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A mesma autora do romance best-seller A Luz do Seu

Olhar
LARA SMITHE

SENSIBILIDADE
Será possível um amor de infância sobreviver ao
tempo?

Primeira edição
Salvador
Brasil
2018
Capa: Joice S. Dias
Revisão: Lucilene Vieira e Ludmila Fukunaga
Diagramação: Lara Smithe

Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o


armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Título original: SENSIBILIDADE


Todos os Direitos reservados
Copyright © 2018 by Lara Smithe
SENSIBILIDADE

O som, o sabor, o olhar, o toque.


Basta só isso para despertar a sensibilidade da alma.
Sumário
Índice
Sumário
Playlist
Agradecimentos
Mensagem
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Próxima História
Outros Romances da Autora
Playlist
Ed Sheeran - Perfect
Tradução
Perfeita
Eu encontrei um amor para mim
Querida, entre de cabeça e me siga
Bem, eu encontrei uma garota, linda e doce
Oh, eu nunca soube que era você quem estava esperando por mim

Porque éramos apenas crianças quando nos apaixonamos


Não sabíamos o que era
Eu não vou desistir de você dessa vez
Mas, querida, apenas me beije devagar
Seu coração é tudo o que eu tenho
E, em seus olhos, você está segurando o meu

Amor, eu estou dançando no escuro


Com você entre meus braços
Descalços na grama
Ouvindo nossa música favorita
Quando você disse que parecia uma bagunça
Eu sussurrei bem baixinho
Mas você ouviu
Querida, você está perfeita essa noite

Bem, eu encontrei uma mulher


Mais forte que qualquer uma que eu conheça
Ela compartilha meus sonhos
Eu espero que um dia eu compartilhe seu lar
Eu encontrei um amor
Para carregar mais do que apenas meus segredos
Para carregar amor, para carregar nossos filhos

Ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados


Lutando contra todas as possibilidades
Eu sei que ficaremos bem desta vez
Querida, apenas segure minha mão
Seja minha garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu futuro em seus olhos
Agradecimentos

Agradeço a DEUS em primeiro lugar. Pois minhas inspirações


vêm dele.
Minhas leitoras amigas do grupo do Whatsapp e do facebook,
por ficarem me cobrando o ebook, elogiando sempre que viam algum
trecho da história. Meninas vocês são maravilhosas.
Obrigada família, por sua paciência e compreensão.
Obrigada, minhas betas maravilhosas, por suas análises
críticas, vocês me ajudaram muito com as opiniões e os conselhos.
Obrigada especialmente a Patrícia, por sua paciência, por me
escutar, me ajudar sempre que eu precisava, não importava a hora.
E aqui está o seu, todo seu... Anthony Pimentel
Mensagem

Ao teu toque te reconheço.


Ao me olhar, lembro de ti, mesmo que não a reconheça.
Quando você sorri, eu vejo ao longe a tua lembrança.
Tua voz, mesmo estando diferente hoje ainda soa com a mesma
melodia do ontem.
O toque, o som, o sabor... tudo isso é suficiente para que eu nunca
te esqueça.
(Lara Smithe)
Sinopse

Amor, palavra pura, doce e complicada.


Anthony e Bianca, ainda crianças, tiveram o vislumbre do amor,
mesmo sem saber o significado desse sentimento, na forma mais
inocente e pura, do tipo em que se originam promessas eternas e
inquebráveis. Só que a vida, com seus caminhos misteriosos, um dia
resolveu afastá-las, e o amor dos dois inocentes foi interrompido, mas
ambos não conseguiram esquecê-lo.
Os vestígios do que sentiram em tão tenra idade impregnou-se em
suas almas, de tal forma que se tornou um vazio que nada ou ninguém
consegue preencher.
Como tudo na vida que vai deve voltar, mais uma vez o destino
resolve mudar a rota dos dois jovens: Bianca e Anthony terão a chance
de se reencontrar, após vinte e quatro anos.
Eles não se reconhecerão, mas as suas almas, sim.
Será que o amor vai florescer novamente no coração dos dois
jovens? Será possível um amor de infância sobreviver ao tempo? Será
que a sensibilidade dos sentimentos de Bianca e Anthony virá à tona?
Dizem que o amor verdadeiro nunca morre. Chegou a hora de os
dois comprovarem isso.
Prólogo

O Brasil, em 1991, pegava fogo na política. Os escândalos do


atual presidente deixavam o país à bancarrota, e os brasileiros sofriam
as consequências de uma política mal administrada. Mas não fora um
ano tão ruim em outras áreas: nosso Ayrton Senna conquistou o
tricampeonato mundial de Fórmula 1, no Japão. Também foi um ano
especial para duas pessoas se conhecerem e fazerem sua história.
— Filha, você ajuda o papai com essa caixa?
— Sim, senhor. Onde quer que eu a coloque? — Responde ela ao
pai, com sua voz doce de criança.
— Ali, na varanda, minha princesa.
A garotinha sai toda serelepe com a pequena caixa nas mãos,
sentindo-se a pessoa mais feliz do mundo, por ajudar o pai com a
mudança. A pequena Bianca, ou Bibi, como é carinhosamente
chamada pelo pai, só tem 3 anos de idade, e, para ela, sempre é uma
festa quando se mudavam para outra casa.
O pai de Bianca, Luiz Alberto, vive mudando de endereço, quase
sempre de acordo com o humor da sua esposa. Tatiana Cristine é uma
mulher jovem e muito bonita, mas com sérios problemas de saúde: ela
tem transtorno bipolar. Dois anos após o casamento, Tatiana começou
a apresentar repentinas mudanças de humor. Começava o dia alegre e,
de repente, ficava triste, desanimada e isolada de todos. Com o passar
do tempo, ela passou a ficar agressiva, e essa situação piorou quando
ficou grávida de Bianca, pois precisara parar com a medicação.
Desde o nascimento da filha, esta é a terceira casa para a qual eles
se mudavam. Tatiana tende a implicar com os vizinhos, partir para a
agressão verbal e, ultimamente, até para a agressão física. Luiz é major
da polícia militar, o que facilita a sua vida, já que pode pedir
transferência sempre que precisar.
Mas essas mudanças não são boas para Bibi. Ela já está na
escolinha, e isso prejudicaria muito o seu rendimento escolar e o seu
aprendizado. Luiz já tentara de tudo para ajudar a esposa, inclusive a
internação em uma clínica especializada, por um determinado
período, e ela até melhorou bastante, mas, vez ou outra, ela tem crises
fortes e tudo desanda. Luiz já não sabe o que fazer. Ele ama a esposa,
mas ama muito mais a filha. Ela se tornara o centro das suas atenções
e cuidados, e ultimamente ele anda preocupado, pois Tatiana às vezes
se mostra muito agressiva com a filha. Ele já flagrou a esposa gritando
com a menina, em várias oportunidades.
Os médicos disseram que o novo tratamento traria uma grande
melhora e que Tatiana poderia até levar uma vida normal, que tudo
ficaria bem e que o importante era mantê-la protegida e amada.
Ele está tentando fazer com que a esposa se sinta amada, o que
não era muito fácil, pois Tatiana tem muitas crises de ciúmes, e são
constantes, o que termina por acabar em muitas brigas entre o casal.
Luiz parou diante da grande casa recém-alugada. Ela possui dois
andares, um jardim enorme e espaço suficiente para a filha brincar, e
ainda está localizada dentro de um condomínio fechado, perto da
praia. Ao lado da casa dele está a casa mais bonita e luxuosa do
condomínio, pertencente a um usineiro. Luiz pouco sabe sobre o seu
vizinho, mas o pouco que descobriu, foi que o velho perdeu o filho e a
nora em um acidente de avião, e que ele e a esposa ficaram com a
guarda do único neto, um menino de 6 anos, que também estuda na
escola em que ele acabara de matricular a sua filha.
— Papai, papai... — Bianca puxa, impacientemente, a calça do pai.
— Papai... Papai!
Ele larga a caixa de qualquer jeito no chão, para dar atenção à
filha.
— Sim, minha princesa, o que foi?
— Eu posso brincar no quintal? Lá tem um balanço. Eu posso,
papai?
Luiz olha para Tatiana, que acabara de chegar na porta da frente
da casa, querendo saber os motivos dos gritos da filha.
— O que você acha, amor, ela pode brincar lá no fundo?
Tatiana sorri, estende a mão e chama a filha.
— Venha, Bibi, vamos ver se esse balanço é seguro.
A menininha de cachos dourados e olhos claros sai correndo ao
encontro da mãe, segura na sua mão, e as duas vão para o quintal.
O fundo da casa é espaçoso. Está com a grama alta e com um
pouco de sujeira, mas depois de uma boa capinada e de uma limpeza,
será um bom lugar para a Bibi brincar. A cerca ao lado, que dá para o
quintal do vizinho, precisa de conserto, e se eles tiverem algum
animal, certamente virá para o quintal da Tatiana. Ela logo se arrepia
com essa hipótese, já que detesta bichos.
— Venha, Bibi, vamos ver o seu balanço.
O balanço fica preso entre duas estacas de ferro, elas sustentam
uma plataforma de onde descem duas correntes, presas a uma cadeira
também de ferro, com um assento emborrachado.
Tatiana se senta no balanço e se balança por alguns segundos.
— Pronto, Bibi! Mamãe se certificou de que é seguro. Venha, vou
sentar você.
Ela pega a filha e a coloca no balanço, começando a empurrá-la.
Bibi começa a sorrir alegremente.
— Mais alto, mamãe! É muito bom... — Tatiana empurra mais
alto, e ri junto com a filha. — Mais, mamãe!
— Eu posso brincar também? — pergunta uma branda voz infantil,
atrás de Tatiana.
Tatiana para de balançar a Bibi e olha para trás, encontrando um
garotinho que aparenta ser mais velho do que a sua filha. Ele tem os
cabelos loiros e lindos olhos azuis.
— Olá! — Tatiana cumprimenta o menino com alegria. — Quem é
você? De onde você veio?
Ele sorri e olha para trás, apontando o dedo.
— Eu moro ali, meu nome é Tito. Sou o seu vizinho, moro com
minha avó Maria e o meu avô Leonel. — Ele sorri — Posso brincar
também?
Tatiana devolve o sorriso e se vira para Bibi, perguntando:
— Bibi, ele pode brincar com você?
Bibi tenta descer do balanço, mas como é pequenina, não
consegue. Tito corre até ela e a ajuda a descer.
— Oi, Bibi, meu nome é Tito. Você quer ser minha amiga? Posso
balançar você sempre que quiser, e quando a sua mãe não puder, eu
cuidarei de você.
Tatiana acha tão lindo o que aquele garotinho diz, que fica com
vontade de abraçá-lo.
— Filha, estamos diante de um pequeno cavalheiro. Meninos
assim, quando crescem, se tornam homens maravilhosos.
— Como o papai? — Bibi olha expressivamente para a mãe ao
perguntar.
Tatiana se surpreende com a afirmação e responde, sorrindo:
— Sim, Bibi. Como o seu papai.
— Então eu quero brincar com ele.
— Está bem. Venha, Tito, sente-se no balanço que eu vou
empurrá-lo.
Tito olha para Tatiana e diz:
— Não, me deixe brincando com a Bibi. Quando ela se cansar, eu
brinco. Posso ficar empurrando ela, prometo que empurro devagar.
Tatiana se emociona com a maneira de se portar do menino, ele
parece tão esperto, tão dono de si.
— Tito, quantos anos você tem? — Ela pergunta, querendo saber
se a idade dele é compatível com tanta determinação.
— Eu tenho seis anos, senhora.
— Parabéns, você é muito esperto e muito inteligente. — Ela elogia
o pequeno, passando a mão pelo cabelo loiro dele.
— Vovô diz que eu serei um grande empresário, ele vai me
preparar para isso.
Tatiana se admira com a perspicácia do menino.
— Que bom, Tito. Está bem. Você cuida dela para mim? Qualquer
coisa é só me chamar.
— Vou cuidar, sim, pode confiar em mim.
A partir deste momento, Tito e Bibi não se desgrudam: nasce uma
grande amizade entre os dois. Parecem unha e carne. Mesmo na escola
onde estudam, tornam-se amigos inseparáveis.

Brasil - 1993

Em 1993, o Brasil tentava se reequilibrar, política e


economicamente, após o impeachment de Fernando Collor e de perder
dois zeros na moeda e ela passar a se chamar cruzeiro real. Mas, na
área esportiva, ele se destacava: a seleção brasileira foi classificada
para a copa dos Estados Unidos.
Tito e Bibi estão mais unidos do que nunca. Tito protege a sua
amiga de tudo e de todos, inclusive da sua própria mãe. Quando
Tatiana passava por suas crises, ela queria descontar suas dores na
filha. Ela gritava e batia na menina, e só não fazia isso quando Tito
estava presente, por isso ele ficava o tempo todo com a sua amiguinha.
Quando não podia ficar na casa de Bibi, ele a arrastava para a sua casa.
Bianca criou um verdadeiro pavor da mãe. Ela só não contava
tudo para o pai porque Tatiana a ameaçava, dizendo que, se ela
contasse, eles iriam se separar, e com isso as duas ficariam sozinhas, já
que os filhos sempre ficam com as mães quando o pai vai embora de
casa. Com o Tito, a ameaça foi ainda pior. Ela falou que se ele contasse
para quem quer que fosse, a Bibi seria enviada para um orfanato e eles
nunca mais se veriam.
Luiz desconfiava das atitudes da esposa, já que ela demonstrava
impaciência com a filha, e só era amorosa com ela quando estava bem.
Mas, para Bibi, sua mãe já representava uma ameaça. Luiz precisou
contar à Bibi a verdade sobre o estado de saúde de sua mãe, mas a
menina não confiava em Tatiana, tinha um verdadeiro pavor de ficar
sozinha com ela, por isso, passava a maior parte do tempo com o Tito.
Tatiana não se importava, ela achava até melhor ficar longe da
filha, pois a tinha como uma rival. Ela culpava a menina pelo
afastamento do marido, acreditava que a criança roubava a atenção
dele.
Quando Bibi e Tito não estavam na escola, eles estavam na praia
ou na casa dele, ou ainda na casa do vizinho. O senhor Manuel era um
criador de coelhos, e Bibi adorava bichinhos, mas a sua mãe não
permitia bichos na casa.
No início de 1992 tinha nascido uma coelhinha albina, e o senhor
Manuel presenteou a Bibi com o animalzinho. Como ela não podia
levar para casa, a coelha ficou com o Senhor Manuel. Ele pediu para
que a Bibi a batizasse, e a menina deu o nome de “coelhinha” para o
seu bichinho.
Tito achou tão engraçado, que apelidou Bibi com o mesmo nome.
A partir deste dia, toda vez que ela estava triste, ele só a chamava pelo
apelido.
— Coelhinha, não fica assim não. Eu não vou deixar a sua mãe
bater em você, se for preciso eu apanho no seu lugar, mas juro que ela
não encosta um dedo em você, tá bom?
Bibi soluça, de tanto chorar. A mãe está com raiva do pai porque
ele ligou para avisar que chegaria mais tarde em casa. Agora Luiz é
comandante do batalhão da cidade, e com isso, não possuía um
horário definido, mas Tatiana não entendia isso e sempre achava que
ele tinha uma amante na rua. Como não podia descontar a sua raiva
no marido, ela despejava tudo na filha. Hoje prometera dar uma surra
na Bibi só porque a menina não quis comer o almoço que ela preparou.
— Tito, a comida estava horrível, ela queria que eu comesse tudo.
Eu juro que tentei, mas não deu, estava com o gosto muito ruim! Ela
vai me bater quando eu chegar em casa, sei que vai.
Tito abraça a menina e beija seus cabelos cacheados.
— Coelhinha, eu não vou deixar ninguém nesse mundo magoar
você, eu prometo. Sempre vou te proteger. Você é a minha coelhinha
de olhos vermelhos, a mais linda de todas.
— Você promete, promete que nunca vai me deixar?
A inocência é linda, o amor entra no coração de todos, até nos
mais inocentes. Tito sente um grande amor pela sua amiguinha. É tão
grande este sentimento, que ele chegara a suplicar para que o avô
pedisse ao pai da Bibi para deixá-la morar com eles. Seus avós
perguntaram o motivo daquele pedido apelativo, mas Tito ficara com
medo de contar a verdade e a mãe de Bibi separá-los. Ele só disse que
gostaria muito que a Bibi ficasse mais tempo com ele.
O Senhor Leonel achara linda a preocupação do neto; ele só tem
oito anos e já é um menino superprotetor com os seus amigos.
Tito abraça bem apertado a sua coelhinha, e com o rosto
escondido entre os seus cachinhos loiros, diz:
— Nunca vou deixar você. Quando eu crescer, vou comprar uma
casa grandona e branca, e vou me casar com você. Teremos um
montão de filhos e vou cuidar de você e deles, e nunca vou deixar você
chorar ou sentir dor ou tristeza. Eu juro, coelhinha! Pode acreditar,
vou ser o seu príncipe para sempre. — Tito olha em seus lindos
olhinhos azuis, e como que por encanto, encosta os seus lábios nos
dela. Não há maldade naquele beijo, é como um pacto, uma promessa
que acabou de fazer.
Os dois ficam se olhando por alguns minutos e depois sorriem.
Bibi envolve os braços no pescoço dele e fica ali, agarradinha ao
seu amigo príncipe. Ao lado dele, ela se sente protegida e amada, sabe
que o seu amigo nunca vai magoá-la, que Tito é o seu protetor e
sempre poderá contar com ele.
— Tito, eu tenho um presente para você. — Ela suspende os
cachinhos dourados e puxa o fecho da correntinha que está em volta
do seu pequeno pescoço. — Ajuda aqui, Tito. — Tito abre o fecho da
pequena gargantilha e a retira do pescoço da Bibi, a entregando logo
depois. — Eu quero que você fique com ela, papai me disse que esse
homem protege todo mundo. Ele vai proteger você. Fique com ela
sempre perto, certo?
— Bibi, ela é sua. O seu pai deu para você, não posso aceitar.
— É minha e posso dar para quem eu quiser. Aceite, por favor, ela
é sua. — Tito não consegue dizer não para a sua pequena amiga, e
daquele dia em diante a medalha de São Jorge vira o seu amuleto da
sorte.
Eles passaram a tarde inteira brincando, já está escurecendo
quando Tito leva Bibi para casa. Quando eles entram na sala, Tatiana
está enfurecida, brigando com alguém ao telefone. Quando ela vê Bibi,
desliga o telefone e parte para cima da filha.
— A culpa é sua, sua ordinária! Seu pai não liga mais para mim
por sua culpa! Eu posso estar morrendo e, ainda assim, ele não está
nem aí, mas quando se trata de você, ele é só atenção. Eu odeio você,
odeio você, entendeu? Como eu queria que você estivesse morta, sua
nojenta, insuportável!
Tatiana, enlouquecida, grita com Bibi sem se importar com Tito.
Segura a menina pelos pequenos braços e começa a sacolejá-la.
Quando Tito vê o que acontece, parte para cima de Tatiana e a
empurra.
— Não toque nela, uma mãe não machuca um filho, uma mãe deve
proteger seus filhos, saia de perto dela! Eu não vou deixar você
machucá-la, saia... — Bibi chora de soluçar, seu corpo trêmulo fica
cada vez mais débil. Tatiana se torna entorpecida com a fúria do
menino de oito anos e olha estarrecida para ele. — Venha, Bibi, vamos
esperar o seu pai lá em casa.
Quando ouve Tito dizer isso e o vê puxar Bibi pela mãozinha,
Tatiana puxa a filha pelos cabelos de forma violenta, das mãos de Tito.
O menino se assusta e sai em defesa da amiga. Ele une seu corpo ao de
Tatiana, chuta as pernas dela e tenta mordê-la.
Tatiana o empurra, e ele cai no chão, mas não se dá por vencido:
levanta-se e parte com tudo para cima dela.
Bibi grita e pede para a mãe soltá-la, dizendo que ela está lhe
machucando. Tatiana continua segurando a menina pelos cabelos. Tito
vai para cima dela, mas quando Tatiana percebe a sua intenção,
levanta a mão e lhe dá um tapa. A mão dela vai direto no rosto do
menino, e assim que ele recebe o tapa, grita e cai no chão.
— Tito, Tito! — Bibi grita, desesperada — Corre daqui, vá embora,
fuja, por favor, vá embora...
Tito se levanta, com o rosto coberto de sangue. O anel que está na
mão direita de Tatiana cortou o rosto do garoto, bem no maxilar.
— Meu Deus! O que eu fiz? — Ela grita, já soltando a filha, e corre
em direção à criança — Tito, meu menino, me perdoe. Eu não sei o que
me deu. Tito, você me perdoa?
O menino olha para ela, assustado e com raiva. Ele se livra das
mãos de Tatiana e aproveita que ela está atordoada para puxar Bibi
pela mão, logo depois os dois saem correndo da casa.
Naquela noite, a polícia é chamada. Os avós de Tito deram queixa
de agressão contra Tatiana. O pai da Bibi foi avisado e já estava a
caminho. Ele já não suportava aquela situação e já tinha avisado à
Tatiana que mais uma crise violenta dela, ele faria a sua internação.
Tito e Bibi já foram para o hospital. Luiz ficou de encontrá-los lá,
mas antes precisava passar em casa e ver como ficaria a situação da
sua esposa.
Quando a viatura da polícia chega, encontra a casa no escuro, não
há sinal de ninguém na casa, chegam até a pensar que Tatiana tinha
fugido, mas quando chegam ao quarto, a encontram no chão do
banheiro com os pulsos cortados e uma porção de frascos de remédios
controlados boiando na poça de sangue em volta do seu corpo.
Tatiana já estava morta. Depois deste dia, Tito e Bibi não se
encontraram mais.
O corpo de Tatiana foi levado para a sua cidade natal, para o
sepultamento. Um caminhão de mudança foi enviado para a casa de
Bibi e eles empacotaram tudo sem os donos da casa presente. Bibi foi
morar em outra cidade e nunca mais teve notícias do seu amigo
protetor, tampouco ele soube notícias dela.
Eles cresceram em cidades diferentes, suas vidas transcorreram
normalmente, ambos fizeram novas amizades, namoraram, se
apaixonaram. Com o tempo, as lembranças foram estacionando, a
saudade diminuindo, e o que ficou foi o vestígio de um sentimento
inocente, mas muito forte, sentimento este que os acompanharão até a
vida adulta.
Capítulo 1

Dias atuais
Bianca

Meu pai nunca foi pontual. Mesmo quando lhe digo para chegar
no horário, ele sempre se atrasa. Tentei até incentivá-lo, eu o avisei
que faria a sua comida favorita, suflê de queijo, mas nem mesmo
sabendo que comer suflê frio é horrível, ele consegue ser pontual.
Meu celular toca e corro para atendê-lo, mas ao ver a foto no visor,
desanimo. Desligo o celular e me sento no sofá. A campainha toca, e eu
me levanto rapidamente, correndo até a porta. Olho pelo olho mágico
e sorrio.
Abro a porta já dando bronca.
— Poxa, pai, meia hora atrasado! O senhor não muda mesmo.
Meu velho abre os braços, sorrindo. Ele sabe jogar seu charme,
principalmente para a sua filha, que é caidinha por ele.
— Boa noite, minha princesa! Para que a pressa? Por acaso vai
tirar o pai da forca?
— Engraçadinho! — Jogo-me em seus braços e o beijo no rosto. —
Estava fazendo o quê? Já sei, trabalhando. Pai, o senhor tem que se
divertir, viajar, namorar.
Pisco o olho para ele. Ele me dá o braço e vamos para a mesa.
— A conversa já ficou chata, vamos embora que estou com fome.
Cadê o suflê de queijo e a cervejinha gelada?
Papai foge do assunto namoro. Ele namora, mas quando eu digo
“namoro”, me refiro a algo mais sério, como uma mulher para dormir
e acordar ao seu lado. Alguém para cuidar dele quando eu não estiver
presente, principalmente agora, que vou passar alguns meses fora.
— Só o senhor mesmo para comer suflê com cerveja, Deus do céu!
— Filha, gosto e bunda todo mundo tem a sua, portanto, não me
enrola e manda para cá a única loira que gosto gelada.
O nosso jantar é agradável, ele me conta sobre o seu dia no
batalhão. Os olhos dele brilham enquanto conversamos. Mesmo sem
tempo para nada, o meu pai está feliz, agora ele é tenente-coronel, e a
sua vida é uma tremenda bagunça. Quando a mamãe morreu, ele tirou
algum tempo para cuidar de mim, aceitou uma função administrativa
e assim ficava muito mais tempo ao meu lado. Foi assim até que eu
entrei na faculdade, após esse período, ele se entregou de vez à rotina
da polícia.
Depois de me ajudar com a louça, papai e eu vamos para a
varanda. Moro no terceiro andar de um prédio com vista para o mar.
Gosto de escutar o som das ondas, elas me trazem uma nostalgia
gostosa de sentir. Nos sentamos em nossas espreguiçadeiras, ele com
uma cerveja na mão e eu com uma xícara de café.
— Bibi, o que foi? O que você tem de tão urgente para me contar?
Eu te conheço, sei que algo muito sério está te incomodando. É o Leo?
Papai sabe mesmo ler a minha mente. Sempre foi assim, nunca
consegui esconder nada dele. Todas as vezes em que eu estava
passando por alguma adversidade, ele me interpelava e pronto; eu
acabava contando tudo.
— É, papai. Eu descobri uma coisa sobre o Leo e não sei como
resolver isso. Aliás, eu sei, só não sei se é o certo a fazer.
Leonardo é o meu noivo. Estamos juntos desde o meu quinto
semestre da faculdade. Ele era professor, mas não meu, eu fiz
fisioterapia e ele é jornalista. Ficamos noivos há cerca de oito meses e
pretendemos nos casar em dezembro do ano que vem, quer dizer, eu
pretendia, agora não sei se quero me casar.
— O que ele aprontou, minha filha? Quer que eu dê um corretivo
nele? Posso fazer isso, é só pedir...
— Não! Por Deus, pai, que horror! Claro que não quero isso. O
caso é sério, mas não há necessidade de corretivo, e sim de uma
decisão.
Papai me olha, curioso, na certa já pensando o óbvio: traição.
— O sacana te chifrou, foi isso? Filho da puta! Merece um
corretivo bem dado.
— Pai, quer parar? — Começo a me arrepender de chamá-lo para
conversar. — Lembra que o Leo foi fazer aquela reportagem nos
Emirados Árabes? Ele passou três meses lá e voltou há uma semana.
— Lembro.
— Pois é, ele foi com a Vanessa, uma das editoras do jornal. Na
noite do seu retorno, enquanto ele tomava banho, resolvi ver as
filmagens e as fotos da sua câmera. Um dos vídeos que assisti não era
bem sobre o país... — Engulo o bolo nervoso que se forma na minha
garganta. Bebo o café quente para ajudar. — Era uma filmagem dele e
da Vanessa, transando no hotel.
— Que porra é essa, filha?! Essa Vanessa não é casada? Filha de
uma puta rameira! E aí? Você o mandou à merda? Mandou ou não
mandou?
— Pai, eu e o Leo estamos juntos há muito tempo...
— Não, a senhora não vai perdoar esse crápula! Ele merece perder
o pau, filha!
— Senhor Luiz Alberto, se comporte! Eu o chamei aqui para me
ajudar, e não para colocar mais fogo na fogueira.
— Bibi, você o ama? Você ama o Leonardo?
— Eu não sei mais, o problema é justamente esse. Eu pensei que o
amava, ele era... Antes do início desta viagem, ele era, o meu príncipe.
Aquele cara protetor, amigo, companheiro, que nunca me deixava
sozinha, mas depois que ele começou a viajar, ele ficou distante, frio,
mudou muito. Ficou igual aos meus outros namorados.
— Filha, príncipes não existem. Eu já te disse isso. Os homens são
assim, uns filhos da mãe. Alguns são melhores, outros são piores, e
existem aqueles que só matando, tipo o seu noivo.
— Pai, quer parar? O Leo nunca me traiu, foi a primeira vez. Ele
me disse que foi no calor do momento, porque ele estava sem fazer
sexo há três meses, e como os dois estavam trabalhando até tarde, a
câmera estava ligada e eles nem perceberam. Ele me disse que foi só
na quinta taça de vinho que pintou um clima e os dois transaram.
Disse que, no dia seguinte, ficou estranho entre eles, então resolveram
vir embora. Ele nem sabia que tinha filmado a transa. O Leo jurou que
foi só tesão do momento e que a Vanessa ficou tão constrangida que
pediu transferência.
— E você acredita nele? Bibi, se você o ama dê uma nova chance
para o cachorro... desculpe-me! Dê uma nova chance para o Leo, mas
saiba que sempre haverá a sombra da desconfiança pairando sobre a
sua cabeça.
— Eu sei, pai! O problema é justamente esse, eu não sei se quero
lhe dar uma nova chance. Sim, ainda gosto dele e sim, sinto saudades.
Eu já chorei tanto, mas não sei se quero continuar com esse
relacionamento, por isso resolvi aceitar uma proposta de emprego que
a clínica me ofereceu...
— Emprego? — Ele me interrompe — Como assim? Quando você
ia me contar sobre isso? Bibi, você enlouqueceu? Filha, você lutou
tanto por esse emprego, estudou tanto para ser aceita nessa clínica, e
agora vai largar tudo por causa do Leo?
— Não, pai, foi a própria clínica que me ofereceu essa vaga. No
mês passado, fui chamada à sala do diretor e eles me falaram sobre
esse emprego. É uma oportunidade única. Um rico empresário sofreu
um acidente e lesionou a medula espinhal, ele está temporariamente
paraplégico, e como eu sou a mais indicada e especializada nessa área,
a vaga é minha. Pedi um tempo para pensar, já que eu precisava
conversar com o Leo antes, pois será necessário me mudar para a
cidade do cliente e morar na sua propriedade por alguns meses. Já
estava convencida a não aceitar o emprego, porque sei que o Leo não
permitiria, mas depois do que aconteceu, eu aceitei a vaga e viajo
amanhã à noite.
Papai dá um longo gole na sua cerveja, limpa a boca com o dorso
da mão e me olha por um longo tempo.
— Fugir do problema vai adiantar? Não criei você com tanto amor
para que virasse uma fujona.
— Não estou fugindo, pai! Eu só quero um tempo longe de tudo,
para pensar. Eu quero sentir saudades dele, quero ficar com uma
vontade louca de voltar para os seus braços. Se isso não acontecer, vou
saber que fiz a coisa certa. Preciso fazer isso.
— Onde fica essa cidade?
— No interior do nordeste, se chama Rio Doce. O cara é dono da
metade da cidade. Meu patrão disse que ele herdou uma usina de
cana-de-açúcar, e em três anos, duas outras surgiram nos arredores da
cidade. O cara tem o dom para o negócio. Hoje, ele é o maior produtor
da região nordeste. Ele investiu na clínica, vai abrir uma filial na
cidade, é tudo por conta dele. Em troca, ele quer o melhor
fisioterapeuta para ajudá-lo a sair da cadeira de rodas. Será um desafio
para mim, e o senhor sabe que eu adoro desafios.
Recebo um sorriso. Papai se levanta e estende sua mão para mim.
Eu aceito. Sou puxada de encontro ao seu corpo e recebo um abraço.
— Você é meu orgulho, minha filha. Posso levá-la ao aeroporto?
Beijo o rosto do meu querido pai. Eu o amo mais do que tudo na
minha vida.
— Pensei nisso agora, senhor teimoso. — Afasto-me dele, olhando
para aquele rosto querido — Pai, me promete que vai se cuidar? Eu
vou ligar para o senhor todos os dias, pois não sei por quanto tempo
vou ficar fora, portanto, prometa-me que vai se cuidar, promete?
— Sim, senhora, eu prometo — Ele cruza os dedos e os beija de um
lado e de outro — Não se preocupe, princesa. Sou velho de guerra, vou
ficar bem, com saudades, mas vou ficar bem, ok?
— Vê lá, hein, pai. Quando eu chegar na cidade envio todos os
meus contatos novos, e quero que vá me visitar sempre que puder, já
que não poderei me ausentar do emprego.
Bate uma tristeza. Eu nunca fiquei longe do meu pai por muito
tempo, só quando viajava de férias, mas era por, no máximo, quinze
ou vinte dias. Ele é o meu porto seguro, minha bússola. Papai e eu
somos um só. Cuidamos um do outro, sempre foi assim, desde o dia
em que a mamãe morreu. Eu não me lembro da morte dela, mas eu
sabia que ela estava muito doente. Eu tinha apenas cinco anos quando
tudo aconteceu. Só me lembro de sentir muita saudade de um menino
chamado Tito, mas não lembro muito dele, isso se perdeu na minha
memória com o tempo. Papai me disse que ele era um amigo muito
querido e que nós éramos muito unidos, por isso eu sinto tanta falta
dele. Eu acho que ele foi muito especial na minha infância, para
permanecer tanto tempo no meu coração.
Levo papai até o carro. Combino que ele deve vir uma vez por
semana para limpar o meu apartamento e ligar o meu carro, e a cada
quinze dias, ele sairá com ele e o levará para lavar.
Pela manhã, ligo para o Leo. Não quero vê-lo, pois corro o risco de
me arrepender e lhe dar a chance que ele tanto quer, por isso resolvo
conversar via chamada de vídeo. Conto que estou embarcando hoje à
noite para o nordeste e não sei por quanto tempo ficarei por lá. Eu o
deixo livre, ele não precisa ficar preso a mim.
Nosso noivado está em uma pausa, e o nosso casamento suspenso,
ou seja, ele está livre para ficar com quem quiser, e eu também. Estou
nos dando uma prova final, para ver se realmente nos amamos, nos
dando tempo suficiente para ficar longe um do outro e ver se
conseguimos pensar ou querer ficar com outra pessoa. Pedi para que
ele não me ligasse e nem tentasse me encontrar, e se quando eu voltar
ainda existir saudade e paixão entre nós dois, então começaremos do
zero. Ele até tentou me convencer que me ama, pediu perdão, chorou e
suplicou para que eu não desistisse de nós dois, mas fui inflexível, lhe
disse não. Por fim, ele aceitou e nos despedimos pelo telefone, um
adeus magoado e frio.
Talvez não fosse mesmo para acontecer esse relacionamento. Só
agora eu me dou conta de que o Leonardo não é o homem dos meus
sonhos. Não que ele seja feio ou desagradável, ao contrário; o Leo é
lindo, extrovertido, tem personalidade marcante, é inteligente e muito
divertido, mas não é, o meu príncipe.
Desde adolescente que eu idealizo o meu príncipe como alguém
alto, de cabelos loiros escuro, olhos azuis, rosto com traços fortes e
marcantes, carinhoso, atencioso, mandão e muiiito protetor, aquele
cara que cuida do que é seu com extremo zelo. Acho que foi por isso
que eu nunca fiquei por muito tempo com um namorado, sempre
comparava os coitados com o meu príncipe imaginário.
Eu pensei que tinha encontrado no Leo o príncipe dos meus
sonhos, mas me enganei terrivelmente. Acho melhor começar a
procurar e a aceitar os homens normais.
13 de março, Rio Doce, Brasil.
Embarquei para o Nordeste às dezenove horas e vinte minutos, e
cheguei em Rio Doce à zero horas e dez minutos. O motorista que veio
me buscar, no aeroporto da capital, me disse que levaríamos algumas
horas para chegarmos até Rio Doce, pois a rodovia está muito
esburacada. Na verdade, ele foi até modesto quando disse a palavra
“muito”, já que a rodovia parece uma peneira de tantos buracos que
tem, e ela só melhora quando chegamos à entrada da cidade. A estrada
parece uma passarela, de tão lisa que é. O motorista me deixa em um
hotel da cidade, afirmando que virá me pegar na manhã seguinte. Já
está tudo pago, nem preciso passar na recepção, apenas vou direto
para o quarto. Só tenho ânimo para tomar um banho e cair na cama.
Acordo com o toque ininterrupto do meu celular. Estou tão
cansada que nem sinto a vibração do aparelho embaixo do travesseiro.
Ainda muito sonolenta e completamente fora do prumo, eu atendo.
— Alô! — Bocejo, meus olhos tentando se acostumar com a
claridade.
— Bom dia, senhorita Bianca. — Ao reconhecer a voz, dou um pulo
na cama, só então percebo onde estou.
— Bom dia, senhor Almir! Des-desculpe-me, eu... eu...
Olho para o relógio: já são mais de oito horas. Fico
completamente embaraçada e constrangida. Meu primeiro dia de
trabalho, e já estou atrasada.
— Fique tranquila, senhorita. Só liguei para avisá-la que às dez
horas vou pegá-la, no hotel, o senhor Anthony estará à sua espera.
Tudo bem para a senhorita?
— Sim... sim, estarei pronta às dez. Até lá.
Ele desliga, e eu corro para o banheiro, preciso dar um jeito na
minha cara de cansada, não será nada agradável aparecer na frente do
meu mais novo patrão com o aspecto de uma pessoa exausta e toda
maltrapilha.
É o banho mais prazeroso que já tomei, deixo todo o meu cansaço
escorrer pelo ralo. Depois da ducha, visto uma calça jeans escura, uma
blusa de seda bege com gola canoa e abertura feita com botões de
pérolas nos ombros, calço sandálias altas vermelhas, brincos discretos,
no pescoço um cordão de ouro com um pequeno crucifixo, que foi
presente de papai. Dou uma rápida olhada no espelho, para ver se não
exagerei na roupa.
Bem, por ser a minha apresentação, as roupas estão ótimas,
quando eu começar as atividades, as minhas roupas serão outras.
Não gosto muito de maquiagem, mas resolvo usar rímel e um
batom em um tom de rosa.
Você está ótima, Bibi.
Desço para o restaurante, mas antes passo na recepção e peço
para descerem a minha bagagem.
Pontualmente às dez horas, o Almir chega e já coloca a minha
bagagem no carro. Partimos rumo à propriedade do meu contratante.
Depois de sair da cidade, percorremos alguns quilômetros em
uma estrada muito bem cuidada e cercada de girassóis. Olhando para
o horizonte, podemos ver as plantações de cana-de-açúcar. Sinto um
cheiro muito desagradável que começa a me enjoar. Coloco a palma da
mão sobre o nariz, virando o rosto para o lado contrário ao de Almir.
— Logo a senhorita se acostuma com o cheiro. — Ele olha para
mim rapidamente e sorri.
— Me acostumar com o cheiro de merda? — replico, com espanto.
— Nossa! Esse odor acabou com a beleza desse lugar.
Ele solta uma gargalhada.
— Todo lugar com uma usina de cana-de-açúcar tem esse odor, ele
vem da vinhaça... — Ele explica e olha para mim novamente. — A
vinhaça é um produto derivado da produção do álcool, para cada litro
do combustível produzido são extraídos cerca de 13 a 14 litros de
vinhaça. O odor vem da produção, mais precisamente da quantidade
de levedura que fica no álcool, ou seja, acontece uma fermentação no
caldo da cana-de-açúcar e ele se transforma em álcool, e às vezes, por
algum desvio no processo, acaba sobrando um resíduo da vinhaça e,
consequentemente, é esta permanência de resíduo que produz o odor.
Não faz mal ao ser humano, é desagradável, mas com o tempo você se
acostuma.
— Não sei não, talvez eu não me acostume a isso.
O automóvel se afasta dos girassóis, e entramos em uma estrada
cercada de árvores altas de um lado a outro. Vejo alguns pinheiros e
coqueiros, mas as demais árvores são enormes. O odor desagradável
desaparece. O carro anda mais uns vinte minutos, até que avisto um
grande portão de ferro, que ao se abrir me deixa de queixo caído.
Assim que o carro passa pelos portões, posso ver uma enorme
casa branca com tantas portas e janelas nela, que não consigo contá-
las sem apontar. A casa tem estilo colonial, dois andares e está cercada
de um imenso jardim com muitas, muitas árvores. Almir para o carro
em frente a uma enorme escada.
Alguns empregados vêm em nossa direção.
— Leve as bagagens para a casa de hóspede. — Ele diz para um
rapaz, depois se vira para mim. — O senhor Anthony achou melhor
que ficasse na casa de hóspede, você terá mais privacidade.
Eu apenas sorrio para ele. O que posso dizer?
Entramos na grande casa que, por dentro, ela parece ainda maior.
Faço uma avaliação detalhada do local. Em torno da enorme sala
ricamente decorada há uma grande escada e um pequeno elevador
adaptado, provavelmente foi instalado devido ao estado de saúde do
dono da casa.
Almir me pede licença, diz que vai avisar ao senhor Anthony que
eu já cheguei. Ele não demora nem dois minutos.
— Vamos? O Senhor Anthony a espera no gabinete.
Eu o sigo até uma grande porta de madeira escura.
Capítulo 2

Bianca

Ao entrar na sala, corro os olhos ligeiramente por todo o


ambiente. As cortinas em voal branco dançam com o vento, um
enorme tapete felpudo preto fica logo na entrada e se estende até duas
poltronas em couro. Muitos quadros decoram as paredes, vasos de
flores estão espalhados por toda parte, e logo à frente há uma enorme
mesa de vidro, e atrás dela um homem de cabelos loiro escuro, cuja
aparência grita “elegância”. Seu terno escuro é perfeitamente ajustado,
provavelmente feito sob medida para o seu peito atlético. Ele está
lendo alguma coisa, uma agenda, talvez.
— Senhor Anthony, nos dê licença? — Ele levanta os cílios, e
nossos olhares se fixam.
Fico parada naquele olhar. Ele tem lindos olhos azuis, nariz bem
desenhado, barba bem aparada, e mesmo sentado, percebe-se que é
alto. O choque ao vê-lo faz meu coração quase parar. Meus olhos estão
me pregando uma peça. É ele! O príncipe dos meus sonhos.
Mas não pode ser, esse homem só existe na minha imaginação.
Bate uma sensação estranha enquanto eu o avalio, tenho a impressão
de que já o conheço. Vem uma aflição e um aperto no peito, começo a
me sentir sufocada, minhas mãos começam a ficar suadas, meu
coração acelera ainda mais.
Fecho os meus olhos e conto até dez antes de abri-los. Não, é ele!
É igualzinho! Ele me olha, boquiaberto, avaliando-me de cima a baixo.
Aquele olhar penetrante faz o meu sangue fervilhar, e o pânico me
invade.
Fico tonta, tento me mover, mas não consigo. Tento falar, mas não
consigo produzir nenhum som. Um nó se forma na minha garganta,
sentimentos estranhos me envolvem e uma saudade devoradora toma
conta de mim. O ar falta nos meus pulmões, e se eu não me segurar no
braço do Almir, eu vou cair. Minhas pernas vacilam de tão trêmulas
que estão.
— Senhorita Bianca! — Escuto chamarem o meu nome, mas o
chamado parece tão distante. — Senhorita Bianca, meu Deus!
Alguém altera a voz ao chamar o Almir.
— Almir, segure-a, ela vai cair...
Sou amparada, e por alguns segundos, perco os sentidos. A
escuridão toma os meus olhos, sinto-me muito zonza.
— Senhorita Bianca, acorde, acorde...
— Acho melhor chamarmos um médico — Uma voz masculina,
grossa e muito marcante, diz, preocupada. — Mercedes, traga-me um
copo com água o mais rápido possível. — Ele fala com alguém. Eu não
consigo abrir os olhos e nem me concentrar.
— Senhorita Bianca, olhe para mim! — Almir esfrega os meus
pulsos, sua voz revela muita preocupação.
— Des-desculpe-me, já estou melhorando, não... não sei o que me
deu. Perdão, Senhor Anthony, que vexame... meu Deus!!
Estou muito envergonhada, não sou mulher de desmaios, sempre
fui muito equilibrada. Não entendo por que, tão repentinamente, me
senti mal. Só lembro que assim que os meus olhos se fixaram no
homem lindo que estava diante de mim, luzes começaram a piscar
diante dos meus olhos e logo me senti desfalecendo.
— Almir, ajude-a a se sentar. — Agora, aquela voz tão grave está
bem próxima a mim.
Consigo me sentar com a ajuda de Almir, mas ainda me sinto
tonta. Respiro fundo, prendo o ar por alguns segundos nos meus
pulmões e vou soltando aos poucos. Meu cérebro já está se
oxigenando. Meu olhar vai direto para aqueles olhos azuis, tão
expressivos. Meu coração acelera, pois o seu olhar varre todo o meu
rosto. Sinto uma paz dentro de mim, como a sensação de um abraço
gostoso.
— Sente-se bem? Quer que eu chame um médico? — Escutar a voz
dele é um calmante para os meus nervos. — Bianca, como se sente?
Pisco os olhos e depois olho para o Almir, e em seguida, para o
homem de olhos azuis outra vez. Ele está sentado na sua cadeira de
rodas. Vê-lo assim me dá uma raiva, uma aflição.
— Não, não precisa. Já estou bem. — Uma mulher morena, vestida
com um uniforme preto, me oferece um copo com água, que eu aceito,
bebo e agradeço. Ela sorri, olha-me por alguns segundos e se retira —
Desculpe-me, estou muito envergonhada, nunca fui de desmaios, acho
que a longa viagem e o pouco tempo de sono, somados ao calor e ao
nervosismo, me colocaram na lona.
— Deve ter sido isso mesmo, mas se quiser, eu posso chamar um
médico. — A cadeira de rodas dá um giro e vai para trás da mesa
novamente. — Eu sou o Anthony — Ele sorri, e novamente eu sinto
aquela sensação de estar em casa, uma paz de espírito, um calor que
me queima de dentro para fora. — Você é a Bianca, a fisioterapeuta, é a
profissional que vai me livrar dessa cadeira de rodas.
Enxugo as minhas mãos na minha calça, alisando-as
disfarçadamente. Minhas pernas ainda estão trêmulas, e neste
momento desejo desesperadamente estar calçando as sapatilhas que
optei por não usar. Levanto-me e vou até a mesa.
— Sim, eu sou a Bianca, prazer em conhecê-lo, Senhor Anthony. —
Estendo a minha mão para cumprimentá-lo.
Ele olha para a minha mão, mas logo depois o seu olhar desliza do
meu rosto para os meus contornos, examinado cada centímetro do
meu corpo, e sou avaliada com extremo cuidado. Seus olhos se voltam
para os meus novamente e vejo um leve sorriso curvar os seus lábios.
Ele estende sua mão e segura a minha firmemente, dá um sorriso torto
e diz:
— Me chame de Anthony.
O choque de nossas mãos, uma sobre a outra, é quente. Sinto um
calafrio pelo meu corpo inteiro. Meus pelos se eriçam e o meu coração
acelera. Sorrimos juntos e ficamos nos olhando por alguns segundos,
como se quiséssemos nos lembrar um do outro.
— Eu prefiro chamá-lo de Senhor Anthony, fica mais profissional,
pelo menos por enquanto. Isso se o senhor não se incomodar.
Não sei explicar, mas o seu sorriso me dá a impressão de que já
conheço aquele sorriso.
— Não gosto de ser chamado de “senhor”, nunca gostei. Os únicos
que teimam em me chamar assim são o Almir e a minha governanta,
Mercedes, portanto, eu me incomodo, sim, mas se você quer manter a
distância pessoal, eu vou respeitar a sua vontade.
— Desculpe-me, senhor Anthony. Não quis parecer fria, é apenas
costume, não quis ser rude.
— Esqueça isso — Ele baixa os olhos para a mesa. — Só um
minuto, seu celular vibra sobre a mesa. — Pega o celular e o atende. —
Oi, meu amor, onde você está? — Olho para as mãos dele e lá está:
uma grossa aliança de ouro branco no anelar da mão direita. —
Victória, quando você volta, então? Poxa, amor, já faz oito dias que
você foi para Miami, eu estou com saudade. — Ele olha para mim, seus
olhos se estreitam e eles vão direto para a minha mão direita e se
fixam no meu anel de noivado. Sim, eu ainda estou usando o anel. —
Ok, mas não demore, ou vou mandar buscá-la. Amo você, beijo. — Ele
desliga, limpa a garganta e volta a me olhar. — Desculpe-me, era a
minha noiva.
— Tudo bem, eu entendo... — Dou um passo atrás e me sento em
uma das cadeiras que está na frente da mesa. — O senhor leu todas as
recomendações que enviamos? A sala de exercícios foi montada? A
piscina foi adaptada?
Anthony se recosta na cadeira sem parar de me avaliar, e começo
a ficar incomodada com isso.
— Sim, seguimos todas as recomendações, e se precisar de algo
mais, nós vamos providenciar. Quando começamos? Tenho pressa,
pois dentro de alguns meses vou me casar e quero estar andando até
lá.
— Podemos começar hoje à tarde, o senhor é quem escolhe os
horários. Quanto mais cedo começarmos, mais rápida será a sua
recuperação. Se o senhor quiser, podemos fazer o tratamento três
vezes ao dia, com duração mínima de duas horas.
Ele bate as mãos na mesa, e eu tomo um susto.
— Determinada, você, gosto disso. Podemos começar hoje, às três
horas, e à noite, às vinte e uma horas. Pela manhã, às seis horas. Tudo
bem para você?
— Perfeito. Mas quero esclarecer que não será fácil, e eu não faço
milagres. Tudo vai depender da sua força de vontade, garra e
determinação, aliadas ao meu profissionalismo.
Ele olha para Almir, depois para mim, e sorri.
— Determinação e vontade não me faltam, portanto, vai ser tão
fácil como roubar doce de uma criança. Ok, então estamos
combinados, três vezes ao dia. — Ele move a cadeira de rodas, e ela sai
de trás da mesa. — Espero que goste da casa de hóspedes, achei
melhor hospedá-la lá, porque você ficará mais à vontade. — Eu me
levanto e o sigo até a porta — O café da manhã é servido às oito e
trinta, o almoço ao meio-dia e o jantar às dezenove horas. Se precisar
de alguma coisa enquanto estiver na casa de hóspedes, é só usar o
interfone, nossos empregados estão à sua disposição na hora em que
precisar. Não se preocupe com nada, só com a minha recuperação.
Acho que é só isso, qualquer dúvida o Almir poderá esclarecer. Tenha
um bom-dia, Bianca, nos vemos no almoço.
Almir me mostra o caminho até a sala. Eu o acompanho.
— Não pense que o senhor Anthony está querendo se livrar de
você, ele vai para a usina agora, vai inspecioná-la. Ele faz isso todos os
dias. Além de verificar todo o processo da cana e o maquinário,
também conversa com os funcionários, fica quase todo o dia lá. São
três usinas, e ele vai em todas elas. Agora, com o tratamento dele, não
sei como ele continuará com as inspeções.
Almir fala sobre o patrão com muito orgulho e admiração. Escuto
tudo isso e percebo que o meu cliente deve ser muito querido pelos
seus funcionários.
Chegamos em frente à casa de hóspedes.
— Caramba! Essa é a casa de hóspedes? — O espanto na minha
voz é tamanho que o Almir me olha, assustado.
— Sim, por quê? É pequena? Se quiser, posso enviar suas coisas
para a casa grande.
Coitado, eu o confundi com o meu arrebatamento.
— Não. — Digo rapidamente — A casa é ótima, caramba! Meu
apartamento cabe aí dentro e ainda sobra espaço pelos lados.
Ele solta uma gargalhada de alívio.
— A senhorita ainda não viu nada. Vamos, venha conhecer o seu
novo lar. — Ele segura o meu cotovelo e me conduz para dentro da
casa. — São dois quartos e uma suíte lá em cima, aqui embaixo fica
uma sala espaçosa, a cozinha americana, um banheiro e uma área de
serviço — Ele olha para mim, e estou boquiaberta. — Aqui, nesta
propriedade, tudo é grande, senhorita Bianca. Venha, vamos lá para
cima.
Subo as escadas apressadamente enquanto o Almir me puxa pela
mão.
— Caramba! — Digo, admirada, ao ver a enorme cama da suíte. —
Nessa cama cabem umas cinco pessoas.
— Eu lhe disse que aqui tudo é grande. — Ele sorri. — Venha cá,
venha ver a vista mais linda da propriedade.
O Almir aponta na direção de um lindo rio. De onde estou ainda
posso ver, ao longe, o véu de uma cachoeira. Realmente, é uma vista
maravilhosa, as árvores encobrem uma parte considerável da
cachoeira, mas só elas em si já são lindas de se ver: são árvores
cobertas de flores vermelhas e outras brancas, o perfume é gostoso de
se sentir, parece uma pintura.
— Nossa! É muito lindo.
— Sim, é mesmo. Está vendo aquela varanda ali? — Ele aponta
para a casa grande. O meu futuro quarto fica quase em frente aos
fundos da casa grande. — Aquelas duas portas enormes são do quarto
do senhor Anthony, ele adora ficar na varanda, admirando a paisagem.
De onde eu estou, posso ver a cama e toda a varanda do quarto
dele.
Acordar todas as manhãs e ver aquele homem lindo, bem em
frente à minha varanda, não será nada ruim. Não sei qual será a
vista mais bonita, ele ou o rio e as árvores.
— Bem, vou deixá-la para que arrume as suas coisas, não esqueça
que o almoço será servido ao meio-dia. — Eu o acompanho até a saída.
— Tenha um bom dia, senhorita Bianca, e seja bem-vinda.
Ele se vai, e eu fico pensando no meu mais novo cliente.
Capítulo 3

