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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright 2019 © Aline Pádua


1° edição – fevereiro 2019

Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo


todos os direitos reservados. Proibida qualquer
forma de reprodução total ou parcial da obra,
sem autorização prévia e expressa da autora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera


coincidência.
Revisão: Gabriela Ferraz
Ilustração: Maria Vitória

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Sumário
Sumário
Sinopse
Dedicatória
Prefácio
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Epílogo
Recadinho
Contatos da autora

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Sinopse
Clara Freire é apenas uma garota da fazenda que
luta diariamente ao lado da mãe, para que essa tenha uma
vida melhor. Como nem tudo é como planejado, ela se
depara com o filho dos donos da fazenda, Matheus
Lourenzinni, que a faz perder o controle de tudo a sua volta.
Mesmo sem esperanças, acaba se entregando a um amor
solitário. Porém, uma noite é capaz de mudar tudo.

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Dedicatória

A todos aqueles que acreditam no amor que toca a


alma e nos desperta para a vida. Seja esse amor
romântico ou não. Que sejamos capazes de o
encontrar, todos os dias.

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Prefácio

“E ele dizendo o quanto queria me ver de novo.


Mas a vida é complicada.
E eu dizendo o quanto queria que ele realmente quisesse me
ver de novo.
Mas ele é complicado.”
Tati Bernardi

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Prólogo
“Desisti de achar que o príncipe vai achar o sapatinho (ou
sapatão) que perdi nas escadarias. Não sinto mais impulsos
amorosos. Posso sentir impulsos afetivos, ou eróticos —
mas amorosos, sinceramente, há muito tempo. É estranho,
e não me parece falso, mas ao contrário: normal. Era assim
que deveria ter sido desde sempre. E não se trata de evitar
a dor, é que esse tipo de dor é inútil, é burra, é apego à
matéria.”[1]

Talvez a vida não passasse de um clichê


barato.
Talvez eu fosse apenas mais uma mocinha
colocada na trama aleatoriamente.
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Suspiro fundo e tiro os fones de ouvido.


Ouvir Legião Urbana nunca mais foi a mesma
coisa. Não depois daquela noite. Olho para o
berço ao meu lado e acabo me sentando na cama.
Paro e apenas observo meu pequeno em seu sono.
Escorada no berço, assisto-o respirar de forma
lenta e calma. Sorrio mais uma vez, sem ainda
conseguir acreditar que gerei uma vida. Uma vida
tão pequena. Porém, que significava o mundo
para mim. O meu tudo.
Fecho os olhos, mais uma vez, viajando
no tempo e pensando no que não devo. Onde tudo
começou, onde me tornei, apenas mais uma na
imensurável lista de conquistas de Matheus
Lourenzinni.
Era mais um verão, o calor do Rio de
Janeiro estava como sempre nos 40 graus. Com
dezesseis anos, sentia-me um pouco perdida

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diante da vastidão da grande cidade. Nascida e


criada numa fazenda, nada me trazia mais
sentido do que simplesmente me sentar à beira de
uma árvore e assistir os raios de sol da manhã e
fim de tarde tocarem as águas do rio. Minha vida
era simples, porém, era o suficiente. Ao menos,
até aquele momento.
Não tinha muitos amigos, a não ser,
Matheus. Ele era o meu oposto. O que tinha de
timidez, ele gostava de se aparecer e marcar
presença. Tornamo-nos amigos por conta dele.
Além do mais, jamais tomaria o primeiro passo.
Matheus era filho dos donos de fazenda, vulgo,
meus patrões e de minha mãe. Entretanto, o fato
de ela ser cozinheira e eu a auxiliar de serviços
gerais no local, nunca os fez agirem de forma
diferente.
A família Lourenizzini era boa para nós,

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era o que mamãe sempre dizia. Não me lembrava,


ao menos, apenas tinha resquícios da época. Meu
pai era capataz da fazenda, e acabou sofrendo
um acidente de carro, que o levou a falecer. Eu
tinha apenas cinco anos, mas de alguma forma,
entendi que as coisas iriam mudar. E elas
mudaram. Mamãe se tornou uma mulher ainda
mais forte e determinada, e nunca, deixou que a
tristeza nos abatesse. Mesmo quando a data
daquele dia trágico se aproximava. Que
lembrássemos de Alberto Freire e sua risada
gostosa, e não, que a morte o levara.
Depois do acidente, mamãe que era dona
de casa e cuidava de mim, conseguiu o cargo de
cozinheira na casa principal. Nunca me afastava
dela, e sempre estava ao redor, interessada em
entender o que tanto fazia nas panelas. Não que
me tornaria uma grande cozinheira. Hoje, aos
dezesseis, sei que jamais terei as mãos de fada de
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Flora Freire. Passo as mãos por meu avental e


suspiro, subindo as escadas em direção aos
quartos.
O silêncio geral na casa indica apenas o
óbvio, não há ninguém no momento. Pelo que
sabia, ninguém estaria durante muitos dias.
Adentro o primeiro quarto, de Matheus. Sorrio no
mesmo instante, lembrando-me dele. Paro a
frente de sua parede de fotografias de viagens e
analiso cada uma delas. Ele era sonhador, desde
muito pequeno. Mesmo ele sendo alguns anos
mais velho, desde que mamãe se tornara
cozinheira, muitas vezes, brincávamos juntos.
Crescemos dessa forma e nos tornamos, a cada
dia, mais próximos.
Sorrio, ao encarar uma foto nossa, de
quando ainda éramos crianças. Devia ter no
máximo dez anos e ele, por volta de quatorze.

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Lembro-me bem da época, pois foi nela, que tudo


começou a mudar entre nós. Matheus era meu
melhor amigo, e aos poucos, a vida aconteceu.
Nos afastamos, e hoje, aos dezesseis, finalmente
entendi. Tínhamos interesses muitos distintos, a
idade foi um fator determinante. Ele estava
focado em convencer os pais para poder estudar
fora do país aos quinze, e eu, ocupada demais em
pentear minhas bonecas favoritas. As coisas
simplesmente aconteceram.
Tiro a mão da fotografia e olho ao redor
do quarto, e das boas lembranças de minha
infância ali. Não tinha como não sentir falta.
Matheus foi meu melhor amigo e de alguma
forma, não era algo que se esquecia do dia para
noite. Entretanto, somos de mundos
completamente opostos. De alguma forma,
apenas entendi que não era para ser.

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Como não tinha ninguém em casa, fui até


o som dele, e o liguei. Sorri, ao escutar o
primeiro verso de “Ainda é cedo”. Matheus e eu
tínhamos um gosto em comum, pelo menos.
Éramos fãs de Legião Urbana. Na realidade, não
conseguia pensar em alguém que não fosse.
Deixo a música levar as lembranças para a longe
e foco em meu trabalho. Tiro o pó de todos os
móveis, troco a roupa de cama... Varrer leva um
pouco mais de tempo, já que aproveito para me
apresentar num solo espetacular para os baldes e
móveis do quarto. Cantar me acalmava e me
mostrava o lado bom da vida.

“Ela me disse: Eu não sei


Mais o que eu sinto por você
Vamos dar um tempo
Um dia a gente se vê

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E eu dizia ainda é cedo


Cedo, cedo, cedo, cedo
E eu dizia ainda é cedo
Cedo, cedo, cedo, cedo.”

A música acaba, e me jogo para trás,


quase caindo. Sorrio de meu próprio show,
perdida no momento. Escuto o último verso e
sorrio, pela música que tocou repetidas vezes,
mas não me fez mudá-la. Eu adoro a canção.
— E o prêmio de melhor apresentação vai
para...
Estaco no mesmo instante e levanto o
olhar, sabendo que meu rosto se tornava um
tomate. Encaro Matheus e fico sem palavras, sem
ao menos saber como reagir. Abro a boca para
dizer algo, mas nada sai. É como se meu corpo
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tivesse levado algum tipo de tranquilizante diante


de sua imagem. Quanto tempo fazia? Um ano?
Dois? Matheus estudava fora do país, e seus pais
o visitavam esporadicamente. Quando ele vinha
para o Brasil, raramente nos encontrávamos.
Forço um sorriso e noto que ele me
encara, claramente esperando por algo. O que
poderia fazer? Aprumo-me e tento parecer
casual. Não éramos mais crianças, e ao olhar
para ele, era claro que o tempo passou. Não
podia mentir e fingir que já não tinha notado.
Mas agora, depois de praticamente um ano sem
vê-lo, parece ainda mais significativo. Matheus se
tornou um homem lindo. Negro, braços fortes,
olhos castanho claros, um sorriso perfeito e
covinhas na bochecha. Qual defeito ele teria?
Sinto meu corpo estremecer e resolvo
dizer algo. Não posso simplesmente me sentir

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atraída por ele. Não depois de tanto tempo


sentindo falta da nossa amizade. Isso torna tudo
ainda mais estranho. Ele é o filho de meus
patrões, assim como, alguém que nunca me
olharia. Não como algo mais. O que diabos
estava pensando?
— Ei, deusa. — ele se pronuncia, e sorrio,
ao saber que se lembra do nosso velho apelido.
Brincávamos de sermos deuses quando
crianças. Seus pais eram fãs da mitologia
nórdica e sempre contavam histórias incríveis a
respeito. Matheus sempre adorou Baldur, o deus
nórdico da luz, pureza e alegria. Eu era
apaixonada pela história de Freya, a deusa do
amor. Eles nunca entravam muito em detalhes
quando éramos mais novos. Porém, no meu
aniversário de quinze anos, sua mãe me
presenteou com um livro incrível sobre a

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mitologia, e o devorei em poucos dias.


— Ei. — respondi, ainda um pouco sem
jeito.
Nunca pensei que não conseguiria
sustentar um simples olhar seu. É como se
existisse algo que me atraísse para ele. Algo que
não deveria existir. Não por um amigo. Ou ex
amigo. Tudo poderia complicar ainda mais aos
dezesseis, isso é o que mamãe dizia, e até mesmo,
Renato Russo concordava. Johnny morrera por
amor naquela idade. O que não é um bom
exemplo para o momento.
O assunto praticamente morre, mas
Matheus continua a me encarar, com um sorriso
no rosto. Ele deixa a mochila no chão, e empurra
sua mala até um canto do quarto. Apresso-me
para sair com todos os objetos de limpeza dali.
Não esperava alguém na casa, portanto, poderia

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estar parecendo atrevida. Ainda mais, porque


seus pais não concordavam com o fato de
realmente trabalhar por ali. Entretanto,
acabamos com um trato que funcionou para
ambos. Poderia trabalhar meio período e quatro
dias por semana, se não atrapalhasse minhas
notas na escola. Felizmente, tudo seguia bem. E
assim, poderia ajudar minha mãe em casa e
poupar dinheiro para a faculdade.
— Vamos agir como estranhos? —
pergunta, assim que coloco um pé para fora do
quarto.
Viro-me de lado e o encaro de esguelha.
Realmente, não sei o que responder. Apena sinto
que devo me manter longe de Matheus. É como se
enxergasse uma placa em negrito em sua testa
com perigo escrito. Apenas dou de ombros e saio
dali, sem saber como agir.

