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Olhar
LARA SMITHE
SENSIBILIDADE
Será possível um amor de infância sobreviver ao
tempo?
Primeira edição
Salvador
Brasil
2018
Capa: Joice S. Dias
Revisão: Lucilene Vieira e Ludmila Fukunaga
Diagramação: Lara Smithe
Brasil - 1993
Dias atuais
Bianca
Meu pai nunca foi pontual. Mesmo quando lhe digo para chegar
no horário, ele sempre se atrasa. Tentei até incentivá-lo, eu o avisei
que faria a sua comida favorita, suflê de queijo, mas nem mesmo
sabendo que comer suflê frio é horrível, ele consegue ser pontual.
Meu celular toca e corro para atendê-lo, mas ao ver a foto no visor,
desanimo. Desligo o celular e me sento no sofá. A campainha toca, e eu
me levanto rapidamente, correndo até a porta. Olho pelo olho mágico
e sorrio.
Abro a porta já dando bronca.
— Poxa, pai, meia hora atrasado! O senhor não muda mesmo.
Meu velho abre os braços, sorrindo. Ele sabe jogar seu charme,
principalmente para a sua filha, que é caidinha por ele.
— Boa noite, minha princesa! Para que a pressa? Por acaso vai
tirar o pai da forca?
— Engraçadinho! — Jogo-me em seus braços e o beijo no rosto. —
Estava fazendo o quê? Já sei, trabalhando. Pai, o senhor tem que se
divertir, viajar, namorar.
Pisco o olho para ele. Ele me dá o braço e vamos para a mesa.
— A conversa já ficou chata, vamos embora que estou com fome.
Cadê o suflê de queijo e a cervejinha gelada?
Papai foge do assunto namoro. Ele namora, mas quando eu digo
“namoro”, me refiro a algo mais sério, como uma mulher para dormir
e acordar ao seu lado. Alguém para cuidar dele quando eu não estiver
presente, principalmente agora, que vou passar alguns meses fora.
— Só o senhor mesmo para comer suflê com cerveja, Deus do céu!
— Filha, gosto e bunda todo mundo tem a sua, portanto, não me
enrola e manda para cá a única loira que gosto gelada.
O nosso jantar é agradável, ele me conta sobre o seu dia no
batalhão. Os olhos dele brilham enquanto conversamos. Mesmo sem
tempo para nada, o meu pai está feliz, agora ele é tenente-coronel, e a
sua vida é uma tremenda bagunça. Quando a mamãe morreu, ele tirou
algum tempo para cuidar de mim, aceitou uma função administrativa
e assim ficava muito mais tempo ao meu lado. Foi assim até que eu
entrei na faculdade, após esse período, ele se entregou de vez à rotina
da polícia.
Depois de me ajudar com a louça, papai e eu vamos para a
varanda. Moro no terceiro andar de um prédio com vista para o mar.
Gosto de escutar o som das ondas, elas me trazem uma nostalgia
gostosa de sentir. Nos sentamos em nossas espreguiçadeiras, ele com
uma cerveja na mão e eu com uma xícara de café.
— Bibi, o que foi? O que você tem de tão urgente para me contar?
Eu te conheço, sei que algo muito sério está te incomodando. É o Leo?
Papai sabe mesmo ler a minha mente. Sempre foi assim, nunca
consegui esconder nada dele. Todas as vezes em que eu estava
passando por alguma adversidade, ele me interpelava e pronto; eu
acabava contando tudo.
— É, papai. Eu descobri uma coisa sobre o Leo e não sei como
resolver isso. Aliás, eu sei, só não sei se é o certo a fazer.
Leonardo é o meu noivo. Estamos juntos desde o meu quinto
semestre da faculdade. Ele era professor, mas não meu, eu fiz
fisioterapia e ele é jornalista. Ficamos noivos há cerca de oito meses e
pretendemos nos casar em dezembro do ano que vem, quer dizer, eu
pretendia, agora não sei se quero me casar.
— O que ele aprontou, minha filha? Quer que eu dê um corretivo
nele? Posso fazer isso, é só pedir...
— Não! Por Deus, pai, que horror! Claro que não quero isso. O
caso é sério, mas não há necessidade de corretivo, e sim de uma
decisão.
Papai me olha, curioso, na certa já pensando o óbvio: traição.
— O sacana te chifrou, foi isso? Filho da puta! Merece um
corretivo bem dado.
— Pai, quer parar? — Começo a me arrepender de chamá-lo para
conversar. — Lembra que o Leo foi fazer aquela reportagem nos
Emirados Árabes? Ele passou três meses lá e voltou há uma semana.
— Lembro.
— Pois é, ele foi com a Vanessa, uma das editoras do jornal. Na
noite do seu retorno, enquanto ele tomava banho, resolvi ver as
filmagens e as fotos da sua câmera. Um dos vídeos que assisti não era
bem sobre o país... — Engulo o bolo nervoso que se forma na minha
garganta. Bebo o café quente para ajudar. — Era uma filmagem dele e
da Vanessa, transando no hotel.
— Que porra é essa, filha?! Essa Vanessa não é casada? Filha de
uma puta rameira! E aí? Você o mandou à merda? Mandou ou não
mandou?
— Pai, eu e o Leo estamos juntos há muito tempo...
— Não, a senhora não vai perdoar esse crápula! Ele merece perder
o pau, filha!
— Senhor Luiz Alberto, se comporte! Eu o chamei aqui para me
ajudar, e não para colocar mais fogo na fogueira.
— Bibi, você o ama? Você ama o Leonardo?
— Eu não sei mais, o problema é justamente esse. Eu pensei que o
amava, ele era... Antes do início desta viagem, ele era, o meu príncipe.
Aquele cara protetor, amigo, companheiro, que nunca me deixava
sozinha, mas depois que ele começou a viajar, ele ficou distante, frio,
mudou muito. Ficou igual aos meus outros namorados.
— Filha, príncipes não existem. Eu já te disse isso. Os homens são
assim, uns filhos da mãe. Alguns são melhores, outros são piores, e
existem aqueles que só matando, tipo o seu noivo.
— Pai, quer parar? O Leo nunca me traiu, foi a primeira vez. Ele
me disse que foi no calor do momento, porque ele estava sem fazer
sexo há três meses, e como os dois estavam trabalhando até tarde, a
câmera estava ligada e eles nem perceberam. Ele me disse que foi só
na quinta taça de vinho que pintou um clima e os dois transaram.
Disse que, no dia seguinte, ficou estranho entre eles, então resolveram
vir embora. Ele nem sabia que tinha filmado a transa. O Leo jurou que
foi só tesão do momento e que a Vanessa ficou tão constrangida que
pediu transferência.
— E você acredita nele? Bibi, se você o ama dê uma nova chance
para o cachorro... desculpe-me! Dê uma nova chance para o Leo, mas
saiba que sempre haverá a sombra da desconfiança pairando sobre a
sua cabeça.
— Eu sei, pai! O problema é justamente esse, eu não sei se quero
lhe dar uma nova chance. Sim, ainda gosto dele e sim, sinto saudades.
Eu já chorei tanto, mas não sei se quero continuar com esse
relacionamento, por isso resolvi aceitar uma proposta de emprego que
a clínica me ofereceu...
— Emprego? — Ele me interrompe — Como assim? Quando você
ia me contar sobre isso? Bibi, você enlouqueceu? Filha, você lutou
tanto por esse emprego, estudou tanto para ser aceita nessa clínica, e
agora vai largar tudo por causa do Leo?
— Não, pai, foi a própria clínica que me ofereceu essa vaga. No
mês passado, fui chamada à sala do diretor e eles me falaram sobre
esse emprego. É uma oportunidade única. Um rico empresário sofreu
um acidente e lesionou a medula espinhal, ele está temporariamente
paraplégico, e como eu sou a mais indicada e especializada nessa área,
a vaga é minha. Pedi um tempo para pensar, já que eu precisava
conversar com o Leo antes, pois será necessário me mudar para a
cidade do cliente e morar na sua propriedade por alguns meses. Já
estava convencida a não aceitar o emprego, porque sei que o Leo não
permitiria, mas depois do que aconteceu, eu aceitei a vaga e viajo
amanhã à noite.
Papai dá um longo gole na sua cerveja, limpa a boca com o dorso
da mão e me olha por um longo tempo.
— Fugir do problema vai adiantar? Não criei você com tanto amor
para que virasse uma fujona.
— Não estou fugindo, pai! Eu só quero um tempo longe de tudo,
para pensar. Eu quero sentir saudades dele, quero ficar com uma
vontade louca de voltar para os seus braços. Se isso não acontecer, vou
saber que fiz a coisa certa. Preciso fazer isso.
— Onde fica essa cidade?
— No interior do nordeste, se chama Rio Doce. O cara é dono da
metade da cidade. Meu patrão disse que ele herdou uma usina de
cana-de-açúcar, e em três anos, duas outras surgiram nos arredores da
cidade. O cara tem o dom para o negócio. Hoje, ele é o maior produtor
da região nordeste. Ele investiu na clínica, vai abrir uma filial na
cidade, é tudo por conta dele. Em troca, ele quer o melhor
fisioterapeuta para ajudá-lo a sair da cadeira de rodas. Será um desafio
para mim, e o senhor sabe que eu adoro desafios.
