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A
história
ambientada
em
Pelotas
coloca
em
pauta
o
poliamor,
de6inido
como
a
prática,
o
desejo,
ou
a
aceitação
de
ter
mais
de
um
relacionamento
íntimo
simultaneamente
com
o
conhecimento
e
consentimento
de
todos
os
envolvidos.
O
cotidiano
dos
personagens
acaba
por
cruzar
bem
mais
do
que
caminhos,
mas
sim
uma
avalanche
de
emoções
e
surpresas.
Da amizade surgida por interesses comuns, ao
romance inevitável. Em que Lucas se encanta por
Rafaela, que gosta de Eduarda, que deseja uma
noite de prazer com Lucas…
Prefácio
Nunca gostei da ideia de contar nossa história neste livro. O que fazer, se
a Eduarda sempre consegue o que quer? Não via e ainda não vejo motivo
para esta exposição. Não que esteja preocupada com a opinião dos outros,
não estou nem aí para a sociedade.
Nasci e fui criada em um dos bairros mais pobres da cidade. Não tive
nenhuma referência familiar, nenhum exemplo para me espelhar. Meu
irmão mais velho foi o mais próximo desse conceito que eu tive. Ele
aprendeu sozinho e me ensinou a lidar com as dificuldades da violência
constante que havia no bairro marginalizado que a gente morava. E ele era
bom nisso. Mateus era íntimo do chefe do tráfico no nosso bairro e
praticava roubos em lojas do Centro. Não passei fome na infância graças a
ele e essa é a minha única dívida com meu irmão. Odiava o fato de ele
financiar o vício da nossa mãe, que com frequência estava em algum bar.
Meu pai se mandou quando eu tinha dois anos. Minha mãe, nas poucas
vezes em que estava sóbria, sempre falava no seu pai militar – fazia questão
de não revelar o nome dele –, e da vida rica que ela teve na adolescência.
Aos 15 anos eu já tinha tido experiência com alguns tipos de drogas e
passei a assumir a minha homossexualidade entre meus amigos, embora
nunca tivesse tido dúvida quanto a isso e nem feito esforço para esconder.
Eu gostava de meninas, e daí? Era assunto meu e ninguém tinha nada que
ver com isso. Logo vieram minhas primeiras paixonites e aos 16 anos, a
primeira namoradinha. Quando meu irmão ficou sabendo, ameaçou me dar
uma surra. Disse que eu podia ser puta, drogada ou qualquer outra coisa,
mas que uma maldita sapata ele não ia sustentar. O maninho me deu 30
dias para sair de casa e sumir da vida dele. E foi o que eu fiz.
Nunca me permiti chegar perto de me tornar uma viciada. Decidi que ia
lutar por uma vida mais digna e que seria dona do meu nariz. Consegui um
quarto numa pensão no Centro da cidade. O dono era um antigo vizinho lá
do bairro. O cara tinha batalhado para melhorar de vida e fez questão de
me ajudar quando soube da minha situação. Foi ele que me arranjou o
trabalho em uma gráfica expressa. Estudei muito, concluí o Segundo Grau e
- diégui néguis! - consegui uma bolsa para a faculdade de Jornalismo.
Minhas escolhas me levaram até os grandes amores da minha vida. E,
que fique claro, não acredito nessa palhaçada de horóscopo e este que
dizem ser meu signo só está constando na minha descrição por pedido (ou
teria sido uma ordem?) da Eduarda.
Se eu tivesse planejado tudo que consta neste livro, não teria dado tão
certo. A verdade é que nunca fui bom em planejamento ou não sei se o
problema era eu, o fato é que, de tudo que eu planejava, nada acontecia
como o esperado. Não tive muitas namoradas na adolescência, casei cedo,
na igreja e tudo quanto manda o regulamento. Também cedo percebi que o
casamento não estava indo bem, então, pedi a separação. Saí de casa com a
certeza de que não voltava. Menos de 30 dias depois de sair, fiquei sabendo
que ela estava grávida. Apesar da pressão, não voltei. Ela não quis assinar a
papelada da separação, disse que eu ia voltar mais cedo ou mais tarde. Não
me importei, tudo que eu queria era paz. Acompanhei a gestação toda de
perto, não posso dizer que éramos amigos, mas aconteceu um longo
período de diplomacia.
Luan nasceu de parto normal e, somando alguns motivos pessoais, eu,
meu filho e a mãe dele fomos todos morar na casa da Kátia, irmã mais velha
da mãe do menino. Para minha ex era como se estivéssemos voltando, não
que eu desse algum tipo de esperança. Estava tão empolgado com a
paternidade que não foi sacrifício algum morar junto com minha ex, claro
que em quartos separados. Eu trocava fraldas, dava banho, embalava na
madrugada quando Luan acordava. Logo depois do aniversário de um ano
do meu filho, sentia que estava na hora de ter o meu canto, seria muito
estranho iniciar um novo relacionamento, morando com a ex. Sair de lá era
minha meta para uma vida nova, mas, como eu já deveria ter me
acostumado, mais uma vez meu planejamento foi por água abaixo. Em uma
tarde como outra qualquer, minha ex teve um mal súbito e morreu.
Em respeito, preferi não inventar um nome fictício e nem mesmo citar o
nome real da mãe do meu filho. O resumo é que ainda estávamos casados
no papel e, assim, aos 22 anos de idade, ganhei o título de viúvo em meu
estado civil.
Kátia, a irmã da ex, pediu que eu continuasse morando na casa dela,
assim ela poderia ficar perto do Luan e me ajudar quando necessário. Nós
dois nos dávamos muito bem e assim ocorreu, até Luan completar seis
anos. Até iniciar a história que será contada nas próximas páginas.
Meu objetivo com esse livro não é buscar uma absolvição pelo crime que
minha família acredita que eu esteja cometendo. Apesar de Lucas e Rafaela
se referirem como o “meu”, ele não é o meu livro. É uma história de amor
incondicional, permissões e desprendimento de tudo aquilo que a
sociedade nos dita como regras. Se este livro alcançar a verdadeira pureza
da história aqui contida, então sua publicação já terá valido a pena.
Sou de uma tradicional família de advogados. Meu avô e o irmão
herdaram do pai a profissão e o escritório de Direito. Meu pai, minha tia e
minha mãe, também formados em Direito, deram continuidade ao ciclo. Em
poucos anos ampliaram o escritório e começaram a atender grandes
empresários de toda a região.
Minha escolha pela faculdade de Direito foi natural. Não por influência,
mas talvez por genética. Uma paixão incontrolável. Tenho personalidade de
sobra. Mas a verdade é que teria enfrentado qualquer um se minha escolha
fosse por outra profissão. Sou filha e neta única, mimada ao extremo.
Apesar de uma família cheia de regras, sempre fiz questão de impor minhas
opiniões e vontades. Foi assim com o início do namoro, aos 14 anos, o
noivado aos 17 e culminou com um “não” no altar, no dia do meu “quase”
casamento.
Mas com tudo isso, um dos maiores desgostos que causei à família, foi
quando, depois de formada, decidi que não iria seguir a tradição e trabalhar
no escritório da família. Na mesma época, minha avozinha faleceu e, depois
de uma briga com meus pais, acabei despejando, sem medir palavras, todas
as minhas opiniões sobre o casamento deles, saí de casa e segui meu
próprio caminho. Para meus pais foi o motivo que faltava para não falarem
mais comigo. Segundo eles, essa foi a pior coisa que eu poderia ter feito.
Não que quisesse provar a eles que podia fazer pior. Mas fazer o quê?
Acabou acontecendo!
