jesus, Maria e José! Se eu soubesse que você estaria
acompanhada, e muito bem acompanhada por sinal, eu nem teria
vindo hoje, querida!
Pulei quando Nigel apareceu na ponta da escada, colocando
suas mãos na cintura, comendo John com os olhos, e depois
olhando para mim com uma cara sapeca. John o olhava com
curiosidade e eu ri, sem graça.
— John, este é meu amigo, e salva vidas, Nigel. Nigel, este é
meu novo vizinho, John — disse, os apresentando.
Nigel foi se aproximando de John, estendendo a mão e
olhando com a cara mais oferecida possível.
— Muito, muitíssimo prazer, John. Nigel Thompson!
Rindo, John pegou sua mão e retribuiu o cumprimento.
— John Neeson. Prazer em conhecê-lo, Nigel.
— Atrapalho alguma coisa aqui? — perguntou Nigel, me
olhando de maneira sugestiva.
— Ahm, não... John só veio me entregar alguns papéis da
compra do apartamento nos quais eu não havia assinado antes,
mas... jurava que tinha assinado tudo.
— São tantos papéis que não a culpo — respondeu ele, rindo.
— Sim... vou pegar uma caneta, você quer entrar?
— Ah, tudo bem, isso é bem rápido.
— Se os dois me dão licença, eu vou entrar e ir direto ao que
eu vim fazer aqui hoje, quero ver logo a dimensão do problema que
irei enfrentar — falou Nigel, indo em direção ao meu quarto.
— Está tudo bem aqui? — perguntou John, cerrando o olhar.
Peguei a caneta e retornei para a porta, dando um sorriso
tímido, e pegando a pasta dele com os papéis em cima para assinar.
— Sim! Nigel é um personal organizador, além de trabalhar
comigo e ser meu amigo, por isso o chamei aqui hoje para me
ajudar com...
— Você ficou maluca, Sofya?! — virei, pulando novamente
com o susto que Nigel me deu com seu grito. — Quando você falou
algumas roupas eu sabia que era mentira, mas você irá precisar de
uns dois apartamentos como este, no mínimo, para colocar tudo
aquilo de coisa! E, praticamente, aquele quarto inteiro só para a sua
coleção de lingeries! — continuou, sendo muito exagerado.
Como estou de costas para John, corei, fechando meus olhos,
totalmente envergonhada, virando-me devagar para olhá-lo e
continuar o que estava dizendo antes. Ele está com suas
sobrancelhas arqueadas, ainda olhando para Nigel de maneira
curiosa e divertida, voltando a me olhar depois, entortando um
pouco sua cabeça e me observando curiosamente, tentando
disfarçar um sorriso no canto de seus lábios... droga!
— O chamei para organizar o meu closet — sorri sem mostrar
os dentes, ainda envergonhada, concluindo o que eu estava dizendo
antes.
Voltei a olhar para os papéis, os assinando, enquanto Nigel ia
para lá e para cá, murmurando coisas que deixei de
ouvir, esperando ansiosamente John dizer alguma coisa.
— É... parece ser bastante coisa então — disse ele, sorrindo.
— Sim, pois é... — sorri, timidamente. — Prontinho! — falei, e
entreguei os papéis para ele.
— Desculpe te incomodar a esta hora da noite para fazer isso,
mas amanhã vou até a imobiliária bem cedo.
— Não tem problema, se houver mais alguma coisa que eu
possa fazer... — Como te despir e te chupar agora, por
exemplo. — É só me procurar — continuei, sorrindo.
— Claro, muito obrigado. E boa noite, vizinha.
Ele se despediu, indo em direção ao seu apartamento, dando
um sorriso torto bem sugestivo para mim. Escorei no batente da
porta, colocando uma mão em minha cintura e cruzando minhas
pernas, o observando.
— Boa noite, vizinho — levantei minhas mãos e mexi os dedos
para lhe dar tchau. Entrei, dando um grande suspiro.
— Ok, você vai me contar tudinho agora, sua safada! —
exclamou Nigel.
Olhei para Nigel, que está com uma das minhas bolsas Chanel
na mão e os braços cruzados em seu peito, me observando com
seu olhar inquisidor.
— Tudo bem, mas precisava de tudo aquilo?
— Você acha mesmo que eu não iria provocá-lo com sua
coleção de lingeries? Se você não pegou ele ainda, depois
dessa com certeza irá.
Tagarelando sobre o assunto, ele foi em direção a minha
vitrola, pegando o vinil da Madonna e o colocando nela. Eu ri e o
olhei.
— Não posso pegar ele, e nem devo. Ele é meu vizinho e não
quero problemas em meu novo apartamento.
— Tudo bem, ele é seu vizinho de porta, mas você VIU esse
vizinho? Uma pena ele não ser gay!
— E como você sabe?
— Querida, você não percebeu como ele te olhou? Se eu não
estivesse aqui, aquele belo par de olhos azuis te despiria inteira e
faria loucuras com você.
Ri, indo em direção à geladeira para pegar o vinho enquanto a
música Justify My Love começou a tocar. Eu amo uma boa música!
Coloquei o vinho na bancada e fui em busca das taças.
— Não é para tanto. Ele só veio me entregar alguns papéis
para assinar, já que ele é o dono do edifício.
O que era estranho, porque me lembro de ter assinado todos
os papéis com o corretor e a senhora Johnson. Porém parece que
nem todos, por sinal... mas eu juro que assinei! Que estranho. Não
posso estar tão louca assim.
— Aham, sei. Enfim, quero ver você, LOGO VOCÊ, resistir a
um homem igual aquele.
— Nem me fale. Ainda estou molhada aqui.
Rimos. Coloquei o vinho nas taças e entreguei uma a Nigel,
que já havia sentado em um dos banquinhos da bancada enquanto
estou debruçada na pedra da pia, pegando a outra taça. Erguemos
nossas taças e brindamos.
— Um brinde ao seu novo lar e a sua promoção, no qual
centenas de garotas se matariam para estar onde você está agora!
— Sim! Um brinde a minha merecida conquista!
Demos um gole em nosso vinho e ele continuou.
— Ah, sim! E ao novo vizinho, claro — disse ele, me olhando
de lado com um sorriso torto.
— Você é terrível, sabia? — respondi, rindo.
— Terrível é você, querida! Como me dá um trabalho desses
assim? Eu nunca irei acabar hoje! Vou ter que vir aqui pelo menos
umas quatro vezes nesta semana para organizar tudo aquilo!
— Sim, eu sei, me desculpa! Por isso precisava de você
urgentemente. Essa mudança me deixou maluca!
— Ok, vou te dar um desconto. Mas vamos lá, não tenho a
noite toda. Hoje vou encontrar o Alejandro.
— Uh! Aquele latino gato da última balada? — perguntei, com
o olhar sugestivo para ele.
— O próprio! Então não vamos perder tempo e começar os
trabalhos. Traga a garrafa, querida, isso não será fácil — disse ele,
indo em direção ao meu quarto com sua taça, desfilando.
Peguei a garrafa e fui rapidamente em direção ao meu quarto,
imitando um choro sofrido.

Já é quarta-feira e a semana está passando muito


rápido! Estou em minha sala, na redação, quando Lea, minha
assistente, entra.
— Chefe, Donatella está te chamando na sala dela — falou,
com uma cara não muito boa.
— Qual é o problema dessa vez? — respondi, colocando
minhas mãos no rosto e dando um grande suspiro.
— Ela está o cão hoje — colocou uma das mãos ao lado da
boca para cochichar algo. — A assessora do Palace desmarcou a
suíte presidencial para semana que vem, e lá seria o local da
sessão de fotos da capa de agosto.
— Ai, mais essa! Estou indo.
Lea já havia saído da minha sala e, quando eu estava me
levantando, Kate, nossa editora de moda e uma das minhas amigas
aqui dentro, apareceu na minha porta.
— Você ficou sabendo, certo?
— Lea acabou de me contar.
— Ela surtou! Continua louca por conta daquela capa no
Palace e eu vou precisar da sua ajuda para dar uma ideia bem
melhor que essa. Se tivermos sorte, claro.
Kate entrou na revista começando de baixo, assim como eu, e
praticamente junto comigo. Por isso, ficamos amigas rápido, e assim
como eu, ela é uma excelente profissional. Nossas ideias batem,
além de sermos super sincronizadas, o que facilitou — e facilita —
nosso trabalho juntas. Sem contar que ela é linda, inteligente, ruiva,
com cabelos na altura dos ombros, um pouco mais alta que
eu, magérrima, com olhos verdes, que se destacavam em seus
óculos de grau e um rosto perfeito com várias sardas.
— Eu sei. Não entendi essa fixação pelo Palace. Telefonei
para a Emily semana passada e ela disse que o Palace é muito
formal para uma sessão de fotos para esta edição.
— Ok, mas ela vai fotografar a Anne Hathaway! Acho que seria
mesmo um lugar perfeito.
Tudo bem, ela tem um ponto, mas enquanto andávamos juntas
em direção a sala da Big Boss, eu precisaria dar um jeito. Não
poderia ligar para Emily Soto e desmarcar com ela. Ela é,
simplesmente, uma das fotógrafas de moda mais famosas do
mundo.
— Tudo bem, que tal no Metropolitan Museum? Não é tão
informal mesmo e combina com o final da estação — falei.
— Bem, acho que não vai agradá-la tanto, mas podemos
tentar. E por causa disso, terei que mudar todo o look do ensaio.
Batemos na porta e esperamos, apreensivas. Ela nos mandou
entrar e lá está ela. Donatella havia acabado de retornar da
Califórnia com Kate, estavam lá a trabalho para verificar se valeria a
pena fazer uma matéria completa sobre a tropicalização do inverno,
e, a julgar por sua cara, além do problema pelo qual estou aqui, a
viagem foi um fiasco. Donatella Sozzani é uma mulher imponente,
poderosa e exala classe por onde vai. Ela é uma excelente
profissional, a melhor para ocupar o cargo de diretora de redação
desta revista, ou seja, ela é a Big Boss da Glam Magazine EUA, um
ícone mundial da moda. Como pessoa ela é legal, mas como chefe,
só por Deus! Tem vezes, e na grande maioria das vezes,
tenho vontade de jogá-la pela janela. Minha chefe é
extremamente autoritária e grossa, mas ao longo dos anos fui me
adaptando e aprendendo com seu jeito para agradá-la com meu
trabalho, assim, o tornando bem mais fácil. Claro que ela também
é elegantérrima, com seus cabelos loiros platinados, olhos verdes e
magra.
— Espero que vocês tenham um plano B para nossa capa de
agosto. E que ele seja muito melhor que o Palace.
— Pensamos no Metropolitan Museu. Sei que é bem menos
informal que o Palace, e se tratando da Anne Hathaway, seria
mesmo uma opção viável. Com a sessão de fotos no comando de
Emily Soto, acho que o Metropolitan também pode ser uma boa
opção, além de não perder a vibe da edição. — falei.
— Sim, e quanto aos looks, a Miu Miu desfilou uma coleção
em seu último Fashion Week que cairá perfeitamente para este
cenário — complementou Kate.
— Exato, misturando isso com Valentino, principalmente os
calçados, ficará ótimo. Eu sei que precisamos formalizar isso na
reunião de pauta no final da semana, além de mudar todo o
cronograma, mas se você achar que isso pode ser um plano B
aceitável, iremos resolver os principais detalhes até o fim do dia
para ter certeza e prosseguirmos com a ideia — finalizei.
Donatella está encostada em sua cadeira, com uma mão em
seu queixo e a outra segurando o cabo de seus óculos de grau, nos
escutando atentamente, pensando no que havíamos falado, mas já
estávamos ficando ainda mais tensas ali.
— Hm, a princípio me parece viável. Quero estes detalhes na
minha mesa até as 17h. É só isso.
E aquilo foi nossa deixa. Saímos da sua sala aliviadas e, por
mais que aquilo parecesse uma má resposta, vindo de Donatella
Sozzani, aquilo foi super positivo, então fomos até a minha sala para
prepararmos isso com urgência, antes das 17h, junto com alguns
outros editores. Depois, com os detalhes prontos, mandei Lea levá-
los para Donatella. Essa semana não está sendo fácil e ainda
preciso resolver muitas coisas. Encontrei Nigel em um dos
corredores da redação e fui falar com ele.
— Hey, senhorita. Como foi sua noite caliente? — O provoquei,
já que ontem ele não foi me ajudar a terminar de organizar as
últimas peças do meu closet para passar a noite com Alejandro.
— Muy bien, para sua informação. E sim, me desculpe, tá
legal?! Mas precisava de um carinho ontem, já que Donatella vem
me deixando louco.
— Tudo bem, está perdoado, porque sei muito bem o que é
ser torturada por ela. Mas, amanhã o quero lá!
— Só se o seu vizinho gostosão estiver me esperando de
cueca.
— Vai sonhando. Assim como eu — ri.
— Tudo bem, amanhã então. Hasta chica.
— Até!
Não tinha visto John desde nosso último encontro, quando ele
bateu em minha porta para que eu assinasse aqueles papéis. Eu
escutava o barulho da sua porta de manhã, um pouco antes de eu
sair para o trabalho, não sei com o que ele trabalha, mas percebi
que ele não tem um horário fixo, tinha vezes que eu o ouvia chegar
tarde e outras que eu nem escutava sua porta abrir.
Já são quase 20h da noite e estou indo para casa de carro
hoje, um Mini Cooper S vermelho de teto branco, muito lindinho e
pequenininho. Eu preciso de um banho quente e um bom vinho ao
som de alguém, ou de alguma banda, que eu ainda estava
decidindo qual seria. Estacionei em frente ao meu prédio e entrei,
dando boa noite a James, o porteiro. Quando me aproximava do
meu corredor, escutei vozes alteradas e parei antes continuar a
subir o restante dos degraus, fazendo mais barulhos com a minha
bota de salto.
— Mia, por favor, fale baixo. Vá para casa, amanhã
conversamos.
— Amanhã? Eu estou atrás de você a semanas, John! Você
não me atende mais, não retorna as minhas ligações. Como quer
que eu fique calma? Depois que transamos você nunca mais me
procurou. Você me usou! — choramingou a dona daquela voz.
Eu sabia! Sabia que ele não tinha só a cara de cafajeste, ele
É um cafajeste! Pobre moça. Ouvi alguém bufar nervosamente, e
provavelmente era John.
— Eu nunca te prometi nada, Mia. Agora, por favor, vá embora.
Não sei como conseguiu entrar aqui sem a minha permissão.
— Você está me mandando embora? Você tem outra, não é?
— exclamou a moça.
Subi mais alguns degraus para escutar melhor, mas deixei
meu celular cair, entregando que estava aqui. Merda! Decidi voltar a
subir em direção ao apartamento, tentando não fazer mais barulho.
Quando apareci no campo de visão de John, ele me olhou, um
pouco envergonhado. A moça, que está em sua frente — alta, loira
de cabelos curtos e magra —, virou-se para mim quando cheguei ao
topo da escada.
— Boa noite — disse, tentando amenizar o clima.
— Boa noite — Apenas John respondeu.
A moça me fuzilou com o olhar, me odiando por eu ter
interrompido a discussão do "casal". Desviei de seu olhar
assustador e peguei minhas chaves. Pelo canto dos olhos, percebi
que John chegou mais perto da moça e começou a falar em um tom
mais baixo.
— Mia, por favor, vá embora e eu juro que amanhã
conversaremos, ok?
— Promete? — perguntou a moça, com uma voz melosa.
— Sim. Agora, por favor, vá. Tive um dia cheio hoje.
— Tudo bem, boa noite, querido. Vou esperar você me ligar, se
não irei voltar aqui! — Despediu-se dele com um selinho na boca
dele.
Quando consegui abrir minha porta, ela passou por mim, ainda
me fuzilando com os olhos sem dizer uma palavra, e desceu a
escada. Olhei para John, que ainda está parado em sua porta.
— Tchau! — acenei para ele.
— Espera, Sofya! — disse ele, aparecendo em minha porta
enquanto a fechava.
— Está tudo bem? — perguntei, a abrindo novamente.
— Ahm, sim. Me desculpe por aquilo. Não foi uma cena legal
de se ver.
Ele não está com uma cara muito boa, parece realmente
cansado, e vê-lo dessa maneira me deixou com dó, e com uma
vontade louca de abraçá-lo.
— Ah, tudo bem, não se preocupe com isso. Acontece.
Ele deu um sorriso sem jeito, colocando uma mão no bolso de
sua calça e a outra coçando a barba, me olhando. Esperei que
dissesse algo, mas ele ainda está ali, parado, sem dizer nada,
fazendo aquilo e me deixando excitada só de ver.
— Bom, ok... está tudo bem com o apartamento?
— Sim, tudo ótimo! Você levou os papéis para a imobiliária?
— Os papéis? Ah sim, claro! Está tudo certo.
— Que bom. Fico feliz!
— Certo... vou indo então. Mais uma vez, me desculpe por
aquilo.
— Não se preocupe com isso. — Dei um sorriso sem jeito para
ele e olhei para o chão, tirando uma mecha de cabelo dos meus
olhos.
— Tudo bem então. Boa noite, vizinha. — Piscou para
mim, indo em direção a sua porta.
— Boa noite, vizinho — respondi, retribuindo a piscadela.
Fechei a porta e pendurei meu casaco, deixando minhas
coisas na mesa e me jogando na poltrona da sala, pensando nisso
que acabou de acontecer. Então ele é um destruidor de corações,
hein?! Aquela cara de machão e o charme não o deixou mentir. Não
que eu nunca tivesse feito isso antes com alguns homens, mas,
mesmo a moça querendo me matar por ter chego em uma hora
inapropriada, eu fiquei com um pouco de dó dela. Se rastejar e se
humilhar para um homem daquele jeito? Jamais! E ela parecia
desesperada... peço para que nunca chegue a esse ponto um dia.
Tudo bem que aquele homem é maravilhoso, mas não sei se vale
tudo aquilo, por isso senti pena daquela moça.
Levantei-me, tirando peça por peça da minha roupa, indo em
direção ao meu banho. Precisava recompor minhas energias e
relaxar, amanhã será outro dia cheio, mas irei ver Shantell, e
estou com saudades daquela doida. Ela irá me levar até a
academia, onde dá aulas de danças uma vez por semana, para que
eu conheça o lugar, já que fica a poucos quarteirões daqui. Deixei
os pensamentos rolarem enquanto entrava debaixo da água quente
do chuveiro.
Tranquei a porta, indo em direção à geladeira bufando,
esfregando o rosto com as mãos e depois as passando por meu
cabelo. Peguei uma cerveja e o controle do mini system potente, o
ligando para tocar Led Zeppelin. Preciso relaxar, a semana foi um
turbilhão. Preston e eu havíamos conseguido avançar bem pouco
nas investigações, mas eu tenho certeza de que este caso está
ligado a grande rede de vendas de drogas na costa leste, dando
total importância aos avanços das investigações. Porém, está cada
vez mais complicado, os caras são espertos e, por conta de toda a
situação, convoquei uma reunião geral para semana que vem.
Precisamos de mais para ir além na investigação. Rhodes, o diretor
da agência de Nova York — e meu chefe — não estava muito
contente com os resultados recentes e eu não o culpo, porque eu
também não estava.
Fui em direção ao meu escritório e me joguei na grande
cadeira em frente a escrivaninha, onde estava meu MacBook ligado.
Cruzei minhas mãos atrás da cabeça e me inclinei para trás,
fechando os olhos. E se não bastasse tudo isso, Mia ainda estava
no meu pé e já estou farto disso. Ela é filha de uma das milhões de
amigas de minha mãe, a conheci em um jantar na casa do meus
pais. Durante o jantar, percebi que ela estava me dando mole e eu,
que não sou bobo nem nada, fiz o que tinha que fazer, se é que me
entende. Mas ela não percebeu que não passava daquilo, mesmo
os “boatos” — que são reais — ao meu respeito, e a respeito do
meu “estilo de vida”, chegando aos ouvidos dela. Nem sempre tive
esse estilo de vida. Já tive um relacionamento sério há algum tempo
atrás, dos meus vinte e três aos meus vinte e seis anos. Jenna era
maravilhosa, mas a convivência com a minha mãe foi a deixando
insuportável, e, consequentemente, foi desgastando nosso
relacionamento até tudo acabar, e ambos respeitamos isso na
época. Antes disso acontecer, até cogitamos casar, mas agradeço
por isso não ter dado certo. Quando fui promovido a Agente
Especial do FBI, aos vinte e sete anos, comecei a pegar ainda mais
pesado na academia e percebi que chamei muito mais a atenção
das mulheres do que antes, quando era apenas alto e magro.
Então, foi a partir daí que iniciei essa vida que, para mim, está de
muito bom tamanho. Minha mãe odeia isso e, por isso, vive me
apresentando algumas garotas de seu amado círculo social, ou
seja: dondocas ricas que só pensam em dinheiro e em status. Tudo
só para tentar me “aquietar” e me colocar nos eixos, como ela
mesma diz, mas isso nunca funcionou. E eu tenho quase certeza
que Mia foi outra dessas garotas.
Eu estava tentando fugir dela de qualquer jeito, mas isso
precisa acabar de uma vez e amanhã irei resolver essa questão,
ainda mais depois do seu show, vindo até aqui, em meu
apartamento, isso já foi longe demais. Fiquei constrangido quando vi
que minha nova vizinha havia presenciado aquilo e, visto por sua
cara, ela também ficou envergonhada ao chegar em sua porta e ter
de assistir o ataque de Mia, o que me fez pedir desculpas depois.
Essa garota é na dela, mas as garotas que “são na delas” sempre
esconderam muito mais que isso em seu rosto e, por isso, ela não
me engana, sou um Agente e sei muito bem ler as feições de uma
pessoa. Sem falar do jeito que ela retribui meus sorrisos e piscadas.
Tenho certeza absoluta de que ela é solteira. Foi a primeira vez que
a tinha visto com os cabelos soltos e eles são mais longos do que
imaginava, passando um palmo abaixo de seus ombros, cheios de
ondas, a deixando ainda mais linda. Ela estava um pouco mais alta
também, devido aos saltos da sua longa bota preta, combinando
com seu casaco preto que era um pouco mais curto que seu vestido
levemente rodado que, se eu não me engano, era vermelho escuro,
ou vinho... não sei, não entendo disso. Resumindo: ela estava
gostosa e me deixou de pau duro de novo!
Nesta semana, fiz uma coisa da qual não me orgulhava. Fiz
ela assinar novamente os papéis da escritura do apartamento, só
para vê-la e provocá-la novamente. Sim, eu sei, isso é errado, mas
já faz uma semana que não transo e, caso ela me desse mole, eu...
bem, cometeria o gostoso erro de transar com a minha mais nova e
gostosa vizinha. Entretanto, não aconteceu, já que seu amigo —
nada discreto, por sinal — apareceu quando iria começar com meus
joguinhos e daí foi um grande balde de água fria no meu plano:
“você pode se arrepender depois, mas irá ficar muito feliz na hora”.
Até que foi bom, pois assim consegui raciocinar novamente
com a cabeça de cima, até fui capaz de ouvi-lo falar da tal coleção
de lingeries dela, na qual está bem perto de mim. Imaginar ela com
uma lingerie foi uma tortura, e tive que me esforçar para me
controlar, principalmente meu pau, mas é claro que não resolveu,
ainda mais pensando se debaixo daquele roupão ela estaria usando
alguma peça de sua coleção, ou se estava sem nenhuma. Por sorte,
ela ficou envergonhada e não percebeu meus esforços para
esconder minha ereção, então tratei logo de me despedir com um
boa noite e um flerte, que ela correspondeu.
E aqui estou eu, novamente duro só de pensar nisso outra vez.
Se Sofya não tivesse aparecido naquela hora, dobraria Mia mais
uma vez, só para me aliviar. Não me culpe, é mais forte que eu, já
que sou um tipo bem macho. Mas a realidade é que Mia já não
desperta mais desejo em mim, então não sei se aconteceria de fato.
Já passava das 21h e lembrei que não tinha ido a academia hoje,
então amanhã precisarei ir de qualquer jeito. Preciso aliviar
toda essa energia sexual de algum jeito, transando ou malhando. Já
que hoje ficarei sem sexo, me resta descontar na musculação
amanhã.
Comecei a mexer em meu Mac, analisando passo a posso do
que tínhamos da investigação, mas não consegui me concentrar, já
que meu pau não se aquietou. É inevitável não pensar em “coleção
de lingeries”, “vizinha gostosa”, “a vizinha gostosa usando essas
lingeries”, “sexo”, “muito sexo”, “sexo para caralho”, “comê-la de
todos os jeitos”, e por aí vai. Jesus, o que eu vou fazer com aquela
garota que está dividindo paredes comigo? Eu sou um predador
nato e não sossego até que esteja com minha presa em minha
boca. Dei um suspiro, me lembrando que não é bem por aí, porque
não posso me arriscar e preciso, urgentemente, não pensar nela
dessa forma para o meu próprio bem-estar. Desisti do que eu estava
tentando fazer e fui tomar um banho, que pretende ser demorado.

No dia seguinte, liberei minha equipe mais cedo e enviei


Preston a Miami para nos trazer informações mais detalhadas das
investigações. São quase 19h e estou indo para academia,
preciso descarregar a energia acumulada em meu corpo. Encontrei
meu amigo Dany, professor e personal trainer da academia.
— E aí parceiro, como vai?
— Tudo certo, Dany. E aí?
Nos cumprimentamos batendo nossas mãos, fazendo um
estalo forte e, depois, as apertando.
— Tranquilo. Hoje está movimentado por aqui, dia de aula de
dança, se é que me entende — disse ele, dando um sorriso
sugestivo.
— Ah sim, como poderia me esquecer?! — ri, em resposta.
Fui em direção aos aparelhos de musculação, começando meu
treino pesado. Conversamos por um tempo até que Ramoz, outro
Agente Especial da agência, apareceu para nos acompanhar.
Decidimos dar uma pausa para tomarmos uma água, e Dany
começou um assunto com Ramoz que chamou minha atenção.
— É sério cara, você precisa ver. Ela é gostosa pra caralho!
— E o que estamos esperando para ir até lá, então? — Ramoz
respondeu.
— Quem é gostosa pra caralho? — perguntei, também curioso.
— A novata da academia, ela está na aula de dança agora —
respondeu Dany, dando um gole em sua garrafa de água. — Eu e o
Ramoz estamos indo para lá, para “assistir” a aula de longe, vamos?
— Com certeza. Não vou perder isso — respondi, sério.
Chegando próximo a sala onde as aulas de dança ocorrem,
me deparei com alguém que eu jurava que... espera, eu conheço
essa garota... não, não pode ser...
— Olha lá ela — apontou Dany, discretamente.
— Uh, gostosa para caralho... Mamacita — falou Ramoz,
fazendo Dany rir. — Não é, John?!
Eu estava boquiaberto, ainda não acreditando que é mesmo
ela e, pelo amor de Deus, ela está com uma legging preta,
marcando suas curvas, um top da mesma cor, com alguns desenhos
discretos e um tênis esportivo, além de estar com os cabelos presos
no alto da sua cabeça, revelando sua nuca, que já está suada.
Caralho! Ela está...
— Espetacular — pensei em voz alta.
— Não disse? Precisa de um babador aí, cara? — riu Dany,
batendo em meu ombro.
Encostamos na parede lateral para sermos discretos.
Merda, eu preciso disfarçar minha ereção. Peguei a toalha em meu
ombro, cruzei meus braços em meu peito e segurei a toalha de
maneira que ela ficasse caída, escondendo o meu volume. Eu sei
que isso soa pervertido, mas eu sou homem, o que posso fazer? É
mais forte que eu! A turma começou a se mexer, porém a
professora, Shantell Whitaker, que, inclusive, é a namorada de
Preston, parou e apresentou Sofya a todos.
— Pessoal, esta é a minha amiga, Sofya, e já fizemos aulas
juntas. Ela irá me ajudar por aqui hoje, mesmo não sendo uma
profissional como eu, mas... — disse ela, batendo com seu ombro
nos ombros de Sofya, que rolava os olhos e sorria. — Ela sabe
remexer o corpo.
— Te deixo no chinelo e você sabe — respondeu Sofya, em
tom de desafio.
A sala inteira riu e incentivou o duelo.
— HaHa, você não aprende mesmo, não é, branquela? Vamos
lá.
— Essa eu quero ver! Shantell dança muito! — cochichou
Dany para nós.
— Eu quero ver é essa tal Sofya dançando — disse Ramoz,
passando a língua nos lábios.
— Se controla — avisei, olhando com um olhar gélido para ele,
e os dois riram.
O restante da turma sentou no chão e as duas estavam em
frente ao espelho quando a música, de ritmo dançante, iniciou e
ambas começaram a dançar sincronizadamente da maneira mais
sexy possível. Sofya dança muito também, e a ver mexendo aquele
corpo, de curvas deliciosas, está sendo demais para mim. Deus
está me testando! Aliás, é o Diabo, me mandando aquele pedaço de
mau caminho para me fazer desviar do meu caminho regrado e
perder meu controle. Os movimentos foram aumentando e os
passes ficando mais ousados. Elas acompanhavam o ritmo da
música com perfeição. Sofya movimentou a mão pelos seus
cabelos, os soltando, fazendo com que os fios esvoaçassem a cada
movimento sensual que fazia. Isso é demais para mim, eu tenho que
sair daqui correndo.
— Mamacita, me gusta mucho! — comentou Ramoz,
hipnotizado por ela.
Novamente, o fuzilei com o olhar. É melhor ele se conter. Para
meu alívio, ou não, a música acabou e todos aplaudiram as duas,
inclusive nós três. Elas agradeceram e a primeira a falar foi Shantell.
— É, pensei que você estaria enferrujada — riu Shantell,
brincando com a amiga.
— Não tão fácil — riu Sofya de volta.
— Obrigada por ter vindo hoje, amiga! — disse Shantell,
aplaudindo a amiga, assim como todos ali.
Sofya, corada pela atenção — bem merecida —, agradeceu e
foi para o canto da sala. Todos foram se levantando do chão e vi
Sofya indo em direção a suas coisas, pegando uma toalha. Fui
lentamente até ela, quando ouvi meu nome sendo chamado em alto
e bom tom.
— John! Você por aqui, de novo?! — brincou Shantell, me
entregando. — E vocês também. Olá, rapazes!
Sofya percebeu e se virou, olhando em minha direção, ficando
com a mesma cara que eu quando a vi aqui hoje, tão chocada
quanto eu. Dei um sorriso torto e ela sorriu de volta.
— Você está me seguindo? — riu ela, falando comigo e vindo
em minha direção.
— Acho que sou eu quem deveria te perguntar isso — ri,
respondendo. — Você foi ótima ali — continuei, apontando para
onde ela havia dançado.
Dany, Ramoz e Shantell nos olham cheios de curiosidade e
desconfiados. Corando por conta do meu elogio, e colocando uma
mecha de seu cabelo atrás da orelha, ela me olhou de volta, dando
uma risada tímida.
— Então você viu. Que bom que gostou.
Ela olhou para trás de mim e segui seu olhar, encontrando o
olhar de dúvida dos três ali. Sofya deu um pigarro, encarando sua
amiga.
— Então vocês se conhecem? — perguntou ela, apontando
para mim e para Shantell.
— A pergunta aqui é: VOCÊS se conhecem? — respondeu
Shantell com a mesma pergunta, nos fazendo rir.
— Ele é meu novo vizinho.
— Oh meu Deus! Isso é sério, John?
Sofya olhou para a amiga, erguendo suas sobrancelhas,
formando uma ruga em sua testa. Eu ri com a situação.
— Sim, e pelo visto vocês são amigas, certo?
— Sim, certo! Então era você o amigo do Preston que tinha um
apartamento para vender! Sofy, lembra quando indiquei o
apartamento que você comprou, falando que Preston tinha um
amigo que estava com um apartamento vago no prédio? É ele! Eu
só não sabia antes quais dos amigos eram — disse Shantell,
batendo em meu peito.
Sofya e eu nos olhamos com cara de espanto por alguns
segundos e, então, rimos. Então era ela?! Preston me falou algo a
respeito, mas não dei muita importância, e quando a
senhora Johnson me ligou falando do novo comprador do
apartamento eu nem me lembrava dessa história.
— Uau! — riu Sofya, me olhando. — Bom, então eu deveria te
agradecer. Muito obrigada!
— Não precisa me agradecer — disse, olhando para Shantell
em seguida. — Se Preston tivesse me falado que a sua amiga era
ela, eu mesmo teria feito a mudança — continuei, as fazendo rir.
Escutamos alguns pigarros atrás de nós e nos viramos. Tinha
me esquecido totalmente daqueles dois, que me olhavam com um
olhar de julgamento.
— Ahm, Sofya, este é Dany, um dos profissionais da academia
— apontei para ele, que estendeu a mão para ela que aceitou, em
um cumprimento.
— Prazer em conhecê-lo, Dany — sorriu ela, simpática.
— O prazer é meu Sofya, e se precisar de algo por aqui, é só
me chamar!
Ele é um safado também, por sorte Sofya só assentiu
levemente.
— E esse é Ramoz. Ele trabalha comigo. — Ela levou a mão
até a mão de Ramoz e o cumprimentou também.
— Prazer em conhecê-lo, Ramoz.
O filho da mãe pegou a mão dela e a levou até seus lábios, a
beijando, mas que...
— O prazer é todo meu, Senhorita — disse, e Sofya riu,
constrangida.
— Chega disso Dom Juan, e podem sair da minha sala agora,
todos vocês! A minha aula ainda não acabou. — Shantell a salvou e
empurrou Dany e Ramoz para fora.
Eu e Sofya os seguimos, rindo da cena.
— Shant, eu vou indo. Obrigada por me receber aqui hoje —
abraçou a amiga. — E pelo visto só falta eu para conhecer esse tal
de Preston, não é?! — continuou, com um tom de julgamento para
amiga e eu não iria perder a oportunidade de queimar o meu amigo.
— Não se preocupe, você não está perdendo nada, não é
Shantell?
Elas riram, e Shantell deu um pequeno soco em meu braço.
— Não é verdade. E você vai, garota, relaxa! Neste fim de
semana, prometo! Agora eu preciso voltar para minha aula. Tchau
para vocês.
— Tchau — dissemos juntos.
Saímos da sala e eu decidi deter um possível começo de
silêncio constrangedor.
— Você também está voltando agora? — perguntei.
— Sim, vim andando. E você?
— Eu também vim andando, não é muito longe do prédio, não
é?!
— Não, é bem perto e de fácil acesso — sorriu ela.
— Posso te acompanhar?
— Claro! — respondeu ela, colocando seu moletom de zíper.
— Tudo bem, vou pegar minhas coisas, só um minuto.
Voltei logo depois de me despedir dos caras. Ela já estava na
porta me esperando, e deu um sorriso lindo quando viu que eu
estava indo em sua direção. Não pude deixar de sorrir também.
— Vamos? — perguntei.
— Vamos.
— Quer que eu leve suas coisas?
— Ah, não precisa, está tudo bem, obrigada!
Já estávamos caminhando pela rua, quando a ofereci ajuda, e
ela, é claro, recusou.
— Ah sim, tem que tirar as coisas de você na marra para que
aceite ajuda, como eu fiz aquele dia com as caixas.
Ela deu uma risada, que me fez rir também.
— Aquele dia eu tinha tudo sob controle, ok?
— Não parecia, a julgar pelo jeito que estava subindo com elas
— disse, a imitando, com um pouquinho só de exagero, e ela
gargalhou, dando um tapa no meu ombro logo em seguida.
— Não exagera! Eu conseguiria mole-mole.
— Eu sei disso, e não duvido — falei, a olhando.
Ela me olhou da mesma forma e dessa vez foi a vez dela de
evitar o possível silêncio constrangedor.
— Então... já faz muito tempo que mora lá? — perguntou.
— Há quase dez anos. O prédio pertence à imobiliária da
família da minha mãe e precisei me mudar para perto do
trabalho, então escolhi aquele lugar.
— Isso é ótimo! E já faz bastante tempo! — arregalou seus
olhos, que já eram grandes, e riu. — É, me mudei por conta disso
também, e lá é perfeito.
— Que bom que gostou!
— E você trabalha com o quê? — perguntou ela.
— Sou Agente do FBI. Sou o chefe da agência de Nova York.
Ela me olhou com curiosidade e depois sorriu.
— Um Agente, uau! Legal — respondeu, me fazendo rir. — Há
quanto tempo está no FBI?
— Quase quinze anos. Entrei para a agência quando tinha
vinte e quatro anos. Me tornei um Agente Especial aos vinte e sete e
no ano passado passei para a chefia — respondi, e ela
arregalou aqueles olhos grandes e lindos novamente. — Sim, pois
é! Já sou antigo por lá, mas eu amo meu trabalho — continuei,
sorrindo e olhando para baixo.
— Isso é bastante tempo — disse ela, ainda sorrindo.
— Com certeza. Mas e você, trabalha com o quê?
— Sou editora executiva de uma revista de moda.
— Hm... isso explica o que seu amigo disse outro dia, “que
você precisaria de outro prédio daquele para colocar suas roupas”
— falei, rindo.
Ela riu de novo, e que risada gostosa!
— A culpa não é minha! Eu amo moda e a maioria das roupas
eu ganho por causa do meu trabalho.
— Sei, então você é importante. Entendi! — disse, a fazendo
rir novamente.
— Nem tanto. Mas nunca reclamei de ganhar essas coisas —
rimos.
— Em qual revista você trabalha?
— Na Glam Magazine.
Hm, eu conheço essa revista por causa da minha mãe, que
vive saindo em matérias importantes, inclusive na capa, e, então, foi
a minha vez de arregalar os olhos, surpreso. É uma revista
importante.
— Então você conhece?! — perguntou ela, surpresa ao
ver minha reação.
— Sim, conheço. É uma revista bem famosa, não é?! — ri. —
E a minha mãe já saiu em algumas matérias nessa revista.
— Uau, além de um Super Agente do FBI, você tem uma mãe
famosa?! — disse ela, e dessa vez quem riu alto fui eu. — E quem é
a sua mãe?
Limpei a garganta, me preparando para tocar neste assunto.
— Miranda Richards.
E ela parou de andar, me olhando, ficando boquiaberta e,
agora, seus olhos estão ainda mais esbugalhados.
— Espera. Miranda Richards é a sua mãe? Você está falando
que a sua mãe é uma das socialites mais famosas do mundo?! Oh
meu Deus!
Ri sem graça e voltei a caminhar, a chamando com uma das
mãos para que ela voltasse a me acompanhar.
— Sim, é ela — respondi, um pouco sem jeito.
— Estou chocada! — falou ela, nos fazendo rir. — E como foi
crescer com uma mãe famosa assim?
— Difícil, mas sempre fui mais parecido com meu pai, mais
reservado quanto a isso e ficando o mais longe possível dos
holofotes, diferente dela. O que não a agradou nada, porém teve
que conviver com isso.
— Entendo. Ela não deve ter gostado nada quando você foi
para o FBI, não é?
— Acho que ela já esperava isso de mim, já que meu avô
paterno, meu pai e o meu irmão mais velho também trabalhavam
para o FBI.
— Jura?! — Ela arregalou seus olhos novamente e eu já
estava me acostumando com esse seu gesto engraçado.
— Sim, mas meu pai agora é um Senador federal, meu irmão
também está indo para a política e meu avô já está aposentado.
— E você vai seguir na política também?
— Não. Não é o que eu quero para mim.
— E o que você quer para você? — perguntou ela, mantendo o
ritmo da nossa caminhada e me encarando, esperando minha
resposta.
Aquela pergunta me pegou de surpresa. Como estou feliz com
minha atual posição no meu trabalho, nunca pensei muito no meu
futuro, mas a minha certeza é que eu amo o que faço, e é por isso
que eu quero continuar nesse caminho.
— Continuar no FBI, virar o diretor geral, quem sabe? — Virei
para ela, que voltou a olhar para a frente, e perguntei: — Mas e
você? É isso mesmo o que você quer? Digo, profissionalmente.
Ela me olhou e sorriu timidamente, abaixando o rosto corado.
— Eu amo meu trabalho e os desafios dele. Quando eu falo
"desafios", não são as roupas que ganho — disse ela, me fazendo
rir, admirado. — Amo moda, mas também sinto que há muito mais
que isso para mim. Sinto que ainda não estou onde quero estar,
mas que estou no caminho certo.
— E esse caminho seria o que? — perguntei, curioso, ainda
fascinado por ela.
— Política talvez. Direito das mulheres, questões sociais,
diplomacia, relações Internacionais...
Hm, mas que interessante! Ela me olhou, percebendo minha
expressão, e riu.
— Por quê esse olhar? — Só então percebi que estou com a
mão em minha barba.
— Nada, só é muito interessante.
— O que é interessante? O fato de uma jornalista de moda
querer escrever sobre isso também? — riu.
— O fato de você querer explorar isso, que vai muito além do
que você faz hoje, e querer isso é corajoso para uma mulher em
tempos assim.
Ela me olhou, dando um pequeno sorriso torto, e eu percebi
um brilho lindo em seu olhar.
— É, por sorte, os tempos estão mudando. Obrigada.
Continuamos andando e eu preciso pensar em outro assunto
para o silêncio constrangedor não vir.
— Rolling Stones, hein?! — falei, a fazendo me olhar
novamente, sem entender nada.
— Como?
— Quando te ajudei com as caixas, você estava escutando
Rolling Stones — ela riu, sem graça. — Então você gosta dos
clássicos? — perguntei.
— Gosto de tudo um pouco, mas sim, eles são os meus
preferidos. Desde pequena.
Já estávamos virando a esquina de nossa rua, indo em direção
ao prédio em que moramos.
— Seus pais gostam dos clássicos e te passaram isso, então?
Isso é o que eu chamo de criar bem um filho da melhor maneira
possível — ri, mas ela não.
Vi seu sorriso desaparecer e ela ficar, visivelmente, sem graça.
Na hora pensei no que eu tinha feito de errado. Será que falei
alguma besteira? Quando ia perguntar o porquê de ela ter ficado
assim, vimos uma cena estranha em frente ao nosso prédio e
paramos automaticamente. James estava empurrando para fora da
portaria um cara muito maior que ele, que carrega consigo um
buquê de flores em uma mão e na outra uma caixa de chocolates.
Sofya pulou ao meu lado, se assustando e levando as mãos a boca,
espantada, se agachando e correndo para trás de um carro
estacionado na rua. Eu a olhei, surpreso e sem entender o que está
acontecendo aqui, pois ela está, visivelmente, se escondendo. Virei
novamente para a frente, quando o homem estranho começou a
gritar feito louco.
— SOFYA! Por favor! Eu estou aqui! — gritou ele, abrindo os
braços, já quase no meio da rua.
Agora quem arregalou os olhos fui eu, surpreso ao saber o
motivo pelo qual ele estava ali. A olhei, segurando o riso, e pasmo
ao mesmo tempo, mas ela não viu, já que está focada em seu
esconderijo e nos passos do sujeito, para que ele não a
encontrasse.
— Senhor, por favor, vá embora. Ela não está aqui, eu já disse!
— falou James.
— SOFYA!
Mais berros. Ele parece bem transtornado. O que será que ela
fez para ele?
— SOFYA! EU TE AMO, POR FAVOR, NÃO ME IGNORE
MAIS!
Hm, está explicado.
— Oh meu Deus, por quê? — sussurrou Sofya, cobrindo o
rosto com as mãos, e então virou-se para mim. — Por favor, não
diga que eu estou aqui!
A olhei, ainda tentando segurar o riso, e assenti positivamente,
voltando a olhar o sujeito desesperado.
— SOFYA!
— Senhor, se o senhor não for embora eu vou ser obrigado a
chamar a polícia — falou James, tentando espantar o sujeito de lá.
O homem foi até James, trançando as pernas, e a cara dele
está pior do que a de um cachorro molhado.
— Não será preciso. Só entregue isso a ela e diga que o C-
Chris esteve aqui, JÁ QUE ELA NÃO ATENDE MAIS AS MINHAS
LIGAÇÕES! — gritou ele, novamente.
— Ahm, eu irei fazer isso, senhor, boa noite — respondeu
James, engolindo seco.
O sujeito veio andando em minha direção e eu olhei para ver
se ela ainda estava atrás do carro, mas não, ela já não estava mais
ali. Pelo visto, deu a volta para não ser pega. Voltei a olhar o sujeito,
que parou próximo a mim e me olhou de volta.
— Nunca ame alguém que não está nem aí para você, cara —
balbuciou ele, e pude sentir o cheiro de álcool. Ele está totalmente
bêbado.
— Pode deixar, amigo, se cuida! — falei.
Assim que ele dobrou a esquina da rua, ela saiu do outro lado
do carro, visivelmente sem graça e corada.
— Eu não disse? Acontece! — riu ela, sem graça.
E eu gargalhei, de jogar a cabeça para trás, me lembrando de
ontem, quando ela havia me dito isso na hora que eu lhe
pedi desculpas pela situação com Mia. E eu achando que isso não
era normal para ela.
— Isso não tem graça! Vamos sair logo daqui, antes que ele
volte.
Ela voltou a caminhar rapidamente na minha frente e eu a
segui logo depois, ainda rindo. Estávamos em frente ao prédio e
James correu em nossa direção, com o grande buquê e o chocolate.
— Senhorita Viatcheslav! Um homem acabou de sair daqui e
ele...
— Eu vi, James, eu vi, tudo bem! Mas NUNCA diga que eu
estou em casa se ele voltar novamente, por favor!
— Ahm, sim, senhorita. Ele me pediu para lhe entregar isso.
Ela pegou as flores e o chocolate, ainda corada pela situação.
— Mas que barulheira foi essa, James? O que está
acontecendo aqui?! — perguntou a senhora Johnson, que apareceu
no hall de entrada de pijamas.
— Senhora Johnson, foi…
— Um bêbado, senhora Johnson! — exclamou Sofya,
interrompendo James. — Essas pessoas não têm mais respeito ao
próximo! — continuou ela, olhando para rua e assentindo
negativamente com a sua cabeça.
Eu abaixei a cabeça, tampando meus olhos com uma mão
enquanto a outra permanecia encostada em meu peito, tentando
abafar meu riso. Eu sabia! Eu sabia que aquele rostinho de boneca
escondia bem mais coisa. Assim como eu, ela é uma destruidora de
corações. Ela é uma pilantra!
— Pois é, minha querida! Não sei onde esse mundo irá parar!
— Não é?! Eu trouxe isso para a senhora! — disse ela,
entregando as flores a senhora Johnson, que caiu direitinho em sua
conversa fiada.
Mas que... ela é pior do que eu imaginava! A filha da mãe
tem lábia. Eu a encarei, perplexo, assim como James, que não está
entendendo mais nada.
— Ah, minha querida, são lindas! Não precisava se incomodar!
Obrigada! — senhora Johnson, pegou as flores.
— Ah, que isso! Eu achei a cara da senhora — disse ela,
enquanto tirava rapidamente, e discretamente, o cartão que estava
no meio das flores, o escondendo atrás de suas costas, abrindo um
sorriso iluminado (e cínico!) para a coitada da senhora em sua
frente. — Que bom que gostou, não é, James?!
— Ahm, S-Sim, sim. Claro! — respondeu James, dando
pigarros.
— Bem, se me derem licença, preciso ir para casa — falou ela,
passando por mim e colocando o dedo indicador na boca, me
pedindo para não dizer nada enquanto a senhora Johnson ainda
olhava para as flores.
Eu ri com sua atitude e assenti, devagar, com a cabeça.
— Boa noite a todos — falou sorrindo.
— Boa noite, minha querida, e obrigada!
— Imagina, senhora Johnson. Boa noite, James!
— Boa noite, senhorita.
Ela entrou e olhei para James, que levantou as mãos em uma
atitude confusa.
— Acho que iremos ter que contratar um segurança, não é
mesmo, James? — falei e ele apenas assentiu de volta, sorrindo. —
Boa noite para vocês.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite, querido.
Corri e a alcancei na escada. E ela já estava comendo os
chocolates, mas que cara de pau!
— O que foi aquilo? — perguntei, cerrando o olhar para ela.
— Não me olhe assim! Só aconteceu a mesma coisa que
aconteceu com você ontem — ela disse, com a boca um pouco
cheia. — Quer um?
E eu apenas ri, pegando um chocolate da caixa e o colocando
na boca.
— Hm, são bons, hein?! — falei, também de boca cheia.
— Não é?! Ele deveria ter comprado outra caixa ao invés das
flores — rimos.
— E eu pensei que era mau, mas você me superou, garota.
— Ah que isso, para vai! Tenho certeza de que você ainda nem
falou com aquela pobre moça depois daquilo — Apontou o dedo pra
mim em julgamento, enquanto estávamos chegando no topo da
escada.
— Tudo bem, eu não falei, mas...
— Viu só? Comigo foi diferente. Eu disse para ele que nunca
tivemos nada e que eu não queria continuar com aquilo. Por isso,
dei um ponto final e acabou, simples assim... bem, pelo menos para
mim.
Ela parou em frente à sua porta, escorando-se nela e me
olhando divertidamente, esperando a minha resposta.
— Certo. Você tem um ponto — admiti.
Ela se virou, rindo, pegando suas chaves para abrir a porta,
mas eu não quero que nossa noite acabe aqui. Sem dúvida, ela é
uma companhia muito divertida e agradável.
— E aí? Você não quer entrar e tomar uma cerveja? — Apontei
para a minha porta.
— Ahm, obrigada, mas eu vou ter que recusar hoje —
respondeu, fazendo uma careta.
— Ok, só não reclama depois, quando eu aparecer na sua
porta gritando: “SOFYA, SOFYA!” — falei rindo.
Ela deu aquela risada gostosa novamente, abrindo sua porta e
escorando sua mão nela para apoiar seu rosto por cima.
— E depois eu é que sou má!
— E você é! — rimos.
— Me desculpa, mas hoje eu não posso mesmo. Tenho que
fazer algumas coisas para o trabalho, dia cheio amanhã — disse,
fazendo um biquinho que tive vontade de beijar.
Além de gostosa para caralho, ela ainda consegue ser bem
fofa. Isso vai ser mais difícil do que eu imaginei.
— Tudo bem então, fica para outro dia, certo?! — falei, indo
em direção a minha porta e a abrindo.
— Com certeza, vizinho!
Encostei em minha porta, a imitando.
— E pode ter certeza de que irei cobrar. Boa noite, vizinha. —
Me despedi, usando a minha melhor voz de charme, jogando uma
piscadela.
— Boa noite, vizinho.
Assim como eu, ela usou seu charme, lambendo de maneira
sugestiva um de seus dedos sujos de chocolate, fechando sua porta
logo depois. E me deixando duro. De novo.

Nessa noite, não dormi quase nada por conta dos meus
pensamentos naquela garota do outro lado da minha parede. Além
de gotosa, fofa e linda, ela me parece inteligente, divertida,
esforçada, independente e, claro, sem esquecer, uma destruidora de
corações, como eu. Será que, por ela ser assim, teria a
possibilidade de transarmos só por transar? Já que o foco para nós
seria esse mesmo, certo? Ainda não posso arriscar, terei que
conhecê-la melhor e, por isso, usei o banco de dados
de investigações da agência. Eu sei que isso não é certo, mas não
deixa de ser uma investigação, não é? Cheguei na agência naquela
manhã de sexta-feira e fui logo abrindo o nosso sistema, digitando o
nome “Sofya Viatcheslav”, e os resultados foram bastante
interessantes.
Nome: Sofya Viatcheslav Antonov.
Antonov. Esse sobrenome não me é estranho.
Nascimento: 22 de janeiro de 1991, vinte e cinco anos.
Natural de: Nova York, EUA.
Nome do Pai: Vladmir Kritsk Antonov (Fugitivo da antiga União
Soviética; natural de Kiev, Ucrânia; chegou aos EUA em 1988).
Nome da Mãe: Ivanka Prutsk Viatcheslav Antonov (Fugitiva da
antiga União Soviética; natural de Kiev, Ucrânia; chegou aos EUA
em 1988).
Eu sabia que o nome e sobrenome dela não são comuns aqui
nos EUA, também que, provavelmente, seriam do Leste Europeu.
Bingo! Ela é americana, mas seus pais são ucranianos e viveram no
bairro de Little Ukraine, em Nova York, até que... ah, mas que droga.
Agora eu entendi o porquê dela ter fechado a cara para mim ontem,
quando eu perguntei sobre seus pais. Estou me sentindo um
completo idiota neste momento. O pai abandonou ela e sua mãe
quando ela tinha apenas cinco anos. Não bastasse isso, ainda
criança, com apenas oito anos, ela perdeu sua mãe devido a um
coma alcoólico seguido de overdose e, sem parentes próximos nos
EUA — e com o maldito pai desaparecido por aí —, ela acabou em
um orfanato no Brooklyn, permanecendo no mesmo até seus
dezoito anos. Passei a mão em meus cabelos e depois em minha
barba, a alisando, tentando absorver essas informações. Ela é
praticamente órfã. Senti uma vontade imensa de chegar hoje, bater
em sua porta e abraçá-la. Com certeza, ela não deve ter tido uma
infância fácil, pelo contrário, é provável que tenha tido uma infância
muito dura e sofrida.
Continuei lendo o arquivo, achando outras coisas muito
interessantes. Ela estudou em um colégio público e, mais tarde,
ganhou uma bolsa de estudos para cursar jornalismo na Columbia
University, uma das melhores universidades do país. Além do inglês,
ela fala russo e espanhol, apenas confirmando para mim que ela é
realmente inteligente. Fui passando o arquivo quando algo me
chamou a atenção. Cliquei em “histórico policial arquivado” e lá
estava! Quando ela tinha apenas dez anos, furtou uma boneca de
uma loja de brinquedos, o dono da loja chamou a polícia, mas
desistiu de fazer a queixa. E mais um: quando ela tinha
quatorze anos, foi pega em uma loja de moda íntima, furtando um
sutiã, mas a dona da loja também desistiu da queixa. Ora, ora, ora,
temos uma mão leve aqui então. Isso não aparece no histórico
pessoal dela por não serem “crimes” graves. Somente quem tem
acesso ao histórico policial dela é o departamento de polícia e o FBI,
por isso, esses pequenos delitos nunca irão causar problemas a ela.
Fechei meu Mac e encostei minhas costas na cadeira, jogando
o peso para trás, mexendo sem parar na minha barba. Então, essa
é uma parte de Sofya Viatcheslav. Bem, ela é uma guerreira, não
teve uma vida fácil e, hoje, pelo pouco que percebi de sua atual
circunstância, ela deu a volta por cima, conseguindo ter uma boa
vida para se ir levando. Mesmo com esse pequeno histórico
criminal, isso fez com que eu a admirasse ainda mais. Ela é bem
mais do que apenas uma vizinha gostosa e eu quero conhecê-la
muito mais que isso.
Quase tudo pronto! Hoje o jantar será macarrão à carbonara,
além de ser meu jantar de open house para alguns poucos amigos,
sendo eles Shantell, Nigel, Lea e Kate. Meu apartamento finalmente
está 100% pronto e organizado. Está lindo! Nigel deixou meu closet
impecável, separando tudo por cor ou marca, e aproveitamos para
fazer a limpa do desapego, na qual doei centenas de roupas e
sapatos. Isso faz bem de vez em quando. Estava colocando as
flores no centro da mesa de jantar quando escutei o barulho de
passos na escada, será que era ele? Bem, provavelmente, pois eu,
ele e a senhora Johnson somos os únicos moradores do prédio que
tem apenas quatro apartamentos, sendo um deles inutilizado por
razões que desconheço. Vi uma sombra por debaixo da minha
porta, oscilando por alguns longos segundos, seguindo para a porta
ao lado depois. Ele havia parado na minha porta? Mas para que?
Seria muito cedo para chamá-lo para um jantar? Quer dizer, não
para um jantar de encontro, claro, mas para o jantar desta noite?
Por via das dúvidas, eu acho melhor não. O que eu iria falar para o
pessoal? “Hey, gente! Meu vizinho gostosão veio jantar com a
gente!”. Melhor mesmo é esquecer isso e evitar perguntas.
Mas, percebi que ele não era apenas “meu vizinho gostosão”,
além de ser isso, claro, ele é engraçado e carismático, pelo menos
para um Agente do FBI, parece ser extrovertido até demais, mas
ainda não o conheço o suficiente para dizer isso. Sem falar no fato
de ele ser filho de uma das maiores milionárias de Nova York e de
um Senador Federal. Eu irei descobrir mais sobre ele em outra
oportunidade. Fiquei muito curiosa para saber mais sobre sua vida.
A nossa conversa de ontem foi tão agradável! John é um cara
legal e, assim como eu, curte bem a vida, se entende o que eu
quero dizer. A situação com Chris foi tão constrangedora. Porém,
John soube levar na esportiva, então eu o acompanhei na
brincadeira. E por mais que eu queira, involuntariamente e
voluntariamente, eu acho que não deve — e nem deverá — rolar
nada entre nós. Nós somos vizinhos de porta e, mesmo os dois não
prestando no sentido “amoroso”, estamos muito perto um do outro e
isso seria um desastre. No entanto, isso não significa que não
podemos ser amigos, pois suponho que ele seria um ótimo amigo.
Coloquei as taças na mesa e fui ao banheiro retocar a
maquiagem. O look está ótimo para um jantar de open house! Estou
com uma camisa branca larga, que mais parece uma bata,
chegando até meu umbigo, com os botões fechados até meu
pescoço, uma calça jeans skinny de cintura alta azul escura e flats
da mesma cor. Meus cabelos estão soltos, formando ondas bem
abertas e minha maquiagem está leve e linda. Tudo ok, só
estão faltando os convi... não mais, o interfone tocou. Atendi e os
mandei subir. Fui em direção a sala de jantar para ver se estava
tudo pronto e a campainha tocou. Abri a porta com um sorriso para
recebê-los.
— Hello! — disseram juntos.
— Bem-vindos ao meu Open House!
— Cadê seu vizinho gostosão?! — perguntou Nigel, antes
mesmo de me cumprimentar, indo para dentro direto.
— Oi para você também!
— Ah sim, precisamos conversar sobre isso! — indagou
Shantell, apontando o dedo em minha direção, enquanto passava
por mim na porta.
— Você mal se mudou e já está pegando seu vizinho? Mas,
espera aí! Por que eu estou surpresa? Isso é tão típico de você! —
Kate passou por mim, dando-me um tapinha no ombro.
— Agora eu fiquei curiosa — disse Lea, entrando logo depois.
— Eu estou bem, por sinal — fechei a porta e revirei os olhos.
— Uau, seu apartamento ficou lindo, Sofy! — falou Shantell.
— Sim, amei! Muito moderno — Kate complementou. — Ele
até pode sair na matéria que vamos fazer para edição de julho, o
que acha?
— Ótima ideia! — respondi.
— Vocês duas parem, não estamos na redação, por favor.
Sem trabalho aqui! — disse Nigel em voz alta.
— Chefe, estou com fome e o cheiro está maravilhoso. O que
é? — perguntou Lea, minha assistente, e que por sinal, também é a
assistente da Kate.
— Macarrão à carbonara. De entrada teremos uma salada
primavera fresca com um vinho do porto, ou um Chandon Rose se
preferirem, para acompanhar.
— Uau, nem parece aquela garota catarrenta que eu conheci
no orfanato — brincou Shantell e nós rimos.
— Vai se ferrar! Vamos comer logo.
Enquanto comíamos, e recebia vários elogios por meus dotes
culinários, bem merecidos por sinal — modéstia à parte —,
conversamos sobre diversos assuntos, até que, claro, chegou a
pauta da vez: John.
— Você está pegando o John? — perguntou Shantell.
— Então o nome dele é John?! Uh, que másculo — falou Kate.
— Quem é John? — perguntou Lea.
— Não, não estou pegando ele. Seria arriscado demais, ele é
meu vizinho de porta.
— Sofy, coisas como essa nunca te impediram de pegar
alguém, ou usar seus famosos joguinhos de sedução,
principalmente com um cara como ele — Shantell disse e todos
riram, concordando.
Eu não estou valendo nada mesmo. Mesmo que isso seja um
pouco verdade.
— Eu sei. Mas e se ele for como alguns dos caras com quem
eu já saí? Tipo o Chris, que não para de me encher o saco.
— Garota, acredite em mim, ele está longe de ser assim —
falou Shantell, me apontando seu garfo.
— Jura? E como você sabe? — perguntei, curiosa. Hm.
— Porque ele é um dos melhores amigos de Preston. E, pelo
pouco que conheço dele, ele é você, só que com um pinto no meio
das pernas.
— Uau, essa eu queria ver! — Nigel falou rindo, assim como
todos na mesa.
— Sério. Eu tenho até medo de deixar Preston sozinho do lado
dele, o cara é o maior mulherengo.
— Gente, eu estou curiosa para ver esse tal vizinho gostosão
— Kate falou.
— Ele é tudo isso mesmo?! — Lea ainda não acreditava.
Minha cara deixou bem claro um grande SIM, me jogando para
trás na cadeira, Shatell estralou os dedos e assentiu com a cabeça
e Nigel, óbvio, foi o mais escandaloso.
— Ele não é TUDO isso, garota, ele É TUDO. Ponto. Se eu
tivesse a oportunidade o levaria para meus pais conhecê-lo.
Rimos daquilo. Então ele era mesmo um mulherengo. Hm, só
de lembrar dele na academia, todo suado, com aquelas roupas, eu
já estou molhada. E agora, sabendo o que Shantell havia dito, todo
o meu controle para não pensar nele daquela maneira foi por água
abaixo, junto com a minha vontade de não provocá-lo com os “meus
joguinhos”, segundo as palavras de Shantell. Senhor, me
ajuda! Terminamos o jantar e ficamos conversando um pouco na
sala ao som de boas músicas. Kate, educada e a louca com TOC
que é, lavou a louça, enquanto Lea a ajudava no restante da
limpeza.
Passa um pouco da meia noite e todos já foram embora.
Combinamos de ir amanhã em um Pub Irlandês o qual eu ainda não
conheço, e Shantell vai direto com seu namorado e os amigos dele.
Também será amanhã que Shantell irá me apresentar, finalmente,
Preston, que chegará de viagem no mesmo dia. Não vou mentir,
estou com esperanças de ver John por lá também. Deus, por quê
mandaste um vizinho gostoso e não um vizinho velho, gordo e
barbudo? Seria tão mais fácil! Eu já estou a semanas sem transar, o
que vem justificando meu mau humor diário ultimamente, e ter John
do outro lado da parede não está ajudando minha calcinha a se
manter seca.
Estou no banho, e ter esses pensamentos não me ajudam em
nada, por isso, fui mais além, pensando no que ele estaria fazendo
agora... será que estava no banho também? Hm, imaginar ele no
banho, com aquele corpo maravilhoso, seus músculos gigantes,
aquele mastro, que, pelo volume que eu vi em sua calça naquele
dia, me parece ser bem grande... ah! Desci minhas mãos para o
meio de minhas pernas, imaginando como seria bom um banho com
ele. Se ele faz sucesso com as mulheres é porque, pelo
menos, bom de cama ele é. Comecei a massagear meus peitos
enquanto uma de minhas mãos continuava no meio de minhas
pernas, brincando com meu clítoris inchado. Eu preciso tanto de um
bom sexo! Estava começando a sentir meu orgasmo vindo — que
há tempos não aparece —, quando escutei um grito, que não era o
meu e, muito menos, de prazer. Desliguei o chuveiro para ouvir
melhor e ver se era aquilo mesmo que tinha escutado.
— Socorro! Ah!
Oh Meu Deus, é a senhora Johnson, com certeza! Peguei a
minha toalha e a enrolei no corpo, não me importando em sair
molhando tudo pelo caminho, com meu corpo e meus cabelos ainda
ensopados. Abri a porta e voei para a grade do corredor para ver o
que estava acontecendo lá embaixo. Parece que James não está lá.
Droga. Foi quando eu escutei a porta dele, se escancarando, o
revelando de cueca boxer preta e uma regata branca, além de estar
armado e, Senhor, armado duas vezes com aquele belo pacote no
meio das pernas... foco Sofya! Tentei segurar um suspiro.
— Você está bem? — Perguntou ele, olhando para mim com
cara de preocupado.
— Sim, mas parece que a...
— Socorro! Por favor!
É mesmo a senhora Johnson. Olhamos juntos para baixo e
depois um para a cara do outro, indo em disparada para a escada,
descendo por ela, até que ele segurou meu braço, com aquela mão
gigante. Não sei se estou molhada pela água do banho que estava
tomando ou se ele me fez ficar molhada novamente.
— Não, você espera aqui. Não sei se pode ser algo perigoso
— John falou num sussurro.
— Você está louco? Não pode ir sozi… — ele não me deixou
terminar, me calando com seu dedo em minha boca.
— Você fica AQUI — rosnou, ainda sussurrando e fechando a
cara.
Eu assenti, porque depois disso, as minhas pernas ficaram
bambas. Ele me olhou e desviou o olhar para baixo, enquanto
posicionava sua arma, não a de baixo, mas a de fogo. A
senhora Johnson ainda continuava gritando, e eu fui descendo na
ponta dos pés para chegar até ela.
— O que está acontecendo, senhora Johnson, a senhora está
bem? — ouvi John a perguntando em voz baixa.
— Oh querido, me ajude! Ele é enorme!
— Shh. Tem mais alguém aí dentro? — escutei ele, rosnando
baixo e engatilhando sua arma, devagar.
— Tem! Ele está no meu quarto, por favor, não o deixe fugir! —
ela pediu, ainda alarmada, mas baixando a voz.
— Tudo bem, vá para um lugar seguro — logo corri em direção
a ela, a abraçando.
Ele me fuzilou com os olhos, fechando sua cara totalmente.
— Vocês duas, subam, agora! — ele sussurrou, ainda bravo,
entrando no apartamento em seguida.
Mas não tínhamos forças para subir, e aquela pobre
senhora, que conseguia ser um pouco mais baixa que eu, grudou no
meu corpo, e eu coloquei meus braços em volta dela, para lhe
passar segurança, ou pelo menos tentar. Foram alguns minutos de
tensão quando ouvimos um barulho oco forte, mas não eram tiros, e
ela gritou novamente, quase me matando de susto. Eu já estava
quase entrando e indo atrás de John quando ele apareceu, ainda
de cara fechada, com sua arma em uma mão e na outra um... aquilo
é um...
— Um rato?! É sério, senhora Johnson?! — perguntou John,
em um tom inquisidor.
Soltei o ar de meus pulmões, aliviada, e a soltei... pelo menos
tentei. Ela olhou para o bicho já desfalecido que ele segurava pelo
rabo e me apertou ainda mais, gritando, fazendo o ar sumiu de
meus pulmões novamente.
— Senhora Johnson, calma, já está tudo bem! Já pode me
soltar agora — falei com dificuldade, pois ela, mesmo sendo
daquele tamanho, tem um aperto forte.
John continuou parado ali, enquanto eu tentava me soltar
dela sem sucesso, e quando o olhei novamente ele estava com
aquela cara debochada, de riso.
— Não! Tire isso da minha frente, o jogue longe de mim!
Ao invés de John ir em direção a porta de entrada do prédio,
ele deu um passo à frente, o que a fez se agarrar mais em mim,
me jogando para a parede e me prensando a ela. Levantei a minha
cabeça em busca de ar, e encarei furiosamente John, que não tirava
seus olhos do meu decote, que ficava cada vez mais visível
conforme ela me apertava e a toalha ia se soltando.
— Senhora Johnson está tudo bem, ele já está morto! Por
favor! — exclamei.
— Não, TIRE ELE DAQUI! — gritou, me apertando cada vez
mais.
— JOHN! — gritei para que ele tirasse o pobre rato morto de
lá.
Ele me olhou novamente, rindo discretamente, e foi em direção
a porta do edifício, saindo e voltando um minuto depois, mas aquela
velha não desgrudava de mim!
— Senhora Johnson, pronto. Ele não está mais aqui, pode me
soltar por favor?
Ela foi afrouxando seu aperto e eu fui a colocando o mais
longe possível de mim, me desvencilhando dela, que encostou na
parede, fechando seus olhos e colocando as mãos em seu peito.
Quase fiquei sem a minha toalha e, quando a ajeitava em meu
corpo, percebi que John ainda me olhava, só que com um olhar de
predador... olhando sua caça. Um olhar de desejo, que quase me
fez cair para trás.
— Ah, muito obrigada, querido, eu tenho pavor desses bichos!
— falou a pobre senhora, que foi na direção dele e o abraçou.
— Não precisava de tudo isso, senhora Johnson, mas quando
for assim, é só me chamar — John falou.
— Tudo bem, me desculpe incomodar voc... oh minha querida,
você deve estar morrendo de frio só com essa toalha. Está muito
molhada! — disse ela, virando-se para mim e pegando minhas
bochechas.
— Sim. Muito molhada — falei.
Encarei John de maneira sapeca, quase rindo de sua reação
ao escutar minhas palavras. Com a mesma cara de predador, pude
jurar que o escutei grunhir, cerrando seus punhos com força.
— Mas que bom que foi só isso, não é? Agora, se me derem
licença, vou subir. Boa noite — finalizei, acenando com a cabeça
para ela e para ele.
— Boa noite, querida.
Andei para as escadas com pressa e comecei a subir.
— Também já vou indo. Boa noite, senhora Johnson. E se
cuide.
— Boa noite, querido e obrigada!
Escutei a porta dela se fechar e o senti perto de mim.
— Muito molhada?! — ele disse.
Parei e o olhei, arqueando minhas sobrancelhas, ele ficou no
mesmo degrau que eu, e consequentemente, tive que olhar para
cima, já que ele é uma parede alta de músculos. E lá estava aquele
olhar, fazendo-me arrepiar. Eu bem que poderia entrar nos seus
joguinhos, que pelo andar da carruagem, irá acabar na minha cama
ou na dele, mas eu estou brava! Brava porque eu estava tomando
um banho delicioso e me interromperam no meio do que eu estava
fazendo. Não bastava isso, ele fez aquilo de propósito só para ficar
me olhando e tirar uma com a minha cara. Hoje não,
Senhor Gostosão!
— Sim! Reparou só agora, gênio?! — gesticulei com a mão e
continuei subindo.
Ele riu e me acompanhou.
— Você deveria ter ficado onde eu te falei para ficar.
— E deixar a senhora Johnson naquele estado? Não dava
para ficar ali, sem fazer nada — falei, quando chegamos ao nosso
corredor.
— Mas foi perigoso, não poderia ter feito aquilo — me
repreendeu, quando chegamos em frente à minha porta.
Virei para ele e ri, enquanto ele me olhava sem entender o
motivo da graça.
— Ok, Super Agente do FBI! Um rato em um apartamento é
classificado como perigoso para vocês? — continuei rindo.
Ele revirou os olhos e me encarou.
— Engraçadinha. Você sabe do que eu estou falando.
Ele estava indo em direção à sua porta e, quando se virou para
mim novamente, percebi sua ereção enorme e bem visível na sua
cueca boxer. Puta merda! Não disfarcei e olhei descaradamente,
encostando-me no batente de minha porta para não perder o
equilíbrio.
— Aliás, você deveria sair mais assim... ou sem isso, por
exemplo — ele falou, apontando para minha toalha.
Ele me olhou com aquele olhar novamente, também
encostando em seu batente. Passei minha língua nos lábios e levei
meu dedão a boca, o mordendo de maneira sedutora. Ele trincou
sua mandíbula em resposta, emitindo um grunhido baixo, que agora
eu escutei! Não serei eu a ceder primeiro, mas continuarei
a provocá-lo.
— Ah... mas eu costumo andar muito sem isso aqui dentro,
sabe como é, aqui dentro é muito quente e quanto menos
roupa, melhor — falei descaradamente, apontando para dentro — E
agora, se me der licença, vou voltar para o meu delicioso e longo
banho.
Ele grunhiu, dessa vez bem mais alto, me olhando de maneira
ameaçadora, o que me fez dar um sorriso sapeca, e me atrevi a
continuar.
— Boa noite, vizinho — lhe joguei um beijinho e uma
piscadela, fechando a porta em seguida.
Ah, vitória! Encostei-me na porta e ri, logo depois me virei e
coloquei meu ouvido encostado para ouvir se ele irá dizer alguma
coisa. E voilá!
— Filha da mãe! Irei dormir duro de novo! — resmungou
ele, fechando sua porta em um estrondo.
Foi inevitável não gargalhar! E pronto, havia ganhado minha
noite novamente!
Levantei cedo nesta manhã para minha corrida matinal de
sábado. Já estava com minha roupa de corrida e fui até o Central
Park, correr por lá. Eu amo aquele lugar, mesmo em épocas tão
geladas. É quase maio, início da primavera, e eu mal posso esperar
para ver esse lugar cheio de vida com as flores colorindo tudo.
Coloquei meus fones de ouvido e selecionei o modo Shuffle. A
primeira música que tocou foi da Rihanna, ajudando-me a aquecer
com o ritmo agitado. Comecei minha corrida a todo vapor, assim
como comecei a pensar sobre coisas do trabalho e nele... no meu
vizinho de pau grande e grosso. Só de lembrar me dá água na boca.
Soltei um grande suspiro, me lembrando da falta que eu sinto de
fazer sexo. Hoje à noite vou tentar acabar com essa seca de
algumas semanas, mas John estará fora do meu cardápio. Mas, se
for ele a tomar a iniciativa, ao invés de ficar apenas provocando,
como fez ontem — com a real intenção de mostrar seu volume —,
eu até que poderia ceder. Mas parece que o nosso jogo de provocar
um ao outro só está começando, pois percebo que ele tem a mesma
intenção que eu, só para me fazer ceder primeiro, aposto! Bom, ele
ficará frustrado, porque não irei ceder primeiro... assim espero.
Corri por quase uma hora e já estava a poucas ruas de casa
quando senti algo grande trombar em mim. Me virei para ver — e
xingar — quem fez aquilo, mas fiquei muda quando vi quem era. Ele
estava literalmente me seguindo.
— Ei, desculpe, não te vi aí embaixo — riu ele.
Cara de pau! Já está até me zoando por conta da minha altura.
Fiz um riso falso e forçado para ele, que continuou e rir da minha
atitude.
— Engraçadinho. Você está mesmo me seguindo, não é?
Pode ficar tranquilo, não é só porque sou sua nova vizinha que eu
irei te matar.
Mantive o ritmo da corrida, e ele fez o mesmo. A julgar por sua
roupa, um moletom cinza escuro, bermuda preta de tactel e tênis de
corrida, ele também estava correndo. Ele olhou para mim,
desconfiado.
— Já disse que quem está me seguindo é você — olhou para
mim e arqueou suas sobrancelhas grossas. — E isso está muito
estranho, terei que investigá-la.
Viramos a rua do nosso edifício, e eu ri com o que ele disse.
— Aí sim, eu terei que matá-lo — disse, com uma cara de
quem teve uma ideia sórdida, e ele riu, exageradamente.
— Me desculpe por rir, mas é até fofo ver alguém de um metro
e meio falando que irá matar alguém perto dos um e noventa.
Ele colocou uma mão em meu ombro, fingindo tentar me
confortar. Eu o olhei, com um olhar ameaçador, enquanto ainda
mantínhamos o ritmo da corrida. Não vou deixar ele tirar uma com a
minha cara assim, então, em um movimento rápido, reuni toda a
força e agilidade que eu tinha, pegando sua mão e seu braço, que
estava em meu ombro, o puxando para a frente usando toda a força
do meu ombro para trás, o jogando para frente com o impulso, e o
fazendo cair de costas no chão. De vez em quando faço muay thai,
além de saber muito bem sobre defesa pessoal. Foi tudo tão rápido.
Ele é muito pesado e não sei como eu consegui derrubá-lo. O
olhei espantada, e ele mais ainda. Achou que por ter sido pego de
surpresa, e por não esperar que “uma pessoa de um metro e meio”,
pudesse fazer algo assim, ele nem teve tempo de reagir. Comecei a
rir, enquanto ele ainda me olhava pasmo, caído no chão.
— Mas que porra foi essa?! — exclamou, cerrando o olhar
para mim.
— Isso foi uma pessoa de “um metro e meio” — enfatizei,
fazendo aspas com meus dedos. — Derrubando uma pessoa de
"quase um e noventa" no chão.
Acenei com a cabeça enquanto um sorriso torto de vitória
surgiu no canto dos meus lábios, e continuei caminhando para a
entrada do prédio. Olhei para trás e ele estava levantando,
rapidamente ficando ao meu lado de novo. Virei-me para ele e ele
ainda me encarava, mas não sabia se era por estar surpreso
ou bravo, com uma ruga evidente no meio de sua testa.
— O que foi? — perguntei, enquanto entrávamos no prédio.
— Eu estava despreparado. Só para você saber. — Olhou para
frente e cumprimentou James, assim como eu.
Não pude deixar de rir com sua resposta. Começamos a subir
os degraus da escada e ele continuou.
— É sério. E isso terá volta — disse ele, olhando para mim
com uma cara de desafio.
— Uh, isso é uma ameaça?!
— Pode apostar, vizinha.
— Tudo bem, Super Agente, essa eu quero ver — rimos
juntos, chegando ao nosso corredor.
Parei em frente à minha porta, e ele na frente da dele.
— Vai fazer algo hoje à noite? — perguntou.
— Sim, vou sair com uns amigos E você?
— Também. — Nos encaramos, ainda com nossas portas
abertas. Sabia que ele iria hoje! — Tudo bem então, se você
precisar de alguma coisa em relação ao apartamento, pode me
procurar. A senhora Johnson está viajando neste fim de semana.
— Tudo bem. Até logo, vizinho — falei, me despedindo.
— Mal posso esperar, vizinha — respondeu, dando uma
piscadela e fechando sua porta.
Fechei a porta, entrando e pensando no que acabou de
acontecer. E eu mal podia esperar mesmo.

Estava me arrumando correndo, pois Shantell irá passar aqui


para me dar uma carona até o Pub. Coloquei minha calça jeans
skinny preta, um body rendado da mesma cor, que lembrava mais
uma lingerie, com um decote só um pouquinho discreto, meu peep
toe preto Louboutin, com solados vermelhos e sem plataforma.
Meus cabelos estão soltos, brilhantes e com ondas perfeitas e
marcantes. Destaquei meus olhos com um delineador e lápis preto,
deixando o resto do meu rosto em tons mais suaves e neutros,
como minha boca. Estou mais que pronta.
Então, peguei meu sobretudo Versace preto — lindo de morrer!
— e minha bolsa Prada vermelha com as minhas coisas, parando
para ajeitar pequenos detalhes no espelho do aparador perto da
porta, só esperando Shantell chegar. E depois ela fala que sou eu
sou a atrasada! Escutei a porta ao lado se abrindo, revelando outras
vozes junto a do meu vizinho. Me inclinei mais na direção da porta
para escutá-los, ou tentar.
— Qual é cara?! A senhora Johnson nem está aqui. Podemos
muito bem fazer uma festa e trazer algumas garotas.
— É John! Vamos trazer umas gatas e umas bebidas!
— Não. Agora temos um novo vizinho e não podemos mais dar
festas assim.
— Vizinho? — perguntaram as outras vozes juntas.
Meu celular vibrou e, finalmente, Shantell havia chegado.
Terei que interromper a conversa porque dava para escutar a buzina
do carro dela carro daqui! Abri a porta, encontrando o olhar de John,
que assim que me viu, me olhou de cima abaixo, me comendo com
seu olhar de desejo, assim como seus dois outros amigos,
reconhecendo um deles, acho que o nome era Ramoz, ou coisa
parecida, e o outro eu ainda desconheço.
— E que vizinho! — disse o cara desconhecido. — Olá, sou
Mark, amigo de trabalho do John — acenou para mim.
— Olá Mark, e eu sou a Sofya! Olá, rapazes — respondi,
fechando a porta.
— Olá de novo, guapa.
— Ah, então ela é a gostosa do apartamento que você falou?
— falou Mark, tentando ser discreto, mas sem sucesso, olhando
para John, que abaixou a cabeça envergonhado, colocando a mão
na testa.
Olhei para ele, inclinando minha cabeça para o lado e
cerrando o olhar, esperando a sua resposta. Ele me olhou
constrangido, enquanto Ramoz e Mark se entreolharam com a cara
de riso.
— Não foi bem assim, tá legal? — começou ele.
Escutei mais buzinas e caminhei em direção a escada,
pegando meu sobretudo para vesti-lo.
— Hey, Sofya, topa uma festa aqui no apartamento do John
mais tarde? — perguntou Mark.
— Uma festa, hein?! — respondi.
— Olha, não precisa ter nada se você não concordar. — disse
John, fechando a cara para Mark, que o olhou com uma cara tipo “O
que?”.
— Eu adoro festas! Contem comigo. Agora preciso ir. Nos
vemos mais tarde então! — desci as escadas rapidamente,
acenando para eles, que me olhavam lá de cima, escorados na
grade.
— Com certeza! — responderam os três juntos, me fazendo rir.
Mesmo já estando perto da porta do hall, escutei um barulho
oco, parecido com o de um soco, e logo depois as reclamações de
Mark e Ramoz, me fazendo rir ainda mais. Apertando meu casaco
no corpo, fui correndo até o carro de Shantell, e entrei, tendo que
escutá-la me xingar pela demora até chegarmos ao nosso destino.
O Pub já está bem cheio. Fomos entrando e logo avistamos
Nigel, Kate e Lea em uma mesa, indo nos juntar a eles. Mas não há
nenhum sinal do namorado de Shantell até agora.
— Você não falou que ele vinha? — perguntei a ela.
— Ele está vindo! John foi buscá-lo, já já ele aparece. E sim,
John também está vindo — respondeu ela, dando-me uma
piscadela enquanto eu revirava os olhos.
— Até que enfim! — exclamou Nigel para nós.
— Não me culpe. A dona do atraso está ao meu lado —
Shantell apontou para mim.
Tirei o meu casaco e o coloquei no encosto da minha cadeira,
fazendo isso da forma mais sexy possível para Nigel, que estava ao
meu lado. Além de ser um arraso como "organizador", Nigel foi
fundamental para o meu estilo estar sempre na moda. Posso dizer
que ele é meu anjo da guarda profissional.
— Uau, agora vi o porquê você se atrasou. Você irá destruir
relacionamentos com essa roupa, querida. Eu criei um monstro!
Todos rimos na mesa. Pedimos uma Guinness para começar a
noite, deixando o papo e muita fofoca rolar divertidamente na mesa.
Quando eu estava terminando meu primeiro copo, escutei Shanell
gritar e sair da mesa igual louca.
— Baby! — exclamou ela, enquanto virava-me para trás para
ver a cena. — Que saudades!
— Eu também, Baby! — disse Preston, retribuindo o abraço e
dando um beijo poderoso nela.
Ele é lindo, é alto e careca. O tipo da Shantell. Não querendo
bancar a super amiga-irmã, mas Shantell é muito mais linda. Eu
invejava seu cabelo encaracolado quase crespo quando estávamos
no orfanato, ela sempre fazia penteados super legais, nos quais eu
nunca consegui fazer no meu cabelo ralo. Hoje, seus cabelos
cresceram ainda mais, formando cachos mais grossos em seu longo
cabelo castanho escuro com algumas luzes em cobre, destacando a
linda pele morena que tem. Ela é um pouco maior que eu e tem um
corpo de bailarina de dar inveja. Desviei o olhar do casal
apaixonado e o vi. Ele está lindo, e nem tinha percebido isso quando
o encontrei uma hora antes. Ele está vestindo uma camisa preta, um
jeans azul escuro e uma Timberland preta descolada, não deixando
seu look muito formal. Encontrando meu olhar, ele me deu aquele
sorriso torto de arrancar calcinhas... ai ai.
— Pelo amor de Deus, vão para um quarto — John falou,
desviando o olhar do meu e chamando a atenção do casal que está
a sua frente, fazendo todos nós rirem.
Eu me levantei e Shantell trouxe Preston para que eu,
finalmente, pudesse conhecê-lo.
— Baby, esta é a tão famosa Sofya, minha melhor amiga! Sofy,
este é meu namorado, Preston.
Estendemos nossas mãos e nos cumprimentamos, com um
sorriso.
— Finalmente, prazer em conhecê-lo, Preston! — falei, rindo e
depois ficando séria, ainda o olhando. — Ela não quis dizer apenas
"melhor amiga" e sim, irmã, então se você fizer algo que a
machuque eu caço você — continuei.
Todos rimos, inclusive ele e John. Shantell me deu um
pequeno tapa no ombro, corando levemente.
— Não tenho dúvida disso! Shantell me falou muito sobre
você e tenho certeza que faria isso.
— Bem, vamos pegar uma bebida, Baby? — perguntou
Shantell a ele.
— Claro!
— Sofy, estamos indo ao bar.
— Ok.
Os olhei indo em direção ao balcão do bar e depois voltei meu
olhar para frente. John continua lá, parado, a centímetros de mim,
me encarando. O Pub está enchendo cada vez mais.
— Vizinha. Está me seguindo? — acenou com a cabeça e
continuou com o sorriso torto. Eu já disse que esse sorriso tem o
poder de tirar calcinhas?
— Vizinho. Acho que é você que está me seguindo, já que
entrei aqui primeiro — sorri.
— Olá, John! — exclamou Nigel atrás de mim, e eu virei-me
para encará-lo, ou melhor, matá-lo com meu olhar!
Essa bicha sem vergonha está olhando para John com um
olhar de desejo descarado, com seus cotovelos sobre a mesa e os
punhos fechados, apoiando seu queixo. E logo percebi que todos na
mesa nos encaravam. É, hora das formalidades.
— Olá, Nigel, como vai? — perguntou John, educado.
— Melhor agora, gostosão.
Todos rimos, e John deu uma risada tímida, encarando o chão
e colocando as mãos no bolso da frente de sua calça, totalmente
envergonhado.
— Ah, ele é o seu vizinho gostoso, chefe? — indagou Lea.
Mortificada de tanta vergonha, a encarei com um cara de “cala
a boca menina!”, que me devolveu um olhar de “Ops”, e quando
voltei a encarar John, seus olhos estavam cerrados e seu sorriso
aumentou ainda mais. Tratei de acabar com aquilo logo e mudar de
assunto, dando um pigarro.
— John, esta é Lea, minha assistente e também a de Kate —
apontei para Kate logo depois. — E essa é Kate, que também
trabalha comigo.
Eles se cumprimentaram, e, logo depois, John foi para o bar
pegar uma cerveja. Voltei para o meu lugar, e já estava sendo
bombardeada de perguntas.
— Meu Deus, ele é um gato! Uma pena que eu já tenho um
noivo — Kate disse, fazendo um bico.
Kate está noiva de um Inglês, chamado George Flinn, o
qual ela vê apenas uma vez por mês, desde quando o conheceu em
uma viagem para Inglaterra, três anos atrás. Pois é, um longo tempo
para um relacionamento a distância, mas eles parecem realmente
estar apaixonados um pelo outro. Eu apenas ri em resposta e
quando vi, Shantell já estava ao meu lado novamente.
— Sofy, vamos até o bar com a gente, quero que você
conheça melhor o Preston!
— Tudo bem. Já volto. E parem com essa conversa,
pervertidos!
— Jamais — respondeu Nigel.
Fomos em direção a Preston, que conversava animadamente
com John.
— E aí vizinho, onde estão seus amigos? — perguntei.
Fiquei ao lado dele enquanto Shantell estava ao lado de
Preston, o abraçando.
— Eles ficaram em casa, ajeitando as coisas para a festa, já
que você deu seu aval — respondeu, nos fazendo rir.
— Shantell me falou que vocês são vizinhos. Isso é muito
interessante — disse Preston, trocando olhares divertidos com
Shantell.
Voltamos todos a mesa, enturmando Preston e John em nossa
roda e, em pouco tempo, todos já estavam convidados para ir à
festa no apartamento de John hoje. Meu vizinho está sentado ao
lado de Preston e eu ao lado de Shantell, enquanto os outros na
mesa ainda discutiam sobre diversos assuntos animadamente, John
cochichava algo para Preston, mas acabei distraída por outra coisa
que não me agradou nada. Cutuquei Shantell, apontado para quem
havia acabado de cruzar a porta.
— Olha quem está aqui — apontei.
Donna Harris. Ela fez o curso de dança com Shantell na
Juilliard, que, por sua vez, já havia sido sabotada várias vezes por
Donna, graças a sua inveja, já que Shantell sempre foi a melhor
bailarina da turma. Quando descobrimos que ela é uma mal caráter
recalcada, fomos tirar satisfação, mas o nosso tipo de "tirar
satisfação" incluía alguns tapas e ameaças. Isso causou vários
problemas a minha irmã aqui, que tinha uma bolsa de estudos lá. O
pai daquela garota mimada tentou até o impossível para tirar
Shantell do curso, mas no final, e por sorte, não conseguiu, o que
deixou Donna ainda mais possessa, e a briga se estendeu até o
final do curso. Além do mais, ela não tinha rixa apenas com
Shantell, mas também comigo, e eu sou o tipo de inimiga que
ninguém no mundo gostaria de ter, acredite em mim.
— Ha! Eu não acredito! Se ela vier até aqui eu vou pegar
aquela cara branca dela e a esfregar no chão — Shantell disse,
gesticulando com a mão e encarando Donna, me fazendo rir.
Donna encontrou nossos olhares e veio em nossa direção,
acompanhada por sua fiel cadela de estimação — que não lembrava
o nome — e seu namorado capacho.
— Estava demorando — falei, bufando e olhando para o lado.
— Olha só! Esse lugar está muito mal frequentado, não é
Britany? — disse Donna, em tom debochado, parando entre
Shantell e eu.
— Com certeza — respondeu a amiga cadela.
— O que a ralé órfã do Brooklyn faz em um lugar como esse?
— continuou ela.
Todos na mesa as olharam, enquanto seu namorado estava
um pouco mais atrás, completamente tenso, e eu sabia o porquê.
Shantell e eu nos levantamos, às encarando com nossas piores
caras de má. Preston e John fizeram o mesmo, mas estavam com o
olhar confuso.
— Olha só, Sofy, a bailarina fracassada da Juilliard — falou
Shantell, e rimos.
— Olha aqui, sua favelada, não me compare a você e sua
laia! — respondeu Donna, mexendo sua cabeça, balançando seus
cabelos negros lisos e gesticulando seu dedo para nós.
— Hey, o que está acontecendo aqui? — perguntou Preston.
Ninguém o respondeu e Shantell avançou em direção à
Donna, com a visível intenção de cumprir a sua promessa de
esfregar a cara dela no chão, mas eu a segurei antes que isso
pudesse acontecer de fato.
— Deixa, Shant, não vale a pena sujar as mãos com alguém
assim, afinal, ela já tem o que merece, uma carreira fracassada e
uma cara feia e torta... ah! E um belo par de chifres também —
provoquei.
Todos na mesa riram, mas ainda estavam tensos. Pelo olhar
furioso que Donna me devolveu, ela tinha ficado puta da vida e meu
objetivo aqui foi concluído com sucesso.
— Há! Falou a maior vadia de Nova York, que deitou com
metade dos homens desta ilha! Quem é suja e feia aqui é você,
querida, além de ser uma puta.
Ela havia mexido com a pessoa errada. Eu irei fazê-la pagar,
da maneira mais classuda possível. Segurei Shantell, que
continuava a querer avançar nela, e a puxei para trás de mim, me
aproximando de Donna, devagar, com o sorriso torto mais cínico
possível em meus lábios. Todos na mesa ficaram em silêncio,
esperando minha resposta, perceptivelmente tensos.
— Engraçado, porque seu namorado não acha isso, não é
Paul? — O olhei, e ele me encarou completamente assustado por
eu ter revelado seu segredo. — Ele me achou maravilhosa e muito
gostosa. Isso nas próprias palavras dele — continuei, sorrindo para
ela em seguida.
Todos na mesa riram e fizeram barulhos do tipo “uou”, "toma
essa!" e por aí vai. Shantell falou tudo isso e outras coisas mais,
além de palmas e outros gestos.
— É PETER! — gritou ela, com sua cara vermelha de raiva, se
voltando para o namorado logo depois. — Do que ela está falando,
Peter?
— Princesa, e-eu, nã-o, s-se-sei... — gaguejou o pobre
homem.
— Ah, qual é Peter?! — fui me aproximando dele, com uma
cara de gata manhosa. — Você disse que tinha sido a melhor noite
de sua vida.
Mais gritos ecoavam pelo Pub. É por isso que ninguém no
mundo gostaria de me ter como inimiga.
— Amor, eu, e-u...
Virei-me para ela, indo em sua direção da mesma forma que
antes, ficando bem próxima a ela.
— Além de invejar Shantell por ela ter o talento que você
sempre quis ter, você me inveja também, pois adoraria que homens
te desejassem como desejam a vadia aqui, não é? Inclusive o seu
namorado — falei, da forma mais debochada possível.
Todos na mesa gritaram ainda mais e ela perdeu ali todo o seu
controle.
— SUA VADIA! Eu vou te matar! — gritou ela.
Ela veio para cima de mim e eu dei um passo para frente,
substituindo minha cara de deboche pela cara de desafio,
levantando meu queixo, pronta para a briga. Percebi que Shantell
fez a mesma coisa ao meu lado, mas o namorado de Donna a
impediu, a tirando de lá, ambos estavam aos gritos. E eu ainda não
tinha nem acabado.
— Eu avisei para ficar fora do nosso caminho, vadia, pois é
isso que acontece se você não obedece! — disse, enquanto eles se
dirigiam para fora do Pub, e todos estavam nos olhando, ainda
eufóricos.
Ainda debochando dela, acenei com a minha mão e mandei
um beijinho. Nossos amigos começaram a me aplaudir e falar
descontroladamente. Shantell me abraçou e me encarou.
— Tinha me esquecido como eram nossas brigas! Você
arrasou, garota! Que orgulho de você! — rimos.
Olhei para John, que tinha um sorriso curioso nos lábios, assim
como seu olhar. Desviei o olhar para Nigel, que erguia o seu copo e
disse em voz alta:
— Senhoras, segurem seus maridos, temos aqui uma
destruidora de lares!
Revirei os olhos e coloquei uma mão em meu rosto, que
corou de vergonha, rindo timidamente. Todos ergueram os copos e
brindaram, nos fazendo rir ainda mais. Senti a mão de Kate puxando
meu ombro e logo depois senti seu beijo estalado em minha
bochecha. Ela já está bem alegre.
— É por isso que eu te amo! Você é a mulher mais confiante
e temida de Nova York! — ela falou, se apoiando em mim para não
cair.
— E a senhora já está bêbada!
— Sim estou, e não arranje briga comigo agora, minha
confiança está lá em cima! — ergueu sua mão, nos fazendo rir.
— Ok, gente. Que tal fecharmos a conta e irmos para a festa,
antes que a Dona Encrenca aqui — disse Preston, abraçando
Shantell e a olhando acusadoramente. — Arranje mais uma briga!
— Mas ela teve uma boa ajuda com isso, não é?! — indagou
John, olhando para mim com seu sorriso torto, fazendo todos rirem.
Pagamos a conta e fomos embora. Preston foi no carro
de John e nós fomos no de Shantell. Estou ansiosa por essa festa,
principalmente por ela ser no apartamento de John... perto da sua
cama, do seu chuveiro, hm.
Preston está no carro comigo, falando algo que eu não
prestava a atenção, pois meus pensamentos estavam naquela coisa
de um metro e meio, gostosa, linda e que está me intrigando cada
vez mais. O que foi aquilo agora a pouco? Ela se mostrou uma
mulher muito decidida, que não liga para o que os outros pensam
dela. Briguenta, folgada e marrenta para uma pessoa daquele
tamanho. Aquilo é um pitbull vestido de poodle. O que me fez
lembrar de hoje cedo, quando ela conseguiu me derrubar, me
pegando totalmente de surpresa. Ela não tem noção do perigo e
isso me faz a querer cada vez mais. Não somente conhecê-la, mas,
quem sabe, amansar a fera em outros sentidos, se é que me
entende. Eu adoro um desafio e ela é um desafio delicioso. No
entanto, tenho quase certeza que ela me vê como um desafio
também, usando seus jogos de sedução para que eu parta para
cima primeiro, Há! Logo eu, o cafajeste experiente e macho alfa
daquele edifício.
— Cara, você está me escutando? — perguntou Preston. —
Você está com a cabeça em outro lugar, tipo na sua mais nova
vizinha, não é?
— Hã, o que? Claro que não. Quer dizer…ela é turrona, não
é?
— Pois é, cara. Ela me lembra muito alguém.
— Quem?
— Você! Ela é você com calças, cara! O que me deixa
apavorado de deixar Shantell sozinha com ela. Shantell já tinha me
falado algumas histórias, mas hoje comprovei por mim mesmo.
Aquela garota é perigosa. Gente boa, mas perigosa.
Eu ri com o que ele acabou de me dizer. Preston era meu
parceiro de saídas antes da chegada de Shantell, mas parece que
ela realmente o enlaçou. Ele é meu melhor amigo desde que nos
conhecemos na academia de polícia, antes de entrarmos para o
FBI. Nasceu e viveu no Brooklyn, teve uma infância difícil, diferente
de mim. Devido ao assassinato do seu pai, ele resolveu ser um
homem da lei, e eu o admiro muito como pessoa. Então, como
Shantell é parecida com ele, e também é uma boa pessoa, eu fiquei
feliz pelo relacionamento dos dois.
Chegamos ao prédio e quando entramos no hall já escutamos
música alta. Preston falava ao telefone enquanto subíamos a
escada. Pelo visto, elas ainda não chegaram. Estávamos quase em
minha porta quando eu perguntei se estava tudo bem a ele,
que respondeu que sim, falando que elas iriam deixar Kate em casa,
já que ela não estava muito bem. Ao entrarmos no meu
apartamento, dei um suspiro pesado, vendo que a “pequena
festinha” havia transformado meu apartamento em uma balada.
Há muitas pessoas aqui, em sua maioria mulheres. Vi Mark, Ramoz
e Dany na mesa, jogando poker, cada um com uma mulher em seu
colo.
— Olha eles aí! Agora a festa está completa — disse Mark,
virando para nós.
— Não seria uma pequena festa? — perguntei, o fuzilando
com os olhos.
— Ah qual é, John! Você sabe, nós fomos chamando umas
garotas, que acabaram chamando outras garotas... e olhe para isso
cara! — falou Dany, levantando-se da mesa e me entregando uma
cerveja, enquanto gesticulava com seus braços para o apartamento
cheio.
— Está tímido agora, seu irlandês safado?! Fizemos disso um
paraíso — Ramoz falou para mim e apontando para as várias
garotas que estão ali.
— Eu acho bom essa noite valer a pena, porque não estava a
fim dessa bagunça, ainda mais no meu apartamento.
— Shantell vai me matar quando ver esse monte de garotas
aqui! — exclamou Preston, nos fazendo rir e caçoar dele.
Nos sentamos e começamos a jogar também, enquanto a
música rolava e algumas pessoas — das quais não conheço a
maioria — dançavam e conversavam animadamente. Escutei a
campainha e olhei para Preston, que confirmou quem poderia ser.
Não queria que Sofya visse meu apartamento nesse estado, mas,
segundo ela mesma, ela gosta de festas, então acho que iremos
nos divertir hoje, assim espero. Preston foi atender a porta e voltou
logo depois com Shantell, Sofya e seus amigos junto a ele. Eu ainda
estava sentando, enquanto Preston apresentava os amigos dela
para o restante da mesa, e a encarei. Ela encontrou meu olhar e
sorriu, me fazendo sorrir de volta. Levantei e ela veio em minha
direção.
— Seu apartamento é bem mais espaçoso que o meu! — ela
falou rindo.
— As vantagens de ser o dono do edifício — sorri. — Tem
mais gente do que deveria aqui.
— Ah, é uma festa. E pelo visto está muito legal — rimos
juntos.
— Vem comigo, vamos pegar uma cerveja.
Ela me seguiu até a cozinha e enquanto eu pegava as
cervejas, ela olhava a cozinha com um olhar curioso.
— Gostou? — perguntei.
— É linda, mas uma típica cozinha masculina.
— Ah é, e por quê?
— Bem, ela é moderna, mas… — Ela abriu a geladeira
novamente e apontou para dentro dela. — Mal utilizada.
Nós rimos e eu tive que concordar com ela, já que na geladeira
só havia cerveja. Entreguei a cerveja a ela e ergui minha garrafa
long neck para cima, com a intenção de brindarmos.
— Um brinde!
— E estamos brindando o que? — Ela cerrou seus olhos de
maneira curiosa e divertida, entortando sua cabeça.
— A minha nova vizinha. — Olhei para ela com meu olhar
sedutor, usando minha melhor voz.
— Um brinde, novo vizinho.
Brindamos e demos um grande gole em nossas garrafas,
ainda nos encarando.
— Hey, John! Sua vez! — gritou Mark.
Olhei frustrado em direção a mesa, querendo acabar com tudo
aquilo. Será que é tão difícil assim deixar eu levar uma mulher para
a cama?
— Estão jogando Pôquer? — perguntou Sofya.
— Sim, mas nem sei por que esses caras insistem em jogar
comigo sabendo que eu sou o melhor.
— Uh, além de um Super Agente é o mestre do Pôquer
também? — ela caçoou de mim.
— Pode apostar. Vamos, vou te mostrar do que sou capaz.
Olhei para ela, com meu olhar de caçador, mostrando que não
queria apenas lhe mostrar minhas habilidades no Pôquer, mas
também em outras coisas mais, caso ela se rendesse às minhas
investidas. Sofya passou a língua nos lábios e veio em minha
direção, mas passou direto.
— Essa eu quero ver — ela disse, num tom de desafio,
enquanto virava sua cabeça e me olhava sedutoramente com
aqueles olhos grandes, voltando para a mesa.
A observei até que ela se sentasse, ajeitando minha ereção
nas calças. Filha da mãe, aquela garota será o meu fim. Assim
como ela, voltei para mesa. Jogamos, conversamos, brincamos e
bebemos, bebemos muito. Já estava começando a ficar bêbado.
Sofya e eu trocamos olhares sugestivos a noite toda e, assim como
eu, ela estava determinada em seu jogo de sedução. Em uma
dessas trocas de olhares, Nigel a cutucou, a fazendo desviar seu
olhar para ele. Não peguei o assunto do início, mas, quando
comecei a prestar a atenção na conversa deles, ficou cada vez mais
interessante.
— Você tinha me dito que não tinha transado com ele! — falou
Nigel, falhando na sua tentativa de ser discreto.
— Eu não transei! Eu disse isso para vocês! — respondeu
Sofya, em um sussurro que fui capaz de ouvir.
— Mas na festa da Andrea todos viram você sair do quarto
onde vocês dois estavam, sua safada — Shantell falou, os fazendo
rir.
— Sim, mas ele estava tão bêbado que foi fácil tirar ele da
festa e o levar para o quarto. Eu tinha dito para aquela vadia que ela
iria se arrepender de ter feito o que fez com você, então vi no Paul
uma vantagem quando ele estava podre de bêbado, fingindo que
tivemos alguma coisa. No dia seguinte, para que ele acreditasse
que nós realmente fomos para a cama, lhe mandei uma mensagem.
Pronto! Vingança feita com sucesso.
— É Peter! — exclamou Shantell.
— Que seja.
— Foi por isso que ela estava uma fera no dia seguinte
durante o ensaio! Mas ela não sabia com quem ele estava. Até hoje
— continuou Shantell, os fazendo rir de sua revelação.
Então Sofya gostava mesmo desses joguinhos. O que para
mim é ótimo, já que o que eu tinha para lhe oferecer era o mesmo
que ela, porém, ela é realmente perigosa, como Preston havia me
dito antes. Mas por quê? Qual era sua motivação nisso? Quer dizer,
são poucas as mulheres que ficam nesses joguinhos. Eu, por
exemplo, dava para contar nos dedos as mulheres que eu havia
transado e não me ligaram no dia seguinte. Seria um coração
quebrado? Raiva do sexo oposto? Eu não sei, mas é estranho para
mim.
— Garota, você não presta mesmo, sabia? — indagou Nigel,
mas dessa vez em um tom mais alto, chamando a atenção do resto
da mesa.
— Você não viu nada. Uma vez eu tive que pedir aos
seguranças do prédio para não deixarem, de jeito nenhum, uma
mulher subir para o escritório da redação, ela queria matar Sofya! —
exclamou Lea, que estava visivelmente alterada.
— Mas, gente? Onde eu estou quando acontecem essas
coisas na redação, pelo amor de Deus?! — disse Nigel, um tanto
quanto exagerado em suas gesticulações. — E por que ela queria te
matar?
— Hey, mais respeito com a sua chefe, garota — Sofya falou,
querendo parecer autoritária, apontando seu dedo em direção a
menina, mas não obtendo sucesso, nos fazendo rir.
— Não é óbvio? Ela achou o cartão de Sofya no paletó do
marido... com uma marca de beijo.
— Mas isso não significa que eu fui para cama com ele! —
Sofya exclamou, com as mãos para o alto. — Para falar a verdade,
eu nem sabia quem era o marido dela — continuou.
Ela já está meio alta, bebericando sua bebida sempre que
podia. Assim como eu, não vou negar. Mas quando estou assim,
todos os meus sentidos ficam aguçados, colocando o predador que
há em mim no limite. Eu apenas escutava com cautela o que todos
diziam sobre ela na mesa, assim como Preston, mas ele
está sóbrio... ainda. Já Mark e Dany estavam no quarto de
hóspedes com algumas mulheres e Ramoz continuava na mesa,
babando por Sofya. Entre na fila, idiota, eu a vi primeiro.
— Foi aquele empresário que te deu mole no Baile Glam do
ano passado. Vi você no canto com ele — falou Lea.
— Mas foram só uns beijos. E eu não sabia que ele era
casado! O que eu posso fazer? — explicou Sofya, fazendo caras e
bocas, gesticulando com as mãos. — Agora parem de me difamar,
por favor.
Ela está corada, a fazendo ficar mais sexy ainda.
— Você é fuego, chica — disse Ramoz, a olhando com cara de
desejo.
— Shantell está proibida de sair com você — Preston falou, em
tom de brincadeira, apontando para a Sofya.
Sofya começou a protestar enquanto Shantell tentava conciliar
ambas as partes. Nigel estava na discussão com Sofya, que fingia
dar socos em Preston.
— Isso só vai acontecer quando você parar de sair com John!
— protestou Shantell, apontando para mim. Pronto, claro que iria
sobrar para mim.
— E por que isso? — perguntou Preston.
— Como por quê? Porque John é um cafajeste de primeira!
Sem ofensas, John — respondeu ela, olhando para mim e eu
apenas levantei as mãos, sinalizando “bandeira branca”. — Aquele
dia em você falou que iríamos sair em casal, eu, você, John e outra
garota? Lembra? — continuou ela, olhando e apontando para
Preston.
Sofya e eu trocamos olhares confusos, porém divertidos, já
que estávamos sendo motivo de briga para o casal que estava em
nossa frente.
— Pois é, John não apareceu com apenas uma garota, mas
sim com TRÊS! — finalizou ela.
Todos na mesa gritaram, olhando para mim, que fiz gestos
negativos com a cabeça, fechando os olhos e ri da situação. Eu me
lembro desse dia, foi o dia que conheci Shantell. Foi engraçado, a
intenção era atrapalhar o encontro dos dois e ver se ela estava
mesmo afim dele, mas no final ela lidou com aquilo melhor do que
eu esperava, se mostrando uma garota legal. Ela até conversou e
se divertiu com as garotas, que já nem me lembro mais os nomes.
— Ok, culpado. Mas o que eu posso fazer? Fui buscar uma em
casa e encontrei mais duas? Bônus! — respondi, fazendo com que
todos na mesa gargalharem, inclusive Sofya.
— E ainda devo mencionar o dia em que John teve que dormir
em seu apartamento porque tinha uma louca que não o deixava em
paz? E aquela garota, que me confundiu com uma das mulheres de
seu harém? Aquela maluca quis voar em mim e me comer viva!
— Oh meu Deus! — falou Nigel, já vermelho de tanto rir, e
beber, claro. — Vocês dois precisam de amigos que venham de um
convento, isso sim.
— Não precisam não. Eu vou continuar saindo com Shant,
você querendo ou não, James Brown — Sofya apontou para
Preston.
Eu joguei minha cabeça para trás de tanto rir com aquela
comparação. Preston a olhava, fingindo um olhar de julgamento.
— E eu vou continuar saindo com o James Brown aqui —
falei.
— Tudo bem, então — disse Preston. — Vamos manter nossas
amizades, se... — continuou ele, dando uma pausa dramática e
levantando seu indicador para o alto. — Vocês entenderem que não
podem mais nos induzir a este mundo pecaminoso e subversivo —
finalizou, usando um tom formal, o que fez com que eu e Sofya
gargalhássemos mais ainda.
— Ah cara, qual é? Cala a boca — reclamei, jogando um copo
de plástico vazio nele.
— Pecaminoso e subversivo — repetiu Sofya, em uma voz
engraçada, o imitando. E riu ainda mais.
Todos na mesa estavam rindo, inclusive Shantell. Foi quando
Sofya se levantou e tentou recompor-se, ajeitando seu cabelo e
dando suspiros, me olhando, tentando parecer séria.
— John, vamos selar um pacto de não mostrar mais o nosso
mundo pecaminoso e subversivo aos nossos amigos. — Estendeu a
sua mão para mim, perdendo todo seu controle em parecer séria
quando terminou sua frase, rindo muito.
Eu ri também, assim como todos na mesa, menos Preston,
que revirava os olhos. Levantei-me também e estendi minha mão
para pegar a dela, firmemente.
— Vamos manter esse mundo pecaminoso e subversivo para
nós, Sofya.
Todos soltaram um grito sugestivo para nós, e rimos.
— Isso vai ser divertido — falou Nigel.
Enquanto conversávamos e ainda bebíamos na mesa, a
música continuava a rolar, tocando This Is How We Do It, do Montell
Jordan, um clássico do Rap dos anos 90, fazendo com que Shantell
e Sofya saíssem de seus lugares para dançar no meio da sala,
abrindo espaço entre as pessoas que sobravam no apartamento.
Em um ritmo sincronizado, elas fizeram alguns passos da época e
dançavam animadamente, arrancando aplausos e gritos de todos
nós.
Já passava das 4h da manhã e as últimas pessoas em meu
apartamento já tinham indo embora, finalmente, restando apenas
Shantell, Preston eu e Sofya. Fui os acompanhando até a porta,
com Preston carregando Shantell na frente, completamente bêbada,
com Sofya ao meu lado, rindo da situação como eu.
— Ela vai dar trabalho essa noite — disse ela, apontando com
a cabeça para a amiga.
Eles se despediram e foram descendo a escada.
— Isso vai ser engraçado então — respondi.
— Pode apostar.
Ela estava indo em direção à sua porta, e se virou para mim,
continuando a andar para trás até lá.
— Você vai ter trabalho para limpar tudo isso, não é? — falou
ela, apontando para dentro do meu apartamento.
— Uma das condições para que aqueles bastardos fizessem a
festa aqui era a de que contratassem um serviço de limpeza depois,
então estou livre dessa.
— Isso foi esperto — sorriu ela de volta. — Ainda bem, porque
estava com dó de você e iria até te dar uma ajuda — continuou,
encostando seus ombros no batente de sua porta e tombando sua
cabeça de lado, com um biquinho delicioso se formando em seus
lábios.
Droga. Precisava entrar em seu jogo se eu quisesse vencer.
— Bem... se você quiser, aproveitando que tudo será limpo e
organizado em breve por outras pessoas, podemos desarrumar
ainda mais as coisas ali dentro, o que acha?
Fui em direção à sua porta, parando alguns centímetros antes.
Ela me olhava com um olhar sapeca e um sorriso nos lábios.
— Eu acho melhor não, seu apartamento já está bem
bagunçado. E eu vou bagunçar a minha cama agora. Até logo
vizinho — me respondeu, dando-me uma piscadela e entrando em
seu apartamento.
— Pilantra — falei em resposta, rindo e voltando para dentro.
— Eu ouvi isso! — gritou, me fazendo rir alto. E parecia que
ela também estava rindo.
— Até logo, vizinha — falei antes de fechar a porta.

Acordei sobressaltado com batidas na porta e a campainha


tocando. Olhei no relógio, que fica na mesa de cabeceira ao lado da
cama, e são exatamente 8h da manhã. Deus, eu estou morto. Havia
tomado tanto whisky na noite passada que agora estou com uma
dor de cabeça terrível. Levantei para atender a porta, tropeçando
em garrafas e outras coisas que estavam pelo chão, parando e
olhando a minha volta. Parecia que um furacão tinha passado por
aqui. Eu estou ficando velho demais para essa merda toda. A
campainha tocou mais uma vez e fui em direção a porta, a abrindo.
Graças a Deus, é a equipe de limpeza que Mark, Dany e Ramoz
contrataram. Os deixei entrar para que começassem o trabalho e
depois fui até a cozinha para tentar tomar um café antes de
sair, enquanto meu apartamento ficava limpo. Não há condição
alguma de fazer algo nessa cozinha. Fui até o quarto, coloquei uma
calça de moletom preta, meu tênis esportivo e uma camiseta de
Princeton. Fiz minha higiene pessoal e sai. Assim que sai pela porta,
um aroma maravilhoso de café fresco me atingiu, me fazendo
suspirar. Segui o cheiro, que vem do apartamento ao lado, e não
pude evitar... toquei sua campainha! Foi mais forte que eu. Ela abriu
a porta vestindo apenas um robe de seda cinza, na altura de suas
coxas torneadas, com uma linda cara de sono e cabelos levemente
desgrenhados. Foi inevitável não olhá-la de cima a baixo.
— John? Está tudo bem?
— Ahm, sim. Me desculpe, mas eu não pude evitar, vim pelo
cheiro de café. Não consegui fazer nada na minha cozinha, então
quando eu saí, com a intenção de comprar um café na rua, esse
cheiro me atingiu em cheio.
Ela riu, e abriu mais sua porta.
— Vem, entre — me deu passagem para que eu entrasse em
seu apartamento.
— Olha, eu não quero incomodar, não preci...
— Vem logo, John! — me olhou séria, depois voltando a rir.
Entrei, olhando o seu apartamento que, em pouco tempo, tinha
ficado bem bonito. Um típico apartamento feminino e moderno.
— Ficou bem legal aqui.
— Obrigada.
Ela passou por mim, indo em direção a sua cozinha. Meus
olhos foram automaticamente para sua bunda quando ela se
movimentava com aquele robe sexy e curto. Foi uma péssima ideia
ter colocado esse moletom, porque tinha certeza que a minha
ereção ficaria em evidência. Ela se voltou para o que fazia por lá e
eu fui em direção a bancada, ainda observando ao redor.
— Acordou cedo — puxei assunto.
— Ah, sim. Na verdade, eu tenho que trabalhar hoje —
respondeu ela, colocando o café nas xícaras.
— Trabalhar hoje? Domingo?
Ela deu um sorriso tímido, enquanto eu me sentava em um dos
banquinhos altos de inox.
— Sim, final do mês e começo do trabalho para fechar a
edição do próximo, próximo mês, se é que me entende.
— Como assim?
— Tecnicamente, estamos no finalzinho de abril, certo? Então
a edição de junho será lançada na próxima semana, ou seja,
começo de maio. Então, nesta última semana que passou, já
começamos os preparativos para a edição do mês de julho, que
será lançada em junho, e hoje será o ensaio fotográfico da nossa
capa para esta edição. Entendeu?
— Entendi. Mas a capa precisa ser feita aos domingos?
— Na verdade, há diversos fatores que influenciam para fazer
um ensaio fotográfico de capa. O de hoje, por exemplo, é o tempo e
local onde será feito. Então, não.
Ela me entregou a xícara com o café fumegante, e foi em
direção ao forno, tirando de lá pães quentinhos. Hm, o cheiro está
ótimo, assim como o café.
— Que cheiro bom! O que é? — perguntei, enquanto bebia o
café.
Ela riu, enquanto colocava alguns em uma tigela, logo depois a
trazendo para a bancada.
— Pães de milho. Só requentei, os fiz ontem.
Peguei o pão, não me importando em queimar meus dedos ou
minha boca, e dei uma mordida gigantesca. Hm, que coisa boa, puta
que pariu! Está maravilhoso. Essa garota quer me matar, me
intrigando cada vez mais!
— Jesus, garota, você sabe como atrair um homem para o seu
apartamento — falei, a fazendo rir enquanto tomava seu café e
mordiscava seu pão, já eu, estava indo para o meu segundo. —
Você gosta de cozinhar?
— Sim, adoro!
— Posso vir aqui todo dia?
Perguntei, e rimos juntos. Escutamos o seu celular tocando,
não lhe dando a oportunidade de me responder. Ela pegou o
aparelho e o atendeu, com uma cara de desconfiada.
— Kate?
A observei, enquanto eu comia outro pão. Isso está divino.
— O QUE? Mas por quê? — gritou Sofya, quase me fazendo
derrubar meu café. — Essa mulher ainda vai me matar! Como ela
faz isso em pleno domingo? Nem tive tempo para ter a ressaca de
ontem, pelo amor de Deus! Kate... — ela deu a volta na bancada da
cozinha, parando no meio do caminho e colocando uma das mãos
na testa, fechando os olhos e escutando o que estavam lhe falando.
Ela andou em direção às amplas janelas de vidro da sala, pisando
duro, e eu continuava a observando. — Tudo bem, vai segurando
isso para mim. Saio daqui em 10 min... Kate, me escuta! Eu já estou
indo, ok? Tchau — finalizou ela, desligando a ligação.
Ela saiu disparada para um dos quartos, que pressuponho ser
o seu, entrando em uma das portas que ficam no corredor, do outro
lado da sala.
— Está tudo bem? — perguntei, levantando a voz para que ela
pudesse me escutar.
— O que? Ah, sim! Quer dizer, não, mais ou menos. É a louca
da minha chefe. Ela quer começar o ensaio agora! Dá para
acreditar? Aquela bruxa tinha falado às 11h e agora quer adiantar,
bem em cima da ho... AI! — tagarelou ela, no entanto eu ainda
devorava os pães, escutando barulhos vindo do seu quarto. —
Porcaria de fecho! Argh! Eu não consigo acreditar nisso.
Ela continuou tagarelando e xingando, e eu continuei rindo e
comendo, é claro.
— Vai ficar tudo bem — falei, evitando o riso.
— Ela quer “aproveitar o sol da manhã”. Ela não tem vida
mesmo! Mas o que ela está pensando...
Olhei para as janelas e realmente estava um clima agradável
com o sol dando as caras depois de um longo inverno. Escutei
passos mais próximos e virei-me, a encontrando em passos
apressados. Ela andava batendo os pés, com uma carranca e um
grande bico, o que me fez sorrir. Ela fica uma graça quando está
brava, e percebi que ainda estava murmurando coisas e
xingamentos. Ela havia substituído seu robe por um
vestido curto azul escuro, preso com um cinto em sua cintura,
enquanto carregava seus sapatos de salto alto na mão e sua bolsa
na outra. Ela está linda. A minha vontade era pegá-la e jogá-la
naquele sofá, possuir ela ali mesmo...
— John? Está me ouvindo? — perguntou ela, enquanto se
sentava na poltrona de sua sala, colocando seus sapatos.
— O que? Desculpe.
— Eu vou ter que sair correndo, mas não vou mandá-lo
embora. Estão limpando seu apartamento ainda, certo? —
perguntou, fazendo um coque bagunçado no alto de sua cabeça.
Deus, ela está realmente linda. — John?
— Ahm, sim! Não precisa se incomodar, eu já vou.
— Não, tudo bem! — Foi em direção ao pequeno aparador
perto da porta, pegando algo em uma das gavetas. — Vou te deixar
com a chave extra, mas… — Aproveitou que estava próxima da
porta e pegou seu casaco bege, logo depois veio em minha direção,
me olhando atentamente. — Preciso confiar em você para deixá-la
em suas mãos, posso?
Eu ainda estava de boca cheia quando ela ficou próxima a
mim, na bancada. Ela está fazendo isso mesmo? Não que eu seja
um maluco, mas somente uma maluca dá sua chave assim para
quem mal conhece. Não posso aceitar.
— Sofya, tudo bem, eu já vou indo, não preci...
— John, é só por hoje, não vou deixá-la com você para
sempre, relaxa — disse, me olhando, rindo da minha reação. — E
outra, vão demorar horas para terminar de limpar seu apartamento
e, bem, você é do FBI, tem que ser uma pessoa confiável —
brincou, nos fazendo rir.
— O que te faz pensar que eu não sou um maluco? Ou que
estarei aqui ainda quando você voltar? Além de que, posso esperar
por você nu, em sua cama, ou ver sua coleção de lingerie — falei,
com um tom mais sério, mas com um leve sorriso, e me levantei,
ficando a centímetros dela.
Ela me olhou, com curiosidade, cerrando os olhos, fazendo
uma cara divertida.
— Por mais que a segunda parte seja interessante, eu gosto
de chegar e não ter ninguém me esperando. — Ela aumentou a
distância entre nós para pegar suas coisas. — Termine de comer,
espere que seu apartamento fique limpo, tranque meu apartamento
e, de noite, eu pego a chave de volta — finalizou ela, vindo em
minha direção e entregando-me a chave com um sorriso lindo, me
fazendo sorrir também.
— Tudo bem, espero que você não faça isso com mais
ninguém. Sair distribuindo a chave extra para desconhecidos é
loucura. Mesmo eu não sendo um total desconhecido, e louco —
peguei a chave, a fazendo rir.
— Claro que não, mas já que somos vizinhos, temos que
confiar um no outro e trocar favores de vez em quando — falou, indo
em direção a porta.
— Isso inclui certos tipos de favores? — usei um tom
sugestivo, a encarando com um olhar de predador quando ela se
virou para me encarar.
Ela me olhou da mesma maneira, e, de novo, seu celular
tocou. Ela abriu a porta e me olhou antes de fechá-la.
— Tchau, vizinho. E comporte-se! — Fechou a porta e atendeu
o celular. — Oi! Eu já estou indo... — gritava ela, enquanto descia as
escadas correndo.
— Tranquilo, vizinha! — gritei, pra que ela me escutasse.
Comi todos os pães que estavam na tigela e até o que ela não
havia terminado de comer. Além de linda e gostosa, ela ainda
cozinhava, isso realmente será mais difícil do que imaginava. Como
um Agente do FBI, aprendi a ler as pessoas, com seus gestos,
expressões corporais e faciais, mas ela continua me intrigando, e
muito. Eu não sabia o porquê, se era pelo fato de ela ser tão
determinada e desprendida de qualquer coisa que tirasse sua
independência, fazendo aqueles jogos de sedução, ou algo que
deixei passar. Será que uma garota faria tudo isso somente por
causa de sexo? Argh! O fato é: ela me intriga, e quanto mais eu
descubro coisas sobre ela, mais eu quero saber. Bem, dar uma
olhada geral em seu apartamento não é, diretamente, xeretar, certo?
Afinal, ela me deu sua chave, e não me parece má ideia ver sua
coleção de lingerie...
Levantei do banquinho, ajeitei as coisas e lavei a louça,
tentando, pelo menos um pouco, parar de ser pervertido, o que
é quase impossível. Fui em direção a geladeira de porta dupla onde
há várias fotos, papéis, cartões comemorativos e cartões postais
enfeitando a porta maior. Sorri ao ver alguns momentos que
pareciam muito importantes para ela. Fotos com os
amigos, selfies, fotos em outros países, como França e Itália, de um
pulo de bungee jump, na praia, ela sorria e fazia careta na maioria
delas. Passando os olhos em todas, vi uma que me chamou a
atenção e, então, a desprendi da porta. Era ela com um cara, que vi
em algumas outras fotos ali junto com seus amigos de trabalho. É
uma selfie, na qual ele estava enlaçando a cintura dela com uma
das mãos, a suspendendo no ar, enquanto a outra tirava a foto. Ela
o abraçava e o beijava no rosto, enquanto ele sorria. Parece uma
foto bem íntima. virei a foto para ver se havia algo no verso. Touché!

Para o meu Furby[1] preferido.


Com amor, Jax. Set/2014.

Ela... não, ela não poderia ter um namorado, não é? Seria um


relacionamento aberto? Não, uma paixão antiga? Procurei por mais
fotos como essa, a colocando de volta no lugar, mas não encontrei.
Bem, se algumas destas teorias estiverem corretas, isso será um
problema para os meus planos. Mas não posso e não quero pensar
nisso.
Fui olhando mais a fundo o apartamento, começando pela
sala, e uma coisa muito legal me chamou a atenção. Uma
vitrola antiga, mas que parece funcionar, e nela está o vinil do Elton
John. Na parte de baixo do móvel há outros vinis guardados, alguns
deles em destaque como, Madonna, AC/DC, Smiths, New Order,
Cyndi Lauper, Blondie, Billy Idol, INXS, Phil Collins, Led Zeppelin,
The Cure, U2 e, claro, The Rolling Stones. Ela tem toda a coletânea
dos caras, são mesmo um dos preferidos dela, como ela havia me
dito antes. Ela é nova, tem apenas vinte e cinco anos de idade, mas
tem um ótimo gosto musical, não posso negar. Ao lado da vitrola,
há um dock station de música, com entrada para iPod e celular.
Percebi que, pelo menos, da música do vizinho eu não irei reclamar
nunca.
Saí da sala e fui em direção ao corredor, chegando em uma
porta, que estava fechada. Abri e percebi que aquele era o “quarto
menor”, ou um pequeno escritório, com um sofá-cama; uma grande
escrivaninha branca com coisas de escritório organizados sobre
ela; com revistas, artigos de papelaria, um Macbook, uma cadeira
espaçosa, e coisas de yoga e pilates no canto do cômodo. Fechei a
porta, e olhei para a outra, que está aberta, revelando o pequeno
lavabo. E, finalmente, a última porta, que está entreaberta. Só
poderia ser o quarto dela. Coloquei minha mão na porta e
abri lentamente. As cortinas da grande janela de vidro, que
pega praticamente toda a outra parede lateral, estão abertas,
deixando que a luz do sol iluminasse naturalmente toda a suíte.
É um quarto bem feminino, claro. Elegante e clássico, com cores
neutras e marcantes, como o branco das paredes e dos lençóis da
cama, que é até pequena se comparado a minha, mas ideal para o
tamanho dela, sendo até um pouco grande para uma pessoa de um
metro meio. A cama tem uma grande cabeceira estofada cinza, com
as almofadas acompanhando a cor em várias formas. Há
também um lustre chique de cristais não muito grande, uma
pequena estante com livros, uma poltrona confortável, uma grande
luminária, um tapete cinza escuro felpudo, uma TV, mesinhas de
cabeceiras espelhadas em ambos os lados da cama, outro dock
station para música, entre outras coisas. É um quarto legal. Olhei
para o closet, que estava aberto, assim como a porta ao lado, o
banheiro da suíte. Eu já havia ultrapassado a barreira de stalker e
decidi parar por aqui mesmo, antes que eu fosse atrás de suas
lingeries.
Ela falou para que eu ficasse por aqui enquanto meu
apartamento fosse limpo, mas não poderia ficar. Eu queria muito
descobrir mais sobre a vida dela, mas não dessa maneira. Já que
estava com uma roupa confortável, e tudo o que eu preciso está no
bolso da minha calça, vou sair para correr um pouco. Fui em direção
à sua porta e sai, a trancando como ela me pediu. Desci
a escada e quando cheguei na calçada comecei a correr. Eu
preciso de sexo. Sofya está me intrigando tanto que toma conta de
todos os meus pensamentos a maior parte do tempo. Eu ficava duro
só de mencionar seu nome, imaginando como seria tocar em sua
pele macia, chupar aqueles peitos fartos, a fazendo ficar
molhadinha... hm, e como aquela boca se encaixaria perfeitamente
no meu pau. Dei um grande suspiro, balançando a cabeça, tentando
espantar esses pensamentos e pensar em outra solução para tirar
toda essa energia sexual acumulada em meu corpo, além de tentar
esquecer essa fissura para descobrir mais sobre ela. E eu sei quem
poderia me ajudar.
Marisa Munn. Ela é um pouco mais velha que eu, gostosa e
conservada para uma mulher de sua idade. Boa de cama e de
papo, e o melhor, só nos encontrávamos quando a conversa iria
parar na cama, ou em algum outro cômodo do meu apartamento, ou
do dela. Eu já saio com ela há alguns anos. Ela adora caras mais
novos que ela, e, por isso, um dia, quando ela foi para a mesma
academia que eu frequento, eu fui para cima dela e deu certo.
Transamos por lá mesmo, no vestiário. Ela já foi casada por muitos
anos e agora, divorciada, só quer aproveitar a vida, o que para mim
é ótimo. Peguei meu celular e liguei para ela. Nos falamos por
alguns minutos e marcamos de nos encontrarmos amanhã, em meu
apartamento. Ela, com certeza, me ajudaria a aliviar a tensão
sexual.
Por mais que eu esteja exausta, eu ainda queria bater em
Donatella. Ao menos ocorreu tudo bem ontem, Anne é muito
simpática e adorou ser fotografada no Metropolitan Museum, além
disso, o ensaio ficou lindo e o clima, equipe, e ocasião fizeram com
que tudo desse certo, para meu alívio. Quando eu cheguei em casa
ontem, John não estava mais lá, então preferi pegar minha chave
extra outro dia.
Hoje foi uma típica segunda-feira e, ainda mais depois de
ontem, eu estou em frangalhos. Já são quase 22h da noite e só
queria chegar em casa, entrar na banheira e ficar lá até que meus
dedos enrugassem. Parei o carro em frente ao prédio e quase fui
me rastejando para dentro. Estava quase na minha porta quando a
porta de John se abriu, porém não foi ele quem saiu de lá.
— Boa noite — falou uma mulher de cabelos longos e cor de
cobre, com um sorriso.
Ela estava ruborizada e com seu vestido amassado. Hm, além
disso, cheirava a sexo. Ela é bonita e, mesmo tendo uma aparência
jovial, parece estar quase na casa dos quarenta anos. Eu a olhei
com curiosidade e a respondi, também com um sorriso.
— Boa noite.
— John me falou de sua nova vizinha. Você é linda mesmo.
— Ah, obrigada — respondi, trocando sorrisos com ela.
Parece que John havia contado sobre sua “nova vizinha” para
todos do seu círculo social, e eu não sei se isso é bom ou ruim.
John apareceu logo depois na porta e, quando me viu, pareceu
surpreso, e um pouco assustado.
— Sofya... como vai?
— Vou bem e você?
— É, bem, também.
Após um momento de silêncio, a moça e eu o encaramos para
que ele nos apresentasse apropriadamente logo.
— Ah! Me desculpem — riu ele, nervosamente. — Sofya, esta
é Marisa, uma amiga. Marisa, esta é Sofya, minha nova vizinha.
Amiga? Aham, sei. Nos cumprimentamos com um aperto de
mão e eu fui retornando para a minha porta.
— Foi um prazer conhecê-la, mas se me derem licença, eu tive
um longo dia e preciso descansar. E além disso não quero
atrapalhar.
— Ah, não se preocupe.
— Ah, que isso, não atrapalha nada.
Os dois disseram ao mesmo tempo. Eu hein.
— Foi um prazer conhecê-la também, Sofya. Nos vemos por
aí. Tchau!
— Tchau! — Me despedi, entrando em meu apartamento.
— Eu levo você até lá embaixo — falou John apressadamente,
a acompanhando. — Ahm, nos falamos depois? — perguntou-me,
virando-se para mim.
— Claro, tchau!
— Até!
Fechei a porta e fui largando minhas coisas no aparador
próximo dela. Simpática a moça, só espero que ela não me faça
igual a outra e venha dar escândalos por aqui. Tudo bem que eu
não posso falar nada, mas isso não é uma coisa legal de se escutar.
Estava na cara que os dois haviam acabado de transar. John ficou
vermelho quando me viu, aliás, ele estava com uma cara ótima e
mais lindo ainda com aquele cabelo molhado, nada que uma boa
transa não nos faça, não é verdade? Olhei-me no espelho, que fica
acima do aparador, e vi meu reflexo. Oh Deus, eu estou um lixo! Me
sinto um lixo! Senti uma grande inveja daquela mulher que acabara
de sair do apartamento de John. Ela também estava com uma cara
ótima! Diferente da minha, mas quem não estaria no lugar dela, não
é mesmo? Ainda mais com aquele Deus Grego! Ai... eu preciso de
sexo! Preciso relaxar! Eu até tenho alguns contatos para resolver
esta “situação”, mas, para a maioria deles, eu não queria usar meus
joguinhos ou ter que dar explicações do tipo, “olá, então, quer vir
aqui dar uma rapidinha e depois ir embora, sem dormir aqui, pelo
amor de Deus?”. Isso é cansativo e, ultimamente, não ando com
paciência para fazer isso, é complicado demais.
Os únicos homens que eu poderia fazer isso eram dois, e
o primeiro era um amigo que conheci na faculdade. O nome dele é
Robert Jackson, um nerd — porém uma delícia com aquele corpo
atlético — que, assim como eu, para desestressar em épocas de
prova, buscava “relaxar” com outras coisas, então começamos a
transar, e muito. Era tão bom que quando acabamos a faculdade, eu
a de Jornalismo e ele a de Engenharia, continuamos a nos
encontrar de vez em quando, mas isso parou quando ele encontrou
“o amor de sua vida” em suas próprias palavras. Cyndi Carson é o
nome dela, e eles acabaram se casando. Não vou mentir que não
gostei quando Robert me contou que nossa amizade com benefícios
teria que acabar, mas fiquei feliz por ele. Já o segundo, ah, esse fico
molhada só de me lembrar.
Jax Bommer, o fotógrafo mais lindo que há! E, assim como eu,
um espírito livre. Ele é maravilhoso, alto, atlético, olhos
azuis, músculos marcantes, um cabelo loiro meio arrepiado, e uma
barba não tão grande, mas maravilhosa. Nos conhecemos em um
ensaio fotográfico para um editorial da revista. Ele não parava de
me olhar, assim como eu não parava de olhá-lo, então, assim
começou. A nossa amizade é tão legal e leve, que ele foi o primeiro
cara no qual eu me senti verdadeiramente à vontade para me abrir,
conversar e dormir junto. O sexo? 8,5... 9. Não era um 10 ainda
porque... porque, bem, eu ainda não sei direito. Segundo algumas
amigas, um orgasmo nota 10 é aquele no qual você quase
desmaia, um orgasmo tão poderoso que faz com que você perca
todos os seus sentidos, que você consiga sair completamente de
órbita e veja estrelas por alguns longos segundos de prazer. Então
estes critérios passaram a ser o meu modelo ideal para um orgasmo
nota 10 e, infelizmente, ainda não senti nada disso, por mais que,
com Jax, os orgasmos fossem ótimos.
Desde sua mudança, no início do ano passado, para sua
cidade natal, Londres, não o vejo mais. Nos falamos sempre que
podemos, mas ainda assim, sinto a falta dele. Ele é o mais próximo
de um relacionamento que eu quero ter, e ele sabe disso.
Desconfiava que Jax queria algo a mais e isso se confirmou quando
ele me chamou para ir morar com ele na Inglaterra. Mas, claro, eu
não fui, e ele sempre respeitou minhas vontades, decisões e,
principalmente, a nossa amizade. Suspirei, tentando não pensar
mais nisso, e fui em direção ao banheiro da minha suíte para
preparar meu banho.
Peguei os sais de banho e os joguei na água enquanto a
banheira enchia. Tirei minha roupa e amarrei meus cabelos num
coque no alto da cabeça, entrando na água e me sentando
lentamente na banheira. No dock station em meu quarto tocava New
Order, me relaxando totalmente. Eu amo música dos anos 80, me
faz tão bem. Encostei minha cabeça na banheira, fechando meus
olhos e pesando. Será que se eu bater na porta de John, somente
com um robe, o chamando para “tomar um vinho”, ele irá entender o
recado? Disso eu não tenho dúvidas, mas e depois? O que
irá acontecer? E é aí que eu me preocupo, já que não
tenho mais paciência para “enxotar” homens depois de ir para cama
com eles. Eu sei que ele é um cafajeste, mas ele é o cafajeste que
mora ao meu lado, muito perto. Deixei esses pensamentos tomarem
conta de minha mente, até que adormeci por ali mesmo.

Nigel e eu saímos para ir às compras no shopping perto do


escritório da redação. Donatella estava tirando nossa paz com todos
os afazeres deste início de mês, e ainda é quarta-feira, para piorar.
Já que eu não estava transando com ninguém, eu ia às compras,
que me dá prazer da mesma forma, ou quase lá. Entramos na loja
da Victoria's Secret e estávamos experimentando as amostras de
hidratantes corporais.
— E então? Você e seu vizinho selaram o pacto? —
perguntou Nigel.
— O que?
— O pacto de manter a safadeza somente entre vocês —
disse ele, me fazendo rir.
Eu tinha esquecido completamente disso. Não é para menos,
já que eu havia bebido todas.
— Não. Eu ainda estou receosa. Não estou a fim de ninguém
me enchendo o saco depois, mesmo sabendo que John é um
mulherengo que não quer isso, mas ele é meu vizinho. Isso é
inevitável.
— Querida, quem pensaria nisso com um homem daquele?
Ele é um pecado!
— Nem me fale. Aliás, vou comprar mais calcinhas, toda vez
que eu o vejo, a minha calcinha molha ou rasga automaticamente —
falei, fazendo Nigel rir. — Eu vi um mulherão sair do apartamento
dele ontem — comentei.
— O que não me espanta, o cara deve ter um harém mesmo.
— Sim! E pelo jeito dos dois, tinham acabado de transar.
— Que sorte. Poderia ter sido você! — disse ele, dando um
sorriso cínico e jogando uma calcinha fio dental vermelha em minha
cara.
— Eu sei! O que está acontecendo comigo?! Estou um trapo
ultimamente!
— Eu sei que sua promoção vem te desgastando, mas você
está brilhando, querida, meus parabéns. Porém, isso está sugando
sua vida social e te deixando uma velha frigida sem sexo. Você
precisa conciliar isso. A Sofya que eu conhecia não deixaria um
homem daquele passar, só por ser seu vizinho.
— Não é que eu deixe ele passar, até uso os meus métodos
para que ele venha até mim, se é que me entende — disse, dando
uma reboladinha e rodando em meu dedo a calcinha que ele havia
jogado em mim.
— Entendi. Ele tem cara de gostar de desafios e, melhor
ainda, de ser bom na cama, daqueles que vão com força, que não te
dá um minuto de descanso... ai ai.
Fiquei pensando naquilo, e imaginando também. É... eu
realmente terei que comprar mais calcinhas!
— Tudo bem! Eu vou partir para o ataque!
— Essa é minha garota! Agora vai, quero que você
experimente isso, isso e isso!
Ficamos na loja por mais de uma hora e, sempre que
experimentava uma peça de lingerie, desfilava para Nigel, que dava
sua nota.

Estou preparando uma carne assada com alguns legumes


selados enquanto tomava meu delicioso vinho. Depois das compras,
cozinhar me deixou melhor ainda. Ao fundo, na vitrola, toca U2, e a
voz do Bono Vox fez com que a noite ficasse maravilhosa. Estava
finalizando os vegetais na frigideira quando o interfone tocou, que
estranho, não estou esperando ninguém. Desliguei o fogo e corri
para atender.
— Quem é? — atendi, receosa.
— Tem uma moça de olhos grandes, tão grandes, que
lembram os de um Furby, morando neste apartamento?
Eu fiquei em silêncio por uns instantes. Oh Deus... não poderia
ser ele, poderia?
— Ah, sim, e eu trouxe a melhor geleia de morango do sul da
Inglaterra, a que a moça dos olhos grandes mais gosta.
É ele! Dei uns pulinhos de felicidade, apertando o botão para
que o portão de entrada se abrisse. Fui correndo em direção ao
banheiro, para me ajeitar. Cabelo solto: ok. Regata branca justa e
sexy: ok. Short curto de pijama: ok. Rosto: nem tanto. Ajeitei as
sobrancelhas, levantei um pouco os cílios e fiz um bochecho com
antisséptico bucal rapidamente. Corri em direção a porta, a
escancarando, e lá está ele, já na ponta da escada, dando um lindo
sorriso quando me viu.
— Jax! — gritei, indo em sua direção e pulando nele, passando
minhas pernas em volta de sua cintura.
Ele me agarrou e nos abraçamos, de modo que fiquei grudada
em seu corpo. Ele ainda tem o mesmo cheiro amadeirado.
Delicioso!
— Senti sua falta, Furby.
Me afastei de seu abraço e o olhei, ele está mais lindo do que
nunca. Coloquei minhas mãos em sua nunca e o puxei para meus
lábios. Ele retribuiu meu beijo de maneira calorosa, enquanto suas
mãos — que estavam me segurando pela cintura — foram para
minha bunda. Quando o clima começou a esquentar ainda mais,
escutei um pigarro vindo do outro lado do corredor,
interrompendo nosso beijo.
— Boa noite — ouvi John dizer, em um tom sério.
Meus olhos encontraram os de John. Xiii, ele não está com
uma cara muito boa. Me desvencilhei de Jax, colocando meus pés
no chão e cruzando meus braços em meu peito. Jax olhou para
John com um olhar curioso, já eu, continuo envergonhada, o que me
fez dar alguns pigarros também.
— Ahm, hey, John! — falei, dando um sorriso sem graça para
ele, que permaneceu sério. — É... Jax, esse é John, meu vizinho.
John, esse é Jax, um amigo.
— Amigo? — perguntou John, arqueando as sobrancelhas.
— Sim, e o melhor. Prazer em conhecê-lo John — disse Jax,
indo em direção a John para cumprimentá-lo. — Jax, Jax Bommer.
— Neeson, John Neeson — falou em um tom sério, pegando a
mão de Jax num aperto tão forte que ambas as mãos ficaram
brancas depois que se soltaram. — Britânico, hein?
— Sim, de Londres.
— Bem longe daqui, não acha?
John está com os braços gigantes cruzados em seu peitoral,
parecendo uma verdadeira muralha de músculos, e ainda continua
com aquela cara, chega a ser assustador vê-lo assim. Mas ele já
está com perguntas demais para o meu gosto.
— Sim, mas Nova York é como se fosse meu segundo lar,
então me sinto em casa aqui, não é Sofy?
— É sim. Jax, vamos entrar, acabei de fazer o jantar.
A cara de Jax também havia mudado, e agora a dele também
não está muito boa.
— Claro, trouxe umas coisas para você e quero lhe mostrar
tudo. E logo — respondeu ele, sugestivamente, me dando um
tapinha estalado na bunda ao entrar em meu apartamento. — Boa
noite, vizinho! — gritou ele, já lá dentro.
Não pude evitar um riso, que logo desapareceu quando eu
olhei novamente para John. Ele apertou os lábios em uma linha fina,
cerrando ainda mais o olhar.
— Boa noite, John. Nos vemos por aí — falei e fui entrando de
fininho.
— Boa noite... Furby — disse de maneira sarcástica, ainda me
olhando com um olhar sério, porém, com um pequeno sorriso se
formando no canto de seus lábios. — E boa noite para você
também, Jimmy — continuou ele, virando-se para entrar em seu
apartamento.
— É Jax! — gritou Jax, me fazendo pular antes de fechar a
porta.
— Tanto faz! — respondeu John, rindo, fechando sua porta.
Fechei a porta e fui em direção a Jax, o agarrando pelas
costas, enquanto ele olhava ao redor do meu novo apartamento.
— E então? Gostou?
— É um belo apartamento, tirando a vizinhança — respondeu,
dando ênfase na última palavra. — Seu vizinho é bem folgado —
continuou ele, virando-se para mim, me encarando e passando suas
mãos grandes em minhas costas. — Você já teve algo com ele, não
é?
O olhei, arqueando as sobrancelhas, dando um risinho sapeca.
— Por que? Está com ciúmes?
— Claro que não... só não gostei desse cara. Ele parece
aqueles policiais maus que interrogam os suspeitos.
Aquilo me fez rir, de até jogar a cabeça para trás. Mal sabe ele!
— Ok. Não vamos falar disso. — Me desvencilhei do seu
abraço e fui em direção a cozinha, para selar mais vegetais. — O
que o fez voltar para Nova York?
— Vou ficar somente até sexta de manhã. O New York Post irá
me pagar bem por algumas fotos, e então vim para cá! Na faixa —
respondeu, dando um sorriso e se sentando no banquinho. — O
cheiro está delicioso. Deus, eu senti tanta falta da sua comida!
Ele contornou a bancada, indo até a pia, onde eu
estou cozinhando, me abraçando por trás, colocando as mãos em
minha cintura e cheirando meu pescoço, enquanto a minha cabeça
inclinava para senti-lo mais.
— Jax, assim eu não vou conseguir terminar — falei, em uma
voz rouca, sentindo sua ereção atrás de mim.
— Podemos ir direto para sobremesa, o que acha?
Passei a língua entre os lábios, enquanto ele começava a
beijar meu pescoço. Soltei um gemido rouco quando ele mordiscou
a ponta da minha orelha, e ali eu desisti de me concentrar no jantar,
desligando o fogo e tirando as panelas de lá, as colocando no canto.
Virei-me para ele, o agarrando pelas golas de sua jaqueta de couro,
o empurrando em direção a geladeira, se chocando contra ela de
costas, e o beijei, calorosamente. Ele retribui o beijo da mesma
forma, descendo as suas mãos até minha bunda, me erguendo do
chão e encaixando minhas pernas em volta de sua cintura. Eu já
estou encharcada. Finalmente irei transar!
Jax me levou em direção ao sofá, me deitando lá, se apoiando
em seus joelhos, ficando um de cada lado de minhas coxas,
revelando sua ereção bem em frente aos meus olhos. Tirou sua
jaqueta e sua camiseta, as jogando do outro lado da sala. Eu passei
as mãos pelo seu peitoral e logo depois fui em direção ao seu pau,
que está louco para sair da calça, o que me fez morder os lábios.
Devagar, ele pegou o elástico do meu short, o abaixando lentamente
por minhas pernas, revelando que eu estava sem nada por baixo, o
fazendo grunhir baixo. Ele tirou meu short por completo, o jogando
para longe também, depois tirou minhas pernas debaixo das suas,
as colocando uma em cada ombro dele, me deixando exposta. Suas
mãos foram descendo por minhas coxas, com uma ele me
abriu mais e a outra chegou ao meu ponto mais sensível, me
fazendo arquear as costas e gemer.
— Senti falta disso também.
Com seu dedão, ele estimulava meu clitóris, com o indicador
— e o dedo do meio — brincava com a minha entrada. Eu
estou encharcada, cada vez mais excitada. Coloquei as minhas
mãos em volta dos meus seios, os apertando e jogando a cabeça
para trás a cada vez que Jax aumentava o ritmo com seus
dedos, logo depois os enfiando em mim, os movimentando ainda
mais, me fazendo gemer alto. Ele parou e eu protestei, o olhando
novamente, mas foi se abaixando devagar em minha direção, com
um sorriso malicioso e suas íris azuis brilhando. Conforme se
aproximava, ele retirou minhas pernas de seus ombros, as
tombando de lado, e suas mãos foram para a barra da minha
regata, a puxando lentamente para cima, enquanto sua boca veio
em direção a minha, a tomando num beijo caloroso.
Ele tirou a regata, deixando meus seios expostos, e
interrompeu nosso beijo, olhando para meus seios, mordiscando
seus lábios e soltando um grunhido. Suas mãos foram aos meus
seios, os apertando, me fazendo gemer e arquear as costas, lhe
dando mais acesso a eles, que começou a brincar com meus
mamilos, colocando um em sua boca, o sugando deliciosamente. Eu
já estou quase chegando ao meu limite, agarrando seus cabelos e
gemendo cada vez mais. O puxei para mim, para que eu pudesse
beijá-lo novamente, enquanto minhas mãos tentavam
desesperadamente remover o seu cinto e libertar o seu pau. Ele
entendeu o que eu queria e, então, levantou, se livrando do resto de
suas roupas, libertando o seu pau delicioso para mim. Mordi meus
lábios e, então, fui até ele, me ajoelhando no chão e pegando seu
membro pesado, começando a masturbá-lo, lentamente, não tirando
os meus olhos dos dele, que deu um longo gemido, jogando sua
cabeça para trás, colocando as mãos em sua cintura. Coloquei seu
pau em minha boca, o chupando com vontade, aumentando meu
ritmo a cada vez que ele gemia mais alto. Ele pegou em meus
cabelos e me levantou, me puxando.
— Se você continuar, não vou aguentar.
Ele me empurrou novamente para o sofá, me fazendo cair
deitada, vindo para cima de mim logo em seguida, abrindo minhas
pernas e se posicionando entre elas e, quando percebi, ele já estava
rasgando a embalagem do preservativo, que eu nem sei de onde ele
tirou. Depois de colocar o preservativo, seu membro foi entrando em
mim, devagar, me fazendo jogar a cabeça para trás e arquear as
costas, gemendo. Me prendendo por cada perna, ele segurava
minhas coxas firmemente, começando a aumentar o ritmo. Eu
gemia cada vez mais, o fazendo grunhir e aumentar suas
estocadas, me deixando cada vez mais perto do orgasmo.
— Jax!
O puxei para mim, que levou uma de minhas pernas junto
consigo, a colocando em seu ombro, enquanto uma de suas mãos
agarrou um dos meus seios e sua boca se colou na minha, o
fazendo aumentar o ritmo de suas estocadas, me levando ao delírio.
Minhas paredes internas começaram a apertar cada vez mais seu
membro, que em resposta investiu ainda mais forte, me contraindo
mais e mais...
— Isso, eu vou gozar!
Gritei, começando a ter espasmos e liberando meu prazer. Jax
não demorou muito e gozou logo em seguida, convulsionando e
grunhindo alto, logo depois caindo em cima de mim e pousando sua
cabeça na curva de meu pescoço, acalmando sua respiração, assim
como eu. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu estava
brincando com seus cabelos, assim como ele fazia com os meus
agora. Jax nunca foi de ficar em silêncio, principalmente depois do
sexo. Ele sempre foi muito ativo e animado, o que me fez desconfiar
que está acontecendo algo, pois ele está muito reflexivo. Ainda mais
depois dessa transa. Foi... meio estranha, não chegando nem a um
7,5, mas para quem não transava há algum tempo, e já estava em
abstinência, está ótimo.
— Está tudo bem? — perguntei, esperando por sua resposta,
que não veio. — Jax?
— O que? Falou alguma coisa?
— Você está quieto, e isso é estranho. O que houve?
Ele levantou sua cabeça, revelando uma ruga em seu
cenho, apoiando-se em seu cotovelo e me olhando.
— Não aconteceu nada, está tudo bem — respondeu, dando
de ombros para tentar afirmar suas palavras e desviando seu olhar
do meu. Hm, eu já vi esse olhar antes.
— Quem é ela, Jax?
— O que? Q-quem é ela quem? — falou, se atrapalhando com
as palavras.
Eu sabia! Depois de alguns anos de amizade, eu o
conheço bem demais para saber que tem outra na jogada e, por
mais que eu esteja curiosa, meu medo está falando por mim agora.
Não quero perder meu amigo e nossa amizade de benefícios.
— Você encontrou alguém, não é? Jax, eu conheço você.
Pode ir falando, agora! — o empurrei para o lado e me levantei para
achar minhas roupas espalhadas pela sala.
— Tudo bem! Não dá para esconder nada de você mesmo! —
Deu um grande suspiro, tirando o preservativo usado e colocando
de volta a sua cueca, me encarando depois, enquanto eu colocava
minhas roupas. — Eu encontrei alguém sim, e estou muito atraído
por ela.
— Eu sabia! E quem é ela? — Virei-me de costas, indo em
direção a cozinha para que ele não visse minha cara fechada.
— Eu a encontrei quando estava fotografando o campus de
Oxford. Ela é aluna de lá, cursa Língua Inglesa. O nome dela é
Emma.
Fui em direção ao fogão, colocando as panelas no lugar,
voltando tudo ao fogo para terminar meu jantar... preciso focar nisso,
já que nem a voz do Bono está me ajudando mais.
— Você não vai dizer nada?!
Dizer o que? Eu preciso ter cuidado com o que eu vou dizer,
pois, um lado meu queria dizer que não estou disposta a perdê-lo, e
perder o que nós temos, principalmente. Porém, o outro lado, o meu
lado racional, gritava para outro palavras como “egoísta” e “se toca,
garota! Quem nunca quis nada aqui foi você!”. É confuso para mim,
eu não quero perder isso, mas também não posso ser egoísta.
— Sofy? — chamou ele, em um tom de súplica, sentando à
minha frente na bancada, fazendo com que eu erguesse meu olhar
para ele.
— Jax, eu só quero que você seja feliz. Mesmo eu não
querendo perder o que nós temos, mas isso é inevitável, um dia
iria acontecer.
— Não vamos perder o que temos. Eu não estou com ela,
ainda.
Soltei um riso forçado, enquanto ele tentava achar uma
maneira melhor de acabar com tudo aquilo.
— Por que você está aqui então? Tenho certeza se fosse só
pelo trabalho você não teria pego um avião até aqui.
Ele me olhou, pensativo, passando suas mãos em seu rosto e
cabelo, dando um grande suspiro de frustração.
— Pelo que nós temos. Eu queria te contar e te dar a certeza
que nossa amizade vai ser eterna. — Ele se debruçou para alcançar
meu rosto com a sua mão, me fazendo o encarar. — Eu te quero
sempre do meu lado, e se não foi do jeito que um dia eu quis, te
quero do mesmo jeito que você me quer, com o que temos de mais
importante: nossa amizade.
Ele tem razão. Ele tentou de qualquer jeito ter um lance mais
sério comigo, mas eu não quis porque eu posso ter medo, talvez?
Com certeza, isso é o que mais conta, pois não quero acabar igual a
minha mãe. Eu gosto muito de Jax, mas prefiro me ter para mim
mesma. Sempre. Mas isso não significa que eu queira afastar todas
as pessoas que eu gosto da minha vida. Sorri, pegando a sua mão
e a beijando.
— Sim. Você está certo. — Empurrei levemente a sua mão e
voltei para as coisas no fogo. — Bem, o jantar já está quase pronto.
Você pode arrumar a mesa para mim?
Ele sorriu de volta e, de repente, estávamos bem de novo.
— Claro!