Recebo um sorriso. Papai se levanta e estende sua mão para mim.
Eu aceito. Sou puxada de encontro ao seu corpo e recebo um abraço.
— Você é meu orgulho, minha filha. Posso levá-la ao aeroporto?
Beijo o rosto do meu querido pai. Eu o amo mais do que tudo na
minha vida.
— Pensei nisso agora, senhor teimoso. — Afasto-me dele, olhando
para aquele rosto querido — Pai, me promete que vai se cuidar? Eu
vou ligar para o senhor todos os dias, pois não sei por quanto tempo
vou ficar fora, portanto, prometa-me que vai se cuidar, promete?
— Sim, senhora, eu prometo — Ele cruza os dedos e os beija de um
lado e de outro — Não se preocupe, princesa. Sou velho de guerra, vou
ficar bem, com saudades, mas vou ficar bem, ok?
— Vê lá, hein, pai. Quando eu chegar na cidade envio todos os
meus contatos novos, e quero que vá me visitar sempre que puder, já
que não poderei me ausentar do emprego.
Bate uma tristeza. Eu nunca fiquei longe do meu pai por muito
tempo, só quando viajava de férias, mas era por, no máximo, quinze
ou vinte dias. Ele é o meu porto seguro, minha bússola. Papai e eu
somos um só. Cuidamos um do outro, sempre foi assim, desde o dia
em que a mamãe morreu. Eu não me lembro da morte dela, mas eu
sabia que ela estava muito doente. Eu tinha apenas cinco anos quando
tudo aconteceu. Só me lembro de sentir muita saudade de um menino
chamado Tito, mas não lembro muito dele, isso se perdeu na minha
memória com o tempo. Papai me disse que ele era um amigo muito
querido e que nós éramos muito unidos, por isso eu sinto tanta falta
dele. Eu acho que ele foi muito especial na minha infância, para
permanecer tanto tempo no meu coração.
Levo papai até o carro. Combino que ele deve vir uma vez por
semana para limpar o meu apartamento e ligar o meu carro, e a cada
quinze dias, ele sairá com ele e o levará para lavar.
Pela manhã, ligo para o Leo. Não quero vê-lo, pois corro o risco de
me arrepender e lhe dar a chance que ele tanto quer, por isso resolvo
conversar via chamada de vídeo. Conto que estou embarcando hoje à
noite para o nordeste e não sei por quanto tempo ficarei por lá. Eu o
deixo livre, ele não precisa ficar preso a mim.
Nosso noivado está em uma pausa, e o nosso casamento suspenso,
ou seja, ele está livre para ficar com quem quiser, e eu também. Estou
nos dando uma prova final, para ver se realmente nos amamos, nos
dando tempo suficiente para ficar longe um do outro e ver se
conseguimos pensar ou querer ficar com outra pessoa. Pedi para que
ele não me ligasse e nem tentasse me encontrar, e se quando eu voltar
ainda existir saudade e paixão entre nós dois, então começaremos do
zero. Ele até tentou me convencer que me ama, pediu perdão, chorou e
suplicou para que eu não desistisse de nós dois, mas fui inflexível, lhe
disse não. Por fim, ele aceitou e nos despedimos pelo telefone, um
adeus magoado e frio.
Talvez não fosse mesmo para acontecer esse relacionamento. Só
agora eu me dou conta de que o Leonardo não é o homem dos meus
sonhos. Não que ele seja feio ou desagradável, ao contrário; o Leo é
lindo, extrovertido, tem personalidade marcante, é inteligente e muito
divertido, mas não é, o meu príncipe.
Desde adolescente que eu idealizo o meu príncipe como alguém
alto, de cabelos loiros escuro, olhos azuis, rosto com traços fortes e
marcantes, carinhoso, atencioso, mandão e muiiito protetor, aquele
cara que cuida do que é seu com extremo zelo. Acho que foi por isso
que eu nunca fiquei por muito tempo com um namorado, sempre
comparava os coitados com o meu príncipe imaginário.
Eu pensei que tinha encontrado no Leo o príncipe dos meus
sonhos, mas me enganei terrivelmente. Acho melhor começar a
procurar e a aceitar os homens normais.
13 de março, Rio Doce, Brasil.
Embarquei para o Nordeste às dezenove horas e vinte minutos, e
cheguei em Rio Doce à zero horas e dez minutos. O motorista que veio
me buscar, no aeroporto da capital, me disse que levaríamos algumas
horas para chegarmos até Rio Doce, pois a rodovia está muito
esburacada. Na verdade, ele foi até modesto quando disse a palavra
“muito”, já que a rodovia parece uma peneira de tantos buracos que
tem, e ela só melhora quando chegamos à entrada da cidade. A estrada
parece uma passarela, de tão lisa que é. O motorista me deixa em um
hotel da cidade, afirmando que virá me pegar na manhã seguinte. Já
está tudo pago, nem preciso passar na recepção, apenas vou direto
para o quarto. Só tenho ânimo para tomar um banho e cair na cama.
Acordo com o toque ininterrupto do meu celular. Estou tão
cansada que nem sinto a vibração do aparelho embaixo do travesseiro.
Ainda muito sonolenta e completamente fora do prumo, eu atendo.
— Alô! — Bocejo, meus olhos tentando se acostumar com a
claridade.
— Bom dia, senhorita Bianca. — Ao reconhecer a voz, dou um pulo
na cama, só então percebo onde estou.
— Bom dia, senhor Almir! Des-desculpe-me, eu... eu...
Olho para o relógio: já são mais de oito horas. Fico
completamente embaraçada e constrangida. Meu primeiro dia de
trabalho, e já estou atrasada.
— Fique tranquila, senhorita. Só liguei para avisá-la que às dez
horas vou pegá-la, no hotel, o senhor Anthony estará à sua espera.
Tudo bem para a senhorita?
— Sim... sim, estarei pronta às dez. Até lá.
Ele desliga, e eu corro para o banheiro, preciso dar um jeito na
minha cara de cansada, não será nada agradável aparecer na frente do
meu mais novo patrão com o aspecto de uma pessoa exausta e toda
maltrapilha.
É o banho mais prazeroso que já tomei, deixo todo o meu cansaço
escorrer pelo ralo. Depois da ducha, visto uma calça jeans escura, uma
blusa de seda bege com gola canoa e abertura feita com botões de
pérolas nos ombros, calço sandálias altas vermelhas, brincos discretos,
no pescoço um cordão de ouro com um pequeno crucifixo, que foi
presente de papai. Dou uma rápida olhada no espelho, para ver se não
exagerei na roupa.
Bem, por ser a minha apresentação, as roupas estão ótimas,
quando eu começar as atividades, as minhas roupas serão outras.
Não gosto muito de maquiagem, mas resolvo usar rímel e um
batom em um tom de rosa.
Você está ótima, Bibi.
Desço para o restaurante, mas antes passo na recepção e peço
para descerem a minha bagagem.
Pontualmente às dez horas, o Almir chega e já coloca a minha
bagagem no carro. Partimos rumo à propriedade do meu contratante.
Depois de sair da cidade, percorremos alguns quilômetros em
uma estrada muito bem cuidada e cercada de girassóis. Olhando para
o horizonte, podemos ver as plantações de cana-de-açúcar. Sinto um
cheiro muito desagradável que começa a me enjoar. Coloco a palma da
mão sobre o nariz, virando o rosto para o lado contrário ao de Almir.
— Logo a senhorita se acostuma com o cheiro. — Ele olha para
mim rapidamente e sorri.
— Me acostumar com o cheiro de merda? — replico, com espanto.
— Nossa! Esse odor acabou com a beleza desse lugar.
Ele solta uma gargalhada.
— Todo lugar com uma usina de cana-de-açúcar tem esse odor, ele
vem da vinhaça... — Ele explica e olha para mim novamente. — A
vinhaça é um produto derivado da produção do álcool, para cada litro
do combustível produzido são extraídos cerca de 13 a 14 litros de
vinhaça. O odor vem da produção, mais precisamente da quantidade
de levedura que fica no álcool, ou seja, acontece uma fermentação no
caldo da cana-de-açúcar e ele se transforma em álcool, e às vezes, por
algum desvio no processo, acaba sobrando um resíduo da vinhaça e,
consequentemente, é esta permanência de resíduo que produz o odor.
Não faz mal ao ser humano, é desagradável, mas com o tempo você se
acostuma.
— Não sei não, talvez eu não me acostume a isso.
O automóvel se afasta dos girassóis, e entramos em uma estrada
cercada de árvores altas de um lado a outro. Vejo alguns pinheiros e
coqueiros, mas as demais árvores são enormes. O odor desagradável
desaparece. O carro anda mais uns vinte minutos, até que avisto um
grande portão de ferro, que ao se abrir me deixa de queixo caído.
Assim que o carro passa pelos portões, posso ver uma enorme
casa branca com tantas portas e janelas nela, que não consigo contá-
las sem apontar. A casa tem estilo colonial, dois andares e está cercada
de um imenso jardim com muitas, muitas árvores. Almir para o carro
em frente a uma enorme escada.
Alguns empregados vêm em nossa direção.