Sonho de consumo
por Eduarda
Oportunidades
por Eduarda
O dia estava corrido e a chuva tornava tudo mais complicado. Tinha que
terminar uma petição importante e voltei na gráfica para tirar cópia de um
processo enorme, que precisava ser entregue em uma hora no Foro.
- Por favor querida, vou precisar de uma atenção especial.
- Sim, dona Eduarda, como posso ajudá-la?
- Desculpa, qual o seu nome?
- O meu nome é Rafaela!
- Rafaela, você já sabe o meu nome. Então vamos começar organizando
as coisas. Para início de conversa vamos parar com esse formalismo de
“dona”, pode ser?
- Ok, Eduarda então. Diga-me o que precisa que farei o possível para
ajudá-la.
- Preciso da cópia deste processo inteiro e tenho no máximo uma hora
para entregá-lo. Portanto, necessito da máxima agilidade de vocês! Para
facilitar, vou esperar aqui!
- Vai dar tempo sim. Vou pedir para o pessoal dar prioridade para esse
atendimento.
Quando achei que seria um tédio esperar ali, eis que o sol começa a
brilhar na minha tarde cinzenta. Meu sonho de consumo acabava de entrar
na gráfica, exalando a sua habitual sensualidade. Chegava para acalmar a
minha espera. Olhando mais detalhadamente, eu me perguntava como ele
conseguia sempre manter aquele sorriso incrível no rosto. Estava cheia de
coisas na cabeça, em função dos compromissos daquele dia atribulado, mas
olhar pra aquilo tudo era um bálsamo. Aquele homem conseguia
transformar um cenário banal em um oásis. Enquanto esperava as cópias,
minha cabeça dava voltas pensando em como poderia me aproximar dele.
- Rafaela, por favor, já percebi que hoje definitivamente vou precisar de
uma atenção especial, em todos os sentidos.
- Sim dona, ops... desculpe. Sim, Eduarda...
- Qual o nome dele?
- Dele quem, Eduarda?
- Como, de quem? Do único homem interessante neste momento aqui
nesta gráfica. Eu quero saber o nome daquele sorriso contagiante ali, à
esquerda do balcão.
- Você está falando do Lucas?
- Ah, Lucas!
Delicioso até no nome, pensei na hora.
- A senhora só pode estar de brincadeira!
- Rafaela, não tínhamos combinado que aboliríamos as formalidades a
partir de hoje? Acabo de decretar: a partir deste instante somos amigas, ok?
- Tudo bem Eduarda, amigas!
- O próximo passo então é você me contar mais sobre o Lucas. Por que
essa cara, qual o problema de vocês, meninas de hoje? Vai me dizer que
você não notou nessa bela espécie de homo sapiens que temos bem aqui na
nossa frente?
- Fico feliz com a amizade, mas nunca vi nenhuma bela espécie de
homem circulando por aqui e, nesse caso, muito menos o Lucas.
- Minha menina, você é um caso a ser estudado. Mas nunca tive vocação
para psicóloga. Com o dia que de trabalho que estou enfrentando hoje, a
melhor pedida é relaxar depois que tudo isso terminar. Que tal um happy
hour para debatermos sobre isso tudo e brindarmos essa nova amizade? A
que horas você sai da gráfica?
- Pode ser! Saio às 19h...
- Então está combinado, Rafaela. Pego você aqui e vamos tomar uma
caipirinha e conversar sobre a vida e suas belas espécies. Pego você às 19h
na saída da galeria, pela Gonçalves Chaves. O meu carro é um Citroën C3,
branco, combinado?
- Ãh, está bem. Pela Gonçalves Chaves, então. Estarei lá!
- Combinado, até mais tarde!
- Até mais.
Oportunidades
por Rafaela
Eu não podia acreditar no que tinha acabado de acontecer... A mulher
dos meus sonhos me convida para sair e nosso primeiro encontro é para
falar sobre o ridículo do Lucas?! Caramba, isso só pode ser uma pegadinha
de seja lá quem quer que governe esse Universo.
Mas, tudo bem. Respira fundo, Rafaela. Esta é a minha chance, minha
oportunidade de me aproximar da Eduarda. Como ela mesma disse, agora
somos amigas. Se ela quer saber sobre o babaca e sem graça do Lucas, eu
falo tudo e abro os olhos dela e vou ficando mais próxima. Eu nunca
conseguiria tomar a iniciativa de me aproximar da Eduarda. Mas, já que
aconteceu, não vou desperdiçar... Ao ataque! Cheguem logo, 19h... Cheguem
logo...
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- Como assim, vamos ir todos? Você não entendeu que eu não vou com a
cara do Lucas?
- Calma, Rafaela. Imaginei que você não quisesse mais falar sobre isso.
Por qual motivo mesmo você não vai com a cara dele?
- Não interessa, caramba! E, tem razão, não quero mesmo falar mais
sobre isso... Bom show pra vocês!
- Você disse que é fã dos Beatles. Que pena, porque eu vou de qualquer
jeito e gostaria muito que você fosse junto. Adorei nossa conversa ontem e
seria legal conhecer você melhor. Mas, tudo bem... Qualquer coisa, você tem
meu telefone. Beijos.
Que raiva! Quem ela pensa que é, agindo como se me conhecesse há
anos? E vai embora assim, com esse sorriso no rosto, como se estivesse
certa de que eu vou acabar topando ir neste maldito show. E o pior é que
eu vou...
Nossa conversa foi ótima e, agora que estou conhecendo melhor a
Eduarda, mais eu desejo essa mulher. Não será o chato do Lucas que vai me
fazer perder essa chance. Muito pelo contrário. Vou usar isso a meu favor.
Na quarta-feira mandei uma mensagem para o celular da Eduarda:
[Quero ir ao show com você, mas é muito cedo. Não sei se vai dar tempo
de ir até onde moro para me arrumar e chegar a tempo no teatro. Bjs]
[O.k., façamos assim: 19h pego você aí na gráfica e você toma banho no
meu apartamento. Bjs]
[Combinado então, superbeijo]
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Chegando ao teatro, bem que tentei, mas não encontrei o Lucas em lugar
algum. Para alegria da Rafaela, acabamos assistindo ao show sem ele.
Excelente por sinal, mas longe de ser a minha banda favorita. Insuperáveis
mesmo são os Rolling Stones. O que gostei foi de observar as reações da
Rafaela. Os olhos brilhavam. Ela cantou todas as músicas. Enquanto isso, eu
ficava pensando em todas as coisas que ela contou sobre a sua vida. Era
visível que apesar de uma dureza na forma de se relacionar com as pessoas,
ali estava uma mulher forte, que não tinha se deixado sucumbir mesmo
com tantas dificuldades. Percebi que aos poucos adquiria um carinho
grande por ela. Talvez por carência e pelo fato de ter me afastado tanto da
minha família.
- Vamos embora?
- Claro, gostou do show?
- A melhor coisa que já vi! Acho esse teatro impressionante e o show foi
perfeito.
- Fico feliz. Vamos indo então que eu estou um pouco cansada. Aproveito
e já deixo você em casa, seja onde quer que fique a sua casa.
- Rafaela! Eduarda! E aí, onde vocês estavam?
Já tinha até me esquecido do Lucas ou da possibilidade de encontrar ele.
- Oi, tudo bem? Chegando agora?
- Não, quando eu cheguei o show já tinha começado, mas deu para
assistir à maior parte. Vocês gostaram?
- Eu achei legal, já a Rafaela, amou. Ela teve orgasmos múltiplos ouvindo
e cantando as músicas!
-Ahahahahah, eu também!
- Você também teve orgasmos múltiplos, Lucas?
- Não! Eu também amei o show. Afinal de contas, Beatles é a melhor
banda que já existiu no planeta. O que vocês vão fazer agora? Quem sabe
vamos juntos pro Papuera?
