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SIG - Soc. Ind.

Gráfica - Camarate

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Jorge e o seu Dragão
A imaginação é uma espécie de rottweiler tramado de domesticar. Sobretudo porque
temos de ir passeá-la à rua e ela tem o dobro do nosso tamanho. É com este senão,
quase irrelevante, que o mundo também autoriza que os cães sejam o melhor amigo do
homem até que saia no jornal que um rottweiller arrastou o seu dono pela rua e mordeu
o rabo de um velhinho. Isto que dizer que a imaginação é mesmo bestial, excepto os
medos, as alucinações e as invejas que mordem os rabos dos velhinhos. Felizmente
temos os sonhos, os desejos, as fantasias, os amigos imaginários que chegam, quase
sempre bem, para eles.

A verdade é que foi com eles e com os nossos neurónios coloridos que mudámos o mun-
do. Se bem te lembras, foi assim que começámos a derrotar as sombras do quarto e sou-
bemos aí que estávamos talhados para vencer. Salvámos vinte vezes a rapariga mais
bonita da escola e escapámos por um triz. Vinte vezes prometemos não repetir aquele
salto arriscado no final do filme… e repetimos. Fizemos um risco no chão e dissemos
aos outros que agora era a sério. Montámos cabanas nas árvores, embrenhámo-nos na
floresta, prometemos voltar sozinhos e valentes.

Um cavaleiro e um dragão. Amigo, percebo bem o teu espanto por encontrares neste
livrinho amizades tão improváveis. Mas deixa-me lembrar-te que se há coisa menos
provável numa criança são as suas amizades. Por isso, é altura para lhes dizeres que os
maus, um dia, serão bons e os bons serão o máximo, que podem confiar apenas porque
lhes estamos a dizer que sim, que os sonhos e desejos fazem sempre sentido. Não foi
assim que o teu pai te ensinou que Deus existe, que pode tudo e é Bom? Digo-te agora,
já claramente a arriscar, que se o Dragão é fruto da imaginação do Jorge provavelmente
ambos são um só. Mas um Dragão é mau, dizes tu? Se são maus, são como os vilões
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da banda desenhada e ajudam as pessoas a definir os campos morais e assim são bons
porque participam amigavelmente na nossa formação de carácter.

(Já estás com a cabeça dentro da máquina de lavar? Não desligues já. Agora é que estás
pronto para perceber o resto do texto.)

Eu entendo-te. Os adultos precisam de desenhar os Dragões e os cavaleiros a lutar. Os


cavaleiros ganham sempre e salvam as princesas. É uma regra. Mas vai por mim, pelo
Astérix, pelo Spirou, pelo Homem-Aranha, pelo Super-Homem e pelo Tintim, pelo Tanguy
e pelo Laverdure e não mates Dragões. A tua imaginação de criança agradece e o Bem
vencerá o Mal nem que seja já com as letras a passar e com o pacote das pipocas já
vazio.

Sei que foi a custo, com a sede e a fome dos grandes Raids, que me acompanhaste
até aqui. Mas afinal quem é este Dragão que não é um dragão e o Jorge que não é São
Jorge? O Dragão é mais que um produto da imaginação do Jorge: é o Jorge. Completa a
sua personalidade, às vezes a sua boa consciência e ajuda a explicar aos outros coisas
não tangíveis porque são nossas e não se explicam, não porque sejam grandes segre-
dos, mas porque não se entenderiam. Tecnicamente, as personagens como o Dragão
chamam-se Heróis Tandém. São, por exemplo, o Hobbes do Calvin ou o Woodstok do
Snoopy ou o Milú do Tintim ou ainda o Jolly Jumper do Lucky Luke e o nosso boneco
preferido para nós próprios. Aos olhos dos adultos não existem ou são meros bonecos.
Aos nossos olhos de criança vencem connosco todas as batalhas e fazem de nós os
fortes que somos. Compreendes agora o segredo? Fica entre nós…

Ricardo Roque Martins

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Maria Helena Andersen

A.0 Os destinatários da acção pedagógica

A finalidade do Escutismo é, de acordo com o artigo 1 da Constituição da Organização


Mundial do Movimento Escutista, contribuir para o desenvolvimento de crianças e jovens,
ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas,
intelectuais, sociais e espirituais e a crescerem como pessoas, como cidadãos responsá-
veis e ainda como membros das comunidades locais, nacionais e internacionais.

Assim sendo, para implementar o Projecto Educativo do Corpo Nacional de Escutas


de maneira progressiva e adequada a cada secção, é importante o dirigente conhecer
as características específicas de cada grupo etário. Isto justifica-se porque os desafios,
vivências, interesses, expectativas e maturidade que existem nos elementos de cada
um dos grupos etários que constituem as nossas secções são diferentes de grupo para
grupo.

Por essa razão, os dirigentes que desenvolvem a sua acção pedagógica numa deter-
minada secção devem saber caracterizar globalmente os elementos dessa faixa etária,
reconhecendo sinais identificadores e característicos do seu nível de desenvolvimento,
para lhes poderem proporcionar experiências educativas enriquecedoras e estruturan-
tes.

No entanto, isto não é suficiente: é também necessário conhecer cada elemento indivi-
dualmente. Tal como dizia o nosso fundador, Baden-Powell, o dirigente deve conhecer
“todos em geral e cada um em particular”.

De facto, e ainda que o desenvolvimento se processe de forma global e gradual, com


ritmo diferente de elemento para elemento, é necessário caracterizar estes últimos em
várias dimensões da personalidade, para que, no Escutismo, se consigam trabalhar as
diferentes parcelas do ser. Assim, no final, a soma das parcelas será superior ao todo.
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Estas são as dimensões da personalidade a ter em conta: o desenvolvimento físico, o


desenvolvimento afectivo, o desenvolvimento do carácter, o desenvolvimento espiritual,
o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento social. Poderíamos descrevê-las, de
forma breve, assim:

A área do desenvolvimento físico está relacionada com a responsabilização


pelo crescimento e bom funcionamento do organismo de cada um.

O desenvolvimento afectivo está relacionado com os sentimentos individuais


e a capacidade de os expressar de modo a obter e manter um sentimento de
liberdade, equilíbrio e maturidade emocional.

A área de desenvolvimento do carácter diz respeito às responsabilidades para


consigo mesmo e ao direito ao auto desenvolvimento, à aprendizagem e ao
crescimento em busca de felicidade, respeitando os outros. Relaciona-se ain-
da com a escolha de objectivos e a definição de acções e opções que permi-
tem concretizá-los.

A área de desenvolvimento espiritual prende-se com o aprofundamento do


conhecimento espiritual e a compreensão da herança moral da nossa comu-
nidade, descobrindo a realidade mística que dá significado à vida e retirando
conclusões para o dia-a-dia, mantendo o respeito pelas opções religiosas de
outros.

O desenvolvimento intelectual integra o desenvolvimento da capacidade de


raciocínio, de inovação e do uso original da informação, relacionando-se ainda
com a capacidade de adaptação a novas situações.

O desenvolvimento social diz respeito à compreensão do conceito de interde-


pendência social e ao desenvolvimento da capacidade de cooperar e liderar.

No desenvolvimento integral das crianças e jovens, é importante que as actividades es-


cutistas contemplem todas estas dimensões e que as experiências que lhes são propor-
cionadas lhes permitem obter mais valias em termos educativos, e sejam efectuadas
num ambiente seguro, que permitirá a cada elemento adquirir confiança em si próprio,
nos outros e no mundo. Neste processo, os dirigentes são sempre, e em todas as situa-
ções, o garante do ambiente seguro em que as actividades se desenrolam e não podem
em nenhuma circunstância demitir-se deste papel. Ao fazê-lo estariam a colocar em cau-
sa a confiança que os diversos parceiros (pais, o próprio elemento, CNE, Igreja) neles
depositam e que neles investiram através dos vários momentos do percurso formativo
para se ser dirigente do CNE.

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Região de Aveiro

A.1 A criança dos 6 aos 10 anos

AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Físico

Por volta dos seis anos, começa um período de grande agitação física. Nesta fase, a
criança deseja expressar-se com o corpo, gostando de saltar e trepar. O jogo acaba
por ser, assim, o meio privilegiado de expressão e libertação de energia, permitindo o
desenvolvimento da habilidade motora. Nesta idade, no entanto, existe ainda alguma
dificuldade a nível da lateralidade (não estando completamente definida, há dificuldade
em reconhecer a direita e a esquerda) e da destreza das mãos e pontas dos dedos, pelo
que é importante serem desenvolvidas actividades manuais.

Cerca dos oito anos de idade, a energia na criança é inesgotável e ela começa a melho-
rar o seu desempenho a nível motor e a adquirir orientação espácio-temporal, melhoran-
do a sua noção de perspectiva e proporção do corpo humano.

A partir dos nove anos, a capacidade motora encontra-se plenamente desenvolvida,


aparecendo a força muscular e o equilíbrio. É nesta fase que a competitividade atinge
o auge, o que torna a criança capaz de grandes esforços físicos e apreciadora de brin-
cadeiras marcadamente físicas (gosta de se 'fazer de forte'), em que mede a sua força e
destreza em comparação com os outros.

Globalmente, o período entre os seis e os dez anos é ainda marcado pela consolidação
dos hábitos de higiene e por um aperfeiçoamento da autonomia nessas tarefas. Esta é,
por fim, uma fase em que a criança mostra grande interesse por temas sexuais, reve-
lando especial curiosidade sobre a relação entre os sexos, as diferenças anatómicas e
a reprodução.
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A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos:


- a desenvolver a habilidade corporal e manual, através da realização de jogos de coordenação e de activida-
des manuais variadas;
- a consolidar hábitos de higiene (ou a criá-los, no caso de quem os não tem), promovendo a progressiva au-
tonomia individual;
- a usufruir de uma alimentação adequada, incutindo em cada criança hábitos alimentares salutares (como
comer a horas certas e com moderação e ingerir alimentos saudáveis e variados). Assim se evitam problemas
alimentares como a má nutrição e a obesidade.

Desenvolvimento Afectivo

Ao longo do período em que se encontra na Alcateia, a necessidade de afecto e pro-


tecção da criança é imensa e constante. De facto, a passagem de um mundo conhecido
(família) para um mundo novo e inseguro pode levá-la a atravessar uma fase de inse-
gurança, de afirmação de si mesma e de comparação com os colegas. Nesta altura, a
criança apresenta um humor estável (por norma é muito alegre), por norma só alterado
por emoções fortes e contraditórias, mas que pode desaparecer com a mesma rapidez
com que surgiu.

Entre os seis e os sete anos, a criança é muito espontânea e revela-se muito sensível à
humilhação e às repreensões. Como valoriza muito o adulto, não aprecia a sua censura
e pode mesmo fazer coisas contrariada, apenas com o intuito de agradar.

Entretanto, começa a revelar uma grande necessidade de cooperação e companhei­


rismo. Com o crescimento, o grupo torna-se o foco central dos seus interesses e ocupa
o lugar que antes pertencia à família.

A este nível, a Equipa de Animação deve:


- criar um ambiente saudável e tranquilo, em que os lobitos se sintam seguros afectivamente e sejam capa-
zes de revelar o que pensam sem medo de chacota ou repreensões;
- ajudar os lobitos a desenvolver a cooperação e companheirismo no seu Bando e na sua Alcateia, através da
competição entre Bandos e da entreajuda entre todos;
- ajudar os lobitos a assumir Àquêlá e restante Equipa de Animação como amigos e modelos a seguir.

Desenvolvimento do Carácter

O carácter é a dimensão que constrói a identidade pessoal e, nesta etapa da infância,


começa a ser apurado nas suas várias dimensões.

Relativamente aos adultos, a criança desta faixa etária estabelece relações de grande
6 proximidade com os mais velhos, que idealiza e vê como seus modelos, e pode ser
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muito influenciada por eles. Nesta etapa, o desenvolvimento moral constrói-se nas re-
lações interpessoais: boa conduta é a que agrada aos outros. A criança tenta, assim,
viver de acordo com o que as pessoas próximas esperam de si, necessitando da sua
aprovação.
Para além disto, desenvolve a sua consciência crítica e o sentido de justiça, na medida
em que dá valor ao que faz, gosta de ser reconhecida pelos outros e sabe distinguir o
bem e o mal, embora tendo por base as consequências das suas acções.

A estas características junta-se ainda uma grande sinceridade, que leva as crianças,
sobretudo as mais novas, a não ter pudores em revelar o que pensam.

A este nível, a vida em Alcateia deve levar os lobitos a construir a sua personalidade de forma coerente,
progressiva e desafiante, ajudando-os:
- a desenvolver a sua consciência crítica, nomeadamente através da avaliação das actividades e dos seus
comportamentos;
- a analisar os seus actos, tomando consciência das suas consequências e da necessidade de modificar com-
portamentos (através da recordação constante da Lei e Máximas, das conversas em Bando e em Conselho
de Alcateia, etc.);
- a respeitar a opinião alheia, aceitando pontos de vista diferentes.