A carne assada está deliciosa — modéstia à parte — Jax


devorava seu prato. Enquanto eu o olhava, me lembrei de algumas
coisas importantes.
— Então, quer dizer que não vamos mais transar?
Ele me encarou, parando de comer, olhando-me com um olhar
curioso.
— Eu ainda estou solteiro. Não teria transado com você se
estivesse em um relacionamento.
— Mas você não gosta dela? — falei, comendo os vegetais do
prato.
— Eu gosto sim. Mas o que eu e ela temos é parecido com o
que nós temos, ainda — ele largou os talheres e me olhou
atentamente. — Sofy, ela quer algo a mais. E eu, por incrível que
pareça, também estou querendo isso, mas estou com medo, pois a
única pessoa que um dia me fez querer isso foi você.
Eu larguei meu garfo, surpresa. Então ele está com medo
também?
— E você está com medo que ela possa ter a mesma reação
que eu tive? — perguntei, e ele desviou o olhar para baixo,
encostando-se na cadeira.
— Sim, também. E com medo da sua reação. Com medo da
nossa amizade acabar. Eu estou... não sei, confuso.
— Você gosta dela, não é?
— Sim, bastante — uau!
— E ela gosta de você também?
— Sim, pelo menos é o que ela fala — disse, rindo.
— Então tente, Jax! Se é isso que você sente vontade de
fazer, vá em frente, se arrisque! — falei, dando um gole em minha
taça de vinho. — Olha, eu queria muito me abrir desse jeito para um
relacionamento, mas eu não consigo. Para falar a verdade, eu não
sei se eu quero.
Ele me olhou e depois olhou para o lado, dando um riso que
não alcançou seus olhos, mas continuei.
— Mas se você me disse que a nossa amizade ainda está de
pé, eu confio em você! — Ele deu um sorriso lindo, revelando o
brilho em seu olhar.
— Isso é ótimo! — falou, pegando sua taça e dando um gole
em seu vinho. — Eu estava pensando, se não vamos mais transar,
podemos ter uma despedida com estilo, pelo menos. — O olhar dele
mudou para aquele olhar safado que eu tanto gostava, e que
irei sentir muita falta.
— E você está pensando em quê? — respondi, com uma voz
carregada de malícia.
— Em algumas coisas interessantes — falou, levantando-se da
mesa, limpando sua boca com o guardanapo, e vindo em minha
direção. — Venha, quero aproveitar cada segundo — finalizou, me
pegando no colo com rapidez e fazendo-me dar um gritinho de
surpresa, rindo de sua atitude.
Fomos para o quarto e realmente aproveitamos cada segundo
daquela noite. Eu irei sentir falta dele e, por mais que me doesse, eu
sei que Jax sempre estará do meu lado de qualquer forma.
Não pude me encontrar com Jax nesta quinta à noite porque
ele iria a um jantar de negócios, por isso nossa despedida foi hoje,
no almoço, junto com o pessoal da redação, que o conhece tanto
quanto eu. Eu ainda estava digerindo o fato da nossa amizade
mudar drasticamente. Preciso aceitar isso se não ficarei frustrada.
Chamei Shantell para jantar comigo em nosso restaurante
preferido perto da Broadway e contei tudo para ela, que
desacreditou. Ela havia me pressionado para que eu o impedisse e
tentasse algo sério com ele, mas isso não vai acontecer. Shantell
ainda não entende o porquê de eu querer ficar assim, na minha,
com esse estilo de vida. Mas no final, desse jeito é melhor.
— Tudo bem então, você sabe o que é melhor para você! —
disse ela, apontando o dedo para mim, ainda em tom de julgamento.
— Mudando de assunto, Preston arranjou ingressos para o jogo dos
NETS amanhã. E você está incluída!
— Não brinca! — Arregalei os olhos, boquiaberta. — Eba!
— Sério! E é um dos jogos das semifinais da NBA! Vai ser o
máximo! — falou, dando um grande sorriso.
— Mas eu não quero ficar de vela, então...
— John vai com a gente, não esquenta, aliás, eu e Preston
ainda nos perguntamos como vocês dois não transaram ainda?! —
perguntou, me fazendo rir.
— Deixa rolar.
Conversamos e rimos até as 22h da noite, quando Preston
passou para levá-la para casa, e fiz a mesma coisa, voltando para a
minha. Assim que entrei no prédio dei de cara com John, que
também estava chegando. Eu tive que fazer um esforço para não
lamber meus lábios e voar nele, pois ele está de uniforme tático do
FBI, todo preto, mas sem o capacete e a jaqueta... ai ai, ele
está uma delícia com esse colete a prova de balas. Ele percebeu
como eu o olhava e ergueu as sobrancelhas, mas não parei por
conta disso.
— Você deveria se vestir mais assim — disse.
Ele deu aquele sorriso torto de arrancar calcinhas, me
acompanhando na escada.
— Pode ter certeza que não ganha da sua toalha — retrucou,
me fazendo rir.
— Dia cheio?
Ele deu um grande suspiro, olhando para os degraus e
acompanhando meu ritmo lento para subi-los.
— Sim, muito.
Chegando em nosso corredor, peguei minha chave na bolsa
para abrir minha porta. Acho que não custa nada chamá-lo para
tomar alguma coisa depois de um dia assim.
— Quer tomar alguma coisa?
— Seu amigo britânico ainda está aí? — perguntou, com uma
careta, me fazendo rir timidamente.
— Não.
Ele coçou sua barba, cerrando o olhar para mim e me fazendo
sorrir.
— Eu juro que eu não vou te morder — falei, encostando-me
no batente da porta, mordendo meus lábios, enquanto ele continua
parado na minha frente, pousando seus olhos em minha boca.
— Você pode não morder, mas eu mordo. E esse é o perigo.
De um olhar cheio de dúvidas, passou a um olhar de desejo,
aquele que me dá arrepios, usando sua voz grossa.
— Eu imagino. É só uma bebida Agente Mulder [2]. Vem! — Ele
riu e me seguiu para dentro.
Deixei minhas coisas no aparador, como de costume, e
pendurei meu casaco. John foi andando em direção a minha vitrola,
o que me fez sorrir.
— Você tem um ótimo gosto musical, sem contar essa vitrola,
que estilo! — falou, olhando para mim e sorrindo, o que me fez sorrir
de volta.
— Bem, então se quiser fazer as honras hoje, por favor —
apontei para a vitrola.
Ele começou a fuçar minuciosamente nos vinis do móvel e eu
fui em direção a geladeira.
— Cerveja, vinho, whisky ou vodka?
— Uau, e eu que pensei que seria só uma cervejinha,
no máximo. Isso muda meus planos com a música aqui. — Encarei
ele com o cenho franzido.
— Estava esperando o que? Cara, são quase 23h da noite —
disse, o fazendo rir enquanto ainda escolhia o vinil. — Mas se a
madame quiser, eu faço um café.
— Não, vou tomar o que você tomar.
— Será vinho então. — Fui em direção à geladeira e peguei a
garrafa.
Ele finalmente escolheu um, levantando-se, olhando para a
capa do disco com um sorriso lindo, mas não consegui ver qual era.
Peguei as taças e fui ver se havia algum petisco na despensa ou
geladeira, quando escutei Lynyrd Skynyrd tocar ao fundo.
— Boa escolha! — Virei-me para ele, que caminhava em
direção a bancada para se sentar.
— Com eles não tem erro.
Ele apoiou os braços em cima da bancada, pousando seu
peitoral neles, ainda me olhando como se eu fosse sua presa.
Coloquei as taças em nossa frente, as preenchendo com vinho, e
logo depois coloquei um pedaço do queijo Brie num prato sobre a
bancada para acompanhar. Pegamos as taças e brindamos, ainda
nos encarando.
— Então, pelo menos aquela última mulher não saiu daqui
gritando — falei, para puxar assunto, não evitando sorrir enquanto
dava um gole do vinho em minha taça.
Ele sorriu, timidamente, jogando a cabeça para os lados e
abaixando seu olhar.
— Nunca tive problemas com Marisa. Ela sabe o que eu quero.
— Ela é linda.
— Sim, e gostosa.
— E você é um porco — falei rindo, e ele me olhou dando uma
pequena risada.
— Bem, já me chamaram de coisas piores. Não ligo mais para
o que as pessoas falam.
— E não deve. É por isso que aproveitamos mais a vida. —
Ergui a taça novamente.
Ele imitou meu gesto e brindamos novamente.
— Você me intriga, sabia? — Eu o olhei, curiosa com sua
revelação.
— Por que?
— Você é tão nova e decidida. Não liga para o que os outros
falam e tem o mesmo estilo de vida que eu, no sentido de “sexo só
por diversão”, digamos assim, mas isso não é muito normal e
comum para uma garota.
Eu o olhei, franzindo o cenho, e me debrucei mais para sua
frente, colocando meu cotovelo na pedra que ficava um pouco mais
alta que a bancada, levando minha mão para o meu queixo, não
deixando o meu olhar do dele, que quando viu minha reação riu.
Então John é um machista? Hm, isso é um problema, mas,
bem, parando para pensar, o que esperar de um homem que
cresceu em berço de ouro e sempre teve tudo o que quis e quando
quis, não sendo diferente com as mulheres? Tenho certeza que ele
espera que todas caiam aos seus pés, o que não é mentira por um
lado, já que ele tem seu charme, mas para cima de mim? Ha! Não
mesmo.
— Oh, e você esperava que eu fosse uma mulher procurando
desesperadamente um príncipe encantado para se casar e brincar
de casinha, cuidando dos filhos e da casa? — falei, enquanto ele me
olhava com o olhar divertido, arqueando as sobrancelhas.
— Não, claro que não, mas é que...
— Você está acostumado a ter as mulheres na palma da sua
mão, para que elas fiquem tão na sua que venham lhe implorar por
uma ligação sua na porta de casa, pensando que você pode ser o
príncipe encantado delas. Sem mencionar que você ama fazer
joguinhos porque precisa ter o controle sobre elas. Acertei? — Seu
sorriso sumiu e ele me olhou atentamente.
— Mais ou menos isso, mas não é bem por aí. O que eu quero
dizer é que você é uma mulher firme, que não se vê por aí todo dia.
— Ah, por favor! — Comecei a rir, enquanto ele bebia seu
vinho. — Qual é? Todas as mulheres são fortes e firmes, sendo elas
virgens ou putas, ricas ou pobres, por mais que algumas não
demonstrem isso, todas são. Nós somos assim.
Ele se inclinou para mim, formando aquele sorriso torto e lindo
nos lábios, franzindo o cenho.
— Ora, ora. Temos uma feminista aqui.
— Pode apostar, machão.
— Você queima sutiã ou algo assim? — O fuzilei com os olhos,
e ele riu.
— Você já é bem grandinho e estudado para saber que o
feminismo não é isso. É sobre igualdade.
— Sendo assim, fico feliz, porque odiaria saber que você
queima sua coleção de lingerie — disse ele, com uma voz
charmosa, me fazendo sorrir.
— Minha coleção está intacta e perfeita.
— Sabe, eu estou muito curioso para ver essa sua coleção
desde o dia em que eu ouvi falar dela.
Ele se aproximou mais de mim, ficando a centímetros de
distância, bem na minha frente, enquanto eu terminava de dar um
gole no meu vinho, passando a língua em meus lábios para tirar o
excesso, e isso não passou despercebido por ele, que mudou sua
face imediatamente, assumindo sua postura de predador.
— E eu gostaria muito de ver algumas peças dessa coleção
em você. Por mais que elas corram o risco de serem rasgadas em
poucos segundos — finalizou, ainda me encarando.
Engoli a seco. Jesus, esse homem sabe como deixar uma
mulher excitada somente com palavras.
— Bem, você está com sorte. Estou usando uma das minhas
peças preferidas hoje — falei surrando maliciosamente, o fazendo
dar um pequeno grunhido, desviando o seu olhar para decote V
da minha blusa.
Quando nos olhamos novamente, ele se aproximou mais de
mim, e quando eu pensei que finalmente iria experimentar meu
vizinho gostoso, o celular dele tocou, quebrando nosso contato
visual. Ele olhou para o lado, com uma cara de raiva, bufando.
— Mas que merda! Me desculpe, mas eu preciso atender —
falou, pegando o aparelho em seu bolso o atendendo.
— Sem problemas — respondi frustrada, cortando um pedaço
do queijo e o levando à minha boca.
— John — Ele atendeu, ficando em silêncio por alguns
instantes. — Eles o que? — Se levantou, trincando sua mandíbula e
fechando seus punhos. — Mas que merda! Onde está Rhodes? —
Fez silêncio novamente, enquanto eu o observava. — Mark, reúna a
equipe... sim HOJE, reúna agora! Eu já estou a caminho — finalizou,
desligando o aparelho e o colocando novamente em seu bolso.
Ele voltou para a bancada, pegando sua taça virando todo o
vinho em um só gole.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Não. Me desculpe Sofya, os drinks vão ter que ficar para
outro dia. Tenho que voltar para a agência agora.
— Tudo bem, tenha cuidado.
— Vou ter, obrigado pelo vinho. Boa noite — disse ele, indo em
direção a porta.
— Não agradeça... boa noite.
Ele não respondeu e saiu, batendo a porta. Uau, ela realmente
estava nervoso e aquela parte de John, que é nova para mim, me
deixou tensa. Ele estava furioso. O que quer que seja, espero que
se resolva logo. Terminei minha taça e fui para o banheiro, tomar um
longo e relaxante banho pensando nele, se é que me entendem.

— Você vai sim! — gritou Shantell ao telefone. — Para com


isso! Eu e Preston não vamos ficar nos agarrando e você não vai
ficar de vela! Prometo!
Eu queria muito ver o jogo, ainda mais dos NETS, mas desde
que Shantell havia me avisado que John não iria mais porque ele
viajou de última hora para Miami hoje, eu desanimei. Não queria ir
para segurar vela.
— Shant, eu não sei...
— Sofy, por favor?! Vai ser divertido, são os NETS!
Pense nisso! — falou com sua voz de súplica.
Argh, eu odiava quando ela fazia isso.
— Tudo bem, eu vou.
— Eba! Vamos te buscar às 19h, esteja pronta! Beijinhos.
— Ok. Tchau — falei, desligando o celular.
Estou preocupada com John, ele saiu completamente
furioso do meu apartamento ontem e hoje Shantell me liga falando
que ele está em Miami a trabalho. O que quer que seja, espero que
se resolva, pois parecia ser sério. Comecei a ajeitar minha mesa, já
que Donatella, por algum milagre, deixou sua parte workaholic de
lado nesta sexta e foi embora mais cedo, e essa foi minha deixa.
Dei algumas coisas para que Lea terminasse para mim, já que
são quase 18h e eu ainda tinha que chegar em casa e me arrumar
para o jogo.
Como combinado, Shantell e Preston passaram para me
buscar e fomos ao jogo. O jogo foi sensacional com a vitória dos
NETS sobre os Bulls e, como eu previ, eu realmente segurei vela
para os pombinhos, claro. Já de volta em casa, resolvi tomar um
banho e ir para a cama mais cedo do que o de costume para uma
sexta, pois estou exausta e pretendo acordar cedo para correr e
praticar alguns exercícios pela manhã. Eu rolava na cama, ainda
pensando no que Shantell havia me dito nesta noite, que John só
voltaria na quinta e que Preston também irá para Miami na segunda,
para ajudá-lo num caso que envolve traficantes, me preocupando
ainda mais. Isso é tenso, mas sei que ele ficará bem.
Estacionei em frente ao prédio depois de ter voltado de New
Jersey, onde fui para uma reunião externa, já que ainda estamos em
andamento com a edição de julho. Preciso me desdobrar para
conseguir tudo o que surgiu na reunião de pauta, afinal, não
fui promovida à toa, e esse cargo não é fácil, prazeroso, mas não
fácil. Subindo as escadas, escutei a porta de John se abrir, o que
é estranho já ele só chegaria amanhã. Acelerei o passo para ver o
que estava acontecendo lá em cima e me deparei com uma cena
curiosa.
— Olá — falei, para uma senhora de casaco cinza e cabelos
grisalhos bem curtos.
Eu sabia que John pegava mulheres mais velhas, mas essa
aí está de parabéns.
— Olá, boa noite — respondeu ela, me encarando de maneira
curiosa. Ela tem uma cara bem fofinha. — Você é a nova moradora
do 02, certo? A vizinha de John?
Ela tem um forte sotaque britânico, que eu acho maravilhoso.
— Sim, aconteceu alguma coisa? — perguntei, cruzando meus
braços abaixo do meu peito.
— Ah não, não se preocupe. Me desculpe, meu nome é
Margareth Dench, eu cuido de John e do apartamento dele. Venho
aqui algumas vezes por mês, já que se não fosse por mim aquele
menino já teria morrido de fome.
Mas é claro que John tem alguém para cuidar dele e de suas
coisas caseiras.
— Muito prazer, senhora Dench — disse, lhe estendendo a
mão. — Pode me chamar de Sofya.
— Oh, muito prazer Sofya — respondeu ela, pegando minha
mão e olhando-me de cima a baixo, me medindo. — Bem, você é
uma jovem muito bonita e tenho certeza que John já ciscou para o
seu lado — falou, me fazendo rir.
— Ele tenta.
Ela me olhou surpresa, enquanto desprendemos nossas mãos.
— É difícil resistir aquele menino, parabéns, minha jovem, só
não sei se isso irá durar muito tempo. Aquele menino nunca
sossegou até conseguir o que quer — disse e ambas rimos. — Se
me der licença, querida, eu já estava de saída. Aproveitei que John
não está aí e fiz o que tinha que fazer. Foi um prazer conhecê-la —
despediu-se ela, colocando uma de suas mãos em meu ombro.
— O prazer foi meu, senhora Dench.
— Oh, por favor, só Mag.
— Tudo bem, Mag! Tenha uma boa noite — disse, enquanto
ela descia a escada e eu abria minha porta.
— Boa noite, Sofya.
Fechei a porta, largando as coisas no aparador. Que senhora
encantadora! Se John tivesse crescido na presença dela não me
espantaria. Eu a adorei. Fui em direção a vitrola, colocando nela o
vinil do George Michael e logo depois indo para a geladeira.
Preciso de, pelo menos, uma taça de vinho. Nigel tem razão, minha
promoção para editora executiva está me desgastando demais.
Vem sendo difícil para mim, mas eu estou amando, ainda mais por
eu ser a mais jovem a ocupar este cargo na história da Editora.
Porém, isso tem me rendido vários comentários, positivos e
negativos, como, “ela mereceu, sempre deu o seu melhor” — o que
é verdade — ou, “com certeza ela deve ter dormido com alguém da
Editora, ou pago Donatella, para subir de cargo”, são esses tipos de
comentários que rolam por lá. Se eu ligo? Estaria mentindo se
dissesse que não ligo, principalmente com esses tipos de
comentários maldosos, nos quais me dá vontade de pegar cada
língua má daquela redação e cortar fora. Mas se eu deixo isso
transparecer? Nunca. Eu nunca irei descer do salto, pelo contrário,
farei o meu melhor, como eu estou fazendo e sempre fiz, mostrando
para aquela gente que não tem o que fazer o porquê eu estou nesse
cargo, provando que, além de ser a editora executiva mais jovem de
lá, serei também a melhor editora executiva que já passou por
aquela revista.
Eu adoro desfilar com meu nariz bem empinado por aquela
redação. Eu nunca pisei em ninguém para estar ali, e nunca
irei pisar — muito menos desmerecer alguém — mas eu
irei demonstrar que nada e ninguém me abala por ali, nem mesmo
Donatella. Olhei para minha taça de vinho, ainda com meus
devaneios, quando meu celular vibrou. Hm, uma mensagem.
Número desconhecido: “Oi vizinha.”

Eu não acredito que é ele! Mas como?

Sofya: “Hey, vizinho. Como você descobriu meu número?”

John: “Esqueceu que eu sou do FBI?”

Mandei um emoji revirando os olhos.

John: “Estarei de volta amanhã e pensei em nos encontrarmos


para terminar o que começamos naquela noite.”

Sofya: “Isso seria interessante, mas amanhã estou pensando


em conhecer mais o bairro. Ainda não tive a oportunidade de olhar
por aí, principalmente os restaurantes próximos. Alguma ideia?”

John: “Tem uma pizzaria bem no estilo cantina italiana, que


tenho certeza que você irá gostar. A pizza é deliciosa.”

Sofya: “Adoro pizza. Tem sobremesa lá?”

John: “Estava pensando em uma ‘Sofya alla John’, o que


acha?”

Eu tive que rir disso.

Sofya: “Hahaha, você não presta mesmo. Combinado. Até


amanhã, vizinho.”

John: “Calma lá, mas já?!”

Sofya: “Você está trabalhando e eu estou indo tomar meu


banho, então...”
John: “Você está nua? *emoji de diabinho."

Sofya: “Não, vou tomar banho de roupa.*risos”

John: “Engraçadinha. me manda uma foto.”

Sofya: “Você é louco?”

John: “Não, mas você está me deixando.”

Sofya: “Eu não vou te mandar uma foto, pode esquecer.”

John: “Só de lingerie então?!”

Ele é terrível e está me fazendo rir. A banheira já está quase


cheia, então tive uma ideia. Coloquei a câmera do celular no timer e
o posicionei de frente para a banheira, logo depois entrando nela,
que está cheia de espuma. Estiquei uma das minhas pernas bem
para o alto e levantei as mãos para cima, abrindo a boca em um
sorriso, no tipo de pose que dizia “Olha onde eu estou agora e você
não!”. Sai da banheira para ver como a foto havia ficado, e ficou
ótima, ha! Eu estava com uma cara sapeca; cabelos mal presos em
um coque bagunçado no alto da cabeça; meus ombros estavam
desnudos, a espuma encobria bem pouco meus seios; e minha
perna estava bem esticada para cima. Isso é o máximo que ele
terá de mim hoje e, então, o enviei, esperando ansiosamente por
sua resposta, que não demorou muito para vir.

John: “Caralho! Você quer me matar, garota?”

Sofya: “Não tem nada demais aí, vai!”

John: “Ah, claro que tem! Se isso já me deixou duro, imagine o


resto.”

Sofya: “Pervertido.”
John: “Sempre. Me manda mais, por favor?!”

Sofya: “Por hoje é só vizinho. Boa noite.”

John: “Me aguarde, vizinha. Me aguarde. *emoji de diabinho.”

Não o respondi, entrando na banheira novamente e rindo. Eu


estou mesmo aguardando. E muito.

Amo a primavera! O dia estava lindo e a noite está tão fresca


que seria um pecado ficar em casa hoje. O melhor da estação são
as roupas, já que eu odeio sair encapotada de roupa até a cabeça.
Hoje, por exemplo, estou usando uma calça flare jeans, uma
sandália marrom com os saltos grossos, combinando com o cinto
marrom, uma bata branca justa na cintura, que deixa meus ombros
desnudos, e com as mangas longas e largas. Mas como não dá
para confiar cem por cento no clima em Nova York, também estou
levando uma jaqueta de couro marrom, só para prevenir. O melhor
de tudo é que já é quinta e que vou ver John, que havia me
mandado mais mensagens hoje. Vou encontrá-lo às 20h em frente
ao prédio, por isso não vou mentir que não caprichei no look. Minha
maquiagem está natural, somente destacando meus
olhos, minha longa franja está presa atrás da cabeça e estou
usando um brinco não tão grande, mas que destaca meu rosto.
Resumindo, um look boho chic[3]. Estacionei em frente ao prédio e vi
John parado na porta. Saí do carro e ele já está vindo em minha
direção, olhando para o meu carro com uma cara divertida.
— O que? — perguntei, e ele soltou sua risada.
— O carro combina com você.
— Por que?
— Pequenininho e bonitinho. — Revirei os olhos e ele riu.
— Ok, então deixa eu adivinhar qual é o seu — falei,
colocando o dedo na boca, tentando adivinhar qual seria o seu
carro, e... — Seria aquela picape preta, gigantesca, do outro lado?
— John riu.
— Com certeza. É uma Dodge Ram último modelo.
— Hm. É rústico igual a você também.
— Esqueceu do principal. — Ele se aproximou de mim, ficando
bem perto do meu rosto.
Mesmo com um salto altíssimo eu ainda tenho que erguer um
pouco a cabeça para encará-lo, e lá está aquele olhar que me
deixa de pernas bambas.
— E o que é?— perguntei, com a voz rouca.
— É grande — respondeu, dando uma piscadela e passando
direto por mim, caminhando pela calçada. — Não vamos precisar ir
de carro, é bem perto daqui. Vamos.
Engoli a seco e o acompanhei. Além de tudo ele ainda é
convencido! Mas não posso deixá-lo sair por cima e, quando
cheguei ao seu lado, não me contive.
— Que bom então, pois não daria para ir de carro mesmo, pelo
menos não no meu.
— Por que? — Ele perguntou, me encarando, e virei o rosto
para não perder sua reação.
— Porque ele é bem apertadinho — falei, usando o mesmo
tom de voz que ele, lhe devolvendo a piscadela.
Ele parou, escurecendo seu olhar, e eu continuei andando,
voltando a olhar para frente, segurando o riso.
— E aí? Vem ou não vem?
— Você adora jogar, não é garota?
E ele já está ao meu lado de novo.
— Quem começou foi você — respondi, ainda olhando para
frente.
— Eu?!
— Sim, você! — Enfatizei, olhando para ele, que está com as
sobrancelhas arqueadas.
— Claro que não! Eu soube que você tem uma coleção de
lingerie antes mesmo de saber o seu nome! — exagerou ele. Sua
resposta me fez gargalhar, e claro, o fez rir também.
— Primeiro: não fui eu quem falou sobre a minha coleção para
você.
— Mas isso conta como uma provocação.
— Sei. Para você. — Ele não respondeu, olhando apenas para
a frente.
— É aqui. Você vai gostar.
O Guido's é um típico restaurante italiano, com decorações em
verde, branco e vermelho, cheio de plantas e flores, bem
aconchegante, lembrando mesmo as antigas cantinas da Itália, me
trazendo várias lembranças de Milão. Eu amei aquela cidade. Não
fiquei por muito tempo, fui somente para o Fashion Week do ano
passado a trabalho, mas foi o suficiente para me encantar.
— É uma graça! — suspirei, o fazendo sorrir com a minha
reação.
Sentamos em uma pequena mesa para dois e pedimos uma
garrafa de vinho e uma pizza de marguerita. Conversamos de
tudo: músicas, faculdade, trabalho, viagens, entre outros. John pode
até ser um ogro em alguns momentos, mas é realmente educado e
inteligente, além de divertido. Ele já tinha viajado para muitos
países, tanto a trabalho quanto a lazer, e estudou Direito em
Princeton. A pizza havia chegado e já estávamos na terceira taça de
vinho. Ele se surpreendeu quando falei que iria para o meu quarto
pedaço, achando que eu comeria no máximo dois, deixando o
restante para ele.
— Eu tenho um dinossauro dentro de mim, e prometi a mim
mesma que nunca mais iria passar vontade de comer alguma coisa.
— Eu percebi, sempre surpreendendo — falou rindo, até que o
seu sorriso sumiu. — Mas por que prometeu isso? — perguntou
cauteloso.
Algo me dizia que ele sabe bem mais de mim do que eu sei
sobre ele, afinal, quando o perguntei como ele tinha conseguido o
meu número de celular, ele me respondeu “sou do FBI, lembra?”, e
por isso acho que ele sabe bem mais da minha vida do que deve.
Olhei para o meu prato, sem o sorriso que tinha a poucos instantes.
— Acho que você sabe que eu não tive uma infância muito
boa, não é? — disse, voltando a encará-lo.
— Sim. Eu sinto muito por isso — falou, envergonhado.
— Tudo bem, isso foi há muito tempo. O orfanato só nos dava
comida enlatada, por isso hoje eu como até o que não devo. — Dei
sorriso sem graça, voltando a brincar com a azeitona em meu prato.
Mas não quero mais falar sobre isso. — E você não pode sair por aí
investigando a vida de todos ao seu redor.
— Hey, você é minha vizinha! Eu precisava saber se você era
uma Serial Killer! Não me culpe. — ele disse, voltando a rir e me
ajudando a mudar de assunto.
Pedimos a conta e, como eu estava esperando, John mandou
que eu guardasse a carteira, me impedindo de pagar, mas eu fiz
questão em dividir a conta, mesmo a contragosto dele. Saímos de
lá, voltando para o prédio, conversando, até que ele ficou pensativo
e eu o questionei, até que ele falou.
— Aquele britânico é realmente seu amigo? — perguntou,
olhando-me, e eu não pude deixar de rir.
— Sim. Jax e eu nos conhecemos há alguns anos e tínhamos
alguns benefícios em nossa amizade, se é que me entende.
— Tinham?
— Sim. Naquele dia em que ele veio me visitar foi para dizer
que, provavelmente, não estará mais disponível para aquele tipo de
amizade que tínhamos antes.
Ele ergueu as sobrancelhas, assentindo.
— Entendi. Que bom.
— Por que o "que bom"?
— Porque não irei mais vê-lo. E o caminho está livre. — Ele
me encarou, fazendo-me dar um sorriso tímido.
Estávamos em frente ao prédio e, quando eu estava subindo
os degraus de entrada, John puxou meu braço levemente, ficando a
centímetros de mim, chamando minha atenção.
— Sofya eu...
Fomos interrompidos por uma buzina e uma voz que eu já ouvi
antes, nos distraindo do nosso momento. Olhamos em direção ao
dono daquela voz e vimos seus amigos, bem animadinhos por sinal.
— E aí, Don Juan. Que bom que voltou! Vem, sobe aí. É noite
do Pôquer na casa do Mark.
Escutei um grunhido frustrado vindo de John, que fuzilava
Dany com o olhar.
— Mas que hora, hein, Dany! — exclamou ele, com a voz dura.
— Ah, que isso! Vem logo! — Dany encontrou o meu olhar e
acenou, assim como Ramoz no banco do passageiro. — E aí,
Sofya!
— Olá, rapazes!
Eu olhei divertidamente para eles, e voltei a subir os degraus.
É, não seria hoje.
— Hey, Sofya, espera.
— Pare com isso John, está tudo bem. Nos vemos amanhã.
Escutamos mais buzinas e John virou para Dany novamente, o
mostrando o dedo do meio.
— Qual é, cara? Amarelou? Conseguimos tirar o Preston da
namorada, só falta você, vem logo!
John voltou seu olhar frustrado para mim, mas o confortei com
meu olhar suave.
— Tudo bem, relaxa! Mas me prometa que irá acabar com eles
na banca, ok? — Seus olhos ganharam brilho novamente e um
sorriso se formou em seus lábios.
— Não tenha dúvidas! Nos vemos amanhã, então.
— Boa noite, vizinho! — disse, entrando.
— Boa noite, vizinha!
Lá se vai nossa noite “subversiva”.

Enfim é sexta e, finalmente, irei sair para dançar depois de


tempos sem fazer isso! É o aniversário da Kate e vamos comemorar
em um dos clubes noturnos mais badalados da cidade, o Sky
Manhattan, um lugar super legal que fica no topo de um prédio com
uma vista privilegiada, além de ser bem contemporâneo, com
paredes em vidro, onde conseguimos ver toda a cidade enquanto
dançamos e bebemos. John havia me mandado uma mensagem
mais cedo, perguntando se eu tinha planos para hoje e o chamei
para vir conosco, já que Preston também iria, e ele topou. Por isso,
se não for para brilhar eu nem saio de casa, então coloquei um
vestido tubinho preto de alcinhas finas, com um super decote em
coração, bem justo e curto, uma sandália da mesma cor, de saltos
finos e altos, com apenas uma tira na frente e a que se prendia em
meu calcanhar, cabelos soltos em ondas marcantes, um batom meio
marrom nude, não muito escuro e meus olhos marcados em um
delineado poderoso e bem feito. Estou prontíssima! Peguei meu
casaco e minha clutch da Gucci, com estampas animadas, saindo
para pegar um táxi direto para lá, já que John não estava por aqui.
Depois de o elevador subir muitos andares, cheguei ao clube.
O ambiente está cheio, mas não lotado, e as únicas luzes que
há por ali são em tons de azul, roxo e rosa. A música está ambiente
onde ficam as mesas e o bar, mas na pista, há poucos metros daqui,
a música está alta e bem animada. E eu estarei lá já já. Encontrei o
pessoal em uma das mesas perto do bar e notei que Kate está
bem "alta" e com uma cara péssima. Cumprimentei todos e fui em
sua direção, sentando ao seu lado.
— Hey, o que houve?
— George! Ele disse que chegaria hoje mas teve que cancelar
seu voo de última hora! E ele falou que só conseguirá vir no final do
mês! — exclamou ela, tentando engolir suas lágrimas e bebendo
seu Dry Martini de uma só vez.
— Calma, Kitty, tenho certeza que ele cancelou por uma boa
causa. George ama você! — disse, a chamando por seu apelido
fofo.
— Eu sei, mas é MEU aniversário! Ele não deveria ter
cancelado, nem mesmo se a Rainha aparecesse em seu
apartamento! — reclamou ela, se alterando.
Olhei para Nigel, que apenas gesticulava com suas
mãos fazendo sinais negativos para que eu encerrasse
esse assunto.
— Ok! Iremos precisar de muita bebida hoje! Garçom?!
Enquanto bebíamos e conversávamos, tentávamos fazer Kate
aproveitar a noite e esquecer George. Shantell, Preston e John não
haviam chegado ainda. Já faz uma hora e meia que eu estou aqui e
o álcool já está fazendo efeito, preciso me jogar na pista logo. Não
me aguentei quando ouvi tocar 212, da Azealia Banks, na pista.
Agarrei Nigel — enquanto Lea cuidava de Kate — e o arrastei
correndo para lá, onde o clima está incrível. Nigel e eu começamos
a dançar na pista, usando nossos movimentos mais ousados. Eu me
esfregava nele, mas senti seu empurrão em mim para me afastar
dele, quase tirando meu ritmo.
— Você está queimando meu filme se esfregando em mim
desse jeito, pode sair!
— Seu falso!
Percebi que ele olhava para outro cara, que está o comendo
com os olhos. Me afastei e comecei a dançar sozinha e, quando a
música acabou, senti meu celular vibrar em minha mão e vi uma
mensagem na tela. Sim, dele mesmo.

John: “Você está me matando dançando desse jeito, ainda


mais com esse vestido.”

Olhei em volta e encontrei seu olhar em mim, brilhando de


desejo. Ele está tão lindo e imponente desse jeito, com aquela cara
de predador, as mãos no bolso da calça e com uma camisa preta,
ressaltando seus músculos e seu peitoral. Eu comecei a dançar
sedutoramente quando Magnets, do Disclosure, começou a tocar,
perdendo o contato visual com ele e me jogando na música, que é
muito sensual. Quando eu o olhei de novo, o vi caminhar em minha
direção, como se fosse um homem em uma missão, tirando as
mãos dos bolsos da calça. Perto dele, notei que um garoto — sim,
eu considero homens de até uns vinte e cinco anos de idade, um
garoto ainda — também vinha em minha direção. Seguindo meu
olhar, John o encarou e, logo em seguida, segurou o garoto — que é
bem mais baixo que ele — pelo ombro, chamando a atenção dele.
Ainda encarando o garoto, John apenas apontou para a saída com
sua cabeça, ameaçadoramente, e o garoto — esperto — fez o que
ele “pediu”. Aquilo me fez rir, mas não me impediu de parar de
dançar.
Ele continuou vindo em minha direção, diminuindo a distância
entre nós. Comecei a fazer o maior jogo de sedução que já fiz na
vida, usando tudo o que podia ao meu favor, dançando
sedutoramente para ele. Peguei sua mão, mantendo nosso contato
visual e mordiscando meus lábios, o que fez com que seu olhar
ficasse ainda mais escuro de desejo. Ele pegou em minha cintura,
entrando no ritmo, e, com um puxão, me trouxe para mais perto
dele, me fazendo sentir seu corpo colado no meu enquanto
dançávamos, ou pelo menos, eu tentava depois disso. Comecei a
passar as mãos pelo seu delicioso peitoral, querendo rasgar sua
camisa ali mesmo. Seu cheiro me atiçou ainda mais, fazendo minha
calcinha ficar encharcada. Ele me virou em um movimento rápido e
nada delicado, se encaixando atrás de mim com suas mãos
apertando minha cintura firmemente, e eu rebolava, sentindo sua
enorme ereção pressionando a minha bunda. Agarrei suas coxas,
para senti-lo mais, encostando minha cabeça em seu ombro,
fechando os olhos de satisfação. Ele começou a movimentar suas
mãos pela lateral do meu corpo, me fazendo dar um pequeno
gemido, e, então, começou a passar o seu nariz na curva de meu
pescoço. Ele vai me deixar louca.
— Tão cheirosa — sussurrou, grunhindo logo depois e dando-
me uma mordiscada atrás da orelha, me fazendo dar um pequeno
gemido.
Ele agarrou a barra do meu vestido, o levantando um pouco,
quase mostrando a popa da minha bunda, e continuou a
sussurrar em meu ouvido.
— Estou louco para arrancar seu vestido — continuou e me
deu outra mordiscada, me fazendo gemer novamente.
Ele largou a barra e foi subindo suas mãos pelo meu corpo,
parando-as na lateral de meus seios. Minhas mãos foram para o alto
de sua cabeça, agarrando seus sedosos cabelos sem delicadeza.
Fiz isso de propósito, para oferecer mais meus seios a ele. Eu ainda
estou de olhos fechado, mas senti sua cabeça, que está quase
grudada na minha ao meu lado, abaixar, e tenho certeza que ele
observa meus peitos, pois grunhiu novamente.
— Eles são maravilhosos, e devem ser uma delícia. Estou
louco para experimentá-los — sussurrou em meu ouvido.
Eu estou quase gozando só de ouvi-lo dizer essas coisas. Sua
ereção está tão dura que eu não parava de rebolar, e, como o
próprio refrão da música diz, “Let's embrace the point of no return”
[4]
e foi isso que eu fiz.
— É? E como você vai fazer isso? — provoquei, usando minha
melhor voz.
Ele me virou novamente e quando abri os olhos
novamente encontrei os dele, acesos de desejo. Me prendendo ao
seu corpo firmemente, uma de suas enormes mãos voou para meus
cabelos, pegando um pequeno tufo e o puxando “levemente” para
cima, para que eu não desviasse o olhar do dele, fazendo-me dar
um gemido abafado, enquanto a sua outra mão apertou fortemente
uma de minhas nádegas.
— Vamos sair logo daqui antes que eu te jogue no chão e te
coma aqui mesmo. Aí eu te mostrarei o que eu vou fazer com eles...
e não somente com eles. —falou em um tom sério, trincando sua
mandíbula, apertando ainda mais minha bunda, reforçando suas
últimas palavras.
Depois de escutar isso foi difícil manter meu equilíbrio. Meu
Deus, que homem. Quando ele me soltou, pegou minha mão para
sairmos dali, porém, senti outra mão me puxando bruscamente pelo
meu cotovelo, me fazendo parar e olhar para trás.
— Ele é meu homem, VADIA!
Eu não tive tempo de olhar para ver quem era, pois senti um
líquido se espalhar por minha cara.
— MIA! O que você está fazendo?! — gritou John para a louca
que fez isso comigo.
Eu não estou acreditando que essa vagabunda jogou bebida
em mim! Essa desgraçada! Argh, ela vai me pagar!
— O que você está fazendo com essa biscate, John?!
Não consegui olhá-la direito, pois estava tentando limpar aquilo
da minha cara. John a segurava pelo braço enquanto ela
gritava com ele e uma roda de gente curiosa se formava diante de
nós.
— Sua vadia, mexeu com a mulher errada — rosnei, indo na
direção dela.
Antes de eu alcançá-la, Shantell apareceu — do nada — com
Preston em seu encalço. Ela está com uma cara de ódio e, então,
pegou aquela vadia pelos cabelos, a arrastando até a saída. Preston
e John ficaram petrificados, enquanto eu ia em direção a elas para
ajudar Shantell, mas Preston me impediu.
— A única biscate aqui é você! E agora você vai sair daqui,
sua vadia! — gritou Shantell para a desgraçada, que tentava se
soltar.
Os seguranças estavam vindo e Shantell jogou ela para as
mãos deles.
— Tirem essa louca daqui antes que ela jogue bebida em mais
alguém!
Lea veio em minha direção, me dando alguns guardanapos de
pano para eu me secar direito. Ainda continuo cega de raiva!
— Sofy, tudo bem? — Shantell voltou, me pegando pela mão e
nos levando de volta para nossa mesa.
— Não, não está nada bem! Eu quero escalpelar aquela
desgraçada! — disse, gesticulando para a saída, onde ela já havia
sumido de vista.
— Sofya, me desculpe, eu não sabia que ela estava aqui.
Droga! — John falou, e está tão puto quanto eu.
— É tão legal sair com vocês! Sempre uma emoção nova —
Nigel falou, visivelmente bêbado, se apoiando em Lea.
Olhei para o sofá e vi Kate "desmaiada", me assustando.
— O que aconteceu com a Kate? Ela está bem?
— Eu e Preston estávamos cuidando dela antes de irmos ver o
que estava acontecendo na pista de dança. Ela estava reclamando
e disse que queria dormir, acho que bebeu demais.
— Acho melhor irmos embora, antes que vocês dois aprontem
de novo — Preston falou, apontando para mim e para John, que lhe
deu um tapa na careca de Preston, nos fazendo rir.
— Vou levar Kate para casa, não vou deixá-la nesse estado
sozinha — disse, ajudando Shantell a levantá-la do sofá.
— Eu levo ela, Baby. — Preston a pegou no colo e fomos em
direção ao elevador.
Lea estava tentando direcionar Nigel para que eles nos
acompanhassem também, mas ele está muito louco, me fazendo
rir e, quando entramos no elevador, Nigel havia salvados todos nós
de um silêncio constrangedor com seu bom humor e piadas. Assim
que saímos do edifício para esperar um táxi, e o carro de Preston
chegar, coloquei os braços ao redor do corpo com o vento gelado
que bateu em mim, mas que passou quando senti algo quente
sendo colocado por cima de meus ombros. Olhei para o lado e vi
John, com uma cara totalmente sem graça, pondo sua jaqueta de
couro ao meu redor.
— Me desculpe — John disse, em voz baixa.
— Tudo bem, acontece — falei, dando um sorriso e apertando
sua jaqueta ao meu redor.
Ele riu do meu comentário, e me abraçou. Virei minha cabeça
para trás para me despedir de Nigel e Lea, que entram no táxi, e me
desvencilhei do abraço de John logo depois, colocando sua mão em
volta do meu ombro, encostando minha cabeça no dele. Andávamos
bem devagar em direção aos nossos amigos, apenas curtindo o
momento.
— Não estava nos meus planos terminar a noite assim —
disse ele.
— Nem nos meus, mas temos tempo, não é, vizinho? — Virei
minha cabeça para olhá-lo, dando meu melhor sorriso.
— Com certeza, vizinha.
Olhei de volta para a frente e vi a cara assustada de Shantell,
olhando para trás de nós. Acompanhei seu olhar e vi a última
pessoa que queria encontrar nesta noite. Pelo amor de Deus, essa
noite não teria fim!
— Oh meu Deus, não — sussurrei, tirando o braço de John de
mim, virando-me totalmente para trás.
— O que? — John perguntou, virando-se também.
— Tira as mãos dela, seu babaca! — gritou Chris, visivelmente
bêbado, avançando em John e dando-lhe um soco.
— CHRIS! Não faça isso! Saia daqui, agora! — gritei para ele.
Shantell me puxou para perto dela e me virei para John, que
se recuperava do golpe. A sua cara está assustadora agora.
— Seu filho da puta — rosnou John.
Antes de John partir para cima dele, Preston chegou primeiro,
acertando um soco em Chris, o fazendo cair na calçada. Corri em
direção a John, para evitar que ele continuasse com aquilo,
entrando em sua frente e colocando minhas mãos em seu peitoral.
— Por favor, não! Já chega, ele está totalmente fora de si.
Ele baixou o olhar para mim, parando ali mesmo. Virei para
Preston, que gritava para que os seguranças o levassem de lá.
Entramos novamente no hall do prédio, para esperarmos o carro por
lá e pegar um pouco de gelo para John, que está com um pequeno
corte na boca. Preston colocou Kate no sofá e foi ver o porquê
estavam demorando tanto para pegar seu carro, enquanto Shantell
ficou com Kate. Sentei-me no puff em frente ao de John, que ainda
está furioso, e coloquei o gelo em sua boca.
— Me desculpe — falei, olhando para ele com o olhar culpado.
Ele voltou seu olhar para mim e me deu seu sorriso torto.
— Acontece, não é mesmo? — respondeu, nos fazendo rir. E
aquele havia virado nosso bordão.
— Está doendo? — perguntei.
— Não.
Me estiquei para pegar alguns guardanapos na mesa do
lado e, quando coloquei um em sua boca para tirar o sangue, o
peguei olhando para meu decote.
— Na verdade, está doendo sim. Eu só preciso encostar minha
cabeça em um lugar confortável — disse ele, tombando lentamente
sua cabeça em direção ao meu decote. — Macio e quente.
Eu o olhava ainda sem acreditar, cerrando o olhar e tentando ir
para trás, mas suas mãos me impediram. E, então, ele colou sua
cabeça entre os meus peitos, dando um grande gemido de
satisfação.
— Ah, bem melhor. Deus, isso é muito bom!
Eu ri, desacreditada, o empurrando para trás novamente, o
fazendo protestar.
— Hey, isso está doendo, preciso deles! — exclamou,
apontando para meus seios.
— Você está bem melhor do que deveria!
No caminho, viemos escutando Shantell e Preston com suas
piadas e broncas sobre esta noite. Fiquei no apartamento de Kate
só para me certificar se ela estava realmente bem e dar-lhe um bom
banho para colocá-la na cama. Ela está bem, só bebeu além da
conta e está totalmente na fossa. Quando a coloquei debaixo do
chuveiro, ela acordou, chorando e xingando George. A fiz ir para
cama e esperei até que dormisse novamente. Depois de finalmente
dormir, peguei um táxi de volta para casa, afinal, agora sou eu que
preciso de um banho! Que noite!

Acordei com uma leve dor de cabeça, além de estar um trapo.


Fui em direção a cozinha para preparar um café forte. Peguei a
chaleira e abri a torneira da pia para enchê-la, mas não caiu
nenhuma gota de água.
— Só pode estar de sacanagem com a minha cara!
Comecei a mexer na torneira, a balançando e dando uns
tapinhas no metal para ver se saía água, e acabei a arrancando.
— Merda!
E, então, escutei um barulho estranho vindo do cano e, ah
não...
— Ahhh! — gritei quando voou água para tudo quanto é lado
na cozinha. Corri para pegar um pano e tentar colocá-lo no cano
para conter o vazamento, mas aquilo não está adiantando e
continuava me molhando mais ainda.
— Puta que pariu, filha da puta, merda, merda, merda, argh!
Escutei minha porta sendo escancarada, chamando minha
atenção, e vi John com o olhar preocupado em minha direção.
— Mas que merda é essa!?
Ele correu para a área de serviço, escutei uns barulhos e,
então, a água parou de sair, para meu alívio. Encostei meus
cotovelos na ponta da pia, tirando o excesso de água do meu rosto
e recuperando o fôlego. Ele voltou em seguida, olhando o estrago
em volta.
— O que aconteceu aqui?
— Eu não sei! Só queria fazer meu café! — exclamei, virando-
me para ele.
Estava esperando suas palavras, mas escutei somente seu
grunhido, me chamando a atenção de volta a ele. Ele estava com
aquele olhar de predador para mim de novo e, quando olhei para o
meu estado, notei que minha regata branca justa estava
encharcada, além de estar somente com uma calcinha Calvin Klein
e nada mais. A regata está colada em meu corpo
molhado, deixando meus mamilos túrgidos, totalmente visíveis.
Minha boca abriu em um "O" e voltei a olhá-lo. Hm, ele está sem
camisa, mostrando todo aquele corpo maravilhoso e seus músculos
gigantes, seu cabelo desgrenhado, somente de cueca, e duro,
completamente duro, mostrando todo aquele volume dentro da
cueca boxer preta, me fazendo lamber os lábios.
Ele grunhiu novamente e veio em minha direção, me puxando
bruscamente para si, colando seus lábios nos meus, me beijando de
maneira urgente, calorosa e forte, e eu o retribui, com todo o desejo
que havia em mim. Levei minhas mãos para seus cabelos, o
puxando mais para mim, soltando gemidos involuntários.
Rapidamente, ele pegou em minha bunda e me ergueu, colocando-
me sentada na pia, me fazendo ficar quase no mesmo nível que ele.
Ele levou suas mãos para a lateral dos meus peitos e interrompeu
nosso beijo, indo um pouco para trás para olhá-los.
— Isso é uma visão! — sussurrou.
E eu me inclinei para trás, me apoiando nas mãos, o olhando
com a maior cara de safada, mordendo os lábios e abrindo mais
minhas pernas, arrancando outro gemido dele, pois havia empinado
ainda mais meus peitos para ele.
— Mostra para mim o que você quer fazer com eles — falei,
com a voz rouca.
Com as duas mãos, ele agarrou meus seios, os apertando sem
dó, me fazendo jogar a cabeça para trás, gemendo. Logo depois
começou a puxar meus mamilos e brincar com eles, até que uma de
suas mãos me puxou pelos cabelos de volta para sua boca, me
beijando enlouquecidamente. Eu estava tão concentrada naquilo
que não havia escutado as batidas fortes na porta, até escutar uma
voz conhecida, me fazendo interromper nosso beijo e as carícias.
— Sofya, querida. Eu vou entrar, tudo bem? Eu escutei alguns
barulhos aí dentro e estou preocupada! — disse a senhora Johnson,
girando a maçaneta.
— Oh não — sussurrei.
Olhei assustada para John, e apontei para que ele entrasse na
área de serviço, descendo para o chão e cruzando os braços em
meu peito enquanto ele ia correndo para lá.
— Sofy, oh meu Deus! O que aconteceu aqui?! — Ela
perguntou, colocando a mão na boca. — Eu ouvi seu grito, bati na
porta várias vezes sem resposta e resolvi entrar, por que sua
cozinha está alagada?
— Ahm, bom dia senhora Johnson. Parece que minha torneira
quebrou. — Peguei a torneira e a mostrei. — Hehe.
— Ah, justo hoje que estão mexendo no encanamento do
prédio!
Agora eu sei o porquê dessa bagunça. John saiu da área de
serviço, com uma das minhas toalhas enroladas em sua cintura,
dando alguns pigarros.
— Bom dia, senhora Johnson. Pronto Sofya, consegui fechar o
registro, agora vamos esperar os encanadores resolverem o
problema.
— Bom dia, querido. Por que está de toalha?
Eu coloquei uma mão em frente a boca para não rir.
— Ahm, e-eu estava indo para o banho quando também
escutei Sofya gritar — explicou ele, coçando sua barba.
— Sua toalha é linda, John — falei, tentando evitar o riso e o
vendo com a minha toalha rosa.
Ele me olhou, me repreendendo com os olhos.
— Ah, que bom que a ajudou. Mas agora preciso de você lá
embaixo, querido, e vestido! Aqueles homens estão fazendo uma
bagunça! — disse a senhora, o pegando pelo braço e o levando em
direção a porta. — Querida, assim que eles terminarem lá embaixo
eu os mando para cá para consertar isso tudo. Vista uma roupa
decente. Até logo!
John olhou para trás, concordando com a fala dela.
— Tudo bem, até logo, senhora Johnson — respondi,
enquanto ela ia em direção a porta e John me fuzilava com os olhos.
— Até logo, vizinho — finalizei, tirando minhas mãos do peito e os
deixando amostra.
Ele colocou a mão no rosto, o esfregando, e me xingando
baixo, até que a senhora Johnson o levou para fora, fechando a
porta em seguida. A cozinha está uma bagunça, mas não vou
mentir, limparei tudo aquilo com um sorriso no rosto.
Depois de resolver o problema do encanamento e acalmar a
senhora Johnson, me troquei e fui correr. Precisava pensar em tudo
o que vem acontecendo ultimamente e tentar baixar os
“ânimos”. Sofya está me deixando completamente louco. Ela não
tem pudor e é mais gostosa e mais safada do que imaginei, e isso
está me matando. Só de lembrar de hoje de manhã meu pau
começa a latejar, pensando no estado em que a vi, com seus
cabelos desalinhados e molhados e com aquela regata molhada
colada em seu corpo, mostrando aqueles peitos nos quais
venho sonhando, totalmente expostos, apenas de calcinha, hm!
Deus, aquele beijo molhado, sua pela macia e molhada, aquela voz
maliciosa que não sai da minha cabeça, me desafiando. Tão
deliciosa e bocuda. Eu queria matar a senhora Johnson por ter nos
interrompido! Mas hoje irei acabar com isso, de uma vez por todas.
Hoje Sofya não me escapa!
Voltando ao prédio, a vi saindo, indo em direção ao seu
“carrinho de boneca”, colocando algumas caixas na traseira do
carro. Dessa vez ela estava seca, porém, continua linda, com seus
cabelos amarrados para o alto, uma calça jeans e uma camiseta
branca casual. Acelerei o passo para alcançá-la antes de sair.
— Uma pena você já estar seca — chamei a atenção dela para
mim, que deu aquele sorriso lindo assim quando me viu. Percebi
que as caixas tinham roupas e alimentos, me deixando curioso.
Para onde ela vai com isso? — Mais caixas da mudança?
— Ahm... isso? Não, vou levá-las a um lugar. — Ela virou-se
para frente e fechou o porta-malas.
— Hoje à noite chamei os caras e a Shantell para uma coisa
mais íntima no meu apartamento. Vamos assistir o jogo dos NETS e
quero você lá também.
— Tinha me esquecido totalmente do jogo. Vou sim, que
horas?
— Às 20h na minha porta — respondi, enquanto ela abria a
porta do motorista. Me aproximei mais, não deixando seu olhar. —
Seu apartamento já está seco?
— O apartamento sim, já eu…
Ela quer me matar, filha da mãe! Vendo minha reação, vi seu
sorriso aumentar ainda mais. Fui para mais perto dela, que ficou
encurralada entre a porta do carro e eu.
— Hoje você não me escapa. Eu vou dar um jeito nisso e nem
tente fugir de mim — sussurrei em seu ouvido, me afastando logo
em seguida. — Até mais tarde, vizinha.
— Mal posso esperar, vizinho — disse ela, com aquela voz
manhosa que me atiça ainda mais, entrando no carro e partindo
logo depois.

O jogo já está quase começando e nada dela. Eu já


estou ficando impaciente.
— Shantell, onde está sua amiga? — perguntei, pegando outra
cerveja na geladeira.
— Ela vai atrasar mais um pouquinho, John. Já já ela está aí.
— Hm, olha só, já está assim? — Preston consegue me irritar
ainda mais. — Hey, não me olhe assim!
— Então não comece com esse papinho.
— A Sofya vem hoje? — perguntou Ramoz, sugestivamente.
Ele que segure essa língua e suas bolas mexicanas hoje.
— Cuidado, Ramoz, ou John atira em você — respondeu Dany
por mim, me fazendo rir. Sim, ele pode ter razão!
— Mas, por que?
— Porque Sofya já está na dele — disse Preston.
— John é que está na dela — riu Shantell, o "corrigindo".
— Ah, qual é!? Por que você sempre fica com as mais gatas?
— É um dom que você nunca terá, compadre — respondi.
— Cabron — xingou ele.
Shantell já estava pedindo as pizzas e o jogo já havia
começado. Eu estava quase indo atrás dela quando a campainha
tocou. Fui em direção a porta, a abrindo, e lá está ela, com seus
longos cabelos ondulados soltos, maquiagem simples, a mesma
camiseta gola V que estava a tarde, mas substituiu o jeans por uma
mini saia rodada preta e o tênis por uma sandália preta de salto.
Maravilhosa! E eu continuo aqui, parado na porta, a “admirando”.
— E aí, vai ficar babando ou vai me convidar para entrar? —
perguntou ela, e eu acordei.
Dei passagem para ela e, quando ela passou por mim, segurei
seu braço e sussurrei em seu ouvido.
— Você está gostosa pra caralho — falei, e soltei seu braço.
Ela continuou a entrar, olhando para trás e me encarando com
aquele sorriso sapeca nos lábios.
— Trouxe lanchinhos! — disse ela, para todos, que a
cumprimentaram e depois voltaram para o sofá.
Eu comi praticamente todos os "lanchinhos", o que causou a
revolta da maioria que estava ali. Os NETS estão ganhando e
enquanto todos estão focados no jogo, eu e Sofya trocamos olhares
a todo momento, o que, para mim, é estranho, pois nada me tira a
atenção dos NETS, mas pelo visto, Sofya conseguiu isso. Quando a
pizza chegou comemos iguais porcos, exceto Shantell. Assim como
eu, os outros — menos sua amiga — ficaram surpresos com o
quanto Sofya come. Realmente ela tem um dinossauro dentro dela.
Dany já estava preparado para pegar o último pedaço de mussarela,
depois de ter comido quase uma pizza sozinho, mas eu fui mais
rápido, pegando a pizza e quase acabando com ela em uma só
mordida, o deixando furioso e nos fazendo rir.
— Que isso, cara! Vai se foder! — reclamou, puto da vida.
— Shh! Prestem atenção no jogo. Só tem mais 10 minutos! —
exclamou Shantell.
— Eu vou lavar a louça e tirar essa bagunça daqui —
sussurrou Sofya, levantando-se para pegar as coisas.
— Eu te ajudo! — Me prontifiquei, engolindo o outro pedaço e
me limpando com o guardanapo.
A segui até a cozinha, onde ela começava a juntar as coisas,
se abaixando um pouco mais a cada vez que colocava a louça no
fundo da pia, sendo inevitável não olhar para sua bunda, que fica
mais empinada sempre que ela repete o movimento, me deixando
louco. Sem contar que, aquela mini saia favorece muito as curvas
de sua bunda. Meus sentidos se aguçaram intensamente, não só
por causa da cerveja, mas pelo desejo acumulado de tê-la embaixo
de mim. Fui em sua direção, parando a poucos centímetros atrás
dela.
— Tem mais aqui — falei, colocando alguns pratos na pia, indo
mais para frente e colando meu corpo ao dela. Ela deu um pulo,
olhando para trás.
— John… — sussurrou, em um alerta.
Eu prendi minhas mãos em sua cintura, sentindo aquela bunda
gostosa em meu pau.
— Só estou te ajudando — sussurrei em seu ouvido.
Ela se desvencilhou das minhas mãos, dando um risinho baixo
e me dando um empurrãozinho para trás.
— Se comporte — falou, virando-se para frente novamente.
Olhei para a sala e todos estão atentos na TV, fazendo
comentários sobre o jogo. Além disso, a grande bancada esconde a
maior parte do nosso corpo.
— Onde fica a esponja?
— Eu pego para você. — Me aproximei novamente por trás
dela, mas dessa vez fui um pouco mais bruto, o que a fez segurar a
borda da pia.
Dei um sorriso de vitória quando ela suspirou pesadamente,
abafando um gemido. Abri o armário, que fica acima de nós, mesmo
sabendo que não é ali que fica os utensílios de louça.
— Não. Não está aqui. Deve estar no armário debaixo — falei,
me abaixando devagar e deslizando minhas mãos pela lateral de
seu corpo, sentindo suas deliciosas curvas, mas ela me parou,
segurando minhas mãos, justo quando eu estava quase chegando
em sua bunda.
— Eu pego — ela disse, me levantando e me afastando com a
sua mão.
Eu a olhei e lá está, aquele olhar de safada. Ela virou-se
novamente, agachando somente seu tronco, devagar, deixando sua
bunda cada vez mais empinada. Meu Deus, essa garota vai me
matar! Sua bunda ficou parcialmente exposta para mim, revelando
um pedaço de sua pequena calcinha preta e uma faixa de renda
envolta em uma de suas coxas. Soltei um grunhido, que logo tive
que disfarçar com uma tosse forçada, o que a fez rir e subir,
lentamente, já com as coisas em suas mãos, que eu nem a vi pegar.
Meu pau está latejando e eu tive que ajeitá-lo dentro da calça jeans.
— Puta que pariu — falei, um pouco mais alto do que deveria,
passando a mão em minha barba.
— Por que você está xingando se acabamos de fazer outra
cesta de três pontos? — perguntou Dany, atraindo a minha atenção
para ele e arrancando uma risada abafada de Sofya.
— Não, ahm... puta que pariu, que cesta! Foi isso o que eu
quis dizer. — O olhei com um olhar de “não é óbvio?", que não o
afetou, já que decidiu voltar a prestar atenção no jogo.
Sofya começou a lavar a louça e eu peguei o pano de prato, o
deixando cair “sem querer” ao lado de seus pés. Ela me olhou
novamente, cerrando o olhar para mim quando entendeu o meu
plano.
— Me desculpe — disse, cinicamente.
Me abaixei, esquecendo do pano de prato, começando a subir
minhas mãos por suas pernas macias, sentido o calor da sua pele.
Ajoelhei e continuei a contorná-la, apertando suas coxas, a fazendo
perder um pouco o equilíbrio e esquecer do que estava fazendo.
Não pude evitar de sorrir ao ver que eu também provoco esse efeito
nela. Agarrei a barra da sua saia, a levantando devagar, revelando
aquela bunda maravilhosa com aquele fio dental preto escondendo
sua boceta. Puta merda! Precisei me conter para não soltar um
gemido de prazer. Ela juntou as pernas, mostrando que também
está excitada, e eu comecei a beijar suas coxas, subindo até chegar
em sua bunda, enquanto minhas mãos a mantém firme pela lateral
de cada nádega. Comecei a mordiscá-la, apertando ainda mais sua
bunda, e ela soltou um pequeno gemido que só eu pude ouvir.
Afastei um pouco meu corpo e a trouxe junto comigo para que
ela empinasse aquela bunda gostosa para mim e, assim que
ela fez, tive uma visão privilegiada da sua calcinha molhada no
ponto em que estou mais sedento para chegar. Afastei suas pernas
e suas mãos seguraram firmemente a borda da pia enquanto ela
olhava para baixo, mordendo seus lábios com aquele olhar de
safada, que eu retribuí da mesma forma. Com uma das mãos, fui
subindo por uma de suas coxas, até chegar perto da sua bocetinha,
sentindo o seu calor, e com os dedos afastei o pedaço do tecido que
a escondia. Ela está encharcada e o meu controle quase foi embora,
ainda mais depois de vê-la assim, tão molhada, rosadinha e lisinha.
Passei o dedo do meio por sua entrada e ela jogou sua cabeça para
trás, me motivando a continuar, e, então, comecei a estimular seu
clitóris com movimentos circulares na região. Parei, me ajeitando
melhor para finalmente saborear aquela bocetinha molhada, abrindo
mais suas pernas e me encostando de costas no armário, ficando
debaixo dela.
Comecei a chupá-la, indo com sede ao pote. O gosto dela é
maravilhoso, me deixando ainda mais louco, a abocanhando sem dó
e, com uma mão a mantenho no lugar, a outra me ajudando a
estimulá-la. Coloquei um dedo em sua entrada de uma vez, sem
tempo para senti-la devagar. Sofya está com a respiração acelerada
e começou a rebolar na minha cara, me incentivando a continuar
mais e mais. Estou adorando isso, ela é uma safada, daquelas que
eu amo pegar na cama. Quando comecei a sentir suas pernas
trêmulas, escutei os gritos na sala, me fazendo pular de susto,
assim como Sofya.
— Não! — gritou Sofya.
— Não o que? Ganhamos! — exclamou Shantell.
Saí de baixo dela, colocando sua calcinha e saia no lugar.
— Ahm... n-não, não John, o pano está ali embaixo!
— O-o que? Ah, sim! Achei. — Levantei rapidamente,
mostrando o pano.
Eu olhei para Sofya, que está vermelha, e ela riu, me fazendo
rir também. Os outros começaram a nos ajudar e, assim que
acabamos, Dany e Ramoz foram embora, deixando apenas nós
quatro em um papo divertido.
— Baby, vamos embora? Tenho uma surpresinha para você
quando chegarmos em casa.
— Jura? — perguntou Preston, levantando-se rapidamente e
levando Shantell junto. — Boa noite para vocês.
— Ah, pelo amor de Deus, guardem isso para vocês — disse
Sofya, com uma cara de nojo, se levantando também.
Eu a olhei com um olhar inquisidor e gesticulando para que ela
ficasse.
— Eu também já vou — falou ela, para meu desespero.
Enquanto Shantell e Preston estavam na porta trocando beijos,
ela chegou perto de mim e sussurrou, antes que eu protestasse sua
ida.
— Você ainda está com a minha chave, não é?
— Sim.
— Use-a hoje — sussurrou, sedutoramente, colocando seu
dedo em meu queixo e continuando a caminhar, rebolando. — Vou
estar te esperando — finalizou, e minha única resposta foi um
grunhido.
— Vamos logo, John! — gritou Preston do corredor, e eu os
acompanhei.
— Boa noite casal. — Sofya se despediu, abrindo sua porta. —
Boa noite, vizinho — continuou, dando-me uma piscadela e
fechando a porta.
— Boa noite Sof... Preston, pare!
— Vocês dois esperem chegar em casa, pelo amor de Deus —
falei.
Assim que eles foram embora eu subi correndo e voei para o
meu apartamento para pegar a chave extra da Sofya e, depois de
ter revirado o escritório, a peguei, indo correndo para lá, passando a
chave na tranca e a abrindo. A luz está apagada e somente a
luminária da sala está acesa. Entrei, devagar, olhando ao redor e,
quando ia em direção ao quarto, lá está ela, parada, encostada na
entrada do corredor, apenas com uma lingerie preta e o salto alto,
com a maior cara de safada: dedo na boca e com a mão brincando
com o elástico de sua calcinha. Minha respiração ficou entrecortada.
Vou caçar hoje e minha presa está bem na minha frente, pronta. Fui
em sua direção, andando firmemente.
— Hoje eu não vou te largar nem se esse prédio cair, garota —
rosnei.
Ela ficou ereta e eu vi o desejo em seu olhar. A peguei firme
pela bunda, a erguendo, e ela passou suas pernas em volta de mim
quando a encostei na parede, fazendo com que ela chocasse suas
costas na mesma, dando um baque com o impacto, a fazendo arfar.
Vi sua linda boca entreaberta e a colei na minha, dando-lhe um beijo
profundo e quente, arrancando seus gemidos. Ela grudou em meus
cabelos, pedindo mais, e eu fui ao lugar mais próximo para apoiá-la,
na mesa, a colocando lá, deixando minhas mãos livres para explorar
seu corpo, sem interromper nosso beijo. Minhas mãos foram para
seus peitos, os apertando sem dó, e ela gemeu alto.
Da sua boca, passei a beijar seu pescoço e ombros, dando
algumas mordiscadas no caminho. Ela se apoiou na mesa, jogando
sua cabeça para trás, e minha atenção agora está totalmente em
seus peitos, os mordiscando por cima do sutiã. Sem paciência,
arrebentei o fecho com um só puxão, fazendo eles balançarem com
o movimento, me deixando louco. Eu abocanhei seu mamilo túrgido,
o sugando e dando mordiscadas, sem dó, enquanto meus dedos
trabalhavam no outro, dando-lhe alguns puxões. Ela geme cada vez
mais com suas mãos agarrando meus cabelos, me estimulando a
continuar.
Ela é gostosa demais, como eu imaginava, mas eu
quero experimentar logo seu corpo todo, por isso fui trilhando com a
língua sua barriga, e ela deitou-se mais na mesa, se apoiando em
seus cotovelos, abrindo suas pernas para que eu tivesse total
acesso a ela, passando a língua em seus lábios e soltando um
longo gemido enquanto meus dedos já trabalhavam em sua
bocetinha. Como fiz com seu sutiã, com um só puxão, sua calcinha
já caia aos pedaços no chão. Nossos olhares continuam fixos um no
outro.
— Tão molhadinha! Isso, olhe para mim.
E assim ela fez, enquanto eu aumentava o ritmo, a fazendo
gemer mais. Abaixei, posicionando-me entre suas pernas,
admirando sua boceta molhada. Não aguentava mais esperar e a
abocanhei com vontade, a chupando, lambendo, mordiscando e
dando leves tapas em sua carne inchada e molhada. Ela se
levantou, cravando suas mãos em meus cabelos fortemente,
rebolando em minha boca e nos meus dedos, que a fodiam sem dó.
— John, eu não vou aguentar! — ronronou ela.
— Deixa eu sentir o seu gosto. Goze para mim.
Eu comecei a sentir seus espasmos, que vieram
acompanhados de um grito de prazer, enquanto ela se jogava para
trás com as costas arqueadas, e, finalmente pude sentir o gosto de
seu doce mel explodindo em minha boca, me atiçando, querendo
cada gota dali, mas não pude continuar nisso, pois ela me
empurrou, me encostando na parede.
— Minha vez.
Ela veio em minha direção e me beijou, gemendo quando
sentiu seu gosto em minha boca, me fazendo gemer também.
Apertei sua bunda e levantei uma de suas pernas, que ficou
colada em minha cintura. Repetindo meus gestos, com um forte
puxão, ela arrancou minha camisa e alguns botões foram parar no
chão, começando a trilhar um caminho de beijos e mordiscadas em
meu peito logo depois, enquanto uma mão se apoiava em
meu ombro, a outra foi em direção ao meu pau, me massageando
por cima da calça. Fechei os olhos, jogando a cabeça para trás,
dando um grunhido quando senti sua mão delicada me estimular.
Ela começou a tirar meu cinto e logo depois abaixou minha calça, se
ajoelhando a minha frente. Estou duro como uma rocha e ela
continua a massagear o meu pau, me olhando enquanto lambe seus
lábios, e, quando o tirou para a fora da cueca, nós gememos juntos.
— Tão grande — arfou ela.
— Você quer ele? — perguntei, pegando em seus cabelos,
enquanto minha outra mão pegou seu queixo para que ela me
encarasse. — Hã? — Ela apenas acenou, e eu lhe dei um pequeno
tapinha na cara.
— Você quer ou não?
— Sim — respondeu, me masturbando.
E então ela o abocanhou, o chupando com intensidade, me
fazendo grunhir, num movimento de vai-volta, o lambendo e o
sugando, soltando gemidos profundos. Eu comecei a estimulá-la,
movendo a sua cabeça para meu pau, fodendo sua boca
maravilhosa, que me chupa tão bem. Ela segurou a base do meu
pau, abrindo mais sua boca, e o empurrou para o fundo de sua
garganta, me deixando louco. Ahh... se ela continuar nesse ritmo eu
vou gozar! A levantei, puxando seu cabelo, e a beijei intensamente,
sentindo o meu gosto nela. A virei bruscamente, deitando-a de
bruços na mesa e sua bunda empinadinha para mim. Não resisti e
dei uns pequenos tapas, a fazendo gemer. Hm, sim, ela gosta!
— Você gosta disso, não é, safada?! — Dei outro tapa,
deixando sua bunda vermelha.
— Sim, hmm — gemeu ela, mordendo seus lábios e virando
para me encarar com aquela cara safada.
Eu já não posso mais aguentar, então abaixei para pegar um
preservativo em meu bolso, o colocando rapidamente, e logo
depois, posicionando meu pau na sua entradinha, brincando com
ela primeiro. Sem pestanejar mais, a penetrei fundo, a fazendo
gritar. Gemi alto e, caralho, como ela é apertadinha e molhada!
— Puta que pariu! — ela falou, após gritar, e virou-se para mim
novamente, ainda com aquela cara de safada. — Isso!
A puxei pelos cabelos, me posicionando melhor atrás dela,
pegando em sua cintura firmemente, começando a fode-la com
força, com estocadas fortes. Eu grunhi cada vez mais, assim como
ela, que geme igual a uma gata no cio, desacelerando o ritmo em
alguns momentos, batendo em sua bunda de vez em quando. Ainda
puxando seus cabelos, virei seu rosto de lado e beijei sua boca
deliciosa e, então, comecei a me movimentar rápido de novo, a
fazendo gemer em minha boca. Ela é deliciosa e está me deixando
louco.
— Que boceta gostosa — sussurrei no pé do seu ouvido.
Me afastei um pouco, saindo de dentro dela e a virando para
mim, a erguendo do chão pela bunda, encaixando suas pernas em
minha cintura.
— Coloca meu pau dentro de você.
Então ela fez, deslizando-o para dentro dela e nos fazendo
gemer, entrando até o fundo, a sentindo por inteira. Ela é leve e eu
consigo facilmente movimentá-la com as minhas mãos, como uma
boneca de verdade. Agarrada em meus ombros, ela me beija,
gemendo cada vez mais em minha boca e me levando ao delírio.
— John, eu não vou aguentar... — sussurrou em meus lábios,
ofegante.
Não mesmo, ela vai gozar comigo!
— Você vai gozar comigo!
Parei os movimentos e caminhei com ela agarrada em mim até
o aparador perto da porta, a apoiando lá. Eu também não
irei aguentar por muito tempo, então comecei a intensificar mais os
movimentos, a envolvendo com uma mão em sua cintura e a outra
em seu pescoço, o apertando não muito mais que o suficiente,
só para ter o seu olhar fixo no meu. Ela cravou suas unhas em
minhas costas, me fazendo perder o resto do controle da minha
sanidade. E meu limite já não existia mais.
— Olhe para mim, eu quero a ver gozando — rosnei.
E enfiei todo meu pau nela, numa estocada forte, repetidas
vezes, a fazendo gritar, perdi todo o restante do meu controle
quando senti sua boceta me contraindo, apertando cada vez mais
meu pau dentro dela, o fazendo inchar e me incentivando.
— John! — gritou.
— Isso! — urrei, quando a senti me ordenhar dentro dela,
fazendo com que eu me libertasse também, colando minha testa na
dela.
Jorrei até a última gota do meu prazer dentro do preservativo,
me sentindo mais leve. Estávamos convulsionando enquanto eu
diminuía os movimentos dentro dela, desacelerando nossas
respirações sem ritmo. Ela encostou na parede, com seus olhos
fechados, e a minha sorte é que ela está apoiada ali, pois minhas
pernas ficaram bambas, me fazendo escorar nela. Ficamos ali por
alguns minutos, tentando recuperar nosso fôlego. Levantei minha
cabeça e ela abriu os olhos, dando-me um sorriso lindo, me fazendo
sorrir e beijá-la com calma e docemente, sentindo sua boca na
minha. Sem interromper nosso beijo, a levantei e fui em direção a
poltrona de sua sala, a carregando naquela mesma posição. Me
sentei, jogando-me para trás ainda com ela por cima de mim,
sentada. Ela passava suas mãos em meus cabelos, parando o beijo
e me encarando.
— Acho melhor você tirar a camisinha — sussurrou, me
lembrando.
— Verdade, pode se levantar um pouco?
Ela se levantou devagar, tirando meu pau de dentro dela, e eu
tirei o preservativo, o amarrando e o colocando de lado, enquanto
ela voltava a se sentar em mim. Nossas respirações ainda não
tinham voltado ao normal. Coloquei minhas mãos em seu rosto, a
puxando para meus lábios novamente, mas, antes de me beijar, ela
colocou seu dedo em minha boca, me parando.
— O que foi? Está tudo bem? Eu peguei pesado, não é? Me
desculpe!
Eu sou meio bruto na cama, tudo bem, muito bruto. Algumas
mulheres paravam no meio do sexo, pois algumas vezes eu
extrapolava. Não é o meu estilo “fazer amor” calmamente, e sim,
foder forte, como um animal. Isso me deixa com um pouco de receio
de machucar as mulheres, mas só consigo pensar nisso depois do
sexo, como sempre. Eu já tentei ser calmo, mas meu instinto
não deixa e, às vezes, perco o controle.
— Não, está tudo bem. Foi ótimo, você não me machucou —
falou, e eu soltei o ar, aliviado.
Ela olhou para baixo, passando as mãos em meu peito.
— Então o que é? — Mal tínhamos transado e ela já
está assim. — Se arrependeu? — perguntei, numa tentativa de
sorrir.
— Claro que não, eu quero que aquilo se repita, a noite toda
de preferência — respondeu ela, apontando para o lugar em que
transamos, me fazendo rir. — Mas antes que isso aconteça,
precisamos colocar algumas cartas na mesa. — Estava muito bom
para ser verdade. — Nós somos vizinhos, certo?!
— Certo. Mas o qu… — Ela colocou seu dedo em minha boca
novamente, me calando.
— Shh, deixe eu terminar — concordei com a cabeça. — John,
não é porque finalmente transamos que temos que ter algumas
obrigações um com o outro. Você pode continuar com a sua vida
de cafajeste, trazendo mulheres para o seu apartamento e afins,
assim como eu quero continuar com a minha vida de solteira, sem
ter que me preocupar em ter alguém muito perto de mim pegando
no meu pé, se é que me entende? — disse ela, me fazendo arquear
as sobrancelhas.
— Hm, entendo sim, e isso me parece bom. Continue.
— Então vamos fazer um trato: sem emoções, sentimentos ou
esperar qualquer coisa do tipo um do outro. Vamos ser amigos?!
— Com benefícios, certo?
— Completamente.
— Muito sexo, certo?
— Sem dúvidas.
Eu já estou duro de novo, e ela sentiu isso entre suas pernas,
me olhando com aquele olhar sapeca.
— Feito. E como vamos selar o trato? — perguntei,
sugestivamente.
Ela se aproximou de mim e eu a escutei pegar um pacotinho, o
rasgando.
— Da melhor maneira possível — sussurrou em meus lábios,
me beijando calorosamente.
Ela levantou-se um pouco, sem interromper o beijo, deslizando
o preservativo em meu pau e, logo em seguida, se
sentando lentamente nele, me olhando.
— Ah, sim, essa é a melhor maneira — arfei.
E lá vamos nós de novo.
Acordei com a forte luz do sol preenchendo meu quarto. Me
espreguicei, sentindo-me um pouco dolorida e, então, me lembrei do
que aconteceu na noite passada, virando-me para o lado. E lá está,
aquela parede de músculos em forma humana que quase não
cabe em minha cama Queen Size, completamente jogado de bruços
e somente com uma cueca boxer preta. Ele está virado para o outro
lado, com seus cabelos desgrenhados e os braços abertos
— pegando quase todo o espaço e os travesseiros da cama —.
É uma visão maravilhosa, e rara, de se ver em minha cama.
Transamos tanto na noite passada que acabamos
caindo exaustos aqui mesmo, dormindo feito pedras depois. John se
tornou meu mais novo e inédito nota 9,5. Deus, esse homem é um
animal na cama! Selvagem, muito selvagem. Ele havia me deixado
louca e se eu soubesse que o sexo seria assim, eu o teria agarrado
no mesmo dia em que o conheci.
Depois da nossa primeira transa, confesso que
tinha ficado meio tensa, pensando que tinha feito besteira, mas, logo
em seguida, eu mandei a real para John, para que
pudéssemos esclarecer as coisas da maneira certa, o que para ele
também foi bom. Então temos um trato, o que me deixa muito mais
tranquila, afinal, John também gosta da sua vida de solteiro. Eu
olhava para o teto, entretida em meus pensamentos, quando senti
minha cama mexer e um braço gigante atingir em cheio minha cara.
— AI! — gritei, tirando seu braço de cima de mim e o jogando
para o outro lado.
— Hm, o que? Mas o que? Que... o que aconteceu?
John acordou sobressaltado, olhando ao redor, ainda sem
entender o que estava acontecendo, encontrando meu olhar cerrado
para ele. Argh! Até com a cara amassada de sono ele
fica maravilhoso.
— Você não tem noção de espaço, não é mesmo? — falei,
enquanto massageava minha resta. — Seu braço de mamute
acertou em cheio minha cara! — falei, alterando um pouco minha
voz, mas soou rouca por conta do meu sono.
Ele riu e eu joguei um travesseiro em sua cara.
— Braço de mamute? — repetiu ele, tirando o travesseiro de
sua cara, ainda rindo.
— Sim! — Tentei disfarçar meu riso sem sucesso, que
desapareceu quando ele jogou o travesseiro de volta para mim.
E assim os travesseiros começaram a voar, até que eu levantei
e comecei a bater nele com meu travesseiro, enquanto ele se
protegia, rindo, até que algo lhe chamou a atenção, transformando
suas feições. Ele tirou o travesseiro da minha mão e me devorava
com seu olhar de predador, foi então que percebi que eu estava
apenas de calcinha, notando o quanto meus peitos o atraem.
— Ah sim, faça isso de novo, por favor! — disse ele.
— O que?
— Balançar os peitos.
Peguei o travesseiro de volta e joguei nele de novo.
— Safado — falei rindo, e saindo da cama.
— Você não reclamou a noite passada. — Ele me puxou de
volta para a cama, me fazendo cair deitada. — Pelo contrário, você
gostou. — E ele já está por cima de mim.
— Ah, gostei é? — perguntei, rindo, logo depois tentando dar
uma mordida em sua boca, que se aproxima da minha.
— Ah sim, gostou sim, até pediu mais.
Ele se aproximou e me beijou. O beijo dele é maravilhoso,
tanto quanto o beijo urgente e sexual, como o beijo molhado e
suave, como este, mas que em poucos segundos se transformou
num beijo voraz. Senti sua mão em meu seio, o apertando
deliciosamente e começando a brincar com meu mamilo túrgido. Da
minha boca, sua boca passou direto para os meus mamilos, dando-
lhes atenção e arrancando-me gemidos. A boca dele é um pecado,
sabendo despertar a luxúria em qualquer parte que toca, como
está fazendo com meus mamilos. Ele os mordiscava e, enquanto
fazia isso em um, com uma mão dava puxões e brincava com o
outro. Se ele continuar a fazer somente isso eu irei gozar! Ele
continuava brincando com meus seios, em cima de mim, e, então,
enrolei minhas pernas em sua cintura, sentindo seu pau grande e
grosso em minha virilha. Seu pau é mais delicioso do que
imaginava, grande e maravilhosamente grosso, do jeito que
gosto! Empurrei ele de lado, que caiu de costas no colchão, e o
montei, grudando minha boca na dele para sentir seu beijo.
— Quero seu pau na minha boca — sussurrei em sua boca,
mordendo seu lábio inferior e arrancando-lhe um gemido.
Minha mão foi em direção ao seu pau, o pegando por debaixo
da cueca.
— Ele é todo seu — sussurrou ele de volta, com aquela voz
que me arrepia.
Fui abaixando sedutoramente, não deixando os olhos dele
enquanto beijava todo seu corpo pelo caminho. Abaixei sua cueca e
seu pau se levantou como um mastro, grosso, duro e pesado.
Passei minha língua em meus lábios com a visão, começando a
masturba-lo com a mão e depois a chupa-lo pela cabeça, voltando
meu olhar para os dele. Ele grunhiu em resposta, me incentivando
ainda mais e, então, lambi toda a sua extensão até suas bolas. Suas
mãos foram para o meu cabelo e vi sua mandíbula trincar,
escutando seus grunhidos quando o enfiei quase todo em minha
boca, tentando o melhor que podia para fazer uma garganta
profunda naquele pau gigantesco. Ele puxava meus cabelos,
movendo minha cabeça para cima e para baixo em movimentos
rápidos, ditando o ritmo. Eu o chupava, lambia e o levava até o
fundo da minha garganta, até que ele puxou meus cabelos e me
tombou de lado, ficando por cima de mim novamente, arrancando
minha calcinha com um só puxão, que caiu aos pedaços no chão.
Logo depois de vê-lo colocar o preservativo em seu pau, sua mão
foi para meu sexo, circulando meu clitóris em movimento precisos,
fazendo com que cada parte do meu corpo respondesse ao seu
toque ali, me fazendo gemer e ele grunhir.
— Delícia! Você está encharcada para mim. Abra mais suas
pernas — disse ele, com aquela voz máscula e rouca que me
deixou ainda mais molhada.
Fiz o que ele pediu, me expondo totalmente para ele, que
posicionou seu pau em minha entrada. Minha boceta está inchada e
dolorida por conta da noite intensa que tivemos, mas é uma dor
prazerosa, a qual eu amo sentir. Dessa vez ele foi mais delicado, me
penetrando de forma lenta e me fazendo gemer. Ajoelhado na cama,
ele me puxou pelas coxas em sua direção, se encaixando mais em
mim, me fazendo jogar a cabeça para trás e arquear ainda mais as
costas para senti-lo, grudando minhas mãos no lençol. Grunhindo,
ele começou a aumentar seu ritmo, dando-me estocadas fortes,
saindo de mim e socando todo seu pau novamente, até o fundo de
um só vez, fazendo a cama se movimentar.
— Seus peitos ficam ainda mais lindos pulando desse jeito
quando eu te fodo forte.
Ele sabe ser safado na cama, tanto usando seu pau quanto
usando suas palavras, e isso me deixa louca, me fazendo gemer
ainda mais e arqueando meus peitos para cima, que se mexem
descontroladamente acompanhando os movimento do John, que
mete sem dó. Senti sua mão preencher meu peito e, logo depois,
seus dedos puxando meus mamilos com força, misturando a mais
doce dor com o mais intenso prazer em mim. Meu quadril também
começou a se movimentar, acompanhando o ritmo dele. Eu já
estou quase explodindo de prazer e ele parece uma máquina de
sexo, aumentando cada vez mais seu ritmo.
— Isso, aperta mais essa bocetinha no meu pau! — grunhiu.
Ele deitou por cima de mim, pegando meus cabelos e
encostando o topo da minha cabeça na cabeceira da cama,
colocando minhas pernas em seus ombros, fixando seus olhos azuis
profundos nos meus, e, então, começou a enterrar todo seu pau em
mim, me fazendo gritar ao senti-lo por inteiro, aumentando suas
estocadas fortes. Eu já não posso aguentar por mais tempo!
Comecei a sentir meu orgasmo vindo, forte e intenso, contraindo
meu sexo em seu pau inchado, começando a sentir meus
espasmos.
— Oh Meu Deus! — gritei, quando me senti no ápice do
prazer, tendo um orgasmo poderoso que me fez perder o ar.
Sentindo todo meu corpo tremer e se contrair, John não
demorou muito a atingir seu orgasmo, urrando e convulsionando em
cima de mim, jogando sua cabeça para trás e apertando seus olhos,
vivenciando o mesmo que eu a poucos segundos atrás. Ficamos
ali parados, com pequenos espasmos do nosso incrível orgasmo
e tentando recuperar nosso fôlego. Ele retirou minhas pernas de
seus ombros, que caíram de lado na cama, e, logo depois, tombou
sua cabeça na curva de meu pescoço enquanto eu mantinha meus
olhos fechados. O único som no quarto era o de nossas
respirações ofegantes.
— Se eu soubesse que o sexo seria assim eu teria pegado
você ao invés das caixas naquele dia na escada — falou, ainda
ofegante e me fazendo rir.
— E eu teria ido de bom grado.

— Me diz que você fez aqueles pãezinhos!


— Não, sem pão de milho hoje, mas vou fazer panquecas.
— Você sabe como agradar um homem, garota — disse John,
me fazendo rir.
Comecei a fazer a massa da panqueca enquanto John fazia os
ovos mexidos. Ele ainda está somente de cueca e uma regata, e eu
o observava, quase babando na massa.
— Admirando a paisagem?!
Droga, mas como ele percebeu meus olhares para ele se
estou sendo discreta? E como ele percebeu isso quando sua
atenção estava somente na frigideira?
— É, não é de se desperdiçar — respondi, tentando não ligar
para suas palavras e voltando a dar atenção à massa.
— Você também não está nada mal.
O senti se aproximando de mim, colocando os ovos no prato
ao meu lado e logo depois dando um tapinha estalado em minha
bunda. Após devorarmos nosso café da manhã, começamos a nos
conhecer um pouco mais. John é muito divertido, um pouco
machista, mas divertido. Antes dele ir embora, lavamos a louça,
quer dizer, eu tentava lavar a louça, pois ele não estava
deixando me concentrar na tarefa, me provocando, até que as
provocações ficaram fora de controle e transamos ali mesmo, na
cozinha. John é incontrolável e insaciável, me provocando a cada
oportunidade e me deixando louca também. Depois que ele foi
embora, fui para o banho, pensando na noite maravilhosa que tive.
O sexo com Jax era legal, mas nunca foi tão louco e intenso quanto
como foi com John. Tudo bem que nossa amizade ainda é muito
recente, mas sinto que ela pode mesmo dar certo.

A minha época preferida no ano chegou! Estamos quase no


final de junho e o céu indicava que o verão havia chegado com tudo
em Nova York. Por isso, decidi vir com um lindo vestido amarelo
bem soltinho, de alcinhas finas e levemente rodado, a cara da
estação. Os saltos da minha sandália fazem barulho no chão de
mármore enquanto eu andava rapidamente para sair do prédio da
redação em busca do sol, longe do ar condicionado daquele lugar e
das loucuras de Donatella, que estão me deixando de cabelos em
pé. Irei almoçar com Nigel em um restaurante próximo daqui, como
de costume.
— Hey, miss verão! Você está radiante! — disse ele, ao me ver
sair.
Dei uma voltinha, rodopiando meu vestido e colocando meus
óculos de sol.
— Não somente radiante, mas com fome também, vamos! —
peguei seu braço e fomos para o nosso caminho.
— Você anda com a cara ótima nessas últimas semanas! Me
passa a receita?
— Só se você contar o que você e Donatella andam
conversando.
Nigel e Donatella estão extremamente grudados nestas últimas
semanas e eu o conheço muito bem para saber que alguma coisa
virá por aí, só não sei o que é. Ainda.
— Segredo de Estado, querida. Mas o que eu posso te
adiantar é que vai ser icônico!
— Traidor! Me fala agora!
— Jamais!
Chegando no restaurante, escolhemos o nosso lugar de
sempre, falando sobre as últimas fofocas da revista e o que
anda acontecendo nos bastidores. Quando estávamos fazendo o
pedido, Nigel me chamou a atenção.
— Alerta magia, querida — disse ele, olhando por entre meus
ombros, fazendo-me virar para trás e ver o que, ou quem, era.
Um calor estranhamente familiar se formou por entre minhas
pernas assim que botei os olhos no "magia" que vem em nossa
direção. Ele está com um óculos escuro modelo aviador e de terno e
gravata pretos, certamente vestido formalmente para o trabalho,
coisa que raramente vi. O calor é tanto que minha calcinha já está
encharcada, mesmo sabendo que até ontem à noite estávamos
iguais dois animais transando em sua cama.
— Olha só! Olá, vizinho! — falei.
Ele tirou os óculos e nos olhou, já junto à nossa mesa.
— Olá vizinha, que bom te encontrar — disse ele, dando-me
uma piscadela. — Nigel, como vai? — continuou, estendendo sua
mão para meu amigo.
— Melhor agora, Agente — suspirou Nigel, pegando a mão de
John. — Quer se juntar a nós?
— Tudo bem para vocês? — perguntou John, olhando para
mim.
— Claro, fique a vontade — respondi, sorrindo.
Ele sentou-se ao meu lado, tirando seu paletó. Nigel começou
a tagarelar, puxando o saco de John e nos fazendo rir. John contou
um pouco sobre ele para Nigel enquanto nossa comida chegava,
mas eu ainda estou curiosa, será que ele está aqui a trabalho?
— E aí, Super Agente? Aqui a trabalho?
— Na verdade, sim. Estava procurando um lugar para almoçar
e te segui até aqui.
Engasguei com meu suco quando o escutei falar, derrubando
um pouco sobre a mesa.
— Você estava me seguindo? — perguntei, recuperando o ar.
— Dessa vez, sim — disse ele, sorrindo.
— Mas por quê?
— Porque estou com fome — respondeu, com sua voz grave,
a voz do cafajeste que há nele, apoiando-se na mesa e me dando
aquele olhar perigoso.
Escutei Nigel dar um pigarro e voltamos nossa atenção para
ele.
— Perdi alguma coisa aqui? — perguntou Nigel, cinicamente,
me jogando um olhar inquisidor.
— Claro que não. John só não sabe disfarçar sua cafajestice
em nenhum lugar.
— Engraçado, não vejo você reclamar sobre minha
"cafajestice" em alguns momentos — revidou ele, colocando a mão
em minha coxa e a apertando, me fazendo pular.
— EU NÃO ACREDITO! Sua safada! — exclamou Nigel,
abrindo sua boca em um “O” e apontando o dedo para mim.
— Você nem imagina o quanto — disse John, voltando-se ao
seu prato e me ignorando, até que eu lhe dei um tapa em sem
braço, o repreendendo.
— É por isso que sua pele está tão boa desse jeito, você está
transando em todos os cantos daquele prédio e não me contou
nada, sua bandida!?
— Não acredito que você não contou a ele — falou John, de
boca cheia, fingindo me repreender, mas sem conseguir esconder
seu olhar divertido.
— Cale a boca, John! Não tem nada para contar, Nigel — dei
de ombros, olhando para meu prato e dando uma garfada em meu
filé de frango, o enfiando na boca.
— Como você pega um homem desse e não me fala nada!? —
cochichou Nigel, fazendo John rir.
Eu não estou gostando nada disso. Não havia contado
sobre John para ninguém, nem mesmo para Shantell. Já estamos
ficando há quase um mês, mas não quero fazer um alarde sobre
isso, pois eu tenho certeza de que as pessoas irão
criar expectativas sobre nós e isso inclui Nigel, Shantell e Kate.
Bufei, pousando os talheres na mesa, e olhei para John.
— Você, por um acaso, contou para Preston ou para algum
dos seus amigos? — o questionei.
— Não tive oportunidade. Ainda — Deu de ombros.
— Pfff, mentiroso! Agora pare com essa história — bufei. Olhei
para Nigel, que me encarava por baixo de seus óculos de grau. —
Sim, nós ficamos, ok!? Mas está claro para todos as nossas
intenções…
— Sexo — disse John, me cortando, ainda engolindo sua
comida.
— Não há nada demais nisso, todo mundo transa, não há o
que contar — falei, voltando a comer.
— Você é uma traidora!
— Eu? O traidor aqui é VOCÊ, já que anda conspirando com
Donatella pelas minhas costas!
— Donatella Sozzani? — perguntou John, enchendo sua boca
de carne.
— Sim. Uau, mas que antenado — disse Nigel.
— Ele é filho de Miranda Richards, por isso — falei, deixando
Nigel embasbacado, abafando um grito com as mãos.
John olhou para mim, me repreendendo com um olhar duro.
— O que? Desde quando o nome da sua mãe é
impronunciável?
— Não é, mas fale mais baixo, por favor!?
— Não acredito que sua mãe é Miranda Richards! Eu amo ela!
A vi uma vez no Baile da revista! Ela é tão chique!
Terminamos de almoçar e Nigel saiu antes, pois havia recebido
uma ligação de Donatella, exigindo sua presença o quanto antes.
John e eu saímos do restaurante e caminhávamos pela calçada,
voltando ao edifício onde fica a redação Glam.
— Aquilo foi desnecessário — falei.
— O que? Ele é seu amigo, e eu queria te provocar —
respondeu, dando aquele sorriso torto.
— Você é um idiota. Não estou afim de ser bombardeada de
perguntas depois.
— Relaxa. Você contou a Shantell?
— Não, mas vai ser inevitável.
— Sei bem como é. Você tem mais tempo?
— Não, tenho uma reunião em cinco minutos.
— Hm, acho que dá tempo para uma rapidinha — sussurrou
em meu ouvido, me dando arrepios.
— Controle o seu pau, por favor. Eu tenho que trabalhar.
— Não posso, é mais forte que eu e você está uma delícia
nesse vestido.
— Obrigada. Agora eu tenho que ir, tchau, vizinho.
— Ah, qual é?! Nem uns amassos? — exclamou ele,
chamando atenção das pessoas à nossa volta, enquanto eu
caminhava para dentro do edifício.
— Shh! — pedi, completamente vermelha de vergonha, o
fazendo rir.
— Tchau, vizinha.

Assim que entrei na redação, Lea voou em mim com vários


papéis. Eu tenho mil coisas para fazer e várias reuniões ainda para
hoje, inclusive a que tenho a seguir, será a que iremos decidir a
próxima capa da Glam Mag. Minha cabeça está a mil, mas uma
coisa ficou martelando nela: contar para Shantell o que está
acontecendo entre eu e John. Argh! Queria bater em John agora!
Peguei meu celular, entrando em minha sala, e liguei para ela.
— Olha só, a princesinha Glam me ligando. A que devo a
honra?!
— Engraçadinha! Tudo bem?
— Sim e você?
— Shant, preciso ser rápida.
— O que aconteceu?
— Olha, nós nos falamos pouco nestas últimas semanas e
quase não estamos nos vendo...
— Eu sei Sofy, e preciso te contar uma coisa. — Uau, que
reviravolta foi essa?
— O que? Está tudo bem? — perguntei, preocupada.
— Está tudo bem! Maravilhosamente bem. Me desculpe por
andar sumida nessas últimas semanas, mas foi por um bom motivo.
— Shantell, fala logo!
— Eu sou a mais nova bailarina de elenco da Beyoncé! —
exclamou ela.
Eu caí na cadeira, pasma! Ah meu Deus! Sempre foi o sonho
dela e ela finalmente conseguiu!
— Sofy?
— AHHH! Não acredito! — gritei.
— Eu também não! Eu estou tão feliz! Estou garantida na
próxima turnê pelos EUA!
— Isso é tão legal! Oh meu Deus, Shant! Parabéns! Estou tão
orgulhosa de você! Mal posso esperar para receber meus ingressos
grátis!
— Pode esquecer!
— Mas por que você não me contou antes?!
— Porque não queria criar expectativas, sabe? Me desculpa!
— Tudo bem, mas precisamos comemorar isso!
— Com certeza! Mas, e você, o que quer me contar?
— Depois do que me contou agora isso vai ser fichinha.
Lea entrou na minha sala, anunciando que a reunião
irá começar. Fiz um sinal de joinha, sinalizando que já estou indo.
— O que é?
— Bem... eu e John estamos transando.
— VOCÊS O QUE? — gritou. — Oh meu Deus, sua vadia!
Desde quando?
— Faz algumas semanas. Não sei por que o espanto!
— Vocês transarem não é o meu espanto, mas sim você me
esconder isso!
— Eu não escondi, ok? Assim como você, eu não quero criar
expectativas. Olha, vou para uma reunião agora, nos falamos mais
tarde.
— Nada disso, Sofya! Me conte tudo AGORA!
— Tchauzinho!
— Não se atreva, garot… — Ops!
Desliguei o telefone em sua cara, mesmo sabendo que
Shantell irá morrer de raiva.

Antes de ir para casa, passei no mercado para comprar


algumas coisas para o jantar de hoje. Eu tenho quase certeza que
John irá bater em minha porta para comer também, como vem
fazendo ultimamente. Parecia que ele vinha pelo cheiro e, desde
que começou a jantar lá em casa, não sobra mais nenhuma migalha
de comida. Ele é um touro, e come igual a um! Eu pensava que
comia muito, mas ele é uma coisa anormal. Mesmo tendo despesas
a mais com comida, a presença de John me agrada, não só pelo
sexo, mas pela conversa também. Ele é divertido e bom de papo,
além de bom de cama, claro.
Descobri muitas mais coisas interessantes sobre ele, como:
ele já namorou por um bom tempo e quase ficou noivo; foi o primeiro
de sua turma na faculdade de Direito em Princeton; seu pai e seu
avô são seus heróis; ele é o irmão mais novo; adora esportes; luta
jiu jitsu e muay thai, participando de alguns eventos paralelos com
lutadores do UFC; quando fica nervoso ele se isola, sumindo de
vista; quando algo o incomoda ele franze o cenho e coça sua barba;
ele é bruto e selvagem na cama, mas quando o sexo acaba ele é
carinhoso e sempre me pergunta se “está tudo bem” para se
certificar que não fez algo de errado; ele é fã dos filmes do “007”;
adora rock clássico e heavy metal, além de gostar de animais.
O melhor de tudo é que não há um climão entre nós, como se
estivéssemos devendo alguma coisa um para o outro. É tudo muito
leve, descontraído e imprevisível, sem perguntas ou cobranças.
Mesmo com a minha chave, ele sempre bate na porta e suas
batidas são como um código, somente ele bate na porta desse jeito,
como está fazendo agora. Eu estou preparando carne assada,
focada nos preparativos para que não saísse nada errado.
— Entre! — gritei.
— Hm, o cheiro está maravilhoso! — falou, entrando na
cozinha.
Ele ainda está vestido como no almoço mais cedo, só que
sem o paletó e a gravata. Sua camisa branca está com alguns
botões abertos em cima, revelando um pouco de seu peitoral com
alguns pelos.
— Carne assada com batatas.
— Quase gozei — falou, me fazendo rir. — Trouxe a bebida e
a sobremesa!
— Jura!? Qual sobremesa?
— Torta de maçã!
— Oba, eu amo!
John é tão espontâneo que já se sente em casa. Isso deveria
me incomodar, e muito, mas não me incomoda, mas o fato de eu
não me incomodar me incomoda, se é que me entende. Ele abriu a
geladeira, colocando a torta lá e, já sabendo onde ficam os pratos,
talheres, copos e afins, preparou a mesa para o nosso jantar. E eu
não consigo me importar com isso, não entendo!
— Olá, garota Rolling Stones — sussurrou em meu ouvido, se
aproximando de mim e colocando suas mãos em minha cintura.
Eu iria questioná-lo o porquê disso, mas lembrei do que ele
havia me falado dias atrás. Ele disse que quando nos conhecemos,
a música que estava tocando era um “spoiler” do que eu sou, e essa
música era “Sympathy for the devil”, dos Stones, que, por
acaso, estão tocando em minha vitrola agora. Eu tenho uma história
com esses caras a minha vida toda. Fui em um show deles a alguns
anos atrás e, no final do show, eu estava tão bêbada que acordei
com uma tatuagem do famoso logo deles — a língua de fora
—, bem pequena, nas costas, logo abaixo do ombro esquerdo.
Quando viu a tatuagem, John teve um ataque de riso. Ele tentou de
qualquer jeito arrancar a história da tatuagem de mim, sem sucesso.
— Olá, Super Agente. — Virei a cabeça e lhe dei um selinho.
— O cheiro está maravilhoso.
— Está, não é?
— Cerveja? — perguntou ele, indo em direção a geladeira.
— Estou tomando vinho.
Coloquei a carne na mesa, batendo em John para que ele
parasse de beliscá-la. Nos servimos e comemos, e, como sempre,
John não deixou nada no prato, e nem na travessa.
— Você vai comer esse pedaço no seu prato?
— Vou, pode tirar o olho, guloso!
— Você sabe que eu sou. Comeria outra travessa dessa
fácil! Sem dúvidas, uma das melhores coisas que eu já comi na vida
— disse ele, dando um arroto.
— Obrigada. E por favor, sem porquice aqui, você não está na
sua casa.
— Sem essa, homens precisam disso. Vou pegar a torta.
Revirei os olhos, sem respondê-lo, ignorando seu excesso de
ego masculino. Pelo menos a torta que ele trouxe estava
maravilhosa, mas, sem dúvidas, a minha é melhor.
— Estava boa, mas eu faço melhor.
— Tão humilde.
— Você sabe que eu faço!
— Não duvido.
Fui tomar banho enquanto ele limpava a cozinha. Não quis
comentar nada enquanto jantávamos, mas ele estava diferente.
Diferente do tipo mais sério do que o de costume, com o semblante
cansado. Coloquei uma regata de seda rosa, com detalhes de renda
no decote V, fazendo conjunto com shortinho curtinho. Quando
voltei para sala, enxugando meus cabelos com a toalha, notei que
John está em sua terceira garrafa de cerveja e com os olhos fixos
na minha vitrola, que toca “Laugh, I Nearly Died”, dos Stones.
Sentei-me ao seu lado, não tão próximo, e o olhei.
— Está tudo bem? — perguntei.
Ele continuou com os olhos hipnotizados na vitrola, sem me
dar atenção.
— John? — Coloquei minha mão em sua coxa e ele me olhou.
— O que?
— Está tudo bem?
— Tudo fodidamente bem — respondeu, dando um suspiro
pesado, jogando sua cabeça para trás e passando sua mão em seu
rosto, que parou em sua barba, a coçando.
Não está nada bem.
— Hey, tudo bem, se quiser conversar?! — O incentivei.
— Não estou conseguindo pegar os caras maus, se é que me
entende, e o nosso Governo não está lidando muito bem com isso
— falou, voltando a olhar para a vitrola. — Eu amo essa vitrola.
Eu segui seu olhar e eu o entendia muito bem. Aquela vitrola
me traz tantas lembranças, ruins e boas ao mesmo tempo.
Lembranças que eu adorava, mas que, ao mesmo tempo, me
quebraram em pedaços, doendo no fundo da minha alma. Abaixei o
olhar, e me levantei, pois preciso beber mais. John percebeu minha
reação e vi que ele me olhava.
— E então... vai me contar sobre a tatuagem? — perguntou.
Uma das coisas que eu mais gosto em John é isso, quando ele
percebe que a conversa, ou situação, seguiam para rumos
perigosos, ele muda de assunto. Eu ri, colocando o vinho em minha
taça, depois voltando a me sentar ao seu lado.
— Você não desiste mesmo, não é?
— Não, então eu acho melhor você me contar. Não sou o
Agente que entrega as rosquinhas para o suspeito, que isso fique
claro — falou, me fazendo rir.
— Tudo bem. Quando eu tinha dezoito anos fui ao show dos
Rolling Stones. Estava saindo com um carinha na época e ele
conseguiu nos arranjar algumas bebidas. Depois do show, estava
tão bêbada que acabamos indo para seu estúdio de tatuagem e,
então, falei que eu queria me lembrar daquele show para sempre.
Foi aí que ele desenhou o símbolo dos Stones em mim. No dia
seguinte eu acordei com uma dor insuportável e, quando fui ver o
que era, quase caí para trás. Por sorte é uma tattoo pequena.
John riu, balançando a cabeça.
— Que bom que você pode se lembrar daquela noite para
sempre, porque isso foi um ensinamento contra besteiras. Esse
“carinha” é um idiota, quem leva uma menor de idade para beber e
logo depois fazer uma tatuagem?
— Eu terminei com ele no dia seguinte, se isso te deixa
melhor. Percebi que ele não era uma pessoa legal. Mas qual é, me
dá um desconto, ok? Eu tinha só dezoito anos.
— Tudo bem — riu ele, tomando um grande gole de sua
cerveja, voltando a me olhar logo depois. — E por que Rolling
Stones?
Bem, essa era a parte na qual eu não queria que a conversa
chegasse. Dei um grande suspiro, olhando para a vitrola.
— Era a banda preferida do meu pai. — O escutei coçar sua
barba novamente. — A única coisa que ele nos deixou quando fugiu
foi essa vitrola e sua coleção de discos — sorri forçadamente. —
Acho que foi a única coisa boa que ele me deu em toda minha vida.
— Joguei minha cabeça para trás, fechando meus olhos e percebi
que já estou meio alterada, repassando em minha mente quantas
taças havia tomado desde quando cheguei em casa. — Me lembro
quando os Stones fizeram um show de graça no Central Park. Eu
era tão pequena, mas me lembro do meu pai me colocando em sua
cacunda para que eu visse melhor o show. Nos divertimos tanto
naquele dia. Essa é uma das poucas lembranças da minha infância
na qual vale a pena lembrar.
— Sofy, me desculpe — sussurrou ele.
Sorri ao notar que ele me chamou de “Sofy”, coisa que ele
vem fazendo nessas últimas semanas. Não somente “Sofy”, mas
também “garota Rolling Stones” e “Boneca”, por causa dos meus
olhos grandes.
— Eu não devia ter perguntado.
— Não, tudo bem... já faz muito tempo. E quer saber? — Abri
meus olhos e virei-me para ele, que me acarava com atenção. —
Foda-se, estou bem melhor assim. — Ele deu um meio sorriso,
colocando sua mão em meu rosto.
— Como eu disse, você me intriga demais, garota.
Ele se levantou e beijou minha testa, indo em direção a
geladeira, pegando o champanhe e depois as taças.
— O que você está fazendo?
— Vamos comemorar.
— Comemorar o que? — perguntei, sorrindo, enquanto ele me
entregava uma taça e colocava a outra na mesa de centro para
abrir o champanhe, jogando a rolha longe. Ele preencheu nossas
taças e voltou a sentar-se ao meu lado.
— A "onde estamos agora" — disse ele, erguendo sua taça.
Sorri ainda mais ao ouvir suas palavras.
— A "onde estamos agora"! — repeti, brindando junto a ele.
Nós acabamos com toda a garrafa em menos de uma hora.
Ele me contou mais sobre seu trabalho, sobre o caso em que está
trabalhando, sobre suas preocupações e seus medos. Não sei se foi
o efeito da bebida, pois bebemos feito dois bebuns, mas ele se abriu
para mim, revelando que não fala sobre coisas assim nem mesmo
com sua família e não vou negar que fiquei feliz em ouvir isso dele.
Dançamos, bebemos mais e transamos, transamos feito dois gatos
no cio, caindo no sono logo depois, ali mesmo no sofá.
Acordei com o sol em minha cara e com uma puta dor de
cabeça. Estou espalhado no sofá da Sofya e percebi que
ela dorme em cima de mim, com o rosto pousado em meu peito.
Tampei os olhos com as mãos e encostei a cabeça nas almofadas
de novo, sorrindo ao me lembrar da noite anterior. Não me divertia
assim com uma garota há tempos. Sofya é uma ótima companhia,
sua presença me alegra e me distrai, como ontem, por exemplo.
Estou cheio de problemas com a investigação, mas ela fez com que
eu esquecesse de tudo e, além disso, me fez lembrar que há outras
coisas com que eu devo me preocupar e agradecer, pois meus
problemas são “somente” esses, e, comparado com o que ela já
passou em sua vida, isso não é nada. Meu peso na consciência por
conta das minhas perguntas de ontem ainda pairam em minha
mente. Ela deve ter sofrido muito com a perda de sua família. O que
me deixa mais puto é saber que seu pai ainda pode estar por aí,
solto e livre, sem ao menos se lembrar da filha que abandonou e
muito menos saber como ela viveu nestes anos todos, ignorando
sua dor neste tempo. Tinha prometido a ela que não iria mais
pesquisar, e “investigar”, mais nada sobre sua vida, mas minha
vontade é identificar e rastrear onde esse filho da puta possa estar e
dar-lhe uma lição de moral, para não dizer “alguns socos”.
Passava a mão em seus cabelos, lembrando que, na verdade,
eu não preciso mais conhecê-la pelos meus “meios” de
investigação. Sofya é uma mulher brilhante; inteligente; divertida;
linda; gostosa; sexy; independente — até de mais —; ama comer e
cozinhar; adora filmes antigos; quando fica brava, ou inquieta, ela
bufa, resmunga, xinga, fala como uma gralha e anda para lá e pra
cá; adora esportes radicais; ajuda as crianças do orfanato onde
cresceu; ajuda uma ONG de animais resgatados; no inverno,
distribui alimentos para moradores de rua; sua coleção de lingerie
realmente é enorme, e espetacular, mesmo eu tendo
rasgado algumas peças, a deixando furiosa; além de
ser insanamente boa de cama. Dei um grande suspiro só de me
lembrar dessa parte. Tão fogosa, safada e deliciosa que me deixa
duro só de pensar, como agora. A escutei resmungar, se mexendo
em cima de mim, virando sua cabeça para a luz que vem da janela.
Olhei para baixo e vi seu braço se movendo, tateando a mesinha de
centro em busca do celular, o pegando logo em seguida.
— Puta merda! — exclamou ao ver que horas são.
Em um movimento rápido e com um pulo, ela saiu de cima de
mim, esbarrando seu joelho em meu pau duro, me fazendo grunhir
de dor e levar as mãos até ele, o protegendo.
— Merda, merda, merda, merda! Por que você não me
acordou? — gritou ela, indo em disparada para o quarto,
resmungando.
E, sim, ela está completamente nua, não me ajudando nada
com a dor aqui em baixo. ARGH, merda!
— Bom dia para você também — gemi, recuperando o ar,
massageando meu pau dolorido ao me sentar lentamente, e com
dificuldade, no sofá para pegar o celular. Caralho, já são 10:41 da
manhã e há várias ligações perdidas em seu celular.
Como é sexta-feira, eu só irei para a agência no final da tarde
para uma operação. Me levantei e fui fazer o café, colocando minha
cueca no caminho. Sofya ainda resmungava no quarto, me xingando
algumas vezes e fazendo-me rir. No café da manhã de quarta ela
fez aqueles pãezinhos de milho maravilhosos e eu estou torcendo
para que tivesse sobrado alguns, mas não os acho em nenhum
lugar. Tenho certeza de que sobrou! Droga, eu preciso deles!
— Sofy? Onde estão os pãezinhos? — gritei.
Ela veio correndo para a sala, ainda se ajeitando e
resmungando. Está vestida com uma calça social branca e abotoava
a camisa rosa estampada. Seu cabelo está preso em um coque
bagunçado e, mesmo assim, ela fica linda, não adianta, ainda mais
quando fica nervosa assim, fazendo bicos.
— Acabou! Você comeu tudo aquele dia! — respondeu,
abaixando-se e tateando o chão em busca de alguma coisa. —
Droga! Cadê essa porcaria de brinco?
Vê-la de quatro assim, engatinhando no chão, não me ajuda
nada, ainda mais nessa calça branca e justa, me fazendo grunhir.
— Está embaixo da mesa, acho — falei.
Ela se curvou mais, empinando sua bundinha. Droga, que
garota gostosa, olha só para essa bunda... grr.
— Um pouco mais para frente — disse, a incentivando a
empinar mais.
— Droga! Onde?
— Tenho quase certeza de que os vi por aí... — Menti, indo em
sua direção.
— Não estou ach... ah! John, me larga!
A puxei para mim, encostando sua bunda gostosa no meu
pau com minhas mãos a agarrando pela cintura firmemente,
enquanto eu beijava seu pescoço e mordiscava sua orelha.
— John! — arfou ela.
Seu celular tocou e ela o atendeu. Ela não queria, mas sua
bunda está rebolando em meu pau involuntariamente e sua
respiração está ofegante.
— A-alô?
— ONDE VOCÊ ESTÁ? — gritou uma voz conhecida na linha,
dando para escutar daqui.
— N-Nigel? Oh meu Deus, me desculpe. Tive um pequeno
imprevisto... John pare! Me larga!
— Não mesmo — disse, a virando bruscamente e atacando
sua boca, a calando.
— Sua vadia! Larga desse pau pecaminoso agora e venha até
aqui já! Donatella está surtando atrás de você! James Holt vem à
redação hoje!
Seus braços tentavam nos separar, mas seu quadril ainda se
esfregava em mim. Abri os botões de sua camisa e minha boca foi
em direção ao seu peito, mordiscando sua carne por cima de seu
sutiã rosa e, logo depois, minhas mãos agarraram sua bunda com
um forte aperto, a fazendo gemer. Um sorriso vitorioso brotou em
meus lábios.
— Quem? Oh Deus... John! Pare! N-Nigel, Nigel, me desculpe,
estou voando para aí! JOHN!
— Venha agora mesmo!
— Ok! — disse ela, desligando o telefone, enquanto eu tentava
tirar sua blusa. — John, pode parar por aí.
Ela conseguiu se desvencilhar de mim, se afastando e
ajeitando sua roupa. Sua boca está deliciosamente inchada e
vermelha por conta do nosso beijo. Eu fui andando em sua direção e
ela me jogou uma almofada, enquanto tentava continuar séria,
pedindo para que eu me afastasse, mas sua risada a entregava.
Argh! Essa garota me deixa louco e parece que tenho meus vinte e
cinco anos novamente.
— John, saia daqui! Eu preciso trabalhar! Pare! — falou,
correndo para trás do sofá, pegando suas coisas no caminho.
Eu não irei parar. Tudo bem que ela está atrasada, mas eu
preciso dela. Agora.
— Você não tem alternativa — falei.
Ela parou e se aproximou devagar, com aquele olhar de
desejo. Ha! E como eu disse, ela não iria me escapar. Ganhei.
— Não tenho é?
Com uma velocidade impressionante, ela pegou meu braço, o
puxando, e com um golpe em meus joelhos, me jogou diretamente
para o chão, onde cai de costas. Mas que filha da...
— Eu disse Não, Ursão — falou, rindo e pegando suas coisas
rapidamente. — Fique à vontade, Super agente! Tchauzinho! —
continuou, correndo em direção a porta.
— Argh! — grunhi, batendo com as mãos no chão e jogando a
cabeça para trás.
Escutei seu riso no corredor, me deixando ainda mais puto.
Mas que traiçoeira! Aqueles olhos cor de mel grandes e traidores!
É a segunda vez que ela faz isso comigo. Filha da mãe! Ela vai me
pagar! Me ergui, continuando sentado no chão e colocando minhas
mãos apoiadas em meus joelhos, olhando em volta. Estou
realmente irritado. Fiquei sem comer pãezinhos e Sofya! Argh!
— Eu quero você e sua equipe próximos ao Pier 15, no East
River. Pelas imagens de satélite o barco com o carregamento irá
chegar às 20:54. Eu quero foco total. Se pegarmos eles, iremos
saber mais sobre Hernandez e sua quadrilha, fui claro? —
questionou Rhodes.
— Sim, chefe. Já estou com a equipe à posta. Estamos indo
para lá agora e vamos pegar esses bastardos hoje — falei,
colocando meu colete a prova de balas e entrando na sala onde
minha equipe está reunida.
Eu gosto da adrenalina do meu trabalho e dos perigos que ele
oferece. Me sinto vivo, e a cada operação, sinto que nasci para
fazer o que eu faço.
— Boa noite, Senhores — disse, jogando as imagens de
satélite impressas na mesa. — O carregamento chegará às 20:54
desta noite no Pier 15. Capangas da quadrilha de Hernandez
estarão neste barco, junto com a carga — continuei, enquanto as
imagens rodavam nas mãos dos homens. — A guarda costeira já
estão a postos para nos auxiliar. Eu quero três equipes cercando o
Pier. Mark — falei, apontando pra ele. — Você e Alan, Oeste.
— Certo chefe.
— Ramoz. Você e Tom, Sul.
— Entendido.
— Eu, Preston e Jones, Leste. É o provável lugar que irão
atracar. — disse, e Preston apenas assentiu concordando. —
Senhores, muita atenção. Precisamos pegar esses caras hoje.
Quero uma comunicação discreta via rádio. Assim que chegarem,
fiquem atentos, iremos nos juntar e colocar o plano em prática.
Entendidos?
— Sim, chefe — disseram juntos.
— Bom. Equipes divididas em dois carros. Quero cautela e
sejam discretos. Vamos. — Deixei que todos saíssem da sala
e Preston e eu éramos os últimos ali.
— Cara, e se isso for igual a Miami? — perguntou Preston.
— Vamos torcer para não ser. Precisamos arriscar, Preston,
não podemos deixar a oportunidade passar.
— Sim. Mas eu já estou farto disso. O cara é um fantasma,
trabalha somente com profissionais e as drogas são tão puras que
não há nem um controle específico, o que dificulta nosso trabalho.
Dei um grande suspiro, concordando mentalmente. Sim,
Preston está certo sobre isso. Hector Hernandez é o chefe de um
dos maiores, e mais novos, cartéis do narcotráfico. Suas drogas se
espalharam em um tempo recorde pelo país e o seu principal
mercado é a Costa Leste. Suas atividades ilícitas promoveram
dezenas de mortes, sem contar a lavagem de dinheiro, prostituição
e contrabando, movimentando milhões. É uma quadrilha tão bem
estruturada que seus rastros desapareciam igual pó ao vento. A
única coisa que conseguimos em 3 meses de investigação foram
suas rotas. A última vez que fizemos uma operação igual a esta,
pegamos o barco “errado”, mobilizando tempo e dinheiro, que foram
para o ralo. Desde então, surgiram pistas sem nexo e suspeitos que
eram pagos para fazer um trabalho para os membros da quadrilha,
em troca de dinheiro, sem nem ao menos saberem onde estavam se
metendo. Isso não nos ajudou em nada e o nosso Governo não
está gostando nada do rumo das investigações.
— Vamos para cima. Ok? — falei.
Ele me olhou, descrente, e fomos para o carro. Sim, estou
pronto para ir com tudo.

— Equipe 1, 2 e 3, barco vindo em direção ao leste. Todos em


seus postos. Câmbio — sussurrei ao rádio.
— Entendido. Câmbio — confirmaram.
O barco está chegando no Pier. O lugar tem poucas pessoas,
em sua maioria trabalhadores do local. Isso não está certo. Eu
sinto olhos grudados em nós, nos observando.
— Quero todos avançando ao meu comando, entendido?
Câmbio.
— Entendido. Câmbio.
Ao atracar, vimos homens em movimento. As três equipes
estão reunidas agora.
— Equipe 1, em frente. Equipe 2 na formação. Preston, eu
quero que os liderem na abordagem. Eu e Jones seguimos atrás.
— Ok.
— Certo. — Esperamos para avançar até avistarmos o
carregamento. — Agora. Vão!
Como ordenei, eles seguiram em frente, saindo do esconderijo
e indo em direção ao barco. Meus olhos estão nos arredores do
Pier, tentando detectar algum sinal suspeito. Ao Sul, perto de um
container, avistei um homem, vestido como funcionário do Píer e
falando no rádio, olhando ao seu redor, tentando ser discreto. Eu
parei e continuei o observando. Ele parou seu olhar em mim, logo
depois virou-se para trás, andando calmamente.
— Chefe? Tudo bem? — perguntou Jones. — John?
Escutei Preston e o restante da equipe abordarem o barco e os
tripulantes, enquanto eu posicionava minha 44 automática, a
engatilhando e ainda encarando com atenção aquele cara. Dei uns
passos para frente, chamando a atenção dele novamente e, quando
percebeu minha movimentação em sua direção, saiu correndo. Filho
da puta! Jones seguiu o meu olhar.
— Não o deixe escapar, Jones — ordenei, começando a correr
na direção do desgraçado. — Hey, parado aí ou eu atiro! — gritei.
— Vou pelo outro lado! — gritou Jones.
Esse filho da puta corre feito um atleta, indo em direção aos
outros containers. Quando eu estava me aproximando, o vi puxar
uma arma da sua cintura e a usar contra mim, atirando em minha
direção. Me protegi atrás de um container, mas logo depois retribui
os tiros com a minha arma. Estávamos ali, trocando tiros, até que
escutei seu cartucho acabar e corri em sua direção. Ele correu, mas
escorregou em uma poça de água, se levantando rápido, mas não
mais rápido quanto eu. Eu o agarrei, o derrubando no chão,
porém ele foi fugaz, me dando um soco em meu olho e, na hora,
senti meu supercílio direito cortar. O agarrei e nos atracamos como
em uma briga de rua. Ele é bem maior que eu, diminuindo minhas
chances de ganhar. O encostei no container, distribuindo socos em
sua cara, o fazendo virar e ficar de bruços no chão, porém, quando
fui o prender com minhas algemas, ele avançou novamente contra
mim, me derrubando de novo, fazendo minha arma cair no chão. Fui
para cima dele de novo enquanto ele estendia seu braço para
alcançar a arma e eu tentava apagá-lo com um mata leão. Eu
estava usando todas as minhas forças ali, mas ele também é forte.
Ele se afrouxou um pouco, e diminuiu minha força, em um
movimento rápido com seu cotovelo acertou meu estômago, me
fazendo afrouxar totalmente meus braços de seu pescoço, indo em
direção à arma, com dificuldade e a pegando, apontando em minha
direção.
— Achou que iria conseguir, Agente? — falou, ofegante, com o
riso vermelho de sangue. — Hector mandou lembranças. Disse que
está adorando ver você e seu Governo se ferrar. — riu.
— Vocês estão acabados — grunhi.
— Acho que é você que está acabado. Suas últimas palavras,
Agente?
— Vai se foder — falei, escutando um barulho de tiro logo em
seguida.
Não sei o que aconteceu, mas vi o desgraçado caindo no
chão e, então, vi Jones atrás dele, com sua arma erguida. Fui em
direção ao filho da puta, com dificuldade, para ver se ainda
está vivo.
— Droga, John! Você está bem? — disse Jones, vindo em
minha direção.
— Chame uma ambulância, agora! Ele não pode morrer! —
exclamei pra ele. — VAI!
Ele pegou seu rádio e chamou reforços. Virei o desgraçado
para que ficasse de cabeça para cima. Ele está com o pulso fraco e
perdendo sangue. Merda! Não podemos perder mais uma chance!
Não agora.

São quase meia noite e finalmente cheguei no prédio. Eu


estou puto! A operação foi um fiasco. Aquele filho da puta morreu a
caminho do hospital, sem ter a chance de abrir a boca sobre
Hernandez e sua quadrilha. Droga! Para piorar, a carga era somente
cigarros, e os homens da embarcação, como na operação anterior,
foram pagos pelos capatazes de Hernandez. É nítido que aquilo foi
uma distração para que o verdadeiro carregamento chegasse na
ilha sem problemas e isso me deixa furioso! Eu falhei mais uma vez,
deixando Rhodes puto. Caminhando em direção a minha porta,
escutei a porta de Sofya se abrir, e me virei.
— Hey, Ursão, voc... oh meu Deus, John, o que houve? —
perguntou ela, vindo em minha direção, preocupada, e pegando
meu rosto em suas mãos pequenas.
Tinha me esquecido totalmente do meu olho roxo e do meu
pequeno corte no supercílio, que está com alguns pontos feitos pela
equipe médica no local, coisa que eu tentei dispensar, pois não tinha
necessidade.
— Não foi nada — disse, tirando suas mãos do meu rosto
delicadamente. — Desculpe Sofya, mas eu vou entrar, não estou
com cabeça hoje. Boa noite — continuei, entrando em casa,
fechando a porta logo em seguida.
Eu sei que não é certo deixá-la ali daquele jeito e sair assim,
mas não estou a fim de papo ou qualquer outra coisa hoje. Por mais
que me doesse fazer isso, é melhor, já eu fico muito instável nesses
momentos. Sentia meu olho latejar e fui em direção ao bar, pegando
a garrafa de whisky e um copo. Escutei o barulho da fechadura da
porta e fiquei atento, andando lentamente para lá. Peguei minha
arma, mas lembrei que ela está sem munição, droga. A porta se
abriu e vi Sofya entrando devagar. Soltei o ar, aliviado e ela me
olhou, parando imediatamente ao notar a arma em minhas mãos.
— Pode abaixar a arma, por favor? — disse ela, com as mãos
levemente levantadas.
Mas o que? Como diabos ela entrou aqui?
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, perplexo.
Ela mostrou a chave reserva com um sorriso tímido em seus
lábios. Somente quem tem essa chave é Mag, então como ela...
— Me desculpe. Peguei a chave daquela senhora simpática
que vem aqui enquanto ela estava distraída. Mas pretendia usá-
la somente em casos de emergência, e eu acho que hoje é um. —
respondeu, envergonhada.
Ela é realmente uma mão leve, que filha da mãe! Dei um riso
forçado, a encarando.
— John, você está sangrando. Só me deixe cuidar disso, não
precisa conversar comigo.
Ela está de brincadeira comigo? Ela invade a minha casa atrás
de mim e ainda fala como eu devo reagir?
— Eu sabia que você era uma ladrazinha na sua adolescência,
mas pensei que havia largado esses hábitos no passado — disparei.
— Não quero a sua ajuda. Agora, por favor, saia daqui e deixe a
chave — continuei, pegando a garrafa de whisky e a virando direto
na boca.
Ela cerrou o olhar, fechando a cara, e sua boca se abriu e
fechou algumas vezes, mas desistiu de falar algo, trincando sua
mandíbula e indo em direção à porta. Ela se virou novamente para
mim, erguendo a chave na mão.
— Você está mais que bem. Seu filho da puta ingrato! —
exclamou ela, deixando a chave no aparador ao lado da porta e,
logo depois, a batendo com força.
Peguei o copo e a garrafa, me sentando na poltrona da sala.
Mas que droga, sou um grande idiota! Bufei, atirando o copo na
parede e me levantando, coçando minha barba. Não podia ter feito
aquilo com ela! Merda! Mas ela não poderia ter entrado aqui assim,
que droga! E eu não deveria ter agido daquela maneira! Argh! Porra!
Ela estava aqui para me ajudar, para ajudar um amigo, e o que eu
fiz? A expulsei! Ela não vai querer mais olhar na minha cara.
Coloquei a mão em meu ferimento e notei que realmente sangrava.
Essas merdas de pontos devem ter aberto no caminho.
— Merda! — xinguei.
Olhei para a chave que ela havia deixado ali e caminhei em
direção a porta, pegando a chave. Quando percebi, já estava parado
na porta dela, batendo da minha maneira. Suspirei pesadamente,
rezando para que ela me atendesse e me desculpasse de alguma
forma por ter sido um idiota.
Entrei batendo a porta atrás de mim, indo em direção a
geladeira para pegar uma bebida. Eu queria socar a cara dele
agora! Aquele idiota grosseiro! Argh! Peguei a garrafa de vinho, que
está pela metade, e a tomei diretamente no gargalo. Ainda não
acredito que ele foi capaz de falar comigo daquela maneira, tudo
bem que eu já tinha o visto bravo algumas vezes, mas ele sumia de
vista na mesma hora, pois eu sei que ele prefere assim. Mas, qual
é? Ele estava sangrando! Como eu poderia deixá-lo daquela
maneira? Eu fiquei em choque quando o vi naquele estado, aliás,
ainda estou. Só queria saber se ele estava bem, mesmo ele me
tratando daquela maneira.
Escutei batidas na porta. Não eram somente batidas, mas sim
“as batidas” dele. Estou em um dilema de abrir ou não, dividida
entre deixar seu outro olho roxo ou cuidar do olho machucado. As
batidas ficaram mais intensas e eu fui pisando duro no chão em
direção a porta, a escancarando. O encarei e a cara dele
está totalmente diferente da que estava há alguns minutos atrás. Ele
está apoiando seu peso com a mão que está encostada no batente
da porta, me encarando como um cachorro machucado procurando
abrigo. Droga, eu estava pronta para enfrentá-lo, mas isso me
desarmou totalmente. Porém, preciso me manter firme e, então,
cruzei meus braços e o encarei, erguendo meu queixo ainda mais.
— Me desculpe... — sussurrou ele, com o olhar arrependido.
— Por favor, me desculpe. Eu sou um completo idiota!
Eu o olhei, soltando o ar dos pulmões, enquanto ele esperava
que eu o respondesse. Não podia deixá-lo dessa maneira em minha
porta, por mais que ele realmente tenha sido um idiota.
— Sofy, por favor... — implorou.
— É, você foi sim. Um verdadeiro idiota! — respondi,
duramente.
Ele baixou a cabeça e colocou a mão na barba, mostrando
arrependimento.
— Vem. Entra — falei, virando-me para dentro.
Vi que ele não estava me seguindo e voltei a encará-lo,
erguendo meus braços.
— Vem logo, John, antes que eu mude de ideia. Precisamos
cuidar disso aí — apontei para o seu olho machucado.
Ele entrou, fechando a porta, e me seguiu em direção a
bancada, sendo-se ali. Fui para o banheiro em busca do kit de
primeiros socorros, toalhas e uma agulha. Voltei e ele estava com os
braços apoiados na bancada, encarando os pés. Molhei um pouco a
toalha na água morna da pia e sentei-me ao seu lado. Ele se virou
para mim e peguei seu queixo para começar a limpar seu ferimento.
— Isso vai doer — falei.
Coloquei a toalha no corte para limpar o sangue e, como havia
previsto, seu rosto recuou um pouco com o toque na ferida, fazendo
uma careta. Percebi que já haviam pontos ali, e pontos bem mal
dados.
— Já está com pontos?
— Sim... mas não deixei que terminassem. Havia outras
prioridades na hora.
— Bem esperto da sua parte — falei, ironicamente. — Vou ter
que “remendar” isso, o corte é um pouco profundo.
Eu estou louca para saber o que havia acontecido e quem fez
aquilo com ele, mas irei controlar minha boca e a minha curiosidade.
Peguei as coisas para dar os pontos no corte e limpá-lo, depois, fui
em direção ao armário, pegando o whisky junto com o copo e um
punhado de gelo, deixando ao seu lado.
— Vai precisar disso — falei.
Ele encheu o copo imediatamente e bebeu tudo em um só
gole, colocando mais no copo. Fiquei mais próximo dele, erguendo
meus braços para começar a trabalhar no corte. Ele é alto demais,
mesmo sentado, e estou tendo dificuldade em achar uma posição
que dê para fazer isso melhor. Ele percebeu minha dificuldade e se
levantou, ficando ainda mais perto de mim. Antes que eu pudesse
questioná-lo, ele me levantou pela cintura, com facilidade, e me
colocou sentada na bancada, logo após sentou-se de frente para
mim, posicionando seu banquinho mais para frente e ficando entre
minhas pernas. Ele ergueu sua cabeça para mim, fechando os
olhos.
— Melhor assim? — perguntou.
— É... agora tente ficar parado.
Comecei a costurar o corte e limpar. Em alguns momentos
John resmungava ou apertava minha perna em resposta.
— Hey, grr! Calma aí. Preciso beber — resmungou ele.
— Eu já estou acabando, espere. — Dei mais alguns pontos e
finalizei. — Pronto. Tente não mexer ou fazer alguma coisa estúpida
para não abrir de novo, por favor.
Ele não respondeu, tomando seu quarto copo em um só gole
novamente, me olhando em seguida. Peguei os esparadrapos e as
gazes para fazer o curativo, ainda sentindo seu olhar em mim.
— Fez um bom trabalho aqui. Onde aprendeu a dar pontos
assim?
Coloquei um pouco de pomada cicatrizante em cima dos
pontos, dando um grande suspiro sem olhá-lo. Era claro a intenção
dele de tentar deixar o clima mais leve.
— Eu vivia apanhando das crianças mais velhas no orfanato,
até que, um dia, uma delas pegou mais pesado. Meu corte foi
parecido com esse e, como eu era uma criança entrando na fase da
pré-adolescência, decidi a aprender eu mesma a “me dar pontos”, já
que sempre fui a magrela de lá e não podia me defender
completamente sozinha.
Eu estou focada em abrir as gazes e não vi a reação de John,
mas o escutei bufar, parecendo frustrado.
— Boneca... me desculpe, eu sinto muito. Por isso e pelo que
eu te disse antes. Eu não deveria...
— Você tinha me prometido John! — exclamei, explodindo as
palavras frustradas que estavam em minha garganta.
— Sim, eu sei! Mas isso foi antes. Eu a investiguei somente
daquela vez, juro! — disse ele, pegando meu queixo e me fazendo
encará-lo. — Mas não se preocupe, aquilo só está no histórico do
FBI e no departamento da polícia de Nova York. — Desvencilhei-me
da sua mão e encarei a parede. — Boneca, por favor!? Eu não
deveria ter descontado o meu fracasso em você — sussurrou.
— Bem, já que você sabe do meu “histórico criminal”, acho
melhor eu lhe dar algumas explicações, certo, Agente? — disse,
ainda brava, o encarando.
Ele fechou os olhos, movimentando sua cabeça negativamente
para os lados.
— O primeiro furto aconteceu quando eu era pequena, não me
lembro quantos anos tinha, mas ainda me lembrava da promessa da
minha mãe, de que me daria uma Barbie da Audrey Hepburn, pois
eu amo os filmes dela. Então, em um certo dia, fugi do orfanato em
busca daquela Barbie — ri frustrada, me lembrando daquilo. — Ela
era tão linda, mas tão cara! Juntei as moedas nas mãos e vi que
aquilo não daria para levá-la, então a coloquei dentro do casaco e
tentei sair da loja, mas um segurança me pegou e me levou até a
dona da loja, que desistiu de fazer a queixa depois de eu contar o
porquê eu havia feito aquilo, com dó da pobre órfã magrela.
Eu não o olhei, pois detesto quando as pessoas sentem pena
de mim.
— E então, o segundo furto, me lembro que eu já era uma
adolescente, uma adolescente magrela que estava criando peitos e,
bem, você pode imaginar que adolescentes podem ser cruéis uns
com os outros, mas garotas adolescentes podem ser ainda piores.
Por isso, fui em busca do meu primeiro sutiã! — ri, lembrando dos
modelos que estava em dúvida em pegar. — Claro que eu não tinha
dinheiro e o enfiei no casaco. A dona da loja me pegou no flagra,
mas, logo após saber da minha história, também ficou com dó de
mim e, novamente, tive a chance de não ir para um reformatório de
menores infratores — finalizei, levantando as mãos e, finalmente, o
encarando.
— Sofy, eu...
— Não, John. Eu não quero que tenha pena de mim. Por favor,
eu não quero isso! Eu te contei isso porque eu quero RESPEITO! E
não que tenha pena de mim — disse, alterando minha voz, o
encarando. — Então antes de jogar o meu passado em cima de
mim, verifique se a porcaria da sua investigação tenha todos os
fatos também! Porque se você ousar falar comigo daquela maneira
novamente, você irá perder uma amiga.
— Eu nunca mais irei fazer isso. Prometo — sussurrou ele, me
olhando.
— Ótimo! — falei, erguendo sua cabeça para que pudesse
fazer o curativo. — Porque ainda continuo querendo deixar seu
outro olho roxo. — Ele riu, me encarando. — Não é para rir, seu
babaca! — continuei, falhando em não rir também.
Ficamos alguns instantes em silêncio, até que ele falou
novamente.
— Eu falhei de novo hoje, Boneca — ele falou, fechando os
olhos.
Percebi que ele está com os punhos fechados em minha volta.
— John, não precisa me contar...
— Mas eu quero. — Ele me encarou e, lá está, o olhar
frustrado novamente. — Eu estava com uma puta chance nas mãos
e a deixei escapar. Não consegui de novo. Deixei os caras maus
fugirem outra vez — riu forçadamente, balançando sua cabeça.
A linguagem na qual ele sempre usa quando me fala sobre seu
trabalho, deve ser a mesma linguagem que ele usa com crianças,
como, por exemplo, “caras maus” que estão fazendo “coisas ruins”,
e isso me faz sorrir. Ao mesmo tempo que ele está ali, se
desculpando, ele também está fazendo uma coisa que, pelo que ele
me conta e pelo pouco tempo que eu o conheço, não está
acostumado a fazer com ninguém: compartilhar seus problemas. E,
bem, se vamos ser amigos, teríamos que passar por situações
como essa, não é mesmo? Ergui sua cabeça e finalizei o curativo.
— Pronto — falei.
Se ele resolveu se abrir comigo, eu preciso respondê-lo, mas
eu estou tentando encontrar as palavras certas. Dei um grande
suspiro, o encarando de volta e colocando minhas mãos em seu
rosto.
— Não é sua culpa, John. Você não falhou. Não era para ser,
ainda não. — Ele fechou os olhos, dando outro grande suspiro,
discordando das minhas palavras. — Você é bom no que faz, e sabe
por quê? Porque você ama o que faz. É só uma fase difícil, não
deixe isso no seu caminho. Você vai conseguir, mas precisa ficar
calmo e acreditar naquilo que você quer, porque você é o
melhor nisso.
Ele abriu os olhos, e me olhou. Pelo menos estão mais
serenos.
— Ok? — falei.
Ele sorriu e me abraçou, envolvendo seus braços fortes ao
redor do meu corpo e pousando sua cabeça na lateral da minha
barriga. Retribui o gesto com carinhos em seus cabelos.
— Obrigado — sussurrou, ainda preso em meu corpo. — Você
é demais, garota Rolling Stones! — continuou ele, voltando para trás
devagar e me fazendo rir.
— É, eu sei. E quer saber mais? — disse, chamando sua
atenção.
— O que? — perguntou, olhando com curiosidade.
Cheguei mais perto de seu ouvido e senti suas mãos
apertando mais minha cintura.
— Eu fiz bolo de milho — sussurrei.
Ele deu um grunhido como resposta, me fazendo rir.
— Eu não canso de repetir que você sabe como deixar um
homem louco, garota — falou, me puxando para um beijo e me
erguendo, colocando-me em seu colo com minhas pernas em volta
de seu corpo e indo em direção ao quarto. — Mas antes preciso de
um banho.
Tentei descer para o chão, mas ele me impediu.
— Eu já tomei banho e, além do mais, você tem o seu
banheiro — retruquei.
— Sim, mas quero que vá comigo.
— Você é mui... — Eu ia respondê-lo, mas ele me calou com
um beijo ardente, me encostando no batente da porta do quarto.
Ele interrompeu o beijo e me olhou, de maneira carinhosa.
— Por favor? — implorou.
Eu sabia que ele estava tentando me persuadir. Ele é durão,
teimoso e bruto... mas esse John “carinhoso”, me conquista tanto
quanto os outros, e eu odeio quando ele me tinha em suas mãos
dessa maneira. Quem aguenta um homem desses assim? Falando
desse jeito, ainda mais machucado? Ninguém conseguiria resistir a
isso. Dei um suspiro, entortando meu sorriso, e ele fez o mesmo. E
ali, com aquele olhar e aquele sorriso, ele soube que me ganhou
apenas com uma palavra.

Entrei na banheira primeiro. Banheira que é perfeita pra mim,


do tamanho certo e no estilo clássico-retrô, mas, segundo John,
é uma banheira de casa de boneca: pequena. Ele entrou logo
depois, se sentando entre minhas pernas, jogando boa parte da
água para fora, e encostando suas costas em meu peito. Eu havia
colocado sais de banhos e óleos relaxantes na água e, então,
comecei a massagear seus ombros gigantes, o fazendo gemer.
— Hm, isso é muito bom — gemeu, pousando suas mãos em
meus joelhos que estão fora d'água.
— Você está muito tenso — falei, o apertando mais.
Ele inspirou e soltou o ar pesadamente, tombando sua cabeça
para trás, a encostando em meu ombro.
— Obrigado por hoje, já estou melhor. Isso me deixou melhor
— disse ele, virando sua cabeça e beijando minha bochecha em
seguida.
— Acontece — falei, e rimos, nos lembrando do nosso bordão.
Ele se levantou um pouco, pegando algo na pia do banheiro,
voltando a se encostar em mim e pegando minha mão, colocando
algo na minha palma e a fechando depois. Senti algo pequeno e
gelado, não precisei ver para saber o que era.
— John...
— Não, fique com ela. E quero que a use sempre que achar
necessário. Eu tenho a sua e agora você tem a minha. Justo, não?
— disse ele, sério.
Ele tem um ponto. Ri, vendo a chave em minha mão e a
colocando no chão em seguida.
— Aquela senhora fofinha já deu falta dela? — perguntei, rindo
e o fazendo rir também.
— Mag.
— Isso! Não me lembrava do nome dela.
— Ainda não, mas assim que perceber irá me ligar.
— Ela é um amor.
— Mag é como uma mãe para mim. Ela sempre cuidou da
casa, de mim e de todos ali.
— Eu imaginei. — Passei as mãos em seu peitoral. — Irei me
desculpar com ela.
— Ela vai entender.
Ficamos ali até nossos dedos enrugarem, conversando, e não
notei quando peguei no sono, adormecendo encostada em seu
ombro. Mesmo estando exausta, senti quando ele me tirou da água,
mas apaguei de novo em seguida.

Acordei com a luz do sol invadindo o quarto, me


espreguiçando e sentindo todo o espaço na cama... muito espaço.
Levantei e olhei para a cama vazia. Onde ele está? Fiz um bico,
esperando encontrá-lo deitado junto a mim, mas estou sozinha aqui.
Não me lembro de como vim parar aqui e nem... como? Olhei para
baixo, tateando minha roupa. Ri ao notar que ele havia me vestido
com a minha camiseta extragrande dos Rolling Stones. Deitei
novamente, rindo feito uma boba, mas parei subitamente quando
escutei a voz da razão em minha cabeça, me lembrando:
CUIDADO! Em letras garrafais neon. Sim, eu preciso ter cuidado. Eu
gosto de John, claro que gosto dele, mas porque ele é meu amigo.
Bufei, olhando para a janela. Algo está me incomodando. Eu já
tive amizades como essa com outros caras, não tive? Eu adorava
Jax, ainda o adoro, mas de alguma maneira, eu sei que com John é
diferente. Jax era meu melhor amigo, mas me sentia extremamente
irritada quando ele invadia meu espaço ou o visse praticamente
todos os dias, porque somente namorados fazem isso, não é?
É essa a minha percepção. Mas com John, fazemos tudo isso e eu
não me sinto incomodada, nem um pouco. Pelo contrário, nos
vemos quase todos os dias, ele praticamente vive aqui e quando
não o vejo, sinto que falta algo no meu dia. Por isso tem um letreiro
enorme com todos os avisos e alertas de "cuidado" na minha
cabeça toda vez que penso nisso.
Eu não transei com mais ninguém desde que John e eu
começamos a ficar. Outro motivo para eu ficar preocupada, mas, em
minha defesa, eu não tenho mais tempo e paciência para joguinhos
com outros caras. Já tenho uma ótima companhia e um sexo
maravilhoso e, o melhor, sem cobranças ou algo que um
relacionamento sério exige. É isso! Somente isso. Respirei fundo,
convencida de que é somente isso mesmo, e peguei meu celular.
Falando no diabo, recebi uma mensagem dele.

John: “Bom dia, vizinha! Desculpe não ter ficado, tive que sair
bem cedo para resolver alguns problemas. Acho que quando eu
voltar você deverá estar acordada, então use a minha chave e
venha tomar um café comigo. Estarei te esperando. *emoji
piscando”

Uau, bem cedo mesmo. A mensagem chegou às 6:05 da


manhã. Olhei e vi outra mensagem, mas essa enviada a
dez minutos atrás, às 9:55.

John: “Acordou?”

Ri da sua falta de paciência e o respondi.

Sofya: “Acabei de acordar. Espero que tenha resolvido seu


problema.”
John: “Ótimo, então venha para cá. E venha do jeito que eu a
deixei ontem, somente com essa camiseta sexy. Conversamos
aqui.”

Sofya: “Rsrs. Aliás, obrigada por isso. Já estou indo.”

Levantei-me e fui para o banheiro fazer minha higiene pessoal,


logo depois calcei meus chinelos e fui para seu apartamento, com a
chave dele na mão. Assim que saí, avistei a senhora Johnson indo
na mesma direção que eu. Por sorte, minha camiseta é longa,
chegando às coxas, sem revelar "nada demais".
— Ah, Sofya, querida! Bom dia!
— Bom dia, senhora Johnson! Está tudo bem? — perguntei,
enquanto ela batia na porta do John.
— Ah sim, querida. Vou aproveitar que John está aqui e
resolver uns assuntos do prédio.
Escutei a porta se abrir e vi John, vestindo um jeans escuro e
uma camiseta preta. Ele fez outro curativo em seu machucado, bem
menor do que o que eu havia feito ontem, e percebi que seu olho
não está mais tão inchado.
— Eu não tinha dito para voc... senhora Johnson?! Está tudo
bem?
— Bom dia querido, vim falar com você sobre aquelas
questões do prédio, não se lembra? Ahm, o que houve com seu
rosto, querido?
— Ahm, nada com o que a senhora devesse se preocupar.
Quais questões seriam ess...
— Ah! Que bom! Sofya, querida, você pode se juntar a nós, já
que agora é a mais nova moradora daqui.
Olhei para John confusa e ele me olhou da mesma maneira.
— Se me der licença, querido, eu vou entrando — falou ela,
passando por John.
— O que eu faço agora?! — cochichei.
— Entre aqui! — cochichou ele de volta.
— Mas nem de calcinha eu estou!
Ele me olhou, com aquele olhar de predador.
— Entre! — rosnou, em um tom autoritário e alto.
Quando eu fui questioná-lo escutei a senhora Johnson ao
fundo.
— Entre querida!
Ele me olhou, dando aquele sorriso torto e eu o fuzilei com os
olhos. Entrei e a vi sentada na bancada, olhando para alguns
papéis. Quando ia em sua direção, senti a mão de John apertando
minha bunda, me fazendo pular. Filho da puta! Ele seguiu em
direção a cozinha para terminar algo que estava fazendo e eu me
sentei ao lado dela, cuidadosamente para não revelar que não
estou sem nada por baixo daquela camiseta. Ela começou a falar
coisas sobre o prédio, nas quais eu não prestava atenção direito,
pois meus olhos estão vidrados em John. Eu adoro quando ele
veste preto. Ele olha a senhora Johnson atentamente, com aquela
cara séria, me fazendo ficar molhada. Senti o líquido no meio de
minhas pernas e as apertei ainda mais, chamando a atenção de
John, que me olhou com desejo. Ele se virou novamente para a
senhora Johnson e disse algo, me fazendo acordar.
— Mas a senhora tem o orçamento deles, não tem?
— Sim, e eu jurava que estava nesta pasta! Oh Deus, como eu
sou distraída, devo ter colocado em outra pasta. Me desculpe
querido, vou pegá-la e volto em um instante — disse a senhora,
saindo.
E o olhei e ele ainda está sério. Eu adoro quando ele fica com
essa cara, me deixando muito excitada. Descruzei as pernas e me
levantei, caminhando em direção a ele, na cozinha. Seu olhar me
acompanhou, mas ele não se mexeu, permanecendo com as mãos
apoiadas na pia. Lentamente, e sedutoramente, fui até ele, até
ficarmos bem próximos. Ele se endireitou, ficando de frente para
mim. Mordi meus lábios e minhas mãos foram para seu cinto, o
tirando. Ele grunhiu, ainda me olhando.
— É bom ter cuidado com o que vai fazer garota — falou, com
a voz rouca.
Ergui minhas sobrancelhas e abri o zíper de sua calça, a
fazendo cair no chão. Olhei para baixo e vi seu pau duro dentro da
cueca. Dei um gemido em resposta, abaixando e ficando de joelhos.
— Sofya... — alertou, engrossando ainda mais sua voz.
Coloquei a mão em seu pau, o massageando por cima da
cueca. Eu amo chupá-lo, se pudesse passaria todo o meu dia o
chupando. Desci a cueca por suas pernas e peguei seu mastro em
minhas mãos, começando a masturbá-lo. Olhei para cima e
encontrei seu olhar, escutando ele grunhir.
— Você é uma safada, sabia?! — falou.
Dei um sorriso, concordando e levando seu membro à minha
boca. Passei a língua em sua cabecinha, logo depois o coloquei na
boca, chupando com vontade, indo e voltando, indo e voltando. Ele
jogou sua cabeça para trás e pegou em meus cabelos. Eu o lambia,
chupava, o batia em minha cara e o levava até o fundo da minha
garganta, fazendo garganta profunda. Comecei a aumentar o ritmo,
o chupando com vontade e movimentando minha mão rapidamente
por seu cumprimento. Senti suas mãos mais firmes em meu cabelo.
— Se você continuar eu vou gozar na sua boca — disse John,
entre dentes.
Eu não parei e ele grunhiu, entendendo o que eu queria.
— Você não deveria me provocar assim, garota.
Escutei a porta se abrir e me lembrei da senhora Johnson.
Senti John ficar um pouco tenso e encostar mais perto da pia,
colocando suas mãos sobre ela.
— Encontrei! Me desculpe a demora, querido, mas tinha mais
coisa do que eu pensava.
Agarrei seu pau de novo e comecei naquele mesmo ritmo.
— Mas que... — disse John, um pouco alto, quase me fazendo
rir. — Uau, bastante coisa mesmo, senhora Jo... filha da...
Eu não irei parar até sentir seu gosto em minha boca.
— O que foi querido?
— N-não, não precisa vir até aqui. Pode colocar essas... essas
coisas em cima da mesa, eu consigo escutá-la daqui... Jesus.
— Tudo bem, mas onde está Sofya?
— Hmm, ela... ela... Deus! — O vi segurar firmemente na
borda da pia.
— Querido, você está...
— Si-sim. Ela teve que voltar para casa. Pode continuar...
continua!
Ela continuou a falar e eu continuei a chupá-lo, aumentando
cada vez mais o ritmo. Comecei a sentir seu corpo mais contraído e
dar pequenos espasmos.
— Senhora Johnso-Johnson, por favor. Preciso daqueles
papéis ago-ra. Para já.
— Mas querido, já não havíamos visto iss...
— Já! Por favor! Pegue-os para mim! Rápido.
— Tudo bem.
Escutei a porta bater e senti suas mãos voarem de volta para
meus cabelos.
— Você quer isso, não é?
Apenas gemi em resposta, o chupando cada vez mais. Senti
seus espasmos mais fortes e seus grunhidos aumentarem.
— Caralho! — grunhiu ele, ferozmente, jorrando tudo em
minha boca, sentindo seu gozo quente descer por minha garganta.
Mesmo sendo muito, não desperdicei nenhuma gota, o lambendo
todo. Delicioso! Ele ainda se recuperava, ofegante.
Levantei e o olhei, limpando as laterais de minha boca com a
língua e com os dedos, com a maior cara de safada do mundo.
Escutei a porta abrir e ele levantou suas calças rapidamente.
— Achei! Ah, Sofya, que bom que voltou.
— Tive que dar uma saída para atender um telefonema.
— Tudo bem. — Ela olhou para John com cara de preocupada
— Oh, querido, você está mesmo bem?
— Ah, ele se engasgou, mas já resolvi o problema, não é,
vizinho?! — disse, dando um tapa em suas costas.
Ele me olhou ameaçadoramente.
— Sim — respondeu, dando um pigarro.
— Ah que bom!
— Me desculpem, mas não vou poder ficar, preciso voltar. Não
se preocupe, senhora Johnson, John me passa tudo depois — falei,
indo em direção a porta.
— Tudo bem, querida. Tchau!
— Tchauzinho — acenei para os dois, mandando uma
piscadela para John, que ainda me olha daquela maneira.
Entrei em meu apartamento, rindo e, oh meu Deus, aquilo foi
surreal! Tenho certeza que ele gostou, mas também tenho certeza
que ele ficou uma fera comigo. E, para falar a verdade, eu não
vejo a hora de ele soltar sua fera para cima de mim.
Estava sentada na bancada tomando meu café e checando
meus e-mails no celular quando escutei minha porta abrir. Levantei,
sobressaltada, e me virei em direção à porta, soltando o ar dos
pulmões quando vi John entrando. Ele está com aquele olhar de
predador de novo, vindo em minha direção, e eu sabia que seria
agora que ele soltaria sua fera em mim.
— Não deveria ter me provocado — Rosnou ele, chegando em
mim, agarrando minha cintura e meu pescoço, me tomando em um
beijo profundo e quente, juntando nossos corpos.
Ele me virou, sem delicadeza alguma, dando um tapa em
minha bunda e, logo em seguida, colocou a palma da sua mão em
minhas costas, me fazendo inclinar para baixo, deixando minha
bunda empinada e exposta pra ele, que não perdeu a oportunidade
de me dar outro tapa, fazendo-me jogar a cabeça para trás e gemer,
voltando meu olhar para ele. Escutei seu cinto fazer barulho,
seguido pelo som da sua calça caindo no chão e, logo depois, o
barulho da embalagem do preservativo rasgando. Senti outro
grande tapa em minha bunda e, caralho, ele está me deixando
louca! Ele pegou meus cabelos firmemente em sua mão e a outra foi
para minha cintura quando senti seu pau tocar minha bunda e seu
corpo se inclinar sobre o meu. Sua mão puxou meus cabelos para
cima e senti sua respiração em meu ouvido.
— É melhor você segurar firme, porque vai precisar — rosnou.
Gemi em resposta, segurando firmemente na bancada. E foi
quando o senti entrar em mim, sem dó, duro e forte, que ele me fez
gritar. John puxou mais meus cabelos e continuou com os tapas em
minha bunda, dando estocadas profundas e me deixando louca. As
estocadas começaram a ficar cada vez mais ferozes, explorando
todo meu interior, e eu não irei aguentar por muito tempo. Ele
sabe que eu fico louca quando ele me pega desse jeito.
— É isso que você vai ter toda vez que me provocar,
entendeu? — disse ele, dando outro tapa em minha bunda e me
fazendo gemer cada vez mais.
Não satisfeito em não ouvir minha resposta, ele pegou meu
pescoço, em um aperto moderado, e o senti colado atrás de mim de
novo, grunhindo em meu ouvido.
— Você entendeu, sua safada?! — grunhiu ele, apertando um
pouco mais meu pescoço.
Aquilo só me estimulou mais e eu sei que estou quase
chegando lá, então decidi provocá-lo mais ainda.
— Hm, você sabe que eu gosto de te provocar, não é? —
Recebi outro tapa e um grunhido animalesco como resposta.
— Muito, muito desobediente, garota. Agora eu quero que
goze pra mim. Aperta essa bocetinha no meu pau daquele jeito que
você sempre faz, sua cachorra!
Ele aumentou o ritmo, me fodendo alucinadamente, tão forte
que o senti me elevar do chão, envolvendo minha barriga com um
braço e, com a outra mão, me segurando pelo pescoço, fazendo
com que eu parecesse uma boneca de plástico. Apertei a bancada,
me segurando forte, quando senti meu orgasmo vindo, contraindo
todo meu corpo ao sentir uma incrível explosão de prazer me
atingindo forte e me fazer perder todos os sentidos.
Eu ainda estava convulsionando em suas mãos quando o
senti gozar logo em seguida, grunhindo alto e tendo fortes
espasmos com suas estocadas finais. Ainda entorpecida pelo
orgasmo, apoiei minha cabeça em meu braço sobre a bancada,
tentando me recuperar, procurando o ar. Senti meus pés tocarem o
chão e sua cabeça apoiar em minhas costas. Por sorte, ele ainda
me segura firme, pois, se não fosse isso, teria desabado no chão,
ainda trêmula e sem força no corpo.
Ficamos assim alguns instantes, até que ele me virou e me
ergueu pela cintura com suas mãos, me colocando sentada na
bancada e ajeitando minha camiseta. Apoiei minha cabeça em seu
ombro e ele fez o mesmo no meu, logo depois ficando ereto
novamente e pegando meu queixo, me fazendo encará-lo.
— Isso é o que acontece quando me provoca — repetiu, me
fazendo sorrir.
Ele me beijou e se afastou, ajeitando suas roupas e voltando-
se em direção a porta.
— Nos vemos depois.
— O que? Não íamos tomar café? — O questionei.
— Não posso, preciso voltar para a Agência — disse ele,
abrindo a porta e se virando para mim antes de sair. — Além disso,
já estou satisfeito — sorriu, me mandando uma piscadela
e fechando a porta em seguida.
— Cafajeste!
Filho da mãe! Ele não perde por esperar!