Anthony

Estou escrevendo um relatório, preciso tomar decisões sobre a


usina Rio Doce. Depois do meu acidente e do enorme carregamento de
açúcar que iria para a Europa ser completamente comprometido, as
coisas precisam tomar outro rumo. Fiquei muito tempo no hospital,
sentindo pena de mim mesmo, e se não fosse aquela medalhinha de
São Jorge para me proteger da queda, a esta hora eu estaria em um
túmulo, ao invés de estar em uma cadeira de rodas.
Coloco a mão no bolso e retiro um pequeno cordão de ouro, com
uma medalha pendurada nele. “Minha coelhinha, onde será que você
está? Por onde anda? Por que nos separaram? Por que o destino foi
tão cruel conosco?”
Quando me joguei por cima de um dos meus funcionários, para
salvá-lo de ser esmagado por uma máquina de moer, não contava que
cairíamos de uma altura de quase quatro metros. Como ele estava
muito ferido, e para que não se machucasse ainda mais, nem pensei
nas consequências da queda, eu o abracei e permiti que caísse sobre
mim, mas com isso, cai de costas, machucando seriamente a minha
lombar, o que me causou sérios danos, pois fiquei paralisado da
cintura para baixo. Após meses de muitos exames, por milagre,
descobri que o trauma não seria permanente, que poderia voltar a
andar, mas que o caminho seria longo. Eu já estou nesta cadeira de
rodas há quase dois anos, mas agora, com o tratamento certo, tenho
esperança de, pelo menos, usar muletas, e o mais importante, de voltar
a ter uma ereção, de conseguir fazer o meu pau ficar ereto ao menos
por mais do que dois minutos.
Guardo a correntinha no bolso outra vez e volto para as minhas
anotações, segundos depois, escuto o pigarro de Almir.
Quando olho na direção indicada, quase engasgo com a minha
saliva. Ali, bem diante dos meus olhos, está um anjo de cabelos
dourados, os cachinhos escorrem pelos seus ombros, ela... ela sorri
com os olhos. Bate a sensação de um enorme contentamento dentro de
mim, uma saudade contida invade o meu peito. Se eu pudesse andar,
iria me levantar e correria para os seus braços, pois eu tenho a
impressão de que já a conheço há muito tempo.
Repentinamente, ela fica pálida, seus joelhos flexionam. Meu
coração aumenta os batimentos; ela vai cair. Grito para que o Almir a
ampare, e ele é rápido e a segura com cuidado, seu corpo lânguido é
colocado sobre o estofado. Chamo pelo seu nome, e o Almir também.
Minha vontade é de abraçá-la, de colocá-la no meu colo e lhe dizer que
vai ficar tudo bem. É uma vontade de proteger que eu não sinto há
muito tempo, mas que voltou com uma força poderosa, força que só
senti pela minha coelhinha. Depois que ela se foi, eu não quis proteger
mais ninguém.
Bianca finalmente abre os olhos. O meu olhar se encontra com o
dela, e mais uma vez, tenho a impressão de que eu a conheço, mas de
onde? Ela mexe a cabeça, e os cachos dourados emolduram o seu rosto
ao caírem sobre os seus ombros. Ela abre os lábios em um tímido
sorriso, e o seu rosto perfeito se ilumina. Aquele sorriso é capaz de
derreter o coração de qualquer homem, inclusive o meu.
Seus cachos dourados são o par perfeito para os seus lindos olhos
azuis, com cílios longos e escuros. O nariz pequeno e fino, as maçãs do
rosto bem marcadas, e agora coradas, os lábios cheios e sensuais,
completam o conjunto perfeito de uma beleza extraordinária.
Enquanto meus olhos varrem a figura exuberante da minha futura
fisioterapeuta, sinto o ar preso no meu peito e o meu coração batendo
pesadamente. Fico com um nó preso na garganta, me sinto sufocado, o
suor desce pelas minhas costas.
De repente, meus pensamentos me levam para bem longe,
exatamente para o meu tempo de criança. As lembranças fazem minha
cabeça latejar, me vejo brincando com a minha pequena amiga, minha
coelhinha, até escuto o som da sua risada. Nós brincávamos na praia,
chego a sentir o cheiro do mar. Bibi sempre sorria alegremente quando
eu corria atrás dela: “Você não me pega, seu molenga”, ela dizia,
ofegante, enquanto corria para longe de mim. “Corre, Tito. Olha, eu
sou o vento. Olha, eu consigo voar”. Ela abria os braços e fingia ser
um pássaro.
Afastando esses pensamentos, sacudo minha cabeça de um lado
para o outro.
Minha coelhinha seria assim, seria parecida com a Bianca.
Desvio meus olhos dos dela, giro a cadeira de rodas e volto para
trás da minha mesa. Ela me segue com o olhar, e tenho a sensação de
que ela também me avalia.
— E então, você tem certeza de que está bem, Bianca? Não quer
mesmo que eu chame um médico?
Ela sorri disfarçadamente, ainda envergonhada.
— É só o cansaço, dormi muito pouco. Vou ficar bem, não se
preocupe.
Combinamos os horários para os meus exercícios. Ela é muito
profissional, percebo isso em cada gesto e em cada palavra dita.
Meus olhos não se cansam de avaliar aquela rara beleza, a curva
elegante do seu pescoço, a pele rosada, quase implorando para ser
tocada, os espertos olhos cor de safira. Seus lindos cachos dourados se
movem sobre os seus ombros, a calça jeans justa que desenha as suas
musculosas coxas, a blusa de seda fina que revela o desenho dos seus
seios através da luz. Meu corpo estremece com esses pensamentos.
Graças a Deus, o meu celular vibra. Olho rapidamente para ele e vejo
que é a Victória, minha noiva.
Atendo, e só não grito um “ufa” porque soaria estranho. Tento ao
máximo disfarçar o embaraço na minha voz, então eu vejo o anel de
noivado no seu dedo. O que é um balde de água fria, e freia as minhas
emoções. De toda forma, serve para que eu volte ao meu estado
normal. Seguimos nossa conversa e desta vez tento não prestar muita
atenção na linda moça a minha frente.
— Então, está tudo certo. Começaremos hoje à tarde? — minha
voz ainda está trêmula, rezo para que ela não perceba.
— Sim, mas quero deixar claro que eu não faço milagres. O
sucesso do tratamento vai depender exclusivamente do senhor.
— Se depender de mim, amanhã mesmo já vou estar usando
muletas. — Sorrio para ela e saio de trás da mesa.
Ela se levanta e me segue até a porta.
— O Almir vai levá-la para conhecer a sua nova casa. Achei melhor
hospedá-la na casa de hóspedes, pois lá você vai ficar mais à vontade.
— Olho para o Almir e em seguida lhe digo: — Depois de acomodar a
Bianca, quero falar com você. — Ele assente com a cabeça e segue com
a Bianca.
Volto para a minha mesa, esperando que Almir volte, e depois
farei as inspeções nas usinas.
Meia hora depois, Almir volta.
Ele se senta na frente da minha mesa e fica me olhando com um
olhar que já conheço bem, há muito tempo.
— Desembucha logo, Almir! — Falo em voz baixa, olhando
seriamente para ele — Ok, você tinha razão quando me avisou sobre a
Bianca, não exagerou em nada sobre a beleza dela — Ele sorri com o
canto da boca — Pode desfazer essa cara, Almir. Ela é comprometida,
não viu o anel de noivado no dedo dela?
Ele solta uma gargalhada.
— E desde quando noivado é impedimento para alguma coisa?
Casamento não é...
Ao ouvir as palavras do meu amigo, balanço a cabeça, tentando
manter os meus pensamentos nos negócios, e não na minha linda
fisioterapeuta.
— Para mim, é. Um compromisso é um compromisso, não
importa o quanto insignificante ele seja, portanto, ela está longe do
seu alcance, Senhor Almir. A Bianca é minha funcionária, assim como
você, e assim, é minha responsabilidade...
— Calma aí, chefe! — Sou interrompido — Não estou cobiçando
nada. A senhorita Bianca não é mulher para mim, ela jamais me
olharia como olhou para o senhor. E não venha me dizer que não
percebeu, porque eu percebi os seus olhos compridos na direção dela.
Solto a caneta com a qual estava escrevendo e o olho,
desafiadoramente.
— Ficou doido, Almir?! Ela é comprometida, e eu também. Estou
de casamento marcado e não pretendo trair a minha noiva. Não estou
dando conta de uma mulher, quanto mais de duas. Você anda
assistindo muito filme romântico.
— Já disse que noivados podem ser desmanchados, e o Senhor
sabe perfeitamente a minha opinião sobre a senhorita Victória. Ela
não é mulher para o senhor...
— Chega, Almir! — Esbravejo — Vá pegar o carro e me espere lá
fora, vou terminar as minhas anotações. — Dou a nossa conversa por
encerrada. Ele se levanta e sai, em silêncio.
O Almir nunca foi a favor do meu compromisso com a Victória.
Conheci a minha noiva e o Almir no Rio de Janeiro, eu ainda estava na
faculdade. Nos tornamos amigos assim que nos vimos, ele fazia
faculdade de administração, e eu de agronomia. A Victória fingia
estudar, tanto que desistiu da faculdade de moda no quinto semestre.
Ela dizia que não precisava se formar, pois tinha dinheiro e em breve
seria a herdeira das empresas do pai.
Almir sempre a achou fútil. Na verdade, ele nunca a suportou, mas
eu me divertia com as broncas dele. Eu não me apaixonei pela
Victória, mas sempre me diverti muito com ela, com o seu jeito doido
de ser e a pouca importância que ela dá para as coisas sérias. Eu
sempre fui o seu freio, um norte para uma vida séria, assim, seis meses
depois que eu a conheci, começamos a namorar. Até esse ponto, Almir
nunca disse nada. Ele até gostava, pois estávamos sempre juntos, mas
nos formamos e eu precisei retornar para Rio Doce.
Com o falecimento do meu avô, eu assumi os negócios da família,
que contava apenas com uma usina, na época. O Almir veio comigo e
se tornou meu administrador, hoje ele administra as três usinas. Além
de ser homem de confiança, ele também é o meu motorista. Eu não
confio em mais ninguém para dirigir o meu carro.
A Victória veio passar alguns dias aqui comigo, que se
transformaram em alguns meses, e então ela engravidou. Como eu não
sou homem de fugir de compromisso, ficamos noivos e marcamos o
casamento, mas, infelizmente, ela perdeu o bebê. O Almir tentou me
convencer a terminar o noivado com ela. Ele sempre dizia, e na
verdade ainda fala, que a Victória não é mulher para mim, que ela é
fútil, mimada, sem classe e que não me ama, mas sim à minha posição
de usineiro. E em boa parte de tudo o que ele diz há uma certa razão,
mas eu gosto dela, ela me diverte e é boa de cama. Gosta tanto de sexo
quanto eu gosto. Mas, ultimamente, ela anda afastada de mim. Logo
depois do meu acidente, ela ficou bem diferente, e eu não tiro sua
razão. Ela é uma mulher cheia de fogo, não pode viver com a metade
de um homem, por isso, se a Bianca não conseguir me tirar dessa
cadeira de rodas, eu vou terminar o meu noivado e deixar a Victória
livre.

Quando retorno das usinas, Bianca já está sentada à mesa. Lavo as


minhas mãos e me junto a ela.
— Desculpe-me pelo meu atraso. Não foi proposital, eu juro que
tentei chegar no horário, mas não consegui. — Ela para de comer
assim que escuta a minha voz — Preciso avisá-la que nem sempre
poderei almoçar com você, quase sempre almoço em uma das usinas e
geralmente só almoço em casa quando a Victória está aqui.
Ela fica parada e só move a mão para levar o garfo à boca. Fico
observando os seus gestos, até o mastigar dela é perfeito, parece que
está comendo um manjar dos deuses, algo muito saboroso.
Mais uma vez, a minha mente volta para o passado. Por que olhar
para ela me remete até a minha infância? É algo bom de relembrar,
mas também dolorido, tenho aquela sensação de que me tiraram algo
tão valioso, e isso me faz sofrer demais... minha coelhinha. Muitos
anos se passaram, mas não há um só dia em que não penso nela.
Os olhos azuis de Bianca me sondam. Meu coração quase para de
bater. Seu olhar profundo e tão vivo avalia o meu rosto. Ela é tão linda,
tão delicada, não sei explicar, mas minha vontade é de abraçá-la,
contê-la em um abraço apertado e nunca mais deixá-la ir.
Engulo em seco. Ela me perturba os sentidos. Luto para manter a
minha dignidade, por isso eu a encaro sem demonstrar as emoções
que tentam me dominar.
— O senhor não precisa me dar satisfações — Ela limpa a boca
com o guardanapo — Eu entendo, sei que é um homem ocupado. Eu só
preciso saber se quando não vier almoçar em casa, poderei fazer as
minhas refeições na casa de hóspedes.
Ela volta a comer.
— Certamente que pode. Sim, você pode fazer as suas refeições
onde quiser. — Coloco um pouco de salada no meu prato e começo a
comer. — Gostou da casa? — me sirvo de arroz branco e um filé de
peixe grelhado e volto a mastigar.
— A casa é maravilhosa, muito confortável, e a vista para o rio é
perfeita.
Minha expressão de surpresa faz com que os nossos olhares se
fixem.
— Você precisa conhecer de perto, tem uma cachoeira fantástica.
Um dia, eu a levarei para conhecer o meu esconderijo secreto.
Não sei por que disse aquilo. Esconderijo secreto... pareço um
bobo.
— Promessa é dívida, e vou cobrar. Quero muito conhecer o seu
lugar favorito.
Ela ri, movendo a cabeça, e os seus cachos loiros caem no seu
rosto, deixando-a com uma aparência angelical.
— Assim que sair dessa cadeira de rodas eu vou levá-la, prometo!
— Digo, olhando profundamente para o seu lindo rosto. Ela baixa os
cílios.
Sinto-me imerso em emoções que há muito tempo julgava
esquecidas, e recordar tais emoções é dolorido demais. Nossos olhos
se encontram novamente, e por um momento, é como se as nossas
emoções fossem as mesmas.
— Então, precisamos começar logo com o tratamento — Ela diz.
— Você é quem manda, estou à sua disposição. — Respondo com
gentileza.
— Podemos começar agora. Vai ser bom fazer o reconhecimento
do meu ambiente de trabalho, assim poderemos ter uma ideia do que
usar na nossa primeira avaliação.
— Já?! Não vai fazer mal fazer exercícios logo após a refeição? —
Indago, curioso.
— Sim, e por que não? A digestão será mais rápida após uma
sessão terapêutica. — Ela comenta.
— Então vamos, o que estamos esperando?! — Jogo o guardanapo
na mesa e afasto a minha cadeira de rodas da mesa. Bianca se levanta
e fica ao meu lado, logo após seguimos em direção ao jardim.
A sala preparada para o meu tratamento foi construída ao lado da
estufa, ela era o jardim de inverno, mas agora é uma imensa sala com
equipamentos muito sofisticados.
Entramos no salão. Bianca me deixa para trás e vai analisando
com calma aparelho por aparelho. Fico observando-a, e por um breve
momento, sinto a mesma sensação que tive no nosso primeiro contato.
Eu a conheço, mas não sei de onde.
Bianca me olha de longe, seu olhar curioso me avalia por
demorados segundos.
— Senhor Anthony, eu preciso lhe fazer uma pergunta, posso? Não
tem nada a ver com o meu trabalho.
— Claro que pode. Pergunte.
— Nós já nos conhecemos antes? Porque eu tenho a impressão de
que sim, mas não me lembro de onde... — Ela baixa os olhos, sorrindo
levemente.
— Bem, Bianca, eu tenho certeza que, se já te conhecesse, jamais
esqueceria o seu rosto, portanto, eu acho que não nos conhecemos.
Ela fica pensativa, como se quisesse se lembrar de alguma coisa,
de algo muito importante para sua vida. Percebo o quanto fica
decepcionada por não chegar a nenhuma conclusão.
— Talvez o senhor tenha razão — Fala, tristemente — Vamos
iniciar a nossa consulta. — Ela se aproxima e coloca a mão na minha
cadeira, empurrando-a.
Ela pega uma muda de roupa que está em um armário, procura
entre eles um jaleco e o veste, depois vem na minha direção.
— Senhor Anthony, eu sei que o senhor já passou por vários
fisioterapeutas e que está a par da sua situação, mas eu gosto de
explicar como será o nosso tratamento fisioterápico. Usaremos vários
recursos, e dentre eles está a cinesioterapia. Ela engloba exercícios e
alongamentos que serão realizados de maneira lenta e suave. O treino
de equilíbrio, o ortostátismo, ou posição em pé, deverá ser realizado de
forma gradativa para que o seu corpo se adapte, isso trará benefícios à
sua circulação, respiração e funcionamento dos órgãos. De início
poderá ser realizado com o auxílio daquela prancha ortostática — Ela
aponta para uma espécie de maca com amarras — Também vamos
recorrer à hidroterapia, e se for necessário, poderemos usar a
estimulação elétrica funcional, que pode ser benéfica para promover
uma contração dos músculos paralisados ou enfraquecidos. Mas como
o problema principal do senhor é a sensibilidade psicológica, vou dar
prioridade ao toque. Está tudo bem para o senhor?
— Está. Podemos começar quando quiser.
— Eu preciso que o senhor vista essa roupa, ela é mais apropriada
para tudo o que vamos fazer aqui. — Bianca me entrega a roupa. —
Precisa de ajuda para se vestir?
Olho para ela com um olhar enviesado.
— Não, eu sei me vestir sozinho, obrigada.
Já sei onde é o banheiro. A roupa é, na verdade, um short de
malha colante e uma camiseta. Sinto-me um idiota vestido com essas
roupas, mas não há outro jeito, senão aceitar e pagar o mico.
Bianca me ajuda a passar para uma grande cama. Não é uma cama
convencional, ela é um pouco mais baixa e a espuma é bastante dura.
Ela me deixa deitado de costas para o colchão.
— Senhor Anthony, eu vou tocá-lo com os meus dedos, farei uma
avaliação para testar a sua sensibilidade. Em determinados momentos,
vou precisar ficar sobre as suas coxas e sobre as suas costas, todos os
meus toques serão necessários. Os meus dedos se farão presentes por
todo o seu corpo, mas para que não se sinta constrangido, eu vou usar
luvas, todavia, em algumas ocasiões precisarei retirá-las. Algum
problema quanto a isso?
Mal consigo mover minha boca para responder.
— Não, não haverá nenhum problema. Podemos começar quando
você quiser.
— Então relaxe, senhor Anthony. Não vou machucá-lo, e tenho
certeza de que vai gostar de cada segundo que passaremos nesta sala,
terá até vontade de dormir.
Ela articula cada palavra me olhando diretamente nos olhos. Sua
seriedade me deixa ainda mais nervoso. Saber que esta linda mulher
vai tocar em todo o meu corpo é de tremer a alma.
Capítulo 4

Anthony

Bianca vai até o sistema de som, conectar o seu celular ao


aparelho. Começa a tocar uma música internacional, ela deixa o
volume baixo. Depois senta no colchão sobre as suas pernas dobradas,
olha-me com carinho e sorri.
— Adoro trabalhar escutando música, mas não se preocupe, tenho
um bom gosto para músicas e nenhuma delas é barulhenta. Agora
feche os olhos e entre no clima. Relaxe, senhor Anthony.
Faço o que ela manda.
— Quem está cantando? — Pergunto, e quase engasgo quando
sinto os seus dedos pressionarem as minhas têmporas.
— Shayne Ward, é um cantor inglês. Mas ele não é o único da
minha playlist, vai ficar surpreso com o meu gosto musical, posso
dizer que sou muito antiquada.
Ela aperta os dedos com mais força. Seu pulso está bem rente ao
meu nariz. Sinto o cheiro do seu perfume. Ele é levemente adocicado,
tão suave quanto uma brisa e tão marcante quanto uma tempestade.
— Avise-me se sentir algo diferente nos seus membros inferiores.
Abro os olhos e a encaro.
— Acho que não estamos falando a mesma língua. Eu não sinto os
meus membros inferiores, Bianca.
Ela retira as mãos da minha testa, seus olhos se fixam aos meus
por alguns instantes, e ela morde o lábio inferior. Deus! Bate uma
vontade louca de puxá-la para mim e de beijá-la.
— Senhor Anthony, vamos deixar claro algumas coisas. Primeiro,
eu li os seus relatórios médicos e conheço toda a sua situação.
Segundo, o senhor não é paraplégico, não sofreu uma lesão
permanente na coluna. O seu caso é reversível, requer exercícios
específicos, paciência, determinação e desbloqueio mental, ou seja, o
senhor precisa acreditar na sua recuperação, então pare de se sentir
um homem pela metade, pois o senhor não é.
Suas mãos voltam para minha cabeça. Pela primeira vez, sinto
uma vontade enorme de gritar com alguém ‒ com ela. Quero lhe dizer:
“Então, Senhorita Dona da Verdade, me diga por que o meu pau não
sobe?” Se realmente não tenho algo sério, ter uma ereção não seria um
problema, e assim o meu noivado não estaria uma bosta e eu não
estaria me sentindo uma merda de homem.
Tenho vontade de afastar as mãos dela para bem longe de mim.
Mas aquelas mãos estão suavizando a raiva que quer dominar o meu
interior ferido. Ela move os lábios, então eu percebo que ela está
cantando. A cada movimento que ela faz com a cabeça, os seus cachos
dourados balançam sobre os seus ombros. Realmente, ela é algo
maravilhoso de se ver.
— Senhor Anthony, quando eu disse que poderia sentir sensações
nos seus membros inferiores, enquanto eu toco nas partes que não
foram afetadas no acidente, quis dizer que existem partes do nosso
corpo que, ao serem bem manipuladas, refletem reações em outras
partes do corpo, por isso quero que me avise se, por acaso, o senhor
sentir algo diferente, não importa o quão insignificante seja, me avise.
Só assinto com a cabeça, mas duvido muito que este tratamento
fisioterápico possa despertar as minhas partes quase mortas.
Suas mãos descem para o meu rosto. Seus dedos escorregam pelo
meu maxilar, queixo, lábios...
— Senhor Anthony, está tudo bem? — Mais uma vez concordo
com a cabeça. — Respire, relaxe, sinta a suavidade do toque. — Até
tento relaxar, mas o toque dos seus dedos nos meus lábios faz meus
pelos se arrepiarem, fico até com receio que ela perceba.
Sua mão escorrega pelo meu pescoço. Aqueles dedos são tão
gentis, seus movimentos são tão lentos, e eu começo a imaginar como
ela deve se comportar na cama, amando alguém. Como seria o seu
toque no meu pau.
Anthony, que porra é essa? Cara, ela é sua fisioterapeuta.
— Senhor Anthony. — Sua voz me traz de volta. Abro os olhos. —
Está sentindo alguma reação?
Estou, quero sentir o calor da sua boca na minha.
— Se for nas minhas pernas, não. Mas estou sentindo o toque dos
seus dedos.
Ela continua, suas mãos enluvadas descem pelo meu braço
esquerdo, uma mão o segura e a outra apalpa lentamente a minha
pele. Tento me concentrar, para que os meus pelos não se ericem.
Bianca passa para o outro braço e faz o mesmo. Caralho! Aquilo está
me deixando desconcertado.
Bianca afasta as minhas pernas. Abro os olhos e olho para ela,
espantado. O que ela pensa em fazer? Ela fica entre elas. Suas pernas
longas se espalham em V, fazendo com que suas coxas fiquem por
baixo das minhas. Ela levanta a minha camisa, e os seus dedos tocam a
pele do meu abdômen, logo acima do meu umbigo. Putz! Prendo o ar
nos pulmões. Sacanagem...
Nem quando a Victória me toca assim, eu sinto esses
formigamentos na pele. Eu e a Victória funcionamos no automático, “o
sexo começa assim que nos encostamos”, nunca precisamos de muito
toque, nem de muitas preliminares. Ela é bem prática, gosta de uma
foda pelas vias de fato, se enroscou é gol. Após o meu acidente, essa foi
uma das coisas que mudaram entre nós, o sexo se tornou mecânico
para que eu pudesse ficar excitado, de pau duro. Ela precisava
caprichar nas preliminares, ou seja, haja boquete e masturbação, mas
ela não tem muita paciência.
Por essa razão, quando eu percebo que estou demorando demais
para ficar duro o suficiente para fazê-la gozar no meu pau, eu uso
vibradores ou a minha própria língua na Victoria. Ultimamente, está
cada vez mais difícil fazermos sexo da forma convencional, o uso de
brinquedos eróticos tem sido cada vez mais constante nas nossas
fodas. Mas isso está me deixando muito preocupado, pois tenho uma
noiva linda, gostosa e muito fogosa, não sei até quando a Victória vai
conseguir segurar o seu fogo.
Sentir aquela carícia aveludada é como ser transportado para
outro lugar, um local onde as ondas do mar fazem um barulho gostoso
nos meus ouvidos. Permito-me ser levado pela suavidade do toque
dela. Isso é muito bom, faz tempo que ninguém me toca assim.
Seus dedos descem até abaixo do meu umbigo. Solto o ar de uma
só vez. Algo em mim pulsa, não sei o que é, mas bate uma sensação
dominadora. Aperto os meus olhos porque eu quero muito segurar as
mãos dela, levá-las até o meu pau e pedir... “Me toque aqui, por favor,
toque aqui”. Continuo tentando não pensar nisso. Seus dedos sobem
mais um pouco, e ela aperta o lado da minha cintura, depois não sinto
mais nada. Abro os olhos, e a encontro me olhando, seus olhos
congelados nos meus. Séria, muito séria. Volto a minha cabeça para o
colchão, fecho os meus olhos outra vez e peço mentalmente que as
suas mãos voltem para baixo do meu umbigo, eu preciso muito
daquele toque.
— Onde suas mãos estão? — Crio coragem e pergunto.
— Na lateral das suas coxas. Sente o meu toque?
— Não. — Respondo secamente.
— Agora estou entre elas. Sente alguma coisa?
— Não. — Bate um desespero, minha vontade é de sair daqui. Uma
mulher linda está me tocando entre as coxas, e eu não consigo sentir
nada.
Então, eu sinto os seus dedos no meu abdômen novamente.
Mordo o meu lábio inferior, com tanta força que sinto o gosto do
sangue na boca. Cristo! Isso é bom...
Os dedos dela apertam para baixo e para cima, até chegarem logo
abaixo do meu umbigo. Bate uma vontade louca de dizer “vem cá,
Bianca, eu preciso do seu corpo sobre o meu”.
Aquela mãozinha está me fazendo sentir o que eu não sinto há
mais de dois anos. Eu estou com tesão... Caralho!
Meu corpo está em chamas, minha respiração acelera, o meu peito
parece que vai explodir. Bato com os punhos no colchão. Eu preciso
sair, eu preciso ir para bem longe dela. Já ia pedir para que ela pare,
quando suas mãos se afastam do meu corpo. Um tanto atrapalhada e
com a voz incerta, desculpa-se e se levanta tão rapidamente que eu
nem consigo entender o que aconteceu.
— Senhor Anthony, nossa sessão acabou. O senhor quer que eu
chame alguém para ajudá-lo? — Ela já está na porta, andou tão
depressa que parecia fugir de algo.
— Não precisa, eu sei me trocar, Bian... — Ela desaparece através
da porta.
Respiro fundo e volto a me deitar. Fecho os meus olhos e lembro
do toque das mãos dela no meu corpo. Aquela sensação dominante
volta com força total. Meu corpo se arrepia, meu coração acelera,
então eu resolvo colocar a mão no meu membro... Caralho! Ele está tão
duro que pulsa quando eu o toco. Puxo o short para baixo e o liberto.
Lá está ele. Ereto, orgulhoso, envergado, com a cabeça chorosa. Fico
admirando-o. Porra! Quanto tempo faz que não o vejo assim? Resolvo
massageá-lo, e a sensação de prazer me domina. Sinto-me vivo, sinto-
me homem.
Masturbo-me rezando para que a ereção dure um pouco mais do
que dois minutos, e ela dura.
Fecho os meus olhos e tento pensar em Victória, no que ela diria
se me visse assim, de cacete armado, mas não é a imagem dela que eu
vejo, é a do lindo rosto de Bianca que surge na minha mente, e é
pensando nos dedos dela na minha pele que eu gozo como um maldito
adolescente.
Meu membro convulsiona em fortes espasmos. Não sei como fiz
aquilo, não consegui dominar a vontade de expulsar todo o meu prazer
para fora, e um som gutural de prazer passa pela minha garganta e
explode pelo salão: é um som de alívio.
Ela permanece na minha cabeça após a explosão de satisfação.
Não vai embora, fica dentro de mim.
Bianca, você é a responsável por isso. Não sei como, mas há algo
em você que mexe comigo, você desperta sensações em mim que
nenhuma outra mulher despertou até hoje. Eu preciso tirá-la da
cabeça, pois tanto eu como você somos comprometidos.
Capítulo 5

Bianca

Fugi como uma covarde. Precisava desesperadamente sair do


alcance do corpo de Anthony. Quando vi o seu peito subir e descer
pesadamente, quando vi as suas mãos apertarem o forro do colchão,
não consegui me segurar. Ou eu fugia ou cedia à tentação de fazê-lo
gozar. Assim que eu o toquei, logo abaixo do umbigo, que é uma zona
altamente erógena, o seu pênis começou a ficar ereto, as ondas de
excitação reavivaram o seu corpo, ele ficou excitado e sequer percebeu.
Seus lábios se contraíram, seus pelos eriçaram, sua voz falhou e os
seus olhos se apertaram a cada toque dos meus dedos. Lutei contra o
meu instinto de continuar a provocá-lo.
Quando os seus olhos azuis encontraram os meus, o meu coração
acelerou. Me deu uma vontade louca de inclinar o meu corpo e cobrir a
sua boca com a minha, de sugar a sua língua e descobrir o quão doce
ela é.
Estou muito confusa, não deveria sentir essas coisas pelo meu
patrão, ele é proibido para mim. Mesmo sendo um homem lindo e
gostoso, preciso manter o controle, pois não posso ultrapassar o limite
da hierarquia.
Desde a primeira vez em que o vi, tenho essa sensação esquisita de
que já o conheço. Não consegui aceitar que o próprio Anthony me
dissesse que isso era impossível. Há algo nele que me puxa, um “Q”
que me atraí. Eu não quero e nem devo sentir isso, pois ele é o meu
empregador, e o pior, ele é comprometido, mas não consigo parar de
pensar nele.
Quando os meus dedos delinearam o seu corpo, pude sentir cada
quadro profundo dos seus músculos. Passei o inferno para não
acariciar cada pedaço da sua pele. Minha ansiedade por querer tocá-lo,
apreciá-lo e por querer mais dele chegou a ser insana. Lutei contra os
meus demônios para que as minhas mãos não fossem para frente do
short dele, acarinhar a sua impressionante e poderosa ereção. Quase
assobio quando a vi pulsar.
Cristo! Bianca, você está enlouquecendo.
Por isso precisei correr para bem longe daquele corpo, que fez o
meu pegar fogo. Não quero acreditar, mas também não posso negar,
que estou morrendo de tesão por ele. Isso aconteceu desde o primeiro
dia em que eu o vi, meu desejo nasceu tão logo os meus olhos
encontraram os dele.
Você está em uma enrascada, Bianca, o que vai fazer agora?
Nem olhei para trás ao escutá-lo chamar o meu nome. Saí daquela
sala fugida e envergonhada. Fiquei alguns minutos tentando me
concentrar, tentando recuperar o meu controle, mas não consegui.
Agora, preciso de alívio, preciso exorcizar de alguma forma esse desejo
lascivo que está corroendo a minha alma, o desejo por um homem que
eu sequer conheço direito.
Já dentro da casa de hóspedes, me livro das minhas roupas. Chego
ao quarto só de sutiã e calcinha. Jogo-me na cama e abro as minhas
pernas, coloco os dedos na renda da minha calcinha e encontro a
minha entrada. Estou tão molhada... Imagino os dedos de Anthony me
fodendo, socando lento, beliscando o meu clitóris...
— Humm!! — Gemo, apertando os lábios. Eu o quero, preciso dele
me fodendo. Cristo! Eu enlouqueci.
Deslizo outro dedo entre as minhas dobras molhadas. Engulo em
seco e roço no meu clitóris sensível novamente. Gemo sussurrando o
seu nome. — Anthony! — Meu corpo arqueia, dobro os joelhos e coloco
os pés sobre o colchão. Meus dedos me fodem com mais precisão nesta
posição. — Anthony! — Espasmos ferozes dominam o meu corpo, e
meus dedos habilmente batem em cada nervo, em cada ondulação
sensível das minhas paredes internas. — Anthony... eu... eu... te quero!
—Meu corpo convulsiona, arqueando-se com força, e finalmente eu
gozo desesperadamente. Meu prazer escorre através dos meus dedos,
descendo pelas minhas dobras e molhando o lençol da cama.
Exausta, eu permaneço deitada. Minha cabeça rodopia.
Mas que merda eu fiz? Acabei de ter um orgasmo pensando no
meu chefe!
Meus sentidos, aos poucos, se recuperam, e a minha sanidade
toma o seu lugar de direito. Bianca, você está muito ferrada.
Levanto-me e finalmente, eu o vejo...
Ele está parado na varanda do seu quarto, olhando diretamente
para mim. Não me mexo, mesmo sabendo que estou usando apenas
calcinha e sutiã. Fico inerte, meus olhos fixos nele. Ficamos assim, um
olhando para o outro, até que ele gira a cadeira de rodas e entra no seu
quarto.
Solto o ar que estava preso nos meus pulmões. Será que ele viu?
Será que ele assistiu ao meu show de masturbação? Será que me
escutou chamá-lo enquanto eu gozava? Ah, isso é ainda pior...
Tento não pensar nisso e corro para o banho. A água morna
desacelera os meus batimentos cardíacos, me faz voltar à razão. As
perguntas martelam na minha cabeça. O que está acontecendo
comigo? Por mais que eu tente, não consigo responder aos meus
próprios questionamentos. Desligo a ducha, abro o box e puxo uma
toalha. Já ia jogá-la sobre a cama, quando me lembro que as cortinas
da varanda continuam abertas. Puxo um roupão e o visto.
Troco de roupa, e já estou na porta do quarto quando o telefone
toca.
— Pronto? — Escuto um barulho de talheres.
— Senhorita Bianca, é a Mercedes. O jantar será servido em cinco
minutos.
Já tinha me esquecido por completo das regras da casa. Não tenho
como ficar frente a frente com o Anthony agora, não depois do
orgasmo que eu tive.
— Mercedes, não vou jantar. Estou com uma dor de cabeça
horrível, vou tomar um chá e dormir. Você pode, por favor, avisar ao
senhor Anthony?
Demora alguns segundos, até que ela responde.
— Vou dar o seu recado, senhorita Bianca. Melhoras e boa noite.
Permaneço no silêncio da minha casa provisória. Resolvo fazer um
lanche, pois o meu esforço orgástico me deu uma fome enorme.
Preparo um sanduíche de atum, alface e tomate, e como
acompanhamento suco de maracujá, este para acalmar os meus nervos
agitados. Sento no sofá da sala e começo a ler um livro sobre um
programa de reabilitação pelo toque, em pacientes paralisados sem
gravidade permanente. Estou no oitavo capítulo, quando escuto
batidas na porta. Olho para o relógio do meu celular e vejo que já
passa das vinte e duas horas. Levanto-me e vou atender.
Ao abrir a porta, não esperava, nem nos meus sonhos, estar diante
daquela pessoa, não hoje.
— Boa noite, Bianca! — Anthony está me olhando com aquele
sorriso lindo nos lábios. — Não vai me convidar para entrar?
Ele me olha dos pés à cabeça, com um olhar curioso.
Gelo. Imediatamente, vem ao meu pensamento a minha cena de
masturbação, de horas atrás. Acho... acho não, fico rubra de vergonha.
Saio da frente da porta e o deixo passar.
— Está gostando da casa? — A cadeira de rodas gira e ficamos
frente a frente. — Sempre gostei mais daqui do que da casa grande.
Quando eu vinha passar as férias da faculdade, esta era a minha casa.
— Ele balança a cadeira de rodas e me encara com as sobrancelhas
arqueadas.
— Estou gostando, sim, e muito, embora ainda não tenha tido
tempo para explorá-la. — Ele me encara, e seu olhar despe a minha
alma. — Quer beber alguma coisa? Não sei se tem bebida na casa, mas
eu sei que tem suco. Também posso fazer um café, aceita?
— As bebidas estão ali, naquele gabinete — Ele aponta com o dedo
para uma pequena cômoda em madeira de lei. — Aceito um café, se
não for dar trabalho — Ele sorri, e é o sorriso mais sexy do mundo.
Vou até a cozinha para preparar o café. Dez minutos depois, volto
para a sala e vejo Anthony folheando o livro que eu estava lendo.
Assim que me vê, ele o fecha e volta a me encarar com aquele olhar
cheio de interrogações.
— Com açúcar ou adoçante? — Pergunto, fingindo tranquilidade.
— Açúcar, uma colher, por favor — Anthony responde. Entrego a
xícara para ele e me sirvo também, logo depois me sento no sofá em
frente a ele.
Engulo o café de uma só vez. Ele cruza o seu olhar com o meu,
acho que começando a perceber o meu nervosismo. Ao contrário de
mim, ele segue bebericando o seu café. Permaneço em silêncio,
olhando para ele por alguns minutos. Brinco com o meu anel, girando-
o pelo meu dedo.
— Quando será o casamento? — Ele aponta para o meu dedo,
enquanto me entrega a xícara.
Paro de girar o anel, pego a xícara e a coloco sobre a bandeja.
— Já não sei se haverá casamento. — Minha voz soa triste. Se ele
souber o que se passa na minha cabeça, dirá que realmente não deve
haver casamento nenhum.
— Ele não aceitou a sua vinda para cá? Ele sabe que você pode
convidar quem quiser para visitá-la, nos finais de semana?
— Não foi esse o motivo para as minhas dúvidas. — Volto a girar o
anel no meu dedo — Acho que não há sentimentos suficientes para um
casamento. Quando a confiança acaba, tudo termina também. — Olho
para ele seriamente — Aceitei este emprego justamente para descobrir
se eu e o Leo temos alguma chance de reatar, ao menos o namoro...
— Vocês terminaram o noivado? — Ele pergunta, me encarando,
varrendo os seus olhos azuis penetrantes através do meu rosto.
— Sim. Eu disse para mim mesma que, se eu sentisse a falta dele
ou pelo menos tivesse vontade de escutar a sua voz, somente assim
teríamos alguma chance de recomeçar.
— E sentiu? — Ele pergunta, curioso.
— Não, desde que eu saí da minha cidade não sinto nada, nem
saudade e nem vontade de vê-lo. — Sou sincera, porque acho que não
amo o Leo, acredito que só senti por ele uma atração. O Leo está longe
de ser o meu “príncipe”; talvez esse homem nem exista.
— Então, por que ainda usa o anel de noivado? — Mais uma vez
ele olha para o meu dedo.
— Costume, fiquei com ele por tantos meses no meu dedo que me
acostumei. Não uso joias, e esta é a única, me acostumei com ela. —
Sorri, olhando para o anel de diamantes no meu dedo.
— Você é a primeira mulher que eu escuto dizer que não usa joias.
Você é um caso para estudos. —Ele gargalha, sem tirar os olhos do
meu rosto.
— É sério, não gosto de balangandãs. Eu só tive uma joia na vida,
uma correntinha de ouro, e mesmo assim dei de presente para um
amigo. Sempre fui assim, desapegada de joias, isso desde criança.
— Isso é muito bom, mas acho melhor você substituir esse anel de
compromisso por outro, não acha?
— Concordo. Quando eu tiver um tempo, vou visitar algumas lojas
de bijuteria na cidade. — Limpo a garganta, pois preciso mudar o foco
da conversa. — E o senhor, quando pretende se casar?
Ele força um sorriso e fica pensativo.
— Eu já deveria ter me casado, mas sofri o acidente... — Seu
semblante se entristece visivelmente. — E... a Victória e eu decidimos
só nos casar quando eu voltar a andar, ou, pelo menos, quando estiver
equilibrado sobre muletas. Mas o principal é conseguir fazer a minha
mulher sentir prazer sexual, sem precisar recorrer a brinquedos para
substituir as minhas partes íntimas. Se isso não acontecer, não vou me
casar, prefiro deixar a Victória livre para que seja feliz com um homem
completo.
Fico triste com o que acabo de escutar. Ele nem se deu conta de
que ficou excitado hoje cedo. Eu prefiro não informá-lo, pois ele
saberia o motivo da minha fuga repentina, e isso iria constrangê-lo.
— Senhor Anthony — Aproximo-me mais dele, e ele me olha — o
senhor sabe que a sua paralisia não é permanente, não sabe? Sabe
também que o senhor pode ter ereções normais...
— Bianca, eu sei o que posso e o que não posso fazer. — Ele me
interrompe — E uma delas é foder a minha noiva com o meu pau —
Ele é grosseiro, mas eu não me importo, entendo a sua revolta. — Meu
pênis só fica duro por alguns míseros segundos, isso quando consigo
levantá-lo. Para satisfazer a minha noiva, preciso usar de subterfúgios
como vibradores e muito sexo oral. Tenho uma noiva fogosa, mas eu
sei que não posso alimentar uma relação por muito tempo, só com a
língua e com um pênis artificial.
— Chega! — Agora é a minha vez de interrompê-lo. — O senhor
tem que parar de pensar na sua noiva, quem precisa de ajuda é o
senhor, e não ela. Será que vocês dois entendem isso?
— A Victória é muito paciente e tenta me ajudar, boquete é o que
não falta, mas fica difícil fazer o meu pau ficar duro quando ele não
quer.
— Cristo! Senhor Anthony, eu já lhe disse que há certos lugares do
corpo humano que, ao serem tocados, estimulam a resposta de outras
partes do corpo. O senhor já ouviu falar que, ao fazermos pressão em
determinados locais da nossa mão, podemos curar dores de várias
partes do corpo? — Ele me olha, atento à nossa conversa. — As mãos e
dedos podem despertar reações que antes estavam adormecidas,
depende da forma como é feito o toque, depende também do quanto a
nossa sensibilidade está ligada a esse toque. Sua noiva tem que
esquecer do próprio prazer e se concentrar no seu, ela precisa explorar
as suas partes erógenas, ela precisa tocá-lo com a alma, senhor
Anthony. Eu posso ensiná-la a fazer isso, é só o senhor concordar. Se
nos tornarmos aliadas e trabalharmos juntas, teremos avanços em
pouco tempo. O senhor não é um meio homem, só está travado. Os
seus músculos e nervos estão dormentes e precisam ser despertados,
ok?
Ele baixa a cabeça e permanece nesta posição por alguns
segundos.
— Eu quero muito acreditar nisso, não há um só segundo na
minha vida em que eu não pense em conseguir me libertar dessa
cadeira. Quanto a ajuda da Victória, vou falar com ela, nós dois temos
interesse em que isso se resolva.
Ele sorri polidamente e move a cadeira de rodas em direção à
porta de saída. Eu me levanto e o sigo.
— Ah! Eu já ia me esquecendo, tome! — Ele me mostra uma
cartela de comprimidos.
— O que é isso? — Pego a cartela da sua mão.
— O melhor remédio para dor de cabeça. Tome um antes de
dormir, eu garanto que amanhã você vai acordar sem nenhum vestígio
de dor. — Ele se vira e vai embora — Bons sonhos, Bianca, até amanhã
— Ele diz, acenando com a mão sem olhar para trás. Fecho a porta
ainda desconcertada pela forma como ele disse “bons sonhos”. Só se
for para sonhar com ele.
Capítulo 6

27 de março, Rio Doce, Brasil.


Anthony

Acordo antes do meu horário, como tenho feito desde que ela
entrou na minha vida. Como de costume, paro a minha cadeira de
rodas em um lugar onde eu possa ficar sem ser visto.
Bianca já está trabalhando para mim há quinze dias, e ela tem
uma rotina deliciosa, como ficar de calcinha e sutiã na varanda do seu
quarto às cinco da manhã, tomando uma xícara de café fumegante.
Lá está ela, com um lindo sorriso encantador distendendo os seus
lábios e com aquele brilho intenso e sonhador que irradia dos seus
lindos olhos azuis.
Mais uma vez, sonhei com ela. Sonhei que nós nos amávamos no
colchão da sala de reabilitação, local onde todos os dias ela coloca as
suas mãos em mim, o que desperta todos os meus sentidos. Desde o
primeiro dia em que começamos com os exercícios, eu não consigo
mantê-la longe dos meus pensamentos, mesmo sabendo que é
impossível haver qualquer contato mais íntimo, a não ser o
profissional. Minha mente e o meu coração insistem em torná-la tão
real quanto o meu corpo. Todas as vezes em que ela me toca, sinto o
prazer crescer dentro de mim, sinto uma saudade incompreensível.
São sensações adormecidas dentro do meu corpo, mas que me
enlouquecem, e por mais que eu saiba não ser possível, continuo com
essa sensação de que já a conheço de algum lugar. Tenho quase certeza
de que aquelas mãos delicadas já me tocaram antes.
Continuo escondido feito um ladrão, apreciando o valioso objeto
do roubo. Ela está recostada na porta de vidro, deixando os primeiros
raios solares tocarem a sua pele clara. Seus cachos loiros emolduram o
seu rosto angelical, tornando-a muito mais bela. Fico com ciúmes do
sol, desejando estar no seu lugar. Ah, como eu gostaria de aquecer
aquele lindo corpo, de beijar cada pedacinho dele, molhá-lo com a
ponta da minha língua...
Que merda! Estou ficando excitado novamente.
Sinto o prazer aquecer o meu corpo novamente, apenas com a
lembrança do seu abraço e das carícias.... Um arrepio me sacode e o
tesão vem com força. Fico de pau duro. É sempre assim; basta pensar
na Bianca, e a minha excitação vai a pico. Já virou rotina me
masturbar todas as manhãs, logo após o breve show de strip-tease da
minha linda fisioterapeuta.
Levo as mãos à frente da calça do meu pijama e o coloco para fora.
Meu pênis está tão duro que pulsa violentamente
— Ah, Bianca! — Sussurro o seu nome. Meus olhos apreciam a sua
beleza, enquanto minha mão alisa o meu grosso membro,
escorregando para cima e para baixo com precisão. — Bianca! —
Murmuro o seu nome, puxando o ar entre os dentes. Ela sorri e de
repente olha na direção da minha varanda... Merda! Não sei se foi
transmissão de pensamento, mas as mãos dela deslizam pelo seu
corpo. Ela se toca nos seios, barriga e vulva, parando por lá. Meus
olhos acompanham fixamente os movimentos das suas mãos.
Cacete! Ela está se tocando, se alisando com os dedos. É a visão
mais foda dessas últimas semanas.
Aqueles dedos delicados estão fazendo o que eu gostaria de fazer
com a minha língua.
Será que você está se tocando pensando em mim?
Puta merda! Esse pensamento faz com que a minha mão trabalhe
mais rápido. Meu pênis está pronto para penetrá-la.
— Ah, se ela estivesse aqui...
Ela fecha os olhos, e os seus dedos se escondem na sua calcinha...
Cacete! Ela está se tocando de verdade. Bianca morde os lábios, e
posso jurar que ela soltou um gemido de prazer. Não consigo me
conter: minha outra mão vai à frente da minha boca, escondendo o
grunhido que soltei ao gozar feito um adolescente. Um jato quente de
esperma banha o meu peito.
Enquanto acalmo o meu corpo, continuo me masturbando, sem
tirar os olhos dela. Bianca permanece de olhos fechados, se
acariciando. De repente, ela retira o sutiã e deixa à mostra os seios
redondos. Não consigo vê-los direito, mas é o suficiente para me
deixar louco para prová-los. Já estou pronto para o segundo round,
quando ela se vira e entra no quarto, desaparecendo do meu campo de
visão.
Ela se vai, e eu fico literalmente de pau na mão. Para um homem
que há pouco tempo não conseguia sequer ficar excitado por mais do
que dois minutos, ter um orgasmo todas as manhãs, com uma
intensidade tão profunda, é mais do que perfeito. Fico imaginando
como seria tê-la nos meus braços, tocá-la, beijá-la. Talvez eu nunca
saiba a resposta, mas o que sei é que, desde o primeiro dia em que eu a
vi, nenhuma outra mulher conseguiu despertar as minhas emoções.
Fico alguns minutos escondido, ao lado da porta, com a esperança
de que ela volte e que desta vez esteja nua, no entanto, dez minutos
depois, desisto e vou tomar banho. Ainda disponho de algumas horas
para a minha primeira sessão de exercícios, antes disso, eu vou
encontrá-la no café da manhã. Não sei como vou encará-la depois de
vê-la se tocando daquele jeito, está ficando cada dia mais difícil me
controlar perto dela, me controlar a cada toque dos seus dedos em
mim.
Tomo um banho demorado. Hoje eu vou ter um dia cheio. Após os
meus exercícios, vou me encontrar com alguns empresários
estrangeiros na usina Rio Doce e não sei a que horas vou conseguir
sair da reunião. Resolvo descer já usando a roupa de ginástica. Desde
que descobri a minha fraqueza pelas mãos da fisioterapeuta, optei por
usar uma sunga bem apertada por baixo do short e uma camisa mais
comprida e folgada, assim evito o constrangimento se, por acaso, o
cara lá de baixo resolver dar o ar da graça. Sempre que ela me toca o
meu pênis resolve ficar duro.
Quando chego na sala de jantar, escuto a voz suave de Bianca, ela
conversa com Mercedes.
Novamente tenho aquela sensação de já conhecê-la. Não consigo
entender o porquê desse sentimento louco. Basta escutar a sua voz,
olhar nos seus olhos, ver o seu sorriso ou sentir o seu toque, e isso me
remete a uma época do passado, e nela eu sempre me vejo criança,
brincando com a minha coelhinha Bibi, o meu primeiro amor, talvez o
único.
Minha loirinha linda e delicada. Eu só tinha oito anos e já a
amava, eu já a queria para sempre. Tenho certeza de que se aquela
tragédia não tivesse acontecido, hoje nós dois estaríamos casados e
com alguns molequinhos correndo pela casa. Sofri muito com a nossa
separação, até fiquei doente. Meus avós ainda tentaram encontrá-la,
mas a família da Bibi desapareceu da face da terra. Por longos anos, eu
carreguei essa saudade dentro do meu peito, a dor da distância e
aquela sensação de que algo havia sido arrancado de dentro de mim.
Foram tempos difíceis, e mesmo conseguindo superar e me conformar,
eu jamais esqueci. A minha coelhinha continua viva no meu peito, e
ninguém no mundo vai roubar o seu lugar, mesmo sabendo que eu
nunca vou vê-la novamente.
Escuto uma gargalhada sonora. Alguém está se divertindo. Me
aproximo devagar.
— Posso saber o motivo de tanta alegria? Eu também quero rir. —
Bianca me olha, surpresa, seus olhos baixam tão logo encontram os
meus. — Posso participar? Ou é uma conversa de meninas? — Ela
espera que eu me cale. Eu a olho fixamente, e ela levanta os seus
longos cílios e sorri.
Foram apenas alguns segundos de puro êxtase, mas eu consegui
dominar o seu olhar. Seus lindos olhos azuis dançam sobre o meu
rosto. A inesperada proximidade me faz estremecer. Eu tinha me
esquecido o quanto ela perturba os meus sentidos.
— Não foi nada, senhor Anthony. A senhorita Bianca me
perguntou o que fazemos por aqui para nos divertir, e eu respondi que
muita gente gosta de tomar banho pelado na cachoeira.
Quem gargalha agora sou eu.
— Mercedes, isso é coisa que se diga para a nossa visitante? O que
ela vai pensar de nós? Agora ela deve achar que somos um bando de
caipiras tarados.
— Mas é verdade, senhor Anthony. Eu mesma já tomei muito
banho pelada na cachoeira da propriedade, e o Senhor também. Não
se lembra? Eu mesma cansei de ir buscá-lo, seus avós ficavam loucos,
pois o senhor esquecia da vida.
Lembrei-me da minha adolescência, da época em que eu me
sentava à beira do rio, pegava um pedregulho e o atirava na
correnteza. Eu ficava observando a pedrinha resvalar na água com
incrível rapidez e repicar na superfície algumas vezes, até afundar.
— Não esqueci, não, Mercedes. Bons tempos, aqueles. Nunca
imaginei que, ao crescer, viria morar aqui.
Bianca me olha com certa admiração, e novamente fixamos nossos
olhares. Ela está linda, vestida com uma calça legging preta e uma
blusa de malha comprida, com a escrita em letras grandes “Fisio”.
— Eu sempre me imaginei vivendo aqui. — Mercedes faz com que
meus pensamentos se desvaneçam, e desvio o meu olhar na sua
direção — Mesmo depois de me formar, eu acabei voltando para cá —
Bianca olha admirada para ela.
— Formou-se no quê? — Ela pergunta, curiosa.
— Meus padrinhos, os avós do senhor Anthony, pagaram os meus
estudos. Eu me graduei em Assistência Social e falo fluentemente o
inglês, tudo isso graças a eles, mas eu não quis seguir carreira. Eu era
filha única e... deixei alguém me esperando. Meu falecido marido
trabalhava aqui. Eu me casei na capela da propriedade e não pretendo
ir embora, ainda quero criar os filhos do senhor Anthony, mas isso só
vai acontecer se ele não se casar com a senhorita Victoria.
— Mercedes, não é bem assim... — Eu a interrompo. Mercedes se
mexe, inquieta, me encarando.
— O senhor sabe que sim, a sua noiva já deixou bem claro que se o
senhor quiser filhos, terão que adotar um, pois ela não pretende
deformar o seu corpo e nem perder a sua juventude cuidando de
crianças, portanto, eu só verei crianças correndo por esta casa se o
senhor adotar uma ou se casar com outra moça. — Mercedes olha
diretamente para Bianca, e eu também. — Senhorita Bianca, gosta de
crianças? Quer ter quantos filhos?
Bianca fica rubra.
— Eu... eu gosto, sim... — Ela tropeça nas palavras — Bem, se eu
me casar um dia, pretendo ter dois, eu acho que é o bastante. E o
senhor? — Ela dirige a pergunta a mim.
— Quantos a minha futura esposa estiver disposta a me dar. —
Respondo, sem desviar os meus olhos dos dela.
— Então ferrou. Já vou perdendo as esperanças de ver essa casa
cheia de molequinhos saltitantes, pois se depender daquela lá, o
senhor não terá filhos.
Não sei por quê, mas gargalho com vontade. Mercedes franze a
testa e me olha, furiosa.
— Não precisa exagerar, Mercedes. As pessoas mudam de opinião,
e eu nem me casei ainda.
— Se quiser filhos, senhor Anthony, trate de arrumar outra noiva,
e se o senhor me der licença, eu vou mandar servir o café de vocês.
Ela se vira e nos deixa sozinhos. Bianca segura a minha cadeira de
rodas e me empurra até a mesa. A Victória nunca fez isso. Desde o dia
em que eu me sentei nessa cadeira, ela nunca encostou em mim, só
ficamos próximos um do outro na horizontal, ela diz que não se sente
bem me vendo abaixo dela.
As mãos de Bianca pousam nos meus ombros e passam
suavemente por eles. Sinto o calor do carinho, e o meu coração
acelera. Fico com vontade de virar a cadeira e de puxá-la para o meu
colo.
— Não ligue para o que a Mercedes fala, ela nunca negou que não
gosta da Victoria, aliás, nem os meus avós gostavam dela. Meu avô a
chamava de boneca humana inanimada.
Bianca inclina o corpo, ficando bem próximo de mim, e estica o
braço para travar a minha cadeira. Antes de se afastar, ela alisa as
minhas costas carinhosamente, depois senta na cadeira do lado
esquerdo da mesa.
— A Mercedes parece gostar muito do senhor, ela se preocupa com
a sua felicidade, mas o importante é que o senhor esteja bem. Se ama a
sua noiva, não tem que se importar com a opinião dos outros,
portanto, não posso e nem devo me meter, afinal eu nem a conheço.
— Eu sei, nunca me importei com a opinião dos outros. Se fosse
assim, não teria nem começado a namorar com a Victoria. — Bianca
serve o café, coloca duas colheres de açúcar e leite, corta o meu pão,
coloca queijo coalho, presunto e um pouco de geleia de ameixa, parte o
pão ao meio e coloca o prato na minha frente.
Eu nunca tinha dito para ela que gostava de pão com presunto,
queijo branco e geleia de ameixa, só as pessoas mais próximas a mim
sabiam disso, e eu não me lembro de ter feito isso no nosso último café
da manhã, esta é a primeira vez que a Mercedes serve isso à mesa.
Para a minha surpresa, ela se serve exatamente da mesma forma.
Não consigo acreditar no que estou vendo, finalmente encontrei uma
pessoa com o mesmo paladar que o meu, só falta ela me dizer que
gosta de doce de jaca mole.
— Bianca, você gosta de doce de jaca mole? — Resolvo arriscar.
— Adoro! Mas na minha cidade não encontro, faz anos que não
como o meu doce favorito.
Olho para ela, incrédulo. Suspiro.
— Seus problemas acabaram — Digo, rindo — Mercedes! —
Mercedes vem até nós. — Traga duas taças de doce de jaca mole,
acabei de encontrar uma companheira de garfo. — Bianca me olha,
admirada, e a Mercedes sai toda feliz da sala de jantar.
Fazemos a festa com o doce que nos servem. Parecemos crianças,
nos deliciando com o nosso manjar dos deuses. Lembro-me da minha
coelhinha, aprendi a gostar de doce da jaca mole com ela. Bibi adorava
esse doce, o seu pai sempre trazia um pote que ela dividia comigo,
quando voltava do quartel. Desde então, ele virou o meu doce favorito.
Satisfeitos e quase empanturrados de tanto comer, seguimos para
a sala de exercícios.
Bianca me ajuda a sair da cadeira. A princípio, estranhei esse
tratamento cuidadoso que ela tem comigo, eu ficava um pouco
incomodado, pois a última coisa que eu queria era que tivessem pena
de mim. Mas, ao sentir a sua preocupação e o seu zelo comigo, todas as
minhas barreiras foram derrubadas. Eu fico satisfeito de saber que, se
eu precisar de ajuda, ela estará ali do meu lado, pronta para me
estender a mão.
Ela me coloca no colchão e se senta entre as minhas pernas,
colocando as suas por baixo das minhas coxas.
— Senhor Anthony, hoje nós vamos fazer um exercício diferente.
Eu vou erguer as suas pernas e colocá-las nos meus ombros, uma em
cada ombro, depois vou inclinar o meu corpo para frente, até que eu
encoste o meu peito no seu abdômen. Com esse exercício, as suas
pernas serão levadas à frente do seu tórax, mas não deixe de me avisar
se sentir alguma dor ou desconforto, ok?
Seus olhos azuis me olham atentamente. Quem está diante de
mim é a profissional Bianca. Séria, competente e atenciosa.
— Bianca, eu estou morto da cintura para baixo, qual é a dor ou o
desconforto que eu poderia sentir? Pode fazer o que quiser que... Ai! —
Sinto um beliscão na altura da cintura, um pouco abaixo do meu
umbigo.
— Morto! O senhor está morto? Tem certeza? — Seus olhos se
estreitam quando ela me olha — Já expliquei que o senhor não está
paraplégico, apenas com uma paralisia temporária, os seus reflexos
estão despertando, e logo começará a mover os pés, então pare de se
sentir um aleijado. O senhor é mais homem do que qualquer um que
eu conheço, é questão de tempo para que tudo volte ao normal.
Minhas pernas são suspensas, e ela as segura com as mãos. Bianca
começa a inclinar o seu corpo, o que faz com que ela caia para frente.
Sua cabeça se apoia no meu peito, e então ela me encara. Meus olhos
se perdem naquele rosto lindo, naquela boca tão desejada. A suave
fragrância floral que emana dela inebria os meus sentidos, suscitando
lembranças pecaminosas de hoje cedo. Peço com força para não ficar
de pau duro, pois a minha fisioterapeuta está deitada sobre ele. Meu
coração acelera e, nervoso, eu endireito os meus ombros, respirando
fundo para tentar me acalmar.
— Mas que porra é essa que está acontecendo aqui? — Uma voz
bastante conhecida por mim pragueja sonoramente, ecoando entre as
paredes de vidro. — Quer dizer que eu não posso virar as costas que o
meu noivo resolve me substituir por uma puta? — Ela olha raivosa
para Bianca. — Cai fora, sua filha da puta! Vamos. cai fora... — Bianca
fica sem ação, ela me olha desnorteada — O que você quer? É dinheiro,
é isso? Quanto? R$ 500,00 está bom?
— Victória... Victória... — Ela não me ouve, continua ofendendo a
Bianca. — Victória... Porra, Victória! — Grito. — Cale-se! Essa moça é
uma profissional.
Victória me olha, sorrindo.
— Claro que ela é uma profissional, agora puta virou profissão.
Como é mesmo que chamam? Profissional do sexo ou terapeuta sexual
— Ela diz, com sarcasmo.
— Senhor Anthony, acho melhor eu ir embora, mais tarde
continuamos.
— Como é?! — Victória avança na direção de Bianca. Tento me
levantar para protegê-la, mas o máximo que consigo é ficar sobre os
meus cotovelos — Continuar depois?! Sua putinha! Você quer me
desafiar? Vou lhe mostrar com quem está falando.
— Nem mais um passo, Victória! — Vocifero, e até a Bianca se
assusta. Ela não pode se levantar, pois as minhas pernas ainda estão
sobre os seus ombros. — Toque em um fio de cabelo da Bianca, que eu
vou te mostrar o meu verdadeiro eu... — Olho para a Bianca — Por
favor, baixe as minhas pernas. — Peço, olhando seriamente para o seu
rosto. Ela balança suavemente a cabeça em concordância, baixando as
minhas pernas em seguida. — Obrigado! Victória, peça desculpas para
Bianca.
Victória me olha, com raiva.
— Não vou pedir desculpas para uma garota de programa, isso é
ridículo.
— Ela não é uma garota de programa. Ela é a minha
fisioterapeuta. Se você tivesse atendido aos meus telefonemas ou lido
as minhas mensagens, não teria se prestado a esse papel ridículo.
Agora ande, peça desculpas a Bianca.
Bianca se levanta rapidamente e me olha, nervosa. Ela treme, e eu
não tiro a sua razão, afinal, ser confundida com uma prostituta está
longe de ser algo aprazível.
— Acho que encerramos o nosso treinamento matinal, à tarde
continuamos. Eu acho que vocês têm muito para conversar.
Bianca sai apressadamente da sala.
— Bianca, espere! — Eu olho para Victória, furioso — Não pense
que escapou de lhe pedir desculpas, você vai fazer isso ainda hoje.
Ela faz cara de arrependida, baixa o rosto e fala baixinho:
— O que você queria que eu pensasse? Entro na minha casa e dou
de cara com uma mulher em cima do meu noivo. Eu pensei que ela
estava lhe fazendo um boquete, não me culpe.
Puxo a cadeira de rodas para mais perto, e com muita dificuldade,
consigo me sentar nela. Victória nem se mexe para me ajudar. Movo a
cadeira em direção à porta de saída e vou direto para o meu escritório,
com Victória logo atrás.
— Hei, estou falando com você! Eu tenho ou não tenho razão de
ter pensado tudo isso?
— Não, você não tem razão e nem direito de pensar, pois você
sumiu por quase um mês. Você não tem direito nenhum de me fazer
quaisquer questionamentos.
Ela vem até mim e aponta o dedo na minha cara.
— Pois fique o senhor sabendo que eu não vou admitir que me
chifre. Se não estou ao seu lado, é porque não gosto de vê-lo nessa
cadeira de rodas. O senhor não tem o direito de me destratar desta
forma, eu sou a sua noiva, sua futura esposa.
— Pois não parece! Você age como se fosse uma estranha. Estou
há quase um mês, Victória, um mês, sem notícias suas. Estou farto da
sua indiferença. Se você quiser ser tratada como a minha noiva,
comece a agir como tal.
Ela me empurra com força, e a minha cadeira anda para trás. Seus
olhos faíscam, cheios de raiva. Seus lábios tremem quando ela começa
a esbravejar.
— Vá à merda, Anthony! Eu não vou ficar aqui escutando os seus
desaforos, até parece que não está feliz com a minha volta. Eu aqui,
cheia de saudades de você, e te pego com outra mulher, te pego com
outra sobre o seu corpo, e mesmo assim afirma que eu não tenho
direito de ter ciúmes!? Queria ver se fosse o contrário, se fosse eu no
seu lugar.
Ela se vira e sai batendo os pés, furiosa.
— Victória volte aqui... volte aqui, Victória! Onde você pensa que
vai?
— Vou para o inferno, lá deve estar melhor do que aqui.
Só escuto o som do ronco do motor de seu carro. Será que eu
exagerei na bronca? Acho que eu deveria ter pegado leve. Afinal, ela
tem razão, se fosse eu no seu lugar, agiria da mesma forma, ou até
pior.
Capítulo 7