Desenvolvimento Espiritual

A dimensão espiritual está relacionada com o significado da vida. Para além disso, não
se desenvolve de forma independente das relações que estabelecemos com os outros
e connosco mesmos, mas baseia-se na sociabilidade, inteligência e afectividade. Assim
sendo, e porque a vida da criança, nesta altura, gira muito à volta da família, é nela que
a imagem de Deus começa a tomar forma: é ao tomar consciência das imperfeições dos
pais que a criança começa a distingui-los de Deus.

Por volta dos seis e sete anos, e porque a capacidade de abstracção ainda não está
muito presente, Deus não é visto de forma simbólica. É, sim, olhado como um homem
grande e poderoso, com barbas brancas, o Criador do mundo que a criança conhece.
Mais próxima é a imagem de Jesus enquanto criança, que funciona como modelo a
seguir.

Depois, a partir dos oito anos, a presença divina personaliza-se e há uma valorização
moral do bem e do mal no seu comportamento e no dos outros. Surge ainda, de forma
marcada, a noção de justiça.

A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar cada lobito:


- a identificar-se com o Menino Jesus e a vê-lo como exemplo (através de histórias e da reflexão sobre o
comportamento que Jesus assumiria em diversas situações);
- a analisar os diversos comportamentos que assume, ensinando-o a escolher entre o bem e o mal.
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Desenvolvimento Intelectual

A criança de seis anos apresenta uma curiosidade activa, um imenso desejo de saber e
uma grande capacidade de observação dos detalhes. É nesta fase que aprende a ler e
a escrever, o que lhe dá um maior acesso à informação e lhe permite, sozinha, descobrir
mais coisas acerca de temas do seu interesse, como a vida dos animais e a Natureza
em geral. É também atraída por histórias e narrações. A este nível, a sua visão do mundo
é caracterizada por um objectivismo ingénuo, que a leva a ter dificuldade em separar de
forma clara o mundo real e a fantasia. Possui ainda desejo de se expressar de múltiplas
maneiras, mas ainda não consegue pôr em prática as suas ideias.

Ao atingir novos níveis de compreensão e expressão, começa a ter mais facilidade em


se colocar no lugar do outro, reconhecendo que ele poderá ter interesses, necessidades
e sentimentos diferentes dos seus. Pouco a pouco, começa assim a conseguir ter em
conta pontos de vista diferentes do seu e aprende que nem sempre pode fazer as coisas
segundo a sua vontade.

Cerca dos sete anos, a inteligência intuitiva sofre uma profunda transformação. A partir
daqui, a criança vai além das aparências e das observações fortuitas, passando a reflec-
tir e a tentar compreender a lógica dos objectos e dos acontecimentos. Começa assim a
sentir necessidade de organizar o real através das classificações, comparações e hierar-
quizações. Isto revela-se, por exemplo, no seu gosto por colecções.

Depois dos oito anos, continua a curiosidade insaciável em conhecer o mundo e a crian-
ça revela grande capacidade de memorização. Pouco a pouco, acaba por se tornar autó-
noma num grande número de tarefas rotineiras, muitas vezes exigindo fazê-las sozinha.

A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos:


- a desenvolver o gosto pelo conhecimento em geral e pela natureza em particular (através da observação
da vida animal e vegetal, da preparação de colecções, etc.);
- a desenvolver a criatividade, ajudando-os a explorar a sua imaginação (através da narração de histórias, da
criação de poemas e canções, da realização de danças e peças teatrais, etc.);
- a aprender a partilhar pontos de vista e a respeitar a vontade alheia (através da apresentação e votação
de sugestões para as Caçadas, da realização de reuniões de Bando e Conselhos de Alcateia, etc.)

Desenvolvimento Social

Os seis anos de idade constituem um marco importantíssimo na vida da criança, dado


que a entrada num ambiente escolar mais estruturado leva ao aparecimento das pri-
meiras condutas de responsabilidade. É também nesta altura que a criança começa a
integrar-se em grupos, de forma espontânea, para jogar, realizar tarefas e crescer a nível
social: há uma busca da aprovação do grupo e muitas vezes surgem tentativas de im-
posição aos companheiros, o que revela o egocentrismo infantil ('eu é que sei, eu é que
mando'). Geralmente a criança tende a colocar-se do lado do educador.
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A partir dos oito anos, ao superar o egocentrismo, a relação com o grupo começa a as-
sumir importância vital e torna-se necessária a existência de uma hierarquia e de papéis
bem definidos. A criança começa então a participar em jogos colectivos, com regras já
existentes e outras inventadas pelo grupo e que este faz cumprir. Esta experiência em
pequeno grupo é fundamental para a sua socialização e manter-se-á ao longo da sua
vida como experiência significativa de integração pessoal.

A criança começa, assim, a descobrir a vida em sociedade, afastando-se progressiva-


mente do adulto: deixa de necessitar que este estabeleça as regras, passando a criar
e a fazer respeitar as regras do grupo. Diminui assim a necessidade da protecção dos
pais e, conforme tenha sido vivida esta relação parental, assim se projectará no grupo de
forma segura ou insegura.

A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos:


- a participar em actividades que estimulem a cooperação (como actividades de Bando, os jogos e as
caçadas vividas com os outros lobitos);
- a desenvolver a responsabilidade para com o grupo (através, por exemplo, da atribuição de cargos indi-
viduais).
Arquivo CNE

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Maria Helena Andersen

A.2 O adolescente dos 10 aos 17 anos

Em termos gerais, a Adolescência inicia-se entre os 11 e os 13 anos e termina pelos 19


anos – muito embora este seja um período incerto, dado que varia bastante. Tudo depen-
de, basicamente, da natureza do indivíduo, da sua história pessoal e das características
sociais e culturais da comunidade onde vive. Assim sendo, é possível, por exemplo, que
alguns adolescentes de 13 ou 14 anos se situem ainda numa fase muito infantil, enquanto
que outros já adquiriram autonomia e maturidade próprias de uma idade mais avançada.
Esta é a razão por que importa reflectir sobre a fase da adolescência como um todo, sem
fazer uma distinção concreta entre exploradores e pioneiros: alguns exploradores podem
revelar já uma maturidade acima da média, enquanto que alguns pioneiros podem situar-
­-se, ainda, num estádio de desenvolvimento mais atrasado.

No entanto, convém que os dirigentes tenham a noção de que, por norma, na Expedição
e na Comunidade encontram dois grupos distintos de rapazes e raparigas que diferem
muito entre si no que diz respeito à sua maturação e à sua maneira de ser, comportamen-
tos e expectativas. Assim sendo, e porque as necessidades de aperfeiçoamento pessoal
são distintas, devem ser diferentes as formas de actuação de um adulto em cada um dos
grupos.

Pegue-se em experiências únicas, personalidades irrepetíveis, interesses múltiplos,


ideias em constante mudança, vivências pessoais, contextos diferenciados e aí encontra-
remos qualquer um dos nossos grupos. É perante esta junção de sujeitos que qualquer
dirigente se depara, na unidade em que trabalha. Se os rapazes e raparigas com quem
trabalhamos são tão distintos entre si, será pouco eficaz adoptar métodos e técnicas
únicos e pré-determinados, já que corremos o risco de muitos adolescentes ficarem pelo
caminho, desistindo ou, pior ainda, sentindo a exclusão num movimento que se pretende
aberto e solidário. 11
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Quando falamos de desenvolvimentos diferenciados, falamos de uma possibilidade edu-


cativa abrangente e positiva que não inclui, certamente, o atenuar e 'camuflar' de dife­
renças e dificuldades, mas que pretende a integração de aprendizagens em que todos
beneficiam e onde existe um espaço onde cada pessoa pode construir o seu projecto de
trabalho.

Assim, a diversidade implica sempre instabilidade, dúvidas, reorganizações, ritmos que


não se repetem e ser-nos-á prejudicial manter uma rigidez nas estratégias e pedago-
gias.

AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Físico

O desenvolvimento do corpo, sobretudo nestas idades, determina fortemente algumas


características da personalidade de cada adolescente, pelo que é importante compre-
ender cada transformação física e, assim, entendermos alguns comportamentos e re-
acções.

Entre o que mais prende a atenção de um adolescente entre os 11 e os 13 anos estão as


transformações que acompanham o início da puberdade, na qual geralmente se regista
uma rápida aceleração no crescimento – primeiro na altura (sobretudo a nível de pernas
e tronco) e depois no peso – que transforma, rapidamente, a imagem que o adolescente
tem de si próprio. Esta mudança brusca provoca um desequilíbrio físico: o crescimento
acelerado promove uma ânsia por actividades expansivas (há um maior vigor físico,
sobretudo nos rapazes, pelo que se tornam muito limitadas e enfadonhas as actividades
confinadas a espaços reduzidos), mas o desenvolvimento muscular e da coordenação
não acompanham o crescimento da estrutura óssea, pelo que surgem gestos desajeita-
dos e desconexos.

Esta é, ainda, a fase em que começam a surgir características sexuais secundárias, ou


aquilo a que chamamos as formas físicas mais próprias de cada sexo (crescimento de
pêlos e de seios, mudanças na voz e na textura da pele, etc.). Estas mudanças provo-
cam, muitas vezes, momentos de grande fadiga, ansiedade e angústia em relação a um
desenvolvimento físico que o adolescente considera 'anormal', por comparação com os
outros. Surge, assim, no adolescente, uma hipersensibilidade perante julgamentos físi-
cos e um desconforto em relação a si mesmo: é como se não se sentisse bem na sua
própria pele.

Entre os 14 e 17 anos dá-se um aumento do tamanho corporal, formas e capacidades


físicas, desaparecendo a tendência para a descoordenação física, tão típica dos anos
anteriores. Estabelece-se também a maturidade sexual e reprodutiva e desenvolve-se,
de forma mais estável, a identidade sexual. Toda esta estabilidade potencia o desen-
volvimento de novas capacidades, impulsos e potencialidades que é preciso identificar,
experimentar e controlar.
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A este nível, na Expedição deve-se:


- desenvolver a habilidade corporal e manual, através da realização de jogos de coordenação e de actividades
manuais variadas;
- promover um ambiente sereno e respeitador, em que todas as transformações são consideradas próprias e
normais, para que a instabilidade emocional daí decorrente não adquira proporções prejudiciais ao equilíbrio.

Na Comunidade deve-se:
- fomentar um ambiente tranquilo e respeitador, que permita ajudar cada um conhecer e respeitar o seu
corpo, aceitando com serenidade as mudanças;
- estimular o respeito pelo outro sexo, valorizando as diferenças físicas existentes;
- desenvolver a aptidão corporal através de actividades estimulantes que desafiem a descoberta de novas
capacidades físicas.

Desenvolvimento Afectivo

Nos adolescentes entre os 11 e os 13 anos, dá-se um despertar dos impulsos sexuais


devido ao início da puberdade biológica. Este despertar tem impacto no campo afectivo,
marcado agora por emoções fortes e confusas que, pela sua dominância, gerem todo o
comportamento, também ele confuso e muitas vezes marcado por reacções emocionais
desproporcionadas que o adolescente se esforça por entender. A este nível, desenvol-
vem-se especialmente a necessidade de afirmação como indivíduo (marcada em es-
pecial pela identificação com heróis, com quem o adolescente aspira a parecer-se) e a
necessidade de desenvolver as suas amizades.

A atenção que um adulto presta a um adolescente desta idade deve estar muito virada
para a compreensão destas emoções, dado que elas podem originar desequilíbrios a
nível de comportamentos.

Cerca dos 14 anos, a necessidade de criar e renovar amizades e de se afirmar como


indivíduo é agora preponderante. Esta é a altura das amizades profundas e “para toda a
vida”, em que a escolha dos amigos vai sempre ao encontro daquilo que o adolescente
considera ser os padrões certos de agir, pensar e falar. Procura-se não a diferença, mas
a semelhança (a adesão a novos valores marca a escolha dos amigos), o melhor amigo
surge como confidente e companheiro preferido e há uma maior consideração pelos
sentimentos dos outros.

Para além disto, surge a necessidade de estabelecer uma ligação afectiva com outra
pessoa. Este é, assim, o período da atracção, das grandes paixões e dos primeiros amo-
res (surge mais cedo nas raparigas).
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Claro que toda esta procura vem acompanhada de grandes períodos de instabilidade
emocional, com mudanças de humor súbitas – em que num momento é possível estar
muito bem, noutro em profunda tristeza e desânimo –, dado que há uma alternância entre
o que se sonha e aquilo que é possível. Os períodos de tristeza são, em geral, períodos
de isolamento.

A este nível, na II secção deve auxiliar-se o explorador a:


- entender que as pessoas são diferentes e por isso experimentam emoções diferentes nas mesmas si-
tuações;
- perceber que o isolamento nunca é a solução e que deve partilhar as suas emoções e os seus receios;
- escolher amigos adequados, sabendo distinguir aqueles que poderão ajudá-lo.