Coloquei minha mini saia de paetê preto, com alguns detalhes


em dourados, e um cropped curtinho de alças grossas totalmente
preto, que faz parte de um lindo conjunto Versace. Para combinar,
calcei meu peep toe preto e meus cabelos estão soltos e brilhantes,
realçando minha maquiagem perfeita, que destaca meus olhos. Eu
irei brilhar! Nigel, Kate, Lea e eu vamos a uma das boates mais
badaladas da cidade e, quando estava saindo de casa, escutei meu
celular apitar. John.

John: “Pizza hoje?”

Sofya: “Desculpa, mas estou saindo e pretendo não voltar


hoje.”

John: “Hm, onde vai?”

Sofya: “Curioso, Agente?”


John: “Sim. Relatório, por favor.”

Sofya: “Rsrs. Vou a uma balada com uns amigos.”

John: “Qual balada? Qual amigos?” — Revirei meus olhos e


decidi mudar de assunto.

Sofya: “Resolveu seus problemas, Agente?”

John: “Na verdade, não. Terei que deixar o caso em 48 horas


se não conseguir dar andamento nele.”

Entrei no táxi e informei o endereço para o motorista.

Sofya: “Mas que droga! E o que pretende fazer?”

John: “Trabalhar até acabar o prazo e torcer para conseguir


algo até lá. Tenho que ir agora, nos falamos depois. E cuidado!”

Sofya: “Boa sorte, Super Agente. E não se esqueça, acredite


em você! Beijos”

A balada é bem legal. Tem diversos públicos e a música


é maravilhosa. Estava no bar pedindo outra bebida quando escutei
meu nome.
— Sofya! Quanto tempo, gata!
Me virei para trás e vi um cara, não muito alto e com cara de
chapado. Tenho quase certeza que já o vi antes, mas não me
lembro de seu nome.
— Qual é, não se lembra de mim? Sou eu, Sebastian, da
faculdade, lembra?
— Ah, sim! Oi, Sebastian, quanto tempo — respondi, quando
ele veio me abraçar.
Sebastian era um drogado que frequentava algumas aulas de
economia comigo. Ele tentou algumas vezes me chamar para sair,
mas detesto caras drogados e, visto por sua pupila dilatada, ele
ainda continua nessa vida. Eu não fui nenhuma santa na faculdade,
e, de vez em quando, eu fumava maconha, mas não foi uma coisa
na qual eu precisava para viver. Quando eu queria dar uns
“tapinhas”, eu procurava Sebastian, mas isso parou quando eu
entrei no último ano de faculdade.
— Você está mais linda ainda! Como andam as coisas?
— Obrigada. Tudo tranquilo, e você?
— Ah, tudo bem. Parei a faculdade e acabei indo trabalhar
com meu pai.
O típico discurso do playboy drogado e filhinho de papai.
— Legal, ahm, Sebastian, se me der licença, meus amig...
— Tá a fim de fumar um comigo hoje? — perguntou ele, me
interrompendo.
— O que?
Inacreditável!
— Eu conheci um cara que tem um fornecedor novo e, sério, a
maconha é tão pura que o efeito é muito mais rápido e duradouro.
Eu iria dar um tapa nele por ser tão cara de pau e
inconveniente, mas quando ele me disse isso, me lembrei na hora
do que John tinha me dito há alguns dias atrás: “Esses caras não
são amadores, estão distribuindo drogas por toda Costa Leste.
Essas drogas são tão puras que atraem muito mais compradores”.
É a chance que John tanto procura, bem aqui, na minha frente!
— Ahm, sério?! É claro que eu estou interessada. Ele está
aqui? — perguntei.
— Sim, vamos lá, eu te apresento ele.
— Você pode me esperar aqui só um minutinho? Preciso muito
ir ao banheiro. Muita cerveja — falei, sorrindo.
— Claro. Você continua a mesma — disse ele, rindo.
— Pois é! Já volto, não saia daí!
Fui apressadamente em direção ao banheiro feminino e me
tranquei em uma cabine, pegando meu celular na bolsa e discando
o número do John. Não demorou muito para ele me atender.
— Alô?
— John, me escuta. Preciso ser rápida.
— Sofya, o que houve? Você está bem? — perguntou ele,
preocupado.
— Sim. Talvez eu tenha achado o que você precisa.
Ele ficou mudo ao telefone por alguns instantes.
— Sofya, onde você está? E como...
O cortei, passando o endereço da balada e explicando o que
aconteceu.
— Ele vai me levar até o cara que está com as drogas.
— VOCÊ ESTÁ LOUCA? PUTA QUE PARIU! — gritou ao
telefone. — Sofya, saia daí, AGORA! Não se atreva a fazer isso!
Você já fez demais, agora é comigo. Estou voando para aí.
— Eu vou atraí-lo até que você chegue. Tenho que ir agora, e
venha logo!
— SOFYA, NÃO...
Desliguei antes que ele pudesse terminar. Saí da cabine e fui
ao encontro do Sebastian. Não vou mentir, meu coração está a mil.
— Hey, vamos lá?
— Vamos lá, gata.
Eu o acompanhei, abrindo espaço entre as pessoas, até que
ele cumprimentou um cara de longe. O cara fez um sinal para que
nós o seguíssemos até um canto mais discreto e assim fizemos.
— E aí, West! Beleza? Esta é Sofya, uma amiga da faculdade.
— E que amiga! Prazer, Sofya. Sou o West, mas só Wes para
você, gata.
— Olá, Wes. Prazer.
— West, queremos aquele fuminho, você tem aí?
— Você deu sorte, brô. Tenho o último aqui.
— Hm, Wes. Você não teria mais que isso, teria? — perguntei.
— Só se eu pedir para o meu fornecedor, gata.
— Você pode falar com ele? Ou me dar o contato dele? É que
uma amiga minha também está querendo — disse, e ele riu,
balançando a cabeça negativamente.
— Ele está aqui hoje, gata, mas não posso interrompê-lo no
meio da curtição.
Caralho. O cara está aqui! Preciso avisar John.
— Por favor, Wes. Seja bonzinho! — insisti, usando meu
charme.
— Tá legal, vamos lá. Mas fiquem um pouco afastados quando
eu der o sinal. Venham — disse ele, e o seguimos.
Subimos uma escada para o mezanino da balada, onde
há algumas salas privativas. West fez o sinal e pararmos. Meus
olhos continuaram a segui-lo e vi quando ele falava com um
brutamontes, que, pelo visto, parece ser o segurança da sala,
deixando-o entrar, abrindo a cortina. Sebastian começou a
conversar comigo, mas não prestava a atenção no que ele estava
dizendo. Peguei meu celular na bolsa e olhei para Sebastian.
— Vou avisar minha amiga — falei, mentindo.

Sofya: Sala do meio, lado direito do mezanino. Há um


segurança gigante parado na porta. West é o cara que passou as
drogas. Ele é careca e está vestindo uma camiseta verde. Seu
fornecedor está nesta sala. Venha logo e não responda essa
mensagem.

Enviei a mensagem.
Sebastian continuava a falar e eu fingia que estava lhe dando
atenção. Na verdade, minha adrenalina está nas alturas. Vi quando
West saiu da sala e veio em nossa direção.
— Gata, vem comigo. Falei de você para Ramon e ele quer te
conhecer.
Puta. Que. Pariu.
— O que? — disse, dando um sorriso nervoso. — Ah, não,
tudo bem. Eu estou bem aqui.
— Vem gata, não vai querer que ele peça de novo, vai?
— Eu vou com voc...
— Não, só ela, cara. Foi mal.
Dei um grande suspiro, encarando os fatos. Parabéns, Sofya,
como sempre se metendo em roubada.
— Tá legal, vamos lá — falei, indo na frente.
Acompanhei West até a sala, parando em frente ao
segurança gigante, que me olhou de cima a baixo, liberando o
caminho para nós. Entrei e vi três homens sentados em uma mesa,
com várias mulheres e cercados por mais cinco seguranças.
Preciso manter a calma e o controle. O homem que está sentado no
centro, me encarou com um olhar malicioso.
— Muy hermosa! Ela é mesmo linda, West. O que te traz aqui
hoje, cariño? — perguntou ele.
— Só quero curtir um pouco.
— Então junte-se a nós!
— Na verdade, eu só quero o que pedi a West, meus amigos
estão me esperando — Disse, sendo direta.
— Ah... mas seria uma desfeita se você fosse embora assim.
Presumi que esse tal Ramon seria o fornecedor.
— Seria uma desfeita se eu não tivesse dinheiro para te pagar
pelo que eu pedi. Mas esse não é o caso — disse, o encarando.
Vi os homens ao seu lado rirem, inclusive ele. Bem, se já está
no inferno, então abrace o capeta. Eu estou com medo, mas não
irei demonstrar isso para esses canalhas.
— Baixinha e bocuda, interessante.
Ele iria continuar a falar, mas um segurança passou por mim,
indo em direção a ele, falando algo em seu ouvido e o deixando
totalmente alerta. Ele chegou, John já está aqui.
— Hora de irse, todos afuera. ¡El FBI está aquí! ¡Todos afuera!
¡Vamos, vamos, vamos! [5]— gritou Ramon, confirmando o que eu
pensava.
Esperei a muvuca da porta se dissipar e saí apressadamente,
mas parei quando senti uma mão segurando-me pelo braço.
— Você não, chica. Algo me diz que você tem alguma coisa a
ver com isso.
Então escutei tiros e uma grande gritaria. Abaixamos e eu
tentei me desvencilhar dele, que é mais alto e forte do que eu
imaginava.
— É melhor andar direitinho. — Senti algo gelado encostando
em minha cintura e não precisa ser um gênio para adivinhar o que é.
— Ou vou ter que atirar nesse corpinho lindo.
Fechei meus olhos e deixei que ele me guiasse no meio
daquele caos. Estávamos quase chegando na saída de emergência
quando escutei uma voz bem conhecida.
— Hey, compadre, pare aí mesmo onde está.
Ele se virou e eu o acompanhei. John é um colírio para os
meus olhos! Escutei Ramon engatilhando sua arma e apontando
para minha cabeça. Mas que droga!
— É melhor deixá-la ir, se não as coisas vão ficar ainda mais
feias aqui — rosnou John, apontando sua arma para ele.
— Olá, Agente! Não deveria estar perseguindo barcos de
cigarros por aí? — Disse Ramon, rindo.
Minhas mãos estão na lateral de meu corpo e eu preciso agir
de alguma maneira.
— Se você não se afastar eu terei que estragar esse lindo
rostinho aqui.
Vi John trincando sua mandíbula, ainda com sua arma
apontada.
— Solta ela, AGORA.
Senti o filho da puta puxar meu cabelo e encostar sua arma em
minha bochecha.
— Seu... — comecei.
— Xiii, quietinha. Abaixe essa arma ou ela já era!
Sem saída, John abaixou sua arma, ainda fuzilando Ramon
com os olhos. Escutei o desgraçado rir, até que tiros ecoaram do
lado de fora, fazendo ele perder o foco por um momento e afrouxar
seu aperto em mim. Essa era a oportunidade que eu estava
esperando. Com um movimento rápido, o desarmei, logo depois, dei
um soco certeiro em sua cara, o fazendo ir para trás, encostando-se
na parede, e consegui ser ainda mais rápida, dando uma joelhada
em suas partes íntimas, o fazendo gemer de dor e inclinar para
frente. Quando eu ia finalizá-lo, senti John me puxando para trás
dele, e, logo depois, indo para cima do cara, dando-lhe um baita
soco na cara, o fazendo cair de bruços no chão, colocando as
algemas nele.
— Quem é a baixinha agora? Idiota — disse para aquele
idiota, caído no chão e gemendo de dor.
John se ergueu e encontrei seu olhar gélido em mim. Ele está
bravo, muito bravo. Dei de ombros, levantando as mãos.
— De nada — falei, ironicamente.
— Preston! — gritou ele, me fazendo pular.
Preston apareceu logo em seguida com outros agentes,
olhando-me com uma cara de “que porra é essa?”.
— Tire ela daqui — rosnou John.
Quando Preston foi me pegar para me levar de lá, levantei
minhas mãos e fui me retirando, ainda olhando para John.
— Eu sei onde fica a saída! — exclamei, o fuzilando da mesma
maneira, virando-me para a saída.
Preston me alcançou e saímos juntos. Meu Deus, isso
está uma zona! Há viaturas, carros pretos — que deduzo serem do
FBI — e ambulâncias por toda parte, sem contar na multidão de
pessoas que se formou.
— No que você estava pensando, Sofya?! — escutei Preston.
— Em ajudar vocês! — respondi brava, continuando a andar.
— Hey, espera! Obrigado por isso. Conseguimos pegar todos
e, pelo que parece, eles são mesmo quem estávamos procurando.
— Dei um suspiro, aliviada, parando de caminhar. — Mas você não
deveria se colocar em perigo assim. Shantell irá te matar! —
continuou ele, me fazendo rir.
— Preston, onde está Neeson? — disse um cara um pouco
alto, gordinho e com cavanhaque.
— Está lá dentro, chefe.
— Ok. Foi você que deu o telefonema, garota?
— Sim, senhor — respondi.
— E foi você que deu uma surra naquele cara? — perguntou
ele, apontando para o homem preso no carro de polícia.
— É... — disse, rindo, os fazendo rir também.
— Obrigado por isso, mas nunca mais se arrisque dessa
maneira de novo. Pode ir para casa.
— Obrigada... senhor — respondi e ele entrou.
— Sofya, isso fica aqui. Nós demos nossa palavra que você
ficará segura e que esses caras irão para prisão — disse Preston.
— Tudo bem, eu acredito em vocês.
— SOFYA!
Virei-me assustada e vi Lea, Nigel e Kate, me abraçando.
— O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA? — continuou Nigel.
— Ideias erradas — respondi.
— Você é louca, sabia!? — disse Kate.
— E a chefe mais fodona de todas! — continuou Lea, me
fazendo rir.
Não vejo John em nenhum lugar. Eu olhava para os lados,
mas não o encontro.
— Ele ainda está lá dentro, Sofy. Vá para casa com seus
amigos agora. Acabou — disse Preston.
— Tudo bem. Obrigada, Preston.
Nos despedimos e fomos para o carro de Kate. Tinha me
livrado do interrogatório da polícia, mas não consegui me livrar do
interrogatório deles, os contando tudo no caminho até em casa. Já
se passa das 3h da manhã e eu, finalmente, estou em casa, depois
de tudo que passei. Por um momento, pensei que morreria hoje.
Sim, eu tive medo, mas, para falar a verdade, ser órfã e não ter
ninguém com quem se preocupar me faz ser mais forte e
desprendida das coisas.
Entrei no chuveiro quente e refleti sobre tudo o que aconteceu.
Eu sei que tenho amigos que me amam, mas eu os amo também,
por isso que eu fiquei lá, justamente para ajudar um amigo em
especial. Então, fazer aquilo foi fácil para mim, mesmo sabendo que
John reprovava minha atitude e que ainda deve estar muito bravo
comigo. Depois de um longo banho e milhares de pensamentos, me
deitei na cama, e o sono não deu mais espaços para eles, me
levando profundamente consigo.
Depois de horas interrogando o filho da puta, ele decidiu abrir
a boca, após fazer um acordo em troca de menos tempo na prisão.
Ele foi bem mais difícil do que os outros que estavam com ele.
Agora já temos boas informações para continuarmos com o caso e
irei continuar à frente das investigações, graças a Sofya. Eu queria
matá-la, mas também a encher de beijos. Vê-la com uma arma
apontada para sua cabeça, correndo perigo, foi uma das piores
coisas que já vivenciei na vida. Eu preferiria mil vezes ter perdido o
caso do que tê-la visto passar por aquilo. Se eu soubesse que ela
iria se envolver nisso, eu mesmo teria saído do caso antes. Ela foi
tão corajosa e fiel. Mesmo naquela situação, ela se manteve calma
e, quando abaixei minha arma apontada para Ramon, eu sabia que
ela agiria na primeira oportunidade, mesmo eu querendo agir
primeiro e tirá-la dos braços daquele infeliz eu mesmo. Então, tive
que arriscar e deixar que ela agisse, e assim ela fez, para o meu
alívio. E orgulho.
Está amanhecendo, entrei no prédio, subindo as escadas e
pensando. Eu preciso vê-la, para ter certeza de que está
mesmo segura e bem, então usei sua chave e entrei em seu
apartamento. Fui em direção ao quarto e parei na porta, dando um
pequeno suspiro de alívio quando a vi dormindo, serena. Ela
está virada para a janela, na posição que sempre costuma dormir,
com um braço pousado na lateral de seu corpo, o outro embaixo do
travesseiro e com pouca roupa, vestindo apenas uma calcinha
confortável e uma blusinha colada. Seus cabelos caem
como cascata pelo travesseiro e sua coberta foi parar nos seus pés.
Pelo visto, ela não teve uma noite muito tranquila. Me aproximei e
sentei-me na cama, a observando mais de perto.
O pensamento e o medo de perdê-la hoje me fez pensar e
repensar nos meus sentimentos em relação a ela. Sofya já virou
uma grande amiga para mim, uma amiga na qual eu não posso mais
ficar longe por muito tempo. Se eu já tive um sentimento assim por
alguma garota? Talvez... por Jenna, por exemplo, mas com ela eu
não tinha a mesma cumplicidade e sintonia que tenho com Sofya.
Marisa? Não, com Marisa era apenas sexo. Eu pensei que com
Sofya seria só isso também, mas ela continua me surpreendendo e
me intrigando cada vez mais. Eu nunca fui de contar meus
problemas e o que acontece na minha vida para as pessoas, nem
mesmo para meu pai, meu irmão e meu avô, que sabem apenas o
essencial, mas com Sofya está sendo diferente. Ela virou minha
confidente, me transmitindo confiança, paz e calma, alguém que eu
posso recorrer quando precisar.
Tentei não chegar a essa conclusão no caminho para cá, mas
se nem bandidos e traficantes conseguem esconder a verdade de
mim, imagine eu mesmo. Eu estou começando a gostar de Sofya,
não que eu não gostasse antes, mas ter sentimentos "a mais" por
ela. Não queria isso, ainda mais sabendo que Sofya não quer isso e
vai continuar assim, além disso, esse não é o momento. Mesmo eu
não tendo transado com mais ninguém desde que eu e ela
transamos pela primeira vez, eu me sinto bem assim, tudo bem que
eu ainda olho para mulheres na academia ou na rua, mas se
acontecer de transar com outra mulher será consequência, não
porque eu fui atrás.
Ainda continuava a olhando, com os pensamentos à tona em
minha mente, quando ela se virou, ficando para cima e colocando
seus braços ao lado de sua cabeça. Percebi que ela está
suando, começando a se remexer mais, sua respiração começando
a acelerar, seu cenho franzir e seus punhos se fecharem. Tem
alguma coisa errada. Tirei meus sapatos, subindo na cama, e ela se
remexeu ainda mais. Gemidos de angústia saíram de sua boca e
então agi.
— Hey, hey, Boneca! — Coloquei minhas mãos em seus
ombros, os apertando delicadamente. — Sofya! Acorde — disse
mais alto. — Sofya!
Ela acordou, ofegante, se desvencilhando de mim e indo para
trás rapidamente, se encolhendo, encostando-se na cabeceira da
cama. Seus olhos estão assustados de uma maneira que nunca
havia visto antes. Ela abaixou a cabeça, recuperando o fôlego
e colocando uma mão em seu peito.
— Você está bem? Hey, fique calma, ok? Sou eu — disse, me
aproximando lentamente dela, quando na verdade eu queria abraçá-
la forte e protegê-la de tudo.
Ela começou a limpar os olhos com as costas das mãos e
percebi que algumas lágrimas caem involuntariamente enquanto ela
ainda tentava acalmar a respiração.
— Estou bem, foi só um pesadelo — disse ela, ainda com a
voz rouca e o rosto abaixado, enxugando os vestígios das lágrimas.
Fui até ela e, finalmente, a abracei fortemente, beijando seus
cabelos e envolvendo seu corpo no meu.
— Está tudo bem, você está segura, ok? Quer falar sobre o
pesadelo? — perguntei, apertando ela ainda mais.
— Não. É sempre o mesmo pesadelo, já estou acostumada.
Aquilo me cortou por dentro. Já imagino o que poderia ser,
mas não irei ficar abrindo mais sua ferida. Ficamos em silêncio por
alguns segundos e eu ainda a mantenho em meus braços.
— Nunca mais faça aquilo de novo, entendeu? — sussurrei.
Ela riu em meu peito, se afastando logo em seguida, e nos
encaramos.
— Pelo menos me diga que deu tudo certo?
Seus grandes olhos ainda estão vermelhos e passei minha
mão em seu rosto, ainda a encarando.
— Sim.
— Então você ainda está no caso? — perguntou ela, sorrindo.
— Sim, graças a você. Obrigado, Boneca — falei, retribuindo o
sorriso e lhe dando um beijo na testa.
Seu cenho franziu de repente e ela entortou sua cabeça, ainda
me olhando.
— Você está aqui desde quando? — perguntou.
— Já faz um tempo. Precisava ver se estava tudo bem mesmo.
— Entendi. — Ela se aproximou de mim, ainda com a
cara fechada, e me cheirou. — Se você quiser ficar aqui, vai ter que
tomar um banho antes! — continuou ela, me fazendo rir.
— Ah qual é, não está tão ruim assim — falei, cheirando
minhas axilas.
— Não, mas foi uma longa noite e eu não quero você
cheirando a “bandido” aqui.
Gargalhei mais ainda e ela jogou um travesseiro em minha
direção.
— Agora vá!
Ela se preparava para deitar novamente, mas a puxei de volta
para mim, a fazendo cair em meu colo, com suas pernas ficando de
um lado e sua cabeça do outro lado do meu corpo. E, então, fiz o
que eu estava com vontade de fazer desde quando a vi sã e salva, a
beijei. Me levantei, a carregando em meus braços, até que ela
interrompeu nosso beijo.
— Hey, o que você está fazendo?
— Indo para o banho, por quê?
— Mas que mania você tem de querer me levar com você! Eu
já tomei banho, pode me soltar, por favor?
Eu ainda ia em direção ao banheiro enquanto ela tentava se
desvencilhar de mim. É até fofo ver sua tentativa, mas só me fez rir.
— John! Por favor, me deixe dormir! — choramingou ela,
desabando seu corpo em meus braços, amolecendo seus braços e
sua cabeça, exageradamente, me fazendo parar e me virar
novamente em direção a cama.
— Ok então.
Com apenas um pouco de força, a arremessei em direção a
cama, a fazendo voar e cair nela, quicando algumas vezes
e fazendo alguns travesseiros se lançarem para o ar. Aquilo me fez
gargalhar, até que a vi se sentando na cama e começar a jogar
travesseiros em mim.
— Seu idiota! Isso não foi legal! — exclamou ela, claramente
brava, e me fazendo rir ainda mais.
Ela se levantou, correndo em minha direção, e eu corri para o
banheiro, me trancando lá.
— Seu covarde! Saia e vá tomar banho no seu banheiro!
Se ela está achando que pode me chamar assim está muito
enganada. Com a minha melhor cara de bravo, abri a porta e a
encarei, e ela fez o mesmo, ainda brava. Estava esperando sua
reação, mas ela não falou nada. Ri e, com um movimento rápido, a
peguei por debaixo dos seus braços e a lancei, ainda mais alto, em
direção a cama novamente. Antes que ela pudesse cair, fui em
disparada para porta de saída, a escutando me xingar ainda mais.
Entrei em meu apartamento rindo e, finalmente, descontei os dois
golpes que ela havia me dado antes. Aquilo foi hilário.

Depois do banho, voltei até lá e ela está na mesma posição em


que havia a encontrado logo quando eu entrei no quarto pela
manhã. Deitei devagar e fui me aninhando atrás dela, até que, com
um movimento rápido, ela ficou por cima de mim, imobilizando
minhas mãos.
— Não deveria ter feito aquilo — disse ela.
Não posso deixá-la vencer assim e, então, fui ainda mais
rápido, a jogando para o outro lado da cama. Agora sou eu que
estou sobre ela, a imobilizando.
— Eu disse que aqueles golpes teriam volta — sussurrei.
Ela tentou se desvencilhar, em vão, me fazendo sorrir e me
aproximar mais de sua boca.
— Tsc, tsc, tsc.
A essa altura, meu pau já está duro, então tomei sua boca com
a minha, dando-lhe um beijo urgente e profundo, que ela
correspondeu de bom grado. O beijo foi ficando cada vez mais
delicioso e, então, afrouxei minhas mãos das suas e, enquanto
apoiava meu peso com uma, a outra foi para o seu peito, o
apertando e a fazendo gemer na minha boca. Porém, novamente,
tão rápido quanto da outra vez, ela me jogou de lado, montando em
mim, com aquele sorrisinho sapeca, arrancando a regata do seu
corpo e liberando seus peitos deliciosos para mim. É, acho que ela
pode ganhar dessa vez, sem nenhum problema.

O caso finalmente está tomando um rumo e ontem invadimos


um dos galpões de Hernandez, apreendendo mais de uma tonelada
de drogas. Assim que a operação acabou, liguei para o
meu amuleto da sorte. Esse é o novo apelido de Sofya, e é claro
que ela não sabe disso e nem precisaria saber, mas decidi
contar pra ela o que aconteceu hoje, o que a deixou feliz em saber
que sua loucura teve resultados positivos. Hoje é quarta e eu não a
vejo desde segunda à noite, quando ela fez outro jantar
maravilhoso. Percebi que eu ganhei alguns quilos a mais desde
quando comecei a frequentar seu apartamento, mesmo indo à
academia toda semana. E, ultimamente, eu só venho dando
prejuízos a ela nesse sentido, então ontem pedi para que Mag
comprasse, e mandasse entregar, todos os mantimentos para
reabastecer sua cozinha. Como fiquei na Agência até tarde ontem,
recebi a ligação de uma Sofya bem furiosa, falando que não
precisava de tudo aquilo, que pode pagar por suas coisas e blá blá
blá. Ela é tão irritantemente independente e cheia de si que às
vezes me enfurece!
Estava terminando de revisar alguns documentos quando
escutei batidas na porta de minha sala e Dora, nossa recepcionista,
surgiu.
— Senhor, o Senador N...
— Não precisa disso, Dora, mas obrigado — disse meu pai,
interrompendo Dora e entrando em minha sala.
— Tudo bem, com licença — despediu-se ela,
educadamente, saindo e fechando a porta.
Me levantei e o cumprimentei com um abraço. Se ele está aqui
hoje, tenho certeza que já sabe do caos que foi essa semana e o
que aconteceu no caso.
— Olá, pai.
Voltei a me sentar e ele fez o mesmo na cadeira de frente à
minha mesa.
— John, o que houve?
Eu sabia.
— O que você escutou?
— Você quase saiu do caso, outras pessoas foram envolvidas
e...
— Pai — levantei as mãos, para que ele parasse de falar. —
Já está tudo resolvido, ok? Além do mais, eu já estava saindo daqui.
Podemos conversar no meu apartamento, por favor? — finalizei, o
encarando.
Ele bufou, mas concordou, assentindo.
— Tudo bem, então vamos.

Expliquei toda a história para o meu pai, que ouvia


atentamente. Claro que não poderia ter deixado Sofya de fora, se
não fosse por ela, estaria recebendo um sermão maior ainda do
velhote. Ele é meu melhor amigo, mas, principalmente, é meu pai,
aquele que fala demais, dá conselhos demais e é observador
demais, mesmo não demonstrando isso publicamente. Estávamos
saindo para jantar quando encontramos Sofya, cheia de
sacolas, abrindo sua porta. Ela nos olhou, dando um pequeno
sorriso.
— Hey!
— Olá, vizinha!
Fui ajudá-la com as sacolas, mesmo ela protestando.
Começamos uma pequena discussão para ver quem carregava as
sacolas, que foi interrompida pelos pigarros de meu pai.
— Ahn, me desculpe. Pai, esta é Sofya. Sofya, este é meu pai,
Leon Neeson.
— Muito prazer, senhor Neeson! — cumprimentou ela,
entendendo a mão para ele.
— Ora, ora, então você é a corajosa Sofya. O prazer é todo
meu! — disse ele, pegando sua mão em um aperto forte.
— Então o senhor já sabe? Aquilo não foi nada — respondeu
ela, rindo.
— Claro que foi, mesmo sendo muito imprudente e perigoso.
Eu a olhei com um olhar de "eu avisei!” e ela apenas revirou os
olhos divertidamente.
— John tem sorte de ter uma amiga como você.
— É, ele tem sim — respondeu ela, nos fazendo rir. — Eu vou
fazer carne assada hoje, se quiserem ficar para o jantar.
— Com certeza! Pai, você precisa comer a carne assada da
Sofya, é maravilhosa! — falei, me empolgando.
— Agora eu fiquei curioso, Sofya.
— Entre senhor Neeson, fique à vontade.
Sofya deu passagem para que meu pai entrasse e eu fui logo
em seguida, puxando as sacolas das suas mãos e a fazendo
resmungar. Não pude deixar de rir com esta pequena vitória.

Estou ajudando Sofya na cozinha enquanto meu pai


está sentado na bancada. Como eu não tenho muito jeito para
cozinhar, Sofya me pôs para descascar as batatas e aqui estou,
ainda tendo dificuldades e recebendo alguns olhares divertidos. O
jeito “Sofya” de intrigar as pessoas também pegou meu pai de jeito,
que não para de conversar com ela. Eles estão em uma calorosa
conversa sobre política e não é só meu pai que a olha encantado,
mas eu também. Sofya não cansa de me surpreender.
— Eu acho que não há mais espaço para os Republicanos na
Câmara dos Representantes. É ano de eleições e eu odiaria que a
maioria dos Delegados estaduais elegessem um candidato
Republicano — disse ela.
— Infelizmente, minha jovem, o clima em Washington está
bem diferente, por mais que alguns de nós, Senadores, tentem
reverter isso. Somente sua mãe mesmo para apoiar um candidato
Republicano em casa.
— E o senhor esperava o que da mamãe? — ri.
— Tem razão — rimos juntos. — Sofya o cheiro está
maravilhoso.
— Está quase pronto, senhor Neeson.
Conversamos mais até que o jantar ficou pronto. Como Sofya
me conhece bem, ela preparou comida para um batalhão, que no
caso sou eu. A carne assada com batatas que ela prepara se
tornou o meu prato favorito desde quando coloquei
o primeiro pedaço em minha boca. É delicioso e, pelo visto, meu pai
também adorou, já que está repetindo pela terceira vez.
— Está divino Sofya! Uma das melhores coisas que já comi na
vida! Onde aprendeu a cozinhar assim?
— Eu adorava ver minha mãe cozinhando, então peguei gosto
pela culinária também — respondeu ela, sorrindo.
— Ela deve ser uma ótima cozinheira também.
— Pai — o repreendi.
Merda! Sofya, tentou não se importar, mas sua cara diz o
contrário.
— Ela morreu quando eu tinha oito anos.
— Sinto muito, querida... eu não sabia — falou meu pai,
envergonhado.
— Não se preocupe, foi há muito tempo.
Ela largou os talheres em seu prato e limpou sua boca no
guardanapo.
— Bem, não temos sobremesa, mas acho que tem sorvete no
freezer. Vou dar uma olhada, com licença — continuou, se
levantando e indo em direção a cozinha.
— Ela é órfã, pai. Cuidado com as palavras! — cochichei.
— Você deveria ter me dito antes! — ele cochichou de volta.
— E como eu iria saber que você perguntaria uma coisa
dessas? — O questionei.
— Enfim. Preciso saber mais alguma coisa sobre ela?
Agora era ele quem me questionava e, conhecendo o pai que
tenho, tem algo a mais em sua pergunta, me deixando desconfiado.
— Como assim?
— John eu sou seu pai e te conheço bem. Está claro que você
gosta dela, e não o culpo! Ela é uma jovem maravilhosa,
extremamente inteligente e corajosa. Você tinha me dito que ela era
linda, mas ela é estonteante, uma verdadeira beldade!
Ficou claro de quem eu havia herdado o meu lado
"galanteador", por assim dizer. Ele finalizou seu prato e limpou sua
boca no guardanapo. Vendo que eu apenas o olhava, sem
respondê-lo, recebi um tapa no ombro.
— Era isso que eu precisava saber.
— Sim, eu gosto dela, mas ela é só uma amiga. Nada mais —
respondi.
Ele me olhou com uma cara desconfiada e divertida, por sorte
Sofya está voltando para a mesa.
— Sorvete de baunilha com calda de chocolate! É o que temos
para hoje — disse ela, rindo e colocando o sorvete e a calda sobre a
mesa.
— Está ótimo, querida. Sofya, nos feriados de 4 de Julho
nossa família costuma se reunir em nossa fazenda no Tennessee,
um lugar tranquilo e com ar puro. Não seria diferente neste feriado,
então, se não tiver compromissos, está convidada a juntar-se a nós.
— Ahm...
Sofya encarou meu pai e logo depois me encarou, com a
mesma cara de surpresa que eu provavelmente estou também.
— Senhor Neeson, eu não sei se...
— John e eu gostaríamos que você fosse.
Sem me encarar, ele apenas se serve com o sorvete, como se
estivesse tudo normal. Mas seria legal mesmo ter Sofya por perto
neste feriado prolongado, a não ser por um "pequeno" problema
chamado “Miranda”. Minha mãe irá me bombardear de perguntas
desnecessárias e, o pior, com certeza irá amedrontar Sofya com seu
jeito. Imaginar minha mãe, perfeita, totalmente aristocrática e sem
muitos filtros na língua, com uma Sofya bocuda e igualmente sem
filtros na língua, me dá arrepios na espinha. Eu não sei o que meu
pai pretende com isso, mas eu irei descobrir mais tarde.
— Sim, nós gostaríamos. Você vai gostar — falei, tentando
convencê-la com um meio sorriso.
— Eu vou pensar, prometo.
Continuamos a conversar até que meu pai recebeu um
telefonema, tendo que ir embora. Tenho certeza de que ele adorou
Sofya, mas ainda me deve uma explicação do que foi aquilo na
mesa, e ele sabe disso. Ele está se despedindo de Sofya, tentando
a convencer de passar o feriado conosco.
— Pense com carinho — disse ele, lhe dando um abraço e,
logo depois, se voltando para mim. — Te espero lá embaixo —
apontou para mim e saiu.
— Seu pai é dema...
Passei por ela a agarrando e lhe dando um beijo, coisa que eu
queria fazer logo que a vi hoje. A soltei e fui em direção a porta.
— Eu já volto.
Sem ouvir sua resposta, corri pelas escadas em direção a
saída, onde meu pai me espera com seus seguranças.
— O que foi aquilo? — perguntei.
— Como?
— Você convidando Sofya para passar o feriado conosco!?
— Eu gostei dela. E você também gosta, não é?
— Pai?! — perguntei, um pouco alterado.
Ele me olhou e bufou, entrando no banco de trás do SUV, onde
eu mantinha a porta aberta.
— Sua mãe não para de infernizar. Ela quer que você se
aquiete logo e fica me pedindo que eu faça alguma coisa!
Eu sabia. Bati na porta com força, voltando a encará-lo.
— Você sabe o tipo de mulher que mamãe quer para mim,
para que eu me “aquiete”, não sabe? E você coloca Sofya nessa?
Pai, você sabe como a mamãe vai tratá-la!
— Eu não vou deixar que ela destrate Sofya! E eu também não
quero que você se case com alguém igual a sua mãe! — exclamou
ele.
Ele está de brincadeira!
— O que? — indaguei, pasmo.
Ele percebeu que havia falado merda, bufando e balançando a
cabeça.
— Nada! Eu preciso ir, então, por favor — disse ele,
apontando para que eu me afastasse do carro e assim eu fiz. — Nos
vemos no feriado — se despediu, batendo a porta e saindo de lá.
Bufei e entrelacei as mãos atrás da cabeça. Então minha mãe
ainda continua com essa história. Ela me liga algumas — muitas! —
vezes por semana, mas ela sabe que eu não gosto quando ela toca
nesse assunto, então eu sempre a interrompo quando ela começa
a mencioná-lo. Mesmo ela querendo isso para mim, tenho certeza
de que ela será má com Sofya, pois, para ela, Sofya não será a
“mulher certa” para mim, assim como ela fez com diversas
namoradas do meu irmão antes dele finalmente se casar com uma
que a agradasse. E o meu medo, além de tudo isso, é que Sofya
não se controle, o que, no caso, será justamente isso, pois ela
é uma bocuda sem medo das consequências.
É véspera de feriado e, como sempre, a redação está a mil. Ao
mesmo tempo em que eu adoro ter um dia da semana para
“descansar”, eu também odeio, pois saber que terei mais trabalho
acumulado para depois me dá nos nervos. A capa de agosto foi
lançada; a reunião de pauta já foi realizada; os números do mês de
junho já foram passados e, neste momento, estou digitando
furiosamente no teclado do meu Mac toda a minha agenda
profissional do mês, que, DEFINITIVAMENTE, não será nem um
pouco tranquila e fácil, já que é mês de Fashion Weeks pelo mundo.
Não bastasse todas essas coisas em minha mente, o convite do pai
de John, e de John, paira como névoa em minha mente.
— Chefe, trouxe um café!
Lea apareceu na porta de minha sala, com alguns papéis e um
café da Starbucks nas mãos.
— Oh, você é um anjo, Lea! Obrigada — agradeci, pegando
meu café e bebericando.
— Você não vai almoçar?
— O que? Que horas são? — perguntei, pegando os papéis da
mão dela.
— Já são quase 15h da tarde!
Puta que pariu! Engasguei com o café, sujando minha camisa
da Gucci com algumas gotículas. Mas que merda!
— Meu Deus, é sério?! Parece que eu já fiz um milhão de
coisas, mas ainda faltam mais três milhões para fazer. Lea, isso são
os documentos dos pedidos das roupas e acessórios para a capa?
Kate já aprovou isso?
— Sim. Na verdade, ela falou que iria conversar mais com
você sobre isso... no almoço, mas acho que isso não aconteceu.
Então será aquilo mesmo que Donatella solicitou na reunião, certo?
— Infelizmente, sim. Nada de Dior, somente Prada — falei,
dando um grande suspiro, levando minhas mãos às têmporas, as
massageando, e me jogando para trás na minha cadeira.
— Você me parece nervosa, vou ligar e pedir uma coisa para
você comer antes que você tenha um ataque. Comida árabe, tudo
bem?
— Por isso que eu te amo, Lea. Está ótimo, obrigada.
Ela respondeu apenas com uma piscadela, saindo logo em
seguida e deixando a porta aberta. Lea merece um prêmio por me
aguentar, e posso chamá-la de “anjo da guarda”. Não bastasse isso,
ainda tem Kate e um pouco de Donatella no pacote. Lembro que
quando eu e Kate a entrevistamos, ela era a garota mais “estranha”
e despojada da sala, com uma boina cobrindo a parte de cima de
seu cabelo chanelzinho; tatuagens em algumas partes do corpo;
vestindo uma camiseta de manga comprida; jeans e um coturno. Me
perguntei se a agência de empregos tinha a mandado para o lugar
certo, mas, depois que a entrevistamos, mudamos de opinião. Ela é
uma garota muito inteligente, com um estilo totalmente despojado e
jovem e, depois de termos entrevistado diversos jovens, tivemos a
certeza que Lea era a certa para o cargo. E acertamos.
— Está de dieta? — perguntou Nigel, em um tom sarcástico,
entrando em minha sala e se sentando na cadeira à minha frente. —
Além de estar quase sufocando com a pressão que emana deste
lugar. O que te aflige, senhora Coração Gelado?
Nigel me conhece muito bem. Foram muitos perrengues e
carnavais juntos.
— Conheci o pai de John ontem.
— Uau, já estão nessa fase? — brincou ele, me olhando
divertidamente, e, logo depois, mudando sua expressão para uma
de “Oh Meu Deus”. — Oh Meu Deus, você conheceu Miranda
também?
— É isso que está me afligindo! O pai dele e ele me
convidaram para passar o feriado na fazenda deles, no Tennessee
— falei, jogando minhas mãos para o alto.
Nigel tampou sua boca, que estava aberta, se jogando para
trás na cadeira e tentando segurar o riso.
— Vocês chegaram na fase de conhecer as famílias! UAU!
— Não é nada disso, Nigel! O convite veio do pai dele. E pela
cara que John fez quando percebeu o que o pai dele havia
feito ficou tão surpreso quanto eu.
— Então quer dizer que o Senador já gostou de você?! —
disse, rindo e me fazendo rir, um pouco sem graça.
O Senador Leon Neeson é um homem ao qual eu adorei
conhecer, visto que mudou — pelo menos um pouco — a minha
visão sobre alguns políticos desse país. Ele é um homem muito
inteligente, carismático, calmo, bom de papo — adorei conversar
com ele, tivemos conversas muito produtivas — é alto igual a John,
não é tão atlético, mas, ainda assim, tem porte, têm os mesmos
traços de John, cabelos castanhos escuros com alguns fios brancos
e assim como os olhos do seu caçula, os olhos dele são de um azul
magnífico, sendo só um pouco mais escuros do que os do filho. É
um coroa enxuto, por assim dizer, bonito e elegante. Então o que
me preocupa, além do restante de sua família que estará toda
reunida lá, é ela. Sim, Miranda Richards.
Miranda Richards é uma das maiores, e mais antigas,
socialites do país. Eu pesquisei toda a sua vida no Google logo
depois que John foi embora de casa ontem à noite. Sua família
ainda é a soberana do império imobiliário do país, gerando fortunas
e mais fortunas a cada ano desde a década de 1930. Com uma
família rica, e um estilo totalmente moderno e fashionista para a
década de 1970, Miranda começou a aparecer nas mais famosas
revistas de moda do mundo, se tornando um ícone da moda e do
luxo. Ela é amiga de praticamente todos os maiores estilistas do
mundo, além dos maiores nomes da moda mundial e de gente muito
rica e importante, sendo uma delas a minha chefe — sim, A MINHA
CHEFE — Donatella Sozzani. Pfff, claro que elas são amigas, tão
poderosas, chiques e elegantes.
Eu sei que eu e John não temos nada, mas convenhamos,
quem ali irá acreditar que eu e ele somos apenas amigos? E, claro,
Miranda não iria acreditar que "vivemos apenas de amizade".
Pesquisei fotos, eventos e tudo mais sobre aquela mulher. Ela é
irritantemente linda, elegante, imponente, chique e refinada. Uma
figura importantíssima para o mundo da moda e, possivelmente,
para o mundo inteiro. Então, como não ficar nervosa? Eu nem
mesmo conheci a mulher ainda, mas ela já me intimida de uma
maneira que jamais pensei que algum dia alguém pudesse.
— Sofya! Hello?!
Por um instante, me esqueci totalmente de Nigel, voltando a
"Terra" com seu estalar de dedos bem na minha cara.
— Desculpe, o que disse?
— A Dama de Ferro vai estar lá?
— Claro que vai! E o que eu vou fazer? Ela é tudo isso o que
falam mesmo?
— Tudo isso e muito mais, queridinha. Ela é poderosíssima!
Não queria estar na sua pele.
— Ah, muito obrigada, está ajudando muito! — retruquei,
ironicamente, bufando e folheando os papéis que Lea me deu.
— Hey, vamos por partes, ok? Você realmente vai?
— Eu não sei! John já me mandou várias mensagens me
perguntando isso e eu não sei o que dizer. Eu sei que, se eu for, não
vão acreditar que somos somente amigos e, além disso, toda a
família dele vai estar lá!
— Entendo. E por isso você está surtada desse jeito, falando
pelos cotovelos?
— E você acha pouco? Só de ouvir falar no nome “Miranda” eu
fico trêmula.
— Não é para menos, ela pode se tornar sua sogra.
Eu desabei na mesa, batendo a testa sobre ela e dando
gemidos sofridos.
— Ela não será minha sogra — gemi.
Nigel riu e o escutei se levantar.
— Pense nisso, querida. E se acha mesmo isso, não há o
porquê ter medo então. O que Miranda é, não é segredo para
ninguém. Deixe rolar e seja você mesmo, só tente se controlar mais
e falar menos.
— Essa não sou eu.
— Então, boa sorte — falou rindo ao sair, me deixando fritar
meus pensamentos sozinha.
— Eu consigo. Eu consigo. Eu consigo! — sussurrei para mim
mesma.
Queria ligar novamente para Shantell, só para me sentir um
pouco mais segura quanto a isso. Ontem, depois de fazer a louca da
pesquisa sobre “Miranda Richards” e me desesperar, liguei para ela,
que me aconselhou praticamente a mesma coisa que Nigel, porém,
ela também me disse uma coisa na qual não sai da minha cabeça e,
talvez, seja realmente isso a causa da minha maior preocupação:
“se John não fosse tão importante para você, você teria recusado o
convite na hora, e quer saber do mais? Nem estaria tão aflita como
está agora, muito pelo contrário, chutaria ele de vez!”. Isso não é
verdade, certo? Quer dizer, é claro que eu gosto do John, mas ele
não é tão importante assim para mim, é? Argh, pensar nisso só faz
minha ansiedade aumentar e meu coração palpitar em meu peito.
Em minha defesa, eu nunca conheci os pais de ninguém! Nem
mesmo os de Jax. Então isso é normal... acho. Enfim.
Finalmente irei ver Shantell amanhã, depois de quase um mês
sem vê-la. Ela andava tão ocupada com os ensaios para a turnê da
Beyoncé que quase não nos falávamos direito. Amanhã, como de
costume, vamos para a Grande Parada da Independência na Times
Square, que começará ao meio-dia! Nunca perdíamos uma Parada
durante o ano, e a da Independência só perde para a Parada LGBT
e a de St. Patrick's Day no quesito diversão e curtição. Ainda com
os pensamentos afoitos, escutei meu celular tocar, mostrando o
número de John na tela. Dei um grande suspiro, me preparando
para, finalmente, dar a sua resposta.
— Hey, Ursão.
Dei esse apelido para ele porque ele é grande, peludo e
barbudo, porém, ele detesta quando eu o chamo assim. Segundo
ele, "estou ferindo" sua masculinidade.
— Detesto quando você me chama assim.
Viu só? Ri em resposta.
— E então. Já tem uma resposta ou continuará ignorando
minhas mensagens?
— Me desculpe, estou meio “pressionada” hoje — sussurrei, o
fazendo rir.
— Tudo bem se não quiser ir.
— Não... — Respirei fundo. — Eu vou com você, mas posso te
encontrar somente depois das 13h.
— Por que?
— Porque eu vou para a Parada! Quer ir também? — Ele riu
em resposta.
— Não, vou aproveitar e fazer um check up na picape antes de
irmos, mas esteja pronta até as 13:30. São sete horas de viagem
até lá.
O QUE?
— Como? — Dei um pigarro e ele riu.
— Relaxa, você vai curtir a vista no caminho.
— Não podemos ir de avião? — gemi.
— Não. Você vai curtir, confie em mim.
— Tudo bem. O que eu preciso levar? — Dei um grande
suspiro em resposta.
— Nada mais que o essencial. Vamos para uma fazenda,
lembre-se disso.
Aham, sei. Você esqueceu quem é a sua mãe?
— Entendi. Olha, eu vou ter que desligar, nos falamos mais
tarde, ok? Beijos.
Eu já ia desligar, mas o escutei me chamar.
— Boneca?
— Sim?
— Vai dar tudo certo, só seja você mesma — disse ele, me
fazendo sorrir.
— Ok, eu vou.

Como sempre, a Parada está o máximo! Tons de vermelho,


azul e branco se destacam em todos os lugares. E, claro, assim
como em todas as Paradas do ano, Shantell, Nigel, Kate, Lea e eu
viemos a caráter. Meus cabelos estão soltos em cachos grandes e
abertos, com minha longa franja presa na lateral da cabeça com
uma tiara que tem duas bandeiras dos EUA de cada lado, dando um
volume a mais. Minha maquiagem está tão linda e chamativa com
meus olhos se destacando em uma sombra branca e brilhante, com
algumas estrelas de diversos tamanhos coladas e espalhadas nessa
região do rosto, nas bochechas, duas listras de cada lado, uma
vermelha e a outra azul, meus lábios estão com um batom vermelho
vivo, meu body de paetê é, em sua maioria, branco com
listras vermelhas e azuis, um tutu bem curto, azul com estrelas
brancas brilhantes e uma sandália de salto simples, branca. Sim, eu
estou, literalmente, brilhando, assim como todos eles!
Acompanhávamos os shows e o espetáculo aéreo dos caças,
que lançam fumaças brancas, vermelhas e azuis pelo céu. Eu já
estou no meu quinto “drink da liberdade” — ele tem esse nome pois
é azul, forte e te deixa livre, livre, se é que me entende —. Senti a
mão de Shantell me puxar. Ela está linda com seu chapéu do Tio
Sam.
— E aí? Você vai?
— Vou sim — respondi, sugando o canudo do meu drink.
Olhei para o relógio em meu pulso, que marca 13h28.
Engasguei um pouco com minha bebida, totalmente em pânico ao
perceber que estou atrasada. John irá me matar!
— Mas que merda!
— O que?
— Já era para eu estar com John. Eu preciso ir!
— Hey, espera! Eu acho bom você me ligar mais tarde e me
contar tudo! — gritou Shantell, enquanto eu abria espaço na
multidão para ir até uma rua vazia e pegar um táxi.
— Ok! Tchau! — gritei de volta.
Depois de cinco minutos andando atrás de um táxi naquelas
condições, encontrei um. Deus, eu estou tão bêbada! Não posso
encontrá-lo nesse estado! Tentei me recompor e percebi que o
motorista espiava meu decote pelo espelho.
— É melhor olhar para frente se não quiser acabar morto,
amigo, e quando eu digo morto, não será por causa de um acidente.
Então é melhor ficar esperto.
Eu estou bêbada, mas continuo esperta.
— M-me desculpe, senhorita!
Já eram quase 14h da tarde quando o táxi parou em frente ao
prédio. De longe, avistei John, apoiado em sua picape gigante, com
os braços de mamute cruzados em seu peitoral e com cara de
poucos amigos. Saí do táxi e fui em sua direção. Ele me olhou de
cima a baixo, erguendo as sobrancelhas e me fazendo rir. Me joguei
nele, enlaçando seu pescoço com as mãos, ficando na ponta dos
pés e lhe dando meu melhor sorriso.
— Feliz 4 de Julho, Ursão!
Ele não tirou os braços do lugar, e nem se movimentou,
apenas me olhou, ainda com a mesma cara. Me desprendi dele,
colocando minhas mãos para trás, balançando meu corpo,
mordendo meus lábios e baixando um pouco a cabeça, levantando
apenas meus olhos para olhá-lo.
— Me desculpe — ronronei.
Eu tentei evitar sorrir, mas nem morder os lábios está
adiantando.
— Está atrasada. E que roupas são essas!?
Ui, essa voz autoritária me arrepia toda! Passei a língua em
meus lábios e ele acompanhou o gesto. AHA! E lá está, aquele olhar
de predador novamente.
— Eu sei! Me desculpe! — disse manhosamente, juntando
minhas mãos em súplica. — Por favorzinho?!
Ri quando vi seu sorriso torto aparecer em seu rosto, que foi
embora assim que um carro passou ao nosso lado e escutamos um
assovio.
— UAU, DEUS ABENÇOE A AMÉRICA! Feliz 4 de julho, gata!
— gritou o motorista.
Revirei os olhos e, logo depois, olhei para John novamente, e
lá está aquela carranca de novo, ainda pior do que quando o
encontrei.
— Venha logo, vamos pegar suas coisas! — falou e foi me
puxando pelo cotovelo.
— Hey, devagar! Feliz 4 de Julho, James!
Me livrei de sua mão e fui abraçar James, que ficou surpreso
com o gesto.
— Oh... f-fe-feliz 4 de Julho, senhorita Viatcheslav!
— Obrigada! — respondi, lhe dando um beijo estalado na
bochecha, deixando a marca do meu batom estampada nela.
James riu e colocou a mão na marca, mas vi seu sorriso
morrer quando olhou para John.
— Ahm, feliz 4 de Julho, s-senhor Neeson — gaguejou ele,
dando pigarros.
— É, para você também, James. Vem — respondeu ele, mal-
humorado, me puxando pelo cotovelo novamente, não ajudando nos
meus movimentos já desengonçados.
— Não liga para ele não, James! Ele está de mal humor —
disse, me desvencilhando de sua mão e parando, tentando me
recompor. — Eu posso me virar sozinha, obrigada! — continuei,
erguendo meu queixo e o encarando de volta.
Fui na frente, tentando fazer o possível para manter a pose,
desfilando igual a Gisele.
— Já chega!
Tão rápido quanto suas palavras, John me jogou em seu
ombro gigante, me carregando.
— Por que será que eu estou de mal humor!? Hein?! —
continuou, subindo as escadas.
— Argh! Me solta! — falei em voz alta, dando soquinhos em
sua bunda. — Por que você sempre tem que dar uma de machão?!
Sua única resposta foi um tapa estalado em minha bunda, que
está empinada para cima em seu ombro.
— AI! Me solta!!!
Eu não tenho a menor condição de sair daqui sozinha nesse
estado, ainda mais de cabeça para baixo, piorando a vertigem.
Quando chegamos em frente à minha porta, ele me soltou, me
colocando de pé.
— Bom mesmo! E eu não vou mais com você! — gritei,
tentando me equilibrar novamente, sem sucesso, e tombando para o
lado. Rapidamente, John me pegou, me erguendo de novo e
abrindo a porta.
— Você está muito bêbada para tomar decisões! — exclamou
ele, me levando até a poltrona da sala, onde me deixou sentada. —
Fique aqui. Eu vou pegar suas coisas para irmos logo.
— Eu preciso me trocar!
— Não temos tempo para isso, terá que ir assim.
— O que?
Tentei levantar, mas a vertigem me atingiu novamente e
parece que todo o apartamento gira.
— Fique aqui. Você está muito tonta para ficar de pé.
O vi indo em direção ao meu quarto, resmungando e bufando.
Cruzei meus braços e encostei-me na poltrona, o esperando, mas
senti o sono me dominar, me levando aos poucos.

Acordei com minha cabeça explodindo e o sol na cara. Olhei


para frente e vi uma rodovia, logo depois me virei, encontrando
John, focado na estrada.
— Que bom que acordou, Miss América.
Coloquei a mão em minha cabeça, dando um gemido e, então,
percebi que estou com a mesma roupa. Oh meu Deus!
— O que aconteceu? — perguntei.
— Ah, você não se lembra? — disse ironicamente, virando-se
para mim. — A senhorita se atrasou, deu um show e acabou
atrasando nossa viagem em meia hora!
Fechei os olhos, me jogando para trás no banco.
— E agora está enchendo minha picape de glitter e pedrinhas
brilhantes com essa... essa roupa e essa maquiagem toda —
continuou ele, resmungando. Eu voltei a olhá-lo e comecei a rir. —
Qual é a graça?
— Você também está brilhando.
Apontei para sua barba, que brilhava ainda mais com o sol
batendo em seu rosto.
— O que? Onde?
Ele ainda está bravo comigo. Não é para menos, ok, mas
preciso dobrá-lo e jogar meu charme para cima dele. Sempre
funciona! Soltei o cinto de segurança e fiquei de joelhos no banco,
me aproximando dele, que tenta manter os olhos na estrada, e não
no meu decote que está roçando em seu braço.
— Aqui. — disse, beijando sua barba e a deixando ainda
mais brilhante — Aqui — continuei, indo em direção a sua orelha. —
E aqui também — sussurrei em seu pescoço, depositando beijos e
glitter ali.
O escutei grunhir em resposta. Voltei a olhá-lo e ele ainda está
sério.
— Pode voltar a se sentar, estou dirigindo, então por favor
sente-se.
Eu odeio esse John grosseirão! Bufei e voltei para o meu lugar,
colocando o cinto de volta.
— Têm água e Advil no compartimento no meio dos bancos.
Tome-os.
Eu realmente preciso disso. Peguei o comprimido e a água,
acabando com a garrafinha em um só gole. Vi o relógio e já passava
das 18h30. Droga, eu desmaiei mesmo! Olhei em frente, procurando
placas que poderiam me indicar onde estamos neste momento,
mas John foi mais rápido.
— Estamos em Lexington, Virgínia.
— Não posso chegar lá desse jeito, John — sussurrei, olhando
para as minhas roupas.
— Deveria ter pensado nisso antes de beber e se atrasar,
mesmo sabendo que tinha um compromisso! — respondeu
rispidamente.
Agora já chega. O fuzilei com os olhos e disparei.
— Se você for ficar assim a viagem toda, pare o carro agora e
eu darei um jeito de voltar para casa sozinha! E COM ESSAS
MESMAS ROUPAS! — gritei.
Ele me encarou da mesma maneira, mas antes que falasse
outra coisa, continuei.
— Eu estava bêbada sim, e daí? Me lembro até de ter te
pedido desculpas! E se você não quiser aceitá-las, então é melhor
me largar aqui mesmo, porque eu não sou obrigada a aguentar suas
grosserias!
Deus, minha cabeça irá explodir! Me joguei no banco e
coloquei minha mão na testa, fechando os olhos e bufando.
— Você sabia que tinha que me encontrar, no máximo, às
13h30! Você foi irresponsável, Sofya!
— O que? Qual é, John?! Eu te avisei que eu teria
compromisso antes! Eu saí de lá a essa hora e demorei algum
tempo para arranjar um táxi! Eu já te pedi desculpa, tá legal?! —
Abaixei o tom da voz, tentando amenizar a situação para que ela
não se prolongasse mais.
— Sim, mas isso não é o suficiente! Além de irresponsável,
como você pôde andar assim pela cidade?
Inacreditável!
— ASSIM COMO? — gritei.
— ASSIM... — Ele gesticulou para mim. — COM POUCA
ROUPA! Isso não é jeito de se vestir!
Ri, nervosamente, me endireitando. Já chega disso.
— Pare o carro agora mesmo — falei.
— O que?
— Pare o carro agora mesmo, John! — O olhei, furiosamente.
— Eu não vo...
— PARE O CARRO AGORA MESMO OU PULO DELE! —
gritei, abrindo a porta.
Ele freou na hora, cantando pneu no asfalto e parando no
acostamento. Abri a porta e a fechei com força, indo em direção a
caçamba para pegar a minha mala Loui Vuitton, que graças à
Deus é de rodinhas, junto com a minha outra mala de mão. Escutei
John saindo do carro e vindo em minha direção.
— VOCÊ SÓ PODE SER LOUCA! — gritou. — Aonde você
vai? — questionou, ao notar que eu tirava minhas coisas da picape.
Assim que coloquei minha mala no chão, olhei e vi um ponto
distante mais à frente da estrada, parecendo ser um posto de
gasolina. Logo em seguida, voltei a encará-lo.
— Isso é o que acontece quando me testam! Eu disse que se
você continuasse eu voltaria para casa sozinha, e é isso que eu vou
fazer! — falei, apontando para ele.
Comecei a andar, mas parei logo à frente, voltando a encará-
lo.
— Ah, e sim! EU VOU VESTIDA ASSIM PORQUE É ASSIM
QUE EU QUERO ESTAR VESTIDA AGORA! Seu machista! —
gritei, voltando a andar, acelerada.
— SOFYA VOLTE AQUI AGORA!
Não respondi e continuei a andar de queixo empinado.
Comecei a escutar buzinas vindo dos carros e dos caminhões que
passam pela estrada. Argh! Não posso deixar isso me abalar.
— SOFYA!
Escutei seus passos se aproximando, mas não olhei para trás.
— Ah, mas você não vai sair assim, desse jeito, NUNCA!
Senti sua mão pegar meu cotovelo e me puxar de volta. Se ele
está pensando que vai conseguir ganhar de mim, está muito
enganado! Com um movimento rápido, bati com minha mala de mão
em sua cara, o fazendo ir para trás. Ele balançou a cabeça,
tentando se recuperar, e me olhou novamente. Sua cara está
assustadora agora. Dei uns passos para trás, ainda o encarando da
mesma maneira.
— Você. Vai. Voltar. Para. Aquele. Carro. Agora — rosnou. —
Por bem ou por mal!
— Não vou mesmo! Quem sabe depois dessa você pare de
ser tão idiota! — respondi, pegando minhas coisas para voltar a
caminhar.
— Não diga que eu não avisei — rosnou, apontando para mim
e caminhando em minha direção.
Droga! Comecei a correr o mais rápido que podia com esses
malditos saltos, mas ele veio logo atrás de mim. Larguei a mala e a
bolsa para correr mais rápido, mas ele foi mais rápido que eu, me
pegando por trás e passando seus braços ao redor do meu corpo,
me erguendo do chão. Eu me remexia para tentar me soltar, mas ele
é muito forte! Com um movimento rápido, lhe dei uma cotovelada na
barriga, o fazendo ir para trás com um gemido abafado de dor.
Tentei me recompor e olhei para ele, que faz a mesma coisa,
voltando a erguer seu corpo.
— Tudo bem então, vai ser do seu jeito! — exclamou.
Assim como um touro, ele veio em minha direção, me jogando
para trás e nos fazendo cair na grama ao lado do acostamento,
lutando! Ele está em cima de mim, tentando me imobilizar, porém eu
fui mais rápida, cruzando minhas pernas ao redor de seu corpo e
pegando sua cabeça, que está presa debaixo do meu braço. Eu
tentava "apagá-lo" com alguns golpes, mas ele somente se
defendia.
— Já chega Sofya! — gritou, enquanto rolávamos na grama.
— Já chega você! — gritei de volta.
E então ele me virou de bruços, pegando minhas mãos.
— Hey, cara! Solta ela agora ou vou chamar a polícia!
Uma voz masculina, na qual eu não consigo saber de onde
vem, falou perto de onde estamos. Escutei John pegar algo em seu
bolso.
— FBI, amigo. É melhor se afastar, essa mulher é louca e
acaba de ser presa. Estou a levando agora.
Como se já não bastasse toda essa humilhação, senti John
colocar algo em meus pulsos e, logo em seguida, me levantar, me
colocando em seu ombro.
— Eu vou matar você! JURO QUE VOU! — gritei para ele.
— Eu não disse? — falou para o senhor que está parado, e
embasbacado, um pouco mais a frente.
Sem poder movimentar as mãos, eu comecei a me remexer.
— ME SOLTA AGORA! AGORA JOHN! ARGH! — Ele me
respondeu dando-me um tapa na bunda.
Ele me colocou de volta no banco do passageiro, fechando a
porta e a trancando. O acompanhei com o olhar até que ele
entrasse no carro. Eu o fuzilava com olhar, assim como ele.
Deu partida na picape, ainda me olhando. Voltei a olhar para frente,
mordendo meus lábios de raiva.
— Quando chegarmos à fazenda vou pedir um táxi até o
aeroporto. Já chega disso para mim — sussurrei.
Antes de arrancar com a picape, ele me virou, tirando as
algemas de mim, porém eu continuei olhando para frente.
— Tudo bem — me respondeu, seco.
O sol já estava se pondo e o meu cansaço bateu
instantaneamente depois de tanto esforço. Me ajeitei no banco,
vendo os milharais e os grandes celeiros passarem entre as
paisagens pela janela, até que adormeci novamente.

A noite caiu por completo e eu dirijo minha Dodge


furiosamente. Olhei para o lado e ela continua dormindo
calmamente, diferente de uma hora atrás, quando resolveu se
descontrolar. Ela ainda está com aquela roupa irritante, que agora
está coberta de terra e um pouco rasgada. Seus cabelos
estão desgrenhados e sua maquiagem brilhante também está
borrada. Mesmo assim, essa filha da mãe consegue continuar linda.
Eu sei que deveria ter aceitado suas desculpas e esquecer aquilo,
aliás, o fato de ela ter se atrasado um pouco não foi o motivo do
meu estresse. Ela está irritantemente gostosa nessa roupa, e eu
fiquei possesso quando a vi desse jeito, desfilando para todos!
COMO ELA SAI SÓ COM ISSO NA RUA?! Apertei ainda mais o
volante até meus dedos ficarem brancos, me lembrando dos caras
que ela deixou babando por conta disso.
Eu tentei colocar a culpa na “irresponsabilidade” dela, mas o
que me deixou realmente bravo foi ter que imaginá-la assim, desse
jeito, naquela Parada. Se é ciúmes? Não sei, acho que não! Pfff,
claro que não! Eu não estou com ciúmes! Eu só acho que ela não
deve andar desse jeito por aí! Ainda mais bêbada! Já tivemos
discussões pequenas porque ela sempre vem com essa história de
“machismo” para cima de mim. Não é machismo, é a verdade! Uma
mulher não deve sair desse jeito pelas ruas, ficando sujeita a vários
perigos. Machismo, pfff. Mas que droga!
E agora, o que eu faço? São quase 19:30 da noite e não posso
deixá-la ir embora, ainda mais assim! Bem, eu também não estou
muito diferente dela, com terra na roupa e com glitter até onde não
deveria. Olhei meu reflexo no retrovisor e notei que meu cabelo
também estava totalmente desgrenhado. Merda! Vi a placa na
estrada informando que há um motel a 2 quilômetros de distância,
então tive uma ideia. Vou parar, assim tomaremos um banho e
esfriaremos nossas cabeças. Quem sabe ela não volta atrás? Dei
seta para a direita e entrei no estacionamento. É um típico motel de
beira de estrada, antigo e com neons. Parei minha picape e sai, indo
em direção a recepção.
— Boa noite.
Cumprimentei o magrelo de chapéu de caubói que assiste TV.
— Boa noite. Quarto de casal?
— Sim. Vamos ficar apenas uma hora, no máximo.
— Senhor, o preço é por noite.
— Que seja. Tudo bem. — Paguei e peguei a chave, logo
voltando para a picape.
Comecei a pegar as malas na caçamba quando escutei a porta
do passageiro abrir e Sofya sair, com dificuldade.
— Onde estamos? — perguntou ela, com a voz rouca de sono.
— Paramos para tomar banho e trocar de roupa.
Ela me olhou, ainda com a cara fechada e massageando os
pulsos. Ok, eu errei nisso também! Mas eu não iria deixá-la naquele
estado sozinha, e ela escolheu voltar para o carro por mal. Sofya
pegou suas coisas e esperou para que eu fosse na frente. Subimos
as escadas e andamos até a porta do nosso quarto. Abri e a deixei
entrar primeiro. O quarto tem cheiro de cigarro e parece que parou
no tempo, para ser mais exato, em 1970.
— Pode ir tomar banho primeiro se preferir — falei.
— Eu vou demorar mais por conta do meu cabelo, pode ir. E é
o tempo de eu terminar e o táxi chegar para me buscar.
A vi mexendo no celular no caminho, mas nunca iria imaginar
isso.
— O que?
— Já que paramos, não há motivo para eu esperar chegar na
fazenda dos seus pais, gerar um mal-estar em todos, e ir embora
logo em seguida — disse ela, tirando algumas coisas da sua bolsa.
— O táxi chegará em uma hora.
— Sofya, eu não acho...
— Não se preocupe John, eu estarei “bem vestida” dessa vez.
Aliás, estou indo para o chuveiro agora, já que não vai — me cortou,
pegando suas coisas e indo para o banheiro.
Bufei, frustrado, não sei o que fazer. Por quê ela tem que ser
tão turrona e tão, tão... grrr! Deitei na cama, olhando para o teto, e
escutei o celular dela tocar. Não hesitei em atender.
— Alô, senhorita Viatcheslav? O táxi irá demorar mais de uma
hora para chegar até onde a senhorita está, tudo bem?
— Pode cancelar. É o namorado dela falando. Obrigado por
ligar, mas já demos um jeito — falei, desligando em seguida.
Respirei fundo, pensando no que fazer antes que um mate o
outro ainda hoje. Querendo ou não, ela realmente me pediu
desculpa por ter se atrasado, e a quem eu queria enganar? Sofya
nunca gostou de usar muita roupa! Terei que passar por cima do
meu orgulho e acertar essa situação antes que seja tarde. Me
levantei, tirando minha roupa, indo em direção ao banheiro. Por
sorte, ela não trancou a porta, então entrei. Ela já está no chuveiro,
no qual o box é escuro, mas um pouco transparente, revelando a
silhueta de seu corpo, fazendo meu pau ficar duro na hora. Ela
olhou para trás quando eu abri o box, entrando devagar.
— O que você está fazendo, John?
Ela ainda está com a cara fechada. Dei um suspiro, jogando as
mãos para o lado, derrotado.
— Me desculpe — sussurrei.
— O que?
— Me desculpe, tá legal!? Eu só não gostei de ver você
andando por aí com aquela roupa, se sujeitando a vários perigos,
ainda mais bêbada.
Ela cruzou os braços em frente aos seios, me encarando.
— Eu já sou adulta, John, e sei me cuidar sozinha. Se algo
acontecer comigo não será por conta da roupa que eu estiver
usando.
— Olha Sofy, nós dois extrapolamos, ok? Vamos esquecer
isso!
Falei, me aproximando dela que, ao perceber meus
movimentos, deu as costas para mim e grunhi quando vi sua
bundinha que eu tanto gosto... foco, John.
— Tudo bem, John. Esquecido. Mas isso não muda o fato de
eu voltar para a casa daqui a pouco, então, por favor, me deixe
tomar banho em paz.
Me aproximei por trás, encostando meu corpo no dela, que se
encaixa perfeitamente ao meu. Ela pulou quando sentiu meu pau
encostando em sua bunda. Coloquei minhas mãos em sua cintura e
a escutei engolindo em seco.
— John...
— Por favor, não vá. Vem comigo — sussurrei em seu ouvido,
o mordiscando logo em seguida.
Ela deixou escapar um pequeno gemido. O que ela queria
esconder, o seu corpo entrega.
— N-não posso, o táxi...
— Eu já cancelei.
— Você o que? — questionou ela, brava, se virando para mim
e me empurrando para trás. — Você é mesmo um grande idiota! —
continuou, abrindo o box para sair.
Ah não, ela não vai sair mesmo! A puxei para mim com um
movimento rápido, fechando o box e a encarando logo em seguida,
com seus braços presos em minhas mãos.
— Por favor, Sofy. Vem comigo, por favor?! — supliquei,
olhando em seus olhos. — Sim, eu sou grande idiota, assim como
você é uma grande louca! — continuei, rindo. — Me desculpe, ok?
Ela me olhou, com seus olhos grandes, não sabendo se saia
ou se ficava. Ela bufou, se desvencilhando das minhas mãos e
apontou seu dedo para mim.
— Se você ousar em dar um show como aquele novamente,
eu não ligo para quem estiver por lá e vou embora na mesma hora!
— Tudo bem — respondi.
— Ótimo, agora deixe-me terminar meu banho — finalizou,
voltando para debaixo do chuveiro, me dando as costas novamente.
Não irei deixá-la tão facilmente. Cheguei por trás dela
novamente, apertando sua cintura e encaixando meu pau no meio
das suas pernas.
— Vamos selar nossa paz então, o que acha? — sussurrei em
seu ouvido.
— Hm, continue.
Virei sua cabeça de lado e a beijei, deliciosamente. A encostei
de frente ao box e encaixei meu pau em sua entrada, a fazendo
gemer enquanto a água caía em nossos corpos. Fui a penetrando
lentamente, a sentindo por completo. Comecei a estocá-la,
mantendo um ritmo normal, até ela empinar mais sua bundinha para
mim, me pedindo mais. Sorri quando ela virou sua cabeça para mim
e mordeu seus lábios, confirmando o que eu pensava. Comecei a
fode-la ainda mais forte e ela gemia igual uma gata no cio. Peguei
seu pescoço, deixando sua cabeça reta, e aumentei o ritmo, falando
coisas sujas em seu ouvido. Senti sua bocetinha apertando e
contraindo cada vez mais meu pau... ahh, isso sempre me
deixa louco, é tão bom e está se tornando um vício para mim.
— Você me deixa louco! — sussurrei em seu ouvido.
Ela se contraiu mais, se remexeu até que a senti
convulsionar em meus braços e sua bocetinha sugar todo o meu
pau. Escutando seus gemidos chorosos, me deixei levar com um
grunhido alto, liberando-me fundo nela, tremendo com seu corpo
colado ao meu. Ficamos naquela posição até que os espasmos
parassem. A virei para mim, tomando sua boca com a minha em um
beijo suave. E a paz está selada.
— Estamos atrasados, vamos logo! — gritei, para que ela me
escutasse no banheiro enquanto eu abotoava minha camisa azul.
— Tudo bem, eu termino o resto no carro. — Saiu do banheiro,
enquanto penteava seus cabelos.
Parei o que eu estava fazendo, a olhando. Ela está linda, com
um vestido um pouco rodado, azul escuro e de alças grossas. Para
minha sorte, ou não, seu decote está comportado. Ela me olhou,
analisando minha roupa e depois sorriu.
— Acho que combinamos na cor — apontou para a minha
camisa.
— Sim. Você está linda.
— Obrigada. Você também não está nada mal — respondeu
ela, colocando seus brincos.
Ri de volta e comecei a ajeitar as coisas para voltarmos à
estrada. Minha mãe já havia me ligado mais de cinco vezes e já
passava das 20h da noite. Tudo bem que perdemos algum tempo
no chuveiro, mas aquilo foi necessário. Realmente, transar depois
de uma briga é ótimo. Transamos até sem camisin... parei
bruscamente o que estava fazendo, chamando a atenção de Sofya,
que também ajeitava sua mala.
— O que foi? — perguntou ela, me olhando com desconfiança.
Droga! Eu só transei sem camisinha com apenas uma pessoa
e há anos atrás. Não me descuidei com nenhuma garota nunca. Até
agora.
— Ahm, você toma remédio para... — gesticulei com as mãos,
apontando para sua barriga.
Ela percebeu e riu.
— O que mais me preocupa agora é ter pegado uma DST
deste lugar. Ew, nojento. — Fez uma careta ao pegar o cartão do
motel, me fazendo rir. — Péssimo lugar para termos feito isso. Mas,
sim, eu tomo pílula, fique tranquilo.
Suspirei, aliviado, e fui pegando as coisas para levar para a
picape.
— Ótimo. Vamos então?
— Vamos.
— Já estamos chegando? — perguntou ela, aumentando o
volume do rádio quando a versão original de A Little Less
Conversation, de Elvis, começou a tocar.
— Sim, mais alguns quilômetros e já chegaremos. É uma
cidade bem pequena chamada Butler, localizada no meio da
Cherokee National Forest e perto da fronteira com a Carolina do
Norte. Mesmo um pouco afastada da cidade, a fazenda é grande e
muito bonita. Fica bem às margens do lago Watauga. Você vai
gostar — respondi, enquanto ela terminava sua maquiagem. —
Vamos chegar bem na hora dos fogos.
— Adoro essa parte!
Adentrei pela floresta na estrada cheia de curvas, até que o
lago apareceu à vista.
— Aquele é o lago?
— É sim.
— Você cresceu aqui?
— Meu pai sempre trouxe eu e meu irmão para cá, mesmo a
contragosto da minha mãe. Eu adoro esse lugar. Venho para cá
sempre que posso.
— Isso explica essa picape monstro — disse ela, me fazendo
rir. — Deve ter sido legal crescer num lugar assim.
— Espere só até ver tudo isso à luz do dia!
Fui diminuindo a velocidade até parar em frente aos grandes
portões, que se abriram em seguida, nos dando passagem pelo
longo caminho de terra cercados por enormes pinheiros.
— Oh meu Deus! Que casa gigante! — exclamou,
impressionada, e me fazendo rir.
A casa foi surgindo em nossa visão e parei o carro bem em
frente às escadas da grande entrada principal. Estávamos saindo do
carro quando escutamos os barulhos dos fogos de artifício. Nos
olhamos e fui em sua direção, apressadamente.
— Vem, já está na hora! — A peguei pelo braço e fui em
direção aos fundos rapidamente, onde fica o lago e um grande deck
nas margens, para comemorações como esta.
Corremos em direção ao deck, onde estão todos reunidos,
vendo o show, mas parei quando percebi que Sofya diminuiu o
passo, e a olhei. Seus olhos estão brilhando, e não é somente por
conta dos flashes dos fogos refletidos nele. Sua boca estava aberta
e ela congelou ali, vendo o espetáculo. Ela está deslumbrada.
— É lindo — sussurrou.
Olhei para o céu, onde o espetáculo ainda acontecia,
revelando fogos de artifício brancos, vermelhos e azuis. Para mim
aquilo não é nenhuma novidade, mas ela parece uma criança,
vendo isso pela primeira vez. A olhei, novamente, sorrindo com sua
reação.
— Todo ano é assim? — suspirou ela.
— Sim! — respondi, enquanto ela ainda estava hipnotizada
pelo show.
Peguei sua mão, e entrelaçando com a minha, a tirando do
transe, atraindo seu olhar para mim.
— Obrigado por estar aqui hoje — sussurrei, a encarando de
volta.
E então, ela me deu aquele sorriso lindo como resposta.
— Estou feliz de estar aqui — respondeu.
— Bem, antes tarde do que nunca, não é mesmo?! —
exclamou uma voz que eu conheço muito bem, fazendo Sofya pular
e soltar minha mão rapidamente.
Dei um grande suspiro, encarando a dona daquela voz
imponente, na qual não está com uma cara muito boa.
— Olá mamãe. Feliz 4 de Julho!
— Olá mamãe. Feliz 4 de julho!
Imediatamente eu soltei a mão do John, me afastando um
pouco mais. A Dama de Ferro em carne e osso. Então, essa é
Miranda Richards? John foi em direção a ela, a abraçando,
enquanto eu a observava. Ela também está com um vestido azul e,
pelo modelo, elegantérrimo, é um Oscar De La Renta, que lembro
de tê-lo visto em sua última coleção no Fashion Week de Milão. Ela
também está calçando um icônico par de Manolo Blahnik azul, sim,
igual ao da Carrie Bradshaw, seus cabelos estão curtos, repicados
até a altura da orelha e jogados para o lado direito, dando um
volume a mais, sem falar do topete, tornando o corte ainda mais
chique, num loiro tão platinado que quase brilha na noite e sua
maquiagem está perfeita. Jesus, a mulher é o poder em forma de
gente! Toda a confiança que eu adquiri ao longo desses dias se
evaporou neste exato momento.
— Para você também, querido — respondeu ela, se afastando
dele, mas ainda mantendo suas mãos firmes em seus braços, o
analisando. — Pensei que não iria chegar a tempo! Só estávamos
esperando você para jantar. Você nunca se atrasou assim —
continuou, finalmente me encarando.
Aquele par de olhos verdes que falam por si próprios. Engoli a
seco, tentando, falhamente, sorrir.
— Oh... agora entendo. Você não me disse que traria uma
garota — finalizou, voltando a olhá-lo e dando um sorriso forçado.
Meu Deus, eu deveria ter voltado para casa. Por favor, me
ajude!
— Eu sei mãe, me desculpe. Tivemos um contratempo — riu
John, virando-se para mim e me lançando um olhar divertido.
Tentei rir também, mas foi a pior tentativa de rir, forçadamente,
que eu já havia feito.
— Mãe, esta é Sofya, minha amiga. Sofya, esta é minha mãe,
Miranda Richards.
Ela voltou a me encarar, numa longa e demorada análise feita
de cima a baixo. Fingindo que não percebi, tomei um pouco de
coragem e caminhei em direção a ela, estendendo minha mão.
— É um prazer conhecê-la, senhora Richards!
Pelo menos sei que ela prefere que a chamem pelo
sobrenome de sua família e não da família de seu marido, obrigada
Google. Demoradamente ela pegou a minha mão, ainda me
encarando.
— O prazer é meu Sofya...
— Viatcheslav — respondi, enquanto soltamos nossas mãos.
— Oh... você não é daqui, é Sofya?
— Ahm, sou sim, mas meus pais não — falei, dando um
sorriso tímido.
— Filho! Que bom que chegaram a tempo! — exclamou o
senhor Neeson, dando um abraço em John e, logo depois,
encontrando meu olhar. — Ah, que bom que veio Sofya! Bem
vinda a nossa fazenda! — disse ele, agora me abraçando.
— Obrigada pelo convite senhor Neeson, aqui é realmente
muito lindo.
— Então vocês já se conhecem? — perguntou Miranda.
— Sim, ela é vizinha do John. Nos encontramos no prédio e
tive o prazer de experimentar sua carne assada com batatas —
continuou ele, rindo, me fazendo corar e rir também.
— Encantador — sorriu Miranda, olhando para mim e para
John, que apenas tentava manter o sorriso.
Ele, claramente, está tão nervoso quanto eu.
— Vizinhos e amigos então?
— Sim — respondeu John.
Ela apenas assentiu com a cabeça, tentando manter
seu sorriso forçado.
— Tio John!
O climão e o silêncio foram quebrados por vozes animadas de
crianças e eu agradeci mentalmente por isso.
— Hey! Vocês estão cada vez maiores! — exclamou John,
pegando os dois garotinhos no colo com facilidade.
— Pensamos que você não viria mais! — falou o garoto
maiorzinho, que aparenta ter uns dez anos de idade.
— Sim! E compramos bombinhas! — disse o menorzinho.
— Legal! — respondeu John.
— Garotos, deem um descanso para o seu tio, ele acabou de
chegar.
Oh meu Deus. Essa é Evangeline Collins? Claro que é! Assim
como Miranda, Evangeline também é uma importante socialite.
— John! É bom vê-lo novamente — falou e comprimentou
John com um abraço.
— É bom vê-la também, Evangeline! Onde está Josh?
— Ele está...
— O bom filho à casa torna! — Nos viramos e vi mais três
pessoas. — Bem-vindo de volta, irmão! — disse um homem
alto, que lembra um pouco John, tirando os olhos e o cabelo.
É claro que eles são irmãos, é nítido. Joshua Neeson lembra
muito sua mãe, com cabelos castanhos claríssimos e olhos verdes,
reflexos dos de Miranda. E o fato de não ter ligado os pontos e nem
lembrado que Joshua é casado com Evangeline Collins me pegou
de surpresa. Sei disso porque foi o casamento do ano na época.
— Obrigado, irmão! — respondeu John, o abraçando.
— Seu grande filho da mãe! Eu estou com fome por sua culpa,
sabia? — reclamou um cara ruivo e o mais baixo dos homens aqui,
com seu sotaque britânico se destacando.
— Ha! Seu bastardo! Não sabia que estava aqui! — exclamou
John, indo na direção do ruivo e o esmagando em um abraço.
— Ok! Já deu, me larga! Vim cuidar de uns papéis para o tio
Larry aqui! — apontou para o velhinho que está na cadeira de rodas.
— Hey, vovô! Como vai? — perguntou John.
— Com fome e com sono. Podemos comer agora? —
respondeu o velhinho com cara de simpático, nos fazendo rir.
— Uau! Veio bem acompanhado, hein, primo! — falou o ruivo,
se aproximando de mim e pegando minha mão, a levando para seus
lábios. — Meu nome é Edward, mas pode me chamar de Ed.
Encantado em conhecê-la — ri e John bateu no braço dele para que
parasse com aquilo.
— Pessoal, esta é Sofya Viatcheslav, minha amiga. Sofya,
esta é Evangeline Collins, minha cunhada. Ao seu lado, meu irmão
Joshua Neeson. Este irlandês de cabeça vermelha, como você já
sabe, é Ed e esses dois pestinhas são Samuel — apontou para o
mais velho. — E Benjamin — finalizou, apontando para o mais novo.
— Muito prazer! — sorri a todos, que me cumprimentaram
igualmente.
John me trouxe para mais próximo ao senhor na cadeira de
rodas, que sorriu ao me ver, e não pude deixar de sorrir também.
— E este aqui é meu avô, Larry Mullen Neeson. Vovô, esta é
Sofya.
— É um prazer conhecê-la, minha jovem — disse ele,
estendendo sua mão trêmula para mim, que a peguei sorrindo ainda
mais.
— O prazer é todo meu, senhor Larry! John sempre falou
sobre o senhor.
— Espero que só coisas boas — respondeu, nos fazendo rir.
— Com certeza!
Rimos, mas fomos interrompidos pelos pigarros de Miranda.
— Bem, irei pedir a Mag para servir o jantar — disse Miranda.
— Sim. Vamos todos entrar — complementou o pai de John.
Todos foram em direção a grande casa, conversando
animadamente. Senti a mão do senhor Neeson em minhas costas e
o olhei, surpresa.
— Obrigado por ter vindo, Sofya.
— Não precisa agradecer, senhor Neeson.
— Você irá adorar esse lugar! — exclamou ele.
Eu espero que sim.
— Então, Sofya. O que você faz? — perguntou Miranda
enquanto todos nós comíamos o prato principal na grande mesa da
sala de jantar, que também é enorme e decorada em um estilo
clássico, assim como todos os cômodos que vi até agora.
— Sou Editora Executiva na Glam Magazine — respondi a ela,
que arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Uma jornalista! Então trabalha com Donatella?
— Sim, ela é minha chefe.
— Esplêndido. Vejo então que o Marc Jacobs que está vestido
é original.
Touché.
— Miranda, por favor... — Senhor Neeson a repreendeu,
limpando sua boca com o guardanapo.
— O que? Só estou perguntando — respondeu ela, dando de
ombros.
Ri, para quebrar o gelo.
— Sim, é sim.
— Oh, eu amei essa coleção! — disse Evangeline.
— Eu também! — exclamei.
— Vocês, mulheres... estamos em uma fazenda! — gesticulou
Ed com as mãos, fazendo o restante da mesa rir.
— Na verdade, eu não ligo muito para marcas, mas aprecio a
qualidade que elas nos dão. E, sinceramente, eu ganho a maioria
dessas coisas por conta da revista. Se não fosse isso, não teria
nenhuma delas — disse rindo, mas que logo parei quando vi a
careta que Miranda fez.
Mas que droga, Sofya!
— E a sua família, Sofya? Creio que para conseguir um cargo
conceituado em uma importante revista de moda você teve uma boa
educação proveniente deles, certos? — perguntou ela, colocando as
mãos no queixo.
John largou os talheres no prato, fazendo barulho, e todos o
olharam surpresos. Ele encarou a mãe, com uma cara fechada.
— Mãe, por favor, já chega! Sofya é só uma amiga, não há o
porquê disso!
— Miranda… — começou o senhor Neeson.
— Qual é o problema de vocês? Eu só quero conhecê-la!
— John, não há problema nisso, tudo bem — me manifestei,
tentando amenizar a situação, limpando minha boca no guardanapo.
Bem, mesmo eu não gostando de falar do meu passado, ele
não é segredo para ninguém, e eu sei que Miranda irá descobrir de
uma forma ou de outra, então não há o que esconder. Além disso,
sinto que suas perguntas estão longe de acabar.
— Meu pai saiu de casa quando eu tinha cinco anos e minha
mãe morreu quando eu tinha oito anos. Depois disso fui para um
orfanato, onde eu fiquei até os meus dezoito anos, logo após isso
ganhei uma bolsa de estudos na Columbia University para cursar
Jornalismo e, bem, aqui estou — ri, erguendo as mãos.
— Columbia University então? — perguntou Miranda.
O senhor Neeson deu um pigarro alto, olhando para ela e me
apontando com sua cabeça.
— Mãe! — bradaram John e Joshua, juntos.
— Sinto muito Sofya — continuou Josh e o olhei, também
encontrando o olhar de pena de Evangeline.
Deus, eu detesto esses tipos de olhares.
— Oh meu Deus, Sofya, deve ter sido tão difícil! Eu sinto muito
— disse ela.
— Veja pelo lado positivo, Sofya. Pelo menos você não tem um
pai que te obrigou a assumir os negócios da família — reclamou Ed,
me fazendo rir com ele e o vovô.
Nossos risos cessaram quando vimos às carrancas de John,
Josh e do senhor Neeson, que fuzilavam Ed com o olhar, o fazendo
dar um pigarro.
— Ahn, me desculpe por isso, Sofya — falou Ed,
envergonhado.
— Obrigada, mas está tudo bem. Já faz muito tempo — sorri.
— Quantos anos você tem, minha jovem? — perguntou o
vovô, também com um forte sotaque britânico.
— Tenho vinte e cinco, senhor.
— Oh... tão jovem e já conquistou tudo isso sozinha?! Você é
muito corajosa, jovenzinha, orgulhe-se disso — continuou ele, me
fazendo sorrir.
— Obrigada!
O olhei e depois baixei o olhar para meu prato, percebendo os
olhos de John em mim, fazendo-me virar e encontrá-los. Ele
tem aquele sorriso torto e um brilho nos olhos. Não sei o que era,
mas isso me fez sorrir também.
— Bem, estamos precisando de mulheres assim nesta família!
— falou o vovô, fazendo alguns na mesa rir.
John e eu nos olhamos, mas ambos desviamos o olhar logo
em seguida, corando com um riso tímido, que se calou quando olhei
para Miranda, que fuzila o vovô com os olhos, enquanto o
senhor Neeson ri, olhando o pai.
— Rosa — chamou Miranda. — Já está na hora da
sobremesa.
Por sorte, não houve mais perguntas na hora da sobremesa,
dando espaço a conversas e histórias divertidas neste tempo.
Percebi que John tem uma família linda, na qual boa parte dela
tenta me deixar o mais entrosada e confortável possível, tornando o
resto da noite agradável.

As crianças já estão na cama, assim com a maioria das


pessoas. Sobraram apenas John, Josh, Ed e eu, que conversamos
animadamente na beira do lago. Ed é uma figura, ele é irlandês, tem
vinte e seis anos e está aqui para resolver algumas pendências
de documentos do seu falecido pai, sobrinho do Larry. Por pressão,
ele irá assumir a os negócios da família em Dublin, por isso
precisa de algumas assinaturas do senhor Larry, que também é
irlandês e não quer nem saber de seu antigo patrimônio de família.
Os dois, senhor Larry e Ed, são muito engraçados juntos, onde o
choque de gerações é visível, assim como o companheirismo, tanto
dos dois quanto com os primos, John e Josh, e o “tio”, Leon. Percebi
também que, ao contrário de John, Josh é mais sério e mais
"pomposo", assim como Miranda, porém ele também é mais cortês
e educado que sua mãe. Já John, pelo o que vi, puxou totalmente a
família do pai, com um estilo mais brincalhão e descontraído.
Foi um longo dia e já passa da meia noite. Eu estou esgotada.
Ri ao lembrar da grande loucura que foi este 4 de Julho, percebendo
que John e eu tivemos nossa primeira grande briga... espera, que
história é essa Sofya? Pfff, falando assim parece que estamos em
um relacionamento, que ridículo! Bem, não é isso. Amigos discutem
também, ok? Tudo bem que eu e Jax nunca discutimos daquele
jeito, mas já tínhamos discordado em alguns assuntos, que nem me
lembro mais o que era. Então foi só uma briguinha qualquer
também, na qual deu brecha para um “tratado de paz” maravilhoso...
hm, John pode até ser muito teimoso e irritante as vezes, mas é tão
bom de lábia e de cama quanto, sendo quase impossível recusar
suas ofertas de paz. Vou precisar me controlar enquanto estivermos
aqui com sua família, por isso é melhor eu já ir para o meu quarto,
que Mag me apresentou logo após o jantar.
— Senhores, se me dão licença, eu já vou para meu quarto.
— Mas já? — perguntou John, franzindo o cenho.
— Sim, estou exausta. Obrigada pela noite! Boa noite.
— Boa noite! — disseram os três juntos.
Fui em direção a grande casa, entrando pela cozinha. Quando
cheguei à grande escadaria, escutei vozes alteradas vindo de uma
das salas perto daqui e parei imediatamente.
— Você não sabe o que é bom para nossos filhos quanto eu
sei, Leon! Não deveria ter convidado essa garota sem ao menos me
avisar!
— Miranda, já chega! Ela é só uma amiga de John, na qual ele
gosta, não há motivo para isso.
— A garota nem tem uma família, Leon!
— Pois é, e é melhor do que as garotas de “família” fúteis que
você empurra para o nosso filho. Já estou farto dessas conversas,
Miranda. Estou indo para a cama.
Disparei em uma corrida, subindo os degraus antes que me
notassem ali, indo em direção a meu quarto, fechando a porta sem
fazer muito barulho. Eu sabia que eu não seria encarada como
“somente a amiga” de John, mas não esperava isso de Miranda.
Tudo bem que alguns amigos me alertaram de como ela poderia
agir e de como ela é, mas mesmo assim. Agora ficou claro o que ela
realmente quer para o filho: status. Como se essa família precisasse
de mais. E uma garota sem família, e que cresceu em um orfanato,
não é o que ela quer para o filho e para a família. Bem, ela
pode ficar despreocupada, porque eu e John nunca teremos nada.
O quarto é gigante, maior que o meu! Sem falar na enorme e
macia cama, assim como o banheiro, que também
é exageradamente grande e lindo. Coloquei a banheira para encher
enquanto tiro a roupa. Preciso de, pelo menos, uma hora naquela
banheira, pensando o porquê eu estou aqui de fato e se ficarei para
descobrir.

Coloquei minha camisola de seda preta, que vai até o meio


das coxas, e fui para a cama. Estou encostada na cabeceira da
cama, lendo meu livro, quando escutei batidas na porta e vi John
entrando no quarto, devagar.
— Hey, está acordada?
— Sim, entre — falei.
Ele fechou a porta e veio em direção à cama, vestindo apenas
uma calça de moletom.
— O que houve? — perguntei enquanto ele se sentava na
ponta da cama.
— Me desculpe pela minha mãe — falou, envergonhado.
— Não se preocupe. Só acho que você ou seu pai deveriam
ter dito a ela que me convidaram.
— Eu sei, mas foi melhor assim, acredite.
— Para vocês — ri.
Ele riu e olhou para minhas pernas desnudas, pegando nelas e
me puxando para a ponta da cama, fazendo a camisola subir pelo
caminho. Logo após, ele veio em minha direção, com aquela cara
de predador e aquele sorriso torto nos lábios. Seja forte, Sofya.
— O que você está fazendo? — perguntei, tentando voltar para
trás, mas ele já está em cima de mim. — John!
— O que você acha? — disse, naquela voz que me
deixa louca.
Fechei o livro, encostando minha cabeça no colchão.
— John, sua família está aqui... — sussurrei enquanto ele
beija meu pescoço.
Ai meu Deus, dai-me força.
— John, não...
— Hm, e daí? — sussurrou em meu ouvido.
— E daí que eu não quero fazer isso aqui.
— Eu acho que você quer sim — sussurrou em minha boca,
sorrindo.
— Você é tão convencido — suspirei em sua boca, o fazendo
rir.
— Quer ver como eu sei?
Sua mão foi deslizando por minha coxa e eu reprimi um
gemido, até que a mesma entrou por debaixo da minha calcinha,
preenchendo minha intimidade. Meu corpo respondeu
imediatamente, arqueando minhas costas e abrindo um pouco mais
minhas pernas, lhe dando mais liberdade. Ele riu, vitorioso.
— Porque você está molhadinha para mim.
Sua língua entrou em minha boca, num beijo profundo,
enquanto sua mão trabalha agilmente entre minhas pernas, me
arrancando gemidos involuntários. Ah meu Deus, isso é tão bom!
Ele sabe como me ter na mão... não, eu não posso demonstrar isso!
Não... Sofya, força! Força...
— Ahh... isso! — gemi em sua boca, sentindo seu sorriso
aumentar e, logo após, sua boca descer para meu pescoço.
Quando o assunto é sexo, a carne aqui é fraca, ainda mais
quando se trata de um sexo nota 9,5. Mas eu não posso ceder. Por
favor Sofya, seja forte! Pense... pense, Oh Deus, essas mãos vão
me levar ao céu! SOFYA!
— John... não podemos.
— Pare de fugir de mim — sussurrou no meu ouvido, dando-
me uma mordisca depois.
Isso é tão bom! Não... pense em Miranda, Sofya. É isso,
Miranda! E, então, consegui um resquício de força.
— Não, John.
O empurrei para trás e ele tirou a mão do meu centro para
sustentar o seu corpo, me olhando de cima, frustrado.
— Sua família está aqui, se comporte por favor!
— Como eu posso me controlar vendo você assim? — Se
aproximou novamente. — Você sabe que eu fico louco quando te
vejo com pouca roupa, ainda mais vestindo uma das peças da sua
coleção de lingeries.
Em um movimento rápido, ele me pegou pela cintura, me
virando, e quando eu percebi, ele já está sentado na cama e
eu sentada em seu colo, de frente para aquele par de olhos azuis
brilhantes. Senti sua ereção pressionando o meio das minhas
pernas. Suas mãos apertam minha cintura, a alisando para baixo e
para cima, me encarando com seu olhar de desejo.
— Você sabe que me deixa louco assim, não é? — sussurrou
ele, me hipnotizando.
Sorri, confirmando sua pergunta, o fazendo entortar seu sorriso
também.
— Garota esperta.
Ele fez a menção de rasgar minha camisola, assim como fez
com diversas outras, mas o parei a tempo.
— Ah-Ah, nem pense nisso. Você vem dando muito prejuízo a
minha coleção — sussurrei. — Eu faço isso, Ursão. — Lhe joguei
uma piscadela, soltando suas mãos.
Lentamente, minhas mãos foram soltando as alcinhas da
camisola e nossos olhos ainda estavam conectados. Mordi meus
lábios quando acabei o processo, pegando a barra da camisola em
seguida, a erguendo, sensualmente e lentamente para cima, a
tirando do meu corpo e a jogando no chão. Seus olhos
estão focados em meus seios, e meus mamilos ficaram ainda mais
duros. Escutei seu grunhido em resposta me fazendo sorrir e jogar
minha cabeça para trás, dando-lhe acesso total a eles. Sem hesitar,
e sem delicadeza, John entrelaçou minha cintura com um braço, me
trazendo mais para perto, e com a outra mão agarrou um seio, o
apertando e levando meu mamilo até sua boca, o sugando e o
mordiscando.
Eu adoro quando ele faz isso, nos fazendo gemer de prazer.
Ele repetiu o processo no outro seio, se levantando da cama comigo
ainda em seu colo e, em seguida, largou meu seio e me jogou
sentada na cama. O olhei, enquanto tirava sua calça, revelando seu
pau, grande e grosso, pronto para mim. Lambi os lábios, e voltei a
olhá-lo... argh! Como eu adoro essa cara de safado! Sem nenhuma
delicadeza, John me puxou pelo calcanhar em sua direção, logo
após, me virou com tudo, me deixando de bruços no colchão, me
fazendo gemer e virar minha cabeça para olhá-lo. Não demorou
muito para sentir o tapa estalado em minha bunda.
— Sua camisola se salvou, mas sua calcinha... — Com um
forte puxão, minha calcinha já estava aos trapos ao meu lado. —
Não teve a mesma sorte.
— Argh! — reclamei, segurando o lençol. O Senti abrindo
minhas pernas e se inclinando atrás de mim, me fazendo sentir sua
respiração em meu ouvido e sua mão pegando meu cabelo, o
puxando para trás.
— Shh, eu posso comprar outra coleção inteira pra você, mas
eu vou continuar a rasgar suas lingeries, você sabe — sussurrou ele
em meu ouvido, dando-me outra mordiscada em seguida. — Agora
empina essa sua bunda gostosa para mim.
Meu corpo obedece a qualquer pedido dele antes mesmo que
minha mente pudesse perceber. Fiz o que ele mandou e empinei
minha bunda para recebê-lo. Ele posicionou seu pau duro na
entrada da minha boceta e entrou com tudo, me fazendo gemer e
ele grunhir, metendo cada vez mais fundo e mais forte. Mordi o
lençol para evitar os gemidos enquanto ele continua, aumentando
cada vez mais o ritmo. Ele está me levando a loucura, num prazer
tão fácil de se entregar e viver a mercê. Gozamos até não poder
mais nessa noite, de todas as maneiras possíveis, até cairmos
exaustos na cama.

Já se aproximavam das 5h da manhã e eu não consegui


dormir quase nada. John me envolvia com seus braços e quando eu
falei para que ele voltasse para seu quarto, ele acabou dormindo.
Não tive coragem de acordá-lo depois. Eu estava com medo, porém
eu não sabia do que. Na verdade, eu acho que sei, mas não quero
pensar nisso. As palavras de Shantell ecoavam em minha mente,
“se John não fosse tão importante para você, você teria recusado o
convite na hora”. Eu estava começando a acreditar que aquilo era
verdade. Virei minha cabeça para olhá-lo, e ele é lindo dormindo
assim, sereno, me fazendo sorrir. Bufei, desmanchando meu sorriso
e voltando a encarar o teto, levando minhas mãos ao meu rosto.
Deus, não pode ser, não pode. Eu gosto de John, mas eu não posso
deixar que meus sentimentos por ele evoluam para algo mais sério.
Somos amigos! E eu quero isso! E é isso que vai ser. Mesmo que
este medo esteja assolando meu coração e minha cabeça.
Devagar, me movimentei para fora da cama, precisava respirar
um pouco e tomar uma água. Coloquei meu robe e sai do quarto na
ponta dos pés, descendo a escada em direção a cozinha. Abri a
geladeira, pegando a jarra e tentando descobrir onde ficavam os
copos. Droga. Coloquei a jarra na bancada, indo em direção aos
armários.
— Armário de cima, à direita. — Pulei ao escutar que não
estava sozinha, colocando a mão no peito. — Me desculpe, não
queria assustá-la.
— Senhor Neeson! Eu quase morri de susto — disse rindo, o
fazendo rir também.
— Não está conseguindo dormir também?
— Não.
— Junte-se a mim, ainda tem biscoito — falou, apontando para
a cadeira ao seu lado.
Fui em direção a cadeira, me sentando, com um copo e a jarra
na mão.
— Muita coisa na mente, não é mesmo? — continuou ele,
levando o indicador à sua cabeça.
— Sim. E a maioria não deveria estar aqui. — Repeti o seu
gesto, o fazendo sorrir, mas não queria falar disso. — É uma casa
linda, senhor Neeson.
— Sim, ela é da época da guerra civil americana. A comprei
logo depois do John nascer e, sempre que podia, trazia os meninos
para cá. Há muitas lembranças boas aqui.
— Eu posso imaginar. Vocês têm uma linda família.
— Obrigado, querida. — Ele me olhou e ficamos em silêncio
por alguns instantes. — Sofya, me desculpe pelo que aconteceu
ontem no jantar. Miranda é uma pessoa difícil de lidar.
— Não precisa se desculpar, senhor Neeson, está tudo bem.
— Por favor, me chame de Leon. Me sinto muito velho assim.
— Tudo bem — respondi rindo.
— Sabe, é a primeira vez que John traz alguém aqui. — Na
mesma hora, meu sorriso se desfez e eu olhei para a janela. — Não
me leve a mal Sofya, mas John gosta mesmo de você.
— Eu também gosto dele, somos amigos — falei, logo em
seguida bebendo minha água.
— Amigos que dormem no mesmo quarto? — perguntou, me
fazendo engasgar com a água. — Me desculpe, eu não deveria
estar falando essas coisas, mas é que, você é uma boa garota. E eu
gosto de ver John como está, só não quero que ele cometa os
mesmos erros que eu.
Ok. Isso foi bem estranho. Leon agora olhava o seu copo
vazio, pensativo.
— Senh... Leon, o que eu e John temos não irá passar disso.
Temos uma boa sintonia, apenas. Acima de tudo somos amigos.
— Sim, vocês têm sintonia — respondeu ele, sorrindo.
— Sim — sorri de volta. — Leon, se me der licença, eu vou
tentar pregar os olhos agora para poder levantar amanhã para o
café — falei, o fazendo rir, enquanto me levantava. — Tente fazer o
mesmo. E obrigada pela água! Boa noite!
— Tudo bem, querida. Obrigado pela conversa, boa noite!
Voltei para o quarto, entrando em silêncio e pensando naquela
conversa. Tirei meu robe e fui em direção a porta da sacada, me
encostando no batente, olhando a linda paisagem do lago e a
madrugada indo embora. Fechei os olhos, sentindo apenas o vento
bater em mim, esvoaçando meus cabelos e a cortina.
— Hey. — Pulei quando senti a mão de John em meu ombro.
— Tudo bem? Você não dormiu nada — continuou.
— Quase me matou de susto!
— Desculpe. Vem, vamos para a cama — disse, me puxando
pela mão.
— Ok... eu acho melhor você ir para o seu quarto — falei.
Imediatamente, ele parou, me olhando, franzindo o cenho.
— Vamos evitar perguntas desnecessárias, certo?
Ainda com o cenho franzido, ele me encara, pensativo.
— Sim... certo — respondeu, vindo em minha direção. — Vê
se dorme, ok? — continuou, encostando sua testa na minha.
— Eu vou — respondi, sorrindo.
Antes de ir, ele me beijou docemente, saindo pela porta logo
depois. Exausta, me joguei na enorme cama, que agora havia ficado
maior ainda. Mas é assim que deve ser.

Cheguei na cozinha pela manhã e, pelo visto, acordei tarde


para o café. Perguntei a Mag onde estava John e ela me disse onde
eu iria encontrá-lo. Fui andando pela grande fazenda, que
é realmente linda. Pelo menos hoje, eu estou com uma roupa
apropriada para o lugar, vestindo uma regata branca colada com
uma camisa xadrez roxa e lilás por cima, um short jeans de barra
desfiada, calçava uma ankle boots marrom de salto baixo e meu
cabelo está preso em um rabo de cavalo alto. De longe, avistei
alguém cavalgando em um lindo cavalo, vindo em minha direção.
Minha nossa, está cada vez mais difícil...
— Olha só quem decidiu deixar a cama. Bom dia! — gritou
John, imitando um sotaque caipira, parando o cavalo um pouco
antes da cerca que nos separava.
Acho que minha calcinha se desintegrou agora. Ele está um
tesão, vestindo calça jeans surrada, uma camisa xadrez azul
marinho e branco, com botas e chapéu de caubói. Alguém me
segura, por favor?!
— Quer cavalgar? — perguntou.
É claro que eu não perderia essa chance.
— Você ou o cavalo? — perguntei, me escorando para frente
na cerca.
Ele riu, descendo do cavalo, vindo em minha direção.
— Não me provoque garota.
— Ah qual é, você sabe que eu faço isso muito bem — falei.
Ele voltou a me olhar e seu sorriso se transformou em uma
cara de espanto quando ele olhou para trás de mim. Acompanhei
seu olhar e foi difícil não sair correndo. Alguém precisava me
segurar agora mesmo. Socorro.
— M-mãe! — exclamou John, sem graça.
— B-Bom dia, Miranda — falei, me segurando na cerca para
não cair.
Eu queria sair correndo daqui agora! A cara dela entregou que
ela havia escutado a última coisa que disse a seu filho, e sua
resposta foi apenas um sorriso forçado. Vestida como uma madame
em um jogo de Polo dos anos 90, ela usava um grande chapéu de
verão, combinando com seu vestido florido na cor creme e suas
luvas curtas da mesma cor.
— Querido, estou indo para Nashville encontrar algumas
amigas, vou com o helicóptero do seu pai. Vamos receber visitas
para o jantar, por favor, esteja apresentável.
— Não se preocupe, mãe — falou John, sem emoção,
ajeitando seu chapéu.
Ela voltou a me encarar, pegando na aba de seu enorme
chapéu.
— Sofya — disse, despedindo-se, movimentando o chapéu
para baixo e virando-se em seguida, indo embora.
Oh meu Deus, Sofya, sempre errando! A mulher já era difícil,
agora seria impossível. Dei um grande suspiro, cobrindo meu rosto
envergonhado com as mãos. Escutei as risadas de John e o
encarei.
— Não estou vendo graça!
— Eu estou! — O encarei, brava, e dei as costas para ele logo
depois, me escorando na cerca de braços cruzados. — Hey, tudo
bem.
Senti seu braço me envolver embaixo do pescoço.
— Agora ela me odeia mais ainda — sussurrei.
— Não diga isso, ela não a odeia... ela só é uma pessoa difícil
— sussurrou em meu ouvido. — Vêm, quero que conheça o
Thunder — continuou, me pegando por debaixo dos meus braços e
me erguendo para cruzar a cerca para o seu lado. Ele fez isso como
se eu fosse uma boneca leve.
— Eu tenho pernas, posso usá-las para pular a cerca — disse,
o fazendo rir.
— Thunder, esta é Sofya. Sofya este Thunder. — Ele puxou as
rédeas do cavalo para mais perto.
É um alazão lindo, marrom com algumas manchas brancas e
muito bem cuidado. Me aproximei, devagar, alisando minha mão um
pouco acima de seu focinho.
— É um prazer, Thunder. Ele é lindo!
— Sim! Ganhei ele do meu avô quando completei vinte e
cinco anos. — Eu olhava o cavalo maravilhada. — Vem, sua vez.
— O que? Não, eu só gosto de vê-los e dar carinho, só isso.
— Larga mão de ser medrosa!
— Não é medo, eu apenas não gosto!
— Covarde — falou, fingindo uma tosse.
— Como é que é?
— O que? — se fez de desentendido.
Cínico!
— Me dê isso aqui!
Arranquei as rédeas de sua mão, o fazendo rir. Montei o cavalo
com dificuldade, o fazendo gargalhar.
— Viu só, consegui!
Oh Deus, e agora?
— Tudo bem, cowgirl, manda ver!
Tudo bem, não seja covarde, Sofya, mostra para esse xucro
do que você é capaz. Me inclinei para frente, perto das orelhas do
Thunder.
— Ok, tudo bem Thunder, eu detestaria ter uma pessoa
montada em mim. Minha mãe sempre dizia “nunca faça para outros
aquilo que você não quer para você”, e bem, eu levo isso para vida,
até mesmo para os animais. Mas, por favor, me ajude, amigo?! —
sussurrei em sua orelha, dando tapinhas em seu pescoço.
Ele se movimentou um pouco, dando alguns passos para
frente.
— Isso! Vamos lá! — Chacoalhei um pouco meus pés e ele
começou a andar. — Quem é a covarde agora?! — perguntei a
John, rindo.
— É. Acho que me enganei — respondeu rindo.
— Tio, tio! Olha o que a gente achou!
Escutamos as vozes das crianças mais a frente, correndo em
nossa direção. Não consegui identificar o que eles tinham nas mãos.
— Não, não, não, NÃO! — gritou John, atrás de mim, mas já
era tarde.
Thunder, ao ver o que os meninos tinham nas mãos, deu um
pinote e acelerou em uma corrida, me deixando apavorada.
— Ahhh! — gritei. — John!!!
— PUXE AS RÉDEAS! — gritou John, já distante.
Oh meu Deus! Me ajuda! Fiz o que ele mandou, mas Thunder
não obedecia. A cerca se aproximava, mas o cavalo não parava.
— Thunder! Para!!!
Puxei as rédeas ainda mais forte e ele parou bruscamente a
centímetros da cerca, me fazendo voar metros à frente. Cheguei ao
chão em um baque, sentindo uma forte dor nos joelhos e em meu
braço, rolando algumas vezes.
— SOFYA!!!
— Jesus!
Escutei outras vozes em minha direção. Meus ouvidos
estão zumbindo. Foi tudo muito rápido.
— Hey, hey! Sofy, você está bem?
Com cuidado, senti John me virar.
— Você parecia um avião levantando voo, garota. — Vi Ed
chegando, rindo.
— Cala a boca, Ed! — repreendeu John. — Fale alguma coisa,
Sofya, por favor?! Consegue se mexer?
Me movi com dificuldade, mas senti que estava tudo no lugar.
— Estou inteira. — Me ergui, tossindo com a poeira que
levantei.
— Não, eu te levo! — John, me impediu.
Ele me carregou no colo, em direção a casa. Levei minha mão
ao topo direito da minha testa, sentindo o sangue.
— Que merda — xinguei.
— Vamos cuidar disso, fique calma. Você está mesmo bem?
— Já tive machucados piores, John. Relaxa.
— O que aconteceu? — Olhei para frente e vi o
senhor Neeson vindo em nossa direção.
— Caí do cavalo — falei rindo.
John me levou até a varanda, me sentando em uma cadeira
fofa. Mag apareceu com um kit de primeiros socorros e gelo.
Estiquei meus joelhos e vi que eles também estão ralados e
sangrando. Depois de limpar os machucados e fazer os curativos,
agradeci Mag, já que eu parecia uma criança arteira novamente.
John se agachou, colocando as mãos em minha coxa, com um olhar
de cachorro molhado.
— Me desculpe, eu não deveria...
— Sem essa agora, John. Você não me obrigou a nada. Fui eu
quem quis subir no cavalo — disse. Escutamos passos e nos
viramos.
— Agora vão lá e peçam desculpas! — Josh carregava os
meninos pelas orelhas, os soltando quando se aproximaram.
Pobrezinhos. Eles estão com a mesma cara do tio.
— Me desculpe — disseram juntos.
— Awn, não precisam se desculpar — falei, me aproximando
deles. — Isso daqui não foi nada! Afinal, o que vocês estavam
carregando?
Eles se entreolharam, em dúvida se me contavam ou não.
Samuel, o mais velho, tirou um pequeno lagarto do bolso, deixando
o pai e o tio aflitos.
— Isso é um lagarto? — perguntei, e ele apenas acenou. —
Posso pegar ele um pouco?
— O que? — Josh e John exclamaram ao mesmo tempo.
— Mas você não tem medo? — perguntou Samuel.
— A mamãe morre de medo deles — disse Benjamin,
desconfiado.
— Não é o meu bicho preferido, mas até os acho fofos. —
Peguei o bichinho da sua mão. — Mas vocês sabem que ele deve
ficar na casa dele, não é?
— E onde é a casa dele? — Perguntaram os dois, curiosos.
Devolvi o bichinho para Samuel e me levantei, ainda sentindo
meus joelhos arderem. John veio em minha direção para me ajudar,
mas levantei minha mão, o impedindo.
— Vem, eu mostro para vocês!
— Legal! — exclamou Samuel, correndo na frente.
Estendi minha mão para o pequeno Benjamin, que a pegou
sem cerimônia. Caminhamos em direção à vegetação próxima a
grande casa, onde eu os chamei para próximo de mim.
— A casa dele é aqui, na natureza.
— Mas como ele come? — perguntou Benjamin.
— Há vários insetos por aqui. E é isso que ele come.
— Ew! — reclamou, me fazendo rir.
Samuel colocou o bichinho nos arbustos. Nos viramos para
voltar a casa e vi que John estava nos observando.
— Tio John! Lagartos comem insetos!
— Nojento! — exclamou Benjamin, nos fazendo rir.
— Sim! Legal né? Agora vamos, o almoço está pronto.
— Eba! — disseram juntos e saíram correndo.
— Eles são ótimas crianças! — falei.
— Quando não aprontam.
— Eles são crianças, John! Precisam disso.
— Sim, verdade. Samy e Ben são ótimos mesmo... e você é
ótima com crianças.
— Ah, eu gosto delas. Vá ao orfanato comigo um dia e você
verá o porquê.
— Combinado! — Caminhamos de volta para a grande casa.
— Está doendo?
— Incomodando é a palavra certa, mas eu aguento.
— Eu sei que aguenta — sorriu ele, me olhando, e fiz o
mesmo. — Vamos comer!
— Ah sim, por favor!

Eu estava me arrumando para o jantar, já que todo jantar aqui


não é um simples jantar. Coloquei um vestido na cor creme soltinho,
com pregas na saia, dando-lhe circunferência, e por cima um
cardigan azul marinho. Decidi não usar saltos e coloquei uma flat da
mesma cor do vestido, também fiz um topete com a minha franja
longa, a prendendo atrás da cabeça. Menos é mais hoje, e já que
Miranda já não vai com a minha cara mesmo, nada que eu
fizer daqui para frente vai mudar sua opinião. E, na verdade, eu
também não estou disposta a tentar, então que se dane. Saí do
quarto e dei de cara com Ed.
— Uau! Você está uma gata!
— Obrigada Ed!
— Está mesmo — ouvi John atrás de mim, fazendo-me virar e
encará-lo.
— Você não está nada mal também! — falei.
Ele está vestindo uma calça jeans e uma camisa preta. Seu
perfume me atingiu em cheio, quase arrancando minha calcinha.
— Vamos?
Descemos a grande escada conversando alegremente, indo
em direção à sala de jantar. Ao chegarmos, notei que havia mais
pessoas, nas quais eu não conheço. E as que eu conhecia, estão
estranhamente tensas. O que aconteceu?
— John! — exclamou a loira, linda e alta, parecendo uma
perfeita Barbie Malibu, indo na direção dele.
Olhei para John e parecia que ele tinha visto um fantasma.
— Jenna?!
Espera aí? Ela é a Jenna? A ex? Minha boca queria se abrir,
pasma. Olhei do outro lado da sala e vi o sorriso de satisfação de
Miranda ao ver os dois se abraçando em um cumprimento. Uau...
isso está ficando mais interessante que novela mexicana!
Os homens dessa família têm um tipo de padrão de beleza
para arrumar mulher, só pode! Altas, loiras, cabelos compridos,
lindas de morrer, olhos claros e ricas. Miranda teve sua fase de
cabelão entre as décadas de 1960 e 1970. Evangeline sempre usou
seu cabelo assim, porém, agora o completava com uma franja curta,
a deixando ainda mais jovial. Não me lembro ao certo, mas ela tem
cerca de trinta anos de idade e é uma das herdeiras de um
importante legado hoteleiro. Queridinha da América há alguns anos
atrás, Evangeline sempre estampou capas de revistas, e, quando
deixou sua fase “adolescente festeira” para lá, começou a frequentar
festas do porte de sua família, fina e requintada, e acho que foi
assim que ela conheceu Josh. Tinha conversado pouco com ela,
mas ela é um doce, para o meu espanto, já que é um “cachorrinho
de estimação” para Miranda... aonde ela vai, Evangeline vai atrás.
Ah, sim, não vamos esquecer da Barbie Malibu, que está
sentada à minha frente na mesa de jantar. Jenna Houston é tão
linda quanto o sol. Quando a própria Miranda nos apresentou —
revelando até o que não perguntei, ou o que, para mim, não é
necessário —, soube que seu pai é um importante advogado, no
qual a família sempre foi bem próxima à família de Miranda. Sem
esquecer, também, de que fui informada que ela e John começaram
a faculdade de Direito juntos, onde começaram a namorar, para o
orgulho de ambos os pais. Jenna se formou, porém, não exerceu a
função, pois decidiu montar sua própria confecção de moda, e sim,
com a ajuda de ninguém menos que Miranda. A Houston Boutique
era famosa entre a classe milionária da costa leste, confeccionando
roupas de alta costura e moda praia — moda praia para as pessoas
ricas dos Hamptons, em minha opinião —, e hoje ela é uma
importante empresária, e muito bem sucedida.
Enfim... uma nora perfeita para uma sogra “perfeita”, pfff. Que
vontade de vomitar. Eu entendi de cara o plano de Miranda: trazer a
garota do gueto do Brooklyn em mim ao ver a ex do “amigo” para,
assim, provar que ela sempre esteve certa em relação a mim, ou
seja: que uma garota sem família e sem a devida orientação —
vulgo sustento — dos pais não é boa o suficiente para o filho mais
novo, dito um dos poderosos herdeiros Richards/Neeson. Eu posso
ser essa garota 70% do meu tempo... ok, 80% vai, mas o que ela irá
ver será a Sofya controlada e sofisticada, e ela viu um pouco dessa
Sofya quando me apresentou a Barbie Malibu, o que a deixou
surpresa, assim como a Barbie também. Ah sim, John também
esperava ver o contrário, mas seu queixo quase caiu quando me viu
papeando com a Barbie. Foi engraçado ver sua cara pálida para
mim. Eu me recuso a demonstrar inferioridade para essa mulher.
Mesmo eu não querendo nada sério com John, Miranda vai ver com
quem ela está mexendo, e que criação não faz o caráter de uma
pessoa.
— Então, Sofya, soube que trabalha na Glam Magazine, certo?
Claro que você soube. Jenna me olhava com atenção,
terminando seu café, no qual ela substituiu pela sobremesa, um
delicioso apfelstrudel [6] de maçã no qual eu atacava.
— Sim! Sou Editora Executiva da revista.
— Ah sim, vi algumas peças da Boutique serem publicadas na
edição deste mês. Confesso que não gostei muito do editorial, achei
as modelos um pouco acima do peso — disse, fazendo Miranda e
sua mãe, Grace Houston, que também é uma dondoca, rirem.
— Ah, essa nova moda, plus size, é deprimente! — falou
Grace.
— Completamente. A forma como as mulheres de hoje em dia
estão se portando é deprimente! Um exemplo disso é a sua amiga,
Evangeline, não somente ela, mas como toda a família Kardashian.
É ridículo ver uma mulher, com filhos, expor o corpo daquela
maneira — complementou Miranda.
Eu olhava para aquela roda de conversa completamente
indignada. Percebi John tenso ao meu lado, levando sua mão ao
rosto, visivelmente preocupado. Mas é claro que ele está
preocupado, ele já me conhece muito bem para saber que eu odeio
conversas machistas. Tal mãe, tal filho, não é mesmo?! Porém, pior
do que um homem machista, é uma mulher machista.
Principalmente uma mulher com o poder nas mãos para propagar
uma opinião completamente diferente desta que ela acabara de
dizer. Bom, eu tinha prometido usar os meus 20% de classe com
elas, mas resolvi deixar a matemática de lado.
— Eu não acho nem um pouco ridículo — falei.
O riso daquela panelinha cessou imediatamente e agora eu
tenho a atenção delas. John largou os talheres imediatamente e o
restante da mesa também me olhavam, atentos.
— Um homem quase nu em uma revista é visto como sexy,
mas uma mulher mostrando o seu corpo é tido como ofensivo? —
continuei.
Limpei minha boca com o guardanapo, dando uma pausa na
fala, já que eu precisaria me controlar.
— Ofensivo e vulgar! — ressaltou Miranda, me encarando.
— Miranda, por favor... — disse Leon, tentando apaziguar a
situação.
— Senhoras, estamos em pleno século vinte e um, o que as
mulheres fazem com seus corpos não diz respeito a ninguém.
Acolher a minoria, dito as mulheres plus size, faz parte da luta das
mulheres em nossa sociedade fechada e machista. E isso faz com
que mulheres ganhem mais espaço na sociedade e no mercado de
trabalho, conquistando seu espaço e sua independência. É triste ver
mulheres tentando colocar outras mulheres umas contra as outras,
isso não ajuda nada neste processo — cutuquei, já que esse era o
plano aqui.
Silêncio, era o que se instaurou na mesa neste momento. Ed
começou a bater palmas, sorrindo, atraindo a atenção de todos,
inclusive a minha. O vovô o acompanhou, também batendo palmas.
— Uhul! Todos merecem uma gordinha! — exclamou Ed,
levando o vovô a gargalhar.
Josh deu um pigarro de constrangimento.
— O que? Eu gosto de mulheres que tenham onde pegar!
— Já chega! — bradou Miranda, batendo na mesa.
Eu mexia no creme de minha sobremesa no prato, já sem
vontade de comê-lo. O clima estava visivelmente pesado.
— Eu não disse para vocês?! — sussurrou Miranda, em bom
tom, para aquelas duas dondocas.
— Mãe, já chega! — esbravejou John.
Aquela foi minha deixa para sair da mesa, já que não poderia
enfiar o que sobrou da minha sobremesa na cara daquela megera!
Calmamente, me retirei da mesa, indo em direção à cozinha.
— Sofya! — chamou John.
Entrando na cozinha, longe de todos os olhares, fui em
disparada para fora da casa, seguindo o caminho de pedras até o
lago e sentindo a brisa fria da noite bater em mim. Escutei vozes
alteradas dentro da casa, mas continuei correndo até o deck.
Percebi que John não me seguia e agradeci mentalmente por isso.
Chegando ao deck, me sentei no banco em frente ao lago, dando
um grande suspiro. O que eu estava fazendo aqui ainda?! Ainda
mais aturando aquela mulher. E olhe que eu nem namoro o filho
dela, imagina se namorasse! Ah meu Deus! Coloquei meu rosto
entre minhas mãos. Senti alguém se aproximando, e olhei para trás.
— Fique calma, minha querida — disse Mag ao meu lado, me
dando uma taça de vinho.
— Você leu minha mente, Mag! Obrigada — agradeci e peguei
a taça, tomando o conteúdo em um só gole.
— Oh… deveria ter trazido mais — riu a adorável senhora
ao sentar-se ao meu lado. — Querida, não ligue para isso. A
senhora Richards sempre foi assim.
— Eu e John somos apenas amigos, Mag. Eu não fiz nada
para aquela mulher! — falei, jogando as mãos para o alto.
— Sim, eu sei, mas não ligue para isso, pois é isso que elas
querem. Você é uma mulher corajosa! Haja como a tal. — Ela pegou
em meu queixo, o levantando. — Não abaixe a cabeça para elas.
Mag está certa, não posso dar esse gostinho a elas.
— Obrigada, Mag — sorri para ela.
Ouvimos mais alguém se aproximando e olhamos para trás.
Ed empurrava a cadeira de rodas do vovô, enquanto ele tinha em
seu colo uma caixa, que mais parecia um cooler. Ambos pararam
perto do local onde — eu acho — se fazem fogueiras, ali mesmo no
deck, no qual há um compartimento aberto em zinco, suspenso do
chão, para queimar lenha. Ed abriu o cooler e pegou duas garrafas
de bebida, erguendo cada uma em cada mão, me olhando e
sorrindo.
— Viemos salvar sua noite, My Lady. Por isso tive a grande
ideia… — Ele foi interrompido por um grande pigarro do vovô. —
Tudo bem, o velho Larry aqui teve a grande ideia de lhe trazer
algumas companhias — continuou ele, erguendo as garrafas, me
fazendo rir.
— Pare de falar e vá logo buscar a lenha, moleque —
resmungou o vovô.
— Infelizmente, não vou poder me juntar a vocês. Tenham uma
ótima e divertida noite — disse Mag, ao se levantar e voltar à grande
casa.
Miranda havia me dado muitos motivos para ir embora daqui
nesta noite, porém, Mag, Ed e vovô me deram mil motivos a mais
para continuar aqui, e um deles foi a alegria de suas cias,
que poderia contagiar qualquer um.

A lenha queimava formando uma linda fogueira, nos


aquecendo na fria noite. Eu estava quase terminando uma garrafa
de vinho enquanto estávamos na beira da fogueira, conversando
alegremente. Eu não sabia qual seria o meu futuro com John, mas o
que eu sei neste momento é que vovô e Ed são pessoas nas quais
eu quero levar para a vida toda. John sempre fala do avô com
orgulho, enchendo a boca para falar de seus feitos e do homem que
o avô é, e agora tive a oportunidade de confirmar suas palavras.
Larry Willian Mullen Neeson é um homem de fibra, que abandonou o
império têxtil da família em Dublin para vir à América no final dos
anos 1940. Tornou-se um policial e, depois disso, um renomado
Agente do FBI, no qual até hoje é reconhecido por prender e
desmembrar parte da máfia italiana em Nova York. Como John
mesmo diz, “o cara é uma lenda!”.
— Pare de tocar essa porcaria que você chama de música e
toque algo que preste! — resmungou o vovô para Ed, que tocava
seu violão.
— Pare de reclamar, velhote! — revidou Ed.
— É por isso que você ainda está solteiro. Você espanta todas
as mulheres com esse seu jeito estranho!
Aquela era outra discussão, das várias que os dois tiveram
nessa noite. É como um show, ao qual eu estou adorando ver e me
divertir.
— Isso é estilo!
— Sei. Não se fazem mais moleques como antigamente.
— Tudo bem, tudo bem. Vou tocar uma música dos nossos
conterrâneos. Com certeza você conhece essa, Sosô.
Esse foi o apelido que Ed, que já está bem alegre, me dera
esta noite.
— Manda! — respondi.
Com a inconfundível melodia de I Still Haven't Found What I'm
Looking For, do U2, Ed começou a tocar seu violão, e cantando
lindamente. Eu, que também já estou “bem alegre”, abracei a
garrafa de vinho, fazendo cara de choro.
— Oh meu Deus, eu amo essa música! — falei melosa,
chorosamente.
— Finalmente acertou uma, rapaz. Sofya, você me dá à
honra?! — disse o vovô, levantando-se da cadeira de rodas, para o
meu desespero e para o desespero de Ed, que parou de tocar
imediatamente.
— O que você está fazendo, tio Larry? — questionou Ed,
chegando ao vovô no mesmo tempo que eu.
— Senhor Larry...
— Ah, por favor! Parem de me tratar como um velho inválido.
Eu consigo andar perfeitamente!
— Mas o médico disse... — começou Ed, mas logo foi
interrompido por ele.
— Ah, que se dane aquele médico! Agora volte a tocar —
resmungou ele, apontando para Ed e, logo depois, virando-se para
mim, me olhando, — E você, nada de senhor. Até vovô é melhor
que isso. Vamos dançar agora!
Este autoritarismo é de família mesmo. Olhei para Ed, que
também me olhava em dúvida, mas fiz o que ele me pediu. Vovô
caminhou alguns passos, sem dificuldade alguma, segurou a minha
mão e, em seguida, envolveu minha cintura para dançarmos.
— Vamos logo com isso, moleque!
Eu e Ed rimos. Ed voltou a se sentar e começou a tocar
novamente. E, lentamente, eu e vovô dançamos, perfeitamente.
— Oh, minha querida, não ligue para Miranda e sua gangue de
dondocas metidas — falou, me olhando atentamente e fazendo-me
rir.
— Não vou, vovô. Estou bem.
— Ah sim, eu sei que está, é uma garota muito forte! Você me
lembra a minha doce Ally. — Deu um grande suspiro. — Ela era tão
corajosa e forte... além de teimosa e incrivelmente bonita, assim
como você — continuou ele, me fazendo corar e rir.
— Eu tinha dezenove anos quando a conheci, estava sozinho,
comendo na grande cozinha da fábrica do meu pai, quando percebi
um barulho na dispensa. Naquela hora eu pensei, “finalmente eu irei
botar as mãos nesse ladrão de comida miserável”. E, então,
devagar, eu fui até lá e agarrei o ladrão por trás, que estava com
uma boa quantidade de pães nas mãos. Nós rolamos pelo chão da
dispensa, enquanto eu tentava segurar aquele ladrão, que era muito
forte para uma pessoa daquele tamanhico, até que o prendi no chão
e meus olhos encontraram aquele belo par de olhos castanhos
profundos. Dali em diante tive certeza de que aquela garota seria
minha, para sempre.
Droga, por que eu fui beber tanto? Com essa música ao fundo
e com essa linda história eu acabaria chorando. Sim, eu também
choro, ok? Continuei olhando atentamente o vovô, prestando
atenção em sua história.
— Mas não foi tão fácil assim. Você deve saber que foi difícil
viver na Irlanda com a constante batalha do IRA[7] contra os
soldados britânicos, que queriam anexar toda a Irlanda ao Reino
Unido, separando os católicos, separatistas do IRA, e os
protestantes, que eram a maioria na capital, a elite de Dublin, na
qual minha família fazia parte. Allyson era pobre, católica e sua
única família era uma tia, que se prostituía para sustentar as duas.
Claro que minha família, protestante e contra o separatismo, foi
contra nosso romance. Um herdeiro de um império têxtil como eu
não poderia ficar com uma “terrorista católica sem família” como
dizia minha mãe. Entenda que, naquela época, era completamente
proibido protestantes e católicos serem vistos juntos, pois quando
isso acontecia de fato, havia um verdadeiro banho de sangue. E,
bom, você já pode prever o que aconteceu, certo? — assenti, com a
cabeça, totalmente envolvida pela linda história.
— Você e Allyson fugiram — falei em um sussurro, o fazendo
sorrir.
— Ah sim... nós estávamos correndo um grande perigo,
principalmente ela, pois estava na mira dos soldados britânicos, já
que minha mãe, ao ver que não iria conseguir me separar de
Allyson, a denunciou, por isso não tive mais dúvidas. Meu pai estava
doente, prestes a morrer, e meu irmão mais velho pronto para
assumir o comando da fábrica sob os “cuidados” da minha mãe, que
me queria como o braço direito do meu irmão. Mas, com a ajuda de
Adam, meu irmão, que Deus o tenha, eu e Ally embarcamos no
primeiro navio do dia para Nova York, levando apenas alguns
pertences e o dinheiro que roubei da minha mãe, que acabou me
deserdando quando soube de nossa fuga. Ahhh — disse ele, me
abraçando, tendo um momento nostálgico. — Começamos nossa
nova vida ali, naquele navio, onde ela me contou que estava grávida
de Leon. Quando chegamos aqui, na América, a arrastei para uma
igreja e me casei com ela, sendo um homem, que rezava por lá,
nossa única testemunha perante Deus e o pastor, que achou aquilo
uma loucura — rimos, e ele continuou. — Construímos aos poucos
nossa vida aqui e fomos muito felizes, criando nosso Leon e levando
uma vida normal... até que ela se foi um dia, e eu senti meu mundo
morrer junto com ela.
Ele se afastou um pouco de mim, voltando a me olhar.
— Ela era tudo na minha vida. Leon tinha apenas doze anos
quando ela se foi, então, por ela, tentei criá-lo da melhor maneira
possível.
Não chora, Sofya, não chora… ai. Engoli as lágrimas a seco,
ainda olhando para ele, que tinha os olhos marejados.
— Eu sou um velho bobo por lhe contar isso, minha jovem.
— Ah, vovô, por favor, não diga isso! — Voltei a abraçá-lo,
fechando meus olhos.
— O pouco que vi de você já foi o suficiente para me lembrar
dela, pois, assim como Ally, você não leva desaforo para casa,
menina — falou, nos fazendo rir.
Ele se afastou um pouco, pegando meu rosto entre suas mãos,
me fazendo encará-lo.
— Ainda assim, você também tem um coração enorme, não se
esqueça disso e não deixe que lhe digam o contrário.
Assenti, voltando a dar um abraço apertado nele. Atrás do
vovô, vi que John nos observava, com um leve sorriso torto no rosto,
enquanto seu pai pegava uma cerveja na caixa.
— Agora que Sofya já sabe dessa história, vamos voltar para
dentro, pai. Já está tarde — falou Leon, nos fazendo parar de
dançar.
Percebi só agora que a música havia parado.
— Eu te ajudo vovô — disse John, me ajudando a levá-lo até
sua cadeira, e o sentando lá.
Me abaixei, dando um beijo em sua testa e logo depois
pegando sua mão, enquanto ele me olhava sorrindo.
— Muito obrigada pela noite maravilhosa vovô — sussurrei
para ele.
Ele pegou minha mão, a beijando e me olhando, logo em
seguida.
— Eu que agradeço, minha querida. Boa noite — despediu-se,
assim como Leon, que o levava para dentro. — É assim que se
conquista uma garota, seu moleque bundão! — gritou ele para Ed,
nos fazendo rir.
— Você é um velho maluco, sabia!? — gritou Ed de volta. —
Foi por causa dessa aventura romântica que eu acabei virando dono
daquela maldita fábrica. Droga! — sussurrou Ed, olhando para a
fogueira com uma cara estranha. — Obrigado por isso também, titio!
— gritou mais uma vez.
— Ed, fique quieto e volte a tocar algo — falou John, fazendo-
me olhá-lo enquanto me puxava para si, enlaçando minha cintura
com uma mão e com a outra pegando minha mão.
— Ah, que ótimo! Virei músico de bar agora — resmungou,
voltando a tocar, e eu acho que era Surround Me With Your Love, do
3-11 Porter.
Olhei para John, um pouco envergonhada e sorrindo
timidamente, encontrando o seu olhar focado no meu. Começamos
a dançar lentamente, até que ele, finalmente, depois de abrir a boca
algumas vezes, disse algo.
— Aquilo não vai acontecer de novo — disse ele, sério.
Meu sorriso havia ido embora nessa hora. Eu estava tendo
uma noite agradável até o momento e não queria estragá-la
lembrando daquilo novamente.
— John...
— Não Sofy, aquilo foi inaceitável. Eu falei com a minha mãe,
assim como meu pai.
O olhei, arregalando os olhos com o que ele havia me dito há
pouco.
— Você o que? John, não havia necessidade de fazer isso!
Agora ela realmente vai acreditar que temos algo sério.
— Isso não vem ao caso, Sofya. Ela precisa entender que o
mundo não gira ao redor dela. — Deu um grande suspiro, voltando
seu olhar para o lago. — Me desculpe por aquilo.
— Shh — virei sua cabeça para que me encarasse. — Não se
desculpe... se não fosse aquilo eu não teria uma noite maravilhosa
como essa — falei, o fazendo sorrir.
Ele se aproximou de meus lábios, o tomando num beijo suave,
no qual me fez flutuar. Voltei ao chão quando escutei um pigarro e a
música parar, encerrando nosso beijo. Olhamos para Ed, que deu
um grande gole em sua Guinness, nos olhando, visivelmente
incomodado.
— Olha, eu não estou a fim de ficar como vela aqui, então vou
tocar algo mais animado — falou Ed, e começou a tocar Crazy little
thing called Love, do Queen.
John e eu começamos a dançar animadamente, no ritmo dos
anos 50, e ele quase me matou de rir com seus passos de danças
atrapalhados. Nós três bebemos até altas horas da madrugada, nos
divertindo, conversando, dançando e tocando. Ed parou de tocar
para que nós dois pudéssemos dançar um pouco. Mesmo John
sabendo tocar um pouco de violão, parecia um pouco bêbado —
além da conta — para acertar os acordes, fazendo Ed e eu
gargalhar. Ainda assim, tentamos dançar e no final da música, dei
um selinho em Ed — por dó de sua fama de azarado em relação a
mulheres —, que riu e, logo depois, ergueu as mãos e cabeça para
o céu. Não vi quando John chegou do nosso lado, pegando o pobre
coitado e o jogando no lago gelado, sem nenhuma dificuldade. Olhei
a cena em choque, arregalando os olhos e cobrindo a boca com as
mãos.
— Ah, puta que pariu! Isso é frio! Seu grande filho da mãe! —
gritou Ed, ao emergir da água.
Olhei para John, que me olhava com uma cara não muito boa.
Como eu não sou boba, dei alguns passos para trás para não ser a
próxima.
— Você está bêbado e precisava de um banho frio para
abaixar os ânimos, seu irlandês safado — falou John, enquanto Ed
saia da água.
Comecei a rir, igual a uma idiota.
— E você, não pense que escapou! — continuou ele,
apontando o dedo para mim.
Sem esperar para ver o que iria acontecer, tentei correr o
máximo que pude em direção a casa, tentando não tropeçar nos
meus próprios pés de tão bêbada que estou agora. Por sorte, John
também estava bêbado e, ao se aproximar de mim, tropeçou no
degrau da entrada da cozinha, caindo no chão, me fazendo encostar
no batente da porta de tanto rir.
— Oh meu Deus, eu vou fazer xixi nas calças. — falei,
segurando o meio das minhas pernas, me arqueando para frente,
gargalhando e tentando não fazer isso ao vê-lo tentar se levantar
com muita dificuldade. Percebi que ele também ria agora.
— Vem aqui agora! — exclamou, finalmente ficando de pé.
Voltei a correr, entrando na casa.
Quando cheguei no meio das escadas ele me alcançou, se
agarrando em mim de maneira desengonçada. Perdi o equilíbrio e
caímos, fazendo com que nós dois rolássemos escada a baixo. Ele
caiu por cima de mim, enquanto meu ataque de riso continuava e o
dele apenas começava, rindo em meu ombro.
— Shhh — fez ele, cobrindo minha boca com a mão, rindo
baixo. — Vamos acordar todo mundo assim — sussurrou.
Meu riso começou a cessar, assim como o dele. Ele me olhava
intensamente com aquele brilho no olhar, o qual eu adorava.
Naquele momento de loucura, tive a certeza que meus olhos
brilhavam ainda mais. Ele se aproximou mais de mim e nos
beijamos, num beijo urgente, como se precisássemos daquilo, aqui
e agora. Escutamos um barulho na cozinha, e paramos o beijo na
hora. Rapidamente, o tirei de cima de mim, o olhando. Voltei a rir,
correndo as escadas, tropeçando em alguns degraus. Escutei John
logo atrás de mim e quando estava chegando em meu quarto, ele
me alcançou novamente, virando-me para ele e prensando-me na
porta. Seu olhar de predador não escondia suas reais intenções. Me
erguendo do chão, entrelacei minhas pernas em sua cintura
enquanto ele abria a porta, nos levando para dentro. Miranda bem
que tentou, mas ela não conseguiu de jeito nenhum estragar a
minha noite.
Acordei com uma coisa gigante me esmagando e tentei me
mexer, sem sucesso. Estou de bruços na cama e meus olhos
tentavam se abrir completamente, mas a luz do sol está tão forte
que quase me deixava cega. Meu Deus, o que está acontecendo?
Consegui mover meu braço para esfregar meus olhos e flashbacks
da noite passada me atingiram. Ah, sim, agora me lembro. Abri
meus olhos e percebi um braço musculoso do meu lado, e o peso
sob minhas costas só pode ser John. Comecei a resmungar e tentar
tirá-lo de cima de mim, o que é uma tarefa quase impossível, já que
ele é enorme e, quando bebe, vira uma pedra. Com dificuldade,
consegui virá-lo e agora respirava normalmente. Jesus, minha
cabeça está martelando, bebemos tanto ontem à noite. Sentei na
cama, analisando o ambiente. Oh meu Deus, o que aconteceu aqui?
Me mexi para sair da cama e aquela deliciosa dor entre minhas
pernas me atingiu em cheio, quase me fazendo cair quando fiquei
de pé. Ah sim, eu me lembro o motivo dessa dorzinha prazerosa e
dessa terrível bagunça no quarto. John e eu transamos como dois
animais nesta madrugada, tirando toda minha energia e, andando
pelo quarto, vi os estragos deixados por nós. Transamos pelo quarto
todo, deixando tapetes fora do lugar; a cadeira da pequena mesa,
que fica ao lado da porta da sacada, caída no chão; o vaso que
estava sob a mesa está quebrado no chão e as flores que estavam
dentro dele estão espalhadas pelo quarto; alguns quadros haviam
caído também; além de outros enfeites jogados pelo chão do quarto,
que eu nem sabia onde ficavam. Quando cheguei no banheiro, levei
minha mão à boca, pois ele também está deplorável! Minhas
maquiagens, cremes e afins estavam espalhados no chão, assim
como as toalhas.
Me olhei no espelho, espantada com meu estado. Que noite foi
essa, meu Deus do céu?! Eu espero que ninguém tenha ouvido os
sons que toda essa bagunça havia provocado, principalmente os
meus. Voltei para o quarto, desviando dos “obstáculos” e no
caminho peguei o relógio que estava jogado no chão, ao qual
marcava 8:05 da manhã. Eu estou podre. Ri pensando o quanto
seria legal aparecer assim, nesse estado, para o café da manhã
com Miranda. Já imagino até sua cara. John, como sempre, estava
esparramado na cama. Eu não me cansava daquela visão e, não
vou mentir que eu adoro acordar ao seu lado. Mesmo adorando vê-
lo dormir, precisávamos descer para tomar café com os outros,
então eu tenho que acordá-lo.
— Hey, Ursão?! — Me joguei em suas costas, ficando em cima
dele, e sussurrei em seu ouvido.
Eu estava apenas de calcinha e meus peitos roçaram suas
costas.
— Hum.
— Vamos acordar?
— Hum.
— John, precisamos descer para tomar o café da manhã com
sua família.
— Hum — resmungou novamente e mordisquei sua orelha
levemente. — Hum... peitos.
— Uhum, bom dia! — sussurrei em seu ouvido novamente,
com a minha melhor voz de safada.
— Você ainda vai me matar, garota — falou com a voz rouca,
me fazendo rir.
Consegui! Sai de cima dele e da cama, indo em direção ao
banheiro.
— Hey, onde pensa que vai? — resmungou, me puxando de
volta para a cama, onde eu caí, e ele veio para cima de mim.
— Me arrumar e descer. Já estamos atrasados.
— Então o que foi aquilo agora a pouco?
— Uma estratégia para acordá-lo rápido — ri.
— Ah, e agora você vai fugir? Já te falei para não me provocar
— sussurrou em meu pescoço, colando seu corpo no meu. Senti
sua ereção em minha virilha... é, realmente, eu não tinha nenhuma
chance de sair de lá ilesa.
— Hey, mas vai com calma — falei.
Ele me olhou, surpreso.
— Olhe ao redor — disse, respondendo ao seu olhar e assim
ele fez.
Ele ergueu as sobrancelhas, assobiando, surpreso.
— É, acho que pegamos pesado ontem — riu.
— E agora? O que nós vamos fazer? — perguntei.
Como vamos explicar isso? Ele me olhou, entortando aquele
sorriso levado.
— Como assim, o que nós vamos fazer? Destruir o resto, claro
— respondeu, me beijando em seguida.
Com um puxão, ele arrancou minha calcinha e lá vamos nós
de novo. Ele preencheu suas mãos com meus peitos e nosso beijo
ficou cada vez mais profundo, me fazendo gemer. Interrompendo o
beijo, ele ficou de joelhos na cama, abrindo minhas pernas.
— Hey, vai com calma aí também! — Ele me olhou, com um
olhar de diversão.
— Ah é, por quê? — perguntou, levando seu polegar ao meu
clitóris, o massageando e me fazendo gemer.
— Porque pegamos pesado, não é? — respondi, ofegante.
— Oh, sim. Me desculpe por isso. — Seu sorriso aumentou.
Ele é mesmo um grande cafajeste.
— Ah, mas você não está arrependido mesmo! Ahhh —
sussurrei, o fazendo rir, logo após gemi novamente quando ele
enfiou um dedo em mim, levemente.
— Não, não estou. Mas eu posso cuidar dela com carinho hoje
— falou, com aquela voz rouca e o olhar de predador.
Ele se abaixou, ficando de bruços na cama e colocando
minhas pernas em seus ombros, ficando com a cabeça entre elas.
Seu hálito quente perto da minha entrada me fez arquear as costas,
lhe dando mais abertura. Gemi quando senti sua língua trabalhando
nela e seus dedos massageando meu clitóris. Ah ele sabe muito
bem como agradar uma mulher! Eu amo essa boca! Ele a sugava e
a lambia, até que senti, novamente, seu dedo entrar em mim. Oh
Deus, eu irei enlouquecer com esse homem. Olhei para o relógio
que havia deixado na mesinha e eu não estava mais ligando para
todos lá embaixo, pois estava sendo bem cuidada aqui em cima.

Descemos para tomar café e somente Ed estava na mesa,


com cara de derrota. — Bom dia — cumprimentou John.
— Para quem? — revidou Ed, o fuzilando com os olhos, me
fazendo rir. — Bom dia, Sosô.
— Bom dia, Ed.
— Sosô? — perguntou John, enquanto sentávamos à mesa,
ficando de frente a Ed.
— Sosô de Sofya. Tão burro! — sussurrou Ed a última parte,
dando um grande gole em seu café.
John ainda está com o cenho franzido, porém não questionou
mais o pobre Ed.
— Noite difícil, Ed? Pelo menos dormiu molhadinho — brincou
John, rindo.
— Muito engraçado — falou Ed, sem emoção, para o primo. —
Melhor que a de vocês não foi, disso eu tenho certeza, pois eu ouvi
tudo.
Cuspi todo o café que estava em minha boca de volta na
xícara. MEU DEUS!
— Pelo visto sua mãe também ouviu. Acordou cedo,
reclamando para seu pai da bagunça de ontem e que não passaria
o dia aqui e blá blá blá...
— Oh meu Deus, que vergonha! — Cobri meu rosto com as
mãos.
— Espera aí. Você nos ouviu ontem? Quer dizer...
— Ah sim — respondeu Ed a John, rindo. — Mas não se
preocupem, pelo visto só foi eu mesmo, e, claro, sua mãe.
Ótimo. Isso é ótimo! Parabéns, Sofya, sua idiota!
— Droga! — exclamou John. — E onde estão os outros?
— Tio Leon está com o tio Larry na varanda. Josh, Evangeline
e as crianças foram para a casa dos pais dela em Los Angeles.
Somos só nós — respondeu, dando um sorriso cínico.
— Bom dia! — cumprimentou Mag ao entrar na sala de jantar.
— Quem precisa de Advil? — perguntou, e todos na mesa
levantaram a mão. — Foi o que eu pensei. Aproveitem o restante do
café da manhã, volto com os remédios já já! — disse, voltando para
a cozinha.
Conversamos sobre a loucura da noite passada, relembrando
os melhores momentos. Foi uma noite animada, na qual eu
nunca vou me esquecer, principalmente pelo fato de que
jamais vivenciei feriado algum com uma família de verdade. Quer
dizer, não que eu estou me achando parte da família, mas consegui
ver a importância de uma família entre eles, pelo menos na maioria
deles. John tem uma família linda e, no fundo, senti uma pequena
inveja de sua sorte, mas é claro que é uma inveja branca, pois eles
me acolheram como se eu fosse realmente da família.