— Leve as bagagens para a casa de hóspede. — Ele diz para um
rapaz, depois se vira para mim. — O senhor Anthony achou melhor
que ficasse na casa de hóspede, você terá mais privacidade.
Eu apenas sorrio para ele. O que posso dizer?
Entramos na grande casa que, por dentro, ela parece ainda maior.
Faço uma avaliação detalhada do local. Em torno da enorme sala
ricamente decorada há uma grande escada e um pequeno elevador
adaptado, provavelmente foi instalado devido ao estado de saúde do
dono da casa.
Almir me pede licença, diz que vai avisar ao senhor Anthony que
eu já cheguei. Ele não demora nem dois minutos.
— Vamos? O Senhor Anthony a espera no gabinete.
Eu o sigo até uma grande porta de madeira escura.
Capítulo 2
Bianca
Anthony
Anthony
Bianca
Acordo antes do meu horário, como tenho feito desde que ela
entrou na minha vida. Como de costume, paro a minha cadeira de
rodas em um lugar onde eu possa ficar sem ser visto.
Bianca já está trabalhando para mim há quinze dias, e ela tem
uma rotina deliciosa, como ficar de calcinha e sutiã na varanda do seu
quarto às cinco da manhã, tomando uma xícara de café fumegante.
Lá está ela, com um lindo sorriso encantador distendendo os seus
lábios e com aquele brilho intenso e sonhador que irradia dos seus
lindos olhos azuis.
Mais uma vez, sonhei com ela. Sonhei que nós nos amávamos no
colchão da sala de reabilitação, local onde todos os dias ela coloca as
suas mãos em mim, o que desperta todos os meus sentidos. Desde o
primeiro dia em que começamos com os exercícios, eu não consigo
mantê-la longe dos meus pensamentos, mesmo sabendo que é
impossível haver qualquer contato mais íntimo, a não ser o
profissional. Minha mente e o meu coração insistem em torná-la tão
real quanto o meu corpo. Todas as vezes em que ela me toca, sinto o
prazer crescer dentro de mim, sinto uma saudade incompreensível.
São sensações adormecidas dentro do meu corpo, mas que me
enlouquecem, e por mais que eu saiba não ser possível, continuo com
essa sensação de que já a conheço de algum lugar. Tenho quase certeza
de que aquelas mãos delicadas já me tocaram antes.
Continuo escondido feito um ladrão, apreciando o valioso objeto
do roubo. Ela está recostada na porta de vidro, deixando os primeiros
raios solares tocarem a sua pele clara. Seus cachos loiros emolduram o
seu rosto angelical, tornando-a muito mais bela. Fico com ciúmes do
sol, desejando estar no seu lugar. Ah, como eu gostaria de aquecer
aquele lindo corpo, de beijar cada pedacinho dele, molhá-lo com a
ponta da minha língua...
Que merda! Estou ficando excitado novamente.
Sinto o prazer aquecer o meu corpo novamente, apenas com a
lembrança do seu abraço e das carícias.... Um arrepio me sacode e o
tesão vem com força. Fico de pau duro. É sempre assim; basta pensar
na Bianca, e a minha excitação vai a pico. Já virou rotina me
masturbar todas as manhãs, logo após o breve show de strip-tease da
minha linda fisioterapeuta.
Levo as mãos à frente da calça do meu pijama e o coloco para fora.
Meu pênis está tão duro que pulsa violentamente
— Ah, Bianca! — Sussurro o seu nome. Meus olhos apreciam a sua
beleza, enquanto minha mão alisa o meu grosso membro,
escorregando para cima e para baixo com precisão. — Bianca! —
Murmuro o seu nome, puxando o ar entre os dentes. Ela sorri e de
repente olha na direção da minha varanda... Merda! Não sei se foi
transmissão de pensamento, mas as mãos dela deslizam pelo seu
corpo. Ela se toca nos seios, barriga e vulva, parando por lá. Meus
olhos acompanham fixamente os movimentos das suas mãos.
Cacete! Ela está se tocando, se alisando com os dedos. É a visão
mais foda dessas últimas semanas.
Aqueles dedos delicados estão fazendo o que eu gostaria de fazer
com a minha língua.
Será que você está se tocando pensando em mim?
Puta merda! Esse pensamento faz com que a minha mão trabalhe
mais rápido. Meu pênis está pronto para penetrá-la.
— Ah, se ela estivesse aqui...
Ela fecha os olhos, e os seus dedos se escondem na sua calcinha...
Cacete! Ela está se tocando de verdade. Bianca morde os lábios, e
posso jurar que ela soltou um gemido de prazer. Não consigo me
conter: minha outra mão vai à frente da minha boca, escondendo o
grunhido que soltei ao gozar feito um adolescente. Um jato quente de
esperma banha o meu peito.
Enquanto acalmo o meu corpo, continuo me masturbando, sem
tirar os olhos dela. Bianca permanece de olhos fechados, se
acariciando. De repente, ela retira o sutiã e deixa à mostra os seios
redondos. Não consigo vê-los direito, mas é o suficiente para me
deixar louco para prová-los. Já estou pronto para o segundo round,
quando ela se vira e entra no quarto, desaparecendo do meu campo de
visão.
Ela se vai, e eu fico literalmente de pau na mão. Para um homem
que há pouco tempo não conseguia sequer ficar excitado por mais do
que dois minutos, ter um orgasmo todas as manhãs, com uma
intensidade tão profunda, é mais do que perfeito. Fico imaginando
como seria tê-la nos meus braços, tocá-la, beijá-la. Talvez eu nunca
saiba a resposta, mas o que sei é que, desde o primeiro dia em que eu a
vi, nenhuma outra mulher conseguiu despertar as minhas emoções.
Fico alguns minutos escondido, ao lado da porta, com a esperança
de que ela volte e que desta vez esteja nua, no entanto, dez minutos
depois, desisto e vou tomar banho. Ainda disponho de algumas horas
para a minha primeira sessão de exercícios, antes disso, eu vou
encontrá-la no café da manhã. Não sei como vou encará-la depois de
vê-la se tocando daquele jeito, está ficando cada dia mais difícil me
controlar perto dela, me controlar a cada toque dos seus dedos em
mim.
Tomo um banho demorado. Hoje eu vou ter um dia cheio. Após os
meus exercícios, vou me encontrar com alguns empresários
estrangeiros na usina Rio Doce e não sei a que horas vou conseguir
sair da reunião. Resolvo descer já usando a roupa de ginástica. Desde
que descobri a minha fraqueza pelas mãos da fisioterapeuta, optei por
usar uma sunga bem apertada por baixo do short e uma camisa mais
comprida e folgada, assim evito o constrangimento se, por acaso, o
cara lá de baixo resolver dar o ar da graça. Sempre que ela me toca o
meu pênis resolve ficar duro.
Quando chego na sala de jantar, escuto a voz suave de Bianca, ela
conversa com Mercedes.
Novamente tenho aquela sensação de já conhecê-la. Não consigo
entender o porquê desse sentimento louco. Basta escutar a sua voz,
olhar nos seus olhos, ver o seu sorriso ou sentir o seu toque, e isso me
remete a uma época do passado, e nela eu sempre me vejo criança,
brincando com a minha coelhinha Bibi, o meu primeiro amor, talvez o
único.
Minha loirinha linda e delicada. Eu só tinha oito anos e já a
amava, eu já a queria para sempre. Tenho certeza de que se aquela
tragédia não tivesse acontecido, hoje nós dois estaríamos casados e
com alguns molequinhos correndo pela casa. Sofri muito com a nossa
separação, até fiquei doente. Meus avós ainda tentaram encontrá-la,
mas a família da Bibi desapareceu da face da terra. Por longos anos, eu
carreguei essa saudade dentro do meu peito, a dor da distância e
aquela sensação de que algo havia sido arrancado de dentro de mim.
Foram tempos difíceis, e mesmo conseguindo superar e me conformar,
eu jamais esqueci. A minha coelhinha continua viva no meu peito, e
ninguém no mundo vai roubar o seu lugar, mesmo sabendo que eu
nunca vou vê-la novamente.
Escuto uma gargalhada sonora. Alguém está se divertindo. Me
aproximo devagar.
— Posso saber o motivo de tanta alegria? Eu também quero rir. —
Bianca me olha, surpresa, seus olhos baixam tão logo encontram os
meus. — Posso participar? Ou é uma conversa de meninas? — Ela
espera que eu me cale. Eu a olho fixamente, e ela levanta os seus
longos cílios e sorri.
Foram apenas alguns segundos de puro êxtase, mas eu consegui
dominar o seu olhar. Seus lindos olhos azuis dançam sobre o meu
rosto. A inesperada proximidade me faz estremecer. Eu tinha me
esquecido o quanto ela perturba os meus sentidos.
— Não foi nada, senhor Anthony. A senhorita Bianca me
perguntou o que fazemos por aqui para nos divertir, e eu respondi que
muita gente gosta de tomar banho pelado na cachoeira.
Quem gargalha agora sou eu.
— Mercedes, isso é coisa que se diga para a nossa visitante? O que
ela vai pensar de nós? Agora ela deve achar que somos um bando de
caipiras tarados.
— Mas é verdade, senhor Anthony. Eu mesma já tomei muito
banho pelada na cachoeira da propriedade, e o Senhor também. Não
se lembra? Eu mesma cansei de ir buscá-lo, seus avós ficavam loucos,
pois o senhor esquecia da vida.