Na III secção, o dirigente deve:


- ajudar o adolescente a perceber como deve lidar com as diferentes emoções;
- auxiliar a escolher as amizades em função de valores positivos.

Desenvolvimento do Carácter

Até aos 13 anos, a capacidade de reflectir sobre a sua própria opinião e a opinião dos
outros leva os adolescentes a questionar as orientações estabelecidas, sobretudo as do
núcleo familiar. Podemos falar, assim, do início de um período de oposição e rejeição de
ideias provenientes de figuras com quem antes havia uma identificação. Para além disto,
o adolescente desta idade consegue já descrever-se em termos de pensamentos inter-
nos, sentimentos, capacidades e atributos, demonstrando capacidade de auto-análise.

Pelos 14-17 anos observam-se verdadeiras crises de identidade, em que o adolescente


se vira para si mesmo para operar uma descoberta consciente do “eu” e procurar algo
que lhe seja próprio, só seu. Este processo, em que se dá um alargamento das activida-
des realizadas por iniciativa própria, nem sempre é pacífico, na medida em que podem
surgir problemas de auto-estima e conflitos (não é criança, mas também não é adulto,
embora se considere igual a ele).

Para além disto, os esforços dirigem-se sobretudo para a procura de novos modelos de
comportamento (os modelos de identificação deixam, muitas vezes, de ser os pais para
serem outros adultos de referência ou os pares), o que pode produzir uma consequente
alteração do sistema de valores.

Por fim, o adolescente tem tendência a construir grandes sonhos e aspirações e a de-
senvolver sentimentos de invulnerabilidade. É frequente, a este nível, que o adolescente
se proponha a refazer a sociedade na qual é chamado a viver, não dando atenção a
potenciais situações de risco em que se pode colocar.
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A este nível, na Expedição deve-se:


- explorar a Lei e os Princípios sobretudo a nível da necessidade de desenvolver o auto-domínio e de res-
peitar e obedecer aos mais velhos;
- criar actividades que permitam a descoberta de si mesmo (as suas capacidades, qualidades, sentimentos,
etc.).

Na Comunidade, o dirigente deve:


- encorajar a discussão de ideias sobre o papel que cada um ocupa no espaço familiar e social e os valores que
devem ser defendidos;
- actuar de forma cuidadosa e coerente, dado que facilmente se pode converter num modelo de vida;
- auxiliar os seus elementos a reconhecer as potenciais situações de risco, ajudando-os a encontrar estra-
tégias de resolução de problemas.

Desenvolvimento Espiritual

A adolescência marca o momento de passagem entre a chamada Fé de criança, herdada


dos pais e da vivência em comunidade, e a Fé pessoal, interior, que se interliga com os
próprios actos, numa busca do sentido das coisas, sem que haja uma aceitação tácita
de princípios.

Dos 11 aos 13 anos, surge uma maior preocupação com as questões morais e um melhor
entendimento destas. Assim, os princípios, deveres e responsabilidades éticas começam
a ser defendidos com esforço, sobretudo em momentos de grupo: os adolescentes to-
mam consciência de que todos devem seguir as mesmas leis e regras para manutenção
da harmonia e entendimento do grupo. Aceitam, assim, os princípios morais como meio
de partilha de direitos e responsabilidades com os outros. Contudo, esta situação, muitas
vezes, só é visível quando existe uma quebra no entendimento comum, em que se levan-
tam as típicas questões do “não é justo”, ou do “uns podem e outros não”.

A partir dos 14 anos, a simbologia, o interesse por outras vivências de Fé e por pro-
blemas éticos e de defesa de valores tornam-se marcos das vivências espirituais dos
adolescentes. Nesta fase, surge um interesse mais marcado por ideologias e religiões
diferentes da sua, que é acompanhado por alguma reserva na expressão de questões
espirituais e convicções da sua própria religião. Para além disto, começam a pôr-se em
causa as práticas religiosas da infância. Isto não invalida, contudo, o interesse por pro-
blemas éticos e ideológicos. Na verdade, por volta dos 15 anos, o adolescente começa
a apreciar a utilização de símbolos para expressar significados espirituais, é frequente-
mente radical na defesa de valores e chega a demonstrar, por vezes, capacidade de um
grande altruísmo. Tem, também, a noção de que é necessário estabelecer contratos e
seguir as mesmas 'leis' para haver entendimento no grupo.
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A este nível, na II secção deve auxiliar-se o explorador a:


- desenvolver a sua fé e a sua espiritualidade, procurando responder às suas dúvidas e auxiliando-o no seu
caminho de busca.
- assumir Jesus como um exemplo a seguir na defesa de valores como a justiça, a solidariedade, o amor ao
próximo, etc.

Na III secção, o dirigente deve ajudar o pioneiro a:


- identificar-se com o Jesus Cristo e a vê-lo como exemplo de defesa radical dos valores cristãos;
- compreender a validade e riqueza das celebrações comunitárias, espaço privilegiado de comunhão com Deus
e os irmãos;
- assumir-se como cristão comprometido com o mundo.

Desenvolvimento Intelectual

Pelos 11-13 anos surge a necessidade de produzir, de fazer coisas sozinho. Esta capa-
cidade para agir de forma concreta permite desenvolver sentimentos de competência e
valores próprios ('eu sou capaz', 'eu consigo') e é acompanhada pelo desenvolvimento
da capacidade de pensar de forma lógica sobre ideias e dados abstractos. Assim, e
embora o adolescente continue a precisar de estruturas e actividades delineadas passo­-
a-­passo (senão dispersa-se facilmente), consegue já descobrir soluções para problemas
apresentados apenas na teoria. Isto fá-lo desenvolver a apetência para a investigação
e aprendizagem de coisas novas, a que se associa, ainda, uma boa capacidade de me-
morização.

Dos 14 aos 17 anos, a capacidade de raciocínio melhora: surgem as hipóteses e dedu-


ções de relações entre as coisas que permitem criticar o estabelecido, produzir interro-
gações sobre o futuro e sobre a sociedade, forjar argumentos lógicos e detectar, rapida-
mente, falhas nos argumentos dos outros. Isto implica que, antes de agir, o adolescente
apresenta já uma predisposição (ainda que tenha de ser solicitada) para reflectir sobre
os assuntos, ponderando hipóteses e alargando o seu pensamento à perspectiva dos
outros. Revela, assim, capacidade para estar alerta, mas ainda está sujeito a devaneios
e ao “sonhar acordado”. Começam-se, também, a definir interesses e vocações, na me-
dida em que o adolescente começa a pensar no futuro e a elaborar programas de vida.
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manualdodirigente

A este nível, na Expedição deve-se:


- promover actividades que desenvolvam a actividade de pensamento lógico e a capacidade de abstracção
(apresentação de problemas - “Nesta situação, o que farias?” - ou de desafios, como montar uma tenda
com um pano e corda);
- proporcionar actividades de descoberta (da Natureza, de novas realidades e culturas) que estimulem a
curiosidade;
- estimular a preparação cuidada das actividades, de forma a evitar a tendência para a dispersão.

Na comunidade deve-se:
- encorajar a discussão de ideias, estimulando a exploração de diversas perspectivas, hipóteses e
soluções;
- estimular a reflexão pessoal sobre interesses, sonhos e capacidades.

Desenvolvimento Social

Um adolescente dos 11 aos 13 anos é, em geral, capaz de reflectir sobre os seus pró-
prios pensamentos e percebe que os outros fazem o mesmo. Nesta altura, começa a
procurar a sua própria conduta (questionando as regras da infância, que lhe impõem
uma conduta estabelecida por outros), mas, sempre que não consegue seguir o padrão
de conduta que escolheu, tem tendência a produzir sentimentos de culpa e recriminação
que o levam a tentar justificar o seu comportamento ou a tentar compensar alguém pelo
que fez de errado.

Nesta busca por um comportamento autónomo, desenvolve uma compreensão genuína


do que significa fazer parte de um grupo e adere voluntariamente às suas normas, que
assumem um carácter absolutamente sagrado (a equidade e justiça, por exemplo, são
levadas muito a sério – “se eu não posso quebrar as regras o outro também não pode”
ou “é justo que ele venha à actividade porque ajudou a planeá-la”). Dá-se, assim, um
período de expansão social em que se formam relações de lealdade que começam a ser
mais importantes para o adolescente do que quaisquer outras (é o grupo que manda).

Nesta fase, desenvolve-se o conceito de género (homem e mulher) e respectivos pa-


péis. O adulto precisa de estar atento, pois os estereótipos ligados a cada género (um
homem faz isto, uma mulher aquilo) têm uma influência poderosa nas percepções dos
adolescentes, o que leva, geralmente, a que os desvios aos papéis tradicionais sejam
alvo de críticas e gozo. Pode-se ainda afirmar que, num âmbito geral, os rapazes são
vistos como mais aventureiros e dispostos a actividades que envolvam riscos, sendo
também mais assertivos na adesão a grupos, enquanto que as raparigas tendem a ser
mais conscientes socialmente, mais atenciosas a novos membros e mais flexíveis nos
seus estereótipos do que os rapazes.
17
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Perante isto, por norma, na interacção entre adolescentes de ambos os sexos, surgem
fronteiras físicas demarcadas. Em geral, ainda se definem por grupos separados por
género e por afinidade de interesses, existindo sempre uma certa rivalidade natural entre
sexos. Contudo, têm um gosto especial pelo trabalho em equipa (embora conservem
um espírito independente), pelo que conseguem muito bem desenvolver actividades em
conjunto, principalmente se à rivalidade se sobrepuser a necessidade de trabalhar em
conjunto para atingir um determinado fim. Quando assim acontece, desenvolvem rela-
ções de pares baseadas no respeito e apoio mútuos.

Na passagem para os anos seguintes, o adolescente vê as relações como um processo


de partilha mútua onde todos podem vir a beneficiar de satisfação e compreensão social.
Assim, entre os 14 e os 17 anos, os adolescentes possuem uma grande capacidade de
adaptação a novos grupos sociais e estabelecem relações fáceis com outros (da mesma
idade ou de outras), desde que o seu modo de ser se enquadre nos seus padrões de ac-
ção. Isto gera duas situações distintas. Por um lado, existe alguma incerteza em relação
ao que são as expectativas do grupo e àquilo que é esperado ou aceite, o que gera uma
preocupação injustificada (sentem que são o alvo constante das atenções dos outros).
Por outro lado, começam a viver em grupos mais unidos, baseados na confiança mútua,
onde há a procura de uma identidade comum.

Por fim, este é, também, um período de reestruturação social, onde predomina a rebeldia
contra a autoridade estabelecida e se escuta melhor a opinião de alguém que é diferente.
Assim, podem surgir comportamentos negativos de inconformismo e de agressividade
para com os outros. Para além disso, os adolescentes podem ser extremamente críticos
e francos na expressão da sua opinião, sentindo, muitas vezes, que as suas experiências
são únicas e ninguém as pode compreender.

A este nível, na II secção deve auxiliar-se o explorador a:


- compreender que as regras do grupo não se podem sobrepor à sua consciência e àquilo que está certo (a
referência constante à Lei, aqui, é determinante);
- compreender que as relações entre os pares se devem basear sempre no respeito e solidariedade mútuos,
superando-se as diferenças.

Na III secção, o dirigente deve ajudar o pioneiro a:


- compreender que, apesar de pertencer a um grupo, ele é uma pessoa com características próprias a res-
peitar e a desenvolver;
- construir grupos coesos e que defendam valores positivos;
- tomar consciência de que a autoridade não é sempre negativa e que a negociação é um caminho mais positivo
do que a agressividade e a rebeldia.

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Gonçalo Vieira

A.3 O jovem dos 18 aos 22 anos.

A partir dos 18 anos, aproximadamente, os factores sociais, económicos e personalidade


são os que influenciam mais directamente o desenvolvimento do jovem. Assim, os seus
interesses, perspectivas, ideias e valores dependem bastante dos seus grupos de refe-
rência e do facto de a sua vida se desenrolar em cidades ou em meios rurais.

Esta faixa etária contempla estudantes do Ensino Superior e jovens que estão já a entrar
no mercado de trabalho. Os primeiros estão mais protegidos e vivem uma falsa indepen-
dência, pois, apesar de viverem sozinhos, ainda são sustentados e bastante apoiados
pelos pais. São, geralmente, mais individualistas e de espírito aberto, prontos para a mu-
dança. Ao invés, os segundos são, na sua maioria, mais maduros na maneira e pensar
e agir e estão mais presos a compromissos. No entanto, apesar das diferenças, muitas
coisas os unem.