Bianca

Entro na casa de hóspedes tão depressa quanto posso. Minha


intenção é arrumar as minhas malas e ir embora.
Como você pôde permitir ser humilhada daquele jeito, Bibi?
Onde está a sua autoestima?
A verdade é que fiquei sem ação, tão desconcertada que sequer
consegui pensar. Aquela criatura horrorosa que se denomina “noiva”
do Anthony nem deveria existir. Com que direito ela exige fidelidade
dele? Ela tem sorte, pois o Anthony é um homem íntegro, outro no
lugar dele já teria enfeitado a cabeça dela com muitos chifres.
Estou com raiva, muita raiva dela. Victória... Que mulher
desprezível. Estou aqui há mais de quinze dias, e essa é a primeira vez
que a vejo. Como uma mulher, que diz amar um homem, fica tanto
tempo longe dele?
Não consigo entender. Eu no lugar dela não sairia de perto dele,
eu o apoiaria e tentaria deixá-lo confiante. Aquela insegurança de não
conseguir controlar a ereção é culpa dela. Ele só vai conseguir superar
isso se tiver ajuda prática. Mas como, se a noiva some? Como, se o
contato físico, que é o mais importante para o tratamento, ele não tem.
Sento no sofá e caio no choro. Estou tensa, confusa e preocupada
comigo. Todos esses dias convivendo com o Anthony estão me
deixando desorientada. Não consigo mais manter o meu lado
profissional separado do meu lado pessoal. Não posso negar, não
mais. Por mais que eu tente procurar desculpas para o que estou
sentindo, não tenho como negar: o Anthony mexe com as minhas
emoções. Basta pensar nele, que todo o meu corpo e mente ficam uma
tremenda bagunça.
Ainda há essa sensação que me atormenta, de que já o conheço.
Os sentimentos conflitantes dentro do meu coração me assustam. A
saudade que me sufoca, a vontade de escutar a sua voz, a sua risada
gostosa. A vontade de sentir os seus olhos me olhando, de sentir as
suas mãos me tocando.
Meu Deus! Estou enlouquecendo. Que sentimentos são esses?
Como posso sentir que já o amo, antes mesmo de conhecê-lo!? Não,
não, isso não é normal.
Essa saudade tão dolorida eu só senti na minha infância. Sim, mas
eu era só uma criança.
Foi logo depois que a minha mãe morreu. Eu só tinha cinco anos,
não me lembro de muitas coisas, no entanto, lembro-me do meu
amigo carinhoso, do meu protetor, do meu príncipe.
Tito, meu amigo, meu único amigo. Como senti sua falta, chorei
por noites, semanas e meses. Cheguei a ficar doente. Papai tentou me
consolar, dizendo que era melhor para mim esse afastamento, pois
certas lembranças só deveriam ser guardadas no coração, e que
conviver com elas não era saudável, principalmente para mim. Cresci e
o levei no meu coração por anos, ficava imaginando onde ele estaria, o
que fazia.
Eu sempre me lembrava da sua promessa. Um dia, ele me disse
que quando crescesse se casaria comigo, e que sempre me protegeria.
Prometeu nunca me abandonar, mas nos separaram, e essa foi a pior
dor que já senti na minha vida, porque, dentro de mim, ficou um vazio
que nunca foi preenchido. Eu sei e tenho certeza que, se tivéssemos
crescido juntos, hoje estaríamos casados e felizes. Ele era o meu
príncipe, e eu a sua coelhinha de olhos vermelhos.
Mesmo após vinte e quatro anos da nossa separação, Tito
permanece vivo dentro do meu coração. Talvez ele já esteja casado,
com filhos e nem se lembre mais de mim, mas eu nunca o esqueci, e
acho que nunca vou esquecê-lo. Eu só o esqueço quando estou ao lado
do Anthony, ele é o único que consegue preencher essa falta que sinto
de um olhar carregado de emoção, pois quando ele me olha, eu me
sinto viva e protegida novamente.
Deito no sofá. As lágrimas cessam, mas a dor no meu peito, não.
Ela reflete a saudade de um abraço amigo e querido.
Tito, Tito, onde você está?
Acordo sobressaltada. Acho que adormeci de tanto chorar e
terminei sonhando. Sonhei com ele, com Anthony. No sonho era tudo
tão familiar, era como se ele fizesse parte da minha vida e eu já o
conhecesse desde sempre. É difícil explicar a intensidade e a
inquietude do meu sonho, mas as sensações são muito reais. O
Anthony é como minha outra metade...
Agora eu viajei nos meus pensamentos. Minha outra metade.
Acorda, Bianca, você ainda está dormindo!
O alarme do meu celular começa a soar. Dormi demais, perdi até o
horário do almoço.
Vou até a cozinha e percebo que o telefone fixo pisca. Alguém da
casa principal tentou falar comigo. Aperto o botão e escuto a
mensagem.
“Senhorita Bianca, o almoço foi servido ao meio-dia, como a
senhorita não apareceu e não atendeu às minhas ligações, tomei a
liberdade de guardar o seu almoço, quando quiser é só me ligar que
mando alguém levá-lo.”
É Mercedes. Verifico as horas.
— Nossa mãe! Como pude esquecer? — Já passa das quinze horas,
estou quinze minutos atrasada para a segunda sessão de exercícios de
Anthony.
Olho-me no espelho rapidamente. Os meus olhos estão um pouco
inchados e os meus cabelos desalinhados. Eu os ajeito, prendendo-os
no alto da cabeça, quanto ao inchaço dos olhos, eu nada posso fazer.
A casa está silenciosa. Vou até o escritório; também está vazio,
provavelmente o Anthony já está me aguardando na sala de
fisioterapia. Sem pressa, me encaminho para lá, mas ao passar pelo
corredor, escuto a voz arrogante e inconfundível de Victória. Resolvo
encurtar meus passos, pois não quero ser inconveniente. Paro antes da
porta de vidro e tento entender o que está acontecendo. Pelo que
consigo escutar de longe, ela está bem alegre com alguma coisa.
— Não quero sua boca na minha boceta, seu idiota! Eu quero que
me foda com esse pau enorme, anda, me fode bem gostoso.
— Victoria, tem certeza de que você quer que eu faça isso aqui?
Não é o Anthony, aquela voz não é dele. A vaca da Victoria está
com outro homem, bem debaixo do teto de Anthony. Meu coração vai
na boca. Como ela ousava fazer tal coisa? Meu corpo começa a tremer,
bate uma aflição e, ao mesmo tempo, eu quero fugir dali, mas, ainda
assim, sinto uma necessidade de continuar escutando toda essa
safadeza.
— Murilo, me fode logo, se eu te chamei aqui foi para isso. Anda,
coloca esse pau gostoso na minha boceta necessitada, faz horas que
não dou uma bem gostosa. Faça comigo o que o meu noivo aleijado
não pode fazer. Aquele lá só sabe me foder com os dedos, língua e com
um vibrador. Eu não suporto mais isso, eu gosto mesmo é de um pau
grande, grosso e vivo dentro do meu corpo. Foda-me, porra!
De onde eu estou não consigo vê-los, mas nem precisa, pois ouço o
barulho das estocadas e dos corpos se batendo. Dá para ter uma nítida
impressão do que os dois estão fazendo.
— Você gosta de ser fodida com força, não é, cadela? Gosta
quando eu te pego por trás e enfio forte. Minha putinha riquinha...
Rebola gostosa, rebola no meu pau.
— Para de falar, Murilo! Foda-me com mais força, você está muito
lento, mais rápido, cachorrão... oh, humm!
— Incline o corpo mais para frente, minha putinha, eu quero
provar o seu rabinho. A última vez que fizemos isso foi antes de você
viajar, adoro essa sua bunda.
Tento sair dali, mas não consigo me mover, meus pés estão
plantados no chão, o meu corpo trêmulo e meus olhos nublados. A
Victoria trai o Anthony bem debaixo do nariz dele. Será que ele sabe
disso? Será que ele permitiria isso apenas por se sentir um incapaz?
Encosto o meu corpo na parede e continuo com a minha tortura de
escutar e presenciar a traição da noiva do meu paciente.
— Caralho, Victoria! Hoje você está insaciável. Quando você vai
dar um chute no patrão e eu vou ter você só para mim?
— Ficou louco, Murilo!? Você acha mesmo que eu vou trocar a
conta bancária do Anthony pela sua?
— Victoria, qual é? Eu sei que você não precisa do Anthony, você é
rica. Acho que já está na hora de escolher quem é o melhor homem
para colocar na sua cama, e está na cara que esse homem sou eu.
Cachorra! Ela é uma cachorra da pior espécie. Maldita mulher!
Sinto o sarcasmo na gargalhada dela.
— Não se iluda, Murilo. Você é só mais um na minha cama. Você
acha mesmo que você é o meu único amante? — Ela gargalha outra vez
— Pobre empregado iludido, não é não, meu bem. Sim, eu sou rica,
mas a minha herança, vou ter que dividir com duas irmãs e um meio-
irmão, e ela nem se compara aos milhões que vou herdar do Anthony,
e esse dinheiro eu não vou dividir com ninguém, será só meu. Mas não
se preocupe, aqui no Brasil você será o meu único amante, não posso
vacilar. Vou promovê-lo para o meu motorista particular. De mecânico
das máquinas da usina, você passará a ser meu chofer, e com um
salário bem alto. O que acha? Você vai poder me acompanhar para o
Rio de Janeiro.
— Amante da patroa! Você confia muito em si mesma, não é,
Victoria? Se o senhor Anthony descobrir, você está ferrada. Ele é
aleijado, mas não é trouxa. Eu perco o meu emprego e você a sua
herança.
— O Anthony não vai descobrir nunca, ele está aqui — Escuto o
som de palmas — Aqui na palma da minha mão. Ele é louco por mim,
e enquanto eu o satisfizer na cama, ele não vai me deixar, afinal eu o
conheço, ele tem vergonha da sua situação física. Ele jamais vai pensar
em me deixar e se aventurar em procurar por outra mulher. E quem é
que vai querer um aleijado, um homem que não é homem, que não
consegue levantar o pau por dois minutos?
— E se ele voltar a andar? Ele contratou uma fisioterapeuta, ela
pode conseguir.
— Eu tenho certeza de que o Anthony não vai voltar a andar, mas
se voltar, não vai mudar nada. Ele nunca foi um bom amante mesmo,
ele é muito convencional, não gosta de inovar. Se eu propuser uma
troca de casal, é bem capaz que ele termine o nosso relacionamento,
agora imagine se eu chegasse a lhe propor um outro homem na nossa
cama? Você é meu amante perfeito, você topa tudo, e é isso que me
deixa louquinha por você. Mas não se iluda, o Anthony será o meu
marido e você o meu amante, espero que entenda isso.
— Entendo perfeitamente. Você é uma vadia, Victoria. Tenho até
pena do corno do meu patrão. Agora venha cá, vamos continuar com a
nossa brincadeira.
— Não, não aqui. Vamos para o nosso canto, daqui a pouco a
Mercedes aparece. Gosto de viver perigosamente, mas não tanto
assim.
Escuto o som de passos, então consigo sair do meu torpor. Corro
dali com lágrimas nos olhos, minhas pernas cambaleiam, não consigo
acreditar em tamanha maldade.
Como uma pessoa pode ser tão mau-caráter assim, tão
dissimulada? Estou tão nervosa, que nem vejo a Mercedes na minha
frente e termino esbarrando nela.
— Meu Deus, Bianca! O que aconteceu, por que você está
chorando?
— Não... não... não é nada demais... é.... é só enxaqueca. Eu vim
me desculpar com o senhor Anthony, por não ter vindo para a nossa...
— O Senhor Anthony não está. Ele foi para a usina, só volta à
noite. — Ela me olha, intrigada. — Quer um remédio para dor?
— Já tomei, agora só preciso de cama. Desculpe, Mercedes, mas
eu preciso me deitar, sinto que a minha cabeça vai explodir.
Saio correndo e nem presto atenção no que a Mercedes fala. Eu só
quero me esconder e esquecer de tudo aquilo que eu escutei. Toda
aquela sujeirada. O Anthony não merece isso, é tão difícil de acreditar
que pessoas tão boas como ele sofram esse tipo de traição.
Toda essa situação constrangedora está me causando náuseas.
Escutar a Victoria falar todas aquelas coisas sobre o Anthony me deu
arrepios. Como uma pessoa pode ser tão desprezível e tão fingida? Ele
aparenta amá-la. Nenhum homem como ele e com o tamanho da sua
conta bancária ficaria à disposição de uma mulher tão prepotente e
arrogante como ela, se ele não a amasse. A mulher some das vistas
dele, fica semanas sem vê-lo, e ele não dá nenhuma escapadinha.
Outro no lugar dele certamente já estaria com uma substituta.
Entro em casa e vou direto para o quarto. A minha vontade é de
arrumar as minhas coisas e ir embora, pois sei que não vou conseguir
conviver com essa situação.
O pior é que eu não sei o que fazer. Devo contar a verdade? Devo
me calar e deixar que o próprio Anthony descubra a cobra que está
criando debaixo do seu próprio teto? Eu não tenho o direito de me
meter. Talvez ele nem acredite em mim. O que eu sei é que o Anthony
não merece essa sacanagem.
O pior é que se eu for embora, ele perde a única oportunidade de
voltar a andar que tem. Estamos avançando no tratamento, ele já
consegue sentir algumas terminações nervosas. Eu sou a única chance
que ele tem de se levantar daquela cadeira de rodas, não posso
abandoná-lo, não agora, mesmo que tenha que conviver com aquela
cobra peçonhenta.
Suspiro e resolvo tomar um banho, talvez assim os meus
pensamentos clareiem um pouco e essa raiva passe.
Relutante, eu entro debaixo do chuveiro. O banho morno relaxa os
músculos do meu corpo. Visto um conjunto de malha, calça e camisa
de mangas compridas, e me jogo na cama. Fecho os meus olhos e tento
dormir, mas nem o colchão confortável consegue me relaxar. Viro-me
para o lado da porta da varanda, e os meus olhos vão direto para a
varanda do Anthony. Lembro-me dele ali parado, admirando a linda
paisagem da floresta.
Deus! Aquele homem perturba os meus sentidos e bagunça
terrivelmente as minhas emoções.
Não, eu não vou conseguir relaxar no quarto, então, resolvo
descer, tomar um chá e ler um livro, talvez assim eu consiga
adormecer um pouco.
E é exatamente isso o que faço. Deito-me no sofá, pego um livro
qualquer e começo a folheá-lo. Devo ter cochilado, pois acordo e já
está escuro. Só então percebo que alguém bate na porta.
Vou até a porta e a abro. Para a minha surpresa, quem está na
minha frente, com um lindo sorriso nos lábios e um embrulho no colo,
é o Anthony.
— Boa noite, bela adormecida! Vai ficar aí parada, me olhando?
Não vai me pedir para entrar? Ou quer que eu crie raízes aqui?
Abro um largo sorriso. O Anthony sabe ser engraçado. Saio da
frente da porta, dando espaço para que ele passe.
— Entre, senhor Anthony. Deus me livre de fazê-lo criar raízes.
Ele passa na minha frente e eu o ajudo, empurrando a cadeira.
Com um ar confiante, ele vira a cadeira de rodas e fica de frente para
mim.
— Um passarinho me contou que senhorita não almoçou, não
jantou e logo cedo andou chorando de dor. — Seus olhos se estreitam,
me encarando. — E não minta para mim, Bianca, eu já estou
começando a me preocupar com as suas enxaquecas. Se elas se
repetirem, vou ser obrigado a chamar um médico para examiná-la, ok?
— Anthony, não se preocupe, eu sempre tive essas enxaquecas.
Elas vêm e vão em um piscar de olhos. Eu já estou bem, tomei um
remédio, dormi e passou.
— Mesmo assim, na próxima crise vou chamar um médico. Bem,
por causa da minha preocupação, eu trouxe algo para dividir com
você. — Anthony olha para o pacote que está no seu colo e o abre.
Não acredito no que vejo.
— Sonhos recheados. Você trouxe sonhos... Minha nossa! Como
você soube que eu gosto de sonhos?
— Aí é que está. Eu não sabia, mas para alguém que gosta de doce
de jaca mole, imaginei que gostava de sonhos, também, e por incrível
que pareça, eu acertei.
— Adoro! E os recheados com doce de leite são os meus
preferidos. Minha nossa, deu até fome! Onde você encontrou essas
preciosidades?
Vou até ele e pego o pacote do seu colo, admirando, com água na
boca, as iguarias deliciosas que estão dentro dele.
— Então, lá na usina tem uma senhora que vende doces e
salgados, e especialmente hoje, ela trouxe sonhos. E adivinhe? Com
recheio de doce de leite. — Sinto-me tentada a me jogar nos seus
braços. Luto contra o desejo crescente de beijá-lo, e quase perco o
fôlego quando o vejo sorrir desse jeito para mim, comendo-me com os
olhos. — Só falta o café para acompanhar essa gostosura, não acha?
Corro para a cozinha, mas ele impede que eu me aproxime da pia,
sua voz grave faz com que eu interrompa os meus movimentos.
— Nem mais um passo, senhorita Bianca. Vai me tirar o prazer de
mimá-la um pouco? Deixa que eu faço o café, você fica só me
observando.
— E o senhor sabe fazer café? — Pergunto a ele.
— Você nem imagina as coisas que eu sei fazer, você ficaria
boquiaberta se descobrisse um terço delas. — Aquele olhar quente e
provocante varre o meu rosto. Não sei por quê, mas eu sinto um pouco
de malícia nas palavras dele, e isso faz o meu rosto queimar,
provavelmente estou rubra.
Anthony também fica desconcertado quando percebe o meu
rubor. Vira a cadeira para a pia e começa a preparar o café. Eu me
encarrego de pegar as xícaras e os pratos.
O aroma gostoso do café toma conta do ambiente da cozinha, e
finalmente nos juntamos à mesa. Ele respira fundo.
— Como quer o seu café? — Indaga, para mudar o clima que ficou
estranho depois das suas afirmações sobre o que ele sabe fazer.
— Mais leite e menos açúcar — Ele me olha, surpreso, pois
costumo tomar café com menos leite. — Preciso dormir. Você
esqueceu que há poucas horas eu estava com dor de cabeça? A cafeína
é um perigo. — Digo, rindo.
Anthony troca a xícara, e no lugar do café, ele coloca só o leite.
— Bem lembrado, minha linda fisioterapeuta. Enxaqueca não
combina com café, portanto, a senhorita vai beber leite. Tome aqui o
seu leitinho quentinho. — Agora é a vez de Anthony sorrir.
Dou de ombros e levo a xícara à boca.
— O que importa é que eu vou comer um sonho delicioso — Pisco
um olho para ele e recebo em troca outro lindo sorriso.
— Considerando que temos a companhia um do outro, o que eu
considero mais importante do que tudo isso, porque você me faz um
bem enorme. Eu não sei explicar, mas gosto muito de conversar com
você.
Sou pega de surpresa com essa declaração. Quero lhe dizer o
mesmo, mas acho que não devo, o clima já está estranho demais para
nós dois. Temo que, se eu disser qualquer outra palavra, a minha
carência por ele me fará me jogar no seu colo.
— Bianca, preciso pedir desculpas pelo o que aconteceu hoje cedo,
a Victória não costuma medir as palavras, ela costuma falar o que
pensa, mesmo assim ela não tinha o direito de trata-la daquele jeito...
— Está tudo bem, — interrompo-o, não quero estragar a nossa
noite. — Eu a entendo, ela ficou com ciúmes, é compreensível.
— Tem certeza que está tudo bem? — estreita os olhos ao indagar.
Afirmo com a cabeça, oferecendo-o um lindo sorriso.
Às dez horas o Anthony vai embora. Supus que a megera da noiva
estava se agarrando com o amante, em algum motel por aí.
Às onze e quinze já estou deitada. Antes de virar as costas para a
porta da varanda, eu olho na direção do quarto de Anthony. As luzes
estão acesas, e pelo reflexo da cortina, vejo um corpo feminino. Ela
está lá e provavelmente vai fazer com ele tudo o que eu gostaria de
fazer, muito melhor do que ela, disso eu tenho certeza. Apago as luzes,
me viro e adormeço.
Acordo escutando vozes bastante alteradas, elas vêm do quarto de
Anthony. Eles discutem tão alto que posso ouvir palavra por palavra
dita.
— Eu não quero um vibrador dentro da minha boceta, eu quero o
seu pau, entendeu? Porra, amor, você me disse que está conseguindo
manter ele firme, que até está se masturbando. Cadê? Eu não estou
vendo nada, isso aí não dá nem para fazer cosquinha.
— Você também não ajuda, Victória. Só reclama, você precisa se
esforçar mais, pelos menos ter mais paciência. Eu não posso fazer
milagre sozinho, se ao menos você fizesse sexo oral por mais tempo...
— Faça-me o favor, Anthony! Eu já estou com as bochechas
doendo de tanto chupar o seu pau. Quer saber, amor? Eu acho que
essa coisa aí não vai subir nunca mais, precisamos pensar em
alternativas, como remédios, implantes ou algo mais ousado, como...
como...
— Como o que, Victória? Vamos, diga-me, como o quê?
— Amor, você precisa pensar em mim um pouquinho. Eu te amo,
amo muito, mas eu preciso mais do que dedos, língua e um pau de
borracha. Já está na hora de você ampliar os seus horizontes. Nós
podemos contratar um casal para nos ajudar. Eu já li sobre isso, eles
vêm até nós e fazem sexo na nossa frente, depois nos juntamos aos
dois. Quem sabe assim você não resolva o seu problema? Temos que
tentar de tudo, o que acha?
— Nunca! Eu nunca vou me prestar a um papel como esse! Onde
já se viu, eu ficar vendo outro homem transar com minha mulher?
Nunca, Victoria! Nunca, entendeu?
— E eu, como fico? Eu tento satisfazer você, e quem me satisfaz,
hein?
— Se você me ama, vai se contentar com o meio homem que eu
sou.
— Quer saber, Anthony? É você quem não me ama. Se você me
amasse, faria qualquer coisa para me ver feliz. Vá para o inferno, eu
não quero mais olhar na sua cara hoje, vou dormir no hotel. Aproveite
para pensar na proposta que eu te fiz.
— Victoria, volte aqui. Victoria!
Escuto a pancada da porta, e logo após o quarto fica silencioso.
Levanto-me rapidamente e vou até a varanda. Posso ver a sombra de
Anthony, sentado na cama. Ele está cabisbaixo, com as mãos na
cabeça. Não consigo ver tudo isso e ficar quieta. Volto para o quarto,
visto o meu robe e vou até ele. Eu preciso mostrar para o Anthony que
ele não é um meio homem.
Capítulo 8

Anthony

Os últimos dois anos da minha vida não foram nada fáceis. Para
um homem acostumado a fazer tudo o que quer e quando quer, viver
limitado a uma cadeira de rodas não é algo que alguém possa olhar e
dizer, “você vai superar isso”. Não, não é.
Comecei minha vida sexual aos dezesseis anos. Alguns homens
consideram isso um começar tarde, mas para mim foi no tempo certo.
Não tive problemas, não tive medo, não fiquei nervoso. Eu sabia
perfeitamente o que fazer e como fazer, e queria muito fazer aquilo. A
minha parceira não era iniciante, fui o segundo homem da sua vida. E
nós fomos muito bem, foi tão bom que ficamos juntos por dois anos,
até que os seus pais foram embora do Brasil.
Depois dela vieram várias, algumas eu tive o prazer de ser o
primeiro, já outras, eram bem descoladas. Quando conheci a Victoria e
nós fizemos sexo pela primeira vez, não tínhamos a intenção de
ficarmos juntos. Ela, assim como eu, não queria compromisso,
gostávamos do lance puramente sexual e nada mais, mas com o passar
do tempo, o “lance” foi ficando sério, até que ela engravidou. Uni o útil
ao agradável, pois a Victoria sempre foi muito boa no sexo, ela é
faminta, assim como eu. Faço de tudo entre quatro paredes, desde que
seja saudável e não ultrapasse o meu limite do que é aceitável.
Quando sofri o acidente e fiquei incapaz de levantar o meu pau,
tudo se complicou. Eu já sabia que o meu relacionamento iria
minguar, que a Victoria não se conformaria com tão pouco, por isso
não me incomodei com as suas viagens, com os sumiços dela. Não sei
se ela é infiel, e nem quero saber, porque se eu descobrir um vestígio
de infidelidade, eu a largo na mesma hora, não sou homem de dividir o
que é meu com outro, e ela sabe disso. Por isso eu confio nela, confio
até que me provem o contrário.
Hoje, depois da nossa discussão, fiquei com uma pulga atrás da
orelha. Essa conversa de tentar outras maneiras de me deixar excitado
não me agradou. Contratar terceiros para se juntar a nós na cama, é o
cúmulo do absurdo. A Victoria acha que eu sou idiota? Ela sabe que eu
jamais vou concordar com uma coisa absurda dessas, prefiro viver
sozinho a ter que dividir a minha mulher com outro homem.
Se eu não sou o suficiente para ela, é melhor acabarmos de uma
vez com essa farsa. Eu preciso me conformar que não sou mais o
homem para ela. Nem para ela, nem para nenhuma outra mulher.
— Merda! Merda! Você é um imbecil! Você é um... um... broxa,
Anthony. É melhor se conformar com isso. Merda! Você já era, já era,
Anthony! Conforme-se, você é só a metade de um homem... só...
— Não é, não.
Sou tomado pelo tom doce da voz que vem da porta do meu
quarto.
O quanto ela escutou dos meus questionamentos?
Ela entra no meu quarto sem pedir licença. Olha para mim com
brandura. Ela está linda com essa pequena camisola verde, encoberta
pelo longo robe de seda bege. Cabelos soltos à vontade, então eu posso
ver o quanto eles são compridos e belos.
— O senhor não é um meio homem, e vou lhe provar isso. — Ela se
senta no colchão e rasteja até mim. — Sei que estou correndo o risco
de perder o meu emprego, sei também que posso ser processada por
assédio, mas não posso deixá-lo na escuridão. — Suas mãos tocam as
minhas pernas em uma carícia delicada.
— Bi-Bianca! O que você pensa que vai... vai fazer? — Engasgo
quando a sua mão pousa na frente da calça do meu pijama. — Cristo!
— Respiro fundo.
— Toco no senhor todos os dias, e sinto a reação do seu corpo,
sinto o arrepio da sua pele, o tremor dos seus músculos quando estão
tensos. Não, senhor Anthony, o senhor não está morto, está muito
vivo.
Surpreso com suas palavras, eu fico em silêncio. Só consigo fixar
os meus olhos arregalados nos olhos dela. Aquela mão alisando o meu
pau faz meu coração dar pulos de alegria. Será que eu estou
sonhando? Ou realmente a mulher que atormenta os meus sentidos,
desde o primeiro dia em que chegou, está aqui mesmo? No meu
quarto, na minha cama, alisando-me com extrema ousadia.
— Bianca... eu não... — Tento falar, e imediatamente paro. Esqueci
completamente o que ia dizer, quando sinto a sua mão circular o meu
pau rijo.
— Shh! Só me sinta, senhor Anthony. Veja como ele reage ao meu
toque, veja como está tão rígido, pulsando entre os meus dedos. Isso
não é a reação de um homem morto, é?
Ela pressiona os dedos sobre o meu pênis, deixando-me doido,
provocando em mim gemidos ofegantes.
— Olhe para ele! Veja como ele está tão lindo, a cabeça tão
brilhante. Juro para o senhor, é o pau mais lindo que eu já vi na vida!
— Bi-Bianca, você não precisa fazer isso. — Ela aperta a glande, e
eu quase grito, preciso engolir a saliva para evitar que isso aconteça —
Bi-Bianca, pelo amor de Deus! Caralho! — Sua mão desce tão
lentamente que eu preciso fechar os meus olhos e levar a cabeça para
trás. — Você vai me matar...
— Não, senhor Anthony, não é minha intenção matá-lo, minha
intenção é lhe dar prazer. O senhor sente isso? Sente o cheiro da sua
excitação, sente o tremor do seu corpo?
Bianca vem para mais perto do meu corpo. Sua outra mão desliza
pelo meu abdômen, até chegar nos meus mamilos. Seus dedos
brincam com eles.
— Puta merda! — Ela belisca os meus mamilos, fixa o seu olhar no
meu e sorri, lambendo os lábios, o que me deixa louco. — Bi-Bianca,
não comece o que você não vai conseguir terminar, porque eu juro que
vou atrás de você.
Bianca não me escuta, ela continua com o tormento das suas duas
mãos, uma no meu pau, subindo e descendo, a outra escorregando até
o meu rosto. Ela desenha os meus lábios com os dedos, seu indicador
penetra na minha boca.
— Chupe-o. — Ela ordena, e eu não espero por uma segunda
ordem, eu o chupo como se fosse o seu clitóris.
Por um instante, sinto um prazer indescritível apenas chupando
aquele dedo. Os mesmos movimentos que eu faço com o seu dedo na
minha boca, ela faz com a sua mão no meu pau. Descontroladamente,
eu a seguro pelos cabelos e a puxo para mim. Minha boca se une a
dela, e mesmo com o seu dedo na minha boca, eu a beijo. É uma luta
boa, luta de línguas e dedo, disputando um mesmo lugar. Ela se afasta,
deixando-me tonto de tanto prazer.
— Não, não me toque. Não é sobre o meu prazer, é sobre o seu,
entendeu?
— Não me deixe louco, Bianca. Eu preciso da sua boca em mim.
— O senhor vai tê-la.
— Caralho, Bianca! Pare de me chamar de Senhor. Se você quer
que essa porra dê certo, é melhor me chamar de “Anthony”.
Consigo finalmente expressar algumas palavras, após esperar que
o meu cérebro se recupere desse turbilhão de emoções.
— Até agora o seu corpo respondeu bem, mesmo eu te chamando
de senhor, mas se quer que eu te chame de Anthony, vou chamá-lo. —
Aqueles lindos olhos se prendem aos meus, e os seus lábios estendem-
se em um lindo sorriso.
Sua cabeça se inclina, e ela espalha beijos pelo meu rosto. Recebo
uma mordida no lóbulo da orelha, meu queixo recebe o mesmo
tratamento. Quando a sua língua escorrega pelo meu pescoço, eu já
não consigo me controlar; gemo alto. Aquela boca sabe o que está
fazendo. Ela sabe onde me tocar. Dentes afiados cravam em torno do
meu mamilo, e eu grito com o prazer que a dor me proporciona, um
calafrio percorre as minhas terminações nervosas. Bianca desliza a
ponta da língua por todo o meu abdômen, e me perco a partir daí, não
consigo mais raciocinar.
Minhas mãos vão direto para os seus cabelos, meus dedos se
entrelaçam nos fios cacheados.
— Bianca — Murmuro o seu nome. Sinto os seus lábios deslizando,
traçando a linha do meu umbigo... Porra, eu estou sentindo isso. —
Bianca, não estou aguentando. — Preciso daquela boca ao redor do
meu pau.
Ela tenta retirar as minhas mãos dos seus cabelos, mas desta vez
não permito. Firmo os meus dedos e os pressiono, e ela solta um
gemido baixo. Aquela língua quente molha a minha pélvis, a cabeça do
meu pau toca no seu rosto. — Cara... alho! Bianca, se você continuar
fazendo isso, com certeza não vou durar muito...
Porra! Ela segura o meu pênis com as duas mãos, lambendo a
cabeça melada. Seus olhos se divertem com o meu desespero, e ela
fecha os lábios em volta da cabeça, mamando-a. — Cristo! — Fecho os
meus olhos com desespero e quase grito. Respiro fundo. Ela sabe
perfeitamente o que está fazendo, e está gostando muito de me ter na
sua boca. O seu olhar me diz que a minha necessidade também é a
dela. Sinto uma onda de calor e desespero quando ela move a cabeça
para frente, chupando a cabeça do meu pau profundamente.
— Filha da mãe!
Meu corpo estremece incontrolavelmente. Ela envolve a mão ao
redor da base e me engole mais um pouco, sua língua aveludada roda
em volta do meu eixo, e a glande encosta no fundo da sua garganta.
Solto os seus cabelos e seguro os lados da sua cabeça, quando ela
começa a me chupar de forma ritmada. Porra, esta é a chupada mais
poderosa de toda a minha vida. Minhas bolas são seguradas e
acariciadas no mesmo ritmo em que o meu pau é devorado. Sua cabeça
sobe e desce, meu pau está saltitando de felicidade, suplicando para
ser cada vez mais devorado. Ela vai mais profundo e fica parada, só a
sua língua trabalha nele.
— Bianca, eu vou gozar... não faz isso que eu vou gozar na sua
boca.
Tento me mover para estocar aquela boca gostosa com força, mas
não consigo mexer o quadril e me amaldiçoo por isso. Acho que ela
percebe o que eu quero, porque sua boca começa a me foder
fortemente, seus movimentos, subindo e descendo, se tornam
frenéticos.
— Você é muito gostosa! Porra, que boca gostosa... — Grunho,
desesperado. Não quero perder essa boca nunca mais. Vou gemendo
enquanto ela move a língua e massageia a cabeça do meu pau. Não sei
como estou conseguindo me manter firme por tanto tempo, pois já
sinto o pulsar do meu membro na sua boca, ele está louco para se
libertar, louco para derramar o seu prazer.
Parte do meu cérebro está gritando para que eu a pegue, puxe e a
faça minha. Você precisa mostrar para ela que também a deseja.
Mas uma outra parte está receosa. E se ela só estiver me fazendo
um favor? Isso me parece bem mais provável. Olho para baixo e lá está
ela, chupando-me com tanto desespero, com tanto prazer.
Não, não é possível que ela não sinta o mesmo que eu estou
sentindo.
Cravo outra vez os meus dedos no seu couro cabeludo e forço sua
cabeça para baixo. Estou muito próximo de atingir o meu prazer, não
quero estragar isso.
Minhas mãos empurram mais e mais a sua cabeça para baixo. Ela
engasga, e eu a puxo um pouco para cima, permitindo que ela respire.
— Bianca eu vou gozar, por favor, solte-me.
Ela não me obedece e faz o contrário, me suga fundo.
Meu pau é totalmente devorado pela sua boca, seus lábios me
prendem suavemente. Não suporto o tesão que percorre todo o meu
corpo, meus pelos se eriçam quando os meus tremores percorrem o
meu sistema nervoso. Derramo o meu prazer no fundo da garganta de
Bianca. A selvageria dos meus espasmos é duramente aceita por ela.
Solto um som gutural de prazer que há tempos não ouço. É um gozo
longo, jatos e jatos de prazer são jorrados na deliciosa boca da minha
fisioterapeuta. Ela apenas move a cabeça, permitindo que o meu
prazer flua, deixando-me ainda mais louco por ela.
Ela me lambe com carinho, meu corpo se acalma, mas meu o
coração não. Ela retira a boca do meu pênis e me olha com tanto
carinho que quase choro. Não consigo me conter e a puxo pelo braço, e
seu corpo trêmulo cai sobre o meu peito, e finalmente eu posso escutar
o descompasso dos seus batimentos cardíacos. Ela está tão
emocionada quanto eu.
Bianca tenta se afastar do meu corpo, mas eu não permito e a
mantenho presa nos meus braços. Não quero cortar a nossa ligação,
ela deve ficar exatamente ali, onde está, nos meus braços.
— Quieta! É aqui que eu quero você, bem perto do meu coração.
Não diga nada, só fique quieta.
Ela ofega contra a minha pele, fica presa ao meu corpo e passa a
aceitar os meus carinhos. Meus dedos roçam os seus cabelos e a pele
macia do seu rosto. Eu poderia morrer agora mesmo que morreria
feliz, pois o meu peito está tomado por uma felicidade arrebatadora.
Se eu pudesse, me levantaria com ela nos meus braços e giraria por
todo o quarto.
Ficamos assim, abraçados por longos e intermináveis minutos, até
que ela se afasta de mim.
Nosso olhar se fixa, e eu vejo o desejo no brilho dos seus olhos.
— Senhor... quer dizer, Anthony, eu preciso ir...
— Não, fique aqui comigo, não precisamos fazer nada se você não
quiser, mas passe a noite comigo.
Puxo-a outra vez para o meu peito, beijando o alto da sua cabeça.
Ela respira profundamente.
— Você sabe que eu não posso... — Ela fica em silêncio por alguns
segundos — sua noiva pode voltar...
Agora sou eu quem a afasta do meu corpo, mas apenas o suficiente
para avaliar o seu rosto.
— Victória não vai voltar mais hoje, e provavelmente nem
amanhã. Durma aqui comigo, só me deixe sentir o seu corpo quente
perto do meu.
— Anthony, isso não vai funcionar, sou a sua fisioterapeuta. A
Victoria é sua noiva, sua futura esposa, eu... eu não sou...
Ela se levanta, e eu não posso reagir, pois ela se afasta
rapidamente de mim. Grito o seu nome, mas ela não me atende.
— Bianca! Volte...
A porta bate fortemente atrás dela. Minutos depois, eu vejo a luz
do seu quarto acesa, mas logo em seguida ela apaga a luz.
Essa é a porra da noite mais longa da minha vida. Meu cérebro,
meu coração e meu corpo viveram sentimentos e emoções conflitantes
por toda a madrugada.
Capítulo 9

Anthony

Na manhã seguinte, acordo me sentindo um homem sem


escrúpulos.
Como pude deixar tudo aquilo acontecer? Sou um homem de
princípios, se eu não quero que me traiam, não posso fazer o mesmo.
Como posso exigir fidelidade de Victoria, se pelas suas costas eu
permito que outra mulher se deite comigo? Não, não estou certo,
preciso resolver essa situação o mais rápido possível.
Levanto-me disposto a ter uma conversa séria sobre o que
aconteceu ontem à noite. Estou disposto a dar um tempo no meu
relacionamento com a Victoria, já que nós não estamos funcionando
direito, já nem olhamos para o mesmo lado, e isso me incomoda
muito, e só piorou depois do que aconteceu entre mim e a Bianca.
A primeira pessoa com quem devo ter esta conversa é com a
Victoria. Vou direto para o meu escritório, nem café eu quero tomar,
estou aflito e com a consciência pesada.
Pego o meu celular e ligo para Victoria. Essa conversa não pode
passar de hoje. Demora alguns minutos até que ela atenda. Victoria é
pirracenta, quando fica com raiva gosta de me provocar, só que hoje
não estou com paciência para joguinhos. Enfim, ela atende.
— Alô. — É só o que ela diz.
— Victoria, precisamos conversar. Por favor, venha até aqui em
casa, estou te esperando.
Sua respiração torna-se forte. Depois de alguns segundos, ela
responde.
— Anthony, eu acho que precisamos nos afastar por algum tempo.
Você me magoou e eu te magoei. Estou embarcando para Miami às
onze horas, não sei quando eu volto e acho melhor você não me ligar.
Deixe que eu te ligo quando estiver pronta para voltar, não quero
conversar agora, não tenho condições. Até logo, amor...
Ela nem espera que eu argumente: desliga o celular na minha
cara.
Fico olhando, admirado, para o aparelho. Acho até melhor que
seja assim, a Victoria me poupou de cenas, pois se fosse eu a dizer
estas coisas que ela acabou de me falar, isso seria motivo para uma
longa discussão.
Já que a Victoria resolveu fugir por algum tempo, só falta
conversar com a moça que está acabando com o meu sono... Bianca.
Ligo para o celular dela, mas chama até cair na caixa postal.
Acho que a senhorita está me evitando, mas não por muito
tempo. Se você não vem até mim, eu irei até você.
Já estou girando a minha cadeira de rodas, quando alguém bate
na porta. Logo penso que é Bianca, então me apresso em mandar
entrar.
— Bom dia, senhor Anthony. Desculpe-me incomodá-lo, mas a
senhorita Bianca deixou este bilhete logo cedo, ela disse que depois
ligaria para o senhor.
Mercedes me entrega um envelope. Bate uma aflição, de repente
sinto um aperto no peito e um medo repentino. Mas medo de quê?
— Quando ela lhe entregou isso? — Indago, enquanto seguro o
envelope nas mãos.
— Cedinho, por volta das seis horas da manhã. — Mercedes fica
parada na minha frente.
— Obrigado, Mercedes! Você pode ir.
Espero que a Mercedes saia, e assim que a porta se fecha, eu abro
o envelope. Bianca me escreveu uma carta. Minhas mãos começam a
tremer. Ela foi embora, fugiu como uma covarde.

Caro senhor Anthony.


Bom Dia!
Desculpe a minha falta de modos, mas surgiu um imprevisto
para o qual não posso virar as costas, espero que o senhor
compreenda. Meu pai está precisando da minha presença, ele só tem
a mim e, no momento, não pode ficar sozinho, por isso preciso ficar
ausente por alguns dias. Volto assim que ele não precisar mais dos
meus cuidados. Tão logo eu chegue na minha cidade, ligo para o
senhor.
Senhor Anthony, fique à vontade para descontar do meu salário
os dias que não vou trabalhar.
Peço desculpas por não o esperar acordar e assim lhe falar
pessoalmente. Embarco às nove horas desta manhã.
Até breve.
Bianca P. Limeira.

Fico sem ação, por essa eu não esperava. Será que realmente o pai
da Bianca precisou dela com tanta urgência? Ou foi só uma desculpa
para ela não me encarar, depois de uma noite quente de tesão? Eu sei
que ela me quer tanto quanto eu a quero. Só espero que ela volte,
porque se isso não acontecer, não sei como minha cabeça vai ficar.

Sexta-feira, 10 de abril, Rio Doce, Brasil.