Lembrei-me da minha adolescência, da época em que eu me
sentava à beira do rio, pegava um pedregulho e o atirava na
correnteza. Eu ficava observando a pedrinha resvalar na água com
incrível rapidez e repicar na superfície algumas vezes, até afundar.
— Não esqueci, não, Mercedes. Bons tempos, aqueles. Nunca
imaginei que, ao crescer, viria morar aqui.
Bianca me olha com certa admiração, e novamente fixamos nossos
olhares. Ela está linda, vestida com uma calça legging preta e uma
blusa de malha comprida, com a escrita em letras grandes “Fisio”.
— Eu sempre me imaginei vivendo aqui. — Mercedes faz com que
meus pensamentos se desvaneçam, e desvio o meu olhar na sua
direção — Mesmo depois de me formar, eu acabei voltando para cá —
Bianca olha admirada para ela.
— Formou-se no quê? — Ela pergunta, curiosa.
— Meus padrinhos, os avós do senhor Anthony, pagaram os meus
estudos. Eu me graduei em Assistência Social e falo fluentemente o
inglês, tudo isso graças a eles, mas eu não quis seguir carreira. Eu era
filha única e... deixei alguém me esperando. Meu falecido marido
trabalhava aqui. Eu me casei na capela da propriedade e não pretendo
ir embora, ainda quero criar os filhos do senhor Anthony, mas isso só
vai acontecer se ele não se casar com a senhorita Victoria.
— Mercedes, não é bem assim... — Eu a interrompo. Mercedes se
mexe, inquieta, me encarando.
— O senhor sabe que sim, a sua noiva já deixou bem claro que se o
senhor quiser filhos, terão que adotar um, pois ela não pretende
deformar o seu corpo e nem perder a sua juventude cuidando de
crianças, portanto, eu só verei crianças correndo por esta casa se o
senhor adotar uma ou se casar com outra moça. — Mercedes olha
diretamente para Bianca, e eu também. — Senhorita Bianca, gosta de
crianças? Quer ter quantos filhos?
Bianca fica rubra.
— Eu... eu gosto, sim... — Ela tropeça nas palavras — Bem, se eu
me casar um dia, pretendo ter dois, eu acho que é o bastante. E o
senhor? — Ela dirige a pergunta a mim.
— Quantos a minha futura esposa estiver disposta a me dar. —
Respondo, sem desviar os meus olhos dos dela.
— Então ferrou. Já vou perdendo as esperanças de ver essa casa
cheia de molequinhos saltitantes, pois se depender daquela lá, o
senhor não terá filhos.
Não sei por quê, mas gargalho com vontade. Mercedes franze a
testa e me olha, furiosa.
— Não precisa exagerar, Mercedes. As pessoas mudam de opinião,
e eu nem me casei ainda.
— Se quiser filhos, senhor Anthony, trate de arrumar outra noiva,
e se o senhor me der licença, eu vou mandar servir o café de vocês.
Ela se vira e nos deixa sozinhos. Bianca segura a minha cadeira de
rodas e me empurra até a mesa. A Victória nunca fez isso. Desde o dia
em que eu me sentei nessa cadeira, ela nunca encostou em mim, só
ficamos próximos um do outro na horizontal, ela diz que não se sente
bem me vendo abaixo dela.
As mãos de Bianca pousam nos meus ombros e passam
suavemente por eles. Sinto o calor do carinho, e o meu coração
acelera. Fico com vontade de virar a cadeira e de puxá-la para o meu
colo.
— Não ligue para o que a Mercedes fala, ela nunca negou que não
gosta da Victoria, aliás, nem os meus avós gostavam dela. Meu avô a
chamava de boneca humana inanimada.
Bianca inclina o corpo, ficando bem próximo de mim, e estica o
braço para travar a minha cadeira. Antes de se afastar, ela alisa as
minhas costas carinhosamente, depois senta na cadeira do lado
esquerdo da mesa.
— A Mercedes parece gostar muito do senhor, ela se preocupa com
a sua felicidade, mas o importante é que o senhor esteja bem. Se ama a
sua noiva, não tem que se importar com a opinião dos outros,
portanto, não posso e nem devo me meter, afinal eu nem a conheço.
— Eu sei, nunca me importei com a opinião dos outros. Se fosse
assim, não teria nem começado a namorar com a Victoria. — Bianca
serve o café, coloca duas colheres de açúcar e leite, corta o meu pão,
coloca queijo coalho, presunto e um pouco de geleia de ameixa, parte o
pão ao meio e coloca o prato na minha frente.
Eu nunca tinha dito para ela que gostava de pão com presunto,
queijo branco e geleia de ameixa, só as pessoas mais próximas a mim
sabiam disso, e eu não me lembro de ter feito isso no nosso último café
da manhã, esta é a primeira vez que a Mercedes serve isso à mesa.
Para a minha surpresa, ela se serve exatamente da mesma forma.
Não consigo acreditar no que estou vendo, finalmente encontrei uma
pessoa com o mesmo paladar que o meu, só falta ela me dizer que
gosta de doce de jaca mole.
— Bianca, você gosta de doce de jaca mole? — Resolvo arriscar.
— Adoro! Mas na minha cidade não encontro, faz anos que não
como o meu doce favorito.
Olho para ela, incrédulo. Suspiro.
— Seus problemas acabaram — Digo, rindo — Mercedes! —
Mercedes vem até nós. — Traga duas taças de doce de jaca mole,
acabei de encontrar uma companheira de garfo. — Bianca me olha,
admirada, e a Mercedes sai toda feliz da sala de jantar.
Fazemos a festa com o doce que nos servem. Parecemos crianças,
nos deliciando com o nosso manjar dos deuses. Lembro-me da minha
coelhinha, aprendi a gostar de doce da jaca mole com ela. Bibi adorava
esse doce, o seu pai sempre trazia um pote que ela dividia comigo,
quando voltava do quartel. Desde então, ele virou o meu doce favorito.
Satisfeitos e quase empanturrados de tanto comer, seguimos para
a sala de exercícios.
Bianca me ajuda a sair da cadeira. A princípio, estranhei esse
tratamento cuidadoso que ela tem comigo, eu ficava um pouco
incomodado, pois a última coisa que eu queria era que tivessem pena
de mim. Mas, ao sentir a sua preocupação e o seu zelo comigo, todas as
minhas barreiras foram derrubadas. Eu fico satisfeito de saber que, se
eu precisar de ajuda, ela estará ali do meu lado, pronta para me
estender a mão.
Ela me coloca no colchão e se senta entre as minhas pernas,
colocando as suas por baixo das minhas coxas.
— Senhor Anthony, hoje nós vamos fazer um exercício diferente.
Eu vou erguer as suas pernas e colocá-las nos meus ombros, uma em
cada ombro, depois vou inclinar o meu corpo para frente, até que eu
encoste o meu peito no seu abdômen. Com esse exercício, as suas
pernas serão levadas à frente do seu tórax, mas não deixe de me avisar
se sentir alguma dor ou desconforto, ok?
Seus olhos azuis me olham atentamente. Quem está diante de
mim é a profissional Bianca. Séria, competente e atenciosa.
— Bianca, eu estou morto da cintura para baixo, qual é a dor ou o
desconforto que eu poderia sentir? Pode fazer o que quiser que... Ai! —
Sinto um beliscão na altura da cintura, um pouco abaixo do meu
umbigo.
— Morto! O senhor está morto? Tem certeza? — Seus olhos se
estreitam quando ela me olha — Já expliquei que o senhor não está
paraplégico, apenas com uma paralisia temporária, os seus reflexos
estão despertando, e logo começará a mover os pés, então pare de se
sentir um aleijado. O senhor é mais homem do que qualquer um que
eu conheço, é questão de tempo para que tudo volte ao normal.
Minhas pernas são suspensas, e ela as segura com as mãos. Bianca
começa a inclinar o seu corpo, o que faz com que ela caia para frente.
Sua cabeça se apoia no meu peito, e então ela me encara. Meus olhos
se perdem naquele rosto lindo, naquela boca tão desejada. A suave
fragrância floral que emana dela inebria os meus sentidos, suscitando
lembranças pecaminosas de hoje cedo. Peço com força para não ficar
de pau duro, pois a minha fisioterapeuta está deitada sobre ele. Meu
coração acelera e, nervoso, eu endireito os meus ombros, respirando
fundo para tentar me acalmar.
— Mas que porra é essa que está acontecendo aqui? — Uma voz
bastante conhecida por mim pragueja sonoramente, ecoando entre as
paredes de vidro. — Quer dizer que eu não posso virar as costas que o
meu noivo resolve me substituir por uma puta? — Ela olha raivosa
para Bianca. — Cai fora, sua filha da puta! Vamos. cai fora... — Bianca
fica sem ação, ela me olha desnorteada — O que você quer? É dinheiro,
é isso? Quanto? R$ 500,00 está bom?
— Victória... Victória... — Ela não me ouve, continua ofendendo a
Bianca. — Victória... Porra, Victória! — Grito. — Cale-se! Essa moça é
uma profissional.
Victória me olha, sorrindo.
— Claro que ela é uma profissional, agora puta virou profissão.