Depois de ter um almoço maravilhoso sem a ilustre presença


de Miranda, e comermos iguais a porcos, John, Ed e eu,
estávamos deitados nas espreguiçadeiras à beira do lago. John
tirava um cochilo e eu e Ed conversávamos um pouco.
— Sério! Eu ainda tentei segurar o grande tear que pesava
toneladas, mas, claro, não consegui, então a máquina foi caindo,
levando todas as outras, gerando um efeito dominó — falou, me
fazendo rir ao contar o que uma brincadeira de criança com os
amigos causou na fábrica do pai. — Eu olhei a cena pensando nas
diversas maneiras em que meu pai me mataria, mas aquilo só me
rendeu uma surra e alguns meses de castigo.
— Só? — ri ironicamente.
— Ah sim, dei um prejuízo de milhões de euros para meu pai,
e se eu não morri aquele dia, eu, provavelmente, não morro nunca
mais — disse, me fazendo rir. — Pois é, como um destruidor da
fábrica dele irá se tornar o dono dela? — sussurrou ele, olhando o
lago e o sol que estava indo embora, pensativo.
— Você vai se sair bem, Ed — tentei tranquilizá-lo.
— Será mesmo? Até outro dia, minhas únicas preocupações
eram colocar minhas séries em dia, e agora, de um dia para o outro,
terei que cuidar do legado da família — desabafou.
— Hey. Você não precisa fazer isso sozinho. Quer dizer, tenho
certeza que, pelo pouco que conheço de sua família, eles não vão
deixar isso explodir somente em suas mãos — falei, me sentando
na espreguiçadeira para olhá-lo. — E o que você precisar para
seguir em frente neste novo desafio, eles vão te ajudar, tenho
certeza disso. Ah sim, e eu também estarei aqui se precisar. — Ele
me olhou, sorrindo.
— John tem muita sorte de ter você — sussurrou ele. Olhei
para John, que ainda cochilava.
— Eu sei, sou muito boa amiga.
— Ah qual é, Sosô. Vocês já passaram deste estágio de
amigos há algum tempo. — Revirei os olhos.
— Você também não, Ed! — Ele apenas levantou as mãos em
um sinal de paz.
Pensei desesperadamente em outro assunto e, então, olhei
para John e tive uma ideia genial.
— Hey, quer se vingar pelo banho de ontem? — sussurrei.
Ele me olhou com curiosidade e sorriu, respondendo minha
pergunta.
— Tudo bem, mantenha ele assim. Já volto! — ri e saí
apressada para dentro.
Quando peguei o que precisava pegar de lá de dentro, me
aproximei de John, me ajoelhando ao seu lado. Com muito cuidado,
fiz o que precisava com seu lindo rosto sem acordá-lo. Eu estava
me segurando para não gargalhar, assim como Ed. Me levantei,
recolhi minhas coisas, e peguei Ed pelo braço, saindo apressada
dali.
— Vem logo, vamos sair daqui antes que ele acorde —
sussurrei.
— Ele vai pirar! — falou, rindo.

Era finalzinho de tarde e eu estava com Ed e Leon em um


campo aberto. O senhor Neeson estava praticando tiro ao alvo com
latinhas posicionadas na cerca branca um pouco longe de nós.
Perguntei se ele poderia me ensinar e o sorriso que ele me deu
como resposta me fez sorrir também.
— Tudo bem, coloque uma perna para trás e não deixe seu
ombro tensionado. Relaxe — disse, me dando sua espingarda e um
óculos de proteção grande.
Fiz o que ele me ensinou e posicionei a arma da maneira como
ele havia me dito anteriormente.
— Isso, agora, está vendo estes dois pequenos pontos em
cima do cano?
— Sim.
— Você tem que mirar seu alvo entre estes dois pontos,
entendeu?
— Sim.
— Tudo bem, agora se endireite, mire e aperte o gatilho.
Fiz conforme ele instruiu, demorando alguns segundos para
focar em uma latinha na cerca. Isso! Assim que consegui, apertei o
gatilho, e quando fiz isso, a arma me deu um tranco para trás.
— Passou perto. Tente de novo.
A voz autoritária é de família mesmo. Mas que droga, ela
estava na mira!
— Mas ela estava na mira! — Apontei para a cerca.
Leon riu e veio para mais perto.
— Noob[8] — falou Ed, e eu o encarei com cara de má.
— Você será meu próximo alvo — retruquei, o fazendo rir e ir
mais para trás.
Leon veio me ajudar, me posicionando da maneira certa.
— Agora, esta é sua mira — falou, movendo meu braço.
Olhei entre os pontos e vi uma latinha. Ele tinha mesmo
acertado.
— Porém, está sentindo o vento?
— Sim.
— E para que lado ele está indo?
— Leste.
— Este é o segredo, Sofya. Então o que deve fazer?
Uh, isso é tão legal! Estou me sentindo uma Agente do FBI!
Mas o que eu tenho que fazer? Ah, sim. Vento a leste, então para
que eu acerte meu alvo eu preciso... posicionei a arma mais para
minha esquerda, e escutei o riso animado de Leon.
— Isso! Agora acerte aquela latinha, garota esperta!
Ele se afastou e eu atirei. Dessa vez me preparei mais para o
tranco e vi a bala acertar a lateral da latinha, a fazendo voar e cair
no chão!
— Consegui! — Pulei de alegria, tirando os óculos.
— Essa é a minha garota! — comemorou Leon, que ficou
surpreso quando eu o abracei.
— Eu adorei! — falei, logo depois de soltá-lo.
Ele sorria como se eu fosse sua filha aprendendo a atirar.
Escutei Ed rindo atrás de Leon, e vi que ele olhava para trás de
mim. Então, vi a cara de choque de Leon.
— Mas o que... — Leon começou a falar, me obrigando a olhar
para trás.
Oh meu Deus! Comecei a gargalhar instantaneamente,
colocando a mão na barriga.
— Qual é a graça? — perguntou John, vendo eu e Ed
gargalhando.
Leon não aguentou por muito tempo e também começou a rir.
— Oh meu Deus, sua mãe ficaria tão orgulhosa de você agora!
— debochou Ed, caindo na grama de tanto rir.
— O que? — perguntou John.
Vi Leon gesticular com as mãos para mostrar o que havia de
“errado” com John. Sem perder muito tempo, John pegou o seu
celular e sua cara de choque quando viu seu rosto me fez gargalhar
mais ainda. Não me leve a mal, mas havia tempos que eu estava
achando John muito machão para o meu gosto, então decidi mudar
aquilo com um pouco de maquiagem... tudo bem, muita maquiagem,
e ele havia ficado lindo com um batom vermelho, sombras azuis, um
blush rosa, que marcava muito bem suas bochechas, máscara nos
cílios e também fiz uma pintinha charmosa no canto de sua boca.
Ah, claro, me esqueci de mencionar uma “Maria-chiquinha” mal feita
em seu cabelo. Ele está parecendo uma cortesã do século XVIII. Eu
vou morrer de tanto rir hoje.
— Mas que porra… — John me olhou, me fuzilando com os
olhos e guardando seu celular no bolso, passando a mão no cabelo.
— SOFYA! — Meu riso desapareceu quando o vi vindo para cima de
mim.
Comecei a correr como se minha vida dependesse disso, e
quando percebi que ele estava perto eu entrei em pânico.
— Ahhh! Ed! — gritei para Ed, numa tentativa desesperada de
socorro.
— Corre, Forrest[9], corre! — respondeu ele, já longe. Argh!
Bela ideia Sofya, como sempre! Corre, Sofya, só mais um
pouco, já estamos no deck!
— Ahhh! — gritei quando John me pegou por trás.
Ok, ele me pegou, mas eu vou resistir até o último minuto! Eu
me remexia descontroladamente para sair de seu aperto, o que nos
fez cair no chão de madeira do deck. Tentei escapar, mas ele me
prendeu entre ele e o chão. Ia protestar até encará-lo novamente e
começar a gargalhar de novo.
— Ah, querida, você está linda! — falei rindo.
Ele ficou ainda mais furioso e, rapidamente, fui colocada sob
seu ombro e ele começou a me carregar.
— Você me paga — rosnou, me dando um grande tapa na
bunda.
— Ahhh! — gritei em resposta.
Vi que ele me carregava em direção ao lago... ah não.
— John! John, o que você vai fazer? — perguntei, mas ele não
me respondeu e estávamos cada vez mais perto do lago.
— JOHN! — gritei, me debatendo, sem sucesso. — Não ouse
fazer isso! John Neeson!
— Aproveite o banho.
— Ahhh! — gritei quando ele me jogou no lago e eu mergulhei
na água gelada e funda.
Puta que pariu, que gelo! Argh! Emergi da água, tomando uma
grande lufada de ar e tirando a água dos olhos. Vi John rindo à beira
do lago, com as mãos na cintura.
— Argh! — reclamei, batendo os braços na água.
— Espero que a água esteja fresca! — zombou, vendo meu
queixo tremer por conta da água gelada.
Atrás dele vi Ed se aproximando, ainda rindo. John o olhou,
rindo também, até Ed perceber o que ele iria fazer.
— Ah, não... não John, a ideia foi dela! — reclamou Ed, indo
para trás e logo depois tentando correr, sem sucesso, pois John
havia o pegado como me pegou antes.
— Covarde! — gritei para Ed.
— Na-na-não! JOHN, POR FAVOR! — Implorava Ed, nos
fazendo rir. — Ahhh! — berrou, quando John o arremessou no lago,
emergindo logo depois, xingando John.
Fui nadando em direção a Ed, lhe dando um caldo.
— Isso é por ser boca aberta! — falei quando ele voltou à
superfície em busca de ar, me fazendo rir.
John ainda mantinha a pose de machão, com as mãos na
cintura.
— E a mocinha, não vem? — perguntei, fazendo seu sorriso se
desmanchar.
— Muito engraçadinha. Agora saia daí, precisamos ir embo...!
Coloquei minhas mãos na boca, chocada, ao ver Leon
empurrando John no lago, que caiu na água, fazendo um grande
“splash”.
— Mas o que? PAI! — falou, indignado ao emergir da água.
— Você precisava de uma ajuda para tirar isso da cara. Agora
pare de choramingar! — Leon riu e me mandou uma piscadela. —
Divirtam-se, crianças! — Ele virou e voltou à grande casa.
Voltei a olhar para John, que ainda encarava o pai com raiva.
— Own... sua maquiagem está toda borrada, querida! —
choraminguei com um biquinho, o zoando e fazendo Ed rir.
Ele voltou a me olhar, puto da vida.
— Vem aqui — ele disse, pulando em mim para me dar um
caldo.
Ficamos ali por mais cinco minutos e John quase nos afogou
com suas brincadeirinhas, porém, Ed e eu continuamos firmes na
nossa zoação. Ahhh... que tarde deliciosa!

— Como assim você não gosta de Bon Jovi? — perguntei


incrédula.
— Não gostando! — respondeu rindo.
— Pfff! Que decepção! — disse, o fazendo rir ainda mais e
voltei a olhar a noite pela minha janela.
Estávamos na estrada há quase duas horas, voltando para
casa. Mesmo com todos os problemas — e quando digo problemas
quero dizer Miranda — eu tinha adorado meu feriado com John e o
restante de sua família. Ao me despedir deles, Leon deixou claro
para mim, e para John, que eu sempre serei bem vinda ali e em
qualquer casa da sua família. Vovô disse-me o mesmo e logo depois
me deu um longo abraço apertado. Ed, sempre palhaço, disse que
sempre me ligaria em busca de dicas com as mulheres. Eu havia
me encantado por eles! Graças a John, eu conheci pessoas
maravilhosas.
— Obrigada — falei, olhando para a estrada à frente.
Senti os olhos dele em mim.
— Pelo quê?
— Por não ter me deixado ir embora quando quis — sussurrei,
o olhando. — Eu tive um feriado maravilhoso — continuei, e ele
sorriu para mim, com os olhos brilhando.
— Não há o que agradecer. Fiquei feliz em não deixá-la ir
embora. — Ele pegou minha mão e a beijou, e em seguida voltou
sua atenção para a estrada.
Tirei meu cinto de segurança e fiquei de joelhos no banco,
pegando seu rosto entre minhas mãos e o beijando, até chegar em
seu pescoço.
— O que você está fazendo? — perguntou, enquanto minha
mão massageava seu membro por cima de sua calça, o fazendo
ficar duro instantaneamente.
— O que você acha? — sussurrei em seu ouvido.
Minhas mãos foram para seu cinto, o tirando, logo depois
abrindo o zíper de sua calça e finalmente seu pau estava em minha
mão. Comecei a mordiscar sua orelha enquanto o masturbava
também. Senti a velocidade do carro aumentar, me excitando ainda
mais. Me abaixei e abocanhei seu membro, o fazendo grunhir. O
coloquei por inteiro em minha boca, alcançando minha garganta.
— Isso, engole todo ele — rosnou e assim eu fiz, o fazendo
grunhir mais.
O chupava com vontade, o lambendo e o sugando, enquanto
minha mão o masturbava cada vez mais forte e ele pisava cada vez
mais no acelerador. Comecei a aumentar o ritmo e percebi que ele
estava quase lá. Senti sua mão, que estava no câmbio, ir para o
meu cabelo, o agarrando com força.
— Puta que pariu, Sofya! — Continuei cada vez mais rápido e
melhor. — Eu vou gozar! — rosnou, jorrando seu gozo pela minha
garganta, grunhindo como um animal feroz. Engoli tudo, lambendo
até a última gota. Senti a velocidade da picape diminuir e John
desacelerar sua respiração.
Voltei a me sentar no banco, ajeitando meu cabelo enquanto
ele se recompunha no banco e senti que me encarava, me fazendo
olhá-lo.
— Que foi? — perguntei, sorrindo.
— Você é impossível, garota — riu ele.
Eu apenas sorri em resposta. É, assim era a nossa relação,
entre tapas e beijos, pois fomos para aquela fazenda quase nos
matando, e agora, estávamos votando mais que bem, ainda mais
depois desse boquete maravilhoso.
— Bom dia John! Preston está te esperando na sala 3.
— Bom dia, Dora. Obrigado — respondi, dando um grande
gole em meu café.
O dia mal começou e eu já teria que forçar bandidos a falarem
coisas que nem sempre eles estavam dispostos falar, e isso,
geralmente, leva o dia todo, porém era necessário, já que o cerco à
quadrilha de Hernandez está se fechando cada vez mais. Entrei na
sala e Mark observava a parede de espelho, onde do outro lado
Preston interrogava o suspeito.
— O pegamos ontem, no Queens. Ele é sócio de uma boate
que mantinha negócios com Hernandez. Jones e eu ficamos de olho
nele na semana passada, assim como estamos fazendo em outras
boates de Nova York, e ele foi o primeiro que suspeitamos, pois só
no final de semana passado três pessoas tiveram overdose em sua
boate.
— E o que temos até agora? — perguntei, sem tirar os olhos
do suspeito.
— Ele não abriu o bico ainda.
— Nome?
— Leno Corleone, tem sessenta e quatro anos e nasceu em
Sicília, na Itália.
Olhei para Mark surpreso, e ele deu pequeno sorriso.
— Sim, o tio dele era O Corleone, aquele mesmo que seu avô,
em carne e osso, prendeu anos atrás.
Apoiei as mãos na mesa, olhando para ele, ainda sem
acreditar.
— Mas que merda é essa?!
— Pois é — disse Mark em resposta.
Preston saiu do interrogatório, entrando na sala em que eu e
Mark estávamos. O olhei, pedindo por respostas, mas ele apenas
deu de ombros.
— O cara não vai falar nada.
— Isso é o que vamos ver — falei, indo em direção à porta da
pequena sala do interrogatório.
— John, é melhor não. Vamos fazer isso por fora, de
certo você já sabe quem é essa gente e também sabe que eles
odeiam sua família.
Preston tentava, sem sucesso, me impedir de entrar lá, mas
ergui minha mão para que ele parasse com aquilo e, logo depois,
entrei na sala. Leno me olhou, dando um sorriso falso. Eu terei que
me controlar para não partir sua cara ao meio.
— Neeson. Eu deveria imaginar que você seria o policial mau
— debochou.
Sentei-me na cadeira em sua frente, cruzando meus braços
em meu peito, o encarando. Pode apostar que eu sou, seu
desgraçado.
— Como vai a família, Corleone?
— Bem. E a sua? Seu avô continua vivo?
— Sim, somos duros na queda.
Coloquei meus braços na mesa à frente, juntando minhas
mãos.
— Eu pensei que sua família tinha parado de infringir a lei, mas
vejo que estava errado. Meu avô acabou tanto com a raça de vocês
que estão apelando para traficantes de merda para manter os
negócios?
Vi sua mandíbula trincar e percebi que meu plano de provocá-
lo tinha dado certo. Esses italianos têm pavio curto.
— Você vai se arrepender!
— Vamos deixar as coisas mais claras aqui, Leno. Nós temos
provas o suficiente para te deixar uns cinco, sete anos atrás das
grades, mas... — Me levantei, subindo as mangas de minha camisa
e indo em sua direção, dando a volta na mesa. — Se você for
bonzinho, iremos ser bonzinhos com você também, o que acha?
— Eu acho que você deveria ir se foder junto com a sua família
de merda.
Ri, de nervoso, olhando para baixo, tentando digerir sua
resposta. Eu odeio mafiosos, principalmente quando eles se juntam
com narcotraficantes. Tão rápido quanto meu sorriso havia se
desfeito, voei nele, o pegando pela gola de sua camisa, o
levantando do chão e o encurralando entre mim e a parede.
— Resposta errada, e se eu fosse você falaria onde estão os
fornecedores de droga daquela espelunca que você chama de
boate, porque hoje eu realmente não estou para brincadeira —
rosnei e minha mão estava em seu pescoço agora, o deixando
vermelho e sem ar.
— John! — escutei Preston atrás de mim.
— Tu-t-tud... ok! — disse Leno com dificuldade, quase sem ar.
Assim que ele topou, o larguei, o que o fez cair no chão.
— Estou esperando — disse firmemente, cruzando meus
braços em meu peito.
Ele acabou soltando algumas informações, porém, não muito
relevantes para dar rumo às investigações, que estão sem nenhuma
pista de valor há algum tempo. Já estamos em agosto e eu
precisava de algo novo e grande para pegar aquele filho da puta do
Hernandez e acabar com sua quadrilha. Depois de trabalhar para ter
mais provas, decidi ir à academia para lutar, precisava descontar a
energia que vinha se acumulando nas últimas semanas. Estava me
preparando para subir no tatame para lutar com Jones enquanto
escutava Preston me encher o saco.
— É sério cara, já faz algum tempo que eu queria te falar isso,
ainda mais depois que você a convidou para passar o feriado com
sua família! — começou, enquanto eu tomava água da minha
garrafa. — E, cara, eu te conheço muito bem. Não é só o caso do
Hernandez que está te deixando pilhado desse jeito! O que está
deixando sua cabeça assim tem nome: Sofya!
Eu juro que estava tentando ignorá-lo, mas está impossível! O
fuzilei com o olhar e fui andando na direção de Jones, me
aquecendo. Dany deu o sinal para começarmos e eu me preparei,
fechando o cerco com Jones.
— Não fui eu quem a convidou. — falei.
— Pfff, uma coisa é certa, John, se você não quisesse que ela
fosse, teria arranjado uma desculpa na hora, coisa que você sempre
fez com as mulheres.
Avancei contra Jones pela direita, tentando um soco, mas ele
desviou e contra-atacou com um chute, acertando minha lateral
esquerda. Droga, foco, John!
— Eu e Shantell sabíamos que vocês iriam acabar na cama,
mas uma coisa nos surpreendeu.
Novamente fui para cima de Jones, acertando um soco em seu
estômago, que me deu vantagem para tentar derrubá-lo com uma
mata leão, e assim eu fiz, nos fazendo cair no tatame.
— O quê? — perguntei, quase sem ar, pressionando Jones
e prendendo minhas pernas na lateral do seu corpo para tentar
finalizá-lo.
— Os dois estão firmes e fortes, mas não se assumem.
Shantell me disse que Sofya tem os motivos doidos dela contra
relacionamento, mas você?! John, você nunca suportou mulheres
como Sofya!
Mas que droga! Essa falação de Preston me desconcentrou,
dando chances para Jones virar a luta, me prendendo de bruços
entre ele e o chão, puxando meu braço.
— Argh! — gritei.
— Isso é verdade — disse Jones, em cima de mim.
Rapidamente me virei, dando uma chave de pernas nele, e
uma chave de braço, prendendo seu pescoço embaixo do meu
braço.
— Você sempre gostou de ser o macho alfa, de garotas
obedientes, daquelas que quando você estalasse os dedos, elas
iam correndo atrás de você. Quer dizer, Sofya não é assim, Sofya é
A alfa — debochou, fazendo Dany e Jones rirem.
Novamente, depois de me descuidar, Jones me virou, me
dando um mata leão.
— Além de adorar fazer joguinhos com as mulheres,
claro. Mas não rolou com a Sofya, pois ela é exatamente igual a
você neste aspecto.
— Cala a boca, Preston — falei, quase sem ar, até que Dany
deu o sinal para parar, já sabendo que eu não iria bater no chão.
Fiquei no chão, recuperando o fôlego. Jones se levantou,
dando-me um tapinha no ombro.
— É melhor aceitar os fatos — Jones falou, dando-me uma
piscadela.
Me sentei e percebi que Preston ainda me olhava, com um
sorriso. Eu queria matá-lo.
— Você está apaixonado — Preston complementou.
Olhei para o lado, incrédulo, e me levantei, indo em direção ao
saco de pancadas antes que eu transformasse Preston em um.
Coloquei minhas luvas e comecei a socar o saco com todas as
forças.
— Eu sabia! — exclamou ele.
Parei com meus socos, abrindo os braços e encarando ele.
INACREDITÁVEL!
— Preston, cala a boca! Para de falar besteiras!
Ele riu, erguendo as mãos em sinal de paz. Voltei a dar socos
e chutes no saco, com toda a minha força.
— Tudo bem, mas como seu amigo eu tenho que dizer —
falou, ficando mais próximo de mim. — Se você fingir que esse
sentimento não existe, ele vai te sufocar por completo algum dia. E
aí já pode ser tarde demais.
Eu estava um turbilhão, e aquilo me acertou em cheio. Reuni
todas as minhas forças — junto a minha raiva e frustração — e dei
um grande soco no saco, o fazendo rasgar com a força do impacto e
cair no chão. Ofegante, fiquei observando a areia do saco no chão,
enquanto Preston se aproximava ainda mais.
— Fica frio, cara. Vai para casa — falou, pegando em meu
ombro, e logo depois indo em direção ao vestiário.
As palavras de Preston não deixavam minha mente. Tentei
malhar por mais algum tempo, mas não tinha mais cabeça para
isso, preciso ir para casa e relaxar. Fui pegar minhas coisas em meu
armário e passei em frente ao espaço de dança, para ver se ela
estava lá, mas não está. Eu adorava vê-la dançar... tinha vezes que
eu vinha para cá só para ficar observando ela dançar. Ver seu corpo
suado, suas curvas balançando, os movimentos sensuais que ela
fazia... mas que droga de mulher! Peguei minhas coisas e saí.
Esperava que um pouco da brisa da noite esfriasse minha cabeça e
tirasse esses pensamentos de minha mente.

Depois de tomar um longo banho e tentar, sem sucesso, não


pensar neste longo dia — e em um certo alguém — me joguei na
poltrona com um copo de whisky na mão e liguei o som, que está
conectado ao iPod. Sério? Mas que merda, até isso? Olhei para o
som, desacreditado que a primeira música que o shuffle selecionou
foi Anybody Seen My Baby?, dos Rolling Stones. Eu desisto! Essa
garota vai me matar! Seria verdade tudo aquilo que Preston havia
me dito? Sim, eu gosto de Sofya, mas eu não posso estar
apaixonado por ela. Desde que voltamos da fazenda, o clima entre
nós só havia melhorado, quer dizer... de vez em quando a gente
brigava — e eu tinha vontade de esganá-la — mas isso ficou tão
normal para nós. Amigos de verdade brigam, certo? Então não
poderia ser verdade. Preston não está certo.
Diferente dos outros dias, vim direto para o meu apartamento e
não para o dela. Além do assunto “Sofya” predominando meus
pensamentos, não tinha como eu deixar de lado o rumo do caso de
Hernandez, que vinha me preocupando novamente. Então, eu estou
com muito na cabeça para poder vê-la hoje, por mais que todo o
meu corpo e mente peça por ela agora. Eu estava acostumado a
lidar com meus problemas sozinhos, me isolando de tudo e de
todos, pois era assim que eu me sentia seguro e confortável, era
assim que eu preferia. Mas ela mudou isso.
Ela é a única pessoa que consegue me acalmar, que consegue
chegar perto de mim quando eu fico neste estado. Sua presença, o
seu cheiro, seu corpo e seu toque são as minhas drogas, e desde
que eu as provei, eu não me senti mais bem sozinho. Mas que
merda, John! Matei meu copo com um só gole e coloquei mais.
Escutei um barulho na porta. Diminui a luz da luminária e coloquei o
som no mudo. Me encostei na poltrona, aliviado quando vi Sofya
entrando com algumas sacolas nas mãos e indo para a cozinha. Ela
ainda está com a roupa do trabalho, vestindo uma saia social justa
até o joelho, uma camisa e saltos altos. Ela sempre me deixa de pau
duro quando veste saia. Ela retirava algumas coisas das sacolas e
as colocavam em minha geladeira, nem notando minha presença.
Olhei no relógio na parede e já passava das 22h.
— Chegou tarde — falei, a fazendo pular e encostar na
geladeira, com uma mão no coração.
— Jesus! Quase me matou do coração! Por que está aí no
escuro, Batman?! — disse irritada, me fazendo sorrir.
Aumentei a luz da luminária e dei play na música novamente.
Ela voltou a fazer o que estava fazendo antes.
— O que você está fazendo?
— Mag veio aí de manhã, me perguntando se eu não poderia
deixar isso aqui mais tarde. Ela não teve tempo de ajeitar tudo,
então aqui estou eu.
— Obrigado. — Ergui meu copo e voltei a olhar para a parede.
— Está tudo bem?
Não respondi, não sabia se estava tudo bem mesmo. Bufei em
resposta. A escutei finalizar o que veio fazer e vir em minha direção,
sentando-se no sofá ao lado. Ela colocou a mão em minha perna,
me fazendo encará-la de volta. Seus olhos me pediam respostas,
mas ao mesmo tempo, me confortava e, então, desviei meu olhar
para o outro lado.
— Tudo bem, quer que eu saia? — perguntou, levantando-se.
— Não... eu não quero que vá embora. Vem cá.
Puxei sua mão e coloquei minha testa em sua barriga, dando
um grande suspiro, sentindo seu cheiro, em seguida a segurei pela
cintura. Ela passava as mãos em meus cabelos, carinhosamente.
— Hey, está tudo bem mesmo? — sussurrou.
Fechei os olhos e senti os efeitos do whisky em meu corpo, já
que não comia desde o almoço, fazendo meus sentidos se
aflorarem. Eu preciso dela.
— Você não dançou hoje.
— Como assim? — perguntou, confusa.
Me desprendi dela, encostando-me na poltrona e olhando seu
corpo delicioso.
— Não te vi na academia.
— Não consegui ir hoje.
Ela me olhava confusa. Me aproximei dela novamente, tirando
sua camisa de dentro da saia e passando minhas mãos pela lateral
do seu corpo.
— Dance para mim — sussurrei, olhando para cima e
encontrando seu olhar.
Na mesma hora, começou a tocar Wicked Games, do The
Weekend.
— O que?! — riu ela — Mas...
— Eu não estou pedindo — falei, firmemente, ao voltar a me
encostar na poltrona.
Ela me olhou com aquele olhar de desejo e aquele sorriso
sapeca nos lábios. Eu tenho certeza de que ela está em uma luta
mental para ver se me obedecia ou se retrucava. O corpo dela
sempre a traia, fazendo minhas vontades. Sofya é indomável, mas
na cama, ela adorava ser domada, e eu adorava ter seu controle,
pelo menos nestes momentos.
— Dance.
Ela me olhou, com um olhar de desafio, pegando meu copo e
tomando todo o conteúdo em um só gole, o colocando na mesa
depois. Ela passou as mãos em seu pescoço, erguendo a cabeça,
dando um gemido, logo depois encostou sua bunda na mesa,
acomodando suas mãos na borda. No ritmo da música, ela começou
a rebolar e dançar sensualmente. Andando pela sala, ela começou a
desabotoar sua camisa, da maneira mais sexy possível, a tirando
logo depois e a jogando em algum canto. Eu já disse que adoro vê-
la dançar? De como ela fica ainda mais sexy? Ainda dançando, ela
foi para trás do sofá e, em seguida, deitou-se na parte de cima dele,
fazendo movimentos sensuais, me olhando maliciosamente.
Eu não iria conseguir ver isso por muito tempo sem agir, ela
me deixa louco. Coloquei minha mão em meu pau, o massageando
por cima da calça de moletom, enquanto ela arqueava seu corpo e
levantava suas pernas, tirando sua saia bem devagar. Nossos
olhares não se desgrudaram. Ela jogou a saia em minha direção e
se levantou novamente, dançando ao ritmo da música, que, assim
como ela, é muito sexy.
Eu estou no meu limite, querendo a ter agora. Grunhi quando a
vi encostar suas costas no batente da porta do meu escritório,
levando seus braços acima de sua cabeça, segurando o batente e
descendo devagar, rebolando e fazendo movimentos sensuais. É
demais para mim ficar só olhando, ainda mais ela dançando desse
jeito, vestida apenas com uma lingerie da cor vinho e de salto alto.
Meu pau vai estourar na minha cueca se eu não a pegar de jeito
agora. Fiz menção de levantar, mas ela me olhou e fez um sinal
negativo com o dedo.
— Tsc, tsc, tsc. Você me pediu uma dança e eu vou terminá-la.
Não vai me tocar até que acabe — Disse ela com a voz rouca.
Quem está no comando agora, John? Sorri em resposta,
voltando a me encostar na poltrona. Ela foi andando para o centro
da sala, me hipnotizando com sua dança, até que suas mãos foram
para o elástico de sua calcinha, pretendendo tirá-la.
— Ah-ah-ah! — A alertei.
Ela imediatamente parou, me olhando.
— Sou EU quem vai tirar isso — continuei.
Percebi que a música havia acabado, começando outra do
mesmo artista. A chamei com meu dedo e, lentamente, ela veio em
minha direção, andando sedutoramente. Ela sentou em meu colo,
me olhando com aquela cara de safada que me deixa louco,
mordendo seus lábios. Minha mão a puxou pela cintura, colando
ainda mais seu corpo ao meu, e a outra foi para o seu cabelo, o
prendendo em meu punho, trazendo seu rosto para o meu. Comecei
a mordiscar sua orelha e minha mão foi para sua bunda, a
apertando. Ah, esse cheiro, esse corpo... é tudo o que eu preciso.
— Tão gostosa — sussurrei em seu ouvido, a fazendo gemer.
Não quero mais ter controle, é impossível manter algum
controle com ela ao meu lado. Minhas mãos voaram para o fecho do
seu sutiã, arrancando com um puxão forte, fazendo seus peitos
balançarem. Agarrei seu cabelo novamente, o puxando para trás
para me dar mais acesso as seus peitos maravilhosos e assim eu
fiz, abocanhando um mamilo com a boca, o saboreando com
chupadas e mordiscadas, enquanto minha outra mão brincava com
o outro, dando-lhe alguns puxões de vez em quando, os deixando
vermelhos e ainda mais empinados. Ela gemia, esfregando sua
parte de baixo em meu pau duro e mantendo suas mãos grudadas
em meu cabelo. Rapidamente, a virei para o outro lado, a mantendo
sentada em mim, encostando suas costas em meu peito.
— Abra suas pernas para mim — mandei, e assim ela fez, me
dando acesso total a sua bocetinha.
Virei seu rosto para mim, a beijando calorosamente, fazendo
nossas línguas se saborearem. Levei uma mão a seu peito, o
apertando bruscamente, e a outra foi para o meio de suas pernas.
Grunhi ao sentir sua calcinha encharcada.
— Molhadinha para mim, boa garota. — Ela gemeu em minha
boca.
Minha mão entrou por debaixo do fino tecido de renda,
circulando e massageando seu clitóris, a fazendo rebolar mais. Senti
sua mão entrando pela minha calça, agarrando meu pau e
começando a me masturbar. Eu seria capaz de gozar somente com
a mão dela e com a minha mão a instigando mais. Enfiei um dedo
em sua entrada, a fazendo jogar a cabeça para trás, a apoiando em
meu ombro. Ela aumentava o ritmo com sua mão, me deixando
louco. Tirei meu dedo de dentro dela e o levei até a sua boca e sem
pestanejar, ela o chupou, gemendo.
— Você vai me deixar louco, sua safada.
— E você vai me fazer gozar já já — falou, com a voz rouca de
desejo.
Meu dedo, úmido por sua saliva, voltou a penetrá-la e
aumentei mais o ritmo, usando meu polegar para instigar seu
clitóris. Minha outra mão brincava com seu mamilo, a fazendo
arquear mais seu corpo e gemer ainda mais. Senti que ela estava
cada vez mais perto de gozar e agarrei seu cabelo com a mão que
estava em seu peito, para que ela me olhasse.
— Quero ver você gozar olhando para mim.
Ela grudou suas mãos na lateral do meu corpo e me olhava
profundamente, gemendo cada vez mais alto. Enfiei outro dedo em
sua entrada e acelerei o ritmo, começando a sentir seus espasmos.
— John! — gritou, fechando os olhos.
— Olhe para mim!
Colei sua testa na minha e ela abriu os olhos, gritando de
prazer e contraindo suas pernas entre minha mão. Senti seu mel
escorrendo pelos meus dedos, me deixando louco. Preciso meter
meu pau nela, preciso estar dentro dela. Ela ainda estava tremendo
quando rasguei a parte de baixo de sua calcinha e posicionei meu
pau em sua entrada molhada. A penetrei de uma vez, me fazendo
grunhir com a sensação e ela gritar.
Ela começou a rebolar em mim e minhas mãos agarravam sua
cintura, a movimentando mais. Sua boca veio até minha orelha, a
mordiscando e me fazendo grunhir. Comecei a acelerar o ritmo,
estocando cada vez mais fundo nela, porém precisava de mais,
quero o meu pau todo dentro dela. Minha mão foi para o seu
pescoço, o agarrando com firmeza, e a outra apertava sua cintura, a
levantando um pouco.
— Quero meu pau todo dentro de você — rosnei em seu
ouvido, antes de estocá-la até o talo com todo meu pau, a fazendo
gritar e meti ainda mais forte.
— Hm, isso, assim! — ronronou ela.
Continuei a estocá-la mais forte e suas paredes internas
começaram a contrair meu pau, anunciando que ela já estava quase
lá e, se eu continuasse, também gozaria logo. Quero senti-la mais
um pouco, então a virei novamente de frente para mim. Ela me
encaixou de novo em sua entrada e sentou em meu pau, até o talo.
Joguei minha cabeça para trás e gemi. Ela rebolava cada vez mais,
me deixando louco. Com uma mão, apertei sua cintura, e a outra
voou para seu cabelo, o puxando, do jeito que ela gosta. Nossos
olhares se encontraram, e ela estava com aquela cara de safada,
me fazendo entortar o sorriso.
— Quero que goze comigo. Jorra tudo dentro de mim — falou,
me instigando ainda mais.
Me levantei mais um pouco, colando nossos corpos, a
olhando.
— Então aperte sua bocetinha nele. Goza daquele jeito que
me deixa louco. — Lhe dando um grande tapa em sua bunda, a
fazendo gemer, jogando sua cabeça para trás.
Nossos movimentos ficaram mais rápidos e mais fortes,
aumentando nossos gemidos. Eu não iria conseguir me segurar por
muito tempo e, então, comecei a sentir sua bocetinha contraindo
meu pau inchado e seu corpo tremer em cima do meu.
— Eu vou gozar! — gritou ela, atingindo seu ápice.
— Caralho! — grunhi, despejando meu jato de porra dentro
dela, se misturando com seu mel.
Nossos corpos tremiam, colados um no outro, e nossos
gemidos ainda continuavam por consequência do poderoso
orgasmo que tivemos juntos. Me encostei na poltrona, ainda
tentando recuperar meu fôlego, e ela veio comigo, deitando sua
cabeça na curva do meu ombro. Minhas mãos afagavam seus
cabelos, assim como ela fazia com os meus agora. Ficamos assim
por algum tempo, em silêncio, escutando apenas nossas
respirações voltarem ao normal. Ela levantou sua cabeça, me
olhando e dando aquele sorriso sapeca, enquanto suas mãos ainda
estavam em meus cabelos.
— Tudo bem mesmo? — sussurrou, perto dos meus lábios.
— Agora está — respondi, a tomando num beijo suave.
Sim, com você aqui está tudo bem.

— Querida, cheguei! — anunciei, entrando no apartamento de


Sofya.
Pelo visto ela ainda não havia chegado do trabalho. Comprei
a pizza da nossa cantina preferida, a mesma que a levei em nosso
primeiro encontro, mas irei esperá-la para comer, então guardei a
pizza no forno e levei a champanhe para a geladeira. Hoje temos
um motivo para comemorar! Nesta semana conseguimos capturar
um dos membros da quadrilha de Hernandez e cercamos tão bem o
perímetro de boates na cidade que o número de vendas de drogas
havia caído drasticamente nas principais regiões. Isso significa que
estamos caminhando bem nas investigações e que os negócios
andam péssimos para Hernandez. Agosto foi um péssimo mês no
trabalho, mas, em compensação, setembro tinha começado muito
bem. Me joguei no sofá dela, tirando minha bota Timberland, às
deixando jogadas no tapete, e liguei a TV, colocando no jogo.
Vi o livro do Kama Sutra em cima da sua mesinha de centro.
Eu o ganhei há algumas semanas atrás dos caras da Agência, junto
a algumas “pílulas do prazer”. Segundo eles, estava tão estressado
que precisava transar usando algumas posições relaxantes. Mal
sabem eles que eu e Sofya mantemos nossa vida sexual muito bem
ativa. Comecei a rir sozinho me lembrando da noite em que trouxe
esse livro para cá. Havíamos bebido muito, já que não era somente
eu que estava com problemas no trabalho, e, então, Sofya teve a
maravilhosa ideia de colocar algumas posições do livro em prática,
mesmo eu não querendo muito.

— Olha essa aqui! — disse ela gargalhando. — Vamos tentar


essa! — continuou, dando um grande gole em sua cerveja.
Olhei o livro, onde ela apontava a posição. Mas o que?
— Rã de barriga para cima? Você é louca? — perguntei, sério.
— É melhor não.
— Você é tão careta! Tudo bem. Oh-oh, essa aqui!
Eu não tive tempo de ver, já que ela me jogou no chão e veio
por cima de mim, só que de costas. Nós estamos bêbados, pelados
e confesso que estou receoso de perder meu pau hoje. Ela encaixou
meu pau em sua entrada, sentando nele, dando um pequeno
gemido.
— Isso... agora deixe-me ver.
Peguei em sua bunda firmemente, a movimentando em cima
de mim. Quem sabe se ela gozar rápido, pare com essa loucura.
— Hm, John, estou tentando me concentrar aqui! — falou,
olhando a posição no livro.
De repente ela colocou as pernas uma de cada lado do meu
corpo, pousando seus joelhos no chão e deitando-se lentamente em
meu peito. Gemi quando senti meu pau cada vez mais fundo nela,
assim como ela. Levei minhas mãos para seus peitos e ela começou
a se mover. Isso está ficando interessante.
— Eu gostei dessa — sussurrei em seu ouvido.
— Hm, eu também!
— Qual o nome dessa posição? — perguntei, a fazendo rir
entre gemidos.
— A picada do escorpião — riu e me fez gargalhar, parando
nossos movimentos.
— É sério?
— Sim! — Ela começou a gargalhar mais.
Estamos rindo feito dois idiotas, esquecendo completamente
do objetivo aqui.
— Pelo amor de Deus, por que você escolheu essa?
— Eu achei ela bonitinha! — riu ela de volta. — Ai! Espera, me
deu câimbra! Ai-ai-ai, por que você me fez rir assim? —
choramingou ela, tentando sair de cima de mim.
— Hey, cuidado, você vai quebrar meu pau! — protestei,
enquanto ela tirava meu pau de dentro dela.
Estou muito velho para essas coisas, tudo o que eu queria era
uma boa transa, sem inventar qualquer moda que me deixe sem o
meu garotão aqui.
— Me dê esse livro aqui. Minha vez.
Comecei a ver as posições. Mas que diabos elas tinham que
ter nomes de animais? Escolhi uma, que é bem interessante, e
levantei do chão, ficando de pé e puxando Sofya comigo. A virei de
lado e ela me olhava com curiosidade.
— Você consegue colocar seu pé no meu ombro?
— O que? Eu não faço balé há anos! Além disso, eu estou
muito bêbada para isso!
— Ah, qual é, já vi o que você pode fazer na hora do sexo, e,
com certeza, isso não vai ser um problema para você. Ok, me dá
seu pé aqui.
Peguei seu pé, o levando até meu ombro. Ela quase perdeu o
equilíbrio enquanto me xingava, mas deu certo até então. Posicionei
meu pau em sua segunda entrada, na qual eu ainda não tinha
explorado, mas não por falta de vontade, acredite.
— Hey, qual o nome dessa? — perguntou ela, se apoiando
com as mãos em volta do meu pescoço.
— O segundo buraco da borboleta — respondi, a fazendo rir.
— Não sabia que a borboleta tem buracos. Mas por que... AH
NÃO! — gritou ela ao sentir que eu iria penetrar seu ânus.
— O que?
— Como assim o que? Buraco errado, Ursão! Fique longe
dele!
— Você nunca fez sexo anal? — perguntei, boquiaberto, a
fazendo revirar os olhos.
— Não! E qual o problema nisso?!
— Nenhum, mas podemos resolver isso agora, o que acha? —
falei maliciosamente.
Isso me pegou de surpresa... e me encheu de orgulho
também, pois serei o primeiro a dar esta experiência a ela.
— Você já viu o tamanho do seu pau? Nem pensar! Isso
precisa de muita preparação! — Ela estava séria, me fazendo rir.
Coloquei a cabeça do meu pau em seu orifício, somente para
instigá-la e, principalmente, para ver sua reação.
— TIRA ISSO DAÍ! ARGH! — gritou ela, me batendo com suas
duas mãos em meu peito, nos fazendo perder o equilíbrio e cair.
De repente, vi tudo em câmera lenta. Eu caí primeiro e vi que
Sofya iria cair em cima de mim, bem em cima mesmo. Sua bunda
caiu bem em cima do meu pau, com tudo, o fazendo dobrar.
— Ahhh! Caralho!!! — gritei de dor, fechando meus olhos e
levando minhas mãos a ele.
— Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus! — ela repetia,
se levantando.
Enquanto eu ainda gemia de dor. Eu sempre falei que aquela
garota iria me matar, e esse dia estava chegando.
— John, sua cara está vermelha! Oh meu Deus, o que eu
faço?! Dói muito?!
Abri os olhos, a encarando com um olhar óbvio, ainda
gemendo de dor.
— Certo, preciso fazer alguma coisa. Oh Deus, me ajude.
GELO! Vou pegar gelo! — gritou, correndo desengonçadamente
para a cozinha.

Eu quase morri mesmo naquela noite. Depois de várias


compressas com gelo, a dor tinha parado um pouco, mas tive
dificuldades para andar no dia seguinte, já que ela quase
quebrou meu pau de verdade. Ela ri disso até hoje, me zoando a
cada oportunidade. Eu sabia que ela iria continuar, mas ela não
perde por esperar. Escutei a porta abrir e fechar, com um grande
estrondo. A olhei jogando suas coisas no aparador, e entrando na
sala. A cara dela está péssima, mas sorri, tentando animá-la.
— Boa noite! Pizza e champanhe estão nos esperando. Só
falta você e seus maravilhosos petiscos que eu não vejo a hora de
comê-los... se é que me entende.
Sorri, maliciosamente para ela entender o duplo sentido da
frase, mas o que ela fez foi me fuzilar com o olhar.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou ela, em um
tom de voz ríspido, desmanchando meu sorriso.
Dei de ombros, sem responder, e ela continuou.
— Não vai ter petisco nenhum, não sou sua cozinheira
particular ou qualquer coisa do tipo. Se me der licença, eu quero
ficar sozinha hoje, então pegue a pizza e o champanhe e vá para o
seu apartamento — disse, indo em direção a seu quarto, batendo a
porta logo em seguida.
Ela nunca tinha agido assim antes, então tem algo muito
errado acontecendo. Eu sei que ela vem enfrentando muita coisa
pesada no trabalho, mas parece que aquilo ainda continua. Relevei
o que ela acabou de me dizer e fui atrás dela. Tentei abrir a porta,
mas ela a trancou, então comecei a bater.
— Sofya! Hey, calma! O que houve? — perguntei.
— Nada, John. Só quero ficar sozinha hoje, tá legal?!
— Hey, não dê uma de John! — Tentei quebrar o clima, mas
não escutei sua risada. — Por favor, fale comigo!
— Vá embora, John!
— Não até você me contar o que está acontecendo! — insisti.
Ela abriu a porta, a escancarando e me fuzilando com o olhar.
— Você quer saber o que está acontecendo? Tudo bem,
vamos lá! — Ela veio andando em minha direção, parecendo uma
leoa feroz, e eu fui dando passos para trás. — Donatella é uma
grande vadia! As pessoas daquela revista continuam achando que
eu dormi com alguém para conseguir meu cargo! Minha
ginecologista me passou o anticoncepcional errado, no qual está
ARRUINANDO MEUS HORMÔNIOS! Eu estou dois quilos, DOIS
QUILOS, mais gorda! E essa é a pior TPM da história da minha
vida! Sem contar as noites de sono perdidas sem dormir ou tendo a
DROGA do mesmo pesadelo de sempre!
Jesus, eu deveria ter ido embora mesmo. Ela ainda apontava o
dedo para mim e eu estava encurralado entre ela e a parede.
— Está bom para você?!
Eu ainda a olhava, receoso. O que eu faço agora? Saio
correndo? A deixo ali? Será que precisaria sair para comprar
remédios ou absorventes?
— Ahm... entendo. Você precisa de alguma coisa… um chá,
sei lá? Quer que eu...
— John, por favor, só vá embora — falou, um pouco mais
calma.
— Tudo bem. Mas me chame se precisar. — Fui em direção à
sala.
Ela já estava indo para o quarto, quando a chamei de volta.
— Hey. Vai ficar tudo bem — falei
Ela me olhou e seus lábios formavam uma linha fina. Logo
depois ela entrou no quarto novamente, mas dessa vez sem bater a
porta. Fui até o forno e peguei a pizza. Olhei para a geladeira, mas
decidi que o champanhe ficaria ali, já que não há mais motivos para
comemorar. Andei em direção à porta, olhando a pizza.
— É... acho que vou ter que te comer sozinho hoje — Fechei a
porta, dando um grande suspiro.
É manhã de sábado e me levantei cedo para correr um pouco.
Já estava a quase uma hora correndo no Central Park e,
geralmente quando eu corro, procuro me desligar de tudo, mas é
impossível fazer isso pensando em Sofya. Será que ela está bem?
Ela tinha mencionado TPM, mas nunca a vi daquela maneira, era de
arrepiar! Eu não fazia a menor ideia de como lidar com problemas
femininos, principalmente este. TPM é quando a mulher está
menstruada, não é? E como fazer isso parar? Mulheres são tão
difíceis de lidar! Será que ela já está mais calma? Já saindo do
parque, decidi pedir uma ajuda para lidar com essa situação,
principalmente por esta situação envolver Sofya.
— Alô?
— Shantell, é o John.
— John! Como vai? Está tudo bem?
— Tudo bem! É sobre Sofya.
— O que tem ela? — perguntou, preocupada.
— Relaxa, ela está bem. É que... ontem ela chegou meio
estressada, com TPM... — disse, um pouco envergonhado, a
fazendo rir. — Isso é normal?
— Você sabe que a Sofya é pilhada por natureza, não sabe?
— Sim, e como sei! Mas ontem ela estava uma fera mesmo,
com uma grande TPM. Tem algum remédio para isso? — Ela
começou a gargalhar.
— Você sempre foi cercado de mulheres e não sabe mesmo
como lidar com isso? Isso é engraçado. Olha, John, em meus anos
de convivência com Sofya, foram raras suas TPM como esta,
diferente de mim, que tenho todo mês, deixando Preston louco. Mas
tem alguns remédios sim: chocolates, descanso e carinho.
Viu só? As mulheres são muito loucas! É impossível entendê-
las!
— É sério?
— É sim. Sofya anda muito pilhada no trabalho e isso apenas
se juntou com a TPM.
— Entendi... bom, obrigado pela ajuda!
— Disponha! Beijinhos.
— Tchau.
Desliguei o celular e fui comprar esses “remédios”.

Entrei no apartamento dela, com algumas sacolas na mão, e vi


um amontoado de cobertores no sofá, rodeado de salgadinhos. O
apartamento está escuro e vi um pequeno nariz arrebitado para fora
do cobertor. Me aproximei mais e vi a TV ligada. Jesus, está um
forno aqui dentro! Tudo bem que é normal o apartamento dela ser
quente, já que ela adora o clima, mas está muito além disso e, para
piorar, ela está enrolada no cobertor.
— Você está doente? — perguntei, olhando para ela.
Finalmente ela me olhou e notei seus olhos vermelhos. Ela
andou chorando. Ela tirou o cobertor da parte de cima do corpo,
revelando seus cabelos desgrenhados e seu moletom da Columbia
University.
— Eu pareço doente? — perguntou, com a voz rouca e
preguiçosa.
Me sentei ao seu lado, colocando minha mão em sua coxa.
— Seus olhos...
— Sim, eu chorei, ok? Mas me dê um desconto! Estava
assistindo Sexy and The City! — Apontou para a TV.
Olhei para a TV, dando um sorriso. Nunca tinha visto esse lado
“frágil” dela.
— Então você tem sentimentos?! — brinquei.
Ela revirou os olhos.
— Por mais que eu deteste admitir, tenho e, geralmente, os
guardo no lugar mais obscuro de minha alma — falou ironicamente,
me fazendo rir.
— Como você consegue viver nesse forno?
— Estou com cólica — resmungou, tampando sua barriga com
o cobertor.
— Está naqueles dias?
— Ainda não.
Peguei os chocolates na sacola e os entreguei para ela, que os
olhou como se fossem ouro.
— Para sua TPM.
— Você vai me fazer chorar de novo — choramingou.
Dei um sorriso e me aproximei dela, dando-lhe um beijo na
testa. Ela devorava os chocolates com gosto, me fazendo rir.
— Obrigada, isso vai ajudar um pouco.
Olhei para a mesinha de centro e vi algumas embalagens de
remédio.
— Você está bem mesmo?
— Estou morrendo — respondeu, de boca cheia, me fazendo
revirar os olhos.
— É sério! Você já sentiu cólica alguma vez na vida? Creio que
não! Parece que eu estou parindo sem nem mesmo ter um filho!
Jesus, graças a Deus eu sou homem! Peguei a embalagem de
remédio e a li... mas...
— Isso é relaxante muscular!
— Sim, é o que tem para hoje.
Percebi que sua mão apertava mais o cobertor em sua barriga.
— E o calor ajuda?
— Sim.
— Quantos comprimidos você tomou?
Ela deu de ombros, fazendo um biquinho.
— Eu não sei... alguns!
— Sofya?
— Quatro — respondeu, sem me olhar e voltando a se cobrir.
Eu a olhei, incrédulo.
— QUATRO? Você tomou quatro? Você é louca? Quer se
dopar?!
— Eu sei! Mas eu não tinha mais remédios de cólica aqui
porque há anos que eu não sofro disso! E eu tomei um, mas não
parou, e daí eu tomei mais três, porque eu não aguento mais essa
dor! — choramingou.
— Você tem noção o quão imprudente foi isso, Sofya?
Ela fez um biquinho, olhando para baixo.
— Não brigue comigo! — sussurrou, voltando a me olhar com
aqueles olhos grandes.
Argh, detesto quando ela me olha assim, poderia ceder a
qualquer coisa que ela me pedisse, somente com ela me olhando
desse jeito. Dei um grande suspiro e me aproximei mais dela.
— Tudo bem, vem cá. — Aninhei ela em meu colo.
Suas pernas se encolheram em cima de mim e ela pousava
sua cabeça em meu ombro. Comecei a massagear a região de seu
útero, para tentar aliviar sua dor.
— Me desculpe por ontem — sussurrou, me dando um beijo no
queixo.
— Tudo bem — respondi, devolvi o beijo em sua testa.
Ela se ajeitou mais em meu colo e ficamos em silêncio por
alguns segundos.
— Boneca?
— Hum.
— Você está bem?
— Hum — resmungou.
Não me surpreende ela ter dormido depois de tomar a
quantidade de comprimido que havia tomado. Como virei a cama
dela, me ajeitei um pouco mais no sofá e fui obrigado ver o resto
daquela série de mulher, já que o controle está longe e eu não
posso mais me mexer. É, John... quem diria! Há alguns meses atrás
eu estava zoando Preston por ele ter ido ao cinema assistir um filme
romântico com Shantell... e aqui estou eu, pagando minha língua e,
de bônus, comprando chocolates para uma garota que nem mesmo
minha namorada é... mas que eu seria capaz de tudo somente para
vê-la bem.
— Mulher, traga minha cerveja! — gritei para Sofya, que
está em minha cozinha, preparando alguns petiscos e conversando
com Shantell.
— Vai se foder — respondeu, dando um sorriso e nos fazendo
rir.
Sábado a noite é dia de ver os NETS jogarem e Shantell nos
sugeriu fazer um “programa casal” aqui em casa.
— Por favor? — pedi.
Eu e Preston conversávamos na mesa, estou na ponta e ele
na lateral, de frente a TV, até que Shantell resolveu abrir sua boca
grande.
— E aí John, Sofya gostou dos chocolates? — perguntou,
rindo, enquanto as duas voltavam para a mesa trazendo os
petiscos.
Preston começou a rir da minha cara e eu a encarei de cara
fechada.
— Foi só uma pergunta! — riu ela.
— Agora tudo faz sentido — disse Sofya, se sentando ao meu
lado enquanto Preston puxava Shantell para o seu colo, rindo igual
a um idiota. — Obrigada, Shantell!
— De nada!
— Ah, essa sua cara é impagável, cara! Eu disse que pagaria
sua língua! — exclamou Preston, fazendo Sofya rir.
— Já chega desse assunto!
Puxei Soya para meu colo, que deu um gritinho e riu surpresa
com a minha reação.
— Toma aqui, sua cerveja — disse Sofya, enquanto se ajeitava
de lado no meu colo, me olhando.
— Bom mesmo, pois cuidei de você hoje — sussurrei em seu
ouvido.
— Ah sim, prometo ser boazinha hoje — sussurrou de volta.
Passei a mão em suas pernas desnudas.
— Não está nada boazinha com essa saia aqui, senhorita —
falei, dando um apertão em sua coxa, a fazendo pular e rir.
— Para! — riu, jogando a sua cabeça para trás.
— Vão para o quarto, os dois! — exclamou Preston.
Um flash de luz nos atingiu, quase nos cegando, e olhamos
para o lado. Shantell havia tirado uma fotografia nossa com sua
polaroide nova.
— Uma prova para te julgar mais para frente — disse Shantell,
olhando para Sofya.
— E eu você! — complementou Preston.
— Vão se ferrar — dissemos juntos para os dois.
A noite foi mais que agradável. Conversamos, bebemos e
vimos nosso time ganhar. Estou satisfeito levando minha vida ao
lado de Sofya nestes últimos meses, mas será que ela também
está? Essa pergunta vem me assombrando nas últimas semanas.
O outono está começando a dar as caras na cidade, o que
para mim é ótimo, já que eu detesto calor, mas Sofya não. Ela não
parou de reclamar desde quando saímos do mercado e tudo isso
porque o vento e as folhas voavam nela, claro, me fazendo rir. Ao
chegarmos em seu apartamento, eu já estava ansioso pelo jantar
que ela havia me prometido antes de eu viajar e ficar cinco dias fora,
em Miami. Além de trabalhar, eu usei algum tempo para espairecer
e tentar tirar Sofya da minha cabeça... para ser franco, eu tinha
esperanças de que, com a viagem, eu percebesse que a distância
me ajudaria a não pensar tanto nela. Tentei até mesmo sair com
uma latina gostosa — eu amo mulheres latinas — em meu tempo
livre por lá, mas não passou de alguns beijos, tudo isso porque eu
não consigo tirá-la da minha cabeça. Resumindo, não adiantou
nada, surtindo o efeito contrário, me fazendo sentir saudades dela.
Enquanto ela tirava algumas coisas dos pacotes na pia, eu
guardava outras na geladeira. Assim que fechei a porta, percebi que
ela tinha colocado a nossa foto pregada em seu mural de fotos
"peculiar". Shantell tinha tirado aquela foto há alguns sábados atrás,
e sorri ao me lembrar do momento. Ela estava sentada de lado em
meu colo e sua cabeça estava tombada para trás, dando aquela
gargalhada que eu adoro escutar, e com sua cerveja na mão. Já eu,
a olhava com um sorriso bobo, e também com uma cerveja na mão.
Um dos nossos muitos bons momentos juntos, mas que tinha sido
registrado, por sorte Shantell também me deu uma cópia da foto.
Meu sorriso se desfez quando olhei mais para o lado e vi que
aquela foto dela com aquele inglês metido ainda estava ali. Será
que ela iria perceber se aquela foto sumisse misteriosamente? Veja
bem, eu não fui com a cara daquele cara desde o nosso encontro no
corredor. Apertei a foto em minha mão de raiva, só de lembrar...
Furby pfff! Quem ele pensa que é?
Não, claro que não estou com ciúmes, isso é ridículo! Não
pense que isso é ciúmes, porque não é... é só... é só precaução,
oras! Não poderia deixá-la andando por aí com qualquer cara. Bem,
posso ter exagerado algumas vezes em minha precaução, tipo usar
meu distintivo para obter as imagens das câmeras de segurança da
boate em que ela foi com os amigos quando eu estava viajando —
ela não pode nem imaginar que eu fiz isso! Já não basta o Preston
me julgando por conta disso. Eu só precisava saber se algum
babaca ficou em cima dela e, para meu espanto, muitos babacas
ficaram em cima dela.
Para o meu alívio, ela dispensou todos, mas isso até ver a
outra imagem, onde ela aparece de papo com um cara por um bom
tempo e, ao invés de voltar com seus amigos, ela entrou no carro
dele. Eu quase surtei quando vi aquela imagem hoje e isso está
entalado em minha garganta até agora, mas estou sem saída, pois
sei que se eu a questionar sobre “quem era aquele idiota?”, ela
irá me encher de perguntas e, por ser muito inteligente, ligaria os
pontos na hora, então eu não poderia mais “vigiá-la”. Não me
julguem! Eu prometi a ela somente que não irei mais investigar seu
passado... não prometi nada sobre vigiar seu presente.
Ela notou que algo está diferente em mim, e aquilo está me
remoendo, mas eu não posso deixá-la descobrir, senão ela irá me
matar, não sem antes, claro, me xingar muito. Eu estou puto! Por
isso mandei a equipe de inteligência e T.I. da Agência rastrear
aquele cara pela placa de seu carro. Se não posso tirar satisfação
com ela, tiraria com ele. Não bastava isso, o seu amiguinho inglês
voltou a minha mente e a foto estava quase amassada em minha
mão, até que me ocorreu: será que ela ainda mantém contato com
ele? Grrr!
— Por que essa foto ainda está aqui? — disparei sem pensar.
Ela virou, me olhando com o cenho franzido.
— Qual foto?
— Sua com seu amiguinho inglês metido — continuei,
mostrando a foto para ela e depois a pregando no lugar.
Ela me olhou, arqueando as sobrancelhas.
— Porque ele é meu amigo! — respondeu ela, ironicamente, e
voltando a olhar para o que estava fazendo na pia.
— E você ainda tem contato com ele? Ele está mesmo na
Inglaterra? — indaguei, encostando a lateral do meu corpo na pia, a
encarando. Ela me encarou de volta, surpresa.
— Por que tantas perguntas? Eu hein, pareço um suspeito
para você me encher de perguntas assim?
— Você não respondeu a minha primeira pergunta — falei,
seriamente.
— Sim, eu continuo tendo contato com ele! Não tanto como
antes, mas ainda nos falamos sim.
Trinquei a mandíbula com sua resposta. Ela entortou sua
cabeça, ainda com o cenho franzido, e vi um sorriso travesso brotar
de seus lábios.
— Está com ciúmes, Agente?
A olhei assustado com sua acusação.
— O-o que? Você é mesmo louca, não é? É claro que não. Eu
só... não gostei daquele cara. — Me defendi, fazendo ela revirar os
olhos e voltar ao que estava fazendo.
— Entendi. Então não há nenhum problema nisso, não é?
— Sim! Quer dizer... não. Não ligo para isso, é só que não é
legal você sair por aí com caras assim...
— Assim como, John?
Ela me olhou, desafiante, com suas mãos na cintura.
— Ué... assim... como ele. Enfim, só quero te proteger.
— Não preciso disso, já sou bem grandinha e você sabe que
eu posso muito bem me cuidar sozinha.
Sim, eu sei bem que ela se vira muito bem... bem até demais
para o meu gosto.
— Além disso, até onde eu sei, ele está namorando —
continuou, e virou-se.
Fiquei em silêncio e voltei a olhar nossa foto. Aliás, se ela
colocou nossa foto ali significa que eu devo ser importante para ela.
Sorri e peguei a foto novamente, dando um pigarro, chamando sua
atenção para mim novamente. Ergui a foto para que ela visse, e
assim que ela percebeu, corou levemente.
— E por que a nossa foto está aqui? — perguntei, entortando o
sorriso.
Ela está vermelha e sorriu, constrangida.
— Ué... você é meu amigo também! — Ela deu de ombros.
AHA! Ela gosta de mim também! Eu sei muito bem reconhecer
uma mulher que gosta de mim. Fui chegando mais próximo dela e
meu sorriso está cada vez maior.
— Ah é? — perguntei, usando a minha voz sedutora, ficando a
centímetros dela.
Em sua vitrola, toca as melhores músicas do INXS e, neste
momento, Beautiful Girl começou a tocar. Timing perfeito!
— É sim, Ursão — sorriu ela.
Envolvi sua cintura com minhas mãos e encostei minha testa
na dela, enquanto nossos olhares não se desgrudavam.
Começamos a balançar conforme o ritmo da música. Quando dei
por mim, estávamos dançando no meio da cozinha, rindo e fazendo
brincadeiras. Nenhum de nós precisou falar que sentimos a falta um
do outro dançando ali. Isso estava tão claro quanto a luz para mim,
assim como o meu medo desse sentimento, porém, eu decidi
aproveitar isso e levar assim. INXS se encaixou muito bem naquele
momento e, a partir de hoje, ainda mais depois disso, essa seria
umas das minhas músicas preferidas.

EU SABIA! Eu sabia! Grrr! Estou tão puto! Dei outro soco no


saco de área.
— Hey, cara! Se acalma... você tinha me dito que vocês não
estão ficando sério e que até tinha até pegado uma latina gostosa
em Miami! Então achei que não tinha problema em te contar. —
explicou Preston ao ver minha reação ao saber que Sofya tinha
mesmo ficado com aquele cara!
Eu tinha levantado a ficha daquele filho da puta ontem, assim
que minha equipe me enviou os dados da placa do carro dele. O
nome dele é Ryan Simons, tem 38 anos, é advogado e tem uma
Audi R8 cinza. O que eu sei também é que eu vou quebrar a cara
dele! Não encontrei nenhum indício suspeito em sua ficha, mas
mesmo assim, aquele cara vai se ver comigo. Assim que vi a ficha
dele ontem liguei para Preston para que ele pegasse algumas
informações de Shantell.
— John?
— Ela transou com ele? — perguntei, socando com força o
saco de pancadas.
— Cara, qual é? Você fica me pedindo para que eu tire essas
informações de Shantell e ela ficou uma fera comigo! Não estou te
entende...
— Transou ou não?!
— Eu não sei John! Shantell não me disse! E se vocês não
estão realmente juntos, como VOCÊ tinha me dito antes, então isso
não é nenhum problema, não é?
O fuzilei com os olhos, ainda batendo no saco. Se Shantell não
disse nada, então eu já tinha minha resposta, ela tinha transado
com aquele filho da puta!
— Relaxa, cara — ele falou, saindo da sala de luta.
Ofegante, parei com os socos, segurando o saco.
— Droga! — gritei.
— Dia cheio, bonitão?
Me virei e vi Marisa se aproximando de mim. Já tem tempo que
eu não a vejo, mas ela continua gostosa, principalmente com essa
roupa de academia. A olhei de cima a baixo, descaradamente.
Talvez ela seja uma saída para mim hoje, já que Sofya continuava a
sair por aí com outros caras.
— Precisando relaxar? — perguntou ela, numa voz maliciosa.
— Bela! Acho que é isso mesmo que eu estou precisando —
respondi.
Ela colocou seus braços em volta do meu pescoço e me deu
um selinho rápido.
— Então vem comigo, porque eu estou com saudade. — Ela
pegou minha mão e começou a me guiar para algum lugar.
Sorri em resposta e deixei que ela me levasse. Que se foda.
Não, me recuso a pensar nela! Foco John! Percebi que Marisa me
levava para o pequeno armário da limpeza, que fica ao lado da
administração da academia. Assim que fechei a porta atrás de nós,
ela pulou em mim, me devorando. Fui parar do outro lado, com ela
presa em mim. Retribui seu beijo e minhas mãos foram arrancando
sua roupa.
— Uau, quanta pressa! — Ofegou ela, enquanto minha boca
foi em direção aos seus peitos grandes.
Os de Sofya são melh... cala a boca, John!
— Você trouxe camisinha? — perguntei, tirando minha
bermuda.
— Sim, hm... senti falta disso!
Arranquei a camisinha de sua mão e rasguei a embalagem, a
colocando no meu pau. Peguei suas pernas, as abrindo mais e, sem
dó, enfiei todo meu pau nela, a fazendo gritar.
— Shh! — Tampei sua boca.
Comecei a estocá-la forte. Meu pau está duro, mas não
sinto vontade de gozar... ela não é apertada como Sofya. Marisa
começou a falar coisas sujas, mas não prestava a atenção, só
queria que ela gozasse rápido para que eu gozasse rápido também.
Escutei a porta abrir e me virei, assustado.
— Oh meu Deus, me desculpem, eu achei que...
Não pode ser! Não pode ser ela. Rapidamente me desgrudei
de Marisa, subindo minha bermuda. Ela nos olhava em choque.
— Achei que era a porta da administração — disse ela, saindo
apressadamente e batendo a porta.
— Merda! Sofya espera! — gritei, apressado, indo atrás dela.
Mas que merda! Qual é a probabilidade?! Eu realmente sou o
cara mais idiota do mundo! E o preço que poderei pagar por essa
idiotice me deixou em pânico, eu não poderia perdê-la assim. Droga,
John!
Recebi uma mensagem do Dany falando que minha
mensalidade da academia não havia sido paga neste mês, o que
era verdade, já que, por um descuido meu, eu acabei esquecendo
de pagar algumas contas, por isso ele tinha me pedido para vir aqui
hoje e pagar a fatura diretamente na administração da academia, e
assim eu fiz. Eu sabia que a administração fica no segundo andar,
mas não sei onde. Abri uma das portas do corredor, mas claramente
aquela não era a administração, já que havia um casal se pegando
loucamente ali.
— Oh meu Deus, me desculpem, eu achei que... — falei,
chocada com a cena, mas perdi as palavras quando eu vi quem era.
John colocava sua bermuda rapidamente e ainda não estou
acreditando no que eu tinha visto.
— Achei que era a porta da administração — continuei,
amargamente, e saí apressada.
— Merda! Sofya espera!
O escutei e acelerei ainda mais o passo, saindo da academia.
Eu ainda estou aérea, não sabia o que pensar. Senti um aperto em
meu peito, um sentimento totalmente novo para mim. Mas que
droga! E aqui estou eu, correndo feito um covarde, coisa que eu
geralmente fazia quando ficava com medo em meus tempos de
criança. A brisa do outono batia em mim, como se quisesse limpar
minha mente. Sim, eu preciso pensar... reage, Sofya, você nunca foi
assim! Seja racional, pelo amor de Deus! Parei de correr, inspirando
e expirando o ar, e caminhando normalmente. Não escutava nada
atrás de mim e não queria olhar para trás para ver se ele me seguia.
Uma raiva tremenda emanou do meu corpo e mente. Eu queria
matar ele! Como ele pôde? Eu estava dispensando outros caras
porque não me sentia tão à vontade com eles quanto me sentia com
John. O último que dispensei foi Ryan, no final de semana passado,
tão lindo e gostoso... sim, eu tinha beijado ele, mas até aí foi só um
beijo. Ele me levou até em casa, mas não rolou nada além daquilo.
Em outros tempos, eu o teria convidado para entrar sem hesitar,
ainda mais se tratando de um homem lindo e gostoso como ele,
mas não senti a menor vontade, o dispensando e o dando meu
número de telefone errado propositalmente.
E agora, o Bonitão estava lá! Mandando ver na sua amiguinha
de foda, Marisa! Pfff... tudo bem que não chegamos a discutir bem
os termos de nossa “amizade”, mas ele tinha me feito uma pergunta
há algum tempo atrás.

— Você tem saído com outras pessoas?


— Como assim? — respondi, olhando para o teto do seu
quarto.
— Sair de... transar.
— Não, não sinto vontade — falei, sinceramente, ainda sem
olhá-lo.
— Hm, eu também não.
— Você? O cafajeste de carteirinha? Duvido! — ri, o olhando,
e o fazendo rir também.
— É sério... estou bem assim — disse, me olhando.

Mentiroso! Claro que ele não estava bem daquele


jeito, transando somente comigo! Ele é realmente o pior tipo de
cafajeste e eu me sinto uma idiota agora! Mas, espera... nós não
temos nada sério, quer dizer, nós não temos um relacionamento. Eu
não posso chegar nele e enfiar minha mão em sua cara, como eu
quero fazer agora. Isso Sofya, seja racional! Não, eu não vou ser
mais uma de suas vítimas, John Neeson, não mesmo!
Ergui minha cabeça e, por mais que eu me sinta traída e
enganada, tenho que encarar os fatos: não temos nada sério, ele é
solteiro, lindo de morrer, tem centenas de mulheres atrás dele, é um
cafajeste, nunca teremos algo sério e eu não posso cobrar nada
dele. Isso, seja a Sofya racional que você sempre foi! Esqueça essa
dor em seu peito! Então é assim que é ter sentimentos por alguém?
É por isso que minha mãe morreu?
— Sofya!
O escutei atrás de mim, mas não o encarei, nem quando ele
me alcançou, ficando ao meu lado, ofegante por sua corrida, e se
juntando a mim na caminhada até em casa.
— Não é o que parece...
Ri ironicamente, com suas palavras.
— John, pelo amor de Deus, você não me deve explicações.
Mas aquilo era realmente o que era — disse, com a voz seca.
Ele parou, colocando as mãos em meus ombros para encará-
lo. Foi difícil não recuar.
— Olhe para mim. Eu não queria ter feito aquilo.
— Ah, John! Pare com isso! — Olhei para o lado, gesticulando,
incrédula com suas palavras.
— É sério! Eu fiz aquilo por sua causa! — disse, em um tom
sério.
Mas o que?
— Mas o que? Você está de brincadeira, não é?
— Não! Se você pode sair por aí com outros caras, por que eu
não posso fazer o mesmo com outras mulheres? — falou com a voz
um pouco mais alta, gesticulando com as mãos para cima.
Eu estou desacreditada com tudo isso, minha boca está aberta
e eu queria lhe dar um soco! Percebi que estávamos no meio da
calçada, discutindo, e havia algumas pessoas nos encarando,
curiosas. Balancei a cabeça negativamente, trincando minha
mandíbula. Eu preciso sair daqui antes que eu voe nele.
— Você é realmente um idiota! — Voltei a caminhar e cheguei
na esquina da nossa rua.
— Pensei que estivesse “à vontade” comigo!
Ele estava ao meu lado de novo, cuspindo as palavras.
— E eu pensei que você “estava BEM assim”! — exclamei, o
olhando.
Paramos novamente e ele me olhava, e ali eu vi o medo em
seus olhos.
— E, acima de tudo, eu pensei que éramos amigos! Sabe,
Agente, você pode descobrir as coisas de alguém conversando
também, não só investigando. Seu idiota! — Me virei novamente e
andando mais rápido.
— Sofya... Sofya por favor, espere!
Dessa vez não tive o trabalho de respondê-lo. Eu estava quase
chegando na escada de entrada do prédio, quando vi um homem
descer do táxi logo em frente. Congelei na hora ao ver quem era. Oh
meu Deus, por que tudo tem que acontecer de uma só vez?
— Olá, Furby! — disse Jax, me olhando com seu sorriso
charmoso.
Ele veio em minha direção, me puxando para um abraço
apertado no qual me tirou do chão e, logo depois, me dando um
beijo estalado na bochecha.
— Senti tanto sua falta!
— Jax... — O abracei de volta.
Ele me colocou de volta no chão, me olhando com aqueles
olhos azuis em seguida.
— Mas... o que está fazendo aqui?
— É. O que você veio fazer aqui?
Escutei John rosnar atrás de mim, e me virei para olhá-lo. Ele
estava matando Jax pelo olhar e sua cara está assustadora.
Péssima hora para isso acontecer! Jesus, o que eu vou fazer agora?
Era só o que me faltava. Mas por que diabos Jax tinha
voltado? E logo hoje? John ainda encarava Jax com a pior cara de
mal do mundo. Me virei para Jax e seu cenho está franzido,
trincando sua mandíbula. Mas que merda! Jax me olhou, curioso.
— Por que seu vizinho doido está me perguntando isso? —
perguntou, sem olhar para John.
Fechei os olhos, pois não quero ver a reação de John depois
das palavras de Jax.
— Hm, acho que já entendi tudo.
— Que bom! Então aproveite que seu táxi ainda está ali e volte
de onde veio — cuspiu John atrás de mim.
Abri meus olhos e vi Jax passando por mim, indo em direção a
John. Droga, droga, droga! Olhei para a portaria, mas James já
havia ido embora, afinal já eram quase 20h da noite. Ao virar para
trás vi Jax a centímetros de John, ficando cara a cara um com o
outro, parecendo dois galos de rinha.
— Eu acho bom você abaixar sua crista — rosnou Jax.
— E, para o seu próprio bem, eu acho melhor você fazer o que
eu te disse — rosnou John de volta, diminuindo a distância entre os
dois.
— Hey, hey, hey, já chega disso! — Me enfiei com dificuldade
entre os dois para separá-los. — Pelo amor de Deus, ajam como
adultos, os dois! Agora chega desse show. John vai para casa,
conversamos depois. Jax, vamos entrar.
— Nós ainda não terminamos de conversar — disse John,
ainda fuzilando Jax com o olhar.
— Conversamos depois — falei, entrando para o hall de
entrada. — Vamos Jax! — gritei.
Jax veio em meu encalço e não olhei mais para trás. Abri a
porta e Jax passou por mim, adentrando em meu apartamento,
dando um grande suspiro enquanto trancava a porta.
— O que foi aquilo, Sofya? — perguntou ele, apontando para a
porta.
— Aquilo não foi nada. John é meio temperamental.
— Eu não acredito que vocês estão juntos! — exclamou Jax.
— Não estamos juntos, Jax. Somos só amigos!
— Ha! Entendi. Amigos como eu e você?
— Como éramos! — revidei no mesmo tom, o deixando em
silêncio.
Ele começou a tirar sua jaqueta.
— E você não respondeu minha pergunta.
— Qual pergunta?
— O que veio fazer aqui? — perguntei novamente, me
sentando em uma das baquetas.
De novo, ele deu um grande suspiro, passando suas mãos no
rosto e vindo em minha direção, parando a minha frente há uma
certa distância.
— Emma e eu... não deu muito certo.
Mais essa.
— Como assim? — perguntei, gesticulando com as mãos.
— Tentamos, mas não rolou.
— Me explica melhor, Jax!
— Antes de assumirmos um lance mais sério, estávamos tão
bem. Estávamos tão apaixonados um pelo outro e então
começamos a namorar e foi esfriando e aqui estou eu.
— Assim, sem mais nem menos, você voltou para cá?
— Decidimos dar um tempo, para ter certeza de qual caminho
iríamos seguir. Então, decidi vir para cá, te ver.
Eu ainda o olhava com o cenho franzido. O que ele quer dizer
com tudo isso? Ele bufou mais uma vez, percebendo também o
quão confuso está tudo isso.
— O fato é que eu ainda penso em nós dois.
— Ah Jax... — Balancei minha cabeça negativamente,
massageando minhas têmporas — Eu achei que isso
estivesse resolvido!
— E estava! Meu relacionamento com Emma estava tão
confuso que isso acabou ficando em minha mente.
Ele se aproximou mais de mim, pegando meu rosto com as
mãos, me fazendo encará-lo.
— Eu sinto a sua falta!
Escutei minha porta abrir e olhamos para o lado, ambos
surpresos. Eu já deveria ter imaginado que isso iria acontecer!
— Que lindo, estou atrapalhando alguma coisa? — John falou,
ironicamente, cruzando os seus braços gigantes em seu peitoral,
parando na sala.
Jax se afastou de mim, olhando para John e para mim,
incrédulo.
— Mas que porra é essa, Sofya?! Ele tem a chave do seu
apartamento?
Coloquei minha mão na testa, a massageando e fechando os
olhos. Eu mereço, Senhor... mereço?! Eu não acredito que John
teve a audácia de vir aqui agora! Isso é tão típico dele! Desaforado e
folgado como sempre, John sorriu para Jax mostrando a chave em
sua mão.
— Ah... ela não te contou? Tsc, tsc, tsc — falou, se
aproximando e encostando-se no sofá, próximo a nós. — Boneca,
por que não conta para ele o que fizemos esse tempo todo
enquanto ele estava com a namorada dele lá na terra dele? —
continuou ele, ainda com os braços cruzados e com a cara mais
cínica do mundo.
Eu juro que irei matá-lo hoje! Jax riu, nervosamente e me
olhou.
— Boneca? Sofya, me explica isso direito.
— Eu não tenho que explicar nada, Jax. Nada além do que eu
te disse antes. John é meu vizinho, tivemos um lance sim e ele tem
a chave da minha casa para usá-la APENAS em EMERGÊNCIAS —
enfatizei a última frase e fuzilando John com os olhos.
— Então vocês TINHAM um lance? — perguntou Jax, ainda
desconfiado.
— TEMOS um lance — rosnou John, desencostando do sofá e
ficando mais próximo de Jax. — Você não deveria estar com a sua
namorada na sua terra, seu inglês metido?
— Eu não tenho namorada, seu marmanjo escroto.
John parou na hora, voltando a olhar para mim com
desconfiança.
— Já chega disso! John vá embora agora!
— Não até ensinar a esse inglês nojento o lugar dele, que é
longe daqui e longe de você! — rosnou ele, voltando-se para Jax.
— Escuta aqui seu babaca, você não escutou ela dizer que
quer VOCÊ fora daqui? Que TINHA um lance com você? Quem tem
que ficar longe dela aqui é VOCÊ! —disse Jax.
E lá estavam os dois novamente, se encarando como dois
galos de rinha!
— Eu duvido muito que ela me queira longe, já que o lugar
dela é aqui, do meu lado. Já o seu é bem longe daqui.
Mas que porra é essa?
— John, já chega! — falei, os separando e encarando John.
Como ele pôde dizer essas coisas depois do que fez hoje?
— Você provou que não me quer por perto hoje, quando eu
peguei você transando com aquela mulherzinha!
Droga. Sabe aquele momento que você se arrepende
instantaneamente de ter dito algo, então... esse foi um deles,
saudades racionalidade. De repente os dois me olharam com o
cenho franzido.
— Você está com ciúmes? — disseram os dois ao mesmo
tempo, porém usando tons diferentes. Minha boca se abriu, eu
estou chocada com essa constatação... constatação DUPLA ainda
por cima! Isso é ridículo!
— Inacreditável! Agora chega dessa competição ridícula de
testosterona! John, saia daqui agora!
— Não, até que ele saia! Eu quero ele fora daqui agora!
Antes mesmo de Jax responder e ir para cima dele, eu entrei
em seu caminho, ficando a centímetros de John.
— Escuta aqui, Senhor Machão, só existe um alfa aqui dentro,
e esse alfa SOU EU e eu quero que você saia antes que as coisas
fiquem feias para o seu lado — rosnei, o fazendo arquear suas
sobrancelhas.
— Você escutou ela seu babac...
— E você cala a boca, Jax, porque assim que conversamos
você também vai embora. — Me virei para encará-lo, também o
deixando surpreso.
— Eu vou, mas se você não for me procurar até o final da noite
eu volto aqui de novo — falou John, se virando em direção à porta,
me olhando. — Que fique bem claro — rosnou, voltando seu olhar
para Jax, batendo a porta ao sair.
Voltei a olhar para Jax, que ainda mantinha seu cenho
franzido. Me sentei novamente, dando um grande suspiro e
apoiando minha cabeça em minhas mãos. Escutei Jax se sentar ao
meu lado.
— Eu nunca tinha visto você daquela maneira.
— Daquela maneira como, Jax? — perguntei, o encarando.
Ele ficou pensativo novamente, sem tirar seus olhos dos meus.
— Você gosta dele, não é? — perguntou, quase num sussurro.
Sua cara parecia triste e percebi que ele está com medo da
minha resposta... assim como eu. Bufei, pensativa.
— Eu gosto dele — respondi de maneira sincera. Ele olhou
para baixo, assentindo.
— Olha, a minha vontade de dar uma surra naquele babaca
aumentou ainda mais depois dessa resposta — falou, apontando
para a porta. — Eu perdi a minha chance então.
— Jax, olhe para mim — pedi, chamando sua atenção de volta
para mim. — Você foi atrás da Emma primeiro, porque você sabia
que não iria rolar nada entre nós — disse, o fazendo rir de nervoso.
— E eu sei que no fundo você continua a amando, e está aqui
porque está confuso quanto a isso.
— Sim, eu ainda a amo, só não sei como pode dar certo.
— Sim, você sabe. Volte lá e diga como se sente. Se você não
está feliz com um relacionamento então não tenha um! Deixe o
tempo levar vocês... juntos! — Ele me olhou, com esperança no
olhar.
— Eu estraguei tudo, não é? — perguntou, rindo.
— Sim, você estragou — ri também.
— Tudo bem, vou embora daqui, conforme você mandou. Mas
queria muito entender qual é o lance entre você e aquele idiota!
— Nem eu entendo, relaxa.
Ele se aproximou de mim, pegando meu rosto em suas mãos.
— Me prometa que sempre seremos amigos e que você nunca
me deixará? — sussurrou ele.
Aquele é o meu amigo, o meu Jax, que sempre esteve ao meu
lado. Seguiríamos em caminhos diferentes, mas tenho certeza de
que sempre seremos amigos acima de tudo. O olhei sorrindo,
assentindo positivamente para ele.
— Amigos acima de tudo, não é mesmo? — falei, o fazendo
sorrir lindamente.
Ele tomou meus lábios nos seus e eu soube que aquele seria
nosso último beijo. Interrompi o beijo, olhando para ele.
— Com certeza — respondeu, indo em direção à porta. —
Obrigado!
— Me mande notícias, tá legal?
— Claro. Boa sorte com aquele idiota. E, só para constar, acho
isso um erro! — ele falou, me fazendo rir. — Até logo, Furby.
— Até — respondi, vendo ele ir embora e fechar a porta.
Me joguei no sofá, olhando para o lustre da sala. Com Jax era
tudo tão fácil e tranquilo. Agora com John? Não mesmo. Quando
não estávamos discutindo, estávamos transando em algum canto.
Tão complicado, mas tão... tão certo, tão aconchegante para mim.
Argh! Eu ainda queria matá-lo, mas eu preciso ter controle, não
posso cometer o deslize que cometi a pouco e demonstrar que
aquilo tinha me afetado. Mal tive tempo de pensar e lá estava ele,
atravessando minha porta de novo. Tão teimoso! Resmunguei e
coloquei uma almofada em minha cara.
— Podemos conversar agora?! — questionou ele.
— Adiantaria se eu falar que não? — resmunguei embaixo da
almofada.
— Por que aquele inglês desgraçado estava aqui, Sofya? —
perguntou ele, tirando a almofada da minha cara e a jogando para o
outro lado, me fazendo encará-lo.
Me levantei, ficando a sua frente.
— Para sua informação, ele já foi embora. E vamos esclarecer
algumas coisas aqui: até que você aprenda a se comunicar como
uma pessoa normal, eu não quero você entrando aqui do nada. Está
claro? A partir de agora bata na porta.
— Mas o que?
— Sim! Pois em nenhum momento você me perguntou se eu
estava transando de fato com alguém! — exclamei, o deixando sem
palavras, olhando apenas para o chão. — Agora pode ir, John, por
favor. E mande lembranças a Marisa.
Não iria perder a oportunidade. Ele me olhou surpreso e
depois bufou.
— Sofya aquilo...
— John, por favor! Foi um longo dia, me deixe descansar! —
Me virei para a janela.
Não escutei mais sua voz, apenas a porta se fechando e o
terrível silêncio se instaurando no ambiente. Meu coração se
apertou ainda mais e as lágrimas preencheram meus olhos, porém
não irei chorar! Detesto chorar! Ergui a cabeça e fui em direção ao
banheiro. A minha intenção agora era desmanchar na banheira para
esquecer o dia de hoje.

Outubro havia chegado trazendo clima de outono consigo. O


lançamento da edição de novembro foi um sucesso e já havíamos
começado o mês com os preparativos do Baile de Inverno Glam
deste ano. Como editora executiva, essa será a primeira vez que irei
realizar este grande projeto junto a Donatella e o nosso diretor
criativo da revista, que por sinal, eu ainda não sei quem é, já que o
antigo diretor, Andrian Holts, pediu demissão no final de julho.
Desde que isso aconteceu, tudo ficou em minhas costas e eu me
desdobrei, não em duas pessoas, mas em umas trinta, para que
tudo ficasse perfeitamente nos eixos naquela redação e, como eu
sou uma excelente profissional, ocorreu tudo bem... aliás, está
correndo tudo bem, mas eu não sei até quando, porque vou ficar
louca se esse diretor não chegar logo.
Falei sobre isso com Donatella e ela tinha tomado uma decisão
quanto à vaga e quem a preencheria, pois assim como eu, ela tem
consciência de que precisamos de um diretor criativo para os
preparativos do baile. Só de pensar nisso, já me deixava com um nó
no estômago de tanta ansiedade, porque será eu a responsável por
fazê-lo acontecer, isso inclui escolher TUDO, do tema aos
convidados, quer dizer, eu terei que dar essas opções para que
Donatella batesse o martelo.
Minha cabeça está a mil e minha mente está saturada de
pensamentos. Não bastasse a revista, tinha John também. Eu estou
o evitando desde aquela nossa discussão em meu apartamento e
ele sabe disso, já que não para de me cobrar, e toda vez que bate
na minha porta, eu finjo que não estou ou estou dormindo, além de
não atender seus telefonemas e apenas responder, em poucas
palavras, suas mensagens, coisas como: “Oi”, “tudo e vc?”, “não há
nada errado, só estou trabalhando demais”, “hoje não, vou sair tarde
do trabalho”, “não dá, trabalhei muito e estou cansada” e por aí vai.
Coisas que não eram totalmente mentira, já que, para tirar esse
idiota da minha cabeça eu me joguei com tudo no trabalho, e acho
que nunca trabalhei tanto em minha vida.
Se está funcionando? Não, não está! Argh! Por que ele tem
que ser tão cafajeste? E por que eu estava fugindo dele dessa
maneira? Tá legal, nós somos amigos, mas aquilo me deixou muito
abalada e eu não tenho coragem de encará-lo de novo. Eu estou
dando meu melhor para não ignorá-lo totalmente e não agir como
uma garotinha traída, mas eu ainda não estou preparada para agir
normalmente com ele e preciso desse tempo longe para pensar em
nós, como será daqui para frente. Se eu não quero nada a sério,
preciso me preparar para aceitar tais coisas em nossa amizade,
como a de que ele é solteiro e pode transar com quem quiser. Mas
só em pensar nisso meu coração aperta! Por que tem que ser tudo
tão difícil assim?
Meu celular vibrou e vi uma mensagem de Shantell. Estava
indo para nosso Pub preferido onde ela está me esperando. Nesta
tarde havia recebido uma ligação dela, me perguntando se não
poderíamos nos encontrar hoje para conversarmos. Eu achei muito
estranho na hora, mas ela me garantiu que não era nada demais,
mas que não queria conversar pelo telefone. Aquilo ainda está muito
estranho para mim. Entrei no Pub e vi que ela me esperava sentada,
tomando uma Guinness, e apenas me notou quando me juntei a ela.
— Até que enfim! Já estou no segundo copo.
— Eu estava trabalhando!
— É, ultimamente você tem feito muito isso — falou ela, me
fazendo franzir o cenho. — E tem mesmo, ué!
— Tá legal, pode ir falando — falei, a fazendo revirar os olhos.
— O que está acontecendo com você?
— Como assim?
— Sofy, qual é? Você está distante e agora só vive pelo
trabalho!
— É o meu cargo novo, lembra? Eu tinha te dito que seria
assim!
— Não é só isso! Não me tache de otária garota, eu sei muito
bem o que está acontecendo! — exclamou, me olhando sério.
Xiii, quando ela fica assim, lá vem coisa. Por sorte, o garçom
nos interrompeu para entregar a minha cerveja, me dando algum
tempo de vantagem. Dei um grande gole sem olhá-la.
— Eu te conheço há anos, Sofya! Você é minha melhor amiga!
— O que você quer dizer com tudo isso, Shantell?
— Não é óbvio? — Ela me encarou, mexendo sua cabeça.
Tombei minha cabeça de lado, ainda a encarando e dando
uma de sonsa, para ver se ela parava com aquilo.
— Até parece — resmungou ela, se jogando para trás e
cruzando seus braços em seu peito. — Você está apaixonada e não
está sabendo lidar com isso! — exclamou ela, me fazendo cuspir
minha cerveja na mesa.
— O que?
— É sim! Eu sempre te disse que esse “lance” com o John não
era só um lance! E agora você me provou que estou certa!
— Te provei que você est… espera aí, Shantell. Isso é ridículo!
— Agora eu tinha me jogado para trás e cruzado meus braços.
— Ah é?
— É sim!
— Então por que está evitando John? — perguntou, fazendo
biquinho e mexendo a cabeça.
Abri minha boca, incrédula, e franzi ainda mais meu cenho.
— Mas como... ah! — bufei, revirando os olhos. Só podia ter
sido ele a abrir a boca grande. — Ele foi correndo te contar, não é?
— Sofy, ele apareceu na minha porta ontem, pedindo a minha
ajuda, e me explicou tudo o que aconteceu.
— Covarde. — Matei a minha cerveja com um grande gole. —
Garçom!
— Não estou falando que ele está totalmente certo, mas se
vocês não estão juntos mesmo, por que está evitando ele?
— Porque ele é um cafajeste! — gritei, atraindo a atenção de
algumas pessoas ali.
Shantell me olhou, atentamente, e um sorriso sacana surgiu
em seus lábios.
— Eu sabia, EU SABIA, HÁ! — gritou ela, apontando para
mim.
Revirei os olhos, passando a língua nos dentes e me virando
para o lado, balançando a cabeça.
— Você gosta mesmo dele. Eu nunca te vi assim por ninguém!
Nem mesmo pelo Jax! Sofya, qual é, eu sou sua melhor amiga! —
falou, choramingando e pegando as minhas mãos, atraindo minha
atenção novamente.
Dei de ombros, bufando.
— Mesmo se eu quisesse, Shant... não vai dar certo! Olhe
para ele! Aquilo é a natureza dele! E eu não quero acabar como a
minha mãe, sofrendo!
Ela me olhou, entortando a boca.
— Você não pode ficar pensando só nisso. Precisa esquecer
isso ou não vai ser feliz com alguém! Quer dizer... — Ela suspirou,
olhando para a mesa em busca de palavras. — Olhe para mim e
Preston! Eu nunca fui tão feliz na minha vida com alguém! — falou
ela, dando um grande sorriso, me fazendo sorrir também.
Realmente, nunca a tinha visto tão feliz assim e por isso
Preston ganhou um lugar em meu coração, afinal, Shantell merece
toda a felicidade do mundo para compensar sua infância difícil.
— Esqueça isso, volte a falar com ele e se acontecer... deixe
acontecer — continuou.
Tirei minhas mãos das delas, as colocando em meu colo, e
olhei para o chão, dando uma pequena risada desanimada e
balançando a cabeça.
— Você me conhece muito bem, não me conhece? —
sussurrei, voltando a olhá-la. Ela murchou, fazendo um cara triste.
— Pois é, então sabe que eu não vou conseguir fazer isso.
— Sua cerveja, moça.
— Quer saber, deixa para lá! — falei.
Peguei minha bolsa, tirando uma nota de cinquenta dólares da
carteira e deixando em cima da mesa. Contornei a mesa e dei um
beijo na testa dela.
— Eu já estou indo, não me sinto bem. Até logo. — Me virei e
saí do Pub.
Shant não veio atrás de mim porque ela sabe quando eu
preciso de um espaço, e eu realmente preciso de espaço.

Já faz quase um mês que ela está me evitando. Um maldito


mês, e isso está me deixando maluco. Tinha a visto poucas vezes,
mas em todas ela praticamente fugiu de mim. E aqui estou eu, com
os pés na mesa de meu escritório, jogado em minha cadeira,
arremessando bolinhas de papel no lixo e tentando encontrar um
jeito de fazê-la falar comigo. Eu deveria estar planejando nosso
próximo passo no caso, mas decidi colocá-la como prioridade, já
que tinha tentado de tudo para tirá-la da minha cabeça, e não
adiantou, o que não me deixava pensar em nada além disso. Aquela
maldita, teimosa e louca! Olhei para o relógio e já passava das
15h30, ela deve estar no trabalho, então... é, ela está no trabalho,
hm. Me levantei, entusiasmado com a ideia que se formava em
minha cabeça. Bom, se Maomé não vai a montanha, a montanha vai
até Maomé. Peguei o telefone e disquei para recepção.
— Dora, chame Preston aqui. Urgente.

— Não estou gostando nada disso, John. Se Rhodes


descobrir, seremos dispensados do caso na hora.
Preston não parava de resmungar enquanto entrávamos no
edifício onde fica a revista.
— Ele não vai saber. Estamos indo verificar novas evidências
para o caso — disse, ajeitando meu paletó.
— E desde quando Sofya é uma evidência? —
resmungou, enquanto nos aproximávamos dos seguranças que
estavam perto da catraca.
— Quieto — sussurrei sem olhá-lo.
— Você é um idiota! Vai me pagar três Guinness até o final da
semana.
— Uma.
— Duas e chega disso — sussurrou, dando uma trombada em
mim com seu ombro e passando na minha frente.
— Medroso — falei.
— Cuzão.
— Senhores, sem crachá, sem passe — falou um dos
seguranças ao perceber que iríamos entrar.
Coloquei a mão no bolso interno do meu paletó e lhes mostrei
meu distintivo, sem olhá-lo.
— Algum problema? — perguntou o mesmo segurança.
— Qual é o andar da revista, amigo? — indagou Preston a ele
enquanto íamos para um dos elevadores.
— Décimo quinto andar. Ahm, mas há algo de er... — insistia
ele. Entramos no elevador e a porta se fechou antes que ele
pudesse terminar de falar.
Assim que saímos no andar da redação, vimos a recepção
grande e luxuosa. Atrás da mesa grande havia uma mulher asiática
sentada e colocando o telefone de volta ao gancho. Assim que nos
notou, ela me olhou de cima a baixo. Tirei meus óculos e fui em sua
direção.
— B-boa tarde, senhores. No que eu posso ajudá-los? —
perguntou ela com um grande sorriso.
— Boa tarde, querida. Pode me informar onde é a sala de
Sofya Viatcheslav? — perguntei a ela, que desfez o sorriso.
— Desculpe senhor, a senhorita Viatcheslav irá entrar em uma
reunião geral no salão agora e não pode...
— Hm, é para cá então. Obrigado. — Entrei no corredor.
— Senhores esperem, não podem entrar!
Ignoramos ela e entramos na redação, onde todos estavam
alegres e se reunindo para alguma coisa. O ambiente é bem legal e
diferente, com baias enfeitadas e bem coloridas, como uma típica
revista de moda deve ser. Paramos perto de uma parede e segui o
olhar das pessoas, que olhavam para minha esquerda... e lá
está ela, caminhando em direção a uma mesa grande que fica de
frente ao restante das baias. Para minha surpresa, ela subiu na
mesa, com aqueles saltos enormes, e ficou de frente a todos,
assobiando para chamar a atenção deles. Ri, e cruzei meus braços.
Isso é tão Sofya.
— Olá para todos! Como vocês sabem, Donatella está em
Paris ajudando nossa revista irmã de lá em alguns novos projetos.
Porém, ela me deixou encarregada de dar algumas notícias a vocês!
— exclamou ela, sorrindo. — Nigel, pode vir até aqui?
Ela o chamou, estendendo seus braços para que Nigel se
juntasse a ela.
— Se eu cair daqui eu te levo junto — ele falou ao se juntar a
ela, arrancando risadas de todos ali.
— Pessoal, é com muito orgulho e felicidade que anuncio a
vocês que Nigel Thompson é, a partir de hoje, o novo diretor criativo
da Glam Magazine! — comunicou ela, arrancando palmas e gritos
de todos ali.
Nigel desceu da mesa para cumprimentar seus colegas
enquanto ela continuava ali. Agora suas mãos estão em sua cintura,
numa pose de dona do pedaço. Ela está mais gostosa do que eu me
lembrava, ainda mais com aquela saia e uma blusa de manga
comprida bem justa em seu corpo.
— Certo. Agora voltem todos ao trabalho, vamos arrasar! E
boa sorte, Nigel!
Ela mal havia descido de lá e Lea colou nela com vários papéis
na mão. Fui um pouco mais para frente e Preston permaneceu onde
estava, mas parei quando percebi que ela vinha em minha direção,
ainda sem me notar. Isso vai ser interessante.
— Preciso que assine isso aqui também, e... ah sim, eu tentei
falar com o agente da Katy Perry, mas ele não me atendeu. Patrick
pediu que mandasse os papéis das modelos de novo, só que...
— O que? E o que você disse a ele? — perguntou Sofya.
As duas estão paradas bem na minha frente, mas ainda não
notaram. Olhei para Preston, tentando segurar o riso.
— Que você tinha mandado já, mas...
— Lea, me diz que todas as modelos assinaram aquele
papel?! — ela disse, ficando de frente para Lea, tampando sua cara
com os papéis que a garota havia dado para ela.
A garota a olhou assustada, respondendo sua pergunta. Pobre
Lea, se eu sofro nas mãos dessa megera, imagine essa garota.
Sofya a olhou, de cara fechada.
— Eu quero seu coração como prato principal hoje, escutou!?
— Mas chefe... — Lea arregalou os olhos assim que me viu.
Sofya se virou, ainda com a cara amarrada e parou quando me
encontrou, também arregalando seus grandes olhos. Ela fica tão
linda quando faz isso.
— Sabe Lea, você pode denunciar sua chefe por abuso.
Garanto que daria um belo processo trabalhista. Serei sua
testemunha, se quiser — falei, em um tom de brincadeira, fazendo a
garota rir.
Sofya a fuzilou com o olhar, a fazendo se calar na hora, logo
depois voltou-se para mim de novo, trincando a mandíbula.
— Senhorita Viatcheslav, me desculpe eu tentei...
— Pode ir, Yumi — cortou a recepcionista em um tom ríspido.
— O que você está fazendo aqui? — questionou, cruzando os
braços e me encarando.
Notei que estávamos chamando a atenção ali e escutei
Preston atrás de mim.
— Te espero na recepção. Olá, Sofya.
Sofya o olhou, franzindo o cenho.
— Você também?!
— Não olhe para mim. Isso é coisa dele, se entenda com ele.
Fuzilei ele com o olhar enquanto ele voltava para a recepção.
— O que você está fazendo aqui? — rosnou ela.
— Bom, como você anda muito ocupada no trabalho, a ponto
de me ignorar, decidi vir aqui hoje, para ver se você conseguiria me
dar um pouco do seu precioso tempo. — Me aproximando dela.
— Querida, se você não dar eu dou — falou uma voz
afeminada quase ao nosso lado e percebi que havia um grupo de
gays nos olhando de suas baias. Fiquei vermelho na hora, dando
um pigarro.
— Eu também — disse o outro ao seu lado.
— Lea, por favor... — Sofya murmurou, colocando a mão na
testa.
— Certo. Foi bom te ver John! — Lea se despediu, e eu
assenti com a cabeça. — De volta ao trabalho, suas bichas
folgadas!
Sofya criou um monstro, igual a ela.
— Sofya, você... ahhh, o que meu Agente preferido está
fazendo aqui? — perguntou Nigel, pegando em meus braços.
— Uma pequena visita. Parabéns pelo novo cargo, Nigel, você
merece.
— É, eu sei! — respondeu, passando a mão em seu rosto.
Será impossível conversar com ela aqui.
— Nigel, se me der licença, vou roubar a moça aqui por alguns
minutos, se não se importa. — Peguei Sofya pelo braço e a arrastei
em direção a algumas das salas ali.
— O que você está fazendo?! — rosnou ela, discretamente,
enquanto a arrastava para lá.
— Me diga onde é a sua sala, agora.
— John, pare com isso! Estou trabalhando! — Senti os olhos
de muitas pessoas em nós e voltei a sussurrar em seu ouvido.
— Você sabe que eu não irei desistir, então se não quiser
chamar mais atenção sugiro que me mostre.
Ela se desvencilhou do meu aperto em seu braço e andou na
frente.
— Me siga.
Fiz como ela falou e entrei em sua sala depois dela, fechando
a porta atrás de mim. Observei a sua sala, que não é muito grande,
mas é aconchegante. Fui andando para explorar o cômodo
enquanto ela se escorava em sua mesa com os braços cruzados.
Olhei ao redor e a sala tinha personalidade, assim como ela, com a
parede num tom claro de roxo, móveis brancos, capas da revista
pendurada em uma parede, fotos dela com artistas, janela
panorâmica na qual tem uma visão privilegiada da Times Square,
há flores em sua mesa, papéis, canetas e muitas outras coisas.
Muito Sofya.
— E então? Esse show todo é para quê?
— Gostei da sala — falei, voltando a olhá-la.
— John!
— Por que você está me ignorando? — Ela foi em direção à
janela, olhando a paisagem.
— Já disse a você que não estou te ignorando.
— Sofya, para com isso! Eu errei, já me desculpei. O que mais
é preciso par...
— Por que você não foi tirar satisfação comigo ao invés de ter
mandado Preston bombardear Shantell de perguntas sobre o cara
com que saí naquele dia?
Droga, Shantell contou a ela! Ela voltou a se encostar na
mesa, me olhando.
— Eu não sei... quando eu vi aquele cara saindo daquela
boate com você eu não raciocinei direito e...
— Como assim “Você viu”? — Ela franziu o cenho, vindo em
minha direção.
Engoli a seco. Droga, se ela descobrir que eu a invest...
— VOCÊ viu? Então não foi Preston que contou?
— Ele me contou sim... — Tentei transparecer calma, com
muita dificuldade.
— Então como você viu?
Ela estava a centímetros de mim e eu não consegui disfarçar o
que tinha dito antes. Droga, olhei para a janela, tentando disfarçar,
coçando minha barba.
— Você me investigou — riu de forma irônica. — VOCÊ ME
INVESTIGOU DE NOVO! Seu...
Senti seus tapas em meu peito, que só me faziam cócegas.
— Hey, calma! Me escute! — Peguei seus pulsos, a obrigando
a olhar para mim.
Eu disse que ela saberia ligar os pontos, não disse? Preciso de
um plano, e rápido.
— Você tinha me prometido, seu bastardo!
— O que eu prometi foi sobre o seu passado.
— Argh! Eu quero matar você! — Se desvencilhou de mim e foi
para o outro canto da sala.
— Sofya me escuta. Eu precisei ver as filmagens das câmeras
de segurança daquela boate para investigar um suspeito e acabei te
reconhecendo em uma das filmagens… e então a vi com aquele
babac... aquele cara. — Consegui chamar sua atenção de novo
para mim.
Ela ainda estava ofegante, mas parecia mais calma.
— Eu não te investiguei, propriamente dizendo.
Sim, eu estou mentindo, e daí? Mas um dia irei contar a
verdade a ela... quando ela estiver mais calma.
— Isso não justifica você sair por aí transando e colocar a
CULPA disso em mim, falando que era EU que saia por aí transando
com esses caras... isso foi uma justificativa para VOCÊ sair por aí
transando com qualquer uma!
— Não, não foi! Eu tinha dito que estava bem com você!
— Não foi o que pareceu. Para mim estávamos bem! A
comunicação estava bem, mas me enganei.
— Me desculpe, ok. Eu fui um idiota — fui em direção a ela.
Ela me olhou, suavizando seu olhar, e depois desviou seu
olhar.
— Sim, você foi — falou, agora um pouco mais calma.
— Vamos voltar como era antes. Quero minha amiga de volta
— Me aproximei ainda mais, e coloquei uma mexa do seu cabelo
atrás da sua orelha.
O que eu queria mesmo dizer era: “volte para mim, sinto sua
falta a todo tempo”, mas, seguindo os conselhos de Shantell, eu
devo ir com calma. Ela me olhou, ainda em dúvida.
— Com uma condição. — Levantou seu indicador pra mim, me
fazendo rir.
— Tudo bem.
— Se eu souber que você anda me investigando, eu juro por
Deus que eu nunca mais falo com você e coloco fogo no seu
apartamento! — proferiu, me fazendo gargalhar.
— Ok. Tudo bem, vai. Agora...
Colei meu corpo ao dela, agarrando a sua nunca e sua cintura.
Ahhh, aquele olhar de desejo, como eu senti falta dele, me fazendo
sorrir.
— O que acha de balançarmos essa mesa um pouco? Já faz
um tempo e fiquei de pau duro só de ver você assim... com essa
saia — sussurrei em sua boca, agarrando a barra da sua saia e a
subindo com tudo, logo depois levantei sua coxa na lateral da minha
perna, ficando no meio de suas pernas.
Seu corpo a entregou e ela deu um pequeno gemido. Tomei a
sua boca na minha, num beijo explosivo e nós dois gememos.
Peguei em sua bunda, a levantando e a sentando na mesa, com a
mesma agilidade, tirei sua blusa e a joguei no chão. Grunhi ao ver
seus peitos envoltos em um sutiã branco de renda. Puxei o tecido
para baixo e os agarrei com força, fazendo com que ela jogasse sua
cabeça para trás, gemendo baixo. Me abaixei para que minha boca
trabalhasse neles, sugando um a um.
— Hm, eu adoro seus peitos. Eles são os melhores.
— Cala a boca e me fode logo, não temos muito tempo —
sussurrou entre gemidos, me fazendo rir.
Sempre tão mandona. Puxei sua calcinha entre suas pernas e
precisei de controle para não rasgá-la, pois era isso que eu queria,
mas não posso deixá-la sair por aí depois sem calcinha.
Rapidamente ela tirou o meu cinto e liberou meu pau de dentro da
cueca, o massageando antes de eu pegá-lo e posicioná-lo em sua
entrada. A encarei assim como ela me encarava, com aquela cara
de safada que eu tanto gosto. A penetrei sem rodeios, fazendo ela
gemer e fechar os olhos.
Deus, como eu senti falta de estar com ela, de estar dentro
dela. Grunhi, aumentando o ritmo, fazendo, de fato, a mesa
balançar e algumas coisas caírem no chão. Ela mordia os lábios a
cada estocada que eu dava nela, na tentativa de não gemer, sem
sucesso. Comecei a sentir suas paredes internas contraírem meu
pau mais e mais, me fazendo perder a cabeça e meter ainda mais,
até o talo. Não irei aguentar muito tempo, assim como ela. Agarrei
seu cabelo, o puxando para trás, e comecei a sentir seus espasmos,
liberando seu mel no meu pau. Caralho, que delícia.
— Vou gozar — rosnei, jorrando no fundo de sua bocetinha.
Eu tremia, dando estocadas finais, assim como ela, que se
deitou em sua mesa, recuperando o fôlego. A vi esticando seu braço
para alcançar uma das gavetas da mesa e tirar de lá um pacote de
lenços umedecidos, que ela jogou para mim, se levantando logo em
seguida. Nos encaramos, ambos com sorrisos no rosto.
— Agora você pode ir — falou, pegando um lenço e se
limpando.
Quem era o cafajeste aqui mesmo? Neste momento não era
eu. Fiz a higiene com os lenços enquanto ela se ajeitava, arrumando
seu cabelo e retocando sua maquiagem.
— Nos vemos de noite — disse, chamando sua atenção
novamente para mim.
Ela continuava a me encarar enquanto eu ajeitava minha
camisa.
— Isso foi uma pergunta ou uma afirmação?
— O que você acha? Você não tem escolha. Vou te levar a um
lugar — falei sem olhá-la, indo em direção à porta e a abrindo.
Antes de fechar a porta, olhei para ela, que tinha uma pose
divertida e teimosa, com as mãos na cintura e o cenho franzido. Eu
sorri, afinal lá estava ela, querendo me dar uma resposta com
aquela boca atrevida, mas nada saiu da mesma.
— Te vejo mais tarde — acenei, fechando a porta.
Andando pela redação, senti muitos olhos me encarando.
Quando cheguei à recepção vi Preston sentado em uma poltrona,
franzindo o cenho ao me ver encará-lo enquanto ajeitava minha
gravata.
— Seu filho da puta sortudo — ele falou, se levantando e
ficando ao meu lado, saindo junto comigo, me fazendo sorrir.
— Sabe como é, né? — Coloquei meus óculos escuros
enquanto a porta do elevador se fechava.

Cobertores, travesseiros, pizza da cantina e vinho. Tudo certo.


Não sabia se estava autorizado a entrar no apartamento dela
novamente, por isso, aqui estou eu, batendo em sua porta. Ela abriu
a porta, me olhando com uma cara divertida. Eu já falei o quanto ela
é linda? Ela está vestindo uma blusa de tricô branca... ou bege, não
sei, calça jeans, botas — que parecem de esquimós — marrons e
está com seus lindos cabelos soltos. Não pude evitar olhá-la de
cima a baixo.
— Para que é tudo isso? — perguntou, rindo.
— Pode pegar duas taças, por favor?
Ela me olhou, com uma cara “o que é que você está
aprontando?” e foi em direção ao armário, fazendo o que eu pedi,
voltando logo depois, fechando sua porta.
— Obrigado. Pode levar o vinho também?
Ela pegou o vinho de minha mão, ainda me olhando com
aquela carinha confusa.
— Agora você pode me dizer aonde vamos?
— Vem, me acompanhe.
Fomos em direção à escada de incêndio do prédio, que fica no
nosso andar. Assim que entramos, subimos mais dois lances da
escada, parando em frente à porta para abri-la. Olhei para trás e a
vi, não pude deixar de rir por ela ainda estar com aquela cara
confusa. Assim que abri a porta do terraço do prédio, fui em direção
ao pequeno sofá e a mesa que estavam cobertos com uma lona, a
puxando e, logo depois, colocando o cobertor e os travesseiros lá.
Me virei para encará-la e vi que sua cara de desconfiança fora
substituída por uma cara de encanto. Ela admirava a vista da
cidade, com aquele brilho no olhar que eu nunca iria me cansar de
ver, colocando suas mãos na boca.
— E então? — perguntei.
É uma vista muito linda, mesmo não sendo um prédio alto,
dava para ver as luzes da cidade. Aquilo não é muita coisa, mas
vinha aqui para cima sempre que queria um pouco de paz, se
tornando uma coisa bem simples. Ver a feição maravilhada de Sofya
somente reforçou o que eu sempre soube sobre ela: ela é uma
garota simples, que sempre se deslumbrou com as pequenas coisas
da vida, e suas reações quanto a isso, sempre me encantaram. Ela
me olhou, rindo e abrindo os braços para o lugar.
— Isso é maravilhoso! Por que nunca me contou que isso
sempre esteve em cima de mim?
— Estou te mostrando agora. Vem comer, antes que esfrie.
Como previ, devoramos a pizza. Colocamos nossa conversa
em dia e ela me contou seus próximos desafios na revista.
Acabamos facilmente com a garrafa de vinho, mas isso não a
impediu de ir buscar mais em seu apartamento e agora nos
encontrávamos sentados no sofá, bebendo, rindo, conversando e
olhando a vista da cidade. E lá estava, minha Sofya tinha voltado
para mim e eu não podia evitar de olhá-la, a admirando e pensando
o quanto tinha sentido falta disso. Ela tagarelava e parou ao
perceber como eu estava a olhando.
— O que foi? — perguntou, sorrindo e me fazendo sorrir ainda
mais.
— Nada... só senti falta disso.
Já escutou aquele ditado, “a bebida entra e a verdade saí”?
Pois é, precisarei me controlar ou acabaria revelando que eu... bom,
revelando coisas que não devo. Ao pensar nisso, olhei para a vista
na minha frente.
— Eu também...
Surpreso com sua resposta, a olhei e a vi corar. Para disfarçar
ela olhou para trás de mim, curiosa.
— O que é aquilo debaixo daquele pano? — perguntou,
apontando algo.
Me virei para ver do que ela falava, rindo.
— Aquilo? — perguntei e ela concordou com a cabeça.
Me levantei e fui em direção ao que tinha debaixo da lona, a
puxando e revelando um piano velho, que pertencia a mim. Senti ela
se aproximar de mim, rindo.
— Oh meu Deus, isso é demais! É seu?
— Sim. Costumava tocar quando era mais jovem, mas acabei
deixando isso de lado.
Colocando a mão no piano, ela deu a volta nele, se sentando
no banco e limpando o espaço vazio que ela tinha deixado ao seu
lado, logo depois batendo no mesmo, me chamando para que me
juntasse a ela.
— Então... mostre para mim!
— Acho melhor não.
— Ah qual é, não seja covarde.
Filha da mãe, ela sabe que eu adoro ser desafiado por ela. Fui
até o banco, me sentando ao seu lado. Ela tem aquele sorriso
arteiro nos lábios e antes de tocar algo testei as cordas do piano.
— Não estão afinadas, mas dá para tocar algo. O que quer
que eu toque? — A olhei.
Pensativa, ela me encarou de volta.
— Me surpreenda.
Ok, vai ser difícil. Agora sou eu que a olhava pensativo. Não
conseguia pensar em nenhuma música dos Rolling Stones que
pudesse tocar no piano, mas pensei em uma que é a cara dela e
que tenho certeza de que ela vai gostar, já que tínhamos escutado
milhares de vezes essa banda em sua vitrola. Antes de dar os
acordes, a olhei.
— “All veils and misty. Streets of blue...” [10]
Comecei a tocar e a cantar, fazendo a melhor voz possível no
clássico Mystify, do INXS. Ela riu jogando sua cabeça para trás e
batendo palmas.
— Siiim! — Claro que ela estava alegre e alta como eu depois
de duas garrafas de vinho.
— “Almond looks that chill devine. Some silken moment, goes
on forever. And we're leaving broken hearts behind, Uhum...” [11]
Antes que pudesse tocar e cantar o refrão, ela se levantou,
acompanhando o ritmo dos acordes.
— “Mystify, mystify me...” [12]
E lá estava ela, dançando. Eu adoro quando ela dança.
— [...] In all that exists, well, none has your beauty! I see your
face and I will survive, Uhum. Mystify, mystify me... Mystify, mystify
meeee...” [13] — continuava, empolgado, enquanto ela continuava a
dançar, alegremente — Eternally wild with the power to make every
moment come alive. All those stars that shine upon you will kiss you
every night. All veils and misty. Streets of blue. Almond looks that
chill devine. Some silken moment, goes on foreeever. And we're
leaving, yeah, we're leaving broken hearts behind, Uhum! [14]
Antes de terminar a música com o refrão, ela subiu no piano,
deitando nele de bruços, apoiando suas mãos em seu queixo e me
olhando, com aquele brilho no olhar enquanto seus pés balançavam
no ar. A olhei, na mesma intensidade.
— Mystify, mystify me... Mystify, mystify me. Mystify...[15]
Dei os acordes finais e ela rolou no piano, ficando deitada de
costas nele, me aplaudindo e rindo.
— Uhul! — gritou ela, descendo de cima do piano e vindo em
minha direção, sentando-se em meu colo, ficando de frente para
mim. — Sempre me surpreendendo, John Neeson.
— Então estamos quites, Sofya Viatcheslav — falei, antes de
beijá-la.
E assim, como cantei na música, todas as estrelas que brilham
acima de nós vieram nos beijar nesta noite.
Noite de halloween e a cidade está um caos... aos olhos de
pessoas comuns. Para mim, está calmo até demais, e quando fica
calmo demais é porque alguma merda grande vai acontecer.
Hernandez tinha tirado todos os seus fornecedores do perímetro e
as atividades de sua quadrilha cessaram, ficando em silêncio, mas
isso, para mim, não cheira bem. Por isso, Preston e eu, decidimos
verificar uma chamada recebida pelo departamento de polícia de
Nova York. Preston, claro, reclamou e não entendeu o porquê não
deixamos que a polícia tomasse conta disso, mas o lugar descrito
pela pessoa fica em um dos bairros mais violentos da cidade, sendo
também um dos principais pontos de droga. O frio já tomava conta
da Big Apple, por isso estou vestindo minha calça cargo
preta, jaqueta cargo verde escura e coturnos pretos. Chegando ao
local da ocorrência, notamos que a rua estava calma demais para
uma noite de halloween, me deixando ainda mais alerta. Olhei
receoso para Preston, que me retribui o olhar da mesma forma.
Encarei a casa humilde, pegando minha arma do coldre e a
carregando.
Descemos do carro em silêncio e ao chegar à porta, notamos
que havia sinal de arrombamento. Pegamos nossas lanternas e
colocamos nossa arma em posição para uma possível armadilha.
Fiz um sinal com a cabeça para Preston, para que ele entrasse
depois de mim e me desse cobertura caso meus instintos
estivessem certos. O que me preocupa é que em 98% das vezes
eles estão. Fomos adentrando pela casa, que tem um cheiro horrível
e está completamente revirada. Percebi que havia algo atrás do sofá
e, assim que verifiquei, vi um corpo de um homem morto, estirado
no chão.
— Droga — sussurrei.
Preston parou ao meu lado, dizendo a mesma coisa. Me
aproximei do corpo, notando vários furos na região torácica e muito
sangue. Esse cara foi executado a sangue frio. Olhei em volta para
ver se encontrava qualquer evidência. Olhei para a mesa
bagunçada e vi que havia um pó branco espalhado em cima da
mesma. Com meus dedos, peguei um pouco do pó, sentindo sua
textura, e colocando um pouco na língua. É cocaína pura. Mas que
merda aconteceu aqui? Vi uma porta fechada, ao lado da cozinha e
olhei para Preston, dando um sinal para que ele me seguisse.
Devagar e sem movimentos bruscos, abri a porta e entrei no
cômodo com minha arma apontada para qualquer coisa que se
movesse. Puta merda, eu tinha razão quando insisti em verificar
essa merda toda.
— Mas que porra... — sussurrou Preston ao ver a mesma cena
que eu.
Há outro cara morto, só que esse está sentado em uma
cadeira e sua cabeça — estourada por um tiro que, com certeza,
veio de uma arma automática — encontra-se caída sob a mesa, que
está repleta de dinheiro, um malote de cocaína e máquinas para
contabilidade. Me aproximei do cadáver e notei que aquilo deve
ter acontecido a pouco tempo atrás. Percebi alguns papéis na mesa
e os peguei, ficando completamente surpreso.
— Jeron Perigo... é aquele traficante procurado pela polícia —
sussurrei para Preston.
— Mas que porra aconteceu aqui? Briga de gangues?
Neguei com a cabeça.
— Não, é mais do que isso. O negócio é mais embaixo... mas
o q...
De repente, fomos surpreendidos por tiros vindos em nossa
direção. Nos abaixamos e tentei focar na direção de onde eles estão
vindo.
— Do outro lado da parede! — gritei a Preston e começamos a
atirar.
Os tiros só aumentavam e eu preciso sair desse quarto para
pegar o filho da puta.
— Me dê cobertura!
Me levantei atirando e saindo de lá. Preston pedia reforço pelo
rádio enquanto ficávamos atrás dos móveis destruídos. Me ergui,
atirando na direção do cômodo de onde vem os tiros e consegui ver
dois homens. Me abaixei e esperei até as balas de um dos filhos da
puta acabassem e, assim que ocorreu, me levantei, dando um tiro
certeiro em um dos caras, o fazendo cair. O outro atirou em minha
direção até que suas balas acabaram também. Olhei nos olhos do
desgraçado antes de atirar e, assim que eu fiz, o “click” da minha
arma denunciou que eu também estou sem munição. Aproveitando
a chance, o covarde correu, mas eu duvido que irá longe, comigo
logo em seu encalço. Ao tentar pular a grade dos fundos da casa,
Preston foi mais rápido que eu, voando e derrubando o desgraçado
no chão, mas ele foi mais forte que Preston, dando-lhe um soco em
seu rosto e puxando uma faca da sua calça. Antes que ele pudesse
causar um estrago maior, chutei sua mão, jogando a faca para
longe. Com raiva, comecei a distribuir socos na cara do filho da
puta, que conseguiu me dar apenas um soco.
— Hey, John, já chega cara! — Preston falou, segurando meu
braço.
Sim, eu precisava parar, pois preciso desse filho da puta vivo
para falar de toda essa merda.

A cavalaria veio em peso. O filho da puta está


recebendo cuidados médicos algemado, mas, mesmo assim, pedi a
Rhodes para interrogar o sujeito ali mesmo. Preston e eu
carregamos o filho da puta até a escada de entrada da velha casa.
O nome dele é Rico Rodriguez e faz parte da quadrilha de
Hernandez. Acabado, Rico sentou em um degrau, olhando
desconfiado para Preston, que está ao seu lado. Eu estou
encostado logo atrás deles, cruzando meus braços, só esperando o
momento certo para agir.
— Rico, não é? — começou Preston. — Que merda aconteceu
aí dentro, Rico? — Silêncio foi sua resposta.
Preston me olhou e continuou.
— Acredite em mim, acho melhor você abrir essa boca, para o
seu próprio bem.
Sem ter noção do perigo, Rico começou a rir, olhando para
mim.
— Hernandez só está esperando o momento certo para acabar
com a sua vida, John Neeson — debochou, gargalhando após dizer
meu nome.
Cego de raiva, fui em direção a ele, o levantando pelo
colarinho de sua blusa e o encostando na pilastra de madeira.
— Eu vou acabar com a raça de toda a sua laia, inclusive a de
Hernandez — rosnei, apertando seu pescoço com meu braço, cada
vez mais.
— Isso q-que acon-aconteceu… — gemia ele, sem conseguir
falar. Afrouxei o aperto, mas somente o suficiente. — Isso o que
aconteceu hoje foi somente um aviso, Agente. Você vem
prejudicando os negócios e o patrão não está contente com isso.
Sorri, sarcasticamente, antes de lhe dar outro soco.
— Seu patrão ainda não perde por esperar — rosnei de volta,
perto do seu ouvido.
— Então, se prepare para sofrer as consequências, Agente.
Antes que eu pudesse acabar com a raça desse desgraçado,
Preston me segurou, mandando que a polícia o levasse daqui.
— Hey, Neeson — chamou Rhodes, saindo com outro cara de
lá de dentro. — Esse aqui estava escondido no porão — continuou,
enquanto trazia um homem visivelmente assustado.
— Ótimo. Eu mesmo irei interrogá-lo.
— Nada disso, rapaz, vá para casa esfriar seus miolos. Você
também, Preston. Já fizeram o bastante aqui. Mais um ponto para o
caso.
— Mas chefe... — Tentei protestar, porém antes mesmo disso
acontecer Rhodes levantou sua mão e seu olhar, me calando.
— Façam o que eu mandei. Mark e Jones irão fazer o que é
preciso e, assim que tivermos mais informações, ligarei.
Assenti, derrotado.
— Sim, chefe — respondeu Preston, na mesma intensidade do
meu olhar de derrota.
Caminhamos em silêncio até o carro e antes de dar a partida,
Preston começou com suas perguntas.
— Como Hernandez está sempre um passo à frente? — disse
ele. Bufei, arrancando com o carro de lá.
— Não sei, mas não vou descansar até botar as minhas mãos
nesse desgraçado — falei baixo, focando no caminho.
— Ele sabia quem era você, John. Precisa tomar mais cuidado
agora.
Não o respondi e nem desviei meu olhar. Preston bufou e se
calou por um breve momento.
— Preciso te contar uma coisa — retomou.
Agora ele tem minha atenção. O encarei, receoso. Ele sorriu,
passando a mão em sua cabeça.
— Shantell está morando comigo.
— O que? Vocês vão...
— Não, cara. Mas acho que não irá demorar para acontecer —
sorriu.
Franzi meu cenho, ainda o encarando
— O que? — perguntou ao ver a minha cara.
— Você ficou louco?
Quando Preston, meu melhor amigo, me disse que estava
namorando, eu não liguei, pois pensei que seria algo passageiro e
que logo logo eu e ele iríamos voltar a cair na gandaia juntos
novamente, mas isso não aconteceu. Eu sabia que ele
estava gostando mesmo de Shantell, mas não sabia que essa porra
está ficando séria mesmo.
— É sério mesmo?
— Ah qual é, cara! Você mesmo disse que ela é uma boa
garota. E eu sinto que ela é A garota, minha garota. Eu me sinto
bem com ela, me sinto confortável... me sinto eu! Eu a amo de
verdade.
Ri, voltando a olhar para frente. No fundo, eu acho que sei do
que ele está falando. Olhei no relógio e já passava das 21h. Espero
que ela esteja acordada.
— Será como você e Sofya.
— O que, como assim?
— Vocês são o casal mais estranho que já vimos. Agem como
casados. Praticamente moram juntos, porém não se assumem.
— Cala a boca! — falei, socando seu ombro e o fazendo rir.
Pensar em Sofya em todo esse caos do meu trabalho é como
encontrar o paraíso em meio à guerra. Aos poucos, estou me
abrindo ainda mais com ela, pois eu sei que isso é o certo... nós
dois juntos.

Com toda essa merda de Hernandez em minha cabeça, e com


as investigações longe de acabar, eu estou esgotado. Estou ficando
velho para tudo isso. O John de pouco tempo atrás estaria em um
bar, enchendo a cara e procurando qualquer uma só para se aliviar
e esquecer de tudo isso sem dar nenhuma satisfação. O John de
hoje está aqui, abrindo a porta de um apartamento que nem mesmo
é dele para recarregar as energias com a garota mais incrível que
ele já conheceu. Cara... pensar isso me dá arrepios! Pensar em
como essa garota de “um metro e meio” está tomando conta da
minha vida, me deixa com medo, mas um medo no qual eu me
viciei, num medo no qual eu não consigo mais ficar sem, pois eu sei
que isso — que ela — está me fazendo bem. Abri a porta e a
observei na cozinha, preparando algo para comer. Como sempre a
olhei de cima a baixo e, como sempre, ela está linda e sexy,
vestindo uma camiseta de malha branca com mangas longas, com a
gola tão aberta que deixa seus ombros desnudos, uma cueca
feminina — coisa que eu nem sabia que existia até ela me falar —
da Calvin Klein e um meião que vai até o meio de suas coxas.
Encontrei o seu olhar, que me encara, junto ao seu lindo sorriso.
— Olha só quem chegou — disse ela, voltando sua atenção
para o que estava fazendo na pia.
Deus, como eu preciso dela! Fui andando em sua direção,
como um predador focado em sua presa. Cheguei por trás dela,
prensando seu corpo entre o meu e a pia, agarrando sua cintura e
mergulhando meu rosto na curva de seu pescoço, dando uma
grande fungada para sentir seu delicioso cheiro... é como um vício
para mim.
— Uau. Eu iria perguntar “gostosuras ou travessuras”, mas
acho que já sei a resposta — sussurrou, empinando cada vez mais
sua bunda para se esfregar no meu pau.
— Por que não os dois? — sussurrei de volta em sua orelha, a
mordiscando logo depois.
Com um movimento rápido, a virei para mim. Ela está com
aquele olhar de desejo, enquanto suas mãos passeavam pelo meu
peito. Tomei sua boca na minha com força, num beijo totalmente
quente, arrancando seus gemidos. É disso que eu preciso, é dela
que eu preciso... é como se toda a merda sumisse, é como se ela
renovasse minhas energias. Minhas mãos foram para seu cabelo e
as delas para minha braguilha, abrindo o zíper. Não queria perder
tempo, preciso estar dentro dela, e rápido. Com um movimento
brusco, a coloquei sentada na pia, ficando no meio de suas pernas.
Finalmente ela liberou meu pau da cueca, o massageando, e agora
foi minha vez de gemer em sua linda boca.
Nossas línguas dançavam em nosso beijo, me deixando cada
vez mais duro. Com um puxão em sua camiseta, eu a rasguei,
liberando seus peitos para mim e, sem cerimônia, os preenchi com
as minhas mãos, brincando com seus deliciosos mamilos duros. Fiz
o mesmo com sua calcinha-cueca, que se juntou com os restos de
sua camiseta no chão. Grunhi quando meus dedos chegaram em
sua bocetinha molhada, me deixando mais louco ainda. Ela
interrompeu nosso longo beijo, arfando e gemendo cada vez mais.
Sua cabeça tombou para trás quando comecei a fode-la com meus
dois dedos e seus braços sustentavam seu peso, apoiados na pia.
Ela está exposta para mim e quanto mais arqueava suas
costas, mais seus peitos se insinuavam para mim. Os abocanhei
sem dó, os chupando com vontade, os deixando vermelho, e logo
depois mordisquei seus mamilos, os prendendo entre meus dentes
e passando minha língua molhada neles, os deixando ainda mais
túrgidos. Ela rebolava em meus dedos, cada vez mais molhada, e
quando a senti contraindo-se entre eles, parei, a fazendo reclamar
com um gemido frustrado. Peguei meu pau, passando a cabecinha
de leve em sua entrada, brincando. Ela me encarava, ansiosa para
me receber, me fazendo sorrir e logo depois se inclinou um pouco
mais para trás, ficando sustentada pelos seus cotovelos sobre a pia.
Sem tirar meus olhos dos seus, a penetrei até o seu fundo, nos
fazendo gemer e, como sempre, ela está encharcada, apertadinha e
quente para mim. Comecei a me movimentar em um ritmo
controlado, sentindo o calor da sua bocetinha no meu pau, dando
estocadas leves. Ela geme, ainda me olhando, e então mordeu seus
lábios e me deu um sorriso torto. E lá está, aquela cara de safada
que me faz perder todo meu controle.
— Hm, você sabe como eu gosto, não é Ursão... — gemeu ela,
me fazendo grunhir em resposta. — Você sabe como eu quero...
ahhh! — gritou ela ao sentir minha forte estocada.
Eu tentava me controlar, mas com essa garota é impossível, e
essa é umas das melhores coisas que eu gosto nela: ela adora
quando eu sou bruto no sexo, quando eu sou eu mesmo no sexo.
— Ahhh, eu sei sim. Então se prepare para gozar, Boneca. —
Fodi ela sem dó, socando meu pau inteiro na sua bocetinha,
aumentando cada vez mais o ritmo.
Seu corpo chacoalhava, assim como seus lindos peitos, e eu
me deleitei com a cena. Ela começou a murmurar coisas
desconexas e a gemer cada vez mais, contraindo sua boceta em
meu pau. Ela está quase lá e comecei a meter ainda mais forte.
— John! — gritou meu nome ao atingir seu orgasmo,
convulsionando seu corpo em cima do meu pau, gemendo feito uma
gatinha.
Peguei seu corpo, ainda mole pelo orgasmo, e o trouxe para
mim, levando uma mão para seus cabelos, a fazendo me encarar,
porém ela ainda está de olhos fechados. Invadi sua boca com a
minha língua e, sem tirar meu pau de dentro dela, a peguei pela
bunda e a carreguei em meu colo para o quarto, com suas pernas
em volta de mim. Ela ainda está mole, então a coloquei
carinhosamente na cama, a fazendo, finalmente, abrir os olhos e me
encarar.
— Vira de quatro — falei, com minha voz carregada de tesão.
Assim que me ouviu, ela sorriu e obedeceu. Com a cena de
sua bunda para o alto, bem empinada para mim, comecei a
massagear meu pau. Ela afastou um pouco mais suas pernas e vi
sua bocetinha brilhando com seu mel escorrendo para mim. Porém,
hoje eu quero algo no qual eu venho desejando há tempos e que
sempre me deixou louco, ainda mais depois de saber que ninguém
nunca esteve ali. Olhei para o seu segundo orifício logo acima de
sua boceta e grunhi de tesão. Fui até o seu closet, em direção à
gaveta onde ela guarda seus brinquedinhos sexuais e alguns óleos
e géis. Peguei o gel e voltei para o quarto, vendo que ela estava de
joelhos e olhava para mim, curiosa. Me aproximei dela por trás, a
olhando, e a abaixando com a palma da minha mão em suas costas,
para que ela ficasse de quatro novamente, e assim que ela fez,
ainda me olhando. Abri o gel, colocando um pouco dele em meus
dedos, escutando a respiração arfante dela. Assim que coloquei o
gel em seu orifício apertado ela recuou um pouco.
— John...
— Shhh! — Me inclinei um pouco mais para cima dela. —
Calma, confia em mim?
Ela apenas assentiu com a cabeça.
— Não será só dor, eu prometo. Vamos aos poucos, até que
você se sinta confortável... até que sinta prazer, ok? — sussurrei,
continuando a trabalhar meus dedos em sua segunda entrada
apertada.
— Ok — murmurou.
Coloquei mais gel em seu ânus e posicionei meu pau na
entrada do orifício apertado. Depois de algumas tentativas, e de
Sofya conseguir relaxar mais os músculos, meu pau conseguiu
entrar e foi deslizando para dentro de seu cuzinho apertado. Sofya
gritou e eu grunhi, sentindo a sensação única de estar ali. Deus, é
tão apertado. Devagar, meu pau entrava cada vez mais, até o fim, e
fiquei alguns segundos assim, para que ela se acostumasse.
Comecei a me movimentar, devagar, e ela agarrava os lençóis na
cama e gemia.
— Tudo bem? — perguntei.
Novamente, ela somente assentiu, me deixando mais
confortável para aumentar um pouco mais o ritmo. Peguei em sua
cintura, a movimentado para frente e para trás, para frente e para
trás... e, caralho, se continuar assim eu irei gozar em pouco tempo.
Fui aumentando o ritmo e a pressão de seu buraquinho apertadinho
em meu pau está me enlouquecendo. Me inclinei mais sobre ela, me
controlando para não passar dos limites e não machucá-la.
— Droga, eu preciso gozar, Sofya — rosnei. — Se eu estiver te
machucando é só dizer alguma coisa, ok?
— Ok... continua — gemeu ela.
Era só isso que eu precisava. Fechando meus olhos e
mantendo um ritmo para me controlar, comecei a me deleitar em
seu cuzinho, sentindo a pressão dele no meu pau. Com a mão,
estimulei seu clitoris, o massageando levemente, sentindo seu mel
nela. Aumentei o ritmo, o forçando mais e ficando ainda mais louco
com seus gemidos, começando a sentir um poderoso orgasmo
chegar, convulsionando em cima dela e despejando todo meu
prazer em seu orifício que, até então, estava intocado, me fazendo
rugir e ela gritar. Devagar, sai de dentro dela, que caiu de bruços na
cama. Ainda sem forças no corpo, me deitei por cima do seu corpo
maravilhoso, encostando minha cabeça no meio de suas costas,
quase em sua nuca e, assim, ficamos até que nossas respirações
se normalizassem, assim como as batidas de nossos corações.
— Boneca? — a chamei baixinho.
— Hm.
— Você está bem? — perguntei, beijando suas costas.
— Uhum.
— Como foi? Você gostou? Doeu? — Eu preciso saber.
Ela deu uma risadinha, seguida de um suspiro.
— Eu gostei sim. Achei que iria doer mais, mas foi mais
prazeroso.
Dei um sorriso aliviado e satisfeito.
— Hum, então quer dizer que você gostou do seu primeiro
anal? — sussurrei num tom divertido, abraçando seu corpo embaixo
do meu.
— Hey, não se gabe, ok? Vamos fazer isso de novo somente
quando eu quiser — falou no mesmo tom, me fazendo rir.
— Sim, senhora. — Depositei vários beijos por seu ombro.
Ela deu um grande suspiro e virou-se para mim, deitando-se
de costas na cama, me olhando atentamente.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, colocando as mãos
em meu rosto.
Dei um sorriso, ainda me espantando com o quão bem ela me
conhece para saber quando tem algo me incomodando. Peguei uma
de suas mãos e as beijei, ainda a olhando.
— Nada com que se preocupar.
Ela assentiu, desviando o olhar do meu. Assim como ela me
conhece bem, eu também a conheço, e tem alguma coisa a
incomodando também.
— Aconteceu alguma coisa? — repeti a pergunta feita a mim,
chamando sua atenção de volta.
Ela pensou por um longo minuto antes de me responder.
— Eu não sei se Preston te contou, mas...
— Ele e Shantell vão morar juntos — completei sua frase.
Seus grandes olhos cor de mel ficaram um pouco maiores e
sua respiração ficou desregulada.
— Sim! — Percebi que ela demonstrava medo em sua voz.
E vi meus mesmos medos e questionamentos que fiz para
Preston em seu olhar, nítido como o amanhecer.
— E o que você achou?
Agora foi eu que pensei por um longo minuto.
— Eu acho que nunca vi Preston tão feliz na vida. E acho que
ele finalmente está se encontrando, finalmente arranjou uma pessoa
legal para ficar ao lado dele. Eu sei que você também está com o
mesmo conflito interno que eu sobre isto, que também está com
medo… — falei a encarando, e ela sorriu, concordando com a
cabeça, em silêncio. — Mas creio que isso será melhor, tanto para
eles quanto para nossa amizade. Shantell continuará sendo como
uma irmã para você, não se preocupe, nada irá mudar.
— É... você tem razão. Estamos nos preocupando a toa, não
é?
— Sim. — Dei um beijo em sua testa e outro em sua
bochecha, deitando minha cabeça na curva de seu pescoço em
seguida.
Não sei por quanto tempo ficamos em silêncio, apenas nos
acariciando sem malícia alguma e refletindo sobre tudo isso. Eu
principalmente. Assim como Preston, eu precisava tomar uma
iniciativa. Sofya precisa saber que eu a quero do meu lado, e não
somente como amiga, mas como minha parceira... minha namorada.

A neve já tomava conta da cidade, e eu detesto neve, nunca


me dei bem com ela. Eu posso até suportar o frio, mas neve, nunca!
É noite de sexta e voltei do Pub mais cedo por dois motivos,
primeiro: odeio despedidas e Shantell irá ficar fora um mês para a
tour nacional da Beyoncé, segundo: John não estava lá. De acordo
com a ligação que recebi dele, ele estava trabalhando para tentar
pegar o “cara mal” — palavras dele — porém, disse para que eu
esperasse por ele, pois queria me levar a um lugar legal. E aqui
estou eu, subindo as escadas do nosso prédio, andando feito um
pinguim, com quilos de roupa sob meu corpo e pensando onde
diabos John iria querer ir num frio desses? NEVANDO? A ideia não
me agrada muito, mas o que eu não faço por aquele idiota de um
metro e noventa?
Ultimamente andamos mais próximos do que nunca. Isso me
apavora? Apavora. Mas John ainda não veio com nenhum papo de
relacionamento ou algo do tipo, para meu alívio. Me lembro da
conversa de hoje com Shantell sobre isso.

— Tá bom... ok!? Eu gosto dele, tá legal! Mas acho que isso


não é segredo para ninguém! — confessei, levantando as mãos.
Assim que Preston nos deixou a sós para ir buscar mais
Guinness e alguns petiscos, Shantell resolveu me colocar contra a
parede.
— Mas estamos deixando levar, eu prefiro assim. Você sabe
como eu me sinto com relação a relacionamentos!
— Sofya, você precisa deixar o passado no passado! O tipo de
homem que seu pai foi não se aplica a outros homens em Nova
York! Eu sei que seu pai não quebrou somente o coração da sua
mãe, mas também o seu, e de quebra ainda levou embora sua
confiança com ele.
— Shant, não é só por causa disso. Eu sei o tipo de homem
que John é, e também sei o tipo de mulher que sou. Nunca daria
certo. Aliás, eu nem sei se John gosta mesmo de mim a tal ponto de
termos algo sério.
— Ah, mas não tenha dúvida sobre isso!
— O que você quer dizer? — perguntei a ela, franzindo o
cenho em sinal de desconfiança sobre sua afirmação.
— John está apaixonado por você, Sofy… e só você não vê.
Talvez eu não queira de fato ver. Tentando fugir de sua
indagação, peguei minha cerveja e dei um grande gole, sentindo
minha garganta queimar.
— Olha, quero muito ver você feliz com alguém, e vejo isso
quando você está com ele! Dê uma chance para isso, Sofy! Se
desprenda do seu passado. — Ela me olhava com seus intensos
olhos castanhos, segurando minhas mãos nas suas. — Faça isso
por mim, faça isso por ele... faça isso por você! Se permita, garota.
Eu olhava para minha melhor amiga na mesma intensidade.
Eu sempre escutei os sábios conselhos de Shantell, pois, mesmo
sendo a mais sentimental de nós duas, suas palavras sempre fazem
sentido na lógica racional. Mesmo eu querendo tapar o sol com a
peneira, no fundo ela está certa, e, bem lááá no fundo, eu também
estou apaixonada por John. Como eu me dei conta disso? Foi fácil
perceber, mas ainda é difícil admitir a verdade. Ele não sai dos
meus pensamentos, conto os minutos para encontrá-lo todas as
noites, penso no que ele vai querer para o jantar, e não o que EU
vou querer para o jantar, e, por último e não menos importante, eu
me sinto bem com ele como nunca me senti bem com outro homem
antes. Me sinto eu mesma, me sinto na minha melhor versão. As
mãos quentes de Shantell me tiraram de meus devaneios e percebi
que ela ainda aguarda por uma resposta. Dei um grande suspiro,
escolhendo bem minhas palavras.
— Vamos deixar acontecer, como estamos fazendo... assim
quem sabe eu “me permita” aos poucos — falei a ela, que se
iluminou num sorriso lindo, deu um gritinho e bateu palmas.

Eu disse a ela que vou tentar, mas só o tempo irá dizer. Assim
que virei a chave da minha porta, escutei a porta de John abrir. E,
assim como eu, ele está preparado para enfrentar uma nevasca lá
fora, vestindo um grande casaco de nylon preto — igual ao meu —
por cima de uma blusa grossa de lã verde escura, um cachecol
preto, coturnos preto e um gorro preto. O encarei e vi seu grande
sorriso se abrir, derretendo meu coração.
— Isso é um péssimo sinal! — falei quando ele veio em minha
direção.
Antes de me responder, ele me agarrou pela cintura, me
tirando do chão, e me deu um beijo suave em meus lábios.
— O que? — perguntou, me encarando quando eu já estava
de volta ao chão.
— Você tem certeza de que quer sair nessa neve toda? —
falei, o fazendo rir.
— Não vejo por quê não. Além disso, você está perfeita para
“sair nessa neve toda” — respondeu, usando minhas últimas
palavras.
Sim, eu estou preparada para uma nevasca, diga-se de
passagem: casaco de nylon preto, indo até os joelhos, uma blusa
gola alta quentinha de cashmere creme, além da malha térmica por
baixo dela, claro, calça skinny grossa de poliéster preta — sem
contar a meia calça fio 80 que está por baixo —, coturnos pretos
sem salto e um gorro de cashmere da mesma cor da blusa, com um
pomponzinho no topo dele. Cabelos soltos como um método para
esquentar a nuca conta como parte deste look inverno também?
— Vamos!
— Para onde? — Antes de me responder, ele já estava me
arrastando escada abaixo.
— Você vai ver.

— Ah não, John! Por favor, por favor! — implorei, enquanto ele


me puxava para a pista de patinação no gelo.
Eu tentava voltar para trás, sem sucesso, o fazendo rir.
— Deixa de ser medrosa, vem logo! — Ele me puxou e meus
patins deslizaram desengonçadamente pelo gelo, o fazendo rir
ainda mais. — Você está parecendo um pinguim, só que aqueles
bem pequenos — continuou ele, tirando uma com a minha cara, me
fazendo fuzilá-lo com meus olhos.
Eu tinha dito a ele uma vez que acho o Rockefeller Center
lindo nesta época do ano… mas para se ver de longe! E creio que
ele me trouxe aqui devido a este meu comentário. Já era tarde e a
pista não está tão cheia, há poucas pessoas apenas. Tentei mover
meus pés sob o gelo para me movimentar, só que eu não sei onde
foi parar meu equilíbrio. Droga! É por isso que eu odeio inverno!
— É por isso que eu odeio inverno! — resmunguei, repetindo
meus pensamentos.
John gargalhou, se aproximando de mim tranquilamente, com
seus pés ridiculamente equilibrados sob o gelo.
— Pare de rir, Barbie Sonhos no Gelo! Me ajude aqui.
John pegou minha mão e, conforme ele dava alguns impulsos
para patinar, tentei seguir seus passos e aproveitar seu impulso
para patinar também. Quando pegamos um impulso, John ficou de
frente para mim, pegando minhas duas mãos, me encarando.
— Agora você vai me guiar.
— John, é melhor não...
— Preste atenção na sua frente, pois não vejo nada. Eu confio
em você — falou, jogando-me uma piscadela. — Abra mais seus
pés para fora ao dar impulso.
Fiz como ele indicou, e lá estávamos nós... patinando sob o
gelo! O pensamento me fez sorrir e a olhar à minha volta. A grande
árvore de Natal iluminava toda a pista. Em toda minha vida, eu
nunca me diverti tanto como estou me divertindo nestes últimos
meses ao lado de John. Voltei a encará-lo e o peguei me olhando,
com um brilho maravilhoso em seu olhar.
— Admita, você está adorando — brincou, me fazendo rir.
— Creio que “adorando” não é a palavra certa. — Arqueei
minhas sobrancelhas e ergui meu nariz. — Tirando todo esse frio e
todo esse gelo, é... é legal.
Ele gargalhou, jogando sua cabeça para trás e soltando suas
mãos das minhas.
— Você é uma medrosa e parece um pinguim nanico. Você
nunca irá me alcançar! — disse ele, se afastando de mim com um
aceno de mão.
Como ele ousa? Lhe mostrei o dedo do meio e reuni todo meu
equilíbrio e coordenação motora para aumentar a velocidade e ir
atrás dele, o que fez ele rir ainda mais.
— Olá, Pingu! [16] — gritou, me zoando.
— Engraçadinho! — gritei de volta, o que me fez perder o
equilíbrio, tentando desesperadamente me manter em pé. — Ahhh!
— Caí para trás com tudo e bati a minha cabeça no gelo. Ai! Essa
doeu!
— Sofya!!! — escutei John gritar.
Já vi essa cena antes, mas foi com um cavalo.
— Sofya, você tá bem? — continuou ele, com a voz
apavorada.
Sim, eu estou bem, mas ele merece um susto. Continuei com
meus olhos fechados.
— Hm — gemi.
— Fala comigo, Sofy! Vamos lá! — Ele me ergueu um pouco
com seu braço.
— Hm ashblublaaaahblubla — comecei a balbuciar.
Ao abrir os olhos foi difícil não gargalhar com sua expressão
confusa.
— Sofya o que...
— Ablublabuashbu! — balbuciei novamente, gargalhando logo
depois ao ver sua cara cômica! — Isso foi um “não sou Sofya, sou
Pingu” na língua do Pingu. — Gargalhei ainda mais. — Te peguei,
HÁ!
— Argh! Engraçadinha! — Ele me largou no chão e voltou a
ficar em pé.
— Ah qual é?! Você não está se divertindo? — ironizei, ficando
de pé também.
— Acho que já deu por hoje, vamos para casa! — falou, sem
conseguir esconder o riso.
— Aleluia! — Ergui minhas mãos para o céu.
É véspera de Ação de Graças e eu terminava alguns
preparativos para levar ao orfanato, coisas como roupas e muita
comida para a ceia de amanhã. O Holy Mary Heart Orphanage[17] foi
o meu lar durante dez anos, e como fica em uma parte pobre do
Brooklyn, as crianças não recebem toda a atenção que merecem de
nosso governo. Por isso, desde que comecei a ganhar um salário
decente, decidi ajudar no que pudesse, para que assim, as crianças
se sentissem mais acolhidas por lá. Todos os anos Shantell e eu
fazemos isso, além de passar o dia de Ação de Graças juntas,
porém isso mudou. Como todos os bailarinos — e a própria
Beyoncé — terão folga no fim de semana do feriado, ela irá
aproveitar para matar a saudade do seu amado e passar a data com
Preston e sua família. Eu tinha decidido que passaria por aqui
mesmo... sim, TINHA, até que há uma semana atrás John me fez
uma pergunta.