Hoje faz doze dias que a Bianca foi visitar o pai na sua cidade.
Fiquei sabendo, por intermédio de um empregado, que ela retornou
ontem à tarde, só não entendo por que ela não me avisou que voltaria
na quinta-feira, já que nós nos falamos na quarta-feira.
Liguei para ela, estava preocupado. Bianca só me ligou no mesmo
dia em que chegou à sua cidade, apenas para explicar o motivo da sua
viagem repentina: seu pai tinha caído e fraturado o tornozelo. Então,
como já tinham passado alguns dias e ela não me ligou mais para dar
notícias, eu resolvi ligar.
Às oito horas da manhã, ela deixou uma mensagem no meu
celular, avisando que a fisioterapia começaria às dez horas. Às nove
horas, eu já estava no meu escritório. De hoje não passa a conversa
que deveríamos ter tido há doze dias. Durante esses dias em que
ficamos longe, eu não consegui parar de pensar nela, meu último e
primeiro pensamento é sempre sobre ela. Meu corpo e meu pau
desejam as mãos dela. Tornei-me um viciado, não estou nem
conseguindo trabalhar direito.
Ligo para a usina e desmarco a minha reunião das onze horas. É
melhor prevenir, pois não sei o que vai acontecer depois da minha
conversa com a Bianca.
Ainda estou falando com a minha secretária, quando batem na
minha porta. Mando entrar, é um dos meus funcionários. Desligo o
celular.
— Desculpe-me, senhor Anthony, mas tem um moço lá fora. Ele
quer falar com a senhorita Bianca. Posso mandá-lo entrar?
Fico curioso para saber quem é o homem que quer falar com a
Bianca, especialmente a uma hora dessas, sendo tão cedo. Peço ao
Joaquim para trazê-lo até mim.
Joaquim vem acompanhado de um homem alto, loiro, forte, olhos
acinzentados e um sorriso simpático. Ele entra e se aproxima da
minha mesa. Antes que ele abra a boca para falar, eu o interrogo:
— Quem é o senhor? O que deseja com a senhorita Bianca? —
Pergunto, avaliando o homem de cima a baixo. Não gosto dele.
— O senhor deve ser o chefe dela. Meu nome é Leonardo Shots, eu
sou o noivo da Bianca.
Ele estende a mão e sorri. Fico momentaneamente paralisado,
minha língua fica grossa e os meus braços endurecem. Meu olhar se
fixa naquele homem que sorri para mim e mantém o braço estendido.
Minha vontade é pedir para o Joaquim mostrar a porta da rua para
ele, ou que eu mesmo o acompanhe até fora da minha propriedade.
Fico enfurecido, meus braços permanecem sobre a mesa. Ele me olha,
apreensivo.
Aperto minhas mãos em punho, fazendo um esforço sobre-
humano para não esmurrar a mesa. Preciso de muita concentração
para esticar o braço e apertar a sua mão.
— Anthony Pimentel — Aceito o seu cumprimento. — Sente-se,
por favor, quer beber alguma coisa?
Odeio diplomacia, minha vontade é de socar a cara dele.
— Não, obrigado! Gostaria de ver a Bianca, resolvi lhe fazer uma
surpresa.
Fico muito mais irritado diante do ar alegre dele. Leonardo me
olha com os olhos brilhando de satisfação, como se estivesse a ponto
de explodir de felicidade. Bianca me disse que eles tinham terminado o
noivado, e agora esse babaca surge aqui, todo sorridente, como se os
dois estivessem em plena harmonia.
Será que ela reatou o noivado? Não, ela não pode fazer isso, não
agora.
— Ela sabe que o senhor viria?
— Não, eu e a Bianca tivemos alguns desentendimentos. Nestes
dias em que ela esteve visitando o pai, eu pude perceber que ela estava
um pouco triste, e tive certeza de que ela está sentindo a minha falta.
Ela é orgulhosa demais para admitir isso, por isso eu resolvi lhe fazer
uma surpresa. Eu a amo e sei que ela me ama, o senhor entende isso,
não é, afinal também está noivo.
Ele aponta para a minha mão direita, onde uma grossa aliança de
ouro branco reluz.
— Sim, eu entendo. — Olho para Joaquim, que nos observa
atentamente. — Joaquim, vá chamar a senhorita Bianca.
— Um momento — Leonardo se levanta — Não fale para ela que
estou aqui. Como eu disse... é uma surpresa. — Ele sorri, sem jeito.
— Vá chamá-la, só lhe diga que eu estou chamando.
Dez minutos depois, ela bate na minha porta e eu peço que entre.
— O senhor mandou me...
Bianca para abruptamente e se afasta da porta, com uma
expressão perplexa. De repente, seus olhos encontram os meus, mas
logo depois se fixam no Leonardo.
Ela mantém seus olhos no ex-noivo, seus olhares parecem duelar
por um tempo indefinido. Ele se aproxima dela e a abraça. Aperto os
meus dedos em uma tentativa de manter o controle. Os lábios dele
tocam o seu rosto. Acho que se eu estivesse de pé, já teria chutado a
bunda desse calhorda.
— Leo-Leonardo — Ela balbucia — O que faz aqui?
Ela o afasta do seu corpo e eu respiro, aliviado.
— Como não conseguimos chegar a um denominador comum
durante essa semana, eu resolvi conhecer o lugar que está te deixando
tão encantada. Pelo jeito que falava daqui, parecia ser o paraíso. A
cidade é realmente linda, e é perfeita para tentarmos um recomeço.
Meus olhos estão atentos a cada gesto dela. Bianca respira fundo e
olha para mim, visivelmente embaraçada.
— O senhor me dá licença? — Ela diz, sem jeito, enquanto puxa o
Leonardo pela mão. Antes de desaparecer ela se vira e diz
apressadamente: — Sinto muito, mas hoje eu não tenho condições de
trabalhar, espero que o senhor me entenda.
Antes que eu possa argumentar qualquer coisa, ela desaparece do
meu escritório.
A raiva come as minhas entranhas. Só não derrubo tudo o que está
sobre a mesa, porque chamaria a atenção dos empregados, mas dou
três murros na mesa e praguejo umas dez vezes a palavra porra.
Nunca senti tanto ódio na minha vida, mas que porra está
acontecendo comigo? Aquela sensação de já conhecê-la está cada vez
mais latente dentro de mim. A vontade de beijá-la, abraçá-la, de sentir
o seu cheiro delicioso, de sentir o calor do seu corpo, domina todo o
meu ser. Não, não é possível. Como posso querer tanto uma pessoa, se
não a conheço bem? Como posso sentir essa força devastadora e
gritante no meu peito, se nunca antes na minha vida eu a toquei?
— Merda!
— Calma, homem! Desse jeito você vai ter um enfarto. — Almir
está parado diante da porta, com um olhar de desconfiança.
— Não bate mais na porta antes de entrar? — Afasto a cadeira de
rodas da mesa e saio de trás dela, indo em direção ao bar.
— Nossa! A coisa foi séria — Ele estreita os olhos na minha
direção. — Para fazer você beber tão cedo, o caso é grave.
Aquele comentário só me faz sentir mais raiva. Como eu gostaria
de ter dado um murro na cara daquele idiota do Leonardo. Eu acho
que se tivesse feito isso, os meus nervos certamente estariam mais
calmos.
— Esse seu nervosismo todo é por causa do homem que saiu de
mãos dadas com a senhorita Bianca, agora há pouco? — Ele me olha
com um ar de deboche.
— Não comece... — Viro o copo de uísque de uma só vez na boca.
— Eles saíram de mãos dadas? — Pergunto, tentando disfarçar a
minha curiosidade, mas acho que não funciona.
— Ela praticamente o arrastou para a casa de hóspedes. — Almir
se senta no sofá que fica de frente para mim e me encara. — Não vai
me dizer que aquele lá é o noivo? — Ao dizer isso, ele coça a cabeça —
Caralho! Agora eu entendi a sua fúria.
— Fúria, mas que mané fúria? Tem alguém furioso aqui? — Almir
solta uma gargalhada irritante.
— Não, mas estou vendo um homem completamente enfurecido e
morrendo de ciúmes aqui.
Olho para ele com fogo nos olhos.
— Cale-se, Almir! Você já está extrapolando os limites da
hierarquia que existe entre nós. — Viro a garrafa na borda do copo e
me sirvo do líquido dourado outra vez.
— Ok — Almir se levanta e vem até mim, retirando o copo da
minha mão. — Agora quem está aqui não é o seu empregado — Suas
duas mãos descansam nos meus ombros — É o seu amigo de longa
data, que vai lhe dizer umas boas verdades. A primeira delas é que
encher a cara não vai adiantar — Ele vai para trás da cadeira e me
afasta do bar. — Qual é, Tony, a quem você quer enganar?
Olho para ele, surpreso. Não imaginei que os meus sentimentos
eram tão evidentes.
— Acho que você anda passando tempo demais no canavial, o sol
está lhe fazendo mal.
— Não se faça de desentendido, Tony. Eu sei, vejo nos seus olhos o
fogo da paixão flamejando toda vez que você olha para a Bianca. —
Almir certamente ficou doido. Eu olho para ele com impaciência.
— Paixão!? Enlouqueceu? Eu conheço a Bianca há pouco menos
de um mês, e você quer me dizer que eu já estou apaixonado por ela?
Qual é, Almir, você está me estranhando, acha que eu sou um
adolescente?
— Sim, paixão, meu amigo. Assim que se olharam, vocês se
apaixonaram. Eu vi como ambos ficaram, tanto você quanto ela se
tornaram pálidos, trêmulos, completamente desconcertados um
diante do outro. Ela chegou até a passar mal, e não foi apenas eu que
notei isso, até a Mercedes já andou falando sobre isso, ela também
percebeu os olhares que um dirige para o outro.
— Sinto decepcioná-lo, mas você enlouqueceu. — Volto para a
minha mesa, abro a gaveta, retiro um caderno de lá e começo a folheá-
lo. — Se você não se lembra, é meu dever lembrá-lo que eu sou noivo, e
ela também. Somos comprometidos com pessoas diferentes. — Jogo o
caderno de lado e o olho seriamente.
— E onde está a sua noiva agora? Hein!? Cadê o amor da sua vida,
cadê a mulher que vai ser a sua companheira para o resto da sua vida?
Essa seria a Victoria? É essa, a mulher que quer ao seu lado para
sempre? Não seja tolo, Tony! Você não a ama, nunca a amou, chega!
Chega de se iludir, a Bianca é a mulher que você sempre sonhou. Você
muda quando está ao lado dela, seus olhos brilham, o seu sorriso se
expande, sua voz fica doce. E quanto a ela... ela só falta se jogar nos
seus braços.
— Chega! — Eu o interrompo — Você não tem coisa melhor para
fazer, do que ficar me enchendo de merda?
— Tony, jogue fora o seu orgulho, não deixe aquela moça escapar
por entre os seus dedos — Ele aponta em direção à casa de hóspedes —
Aquele babaca não tem chance nenhuma, só depende de você. — Ele
acrescenta, enquanto se dirige para a porta.
Almir vai embora, e eu fico pensativo, refletindo sobre tudo o que
ele acabou de me dizer. Será que eu realmente estou apaixonado pela
Bianca? Será que ela sente o mesmo por mim? Não, isso não é
possível. Como pode, um sentimento tão forte, nascer em poucos
segundos? Isso é uma ilusão, nem em romances os amores nascem tão
rápido. Não, o Almir só quer me convencer a terminar o meu noivado
com a Victoria.
— Porra! Eu não estou apaixonado por ela, não estou! — Brado.
Meu celular toca, e atendo. É o Almir, me chamando para
inspecionar a usina Montes Claro. Acho melhor ir, preciso de
distração. Se eu ficar em casa, provavelmente vou bater na porta da
Bianca.
Quando retorno da inspeção, já é tarde. Eu e o Almir almoçamos
na usina e jantamos na cidade. Não queria voltar para casa e encarar a
Bianca com o noivo. Só de pensar nessa hipótese, já vem uma forte
vontade de socar a cara do Leonardo.
Vou direto para o meu quarto. Evito olhar na direção do quarto da
Bianca. Não quero ser surpreendido com dois corpos juntos. Ele
fazendo coisas que eu gostaria de estar fazendo.
Porra! Você gosta de se torturar.
Passo direto para o banheiro. Entro no box e deixo a água
esquentar um pouco, preciso relaxar. Encosto a cadeira de rodas na
parede e deixo minha cabeça pender para trás, até que ela encoste na
parede gelada. Fecho os meus olhos e deixo a água lavar o meu rosto
por alguns segundos. Ela vem na minha lembrança, e imediatamente o
meu corpo desperta.
Vejo a Bianca ajoelhada diante de mim. Tão bonita de joelhos, e
nua, seus seios tocando os meus joelhos, roçando na minha pele.
Minhas mãos tocando o seu rosto com carinho, ela sorrindo para mim
com os olhos brilhando de desejo, suplicando mais e mais pelo meu
toque. Cristo! Eu a quero tanto. Começo a imaginar os meus dedos
percorrendo os seus lábios, delineando aquela boca quente, que eu já
conheci... Caralho! Como quero aquela boca outra vez, engolindo o
meu pau.
Tremo só com esse pensamento. Posso até ouvir a sua voz,
sussurrando o meu nome, enquanto me inclino e beijo a sua boca. Ela
me oferece a sua língua quente, e eu a sugo.
Minhas mãos seguram o meu membro, e começo a me masturbar
lentamente, imaginando serem as mãos da Bianca. Ela se move para
cima e para baixo, enquanto nossas línguas duelam entre si. Meus
tremores sacolejam o meu corpo. Escuto o gemido dela, quando os
meus dedos se entrelaçam nos cabelos cacheados e os puxo com força,
fazendo com que os seus olhos encontrem os meus.
Eles me dizem o quanto ela me quer. Meu cérebro rapidamente
me domina por completo. Ainda presa pelas minhas mãos, eu a forço a
olhar para ele... meu membro duro. Lentamente, empurro a sua
cabeça na direção do meu pau. Ela passa as mãos em torno dele,
deslizando até a base e depois subindo até a ponta. Empurro o seu
rosto, e ela obedientemente passa a língua sobre a cabeça, depois
segue até o cume e volta com a língua para baixo, enquanto continua a
mover a mão, para depois me chupar profundamente. Solto sons
enfurecidos, minha respiração está truncada, ela continua me
matando com aquela língua quente, lambendo-me, mordendo-me,
chupando-me, e quando penso que já me tomou por inteiro, ela me
suga muito mais fundo. Juro que sinto o fundo da sua garganta.
Solto um grito abafado e movo a minha mão com mais rapidez,
apertando a cabeça do meu membro com força. Solto outro grito
abafado, enquanto um jato do meu prazer se mistura com a água que
desce da ducha. Espasmos sacodem o meu corpo com violência e grito
o nome dela.
— Bi-Bianca! — Outro jato de prazer vem forte. Estou fodido,
muito fodido.
Termino o meu banho, passo para a outra cadeira de rodas, me
troco e vou me deitar. Viro-me para apagar o abajur... e não deveria ter
olhado na direção do quarto de Bianca.
Eu a vejo. Ele está a beijando. A raiva se apossa de mim, quando
percebo que acabei de perder a única mulher que tem o poder de
despertar o meu corpo morto.
Capítulo 10

Anthony

Suspiro profundamente. Hoje não vai ser um dia bom. Mal


consegui fechar os olhos a noite inteira, eu praticamente vi o dia
amanhecer.
Às seis horas da manhã, resolvo descer para o meu escritório.
Abro um pouco a janela com vista para o jardim e deixo que a brisa da
manhã entre e refresque um pouco o meu rosto.
O que ela está fazendo agora? Certamente se embrenhando com
ele nos lençóis da cama. Você gosta de sofrer, Anthony. Por Deus,
homem, tire essa mulher da cabeça.
Mal acabo de concluir meu pensamento, quando ela entra no meu
escritório, não se deu nem ao trabalho de bater na porta.
— Bom dia, Anthony! — Olho surpreso para ela, mas baixo os
meus olhos logo em seguida, finjo escrever algo na minha agenda.
Onde está a formalidade do “Senhor”?
— Bom dia, Bianca! — Respondo secamente — Pelo visto, você não
recebeu o meu recado. — Evito olhar para ela.
— Qual o recado? Você me ligou? Não vi nenhum recado seu no
meu celular.
E nem veria, não é mesmo? Pelo visto, a noite foi muito boa, está
com uma cara de mulher muito bem fodida.
— Não encontrou a Mercedes? — Ela nega. — Mandei que ela a
avisasse que você está dispensada durante o final de semana, já que
está recebendo visitas. — Finalmente consigo olhar para ela, e a minha
vontade é de gritar o quanto estou puto. — Bem, acho melhor você
voltar para o seu noivo, ele deve estar sentindo a sua falta — Digo
sarcasticamente.
— Anthony, é impressão minha ou você está mesmo sendo
sarcástico comigo? Por que está me tratando assim, com tanta frieza,
com tanta indiferença?
Dirijo-lhe o meu pior e mais frio olhar ao encará-la. Como ela ousa
me fazer essa pergunta? Será que ela esqueceu o que aconteceu entre
nós, naquela noite?
Cresci sentindo um vazio dentro mim, e este vazio jamais foi
preenchido. Nunca me apaixonei, embora tenha vivido vários
romances e conhecido muitas mulheres. Com algumas foram
romances maravilhosos, mas nenhuma delas preencheu o vazio frio e
dolorido que existe dentro de mim. Nem mesmo a Victoria conseguiu
arrancar essa saudade que eu sempre senti da minha coelhinha.
Apenas ela, somente a Bianca, conseguiu me dar essa paz, e isso
apenas poucos dias depois de conhecê-la. Bastou sentir o toque das
suas mãos, o calor do seu corpo, sua voz cálida, o iluminar do seu
sorriso e o brilho dos seus olhos, e toda a sensibilidade do meu ser
despertou. Acho que os sentimentos foram unilaterais, para ela eu não
passo de um pobre paciente inválido.
— Frio, indiferente?! Acha mesmo que estou te tratando assim? E
você, o que me diz?
Bianca entra na minha sala e caminha na minha direção.
Permaneço atrás da minha mesa, apenas observando a sua linguagem
corporal, e posso dizer que ela está tensa.
— Mas que droga Anthony! O que está acontecendo aqui? Será
que estamos tendo uma discussão, porque se estamos, me diga por
qual motivo.
Seus braços estão estendidos ao longo do corpo. Para disfarçar o
seu nervosismo, ela fecha as mãos, apertando os dedos.
— Não seja cínica, Bianca. Isso não combina com você.
— Como!? Anthony... — Ela tenta me interromper, mas eu não
deixo.
— Cale-se! — Minha calma foi dar uma volta. Saio de trás da mesa
e ficamos frente a frente — Você entrou no meu quarto, fez tudo aquilo
comigo, deixou-me completamente doido, louco por você, e agora me
pergunta o que está acontecendo? Eu devo ser um idiota mesmo, pois
pensei que havia interesse de ambas as partes, no entanto, você só
estava com pena do pobre aleijado, não é? Merda, Bianca! Juro que eu
até pensei em acabar o meu compromisso com a Victoria, depois de
tudo o que aconteceu entre nós. Pensei que você tinha terminado o seu
noivado, que eu e você poderíamos ficar juntos.
Caralho! Não há nada de errado em confessar que estou
apaixonado por ela. Sim, eu estou apaixonado, no entanto, ela não
sente o mesmo por mim, só sente pena.
— Mas você só sente pena de mim. Sim, eu fui um tolo, misturei as
coisas, deve ser carência ou falta de sex...
— Cale-se! — Ela esbraveja, chego até a me assustar. — Você não é
um tolo, Anthony. Você é um idiota, um grandessíssimo idiota — Não
entendo por que ela começa a chorar. As lágrimas descem
descontroladamente dos seus olhos. — Acho que não tenho mais nada
a fazer aqui...
Bianca vira as costas rapidamente e sai correndo do meu
escritório. Estou inconsolável. Não, ela não vai embora assim.
— Bianca, volte aqui! — Grito a plenos pulmões. Ela não volta.
Então resolvo ir atrás dela. Nem vejo a Mercedes na minha frente.
Se ela não fosse rápida o bastante para sair da minha frente, eu teria
passado com a minha cadeira de rodas por cima dela.
Paro em frente da porta da casa de hóspedes, aos berros, nem me
importo que o cretino do noivo esteja lá. Ele que me interpele com
perguntas e pedidos de esclarecimentos, por estar gritando o nome da
sua noiva, porque eu vou mandá-lo à merda na mesma da hora.
— Bianca, abra a porra desta porta, agora! — Bato os meus punhos
com força na porta de madeira. — Abra essa porra agora, Bianca, ou eu
não respondo por mim! — O jardineiro olha na minha direção com as
sobrancelhas arqueadas. Eu o olho de forma raivosa. Imediatamente,
ele desaparece do local. — Bianca, ou você abre ou dou um jeito de
entrar, e garanto que não será nada agradável a minha entrada
forçada. Abra essa porra! — Brado ferozmente.
A porta se abre pouco antes que os meus punhos encostem nela.
Bianca vira as costas para mim e vai em direção ao sofá branco, no
meio da grande sala de estar. Ela já não chora, mas os seus olhos estão
muito vermelhos e as bochechas muito rubras.
Lembro-me imediatamente da minha coelhinha Bibi, ela ficava
igualzinha quando chorava, e aquilo me matava por dentro, pois eu
sabia o motivo das suas lágrimas: sua mãe. Minha coelhinha só
chorava quando a sua mãe a magoava, e por mais que eu tentasse
protegê-la da mãe, nem sempre eu conseguia.
Inalo o ar profundamente. Preciso manter o controle das minhas
emoções, pois já me sinto ridículo.
— Por que você mentiu para mim, Bianca? Por que foi me
procurar no meu quarto, naquela noite, se não pretendia se envolver
com o aleijado aqui? — Eu tentei, juro que tentei manter o tom da
minha voz controlada, mas está ficando difícil esquecer a cena de
outro homem a beijando. — Porra, eu não entendo. Se você tivesse me
contado a verdade, tivesse dito que não tinha terminado o seu
noivado, eu juro que não deixaria as coisas tomarem aquele rumo. Sou
um homem de princípios, não faço para os outros o que não gostaria
que fizessem comigo. Merda, Bianca, você me enganou!
— Eu não o enganei, por que diz isso? Eu não... não...
— Pare! — Eu a interrompo abruptamente — Eu vi vocês dois se
beijando, ontem à noite, no seu quarto. E mais, se vocês não
estivessem juntos, ele não teria vindo te procurar. Não seja cínica, já te
disse que isso não combina com você...
— Você é um idiota mesmo! — Ela me cala, com sua voz
embargada de emoção. — Por acaso o senhor dono da verdade viu a
cena até o final? — As lágrimas voltam a fluir ininterruptamente pela
sua face. — Não, aposto que não, porque se tivesse visto não estaria aí,
me acusando de desavergonhada.
— Qual é, Bianca, você acha mesmo que ficaria vendo você e o seu
noivo transando!? Era só o que me faltava, eu não sou esse tipo de
homem que...
— Seu idiota! — Sou interrompido novamente, e desta vez ela está
furiosa — Nós não transamos e sequer nos beijamos. — Suas mãos se
fecham em punhos e vão à frente do seu corpo. Acho que ela quer
socar a minha cara, no entanto, ela soca apenas o ar, e baixa as mãos
ao longo do corpo novamente. — Se você continuasse observando,
teria visto que, quando ele encostou os seus lábios nos meus, eu o
empurrei, e quando ele tentou novamente, o ameacei com o abajur. —
Seu olhar tristonho me fuzila. — Eu não reatei o meu noivado. Mas que
droga, Anthony!
Ela se senta no estofado, junta as duas mãos no rosto e permanece
por alguns minutos nesta posição. Começo a me preocupar com o seu
estado emocional, pois a sua respiração está muito acelerada.
— Bianca — mais calmo e tentando manter as minhas emoções
equilibradas, eu chamo por ela — Ele tentou algo com você depois
disso? Ele te... Deus do céu, onde está aquele cretino? — Pronto, o
homem controlado foi embora. Saio dando voltas pela sala toda com a
cadeira de rodas, à procura de algum sinal de vida do Leonardo.
— Ele já foi embora, foi ontem mesmo. — Bianca fica de pé e se
vira na minha direção — Anthony, eu não voltei para a minha cidade
por causa do meu pai, ele não sofreu acidente nenhum. Graças a Deus,
ele está muito bem de saúde.
— O quê!? — Avanço com a cadeira de rodas na sua direção —
Então eu estou certo, você se arrependeu. Resolveu fugir, pois não
tinha como explicar para o aleijado aqui que estava só tentando fazer
uma caridade.
— Cale a boca, Anthony! — Ela esbraveja. O olhar que ela me
direciona gela até a minha alma. — Será que você não percebeu, será
que você ainda não entendeu? Ter autopiedade está o cegando. Merda,
Anthony! Eu precisava ficar sozinha, precisava pensar, as coisas
estavam acontecendo rápido demais. Em questão de dias, eu comecei a
sentir coisas por você, e mais uma semana, eu me apaixonei.
Ela sussurra a última palavra. Ficamos estagnados, e quando ela
termina a frase, me encara rapidamente — No fundo, eu já sabia disso,
mas naquela noite, quando eu escutei a Victoria falando com você
daquele jeito, eu fiquei furiosa com ela e com você também, porque eu
sei que você é o homem mais maravilhoso do mundo, que não era
nenhum aleijado...
— Então, você viu e ouviu a minha discussão com a Victória. Foi
por isso que resolveu fazer tudo aquilo, só queria me mostrar que eu
não sou um meio homem?
— Anthony, você escutou o que eu disse? Não queira se fazer de
vítima, que não vou repetir outra vez. — Sim, eu quero acreditar nas
palavras dela, mas está difícil acreditar que uma mulher linda e cheia
de vida como ela pode se apaixonar por mim, um cara totalmente
quebrado.
— Se é verdade que você se apaixonou, então por que fugiu?
Meus olhos permanecem fixos no seu rosto, avaliando cada traço,
cada movimento das suas expressões.
— Eu não fugi, eu só precisava de algum tempo sozinha. Poxa,
Anthony, eu não costumo me apaixonar com apenas um olhar, e com
você aconteceu exatamente assim... Isso é muito intenso e
completamente sem explicação, é doido. Mas assim que cheguei à
minha casa, a saudade bateu, e a vontade de ficar ao seu lado veio
forte. Eu não dormia, não comia — Avalio o seu corpo, e de fato
percebo que ela perdeu peso. — Só assim eu entendi que não era uma
ilusão, que eu realmente estava apaixonada por você, então fui
procurar o Leonardo e devolvi o anel de noivado — Olho para o dedo
anelar da sua mão direita e vejo que o bendito anel não está mais lá, eu
nem tinha percebido. — O Leonardo não aceitou, ficou inconsolável,
mas fui bastante clara ao dizer que não havia mais nenhuma chance
entre nós dois. Eu só não esperava que ele viesse bater aqui.
Minha experiência me diz que ela está sendo sincera, e pelo soluço
preso na sua garganta e as lágrimas que teimam em sair dos seus
lindos olhos, eu realmente sou um absoluto idiota. Bianca está
completamente apaixonada por mim, e eu por ela. Isso deve ser a coisa
mais louca que me aconteceu na vida, é algo mágico e maravilhoso.
Não, eu não vou deixar isso correr para longe de mim, não vou
deixar esse sentimento escapar por entre os meus dedos. Que se fodam
os meus princípios e a porra toda, essa mulher linda, que está prestes a
desabar em lágrimas na minha frente, é minha, e se alguém ousar
tocá-la, não imagina a porra da briga que vai comprar, pois acabei de
descobrir que sou a porra do homem mais ciumento do planeta terra.
Avalio o rosto choroso da Bianca, ela está prestes a desmoronar.
Tudo bem, não vejo problema nisso. Desde que desmorone nos meus
braços.
— Bianca, venha cá! — O tom da minha voz é duro e suave ao
mesmo tempo. Ela me encara com os olhos marejados, e a minha
vontade bate com força. Eu só quero colocá-la no colo e abraçá-la. —
Venha cá...
Reticente, ela vem até mim e para em frente à minha cadeira de
rodas. Uma lágrima escorre por sua face, e um soluço escapa da sua
garganta. Minha vontade é de puxar a sua mão e fazê-la cair sentada
no meu colo, mas quero que ela venha com as próprias pernas.
— O que você quer, Anthony? — Ela engole o soluço.
— Sente-se aqui. — Bato a palma da mão na minha perna.
Bianca olha para a minha mão e depois para o meu rosto. Sorrio
de forma deliberada, conheço o poder do meu sorriso, ele tem o dom
de acalmar muitas mulheres.
— Anthony, o que você pretende? Acho melhor acabarmos com
esse joguinho, você é comprometido, e eu... eu sou a sua
fisioterapeuta. Isso não vai dar certo, acho melhor me demitir para
que eu possa ir embora.
— Por que você é tão teimosa? Sente-se aqui, Bianca, faça o que
estou mandando.
Bato a mão com força na minha perna e fixo os meus olhos nos
dela. Bianca engole em seco, mas se senta no meu colo.
— Assim não, de frente para mim, com uma perna de cada lado do
meu corpo, e pare de chorar, você não tem motivos para choro. Anda,
vire-se.
Bianca respira fundo e lança um olhar que poderia ter incendiado
o meu corpo todo, mas faz o que eu mando, ela se senta
completamente esparramada no meu colo. Sinto o calor da sua boceta
através do tecido da sua calcinha. A saia curta que ela está usando me
dá um contato preciso e que causa um choque entre o seu sexo e o
meu.
— Anthony, deixe-me ir. Já está sendo bastante embaraçoso
admitir que estou... — Ela não consegue completar a frase, pois a sua
voz embarga, e outra lágrima escorre pelo seu rosto.
— Que está apaixonada por mim? — Completo a sua frase e limpo
a lágrima teimosa com o meu dedo, avaliando o seu lindo rosto. —
Bianca, olhe para mim — espalmo a minha mão no seu queixo e ergo o
seu rosto para que ela me olhe. — Preste atenção no que eu vou te
dizer, e não duvide de uma vírgula do que eu disser. Eu estou
apaixonado por você — digo pausadamente — Eu não vou abrir mão
desse sentimento. Que se fodam os meus princípios, que se foda a
opinião dos outros, que se foda o seu chefe. Eu não vou deixá-la por
nada neste mundo. Se for preciso, eu compro a porra da clínica e a dou
para você. Duvida? — Finalmente ela sorri, e o meu coração se acalma.
— Agora, pare de chorar e me beije, porque do resto cuido eu.
Seu jeitinho meigo, doce e de menina reaparecem, e eu entro em
êxtase. Olho no fundo dos seus olhos, e posso jurar que já senti essa
mesma sensação, este calor protetor, algo que eu só sentia quando
abraçava a minha coelhinha, a minha Bibi.
Seguro-a pela sua nuca, meus dedos circulam o local com posse, e
aperto apenas o suficiente para que ela sinta quem está no comando.
Sim, eu gosto de estar no comando, gosto de conduzir, sou um homem
à moda antiga. Minha mulher precisa se sentir minha, precisa saber
que está protegida, amada e cuidada. Não importa se eu estiver longe
ou perto, ela precisa acreditar no meu amor.
— Bianca — nossas testas estão próximas, eu posso sentir a sua
respiração — Olhe no fundo dos meus olhos — Ela me obedece, e eu a
puxo para mais perto, nossas bocas estão a milésimos de distância — A
partir de agora, seremos nós dois, não importa o que aconteça,
entendeu? — Ela pisca os olhos, assentindo. — Agora me beije.
Seus braços circulam o meu pescoço, seus dedos se entrelaçam
nos meus cabelos e sua boca encosta na minha. Seus lábios quentes em
contato com os meus, roçam e me provocam, fazendo a minha cabeça
girar até nos entregarmos ao puro êxtase da paixão. É um beijo
diferente, um beijo terno, que parece selar algo que já existe há muito
tempo. Não sei explicar, mas me sinto em casa. Nos braços da Bianca,
eu me sinto em casa. O sabor da sua língua, o calor da sua boca, o
fervilhar de emoções nunca sentidas, nunca experimentadas. É como
se eu já esperasse por isso há muito tempo.
Sem nos afastar, abrimos os olhos e ficamos ali, nos olhando como
dois sonhadores, atônitos e excitados. Neste momento nós estamos
vivenciando sensações indescritíveis, nosso olhar desejoso nos diz isso.
Estamos navegando em águas calmas e mornas, é como se já
soubéssemos que algo assim existia, e cedo ou tarde isso aconteceria.
— Está sentindo, sente-o? — Pego a sua mão e a levo entre suas
pernas, deixando-a sobre a frente da minha calça. — Ele a quer tanto
quanto eu, você se tornou a razão do seu pulsar. Bianca, não aguento
mais me masturbar pensando em você, gozar nas minhas mãos
pensando em você. Quero você, agora!
Eu a beijo novamente, só que desta vez o beijo é tórrido, voraz,
dominador. Minha boca se esfrega na dela com força, mordo os seus
lábios, arranhando a pele macia com os meus dentes. Bianca solta
gemidos roucos e baixos, quase um sussurro enlouquecedor. Suspendo
a sua saia, minha mão passa por baixo da tira fina da sua calcinha,
envolvo os meus dedos nela, e com um puxão, eu a rasgo em duas.
Bianca se assusta, mas não a deixo se separar da minha boca, minha
outra mão a mantém cativa pela minha força. Jogo o resto da calcinha
fora, e sem pedir licença, mergulho os meus dedos entre as suas
pernas.
Pela primeira vez, sinto o calor da sua boceta, tão quente e tão
molhada. Salivo, e minha vontade é de jogá-la no estofado e devorar
essa boceta, de comê-la com a minha boca, meus dentes, e saboreá-la
com a minha língua. Meu dedo encontra o seu clitóris, tão pequeno,
mas tão duro e escorregadio. Os gemidos e as convulsões da Bianca
estão me deixando louco. Ela se contorce, me agarra e se esfrega em
mim. Isso é puro êxtase. Penetro um dedo na sua abertura, que é
devorado pela sua vagina, que pulsa em torno dele.
— Bi-Bianca, eu... eu preciso de você agora — Digo, enquanto eu a
beijo. — Não posso mais esperar.
Ela solta o meu pescoço e rapidamente desafivela o meu cinto e
desce o zíper da minha calça. Quando menos espero, meu pau já está
nas suas mãos, pulsando ferozmente. Essas mãos quentes, que eu já
conheço tão bem, masturbam o meu membro com destreza. Solto um
uivo quando ela o coloca entre as coxas, apertando-o. Ela começa a
subir e descer no meu colo.
— Porra! Bianca eu vou gozar desse jeito. — Ela me olha com
aquele olhar safado, e eu gosto disso — Senta nele agora, ou não
respondo por mim. — Bianca levanta o quadril e posiciona o meu
membro na sua abertura.
— Anthony, quer que eu me sente de vez ou lentamente? — Ela
pergunta, sorrindo e com um olhar cheio de malícia. — Farei o que
você mandar.
— Lentamente, me mate aos poucos, deixe-me sentir cada parte de
você. — Ela bate no meu peito. Seus quadris vão descendo lentamente.
Não desviamos o nosso olhar. Meu pau vai preenchendo-a,
escorregando para dentro do seu corpo, enquanto os nossos olhos
estão fixos um no outro. Bianca fica muito mais linda quando está
sendo fodida. Caralho, ela é a mulher mais linda do mundo!
— An-Anthony... eu... eu... Deus do céu, isso é muito bom.
— Cavalga, Bianca, cavalga no meu pau — E ela obedece. Os
cachos dourados balançam no ar, suas mãos seguram nos meus
ombros e as minhas espalmam na sua cintura. É uma puta cavalgada,
ela grita a cada estocada e eu grunho feito um bicho feroz.
— An-Anthony... eu... eu não vou conseguir esperar você. — Sua
voz ofegante me leva ao delírio.
— Não vai precisar esperar, nós vamos fazer isso juntos. — Mordo
o seu queixo e depois seu pescoço.
Nosso prazer vem como explosões de dinamites. Intenso,
barulhento e longo. Retiro o meu membro rapidamente da sua vagina
e espalmo a minha mão na glande, impedindo que o meu gozo espirre
na roupa de Bianca.
— Por que você fez isso?
Poxa, Anthony e o seu prazer? Você o cortou pela metade... —Ela
me olha com repreensão.
— Você quer engravidar? Não que eu me importe com isso, pois
seria o homem mais feliz do mundo, mas acho que é cedo demais. —
Eu a beijo novamente, estou ficando viciado na sua boca.
— Bem, então eu preciso ir ao médico o quanto antes. Parei com
os contraceptivos porque estava com algumas reações, mas vou ao
médico e resolveremos esse problema.
— Hei, senhorita Bianca, acabamos de fazer amor, dá para parar
de ser tão certinha? Depois eu penso sobre isso. Eu, entendeu? Que tal
um beijo, pois a minha boca precisa urgentemente da sua. — Recebo o
beijo mais intenso e apaixonado de toda a minha vida.
— Senhor Anthony? Senhorita Bianca? Está tudo bem aí?
Somos surpreendidos com fortes batidas na porta e gritos da
minha fiel governanta Mercedes, ela parece estar muito preocupada.
Nos separamos rapidamente, feito dois adolescentes que
acabaram de fazer algo muito errado. Escondemos o riso com as mãos,
e depois de recuperarmos o fôlego, respondemos ao mesmo tempo:
— Estamos bem, Mercedes, já estamos indo almoçar.
Depois, caímos na gargalhada, provavelmente a Mercedes não
entendeu nada.
Capítulo 11

Anthony

Bianca parece tão radiante, seus lindos olhos azuis brilham de


uma forma tão ímpar, e só de olhar me dá vontade de abraçá-la e
nunca mais soltá-la. É uma sensação tão boa que faz o meu peito
fervilhar. Isso sem esquecer o meu desejo crescente, que me deixa
completamente tonto e sem ação diante dela. O engraçado é que
sempre desejei conhecer uma mulher assim. Nos meus sonhos juvenis,
eu me casaria com uma doce e adorável mulher, eu cuidaria dela e dos
nossos filhos, seria o seu protetor e o príncipe da sua vida.

Lembrei-me da Bibi e das promessas que eu fiz para ela, de cuidar


e protegê-la. Ela sempre me respondia que eu sempre seria o seu
príncipe. Não serei o príncipe da minha querida coelhinha, pois
provavelmente ela já o encontrou, no entanto, posso ser o príncipe da
Bianca, e, sinceramente, eu gostaria muito que ela me deixasse ser o
seu príncipe.

Chegamos à sala de jantar. Bianca estaciona a minha cadeira de


rodas no meu lugar à mesa e vai se sentar na cadeira que está do meu
lado esquerdo. Avalio o local e percebo que algo não está satisfatório,
não para mim.

— Bianca, por favor, sente-se aqui — Seguro a sua mão e acaricio o


dorso com o meu polegar. Com a minha outra mão, bato levemente no
meu colo, em um convite para que ela se sente ali.

Bianca me olha timidamente. Já estou amando esse jeitinho doce


de ser que ela tem.

— Não, Anthony, não fica bem eu me sentar no seu colo, ficou


doido? O que os empregados vão pensar se me verem aí? — Ela me
questiona.

— Que se fodam os meus empregados, que se foda a opinião dos


outros. Vamos, venha logo, sente-se aqui! — Bato na minha perna
novamente, mas ela permanece sentada onde está e afirma,
replicando:

— Não, eu não vou. Se você não se importa, eu me importo. — Ela


puxa sua mão da minha e a leva para baixo da mesa.

Meu sorriso reprovador ricocheteia nela.

— Se você não vier, eu vou buscá-la.

— Anthony! — Recebo um olhar fulminante. Eu fico com uma


vontade de rir alto, mas seguro o riso — Não ouse fazer isso comigo!
Poxa, você esqueceu que é comprometido? — Bianca continua me
olhando com uma expressão zangada, enquanto aponta para a aliança
no meu dedo.

Estico a mão direita para frente do meu rosto e analiso a aliança.

— Isso aqui está incomodando você? Esse é o problema?! Então,


vamos resolver isso agora.

Retiro a aliança do dedo e vou até a janela mais próxima, jogando


a joia longe.

— Ficou louco, Anthony?! — Ela brada, espantada. Levanta-se e


vai apressadamente até a janela, e fica olhando através dela,
procurando a minha aliança. — Você não deveria ter feito isso, aquilo
lá custa caro.

Voltamos para os nossos lugares.

— Não interessa. Se a porra daquela aliança a incomodava, agora


já não incomoda mais.

— Você se livrou da aliança, mas continua comprometido, isso não


muda nada — Ela contrapõe rapidamente — E as pessoas vão apontar
o dedo para mim, isso é certo. — Murmura baixinho, mas eu escuto
perfeitamente.

É bom saber que ela está incomodada por ainda estar amarrado a
uma outra pessoa. Logo vou resolver isso, pois eu também não estou
me sentindo bem com essa situação, mas se por um instante perceber
quaisquer insinuações maldosas sobre a conduta dela, ah! Coitada
dessa pessoa.

— Se alguém ousar falar um tantinho assim de você — Faço um


gesto com os meus dedos, o polegar e indicador — Eu juro que será
demitido no mesmo dia, mas não se preocupe, eu vou resolver isso
hoje mesmo. Agora, venha aqui. Ou você vem com as suas próprias
pernas, ou vou buscá-la.

Bianca sufoca um suspiro de impaciência, levanta-se e vem até


mim, um pouco reticente, mas ela vem e senta-se no meu colo. Ela está
tensa e olha para os lados a todo momento.

— Quer parar, Bianca? Relaxe, a partir de hoje você é a minha


mulher, e eu te quero aqui no meu colo, no café da manhã, no almoço
e no jantar. — Afirmo, com a voz carregada de sinceridade e com a
certeza de que vou cumprir cada palavra dita.

Nesse instante, uma das minhas funcionárias entra na sala. Abre


um vasto sorriso quando vê a Bianca sentada no meu colo. Fico com
vontade de gargalhar quando percebo a vergonha estampada no rosto
de Bianca.

— Gertrudes, conheça a minha futura esposa. — Bianca me fuzila


com o olhar — Bianca, essa é a Gertrudes, Gertrudes essa é a Bianca. —
Ela sufoca um suspiro.

Por mais que ela tente argumentar, não vai adiantar; eu já estou
decidido a assumi-la como minha noiva, mesmo ainda sendo
comprometido com outra mulher. Mas isso vai mudar logo, logo.

— Anthony, pelo amor de Deus, pare com isso! — Ela diz, quase
implorando — Não somos... — Ela baixa os cílios e engole um soluço.
— O que eu fiz, por acaso eu disse alguma mentira? Você é ou não
é a minha futura esposa? – Olho para ela com a cara mais cínica do
mundo, depois olho para a Gertrudes e pisco um olho.

Gertrudes é esperta, não é à toa que é a ajudante favorita da


Mercedes. Percebendo que a Bianca está sem jeito, ela limpa a
garganta e começa a falar pelos cotovelos.

— Fico feliz que seja a senhorita a futura esposa do senhor


Anthony, eu não gostava da senhorita Victoria, ela é uma vaca —
Gertrude se cala e olha para mim, envergonhada — Desculpe-me,
senhor Anthony, mas é o que eu acho dela. Ela humilhava todo mundo
aqui, nos tratava muito mal, além disso, ela não merecia o senhor. —
Gertrudes olha para Bianca — Agora, a senhorita Bianca parece um
anjo, eu acho que ela foi feita exatamente para o senhor. Vocês nos dão
a impressão que já se conhecem há muito tempo. Estou muito feliz
com a felicidade de vocês.

É verdade, eu acho o mesmo, desde o primeiro dia em que a vi,


tive essa mesma impressão, de que a conheço há tempos.

— Concordo com você, Gertrudes, parece mesmo que já nos


conhecemos há bastante tempo, não acha, Bianca?

Olho para Bianca com as sobrancelhas franzidas, ela está


completamente envergonhada.

— Não sei de nada, vocês já me deixaram completamente sem


graça.

Gertrudes sorri com o embaraço de Bianca, suspira


profundamente e revira os olhos, e enquanto coloca algumas travessas
sobre a mesa, diz:

— Bem, vou deixá-los almoçar em paz, com licença.

Gertrudes sai sorrindo e olhando para trás. Espero até que ela
suma e olho para Bianca com um sorriso debochado nos lábios.

— Já temos uma fã, agora só falta ganharmos mais alguns, tipo...


uma centena deles.

— Você é impossível, Anthony, não sabia que você era tão


engraçadinho. — Recebo um tapa no ombro.

Eu a beijo na boca.

— Bem, moça, vamos comer. O que você quer? Carne, peixe ou


frango?

— Estou sem fome. Só quero salada.

— Nem pensar, você vai comer um pouco de cada coisa. Pensa que
eu não percebi o quanto emagreceu? Quero a minha mulher carnuda,
sou carnívoro — belisco a sua cintura, e Bianca se encolhe quando os
meus dedos fazem cócegas no local.

— Para, Anthony, isso faz cócegas — Eu continuo cutucando a sua


cintura — Para, Anthony, eu vou ficar sem ar — Ela sorri, e eu me
apaixono ainda mais pela minha linda fisioterapeuta.

— E por falar em cuidados, amanhã eu vou marcar um médico


para você. Não pense que eu esqueci o que você me disse logo cedo. Eu
quero que você faça todos os exames, e se o médico disser que não
pode usar anticoncepcionais, você não vai usar, eu uso preservativo.
Meu pau não vai ficar muito satisfeito usando uma carapaça, mas a
sua saúde vem em primeiro lugar. Quando chegar a hora de termos
um filho, aí sim, eu o liberto e ele poderá se divertir à vontade. — Faço
cócegas na sua cintura novamente.

— Você é impossível, Anthony! — Ela tenta afastar a minha mão —


Pare de me fazer cócegas — Ela fica sem ar, então eu paro e em troca
recebo um beijo — Mal começamos e já estamos na fase dos filhos,
você é bem apressadinho. – Ela sorri, e isso me deixa de pau duro.

Juntei as coisas. Filhos é igual a sexo, sexo é igual a felicidade,


felicidade é ver a Bianca sorrindo, isso tudo ao quadrado é igual a
tesão.

Anthony, você é um tarado.

— Sim, eu quero uma porção de carinhas lindas iguais a sua,


espalhadas por essa casa enorme, todas loirinhas e serelepes, fazendo
bagunça e nos deixando loucos. Precisamos começar a praticar, fazer
um filho por ano exige muitas e muitas fodas. — Pisco o olho e sorrio
descaradamente.

— Anthony, você está impossível hoje! — Recebo um beliscão no


braço — E por acaso o senhor vai me ajudar a cuidar dessa turminha
do barulho?

— Sempre! Vou mimar tanto você quando estiver grávida, que vai
desejar ter um filho por ano.

— Credo, senhor Anthony. — Mercedes nos interrompe — Desse


jeito o senhor vai amedrontar a moça e ela vai correr para longe do
senhor, antes mesmo que vocês se casem. Um filho por ano é exagero,
coitada da senhorita Bianca.

Bianca esconde o rosto no meu pescoço e começa a rir com


vontade. Mesmo assim, quando acalma o riso e olha para Mercedes,
ela ainda está muito corada.

— Ok, um bebê de dois em dois anos.

Mercedes percebe o embaraço de Bianca.

— Senhorita Bianca, não precisa ficar envergonhada, eu já sabia


que a senhorita iria conquistar o coração do senhor Anthony tão logo a
vi descer do carro. Como eu também tinha certeza de que o meu
menino conquistaria o seu coração, apenas não me pergunte como. Só
sei que o meu coração me dizia isso, acho até que demorou demais. —
Ela recolhe alguns pratos. — Com licença, vou limpar o quarto do
senhor Anthony e recolher as coisas da bruxa Victoria. Graças a Deus
nos livramos dela.

Começo a gargalhar. Bianca me olha de um jeito tão espantado,


que só rindo com vontade.

— Você ri, Anthony? Deus do céu! Quero morrer amiga da


Mercedes.

— Queira mesmo. — Eu a puxo para mais perto e a beijo. O beijo


vai se intensificando, e ela começa a se esfregar na minha coxa —
Caralho! — Minha mão fica entre as suas coxas, e o meu dedo alisa a
sua boceta através da calcinha — Porra! Que tesão — Digo, com a boca
colada na dela. Com um dedo afasto a sua calcinha para o lado, e com
o outro dedo encontro a sua abertura molhada. — Nossa! Pronta para
me receber, que delícia. — Ela morde a minha língua e em seguida
geme, baixinho.

— An-Anthony — Ela sussurra — Você me deixa insana.

Se ela soubesse o que faz comigo... Já estou a ponto de gozar.

— Vamos para o meu quarto, ou eu vou acabar fodendo você aqui


mesmo.

Já estávamos indo em direção ao elevador, quando o meu celular


toca. Bianca me olha, pega o celular no meu bolso e olha o visor.

— É o Almir. Acho melhor você atender.

Com desagrado, resolvo atender. Espero que o Almir termine a


conversa e desligo.

— A culpa é sua. Se eu não tivesse atendido, o meu pau já estaria


fodendo essa boceta melada com vontade, agora ela vai ter que esperar
até a noite, porque tenho duas reuniões, uma agora e a outra às
dezessete horas, portanto, acho melhor você descansar bastante,
porque eu e ele — Aponto para o meu pau — não vamos dar sossego
para vocês duas.

Eu a beijo com paixão, até que ela fique sem ar, e enquanto a
minha língua fode a sua boca, meus dedos beliscam a sua boceta
carnuda.
Capítulo 12

Bianca

Jantei sozinha hoje. O Anthony me ligou um pouco mais das


dezoito horas, para avisar que não viria jantar. Ele ainda estava preso
em uma reunião, tirou apenas alguns minutos para falar comigo.
Pediu-me que jantasse e que não o esperasse, pois ele jantaria na usina
com os empresários. O jeito foi comer sozinha.
Estou me sentindo tão bem, tão feliz e tão completa. É como se eu
estivesse com Anthony a minha vida toda. Quanto mais penso no
assunto, mais confusa fico, pois essa impressão de já conhecê-lo
atormenta a minha mente. Refreio os meus pensamentos e resolvo
pensar na série de exercícios de Anthony, hoje ele fará fisioterapia na
piscina.
Após preparar tudo o que Anthony vai usar na água, eu me sento
na espreguiçadeira. A noite está quente, a lua está cheia e as sombras
das folhagens e das árvores estão tingidas de prateado. Fecho os meus
olhos e fico quieta, só escutando o barulho dos grilos e o burburinho
da água da piscina chacoalhando, fazendo espuma e bolhas brancas.
O silêncio gostoso é interrompido pelo barulho da porta que dá
acesso à piscina, e logo depois ela é fechada novamente. Olho por cima
do meu ombro esquerdo e vejo a cadeira de rodas de Anthony se
aproximando. Ele já vem com um sorriso sedutor no rosto, posso
sentir o desejo insano através do seu sorriso. Uma brisa suave
acarinha o meu rosto no momento certo para suavizar o meu rubor.
— Tão linda quanto a lua. Ela reina lá do céu, e você reina em
mim.
Tão galante este homem. A cada segundo, o Anthony me
surpreende mais. Levanto-me e vou recebê-lo de braços abertos e um
vasto sorriso nos lábios. Ele me puxa para o seu colo.
— Não lavei a minha mão desde que ela se separou da sua boceta.
Sempre que podia, eu cheirava os meus dedos e já ficava de pau duro.
Nem sei como eu consegui trabalhar, e a culpa é sua.
Ele me beija com extrema lascividade. Aquela língua indecente
varre a minha boca e faz promessas libidinosas.
— Anthony, temos que ser cuidadosos com os nossos rompantes —
Consigo me separar da sua boca, mesmo assim, ele continua me
beijando. — Anthony, os... os empregados...
Sua mão solta o meu rosto, pega algo no bolso da camisa e aponta
na direção da porta. Escuto um clique e as luzes se apagam, só as
lanternas do chão e as luzes azuis da beira da piscina ficam acesas.
— Pronto, não corremos risco de sermos pegos. Agora, vamos nos
livrar das nossas roupas.
Mãos quentes e experientes começam a me despir, provocando-
me. Anthony sabe perfeitamente como fazer uma mulher delirar,
suplicar pelo seu toque.
— Bianca, você é linda demais, gostosa demais. Se eu pudesse não
tiraria as minhas mãos do seu corpo. Quero tudo, quero você toda.
Meu corpo responde aos seus apelos, enquanto as minhas roupas
são arrancadas. Logo fico completamente nua. Suas mãos e seus dedos
acariciam tudo, despertando cada sentido do meu corpo e mente.
—Dispa-me, Bianca, deixe-me nu. — Desfaço o nó da gravata, e
sem dó e paciência, dou um puxão que abre de uma só vez a sua
camisa. Os botões voam, se espalhando por todo chão de pedras de
ardósia.
Desafivelo o cinto, abro o botão e desço o zíper da sua calça. Desço
do seu colo e retiro a calça, logo depois é a vez da cueca, meias e
sapatos.
Seus dedos alimentam o meu desejo quando me sento novamente
no seu colo. A paixão e o fogo provocados pelo seu toque me fazem
gemer alto. Percebo que eu nunca senti tamanha ânsia por nenhum
outro homem, o Anthony é o primeiro. Aliás, ele é o primeiro em tudo
o que é relativo a sentimentos. Principalmente esse que me invade a
alma, que aquece o meu coração, que me dá segurança, mas esse
sentimento eu já tinha sentindo antes, não por algum homem que eu
tenha conhecido antes dele, mas por alguém esquecido na minha
cabeça, alguém que o tempo se encarregou de levar e apagar da minha
vida, mas cuja lembrança voltou com força total depois que eu conheci
o Anthony. Esse sentimento que eu sempre soube que existia dentro
de mim, mas que até então estava trancando no meu interior,
escondido em algum canto, guardado a sete chaves, mas o Anthony foi
a minha chave. Eu o amo, agora não tenho mais dúvida quanto a isso;
eu o amo tanto que chega a doer. Sim, é uma loucura admitir isso. Era
inviável, aconteceu, e eu não quero mais lutar contra isso. Meu corpo
queima com a força desse sentimento, ele não precisa fazer nada para
o incêndio começar, basta apenas me olhar.
— Quero foder você na piscina, vamos, pois nela eu posso ficar de
pé.
Ajudo o Anthony a entrar na piscina, a água fica na altura do seu
peito. Foram instaladas duas barras de sustentação, para que ele
pudesse se segurar. A água faz com que o seu corpo fique mais leve, e
assim ele consegue ficar de pé.
— Sente-se na beira, Bianca. Deite-se e abra bem as pernas, eu vou
provar essa boceta suculenta e fazê-la gozar na minha boca, não
economize nos gemidos.
Faço o que ele manda: sento-me na beirada da piscina, apenas as
minhas pernas ficam na água. Anthony me puxa e agarra a minha coxa
com uma das mãos, com a outra ele se apoia na barra de sustentação.
Segundos depois, sua língua quente penetra a minha abertura, ela me
fode com maestria, lambe o meu núcleo, seus dentes raspam os meus
lábios vaginais, arranhando e mordendo. Sua boca me chupa e suga
tudo de mim. Grito quando o orgasmo vem com uma força violenta.
Circulo as minhas pernas em volta do seu pescoço e puxo a sua cabeça
de encontro à minha boceta, forçando o contato da boca do Anthony
lá, me esfregando nele, roçando o meu sexo na sua cara. Sua língua
serpenteia a minha entrada, fodendo-me.
— An-Anthony... — Digo o nome dele, quase sem fôlego. — a-acho
que morri...
Ele ergue a cabeça do meio das minhas pernas, ofegante, exausto e
todo lambuzado.
— Deixe para morrer depois de mim. — Ele puxa o meu corpo que
desce sob as águas mornas da piscina.
Uma das suas mãos empurra as minhas costas contra o azulejo da
piscina, e solto um grito de surpresa. O jeito como ele me olha faz a
minha espinha gelar. Seu desejo é feroz, cru e dominador. Aqueles
olhos azuis dizem que ele não quer apenas me amar, dizem também
que ele quer me comer, literalmente. Anthony passa o braço em volta
do meu tronco, me levanta e me empurra contra o azulejo. Seu corpo
rijo se ajusta entre as minhas coxas. Meus sentimentos despertam com
mais intensidade diante desse olhar e do jeito dominador e enfurecido
dele. Isso me excita, provoca vontades desconhecidas. Olho para o seu
lindo rosto que está a apenas alguns centímetros do meu.
— Você é um tesão, Bianca, só de encostar o meu pau na sua
boceta, já sinto vontade de gozar.
O Anthony sabe como me fazer sentir uma devoradora de homens;
sim, ele sabe direitinho.
Ele encosta o seu membro na minha entrada, pressiona a glande
para dentro, e não consigo conter o meu grito de prazer. Engulo em
seco quando o seu espesso membro se embrenha dentro de mim, me
preenchendo completamente. Meus músculos relaxam e lhe dão fácil
acesso. Nossas bocas se esmagam, uma de encontro a outra, nossos
gritos e gemidos se confundem. Ele grunhe quando me golpeia contra
a parede de azulejos. O orgasmo se constrói com todo aquele roçar,
retesar e esfregar dos nossos corpos.
— Porra! Você é muito boa. Cacete! Bianca, eu ficaria dentro de
você para sempre... porra! Você gosta do meu pau dentro de você?
Gosta? Quer mais? Quer com força, quer que eu coloque tudo nessa
boceta apertada, suculenta e minha?
Já estou adorando a boca indecente e suja dele, as coisas que ele
me diz só fazem o meu fogo subir.
— Responde, delícia, quer que eu enfie com força? Quer que eu te
deixe completamente preenchida de pau, hein?!
— Sim, mete tudo... — Recebo uma estocada violenta, mais uma
vantagem da água, já que Anthony não precisa de mim para mantê-lo
em pé.
— Porra! Então toma, me tome por inteiro — Seus olhos brilham
de luxúria, a sua indecência em me foder é esmagadora. Cada estocada
do membro de Anthony, me leva mais longe, estou cada vez mais
próxima da beira do ápice do prazer. — Toma, delícia, é pau que você
quer? Então tome, toma tudo, sua boceta vai ficar saciada de pau.
Grito de prazer com a última estocada voraz de Anthony, gozo
com toda força, as ondas de êxtase rodeiam o meu corpo. Eu o beijo
violentamente, mordo os seus lábios, minhas unhas arranham a pele
das suas costas, eu viro uma selvagem. Anthony começa a estocar com
mais força e rapidez.
Ele solta um grunhido feroz, retira o membro de dentro de mim e
começa a esfregá-lo com a mão, jorrando o seu prazer na água da
piscina. Fecho os olhos, apertando os lábios. Ele encosta a sua testa na
minha, e eu ofego profundamente. Fico presa entre o seu corpo
trêmulo e a parede de azulejos. Recebo um beijo na boca e outro na
testa.
— Caralho, mulher! Acabei de cometer um genocídio. — Ele diz,
ofegante. Não compreendo o que ele quis dizer.
— O quê? O que você disse? — Pergunto, curiosa.
— Acabei de matar afogados os nossos filhos, olha lá eles boiando.
Mulher, vamos ser presos.
Não consigo controlar o riso: solto uma gargalhada. Estou
começando a amar o lado cômico de Anthony.
— Besta. — Eu o empurro com o punho fechado — Você só não é
mais besta porque é um só, se fossem dois seria duplamente besta.
— Mãe sem coração, nem se importa com os filhos que acabamos
de afogar. — Ele me agarra, e recebo um beijo apaixonado.
— Anthony, você é impossível! — Saio da piscina e vou à procura
dos roupões. — Venha, você precisa de uma chuveirada e cama.
Ele me dá um sorriso diabólico.
— Sim, senhora, dona patroa. Pode me levar para a senzala, eu
quero ser açoitado a noite toda, e de preferência pela sua boceta na
minha cara.
— Pare com isso, eu estou falando sério, banho e cama. Sem sexo!
— Ele aceita a minha ajuda para sair da piscina.
— Ok, prometo me comportar. Mas a senhorita vai dormir comigo,
e não aceito um não como resposta.
É difícil dizer não para o Senhor Convincente. Acabo no quarto
dele, tomando banho com ele e fazendo amor até a madrugada. Nem
me lembro que horas consegui fechar os olhos e descansar o meu
corpo, que está completamente acabado e usado.
Capítulo 13