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A porta do quarto se abre, fazendo-me sair


do devaneio. Lembrar-me de Matheus se tornara
algo contínuo. Ainda mais, depois que descobri a
gravidez de Daniel. Agora então, com ele a minha
frente, tornara-se impossível não o imaginar ali
comigo, olhando nosso filho. Matheus
Lourenzinni é perigo. E permanecia como um dos
piores, principalmente, para meu tolo coração.

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Capítulo 1
“O tempo todo escuto das mais variadas pessoas uma
mesma observação: você é, você é… diferente.”[2]

Antes...

Mais um ano prestando vestibulares.


Suspiro, encarando os vários livros espalhados.
Mal consigo manter meus olhos abertos. Rendo-
me ao cansaço, deitando-me sobre a mesa da
cozinha. Já não aguentava mais estudar fórmulas
matemáticas. O mundo é cruel, aos dezoito, é isso
que penso, e com toda certeza, faz-me ficar ainda

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mais cansada de tudo. Preciso entrar numa boa


faculdade, e de preferência, uma sem custo. O
difícil é atingir tal meta.
— Filha.
Levanto meu olhar e noto a preocupação
estampada no rosto de minha mãe.
— Por que não vai andar um pouco pela
fazenda? Se distrair? Ter contato...
— Com a natureza. — complemento, pois
já tinha decorado o seu discurso rotineiro. Mamãe
queria que me afastasse um pouco dos livros e
vivesse. Do que adianta entrar para uma ótima
faculdade se não aproveita a vida? Não tinha
resposta para sua pergunta. — Eu vou. — falo,
cedendo. — Apenas vou organizar tudo aqui e...
— Nada disso! — corta-me rapidamente.
— Vai lá, que eu deixo tudo em ordem para você.
— levanto as mãos em sinal de rendição e saio da

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cozinha, andando em direção a saída de casa.


Sou presenteada, pela bela noite. A qual
parece sorrir em minha direção com suas estrelas
compondo um céu perfeito. Sorrio, indo em
direção a meu lugar favorito. Uma árvore, a beira
do lago, de onde consigo ver cada uma das
estrelas refletida na água. Ando de braços abertos,
como em agradecimento a mais um dia. Gosto
disso e da sensação. De estar conectada a
natureza e suas melhores energias. Motiva-me a
continuar.
Sento-me e encaro o belo lago, dali,
podendo ver o que tanto quero. Constelações em
contraste com a água. O que mais podia querer?
Sinto-me ainda mais abençoada. Tendo a certeza
de que cursarei algo na área de biológicas.
Necessito estar em contato com o que tanto amo –
a vida.

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— Se Maomé não vai a montanha...


Viro meu olhar e sorrio, ao notar Matheus
escorado contra o tronco na árvore. As coisas
entre nós apenas fluíram depois de sua volta do
exterior. Ele ainda estuda fora, mas sempre me
manda fotos de lugares que um dia, segundo ele,
terei que conhecer. Nos tornamos mais próximos,
é uma verdade. Porém, a parte de meu coração
que insiste em querer suspirar por ele, sempre se
manifesta. O que me faz brecar no mesmo
instante o sentimento. Não posso me apaixonar
por ele. Não nesse momento.
— Estudando demais. — comento, e logo
ele se senta ao meu lado.
Sua proximidade me causa uma vontade
descomunal de nunca mais sair de perto. A
sensação única que ele me traz. Não sei dizer o
que Matheus tem, ou o poder que parece ter sobre

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meu corpo. A questão é que não posso ceder, em


momento algum, a um capricho de minha mente.
— Decidiu o que vai prestar? — pergunta
e nego com a cabeça.
— Algo em torno das Biológicas.... Não
sei ao certo, tem muitos cursos, e... Então, estou
esperando mais um pouco para decidir. — revelo,
e ele sorri, passando um braço sobre meu ombro.
Não posso negar, seu toque me faz bem. Assim
como, saber que ele quer estar por perto. — O
que tem feito?
— Trabalhado e muito... — comenta. —
Mas não posso esquecer da minha única amiga.
— Que exagero, Matheus! — replico e o
encaro. Ele não sorri, o que demonstra que está
sério. — O que foi? — pergunto, sem entender a
forma que me olha.
— Eu gosto de olhar para você e saber

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que está aqui.


— Bom, não tenho para onde ir no
momento então... — provoco e ele sorri, tocando
meu rosto com carinho.
— Gosto de você, Clara. — fala e meu
coração falha uma batida. — Sei que fiquei
ausente por muito tempo, mas quero mesmo
retomar nossa amizade.
Amizade... Por que não me sinto feliz
diante de sua afirmação?
— Como já disse, estou aqui. — falo, e
toco seu peito sobre a camisa, sentindo-me
invadir um local que não devo. Talvez, quem
sabe, tocasse-o realmente. — Também estou aí,
bem no seu coração. — pisco e ele toca minha
mão, como se confirmando o que digo.
Confirmando minha bobagem romântica
impensada.

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— Eu sei. — assume, o que me espanta.


Desde quando falávamos abertamente
sobre isso? Matheus e eu sempre focamos em
outros assuntos. Nós nunca foi algo em questão.
Não até aquele momento. Sorrio, mesmo sabendo
que não devo. Encosto minha cabeça em seu
ombro e ali permaneço, após mais um longo dia.
Eu, ele, aquela velha árvore e as luzes das
estrelas refletidas no lago. Não me atrevo a exigir
nada mais.

O verão chegou ao fim, e com ele, minha


preocupação com os vestibulares apenas
aumentou. Porém, minha mente, aos poucos,
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parece relaxar mais. Talvez pelo fato de Matheus


estar por perto e ter me ajudado em quase noventa
e nove por cento das dúvidas na bendita
matemática. Ele tem um ótimo jeito de ensinar.
Digamos, que sua didática, supera até mesmo
meus professores em seus melhores dias. O
problema, é a distração que ele se tornou. Olhar
para ele me faz perder o foco. O que
simplesmente, não pode acontecer.
— Morango deixa tudo melhor... — ele
fala, e em vez de entregar em minha mão, coloca
em minha boca.
Ali estamos nós, dentro de seu quarto,
conversando sobre nada e até mesmo, sobre tudo,
após terminarmos mais um tópico de estudo.
Sinto-me bem perto dele, e ao menos, sei que não
é como os outros. Já tinha beijado outros caras,
mas nunca senti tal entrega completa. Não a

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retratada em filmes e livros. Não a qual, pareço


querer ter com Matheus. Não se trata do sexo em
si, mas sim, da conexão que sinto com ele.
Muitas vezes, minha mente fértil e
romântica, levou-me para viajar diante de
declarações de amor dele, que jamais
aconteceram. Suspiro, sabendo que não consegui
vencer a batalha contra meus próprios
sentimentos. Apaixonei-me perdidamente pelo
homem a minha frente, que no dia seguinte,
viajará para o outro lado do oceano. Nossas vidas
são opostas, e tentei me convencer disso várias
vezes. Mas quem consegue mandar no pobre
coração adolescente?
— Obrigada. — falo, após engolir o
morango e ele sorri, olhando-me por completo. —
O que? Vai me dizer que ama...
— Amo te olhar.

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— Mat.... — tento falar algo, mas ele toca


meu rosto, como se estudando cada pequeno
pedaço.
— Eu jamais vou brincar com você. —
fala, decidido e encosta nossas testas. — Sei que
pode parecer demais, mas preciso te beijar e...
Sinto que vou pirar se não fizer, Clara. Quero
levar seu gosto comigo.
Olho para ele, que logo coloca uma mecha
de meu cabelo loiro atrás da orelha. No momento
mais clichê de minha vida toda. Por que não? Ele
não pediu meu coração.
— Me beija. — peço e ele não espera nem
mais um segundo.
O beijo acontece, lento e calmo, como
sempre imaginei. Matheus desce uma de suas
mãos para meu pescoço, e me puxa para mais
perto. Minhas mãos agarram suas costas, e sinto

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como se pudesse voar. Como se apenas pudesse


amar esse homem. Os segundos se tornam
insuficientes, e quando nos separamos por falta de
ar, sorrio, mesmo sabendo que logo mais, não nos
veríamos.
Ele sorriu, mostrando as lindas covinhas
que me encantam. Tudo nele me encanta. Soube
nesse momento que ele nunca pediu meu coração.
Entretanto, sem qualquer noção, tornara-se dele.

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Capítulo 2
“-O que você encontrou nele?
-O que faltava em mim.”[3]

Ele levou meu gosto consigo, assim como,


parte de meu coração. Os meses passaram, e com
ele, a vida seguiu. Entretanto, aguardei ansiosa
para a volta de Matheus. Algo me dizia, que as
coisas entre nós só tendiam a melhorar. Talvez
fosse meu lado romântico falando. Quem sabe,
implorando para ser iludido.
Parada a frente de casa, é onde de repente
me encontro, como se Matheus fosse correr para
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me ver assim que chegasse. Ledo engano. As


horas passaram e com elas, comecei a entender
que aquele beijo significou muito mais para mim
do que para ele. Matheus com toda certeza tinha
outras mulheres, ou até mesmo uma namorada
estrangeira. Não é como se um beijo trocado há
meses, ainda significasse algo. Ou um dia,
significou.
Bufo de minha inocência, e volto para
dentro de casa. Minha mãe já dorme, então,
devagar, fui em direção ao meu quarto, deitando-
me na cama e encarando o teto como se em busca
de respostas. Respostas para meu coração que
parece interligado a um homem que mal aparece
em minha vida. A janela aberta dá visão a uma
linda lua cheia no céu. Levanto-me e vou até a
janela, diante da imensidão que o céu presenteia.
Não é como se fossemos feitos um para o outro,
preciso colocar em minha tola mente.
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Suspiro fundo e inalo o cheiro da noite.


Ao mesmo tempo, escuto um barulho de carro,
que me faz olhar em direção a estrada que dá na
casa principal. Assisto à chegada de quem quer
que seja. Aos poucos, vejo as luzes se acendendo,
e um abraço coletivo é dado à frente da casa.
Sorrio, já tendo em mente quem é. Matheus. Pelo
jeito, um pouco mais atrasado do que imaginei, e
que sua mãe, falou mais cedo.
Decido então por encerrar a noite, e deixar
com que as coisas apenas aconteçam. Existe
muito além da paixão adolescente, pelo cara que
um dia foi meu melhor amigo. O qual beijei há
alguns meses. Matheus não é uma constante em
minha vida, preciso entender. Os estudos devem
vir em primeiro lugar, como sempre o fiz.
Formar-me na faculdade devia ser a prioridade,
não esperar pelo príncipe encantado. Tornei-me o
que mais detestava: uma pessoa que sonha
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acordada.