- Perfeito, vamos sim! Você está de carro ou quer uma carona?
Tomar decisões rápidas está no meu DNA. Faço sem pensar, é
automático. Estava indo tudo bem. A Rafaela, ainda com o encanto
proporcionado pelo show, parecia nem se importar com a presença do
Lucas. Mas foi aí que ela lembrou da minha última frase antes do Lucas
aparecer.
- Como assim? Você não acabou de dizer que estava cansada?
- Eu disse um pouco cansada Rafaela, mas sem problemas, se não quiser
ir deixo você primeiro em casa e depois vou com o Lucas para o bar. Mas
adoraria a sua companhia. Vamos lá, o Lucas não morde!
- Pois é, na verdade não sei se eu quero ir...
- Então, quem sabe, fazemos assim: vamos os três para o Papuera e
quando você quiser ir embora, nós vamos. E daí você dorme lá em casa,
pode ser?
Na verdade perguntei só por perguntar, porque já imaginava que Rafaela
aceitaria.
Conversas de bar
por Lucas
Conversa séria
por Eduarda
O jantar
por Rafaela
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O jantar
por Lucas
O primeiro beijo
por Rafaela
Que droga, nunca fiquei tão nervosa... Não resistiria a mais uma noite na
mesma cama com Eduarda. Eu estava bêbada com o vinho e
definitivamente entrando em crise existencial.
Eduarda e Lucas nem aí por irem a uma boate gay e eu superencucada.
Nunca tive paciência com bichas desvairadas nem gostei de levantar a
bandeira LGBT. Gosto de mulher, simples assim... E agora vou numa boate
cheia de estereótipos... Tudo culpa daqueles dois.
Será que nenhum dos dois percebeu que eu sou lésbica? E por que
infernos eu já não disse pra eles? Merda. Todos sabem lá na gráfica, como
esses dois não sabem? Nunca tive problema em dizer e agora me sinto uma
falsa justo com as pessoas mais especiais que já conheci.
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Manhã de sábado
por Eduarda
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- Que horas são? Tenho que pegar o Luan para almoçar e depois levar ele
na apresentação da escola.
- Bom dia gostosão... Calma, praticamente nove horas e o dia está lindo lá
fora. Agora só falta a Rafaela acordar. Você dormiu bem?
- Dormi muito bem, esta cama é enorme...
- Separei uma toalha pra você tomar um banho e aqui tem uma escova de
dentes descartável, destas que eu ganho nos hotéis quando viajo. Veste esse
meu short de pijama, vai servir como samba-canção.
- Você não existe, Eduarda...
- Existo sim. Vá já tomar seu banho que vou ressuscitar esse último
corpo que resta aqui na minha cama.
Lucas foi tomar banho e parti para cima de Rafaela, beijando seus
ombros e assoprando perto do pescoço.
- Bom-dia, minha menina...
- Bom-dia. Nossa, que dor de cabeça.
- Já imaginava isso, toma aqui esse remédio.
- Por favor, me diz que ontem foi um sonho e que o Lucas não dormiu
aqui nessa cama.
- Olha, até posso te dizer isso, mas aí não saberia o que fazer com o
homem que está tomando banho no meu banheiro.
- Estamos todos loucos, só pode ser isso...
- Para Rafaela, não começa, tivemos apenas uma boa noite de sono. E me
diz aí, gostou do beijo dele?
- É muita informação pra mim, não quero falar sobre isso...
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- Mulheres, cheguei!
O corpo do Lucas era algo especial de se olhar e acho que Rafaela
também estava começando a perceber. Era isso ou ela apenas estava
achando graça no short rosa que ele estava usando.
- Aqui está o controle da TV. Você fica aqui na minha cama que a Rafaela
e eu vamos tomar banho e depois vou providenciar alguma coisa para
matar a fome.
O banho
por Rafaela
Eduarda já foi tirando a roupa, fiquei sentada esperando que ela tomasse
o banho primeiro. Com a porta do box aberta, tinha visão privilegiada do
seu corpo.
- Deixa de ser boba, entra logo aqui comigo, faz tempo que ninguém
esfrega as minhas costas.
Não pensei duas vezes e em segundos estava dividindo o chuveiro com
Eduarda. Minha excitação era visível, com nossos corpos se encostando
enquanto a água caía sobre eles.
- Me deixa esfregar as suas costas.
Eduarda colocou as mãos nas minhas costas e com uma esponja de
banho me esfregava com movimentos circulares. Eu estava no paraíso,
aproveitei pra relaxar. Continuei me lavando e discretamente passava as
mãos em meus seios. Isso levou uns bons minutos. Eduarda parou e
inesperadamente apertou delicadamente minhas nádegas.
- Que bumbum lindo, hein menina? Prontinho, agora é a sua vez...
Eduarda colocou mais sabonete líquido na esponja e me entregou para
que esfregasse suas costas. Iniciei fazendo os mesmos movimentos que ela
fez em mim. Com o passar do tempo, comecei a deixar escorregar a esponja
e cada vez mais eram minhas mãos que tocavam seu corpo. Eduarda soltou
um leve sussurro, como quem segura um gemido de prazer. Criei coragem e
avisei:
- Hora da massagem...
Deixei a esponja cair no chão e comecei a massagear as costas dela.
Pressionava seus ombros e o meio das costas, fui chegando perto das
laterais e ela dizia que estava muito bom. Em meus movimentos comecei a
avançar e minhas mãos já encostavam o início dos seios e em parte das
suas nádegas. Instintivamente fui em direção da sua virilha. Subitamente
Eduarda segurou forte minhas mãos, afastando elas de seu corpo.
- Chega de banho por hoje...
Droga. Será que ela ficou chateada comigo? Seu tom de voz continuava o
mesmo. Quando tentava entender o que tinha acontecido, Eduarda me deu
um beijo, como se estivesse beijando o Lucas na noite anterior.
- Vamos que o Lucas está nos esperando...
Pequenas verdades
por Lucas
Brincadeiras na cama
por Rafaela
A vida continua
por Eduarda
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- Oi Lucas.
- Rafaela, Eduarda, este aqui é o Luan e esta é tia dele, a Kátia.
Kátia era uma pessoa muito simpática e comunicativa. Parecia até irmã
do Lucas. Luan era um menino grande pra sua idade e tão comunicativo
quanto o pai e a tia. Ficamos conversando, Kátia, Lucas e eu, enquanto
Rafaela e Luan foram aproveitar para passear entre as bancas e ver de
perto as atividades culturais que estavam acontecendo. Eles se deram
muito bem. Depois de muitas voltas resolveram se juntar ao grupo.
Lucas falou um pouco sobre seus pais, que depois da separação, quando
ainda era criança, ficou decidido que ele ficaria morando aqui na cidade
com seu pai, enquanto Lauro, seu irmão mais velho, iria morar com a mãe
em São Paulo.
Atualmente seu irmão estava morando em Brasília e eles trocavam e-
mails e mensagens pelo Facebook sempre que possível. Seus pais reataram
o relacionamento cerca de oito anos e estavam morando juntos em São
Paulo.
Kátia contou sobre o seu trabalho numa empresa multinacional, com
filiais em três cidades do Estado. Contou que esperava ansiosa por uma
promoção. Luan, que participava da conversa como gente grande, falou
com naturalidade sobre a morte da mãe e disse que uma vez por mês
passava um final de semana com os avós maternos.
Falei sobre a minha juventude. A falta que sentia da minha avó. Contei
sobre a briga que me afastou por completo do convívio dos meus pais e
disse que fazia mais de cinco anos que não nos falávamos. Rafaela apenas
divagou sobre problemas familiares em geral, sem falar sobre os seus.