— Onde vai passar o feriado de Ação de Graças? —


perguntou enquanto eu terminava alguns detalhes do Baile Glam em
meu Macbook e ele trabalhava também no seu.
Ambos estamos sentados e com pijamas em sua cama gigante
ao som de David Bowie.
— Ahm, eu não sei, aqui mesmo — respondi, sem dar muita
importância.
— Como assim “aqui mesmo”? — indagou ele, fechando seu
Mac e se virando para mim.
Continuei focada na tela, sem olhá-lo.
— Ora, eu não sei, nunca dei importância a estes feriados —
Suspirei, fechando meu Mac para encará-lo.
Ele me olhava com atenção, e percebi que estava em um
grande conflito interno.
— Por que isso agora?
— Porque você irá passar o feriado comigo — falou
decididamente, me fazendo rir.
— Pfff. Aham — murmurei ironicamente.
— Estou falando sério, não vou deixar você passar o feriado
sozinha. E se não quiser ir comigo, eu vou ficar aqui com você. Você
escolhe. — Ele levantou-se da cama e foi em direção ao banheiro.
Inacreditável!
— Você não pode passar um feriado familiar longe da sua
família. Além do mais, Shantell...
— Shantell irá passar o feriado com Preston — ele me cortou,
aparecendo no batente da porta do banheiro, prestes a escovar
seus dentes, me olhando com uma cara “te peguei!”. Droga!
— John, eu vou ficar legal! E outra, não tem cabimento você
me levar para a casa do seus pais em plena Ação de Graças. Até
imagino a cara de sua mãe, cruzes. — Me arrepiei toda com esse
pensamento.
John riu e voltou para o banheiro, retornando minutos depois e
se sentando ao meu lado, com aquele sorriso torto maravilhoso.
— Não há possibilidade alguma de você ficar aqui sozinha.
Quanto a minha família, será muito tranquilo, pois eles já a
conhecem.
Bufei, derrotada com a sua constatação, porque eu sabia que
mesmo eu batendo o pé e ficasse aqui para o feriado, ele ficaria
comigo ao invés de ficar junto a sua família, me tornando a vilã da
história. Seria capaz de Miranda vir até aqui e cortar minha cabeça
por ter feito seu filho ficar longe da família em um dos feriados mais
importantes do ano... e eu não a culparia, pelo contrário, ficaria
super mal se John fizesse isso por minha causa. Argh! Ele percebeu
que eu estava sem saída e deu uma risada má.
— Vou entender isso como um sim — continuou ele, dando um
beijo em minha testa.
— Com uma condição! — Levantei meu dedo indicador para
cima, o encarando.
— Estou ouvindo.
— Dessa vez você irá avisar a todos que eu vou com você, e
quando eu digo TODOS, isso inclui, principalmente, sua mãe.
Entendido?
— Tudo bem.
— E dessa vez vamos de avião!
— São duas condições, então?
— John?!
— Ok, ok, mas você nem sabe onde...
— Seu pai é um importante senador federal, logo... —
Gesticulei com a mão em um sinal de obviedade.
É claro que sua família vive em Washington D.C.! Ele sorriu,
ainda mantendo seu cenho franzido.
— Mas nem é tanto tempo de viagem de carro até a capital.
— Vamos de AVIÃO! É pegar ou largar. — Ergui meu queixo
em desafio.
— Tudo bem, mandona. Mas já vou lhe avisando que vamos
cedo e não irei tolerar atrasos. Muito menos roupas curtas e
chamativas! — Somente revirei os olhos. — E não revire os olhos
para mim. — continuou, me apontando o dedo e me fazendo rir.
— Tudo bem, mas agora EU já vou lhe avisando que não
posso deixar a cidade na véspera do feriado.
— E por que?
— Por causa das crianças do orfanato onde eu e Shantell
crescemos. Todos os anos nós ajudamos com algumas doações
para a ceia de Ação de Graças. É uma tradição. Infelizmente esse
ano ela não poderá ir comigo, mas como você sabe, é por uma boa
causa.
Ele me olhou com brilho nos olhos, pensativo.
— Tudo bem. Então irei substituí-la nesse ano, além de ajudar
também. Isso se você quiser, claro — respondeu, me fazendo sorrir.
— Claro — sussurrei, logo depois jogando meus braços ao
redor de seu pescoço, dando um beijo suave em seus lábios.
A super caminhonete de John caiu bem hoje, já que estamos
levando muita coisa dessa vez! Assim que chegamos à entrada do
orfanato vi algumas crianças brincando na quadra. Avistei a madre
superiora, Delores, recebendo doações no portão. Ajudei John a
tirar algumas coisas da picape e fui entrando.
— Madre! Como vai? — cumprimei ao abraçá-la.
Delores Patrick é a Madre superiora do Holy Mary Heart
Orphanage e está aqui desde a abertura do orfanato, em 1984. Ela
é durona! Me lembro até hoje quando Shantell e eu aprontávamos e
ela nos pegava e nos puxava pelas orelhas, além de nos dar
algumas palmadas. Mesmo assim, Delores foi um dos nossos
principais pilares aqui dentro, pois era ela que nos motivava e nos
encorajava, então eu só tenho a agradecer.
— Muito bem. Garota, a cada vez que eu a vejo está mais
linda! — respondeu, me abraçando. — Oh, e vejo que finalmente
trouxe alguém...
— Oh, madre este é John Neeson, um grande amigo.
— Muito prazer, madre — John a cumprimentou.
— Somente Delores, rapaz, e fico feliz que Sofya o trouxe
aqui. Vamos, as crianças estão esperando.
Depois de levar todas as coisas para dentro do orfanato, levei
John para conhecer o ambiente melhor. Brincamos com alguns
jogos de tabuleiro e agora estávamos jogando basquete. John está
se dando muito bem com as crianças! Ele tem muito jeito com elas.
Estava o observando enquanto brincava com elas na quadra
quando pulei ao escutar meu nome.
— Sofya Viatcheslav, oh meu Deus! — exclamou a freira à
minha frente.
— Jesus, Maria e José! Menina, como você está linda! — falou
outra feira ao seu lado.
Irmã Mary Robert e irmã Mary Lolla! Eu adoro elas, são as
freiras mais loucas que já conheci... não conheci muitas, mas elas
são muito loucas para serem freiras.
— Irmãs! — falei, as abraçando.
— Como você está, criança? — perguntou a irmã Robert.
— Estou bem e vocês? E onde está a irmã Mary Lazarus?
— Ah, você conhece a irmã Lazarus. Muito antissocial —
respondeu a irmã Lolla.
— Olá! Sou John. John Neeson, amigo de Sofya, como vão?
— Pulei ao ouvir a voz de John atrás de mim, estendendo sua mão
às irmãs, que estão de boca aberta.
— Oh... Jesus! — falou a irmã Lolla, boquiaberta, ao
cumprimentá-lo. — Irmã Mary Lolla...
— Oh! Sofya trouxe um homem aqui! E um dos bons, veja só,
irmã Lolla! — exclamou a irmã Robert, nos fazendo rir. — Irmã Mary
Robert, muito prazer. Espero que esteja gostando!
— Estou sim! As crianças são ótimas!
— Sofya!!! Você veio! — disse Rosa, uma linda menininha que
mora no orfanato, a qual eu tinha uma amizade muito legal.
— Rosa! Mas é claro que eu vim! Como você está? —
perguntei, a pegando no colo.
Rosa tem oito anos, a mesma idade que eu tinha quando
cheguei aqui.
— Estou bem! Então você é amiga dele? — indagou ela,
apontando para John, que lhe mandou uma piscadela.
— Sim! E vejo que vocês já se conhecem, não é?
— Sim, ele é horrível no basquete! Perdeu para os meninos,
que nem tamanho tem para jogar! — respondeu ela, me fazendo rir.
A coloquei de volta ao chão e percebi que John se abaixou,
aproximando-se dela.
— Aquilo foi tudo planejado — sussurrou John para ela.
— Você planejou perder? Eu hein, não me chame mais para o
seu time — Rosa falou, nos fazendo gargalhar. — Sofy, vem
comigo, quero te mostrar meus desenhos na sala de pintura!
— Ok, vamos lá! — respondi, enquanto ela me arrastava pelo
corredor em direção a sala de pintura.
Quando cruzamos com um dos corredores externos do
orfanato, alguns meninos quase me atropelaram com seus skates
em alta velocidade, por sorte, Rosa já me esperava na porta da
sala.
— Cuidado! — Escutei uma voz masculina me chamar
atenção, me puxando para si e me salvando de ser atropelada por
um skate.
Olhei para cima para ver meu salvador e quase caí para trás.
Meu Deus... que homem maravilhoso! Estupidamente maravilhoso!
Com uma barba por fazer, cabelos loiros escuros, curtos na lateral e
arrepiado para cima, olhos azuis e um rosto quadrado perfeito, sem
falar que seus braços perfeitamente malhados que ainda me
seguravam. Jesus, e esse sorriso?!
— Mais um pouco e você daria entrada no hospital por
atropelamento de skate — disse ele, sorrindo e olhando para trás de
mim. — E sem que o “motorista” prestasse socorro. Você está bem?
— Ahm. Errr... S-sim! Sim — gaguejei, dando um sorriso tímido
e saindo de seus braços... uh, ele é alto também. — Obrigada! —
consegui dizer.
— Meu nome é Steve, Steve Rogers, e você poderia me
retribuir dizendo o seu nome — falou, com aquele maldito sorriso
brilhante.
— Retribuir? — sorri.
— Claro! Eu salvei sua vida! — Ergueu seus braços, me
fazendo rir.
— Tudo bem, Steve. Meu nome é Sofya, Sofya Viatcheslav —
falei, estendendo minha mão para cumprimentá-lo e ele fez o
mesmo. E que mão grande... ai, ai, ai.
— Muito prazer, Sofya! E o que te trás aqui hoje?
— Ahm, na verdade eu cresci aqui, então todos os anos eu
tento ajudar o orfanato e as crianças como eu posso — contei, o
fazendo arquear as sobrancelhas. — E você?
— Eu sou médico no NYC Metropolitan Hospital e estou aqui a
convite do meu paciente ali — falou apontando para o garoto que
quase me atropelou de skate. — Pois é, meu paciente quase a
matou, mas Dylan é um bom menino, juro.
— Sério? O que Dylan tem? — perguntei preocupada, olhando
para o garoto que aparenta ter uns dez anos de idade.
— Ele está bem agora. Dylan foi atropelado por um ônibus
há pouco mais de dois meses atrás, sofrendo algumas escoriações
e um traumatismo craniano. Eu tinha acabado de entrar no hospital,
especificamente na ala emergencial, e Dylan foi um dos meus
primeiros pacientes aqui na cidade.
— Que bom que ele está bem. Então você é médico há pouco
tempo?
— Na verdade não, comecei a exercer a função em minha
cidade natal, New Jersey, logo depois fiz quatro anos de trabalho
voluntário no Haiti com os Médicos Sem Fronteiras e agora aqui
estou, de volta à cidade grande.
Gente... o cara não tem defeito. Estou chocada.
— Isso explica um médico com barba por fazer! — brinquei, o
fazendo rir.
— É, preciso me acostumar novamente com tudo isso —
respondeu, me fazendo rir.
Ele me olhou com intensidade e ficamos em silêncio, até que
ele voltou a falar.
— Quer tomar um café comigo depois que sairmos daqui? —
me convidou, apontando para trás.
— Isso não será possível, amigo. — Pulei ao escutar John
rosnar atrás de mim. Lá vem…

Ainda conversava com as irmãs Mary 1 e Mary 2 quando vi


Sofya ser “salva” de ser atropelada por um skate... e salva por um
cara. Meus sentidos gritaram “PERIGO” em todos os cantos da
minha mente. Aquele cara é uma ameaça para Sofya... bom, pelo
menos para mim é. Fingia prestar atenção nas irmãs, mas minha
atenção está mesmo é na conversa dos dois. Este “Steve Rogers”
não me engana, pfff... ainda mais com esse papo de “sou médico”
só para encantar uma mulher! HÁ, isso é um clássico, eu usava a
minha profissão para pegar mulheres, quem ele pensa que é? E
como Sofya pode estar dando trela para esse babaca? ARGH! E
ainda por cima sorrir desse jeito? E... e olhe como esse imbecil a
olha! JÁ CHEGA.
— Com licença, irmãs.
Elas falaram algo, mas ignorei, indo em direção aos dois,
determinado. Até que escutei...
— Quer tomar um café comigo depois que sairmos daqui?
— Isso não será possível, amigo — rosnei, fazendo Sofya
pular ao me notar logo atrás dela.
O babaca franziu o cenho, me encarando.
— Hey! — disse Sofya, tentando disfarçar seu nervosismo. —
John este é...
— Steve Rogers. É, eu escutei — completei, o encarando da
mesma maneira que ele me encarava: com raiva.
Com raiva por eu ter interrompido o papinho dele para cima
dela.
— Médico? — perguntei, erguendo minhas sobrancelhas e
entortando levemente minha cabeça para o lado.
— Sim, “médico” — respondeu, usando o mesmo tom que o
meu.
Esse cara é muito folgado.
— Eu deveria ter imaginado que uma mulher tão linda como
você, tem um namorado — continuou, voltando a olhá-la e logo
depois me encarou novamente, me fazendo entortar os lábios em
um sorriso debochado.
Senti que Sofya iria logo desmentir sua constatação, porém, a
puxei para mim pelo ombro, a abraçando. Ele me encarou
intensamente e continuou.
— Uma pena.
Agora quem estava sorrindo debochadamente é ele. MAS
QUE PORRA É ESSA? QUEM ELE PENSA QUE É? O fuzilei com
os olhos, determinado a ir para cima dele, porém a mão de Sofya
pousou em meu peito, me impedindo.
— Olha só, Steve! Vejo que conheceu Sofya e seu amigo
John! — disse a madre superiora se juntando a nós.
Steve a olhou, abrindo um largo sorriso.
— Ah, amigo! Claro! — Com o mesmo sorriso cínico, ele voltou
a me olhar, estendendo sua mão. — Muito prazer amigo da Sofya.
Steve Rogers.
Ainda o fuzilando com meus olhos, peguei a sua mão, a
esmagando.
— Neeson. John Neeson. Do FBI — rosnei, dando um aperto
ainda maior, que ele retribuiu na mesma intensidade, fazendo com
que nossas mãos ficassem brancas, tremendo cada vez mais com o
forte aperto.
Sofya deu um pigarro.
— Tudo bem, John, precisamos ir embora — falou ela nervosa,
nos fazendo desmanchar o aperto.
Eu queria apertar o pescoço dele agora. Nós ainda nos
encarávamos.
— Ahm, madre, foi um prazer revê-la, espero que tudo seja
perfeito amanhã, se precisar de algo não hesite em me ligar —
disse, me puxando em direção à saída. — Feliz Ação de Graças,
tchau! — despediu-se.
— Tudo bem, criança. Vão com Deus e comportem-se! Feliz
Ação de Graças!
— Até logo, madre, Feliz Ação de Graças — falei, ainda o
encarando.
— Feliz Ação de Graças — gritou Steve, quando chegamos ao
portão.
Grunhi e só não voltei porque Sofya ainda me carregava com
força. Ao chegarmos na minha picape senti suas mãos me dando
vários socos em meu braço e no ombro.
— QUAL É O SEU PROBLEMA? — rosnou, me encarando
furiosa.
Se eu não estivesse tão puto, acharia até fofo.
— O MEU problema? O que você estava fazendo com aquele
cara? — perguntei.
Ela bufou revirando os olhos, contornando a picape.
— Seu ego é tão grande que não me deixa nem respirar! —
reclamou, entrando na picape e fechando a porta com força.
— Talvez seja mesmo! — Entrei e me ajeitei no banco. — Será
que você não percebeu o joguinho daquele cara para cima de você?
Aquele cara é um cafajeste de primeira!
— Ah, um cafajeste reconhece o outro então? — bradou ela,
enquanto eu dava partida no motor. — Que ironia!
— Isso não importa, o que importa é que eu conheço sujeitos
como aquele ali, mau caráter — falei, arrancando com a
caminhonete de lá.
— John, você nem ao menos conversou com o cara! Nem EU
conversei com ele direito para formar uma opinião concreta assim,
não seja ridículo!
— Ah, claro! Se eu não tivesse aparecido tenho certeza de que
você ainda estaria lá, “formando uma opinião concreta” sobre aquele
babaca! — exclamei, buzinando para um idiota que estava andando
a 10km por hora. — ANDA LOGO SEU IDIOTA! — gritei.
— ARGH! O único idiota aqui é você! Seu IDIOTA! Você e esse
seu EGO estúpido!
— MEU EGO ESTÚPIDO? Não seja louca, Sofya! Só você não
enxergou o quão patético aquele cara estava sendo!
— Salvar uma criança do orfanato é patético agora?
— Não, mas se vangloriar disso para tentar arrastar uma
garota para cama é! — vociferei, passando o cara e acelerando,
mas freei bruscamente quando percebi que o sinal estava fechado.
Notei que ela ainda não havia falado — ou “gritado” — nada.
Me virei para ela, encontrando seu cenho franzido.
— Ciumento!
— O QUE? Você é realmente louca! MALUCA!
— E você é um IDIOTA ciumento! — começou rir.
— Até parece.
Ela continuou rindo e eu voltei a minha atenção para a rua e
não voltamos a discutir no caminho até nosso prédio. Eu preciso
socar alguma coisa, liberar essa forte energia que está em mim,
merda! O que eu quero mesmo é socar a cara daquele infeliz,
porque, SIM… eu estou com ciúmes.

— Merda! — reclamou Sofya, tentando colocar sua bagagem


de mão no compartimento acima de nossos assentos no avião.
— Me dê aqui, deixa eu colocar. — Tentei pegar a mala da sua
mão em vão.
— Não precisa — falou, pulando para tentar alcançar o
compartimento com a mala.
Apertei meus punhos, já que não posso fazer nada. Que
garota teimosa! Jesus!
— Para de ser teimosa e me dê isso!
Peguei a mala de sua mão e com um pouco de força a
coloquei no fundo do compartimento, o fechando depois, com
facilidade. Ela me fuzilou com os olhos e sentou-se na janela,
bufando. Desde a nossa briga, de tarde, ela estava me evitando.
Serão cinquenta minutos de voo, mas se ficarmos nesse clima, o
voo duraria cinco horas. Sentei-me ao lado dela, me ajeitando na
poltrona apertada, culpa dela que não me deixou pagar a classe
executiva para nós! Pelo canto do olho, percebi que ela está
pegando seu iPod junto ao fone de ouvido. Droga, eu preciso acabar
com isso agora! A olhei e peguei seu fone, o enrolando em minha
mão.
— Pode me devolver, por favor? — pediu, tentando demonstrar
paciência, sem sucesso.
— Não até que volte a falar normalmente comigo.
Bufou ela, jogando sua cabeça para trás no banco.
— Então pare de ser um idiota!
— Prometo, se você parar de ser louca.
Ela tentou pegar seu fone das minhas mãos, falhando e me
fazendo rir, o que a fez ficar furiosa e começar a me bater.
— Hey! Para com isso, garota!
— Não sou uma garota! Já sou uma mulher! E uma mulher e
tanto! — disse, apontando o dedo para mim e logo depois cruzando
seus braços e virando-se para a janela.
Já falei o quanto ela fica sexy brava desse jeito?
— E que mulher... — Me aproximei dela, tentando a trazer para
mim, enroscando minhas mãos em sua cintura.
— Pare com isso, John — reclamou, me empurrando, ainda
sem me olhar.
— Chega disso, vamos aproveitar o curto feriado em paz, por
favor, vai — sussurrei em seu ouvido.
Ela já não me empurrava mais, porém ainda não me olha.
— Pfff — bufou, me fazendo sorrir e beijar seu ombro e
pescoço. — Tudo bem, mas pode parar com isso.
— Hm — murmurei, mordiscando sua orelha. — Você já
transou em um avião? — sussurrei.
— John, comporte-se!
— Nós temos somente uma hora. Hm, estou até imaginando...
eu abrindo suas pernas naquele espaço minúsculo, abrindo os
botões de sua camisa, mordendo cada um de seus mamilos
deliciosos.
— John... — sussurrou, ofegante.
O avião taxiava na pista.
— Depois de abrir suas pernas, meus dedos brincando com
sua bocetinha molhada...
Minha mão desceu até sua virilha e suas pernas se abriram
automaticamente para mim. Senti o calor emanando do meio das
suas pernas, com as minhas mãos sob sua calça jeans.
— Eu tenho certeza de que você está encharcada para mim —
sussurrei.
Ela mordia seu lábio inferior com força.
— John.
— Eu só vou parar depois que te comer — rosnei em seu
ouvido, a fazendo sorrir e arquear mais o corpo.
Essa já é a minha segunda viagem com Sofya e, assim como a
primeira, brigamos e discutimos até cansarmos, porém, também
como na última vez, acabaríamos com tudo isso transando, selando
nossa paz. Sofya pode me xingar o quanto for, mas ela adora o
cafajeste aqui. E o cafajeste aqui está de quatro por ela.
Detesto quando os feriados caem em um final de semana e,
definitivamente, não sou grata por isso. Irônico pensar nisso no dia
de Ação de Graças, em pleno sábado! O bom é que eu reencontrei
pessoas queridas, como Mag, Leon, o senhor Larry e Ed, que me
receberam de braços abertos na mansão Neeson — que é
ridiculamente enorme. Joshua, Evangeline e as crianças só virão
mais tarde para a grande ceia. Agora, a Dama de Ferro, Miranda
Richards, está muito ocupada com os preparativos de hoje e não
pôde me recepcionar. Uma pena, tsc tsc tsc, *risada irônica*. Pela
manhã, John levou Ed e eu a um passeio de carro para conhecer os
principais locais da cidade e, já que a neve não ajudou muito,
retornamos à mansão de tarde, onde Mag e John me apresentaram
a gigantesca casa. O palacete é esplêndido, absolutamente lindo.
Lembro de quando Miranda abriu as portas daqui para a Living
Decor Glam Magazine — a revista de casa e decoração da Glam
que faz parte do Condenast Group, editora da Glam Magazine —
mostrando os principais cômodos da mansão e a sua vida em
Washington D.C., mas nada é comparado ao ver essa beleza a olho
nu.
E aqui estou eu, explorando mais um pouco por conta própria,
já que John precisou ir resolver algumas questões do seu trabalho e
Mag precisou voltar para checar os preparativos da ceia. Caminhava
por um dos grandes corredores da mansão, quando escutei
algumas vozes vindas de um dos cômodos.
— Confie em mim, Miranda não pode fazer nada. Não se
preocupe com isso, eu nunca deixaria que ela fizesse algo contra
você.
— Leon, você não conhece a sua mulher? Ela é poderosa o
suficiente para me tirar da jogada! — falou uma voz feminina.
— Ninguém irá te tirar da jogada, Marion. Até porque Miranda
odeia os escândalos que nos envolvem — Leon disse, ao escutar a
mulher, que no caso deve ser essa tal de Marion, suspirando. —
Não se preocupe, querida, você continuará a trabalhar para mim e
não irá perder seu cargo. Eu preciso de você — continuou ele.
Ihhh, acho que eu não deveria estar escutando isso, pois tenho
certeza de que tem mais coisa aí!
— Claro que precisa. — Suspirou ela, num tom triste. —
Sempre serei somente sua relações públicas.
— Não diga isso, Marion. Você sabe o quanto a amo, o quão
importante é para mim.
PUTA QUE PARIU! O meu susto foi tão grande com essa
revelação que, ao levar minhas mãos à boca, acabei esbarrando em
um vaso do aparador, ao lado do cômodo em que Leon está,
fazendo barulho. Merda, merda, merda, merda! Preciso sair daqui.
Dei meia volta, dando passos apressados, mas congelei ao escutar
uma porta abrir.
— Sofya?
A voz de Leon me fez fechar os olhos. Deus, e agora? Dei um
grande suspiro, tentando me manter calma para encará-lo,
lentamente fui me virando e tentando colocar meu melhor sorriso no
rosto.
— Ah! Senhor Neeson... como vai? — perguntei, sem graça.
— Bem. O que está fazendo?
— Ahm, errr... — Droga! O que eu faço?! — Estou explorando
a casa... John teve que dar uma saída para resolver uns assuntos e
eu continuei sem ele mesmo — continuei, engolindo a seco.
Pelo menos eu não estou mentindo!
— Ah...
— O que houve? — perguntou a tal Marion ao sair na porta,
ficando ao lado do Leon.
Deus, como ela é linda! Cabelos loiros, um pouco abaixo dos
ombros, e ondulados, olhos perfeitamente azuis, não tão alta e
super elegante.
— Ah, olá! — disse ela, ao me olhar, sorrindo lindamente.
— Marion, esta é Sofya. Sofya esta é Marion, minha relações
públicas — falou ele, nos apresentando.
Me aproximei dela, também sorrindo, e a cumprimentando num
aperto de mão.
— Muito prazer, Marion!
— Então ela é a Sofya? — perguntou ela a Leon, dando um
largo sorriso, que confirmou com a cabeça, também entortando um
sorriso — Oh, o prazer é todo meu Sofya!
Surpreendentemente, Marion me abraçou, me pegando de
surpresa, mas retribui seu abraço.
— Você é realmente linda, Sofya! John finalmente acertou! —
continuou ela, rindo e nos fazendo rir.
— Ah, não, John e eu somos só amigos.
Ela arqueou as sobrancelhas, não acreditando muito em
minhas palavras. Ela olhou para Leon, que balançava a cabeça
negativamente.
— É... sei. Então é mesmo complicado, não é? — perguntou
ela a Leon, que assentiu positivamente, entortando seu sorriso, que
é estupidamente parecido com o de John.
Mas... agora quem está confusa com esse papo sou eu.
— Tudo bem. Sofya, foi um prazer conhecê-la, mas devo voltar
para minha casa agora.
— Nos encontramos no jantar de hoje então. Certo? — disse
Leon.
O clima e a energia vinda dos dois são notáveis! Olhei para
Marion, que murchou o sorriso.
— Ahm, Leon, acho que já falamos sobre isso.
Ok, quem precisa ir embora sou eu. E agora!
— Errr, eu vou deixá-los conver...
— Não é preciso, Sofya e, além do mais, preciso ter uma
palavra com você, mocinha — falou ele, me olhando.
E como se estivesse recebendo a bronca de um pai abaixei
minha cabeça, sem questioná-lo.
— Te vejo às 20h, Marion. Não aceitarei não como resposta.
O que acontece com os homens dessa família? Tão mandões!
Olhei para Marion, que ainda o olhava, dando um suspiro,
derrotada.
— Até mais tarde — disse ela, o olhando de maneira triste.
Logo depois seu olhar se voltou para mim, se iluminando com
um sorriso, acenando com a mão. A olhei até que a perdesse de
vista. Como uma menina prestes a tomar uma bronca, olhei receosa
para Leon, que tem o olhar sério em mim. Ele deu um passo para
trás, levantando sua mão para me indicar sua sala, num convite
para que eu entrasse. Engoli a seco e entrei, me sentando em uma
cadeira confortável, em frente a uma grande mesa de escritório em
madeira maciça. Minhas mãos estavam entrelaçadas em meu colo,
e meus dedos brincavam um com os outros, demonstrando minha
ansiedade e meu nervosismo.
— Escutar atrás da porta é muito feio, Sofya — disse ele,
enquanto se sentava na grande poltrona a minha frente, logo atrás
da mesa.
— Não foi minha intenção, senhor Neeson. Por favor, me
desculpe. Eu realmente estava explorando a casa quando cheguei
em uma hora inoportuna — confessei, o fazendo suspirar. — Mas
não se preocupe. Isso não diz respeito a mim, e por isso não me
cabe qualquer tipo de explicação. Para mim isso nem aconteceu.
Droga, quando eu fico nervosa eu falo igual a uma gralha.
Leon deve ter percebido, pois riu de minha atitude.
— Não se preocupe, Sofya. Obrigado por ser honesta comigo,
sem ao menos eu perguntar o que havia escutado, mas vejo que
escutou o bastante.
Abaixei o olhar para meu colo, engolindo a seco. Droga, será
que John sabe disso?
— John não precisa saber disso, Sofya. — E como se lesse
minha mente, Leon me confirmou o que eu temia: John não sabe.
Preciso ser forte e esconder isso dele, afinal isso não é
assunto meu e cabe apenas a ele e ao pai se resolverem. Dei um
grande suspiro, concordando com a cabeça.
— Ótimo — concluiu e, logo depois, o silêncio constrangedor
se instaurou no ambiente.
Eu preciso passar a segurança de que não irei contar nada a
ninguém para Leon, que não tem uma cara boa, então resolvi tentar
conversar um pouco.
— Ela é uma pessoa legal... além de linda, é claro — falei,
olhando em sua direção.
Surpreso, ele me olhou, sorrindo. Se levantou, indo em direção
a garrafa de cristal com whisky, enchendo dois copos com a bebida,
me entregando um. É, beber está nos meus planos hoje, para
que, assim, eu possa enfrentar Miranda, e agora isso, então aceitei
de bom grado.
— Ela é a melhor pessoa que já conheci na vida. — Ele virou
toda a bebida em um só gole, me fazendo arregalar os olhos.
Para demonstrar solidariedade a ele, fiz o mesmo, fechando a
cara com o gosto da bebida que me desceu queimando a garganta.
Escutei sua risada, e coloquei o copo em sua mesa. Argh... whisky
não é nem de longe minha bebida preferida. Quando abri os olhos,
percebi que ele havia buscado a garrafa, deixando-a na mesa,
voltando-se a sentar. Ele encheu seu copo novamente e me
ofereceu a garrafa... bem, parece que alguém precisa afogar suas
mágoas, mas não sozinho. Empurrei meu copo e ele o encheu
também.
— Você é uma ótima pessoa, Sofya. Meu filho será um idiota
se não ficar logo com você.
Agora sou eu que preciso virar o copo, e assim eu fiz, voltando
a enchê-lo novamente. Fiquei em silêncio, olhando para o nada na
mesa.
— Mas... é complicado, não é mesmo? — continuou ele,
repetindo as palavras de sua amada Marion.
— O senhor não sabe o quanto — revelei, dando um grande
gole na bebida em meu copo.
Estranhamente, eu me sinto muito à vontade com Leon, como
se pudesse lhe contar todos os meus medos e segredos, como... se
eu pudesse desabafar. O olhei, e ele sorria, enquanto enchia
novamente seu copo.
— E como eu sei minha querida, como sei. — E mais uma
dose se vai e mais outro copo se enche. — Marion é o amor de
minha vida, porém não posso ficar com ela. Por favor, criança, não
me entenda mal, pois um dia já fui apaixonado por Miranda, mas
não consegui manter esse sentimento por ela, que foi se acabando
à medida em que meu poder aumentava, a medida em que meu ego
aumentava, tornando o dela ainda maior. Se tornar um político não
mudou somente a mim, mas mudou Miranda também, mostrando a
verdadeira mulher que sempre foi: gananciosa e sem coração. E
quando eu percebi isso já era tarde demais, ela já estava grávida do
nosso Josh. Se divorciar da queridinha da América naquela época,
ainda mais grávida, só iria arruinar meus planos na política. A figura
de Miranda ao meu lado somente a fortaleceu no meio social, a
tornando quem é hoje... me tornando o que sou hoje.
Já perdi a quantidade de copos que ele e eu viramos neste
meio tempo. E de repente, não era só eu que me sentia assim em
relação a ele. Ele também sentiu a necessidade de desabafar
comigo.
— Creio que só suportei tudo isso até hoje por causa de
Marion, além dos meus filhos, claro. Ela é um anjo em minha vida.
Dois anos depois do nascimento de John, foquei em minha
candidatura como deputado estadual, em Nova York. — Deu uma
pausa para beber e rir das lembranças que vagam em sua mente.
— Estava tudo um caos naquela época, meu escritório fervia e, um
dia, esbarrei em uma jovem e brilhante estagiária, que, desde
aquele momento, nunca mais saiu dos meus pensamentos. Marion
me surpreendia de todas as maneiras possíveis. Determinada e
inteligente, em três anos já era braço direito do meu antigo relações
públicas, Carl Mc’knight. Naqueles três anos em que ela batalhava
para ser alguém na vida, eu fazia de tudo para que ela saísse
comigo, sem sucesso. Ela foi, e ainda é, meu melhor desafio — riu.
— E depois dessa promoção, foi inevitável não se aproximar mais
de mim. Fomos nos conhecendo melhor, até que o que criamos um
pelo outro falou mais alto, e assim aconteceu. Mas, claro que os
problemas ao nosso redor nos atrapalhavam. Meu casamento,
nossa diferença de idade, meus filhos, a família dela. Mas nosso
amor sempre se sobressai no meio de tudo isso. Com a
aposentadoria de Carl, a nomeei para o cargo, e aquela garota me
levou longe — suspirou ele. — Sabe, em vários momentos, em
nosso longo e secreto relacionamento, eu quis revelar ao mundo
sobre nós dois, mas ela nunca deixou. Ela sempre pensava no que
isso iria me custar, no que isso iria me prejudicar na política. Mas eu
não me importo, contanto que ela esteja ao meu lado e que meus
filhos aceitem. Ela sempre pensa em mim primeiro, passando por
cima de tudo o que sofreu ao longo dos anos com tudo isso ao
nosso redor, com Miranda nos ameaçando.
— Miranda sabe? — perguntei, engasgando com a bebida.
— Aquela bruxa sabe há anos e, há anos, nos atormenta.
Principalmente Marion.
— E por que continuam juntos?
Uau, a bebida entra e as coisas que devem ficar somente na
sua cabeça saem. Coloquei a mão na boca, arrependida.
— O senhor não precisa resp...
— Eu quero responder. E já disse que pode me chamar de
Leon — repreendeu-me, e eu apenas concordei furtivamente com a
cabeça. — Bem, porque isso virou uma bola de neve, minha
querida. Nossos filhos cresceram com uma concepção baseada no
que eu e Miranda criamos e construímos, para nós e para eles.
Revelar um escândalo assim na família, não prejudicaria somente
eu e Miranda, que zela por sua imagem perfeita, assim como pela
imagem de uma família perfeita, mas prejudicaria a eles...
principalmente Josh, tanto a sua carreira quanto pessoalmente, ele
me odiaria se descobrisse. Josh é muito parecido com a mãe, mas
diferente dela, é uma ótima pessoa. — Ele me olhou, e parece que
ainda quer me revelar algo. — Porém, Josh cometeu os mesmos
erros que eu cometi. Casou-se com uma das queridinhas da
América por pressão, almejando crescer na política com uma
imagem melhor, e Evangeline tinha isso na época. Então, como
sempre, Miranda mexeu seus pauzinhos e, assim, fez o casal
perfeito. Evangeline não é como Miranda, longe disso, e isso eu
agradeço, porém não vejo o amor entre eles. — Ele deu uma pausa,
voltando a me olhar atentamente. — John não pode cometer os
mesmos erros. E eu sinto que não vai.
Acho que era nesse ponto que ele queria chegar, mas não
estou bêbada o suficiente para encarar a verdade assim, ainda mais
com o pai dele. Merda! Por isso eu odeio whisky.
— Eu acho melhor eu ir me preparar para o jantar — comentei,
claramente fugindo dele.
— Não fuja disso, Sofya. Não se arrependa do que poderia ter
feito e não fez. Faça e depois tire suas conclusões — aconselhou-
me, fazendo eu olhá-lo novamente antes de sair. — Não cometa o
mesmo erro que eu.
O olhei, assentindo gentilmente, e fechando a porta atrás de
mim. Dei um grande suspiro, tentando me recompor. Não deveria ter
bebido tanto. Tentando andar normalmente, fui processando o que
Leon havia me revelado. Pobre Marion, deve ter sofrido poucas e
boas nas mãos de Miranda. E Leon estava certo ao dizer que me
entende, fazendo minha relação com John ser fichinha ao lado da
relação entre ele e Marion. Deve ser horrível amar alguém e não
poder viver isso. Escutei a voz de Miranda se aproximando e fiquei
em choque! Oh meu Deus, o que eu faço? Eu nem ao menos sei
onde estou! Preciso de um mapa para achar meu quarto. Jesus, me
ajuda! Subi as escadas correndo, tropeçando e caindo no último
degrau, e um lapso de memória me atingiu ao reconhecer a porta do
meu quarto no fundo do corredor, OBRIGADA DEUS! Corri até ele,
me trancando lá. Ufa, agora preciso de um banho muito gelado para
aliviar os efeitos do whisky.

Definitivamente, eu não deveria ter bebido whisky! E o pior?


Além de me deixar alta, a dor de cabeça está me matando, então eu
já estou alegre sem ao menos ter bebido na recepção do jantar, só
rezo para que eu não passe nenhum vexame. Mag me disse que
Miranda e Leon convidaram alguns políticos e pessoas importantes
para o jantar de hoje. Neste momento estou tentando fazer minha
maquiagem, com bastante dificuldade, porém, está tudo certo por
enquanto, e sem falar da missa que foi para secar o cabelo e definir
melhor o efeito ondulado com um babyliss — não preciso nem dizer
que meus dedos estão queimados, não é?
Assim que terminei minha maquiagem mandei uma foto para
Shantell, só para ter certeza de que era aquilo mesmo que eu
estava vendo e julgando, e por sorte ela me respondeu com “que
make mara, arrasou”. Isso! Uma coisa a menos. Fui ao armário,
onde deixei as roupas que trouxe, e peguei um dos meus preciosos
modelos do meu estilista preferido, Elie Saab. O jumpsuit (macacão)
maravilhoso que usarei essa noite irá deixar Miranda de boca
aberta, não somente Miranda, modéstia à parte, risos. Coloquei o
macacão chiquérrimo no meu corpo, e uau, me caiu muito bem! Ele
é um modelo comprido, preto, com as mangas também compridas, a
parte de cima tem um longo decote em V e é todo decorado com
pedrinhas pretas brilhantes, que vão até a cintura, junto a um cinto
preto com o fecho em formato de uma placa dourada, a parte de
baixo — calça tubo — inteira de tecido preto e um Louboutin peep
toe clássico, preto com solado vermelho, sem plataforma. Optei por
não usar muitos acessórios, somente um brinco com uma pequena
pedra de cristal swarovski, um anel do conjunto e uma pulseira em
prata, bem delicada. Me olhei no espelho satisfeita com o resultado.
Mas que merda! Minha cabeça está começando a me
incomodar de verdade! E o pior, não vi John ainda e não tenho
nenhum remédio em minha bolsa. Resolvi sair do meu quarto, indo
para o quarto de John. Bati na porta, mas ninguém respondeu,
então resolvi entrar.
— John? — chamei.
O quarto está aceso, mas sem sinal dele.
— No banho! — gritou ele.
Mas que diabos ele ainda está se arrumando, já são quase
20h! Coloquei a mão na minha cabeça latejante. Droga, preciso de
um remédio urgente. Comecei a revirar a bolsa de John, sem sinal
de algum comprimido que eu pudesse tomar. Me joguei na cama,
me entregando a Deus para ele me levar, pois estou bêbada, com
dor de cabeça e terei que enfrentar Miranda. Tombei minha cabeça
para o lado e vi uma caixinha de metal na mesa perto da janela. Me
levantei com dificuldade, indo até lá.
— Ah, graças a Deus!
Abri a caixinha de aspirinas e tomei um comprimido. Só espero
que isso passe logo! Voltei a deitar na cama, olhando para o teto.
— Desculpe a demora. Parece que o trabalho me seguiu até
aqui — disse John, ainda no banheiro.
Meu DEUS. O que está acontecendo com o teto? Ele está
girando e girando... e que lustre lindo!
— Mas irei resolver is... Sofya?
Com dificuldade, ergui minha cabeça, encontrando John
parado com a toalha em sua cintura, me olhando com o cenho
franzido.
— Você está bem?
Bem lentamente, fui me erguendo até ficar de pé. O olhando
de cima a baixo.
— Na verdade... eu não sei! — respondi, sorrindo.
Ergui meus braços, me espreguiçando, sentindo a energia do
meu corpo se aflorar. Ah...
— O que houve? — perguntou se aproximando, preocupado.
Geeente, eu não tinha reparado nesse papel de parede, os
desenhos são tão legais!
— Sofya, o que você está fazendo, por que está alisando a
parede? — questionou.
Oh. Eu não tinha percebido, mas é inevitável! Olhe para esses
desenhos... espera, por que eu estou assim? O que tinha naquele
remédio?
— Esses desenhos... o que tinha nessas aspirinas? —
perguntei, apontando para a caixinha, na mesa. — Cara, eu estava
com dor de cabeça. — continuei, rindo e mexendo sem parar no
meu cabelo, fechando os olhos com a sensação que isso me deu.
Isso é tão bom. Mas quando me dei por conta, as mãos de
John estavam em meus ombros, me chacoalhando.
— O-o que?
— Por favor, me diga que não tomou aqueles comprimidos
Sofya! — bradou ele, com os olhos arregalados de pânico.
Fiz um biquinho, chateada, e assenti com a cabeça.
— PUTA MERDA! — falou, me sentando na cama.
— Não fique bravo comigo — disse manhosa.
Deus, as gotículas de água no copo dele... eu quero tocá-las.
Ai meu Deus, esse corpo.
— Me deixa te lamber.
— Sofya, me escuta! — Ele pegou em meus braços para
encará-lo.
Dei um grande suspiro ao encontrar suas íris azuis.
— Aquilo não era aspirina. Aquilo é ecstasy!
Eu não sei por que, mas suas palavras me fizeram rir, e muito.
Ah meu Deus, isso vai ser divertido.

Eu estou em pânico, não sei o que fazer! Sofya está muito


chapada e teremos um jantar — COM MINHA MÃE — para
enfrentarmos! Eu fui idiota, um irresponsável por ter deixado
aqueles comprimidos ali! Merda! E antes que você pense besteira,
aqueles comprimidos são a prova de que Hernandez e sua
quadrilha também estão atuando por aqui, por isso passei a tarde
fora. Enquanto Sofya tentava me estuprar, eu tentava me arrumar,
mas, com muito custo, fiz com que ela permanecesse na cama. Ela
dizia coisas desconexas e sem sentido, totalmente louca. Merda! Eu
preciso de ajuda! Assim que terminei de colocar minha calça do
terno e minha camisa, puxei Sofya comigo, e saímos do quarto. Por
sorte — ou não — vimos Ed no corredor.
— ED!!! Você está lindo! — exclamou Sofya, indo na direção
dele e o abraçando, deixando o rapaz surpreso.
— Sosô! Você também está uma gata! — Ele me olhou com as
sobrancelhas arqueadas. — O que aconteceu? — sussurrou.
— Eu preciso da sua ajuda. Sofya tomou ecstasy pensando
que era aspira.
Ed começou a rir e Sofya se afastou, o olhando, também rindo.
— Isso é sério, Ed! — reclamei.
— Mas... mas como isso aconteceu?
— O ecstasy está no meu quarto, eu iria levá-lo para Nova
York como uma prova para o caso que estou trabalhando.
— E agora?
— Vamos TODOS dançar! — disse Sofya, caminhando
animadamente em direção à escada.
— NÃO! — Ed e eu gritamos juntos.
A alcancei, e a prendi em meus braços. Peguei sua cabeça,
para olhar suas pupilas.
— Droga! Mas que merda!
— O que? O que houve?! — perguntou Ed, receoso.
— As pupilas dela estão muito dilatadas. Ela precisa se
hidratar.
— Ah sim... eu quero ser hidratada — disse ela, sorrindo
maliciosamente para mim.
— Sua mãe vai pirar! — disse Ed.
— É... eu preciso dizer algumas coisinhas para a sua mãe! —
falou ela, tentando se livrar dos meus braços.
— Sofya, chega! Fique quietinha. Nós vamos ter que descer de
qualquer jeito, Ed, mas não sei o que eu faço.
— Seu pai, ele pode ajudar.
Pensei um pouco em sua ideia, por mais que eu não quisesse
isso, seria preciso.
— Sim. Vamos.
Peguei na mão de Sofya, que me seguia com passos
destrambelhados. Ao descermos as escadas, percebi que os
convidados já haviam chegado, mas, sem perder tempo, fui em
direção ao meu pai.
— Pai! — o chamei, o fazendo nos olhar. — Podemos
conversar um pouco em seu escritório?
Ele franziu o cenho, desconfiado, e logo depois olhou para
Sofya.
— Senhor Neeson! — disse ela, lhe dando um abraço. —
Sabia que o senhor foi mais pai para mim do que meu próprio pai?!
— continuou, rindo e o olhando, ainda com os braços em volta do
pescoço dele.
— Ahm, isso é muito gentil, minha querida, mas… — disse ele,
pegando a cabeça dela para olhar suas pupilas, assim como eu fiz.
— O que está acontecendo aqui? — rosnou ele, furioso.
— Vamos para o seu escritório.
Isso vai ser difícil.

— Como você pôde ser tão irresponsável, John?! — bradou


meu pai.
É, ele está certo, errei. Fui um irresponsável por colocar Sofya
em risco desse jeito.
— Eu sei! Mas o que faremos agora? Mamãe não pode vê-la
nesse estado! — Apontei para ela, que dançava com Ed.
Escutamos a porta do escritório se abrir e, para nosso alívio,
Mag surgia com algumas garrafas d’água.
— Mag, você está tão liiinda! — disse Sofya, indo em direção a
Mag e dando-lhe um abraço.
— Ela vai precisar de muito mais água que isso — Mag
comentou, olhando para mim e para meu pai.
— Só não podemos deixá-la desidratada, a imunidade dela irá
ficar baixa — falei para Mag.
Esses são alguns dos efeitos do ecstasy, além da euforia,
claro. Mag assentiu e deixou o escritório.
— Pfff, eu estou ótima! HÁ! — Sofya, se jogou na poltrona do
meu pai, olhando para o teto e sorrindo. — Por que não estamos na
festa, hein?
— Mantenha ela segura, John. Não podemos manter ela
trancada aqui, além disso, sua mãe irá descobrir cedo ou tarde —
disse meu pai, sério.
— Eu posso cuidar dela — falou Ed, sorrindo. — Ela está
ainda mais divertida assim, e amanhã irei lembrar tudo isso a ela.
— Cala a boca, Ed! Isso não tem nada de engraçado! Fique de
olho nela e não a deixe fazer nenhuma besteira — rosnei, o fazendo
recuar. — Entendeu?
Antes que Ed pudesse responder, escutamos a porta
novamente, tensos para ver quem entrava.
— Leon eu...
Marion, relações públicas do meu pai, entrou, para nosso
alívio.
— Ah, me desculpe, não sabia que estava... o que está
acontecendo? — perguntou ela, ao notar o clima.
— Uaaau! Isso é um Oscar De La Renta? — indagou Sofya,
olhando para Marion, boquiaberta. — Leon estava mais que certo
em te achar um anjo, Marion, você está diviiina nesse vestido.
Espera, Sofya conhece ela? Escutei meu pai dar um pigarro,
claramente sem graça. Mas o que?
— Posso te dar um abraço?!
Sem esperar a resposta de Marion, Sofya a abraçou. Marion
dirigia um olhar apavorado para meu pai. Tem coisa aí. Assim que
Sofya a desprendeu de seus braços, seu dedo indicador foi aos
seus lábios em um gesto de silêncio, para acalmar Marion.
— O-obrigada, minha querida, mas o que houve com você?
— O de sempre... aspirinas que não são aspirinas e aqui estou
eu — respondeu rindo.
Ed gargalhava atrás de mim.
— Ela tomou ecstasy pensando ser aspirina. Foi um acidente,
mas em parte eu tenho culpa — falei, e Marion abriu a boca,
espantada. — Não sabia que já se conheciam.
— Ahm... — começou Marion, antes que meu pai a cortasse.
— Sofya me fez uma visita aqui hoje e encontrou Marion de
saída.
É nítido a tensão dos dois. Eu acho que meus palpites e
desconfianças ao longo destes últimos anos são verdadeiros, então.
Encarei meu pai, em busca de mais explicações e lá está, no olhar
que eu conheço muito bem, pois havia herdado dele, a verdade,
com muitas palavras para serem ditas, somente nesse olhar. Nossa
troca de olhares foi interrompida pelos protestos de Sofya com Ed.
— Ed, larga a garrafa! EU QUERO VINHO! — bradou ela,
enquanto lutava com Ed para recuperar a garrafa de vinho.
— Você já está louca o suficiente e eu quero me manter vivo
nesta noite, se possível!
— Sofya! — esbravejei, a fazendo parar.
Fui em sua direção e ela correu para trás do sofá, com o olhar
assustado.
— Tudo bem, vem aqui. Está tudo bem. — Tentei acalmar ela.
— Não, você realmente está parecendo um urso agora —
falou, colocando a mão na cabeça e fazendo Ed gargalhar.
Deus, será uma longa noite. Novamente, a porta se abriu.
— Leon? — chamou minha mãe, ao entrar na sala, mas
congelou ao nos ver ali, assim como nós, quando percebemos que
era ela. — O que está acontecendo aqui? Nossos convidados estão
chegando, qual o motivo disto aqui?
— Mãe.
— Uhhh... e o diabo veste Prada. Tres Tres Chic — zombou
Sofya, gargalhando.
Dei um grande suspiro, mexendo em minha barba, fechando
os olhos para não ver a cara da minha mãe.
— Mas o que é isso? Sempre soube o tipo de gentinha que
você é, garota, mas é ainda mais desrespeitosa do que pensava!
— Miranda, por favor — meu pai repreendeu.
— Ela tomou ecstasy pensando que era aspirina, mãe, não foi
culpa dela, foi minha, já que eu trouxe o trabalho para casa!
Olhei para Sofya, que a encarava com o cenho franzido.
— Gentinha? E quem é a senhora para falar assim? Você é
desprezível! — disse Sofya.
Ed a pegou pelos ombros, a acalmando.
— Como ousa garota? — proferiu minha mãe, dando um
passo à frente.
— Acho melhor todos se acalmarem. — Marion tentou
amenizar o clima, e acabou gerando o efeito contrário em minha
mãe, que a fuzilava com o olhar.
— E o que essa mulher está fazendo aqui, Leon?
— Miranda, já chega! — vociferou meu pai.
— Eu a quero fora da minha casa! — rosnou minha mãe.
Eu nunca a vi desse jeito, perdendo a compostura que ela
sempre prezou. Ela deu mais um passo em direção a Marion.
— Mãe, por favor.
— NÃO SE ATREVA, SUA COBRA! — esbravejou Sofya,
ficando entre ela e Marion. Instantaneamente, eu e meu pai nos
aproximamos. — Se ela sair eu também saio! — finalizou.
— ÓTIMO! É tudo o que eu quero!
— Você se acha tão superior, não é mesmo,
senhora Richards?! Não estará contente até todos ao seu lado
temerem você! O SEU PODER! — Sofya disse, apontando o dedo
para minha mãe.
Ela realmente está muito louca, pois sei que não faria isso
sóbria.
— Sofya, já chega — pedi.
Marion a puxou para trás, mas ela não se moveu.
— Tudo bem, querida — sussurrou Marion.
— Ah, mas que graça, encantador! Já são amiguinhas! —
debochou mamãe, rindo ironicamente. — Patético! Mas não é de se
espantar, gentinha andando com gentinha.
Sofya deu mais um passo em direção a ela e eu a puxei para
mim.
— Já chega, mãe!
— Me larga, John! — reclamou Sofya, furiosa em meus
braços.
Voltando a ser a velha Miranda de sempre, mamãe ajeitou
pomposamente seus cabelos, olhando as duas com desdém e
superioridade, voltando-se para a porta.
— Os convidados estão nos esperando Leon, temos que
recebê-los. Deixe a ralé de lado e venha comigo, SUA MULHER.
— Sofya tem razão Miranda, você é desprezível — pronunciou
Marion, para a surpresa de todos, principalmente a de meu pai.
Sem responder, minha mãe saiu, furiosa, batendo a porta. Sem
graça, Marion olhou para todos, demorando seu olhar em meu pai.
— Me desculpe, mas não podia mais tolerar isso calada.
Eu sei bem a mãe que tenho. Sei também que a amo, mas sei
o tipo de mãe que ela foi, nos criando para a mídia, como a família
perfeita. Se não fosse por Mag, Josh e eu passaríamos fome e não
teríamos recebido todos os cuidados com nossos machucados de
infância. Miranda foi mãe em alguns quesitos de minha vida, como
reputação, educação, imagem social, mas nestas pequenas coisas,
eu sentia falta dela, mesmo sendo mais apegado a meu pai,
diferente de Josh. Josh é o filho prodígio dela, pois ele sempre
obedece a seus caprichos, diferente de mim. Olhei para Marion, que
esperava que eu dissesse algo, mas fiquei em silêncio. Eu sei que
meu pai nunca foi santo e, de uns anos para cá, notei a proximidade
dos dois. Por mais que eu não quisesse admitir, no fundo sempre
soube que ele e Marion tinham — ou tem — um caso. Olhei para o
meu pai, que se sentava em sua cadeira, dando um grande suspiro.
Eu não sei o que dizer. Pelo modo como minha mãe tratou Marion,
ela já sabia, então...
— Há quanto tempo? — perguntei ao meu pai.
— Ed... temos que sair daqui. Talvez o vovô esteja precisando
de nós e precisamos dançar mais — disse Sofya, puxando Ed pela
mão e olhando para meu pai, com um olhar amedrontado.
— É... é, talvez! — concordou Ed.
— Cuide bem dela, Ed. Senão, você irá se ver comigo —
avisei, num tom sério.
— Não liga para ele não — sussurrou Sofya para ele e Marion,
que sorriu.
— Eu vou! — garantiu Ed, antes de saírem para fora do
escritório.
Voltei a olhar para meu pai e notei que Marion foi para o seu
lado, com o olhar apreensivo.
— Eu vou te explicar tudo — disse ele.
É bom mesmo.
Eu pensava em tudo o que meu pai havia explicado no
escritório antes, enquanto comemos na grande mesa de jantar. Por
sorte, Sofya não fez nada, para meu alívio. Pouco antes, na
recepção, ela não parava de tagarelar com os convidados, que riam
com ela. Ela chegou a apertar as bochechas do velho senador do
Tennessee, Earl Smoother, alegando que ele era fofo por parecer o
papai Noel com sua grande barba branca. Não sabia se ria ou se
chorava com a situação. Ed e vovô estavam se divertindo com
aquilo tudo. Após o jantar, vi que Sofya dançava alegremente com
Ed e até mesmo com vovô em sua cadeira de rodas. Ela está linda.
Que noite! Ao menos minha mãe, para manter as aparências,
como sempre, agiu normalmente, sendo a perfeita anfitriã. Sei que
não foi fácil para ela aceitar o caso do meu pai com Marion, assim
como não é fácil também para meu pai lidar com tudo isso. Além da
Marion ter lidar com isso, é claro. A conheço desde que eu era bem
pequeno, e ela sempre foi muito legal comigo e com meu irmão, por
isso não posso julgá-la. Nunca entendi o ódio gratuito que minha
mãe despejava nela, até desconfiar do caso entre ela e meu pai.
Marion é linda, inteligente e muito simpática, dava para entender o
porquê meu pai se encantou por ela. Mas todo o meu medo nessa
situação é Josh, ele nunca irá aceitar, e isso poderá causar um
grande mal estar em nossa família. O que vai ser daqui para frente,
só o tempo irá dizer.
Senti alguém esbarrar em mim e ir em direção ao corredor. Ao
me virar, vi que era Jenna, saindo apressada. Algo não está bem,
por isso resolvi segui-la.
— Jenna? — chamei ela.
Sem graça, ela virou-se para o outro lado, enxugando suas
lágrimas.
— Tudo bem?
— John, não se preocupe, não é nada — respondeu, dando
um sorriso falso, tentando me enganar.
— Olha, eu sei que já faz algum tempo, mas eu ainda sei
quando você está bem ou não — falei, a fazendo rir.
— Verdade. Então você sabe o motivo das minhas lágrimas,
não é mesmo? — Disse ela, chorosa.
— Seu pai?
O pai de Jenna é alcoólatra, mas somente sua família — e eu
— sabe disso. E acho que esse é o motivo dele não estar aqui hoje.
Ela confirmou, assentindo com a cabeça, chorando ainda mais. Dei
meu lenço a ela, que o pegou, limpando suas lágrimas e me
abraçou, envolvendo seus braços ao redor do meu corpo, me
apertando. No fundo, ela ainda tinha um pouco daquela garota pela
qual eu me apaixonei na faculdade. Ela se afastou um pouco, já
mais calma.
— Obrigada. Você sempre soube me acalmar — sorriu ela.
— Não precisa me agradecer. — Escutei a inconfundível
gargalhada de Sofya vindo do salão. — Preciso voltar agora.
— Ela está meio alta hoje, não é? — disse Jenna, falando de
Sofya.
— Sim. Mas, acredite, não foi culpa dela.
— Ah...
— Fique bem, Jenna!
— Irei, e obrigada!
Antes de voltar para o salão, vi Ed carregando Sofya, que tinha
o braço envolto ao pescoço dele, quase sem conseguir manter-se
em pé.
— O que aconteceu? — perguntei, a puxando para mim.
— Eu não sei, ela quase desmaiou — respondeu Ed,
preocupado, mas não mais do que eu.
Peguei sua cabeça entre as mãos, abrindo seus olhos, que
ainda estavam dilatados. Ela resmungava.
— Sofy, olha para mim, tudo bem? Hey, não durma agora —
pedi e ela me olhou, meio grogue.
— Eu... eu não me sinto muito bem… — sussurrou ela.
— John, vamos levá-la ao escritório do seu pai — disse
Marion, surgindo do nada, e assim eu fiz, a carregando para lá. —
Ela precisa vomitar.
— Como você sabe? — perguntei.
— É uma longa história. Leve-a para o banheiro.
— Ela está bem? — indagou meu pai.
Eu não sabia mais quem estava ali, entrando ou saindo.
Enquanto Marion explicava ao meu pai, eu levei Sofya ao banheiro,
dando leves batidas em seu rosto para que ela despertasse.
— Hey, Boneca, por favor, acorde! Vamos lá, garota! — falei, e
ela abriu os olhos.
Claramente, ela não estava mesmo bem.
— Eu não deveria ter dado whisky a ela de tarde — comentou
meu pai.
— O QUE? — Marion e eu bradamos juntos.
— Depois eu explico. Faça o que tem que fazer, filho.
Abri a boca de Sofya, que estava relutante, e enfiei meus
dedos no fundo de sua goela, fazendo com que ela engasgasse até
que finalmente vomitasse. Tudo bem que metade veio em mim, mas
pelo menos ela fez. Marion segurava seu cabelo, enquanto Ed a
segurava e eu a limpava com uma toalha úmida.
— Por favor, não faça isso de novo — pediu Sofya, chorosa,
mas já um pouco melhor.
— Não vou, Boneca. Vem comigo, vamos para o quarto. — A
peguei no colo e dei-lhe um beijo na testa. — Eu vou cuidar de você.
Já chega por hoje.
Escutei mais alguns conselhos de Marion e subi para meu
quarto. Eu já não ligava mais para quem estava lá embaixo, quem
realmente importa está aqui comigo. A coloquei na banheira, dando-
lhe um banho, e logo depois a vesti com uma de minhas camisas e
uma cueca boxer. Quando a coloquei na cama, abri seus olhos
novamente e, finalmente, eles estão voltando ao normal. Mesmo
recusando e resmungando, fiz com ela bebesse mais água antes de
deitar.
— Tudo bem agora, descanse — sussurrei, me deitando ao
seu lado.
— Obrigada — sussurrou ela, antes de cair em um sono
profundo.
Acordei com a sensação de ter sido atropelada por um
caminhão. Jesus, o que aconteceu? Me levantei sobressaltada,
olhando ao redor do quarto que não era o meu, mas sim o de John.
Meu Deus, O QUE ACONTECEU? Eu não consigo me lembrar de
nada! O desespero se apossou de meu corpo, já que mesmo
tentando me lembrar o que aconteceu na noite passada, na noite da
ceia de Ação de Graças que MIRANDA havia preparado, eu não
conseguia e isso, com certeza, não é por um bom motivo! O que eu
havia feito para não me lembrar de nada? Olhei para minhas roupas
e notei que vestia uma camisa de John, assim como uma de suas
cuecas boxer. Quando botei os pés fora da cama, escutei a porta se
abrir, revelando John com uma bandeja de café da manhã bem
servida.
— Bom dia! Como se sente? — perguntou ele.
— O que aconteceu, John? — Já estava apavorada, sentei de
volta na cama, pois não sei se minhas pernas aguentariam. — Não
consigo me lembrar de nada!
— Hey, se acalma. Você está bem? — indagou, tentando me
acalmar, sentando-se ao meu lado com a bandeja.
— Estou com um pouco de dor no corpo. Me diga o que eu fiz,
por favor! — implorei.
— Qual é a última coisa que se lembra? — Perguntou ele.
Fazendo um baita esforço mental, repassei os copos de whisky
com seu pai, a dor de cabeça, a aspirina e... espera, A ASPIRINA!
— A aspirina! — lembrei, colocando as mãos em minha boca,
a tapando. Meu Deus... mas o que? — O que tinha naquela aspirina,
John?
Ele me olhou receoso, e com um pouco de remorso, talvez?
— John?
— Não era aspirina, você tomou ecstasy. — OH MEU DEUS!
MEU DEUS DO CÉU! — Foi minha culpa! Me desculpe, deixei a
caixa com a droga em cima da mesa, pois são provas para o caso
em que estou trabalhando, mas claramente eu deveria ter guardado
em um lugar seguro e não ter deixado na mesa.
EU AINDA NÃO CONSIGO ACREDITAR. O que eu fiz? Se
com o efeito do álcool eu me torno um perigo, imagina sob o efeito
de ecstasy? MEU DEUS. Eu quero chorar agora!
— Hey, fique calma, por favor — pediu ele, tentando me
acalmar.
Mas como vou ficar calma? JESUS, o que eu tinha feito? Pela
cara dele a noite foi um desastre! O QUE EU...
— SUA MÃE? Sua mãe me viu drogada? — perguntei, levando
minhas mãos à cabeça, desesperada.
John engoliu a seco, confirmando meus temores. Eu quero
morrer agora.
— O que eu fiz, John? — perguntei, com a voz embargada.
— Hey, Boneca... fique calma. Tudo está bem.
— Me diga agora!
Derrotado, ele suspirou, me encarando com atenção.
— Tudo bem, eu vou te contar, mas antes, por favor, você
precisa se alimentar. Sua imunidade ainda está baixa.
— Eu não consigo comer nada nesse momento. Me conte
tudo, AGORA!
Sem saída, ele contou tudo, e eu, pasma, fui prestando
atenção. O QUE EU FIZ?

Abatida e sem motivos para sair do quarto depois de TUDO o


que John tinha me dito, me tranquei no banheiro, olhando o meu
reflexo de derrota no espelho. Estou um lixo! Ainda não consigo
acreditar no que aconteceu. Na grande confusão que foi a noite
passada, das palavras que dirigi a Miranda e de todo o show ao
redor. Sem contar que, praticamente por minha causa, John agora
sabe da Marion e Leon. Mas o que acontece comigo e essa família?
A cada encontro é um drama diferente. Não bastasse ouvir tudo
isso, ver fotos e vídeos meus da noite passada foi o pior! No meio
da conversa com John, Ed veio me visitar, para saber como eu
estava e acabou me mostrando alguns deles, provando o que John
me disse, mas de uma maneira bem pior! Se John não tivesse me
segurado, eu teria feito Ed engolir aquele celular ali mesmo! Aquele
filho da mãe não me ajudou em nada ontem à noite, me fazendo
passar mais vergonha ainda. DEUS, em um dos vídeos ele apontou
para um velhinho, falando de sua barba, e eu fui em direção ao
pobre coitado, apertando suas bochechas e alegando que ela era o
Papai Noel. Que vergonha! Sem falar no vovô, as fotos em que eu
dançava com ele... pobre vovô, não sei como conseguiu dançar
comigo ontem. Ah meu Deus, eu estou tão ferrada! Como irei
enfrentar as pessoas lá embaixo agora?
— Sofya, por favor, abra a porta! — pediu John, ao bater pela
milésima vez.
— Me deixe sozinha, John, por favor.
— Você sabe muito bem que não irei fazer isso. Eu já te disse
que todos sabem que foi um acidente, não tem porquê julgarem
você!
— Sei.
— Anda, por favor, abra a porta!
Enrolada em uma toalha, ainda com os cabelos molhados e
despenteados, me arrastei até a porta, a abrindo. Ignorando a
presença de John na minha frente, passei por ele e fui em direção a
minhas roupas no armário, já que fugi para o meu quarto logo
depois de ouvir tudo o que tinha para ouvir sobre a noite anterior.
— Sofya.
— Eu quero ir embora, John — falei, ainda sem olhá-lo.
Peguei a primeira calcinha e sutiã que vi, assim como o
primeiro suéter e uma calça jeans básica.
— Tudo bem, mas vou com você — sussurrou ao meu lado,
dando um beijo em minha bochecha e saindo porta afora logo
depois.

Depois que arrumei as minhas malas e calcei meus sneakers


brancos, tomei coragem e desci. Não encontrei John, por isso fui até
a sala principal. Aparentemente, a casa está vazia e silenciosa.
Andando pela grande sala, comecei a observar as fotos de família.
Vi John quando era bem pequeno, tão fofo e rechonchudo! Miranda
no auge de sua juventude, assim como Leon, que era um gato mais
jovem, não que ainda não seja, mesmo coroa. Benjamin e
Samuel bebês, o casamento de Josh e Evangeline e, olhando
assim, realmente é uma família perfeita. Ainda observando as fotos,
vi uma na qual me fez sorrir pela primeira vez neste dia cinza.
Peguei o porta-retrato e passei a mão por ele. Tenho certeza de que
essa é a tão especial Ally e seu fiel marido, Larry. O senhor Larry
estava tão jovem e lindo na foto, mas o que me fez suspirar mesmo
foi sua querida e amada Allyson. Linda e com o sorriso de tirar o
fôlego, ela abraçava Larry de forma carinhosa, enquanto ele olhava,
também sorridente, para a foto. A antiga fotografia em tons de sépia
revelou o amor dos dois, me fazendo lembrar da linda história de
amor que Larry havia me contado, meses atrás. E ele não mentiu
quando falava da beleza de Ally, que tinha longos cabelos
cacheados e escuros, assim como seus olhos, mesmo sem saber
direito devido a qualidade da foto.
— Ela era linda, não?
Escutei a voz do vovô ecoando pelo cômodo silencioso. Sorri e
coloquei a fotografia no lugar.
— Muito — respondi, agora olhando na direção dele.
Ele olhou as malas do outro lado da sala e franziu o cenho,
voltando a me encarar logo em seguida.
— Está fugindo, minha jovem? — perguntou, me fazendo
sorrir.
— Digamos que seja quase isso — admiti. Ele assentiu.
— Não tenha vergonha de você mesma, minha querida, pelo
contrário. Tenha orgulho. Ontem à noite você foi você mesma, com
um empurrãozinho a mais, vamos dizer assim.
— Aquilo não deveria ter acontecido, vovô.
— Mas aconteceu e não me divertia assim há anos,
obrigado por isso.
— Não foi sua culpa, Sofya — falou Leon, ao entrar na sala. —
Para começo de conversa, não deveria ter te dado aquele whisky.
Bem, isso é verdade.
— Whisky? Quanta irresponsabilidade, Leon! — vovô advertiu.
— A garota acabou de completar vinte e um anos!
— Vinte e cinco, vovô — corrigi ele, rindo.
— Que seja, é tudo a mesma coisa. Mas Leon tem razão, se
quer culpar alguém, culpe ele e o cabeça dura do meu neto, que
trouxe trabalho para casa!
— Concordo com você, vovô — disse John, aparecendo ao
lado do pai.
— Tudo bem, mas querendo ou não eu causei uma bagunça, e
não me sinto bem com isso. Onde está Miranda? Preciso me
desculpar com ela.
— Não se preocupe, Sofya. Miranda não está em casa e não
voltará por hoje. Além disso, já conversei com ela — Leon falou.
— Mesmo assim, senhor Neeson, ainda preciso me desculpar,
não só com Miranda, mas com o senhor e Marion também.
— Já disse para não se preocupar com isso. Está tudo bem —
repetiu, assenti e me despedi deles.
Ed apareceu logo depois, ainda receoso do que eu poderia
fazer com ele, mas é impossível ficar brava com ele por muito
tempo, o cara é uma figura, por isso também o dei um abraço de
despedida, com a promessa de se alguma imagem ou vídeo de
ontem saísse do seu celular eu o mataria, e com a permissão de
John para fazer isso. Já no carro, a caminho do aeroporto, John
pegou minha mão e a beijou, chamando minha atenção.
— Ontem não consegui dizer, mas essa foi a melhor Ação de
Graças de todas, obrigado.
— Tudo bem, há anos não sei o que é isso, mas no geral eu
também gostei. Só mantenha qualquer tipo de “aspirina” longe de
mim a partir de agora, combinado?
— Combinado — disse ele, rindo.

Falta pouco para dezembro chegar... assim como o Baile


Glam. Deus, estou tão ansiosa! O tema será Burlesco[18], ou seja,
muitos brilhos, pérolas e dança! Nigel e eu pensamos no tema
perfeito e, graças aos céus, Donatella adorou. Além da correria para
os últimos preparativos, meu trabalho aumenta a cada dia. Na
primeira semana de dezembro — que já é a próxima semana —
terei que viajar até Miami para o congresso Fashion & Beauty
Mobile — que contará com diversas pessoas e celebridades e
influencers importantes, inclusive Kim Kardashian estará presente,
para trazer algumas novidades deste mercado tão poderoso que
vem mudando o mundo da beleza e da moda. Sem contar que eu
não faço a mínima ideia de qual vestido ir para o Baile e, como uma
das organizadoras, tenho que estar brilhando, literalmente, pois não
espero — e não posso estar — menos que isso, entretanto não
acho o vestido ideal e isso já está começando a me preocupar.
Além disso, Shantell havia chegado na cidade e nem tive
tempo de vê-la, estou com tanta saudade dela! Tem tanta coisa que
preciso contar a ela. Como o que fiz com Miranda, por exemplo,
Shantell terá um ataque quando descobrir, assim como fez Nigel,
que, nas palavras dele “não sabia se me aplaudia ou se me batia”
por ter agido assim, pois cedo ou tarde Donatella, amiga de
Miranda, irá descobrir e poderei dar adeus a meu emprego.
Confesso que não tinha pensado nisso, até Nigel chegar com essa e
mais centenas de possibilidades existentes para a situação piorar,
coisa que também está mexendo, e muito, com minha cabeça. A
cada vez que Donatella me chama em sua sala meu coração para,
me lembrando a época em que eu era uma simples estagiária que
temia ser chamada na sala do chefe, mas, por incrível que pareça,
Donatella não me disse nada sobre o ocorrido, pelo menos não
ainda. Não sei se isso ainda não aconteceu por causa do meu
pedido de desculpas enviado em um cartão com um buquê de flores
caríssimo a Miranda ou se ela ainda possui, pelo menos uma parte,
de seu coração... difícil dizer. Enviei flores a Marion também por ter
me ajudado naquela noite na qual eu me esqueci de tudo, porém,
que jamais me esquecerei. John me contou o que ela fez por mim —
e o que eu fiz por ela —, por isso ela merece meus sinceros
agradecimentos e, também, as minhas sinceras desculpas.
Deus, estou tão cansada! Tenho vinte e cinco anos, contudo
estou aparentando ter setenta e cinco nesta semana. A pressão sob
mim está quase insuportável. Eu aguentaria isso numa boa em
outros tempos, nos tempos em que John ainda não fazia parte da
minha vida, nos tempos em que meu foco era totalmente em mim e
na minha vida, não em John e no que sinto por ele. Depois do que
houve no feriado com sua família pensei que, no fundo, ele tinha
ficado chateado com tudo o que eu falei para sua mãe, mas ele
disse que estava tudo bem. Certo que foi ele que causou aquilo,
mas quem aprontou fui eu, mas lá estava ele, não saindo do meu
lado desde então. E estou gostando. Para uma mulher normal isso
seria perfeito, mas para mim, isso está me consumindo. Eu estou
apavorada. A ansiedade e o medo em meu peito toda vez que
penso em John e em meus sentimentos por ele está me tirando o
sono. Estamos cada vez mais unidos e sei que ele sabe disso
também, pois suas reações me mostram isso. Nestes últimos dias,
ele anda estranho, estranho do tipo “preciso te contar uma coisa,
mas não sei como dizer isso” e eu sinto que o que ele tem a me
dizer vai me fazer fugir. É, eu sei, como uma mulher como eu, linda
e bem sucedida — vamos ser honestos aqui, não é? Modéstia à
parte — não consegue ter coragem para enfrentar isso? Pois é, mas
acredite, o negócio é mais em baixo.
Gostaria muito de matar os fantasmas do meu passado se já
tivesse acertado minhas contas com todos eles, mas não é tão fácil
quanto parece. Eu quero muito ficar com John, mas não sei se
aguentaria ouvir o que ele pode ter a me dizer. Confuso, não é? Eu
sei, mas eu fico apavorada. E se John disser o que acho que tem a
me dizer e depois desaparecer? Enfim. Mas, viu só? É trabalho, é a
família dele e, principalmente, é ele que está me deixando assim.
Estou prestes a ter um ataque. Mas aqui estou eu, praticamente me
rastejando até o prédio. Eu só quero meu chuveiro e minha cama!
As vezes fico pensando: como as pessoas sobrevivem no frio? Eu
hein! Cinquenta por cento dos meus pensamentos no inverno são
em como me esquentar, por isso minha capacidade de raciocínio
diminui drasticamente, ARGH. Olha só essa neve tod...
— Cuidado! — gritou uma voz masculina, que eu tenho certeza
de que já ouvi antes!
Uou! Por bem pouco, não sou atingida por uma avalanche
formada por um caminhão que passava em alta velocidade pela rua,
próxima a calçada onde estou. Ainda tentando entender o que está
acontecendo, me dei conta que braços grandes e fortes ainda me
protegiam.
— Olha só quem é! Vou ter que começar a te cobrar, já que é a
segunda vez que te salvo.
Oh meu Deus, eu sabia que conhecia aquela voz! E é
impossível não reconhecer esse rosto e braços maravilhosos.
Saindo dos seus braços e limpando meu casaco, dei um sorriso
tímido.
— Você aparece nas horas mais apropriadas. Obrigada por
isso também! — disse para Steve, que me olhava com aquele
sorriso maravilhoso. — O que está fazendo aqui?
— Como assim o que eu estou fazendo aqui? Eu moro aqui —
respondeu, apontando para o prédio que fica BEM ao lado do MEU
prédio.
Foi impossível não abrir a boca. Estou chocada. Ainda não
consigo decidir se isso é bom ou ruim... viu só, o que eu disse sobre
ficar lerda no frio?
— A pergunta é: o que VOCÊ está fazendo aqui?
— Eu moro naquele prédio — falei, ainda sem ter muita
reação.
Ele olhou para o prédio e, depois, seus olhos foram para os
meus. Posso jurar que seu sorriso aumentou ainda mais.
— Não me diga. Então somos vizinhos?
Jesus. Isso é, definitivamente, uma coisa ruim. Não me basta
um vizinho lindo e maravilhoso, agora tenho dois.
— Que ótima notícia! — acrescentou, me olhando
sedutoramente.
Não, isso não é uma boa notícia.
— Pois é, não é... que coisa — falei, visivelmente sem graça e
sem jeito com as palavras.
Steve se aproximou mais de mim, ainda com aquele olhar de
arrancar calcinhas. Oh Deus, oh Deus, oh Deus. Em outros tempos,
eu já estaria tirando sua cueca, porém os tempos mudaram. Eu
estava apavorada e um alarme soando o nome “JOHN, JOHN,
JOHN”, soava em minha mente. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
— Já que aquele seu amigo não está por perto para fazer o
papel de segurança, o que acha de jantarmos em algum lugar aqui
perto? Sou novo no bairro e seria legal alguém daqui me apresentar
aos restaurantes próximos.
Esse cara é abusado, gostei dele. O que eu acabei de pensar?
Pfff, foca Sofya! Antes mesmo que eu pudesse responder, o alarme
“JOHN” fez um super efeito.
— Vai sonhando, doutor. Isso não vai acontecer — rosnou
John, atrás de mim. Eu já tinha visto isso antes. E lá vamos nós de
novo.
Era só o que me faltava. Esse cara, nosso VIZINHO?! Eu
cheguei, novamente, em boa hora, pois ouvi tudo. Eu achava aquele
inglês metido folgado, mas nada se compara a esse cara, tornando
aquele inglês o menor dos meus problemas, ou seja, me livrei de um
e agora me aparece outro pior ainda. Pelo jeito que ele olha para
Sofya, vi que ele está disposto a tê-la de qualquer maneira, e aquele
grande sinal de “PERIGO” em minha mente ficou ainda maior. Com
o olhar debochado, ele mantinha a pose para cima de mim. Logo
para quem? Pessoa errada, babaca. O encarando, andei confiante
até os dois, ficando cara a cara com ele.
— E por que não, amigo segurança? Deixe que ela responda
por ela mesma — rosnou ele de volta.
— JÁ CHEGA! John, vamos subir, agora! Não estou no clima
para isso hoje! — bradou Sofya, indo para o nosso prédio.
Vitorioso, joguei a ele meu melhor sorriso de vitória.
— Bem, parece que ela respondeu — debochei.
Ele continuava me encarando, sem perder aquela pose
maldita, por isso resolvi provocá-lo ainda mais.
— Vamos para casa, Boneca.
Como imaginei, a cara dele quase me fez gozar de
satisfação, ignorando Sofya bufar e voltar a caminhar.
— Casa? — perguntou ele.
— Bem vindo à vizinhança — ironizei.
— John, vamos logo! — gritou Sofya. — E... tchau Steve. —
Ela acenou para ele e entrou em nosso prédio.
Ele sorriu e acenou de volta, fazendo minha cara se fechar
de novo. Me aproximei ainda mais dele, que agora me encara com a
mesma intensidade de raiva.
— Já que você é novo por aqui, vou lhe dizer algumas
regras, Doutor — rosnei, trincando minha mandíbula. — Não cisque
no terreno dos outros e não pule o muro. Você pode se machucar.
O filho da mãe folgado riu, dando mais um passo em minha
direção.
— Não me ameace, Segurança, pois eu adoro quebrar
regras e sou MUITO bom nisso — replicou o abusado, fazendo eu
trincar ainda mais a mandíbula e meus punhos se fecharem com
força.
Se eu bater nesse cara aqui e agora, tenho certeza que
Sofya não olhará mais na minha cara, então, com muita dificuldade,
procurei manter a calma. O encarando pela última vez, me virei,
voltando para nosso prédio.
— Não diga que eu não avisei — rosnei, entrando logo em
seguida.
Que cara folgado!

— Parece que você ficou bem animada com o novo vizinho —


falei logo que fechei a porta do seu apartamento.
Como esperava, ela me fuzilou com o olhar.
— Não estou a fim hoje, John. E, não que isso fosse da sua
conta, mas hoje eu quero paz! Foi uma longa semana — avisou,
indo para seu quarto.
Nestes últimos dias estou vendo uma Sofya cansada e tensa,
assim como eu venho me mostrando também. Preciso dizer a ela
como me sinto em relação a nós. O que eu sinto por ela, e isso está
me deixando louco! E eu tenho certeza, a conhecendo como a
conheço, ela sabe que eu quero lhe dizer alguma coisa. Mas está
cada vez mais difícil colocar isso para fora. Há a minha família, meu
trabalho e o trabalho dela também, que estão nos consumindo. E
por isso resolvi adiar essa conversa até voltar da viagem que farei, e
sim, é a trabalho, por isso, isto também está martelando em minha
cabeça. Finalmente descobrimos a origem das drogas de
Hernandez e agora nosso foco total é nisso, na fonte do problema.
Irei para a Colômbia na próxima semana e pretendo — assim
espero — ser o mais breve possível por lá.
Entrei no quarto de Sofya, mas aparentemente ela já está no
banho. Tirando minhas roupas, resolvi me juntar a ela. Eu pretendia
relaxar esta noite, mas “relaxar” com Sofya soa bem melhor. Assim
que entrei no chuveiro, me deleitei com a visão do seu corpo
molhado, que eu não me canso de olhar e tocar.
— Não tem espaço para nós três aqui dentro, John — falou
amargamente, com os olhos fechados e com a cabeça embaixo da
água.
— Nós três? Eu, você e meu pau, você quer dizer? — a
provoquei, me aproximando do seu corpo, a envolvendo pela
cintura.
— Não. Eu, você e o seu ego. Me deixe tomar banho em paz.
— Ela me empurrou.
— Eu adoro quando você fica brava assim, sabia? —
sussurrei, próximo ao seu ouvido.
A envolvi em meus braços e entrei debaixo d’água quente
junto a ela, que finalmente me olhou.
— Você é um pervertido, sabia?
— E você adora quando eu sou um pervertido — murmurei,
próximo aos seus lábios, os tomando com os meus.
Totalmente rendida, ela envolveu seus braços ao redor de meu
pescoço e sua mão foi até meus cabelos. De repente, ela
interrompeu nosso caloroso beijo e meu olhou, intensamente, com
seu cenho franzido. Parece que não sou só eu que tenho algo a
dizer.
— Tudo bem? — perguntei, recuperando meu fôlego.
Ela engoliu em seco e, segundos depois, assentiu com a
cabeça.
— Sim, está tudo bem — sussurrou.
Aqueles grandes olhos cor de mel brilhantes ainda me
olhavam, e eu os encarava da mesma forma. Deus, como eu a
quero, de corpo e alma. Minha mão voou para sua nuca e a puxei
para os meus lábios novamente, num beijo urgente e desesperado.
Ela pulou para minha cintura, onde minha outra mão a agarrava
firmemente por uma nádega. Eu preciso dela, preciso estar dentro
dela, preciso estar com ela e também preciso desesperadamente
que ela saiba disso logo.
Eu amo a coleção de lingeries da Sofya, porém amo ainda
mais quando ela mistura algumas de suas peças com minhas
camisetas e camisas, como agora. Vê-la vestida com uma calcinha
rosa e minha camiseta do Whitesnake é um prêmio para mim, e eu
me orgulho disso. Depois do nosso longo e demorado banho, a
convenci de dormir em meu apartamento, o porquê disso? Bom, eu
disse a ela que precisava revisar algumas evidências, mas na
verdade eu a quero em minha cama, comigo. E aqui estou eu,
deitado em minha cama com meu Mac aberto, tentando de fato
revisar algo, mas, diferente disso, me encontrava totalmente
enfeitiçado por ela, a olhando pentear e cuidar dos seus longos e
sedosos cabelos castanhos. Eu adoro vê-la cuidando de si mesma.
— Perdeu alguma coisa, Agente? — indagou, deixando a
escova de lado e deitando-se ao meu lado.
— Só vendo o quão bem você fica com as minhas camisas. —
Fechei meu Mac e puxei ela para mim.
— Adoro dormir com elas.
Isso! Outra vitória.
— Elas ficam melhores em você, de qualquer forma —
sussurrei em seus cabelos, dando-lhe um beijo na testa logo em
seguida.
Para evitar o silêncio, resolvi contar sobre minha viagem.
— Irei para Colômbia na próxima semana. Descobrimos algo
importante e teremos que ir para lá.
Ela levantou sua cabeça, me olhando de maneira apreensiva.
— Você vai atrás daquele cara muito mau, não é?
— Sim... e você ficou preocupada? — perguntei, dando um
sorriso ao notar sua cara de preocupação. Ela deu um sorriso,
passando o dedo em meu peito e desviando o seu olhar tímido.
— Sim, e daí?
— E daí… — comecei, pegando ela e a girando na cama,
fazendo com que ficasse por baixo de mim, e percebi que ela estava
rindo. — Que eu gostei disso. — continuei, em um tom sério.
Ela me encara, e a cada vez que eu encaro seu olhar, eu
sinto minhas palavras presas em minha boca querendo fugir,
desesperadamente — Sofya, eu...
— Eu também irei viajar na próxima semana — cortou-me,
claramente tentando mudar de assunto.
Bufei e notei o medo em seu olhar.
— Irei para um congresso em Miami.
— Miami?
— Sim.
— E quando você volta? — perguntei.
— Na próxima sexta. E você?
— Domingo.
— É muito tempo — falou.
— É... muito tempo — sussurrei, a beijando.
Quem sabe esse tempo sirva para alguma coisa? Afinal,
preciso que Sofya tire seu medo do caminho. Eu realmente preciso
que isso aconteça.
Tirando o tempo úmido e o vento, Miami tem uma temperatura
agradável, quando digo agradável é “pelo menos não tem neve”.
Posso dizer que os três dias de congresso foram um sucesso!
Conheci muita gente importante, como empresários, influencers e
artistas. Por ser editora executiva de uma das maiores revistas
fashion do mundo, também me senti importante e paparicada com
vários presentes e “lembrancinhas” que ganhei durante esses dias.
Para mim, meu trabalho aqui foi concluído com sucesso e Donatella
e Nigel ficarão felizes com o que irei trazer para nossa redação.
Bem, quase concluído. Estou no coquetel de encerramento do
congresso e louca para que isso acabe logo, ah, sem mencionar
claro, que também estou louca de saudades do John. Pois é, não é?
Eu sei, quem diria. Nos falamos todos os dias por mensagens e
ligações, primeiro porque eu realmente fiquei preocupada quando
ele me disse que iria para a Colômbia a trabalho e eu preciso saber
se ele está realmente bem, segundo porque eu sinto a falta dele, e
muito.
Bebi meu último sex on the beach e fui para o hotel, que fica
na beira da praia de Miami Beach. Passava das 16h e, já que tenho
praticamente mais um dia aqui, decidi aproveitá-lo. Depois de uma
ducha, coloquei meu short jeans, uma blusa leve de lã clara (que
deixa meus ombros desnudos) e calcei meus chinelos para dar uma
volta na praia. Depois de dias hospedada neste luxuoso hotel, eu
finalmente irei aproveitá-lo, e começaria caminhando a beira mar na
praia particular da propriedade. O sol brilha timidamente no céu
entre nuvens e o vento bagunça meu cabelo. Olho as ondas
quebrando na orla e as gaivotas no céu... será que minha mãe está
por lá? Será que ela olha para mim, ou cuida de mim? Às vezes me
pego pensando nisso, por mais que eu tente enterrar meu passado
no fundo do meu coração, e estes pensamentos estão me
assombrando ultimamente.
Caminhar com os pés nas águas geladas do oceano atlântico
me trouxe à tona o porquê desses confusos pensamentos. Eu quero
John, quero ficar com ele e quero que ele me queira tanto quanto
eu. E o que isso tem a ver com meu passado? Simples: amor. Eu vi
o mais puro e perfeito amor quando eu era apenas uma criança, um
amor tão lindo que um dia me fez crer que contos de fadas
realmente existiam, pois eu era a princesa de um reino feliz, fruto de
um casamento feliz, no qual a rainha era a mãe mais bondosa e
mais delicada bailarina que existia e o rei era o pai mais legal e
carinhoso do mundo. Mas um dia, isso acabou, o rei foi embora,
rejeitando tudo o que tinha, a rainha definhou e nunca mais dançou
e a princesa, bem, a princesa já não é mais uma princesa. Até
alguns meses atrás, eu era uma rainha fria e calculista — e eu me
orgulhava disso —. Hoje, sou apenas uma rainha, com medo de ter
herdado a fraqueza da minha antecessora, com medo,
principalmente, de partir meu coração novamente.
Meu pai era tudo para mim, e quando mencionei que pensava
ser uma princesa, eu realmente era tratada como uma até meus
cinco anos de idade. Ele era o cara mais legal que poderia existir e
o mais carinhoso também. Quando ele foi embora meu mundo
desmoronou. Ficava pensando no que tinha feito de errado para ele
ter partido e nos deixado sem mais nem menos, mas minhas
lamentações tiveram que ser deixadas de lado para que eu pudesse
cuidar das lamentações da minha mãe. O amor quebrou meu
coração e tirou minha mãe de mim. Eu sei que faz muito tempo,
mas, segundo minha antiga terapeuta, “os traumas de infância nos
marcam de maneira mais dolorosa e profunda”, por isso adquirir
confiança é uma tarefa extremamente difícil para mim. Pelo menos
era, pois John chegou em minha vida e a mudou de muitas
maneiras, balançando o meu mundo, até então, organizado. Não
consigo me ver longe dele e do que temos juntos, já que nunca em
minha vida ninguém me fez sentir assim... tão eu, tão viva e livre.
Me sentei na areia para admirar o sol que já se esconde no
horizonte. Queria que ele estivesse aqui comigo. Peguei meu celular
e não tem nada, nenhuma notificação dele. Já estou começando a
ficar preocupada, ele somente visualizou minha mensagem de “Bom
dia” que mandei às 8h da manhã. Mil coisas estão passando pela
minha cabeça, e nenhuma tem um bom desfecho. Quando conheci
John e começamos com nossos joguinhos, eu achava que o fato de
ele ser um agente do FBI era um maravilhoso fetiche, uma fantasia
sexy para brincar com suas algemas — que, inclusive, usamos
várias vezes —, sua pose de policial mau, seus músculos, sua
arma... ai ai, isso me traz lembranças tão boas que só de lembrá-las
já fico molhada, como no dia em que eu pedi para que ele viesse
vestido com seu uniforme de elite para meu apartamento e me
tratasse como uma criminosa... suspiro só de me lembrar! Fiquei
com a marca das algemas e algumas outras espalhadas pelo meu
corpo, além de quase não conseguir me sentar no dia seguinte.
Ótimas lembranças por sinal, adoro quando ele é bruto na cama. O
que eu estava dizendo, afinal? Ah sim, o fato de ele ser um agente.
É, infelizmente, isso não se aplica somente em minhas fantasias,
mas na vida real também, o que vem começando a me deixar
receosa e preocupada quanto a isso.
Olhei novamente para meu celular, aflita. O pior de tudo isso é
que eu não posso ligar para ele, já que isso pode entregá-lo ou
coisa pior. Respirei fundo e fechei meus olhos, tentando me acalmar
com o barulho do mar, pedindo para Deus o proteger, mesmo não
sendo muito religiosa. Senti meu celular vibrar em minhas mãos.
Uau, que rápido, obrigada, Senhor... mas, um número desconhecido
aparece na tela. Ainda com o coração apertado, me levantei e
encarei o horizonte, até que finalmente atendi.
— Alô?
— Então você realmente está preocupada comigo? — ouvi a
voz familiar do outro lado da linha, para o meu alívio, e minha fúria
também.
— Qual é o seu problema? Qual a dificuldade em me
responder? — questionei furiosa.
— Olha, você sabe que adoro te ver brava desse jeito, mas
confesso que te ver olhando para o seu celular esperando notícias
minhas é melhor ainda.
Mas como? Olhei ao redor, mas não o vi, mesmo tendo
pouquíssimas pessoas na praia.
— E como você tem tanta certeza disso?
— Agente Federal falando, lembra? E você sabe também que
eu adoro ver você com pouca roupa, mas esse seu short está curto
demais para um passeio solo na praia. Não gostei nem um pouco
quando vi alguns caras passando por você e olhando para sua
bunda.
Ele está aqui! OBRIGADA MESMO DEUS!
— Tudo bem, Agente, e o que sugere? — Ainda estava
olhando ao meu redor, até que o avistei ao longe, sentado no
quiosque-bar do hotel, vestindo uma calça de sarja preta, uma
camisa branca e o óculos Ray Ban modelo aviador, que o
deixa mais sexy ainda.
— Que eu e você demos o fora daqui para que você mostre
essa bunda só para mim — respondeu, com aquela voz sexy de
predador que me dá arrepios.
Ele se levantou e agora vem em minha direção.
— Eu gostei da ideia — disse, com minha voz sexy, enquanto
ele se aproxima cada vez mais de mim, desligando seu celular e
retirando seus óculos.
— Ótimo, porque estou esperando por isso a semana toda —
falou ao chegar onde eu estava, me tomando em seus braços e me
beijando de maneira urgente e apaixonada.
Agarrei sua nuca e seus cabelos, o puxando mais para mim,
me perdendo em seu corpo, em sua boca e em seu cheiro que tanto
gosto. Eu tenho muitas perguntas agora, mas quer saber? Elas
podem esperar.

Era como se não nos víssemos há anos, mas é claro que


John, como sempre, está mais ansioso que eu, pois estou tentando
colocar o cartão-chave do meu quarto há um tempo, mas não
consigo, porque se depender dele transamos aqui mesmo, no
corredor.
— John, espera...
Finalmente a luz da fechadura ficou verde e entramos
cambaleando quarto adentro. Interrompendo nosso beijo ele
praticamente me jogou na cama, tirando sua camisa e me olhando
da maneira mais sedutora.
— Tem razão, vamos com calma dessa vez. Quero aproveitar
cada pedaço do seu corpo — sussurrou ele com aquela voz
máscula que me dá arrepios.
Devagar, ele retirou meu short, percorrendo suas mãos por
minhas pernas depois, até chegar em minha cintura. Ajoelhado na
cama, ele foi levantando minha blusa lentamente, até que ela já não
estivesse mais em meu corpo. Nossos olhares brilham de desejo um
para o outro, sinto no meu estômago a ansiedade de tê-lo por
inteiro, a vibração de cada parte do meu corpo e a excitação
pulsando forte. Lentamente, ele se deitou por cima de mim, me
beijando de maneira doce, porém urgente, até interromper nosso
beijo e começar a beijar minha bochecha, minha orelha — deixando
mordiscadas leves no caminho —, meu pescoço... ah. A maioria das
vezes, o sexo entre nós dois é selvagem, bruto, o que eu amo, mas
dessa vez está diferente, como se fosse nossa primeira vez, e estou
com medo. Como se lesse minha mente, John sentiu a minha mão
trêmula e suada, voltando seu olhar novamente para mim, pausando
seu caminho de beijos.
— É... eu sei, eu também estou assim — confessou.
Levei minha mão até seu coração, que bate em um ritmo
acelerado, como nunca senti antes. Ele voltou a me beijar nos
lábios, tirando o pouco fôlego que ainda tenho. Voltando a trilhar
seus beijos pelo meu corpo, suas mãos foram para meus seios
onde, lentamente, ele tirou — e pela primeira vez, não rasgou —
meu sutiã, sentindo meus mamilos túrgidos em suas mãos grandes.
Minhas mãos foram para seus cabelos, porém, ele as pegou e as
colocou acima da minha cabeça, me reprovando com o olhar.
— Tsc, tsc, tsc. Por enquanto só EU te toco, está claro? —
advertiu, com sua voz grave.
Assenti com a cabeça, mordendo meus lábios. Gemi ao sentir
sua boca novamente em mim, trabalhando em meus seios, e logo
depois descendo por minha barriga, até chegar no único pedaço de
pano que restava em meu corpo. Mais uma vez ele ficou de joelhos,
retirando minha calcinha lentamente e sedutoramente, abrindo
minhas pernas no mesmo ritmo. Seu grunhido ao me ver totalmente
exposta para ele me fez ficar ainda mais molhada e minhas mãos
agarraram o lençol acima da minha cabeça. Assim como eu, John
está se controlando para não acelerar as coisas. Devagar, sua
cabeça foi para o meio das minhas pernas e eu o observava com
expectativa. Finalmente seus dedos tocaram meu centro com
suavidade, me fazendo gemer e afundar a cabeça no travesseiro.
— Tão molhada. Você está me deixando louco, garota —
rosnou e, logo depois, tomou meu centro em sua boca, lambendo e
sugando meu clitóris maravilhosamente e se continuar nesse ritmo
eu irei gozar em pouco tempo.
Comecei a rebolar meu quadril em sua boca e ele começou a
trabalhar mais rápido, enfiando dois dedos em minha entrada.
Cravei minhas unhas no lençol, sentindo meu orgasmo cada vez
mais próximo.
— John! — gemi seu nome, encontrando seu olhar de
predador em mim, me estimulando ainda mais.
Entendendo o recado, ele me chupou deliciosamente,
movimentando agilmente seus dedos, me fodendo com eles, e sem
poder me controlar mais, meu orgasmo explodiu em sua boca, me
fazendo gritar. Sugando cada gota do meu prazer, ele começou a
subir seus beijos, até tomar meus lábios nos seus novamente, para
que eu sentisse meu gosto também. Minhas mãos o abraçaram, e
as dele estavam em meu rosto e em minha nuca. Ele pousou sua
cabeça na curva do meu pescoço, beijando e mordiscando a região,
fungando meu cheiro.
— Senti tanto sua falta. Falta do seu cheiro, do seu gosto, do
seu corpo... de você — sussurrou em meu ouvido.
Eu não posso mais suportar, preciso dele, preciso dele dentro
de mim.
— Eu quero você John. O quero dentro de mim — murmurei,
enquanto pegava seu rosto entre minhas mãos e o encarava.
Tirando o restante das suas roupas, liberando seu majestoso
pau para mim, ele voltou a ficar por cima. Nossos olhares estão
conectados e, automaticamente, minhas pernas se abriram para
recebê-lo. Fechei os meus olhos quando senti seu pau entrando em
mim, me deleitando com essa sensação que tanto gosto.
— Olhe para mim. Só para mim — pediu, encostando sua testa
na minha, e assim eu fiz.
Gemi quando ele começou a me foder calmamente, sentindo
todo meu interior. Arqueei mais as costas para dar total acesso a
ele, que grunhiu em resposta. Nesse momento estamos numa
sintonia perfeita, na qual seus lindos olhos azuis brilhantes me
confirmam que é real. Aumentando o ritmo dos seus movimentos,
alternando em algumas estocadas deliciosas até o meu fundo,
nossos olhares ainda estão conectados, fazendo com que a
borboletas em meu estômago ficassem ainda mais inquietas e o
prazer em cada parte do meu ser tomasse conta de tudo. Sentindo
meu interior contrair seu pau, John sabe que não irei aguentar por
muito tempo.
— Goze para mim e grite meu nome quando fizer — ordenou
ele, agora se movimentando fortemente.
Agarrei suas costas, com a certeza de que deixaria marcas ali,
sentindo o orgasmo crescer em mim, forte, poderoso...
— Continue olhando para mim.
Oh meu Deus, o que está acontecendo? Tão forte, meu
orgasmo veio enquanto gritava seu nome, poderosamente, de
maneira impossível de descrever. Senti John atingir o seu no
mesmo momento, grunhindo e despejando fortemente seu prazer
dentro de mim. Eu ainda convulsionava, perdendo meus sentidos,
sentindo essa sensação em todas as partes do meu corpo, me
renovando, me energizando. Não sei por quanto tempo minha
mente ficou vagando por essa deliciosa e maravilhosa sensação,
mas sei que fui à lua e voltei. John é o meu esperado dez... meu
primeiro e único nota dez!
— Hey, tudo bem? — perguntou, enxugando a lágrima solitária
que escorria em meu rosto.
O orgasmo foi tão poderoso e intenso que mal contive uma
lágrima, também pudera, já que ainda sentia aquela energia pelo
meu corpo.
— Sofya?
— Dez. — Não consegui me controlar.
— O que? — perguntou curioso, com um sorriso.
— Isso foi um dez.
— Eu sei, foi demais, não é? — John ainda se recuperava,
assim como eu, mostrando que não tinha sido somente eu a sentir
aquilo.
Como se entendesse o que eu estava dizendo, seu sorriso foi
embora, dando lugar ao seu cenho franzido.
— Mas espera, sempre foi um dez... não foi? — perguntou, me
fazendo rir.
Ele realmente está preocupado agora. Homens.
— Na verdade não. Você sempre foi meu 9,5 — admiti.
— Como assim? Você fere minha masculinidade desse jeito!
— exclamou, me fazendo gargalhar. — Estou falando sério! Como
assim nunca tinha sido um dez para você? — Ele estava
visivelmente indignado. John levantou e se sentou na cama.
Acho que eu realmente feri sua masculinidade. Assim como
ele, também me levantei, me sentando em seu colo, pegando seu
rosto em minhas mãos.
— Você é o meu primeiro dez, John. Considere-se lisonjeado
— sussurrei, dando-lhe um selinho nos lábios depois.
Ele suavizou seu olhar, mas ainda me olha desconfiado.
— Seu primeiro dez? — perguntou, retoricamente.
Revirei os olhos ao ver seu sorriso triunfante se formar e me
pus para fora da cama, arrependida por ter dito isso a ele, logo para
o Senhor Machão.
— Você nunca teve um dez antes? — continuou, me seguindo
até o banheiro.
— Você entendeu — falei, enquanto abria o chuveiro.
— Então você nunca teve um dez, com nenhum outro homem?
Somente comigo?! — tagarelava ele, entusiasmado.
Novamente, o olhei, e sorri com sua cara vitoriosa, revirando
os olhos e assentindo positivamente com a cabeça.
— Agora me deixe tomar banho.
Antes que eu pudesse entrar no boxe, ele me puxou para seus
braços novamente.
— Você não para de me surpreender, Sofya, e isso está cada
vez melhor — disse, sorrindo da maneira que eu mais amo.
Totalmente rendida a ele, o puxei para dentro comigo, o
beijando docemente. É, você é o meu dez, John Neeson.

Eu ainda me arrumava enquanto escutava John falar no


quarto, ou pelo menos tentava fazer tudo isso ao mesmo tempo.
— ...então, basicamente, vamos ter que trabalhar em conjunto
com a INTERPOL no caso, já que não temos jurisdição para entrar
em ação na Colômbia, por isso voltei mais cedo — Disse ele —
Sofya já são 20h, vamos logo! — Continuou ele, me apressando.
— Ok, já estou quase terminando — Menti, pois ainda
finalizava minha maquiagem e vestia apenas meu sutiã branco
rendado sem alças e a calcinha do conjunto.
Minha maquiagem está simples e bonita, em tons nude. Olhei
para o meu cabelo, que está enorme, e não estou muito contente,
pois ele havia secado naturalmente e as ondas
estão desproporcionais, por isso prendi minha longa franja para trás.
Coloquei meus brincos de pedra turquesa, combinando com meu
anel, vesti meu delicado vestido curto de linho branco, com alças
grossas caídas nos ombros e botões que vão até a altura da cintura,
aberto no decote, formando um lindo V, justo até a cintura e depois
aberto até um pouco acima do joelho. Logo depois, calcei minha
sandália tira única frontal, na cor turquesa. É, nada mal para um
estilo praia-chic.
— Sofya! — Exclamou John e saí do banheiro bufando.
— Olha, se você não tivesse me atrasado no banho eu já
estaria pronta. — Disse.
Ele me olhou, de cima a baixo, me analisando.
— E então?
— Valeu a pena esperar, sem dúvida — Sussurrou ele, me
olhando atentamente.
John também está num estilo praia-chic totalmente sensual,
vestindo uma camisa branca de linho, uma calça sarja num tom
lindo de bege e sapatos marrom.
— Você está linda — Continuou ele, se aproximando de mim,
prendendo suas mãos em minha cintura.
— Você também não está de se jogar fora — Disse, sorrindo,
também o fazendo sorrir.
— Vamos logo, estamos atrasados — Disse ele, me puxando
para a porta, quase não me deixando pegar minha bolsa clutch no
caminho.
— Por que será, não é? — Disse, irônica, para ele, que me
olhou com cara de “culpado, mas faria de novo”.
Argh, acho que não consigo mais sobreviver sem ver esse
sorriso torto todos os dias.

Decidimos jantar no próprio hotel, já que hoje terá um jantar


especial com comidas típicas de Cuba e depois um show de Salsa e
músicas típicas, com músicos e dançarino cubanos. O hotel é
magnífico, especialmente a área externa, onde será o jantar e o
show de hoje, enfeitado com luzes, flores coloridas e velas. Por
sorte, a chuva deu uma trégua, dando lugar a um céu limpo,
revelando as lindas estrelas. Todas as mesas estão ocupadas, mas
que droga! Parece que havíamos chegado tarde, até que John nos
levou em direção ao hostess do restaurante.
— Boa noite! — cumprimentou o homem educado.
— Boa noite, tenho uma reserva para hoje. Estamos um pouco
atrasados — disse John.
— Seu nome?
— Neeson, John Neeson.
— Ah sim, por favor, venha comigo Senhor Neeson.
Hm, parece que alguém aqui é influente. O homem nos levou a
uma linda mesa, para falar a verdade, uma das melhores mesas
daqui, com vista para o mar e para o palco.
— Como o senhor pediu, esta é a nossa melhor mesa. Alguém
virá atendê-los, tenham um bom jantar.
— Obrigado.
— Obrigada — dissemos juntos.
— Melhor mesa, hein? — Olhei para ele.
Ele novamente entortou seu sorriso, dando-me uma piscadela.
— Aliás, quando fez a reserva?
— Assim que eu cheguei.
— Então você já tinha tudo planejado? — perguntei, franzindo
o cenho.
— Eu sempre tenho tudo planejado. Por exemplo, além disso,
consegui marcar o assento ao lado do seu no voo de volta a Nova
York amanhã — falou, sem dar muita importância e chamando o
garçom para nos atender, enquanto eu ainda o olhava, incrédula.
— Mas como? O voo já estava lotado!
— Agente Federal aqui, esqueceu? — gabou-se, me jogando
outra piscadela.
Abusado! Balancei a cabeça e deixei para lá. Pedimos uma
garrafa de vinho suave, que está delicioso.
— Por que não voltou direto para Nova York? — Isso estava
martelando na minha cabeça.
Ele me olhou, com atenção, e demorou um pouco para
responder.
— Porque eu estava com saudades — revelou, me deixando
sem palavras.
Peguei minha taça e bebi o restante do vinho nela. John notou
minha reação e pegou minha mão que estava sob a mesa.
— Sei que isso é novo para nós, mas eu preciso disso, Sofya.
Eu quero isso — continuou, me fazendo engolir em seco suas
palavras.
Respirei fundo, olhando para o mar... é, eu preciso arriscar.
Arrisquei minha vida toda, então acho que posso arriscar nisso
também. Voltei a olhá-lo, e ele aguardava com um olhar ansioso
uma resposta minha.
— Preciso saber se você também pensa assim.
— É... acho que eu quero arriscar — respondi, sorrindo.
O vento bateu em seu cabelo, e vi seu sorriso se iluminar,
assim como seus olhos.
— Garçom, champanhe! — exclamou, me fazendo rir.
Conversamos, rimos e comemos um delicioso jantar cubano,
além de bebermos muito champanhe, claro.
O show de salsa está maravilhoso, e alguns casais arriscam a
pista de dança, dançando animadamente com alguns dançarinos.
Falávamos da felicidade de nossos amigos e o quão eles são
importantes para nós. Assim como contei a história da amizade
entre mim e Shantell, John me contou a linda história da amizade
entre ele e Preston. Shantell e Preston realmente se merecem,
depois de tudo o que passaram em suas vidas. E chegamos à
conclusão de que eles foram os culpados por estarmos aqui hoje
juntos, além de sermos vizinhos, claro.
— Talvez Manhattan seja mesmo pequena no final das contas
— falei rindo.
Ele riu, mas logo ficou sério novamente.
— Às vezes pequena demais para o meu gosto — reclamou.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que agora o médico babaca também é nosso
vizinho — falou, com a cara amarrada.
Bufei, revirando os olhos.
— O que? Eu não gostei desse cara e você sabe disso!
— Assim como você não gostou do Jax!
— Sim, mas com ele foi diferente! Aquele cara é um perigo!
— Perigo para quem, John? Para você ou para mim?
— Para você. É óbvio! Já te disse isso. E seria bom você evitar
esse cara!
— John, por favor, menos! Se alguém tem que falar alguma
coisa aqui sou eu!
— O que você quer dizer com isso?
— Quero dizer você e a senhorita Milf [19] lá da academia. Ah,
sem falar a querida miss sunshine, conhecida também como a
senhorita Nora Perfeita!
— O que? Mas de quem voc...
— Marisa e Jenna!
— Ah qual é, Sofya! Isso é passado!
— É, eu vi seu passado entrando na senhorita Milf lá na
academia! — falei, o fazendo gargalhar. — E não é para rir!
— Já conversamos sobre isso, o que eu quero agora está bem
na minha frente — disse, me olhando sedutoramente.
Detesto quando ele vira o jogo! Revirei os olhos e voltei a olhar
o mar, ainda com os braços cruzados em meu peito, o fazendo rir
mais ainda.
— Para com isso, vai! Por mais que eu adore ver sua cara de
bravinha, eu gosto ainda mais de te ver dançando — continuou,
levantando-se, fazendo com que eu o olhasse novamente. — Me
daria essa honra? — convidou, estendendo sua mão para mim, num
convite impossível de recusar, ainda mais porque eu amo Salsa.
Peguei a sua mão e fomos até a pista de dança.
Dançamos, e como dançamos. Ensinei a John alguns passos,
nos quais suas tentativas de acertá-los me renderam boas risadas.
Estamos um pouco alcoolizados, mas se não tivéssemos, não
seríamos nós, claro. Agora há pouquíssimos casais aqui, já que
são quase meia noite. A batida agora está romântica e sensual, tudo
o que precisávamos agora. John mantém uma mão em minha
cintura me guiando, e a outra segura meu cabelo no alto da nuca.
Dançávamos no ritmo da salsa, sensualmente, sem ligar para quem
está ao nosso lado. O vento bate em nossos cabelos e escutamos
trovões ao longe, até que sentimos os primeiros pingos de chuva em
nossos corpos. Ouvimos gritos conforme a chuva aumentava, porém
estávamos concentrados em nós, em como nossos corpos se
encaixam perfeitamente, em como a música nos conecta, sem nos
importarmos com nossos corpos e roupas encharcados. A música
parou, nos fazendo parar também, e rir da situação. John se sentou
em uma cadeira, me trazendo para seu colo, colocando uma mão
em meu rosto, que eu a tratei de segurá-la, na tentativa de fazer
com que essa noite pudesse durar para sempre. Nossos olhares
brilhavam, conectados um ao outro. Vi quando ele pegou a linda flor
vermelha da mesa desconhecida, a colocando atrás de minha
orelha e ajeitando meu cabelo.
— Tão linda — sussurrou, antes de me puxar para seus lábios,
me aquecendo com seu beijo apaixonado.
Ele se levantou, me carregando em seu colo até nosso quarto,
onde ele me deu novamente vários dez durante a madrugada.
Acordo com a luz do sol batendo em meu rosto. Olhei para o
lado, mas tudo o que encontrei foi uma linda bandeja de café da
manhã com várias coisas gostosas, além da flor que estava em meu
cabelo quando viemos para o quarto ontem. Peguei a flor e sorri, me
lembrando da noite passada e o quão mágica ela foi... mas por que
ele não está aqui? Como se o vento que soprou em meu corpo
estivesse me respondendo, olhei na direção em que ele soprava,
encontrando minha resposta, olhando para mim. Como uma visão,
John está encostado no batente da porta de vidro da sacada,
somente com sua cueca boxer branca da Calvin Klein e com os
braços gigantes cruzados em seu peitoral definido. Ele me olha com
seu melhor sorriso torto e preciso me controlar para não suspirar.
— Bom dia, dorminhoca — falou, sorrindo.
— Bom dia... por que não está na cama?
— Acordei um pouco mais cedo. Você estava dormindo tão
tranquila e linda que não quis te acordar para tomar café. — Sentou-
se ao meu lado, colocando novamente a flor vermelha, que estava
na bandeja, atrás da minha orelha, me fazendo corar e sorrir
timidamente.
Ao ver minha reação, ele também sorriu, pousando sua mão
na maçã do meu rosto.
— Já disse que você é linda? — sussurrou, assim como fez na
noite passada.
O encarei e depois me desfiz dos lençóis que me cobriam,
subindo em seu colo, ficando de frente para ele e pegando seu rosto
em minhas mãos, o pegando de surpresa.
— Já sim, mas você me deixou molhada só de te ver parado
ali, me olhando. Uma verdadeira paisagem — ronronei em seus
lábios, sentindo seu membro se enrijecer embaixo do meu centro.
Suas mãos agarraram minha cintura e seus lindos olhos azuis
claros ganharam um tom mais escuro de desejo, do predador que
eu tanto gosto.
— É mesmo? — disse, com aquela voz de predador.
Com um movimento ágil, libertei seu pau da cueca, o
posicionando para que ele pudesse me receber e, lentamente, fui o
penetrando em mim, deliciosamente, o fazendo grunhir e eu
suspirar. Tão grande, tão grosso. Comecei a me movimentar, para
cima e para baixo, num ritmo prazeroso. Meus olhos não
desgrudavam dos dele, fazendo com que tudo se intensificasse.
— Valeu a pena esperar pelo café da manhã — brincou, me
fazendo sorrir.
Sempre vale a pena com ele ao meu lado.

De volta a Nova York, de volta à vida real. Vida real que me


chacoalhou assim que cheguei em casa, fazendo parecer com que
Miami tivesse sido somente um sonho, um sonho maravilhoso. Por
mais que minha cabeça estivesse a mil, com a pressão nas alturas,
eu fugia para lá em minha mente, me lembrando dos momentos em
que passei com John. O Baile Glam já é amanhã, então você pode
imaginar o meu nível de estresse. Como todos os anos, o Baile será
no Metropolitan Museum, por isso aqui estou eu, me certificando de
cada detalhe com toda a equipe envolvida no trabalho para que tudo
estivesse perfeito. Este evento é o mais importante do ano no
mundo da moda, recebendo os maiores nomes do mundo fashion e
do entretenimento, além de toda a imprensa nacional e
internacional. Para piorar tudo, acabei esquecendo do meu vestido.
É, pois é, como a editora executiva de uma revista fashion consegue
esquecer de escolher o próprio vestido para a ocasião mais
importante do ano, não é? Sim, EU QUERO MORRER e não sei
como não tive um ataque de pânico até agora!
Liguei para Nigel completamente desesperada nesta tarde e,
para o meu alívio, ele disse que já tinha pensado nisso antes, por
isso pediu para que eu fosse até seu flat hoje depois que eu
terminasse tudo, pois convocou uma pequena reunião pré Baile.
Respirei fundo, olhando para a linda decoração que estava sendo
finalizada. Pelo menos está tudo conforme o cronograma, depois de
toda a correria.
— Então é aqui que você está se escondendo? — uma voz
conhecida, atraiu minha atenção.
— Ed! — gritei. — Mas o que você está fazendo aqui?! —
continuei, o abraçando.
— Pois é! Fui até seu escritório, mas disseram que você não
estava. Uou! — disse ele, olhando ao redor, impressionado. —
Então é aqui que aquele Baile chique acontece?
— Sim, o que achou?
— Chique! — respondeu, sorrindo e me fazendo rir.
— Mas você não me disse o porquê está aqui!
— Ah sim, ficarei aqui até o Natal, já que vim a negócios
também.
— Chefe! — chamou Lea, me fazendo pular de susto. — Oh
meu Deus, me desculpe!
— Jesus, garota, você sabe a pilha que eu estou e faz isso
comigo!?
— Eu sei, me desculpe, é que você não comeu nada o dia
todo. — Gente, é verdade! — Então, trouxe aqueles sanduíches que
você gosta. — continuou, me entregando o saco com dois
maravilhosos sanduíches de peito de peru e uma garrafa de suco.
— Olá... — falou, olhando para Ed e ajeitando seu cabelo.
— O-olá... — gaguejou Ed.
Hm.
— Lea, eu te amo! Deixe eu te apresentar, este é o Ed, Ed
Neeson, primo do Jo...
— Primo do John, claro! Muito prazer Ed, sou Lea, Lea Sachs!
— O prazer é todo meu Lea... você é linda.
— Ah... — riu ela, tímida. — Obrigada! Ahm, você quer um
lanche também?
— Ah, não, obrigado. Estava falando aqui para Sofya que vim
para cá, com o meu jato particular, a trabalho... eu tenho uma
empresa e tal, então...er...
Mas que pilantra!
— Olha, eu vou comer meu lanche. Lea você também não
comeu.
— Ah, eu comi s...
— Não comeu não.
Olhei para Ed, para que ele tomasse alguma atitude, mas ele
me olhava com cara de paisagem. Droga, logo se vê o porquê ele
não tem sucesso com as mulheres, confirmando tudo o que o vovô
diz. Bufei e revirei os olhos.
— Ed, pode levar Lea para comer alguma coisa?
— Ah!!! É, sim, claro! — riu nervosamente. — Se-se você
aceitar, claro.
— Ah... ainda tenho que rever o...
— Lea, você já fez tudo o que tinha para fazer, nos
encontramos no Nigel depois.
— Tudo bem! — Lea sorriu.
— Ótimo, vou comer agora. Depois falo com você, Ed!
— Ahm, Sôso, eu vim mesmo é para te dar parabéns.
— Pelo que?
— Você e John! Finalmente! Te vejo no jantar!
Mas o que?
— Que jantar? — perguntei, tentando esconder meu
nervosismo.
— O jantar que John fará para oficializar vocês para a família!
— disse, como se fosse óbvio.
Oh meu Deus. E lá se vai o meu apetite.
— Chefe, você não tinha me dito isso! Estou tão... — Ao ver
minha cara de desgosto, Lea se calou. — Ahm, vamos Ed.
— Tchau Sôso!
Me sentei em uma mesa, ainda sem acreditar no que eu ouvi.
Eu não tinha visto John com frequência nessa semana por causa de
toda essa correria, mas por que ele não me contou sobre esse
jantar? E desde quando estamos “oficiais”? Será que dei a entender
isso a ele em Miami? Quer dizer, ele teria me pedido em namoro,
certo? Senhor... o que eu faço? Vi a Jessica, a chefe de equipe da
organização do Baile passar e a chamei.
— Jessica! — gritei, a fazendo pular.
— O que você está fazendo aqui ainda? — perguntou, vindo
em minha direção.
— Já tem bebida aí? Alguma coisa alcoólica?
— Sofya, fique calma! Está tudo ocorrendo perfeitamente
como queremos! Vá para casa, transe e beba um pouco. Jesus
garota, você precisa relaxar!
— Ok. — Olhei para o relógio e já passava das 20h.
Ela tem razão, eu preciso respirar um pouco.
— Eu vou então.
— Sim. Nos vemos amanhã!
— Me ligue se...
— Ligarei, agora vá antes que eu chame os seguranças! — ela
me cortou, rindo.
— Certo, até! — me despedi dela e saí para as ruas frias de
Nova York.
No caminho para o Flat de Nigel meu celular tocou e quando vi
quem era fiquei surpresa.
— Lea o que eu te disse?
— Eu sei! Não ligaria se não fosse urgente. Yumi ligou e disse
que há alguém importante te esperando no seu escritório...
— O que, no meu escritório? E quem é?
— Eu não sei, só disse que é importante!
— Inacreditável! Ok, estou indo para lá. — Encerrei a
chamada.
Eu acho que terei mesmo um ataque de pânico até amanhã.
— Táxi!
E eu nem imaginava o quanto eu estava certa.
— Me desculpe Sofya, não pediria para te chamarem se não
fosse uma...
— Tudo bem Yumi, quem está me esperando, afinal? —
perguntei, indo para minha sala.
Mas minha pergunta foi respondida assim que vi de quem se
tratava sentada de frente a minha mesa, fazendo meus músculos
congelarem.
— Finalmente. Detesto esperar, principalmente a quem não me
agrada — disse Miranda.
Ainda sem reação, a olhava desacreditada, já ela permanecia
em uma pose perfeita, como sempre. Era o Diabo em sua forma
humana.
— Miranda. A que devo a honra? — perguntei
sarcasticamente, colocando minha bolsa de lado e sentando-me em
minha poltrona. — Pode ir agora, Yumi, obrigada — disse à pobre
secretária, que deixou a sala, fechando a porta atrás de si.
— Ora, você não sabe? — falou Miranda, em um tom cínico e
calmo. — Eu vou ser sucinta e irei direto ao ponto. — Levantei uma
das mãos, a incentivando a prosseguir.
Mas na real, acho que já sei do que se trata: John. Óbvio.
— Você sabe o quão importante meus filhos são para mim e o
zelo que tenho com a reputação deles.
— E... — Disse, esperando a grande revelação.
— E que você, querida, não é boa o suficiente para John. E,
convenhamos, você sabe disso, não sabe?
— Miranda, é me...
— Eu achava que com o tempo John iria perceber que essa
“amizade” entre vocês dois não passava de uma distração e uma
brincadeira sem importância, mas vejo que me enganei. Você
conseguiu mesmo fisgá-lo. A pergunta é: como? Já que não passa
de uma jovem em ascensão da classe média. — Ela me encarava
de cima a baixo com desdém.
Como eu disse, o Diabo. Que mulherzinha ruim! Ela se
levantou, pegando sua bolsa e seu casaco, com toda aquela pose
inabalável.
— Então, vamos ser honestas, querida. Olhe para o mundo de
John... olhe para você, de onde você veio. Acha mesmo que isso vai
dar certo? John precisa de alguém a altura para ter ao lado, e creio
que você não é essa pessoa. Você é apenas uma órfã. Evite
mágoas dos dois lados enquanto há tempo e encare estes fatos.
Você e John nunca darão certo.
— Miranda, por favor, é melhor você ir embora.
— Eu vou. Mas pense nisso, tenho certeza de que você irá me
agradecer um dia. Afinal, conhecemos muito bem o jeito de John.
Não é à toa que ele está solteiro a esta altura, com a idade que tem,
não é? Você já deve saber como é a sensação de abandono muito
bem para querer isso novamente na sua vida.
Já chega.
— Saia daqui AGORA! — rosnei, a fazendo dar um sorriso de
megera.
— Adeus, Sofya — falou calmamente, saindo da minha sala.
Claro. Só faltava isso para piorar tudo.

— Eu disse para ele que ele foi o meu primeiro nota dez, que
eu queria arriscar porque ele me disse que quer isso, ele me quer,
mas nunca imaginaria que ele fosse tão rápido assim! John nem me
contou que dará um jantar para oficializar a gente! Quer dizer,
estávamos oficiais? Eu sei que nessa semana não tivemos muito
tempo para conversar, mas por que DIABOS ele não me disse
isso?! Sem contar que Lúcifer veio até mim hoje e disse que eu não
sou boa o bastante para o seu filho, me ameaçando! QUEM ela
pensa que ela é? Oh meu Deus, o que ela vai dizer amanhã no
Baile, quando ver que John irá me acompanhar? E O QUE ELA
DIRÁ PARA DONATELLA? E se ela fizer algum comentário
maldoso, porque ela ama fazer isso! E O MEU VESTIDO? O que eu
vou fazer? — choraminguei, tagarelando sem parar como costumo
fazer quando estou nervosa, e um pouco bêbada também, mas
meus devaneios cessaram quando senti a mão de Nigel atingir em
cheio meu rosto, mas sem força.
— PARA! SE ACALMA GAROTA! Pelo amor de Deus, assim
você vai me deixar maluco! — disse, me chacoalhando pelos
ombros.
Eu estou com muita vontade de chorar agora. Como eu odeio
TPM misturada com fortes emoções!
— Ok — murmurei, tentando engolir o choro.
Senti Shantell me abraçar, numa tentativa de me acalmar.
— Tudo bem, vamos por partes! — disse Nigel, sentando em
seu sofá macio, enquanto Kate enchia os copos novamente.
— John, finalmente, é o seu dez? — perguntou Shantell,
sorridente.
Confirmei com a cabeça, sorrindo.
— Ah! Isso é maravilhoso Sofy! Você não percebe?
— Percebe o que? — Kate e eu perguntamos ao mesmo
tempo, fazendo Shantell e Nigel bufarem.
— Ele é o seu dez porque você o ama! Não foi somente sexo
dessa vez! Vocês fizeram amor! Você se permitiu isso Sofya, porque
a verdade é que John sempre foi seu 10!
— Você acha mesmo que aquele homem era um mísero 9,5?
Amor, pelo amor de Deus, ACORDA! Até nos meus sonhos eróticos
John é nota 10! — exclamou Nigel.
Oh Deus. Virei meu copo, desviando dos olhares
esperançosos.
— Isso é lindo, Sofya! — disse Kate, colocando a mão em seu
lado esquerdo do peito. — Finalmente alguém derreteu seu coração
de gelo! Estou emocionada! — continuou ela, tirando sarro da minha
cara, mas que logo parou quando lhe joguei uma almofada.
— Ok, mas e a mãe dele? E se estivermos indo muito rápido!?
Eu não sei se isso poderia dar certo... — falei, desesperada.
— Você não pode deixar essa mulher doida no caminho de
vocês. Está mais do que claro que vocês se gostam, Sofya! E eu
quero ver a minha melhor amiga finalmente com alguém que a
mereça ao seu lado!
Eu não quero pensar nisso agora, há muito se passando pela
minha cabeça. Me sentei, derrotada, olhando para o fogo da lareira.
— Tudo bem! — Nigel falou, se levantando com um bater de
palmas. — Tem algo aqui que vai colocar um sorriso nessa sua cara
de derrota, garota — continuou, indo pegar algo em sua suíte. — Eu
acho... — Surgiu ele novamente com o vestido mais lindo que eu já
tinha visto na vida, nos fazendo gritar! — Que você ficará
deslumbrante com este Balmain feito exclusivamente para você.
— O QUE? — bradei, correndo para ele.
— Não acredita? Tenho aqui a prova — disse, com um bilhete
escrito pelo próprio Olivier Rousteing, Diretor Criativo da Balmain.
OH. MEU. DEUS.
— Eu estou morrendo de inveja de você agora, sua vadia! —
falou Kate.
— Leia logo, Sofya! — gritou Shantell.
Peguei o bilhete, ainda com as mãos trêmulas e suspirei ao
abri-lo.
— “Querida Sofya, tivemos um encontro tão rápido que mal
podemos nos conhecer direito, mas foi o suficiente para ver a
mulher de garra e com todo o GIRLPOWER de que me falaram.
Nigel me disse que você ainda não tinha um vestido para o Baile,
por isso, aceite este modelo que fiz para você, e, se não se
incomodar, ele estará na coleção do próximo Paris Fashion Week.
Espero que goste e nos vemos lá! Com amor, Olivier Rousteing.”
Eu mal posso acreditar nisso! Peguei meu tão precioso vestido
em minhas mãos. Preto, cravejado de pedras pretas e com muitas
franjas, ele fará jus ao tema “Burlesco” deste ano. Ele é o vestido
perfeito, com a cara da Balmain!
— Awn, Nigel! — disse emocionada, o abraçando.
— Ah, por favor, não foi nada. E não deixe essa TPM te
consumir, garota, você está um poço de emoções!
É verdade, preciso me recompor. Engoli minhas lágrimas
novamente.
— Certo. Kate, preciso de você um minuto — Nigel falou.
— Para quê? Tem um vestido para mim também?
— Você vai de Dolce, querida, não reclame! Preciso do seu
drink de maçã verde, venha! — Nigel arrastou Kate para o bar do
seu flat, deixando Shantell, eu e meu lindo vestido a sós.
Vi meu celular vibrando, de novo.
— Você não vai atender... de novo? — perguntou Shantell. Já
tinha perdido as contas de quantas vezes John havia me ligado.
— Não, não estou preparada.
— Hey, fique calma. Amanhã dará tudo certo, afinal, é meu
aniversário! — disse ela, nos fazendo rir — Depois do Baile iremos
ao Pub comemorar e, principalmente, relaxar!
— Como eu poderia me esquecer da minha sagitariana
preferida?! — falei, a abraçando.
— Isso mesmo. Agora eu vou indo, Preston disse que tem uma
surpresa pra mim!
— Uh! Depois me conta! — gritei para ela, que já estava a
caminho da porta.
— Ok! E vê se relaxa, ok? — Me mandou um beijinho e fechou
a porta.
Sim, eu preciso relaxar, mas é impossível. Depois de muito
pensar e conversar com Nigel, decidi dormir aqui hoje. A verdade é
que não estou pronta para ver John e tenho certeza que ele está me
esperando chegar em casa, por isso enviei-lhe uma mensagem
dizendo que ficarei por aqui hoje, e que amanhã o encontraria no
Baile direto. O meu foco agora é não ter um ataque de pânico de
verdade.

Finalmente o grande dia chegou! E nada melhor do que ter um


esquadrão da beleza para você não ter que se preocupar em ficar
deslumbrante! Já estava quase na hora de ir para o Baile e, assim
que finalizei meu look completo, fui olhar o resultado final no
espelho. Modéstia à parte, eu estou mesmo deslumbrante e quase
irreconhecível. Meus cabelos estão soltos, porém, boa parte dele
está de lado, formando um penteado vintage e lindo, a maquiagem
está sob medida, com os olhos marcantes e um lindo batom
vermelho sangue nos lábios. Já o vestido, bem, o vestido ficou
realmente lindo em meu corpo, sem falar no peep toe maravilhoso
que combina perfeitamente com todo o look.
— Uau! Garota, você irá roubar a cena! — falou Nigel,
igualmente deslumbrante com seu smoking franjado e estiloso.
— Uau, você também!
— Certo, vamos logo que a limusine nos espera!
E lá vamos nós!

Meu corpo ficou aliviado ao ver a beleza que está tudo isso
aqui! O Baile está perfeito, com a melhor decoração em anos! Sem
falar que Donatella disse estar no céu com o evento. Recebi muitos
elogios e tudo está ocorrendo maravilhosamente bem, tirando o fato
de que John ainda não apareceu. Já estavam todos aqui, inclusive
Shantell e Preston, que estão mais felizes do que o normal.
— Sofya — escutei a voz de John atrás de mim, me
chamando.
Virei e me deparei com o homem mais lindo do mundo à
minha frente, absolutamente maravilhoso com um smoking preto e
perfeito.
— Uau... — suspirei.
— Você está... deslumbrante — disse ele.
— Obrigada — respondi, tímida.
Ele veio em minha direção, mas seu semblante está caído.
Ele está estranho.
— Sofya o que está acontecendo? — perguntou,
exasperado.
— John...
— Aí estão vocês! Finalmente! — disse Preston com Shantell
ao seu lado, ambos sorridentes. — Os padrinhos do ano!
— O que? — John e eu perguntamos juntos.
Ainda mais sorridente, Shantell estendeu sua mão esquerda,
mostrando o anel de brilhante reluzindo em seu dedo. Surpresa,
levei minhas mãos à boca.
— Estamos noivos! — gritou ela, me pegando de surpresa
com um abraço afobado.
— Parabéns, cara! — John parabenizou, com um super hi-5
e um abraço apertado em Preston.
— Oh meu Deus, parabéns, Shant! — falei, ao desfazer
nosso abraço.
— Então você conseguiu, Shantell! Parabéns! — disse John,
ao abraçá-la.
— Engraçadinho! — falou ela, rindo.
— Estou muito feliz por vocês! Parabéns, Preston! — disse, o
abraçando.
Meu Deus. Minha melhor amiga vai casar! Novamente, meu
coração começou a acelerar.
— Obrigado! E vocês, hein? Será que serão os próximos? —
perguntou Preston.
Vi um garçom passar ao meu lado servindo taças de
champanhe e não hesitei em pegar uma, virando todo o conteúdo
goela abaixo em um só gole, fazendo Shantel dar um pigarro.
— Ahm, Baby, vamos deixá-los conversando um pouco. Nos
encontramos depois! — disse Shantell, arrastando Preston de volta
ao salão junto a ela.
Sem olhar para John, comecei a esfregar minha nuca em
uma atitude nervosa, até que John me fez encará-lo, puxando-me
pelos ombros, ficando de frente a ele.
— Por que você está fugindo de mim? — perguntou.
— Eu não estou fugindo de você! É que vem acontecendo
tanta coisa... — Olhei por trás de John e avistei Miranda nos
encarando.
Cinicamente, ela jogou-me uma piscadela e depois
desapareceu do outro lado do salão.
— John! Aí está você! Não tive tempo de lhe agradecer a
carona até aqui — disse Jenna, que está tão linda quanto qualquer
anjo do céu. — Obrigada! — continuou ela, dando-lhe um beijo no
rosto, e logo após me medindo de cima a baixo.
— Sofya — cumprimentou-me ela com desdém em um
aceno, e logo depois voltou para o centro do salão.
Me virei, quase sem fôlego, indo em direção a grande sacada
que dá ao Central Park.
— Sofya! — chamou John, atrás de mim.
Minha mão estava sob meu peito, suada e trêmula, assim
como a outra. Preciso me acalmar. E se Miranda estiver certa? E se
John, com seu jeitinho, me abandonasse também, como todos que
eu amei um dia fizeram? O que eu vou fazer? Eu não sei se sou
capaz de arriscar isso. Finalmente o ar gelado atingiu meus
pulmões. Novamente, John me virou para si, desesperado.
— Me escuta! Não fuja de mim, por favor! Aquilo não foi nada
além de uma carona! — justificou, pegando em meus cabelos no
alto de minha nuca, me olhando com um olhar triste.
— John, nós não podemos fazer isso. — As palavras saíram
da minha boca como se fossem navalhas, num sussurro quase
inaudível.
Ele agarrou mais meu cabelo, me trazendo para mais perto
dele, fazendo com que eu pegasse em seu braço que me agarra,
numa súplica. As lágrimas que eu estava segurando a dias caíram,
teimosas.
— Por favor...
— Não. Eu não vou deixar! Eu te disse que eu quero isso,
que eu te quero! E você sabe o porquê disso, não sabe? Eu sei que
no fundo você sabe, Sofya! — falou, agora agarrando meu rosto
com suas mãos grandes.
Fechei os olhos, covardemente negando, porque eu sei o
que ele quer dizer.
— Não John, por favor, não...
— Porque EU AMO VOCÊ, Sofya! — exclamou ele, me
chacoalhando pelos ombros, fazendo-me abrir os olhos novamente.
Seus olhos azuis e brilhantes que eu tanto amo estão em
tempestade.
— John, não... — supliquei.
— EU TE AMO, PORRA! Eu te quero para mim! Por que é
tão difícil para você aceitar isso, Sofya?!
— Eu não posso, John! Eu não consigo, me desculpa! —
Tentei controlar minha voz embargada, mas não tive sucesso.
No seu olhar, vi algo se partir, me destruindo da pior maneira.
Lentamente ele foi me soltando, dando passos para trás e olhando a
paisagem que nos rodeava, coçando sua barba.
— Você me disse que iria arriscar.
— John...
— MENTIROSA! — gritou ele, furioso, fazendo com que eu
fechasse os olhos de novo. — Acima de tudo, Sofya, TÍNHAMOS
UMA AMIZADE! — continuou, apontando o dedo para mim.
— John, por favor... — Tentei me aproximar dele, mas parei
ao notar que ele deu outro passo para trás, querendo distância.
— É isso o que você quer, não é? Parabéns, Sofya,
conseguiu! E quer saber? Se você não quer ter isso, TAMBÉM NÃO
TERÁ MAIS A PORRA DA MINHA AMIZADE!
— Não, John! — Coloquei minhas mãos na boca, tentando
controlar as lágrimas que caem sem parar.
— Nossa amizade acaba aqui, Sofya. Adeus — falou, saindo
apressadamente da grande sacada.
Um nó na boca do meu estômago me impedia de respirar e a
dor em meu coração é ainda pior do que me lembrava... uma coisa
tão horrível na qual eu nunca havia sentido antes. Eu preciso sair
daqui... mas estou sem rumo.
— Sofya! O que aconteceu? — questionou Shantell, me
acudindo.
— Preciso sair daqui — sussurrei.
O que eu fiz?
Ainda não consigo acreditar que Sofya fez isso comigo. Ela
tinha me dito que iria arriscar, que iria tentar... e aqui estou eu,
enchendo a cara novamente em um bar barato, com strippers
baratas, para ver se essa dor irritante em meu peito some,
procurando alguma forma de esquecê-la. Estou hospedado em um
hotel há uma semana, somente para não ter que cruzar com ela de
alguma forma, e somente Preston sabe disso. Há uma semana que
eu não a vejo, não ouço a voz dela e recuso todas as suas
insistentes ligações, que por falta de uma resposta cessaram ontem.
Preston me disse que ela também está arrasada. Ela está arrasada?
E eu? Ela pensou em algum momento em como estou me sentindo?
Pensou que o GRANDE IDIOTA aqui disse “eu te amo” com todas
as letras e a única coisa que consegui com isso foi ser humilhado
por ela?! Eu pensei que ela fosse grandinha o suficiente para deixar
o passado dela de lado, já que a provei de todas as maneiras que
eu estava ao seu lado!
Virei outro copo de whisky e já perdi as contas de quantos
havia tomado, de quantas vezes fui à academia nesta semana e
destroçado centenas de sacos de areia para descarregar minhas
energias. Deus, preciso tirar essa garota da minha cabeça, não
posso deixar isso me consumir!
— Vai com calma, rapaz! Preciso de você na ativa amanhã —
escutei Rhodes falar, sentando-se ao meu lado. — Você anda muito
pilhado esta semana, o que aconteceu?
— Nada com que deva se preocupar, chefe — respondi, dando
outro gole em meu whisky e olhando a stripper fazer o seu show.
— Hum, sei. É aquela baixinha marrenta, não é?
Mas como ele sabe? Olhei para ele, com meu cenho franzido e
com essa pergunta estampada em minha cara, o fazendo rir e
balançar a cabeça.
— É, logo deu para notar.
— E como o senhor sabe?
— Não me entenda mal, rapaz, mas a sua fama de
mulherengo está em baixa nestes últimos meses, e naquela noite
em que ela nos ajudou na boate eu vi como você ficou preocupado.
Com certeza não era só por isso que ele sabia.
— Foi meu pai, não é? — perguntei, o fazendo erguer as
sobrancelhas.
— Tudo bem, foi ele sim, mas já estava na cara — confirmou
ele.
Bufei e continuei a olhar para a stripper, que está com os olhos
grudados em mim desde o começo do seu show.
— Olha, seja lá pelo que vocês se desentenderam, deixe isso
de lado. Encher a cara num bar não vai adiantar nada, rapaz. Vá
para casa e se acerte com ela.
— Não há nada o que acertar com ela, Rhodes. Eu fui chutado
e lidarei com isso da minha maneira. — Peguei minha carteira e
paguei o barman. — Agora, se me der licença, vou indo.
Me despedi dele sem olhá-lo, saindo do bar e indo em direção
a stripper que se retirava do palco. Eu irei lidar com meus problemas
da maneira que sempre lidei, ou seja, da maneira que sempre me
fez bem e, principalmente, relaxar e descarregar as energias com
um bom sexo selvagem. Apenas de calcinha e sutiã, a loira que
ainda me encarava de maneira maliciosa, parou ao me ver se
aproximar.
— Vamos sair daqui, querida? — perguntei, na minha melhor
voz de cafajeste.
— Achei que não iria perguntar — respondeu, se aproximando
de mim.
Que se foda.
Nigel sempre me alertou, “cuidado, querida, quando sua vida
profissional estiver nas alturas, significa que sua vida pessoal estará
no inferno”, e estou tirando isso à prova neste momento da minha
vida. Donatella ficou tão feliz com meu trabalho que, além de me dar
um aumento, me quer ao seu lado em todos os maiores
acontecimentos e eventos do ano. Sem contar que a Paris Glam me
propôs uma oferta magnífica de “intercâmbio de redação” por seis
meses, já que meu "excelente trabalho” chegou aos ouvidos de
gente muito importante, segundo as palavras da diretora de redação
de Paris, Emmanuelle Delacroix, a qual é uma excelente colega.
Tudo isso seria perfeito, tirando o fato de John não querer mais ao
seu lado. Eu perdi as contas de quantas vezes o liguei, mandei
mensagem e invadi seu apartamento, que está vazio desde a noite
do ocorrido. Eu não sei o que fazer... eu até ameacei Preston com
minha pantufa em uma das vezes que ele veio até aqui para buscar
Shantell, mas de nada adiantou, já que ele foi claro em não dizer
onde John está.
Depois do que aconteceu naquela noite eu fugi... fugi de tudo o
que me assombrava durante aqueles dias e chorei, como nunca
havia chorado antes. Eu estava tão confusa, tão perdida, não
deveria ter agido daquela maneira com John, não deveria ter
deixado a mãe dele vencer e, principalmente, não deveria ter
deixado ela falar aquelas coisas para mim. Fui uma garota tola,
diferente da mulher decidida que venho sendo durante anos, me
deixei ser consumida pelo pânico. Claro que minha TPM ajudou
também, mas não posso colocar a culpa de tudo em cima disso.
Além de chorar, nunca havia comido tanto chocolate e sorvete como
comi nesta última semana, até finalmente acordar para a vida e
resolver agir. Eu não posso perder John, não posso perder a
amizade que cultivamos durante meses, afinal, somos parceiros. Eu
não posso e NÃO VOU perdê-lo, mesmo que tenha que deixar meu
orgulho de lado para isso.
Durante esses dias difíceis, o apoio dos meus amigos foi
fundamental para mim. Nigel, Kate e Lea não me deixaram recair
durante todos os dias na redação, me ajudando em tudo o que eu
precisasse. E Shantell, a irmã que nunca tive por laços sanguíneos,
mas que tenho pelo coração. Não tenho palavras para descrever
seu apoio. Confesso que, se não fosse por ela, eu não teria forças
para encarar os fatos e ir atrás de John, e também, graças a ela, eu
não aceitei a oferta de Emmanuelle para ir para Paris, com a real
intenção de fugir de tudo isso, como a covarde que estava sendo.
Ela disse que vai pedir a Preston para que John volte para casa, e
assim eu pudesse conversar com ele melhor, dizer tudo o que não
tive coragem de dizer antes. Por isso, aqui estou eu, embrulhando o
presente de Natal dele com um papel pardo e uma fita vermelha,
olhando para o cartão de Natal — que mais parece uma carta —
que escrevi para ele na tentativa de me redimir, pensando nos
nossos dias maravilhosos em Miami, de onde surgiu a ideia deste
presente.

— É verdade! Quando Josh percebeu que eu tinha riscado seu


disco do Phil Collins ele ficou tão puto que pegou meu vinil do “The
Best of Rolling Stones” e o quebrou na minha cabeça — disse John,
enquanto eu gargalhava abraçada a ele na cama. — Depois disso,
fiquei com trauma dos Stones... até conhecer você — continuou ele,
rolando para cima de mim e passando sua mão docemente em
meus cabelos, me fazendo sorrir. — A garota Rolling Stones.
— É uma pena perder um disco assim — falei, nos fazendo rir.
— Foi sim, mas agora tenho uma vizinha que tem vários discos
deles, mas espero que ela não os use em minha cabeça também —
brincou, me fazendo rir.
— Não me dê ideias, Ursão. Você sabe que eu tenho o dom
para o mal — ameacei, brincando.
— Eu soube disso assim que a vi pela primeira vez, e por
ironia do destino ou não, tocava Sympathy for the Devil bem na
hora. Seria um presságio? — falou, enquanto eu me divertia ouvindo
suas histórias.

O “The Best of Rolling Stones”, que era do meu pai, antes de


ser meu, será um belo presente. Só espero que isso ajude a trazê-lo
de volta para mim.

É véspera de Natal, uma das épocas do ano em que poderia


ser retirada do calendário para mim, e você já deve imaginar o
porquê. Shantell havia me chamado para comemorar a data junto a
ela e a família de Preston, mas menti, dizendo que iria passar com
Nigel, e menti para Nigel também — que me chamou para a casa
dele —, dizendo que passaria com Shantell. A verdade é que eu
passarei o restante da véspera e o dia de Natal da maneira que
sempre passei em boa parte da vida: sozinha. Fiquei o dia todo
rezando e esperando John aparecer, mas eu estava tão ansiosa que
acabei ficando ainda mais nervosa, por isso resolvi sair e comprar
mais vinho e queijo para hoje à noite, além de tomar um ar, mas
decidi voltar assim que a neve desenfreada começou a cair
novamente.
— Guz! Vem aqui agor... cuidado!
Aquela voz dos “alertas acidentes” ecoou novamente, só que
dessa vez eu fui mais rápida e me virei para trás, vendo um lindo
cachorro correr em minha direção, pulando em mim.
— Awn, olá para você também — disse ao lindo cachorro de
médio porte, marrom claro com manchas brancas e aparentando
não ter uma raça específica.
— Hey, vem aqui garoto, não seja mal educado!
Olhei para Steve, que puxava o cachorro pela coleira.
— Dessa vez fui mais rápida — brinquei, o fazendo sorrir
lindamente.
— Uma pena, pois estou esperando para te salvar de alguma
outra coisa desde a última vez — falou, me fazendo corar.
— Você tem um cachorro! — Mudei de assunto, me
agachando para dar carinho a ele, que abana o rabo sem parar.
— Sim, esse aí é o Guz.
Como em um cumprimento, Guz pulou novamente em mim,
lambendo meu rosto e me fazendo perder o equilíbrio, caindo de
bunda no chão.
— Guz! Deixa eu te ajudar — falou Steve, e antes que eu
pudesse responder ele me puxou para o alto, nos deixando mais
próximos ainda.
Deus, como ele é lindo! E com tamanha proximidade,
conseguia até sentir seu hálito quente em meu rosto. Ele me
encara com desejo nos olhos. Olhei para seus olhos azuis, que são
lindos, mas não são o par de olhos azuis que eu gostaria de ver esta
noite.
— Obrigada — sussurrei, olhando para o outro lado da rua e
me desprendendo do seu aperto. — E então? Vai passar o Natal
aqui mesmo? — perguntei, mudando de assunto novamente e
voltando a caminhar para o meu prédio, que estava a mais alguns
passos de distância.
— Estou indo para a casa dos meus pais agora. E você? —
perguntou ele, me acompanhando.
— Vou passar por aqui mesmo — respondi sorrindo, parando
em frente às escadas do meu prédio. — Bom, feliz Natal para você.
— Eu ainda não perdi a esperança de um jantar com você,
Sofya — disse ele, pegando em minha mão. — Seria o presente de
Natal perfeito — continuou ele. — Pense nisso. — Se aproximando
do meu rosto e deu-me um beijo demorado na bochecha, me
aquecendo. — Feliz Natal — se despediu, indo em direção a sua
BMW Série 5 azul reluzente do outro lado da rua, acenando ao
entrar nela e depois partindo, me deixando aqui, ainda corada.
Suspirei, ainda olhando para o nada na rua, até que vi a
grande picape Dodge de John parada na rua, me fazendo tremer.
Como um imã, meu olhar foi atraído em direção à entrada do prédio,
se prendendo ao olhar gélido que John lançava para mim.
— Inacreditável — rosnou, entrando de volta no edifício.
— John! — gritei, correndo atrás dele, que já subia em direção
ao seu apartamento em passos grandes. — Por favor, me escute!
Precisamos conversar! — implorei ainda atrás dele.
— Eu não deveria ter escutado Preston e ter vindo até aqui
atrás de VOCÊ! — vociferou ele, ao chegar em frente a minha porta
e parando, virando-se bruscamente para mim. — Mas não, o idiota
decidiu vir e ver VOCÊ, com aquele médico filho da puta!
— John, só estávamos conversando.
— Sei bem o tipo de conversa que você tem com os homens,
Sofya. Eu deveria ter escutado a minha mãe quando ela me alertou
sobre você! Eu fico fora por uma semana e te encontro agarrada
com o cara que você conversou apenas DUAS VEZES! E Preston
me disse que você estava chateada, HÁ!
— John... — alertei, pois ele está indo longe demais.
— Agora eu vejo o quão chateada você está, Sofya! Aquele
babaca deve ter adorado te consolar, não é? Você realmente não
perde tempo. Adora mostrar o quão independente é, dormindo com
o primeiro cara que sorri para você na rua, seduzindo cada um até
que você possa destruir TODOS ELES um a um, se gabando de ter
um coração blindado! MAS EU DEVERIA TER PERCEBIDO ANTES
QUE VADIAS IGUAIS A VOCÊ NÃO TEM CORAÇÃO! — gritou.
JÁ CHEGA! Como se fosse um impulso para me defender,
minha mão voou no rosto dele, dando-lhe um belo tapa estalado na
cara. Sem reação, ele me olhou, ofegante, e com a mão no local
onde a minha havia lhe acertado. Eu o fuzilava com o olhar, também
ofegante. Escutei passos na escada, mas não olhei para trás, pois
ainda encaro John, que arregalou os olhos ao ver quem era atrás de
mim.
— Querido! — exclamou uma fina voz feminina passando por
mim e abraçando John. — Esqueceu seu celular na minha casa!
Não é para menos, não é? — disse a mulher de cabelos negros até
o ombro, rindo. — Depois da noite que tivemos, não o culpo —
continuou ela, até olhar para mim com uma cara de desdém. —
Quem é ela? — perguntou a mulher para John, que olhava para o
chão, coçando a barba.
— Uma vadia sem coração — falei, atraindo a atenção dele
para mim.
Ela me olhou sem entender, mas decidiu me ignorar.
— Bom, querido, eu tenho que ir, minha família está me
esperando. Feliz Natal! — falou, com a voz fina e irritante, dando um
abraço e um beijo estalado no rosto de John, logo depois passou
rapidamente por mim, descendo as escadas correndo.
Constrangido e evitando me olhar, John mexia nervosamente
em sua barba, olhando para o teto. Ri, ironicamente, atraindo sua
atenção novamente para mim. Dei um grande suspiro, buscando
forças de algum lugar que nunca sei de onde vem, mas sempre vem
e sempre veio, por toda minha vida quando precisei dela em
momentos difíceis. Me reergui, empinando meu queixo e limpando a
lágrima solitária em meu rosto, o encarando como se fosse o próprio
Judas. Fui até a minha porta, e a abri.
— Sofya... — chamou John, num tom sereno, diferente do
John de minutos atrás, colocando sua mão em meu ombro.
— Não. Encoste. Nem. Mais. Um. Dedo. Em. Mim. — rosnei, o
fazendo dar um passo para trás. — Você vai esperar aqui, porque
EU ainda não falei — continuei, dando de ombros, sem olhá-lo.
Entrei, deixando a porta aberta e pegando a porcaria do
presente dele junto ao estúpido cartão, voltando ao corredor
externo, desfilando como uma vadia, a vadia que ele descreveu,
mas que eu prefiro chamar de rainha vadia, a rainha sem coração
que eu nunca deveria ter deixado de lado. Encontrei o olhar dele e vi
seu medo refletido.
— Vou ter que concordar com você, John, afinal você tem
razão sobre algumas coisas e eu vou te dizer quais são elas,
começando por sua mãe. Sua mãe realmente estava certa, só que
era EU quem deveria ter escutado ela quando ELA ME alertou. Ser
cafajeste está no seu sangue mesmo, não podemos negar! — falei,
rindo antes de continuar. — Eu deveria ter percebido isso quando te
peguei fodendo aquela mulher na academia, mas acho que já
aprendi a minha lição depois de hoje, afinal que noite hein?!
— Eu posso expl...
— Eu ainda não terminei — rosnei, o cortando. — Mas, quer
saber John? A quem estávamos enganando, não é? Você está
certo, a vadia aqui nunca devia ter deixado você entrar no coração
blindado dela — falei, tentando controlar minha voz e minhas
lágrimas teimosas, que queriam rolar. — E, principalmente você
estava certo em mais uma coisa: nossa amizade realmente acabou
— continuei, jogando o presente para ele, que pegou no alto. —
Adeus, John. E feliz Natal.
Me despedi em um tom amargo, entrando novamente em meu
apartamento, sem perder a pose. Ignorando suas palavras, fechei a
porta em sua cara, passando o trinco, já que ele ainda tem a chave.
Ele continua falando, mas eu não quero ouvir, já tinha escutado
demais para uma só noite. Peguei o controle do meu pequeno dock
station onde meu iPod está conectado e o liguei. A voz de Jared
Leto soava na melodia perfeita para essa noite, com a música Night
Of The Hunter, do Thirty Seconds To Mars, e fiz questão de
aumentar. Alguma coisa sangrava em meu peito, mas prefiro pensar
que é a raiva do que pensar ser um coração. Raiva por ter confiado
em alguém, alguém que me fez o amar e me abandonou, assim
como fizera meu pai anos atrás. Querendo me desligar disso, me
concentrei na música, que faz parte da trilha sonora perfeita para a
volta da rainha vadia sem coração.
Segurem seus maridos, porque eu voltei.
Ela sempre me dizia que eu era um grande idiota... ela têm
razão. Quer dizer, sei que não deveria ter dito aquilo tudo a ela, mas
vê-la nos braços daquele médico aproveitador só fez minha raiva
aumentar ainda mais, e misturando o meu jeito de lidar com as
coisas no “modo ataque” mais a bebida, deu no que deu e, como
sempre, eu acabei falando demais. Sofya não é uma vadia, e nunca
foi, eu sei disso, mas naquele momento meu sangue quente me fez
dizer coisas nas quais eu me arrependo. Eu não sei realmente se
ela ficou com aquele otário, mas quem sou eu para falar alguma
coisa? Kelly, a moça que conheci no bar na noite anterior a nossa
briga, fez questão de aparecer em má hora. Sim eu transei com ela
e com aquela stripper do bar dias atrás, na ânsia de descarregar
minhas energias e esquecer Sofya... mas de nada adiantou, e o
pior? O remorso bateu tão forte que decidi escutar o que Preston me
aconselhou: ir vê-la para conversarmos direito.
O tapa que ela havia me dado ontem não doeu tanto quanto
ver o olhar dela depois, carregado de decepção e tristeza, mas nada
me deixou tão abalado quanto ver seu olhar me deixar e, naquele
momento, vi nos olhos dela que minha Boneca se foi... não estava
mais lá, a Sofya que eu conheci já não estava mais em seu olhar. E
aquilo... aquilo me desestabilizou, me deixou sem rumo, um medo
sem tamanho se apossou do meu corpo. O que eu fiz? A minha
noite de Natal virou meu maior pesadelo, não tinha condições de ver
minha família depois daquilo, principalmente encarar meu pai. O que
ele diria se descobrisse que eu a perdi e, principalmente, como a
perdi? Ele nunca me perdoaria, o velhote ama Sofya como se fosse
sua própria filha. Sem contar o vovô, eu não suportaria seu olhar de
decepção.
Passei as primeiras horas do Natal enchendo a cara num bar e
acordei num quarto que há tempos não acordava. Não sei como vim
parar no apartamento de Preston, mas sei que por boa coisa não foi.
Para confirmar isso, eu tinha um pequeno corte perto da
sobrancelha, machucados nos ossos dos meus punhos e milhares
de ligações do meu pai e da minha mãe — sem falar na puta dor de
cabeça. Saí do quarto, fechando os olhos, incomodado com a luz
que entrava pelas grandes janelas. Peguei meu celular novamente e
vi que passava do meio dia.
— Cara, você está péssimo para uma manhã de Natal — disse
Preston, quando cheguei na cozinha.
— O que aconteceu?
— Bom, eu deveria te fazer essa pergunta, eu acho. Do que
você se lembra? — perguntou.
Forcei minha mente, buscando minha última memória da noite
anterior.
— Errr, eu estava no bar enchendo a cara — falei, com
sinceridade. — Como eu vim parar aqui?
— Você teve sorte que eu apareci, cara, se não estaria em um
necrotério agora. Depois da meia noite, Shantell não conseguiu falar
com Sofya, para desejar a ela “Feliz Natal”, por isso ligou para Nigel,
mas descobriu que ela não tinha ido para lá, então ficou
desesperada — explicou, sentando-se na mesa da cozinha, me
servindo uma generosa xícara de café, apontando para a cadeira ao
seu lado num convite para me sentar também.
Mas que droga.
— Ela está bem? — perguntei preocupado.
— Sim, relaxa. Shantell foi para o apartamento de Sofya na
mesma hora e, logo depois de tê-la deixado lá, fui eu quem fiquei
desesperado atrás de você, já que sabia que você tinha ido
conversar com ela. Você não atendia o celular, então fui até aquele
bar e te encontrei brigando com dois caras gigantes que, por sorte,
só não partiram a sua cara bêbada porque cheguei a tempo e te
levei para casa. — Puta merda... — Onde você estava com a
cabeça, John? O que aconteceu entre você e Sofya ontem para
você chegar a esse estado?
— Eu fiz uma grande besteira. Eu a perdi — falei, o fazendo
bufar e encostar-se na cadeira.
Expliquei o que havia acontecido para ele, que me xingou, mas
mesmo assim, está aqui, tentando me ajudar.
— Cara, conhecendo a Sofya do jeito que conheço, e do jeito
que Shant me fala, não sei se vai ser fácil voltar atrás.
— Eu sei — disse sério. — Shantell deu alguma notícia? Ela
está aqui? — Estava ansioso por notícias de Sofya.
— Não. Ela me ligou assim que cheguei em casa com você,
dizendo que dormiria por lá porque a situação não estava legal por
lá também.
— Droga! Preciso avisar meus pais que estou vivo —
murmurei, olhando para o café intocado em minha xícara, me
sentindo um adolescente rebelde e idiota. — Estou velho para essa
merda toda — admiti, voltando a olhar para Preston.
— Sim, mas haja como um adulto então — alertou, me
fazendo concordar com a cabeça. — E não se preocupe, já liguei
para o seu pai. Disse que você está comigo e que iria para a casa
deles hoje.
— Obrigado, parceiro.
Preston é como um irmão para mim. Sempre nos ajudamos e
nos erguemos juntos, independente da situação.
— Relaxa. Mas você tem que pedir desculpas a ela, John.
— Eu vou! Farei isso, com certeza. Mesmo sabendo que não
irá mudar muita coisa.
Escutamos a porta da sala abrir, e vi Preston ficar tenso.
— Xiii, ela não sabe que você está aqui — comentou, coçando
a careca.
— E daí?
— E daí que...
— Baby! Cheguei! — avisou ela, ainda na sala. — Me
desculpe! É que Sofya precisava mesmo de mim, mesmo ela não
admitindo. Ela estava péssima, mas se fez de durona como sempre.
Tudo isso por causa daquele idiota do John! Você sabe o que seu
amigo disse a ela? — continuou, aparecendo na cozinha e fechando
a cara ao me ver.
Tentando ser simpático, dei um “olá” com a mão, mas de nada
adiantou.
— O que ele está fazendo aqui? — gritou, apontando para mim
e olhando para Preston, furiosa.
— Amor, John também precisou de mim, me desculpa. —
Preston parecia um cachorrinho, se levantando e indo em direção a
ela.
— Espero que esteja feliz John! — vociferou ela.
Em resposta apenas abaixei minha cabeça.
— Baby, por favor, calma.
— Eu não vou ter calma! Como você pôde? Sofya pode não
ser a pessoa mais carinhosa do mundo, John, mas ela gostava de
você! Ela estava mesmo disposta a arriscar, mas você nem ao
menos deu um tempo a ela para se acostumar com isso, a
pressionando a isso de todas as formas, marcando jantar com a sua
família… DANDO ELA DE BANDEJA PARA A BRUXA DA SUA
MÃE! — gritou.
— Shantell! — alertou Preston, a segurando.
— Tudo bem, Preston — falei.
— Eu tinha te falado algumas coisas sobre o passado dela,
mas você sabe mesmo como foi o passado dela? Dizer para uma
pessoa esquecer um passado sofrido é muito fácil quando não se
conhece nem um terço dele, não é John? — disse um pouco mais
calma, porém ainda me olhando com rancor. — E já que você é bom
em investigar as pessoas, por que não vai mais afundo nisso?
Assim você poderá entender o porquê não foi fácil para ela e, quem
sabe, ver o que ela fez para tentar ficar ao seu lado. Mas é bem
mais fácil julgar as pessoas, não é mesmo? — finalizou, virando-se
e saindo apressada.
— Shantell. Baby, espera — pediu Preston, sem sucesso, e
sua resposta veio com uma porta se batendo com força.
Ele bufou, voltando a se sentar.
— Desculpe por isso.
— Não precisa se desculpar, eu mereci. — Dei um gole em
meu café e me levantei. — Além disso, não quero te causar mais
problemas cara, te devo uma por isso — continuei, pagando a mão
dele num aperto de mão. — Obrigado. Tchau — me despedi, indo
para a porta.
— Falou! E vê se fica longe de confusão! — disse ele,
sorrindo.
Assenti com a cabeça e sai. Preciso tentar consertar o que eu
tinha feito, nem que seja a última coisa que eu faça.