Uma festa de boas-vindas. Não podia ser


diferente, não com os Lourenzinni. A família de
Matheus sempre foi amorosa e adora compartilhar
sua felicidade com todos ao redor. Portanto, ali
estava eu. De frente para o espelho, pensando se
realmente devia aceitar o convite de seus pais e ir
até a festa que fariam para ele.
Batidas na porta chamam minha atenção e
levanto o olhar. Mamãe me encara com os braços
cruzados, claramente, desaprovando o pijama que
ainda visto. São duas da tarde, e sequer saí do
quarto. Encontro-me tentando sufocar as
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informações em minha mente para o vestibular,


como se fosse a única forma para não pensar em
Matheus. Que parece não estar funcionando.
— Quando vai parar de fingir que não se
importa com Matheus? — mamãe indaga,
pegando-me de surpresa. — Não me olhe assim!
Eu te conheço, Clara. Sei que algo mudou desde
que voltaram a ser amigos no verão.
— Ele não é para mim. — falo, já
tentando colocar o assunto como terminado.
— Por que é rico? Viajado? Mais velho?
— pergunta, como se lesse minha mente. —
Conheço Matheus desde quando era um bebê,
assim como, conheço a família dele. Sabe que
eles não são arrogantes, muito menos esnobes... O
que realmente te afasta dele além de si mesma?
— indaga e tento encontrar a resposta. — Apenas
pense nisso, filha. Sei que suas preocupações são

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com o futuro e está mais do que certa nisso.


Sempre vou te apoiar. Mas todo mundo precisa
sonhar um pouco, e quem sabe, viver esse sonho.
Pode ser a música, livros, escrita... Ou quem sabe,
um amor de verão.
— Já estamos na primavera, mãe. — falo,
e ela sorri, vindo até mim e passando a mão por
meu rosto.
— Você é igual seu pai. Nunca deixa o
coração falar por si. — comenta, o que me faz
sorrir. Saber que sou parecida com ele, faz-me
sentir um pouco próxima. A saudade dele ainda
me marca. Tantos momentos que gostaria de
poder ter compartilhado. — Nenhum amor tem
que ser para sempre, Clara. O que importa é o que
trazemos aqui. — toca em seu peito, como se
indicando a razão de estar ali. — A gente se joga
de cabeça, quebra a cara... Isso é normal, filha.

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— Tenho medo do que sinto por ele. —


confesso. — Aconteceu tão depressa que...
— Clara, vocês se conhecem desde que
nasceram... Dezoito anos, filha. Dezoito anos para
você sentir algo a mais por ele. Acha mesmo que
foi rápido?
— E se eu quebrar meu coração? —
indago e ela sorri, tocando meu rosto, fazendo-me
a encarar.
— Eu vou estar aqui e colar todos os
pedacinhos com você. — sorrio de sua analogia.
— Agora, se atenha a viver um pouco querida.
— Obrigada, mamãe.
Ela me dá um leve beijo na testa e sai do
quarto. Olho mais uma vez pela janela e penso se
devo ou não ir à festa que a mãe de Matheus fez
questão de nos convidar. Não é uma novidade. Os
Lourenzinni sempre o fazem. Entretanto, saber

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que Matheus está tão perto e ao mesmo tempo,


tão longe, me impede de querer ir. Talvez uma
noite não fosse acabar com o encanto que sinto
por ele. E isso, é meu maior temor.
Nenhum amor tem que ser para sempre,
Clara.
Levo a frase de minha mãe em mente,
assim como, os sonetos de um autor que
recentemente se tornou rotineiro em minhas
leituras – Luís de Camões. Abro mais uma vez a
página marcada e começo a ler em voz alta.
Parece estar falando comigo, exatamente naquele
momento. O que me faz levar a arte como grande
parte de meu ser.

“Busque Amor novas artes, novo engenho


Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,

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Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!


Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas conquanto não pode haver desgosto


Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto


Um não sei quê, que nasce não sei onde;
Vem não sei como; e dói não sei
porquê.”[4]

Finalizo a leitura e me sinto vigiada. Meu


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coração dispara e sequer consigo entender o que


está acontecendo. Talvez Camões tivesse me
tocado profundamente nesse instante. O barulho
na porta me chama atenção e fico estática, ao
notar que não é minha mãe me observando em
silêncio. Olhos castanho claros me encaram,
como se tentando me decifrar. Sinto-me invadida,
em minha privacidade. Como se Matheus tomasse
conta do que falta em mim.
Mesmo assim, não consigo desfazer do
sorriso preguiçoso em seu rosto. Sorrio para ele.
Ele dá passos à frente, vindo em minha direção.
Sem saber porque, ou sem conseguir explicar,
apenas me levanto e o abraço. Nesse instante,
quando sinto seu toque e seu cheiro me inebria,
nada mais parece importar. Nem mesmo que
nossas vidas sejam completamente opostas. Por
um segundo, permito-me acreditar no que mamãe
diz. Talvez, um amor de primavera não seja má
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ideia.

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Capítulo 3

“E eu fiquei quietinha, te esperando, rezando pra você ver


que amor maior não tem.”[5]

A noite da festa passou, assim como


muitas outras. Aos poucos, senti-me ainda mais
interligada a Matheus, mesmo sabendo que
existia prazo de validade para o que vivemos.
Fecho mais uma vez o caderno e encaro as horas
no relógio de pulso. Já passa da meia-noite.
Suspiro, já não me aguentando diante da
ansiedade na semana antes dos vestibulares que
prestarei. Sentia a ansiedade me consumir a cada
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dia.
— Combinamos de jantar e a senhorita
não apareceu.
Levo a mão ao peito devido ao susto e
jogo meu estojo sem sequer olhar para o lado.
— Que merda, Matheus! — reclamo e ele
sorri abertamente, encarando-me. — Sua mãe
deve estar furiosa comigo. — falo, finalmente me
lembrando que o convite veio dela.
— Sim e não... Acho que consegui aliviar
um pouco para o seu lado. — comenta e o encaro
ansiosa.
— Jura? — pergunto, sentindo-me um
pouco menos culpada. Ele assente, e pega a
cadeira a meu lado, sentando-se ao contrário nela.
— Mamãe entendeu que você deve estar
tão compenetrada nos livros que não lembrou
nem de comer. Ainda mais com sua mãe fora da

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fazenda. — acusa e apenas consigo assentir. É a


mais pura verdade.
Mamãe ganhou um curso de cozinha
italiana, e ficará uma semana fora. Justo na
semana mais louca de minha vida, onde tudo o
que falta fazer é comer os livros para tentar
absorver mais alguma informação. Entretanto,
fiquei completamente feliz por ela. Ela merece
um pouco de novidade em sua vida.
— Agora, que tal pararmos um pouco com
o estudo e... — ele tira os livros de minha frente,
e toca meu queixo, fazendo-me olhá-lo. — Olha
para mim! — ele sorri o que magneticamente me
obriga a fazer o mesmo. — Eu sinto sua falta,
mesmo sabendo que está a poucos metros de
mim.
— Nossas vidas são corridas. — comento
e ele assente. — Mal sei o que vai acontecer se

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passar na universidade que quero e isso pode...


— Nos afastar mais. — complementa, e
forço um sorriso. — Acho que sabemos bem o
que queremos, deusa. Não tem porque impedir de
vivermos o momento juntos.
— Um momento pode valer mais que uma
vida. — falo e pisco para ele.
— De que poeta se trata? — indaga e dou
de ombros.
— Ninguém menos do que minha mãe,
que adora filosofar pela casa. — confesso e ele se
levanta, ainda sem tirar sua mão de meu rosto.
Logo ele puxa meu corpo para o seu e
mesmo sendo mais alto, sinto como se fossemos
perfeitos um para o outro. O encaixe de nossos
corpos parece falar por si.
— Sabe que o mundo lá fora não importa,
não é? — indaga e o encaro, sem entender a

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pergunta. — Quando estamos eu e você, nada


mais importa.
Sorrio, tocando seu rosto com carinho e
acreditando em suas palavras. Sei que não devo,
por mais que esse seja o menino que cresci ao
lado, transformado em homem. O homem que
desejo. O homem que tem povoado meus sonhos
mais insanos.
— Senti sua falta. — admito, finalmente
deixando o momento acontecer. — Senti por não
poder estar ao seu lado durante todo o tempo fora.
Sinto o corpo de Matheus tenso, mas não
levo isso em consideração. Apenas fico na ponta
dos pés e toco seus lábios com os meus. O beijo
começa lento, e aos poucos, torna-se mais
desejoso. Como em meus sonhos, cada pequeno
toque de Matheus, deixa-me com ainda mais
certeza de que quero ser dele. Por completo.

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Seu corpo cerca o meu contra a parede do


quarto e deixo com que prenda minhas mãos
sobre a cabeça. Talvez fosse verdade nos
romances, que sabíamos o que fazer no momento.
É como se Matheus fosse apenas um guia, meu
corpo simplesmente age. Ele para, e me encara,
como se em busca de permissão para continuar.
Suas mãos estão na barra de minha camisa, e
sorrio, dando-lhe a resposta.
Mal percebo e já estou debaixo de seu
corpo enquanto nos beijamos com mais
ferocidade. Suas mãos exploram em todos os
lugares, fazendo-me sentir o que sequer imaginei
ser possível. Plenitude e ansiedade ao mesmo
tempo. Eu quero mais. Mais uma vez ele e me
encara, tocando meu rosto com carinho.
— Eu quero isso. — deixo as palavras
saírem, e ele as aceita, sem questionar. Talvez os

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momentos que compartilhamos fossem o


suficiente. Talvez falassem por si.
Finalmente ele puxa minha camisa por
cima da cabeça, e retira devagar o restante de
minhas roupas. Deixando-me nua sob seu corpo.
Não protesto, pois o reflexo de desejo em seu
olhar fala por si só. Ambos queremos o momento.
Ele fica nu, em seguida. Sinto meu rosto queimar,
mas não desvio o olhar do homem que será meu
primeiro.
Seus lábios encontram meus seios e todos
os pensamentos se esvaem. Agora somos apenas
eu e ele. Perdidos em um prazer que sequer
imaginei ser real. Ele vira e pega algo no chão,
que acredito ser o preservativo, então paro para
analisá-lo mais uma vez. Como poderia lutar
contra o que sentia por ele? É simplesmente
impossível, ainda mais, olhando-o ali. Corpos

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nus, sentimentos à solta. Ele é simplesmente


formidável, não há nada fora do lugar. Suspiro
diante de tal constatação. Vejo-o então com o
preservativo em mãos, o qual coloca olhando para
mim. Não posso negar, pois a única coisa que
penso é em seu corpo no meu.
Matheus me beija com delicadeza e logo
começa a se render ao momento, tornando o beijo
feroz. Estamos na linha tênue entre carinho e
ferocidade. Não processo muito bem, mas ao
mesmo tempo que sua boca me inebria, sinto-o
me invadir. A dor é latente, mas aos poucos sinto
meu corpo se acostumar com o seu.
— Já passou deusa, agora vem a parte
boa! — fala, minutos depois, o que me faz sorrir.
Realmente, seus toques em meu corpo me
acendem de forma que a dor não parece mais
presente.