Como é mesmo que chamam? Profissional do sexo ou terapeuta sexual
— Ela diz, com sarcasmo.
— Senhor Anthony, acho melhor eu ir embora, mais tarde
continuamos.
— Como é?! — Victória avança na direção de Bianca. Tento me
levantar para protegê-la, mas o máximo que consigo é ficar sobre os
meus cotovelos — Continuar depois?! Sua putinha! Você quer me
desafiar? Vou lhe mostrar com quem está falando.
— Nem mais um passo, Victória! — Vocifero, e até a Bianca se
assusta. Ela não pode se levantar, pois as minhas pernas ainda estão
sobre os seus ombros. — Toque em um fio de cabelo da Bianca, que eu
vou te mostrar o meu verdadeiro eu... — Olho para a Bianca — Por
favor, baixe as minhas pernas. — Peço, olhando seriamente para o seu
rosto. Ela balança suavemente a cabeça em concordância, baixando as
minhas pernas em seguida. — Obrigado! Victória, peça desculpas para
Bianca.
Victória me olha, com raiva.
— Não vou pedir desculpas para uma garota de programa, isso é
ridículo.
— Ela não é uma garota de programa. Ela é a minha
fisioterapeuta. Se você tivesse atendido aos meus telefonemas ou lido
as minhas mensagens, não teria se prestado a esse papel ridículo.
Agora ande, peça desculpas a Bianca.
Bianca se levanta rapidamente e me olha, nervosa. Ela treme, e eu
não tiro a sua razão, afinal, ser confundida com uma prostituta está
longe de ser algo aprazível.
— Acho que encerramos o nosso treinamento matinal, à tarde
continuamos. Eu acho que vocês têm muito para conversar.
Bianca sai apressadamente da sala.
— Bianca, espere! — Eu olho para Victória, furioso — Não pense
que escapou de lhe pedir desculpas, você vai fazer isso ainda hoje.
Ela faz cara de arrependida, baixa o rosto e fala baixinho:
— O que você queria que eu pensasse? Entro na minha casa e dou
de cara com uma mulher em cima do meu noivo. Eu pensei que ela
estava lhe fazendo um boquete, não me culpe.
Puxo a cadeira de rodas para mais perto, e com muita dificuldade,
consigo me sentar nela. Victória nem se mexe para me ajudar. Movo a
cadeira em direção à porta de saída e vou direto para o meu escritório,
com Victória logo atrás.
— Hei, estou falando com você! Eu tenho ou não tenho razão de
ter pensado tudo isso?
— Não, você não tem razão e nem direito de pensar, pois você
sumiu por quase um mês. Você não tem direito nenhum de me fazer
quaisquer questionamentos.
Ela vem até mim e aponta o dedo na minha cara.
— Pois fique o senhor sabendo que eu não vou admitir que me
chifre. Se não estou ao seu lado, é porque não gosto de vê-lo nessa
cadeira de rodas. O senhor não tem o direito de me destratar desta
forma, eu sou a sua noiva, sua futura esposa.
— Pois não parece! Você age como se fosse uma estranha. Estou
há quase um mês, Victória, um mês, sem notícias suas. Estou farto da
sua indiferença. Se você quiser ser tratada como a minha noiva,
comece a agir como tal.
Ela me empurra com força, e a minha cadeira anda para trás. Seus
olhos faíscam, cheios de raiva. Seus lábios tremem quando ela começa
a esbravejar.
— Vá à merda, Anthony! Eu não vou ficar aqui escutando os seus
desaforos, até parece que não está feliz com a minha volta. Eu aqui,
cheia de saudades de você, e te pego com outra mulher, te pego com
outra sobre o seu corpo, e mesmo assim afirma que eu não tenho
direito de ter ciúmes!? Queria ver se fosse o contrário, se fosse eu no
seu lugar.
Ela se vira e sai batendo os pés, furiosa.
— Victória volte aqui... volte aqui, Victória! Onde você pensa que
vai?
— Vou para o inferno, lá deve estar melhor do que aqui.
Só escuto o som do ronco do motor de seu carro. Será que eu
exagerei na bronca? Acho que eu deveria ter pegado leve. Afinal, ela
tem razão, se fosse eu no seu lugar, agiria da mesma forma, ou até
pior.
Capítulo 7
Bianca
Anthony
Os últimos dois anos da minha vida não foram nada fáceis. Para
um homem acostumado a fazer tudo o que quer e quando quer, viver
limitado a uma cadeira de rodas não é algo que alguém possa olhar e
dizer, “você vai superar isso”. Não, não é.
Comecei minha vida sexual aos dezesseis anos. Alguns homens
consideram isso um começar tarde, mas para mim foi no tempo certo.
Não tive problemas, não tive medo, não fiquei nervoso. Eu sabia
perfeitamente o que fazer e como fazer, e queria muito fazer aquilo. A
minha parceira não era iniciante, fui o segundo homem da sua vida. E
nós fomos muito bem, foi tão bom que ficamos juntos por dois anos,
até que os seus pais foram embora do Brasil.
Depois dela vieram várias, algumas eu tive o prazer de ser o
primeiro, já outras, eram bem descoladas. Quando conheci a Victoria e
nós fizemos sexo pela primeira vez, não tínhamos a intenção de
ficarmos juntos. Ela, assim como eu, não queria compromisso,
gostávamos do lance puramente sexual e nada mais, mas com o passar
do tempo, o “lance” foi ficando sério, até que ela engravidou. Uni o útil
ao agradável, pois a Victoria sempre foi muito boa no sexo, ela é
faminta, assim como eu. Faço de tudo entre quatro paredes, desde que
seja saudável e não ultrapasse o meu limite do que é aceitável.
Quando sofri o acidente e fiquei incapaz de levantar o meu pau,
tudo se complicou. Eu já sabia que o meu relacionamento iria
minguar, que a Victoria não se conformaria com tão pouco, por isso
não me incomodei com as suas viagens, com os sumiços dela. Não sei
se ela é infiel, e nem quero saber, porque se eu descobrir um vestígio
de infidelidade, eu a largo na mesma hora, não sou homem de dividir o
que é meu com outro, e ela sabe disso. Por isso eu confio nela, confio
até que me provem o contrário.
Hoje, depois da nossa discussão, fiquei com uma pulga atrás da
orelha. Essa conversa de tentar outras maneiras de me deixar excitado
não me agradou. Contratar terceiros para se juntar a nós na cama, é o
cúmulo do absurdo. A Victoria acha que eu sou idiota? Ela sabe que eu
jamais vou concordar com uma coisa absurda dessas, prefiro viver
sozinho a ter que dividir a minha mulher com outro homem.
Se eu não sou o suficiente para ela, é melhor acabarmos de uma
vez com essa farsa. Eu preciso me conformar que não sou mais o
homem para ela. Nem para ela, nem para nenhuma outra mulher.
— Merda! Merda! Você é um imbecil! Você é um... um... broxa,
Anthony. É melhor se conformar com isso. Merda! Você já era, já era,
Anthony! Conforme-se, você é só a metade de um homem... só...
— Não é, não.
Sou tomado pelo tom doce da voz que vem da porta do meu
quarto.
O quanto ela escutou dos meus questionamentos?
Ela entra no meu quarto sem pedir licença. Olha para mim com
brandura. Ela está linda com essa pequena camisola verde, encoberta
pelo longo robe de seda bege. Cabelos soltos à vontade, então eu posso
ver o quanto eles são compridos e belos.
— O senhor não é um meio homem, e vou lhe provar isso. — Ela se
senta no colchão e rasteja até mim. — Sei que estou correndo o risco
de perder o meu emprego, sei também que posso ser processada por
assédio, mas não posso deixá-lo na escuridão. — Suas mãos tocam as
minhas pernas em uma carícia delicada.
— Bi-Bianca! O que você pensa que vai... vai fazer? — Engasgo
quando a sua mão pousa na frente da calça do meu pijama. — Cristo!
— Respiro fundo.
— Toco no senhor todos os dias, e sinto a reação do seu corpo,
sinto o arrepio da sua pele, o tremor dos seus músculos quando estão
tensos. Não, senhor Anthony, o senhor não está morto, está muito
vivo.
Surpreso com suas palavras, eu fico em silêncio. Só consigo fixar
os meus olhos arregalados nos olhos dela. Aquela mão alisando o meu
pau faz meu coração dar pulos de alegria. Será que eu estou
sonhando? Ou realmente a mulher que atormenta os meus sentidos,
desde o primeiro dia em que chegou, está aqui mesmo? No meu
quarto, na minha cama, alisando-me com extrema ousadia.
— Bianca... eu não... — Tento falar, e imediatamente paro. Esqueci
completamente o que ia dizer, quando sinto a sua mão circular o meu
pau rijo.
— Shh! Só me sinta, senhor Anthony. Veja como ele reage ao meu
toque, veja como está tão rígido, pulsando entre os meus dedos. Isso
não é a reação de um homem morto, é?
Ela pressiona os dedos sobre o meu pênis, deixando-me doido,
provocando em mim gemidos ofegantes.
— Olhe para ele! Veja como ele está tão lindo, a cabeça tão
brilhante. Juro para o senhor, é o pau mais lindo que eu já vi na vida!