Como todos os anos, minha mãe prepara uma grande ceia de


Natal na gigantesca casa dos meus pais aqui em Nova York. Depois
de tomar um banho e ficar apresentável, decidi aparecer. Confesso
que não foi fácil passar em frente ao apartamento de Sofya sem que
as lembranças me atingissem como balas. Admirava a cidade da
janela do escritório do meu pai, refletindo em tudo o que Shantell
havia me dito nesta manhã. Eu não deveria ter julgado Sofya da
forma como julguei. Não deveria tê-la pressionado e, principalmente,
não deveria ter marcado aquele jantar idiota. Todos ficaram
contentes com o jantar, menos minha mãe, claro, o que a levou a ter
uma conversa comigo, alertando que Sofya não passava de uma
pobre jovem em ascensão buscando um lugar numa família de
status como a nossa, além de tê-la julgado de diferentes maneiras.
Eu deveria ter imaginado que minha mãe não se contentaria com
uma conversa somente comigo.
Juntando as peças da briga que tive com Sofya — na qual ela
disse que minha mãe realmente estava certa, repetindo minhas
palavras — e a “conversa” com Shantell de hoje — em que ela
chamou minha mãe de bruxa — cheguei a uma conclusão: mamãe
foi falar com Sofya antes de toda essa confusão, e tenho certeza de
que a conversa não foi boa. Minha mãe é ardilosa, boa de lábia,
mas eu me recuso a acreditar que ela poderia ter feito algo que
pudesse influenciar de maneira negativa nessa situação. É por isso
que decidi vir aqui hoje, pois pensei em cada deslize dessa história
o dia todo, até chegar nessa parte. Preciso conversar com minha
mãe.
— Pensei que iria sumir hoje também — disse meu pai ao
entrar, seguido de Ed, que empurrava a cadeira do vovô.
— Resolveu farrear logo na véspera de Natal, rapaz? —
repreendeu o vovô. — E Sofya? É bom ter feito as pazes com ela.
— Feliz Natal para vocês também! — murmurei, sem humor,
virando o resto do meu whisky em um só gole.
— Vai cara, diz logo, preciso encontrar uma pessoa daqui a
pouco — disse Ed, olhando para seu relógio.
Ed? Encontrando alguém?
— Por que estão me olhando assim? — perguntou ao notar
que meu pai, vovô e eu o olhávamos da mesma maneira.
— Você? Saindo com alguém? — perguntou meu pai,
expressando minhas dúvidas em voz alta.
— É uma garota? Ou é um garoto? — perguntou vovô, rindo,
fazendo Ed revirar os olhos.
— É uma garota! Satisfeitos? E ela é uma pessoa legal —
contou envergonhado, nos fazendo rir. — E John já a conhece —
disse ele, me pegando de surpresa.
Deus, tomara que não seja uma das malucas que já peguei no
passado, detestaria ter que dizer isso a ele.
— Conheço? — perguntei, com o cenho franzido.
— Sim, ela é a secretária da Sofya. O nome dela é Lea —
falou, me fazendo sorrir.
— Lea? Você está saindo com a Lea? — perguntei, ainda sem
acreditar. — Como Sofya deixou isso acontecer?
— Na verdade, ela até ajudou.
— Finalmente você está virando homem, garoto — disse vovô,
lhe dando um pequeno soco na barriga, nos fazendo rir.
— Ok. Tudo bem, chega disso. E aí, John? Você falou com a
Sofya? — perguntou Ed.
Dei um suspiro, sem encará-los, enchendo meu copo
novamente.
— Acho que isso é um não — disse ele.
— John — meu pai chamou.
— Sim, eu falei. — Voltei a olhar a neve que caía do lado de
fora, envergonhado. — Mas as coisas não saíram tão bem quanto
eu queria.
Por um breve momento, a sala ficou em silêncio. Olhei para o
meu pai, que me olha com seu cenho franzido, se aproximando de
mim.
— O que você fez? — perguntou, me observando com
atenção.
Não é à toa que os homens da família já foram do FBI. Herdei
do meu pai a capacidade de perceber as coisas no olhar das
pessoas, por isso sou um agente prestigiado, como ele também já
foi um dia. Assim como não consigo esconder a verdade de mim
mesmo, não consigo esconder nada dele, entregando tudo em meu
olhar.
— Eu a perdi, pai — admiti, derrotado.
Ele suspirou, abaixando seu olhar, enquanto vovô e Ed
resmungavam do outro lado da sala. Comecei a explicar tudo o que
tinha acontecido, sem mencionar a parte da minha mãe, claro, pois
o clima entre os dois já não é amigável, se meu pai descobrir que
ela pode estar envolvida nisso, ele ficará furioso com ela.
— Você perdeu o juízo, John? Eu não te criei assim, rapaz!
Como você pôde? — Meu pai ficou puto da vida, como já havia
previsto.
— Pisou feio na bola, primo — disse Ed, sentando-se ao lado
do vovô, que cobria seu rosto com a mão, balançando a cabeça
negativamente, numa atitude insatisfeita.
Era isso que eu mais temia: decepção.
— Eu sei, e irei reparar este erro o quanto antes, mesmo que
ela não me queira mais ao lado dela depois disso.
— Você precisará de um milagre. Como você pôde fazer isso
com ela, John? Justo ela, uma garota tão especial! Sofya não é
nada disso, e você terá que agir como tal, como o homem que eu te
criei, para resolver isso!
— Eu sei disso pai.
— Então faça por merecer! — bradou ele. — Estou
decepcionado com você — murmurou meu pai.
Envergonhado, abaixei minha cabeça, concordando com o que
ele acabara de dizer. Também estou decepcionado comigo mesmo.
— O que eu fiz para merecer isso? Onde eu errei? — vociferou
o vovô, nos chamando a atenção. — Criei um filho e
dois netos como se deve criar, para acharem seus caminhos, mas
quando se trata de mulher, eles são uns IDIOTAS! — gritou ele.
— Pai o que...
— Cala a boca, Leon! — Exclamou vovô, apontando o dedo
para meu pai, nos pegando de surpresa. — Eu não acredito no que
eu vou dizer agora, mas o único nesta sala, com exceção a mim,
que consegue ter algum sucesso digno na questão “mulheres” é Ed!
— continuou ele, deixando Ed de boca aberta, mas logo depois
sorriu, triunfante. — Você se casou com a versão feminina de
Lúcifer, Leon! Anos depois, teve a oportunidade de desfazer isso
quando conheceu Marion, mas a mantém escondida debaixo de
suas asas até hoje, fazendo aquela pobre moça sofrer! FODA-SE o
que o país e o mundo vão pensar de você! Deveria ter despachado
Miranda e ter vivido feliz com Marion ao invés de ser um marido
infiel! Sua mãe estaria desapontada se estivesse viva! — Olhei para
o meu pai, e ele está com o mesmo olhar caído que eu estava
minutos atrás. — Então não me venha com essa lição de moral
hipócrita! — disse ele, furioso — E você, rapaz? — apontou para
mim. — Não cometa os mesmos erros do seu pai! Não deixe aquele
anjo ir embora de sua vida! Sofya é tudo o que você precisa John!
ENTÃO PARE DE AGIR FEITO IDIOTA! — gritou.
— Titio, calma, o senhor não pode ficar alterado. O médico
disse...
— Eu quero que aquele médico de merda vá para o inferno! —
o velhote cortou meu primo. — Eu ainda sou o patriarca dessa
família e não posso deixar que meus primogênitos a destruam com
decisões idiotas!
— Vovô, eu... — tentei me desculpar, sem sucesso.
— Não gaste suas palavras comigo, John. Essa família precisa
de mulheres como aquela garota! Vá atrás dela e aja como um
verdadeiro Neeson age! — exclamou ele. — Ajam com um Neeson
e lutem pelo que realmente querem... como eu fiz um dia —
finalizou, agora um pouco mais calmo.
Meu pai e eu nos olhamos, ainda absorvendo o duro choque
de realidade que levamos desse sábio velhote. Mas logo nos
recuperamos, erguendo nossas cabeças e o encarando.
— Assim é melhor. ED! — gritou, fazendo meu primo pular da
cadeira. — Vamos sair logo daqui, estou morrendo de fome.
— S-sim, vamos! — respondeu, levando vovô para fora daqui.
Meu pai os seguiu e saí em seu encalço. Isso foi difícil, mas
necessário. Agora só me falta mais uma coisa: minha mãe.

Após o jantar, vi minha mãe conversando animadamente com


Evangeline, então decidi que essa era a hora.
— Com licença, mãe, você tem um minuto?
— Ah, claro querido. Nos falamos depois — disse ela,
dispensando Evangeline. — O que houve?
— Você falou com Sofya depois que conversamos naquela
noite? — perguntei, sem rodeios.
Ainda sem perder a pose, ela fez uma careta, olhando para o
lado, e isso já é uma resposta para mim. Droga!
— O que você disse a ela, mãe?
— Isso já não importa mais, querido. O mundo está como deve
estar, e é isso que importa.
— Mãe! — exclamei, a fazendo bufar.
— Achava que Sofya não era de contar o que se conversava
em particular com outra pessoa por aí — falou, revirando os olhos.
— Ela não contou, eu mesmo deduzi e já deveria saber disso!
— Eu disse o que eu te disse naquela noite, apenas isso —
justificou, me deixando furioso.
Olhei para o lado, buscando manter a calma, esfregando a
mão em minha barba.
— Sofya não pertence ao nosso mundo, John — murmurou,
colocando sua mão em meu rosto.
— Ela não pertence ao SEU mundo, e sou grato por isso. —
Retirei sua mão do meu rosto com delicadeza.
Ela me olhou surpresa, ainda sem reação.
— Não se intrometa mais em minha vida, mãe, por favor. Este
é meu último aviso — Continuei, caminhando em direção à porta.
Sai de lá apressado, enfrentando a neve que cai nas ruas.
Entrei em minha picape, suspirando e refletindo no que aconteceu,
fechando os olhos e me jogando no banco. Eu sempre quis acreditar
que a minha mãe não era tudo o que diziam sobre ela, mas estava
enganado. Assim como ela fez com Josh, ela fará a mesma coisa
comigo e tentará moldar cada aspecto de minha vida social,
principalmente com quem irei, um dia, me casar. Ela já tentou isso,
mas agora vi até onde ela é capaz de chegar para que aconteça
tudo do seu jeito, e não quero isso, não vou deixar. Acordando dos
meus devaneios, olhei no espelho retrovisor, vendo um pacote
enrolado com uma fita vermelha, me impedindo de dar a partida no
carro. Olhei para trás e vi o presente que Sofya havia me dado
ontem à noite, ainda intacto. Tinha me esquecido dele
completamente. Peguei o presente, que veio acompanhado de um
cartão, antes de tudo o abri e comecei a ler.

“Querido John,
Eu sei que isso deveria ser um cartão de Natal, porém fiz dele
uma carta, pois sei que poucas palavras como “Feliz Natal” e
“desculpas” junto a minha assinatura não serão suficientes para te
dizer o quão arrependida estou. Deixei que meu medo e minhas
dúvidas confundissem minha cabeça, fui tola e fugi do que estou
sentindo, mas não quero mais fugir disso.
Se me der mais uma chance, irei me arriscar, como tinha lhe
prometido. Estou disposta a viver tudo o que vivemos em Miami
todos os dias, só que aqui, em Nova York. Estou disposta a ter isso
todos os dias com você. Quero isso e quero você ao meu lado, e se
você não estiver ao meu lado, não irei conseguir sozinha. Somente
eu e você já me basta e será o suficiente para mim.
Acredite, eu queria estar te dizendo tudo isso na sua frente,
mas você sumiu, e a única maneira que encontrei foi colocar essas
palavras no papel para que elas nunca mais se percam, com a
esperança de que você possa ler e voltar para mim um dia. E se
isso acontecer será o melhor presente de Natal que já tive na vida.
Me desculpe, e volte para mim!
Feliz Natal, Ursão.
Com amor, Garota Rolling Stones/Boneca ou Sofya.”

Droga. O que eu fiz? Peguei o embrulho quadrado,


desmanchando a fita e rasgando o papel. O vinil dos Stones foi se
revelando, e um sorriso triste e melancólico surgiu em meu rosto. Eu
me lembro da história do vinil que havia contado a ela em Miami, em
nosso breve paraíso particular. As palavras do vovô me atingiram
bruscamente, numa tentativa de voltar à realidade com lucidez. Ele
tem razão, não posso perder essa garota. Ela foi a melhor coisa que
me aconteceu. Liguei a picape, já decidido, afinal, sou um Neeson, e
vou atrás do que eu quero, vou atrás da garota Rolling Stones, até
que ela volte a ser minha novamente.
Nesses últimos dias fiz o que aprendi a fazer de melhor nestes
últimos anos: trabalhar, trabalhar muito, praticamente doze horas
por dia, já que depois do baile, minha popularidade profissional
aumentou em níveis que jamais pensei em atingir, e sou grata por
isso. Mas não me joguei totalmente de cabeça no trabalho porque
tudo está favorável a isso, e sim porque é a melhor maneira para
esquecer totalmente de John, visto que estou sem tempo para ser
uma rainha vadia, não é para menos, já que a rainha aqui está
diferente, diferente porque tem contas a pagar. A verdade também é
que eu não quero sair para lá e pra cá, dando desculpas sempre
que posso quando Nigel, Kate e Shantell querem me arrastar para
algum lugar toda vez que podem. Eu tenho vinte cinco anos, sei que
deveria estar fazendo isso, sair e aproveitar enquanto ainda posso,
mas ultimamente, meu cansaço é de uma velha de sessenta anos e
minha cara está com aparência de quarenta, sem contar que estou
trabalhando em regime de escravidão, ditado por mim mesma. Tudo
isso por causa daquele idiota!
John está me ligando há dias, tentando de qualquer jeito falar
e se encontrar comigo. Eu não suporto a ideia de ter que cruzar com
ele novamente, principalmente depois de tudo o que ele me disse.
Foram tantas mensagens, correio de voz, ligações e afins, que eu
decidi trocar meu número de celular, sem mencionar os e-mails e as
batidas na porta do meu apartamento, já que eu também fiz questão
de trocar a fechadura da porta. Eu não quero me encontrar com
John, mesmo sabendo que ele quer se redimir de tudo isso. John
quebrou o que sentia por ele em milhares de pedacinhos e a
confiança que nutria por ele foi por água abaixo, me magoando de
uma maneira que eu nunca pensei que me magoaria, principalmente
por causa de homem. Foi tão sério, que todo dia eu espero ele sair
para trabalhar para que eu possa sair logo depois, somente para
não encontrá-lo. Fui clara com James, ao dizer para ele avisar John,
que se ele continuasse batendo descontroladamente em minha
porta, eu o denunciaria para a polícia, mesmo ele sendo da polícia.
Acho que surtiu efeito, já que desde ontem ele não faz isso.
Não era nem para eu estar trabalhando na última semana do
ano, mas estava fazendo de tudo para adiantar o conteúdo do
fechamento da revista, junto a Nigel, o ajudando. O baile gerou tanto
burburinho, que teríamos muita coisa para fazer, o que estava me
deixando louca, já que estou trabalhando feito doida para esquecer
aquele filho da mãe, mas ao mesmo tempo trabalhava sempre
relembrando dos acontecimentos do baile, ao qual eu quero
esquecer para sempre. Irônico, não? Sem falar que teremos que
deixar uma página exclusiva para ninguém menos que Miranda
Richards e sua noite de glamour usando Givenchy. Perfeito. Estou
prestes a ter uma nova crise de ansiedade! É quase meia noite e eu
subo as escadas do prédio sem fazer nenhum barulho para não
chamar a atenção. Assim que cheguei em frente a minha porta,
escutei a de John se abrindo, por isso não perdi tempo e pulei para
dentro de casa, fechando a porta de uma vez. Mas o que escutei
não me ajudou em nada.
— Obrigada por sempre me escutar, John — disse uma voz
que eu conheço muito bem, a voz daquela Barbie Malibu irritante. —
Se não fosse por você, não sei o que...
— Não se preocupe Jenna, tudo bem. Se precisar, estou aqui
— respondeu John.
É claro que está, já que o cafajeste voltou à ativa novamente.
ARGH! O silêncio que veio depois me deixou com o coração na
boca, com vontade de abrir a porta para ver se ele estava a
beijando. Ah meu Deus, todas, menos ela, por favor!
— Jenna... é melhor não.
Isso respondeu a minha pergunta. Eles se beijaram.
— Tudo bem, eu entendo. Boa noite, J — disse ela.
“J”? Apelidos agora?
— Boa noite, J — respondeu ele, usando o mesmo “J”.
ARGH, como eu queria bater nos dois agora! Saí pisando duro
até meu banheiro, com meu coração apertado no peito, batendo
com toda força. Então ele e Jenna estão se aproximando de novo?
Deus... isso é um golpe tão baixo. Quer dizer, eu sei que aquelas
mulheres que John havia transado não passam de apenas uma
noite, não que isso não me incomode... já me incomodou sim, mas
com Jenna é diferente. Ele teve uma história com ela, quase se
casaram, por isso é diferente. Parece que o retorno do rei cafajeste
foi bem mais rápido e mais sucedido que o retorno da rainha vadia,
para meu infortúnio. Tirei minha roupa e enchi a banheira,
pretendendo ficar horas nela até que, por sorte, eu pudesse
desmanchar.

— Kate...
— Não, Sofya, você não tem noção da bagunça que está isso
aqui! Nós temos que entregar isso amanhã e eles ainda não
chegaram! Esse blackout fodeu a gente! Estamos sem
computadores e Donatella não para de ligar para Nigel! — exclamou
Kate, desesperada no telefone.
Hoje pela manhã, Nova York sofreu outro dos seus famosos
blackouts, deixando todos sem energia elétrica. A energia está
voltando aos poucos, mas nem mesmo os geradores foram o
suficiente para segurar a barra da redação. Respirei fundo, pegando
minhas coisas correndo e engolindo uma maçã. Por sorte, John saiu
mais cedo hoje também, deixando o caminho livre para eu sair em
“paz”.
— Kate, me escuta, estou voando pra aí. Vamos resolver isso!
— Fechei a porta e coloquei meu casaco.
— VEM LOGO! — gritou, desligando o telefone na minha cara.
— Merda! — Corri em direção à escada, mas congelei ao ver
John bem na minha frente. — Ótimo. Era o que faltava — sussurrei.
— Você não me deu escolha —disse ele. — Preciso falar com
você.
— Você já me disse tudo o que tinha para me dizer — falei,
sem esconder a mágoa em minhas palavras.
Novamente, meu coração pula em meu peito. Tentei desviar
dele para seguir meu caminho, mas aquela parede humana
me bloqueou de novo.
— Sofya, por favor. Eu sei que você tem todos os motivos do
mundo para isso, mas eu preciso fazer isso — sussurrou,
completamente desestabilizado.
Bufei e cruzei meus braços no peito, esperando.
— Eu sei que o que eu fiz não tem perdão, mas quero te dizer
que sinto muito, sinto muito mesmo. Eu estava de cabeça quente e
quero que saiba que aquilo que falei não é verdade, e me arrependo
disso. Espero que um dia você possa me perdoar — continuou, com
aqueles olhos azuis irritantemente lindos e arrependidos para mim,
feito um cachorro arrependido.
— Deveria ter pensado nisso antes, porque agora já não me
importa mais — respondi.
Ele abaixou o olhar quando minhas palavras o atingiram.
— Tenho que ir agora. — Desviei, mas ele agarrou meu braço,
fazendo com que eu o encarasse. — Me solta!
— Pelo menos pense nisso, Sofya, por favor. Eu fui um
completo idiota e não posso te perder — choramingou, a
centímetros do meu rosto.
— Me solta, agora — rosnei.
Ele me soltou, ainda me encarando, esperando que eu o
respondesse.
— Como eu disse antes, já não me importa mais, John. Na
verdade, nem a você importa, já que Jenna voltou, não é? — soltei,
sem ao menos pensar! Mas que droga, Sofya!
— O que? Não! Jenna não tem nada a ver com isso, Sofya!
Por favor, mesmo que eu não mereça mais sua amizade, preciso
saber se me perdoa!? — perguntou, em uma súplica.
— Eu tenho que ir — Comecei a descer a escada
apressadamente, com ele me seguindo.
— Sofya! — chamou ele.
Entrei no meu carro e dei a partida, sem olhar para trás.

Como tinha previsto, a redação está um caos. Muita correria,


gente falando alto e telefones que não param de tocar, inclusive o
meu.
— Oi! — atendi Shantell, enquanto quase furava o teclado do
meu Mac, digitando feito louca e respondendo vários e-mails.
— Garota, adivinha?! — falou Shantell, animadamente.
— Não tenho condições para isso, fala logo! — disse,
amargamente.
— Chefe, Patrick está na linha, ele quer saber o porquê não
recebeu as fotos do baile ainda! — disse Lea, com seu caderninho
em uma mão e o telefone na outra.
— Espera aí — disse para Shantell. — Diga a ele que até o
final desta tarde ele receberá, nem que eu mesma entregue
pessoalmente.
— O que? Sofya me escuta, é importante! — falou Shantell,
fazendo drama do outro lado da linha.
— Estou escutando, pode falar.
— Ele disse que precisa dessas fotos para agora, chefe. Eu
tentei mandá-las por fax, mas o nosso fax ainda não está
funcionando!
— Tente por e-mail, Lea!
— Conversei com Preston ontem, você não imagina o quão
empolgado ele está com nosso casamento! — Shantell contou.
— Mas chefe, ele quer as fotos originais nas mãos dele!
— Sofya, você não imagina a zona que está o editorial! —
reclamou Kate, entrando em minha sala.
— SOFYA! — chamou Shantell, ainda na linha.
— Estou aqui! Vocês resolveram algo, Shant? — perguntei, me
levantando e tampando o celular com a mão para disfarçar minha
voz.
Não posso dizer a ela que ligaria depois, eu seria uma péssima
amiga se não a escutasse agora, principalmente depois de tudo o
que ela fez por mim e com ela toda empolgada desse jeito.
— Eu sei Kate, Lea já chamou a assistência técnica, vamos
resolver isso logo! E Lea, diga a ele que estamos enviando as fotos
por FedEx agora mesmo.
— Certo chefe. Mas e a questão do book do próximo ano? Ele
também está cobrando.
— Não temos tempo para isso, Sofya… — disse Kate, quase
chorando.
— Sim! MARCAMOS A DATA! Será em abril! E você será a
mais linda madrinha de rosa! Bom, John será o padrinho principal
também, já que ele é o melhor amigo de Preston. Mas não se
preocupe, eu já... — continuava ela, mas congelei ao saber que o
casamento acontecerá mais cedo do que imaginei, e o pior, John e
eu lado a lado. Oh meu Deus.
— Donatella, eu juro que eu e Sofya estamos providenciando
isso! — garantiu Nigel ao telefone, entrando em minha sala também.
— Sofya você tem que me ajudar aqui! — sussurrou ele para mim.
— Chefe, Patrick está furioso, dizendo que o contrato...
— Sofya, o que vamos fazer?! — perguntou Kate.
— SOFYA? — Chamou Shantell do outro lado da linha.
De repente, o medo que estava na boca do estômago há um
tempo se dissipou pelo meu corpo, minha cabeça girava e senti meu
corpo sucumbindo à moleza. A pressão foi tamanha que eu acabei
mesmo tendo outro ataque, e quando dei por mim, estava no chão,
sendo levada pela escuridão dos meus olhos.

Deus. Por que minha cabeça parece que vai explodir? E o


que... o que aconteceu? Abri meus olhos com muita dificuldade, já
que havia uma luz quase me cegando. Olhei para meu corpo e me
vi com uma roupa azul esverdeada, parecendo de hospital…
espera?! Continuei a vistoria e vi os aparelhos que me cercam. O
que eu estou fazendo em um hospital?
— Hey! Que susto você nos deu, garota! — Shantell falou
suavemente, pegando minha mão.
— Pois é, chefe, quase nos matou do coração apagando
desse jeito — disse Lea, ao lado de Shant.
— Mas o que aconteceu? Por que estou aqui? — perguntei,
com a voz rouca, tentando me sentar na cama com certa
dificuldade.
— Não faz isso, você tem que se recuperar. Garota, por que
não me disse que estava desse jeito? — repreendeu-me Shantell.
— Desse jeito como? — perguntei, preocupada.
— Você teve uma crise de ansiedade, chefe — revelou Lea.
Antes mesmo que eu pudesse perguntar como e o porquê isso
aconteceu, a porta se abriu depois de algumas batidas, revelando a
última pessoa que eu esperava ver.
— Sofya... — disse ele, olhando para minha ficha, franzindo o
cenho ao reconhecer o nome. — Sofya Viatcheslav? — continuou,
me olhando surpreso.
— Steve? O que você está fazendo aqui?
Ele ergueu os braços, num gesto óbvio.
— Eu trabalho aqui, esqueceu?
Dã... é claro, como eu fui me esquecer? Aliás, deveria ter
percebido, pois ele fica ainda mais lindo de branco. Jesus, Maria e
José!
— Agora vamos ver o que você está fazendo aqui... hm, crise
de ansiedade.
— Vocês se conhecem? — sussurrou Shantell.
— Ele é o cara do orfanato — sussurrei de volta.
— Ah... uau — disse ela, impressionada.
— Uau mesmo — concordou Lea.
— Você anda comendo e dormindo normalmente nos últimos
dias? Teve náuseas, sentiu arritmia cardíaca ou outros sintomas? —
perguntou ele, se aproximando.
— Er... talvez.
— Na verdade, doutor, era eu quem estava lembrando ela de
comer todos os dias. Sem falar que Sofya estava uma pilha por
causa do trabalho. Nessa semana ela tem trabalhado doze horas
por dia... — disse a linguaruda da Lea, porém fechou a boca grande
ao ver como eu a olhava.
— Doze horas? — questionou o doutor, erguendo as
sobrancelhas.
— Você está tentando se matar, garota? E por que diabos não
me disse isso? — brigou Shantell, visivelmente brava.
— Porque... porque eu achei que isso era normal. Aliás, isso
aqui é mesmo necessário? — Dei de ombros, me referindo ao
hospital.
Steve suspirou e me olhou atentamente.
— Sofya, você precisa me dizer tudo. Só assim você terá alta o
mais rápido possível — falou ele, calmamente.
Bufei, derrotada.
— Tudo bem. Eu venho sim comendo muito pouco e dormindo
mal.
— Com qual frequência? — perguntou, anotando tudo em
minha ficha.
— Ahm, não sei... eu perdi alguns quilos nessas últimas
semanas e não consigo dormir mais que quatro horas por noite —
admiti. — Estou trabalhando muito, mas isso é uma opção minha, e
por isso de vez em quando, posso ter sofrido com essa arritmia aí,
pois está sendo um pouco estressante.
— Entendi. Náusea? Transpiração excessiva?
— Transpirava um pouco sim, mas não tinha náuseas.
— Claro que não tinha, não estava comendo nada! —
exclamou Shantell.
— E como está se sentindo agora? — perguntou Steve.
— Com um pouco de dor de cabeça — admiti.
— Certo, direi à enfermeira que te aplique alguns
medicamentos na veia, depois, dependendo do seu quadro, posso
te dar alta — falou, mexendo em seu tablet. — Senhoritas, vou ter
que pedir para irem embora para ela descansar — pediu a elas.
— Tudo bem, doutor. Fica bem, chefe!
— Lea, Lea... o que aconteceu por lá? E Patrick? Nigel e Kate
conseguiram resolver? A REDAÇÃO!? Donatella irá...
— Hey, Sofya, se acalme. Assim você passará a noite aqui —
alertou Steve.
— Calma, chefe. Está tudo sob controle, Nigel e Kate
conseguiram resolver tudo — respondeu Lea, para meu alívio.
— Sim, vê se você se cuida, garota, você é muito nova para ter
um ataque do coração — disse Shantell, fazendo Lea e Steve rirem.
— Volto aqui para te buscar.
— Ah, se não se incomodar eu a levo para casa — disse
Steve. — Isso é, claro, se você quiser, Sofya.
Ao ver Shantell franzir o cenho, ele continuou.
— É que descobri recentemente que Sofya e eu somos
vizinhos.
— Ah... tudo bem — falou ela, sorrindo para ele. — Mas acho
que ainda temos muito o que conversar — rosnou ela para mim, me
dando um tapa na cabeça.
— Ai! Ok, ok!!! — reclamei.
— Te vejo amanhã então. Tchau. E obrigada, doutor —
despediu-se ela, saindo junto com Lea.
— Agora você precisa descansar — disse Steve, colocando
uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Volto aqui mais tarde.
— Ok... doutor — falei, sorrindo, o fazendo rir também.
Ainda trocávamos olhares, porém, fomos interrompidos por
uma enfermeira, que trazia vários medicamentos e injeções. Nossa,
que rápido.
— Odeio injeções.
— Não se preocupe, eu seguro sua mão — falou, pegando
minha mão e me fazendo sorrir.
A enfermeira açougueira me injetou ao menos três injeções, e
Steve realmente ficou lá, segurando minha mão e me dizendo
besteiras para que eu me distraísse.
— Prontinho, você foi bem! E tem um aperto forte, gostei disso
— falou, me fazendo corar.
— Obrigada, ajudou mesmo.
Ele agradeceu a enfermeira, que logo saiu.
— Como está se sentindo?
Na verdade, eu já estou ficando com sono.
— É... sonolenta.
— Ótimo. Descanse agora, garanto que quando acordar estará
melhor e pronta para ir para casa.
Eu mal conseguia deixar meus olhos abertos agora. Nossa,
queria um estoque disso aí...
— Ok... — murmurei, antes de sucumbir ao sono.
Mas antes de apagar, senti os lábios de Steve em minha testa.
— Até logo, Sofya.

Ainda sonolenta, abri meus olhos, acostumando-se com a luz


do quarto. Mas ainda está claro lá fora! Eu dormi pouco então.
Peguei meu celular e notei que são 7h48 da manhã, puta que pariu!
Eu estou dormindo desde ontem à tarde! Aqueles remédios eram
mesmo fortes, se bem que eu não dormia tão bem assim desde...
desde... aliás, eu não me lembro de ter dormido bem assim em toda
a minha vida. Apertei o botão para que a enfermeira viesse. Estou
morrendo de sede.
— Ah, bom dia! Finalmente acordou! — disse uma enfermeira
de cabelos brancos.
— Bom dia! Pois é, acho que nunca dormi tanto na vida.
— Como está se sentindo?
— Estou estranhamente ótima, para falar a verdade —
respondi, a fazendo rir.
— Isso é bom! O doutor Rogers esteve aqui ontem à noite. Ele
iria te dar alta, mas disse que você estava em sono profundo, e não
teve coragem de acordá-la. — Ela mediu minha pressão e meus
batimentos cardíacos. — A pressão está normal e os batimentos
cardíacos também. Vou chamar o doutor.
— Ah! A senhora pode me trazer um copo de água?
— Claro — respondeu, sorrindo e saindo do quarto.
Minutos depois ela retornou com um copo de água em sua
mão e com Steve em seu encalço.
— Bom dia, dorminhoca.
John me chamava de dorminhoca... Sofya, por favor! Esqueça
isso!
— Bom dia!
— Pronta para ir para casa? Demos sorte porque meu turno
acabou agora! — disse ele, assinando alguns papéis.
— Mais que pronta!
— Certo, vou te receitar uns remédios e...
— Eu não quero saber! EU VOU ENTRAR! — bradou uma voz
bastante conhecida, entrando no quarto com tudo.
— Sofya!
John tinha preocupação nos olhos.
— Era só o que me faltava — resmungou Steve.
— John, o que você está fazendo aqui? — perguntei, com meu
cenho franzido.
— Preston me disse que você estava no hospital! — Ele veio
em minha direção e pegou meu rosto em suas mãos. — O que
aconteceu? Você está bem? Soube que desmaiou ontem!
— Eu estou muito bem, obrigada! — Tirei as mãos dele do
meu rosto.
— Hey, é melhor você se retirar agora — disse Steve,
chamando a atenção de John.
— E o que VOCÊ está fazendo aqui? — rosnou John.
Qualquer um teria medo da cara de mau dele, inclusive eu,
mas parece que Steve não se intimida com isso, e o enfrenta.
— Eu estou TRABALHANDO. Joyce, chame os seguranças,
AGORA! — exclamou Steve, para a enfermeira que entrou no
quarto com John.
— Não vai ser preciso! — Preston disse, entrando no quarto,
quase sem fôlego.
Parece que John estava fugindo dele.
— Nós estamos indo, não é John?
— Não. Eu só saio daqui com ela — rosnou ele, encarando
Steve.
— Então é melhor esperar sentado — rosnou Steve de volta.
Os dois pareciam galos de rinha. Eu detesto isso! Me levantei,
ficando em frente aos dois.
— Já chega! John, qual parte do “acabou” você não entendeu?
Vá embora, por favor! — bradei, o empurrando.
— Cara, vamos logo, isso aqui é um hospital — pediu Preston,
o puxando pelo ombro.
— Não... não acabou — disse John, olhando para mim. — E
você, fique LONGE dela! — finalizou, ameaçando Steve.
— Já disse que não tenho medo de você — grunhiu Steve.
— Vem, vamos logo! Foi bom ver você Sofya, se cuida! —
disse Preston, tirando John daqui antes que ele perdesse a cabeça.
Sentei na cama, suspirando e passando a mão em minha
nuca.
— Ele te segue sempre assim? — perguntou Steve com uma
careta, me fazendo rir. — Quer saber, pode me explicar tudo quando
sairmos daqui para tomar um café, o que acha?
— Tudo bem! — respondi, o fazendo juntar as mãos e as
erguer para cima, assim como sua cabeça, num gesto de
agradecimento que me fez rir. — O que foi?
— Ela aceitou! Obrigado, Deus!
— Muito exagerado — disse, nos fazendo rir.

Tomávamos o nosso generoso café da manhã em uma linda


cafeteria perto da Times Square. Steve Evans Rogers me contou
um pouco da sua vida logo após eu contar da minha e como John
apareceu nela. Ele tem trinta e quatro anos; seu pai também é
médico e sua mãe é publicitária; é filho único; estudou medicina em
Yale; fez quatro anos de trabalho voluntário no Haiti; antes disso, já
foi casado e quando se divorciou decidiu ir para lá; adora animais
também, por isso adotou Guz de um abrigo municipal; é bem
humorado; e, segundo ele, por mais que sua banda preferida seja
Kiss, ele adora música country.
— Então... você e John “acabaram”? Vocês tinham mesmo
uma coisa, não é? — perguntou Steve, devorando seu bacon com
ovos do prato.
— É complicado... as coisas acabaram saindo dos eixos e deu
nisso — falei, tentando resumir a história. — E você? Quer dizer que
já foi casado? — perguntei, enchendo o resto das minhas
panquecas com mais calda.
— Sim, mas acabou não dando certo. Nathalie e eu éramos
felizes, mas estávamos brigando muito, queríamos coisas
diferentes, então decidimos nos divorciar… aliás, ela decidiu.
— E você não queria?
— Achava que deveríamos ter tentado mais, mas acho que, no
final, foi melhor assim. Ela é médica também, continua trabalhando
em New Jersey. Então seguimos com nossas vidas, e aqui estou eu.
— Entendi. Está gostando daqui?
— Estou sim, Nova York é cheia de surpresas, e você é uma
delas — disse ele, me olhando intensamente, como fez naquela
noite na véspera de Natal.
— Surpresa boa, eu espero — sorri.
— Com certeza. E gostaria de te conhecer ainda mais hoje à
noite, começando por um jantar, que tal?
Uau, ele tem lábia. E com essa voz ainda, quem iria resistir?
Antes de responder, John surgiu em meus pensamentos, o que me
fez suspirar e baixar o olhar, mas logo lembrei o que ele havia feito
comigo, então...
— Eu adoraria — respondi, o fazendo sorrir lindamente.
— Combinado.
— Combinado — repeti, limpando minha boca num
guardanapo. — Preciso ir agora, ainda tenho que passar em casa e
tomar um banho antes de ir para o trabalho.
— Trabalho? Nem pensar, workaholic, te dei folga até o dia
primeiro de janeiro, então você tem hoje, a véspera de ano
novo, que já é amanhã, o ano novo e mais um dia em casa.
— Não, você não fez isso — murmurei em pânico.
— Fiz sim, inclusive já mandei o atestado para seu escritório
via e-mail — contou, bebendo seu suco de laranja tranquilamente.
— Instruções do médico, me desculpe. — Deu de ombros, sorrindo.
— Você está tentando me matar, isso sim!
— Hey, calma. Você precisa mesmo descansar e pegar leve se
não quiser ter uma crise como aquela, toda semana. Aproveite esse
tempo para fazer outras coisas, coisas que você goste ou coisas
que nunca teve tempo para fazer.
— Eu não tenho outras coisas para fazer. Eu preciso trabalhar!
Steve, por favor! — implorei, o fazendo sorrir e balançar a cabeça.
— Você é inacreditável.
— Por favor! Lembra que me disse que gostaria de me salvar
outra vez, então...
— Mas estarei te matando se fizer isso.
— Por favor, só hoje, pelo menos! — apelei, choramingando e
juntando minhas mãos.
— Esses seus olhos grandes e lindos são irritantes, sabia?
Tudo bem, mas desde que você não saia tão tarde, e ligarei para lá
só para me certificar disso — aceitou, derrotado.
— Obrigada! — agradeci, batendo palminhas.
— Mas só hoje. Agora vá, antes que eu mude de ideia — falou,
enquanto terminava seu suco.
— Te vejo mais tarde — falei, passando por ele e lhe dando
um beijo na bochecha.
— Estou contando com isso.

Lea tinha razão, as coisas estavam mais calmas por lá mesmo,


o que facilitou muito para mim, que fui embora cedo, como Steve
recomendou. Liguei para Shantell e disse tudo, mas TUDO mesmo.
Ela disse que John está por lá direto, e que anda muito chateado
com essa situação, falou que está até com um pouco de dó dele.
Assim como eu disse para ele ontem, disse a ela que agora já não
adianta mais. A confiança que tinha nele virou fumaça, se
dissipando no ar. John não deveria ter feito o que fez, e se ele acha
que é fácil dizer as coisas de cabeça quente e depois voltar com o
rabo entre as pernas — como ele sempre fez — está muito
enganado. Eu não sou trouxa e as coisas não são assim, ainda mais
depois de tudo o que fiz por ele! Eu não queria que as coisas
fossem assim, mas não posso perdoá-lo, não posso simplesmente
voltar. Além disso, finalmente abri o jogo com Shantell sobre Steve,
no qual ela me deu o maior apoio. Steve foi um cara super legal
comigo e eu quero ver até onde isso vai dar.
Assim que cheguei em minha porta, um grande buquê de
flores me esperava lá. Mas? De quem será? Tenho certeza de que
John não foi, então peguei o cartão e o abri, lendo o que estava
escrito.

“Querida Sofya,
Sei o quanto meu filho errou com você e sei que ele não
medirá esforços até que você aceite o perdão dele, coisa na qual
estou contando. Mas até que isso não aconteça, espero que aceite
essas flores para alegrar seu dia, afinal você é uma garota incrível e
a filha que nunca tive.
Espero lhe ver em breve, minha querida.
Com amor, Leon Neeson.”

Oh, senhor Neeson! O cara tem mesmo jeito com as palavras.


Enxuguei a lágrima solitária em meu rosto e entrei, levando as
lindas flores comigo. Acho que nunca gostei tanto de receber flores.
Eu não queria perder contato com algumas pessoas da família de
John, pois elas são realmente muito queridas para mim,
especialmente Leon e o vovô Larry. Olhei para o relógio e notei que
estava quase na hora de encontrar Steve. Coloquei as flores em um
vaso e fui correndo para o banho.
Dei uma última olhada no espelho e nada mal para quem
estava no hospital até hoje de manhã. Como sempre, meus cabelos
estão soltos em ondas perfeitas, minha maquiagem está simples,
porém marcante, visto um vestido tubinho justo até acima dos
joelhos na cor vinho, com um decote coração e mangas compridas e
um peep toe sem plataforma na cor nude, que combina com meu
sobretudo Burberry longo. Bem, está na hora, quer dizer, estou meio
atrasada. Quando saía apressada e trancava minha porta, a porta
de John se abriu. Ele está lindo como sempre... Sofya, pelo amor de
Deus! Ele parou, me olhando de cima a baixo, fechando a cara
depois.
— Vejo que está melhor — falou, com ironia.
— Como eu disse, estou muito bem. Boa noite — falei, e virei
as costas para ele.
Sem olhar para trás, desci as escadas, porém ainda sinto seu
olhar em mim. Coloquei meu casaco e saí do prédio, encontrando
Steve na beira dos degraus. Uau, ele está lindo. Ele finalmente
encontrou meu olhar, sorrindo ao me analisar de cima a baixo...
como John fez minutos atrás.
— Uau! Você está maravilhosa — sussurrou.
— Gostei do terno, ficou ótimo em você — falei, descendo as
escadas e apontando para seu terno azul escuro, mas o que
está dando um charme a mais é a camisa branca sem gravata, por
baixo do paletó.
— Obrigado. Agora, vamos sair daqui logo antes que alguém
apareça — disse, abrindo a porta da sua BMW para mim.
— Boa ideia — concordei, ao entrar no carro.
Steve nos levou para um restaurante elegante no Upper West
Side, no qual comi uma divina lagosta. Ele é um cara muito legal e
inteligente, mas confesso que estava torcendo para que fosse o
contrário, assim eu não precisaria ter que sair com ele novamente,
mas eu estava me divertindo muito com sua companhia, quase não
me lembrando de John em alguns momentos.
— Vão querer a sobremesa? — perguntou o garçom.
— O que você acha? — indaguei Steve.
— Acho que temos que sair o mais rápido possível daqui —
disse ele, sussurrando maliciosamente, para mim.
— Ah é, e por quê?
— Porque eu quero... — falou, enquanto pegava seu celular
que vibrava. — Ir ao hospital — continuou ele, franzindo o cenho e
olhando para a tela do aparelho.
— O que?
— Errr, me desculpe Sofya. É do hospital, há uma emergência
que requer os meus cuidados. Droga! — exclamou ele, jogando o
guardanapo na mesa com força.
— Ah, tudo bem, sem problemas — falei, um pouco
decepcionada. Mas também um pouco aliviada.
Já faz um tempo que eu não transo com outros homens sem
ser John, e estava um pouco nervosa quanto a isso. É, pois é, que
tipo de rainha vadia eu quero ser desse jeito, não é? Acho que perdi
a prática, ou devo ser destronada mesmo. Ele pegou minhas mãos,
me olhando atentamente.
— Amanhã, depois da meia noite, você estará em casa ou
passará o réveillon em outro lugar? — perguntou Steve.
— Provavelmente vou estar em casa depois da meia noite.
— Ótimo! Amanhã terminaremos esta noite — disse ele,
sorrindo e me fazendo rir.
— Combinado.
— Ok, vou pagar a conta e te deixo em casa.
— Nada disso, vamos dividir.
— Eu não deixarei você fazer isso.
— Oh Steve, acredite, você vai — sorri, de forma conspiratória
para ele, numa ameaça.
E depois de ele perceber que eu falava sério, ele teve que
ceder, deixando que pagasse a outra metade. Pegamos o carro e
dirigimos até nossa rua, onde ele parou o carro em frente ao meu
prédio.
— Eu ainda não acredito que vou ter que ir mesmo para o
hospital — se lamentou.
— É, eu também — falei, o olhando.
Ele se aproximou de mim, pegando em meu rosto, mas
quando fechei os olhos para sentir seus lábios nos meus, escutei a
porta do carro se abrir e vi Steve ser puxado bruscamente para fora
do carro.
— Eu disse para ficar LONGE DELA! — rosnou John.
— Seu filho da puta! — rosnou Steve de volta, avançando em
John, o acertando um soco na cara.
— Ah meu Deus — falei, saindo do carro correndo.
Se recuperando do soco, John avançou de volta, dando um
soco muito forte em Steve, o fazendo cair para trás.
— CHEGA! — gritei, mas de nada adiantou.
John voou novamente em Steve, que está caído no chão, mas
ainda assim, está atento aos movimentos de John, revidando a
todos. Os dois trocam socos e pontapés, e não tem ninguém na rua
que pudesse me ajudar, então decidi fazer alguma coisa.
— PAREM, OS DOIS! EU DISSE CHEGA!
Reuni toda a força que tenho e puxei Steve para um lado, e
finalmente desgrudei os dois. Insatisfeito, e com o rosto sangrando,
John avançou novamente em Steve. ARGH! POR QUE ELE TEM
QUE SER TÃO TEIMOSO? Antes que ele pudesse chegar em
Steve, perdi o controle, fechando meu punho, que voou para a cara
dele, lhe dando um soco que o fez cair para trás.
— AI! — gritei, chacoalhando minha mão dolorida pelo
impacto.
John me olhou, surpreso, esfregando o local onde minha mão
o acertou. Senti Steve me pegando pelo braço.
— Você está bem? Se machucou? — perguntou ele, que
também estava sangrando.
Ele pegou minha mão, analisando os ossos do meu punho,
que ficaram roxos na hora.
— AI! — protestei, quando ele o mexeu.
— Não quebrou, mas está luxado. ARGH! SATISFEITO, SEU
IDIOTA? — gritou Steve, avançando em John, mas logo tratei de
segurá-lo, entrando em sua frente.
— JÁ CHEGA! Chega! Steve é melhor você ir embora, agora.
— E te deixar com esse cara? Nem morto!
— FAÇA O QUE ELA DISSE, SEU OTÁRIO! — rosnou John,
levantando-se do chão.
— Olha aqui, seu...
— Steve, se não quiser que minha outra mão se machuque
enfiando um soco na sua cara também, é melhor você ir embora,
agora! — disse, o pegando de surpresa. — A situação aqui está sob
controle, prometo. — Steve ainda encarava John de maneira mortal,
pensando no que eu disse.
— Se eu descobrir que você tocou em um fio de cabelo dela,
eu mato você! — ameaçou Steve.
— Você é muito abusado, doutor. E fique sabendo que eu não
tenho medo de ameaças, saia daqui antes que EU te mate — falou
John, avançando novamente em direção a Steve.
— John, JÁ CHEGA. Parem com essa CENA RIDÍCULA
AGORA! — gritei.
— Se acontecer alguma coisa, quero que me ligue, entendeu?
— Steve pegou em meu rosto. — Ponha muito gelo nisso e passe
uma pomada para lesão muscular, e se não desinchar, vá para o
hospital, entendeu? — recomendou ele.
— Entendi, está tudo bem, juro, não se preocupe.
— Ok, se cuida. — Ele foi para o carro, voltando a fuzilar John
ao entrar e arrancando de lá, cantando os pneus.
Olhei para John que me olhava.
— Foi um belo soco. Me desculpe por ter se machucado —
disse ele, mais calmo.
— A minha vontade agora é me machucar ainda mais socando
essa sua cara cínica! SEU IDIOTA!
— Tinha me esquecido o quão fofa você fica brava — riu... ele
está bêbado.
— Você está bêbado?
— Não quanto eu queria — gesticulou ele, limpando o sangue
que teimava em escorrer do seu supercílio machucado.
Mas que droga! Bufei.
— Vamos entrar logo! — falei, antes que me arrependesse.

John está machucado, mas Steve saiu daqui bem pior. Lembra
quando eu disse que não era trouxa? Era mentira, se tem uma
pessoa para ser trouxa nessa vida sou eu, porque aqui estou, no
apartamento de John, cuidando dos seus machucados. Agora sou
eu quem queria me socar. Queria não me importar mais, mas não
consigo, é mais forte que eu.
— Para quieto, por favor! — pedi para ele, que
está encostando na cadeira, tomando whisky direto da garrafa.
Terminava de dar pontos em seu corte e de limpar o resto do
sangue com algodão.
— Pronto. Agora vê se não faz outra besteira que possa abrir
os pontos.
Novamente ele levou a garrafa à boca, dando um super gole.
— John, me dê isso aqui. Chega, você já bebeu demais. —
Tirei a garrafa das suas mãos.
— E que escolha eu tenho? Se eu não tenho mais você?
Agora você quer tirar minha garrafa também?
— Cala boca, John! — O ignorei e fui em direção ao freezer,
pegar gelo para minha mão.
— Volte para mim — sussurrou ele em meu pescoço, me
fazendo pular.
Suas mãos me agarraram pela cintura, chegando em mim do
jeito que eu mais gosto... ai meu Deus, Sofya, não!
— John, me larga — disse, pegando o pouco de sanidade que
ainda me restava e tirando as mãos dele de mim.
Voltei à sala e peguei minhas coisas, obstinada a sair daqui.
— Por favor, me perdoe... me perdoe! — continuou ele, se
ajoelhando e me abraçando pela cintura, com sua cabeça
encostada em minha barriga. — Eu não consigo ficar sem você! —
balbuciou, completamente desesperado.
Respirei fundo, olhando para o teto para evitar as lágrimas que
ameaçavam cair. Eu não posso, não posso.
— John... preciso ir agora — disse, com a voz embargada, me
livrando do seu aperto e fugindo rapidamente para meu
apartamento.
Assim que entrei, peguei meu celular e liguei para quem eu
mais precisava ligar nesse momento.
— Alô?
— Preston! Graças a Deus!
— Sofya? O que aconteceu? Está tudo bem?
— É o John.
— O que tem ele? O que aconteceu? — perguntou ele, aflito.
— John me viu com Steve, e os dois tiveram uma briga
horrível. Ele está muito bêbado e se machucou, tentei cuidar dos
ferimentos dele, mas acho que não é bom que ele fique sozinho.
— Mas que merda! Ok, obrigado por avisar, Sofya, estou a
caminho — falou, encerrando a chamada.
Logo após eu desligar, meu celular tocou novamente.
— Alô?
— Espero que você esteja trancada e segura em seu
apartamento agora — disse Steve.
— Estou sim, você está bem?
— Acabei de cuidar disso, não se preocupe. E a sua mão?
Olhei para ela e percebi que ainda está inchada. Fui para a
cozinha, apanhar um pouco de gelo.
— Estou cuidando disso, não se preocupe você também.
— Certo, queria conversar mais, mas não posso. Nos vemos
em breve, ok?
— Ok, se cuida.
— Você também — falou, encerrando a ligação.
Eu não consegui relaxar, pensando em John do outro lado da
parede, pensando se ele está mesmo bem. Andava pra lá e pra cá,
com o gelo em minha mão, até que escutei barulhos do lado de fora
e minha campainha tocar.
— Graças a Deus! — Fui em direção à porta, a abrindo com
tudo. — Pres...
— Eu não vou desistir de você — disse John, decidido,
andando em minha direção, enquanto eu tentava recuar.
— John, vá para a casa — sussurrei, enquanto ele fechava a
porta atrás de si.
— Eu não vou até você me dizer que não me quer mais —
murmurou.
Sem saída, estava encostada na parede, enquanto ele
avançava para mim, com seu olhar de caçador. Com um puxão, ele
agarrou minha cintura, me trazendo para si, enquanto sua outra mão
me agarrava pelo alto da nuca, puxando um tufo do meu cabelo.
— Olha para mim, e me diga — falou baixinho, perto dos meus
lábios.
Meu coração acelerava, e fechei meus olhos para dissipar
minha vontade de estar nos braços dele de novo. Mas ele me
possuía, com cada respiração que eu inalava seu cheiro, com o
calor do seu corpo junto ao meu, com seu olhar... meu controle se
perdia. Ele ergueu minha cabeça ainda mais, fazendo com que eu
voltasse a encarar seus olhos azuis selvagens.
— Diga!
— John, por favor...
— Resposta errada. — Ele tomou minha boca de maneira
possessiva e urgente para si, num beijo que me provoca até a alma
com seu calor.
Me prensou na parede com seu corpo, me agarrando de uma
maneira como se não quisesse mais me soltar jamais. Eu estava
nos braços dele novamente, completamente e perdidamente rendida
a ele, numa paixão avassaladora.
— John! ABRA A PORTA, CARA!
De repente, como se fosse mais uma chance para que eu
acordasse dessa loucura, escutamos batidas na porta ao lado.
— Sofya! Abre! — chamou Shantell, batendo na minha porta.
Graças a Deus. Interrompi nosso beijo e, com dificuldade, saí
dos braços de John, me ajeitando.
— Droga! — reclamou, dando um soco na parede.
— Vá embora, John — pedi, ao abrir a porta.
— Hey! Você está... John? — disse Shantell, surpresa.
— Jesus, cara. O que aconteceu com você? — perguntou
Preston ao ver o amigo machucado.
— Isso não acabou aqui — sussurrou John ao passar por mim.
— Vem, vamos entrar — disse Preston, o levando para o
apartamento ao lado.
— Mas que merda aconteceu aqui? — perguntou Shantell,
entrando em casa.
— Todas as merdas possíveis.
Como eu disse: trouxa, eu sou muito trouxa! Fui para a
cozinha, pegando a vodka na geladeira. Agora quem precisa ficar
bêbada sou eu.
Tive que insistir com Shantell e Nigel que eu realmente queria
ficar em casa na virada de ano. Eu sei que é muita deprê, mas não
estou a fim de festas. A verdade é que eu não suporto essas festas
de fim de ano, e as desse ano fizeram com que eu as odiasse ainda
mais. O que aconteceu entre eu e John mexeu muito comigo, e
pensando em tudo o que aconteceu nas últimas semanas, minha
crise de ansiedade se deve a ele também. Novamente, na noite
passada, assim como em todas as outras noites, eu não consegui
parar de pensar nele. Mas que droga! Eu jurei para mim mesma que
não ficaria assim por alguém nunca mais em minha vida. Mas não,
outra pessoa foi embora da minha vida, partindo e me deixando
despedaçada. Não posso simplesmente perdoá-lo, pois sei que ele
irá fazer de novo, é o que ele é... esse é o John.
Peguei outra garrafa de vinho enquanto a música Time After
Time, da Cyndi Lauper, toca em minha vitrola, aliás, selecionei
várias coletâneas de fossa para hoje. Já é quase meia noite, e
mesmo com esse frio lá fora, e querendo ficar por aqui mesmo,
decidi ver os fogos de artifício do topo do prédio. Coloquei um
casaco bem quente, um gorro e minha bota UGG, sem esquecer
dos clips para “abrir” a porta, já que não tenho a chave. Abri a porta
de incêndio, subindo em direção a porta que dá ao topo do prédio e,
sem muita dificuldade, a abrindo com um simples clips. Assim que o
ar gelado da cidade bateu em meus cabelos, vi que o show de fogos
de artifício começava em toda parte, anunciando que já era meia
noite. Dei um grande suspiro, fazendo minhas preces mentais para
este novo ano que começou. Os fogos brilham no céu, olhei em
volta e as lembranças da última vez que estive aqui me atingiram. O
piano de John está coberto, e no fundo da minha mente, eu posso
escutar as músicas que ele tocou para mim naquela noite. Como foi
bom.
Fechei meus olhos, implorando para Deus que o tirasse da
minha cabeça. Depois de um tempo, refletindo, purificando meus
pulmões com o ar gélido e criando boas energias para um bom
começo de ano, vi os fogos de artifícios deixarem o céu, e essa era
a minha deixa. Assim que me virei para voltar para meu
apartamento, vi John parado a uma certa distância de mim, me
olhando. Ele está com o olho roxo e feições de tristeza, vestindo um
terno preto, uma camisa branca e um sobretudo preto por cima.
— Como... como você soube que eu estava aqui? —
Perguntei.
Ele ergueu um clips e falou.
— Segui os clips. Você não para de me surpreender — falou,
dando seu sorriso torto que eu tanto amo.
Assenti com a cabeça e voltei a andar, indo em direção à
porta.
— Feliz Ano Novo, John — disse ao passar por ele, mas parei
ao sentir sua mão me puxando pelo meu braço, me deixando à sua
frente.
— Você não respondeu.
— Responder o que John? Não tem nada o q... — sussurrei.
— Tem sim, Sofya! Se você me disser que não me quer mais,
eu te deixarei em paz — sussurrou ele a centímetros do meu rosto.
— Caso contrário, eu juro que nunca mais vou deixá-la sair da
minha vida… e nunca mais serei idiota de te perder de novo.
— John... — pedi com a voz embargada, tentando segurar as
lágrimas.
— Sofya, me responde! — exclamou ele, me dando um
chacoalho de leve.
Fechei os olhos, liberando as lágrimas teimosas pelo meu
rosto. Deus... eu não quero mais sofrer, não posso mais sofrer. Abri
os olhos encarando os lindos olhos azuis ansiosos de John.
— Eu não te quero mais — sussurrei.
Foi como engolir fogo. Eu pensei que meu coração já estivesse
partido, mas nada se compara a dor que estou sentindo agora, ao
ver as lágrimas de John presas em seus olhos.
— Me deixe em paz, por favor.
— É isso mesmo o que você quer? — sussurrou, controlando
sua voz.
Sem coragem de responder em voz alta, assenti com a
cabeça. Devagar, ele me soltou, coçando sua barba e olhando para
o céu. Dando passos longos para trás, ele voltou a me encarar, com
seus olhos azuis brilhantes por causa de suas lágrimas não
derramadas.
— Não foi real, não é? — sussurrou ele.
Usando toda a minha força, prendi o choro em minha garganta
e sequei os vestígios das lágrimas teimosas.
— Espero que seja feliz, Sofya, você merece. Adeus — disse,
entrando pela porta e sumindo de vista.
Sem força nas pernas, desabei no chão, colocando a mão em
meu coração que sangrava, liberando o choro contido. E depois de
chorar rios inteiros, desci para meu apartamento, olhando para a
porta dele, antes de entrar pela minha. Estou em frangalhos...
destroçada. Escutei meu celular vibrar com uma mensagem e vi que
era de Steve, perguntando se estou em casa. Não quero ver mais
ninguém hoje, por isso menti e disse que só voltaria amanhã. Fui
para minha cama, e só parei de chorar quando o sono chegou...
trazendo de volta meus piores pesadelos.

Mesmo os dias se arrastando, a segunda semana no ano se


aproximava, mas pelo menos meu trabalho vai de vento em popa.
Segui os conselhos de Steve e Shantell e dediquei um tempinho
para mim. Voltei a correr e a dançar ballet, o que vem me fazendo
bem. Mas meu peito se abre mais cada vez que me lembro de John.
Ele cumpriu sua promessa de me deixar em paz e não me procurou
mais, até mesmo quando me viu caminhando com Steve no Central
Park, fingiu nos ignorar completamente. Steve estranhou o
comportamento “não agressivo" de John e falei o que aconteceu.
Ele entendeu como eu estava me sentindo, por isso resolveu
respeitar meu espaço. Achei que se ficasse longe de Steve, eu
ficaria melhor, lidaria com isso melhor, mas ele vem me
surpreendendo cada vez mais, se mostrando gentil, atencioso e
respeitoso, sem falar que é muito divertido também. Ele me levou
para o hospital infantil de Nova York, no qual ele visita ao menos
uma vez por mês. Nos divertimos muito com as crianças e fiquei
admirada ao ver o trabalho com elas, fazendo de tudo para melhorar
o dia de cada uma ali.
É quinta, e ao invés de ir para casa, decidi vir dançar. O
estúdio de ballet já está fechado, mas Cynthia, a dona do estúdio
que é uma velha e conhecida amiga de Shantell dos tempos de
Juilliard — e uma colega próxima para mim —, acabou me deixando
ficar por mais uma hora. Com toda a correria do último ano com o
trabalho e a mudança, acabei deixando a dança um pouco de lado,
principalmente o ballet, que não dançava há anos, por isso, tinha me
esquecido o quão a música e a dança me fazem bem. Posso dizer
que isso me renova e a cada vez que danço, um pedaço do meu
coração volta para o lugar. E aqui estou eu, me deixando levar por
cada nota musical, que se espalhava pelo meu corpo, as
transformando em movimentos lindos. Fechei os olhos, absorvendo
essa boa energia, sentindo a liberdade em cada parte do corpo, que
parou quando a música acabou... dando lugar às palmas solitárias
de alguém.
— Bravo! — aplaudia Steve, sorrindo.
— Eu não sabia que estava aí — disse, recuperando o fôlego e
sorrindo, sem graça.
— É lindo ver você dançar. Aliás, você fica linda dançando —
falou, se aproximando.
Steve é tão cavalheiro que está me respeitando até demais,
por isso até hoje não tinha me beijado ainda. Ele é atrevido, mas
respeitoso no mesmo nível.
— Obrigada. Está aqui por que quer aprender também? —
brinquei.
— Ah, isso me ajudaria a manter meu currículo atualizado —
brincou ele — Tem um tutu para mim também? — continuou, me
fazendo rir.
— Vem cá. — O chamei para próximo da barra, que fica no
espelho.
Ele me seguiu, ficando de frente para mim, segurando o riso.
— Tá legal, agora junte os calcanhares, deixando os pés para
fora e curve seus braços assim, deixando suas mãos em frente à
barriga. Essa é a primeira posição.
— Ok! — Ele tentava fazer o seu melhor, e me fazia rir.
— Tudo bem, agora abra os braços na altura do peito, ainda os
deixando levemente curvados e mantendo as mãos viradas para
baixo — falei, enquanto ele imitava os meus movimentos. — Agora,
como se fosse um pássaro, movimente seus braços — rimos ao
começar os movimentos. — Isso, agora mantendo os calcanhares
juntos, abaixe, dobrando apenas os joelhos... isso, agora suba,
baixe... você está indo bem — ri.
— Sem essa! — disse ele, desistindo. — Mas ficaria melhor
com uma música, de preferência, animada.
— Ok— falei, procurando no meu Ipod a música perfeita,
dando play em seguida.
— Ahhh, qual é? — disse, rindo da minha cara. — Aerosmith e
Run DMC?
— Ah, vai me dizer que não gosta? — perguntei sorrindo,
enquanto Walk This Way tocava.
— Ah, pelo amor de Deus, se eu gosto disso? Backstroke
lover, always hidin’ neath the covers 'til I talked to your daddy, he
say: You ain't seen nothin' til you're down on a muffin. Then you're
sure to a change in ways.[20] — cantou o início da música, me
pegando direitinho e me fazendo gargalhar com os passos de rap
dos anos 80 que ele fazia.
— Você arrasou! — exclamei, batendo palmas para ele.
— Tá brincando?! Eu adoro Aerosmith! Inclusive entrei num
concurso de dança no jardim de infância e dancei essa música.
— Sério? E ganhou?
— Na verdade, não tive oportunidade de terminar a dança, já
que jogaram uma maçã em minha cabeça — contou, fingindo
remorso, me fazendo gargalhar ainda mais.
— Meu Deus! Isso é que é um trauma infantil! — falei, ainda
rindo. — Quando tinha dez anos, Shantell e eu tivemos um concurso
desses em nossa escola também, eu tive a ideia de recriarmos a
icônica cena de Dirty Dancing, com a música The Time of My Life,
só que brigamos, porque eu e ela queríamos ser a Baby, então eu
acabei ficando com o papel do Patrick Swayze mesmo para encerrar
as discussões. Ensaiamos tanto, mas no dia, quando íamos fazer o
movimento mais esperado...
— Aquele em que ele pega a Baby no ar?
— Sim! Esse mesmo! — confirmei entusiasmada. — Eu tinha
dito a Shantell que não ia conseguir, mas ela não me ouviu e pulou
em cima de mim, derrubando nós duas para fora do palco. Acho que
foi uma das maiores humilhações que já tive na vida. — falei rindo, e
o fazendo gargalhar.
— Essa foi boa, ganhou de mim.
— Totalmente! Certo, vamos nos aquecer.
Ele retirou a jaqueta, mostrando sua camiseta azul que se
ajustava em seu corpo, revelando seus músculos. Uau. Começamos
a nos aquecer, e depois a dançar. Steve quase me matou de rir com
seus passos e suas tentativas de imitar os movimentos de ballet.
— Certo, você pode ser a Baby agora! — ele disse, ficando
afastado de mim, e me esperando para que eu pulasse,
posicionando seus braços.
— O que? Você enlouqueceu? Existe um motivo para terem
jogado uma maçã em você naquele palco — falei, o fazendo rir.
— Na verdade foram muitas maçãs... e outras frutas também,
sem falar das vaias. Mas, vamos lá! Eu te seguro.
Me preparei, ainda o olhando com dúvidas.
— É sério, eu te seguro!
— Ok...
Suspirei, me preparando, e dei um impulso, correndo e
pulando em Steve, que me pegou perfeitamente, me erguendo no
alto e me fazendo dar gritos de felicidade.
— Eu sou a Baby! — exclamei entusiasmada, imitando a
posição do filme e o fazendo rir.
— Eu te disse! — Ele foi me abaixando lentamente, até que
meus pés tocaram o chão.
Ele ainda mantém suas mãos em minha cintura e seus olhos
ficaram mais escuros, revelando seu desejo.
— É, você disse — sussurrei, próximo aos seus lábios.
Num movimento rápido, Steve tomou meus lábios nos seus em
um beijo lento e suave, estranhamente delicioso. Quase sem fôlego,
interrompi o beijo, o encarando.
— Uou! — Ele me beijou novamente, só que dessa vez, o beijo
se intensificou.
Minhas mãos voaram para os seus cabelos e as dele firmaram
o aperto em minha cintura, me empurrando para a parede mais
próxima. Seus lábios desceram até meu pescoço, dando-me beijos
quentes e arrancando meus gemidos... mas enrijeci quando John
voltou aos meus pensamentos.
— Tudo bem? — perguntou Steve.
— Sim... não pare — pedi, o fazendo sorrir maliciosamente.
— Isso está fora de cogitação — sussurrou, desamarrando
meu tule e, logo depois, abaixando as alças do meu body, beijando
meus ombros desnudos.
Ele olhou para meu decote, soltando um grunhido ao abaixar a
peça devagar, revelando meus seios aos poucos. Ele se abaixou,
ficando de joelhos e retirando o restante das minhas roupas,
restando apenas minha calcinha. Ainda agachado, ele me
contemplava como se eu fosse uma Deusa.
— Maravilhosa — sussurrou.
Ele começou a beijar minha barriga, e minhas mãos foram
ansiosas para seus cabelos. Ele foi subindo seus beijos, até que sua
boca chegou em meus mamilos, nos quais ele trabalhava muito
bem, brincando com eles com sua deliciosa língua... John adora
meus peitos... ah não, Sofya, agora não! Puxei Steve pela camiseta
e troquei de posição com ele, o deixando encostado na parede.
— Minha vez — ronronei, o fazendo gemer.
Comecei tirando sua camiseta e finalmente seu lindo peitoral
liso... liso demais para meu gosto... deixa disso, garota, foco!
Comecei beijando sua boca e depois fui descendo meus beijos, até
chegar em sua deliciosa entrada da virilha. Sem muita paciência,
arranquei seu cinto e abri sua calça, restando apenas sua cueca
azul e seu pau, que me deixou de boca aberta. DING DING DING[21].
Ver um monumento desse na minha frente despertou a rainha aqui!
A vadia voltou! Meu Deus, que pau é esse? Peguei seu membro em
minha mão, o tirando da cueca e fazendo Steve grunhir. Com água
na boca, me ajoelhei, pronta para colocá-lo na boca e assim eu fiz, o
chupando com vontade.
— Puta que pariu, Sofya — grunhiu Steve, pegando em meus
cabelos.
Continuei, até que ele me puxou para cima.
— Minha vez — falou, pegando um colchão de yoga que
estava na sala e me deitando sobre ele.
Lentamente, ele foi retirando minha calcinha e minhas pernas
abriram automaticamente. Steve começou a massagear meu centro
com os dedos, me fazendo gemer.
— Valeu a pena esperar tanto por isso. Você está tão molhada!
E sem perder mais tempo, sua boca começou a me chupar, tão
deliciosamente que eu ainda estou surpresa. Ele
trabalha empenhado com sua língua, mas não queria gozar agora.
— Você trouxe camisinha? — perguntei, o puxando para minha
boca.
— Se eu estiver com sorte, tem uma na minha carteira —
disse, entre nossos beijos. — Espere aí! — Levantou-se correndo e
pegou sua carteira, tirando a embalagem de lá e a beijando, em
forma de agradecimento, me fazendo rir.
Rapidamente, ele colocou o preservativo em seu pau,
posicionando-se entre minhas pernas. Ainda me olhando, ele me
penetrou lentamente, nos fazendo gemer, começando a se
movimentar por cima de mim. Os movimentos aumentaram e ele
começou a me estocar, sem dó, me fazendo gritar. Ele continuou
assim e senti meu orgasmo chegando, contraindo seu pau ainda
mais.
— Caralho... eu vou gozar — falou, intensificando suas
estocadas e me fazendo gozar, deliciosamente, assim como ele,
que me acompanhou em seguida, liberando seu prazer num
grunhido alto.
O que nós fazemos por um orgasmo, não é mesmo? Até
segundo atrás eu estava alegre, agora a vontade que eu tenho é de
sair correndo, um sentimento estranhamente ruim me atingiu.
Minhas lágrimas inundaram meus olhos com a última lembrança boa
de John que eu tenho... foi quando ele me deu aquele dez no nosso
momento mais doce em Miami. O orgasmo que eu acabei de ter
com Steve foi muito bom, mas acho que nada irá se comparar —
jamais — com aqueles orgasmos que John me deu em Miami, e no
geral também. Eu adorava quando transavamos feitos gatos no cio
e depois ficávamos horas conversando madrugada adentro...
— Hey, tudo bem? — perguntou Steve.
Tentei disfarçar um sorriso.
— Sim, mas tenho que voltar para casa agora.
— Ok, eu te levo.
Que droga! DROGA, DROGA E DROGA! Por que eu ainda
penso naquele idiota?

Steve parou o carro entre nossos prédios. Eu sei que de


alguma maneira ele percebeu que eu mudei da água para o vinho
depois que transamos, mas decidiu permanecer calado e não disse
nada durante todo o caminho.
— Chegamos — ele disse.
Sai do carro, colocando meu gorro, e atravessei a rua ao lado
dele. Em frente ao meu prédio, fiquei de frente a ele, que me olhava
cheio de perguntas em seu olhar.
— Você se arrependeu daquilo, não foi?
— Não! Claro que não... é só que eu preciso me acostumar
com a ideia ainda, mas não pense nisso, por favor — respondi,
pegando suas mãos.
Aliviado, ele suspirou, sorrindo.
— Tudo bem... porque eu gostei, e muito.
— Eu também — sorri.
Ele se aproximou e me beijou suavemente. Segundos depois,
nos desgrudamos, encarando um ao outro.
— Obrigada por hoje — falei, indo para trás.
— Nos vemos amanhã? — perguntou, indo em direção ao seu
prédio.
— Eu te ligo — falei, lhe mandando uma piscadela, que ele
devolveu ao entrar.
Estava subindo as escadas da entrada quando vi John, com
sua mão enroscada na cintura de Jenna, me fazendo congelar. John
sorria, mas seu sorriso se desfez ao me ver, assim como o da
Barbie Malibu.
— Ah... olá Sofya — cumprimentou ela, sem ânimo.
— Olá, Jenna. — Juro que tentei não trincar a mandíbula.
Segui o meu caminho, continuando a subir os degraus.
— John — cumprimentei com um aceno ao passar por ele.
— Sofya — cumprimentou ele de volta.
Sem olhar para trás, e tentando controlar meus passos e não
demonstrar nervosismo, subi a escada rapidamente, entrando em
meu apartamento correndo. Lembra que eu disse que estava
recuperando pedacinho por pedacinho do meu coração aos poucos?
Pois é, a cada vez que encontro com John, eles voltam a se quebrar
novamente. Mas vê-lo com Jenna aumentou ainda mais minha dor,
o pior é que eu não posso fazer nada, a não ser aceitar. A forma
como ele pegava na cintura dela, de como ele sorria... aquele
sorriso lindo que me deixava sem fôlego, Deus, como é difícil, como
dói. Sei que não vai ser fácil, mas terei que seguir em frente,
convivendo com isso.
Eu não tinha pretensão nenhuma de sair com Jenna naquela
noite, mas quando vi Sofya beijar aquele médico otário na entrada
do prédio, mudei minha decisão na hora. Eu precisei me controlar
muito para não ir lá e tirá-la dos braços dele, de chacoalhá-la e
convencê-la de que ela tinha tomado a decisão errada, a fazendo
enxergar que somente juntos estamos completos. Mas
sinceramente, com a realidade sendo dura comigo, ver como ela o
olhava... a mão dele sob a dela, mudou algo em mim. Ela tinha
tomado sua decisão, então eu teria que lidar com isso, já que tentei
de tudo para tê-la em meus braços novamente, mas não consegui.
E por mais que isso me deixe muito abalado, eu tenho que respeitar
a decisão dela.
Por isso, voltei a sair com Jenna. De alguma maneira, a garota
que havia conhecido na faculdade estava presente nela, me
surpreendo a cada encontro. O sexo ainda é bom, mas não tanto
quanto era com Sofya, afinal eu fui o seu dez, e não sei se algum
dia sentirei aquilo que sentia com Sofya no sexo, era... era...
inexplicavelmente maravilhoso. Mesmo Jenna se mostrando a
garota que quase se casou comigo um dia, a convivência com a
minha mãe ainda nos atrapalhava. Ela anda se encontrando
bastante com minha mãe, e quando isso acontece, a garota que
conheci há anos se perde, mas volta depois. Mesmo assim, Jenna é
uma boa pessoa e estamos tentando voltar ao que éramos antes
nestas últimas semanas. Mas isso não está sendo o suficiente para
mim. O porquê? Simples: Sofya.
Nestas últimas semanas eu a via de vez em quando, e cada
dia mais linda. Nos cumprimentamos com apenas um aceno,
demonstrando que o território ali havia ficado neutro. É doloroso
demais vê-la passar por mim sem a tocar, sentir seu cheiro
inebriante e não poder a tomar em meus braços. Mas o que mais
me dói é ver aquele filho da puta daquele Steve cada vez mais
próximo a ela, ver aquele desgraçado sair do apartamento dela com
um sorriso triunfante, me cumprimentando como se nada tivesse
acontecido. Isso está me matando. O controle que eu tenho que ter
para não socá-lo novamente está me matando. Mas não tem nada
que eu possa fazer, para meu azar.
Porém, há dias que não o vejo, por sorte, e há dias que Sofya
está chegando em casa sozinha e mais cedo, o que é um alívio para
mim. Saí da minha picape, apertando o alarme, atravessando a rua
em seguida, notando um movimento estranho na portaria do prédio.
A senhora Johnson conversa animadamente com um cara que
aparenta ter uns cinquenta anos. Ele está vestido formalmente com
um terno e carrega um ursinho junto a flores. Hm... será que a
senhora Jones está namorando?
— John, querido! Como vai? — perguntou ela, animadamente.
O “senhor” me olhou e notei que tem uma barba e um
cavanhaque bem feito.
— Este aqui é o Kritsk...
— Ah, por favor Amélia, somente Kris.
— Oh, claro! Este é o Kris, ele veio atrás de Sofya.
Ah, claro que ele veio. Agora entendi o porquê Sofya não anda
vendo o doutorzinho, sua fila está andando cada vez mais rápido.
Ele estendeu sua mão para mim, e o cumprimentei ainda
desconfiado.
— Neeson. John Neeson — disse, ainda com cara de poucos
amigos.
— Muito prazer, John! Amélia me disse que é o dono do prédio
e amigo “próximo” de Sofya.
Droga, às vezes a senhora Johnson fala demais.
— Sim, sou mesmo. — Menti sobre a segunda parte, já que
não é mais verdade.
— Kris estava me dizendo algumas histórias sobre Sofya...
— Aposto que estava — falei, o fazendo franzir o cenho para
mim.
— Por isso estava me pedindo ajuda para fazer uma surpresa
para Sofya, já que eles não se veem há algum tempo. Oh Kris, isso
é tão lindo!
— É. É sim — disse ele, numa tentativa de sorrir, sem
esconder sua pressa. — Podemos subir agora, Amélia? Estou um
pouco ansioso para vê-la.
Mas que história é essa?
— Algum tempo sem vê-la? — perguntei, desconfiado.
Aí têm!
— Oh, me desculpe querido, esqueci de falar. Kris é...
— Sou o pai de Sofya — falou, me olhando.
Ainda sem acreditar na resposta, tentei assimilá-la melhor.
Mas, o que...
— O que? — sussurrei.
— Ele é o pai da Sofya! — riu a senhora Johnson. — Ele
voltou de viagem e decidiu fazer uma surpresa para ela! Oh, ela tem
seus olhos, Kris.
— Obrigado. Mas, por que não subimos logo, Amélia? Preciso
que você diga que é você para que ela possa atender a porta.
— Senhora Johnson, pode deixar comigo, eu assumo daqui —
disse, o encarando.
QUEM ESSE FILHO DA PUTA PENSA QUE É APARECENDO
DEPOIS DE ANOS PARA VER A FILHA? Eu queria socá-lo agora.
— Mas...
— Por favor — disse duramente, já assumindo o meu papel de
Agente mau.
— Tudo bem. Boa sorte, Kris! Ela vai adorar ver o pai
novamente!
— Aposto que vai — rosnei, em ironia, com meus olhos presos
nele.
— Obrigado, Amélia! E cuidado com o excesso de açúcar —
ele falou para a velhinha que entrava, a fazendo rir.
Ele voltou a me olhar, e sua expressão mudou totalmente, me
encarando furiosamente.
— Eu vou entrar lá e ver minha filha, escutou rapaz?
— Filha? Depois de abandoná-la? Como tem coragem de
aparecer aqui depois de tudo o que fez com ela? — rosnei.
— E quem é você? — Rosnou ele de volta.
— Isso não te interessa.
— Digo o mesmo para você. Agora, se me der licença, vou ver
minha filha. — Ele começou a subir as escadas.
— O que o senhor vai fazer é dar meia volta e sumir, deixando
tudo como está.
Ele parou, virando-se devagar e descendo as escadas
novamente, me encarando com lágrimas nos olhos.
— Você é o namorado dela?
Não respondi, apenas continuei o encarando.
— Porque se for, eu vou te dizer o seguinte: EU VOU entrar e
ver minha filha, porque eu não posso morrer sem ao menos ter o
perdão dela, pois a culpa que carreguei durante esses anos todos
não pode ir comigo para o caixão. — Ele derramou uma lágrima
solitária. — Então, por favor, como meu último desejo, me deixe ver
minha filha, só assim poderei ter paz — finalizou sussurrando.
Do jeito que ele fala, parece que está com os dias contados.
Um homem precisa estar realmente desesperado para chorar no
meio da rua. Bom, se não for agora, ele irá encontrá-la de qualquer
jeito, então que seja hoje, pois estarei ao lado dela quando receber
essa “surpresa”. Apontei o caminho com um aceno de cabeça, que
ele seguiu de bom grado, limpando sua lágrima solitária. Subimos a
escada em direção à porta dela, e confesso que até eu estou com
medo. Fiquei em frente à porta de Sofya e respirei fundo, olhando
para o pai dela, que está tentando manter a calma. Ele me fitou,
dizendo com olhar para que eu tocasse a campainha, e assim eu fiz.
Depois de alguns minutos, a voz de Sofya ecoou.
— Quem é? — perguntou ela atrás da porta.
— Sofya... — Engoli em seco antes de prosseguir. — Pode
abrir a porta, por favor?
— John? — perguntou, abrindo a porta logo em seguida. — O
que ac...
Seu olhar passou brevemente por mim, mas parou no “senhor”
que está ao meu lado. Eu o olhei, e vi que as lágrimas voltaram a
inundar seus olhos, começando a tremer um pouco.
— Sofya... — sussurrou ele.
Imediatamente, os olhos de Sofya ficaram embaçados por
suas lágrimas, e parecia que, por um momento, o ar não havia
chegado aos seus pulmões, abrindo e fechando sua boca, sem
nada dizer. Me afastei um pouco, coçando minha barba e esperando
as palavras dela.
— Minha garotinha — falou em outra língua a qual não
entendo, porém tenho quase certeza que é russo.
As lágrimas dele começaram a cair, assim como as dela.
Lentamente, Sofya deu um passo para trás, levando uma mão aos
lábios. “Kris”, como ele disse que se chama, avançou um passo a
ela, numa tentativa de abraçá-la.
— NÃO! — gritou ela, enquanto suas lágrimas descem como
uma cascata por seu rosto, apontando para o pai. — Não! Não
toque em mim. — sussurrou ela, sendo consumida pelo choro.
Deus, é de cortar o coração vê-la assim. Mais do que nunca,
ela precisará de alguém agora, e eu não vou sair do lado dela.
Já que Steve está fora da cidade para visitar seus pais por uns
dias, aproveitei minhas noites livres sozinha, com minha vitrola e
meu inseparável vinho, o que para mim é um alívio. Não me leve a
mal, eu gosto de Steve, mas está ficando chato vê-lo todas as
noites. Ele é um fofo, o sexo é bom, mas ele quer me ver todos os
dias e eu não gosto nada disso. Sim, eu sei que com John era
assim, e ainda mais um pouco, já que eu contava as horas para vê-
lo todos os dias, mas com Steve não é assim. Eu adoro sua
companhia, mas todos os dias também é demais, terei que
estabelecer um limite. Sentada em minha bancada e bebericando
minha taça de vinho, checava alguns editoriais da revista para
amanhã em meu Mac, enquanto meus doces titios do rock tocavam
em minha vitrola Like a Rolling Stone. A música original pode até ser
do Bob Dylan, mas a versão dos Stones é a melhor.
Quando meu estômago começou a roncar, fui até a geladeira
para beliscar algo e olhei para o painel de fotos nela, focando na
que estou com John, em um dos nossos momentos felizes. Peguei a
foto, dando um inevitável sorriso nostálgico que fez meu peito se
apertar ainda mais com a saudade. Ele estava me olhando de
maneira tão afetuosa. Deus, como eu sinto falta dele. Shantell havia
me dito, que Preston contou a ela que John e Jenna tinham voltado,
e ouvir isso foi como receber outra punhalada no coração. Miranda
conseguiu o que queria mesmo, e isso me enche de raiva! Ela é
realmente uma bruxa desalmada! Argh! Olhei para a foto
novamente, pensando no que eu faria com ela agora. Por mais que
ainda estivesse com um pouco de raiva de John, eu não queria
jogar essa foto fora, pois ela me traz tantas lembranças boas de um
tempo bom. Decidi guardá-la no fundo da última gaveta do armário
da cozinha, assim como guardei meus sentimentos. Escutei a
campainha tocar, desconfiada de quem possa ser a esse horário.
— Quem é? — perguntei indo até a porta.
— Sofya... — chamou John, com uma voz um pouco estranha.
— Pode abrir a porta, por favor?
— John? — falei, preocupada. — O que ac...
Ao abrir a porta, percebi que ele não está sozinho, encarando
quem está ao seu lado e congelando ao pensar ser quem eu acho
que é. Não... não pode ser. Com lágrimas nos olhos e trêmulo, ele
olha para mim, mas eu não quero acreditar em quem estou vendo.
Meu Deus.
— Sofya... — sussurrou ele.
É a voz dele... esses olhos são os dele, os cabelos escuros e
curtos inconfundíveis, penteados para trás, mas que hoje
acompanha alguns fios grisalhos. O mesmo porte que me lembrava,
mediano e sem muitos músculos, mas não muito magro, e, diferente
da última vez que o vi, hoje ele possui uma barba bem feita. Meu
Deus, como isso é possível? Eu não quero acreditar, não posso
acreditar que ele voltou. Minhas lágrimas vieram tão rápido quanto
qualquer pensamento e senti meu coração pesar em meu peito.
— Minha garotinha.
Assim que escutei ele me chamar da forma que sempre me
chamou, falando em russo, não pude conter minhas lágrimas. Ele
me chamava assim quando ainda éramos uma família feliz, quando
eu era mesmo sua garotinha. Como ele pôde fazer aquilo comigo...
como ele pode estar fazendo isso comigo AGORA? Como forma de
defesa, fui me afastando, ainda desacreditada. Depois de todos
esses anos, tentando esquecer o que ele fez comigo, esquecer o
que ele fez com A MINHA MÃE, tentando superá-lo, tentando
superar o amor que um dia ele tomou de mim! COMO ELE PÔDE
VOLTAR? Ele avançou em minha direção, mas fui mais rápida.
— NÃO! — gritei, recuando do seu toque, totalmente abalada.
— Não! Não toque em mim — sussurrei, não podendo mais conter
meu choro e minhas emoções.
— Por favor, meu bem, me escute — implorou ele entre suas
lágrimas.
Balancei a cabeça veemente, não querendo mais escutar
nada, não querendo mais estar aqui.
— Não! — Fui indo cada vez mais para trás, mas parei,
tentando me acalmar pelo menos um pouco.
Eu preciso... preciso falar para ele TUDO. Preciso falar o que
fiquei ensaiando durante anos para falar, logo depois que ele se foi.
Respirei fundo, tentando conter meu choro. Ao me ver tentar
levantar minha postura, ele parou imediatamente, me olhando com
angústia. Percebi que John está atrás dele, observando
preocupado.
— Você tem noção do que fez com a minha vida? — sussurrei
novamente. — Tem noção do que me fez passar? Eu vi minha mãe
definhar por SUA CAUSA! — gritei. — Eu perdi minha mãe por sua
causa — chorei, sem segurar os soluços.
— Eu sinto muito... — Ele também estava sendo consumido
pelas lágrimas.
— Não, você não sente, era isso o que você queria, não é?
Uma família simples e feliz nunca foi o suficiente para você. Você foi
tão cruel conosco. Tirou ela de mim, me deixou sozinha! Eu fui para
um orfanato! UM ORFANATO, somente porque você não teve a
decência de aparecer quando ela morreu! — disse, cuspindo toda a
verdade na cara dele. — Eu me perguntava todos os dias o que
tinha feito de errado para você ter ido embora sem ao menos se
despedir de mim. Eu rezava todos os dias para que você voltasse
para me tirar daquele lugar! Eu NÃO TIVE UMA INFÂNCIA! Não tive
mais feriados felizes. Fiz e passei por coisas que me tiram o sono
até hoje... e você me aparece aqui, ANOS DEPOIS, dizendo que
sente muito?
— Eu sei... eu sei que dói, mas acredite em mim, não foi fácil
para mim também.
Ri sarcasticamente, ainda sem conter o choro.
— Não foi fácil para você? Eu fiquei sozinha depois que vi
minha mãe morrer. Você sabe o que é isso? — rosnei, dando
passos em sua direção, que recuava conforme eu avançava.
Ele abriu a boca para falar novamente, mas eu o cortei.
— Eu roubei, apanhei, passei frio, passei fome. — Parei em
minha porta, ainda o encarando. — Como você pôde? Eu esperei
por você, você era a pessoa em que eu mais confiava! Você era o
meu exemplo. Você me deu o mundo e depois o tirou de mim —
finalizei, sendo completamente tragada pelo choro.
— Sofya... — disse John, com piedade.
Senti suas mãos em meus ombros e as afastei de mim. Eu já
não tenho mais condições de falar nada, pensar nada ou escutar
alguma coisa nesse momento. Sem poder mais me sustentar, me
encostei no batente da porta, deslizando até me sentar no chão,
abraçando meus joelhos e colocando minha cabeça entre eles,
ainda sendo consumida pelo meu choro frenético.
— Sofya, você precisa me ouvir. É o que eu te peço, por
favor... — falou meu “pai”, ficando de joelhos no chão ao meu lado.
Ergui minha cabeça novamente, tentando pausar minhas
lágrimas que desciam feito uma cachoeira.
— Vá embora.
— Mas...
— É melhor você resolver isso outro dia, “Kris”. Já fez muito
estrago por hoje, vá embora e deixe a situação se acalmar — John
exigiu, em uma voz dura.
Meu pai se levantou, enxugando suas lágrimas e se
recompondo. Encostei minha cabeça na parede, fechando meus
olhos.
— Só quero que saiba que eu vim me explicar... dizer que sinto
muito e que o maior arrependimento que tenho na vida foi ter
deixado você e sua mãe. — Recuperou o ar para continuar e
fazendo com que eu o encarasse novamente. — Não teve um único
dia em que eu não pensasse em você, minha garotinha, você tem
que saber disso. Eu vou entender se não quiser me ver novamente,
mas se você quiser conversar comigo... — continuou, tirando um
cartão de seu bolso e o colocando ao meu lado. — Eu estarei
disponível, sempre. Eu só... — engoliu em seco, olhando para baixo,
envergonhado. — Eu só quero que saiba que eu te amo muito e que
eu sinto muito. Se me der uma chance, irei te explicar tudo, eu juro
por Deus.
Ele se abaixou novamente, colocando o buquê de flores e o
ursinho que estava em sua mão ao meu lado. Com desdém, virei a
cara, desviando do seu olhar.
— Eu sempre amei você — despediu-se ele, descendo as
escadas.
Respirei fundo, ainda tentando controlar meu choro. Deus, por
quê? Eu havia esperado por esse momento até meus quinze anos
de idade, mas depois disso me dei conta de que ele não voltaria
mais, e desde então, matei um leão por dia, batalhando para estar
onde estou agora, desejando que nunca mais tivesse que passar
por aquilo novamente, desejando que ele nunca mais voltasse,
depois de tudo o que ele havia causado. Respirando fundo entre
meus soluços, me levantei, indo para dentro.
— Sofya, por favor, espere... — chamou John, vindo atrás de
mim.
— Me deixe em paz — sussurrei, batendo a porta em sua cara,
a trancando em seguida.
Fui correndo para o banheiro, lavando meu rosto inchado e me
encarando no espelho depois. A dor em meu peito é tão grande e a
pressão em cima de mim está tão insuportável que eu não posso
mais ficar aqui... não quero mais pensar nisso. Ainda de jeans e
camiseta, calcei meus sneakers e peguei minha jaqueta, carregando
apenas minha carteira e meu celular comigo, saindo porta afora e
enfiando as chaves no bolso, determinada a esquecer tudo isso.
Escutei a porta do John se abrir, e corri para que ele não viesse
atrás de mim.
— Sofya! — gritava, correndo atrás de mim.
Assim que cheguei a rua, gritei para um táxi, que por sorte
parou na mesma hora. Entrei rapidamente, pedindo para que o
motorista arrancasse dali, deixando John para trás.
Quando ficava estressada por conta das provas na época de
faculdade, eu vinha para este bar no Harlem encontrar uns amigos e
me divertir com eles. Na verdade, o bar é meio underground, com
uma balada meio pesada. Sentada no balcão, tomei minha terceira
dose de vodka, ignorando meu celular que não para de tocar. Era
John, Shantell, Steve, Nigel, Lea, Kate, um telefone sem fio
absurdo, até que decidi desligá-lo, pois não queria escutar mais
nada esta noite.
— Ora, ora, ora se não é Sofya Viatcheslav em carne e osso!
Veja quem voltou aos velhos tempos! — disse uma voz na qual eu
achei ter me livrado a muito tempo.
Georgina Adams era uma das maiores piranhas do campus.
Houve um tempo em que começamos a sair muito juntas, mas as
noites com Georgina eram muito pesadas. Ela sempre curtiu essa
vida de loucura, que sempre foi bancada pelo seu bilionário pai.
— Estou apenas de visita, Georgina — falei, virando o copo.
— Uau, parece que isso vai além de uma visita. — Ela sentou
ao meu lado. — Se ainda te conheço, você está aqui porque anda
fugindo de alguma coisa... ou alguém — sorriu.
Ao ver que eu não respondia, ela continuou.
— Ah, vamos lá S, vamos aproveitar que você está aqui e
curtir como nos velhos tempos? — falou, pegando minha mão.
— Sofya, Sofya, Sofya! Como vai, gata? — perguntou um cara
ao me abraçar por trás.
Já um pouco tonta, me virei para ver quem era. Droga!
— Você quase me meteu em um grande problema da última
vez, gata! — continuou Sebastian, drogado como sempre. — Hey,
G! Vejo que hoje a noite será longa — disse ele.
Me virei novamente para frente e senti a mão de Georgina
colocar uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, se
aproximando de mim, sussurrando em meu pescoço. Nervosa, virei
minha bebida de uma só vez. Mas que droga. Eu só queria beber e
dançar em paz!
— Vamos lá, S — sussurrou ela em meu ouvido, começando a
beijá-lo e descendo pelo meu pescoço. — Senti sua falta, sabia?
De repente, minha visão começou a ficar turva e meus
sentidos já não condiziam com meu corpo. A música alta martelava
minha cabeça. Mas que merda... Georgina tomou meus lábios nos
seus e senti alguém atrás de mim também.
— Hm, seu beijo continua o melhor — ronronou ela em meus
lábios.
A afastei um pouco. Sentindo tudo girar. O que está
acontecendo?
— Não lute S, se entregue! — Ela riu ao lado de Sebastian.
Ainda em um momento de lucidez, olhei para meu copo vazio,
notando um pó estranho no fundo dele.
— O que você fez comigo, Georgina? — sussurrei, tentando
caminhar.
— Ops, eu fiz de novo! — respondeu, em um tom sarcástico.
— Vem com a gente, você precisa relaxar... como nos velhos
tempos! — Ela me arrastou para a multidão e para música alta.
Não deveria ter vindo para cá.

Eu estou desesperado. Sofya saiu sem ao menos dizer para


onde ia, e o pior, não atende minhas ligações. Falei com Shantell,
perguntando se a amiga estaria com ela, mas não... nada. Shantell
havia tentado também, ligando e avisando contatos mais próximos a
Sofya. Quando ficou sabendo da volta do pai de Sofya, Shantell quis
matá-lo, assim como eu. Voltei para a agência e movi um mutirão de
busca atrás de Sofya. Preston está me ajudando também, tentando
rastrear o celular dela, que para o nosso azar, está desligado.
Peguei o cartão que o pai dela havia deixado a ela, caso ela
mudasse de ideia, e decidi investigar a vida desse imbecil. O cartão
é de uma empresa bastante importante no ramo da mecânica
aeronáutica. Digitei “Antonov Inc.” no sistema e comecei a saber
mais sobre. Foi fundada no ano de 1997 em Kiev, Ucrânia, por
Kritsk Antonov... mas é claro que ele excluiu seu primeiro nome,
Vladmir, pois sabia que poderia ter problemas caso o usasse nos
EUA. Então, ele voltou para o país de origem depois que abandonou
a filha e a esposa. Continuei lendo e tentando juntar algumas peças:
“Após alguns anos da queda da União Soviética, aviões
usados durante o regime comunista começaram a ser desmontados
ou vendidos para outros países. Kritsk aproveitou a oportunidade
para lucrar com isso, fundando a Antonov Inc., que lucrou mais de
US$1 bilhão no final da década de 90 e no começo dos anos 2000,
construindo um império na aviação mundial”. Então o filho da mãe
ficou bilionário e não teve coragem de vir atrás da filha depois?
Quanto mais eu lia sobre o desgraçado, com mais raiva eu ficava.
Já passava das 3h da manhã, e minha angústia só aumenta.
Avisei o máximo de pessoas que pude, inclusive James, nosso
porteiro, e paguei hora extra para que ele ficasse por lá, para avisar
caso Sofya voltasse.
— Chefe — escutei Mark me chamar. — Conseguimos
localizar o taxista que fez a corrida de Sofya.
— Ótimo. Ele está aqui? — perguntei, levantando-me da minha
cadeira e indo na direção dele.
— Jones foi atrás dele.
— Mande Jones tirar o máximo de informações possíveis dele.
— Certo — falou, voltando à sua sala.
Meia hora depois, ainda frustrado por não conseguir nada
relevante que pudesse me levar até ela, Mark retornou já com as
informações do taxista.
— Ele a deixou em um bar ao sul do Harlem.
— Ok. Você fique aqui e me avise de qualquer nova
informação, Preston e eu vamos até lá.
— Certo.
Chamei Preston e pegamos o carro, indo até o endereço que o
taxista havia nos informado. Dirijo em alta velocidade, sem me
importar com faróis ou radares.
— Cara, vai com calma. Se quisermos encontrá-la, temos que
estar vivos — disse Preston.
Um telefonema fez com que eu diminuísse a velocidade, me
deixando alerta.
— James?
— Senhor Neeson, ela voltou — disse ele, tirando um peso do
meu coração, suspirando aliviado.
— Ela está bem?
— Ela está muito alcoolizada e estranha. Acho que ela perdeu
as chaves do apartamento.
Olhei em meu espelho retrovisor, que mostrou a estrada sem
movimento, e não hesitei em dar meia volta, puxando um cavalo de
pau no meio da rua, acelerando para o apartamento.
— Caralho John! — gritou Preston, se segurando no banco.
— James, não a deixe sair daí, escutou? — Sem esperar sua
resposta, encerrei a chamada.
— Onde ela está?
— Voltou para casa.
— Eu te disse cara. Sofya é meio louca as vezes — falou,
fazendo com que o encarasse de cara fechada. — Ok, não falo
mais.
— Preciso que volte para a agência e diga que ela está
segura. Diga a Shantell que essa noite eu cuidarei dela e que ligarei
para ela assim que Sofya estiver comigo.
— Ela não vai gostar disso, você sabe.
— Mas vai ter que aceitar — falei, acelerando.
— E a Jenna? Ela ficará furiosa quando souber disso.
— Ela não precisa saber, Preston — disse duramente, atento
na estrada.
— Aham. Tal pai, tal filho — resmungou.
O olhei, tentando entender o que ele quis dizer sobre isso.
— Como assim?
— Estou dizendo que você criticou seu pai por ele ter um caso
e você está indo pelo mesmo caminho.
— Preston, isso é diferente. Sofya e eu não somos mais
próximos, que dirá amantes... eu só me importo com ela.
— Ok, eu não digo mais nada, já que você nunca me escuta.
Bufei, revirando os olhos.
Eu odeio quando ele vinha com suas lições de moral para cima
de mim, parecendo até uma mulher.
— Não me escutou quando eu te disse sobre Sofya, sobre
seus sentimentos com ela...
— Preston, chega! Hoje não!
— Tudo bem, mas não diga que eu não avisei!
Voltei a focar na estrada, ainda pisando no acelerador e
rezando para que ela estivesse bem.

— Eu mando notícias — disse, dando o carro a Preston e


entrando no prédio correndo, encontrando James parado na
entrada. — Onde ela está, James? — perguntei, entrando
rapidamente e subindo as escadas enquanto James me seguia.
— Senhor, ela não está muito bem... está assustada, não
deixou que eu me aproximasse.
— Tudo bem, James. Vá para a casa, obrigado por hoje —
continuei subindo as escadas correndo, mas congelei ao ver Sofya
sentada encolhida, abraçando seus joelhos, mantendo sua cabeça
entre eles e encostada em sua porta.
Ela está tremendo muito. Droga.
— Sofya! — exclamei, indo a ela. Meu Deus, ela está
congelando. — Olhe para mim, Boneca, por favor... você está bem?
— perguntei aflito, tentando levantar seu rosto.
Ela me empurrou, mas pude ver seu rosto, que mantém os
olhos fechados e os lábios roxos. Se ela continuar aqui terá uma
hipotermia! Num frio de congelar os ossos em Nova York, ela
usa apenas uma jaqueta que nem vento segura. Me aproximei de
novo, sem me importar com suas mãos que me queriam longe,
colocando minha jaqueta por cima dos seus ombros. Ela finalmente
abriu seus olhos, e o medo atravessou minha espinha.
— O que aconteceu com você? — sussurrei, vendo sua pupila
vermelha e muito dilatada.
Ela tinha usado alguma droga. Seu rosto ainda está em
minhas mãos e ela me encara com seus grandes olhos.
— Sai de perto de mim — rosnou, em baixo tom.
Ignorando seu pedido, a peguei em meu colo, sem ligar para
suas investidas e seus gritos para descer. Abri minha porta e a
fechei, a colocando na poltrona ao lado do sofá. Ela treme, e me
olha com os olhos esbugalhados e dilatados, completamente fora de
si.
— Eu quero ir para casa — continuou.
Fiquei de frente a ela, pegando seu rosto novamente em
minhas mãos.
— Me escuta, não há condições para você ficar sozinha. Você
está segura aqui e, nessa noite, sou eu quem cuidará de você.
Agora fique calma... — falei, tentando tranquilizá-la.
Ainda tremendo, vi uma lágrima caindo de seus olhos
esbugalhados. Deus, o que tinha acontecido? Sofya nunca faria
isso!
— Agora, por favor, me diga quem fez isso com você? Você
não está só alcoolizada, você também está drogada, não é?
Ela tremeu ainda mais, mexendo seus dedos das mãos
incontrolavelmente. Ela realmente não está bem, mas confirmou
com a cabeça minha constatação. Peguei a manta que estava sob o
sofá e joguei em cima dela.
— Quem fez isso com você?
— Colocaram na minha bebida — sussurrou, fechando os
olhos.
— MERDA! — gritei! Me afastando e coçando a minha barba.
Eu vou descobrir quem fez isso e depois matá-lo, lentamente,
por ter feito isso a ela! Preciso descobrir quem fez isso, mas antes,
preciso ajudá-la também e, sem pensar muito, liguei para a pessoa
que pode me ajudar.
— Alô? — falou a voz sonolenta do outro lado da linha.
— Marion. Preciso da sua ajuda.

Depois de fazer com que ela bebesse muita água, a levei para
o banheiro e deixei a banheira enchendo com água quente. Ela
parece estar em choque, não disse mais nada. Irei fazer tudo o que
Marion me instruiu a fazer pelo telefone, caso não desse certo, eu a
levarei para o hospital. Fui tirando suas roupas molhadas pela neve
até que ela estivesse totalmente despida. A água está bem quente e
devagar fui a colocando na banheira. Sentada, ela abraçou os
joelhos novamente, olhando fixo para frente. Peguei a esponja, a
molhando com água e passando em seus ombros. Com o esguicho,
lavei seus cabelos, que foram ganhando vida novamente. Ao lavar
seu rosto, percebi que suas pupilas estão voltando ao normal. Eu
odeio vê-la assim e daria tudo para que a dor que ela está sentindo
parasse, para que assim ela pudesse voltar a ser a garota que era
antes. A minha garota.
— Hey — sussurrei, passando minha mão em seu rosto. —
Boneca...
Parecendo acordar de um transe, ela voltou seu olhar para
mim, ainda com seus braços presos nos joelhos.
— Me leva para casa, John — sussurrou.
— Não vou deixá-la sozinha, Sofya. Eu tinha prometido te
deixar em paz, mas não sei se sou capaz de fazer isso — confessei.
— Somente por hoje, me deixa cuidar de você.
Ela ainda me olhava, e seus olhos diziam que ela queria soltar
suas lágrimas, mas como sempre, ela engoliu em seco, voltando a
encarar a parede em sua frente. Eu quero muito saber o que
aconteceu neste tempo em que ela sumiu, mas, a conhecendo do
jeito que a conheço, ela está abalada pelo motivo que a fez cometer
essa loucura, pelo pai que a abandonou. Ela está fazendo de tudo
para não chorar, se mostrando forte.
— Sofya, fale comigo, eu ainda estou aqui. Não faça isso com
você, coloque isso para fora, se permita jogar tudo isso para fora.
Ninguém pode ser firme todo tempo, eu sei disso — falei baixinho,
pegando suas mãos.
Ela voltou a me olhar e seus olhos já estão normais, assim
como seu corpo que já não treme mais. Ela começou a suspirar e
suas lágrimas começaram a cair, furtivamente, como a comporta de
uma represa sendo rompida. Seu choro ecoou no banheiro, e seus
soluços encheram seu peito. E lá está... a garota que ela
esconde do mundo em sua casca de mulher forte e destemida que
é. Uma garota que havia perdido a mãe e que foi abandonada pelo
pai, sem tempo a perder com choro ou sentimento de piedade
consigo mesma. A garota que precisava desse momento, a garota
que eu estava vendo pela primeira vez. Tão jovem e com um fardo
horrível em suas costas.
— Está tudo bem — consolei ela, me aproximando mais.
— N-não es-t-tá nã-o — soluçava. — Co-mo e-ele po-po-pôde
f-fazer iss-o comi-comigo, J-John? — continuou ela, chorando sem
parar.
Me levantei, tirando meus sapatos e minha calça, entrando na
banheira de regata e cueca, ficando de frente para ela.
— Sim, eu sei — A trouxe para mim, colocando sua cabeça em
meu peito e afagando seu cabelo.
Ela se afastou de novo, me olhando com seus olhos chorosos.
— É por c-causa dele que eu n-não tenho coração. Eu não
posso mais confiar em ninguém por-porque ele levou m-meu
coração de m-mim — continuava soluçando.
Então era isso. Como se tudo fizesse sentido, o porquê de
estarmos assim, o porquê de termos seguidos caminhos diferentes,
nos separado.
— Eu tenho medo d-de não p-pod-der a-amar ma-mais, John.
A abracei, num abraço apertado, tentando cessar sua dor.
— Isso não vai acontecer — Beijei o topo de sua cabeça
enquanto ela ainda pranteava em meu peito. — Não vai.
A retirei da banheira, a secando gentilmente e a vestindo com
um dos meus moletons, cueca e meia. Assim que chegamos,
aumentei a temperatura do aquecedor para que ela se sentisse
melhor, mesmo eu já estando derretendo. Com dificuldade, penteei
seus cabelos molhados tentando ser o mais delicado possível, coisa
que nunca havia feito na vida, mas aparentemente tinha
conseguido. A coloquei sentada na cama, e fui me trocar, colocando
uma calça de moletom e uma regata branca. Ela parou de chorar,
mas continua aérea e olhando fixo para algo, envolta em seus
pensamentos. Ela precisa se hidratar e comer alguma coisa, fui até
a cozinha e preparei um sanduíche natural e um suco de laranja.
Quando eu voltei ao quarto, ela está abraçada aos joelhos
novamente.
— Hey, você precisa comer, coma isso aqui — disse, mas ela
nem se mexeu. — Sofya? — chamei, levantando seu rosto.
Ela olhou para o lanche e resmungou enquanto eu insistia. De
repente ela ficou de pé, colocando as mãos na boca com a intenção
de vomitar, indo em direção ao banheiro, mas caindo no caminho.
— Vem cá — falei, a pegando e a levando para o vaso
sanitário.
Como da outra vez, ela tentava, mas nada saia, então tive que
agir.
— Eu te disse que não iria fazer isso de novo, mas é
necessário, me desculpe Boneca.
Mesmo ela se debatendo em meus braços, enfiei meus dedos
em sua goela, a fazendo se engasgar e começar a regurgitar,
vomitando logo em seguida. Segurei seus cabelos, enquanto ela
vomitava. Assim que ela terminou, seu corpo ficou ainda mais mole
e a puxei para a pia do banheiro, a colocando sentada lá e a
limpando novamente. Completamente grogue, ela mal podia deixar
seus olhos abertos e decidi checar sua temperatura.
— Meu Deus, você está muito quente.
A peguei no colo novamente e a deitei em minha cama,
escutando a campainha. Fui em direção a porta, a abrindo.
— Marion?
— Olá, John... eu fiquei preocupada, como ela está? —
perguntou.
— Entre — falei, a convidando. — Eu não sei, ela ficou
exposta ao frio, sua imunidade está baixa, eu tentei alimentá-la, mas
ela não quer. Ela acabou de vomitar e acho que está com febre.
— Oh Deus. Onde ela está?
— No quarto, venha comigo — pedi, enquanto ela me seguia.
Sofya ainda está deitada, enrolada no cobertor. Marion sentou-
se ao lado dela, colocando a mão em sua testa.
— Ela está muito quente. Preciso de um termômetro e
compressas de água fria.
— Vou providenciar — falei, e fui atrás do que ela havia
pedido.
Fiquei aliviado quando vi que ela veio. Marion realmente é o
que meu pai sempre disse, um anjo.
— Aqui — disse, lhe entregando as coisas.
Ela colocou o termômetro embaixo do braço de Sofya, levando
a compressa gelada a sua testa em seguida.
— 38 graus de febre, isso não é bom. O que aconteceu para
ela ter chegado assim? — perguntou, enquanto cuidava de Sofya
com carinho.
— Ela se descontrolou quando viu o pai que a abandonou em
sua porta.
— Oh, pobre criança.
— E depois ela saiu daqui atordoada, ainda não sei para onde
ela foi, o que aconteceu, mas ela disse que colocaram algo em sua
bebida. Sofya nunca faria isso com si própria — falei, observando
Marion cuidar dela, cruzando meus braços no peito.
— Claro. John, preciso que compre alguns remédios, a febre
precisa baixar.
Ela fez uma lista e eu saí atrás dos remédios, voltando meia
hora depois. Sofya ainda está apagada na cama.
— Aqui está. Ela melhorou?
— Ainda na mesma, mas creio que isso irá ajudar por agora —
Ela pegou os remédios. — Me ajude aqui.
Com dificuldade, fizemos com que Sofya tomasse os
remédios, e deitasse novamente depois. Marion sentou-se ao lado
dela, passando sua mão nos cabelos de Sofya, em um gesto
carinhoso. Sentei-me na beira da cama, observando a cena.
— Agora é esperar pelo melhor — disse ela, dando um meio
sorriso.
— Não sei como te agradecer, Marion.
— Não precisa. Eu gosto de Sofya, é um prazer ajudar.
— Posso te fazer uma pergunta?
Surpresa, ela me olhou com receio.
— Pode.
— Parece que você já enfrentou isso... quer dizer, quando
Sofya ficou assim na casa dos meus pais, você também soube lidar
com a situação. — Ela murchou a cara, como se lembrasse de
coisas desagradáveis. — Me desculpe, eu não deveria...
— Não, está tudo bem. Eu tinha uma irmã mais velha, nós
éramos muito apegadas uma à outra. O nome dela era Meredith.
Perdemos nossos pais bem cedo, em um acidente de carro, e minha
avó ficou cuidando de nós depois disso. Ficamos tão abaladas... foi
difícil para nós, principalmente para Meredith, que nunca mais foi a
mesma depois disso. Ela já era uma adolescente na época, e
começou a ficar muito rebelde depois que ficamos órfãs, andando
com más companhias e fazendo besteiras. Até que virou uma
viciada em drogas. Ela deixava nossa avó louca — riu ela
nostálgica. — Eu fazia de tudo para ajudá-la, éramos irmãs, afinal.
Mas ao passar dos anos, seu vício foi ficando cada vez pior e
insustentável. Meredith estava cada vez mais se perdendo, perdi as
contas de quantas vezes fui buscá-la em lugares horríveis, de
quantas vezes precisei cuidar dela, sair do trabalho para ajudá-la, a
levando para hospitais — falou com a voz embargada, tentando
controlar o choro. — Até que recebemos a terrível notícia... eu
nunca vou me esquecer das palavras do médico. — Ela deixou suas
lágrimas caírem. — Meredith tinha contraído o vírus da AIDS.
Deus... foi tão difícil. Naquela época, diferente de hoje, quem
recebia esse tipo de diagnóstico era como receber sua sentença de
morte. — Ela colocou suas mãos em seu rosto, tentando limpar
suas lágrimas, soltando um riso nostálgico depois. — Eu já tinha
conhecido seu pai naquela época e não sei o que seria de mim, de
nós, se não fosse por ele. Ele pagou o tratamento dela, até que
algum tempo depois, ela faleceu. Eu sinto falta dela até hoje.
— Meredith deve ter orgulho de você, Marion — sussurrou
Sofya, pegando na mão de Marion, nos deixando surpresos.
Marion deu um sorriso, agachando-se no chão e ficando de
frente a Sofya, que a olhava com seus olhos inchados, ainda
deitada.
— Hey. Como se sente? — perguntou Marion, colocando a
mão na testa de Sofya. — Não está mais tão quente, a febre deve
ter passado.
— Estou bem. Na verdade, eu não sei o que pensar — Sofya
falou baixinho, com a voz embargada novamente. — Estou tão
confusa, Marion... — Ela abraçou Marion e chorou.
— Oh, querida. Eu sei. — Me levantei e saí, para lhes dar
privacidade.
Sofya precisa de uma figura materna neste momento e Marion
é a pessoa certa.

— Marion, muito obrigado. Não sei como te agradecer — falei,


a acompanhando até a porta.
— Não me agradeça, John. Cuide dela, essa menina já sofreu
demais. — disse ela, pegando em minhas mãos, as juntando.
— Eu vou, não se preocupe.
— Mande notícias.
— Mandarei... e Marion? — chamei, a fazendo virar
novamente para mim. — Eu sinto muito por sua irmã.
Ela me deu um meio sorriso, assentindo e seguiu seu caminho.
Fechei a porta e voltei para o quarto, encontrando Sofya dormindo
na cama. Me deitei ao seu lado, olhando para ela. Suspirei,
acariciando seu rosto sereno. Deus, eu sou capaz de fazer tudo por
essa garota, só para que ela ficasse bem novamente. Ela se mexeu,
sentindo minha mão em seu rosto, a pegando.
— John... — sussurrou meu nome, ainda em seu sono.
— Estou aqui.
Ela se aproximou, afundando sua cabeça em meu peito. A
aninhei em meu corpo, a abraçando e beijando o topo de sua
cabeça.
— Eu vou sempre estar aqui — admiti, a abraçando ainda mais
forte.
Ela disse que o pai havia lhe dado e lhe tirado o mundo... mas
estou disposto a tudo para devolvê-lo a ela.
Acordei com meu corpo protestando as consequências da
noite passada. Tudo dói e não estou me sentindo muito bem. O que
aconteceu? Olhei ao meu redor e percebi que estou no quarto de
John, com ele dormindo lindamente ao meu lado. Então as
lembranças me atingiram como um trem desgovernado. Meu pai, o
bar, bebidas, drogas, Georgina, Sebastian, andar por aí sem rumo,
táxi, John e Marion, sem contar no frio. Me levantei, sem fazer
barulho e com dificuldade de andar. Está muito frio aqui e meu corpo
ainda dói. Fui até o banheiro, quase não reconhecendo o reflexo da
garota pálida e sem vida à minha frente, diferente da mulher que
estava acostumada a ver. Fiz uma higiene rápida e voltei ao quarto,
procurando minhas roupas, mas sem sinal delas, e então fui até a
área de serviço, às encontrando na secadora e me vestindo por lá
mesmo. Minha visão ainda está turva e meu corpo não
está colaborando, estou transpirando demais, mas estou morrendo
de frio. Abraçando meu corpo, sai da área de serviço, encontrando
John parado entre a cozinha e a sala de jantar. É quase irresistível
vê-lo com seu cabelo desgrenhado e sua cara inchada de sono, tão
lindo quanto me lembrava.
— Como você está? — perguntou, ainda rouco.
— Estou melhor — menti.
— Mentira — Ele veio em minha direção, tocando minha testa.
— Você está ardendo em febre e está mais branca que uma vela,
Sofya. Vem, volte para cama, eu vou cuidar de você — continuou,
me puxando pelas mãos.
ARGH! Por que ele tem essa mania de achar que pode
mandar em mim? Puxei minha mão de volta e o encarei.
— Você já cuidou, e foi só ontem, lembra? Agora eu vou para
casa.
— Como pode dizer isso nesse estad...
— SOFYA! — escutei Shantell gritar, dando fortes batidas na
porta do meu apartamento.
Olhei para a porta de John, assim como ele.
— Sofya, pelo amor de Deus abre essa porta!
— Sofya! Por favor, abra a porta! — exclamou Steve.
Fui em direção a porta passando por John, que coçava sua
barba em um gesto nervoso. Abri a porta e os vi parados em frente
à minha porta.
— Ah, graças a Deus! — falou Shantell, me abraçando.
Eu precisava muito do seu abraço, por isso também a dei um
abraço apertado. Com lágrimas escorrendo em seu rosto, ela pegou
o meu rosto em suas mãos, me olhando.
— O que aconteceu? Você está bem? — perguntou,
carinhosamente, mas logo depois me pegou pelo colarinho da
minha jaqueta, me chacoalhando. — Escuta aqui, garota, se pensar
em me dar outro susto desse, eu mesma te mato! Entendeu? —
vociferou ela, indo de uma Shantell muito puta a uma Shantell
chorosa, me fazendo sorrir, mas logo depois me abraçou de novo.
— Deus, você está muito quente... e parecendo um fantasma —
falou, me soltando.
Percebi que Steve encarava John com a cara fechada e com a
mandíbula trincada, mas voltou a me olhar quando escutou Shantell
falar.
— Você me deu um susto — disse Steve, me dando um forte
abraço me tirando do chão e beijando meu rosto. — O que
aconteceu? E por que está na casa dele? — apontou John com um
aceno.
— Eu estava cuidando dela, coisa que você não fez — falou
John, com uma voz triunfante.
— Você não aprende mesmo, né segurança? — rosnou Steve.
Ah não, eu não vou aguentar isso. Dei um suspiro, sentindo
meu corpo cada vez mais fraco e minha cabeça pesar.
— Calem a boca os dois! — rosnou Shantell. — Temos um
problema mais importante aqui!
— Eu perdi minhas chaves... acho que minha carteira e o
celular também — sussurrei.
— Deus, você está ardendo em febre! Precisa ir para o
hospital — disse Steve, me pegando em seus braços.
— Como deixou ela ficar assim, John? — questionou Shantell.
— A febre tinha passado de noite, mas voltou agora pela
manhã.
— Vejo que cuidou mesmo dela, deixando ela ter outro
colapso. Parabéns, idiota! — bradou Steve, me soltando e indo para
cima de John.
Me segurei no corrimão do corredor, sentindo minha cabeça
girar e minha visão ficar turva. Deus, estou com tanto frio.
— E você? Onde você estava, doutor? Hein? Quem fez algo
de verdade para ir atrás dela fui EU. E o que VOCÊ fez? — rosnou
John, avançando nele também.
— Eu vim assim que soube! Isso não te dá o direito de trazê-la
para o seu apartamento e ter a irresponsável atitude de não levá-la
para um hospital!
— Querem parar os dois?! — brigou Shantell.
Meu coração começou a bater mais rápido, me deixando
ofegante... o que está acontecendo?
— Ela estava bem quando a coloquei para dormir! Fiquei ao
lado dela o tempo todo — disse John, com seu jeito debochado.
— COMO É QUE É? — questionou Steve, grudando na regata
de John, que não perdeu a oportunidade de retrucá-lo.
— Ela dormiu na minha cama. COMIGO — disse ele, sorrindo.
— Seu filho da...
Não consegui escutar ou ver muito bem o que aconteceu,
somente John e Steve rolando no chão e Shantell gritando com os
dois. Senti meu corpo cedendo ao cansaço e cair no chão, me
levando para a escuridão.
Estou numa sala cinza, sentada e com algemas em meus
pulsos. Há uma mesa à minha frente e olhando ao meu redor, na
sala vazia, vejo apenas um espelho na parede... parecendo uma
sala de interrogatório. Olhei à minha frente e pulei da cadeira ao ver
John aparecer do nada, já sentado, me encarando de maneira
assustadora, como se eu fosse uma assassina. Ele dobrou as
mangas de sua camisa, ainda com o olhar fixo em mim.
— Vamos ver se você tem realmente um coração, Sofya —
rosnou ele num tom de ameaça, usando sua voz grossa, vindo até
mim.
Assustada, me levantei e caminhei para trás, ficando
encurralada na parede atrás de mim.
— Não se preocupe, Sofya. Afinal, você é indestrutível, não é?
— disse ele, parando bem perto de mim.
Com um movimento rápido, sua mão atravessou meu peito,
me fazendo gritar de dor, retirando meu coração com sua mão
ensanguentada em um só puxão. Cai, o assistindo com meu
coração em sua mão. O coração é preto, assim como o sangue.
— AH, VOCÊ TEM UM CORAÇÃO, MAS ELE É SOMBRIO,
IGUAL A SUA ALMA! — gritou, jogando meu coração para as mãos
de outra pessoa.
— Agora ele é meu, Sofya... e você não tem mais nada! —
disse meu pai, gargalhando sem parar.
Gritei, tentando tapar meus ouvidos. Ele veio até mim,
pegando em meus ombros e me chacoalhando, ainda rindo.
— Sofya!
Eu tentava me soltar, fugir do seu toque que me deixava
desesperada e angustiada, me debatendo.
— SOFYA!
Mas o que?

— SOFYA!
Abri meus olhos, ainda sem ar, tremendo. O que aconteceu?
Olhei para Steve, que mantém as mãos em meus ombros, me
olhando de maneira assustada.
— O que aconteceu? Eu a escutei gritar! — John questionou,
ao entrar no quarto abrindo a porta violentamente, com Preston logo
atrás dele.
Olhei em volta e estou em um hospital... de novo.
— Foi um daqueles pesadelos, não foi? — perguntou Shantell,
colocando a mão em minha testa, tentando me confortar.
Deus. Acho que nunca tive um pesadelo tão horroroso como
esse. Voltei a me deitar, fechando os olhos e tentando recuperar
meu fôlego.
— Sim.
— Pelo amor de Deus! O que você ainda estava fazendo aqui?
— rosnou Steve para John.
Juro que eles ainda vão me matar.
— SE VOCÊS NÃO QUISEREM QUE EU DÊ UM
ESCÂNDALO NESSE HOSPITAL, É BOM NÃO COMEÇAREM DE
NOVO. E É MELHOR NÃO ME PROVOCAREM — rosnou Shantell,
ficando com aquela cara de nervosa que me dá medo. — Steve,
você sabe muito bem que John é mais teimoso que uma mula e que
não irá sair daqui, então VÊ SE CÊ CONTROLA E FOCA NELA! —
disse ela apontando para mim, ameaçando Steve com o olhar. — E
VOCÊ? Se não se controlar, eu juro por Deus, que PEGO ESSA
SUA CARA TEIMOSA E A ESFREGO NO CHÃO! — rosnou,
apontando para John, e ambos ficaram em silêncio.
— Eu avisei que é um erro provocá-la duas vezes — Preston
disse a John, que concordou com a cabeça.
Pela primeira vez em dias, consegui rir, mas gemi ao perceber
que até com isso meu corpo doía.
— Hey, fique calma, você tem que se recuperar — falou Steve.
Notei que havia uma agulha presa em meu braço, ligada a
uma bolsa de soro.
— O que aconteceu? — resmunguei.
— Você teve outra crise de ansiedade, mas vi que não era
somente isso, então fiz alguns exames de sangue, constatando que
você usou alguma droga que deixou sua imunidade baixa, além do
começo de hipotermia que teve na noite passada, lhe causando
febres altas e dores de cabeça que, por muito pouco, não
viraram um princípio de pneumonia.
— Ela tomou Ecstasy — disse John.
— John me contou que colocaram algo em sua bebida — falou
Shantell, pegando minha mão. — Você precisa dizer o que
aconteceu. — Respirei fundo, ainda com dores pelo corpo.
— Eu fui para aquele bar no Harlem — confessei, fazendo
Shantell murmurar. — Eu só queria beber e dançar um pouco,
precisava esquecer aquele... — Sem coragem de dizer, continuei —
Mas aí, encontrei Georgina. — Shantell arregalou os olhos ao
escutar o nome dela.
— O QUE? Aquela vadia! MAS É CLARO! — bradou ela,
gesticulando furiosamente com os braços. — Pensei que não falava
mais com ela!
— Eu tentei me livrar dela, Shant, mas não consegui. Ela veio
em minha direção, falando que queria voltar aos velhos tempos, até
que vi Sebastian atrás de mim também, e acho que foi nesse
momento que ela colocou algo na minha bebida.
— Voltar aos velhos tempos? — perguntou John, cerrando o
olhar.
— Sofya teve uma fase rebelde. Andava pra lá e pra cá com
essa vadia desmiolada, até que dei uns tapas nela e ela percebeu o
que estava fazendo da vida, seguindo essa vadia por todo lado que
nem um cachorro com fome.
Odeio admitir, mas Shantell está certa. Detesto me lembrar do
meu passado obscuro, como esta parte dele. Por sorte, Shantell
abriu meus olhos, me dando uma surra e mostrando quem Georgina
era de verdade.
— E onde você conheceu essa tal de Georgina? — perguntou
John, cruzando seus braços gigantes em seu peitoral, agindo como
o perfeito Agente que é.
Ainda sem me dar a chance de falar, Shantell me atropelou de
novo.
— Elas se conheceram na faculdade. No começo achei que
estavam apenas se “divertindo”, mas quando Sofya começou a
perder a cabeça, vi que eu estava enganada.
— Se “divertindo”? — perguntaram John e Preston, juntos.
— Shant — adverti.
— Sim, aquelas experiências que garotas malucas da
faculdade tinham umas com as outras... elas transavam — disse
ela, como se quisesse me punir.
— TRANSAVAM? — perguntaram os três em um coral, me
encarando de maneira chocada.
Envergonhada, cocei minha nuca, baixando o olhar.
— Sim, mas depois que consegui clarear as ideias de Sofya,
Georgina não aceitou muito bem, insistindo para que ela voltasse a
cometer loucuras com ela, mas desistiu quando viu que não obteve
sucesso e sumiu do mapa… mas pelo visto ela voltou — concluiu
ela e olhou para mim. — Por favor, me diga que não transou com
ela de novo?!
— NÃO, Shantell! Não transei! Quando saímos da pista de
dança, ela e Sebastian me levaram para um quarto... — falei,
escutando John e Steve resmungar com suas caras fechadas. —
Mas não aconteceu nada porque eu consegui fugir de lá.
— E quem diabos é esse Sebastian? — questionou Steve.
— É o drogado daquela noite na boate, não é? — perguntou
John, cerrando a mandíbula, tentando controlar a raiva em sua voz.
— É... é ele sim.
John assentiu, ainda com a mandíbula trincada.
— Eu vou resolver isso. E você, doutor, é melhor cuidar dela
— falou num tom de ameaça, apontando o dedo para Steve e indo
em direção a porta.
— Cuidarei melhor do que você, pode apostar — devolveu
Steve.
John parou, cerrando o olhar ainda na direção a Steve,
preparado para retrucá-lo.
— Não! — protestou Preston, carregando John para fora ao
ver a reação do amigo, que fez Shantell bufar e revirar os olhos.
— Quanto tempo irei ficar aqui? — perguntei para Steve.
— Até que se recupere, então é melhor ser boazinha. Já já
mandarei a enfermeira vir com sua medicação. Vou deixá-las a sós.
— Ele me deu um beijo na testa e saiu do quarto.
— Foi seu pai que causou tudo isso, não foi?
Suspirando, olhei para Shantell, que retribuía meu olhar de
maneira preocupada. Assenti, tentando evitar as lágrimas que
voltaram para meus olhos com força total.
— Ele voltou como se nada tivesse acontecido, Shant — falei,
e não pude mais evitar as lágrimas.
Shantell me abraçou e contei tudo a ela. Como minha vida
chegou a esse ponto? Se há um ano alguém me contasse que isso
estaria acontecendo comigo hoje, eu jamais acreditaria. Deus, me
ajude, por favor!

Eu já disse que odeio hospitais? Provavelmente, pois a comida


é péssima. Steve quer me manter aqui até a noite, mas não sei se
há necessidade disso porque já estou bem, até mesmo a enfermeira
concordou comigo. Desconfio que ele não quer me liberar porque
seu excesso de zelo e precaução está no limite comigo, ainda mais
depois que ele descobriu que passei a noite com John. Durante esta
tarde, pensei em tudo o que aconteceu ontem... meu pai, Georgina,
John... primeiro, como John surgiu em minha porta com meu pai?
Como ele soube disso? John sabe mais do que nunca os meus
sentimentos por aquele homem, então por que ele havia feito
aquilo? Deus, ainda não consigo acreditar que ele apareceu em
minha porta depois de tudo o que fez. Acho que foi um mix de
sensações tão grande que minha cabeça quase explodiu. Por um
lado, eu queria ter dito muito mais a ele e lhe dado um belo tapa,
mas aquela menina cheia de esperança que ainda há em mim
gostaria de ter lhe dado um abraço e perguntar “por que demorou
tanto?”. Ele está tão diferente, mais encorpado, mais velho, com um
elegante cavanhaque, muito bem vestido. Ainda era ele, as mesmas
feições e os mesmos olhos... os meus olhos, como dizia minha mãe.
Me lembro que quando ele foi embora, eram raras as vezes
que minha mãe olhava para mim. Diziam que eu era muito parecida
com ela, mesmo tendo os olhos do meu pai, o que foi o suficiente
para que ela não olhasse mais nos meus olhos depois que ele
partiu. Ela nem sequer tocou mais em mim, nenhum abraço, afago,
carinho... nada. Posso dizer que no momento que ele foi embora, eu
perdi os dois de uma só vez, teria sido a melhor opção mesmo, já
que vi minha mãe definhar por três anos e, por isso, passei
de criança a um projeto de adulto somente neste tempo. Eu martelei
em minha cabeça durante anos os motivos dele não ter voltado, o
porquê nossa família não tinha sido o suficiente para ele. Ele me
disse que se eu lhe desse uma chance, ele iria me explicar tudo,
mas não sei se quero voltar a vê-lo, pois ele não merece isso.
Peguei uma mecha do meu cabelo e a cheirei... o cheiro
marcante de John ainda está em mim, como pode? Relembrando os
flashes da noite passada, lembro-me dele me dizendo que cuidaria
de mim, do seu cuidado, carinho e paciência comigo… e até mesmo
das promessas que não poderão ser cumpridas. Me lembro também
das palavras carinhosas de Marion, que não sei como se envolveu
nisso tudo. Nunca vou me esquecer do que ela fez por mim na noite
passada. Eu realmente havia encontrado conforto em seu colo,
talvez porque já perdemos pessoas muito queridas em situações
bastante semelhantes, então ela mais do que ninguém soube me
compreender. Quando ela foi embora eu já tinha adormecido, mas
num sono que estava longe de ser tranquilo. Ainda assim, encontrei
ainda mais conforto quando John me envolveu em seus braços,
onde eu finalmente pude encontrar paz, já que quando John dormia
comigo, meus pesadelos não me assombravam... é como se John
realmente me protegesse de tudo e de todos. Talvez seja por isso
que me sinto segura ao lado dele, numa maneira na qual nunca me
senti com mais ninguém na vida.
— Hey! — chamou Shantell ao entrar no quarto. — Só para a
sua informação, isso é para você comer e não brincar — apontou
para a gelatina destruída no copinho que está em minha mão.
Não percebi que enquanto estava perdida em meus
pensamentos, destruía a gelatina com uma colher.
— Para falar a verdade, não estou com muita fome.
— Nada disso, você precisa comer. Você está muito magra,
Sofy.
— Obrigada — respondi cinicamente.
— Deixa de ser palhaça, estou falando sério! Aliás, você tem
que fazer isso se quiser melhorar e sair daqui logo.
— Por mim sairia agora.
— Sobre isso... — começou ela, sentando-se ao meu lado na
cama e formando um meio sorriso. — Falei com Steve e ele topou te
liberar mais cedo.
— Jura? E como ele cedeu?
— Preciso te levar em um lugar, acho que vai te fazer bem. —
Olhei para, cerrando os olhos de maneira desconfiada. — Não se
preocupe, você irá me agradecer — Sorriu.
— Tudo bem — disse, e entortei meu sorriso.
Se ela diz, eu confio.

Já no carro com Shantell, vi as ruas cheias de neve passar


pela janela. Ela tentava puxar papo comigo, mas eu não estou muito
a fim de conversar. A noite caiu mais fria do que os outros dias e,
pela primeira vez, eu agradeci por isso, já que combina com tudo o
que está acontecendo comigo. Há tanto se passando em minha
cabeça. Ao menos Lea me disse que Nigel e Kate estão tocando a
redação muito bem. Todos eles me mandaram flores, dizendo para
que eu me recupere logo e volte de cabeça limpa. Donatella, por
incrível que pareça, também me mandou flores, mas com um cartão
um pouco peculiar junto a elas, escrito:

“Sofya,
Se recupere logo, precisamos de você aqui e bem. Não se
preocupe, também fiquei assim quando estava subindo para o auge
da minha carreira, agora, já estou acostumada, pois nada é de
graça e tudo tem seu preço, mas você irá se acostumar, espero.
Melhoras,
Donatella Sozzani.”

Sim, nada é de graça e tudo tem seu preço. Não estou assim
somente por conta do trabalho, mas admito que dar o meu máximo
e mais um pouco em meu emprego realmente está me custando
caro. Não quero ser uma dessas workaholics por aí, como
Donatella, que está enfrentando seu terceiro divórcio e praticamente
não viu sua filha crescer. Não me entenda mal, eu adoro meu
trabalho, mas ainda sinto que não estou onde deveria estar. Eu
sonho alto e pretendo chegar aonde eu quero, e o que eu quero?
Ter um trabalho tranquilo — que às vezes não seja tão tranquilo, e
estaria mentindo se dissesse que não gosto de toda a correria — e
escrever sobre diferentes culturas, política, direitos e que,
principalmente, estes assuntos sejam pautados em meninas e
mulheres, para ajudá-las. Mas ainda sinto que não estou preparada,
preciso de mais um tempo com a Glam Mag, já que querendo ou
não, estou aprendendo, e muito, por lá.
Shantell parou o carro em frente ao local que nós duas
conhecemos muito bem. A madre superiora Deloris nos espera em
frente ao portão. Saí do carro, olhando para Shantell com o cenho
franzido.
— Vai ficar tudo bem — me confortou, e me ofereceu sua mão,
que peguei dando um sorriso tímido.
Atravessando a rua, Deloris abriu seus braços para mim, e
atrás dela avistei as irmãs Robert, Lolla e Lazarus sorrindo. Eu não
sei o porquê, mas acho que de certo modo sempre pertenci a este
lugar e, apesar das dificuldades, esse é meu lar, essas irmãs são
meu lar. Meu coração se apertou e as lágrimas inundaram meus
olhos novamente e corri na direção delas.
— Oh, minha criança.
— Madre — falei, a abraçando.
Eu sempre detestei chorar, mas nos últimos dias tem sido
difícil controlar as lágrimas. Madre Deloris sabe muito bem disso,
pois sabe que para mim é como uma demonstração de fraqueza,
pelo menos era, até que um dia, quando tinhas meus quinze ou
dezesseis anos, ela me disse algo que nunca mais irei me esquecer.

“- Sofya?
Deloris entrou pela porta do quarto, que está vazio, já que
ainda era de tarde. Não respondi, ainda estou bastante abalada com
o que aconteceu mais cedo na escola. As garotas no colégio são
muito cruéis, ainda mais quando se tem família, status e grana.
Quando fiz a prova — praticamente obrigada por Deloris — para
entrar em um dos melhores colégios de Manhattan, não esperava
passar e ganhar uma bolsa, mas passei, porque, segundo Deloris,
eu sou muito inteligente para ficar em uma escola estadual. Não vou
dizer que ela está errada, mas detestei quando isso aconteceu.
Fiquei longe de Shantell e todo dia sofria bullying, até que hoje. Não
me contive e acabei brigando com uma das piores garotas do
colégio, Patty Wilson. Patty tem um pai rico, que conseguiu tirar ela
dessa confusão em um piscar de olhos. Já eu, nem pai tenho, e a
corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Deloris foi até a
escola e, por um milagre ou não, ela conseguiu manter minha bolsa.
— Garota, no que estava pensando?
— Eu não suporto mais aquilo, madre. Não vou deixar aquelas
garotas me encherem o saco todos os dias — Falei, controlando
minha voz.
Eu já estava passando por isso há algum tempo. Na escola
estadual, eu apanhava das garotas mais velhas porque os
namorados delas davam em cima de mim, sem eu ao menos saber
disso, já que sempre fui muito lerda para essas coisas. Esse
também foi um dos motivos para eu ter deixado aquela escola, mas
parece que os problemas me perseguem.
— O que elas fizeram dessa vez? — Perguntou ela, sentando-
se ao meu lado.
Eu não respondi de novo. Não quero parecer fraca. Depois que
aquelas vadias descobriram como eu vim parar em um orfanato,
minha vida virou um inferno.
— Tudo bem, você não quer me dizer, mas o senhor Brown já
me disse. — Droga, esse diretor é um boca aberta.
Eu deveria ter dado uma surra nas seguidoras de Patty
também, pois elas a ajudaram. Aliás eu queria quebrar esse quarto
todo!
— Eu sei que o que elas fizeram foi errado, mas você não
pode agir com raiva.
— E como eu devo reagir? Chorando, demonstrando
fraqueza? Eu queria quebrar a cara dela quando vi que ela tinha
escrito “Sofya drogada igual a mãe” no meu armário! Eu queria
arrancar a cabeça dela, ela nunca me deixará em paz! NUNCA! —
Exclamei, levantando da cama e secando alguns vestígios de
lágrimas em meus olhos.
— Acalme-se, garota. Nada pode ser resolvido com raiva, e
pare de limpar seus olhos, deixem essas lágrimas caírem —
Exclamou ela — Chorar não é fraqueza, Sofya. Todos nós
precisamos descarregar nosso peso das costas, até mesmo Jesus
Cristo fez isso. Olhe para mim — Ela pegou meu rosto e foquei em
seu olhar — Você vem carregando muito por muito tempo, criança.
Está criando uma redoma ao seu redor, ao redor do seu coração,
reagindo a tudo com violência. Pare com isso, deixe isso sair Sofya,
somente assim seu coração ficará em paz, deixando a mente em
paz, clareando nossos pensamentos — Sussurrou ela.
Eu não queria chorar, não posso. Balancei a cabeça
negativamente e ela me chacoalhou.
— VOCÊ SÓ SERÁ FORTE QUANDO LIBERAR ISSO, e
fraqueza não se trata disso, menina, e sim agir violentamente por aí!
Querem te transformar em uma marginal, mas não irei tolerar isso!
VOCÊ QUER ISSO?
— Não. — Disse, deixando minhas lágrimas caírem.
— Ótimo, então esvazie tudo o que está aqui, agora — Disse
ela, tocando em meu coração.
Comecei a chorar, até que senti seu abraço, me confortando.”
Os abraços de Deloris sempre me reconfortam, como agora.
Trazer esta memória à tona, trouxeram também as palavras ditas
recentemente por John, que se assemelham a esta lembrança com
Deloris, “se permita jogar tudo isso para fora. Ninguém pode ser
firme todo tempo, eu sei disso”. Ele tem razão, os dois têm razão,
não posso ser forte o tempo todo.
— Você está em casa, criança. Acalme seu coração — Deloris
ainda me abraçava forte enquanto as lágrimas me consumiam.
Me afastando do seu abraço, senti o afago de Shantell em
meus cabelos e notei que haviam lágrimas caindo dos seus olhos
também.
— Obrigada — falei para todas, sorrindo.
— Tem mais alguém que veio para te ver — disse Shantell,
pegando em meus ombros.
Ao fundo do corredor de entrada do orfanato, vi a doutora
Janney Howard, minha terapeuta durante os anos que fiquei aqui.
Ela sorriu para mim e veio em nossa direção, estendendo seus
braços para mim e, sem perder tempo, a abracei.
— Oh, Sofya! Sofya, a corajosa — disse ela, me fazendo sorrir
por entre as lágrimas quando a escutei me chamando pelo modo
como me chamava na adolescência.
— É bom vê-la novamente, doutora Jay — falei, me
desprendendo de seus braços e tentando limpar minhas lágrimas.
— Que tal entrarmos para conversar um pouco, creio que há
muito para falarmos, não é?
— Você nem imagina o quanto.
— Ótimo, então vamos sair desse frio. Só tomem cuidado para
não acordar as crianças! — Deloris disse, nos colocando para
dentro.
“Jay”, como costumava chamar Janney, me abraçou pelos
ombros enquanto andávamos. Boa parte do que eu sou hoje é
graças à ajuda dessa brilhante psicóloga juvenil. Janney me ajudou
a enfrentar meus traumas de infância, assim como ajudou alguns
outros jovens do orfanato também. Ela trabalha para o governo e
ajuda jovens órfãos que sofreram traumas durante a infância ou
adolescência nos orfanatos da cidade. Quando deixei o orfanato,
nossas sessões tiveram que acabar também, mas de tempos em
tempos nos falávamos por telefone, ela sempre quis saber como eu
estava tocando minha vida. Mal sabe ela o que passei somente
nesse último ano.

— E então? Como foi? — perguntou Shantell assim que saí da


sala da Deloris depois de uma “sessão” com Jay, levantando-se do
sofá da sala de estar. — Demoraram tanto que eu até cochilei.
Demoramos mesmo, foi uma conversa de pouco mais de duas
horas.
— Está se sentindo melhor?
Pegando minha mão, ela me guiou para que eu me sentasse
ao seu lado.
— Me ajudou a clarear as ideias.
— Fale mais! — pediu, sendo curiosa como sempre, me
fazendo sorrir e revirar os olhos.
— Eu disse tudo, sobre meu trabalho, John, meu pai... —
Suspirei, olhando a neve pela janela. — Ela me fez uma pergunta,
se meu pai não tivesse partido, onde eu estaria agora? Onde eu
teria chegado, se eu teria conquistado tudo o que conquistei até
hoje.
— E o que você respondeu? — perguntou, ansiosa.
Pensando no que eu havia respondido a Jay, repeti minha
resposta.
— Que não, eu não estaria onde estou hoje, no caminho certo
para onde quero estar no futuro. Quer dizer, eu só tinha cinco anos
na época, mas creio que isso só me deixou mais forte, e acho que
ela me fez essa pergunta para que eu pensasse nisso, para que eu
encontrasse conforto, ver essa situação de maneira positiva, pois
acho que não seria tão forte se meu pai não tivesse feito a escolha
de nos deixar. Basicamente, sou quem eu sou de verdade devido ao
que aconteceu.
— Jesus. Ela é boa mesmo para colocar uma coisa tão
simples na sua cabeça dura — disse Shantell, me fazendo revirar os
olhos.
— Ela sempre me abriu os olhos para coisas óbvias nas quais
eu não faço questão de enxergar, nas quais a “raiva não me deixa
pensar”, nas palavras dela. Ela disse para eu escutar o que meu pai
tem para me dizer também.
— O que?
— Sim, tive essa mesma reação quando ouvi isso. — Ri ao ver
a cara de indignada dela. — Mas acho que ela está certa, ela disse
que eu tenho que colocar um ponto final nas dúvidas e
questionamentos do meu passado, para que eu possa seguir em
frente, em paz, definitivamente.
— Mas você está preparada para isso?
— Não sei, preciso digerir isso ainda. Mas eu realmente
preciso passar por isso para seguir em frente com a minha vida,
meu passado me atrapalhou de tantas maneiras que nem posso
dizer o quanto eu lamento por ter deixado isso acontecer por tanto
tempo — falei num tom baixo, me lembrando de John.
— Eu sei, eu sei, mas isso vai mudar! Eu sei que vai! Talvez a
ideia de ir falar com seu pai não seja mesmo tão idiota. Talvez
esclarecendo algumas coisas possa, assim, te ajudar a superar isso,
pelo menos um pouco — falou de maneira esperançosa, pegando a
minha mão. — Você sabe onde encontrar ele?
— Não, mas sei de alguém que sabe.
— Quem?
— John.
— Ah, claro — sorriu, ironicamente.
— Obrigada por isso, não conseguiria sem você Shant — falei,
a abraçando.
— Sei que faria o mesmo por mim.
— Sempre!
Me afastei, dando-lhe um beijo em sua bochecha.
— Não fiz isso sozinha, Sofy — confessou ela, receosa. — Na
verdade, John me ajudou.
John? Mas como...
— Como assim?
— Eu sei! Mas ele agiu bem dessa vez! — falou, reagindo à
minha reação de espanto. — John conseguiu o telefone de Janney.
Ele conversou com Jay e pediu minha ajuda para trazer você até
aqui, para que pudesse ter essa conversa com ela. Ele achou que
isso te faria bem, e querendo ou não, ele tinha razão.
Tentei assimilar as palavras dela.
— Então... ele teve a ideia?
— Sim, minha ideia era te trazer para minha casa, onde você
ficaria pelo tempo que precisasse, até se sentir melhor, mas tive que
admitir que a ideia dele era bem melhor que a minha. Por isso ele
me pediu para falar com Steve, já que os dois se tratam como
animais ferozes. Steve te liberou mais cedo porque também achou
que isso podia te ajudar — continuou ela, pensativa. — John
também disse que fará o que for preciso para te ajudar.
— Vou agradecer ele também..
— Só faça isso longe do Steve, os dois juntos são
terrivelmente irritantes!
— Eu sei! E como sei! — ri junto com ela.
— Já passa da meia noite e alguém está ficando mais velha —
escutei Deloris entrando na sala com uma pequena bandeja, com
um cookie, um copo de leite e uma vela acesa.
— Parabéns, sua marrenta! Eu te desejo um mundo de coisas
boas e que você encontre o amor na sua vida! — disse Shantell ao
me agarrar pelos ombros num abraço forte, dando-me um beijo na
bochecha.
Atrás de Deloris, as irmãs Robert, Lolla e Lazarus começaram
o coro de parabéns, enquanto a doutora Jay batia palmas.
— Deus, eu me esqueci completamente! — admiti.
Pela primeira vez na vida, fui capaz de esquecer meu
aniversário. Ri ao ver que estava voltando no tempo com essa cena.
— Como nos velhos tempos — Deloris falou, colocando a
bandeja na pequena mesa de centro da sala logo à minha frente.
Como os recursos do orfanato sempre foram poucos, não
havia como comprar bolo de aniversário para cada criança que
fizesse aniversário, por isso, durante anos, Shantell e eu tivemos
apenas um cookie e um copo de leite para que não passássemos
nossos aniversários em branco. Sorri com a lembrança que agora
está viva em minha mente. Tudo é tão simples, mas tão necessário.
Então as palavras de Jay fizeram ainda mais sentido para mim, sou
grata por isso, sou grata por onde estou agora, pelo que vivi, pelos
meus erros, pelos meus acertos, pelas minhas lágrimas e,
principalmente, pelas pessoas que a estúpida escolha de meu pai
trouxe para minha vida, pois sem isso eu não teria as conhecido e
as amado. Olhei para Shantell, que ri ao olhar a bandeja enquanto o
canto de parabéns ainda ecoava pela sala. Ela olhou para mim e eu
peguei em sua mão.
— Eu amo você — sussurrei.
— Eu também te amo! — falou, igualmente com a voz
embargada. — Agora faça um pedido.
Olhei para vela, desejando que o sentimento de gratidão que
me invadiu nesta noite pudesse me ajudar a criar o dom do perdão.
Sim, eu preciso disso em minha vida, eu quero isso.
Shantell acabou de mandar uma mensagem, dizendo que
Sofya tinha acabado de “conversar” com a doutora Janney e que ela
já está bem melhor. Isso me acalmou um pouco, mas não o
suficiente, preciso vê-la com meus próprios olhos. Ainda estou na
agência e Jenna não para de me ligar, me deixando ainda mais
irritado. O departamento de polícia de Nova York havia me ligado
há uma hora atrás, dizendo que prenderam a tal de Georgina e
aquele drogado desgraçado, Sebastian, por tráfico de entorpecentes
dentro de um quarto de hotel no Harlem. Leroy, chefe de polícia, e
sua equipe os acharam com mais de dez comprimidos de ecstasy e
mais de cem gramas de cocaína, o suficiente para os deixarem na
cadeia por um tempo.
Prometi muitas coisas a Sofya nas quais não fui capaz de
cumprir, mas uma delas foi essencial para achá-la e encontrar
formas para que ela se sentisse melhor. Precisei investigar seu
passado, todos os seus registros e histórico, e foi assim que eu
consegui o contato da doutora Janney Howard, antiga psicóloga de
Sofya. Ela já tinha mencionado que fez terapia durante sua
adolescência, mas não por tanto tempo. Descobri diversas outras
coisas sobre seu passado, coisas que irão demorar para sair da
minha cabeça. Sempre soube sobre seu passado difícil, mas agora
sei o quanto ele foi doloroso e entendi o porquê de ela agir como
agiu toda a vida. Ela estava apenas se defendendo, se blindando
para que não sofresse mais. Durante todo o dia precisei me segurar
para não ir até a empresa do seu pai e quebrar a cara dele por tudo
o que fez com ela e sua falecida esposa.
E foi aí que eu decidi investigar o passado de Vladmir Kritsk
Antonov, agora conhecido como Kritsk, ou Kris, Antonov, e de
Ivanka Prutsk Viatcheslav Antonov. Kritsk era um mecânico da
aeronáutica na antiga União Soviética e viu que o regime estava
prestes a cair, levando junto seu país, a Ucrânia. Devido à falta de
oportunidade em seu país pobre, Kritsk, ambicioso, aproveitou-se da
situação para fazer um acordo com o governo norte-americano, e
então forneceu informações importantes sobre os comunistas em
troca de um visto permanente nos EUA. E em 1988, ele embarcou
para Nova York, levando sua jovem namorada, que na época tinha
somente dezoito anos. Ivanka Viatcheslav era bailarina, uma das
principais no elenco do mais famoso balé do mundo, o Bolshoi. Ela
tinha uma carreira promissora pela frente, mas então conheceu
Kritsk, seu futuro e ambicioso marido, deixando a escola de balé e
sua família para ir para a América junto a ele, onde se casaram em
1990 e, no ano seguinte, tiveram sua filha. Sofya tem o nome do
meio de sua avó paterna, Anna Sofya Antonov, que estranhamente
tem seus registros protegidos pelo governo Russo, ou seja, ela foi
alguém importante, mas não pude descobrir o porquê, infelizmente.
— John, Leroy na linha 1 — disse Dora ao entrar na minha
sala.
Peguei o telefone e atendi.
— Leroy?
— Consegui o que me pediu, não foi fácil, mas para sua sorte
este caso foi arquivado com o status de solucionado. Encontramos
uma caixa com alguns poucos pertences da casa.
— Ótimo, estou a caminho. Obrigado, Leroy.
— Disponha — desliguei e peguei as chaves do meu carro.
Também peguei a caixa mal embrulhada que estava guardada
em uma das gavetas na mesa e saí de lá. Só espero que isso valha
a pena.
Shantell me levou para casa, acho que finalmente irei
descansar depois de alguns dias de transtornos. Ela também me
deu uma caixa que Lea havia me mandando, dentro estavam uma
nova cópia das minhas chaves com um lindo chaveiro da Chanel,
uma carteira Gucci novinha, um iPhone novo em folha — já com o
meu novo número — e uma caixa dos melhores chocolates Lindt,
que eu amo, e tudo isso junto a um bilhete que me deixou comovida.

Chefe,
Tomei a liberdade de providenciar isso para você. Não se
preocupe, é como se fosse um presente meu, de Nigel, Kate e da
Glam Mag. Não se preocupe com seus cartões de crédito, já
providenciei tudo no banco e tudo estará em suas mãos em até três
dias. Seu novo número está junto ao seu novo celular e se precisar
de mim, me ligue. Espero que melhore logo, isso aqui é muito chato
sem você! E não se esqueça que você é A Chefe!
Feliz aniversário!
Com amor,
Lea, Nigel e Kate.

Sorri ao me lembrar do quão carinhosos eles são, e como sou


sortuda de ter Lea como minha assistente/secretária. Peguei minhas
chaves novas e quando cheguei no meu andar, vi Steve parado em
minha porta, como um cão de guarda. Ele sorriu e veio me abraçar.
É tão bom o cheiro amadeirado que ele tem.
— Que bom que está bem — disse ele, beijando minha testa e
logo depois pegando meu rosto em suas mãos. — Feliz aniversário,
linda! — franzi o cenho.
— Mas, como você sabe?
— Eu sei tudo sobre a minha paciente/vizinha preferida —
sorriu ele, me fazendo sorrir. — Ok, eu vi na sua ficha hoje! —
confessou, me beijando nos lábios depois.
Steve também vem me ajudando bastante, até demais para o
meu gosto. Ele está sendo tão bom para mim que está até me
irritando um pouco. Eu sei, isso é estranho, mas o cara é perfeito
demais, sim, isso é mais estranho ainda, mas não deixa de ser
verdade. Ele interrompeu nosso beijo, colocando uma pequena
caixa azul em cima da caixa que eu carrego.
— Espero que goste.
— Steve...
Levei minhas mãos à boca, ainda olhando a pequena caixa
inconfundível da Tiffany. Deus, quem dá Tiffany’s para alguém a não
ser que seja sua noiva?
— Calma, não é o que você está pensando — riu.
Ele tirou a grande caixa das minhas mãos e pude pegar seu
presente. Abri a pequena caixa, revelando um lindo cordão de prata
com uma chave em formato de coração e com o tradicional
emblema “Return to Tiffany” nele.
— É lindo, Steve, mas não deveria...
— Deveria sim, você merece. — Ele pegou o cordão da minha
mão e o colocou ao redor do meu pescoço, o beijando depois.
Ele voltou-se para minha frente e eu ainda admirava a linda
chave de prata.
— Eu queria te levar para jantar hoje à noite, mas vou estar de
plantão, então pensei em um almoço nesta tarde, o que acha?
— Tudo bem — sorri.
— Ótimo, mas ainda irei te levar para jantar esta semana.
Agora entre e descanse, você precisa disso. — Agradeci
mentalmente por ele não querer ficar aqui hoje, quer dizer, ele foi
um fofo comigo, mas preciso ficar realmente sozinha nesta noite.
— Eu vou, e obrigada por ontem.
— Não precisa me agradecer. Só se cuide agora. — Ele me
deu um longo abraço e um beijo suave nos lábios. — Boa noite,
linda.
— Boa noite, Steve — disse, enquanto ele beijava minha testa,
indo embora em seguida.
Finalmente entrei em meu apartamento. É como dizem, “não
há nada como o nosso lar”, e isso não poderia ser mais verdade.
Deixei as caixas em cima da mesa de jantar e fui para o banheiro.
Enchi minha banheira com sais e óleos de banho, me deitando e
relaxando nela em seguida. Por mais que eu amasse esse
apartamento, sinto que ele ficou muito vazio depois que briguei com
John. No caminho para cá, Shantell me disse como John e meu pai
se encontraram naquela noite, ele contou tudo a ela. E de certa
maneira, ele estava certo, era melhor aquilo ter acontecido naquela
noite com ele ali do que em outro momento. Eu sinto a falta dele
todos os dias. Mas tempos atrás, tinha dito a ele que se ele voltasse
a ser um grande idiota comigo novamente, ele perderia uma amiga,
e foi exatamente isso que aconteceu. Sem falar que ele e Jenna
estão juntos novamente. Bufei, me ajeitando na banheira.
Pelo menos volto para o trabalho já nesta terça-feira. Jay disse
para eu maneirar no ritmo, a tendência é que essas tais crises de
ansiedade só venham a aumentar, repetindo o diagnóstico que
Steve me deu assim que deixei o hospital ontem. Por isso, decidi
que irei começar novamente a terapia com ela uma vez por semana.
Ela queria me empurrar para um amigo dela, mas disse que só
retornaria às sessões se fosse com ela, então Jay topou. E sobre
meu pai, eu ainda não sei o que vou fazer, mas decidi que deixarei
isso nas mãos do universo, então se sentir vontade de ir falar com
ele, eu irei e ponto, se não, deixo como está. Ele parecia
desesperado quando bateu em minha porta, talvez tenha pensado
em me encontrar do jeito que ele me deixou: uma menininha
inocente de cinco anos, mas se espantou quando viu uma mulher de
vinte e cinco em seu lugar.
Depois de quase uma hora na banheira, vesti uma regata
velha junto a uma cueca feminina e fui para a cama. Já passa das
3h da madrugada e, para falar a verdade, estou com medo de
dormir, estou com medo de que os pesadelos voltem. Por isso, voltei
para o meu closet, revirando algumas gavetas até achar uma em
especial, a levando ao nariz... o cheiro dele ainda está presente
nela. Tirei a que eu estava e coloquei a grande camiseta do FBI que
John esqueceu aqui, tudo bem, foi eu que roubei para mim. Voltei
para cama e agora estou segura para dormir em paz, já que o cheiro
dele me acalma e me protege, como sempre fez.