Mais tarde aconteceu um sarau e nessa hora ficamos em silêncio, atentos
para ouvirmos as poesias. Tudo estava perfeito, mas precisei me despedir.
Tinha que arrumar minhas coisas para viajar na segunda-feira bem cedo.
Voltaria somente sexta-feira.
Fui me despedindo de todos e Kátia fez um convite para almoçarmos na
casa deles no próximo domingo. Aceitei e avisei ao Lucas e a Rafaela que
ligaria para eles durante a semana.
Semanas seguintes
O cinema e a praça
por Lucas
―#―
―#―
Rafaela chegou perto das 16h. Luan ficou um pouco na nossa volta e
depois foi brincar com algumas crianças. Então ficamos ela e eu
conversando sobre a correria da semana, sonhos de criança, experiências
profissionais, estudos e faculdade. Não tinha outras pessoas próximas de
onde estávamos e inesperadamente Rafaela mudou o rumo da conversa:
- Você já teve alguma atração por outro homem?
- Não.
- Nem quando era criança? Nunca rolou essas coisas entre meninos que
dizem que acontece na adolescência?
- Não, acho que não acontece com todo mundo e eu sempre fui desligado
mesmo. Passei a infância em frente à televisão, vendo programas e jogando
videogame.
- E nunca teve curiosidades?
- Claro, normal... Passava muito tempo sozinho em casa e como
morávamos apenas meu pai e eu, ele sempre foi despreocupado. Depois
que completei 14 anos ele me mostrou onde ficavam suas revistas
pornográficas. Ali aprendi algumas coisas...
- Que horror!
- Que horror nada, quando fui contar pros meus amigos da minha idade
que eu tinha visto cenas de sexo, eles riram dizendo que já viam este tipo
de revista há muito tempo...
- E vocês homens, é muito bom quando vocês recebem sexo oral?
- Penso que é o ponto máximo das preliminares e acho que muitas vezes
não nos importamos quando a companheira resolve ir até o final ali
mesmo.
- Que nojo, não acredito que tem mulheres que deixam vocês gozarem
dentro da boca...
- Nojo? Isso vindo de uma mulher que gosta de colocar a língua na...
- Tá, entendido, cada um com suas taras. Mas vai dizer que você não
gosta também?
- Eu, eu não gosto. Eu adoro. Coisa boa sentir uma mulher ficando louca
quando estou brincando com ela, sentindo suas pernas apertando minha
cabeça... E vamos parando por aqui, que estou começando a ficar
empolgado.
- Lucas, você é um quadrinho...
Rafaela foi tirando todas as suas dúvidas sobre o “incrível” universo
masculino e eu respondia a todas as perguntas com detalhes e informações
extras. Resolvi também saber mais sobre o universo dela.
- E você, Rafaela, gosta mais de receber ou de proporcionar sexo oral?
- Não sei responder... Gosto muito das duas coisas. Fico louca quando
estou recebendo, é realmente um carinho que meu corpo agradece. E se
estou gostando de uma mulher, fico completamente realizada quando estou
praticando sexo oral nela. Me sinto no poder da situação. É perfeito quando
você sente tão intimamente que está proporcionando tanto prazer a uma
pessoa que você gosta muito.
- Bom, nisso nós concordamos, coisa boa fazer a mulher que se ama
gozar!
Já estávamos bem próximos, então abracei Rafaela carinhosamente e
beijei sua bochecha.
- Droga!
- Que foi?
- O Marcos, meu colega, ali perto do balanço. Segunda-feira vamos ser o
assunto da vez lá na gráfica.
- Não se preocupe com isso agora.
- Claro, não é você que passa o dia todo no meio daqueles idiotas...
- Somos amigos. Qualquer problema que acontecer, resolveremos juntos.
- Tá bem, não é fácil pra mim, vou tentar não me preocupar com isso. Ao
menos até o final de semana acabar.
- Assim que se fala! E sabe o que vamos fazer? Vamos acompanhar você
até a pensão. Você vai pegar o que precisar e vamos todos lá pra casa. O
Luan dorme comigo e você dorme na cama dele.
- Sério?
- Claro, hoje vou fazer uma pizza pra nós e amanhã ajudamos a Kátia no
preparo do almoço - enquanto esperamos a Eduarda chegar.
Rafaela parecia tão criança quanto o Luan e os dois adoraram a minha
ideia.
Almoço
por Rafaela
Acordei com o Luan pedindo para deitar comigo. Lucas estava na cozinha
preparando o leite dele. Levantei as cobertas e o pequeno acomodou-se na
cama. Fiquei pensando em como o Lucas podia estar solteiro. Via nele as
qualidades que gostaria na pessoa que estivesse ao meu lado. Uma pena ele
não ser mulher. Casava com ele se fosse.
Kátia ajudava em algumas coisas, mas no geral era com ele a correria,
levar e buscar na escolinha, levar a médicos, fazer o leite e tudo mais. A
vida girava mais entre pai e filho mesmo.
―#―
Saudades
por Lucas
Devia ser 16h quando Eduarda disse que estava morrendo de saudades
da sua cama e perguntou se a Rafaela e eu gostaríamos de assistir a um
filme e depois ela contaria mais sobre a viagem.
Fui até o quarto de Kátia, onde ela estava acomodando o Luan que tinha
pegado no sono deitado no sofá da sala.
- Ele continuou dormindo?
- Sim.
- Vou acompanhar as meninas até o apartamento da Eduarda e depois
devo dar mais uma volta. Acho que não vou dormir em casa esta noite. Vou
aproveitar enquanto ainda tenho você por aqui para ficar com o Luan.
- Tudo bem, juízo.
- Pode deixar.
- Lucas, me diz uma coisa que ainda não consegui descobrir?
- O que foi Kátia?
- Qual das duas afinal você está pegando?
- Pegando? Que expressão feia, Kátia. Não estou ficando com nenhuma
das duas.
- Lucas, eu conheço você. Você foi mais meu irmão nestes últimos cinco
anos do que a mãe do Luan, enquanto vivia. Respeito e amo muito você, se
cuide tá? Não vá machucar esse coração de ouro que você tem.
- Obrigado, pode deixar. Amo você também.
Chegamos ao apartamento da Eduarda fomos direto para o quarto. Ela
foi abrindo as malas, falando sobre a semana que passou em Gramado,
providenciando a documentação de uma nova franquia de um cliente.
Enquanto falava, já ia guardando suas roupas nos devidos lugares. Guardou
também as malas e nos mostrou uma sacola cheia de chocolates, trufas e
bombons com licor.
- Lucas, pode ir tomar um banho que esta menina e eu temos conversas
de mulheres e você não é bem-vindo.
- Sim, senhora.
- Tem toalha ali na primeira porta do guarda-roupa e aqui tem um
presente. Comprei uma samba-canção decente pra você. Só que essa fica
sempre aqui em casa. Não quero você usando ela com essas “zinhas” aí na
rua.
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―#―
Eduarda deitou-se no nosso meio e começou a intercalar beijos entre
mim e Rafaela. Esta, que ainda estava completamente acesa, começou a se
acariciar suavemente e sussurrou:
- Eduarda, eu preciso sentir a sua língua em mim, preciso muito...
- Estou exausta e tenho que ser sincera com a minha menina: eu não
conseguiria fazer o que você está me pedindo.
Eduarda iniciou um beijo demorado em Rafaela, como se estivesse
pedindo desculpas. Sempre tive muito prazer em proporcionar sexo oral
nas minhas namoradas e senti um desejo maior ainda, lembrando que
nenhum outro homem teve a oportunidade de provar do sabor de Rafaela.
Cheguei por cima da Eduarda, me juntei ao beijo delas e perguntei,
olhando nos olhos da Rafaela:
- Você confia em mim?