Anthony

Acordo as seis horas da manhã e faço o impossível para não


despertar Bianca. Ela parece tão confortável na minha cama,
embrulhada entre os lençóis de linho branco, parece fazer parte deste
cenário desde o dia em que nasceu.
Saio da cama silenciosamente, por sorte, a minha cadeira de rodas
está próxima da cama. Bianca ainda se mexe, certamente sentindo a
minha falta. Estávamos uma bagunça, enrolados entre os lençóis,
pernas e braços. Deixo o meu travesseiro no meu lugar, e ela logo o
puxa para si e o agarra, e por um milésimo de segundos, fico com
ciúmes do ordinário, mas depois resolvo deixá-lo para lá.
Tomo um banho rápido e desço para o escritório, tenho assuntos
urgentes para resolver. Olho as horas e vejo que já são sete e trinta,
não vou esperar mais. Mesmo sabendo que em Miami é uma hora
mais cedo, resolvo ligar para Victoria assim mesmo. Tento três vezes,
até que ela finalmente atende.
— Porra, Anthony! O que é tão urgente que você não pode deixar
para mais tarde? — Por um momento, eu penso que ela desligou, pois
se faz um silêncio ensurdecedor. — Anthony, o que eu disse a você
sobre não me ligar? Fui bem clara ao dizer que ligaria para você
quando estivesse pronta. — Victoria manifesta a sua ira, ela parece
bastante irritada.
Não me importo nem um pouquinho.
— Não posso esperar, preciso falar com você ainda hoje, e
pessoalmente. — Ela tenta me interromper — Cale-se, Victoria!
Escute-me com atenção. Eu vou providenciar as suas passagens para o
Brasil imediatamente e com retorno para hoje. Se você não retornar,
não precisa mais voltar para cá, pode ir direto para o Rio de Janeiro.
Eu estou falando sério, se não voltar ainda hoje, pegue o caminho da
casa dos seus pais. — A ligação fica muda. — Era só isso o que eu tinha
a dizer, tenha um bom-dia!
Desligo em seguida. Com certeza, ela ficou surpresa, eu nunca agi
dessa forma antes. Só espero que ela tenha entendido o recado, não
quero postergar essa conversa em nem mais um dia. A ideia de
terminar de uma vez por todas com esse relacionamento não me
assusta mais, isso é reconfortante e só me dá ânimo. Agora, eu tenho
certeza de que deveria ter enfrentado essa situação desde o dia em que
me acidentei. Se tivesse tido a coragem de enfrentar o medo de ficar
sozinho, as coisas não teriam chegado onde chegaram. Agora eu sei,
nunca estive apaixonado pela Victoria, como também não precisava
desesperadamente do seu amor.
Escuto uma leve batida na porta. Ergo a cabeça em direção a ela e
peço para que a pessoa entre.
Uma mulher linda e sorridente surge através dela. Meu coração dá
pulos de alegria.
— Você me abandonou na cama, sozinha, isso é maldade.
Posso dizer, sem medo algum, que eu a amo mais do que qualquer
coisa na minha vida.
— Acordei cedo, não achei justo acordá-la também. Conseguiu
recuperar as forças? — Sorri, presunçoso.
— Acho que não, estou toda quebrada, vou precisar de um mês, no
mínimo.
Engulo o riso ao vê-la se aproximando da minha mesa. Bianca dá
a volta e se senta no meu colo, beijando-me demoradamente.
Sua língua safada percorre a minha boca, à procura da minha
língua, e quando as duas se encontram é uma devassidão só, quase não
sobra pedra sobre pedra.
Ofegante, ela se afasta apenas o suficiente para expressar algumas
poucas palavras.
— Anthony, isso me deu fome. Juro que, se eu não te comer, vou
morrer de inanição.
Acho que criei uma monstrinha. Ela desafivela o meu cinto, e em
poucos minutos o meu pau está fora da calça. Após os persistentes
toques das suas mãos quentes, ele está pronto para agradar a sua
dona.
Bianca levanta a saia do vestido e afasta a calcinha, logo depois se
senta sem nenhuma vergonha sobre o meu pau. Completamente
esparramada no meu colo, seus quadris roçam na minha pélvis,
descaradamente. Seguro-a pela nuca e a faço olhar profundamente nos
meus olhos.
— Foda-me, mulher. Fode com força o seu pau, sugue tudo de
mim, drene toda a minha energia. — Eu a puxo de encontro a mim e
dou-lhe um beijo selvagem, é um beijo agressivo e dominante. Bianca
cavalga no meu colo sem nenhum pudor.
Não demora para que o seu êxtase a atropele com força bruta. Ela
ia gritar, mas eu a prendo nos meus braços e lhe dou um beijo com
mais força, sufocando os seus gritos de prazer. Minutos depois, eu a
levanto do meu colo, retirando o meu membro da sua vagina. Cubro a
glande com a palma da minha mão, deixando o meu prazer escorrer
por entre os meus dedos. Bianca cobre a minha mão com a barra da
sua saia, não permitindo que o meu esperma nos suje. Beijo a sua testa
e abraço o seu corpo em seguida.
— Caralho, mulher! Desse jeito, quem vai ficar alguns meses sem
uso sou eu.
Desde que eu e a Bianca nos entregamos aos sentimentos, nós não
ficamos muito tempo sem fazer amor, e posso afirmar que a
quantidade tem muito a ver com a qualidade. Haja fôlego e força física.
— Não se preocupe, eu garanto que daqui a pouco ele vai estar
pronto para uso outra vez. — Sua mão cobre o meu membro e o
acaricia, os seus olhos não se afastam dos meus.
— Virei coelho, mulher?
— Coelho não, você virou o meu homem. Só meu.
Eu recebo um beijou possessivo. Isso sim é um beijo, cacete!
Após a nossa foda matinal nada convencional, Bianca vai se
limpar, e eu também. Tomamos o nosso café e depois seguimos para a
minha fisioterapia.
Já consigo mover os dedos dos pés, e os meus reflexos
melhoraram bastante, mas eu fui claro com a Bianca, não quero
muletas. Se for para sair da cadeira de rodas será andando, sem
nenhuma ajuda. Ela não aceitou muito bem a minha decisão, mas
estou firme quanto a ela, não vou mudá-la.
Quando terminamos a fisioterapia, já é hora do almoço. Tomamos
um banho juntos, e é claro, fizemos amor dentro da banheira.
Eu deixo a Bianca descansando no quarto. Como espero pela
chegada de Victoria, resolvo ficar em casa e trabalhar no meu
escritório. Às quatorze horas, meu celular toca.
— Alô!
— Anthony, como vai? É o Celso, estou ligando para confirmar a
nossa reunião, amanhã à tarde. Estou em Miami, e a propósito, eu vi
sua ex-noiva no hotel.
Ex-noiva? Como assim? Não contei a ninguém que o meu noivado
acabou.
— Era para eu ter ligado ontem, mas a minha esposa resolveu ir
às compras, sabe como é mulher, adora uma vitrine. Nós estamos
hospedados no mesmo hotel em que a sua ex está, confesso que fiquei
surpreso, pois pensei que vocês se casariam logo, estavam juntos há
tanto tempo. É uma pena, mas pelo visto ela já está recomeçando,
espero que você também esteja.
Quase engasgo quando o Celso me conta a novidade. Ele não tem
razão para mentir.
— Tem certeza de que era a Victoria, Celso? — Só quero me
certificar sobre a veracidade da notícia.
— Claro! Eu conheço a Victoria há muito tempo. Hoje mesmo eu
a vi saindo do hotel, com o rapaz. Ela nem me viu, estava com uma
cara de poucos amigos.
Pergunto o nome do Hotel, e ele me confirma. É a Victoria,
mesmo.
— Sim, nós terminamos. Cada um já está seguindo com as suas
vidas. — A raiva me domina. A filha da puta da Victoria está me
chifrando — Celso, podemos remarcar a nossa reunião para daqui a
dois dias?
— Claro, mandarei minha secretária confirmar o horário.
Despeço-me de Celso e jogo o celular longe.
Porra! Você é um imbecil, Anthony.
Já estou a ponto de jogar tudo o que está em cima da mesa no
chão, quando a Bianca entra no escritório.
— Algum problema, Anthony? — Ela me olha, desconfiada, pois
estou visivelmente alterado.
— Sim, mas não precisa se preocupar, é só trabalho. Sempre me
irrito com a transportadora filha da puta.
Preciso engolir o meu ódio, para não deixar que a Bianca perceba.
— Ok. — Quando ela se senta no meu colo, toda a minha raiva vai
embora e dá lugar ao amor que eu sinto por ela. — Anthony, a
Mercedes me convidou para acompanhá-la até a cidade, ela vai visitar
umas amigas, vou aproveitar para fazer um tour e depois vamos fazer
compras. Algum problema, se eu for com ela? Provavelmente só
voltaremos após as vinte horas, tudo bem?
Quanta diferença entre o meu antigo relacionamento e este. Se
fosse a Victoria... Ela não sairia de jeito nenhum com a Mercedes, mas
com certeza eu nem saberia que ela saiu, ela iria sem me dar nenhuma
satisfação.
— Que maravilha, quer dizer que serei trocado por sacolas de
compras?
— Anthony, não seja chantagista. É só me pedir para não ir, que
eu não vou.
— Estou brincando, sua boba. Vá, sim, vou ficar ocupado o dia
todo e não poderei te dar a atenção que você merece. Precisa de
dinheiro?
— Não, só vou acompanhar a Mercedes.
— Pode levar o meu cartão de crédito, tome... — Já estava abrindo
a gaveta para pegar a minha carteira, mas Bianca a fecha
imediatamente.
— Eu tenho o meu próprio cartão de crédito se precisar usar um,
Senhor Controlador. — Ela beija a minha boca e puxa a minha orelha
em seguida.
— Porra, isso dói! Acho melhor você ir se acostumando, eu
costumo pagar as contas da minha mulher, e quanto a isso não tem
acordo. É uma decisão minha, sem argumentos da outra parte, mas,
por ora, aceito a rejeição.
Mercedes surge na porta chamando pela Bianca.
— Vamos, Bianca, o táxi já chegou.
— Táxi! — Olho para Bianca. — Nem pensar, pode dispensá-lo,
Mercedes, o Almir vai levá-las e vai buscá-las também, e não me olhe
assim, dona Bianca, disso não abro mão.
Ligo para Almir e dou a ordem. Em cinco minutos, ele já está na
frente da casa, esperando as duas.
Elas se vão. Acho melhor a Bianca não estar presente quando a
Victoria chegar, a conversa que teremos não será muito agradável.
Capítulo 14

Anthony

Às vinte horas Victoria entra no meu escritório com passos


estudadamente decididos. Ela caminha pelo pesado carpete escuro, e
percebo que está tensa, mas ainda segura de si mesma. Esta é uma das
qualidades mais perspicazes de Victoria, se sentir superior a todos,
mas ela não sabe o que a espera. Além disso, a minha capacidade de
lidar com coisas difíceis é superior à sua soberba, vou agir de forma
clara e objetiva.
Continuo sentado à mesa, não tiro os olhos do contrato que eu
estava analisando. Eu a vi entrar, mas não me deixo abalar com as
fortes passadas dos seus saltos altos.
— Pronto, cheguei! Quem está à beira da morte, que não poderia
esperar pelo meu retorno? — Ela não sabe o quanto eu também posso
ser sarcástico.
Ergo a cabeça e tenho a nítida sensação que ela tenta a todo custo
não extravasar a raiva que a domina. Conhecendo-a como eu conheço,
sei que ela detesta ser contrariada.
— Boa noite, Victoria — Olho para o meu relógio — Pensei que não
viria mais, para quem saiu de Miami às oito da manhã, você está bem
atrasada, não acha?
— Nossa! Agora deu para cronometrar os meus passos? — Diz,
com um riso sarcástico.
Victoria deixa os braços caírem ao longo do corpo. Ela finalmente
se desarma e vem até mim, cerca o meu pescoço com os seus braços e
se inclina para me beijar na boca. Viro o meu rosto para o outro lado, e
seus lábios tocam a minha bochecha. Ela ainda tenta segurar o meu
maxilar para me forçar a beijá-la, mas eu afasto a sua mão e olho nos
seus olhos.
— O que há com você, Anthony? Não posso mais beijar o meu
noivo? Quem deveria estar agindo desta forma indiferente sou eu, foi
você quem me magoou.
Ela se afasta e vai até o estofado onde deixou a sua bolsa, logo
depois começa a vasculhá-la e pega um cigarro, acendendo-o logo
depois. Ela se senta no sofá, cruza as pernas e me olha com desdém,
enquanto traga a fumaça
Tento me controlar e engulo o ar que está preso na minha
garganta. Respiro até que não consigo mais engolir o que está
atravessado.
— Certamente você deve estar magoada, afinal eu não aceitei a sua
proposta de dividir a nossa cama com outro homem, para que ele
possa satisfazer a sua necessidade de um pênis dentro de você, e isso
porque eu já não sou capaz de satisfazê-la, não é mesmo?
Eu a olho com frieza, ela parece impassível com as minhas
palavras. Eu continuo analisando-a de maneira circunspecta.
— Não se coloque na posição de vítima, Anthony, não estou
pensando só em mim, eu também estava pensando em você. Pensei
que isso te excitaria, ademais, não seria apenas um homem, seria um
casal, e eles são profissionais. Você também ficaria com uma parceira,
não seja tão retrógrado. Você está sendo egoísta, não está pensando no
meu prazer. Hoje em dia isso é muito normal.
— Normal?! — Dou uma risada sarcástica — Quer dizer que é
normal eu ficar vendo um outro homem foder a minha mulher, bem
na minha frente? Faça-me o favor, Victoria, isso nunca aconteceria.
— Mas me foder com um vibrador pode? E eu ainda tenho que
fingir que estou satisfeita? — Ela traga o cigarro e solta a fumaça, sem
desviar os seus olhos de mim — É só uma foda, eu não vou morar com
o cara, só vamos transar e gozar.
É difícil lidar com a discrepância que existe entre o tom da sua voz
e o desdém faiscante no seu olhar.
— Não se preocupe, Victoria, você não vai mais ser fodida por um
vibrador. Aliás, você até já encontrou um substituto para ele, não foi?
— Ela ia abrir a boca para rebater, mas se cala. — Nunca desconfiei de
você, nunca sequer tive a curiosidade de saber com quem se divertia
durante o tempo em que ficava longe de mim, mas eu quero que você
saiba que a minha decisão não tem nada a ver com o fato de ter
descoberto que você me trai, eu só soube disso hoje.
— Como é que é!? — Ela me interrompe, se levanta e vem na
minha direção.
— Fique aí mesmo onde está — Faço um sinal de pare com mão
aberta em sua direção. Ela para diante da minha mesa e espalma suas
mãos sobre ela.
— Que história é essa de que eu te traí?! Quem inventou uma
mentira dessas? Ficou louco, Anthony?
Se eu pudesse me levantar desta cadeira, eu poderia encará-la
olho no olho, mas com certeza ela percebe a determinação através das
minhas feições rígidas.
— Não precisa representar, Victoria. Eu já sei de tudo, mas quero
esclarecer que não me importo nem um pouco, e nem me interessa
saber há quanto tempo isso acontece. — Saio de trás da minha mesa e
ficamos frente a frente — Decidi acabar com o nosso noivado há alguns
dias, foi por isso que liguei para você logo cedo. Eu só descobri sobre a
sua traição hoje à tarde.
Victoria dá um passo atrás. Certamente, ela não esperava que
algum dia eu tomasse essa atitude.
— Terminar... — Ela diz, incrédula, e olha para a minha mão
direita. — Onde está a sua aliança?
— Joguei fora, não tinha mais valor nenhum para mim. Acabou,
Victoria, esse nosso noivado já deveria ter terminado há bastante
tempo, acho até que nem deveríamos ter ficado noivos.
— Você acha mesmo que eu vou aceitar o rompimento do nosso
compromisso, assim? Sem fazer nada, sem lutar? — Ela dá dois passos
e tenta tocar no meu rosto com a mão, mas eu consigo desviá-la a
tempo — Anthony, eu o amo — Ela diz, chorosa.
— Não faça drama, Victoria. Você nunca me amou, e nem eu a
amei. Nós gostávamos de trepar, nosso relacionamento se baseava
apenas em sexo, tanto é verdade que, quando o meu pau falhou, você
ficou diferente. Não lembra como era a nossa relação?
Ela se encosta na mesa e volta a colocar o cigarro na boca, sua
mão está trêmula.
— Eu o amo, Anthony, não me venha com essa. Se você quer que
eu me humilhe para que você se sinta melhor, está perdendo o seu
tempo.
— Victoria, eu não quero nada de você, quero apenas que você saia
da minha casa, e não se preocupe em fazer as suas malas, elas já estão
feitas e foram enviadas para a casa dos seus pais, não restou um
grampo de cabelo seu sequer nesta casa. Já comprei a sua passagem de
volta para o Rio. Não quero te ver nunca mais.
Ela parte para cima de mim. Parece uma fera pronta para devorar
a sua presa. Seus olhos estão esbugalhados, o dedo na minha cara e o
seu hálito de nicotina bem rente ao meu rosto.
— Seu idiota! Você acha mesmo que vai ser assim tão fácil se livrar
de mim? Acha mesmo? Foram muitos anos ao seu lado, não vou deixar
isso barato.
Foi irracional achar que eu poderia manter uma conversa
amigável com ela. Eu a empurro para longe de mim. Juro que se eu
não fosse um cavalheiro, lhe daria um soco bem no rosto.
— A cobertura em Copacabana, as joias e o carro importado não
ressarcem os anos que você perdeu? Afinal, se fizermos as contas, eu
acho que paga tudo e você ainda me deve um troco. Mas pode ficar
com tudo, só quero você bem longe de mim.
Volto para trás da minha mesa e deixo as minhas mãos sobre ela,
sempre encarando a Victoria com impaciência.
Ela sorri com cinismo.
— Tudo isso que você acabou de citar pertence a mim por direito,
são meus...
— Certamente que sim, você pagou por eles. — Filha da mãe
desgraçada, interesseira do caralho. — A propósito, eu vou cancelar o
seu cartão de crédito e a sua conta corrente, quanto ao saldo que existe
lá, pode retirar, é seu. O carro, eu mando pela transportadora. Agora,
se você me der licença, preciso voltar ao trabalho. Nossa reunião
acabou, saia da minha casa!
Sou ríspido, mas verdadeiro. Não suporto mais nem sentir o seu
cheiro.
Ela apaga o cigarro no tampo de vidro da minha mesa e me olha
com raiva. Caminha lentamente até o sofá, pega a sua bolsa e sai
andando morosamente. Ao chegar na porta, ela se vira e diz:
— Você terá notícias minhas, Anthony, meu advogado vai te
procurar. Até breve!
Ela não espera pela minha resposta, sai a passos largos, e dois
minutos depois, eu escuto o som de pneus cantando. Eu sei que ela vai
cumprir a promessa de nos vermos em breve. Mas agora, eu sei com
quem estou lidando.
Ligo para Bianca. Ela e a Mercedes estão experimentando roupas.
Pelo visto, as duas estão se divertindo, pois eu escuto a incomparável
gargalhada da Mercedes.
Bianca percebe que algo aconteceu e insiste para que eu lhe conte,
e eu me abro com ela, lhe conto tudo. Ela quer voltar imediatamente
para casa, mas consigo convencê-la a ficar no shopping, afirmando que
não estou abalado com o término do meu noivado, que estou é
aliviado. Estou tão feliz, que eu mesmo pretendo buscá-la e depois
jantar fora e comemorar a nossa união.
E é o que faço. Almir me pega em casa e antes de me encontrar
com a Bianca, passo em uma joalheria. Hoje vou pedi-la em
casamento, nada mais impede que isso aconteça.
Capítulo 15

02 de maio. Rio Doce, Brasil


Bianca

Hoje faz vinte dias que o Anthony me pediu em casamento.


Confesso que ainda estou em êxtase. Às vezes, eu penso que estou
sonhando, as coisas aconteceram tão rápido, fica até difícil acreditar
que tudo seja real, nem nos contos de fadas há tamanha rapidez. Eu
nunca poderia me imaginar completamente rendida a um homem que
mal conheço.
Mas eu continuo com a mesma impressão de já conhecer o
Anthony de algum lugar. O seu jeito de sorrir, de me tocar e até as suas
palavras protetoras me fazem ter a impressão de já tê-las escutado
antes. Não consigo tirar essa sensação do meu corpo e do meu coração.
O Anthony já esteve próximo a mim. Mas quando? E como?
Até o próprio Anthony tem a mesma impressão. Será que estamos
tendo a mesma alucinação? Quando estamos nos olhando fixamente,
tenho uma nítida sensação de déjà vu. É meio maluco isso, e confesso
que, às vezes, é até desconcertante.
Não estou reclamando. Nem morta vou reclamar por encontrar o
meu príncipe encantado. Sonhei tanto com ele, desejei tanto encontrá-
lo. Mas ainda é um pouco surreal tudo isso, principalmente pela forma
como tudo aconteceu. Foi tudo mágico, repentino e voraz.
Eu o amo tanto, eu o desejo com tanto ardor. Chego a considerar
inviável sentir por outro homem o que eu sinto por ele. Com o
Anthony tudo é perfeito, até mesmo um simples pedido de casamento
fica perfeito.
Ainda estava no shopping com a Mercedes, fazendo compras,
quando Anthony me ligou e me contou sobre o seu encontro com a
Victoria. Me contou também como foi a conversa com ela, sobre o
término do seu relacionamento. Fiquei muito preocupada, pois pelo
que ele disse, não me pareceu uma conversa nada fácil. Eu quis voltar
para casa imediatamente, no entanto, ele acalmou o meu coração,
dizendo que queria mesmo era comemorar, então marcamos de nos
encontrarmos em um restaurante, próximo ao shopping. Assim que o
vi entrar, com dois buquês de flores nas mãos e os olhos brilhando,
percebi que as minhas preocupações eram tolas.
Ele fez o pedido de casamento em voz alta. O restaurante estava
lotado, eu quase morri de vergonha e de felicidade ao mesmo tempo.
Acredito que Anthony fez tudo aquilo de caso pensado, pois ele sabia
que se fizesse o pedido sem a plateia, eu tentaria adiar, isso era óbvio.
Meu lado racional me dizia o quanto aquele pedido era prematuro, no
entanto, o meu coração se rendeu ao romantismo do meu futuro
marido. Fiquei sentada na cadeira, sem conseguir mexer um músculo,
e ele lá, no meio do restaurante, com um sorriso luminoso nos lábios e
com as flores nas mãos. As pessoas nos olhavam, boquiabertas, e como
se não bastasse, ele gritou sonoramente: Bianca, case-se comigo, eu
não aceito um não como resposta.
Depois dos aplausos sonoros — aceita, aceita — ele veio até mim,
me entregou as flores, me mostrou as nossas alianças e um lindo anel
de brilhantes.
Foi a coisa mais doida e linda que já aconteceu na minha vida.
Ele não precisava fazer nada para provar o quanto me ama,
porque tudo nele indica isso. A maneira como ele pronuncia o meu
nome, o jeito como me olha e me toca... Deus! Os seus dedos também
falam por ele, os olhos e a boca expressam sentimentos avassaladores,
seu corpo inteiro grita que me ama.
Feliz?! É claro que eu estou feliz, a cinderela aqui encontrou o seu
príncipe sem precisar perder o sapato. Com o Anthony, eu sou uma
mulher completa, posso até dizer que sou invencível, através da força
do nosso amor.
— Senhorita Bianca... senhorita Bianca.
Alguém sacode o meu ombro com delicadeza. Olho por cima do
ombro e vejo que é a Mercedes.
— Ai, me desculpe, Mercedes, estou perdida nos meus
pensamentos.
— Percebi... — Ela riu — Tem uns três minutos que eu estou te
chamando. O senhor Anthony acabou de ligar, ele está preocupado,
pois a senhorita não atende o celular. Eu acho melhor a senhorita
colocar um daqueles toques ensurdecedores, se não quiser ver o seu
noivo preocupado, ou se não quiser que ele mande o exército para se
certificar de que nada de ruim aconteceu com o amor da vida dele.
— Deus do céu! Devo ter deixado no silencioso, tenho mania de
fazer isso quando estou lendo. Eu vou ligar para ele, obrigada,
Mercedes.
Ela sai, balançando a cabeça e rindo.
Corro para o nosso quarto. Desde o nosso noivado, eu me mudei
para a casa grande, não queria, mas é muito difícil dizer não para o
Anthony. Agora estamos morando juntos, e como a minha desculpa
para não assumir abertamente o nosso relacionamento era o meu
emprego, ele ligou no dia seguinte para a empresa em que trabalho e
foi bastante claro: ou eu assumiria a direção da filial da clínica em Rio
Doce ou ele não investiria nem um centavo a mais. É claro que os
donos da clínica aceitaram no ato. Anthony avisou que os advogados
dele iriam procurá-los para mudar as cláusulas do contrato, depois de
tudo certo ele ainda completou: “A propósito, a Bianca e eu ficamos
noivos e vamos nos casar em alguns meses”. Depois do anúncio, ele
desligou o telefone.
— Alô... amor... desculpe não ter atendido o celular, ele estava no
silencioso.
— Já estava indo para casa. Porra, mulher! Você quer me matar?
Fiquei preocupado, deixei você com uma tremenda dor de cabeça,
depois eu ligo para saber se já está melhor e você não atende o bendito
celular.
Vou até a varanda do nosso quarto.
— Desculpe, amor, não vai acontecer mais.
— Você está melhor? Está deitada? Bianca, não quero que você
faça esforços. Amanhã mesmo vou levá-la ao médico, essas suas crises
de enxaqueca estão me preocupando.
— Anthony, quer parar de ser tão protetor? É só uma dor de
cabeça, não precisa de tanto, e sim, eu já estou melhor. E sim, estou
deitada no estofado do nosso quarto. Agora, eu vou tomar um banho e
relaxar um pouco na banheira.
— Banheira, é? — Ele diz, com um tom de voz travesso — Humm!
Estou tendo um déjà vu... fiquei de pau duro só de imaginar você
sentada nele, cavalgando como uma amazona louca, mordendo a
minha língua e me xingando de todos aqueles nomes. Mulher, se eu
não tivesse uma reunião agora, eu juro que lhe faria companhia, só
para tomar tapa na cara novamente e ser chamado de sacana filho da
puta.
Anthony é impossível, e também um safado. Quem olha para ele,
todo sério, vestido naqueles ternos caros, nem imagina o sacana que
ele é na cama, e o pior é que ele fez a mulher safada, que eu nem sabia
que existia, sair da toca.
— Anthony, você está sozinho na sua sala? — Rezo para que ele
diga que sim.
— Não, tem meia dúzia de executivos aqui, e o Almir.
— Caralho, Anthony! Eles estão escutando essas barbaridades que
você acabou de falar?
— Sim, e aposto que estão todos de pau duro e morrendo de inveja
do aleijado — Ele solta uma sonora gargalhada.
Faço uma pausa. Minha vontade é de desligar o celular na cara
dele.
— Mulher, você ainda está aí? Aposto que está corada de tanta
vergonha, e com a calcinha molhada de excitação — Ele gargalha
novamente. — Não se preocupe não, quando eu chegar em casa e
terminarmos a nossa fisioterapia, eu faço você montar em mim outra
vez e galopar no meu pau até cair exausta.
— Anthony, cale-se!
— Eu estou sozinho, sua boba, você acha mesmo que eu vou ficar
fazendo propaganda do que é meu? — Solto um suspiro de alívio. —
Mulher, eu preciso ir, ainda bem que estou sentado, pois se eu tivesse
que ir andando até a sala de reunião, estaria em sérios apuros. Estou
com a barraca armada, viu o que você faz comigo? Agora vou ficar a
reunião inteira pensando em você sentada no meu pau, cavalgando...
cavalgando... cavalgando...
— Chega, Anthony, vai trabalhar. — Até eu fiquei excitada. Ele tem
razão, a minha calcinha está completamente molhada.
— De pau duro? — Ele pergunta.
— Sim, de pau duro, quando você chegar eu dou um jeito nele. —
Eu rio. Lá vamos nós outra vez.
— Jura? E o que você vai fazer? — Ele pergunta, cheio de malícia.
Eu disse, lá vem ele outra vez. Com o Anthony é assim, falou em
safadeza, ele fica aceso.
— Anthony, e a sua reunião? Se esqueceu?
— Só vou embora depois que me disser o que vai fazer com ele. —
Conhecendo o meu noivo como eu conheço, sei que ele não vai
desistir.
— Vou colocá-lo todinho na minha boca e chupá-lo... — Salivo só
de pensar, essa brincadeira está acabando comigo.
— Fodeu, acho que vou suspender a reunião. Mulher, eu estou tão
duro que se a minha mão apenas tocar nele, eu gozo. — Quando
Anthony puxa a respiração com força, ele está a ponto de gozar ou de
chamar a atenção de alguém.
— Anthony, vai trabalhar! Quando você chegar em casa, vou estar
pronta para você. Beijo.
Desligo o celular sem esperar que ele se despeça.
O sol da tarde já brilha morno. Jogo o meu celular na cama nova,
espaçosa e aconchegante. Anthony comprou outra cama e outro
colchão, ele disse que se pudesse mudaria toda a decoração do quarto,
ele não gosta muito da ideia de me ver convivendo com algumas coisas
que a Victoria ousou tocar. Por ele, teríamos redecorado tudo, mas eu
consegui convencê-lo a fazer isso quando faltassem apenas dois meses
para o nosso casamento. Eu só não sabia que os dois meses seriam
para ontem. Ele já contratou o decorador, que está chegando na
semana que vem.
Cruzo a grande porta de vidro e chego à varanda. Olho na direção
das árvores, que cobrem o caminho até a cachoeira. A vista daqui é
bem melhor do que a vista do meu antigo quarto, na casa de hóspedes.
Posso ver com mais nitidez a água cristalina do rio, correndo manso, e
mesmo distante, posso sentir a beleza do lugar e escutar o som da
cachoeira. Fecho os meus olhos por um instante e imagino eu e o
Anthony nos amando lá. Por Deus! Esse homem me enlouquece. Posso
sentir o toque das mãos dele pelo meu corpo.
Bianca, você precisa de um banho frio, e tem que ser agora.
Corro para o banheiro e literalmente mergulho na água morna. O
chacoalhar da água perfumada só atiça o meu desejo por ele, o meu
corpo grita pelas suas mãos e pela sua boca libertina.
Bianca, concentre-se!
Novamente, Anthony se faz presente na banheira. Foi nela que
fizemos amor hoje de manhã, e o desejo que eu estou sentindo só se
intensifica. Sem alternativa, mergulho a minha mão entre as minhas
pernas, os meus dedos fazem o papel do pau de Anthony, me fodendo
lentamente. Três dedos para que eu me sinta bem e um pouco
preenchida, uma mão me fode enquanto a outra bolina os meus seios.
São minutos de tortura, antes que eu atinja a minha libertação, a
explosão do meu gozo.
Anthony vai me pagar direitinho quando chegar em casa, ele vai
aprender a não brincar com a sensibilidade do meu corpo.
Às dezenove horas, o meu lindo e safado noivo chega. Ele me olha
seriamente por longos e cruéis minutos, depois se aproxima e os seus
lábios se unem aos meus. Recebo uma leve mordida, e sem
desconectar os nossos lábios, ele sorri e diz:
— Como foi o seu banho de banheira? — Aqueles olhos azuis se
fixam aos meus com extrema malícia. — Deixou um pouquinho para
mim? Deixou ou não deixou? — Ele ri com cinismo.
— Deixei o quê? — Tento desviar o meu olhar do dele, mas a
palma da sua mão cerca o meu queixo.
— Deixou um pouco desse fogo que a queimou durante o final de
tarde? Aposto que se aliviou enquanto tomava banho.
— Para, Anthony, você me deixa zonza.
Ele sorri com gosto, jogando a cabeça para trás. Essa sua maneira
de sorrir e de me olhar acaba com toda a minha postura. Se ele me
pedir para ficar de joelhos, neste momento, e fodê-lo com a minha
boca, eu faria sem pestanejar.
— Responda a minha pergunta. Você se acariciou pensando em
mim, não foi?
Seu olhar penetrante e aquela boca linda, tão próxima, não me
deixa negar.
— Sim, e a culpa é sua, foi você quem começou.
Ele faz um gesto de negação com a cabeça, rindo torto.
— Você será castigada por isso, mulher egoísta! Enquanto eu
enfrentava uma reunião de duas horas, com o meu pau duro, quase
correndo o risco de gozar na minha calça, você se aliviava na banheira,
e o pior, fazendo com que os seus dedos fizessem o papel do meu pau!
Não, não, mulher. Depois conversaremos sobre a sua atitude egoísta.
Ele afasta a cadeira de rodas de mim, e eu já estava me levantando
para ir atrás dele, quando ele diz:
— Vá para a mesa de jantar e me espere lá, eu só vou tomar um
banho.
— Anthony! — Tento protestar.
— Obedeça-me, não vou demorar.
Quinze minutos depois, ele está à mesa de jantar.
— O advogado da Victoria me ligou, ele quer falar comigo
pessoalmente.
Desde o dia em que o Anthony terminou o seu relacionamento
com a Victoria, que eu não escuto o nome dela. O que será que o
advogado dela quer com o Anthony?
— Você vai recebê-lo?
— Claro que não, dei o número do meu advogado para ele. O que
ele quiser tratar comigo pode muito bem tratar com o Luís.
— Não seria melhor você estar presente? Vai que ele queira te dar
um golpe.
Estou preocupada, a Victoria é interesseira e tenho certeza de que
ela já está sabendo sobre o meu noivado com o Anthony. O amante
dela ainda está trabalhando aqui, e todos na cidade e nas usinas já
estão sabendo sobre o nosso casamento. Ela não vai deixar por menos,
acho que a Victoria pensa que o Anthony, cedo ou tarde, vai pedir para
que ela volte. Ela não acreditava que ele teria coragem para terminar e
que lhe daria um chute na bunda.
— O Luís não vai fechar nenhum acordo sem que eu aprove antes.
Não se preocupe, a Victória não vai levar um centavo meu, além do
que é dela por direito.
Ele me olha com aquele olhar, de quem diz: “Você será a minha
sobremesa”. Disfarço, olhando para o meu prato quase vazio.
— Estou satisfeita, você quer sobremesa? — Por que é que eu fui
fazer essa pergunta besta?
Ele me olha com um meio sorriso nos lábios.
— Mais tarde, agora eu só quero um cafezinho e a minha
fisioterapia...
Aquele olhar cheio de promessas descaradas me avalia, do meu
rosto até os meus seios.
Caminhamos até a sala, para que ele tome o cafezinho, e enquanto
ele faz algumas ligações, eu aproveito para reler o relatório dos seus
avanços clínicos.
Anthony evoluiu bastante nesses últimos meses. Ele já consegue
mover todos os dedos e, com muito esforço, ele consegue mexer os
pés. A sua lombar está dolorida, e isso é um bom sinal, mas, por conta
disso, eu tenho evitado os exercícios pesados, não quero causar uma
lesão. Anthony não se conforma, ele quer fazer movimentos mais
específicos, mas eu tenho negado. Estou evitando até a prática da
fisioterapia na piscina, pois eu já percebi que ele se empolga demais,
principalmente quando consegue superar a si mesmo. Eu já tentei
convencê-lo a usar as muletas, mas ele não aceita, diz que só sai da
cadeira de rodas andando, e sem nenhuma ajuda. Ele é muito teimoso.
Após o nosso treinamento, seguimos para o quarto. O Anthony
não tentou nenhuma gracinha enquanto praticávamos os nossos
exercícios, ele ficou concentrado o tempo todo nas séries que eu passei
para ele, e mesmo quando eu o tocava, ele não deixou escapar nenhum
gracejo, foi o tempo todo um paciente exemplar e respeitoso. Eu fiquei
quieta, porque não queria desconcentrá-lo.
Eu já estou secando os cabelos, quando escuto o tom grave da voz
de Anthony me chamar:
— Bianca, venha cá.
Saio do banheiro ainda enrolada em uma toalha. Olho para ele,
que está de costas para a cama e de frente para mim, completamente
nu e excitado.
— Tire a toalha e venha até aqui. — Engulo em seco, o fogo cresce
dentro de mim, e sinto a minha boceta ficar úmida. Deixo a toalha cair
aos meus pés e caminho até ele. — O que foi que você disse que faria
com ele quando eu chegasse em casa? — Anthony aponta para o seu
membro.
— Iria colocá-lo na boca e chupá-lo. — Digo, sem tirar os olhos do
seu membro. Ele sorri.
— Passei longas e malditas horas pensando na sua linda boca ao
redor do meu pau, foram as piores horas da minha vida. Se você me
perguntar sobre o que foi a reunião, eu não sei lhe dizer nenhuma
maldita pauta, eu só pensava em ser fodido pela sua linda boquinha. —
Ele me avalia de cima a baixo — Agora fique de joelhos!
Ele não precisa ordenar novamente; eu me ajoelho rapidamente.
Anthony me segura pelos cabelos, e entrelaçando os dedos nos meus
fios, ele puxa a minha cabeça para trás com força. Deixo escapar um
grito, e ele logo cobre a minha boca com a sua, nossas línguas se
encontram. Não sei se é o fogo dele ou meu, só sei que as nossas
línguas queimam. É um beijo animalesco, com direito a chupões e
mordidas. Ele se afasta lentamente da minha boca, mas não desvia os
seus olhos dos meus quando diz:
— Agora faça o que você sabe fazer com perfeição. Foda-me com
força.
Tremo de tesão ao ouvir suas palavras obscenas. Anthony desliza
os dedos sobre a sua rigidez, esticando a pele e deixando a glande lisa e
arroxeada à mostra. Aquele pau lindo está a apenas alguns
centímetros do meu rosto.
— Precisei de forças para não largar tudo na usina e tomar essa
boca indecente, exigir que ela fodesse todo o meu corpo. Mulher, eu
quase enlouqueço.
Tudo em mim esquenta, se eu fosse um picolé teria derretido,
minha umidade já escorre entre as minhas coxas, fico louca pelo seu
toque.
— Mulher, me tome todo, eu quero o meu pau escondido dentro
dessa sua boca quente.
Ele solta os meus cabelos. Seguro nas suas coxas e baixo a minha
cabeça em direção ao seu membro. Começo a massageá-lo, e não
demora muito para que ele fique duro. Lambo o pré-sêmen que
escorre da sua abertura, depois os meus lábios circulam a cabeça
amendoada. Sorvo com vontade o seu líquido viscoso e agridoce, que
escorre pela minha garganta. Ele ronrona. Aproveito que os meus
lábios estão lubrificados e deixo que a minha boca faça o seu trabalho.
Eu o devoro por completo, de uma só vez. A cabeça bate na minha
garganta, meus olhos lacrimejam, mas eu não desisto. Respiro fundo e
o sugo, puxando mais fundo.
Paro apenas por um momento, para respirar outra vez. Eu o
chupo com força, mordendo-o com os meus lábios. Escuto um grito
abafado que vem de cima. Anthony puxa o ar entre os dentes, silvando,
suas mãos cravam na minha cabeça, me empurrando para baixo, e
mais uma vez sinto a cabeça do seu pau ir no fundo da minha
garganta, e mais uma vez ele grunhe com ferocidade.
— Mulher, eu vou morrer de tanto gozar. — Ele murmura.
Anthony me empurra outra vez para baixo. Ele estoca a minha
boca com o seu pau, e eu o deixo fazer. A primeira estocada quase me
engasga, mas eu relaxo a garganta e a segunda é mais fácil, não sinto
vontade de regurgitar. O Anthony repete a estocada, e toda vez que ele
se afasta, eu respiro fundo e espero pela próxima.
— Chupe-me com força! — Ele ordena.
Eu o faço, sugo com toda força, e ele solta os meus cabelos, me
deixando livre para fodê-lo sozinha. Mergulho nesta lascívia gostosa,
chupo o pau do meu homem com vontade, tragando tudo dele. Eu o
deixo impotente, sem forças e totalmente à minha mercê. A cada
mordida ou sugada, Anthony rosna e grunhe, ele parece um animal
enjaulado, pronto para ser libertado. Os seus músculos ficam tensos, e
ele segura a minha cabeça com as duas mãos, pressionando-a para
baixo. Sinto os seus espasmos e o seu líquido quente descer pela
minha garganta. Engulo tudo, depois o lambo e mordo. Anthony não
solta os lados da minha cabeça, ele a ergue e os nossos olhares se
cruzam.
— Bianca, eu te amo tanto, mas tanto que, às vezes, eu tenho medo
que isso seja apenas um sonho. — Nossas bocas se encontram em um
beijo terno. Ele encosta a sua testa na minha. — Deite-se de barriga
para o colchão, por cima dos três travesseiros, e deixe as pernas fora
da cama e bem espalhadas.
Faço o que ele manda. Na beira da cama há três travesseiros, me
deito sobre eles, mas apenas os meus quadris ficam sobre eles. Sinto
uma respiração quente na minha bunda e então dentes roçam lá,
arranham a minha pele sensível, enquanto as mãos de Anthony abrem
as duas bandas. Ele circula a língua em torno do meu buraco
enrugado.
— Putz! — Murmuro, e todo o meu corpo se arrepia.
Ele não só lambe, mas começa a fodê-lo com a ponta da língua. A
luxúria toma conta do meu corpo e da minha mente. Homem nenhum
tinha feito isso com o meu corpo, e olha que já fiz sexo anal uma vez e
confesso que não gostei, foi muito dolorido e desconfortável, jurei que
nunca mais faria outra vez, mas se Anthony, nesse exato momento
quiser, eu farei com o maior prazer, aliás, do jeito que ele me toca e me
excita, eu lhe daria qualquer coisa que ele quisesse. Estou à beira do
êxtase, e Anthony sabe disso. Ele retira a língua do meu buraco
traseiro e me lambe até a minha vagina, abocanhando tudo, chupando
o meu clitóris com força. Encolho o meu corpo, já estou pronta para
gritar o meu prazer quando ele afasta o seu rosto do meio das minhas
pernas.
Rouco de tesão e todo lambuzado da minha lubrificação, ele
ordena:
— Senta no meu colo de costas para mim, com os pés apoiados na
cama.
— Anthony, nós vamos cair. — Ele ri maliciosamente.
— Minha cadeira está travada, não se preocupe, confie em mim.
Faço o que ele manda. Apoio os pés na cama, minhas mãos
seguram os braços da cadeira, e completamente esparramada, desço
suavemente no colo de Anthony. Seu membro desliza entre os meus
grandes lábios e a cabeça arroxeada toca a minha vulva.
— Toque e aperte com os dedos. Depois comece a se roçar nele.
Não tenho ideia do que ele vai fazer, esta é uma posição nova,
mesmo assim eu faço. Anthony segura o pau com uma das mãos e com
o seu outro braço circula a minha cintura, me apoiando. Desço o
corpo, e a cabeça do seu membro toca o meu ânus, depois escorrega,
raspando na minha vagina e no meu clitóris, até que a cabeça fique
entre as minhas coxas. É a sensação mais quente e louca que eu já
senti. Aos poucos vou adquirindo confiança e acelerando o sobe e
desce, minha umidade mela todo o membro de Anthony.
— Meu amor, você já fez anal? — Ele sussurra perto da minha
orelha, enquanto a morde.
— Uma vez, mas... mas, eu não gostei. — Eu já ia dizer que ele
poderia fazer o que quisesse, mas resolvo ficar quieta.
— Vou tentar, se você sentir dor eu paro, é só me avisar, mas eu
prometo que não vai doer tanto quanto você imagina, será
desconfortável no início, mas depois você vai experimentar a sensação
mais prazerosa que o sexo pode oferecer para um casal. Ok?
Não respondo, apenas concordo com a cabeça, estou tão envolvida
nas emoções que a sua voz, o seu toque e o seu corpo provocam em
mim, que eu apenas quero ser dominada, ser possuída por ele.
— Sente-se lentamente e relaxe o corpo, não contraia a sua bunda,
se você fizer isso vai machucá-la.
A cabeça do membro cutuca a minha entrada traseira.
— Meu pau está louco para conhecer o seu lugar mais íntimo, ele
deseja isso desde o dia em que vi sua bunda nua. É a bunda mais linda
de todas as bundas, a mais gostosa, a mais quente, e é minha.
Sinto algo entrar na minha bunda, é uma invasão estranha, faz
tanto tempo que eu tentei um anal que nem me lembro mais como é.
— Não tenha medo, meu pau está completamente lubricado pela
sua lubrificação, e fiz o mesmo com o seu buraquinho apertado.
Aquele ritual de vai e vem foi justamente para lubrificá-lo, mas se você
quiser, eu tenho um lubrificante a base de água, nós podemos usar.
Você quer?
— Na-não... eu quero assim mesmo, foda-me logo, amor.
— Sente-se nele devagar, quem vai comandar é você. Ele vai entrar
o tanto que você quiser. Vou foder a sua boceta com os meus dedos,
enquanto a sua bunda fode o meu pau.
Sou tomada por uma força interior dominadora, ele disse que
minha bunda foderia o seu pau, a maioria dos homens diz que vai nos
foder. Esse homem não existe, ele é o meu príncipe de verdade.
Já que eu vou fodê-lo, então vou fazer do jeito certo, será uma
foda e tanto. Desço o meu corpo de uma só vez. Quando faço isso, dois
dedos escorregam para dentro da minha vagina. Ao sentir a dupla
penetração, vou no inferno e volto. Primeiro sinto a minha bunda ser
rasgada, para depois sentir um fogo dos infernos. Grito de dor e de
prazer. Anthony já ia suspender o meu corpo, quando grito:
— Não ouse retirá-lo da minha bunda, vou foder o seu pau com
todo o prazer, filho da puta desgraçado!
Anthony solta uma gargalhada e começa a foder a minha boceta
com os seus dedos mágicos.
— Essa é a minha monstrinha desbocada, que eu amo com toda a
força do meu coração. Foda-me, foda-me com força.
A primeira estocada doe pra cacete, mas a segunda é prazerosa.
Os beijos, as carícias e as palavras devassas no meu ouvido incendeiam
todo o meu corpo, me deixando completamente insana. Já não me
importo com mais nada, só quero fodê-lo com a minha bunda.
O toque suave dos seus lábios na minha nuca, é o contraste direto
com as minhas estocadas no seu pau. Anthony segura com firmeza a
minha cintura, enquanto o meu corpo desce e sobe no seu colo. Ele
grunhe alto, cravando os seus dentes nas minhas costas. Meu corpo
estremece e solto um gemido áspero. Dou a minha última estocada
quando ele empurra o meu corpo para baixo, me segurando com
firmeza e gozando dentro de mim. Seus espasmos sacodem os nossos
corpos suados, seu braço, que me segurava, afrouxa o aperto e eu
finalmente consigo respirar. Depois de um longo momento, ele retira o
seu membro de dentro da minha bunda. Sento completamente
relaxada no seu colo.
Ele beija os meus ombros e depois exige a minha boca, fazendo
com que a minha cabeça vire na sua direção.
— Mulher, eu te amo, e você ainda vai me matar de tanto prazer.
— Você é doidinho, e amo isso em você. — Olho carinhosamente
para ele — Anthony, eu te amo e esse amor será para sempre, tenho
certeza disso.
Ele destrava a cadeira de rodas e me leva para o banho. Continuo
sentada no seu colo enquanto ele me banha, e depois é a minha vez de
banhá-lo. O Anthony é tudo o que eu espero de um homem. Tudo, sem
tirar nem colocar.
Capítulo 16

Victória

Se o Anthony pensa que vou ficar assistindo a sua felicidade, ao


lado daquela massagista disfarçada de fisioterapeuta, ele não perde
por esperar. Vou mostrar para ele o que eu posso fazer, e farei isso
ainda hoje. A primeira coisa a fazer é afastar aquela sem graça da
Bianca. Vou usar tudo o que eu tenho ao meu favor para conseguir
virar esse jogo. Talvez depois, quando ela for embora, Anthony resolva
reatar o nosso noivado, afinal, ser esposa é melhor do que ter cinco
milhões de reais.
— Porra! Murilo, onde você se enfiou? Por que demorou tanto? —
Reclamo com o imprestável do Murilo. Ele só serve para foder, apenas
isso.
— Ao contrário de você, eu trabalho, e dependo do meu emprego,
eu só consegui sair da usina agora. — Ele me olha com aquela cara de
deboche, enquanto se aproxima para beijar o meu rosto, mas eu o
afasto bruscamente, ele sabe que detesto esperar.
— Não venha com esse papo, você nunca ligou para o seu emprego
de merda. — Ele tenta beijar a minha boca, mas eu afasto o meu rosto
rapidamente — Não te chamei aqui para foder, tenho planos melhores
para você hoje. Conseguiu descobrir o que eu te pedi?
— Sim, a noiva do Anthony vem para a cidade por volta das
dezoito horas, acompanhada da Mercedes, e o Almir vai trazê-las e
levá-las de volta para casa. Hoje é o aniversário da Mercedes.
— Viva! — Esta é a melhor notícia que eu recebo. O meu plano de
separar esses dois vai acontecer ainda hoje.
Levanto-me rapidamente e vou atrás da minha bolsa. — Vamos,
precisamos colocar em prática o meu plano.
Saio do hotel puxando o Murilo pela mão.
— Espera um momento, Victoria! Que porra de plano é esse? —
Ele para antes mesmo de atravessarmos a rua. — Não vou entrar em
nenhuma roubada por você, eu já te disse que dependo do meu
emprego para sobreviver.
Impaciente, eu o puxo outra vez pela mão e seguimos na direção
do seu carro.
— Você pode ser tudo, Murilo, menos medroso e covarde. Vamos,
eu te conto no caminho.
Murilo esconde o carro em um lugar seguro, onde não possam nos
descobrir, mas é possível ver com perfeição a grande casa do Anthony.
Murilo dedilha nervosamente no volante do carro. Aquilo já está me
deixando puta de raiva.
— Quer parar de ser tão irritante, Murilo?
— Não é o seu que está na reta! — Por um momento, ele para com
o barulho irritante, mas apenas por alguns segundos, logo depois seus
dedos voltam a tamborilar no volante. — Anda, Victoria, eu estou
esperando uma explicação, afinal que porra de plano é esse?
— Hoje o Anthony vai se separar da Bianca, e você vai me ajudar
com isso.
— Ficou doida!? — Ele começa a gargalhar. — O Anthony está
completamente apaixonado por aquela moça, ele só não se casou
porque ela não quis, pelo Anthony eles já estariam casados, desde o
dia em que ele te deu um pé na bunda.
Dou um soco no seu braço, com toda a minha força.
— Merda, isso dói, Victoria!
— Respeito é bom e eu gosto! Isso foi para te lembrar quem é que
manda aqui, e é claro que sou eu. — Sorrio torto para ele — O plano é o
seguinte: assim que o carro do Anthony sair, você o segue para não o
perder de vista, e quando eles estiverem retornando, você me manda
uma mensagem. Enquanto isso, eu... eu... vou ter uma conversinha
com o meu ex-noivo.
— Victoria, que porra você vai fazer?
— Pegar o que é meu, o que tenho direito. Meu advogado disse que
eu posso até ganhar o processo contra Anthony, mas que vai demorar
muito para que eu coloque a mão na grana, e nem é tanto assim.
Segundo o idiota do meu advogado, não passa de um milhão e
quinhentos, mas eu quero cinco milhões, e escreva o que estou
dizendo, eu vou receber cada centavo!
Murilo começa a gargalhar, ele ri tanto que lágrimas começam a
descer pelos seus olhos.
— Viajou legal, agora — Ainda rindo, ele vira o rosto na minha
direção — Você acha mesmo que o Anthony vai abrir o cofre e colocar
nas suas mãos esses cinco milhões? Você pirou! Ele vai é rir da sua
cara, e você ainda vai ficar sem esse um milhão e quinhentos. Aliás,
você vai ficar é sem nada, porque depois dessa sua tentativa de lhe dar
um golpe, ele vai tomar tudo de você. — Ele liga a chave do carro — É
melhor irmos embora, pois eu corro o risco de perder o meu emprego.
Desligo o carro e puxo a chave.
— Eu te dou um milhão, e ninguém ficará sabendo que você me
ajudou. Pense, Murilo. Um milhão. O que acha?
O Murilo não é bobo, eu o conheço há anos e sempre soube que o
que ele mais gosta na vida é de grana. Não foi de graça que ele passou
esse tempo todo como meu amante. Ele tem as suas mordomias e tem
uma boa grana no banco, que eu mesma depositava todos os meses. O
carro que ele está dirigindo foi um presente meu, e as roupas de grife
quem comprou também fui eu, portanto, ele não vai se recusar a fazer
o que estou pedindo.
— Eu só tenho que vigiar o Almir e mais nada?
— Isso mesmo, o resto é comigo. Só me espere aqui, neste mesmo
local.
— Tudo bem. — Ele fica pensativo por alguns segundos. —
Victoria, eu não entendo você. Por que essa obsessão com o dinheiro
do Anthony, afinal o seu pai também é um homem rico.
— Você não é burro, Murilo. O dinheiro do meu pai não é meu, é
herança que será dividida entre os meus irmãos e minha mãe, e isso só
quando ele morrer, o que vai demorar muito para acontecer. Depois
que eu conheci o luxo que o dinheiro do Anthony me proporcionou,
não vou saber viver com uma ninharia de mesada. Eu não nasci para
trabalhar, e uma cobertura em Ipanema, um carro de luxo importado e
algumas poucas joias não são o bastante para a vida que eu pretendo
levar. O Anthony me deve isso, e eu vou cobrar cada centavo dele.
Assim que fecho a minha boca, o carro de Anthony passa pelo
grande portão de ferro da mansão.
— Ai, caralho! São eles! — O Murilo grita, abismado.
— Ok, siga o plano e não se esqueça de me avisar quando eles
estiverem voltando.
Saio do carro e sigo apressadamente para a casa grande. Hoje será
o dia da minha vitória, ou não me chamo Victoria.