A vida adulta é um período longo de desenvolvimento, passando o adulto por experi-


ências múltiplas, complexas e variadas. A entrada nesta fase é sempre um período de
crescimento, escolhas, angústias, ansiedades, alegrias e compromissos. É importante
que os Chefes de Clã e Equipas de Animação tenham presentes que, apesar de terem à
sua frente jovens adultos, estes ainda agora estão a aprender a viver e caminhar pelas
suas próprias pernas. São jovens que contam com o apoio e suporte do irmão mais velho
e que muitas vezes se encontram perdidos perante o admirável mundo novo que se abre
à sua frente.
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AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Físico

A nível físico, os jovens atingem a sua maturação por volta dos 18 anos. São sexualmen-
te maduros e, nesta fase, o interesse sexual aumenta. Associado a esta maturação sexu-
al e ao aumento da liberdade, aumenta o risco de doenças sexualmente transmissíveis.
Note-se que, agora, homens e mulheres são fisicamente distintos e, nestas idades, as
diferenças estão totalmente estabelecidas, sendo eles maiores e mais fortes.

Nesta fase, é frequente os jovens começarem a andar mais de carro e transportes pú-
blicos, deixando de praticar desporto por começarem a trabalhar ou irem estudar para
longe da terra natal, o que agrava os riscos relacionados com o sedentarismo.

Para além disto, podem também surgir problemas relacionados com a má alimentação,
uma vez que muitos deles saem de casa e, por estarem sozinhos, começam a ter horá-
rios desregulados, acompanhados de 'saltos' de refeições ou 'noitadas' para estudar. Há
também mais probabilidade de vícios como o tabaco e a cafeína.

Perante isto, o Clã deve ser:


- um espaço de promoção da actividade física, tentando sempre ir mais além, mas com respeito pelas limi-
tações de cada um;
- um espaço de crescimento, conhecimento e aceitação de cada Caminheiro;
- um espaço de promoção de hábitos para uma vida saudável.

Desenvolvimento Afectivo

O jovem adulto está, progressivamente, a afastar-se dos pais, o que pode provocar pro-
blemas. Assim, por um lado, a saída de casa (para estudar ou definitiva) pode ser um
choque, pois, para além do conforto físico e psicológico que a casa dos pais oferece, os
contactos familiares tendem a ser menos frequentes, o que, quando o jovem está menos
bem, pode causar sofrimento, por não sentir o suporte imediato da família.

Por outro lado, o afastamento pode implicar também uma fase de conflito com os seus:
ao mesmo tempo que o jovem gosta do conforto familiar, sente-se também asfixiado por
ele, tentando e exigindo a sua cada vez maior autonomia.

Neste âmbito, os amigos e os pares assumem especial importância, quer para os mo-
mentos descontraídos, de festa e convívio, quer para os momentos de crise. Por estar
numa etapa mais madura da sua afectividade, onde surgem relacionamentos amorosos
mais sérios.

Esta pode ser uma etapa perigosa na vida do jovem, pois é uma fase de muita novidade
e muitas vezes as coisas não correm como tinha idealizado, deixando-o frustrado e me-
xendo com a sua auto-estima.

20
manualdodirigente

A este nível, o Clã deve ser:


- um espaço de amizade e compreensão;
- um espaço que promova a partilha de emoções de modo a que possam ser clarificadas e melhor compreen-
didas pelo Caminheiro;
- um espaço que promova a auto-estima de forma equilibrada.

Desenvolvimento do Carácter

Quando chega a esta faixa etária, o jovem já tem muito do seu carácter formado. No
entanto, esta nunca é uma construção fechada, podendo o jovem e o adulto desenvolver
algumas particularidades do seu carácter.

Nesta altura, a formação do carácter está quase exclusivamente entregue ao próprio. De


facto, já com um quadro de valores, o jovem escolhe, conscientemente, as ideias a que
quer aderir e põe em prática os valores que professa.

O que importa nesta fase é apoiar o jovem, de modo a que consolide o seu carácter
dentro do sistema de valores proposto pelo escutismo e ajudá-lo na caminhada para a
total autonomia, fazendo-o perceber que a responsabilidade é a expressão máxima da
liberdade de cada um.

Para isto, o Clã deve ser:


- um espaço de escolhas conscientes, que promova a autonomia;
- um espaço de valores e de regras comummente aceites;
- um espaço de responsabilidade e de responsabilização;
- uma família em que todos se empenham para que ela prospere.

Desenvolvimento Espiritual

Se esta é uma idade de muitas dúvidas, é também a idade de muitos esclarecimentos.


Passando a fase de maior rebeldia (durante a adolescência), o jovem adulto é capaz de
pensar e discernir a nível espiritual. Nota-se, assim, que procura conforto no seu Deus,
voltando a aproximar-se da religião.

De facto, capaz de compreender melhor a história e os princípios da religião que profes-


sa, o jovem vive mais intensa e conscientemente a relação com Deus e busca respostas
para além do que é visível, apoiando-se numa maior complexidade intelectual. É, assim,
uma altura de estreitamento da relação com Deus.

As vivências espirituais proporcionadas nesta altura assumem especial importância para


que o jovem possa desenvolver a sua espiritualidade.
21
manualdodirigente

Para contribuir para o desenvolvimento nesta área, o Clã deve ser:


- um espaço em que se pode descobrir e conhecer o projecto de Felicidade que Jesus nos propõe;
- um espaço de Igreja e oração;
- um espaço de testemunho dos valores do Evangelho;
- um espaço de serviço.

Desenvolvimento Intelectual

Por volta dos 18 anos, os jovens começam a desenvolver um tipo de pensamento ade-
quado à complexidade da vida adulta. Curioso e ainda sem muitas responsabilidades a
nível financeiro e familiar, o jovem procura saber sobre temas que lhe interessam e ter
experiências diferentes, valorizando o seu crescimento pessoal. A este nível, as várias
experiências de vida vão sendo integradas, proporcionado ao jovem o conhecimento
necessário para a resolução dos problemas que vão surgindo, mesmo quando se depara
pela primeira vez com uma determinada situação.

Para além disto, começa a compreender e aceitar que o conhecimento e os valores são
relativos às pessoas e aos contextos, isto é, que o que é certo para uns pode ser apenas
provável para outros e altamente incerto para muitos.

A aceitação da contradição caracteriza o pensamento do jovem adulto, o que permite


que, perante pontos de vista diferentes, o jovem consiga integrá-los e organizá-los, per-
cebendo que a contradição nem sempre pode ser resolvida pela eliminação de um dos
pontos de vista em confronto e ainda que a contradição e o conflito, longe de serem fon-
tes de confusão e marasmo, são um potencial constante de clarificação e crescimento.

A este nível, o Clã deve ser:


- um espaço que incentive a constante procura de conhecimentos;
- um espaço de apresentação e debate;
- um espaço que promova a procura de soluções para os problemas individuais e do Clã;
- um espaço de estímulo da criatividade.

Desenvolvimento Social

Nesta faixa etária, a vida social do jovem atinge o seu ponto mais agitado. Gosta de
sair de casa, passear, conhecer pessoas e fazer amigos. É uma etapa da vida onde os
jovens se envolvem em muitas causas sociais, agregando-se a associações e missões e
tornando-se mais activistas daquilo em que acreditam (principalmente os universitários,
pelo próprio meio em que estão inseridos).

No entanto, por descrédito ou desmotivação, pode ocorrer o reverso da medalha e o jo-


vem pode cair no marasmo, não se interessando pelos seus direitos ou deveres enquan-
to cidadão. A este nível, pode haver a sensação de que, faça-se o que se fizer, não se
tem poder para lutar contra o que está instalado. Esta sensação pode produzir tristeza,
inactividade e desresponsabilização pelas suas escolhas.
22
manualdodirigente

A este nível, o Clã deve ser:


- um espaço que promova o conhecimento de direitos e deveres do Caminheiro, enquanto cidadão;
- um espaço que incentive a participação activa na vida comunitária;
- um espaço de empatia e serviço;
- um espaço de promoção do trabalho em equipa e de respeito pelo colectivo.
Rover

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Tiago Vaz

B.1 Proposta Educativa do CNE

O Escutismo é um movimento de educação não-formal que contribui para a educação


dos jovens através de um sistema de valores, tal como se expressa no documento “A
Missão do Escutismo”, Durban 1999:

“A missão do Escutismo consiste em contribuir para a educação dos


jovens, partindo de um sistema de valores enunciados na Lei e na Pro-
messa escutistas, ajudando a construir um mundo melhor, em que as
pessoas se sintam plenamente realizadas como indivíduos e desempe-
nhem um papel construtivo na sociedade.

Isto é alcançado:

envolvendo os jovens, ao longo dos seus anos de formação,


num processo de educação não-formal;

utilizando um método original, segundo o qual cada indivíduo é o


principal agente do seu próprio desenvolvimento, para se tornar
uma pessoa autónoma, solidária, responsável e comprometida;

ajudando os jovens na definição de um sistema de valores


baseado em princípios espirituais, sociais e pessoais expressos
na Lei e na Promessa."

A Missão do Escutismo, Durban, 1999

A partir desta declaração de Missão, as associações escutistas foram levadas a elaborar


a sua Proposta Educativa, na qual expressam a sua intenção educativa, ou seja, aquilo
que podem oferecer aos jovens de uma determinada comunidade e por um determinado
25
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tempo.

A intenção educativa do CNE, adequada ao tempo e à sociedade, está expressa na


Proposta Educativa “Educamos. Para quê?”, aprovada no Conselho Nacional Plenário
de Maio de 2003.

EDUCAMOS. PARA QUÊ?

Uma Proposta Educativa do Corpo Nacional de Escutas

O CNE ajuda jovens a crescer…

…a procurar a sua própria Felicidade e a contribuir decisivamente para a


dos outros.
…a descobrir e viver segundo os Valores do Homem Novo.

O CNE procura, através do Método Escutista, ajudar cada jovem a educar-


se…
...para se tornar consciente do Ser;
● uma pessoa responsável, autónoma e perseverante; justa, leal e honesta
● uma pessoa criativa e ousada face aos desafios e que cultiva o espírito crítico
de modo a distinguir o essencial
● uma pessoa alegre, sensível e compreensiva, consciente de si própria, das
suas limitações e potencialidades
● uma pessoa solidária e fraterna, que promove o respeito e a tolerância na sua
relação com os outros
● uma pessoa que assume integralmente o seu compromisso cristão como
opção de vida
● uma pessoa que respeita o seu corpo como manifestação de vida e com ele se
relaciona de forma equilibrada

...para se tornar detentor de Saber;


● uma pessoa que reconhece as suas imperfeições e as procura superar
de uma forma constante
● uma pessoa que busca sempre mais e usa esses conhecimentos para funda-
mentar as suas decisões, expressando adequadamente as suas ideias
● uma pessoa que valoriza as sua emoções e afectos, vivendo-os em equilíbrio
● uma pessoa atenta ao Mundo, no qual identifica o seu papel, valorizando o
trabalho em equipa
● uma pessoa que procura aprofundar sempre o seu esclarecimento na Fé
● uma pessoa que conhece as capacidades e limites do seu corpo, reconhecen-
do as ameaças ao mesmo

26
manualdodirigente

...para se tornar preparado para Agir;


● uma pessoa que, comprometendo-se, age de acordo com as suas opções,
respeitando os outros e o mundo
● uma pessoa empreendedora, activa no desenvolvimento de iniciativas e que
cuida da sua própria formação
● uma pessoa que cultiva amizades e que vive o amor de uma forma plena,
dando disso testemunho em família
● uma pessoa que assume o seu papel na comunidade, exercendo a cidadania
de uma forma participativa e generosa
● uma pessoa que evangeliza pelo testemunho e pela partilha, no respeito pelas
convicções dos outros, contribuindo assim para a construção da paz
● uma pessoa que, reconhecendo o seu corpo como meio para transformar o
Mundo, cuida dele em harmonia com o ambiente

O CNE ajuda jovens a crescer...

...para que com o Ser, Saber e Agir se tornem homens e mulheres respon-
sáveis e membros activos de comunidades, na construção de um mundo
melhor.

Com esta proposta, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) procura responder às necessi-
dades educativas das crianças e dos jovens, através dos Princípios e do Método escutis-
tas. Ao mesmo tempo, a proposta pretende ser referência para a acção continuada dos
animadores adultos e também um compromisso educativo perante a sociedade. Sendo
um documento aberto e dinâmico, a Proposta Educativa concretiza-se nas actividades
características do Movimento, que proporcionam a criação e/ou o desenvolvimento de
determinadas competências e características nas crianças, nos adolescentes e nos jo-
vens.

Este documento é um género de Bilhete de Identidade ou cartão-de-visita que


pode ser usado:

quando se recebe um novo elemento e os Pais querem saber o que é


o Escutismo e o que o distingue, por exemplo, de um qualquer clube
desportivo;
nas reuniões de Pais;
quando se fazem exposições ou folhetos sobre o Escutismo;
numa reunião com a Autarquia;
num pedido de apoio financeiro;

Ou ainda em:
num momento de formação da Equipa de Animação;
num jogo sobre valores;
num jogo sobre as qualidades individuais;
etc.