- Sim, eu confio.
Iniciei beijando sua barriga, que sempre foi meu objeto de desejo, depois
fui beijando suas coxas, sua virilha, até chegar ao seu sexo.
Procurei fazer com muita calma. Rafaela tinha um sabor delicioso e já
estava completamente lubrificada. Fui sentindo suas vibrações e
pressionando com a língua as partes que mais respondiam às minhas
caricias. Quando percebi que ela segurou os lençóis e começou a soltar
pequenos gemidos, comecei a intensificar meus movimentos,
especialmente em seu clitóris.
Eduarda agora estava acariciando os seios da Rafaela, que gemia alto e
sem pudor algum segurava minha cabeça ajudando a coordenar meus
movimentos.
Eu podia sentir a musculatura das coxas da Rafaela enquanto ela mexia
os quadris, como se fizesse um esforço para retardar a finalização daquele
ato. Tudo foi ficando mais dinâmico e quase desordenado, até que ela não
resistiu mais e se entregou a um orgasmo intenso e demorado.
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Rafaela agora estava relaxada em cima da cama e eu completamente
excitado, enquanto ainda curtia seu cheiro e seu sabor que estavam
impregnados em mim.
Eduarda percebeu que eu já estava recuperado do último gozo e disse
que me queria dentro dela. Coloquei uma camisinha e, antes da penetração,
aproveitei para deixá-la bem lubrificada enquanto passeava com minha
língua por todo seu sexo.
Iniciamos na posição papai e mamãe e Rafaela aproximou seu corpo do
nosso e constantemente trocávamos beijos. Puxei a Eduarda para perto dos
pés da cama e acomodei dois travesseiros no final de suas costas, ficando
com suas pernas dobradas entreabertas, enquanto eu a penetrava em pé,
colocando mais força nos meus movimentos.
Rafaela agora tinha o resto do corpo de Eduarda disponível para sua
degustação. Ela ficava passeando com suas mãos e dedicava uma atenção
especial com a boca nos seios da Eduarda, que a essa altura já soltava
vários gemidos e palavras obscenas.
Eduarda mandava que eu a penetrasse com mais força e velocidade.
Rafaela lambuzou alguns dedos com sua saliva e levou sua mão em direção
ao sexo da Eduarda. Encaixou seus dedos na região do clitóris e iniciou
movimentos de masturbação.
Meu ritmo acelerado, somado aos estímulos de Rafaela, fez com que
Eduarda soltasse gritos de prazer durante um orgasmo prolongado.
Deitamos os três e ficamos abraçados na cama, suados e entrelaçados,
sentindo nossas respirações, trocando carícias e sorrisos.
―#―
Celebrando a amizade
por Eduarda
―#―
―#―
Acampamento
por Eduarda
―#―
Voltamos para nossa rotina. Luan e Rafaela estavam cada vez mais
apegados. Lucas e eu aproveitávamos algumas tardes para nossas
escapadas sexuais e as brincadeiras a três ficaram limitadas aos finais de
semana, quando deixávamos Luan, no período da tarde, num parque
infantil ou quando ele ficava na casa dos avós.
―#―
Sempre que possível, pensávamos em formas de aproveitar a nossa
amizade e também passávamos bons momentos junto ao Luan.
Estávamos na segunda metade do mês de novembro e os dias
começavam a anunciar a proximidade do verão. Sempre que possível íamos
todos para a praia.
Num domingo qualquer, comendo sorvete, todos estávamos sentados em
frente ao shopping Mar de Dentro quando avistei um antigo namorado. Fui
cumprimentá-lo e ficamos conversando um pouco sobre a vida.
Ciúmes
por Rafaela
Domingo à noite Eduarda e Lucas buscaram Luan na casa dos avós, ela os
deixou em casa e foi embora.
- Oi.
- Oi.
- Você está bem?
- Estou com raiva, quem ela pensa que é?
- Entendo o que você está sentindo, mas Eduarda está certa. Nós não
estamos namorando... Somos bons amigos e, se quisermos, também
podemos nos relacionar com outras pessoas.
- Merda, odeio isso. Você quer se relacionar com outras pessoas?
- Não é esse o caso, não tenho essa necessidade, mas pode vir a
acontecer...
- Acho que você nunca faria isso Lucas, está falando que talvez fizesse
apenas para manter essa sua filosofia de mente aberta.
- O caso é que eu estou satisfeito com a nossa amizade como estava até
hoje. Só que com o que aconteceu nesta tarde, não sei como vamos ficar...
- Gosto muito da Eduarda, vocês dois sabem disso. Vocês podem
continuar se encontrando. Vou sofrer, mas não quero mais vê-la. Se ela
quer ter essa liberdade sexual, vou ter que respeitar. Mas paro por aqui.
Já não me importava em dividir a Eduarda com o Lucas e era tranquilo
saber que eles tinham seus encontros, sem a minha presença, durante a
semana. Mas a possibilidade que outros homens poderiam usufruir do
corpo dela... Não. Isso eu nunca aceitaria.
Feliz Natal
por Lucas
―#―
―#―
Na semana seguinte, Kátia ligou avisando que conseguiria passar o Natal
na nossa casa.
- Alô!
- Oi, como estão as coisas por aí?
- Oi, Kátia! O Luan está com muita saudade de você! Está tudo bem,
dentro do possível. E com você, como estão as coisas aí em Caxias?
- Tudo ótimo! Estou ligando para confirmar: estarei aí dia 24. Vou
almoçar com o pai e a mãe, aproveito e levo o Luan junto e depois nos
juntamos a vocês para passarmos a noite de Natal.
- Que notícia boa!
- E como vão as meninas?
- Elas estão bem, mas aconteceram umas coisas e provavelmente a
Eduarda não vai passar o Natal lá em casa.
- Que chato isso... Bom, estarei aí em breve e se você quiser desabafar
algo com a sua irmã, sabe que pode contar comigo...
- Obrigado, Kátia. Estaremos lhe esperando e vou querer saber como
andam as coisas por aí. Beijos.
- Combinado, Lucas. Beijos para todos.
―#―
―#―
―#―
Reatando
por Eduarda
- Feliz Natal!
Eu dizia em voz alta, sozinha e embriagada, olhando pela janela do meu
apartamento.
- Feliz Natal, sociedade hipócrita!
Olhei no celular, eram quase nove horas da noite. Procurei na agenda o
contato e liguei para o Diego.
- Alô!
- Oi Diego, tudo bem?
- Tudo bem e você? A que devo a honra de receber essa ligação?
- Eu tenho pensado bastante em você desde que nos falamos lá na praia.
- Que notícia boa! E o que está se passando nesta cabecinha?
- Lembrei que sua família não mora na cidade e pensei que se você
estivesse a fim poderia passar a noite aqui comigo.
- Estou na casa de uns amigos, mas até as 23h estarei aí. Pode ser?
- Combinado!
Continuei bebendo. Perto do horário combinado fui tomar um banho
para esperar o Diego. Quando tocou a campainha, fui atender vestindo
apenas um roupão e antes mesmo de fechar a porta já estávamos nos
beijando. Ele foi me levando até o quarto e me jogou na cama. Tirou a roupa
e terminou de retirar o meu roupão.
Beijou todo meu corpo e começou a percorrer minha virilha com os
lábios. Em seguida iniciou a penetração com a língua.
Comecei a ficar inquieta e nervosa. Eu estava na minha cama e olhava
para os lados, procurando encontrar o Lucas e a Rafaela em algum lugar.
Diego deve ter percebido que não estava agradando com o sexo oral.
Levantou e foi pegar uma camisinha, na calça que estava no chão. Colocou e
logo partiu para cima, pronto para a penetração.