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Nossos corpos se unem de maneira sem


igual, e mesmo sendo a primeira vez que faço
sexo com alguém, não consigo imaginar tal
conexão com nenhum outro. Suas mãos em meu
cabelo, a voz rouca e sedutora em meu ouvido, os
beijos quentes pelo corpo. Tudo parece em
sincronia. Chego à conclusão porque éramos nós.
Simples assim.
Assim como, o êxtase chega, fazendo com
que todo meu corpo o sinta de forma
transcendental. Matheus me encara de forma
animalesca, como se aprovando a receptividade, e
logo, sinto-o se render ao prazer. Ele para, como
eu, respirando de forma desordenada, e abre um
lindo sorriso. O que coroa ainda mais o momento.
Trocamos um beijo lento e sensual. Nunca
conseguiria esquecer aquela noite. Mesmo se
quisesse.

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Sinto minhas pálpebras pesadas e aos


poucos consigo abrir os olhos. Não me lembro da
última vez no ano que dormi de forma tão pesada.
Espreguiço-me e busco o corpo de Matheus na
cama. O vazio e os lençóis frios não são a melhor
reposta. Sento-me e olho ao redor. Não há sinal
dele. Resolvo levantar e ir até o banheiro.
Tomo um banho demorado e durante ele,
fica impossível não cantar. Sinto-me feliz e
completa. Nunca imaginei que ele seria meu
primeiro, não da forma que me faria sonhar
realmente com tê-lo como meu. Talvez fosse cedo
para imaginar um futuro. Entretanto, seria mentira

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não dizer que nos imagino juntos.


Temos tudo para dar certo. Antes de tudo,
sempre fomos amigos. Mesmo que uma longa
época nos afastamos, quando voltamos a nos
falar, tudo pareceu natural... E olha onde estamos.
Suspiro, encostando-me no azulejo frio e desligo
o registro. Meu corpo parece embalado pelo
vapor quente e fico ali alguns segundos, apenas
me imaginando mais uma vez em seus braços.
Sorrio, saindo do banheiro enrolada em
uma toalha. Abro a porta de meu guarda-roupa e
tiro um vestido azul claro, que há muito tempo
não uso. Sinto-me um pouco mais leve, algo que
parece estar sendo transmitido. Matheus me traz
isso. Ele é leveza, enquanto sou intensidade. O
que me faz pensar que temos tudo para dar certo.
O que poderia provar o contrário?
Saio de casa e ando em direção a casa

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principal. Algo me diz que preciso me desculpar


com sua mãe pela falta no jantar, e mais, poder
olhar para Matheus mais uma vez. Dali por
diante, o tempo juntos apenas diminuiria. Os
vestibulares chegando e minha mente precisa
estar focada. Mas por um dia, assim como na
noite que se passou, quero apenas poder olhar
para ele e viver o momento.
Entro pela cozinha, e logo encontro Tina,
a substituta de minha mãe durante sua viagem.
Ela sorri em minha direção e lhe cumprimento.
Ando a passos lentos até a sala de estar, e logo
avisto a mãe de Matheus – Luana. Ela abre um
leve sorriso em minha direção e vou até ela.
— Eu posso explicar. — aviso, assim que
paro a sua frente, e ela me dá um beijo no rosto.
— Aposto que ficou perdida nos livros. —
acusa e recuo os ombros, assentindo. — Tem que

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sair um pouco dos estudos, querida. Sei o quanto


é importante para você cursar uma universidade,
mas...
— Às vezes é preciso relaxar. —
complemento. — Mamãe sempre me diz o
mesmo.
— Deve ser coisa de mãe, então. — fala,
sorrindo. — Lembro bem da época em que
Matheus passou na faculdade, ele quase me
deixou doida de tanto querer estudar. Agora, que
ele já está formado e pelo jeito, ainda fará uma
especialização fora do país... Finalmente, o vejo
mais tranquilo em relação a isso.
— Matheus parece bem mais calmo que
eu. — confesso, um pouco envergonhada. Sinto-
me um tanto quanto analisada por Luana, que
sempre me tratou como de sua família. Ele com
toda certeza desconfia de algo.

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— Agora me esclareça algo. — engulo em


seco, já até imaginando sua pergunta. — Matheus
já tem quase vinte e dois anos... Você tem
dezoito... Desculpe se estiver sendo intrometida
mas...
O barulho da campainha se espalha por
todo o ambiente e vejo nele, a oportunidade
perfeita para adiar tal conversa constrangedora.
— Eu atendo para senhora. — falo, e
antes que Luana possa dizer algo, já estou à frente
da porta principal.
Abro-a e logo vejo uma morena em saltos
altos, com um corpo curvilíneo e um sorriso
claramente forçado no rosto. Ela me encara de
cima abaixo e basicamente joga sua bolsa em meu
colo. Fico estática por alguns segundos, e ela
simplesmente entra na casa. Solto a bolsa no chão
e tento impedi-la.

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— Ei, não pode ir entrando como...


— Matheus! — ela grita, e meu corpo
paralisa no mesmo instante. — Querido, eu
cheguei!
— Talvez seja o momento de ter modos
na casa dos outros, senhorita. — a voz acusatória
de Luana emana por todos os lados, e sinto até
pena da mulher a sua frente, que não esperava tal
embate. — Sou Luana Lourenzinni, dona dessa
casa e mãe de Matheus. Você é? — indaga, e fico
paralisada, assistindo a cena.
O que me faz pensar que temos tudo para
dar certo. O que poderia provar o contrário?
— Oh sim! — a mulher permanece em
sua postura impecável e estica uma mão em
direção a Luana. — Matheus falou muito sobre
você. Sou Esther Montês, a namorada.
O baque que suas palavras me causam é

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inestimável. No mesmo momento, escuto passos


na escada, e não consigo evitar olhar na direção.
Matheus dá uma geral no ambiente e de repente,
seus olhos param nos meus. Encaro-o, buscando
respostas. Algo concreto. Que me diga que não é
isso. Que ele não brincou comigo. E pior, de
quebra, enganava outra pessoa.
— Filho...
A voz de Luana parece se perder, e não
consigo mais olhar. Matheus vem em direção a
porta, e logo, a tal Esther está sobre seu corpo.
Ela o beija. Não consigo permanecer ali, sinto-me
quebrar. Dou as costas e saio rapidamente da
casa, pela mesma porta que sua namorada entrou.
O caminho até minha casa se torna maior de
repente.
Lágrimas queimam meus olhos, mas me
nego a chorar ali. Se quebrar, não é como levantar

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e continuar.
— Deusa!
Paro, com as mãos entorno de meu corpo
e não faço questão de me virar. Sinto seu toque
em meu braço e o afasto, como se queimasse.
Encaro-o e Matheus parece pronto para usar
algum discurso.
— Foi o que? Alguma espécie de aventura
com sua velha amiga da fazenda? — indago com
raiva e ele parece inconformado. — Não me olhe
assim, Matheus! Não me olhe como se eu
estivesse errada em lhe perguntar isso! — grito, e
me seguro para não chorar.
— Eu jamais te enganaria, Clara. Eu... Eu
te amo. — fala, e rio sem a mínima vontade. —
Por favor, eu tentei terminar com Esther, mas...
— Mas o que? — indago. — A ama como
faz comigo? — pergunto com raiva e toco seu

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peito, sentindo-me perder a razão. — Por que não


me disse que é um homem comprometido? Nunca
te pedi nada além de momentos, Matheus. Podia
ter sido sincero comigo.
— Eu não tinha ideia do que ia acontecer
quando nos víssemos depois de tanto tempo. —
finalmente parece sincero. — Conheci Esther em
Londres e...
— Eu não quero saber da história de
vocês. — falo com raiva e o empurro para longe.
— Eu não quero olhar para você. Eu não consigo!
— levo as mãos ao rosto, sentindo-me por um fio.
— Eu achei, que antes de tudo, muito antes de
sequer sentirmos desejo um pelo outro, fossemos
amigos... Você acabou de provar que nada foi
real.
— Clara! — ele fala, e tenta me puxar
para perto. Empurro-o, sem deixar que me toque.

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— Eu vou consertar as coisas e...


— E seguir sua vida. — minha voz soa
alta e determinada, sem demonstrar o quão frágil
me sinto. — Seguir sua vida longe de mim.
— Clara, por favor. — pede, e não
consigo olhá-lo. Dói saber que sempre fui uma
pessoa desconfiada, e no fim, acabei me
entregando para a pior delas.— Eu jamais
brincaria com você.
— Mas você fez isso e mais.... Você tem a
coragem e audácia de dizer que me ama... Por
Deus, Matheus! Devia ter um mínimo de
compaixão. — revido e me afasto, voltando a
andar.
— Eu não vou desistir de você. Vai
entender que nunca senti pena ou algo diferente
de amor por você.
Sua voz se perde com o vento e não lhe

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dou resposta. Entro em casa e corro para meu


quarto, trancando a porta em seguida. Deixo-me
quebrar ali. Com toda raiva misturada ao que
sinto por ele. Raiva por ter me deixado levar pelo
que sinto. Raiva por ter que admitir que Matheus
Lourenzinni é meu primeiro amor. Raiva por
agora, não saber como tirá-lo de minha mente,
corpo... e mais, de meu coração.

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Capítulo 4
“Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no
jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história
muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que
fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí
lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria
contar essa história para você. E fiquei triste de novo.
Quase consigo me animar com essa história, mas me
animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste
novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu
achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte
e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu
achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa
todos os dias.”[6]

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Meses depois...

Depois daquela fatídica noite de amor


com Mateus, resolvi retomar as rédeas de minha
vida. Engoli o choro e não deixei me abater.
Sabia, no fundo de meu peito, que era apenas um
primeiro amor. Não o deixaria me fazer perder o
foco. Foi apenas um amor tolo – dizia a mim
mesma, toda vez que a imagem de Matheus me
vinha em mente. Ainda mais, nas vezes em que
ele apareceu em casa me procurando.
Lhe pedi para parar e que precisava me
concentrar nos estudos. De alguma forma, mesmo
que torta, ele acabou aceitando e se afastou.
— Vou te dar esse tempo, mas eu não vou
desistir da gente. — fala decidido e desvio o
olhar, não querendo lhe dar atenção. — Sei que

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precisa se concentrar...
— Está me fazendo perder tempo. —
minha voz soa rude e noto a falta de emoção em
seus olhos. Matheus parece entender que não vou
voltar atrás em minha decisão. Não o quero. Não
mais. — Eu preciso estudar.
— Eu... Sei que está magoada. Tem todo
direito do mundo de estar. Mas eu juro que não
tenho mais nada com Esther.
— Não é problema meu. — comento e lhe
dou as costas, sem querer entrar no assunto. Não
aguentava mais discutir o mesmo. — Apenas me
deixe em paz, Matheus.
Volto ao presente quando alguém esbarra
em meu corpo, e tento me manter de pé. O
caminho até a enfermaria da universidade nunca
termina. Suspiro, lembrando-me de como a vida
passou nos últimos meses. Prestei os vestibulares