27
manualdodirigente

Telma Domingues

B.2 Áreas de desenvolvimento, Trilhos e Objectivos Educa­tivos

O Escutismo considera muito importante o desenvolvimento integral de todos os aspec-


tos da personalidade das crianças e dos jovens. Neste sentido, e depois de analisadas
as intenções do fundador do Movimento Escutista e as diversas dimensões da persona-
lidade humana, foram estabelecidas seis áreas de desenvolvimento pessoal que são,
assim, o instrumento para a aplicação prática da Proposta Educativa.

São elas:

Incentiva o conhecimento e
Desenvolvimento físico
desenvolvimento do corpo. F
Desenvolvimento afectivo Favorece a equilibrada orientação dos
afectos e a valorização pessoal. A
Promove o aperfeiçoamento de valores
Desenvolvimento do carácter
e de atitudes e o ser mais. C
Desenvolvimento espiritual Aprofunda o sentido de Deus.
E
Desenvolvimento intelectual Fomenta a exploração e criatividade. I
Estimula o encontro, a partilha e o sen-
Desenvolvimento social
tido do outro. S

Em cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal estão identificadas prioridades


educacionais – três trilhos educativos – que tomam em conta as necessidades e aspira-
ções das crianças, dos adolescentes e dos jovens em particular. São, assim, caminhos
de crescimento a trabalhar em cada área que definem os objectivos de crescimento a
atingir no final do tempo vivido em cada secção.
29
manualdodirigente

ÁREAS TRILHOS Os objectivos de cada trilho relacionam-se com:

Desempenho rentabilizar e desenvolver as suas capacidades; destreza física;


conhecer os seus limites;
Área de
Desenvolvimento Auto-conhecimento conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu processo maturação
físico

Bem-estar físico manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição;


evitar comportamentos de risco

Relacionamento e auto-expressão; intereducação; valorização dos laços familiares;


sensibilidade opção de vida; sentido do belo e do estético
Área de
Equilíbrio saber lidar com as emoções (controlar/ exprimir); manter um estado
Desenvolvimento
emocional interior de liberdade; maturidade
Afectivo
conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se
Auto-estima

Autonomia tornar-se independente; capacidade de optar;


construir o seu quadro de referências
Área de
Desenvolvimento Responsabilidade ser consequente; perseverança e empenho;
do Carácter levar a bom termo um projecto assumido

Coerência viver de acordo com o seu sistema de valores;


defender as suas ideias

Descoberta disponibilidade interior; interiorização progressiva;


busca do transcendente no específico cristão
Área de
Desenvolvimento dar testemunho pelos actos do dia-a-dia; viver em comunidade;
Aprofundamento
Espiritual estar aberto ao diálogo inter-religioso

Serviço ntegração e participação activa na Igreja; um mundo novo;


evangelização

Procura do desejo de saber; procura e selecção de informação; iniciativa;


conhecimento auto-formação
Área de
Resolução de capacidade de análise e síntese; utilização de novas técnicas e métodos; selecção de
Desenvolvimento estratégias de resolução; análise crítica da solução encontrada; capacidade de adaptação
problemas
Intelectual a novas situações

Criatividade e apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso adequado


Expressão

Exercer activamente direitos e deveres; tolerância social; intervenção social


cidadania
Área de Solidariedade e serviço; interajuda; tolerância
Desenvolvimento tolerância
Social
Interacção e assertividade; espírito de equipa; assumir o seu papel nos grupos de
cooperação pertença

Cada trilho é constituído por um conjunto de objectivos educativos que têm em conta
as necessidades de crescimento e aspirações das crianças e dos jovens e procuram aju-
dá-los a desenvolver as suas capacidades [conhecimentos, competências e atitudes].

Neste sentido, foram criados objectivos educativos finais, que são os objectivos a
serem atingidos, em cada área, no final do percurso educativo (ou seja, à saída da IV
Secção). Para além destes, foram depois criados objectivos educativos de secção,
que constituem metas intermédias a serem cumpridas aquando da transição de uma
secção para a seguinte.
30
manualdodirigente

Em cada secção, os elementos são chamados a escolher, para cada etapa de progres-
so, um trilho de cada área, em que encontram depois um conjunto de objectivos que
devem procurar atingir. Só se considera um trilho cumprido quando o elemento conse-
guiu crescer a ponto de cumprir todos os objectivos daquele trilho. Neste âmbito, a IV
Secção apresenta uma variação. De facto, apesar de os Trilhos Educativos continuarem
presentes nesta secção, estes não são utilizados no processo de escolha dos objectivos.
Ao invés, os caminheiros são convidados a escolher directamente os objectivos que pre-
tendem alcançar em determinado momento. Assim, aumenta-se a liberdade de escolha
do jovem e permite-se uma maior sintonia destas escolhas com o seu PPV. Devido à sua
maturidade, acredita-se que o caminheiro é capaz de escolher, em consciência, o seu
percurso, sem necessitar da estruturação que os trilhos oferecem.

Desenvolvimento Físico
Dimensão da personalidade: o corpo

Trilhos Educativos:

Desempenho [rentabilizar e desenvolver as suas capacidades, destreza física;
conhecer os seus limites]

Auto-conhecimento [conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu proces-


so
de maturação]

Bem-estar físico [manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição; evitar


comportamentos de risco]

Trilho Educativo Desempenho [rentabilizar e desenvolver as suas capacida-


des, destreza física; conhecer os seus limites]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-F1. Participo em II-F1. Pratico III-F1. Testo de F-F1. Praticar actividade


actividades físicas actividades físicas forma responsável física que promova o
que me ajudam em que testo as mi- os limites do meu desenvolvimento e
a ser mais ágil e nhas capacidades e corpo e pratico manutenção da agilidade,
habilidoso. torno-me mais ágil, actividades físicas flexibilidade e destreza de
flexível e desemba- que me permitem forma adequada à sua idade,
raçado. conseguir um capacidade e limitações.
desenvolvimento
equilibrado.
31
manualdodirigente

Trilho Educativo Auto-conhecimento [conhecimento e aceitação do seu corpo


e do seu processo de maturação

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-F2. Conheço os II-F2. Aceito que o III-F2. Aceito as F-F2. Conhecer e aceitar o
principais órgãos do meu corpo está a características desenvolvimento e amadu-
meu corpo, sei onde mudar e respeito os próprias do meu recimento do seu corpo com
estão localizados e diferentes ritmos de corpo e respeito as naturalidade.
para que servem. desenvolvimento diferenças físicas
quando me compa- entre as pessoas. F-F3. Conhecer as caracte-
I-F3. Conheço as ro com os outros. rísticas fisiológicas do corpo
principais diferen- III-F3. Reconheço masculino e feminino e a sua
ças do corpo das II-F3. Conheço o que homens e relação com o comportamento
meninas e dos diferente ritmo de mulheres têm ca- e necessidades individuais.
meninos. crescimento dos racterísticas físicas
rapazes e raparigas diferentes e respeito
e respeito o espaço os comportamentos
próprio de cada um. e necessidades que
vão surgindo.

Trilho Educativo Bem-estar físico [manutenção e promoção: exercício; higie-


ne; nutrição; evitar comportamentos de risco]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-F4. Sei o que devo II-F4. Sei equili- III-F4. Faço F-F4. Cultivar um estilo de
e não devo comer brar as minhas escolhas saudáveis vida saudável e equilibrado –
e que tenho de actividades físicas a nível da minha alimentação, actividade física
descansar. com o descanso e alimentação, e repouso –, adaptado a cada
uma alimentação repouso e fase do seu desenvolvimento.
I-F5. Cuido do meu saudável. actividades físicas.
corpo e do meu F-F5. Cuidar e valorizar o
aspecto. II-F5. Esforço-me III-F5. Tomo as seu corpo de acordo com os
por ter bom aspecto medidas padrões de saúde, revelando
I-F6. Sei que há e tenho hábitos necessárias para aprumo.
comportamentos e regulares de higiene o meu bem-estar
produtos que me que contribuem físico e ando F-F6. Identificar e evitar, na
podem fazer mal. para a minha aprumado. vida quotidiana, os
saúde. comportamentos de risco
III-F6. Conheço relacionados com a segurança
II-F6. Identifico e os malefícios das física e consumo de
evito comporta- substâncias e substâncias.
mentos e substân- comportamentos de
cias prejudiciais à risco e evito-os
saúde.
32
manualdodirigente

Desenvolvimento Afectivo
Dimensão da personalidade: os sentimentos e as emoções

Trilhos Educativos:

Relacionamento e sensibilidade [auto-expressão; intereducação; valorização
dos laços familiares; opção de vida; sentido do belo e do estético]

Equilíbrio emocional [saber lidar com as emoções “controlar/exprimir”; manter


um estado interior de liberdade; maturidade]

Auto-estima [conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se]

Relacionamento e sensibilidade [auto-expressão; intereduca-


Trilho Educativo
ção; valorização dos laços familiares; opção de vida; sentido
do belo e do estético]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-A1. Escolho as II-A1. Comprometo- III-A1. Valorizo as F-A1. Valorizar e


minhas amizades me com o minhas relações demonstrar sensibilidade nas
e dou-me bem com bem-estar e afectivas e demons- suas relações afectivas, de
todos. crescimento do tro equilíbrio na modo consequente com a
grupo, mantendo gestão de conflitos. opção de vida assumida.
I-A2.Escuto e res- uma relação
peito os mais amigável com os III-A2. Comprometo- F-A2. Respeitar a existência
velhos, tendo os outros elementos. -me com o de várias sensibilidades
pais como exemplo. bem-estar da minha estéticas e artísticas,
II-A2. Valorizo a família. formando a sua opinião com
I-A3. Distingo aquilo minha família e sentido crítico.
que gosto e não assumo o meu III-A3. Reconheço
gosto e consigo papel no seio da que existem diver- F-A3. Assumir a própria
falar sobre isso. mesma. sas sensibilidades sexualidade aceitando a
estéticas e partilho complementaridade
I-A4. Sei que II-A3. Expresso os meus gostos. Homem / Mulher
meninos e meninas interesse e espírito e vivê-la como expressão
se comportam de crítico por uma III-A4. Encaro com responsável de amor.
maneira diferente e forma de arte. naturalidade a
respeito isso. minha sexualidade
II-A4. Aceito as e procuro integrá-la
diferentes formas harmoniosamente
de demonstrar na minha vida,
sentimentos, nos respeitando-me a
rapazes e nas mim e aos outros.
raparigas.
33
manualdodirigente

Equilíbrio emocional [saber lidar com as emoções “contro-


Trilho Educativo
lar/exprimir”; manter um estado interior de liberdade; matu-
ridade]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-A5. Sou capaz de II-A5. Reconheço e III-A5. Ajo de forma F-A4. Ser capaz de identificar,
falar daquilo que exprimo as minhas ponderada e reflec- compreender e expressar as
sinto. emoções com tida, respeitando suas emoções, tendo em
naturalidade e sem os sentimentos dos conta o contexto e os
magoar os outros. outros. sentimentos dos outros.

III-A6. Reconheço
quando me excedo
e esforço-me por
corrigir o meu
comportamento.

Auto-estima [conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se]


Trilho Educativo

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-A6. Sei quais são II-A6. Assumo as III-A7.Reconheço F-A5. Reconhecer e aceitar
as minhas minhas qualidades as características as características da sua
qualidades e os e defeitos. da minha persona- personalidade, mantendo uma
meus defeitos. lidade. atitude de aperfeiçoamento
II-A7. Reconheço constante.
I-A7. Esforço-me por os meus erros e III-A8.Reconhe-
ser melhor. procuro corrigi-los. ço que erro e F-A6. Valorizar as próprias
comprometo-me a capacidades, superando
I-A8. Esforço-me II-A8.Empenho-me melhorar as minhas limitações e adoptando uma
por fazer tudo, em ultrapassar as características atitude positiva perante a vida.
mesmo quando minhas menos positivas.
tenho medo ou acho dificuldades e
que não sou capaz. melhorar tudo o que III-A9. Aceito as
tenho de bom. minhas próprias li-
mitações, esforçan-
do-me sempre por
melhorar.