Eu não conseguia levar aquilo adiante. Empurrei Diego para o lado e
disse que ele precisava ir embora, que minha ligação tinha sido um erro.
Mesmo indignado ele se vestiu e o acompanhei até a porta, pedindo
desculpas.
Tomei outro banho. Precisava tirar a presença do Diego do meu corpo.
Depois tomei um remédio e me atirei na cama. Meu pensamento girava em
meio a tantas lembranças com Rafaela e Lucas. Lembranças que eu tentava
sufocar nos últimos dias.
Quando estava quase conseguindo dormir, meu celular disparou um
sinal de chegada de mensagem.
[Como você está? Estamos com muita saudade. Mande notícias. Ass.
Lucas e Rafaela]
Comecei a chorar descontroladamente. Cansada emocionalmente e com
o efeito do remédio, acabei pegando no sono.
―#―
Acordei por volta das 9h. Rolei um pouco na cama, fui tomar um banho e
depois preparei um cappuccino para me recompor.
Rafaela e Lucas não saíam do meu pensamento. Peguei meu celular e
respondi a mensagem.
[Preciso de vocês. Têm como aparecer aqui em casa hoje à tarde?]
Cada minuto que passava era uma eternidade para mim. Teria
enlouquecido se a resposta tivesse demorado mais do que cinco minutos.
[Estaremos aí às 15h. Fique bem. Bjs]
―#―
Quando abri a porta, Rafaela e eu nos abraçamos e depois trocamos um
beijo demorado. Dei um selinho em Lucas e levei-os até meu quarto.
- Ontem achei que iria pirar, eu só tinha vocês dois no pensamento...
- Queríamos muito que você estivesse com a gente ontem, na ceia de
Natal. Mas você disse que eu não a deveria mais procurar.
- Sei que eu disse, era o que eu queria, mas não consigo ficar sem vocês.
Rafaela, você precisa entender que eu não estava preparada para rótulos de
relacionamento e embora eu não estivesse dormindo com outras pessoas,
foi muito complicado você me cobrar isso.
- Nunca quis cobrar rótulos, nem estava pedindo pra sair de mãos dadas
na rua com você ou qualquer outra coisa parecida...
- Acho que a Rafaela está dizendo que quer fidelidade sexual, esse é o
ponto aqui.
- Sei disso Lucas, e ainda é complexo pra mim. Mas pensei muito depois
que mandei a mensagem pra vocês. Quero que tudo volte a ser como antes,
e sim, eu sou fiel a vocês.
- Adoro vocês duas e nunca me senti tão completo. Também quero a
gente juntos.
- E você Rafaela, me aceita de volta?
Rafaela me beijou e Lucas logo se juntou a nós. Minha cama, nossa cama,
estava tudo completo novamente.
Novo ano
Réveillon
por Lucas
―#―
Logo chegou o dia vinte de janeiro, formatura da Rafaela. Ela não estava
empolgada, sempre dizia que não se envolveu na organização, que dava
muita briga na hora de definir o tema, a data e tudo mais.
Eduarda ficava brava com o desinteresse da Rafaela e eu
particularmente procurei não opinar.
―#―
―#―
Os aniversários de Eduarda e Luan aconteceriam na última semana de
março e ela programou um final de semana num parque aquático da Região
Metropolitana; 400 quilômetros de viagem e estaríamos lá.
Eduarda estava muito feliz com a viagem e parecia uma criança.
Acompanhou o Luan em todos os tobogãs e brinquedos que o parque
oferecia. Fez questão de satisfazer todas as vontades dele, principalmente
as gastronômicas.
Ao meu lado, Rafaela acompanhava tudo de perto, mas também não
participava de todas mirabolantes diversões aquáticas. Eu estava muito
feliz, nunca tinha pensado em fazer um passeio desses com o Luan e, com
certeza, aquele seria um aniversário inesquecível pra ele e para todos nós.
No domingo passamos a tarde num dos maiores shoppings da capital.
Compramos roupas, brinquedos e alguns livros pro Luan.
A Rafaela e eu inventamos alguma desculpa e saímos juntos para
procurar um presente pra Eduarda, enquanto ela e o Luan jogavam
algumas partidas nos fliperamas.
Rafaela comprou uma almofada especial para usar o computador na
cama e eu comprei o DVD Três formas de amar, um filme polêmico dos anos
noventa que conta o relacionamento entre três estudantes: Alex, uma
menina com nome masculino, que equivocadamente é selecionada para
dividir um dormitório com dois meninos. Ela tenta reparar o erro, mas a
direção da universidade informa que ela vai ter que ficar no quarto até que
sobre uma vaga nos dormitórios femininos. Durante a história nasce uma
forte amizade e ocorre o envolvimento sexual entre os três personagens.
Não lembrava de todo o enredo, apenas que algumas complicações
aconteciam e que eles não ficariam juntos no final. Mesmo assim, achei que
seria bacana assistirmos ao filme juntos.
Mudanças
por Lucas
Iniciou o mês de abril e muitas correspondências chegando, contas de
luz, água, telefone, TV, internet.
- Rafaela, chegou o convite de casamento do meu irmão. Vai ser no mês
que vem, vamos ter que organizar essa viagem pra Brasília.
Continuei abrindo os envelopes e percebi que o da imobiliária estava
com mais papéis do que de costume.
- Droga...
- Que foi Lucas?
- A imobiliária está informando que em trinta dias vai aumentar o
aluguel.
- E eles podem fazer isso?
- Sim, já passou do prazo há muito tempo. Vai completar sete anos de
contrato no mês que vem. Antes de o Luan nascer a Kátia já morava aqui.
- E vai subir muito?
- Vai. E não estava preparado pra isso, acho que vou dar uma olhada em
outros imóveis antes de renovar. Semana que vem eu vejo isso.
- Bom, o Luan e eu estamos prontos. Vá tomar banho que em seguida a
Eduarda vem nos buscar para jantar.
―#―
- Hoje quem vai escolher o nosso pedido é o Luan. O que você está a fim
de comer?
Estávamos jantando e conversando sobre as novidades. Avisei a Eduarda
sobre a data do casamento do Lauro e que eu iria pesquisar o preço dos
aluguéis nas imobiliárias devido ao aviso de reajuste da casa atual. Ela
comentou que isso deveria ser visto com urgência e que, dependendo da
mudança, o Luan teria que ser trocado de escola. Mas que seria tranquilo, já
que o ano letivo estava recém iniciando.
Nossa conversa abriu meus olhos e coloquei como prioridade a procura
desta nova casa.
―#―
Manhã de quarta-feira, iniciando o terceiro dia de buscas nas
imobiliárias, no Centro tudo estava muito caro e não conseguia achar nada
no mesmo bairro onde já morávamos.
[Encontrei a casa perfeita, combina com a Rafaela e encontro vocês na
saída da galeria às 12h. Bj]
Recebi com surpresa a mensagem da Eduarda. Não sabia que ela iria
ajudar na procura. Combinei com Rafaela e nos encontramos todos.
- Vocês vão adorar!
- Onde é essa casa?
- Surpresa! Não vamos demorar a chegar.
- Não tenho como pagar aluguel aqui no Centro, Eduarda.
- Muita calma, eu já pensei em quase tudo...
Eduarda guiava o carro em direção ao bairro do Porto e parou uma
quadra depois da faculdade onde a Rafaela estudava.
- Pronto, chegamos...
Paramos em frente a uma casa grande, antiga e a única certeza que tive
foi de que nunca poderia pagar o aluguel. Eduarda pediu para não falarmos
nada antes de conhecermos a casa toda.