Depois de almoçar com Steve, levamos Guz para passear. Eu


amo aquele cachorro! Steve me entregou alguns bilhetes de
parabéns que as crianças do hospital infantil me mandaram, me
deixando muito emocionada com o gesto delas. Shantell havia me
ligado também, dizendo para me encontrar com ela em meu
apartamento e assim eu fiz. Parei meu carro em frente ao prédio e a
avistei, inquieta.
— Até que enfim! — falou Shant, subindo as escadas junto
comigo.
— Você disse às 19h, e aqui estou eu!
— 19h05 não é 19h. Venha, vamos subir rápido, estou
congelando aqui.
Eu a conheço muito bem para ter certeza que ela está me
escondendo alguma coisa. Subimos as escadas e assim que abri
minha porta o coro de “Surpresa” ecoou por todo o prédio.
— Eu sabia! — apontei para Shantell, que ria.
— Chefe! — Lea veio em minha direção, dando-me um abraço
apertado. — Fiz outra cópia da sua chave, que está com Shantell,
porque ela me obrigou a fazer isso, mas espero que goste da
surpresa!
Agora eu entendi. Há balões prateados e dourados flutuando
pelo teto e uma linda decoração na mesma cor.
— Obrigada! — agradeci a todos.
Abracei todos ali, Nigel, Shantell, Preston, Kate — que trouxe
George consigo — Lea e Ed, que me surpreenderam quando os vi
juntos.
— Se você sonhar em levar Lea para longe de mim, eu mesma
vou atrás de você e sumo com seu corpo — ameacei Ed, os
fazendo rir.
— Acho que podemos dividir, afinal, te devemos uma, não é
amor? — disse ele, abraçando Lea.
— Amor? — ri. — Eu vivi para ver Edward Neeson dizer isso!
Vovô deve estar orgulhoso!
— Bom, ele ainda acha que Lea é fruto da minha imaginação,
mas isso vai mudar amanhã, já que ela irá conhecer a família! —
disse ele, me fazendo rir.
— Isso é ótimo! — falei, dando um grande sorriso a Lea, que
segura minha mão de maneira entusiasmada.
— Sim! Estou um pouco apreensiva!
— Já disse para não se preocupar. Você vai adorar! — Ed
disse.
— Vovô vai adorar te conhecer Lea! — falei.
Escutei a campainha tocar e cerrei o olhar para Shantell, que
me deu um sorriso, apontando para que eu atendesse a porta.
— Com licença — pedi, indo em direção a porta, a abrindo.
— Feliz aniversário! — exclamaram Leon e Marion juntos.
Isso sim é uma surpresa!
— Oh meu Deus! — sussurrei, indo em direção aos dois, os
abraçando carinhosamente.
— Hey, como você está? — perguntou Marion, pegando meu
rosto em suas mãos, me analisando carinhosamente com um
sorriso, enquanto Leon ainda me abraçava pelos ombros, dando um
beijo em minha testa.
— Marion me contou tudo, minha querida, como você está?
— Estou bem melhor, obrigada. Entrem!
— Aqui, para alegrar seus dias — falou Leon, me dando um
lindo buquê de flores. — E isso, é meu e de Marion, ela quem
escolheu — continuou, entregando uma caixinha, fazendo Marion
dar aquele sorriso radiante, e a beijando carinhosamente na testa.
Peguei a linda caixa vermelha da Cartier.
— Espero que goste! — disse Marion, ainda sorrindo
lindamente.
Abri a pequena caixa, revelando uma linda caneta na cor
vermelha e dourada, me fazendo suspirar.
— E então? — perguntou ela, ansiosa.
— Oh, Marion, é linda! Obrigada! Obrigada, senhor Neeson, eu
adorei!
— Eu ficaria mais contente se me chamasse de Leon, menina,
já falamos disso — repreendeu-me, nos fazendo rir.
— Uma jornalista de prestígio precisa de uma caneta a altura!
— disse Marion, e eu a abracei novamente.
— Olha só! Lea é real mesmo! Quem diria?! — disse Leon,
indo em direção a Ed e Lea, me fazendo rir.
— Oh Leon, deixe o garoto em paz! — sorriu Marion, dando
um pequeno tapa em Leon, o seguindo.
John iria adorar ver isso. Olhei em volta e estava tudo tão
alegre, mas estava faltando algo, estava faltando ele. Tão rápido
quanto apareceu, meu sorriso deixou meu rosto.
— Eu até pensei em convidá-lo, mas não sei se você gostaria.
— Shantell surgiu ao meu lado, fingindo analisar a festa, como eu
estava fazendo.
Essa filha da mãe me conhece tão bem! Mas não darei meu
braço a torcer.
— Ele está de plantão no hospital, nem se você quisesse —
disfarcei, me referindo a Steve.
— Ah, qual é Sofya! Para cima de mim? — falou com
sarcasmo, gesticulando com seu dedo e fazendo movimento com
sua cabeça.
Revirei os olhos e sorri, culpada.
— Eu sei que você ainda gosta dele.
Me virei para ela e a encarei.
— Não é a hora e nem o local para falarmos disso. Vou colocar
essas flores na água — falei e fugi dela.
A festa ocorreu animadamente durante a noite. Enquanto Leon
e Marion conversavam com Preston e Shantell, eu me divertia com
as histórias de Nigel e finalmente, conheci um pouco mais de
George, noivo de Kate. Os dois estavam em um clima de romance
que só se vê em filmes, não é para menos, já que irão se casar na
próxima semana, finalmente! Todos dançaram, comeram, beberam
— menos eu, claro, por ordens médicas — celebramos até chegar a
hora do parabéns. O bolo estava uma delícia e depois de algumas
horas de festa, algumas pessoas foram embora, restando apenas
Leon, Marion, Preston e Shantell, mas não por muito mais tempo.
— Se precisar, por favor, me ligue! Estou falando sério, garota!
— disse Shantell, fazendo Marion rir.
— Oh, vocês são praticamente irmãs mesmo!
— E como, às vezes tenho vontade de matá-la! — falei,
olhando para Shant.
— Você? Você é que anda precisando de uns bons tapas! —
brincou Shantell, nos fazendo rir.
Já no corredor, vi Preston cumprimentar John, assim como seu
pai. Ele me olhou, fazendo meu coração pular.
— Querida, obrigada por nos receber! — disse Marion, me
abraçando.
Senti Leon afagar minha cabeça.
— E não hesite em nos ligar, para qualquer coisa! E se aquele
desgraçado aparecer em sua porta novamente, eu mesmo irei
confrontá-lo! — disse Leon, fazendo John, Shantell e Preston rirem.
— Leon, não seja rude! Vamos embora. Boa noite! — disse
Marion, o puxando para irem embora.
— Também estamos indo. Feliz aniversário, Sofya, muito juízo
nessa sua cabeça — despediu-se Preston, bagunçando meu cabelo
ao passar por mim.
— Não se preocupe, Preston — sorri.
— SE CUIDA! — gritou Shantell.
Agora só estávamos nós dois no silencioso corredor. John se
abaixou, pegando uma caixa de tamanho médio, e veio em minha
direção.
— Feliz aniversário — falou, dando um beijo demorado em
minha bochecha.
Inalei seu cheiro, recebendo o calor do seu toque pelo meu
corpo, fechando meus olhos. Ele se afastou e me entregou a caixa.
— Ahm, quer entrar? — perguntei, ainda confusa com as
palavras.
Surpreso pelo convite, ele demorou um pouco para responder,
e continuei.
— Tem muita comida e bebida ainda...
Fique quieta, Sofya. Meu Deus!
— Claro — aceitou, entrando em meu apartamento.
Fechei a porta e coloquei a caixa em cima da mesa para servir
uma bebida para ele. Peguei uma cerveja, que ele aceitou, e
sentou-se no sofá em seguida, olhando a decoração. Peguei a caixa
e me sentei na poltrona ao lado dele.
— Não precisava disso, John.
— Você nem sabe o que é. Abra — pediu, mas usando aquele
tom mandão que nunca muda, me deixando escapar um sorriso.
A caixa é simples, de papelão mesmo. Abri, sem dificuldades.
— Eu não tive tempo de fazer um embrulho decente, me
desculpe por isso.
Assenti com a cabeça, mostrando que não havia problema
nisso. Coloquei a caixa no chão e notei que há várias coisas dentro.
Peguei outra caixa menor, embrulhada com jornal, me fazendo rir. O
olhei e ele entortou seu sorriso, da forma que eu mais amo. Olhei
para a caixa novamente e avistei algo que me chamou a atenção,
deixando a outra caixa de lado. Peguei o porta-retratos, que tem
uma foto minha quando criança ao lado da minha mãe. Passei as
mãos pelo vidro, ainda sem acreditar. Eu me lembro dessa foto,
desse porta-retrato. As lágrimas invadiram meus olhos novamente e
eu mordi os lábios na tentativa de evitá-las. Na foto, minha mãe
sorria, de forma que jamais sorriu depois que meu pai nos deixou.
Ela me abraçava, enquanto eu dava um grande sorriso para a foto,
mesmo não tendo alguns dentes. Ri, soltando algumas lágrimas
com a lembrança.
— Como você achou isso? — murmurei, encontrando o olhar
atento de John em mim, inclinado para frente e apoiando seus
cotovelos em seus joelhos, juntando seus punhos e os encostando
em seus lábios.
— Estava no arquivo da polícia, eles retiraram alguns
pertences da sua casa no dia em que... — No dia em que ela
morreu, disse mentalmente o que ele não conseguiu dizer. — Isso
pertence a você agora, legalmente. Então achei que gostaria de ter
isso de volta.
Coloquei minha mão na caixa e retirei minha antiga caixinha de
música dourada e verde. Levei minha mão a boca, piscando meus
olhos enquanto as lágrimas continuavam a cair silenciosas.
Lembro de quando minha mãe me colocava para dormir com ela.
Abri a linda caixinha, a dando corda e a tão familiar canção, que é
em russo, soou, revelando a linda bailarina que dançava no centro.
— Ela fazia isso toda noite… ela tinha uma voz tão linda.
— Você se parece muito com ela — falou, se aproximando
mais.
Deixei a caixinha na mesa de centro e peguei outras fotos no
fundo da caixa. Ri ao ver uma em que eu estava vestida de bailarina
e abaixada, ficando de cabeça para baixo entre minhas pernas e
levantando a parte de trás do meu tutu, mostrando o meu bumbum.
John também riu ao ver.
— Ela ficava tão brava quando eu fazia isso nas aulas de balé.
— Espevitada desde sempre — brincou, nos fazendo rir e
fazendo minhas lágrimas secarem.
Peguei a outra foto, em que ela estava como uma perfeita
bailarina e eu tentava imitar seus passos, é uma foto muito linda.
— É uma bela foto — John repetiu meus pensamentos.
— Ela era uma linda bailarina, dançava tão bem. Eu adorava
quando ela me levava para as suas aulas de balé.
— Ela teria orgulho de você. Você dança muito bem — sorriu,
me fazendo sorrir também.
Peguei a última foto, que mexeu com minhas emoções de
diferentes maneiras. Meu pai estava de um lado e minha mãe
estava do outro, ambos sorrindo, assim como eu, que estava
sentada entre os dois, apagando as velinhas do meu bolo de
aniversário de cinco anos. John notou o quão nervosa eu fiquei,
pegando minha mão na tentativa de me acalmar.
— Essa foi nossa última foto, ele nos deixou logo depois disso
— falei e ri, nervosamente. — Depois disso, sempre odiei fazer
aniversário. — Entreguei a foto para ele. — Pode se livrar dela pra
mim? — Encostei na poltrona e olhei para a janela, suspirando.
— Irei fazer isso. — Ele se levantou, pegando a caixa
embrulhada em jornal que havia pegado primeiro, e voltou a se
sentar ao meu lado. — Esse é o meu — falou, me dando o pacote.
O olhei e notei que ele estava com o olhar ansioso e
apreensivo ao mesmo tempo. Devagar, fui rasgando o pacote,
levando minhas mãos à boca quando vi o que era.
— John...
Retirei todo o embrulho e vi o quão linda ela é, a minha tão
sonhada Barbie Audrey Hepburn, justamente a que eu sempre quis,
vestida como sua icônica personagem Holly Golightly, de
“Bonequinha de Luxo”.
— Ela é perfeita.
John sabe o quanto eu amo filmes antigos, e também sabe
que “Bonequinha de Luxo” é o meu favorito, já que o fiz assistir
comigo quando tive aquela terrível TPM. Além disso, ele sabe muito
sobre a história dessa Barbie.
— Eu sei o quanto essa boneca era importante para você.
Agora você a tem, ela é sua. — Ele se ajoelhou na minha frente,
enxugando minhas lágrimas com seu dedo, dando um sorriso
tímido.
Fechei os olhos, sentindo seu toque em minha pele, deitando
minha cabeça em sua mão, sem poder evitar, e a segurando com as
minhas. Me afastei um pouco, abrindo meus olhos e encontrando os
dele.
— Obrigada — sussurrei. — Obrigada por tudo, John.
-— Eu farei de tudo para te ver bem, Sofya. Sou capaz de tudo
por você — revelou ele, me dando um forte abraço, que retribui. —
Tudo — falou baixinho, se afastando e pegando meu rosto em suas
mãos, encostando sua testa na minha, me fazendo arfar.
E então as palavras que ele me disse na noite de ontem
surgiram em minha mente, “eu tinha prometido te deixar em paz,
mas não sei se sou capaz de fazer isso”... “eu sempre vou estar
aqui”. Como eu queria que isso pudesse ser verdade.
— John... — Antes que eu pudesse continuar, ele tomou meus
lábios nos seus, num beijo urgente e cheio de paixão.
Não tive forças para pensar em mais nada a não ser em como
era bom estar nos braços dele novamente, era como se ele fosse
minha fonte de energia. Me ajoelhei junto a ele, sem interromper
nosso beijo intenso, minhas mãos foram para seus cabelos sedosos
e as mãos dele me puxavam pela cintura para si, a agarrando.
Tirando-me do transe causado pelo nosso beijo, o celular dele não
parava de tocar e por entre nosso beijo pude ver o aparelho no
chão, com a foto daquela Barbie Malibu asquerosa na tela. Deixei
seus lábios, me levantando, antes que pudesse ser tarde demais.
— Sofya — protestou John, vindo atrás de mim, me pegando
pelo braço.
— Acho que você deve atender — falei amargamente, antes
que ele pudesse dizer alguma coisa a mais. Notando meu tom de
voz, ele voltou-se para seu celular, bufando e fechando os olhos, o
atendendo em seguida.
— Alô — falou, em um tom sério.
Silêncio.
— Ok, fique calma. Já estou a caminho... Jenna, tudo bem,
tudo vai ficar bem, já estou indo. Tchau — desligou, com uma cara
não muito boa.
Suspirei, coçando minha nuca e indo para cozinha, preciso
muito de um copo de água.
— Eu tenho que ir.
— Tudo bem — falei, voltando para sala.
Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, fui até a porta,
a abrindo, mesmo ele ainda estando parado em minha sala.
— Jenna precisa de você — deixei escapar, sem esconder a
mágoa em minha voz.
Ele engoliu em seco, bufando e vindo na minha direção, ou na
direção da porta. Antes de passar por mim, ele parou em minha
frente, com o olhar carregado de emoções confusas, assim como o
meu.
— Feliz aniversário Sofya. Espero que você consiga o seu
mundo de volta. — Ele pegou em meu queixo e o soltou, indo na
direção oposta do seu apartamento.
— Obrigada — disse num sussurro quase inaudível.
Não sei o que aconteceu com Jenna, mas espero que esteja
bem, mesmo não gostando dela. Voltei para dentro, olhando para
meu apartamento vazio, tocando Electrical Storm, do U2 ao fundo.
John devolveu parte do meu passado, a parte boa, naquela caixa. É
tão louco e intenso ver isso, mas ao mesmo tempo libertador. Não
tenho palavras para agradecê-lo. Peguei as fotos e as coloquei em
destaque no meu mural, na geladeira, onde elas deveriam estar a
muito tempo.
Finalmente, voltei para o trabalho! Confesso que senti falta
dessa correria toda. Na terça fui recebida com uma pequena festa
na redação, com direito até a um bolo de aniversário. Não comecei
meus vinte e seis anos como planejava, mas nem tudo na vida sai
como nós queremos, não é? No meio da semana voltei para a
terapia com a doutora Jay, e disse a ela o que vem me tirando o
sono desde a noite do meu aniversário: a recaída que tive com John
e a imensa curiosidade que estou para saber o porquê meu pai
deixou a mim e a minha mãe.
Vamos por partes: primeiro, disse a ela que John havia me
beijado e que se não fossemos interrompidos pela ligação da Barbie
Malibu no celular dele, eu certamente iria para a cama com ele,
então Jay me fez colocar todas as cartas na mesa em relação aos
meus sentimentos com John. Sim, eu ainda gosto dele, mas não,
não consigo esquecer o que ele me disse e em quem ele é, não
consigo esquecer “a natureza dele”, nas palavras de Miranda. John
nunca vai mudar quem realmente é: um cafajeste. E o pior? O fato
de saber que ele voltou com Jenna piora tudo, meu estômago
embrulha só de saber que os dois estão juntos. Sem mencionar que
Miranda pode mesmo estar certa, não pertenço ao mundo dele, é
como se eu fosse uma vira-lata e ele um sangue puro com pedigree,
o que é uma verdade. Não sei se sou capaz de ficar à altura de
Miranda, de enfrentá-la, ela me esmagaria num piscar de olhos.
Segundo: não paro de pensar em ir ao encontro de “Kritsk”,
meu pai. Soube que depois que ele sumiu, vem usando seu nome
do meio como nome de batismo. O fato é que eu preciso saber o
motivo de ele ter nos deixado, por isso estou decidida a ir falar com
ele amanhã, depois que deixar a redação mais cedo. Para isso
preciso do cartão de visitas que ele me deixou naquela noite, mas já
que não o acho, terei que recorrer a John. Tenho certeza que ele
ficou com aquele cartão e que já sabe tudo sobre meu pai, não
duvidaria se ele soubesse até o número dos sapatos dele. Saí do
carro e fui para a entrada do prédio, seguindo pelas escadas, e
confesso que estou nervosa em ter que falar com John novamente,
já que depois daquela noite não o vi mais. Passa das 21h, e já que é
quinta, acho que deve estar em casa. Já em frente a porta dele,
meu coração acelerou, suspirei algumas vezes e tomei coragem de
tocar a campainha. Não seja fraca, Sofya, é só uma conversa.
Escutei alguns barulhos, confirmando que ele está em casa. Tentei
me acalmar, para que ele não me visse nesse estado pelo olho
mágico antes de abrir a porta. Escutei a fechadura e a porta abrir
e…
— Pois não? Ah! Sofya — disse Jenna, em uma cara
descarada de nojo e uma voz cínica ao abrir a porta, vestida apenas
com uma calcinha e uma camisa de John.
Eu queria sair correndo daqui e vomitar no lugar mais próximo.
— O que você quer?
ARGH! Ela é tão ARROGANTE e tão... tão ridiculamente
perfeita com essas pernas gigantes e seu cabelo loiro perfeito. Eu
quero tirá-la do apartamento dele pelos cabelos e esfregar essa
cara de nojo na parede! Controlei meus ânimos e fiz um carão. Ela
me olhou de cima a baixo, parando o olhar na minha linda blusa de
lã na cor limão neon, que eu mesma fiz questão de ir buscar com o
próprio Jeremy Scott quando não a achava mais nas lojas da
Moschino. Não vou deixar essa piriguete me abalar.
— Preciso falar com John — falei, sem delongas.
Ela cruzou os braços em seu peito e riu, debochadamente.
— Falei alguma coisa engraçada?
— E o que você quer com o MEU namorado? — perguntou,
abaixando sua cabeça para me encarar mais de perto, claramente
tirando sarro do meu tamanho.
Se ela continuar, irá aprender um dos ditados mais populares
do mundo: não mexa com as baixinhas! Dei um passo à frente, a
fuzilando com os olhos.
— Isso não é da sua conta — rosnei.
— Você nunca aprende, não é mesmo? Pensei que Miranda
tinha te colocado no seu devido lugar, mas você é mesmo uma
desclassificada que não aceita quando perde.
— Se você quiser manter esse seu rostinho intacto, sugiro que
pare agora, para o seu próprio bem — ameacei, dando mais um
passo à frente, a fazendo recuar.
— Não vou me dar ao trabalho de discutir com a ralé do
Brooklyn, principalmente com a do pior tipo!
— J, quem é? — perguntou John, surgindo na sala apenas
com uma toalha amarrada na cintura e secando seus cabelos com
outra, mas parou assim que me viu, me olhando surpreso.
Olhei para seu peitoral peludo que tanto sinto falta.
— Sofya? — Ele veio em minha direção, olhando para mim e
para Jenna. — O que está acontecendo aqui?
— Ela... — começou Jenna, mas não tenho mais tempo para
isso.
— Preciso saber onde eu encontro meu pai. — Fui direto ao
ponto.
Ele me olhou, cerrando o olhar.
— Você vai encontrar seu pai? Eu não acho que seja uma boa
ideia — falou, preocupado.
— Espera aí! Mas você não era órfã? — disse Jenna, cerrando
o olhar.
Voltei a olhá-la, com um olhar de ranço, aqueles que você faz
quando escuta alguém que você odeia falar algo idiota.
— Jenna, pode nos dar um minuto, por favor? — pediu John,
incomodado.
— HÁ, nem pensar!
— John, só me dê o cartão que meu pai me deixou naquela
noite, por favor. — Só queria sair o mais rápido possível daqui.
Ele bufou, entrando novamente, indo na direção do seu
escritório. Notei que Jenna ainda me encara.
— Sério? É essa a sua desculpa para ver ele? Fique sabendo
que eu a quero longe dele, para o seu próprio bem.
— Está me ameaçando? — rosnei, dando um passo à frente.
Não acredito que essa perua teve a audácia de me ameaçar.
Vi John voltando, parando um pouco afastado de nós.
— Está aqui... o que está acontecendo? — perguntou ele, nos
olhando desconfiado.
— Não é nada, querido — Jenna falou cinicamente, abraçando
John enquanto eu pegava o cartão da mão dele. — Só estava
dizendo a Sofya que na próxima semana me mudarei para cá de
vez e que seremos vizinhas — riu.
Não. Não pode ser, John não faria isso comigo... ele não seria
tão cruel, seria?
— Jenna...
— Vai ser ótimo, não vai? — perguntou ela, se afastando para
olhá-lo.
— Será ótimo — falei ironicamente, dando o sorriso mais
forçado do mundo. — Boa noite.
Me virei para ficar longe, antes que minhas emoções falassem
por mim.
— E não se esqueça do que eu te disse, queridinha, não
vamos esquecer quem está no topo da cadeia alimentar, não é? A
plebe deve reconhecer seu lugar. — Essa frase me fez parar na
mesma hora.
Ela vai se arrepender disso, e muito. Virei, andando em
direção a ela, a pegando pelos cabelos e encostando seu rostinho
perfeito na parede, o apertando contra ela. Ignorando seus gritos,
usei toda a minha força para prender suas mãos com minha outra
mão.
— SOFYA! Pare com isso! — gritou John, tentando me soltar
dela, mas virei um soco em sua cara, o fazendo recuar.
— Fique fora disso! Isso é entre mim e essa vadia! — rosnei
pra ele.
Jenna tentou correr para dentro, mas a peguei pelos cabelos
novamente, a deixando como antes.
— Eu só vou falar uma vez e tenho certeza de que será o
suficiente: cuidado com o que você fala, sua recalcada. Eu vou te
colocar no seu devido lugar de uma vez por todas e vou te ensinar
que aqui há apenas UMA rainha, e ela sou EU, não você. Você é o
pior tipo de pessoa, não chega nem aos pés da “plebe”, então sugiro
que engula suas ameaças e que abaixe a cabeça ao passar por
mim! Entendeu? — disse no pé de seu ouvido, esfregando um
pouco a cara dela na parede para que ela me respondesse.
— JÁ CHEGA! — John me puxou para longe, passando seus
braços enormes pelo meu corpo, o prendendo.
É impossível sair do seu aperto.
— VOCÊ É MUITO BAIXA, GAROTA! — gritou Jenna, me
fazendo rir da sua cara vermelha.
— Está tudo bem, John, já fiz o que tinha para fazer aqui.
Agora, me solta! — exclamei, e assim que ele me soltou, sorri para
ela, ajeitando minha roupa.
— SUA PUTA! — berrou ela, tentando vir para cima de mim,
mas sem sucesso, já que John a segurava.
Ri e mandei um beijo, junto com uma piscadela.
— JENNA! Já chega! PARE COM ISSO! — bradou John, a
puxando consigo para dentro do seu apartamento.
Ele me olhou, trincando sua mandíbula e me encarando.
Fechei a cara, o encarando de muitas maneiras... com raiva, mágoa
e dor, muita dor, entrando para casa em seguida, fechando a porta
com força. Me arrastei até minha poltrona, sentando-me nela, ainda
sem acreditar no que acabou de acontecer. Oh meu Deus. Ela vai
morar com ele? Eu não sei se vou suportar vê-los juntos todos os
dias. Olhei para minhas mãos trêmulas, que também estão
vermelhas por ter pegado aquela filha da mãe de jeito!
Eu odeio violência e, principalmente, quando isso acontece
com outra mulher, pois sei que ao invés disso, precisamos estar
unidas acima de tudo. Mas é impossível quando se trata de seres
humanos igual aquela mulher! Não iria deixá-la me humilhar daquele
jeito, não mesmo, ainda mais depois de tudo o que passei para
estar onde estou, coisa que ela nunca vai saber, pois já nasceu com
o dom da “meritocracia” e com seu berço de ouro brilhando. ARGH!
Como John pode estar namorando uma pessoa como ela? Será que
ele não enxerga o que é essa mulher de verdade? Aliás, isso já não
importa agora, ele tomou a decisão dele e os dois estão mesmo
juntos, pra valer. Peguei meu telefone e disquei para minha
emergência.
— Alô?
— Nigel, reunião de emergência, AGORA!
Ele sabe muito bem o que isso quer dizer.
— Oh Deus. Isso não é bom. Me encontre na East Broadway,
e seja lá o que for vamos resolver isso, ou pelo menos tentar.
— Ótimo. — Suspirei, tentando não chorar.
— Vou ligar para nosso suporte, e vê se levanta essa cabeça
dura e vá para lá!
— Ok, te encontro lá — desliguei.
Dei um grande suspiro e peguei a minha bolsa. Espero que
isso resolva.

— Eu! Minha vez! — gritei para o cara do microfone.


Acabou que a nossa “reunião de emergência” está
acontecendo em um karaokê muito legal perto de Chinatown e o
nosso “suporte” são Lea, Shantell e Stanley, o novo e fofo namorado
de Nigel. Contei a eles o que aconteceu mais cedo entre uma
bebida e outra e aqui estou, bêbada, na fossa e indo cantar minha
segunda música, a primeira foi Wide Awake da Katy Parry. Peguei o
microfone do cara, subindo no palco e sorrindo, tentando parecer
sóbria. Vi Shantell cobrir seu rosto com a mão, Nigel boquiaberto,
Stanley espantado, tampando sua boca, e Lea sorrindo, batendo
palmas assim como os poucos restantes aqui no karaokê.
— Tá legal. Essa daqui é antiga, mas vai para pessoas que,
assim como eu, sabem que acabou — balbuciei e logo depois disse
o nome da música para o carinha do meu lado. — Quero todo
mundo me ajudando com a segunda voz! — Suspirei, tentando ficar
bem.
As primeiras batidas da música começaram e eu incorporei a
estrela pop que há em mim, cantando Knowing Me, Knowing You,
do ABBA.
— No more carefree laughter. Silence ever after! Walking
through an empty house, tears in my eyes. Here is where the story
ends, this is goodbyyyyyye. KNOWING ME, KNOWING YOU![22] —
gritei o refrão, fazendo Stanley delirar com as outras pessoas e a
cantarem comigo. — There is nothing we can do! Knowing me,
knowing you, we just have to face it, this tiiiiiime we're through! [23]
— This time we're through! [24] — cantaram eles.
— Breaking up is never easy, I know but I have to go! [25] —
cantei, fechando os olhos e pensando naquele agente idiota! ARGH!
— I have to go, this time I know! [26]
— Knowing me, knowing you, It's the best I can do! [27] —
cantava, dançando no ritmo... dando o melhor de mim já que a
música representa tão bem o que eu tenho com John agora!
Suspirei. — Memories...[28]
— Memories!
— Good days...[29]
— Good days!
— Bad days... [30] — Ai... as lágrimas, não, não e não!
— Baaad days!
— They'll be with me always... [31] — Sem poder cantar o resto,
Nigel e Shantell me tiraram do palco e só agora percebi que estava
em prantos.
— Chega por hoje! Antes que você me deixe traumatizado de
escutar ABBA!
— Vem, vamos para o carro agora. Meu Deus, garota, se
alguém me dissesse que um dia você ficaria assim por alguém eu
não teria acreditado — disse Shant, me carregando para o carro.
— Eu amo aquela música! — disse Stanley, sorrindo para mim.
Entrei no banco de trás do carro de Shantell, ficando entre Lea
e Stanley enquanto Nigel estava no banco do passageiro. Antes de
começar a dirigir, percebi que Shantell falava ao celular com cenho
franzido... xiii. Deitei minha cabeça para trás, fechando os olhos.
Deus, tudo está girando.
— O QUE? O que você foi fazer LÁ, Preston? — questionou
ela, me chamando a atenção. — Oh Deus, então hoje é dia! —
continuou, virando-se para mim e fazendo um bico não satisfeita. —
Mas está tudo bem? — Silêncio... — Ok, estou levando Sofya para
casa. Também te amo. MAS VÊ SE CÊ SEGURA, POIS SE EU
DESCOBRIR QUE VOCÊ FOI LÁ POR OUTRO MOTIVO EU...
Não escutei o resto, porque estava gargalhando com Stanley
no banco de trás. Notei que ela começou a dirigir enquanto
conversava com Nigel. Preciso ouvir algo. Me agachei para a frente,
ligando o rádio... ahhh, essa música. Shantell me empurrou para
trás e quando ela ia mudar de rádio, segurei seu braço.
— NÃO SE ATREVA A MUDAR! — rosnei, a fazendo retirar
seu braço e me xingar, ameaçando me bater, enquanto os outro
riam.
— Deixa ela, Shant, assim poderemos rir disso na cara dela
mais tarde — falou Nigel, aumentando o som.
Não ligava mais para eles, e cantava It Must Have Been Love,
do Roxette bem alto.
— Lay a whisper on my pillow. Leave the winter on the
ground... I wake up lonely, there's air of silence, in the bedroom and
all arooound...[32] — gritei, aceitando meu choro.
Me senti a Julia Roberts no papel de Viviam, de “Uma Linda
Mulher”, quando ela deixa o Edward. Ah, mas que droga, isso dói
tanto!
— Touch me now, I close my eeeyes, and dream away... IT
MUST BEEN LOOOVE, BUT IT’S OOOVER NOOOW! It must have
been good but... I lost it somehow... from the moment we touched 'til
the time had run out... [33] — chorei ainda mais, sentindo Stanley me
confortar.
— Calma querida.
— Toma aqui chefe, vai te ajudar! — Lea disse baixinho, me
entregando uma barra de chocolate e me fazendo chorar ainda
mais.
— Oh Lea. Por que isso tá acontecendo comigo? — A abracei
e logo depois devorei todo o chocolate.
Enquanto comia o chocolate, notei as luzes da Times Square
brilhando do lado de fora enquanto Shantell parou no semáforo.
Escutei uma melodia conhecida ecoando no lado de fora. Vi um
artista de rua, tocando seu teclado e uma pequena bateria ao
mesmo tempo. Deus, eu conheço essa música! Passei por cima de
Lea, abrindo a porta do carro e saindo disparada no meio da Times
Square, quase sendo atropelada.
— SOFYA! — gritou Shantell.
Assim que cheguei no cara, sorri para ele, que me devolveu
um simpático sorriso.
— Você toca e eu canto? — perguntei, ele riu e concordou,
voltando a música do começo. Deus... essa música.
— We crossed the line. Who pushed who over? It doesn't
matter to you, it matters to me. We're cut adrift, but still floating. I'm
only hanging on to watch you go down, my love. [34]
Cantava enquanto via Shantell e Nigel correndo até onde
estou, parando antes, junto a pequena multidão que se aglomera ao
nosso redor nesta noite fria.
— I disappeared in you, you disappeared from me. I gave you
everything you ever wanted, it wasn't what you wanted. The men
who love you, you hate the most. They pass right through you like a
ghost, they look for you but your spirit is in the air. Baby, you're
nowhere [35] — cantei com todo o meu coração, como fiz a noite
inteira, lembrando das palavras que John me disse naquela véspera
de Natal fatídica.
Percebi que havíamos chamado a atenção e, por sorte, os
dólares jogados no chapéu jogado ao chão estão aumentando.
— Oh, love... you say in love there are no rules. Oh, love...
sweetheart, you're so cruel! [36] — Em alto e bom tom, cantei o
refrão, arrancando palmas das pessoas ali.
Como ele pôde ser tão cruel comigo?
— Obrigada, obrigada, mas temos que ir agora — disse minha
irmã, me puxando.
— Hey, mas a música ainda não acabou... — reclamei.
— Acabou agora! — rosnou ela, me beliscando.
— AI!
— Obrigado, minha jovem! — gritou aquele senhor gentil.
— Boa sorte! — gritei para ele, sorrindo e acenando, enquanto
Shantell me arrastava para o carro.
— Se eu levar uma multa eu juro que te mato! — reclamava
ela.
— Mas que música era aquela que você estava cantando, pelo
amor de Deus? — perguntou Nigel.
— So Cruel, do U2. Liiinda, não é?
— Para quem está na fossa, pode ser — disse ele, ajudando
Shantell a me colocar no carro enquanto Stanley e Lea riam.
— Se você fizer outra loucura dessas eu juro que não vou mais
atrás de você, garota! Entendeu? — bradou Shantell, voltando a
dirigir.
— E eu te ajudo! Já chega por hoje, pelo amor de Deus! —
disse Nigel.
Ignorando Shantell, me deitei no colo de Lea, vendo as luzes
passando pela janela, até adormecer, pensando nele.

Assim que entrei na redação, com meus grandes óculos


escuros para esconder minha cara de ressaca — E A MINHA
VERGONHA — fui recebida por Lea me dando um grande café do
Starbucks e me passando todos os recados. Nigel passou por mim,
sorrindo.
— Bom dia, Whitney Houston pré rehab! — riu, passando por
mim.
— Vai se foder — respondi, entrando na minha sala.
— Você sabe que irei te lembrar disso pelo resto da sua vida,
não sabe? — Virou-se para mim.
Parei, antes de entrar completamente, e o encarei, puxando
meus óculos para baixo.
— Eu sei onde você mora — ameacei, colocando meus
óculos de volta no lugar e entrando em minha sala, o deixando rindo
no corredor.
Me joguei em minha cadeira, tirando meus óculos, mas
tampando meus olhos com a mão e tomando um grande gole do
meu café enquanto Lea tagarelava. Deus, minha cabeça está
latejando, não só pela dor, mas pela vergonha de ter ficado como
fiquei ontem, POR UM HOMEM! Ai ai, Sofya, que saudades da sua
antiga versão!
— Chefe? — Cerrando o olhar para Lea, e para a luz que
entra pela janela, a encarei.
— Tem alguma urgência para agora Lea?
— Não, mas em dez minutos você tem uma videoconferência
com Emmanuelle...
— Então, agora estou ouvindo assim — falei, gesticulando
com minha mão, aumentando o espaço entre meus dedos,
demonstrando o quanto ela estava falando. — E quero ouvir assim...
— continuei, diminuindo o espaço entre meus dedos até que se
juntassem.
— Entendido — sorriu, saindo da sala.
— Obrigada — falei, com uma tentativa de sorrir.
Olhei para minha bolsa e peguei o cartão que meu pai havia
me deixado, então aquele filho da mãe construiu uma empresa
bilionária com seu sobrenome, com o meu sobrenome — que eu
nunca fiz questão de usá-lo por causa dele. Abri meu Mac e
comecei a pesquisar a vida dele e toda sua empresa no Google.
Quanto mais eu pesquisava, mais decepcionada ficava. Tudo isso é
pior do que eu pensava, ele ficou podre de rico e não fez questão de
saber como eu estava por todos estes anos! E quer saber mais? Ele
tem outro filho. Um filho muito conhecido pelos tabloides de fofoca.
Parabéns, Sofya, você tem um irmãozinho famoso! É aquele ditado:
quem procura acha!

Remarquei meus compromissos que teria nesta tarde e vim até


a empresa dele, que fica neste prédio gigante e espelhado no centro
empresarial de Nova York com a grande logomarca “Antonov Inc.”
estampada em sua fachada. É muito difícil eu passar por essa
região, mas eu já ouvi falar da empresa por conta do polêmico
playboy Scott Olieg Antonov, herdeiro da gigante multinacional
ucraniana da aviação. Antonov é um sobrenome comum na Ucrânia,
por isso nunca me chamou a atenção ter o mesmo sobrenome,
principalmente porque meu pai nunca mais usou seu nome
verdadeiro, não levantando minhas suspeitas. Entrei, driblando a
segurança, subindo até o último andar em seguida. Andei pela
luxuosa recepção até a grande mesa onde uma mulher elegante
está sentada.
— Boa tarde — cumprimentou ela, sem emoção, me olhando
de cima a baixo.
Tirei meus óculos e forcei meu sorriso.
— Boa tarde, onde é a sala do senhor “Kritsk”, por favor?
— Ah, sinto muito. Ele está ocupado agora. Você tem hora
marcada?
Olhei ao redor do grande escritório e ao fundo vi uma grande e
elegante porta, e só pode ser ali, então fui andando até lá, com
meus saltos batendo no chão de mármore.
— Senhorita, você não pode entrar ali! Senhora!
Ignorei a senhora “Nojinho” atrás de mim e entrei, sem bater.
Ele estava falando ao telefone, mas parou assim que me viu,
ficando pálido.
— Senhor, me desculpe, eu disse a ela que...
— Nos deixe a sós, Amy — disse ele, dispensando a
secretária, que hesitou por um momento, mas saiu. — Errr, eu
preciso desligar Alex, te retorno mais tarde — continuou, colocando
o telefone no gancho.
O encaro, com minha cabeça erguida, sem me mostrar
abalada. Ele está perfeitamente alinhado com um terno cinza bem
chique. É, ele não era mais aquele cara que eu costumava chamar
de pai há anos atrás. Ainda bem que eu também estou bem vestida,
com uma saia lápis branca até os joelhos, combinando com o blazer
acentuado da mesma cor, blusa Versace de estampas nas cores
dourada, preta e branca, em um decote V elegante, e um scarpin
preto altíssimo. Por sorte, minha cara já está melhor, mas somente
por causa da maquiagem, já meu cabelo só deu jeito quando o
prendi em um rabo-de-cavalo alto. Ele continua me analisando.
Comecei a andar, olhando a grande e elegante sala, quem
diria, ele conseguiu mesmo ter o seu “mais”, e isso é bem mais. Vi
os prêmios e certificados da sua multinacional em uma grande
parede, são muitos. Ele tem um império. Olhei para a grande foto
emoldurada no centro da parede, dele e de sua nova família, um
típico retrato que toda família feliz e rica tem. Ele se casou com uma
famosa modelo russa, Claudia Sharapova, em 1999, e no mesmo
ano tiveram seu filho, Scott. Scott tem apenas dezoito anos, mas
seu estilo de vida balado é de um cara de vinte e poucos, o tipo de
cara rico e filhinho de papai que frequenta a elite nova-iorquina.
Não é apenas John que tem suas fontes, por trabalhar no ramo
da comunicação, consigo algumas informações com amigos que
trabalham com esse tipo de mídia, já que o Google não foi o
suficiente para mim. E o senhor “Kritsk Antonov” não gosta de
aparecer na mídia, tendo um contrato de imagem no qual não
permite que veículos de comunicação usem a mesma. Por que será,
não é? Lembro que John me disse que tem um contrato parecido
para proteger sua imagem na mídia, pois ele é um Agente e ao
mesmo tempo filho de uma das socialites mais famosas do mundo,
e essa foi a única maneira que ele encontrou para conseguir ficar
longe desse mundo. Além disso, Kritsk dá uma vida de luxo para
sua família, e pelas fotos não é somente isso que se vê, ele parece
satisfeito com isso. Coloquei minha mão no estômago, sentindo-o
contrair de nervoso. Como ele pôde?
— Fico feliz que tenha aceitado minha oferta de vir me ver —
falou, próximo a mim.
Olhei para ele e percebi que ainda há muita mágoa em mim,
em meus olhos. Ele saiu de casa para conquistar o seu império e
não olhou para trás, não olhou para mim.
— Sofya, eu quero que saiba que eu sinto muito, mais do que
as palavras possam expressar. — Respirei fundo, tentando
recuperar minha postura.
— Eu vim aqui para saber somente uma coisa — consegui
dizer em um sussurro. — Por quê? Por que você foi embora e nunca
mais voltou?
Como se tivesse tomado um soco no estômago, ele cruzou
seus braços em seu peito, desviando seu olhar, tomado por lágrimas
que ameaçavam cair. Ele respirou fundo e pensou, antes de me dar
sua resposta.
— Eu quis voltar, todos os dias desde que deixei você e sua
mãe. Ela sempre soube que a vida que levávamos nunca foi o
suficiente para mim, eu sempre quis mais, sempre quis ser alguém,
como meus pais eram. Ela não aceitava, dizia que o que tínhamos
já bastava, mesmo eu pedindo a ela que eu precisava voltar para o
nosso país. Então tivemos uma briga horrível, e eu decidi correr
atrás disso. — Ele ergueu as mãos para sua sala, referindo-se a sua
empresa. — Voltei para Ucrânia, me arrisquei fazendo negócios e
consegui, consegui tudo isso. Eu fui crescendo neste mundo, mas
quanto mais isso acontecia, mais eu percebia que não estava
completo, até eu perceber que antes disso, eu já tinha tudo... tinha
vocês, tinha VOCÊ. Ivanka tinha razão, mas eu não a escutei.
Então, quando percebi já era tarde demais, eu voltei e sua mãe
tinha morrido. Eu não sabia onde você estava, procurei, mas tive
que fazer isso do meu jeito.
Notei que as lágrimas invadiram seu rosto e ele estava
hesitante em continuar sua história.
— Eu tenho muita vergonha em lhe dizer isso, mas se fosse
atrás de você pelas formas legais, eu seria preso, por ter mudado de
nome e feito coisas não permitidas nas leis deste país, além de ter
fugido, te deixando para trás.
Tampei minha boca, balançando furtivamente minha cabeça,
ainda sem acreditar nisso.
— Meu Deus — sussurrei, andando pela sala e desviando do
olhar dele.
Ele veio até mim, me puxando para que eu voltasse a olhá-lo.
Tive que fazer muito esforço para não recuar do seu toque.
— Aquilo acabou comigo, eu juro por Deus que o remorso em
não ter ido atrás de você me consome todos os dias. A culpa é algo
que eu vou carregar para o meu caixão, algo que nunca vou me
perdoar. Eu amava Ivanka com todo meu coração, assim como eu a
amo, Sofya. Naquele mesmo ano conheci a Claudia. Pensei que ela
poderia curar esse espaço vazio no meu coração, mas não, e estou
pagando pelo preço da minha ambição todos os dias.
Ele limpou seu rosto e encostou em sua mesa, enquanto eu
continuo olhando para ele, petrificada. Ele riu, antes de continuar.
— Me lembro de quando finalmente consegui te achar. Você
tinha acabado de se formar na faculdade e quando soube disso meu
coração se encheu de orgulho. Eu fiquei tão feliz e ao mesmo tempo
triste por não ter participado disso, por não ter te abraçado em sua
formatura. E a partir disso fui acompanhando sua vida de longe,
vendo a mulher incrível que minha filha se tornou, mesmo...
— Mesmo sem você por perto — disse amargamente, o
interrompendo. — Mesmo sem o seu apoio. E quer saber? A sua
escolha de ir embora me fez o que eu sou hoje. Me tornei uma
pessoa melhor, independente, forte e livre, porque desde cedo tive
que aprender a me virar sozinha. Aprendi também o quão a vida
pode ser cruel, mas se você sabe dançar conforme a música você
aprende a lidar com ela. Não preciso do seu orgulho, “Kritsk”, pois
eu mesma me orgulho de quem me tornei — continuei, andando
para lá e para cá, pensando em tudo o que ele acabou de falar e ri,
ironicamente. — Você é tão fraco, que mesmo depois de me
encontrar, há alguns anos atrás, continuou longe.
— Porque eu sabia que você não me aceitaria de volta, não
depois de tudo. Sabia que seria covardia da minha parte aparecer a
esta altura...
— ENTÃO POR QUE VOCÊ APARECEU? — gritei.
— PORQUE EU VOU MORRER LOGO, SOFYA! — Bradou
ele, me deixando em choque.
Ele se recuperou, ajeitando seu terno e indo em direção a sua
janela panorâmica, olhando a vista.
— O que? Como assim...
— Eu tenho alguns meses de vida, e não podia morrer sem
que você soubesse disso, sem que você saiba o quanto estou
arrependido e culpado por ter feito o que fiz com você e com sua
mãe. E principalmente, quero que saiba que eu sempre te amei e
sempre irei te amar. Por isso, lhe peço perdão... perdão por tudo o
que causei a você — disse ele, voltando a me olhar. — Eu entendo
sua mágoa, sua dor e sua raiva e entenderei se não me perdoar um
dia. — Suspirou, fechando seus olhos, como se finalmente estivesse
tirando um grande peso das suas costas ao me revelar isto.
Eu não sei o que dizer. Parece que isso não é real. Então ele
está me dizendo isso porque descobriu que tem poucos meses de
vida? Deus realmente anda por caminhos misteriosos e a vida
muitas vezes prega várias peças com você, mas ultimamente é uma
atrás da outra, me surpreendendo cada vez mais. Ainda sem
conseguir reagir, me sentei em uma das cadeiras de frente a mesa
dele, pensando.
— O que você tem? — perguntei em um sussurro, voltando a
olhá-lo.
— Há um mês, descobri que tenho um tumor maligno no
cérebro, que acabou se espalhando. Não contei a ninguém, poucas
pessoas sabem, além de mim, somente meu médico, meu
segurança e você, claro.
Notei um barulho atrás de mim e vi um cara brutamontes abrir
a porta.
— Está tudo bem, chefe? — perguntou, com o olhar
desconfiado em mim.
— Sim, Petrus, entre. — Ele entrou e se aproximou.
Kritsk foi para perto dele, me olhando.
— Petrus, quero que conheça formalmente Sofya, minha filha.
Petrus ergueu sua mão e deu um meio sorriso. Me levantei,
ainda receosa com toda esta situação, e peguei sua mão, o
cumprimentando.
— Olá, Petrus.
— É um prazer finalmente conhecê-la, Sofya — cumprimentou,
esmagando minha mão.
Então Kritsk falou de mim para alguém nesses anos todos?
— Petrus é meu fiel escudeiro, amigo e segurança.
— Se algum dia precisar de alguma coisa, terei o prazer em
ajudá-la — Petrus disse, fazendo Kritsk rir.
Assenti, timidamente.
— Você contou para mais alguém? — perguntei, fazendo os
dois se entreolharem.
— Ahm, não. Somente Petrus sabe.
Ri, ironicamente. Claro que ele não contou para sua família
que tinha outra família antes.
— E aquele seu namorado.
Voltei a olhá-lo, cerrando o olhar. Namorado?
— Namorado?
— Aquele que estava comigo na sua porta.
— Ah! — ri, nervosamente. — John não é meu namorado.
Novamente, os dois se entreolharam. Mas que raios esses
dois tem de errado?
— Tem certeza? — os dois disseram juntos, me fazendo
revirar os olhos.
— Absoluta. John e eu éramos... amigos.
— Que bom, pois não fui com a cara dele — disse Kritsk.
Mas o que?
— Querida, gostaria de tomar alguma coisa?
— Não. Já fiz tudo o que vim fazer aqui — falei, o encarando.
— Tudo bem. Ahm, pode nos dar licença agora, Petrus?
— Claro, com licença. — Assim que Petrus saiu, ele se
aproximou de mim.
— Será que podemos nos ver novamente? — perguntou.
Sem graça e sem saber o que responder, fugi do seu olhar. Eu
ainda estou realmente com raiva e com mágoa dele, mas confesso
que a história do tumor mexeu comigo, me deixando na corda
bamba.
— E-eu não sei... — gaguejei. — Preciso de um tempo para
digerir tudo isso.
Ele assentiu.
— Eu entendo, mas quero que saiba que qualquer coisa que
precisar, e quando precisar, eu vou estar aqui… até o último dia.
Você tem meu número e aqui é onde eu passo a maior parte do meu
dia, então apareça e ligue quando quiser.
— Tudo bem. — Me afastei, me virando em direção a porta.
— Sofya? — chamou minha atenção novamente. — Obrigado
por ter vindo.
Apertei um sorriso em uma linha fina e assenti, saindo de sua
sala em seguida. Ignorando a secretária, entrei no elevador,
pensando em tudo o que aconteceu. Deus, o que eu farei agora?
Peguei meu celular e liguei para alguém que poderia me dar uma
luz, como sempre fez.
— Alô?
— Hey, Jay — falei sem graça. — Queria saber se podemos
adiantar a sessão para hoje, preciso muito conversar com você.
— Sofya! Aconteceu alguma coisa?
— Sim, mas estou bem, só preciso conversar com alguém.
— Tudo bem, venha daqui meia hora e conversaremos então.
— Tudo bem, obrigada! — Desliguei, suspirando.

O soco de Sofya ainda dói, mas não tanto quanto foi ver o
olhar dela ao entrar em seu apartamento. Quando vi ela e Jenna se
encarando em minha porta, soube de imediato que algo estava
acontecendo entre as duas, não sei exatamente o que Jenna falou
para Sofya ter agido daquela maneira, mas sei que foi algo sério. E
assim que fechei a porta, fui tirar satisfações com ela.
— O que foi aquilo Jenna?
— Você não viu? Aquela louca me atacou sem mais nem
menos! — Sentou-se no sofá, alisando seus pulsos e ajeitando seu
cabelo. Sei que se Sofya quisesse mesmo ter machucado ela, teria
feito.
Isso não foi nada, para a sorte de Jenna, e para a minha
também, já que não me machucou muito.
— Ela não teria feito aquilo sem motivo, Jenna. O que você
disse a ela?
— Por que eu? Ela que começou, você viu! E por que você
continua a defendendo? — falou, começando a chorar.
ARGH! Estou farto disso, já chega. Peguei minha jaqueta
pendurada ao lado da porta, minhas chaves e carteira, indo na
direção da porta. Não quero ficar aqui por nem mais um minuto.
— Aonde você vai? — perguntou, levantando-se.
Não respondi.
— John? Você não vai atrás dela, vai? — continuou enquanto
eu abria a porta.
Eu ia sair sem respondê-la, até que ela pegou meu braço,
chamando minha atenção.
— John!
— Eu preciso de um tempo, Jenna. Me deixe em paz — falei,
saindo rapidamente de lá.
Não sei o que estava pensando quando concordei com a ideia
de Jenna em vir morar aqui até que a reforma do seu apartamento
ficasse pronta, na verdade, eu acho que me arrependi assim que
disse “tudo bem” como resposta. Droga! Mas também não poderia
ter dito não a ela. E por que ela havia dito isso a Sofya? Que merda!
Chamei o táxi, entrando nele, dizendo ao motorista onde irei. Olhei
pela janela, ainda pensando no olhar de Sofya, que não sai da
minha cabeça! Droga, o que aquela garota fez comigo? Ficar longe
dela está me deixando louco e não paro de pensar em nosso último
beijo. Por que tudo tem que ser tão difícil? A minha vontade é
arrancá-la dos braços daquele médico folgado e reivindicá-la, para
sempre. O fato de saber que ela quer ir atrás daquele mal caráter do
pai dela me fez ficar em alerta também. Eu não gostei daquele cara
e, se ela for mesmo encontrar com ele, gostaria de estar perto a
todo momento, somente para ele saber que há alguém por perto
para protegê-la sempre que precisar. Há muito se passando pela
minha cabeça, e a única coisa que eu queria é estar ao lado dela,
mas não posso, então vou tentar relaxar um pouco, ou pelo menos
tentar, em um lugar que está se tornando minha segunda casa.

— Outra! — pedi para o garçom.


Já perdi as contas de quantas doses de whisky já havia
tomado, não só whisky, mas alguns outros drinks também.
— Vai com calma, cara — alertou Mark, que está sentado ao
meu lado, assim como Jones. — Olhe só para ele, Jones. O maior
cafajeste da cidade sofrendo por amor. Isso é hilário.
— Por que você não vai embora? — resmunguei, os fazendo
rir.
— Porque chegamos aqui primeiro. E, ao contrário de você,
estamos apreciando o show, não é garotas? — disse ele, apontando
para as strippers que dançavam no palco ao lado do bar.
Eu tinha me esquecido que alguns agentes adoram vir aqui
para “relaxar” de certas maneiras. O bar parece ter parado no
tempo, para ser mais exato, na década 90. Os neons já
estão confundindo minha visão, quer dizer, acho que a bebida
também ajudou um pouco com isso.
— Eu vivi para ver John Neeson de porre por uma garota —
disse Jones, tirando sarro de mim.
Assim que o garçom me entregou a dose, a bebi na hora.
— Me traz a garrafa... cheia! — falei. — E você, é melhor calar
essa boca — resmunguei, os fazendo rir.
O garçom voltou com a garrafa, que neste momento já
está quase no final. E agora é oficial, estou bêbado... muito bêbado.
Escutei eles anunciarem outra garota para subir ao palco,
chamando minha atenção. A música começou e fui cambaleando
até próximo ao palco, me sentando em frente a ele, ignorando Mark
e Jones atrás de mim. Hey, eu conheço essa música.
“Lemon. See through in the sunlight, she wore lemon…” [37]
A mulher à minha frente está com uma lingerie cor de limão
neon, parecendo a blusa que Sofya estava hoje, as luzes estão
confundindo meus olhos e minha mente. A música ainda me
hipnotiza enquanto a mulher dança, fazendo alguns movimentos no
pole dance.
“Never in the daylight. She's gonna make you cry. She's gonna
make you whisper and moan.”[38]
Deus, o que está acontecendo comigo? A dançarina soltou
seus cabelos longos e castanhos. Esfreguei minhas mãos no rosto,
tentando clarear minhas ideias enquanto as luzes neon
iluminam tudo, confundindo minha mente. A dançarina olhou para
mim, seus olhos castanhos... fechei os olhos, os apertando, e os
abrindo em seguida. A dançarina veio para mais perto de mim,
focando em meu olhar. Pisquei algumas vezes... Deus, não pode
ser! Ela não...
“But when you're dry, she draws water from a stone. I feel like
i'm slowly, slowly, slowly slipping under. I feel like i'm holding onto
nothing. She wore lemon, to colour in the cold grey night. She had
heaven and she held on so tight.” [39]
Ela ficou a minha frente, e é ela... ela está dançando, como
sinto falta dela dançando para mim, de vê-la dançando.
— Sofy... Sofya? — sussurrei seu nome.
Ela dança sensualmente, me olhando maliciosamente. Ah
como eu sinto falta dela! Escutei alguns caras atrás de mim
assobiando e falando coisas sujas, chamando minha atenção. Não,
esse filho da puta não vai fazer isso na minha frente. Ignorando
Mark e Jones, que falavam algo e tentavam me manter no lugar, fui
em direção àquele velho safado, enquanto a única coisa que ainda
conseguia ouvir claramente era a música.
— Eu vou fazer você engolir essas palavras, seu desgraçado!
— rosnei, dando-lhe um soco.
— John!
“And i feel like i'm drifting, drifting, drifting from the shore. And i
feel like i'm swimming out to her. Midnight is where the day begins...”
[40]
Cambaleei para trás, perdendo o equilíbrio ao socar a cara do
desgraçado. Não vi quando outro grandalhão veio em minha
direção, me dando um puta soco, me fazendo cair. Tentei me
levantar, mas não consegui, a vertigem me atingiu em cheio, e o que
eu consegui ver foram borrões de uma briga generalizada, Mark e
Jones distribuindo socos por todos os lados. Senti mãos me
levantarem pelo colarinho.
— Você vai se arrepender de ter feito isso seu filho da puta! —
falei para aquele velhote gordo.
— Vai se foder! — disse antes de tomar outro soco.
Vi a mão dele se levantar novamente, mas antes de tomar
outro soco, não sei bem o que aconteceu, mas vi Preston socando a
cara do velhote.
Mas?
— Preston? — perguntei, confuso.
As luzes continuam me confundindo, o forte efeito da bebida
mostrava cada vez mais presente em meu corpo, e aquela música...
aquela música ainda ecoava. Me levantei, com dificuldade.
— SOFYA? — gritei por ela, a chamando.
“Lemon. See through in the sunlight. A man melts the sand so
he can see the world outside, (You're gonna meet her there). A man
makes a car, (She's your destination) and builds a road to run them
on, (You gotta get to her). A man dreams of leaving (She's
imagination), but he always stays behind. And these are the days
when our work has come asunder. And these are the days we look
for something other” [41]
Mas que diabos ela está fazendo aqui? DANÇANDO PARA
ESTRANHOS? Fui cambaleando para o palco, onde ela ainda
estava. Eu vou tirá-la daqui! Para longe desses abutres! Ela recuou
quando me viu se aproximar, mas a peguei pelo braço.
— Sofya!
Ela se virou... mas não é ela? Mas? Que porra?
— JOHN! VAMOS EMBORA AGORA! — bradou Preston me
puxando, me fazendo perder o equilíbrio, mas ele me segurou
novamente.
Olhei para trás, ainda procurando por ela. Não é possível!
— Cadê ela? Onde ela foi, Preston?
— Ela quem, John? Precisamos sair daqui logo!
— CORRE! — Ouvi Mark gritar, saindo disparado em nossa
frente junto a Jones.
Preston me puxou ainda mais e tentei correr o quanto pude.
Olhei para trás e vi aqueles brutamontes correndo atrás de nós.
Saímos de lá, entrando no carro de Preston rapidamente e por sorte
Preston já acelerava, acelerando rapidamente, quando aqueles
caras chegaram no estacionamento.
— Mas que merda foi aquela John? Aqueles caras são de um
clube de motociclistas! Quase fomos mortos! — Jones reclamou.
— Merda, ele está sangrando — falou Mark, pegando meu
rosto.
Encostei no banco, tentando recuperar meu fôlego.
— Tem um posto há alguns metros, vou parar lá.
Não vi quando chegamos no posto, mas abri meus olhos
novamente quando senti muita água em meu rosto.
— Mas que merda é essa? — falei, balançando a cabeça. E
como eu fui parar fora do carro, sentado no capô?
— Preciso tirar esse sangue da sua cara, seu idiota — disse
Preston, agora enxugando meu rosto. — Você abriu seu supercílio,
de novo... Jesus, John, já era para você estar cego desse jeito! No
que estava pensando naquele bar?
— Onde está ela, Preston? Temos que voltar lá! — balbuciei.
— Mas de quem diabos você está falando?
— Sofya! — chamei ela.
— Ele disse o nome dela algumas vezes enquanto babava por
aquela garota no palco — falou Jones.
— Agora tudo faz sentido — Preston falou, balançando a
cabeça negativamente, ainda me repreendendo com o olhar. —
Você é mesmo um idiota. Ela não está lá! Está com Shantell. Que,
aliás, acabou de me ligar e ficou uma fera comigo por saber que fui
naquele lugar! E tudo isso por sua culpa!
Ele jogou a bolsa de gelo para mim, que consegui pegar
depois que bateu no meu ombro, enquanto Mark e Jones riam dele.
Coloquei a bolsa em meu rosto, que ainda sangrava, e comecei a rir
também.
— E é bom você não rir, ou vai a pé para casa!
— E aquela música... a música que estava tocando? —
perguntei.
Aquela música não sai da minha cabeça, assim como Sofya.
— O que? — questionou Jones.
— A música que estava tocando enquanto aquela garota
dançava.
— Inacreditável — riu Mark. — Depois daquela confusão toda
você pergunta que música estava tocando naquela hora?
— Dá para falar ou não? — perguntei rindo, mas sem
paciência.
— Você é realmente um idiota. Era Lemon, do U2 —
respondeu.
Eu disse que conhecia aquela música! Eu gosto de U2, mas
não escuto na mesma frequência que Sofya. Sempre escutávamos
alguns álbuns dos caras em sua vitrola. É uma das bandas
preferidas dela.
— Já chega disso, vamos sair daqui. Vou te levar no hospital
— disse Preston.
— Nem pensar. Eu já estou bem.
— Você deveria se ver agora, sua cara está uma porcaria.
Tudo bem, vamos para minha casa, daremos um jeito.

Depois que deixamos Mark e Jones em suas casas, fomos


para a casa do Preston. A pior coisa de ficar bêbado, é ficar sóbrio
depois. Agora estava sentido a consequência de toda aquela
confusão no bar.
— Aguenta só mais um pouco, cara — ele falou, usando seus
braços para me ajudar a sair do elevador do seu prédio, quase me
carregando.
Antes mesmo de chegarmos na porta do seu apartamento,
Shantell abriu a porta, se espantando em nos ver.
— Oh meu Deus! O que aconteceu? — perguntou ela,
enquanto entrávamos.
Caralho isso está doendo demais. Me sentei em uma das
cadeiras da mesa, colocando a mão em meu machucado.
— Ele precisa de alguns cuidados.
— Alguns? Ele precisava ir para o hospital! Oh meu Deus,
John! Em que você se meteu? — questionou, se agachando a
minha frente. — Pegue o kit de primeiros socorros e algumas
toalhas para mim, Baby. Ah, sim! E um comprimido para a dor
também, na caixa de remédios!
— Ok — falou ele, voltando logo em seguida com o kit e o
comprimido, que tomei na hora. — Acho que vai precisar disso
também — disse, me entregando uma garrafa de whisky, que aceitei
de bom grado.
— Ele já está bêbado o suficiente, não acha? — brigou
Shantell, tirando a garrafa da minha boca e a colocando longe de
mim.
— Hey! — reclamei.
— Sabe, eu e Preston somos tão bons amigos para vocês!
Mesmo vocês bebendo feito dois porcos e fazendo besteira depois!
Vocês dois?
— Vocês dois? Quem?
— Quem? Você e Sofya, claro! Vocês são iguais! Dois sem
vergonha!
— Ela está bem? — balbuciei enquanto ela cuidava do meu
supercílio.
— Agora está! Fique quieto, antes que eu me arrependa. —
Fiz o que ela pediu, enquanto Preston ria.
Pensei no que Shantell acabou de falar. Será que Sofya se
arrependeu? Será que ela ainda pensa em mim a ponto de sair por
aí como eu faço? Como eu faço para esquecê-la? Eu não sei, mas
eu sei que tinha prometido deixá-la em paz, mas agora essa
promessa está quase sendo quebrada por mim
Os dias se passaram, Kate já é uma mulher casada e
enquanto estava curtindo sua lua de mel no Caribe, eu me matava
por nós duas na redação. Fevereiro é um mês curto, mas os dias
andam passando rápido demais e quando percebi o mês já está
acabando. Durante esse tempo recebi algumas ligações de Kritsk,
algumas eu atendi, outras não, ainda não sei o que fazer. E aqui
estou eu, olhando para a lareira, tomando minha taça de vinho e
pensando em minhas promessas de ano novo. Será que devo
perdoar meu pai? Será que devo tirar esse arrependimento de sua
vida antes que ela se vá? As palavras de Jay não saem da minha
mente, “se ele se for mesmo, para sempre, como você irá se sentir?
Você quer essa distância para sempre ou prefere ter outra chance
com ele? Qual dessas escolhas trará paz a você?”. A verdade é que
por mais que ele tenha me feito sofrer, eu nunca desejei mal a ele.
Olhei para o celular em minha mão e parece que ele está ainda
mais pesado. Preciso fazer isso, até porque quero me tornar uma
pessoa melhor, então toquei em seu contato com dificuldade e não
demorou para que ele atendesse.
— Sofya?
— Oi... — Deus, esqueci de ensaiar minha fala. Mas qual é
minha fala? O QUE EU VOU DIZER PARA ELE? Como você é
burra, Sofya! — Ahm, você disse que queria conversar melhor
comigo, então eu... — Droga, isso é tão difícil! — É... — Engoli em
seco, me perdendo com as palavras.
— Pode me encontrar para um jantar hoje? — disse ele,
percebendo meu esforço.
— É... tudo bem, acho que isso não irá me matar — ri de
nervoso, enquanto ele também ria.
— Ótimo! Fiquei muito feliz por ter ligado! Petrus irá buscá-la
em seu apartamento, se não houver problema, claro.
Bem, até que não é uma má ideia, até porque eu COM
CERTEZA irei beber e não poderei voltar dirigindo para casa, e
também posso economizar o dinheiro do táxi...
— Querida?
— Ok! Estarei pronta daqui uma hora.
— Combinado, te vejo em uma hora. Até!
— Até.
Encerrei a chamada com meu coração pulando. Isso vai ser
muito difícil, mas não posso fugir disso para sempre, pois ele não
tem muito tempo! Fui me arrumar e quando estava perto do horário
de Petrus chegar, escutei a campainha tocar. Fui até a porta, a
abrindo.
— Hey, linda! — Steve abriu seu lindo sorriso para mim.
Ele tinha viajado para um congresso na Califórnia e ficou fora
por quase duas semanas. Steve ainda me irrita um pouco, mas
acaba fazendo falta mesmo com seu jeito bobo e engraçado.
— Sentiu minha falta?
— Steve! — falei, o abraçando.
Ele me esmagou com seus grandes braços ao redor do meu
corpo, me tirando do chão. Por entre os ombros dele, notei que John
subia as escadas com Jenna, mas parou assim que nos viu,
cerrando o olhar. Me afastei de Steve, ainda olhando para John, que
voltou a subir as escadas. Seguindo meu olhar, Steve virou para
trás, encarando John.
— Boa noite, vizinho! — debochou Steve.
Steve é tão folgado que me faz perder a paciência, então lhe
dei um cutucão. Ele adora queimar o pavio curto de John.
— Ai! O que foi?
— Para! — sussurrei.
— E vizinha! Prazer, sou Jenna, namorada do John! — disse a
Barbie Malibu nojenta, cumprimentando Steve.
Olhei para John, que ainda fuzila Steve com o olhar.
— Ah! Muito prazer Jenna. Eu sou o Steve, namorado da
Sofya!
Namorado?
— Namorado? — John e eu exclamamos ao mesmo tempo.
Steve me olhou, um pouco sem graça, mas sorrindo, e eu
continuo sem entender nada.
— Parabéns, Sofya estava precisando de um namorado
mesmo! — disse Jenna, cinicamente, e agora foi a minha vez de
fuzilá-la com o olhar.
— Devo dar os parabéns? — rosnou John, trincando sua
mandíbula, encarando a mim e a Steve.
— Steve, vamos entrar — falei, o puxando para dentro, antes
que isso vá longe demais.
— Claro que sim, afinal fui eu o felizardo, não é? — provocou
Steve.
— Steve! — repreendi ele, mas já era tarde demais.
Com a força de um touro, John foi para cima dele, dando-lhe
um soco certeiro no rosto.
— Eu vou acabar com você! — rosnou John, distribuindo
socos em Steve, que se defendia.
— JOHN! — gritei, enquanto Jenna apenas gritava feito uma
histérica.
Tentei tirar John de cima de Steve, sem sucesso. Ele é grande
demais.
— Hey, parem com isso. — De repente vi Petrus, tentando
separar os dois, conseguindo tirar John de cima de Steve.
— SEU FILHO DA PUTA! — gritou Steve com o
nariz sangrando, se levantando para ir para cima de John
novamente, mas entrei em sua frente o impedindo e o empurrando
para trás, com certa dificuldade, já que ele também é bem forte.
— Steve, já chega! — falei, o fazendo parar.
Olhei para trás e vi que Petrus ainda segura John. Petrus
consegue ser ainda mais alto que John, por sorte.
— ME SOLTA! — gritava John.
— Vou te soltar somente quando se controlar, rapaz! — disse
Petrus, mantendo a calma.
— Chega disso, John! — falei, o fazendo parar também,
enquanto ele ainda encarava Steve de maneira mortal, até passar a
olhar para mim novamente.
— Parabéns, Sofya. Outro otário para sua coleção, não é? —
disse ele, com mágoa em sua voz.
Lá está, a parte dele que eu sempre detestei, a mania de
machucar as pessoas quando ele está furioso.
— Vai se foder, John — disse, quase em um sussurro, o
olhando da mesma maneira.
— Cuidado com o que fala, rapaz. Agora vá para sua casa —
disse Petrus e John o encarou.
— E quem é você?
— O que você tem que saber é que eu estou de olho em você
— falou Petrus, voltando a olhar para mim. — Está pronta, Sofya?
Kritsk está te esperando.
— Você é o segurança daquele desgraçado — riu John,
ironicamente. — Ele decidiu cuidar da filha agora?
Perdendo a paciência, Petrus pegou John pelo colarinho, o
encostando na parede.
— Já disse para tomar cuidado com o que fala, rapaz —
rosnou Petrus.
— Petrus, não! Chega, por favor! — pedi, o tirando de perto de
John, que ao invés de se afastar, encarou Petrus até o final sem
demonstrar medo algum.
— Olha o que você causou, sua piranha! — exclamou Jenna.
Essa vadia não aprende mesmo!
— Como é que é? — rosnei.
— Não vou gastar minhas palavras com você!
— Tem razão, eu também não, mas minha mão vai! — falei,
acertando um tapa na cara dela, a fazendo perder o equilíbrio.
— Sofya! — bradou Steve, me puxando junto a ele.
— CHEGA! — gritou Petrus.
— Vamos, Jenna — disse John, puxando Jenna para si. E
agora minha vontade de bater nela triplicou.
John voltou a olhar para Petrus, o encarando.
— Isso não vai ficar assim — falou, entrando em seu
apartamento com aquela vadia loira.
Olhei para Steve, que ainda está sangrando pelo nariz.
— Oh, Steve! Petrus, pode me dar uns minutos? Não posso
deixá-lo assim.
— Tudo bem, eu aviso seu pai — concordou, descendo as
escadas.
Levei Steve para dentro, o sentando em minha bancada...
como fiz com John algumas vezes.
— O que foi aquilo, Steve?
— Você ainda gosta daquele cara, Sofya? — perguntou em um
tom sério, enquanto eu pegava gelo.
— Estou com você, não estou? Mas isso não te dá o direito de
dizer que está namorando comigo! — respondi, o fazendo dar um
meio sorriso enquanto colocava o gelo em seu nariz.
— Tudo bem, mas você já pensou no assunto? — perguntou,
me olhando.
O encarei, processando o que ele acabou de dizer. Namorar?
Com o Steve? Não. Não estou preparada para isso, mesmo John
sendo um idiota e merecer que eu esfregue isso na cara dele, não.
Não amo Steve como eu amo... amava John.
— Linda? — continuou Steve, pegando meu queixo e o
levantando, fazendo com que eu o encarasse novamente.
— Steve... — Fugi do seu toque. — Não acho que seja a hora.
Ele me encarou, com a expressão um pouco triste e seu olhar
baixou.
— Tudo bem, eu entendo.
— Obrigada — falei, voltando a cuidar dos seus ferimentos.
Ele me olhou, sorrindo, tirando o gelo da minha mão e o
colocando de lado, me envolvendo pela cintura em seguida, fazendo
com que eu sentisse seu pau duro em meu ventre. Oh Deus...
— Eu senti sua falta, sabia? — sussurrou em meus lábios. —
Senti falta da sua boca — continuou, me beijando calorosamente.
Ele me virou, afastando meus cabelos do meu pescoço para
beijá-lo, me provocando arrepios. Ele contraiu mais seu pau atrás de
mim, prendendo suas mãos e minha cintura.
— Steve, eu tenho que ir agora... estão me esperando.
— Eu ainda não matei minha saudade — sussurrou em minha
orelha.
Steve pode ser irritante as vezes, mas o sexo é bom... muito
bom. Mesmo que na hora me pareça uma boa distração, depois eu
sempre me sinto péssima, pois me lembro de como eram mágicos
os momentos com John na cama.
— Steve — murmurei, sentindo seus beijos em minha nuca.
Sua mão foi para o meio das minhas pernas, apertando meu
centro por cima do jeans.
— Preciso estar dentro de você.
Rapidamente, ele abriu minha calça, a abaixando, passando
suas mãos pelo meu corpo, arrancando minha blusa. Escutei o cinto
dele se abrir e sua calça cair no chão, logo após escutei o pacote do
preservativo se abrir. Sua mão apertou minha bunda e a outra foi
para o meu mamilo, o beliscando, me fazendo gemer. Me inclinei um
pouco, e ele tirou minha calcinha, enterrando fundo seu pau em
mim, nos fazendo gemer.
— Deliciosa — falou em minha orelha, beijando meu pescoço
depois.
Ele começou a acelerar o ritmo, dando fortes estocadas e me
fazendo gemer, pelo prazer que vem chegando. Minhas paredes
internas contraíram seu pau, o fazendo grunhir e me foder mais, me
levando ao orgasmo em um gemido curto. Não demorou muito,
Steve também atingiu o seu, encostando sua cabeça na curva do
meu ombro. E essa é a pior parte. Me afastei, colocando minhas
roupas novamente, enquanto ele ainda me olhava, um pouco
decepcionado.
— Você tem que ir mesmo ver seu pai? Achei que não queria
mais falar com ele — questionou, colocando sua calça de volta.
— Sim, mas achei melhor ter essa conversa com ele—
respondi, enquanto me ajeitava. — Tenho que ir agora, vai me
acompanhar?
— Sim, podemos nos ver depois?
— Eu te ligo quando voltar — falei, enquanto andávamos em
direção à porta.
— Tudo bem.
Andamos em silêncio até a porta do prédio, onde Steve me
beijou docemente, olhando para Petrus em seguida, que está
encostado em um elegante carro preto em frente à entrada.
— Cuide dela, tá legal? — disse Steve.
— Não se preocupe, rapaz. Boa noite.
Me despedi dele, entrando no carro e encarando Petrus pelo
retrovisor do carro.
— Que noite, não acha? — ele comentou.
Fiquei em silêncio, pensando naquela confusão toda e nas
palavras de John. Realmente, que noite.

O Unic é um restaurante lindo, aconchegante e chique, que


fica no topo de um arranha-céu em Manhattan, além de ser um dos
meus restaurantes preferidos também, e é aqui que Kritsk resolveu
me encontrar. Assim que sentei a mesa, notei que seu rosto estava
mais iluminado, não pálido e caído como vi da última vez.
— Como vai, minha garotinha?
Ouvir ele dizer isso me traz tantas lembranças e feridas. Ele
notou meu olhar baixo e deu um pigarro desconfortável.
— Me desculpe...
— Tudo bem, Kritsk, só evite falar essas coisas.
— Tudo bem, mas você pode me chamar de Kris... ou de pai,
se preferir — sorriu.
Foi inevitável dar um meio sorriso ao vê-lo sorrir. É o mesmo
sorriso que me lembrava.
— Ok. Kris.
Pedimos as entradas e ele conversava distraidamente comigo,
como se nunca tivesse ido embora. Ele contou sobre sua empresa e
as histórias de como ele deu duro para que a Antonov Inc.
crescesse, se tornando o que é hoje, além de algumas outras
histórias engraçadas. Não posso negar, Kritsk, ou Kris, tem um
humor negro que conheço muito bem, igual ao meu, e isso fez com
que o clima de “olha só quem voltou depois de anos” se quebrasse
gradualmente, me deixando mais aliviada, já que venho fugindo
desses assuntos. Ele fez com que eu contasse um pouco do meu
trabalho e o que venho fazendo. Foi inevitável não rir quando ele
disse que detesta Donatella, uma das amigas íntimas da sua
esposa, Claudia.
— Então, Sofya… eu falei sobre você para minha família.
Chega de segredos em minha vida.
MAS O QUE? Engasguei com o vinho, derrubando metade em
minha roupa.
— Você está bem, querida? — perguntou, me entregando um
guardanapo.
Assenti com a cabeça.
— Como assim? — consegui falar, me limpando.
— Um dos motivos que queria falar com você, é que eu
preciso de todos vocês reunidos amanhã, em minha casa.
— Hey, hey, hey, espera aí. Me explica tudo isso melhor, sua
família sabe de tudo?
— Sabem — disse ele. — Não vou mentir, eles não reagiram
muito bem a essa notícia, principalmente Claudia. Estou dormindo
há dias no quarto de hóspedes. Mas isso não importa, quero que
todos saibam que você é minha filha. Por isso eu realmente preciso
que vá ao jantar em minha casa amanhã.
— Precisa?
— Sim. Quero discutir algumas coisas importantes, e você é
minha filha, quero que participe da família.
— Quer? Você não sabe se eu quero participar disso!
— Sim, eu sei e você tem razão! Mas estou te pedindo,
somente amanhã, é realmente importante para mim.
Bufei, lembrando da delicada situação que ele está.
— Somente amanhã! — respondi, o fazendo sorrir.
— Obrigado, querida!
— Sua família sabe da sua... situação? — perguntei, me
referindo a sua doença.
— Não, ainda não, minha vida viraria um inferno se
descobrissem.
— Isso é errado, eles devem saber — falei, terminando de
comer o prato principal.
— Eu sei, terei que falar com eles sobre isso, não tenho outra
saída e você vai descobrir, mais cedo ou mais tarde, o porquê eu
não disse nada — disse, com amargura em sua fala, finalizando seu
prato também.
Decidi não responder e apenas olhar para baixo.
— Sobremesa? — perguntou, já chamando o garçom.
— Ahm, tudo bem — falei, olhando para o garçom.
— Dois brownies com sorvete de creme e calda de chocolate,
por favor — pediu Kris, notando meu olhar surpreso.
Assim que o garçom saiu, ele entendeu meu olhar, e sorriu,
preparado para explicar.
— Sei que esse é um dos seus restaurantes preferidos. Em
uma das vezes que vim aqui, para ver como você estava, de longe,
notei que sempre pede a mesma sobremesa — riu. — E isso me
lembrou dos nossos cafés da manhã juntos — continuou ele,
nostálgico.
— Você vinha aqui somente para ficar me espiando?
— Não é bem espiando, mas só queria ter a oportunidade de
te ver mais de perto. Juro que aqui foi o único lugar que fiz isso.
Bufei, me sentindo um pouco incomodada com essa revelação.
— E me desculpe por isso.
Por sorte, depois de alguns minutos de silêncio constrangedor,
nossa sobremesa chegou e ele, novamente, puxou assunto.
— Então, que confusão foi aquela hoje? — perguntou, quase
me fazendo engasgar novamente.
— O que?
— Petrus me contou. Você está namorando então?
— Não. Steve e eu estamos apenas...
Não posso dizer o resto.
— Ok... não precisa dizer, eu entendi — falou, em choque. —
Mas aquele Agente ainda continua atrás de você?
— Como sabe que John trabalha para o FBI?
— Bem, soube que ele andou nos investigando, então
precisávamos saber quem ele é, o investigando também. — Eu
sabia! — Petrus disse que ele é bem folgado, mais do que sei que
ele é.
— Kris, por favor, não quero falar de John.
— Tudo bem — concordou desconfiado, mas deixou pra lá.
Terminei minha sobremesa e, por sorte, ele voltou a
descontrair com outros assuntos. Notei que assim como eu, quando
ele está nervoso também começa a falar demais. Quer dizer, notei
muitas coisas e várias semelhanças. É como se eu me olhasse no
espelho, vendo meu reflexo. Agora entendo quando minha mãe
sempre dizia que eu era mais parecida com ele do que com ela, e
entendo também o porquê de ela não querer mais me olhar depois
que ele foi embora. Algumas coisas estão começando a fazer
sentido para mim.

— Tem certeza de que não quer mesmo que eu vá como


você? Ainda acho um erro você ir sozinha — falou Shantell no viva
voz do celular, enquanto eu me arrumava para esse tal jantar do
Kris.
— Tenho. Acho que posso lidar com isso sozinha, já está na
hora — respondi, colocando um vestido marfim acinzentado, com
mangas compridas, decote alto, justo até a cintura e aberto até a
altura do joelho.
— Tudo bem, mas não deixe de me mandar notícias assim que
estiver na casa dele, não confio nesse homem — falou, suspirando.
— Me desculpe, eu sei que ele é seu pai, mas o que ele fez a você
ainda não me entra na cabeça.
— Eu sei, nem na minha, mas tem essa história do tumor
cerebral — falei, me sentando no pequeno puff do closet e calçando
meu peep toe preto. — Isso acabou mexendo comigo de certo
modo, ele vai morrer logo, Shant, e a possibilidade de não
esclarecer tudo antes que ele possa partir de vez me deixa
apavorada. Não sei explicar direito, é diferente. Isso me deixou com
algumas dúvidas.
— Quais?
— Antes eu queria que ele não tivesse voltado, mas se eu
descobrisse algum dia que ele morreu sem ao menos voltar para dar
explicações, seria mil vezes pior. — Suspirei, me olhando no
espelho, pensativa. — Por mais que ele mereça meu desprezo por
ter feito o que fez, ele me pareceu bem sincero ao me revelar seu
arrependimento e suas desculpas, e acho que levar isso para o
caixão é um fardo enorme.
— Então você está fazendo isso porque acha que ele vai
morrer logo e não quer que ele morra com o peso de ter te
abandonado sobre ele?
— É... acho que é isso.
— Garota, para quem era a vilã até um tempo atrás, você está
se saindo a própria Madre Teresa de Calcutá! — debochou ela, me
fazendo rir.
— Estou longe disso, mas faz parte dos meus objetivos de ano
novo e acho que também fará bem para mim.
— E é isso que importa, você já fez tanto por tanta gente,
amiga! Agora está na hora de pensar em você e no que irá te fazer
bem!
— Vou tentar — sorri.
— Ok, vai lá e não leve desaforo para casa. Pelo que você me
falou a sua nova família tem mais dinheiro que um banco e sua
madrasta é mais famosa que a Kris Jenner.
— Não é minha família, para deixar isso claro. E eu não estou
tão boazinha assim para aceitar uma madrasta, quanto mais um
irmão mais novo — ironizei, a fazendo rir.
— Tudo bem! E não esqueça que daqui duas semanas vamos
fazer a prova dos vestidos! Eu juro que ainda vou ficar louca com
esse casamento!
— Não vai, e não se preocupe! Eu estarei lá! Tchauzinho!
— Arrasa! Tchau!
Encerrei a chamada e peguei meu longo casaco preto, saindo
e encontrando Petrus na entrada do prédio. Está na hora, cabeça
erguida, Sofya. Cabeça erguida sempre!

— Se acalme, menina. Tudo dará certo — falou Petrus assim


que o elevador da grande cobertura abriu a porta.
— Para você é fácil falar, conhece ele e tudo isso melhor que
eu — disse, enquanto entrávamos.
— Se me permite dizer, seu pai é uma das melhores pessoas
que conheço na vida. Devo minha vida a ele, Sofya, literalmente.
Um dia já fui um viciado em jogo, estava devendo para o pior tipo de
gente, para ser mais específico, a máfia russa. Seu pai viu potencial
em mim, coisa que ninguém jamais viu, pagou minha dívida e me
ofereceu este trabalho para que eu pudesse pagá-lo de alguma
forma, por isso o jurei minha lealdade e a minha amizade. — Ele
nos fez parar e continuei a escutar sua história com atenção. — Em
todos esses anos de serviço e amizade, não houve um só dia em
que ele não falasse de você. Cada palavra que ele disse a você é
verdade, sou testemunha de seu arrependimento e de seu
sofrimento. — Olhei para o chão, pensando nas palavras dele. —
Lhe garanto que seu pai é uma boa pessoa. Tente dar uma chance
para que ele mostre isso a você.
— Aí está você! — disse Kris, vindo em minha direção. —
Obrigado, Petrus.
— Não por isso. Boa noite — Petrus se despediu. Em seguida
virou-se e deu-me uma piscadela para que aquilo ficasse entre nós.
— Você está deslumbrante, querida! Venha, sinta-se em casa
— disse, me guiando com sua mão espalmada em minhas costas.
A luxuosa cobertura é gigantesca. Quando chegamos à sala
principal, fiquei totalmente boquiaberta com a vista das grandes
janelas panorâmicas que dá para o Central Park e toda cidade atrás
dele. É, para quem veio para cá e morou em Little Ukraine, isso é o
paraíso. Ugh! Pensar em nossa antiga vida e na atual vida que ele
leva me traz o pior dos pensamentos. É inevitável.
— Sofya, quero que conheça a Claudia, minha mulher — falou.
A mulher se levantou do grande sofá branco, e eu nem tinha notado
que ela estava à nossa frente.
Ela se levantou, tentando formar um sorriso em seu rosto, mas
que foi falho.
— Querida, esta é Sofya, minha filha.
Tenho certeza de que meu nervosismo está eminente nesta
sala. Assim como Claudia, também tentei sorrir, mas estou nervosa
demais para isso, e estendi minha mão trêmula para ela, a
cumprimentando.
— Olá — consegui falar.
— Olá, Sofya. Muito prazer.
Claudia Sharapova é ainda mais linda pessoalmente do que
por fotos e vídeos. Mesmo na casa dos cinquenta anos, ela
consegue estar muito mais conservada do que eu, com vinte e seis.
Não é à toa que ela foi uma das modelos mais lindas e famosas dos
anos 90, junto a Naomi Campbell e Cindy Crawford.
— Ora, ora. Aí está ela, minha irmãzinha mais velha. — Vi
Scott se aproximando, ficando ao lado da sua mãe.
Não sei o porquê, mas esse moleque me dá arrepios.
— Muito prazer — disse, pegando minha mão em um
cumprimento.
— Sofya, este é Scott, seu meio-irmão.
— Olá, Scott.
— Você não se parece nada com ele — falou Scott, se
aproximando mais. — Porém os olhos são iguais — continuou,
colocando suas mãos no bolso do seu paletó. — Então, Sofya,
como foi crescer em um orfanato enquanto seu pai construía uma
das maiores fortunas da indústria aeronáutica?
Uh, na lata. O garoto não se importou de mostrar o quão
furioso está com Kris.
— SCOTT, não comece a me irritar! — bradou Kris, trincando a
mandíbula.
Cocei minha nuca, claramente incomodada com o rumo dessa
conversa.
— Com certeza, você deve ter ficado muito feliz com a notícia
de que é herdeira desta fortuna, afinal, ele não te deixou nada
quando abandonou você há anos atrás, aposto.
MAS QUE MOLEQUE ABUSADO! Fechei a minha cara, já
preparando minhas palavras para despejar nele, mas Kris foi mais
rápido.
— JÁ CHEGA! — gritou Kris, furioso, levantando sua mão para
acertar Scott, mas Claudia o impediu, ficando entre os dois.
— NÃO SE ATREVA A BATER NO MEU FILHO! — vociferou
ela.
Olhei para aquilo, me deixando totalmente sem reação. Vir
aqui foi um erro! Deveria ter imaginado que coisas desse tipo iria
acontecer. Já está sendo bem difícil engolir a história que meu pai
havia voltado do nada, quanto mais ter que engolir sua nova família
junto. Não quero esse problema para mim.
— Não quero causar qualquer “mal-estar” entre vocês. Foi um
erro vir até aqui, boa noite — disse, virando-me para ir embora.
— Sofya! — Escutei Kris atrás de mim, mas paramos assim
que vimos o elevador abrir e um homem baixinho sair dele com uma
maleta grande.
— Chuck? — questionou Claudia.
— Boa noite senhora Antonov. Scott — falou o homem, vindo
em minha direção, ou na direção do Kris. — Oh. E você deve ser a
Sofya, muito prazer, Sofya! — me cumprimentou, pegando minha
mão.
Mas quem é esse cara?
— Bem na hora, Chuck. Acho que vamos ter que começar
antes do jantar — disse Kris, ficando ao meu lado.
— Kris? O que seu advogado está fazendo aqui a esta hora da
noite? — perguntou Claudia, visivelmente nervosa com a presença
de Chuck.
Olhei para Kris, que me olhou com o cenho preocupado, e na
hora eu entendi o porquê de tudo isso. Isso não é apenas um jantar.
— Eu quis reunir todos vocês aqui porque há alguns assuntos
que precisamos discutir. Vamos até meu escritório — Kris explicou,
seguindo para um amplo corredor ao lado da grande sala.
Claudia foi a primeira a segui-lo, depois Chuck, até que olhei
para Scott, que me olhava com uma cara assustadora. Sem
demonstrar medo, o encarei da mesma forma, até que ele passou
bem próximo a mim, tentando me intimidar. Pobre garoto, mal sabe
ele que vai precisar mais do que isso para me fazer tremer. Fui logo
atrás dele, entrando no escritório por último. Há um grande sofá e
algumas poltronas pelo grande cômodo, onde o silêncio pairava.
— Muito bem, acho melhor se sentarem — pediu Kris,
sentando-se atrás da sua mesa grande.
Chuck sentou-se à frente dele, já Claudia e Scott sentaram-se
juntos no sofá e eu na poltrona.
— Preciso ser direto e sincero com todos vocês. Eu estou
morrendo e tive que tomar as devidas precauções quanto ao meu
patrimônio e ao futuro da minha família.
Deus, por favor, não.
— O que está dizendo? — murmurou Claudia, sem acreditar.
— Você está morrendo? COMO ASSIM? E você realmente
achou apropriado dizer isso dessa maneira para sua mulher? —
continuou, começando a chorar.
— Há alguns meses descobri um tumor cerebral sem cura.
Pensei muito no que eu deveria fazer quanto a isso. Quis poupar
você e Scott do sofrimento e, principalmente, encontrar Sofya e
dizer o quando estou arrependido de tê-la abandonado.
— Como você pôde fazer isso com a sua família? Nos
esconder isso e depois jogar esta menina, que nem ao menos
conhecemos, em nossa família? Você quer mesmo que aceitemos
isso? — bradou Claudia, em russo, se levantando do sofá.
HÁ, essa mulher pensa que eu não entendi o que ela disse,
mal sabe ela. Agora está mais do que claro que não sou bem-vinda
aqui.
— Claudia, pare com isso!
— Você ao menos está acompanhando isso? Está se
tratando? — Ela chorava, enquanto fazia as perguntas.
— Não, e nem vou. Não há o porquê fazer isso, eu vou morrer
de qualquer jeito.
— O que? — Foi a minha vez de questionar. — Você não está
fazendo nada em relação a isso? A SUA SAÚDE? — disse, também
me levantando.
— VOCÊ É UM MALDITO EGOÍSTA! — gritou Claudia e, pela
primeira vez, concordamos em alguma coisa.
— O PONTO NESTA NOITE NÃO É ESSE. Isso é assunto
meu! — vociferou ele, visivelmente sem paciência.
Olhei para Scott, que permanece calado e olhando para um
ponto fixo à sua frente.
— Trouxe Chuck até aqui para ler meu testamento.
Sem ter firmeza em minhas pernas bambas, cai sentada na
poltrona novamente. Então é mesmo o que eu pensei. Fechei meus
olhos, ainda sem acreditar no que está acontecendo. Deus, como
cheguei até aqui? Meu pai já havia surgido em minha vida como um
problema, agora vem sua família problemática e isso... dinheiro.
Dinheiro que eu não faço a mínima questão de saber e muito menos
de ter, diferente do garoto mimado ao meu lado e sua mãe. Isso só
me dará dor de cabeça desnecessária, mas vou fazer de tudo para
evitar. O advogado deu um pigarro, começando a leitura, que eu mal
conseguia prestar direito a atenção devido ao meu nervosismo.
— “[...] declaro que dividirei a indústria ‘Antonov Inc.’ entre
meus dois filhos, Sofya Viatcheslav Antonov e Scott Olieg Antonov,
sendo a porcentagem de 52,6% para Sofya Antonov e 47,4% para
Scott Anton...”
— MAS QUE MERDA É ESSA? — explodiu Scott, levantando-
se rapidamente.
— Deixe Chuck terminar, Scott — rosnou Kris.
— Eu não vou aceitar isso, Kris. Eu juro por Deus que não!
Você não vai deixar eu e meu filho em desvantagem por uma
MENINA que nem ao menos sabemos quem é! ELA PODE SER
UMA FARSA! — argumentou Claudia, ficando em pé.
— Claudia...
— Escuta aqui moça, para mim a senhora não passa de uma
ninguém, então olhe como fala de mim, pois você não me conhece e
garanto que não vai querer me provocar — rosnei, interrompendo
Kris.
Não sei porque, mas Chuck começou a rir, olhando para seu
cliente.
— Ela é mesmo sua filha.
Olhei sem entender e vi Kris esboçar um sorriso.
— Se você está pensando em colocar essa mulherzinha à
frente de TUDO o que eu me esforcei para conquistar, de TUDO que
por direito É MEU, está MUITO enganado! — exclamou Scott,
visivelmente transtornado.
— Se ESFORÇOU? A única coisa que você vem se
empenhando nestes últimos dois anos foram nas suas festas e
viagens luxuosas, regadas a bebida, usando O MEU DINHEIRO,
moleque. Nunca se interessou realmente por tudo o que EU me
esforcei para ter, TUDO O QUE É MEU! Então abaixe sua crista e
me obedeça! Você não passa de um MOLEQUE mimado! — bradou
Kris, furioso, levantando-se e apontando para Scott, que o fuzilava
com os olhos.
— Isso é o que nós vamos ver — rosnou Scott, saindo
rapidamente da sala, batendo a porta atrás de si.
— Agora eu não quero mais interrupções até Chuck terminar!
— falou, batendo na mesa, sentando-se em seguida.
— “Salvo a esta exigência, também repartirei minha fortuna
entre Claudia Sharapova Antonov, Scott Olieg Antonov, Sofya
Viatcheslav Antonov, Petrus Angus Romanoff e o Holy Mary Heart
Orphanage, sendo 15% para Claudia Antonov, 20% para Scott
Antonov, 55% para Sofya Antonov, 5% para Petrus Romanoff e 5%
para o O Holy Mary Heart Orphanage, instituição na qual venho
fazendo doações desde 2011. É de minha vontade que Chuck
McGuiness, meu advogado de longa data, tome frente ao trâmite
deste documento para que as exigências do mesmo sejam
cumpridas a partir do momento da minha morte...”
Eu acho que terei outra crise de ansiedade a qualquer
momento. Coloquei a mão em meu coração, que quase saltava do
meu peito, ainda sem acreditar nisso. Ele havia me deixado
praticamente tudo. Estou suando frio e já não escuto mais o que
Chuck está dizendo. Tentei me levantar, me escorando nos móveis
próximos. Eu definitivamente não deveria ter vindo para cá hoje.
— Preciso... onde fica o toalete? — perguntei.
— Querida, você está bem? — Kris levantou, se aproximando.
— ONDE? — perguntei, o encarando, quase sem ar.
— Ali atrás, mas...
Não terminei de ouvi-lo e fui para onde ele me mostrou,
cambaleando por entre os móveis. Entrei no toalete, trancando a
porta atrás de mim, me escorando nela, ignorando as batidas vindas
do outro lado. Escorreguei até me sentar no chão, abraçando meus
joelhos… não acredito nisso. Como isso aconteceu comigo? A
pouco mais de um mês eu nem sabia o paradeiro do meu pai e hoje
descubro que sou herdeira majoritária do seu império. Deus sabe
que nunca desejei nada disso, muito menos ter tudo isso, isso não é
meu, eu não vi nada disso crescer. EU não fiz isso crescer, eu não
participei disso. Isso é tão assustadoramente grande que estou
morrendo de medo do que isso pode me custar, e isso num mau
sentido, claro, já que minha madrasta e meu irmãozinho não irão
aceitar isso tão fácil, fazendo da minha vida um inferno. Escutei
gritos de uma discussão acalorada do outro lado da porta, mas
parecia tão longe. Minha cabeça ainda não está em ordem.
Me levantei, andando pra lá e pra cá, agarrando meus cabelos,
lembrando de cada palavra lida por Chuck. Nos últimos anos,
Deloris havia me dito que o orfanato vem recebendo uma pequena
fortuna em doações, mas nunca soube de quem, porém, durante
todos os dozes meses nestes anos todos, este doador anônimo
depositou o dinheiro sem falta. Eu fiz de tudo para descobrir quem
era esse tal de doador anônimo, mas nunca descobri. Neste tempo
todo, era ele. Ainda sem acreditar, me sentei no vaso sanitário, já
sem energia no corpo. Por anos, ele esteve bem perto de mim e eu
nunca soube, nem sequer imaginava. Ele acompanhou minha vida,
e oh Deus, isso é tão confuso. Sem conseguir mais prender meu
choro, o libertei, tampando meu rosto com as mãos, escondendo
meu medo. Pulei quando senti mãos em meus ombros, dando de
cara com Kris, visivelmente preocupado. Olhei para o lado e vi
Petrus ao lado da porta caída ao seu lado. Ele arrombou a porta?
— SOFYA! — gritou ele, me chamando a atenção ao me
chacoalhar pelos ombros. — O que aconteceu, minha menina? —
Ele pousou sua mão em meu rosto, mas me levantei.
Ele fez o mesmo, fazendo um sinal para que Petrus saísse.
— Como você despeja tudo isso em cima de mim de uma só
vez? — sussurrei, tomando consciência.
— Eu sei que parece loucura, mas é o mínimo que eu poderia
ter feito depois de tudo...
— EU NÃO QUERO NADA! — gritei, o fazendo se calar,
imediatamente. — Nada disso é meu. Eu já tenho minha vida e vou
continuá-la sem o seu dinheiro, sem sua empresa... sem você.
Como se recebesse um soco no estômago, ele engoliu em
seco, baixando o olhar.
— Não há como mudar o testamento agora — falou, num tom
duro. — Você terá que lidar com isso. Não abandonei minha filha à
toa, ela terá tudo o que eu construí durante esses anos em que
fiquei longe.
— Isso não me importa mais, prefiro que você vá embora outra
vez do que ter que lidar com essa merda toda, do que ter que
enfrentar sua família.
— Você não lidará com eles, a justiça irá. E escute bem
minhas palavras, eu só irei embora da sua vida novamente quando
eu morrer — disse, como se estivesse me dando uma bronca,
apontando para mim e, finalmente, deixando suas lágrimas
escaparem dos seus olhos. — Eu deixei de me importar com isso
quando percebi a besteira que eu fiz. Nada disso faz sentido para
mim, já que eu não tinha mais a minha garotinha em meus braços, a
minha doce e levada Sofya. Deus! — exclamou ele, olhando para o
teto e erguendo seus braços. — Eu não fiz um maldito tratamento
porque eu mereço morrer, Sofya! Mereço isso por ter feito o que fiz
com você e com Ivanka. DEUS SABE QUE EU MEREÇO!
Eu já não posso mais suportar o peso do meu corpo e meu
choro desenfreado, caindo no chão de joelhos e sem saber o que
pensar, como agir. Ele me acompanhou, pegando minhas mãos em
um ato desesperado. Balancei a cabeça negativamente. Não, ele
não merece morrer.
— Não, você não merece isso. Olhe para mim! — pedi, e ele
fez.
Seus olhos, reflexos dos meus, estão manchados com as
lágrimas e ali eu percebi a sua dor e seu remorso, o torturando.
— Olhe o que me tornei. Eu tenho orgulho do que sou hoje, do
que construí para mim, dos meus caminhos. Você não merece
morrer por conta de uma escolha errada, você precisa mesmo é
olhar para trás e encarar essa escolha, aquilo que você queria você
fez, então não há do que se arrepender disso. Sem a SUA escolha,
hoje eu poderia ser igual a Scott, e assim que coloquei os olhos nele
agradeci por você ter a feito. — Suspirei, tentando manter minhas
forças, minha coragem. — Por isso, eu não quero seu dinheiro, não
quero nada seu! O que eu quero é que você se TRATE e encare de
uma vez por todas suas escolhas, pois não quero perder meu pai de
novo.
Sussurrei as últimas palavras, pois está aí, um dos meus
maiores segredos expostos ao homem que havia me tirado o
mundo, mas que de certa forma, fez com que o universo
conspirasse ao meu favor e agora, de uma vez por todas, o meu
medo estava sendo arrancado do meu peito.
Sem acreditar nas minhas palavras, ele ficou boquiaberto, logo
depois suas lágrimas se misturaram ao seu riso, o mesmo que eu
me lembrava, me fazendo sorrir por entre as lágrimas também.
Assim como o medo, o peso em minhas costas já não estava mais
lá e minha cabeça clareou, mas eu ainda não disse tudo. Ainda
rindo, ele me pegou pelos ombros.
— Eu te perdoo, eu perdoo você, pai — sussurrei.
— Esperei por isso há muito tempo. Ah, minha garotinha. —
Finalmente, ele me abraçou.
Deus, eu sonhei com esse abraço durante boa parte da minha
vida. O abracei de volta, e aquele abraço apertado me fez chorar
ainda mais.
— Eu senti tanto sua falta, meu bem, tanto, tanto, tanto —
continuou, beijando meus cabelos.
— Eu também, pai — falei, o apertando cada vez mais.
Não sou o tipo de pessoa que se deixa levar pela emoção,
afinal, durante parte da minha vida guardei meus sentimentos tão
fundo em meu peito que eles ficaram presos, ficando quase
impossível de resgatá-los, mas nestes últimos meses creio que
consegui tirá-los de lá, e veio tudo de uma só vez. Acho que
consegui fazer uma escolha que me trouxe paz, porque decidi
escolher com o coração.
— Mas o que diabos está acontecendo, Sofya? — perguntou
Shantell, enquanto eu tampava seu olho para que ela não visse
minha surpresa. — Você sabe que eu odeio isso!
— Fique quieta! Quase lá! — disse, parando em frente a
calçada.
— Oh meu Deus! — exclamou Nigel, mas fez silêncio assim
que viu a minha cara de reprovação para ele, pedindo silêncio.
— Tudo bem, está aí!
Tirei minhas mãos e apontei para a loja Kleinfeld, sim a mesma
de “Say Yes To The Dress”.[42]
— O que? Não brinque comigo, garota. Isso é sério? —
perguntou ela, ainda sem acreditar.
— Eu não brinco, queridinha. Agora vamos entrar, temos o
vestido de todo mundo aqui para escolher, inclusive o seu.
— Você não tem jeito mesmo, sua menina doida — riu Tina, tia
de Shantell, me abraçando enquanto entrávamos.
— Ah! — gritou minha irmã, correndo na frente.
— Prepare-se para uma maratona de vestido, Titi, pois isso
não vai ser fácil — falei, e rimos juntas.

— Garota nem se atreva, eu não vou usar esse vestido não! —


disse Solange, prima e madrinha de casamento de Shantell,
pegando um vestido rosa bufante.
— Você vai fechar essa boca e usar o que eu quiser! É O MEU
CASAMENTO! — Shant retrucou, me fazendo rir.
— Que tal esse aqui? — falei, pegando um vestido de seda
rosa claro lindinho e simples.
— Hm, muito simples e caído. Quero uma coisa que deixe
minhas madrinhas lindas, mas não tanto quanto eu. — Ela revirava
as araras a procura de um que lhe agradasse.
— Hellen! — chamei a consultora que nos ajudava. — Está na
hora de aumentar o nível aqui.
— Oh, sim! Vou chamar Timothy para me ajudar! —
respondeu, indo para os fundos.
Shantell me olhou desconfiada e se aproximou.
— Você é maluca? Aumentar o nível? Garota, eu sou uma
bailarina e não a Martha Stewart, não tenho dinheiro para isso! —
cochichou ela.
Peguei o meu cartão de visitas, que tem o meu nome, e o
abanei na cara dela.
— Você esqueceu que sua querida amiga aqui é a editora
executiva da revista de moda mais famosa do mundo? Como você
acha que conseguimos um horário aqui em cima da hora? Amor,
acorda! Aqui nós somos rainhas, e as surpresas não acabaram.
— Você é tão nojenta às vezes, mas eu adoro! — respondeu,
nos fazendo rir.
— Era disso que eu estava falando, aleluia! — exclamou Nigel
quando viu Timothy chegar com uma arara gigantesca com vestidos
de estilistas famosos, todos no tom rosa pastel que Shantell
escolheu para as madrinhas e para o casamento.
Ao todo, são quatro madrinhas, quer dizer, três, Nigel
entrará para o time também, por isso dizer que somos quatro está
certo. Ele já escolheu seu terno rosa e agora só faltavam nossos
vestidos, e o da noiva, claro. Cada uma de nós três, Solange, Tisha
e eu, pegamos um modelo diferente. Colocamos os vestidos para
que Shantell pudesse escolher e assim que voltamos à sala
principal, onde elas esperavam sentadas no sofá, todos ficaram
boquiabertos.
— E então? — perguntei, rodando o lindo vestido assinado por
Michelle Roth.
Ele é simples, elegante e lindo, com um decote coração em um
tomara que caia justo até a cintura, uma grande saia esvoaçante e
delicada, com várias camadas de tecido, que se abre até o chão.
Todo o vestido é de chiffon e acho que é por isso que o vestido é
lindo!
— Amiga, olhe para ele! Tão lindo! — falou Tisha, amiga de
trabalho de Shantell, mexendo em seu vestido brilhante que mais
parece um vestido de debutante.
— Parece que você vai a um baile e não a um casamento —
disse Solange, olhando para o vestido da Tisha, que fechou a cara.
— É esse o vestido, Shant! — Ela apontou para o seu, que não é
aquelas coisas, mas é melhor do que o de Tisha.
— Meninas, se acalmem. Direi o porquê do vestido que estou
usando será o nosso vestido, primeiro. — Comecei a andar,
desfilando e mostrando a leveza do vestido. — Ele é leve e
delicado, ou seja, vamos poder dançar a noite inteira sem nos
preocupar com um vestido pesando. Segundo: ele é o mais lindo
aqui, pois convenhamos, eu tenho bom gosto. E terceiro: ele custa
$350 dólares a menos do que esses que vocês estão usando.
— É ESSE! — Tisha, Solange e Shantell gritaram ao mesmo
tempo, fazendo gestos com as mãos e apontando para mim,
fazendo todos nós rirem.
— Ele é perfeito, Sofy — sussurrou Shant, o analisando em
meu corpo e colocando suas mãos na boca, visivelmente
emocionada. — Você está linda, vejo ele em todas vocês! Adorei!
A abracei, sorrindo.
— E agora, falta o vestido principal — Tina disse, se
aproximando e pegando Shant pelas mãos.
— Sim, e queremos somente o melhor para a noiva mais
especial do mundo — falei, fazendo um gesto com a mão para que
Hellen e Timothy entrassem com minha outra surpresa.
Assim que eles entraram carregando as araras com os
vestidos matrimoniais mais chiques do mundo, todos na sala
gritaram, inclusive Shantell.
— Aquilo... aquilo são vestidos da Vera Wang? — perguntou
Shantell, boquiaberta.
— Sim! — Pulei, sorrindo ao ver a reação dela.
Ela pulou junto comigo, mas parou, me puxando pelas mãos.
— Mas, Sofy, eu não tenho grana — murmurou, fazendo eu
revirar os olhos.
— Ai, pode parar com isso! Afinal, eu não seria a melhor
madrinha e a melhor amiga se não te desse o mais lindo vestido de
casamento, não é?
— Você... — Ela engoliu em seco, ainda me olhando em
choque, levando a mão ao seu peito. — Você não... oh meu Deus!
Você está falando sério? — Ela tampou a boca e deixou algumas
lágrimas caírem em seu rosto.
Ela me deu um abraço apertado, mas que me encheu de
felicidade, pois a ver feliz assim não tem preço para mim. Assim
como eu, Shantell já passou por poucas e boas nessa vida e hoje
ela merece ter seu conto de fadas realizado, como e onde ela
quiser. Por sorte, Preston sempre deu a ela um tratamento digno de
uma princesa e, principalmente, faz dela uma mulher feliz e
completa.
— Escolha um vestido digno da mulher que você é: lindo,
imponente e alegre — pedi, pegando seu rosto em minhas mãos.
Depois de provar quatro vestidos, ela finalmente escolheu um
lindo Vera Wang que juro que foi feito para ela! Caiu perfeitamente,
contrastando lindamente com sua pele morena. O vestido tomara
que caia é digno de uma princesa, com um decote coração, justo
até a cintura, onde uma fita da cor rosa claro — da mesma cor que o
vestido das madrinhas — a enfeita, formando um delicado laço nas
costas e com várias camadas de tecido que começam da cintura e
vão aumentando até chegar ao chão. Assim que ela apareceu com
o vestido na sala, foi muito difícil conter a emoção. Tina, que a criou,
olhava orgulhosa para a sobrinha sem conter suas lágrimas de
felicidade, assim como todos nós, confirmando a ela que aquele é
seu vestido ideal.
Depois de horas na loja, fomos tomar um café em TriBeCa, um
bairro que eu adoro! Shantell está com um sorriso de orelha a orelha
e isso me confirmou que eu acertei no presente de
casamento. Enquanto todos tagarelam, eu estou mais interessada
em meu chá inglês e no muffin de chocolate quentinho a minha
frente. Estava limpando o chocolate derretido no canto da minha
boca quando escutei algo que me chamou a atenção.
— ...eu vi aquele amigo gato do seu noivo esses dias —
comentou Solange, bebericando seu café. — Qual é mesmo o nome
dele?
— John — respondeu Tisha, para minha surpresa, até que me
lembrei do famoso fã clube John Neeson, que tem muito mais fãs do
que eu pensava ter. — Impossível esquecer! Uma pena que na
época em que o conheci, estava namorando.
— Meninas — Shantell chamou a atenção delas e notei que
ela estava um pouco incomodada com o assunto, assim como Nigel,
que mexia o seu café sem parar.
Mas o que está acontecendo?
— É, e agora ele está noivo! Você precisava ver o tamanho da
pedra que a noiva dele estava no dedo quando eu a vi com ele.
Ela continuou a falar, apoiando-se na mesa para contar a “boa
nova”, enquanto eu... bem, eu... eu sinto que vou vomitar.
— Shh! Solange, cala a boca! — exclamou Shantell.
Shantell sabia disso? Enquanto o burburinho na mesa
começava, eu já não prestava mais atenção em nada. Meu coração
está quase pulando de medo em meu peito, minhas mãos
começaram a transpirar e minha respiração está acelerada, além de
querer vomitar. John. Noivo? JOHN NOIVO!? E noivo daquela
Barbie Malibu nojenta e asquerosa! Eu ainda não consigo acreditar.
Noivo? Senti alguém me chacoalhar pelo ombro.
— Sofya? Você está bem? — perguntou Shant, preocupada.
Olhei para ela e peguei a minha bolsa, me levantando.
— Eu... eu preciso ir agora — falei.
— Hey, amiga, por favor...
— Depois, Shantell. Tchau. — Saí apressada do Café,
andando pela calçada sem rumo.
O fato de Shantell ter me escondido isso não é o maior
problema para mim agora, mas não deixava de ser um problema. O
que está martelando em minha mente é o fato de que John
está noivo. Sim, um dos homens mais cafajestes de Nova York,
mais mulherengo, mais lindo, mais gostoso e bom de cama está
noivo, sem contar que esse mesmo homem é o homem que eu
acreditava ser o amor da minha vida. Era o homem que eu mais
confiava e o único que me fez lembrar do que eu tinha um coração.
É o primeiro homem que amei de verdade. Sequei a lágrima solitária
em meu rosto e me virei para a rua.
— Táxi!

— Tudo bem, deixa eu ver se entendi: então você gostava


desse tal John? — perguntou meu pai, enquanto tomávamos nossos
milk-shakes sentados a uma grande pedra no Central Park, como
nos velhos tempos.
Costumávamos fazer isso quando eu era pequena e estamos
retomando esse costume, coisa que me deixou feliz, por incrível que
pareça. É fim de tarde, o sol está se pondo e ainda estávamos
vestidos com a roupa de trabalho.
— Sim — respondi, soltando o canudo e vendo o movimento
do parque.
— E agora ele está noivo e você está namorando esse médico.
Como é mesmo o nome dele?
— Steve, e não estamos namorando. E sim, John está noivo.
— Mas que filho da mãe! — falou meu pai, sugando o resto do
seu milk-shake logo depois.
— Isso era previsível, quer dizer, depois de tudo o que
aconteceu.
— Sim, mas ele deveria entender seu lado. A única pessoa
que ele deveria culpar de verdade sou eu! E não engoli essa história
dele ter dito essas coisas para você.
— Pai, isso já é passado — falei, arrependida de ter falado
para ele a história da nossa última grande briga.
— Isso não importa, o que importa é que ele te magoou e isso
me deixa furioso — suguei o fim do meu milk-shake e o olhei,
cerrando o olhar.
— O sujo falando do mal lavado — ironizei. — Não importa
mais, agora só quero seguir em frente.
— Com esse Sam?
— Steve!
— É quase a mesma coisa — disse, me fazendo rir.
— Não, acho que Steve é mais como um amigo, só não sei
como dizer isso a ele. Ele me parece o tipo de cara que não aceitará
isso muito bem.
— Bom, acho que você deve esclarecer as coisas, antes que
isso vá longe demais e possa machucar alguém — aconselhou, e
me fez pensar sobre isso. É, acho que ele tem razão, quem diria.
Olhei para ele, sorrindo.
— Olha só, meu pai me dando dicas amorosas. — Ele olhou
para baixo, sorrindo.
— Depois de alguns anos, aprendemos com algumas
experiências, e quero passar tudo isso para minha filha enquanto
ainda há tempo. — Ele envolveu meus ombros com seu braço, me
puxando para si, e meu sorriso se desfez ao lembrar no nosso
“pouco tempo”.
— Você fez os exames, não fez?
— Fiz, ficarão prontos no próximo mês.
— E quando vai voltar ao médico?
— No fim deste mês.
— Você está se cuidando? — perguntei, o olhando de maneira
preocupada e ele sorriu.
— Não se preocupe, minha querida, eu estou bem — disse,
beijando minha testa.
Pousei minha cabeça em seu ombro, olhando o pôr do sol.
— Ainda não acredito que aquela vitrola ainda existe — falou,
me fazendo rir. — É sério, eu amava aquela vitrola! E fiquei ainda
mais feliz em saber que você também manteve todos os meus
discos!
— Eu também amo aquela vitrola.
— Você se lembra daquele show dos Stones que vimos aqui?
Que eu te coloquei em pé nos meus ombros? Você era tão
pequena!
— Lembro como se fosse ontem quando o Keith entrou no
palco, você não parava de me sacudir! — disse, nos fazendo rir. —
E você não tinha barba e usava seu Ray-Ban Wayfarer, que era sua
marca registrada.
— Não seja por isso — falou, pegando seus óculos no bolso
interno do paletó e o colocando, fazendo pose.
— Eu não acredito! — disse rindo. — É o mesmo?
— Sim! Isso aqui é uma relíquia.
— Continua muito legal — ri.
Ele pegou os óculos e o colocou em mim.
— Fica melhor em você. Sempre ficou, mesmo que antes eles
ficavam enormes — riu. — Fique com ele.
— Pai, não...
— Para com isso, além do mais… — Ele pegou outro óculos
do mesmo modelo em seu bolso, o colocando também. — Sempre
tive mais de um. Agora somos uma verdadeira dupla — brincou, me
fazendo rir. — E isso merece uma selfie.
Olhei desacreditada para ele, abaixando um pouco os óculos.
— Selfie? Você sabe o que é isso?
— Não me ofenda. Seu pai é um gênio da tecnologia e estou
ligadão no que acontece por aí. — Sua declaração me fez gargalhar.
— Pare de rir e venha logo aqui, não vou conseguir manter esse
sorriso por muito tempo — falou com a boca travada para manter o
sorriso e me puxando para si.
Percebi nas últimas semanas que voltar a falar com meu pai foi
uma das melhores coisas que me aconteceu nesses últimos
tempos. Aos poucos, nosso laço de pai e filha fica mais forte e
voltávamos para onde tínhamos parado há anos atrás. Não
quero pensar no futuro incerto que nos cerca, mas a única coisa que
sei é que essa “selfie” irá para o meu mural na geladeira.

Depois que saímos do parque, levei meu pai para comprarmos


os ingredientes do nosso jantar de hoje, já que tinha convidado ele.
Foi engraçado vê-lo em um minimercado, era evidente que ele não
faz isso há anos. Decidimos ir a pé para o meu apartamento e
quando estávamos chegando vi seus olhos vidrados em alguma
coisa, ou em alguém, enquanto eu ainda tagarelava.
— Pai?
— Quem... quem é aquela?
Olhei para frente e vi Marion junto a Leon e John, conversando
animadamente.
— É a Marion. — Olhei sorrindo para ela.
Ela ainda não tinha me visto, mas está linda e radiante como
sempre. Voltei a olhar para meu pai, que está praticamente babando
por ela. Oh meu Deus.
— Nem pense nisso — adverti.
— Marion, hein? — murmurou, apressando o passo.
— Pai, nem pense nisso! — Peguei seu braço, chamando sua
atenção para mim. — O homem que está com ela é o namorado
dela e o pai de John.
Ele me olhou, chocado.
— Mas ele não é casado com a Miranda? — Congelei assim
que percebi a burrada que tinha feito.
Mas que merda, Sofya! Ele riu e voltou a olhá-la com muita
esperança nos olhos.
Voltamos a caminhar e percebi que já tínhamos chamado a
atenção dos três, fazendo John e Leon fecharem a cara na hora.
Sempre educada, Marion manteve um sorriso tímido e não hesitou
em vir ao meu encontro com um abraço carinhoso.
— Sofya, querida! Como você está? — disse ela, pegando em
minhas mãos logo depois, me olhando com um olhar maternal. —
Eu toquei sua campainha e percebi que você não estava.
Ela olhou para o homem ao meu lado, escondendo seu sorriso.
— Olá, Marion — meu pai cumprimentou, usando uma voz
totalmente diferente da que eu estava acostumada a ouvir.
Ainda sem acreditar, o olhei, cerrando o olhar.
— Ahm... — começou Marion, sem graça.
— Marion esse é o meu pai… Kritsk — apresentei, ainda
engolindo em seco.
— Na verdade é Kris, Kris Antonov. Muito prazer Marion. —
Ele se apressou em me corrigir, pegando a mão de Marion e
depositando um beijo no topo dela.
Ainda sem entender o que estava acontecendo, dei um pulo
quando Leon apareceu entre mim e Marion, a puxando para próximo
de si com uma cara de dar arrepios, é impressionante a semelhança
com John, até nisso! Estou passada.
— E eu sou Nesson, Leon Neeson — falou, com uma voz
grave de dar medo.
— Ah, sim! O marido de Miranda. Kris Antonov — respondeu
meu pai, pegando a mão de Leon num aperto de mão fortíssimo, me
fazendo revirar os olhos... homens!
E assim que fiz isso, meus olhos encontraram os de John nos
meus. Ainda com o olhar gélido sobre mim, John mantinha seus
braços gigantes cruzados em seu peitoral. Tenho certeza que ele
não gostou nada em me ver com meu pai. Minha atenção voltou-se
para os três ao meu lado e para as palavras de Marion.
— Tudo bem, tudo bem, já entendemos. — Marion sorriu, sem
graça, puxando o pai de John para próximo dela para que aquela
cena ridícula acabasse logo. — O prazer é meu, senhor Antonov,
mas se nos dar licença...
— Pode me chamar de Kris, não é porque eu já sou pai de
uma linda garota de vinte e cinco anos que eu sou velho — riu,
envolvendo meus ombros com seu braço.
— Vinte e seis — corrigi ele, falando baixo e fazendo com que
ele desse um pigarro.
— Pai? — questionou Leon, sorrindo com ironia. — Acho que
o “senhor” não se enquadra nesse adjetivo.
Droga, eu sabia. Tal pai tal filho. Fechei os olhos, sabia que
aquilo não iria acabar bem, pois sei bem que aqui deste lado
também é assim, tal pai tal filha.
— Como? — perguntou meu pai, ainda processando tudo isso.
— Você é surdo? — rosnou John, ficando ao lado do seu pai.
Dando um sorriso trêmulo, meu pai se afastou de mim, dando
um passo em direção a eles.
— Você é o rapaz que magoou minha filha, não é? — John
trincou a mandíbula. — Eu sugiro que não me dirija a palavra e
muito menos para ela.
— Pai! — Puxei ele.
— Como ousa falar com meu filho dessa maneira? Se alguém
aqui magoou Sofya, esse alguém foi você, seu comunista de merda!
— bradou o senhor Neeson, que ia em direção ao meu pai, mas foi
barrado por Marion.
— NÃO OUSE FALAR ASSIM COMIGO, SEU FILHO DA
PUTA! — gritou Kris, avançando em Leon, mas assim como Marion,
o detive.
— Se pensa que pode voltar assim, está muito enganado,
Kritsk! Gente com o seu caráter nunca muda! Sofya já está sendo
bem cuidada aqui! — avisou Leon, que estava furioso, apontando o
dedo para o meu pai.
— Já chega, Leon! — brigou Marion. — John! — ela advertiu.
Olhei para John, que ainda fuzilava meu pai com seus olhos de
predador, mas que ao encontrar os meus, cheios de súplica para
que aquilo acabasse, amenizou sua fúria, pegando seu pai pelos
ombros.
— Vem pai, não vale a pena.
— Ah sim! — riu meu pai. — Eu vi, seu filho cuidou muito bem
dela, pfff. ELE SÓ A MAGOOU!
— PAI, CHEGA! — gritei.
— Não estou falando dele, mas sim de mim! EU FUI MAIS PAI
QUE VOCÊ PARA ESSA MENINA! — vociferou Leon. — Me solta,
John!
— JÁ CHEGA! O que aconteceu entre eu e a minha filha não
interessa a você ou sua família. Irei ficar do lado dela até meu último
suspiro e sugiro que fique longe!
— Nem pense em tirar Sofya das nossas vidas! Sou eu quem
irei cuidar dessa menina, coisa que você não fez!
MAS QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO? Antes do meu
pai explodir de raiva, o puxei para trás brutamente, o chamando a
atenção.
— CHEGA! Mas que merda é essa? Eu não tenho mais cinco
anos para alguém cuidar de mim! ISSO É RIDÍCULO! — reclamei,
visivelmente furiosa. — Eu agradeço a preocupação, senhor
Neeson, mas não preciso disso e, realmente, o que acontece entre
eu e o meu pai não diz respeito a mais ninguém, eu sinto muito.
— Ela tem razão, querido, afinal, Sofya é bem grandinha para
saber o que ela quer, além de ser uma garota inteligente, por isso
vamos confiar em seu julgamento e irmos embora — interviu
Marion, mantendo a compostura de sempre, me olhando de maneira
compreensiva.
— Obrigada — disse para ela.
— Além de linda, você é extremamente inteligente, Marion —
galanteou Kris, sorrindo.
— Você é mesmo muito abusado! — Leon disse enraivecido.
Tudo aconteceu em câmera lenta, e quando percebi que Leon
foi para cima do meu pai, já era tarde demais, acertando um soco
certeiro na cara dele.
— PAI! — John e eu bradamos juntos.
Enquanto John imobilizava seu pai, eu acudia o meu, que
levantou ainda catatônico com o canto da boca sangrando.
— Isso não vai ficar assim! — afirmou meu pai, apontando
para Leon.
— Leon, ENTRE NO CARRO AGORA! — Marion ordenou.
Uau, nunca a vi assim. Leon fez o que ela pediu, ainda
encarando meu pai.
— E você também! — apontou para John.
— Mas eu...
— AGORA! — Mandou ela, nos deixando surpresos,
especialmente John, que fechou a cara, mas a obedeceu.
Antes que ela entrasse no carro, me olhou com seus olhos
azuis esverdeados tristes.
— Me desculpe — sussurrou ela.
Mas com meu olhar, tentei garanti-la que está tudo bem. O
carro arrancou de lá e subi com meu pai, limpando o sangue da sua
boca com seu lenço.
— Você está bem? — perguntei, abrindo minha porta.
— O que você viu naquele cara? Está claro que ele puxou a
família! Ninguém ali presta! — questionou, entrando e se jogando
em minha poltrona.
— Chega pai! Leon é uma boa pessoa e você também o
provocou! — adverti, pegando a bolsa de gelo.
— Pfff, ele é louco! E como aquela doce criatura pode estar
com ele?
— Já disse que ela não, pai! E você é casado. — Joguei a
bolsa de gelo na direção dele, que a pegou no ar.
— Ele também! Mas com uma mulher como Miranda é de se
dar um desconto.
— Assim como a sua.
— Não fale assim da sua madrasta.
— Você sabe que é verdade.
Seu silêncio confirmou que estou certa. Voltei para a cozinha,
começando a preparar o jantar. Desde que John e eu “terminamos”,
era muito difícil eu cozinhar, afinal temos tantas lembranças nessa
cozinha, como todas as vezes em que abro meu forno e me lembro
dele caçando os pães de milho que ele tanto gostava. Ainda perdida
em minhas lembranças, escutei Sympathy for the Devil, dos Stones,
tocando em minha vitrola. Olhei para meu pai, que mexia nela.
— Pode passar essa? — pedi.
— Mas é uma de suas preferidas.
— Não é mais — disse, com minha voz carregada de mágoa.
Sem fazer mais perguntas, ele trocou de música e voltou a se
sentar. Tenho certeza que esse jantar não sairá como eu gostaria.
Minha paixão pela cozinha foi embora, assim como John.
O grande dia de Shantell e Preston está quase chegando. A
minha função de melhor amiga e melhor madrinha está sendo mais
exaustiva do que imaginava porque a noiva está pirando. Perdi a
conta de quantas vezes fui até a loja de vestidos nos últimos dias
para fazer a prova final, sem contar que também estou fazendo o
papel de ajudante da cerimonialista, já que Shant está mais surtada
do que pipoca estourando. Conheço o gosto da minha melhor amiga
e por isso ela deixou isso em minhas mãos. Na verdade, estou
preocupada com ela, nunca a vi desse jeito. Ela está mais cansada
que o normal e tudo isso está fazendo com que ela passe mal
praticamente todos os dias, por isso eu a obriguei a ir ao médico
alguns dias atrás. Ela alega estar cansada dessa correria toda e
isso mexeu com seu sistema imunológico, explicando suas crises,
mas eu não caí nessa, tem mais coisa aí. Ainda pensando em nossa
conversa de uma hora atrás, quando estávamos em um café, tentei
acalmá-la e arrancar a real dela, mas ela insiste na mesma história
sempre, pedindo somente para que eu confiasse nela e que a
ajudasse até o grande dia. Como eu sou uma boa e GRANDE
amiga, aceitei.
E bota grande amiga nisso, já que logo depois da bomba do
noivado de John, Shantell moveu montanhas para ir atrás de mim e
explicar essa história toda, acho que foi a partir desse momento que
ela ficou ainda mais surtada e, vendo seu desespero em tentar se
desculpar por não ter me dito isso antes, eu logo tratei de dizer a ela
que estava tudo bem, mas que ela me devia uma explicação.
Segundo ela, Preston recebeu uma ligação dele em uma
madrugada qualquer, dizendo que estava bêbado em um bar e que
tinha ficado noivo de Jenna. Preston não quis dar maiores
explicações sobre isso a Shantell, apenas disse que os dois ficaram
noivos e ponto. ARGH! Eu quero o matar, fazer picadinho dele e
daquela Barbie Malibu ridícula! Eu rasgava os papéis em minha
mesa furiosamente, imaginando ser John e Jenna, quando Lea
entrou em minha sala, trazendo alguém atrás dela.
— Chefe? — A cara dela não é muito boa.
— O que foi? — perguntei preocupada, ficando surpresa logo
depois, quando vi Ed avançar junto a ela para dentro do meu
escritório.
— Ed? — Sorri, mas logo meu sorriso desapareceu quando vi
sua cara triste. — O que aconteceu?
— É o tio Larry, Sosô, ele não está bem. Estamos com medo
de que ele se vá — contou, tentando controlar sua voz.
Desabei na cadeira com essa notícia que me deixou sem
palavras.
— Ele está internado, a esclerose piorou, não sabemos se ele
vai conseguir… — Ele não conseguiu controlar suas lágrimas.
Lea tentou consolá-lo, também chorando.
— Oh, Ed. — Me levantei, o abraçando e fazendo de tudo para
controlar minha emoção.
— Ele está acordado agora, os médicos estão fazendo o
possível, mas não dão certeza de nada. Ele me pediu para buscar
algumas coisas para ele, inclusive você — falou, um pouco mais
calmo, abraçando Lea pelos ombros.
— Sim, claro, eu vou com você, quero muito visitá-lo, ele é
importante para mim também — disse, indo pegar minhas coisas. —
Lea, eu gostaria que viesse conosco, mas não posso deixar a
redação se você não estiver aqui.
— Não se preocupe, chefe, eu dou conta, só me deem notícias
— pediu ela a nós dois.
— Tudo bem, assim que der seu horário pode sair. Muito
obrigada — disse, beijando sua bochecha.
Ed deu um abraço apertado nela, tentando buscar conforto nos
braços da sua namorada.
— Eu encontro você lá embaixo, Ed — avisei, dando aos dois
um pouco de privacidade e saindo da minha sala.
Droga. John deve estar devastado também. Vovô não pode
nos deixar, não agora. Ele é uma das pessoas mais sãs daquela
família e não sei o que será da mesma sem o seu patriarca. Desci,
rezando mentalmente para que ele ficasse bem e que isso não
passasse de um susto.

No caminho do hospital, não pude deixar de perguntar a Ed


como John está com tudo isso, e sua resposta me deixou ainda
mais apavorada.
— Ele está péssimo, nunca o vi assim. Não fala com ninguém,
praticamente não come e só sai do hospital para beber. — John está
se tornando um alcoólatra! — Para ajudar aquela noiva doida dele...
— Assim que mencionou Jenna, Ed me olhou visivelmente
arrependido de ter dito isso, me fazendo sorrir sem emoção. — Você
já sabe?
— Sei — respondi, parando o carro ao lado do hospital.
— Somente Miranda faz gosto desse casamento. Parece que
nem John faz.
— O que?
— John está a evitando a todo momento. Jenna sempre dá
alguns "pitis" por causa disso, até mesmo vê-lo no hospital ao lado
do vovô é motivo para ela começar com essa estupidez. Acho que
isso não o ajuda em nada, mas quem sabe você não o ajudaria? —
Ed me olhou, esperançoso.
— Ed — comecei, dando um suspiro, mas decidi mudar logo
de assunto. — Isso não importa agora, o que importa mesmo é o
vovô. Vamos — disse, saindo do carro junto a ele.
Entrei no grande hospital especializado em tratamento de
doenças crônicas com um arrepio na espinha. Odeio hospitais.
Assim que pegamos o crachá de visitante, entramos no elevador e
fomos para o andar onde vovô está internado. Ao chegarmos no
grande corredor, congelei ao ver John sentado no banco em frente
ao quarto do seu avô. Seus cotovelos estão apoiados em seus
joelhos, seu tronco curvado e os ombros caídos em sinal de
cansaço e derrota, assim como seu rosto triste, quase
irreconhecível, encarando o chão, suas mãos estão juntas, como se
ele estivesse suplicando por algo. Vê-lo assim partiu meu coração
novamente e precisei me controlar para não abraçá-lo e confortá-lo.
Como se sentisse minha necessidade, ele virou seu olhar para mim,
devagar. Ao ver seu estado, coloquei minha mão na boca, tentando
conter minha emoção. Ele está devastado. John se levantou, e vi
um pouco de esperança em seu olhar quando ele ainda me
encarava.
— Sofya — murmurou, de mãos atadas.
Não pude conter a minha vontade e apressei meu passo na
direção dele, que avançou alguns passos também. O abracei, num
abraço apertado, tentando de todas as maneiras consolar sua dor e
sua tristeza. Não foi preciso dizer nada, apenas sentir. Por mais que
tivéssemos magoado um ao outro, a compreensão e a necessidade
dos nossos corpos sempre falaram mais alto. John me agarrou
fortemente, como se eu fosse fugir, prendendo seus braços gigantes
em volta do meu corpo e pousando sua cabeça na curva do meu
ombro, quase curvado para me abraçar. Logo depois, ele ergueu
seu corpo levando o meu junto, me suspendendo no ar e quase me
esmagando com seu aperto. Tentei suportar por alguns instantes,
mas ele é forte demais.
— John... — disse, quase sem ar, mas ele não me largou.
— Querido, já chega, ela não vai fugir — falou Mag, pousando
sua mão no ombro dele, o fazendo acordar e me deixar no chão
novamente.
Dei uma lufada de ar assim que senti meus pés no chão. Ele é
realmente um urso.
— Fico feliz que veio, Sofya — ela continuou.
— Olá, Mag. — A surpreendi, dando-lhe um abraço carinhoso.
Me afastei, fitando os dois. John tem lágrimas escondidas em
seus olhos, mas não as deixa transparecer. Mag tem o semblante
preocupado e cansado. Ela pegou minhas mãos e me olhou com
atenção.
— Ele ainda está em um quadro delicado, não sabemos o que
vai acontecer — contou a senhora.
Neste mesmo momento, Ed saiu do quarto, me encarando com
um pequeno sorriso tímido.
— Ele quer te ver — falou ele para mim.
Engoli em seco, suspirando pesadamente para manter minha
força e coragem. Assim que dei o primeiro passo em direção ao
quarto, senti a mão de John pegar a minha, chamando minha
atenção novamente para seus olhos tristes e caídos, mas ainda com
um fio de esperança.
— Obrigado por ter vindo — disse ele. Assenti, lhe dando um
meio sorriso.
Soltei a mão dele, abrindo a porta do quarto e encontrando
vovô envolto com diversos aparelhos hospitalares. Juntei minhas
mãos à boca assim que o vi na cama, sorrindo lindamente ao me
ver. Foi impossível não sorrir também, e não se emocionar. Conheço
esse simpático e corajoso velhinho a pouco tempo, mas tenho uma
ligação inexplicável com ele. Larry é o tipo de pessoa que John
sempre descreveu para mim e, assim como ele é o herói do neto,
ele se tornou meu herói também. Peguei a sua mão, que apertou a
minha com vontade, me fazendo sorrir.
— Você veio mesmo, hein — sussurrou, fazendo um riso sair
da minha garganta.
— É claro que eu vim! Ah vovô, como o senhor está? — Tentei
conter a emoção.
Ele sorriu, suspirando com dificuldade entre os tubos em seu
nariz, e fechou seus olhos, como se tudo isso não fosse nada para
ele.
— Pronto para encontrar minha Ally — disse. — Eu já vivi
demais, minha querida.
— Não fale assim, vovô — pedi, segurando sua mão com as
minhas e sentando-me ao lado da sua cama. — Tenho certeza de
que Ally quer você junto a sua família, junto a Leon, Josh e John,
eles precisam de você!
— Eu não quero ver meu filho e meus netos cometendo mais
burradas. Josh já é um caso perdido. John era a minha esperança,
mas se mostrou um completo idiota e um verdadeiro burro ao te
afastar dele.
— Não fale assim, vovô...
— Querida, eu lhe trouxe aqui porque ainda tenho esperança
em relação a você e John. Não quero que meu neto cometa os
mesmos erros do Leon, deixando eu e Ally ainda mais
desapontados. — A forma como Larry sempre falou da sua querida
Ally é realmente linda, como se ela nunca tivesse o deixando em
espírito. — Não deixe John cometer o erro de casar com aquela
menina mimada, aquela cópia da Miranda — continuou, me fazendo
rir.
— Vovô, isso não está em minhas mãos — falei,
desmanchando meu sorriso.
Eu ia continuar, mas vi John e Ed entrando no quarto, fazendo
vovô bufar. Nem mesmo fraco o velhote deixa de ser rabugento e
isso me fez rir.
— Nem privacidade eu tenho mais — resmungou ele.
— O tio Leon está aí fora, quer falar com o senhor, parece que
é urgente.
— E é mesmo — John confirmou a constatação do primo.
Larry suspirou, ainda pegando em minhas mãos.
— Tudo bem, mas antes, Ed, por favor...
Ed entendeu o que o seu tio quis dizer no pedido silencioso,
buscando algo na mala em que ele trouxe consigo, pegando uma
pequena caixinha marrom que parece ser bem antiga e a
entregando nas mãos de Larry. John e eu vimos a cena curiosos.
— Quero que fique com isso, minha querida.
Larry abriu a pequena caixinha, revelando um delicado cordão
de ouro com um pequeno medalhão, que parece ter um santinho
gravado nele, e outro pequeno pingente de coração entalhado na
madeira, visivelmente, isso é uma relíquia.
— O cordão da vovó — murmurou John, surpreso.
Eu o olhei e ele encontrou meu olhar, também surpreso. Voltei
a olhar vovô, ainda com meus olhos arregalados.
— Vovô, eu não posso...
— É o meu desejo, jovenzinha. Não quero que o cordão de
Ally pertença a nenhuma mulher daquela casa — cuspiu ele,
fuzilando o neto com o olhar.
— Mas vovô, eu não sou da família, Ally não iria gostar disso.
— Bobagem, Ally te acha mais da família que qualquer um
aqui. Venha, deixe-me colocá-lo em você. — Olhei para Ed, que me
encorajou a fazer isso, e para John, que abriu um lindo sorriso torto,
me fazendo sorrir também.
Me abaixei para que o vovô pudesse colocar o lindo cordão em
meu pescoço e assim que ele fez, o analisei com carinho.
— Quando eu conheci Ally, ela estava usando esse cordão.
Lembro-me de quando ela me disse que sua tia a havia dado para
que a protegesse. O medalhão é de Saint Patrick, padroeiro da
Irlanda, e o coração em madeira fui eu que fiz para ela,
demonstrando o meu amor por ela e o quão o coração dela era
especial.
— É lindo vovô — falei, ainda olhando emocionada para o
lindo cordão.
— Ficou lindo em você... você me lembra muito ela, querida —
vovô falou, com a voz embargada. — Mesmo sendo cabeça dura,
tem um coração especial, igualzinho a ela. É por isso que você
merece ele, Sofya.
Uma lágrima escapou dos meus olhos com as palavras
daquele gentil senhor.
— Obrigada, vovô — agradeci, tentando evitar as lágrimas.
Ele pegou minha mão e me olhou atentamente.
— Use-o sempre, ele irá te proteger também. E, por favor,
pense no que conversamos antes. — Olhei para ele, com um
grande conflito interno em minha cabeça.
Mas se é a vontade de Larry, eu irei tentar. Assenti
positivamente, limpando as lágrimas em meu rosto.
— Tudo bem, mas com uma condição — afirmei, o fazendo
sorrir. — O senhor precisa melhorar, ou nada feito.
— Você joga baixo igual a ela também, isso não é justo.
— É pegar ou largar, vovô — disse, sorrindo.
— Aceito — concordou, nos fazendo rir, apertando minha mão
e, a partir de agora, temos uma promessa um com o outro.
Senti as mãos do Ed em meu ombro, chamando minha
atenção.
— Precisamos ir agora.
— Tudo bem.
Me abaixei e dei um beijo carinhoso na testa de Larry, pegando
em sua mão.
— Você vai ficar bem, vovô.
— Obrigado, minha querida.
Olhei para John, que me acompanhou até o corredor junto com
seu primo. Assim que saí do quarto dei de cara com Leon e Marion.
Desde nosso último encontro, que não acabou muito bem, não os
tinha visto ainda, mas durante este tempo, recebi uma ligação
carinhosa da Marion e um buquê de lírios do Leon junto a um bilhete
preocupado, perguntando se eu ainda o considerava como um pai
postiço e aquilo me fez rir. Para tranquilizá-lo, também mandei flores
para ele, com um bilhete lhe dizendo que ele sempre estará em meu
coração, não importa o que aconteça. Marion disse que aquilo o
acalmou, já que ele realmente me considera como uma filha. Porém,
hoje, o clima não está dos melhores. A cara da Marion não é muito
boa, mas Leon se mantém apático, contudo, sorriu ao me ver.
— Sofya! — falou ele, me abraçando.
Assim que ele se afastou um pouco, seu olhar foi para o
cordão da sua mãe, que está em meu pescoço. Surpreso, ele pegou
o cordão, sorrindo.
— É o cordão da minha mãe. — Ele riu, balançando a cabeça.
— Não sei por que isso me deixou surpreso, é claro que ele iria
deixar isso para sua neta do coração — comentou, voltando a me
abraçar e devolvi seu abraço, feliz por ele ter aceitado isso também.
— Obrigada por me acolher em sua família Leon, nunca tive a
oportunidade de lhe dizer isso e eu sei que as coisas estão
diferentes agora. — Olhei para John, que baixou o seu olhar. — Mas
vocês ainda permanecem por perto e isso é importante para mim,
pois eu amo todos vocês.
— Você sempre será da família, Sofya, não importa o que
aconteça — falou o senhor Neeson, dando-me um sorriso. —
Preciso conversar com meu pai agora, com licença.
— Claro.
Leon olhou para Marion, que tem o olhar em tempestade,
incomodada com algo. E assim que ele entrou, fui em direção a ela,
que recebeu meu abraço de bom grado, pegando meu rosto em
suas mãos em seguida.
— Como você está? — perguntou.
— Estou bem, mas e você?
Ela me olhou de maneira preocupada e depois olhou por entre
meu ombro. Me virei e encontrei o olhar de John, assentindo para
ela, como se estivesse dizendo “tudo bem, não se preocupe”
apenas com o gesto. Voltei a olhá-la e ela me puxou para um canto
mais afastado.
— O que aconteceu, Marion?
— Leon pediu o divórcio — falou, quase em um sussurro.
Foi impossível não ficar boquiaberta.
— O que?
— Sim, foi isso mesmo que você ouviu. E agora está tudo de
pernas para o ar. — Gesticulou com as mãos, andando pra lá e pra
cá, visivelmente nervosa.
— Mas isso não é bom?
Ela sorriu, sem ânimo, colocando sua mão na testa e fechando
seus olhos.
— Eu esperei isso por anos, Sofya — confessou. — Mas as
consequências dessa decisão podem ser catastróficas para a
família, e para mim.
— Como assim?
— Miranda não aceitou, é claro. Disse que nunca deixará isso
acontecer, levando todo esse processo para o litigioso. Isso pode ter
um baita impacto negativo na carreira política do Leon, o
prejudicando de várias maneiras e me culparia pelo resto da vida se
isso acontecer.
Me lembro de quando Leon me disse que durante anos tentou
se divorciar, mas Marion nunca o deixou, justamente por isso: sua
carreira.
— Sem contar que Miranda está usando a chantagem
emocional para cima de Josh, que teve uma briga horrível com
Leon, deixando a situação mil vezes pior.
Deus, ela tem razão, Miranda vai tornar a vida de todos um
inferno e usará todas as armas para que isso não aconteça,
especialmente seu filho mais velho, e o mais próximo dela, Josh.
Mas...
— Mas como Leon chegou a essa decisão, finalmente? —
perguntei, fazendo Marion sorrir.
— Larry — resumiu tudo, me fazendo entender. Mas é claro...
— Ele sempre adiou essa decisão por minha causa, mas ao ver o
pai quase morrendo, a tomou de uma vez por todas.
— Claro, isso faz sentido — disse, a fazendo suspirar. —
Marion, tudo vai dar certo. Vocês merecem isso e tenho certeza de
que juntos, vocês irão enfrentar essa tempestade. — Ela sorriu
docemente para mim.
— Depois da tempestade surge o arco-íris, não é?
— É isso aí — disse, lhe devolvendo um sorriso.
Ela me abraçou novamente e me olhou, atentamente.
— Não sei como agradecer seu apoio, Sofya. Você é uma
garota incrível!
— Obrigada, mas não precisa me agradecer.
Ela olhou para trás de mim novamente e se apressou em se
despedir.
— Eu tenho que ir agora, espero que o arco-íris apareça para
você também — falou, me mandando uma piscadela e saindo.
Me virei e encontrei John, vindo em minha direção. Olhei para
o lado, tentando disfarçar esse momento de climão, até que senti
sua mão pegar o cordão da sua avó em meu pescoço e voltei a
olhá-lo. Ele olha atentamente para o cordão, dando um sorriso torto
que precisei me controlar para não beijá-lo, porque ainda amo esse
sorriso.
— Meu avô tem razão — falou ele, voltando seus lindos olhos
azuis brilhantes para os meus novamente.
— Sobre o que? — perguntei, receosa.
Será que Larry contou sobre nossa conversa para ele?
— Você tem mesmo um coração especial.
Abaixei o olhar timidamente, mas ele tratou de levantar minha
cabeça com sua mão em meu queixo, me fazendo encará-lo
novamente.
— John.
— Eu sinto sua falta — declarou.
Engoli em seco e o olhei mais uma vez. Ele está um trapo e,
pelo cheiro de bebida impregnado em suas roupas, não toma banho
há dias. Novamente baixei meu olhar e pude ver a aliança em seu
dedo, fazendo mudar minhas feições, e assim que ele percebeu,
tratou de esconder sua mão. Voltei a encará-lo e a vergonha está
estampada em seu rosto. Fechei os olhos, balançando a cabeça
negativamente, os abrindo logo depois, e olhando para o lado, já me
arrependendo da promessa que fiz a Larry.
— Sofya...
— Parabéns, John. Você merece ser feliz — falei, dando as
costas pra ele e indo em direção ao elevador.
— Sofya, por favor — chamou, tentando parar o elevador, mas
por sorte, a porta se fechou antes.
As lágrimas descem involuntariamente pelo meu rosto. Não
vou suportar ver John com aquela mulher, não posso mais suportar
a ideia de tê-lo tão perto de mim, mas longe demais ao mesmo
tempo. Não quero mais sofrer por conta disso, preciso mudar os
rumos da minha vida e logo, por isso bati o martelo e decidi: eu vou
me mudar. Não tem mais como ficar naquele apartamento cheio de
lembranças e, por isso, venho pensando na ideia há um bom tempo,
mas nunca tive coragem de tomar uma decisão até então. Até
mesmo meu pai está me incentivando a fazer isso. Agora, a
coragem que não tive antes, veio quando eu o vi usando aquele
maldito anel e se eu fiquei assim somente por isso, imagine quando
o ver com Jenna todos os dias ao meu lado, já casados, como
marido e mulher? Não posso, não dá, eu não consigo. Saindo do
hospital, meu celular tocou e vi o nome de Steve na tela, me
fazendo suspirar. Ele sabe que eu venho o ignorando há dias e por
isso está desesperado atrás de mim, e se vou começar uma
mudança radical em minha vida, irei começar por Steve, pois já que
ele não está em meus planos.