III-A10. Conheço
bem as minhas ca-
pacidades e invisto
no meu desenvolvi-
mento.
34
manualdodirigente

Desenvolvimento do Carácter
Dimensão da personalidade: a atitude

Trilhos Educativos:

Autonomia [tornar-se independente; capacidade de optar; construir
o seu quadro de referências]

Responsabilidade [ser consequente; perseverança e empenho; levar a


bom termo um projecto assumido]

Coerência [viver de acordo com o seu sistema de valores; defender as


suas ideias

Autonomia [tornar-se independente; capacidade de optar;


Trilho Educativo
construir o seu quadro de referências]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-C1. Sei a Lei e II-C1. Conheço e III-C1. Escolho F-C1. Possuir e desenvolver
as Máximas da compreendo a Lei conscientemente as um quadro de valores que
Alcateia e percebo do Escuta e os minhas referências são fruto de uma opção
o que querem dizer. Princípios. e valores consciente.
fundamentais.
I-C2. Tenho em II-C2. Assumo as F-C2. Ser capaz de formular
conta a opinião dos minhas opiniões, III.C2. Sou capaz de e construir as suas próprias
mais velhos quando participando fazer opções e de opções, assumindo-as com
tomo decisões. activamente nas reconhecer as suas clareza.
decisões que me implicações.
I-C3. Participo em dizem respeito. F-C3. Mostrar-se responsável
actividades que me III-C3. Estabeleço pelo seu desenvolvimento,
ajudam a aprender II-C3. Escolho para mim, com colocando a si próprio
coisas novas. e participo em regularidade, metas objectivos de progressão
actividades que me a atingir em várias pessoal.
ajudam a crescer. áreas da minha
vida.

35
manualdodirigente

Responsabilidade [ser consequente; perseverança e empe-


Trilho Educativo
nho; levar a bom termo um projecto assumido]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-C4. Cumpro as II-C4. Desempenho III-C4. Correspondo F-C4. Demonstrar empenho


tarefas que me são o papel que me é à confiança que em e vontade de agir, assumindo
dadas, porque sei atribuído dentro mim depositam. as suas responsabilidades em
que isso é dos grupos a que todos os projectos que enceta,
importante para pertenço com III-C5. Reconheço estabelecendo prioridades e
todos. responsabilidade e a importância das respeitando-as.
empenho. minhas tarefas,
I-C5. Não desisto, estabeleço priorida- F-C5. Demonstrar perseveran-
mesmo quando as II-C5. Não des e respeito-as. ça nos momentos de dificulda-
tarefas são difíceis. desanimo perante de, procurando ultrapassá-los
as dificuldades e III-C6. Encaro os
com optimismo.
I-C6.Reconheço procuro sempre obstáculos sem
que as minhas aprender com elas. desistir de encontrar
F-C6. Ser consequente com
acções têm conse- soluções ou alterna-
as opções que toma,
quências. II-C6. Prevejo as tivas e reconhecen-
assumindo a responsabilidade
consequências que do as lições a tirar.
pelos seus actos.
as minhas acções/
decisões têm na III-C7. Assumo as
vida dos grupos de minhas acções,
que faço parte. aceitando as
consequências das
mesmas para mim
ou para os grupos a
que pertenço.

Coerência [viver de acordo com o seu sistema de valores;


Trilho Educativo
defender as suas ideias]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-C7. Defendo o que II-C7. Defendo as III-C8. Partilho e F-C7. Ser consistente e
me parece certo ideias e compor- defendo aquilo convicto na defesa das suas
de forma alegre e tamentos que me em que acredito ideias e valores.
calma. parecem correctos. de forma serena e
fundamentada. F-C8. Dar testemunho, agindo
I-C8. Mostro, pelas II-C8. Demonstro em coerência com o seu
III-C9. Ajo, em cada sistema de valores.
minhas acções, que os meus com-
dia, de acordo com
que conheço a Lei portamentos diários
as convicções e
e as Máximas da estão de acordo referências que vou
Alcateia. com a Lei do Escuta tomando para mim,
e os Princípios. tendo consciência
do testemunho que
36 dou aos outros
manualdodirigente

Desenvolvimento Espiritual
Dimensão da personalidade: o sentido de Deus

Trilhos Educativos:

Descoberta [disponibilidade interior; interiorização progressiva;
buscado transcendente no específico cristão]

Aprofundamento [dar testemunho pelos actos do dia-a-dia;


viver em comunidade; estar aberto ao diálogo inter-religioso]

Serviço [integração e participação activa na Igreja;


participar na construção de um mundo novo; evangelização]

Descoberta [disponibilidade interior; interiorização progres-


Trilho Educativo
siva; busca do transcendente no específico cristão]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-E1. Conheço as II-E1. Conheço III-E1. Conheço e F-E1. Conhecer e compreen-


primeiras histórias e compreendo a compreendo a vida der o modo como Deus se deu
da Bíblia. história dos heróis dos profetas. a conhecer à humanidade,
que procuraram propondo-lhe um Projecto de
I-E2. Sei como alcançar a Terra III-E2. Conheço Felicidade Plena [História da
Jesus nasceu e que Prometida, a partir e percebo a vida Salvação].
Ele quer ser o meu da Aliança. de Jesus com os
melhor amigo. Apóstolos. F-E2. Conhecer em profun-
II-E2. Conheço e didade a mensagem e a pro-
I-E3. Sei que a percebo a mensa- III.E3. Reconheço posta de Jesus Cristo [Mistério
Igreja é uma família gem contida nas pa- que cada membro da Encarnação e Mistério
a que eu pertenço. rábolas e milagres da Igreja é diferente Pascal].
de Jesus Cristo. e que isso é impor-
tante e enriquece a F-E3. Reconhecer que a
II-E3. Descubro que comunidade. pertença à Igreja é um sinal
somos Igreja e que de Deus no mundo de hoje
nela todos temos [Igreja Sacramento Universal
um papel a desem- de Salvação].
penhar.

37
manualdodirigente

Descoberta [disponibilidade interior; interiorização progres-


Trilho Educativo
siva; busca do transcendente no específico cristão]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-E4. Sei que a II-E4. Sei que me III-E4. Vivo a oração F-E4. Aprofundar os hábitos
oração diária é a relaciono com Deus como parte do meu de oração pessoal e assumir-
maneira de eu falar sempre que faço quotidiano e partici- -se como membro activo da
com Jesus. oração pessoal e po nas celebrações Igreja na celebração comuni-
participo na oração comunitárias. tária.
I-E5. Imito Jesus, comunitária.
porque sei que Ele III-E5. Conheço a F-E5. Integrar na sua vida os
é um exemplo a II-E5. Integro-me perspectiva da Igre- valores do Evangelho, vivendo
seguir. cada vez mais na ja sobre os temas as propostas da Igreja.
minha comunidade principais a partir da
I-E6. Identifico dife- paroquial, através fundamentação F-E6. Conhecer as principais
rentes religiões. da catequese, cele- Bíblica. religiões distinguindo e valori-
brando os sacra- zando a identidade da Igreja
mentos que a Igreja III-E6. Aprofundo as Católica.
me propõe. razões da minha fé
no contacto com as
II-E6. Identifico as outras religiões.
principais diferen-
ças e semelhanças
entre as religiões.

Serviço [integração e participação activa na Igreja; partici-


Trilho Educativo
par na construção de um mundo novo; evangelização]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-E7. Respeito a II-E7. Cuido e III-E7. Defendo a F-E7. Testemunhar que a


Criação de Deus protejo a vida humana como presença de Deus no mundo
[pessoas e Natu- Natureza, cons- um valor absoluto. dignifica a vida humana e a
reza] ciente de que isso Natureza.
é importante para a III-E8. Sei o que é
I-E8. Falo de Jesus vida das pessoas. ser “Sal da Terra e F-E8. Viver o compromisso
aos meus amigos e Luz do Mundo” e Cristão como missão no mun-
explico-lhes porque II.E8. Falo da minha ponho-me ao servi- do em todas as dimensões
é que Ele é impor- vivência em comu- ço dos outros. [humanas, sociais, económi-
tante para mim. nidade e convido cas, culturais e políticas].
outros a participar.

38
manualdodirigente

Desenvolvimento Intelectual
Dimensão da personalidade: a inteligência

Trilhos Educativos:

Procura do conhecimento [desejo do saber; procura e selecção de informação;
iniciativa; auto-formação]

Resolução de problemas [capacidade de análise e síntese; utilização de novas


técnicas e métodos; selecção de estratégias de resolução; análise crítica da
solução encontrada; capacidade de adaptação a novas situações]

Criatividade e Expressão [apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso


adequado]

Procura do conhecimento [desejo do saber; procura e se-


Trilho Educativo
lecção de informação; iniciativa; auto-formação]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-I1. Proponho à Al- II-I1. Procuro III-I1. Procuro sem- F-I1. Procurar de forma activa
cateia temas novos descobrir o mundo pre aumentar os e continuada novos saberes e
para pesquisar que me rodeia, a meus conhecimen- vivências, como forma de con-
partir das minhas tos, diversificando tribuir para o seu crescimento
I-I2. Sei onde procu- experiências. as vivências. pessoal.
rar e guardar novas
informações. II-I2. Conheço e III-I2. Sei onde pro- F-I2. Conhecer e utilizar
utilizo diferentes curar a informação formas adequadas de recolha
I-I3. Sou capaz de meios de recolha da e selecciono-a de e tratamento de informação
escolher o que mais informação. acordo com as e, dentro dessas, distinguir o
gostava de fazer e necessidades. essencial do acessório.
aprender. II-I3. Descubro as
minhas aptidões III-I3. Conheço as F-I3. Definir o seu itinerário de
e aprofundo os minhas aptidões, formação preocupando-se em
assuntos que me sou capaz de mantê-lo actualizado.
interessam e podem optar por uma área
ser úteis no futuro. profissional ou de
estudo e identificar
outros domínios de
interesse pessoal.

39
manualdodirigente

Resolução de problemas [capacidade de análise e síntese;


Trilho Educativo
utilização de novas técnicas e métodos; selecção de estra-
tégias de resolução; análise crítica da solução encontrada;
capacidade de adaptação a novas situações]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-I4. Sou II-I4. Enfrento situa- III-I4. Sei avaliar as F-I4. Adaptar-se e superar
desembaraçado e ções novas usando experiências que novas situações,
uso as coisas que o que aprendi. vivo e utilizo o que avaliando-as à luz de
aprendo para aprendo de forma experiências anteriores e
resolver problemas. II-I5. Consigo criativa nas novas conhecimentos adquiridos.
identificar, de forma situações que
I-I5. Sei dizer organizada, as enfrento. F-I5. Analisar os problemas
quando há um causas de um de forma crítica, sugerindo
problema e o que é problema e propor III-I5. Analiso e aplicando estratégias de
preciso fazer para o soluções. problemas, resolução dos mesmos.
resolver. proponho soluções
e escolho a mais
adequada.

Criatividade e Expressão [apresentação lógica de ideias;


Trilho Educativo
criatividade; discurso adequado]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-I6. Gosto de II-I6. Aceito desafios III-I6. Assumo o F-I6. Ser capaz de utilizar
imaginar e de fazer que me fazem ima- desafio de criar conhecimentos, percepções e
coisas novas. ginar e criar coisas ideias e projectos intuições na criação de novas
diferentes. inovadores em que ideias e obras, mantendo um
I-I7. Sou capaz relaciono os meus espírito aberto e inovador.
de apresentar e II-I7. Utilizo de conhecimentos e
explicar aquilo que modo criativo gostos. F-I7. Expressar ideias e
imagino. diferentes formas emoções de forma lógica
de expressar ideias III-I7. Apresento e criativa, adaptada ao[s]
e emoções. ideias e emoções destinatário[s] e utilizando os
de forma criativa, meios adequados.
explorando
diferentes técnicas
e meios e
adequando-as a
quem me dirijo.

40
manualdodirigente

Desenvolvimento Social
Dimensão da personalidade: a integração social

Trilhos Educativos:

Exercer activamente cidadania [direitos e deveres; tolerância social;
intervenção social]

Solidariedade e tolerância [serviço; inter-ajuda; tolerância]

Interacção e cooperação [assertividade; espírito de equipa; assumir o seu papel


nos grupos de pertença]

Exercer activamente cidadania [direitos e deveres; tolerân-


Trilho Educativo
cia social; intervenção social]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-S1. Conheço II-S1. Dou exemplo III-S1. Conheço os F-S1. Conhecer e exercer
as regras de boa de cumprimento meus deveres e os seus direitos e deveres
educação que me das regras de boa direitos e promovo enquanto cidadão.
fazem dar bem com convivência na que, à minha volta,
os outros. comunidade. os outros os F-S2. Participar activa e
conheçam. conscientemente nos vários
I-S2. Participo da II-S2. Descubro a espaços sociais onde se
melhor vontade em necessidade de III-S2. Participo insere, intervindo de uma
todas as actividades participar nos vários activamente nas forma informada, respeitadora
grupos onde me comunidades em e construtiva.
I-S3. Respeito integro. que me insiro, inter-
aquilo que é de vindo na promoção F-S3. Respeitar as regras
todos. II-S3. Cuido do que de causas comuns. democráticas e assumir como
é de todos. suas as decisões tomadas
I-S4. Não me III-S3. Quando colectivamente.
aborreço quando II-S4. Aceito as perco uma votação,
perco nas votações derrotas em todas aceito a decisão
e nos jogos. as situações, com e trabalho nesse
respeito e sem sentido.
desanimar.