A casa está silenciosa. Como eu imaginei, todos os empregados


devem estar enfurnados em algum canto da ala dos fundos. Faço uma
rápida verificação no local, se o Anthony não estiver por aqui, ele só
pode estar no quarto. Olho na direção do escritório e vejo uma fresta
de luz por baixo da porta. Caminho até lá e bato lentamente; ele me
manda entrar.
Assim que me vê, as suas feições mudam.
— O que você faz aqui? — A rispidez da sua voz me atinge em
cheio. — Volte para o buraco de onde saiu, nós não temos mais nada
para dizer um ao outro, se quiser conversar sobre qualquer assunto,
entre em contato com o Luís.
Anthony sabe ser doce e amargo, ele não mede palavras quando
quer atingir alguém.
— Desarme-se, Anthony. Eu estou desarmada e vim em paz. — Eu
me aproximo lentamente. — Só quero conversar e pedir perdão pelo
que eu fiz.
Faço aquela cara de cachorro arrependido. Ele está atrás da sua
mesa, examinando alguns papéis. Parece diferente, o seu rosto está
mais iluminado e os seus olhos brilham. Realmente, esse Anthony se
parece com o homem que eu conheci há muito tempo.
— Já conversou e já pediu perdão, agora você pode ir embora. —
Ele faz um gesto com a mão, como se estivesse tangendo um cachorro,
e imediatamente volta os seus olhos para os papéis à sua frente.
— Anthony... — Vou até a prateleira de bebidas e sirvo dois copos
de uísque. Onde ele está não consegue ver o que eu estou fazendo.
Coloco no copo dele algumas gotas do popularmente conhecido “Boa
noite Cinderela”.
— Victoria, vá embora. A minha noiva chega daqui a pouco e ela
não vai gostar de ver você aqui, nem eu quero a sua companhia,
portanto, dê o fora da minha casa.
Pego os dois copos e caminho até ele.
— Eu vou, mas antes brinde comigo. Estou indo embora do Brasil,
por isso eu vim até aqui, para me despedir.
Ele me olha dos pés à cabeça, olha para os copos nas minhas mãos
com impaciência, depois estende a mão para pegar um dos copos, e eu
lhe entrego o copo batizado, que ele vira de uma vez. Tão previsível, do
jeitinho que eu imaginei que faria. Bebo dois goles do meu uísque,
pego a minha bolsa e saio.
— Adeus, Anthony, seja feliz! — Nem espero ele me dizer nada,
fecho a porta atrás de mim e me sento na cadeira próxima da porta.
Conto os minutos.
Quando entro no escritório novamente, ele já está caído, com a
cara sobre a mesa. Pego a sua cadeira de rodas e o guio até o elevador,
levo-o para o quarto, tiro toda a sua roupa e o coloco deitado na cama.
Depois é a minha vez de me despir. Visto um roupão e vou arrumar as
malas da Bianca. Jogo todas as coisas dela, que eu encontro, de
qualquer jeito dentro das cinco malas que eu achei. Desço todas elas e
as deixo na sala, próximas da porta do hall de entrada. Volto para o
quarto e tiro o roupão, fico nua outra vez, esperando o sinal do Murilo.
Foram longos vinte minutos de espera, até que o Murilo enviasse a
mensagem. Espero mais quinze minutos, até escutar o som de saltos
subindo as escadas. Me deito sobre o Anthony e o faço me abraçar,
então finalmente a porta do quarto é aberta e a Bianca fica parada bem
na entrada do quarto, estática e boquiaberta.
Faço uma cara de assustada, me levantando rapidamente da
cama... nua.
— Você não costuma bater na porta antes de entrar, sua idiota?! —
Sussurro. Ela não reage, apenas me olha com os olhos marejados.
Caminho até ela, puxando-a para fora do quarto. Ela parece um
zumbi, sai cambaleando pelos degraus, se eu não a segurasse teria
caído escada abaixo. Paramos no meio da sala de estar.
— Hei, acorde! Está surpresa por me ver aqui? Não fique não, eu
só vim porque o próprio Anthony me chamou. — Ela pisca os cílios, e
uma lágrima escorre pela sua face — Ele não te contou? Pela sua cara
de espanto, eu diria que não contou nada. Pois é, eu ganhei o processo,
são mais de cinco milhões de indenização, e o Anthony me chamou
para um acordo e...
Ela procura apoio no móvel mais próximo. A fisioterapeuta está
irreconhecível, completamente apática.
— Ali está o nosso acordo — Aponto para as malas perto da porta
— São as suas coisas, não se preocupe que eu mesma vou depositar o
seu salário na sua conta, e com um bônus extra, pois você mereceu
cada centavo, fez um excelente trabalho, o pau do meu noivo está
funcionando divinamente. — Estou fazendo uma força infernal para
não cair na gargalhada. — Amanhã mesmo, eu vou providenciar outro
fisioterapeuta, desta vez um homem. Não vou cair na mesma
armadilha. Agora você pode ir, e não procure mais o Anthony, ele não
quer falar com você. Adeus!
Viro as costas e começo a subir as escadas, quando escuto a sua
voz embargada.
— Ele não te ama, nunca amou e você é uma vaca filha da puta.
Viro-me para ela e sorrio cinicamente.
— Sim, ele não me ama, mas ama o dinheiro dele, e preferiu ficar
com a vaca filha da puta do que ficar com você. — Eu a olho de cima a
baixo, com desdém — Junte o resto da sua dignidade e vá embora
daqui, porque se o Anthony acordar e tiver que te mandar embora será
bem pior, não acha?
— Vocês dois se merecem!
Ela se vira e sai, batendo a porta com violência, sequer leva as
malas, mas isso não me importa, é um problema dela. Agora, é só
esperar que o Anthony acorde e lhe dar o meu golpe de misericórdia.
Capítulo 17

Bianca

Após quebrar o contato visual com a víbora da Victoria, meu


único desejo é sumir de Rio Doce, nem me lembrei das minhas malas.
Que se danem elas!
O vazio dentro de mim se torna tão forte que chega a doer e nada
mais me importa. As lágrimas turvam a minha visão. Alongo o passo
para fora da casa, até que os músculos das minhas pernas começam a
tremer. Não consigo ver um palmo diante do meu nariz.
Braços fortes freiam os meus passos e um grito soa nos meus
ouvidos.
— Senhorita Bianca... Bianca! —Almir agita o meu corpo, seus
olhos me avaliam com extrema preocupação.
Acho que parei de respirar, mal consigo sentir a brisa suave da
noite.
Por que eu fui me meter nessa situação? Por que eu fui acreditar
nas palavras melosas do Anthony?
— Senhorita Bianca, o que aconteceu? Pelo amor de Deus, fale
alguma coisa!
Almir agita o meu corpo, e mesmo com os solavancos, eu continuo
sem reação. Estou anestesiada pela dor da decepção.
— Bianca! Deus do céu, o que houve?
Consigo finalmente encará-lo. As lágrimas não param por um
segundo. A minha boca está seca e um nó se formou na minha
garganta. Com muito esforço eu o engulo, e com a voz embargada,
finalmente consigo falar algumas palavras.
— Tire-me daqui, por favor, leve-me para o aeroporto.
Meus punhos estão cerrados, e ainda com raiva, eu acelero a
minha caminhada para longe da entrada da casa, amaldiçoando a mim
mesma por ter sido tão estúpida.
— Senhorita Bianca, espere! —Almir vem correndo atrás de mim,
mas eu não paro, ao contrário, resolvo apressar o passo. — Pelo amor
de Deus. — Ele segura o meu pulso e me puxa. — Que diabos está
acontecendo aqui? Por que você está chorando desse jeito? Por que
quer ir para o aeroporto? — Seus olhos avaliam o meu rosto banhado
de lágrimas. — O que aconteceu, onde está o Anthony?
Engulo em seco outra vez.
— Ele está lá dentro — Olho na direção da casa — Para saber o que
aconteceu, depois você pergunta para ele, agora eu só quero ir embora,
e se você não me levar, vou andando até a cidade, de lá eu pego um
táxi.
Livro-me da mão dele e continuo andando na direção da saída da
propriedade.
— Bianca... — Ele me alcança e segura o meu braço. Engulo o grito
que está prestes a sair, um grito de desespero. — Eu te levo para o
aeroporto. Venha, meu carro está ali.
Ele me abraça, e eu aceito o abraço, pois as minhas pernas estão
trêmulas demais para obedecerem. O Almir me ajuda a entrar no
carro, coloca o meu cinto de segurança e depois ocupa o seu lugar ao
volante.
Já a caminho do aeroporto, ele vira a cabeça rapidamente na
minha direção e faz a pergunta pela qual certamente está louco pela
resposta.
— Agora você vai me contar o que aconteceu?
Fico em silêncio por alguns segundos, tentando encontrar uma
saída, pois na verdade eu não quero falar sobre isso, a única coisa que
quero é esquecer, esquecer aquela maldita imagem do Anthony sem
roupas, enroscado no corpo nu da Victoria.
— Almir, eu não quero falar sobre isso. Apenas me leve até o
aeroporto, quando você voltar procure o Anthony, ele com certeza vai
te explicar.
Olho na direção da minha janela e encosto a minha cabeça no
apoio do banco do carro. Fecho os meus olhos e fico quieta, torcendo
para que o Almir respeite o meu silêncio.
E ele respeita, voltando a sua atenção para a estrada. O trajeto de
Rio Doce até o aeroporto é feito em mais ou menos uma hora e meia, o
que para mim é uma eternidade.
Entre comprar a minha passagem e esperar o horário do meu voo,
são exatamente quarenta e cinco minutos.
— Almir, me desculpe se fui ríspida com você, quero que saiba que
você é um amigo querido. — As lágrimas voltam com força total —
Peça desculpas para a Mercedes por mim, eu não tive como me
despedir dela, mas... — Abro a minha bolsa e pego uma caneta, o meu
bloquinho de anotações e anoto o meu endereço. — Entregue isso a
ela, diga-lhe que, quando quiser, pode ir me visitar, vou ficar
imensamente feliz em recebê-la na minha casa. E você também, Almir.
Ele me puxa para um abraço. Ficamos abraçados por algum bom
tempo.
— Bianca, eu não tenho ideia do que aconteceu, mas posso
garantir que o Anthony te ama com toda a força do coração dele, eu
tenho certeza de que todo esse mal-entendido entre vocês logo será
esclarecido. —Enquanto fala, ele acaricia os meus cabelos.
Meu voo é anunciado, e Almir me leva até o portão de embarque.
Nos abraçamos outra vez, e eu vou embora. Levando como bagagem
uma dor enorme no meu peito e a vontade de desaparecer da face da
terra.

Assim que chego em Salvador, ligo para a minha operadora de


celular e peço para desativarem o meu número, e solicito um número
novo. O procedimento é rápido, em menos de quatro minutos já estou
com o número novo. Envio uma mensagem para o meu pai,
informando sobre o novo número, o único que saberá, por enquanto.
Pego um táxi e vou direto para casa. Quero me encolher na minha
cama e dormir por trezentos anos. Já é bem tarde, quando chego. Olho
ao redor do meu apartamento, vou até a varanda e abro a grande porta
de vidro de correr. A brisa fresca da noite, com cheiro de maresia,
entra nas minhas narinas. A dor no meu peito volta, e o choro vem
com força.
— Deus! Por que, por quê? Eu o amo tanto, e tudo o que eu queria
era ser correspondida. Ele me enganou, fui uma tola. Com essa idade e
ainda acredito que príncipes encantados existem.
Corro para o quarto e me jogo na cama. Depois de muito chorar
acabo pegando no sono, mas o meu sono vem acompanhado por
pesadelos. Acordei várias vezes na noite. Pensei que tinha me
recuperado do acontecido há tantos anos. Durante todo esse tempo, eu
segui em frente, administrei os meus medos, me escondi de mim
mesma e dos meus fantasmas.
Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, e vejo que já são três
e meia da manhã. Verifico o meu celular e fico com vontade de ligar
para o meu pai, mas me falta coragem. Não contei nada para o papai
sobre o meu noivado, o Anthony e eu resolvemos fazer uma surpresa,
íamos chamá-lo para passar o final de semana, e assim ele pediria a
minha mão em casamento e já marcaríamos a data. Eu achei a ideia
ótima, mas talvez ele já soubesse que não haveria casamento, por isso
não quis que eu contasse a verdade para o meu pai.
Como diz o senhor Luiz Alberto, foi melhor assim, não há a
necessidade de fazer o meu pai ficar triste junto comigo. Jogo o celular
para longe de mim e tento dormir, porém, mal fecho os meus olhos e a
assombração do meu passado volta.
Papai pensa que eu não me lembro da minha infância, mas
algumas coisas ficaram marcadas, e não foi possível apagá-las da
minha mente.
Uma delas é a imagem do Tito me defendendo das mãos pesadas
da minha mãe, e infelizmente quem apanhou foi ele. Ela o esbofeteou
com tanta força que o seu anel abriu um corte no rosto dele. Ainda
consigo ver o sangue descendo pelo seu pescoço e molhando toda a sua
camisa, mas, mesmo assim, ele conseguiu me puxar pela mão e me
levar até a sua casa.
Quando chegamos à casa de Tito, ele só teve tempo de implorar
para os seus avós não deixarem que a minha mãe encostasse um dedo
em mim, suplicou para o seu avô me esconder, e depois eu o vi cair,
desmaiado, no chão. Foi a cena mais aterrorizante da minha vida, ver
o meu melhor amigo, o meu príncipe, cair desfalecido no chão, isso
levou um pedaço do meu coração junto com ele.
Nos levaram para o hospital e nos separaram. Eu não vi mais o
Tito a partir daí. Ainda pude ver os seus avós no corredor, chorando.
Perguntei ao papai onde ele estava, mas ele só me pedia que ficasse
calma e não pensasse em mais nada. No dia seguinte, o papai me disse
que a mamãe tinha ido para o céu e que eu não a veria mais. Senti um
grande alívio ao saber que não a veria mais, pois ela não machucaria
novamente nem a mim e nem ao Tito.
Passei dias perguntando pelo meu amigo, mas o papai sempre
evitava falar sobre ele. Não voltamos mais para a nossa casa. Assim
que eu saí do hospital, passamos a morar em um hotel até que o papai
fosse transferido para cá, Salvador. Antes disso, nós morávamos em
uma cidade do interior de Aracaju. Em uma ocasião, perguntei ao meu
pai se o Tito também tinha ido morar no céu, mas ele desconversou,
disse apenas que o Tito estava bem, mas que era melhor esquecê-lo,
pois o esquecimento era o melhor remédio para certas coisas da vida.
Até eu quero pensar que o meu príncipe Tito não está morto, mas eu
desconfio que ele esteja morto e o papai escondeu isso de mim, só para
que eu não ficasse pior do que já estava.
Sempre imagino o Tito casado, feliz e com vários filhos. Ele
sempre dizia que, quando nos casássemos, teríamos muitos filhos.
Meu príncipe, se você estiver vivo, espero que tenha tido mais
sorte do que eu, que tenha encontrado uma moça boa, que te ame de
verdade e que te faça muito feliz.
Quando consigo tirar um cochilo, já é dia. Dormi um pouco mais
de duas horas. Às oito horas da manhã, eu já estava caminhando pelo
calçadão da orla.
Inclino-me para amarrar o cordão do tênis, puxo a blusa para
baixo e começo a me alongar, e minutos depois já estou caminhando.
Algumas pessoas correm, outras andam, e algumas se exercitam
paradas ou andando de bicicleta. Um sorriso livre aparece no rosto de
cada uma, enquanto que o meu sorriso está a quilômetros de distância
daqui.
A cada passo dado, eu me lembro da cena da noite anterior. Os
dois nus e abraçados na cama. Imediatamente vem uma vontade de
chorar, o meu coração palpita forte e a tristeza brota na minha
garganta. Sinto falta dele, a esta hora estaríamos fazendo amor, depois
desceríamos para o café e em seguida para a fisioterapia. Será que
algum dia eu vou conseguir esquecê-lo?
Assim que me faço essa pergunta, o rosto de Anthony vem nítido
aos meus pensamentos. Parece que não vai ser fácil. Solto um suspiro
exasperado. Será que ele está sentindo a minha falta? Será que tentou
me ligar? O que será que ele está fazendo agora?
Por Deus! Bianca, você precisa seguir em frente. Acabou, o
Anthony fez a escolha dele, conforme-se.
Viro-me em direção à praia. O mar está calmo, reflete o azul do
céu. Na areia branca algumas crianças brincam, o sol está propício
para um mergulho e para uma boa caminhada. Respiro fundo,
prendendo o ar por um momento dentro dos meus pulmões.
Volto a caminhar, mas a tristeza ainda maltrata o meu interior.
Pensei que um pouco de ar e de sol morno no meu corpo pudessem me
fazer esquecê-lo, mas me enganei, pois a cada rosto masculino que
passa na minha frente, é o Anthony que vejo.
Quando esse vazio vai deixar de doer? Quando vai desaparecer?
As lágrimas querem se libertar, mas eu não posso chorar, não aqui, em
pleno calçadão.
Continuo andando e me perco nos meus pensamentos. Para ser
sincera, o meu corpo está aqui, mas minha cabeça ainda está em Rio
Doce. Em algum momento, escuto o meu nome ao longe. Será que o
Anthony está me chamando?
Alguém puxa o meu braço, me fazendo virar o corpo para o lado.
— Bianca, eu estou te chamando há mais de cinco minutos! —
Para a minha surpresa, quem está me chamando é o Leonardo. — Está
de folga do trabalho?
Ele sorri. Os seus olhos avaliam o meu rosto de um jeito, como se
conseguissem ler todo o meu desassossego.
— Desculpe-me, Leo, eu não te ouvi chamar. — Ele me puxa para
mais perto e beija o meu rosto.
— Você está bem? Está tão pálida. Não está de licença médica,
está?
O que eu vou dizer para ele? Não, estou sofrendo porque acabei
de ser trocada por cinco milhões de reais.
Ele não precisa saber sobre o meu envolvimento com o Anthony, e
tampouco sobre eu estar completamente apaixonada.
— Não, eu estou cansada mesmo. Perdi o costume de ouvir o
barulho da cidade, estava acostumada com o silêncio, por isso não
consegui dormir direito, acho que vou levar algum tempo para me
acostumar à cidade grande novamente.
Eu sei que foi a desculpa mais esfarrapada que alguém já deu para
uma dor de cotovelo, mas é a que eu tenho no momento.
— Então, você está de volta em definitivo? — Ele planta um sorriso
de satisfação no rosto, após a pergunta.
— Sim, meu trabalho acabou. O senhor Anthony não precisa mais
dos meus serviços. — As últimas palavras soam com tristeza.
Caminhamos mais um pouco, em silêncio. Leonardo se vira na
minha direção e diz:
— Vamos parar ali e tomar uma água de coco? — Eu aceito, e ele
pega no meu cotovelo, me guiando até um quiosque.
Nós nos sentamos enquanto esperamos o rapaz cortar os dois
cocos.
— Parece que o dia de hoje será quente. — Ele parece não se
importar com a minha observação.
— Quer jantar comigo, hoje à noite? — Sou pega de surpresa com
o convite.
— Como? — Indago, parecendo confusa.
— Bianca, eu ia te procurar mais uma vez em Rio Doce. Eu iria
ainda essa semana, e não me interprete mal, mas eu só quero ter uma
conversa séria com você, antes de ir embora para Nova Iorque.
Isso sim é uma surpresa, não imaginava que o Leonardo pretendia
ir embora do Brasil. Ele sempre foi um apaixonado pela nossa terra,
sempre dizia que dinheiro nenhum no mundo o afastaria daqui.
— Vai ficar fora quantos meses, desta vez? — Ele morde os lábios e
sorri polidamente.
— Desta vez é definitivo. A editora abriu uma filial em Nova
Iorque e me convidou para ser o editor chefe, eu estou partindo no
próximo final de semana.
Fico feliz por ele, Leonardo sempre sonhou com esse cargo, e
finalmente ele conseguiu.
— Parabéns! — Eu o puxo para um abraço, e ele me aperta
fortemente — Você sempre desejou esse cargo, e ainda mais em Nova
Iorque. Você merece essa promoção.
— Obrigada! — Ele me olha fixamente — Então, aceita jantar
comigo hoje?
E por que não? Ele é um bom amigo, e nós fomos noivos e
companheiros por tantos anos, não custa nada me despedir dele.
Apesar da sacanagem que ele fez comigo, eu sempre gostei muito do
Leonardo, além disso, vai ser uma ótima maneira de tirar o Anthony
da minha cabeça, por alguns instantes.
— Certo, me pegue às dezenove horas. — Ele sorri, satisfeito,
parece uma criança que acabou de ganhar o brinquedo favorito.
Leonardo me deixa próximo ao supermercado. Preciso abastecer a
dispensa e a minha geladeira.
Faço as minhas compras e volto para o meu apartamento. Passo a
manhã inteira fazendo faxina. Depois de fazer o meu almoço, eu
resolvo escrever a minha carta de demissão. Não vou conseguir
continuar trabalhando na clínica, não depois de tudo que o Anthony
falou para o dono. Escrevo a carta e mando por e-mail. Em hipótese
alguma vou ficar cara a cara com os chefões, pois com certeza eles
farão um milhão de perguntas e não estou disposta a responder nem
um, quanto mais um turbilhão delas.
Mais uma vez, penso em ligar para o meu pai, mas acho melhor
esperar um pouco. Resolvo dar mais um tempo, acho que até o final de
semana terei tempo de secar todas as minhas lágrimas.
Por volta das quatro horas, resolvo tirar um cochilo. Acordo
assustada com um dos meus pesadelos terríveis sobre a morte da
minha mãe. Verifico as horas: falta meia hora para as dezenove horas.
Pulo da cama rapidamente, e em quinze minutos estou completamente
arrumada. Resolvo descer e esperar o Leo na calçada, pois
conhecendo-o como eu conheço, sei que ele será pontual. Dito e feito:
às dezenove horas ele para o carro bem na minha frente.
Leonardo me faz uma surpresa agradável, ele me leva para o meu
restaurante favorito, que fica no alto da colina. De onde estamos
podemos ver toda a Bahia de todos os Santos, a vista é de tirar o
fôlego.
Ele faz todo o ritual de um verdadeiro cavalheiro. Estamos na
sobremesa, quando ele me olha seriamente e pede a minha atenção.
— Bianca... — Ele limpa a garganta, parece hesitar por alguns
segundos, se mexe na cadeira, mas começa a falar: — Quando eu te
disse que pretendia procurá-la pela última vez em Rio Doce, era com
uma única intenção, a de reatar o nosso noivado, ou o nosso namoro —
Ele me olha com aquele olhar cálido, e em seguida, segura a minha
mão. — Eu te amo, Bianca, tenho certeza absoluta disso agora...
— Leo — Não posso deixá-lo continuar, por isso eu o interrompo.
— Eu pensei que tinha sido clara com você, quando te disse que não o
amo mais, aliás, eu lembro de ter dito que nunca te amei. Eu estava
apaixonada, mas amor, eu acho que nunca existiu.
— Cale-se, Bianca! — Seu olhar ansioso cobre o meu rosto — Por
Deus, eu não estou perguntando se você me ama, estou confessando o
meu amor. Eu sei que podemos recomeçar. Eu fui um idiota, fiz sexo
com outra mulher, mas foi só uma coisa estúpida, um tesão de
momento, não significou nada para mim e nem para ela, mas eu feri
você, rompi o nosso laço de confiança, e estou aqui pedindo uma outra
chance.
— Leo...
— Deixe-me terminar.
— Leo... eu... amo outro homem.
— Eu sei, é o Anthony, mas sei também que ele está de casamento
marcado. Foi por isso que você veio embora, não foi? Eu percebi o seu
interesse por ele, quando vi o brilho dos seus olhos enquanto olhava
para ele. — Olho para ele, envergonhada — Não precisa se
envergonhar, eu não estou aqui para julgá-la. Venha comigo para Nova
Iorque, vamos tentar novamente, eu sei que posso te fazer esquecê-lo,
eu sei que posso. Você aceita?
Suas mãos envolvem as minhas, e ele me olha intensamente. Sinto
uma ternura quente no seu olhar. Por um minuto, a ideia de ir embora
do Brasil passa pela minha mente, seria uma ótima opção.
Ficou doida, Bianca!? Por mais sacana que o Leonardo tenha
sido, ele não merece ser sua cobaia, é muita maldade.
— Isso não vai funcionar, Leo, acabei de dizer que amo outro
homem, você merece mais do que isso.
— Bianca, eu sei onde estou me metendo, não vou entrar em uma
furada. Eu só quero tentar outra vez, só quero uma chance, mais uma
chance.
— Leo, eu não posso fazer isso com você, não sei fingir.
Ele aperta os meus dedos e os acaricia. Seu olhar varre o meu
rosto com carinho.
— Façamos o seguinte: vou reservar a sua passagem, podemos
viajar como amigos, você embarca comigo e me ajuda na decoração do
meu apartamento. Não precisamos dormir juntos, seremos apenas
amigos. Só passe algum tempo comigo, será bom para mim e bom para
você. — Tento dizer alguma coisa, mas ele faz um gesto com a mão,
pedindo silêncio. — Pense nisso, sexta-feira você me dá uma resposta.
Assinto, não resta alternativa senão concordar com ele. Às onze
horas, Leonardo me deixa na porta do meu prédio. Eu sei que ele quer
receber um convite para subir, mas eu acho melhor me despedir ali
mesmo. Eu lhe dou um beijo no rosto, mas sei que ele esperava algo
mais, mas é apenas isso, um terno beijo no seu lindo rosto
esperançoso.
Antes de me deitar, penso na proposta de Leo. A ideia não é de
toda ruim, passar um tempo em Nova Iorque seria uma grande saída
para o meu coração partido. Vou pensar com carinho na proposta de
Leonardo.
Capítulo 18

Anthony

Acordo com uma imensa dor de cabeça e com um gosto amargo


na boca. Mal consigo manter os meus olhos abertos, pois a minha
visão está turva. Tento me erguer para sentar, mas me sinto zonzo.
Sinto um cheiro de perfume no meu corpo, e este cheiro não é meu e
nem o da Bianca. Mas que porra aconteceu?
Pisco os olhos várias vezes, até que consigo abri-los em definitivo.
Percebo que estou completamente nu, mas não me lembro como vim
parar na cama. Consigo me erguer sustentando o meu corpo nos meus
braços.
— Acordou, Belo Adormecido?
Uma voz sarcástica e muito conhecida soa nos meus ouvidos.
Victoria está sentada em uma poltrona, bem na frente da minha cama.
Pernas cruzadas e um olhar vitorioso no rosto.
— Que porra você está fazendo no meu quarto? Se eu me lembro,
eu te mandei embora. — Procuro a minha cadeira de rodas, mas ela
está bem distante da cama. — Você pode trazer a minha cadeia até
aqui? Por favor.
Ela sorri debochadamente e agita a cabeça em uma negativa,
fazendo aquele barulho irritante com a boca.
— Agora não, antes você vai escutar o que eu tenho para lhe dizer.
Victoria se levanta e vem até a cama. Se senta ao meu lado, e sua
mão toca na minha coxa nua, seus dedos engatinham até o meu pênis,
e ela começa a tocá-lo. Sinto um calafrio na espinha.
— Tire as suas mãos de mim, Victoria! — Olho na direção da
porta, preocupado. Victoria olha para a mesma direção e solta uma
gargalhada.
— Está preocupado com a sem graça da Bianca? — Ela pega no
meu pênis, cercando-o com os dedos e começa a massageá-lo. Afasto a
sua mão para bem longe, e ela sorri. — Ela não virá até aqui. Ela foi
embora, a esta hora já deve estar no quinto dos infernos, de onde ela
não deveria ter saído.
O cinismo é a melhor parte da Victoria, ela sabe ser
magistralmente cínica.
— O que você fez, Victoria? O que contou para a Bianca? Maldita!
Eu vou matar você sua... sua...
— Sua o quê? — Ela se levanta e inclina o corpo, aproximando o
seu rosto do meu. Consigo me sentar e a empurro para longe. — Você
se acha mesmo esperto, não é, Anthony? Achou mesmo que se livraria
de mim com tanta facilidade? Pois não vai, não...
— Eu vou acabar com você — Eu a interrompo — Nem o que eu te
dei por livre e espontânea vontade vai ficar com você. Eu vou querer
cada centavo de volta! — Olho furioso para ela — Saia daqui, saia da
minha casa! — Digo, exaltado.
Ela faz um gesto com as mãos, debochando, como se estivesse me
imitando. Victoria se parece com um demônio, com seus olhos
saltados e aquele brilho escuro no olhar.
— Você não quer saber o que aconteceu aqui, meu querido? — Ela
sorri e cruza os braços no peito. — Sua queridinha nos pegou nus,
nesta cama — Ela solta uma sonora gargalhada. Não consigo acreditar
no que ela diz, mas depois olho para mim, e só neste momento a ficha
cai. — Entendeu agora? Foi tão fácil drogar você, te carregar até o
quarto, despir você e esperar que a tonta da Bianca chegasse. Só
precisei ficar nua e me deitar do seu lado, segurar o seu pau, colocar a
sua mão no meu seio e BUMM! A porta se abriu e ela nos flagrou.
— Ordinária! — Esbravejo — Duvido que a Bianca tenha
acreditado nessa encenação, duvido!
— Tolo, ela não só acreditou como foi embora. Eu só precisei dizer
a ela que foi você quem me chamou até aqui para um acordo: ou você
me dava cinco milhões de reais ou ficava comigo, e é lógico que você
preferiu ficar comigo.
A raiva cresce dentro de mim. Maldição! Se eu pudesse ficar em
pé, mostraria a Victoria com quem ela está brincando. Fecho os meus
olhos com força, de alguma forma buscando dentro de mim algum
controle, pois eu estou prestes a cometer uma loucura. Bem ao meu
lado, na gaveta do criado-mudo, há uma caixa com a minha arma
dentro dela, basta apenas eu me virar e pegá-la.
— Está bem, e o que você vai ganhar com isso? Vamos, me diga! —
Odeio-me por não conseguir me levantar, por estar preso a uma
cadeira de rodas, por não poder sequer me defender de uma víbora.
Engulo o meu orgulho e a encaro com sangue nos olhos.
— Cinco milhões de reais, é isso que eu vou ganhar. Você transfere
esse dinheiro para a minha conta e eu digo a verdade para Bianca, digo
que te chantageei, simples assim. — Como eu quero desmanchar esse
sorriso sarcástico do seu rosto com uma bofetada. — Você deveria ter
visto como a Bianca saiu daqui, tão desolada, chorando rios. Não sei
não, ela estava transtornada. Se eu fosse você, agiria rápido, ela pode
tentar alguma besteira.
— Cale-se, sua ordinária! — Grito.
— Se eu fosse você, me trataria melhor, Anthony. — Ela vem até
mim e aponta o dedo no meu rosto.
O sangue sobe para a minha cabeça. Estou aleijado, mas não estou
morto. Minha mão cerca o seu pulso e eu o aperto com força,
puxando-a para mim. Ela perde o equilíbrio, caindo de joelhos. Estou
a ponto de esbofeteá-la, mas não o faço. Puxo-a para mais perto e
cuspo o meu ódio no seu rosto.
— Você não me conhece mesmo, Victoria. Pobre idiota, acha
mesmo que eu vou ceder à sua chantagem? Acha mesmo que eu vou
dar a você cinco milhões de reais? — Estou muito puto, a minha
irritação já transborda à ignorância, e eu torço o seu pulso com raiva.
Ela grita de dor, mas eu não me importo. — Você tentou chantagear o
homem errado. Leia os meus lábios — Meu rosto está próximo ao dela,
eu posso sentir as batidas do seu coração — Saia da minha casa e da
minha vida! — Minha voz soa firme, fria, dura e pausada.
Eu a empurro com tanta força que ela cai para trás, por cima das
pernas.
— FORA! FORA! — Ela me olha com os olhos esbugalhados, seus
lábios tremem — Você tem sorte por eu ainda não estar andando, pois
se eu estivesse, você já teria voado por aquela varanda. — Aponto com
a cabeça na direção da porta da varanda. — FORA! — Grito.
Escuto passos vindo do corredor, penso ser a Bianca, mas é um
dos seguranças da casa. Ele me olha, assustado, sem entender nada.
Nossos olhares se encontram.
— O que você está esperando? — Digo, exasperado — Leve-a
daqui, jogue-a porta afora, e se esta mulher puser os pés no portão de
entrada desta propriedade outra vez, todos os seguranças serão
demitidos.
Ele ajuda Victoria a se levantar. Ela resiste ao toque do segurança.
— Não me toque, eu sei onde é a saída! — Seu olhar frio percorre
todo o meu rosto. — Isso não vai ficar assim, Anthony, você terá
notícias minhas, e eu espero que a Bianca nunca mais queira olhar na
sua cara. — Ela cospe no chão e me olha com desdém — Você vai
acabar precisando pagar para uma prostituta chupar o seu pau morto.
— Leve-a daqui. — Brado.
Victoria dá meia-volta e sai a passos largos. O segurança fica me
olhando sem entender nada.
— O que foi? Vai ficar aí, me olhando? Traga a minha cadeira de
rodas até aqui e depois vá se certificar de que a Victória foi embora, e
avise a todos que ela não deve nem chegar perto do portão.
Visto uma roupa rapidamente. Procuro o meu celular e ligo para a
Bianca; está desligado. É óbvio que ela desligou o celular, e é óbvio que
ela não quer falar comigo, mas por que ela não gritou comigo? Por que
não tentou falar comigo, por que não fez escândalo como todas as
mulheres fazem, quando flagram os seus homens traindo? Que merda!
Porra, Bianca, por que você acreditou na Victoria? Por que não
confiou no meu amor?
Minha cabeça está estourando, me sinto enjoado e tonto, mas não
tenho tempo para chiliques, preciso encontrar a Bianca, preciso trazê-
la de volta.
Desço pelo elevador, e quando já estou perto da porta, o Almir
entra feito um furacão e vem direto até mim.
— Mas que porra você fez? O que você fez, Anthony, para deixar a
Bianca naquele estado? Ela mal conseguia falar — Ele me encara,
esperando pela minha resposta.
— Onde ela está? — Nem espero pela sua resposta, movo a cadeira
de rodas direto para fora da casa — Vamos, Almir, me leve até onde ela
está.
Ele para a minha cadeira e a vira na sua direção.
— Anthony, ela foi embora. Voltou para a cidade dela, acabei de
deixá-la no aeroporto.
— Como?! Você não deveria ter permitido isso. Porra, Almir! Você
deveria ter impedido que ela partisse.
Tento mover a cadeira, mas Almir me impede. Ele me olha com
severidade, me culpando por algo que eu sei que não é minha culpa.
— Eu não fiz nada. — Rebato o seu olhar interrogativo. — A
Victoria me drogou e armou tudo para que a Bianca nos flagrasse nus,
na cama, foi isso o que aconteceu. Quando acordei dei de cara com a
Victoria, sorrindo vitoriosa, querendo me chantagear, eu acabei de
expulsá-la daqui.
— Caralho! Isso é o olho do cu, cara. Agora estou entendendo as
lágrimas e os soluços, coitada da Bianca, ela estava inconsolável. Filha
da puta da Victoria! E agora, o que você vai fazer?
O que eu vou fazer? Está na cara o que vou fazer, eu vou atrás
dela, vou trazer de volta o que é meu.
— Vou atrás dela, é evidente, eu só preciso encontrar o endereço,
só isso.
— Não precisa — Almir coloca a mão no bolso e me entrega um
papel. — Ela anotou para que eu entregasse para a Mercedes. — Ele
passa a mão pelo cabelo — Anthony, a Bianca está muito machucada,
eu vi isso nos olhos dela, foi uma decepção dos diabos.
— Se ela me ama de verdade, vai me escutar e acreditar em mim.
— Olho na direção do hall de entrada e vejo várias malas encostadas
na parede. — Ajude-me a levar essas malas lá para cima, depois
providencie as nossas passagens para Salvador. Para ontem!
— Antes de irmos, o médico vai examiná-lo. Olhe para você,
Anthony, estique a mão. Cara, estique a sua mão! — Faço o que ele me
pede e vejo que as minhas mãos tremem. — Você está próximo de ter
um colapso nervoso, não vai conseguir enfrentar a estrada e depois um
voo até Salvador, olhe o seu estado! — Tento replicar, mas ele me
manda calar a boca — A Bianca não vai a lugar nenhum, não do jeito
que ela estava. Você precisa de cuidados médicos.
Tenho um mau pressentimento assim que ele fecha a boca. Sacudo
levemente a cabeça para afastá-los da minha mente. Quando faço isso
me sinto mal, meu pescoço fica rígido e sinto uma dor forte de cabeça
que quase me derruba da cadeira. O Almir me ajuda a sair da cadeira e
me leva de volta para o quarto. Em meia hora o médico já está me
examinando.
Sou praticamente obrigado a ficar na cama, pelo menos durante
um dia, é tempo suficiente para a droga sair do meu corpo. Na tarde
do dia seguinte, o médico voltará para me avaliar, e se eu estiver bem,
ele me liberará para viajar, mas eu já tomei a minha decisão: com ou
sem a liberação do médico, em um dia eu estarei em Salvador.

Ficar na cama durante um dia inteiro e sem poder falar com a


Bianca, pois o celular dela continua desligado, são as horas mais
terríveis da minha vida. No final da tarde, eu já tinha ligado para a
clínica na qual ela trabalha, mas ninguém tinha informações sobre ela,
e eles não têm autorização para me dar os seus números de contato.
Eu não quis me identificar, achei melhor não expor a Bianca.
Às dezenove horas, o médico volta para me avaliar. Para a minha
alegria e felicidade de Almir, ele me libera para viajar, mas o Almir só
consegue um voo para Salvador às seis da manhã. Minha ansiedade
não me deixa dormir, passei parte da madrugada acordado.
Às sete e dez da manhã, estou parado em frente ao prédio em que
a Bianca mora. Não posso usar o interfone, pois corro o risco de não
ser atendido. Resolvo esperar que alguém abra o portão e me deixe
entrar, afinal, ninguém se negaria a ajudar um cadeirante. O Almir fica
no outro quarteirão, me esperando dentro do carro alugado.
Às sete horas e vinte minutos, um rapaz abre o portão, e quando
vê a cadeira de rodas, me olha com indulgência e sorri.
— O senhor quer ajuda? — Ele me ajuda a entrar no prédio. —
Quer que eu o leve até o seu andar? — Agradeço e lhe digo que agora
eu sigo sozinho.
A porta do elevador se fecha. Aperto o número três. Meu coração
está tão acelerado, as minhas mãos tão suadas, não tenho ideia de
como ela vai me receber, mas de uma coisa eu tenho certeza: ela vai
voltar comigo para Rio Doce.
Saio da cabine do elevador muito mais nervoso do que ao entrar
nela. Minha cadeira para em frente à porta do apartamento dela.
Coloco a mão no bolso da minha calça e retiro a minha carteira, a abro
e pego de dentro dela a medalhinha de São Jorge. A minha carteira
volta para o bolso da minha calça.
Circulo a delicada correntinha de ouro na minha mão, beijo a
medalha e a deixo pendurada. Ajude-me, São Jorge, não deixe o amor
da minha vida ir embora. Eu já perdi um amor uma vez, por favor,
talvez esta seja a minha última chance. Beijo a medalha outra vez,
bato na porta e espero.
Capítulo 19

Anthony

Na noite anterior quase não dormi, pensando em como agir caso


ela me mande para o quinto dos infernos. Eu sei que não mereço ir
para esse lugar, no entanto, a Bianca não tem ideia do que aconteceu
naquela noite. Para ela, eu sou um maldito traidor, um filho da puta.
Se eu estivesse no seu lugar teria feito pior. Primeiro arrancaria as
bolas do filho da puta e o faria comer uma a uma, depois... nem quero
pensar no que eu faria com ela se estivesse no seu lugar, só sei que
coisa boa não seria. Tudo o que eu sei é que estou morrendo de
vontade de levá-la de volta para casa, levar de volta o que é meu. Ela.
Respiro fundo. Acho que inspirei tão profundamente que, se
duvidar, escutaram do outro lado da rua.
Vamos, Anthony, você não cometeu nenhum erro, coragem,
homem.
Fecho a mão em punho e bato com ela levemente na porta.
Demora cerca de três minutos para que eu veja uma sombra
através da brecha da porta. Ela certamente me viu através do olho
mágico. A porta é aberta, mas não totalmente, Bianca fica segurando-a
e só uma parte do seu corpo fica à mostra.
— Anthony, o que faz aqui?
Seus olhos se fecham rapidamente, ela não consegue me encarar,
engole em seco e encosta a testa na porta.
— O que eu faço aqui? — Repito a pergunta — Não está claro o que
eu vim fazer aqui, não?
Seus olhos encontram os meus, ela me olha com um brilho
estranho no olhar.
— Não, não está claro. Eu acho que o que tinha para ser dito foi
dito pela sua noiva há dois dias. Vá embora, Anthony! Você não
precisa explicar nada.
Ela já ia fechar a porta, quando eu a impeço com a minha cadeira.
— E o que foi que você disse para si mesma? Pelo que eu sei, você
ainda é a minha noiva. — Mostro o meu dedo com a nossa aliança —
Mas pelo que eu estou vendo, você não me considera mais o seu noivo,
já que se livrou da aliança e do anel de noivado — Olho para a sua mão
direita.
— Anthony, deixa de palhaçada, eu não estou com paciência para
brincadeiras. Vá embora e volte para a Victória!
— Palhaçada?! Palhaçada?! Eu que o diga...
— Pare, Anthony — Ela me interrompe bruscamente — Eu vi,
ninguém me contou, eu vi você e a Victoria, nus, na nossa cama, os
dois abraçados. Então não venha com conversinha, ok.
Se tem uma coisa que eu não gosto é de ser acusado sem ter culpa
nenhuma. Antes que ela proteste, eu invado o seu apartamento e bato
a porta atrás de mim. Bianca me olha, assustada, mas mesmo assim eu
me aproximo dela lentamente.
Assim que entro, presto atenção no pequeno apartamento. Uma
sala muito bem decorada com charme e conforto. Percebo que na
parede, onde fica o estofado de três lugares, está pendurado um
enorme quadro com uma pintura em aquarela de uma casa grande,
ladeada por uma cerca branca em frente, à praia. Isso me remete à
minha infância. Eu me lembro da promessa que fiz para a Bibi, de que
quando eu crescesse compraria uma grande casa com cerca branca,
perto da praia, e me casaria com ela, que teríamos muitos filhos. Se
fosse possível a casinha seria assim, igualzinha àquela.
— Anthony... Anthony! — Olho para ela.
Eu a estudo com o meu olhar. Os cabelos estão soltos, cachos
revoltos emolduram o seu lindo rosto, com algumas mechas grudadas
na sua testa. Seus olhos azuis estão mais brilhantes. Ela veste um baby
doll nada sexy, mas que lhe cai muito bem: a blusa tem a cara da
Minnie e o short as orelhas da ratinha. Seus pés estão descalços. Eu
amo vê-la descalça, isso me dá um tesão dos infernos. Quero beijar
cada parte do seu corpo, deslizar a minha boca pela sua pele macia,
pelos seus lábios carnudos, pelo pescoço e pelo colo até chegar aos
seus seios quentes e pontudos. Puta merda! Já estou excitado só de
senti-la tão próxima a mim.
— Anthony, o que você quer de mim? — Ela pergunta, com a
expressão confusa, abraçando o seu corpo com os braços. Com certeza
ela percebeu os meus olhos sobre o seu corpo.
— Você! — Eu ando com a cadeira para mais perto dela, e ela não
recua. — Bianca, será que nem por um momento passou pela sua
cabeça que a Victoria estava mentindo, que ela armou tudo aquilo?
Ela me olha com um olhar tristonho.
— Anthony, se você estivesse no meu lugar e visse o que eu vi, você
pensaria o quê? Faça-me um favor e vá embora! — Seu olhar
desconfiado avalia o meu rosto — O que aconteceu? Se arrependeu e
veio consertar as coisas?
Movido por um impulso, eu a seguro pelo braço e a puxo de
encontro a mim, ela perde o equilíbrio e cai sentada no meu colo.
— Por favor, será que podemos conversar sem brigar? Eu vim de
Rio doce para te buscar. Eu amo você, Bianca, amo com toda a força
do meu coração.
Ela tenta se afastar, tenta se levantar, mas eu a prendo entre os
meus braços. Ela fica quieta e me olha com aquele brilho no olhar,
muito foda!
— Se você me ama tanto, por que não veio atrás de mim no
mesmo dia? Afinal, Salvador não é tão distante de Alagoas.
Já estava preparado para esta pergunta.
— Bianca, se você não tivesse fugido, já saberia o motivo. A
Victoria chegou lá em casa assim que você saiu com a Mercedes, veio
com uma desculpa esfarrapada de que estava arrependida, que queria
pedir perdão, pois estava indo embora do Brasil. Sob o pretexto de
fazer um último brinde de despedida, ela me serviu uma bebida e foi
embora, depois disso, eu só me lembro de acordar nu na minha cama,
com ela no meu quarto, sentada na poltrona e me chantageando.
Eu olho seriamente para ela.
— Bianca, eu fui drogado. A Victoria armou tudo para você nos
flagrar, eu ainda não sei como ela conseguiu, mas eu juro que vou
descobrir.
Varro o seu rosto com o meu olhar. Ela desvia os seus olhos dos
meus.
— Eu bem que quis vir atrás de você no mesmo dia, mas o médico
me proibiu, precisei esperar um dia para que a droga saísse do meu
organismo. Só fui liberado para viajar ontem à noite, e aqui estou.
Ela continua com os cílios baixados, pelo jeito a Bianca não tem a
mínima pressa de reiniciar a nossa conversa. Ela olha para as mãos,
estudando-as calmamente. Se ela está à procura de alguma desculpa
para me colocar para correr da sua casa, está pensando nisso neste
momento.
De repente, seus olhos encontram os meus, ela sorri timidamente,
e o meu coração dá um salto.
— Eu a amo tanto, amo tanto que eu sinto que estou perdendo o
senso do ridículo. Você sabe que, quando eu cheguei na frente da sua
porta, estava tão inseguro, com tanto medo de você me mandar
embora sem ao menos escutar a minha versão, que eu peguei esta
medalhinha...
Abro a minha mão e mostro a medalha de São Jorge. Bianca olha
fixamente para ela.
— Esta medalha me acompanha desde criança, é a minha medalha
da sorte. — Com a outra mão eu viro a medalha. Bianca se sobressalta.
— Onde você comprou essa medalha? — Ela pergunta
pausadamente.
— Não comprei, eu ganhei de uma pessoa muito especial, quando
ainda era uma criança...
— Quem te deu? — Ela não me deixa completar a frase, está com a
voz embargada. — Quem te deu a medalha?
— Bianca, que importância isso tem?
— Quem te deu a medalha, Anthony? — Seus olhos avaliam o meu
rosto nervosamente.
— Já te disse, foi uma pessoa muito especial...
— O quanto especial essa pessoa foi para você? Pelo amor de
Deus, responda-me.
Lágrimas rolam dos seus olhos, eu não estou entendendo o porquê
do choro.
— Bianca, não importa mais, foi há muito tempo, nós erámos
apenas crianças. — Ela me suplica com o olhar. — Quem me deu esta
medalha foi o primeiro amor da minha vida, eu só tinha oito anos e ela
tinha cinco.
— Oh, meu Deus! — Bianca cobre os olhos com as mãos e soluça
compulsivamente.
Paro de respirar por alguns segundos. O que está acontecendo?
Será que a Bianca está com ciúmes?
— Bianca, foi há muito tempo. Essa pessoa deve estar casada e
nem se lembra mais de mim.
Ela me encara, as lágrimas descem feito cascatas dos seus olhos.
Ela engole o choro e respira profundamente. Seu olhar nostálgico
domina o meu.
— Você sabe por que ela te deu essa medalha?
— Para me proteger.
Bianca levanta do meu colo lentamente. Eu ainda tento detê-la,
mas ela me impede e pede que, por favor, eu a deixe.
Ela está trêmula. Vai até o estofado e olha para o grande quadro
com a imagem da casa com cerquinha branca, respira fundo outra vez
e se senta. Esfrega as mãos uma na outra nervosamente.
Que porra está acontecendo aqui? O que eu fiz para deixá-la tão
nervosa?
— Meu amor, o que está acontecendo? — Pergunto, pois o seu
desassossego já está me deixando nervoso.
Uma expressão de tristeza toma conta do seu belo rosto assim que
ela me encara. Com os lábios trêmulos, ela começa a falar.
— Um dia uma menininha conheceu o seu príncipe encantado —
Ela apenas sussurra, com a voz embargada — e ele prometeu protegê-
la por todo o sempre. Essa menininha ganhou uma medalhinha para a
sua proteção, mas ela já tinha um protetor, não precisava de outro.
Além disso, o seu protetor estava desprotegido, então ela deu a sua
medalhinha para ele, para que nenhum mal acontecesse ao seu
príncipe encantado.
Luzes começam a piscar nos meus olhos. Volto aos meus oito anos
de idade. Estou sentado na areia branca da praia, a minha Bibi está ao
meu lado, e como por mágica, eu a vejo, a minha coelhinha está
colocando a correntinha com a medalha no meu pescoço, depois eu
ganhei o meu primeiro beijo de amor.
— Atrás da medalha tem uma frase, está escrito “Para a minha...
— ...Bibi — Falamos ao mesmo tempo.
Ela se levanta e vem até mim, se agacha e fica de joelhos. Sua mão
sobe lentamente até o meu rosto. Ela chora compulsivamente. Sinto os
seus dedos tocarem a minha pele.
— Tito — Faz anos que não escuto aquele nome. Aliás, proibi
qualquer um de me chamar por este nome, não soava bem ser
chamado assim por outros lábios. — Meu príncipe...
Congelo e perco o ar, o tempo para. Ela está ali... minha coelhinha
dos olhos vermelhos está ali, diante dos meus olhos.
— Coelhinha... minha coelhinha dos olhos vermelhos... meu amor,
meu primeiro e único amor. — Seguro o seu rosto com as duas mãos.
Meus olhos estão nublados e a minha voz embargada.
— Eu pensei que você tinha ido para o céu. Por muito tempo, eu
pensei que você tinha me abandonado, depois eu tive a certeza de que
você estava no céu, mas algo dentro de mim sempre me disse que você
estava por aí, em algum lugar, me esperando.
Puxo o seu rosto para perto do meu, nossas testas se encostam e
fixamos os nossos olhares. Não posso explicar o que estou sentindo,
não há como comparar este momento, é forte demais, enorme demais,
poderoso demais.
— Minha Bibi, meu amor, minha vida, minha princesa. Agora eu
entendo porque te amei assim que te vi, porque o meu coração
acelerou quando você me tocou.
Na hora, eu não soube os motivos para aquele amor repentino. Só
sabia que um sentimento me dominava sempre que eu a via. A reação
foi imediata e tão familiar, cheguei a pensar que estava ficando doido
com a constante impressão de conhecê-la. Agora tudo está explicado,
estávamos destinados a nos encontrar.
— Agora eu entendo por que o meu corpo respondeu ao seu.
— Porque eu perdi o ar quando você me olhou — Ela completou. —
Eu te amei quando olhei nos seus olhos e os seus encontraram com os
meus. Eu te amei quando escutei a sua voz, eu te amei quando os teus
lábios tocaram os meus... Tito...
Nossos lábios se tocam suavemente. É um beijo lento, saudoso,
mágico e inocente. Igual ao nosso primeiro beijo. Minhas mãos
seguram o seu rosto e as mãos dela seguram o meu. Quase não nos
mexemos, nossas bocas estão paralisadas, estamos apenas sentindo.
Abrimos os olhos ao mesmo tempo, nossas lágrimas se misturam. Ela
se afasta, mas não solta o meu rosto.
Aquele olhar doce avalia o meu rosto. Dedos trêmulos deslizam
por ele. Ela fecha os olhos e acaricia a cicatriz do meu maxilar.
— Eu me lembro dos momentos em que beijei esta cicatriz — Ela
diz, emocionada — Quantas vezes eu tive pesadelos vendo a minha
mãe batendo em você. Foi minha culpa, fui eu que causei isso — seus
dedos circulam o tecido fibroso.
— Hei! Não foi sua culpa, eu tenho o maior orgulho desta cicatriz,
ela me lembrava de você, lembrava-me de que eu cumpri a minha
promessa de protegê-la. Bibi, eu ganharia mil cicatrizes se fosse
preciso, apenas para protegê-la, por isso eu nunca quis me livrar dela.
Bianca baixa os olhos tristemente, e eu seguro o seu queixo, mas
ela não me olha.
— Hei... — Ela respira fundo e finalmente nossos olhares se fixam
outra vez — Meus avós insistiram que eu fizesse uma cirurgia plástica,
mas eu nunca quis, sempre me orgulhei dela, foi essa cicatriz quem te
salvou, e eu faria tudo novamente, meu amor. Por você, eu faço
qualquer coisa.
— Então, por que você não me procurou? Por que não pediu aos
seus avós para me acharem? Tito, uma parte de mim morreu quando
me levaram para longe de você, eu fiquei muito doente, chorava
sentindo a sua falta, fiquei à sua espera, me apeguei à sua promessa de
nunca me abandonar. Eu acho que foi por isso que me convenci de que
você tinha ido para o céu, foi menos doloroso.
Eu a puxo para os meus braços. Ela ainda sofre por mim, as
palavras são tão doloridas, tão sentidas.
Merda! Por que fizeram isso com a gente? Por que nos
afastaram?
— Bibi — Afasto os seus cabelos para longe do seu rosto, beijo a
sua testa e olho para o seu rosto coberto de lágrimas, olhos vermelhos
e bochechas rubras. — Eu pedi para os meus avós procurarem por
você. Por algumas semanas, eles ficaram reticentes, mas depois
cederam e foram até o quartel onde o seu pai trabalhava, mas o seu pai
já tinha pedido afastamento. Eles só nos informaram que ele tinha ido
morar em outro estado e ficaria por algum tempo de licença. Quando
fiquei mais velho, a procurei nas redes socias, até encontrei algumas
Bibis, só que nenhuma delas era você, e eu não sabia o seu nome,
sempre a chamei pelo apelido, até na escola os professores a
chamavam assim, meu avô só sabia o primeiro nome do seu pai, e
tanto no quartel como na escola em que estudamos eles não quiseram
nos dar mais informações sobre vocês, era contra as normas, então,
meu avô desistiu de procurá-los, na verdade eu acho que ele não se
esforçou muito, pois pensava que encontrá-los, traria mais sofrimento
para nós dois. Bibi, eu também sofri muito.
Agora eu tenho noção do tamanho da nossa dor.
— Você me acompanhou por toda a minha vida, eu nunca o
esqueci. Ficava imaginando qual seria a sua aparência quando uma
adolescente, não podia ver uma moça loira de cabelos cacheados e
olhos azuis, que eu já pensava ser você. Por causa disso, nunca quis
namorar mulheres de olhos claros ou loiras. — Ela ri quando faço esse
comentário — É sério! Por que você acha que a Victoria é morena, de
cabelos negros e olhos pretos? Não quis me iludir e nem sofrer. Você
foi o meu único e verdadeiro amor.
— Tito, eu senti tanto a sua falta. O meu único refúgio foi pensar
que você tinha morrido, na minha cabeça você sangrou até a morte, foi
o que me fez seguir em frente. Eu tinha pesadelos horríveis com a
minha mãe te matando, até hoje eu ainda tenho.
— Hei, hei... não foi sua culpa, eu já te disse, faria tudo
novamente. — Eu a puxo para os meus braços de novo, aperto o seu
corpo de encontro ao meu — Nada disso importa mais, meu amor,
agora estamos juntos e ninguém nunca mais vai nos separar. Eu juro
que mato quem ousar tentar fazer isso, juro por essa medalhinha aqui.
Mostro a medalha de São Jorge para ela.
— Ainda me lembro do dia em que ganhei esta medalha — Ela
pega a medalha — Papai abriu a caixinha e me deu, dizendo que este
homem era um forte protetor. Assim que a vi, eu me lembrei de você.
Ela nunca foi destinada a ser minha, era para ser sua.
Bianca coloca a corrente em volta do meu pescoço e fecha o fecho
da medalha.
— Nunca mais vou retirá-la do meu pescoço, eu prometo. — Olho
para ela, emocionado. — Coelhinha, eu te amo, amo muito.
— Acho que eu sou a pessoa mais sortuda do mundo. Eu encontrei
dois príncipes encantados em um só homem.
Ela fica de pé, e eu a puxo para o meu colo.
— Esse príncipe aqui é só seu, ele está louco de saudade e não vê a
hora de fazer amor com a sua princesa. Pelo amor de Deus, mulher,
mata a minha fome de você! — Olho para ela com desespero. — Onde é
a porra do seu quarto?
Ela aponta com o dedo a direção. Nossas bocas se chocam, e eu
não perco tempo, vou direto para o quarto. Tenho pressa, eu a quero e
agora vou fazer amor com a minha coelhinha de olhos vermelhos.
Capítulo 20