— Bi-Bianca, você não precisa fazer isso. — Ela aperta a glande, e
eu quase grito, preciso engolir a saliva para evitar que isso aconteça —
Bi-Bianca, pelo amor de Deus! Caralho! — Sua mão desce tão
lentamente que eu preciso fechar os meus olhos e levar a cabeça para
trás. — Você vai me matar...
— Não, senhor Anthony, não é minha intenção matá-lo, minha
intenção é lhe dar prazer. O senhor sente isso? Sente o cheiro da sua
excitação, sente o tremor do seu corpo?
Bianca vem para mais perto do meu corpo. Sua outra mão desliza
pelo meu abdômen, até chegar nos meus mamilos. Seus dedos
brincam com eles.
— Puta merda! — Ela belisca os meus mamilos, fixa o seu olhar no
meu e sorri, lambendo os lábios, o que me deixa louco. — Bi-Bianca,
não comece o que você não vai conseguir terminar, porque eu juro que
vou atrás de você.
Bianca não me escuta, ela continua com o tormento das suas duas
mãos, uma no meu pau, subindo e descendo, a outra escorregando até
o meu rosto. Ela desenha os meus lábios com os dedos, seu indicador
penetra na minha boca.
— Chupe-o. — Ela ordena, e eu não espero por uma segunda
ordem, eu o chupo como se fosse o seu clitóris.
Por um instante, sinto um prazer indescritível apenas chupando
aquele dedo. Os mesmos movimentos que eu faço com o seu dedo na
minha boca, ela faz com a sua mão no meu pau. Descontroladamente,
eu a seguro pelos cabelos e a puxo para mim. Minha boca se une a
dela, e mesmo com o seu dedo na minha boca, eu a beijo. É uma luta
boa, luta de línguas e dedo, disputando um mesmo lugar. Ela se afasta,
deixando-me tonto de tanto prazer.
— Não, não me toque. Não é sobre o meu prazer, é sobre o seu,
entendeu?
— Não me deixe louco, Bianca. Eu preciso da sua boca em mim.
— O senhor vai tê-la.
— Caralho, Bianca! Pare de me chamar de Senhor. Se você quer
que essa porra dê certo, é melhor me chamar de “Anthony”.
Consigo finalmente expressar algumas palavras, após esperar que
o meu cérebro se recupere desse turbilhão de emoções.
— Até agora o seu corpo respondeu bem, mesmo eu te chamando
de senhor, mas se quer que eu te chame de Anthony, vou chamá-lo. —
Aqueles lindos olhos se prendem aos meus, e os seus lábios estendem-
se em um lindo sorriso.
Sua cabeça se inclina, e ela espalha beijos pelo meu rosto. Recebo
uma mordida no lóbulo da orelha, meu queixo recebe o mesmo
tratamento. Quando a sua língua escorrega pelo meu pescoço, eu já
não consigo me controlar; gemo alto. Aquela boca sabe o que está
fazendo. Ela sabe onde me tocar. Dentes afiados cravam em torno do
meu mamilo, e eu grito com o prazer que a dor me proporciona, um
calafrio percorre as minhas terminações nervosas. Bianca desliza a
ponta da língua por todo o meu abdômen, e me perco a partir daí, não
consigo mais raciocinar.
Minhas mãos vão direto para os seus cabelos, meus dedos se
entrelaçam nos fios cacheados.
— Bianca — Murmuro o seu nome. Sinto os seus lábios deslizando,
traçando a linha do meu umbigo... Porra, eu estou sentindo isso. —
Bianca, não estou aguentando. — Preciso daquela boca ao redor do
meu pau.
Ela tenta retirar as minhas mãos dos seus cabelos, mas desta vez
não permito. Firmo os meus dedos e os pressiono, e ela solta um
gemido baixo. Aquela língua quente molha a minha pélvis, a cabeça do
meu pau toca no seu rosto. — Cara... alho! Bianca, se você continuar
fazendo isso, com certeza não vou durar muito...
Porra! Ela segura o meu pênis com as duas mãos, lambendo a
cabeça melada. Seus olhos se divertem com o meu desespero, e ela
fecha os lábios em volta da cabeça, mamando-a. — Cristo! — Fecho os
meus olhos com desespero e quase grito. Respiro fundo. Ela sabe
perfeitamente o que está fazendo, e está gostando muito de me ter na
sua boca. O seu olhar me diz que a minha necessidade também é a
dela. Sinto uma onda de calor e desespero quando ela move a cabeça
para frente, chupando a cabeça do meu pau profundamente.
— Filha da mãe!
Meu corpo estremece incontrolavelmente. Ela envolve a mão ao
redor da base e me engole mais um pouco, sua língua aveludada roda
em volta do meu eixo, e a glande encosta no fundo da sua garganta.
Solto os seus cabelos e seguro os lados da sua cabeça, quando ela
começa a me chupar de forma ritmada. Porra, esta é a chupada mais
poderosa de toda a minha vida. Minhas bolas são seguradas e
acariciadas no mesmo ritmo em que o meu pau é devorado. Sua cabeça
sobe e desce, meu pau está saltitando de felicidade, suplicando para
ser cada vez mais devorado. Ela vai mais profundo e fica parada, só a
sua língua trabalha nele.
— Bianca, eu vou gozar... não faz isso que eu vou gozar na sua
boca.
Tento me mover para estocar aquela boca gostosa com força, mas
não consigo mexer o quadril e me amaldiçoo por isso. Acho que ela
percebe o que eu quero, porque sua boca começa a me foder
fortemente, seus movimentos, subindo e descendo, se tornam
frenéticos.
— Você é muito gostosa! Porra, que boca gostosa... — Grunho,
desesperado. Não quero perder essa boca nunca mais. Vou gemendo
enquanto ela move a língua e massageia a cabeça do meu pau. Não sei
como estou conseguindo me manter firme por tanto tempo, pois já
sinto o pulsar do meu membro na sua boca, ele está louco para se
libertar, louco para derramar o seu prazer.
Parte do meu cérebro está gritando para que eu a pegue, puxe e a
faça minha. Você precisa mostrar para ela que também a deseja.
Mas uma outra parte está receosa. E se ela só estiver me fazendo
um favor? Isso me parece bem mais provável. Olho para baixo e lá está
ela, chupando-me com tanto desespero, com tanto prazer.
Não, não é possível que ela não sinta o mesmo que eu estou
sentindo.
Cravo outra vez os meus dedos no seu couro cabeludo e forço sua
cabeça para baixo. Estou muito próximo de atingir o meu prazer, não
quero estragar isso.
Minhas mãos empurram mais e mais a sua cabeça para baixo. Ela
engasga, e eu a puxo um pouco para cima, permitindo que ela respire.
— Bianca eu vou gozar, por favor, solte-me.
Ela não me obedece e faz o contrário, me suga fundo.
Meu pau é totalmente devorado pela sua boca, seus lábios me
prendem suavemente. Não suporto o tesão que percorre todo o meu
corpo, meus pelos se eriçam quando os meus tremores percorrem o
meu sistema nervoso. Derramo o meu prazer no fundo da garganta de
Bianca. A selvageria dos meus espasmos é duramente aceita por ela.
Solto um som gutural de prazer que há tempos não ouço. É um gozo
longo, jatos e jatos de prazer são jorrados na deliciosa boca da minha
fisioterapeuta. Ela apenas move a cabeça, permitindo que o meu
prazer flua, deixando-me ainda mais louco por ela.
Ela me lambe com carinho, meu corpo se acalma, mas meu o
coração não. Ela retira a boca do meu pênis e me olha com tanto
carinho que quase choro. Não consigo me conter e a puxo pelo braço, e
seu corpo trêmulo cai sobre o meu peito, e finalmente eu posso escutar
o descompasso dos seus batimentos cardíacos. Ela está tão
emocionada quanto eu.
Bianca tenta se afastar do meu corpo, mas eu não permito e a
mantenho presa nos meus braços. Não quero cortar a nossa ligação,
ela deve ficar exatamente ali, onde está, nos meus braços.
— Quieta! É aqui que eu quero você, bem perto do meu coração.
Não diga nada, só fique quieta.
Ela ofega contra a minha pele, fica presa ao meu corpo e passa a
aceitar os meus carinhos. Meus dedos roçam os seus cabelos e a pele
macia do seu rosto. Eu poderia morrer agora mesmo que morreria
feliz, pois o meu peito está tomado por uma felicidade arrebatadora.
Se eu pudesse, me levantaria com ela nos meus braços e giraria por
todo o quarto.
Ficamos assim, abraçados por longos e intermináveis minutos, até
que ela se afasta de mim.
Nosso olhar se fixa, e eu vejo o desejo no brilho dos seus olhos.
— Senhor... quer dizer, Anthony, eu preciso ir...
— Não, fique aqui comigo, não precisamos fazer nada se você não
quiser, mas passe a noite comigo.
Puxo-a outra vez para o meu peito, beijando o alto da sua cabeça.
Ela respira profundamente.
— Você sabe que eu não posso... — Ela fica em silêncio por alguns
segundos — sua noiva pode voltar...
Agora sou eu quem a afasta do meu corpo, mas apenas o suficiente
para avaliar o seu rosto.
— Victória não vai voltar mais hoje, e provavelmente nem
amanhã. Durma aqui comigo, só me deixe sentir o seu corpo quente
perto do meu.