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e acabei seguindo o ramo de Ciências Biológicas


em uma das universidades que antes sequer
cogitei como opção. No Ceará, por fim, é onde
me encontro. Uma boa quantia de dinheiro
guardada no banco, sonhos em mente e o estudo
como foco. Era tudo o que conseguia pensar
quando me mudei.
Felizmente, a irmã de minha mãe mora na
capital do estado, e me acolheu de forma
carinhosa, tratando-me como sua filha. Tudo se
encaminhou da melhor maneira, e de repente,
senti que seguia pelo caminho certo. A saudade
de minha mãe, da nossa casa, da vida na fazenda
sempre me perseguia. Era e ainda é algo
constante. Entretanto, a princípio decidi focar no
lado positivo da distância. A imagem de Matheus
também vivia em minha mente, o que sempre fiz
questão de afastar. Ele não devia mais significar
nada. Infelizmente, ainda o fazia.
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A parte boa de mudar de ares, foi que em


Fortaleza por obra do destino conheci um gaúcho
que roubou inteiramente meu coração.
Infelizmente, não no sentido de paixão. Andie ou
Anderson para os não íntimos, se tornou um
grande amigo de repente, entretanto, não podia
ser menos real. Na verdade, sua primeira
impressão de mim pode ser considerada um tanto
quanto assustadora. Aconteceu no mesmo dia em
que minha vida virou do avesso. Quando, de
repente, o estudo acabou tomando o segundo
lugar em minhas prioridades. Passo a mão por
minha barriga já grande e sorrio em direção a
meu pequeno, que sequer tem noção do que
acontece. Ele se tornou minha prioridade.
Chego a enfermaria e peço um remédio
para dor de cabeça que foi recomendado pelo
ginecologista. Felizmente, eles o tem. Senão, teria
que voltar para casa em meio a uma aula incrível
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de Evolução. Sentada na cadeira de paciente,


enquanto a enfermeira mede minha pressão,
lembro-me com clareza de quando descobri a
gravidez. Nunca pensei que podia me surpreender
como naquele dia.
Em um dia comum, estava correndo para
não chegar atrasada para a primeira aula quando
esbarrei em alguém. O pior de tudo, é que ao
encarar os olhos azuis do homem, senti meu
corpo fraco, e de repente, simplesmente desmaiei
em seus braços. O que poderia ser pior que
desmaiar em cima de um desconhecido? Ele me
levou até a enfermaria e ficou ao meu lado,
mesmo depois que acordei e aleguei que estava
tudo bem. Devia ser apenas uma queda de
pressão. Ledo engano.
Minutos a frente de duas enfermeiras e
logo, o pedido de um teste de farmácia, que

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apenas confirmou a suspeita das mulheres. Eu


estava grávida. Suspiro profundamente, no
mesmo instante em que Julia, uma das mesmas
enfermeiras que estava ali no dia da descoberta,
me diz a pressão.
— Obrigada. — falo e sorrio em sua
direção.
— Sabe que logo terá que parar com as
aulas, não é? — pergunta e assinto.
— Acho que hoje será minha última aula.
— conto e ela me encara admirada. — Esse
rapazinho já está em posição, segundo meu
médico. Completo nove meses em uma semana...
Prefiro me manter em casa e esperar. Para não
correr o risco de a bolsa estourar aqui.
— Faz bem. — concorda com minha
decisão.
Saio da enfermaria e me encaminho para a

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sala novamente. Logo sinto uma mão em minha


cintura, e sorrio para Andie, que parece abismado
diante do tamanho de minha barriga.
— Parece que em um dia, Daniel fez sua
barriga crescer uns dez centímetros de diâmetro.
— anuncia, e o encaro, sorrindo abertamente.
— Deixa de ser exagerado!
— É sério, loira! — passa a mão por
minha barriga, assim que paro os passos. Daniel
gosta dele e assim, sinto meu menino mexer. —
Ah, eu amo esse garoto.
— Eu sei. — falo, e Andie me encara,
como sempre com carinho. — Sabe que tornou
tudo fácil para mim, não é? — pergunto e ele
nega com a cabeça.
Puxo-o para um abraço e mesmo com a
barriga entre nós, damos um jeito. Andie é como
um anjo em minha vida. Ele apareceu no

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momento certo e felizmente, resolveu ficar.


Lembro-me bem do dia da enfermaria, e da sua
mão firme na minha, quando soube da gravidez.
Um completo desconhecido anunciando: estou
aqui para o que precisar.
Por um momento, pensei que ele agia
como qualquer pessoa. Mas Andie é diferente, ele
realmente permaneceu em minha vida. De
repente, estávamos frente a frente em uma
sorveteria, e ele tentava me acalmar depois do
baque inicial. Foi assim e ainda é, mesmo depois
de meses da descoberta. Andie me traz paz e não
existem palavras nem ações suficientes para
agradecê-lo por ser tão incrível.
Ele é um homem muito bonito e
charmoso, não posso negar. Porém, de alguma
forma, nada nasceu entre nós. Nada além de uma
bela amizade. Ele é estudante de medicina, mas

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nunca o vi envolvido com alguém na


universidade. Um tempo depois descobri o
porquê, quando Andie me contou que é
homossexual. Naquele momento soube que nos
tornamos confidentes. Foi a primeira vez que
Andie contou abertamente sobre sua opção sexual
para alguém, assim como, foi a primeira vez que
falei sobre minha história com Matheus.
Foi quando ele finalmente entendeu o meu
claro medo de contar ao pai da criança que estava
grávida. Isso, após algumas semanas da
descoberta. Sempre pegava o telefone da casa de
minha tia e discava para o dele, mas desistia.
Desistir de Matheus sempre foi mais fácil do que
encarar a realidade. Até que um dia, finalmente
tomei coragem e o fiz.
A resposta que recebi foi ainda mais
dolorosa que o silêncio. Ainda mais, quando

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finalmente entendi que não passei de uma


brincadeira para ele. Que ainda era.
— Ei, Matheus é a Clara. — falo, e escuto
a respiração pesada do outro lado da linha. —
Eu...
— Matheus está no banho. — fechei os
olhos, ao interligar a voz no telefone com a da
mesma mulher que era sua namorada. — Quer
deixar recado?
Não tive sequer coragem de prosseguir
com a ligação, desfazendo-a em seguida. No
mesmo dia, liguei para minha mãe e contei sobre
a gravidez. A princípio foi um choque, mas ela
não me julgou. Dias depois ela desembarcou em
Fortaleza, e assim, tem estado ao meu lado todos
os dias. Mesmo sabendo a verdade sobre o pai do
meu filho, não insistiu sobre. Disse que é uma
decisão minha, e que em algum momento,

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Matheus teria o direito de saber.


Saio do abraço de Andie, assim que
imagens de Matheus povoam meus pensamentos.
Tento não pensar nele, muito menos, que ele é o
pai do meu filho. Entretanto, é algo necessário.
Não tive coragem de ligar novamente, e sinto-me
em dívida com ele. Independentemente do que
houve entre nós, Daniel não pode pagar por isso.
Ele merece ter um pai.
— Pensando no homem dos sonhos? —
Andie indaga e assinto, já querendo negar que
esse é Matheus.
— Ele não...
— Sei... Ele é um cafajeste. Já passamos
desse tópico, Clara. — pisca em minha direção,
sorrindo. — Precisamos mesmo é avançar para o
tópico onde conta para ele sobre o pequeno em
sua barriga.

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— Eu sei, Andie... Eu só...


— Está enrolando. — acusa e fico sem
respostas. É a mais pura verdade.
— Eu vou falar com ele, assim que Daniel
nascer. — assumo e Andie assente, um tanto
quanto desconfiado. — Não me olhe assim!
— Como? — provoca e sorri abertamente.
— Como se minha amiga fosse a mulher mais
cheia de desculpas esfarradapas do mundo?
— Andie... — reclamo, mas não posso
evitar um sorriso.
Sinto uma leve dor na barriga e de
repente, o sorriso se vai. Escoro-me no corpo de
meu amigo e respiro profundamente. Uma dor
mais forte vem em seguida e sinto meus joelhos
falharem. Sinto algo molhado descer por minhas
pernas, e de repente, noto o chão abaixo de mim
com uma pequena poça transparente.

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— Puta merda! — Andie exclama, com


um sorriso estilo coringa. — Não tem mais
enrolação. — constata. — Vamos para o hospital
e hoje mesmo, o pai do seu bebê vai saber sobre
ele. Mas primeiro, vamos trazer Daniel para o
mundo! — praticamente grita, fazendo várias
pessoas que passam nos olharem.
Gargalho em meio a dor, e logo Andie me
pega no colo, levando-me até seu carro. De todas
as coisas que podiam acontecer em minha vida,
nenhuma delas parece em sincronia. Entretanto,
nada faz mais sentido para mim. Não no
momento, em que finalmente me dou conta, de
que trarei uma vida para o mundo. Daniel estava
chegando para transformar a minha por completo.

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Capítulo 5
“Talvez eu tenha medo demais, e isso chama-se covardia.
Fico me perdendo em páginas de diário, em pensamentos e
temores, e o tempo vai passando. Covardia é uma palavra
feia. Receio de enfrentar a vida cara a cara..”[7]

Talvez a vida não passasse de um clichê


barato.
Talvez eu fosse apenas mais uma mocinha
colocada na trama aleatoriamente.
Suspiro fundo e tiro os fones de ouvido.
Ouvir Legião Urbana nunca mais foi a mesma

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coisa. Não depois daquela noite. Olho para o


berço ao meu lado e acabo me sentando na cama.
Paro e apenas observo meu pequeno em seu sono.
Escorada no berço, assisto-o respirar de forma
lenta e calma. Sorrio mais uma vez, sem ainda
conseguir acreditar que gerei uma vida. Uma vida
tão pequena. Porém, que significava o mundo
para mim. O meu tudo.
Fecho os olhos, mais uma vez, viajando
no tempo e pensando no que não devo. A porta do
quarto se abre, fazendo-me sair do devaneio.
Lembrar-me de Matheus se tornara algo contínuo.
Ainda mais, depois que descobri a gravidez de
Daniel. Agora então, com ele a minha frente,
tornara-se impossível não o imaginar ali comigo,
olhando nosso filho. Matheus Lourenzinni é
perigo. E permanecia como um dos piores,
principalmente, para meu tolo coração.

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— Oi, mãe. — praticamente sussurro e me


levanto da cama, indo em direção a saída do
quarto.
Alugamos um apartamento, depois de um
longo tempo morando com minha tia. Por mais
que ela tenha insistido para ficarmos, achamos
melhor procurar um canto apenas nosso. Daniel
ainda é novo e, portanto, chorar de madrugada ou
até mesmo o dia todo, segundo mamãe, com
certeza acabaria atrapalhando. Ainda mais, depois
de tudo que minha tia nos ajudou.
— Como ele está? — mamãe pergunta,
assim que fecho a porta com cuidado atrás de
mim.
— Dormindo feito um anjo. — comento
com um leve sorriso. — Nem parece que faz
poucos dias que saímos do hospital.
— Ele é bonzinho como você quando

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recém-nascida. — fala e a encaro surpresa. —


Sim, você quase não chorava à toa.
— Tomara que Dani seja assim. — peço e
levanto as mãos aos céus.
As poucas vezes que ele chorou, até
mesmo no momento que nasceu, partiu meu
coração. Doía não saber o que tiraria seu
desespero, ainda mais, sendo mãe de primeira
viagem. O medo de errar a qualquer momento, até
mesmo na hora de pegá-lo, me persegue.
Felizmente, tenho mamãe ao meu lado, que me
ajudou a começar a entender que tudo bem não
saber tudo. Ela mesma, não sabia quando nasci.
Diz, que até hoje, não tem completa noção.
— Agora, que tal pensar sobre o que tanto
conversamos... — fala, e suspiro fundo.
Mais uma vez, caímos no mesmo assunto
– Matheus.