— Pai, me escuta, eu sei disso, mas já falei com alguns


corretores e até cheguei a ver alguns apartamentos.
— Só me dê uma chance, tudo bem? Mary é uma das
melhores corretoras da cidade e eu já falei com ela, por isso ela vai
te mostrar apartamentos ótimos.
— Você o que? — perguntei, enquanto caminhava pela minha
rua e conversava com ele ao telefone.
Assim que comuniquei ao meu pai que tomei a decisão de me
mudar, ele mexeu seus pauzinhos, mas não antes que eu. Em uma
semana já vi dois apartamentos, um em Midtown e o outro um
pouco mais afastado, em East Village. Os dois não me agradaram
muito, mas me mantenho determinada em minha decisão.
— Querida, por favor? — implorou.
Bufei, porque parece que estou desaprendendo a dizer não a
ele.
— Tudo bem, mas só dar uma olhada.
— Combinado, te encontro amanhã às 14h. Petrus irá te
buscar. Tenho que desligar agora, meu bem. Te amo — falou,
encerrando a ligação.
Mas que cara de pau. Ele está aprendendo a lidar comigo e
quando percebe que irei retrucar dá um jeito para que eu não faça,
como agora, desligando o celular. Bufei, continuando a andar. Nesta
semana comecei a dar andamento no meu novo plano de
“mudanças”, só que fazer isso não está sendo muito fácil, como
agora. Parei em frente a porta do Steve, finalmente tomei coragem
de dizer a ele que não o quero como estamos. Sim, tinha prometido
dizer isso a ele há uma semana atrás, mas ele acabou viajando e
voltou a pouco tempo de viagem, e aqui estou eu. Toquei a
campainha e esperei, impacientemente, até que ele abriu a porta,
com um brilho lindo no olhar.
— Finalmente! — disse ele, me agarrando em um abraço
apertado.
Retribui o abraço, mas antes que ele pudesse me beijar, tratei
de entrar logo para sua ampla sala de estar.
— Tudo bem?
Me virei para encará-lo e vi em seus olhos insegurança e
dúvidas. Ele sabe que não estamos bem, mas não podemos
continuar assim, para nosso bem. Afinal, nem temos um
relacionamento concreto para que isso acabe em tragédia, por isso
tenho esperança de que tudo vai acabar bem e vamos ser somente
bons amigos. Bem, assim espero.
— Ahm, Steve... precisamos conversar — falei, apreensiva.
— Ah... isso não é bom — suspirou.
— Eu...
— Antes de tudo, me espere aqui, trouxe algo da viagem para
você que tenho certeza de que irá gostar — cortou e se apressou,
indo em direção a sua escada. — Volto em um minuto, não saia daí,
também tenho algo a te falar — avisou, subindo os degraus.
— Isso não é bom — foi a minha vez de dizer, sussurrando
para mim mesma.
O apartamento de Steve é maravilhoso e muito amplo. Bem
decorado e grande demais para um homem solteiro morando
sozinho, mas, pelo pouco que conheço Steve, isso é extravagante
igual ele, no bom sentido. Steve sempre gostou de impressionar,
não importa como. Às vezes isso era bom, mas tinha vezes que eu
queria socá-lo mesmo. Estava prestes a me sentar em sua poltrona
quando escutei sua campainha tocar, me chamando a atenção.
— Ahm, Steve? — chamei, olhando para a porta.
Será que ele está esperando alguém?
— Deve ser minha encomenda! Pode atender, por favor? —
gritou do andar de cima.
Bufei novamente, indo para a porta e a abrindo. Ok, essa
encomenda é bem estranha.
— Olá — falou a mulher, tentando formar um sorriso.
Ela carrega um lindo garotinho em seu colo, dormindo
lindamente, junto a uma bolsa gigante.
— Olá — respondi, surpresa.
— Steve mora aqui? — perguntou a mulher.
— Ahm... — Tentei desconversar, mas ela olhou para os porta-
retratos que estão atrás de mim no aparador e não pude negar. —
Sim, mas...
— Eu sou Nathalie, Nathalie Hawkins. Me desculpe vir assim,
mas eu realmente preciso falar com o Steve. — contou, de maneira
aflita.
Nathalie? Esse nome não me é estranho... Nathalie, Nathalie,
Nath... oh meu Deus! Não pude deixar de abrir a boca quando caiu
a ficha! Claro! Steve já foi casado, e o nome da sua ex mulher é
Nathalie!
— Oh! Você é A Nathalie! — disse ainda mais surpresa,
fazendo com que ela desse um meio sorriso tímido.
Nathalie é só um pouco mais baixa que eu. Tem lindos cabelos
castanhos até os ombros, um lindo e delicado rosto de porcelana,
olhos castanhos e parece uma boneca. Ela é linda.
— Sim... sou eu.
O menininho que está em seu colo parece ter despertado do
seu sono com a nossa conversa, levantando sua cabeça do ombro
dela lentamente, esfregando seus olhos sonolentos e finalmente os
abrindo.
— Onde estamos, mamãe?
— Viemos visitar alguém, meu amor. Lembra que eu lhe disse
isso no caminho?
— Sim.
O pequeno e lindo garotinho, que aparenta ter entre quatro ou
cinco anos, me olhou e comecei a analisá-lo lentamente. Ele tem
lindos cabelos loiros como o sol e um par de olhos azuis lindos, bem
parecido com os do...
— Olá — disse ele.
MEU DEUS DO CÉU, mas será possível? Minha boca se abriu
ainda mais com o choque e foi impossível conter um riso
involuntário.
— Olá, lindinho — respondi, ainda em choque.
Olhei para a Nathalie, que me olha desconfiada.
Olhei para ele novamente, pegando sua mãozinha e sorrindo,
que me devolveu o sorriso. Voltei a olhar para Nathalie, que,
novamente, deu um meio sorriso. A pergunta está no meu olhar e a
mulher à minha frente conseguiu entendê-la, apenas assentindo
sutilmente para mim como resposta. Dei outro sorriso para o lindo
menininho e me agachei levemente, o olhando.
— Você tem os olhos do seu pai — comentei.
— Sofya, eu quero...
Me virei com um pulo, me assustando com Steve na beira da
escada, olhando para porta como quem estivesse olhando para um
fantasma.
— Na-Nathalie? — perguntou, claramente sem respirar.
— Olá Steve — ela cumprimentou, transparecendo medo em
sua voz.
Olhei novamente para ela e logo tratei de ajudá-la, é visível
como está abalada também, pegando a grande e pesada bolsa do
seu ombro e abrindo caminho para que ela entrasse. Não faço a
menor ideia do que está acontecendo, mas vou descobrir isso
agora.
— Obrigada — disse ela.
— Eu sou a Sofya — me apresentei, estendendo minha mão a
ela, que me cumprimentou educadamente.
— Muito prazer, Sofya.
Pobre moça, está tremendo.
— Este aqui é o Nate, meu filho — apresentou o garotinho,
virando-se para Steve enquanto eu olhava para Nate, ainda
sorrindo.
— Muito prazer, Nate — disse, o fazendo sorrir.
— Filho? — perguntou Steve.
Voltei a olhá-lo e ele está branco como uma vela. As coisas
que estavam em sua mão foram parar no chão com o choque. Ele
olhou o pequeno Nate com atenção, avançando lentamente em
nossa direção, com os olhos vidrados no menino, que, diga-se de
passagem, é a cara dele.
— Não chola, mamãe — murmurou o pequeno para a sua
mãe, que deixava suas lágrimas escorrerem por seu rosto.
— Está tudo bem, meu amor. Vai ficar tudo bem — sussurrou
Nathalie para ele, e voltou a encarar Steve, que já está ao seu lado.
Assim como eu, Steve sempre foi esperto, muito, por sinal, e
tenho certeza de que não foram preciso palavras para dizer o que
está acontecendo aqui. Nate é a mini versão do Steve e não precisa
nem de um teste de DNA para comprovar isto.
— Ele... ele é... — Steve está com os olhos brilhando por suas
lágrimas, ainda olhando para Nate.
— Olá — falou Nate, simpático, a Steve, me fazendo sorrir
mais uma vez.
— Olá — respondeu Steve, deixando escapar algumas
lágrimas.
Ele olhou para Nathalie mais uma vez, esperando sua
resposta, e parecia que eu nem estava aqui, e agradeci
mentalmente por isso.
— Sim. Ele é seu filho, Steve... nosso filho — confirmou
Nathalie, com a voz embargada.
Steve levou as mãos ao rosto, o cobrindo, e se afastou. Droga,
eles precisam conversar, mas não com o menino aqui. Como se
lesse meus pensamentos, Nathalie olhou para mim, como se fosse
uma súplica.
— Tudo bem, vocês vão precisar conversar — disse. — Hey,
Nate, quer ver uma coisa legal comigo? — Falei, oferecendo meu
colo para ele.
— Sim! — concordou, me fazendo sorrir e vindo para o meu
colo imediatamente.
— Vamos lá! — disse, indo em direção a outra sala do lado,
onde há uma linda janela panorâmica para nossa rua.
— Muito obrigada! — Nathalie agradeceu, limpando suas
lágrimas, e eu dei um meio sorriso em resposta.
Paramos em frente à janela, onde abri as cortinas para que
víssemos a linda vista e assim que fiz isso, vi o pequeno Nate sorrir,
olhando para fora.
— Uaaau! — disse ele.
— Legal né! Olhe só aquela árvore lá fora, em poucas
semanas ela estará cheia de flores.
— Por que?
— Porque a primavera está chegando, e você sabe o que isso
significa?
— Não — negou, balançando a cabeça.
— Significa que novas flores nascerão, assim como as
plantinhas também. É a estação da esperança, sabia?
— Não, por que?
— Porque tudo nasce novamente... acontecem novas
mudanças. — Percebi que estava apenas fazendo uma metáfora
com a minha vida.
Senti o sol em meu rosto, apenas confirmando o que eu
acabara de dizer ao pequeno curioso em meu colo. Quem diria. Vim
aqui para conversar com Steve e aqui estou eu, segurando seu filho
nos braços. Um filho que não é meu. Ri com a constatação
enquanto Nate tagarela sobre a vista curiosa lá fora, e foi quando
não pude deixar de escutar a conversa no outro cômodo.
— Como você me diz isso assim, Nathalie? Como pôde
esconder isso de mim durante quase cinco anos? — questionou
Steve.
— Você foi claro para mim que não queria ter filhos! E esse foi
um dos motivos pelos quais eu te pedi o divórcio!
— SIM! Então como isso aconteceu?!
— QUANDO VOCÊ FOI A MINHA CASA ASSINAR OS
PAPÉIS! — bradou Nathalie. — Você não queria o divórcio, mas
entendeu minha vontade — continuou, já com a voz mais calma. —
Naquela noite conversamos tanto, bebemos um pouco e
acabamos...
— Sim, eu me lembro.
— Continuei minha vida, você foi para o Haiti com os Médicos
Sem Fronteiras, e quatro meses depois daquela noite eu descobri
que estava grávida. Não tive coragem de te contar, de te ligar. Você
nunca quis ter um filho. Nem os seus pais souberam, por isso decidi
ir para Boston, onde moramos por quatro anos, mas voltei para
Jersey no começo do ano, e descobri que você tinha voltado —
explicou, sendo consumida pelas lágrimas. — Eu não podia mais
escondê-lo de você, mesmo que você não o aceite...
— Ele é meu filho, farei o meu dever de pai.
— Eu não quero que você se sinta obrigado.
— Nathalie, se passaram quase cinco anos e acredite, aquele
homem que você conheceu há doze anos atrás, não está mais aqui
— afirmou Steve. — Eu aprendi muito nestes anos fora, eu só... só
preciso de um tempinho para processar tudo isso.
— Eu entendo — ela falou.
Depois de um breve momento de silêncio, Steve voltou a falar.
— Nate, hein? — ele comentou.
Vi os dois aparecendo na sala, onde estávamos e Nate sorriu
para a mãe. O coloquei no chão e ele foi correndo até ela, ficando
ao seu lado.
— Nate, este é Steve... seu pai.
Steve, ainda com os olhos inchados, se abaixou para olhar seu
filho mais de perto, não podendo evitar um grande sorriso. E eu que
achei que o meu reencontro com meu pai foi dramático... pfff.
— Olá, Nate — disse Steve para o garotinho, que ainda estava
confuso.
Nate olhou para sua mãe, como se buscasse explicações, e
ela também se abaixou, para apoiar seu filho.
— Amor, lembra quando a mamãe disse que o papai estava
viajando? — Nate apenas assentiu, escutando a mãe. — Ele voltou.
— Nate voltou a olhar Steve, se aproximando do pai.
— Papai? — perguntou, nos fazendo sorrir.
— Sou eu, filho — sussurrou, abraçando o pequenino.
Foi difícil Nathalie conter sua emoção, assim como eu, que
estava controlando minhas lágrimas. Deus, desde quando minha
vida virou uma monta-russa dramática? Eu exijo a velha Sofya de
volta agora! Aquela do sexo, sem drogas — apenas MUITA bebida
— e rock’n roll, por favor. Mas a verdade, a verdade é que essa
Sofya não tinha nada, era oca por dentro, vivendo apenas da
adrenalina e nada mais... eu era vazia. Será que eu quero isso de
volta mesmo?
— Acho que agora é vocês que precisam conversar — falou
Nathalie, me tirando dos meus devaneios.
Ela pegou Nate pela mão o levou para a outra sala, deixando
Steve e eu sozinhos. Ele me olhou ainda com medo, mas riu da
situação.
— Deus... que loucura! — comentou, me fazendo sorrir.
— Eu acho que estou ficando acostumada com isso.
Ele me encarou, pegando em minha mão.
— O que eu ia te dizer antes era que... Sofya, eu quero muito
ter você ao meu lado, eu gosto tanto de você, o que aconteceu
agora pode não mudar as coisas entre nós e não nos atrapalhar.
— Steve, você sabe que nada é por acaso, não sabe? E você
também sabe o que eu vim fazer aqui hoje, não é?
Esperei a sua resposta, mas ela não veio. Ele voltou a abrir
seus olhos, me ouvindo com atenção.
— E Nathalie bater na sua porta com um filho seu, que é a sua
cara, praticamente ao mesmo tempo que eu, não é uma
coincidência... só era para ser — falei, o fazendo sorrir. — Então o
que estamos fazendo? Sabemos que isso não dará certo, e que eu
não quero a mesma coisa que você.
— Você gosta mesmo daquele filho da... do John, não é?
Desviei do seu olhar como o diabo foge da cruz, tentando
esconder a verdade que me corrói por dentro transparecer em meus
olhos. Escutei seu riso debochado e esperei por suas palavras, mas
elas não vieram. Voltei a olhá-lo, mas ele mantém seu rosto baixo,
ainda encarando a verdade.
— Isso não importa agora, o que importa é que a vida lhe deu
uma segunda chance, batendo em sua porta, e não foi comigo —
falei, chamando sua atenção novamente. — Foi com Nathalie e
Nate, e é neles que você precisa focar agora.
— Acho que você tem razão.
— Steve, eu quero que saiba que sou muito grata a tudo o que
você fez por mim, e que sempre que você, ou até mesmo Nathalie
ou Nate, precisarem, serei uma amiga.
— Isso me parece justo — concordou, nos fazendo rir.
— Obrigada — disse, e ele apenas assentiu. — Me leva até a
porta?
— Claro.
Fomos andando até a porta e vi Nathalie pegando alguns
brinquedos do Nate em sua grande bolsa. Ambos nos olharam e me
abaixei para me despedir desse menininho simpático.
— Eu já vou indo, Nate, eu adorei conhecer você. Tchau,
lindinho — falei, dando-lhe um beijão em sua bochecha.
— Tchau! — disse ele, sorrindo.
Me levantei e encontrei o olhar compreensivo da Nathalie em
mim. Não sei explicar, mas sinto que ela é uma boa pessoa e
espero do fundo do meu coração que ela e Steve se acertem, para
que Nate cresça feliz.
— Eu não quis causar nenhum problema entre vocês —
começou ela.
— Não se preocupe, acho que nos acertamos — afirmei,
olhando para Steve.
— É... somos amigos — disse ele.
— Muito obrigada, Sofya — ela falou sorrindo, me pegando
num abraço que me deixou surpresa, mas que retribuí mesmo
assim.
— Sem problemas, espero que fique tudo bem entre vocês —
disse, andando em direção a porta. — Tchau!
Inspirei o ar fresco, sentindo um grande alívio. Lembra quando
eu disse que a vida anda por caminhos misteriosos? Pois é, ela está
cada vez mais me surpreendendo. Sempre fui o tipo de pessoa que
acredita nas leis do universo, quando tiver que ser, será, mas tudo
em seu tempo, e, principalmente, na lei do retorno, em que algum
dia você irá encarar novamente certas atitudes do seu passado,
sejam elas boas ou ruins. Foi isso o que aconteceu com Steve... e
comigo, nosso passado bateu — literalmente — em nossa porta,
mas nada é por acaso. Quando o universo conspira ao seu favor, às
vezes temos que deixar tudo para lá, esquecer o que já aconteceu
um dia, e seguir em frente, seja como for.
West Village é um bairro lindo e encantador aqui em Nova
York. Quando descobri que o apartamento em que irei encontrar a
corretora — que meu pai tanto pediu — é nesse bairro confesso que
fiquei um pouco mais animada com o encontro, principalmente por
ver que ele segue a linha dos apartamentos antigos e o mesmo
padrão dos demais em toda a rua bem arborizada. Olhei para a
fachada e dei um suspiro, eu mal tinha o visto e já amei o lugar.
— Pronta? — perguntou Petrus, abrindo a porta do edifício
para mim.
— Surpreendentemente, sim — respondi entrando, e o
fazendo sorrir.
O hall de entrada é uma graça, seguindo um modelo
neoclássico na decoração. Eu ainda admirava o lugar quando vi
meu pai conversando com uma mulher loira e esbelta perto da
escada.
— Sofya! — disse, vindo em minha direção e me dando um
abraço apertado.
— Oi, pai.
— Ela é realmente linda, Kris! Parabéns! — falou Mary ao me
cumprimentar, fazendo meu pai sorrir como um bobo. — Muito
prazer, Sofya, eu sou Mary, a corretora.
— Obrigada, Mary, muito prazer.
— Prontos? — perguntou ela.
— Sim! — eu e o meu pai respondemos, a acompanhando
pela escada.
Andava pela quinquagésima vez pelo lindo apartamento,
admirando o espaço. Eu realmente estou apaixonada por ele. Não é
grande, mas é perfeito para mim, com apenas um quarto, sala,
escritório, cozinha e dois banheiros (contando com o da suíte). O
conceito aberto dele é um diferencial. Ao mesmo tempo que o
apartamento é antigo, o lugar também consegue ser moderno e
aconchegante. Ele me lembra o apartamento da Carrie Bradshaw,
de Sex and The City, e isso também contou positivamente. O único
problema é que ele não é tão perto do trabalho, mas pouca coisa, e
totalmente fora do meu orçamento. Eu adorei, me sinto bem aqui.
— E então? — Mary perguntou.
Ela e meu pai estão apreensivos, esperando minha resposta.
— Eu adorei — disse, fazendo ele e Mary rirem, aliviados.
— Eu te disse! — meu pai se vangloriou.
— Estou tão feliz que tenha gostado!
— Sim, é um lindo apartamento, mas confesso que ele está
um pouco acima do meu orçamento.
— Querida, minha única preocupação era você não gostar
daqui. Eu já tomei todas as providências.
O que?
— Como assim? — perguntei, desconfiada.
— Essa é a parte que eu estava temendo — falou ele para
Mary, forçando um sorriso. — Mary, você poderia nos dar licença um
minuto, por favor?
— Claro — disse a moça, nos deixando a sós.
Não estou gostando disso.
— Sofya, querida… — enrolou meu pai, fazendo gestos com
as mãos, visivelmente tentando me falar algo, mas nada saia.
ARGH!
— Desembucha logo, pai!
— Eu comprei esse apartamento para você. Pronto — contou,
tentando erguer o queixo e ser autoritário, mas sei que ele fez isso
mesmo para tentar evitar que eu o respondesse.
Engoli em seco, ainda tentando processar sua resposta. Ele
sabe o quanto eu odeio isso! Ao ver minha cara — que deve estar
assustadora — sua pose foi por água abaixo e ele tratou de levantar
suas mãos em gesto de paz.
— Eu posso explicar... — começou ele.
— Você não fez isso mesmo, fez? — rosnei.
— Já que você não aceitou ficar com sua parte na minha
empresa, que por direito é sua também, decidi fazer o máximo para
você enquanto eu estiver aqui.
— VOCÊ SABE QUE EU ODEIO ESSAS COISA, PAI!
— SIM! Eu sei, mas por favor, aceite isso como um presente
meu! Eu fiquei tão feliz quando vi seus olhos brilhando por este
apartamento e pela primeira vez na vida acho que acertei em fazer
uma escolha por você — disse, afobado. — Ele é a sua cara, não é?
Não tive tempo de dizer mais nada quando escutamos o
celular dele tocar e, assim que ele pegou seu aparelho, o nome do
doutor Harper nos chamou a atenção, nos fazendo trocar olhares
preocupados.
— Alô? — atendeu meu pai, receoso.
Os exames do meu pai estão para sair e sua última ida ao
médico nos deu alguma esperança, pois nenhum sintoma
preocupante se manifestou neste tempo todo. Meu coração
acelerou, esperando longos segundos para saber o que estava
acontecendo.
— Urgente? — Meu pai me olhou, fazendo meu corpo ficar
mole de medo. — Tudo bem, estou indo para o seu consultório.
Obrigado, doutor — encerrou a ligação.
— O que aconteceu? — perguntei aflita.
— Os resultados saíram, e Harper disse que precisa me ver
urgente.
Inspirei uma grande lufada de ar, tentando manter minha
coragem, preciso ser forte agora. Peguei a mão dele, chamando sua
atenção, e tentei tranquilizá-lo.
— Vai dar tudo certo, pai. Estou com você nessa — falei, o
fazendo sorrir. — Vamos para lá, agora.
Assim que entramos na sala do doutor Harper, o vimos com
mais dois médicos, me deixando ainda mais apavorada. Estou
tentando de todas as maneiras não transparecer meu nervosismo a
meu pai, pelo contrário, estou me mantendo forte por fora, ele
precisa do meu apoio, mas não sei se isso durará depois de escutar
o que o médico tem a nos dizer.
— Antonov! Graças a Deus você veio — disse Harper. — Olá,
Sofya.
— Olá, doutor.
— Vamos ao que interessa, Harper? — falou meu pai, se
sentando.
— Creio que temos uma boa notícia para lhe dar — respondeu
o médico, enchendo meu coração de esperança. — Uma infeliz
desventura ocorreu quando lhe demos o diagnóstico do tumor
cerebral. Você precisa entender que é raro isso acontecer, mas
acontece no dia a dia de um hospital...
— Harper! — exclamou meu pai, sem paciência.
— Você não tem tumor algum, Kris. O que ocorreu foi um erro
médico e acabamos trocando seus exames.
— O QUE? — gritou meu pai.
Ainda não consigo acreditar no que eu acabei de ouvir. Minhas
pernas perderam a força e eu cedi, caindo sentada no sofá, ainda
boquiaberta.
— Os exames não eram seus, eram de outra pessoa, e
sentimos muito por isso.
— Ma-mais e aquela dor de cabeça que venho sentindo desde
o último ano?
— Aquilo é uma enxaqueca crônica, causada pelo estresse e
situações parecidas do dia a dia. Não há o que se preocupar mais,
Kris.
Encontrei o olhar do meu pai, que também está sem acreditar.
Depois de tanto rezar, de tanto pedir, acho que ainda ficarei muito
tempo com o meu pai. Sorri e voei para seu pescoço, o abraçando
apertado e sem palavras para explicar o quanto estou feliz agora.
Eu sei que não deveria comemorar tanto assim, já que outra pessoa
irá receber este triste diagnóstico, mas espero que esta pessoa e
sua família encontrem apoio uns nos outros, assim como eu e meu
pai fizemos. Depois de muito se falar nesse assunto, decidimos
comemorar ao nosso estilo: pizza, milk-shakes, e o pôr do sol no
Central Park no mesmo lugar de sempre, ambos com nossos óculos
Ray-Ban.
— Ainda não estou acreditando — disse Kris. — Eu precisei
levar esse susto para ir atrás de você — continuou ele, voltando seu
olhar para mim e me fazendo sorrir.
— A vida é engraçada, não é? — falei. — Acho que
precisávamos disso.
— Eu também, e fico feliz por isso — disse, erguendo seu milk-
shake. — Um brinde à vida.
— Um brinde à vida — sorri, juntando meu milk-shake no dele.

Graças a Deus o grande dia chegou! Todas as “madrinhas”


estão terminando o penteado e maquiagem no salão de beleza que
sempre costumo ir. O ambiente é grande, agradável, chique e, hoje,
com champanhe à vontade, então vocês já podem imaginar como
estou. Shantell me disse que iria chamar Taylor — nosso
cabeleireiro e maquiador — para que ele fosse até o seu quarto de
hotel e assim a preparasse. Segundo ela, queria que nós a
víssemos já pronta, estou achando isso muito estranho. Shantell e
eu sempre fizemos tudo juntas e não seria diferente no seu grande
dia, isso era o que eu pensava. Mandei várias mensagens para ela,
mas nada de ela me responder. Talvez esse fosse um dos motivos
para eu estar na minha quinta taça de champanhe.
Outro motivo de eu já queimar a largada assim é John. Irei
encontrá-lo na igreja hoje e Jenna possivelmente estará com ele,
por isso não quero enfrentar isso sóbria. Olhei o resultado final no
espelho e adorei! Meu cabelo está preso em um coque
desconstruído com algumas tranças pequenas e com uma fina tiara
de aço rosa, o vestido rosa claro caiu super bem no meu corpo e
minha linda sandália pink deu um toque especial. Antes de
entrarmos na limusine, peguei a garrafa de champanhe e enquanto
me despedia do pessoal do salão senti Nigel me puxar pelo braço.
— Acho melhor você substituir essa garrafa pelo seu buquê,
que você QUASE esqueceu lá dentro, o que acha? — perguntou,
pegando a garrafa da minha mão e me dando o buquê.
Sem responder, apenas o encarei brava, fazendo um bico de
desgosto. Entramos na limusine e seguimos para a igreja batista no
Brooklyn, lugar onde Shantell havia escolhido para se casar. Mesmo
sendo criada em um orfanato católico, Shantell decidiu que seu
casamento seria na mesma igreja que Preston e sua família
frequentam. Segundo ela, o pai do Preston cantava no coral da
igreja e casar-se com ele lá seria muito especial para seu noivo.
Além disso, assim que paramos em frente à igreja, notei que seria o
casamento perfeito, é um lindo lugar para celebrar a união das
pessoas que se amam. Assim que saímos da limusine, vi algumas
pessoas no topo da escadaria, até encontrar os olhos de John em
mim. Deus, como ele fica lindo de smoking e como vou precisar
beber para suportar isso.
Em uma das pequenas salas da igreja, eu, Mark, Peterson —
irmão do Preston — e Terry — primo do Preston — terminamos os
últimos detalhes em nossos smokings, já que somos os padrinhos.
Coloquei a pequena flor rosa no bolso do meu paletó e dei uma
última olhada no espelho... é, nada mal.
— Toma aí, cara! — disse Mark, me oferecendo um copo de
whisky.
— Acho melhor evitar por hoje — falei, negando o copo.
— Tá brincando? — riu Mark. — É, esse noivado está mesmo
mexendo com você — sorri sem emoção, evitando falar no assunto.
— Você será o próximo, Neeson — disse Terry, ajeitando seu
paletó. — Meus pêsames — continuou, nos fazendo rir.
— Ah, qual é cara, casamento não é tão ruim assim. Veja eu e
Tianna — falou Peterson.
— É, mas diga isso a minha ex mulher, que quer tirar até o
meu último tostão do bolso! — reclamou Terry.
— Você se casou com uma garota de programa! Esperava o
que?! — Mark questionou, nos fazendo rir.
Escutamos a porta abrir e Preston entrar com um sorriso de
orelha a orelha.
— E então, meninas, como estou? — perguntou, empinando o
queixo e ajeitando seu paletó.
Depois das brincadeiras, fomos cumprimentar ele. Nunca vi
meu melhor amigo tão feliz como nesses últimos tempos, Shantell
só veio para alegrar a vida dele e isso é nítido em seu rosto. Abracei
meu parceiro e ainda com minhas mãos em seus ombros, consegui
lhe dar os parabéns.
— Você merece ser feliz, parceiro — disse, o fazendo sorrir
ainda mais. — Shantell é uma mulher de sorte.
— Obrigado, brô, mas na verdade eu sou um homem de sorte.
Aquela mulher é a mulher da minha vida e será a mãe dos meus
filhos.
— Mas já está pensando nisso? — perguntou Terry.
— Você sabe que um dos meus maiores sonhos é ser pai e
quando vi Shantell já pude imaginar nossos filhos.
— Ah cala a boca! — disse Mark, rindo.
— Pode me zoar o quanto quiser. Você entenderá isso um dia
e vou pagar para estar lá, guarde minhas palavras! — respondeu,
nos fazendo rir.
Preston nunca escondeu de mim sua vontade de ser pai e o
que ele acabou de dizer é verdade. Me lembro como se fosse ontem
quando ele conheceu sua futura mulher.

“— Que cara é essa? Ganhou na loteria? — perguntei a


Preston, que está com uma cara ótima e um sorriso radiante,
sentando em sua mesa.
— Melhor que isso, cara. Conheci a mãe dos meus filhos.
— Sem essa! — falei, sentando a sua frente.
— É sério, cara, ela é linda!
— Hm, sei. Vamos ver até quando isso irá durar — ri.”

É, pelo visto irá durar bem mais do que imaginei e estou feliz
por isso. Depois que saímos da sala fomos até a porta da igreja,
esperando os últimos preparativos. Por sorte, Jenna precisou viajar
à Califórnia para ajustar algumas coisas para sua “nova coleção”,
segundo ela, e agradeci mentalmente por ela não ter vindo. A
verdade é que se arrependimento matasse eu estaria enterrado a
sete palmos. Naquela noite, quando Steve revelou ser o namorado
da Sofya, meu mundo caiu, e para melhorar, na mesma noite, antes
deste acontecimento, fomos jantar na casa dos meus pais. O que
isso tem a ver? Bom, o fato de que nesta mesma noite minha mãe
fez a minha cabeça, falando sobre casamento e coisas do tipo, me
dando o anel de noivado dela, o mesmo anel que meu pai a pediu
em casamento, para que isso me incentivasse a fazer o mesmo com
Jenna. Sai de lá certo de que isso não iria acontecer realmente, mas
ver Sofya namorando aquele babaca me cegou de ódio... e vocês
me conhecem, quando eu estou, digamos “alterado”, eu faço muitas
coisas sem pensar, por isso, naquela mesma noite, pedi Jenna em
casamento. Bom, foi um pedido meio peculiar.
“Entrei em meu apartamento, batendo a porta com toda a
força. Eu quero matar aquele filho da puta! COMO SOFYA PÔDE
FAZER ISSO! NAMORAR ELE? Eu fui um completo idiota quando
me declarei para ela. ARGH! Minha vontade é voltar lá e tirar toda
essa história a limpo. Inacreditável! Olhei para Jenna, que também
está furiosa, tirando sua maquiagem e resmungando coisas para
mim, mas a minha raiva é tanta que não escuto nada! Minha mãe
tem razão, a vida deve seguir em frente e se Sofya está pensando
que será a única a fazer isso está muito enganada.
— O que acha de nos casarmos? — perguntei, interrompendo
as reclamações dela.
Ela me olhou, boquiaberta e se aproximou.
— Oh... John! — sussurrou surpresa. — Eu achei que iria me
pedir isso, mas não assim — riu.
— Isso é um sim, Jenna? — Já estava impaciente.
— Mas é claro, meu amor! Eu aceito. — Ela veio até mim,
beijando meus lábios.
— Ótimo! Acertamos tudo depois — disse, me distanciando
para pegar minha carteira e sair daqui rapidamente. Eu preciso
beber.
— Mas, amor, não está esquecendo de nada? — perguntou
ela, com uma ruga na testa.
Olhei para o lado, sem entender do que ela estava falando e
neguei com a cabeça.
— John, o anel! — reclamou, erguendo sua mão esquerda
para mim.
Droga, é mesmo. Bufei, tentando achar o maldito anel no meu
bolso, pegando e jogando a caixinha para ela.
— Pega. Volto mais tarde — falei, dando as costas a ela e indo
em direção a porta, ignorando suas reclamações e fechando a porta
atrás de mim.”

O resto daquela noite foi um borrão, só me lembro de ter ligado


para Preston e ter apagado depois. Olhei para o movimento da rua e
notei uma limusine parando em frente a escadaria da grande igreja.
Nigel saiu primeiro, seguido por mais duas mulheres — que se não
me engano, acho que já as conheço, não sei — e logo atrás dela eu
a vi, me fazendo perder o ar na hora. Deus, como ela está linda,
uma visão. Ainda a encarava quando seu olhar encontrou o meu.
Junto ao restante, Sofya começou a subir os degraus e só parei de
olhar para ela quando escutei certos comentários atrás de mim.
— Cara, quem é essa deusa? — perguntou Terry.
Olhei para trás o fuzilando com os olhos.
— Xiii — advertiu Mark, dando um tapinha no ombro do Terry e
saindo de perto dele.
— Oh, cara, me desculpe, não sabia que ela é a sua noiva. —
Com o olhar arrependido, Terry gesticulava com suas mãos.
— E não é — falou Preston, dando um sorriso cínico e
voltando para dentro da igreja depois que o olhei de maneira gélida.
— Mas então? — perguntou Terry com os olhos apertados,
sem entender o que está acontecendo, me fazendo revirar os olhos
e voltar meu olhar para ela, que conversa com Nigel enquanto ajeita
seu lindo vestido.
Tomei coragem e fui na direção dela, que não percebeu meu
movimento. Nigel me avistou primeiro, dando uma piscadela,
entendendo o que eu quero, e saindo na mesma hora. O agradeci,
retribuindo com o mesmo gesto.
— Mas eu não sei se... hey! — exclamou ela a Nigel, com uma
cara fechada e brava por ter sido deixada falando sozinha. Como eu
amo essa cara emburrada!
Assim que percebeu o porquê o amigo havia deixado ela para
trás, Sofya arregalou os olhos, me vendo se aproximar.
— Oi — falei, colocando minhas mãos nos bolsos da minha
calça.
— Oi — ela respondeu.
— Você está linda — elogiei, a fazendo corar e desviar seus
olhos de maneira tímida.
— Obrigada, você também não está mal — disse, me fazendo
sorrir. — Como está o vovô?
— Cada dia melhor. Os Neeson são duros na queda — falei, a
fazendo rir.
— Fico feliz em ouvir isso.
Nos encaramos novamente, sustentando nossos olhares por
algum tempo e eu juro que se continuarmos assim eu não irei
resistir e a tomarei em meus braços aqui mesmo.
— SOFYA! Sofya, preciso falar com você urgente! — disse
uma mulher, quebrando nossa conexão, a fazendo pular de susto.
— Johanna? — perguntou ela, cerrando o olhar.
A mulher agarrou Sofya pelo braço a puxando para o canto e
eu não pude deixar de ouvir a conversa entre as duas.
— Aconteceu uma coisa horrível! — disse a mulher, fazendo
Sofya arregalar os olhos. — Eu falei com Taylor, porque Shantell
não atende o telefone de jeito nenhum, e ele disse que não a viu
hoje!
— O QUÊ? — bradou Sofya.
— Ela sumiu! Já mandei alguém para o hotel, para o
apartamento dela e ela não está em lugar algum!
Visivelmente abalada, Sofya, ainda boquiaberta, colocou uma
mão em seu peito e a outra a ajudou a se escorar na pilastra,
tentando recuperar o ar.
— Não sabemos onde ela pode estar, então tive que vir aqui
lhe contar.
Como se tivesse tido uma ideia, Sofya ergueu-se devagar,
olhando a mulher atentamente.
— Eu quero que me escute bem: não diga isso a ninguém, só
diga que a noiva irá demorar um pouco. Acho que sei onde ela está.
Sem esperar a resposta da mulher, Sofya saiu correndo para
os fundos da igreja.
— Sofya! — gritei, dando uns passos à frente.
Droga! Olhei ao redor e vi que ela não iria conseguir um táxi
tão cedo com todo o quarteirão em obras e, então, tive uma ideia.
Saindo correndo para o outro lado, pulei a grade do estacionamento
e entrei em minha picape, dando partida e arrancando daqui,
esperando encontrá-la de alguma maneira. Porém, depois de
percorrer dois quarteirões, segui os olhares curiosos das pessoas
na calçada e a encontrei, correndo como louca com aqueles saltos e
seu vestido esvoaçante. Quando ela foi atravessar a rua, virei um
cavalo de pau, freando bruscamente e parando a picape bem ao
lado dela, a fazendo recuar alguns passos por conta do susto, com
seus olhos arregalados para mim.
— Você ficou louco?! — exclamou ela.
— Entra! Vou ajudá-la a encontrar Shantell.
Por alguns momentos ela me olhou, hesitante, mas logo entrou
na picape, ainda ofegante. Escutei as buzinas dos carros atrás de
mim, mas não liguei, continuei olhando para Sofya enquanto ela
ainda tentava recuperar seu fôlego.
— O orfanato... — disse, desmanchando seu penteado que
havia se desfeito por conta da sua corrida desenfreada.
A verdade é que ela fica linda de qualquer jeito, mas vê-la
soltando seus lindos cabelos ondulados que caíram feito cascata em
seus ombros foi como ver uma miragem do paraíso em câmera
lenta.
— JOHN! — chamou, me trazendo para a realidade. — O
orfanato, ela está lá.
— Como sabe disso?
— Eu te explico depois, mas agora precisamos ir!
Sem perder mais tempo, acelerei sem me importar com o limite
de velocidade, avançando pela cidade.
— É melhor colocar o cinto.

Freei a picape bruscamente, parando em frente ao orfanato e,


assim que paramos, Sofya pulou para fora do carro, correndo para o
portão e tocando o pequeno sino que funciona como campainha.
Corri para me juntar a ela e vi uma das freiras saindo, com uma cara
preocupada.
— Irmã Mary Lazarus! Graças a Deus! — exclamou Sofya.
— Mas o que aconteceu, menina? Não era para você estar no
casamento? — perguntou a irmã, nos abrindo o portão.
— Sim, mas Shantell sumiu e eu sei que ela está aqui — falou
Sofya, indo em disparada para dentro.
A irmã me olhou confusa, totalmente sem reação. Dei um meio
sorriso tímido para ela, sem tempo de explicar e corri para alcançar
Sofya. Assim que a alcancei, a vi conversando com três meninas,
que aparentam ter entre treze, quatorze anos de idade.
— Não a vimos não, Sofy — disse uma das meninas.
— Tudo bem, acho que eu sei onde ela está. Obrigada,
meninas.
Sem perder tempo, Sofya foi subindo as escadarias do
orfanato, que por sinal são muitas, e eu ainda me pergunto como ela
está conseguindo fazer tudo isso de salto. Paramos no último andar
e a vi olhando para cima, onde há um pequeno alçapão que
provavelmente dá para o sótão. Voltei a olhá-la e seu olhar está em
mim.
— Preciso que puxe aquele trinco para mim — pediu.
Sem questioná-la o porquê disso, fiz o que ela pediu, puxando
o trinco e depois a porta, onde uma pequena escada de madeira
veio junto. Percebi que ela iria pular para a escada, mas antes de
ela fazer isso, a peguei pela cintura e ela subiu, seguida por mim. O
lugar sujo, com teias de aranha e muita poeira, está claro por conta
da luz do sol que entra pela pequena janela redonda ao fundo,
mesmo assim, vi Sofya acender a lanterna do seu celular,
iluminando o chão, onde há pegadas que tiraram o pó do chão sujo.
Trocamos olhares e confirmamos: Shantell está mesmo aqui. Já
disse que Sofya daria uma ótima Agente, também? Essa mulher é
demais. Ela caminhou até uma pequena porta no canto norte do
sótão e eu a segui. Ainda iluminando o caminho, ela tentou abrir a
porta em vão, então decidi agir, a afastando um pouco de lado para
que eu pudesse arrombar a porta.
— Não! Não precisa fazer isso! — disse, entrando na minha
frente com seu olhar pidão.
Ajoelhando-se no chão, percebi que ela ainda está ofegante,
olhando a porta com atenção, como se aquilo lhe trouxesse alguma
lembrança. Lentamente, vi sua mão tirar um pequeno grampo dos
seus cabelos e o usando como chave.
— Esse lugar é o nosso segredo, nosso refúgio — sussurrou,
como se fosse para ela mesma. — Tínhamos um lugar somente
nosso e que nunca ninguém descobriu — continuou, ainda tentando
abrir a fechadura enquanto a olhava e a escutava com atenção. —
Vínhamos aqui quando acontecia algum problema ou quando a vida
não facilitava para nós.
Com um clique, a fechadura destrancou e, lentamente, ela
abriu a porta, entrando logo em seguida, comigo em seu encalço.
Subimos alguns degraus e chegamos ao que parece ser um quarto,
também empoeirado e cheio de teias de aranha, mas bem mais
iluminado que o sótão. Vi uma cama, algumas caixas e baús velhos
ao canto, o teto fechando o pequeno lugar, parecendo o topo de um
chalé antigo. Ao olhar novamente para Sofya, a vi tocando um
vestido de noiva pendurado em uma das pequenas pilastras do
lugar e segui seu olhar, que está na pequena janela quadrada
aberta, avistando Shantell sentada na mesma. Sofya foi em direção
da amiga e eu a segui, mas ela parou e me olhou com atenção.
— Não, deixe isso comigo — pediu, carinhosamente.
Dei um suspiro, ainda pensativo. Inevitavelmente, levei minha
mão ao seu rosto e assenti, com um leve sorriso.
— Obrigada.
Lentamente, ela foi se aproximando da amiga, que ainda
olhava para a vista lá fora, totalmente envolta em seus
pensamentos. Voltei a observar o quarto mais atentamente, vendo
os detalhes perdidos, como duas pequenas bonecas de pano
velhas, um pouco rasgadas, na cama. Me encostei em uma das
pilastras e notei algo cravado na madeira.

“Sofya and Shantell’s place”[43]

Ao ler as palavras cravadas na madeira foi inevitável não sorrir.


Olhei para Sofya que se sentava ao lado da Shantell, sua melhor
amiga, que ela a considera como irmã. Sofya sempre me disse o
quão especial sua amiga é, mas, mais especial que isso, é a
amizade delas, assim como a minha amizade com Preston, mas a
verdade é que não tem comparação. Sofya e Shantell tiveram suas
infâncias e adolescências roubadas e viram uma na outra algo que
podiam ajudá-las a suportarem tudo isso: a amizade, e eu as admiro
muito por isso. Escutei um riso sem emoção da Shantell ao notar
Sofya ao seu lado, ainda sem olhá-la.
— Se lembra quando eu recebi a notícia de que minha mãe
havia morrido? — falou Shantell, quebrando o silêncio. — Eu disse
que não tinha ligado, pois foi ela que escolheu aquilo para ela
mesma, mas a verdade é que eu liguei, bem no fundo, sabe? E por
isso precisava de um lugar afastado para demonstrar isso, longe de
todos. Um lugar que ninguém pudesse descobrir, menos você claro,
que apareceu cinco segundos depois, do nada. — Elas riram. — E
você conseguiu me achar de novo.
— Você consegue ser um pouco previsível às vezes — disse
Sofya, a fazendo rir. — Qual é o problema dessa vez? — perguntou
calmamente, virando-se para a vista à sua frente.
Shantell deu um suspiro pesado, parecendo procurar suas
palavras.
— Eu estou com medo, Sofy — começou ela, controlando a
emoção em sua voz. — Preston é um homem tão bom, mas depois
de tudo o que eu vivi em minha vida não sei se sou a mulher que ele
merece.
— Não diga isso, Shant, você é maravilhosa e Preston a ama
de verdade! Ele tem sorte de ter você como mulher — ela
respondeu, pegando na mão da amiga.
— Tivemos uma vida tão fodida — Shantell falou, com a voz
embargada pelo choro. — Tenho medo que meu passado nos
atrapalhe.
— Não tem que ter medo, Shantell. Você sempre me disse
para deixar meu passado para trás! Por que está dizendo isso
agora? — Sem responder, Shantell tentou conter as lágrimas,
ficando em silêncio novamente, de maneira pensativa. — Por favor,
me diga o que está acontecendo? — suplicou Sofya.
E depois de longos segundos, Shantell finalmente abriu o jogo
com sua amiga.
— Eu estou grávida.
Assim como eu, Sofya ficou boquiaberta, tentando absorver a
notícia. Abafei o riso, mexendo em minha barba. Shantell, grávida?
Hoje realmente será o dia mais feliz da vida de Preston. Meu amigo
finalmente irá realizar seu sonho de ser pai com a mulher da sua
vida e eu nunca o invejei tanto. Eu vou casar, mas a mulher que eu
quero de verdade está na minha frente e, dessa vez, fui eu que
imaginei nossos filhos, correndo por aí, mas isso é uma realidade
distante.
— Oh meu Deus — sussurrou Sofya, levando sua mão à boca
e soltando um riso abafado enquanto algumas lágrimas desciam
pelo seu rosto. — Oh meu Deus! — repetiu, envolvendo a amiga em
um abraço enquanto ambas riam. — Era isso que você estava me
escondendo o tempo todo, não é?
— Sim! E isso me deixou louca nestas últimas semanas, eu
não sei o que pensar, Sofy... estou com tanto medo! — disse
Shantell, chorando.
— Hey, hey! — Sofya pegou o rosto da amiga em suas mãos,
fazendo com que ela a encarasse. — Medo do que? Não há o que
temer! Preston será um pai maravilhoso!
— Eu sei! Mas será que eu vou ser uma mãe maravilhosa? —
questionou Shantell. — Você sabe que esse sempre foi nosso
medo, tanto é que você até já cogitou não ter filhos porque sabemos
que nunca tivemos um amor de mãe para nos orientar, não
sabemos o que é ser criada por uma mãe!
Trinquei a mandíbula, me contendo para não socar a pilastra
ao escutar as palavras de Shantell, pensando em tudo o que Sofya
passou em sua vida, todo o sofrimento, todo o trauma e tudo isso
por causa daquele filho da puta do pai dela, não sei o porquê ela
decidiu dar uma chance a ele, quando o que ele merece de verdade
é o seu desprezo.
— Não será assim, Shant, não será — sussurrou Sofya. —
Temos pessoas maravilhosas ao nosso redor para nos espelhar e a
família de Preston é um exemplo! Preton é o melhor exemplo disso,
vocês formarão uma família linda, na qual amor e união nunca
faltará. Você sempre amou crianças e eu sei que quando esse
pequeno vier ao mundo... — continuou, tocando a barriga da amiga.
— Você será a melhor mãe, pois você é a melhor pessoa que eu
conheço, Shantell Whitaquer, e eu vou ser a tia mais coruja também
— riram as duas, assim como eu. Ela está certa, seremos “tios”. —
Quanto tempo?
— Acredite ou não, quatro meses.
— O que? E você só descobriu nessas últimas semanas?
— Sim! Quando o cansaço começou e minhas roupas não
entravam mais, foi aí que percebi que minha menstruação estava
atrasada. Mas, graças a sua persistência para que eu fosse ao
médico, acabei comprovando de uma vez por todas.
— Eu sabia que tinha algo de errado com você! Mas nunca
imaginei isso!
— Nem eu.
— É, mas é isso! E agora vamos sair logo daqui, seu noivo
está te esperando para que isso se torne realidade.
— Eu nunca vi você chorando de felicidade — disse Shantell,
enxugando as lágrimas da amiga.
— É, eu também não — riu Sofya. — Vamos, precisamos tirar
esses bobs do seu cabelo e te arrumar.
Assim que saíram da janela, Shantell deu um pulo quando me
viu.
— John! O que está fazendo aqui?
— Ele veio comigo, me ajudou a te encontrar — Sofya
explicou, me olhando.
— Ah, obrigada.
Sem perder tempo, fui até ela, dando-lhe um abraço e a
deixando surpresa.
— Fico feliz que está bem, que vocês estão bem — disse, me
afastando do abraço.
Ao notar que escutei a conversa das duas — e a sua novidade
— seus olhos se arregalaram.
— Não se preocupe, somente o que importa agora é que você
está bem e que volte correndo para o meu amigo antes que ele
descubra sua fuga e tenha um ataque — continuei, a fazendo rir.
— Sim, vamos!
— Então vamos! — falou Sofya, pegando sua amiga e o
vestido nas mãos, saindo em disparada para baixo.
Quando descemos pelo alçapão do sótão, encontramos as
mesmas meninas de antes.
— Shantell?! — exclamaram as três.
— Mas você deveria estar no seu casamento, não é? —
perguntou a ruivinha.
— Sim, deveria, por isso precisamos da ajuda de vocês —
disse Sofya. — Por acaso vocês ainda têm aquele kit de maquiagem
que eu dei para todas as meninas no Natal do ano passado?
— Mas é claro que sim! — responderam as três juntas,
novamente.
— Aquele estojo é da NYX! Guardarei ele até o fim da vida! —
falou a baixinha de cabelos castanhos bem curtinhos, nos fazendo
rir.
— Ótimo, então temos uma missão, meninas, arrumar uma
noiva em tempo recorde! Quem me ajuda? — perguntou e nem
precisou de muito para as meninas toparem. — Certo, todas para o
quarto!
— Em que quarto elas ficam? — perguntou Shantell.
— No mesmo em que ficávamos — Sofya sorriu, correndo na
frente com as outras meninas. — Isso vai ser legal!
— Ainda bem que a madre superiora já está no seu
casamento! — disse a menina de pele morena, descendo as
escadas. — Se ela souber disso, irá nos matar. E não esqueça da
irmã Mary Lazarus, ela ficou só para ficar de olho na gente.
— Elas não vão ficar sabendo! — disse Sofya, voltando a olhar
para mim, com aquele sorriso lindo que aprendi a amar.
— Eu espero vocês lá embaixo — avisei.
Tá aí uma história que valerá a pena ser contada um dia.

Eu sei que é errado ignorar as ligações do seu melhor amigo


enquanto ele deve estar surtando, e é pior ainda, fazer isso
enquanto se joga cartas com meninos de treze anos para passar o
tempo e esperar pela noiva dele — que já faz mais de meia hora
que está no quarto se arrumando.
— Sua vez — disse Dylan para mim.
— Bati — falei, jogando minhas cartas na mesa.
Isso já está ficando entediante.
— Ah, qual é, cara! — reclamou Lucas, jogando suas cartas na
mesa.
— De novo? — questionou Dylan, erguendo seus braços.
— Assim não dá! — reclamou Mike.
Ri com a situação, de quatro partidas que jogamos, eu ganhei
as quatro.
— Anos de prática, meninos. Um dia, quem sabe, chegarão ao
meu nível — disse, os fazendo reclamarem mais ainda e eu rir.
Avistei um movimento na escada e vi que já é hora de partir
para levar a noiva daqui.
— Senhores, foi um prazer jogar com vocês, mas vou indo
agora — falei, me levantando e dando tchau para cada um fazendo
um toque hi-5 com todos.
Assim que fui em direção a elas, vi Sofya sorrir para mim, com
seu olhar curioso.
— Sabe, eles ainda são muito novos para serem derrotados
nas cartas e isso pode traumatizá-los — falou, me fazendo sorrir.
— Não tenho culpa que eles encontraram o rei das cartas —
respondi, fazendo ela rir e revirar os olhos.
Não pude deixar de rir também, afinal, sinto tanta falta disso
que dói até nos ossos. Há tempos que não temos um momento de
distração como esse. Nos olhamos por alguns segundos, sem
desconectar nossos olhares, e percebi que ainda há muito o que
falar.
— E então? — perguntaram as três meninas, ajeitando o
vestido da noiva.
— Você está linda, Shantell, Preston é realmente um cara de
sorte — elogiei.
— Obrigada, John, por tudo — respondeu, dando um sorriso.
— Agora vamos logo porque eu tô morrendo de fome e esse vestido
está me matando! Muito obrigada pela ajuda, meninas!
— Tchau meninas! — disse Sofya, acompanhando Shantell
para o portão.
— Tchau!
— Eu pensei que quando saíssem daqui não iriam mais se
meter em confusão, mas parece que estava enganada! — reclamou
a irmã em um tom rabugento.
— É mais forte que nós, irmã Mary Lazarus! Tchau! —
respondeu Sofya.
Abri a porta de trás da picape cabine dupla para Shantell
entrar, a fechando depois que Sofya colocou todo o véu gigante
para dentro. Voltei a olhá-la e vi seu braço arrepiado com o vento da
cidade. Sem hesitar, tirei meu paletó, colocando sob o ombro dela.
Surpresa, ela sorriu novamente, ajeitando seu cabelo e voltando a
me olhar. Eu sinto falta desse par de olhos cor de mel todos os dias.
— Obrigada, não sei se conseguiria sem você — ela falou,
abraçando meu paletó ao redor do seu corpo, me fazendo sorrir
também.
— Tudo para ver esse sorriso em seu rosto — respondi, a
fazendo corar.
— Com licença. — Escutamos o pigarro de Shantell, que abriu
o vidro da janela e nos olhava, impaciente. — Não quero
interromper o casal, mas eu REALMENTE preciso chegar no meu
casamento, pois estou DUAS horas atrasada — apavorou-se, nos
fazendo rir e entrar no carro.
Assim que entrei na picape, tirei um pequeno giroflex de baixo
do meu banco e o coloquei no teto do carro.
— Não se preocupe, vamos chegar em menos de cinco
minutos. Coloquem o cinto e segurem-se. Isso vai ser legal — falei,
encontrando a cara sapeca de Sofya ao meu lado, sorrindo e
segurando na alça do teto ao seu lado.
Entortei meu sorriso, dando uma piscadela para ela.
— John, também não preci... AH! — gritou Shantell quando eu
arranquei de lá, acelerando com tudo em minha potente Dodge, com
o giroflex aceso e apitando.
Enquanto Shantell gritava, Sofya gargalhava, me dando
certeza de que ela realmente é A Garota.

Assim que paramos em frente à igreja, vi uma pequena


multidão em frente a ela, fazendo com que eu e Sofya nos
olhássemos preocupados.
— Fique aí, Shant, vamos resolver isso — avisou Sofya
enquanto saímos da picape.
Vi Preston descer a escadaria da igreja correndo, com uma
cara bem diferente da que estava horas atrás.
— ONDE VOCÊS SE METERAM? ESTOU LIGANDO A
HORAS! ONDE ESTÁ A MINHA NOIVA?! — vociferou ele,
visivelmente em pânico, num estado em que nunca o vi antes.
— Cara, fica calmo, está tudo bem!
— Gente, está tudo bem! Vamos todos voltar para os seus
lugares — disse Sofya às pessoas no topo da escadaria, fazendo
com que a maioria entrasse novamente, ficando somente os
padrinhos ali. — Tudo bem! — murmurou ela para a cerimonialista,
que ficou em paz.
— NÃO ESTÁ NADA BEM! ONDE ESTÁ ELA?
— Baby! — falou Shantell, nos pegando de surpresa, saindo
do carro.
Agora Preston tem o olhar arregalado para ela, soltando um
longo suspiro de alívio.
— Graças a Deus, eu pensei que você não queria mais...
— Shh! — Shantel o silenciou, colocando seu dedo na boca
dele.
Ele a envolveu pela cintura e depois a abraçou, como se não a
visse há anos.
— Eu amo você, meu amor.
— Eu também te amo, Baby, mas o que aconteceu? Por que
eles tiveram que te buscar?
— Eu fiquei com medo... tive uma pequena crise — riu
Shantell. — Mas Sofya me achou, com a ajuda de John. Baby...
— Medo do que? Você é a mulher da minha vida e juntos nós
podemos tudo! — Preston pegou o rosto dela nas mãos. — Não há
o que temer!
— Eu sei, Baby me desculpe, eu estava tão confusa!
— Confusa? Como assim? Shant eu não estou entendendo,
você estava tão feliz, eu não...
— Eu estou grávida, Preston.
Tanto eu como Sofya, que está ao meu lado, estamos
apreensivos com a cena à nossa frente e, neste momento, não
hesitei em pegar sua mão, que apertou a minha, demonstrando seu
nervosismo. Já Preston... bom, se eu tivesse condições agora,
tiraria uma foto da sua cara de choque.
— Baby, por favor diga alguma coisa! — suplicou Shantell.
— Gra-grávida? Você está grávida? — sussurrou ele, ainda em
choque.
Ele se afastou um pouco, inspirando e expirando, e se
agachando, como se a força de suas pernas tivesse cedido. Corri
para seu lado, assim como Shantell, visivelmente preocupada com
ele. Não é para menos, estou achando que ele vai mesmo desmaiar.
— Cara, tudo bem? — perguntei, o erguendo.
Seus olhos estão fixos em Shantell, que assim como eu,
aguardava uma resposta dele. Mas em vez disso, ele começou a rir,
descontroladamente, olhando para o céu com poucas nuvens e
erguendo suas mãos para o mesmo.
— Obrigada, pai! — reagiu, nos fazendo rir, mas de alívio. —
Hoje eu sou o homem mais feliz do mundo! — afirmou, pegando
Shantell nos braços e a erguendo do chão num abraço apertado,
arrancando aplausos da pequena plateia no topo da escadaria. —
Vem, vamos nos casar! — continuou, puxando Shantell.
Olhei para Sofya, que secava as lágrimas com a mão, e ofereci
meu lenço, a fazendo rir.
—Vamos casar nossos amigos? — perguntei, oferecendo meu
braço a ela.
— Está mais do que na hora! — respondeu, colocando seu
braço junto ao meu e, assim, subimos juntos.
A essa altura, Preston já tinha dito a todos ali que seria pai, e
depois de todo o burburinho, a cerimonialista começou a organizar
tudo, iniciando pelos padrinhos e madrinhas, formando a fila das
madrinhas ao lado dos padrinhos. Não consigo desgrudar meus
olhos de Sofya. Ela está maravilhosa e, se pudesse, casaria com ela
agora mesmo. Vi seu olhar cerrado, olhando para trás, e o segui,
encontrando Nigel tentando lhe dizer algo e fazendo gestos com as
mãos em cima da cabeça.
— A tiara! — sussurrou ele para ela.
— O que?
— TI-A-RA! — continuou ele, fazendo gestos como um louco.
Voltei a olhar para Sofya, que levou suas mãos para a cabeça,
procurando algo.
— Ah não... — ela resmungou. — Acho que a perdi!
Olhei para o meu lado, encontrando um vaso com diversas
flores rosas e brancas, pegando uma flor rosa, a olhando, e sem
hesitar, fui até Sofya, colocando a delicada flor atrás da sua orelha,
ajeitando seus cabelos, da mesma maneira como fiz em Miami, e
tenho certeza que, ao ver minha reação — e pela maneira que ela
me olha — ela também se lembrou do nosso mais doce momento.
— Você está linda — elogiei, sem me importar com os olhares
curiosos atrás de nós.
Ela pegou minha mão, exatamente como fez naquele dia, com
seus olhos brilhando e dando um meio sorriso.
— Tudo bem, todos preparados? Agora quero todas as
madrinhas entrando devagar — avisou a cerimonialista, quebrando
nosso momento.
Antes de caminhar para o altar, ela me olhou mais uma vez,
alimentando a esperança que ainda há em mim.
O restante da cerimônia ocorreu normalmente. Preston está
feliz para caralho, como nunca tinha visto antes, também pudera,
realizou dois dos seus maiores sonhos somente num dia só.
Anoiteceu e as luzes brilham na tenda onde ocorre a grande festa
do casamento, que por sinal está bem animada. Depois do
casamento só encontrei Sofya na sessão de fotos e agora só a
observo de longe, dançando e sempre com uma taça de champanhe
na mão. Agradeci mentalmente por Steve não ter vindo com ela,
porque seria bem capaz de eu estragar a festa se o visse com ela e
só de pensar nisso minhas mãos se fecharam com força. Vi Terry se
aproximar dela, a tirando para dançar, mas que cara de pau!
Trinquei a mandíbula vendo como ela ria com a conversa fiada dele,
e o pior de tudo é que sei que Sofya não está flertando com ele, ela
é assim com todo mundo e isso é um dos maiores atrativos dela, e
não sou só eu que acho isso.
Por sorte a música acabou e Sofya se distanciou dele, ficando
ao canto da tenda, sempre acompanhada por uma taça. Abri espaço
entre as pessoas na pista e fui em direção a ela, pegando uma taça
no caminho. Ao ver que me aproximava, ela sorriu. Ergui minha taça
para ela, que aceitou o nosso brinde enquanto parava ao seu lado.
— Aos nossos amigos — ela brindou.
— Com certeza — respondi e, juntos, matamos todo o
champanhe em um só gole. — Então... — comecei, depois de
alguns segundos de silêncio constrangedor. — Onde está aquele
médico?
Pelo canto do olho, notei que ela me olhava, demorando um
pouco para responder.
— Espero que esteja bem — respondeu, voltando a olhar a
festa e, dessa vez, fui eu que a olhei.
— O que isso quer dizer? — perguntei.
Suspirando, ela deu de ombros, ainda sem me olhar.
— Não sei, já faz um tempo que não nos encontramos. Ele
deve estar bastante ocupado com o filhinho e sua esposa, ou ex
esposa, não sei — falou, como se fosse a coisa mais normal do
mundo.
Filho? Esposa? Mas que merda é essa?
— O que? — perguntei confuso, ficando na frente dela para
que ela me olhasse. — Explique isso melhor.
— Steve descobriu que tem um filho com a ex mulher — disse,
entediada.
Ela já está bêbada.
— HÁ! Eu sabia! Eu sempre te disse que aquele cara não
presta! — acusei, apontando meu dedo para ela, a fazendo revirar
os olhos.
— Isso não importa mais — falou, voltando a olhar a festa. —
Nunca gostei dele mesmo — sussurrou, quase para si, mas a
escutei perfeitamente, impossível não sorrir triunfante.
Percebendo meu grande sorriso, ela voltou a me olhar com
uma ruga na testa, sem entender, ou tentando disfarçar.
— O que? — perguntou.
— Nada, só estou curtindo este sublime momento.
— Você é tão sútil, John.
— E você me conhece tão bem — respondi, arrancando um
sorriso dela.
— Hey John! — falou Ramoz, batendo em meu ombro. — Olá,
Sofya! — cumprimentou ela.
— Olá!
— E aí, cara! Como andam as coisas em Miami? — perguntei.
Desde o ano passado, Ramoz está trabalhando para a agência
de lá, onde foi transferido, e isso facilitou muito nosso trabalho.
— Estão indo bem, cara! E aí! Você vai casar, quem diria!
Como isso aconteceu, Sofya? — perguntou, e foi impossível não
fechar minha cara na hora.
Por que as pessoas precisam me lembrar disso? Notei que
Sofya pegou outra taça de champanhe, a virando de uma só vez
novamente.
— É, John! Como isso aconteceu? — perguntou Sofya,
repetindo a pergunta dele, carregada de ironia.
Ramoz estranhou a cena, abrindo a boca ao perceber o que
havia feito.
— Ahhh, eu pensei que vocês... mas, só você está de aliança
— disse, apontando para mim, envergonhado.
— Ding ding ding! — soou Sofya, dando sinais de sua
embriaguez, ainda apontado para Ramoz. — Correto! — De um
sorriso falso e pegou outra taça.
— SOFYA! VENHA, SHANTELL VAI JOGAR O BUQUÊ! —
chamou uma das madrinhas e eu nunca fui tão grato por isso.
— Ahm, não, tudo bem, eu vou ficar aqui, ao lado do
champanhe! — respondeu, tomando o champanhe como se fosse
água.
— Gracinha, você não tem escolha — Nigel surgiu atrás dela,
a arrastando para a pista.
— ARGH! MAS QUE PORCARIA — resmungou sem parar
para o amigo, nos fazendo rir.
Tentando não se destacar na multidão de mulheres famintas
pelo buquê, Sofya ficou logo atrás, perto de Nigel, cruzando os
braços no seu peito e fazendo um bico lindo.
— Tá legal, meninas, eu quero muito empenho nisso, hein!
ESCUTOU SOFYA? — gritou Shantell do pequeno palco, fazendo
Sofya corar e forçar um sorriso, que não durou muito. — Tá legal... é
um, é dois e... TRÊS!
Shantell arremessou o buquê, para o delírio do bando de
mulheres que pulavam como loucas na tentativa de pegá-lo. Como
em câmera lenta, os olhos de Sofya se arregalaram ao ver o buquê
caindo em sua direção e, sem perder tempo, ela correu alguns
passos para o lado, claramente fugindo do buquê e das mulheres
loucas que estão o perseguindo. Porém, Sofya deu sua chance de
mão beijada para Nigel, que agarrou o buquê sem pensar duas
vezes. Depois do furor do momento, Shantell e Preston já estavam
de partida e todos foram para fora, vê-los partir para a lua de mel.
Vi Sofya se despedir da sua amiga enquanto abraçava
Preston, desejando toda a felicidade do mundo a eles. Enquanto
todos voltavam para dentro, vi ela voltando para a calçada,
abraçando o corpo e o protegendo do vento úmido do fim de outono.
Mas o que ela está fazendo?
— Táxi! — gritou, mas o carro passou direto. — Droga!
Tirei meu paletó e o coloquei em seu corpo, assim como fiz
mais cedo, a deixando surpresa novamente.
— Vem, eu te levo para casa.
— Não, obrigada — respondeu, tirando meu paletó dela e o
entregando para mim. — Tenho certeza de que a Barbie Malibu não
irá gostar disso.
— Quem?
— A sua... — Percebendo o que havia falado, sua mão foi a
boca, como se tivesse dito algo errado. — Não importa, eu me viro.
Estou bem.
— Você está bêbada para pegar um táxi, sozinha, a essa hora
da noite! Vem, vamos logo! — disse, colocando meu paletó
novamente nela, mas sem sucesso, já que ela se esquivou. — Por
que você tem que ser tão teimosa?!
— E por que você não me deixa em paz? TÁXI! — Novamente
o carro passou direto. — ARGH! Mas que droga! — xingou, batendo
os pés no chão.
— Você vai ficar horas aqui esperando, se não vier comigo.
— Eu não ligo, esperarei o tempo que for. — Ela cruzou os
braços e empinou seu queixo.
É até fofo, mas ela consegue testar minha paciência. Tudo
bem, vou fazer do jeito dela. Andei alguns passos e me sentei na
guia, voltando a olhá-la.
— Tudo bem! Vou esperar com você.
Ela estreitou os olhos e depois bufou, indignada.
— Sua noiva não vai gostar nada se descobrir isso, John. Além
disso, não estou afim de ser motivo para brigas de casal — falou. —
Esqueça, vou andando, preciso mesmo tomar um ar.
— Ah, mas não vai mesmo! Nosso bairro fica há dez
quilômetros daqui! — Me levantei e fui atrás dela.
— Eu não ligo — resmungou, continuando a andar.
Ela realmente está bêbada para dizer isso.
— Sofya, é só uma carona! Não seja teimosa!
— Tchau, John! — Continuou a andar, sem olhar para trás.
Já chega, ela conseguiu!
— Você vem por bem ou por mal.
Imediatamente, ela parou, se virando para mim, dando um riso
cínico. E lá vamos nós, como nos velhos tempos.
— Você não muda mesmo, né? E você sabe muito bem que eu
não tenho medo de você, machão — respondeu, bocuda como
sempre.
— Não me faça ir até aí! — apontei para ela.
— Boa noite, John.
POR QUE ELA SEMPRE ME PROVOCA?
— Não diga que eu não te avisei! — Fui na direção dela, a
pegando facilmente e a colocando em meu ombro.
Para o tamanho dela, até que ela é forte. Ela tentava sair do
meu ombro, gritando e me dando socos. Porém, calmamente, entrei
no estacionamento deserto, indo até minha Dodge.
— SEU OGRO! Me ponha no chão!
Abri a porta do passageiro, a colocando lá, enquanto ela ainda
me batia.
— Hey, calma! Se acalme!
Mas isso foi em vão. Ela acertou um soco bem no meio do
meu nariz, me fazendo cambalear para trás, dando a chance dela
correr, e assim ela fez.
— SOFYA! — gritei, me recuperando e correndo atrás dela.
Eu já vi essa cena há muito tempo atrás. Essa filha da mãe
consegue correr bem demais nesses saltos, inacreditável! Antes que
ela chegasse a rua consegui pegá-la por trás, tentando imobilizar
seus braços.
— Você não vai sair por aí sozinha, SUA LOUCA! — disse,
tentando levá-la de volta para a picape.
— COMO SE VOCÊ LIGASSE!
— ESTOU FAZENDO ISSO AGORA!
— ARGH!
Ela tentou me dar uma cotovelada, se livrando parcialmente
das minhas mãos, mas consegui agarrar um pedaço do seu vestido,
rasgando praticamente toda a parte de cima, nos fazendo parar de
“brigar” imediatamente. Erguendo os braços, e boquiaberta, ela me
olhou, enquanto eu a olhava, ainda surpreso e com um grande
pedaço do vestido em minhas mãos.
— SEU... ARGH! — Ela estava furiosa.
— Eu realmente não quis fazer isso, mas agora você não tem
escolha. — Tentei me manter firme.
No entanto, minha lucidez foi por água abaixo quando vi seu
lindo sutiã pink e rendado totalmente a mostra... ahhh, esse decote
maravilhoso, esses peitos que eu tanto amo. Grunhi, somente em
vê-los depois de tanto tempo sem nos vermos. Eu sinto tanto a falta
deles!
— JOHN! — gritou Sofya, me tirando do transe, a olhei da
mesma maneira, como se ela fosse minha caça.
Ela percebeu imediatamente, arrancando o paletó que estava
em meu ombro e o colocando, o fechando ao redor do seu corpo,
ainda me encarando com raiva.
— Satisfeito? — perguntou, passando por mim e indo para
minha picape.
— Ainda não e você sabe.
Controlei meu instinto, ajeitando meu pau já duro em minha
calça antes de entrar na picape. Será difícil me controlar sabendo
que ela está vestida com uma das peças de sua coleção de lingerie.
E uma das melhores. Como eu sei? Digamos que eu sou um
especialista quando se trata da “famosa coleção de lingeries de
Sofya Viatcheslav”, por ter “estudado” muito sobre o assunto.

Assim que entramos em nosso prédio, os ânimos já estavam


mais baixos, menos meu pau, que se recusava a se abaixar. Depois
do caminho todo em silêncio, ao chegarmos na porta dela, decidi
quebrar um pouco o clima chato.
— Me desculpe pelo vestido.
Ela me olhou, já mais calma, e tirou meu paletó do seu corpo,
me devolvendo, logo depois cruzando os braços para esconder seus
peitos.
— Eu não ia usar mais ele mesmo.
Trocamos olhares sugestivos de novo, mas ela virou-se para
sua porta, me deixando frustrado.
— Boa noite, John, obrigada pela carona.
Não. Não posso deixá-la ir de novo. Assim que ela abriu sua
porta, coloquei a mão na maçaneta e a fechei de volta, a deixando
confusa. Me aproximei novamente dela, a encurralando entre a
porta e eu. Suas mãos já não escondiam mais seu vestido rasgado
e isso não me ajudava em nada.
— John — sussurrou, enquanto eu me juntava ao seu corpo
quente.
— Eu não posso mais fugir, eu não quero mais fugir.
Ela me encarou, com os olhos brilhantes, em uma mistura de
desejo e raiva, difícil de decifrar. Com um movimento rápido, ela
pegou minha mão esquerda, sem ser delicada, mostrando minha
aliança, como se fosse uma prova do crime.
— Agora não trata só de nós John — falou, amargamente. —
Continuamos “amigos”, mas não podemos mais resolver uma briga
nossa na cama, não podemos mais dividir as coisas, nos beijar
quando nos encontrarmos ou até mesmo comer aquela pizza da
cantina que tanto gostávamos, porque você fez a sua escolha —
continuou, agora vindo em minha direção enquanto eu tentava fugir
da verdade de suas palavras. — Você está noivo. Mas eu quero que
saiba uma coisa... — sussurrou, ainda me encarando. — Eu perdoo
você.
Durante meses eu esperei isso, esperei por estas palavras,
para que então pudéssemos ficar bem, mas ela tem razão, a
realidade agora é outra.
— Eu...
— Eu quero deixar tudo isso para trás John, mas não sem te
perdoar, eu realmente quero que seja feliz — afirmou, como os
olhos brilhando por conta das suas lágrimas não derramadas.
— Falando assim parece até que vai embora — comentei, com
medo da sua resposta.
— Eu vou me mudar.
Aquelas palavras soaram como se arrancassem meu coração,
tirando toda esperança que havia em mim para fora, a destruindo.
Isso foi pior do que a ver com aquele médico babaca, foi pior do que
suas palavras para mim naquela véspera de Natal. Eu estou
destruído por dentro e não faço questão de esconder. Olhei para
ela, tentando negar suas palavras.
— Não... você não pode, eu não vou deixar.
— Isso não cabe a você, John, afinal você já irá dividir seu
apartamento com alguém.
— Não! — disse, chamando sua atenção. — Lembra quando
eu te disse que VOCÊ era o meu futuro? Eu não estava mentindo.
— Isso não se trata mais só de nós dois, John!
— Eu jogo tudo para o alto se você me der mais uma chance.
Foda-se os outros, eu não ligo mais, desde que você volte para mim
— disse, me aproximando mais dela, que quando escutou minhas
palavras fechou seus olhos, deixando suas lágrimas escaparem. —
Uma única chance, Sofya, e eu serei só seu. — murmurei, a
centímetros do seu rosto. — E eu prometo que nunca mais irei
deixá-la escapar de mim.
Ela abriu os olhos, encarando meu olhar e limpando suas
lágrimas solitárias.
— Prove — falou simplesmente, dando alguns passos para
trás e abrindo sua porta, dando-me um meio sorriso sapeca antes
de entrar em seu apartamento, fechando a porta em seguida.
Fiquei ali, ainda sem acreditar, absorvendo o que acabou de
acontecer. Então é isso? Uma prova e eu terei minha chance? Soltei
um riso alto, sem me importar se alguém estava ouvindo.
— ISSO! — gritei! Fechando meus punhos e os balançando no
ar, estou no caminho para minha vitória.
Assim que Jenna chegar da sua viagem, tudo estará acabado,
de uma vez por todas, e assim terei Sofya de volta para mim.
Faz uma semana, eu disse UMA SEMANA, que estou
esperando Jenna voltar de viagem e nada. Parece que ela já
pressente o que quero conversar e a cada dia surge um novo
problema em sua empresa de roupas que ela precisa resolver. Não
posso terminar um noivado por telefone, isso seria covardia da
minha parte, por isso todos os dias peço para que ela volte para
Nova York o quanto antes, pois isso já está me deixando louco.
Sofya já está me deixando louco. Durante esta semana a vi duas
vezes e, nestas duas vezes, ela fez questão de me provocar.

“Coloquei minha arma no coldre preso em minha cintura e saí,


trancando a porta depois. Escutei a porta da Sofya abrir e esperei, já
entortando meu sorriso em expectativa, mas assim que a vi com
uma calça legging, de top e amarrando seus longos cabelos,
precisei me conter para não atacá-la ali mesmo, sendo inevitável
não dar um grunhido ao ver aquela bundinha naquela calça
apertada. Ao me escutar, ela virou-se para mim, sorrindo ao ver
como eu a comia com os olhos.
— Olá, vizinho!
— Indo trabalhar assim, vizinha? — Olhei ela de cima a baixo.
— Não, apenas aproveitando o primeiro dia da primavera para
correr no parque.
Ela começou a descer a escada e eu a acompanhei, ajeitando
meu pau em minha calça. Ter uma ereção enquanto se veste um
terno é horrível, o espaço é “pouco” e parece que meu pau irá
rasgar minha cueca e a calça de tão duro que está. Essa garota vai
me matar um dia. Ela notou meu movimento e riu.
— Indo trabalhar assim, vizinho? — riu, apontando para minha
ereção com seu olhar.
— Isso pode ser resolvido agora, se quiser — A desafiei ao
chegarmos no hall.
Ela parou e ficou frente a frente comigo.
— Como vai sua noiva, John? — perguntou ela, cerrando o
olhar e cruzando seus braços no peito.
— Ainda viajando... para o meu azar — sussurrei a última
parte para mim.
— Que pena. Bom, então acho que já vou andando. — Ela
voltou a caminhar, rebolando aquela bunda gostosa.
Essa garota adora me provocar, mas ela sabe que não se faz
isso comigo sem arcar com as consequências. Voltei a caminhar e
quando passei por ela, dei um tapa estalado em sua bunda, a
fazendo pular. Ri e continuei caminhando para fora, sem olhar para
trás.
— HEY! Isso terá volta, Neeson! — gritou ela.
— Estou contando com isso, Viatcheslav! — gritei de volta,
ainda rindo.
É como se estivéssemos voltando a ser como éramos antes,
no início. Os joguinhos começaram novamente e eu não poderia
estar mais feliz.”

Ao me lembrar disso, foi inevitável não sorrir. Há um ano atrás,


essa garota dos olhos grandes cor de mel havia se mudado para o
meu prédio, e assim que pus meus olhos neles, algo me disse que a
dona desses lindos olhos mudaria minha vida completamente. E
agora aqui estou eu, sorrindo feito bobo e dirigindo minha Dodge.
Acabei de visitar meu avô no hospital e por sorte ele terá alta hoje.
Assim como estou agora, vovô estava com um baita sorriso na cara
e, assim que o vi, tive certeza de que Sofya esteve lá.

“— Pronto para ir embora, vovô? — perguntei, entrando em


seu quarto.
— Já deveria ter saído daqui faz tempo! Por que ainda está
usando isso aí no dedo, rapaz? — questionou-me, fazendo careta
quando viu a aliança ainda em meu dedo.
— Será por pouco tempo, vovô, lhe garanto isso — respondi,
sentando-me ao lado de sua cama.
— Eu sei disso — respondeu, abrindo o sorriso novamente.
— O que o senhor andou aprontando? — ri.
— Eu? Nadinha, apenas consertando as coisas do jeito que
um Neeson de verdade deve fazer — falou, dando uma piscadela,
como se estivesse me dando um recado e um conselho.
— Ela veio aqui, não é?
— Ah sim, e tivemos uma longa conversa. Aquela garota é
extraordinária, não acha?
— Ela é mais do que isso, vovô. Ela é A Garota... minha garota
— afirmei determinado, o fazendo rir.
— EU SABIA que meu neto nunca me decepcionaria! É assim
que um Neeson de verdade fala! Agora saia daqui e vá logo atrás da
sua garota, rapaz!”

E é isso que estou fazendo agora. Estou indo para o aeroporto


e pegarei o primeiro voo até a Califórnia. Não posso esperar mais
um minuto sequer para acabar logo com isso, por isso, já que Jenna
não vem até mim, eu irei até ela, e isso estará terminado até
amanhã. Ou pelo menos era isso que havia planejado. Vi o nome do
Preston aparecer na tela do celular que uso apenas para trabalho.
Ele mal tinha voltado de lua de mel e, assim que chegou em Nova
York, já voltou para o trabalho. Mesmo sabendo que essa ligação
não poderia ser algo bom, o atendi.
— Preston?
— John, rastrearam Hernandez e ele está em Nova York.
— O que?
— É isso mesmo. A narcóticos já está montando uma
operação e só estão esperando nosso ok para avançar. Vamos
precisar reunir nossa equipe agora, o negócio será grande. Além
dele, mais cinquenta homens do cartel estão com ele e há um
carregamento grande de droga que chegará em LaGuardia às 17h
de hoje.
— Daqui a quinze minutos, então — falei, olhando meu relógio.
— Sim.
— Droga!
Meus planos vão ter que ficar para outro dia.
— Certo, eu quero que você organize nossa equipe e quero
todos prontos em quinze minutos. Mande Jones e Mark para lá
agora, de certo há olheiros ao redor do aeroporto e não quero que a
polícia nos atrapalhe. Isolem a área sem chamar a atenção e monte
um esquema com Rhodes para que ele possa informar a narcóticos
e o departamento de polícia. Chegarei aí em dez minutos —
orientei, e encerrei a ligação.
Acelerei, pegando o retorno de volta. Hoje esse filho da puta
do Hernandez não me escapa, eu juro por Deus.

Já com meu uniforme tático, aguardava no carro, junto com


Preston, a confirmação do Mark. Iremos para cima deles hoje e é
impossível não temer, mas assim que olhei para o meu parceiro,
notei seu olhar preocupado. Não seria a primeira vez que faríamos
esse tipo de coisa e já estivemos em situações muito piores, de vida
ou morte, literalmente. Carregava minha semi automática e ele
continuava calado.
— Está tudo bem, cara? — perguntei, cerrando o olhar.
— Tudo está diferente agora, parceiro... estou com medo hoje,
como nunca estive antes.
— Como assim?
— Eu vou ser pai, cara! Não posso deixar meu filho crescer
sem pai, como eu — disse, com o olhar alarmado.
Coloquei minha mão em seu ombro e o olhei, tentando lhe
transmitir algum conforto e calma, pois iremos precisar.
— Fique calmo, seu filho crescerá com o pai dele ao lado,
tenho certeza disso. Esqueça isso ou isso irá te atrapalhar hoje,
tente se acalmar e ficar atento, ok?
— Alvo em movimento, pegando a rodovia 278 em direção ao
sul. Todos em suas posições. Câmbio — alertou Mark no rádio.
Assenti com a cabeça para Preston, esperando que ele tivesse
me escutado, e ele assentiu de volta, concordando, mas ainda
assim, seu olhar estava temeroso.
— Entendido. Todos a postos e aguardem meu comando para
prosseguir. Câmbio — disse pelo rádio.
— Eu não sei não, cara. Estou com um pressentimento ruim —
comentou, olhando para fora.
— Preston deixa isso para lá, cara. Não podemos pensar
nisso, não hoje! Certo?
— Ok. Onde está o seu colete?
— Jones perdeu o dele, então dei para ele o meu.
Antes que ele falasse alguma coisa, o rádio deu um sinal, mas
as palavras do Preston ainda ficaram em minha cabeça.
— Alvo parado. A localização é em Little Neck Bay, nas docas
de Bayside, seguindo pela rodovia 95. Movimentação ativa. Câmbio
— avisou Mark.
— Certo. Todas as equipes para lá, agora. Quero TODOS os
perímetros cercados! Vamos pegar esses desgraçados. Câmbio.
Olhei para Preston e arranquei com o carro, indo ao encontro
do Hernandez, de uma vez por todas.

Os grandes galpões das docas estão acesos e há cerca de


dez homens do Hernandez fazendo a guarda nos arredores do
lugar. Estamos há oitocentos metros do local e continuamos
observando o perímetro. Há quase trinta homens comigo, mas
estamos em menor número, por isso precisamos ser cautelosos e
objetivos. Não estou comandando tudo sozinho, Ben, o chefe da
narcóticos, está comigo nessa e assim iremos comandar a operação
juntos.
— Agora há cinco no perímetro externo. Câmbio — sussurrou
Mark no rádio.
Eu e Ben nos olhamos e assentimos. Está na hora de mandar
ver.
— Todos em suas posições. Equipe 1, comigo. — Seremos
nós que entraremos primeiro, no caso, eu, Ben, Preston e Jones —
Equipe 2, leste. Equipe 3, oeste e Equipe 4, sul. — Respirei fundo,
colocando minha touca, que cobre todo o rosto, depois meu
capacete e os óculos protetores. — Avançar.
Fiz o sinal com a mão para que todos se espalhassem e
avançássemos. Ao nos aproximarmos dos galpões, dois dos
homens do Hernandez nos viram e Jones atirou com sua automática
que contém um silenciador. Os dois caíram no chão e continuamos
a avançar enquanto minha metralhadora e meus olhos estavam
atentos a tudo. Quando chegamos à grande porta de ferro paramos
e, silenciosamente, fiz a contagem até três com meus dedos. Um,
dois e três. Arrombei a porta, a fazendo desabar.
— FBI, todo mundo no chão! — gritei.
Antes fosse assim. O caos se instaurou no mesmo instante e o
tiroteio começou. Nos protegemos atrás de um furgão e dávamos
cobertura um ao outro. Espiei por um dos vidros e tentei visualizar
Hernandez, não podemos perdê-lo de vista. Ele está abaixado perto
da sua mercadoria e os tiros se intensificam cada vez mais. Vi
alguns dos seus capangas liberando o caminho para a fuga, preciso
agir agora.
— Me dê cobertura — berrei para Preston.
Saímos de trás do furgão atirando. Tentei mirar em Hernandez,
mas um dos seus homens entrou em sua frente e ele escapou para
o galpão ao lado. Sem pensar, saí correndo atrás daquele canalha.
— John! — gritou Preston.
Ao entrar no outro galpão, tiros vieram em minha direção e me
joguei no chão, atirando na mesma direção da origem deles. Notei
Preston atrás de uma pilastra, também atirando. Assim que os tiros
diminuíram, avancei. Atirei sem parar nos três homens que
guardavam a porta por onde Hernandez havia saído a pouco, mas
acertei apenas dois e o outro ainda continua metendo bala em
minha direção, mas não durou muito. Preston acertou o bastardo em
cheio. Avancei, arrombando a porta e vi que Hernandez havia fugido
há pouco pela janela. Desgraçado! Ele não pode fugir, não hoje!
— Ben, ele fugiu, mande a equipe para os fundos, AGORA! —
berrei pelo rádio.
Tirei meu capacete e a touca ao sair da pequena sala. Vi
Preston andando em minha direção. Apertei mais os olhos quando
notei uma sombra logo atrás dele, com uma arma apontada para
ele. Escutei o engatilhar da arma e um medo atingiu minha espinha
em cheio. Ele seguiu meu olhar, mas não tinha tempo, preciso agir.
— PRESTON! — gritei, correndo em sua direção.
Escutei o tiro, mas consegui empurrar Preston para longe...
mas senti algo queimando em meu peito. Outro tiro, algo queimando
em meu ombro, e mais um, mas dessa vez não senti nada. Caí no
chão, sentindo meus pulmões apertarem e uma dor gigantesca em
meu peito... em meu coração. Vi Jones ao lado do filho da puta que
me atingiu duas vezes e, então, percebi que o terceiro tiro não foi
para mim, mas sim para o maldito. Olhei para o meu peito e há
muito sangue, sinto minha força se perder em meu corpo.
— John... JOHN, JOHN! — chamou Preston, pegando em meu
rosto. — Não, não, não... CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! — gritava
ele, em pânico.
A luz acima de nós começou a me cegar e comecei a tossir
meu próprio sangue, que invadia minha garganta. Preston colocou
meu tronco em seu colo e senti a dor queimar meu peito ainda mais,
de um jeito que nunca havia sentido antes.
— Uma ambulância agora! AGENTE FERIDO, COM
URGÊNCIA. Há mortos no local — escutei a voz de Jones ao fundo,
ficando cada vez mais longe.
A dor é tanta que não sinto mais nada... apenas como se eu
estivesse deixando meu próprio corpo, como se estivesse muito
cansado, já não podendo mais aguentar.
— NÃO, JOHN! — Preston chorava em cima de mim. — NÃO
FECHE OS OLHOS, FIQUE COMIGO! NÃO ME DEIXA,
PARCEIRO, por favor!
É mais forte que eu. Senti minha morte cada vez mais perto,
se aproximando mais e mais. Já não posso mais lutar contra ela, por
isso um filme passou pela minha cabeça. O dia em que conheci
Preston, nossa amizade, eu e Josh brincando na fazenda, vovô e eu
atirando nos fins de semana, papai me abraçando quando disse a
ele que havia entrado para o FBI, Mag cuidando dos meus
machucados, Ed caindo no lago, o dia da minha promoção no FBI...
e o dia em que a conheci, o dia em que conheci a mulher da minha
vida.
— M-me desculpe Sofy — sussurrei, quase sem força.
— NÃO, JOHN... não me deixa, parceiro, por favor, não me
deixa aqui, irmão.
Queria ter tido mais tempo com ela. Queria ter dito a ela o
quanto a amo, mas já não posso mais. Vi a escuridão tomar conta
de mim, chegando...
— JOHN! — escutei ao longe.
Abracei a escuridão, me entregando a ela.
Eu te amo, Sofya.
Acompanhava o ensaio fotográfico em nosso estúdio, mas
meus pensamentos estão muito longe daqui. Enquanto tomo meu
café, minha outra mão não desgruda do cordão em meu pescoço, o
cordão da Ally, desde hoje de manhã. Nesta madrugada tive um
pesadelo horrível, bem parecido com o que eu sempre tenho, mas
esse foi diferente, foi bem real, e não foi minha mãe que vi morrer,
mas sim outra pessoa. Me lembro de chegar perto do corpo
desfalecido, não era o corpo de uma mulher, mas sim de um
homem. Não vi quem era porque acordei aos gritos, com meu
coração pulando em meu peito por conta do medo que nunca havia
sentido na vida e, esse medo, não me deixou até agora. Estou com
essa sensação ruim desde então e nem mesmo o cordão da Ally
está me ajudando. Nesta manhã recebi uma ligação de Ed, dizendo
que o vovô deixará o hospital hoje e que ele queria me ver antes de
sair. Ao menos a conversa com vovô me distraiu um pouco e me fez
até sorrir ao longo do dia.

“São 10h da manhã e bati na porta do quarto do vovô que,


assim que me viu entrar, sorriu. Ele parece outro homem e está
cheio de energia.
— Eu cumpri minha parte no acordo, agora é a sua vez —
falou, direto e reto, me fazendo rir.
— Olá para o senhor também, vovô. — Me sentei ao lado da
sua cama, pegando suas mãos.
— Vejo que está usando o cordão da Ally, ele ficou realmente
lindo em você — sorriu.
Peguei o cordão, o olhando, e dei um meio sorriso.
— Sim, eu realmente me sinto protegida com ele.
— Eu sei disso — afirmou, como se estivesse escondendo
algum segredo de mim. — Mas o que você está esperando para ir
correndo falar com John?
— Bem, eu já falei com ele — respondi, em um tom de
mistério, o fazendo rir.
— E?
— E que não depende somente de nós dois, vovô. John ainda
está noivo — falei, e ele bufou. — Ele me disse que jogaria tudo
para o alto se eu voltasse para ele — continuei e, novamente, vi seu
sorriso brilhar.
— E? — perguntou ansioso.
— E pedi para que ele me provasse. Parece que ele está se
esforçando, mas a Barbie Malibu não está ajudando — disse, o
fazendo gargalhar.
— Barbie Malibu? Essa é boa! Eu sabia que John não me
decepcionaria! E nem você.
Ele apertou minha mão e me olhou com carinho. Eu sei que
John realmente está se esforçando, e que Jenna ainda não havia
voltado de viagem porque ela sabe que ele está diferente. Quando
ele me disse que jogaria tudo para alto eu confiei nele, confiei no
seu olhar que transmitiu todo seu empenho, mas preciso que ele me
prove isso, e sei que não será nada fácil. Além de Jenna, há
também o pior de todos os nossos desafios: Miranda. Ela não
deixará isso passar sem mais nem menos e tenho certeza de que
John sabe disso, mas quando ele me disse que “jogará tudo para
alto”, sua mãe também está incluída nisso. Mas, a verdade é que,
para mim, isso não importa mais... eu tentei de todas as maneiras
esquecer aquele homem, mas a cada vez que tentava fazer isso,
mais eu sentia falta dele. Magoamos um ao outro neste tempo em
que estivemos separados, mas percebi o quanto ele é importante
para mim, o quanto ele mudou minha vida e, agora, já é muito tarde
para querer esquecer tudo isso, tudo o que vivemos juntos.
— Eu amo seu neto, vovô. Eu amo aquele idiota mais do que
eu goste de admitir.
— E eu sei que ele sente o mesmo por você, minha querida, e
que realmente fará de tudo para ter você de volta. Afinal, ele é um
Neeson.
— Ah sim, me esqueci disso. Vocês, Neesons, são duros na
queda, não é? — brinquei, me lembrando das palavras de John.
— Pode apostar!”

Sorri ao lembrar da conversa com o vovô. Isso deveria ter me


confortado, mas não, essa porcaria de sensação ruim não me deixa
e já estou ficando angustiada. Terminei meu café e o joguei no lixo,
olhando para o relógio. Já passa das 21h e eu não consigo mais
ficar aqui. Passei por Lea, que me olhou confusa.
— Vou subir para a redação, diga a Nigel que já vou para casa
— avisei, saindo. — Para mim, já deu — murmurei para mim
mesma.
— Tudo bem, te vejo amanhã, chefe!
— Tchau!
Entrei no elevador e peguei meu celular em minha bolsa.
Deus, eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. Há centenas de
ligações de Shantell, desde as 20h. Saí do elevador correndo e, ao
entrar na recepção, dei de cara com Shantell, com o rosto inchado
de chorar.
— O que aconteceu? — perguntei, alarmada.
Ela tentou engolir o choro, mas suas lágrimas eram
persistentes. Senti suas mãos em meus ombros enquanto ela
tentava me olhar, me deixando mais apavorada ainda.
— Shant o que aconteceu?!
— É o John. — Ela estava chorando.
O meu pesadelo, como se tivesse sido um presságio, como se
fosse real, tomou conta de minha mente. Deus, não pode ser.
— O que tem ele? — perguntei, temendo sua resposta, mas
ela só chorou. — SHANTELL O QUE ACONTECEU COM JOHN? —
gritei, sendo tomada por minhas lágrimas.
— Ele foi baleado e está entre a vida e a morte. Os médicos
disseram que há poucas chances…
Fechei meus olhos, os apertando, e tentando acordar desse
pesadelo horrível. Não pode ser, não. Sem forças em meu corpo,
cedi, caindo de joelhos no chão. Oh Deus, não, por favor não! Não o
leve de mim assim, não posso viver sem ele.
— SOFYA! Você me escutou? — Shant me sacudia, agachada
junto comigo no chão, me chamando a atenção novamente. — Ele
está passando por uma cirurgia agora e...
— Em qual hospital? — perguntei, ainda sem forças.
— No Metropolitan Hospital. — Ela mal falou e eu me levantei,
correndo de volta para o elevador. — Sofya me espera!
Agarrei o cordão da Ally com força e fechei meus olhos,
suplicando...
Ally, proteja nosso John. O traga de volta para mim, inteiro e
bem.

Abri os olhos e uma forte luz cegou meus olhos. O que


aconteceu? Minha visão ainda está embaçada e escuto vozes,
muitas vozes, ao longe. Andei alguns passos, tentando reconhecer
o local, é uma sala um pouco escura, há equipamentos,
equipamentos médicos... e muito sangue. Olhei mais atentamente e
vi vários médicos ao redor de uma maca, mas o que eu estou
fazendo aqui? Passei a mão pelo meu corpo e notei que estou
vestindo roupas azuis, de hospital.
Tão rápido quanto tudo aconteceu, me lembrei o porquê estou
aqui. Deus, o que está acontecendo? Eu morri? Me aproximei ainda
mais da maca, levando um puta susto, cambaleando para trás. MAS
QUE PORRA É ESSA? Se eu estou deitado ali, coberto de sangue,
por que estou aqui? VENDO MEU PRÓPRIO CORPO?
— Pulso fraco — disse um médico.
— Quase retirando o projétil — disse o outro, enquanto mexe
no buraco em meu peito.
— Ele não pode perder mais sangue. Precisamos terminar isso
rápido.
Dei mais alguns passos para trás e me encostei na parede,
ainda sem acreditar no que estou vendo. Olhei para o monitor
cardíaco, que ainda mostra que estou vivo, mas então por que estou
aqui?
— HEY! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — Eu gritava,
mas ninguém na sala me ouvia. — HEY!
— Projétil retirado. Certo, chegou a parte mais delicada —
falou um médico, começando a fechar o buraco em meu peito.
— Mas que merda está acontecendo — falei pra mim mesmo.
— Você precisa lutar, John — escutei uma voz ao meu lado e
quase me morri de susto, pulando para o lado.
Olhei ao meu redor e não vi nada, ninguém está aqui.
— Preciso que seja forte, querido — escutei a voz novamente.
Uma voz feminina que nunca escutei, apenas... apenas...
— Nos meus sonhos — sussurrei.
Lentamente, virei-me para trás, encontrando uma linda moça
de cabelos marrons compridos até o ombro e rosto delicado, uma
moça que eu não conheço pessoalmente, mas que é muito familiar
para mim.
— Você me faz lembrar muito do seu avô — riu ela.
Como se a ficha tivesse caído, minha boca se abriu. Puta que
pariu!
— Vovó? Vovó Ally? — Estava com meus olhos arregalados.
— Olá, querido — disse sorrindo.
— Mas... mas o que? Merda, eu morri, não é? — perguntei, a
fazendo rir.
Vovô tem razão, ela é linda e sua risada musical é ainda mais,
igual a de alguém que conheço. Igual à da minha Sofya.
— Não, querido, mas preciso que seja forte, senão isso
acontecerá.
— Eu ainda não estou entendendo nada, vovó. Se eu não
morri, por que estou falando com a senhora? E como eu faço para
voltar para o meu corpo? — questionei.
Com um lindo sorriso torto, ela se aproximou mais de mim,
colocando sua mão em meu rosto e me encarando com seus lindos
olhos castanhos. O vovô sempre me disse que ela se foi muito
jovem, e ele estava certo. Ally, minha linda avó, tinha a vida toda
pela frente, mas um câncer a tirou do meu avô e do meu pai, que
era apenas uma criança quando ela morreu. Seu olhar, suave, me
transmitiu paz.
— Quando atiraram em você, querido, você se entregou para a
escuridão, sem lutar.
— Pressão caindo! Estamos perdendo ele! — exclamou um
médico.
— Batimentos caindo para 35, 32 — disse o outro.
— DESFIBRILADOR AGORA!
Olhamos a cena à nossa frente e eu ainda não consigo
acreditar.
— Preciso que você lute, querido! Ainda não chegou sua hora
— avisou vovó, dando alguns passos para trás.
— EU PRECISO O VER! JOHN! — gritou longe, uma voz que
conheço muito bem. — JOHN!
Vi a porta da sala de cirurgia se escancarar e ela entrar,
chorando como nunca a vi chorar antes.
— Sofya — murmurei.
— TIREM ESSA MULHER DAQUI! — gritou um médico.
— Estamos perdendo ele! — dizia o outro.
Forte e turrona como é, Sofya lutava com dois seguranças que
tentavam arrancar ela de lá. Atrás dela, vi que Preston tentava fazer
alguma coisa para ajudá-la. Andei na direção dela, mas senti que
algo me puxava para o meu corpo.
— JOHN! NÃO... por favor, volte para mim! — Ela suplicava
aos berros, enquanto lutava com todas as forças contra os
seguranças.
E então, notei o silêncio atrás de mim quando o monitor
cardíaco indicou que não havia mais batimentos em meu coração.
Caí no chão, me sentindo sem forças.
— Eu amo você. Volte para mim — Sofya chorava, sendo
consolada por Preston, que também chora.
Ela me ama. ELA ME AMA! Sentindo minhas forças voltarem,
voltei a me levantar, escutando os médicos atrás de mim.
— Afastar! — Um choque, me fez tremer. — Dois! — Segundo
choque, me deu um baque.
Eu vou lutar. Vou lutar por ela.
— Três!

Como John havia me dito, realmente vou ver meu filho crescer,
mas graças a ele, somente a ele, e a Deus, claro. Me lembro que
quando conheci esse branquelo folgado ele ainda nem tinha
músculos, era apenas um jovem, ele e eu. Pensei que ele fosse
igual aos outros branquelos da sala, na academia de polícia, “outro
playboy folgado que está aqui graças ao papai”, pensei comigo. Mas
quebrei a cara quando descobri que esse branquelo alto e magro
havia feito a prova igual eu, ignorando o fato de o pai ser um
influente senador estadual na época. Sem contar que ele foi o único
cara branco que não tirou uma com a minha cara por eu ser o único
policial negro da turma, pelo contrário, ele me ajudou a se livrar de
alguns caras que ficaram no meu pé por conta disso.

“— Você está bem? Não ligue para esses caras, são um bando
de abutres — disse ele, enquanto eu arrumava minha camisa, que
ficou amassada quando fui tirar satisfações com aquele filho da puta
por ele ter tirado uma com a minha cara, mais uma vez.
— Estou bem, não precisava ter me ajudado.
— É, sei. Neeson, John Neeson. — Estendeu a mão para mim,
dando um sorriso torto.
— Preston, Preston Davis — devolvi, pegando sua mão.”

Foi nesse dia, há quase quinze anos atrás, que conheci um


dos melhores homens que já conheci na vida. John se tornou mais
que meu parceiro na polícia e no FBI, ele se tornou meu parceiro de
vida, meu melhor amigo e irmão. Ele se tornou, também, o cara que
salvou minha vida e serei eternamente grato pelo que fez.
O cara conseguiu até juntar todo mundo que não se bica em
uma mesma sala. John não irá acreditar quando eu lhe contar isso.
Ri e olhei para o senhor Neeson, que de um lado está consolando
Miranda e, do outro, busca apoio em Marion, que segura seu braço.
Lea está dormindo encostada em Ed, que também dorme. Josh está
ao lado da mãe enquanto segura a mão de Evangeline, e nunca
tinha o visto chorar até hoje. Jenna continua encarando as unhas,
parecendo entediada, pfff... “essa daí nunca me comprou”, como diz
minha mulher. Mag, já um pouco mais calma, está ao lado do vovô
Larry, que bocejava. Já Shant continua acariciando os cabelos da
amiga deitada em seu colo, que, finalmente, está tranquila e
dormindo, depois de tudo o que passou. Até mesmo o pai da Sofya
está aqui, ainda segurando a mão da filha, enquanto seu segurança
mal-encarado olha o movimento da sala.
Sempre soube que Sofya é forte e, no fundo, eu e Shant
sabíamos que ela amava John. E tudo isso se confirmou hoje. Sofya
entrou no hospital igual uma leoa, derrubando tudo e todos que
entraram no seu caminho para ir atrás do John e ela não sossegou
enquanto não o viu. A segurando, dentro daquela sala de cirurgia, a
vi lutar para trazê-lo de volta, enquanto o perdíamos. Vi meu amigo
morto por alguns instantes, mas, depois de Sofya tê-lo chamado de
volta, ele voltou para nós. Tenho certeza que a persistência da
Sofya o trouxe de volta. O fez lutar como ele sempre fez em toda
sua vida.
O amor dos dois o salvou.
Acordei, sobressaltada, saindo de cima do colo de Shantell,
olhando ao redor.
— John — sussurrei.
— Hey, se acalme, meu bem — disse meu pai, pegando em
meu rosto.
Senti a mão da Shant nas minhas e a olhei.
— Não se preocupe, ele vai conseguir, tenho certeza disso —
ela afirmou.
Tentei me acalmar, mas é quase impossível. Olhei para o
relógio na parede e já passava das 7h da manhã. Droga, estou
dormindo a quase duas horas! Suspirei ao me lembrar da noite
passada, eu quase o perdi, mas me lembro também quando o vi
voltar, voltar para mim, para nós e para a vida. Foi como se os céus
tivessem escutado meu pedido, tão persistente, e me atendido
quase na última hora. Lembrar disso me fez agarrar o cordão da Ally
novamente em uma forma de gratidão. Vimos o médico entrando e
todos ficaram de pé, ansiosos.
— Como está meu filho, doutor? — perguntou Miranda, que
ainda chora.
— Ele está estável agora. A bala passou muito perto do
coração e a milímetros da artéria principal, o que o fez perder muito
sangue, já que rompeu alguns tecidos importantes. Acho que o pior
já passou e agora precisamos esperar pela reação e recuperação
do paciente.
A resposta do médico tirou um peso de nossas costas e todos
nós respiramos aliviados.
— Obrigado, doutor — disse Leon, e abraçou Marion.
— Doutor, será que eu posso ver meu noivo? — perguntou
Jenna, limpando as lágrimas, lágrimas de crocodilo, só pode!
— Ele ainda não pode receber visitas, mas aviso quando
puder. Com licença — falou, se retirando.
Jenna voltou a abraçar Miranda e a minha vontade é tirá-la
pelos cabelos daqui, mas, não é hora para shows, é hora de nos
unirmos. Até mesmo Josh tinha voltado a falar com o pai, pelo
menos esse susto serviu para alguma coisa. John vai adorar saber
disso.

Depois de um dia inteiro no hospital, ainda sobravam algumas


pessoas aqui. Ed e Lea levaram o vovô e Mag de volta para casa.
Evangeline voltou para ver os filhos. Meu pai e Petrus também
haviam ido embora, sobrando o restante de nós. Jenna ainda me
fuzila com o olhar em cada oportunidade, mas continuo fingindo que
ela não está aqui. Minha vontade mesmo é de... meus pensamentos
“raivosos” foram interrompidos pelo médico que entrou na sala
novamente, olhando diretamente para Jenna.
— Você é a noiva do paciente? — perguntou, me fazendo
trincar a mandíbula.
— Sim! — respondeu ela, levantando-se e sorrindo.
— Sofya, certo? — perguntou, fazendo Shantell “segurar” uma
risada em vão.
Na mesma hora, a loira desmanchou o sorriso, voltando a me
encarar com a cara fechada. Dei alguns passos em direção ao
médico, que me olhou, curioso.
— Eu sou Sofya, doutor — avisei.
— Ah... certo — respondeu o médico, sem graça, dando um
pigarro. — O paciente foi posto em coma induzido. Ele acordou
bastante agitado e por isso optamos por fazer o procedimento para
que se recupere melhor. Ele chamava por você quando despertou
— continuou, me olhando atentamente.
— Me deixe vê-lo, doutor, por favor — pedi.
— Não ouse fazer isso, sua piranha! — rosnou Jenna,
apontando seu dedo para mim, vindo em minha direção.
Antes mesmo que eu pudesse fazer algo, vi Shantell surgir na
minha frente, pegando a mão da Jenna e a virando bruscamente.
— A piranha aqui é você, sua vadia loira! John não a quer
mais, será que é tão difícil de entender? — rosnou Shant, enquanto
a Barbie Malibu gemia de dor.
— Baby, pelo amor de Deus — recriminou Preston, pegando
Shantell por trás e a tirando de perto da Jenna. — Você não pode se
estressar nesse estado! Pense no nosso filho!
— Ninguém aprendeu que não se pode irritar uma mulher
grávida? — questionou minha irmã.
— Alguém precisa tirar essa gentinha desse hospital — falou
Miranda.
— Miranda, não comece! — Leon alertou.
Eu olhava para a confusão que se formava ali, se alastrando,
mas não quero perder tempo com isso. Não quero perder mais nem
um minuto longe de John. Olhei para o médico, que também olhava
para tudo isso confuso, e segurei seu braço.
— Por favor, doutor, me leve até ele — pedi, como uma
súplica.
Ele assentiu e me levou para o outro corredor. Sem me
importar com os gritos da Jenna e os protestos da Miranda atrás de
mim, o segui.
— Você tem cinco minutos e nada mais — concordou o
médico, abrindo a porta do quarto.
Assenti, entrando. Foi impossível segurar minhas lágrimas ao
vê-lo assim. Parece que ele está dormindo, mas está todo entubado
e com hematomas espalhados em seus braços. Sentei-me ao lado
dele e peguei em sua mão, sentindo as lágrimas me consumirem.
Passei a mão por seus cabelos sedosos, pedindo para que ele se
recuperasse logo.
— Hey, Ursão — chamei por entre as lágrimas. — Eu sinto
muito pelo que aconteceu com você, mas sinto ainda mais por não
ter dito que te amava antes, de ter desperdiçado tempo demais com
brigas — chorei, lembrando o quão terrível foi pensar em perdê-lo.
— Mas graças a Deus você está aqui, e preciso que volte logo, que
volte para mim. Juro que nunca mais te deixarei em paz se você se
recuperar — ri com minha constatação. — Eu amo você, John.
Volte para mim.
Um zumbido forte fez com que eu despertasse, bem
lentamente. O que aconteceu? Com dificuldade, tentei abrir meus
olhos, mas a luz não deixou. Forcei novamente e, então, senti
praticamente todo meu lado esquerdo do peito dolorido. Movimentei
minhas mãos, mas logo desisti de mexer o lado esquerdo.
Finalmente, consegui abrir meus olhos, que piscavam sem parar
para se acostumarem com a luz e o ambiente. Jesus, o que
aconteceu? Senti um pequeno peso em minha cintura e olhei para
ver o que era. Deus, eu só posso ter morrido, não é?
Sofya dorme lindamente com sua cabeça apoiada quase em
minha barriga, mantendo seus braços apoiados por baixo, ao lado
do meu corpo. Ela tem a aparência muito cansada, como nunca a vi
antes, mesmo dormindo, a mancha escura embaixo dos seus olhos
é notável, e seu cabelo, preso em um rabo de cavalo, parece que
está há dias sem ser lavado. Olhei ao meu redor e percebi que
estou em um hospital. Coloquei minha mão onde está doendo,
forçando-me a lembrar o que havia acontecido, me lembro de estar
a caminho do aeroporto, a ligação de Preston... sim, Hernandez, a
operação para prendê-lo e os tiros que me atingiram. Mas que
merda! QUE MERDA! Só espero que aquele desgraçado não tenha
conseguido fugir e que Ben e o restante de minha equipe tenha
conseguido pegá-lo junto com sua quadrilha. Espero, também, que
Preston esteja realmente bem. Prometi a ele que ele veria o filho
crescer, por isso não pensei duas vezes em me colocar na frente
dele na hora do tiroteio. Não me arrependo disso, afinal, ele tinha
mais a perder do que eu, aliás, quase.
Olhei novamente para a minha Boneca e agradeci
mentalmente por ter outra chance de vê-la. Sofya se tornou a
pessoa mais importante na minha vida e, se tudo der certo comigo,
eu vou aproveitar cada minuto ao lado dela. Pousei minha mão no
topo da sua cabeça, a afagando. Eu já não ligo mais para a dor em
meu peito, pois tudo o que eu preciso está bem aqui, ao meu lado.
Ela se mexeu, abrindo seus olhos grandes lentamente, focando em
mim.
— John — sussurrou, levantando sua cabeça e me olhando,
desacreditada.
— Olá, Boneca.
— Oh Deus... você acordou! — Ela pegou em meu rosto. —
Tive tanto medo de perder você.
— Os Neeson são duros na queda, se lembra disso? —
brinquei, tentando rir, mas gemi ao sentir uma pontada de dor no
peito.
— Hey, não faça muito esforço! — repreendeu-me, sorrindo
lindamente para mim, enquanto afagava meu rosto e meus cabelos,
me olhando de maneira carinhosa.
Peguei sua mão em meu rosto, dando pequenos beijos nela, e
quando senti o cheiro da sua pele perfeita, fechei meus olhos,
deixando seu perfume natural me dominar, me trazendo paz.
— Senti sua falta — sussurrei.
— Você voltou para mim.
Abri meus olhos, encarando seus olhos cor de mel brilhantes
pelas lágrimas guardadas ali.
— Eu sempre vou voltar para você.
Ela sorriu, encostando sua testa na minha, ainda me olhando,
e agora eu vejo... posso ver que minha doce Sofya voltou para mim,
mas não é só isso. Como se me lembrasse de um sonho,
estranhamente real, ela dizia que me amava, e agora vejo isso em
seus olhos, sendo impossível não deixar de sorrir.
— O que foi? — perguntou, rindo.
— Eu sabia.
Ela se afastou um pouco, ainda sorrindo, mas cerrando o olhar,
curiosa.
— Sabia o que?
— Que você me ama.
Ela me olhou, ficando um pouco séria, e depois baixou seu
olhar, encarando o chão. Suspirando, ela sorriu novamente,
voltando a me olhar.
— Sim, eu amo você. Eu te amo como nunca amei ninguém na
vida, John Neeson. E... — Ela pausou sua fala embargada, tentando
segurar seu choro. — E eu quero que saiba disso, porque pensei
que te perderia e isso foi a pior coisa que senti em toda minha vida.
— Hey, não fique assim — tentando acalmá-la e trazê-la para
mim, mas ela recuou.
— Não, eu ainda não terminei. — Ela limpou suas lágrimas. —
Quando eu pensei que tinha te perdido, essas palavras ficaram me
assombrando, me cobrando por não terem sido ditas antes. Tudo
isso por causa do meu orgulho, do meu medo bobo. Eu não sei
como será o nosso futuro daqui para frente John, mas eu só quero
que saiba que eu te amo, e que se você fizer isso comigo de novo,
se você OUSAR me dar outro susto desses, eu mesma mato você,
seu idiota!
Eu tentei dar uma gargalhada, mas a dor me impediu. Deus,
como eu senti falta dessa garota!
— Me desculpe, não faça mais esforço! Vou chamar a
enfermei...
— Vem aqui! — A puxei para mim com meu braço bom, sem
me importar com mais nada.
Ela se aproximou novamente, me olhando com expectativa no
olhar. Nossas mãos estão coladas e a apertei um pouco mais.
— Você esperou eu levar um tiro para me dizer isso? —
brinquei, a fazendo rir. — Você pode não saber do nosso futuro, mas
eu sei. — Ela continua com um brilho no olhar. — Sei que eu quero
você ao meu lado para sempre. Eu não consigo mais viver sem
você. Você é o meu futuro, Sofya, pode ter certeza disso — disse
convicto.
— E como você tem tanta certeza disso? — perguntou,
entortando seu biquinho lindo.
— Porque eu te amo — disse. — E também porque você vai
ser minha namorada! — Ela riu, desviando o olhar timidamente.
— Vou, é?
— Vai. E isso é só o começo — avisei, com a voz carregada de
promessas.
Ela voltou a me encarar e veio até mim, pegando em meu
rosto e tomando minha boca na sua com um beijo suave e doce.
Tudo o que acabamos de dizer está nesse beijo, além de todo
nosso tempo perdido, mas quer saber? Acho que valeu a pena. Ela
se afastou, colando sua testa na minha, sorrindo, assim como eu.
— Eu vou chamar o médico — disse. — E tem mais uma
coisa... — Me olhou, séria.
— O que é?
— Você precisa resolver algumas coisas — apontou para a
minha aliança, que está na mesinha ao lado, junto com as minhas
coisas.
— Eu vou. Prometo que até o fim do dia isso estará resolvido e
não terá mais nada e ninguém em nosso caminho.
Ela sorriu e voltou a me beijar. Deus, como é bom estar de
volta!

Descobri que fiquei em coma induzido por quase duas


semanas e, depois disso, dormi por mais dois dias seguidos, até
acordar hoje de manhã. Os médicos me disseram que levei dois
tiros: um no ombro e outro a milímetros do coração que, por pouco,
não me matou. Disseram também que foi um milagre eu sobreviver
depois disso. Não me lembro de nada depois que apaguei naquele
galpão, mas sinto que não lutei sozinho para sobreviver, para estar
aqui hoje. Não sei explicar, mas um milagre realmente aconteceu e
tenho certeza de que Sofya está envolvida nisso. Ainda mais depois
de saber o que ela fez por mim nestas últimas semanas e do dia em
que eu quase morri. Preston e Shantell vieram me visitar hoje a
tarde e me contaram tudo.

“— Eu nunca vi Sofya agir daquela maneira, ela estava


desesperada — comentou Shantell, acariciando sua barriga já
evidente.
— Ela parecia uma leoa, cara, e se você tivesse morrido, tenho
certeza que ela iria te buscar — riu Preston.
Lembro do que ela me disse mais cedo, ‘você voltou para
mim’. Sim, eu tinha voltado para ela, mas agora, depois de tudo o
que sei que ela fez por mim, estou certo de que foi Sofya quem me
salvou. E eu que pensei que Sofya não pudesse me intrigar mais…
estou muito enganado. Essa garota me surpreende cada vez mais,
fazendo com que eu a ame ainda mais.
— Estou feliz de ter voltado, especialmente de ter voltado para
ela.
Shantell se aproximou, pegando minha mão e me olhando,
com doçura.
— Eu não sei como te agradecer pelo que fez por nós, John.
Se não fosse por você, não sei como estaríamos agora. — Ela
colocou a mão em sua barriga, se referindo a ela e seu filho. —
Graças a você, o pai do meu bebê está aqui, conosco hoje — sorriu.
Preston a abraçou, colocando suas mãos na barriga dela e
beijando sua testa.
— Ela tem razão, parceiro. Eu lhe devo minha vida.
— Você tinha muito mais a perder do que eu, parceiro, não me
agradeça. Fico feliz de estarem bem.
Preston me abraçou, dando alguns tapas em minhas costas,
me fazendo gemer de dor.
— Baby, cuidado! — alertou Shantell, o afastando de mim.
— Me desculpe. Nos vemos mais tarde, brô.
— Até! —me despedi deles.
Vê-los assim, tão felizes com sua família se formando, fez tudo
valer a pena.”

Aquilo só me deu forças para que eu me recuperasse logo.


Além deles, recebi a visita de Ed e Lea, Josh e Evangeline, que me
disse que Josh voltou a falar com papai — me deixando ainda mais
animado — meu pai e Marion, Mag e vovô, que resmungou como
sempre.
“— Não faça isso de novo, rapaz! Eu não tenho mais idade
para aguentar esse tipo de coisa! — resmungou vovô, me fazendo
sorrir.
— Eu sei, vovô. Sofya já me ameaçou, fique tranquilo.
— Oh, querido, estou tão aliviada de vê-lo bem! Além de nós,
aquela pobre garota ficou inconsolável. Mas fiquei feliz quando
soube que vocês dois se entenderam novamente — falou Mag,
pegando minha mão e me dando um beijo na testa.
— Obrigado, Mag.
— Já não era sem tempo, você precisou quase bater as botas
para conquistar aquela menina de novo! Por sorte, sua avó lhe deu
um empurrãozinho! — disse vovô, me fazendo cerrar o olhar.
— A vovó? Como assim?
— Isso não vem mais ao caso — respondeu.
Vovô constantemente nos disse que a vovó Ally sempre cuidou
da nossa família, como se fosse nosso anjo da guarda. Muitas
vezes, eu o peguei falando sozinho, mas nunca dei bola, e ele
nunca nos disse com quem estava falando. Todas as vezes que
sonhei com a vovó Ally foi sempre antes de alguma operação de
risco, como se ela me alertasse de alguma forma. Na noite anterior
à última operação, eu não sonhei com ela e, no fundo, eu sabia que
alguma coisa estava errada, principalmente depois das palavras de
Preston naquela noite. Mas eu sinto que, de alguma forma, eu
sonhei com ela enquanto estava aqui, nesta cama de hospital. Não
acredito muito nessas coisas, mas posso dizer que eu realmente a
sinto perto de nós, assim como o vovô, que sempre fala sobre isso.”

Bem, eu não acreditava muito nisso, mas depois de tudo o que


eu passei, acho bom eu começar a acreditar. Rhodes e Ben também
vieram me visitar. Ben conseguiu pegar aquele desgraçado, além de
prender boa parte da do cartel. Mesmo eu ficando aliviado com essa
notícia, lamentei por não ter pegado ele com minhas próprias mãos.
Mas o que importa agora é que aquele desgraçado irá apodrecer na
cadeia. Foram um ano e meio para que pudéssemos pegá-lo e
parece que um peso foi tirado das minhas costas.
Olhei para o relógio, esperando ansiosamente a visita da
minha mãe e da Jenna. As duas irão me ouvir e terão que aceitar o
que eu tenho para dizer. Escutei as batidas na porta e uma das
enfermeiras entrou no quarto.
— Com licença, você tem mais visitas.
Já não era sem tempo. Minha mãe entrou no quarto com
Jenna em seu encalço.
— Oh, meu filho! — Ela veio me abraçar, com lágrimas nos
olhos.
— Olá, mãe — murmurei com dor, enquanto ela me apertava.
— Ahm, tudo bem mãe, cuidado.
— Me desculpe, querido. — Pegou em meu rosto
carinhosamente. — Ficamos tão preocupadas. Jenna e eu não
saímos do seu lado.
É, sei.
— Oh, meu amor! É tão bom te ver! — disse Jenna, vindo até
mim.
Ela veio em direção aos meus lábios, mas desviei, lhe dando
um beijo na bochecha. Ela estranhou, se afastando lentamente, e
me olhou com seu olhar cerrado.
— Obrigado, Jenna — Suspirei, antes de começar. — Há algo
que eu quero discutir e é bom que as duas me ouçam com atenção.
— Querido, evite fazer esforço. Seja o que for, podemos
conversar melhor quando sair daqui — pediu minha mãe, tentando
mudar de assunto, como sempre faz.
— Não, mãe. Precisa ser agora, porque isso acabará hoje —
disse duramente.
As duas se entreolharam e depois me encararam, com o
semblante preocupado. As lágrimas da Jenna já caiam, antes
mesmo de me escutar, e isso só me confirmou que ela já sabe o que
eu tenho para falar, explicando o motivo de ela fugir de mim esse
tempo todo.
— John — ela começou a falar.
— Jenna, acabou — interrompi.
Chocada, ela levou suas mãos à boca, chorando.
— Foi um erro termos voltado. Me desculpe, mas já não posso
levar isso adiante.
Peguei a aliança e entreguei para ela.
— Você tem noção do erro que está cometendo, John? O
quanto nossa família sofrerá com as consequências da sua
escolha? — repreendeu minha mãe.
— A nossa família ou você, mãe? Já chega desse circo, eu
não vou ser mais sua marionete. Se a senhora me ama, vai me
apoiar e será muito bem-vinda se assim decidir. Mas, caso isso não
aconteça, eu quero que pare de se intrometer em nossas vidas e
que aceite minhas escolhas.
— Em nossas vidas? — repetiu ela.
— É aquela vadia, não é, John? Ela fez a sua cabeça! —
exclamou Jenna.
— Não a chame assim! — rosnei, apontando meu dedo para
ela, que se calou imediatamente. — Sofya é a melhor pessoa que já
conheci na vida e irei ficar ao lado dela. Doa a quem doer. — Voltei
a olhar para minha mãe, para que ela entendesse o recado.
Jenna chorava sem parar e eu e minha mãe ainda nos
encaramos. Minha mãe pode ser o que for, mas sempre a admirei
por conta disso: poderia ser o Papa, mas ela o encararia da mesma
forma, só para conseguir o que quer. O que eu não gosto nela é
este mesmo ponto: ela consegue o que quer apostando tudo, custe
o que custar, até mesmo se for preciso machucar alguém.
— Tudo bem. Que se dane isso tudo. Jenna, me devolva o
anel — ordenou, estendendo a mão para Jenna, mas ainda me
encarando.
O que? O QUE ELA ACABOU DE DIZER? Cerrei o olhar,
ainda a encarando.
— O-o que? Mas, Miranda... — disse Jenna.
— Devolva. Meu. Anel — repetiu, pausadamente.
Jenna tirou o anel e a devolveu. Assim como eu, ela também
está sem entender nada.
— Obrigada. Agora, por favor, nos dê licença. Preciso
conversar com meu filho.
Jenna cerrou o olhar para ela e depois me fuzilou com o olhar.
Eu odeio fazer isso com uma mulher, mas isso foi necessário.
— Isso terá volta — ameaçou.
— Jenna, só saia — bufou minha mãe, entediada.
Ela saiu, batendo a porta do quarto fortemente. Minha mãe
bufou, sentou-se na cadeira ao lado da minha cama e me encarou
novamente. Sinto que vem coisa por aí.
— Bem, por um lado isso não me agradou nada, mas do outro,
estou aliviada de não ter mais que aguentar essa menina mimada e
seus problemas com o pai — revelou minha mãe, massageando
suas têmporas com suas mãos. — E pelo menos essa Sofya —
enfatizou. — Achou o pai, que por sinal é rico, então acho que eu
posso aguentar isso — desdenhou.
Aí está, Miranda Richards como ela é. Como ela pode pensar
assim? Ao ver minha cara, ela abriu os braços, em uma atitude
óbvia.
— O que? Vai me dizer que não conhece sua mãe?
Ela está muito estranha, parece até que...
— Você bebeu? — perguntei.
— Sim e não me orgulho disso. Porém, o que vem
acontecendo comigo nesses últimos meses me obrigou a deixar
algumas etiquetas de lado e repensar em tudo — respondeu, em
forma de desabafo. — Então aproveite esse momento, querido, pois
não sei se vou ser capaz de fazer isso novamente. Josh não pode
me ver assim, mas você, bem, eu nunca fui sua preferida mesmo,
então…
— Mamãe, não pense assim...
— Me deixe terminar, John — pediu, já entediada. — Eu tive
que aceitar o divórcio com seu pai, tive que aceitar a vitória daquela
mulherzinha e, agora, tenho que aceitar que você fique com aquela
garota — suspirou, notoriamente se sentindo derrotada.
— Quem é você e o que fez com a minha mãe? — Eu ainda a
olhava embasbacado, o que a fez rir.
— Eu sei, eu sei. Mas confesso para você que quando vi meu
filho à beira da morte, sofri uma lavagem cerebral. A vida é curta
demais para me importar com reputação e deixar algumas coisas de
lado — Ela se levantou e olhou para a janela, ainda pensativa. — Eu
também tenho um amante, John.
MAS O QUE?
— Como é que é? — perguntei, sem acreditar.
— Pensou que só seu pai tem segredinhos? HÁ! — riu ela, de
maneira irônica. — Eu sempre soube que nosso casamento não
daria certo, mas eu segurei o poderoso senador Neeson até onde
podia, pois a América nos ama — sorriu, como uma vilã. — Quando
Marion surgiu, vi meu trono ameaçado e dei meu jeito para continuar
onde estava, o que deu certo por muito tempo. Mas, por baixo
disso... — Ela me olhou, apontando para si mesma. — Eu era uma
mulher furiosa e que nunca amou ninguém, que nunca foi amada
por alguém, principalmente. Até eu encontrar alguém que pudesse
fazer isso de verdade. Ray Baldwin.
— O QUE? — questionei, quase me levantando da cama.
COMO ELA PÔDE? Justo o MAIOR INIMIGO POLÍTICO DO
MEU PAI? Eu não acredito!
— Eu não escolhi isso, John! E antes que você pense que eu
quis atingir seu pai, isso nunca aconteceu! Ray é um cavalheiro e a
única rixa que tem com seu pai é no congresso. Ele me tratou como
a mulher que eu mereço ser tratada durante anos!
— Ele estará concorrendo com o papai na próxima eleição,
mãe!
— Eu sei disso. Mas seu pai fez a escolha dele e eu fiz a
minha, finalmente. E se você quer que eu aceite seu relacionamento
com aquela garota, terá que aceitar o meu.
Bufei, não gostando nada dessa história. Agora eu entendo o
porquê minha mãe sempre apoiou os republicanos. Aquele cara é
um dos maiores aliados do Trump e isso me deixa furioso. Mas ela
tem razão, não posso impedi-la de ser feliz, afinal, nunca vi minha
mãe assim, tão desprendida da sua imagem.
— Tudo bem, só espero que esteja fazendo a escolha certa.
— Eu digo o mesmo para você, querido. Bem, eu vou indo, há
muito o que se resolver ainda.
Ri, chamando sua atenção novamente.
— Quem diria, Miranda Richards cedendo a sua imagem e
reputação. Estou orgulhoso de você, mãe.
— Ora, não seja exagerado, nunca farei isso de verdade, e
isso será esquecido pela mídia daqui a algum tempo. — Ajeitou
seus cabelos e manteve sua velha pose.
— Eu sei. Eu amo você, mãe — disse, a fazendo sorrir.
— Eu amo você, meu querido — Ela beijou minha testa e saiu.
É, acho que muita coisa irá mudar daqui para frente.

Depois de quase um mês internado para recuperação, John


terá alta daqui três dias e isso não poderia ter me deixado mais feliz.
Aconteceu tanta coisa nestas últimas semanas que só de pensar em
tudo, me deixa tonta. A mídia ainda está alvoroçada com o divórcio
de Miranda Richards e Leon Neeson, sem contar que Miranda já foi
vista com seu “novo affair”, o senador republicano Ray Baldwin, em
um jantar romântico. Quando John me contou sobre isso eu mal
pude acreditar! A dama de ferro, afinal, tem mesmo um coração,
quem diria? O único que não está lidando muito bem com essa
história toda é Josh, mas, como disse a John, é questão de tempo
até que ele se acostume com isso. Já Marion e Leon estão
radiantes. Eles ainda não se assumiram publicamente, mas Leon já
anunciou para a família toda que eles irão se casar! Fiquei tão feliz
pelos dois, pois depois de tantos anos, eles finalmente ficarão juntos
pra valer.
Ah, sim! Lea e Ed estão mais firmes que nunca. Ed virá para
Nova York de vez e cuidará dos seus negócios por aqui, o que
deixou Lea nas nuvens. Vovô está mais forte do que nunca, e
sempre que posso, eu o levo para visitar John comigo. Shant está
com uma barriguinha linda e eu não vejo a hora de poder mimar
meu afilhado, assim como John! Ela e Preston nos contaram essa
novidade enquanto estávamos no quarto do hospital do John, e isso
nos deixou muito feliz. Bem, eu e meu Ursão estamos no paraíso,
quer dizer, quase. Antes, nossos maiores desafios eram Miranda e
Jenna. Miranda acabou aceitando nosso relacionamento e a Barbie
Malibu embuste sumiu das nossas vidas. Agora? Bem, agora nosso
maior desafio é meu pai.

“— Pai, por favor, seja bonzinho, ele está se recuperando —


pedi, antes de entrarmos para o quarto do John.
Ele bufou e sua cara está longe de ser boa. Deus, me ajude!
— Não sei como você teve a coragem de voltar para esse...
esse troglodita, depois de tudo o que ele fez para você! —
esbravejou ele.
— ARGH! Pai, não seja hipócrita! Eu perdoei você também!
— Mas isso é bem diferente!
— Diferente!? Sei.
— Mas é claro que é! Diga a ela, Petrus! — falou, envolvendo
Petrus na conversa.
— É... seu pai tem razão, Sofy.
— Isso não é justo! Vocês dois são inacreditáveis!
— Eu sou seu pai e quero somente o seu bem!
— Então se quer realmente isso, terá que aceitar John como
meu namorado!
— Detesto essa palavra, namorado — sussurrou, ainda bravo,
olhando para os lados.
— Tenho certeza de que se o conhecer melhor vai mudar de
opinião! Por favor, pai, faça isso por mim? — pedi, usando meus
olhos de gato de botas.
— Argh! Por que você tem que me olhar assim?! O que você
não me pede que eu não faça sofrendo?
— Isso é um sim? — sorri.
— Tudo bem! Mas é bom ele se esforçar bastante! —
concordou, ajeitando sua gravata.
— Obrigada! — agradeci, beijando seu rosto. — E o senhor —
apontei para Petrus — Se comporte e fique aqui! — falei, e ele
sorriu.
Entramos no quarto e assim que John me viu, seu sorriso
ganhou vida, iluminando o quarto.
— Até que enfim você chegou, eu já... — Quando John
colocou os olhos em meu pai, sua cara se fechou, e lá se vai seu
sorriso lindo. — Ah, mas que ótimo...
— John!
— Viu só o porquê eu não quero esse cara do seu lado? —
reclamou meu pai.
Bufei, colocando minhas mãos em minhas têmporas. Por um
minuto, eu realmente tive esperanças de que os dois pudessem se
acertar. Antes, eu tinha conversado com John sobre meu pai, lhe
explicando tudo o que aconteceu, mas ele não consegue entender o
porquê eu aceitei meu pai de volta, depois de tudo o que ele fez. Os
dois têm o mesmo pretexto para ficarem um contra o outro, mas
nenhum dos dois param para pensar o quanto isso me deixa triste.
— HÁ! Essa é boa, falou o cara que abandonou a filha ainda
criança e agora acha que tem o direito de opinar na vida dela —
rebateu John, furioso.
— Escute aqui, rapaz...
— PAREM AGORA! Não faça isso, pai — disse, o impedindo
de avançar contra John. — Será que vocês poderiam, POR FAVOR,
esquecer isso? Eu perdoei os dois, e OS DOIS são importantes para
mim. Me machuca demais vê-los brigando!
— Boneca eu...
— Meu bem eu...
Começaram os dois.
— Não, não quero explicações! — disse. — O que eu quero
mesmo é que esqueçam isso e se conheçam melhor! Será que isso
é possível?
Os dois se olharam, ainda insatisfeitos com minhas palavras.
— Se isso te fará feliz... eu aceito, mas por você! — falou
John, apontando para mim.
— Finalmente você disse algo que preste. Eu concordo com
ele, meu bem — concordou meu pai, ainda encarando John.
— Acho que isso serve, por enquanto — falei.
Meu pai foi em direção a John, estendendo sua mão para ele.
Os dois ainda se encaravam e John pegou a mãe dele, a apertando.
Revirei os olhos quando vi ali uma disputa silenciosa.
— Eu, como pai dela, tenho o dever de proteger minha filha.
Eu errei no passado, mas voltei disposto a pagar e me redimir por
tudo o que causei a ela. Por isso, quero que saiba que, se você
ousar magoá-la novamente, e se eu souber que ela derramou UMA
lágrima sequer por sua causa, as coisas irão ficar feias para o seu
lado, rapaz — ameaçou meu pai.
— E eu digo o mesmo a você, Antonov. Se abandoná-la
novamente, eu juro que vou te buscar até no inferno se for preciso.
Não faça minha Sofya passar por aquilo de novo — rosnou John, de
volta.
— HÁ! Sua Sofya? Mas o que é isso agora? Ela é A MINHA
SOFYA, a minha garotinha!
— Agora é “A sua Sofya”? Não seja cara de pau, Antonov.
— Eu desisto... desisto — murmurei para mim mesma,
tampando meus olhos e balançando minha cabeça, ainda sem
acreditar na discussão que se formou à minha frente.”

Foi impossível fazer com que os dois se acertarem, afinal, os


dois são muito cabeça dura. Mas, tenho a esperança de que, um
dia, os dois irão ver que tudo isso é uma bobagem e vão acabar
com isso, assim espero.
Ainda estou me acostumando com a palavra “namoro”. John e
eu estamos melhor do que nunca. Quando eu, finalmente, ouvi as
palavras que tanto esperei que ele dissesse, pulei de felicidade.

“— Advinha o que eu trouxe? — disse, entrando no quarto.


Deus, como é bom tê-lo de volta são e salvo.
— Não sei, mas acho que é coisa boa.
Desembrulhei o papel da minha mão, revelando um pão de
milho recém assado, o preferido de John. Ele olhou para o pãozinho
como se fosse ouro, me fazendo rir.
— Eu realmente morri, não é? — perguntou, pegando o
pãozinho e o enfiando quase inteiro na boca.
— Hey, devagar!
— Mas por que você trouxe só um? Eu preciso de uns cem
desses!
— Você precisa seguir a dieta do hospital, nem deveria estar
comendo isso agora.
— Eu morreria feliz comendo esses pães! Hm, tinha me
esquecido que eram tão bons! — disse, de boca cheia.
Vendo ele devorar o pão, notei que sua aliança não está mais
por ali, fazendo com que meu coração pulasse sem parar em meu
peito. Ele notou meu olhar e sorriu, ainda mastigando.
— Eu te disse que iria resolver tudo até ontem, não disse?
— Então você não está mais noivo?
— Não. Mas se você quiser ficar noiva, eu posso pensar em
voltar a ficar noivo novamente — brincou, me fazendo rir.
— Vamos com calma, Ursão! — disse, beijando todo seu rosto.
— Agora você é todo meu.
— Eu sempre fui só seu — afirmou, pegando em meu rosto e
me beijando nos lábios. — E agora você é minha.
Eu sorri. Sim, acho que, de certa forma, sempre fui dele
também.”

Deus, nunca pensei que fosse possível amar alguém assim


como eu amo John! Eu contava as horas para ir visitá-lo no hospital,
assim como ele, que não deixou de ser o antigo John em nenhum
momento, além de espalhar para todo mundo que sou sua
namorada.

“— Isso daqui tem que ficar aqui — disse, ajeitando a bolsa de


soro em cima da cama dele. — E você não deve se mexer muit...
John pare com isso! Comporte-se! — repreendi enquanto ele não
parava de pegar em meus peitos.
— Não posso! Estou com saudades deles! — argumentou. —
E eu já disse que você está uma delícia nesse vestido?
E lá está, aquele olhar de predador, mesmo estando em uma
cama de hospital.
— Você não pode pensar nisso por algum tempo, mocinho —
disse rindo.
— Pensar eu posso sim, e é impossível não ficar duro quando
eu te vejo entrar por aquela porta — falou, tirando o lençol de cima
do corpo e mostrando sua enorme ereção, que levantava sua calça
de malha do hospital.
Ri, colocando minhas mãos nos olhos e balançando a cabeça.
— Você é impossível!
— E eu quero te comer agora.
— E um cafajeste também! — ri, tentando não cair na
conversa dele, mas a verdade é que minha calcinha está
encharcada, porque ele sabe que...
— Eu sei que você adora quando eu falo assim — falou
sedutoramente.
Escutamos a porta se abrir e, rapidamente, ele voltou a cobrir
sua ereção, me fazendo rir, mas ao ver de quem entrava, fiquei
surpresa.
— Steve?! — perguntei, boquiaberta.
— Só pode ser brincadeira — resmungou John.
— Ah, então você é o agente ferido. Que sorte a minha! —
ironizou Steve, bufando. — John Neeson. Pois é, serei o médico de
plantão hoje, então sugiro que seja bonzinho — continuou, pegando
uma tesoura na mesa à beira da cama e fingindo o ameaçar. — Olá,
Sofya — sorriu.
Sorri enquanto vi Steve retirar a camiseta hospitalar de John e
checar como está o ferimento dele. Tentei esconder o riso ao ver a
cena, mas foi impossível. John me fuzilava com o olhar, me fazendo
sorrir ainda mais.
— Então, Steve... soube que tem um filho — perguntou John.
Steve o olhou com cara de poucos amigos e o respondeu.
— Sim. O nome dele é Nate e é o meu orgulho.
— Own! Isso é lindo, Steve. — Ignorei os olhares mortais de
John para mim.
Steve sorriu para mim e voltou a se concentrar na ferida.
— Pois é, nunca pensei que sentiria isso um dia, mas ser pai é
a melhor coisa do mundo.
— E como está a Nathalie? — perguntei.
— Está muito bem. Ela está morando comigo agora e vai
começar a trabalhar aqui também, em breve.
— Fico feliz que tenham se acertado — sorri.
— É, eu também. Ela sempre foi importante para mim.
Depois de ficarmos em um silêncio constrangedor, Steve
terminou sua análise, enquanto John o encara, sem perder a
oportunidade de provocá-lo.
— Já está sabendo, doutor? — perguntou John.
Sem paciência para ele, Steve apenas o olhou, impaciente.
— Sofya e eu estamos namorando, não é o máximo?
— Oh Deus. — sussurrei para mim mesma, tampando meu
olhar.
— Ah... — disse Steve. Voltei a olhá-los e vi o médico olhar
para mim. — Eu sinto muito por você, Sofya. — Colocou a mão em
meu ombro. — Vou chamar a enfermeira para fazer outro curativo.
Até logo — falou, sorrindo para mim e saindo do quarto.
— Mas ele é muito folgado! — John estava indignado com a
reação de Steve.
Eu ri, sem poder mais conter o riso, e quando voltei a olhá-lo,
seu olhar estava assustador.
— Não estou vendo graça — resmungou, me fazendo rir ainda
mais. — Estou falando sério!
Eu levantei as mãos, tentando parar de rir, mas não consegui.
— Pare logo com isso e venha me ajudar aqui! — falou, ainda
bravo.
Fiz o que ele pediu e o enchi de beijos, substituindo sua cara
de rabugento por um sorriso lindo.”

John não mudou nadinha e isso me faz sorrir a toda hora. Subi
as escadas da entrada do prédio e vi a senhora Johnson
conversando com James.
— Olá, senhora Johnson! Olá, James!
— Olá, senhorita — respondeu James, sorrindo.
— Ah, olá, querida! Como está John?
— Está cada vez melhor, mais alguns dias e ele terá alta!
— Que bom! Ahm, será que podemos conversar, querida?
Xiii, pela forma que a senhora Johnson falou, não é coisa boa.
— Claro — Me aproximei dela.
Ela me entregou um papel que estava em suas mãos e me
olhou, começando a falar.
— A imobiliária me mandou essa carta hoje, querida. Você não
renovou o contrato de aluguel, que tinha prazo de um ano, e ele
venceu no mês passado, quando completou um ano neste prédio.
Além disso, você não pagou o aluguel esse mês.
Abri o papel e vi o aviso de despejo. Tenho três dias para sair
do apartamento. Mas que merda! Eu tinha me esquecido
completamente do aluguel e do contrato, que expirou mês passado,
quando fez um ano em que havia me mudado para cá, um ano que
conheci John. Foco, Sofya!
— Droga!
— Se você não tiver um lugar para ficar até achar outro
apartamento, você pode ficar no meu, querida.
— Ah, muito obrigada, senhora Johnson, mas eu já tenho outro
apartamento, só me esqueci de resolver tudo isso enquanto estava
com John no hospital.
Depois de tanto meu pai insistir, eu acabei ficando com o
apartamento que ele comprou para mim. Eu só não queria me
mudar enquanto John estivesse se recuperando aqui, por isso deixei
a mudança para depois, mas esqueci totalmente do contrato e do
aluguel. É, acho que terei que antecipar a mudança.
— Tudo bem, querida.
— Ahm, a senhora pode me acompanhar até lá em cima?
Pagarei o aluguel atrasado.
— Claro. É uma pena ter que se mudar assim, Sofya.
— É sim, senhora Johnson, nem me fale — suspirei.
Já passa das 20h e Sofya ainda não veio para sua visita diária.
Ontem ela chegou atrasada, estava um pouco estranha e ficou
pouco tempo. Tentei arrancar dela o que ela tinha, mas ela disse
que era apenas cansaço. E hoje ela ainda não apareceu e isso é
muito estranho. Já tentei ligar, deixar recado e centenas de
mensagens, mas ela não me retornou nenhuma. Já estou surtando
de tão preocupado e nada dela, nenhuma notícia. Escutei a porta se
abrir e olhei esperançoso, esperando ser ela a entrar, mas não...
— Oi primo! — falou Ed, com Lea em seu encalço. — Como
vai?
— Olá, John! — cumprimentou Lea.
Notei que Preston e Shantell também entraram junto com eles.
— E aí, cara! — disse Preston.
— Hey, como vai o padrinho do ano?! — falou Shantell.
— Onde está Sofya? Ela não veio hoje e não atendeu minhas
ligações!
— Fique calmo, John, ela deve ter trabalhado até tarde hoje —
disse Shantell.
Ela está me escondendo alguma coisa.
— Na verdade, ela está preparando a mudança dela, John. O
contrato de aluguel do prédio terminou no mês passado e... AI! —
Lea parou de falar quando Shantell lhe deu um beliscão.
Eu sabia que estava acontecendo alguma coisa!
— Como assim, mudança? Ela vai se mudar? — perguntei,
ainda sem poder acreditar.
— Ela está terminando a mudança nesta noite, John. O prazo
dela é até amanhã ao meio dia — Shantell falou.
— E por que diabos ela não me avisou?! Mas que droga!
— Porque era essa reação que ela queria evitar! — continuou
ela. — Você vai ter alta amanhã, mas ainda está se recuperando,
não pode fazer esforço.
Merda! Ela não pode se mudar! Tenho certeza de que isso
foi ideia daquele mal caráter do pai dela. Aquele homem não me
engana! Preciso fazer alguma coisa e logo. Já sei!
— Tudo bem, então. Eu preciso fazer uma ligação, podem me
dar licença? — pedi.
Eles se olharam, mas fizeram o que eu pedi.
— Preston, preciso conversar com você — falei, antes que ele
saísse.
Shantell nos olhou, desconfiada, mas nos deixou a sós. Peguei
meu celular e liguei para Daniel, gerente da imobiliária do meu
prédio, que pertence ao império da família da minha mãe.
— Richard’s Imobiliária, Daniel falando.
— Daniel, é o John, John Neeson. Preciso que faça um favor
para mim.

— Isso não está certo, John. Não vou deixar você fazer isso!
— disse Preston, preocupado, enquanto eu colocava uma roupa
decente.
— Ah vai sim, você me deve uma, lembra?
— Mas não vou te ajudar a se matar!
— Bobagem, Preston. Eu já consigo andar, você sabe! E o que
é um dia a menos aqui? Vou sair amanhã de qualquer jeito!
— Então, você pode esperar até amanhã para conversar com
Sofya!
— Não! Amanhã já será tarde demais, e já que ela não me
atende, eu vou até ela!
— Por que eu sempre caio nesses seus planos estúpidos?
— Porque você é meu amigo! E não posso deixar Sofya se
mudar! — disse sorrindo. — Agora me dê cobertura, preciso sair
sem que ninguém me veja.
— Shantell vai me matar, PIOR! Sofya vai me matar,
lentamente!
Não dei mais atenção para as reclamações dele e saímos,
com ele na frente, limpando meu caminho. Perto da saída ele parou,
chamando minha atenção.
— Eu quero que vá me avisando e não faça mais coisas
idiotas, seu idiota! — disse, me abraçando. — Não faça eu me
arrepender disso! Eu já chamei um táxi, vá logo e vê se volta logo, e
inteiro!
— Obrigado, cara! Pode deixar.
Saí, calmamente, para evitar levantar suspeitas, e entrei no
táxi, dando o endereço para o motorista e rezando para que não
fosse tarde.

Assim que o táxi parou em frente ao prédio, vi um caminhão de


mudanças parado bem na entrada. Droga! Sai correndo, sentindo
meu peito começar a latejar. Olhei para dentro do caminhão e vi
praticamente todos os móveis da Sofya lá dentro, para meu
desespero. Entrei correndo e vi alguns homens levando mais
algumas coisas dela para o caminhão.
— Senhorita, precisamos daquelas caixas! — avisou um
homem ao meu lado.
— ESTOU INDO! — gritou Sofya, lá de cima.
Olhei para cima e subi as escadas a encontrando nos
primeiros degraus, equilibrando duas caixas gigantes em seus
braços, me fazendo sorrir e me lembrar da primeira vez em que a vi,
há pouco mais de um ano atrás. E assim como da primeira vez, fui
ajudá-la.
— Eu ajudo você — disse, pegando a caixa de cima.
— Está tudo b... — Ela parou de falar, ficando boquiaberta
assim que peguei a caixa do topo e nossos olhares se encontraram.
— John? — sussurrou.
— Como nos velhos tempos, hein? — sorri.
— O que você está fazendo aqui? Você deveria estar no
hospital! Você é maluco? — indagou, colocando as caixas no chão.
Puxei ela pela cintura, a pegando de surpresa. Já não me
importo mais com a dorzinha chata me incomodando em meu peito.
— Você não me deu outra alternativa, já que não atende o
celular — acusei, a deixando vermelha. — Você não vai se mudar.
— Não posso mais ficar aqui, John, meu contrato de aluguel
acabou e eu já tenho outro apartamento para...
— Besteira!
— Como é?
— Eu disse besteira! Você pode, E VAI, continuar aqui. Eu já
resolvi isso na imobiliária.
— COMO É QUE É? — questionou, ficando nervosa. — VOCÊ
É REALMENTE UM IDIOTA! EU JÁ TENHO OUTRO
APARTAMENTO, JOHN, E VOCÊ NÃO PODE...
A interrompi, a puxando e tomando seus lábios nos meus, a
calando. Ela fica linda nervosa e eu senti falta de tê-la em meus
braços assim.
— Posso sim e você ficará aqui comigo. — interrompi nosso
beijo e a olhei.
— John, eu já acertei toda a mudança para o meu outro
apartamento.
— É só mandar subir tudo de volta. Tenho certeza de que seu
pai não irá vender o apartamento que ele comprou para você.
Ela cerrou o olhar, me fazendo sorrir.
— Mas como você sabe que...
— Você namora um agente do FBI, Boneca. Esqueceu? —
Entortei o sorriso, fazendo ela sorrir também.
— MOÇA! ESTAMOS ESPERANDO! — gritou um dos caras
da mudança.
— MUDANÇA CANCELADA, RAPAZES. PODEM SUBIR COM
TUDO DE NOVO! — gritei, ainda encarando ela.
Escutamos as reclamações lá de baixo aumentarem.
— ISSO VAI SAIR MAIS CARO! — gritou o homem de volta.
— NÃO IMPORTA, É SÓ ME MANDAREM A CONTA —
respondi, olhando para ela. — Não vai mais ter mudança nenhuma.
Ela sorriu, fechando os olhos e balançando sua cabeça, ainda
sem acreditar.
— Você não vai desistir, não é?
— Você sabe que não. O seu lugar é ao meu lado e não vou
aceitar o contrário .
— A é, Ursão? — sorriu, colocando seus braços ao redor do
meu pescoço.
— Pode apostar, garota Rolling Stones.
Ela continuou a sorrir e tomei seus lábios nos meus
novamente, num beijo urgente. Não vou perder essa garota
novamente, ela irá ficar ao meu lado para sempre, porque eu já não
consigo viver sem sua presença. E como havia dito a ela antes, isso
é só o começo. O começo da nossa vida juntos.

FIM...
ou quase.
Alguns meses depois…

Eu nem acredito que estamos aqui! ESTOU TÃO ANIMADA!


Puxei John pelas mãos e corremos pela entrada do Madison Square
Garden.
— Hey, calma! Os caras nem entraram ainda! — John disse,
enquanto ainda corremos para a pista.
— Eu sei, mas precisamos ficar em um lugar bom!
A pista ainda não está muito cheia e corri para perto do
palco, com John ao meu lado.
— Ainda não acredito que vamos ver os Rolling Stones! —
comentei, pulando e batendo palmas, fazendo John rir. —
Obrigada, foi o melhor presente que já ganhei! — Abracei ele e o
beijei.
— Tudo para ver esse sorriso no seu rosto — respondeu,
envolvendo minha cintura.
Esperamos por mais duas horas e o show está prestes a
começar! Comecei a gritar e pular quando vi Mick Jagger entrar,
acompanhado pelo meu amorzinho, Keith Richards, seguido por
Ron Wood e o lendário Charlie Watts! Eles abriram o show com
Start me Up, fazendo todo mundo delirar. John me colocou em sua
cacunda, onde não parei de me mexer, e para ele, meu peso não
significa nada. Depois de tocarem as minhas músicas preferidas,
como Jumpin’ Jack Flash, Brown Sugar, Out Of Control, Miss You
e Gimme Shelter, eles começaram a tocar a “minha música”, como
diz John. Ele me colocou no chão e me olhou, dando aquele sorriso
torto que eu tanto amo.
“Please allow me to introduce myself, i'm a man of wealth and
taste. I've been around for long long years, stole many a man's soul
and Faith”[44]
Mick começou a cantar Sympathy for the Devil, nos fazendo
dançar por entre as pessoas ao nosso redor.
— Finalmente, o momento mais esperado do show — gritou
John, me fazendo rir. — Eu amo você, garota Rolling Stones!
— E eu amo você, Ursão!
“Pleased to meet you, hope you guessed my name. But
what's confusing you is just the nature of my game...” [45]
Naquela noite curtimos o show como dois adolescentes
loucos, voltando para casa depois e transando como dois animais
no cio, sem contar que John já não é mais meu 10, mas sim meu 11,
20, 50, 100... esse homem me leva a lua todas as noites e vejo as
estrelas a cada orgasmo. Posso nos definir como um verdadeiro
casal Rock and Roll.
Nos últimos tempos, algo ficou martelando em minha cabeça
— principalmente em meu coração — para que isso se tornasse
realidade. E consegui isso graças a alguns anjos que Deus — e a
minha Cigana linda, que sempre está ao meu lado — colocaram em
minha vida. Primeiro, foram as minhas fiéis leitoras da Fic, que
sempre falaram que minha história deveria virar um livro. E aqui
está, meninas! Segundo, a Bianca (@safada.leitora), que sempre
me envolveu com seu trabalho maravilhoso e me apresentou uma
das principais pessoas responsáveis por isso acontecer, e por isso
vamos ao terceiro. Kamila (@revisoesdaka), meus olhos enchem
d’água ao lembrar da felicidade ao conhecer você. Você é o anjo
responsável por me ajudar a fazer isso acontecer e, além de uma
ótima revisora, me ajudou com a capa, com a divulgação, com os
brindes, com a playlist e COM TUDO o que vocês podem imaginar.
Você é um verdadeiro anjo da guarda! E eu não tenho palavras para
descrever a minha gratidão em ter encontrado essas mulheres
lindas e fortes no meu caminho.
Vocês são as responsáveis por fazer isso se tornar realidade!
Não posso esquecer da minha família, que mesmo não tendo
ideia de que isso está acontecendo (risos de nervoso), eles não
saíram do meu pensamento, nunca.
E pai, obrigada por me apresentar os Stones. Hoje, o rock
está no meu sangue graças a você!

MUITO OBRIGADA, de coração, a todos!


Carol M. C., nasci e fui criada em São Paulo, capital.
Formada em Relações Internacionais e em Marketing, tendo um
toque de escritora desde sempre. Nestes meus trinta anos, escrevi
muito, mais com meu trabalho em conteúdo e marketing digital do
que qualquer outra coisa.
Meu primeiro artigo científico publicado pela UNESP foi,
também, a minha primeira publicação conhecida — nacional e
internacionalmente —, ainda quando eu era uma garota cursando
Relações Internacionais, com o desejo de mudar o mundo,
colocando o sofrimento das mulheres em zonas de conflito pelo
mundo no “papel”.
Hoje, tenho a chance de publicar meu primeiro trabalho
voltado ao romance erótico… com um leve toque de drama e
comédia. Espero que goste de ler tanto quanto eu gostei de
escrever!

@carolmcescritora
[1]
Furby é um brinquedo parecido com uma coruja, que foi comercializado pela
Tiger Electronics, e sucesso de vendas no final da década de 1990.
Posteriormente, foi comercializado pela Hasbro, entre 2005 e 2007, e relançado
em 2012.
[2]
Um dos protagonistas da série de ficção científica The X-Files, também
conhecida pelos brasileiros como Arquivo X. William Mulder é um personagem
que trabalha como agente do FBI.
[3]
Boho vem da expressão Bohemian Chic, termo em inglês que se refere ao
estilo boêmio contemporâneo.
[4]
“Vamos abraçar o ponto sem retorno”
[5]
Hora de ir, todos para fora. O FBI está aqui! Todos para fora! Vamos, vamos,
vamos!
[6]
O Apfelstrudel (significando redemoinho de maçã) é uma sobremesa tradicional
austríaca, nascida em Viena, tendo-se tornado popular internacionalmente.
[7]
IRA - Irish Republican Army (Exército Republicano Irlandês)

[8]
Noob (ou n00b) é uma gíria que significa “novato”. É popularmente usada em
comunidades de jogos online pelos jogadores mais experientes.
[9]
Derivado do famoso diálogo "Run, Forrest, Run", do filme Forrest Gump.
[10]
“Todos os véus e neblinas, ruas de azul…”
[11]
“Parecem amêndoas, que rodam frias. Algum momento de seda, vai para
sempre. E estamos deixando corações partidos para trás, uhum…”
[12]
“Mistifique, mistifique-me…"
[13]
“[...] Em tudo o que existe, bem, ninguém tem a sua beleza! Eu vejo seu rosto
e eu vou sobreviver, uhum. Mistifique, mistifica-me, mistifique, mistifica-meeee…”
[14]
Eternamente selvagem com o poder para fazer com que cada momento que
vêm vivo. Todas aquelas estrelas que brilham em cima de você vão beijá-las
todas as noites. Todos os véus e neblinas. Ruas de azul. Parecem amêndoas que
rodam frias. Algum momento de seda, vai para seeempre. E estamos deixando,
sim, estamos deixando para trás corações partidos, uhum!
[15]
“Mistifique, mistifique-me… Mistifique, mistifique-me. Mistifique…”
[16]
Referência a série de animação, voltada para o público infantil, onde o
personagem principal é um pinguim.
[17]
Orfanato Sagrado Coração de Maria.
[18]
O conceito de burlesco está associado ao teatro de variedades. Trata-se de
obras de paródia que apresentam influências do cabaret.
[19]
MILF, Mothers I'd Like to Fuck. Termo utilizado para fetiche sexual com
mulheres mais velhas, traduzido de forma literal: “Mãe que eu gostaria de foder”.
[20]
Um banco traseiro com a amante, é sempre encoberto. E eu falo com seu pai,
que diz: Você ainda não viu nada até que esteja caído. Então certeza que há uma
mudança no seu jeito.
[21]
Barulhos de sininhos.
[22]
Chega de risadas despreocupadas. Silêncio para sempre! Andando por uma
casa vazia, lágrimas nos olhos. Aqui é onde a história termina, isso é adeus. ME
CONHECENDO, CONHECENDO VOCÊ!
[23]
Não há nada que possamos fazer! Me conhecendo, conhecendo você, só
temos que encarar que desta vezzzz terminamos!
[24]
Desta vez terminamos!
[25]
Terminar nunca é fácil, eu sei, mas tenho que ir!
[26]
Eu tenho que ir, desta vez eu sei!
[27]
Me conhecendo, conhecendo você, é o melhor que posso fazer!
[28]
Memórias…
[29]
Bons dias...
[30]
Dias ruins…
[31]
Estarão sempre comigo...
[32]
Deite um sussurro no meu travesseiro. Deixe o inverno no chão... Acordo
sozinho, há um ar de silêncio, no quarto e em todos os arredooores...
[33]
Toque-me agora, fecho meus olhos e sonho... DEVE SER AMOOOR, MAS
AGORA ACABOOOU! Deve ter sido bom, mas... eu o perdi de alguma forma...
desde o momento em que nos tocamos até o tempo acabar...
[34]
Cruzamos a linha. Quem empurrou quem? Não importa para você, importa
para mim. Estamos à deriva, mas ainda flutuando. Estou apenas esperando para
ver você cair, meu amor.
[35]
Eu desapareci em você, você desapareceu de mim. Eu te dei tudo o que você
sempre quis, não era o que você queria. Os homens que te amam, você mais
odeia. Eles passam por você como um fantasma, eles procuram por você, mas
seu espírito está no ar. Querida, você não está em lugar nenhum.
[36]
Oh, amor... você diz que no amor não há regras. Oh, amor... querida, você é
tão cruel!
[37]
“Limão. Ver através da luz do sol, ela usava limão”
[38]
“Nunca à luz do dia. Ela vai te fazer chorar. Ela vai fazer você sussurrar e
gemer.”
[39]
“Mas quando você está seco, ela tira água de uma pedra. Eu sinto que estou
lentamente, lentamente, lentamente escorregando para baixo. Eu sinto que não
estou segurando nada. Ela usava limão, para colorir a fria noite cinzenta. Ela tinha
o céu e se segurou com tanta força.”
[40]
“E eu sinto que estou à deriva, à deriva, à deriva da costa. E eu sinto que
estou nadando para ela. Meia-noite é onde o dia começa...”
[41]
"Limão. Veja através da luz do sol. Um homem derrete a areia para que ele
possa ver o mundo lá fora, (Você vai encontrá-la lá). Um homem faz um carro (Ela
é o seu destino) e constrói uma estrada para conduzi-los (Você tem que chegar
até ela). Um homem sonha em ir embora (Ela é imaginação), mas sempre fica
para trás. E estes são os dias em que nosso trabalho se desfez. E estes são os
dias em que procuramos outra coisa”
[42]
Say Yes to the Dress (no Brasil, O Vestido Ideal) é um reality show americano
da rede de TV TLC que segue os eventos da loja de vestidos de noiva Kleinfeld
Bridal em Manhattan.
[43]
“Lugar de Sofya e Shantell”
[44]
“Por favor, permita-me apresentar-me, sou um homem de riqueza e bom
gosto. Eu estive por aí por longos longos anos, roubei a alma e a fé de muitos
homens”
[45]
“Prazer em conhecê-lo, espero que você tenha adivinhado meu nome. Mas o
que está confundindo você é apenas a natureza do meu jogo...”

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