Anthony

Enquanto sigo da sala para o quarto, com a Bianca no meu colo,


os meus pensamentos agitam a minha cabeça. Estive muito perto de
perdê-la novamente, e só de pensar sobre isso me vem uma sensação
desagradável de estar sendo empurrado através da escuridão, de ser
sufocado por mãos sujas e degradantes. Eu só senti isso quando o meu
avô veio me contar que a minha princesa Bibi tinha ido embora.
Chorei por uma semana, fiz greve de fome, não tomava banho e nem
queria brincar. Seis dias depois, a minha avó entrou no meu quarto e
me disse que eu estava agindo como um completo idiota, pois em nada
ajudaria eu me afastar do mundo, ou talvez quem sabe me matar.
Nada disso traria a Bibi de volta. Ela me disse que, quando as coisas
têm que acontecer, elas acontecem, independentemente de querermos
ou não.
O foda foi convencer uma criança de oito anos sobre isso, mas, no
fundo, mesmo com a minha compreensão distorcida, eu entendi.
Cheguei à conclusão de que, em alguns dias, eu já não poderia me
levantar, já que estava sem forças até para falar, que eu ficaria
parecido com os bonecos dos desenhos animados, mas e se a Bibi
resolvesse voltar? Me encontraria neste estado? No mesmo dia, eu me
levantei, tomei banho, comi tudo o que me ofereceram e fui brincar.
Mas eu cresci com o anseio secreto de encontrá-la, de cuidar dela,
de proteger e amá-la com toda a força do meu coração. Sonhando que
nós cresceríamos juntos, que seríamos namorados e que, quando nos
tornássemos adultos, nos casaríamos e seríamos felizes para sempre.
O tempo passou, e a minha Bibi passou de verdade para um doce
sonho.
Mas agora ela está aqui, sentada no meu colo, e o mais fantástico
de tudo isso é que nós nos apaixonamos sem saber quem fomos um
para o outro, no passado. Minha avó tinha razão: quando as coisas têm
que acontecer, elas acontecem.
Olho nos seus olhos, e ela rapidamente sorri. Deus! É o sorriso
mais lindo do mundo, só este simples esticar dos seus lábios é o
suficiente para me jogar no chão, de tanta felicidade. Pode alguém
amar tanto o outro desta maneira? Com tanta força?
— Você é a mulher mais linda do mundo, e o melhor de tudo isso é
que você é só minha. — Ela inclina o rosto em direção ao meu. Eu fico
sem fôlego, apenas com o toque das nossas testas. — Quero amar você
naquela cama, mas quero fazer diferente... — Aponto para a cama de
casal.
Ela se levanta, tira toda a sua roupa e a calcinha também, fica
nuazinha em pelo, toda lisinha do jeito que eu gosto. Senta na cama e
engatinha até a cabeceira e se deita no travesseiro. Bianca entendeu o
que eu quis dizer. Tiro a minha roupa, encosto a cadeira de rodas na
beira da cama, equilibro o meu corpo com os braços e me arrasto para
o colchão.
Eu já estou com o coração na boca. Não me lembro de algum dia
ficar tão nervoso assim. Fico sentado sobre os meus joelhos, eu já
consigo sustentar o meu corpo com os meus quadris. Meus olhos
percorrem o seu corpo. Caralho! Salivo com aquela visão. Sempre
sonhei com esse momento. Quantas vezes eu me imaginei fazendo
amor com a versão adulta da Bibi, quantas vezes me masturbei só com
esses pensamentos.
— Mulher, você é gostosa pra cacete! — Ela ri, escondendo o riso
com as suas mãos no rosto.
Meus dedos deslizam pelas suas pernas, sinto a maciez da sua
pele. Claro que já senti tudo isso, mas agora é diferente, ela é a minha
Bibi, a minha coelhinha. O amor de toda uma vida. Inclino o meu
corpo em direção ao colchão, e a minha boca toca a sua pele quente.
Seus pelos se eriçam, sinto o meu corpo esquentar, meu pau pulsa,
cutucando o meu abdômen. Equilibro o meu corpo com os meus
braços e os meus lábios trilham as suas pernas, sobem deixando um
caminho molhado por onde a minha língua passa.
— Abra as pernas! — Ela obedece, e eu fico entre elas.
Minha respiração fica ofegante. Estou com o rosto rente à sua
boceta, a boceta da minha Bibi. Estou tremendo, pois agora é a hora de
lutar contra o meu desejo de possuí-la de imediato. Meu membro
lateja e doí de tão duro que está. Respiro profundamente.
— Você cheira a pecado, mulher! Tudo isso aqui é meu, e eu juro
que vou cuidar muito bem de você. — Rosno, e minhas mãos seguram
as suas coxas.
Afasto-me um pouco mais e mergulho o meu rosto
profundamente entre elas. Minha boca, língua e dentes se movem sem
nenhum pudor naquelas carnes sensíveis. Bianca deixa escapar um
grito de surpresa, E me lanço mais fundo na sua vagina, chupando-a,
comendo-a. Ela tenta se erguer pelos cotovelos, seu desespero é um
incentivo para devorá-la mais e mais. Quando ela não consegue mais
suportar, empurra os quadris para frente, fazendo com que a minha
língua vá mais fundo dentro do seu ponto mais sensível. Minhas mãos
seguram firmemente as suas coxas, me dando mais espaço para
manobrar os meus lábios e a língua. Chupo e mordo com todo o meu
desespero. Bianca grita, arqueando o quadril com força, e ofegante, ela
prende a minha cabeça, empurrando-a de encontro à sua boceta. Meu
rosto fica todo lambuzado do seu mel, ela goza tão gostoso que eu
quase gozo junto com ela.
Lambo tudo dela. Ela ainda respira apressadamente.
— An-Anthony... — Diz, ofegante. — Eu preciso de você dentro de
mim, me fode, pelo amor de Deus! Eu estou a ponto de montar em
você.
O brilho do seu olhar não nega o que ela fala. Ela está
completamente transtornada de tesão.
Rastejo sobre o seu corpo, o meu membro está entre as suas
dobras, sentindo o calor da sua boceta. Ele está feliz, mas não mais do
que eu. Ele está se sentindo em casa e completamente à vontade.
— Você é linda demais. — Murmuro, com a minha mão já
acariciando as suas pernas e logo depois a sua gostosa boceta. — Você
é o despertar do meu corpo e da minha alma.
Os olhos dela percorrem o meu rosto. Eles queimam a minha alma
com o brilho de fogo que vem através deles.
Ela me agarra fortemente pela cintura e gira o meu corpo, rolando
na cama. Trocamos de posição, agora ela está por cima. Ela me olha
com aquele olhar foda, aquele olhar faminto que me derruba.
— Amo você, amo você mais do que tudo. — Recebo um beijo
implacável. Minha boca é devorada. A sua língua domina o meu
território, é o beijo mais foda de toda a minha vida.
— Porra, mulher! Quer me tirar o ar? Caralho, que beijo foi esse?
— Olho para ela, quase sem ar. Essa coelhinha me quer, e quer muito.
— Tem alguma coisa viva no meio das minhas coxas, entre as
minhas dobras. Está me cutucando. — Ela ri com lascívia.
Bianca está sentada nos meus quadris, ergo a cabeça e posso ver a
cabeça do meu pau entre as suas coxas. Posso dizer que ele está
sorrindo de felicidade. Cara sortudo do caralho. Ela me olha com uma
sobrancelha arqueada, sua mão segura o meu pau e ela o coloca na sua
entrada.
Deslizo os meus dedos seguindo a linha do seu abdômen, até
encontrar a sua vulva e acariciá-la. Seu corpo se inclina, até que o seu
rosto fica rente ao meu. Sua boca cola na minha em um beijo lento, ora
eu mordo os seus lábios, ora ela morde os meus; ora eu chupo a sua
língua, ora ela chupa a minha. Minha boca se separa da sua, mas logo
em seguida, eu mordo o seu queixo. Ela sorri e me olha fixamente.
Seus dedos alisam a cicatriz do meu rosto, e segundos depois são os
seus lábios que deslizam sobre ela.
— Eu te amo — Ela sussurra no meu ouvido.
Ela se ergue, usando os meus ombros como apoio, depois desce os
seus quadris no meu membro duro. Começa a se mover para cima e
para baixo. Eu seguro os seus seios, bolinando os mamilos. Seus olhos
encontram os meus, ela lambe os lábios com a ponta da língua. Isso
me deixa com mais tesão.
— Cavalga em mim, mulher, sou o seu cavalo de raça, monta
gostoso, tome completamente o seu homem.
A porra do meu desejo está me deixando insano. Ver a Bianca
cavalgar em mim, seus cabelos esvoaçarem com os seus movimentos
frenéticos, os seios balançando na minha frente, tudo isso é muito
louco. Ela pressiona o seu corpo para baixo, indo mais fundo. Seus
galopes se tornam mais febris.
Ela me olha com aquele olhar febril, a boca entreaberta. Desejo
desesperadamente experimentá-la.
— Puta merda, mulher! Você é um tesão.
Ela cavalga mais rápido e mais rápido, meu pau está pulsando
dentro daquela boceta quente e molhada. O meu desejo explode
através do meu olhar e aquela boca me chama. Levanto uma mão e
entrelaço os meus dedos nos seus cabelos através dos fios loiros,
puxando-a de encontro a mim, trazendo a sua boca até a minha.
Nossos lábios se enroscam em uma briga feia, a minha outra mão
circula a sua cintura, ajudando-a com a força das estocadas na sua
boceta.
— Te quero, Bibi — Rosno, empurrando o seu corpo para baixo,
para que o meu membro vá mais fundo dentro dela.
Ela me beija novamente. Minha boca vai direto para um dos seus
seios. Eu o mordo, chupo e depois faço o mesmo com o outro.
Enquanto me delicio neles, Bianca me fode duramente.
— Me foda, Bibi, me foda forte. — Ela me castiga, se move para
cima e para baixo com força.
Fecho os meus olhos e puxo-a para mais perto, abraçando o seu
corpo com força. Nossas bocas se encontram novamente, nós nos
beijamos com uma necessidade faminta, lasciva. Ela geme na minha
boca, e eu solto um grunhido de prazer quando forço o seu corpo uma
última vez para baixo. Trememos de prazer, os nossos corpos suados e
completamente satisfeitos.
Seguro o seu rosto com as minhas duas mãos, ainda ofegantes,
ainda em êxtase. Fixamos os nossos olhares. O desejo e o amor estão
presentes em um brilho intenso. Parece que sabíamos o que seria dito,
pois dissemos ao mesmo tempo:
— Amo você...
Rimos juntos. Ela escorrega o seu corpo e se acomoda ao meu
lado, eu a abraço e puxo-a para bem perto. Beijo os seus cabelos,
enquanto a minha mão alisa o seu braço.
— Formamos um belo casal. — Digo e baixo o meu olhar em
direção ao seu rosto. Ela também sobe o olhar para encontrar os meus
olhos.
— Sempre, desde que erámos apenas duas crianças. Fomos feitos
um para o outro. — Ela estica o pescoço, e a sua boca procura a minha.
Eu a beijo levemente.
Ela fica me olhando, avaliando o meu rosto.
— O que foi? Ainda tem alguma dúvida sobre o que eu sinto por
você? — Estreito os olhos e olho para ela.
— Você alguma vez amou alguém? Digo, antes da Victoria?
Ela se vira e fica de bruços, me olhando expressivamente, com o
queixo encostado no meu peito e a sua mão acariciando-o.
— Nunca. — Olho carinhosamente para ela — Nunca consegui
encontrar alguém a quem eu pudesse amar de verdade, sequer gostar o
suficiente para pensar em algo sério. Houve muitas mulheres na
minha vida, mas nenhuma entrou nos meus sonhos, só você... só você
permaneceu dentro de mim.
— E a Victoria? — Eu sabia que era neste ponto que ela queria
chegar. Bianca sempre quis me fazer esta pergunta.
Escovo seus cachos dourados com os meus dedos. Ela continua
analisando os meus traços e a minha expressão corporal.
— Bibi, eu e a Victória foi algo que aconteceu. Eu a conheci no
período da faculdade. Ela nunca gostou de estudar, só frequentava as
aulas por imposição do pai. Nós nunca namoramos, nós ficávamos, era
cômodo para mim e para ela. Quando estávamos juntos era só eu e ela,
mas quando estávamos separados, não tínhamos nenhuma
exclusividade, poderíamos ficar com quem quiséssemos. Foi assim por
muito tempo.
Bianca se senta na cama, suas mãos brincam com o lençol
desarrumado.
— Você quer dizer que um traía o outro? — Seus olhinhos me
olham cheios de censura.
— Não posso chamar de traição, já que não havia compromisso
entre nós. — Seguro a sua mão e a trago até os meus lábios — Victoria
nunca se apegou a ninguém, por isso eu gostava de ficar com ela, e por
isso os meus avós não gostavam dela, mas eles nunca se meteram no
meu relacionamento.
Continuo, depois de uma pausa:
— Quando eu voltei a morar em Rio Doce e assumi a usina, ficou
cômodo estar com ela. Victoria sempre ia para lá e passava alguns
dias. Bibi, nós sempre nos demos muito bem na cama, a nossa relação
era puramente sexual, foi por isso que desandou depois do meu
acidente, eu deixei de suprir as necessidades dela. Eu nunca a amei, e
nem ela a mim.
— Então, por que vocês iam se casar? — A grande pergunta. Olho
para ela e sorrio.
— Por comodismo meu. Victoria tinha o que eu queria: um fogo
dos infernos na cama, e para mim era o suficiente, mas isso foi antes
do meu acidente, porque depois foi a falta de opção, eu achei que
nenhuma outra mulher iria querer viver ao lado de um homem que o
pau não subia. Graças a Deus encontrei a minha felicidade, encontrei o
amor da minha vida.
Ela abre um largo sorriso, e eu a puxo para perto e a beijo
demoradamente.
De repente, ela empurra o meu peito e me olha, desconfiada.
— Opa! O que foi agora, mulher?
— Anthony, você não veio sozinho de Alagoas para cá, veio?
— Claro que não! A minha sombra jamais me deixaria vir sozinho.
Eu vim com o Almir.
— E cadê ele?
— Ficou no carro, no estacionamento a uma quadra daqui.
Ela pula da cama, me lançando um olhar desconfiado. Devagar,
ela se senta na cama e me encara com determinação.
— Ligue para ele agora e chame-o para vir para cá. Você ficou
doido? Largou o coitado dentro de um carro, nesse calor...
— O carro tem ar-condicionado — Imediatamente, eu a
interrompo. — O Almir não é nenhuma criança, Bibi, ora essa!
Ela se levanta e vai até a minha calça, pega o meu celular e me
entrega.
— Toma. Ligue para ele e peça que venha para cá. — Eu a olho,
incrédulo, e balanço a cabeça. — Agora, Anthony!
Bianca se senta novamente na cama, aguardando o término da
ligação. Faço o que ela pediu, e instantes depois, o Almir já está a
caminho do prédio.
Tomamos um banho rápido. Em dez minutos, o Almir já está
entrando no prédio.
Ela nos prepara um delicioso café da manhã, e enquanto
comemos, coloco o Almir a par de todos os acontecimentos. A cada
palavra dita, Almir arregala os olhos, sinto até os seus olhos
lacrimejarem quando contamos a nossa história de amor infantil. E,
por fim, dou o último golpe mortal em meu amigo.
— Bem, meu amigo, depois de tudo o que você escutou, depois de
toda a nossa história de amor, só me resta perguntar a você: quer ser o
meu padrinho de casamento?
Almir me olha com um espanto quase mortal.
— Porra, cara, é claro que eu quero! Caralho, estou até
emocionado.
Ele se levanta e seus braços circulam os meus ombros. Eu recebo
um forte abraço. Bianca se une a nós logo em seguida.
Ele se afasta um pouco.
— Quem vai ficar ao meu lado? Não é nenhuma dondoca metida a
besta, é? —Almir pergunta, constrangido.
— Não. A minha madrinha será a Mercedes, pode ficar tranquilo.
— Ele desfaz a carranca.
— Bem, agora que tudo foi resolvido e estamos alimentados, eu
preciso conhecer o meu sogro — Olho para Bianca, e ela me encara,
admirada — Não me olhe assim, pretendo voltar hoje mesmo para Rio
Doce, então seja rápida, ligue para o seu pai e marque um almoço com
urgência.
Ela para e balança a cabeça.
— Anthony, eu não posso simplesmente ligar para o meu pai e te
apresentar como meu noivo.
— Tanto pode, como deve. E por falar nisso, trate logo de
recolocar a aliança e o anel de noivado — Fico sério e me calo.
Ela vai até o quarto, e minutos depois volta com as joias no dedo.
Bianca liga para o pai. Para a minha surpresa, eu descubro que ele
não sabia que ela tinha retornado. Bibi marca o almoço para às treze
horas, na casa dele. Peço para o Almir comprar as nossas passagens
para o último voo. Ele fica no apartamento de Bianca, para
providenciar tudo.
Capítulo 21

Anthony

Chegamos à casa do senhor Luiz Alberto com um atraso de vinte


minutos. Bianca quis passar em um restaurante para comprar o
almoço, disse que não confiava no pai.
Meu sogro não mora em um apartamento. A casa é um pequeno
sobrado, com um lindo jardim cheio de flores, brancas e vermelhas. O
sol brilha forte no céu azul e uma brisa suave sopra as nuvens brancas
que vagam lentamente. Paramos diante de um grande portão de ferro,
e um enorme labrador vem nos receber, latindo feito um louco quando
vê a Bibi, pulando contra o portão com a característica alegria canina.
— Fica quieto, Tito. — Ela me olha e sorri timidamente — Você
deveria estar se sentindo feliz, ele ganhou o seu nome, porque depois
de você, ele é a terceira pessoa que eu mais amo na vida.
— Tito!? Você colocou o nome do cachorro de Tito? Caralho! —
Balanço a cabeça, sem acreditar que fui substituído por um cachorro.
Ainda bem que é um cão de raça.
A porta da frente se abre. Um senhor alto se aproxima, sorrindo.
Seus olhos azuis me lembram os olhos da Bibi, são grandes e
expressivos. Ele tem um sorriso franco, a pele morena e os cabelos
loiros, um contraste e tanto. Está bem diferente do homem que eu
conheci.
— Quieto, Tito. — Ele brada com o cachorro e o segura pela
coleira, enquanto abre o portão. — Entrem logo, antes que ele fuja. —
Passamos rapidamente pelo portão, e o meu sogro solta o cachorro e
ele parte para cima de Bibi. Ela acaba se desequilibrando e cai no chão,
com o enorme cachorro por cima dela, lambendo todo o seu rosto.
— Tito, quieto. Poxa, que cachorro malvado. — Eu me lembro que
ela adorava bichos, mas a sua mãe não gostava. Neste momento, ela se
parece muito com a minha pequena Bibi.
O pai de Bianca pega o cachorro pela coleira e o leva para a outra
área, trancando o pequeno portão de madeira.
— Se ele ficar solto, não vai deixar a Bibi em paz. — Ele puxa a
filha para um abraço e a beija. — Por que não me ligou? Eu teria ido
buscá-la no aeroporto — Ele finalmente me olha — E você, quem é?
— Anthony, ou se o senhor quiser, pode me chamar de Tito, o
noivo da sua filha. — Estendo a mão e espero que ele estenda a sua.
Ele me olha, embasbacado.
— Como é que é? Noivo?! Tito?! — Ele segura a minha mão,
enquanto olha interrogativamente para Bianca. — Alguém pode me
explicar o que está acontecendo aqui?
Bianca toma a frente, empurrando a minha cadeira de rodas para
dentro da casa.
— Calma, senhor Luiz Alberto. Eu vou explicar tudo, mas
primeiro, vamos almoçar. — Bianca diz apressadamente.
Minha cadeira é empurrada de forma brusca para dentro da casa,
pela minha noiva intempestiva. Já no interior da casa, percebo várias
fotos de Bianca ainda criança, é como se eu voltasse ao passado. Ela
pega os pacotes das minhas mãos e os leva para a cozinha, enquanto
isso, eu vou até uma parede onde há várias fotografias distribuídas em
pequenas molduras de madeira. Em algumas delas, a Bibi não sorri,
está séria demais para uma criança daquela idade. Ela está séria em
várias das fotos, ela deve ter uns cinco, seis ou sete anos. Nas demais
fotos, onde ela já está bem maiorzinha, ela sorri e até faz poses,
acrobacias, ela parecia estar feliz.
— Eu fui uma criança feliz, Anthony, apesar de tudo, eu fui feliz —
Olho em direção ao grande arco que divide a sala de estar da sala de
jantar. Bianca está me observando e sorrindo — Venha, vamos buscar
o papai — Ela faz um gesto com a mão, me chamando, e mantém a
mão estendida, até que os nossos dedos se cruzam.
O senhor Luiz Alberto está parado diante da janela da sala de
visitas, observando o cachorro Tito. Ainda não me acostumei com isso,
mas por que diabos a Bianca deu o meu nome ao cachorro?
— Por que você colocou o nome do cachorro de Tito? — Sussurro,
enquanto observamos o Luiz brincar com o cão.
— Por que ele me protegia, nada mais justo do que ele receber o
seu apelido.
Ela sorri e me beija. Não fiquei tão satisfeito com a resposta, mas
ela foi válida.
— Papai, vamos almoçar?
Luiz olha por cima do ombro esquerdo e se vira lentamente. Seus
olhos nos avaliam com extrema atenção. Ele caminha até uma
poltrona e se senta.
— Que história é essa de noivado, Bianca? Que noivado é esse, tão
de repente? — Ele me olha fixamente, um olhar interrogativo que gela
até a minha alma. — E quem é você? Tito?! Só conheci um Tito, e ele
era muito pequeno, tinha uns oito anos de idade, e era o melhor amigo
da Bibi.
Limpo a garganta e tenho vontade de despejar tudo de uma vez
para o Luiz. Eu acho que a Bianca percebe isso, pois ela vai até o pai e
se senta ao seu lado.
— Papai... papai, por que não almoçamos primeiro e depois...
— Não! — Olhando para mim, ele a interrompe — Eu acho melhor
saber logo o que está acontecendo, antes de fazermos qualquer coisa.
Eu estou achando vocês dois muito esquisitos.
Empurro a cadeira de rodas um pouco para frente e fico próximo
de Luiz.
— Concordo com o senhor, eu acho melhor começarmos logo com
essa conversa — Faço uma pausa e olho rapidamente para Bianca. —
Eu sou o Tito, o amiguinho de infância da Bibi.
Luiz fica pálido quando termino a frase. Ele olha para Bianca, que
segura a sua mão, passando o polegar pelo seu dorso.
Ele limpa a garganta.
— Eu... eu não acredito nisso! Como... como assim? — Incrédulo,
ele gagueja.
— Pode acreditar, senhor Luiz. Eu sou aquele menino loirinho que
ficava brincando com a sua filha, que não desgrudava dela. Eu sou o
menino que salvou a vida da Bibi.
Ele pisca os olhos várias vezes. Eu sei o que se passa pela cabeça
dele, neste momento, o mesmo que passou pela minha: uma volta ao
passado.
— Meu Deus! Como isso é possível? Como isso pode estar
acontecendo? Quer dizer que você é o príncipe da minha Bibi? — Neste
momento eu o olho, estreitando o olhar. — Sim, o príncipe. A Bibi
vivia dizendo que você era o príncipe encantado dela.
Meus olhos se voltam para o rosto de Bianca, ela sorri e baixa os
cílios timidamente.
— Pois é, senhor Luiz, por ironia do destino nós nos encontramos,
mesmo sem saber um do outro. Eu estava precisando de uma
fisioterapeuta e liguei para a clínica onde ela trabalhava — O Luiz olha
para Bianca.
— Trabalhava? — Ele pergunta, curioso.
— Sim, trabalhava. Eu pedi demissão, ontem — Ela explica, e Luiz
volta a sua atenção para mim novamente.
— Como eu estava dizendo, liguei para a clínica e pedi pela melhor
profissional especialista da área e ela foi a indicada, então eu a
contratei. — Respiro fundo — Quando a Bianca entrou na minha sala,
naquela manhã, e olhei nos seus olhos e escutei a sua voz... eu... eu me
apaixonei por ela. Foi algo mágico e incompreensível, pois eu tinha a
certeza de que nós já nos conhecíamos. A partir daí, eu não consegui
controlar os meus sentimentos. E quando os tratamentos começaram
a coisa ficou pior, pois sentir o seu toque era como ser transportado
para o passado, todo o amor que estava guardado dentro de mim
aflorou e explodiu ferozmente.
— Uau! —Luiz sorri para Bianca — Agora você me pegou, meu
rapaz, isso sim é uma declaração de amor. Então vocês se
apaixonaram, mesmo sem saber ou compreender o que estava
acontecendo — Ele olha para a mão direita de Bianca e depois para a
minha — Pelo que eu estou vendo no dedo de vocês, as coisas
aconteceram bem depressa.
Eu sorrio.
— Não, não, senhor Luiz, não foi depressa. Eu amo a sua filha
desde que tenho seis anos de idade, e fiquei 24 anos longe dela,
esperando por ela. Durante todo esse tempo, eu nunca a esqueci, nem
por um segundo, então não tem nada apressado aqui, tudo está
acontecendo no seu devido tempo. Hoje eu estou aqui para pedir a sua
filha em casamento, e espero que o senhor esteja de acordo, mas
mesmo que o senhor não esteja, eu vou me casar com ela. Ninguém
nunca mais vai nos separar, pode ter certeza disso.
Sim, eu estou determinado como jamais estive, ninguém nunca
mais vai me afastar da Bianca, o que significa que eu estou disposto a
brigar com qualquer um.
— Tenho certeza disso — Luiz diz, franzindo a testa — Agora que
isso é inacreditável, isso é. Vocês eram apenas duas crianças, como
pode um amor nascer assim, no meio de tanta inocência?
Ele tem razão. Éramos apenas duas crianças, e mesmo sem saber,
fizemos promessas de adultos. Eu fiz...
— Concordo com o senhor, é algo muito louco. O nosso amor
nasceu através da inocência, através da pureza de um olhar — Eu e a
Bianca cruzamos os nossos olhares, ela ri e eu também — Eu acho que
eu a amei no dia em que a conheci, e ao vê-la naquele balanço, no
quintal da sua casa, com os seus cachinhos dourados e os seus grandes
olhos azuis, nossa! Ainda me lembro de como fiquei encantado com
ela. Eu acho que nossas almas se reconheceram naquele momento.
Nesse momento, Bianca respira profundamente e vejo uma
lágrima escorregar pelo seu rosto. Luiz segue o meu olhar, e ao
perceber a emoção da filha, ele a abraça calorosamente.
— Alma, mente e coração, Anthony. Estamos completamente
ligados, você e eu e nada mais. — Por um momento egoísta, minha
vontade é quebrar o laço entre pai e filha, pois a minha vontade é de
tomá-la dos braços do pai, no entanto, jogo minha possessividade para
longe e continuo:
— A partir daí, Luiz, ficamos dependentes um do outro — Olho
para ela novamente, Bianca levanta a cabeça e seus lábios se alargam
em um leve sorriso. — Fiz promessas para Bibi, mas, infelizmente, não
consegui cumpri-las, mas eu te digo, Luiz; digo, não, afirmo, eu vou
cumprir todas elas.
Luiz beija o alto da cabeça de Bianca, ela se ergue, ainda bastante
emocionada, e limpa o rosto com o dorso da mão.
— Papai, você se lembra daquela tristeza que eu carregava dentro
de mim? Se lembra? — Luiz olha para Bianca e assente com a cabeça
— Depois que eu conheci o Anthony, ela desapareceu. Agora eu
entendo o motivo, eu vivia triste porque faltava um pedaço de mim, e
assim que eu o conheci, me completei.
Vê-la tão fragilizada e com os olhos marejados me quebra, mesmo
sabendo que suas lágrimas são de felicidade. Eu olho para Bianca e
lanço três palavras silenciosas no ar: “Eu te amo”. Ela sorri ao
compreender.
— Senhor Luiz — Ele me fita — Posso lhe fazer uma pergunta? —
Ele está emocionado também, limpa a garganta enquanto balança a
cabeça afirmando que sim — Por que o senhor nos separou? A Bibi me
disse que, após a nossa separação, ela ficou muito doente. Por que o
senhor não procurou os meus avós, por que o senhor permitiu que isso
acontecesse conosco?
Esta pergunta está presa na minha garganta há anos. Meus avós
só me disseram que foi o certo a fazer, eles sempre respondiam a
mesma coisa todas as vezes em que eu os inquiria. Agora é a minha
oportunidade de saber a versão da outra parte.
Luiz esfrega as palmas das mãos na calça jeans, nervosamente. Ele
se ajeita no estofado e me olha, sua fisionomia está muito contraída,
parece que vai confessar algo muito dolorido.
— Tito... Anthony... como você quer que eu te chame?
— Como o senhor quiser. — Respondo prontamente.
— Tito... Bianca — Ele olha para Bibi — Vocês eram tão crianças, e
a tragédia que aconteceu em torno dos dois foi tão intensa... Meu
Deus! É tão dolorido falar sobre isso. — Luiz baixa os olhos,
respirando fundo. — A Bibi... a Bibi sofreu muito com a morte da mãe,
Tito, por alguns dias eu escondi o que tinha acontecido com a minha
esposa, mas depois eu encontrei uma forma de explicar para a Bibi que
a Tatiana havia nos deixado e que ela nunca mais voltaria.
Quando os seus olhos encontram os meus, vejo que estão
marejados. Ele também não superou a tragédia que envolveu a morte
da esposa, talvez ainda se sinta culpado. Afinal, a Tatiana estava
doente, ela gritava por cuidados, e ele se negou a enxergar isso. Não
sei quais foram os motivos que o levaram a não ajudar a esposa, mas
ainda tenho um pouco de raiva dele, por ter deixado a Bibi nas mãos
de uma mulher desequilibrada.
Mesmo sabendo que estas lembranças estão o machucando, eu
preciso esclarecer tudo. Bianca me olha, aflita, pede em silêncio que eu
pare, mas é tarde demais, eu preciso ir até o fim.
— Mas quanto a nós dois, eu e a Bianca, por que precisaram nos
separar?
— Anthony, você quase morreu para salvar a vida da Bibi — Ele se
levanta e passa a mão pelos cabelos nervosamente — O corte que você
teve no rosto foi muito profundo, você perdeu muito sangue... Deus!
Quando eu penso nisso chego a sentir dor no meu peito. Meu filho...
eu e os seus avós pensamos nas sequelas que existiriam entre vocês,
elas seriam tão profundas quanto esta cicatriz que você carrega no
rosto. — Ele aponta para o meu maxilar. — Aliás, eu me ofereci para
pagar a cirurgia plástica, mas os seus avós disseram que você não
queria. Por quê?
Bianca olha para o pai e depois para mim, ela já está pronta para
responder, quando eu a interrompo.
— Porque eu me orgulho desta cicatriz, porque ela é o símbolo da
promessa que eu fiz para a sua filha, de protegê-la de tudo e de todos.
Luiz vem até mim, e a sua mão pousa no meu ombro direito, e eu
o olho.
— Você se tornou um homem surpreendente — Sua mão
massageia o meu ombro, e nos olhamos fixamente — Eu pensei que
esta cicatriz pudesse trazer lembranças terríveis para os dois e que isso
transformaria uma amizade tão linda em ódio, rancor e mágoa. Vocês
eram muito crianças, e a lógica nos indicava que com o passar do
tempo, um se esqueceria do outro, mas para que isso acontecesse,
seria necessário afastá-los o quanto antes, por isso, assim que a Bibi
recebeu alta médica, eu fui direto para um hotel e depois mandei fazer
a minha mudança. Resolvi morar em outro estado e dei ordens no
quartel para que ninguém desse nenhuma informação a nosso
respeito.
Luiz faz uma pausa e olha para o vazio, como se lembranças
doloridas ainda o assombrassem.
Mesmo sabendo dos reais motivos que levaram os meus avós e ele
a nos afastarem, eu ainda não concordo com o que fizeram, afinal, era
a nossa vida que estava em jogo e era o nosso sofrimento e a nossa
saudade dolorida, os nossos sonhos interrompidos.
— Não foi justo, o senhor não acha? Tanto eu quanto a Bianca
sofremos com isso, Luiz! — Olho para ela e vejo que a Bianca está
chorando, cabisbaixa.
Ele vai até Bianca e se agacha diante dela, afasta os seus cabelos
loiros e beija o seu rosto molhado pelas lágrimas. Olhando para o seu
rosto sofrido, ele diz:
— Eu sei disso, e como sei, Tito. Assim que chegamos em Salvador
a Bibi começou a perguntar sobre você e ela ficou muito doente, e
então começou a conjecturar se você tinha ido para o céu também. Eu
não confirmava e nem negava, apenas desconversava, deixei que a sua
imaginação de criança fizesse o trabalho, e ela foi crescendo e se
apegando a essa ideia. Eu acho que ela se convenceu sobre isso, e
então a minha menina voltou a ficar bem, ela voltou a sorrir, a brincar,
voltou a fazer amigos, foi uma adolescente maravilhosa. Os namorados
vieram, mas ela não ficava muito tempo com eles, mas depois eu
descobri o porquê. Bianca dizia que eles não eram príncipes
encantados. Eu tentei explicar a ela que príncipes não existem, mas ela
sempre teimou comigo que eles existiam, sim.
Ele olha para mim e sorri.
— Até que eu descobri que você era o príncipe encantado que ela
vivia procurando nos rapazes que namorava. Você. — Bianca me olha,
e o nosso olhar congela neste momento, apenas por alguns segundos.
Luiz volta os olhos para o rosto de Bianca. — Minha menina cresceu
assim, esperando o seu príncipe encantado, mas graças a Deus tudo
deu certo. Ela foi para a faculdade, se formou, arrumou um namorado,
ficou noiva. Está certo que eu não gostava muito do Leonardo, mas a
minha Bibi estava feliz e tinha esquecido de você...
Bianca funga e puxa o ar para os pulmões, depois ela segura o
rosto do pai com as duas mãos, avaliando-o com carinho.
— Só que eu nunca o esqueci, papai. — Bianca avalia o rosto do pai
com os olhos, percorrendo cada um dos seus traços. — Eu nunca
esqueci o Tito, eu só continuei com a minha vida, contudo, ele sempre
esteve no meu coração e na minha mente. Quando eu conheci o
Anthony... Ah, papai, foi mágico! Assim que olhei para ele e os nossos
olhares se encontraram, eu tive a certeza de que já o conhecia. Meu
coração bateu tão forte que fiquei com uma vontade enorme de correr
para os seus braços e dizer: eu te amo. No instante em que eu escutei a
voz de Anthony, eu me apaixonei, e a cada dia que passava eu o amava
com mais intensidade. Este sentimento ficou tão forte que não houve
alternativa, senão a nossa entrega, por isso nos rendemos e aqui
estamos, papai, prontos um para o outro.
Não resisto e levo a minha cadeira de rodas para próximo de
Bianca, até que os nossos dedos se entrelaçam. Meu olhar fixo no dela.
— Foi exatamente assim — Desvio os olhos para Luiz, mas não
solto a mão de Bianca — Não tão rápido como o senhor imagina, já
estamos envolvidos há muito tempo, o nosso amor não aconteceu de
repente, ele já existia dentro dos nossos corações. Eu amo a sua filha,
sempre amei e sempre vou amar
Luiz sorri e estreita o olhar de um jeito curioso.
— Minha curiosidade está me cutucando. Eu gostaria de saber
como vocês dois se descobriram, como souberam da verdade.
Bianca me olha, sorrindo, e depois olha para o pai.
— Lembra daquela correntinha, com a medalha de São Jorge?
— Sim, claro que eu me lembro. Eu te dei de presente, lembro-me
de ter perguntado onde ela estava e você me disse que tinha dado de
presente.
Nosso olhar cúmplice nos entrega.
— Dei para o Tito. — Mostro a medalha com a corrente que está
pendurada no meu pescoço. Bianca continua: — Eu não precisava de
proteção, já tinha ele para me proteger, — Ela aponta para mim com o
olhar — Mas o Tito não tinha um protetor, então eu dei a medalha
para ele, e hoje, quando ele veio me buscar, estava com ela nas mãos.
Eu me lembrei e vi a semelhança. Quando o Tito me disse que a
ganhou de alguém muito especial, tive a certeza de que essa pessoa era
eu, então eu lhe disse o que está escrito atrás da medalha, e foi assim
que soubemos da verdade sobre a nossa história.
Luiz se levanta rapidamente e nos olha com um brilho de
admiração.
— Meu Deus! Que linda história de amor. Acreditem em mim, se
vocês venderem essa história para algum escritor, ela vai virar best
seller, vai vender como água... Caramba! Depois de tantos anos vocês
se reencontram e se apaixonam, é algo inimaginável. — Ele vem até
nós e segura as nossas mãos. Sorrindo e com os olhos brilhando de
felicidade nos diz: — Claro que eu abençoo a união de vocês, por que
eu seria contra um amor tão grandioso e tão lindo? Só se eu fosse um
tolo. Eu quero que vocês sejam muito felizes e que me deem muitos
netos.
Abro um vasto sorriso. Bianca logo me olha, ela já sabe o que eu
vou dizer.
— Quanto a isso não se preocupe, estamos praticando todos os
dias.
— Anthony! — Bianca bate no meu braço, me olhando com
censura.
— O que eu disse de errado, mulher? Para se fazer bebês é preciso
praticar bastante, eu disse alguma besteira? E já que teremos muitos,
precisamos de muita prática.
— Anthony, o senhor está falando da minha filha! — Luiz brada
imediatamente.
— E eu sei disso — Respondo prontamente — E ela é a minha
mulher, eu prometi uma grande casa e muitos filhos. A casa ela já tem,
agora só faltam os filhos, mas eu garanto que vou me esforçar muito
neste quesito.
— Tito! Você é impossível. — Eu a puxo para perto de mim e a
coloco sentada no meu colo. Bianca fica rubra e esconde o rosto no
meu pescoço.
Luiz solta uma gargalhada.
— Ok, crianças travessas, e para quando é esse casamento?
Bianca ergue a cabeça e me olha com curiosidade.
— Para daqui a dois meses, no máximo três.
— Enlouqueceu?! — Ela pula do meu colo e coloca as mãos na
cintura, me olhando com aquele olhar foda. — Tito, é pouco tempo,
não dá para planejar um casamento.
Sorrio de forma indulgente.
— Se vire! Por mim, eu me casaria ainda hoje, então esse é o seu
tempo, ou nos casaremos de chinelos e na beira do rio que passa no
fundo da nossa casa.
Ela já ia argumentar quando o Luiz a interrompe, antes mesmo
que ela abra a boca.
— Crianças, eu só quero que vocês sejam felizes, o amor dos dois
já foi abençoado. — Ele sorri e abre os braços — Agora venham até
aqui e me deem um abraço — Ele vem até nós e nos abraça — Agora
vamos comer, que essa falação toda me deu fome.
Olhamos para a cara de Luiz e caímos na gargalhada.
Capítulo 22

15 de maio. Rio Doce Brasil.


Anthony

Os dias seguiram tranquilos desde que chegamos de Salvador.


Mas nem tudo são flores. O meu advogado acaba de me ligar para
avisar que a Victoria entrou com um processo contra mim. Tudo
indica que ela vai ganhar a causa. Ele me explicou o porquê, e estou
tentando falar com o advogado dela para marcarmos uma reunião,
quando escuto a Bianca me chamar.
— Anthony, amor, onde você está?
— Estou aqui, no gabinete, amor, vem cá!
Assim que ela entra, logo percebe que eu estou chateado com
alguma coisa. Ela me olha, desconfiada, avaliando o meu rosto com
atenção.
— Que cara é essa? Aconteceu alguma tragédia nas usinas? — Ela
vem até mim, me beija levemente nos lábios e se senta no meu colo.
Respiro fundo enquanto escovo os cachos dourados dos seus
cabelos com os meus dedos.
— Meu advogado acabou de ligar.
— Aconteceu algum problema com as usinas, está tudo bem? —
Bianca me encara, enquanto os seus dedos fazem carinho na minha
cicatriz.
Fecho os meus olhos por alguns segundos, permitindo que aqueles
dedos deslizem pela minha pele, fazendo-me sentir coisas devassas.
— As usinas estão ótimas. — Respiro profundamente — O
problema é outro.
Bianca circula a palma da sua mão no meu queixo, virando o meu
rosto para que os nossos olhares se fixem.
— E qual é o problema? Vai, Anthony, diz logo.
Fecho os meus olhos, encho o pulmão de ar e expiro lentamente.
— A Victoria. — Digo rapidamente.
Bianca desce do meu colo e começa a andar de um lado para o
outro, depois para na minha frente e me encara com aquele olhar
interrogativo.
— O que tem a Victoria? Pensei que ela já estivesse em definitivo
no passado.
Eu não posso esconder isso de Bianca, cedo ou tarde ela vai ficar
sabendo.
— Ela está me processando, a audiência está marcada para daqui a
três dias.
— O quê!? Como assim? — Ela volta para o meu colo e me abraça
carinhosamente — Amor, ela não pode fazer isso, ela só pode estar
louca.
— Louca por dinheiro, é o termo mais correto. O pior é que ela
está com a faca e o queijo nas mãos.
— Como assim, Anthony? O que ela tem contra você? Você é a
pessoa que tem todos os motivos do mundo para processá-la.
— Mas ela tem, meu amor, e vai ganhar uma boa quantia. — Só de
pensar que a bandida da Victoria vai sair vitoriosa depois de tudo o
que ela fez comigo e com a Bianca, já sinto o meu estômago
embrulhar. — Eu não tinha pensado sobre isso, e nem o meu
advogado. Aquele tonto... Caralho! Só de pensar nisso eu já me sinto
um completo imbecil. — Tento não pensar na minha raiva — Ela de
vilã virou a vítima, você consegue acreditar nisso? A coitadinha da
noiva traída.
Bianca fica boquiaberta quando escuta a minha última frase.
— Vítima?! Como assim, vítima? Como ela pode bancar a vítima?
Aquela vaca te traiu — A Bianca me olha seriamente, na certa
esperando que eu lhe diga que se trata de uma brincadeira — Você está
de sacanagem com a minha cara, é uma pegadinha, não é? Só pode ser.
— Antes fosse, mas não é. Parece que eu lhe devo uma indenização
por danos morais, pois nos termos da lei, eu traí a Victoria e sou um
sacana — Bianca pisca os seus cílios repetidamente, ela está incrédula
— Bibi, nós estamos noivos e de casamento marcado, a Victoria era a
minha noiva antes de você, ela tem provas de que o nosso
relacionamento começou enquanto ainda estávamos noivos. Contra
fatos não há argumentos, a Victória é a noiva traída, foram anos de
dedicação a mim, e na primeira oportunidade, eu dei um chute na
bunda dela para me casar com outra. Entendeu agora os argumentos
dela?
— Filha de uma chocadeira! Ela te trai e você é o acusado de
traição?! Isso não é justo, amor.
— Eu sei disso, mas eu não tenho provas contra ela, será a minha
palavra contra a dela.
— É claro que você tem provas!
— Quais? Meu amigo empresário, que viu a Victoria em Miami
com outro homem? Isso não é prova.
— Não, não é essa a prova. Não é sobre Miami — Bianca desvia os
seus olhos dos meus. Aí tem, eu conheço muito bem a Bibi e sei que ela
está me escondendo algo — É.… é... Anthony, eu descobri uma coisa.
— Bianca — Eu a interrompo, olhando fixamente nos seus olhos —
O que você sabe sobre a Victoria que eu não sei?
Envergonhada, ela baixa os olhos.
— Amor, eu sei que deveria ter contado antes o que eu descobri,
mas..., mas você já estava decidido a terminar o relacionamento com
ela, então eu achei que não era necessário te fazer sofrer por nada, por
isso eu não contei.
Aquele mistério todo já está me deixando aflito. Minha
passividade já está a caminho da estrada da impaciência.
— O que você não me contou, Bianca? — Engulo a minha
impaciência.
— Uma tarde eu vim te procurar para a nossa sessão de
fisioterapia, então escutei vozes. Pensei ser a sua e a da Victoria, até
que eu escutei uma voz masculina diferente. Eu me aproximei e.… eles
estavam transando.
Perco toda a minha compostura. Aquela passividade foi dar uma
volta no inferno.
— O quê?! — Esbravejo, e Bianca tapa os ouvidos. Eu agito a
minha cadeira de rodas e saio de trás da mesa. Bibi faz menção de sair
do meu colo, mas eu não permito, seguro no seu queixo e a forço a
olhar nos meus olhos — A Victoria estava transando com outro
homem debaixo do meu teto e você não me disse nada!? Porra, Bianca,
que caralho!
Ela vira o rosto e a minha mão se solta do seu queixo, mas eu sou
rápido e seguro o seu queixo novamente. Só que, desta vez, olho para
ela com carinho no olhar, esperando que ela me conte o que sabe.
— Eu sei, eu sei... sei que deveria ter contado, mas fiquei
envergonhada. Eu achei aquilo tão degradante que resolvi esconder
isso de você.
Seguro o seu rosto com as duas mãos e lhe dou um beijo, mas
depois permito que o meu bicho demoníaco corra solto de dentro de
mim.
— Filha da puta miserável, cachorra... vagabunda, vadia
ordinária!! Se aquela vaca surgir agora na minha frente, eu juro que
dou um tiro bem no meio da cara dela. Cadela dos infernos! — Bianca
me olha, atordoada. Respiro fundo — Você pelo menos viu quem era o
filho da puta?
— Vi, é o Murilo.
Agora eu fico muito puto. Fui chifrado por um funcionário da
usina, é muita sacanagem de uma só vez. Só posso ter salgado a santa
ceia na outra encarnação. Caralho!
— Não... não pode ser... Você tem certeza? — Bianca confirma com
a cabeça — A Victoria teve a coragem de me trair com aquele escroto
do Murilo! Aquele troglodita musculoso! Eu não acredito nisso, é
demais para mim.
— Eles estão juntos há muito tempo — A Bianca crava a faca mais
profundamente. Eu olho para ela quase suplicando clemência — Pelo
que eu pude escutar, ela estava fazendo planos para promovê-lo a
motorista.
— Pare, Bianca! Me poupe dos detalhes, já chega! Eu não quero
saber de mais nada, aquela vadia passou uma rasteira em mim...
Cacete! Infelizmente, saber de tudo isso não vai me ajudar em nada,
não tenho provas da sua traição. Deu na mesma.
— Use a cabeça, Anthony — Bianca me olha com aquele olhar foda
— A Victoria não quer mais nada com o Murilo, ele perdeu o pezinho
de meia, é claro que você vai demiti-lo e ele vai ficar sem emprego e
sem as mordomias da Victoria. Eu tenho certeza de que ele deve ter
alguma foto ou até mesmo alguns vídeos comprometedores. E por
uma boa quantia você consegue todas essas provas, você é um ótimo
negociador, vai conseguir convencê-lo. E aí, o que acha?
Puxo-a para perto do meu rosto e colo a minha boca na dela em
um beijo avassalador.
— Mulher! Não é à toa que você é minha. Vou ter uma conversa
ainda hoje com o Murilo, aliás, essa conversa será agora. — Ligo para o
meu advogado e conto sobre tudo o que acabei de descobrir, peço para
que ele marque uma reunião com o Murilo, em uma hora eu estarei na
usina para essa nossa conversa. Olho para Bianca, cheio de orgulho. —
Mulher! Eu quero morrer seu amigo, sabe? — Ela sorri e me beija outa
vez.
Como era de se esperar, Murilo aceitou a minha proposta. Ele foi
demitido, mas além da indenização por tempo de serviço, ele
embolsou meio milhão de reais e um Honda Fit zero quilômetro. A
Victoria também aceitou encerrar o processo quando eu mostrei para
o seu advogado as provas do envolvimento dela com Murilo, com as
datas e horários. O sacana do Murilo registrava os encontros entre
eles. Eles adoravam filmar e fotografar tudo o que faziam. Sem
argumentos, ela colocou o rabinho entre as pernas e se contentou com
o apartamento em Ipanema, o carro e as joias. Graças a Deus e à
Bianca, eu nunca mais vou ver a cara de Victória na minha frente.

Nas semanas seguintes do mês de maio, as coisas transcorreram


na paz de Deus. Meu sogro veio para ficar até o dia do casamento, que
seria realizado no primeiro sábado do mês de julho. Luiz ficou
fascinado com as usinas e logo se enturmou com todos os
funcionários, virou o braço direito de Almir. Os dois se tornaram
grandes amigos.
Na verdade, eu que chamei o meu sogro e pedi para que
antecipasse a sua vinda. Contei a verdade para ele.
Não quero entrar na minha vida de casado em uma cadeira de
rodas. Eu sei que posso sair dela, já consigo até mover os meus pés e
faço os movimentos dos quadris, mas ainda não consigo ficar de pé
sem a ajuda de algo para me sustentar. Se depender da Bianca, eu só
vou começar a dar os meus primeiros passos daqui a uns seis meses.
Ela fica reticente com as minhas dores na lombar e nos joelhos, diz
que não há necessidade de me forçar com os exercícios. Eu sei que ela
não quer que eu sofra com as dores.
Dói pra cacete, dói mesmo, mas eu não me importo com as dores,
quero voltar a andar e não importa como, mas a minha linda noiva não
admite que eu sinta dores além do limite que ela traçou. Por isso, eu
resolvi contratar outro fisioterapeuta. É claro que ela não sabe disso,
não quero ferir os sentimentos da minha Bibi. O profissional é da
mesma clínica em que ela trabalhava. Vou ficar internado na clínica
até sexta-feira. Um dia antes do meu casamento. O fisioterapeuta me
garantiu que esse tempo é suficiente para a minha total recuperação.
Se eu estiver disposto a sofrer um bocadinho, vou voltar andando com
as minhas próprias pernas.
Minha Bibi merece um marido inteiro na lua de mel, e eu vou dar
isso para ela, vou lhe dar esse marido. Vai ser uma surpresa, será o
meu presente de casamento.
Já combinei com Luiz e com Almir. Vou dizer para a Bianca que
precisarei viajar para o Canadá. Ela sabe que eu estou fechando um
grande contrato com uma empresa canadense, e essa será a minha
desculpa para passar algumas semanas fora, principalmente tão perto
do nosso casamento. Embarco para o “Canadá”, na verdade, Salvador,
amanhã às seis da manhã, dia 31 de maio. Vou contar a novidade hoje,
na hora do jantar. Seja o que Deus quiser.
Bianca chega com Mercedes no final da tarde. As duas não se
desgrudam, para onde a Bianca vai, a Mercedes está atrás. Sempre
brinco com ela e digo que vou procurar outra governanta, pois perdi a
minha para Bianca. Ela ri e diz que Bianca é a filha que ela nunca teve.
Acredito nisso, as duas se dão muito bem.
Escuto Bianca me chamar de longe. Quando ela começa a me
chamar assim, alguma coisa ela aprontou.
Ela entra na minha sala com algumas pastas nas mãos.
— Amor, você prefere qual das cores? O cinza, marinho, bege ou
branco? — Olho para todos os tecidos estendidos sobre a minha mesa,
não sei para que porra serve tudo aquilo. Ela me olha de forma
divertida.
— Posso saber pelo menos o que eu estou escolhendo?
— Não. — Ela prende o riso, apertando os lábios. — Só escolha um
deles.
— O marinho, é mais bonito e alegre — Ela analisa o tecido, seus
olhos percorrem cada detalhe dele.
— Também acho, entre todos eles, eu também gostei mais do
marinho — Ela ergue o corpo, pois estava debruçada sobre a minha
mesa, joga o tecido na bolsa e sorri encantadoramente — Você ficará
lindo nesta cor, vai combinar com a cor dos seus cabelos.
— Como assim!? Quer dizer que eu não tenho sequer o direito de
escolher a cor da minha roupa? — Bianca dá um passo atrás.
— Mas você acabou de escolher...
— Não, você me deu opções, eu não as escolhi. — Ela joga os
braços para trás e começa a balançar o corpo de um lado para o outro,
parece uma menina levada. — Só espero que minha roupa não seja de
palhaço, ou eu entro na igreja nu — Faço uma careta — Estou falando
sério, as suas amigas vão ver o grande pau do seu marido.
Ela coloca o dedo na boca e os seus olhos reviram. Isso me dá um
tesão dos infernos.
— Ninguém vai ver o seu pau. Ele vai estar escondido entre as suas
pernas, já que vai estar sentado, seu bobo, e se você fizesse isso, eu me
livraria do vestido de noiva e deixaria à mostra o lindo espartilho
branco, a cinta liga, as meias sete oitavos e a calcinha branca
minúscula, tudo isso ficaria à mostra para todos os convidados verem,
principalmente os seus amigos empresários.
Quando ela termina de falar, sai correndo porta afora do meu
gabinete, e eu corro atrás dela com a cadeira de rodas. Quase atropelo
a Mercedes.
— Misericórdia, senhor Anthony. Vocês parecem duas crianças
brincando de pega-pega.
— Foi mal, Mercedes, mas eu preciso dar uma lição em uma moça
muito ousada. — Passo voando pela porta principal e encontro Bianca
no jardim.
Desço a pequena rampa da casa, o coração disparado por causa da
agitação.
Bianca está sentada em um dos bancos, em frente ao canteiro de
rosas e o cercado de jasmim. Já é noite, e a brisa cheirosa chega até as
minhas narinas. Me aproximo e chamo por ela. Ela não responde,
simplesmente me ignora.
Chego mais perto e encosto a minha mão no seu ombro. Ela me
olha por cima do ombro e sorri. Tão linda, tão simples, tão serena.
Seus olhos acendem uma luz azulada ao me olhar. Meu coração
dispara de alegria, e fecho os olhos para saborear este momento.
— Venha cá — Digo, enquanto estendo a mão para ela. — Senta
aqui no meu colo, preciso beijar você, preciso sentir o cheiro desses
seus cachos dourados.
Ela vem prontamente, me presenteando com um lindo sorriso.
Senta no meu colo e cruza os braços em torno do meu pescoço.
— Anthony, eu posso ser sincera com você? — Beijo a ponta do seu
nariz e depois olho para os seus olhos azuis, lindos de viver.
— Minha princesa, você pode ser o que quiser, eu aguento tudo. —
Sorrio com indulgência.
Bianca se vira de frente para mim, uma perna de cada lado do
meu corpo, completamente esparramada no meu colo, sua boceta
quente se esfregando na minha virilha, através da minha calça. Ela
sabe conversar, e sabe me jogar no chão.
Sorrio. Nossos olhares se encontram novamente. Eu beijo a sua
boca. Ela me empurra com a sua mão espalmada no meu peito, e eu
respiro fundo.
— Eu sei que os preparativos do nosso casamento estão
adiantados.
— Não está pensando em desistir, está? — Meu coração assustado
dá pulos no meu peito — Está?
— Nem sob tortura — Ela responde, sorrindo — Não me
interrompa, seu bobo. É o seguinte. Por que não nos casamos aqui? O
que você acha? Uma cerimônia simples, no início da manhã, com
poucos convidados, depois servimos um café da manhã, o que acha?
Ao ouvi-la dizer isso, eu me emociono. Geralmente as mulheres
sonham com casamentos de princesa, vestido deslumbrante, mil
convidados, festa, todo o requinte que um grande empresário como eu
pode oferecer... Bem, era o que a Victoria queria, mas a minha Bibi
não é aquela biscate.
— É isso que você quer?
— É. Você não se importa se eu mudar tudo?
— Claro que não, eu te disse que me casaria com você até de
chinelos e na beira do rio, eu só quero te ver feliz, só isso.
Ela abre um sorriso imenso e distribui incontáveis beijos por todo
o meu rosto. Ela está feliz, então eu aproveito o momento para contar
sobre a minha viagem ao “Canadá”.
— Bianca — Eu seguro os seus braços e a afasto um pouco. Ela ri e
me beija no rosto outra vez. — Bibi, eu tenho algo para te contar. — Ela
para de me beijar e estreita os olhos.
— Nossa! O que foi agora? Da última vez que você me olhou assim
a Victoria tinha aprontado, espero que não seja ela o motivo desta cara
séria.
— Deus me livre! É assunto de trabalho. Eu vou precisar viajar, e
será amanhã cedo. — Suas feições mudam, ela fica carrancuda e de
bico. — Desculpe, meu amor, se não fosse o nosso casamento eu te
levaria junto comigo, mas infelizmente eu não posso mais adiar,
preciso ir para o Canadá, não dá mesmo para protelar isso, vou ficar
fora por algumas semanas, volto um dia antes do nosso casamento.
Vou fazer o possível para voltar antes, mas já estou avisando, caso não
consiga adiantar as negociações com os canadenses.
Bianca baixa os cílios lentamente. Odeio-me por mentir para ela,
ela está triste e a culpa é minha, mas é por uma causa nobre. Beijo a
sua testa com carinho.
— Meu amor, não fica assim, não se preocupe. Vou estar aqui
antes do dia do nosso casamento. Poxa, Bibi, não posso adiar essa
viagem. Por favor, meu amor, me entenda.
Ela me puxa para si e me beija com possessividade, como se as
minhas palavras tivessem disparado sentimentos de saudade. Ela
passa as mãos pelas minhas costas e intensifica o beijo. Nossas formas
se encaixam com perfeição. Bibi se afasta da minha boca e emoldura o
meu rosto com as mãos. Me perco na força apaixonada do seu olhar,
somos apenas eu e ela neste jardim.
Ela se esfrega sofregamente na minha virilha, gemendo na minha
boca. Minhas mãos escorregam pelas suas coxas, até tocarem a sua
vulva quente. Meu dedo encosta no tecido da sua calcinha fina.
— Porra, mulher! Você queima como o inferno! Tão molhada para
o seu homem, tão safada e tão aberta para mim. Delícia, vou te foder
aqui, bem aqui no meio das rosas.
A sua mãozinha quente alcança o zíper da minha calça, e em
minutos o meu rígido membro está fora dela, sendo acariciado por
uma mão macia e apressada. O nosso beijo se torna mais faminto e a
minha língua obcecada pela dela. Bianca geme e se contorce no meu
colo. Sua boceta roça com volúpia na minha virilha, e afasto a sua
calcinha para o lado com um dedo. Ela encaixa o meu membro na sua
entrada e se senta sobre ele, sem pedir licença, quando percebo já
estou todo dentro dela.
— Caralho, mulher, você adora me comer, que boceta gulosa! —
Ela mexe gostoso.
Quanto mais eu falo coisas obscenas mais ela mexe, subindo e
descendo no meu colo, mordendo a minha língua, o meu queixo, a
minha boca e o lóbulo da minha orelha. Suas unhas rasgam o tecido da
minha camisa.
— Gostoso! Meu gostoso, você gosta quando eu te como, não
gosta?
Oh, porra de mulher gostosa! Ela me olha com um tesão
arrebatador. O seu olhar queima o meu corpo, incendia a minha alma.
Ela sabe me foder como nenhuma outra mulher soube. Eu fodia as
outras mulheres, mas com a minha Bibi, é ela que me fode gostoso.
Minha boca se afasta da sua, e os meus olhos olham para baixo,
para as suas coxas. Levanto a sua saia e fico olhando para a sua boceta
linda, comendo o meu pau. Caralho, isso é lindo de se ver.
Olho para ela com um puta de um tesão.
— Foda-me, mulher, fode o meu pau com essa boceta gostosa, me
come gostoso, delícia.
Ela começa a acelerar o sobe e desce. Levo um tapa na cara. Porra,
ela adora me bater nessas horas. As suas mãos seguram nos meus
ombros, buscando por apoio neles.
— Isso, minha sacana, me fode gostoso, sacia essa boceta faminta.
— Amor... amor... eu... eu vou gozar...
Empurro o seu corpo com força para baixo, nossas bocas se
encontram, abafando o nosso grito de prazer. Bianca se joga sobre o
meu peito e logo os meus braços circulam os seus ombros e eu a puxo
para mais perto, apertando-a com força entre os meus braços.
— Amo você, minha vida. Amo tanto, tanto. — Beijo o alto da sua
cabeça.
— Sempre vou te amar, Anthony, sempre.... — Ela murmura.
Viajo às seis da manhã do dia seguinte. Deixo o meu coração nas
mãos dela. Parto com lágrimas nos olhos. Bianca não quis me levar até
o aeroporto, ela ficou em casa sendo consolada pela Mercedes. Todo
esse sofrimento será recompensado na nossa lua de mel.
Capítulo 23

Salvador, Brasil
Anthony

Salvador é uma cidade muito linda. Da última vez em que estive


aqui foi quando vim buscar a Bianca, mas não tive tempo para
conhecê-la.
Em um lindo dia ensolarado, aproveito a folga do fisioterapeuta
para fazer um tour. Almoçamos no restaurante Solar do Unhão, e fico
impressionado com a linda vista. Tenho a impressão de estar em pleno
mar, imagino como seria passar o final de tarde aqui. O pôr do sol
deve ser um espetáculo.
Após o almoço resolvemos conhecer melhor os arredores do local.
O Solar do Unhão é um conjunto arquitetônico do século XVII. É um
complexo com uma casa-grande, capela, senzala, armazéns e cais.
Tinha como função principal receber e exportar a produção açucareira
do Recôncavo. Sofreu várias reformas e ampliações até o século XX.
Em 1943 o conjunto foi tombado pelo Iphan, que significa, Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Desde 1966 se tornou a
sede do Museu de Arte Moderna da Bahia.
De lá seguimos para o Mercado Modelo, que fica próximo ao
Solar. Não consegui ver muita coisa, pois as muletas não são um bom
meio de locomoção onde existem muitas escadas e muita gente. Já
estou me locomovendo com as benditas muletas, não gosto muito
delas, mas o Felipe me disse que logo não vou precisar mais usá-las.
Conheci também o elevador Lacerda, por onde subimos até a praça
municipal ou Praça Tomé de Sousa, depois seguimos andando até a
praça da Sé. Fiquei com vontade de conhecer o Pelourinho, mas Felipe
achou melhor não irmos, já que lá não há asfalto, e sim
paralelepípedos. Foi uma tarde maravilhosa, serviu para arejar a
minha cabeça e esquecer por algumas horas a saudade que estou
sentindo de Bibi.
Durante este tempo em que estamos separados, temos nos falado
três vezes ao dia, e, às vezes, através de chamada de vídeo, mas isso
não é o suficiente para matar a minha saudade. E o que mais me
quebra são as lágrimas que descem pelos olhos da minha princesa,
todas as vezes que nos despedimos. Está difícil dormir e acordar sem
tê-la ao meu lado, ainda que a minha ausência seja por uma boa causa.
A dor da distância é bem pior do que as dores que eu sinto durante a
fisioterapia.
A felicidade de conseguir ficar de pé embaixo do chuveiro e de
poder me levantar da cama sem a ajuda de terceiros, não tem preço.
Quando consegui ficar de pé pela primeira vez, a minha felicidade foi
tão grande que quase liguei para Bianca para mostrar o meu
progresso. Graças ao Felipe eu não fiz isso. Mas a cada vitória, sinto
uma vontade louca de dividir toda a minha alegria com a Bibi. Hoje eu
já consigo andar sozinho, sem a ajuda de nada. Até a semana passada
eu usava uma bengala, mas já me livrei dela, joguei fora. Eu estou
seguro de cada passo que dou. Não vou negar, foi difícil chegar até
aqui. Eu pensei em desistir muitas vezes, chorei sozinho as minhas
dores e os meus fracassos, mas quando eu estava prestes a desistir,
pensava na minha Bibi e uma força esmagadora crescia dentro de
mim, eu superava todas as minhas dores. Era a visão do lindo sorriso
da minha mulher que me deixava de pé novamente.
08 de julho. Rio Doce, Brasil
Não consegui chegar na sexta-feira, véspera do meu casamento.
Mas com a ajuda de alguns amigos, consegui um jatinho particular e
acabo de aterrissar no aeroporto de Zumbi dos Palmares, em Alagoas.
O Almir está me esperando e vai me levar direto para o hotel onde vou
trocar de roupa. Bianca já me ligou umas mil vezes, ela deve estar
achando que eu não vou chegar a tempo para o nosso casamento. Eu
lhe disse que o padre não era louco de ir embora, pois se ele fizesse
isso, eu deixaria de ajudar a paróquia e no outro dia me tornaria ateu.
Quanto ao representante do cartório, ele está sendo muito bem
remunerado para me esperar por quanto tempo for necessário.
— E aí, cara. — Almir se inclina para me abraçar, me olhando com
curiosidade — Você me disse que já está andando, então para que essa
cadeira de rodas?
Solto uma gargalhada e fico de pé. O Almir grita e pula de
felicidade. Lágrimas dão um brilho alegre aos seus olhos, e nós nos
abraçamos.
— Só eu, você e o Luiz sabemos que eu já estou andando. Será uma
surpresa para Bianca.
— Cara, você não vai mostrar para ela agora? Ela vai te arrancar o
couro, escute o que estou dizendo.
Sorri, presunçoso.
— Ela não vai nem pensar nisso quando me vir de pé.
Sento na cadeira de rodas outra vez e seguimos até o carro.