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— Sei que é uma escolha sua, filha. Mas


agora, já não lhe pertence. Daniel nasceu e ele
com toda certeza quer o pai por perto. — e ela
tem toda a razão.
— Acho que privei Daniel por tempo
demais do pai. — assumo meu erro. — Sei que
devia ter insistido, quem sabe, contado aos seus
pais, mas...
— Seu coração estava machucado. —
mamãe fala, como se conseguisse me ler. — Mas
agora, tem mais alguém que depende e é
influenciado diretamente por suas decisões.
— A gente precisa crescer, não é? — a
pergunta é retórica, mas mamãe assente e sorri.
— Use o telefone que comprei e ligue
para ele. — oferece e agradeço.
Infelizmente, o contato ainda é algo
difícil. Ainda mais, com apenas o começo do

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domínio dos celulares. Mamãe contou que os


Lourenzinni compraram alguns, e até mesmo,
Matheus tinha um. Segundo ela, pesados e um
pouco complicados de se mexer. Bom, ainda
permanecíamos com o telefone fixo. O que não
nos é um problema.
Tiro o telefone do gancho e fico o
encarando por alguns segundos, antes de
finalmente teclar o número colado ao lado.
Mamãe fez questão de anotar o novo número de
Matheus, o qual conseguiu com Luana há alguns
dias. Não sei ao certo o que ela inventou para o
conseguir. Porém, imagino que soou convincente.
A cada toque do outro lado da linha, meu
coração bate em sincronia. Não sei explicar
porquê uma simples ligação consegue me manter
tão desesperada. Um barulho me chama atenção e
prendo a respiração.

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— Matheus? — pergunto, e peço,


internamente, para que seja ele. Por mais que não
sejamos mais nada. Apenas preciso lhe contar
sobre nosso filho.
— Lá vem ela, mais uma vez... Carla, não
é? — paraliso diante de sua pergunta, mais uma
vez, a voz daquela mulher em meu caminho.
— Preciso falar com Matheus. — anuncio,
tentando me manter firme.
— Ele pediu apenas para dizer que não
quer saber desse bastardinho... — fico sem
reação e minha boca se abre diante de suas
palavras.
— O que disse? — indago, sentindo meu
nervosismo tomar conta.
— Bom, que ele não quer um filho, muito
menos, um seu. Esse bastard...
— Cale a sua boca! Não ouse falar do

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meu filho! — solto de uma vez e apenas não grito


por me lembrar que Daniel dorme tranquilamente
em um dos quartos. — Eu não quero nada de
você. Quero falar com...
— Matheus está aqui e já pediu para não
ser incomodado. — ela me corta e sinto meu
coração sangrar. Ainda mais, pela raiva que
sinto por ainda imaginar que o Matheus que
conheci existia.
— Vão para o inferno! — falo de uma vez
e coloco o telefone com toda força no gancho.
Seguro-me para não gritar. Minha raiva
toma conta de todo corpo e tenho vontade de
socar qualquer coisa. Seguro-me para não o fazer.
Mamãe aparece na sala de estar e me encara,
claramente assustada com meu estado.
— O que foi, Clara?
— Ele sabia... Todo esse tempo... —

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anuncio e mamãe me encara com um claro ponto


de interrogação na testa. — Ele... Apenas me
deixe esquecer que Matheus existe. Eu, a senhora
e Daniel, bastamos. Não precisamos dele.
— Clara...
— Não, mãe. — corto-a. — Não fale mais
dele perto de mim. Eu imploro.
Saio da sala e sigo até o quarto onde
durmo, e agora, onde meu mais novo sonho
descansa. Prendo o choro e paro ao lado do berço.
Olhando meu filho, sei que nunca deixarei
ninguém o machucar.
— Eu estou aqui, pequeno. — sussurro e
ele sequer mexe, claramente em sono profundo.
— Sempre estarei. Nós dois. Sempre.

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Alguns dias depois...

— Andie, eu já disse pra parar de mimar


Daniel desse jeito. — falo, tentando parecer brava
com meu amigo. Andie tira mais um urso de
pelúcia da sacola e coloca ao lado do outro,
praticamente fazendo bico. — Andie...
— Qual é, Clara? Ele é só um bebê.
— Exatamente! — faço sinal com as
mãos, como se fosse óbvio. — Ele não vai
aproveitar agora e...
— Eu me intitulei o padrinho, portanto,
tenho o aval de mimar essa criança...
— Até quando ele for bem velhinho. —
complemento sua frase diária, e ele sorri
abertamente, sabendo que não tenho como
continuar discutindo a respeito dos vários
presentes que ele dá para meu filho.

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É o jeito de Andie mostrar o quanto se


importa. Assim como, vir todos os dias dar, nem
que for, uma simples olhada em Daniel. Queria,
em meu interior, que fosse o suficiente. Mas
Andie, infelizmente, não é o pai de meu filho.
— Eu não consigo brigar com você. —
anuncio, rendendo-me e ele bate uma palma,
como se você o vencedor. — Mas juro que se
aparecer com mais um ursinho de pelúcia...
— Ok, ok! — levanta as mãos em sinal de
rendição. — Ainda existem carrinhos, castelos,
robôs, bolas...
— Andie! — repreendo-o, e tudo o que
ele faz, é rir.
— Agora, posso ir ver meu afilhado? —
indaga, e assinto.
— Claro que pode. A casa é sua, sabe
disso. — ele sorri, e passa por mim, entrando no

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quarto onde deixei Daniel dormindo.


Meu primeiro ato é segui-lo, porém, paro.
Assim que escuto batidas na porta da frente.
Mamãe não está em casa, o que só pode indicar
que deve ter esquecido a chave em algum lugar.
Moramos em um apartamento alugado, que
felizmente, é mantido com as economias que fiz
por um longo tempo, assim como as de minha
mãe. Ela se preparou a vida toda para poder me
ajudar durante a faculdade. Entretanto, sabia, que
com a chegada de Daniel, e seu pedido de
demissão da fazenda dos Lourenzinni, tudo
poderia se complicar.
Contudo, ter um filho e estudar será um
desafio. Mas não fugirei dele. Daniel veio para
somar em minha vida, e coloquei isso em mente.
Se em algum momento, notar que não temos mais
condições, com toda certeza, trancarei a faculdade

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e vou focar em meu filho. Ele vem em primeiro


lugar. Entretanto, no momento, tudo corre bem.
Vou até a porta e abro, já pensando em
provocar mamãe por esquecer a chave. Tive uma
adolescência inteira com sua amolação por ser
uma pessoa esquecida. É o momento de poder
revidar. Porém, assim que encaro a pessoa a
minha frente, fico estática. Não sei o que dizer,
muito menos para onde correr. E meu reflexo, é
fechar a porta no mesmo instante.
Seu pé não permite que a porta se feche, e
logo sua mão força para abrir. Solto-me da
madeira e apenas encaro, o homem que a cerca de
três dias, dilacerou meu coração.
— Deusa, por favor... Vamos conversar.
— pede, e então, abre a porta por completo.
Nossos olhos se conectam por um
instante, e todo o mundo parece parar. É como se

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estivesse no lugar certo outra vez. Balanço a


cabeça, tentando me recompor. No mesmo
momento, um choro estridente se faz presente, e
me viro, dando de cara com Andie e Daniel em
seu colo. Meu bebê chora, e por um segundo,
esqueço-me que Matheus está em nossa porta.
Andie me entrega Daniel, olhando de
forma intrigada para o homem a sua frente. É
como um embate, e até imagino a maneira dura
que meu amigo o encara. Não tenho tempo para
isso, e foco em Daniel, que aos poucos, ao ser
balançado em meu colo, vai se acalmando.
Agradeço internamente por não ser nenhuma
cólica. Ele para de chorar, e aos poucos, volta a
ficar sonolento em meu colo.
Viro meu olhar para Matheus, que
permanece parado a minha porta, encarando toda
a cena, completamente acuado. Não entendo seu

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posicionamento, e no mesmo instante, as palavras


de Esther vem em minha mente. Fecho o
semblante e vou até o quarto, colocando Daniel
com cuidado no berço. Felizmente, ele dorme,
como se já tivesse feito o suficiente.
— Filho, você queria falar com seu pai?
— pergunto baixinho, e uma lágrima desce por
meu rosto.
Saio do quarto, e ando em direção a sala.
Matheus permanece no mesmo lugar, e noto que
Andie não sabe o que fazer.
— Pode entrar, Matheus. — falo, e ele
assente, dando passos para dentro. Noto que traz
uma mochila em suas costas. — Andie, pode
olhar Daniel por alguns minutos? Se ele chorar...
— Tudo bem. — meu amigo fala, e toca
meus ombros, encarando-me profundamente.
Como quem diz: Coragem!

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De algum jeito, ele entendeu. Que o


homem a nossa frente não é qualquer um. É
Matheus Lourenzinni, o pai do meu filho e o qual
um dia, foi meu melhor amigo. Andie se afasta, e
assim que nos encontramos sozinhos, não sei
mais o que dizer. As palavras ficam presas em
minha garganta. Tê-lo, a minha frente, depois de
tanto tempo, torna-se sufocante.
Por que, Matheus? – a pergunta fica presa
em minha garganta. E surpreendendo-me, ele é
quem começa a falar.