- Aqui no térreo são duas salas grandes, um quarto pequeno, um
banheiro e uma cozinha enorme. Lá em cima tem dois quartos, um
banheiro junto a uma sala pequena e uma suíte grande. Ainda tem a
garagem, o pátio, a lavanderia e uma churrasqueira coberta.
- A casa seria perfeita Eduarda, se eu tivesse dinheiro para a reforma que
ela precisa e, principalmente, para pagar o aluguel...
Rafaela continuava olhando para as paredes e os detalhes da arquitetura
antiga da casa, mas não falava nada.
- Me escutem, o dono é meu cliente e ele sabe que vai ser muito difícil de
alugar e não pretende investir na reforma que ela precisa...
- Voltamos para o início da conversa, não temos como pagar...
- Então, quanto ao aluguel, Lucas, cai pela metade por dois anos se
fizermos a reforma. Fica tranquilo pra pagar. Fiz alguns cálculos. Com o
valor que atualmente vocês pagam naquela casa, mais o que eu pago na
minha sala e mais o que eu posso pegar alugando o meu apartamento, isso
tudo somado, podemos pagar o aluguel dessa casa junto com luz, água e
tudo mais. Ainda sobra para pagarmos uma escola particular pro Luan.
Aqui bem perto tem duas ótimas.
- Você quer morar com a gente?
- Claro, Lucas. Você acha que eu vou deixar vocês morando sem mim
nessa casa enorme?
- Tá, ok. Precisamos respirar um pouco... Você pretende trazer o
escritório pra cá?
- Eu não teria coragem de vender meu apartamento. Foi presente da
minha falecida vozinha. Mas tenho um casal de amigos que tem interesse
em alugá-lo. Tenho um dinheiro guardado que dá para pagar a parte mais
urgente da reforma.
- Tudo isso parece loucura, Eduarda...
- Loucura? Onde está a sua veia empreendedora, Lucas? Eu praticamente
não recebo clientes lá na minha sala. Resolvo tudo e, quando necessário,
vou até eles. Usarei o quarto pequeno que tem aqui no térreo. E você Lucas,
quanto pode economizar estando tão perto do Centro? Pense nas
possibilidades... Além disso, futuramente podemos abrir algo nestas duas
salas.
- Eu fico com estas duas salas!
Finalmente Rafaela resolvera fazer parte do assunto e, para nossa
surpresa, ela apresentou a parte que faltava nos planos de Eduarda.
- Eu posso abrir um café aqui e oferecer serviços de cópias. O dono da
gráfica comprou algumas máquinas novas e vai vender, a preço de banana,
duas antigas, uma de fotocópias e outra de impressão A3, ideal para
imprimir os cartazes e tudo mais dos trabalhos do Lucas. Entendo um
pouco sobre o funcionamento dessas máquinas e conheço todos os
fornecedores.
- Respira um pouco menina.
- Eduarda, essa é minha oportunidade de respirar. Sete anos de
semiescravidão devem ter rendido algo no meu Fundo de Garantia. Sei o
que o pessoal da faculdade quer num local assim tão perto e o Lucas pode
ampliar seus trabalhos. Com o conhecimento dele, mais essas máquinas, o
material para divulgação do café vai ser muito barato.
- Tá bem, eu tô dentro... Vocês são fantásticas! Vou aceitar o dinheiro que
meu irmão sempre me ofereceu, como empréstimo, caso eu abrisse um
negócio pra mim.
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―#―
―#―
Mais uma semana e estávamos prontos para nossa mudança, Luan foi
ficar com a tia Kátia em Caxias do Sul. Ela tirou uns dias para aproveitar e
matar a saudade.
Estávamos os três olhando o quanto a reforma ficou perfeita.
- Rafaela, agora você finalmente pode explicar por que escolheu essa cor
amarela nas paredes das duas salas?
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Sábado estava tudo pronto para receber o nosso amor maior. Meu
coração estava aos pulos quando o táxi estacionou com Luan e Kátia, que
chegavam da rodoviária. Seus olhinhos lindos brilhavam. Ele ficou
maravilhado com as cores e toda a decoração do café, adorou a cozinha
enorme e o pátio. Fomos apresentando todos os cômodos para a Kátia,
subimos as escadas, mostramos a pequena sala-de-estar, o banheiro, o
quarto do Luan, onde ele já foi ficando para bisbilhotar as coisas.
Mostramos o quarto de hóspedes, onde ela dormiria, com a mesma mobília
que Kátia tinha deixado para Rafaela e, finalmente, chegamos até a suíte.
- Então aqui é a suíte?
Kátia perguntou com ênfase, já previsto, e sabíamos que ela seria a
primeira pessoa que deveria conhecer a nossa situação. Aproveitamos que
Luan estava entretido no seu novo quarto e contamos toda nossa história.
- Confesso que não fico surpresa com as informações. Já desconfiava de
algo acontecendo entre vocês e não tenho que me intrometer na vida
pessoal de vocês. Fico preocupada é com a cabeça do Luan, ele me fez
alguns comentários sobre vocês estarem sempre juntos. Claro que eu não
imaginava que estava tudo tão avançado assim...
- Kátia, nós amamos muito o Luan.
Comecei a ficar preocupada com a reação da Kátia, mas ela continuou:
- Eu sei, não tenho dúvidas quanto a isso. Vejo amor em cada canto dessa
casa e nunca vi o Luan tão feliz. Eu conheço você como ninguém, Lucas.
Sempre o apoiei e não vai ser agora que vou deixar de apoiar.
- Obrigado, minha irmã de coração.
- Mas vocês realmente têm consciência do que estão fazendo?
- Nós três estamos tranquilos quanto ao que queremos, não temos
dúvidas do que sentimos - Lucas foi categórico. De resto, somos amigos,
sócios, que moram na mesma casa. Os outros detalhes só interessam a
nossa família e você faz parte dela. Ter o seu apoio, é tudo que precisamos.
- Agora de início, vamos ter que fazer uma encenação pro Luan. Para
todos os efeitos, Lucas e Eduarda estão namorando e a suíte é onde os dois
dormem. O quarto de hospedes é o meu quarto – expliquei. Mais adiante, a
gente vai contar a verdade pra ele, mas cada coisa ao seu tempo.
Casamento
por Rafaela
Divulgação e inauguração
por Lucas
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Intimação
por Eduarda
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A última coisa que gostaria de fazer era entrar no grande escritório dos
Soares e Associados e ter que falar com meu pai. Mas ele estava indo longe
demais e eu não poderia deixar que o Lucas, o Luan e a Rafaela fossem
prejudicados por minha causa.
- Eu quero falar com o doutor Júlio Soares.
- Quem gostaria?
- Pode dizer que é a filha predileta dele.
A menina que atendia na recepção não me conhecia e viu que eu não
estava para brincadeiras. Ela foi pessoalmente à sala do doutor Soares.
- Por aqui, por gentileza.
Entrar naquela sala não foi fácil, e estar ali me trazia dolorosas
recordações.
- Qual o seu problema?
- Eu não tenho problema, quem tem problemas é você. As pessoas estão
comentando por aí que você foi morar com um homem e uma mulher.
- E o que o senhor tem a ver com isso? Sim meu pai, eu moro e durmo na
mesma cama, não com uma, mas com duas pessoas maravilhosas.
- Você está maluca, Eduarda? Assumir um relacionamento a três?
- A vida é minha!
- Não é só sua, tem um menor envolvido nessa vida promíscua que vocês
três escolheram. E aquele não é um ambiente familiar para uma criança.
- E o que o senhor entende de ambiente familiar? Um casamento falido e
a total falta de respeito pelas escolhas da sua própria filha.
- Não estamos tratando aqui sobre a nossa família Eduarda. Estamos
cuidando da guarda do menor que vive na mesma casa onde vocês
inconsequentemente decidiram viver juntos.