Assim que coloco os pés no quarto do hotel, meu celular chama


outra vez. Nem preciso olhar a tela para saber de quem se trata.
— Oi, meu amor, eu já cheguei no hotel. Se você continuar me
ligando a cada cinco minutos, só vou conseguir chegar aí ao meio-dia.
— Ela grita o meu nome, e eu preciso afastar o aparelho da orelha.
Almir ri alto, enquanto eu dobro as mangas da camisa. — Bibi... Bibi...
— Ela não para de falar — BIBI! — Vocifero, e ela se cala. — Quer se
acalmar? Eu já estou vestindo a camisa, daqui a uns trinta minutos
estou chegando, isso se você parar de me ligar. Tchau, Bianca. —
Desligo o celular.
— Se você não chegar em meia hora, ela vem te buscar. — Almir se
diverte com a minha situação.
Com a mudança de local da cerimônia da igreja para a nossa casa,
o casamento, antes pomposo, passou a ser bem simples. Ao invés de
fraque, agora eu uso uma camisa e uma calça branca, com um blazer
azul royal, e para não parecer tão informal, dois lenços em tons de azul
mais claro no bolso do blazer. Só faltou o chapéu panamá. Eu achei
bem melhor e mais confortável.
Ligo do carro avisando ao Luiz que já estou a caminho. Escuto os
berros de Bianca, ela quer falar comigo, mas eu não permito, desligo
antes que ela pegue o celular à força das mãos de Luiz.
A frente da casa está toda decorada com flores do campo, para
onde quer que eu olhe há buquês de flores, que estão amarradas com
fitas de cetim rosa chá. Pétalas de rosas brancas e vermelhas
demarcam o caminho para o local da cerimônia, nos fundos da casa.
As mesas que cercam o local estão decoradas com toalhas de linho
branco, vasos de margaridas no centro, e sobre elas, a louça do café da
manhã para ser servido assim que terminar a cerimônia. Está tudo
muito simples, mas ricamente decorado. Olho para o alto, e há um
varal com as nossas fotos penduradas nele, conchas do mar e búzios
decoram uma parte do local onde está escrito: “Não estamos na praia,
mas a praia veio até nós”. Fitas de cetim coloridas esvoaçam pelo ar
com pequenos sininhos, e o caminho até o altar está marcado com
margaridas. Bem atrás do altar, o riacho de águas cristalinas reflete os
mornos raios do sol, o murmúrio da correnteza se mistura às vozes dos
convidados.
Vou para o meu lugar, para esperar a minha princesa. Estou
sentado na minha cadeira de rodas, conversando com o padre, quando
alguém diz em voz alta que a noiva está vindo.
Uma música começa a tocar. Reconheço a melodia. Eu costumava
escutá-la quando fazia fisioterapia, mas... quem está cantando? Não é
a intérprete original, desta vez é a voz de Bianca que eu escuto. Ela
vem caminhando lentamente, de braço dado com o pai e segurando
um microfone com a outra mão, cantando a música para mim.

“Se a vida inteira você esperou um grande amor.


E de triste até chorou, sem esperanças de encontrar alguém.
Fique sabendo que eu também andei sozinha,
E sem ninguém pra mim,
Fiquei sem entregar o meu carinho. Se na tua estrada não houve
flor,
Foi só tristeza enfim,
E em cada dia, sem ter amor, foi tudo tão ruim.
Vou confessar então, meu coração
Não quer mais existir.
Meus olhos vermelhos, cansados de chorar querem sorrir...
... Ah! Por isso foi que eu decidi não fico nem mais um minuto
aqui.
Eu vou buscar o meu amor, o meu amor...
... eu nunca tive alguém, agora vou olhar você meu bem.
Guarde o meu coração que nunca mais eu vou deixar você tão só,
E nunca mais eu vou deixar você tão só... e nunca mais eu vou
1
ficar também tão só...”
Ela sorri para mim. Eu não consigo segurar a emoção e deixo que
ela desça pelos meus olhos. As lágrimas banham o meu rosto. Quase...
quase que eu me levanto da cadeira de rodas e vou até ela. Almir lê a
minha linguagem corporal e toca no meu ombro.
Ela está tão linda! Seu vestido é branco, todo em renda, um decote
em V, corpo ajustado e uma ampla saia com uma pequena cauda. A
cintura é marcada por uma larga fita de seda branca com um grande
laço, e no centro uma rosa branca de tule. Seus cabelos estão mais
cacheados, presos de um lado só da cabeça. Os cachos salpicados com
pequenas flores brancas descem pelos seus ombros. A minha Bibi está
vestida de princesa. A minha princesa.
Quando ela chega próximo a mim, a música termina, e antes que o
seu pai a entregue, ela diz para que todos ouçam:
—Tito, eu te amei quando ainda era uma menininha, e hoje te amo
muito mais, só que agora eu sou uma mulher, a sua mulher.
Foi uma cerimônia rápida e simples, sem muitas delongas. Após
assinar o livro do registro civil, eu pego o microfone das mãos do
padre e digo:
— Atenção! Por favor, peço a atenção de todos.
Bianca me olha com certo assombro.
— Eu não esperava por tamanha declaração de amor da minha
esposa, em plena celebração do nosso casamento. Confesso que até
agora estou trêmulo de emoção. — Olho para ela, bem no fundo dos
seus olhos — Meu amor, eu não ensaiei as palavras, e nem vou cantar
uma música para você, se eu fizer isso, os nossos convidados vão
correr daqui —Todos riem — Mas eu preciso te dizer isso. Durante os
vinte e quatro anos em que estive separado de você, a minha vida foi
um tremendo vazio, sempre senti que faltava algo, e esse algo era você.
Agora, não me falta mais nada. Amo você para sempre.
Ela se inclina na direção do meu rosto e sua boca cola na minha. O
beijo é leve e preguiçoso, com sabor de lágrimas, as minhas e as dela.
— Amo você... Sempre vou te amar, meu príncipe. — Ela sussurra
na minha boca.
O padre limpa a garganta. Já tinha me esquecido dele. Olhamos
para ele e sorrimos.
— Eu vos declaro esposo e esposa. Sejam felizes, meus filhos.
Recebemos os cumprimentos dos convidados, e logo depois um
adorável café da manhã é servido. Por volta das treze horas, não resta
mais nenhum convidado.
Bianca já trocou de roupa, ela está vestindo um lindo vestido floral
de alcinhas fininhas, suas coxas estão à mostra. Se ela inclinar o corpo
para pegar algo no chão, eu vou ver a sua calcinha. Ao mesmo tempo
que sinto um tesão diabólico, um ciúme infernal me domina. Equilibro
os dois sentimentos, vou achar o momento certo para expor os dois.
Giro a minha cadeira de rodas e vou em direção à minha esposa.
Ela conversa animadamente com o Luiz e a Mercedes.
Bianca está radiante. O brilho do seu olhar inibe a luz do dia.
Finalmente estamos casados. Eu me aproximo e beijo a sua testa, e ela
me puxa pela mão.
— Olá, meu esposo.
— Olá, minha linda e maravilhosa esposa.
Ela me olha com um sorriso luminoso e me beija novamente.
Acaricio o seu rosto.
— O amor de vocês dois é tão lindo — Mercedes comenta — Seu
pai estava me contando as aventuras dos dois.
— Todas elas — Confessa o Luiz. — Principalmente todas as vezes
que vocês fugiam para a praia. Mercedes, eles me deixavam louco! —
Luiz olha para Mercedes ao fazer o comentário. — Eles me passavam
cada rasteira.
Luiz olha com o olhar saudoso para Bibi.
— Vocês vão passar a lua de mel onde? — Mercedes pergunta,
olhando diretamente para Bibi.
— Boa pergunta, Mercedes, porque eu também não sei. — Bibi me
olha com aquele olhar de investigador do FBI. — Hein, senhor
Anthony? Onde nós vamos passar a nossa lua de mel?
— Sabe que eu não sei. — Faço um ar misterioso. — Tem alguma
sugestão?
— Quer saber, meu esposo misterioso? Eu não me importo para
onde vamos, desde que estejamos juntos.
— Hum! Minha esposa é muito compreensiva. — Olho para cima e
fico pensativo. — Andei pensando — Eu murmuro, com um ar
apaixonado. — Não vou dizer. Vai ser uma surpresa. — Eu a beijo
assim que termino de falar, impedindo-a de manifestar qualquer
argumento. — Acho melhor nós irmos, eu ainda quero chegar ao nosso
destino com a luz do sol. Vamos?
Olho para ela, sorrindo.
Nosso destino está no GPS do carro. Eu não posso dirigir, ainda.
Então a nossa motorista será a Bianca. Nosso destino é o litoral,
aproximadamente 44 Km da capital.
Eu não sei se a Bibi ainda se lembra da nossa cidade, afinal,
quando ela foi embora era muito pequena. Quando o Luiz mencionou
a nossa infância na praia, ele chegou muito próximo de adivinhar o
nosso destino.
Vamos para uma pequena cidade litorânea chamada Coqueiro
Doce, ou como é chamada “Corais Azuis”, devido à sua ilha de corais
azulados. É praticamente uma praia particular. A maioria dos
moradores é dono de alguma coisa, ou seja, é uma cidade de veraneio,
mas alguns grandes empresários preferem morar no local, por ser
mais seguro e privativo.
Ao entrar na cidade, vejo que ela está bem diferente. A população
cresceu, e com ela, a cidade. O comércio se diversificou bastante.
Realmente está bastante diferente. Como eu esperava, Bianca não se
lembrou. Seguimos em direção a uma das praias mais lindas do litoral
brasileiro, Areia Branca. Linda, deserta e quase desconhecida, o nome
é bastante fiel à praia, que tem a areia branquinha e fina.
O carro continua seguindo até chegarmos a um local escassamente
habitado, há apenas algumas casas de veraneios, mas são bem
distantes uma da outra.
Chegamos! Bianca para o carro em frente a um grande portão de
alumínio. Aperto o botão do controle que está no meu bolso e ele se
abre. Ela me olha, intrigada, mas eu peço que siga em frente. O carro
anda alguns metros até pararmos em frente a uma enorme casa,
ladeada de cercas brancas. Ela fica no alto e em torno dela há uma
vasta vegetação, com muitos coqueiros, árvores frutíferas, um
belíssimo jardim, quadra de futebol, uma bela piscina e um parquinho
infantil. A vista da casa é o mar azul e suas ondas de espuma branca.
Ela desce do carro e me ajuda com a cadeira de rodas.
— Anthony, isso aqui não é uma pousada e tampouco um hotel,
não é? — Ela olha em volta e depois em direção à grande casa — De
quem é esta casa?
— Sua. — Digo rapidamente, e ela me olha com assombro — Sim, é
sua. Lembra que eu te prometi uma casa grande, ladeada por uma
cerca branca e de frente para a praia? Então, aqui está ela — Aponto
para a casa.
Ela anda alguns passos, olhando abismada para a casa, mal
consegue respirar.
— Quando você comprou esta casa? Meu Deus, ela é linda! — Ela
vira o corpo na minha direção, está maravilhada — Quando você a
comprou, Anthony?
— Mandei construí-la dez anos atrás, logo que eu assumi os
negócios do vovô. Foi a primeira coisa que eu fiz. — Vou até ela — Só
entrei nesta casa uma vez depois de pronta, e apenas para verificar se
estava tudo do jeito que eu mandei que eles fizessem e decorassem.
Depois disso, nunca mais voltei. Um casal toma conta dela, eles
moram ali. — Aponto para os fundos do campo de futebol, um pouco
mais distante da casa.
Ela olha na direção do meu dedo, depois vem até mim, se inclina e
me beija demoradamente.
— Você é verdadeiramente um príncipe, Anthony — Ela diz,
enquanto me beija.
— Tome — Entrego as chaves da casa, e Bianca as pega e olha
admirada para cima. Depois, com os olhos tristes, se volta para mim.
— Anthony, não tem rampa! Como faremos para te levar para
cima? — Dou de ombros e sorrio — É sério, amor, eu não vou
conseguir te levar até lá em cima. — Ela faz uma pausa, e em seguida,
olha na direção do campo de futebol. — Vou chamar o caseiro, ele vai
me ajudar.
— Eles não estão, só chegam amanhã. — Fico com vontade de rir,
mas seguro o meu riso, Bianca começa a ficar apreensiva.
— Anthony, como vamos fazer?
— Faremos como manda o figurino, o noivo leva a noiva nos
braços para dentro da casa, estou certo? — Fico de pé, e a Bianca quase
cai, preciso dar um passo à frente e segurá-la. — Peguei você! —
Ficamos face a face, seu olhar fixo no meu, a respiração ofegante e o
coração batendo no mesmo ritmo.
Ela recupera o controle e se afasta um pouco.
— Quan-quando isso aconteceu? — Ela aponta para as minhas
pernas, depois sobe os olhos, percorrendo meu corpo até chegar ao
meu rosto.
— Há algumas semanas. — Eu puxo-a de encontro a mim e a beijo.
— Amor, eu não fui para o Canadá, fui para Salvador... — Ela se afasta
e me encara. — Bibi, você estava me poupando de esforços mais
severos. Eu entendi os seus medos, mas eu precisava andar o quanto
antes, por isso contratei os serviços de outro fisioterapeuta, os do seu
colega Felipe — Ela me dá um tapa no peito.
— Você contratou um funcionário do meu antigo emprego!? Isso é
sacanagem, Antony. — Ela faz bico de zanga e tenta se afastar do meu
corpo, mas eu aperto o laço dos meus braços em torno da sua cintura.
— Disseram-me que ele pegava pesado, e era disso o que eu
precisava. — Seguro o seu queixo com a mão e fixo os meus olhos nos
dela — Bibi, não se sinta traída, eu fiz tudo isso por você. — Ela baixa
os olhos — Bianca, você não está feliz por me ver de pé?
Ela dá um salto para trás, seus olhos estão marejados e os lábios
trêmulos.
— Feliz?! Feliz?! É claro que eu estou, nem sei qual é o nome que
se dá ao que estou sentindo agora. Só que eu não entendo, por que
você não me contou? — Sua voz embarga e, sinceramente, eu acho que
ela vai ter uma síncope.
— Porque era uma surpresa, porque eu fiz tudo isso por você. —
Ela me olha intensamente e avalia todo o meu rosto.
— Tito... eu... eu...
A respiração de Bibi fica presa na garganta. O sol já está se pondo,
mergulhando nas águas mornas do mar. Tenho a impressão de que ela
vai desmaiar a qualquer momento. Olho para ela, preocupado, vejo
que seus olhos brilham como estrelas no céu. Uma lágrima desce
lentamente pelo seu rosto e morre entre os seus lábios.
— Bibi, não chore — Minha mão toca o seu rosto, e uma brisa
fresca sopra na nossa pele. Ela respira fundo quando a minha mão
toca os seus lábios.
Mantenho os meus olhos fixos nos dela, entro em combustão e
puxo-a para mim. Passo as mãos pelos seus ombros e depois pelo seu
pescoço, por fim, seguro-a pelo rosto.
— Tudo o que eu fiz foi por você, porque eu queria ser um marido
inteiro para você, um homem completo. Quando entrarmos por aquela
porta — Olho na direção da casa e movo o seu rosto para a mesma
direção com a minha mão — eu serei o seu Tito, o seu príncipe. Eu
amo tanto você, Bibi, mas tanto, que eu moveria planetas se tivesse o
poder de fazer isso.
Bianca aperta os olhos, e as lágrimas descem rapidamente.
Durante vinte e quatro anos, eu tentei seguir em frente, esconder de
mim mesmo a verdade, esconder que eu ainda carregava a lembrança
da menininha loira que vivia dentro da minha mente e do meu
coração. Tentei não pensar na saudade e na vontade de saber como ela
seria ou de como estaria hoje, quais os braços e bocas ela tocava, quem
teria sido o primeiro homem da sua vida. Fingi não me importar, fingi
ter esquecido dela, fingi não ter ciúmes, no entanto, agora posso
admitir, posso olhar nos seus olhos e dizer:
— Bibi, eu nunca esqueci de você... nunca. — Inclino a cabeça e a
beijo de forma impetuosa.
Bianca circula os braços em torno do meu pescoço, nossas bocas
unidas. Ela inclina a cabeça conforme eu abro os seus lábios com a
minha língua ousada e invado a sua boca, deixando-a sem fôlego. As
mãos de Bibi espalmam as minhas costas, me segurando com força,
enquanto a força do meu beijo demonstra tudo o que quero lhe dar.
Meus braços a apertam e a pressiono, alinhando o seu corpo junto
ao meu. Eu quero tanto Bianca que sou capaz de fazer amor com ela
aqui mesmo. Consigo erguê-la com facilidade em meus braços.
Atordoada, ela afunda o rosto no meu pescoço, e ainda com a boca
sobre a dela, eu digo:
— Posso levá-la para conhecer a sua casa agora?
— Sim, senhor, meu marido!
Eu a carrego escada acima. A porta está aberta, eu só empurro
com o pé. Ao entrarmos na grande sala, eu a coloco no chão e ela fica
em pé outra vez.
— Minha nossa, Anthony! Ela é linda! — Bianca gira em torno de
si mesma, com um olhar admirado e avaliando tudo em volta.
Pego um controle remoto que está em cima da mesa e aperto um
botão. No mesmo instante, as cortinas brancas se abrem e o mar fica à
vista para a minha Bibi.
— Caramba! — Ela diz, admirada, e corre até as janelas de vidro
que vão do teto até o chão. — Não temos parede de tijolos nesta casa?
— Ela se vira para mim e pergunta, curiosa.
— Só nos banheiros e nas divisórias que separam os cômodos. —
Ela corre para a cozinha, e eu aperto outro botão e as cortinas da
cozinha sobem, e lá está ele, o mar. — Bem-vinda à sua casa de vidro,
digo, caminhando até ela, abraçando-a por trás, dando-lhe um beijo
no alto da sua cabeça.
Bianca respira fundo e abraça os meus braços, alisando-os com as
suas mãos.
— É tudo tão perfeito, do jeito que eu sempre sonhei. — Ela deita a
cabeça no meu peito.
— Gostou? — Indago.
— Linda demais! — Ela responde e vira para me olhar.
Sorrio, presunçoso.
— Você vai gostar da próxima surpresa também. — Eu asseguro, a
erguendo nos braços outra vez. Ela solta um gritinho surpreso. Subo as
escadas que dão acesso ao andar de cima.
Entramos no nosso quarto e a coloco no chão. Ela dá uma rápida
olhada no ambiente, depois vai até as cortinas brancas de voal.
— Como abro isso? — Ela pergunta, apontando para elas.
— Você pode usar o controle remoto que está na mesa ao seu lado
ou apertar esse botão aqui. — Aponto para a parede onde fica um
painel com vários botões.
Bianca pega o controle e aperta um dos botões, e a cortina abre
para os lados. Do nosso quarto a vista é ainda mais bonita, podemos
ver o oceano com as suas águas brilhantes, e logo acima dele o tapete
azul do céu, salpicado de estrelas.
— Minha nossa! Fazer amor aqui deve ser de tirar o fôlego. — Ela
vira o corpo na minha direção. — Essa cama enorme e esse quarto
ricamente decorado é digno de um príncipe, estão esperando há muito
tempo por isso, não estão? — Ela me olha com aquele olhar safado.
Mulher, você não deveria ter me olhado assim.
Vou até ela apressadamente e a envolvo em um abraço tão foda
que tenho certeza que faço o seu corpo sentir arrepios de excitação que
varrem toda a sua espinha.
Pressiono o meu corpo de encontro ao seu, fazendo com que ela
sinta cada centímetro da minha excitação, e ela reage
instantaneamente, respondendo ao meu beijo. O beijo é quente,
faminto e lúbrico. Bianca desliza as mãos para cima e para baixo nas
minhas costas, os meus músculos respondem ao seu toque e eu a
aperto um pouco mais e gemo na sua boca. Ela gosta disso. As suas
mãos sobem até a minha nuca, e ela pressiona os meus cabelos entre
os seus dedos. As minhas mãos vão diretamente para a sua bunda,
puxando-a contra a minha pelve. Roço-me nela enquanto apalpo cada
banda do seu traseiro duro.
Ela começa a me despir, e em segundos, o seu vestido já faz
companhia à minha camisa e calça no chão. Suas mãos quentes
deslizam pelo meu abdômen até chegarem à frente da minha cueca.
Bianca pega o meu pau com força e o acaricia com maestria. Ela me
olha com tamanha luxúria no olhar, que até os pelos do meu ânus
arrepiam, caralho! Essa mulher vai literalmente me comer hoje.
Bianca lambe os lábios enquanto aperta o meu membro com força.
— Meu. — Ela diz, e minutos depois sua boca e língua descem
indecentemente pelo meu corpo.
Ela fica de joelhos, segura o meu membro rígido, me olha e sorri
sem vergonha, e logo depois o abocanha sem piedade.
— Puta merda, mulher! Está com tanta fome assim? Caralho,
assim eu gozo, porra.
Ela sorve o meu pau sem desviar os seus olhos dos meus,
chupando o meu membro com necessidade. Ela o leva por inteiro, até
não sobrar pau na minha visão.
— Mulher, que garganta profunda do cacete você tem! Porra! —
Seus dentes pressionam a carne sensível. — Porra, mulher! Ai... —
Levo um tapa na bunda que dói até a alma. — Mulher, eu vou revidar
essa porra. — Recebo outro tapa.
Ela está possuída por alguma entidade sado, só pode ser, pois o
meu pau sofre gostoso na sua boca. Ela chupa, morde, engole e lambe,
me deixando louco de tanto tesão. Começo a mover o meu quadril para
frente e para trás. Ela segura na minha bunda, e quando eu retiro o
pau da sua boca, ela me bate forte.
— Mulher, você quer que eu foda com força essa sua boquinha
linda, não é? — Bianca fecha e abre os olhos, e logo em seguida me
engole novamente.
Soco com força. Seguro o seu rosto com as duas mãos e soco forte
o meu membro na sua boca quente. Porra, isso é muito foda, ela é foda
e gostosa.
Quando sinto as suas unhas enterrarem na minha bunda, vou
mais profundo, a cabeça do pau toca o fundo da sua garganta. Não
consigo me segurar, um grunhido sai da minha garganta, aperto o seu
rosto na minha pelve e gozo forte. Só sinto o movimento da sua boca
engolindo a minha porra.
Nosso olhar se fixa, a expressão de prazer do seu rosto também
me dá muito prazer, é lindo demais. Inclino o meu corpo e a ajudo a se
levantar. Ela fica de pé, os seus seios pontudos furam o meu peito e o
meu membro ainda ereto alisa a sua barriga, marcando o seu
território. Eu me roço nela, meus dedos deslizam pelo mamilo rosado
dela, seu corpo gostoso está colado ao meu, disposto a usufruir tudo o
que eu posso lhe dar.
Seguro o seu rosto entre as minhas mãos e a trago de encontro a
mim. Eu a beijo, beijo de um jeito como nunca tinha beijado.
Lentamente, docemente. Os meus lábios mordem os seus, a minha
língua circula a sua pele macia. Ela geme baixinho e eu me delicio com
os seus gemidos, o esfregar do seu corpo no meu. Não quero mais
nada, apenas ela.
Um turbilhão de emoções me invade. Minha boca colada na dela e
o meu corpo empurrando o dela contra a parede.
— Mulher, hoje eu vou te foder, te foder como um bicho feroz, te
foder como um homem louco e alucinado pela sua mulher. — Ela
morde o meu lábio inferior e me oferece um sorriso e um olhar lascivo.
— Eu te amo, senhora Pimentel.
— Eu também, e quero que você me foda bem gostoso. — Seus
dedos se entrelaçam nos meus cabelos e ela os puxa fortemente para
trás, fazendo com que a minha cabeça se incline e assim ela circule o
meu queixo com a sua língua, intercalando mordidas e lambidas.
Ergo Bianca do chão e ela circula as pernas na minha cintura.
Pressiono as suas costas contra a parede. Nossas bocas unidas em um
beijo alucinante e faminto. Meu membro encontra a entrada da sua
vagina, que é dominada, invadida sem piedade e completamente
preenchida. Bianca abre os olhos, e ficamos presos em nossa troca de
olhares enquanto, eu bombeio com força, socando fundo o meu pau na
sua abertura.
A cada estocada escutamos o barulho de corpos se chocando. Eu a
mordo e ela a mim. Minha mão aperta os seus seios e belisca os seus
mamilos.
— Delícia, você gosta assim? Gosta do meu pau todo enfiado em
você? Gosta, minha delícia? Meu tesão de mulher.
Enquanto falo eu a fodo duramente, e ela geme a cada estocada,
morde a minha boca e o meu ombro, puxa os meus cabelos e até bate
na minha cara. Porra de mulher gostosa!
— Anthony... Antho... caramba, homem, assim você me... me
mata...
— Mulher! Rebola gostoso que eu te dou tudo... — Bianca se move
nos meus quadris, roça os bicos duros dos seus seios em mim, isso
atiça o bicho doido dentro de mim.
Seguro-a pelas suas coxas e pressiono as suas costas na parede
com força. Meu olhar se fixa ao dela. Minhas estocadas são fortes e
ritmadas. Ela se prende ao meu corpo pelas pernas com mais força,
arqueando o seu próprio corpo para frente, facilitando as minhas
investidas.
Nosso olhar se intensifica, e o amor que sentimos um pelo outro
dispara através do brilho explosivo dos nossos olhos. Uma explosão
invade os nossos corpos, o nosso êxtase explode com força. Nos
perdemos um ao outro. Ela solta um gemido prazeroso, e eu um
grunhido animalesco e feroz. O suor banha os nossos corpos, mas não
estamos cansados, estamos sim extasiados, completos e felizes.
Não a coloco no chão, eu a levo para o banho montada em mim,
comigo ainda dentro dela, pulsando e desejando-a. Fizemos amor na
banheira, no chuveiro e depois na cama. Agora eu posso fazer tudo,
posso mostrar o Tito... o Tito dela, que pretende amá-la de hoje em
diante.
Já é tarde, não sei que horas são exatamente, estamos quase
adormecendo quando eu a chamo:
— Bibi...
— Oi, amor, estou aqui para você. — Seu sorriso quente aquece o
meu coração, esses lábios lindos e tão suaves agora são meus.
Sorrio para ela e lhe dou um beijo. Aliso os seus cabelos, os cachos
longos e loiros. Avalio cada traço do seu rosto lindo. A emoção bate no
meu peito, e com todo o amor que eu carrego no meu peito, por ela, eu
lhe digo:
— Não foi agora, nem ontem e não foi meses atrás... foi há mais de
24 anos que eu amei você e vou te amar enquanto o mundo for mundo.
Ela se senta na cama, pega as minhas mãos e as leva aos lábios,
beijando uma a uma, e logo depois ela me olha com aquele olhar foda.
— Nada nesse mundo vai me afastar de você novamente, meu
príncipe encantado. Você prometeu cuidar de mim, e agora, eu
prometo amá-lo para sempre.
Eu a puxo de encontro a mim e nós nos beijamos demoradamente,
depois ela se enrosca no meu corpo e adormecemos. Sabemos que os
próximos dias serão de amor e alegria, de promessas que ainda serão
cumpridas.
Epílogo

Cinco anos depois


Bianca

— M amãe... mamãe... você prometeu, não é justo. Eu quero


escolher o nome do novo bebê.
Olho para o meu lindo filho, loirinho de olhos azuis. Ele é a cara
do Anthony quando tinha a idade dele, cinco anos. Eu o avalio com
alegria.
— O que eu e o seu pai dissemos foi que se o bebê fosse um
menino, você escolheria o nome, só que o bebê que está na barriga da
mamãe é uma menina, então o seu pai é que vai escolher. É justo, não
é?
Ele cruza os bracinhos no peito, baixa os olhos e faz um biquinho
de zangado.
— Ela vai receber o nome mais feio do mundo...
Leonel diz isso e sai correndo, quase atropelando o irmão, que
brinca com alguns carrinhos que o meu pai acabou de desembrulhar
para ele.
Engravidei de Leonel, nome do avô de Anthony, na nossa lua de
mel. Três meses depois estava enjoada e desmaiando por qualquer
coisa. Foi uma gravidez complicada, cheia de altos e baixos. Tito quase
enlouqueceu, não saía de perto de mim por nada, mas graças a Deus,
no sétimo mês tudo se estabeleceu, e pude finalmente curtir a minha
gravidez. Leonel nasceu de parto normal, um menino grande, chorão e
comilão. Tito praticamente assumiu todas as obrigações maternais, a
única coisa que ele não fazia era amamentar, mas as demais ele fez
com bastante responsabilidade. Do banho às fraldas.
Quando o Leonel estava com nove meses, eu engravidei do Luiz
Eduardo. O nome foi uma homenagem ao meu pai, ele só não permitiu
o Alberto, disse que ainda não estava morto para receber uma
homenagem como essa. A gravidez de Dudu foi muito tranquila, quase
não senti enjoos e não tive desmaios. Só fiquei enjoada para comer, o
meu paladar se tornou exigente. Até hoje não consigo comer ensopado
de carne e nem berinjela.
Dudu nasceu com o mesmo peso que o Leonel, 3,100 kg e 59 cm.
Leonel era um pouco menor, ele media 57 cm. O Dudu tem os cabelos
cacheados iguais aos meus e o loiro do pai, os seus olhos são azuis
acinzentados iguais ao do meu pai. A Mercedes o chama de anjo
dourado. Ele é muito esperto e só dorme quando o pai lhe conta uma
história.
Diferente de Leonel, que gosta de escrever e de brincar de correr,
o Dudu gosta de ficar quieto, ele adora desmontar e montar coisas,
passa horas com os seus carrinhos, inventando novos modelos.
Anthony diz que ele será um engenheiro, ele tem quase certeza disso.
Há seis meses eu descobri que estava grávida novamente. Houve
outra gravidez anterior a essa, há dois anos, mas quando eu estava no
terceiro mês, tropecei em um paralelepípedo solto na rua da nossa
cidade e caí de bruços, batendo fortemente a minha barriga no chão.
Senti fortes dores a noite inteira, e quando Anthony me levou para o
hospital, o ultrassom constatou que a placenta havia se deslocado. No
dia seguinte, Anthony moveu um processo contra a prefeitura, e o
dinheiro que ganhamos ele doou para a própria prefeitura, exigindo
que ela asfaltasse aquele trecho da avenida central, e assim foi feito.
Hoje, a avenida central é toda asfaltada.
Anthony e eu já estávamos pensando em procurar um médico,
para saber se o acidente do aborto tinha deixado sequelas, pois eu não
estava conseguindo engravidar, mas quando iniciamos as providências
para a realização de todos os exames, eu descobri que estava grávida
de dois meses. Foi uma festa para nós dois, queremos uma família
grande. E para a nossa felicidade, agora vamos ter uma menininha.
— Bibi... Bibi... amor.
— Estou aqui, na sala de brinquedos.
Anthony entra na sala com um buquê de rosas vermelhas. Ele
sempre me traz rosas ou algum outro presente. Recebo um beijo
quente e um tapa na bunda.
— Mulher, essa sua bunda está cada dia mais linda e mais gostosa!
Ver essa gostosura me faz pensar em coisas deliciosas que eu posso
fazer com ela.
— Tarado! — Bato na bunda dele e aperto-a enquanto o beijo
outra vez.
Ele inclina o corpo e beija a minha barriga.
— E a minha princesa Alice, como ela está hoje? Não deu muito
trabalho para sua mamãe, ou será que deu? — Ele beija a minha
barriga novamente e depois ergue o corpo e me olha com aquele olhar
que sempre me diz “vamos lá para cima, que eu quero ser fodido por
você.”
Ele não tem jeito e não me deixa quieta. Já estávamos subindo
para o nosso quarto, quando o Leonel entra correndo e gritando.
— Papai, mamãe... — Paramos no meio da escada. Ele nos olha
com um olhar traquina. — Venham conhecer a minha nova amiguinha,
o pai dela está aqui com ela para conhecer vocês.
Anthony me olha e pisca. Há dias o Leonel não para de falar sobre
a sua nova amiguinha, ele não desgruda dela. Até nos chamaram na
escola, porque ele se recusou a voltar para a sua sala, já que a menina
estuda em outra. Os dois não queriam ser separados. Anthony
conseguiu convencê-lo a voltar para a sua sala, ele sabe que não pode
frequentar a mesma classe que a sua amiga, ela é um ano mais nova do
que ele, portanto, ele está um ano à frente dela.
Ele nos espera, impaciente. Descemos as escadas, e ele segura nas
nossas mãos. Seguimos para o jardim onde há dois balanços e alguns
brinquedos. A menina está sentada no balanço, e o seu pai a
empurrando.
Leonel se solta das nossas mãos e corre ao encontro da menina.
— Senhor Carlos, deixe que eu empurro a Júlia. Prometo que
empurro bem devagar, vou cuidar direitinho dela.
Tito olha para mim e sorri.
— Estou tendo um déjà vu, meu Deus? — Ele me olha, sorrindo,
com um brilho nos olhos. Pega na minha mão e entrelaça os seus
dedos nos meus. Caminhamos em direção às crianças.
— Boa tarde! — Tito fala diretamente com o homem alto e
sorridente que olha para a filha com alegria no olhar. Ele se vira e
sorri.
— Boa tarde! O senhor é o Anthony, o pai do Leonel. Eu sou o
Carlos Aguiar, o novo delegado da cidade — Ele me olha logo em
seguida. — E a senhora é a Bianca, a mãe daquele menino gentil e
cavalheiro — Ele aponta para Leonel. — Quero parabenizar a vocês por
educarem tão bem o seu filho, ele é um menino extraordinário e trata a
minha filha como se ela fosse a menina mais especial do mundo, por
isso, quando a Júlia insistiu tanto para visitar o Leonel, eu fiz questão
de vir junto.
Nós nos cumprimentamos. Leonel olha na nossa direção,
sorrindo.
Carlos aceita o nosso convite para conhecer a nossa casa. As
crianças ficam brincando no parquinho.
Ele nos contou que a sua mulher faleceu há pouco mais de um
ano, de um câncer de mama. Como as lembranças estão sendo
dolorosas demais, ele resolveu mudar o rumo da sua vida, e descobriu
que Rio Doce estava precisando de um novo delegado civil. Ele se
candidatou à vaga e está adorando a cidade.
Estreitamos a nossa amizade e o convidamos para vir nos visitar
sempre que quiser, principalmente nos finais de semana.
Depois do jantar, Carlos e Júlia foram embora.
O Dudu já dormia no colo do avô. Papai se aposentou e está
morando na casa de hóspedes. Ele disse que vai levar Dudu para o
quarto dele.
Nós nos encarregamos de levar Leonel para o quarto dele. Tito e
eu nos sentamos na cama para lhe desejar boa noite. Já estávamos
saindo do quarto, quando Leonel nos chama.
— Mamãe, papai, a Julia parece uma princesa, não é? — Ele
sustenta o corpinho pelos cotovelos, pisca os olhinhos e diz com a
maior naturalidade: — Quando eu ficar maior e for um rapaz, ela vai
ser a minha namorada. Quando eu for um homem, vou me casar com
ela, farei dela a minha princesa e vou protegê-la de tudo. Boa noite,
papai, boa noite mamãe, amo vocês.
Ele se deita, coloca as duas mãozinhas por baixo do rosto e fecha
os olhos.
E a vida segue, cheia de mistérios e caminhos que nem sempre
sabemos se serão os mais felizes, contudo, torcemos para que tudo dê
certo e que a felicidade seja alcançada. Que o amor abrace o coração de
todos.
Próxima História

MINHA INSENSATEZ

Sinopse

Gustavo Mark Shuntz, é um homem destemido em suas


convicções, não admite erros ou falhas. Ele só errou uma vez na vida:
ao se apaixonar perdidamente.
A delicada e gentil Ludmila cruzou o seu caminho em uma manhã
ensolarada, seu sorriso franco e acolhedor foi o bastante para a querer
em seus braços. A princípio, ele tentou afastá-la dos seus
pensamentos, pois a doce Ludmila era jovem demais para uma
simples aventura – vinte e cinco anos mais jovem do que ele.
Contudo, não conseguiu resistir aos seus lindos olhos cor de
âmbar e ao seu jeitinho de menina levada. E aconteceu o inevitável, ele
a envolveu em sua insensatez.
E a sua paixão desenfreada não o deixou ver o quanto este
insensato romance traria consequências devastas para ambos os lados,
pois ele era um homem proibido.
O que será que acontecerá? Gustavo vai deixar sua insensatez
vencer? O que fazer quando o coração não quer obedecer a razão?
Sete anos atrás

Gustavo

Hoje tenho um horário com um dos melhores mestres em


neurologia, talvez meu velho conhecido me dê uma explicação que
possa ajudar-me. Enfrentei quase duas horas de voo, cinco horas
dirigindo para uma consulta diagnóstica.
Só espero que velhas desavenças com o famoso neurologista não
atrapalhem a minha consulta.
Entro no consultório e vou direto à recepcionista. Não me
apresento com o meu primeiro nome, e nem o sobrenome Shuntz. Não
quero correr o risco de não ser recebido pelo doutor Elias Figueiredo.
— Bom dia! — Encaro o rosto da linda recepcionista, que sorri
para mim angelicalmente. Detenho o meu olhar na placa de
identificação que está diante dos meus olhos. — Ludmila, lindo nome.
— Ela baixa os olhos timidamente, o que é muito raro hoje em dia. —
Querida, eu tenho horário marcado com o doutor Elias. — Sorrio para
ela. — Meu nome é Mark.
A linda moça desvia o olhar para a tela do computador.
— O senhor já tem cadastro?
— Não, querida, e nem será preciso. A consulta não é para mim,
será só um prognóstico. Quanto é a consulta?
Entrego-lhe o cartão de crédito, e em seguida, ela me entrega a
nota fiscal.
— O senhor será o próximo, pode se sentar.
Sento-me bem em frente à mesa da linda Ludmila. Não consigo
desviar os olhos da moça. Aparenta ser bastante jovem, no máximo
deve ter uns vinte anos, mas é linda demais: traços delicados, boca
bem delineada, maçãs do rosto salientes, nariz pequeno e lindos olhos
âmbar. Está sentada, contudo deve ser pequena, talvez tenha 1.65m de
altura. Aparência frágil, sempre tive uma queda por mulheres
delicadas, gosto de cuidar, mimar, só que hoje em dia está difícil
encontrar mulheres que queiram ser cuidadas, principalmente as
mulheres do meu convívio social.
A porta do consultório se abre e de lá sai um rapaz. O rosto
tristonho deixa claro que as notícias não são nada animadoras.
Meu nervosismo aumenta. A linda moça de olhos âmbar olha para
mim sorrindo e move os lábios silenciosamente, pedindo para esperar
um pouco. Além de mim, há mais cinco pessoas esperando.
— Senhor Mark, pode entrar agora.
Minha tensão aumenta. Seguro um suspiro, levanto-me, entro no
escritório e fecho a porta atrás de mim. Piso leve no tapete felpudo, a
sala é bem luxuosa e decorada com estilo bem moderno. Olho com
atenção para o homem que está dando atenção a uma pilha de papéis.
Olho atentamente para ele. Pigarreio.
Com calma, doutor Elias levanta os olhos e me encara.
— Você só pode estar de brincadeira! — Surpreso ao me ver,
levanta-se. — O que faz aqui, após tantos anos? Não acredito que teve
a coragem de vir até aqui...
— Se acalme — interpelo-o. — Por favor, não vim brigar. Estou
aqui como um mero consultor, preciso da sua ajuda médica, só isso.
Vamos ser civilizados...
— Civilizados? — Diz, com sarcasmo. — Acho que civilidade não é
o seu forte. O que quer?
— Posso me sentar? — Ele aponta para uma cadeira que está à
frente da sua mesa. Sento-me, ele também. — Eu preciso do seu
parecer. Pode achar que não, mas confio no seu profissionalismo, e a
sua opinião é muito importante.
Seus olhos olham para mim sem transmitir nenhuma emoção.
Entrego-lhe um envelope. Elias o pega, abre-o e começa a analisá-lo.
— Paciente X? — é irônico. — Certamente não quer que eu saiba
de quem se trata, estou certo?
— Isso não é relevante, eu só quero a sua opinião sobre a doença
do paciente.
Ele continua passando os olhos nos papéis. Após longos quinze
minutos, seu olhar frio me encara.
— Bem, certamente não é a doença de Huntington, é semelhante,
mas tem alguns sintomas que não se enquadram. Contudo, isto não é
novidade para você, pois os próprios especialistas já descartaram esta
hipótese. Quanto tempo o doutor Schering Smith deu para o paciente
X?
— No máximo três anos, e quanto mais o tempo passar, o paciente
irá piorar, terminará os seus dias em uma cama, sentindo muitas
dores, foi o que ele diagnosticou. Segundo o doutor Smith, só
existiram mais dois casos como esses no mundo, e as duas pessoas
faleceram em menos de dois anos, uns seis meses depois de descobrir
a doença e o outro em um ano e meio.
— Gustavo, para lhe dar uma avalição completa, preciso examinar
o paciente. — disse, recostando-se.
— Só preciso do seu prognóstico e alguns conselhos.
— Se for assim, vou precisar ler com atenção todos os relatórios
médicos, não posso, em questão de minutos, analisar algo tão sério e
raro. Deixe o seu número, que assim que terminar minha análise
ligarei para que assim possa dar o meu parecer final.
Ele se levanta rapidamente, dando a entender que a consulta
acabara. Seguindo o seu ímpeto, levanto-me também. E pensar que já
fomos grandes amigos, quase irmãos.
— Aqui está o meu cartão, Elias, ficarei aqui por mais alguns dias,
haverá uma homenagem para o meu pai no salão de eventos da
faculdade, só voltarei para minha cidade em vinte dias.
Elias lança um olhar para a pilha de papéis sobre a mesa.
— Ok, então. Assim que estiver seguro das respostas eu lhe ligo.
Passe bem, Gustavo. — Senta-se, baixa a cabeça e começa a guardar os
relatórios no envelope.
Já estou com a mão na maçaneta da porta, quando sua voz chama
minha atenção.
— Sua consciência não pesa em saber que foi responsável também
pelo suicídio de sua irmã? Será que valeu a pena nos separar?
Viro-me lentamente para encará-lo.
— Elias, eu não fui o responsável por separar você e a Raphaela,
foi meu pai...
— Mas você poderia ter ajudado. Poderia ter nos ajudado quando
queríamos fugir, mas preferiu ficar calado.
— A Raphaela era uma criança, ela só tinha dezessete anos, você
dezenove, para onde vocês iriam, como se sustentariam? E também
meu pai caçaria vocês dois no inferno e traria a Raphaela de volta,
você sabe disso, não podia fazer nada, Elias.
— Sim, claro que não. Preferiu ver sua irmã morrer, você e o seu
pai são os únicos responsáveis pela morte dela, nunca irei perdoá-lo,
eu a amava, e ainda a amo. Adeus, Gustavo.
Isso encerrou nossa conversa, Elias pegou o telefone e pediu à sua
recepcionista para chamar o próximo paciente.
Solto um suspiro ao sair em direção à saída do consultório, antes
olho para a linda Ludmila e sorrio para ela.
— Foi um prazer conhecê-la, Ludmila. Adeus. — Ela apenas
responde com um sorriso tímido.
Fora do prédio, coloco os meus óculos escuros e caminho em
direção ao carro alugado que deixei estacionando do outro lado da rua.
O interior do carro está quente e abafado, ligo o ar-condicionado e
espero gelar um pouco. Sigo direto para o hotel, marquei uma
videoconferência com os executivos da minha empresa. Apesar de ser
o CEO e dono da Shuntz Company, Arnaldo Shuntz – meu tio –
comanda a parte executiva e, às vezes, ele se acha o dono do mundo,
por isso preciso ficar sempre de olho nele.
Ao entrar no quarto ligo logo o laptop, conectando-me com a sala
de reuniões.
— Bom dia, vamos começar a reunião, estão todos presentes? —
Sento-me, enquanto os meus olhos visualizam os executivos. — Onde
está o Arnaldo, Janine? — Inquiro a minha secretária.
— Estou aqui. Acabo de chegar, desculpe o atraso, estava com
Londres em uma ligação.
Arnaldo responde imediatamente, enquanto se senta.
— E como foi a conversa? — estou curioso com a resposta, afinal a
reunião é sobre Londres. Estou tentando abrir uma filial lá, e estou
dependendo só de convencer um grande industrial a me vender a sua
empresa.
— Acho que vamos conseguir, embarco para Londres assim que
você voltar.
— Ótimo. — Respondo animado e, depois de resolvermos tudo o
que estava pendente, desligo.
Três dias depois
Gustavo

Chego às vinte horas no evento em homenagem ao meu pai. Só o


reitor da Universidade e alguns conselheiros sabem que eu sou o filho
do homenageado, mesmo assim ao me cumprimentarem não
mencionam o fato, eles sabem que não quero que as pessoas saibam
do meu vínculo com o grande benfeitor Augusto Shuntz.
Por isso resolvo não me juntar à bancada da diretoria, prefiro
observar de longe e caminhar entre os convidados.
— Oh, desculpe-me! — Distraído, pois olhava para uma mulher
que chamou a atenção dos meus olhos, esbarro em alguém e este
esbarrão custou uma mancha em meu terno caro.
— Não, a culpa foi minha, senhor... — Reconheço a doce voz.
A jovem Ludmila tenta equilibrar uma bandeja de prata nas mãos
com várias taças de champanhe sobre ela, uma virou justamente em
meu terno.
— Ora, ora! — a minha exclamação reflete a minha surpresa por
reencontrá-la. — Senhorita Ludmila, que prazer revê-la! — Abro um
vasto sorriso para ela, enquanto tento ajudá-la com a bandeja.
— Acho que daqui a algumas horas o senhor não achará que o
nosso esbarrão foi um prazer. — Ela olha para a mancha escura que
escorre em meu terno cinza. — Eu preciso secar isso, antes que
estrague o tecido. — Sua pequena mão toca o tecido, passando
levemente os dedos sobre ele. — Vem comigo — então, nossos olhares
se encontram.
Estamos tão próximos. Ela com a mão logo abaixo do meu peito,
meus dedos quase tocando os seus e um lampejo sedutor florescendo
em nosso olhar. É claro que a sigo.
Sou levado para um local reservado, uma espécie de lavabo, onde
só há pias para se lavar as mãos. Ludmila coloca a bandeja sobre o
mármore negro, procura algo dentro do bolso do seu avental, retira de
lá uma pequena toalha felpuda, molha com um pouco de água morna,
deixando-a úmida. Percebo a sua intenção.
— Ludmila, não precisa fazer isso, o champanhe não irá estragar o
tecido do meu terno, fique tranquila — falo o nome dela com certa
intimidade.
— Vinhos mancham, o senhor não sabia? — diz como se tivesse
conhecimento no assunto. — Eu preciso fazer algo antes que seque,
pois se algum fiscal viu o incidente, vão descontar da minha diária e eu
preciso deste dinheiro.
Sinto-me péssimo sobre isso, afinal a culpa é toda minha. Se eu
não estivesse de flerte com a mulher que estava sorrindo para mim, eu
teria visto a Ludmila e nós dois não teríamos nos chocado.
— Com quem eu falo? — Seguro sua mão que está tentando
desesperadamente limpar meu paletó. Seus lindos olhos âmbar fitam-
me. — Quem é o responsável pelos garçons?
Ela continua me olhando profundamente, morde o lábio inferior
por alguns segundos até conseguir me responder.
— Não, não precisa fazer isso...
— Não vou permitir que a punam por algo que não teve culpa. —
interpelo-a antes que termine a frase. — A culpa foi minha, se estivesse
prestando atenção por onde ando, este incidente não teria acontecido.
Então, com quem eu falo?
— Desopile, não precisa. Veja, a mancha já saiu. — sua mão segura
firme o lado do paletó que estava manchado, olho para ele e sorrio. —
Viu, já está até seco, mas me diga o que faz aqui?
Ela muda rapidamente de assunto.
— Recebi um convite, como não tinha para onde ir hoje à noite,
resolvi comparecer.
Seus olhos varrem o meu rosto. Seu sorriso tímido me deixa
completamente abobalhado, estou acostumado a mulheres explícitas,
sem joguinhos, sabem exatamente o que eu quero. Nunca a inocência
de uma mulher me cativou tanto – eu nunca conheci uma mulher
inocente – provavelmente, é a idade dela, ela é muito jovem.
Quantos anos você tem, querida, vinte, vinte e dois?
Esse meu pensamento traz-me de volta à festa. Certamente devo
ter perdido a cabeça, se realmente ela for tão jovem assim, serei
considerado um papa-anjo, estou com quarenta e três anos e ficar de
flerte com uma jovem com a metade da minha idade, se não for contra
a lei, no mínimo, será ridículo.
— Mark, não é? — sua mão toca o meu braço. — Seu nome é Mark,
não é isso? — assinto com a cabeça. — O senhor conhece o
homenageado?
— Não, nem sei quem é, recebi o convite de um amigo. — Minto
propositadamente. — E você tem quantos empregos? — Ela levanta
uma das sobrancelhas, como se perguntasse “E o que o senhor tem a
ver com isso?” Mantenho o olhar interrogativo em seu rosto.
— O salário de recepcionista não é o suficiente para pagar as
minhas despesas, que são... — Deixa a frase inacabada. — Bem, eu
preciso voltar ao trabalho, desculpe-me se o tirei da festa.
Antes mesmo que eu consiga responder, ela pega a bandeja e
caminha em direção às mesas. Fico parado, observando-a se afastar,
admirando sua figura esguia, com curvas belíssimas escondidas por
trás de um uniforme de garçonete horrível. Esta moça, vestida com a
roupa certa, deixaria muitos homens aos seus pés. Vestida do jeito que
está já me deixou de quatro....
Continua...
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Notes
[←1]
Música: Eu nunca vou deixar você tão só – compositor, Roberto Carlos – Interprete, Liah

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