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Capítulo 6

“Olhara-o e descobrira na sua trêmula vitória a mesma


perturbação. Ele lhe trouxera timidamente um grito.
Fitaram-se um instante e tudo era indeciso, frágil, tão novo
e nascente.”[8]

— Sua mãe me ligou e passou seu


endereço. — falo, tentando encontrar as palavras
certas. — Ela disse que sabia do quanto eu te
procurei e que se sentia em dívida comigo por
não contar.
— O que? — Clara indaga, e noto a
incredulidade tanto em seu rosto quanto em seu
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tom de voz.
— Ela me ligou ontem à noite. — conto e
Clara se senta numa poltrona, olhando para
qualquer lugar, menos para meu rosto. — Eu acho
que só precisava te ver de novo, Clara. —
confesso, sabendo que todo meu esforço fora para
nada. Clara seguiu em frente. E mais, teve um
filho.
Olhar para ela de novo, é como encontrar
o sol perdido. Minha luz. Se ela ao menos
soubesse o quanto os dias longe me fizeram
desprezível. Tornei-me alguém que age no
automático, esperando, que em algum momento,
tivesse a chance para reconquistá-la. Esse foi meu
maior problema – esperar. Devia ter agido. Se o
tivesse feito, Clara não teria sumido do mapa.
Não teria me deixado sem ao menos dizer adeus.
Forço um sorriso e tento me manter

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inteiro a sua frente. Não é fácil, saber que a


mulher que ama, claramente não sente o mesmo.
Tudo o que desejei, durante o tempo afastados, e
em cada falha tentativa de lhe encontrar nas
universidades que me disse quer queria, era poder
olhar em seus olhos e dizer que sinto muito. Sinto
muito por não ter terminado tudo com Esther
antes de ir para casa. Sinto muito por ter alguém
fora de nosso momento perfeito, e ainda mais,
que essa pessoa apareceu. Sinto muito por não ter
dado um fim num relacionamento que nunca
deveria ter existido. Sinto muito por não ter sido
apenas dela.
No mesmo dia em que vi Clara me afastar,
pela primeira vez na vida, soube que não tinha
volta. Não para o que sentia com ela. Ela me fazia
completo, assim como, tornava a vida mais fácil.
Sua intensidade e espontaneidade me faziam
sentir único. Mesmo tendo conhecido boa parte
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do mundo, estudando fora desde os meus quinze


anos, foi com ela, que encontrei meu porto
seguro. Ela sempre foi única. Por isso, mesmo
longe, lembrava-me do olhar azul claro, dos
cabelos loiros presos no alto da cabeça, o sorriso
cínico no rosto... Ao me lembrar dela, pegava-me
sorrindo.
Foi assim, que descobri que a amava. Só
queria poder explicar. Poder explicar que apenas
ela teve meu coração. Nesse momento, entendo
que é tarde demais. Ainda mais, entendo a
distância que nos impôs. Sua vida é outra.
— Eu não queria atrapalhar, eu só...
— O que veio fazer aqui, Matheus? — ela
pergunta, e noto a mágoa em sua voz.
— Vim te ver. — confesso, mais uma vez,
sentindo-me um tolo. — Parece tarde demais para
isso.

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— E é. — concorda, o que faz meu peito


doer. — Só que nunca será tarde para ser pai,
então... Acho bom se sentar para conversarmos.
— O que? — pergunto, claramente
perdido. Pai?
Clara franze o cenho e me olha como se
tivesse dito o óbvio.
— Mamãe não lhe falou de Daniel? —
pergunta e nego com a cabeça de imediato. Flora
apenas me passou o endereço no telefonema. —
Merda, mamãe! — Clara reclama, e passa as
mãos pela testa, parecendo nervosa. — Bom, de
toda forma, você já sabe... — sorri com escárnio,
e me sinto completamente alheio. — O nome dele
é Daniel, ele vai completar um mês dia vinte e
dois, nasceu com mais de três quilos e felizmente,
não chora muito. Ele é um bebê bonzinho e adora
me ouvir cantar. Acho que vai gostar da sua voz

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também.
— Clara! — chamo-a, e ela continua a
tagarelar, como se perdida em seus próprios
pensamentos e palavras. — Clara! — insisto.
— O que? — indaga. — Muita
informação?
— Eu não estou entendendo nada. Está
falando do seu filho? — pergunto, sentindo as
palavras saírem arranhando minha garganta. Dói
admitir em voz alta.
— Meu filho... — ela balança a cabeça
negativamente. — Entendi seu ponto, Matheus.
Não me surpreenderia se a tal Esther chamou o
meu filho de bastardo, porque você o fez
primeiro.
— O que? Esther? O que ela tem a ver
com isso? — pergunto, levando as mãos a cabeça.
— Não está fazendo sentido.

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Clara se levanta e vem até mim,


encarando-me seriamente.
— O que não faz sentido? Ter me
entregado a você e descobrir que era sua amante?
Ou melhor, me descobrir grávida meses depois,
num lugar que mal conhecia? Ligar para você e a
sua namorada atender e chamar o meu filho de
bastardo? Em? — noto que se segura para não
gritar, e minha cabeça gira.
— Você me ligou? — pergunto e Clara
assente, sem desviar o olhar.
— Duas vezes. — conta, como se para si
mesma. Ela passa as mãos pelo vestido branco e
logo sobe uma palma até os olhos, limpando seu
rosto. — Fui covarde desde que soube da
gravidez, e no dia em que ela atendeu quando lhe
liguei pela primeira vez, resolvi guardar tudo até
o nascimento. Aí, te liguei, e tive que ouvir sua

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mulher chamar meu filho de bastardo. E agora,


tenho que...
— Ela não é minha mulher. — falo de
uma vez, e lembro-me do dia em que Esther foi
em minha casa. Ela vivia me cercando tanto lá,
quanto fora. O que diabos ela fez? — Esther está
fora da minha vida desde aquele dia. — anuncio
de uma vez, e Clara me encara sem acreditar. —
Dei um basta, porque queria você. Sempre foi
você, Clara! Só não terminei com ela antes de ir
para casa, porque Esther simplesmente sumiu.
Não sei nem como ela apareceu em casa naquele
dia. E mais, como conseguiu atender o telefone
nos dias...
— Seu celular, da última vez...
— Merda! — reclamo, e lembro-me de
vê-la mexer nele, antes de entrar no banho e a
deixar falando sozinha na sala de estar de minha

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casa. Ela não desistia. — Eu não sei o que Esther


disse ao telefone, mas... Eu não tinha ideia de que
ligou alguma vez. Clara, você precisa me ouvir.
— Como souberam de Daniel? — indaga,
e sua voz soa cortante. Ela abraça o próprio
corpo, em claro sinal de proteção. Em que nível
chegamos, em?
— Eu não sabia que teve um filho ou
qualquer coisa relacionada a ele. Muito menos
que se chamava Daniel. — sou sincero, e o olhar
de Clara muda radicalmente. Finalmente parece
começar a acreditar em mim.
— Matheus... — a forma como diz meu
nome, faz com que a esperança de que ainda
existamos renasça em meu interior. Mesmo
sabendo que sou apenas um homem apaixonado,
claramente, implorando por sua atenção. — Eu...
Deus, sou uma mãe terrível! E uma pessoa

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horrível também. — nada faz sentido em minha


mente, muito menos suas palavras. Assim, apenas
ajo. Vou até Clara e a puxo para meus braços,
surpreendendo-me ela não repele meu toque. É
como estar em casa mais uma vez.

A culpa me invade.
Sinto meu corpo tremer e apenas aceito o
toque de Matheus. Depois de tanto tempo, é como
se finalmente encontrasse meu ponto de
equilíbrio. Meu ponto de paz. Penso a respeito de
Esther, e até mesmo, tendo entender como ela
soube sobre Daniel. Afasto-me aos poucos do

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corpo de Matheus, e o encaro, buscando algum


resquício de mentira. Não vejo nada.
Absolutamente.
Ele pode um dia ter me enganado, mas
não o faz nesse momento.
— Não veio para conhecer Daniel? —
indago, querendo zerar todas minhas dúvidas. O
seu semblante muda e ele franze o cenho.
Matheus apenas nega com a cabeça, como se não
entendesse minha insistência sobre Daniel...
nosso filho. — Eu não sei como começar a contar
isso, acho que... Preciso dizer de uma vez.
— Clara, você está me assustando. — sua
voz soa temerosa, e apenas coloco uma mão sobre
seu peito.
— Sei que errou comigo... Mas o que fiz,
achando que... Não sei nem como explicar. —
busco as palavras em minha mente, mas nada

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parece o suficiente. — Eu sinto muito, Matheus.


— confesso, sabendo que meu pedido de perdão
não lhe faz o menor sentido.
— Eu que vim aqui te pedir perdão por ter
te colocado num papel que não merecia e...
Levanto a mão direita e coloco dois dedos
em seus lábios. Ele se cala no mesmo instante,
olhando-me completamente perdido. Tento falar,
mas nada sai de minha boca. Abro-a uma vez e
outra, mas não consigo. Sinto toda culpa em meus
ombros. Pensando em quanto tempo, caso minha
mãe não tivesse ligado para ele, o manteria longe
do filho. Um filho que é nosso, e merece, ter um
pai.
— Por favor, apenas me diz o que está
acontecendo. — sua fala sai baixa e sinto uma de
suas mãos sobre meus cabelos, massageando-os
de leve. Um ato tão seu, que faz a falta que tanto

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senti, mostrar-se com força. Nunca o esqueci, é


um fato.
Dou dois passos atrás e busco seu olhar.
Limpo rapidamente algumas lágrimas que descem
por meu rosto, e noto a preocupação em seu
olhar.
— Daniel tem os seus olhos. — falo, e
vejo a expressão no rosto de Matheus mudar. Não
é exatamente a melhor escolha de palavras,
porém, elas desencadeiam a dúvida clara no
homem a minha frente. — Deve estar se
perguntando até agora sobre o porquê perguntei
tanto sobre ele... Daniel é meu mundo. Daniel é
nosso...
— Filho. — Matheus complementa e
levas as mãos à cabeça, passando-as pelo cabelo
um pouco mais curto do que comumente me
lembro de vê-lo usar. Ele anda de um lado para o

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outro, e o vejo colocar uma mão na boca,


claramente, nervoso ao extremo.
— Eu sei que devia ter dito antes, e
insistido, ligado mais... Fui egoísta e...
Paro de falar, no instante em que vejo
lágrimas descendo pelo seu belo rosto. Um
homem daquele tamanho completamente
entregue. Ele sorri, em meio as lágrimas, e não sei
o que fazer, a não ser chorar. Todas as lágrimas
que guardei, em decorrência dos piores e
melhores momentos ao seu lado. Esse, tornava-se
um dos mais inesquecíveis.
— Eu pensei que... — ele leva as mãos a
boca e dá passos para perto. — Eu pensei que
fosse seu filho com esse cara e... Que tinha me
esquecido. Eu morri por dentro no instante que
imaginei isso.
— É o nosso filho, Matheus. — falo,

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deixando em alto e bom som o que ele


basicamente me implora com o olhar para dizer.
— Nunca mentiria sobre isso.
— Eu sei que não mereço. Por Deus! Não
mereço ter isso, mas... Me dá uma chance, Clara.
Uma chance para mostrar que sou o homem que
te ama. Que sou o homem da sua vida. E mais, o
pai dos seus filhos.
— Matheus, não é o momento para...
— Vivi deixando para depois o que posso
fazer agora. — corta-me rapidamente. — Apenas,
diz que vai ficar comigo. Que vamos tentar. Por
nós. — pede, e não sei o que pensar, muito
menos, consigo raciocinar todo o momento.
Por um instante, apenas aceito, que talvez
minha vida seja um clichê, mas não barato, rico
em detalhes e cheio de emoção. Talvez eu seja a
mocinha da trama, mas colocada de forma

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proposital. Porque a autora sabia como tudo


terminaria. De algum jeito, soube, que terminaria
ali. Eu, aceitando estar nos braços do homem que
amo, mais uma vez.
Matheus se afastou de meu corpo e deu
passos para dentro da casa. Sem saber ao certo
como agir, sigo a sua frente, e abro a porta do
quarto que compartilho com nosso filho. Andie
está sentado na cama, olhando com carinho em
direção ao berço. Quando nota nossa presença,
ele sorri, e se levanta, dando espaço para que
Matheus vá em frente. Paro e deixo que ele vá até
nosso filho.
Quando Matheus para a frente do berço e
sua mão adentra o pequeno espaço, torno-me uma
confusão de lágrimas e seguro os soluços na
garganta. Ele toca levemente os cabelos ralos de
nosso filho, como se reconhecendo-o como seu.