— Anthony, isso não vai funcionar, sou a sua fisioterapeuta. A
Victoria é sua noiva, sua futura esposa, eu... eu não sou...
Ela se levanta, e eu não posso reagir, pois ela se afasta
rapidamente de mim. Grito o seu nome, mas ela não me atende.
— Bianca! Volte...
A porta bate fortemente atrás dela. Minutos depois, eu vejo a luz
do seu quarto acesa, mas logo em seguida ela apaga a luz.
Essa é a porra da noite mais longa da minha vida. Meu cérebro,
meu coração e meu corpo viveram sentimentos e emoções conflitantes
por toda a madrugada.
Capítulo 9
Anthony
Fico sem ação, por essa eu não esperava. Será que realmente o pai
da Bianca precisou dela com tanta urgência? Ou foi só uma desculpa
para ela não me encarar, depois de uma noite quente de tesão? Eu sei
que ela me quer tanto quanto eu a quero. Só espero que ela volte,
porque se isso não acontecer, não sei como minha cabeça vai ficar.
Hoje faz doze dias que a Bianca foi visitar o pai na sua cidade.
Fiquei sabendo, por intermédio de um empregado, que ela retornou
ontem à tarde, só não entendo por que ela não me avisou que voltaria
na quinta-feira, já que nós nos falamos na quarta-feira.
Liguei para ela, estava preocupado. Bianca só me ligou no mesmo
dia em que chegou à sua cidade, apenas para explicar o motivo da sua
viagem repentina: seu pai tinha caído e fraturado o tornozelo. Então,
como já tinham passado alguns dias e ela não me ligou mais para dar
notícias, eu resolvi ligar.
Às oito horas da manhã, ela deixou uma mensagem no meu
celular, avisando que a fisioterapia começaria às dez horas. Às nove
horas, eu já estava no meu escritório. De hoje não passa a conversa
que deveríamos ter tido há doze dias. Durante esses dias em que
ficamos longe, eu não consegui parar de pensar nela, meu último e
primeiro pensamento é sempre sobre ela. Meu corpo e meu pau
desejam as mãos dela. Tornei-me um viciado, não estou nem
conseguindo trabalhar direito.
Ligo para a usina e desmarco a minha reunião das onze horas. É
melhor prevenir, pois não sei o que vai acontecer depois da minha
conversa com a Bianca.
Ainda estou falando com a minha secretária, quando batem na
minha porta. Mando entrar, é um dos meus funcionários. Desligo o
celular.
— Desculpe-me, senhor Anthony, mas tem um moço lá fora. Ele
quer falar com a senhorita Bianca. Posso mandá-lo entrar?
Fico curioso para saber quem é o homem que quer falar com a
Bianca, especialmente a uma hora dessas, sendo tão cedo. Peço ao
Joaquim para trazê-lo até mim.
Joaquim vem acompanhado de um homem alto, loiro, forte, olhos
acinzentados e um sorriso simpático. Ele entra e se aproxima da
minha mesa. Antes que ele abra a boca para falar, eu o interrogo:
— Quem é o senhor? O que deseja com a senhorita Bianca? —
Pergunto, avaliando o homem de cima a baixo. Não gosto dele.
— O senhor deve ser o chefe dela. Meu nome é Leonardo Shots, eu
sou o noivo da Bianca.
Ele estende a mão e sorri. Fico momentaneamente paralisado,
minha língua fica grossa e os meus braços endurecem. Meu olhar se
fixa naquele homem que sorri para mim e mantém o braço estendido.
Minha vontade é pedir para o Joaquim mostrar a porta da rua para
ele, ou que eu mesmo o acompanhe até fora da minha propriedade.
Fico enfurecido, meus braços permanecem sobre a mesa. Ele me olha,
apreensivo.
Aperto minhas mãos em punho, fazendo um esforço sobre-
humano para não esmurrar a mesa. Preciso de muita concentração
para esticar o braço e apertar a sua mão.
— Anthony Pimentel — Aceito o seu cumprimento. — Sente-se,
por favor, quer beber alguma coisa?
Odeio diplomacia, minha vontade é de socar a cara dele.
— Não, obrigado! Gostaria de ver a Bianca, resolvi lhe fazer uma
surpresa.
Fico muito mais irritado diante do ar alegre dele. Leonardo me
olha com os olhos brilhando de satisfação, como se estivesse a ponto
de explodir de felicidade. Bianca me disse que eles tinham terminado o
noivado, e agora esse babaca surge aqui, todo sorridente, como se os
dois estivessem em plena harmonia.
Será que ela reatou o noivado? Não, ela não pode fazer isso, não
agora.
— Ela sabe que o senhor viria?
— Não, eu e a Bianca tivemos alguns desentendimentos. Nestes
dias em que ela esteve visitando o pai, eu pude perceber que ela estava
um pouco triste, e tive certeza de que ela está sentindo a minha falta.
Ela é orgulhosa demais para admitir isso, por isso eu resolvi lhe fazer
uma surpresa. Eu a amo e sei que ela me ama, o senhor entende isso,
não é, afinal também está noivo.
Ele aponta para a minha mão direita, onde uma grossa aliança de
ouro branco reluz.
— Sim, eu entendo. — Olho para Joaquim, que nos observa
atentamente. — Joaquim, vá chamar a senhorita Bianca.
— Um momento — Leonardo se levanta — Não fale para ela que
estou aqui. Como eu disse... é uma surpresa. — Ele sorri, sem jeito.
— Vá chamá-la, só lhe diga que eu estou chamando.
Dez minutos depois, ela bate na minha porta e eu peço que entre.
— O senhor mandou me...
Bianca para abruptamente e se afasta da porta, com uma
expressão perplexa. De repente, seus olhos encontram os meus, mas
logo depois se fixam no Leonardo.
Ela mantém seus olhos no ex-noivo, seus olhares parecem duelar
por um tempo indefinido. Ele se aproxima dela e a abraça. Aperto os
meus dedos em uma tentativa de manter o controle. Os lábios dele
tocam o seu rosto. Acho que se eu estivesse de pé, já teria chutado a
bunda desse calhorda.
— Leo-Leonardo — Ela balbucia — O que faz aqui?
Ela o afasta do seu corpo e eu respiro, aliviado.
— Como não conseguimos chegar a um denominador comum
durante essa semana, eu resolvi conhecer o lugar que está te deixando
tão encantada. Pelo jeito que falava daqui, parecia ser o paraíso. A
cidade é realmente linda, e é perfeita para tentarmos um recomeço.
Meus olhos estão atentos a cada gesto dela. Bianca respira fundo e
olha para mim, visivelmente embaraçada.
— O senhor me dá licença? — Ela diz, sem jeito, enquanto puxa o
Leonardo pela mão. Antes de desaparecer ela se vira e diz
apressadamente: — Sinto muito, mas hoje eu não tenho condições de
trabalhar, espero que o senhor me entenda.
Antes que eu possa argumentar qualquer coisa, ela desaparece do
meu escritório.
A raiva come as minhas entranhas. Só não derrubo tudo o que está
sobre a mesa, porque chamaria a atenção dos empregados, mas dou
três murros na mesa e praguejo umas dez vezes a palavra porra.
Nunca senti tanto ódio na minha vida, mas que porra está
acontecendo comigo? Aquela sensação de já conhecê-la está cada vez
mais latente dentro de mim. A vontade de beijá-la, abraçá-la, de sentir
o seu cheiro delicioso, de sentir o calor do seu corpo, domina todo o
meu ser. Não, não é possível. Como posso querer tanto uma pessoa, se
não a conheço bem? Como posso sentir essa força devastadora e
gritante no meu peito, se nunca antes na minha vida eu a toquei?
— Merda!
— Calma, homem! Desse jeito você vai ter um enfarto. — Almir
está parado diante da porta, com um olhar de desconfiança.
— Não bate mais na porta antes de entrar? — Afasto a cadeira de
rodas da mesa e saio de trás dela, indo em direção ao bar.
— Nossa! A coisa foi séria — Ele estreita os olhos na minha
direção. — Para fazer você beber tão cedo, o caso é grave.
Aquele comentário só me faz sentir mais raiva. Como eu gostaria
de ter dado um murro na cara daquele idiota do Leonardo. Eu acho
que se tivesse feito isso, os meus nervos certamente estariam mais
calmos.
— Esse seu nervosismo todo é por causa do homem que saiu de
mãos dadas com a senhorita Bianca, agora há pouco? — Ele me olha
com um ar de deboche.
— Não comece... — Viro o copo de uísque de uma só vez na boca.
— Eles saíram de mãos dadas? — Pergunto, tentando disfarçar a
minha curiosidade, mas acho que não funciona.
— Ela praticamente o arrastou para a casa de hóspedes. — Almir
se senta no sofá que fica de frente para mim e me encara. — Não vai
me dizer que aquele lá é o noivo? — Ao dizer isso, ele coça a cabeça —
Caralho! Agora eu entendi a sua fúria.
— Fúria, mas que mané fúria? Tem alguém furioso aqui? — Almir
solta uma gargalhada irritante.
— Não, mas estou vendo um homem completamente enfurecido e
morrendo de ciúmes aqui.