41
manualdodirigente

Solidariedade e tolerância [serviço; interajuda; tolerância]


Trilho Educativo

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-S5. Procuro ser II-S5. Sou sensível III-S4. Identifico F-S4. Assumir que é parte da
útil aos outros no às situações de situações em que sociedade onde se insere,
meu dia-a-dia. necessidade no posso ser útil agindo numa perspectiva de
meio que me rodeia na resolução ou serviço libertador e de cons-
I-S6. Sou capaz de e procuro ser útil na minimização de um trução de futuro.
escutar e dar sua resolução. problema social.
importância às F-S5. Usar de empatia na
opiniões dos outros, II-S6. Sei manter III-S5. Participo, forma de comunicar com os
aguardando a um diálogo, sozinho ou em outros, demonstrando
minha vez de falar. apresentando os equipa, na tolerância e respeito perante
meus argumentos resolução ou outros pontos de vista.
com entusiasmo minimização de um
e ouvindo os dos problema social.
outros.
III-S6. Exponho
as minhas ideias,
respeitando e
valorizando as dos
outros.

Exercer activamente cidadania [direitos e deveres; tolerân-


Trilho Educativo
cia social; intervenção social]

I SECÇÃO II SECÇÃO III SECÇÃO Objectivo educativo final

I-S7. Sou capaz de II-S7. Reconheço III-S7. Valorizo as F-S6. Mostrar capacidade de
trabalhar com os as vantagens de diferentes relacionamento e trabalho em
outros. trabalhar em grupo funções no grupo equipa, contribuindo
e contribuo com e desempenho o activamente para o sucesso
I-S8. Sou amigo dos os meus conheci- melhor possível do colectivo através do de-
outros quando sou mentos e o meu aquelas que me são sempenho com competência
eu a mandar. trabalho. confiadas. do seu papel.

II-S8. Demonstro III-S8. Respeito as F-S7. Assumir papéis de


que sei orientar necessidades do liderança, de forma
respeitando as opi- grupo, nunca equilibrada, tendo em conta
niões dos outros. sobrepondo a as suas necessidades e as do
minha liderança. grupo.

42
manualdodirigente

João Antunes

C.0 As Sete Maravilhas do Método

O Movimento Escutista tem uma missão definida: educar, promovendo o desenvolvi-


mento das crianças, dos adolescentes e dos jovens através de actividades recreativas e
de serviço, de modo harmonioso com a sua própria personalidade e com a comunidade
em que vivem.

A finalidade do Movimento escutista é “contribuir para o desenvolvimento


dos jovens ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às
suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e espirituais, quer como
pessoas, quer como cidadãos responsáveis e quer, ainda, como mem-
bros das comunidades locais, nacionais e internacionais.”

In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo I

De que forma consegue o Movimento Escutista atingir a sua finalidade?

Consegue fazê-lo através do sistema criado por B.-P., entretanto apurado e aprofundado
durante quase um século, a que vulgarmente se dá o nome de Método Escutista. Este
método, a nossa forma de educar, é único e genial e tem dado provas disso mesmo ao
longo dos seus cem anos de existência. Sem ele, não se pode verdadeiramente fazer
Escutismo.
43
manualdodirigente

O Método Escutista é um sistema de auto-educação progressiva, baseado em:

Uma Promessa e uma Lei.

Uma educação pela acção.

Uma vida em pequenos grupos (por exemplo, a Patrulha), envolvendo,


com o auxílio e o conselho de adultos, a descoberta e a aceitação
progressiva de responsabilidades pelos jovens e uma preparação para
a autonomia com vista ao desenvolvimento do carácter, à aquisição de
competências, à confiança em si, ao serviço dos outros e à capacidade
quer de cooperar, quer de dirigir.

Programas de actividades variados, progressivos e estimulantes,
baseados nos interesses dos participantes, incluindo jogos, técnicas
úteis, e a realização de serviços à comunidade; estas actividades
desenrolar-se-ão, principalmente, ao ar livre, em contacto com a
Natureza.”

In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo III

Neste sentido, vemos que o Método Escutista, a partir da forma natural como as crian-
ças, os adolescentes e os jovens se relacionam, permite explorar diferentes opções edu-
cativas, realçando o que eles aprendem uns com os outros e potenciando verdadeiras
experiências educativas, tais como:

O alargamento de horizontes: o campo de acção e de experimentação da crian-


ça/adolescente/jovem vai aumentado à medida que cresce;

O transporte da criança/adolescente/jovem da imaginação à realidade: os heróis


e heroínas não existem só em lendas, mas são indivíduos de carne e osso e o
mundo fictício das histórias desafia a exploração do mundo real;

O crescimento em pequenos grupos: a relação com os pares e a assunção de


responsabilidades são componentes essenciais de um ensaio para a vida futura
em sociedade;

A interiorização de regras sociais (através do jogo e dos valores universais):


assim se desenvolve um código de conduta próprio ao qual voluntariamente se
adere;

O incentivo a ser cada vez mais e melhor, desafiando limites e estabelecendo


novas metas a alcançar;
44
manualdodirigente

Um ambiente privilegiado onde as conquistas e os erros possuem igual valor


pedagógico: a correcta aplicação do método proporciona a criação de um espa-
ço seguro onde as crianças/adolescentes/jovens aprendem, erram e voltam a
aprender numa dinâmica de crescimento;

Uma relação de confiança com alguém que educa, preparando, apoiando, acon-
selhando e encorajando.

Identificadas as bases do Método Escutista e traçado o caminho para lá chegar, falta


apenas caminhar. E o caminho possui sete características essenciais de que não po-
demos abdicar e que consideramos maravilhosas, por constituírem a base do Método
Escutista. São as “Sete Maravilhas do Método Escutista”:

Lei e Mística e Vida na Aprender Sistema de Sistema de Relação


Promessa Simbologia Natureza Fazendo Patrulhas Progressão Educativa
Pessoal

Em cada secção, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser
aplicada de modo distinto, de acordo com as características próprias de cada faixa etária
e tendo em conta o grau de autonomia, de maturidade e de responsabilidade de cada
criança, adolescente ou jovem.

Bibliografia:
Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista

Estatutos e Regulamentos do CNE

As características essenciais do Escutismo. Documento de referência para apoio à elaboração do PEP (Plano Estratégico Participa-

tivo do CNE e da RAP – Renovação da Acção Pedagógica).


45
manualdodirigente

46
manualdodirigente

João Lagartinho

C.1 Lei e Promessa

C.1.0 Um quadro referência de valores

A Igreja e a sociedade possuem um quadro de referência de valores que nos ajudam a


viver em comunidade. Na Igreja, esses valores têm por base os Mandamentos da Lei
de Deus. Cada sociedade, por seu lado, incute valores relacionados com a moral e o
respeito por si mesmo, pelo outro e pela propriedade.

O Método Escutista também possui o seu veículo de transmissão de valores, a Maravilha


a que chamamos Lei e Promessa, e onde integramos não apenas estes dois elementos,
mas ainda outros que os complementam: os Princípios do Escuta, a Lei e Máximas da
Alcateia e outros elementos que transmitem os valores escutistas, como as orações
escutistas.

Para cada Escuteiro e para a Unidade onde está inserido, a Lei do Escuta é um apelo
positivo a fazer melhor e a desenvolver-se a si próprio. Neste sentido, é um código de
vida intimamente ligado aos Princípios do Escutismo. Através desta proposta de vivência
concreta e de uma formulação positiva (e não de proibição) dos ideais, torna-se possível
ao Escuteiro perceber os valores propostos pelo Movimento Escutista para uma vida
rumo à felicidade e ao desenvolvimento de todo o potencial encerrado dentro de cada
um. Valor, neste sentido, é algo fundamental, valioso e estável que, para uma pessoa, in-
clui aquilo que são as coisas essenciais em que se deve acreditar e que têm importância
vital na sua forma de estar na vida.

A Promessa, por seu lado, é a resposta pessoal do jovem a este apelo. Assim, é uma
dádiva de si mesmo e implica um compromisso livremente aceite por rapazes e rapa-
rigas que se comprometem a fazer o seu melhor para viver de acordo com os valores
inscritos na Lei. Esta Promessa é feita perante os seus pares de forma a que simbolize
47
manualdodirigente

não apenas o seu comprometimento pessoal, mas também um comprometimento para


com os outros.
Vemos, então, que a Lei e Promessa encerram em si, de forma simples, os valores que
Baden Powell considerava básicos para uma sociedade mais justa e feliz.

Naturalmente estes valores só são possíveis de compreender na sua totalidade após


algum tempo de permanência e vivência na secção, através das várias actividades que
se vão desenrolando e que permitem compreender de forma mais profunda o seu sig-
nificado. É por isso que têm de estar obrigatoriamente presentes no desenrolar das ac-
tividades escutistas (na sua ausência não estaremos a fazer Escutismo): só assim será
possível que os elementos os integrem na sua matriz pessoal e, de forma natural, os
tornem parte significativa da sua acção diária na sociedade em que se inserem. De facto,
estes valores mas não se limitam estritamente ao campo escutista: idealmente, a aceita-
ção voluntária dos princípios e valores subjacentes à Lei e à Promessa ditam um modo
de vida que se alarga a todas as diferentes vertentes da vida do escuteiro.

48
manualdodirigente

C.1.1 A Lei e Promessa na Alcateia

No caso dos lobitos, os valores escutistas estão resumidos na Lei e Máximas e na


Promessa. Através deles o lobito é chamado a comprometer-se livremente com ideais
que lhe permitem ajudar a construir um mundo mais justo e mais solidário.

I. A Lei e as Máximas

I.1 A Lei da Alcateia

“Não negligenciemos também a Lei da Alcateia. Que por todos os meios


possíveis ela se apodere da imaginação dos nossos rapazes e ela dará
os seus frutos..”
In Barclay, Vera, Sabedoria da Selva.

No livro da Selva, aprendemos que existe um “Povo sem lei”, desordeiro, preguiçoso,
sujo e sem regras, que vive a partir dos impulsos e dos interesses momentâneos. No
lado oposto, temos a vida da Alcateia, o “Povo Livre”, onde cada lobo conhece o seu
lugar e as regras de socialização e reconhece no velho lobo, Àquêlá, a autoridade moral
para guiar e proteger todos. Assim deve ser a vivência das nossas alcateias: temos de
reconhecer que cada animador adulto é um velho lobo e que e que os lobitos compreen-
dem e aceitam a sua orientação.

Quando caracterizamos psicologicamente o escalão etário dos nossos lobitos, conside­


ramo-los “crianças” que raciocinam sobre factos concretos vividos aqui e agora. Não lhes
podemos transmitir valores sobre situações hipotéticas que eles não entendem e ainda
não viveram. Assim sendo, a Lei da Alcateia põe as coisas no presente:

O lobito escuta Àquêlá.


O lobito não se escuta a si próprio.

O lobito, ao repetir esta lei tão simples, memoriza-a e inconscientemente vive-a. No


entanto, não deixa nunca de atender ao comportamento dos adultos, observando como
estes vivem e cumprem as regras no “grande jogo da vida”.

Ao decompormos a Lei da Alcateia, encontramos em primeiro lugar “O lobito escuta


Àquêlá”. Aqui está presente o valor da obediência e o reconhecimento da autoridade de
Àquêlá (os chefes, os pais, os professores, as catequistas, etc.), reconhecimento este
que advém da capacidade que o adulto tem para ensinar, ajudar, acarinhar e proteger
49
manualdodirigente

a criança. Depois surge “O lobito não se escuta a si próprio”, onde encontramos a va-
lorização da renúncia do lobito aos seus interesses pessoais em favor dos interesses e
necessidades do grupo (Alcateia). O lobito aprenderá que o facto de viver em Alcateia
fará com que tenha de abdicar dos seus pequenos egoísmos, fazendo grupo com todos
os outros lobitos.

A simplicidade da Lei encerra assim os valores básicos da vivência em Alcateia.

I.2 As Máximas da Alcateia

O lobito entende e consegue viver a sua lei, pois esta encerra regras bem simples. No
entanto, precisa de mais algumas orientações que o guiem nas boas relações consigo
próprio e com a sociedade. É por isso que existem as 'Máximas':

O Lobito pensa primeiro no seu semelhante.


O Lobito sabe ver e ouvir.
O lobito é asseado.
O lobito é verdadeiro.
O lobito é alegre.

1º O lobito pensa primeiro no seu semelhante.


Esta máxima corrobora o segundo artigo da lei do lobito ao contrariar tendências egoís-
tas que o lobito possa ter. De facto, o lobito, ao conhecer o Livro da Selva, sonhando e
imaginando a vida de Maugli, compreende o espírito de entreajuda, altruísmo e solida­
riedade em que os animais da selva viviam. É assim que o nosso lobito deve encarar a
sua relação com os outros, disponibilizando-se da melhor vontade a ajudar os outros,
mesmo que isso implique deixar um plano seu para segundo lugar. Ao mesmo tempo, a
vivência desta máxima levá-lo-á a melhor aceitar a ajuda dos outros quando dela neces-
sitar. Não precisamos de grandes feitos heróicos. É nos pequenos gestos que podemos
ajudar, emprestando um objecto, cedendo um lugar, ajudando a executar uma tarefa
mais elaborada, etc.