- O menor se chama Luan e é responsabilidade do pai dele! Além disso, o
que o senhor entende sobre criar uma criança?
- Então você veio até aqui para debater meus erros como pai?
- Não, doutor Julio, o que está sendo tratado aqui é o que o senhor nunca
aceitou. Que sua única filha queira e possa viver sem as suas regras.
- Sua mãe e eu amamos você.
- Mentira, vocês não têm noção alguma do que seja amar. A única pessoa
que realmente me amava, que me enxergava, não está mais aqui. E vocês
são culpados pela morte da minha avó. Ela sofria com a total frieza que
sempre existiu naquela casa.
- Você não sabe o que está falando!
- Eu sei melhor do que ninguém! Minha avó e eu tínhamos apenas uma à
outra, dentro do castelo de gelo que vocês construíram. Ela sofria calada,
vendo minha mãe se submetendo aos seus caprichos e suas traições.
- Cale a boca, Eduarda!
- Eu não calo e não tenho medo de você! Hoje eu sei o que é morar numa
casa onde o respeito e a felicidade habitam, e não será o senhor que vai
tirar isso de mim!
- Volte para o seu apartamento e evite todo este transtorno.
- Então o doutor está fazendo isso por não suportar os falsos amigos da
sociedade falando da vida da sua filha. Você me dá pena!
- Depois que eu tirar essa criança de dentro daquela casa insalubre, meu
próximo passo vai ser internar você numa clínica psicológica.
- Então é essa a questão aqui, me atingir. Você está usando os avós do
Luan como fantoches para me prejudicar, como forma de castigar a filha
desobediente?
- De alguma maneira você tem que aprender que não pode fazer o que
bem entender.
- Eu tenho nojo de você, seu porco hipócrita.
Perda provisória
por Lucas
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Simpatizantes
por Rafaela
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- Eduarda, tem uma senhora lá na frente que gostaria de falar com você.
- Ela disse o nome dela?
- Sim, se chama Regina.
- Vou lá falar com ela.
Teria que ver com meus próprios olhos para ter certeza de que era quem
eu estava pensando que estava no Submarino Amarelo Café.
- Boa-tarde, doutora Regina Soares. A quem devo esta tão inesperada
visita? Minha mãe, vindo me visitar em pleno horário comercial, em uma
terça-feira?
A pedido de Rafaela, levei minha mãe para conversar na cozinha.
- Então, qual o recado que o papai mandou?
- Não tem recado algum de seu pai, minha filha. Estou aqui por conta
própria. Não vim aqui julgar você e espero que não me julgue. Também não
espero que me perdoe pelo passado.
- Então?
- Acredite ou não, eu vim ver você. Onde está morando e com quem esta
vivendo.
- Você já conheceu a Rafaela e daqui a pouco o Lucas chega com o Luan.
Quer que eu arrume a mesa para o café?
- Abaixe a guarda Eduarda. Sei que perdemos o diálogo de mãe e filha,
mas podemos conversar como duas mulheres adultas.
- Tudo bem. Vamos conversar então...
- Aceitei minha vida ao lado do seu pai, mesmo sabendo de suas traições
com várias mulheres. Sempre dividi seu pai com outras. Não tenho o direito
de dizer que você está errada ao optar por este relacionamento, seja ele
como for. Sei que minhas escolhas prejudicaram você e sua avó. Mesmo
assim, não aceito a sua opção, mas não estou aqui para recriminá-la.
- Abraçoooo!
Luan e Lucas estavam chegando da escola e meu menino veio correndo
para os meus braços.
- Então você é o garoto Luan?
- Lucas, Luan, esta é minha mãe, Regina.
Luan achou o máximo conhecer minha mãe e fez questão de trazer a
gatinha Amarela para mostrar a ela. Lucas falou apenas o necessário.
- Foi um prazer conhecer vocês, mas eu preciso ir.
Acompanhei minha mãe até a porta do carro. Não sabia o que estava
sentindo naquele momento, mas com certeza não diria para ela aparecer
mais vezes.
Já dentro do carro, ela mexeu na bolsa e me alcançou um cartão.
- Esse é o doutor Frederico Moraes, lá da capital. Ligue pra ele, vá até o
seu escritório se for necessário. Ele é o melhor advogado nesses casos
complicados de família e pode ajudar vocês.
- Obrigada.
- Boa sorte. E eu nunca entreguei a você este cartão.
No dia seguinte, liguei para o escritório do doutor Frederico e marquei
uma hora para explicar nosso processo a ele.
―#―
União poliafetiva
por Lucas
As consultas com a psicóloga estavam ficando desgastantes. Luan não
queria mais dormir na casa dos avós. Logo chegou o Dia dos Pais e
passamos o domingo juntos em casa, revendo fotos e vídeos dos primeiros
anos de vida do Luan. O desgaste com todo o processo estava começando
realmente a nos atingir. Rafaela e Eduarda estavam tristes com o
abatimento do nosso pequeno.
Rafaela queria usar parte de sua herança para contratar o doutor
Frederico, o tal advogado especialista em casos de família. Eduarda disse
que não faria diferença contratando ele e que bastariam mais algumas
consultas e a defesa estaria pronta.
―#―
Sentença
por Rafaela
Como fui eu que comecei a contar nossa história neste livro, Eduarda e
Lucas acharam que eu deveria também escrever o último capítulo. Pois
bem...
Um ano se passou desde o início de tudo. Eu já não era mais aquela
pessoa repleta de ódio no coração. Percebi que o que me faltava mesmo era
uma família, um relacionamento, alguém que me completasse... No meu
caso, minhas duas almas gêmeas.
Eduarda também se tornara uma pessoa diferente. Continuava mandona,
a danada, mas já era capaz de ouvir os outros e também se sentia uma
pessoa melhor e realizada afetivamente.
Quanto ao Lucas, continuava a simpatia em pessoa, com seu constante
sorriso no rosto e sua alegria de viver. Ainda era a mesma pessoa por quem
eu me apaixonara à primeira vista, sem nem me dar conta. Olhando de fora,
acho que a minha rejeição imediata a ele foi pânico a tudo o que ele me
fazia sentir, diferente de tudo para o qual eu estava preparada e imaginava
para mim.
Quanto à sentença? Não vou fazer suspense. Luan ficou sob a guarda do
pai e voltou para nossa família. O processo continuaria em andamento, mas
ficamos otimistas e felizes.
Em clima de vitória e alegria entre todos nós, pedi a atenção para
informar duas decisões muito importantes.
- Em primeiro lugar, decidi que não irei para Portugal.
- Você tem certeza, Rafaela?
- Nunca tive tanta certeza, Lucas. Eu não conseguiria passar oito meses
longe de vocês.
- No fundo ficamos felizes com essa notícia. E qual a sua segunda
decisão?
- Essa é a mais importante e ainda não sei como vamos fazer...
- Fazer o quê, Rafaela?
Lucas e Eduarda perguntaram juntos e respondi, com toda a certeza do
mundo.
- Fazer outra criança. Vamos ter mais um filho nosso, dar um irmão
ou irmãzinha pro Luan... Quero ficar grávida!
FIM
Novos tempos
Considerações do autor
Deco Rodrigues
É um observador é um observador. Do cotidiano, das relações, das
cidades, do mundo que gira e se transforma. Natural de Arroio Grande,
passou a infância e a adolescência em Pelotas, viveu por uma década na
capital até escolher voltar para Pelotas e desenvolver seus projetos
pessoais. Apaixonado por gestão de conteúdo web, foi idealizador do E-cult
Mídia Ativa, projeto que valoriza a cultura regional.”Deco” estreia na
literatura com um romance de ficção inspirado em fatos reais, ambientado
em Pelotas.