Olho para ele com fogo nos olhos.
— Cale-se, Almir! Você já está extrapolando os limites da
hierarquia que existe entre nós. — Viro a garrafa na borda do copo e
me sirvo do líquido dourado outra vez.
— Ok — Almir se levanta e vem até mim, retirando o copo da
minha mão. — Agora quem está aqui não é o seu empregado — Suas
duas mãos descansam nos meus ombros — É o seu amigo de longa
data, que vai lhe dizer umas boas verdades. A primeira delas é que
encher a cara não vai adiantar — Ele vai para trás da cadeira e me
afasta do bar. — Qual é, Tony, a quem você quer enganar?
Olho para ele, surpreso. Não imaginei que os meus sentimentos
eram tão evidentes.
— Acho que você anda passando tempo demais no canavial, o sol
está lhe fazendo mal.
— Não se faça de desentendido, Tony. Eu sei, vejo nos seus olhos o
fogo da paixão flamejando toda vez que você olha para a Bianca. —
Almir certamente ficou doido. Eu olho para ele com impaciência.
— Paixão!? Enlouqueceu? Eu conheço a Bianca há pouco menos
de um mês, e você quer me dizer que eu já estou apaixonado por ela?
Qual é, Almir, você está me estranhando, acha que eu sou um
adolescente?
— Sim, paixão, meu amigo. Assim que se olharam, vocês se
apaixonaram. Eu vi como ambos ficaram, tanto você quanto ela se
tornaram pálidos, trêmulos, completamente desconcertados um
diante do outro. Ela chegou até a passar mal, e não foi apenas eu que
notei isso, até a Mercedes já andou falando sobre isso, ela também
percebeu os olhares que um dirige para o outro.
— Sinto decepcioná-lo, mas você enlouqueceu. — Volto para a
minha mesa, abro a gaveta, retiro um caderno de lá e começo a folheá-
lo. — Se você não se lembra, é meu dever lembrá-lo que eu sou noivo, e
ela também. Somos comprometidos com pessoas diferentes. — Jogo o
caderno de lado e o olho seriamente.
— E onde está a sua noiva agora? Hein!? Cadê o amor da sua vida,
cadê a mulher que vai ser a sua companheira para o resto da sua vida?
Essa seria a Victoria? É essa, a mulher que quer ao seu lado para
sempre? Não seja tolo, Tony! Você não a ama, nunca a amou, chega!
Chega de se iludir, a Bianca é a mulher que você sempre sonhou. Você
muda quando está ao lado dela, seus olhos brilham, o seu sorriso se
expande, sua voz fica doce. E quanto a ela... ela só falta se jogar nos
seus braços.
— Chega! — Eu o interrompo — Você não tem coisa melhor para
fazer, do que ficar me enchendo de merda?
— Tony, jogue fora o seu orgulho, não deixe aquela moça escapar
por entre os seus dedos — Ele aponta em direção à casa de hóspedes —
Aquele babaca não tem chance nenhuma, só depende de você. — Ele
acrescenta, enquanto se dirige para a porta.
Almir vai embora, e eu fico pensativo, refletindo sobre tudo o que
ele acabou de me dizer. Será que eu realmente estou apaixonado pela
Bianca? Será que ela sente o mesmo por mim? Não, isso não é
possível. Como pode, um sentimento tão forte, nascer em poucos
segundos? Isso é uma ilusão, nem em romances os amores nascem tão
rápido. Não, o Almir só quer me convencer a terminar o meu noivado
com a Victoria.
— Porra! Eu não estou apaixonado por ela, não estou! — Brado.
Meu celular toca, e atendo. É o Almir, me chamando para
inspecionar a usina Montes Claro. Acho melhor ir, preciso de
distração. Se eu ficar em casa, provavelmente vou bater na porta da
Bianca.
Quando retorno da inspeção, já é tarde. Eu e o Almir almoçamos
na usina e jantamos na cidade. Não queria voltar para casa e encarar a
Bianca com o noivo. Só de pensar nessa hipótese, já vem uma forte
vontade de socar a cara do Leonardo.
Vou direto para o meu quarto. Evito olhar na direção do quarto da
Bianca. Não quero ser surpreendido com dois corpos juntos. Ele
fazendo coisas que eu gostaria de estar fazendo.
Porra! Você gosta de se torturar.
Passo direto para o banheiro. Entro no box e deixo a água
esquentar um pouco, preciso relaxar. Encosto a cadeira de rodas na
parede e deixo minha cabeça pender para trás, até que ela encoste na
parede gelada. Fecho os meus olhos e deixo a água lavar o meu rosto
por alguns segundos. Ela vem na minha lembrança, e imediatamente o
meu corpo desperta.
Vejo a Bianca ajoelhada diante de mim. Tão bonita de joelhos, e
nua, seus seios tocando os meus joelhos, roçando na minha pele.
Minhas mãos tocando o seu rosto com carinho, ela sorrindo para mim
com os olhos brilhando de desejo, suplicando mais e mais pelo meu
toque. Cristo! Eu a quero tanto. Começo a imaginar os meus dedos
percorrendo os seus lábios, delineando aquela boca quente, que eu já
conheci... Caralho! Como quero aquela boca outra vez, engolindo o
meu pau.
Tremo só com esse pensamento. Posso até ouvir a sua voz,
sussurrando o meu nome, enquanto me inclino e beijo a sua boca. Ela
me oferece a sua língua quente, e eu a sugo.
Minhas mãos seguram o meu membro, e começo a me masturbar
lentamente, imaginando serem as mãos da Bianca. Ela se move para
cima e para baixo, enquanto nossas línguas duelam entre si. Meus
tremores sacolejam o meu corpo. Escuto o gemido dela, quando os
meus dedos se entrelaçam nos cabelos cacheados e os puxo com força,
fazendo com que os seus olhos encontrem os meus.
Eles me dizem o quanto ela me quer. Meu cérebro rapidamente
me domina por completo. Ainda presa pelas minhas mãos, eu a forço a
olhar para ele... meu membro duro. Lentamente, empurro a sua
cabeça na direção do meu pau. Ela passa as mãos em torno dele,
deslizando até a base e depois subindo até a ponta. Empurro o seu
rosto, e ela obedientemente passa a língua sobre a cabeça, depois
segue até o cume e volta com a língua para baixo, enquanto continua a
mover a mão, para depois me chupar profundamente. Solto sons
enfurecidos, minha respiração está truncada, ela continua me
matando com aquela língua quente, lambendo-me, mordendo-me,
chupando-me, e quando penso que já me tomou por inteiro, ela me
suga muito mais fundo. Juro que sinto o fundo da sua garganta.
Solto um grito abafado e movo a minha mão com mais rapidez,
apertando a cabeça do meu membro com força. Solto outro grito
abafado, enquanto um jato do meu prazer se mistura com a água que
desce da ducha. Espasmos sacodem o meu corpo com violência e grito
o nome dela.
— Bi-Bianca! — Outro jato de prazer vem forte. Estou fodido,
muito fodido.
Termino o meu banho, passo para a outra cadeira de rodas, me
troco e vou me deitar. Viro-me para apagar o abajur... e não deveria ter
olhado na direção do quarto de Bianca.
Eu a vejo. Ele está a beijando. A raiva se apossa de mim, quando
percebo que acabei de perder a única mulher que tem o poder de
despertar o meu corpo morto.
Capítulo 10
Anthony
Anthony
É bom saber que ela está incomodada por ainda estar amarrado a
uma outra pessoa. Logo vou resolver isso, pois eu também não estou
me sentindo bem com essa situação, mas se por um instante perceber
quaisquer insinuações maldosas sobre a conduta dela, ah! Coitada
dessa pessoa.
Por mais que ela tente argumentar, não vai adiantar; eu já estou
decidido a assumi-la como minha noiva, mesmo ainda sendo
comprometido com outra mulher. Mas isso vai mudar logo, logo.
— Anthony, pelo amor de Deus, pare com isso! — Ela diz, quase
implorando — Não somos... — Ela baixa os cílios e engole um soluço.
— O que eu fiz, por acaso eu disse alguma mentira? Você é ou não
é a minha futura esposa? – Olho para ela com a cara mais cínica do
mundo, depois olho para a Gertrudes e pisco um olho.
Gertrudes sai sorrindo e olhando para trás. Espero até que ela
suma e olho para Bianca com um sorriso debochado nos lábios.
Eu a beijo na boca.
— Nem pensar, você vai comer um pouco de cada coisa. Pensa que
eu não percebi o quanto emagreceu? Quero a minha mulher carnuda,
sou carnívoro — belisco a sua cintura, e Bianca se encolhe quando os
meus dedos fazem cócegas no local.
— Sempre! Vou mimar tanto você quando estiver grávida, que vai
desejar ter um filho por ano.
Eu a beijo com paixão, até que ela fique sem ar, e enquanto a
minha língua fode a sua boca, meus dedos beliscam a sua boceta
carnuda.
Capítulo 12
Bianca
Anthony
Anthony
Victória
Bianca
Anthony
Anthony
Anthony
Anthony
Salvador, Brasil
Anthony
MINHA INSENSATEZ
Sinopse
Gustavo
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Notes
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Música: Eu nunca vou deixar você tão só – compositor, Roberto Carlos – Interprete, Liah