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Ele é... Assim como eu. Soube nesse momento,


não tinha volta. Não para o que sentia por ele.
Não pelo que cresceu conosco depois de tanto
tempo.
Amores juvenis podem não findar. Assim
como, ouvira uma vez, que nenhum amor precisa
durar para sempre. Mas o nosso, senti, é real.
Além de qualquer dúvida que ainda pudesse
habitar meu ser a respeito. Matheus é minha outra
metade. Ele sorriu, e me encarou, com as
covinhas de menino aparentes. Ainda é o mesmo,
eu sabia. O mesmo garoto pelo qual me
apaixonei, que nesse momento, se descobre como
pai de nosso filho. Eu, apenas queria, um dia, ser
inteira e me tornar sua mulher.

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Epílogo

“Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas;


minhas tristezas, absolutas. Entupo-me de ausências,
esvazio-me de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só
vivo nos extremos. Pouco não me serve, médio não me
satisfaz, metades nunca foram meu forte! Todos os grandes
e pequenos momentos, feitos com amor e com carinho, são
pra mim recordações eternas. Palavras até me conquistam
temporariamente… Mas atitudes me perdem ou me
ganham para sempre. Suponho que me entender não é uma
questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em
contato… Ou toca, ou não toca.”[9]

Anos depois...

Clara observava da varanda os filhos


correndo livremente pelo amplo jardim. Na
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realidade, se perguntava onde era o fim daquele


gramado, já que moravam numa fazenda. Um
lugar com a árvore em frente ao lago, que sempre,
ao pôr do sol, se sentava para contar histórias aos
filhos. A vida era um pouco mais complexa do
que a trama de um livro de romance, ela sabia.
Aprendeu, da única forma que podia. Vivendo. A
cada dia, aprendendo que sua impulsividade devia
ser um pouco mais controlada, assim como, sua
desconfiança. Amor e confiança andavam lado e
lado. Aprendeu, ao lado do homem que jurou
amar para sempre a frente de todos que mais
amava. Principalmente, à frente do universo e
natureza que tanto lhe presenteavam.
As duas metades de si eram livres,
aprendeu, assim que Daniel passou a tomar conta
da irmã mais nova, Melissa, e ela, como boa
protetora de si mesma, o negara. Os dois eram
incríveis, cada um à sua maneira. Os físicos
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divergiam entre os pais, uma bagunça gostosa,


que sempre anunciava com fervor. Amava olhar
para eles. Assim como, Matheus amava olhar
para ela. O homem permanecera ali, atrás de sua
mulher, preparado para surpreendê-la com um
abraço. O fez, e ela deu um pulo em seus braços,
logo o acolhendo. Pensou a respeito da sorte que
tinha. O mundo era vasto, e o amor, um
sentimento até mesmo adormecido em vários
peitos, felizmente, o seu verdadeiro, estava ali.
Perto, ao lado, e mesmo que não fosse merecedor,
esperou.
Ele nunca se cansaria de tê-la nos braços,
e poder, apenas olhar. Olhar para Clara lhe trazia
paz, assim como, olhar para os pequenos que
corriam entre brincadeiras a sua frente. Sabia que
era abençoado, sentia tal constatação todos os
dias. Sempre seria grato, por entre as idas e
vindas, ter-se reencontrado nos braços da mulher
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que amava. E ali, construíram uma família. Assim


como, Clara era grata pela noite que tiveram no
passado. Que mesmo desencadeando uma leva de
desentendimentos e até mesmo sua separação...
Trouxe-lhes um bem mais especial – Daniel. Que
apenas reafirmou o sentimento.
Contudo, mesmo no conto de fadas, Clara
sabia, existiam momentos delicados, assim como,
de fúria. Lembrou-se, ao mesmo tempo em que
Melissa levou um pequeno tombo, e Matheus
correu para levantar a filha, assim como Daniel,
de quando Esther reapareça em suas vidas. Sorriu
abertamente, lembrando de como tratara a mulher
que armou de forma fria a separação de pai e
filho, o que nunca realmente entendeu. A não ser,
pelo fato de Esther ter descoberto sua gravidez,
ao perseguir sua mãe em uma viagem até
Fortaleza. Ela jogou baixo e fez de tudo para que
Matheus não descobrisse seu paradeiro. Foi
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assim, que ela soube sobre Daniel, e mais, jogou


para poder fisgar o homem rico e de nome
importante que tanto sonhara.
— Sua filha rala o joelho e a senhorita
ainda gargalha? —Matheus perguntou
ironicamente, enquanto Melissa voltava a correr,
esquecendo-se por completo do pequeno
machucado.
— Esther. — esclareceu e Matheus sorriu
da mesma forma, já imaginando o que se passava
pela cabeça de sua esposa.
O momento épico do casamento dos dois
poderia ter ficado a cargo dos votos sinceros que
trocaram, ou até mesmo, o fato de Daniel entrar
no colo dos avós com as alianças. Porém, a
penetra durante a festa de casamento, fora o
ápice. Seria cômico, se não fosse completamente
trágico para a mulher que não aceitara o fim.

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Clara se lembrou perfeitamente daquele dia, e de


como, ao menos, pode dar um basta com suas
próprias mãos naquela mulher. Depois daquele
acontecimento, ela nunca mais ousou dar as caras.
— Tudo isso aqui é meu! O casamento,
esse homem, esse bolo... — Esther gritou aos
quatro cantos, fazendo com que Daniel chorasse
no mesmo instante no colo da avó paterna. Clara
sorriu cinicamente, e caminhou para perto dela,
pedindo calma a Matheus que a todo custo,
chamaria a segurança.
— Você está certa, Esther. Isso aqui é
mesmo seu. — a baixinha loira afirmou, sorrindo
como um gato, pronto para atacar. E ela o fez.
Apontando para o bolo com uma mão e em
seguida, puxando a mulher pelos cabelos e
afundando seu rosto no bolo de casamento.
— O bolo é todo seu, querida. — falou

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por fim, e se afastou da mulher, sorrindo


abertamente.
Sua sogra e Andie foram os primeiros a
gargalhar, sendo seguidos por várias outras
pessoas. Matheus tinha lágrimas nos olhos e não
segurou a gargalhada. Aquele momento se tornara
memorável. Uma pena era que perderam o
delicioso bolo de casamento. Entretanto, uma
perda simples para um ganho maior.
Naquele mesmo momento, quando o ar do
fim do dia tocou seus cabelos, fazendo-os voar.
Clara desceu as escadas da varanda, e seguida por
Matheus, sentou-se debaixo da árvore, para
assistir ao pôr do sol. Logo, dois pares de olhos
pararam a sua frente, claramente, ansiosos para
ouvir uma história. Seus filhos se pareciam tanto
com ela, e amavam histórias, que poderia jurar,
um deles, seguiria carreira de escritor. Tinha

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certeza.
Ela inspirou e em seguida, apenas fechou
os olhos por alguns segundos, sendo atingidas
pelo segundo ponto alto de sua noite de
casamento. Quando Matheus abriu seu coração e
ela, pela primeira vez, disse a ele as três palavras
que tanto guardou. Nunca entendera porque
demorou para lhe dizer. Talvez por ser uma
mocinha complicada. E até mesmo, do tipo que
faz a autora querer arrancar os cabelos pela
intensidade. Até mesmo, pelos pontos em comum
que compartilhavam. Por serem parecidas até
demais. Na intensidade, de amar.
“Eu sei que não fui um bom homem em
certos momentos, e pode usar todos os adjetivos
ruins de uma lista infinita. Você poderá citar pelo
resto de nossas vidas. Eu não me importo, deusa.
Não mesmo. Chame-me do que for. Mas apenas,

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me chame. Lembre-se de mim. Que fique comigo


pelo resto dos dias... e de dias em outras vidas.
Que me dê a chance de recuperar o que de fato
nunca tivemos e que um dia possa ouvir você
dizer que me ama. Sem mais tristezas ou
empecilhos entre nós. Sem mais se ou incertezas.
Apenas nós. Nossa pequena família. Isso basta. O
meu amor por você é diferente dos outros, e pode
acreditar, sei que muitos homens dariam o
mundo para conhecer uma mulher como você.
Mas o meu amor por ti... é completamente insano.
Em um momento me mata por dentro e no outro
me traz plenitude. “Nós” começou sem
pretensão, mas não poderia ter sido mais
perfeito. Eu me lembro de cada detalhe seu, e
poderia dizer que vou aceitar suas escolhas caso
um dia não me queira mais. Mas não vou dizer
isso, porque... Não haverá um dia em que não
vou lutar por você. Por nós.”
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Após aqueles votos, ela apenas conseguiu


pular sobre o homem de sua vida, e o abraçar.
Perdoando-o por completo por um dia, ter-lhe
deixado a margem. Confessou-lhe seu amor
eterno. E ali, debaixo da árvore, que mais uma
vez, marcara um momento único com sua família,
ela o olhou, tendo a certeza, que nada além de
amor sobrara daquela noite juntos. E nada além
daquilo, sobraria pelo resto de suas vidas.
Ela o olhou e disse mais uma vez que o
amava. E ele soube, que não precisavam de nada
mais para ser feliz. Eles tinham a felicidade ali.
Debaixo de uma velha árvore, a frente de um
lago, em breve, sob a luz das estrelas. Ali,
lembraram-se, que as melhores coisas da vida,
realmente, não eram coisas. Eram momentos, e
naquele caso, que poderiam se tornar eternos.

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Recadinho

Clara e Matheus são o típico casal clichê


que amei escrever. Um conto que foi finalizado
em 2015 e só tomei conta novamente em 2019.
Quatro anos para eles finalmente voltarem, e não
poderia estar mais grata. A todos que dedicaram
um pouco de seu tempo lendo, o meu muito
obrigada.
Para quem quiser mais informações a
respeito, as histórias de seus filhos já foram
escritas, e estão alocadas na Série O Que Sobrou.
Já disponível aqui na amazon!

Muito obrigada e espero que até a próxima!

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Obrigada!

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[1] Citação do escritor brasileiro Caio Fernando


Abreu.
[2] Citação da escritora brasileira Tati Bernardi.
[3] Citação da escritora brasileira Tati Bernardi.
[4]
Poema Não Pode Tirar-me as Esperanças de
Luís Vaz de Camões.
[5]
Citação da escritora brasileira Tati Bernardi.
[6] Citação da escritora brasileira Tati Bernardi.
[7] Citação da escritora brasileira Caio Fernando
Abreu.
[8] Citação da escritora brasileira Clarice Lispector.
[9] Citação da escritora brasileira Clarice Lispector.

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