2º O lobito sabe ver e ouvir.


Diz a sabedoria popular que se temos dois ouvidos e dois olhos, mas por outro lado uma
boca, é porque devemos ouvir e ver mais do que falar. Ouvir e ver são fundamentais para
a aprendizagem e para o conhecimento da realidade à nossa volta.
50
manualdodirigente

E o lobito deve ouvir e ver não só por obediência ao que os mais velhos dizem, mas
também para entrar em intimidade e familiaridade com todo o ambiente que o rodeia. Por
outro lado, ouvir e ver é imprescindível para evitar que o mal aconteça ou pelo menos
para evitar distracções e acidentes. De facto, a vida na selva é plena de sons, cores
e sombras, tal como a vida nas “selvas” onde os nossos lobitos vivem e compete-nos
estar atentos para descobrirmos as suas maravilhas: quantas vezes, nas nossas activi-
dades, nos deitamos na relva, fechamos os olhos e entramos noutro mundo cheio de
novas sensações? Também o lobito terá de aprender a observar o meio que o rodeia,
interpretando-o.

3º O lobito é asseado.
Maugli teve a experiência de viver entre o “Povo sem lei”, os Banderlougues, nas “mora-
das frias”, e ficou perturbado com a desordem, sujidade e anarquia que se vivia naquele
local. Através desta Máxima, é pedido ao lobito que cuide da sua higiene pessoal, em
pequenos gestos: cara lavada, unhas cortadas e limpas, roupa asseada, cabelo lavado e
penteado, etc. Mas o seu asseio tem também de passar pelo arrumo e limpeza de tudo
o que diga respeito à vida da Alcateia: covil, tenda, campo, etc.

4º O lobito é verdadeiro.
Depois de Maugli ser resgatado do cativeiro dos Banderlougues, foi sincero e explicou a
Balu que toda aquela confusão se deveu à sua curiosidade e ao desrespeito pelos con-
selhos dos mais velhos. Seguindo o exemplo de Máugli, também o lobito deverá procurar
ser sempre verdadeiro, quer quando fez alguma coisa errada quer quando viu alguém
a fazer uma coisa errada. Implica, assim, ser fiel ao que realmente está a sentir e ser
honesto sobre o que pensa sobre uma situação ou pessoa. Desta forma, o lobito aprende
não apenas que é importante conquistar a confiança dos outros, mas também que é es-
sencial assumir a responsabilidade pelas suas atitudes, aceitando as consequências dos
seus actos.

5º O lobito é alegre.
A alegria faz com que cada um de nós seja mais feliz, encarando a vida com leveza e
sem fazer de cada contrariedade um pesadelo. De facto, rir, cantar, brincar são a receita
para uma vida plena, na medida em que nos ajudam a desenvolver o optimismo. As
crianças são, por natureza, alegres e, por isso, é essencial que os nossos lobitos desen-
volvam esta característica, aprendendo a não se deixarem abater pelas contrariedades.
De facto, manter a alegria passa por perceber que, na vida, há sempre uma solução ao
nosso alcance. Assim, a Alcateia será um espaço desejado, uma verdadeira 'Família
Feliz', onde se ensina o valor da alegria e a importância de nos esforçarmos por encarar
todas as situações com optimismo.

51
manualdodirigente

I.3 Como viver a lei e as máximas na alcateia

A Lei e as Máximas ajudam à aquisição de normas de convivência básicas e promovem a


convivência equilibrada do grupo e o enriquecimento das relações humanas. Para que tal
aconteça de forma natural, pode recorrer-se a várias estratégias para inculcar valores:

jogos que impliquem partilha, auxílio mútuo, disciplina, lealdade, etc.;

exemplos do dia-a-dia (retirados de histórias que podem ser contadas ou


representadas) que os lobitos assumam como conhecidos;

reflexões sobre comportamentos dos lobitos (que podem ser analisados


à luz, por exemplo, do comportamento de Máugli, do Menino Jesus e de
São Francisco de Assis, Santa Clara ou dos Beatos Francisco e Jacinta
Marto).

Neste processo, o dirigente deve ter a consciência clara de que está a trabalhar para
que, em cada lobito, se formem valores que irão nortear a sua vida futura e que são muito
mais facilmente inculcados agora do que mais tarde. Para que isto aconteça, não nos
podemos esquecer que o exemplo ocupa um lugar central na educação para os valo­
res. Assim sendo, é essencial que o dirigente assuma como seus os valores que quer
transmitir e se esforce por os cumprir, procurando ser, realmente, um modelo a seguir.
E isto não se pode fazer apenas quando os elementos estão presentes, dado que não
sabemos quando poderão estar a ouvir-nos ou ver-nos.

De facto, não é coerente pedir-lhes respeito uns para com os outros, sinceridade, soli-
dariedade para com um elemento mais difícil ou paciência para com os desobedientes
quando os dirigentes não se falam, mentem, rejeitam algum elemento de forma ostensiva
ou se descontrolam quando lidam com o grupo. Educa mais quem apresenta um com-
portamento baseado no apoio mútuo, no reforço positivo, na coerência de atitudes, no
encorajamento perante o erro e o desânimo, na defesa de comportamentos saudáveis.

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manualdodirigente

Boas práticas:

- Construir com os lobitos uma árvore (desenhada, cartolina, ramo seco, etc.) em cuja parte
superior estejam os artigos da Lei e, um pouco mais abaixo, as Máximas. Sempre que eles não cum-
pram uma Lei ou uma Máxima na Alcateia, o seu nome é colocado junto a essa Lei ou Máxima. Este
jogo tem o objectivo de levar cada lobito a lembrar­-se de que tem de fazer uma boa acção para
que o nome dele saia da árvore, que podemos chamar “O arbusto das Moradas Frias”.

- Convidar um lobito, sempre que não cumpra a Lei ou as Máximas, a fazer uma pesquisa no Livro
da Selva sobre o momento em que também Máugli não as cumpriu, complementando-a, ou não, com
um desenho. Isto para que o lobito sinta que Maúgli também fazia traquinices e que por vezes
tinha de se sujeitar aos castigos de Bálu e Bàguirà.

- Construir, com os lobitos, um quadro com a Lei e as Máximas para valorizar e embelezar o
Covil.

- Incutir no Guia de Bando que, sempre que os lobitos do Bando não cumpram a Lei ou Máximas,
ele deve ser o primeiro a chamar-lhes atenção, para que sintam autoridade por parte do seu Guia,
respeitando-o, e aprendam a seguir os valores da Alcateia.

- Convidar os lobitos a colocar na porta do quarto um quadro com a Lei e Máximas.

- Criar um cartão com várias boas acções diárias que o lobito se compromete a fazer. Depois,
os Pais vão assinando essas acções à medida que o lobito as vai cumprindo. Assim, vão-se ganhando
hábitos de boas práticas diárias.

- Convidar o Lobito a fazer um cartaz em A3 sobre a Lei e as Máximas que pode levar para a
sala de aula para explicar aos colegas. Normalmente existe mais do que um lobito na sala, pelo que
podem juntar-se e explicar aos colegas o que é a Alcateia e que Lei e Máximas tem. Esta acção
também pode ser feita na catequese. O animador terá de acertar estes pormenores com os
outros educadores, mas de forma que o Lobito não se aperceba. Esta acção funciona caso exis-
ta um conhecimento e um bom relacionamento com as outras estruturas locais.

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manualdodirigente

II. A Promessa

Iniciada há já algum tempo a etapa de adesão ao Movimento, a data da Investidura e


da Promessa estará a aproximar-se. É importante, para não dizer fundamental, que os
nossos lobitos entendam o verdadeiro significado da Promessa, que está para lá do que
é visível – a simples imposição do lenço.

“Se o ideal do lobitismo, a lei, divisa, etc., capta sobretudo a imaginação


do rapaz, a promessa faz sobretudo o apelo ao seu coração. Considerai
a palavra “promessa” na sua acepção geral. Que é que leva um homem
a fazer a sua promessa? Há na promessa algo de essencialmente gene-
roso. Além de tudo para fazer uma promessa é necessário que haja dois.
(…) Com efeito, a Promessa é uma segurança dada a alguém, de qual-
quer coisa que será fielmente cumprida. Não é uma simples declaração, é
um compromisso, a palavra de um homem que, de todo o coração, deseja
que um outro confie nele.”

In Barclay, Vera, Sabedoria da Selva.

A Promessa é um compromisso assumido pelo lobito de uma forma livre e sentida e


podemos encarar este acto em duas vertentes. Por um lado significará o momento a
partir do qual o lobito se sente verdadeiramente um membro da Alcateia: fez a sua cam-
inhada, conhece a vida e a lei da Alcateia, conhece os outros lobitos e os seus chefes e
pode e quer, finalmente, ser um lobito. É aqui que o cerimonial da Alcateia lhe confere
publicamente o estatuto de ‘lobito’ e lhe permite usar o sonhado lenço, símbolo da sua
integração definitiva.
Por outro lado, a Promessa reveste-se de uma importância vital, porque o lobito vai
atestar perante os seus pares, dirigentes e comunidade local que quer ser lobito, que
conhece a Lei da Alcateia, que tem disponibilidade para ajudar os outros e quer conviver
correctamente com os seus amigos, Jesus, os lobitos e todas as pessoas. Este compro-
misso só fará sentido se feito publicamente, percebendo o lobito que está a dar a sua
palavra e que todos irão estar atentos ao cumprimento das suas intenções.

Neste âmbito, é relativamente frequente encontrar lobitos que, embora não tenham
os requisitos básicos para fazer a sua promessa, acabam por a fazer apenas por uma
questão de calendário do Agrupamento. Esta situação deve ser evitada, na medida em
que muitas vezes premeia a preguiça e o desinteresse (não apeteceu ao lobito saber
de cor a Lei e as Máximas, embora queira o lenço, por exemplo). Para a evitar, é fun-
damental que o dirigente fale aos aspirantes e aos lobitos da importância da promessa,
evocando-a sempre que for necessário responsabilizar o lobito por alguma coisa que
faça. Neste sentido, afirmações como ‘Tu prometeste ser amigo de Jesus’ ou ‘Tu pro-
meteste cumprir a Lei da Alcateia’ ajudam o lobito a tomar consciência do valor e da
responsabilidade das suas acções.
54
manualdodirigente

“Entre todas as pessoas do mundo, vós sois aquela a quem ele prometeu
ser um bom lobito. Tomai pois a sério a vossa missão de Velho Lobo e dai
uma grande importância à Promessa que vos fazem esses pequeninos.”

In Barclay, Vera, Sabedoria da Selva.

III. A Oração do lobito

O imaginário da vida na Selva, com as suas vivências e personagens – Maugli, Áquêlá,


Balú, Baguirá, Racxa, etc. –, é um espaço de excelência para transmitir de forma sim-
ples grandes valores que temos no Cristianismo. Por isso, a referência a Jesus Cristo
e a promoção de uma relação pessoal de cada lobito com Ele têm de acompanhar as
referências ao Livro da Selva. De facto, e porque Ele é o centro e o absoluto na educação
cristã, tudo o resto concorre para o entendimento e vivência dos valores cristãos.

A oração do lobito promove a identificação do lobito com a figura do Jesus Menino, para
quem é levado a olhar como exemplo a seguir. De facto, Jesus foi menino como todos
os nossos lobitos e também Ele foi descobrindo, à medida que foi crescendo, a grande
missão que Lhe estava reservada. Ao rezarem a oração do lobito, os lobitos entregam-
se totalmente a Jesus, compreendendo a importância de O imitar para crescer de forma
equilibrada e feliz.

Nesta oração, faz-se também referência à figura de Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, a
quem os lobitos são levados a pedir a intercessão para crescer em graça e idade, como
também Jesus Menino cresceu: “enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava
com Ele.” (Lc 2, 40). Ao papel maternal de Maria, os lobitos, como crianças que são, são
particularmente sensíveis. Decidiu-se, por isso, recuperar a versão original da Oração do
Lobito, onde Maria surge como a “doce Mãe” de Jesus e de todos os homens:

Divino Menino Jesus


nós Vos oferecemos inteiramente o nosso coração.
Enchei-o das Vossas virtudes
e ensinai-nos a imitar-Vos.
Nós queremos seguir o Vosso exemplo,
com toda a nossa boa vontade,
para assim, com a ajuda de Maria,
nossa doce Mãe,
crescermos em graça e idade.
Ámen

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manualdodirigente

A melhor forma de ensinar esta oração aos lobitos é rezá-la frequentemente, tal como se
reza o Pai Nosso ou a Avé-Maria. Pode rezar-se isoladamente ou a fechar uma oração
onde se cantou, fizeram petições, ou se leu uma passagem do Evangelho (ver, por exem-
plo, as passagens existentes no livro Trocado para Miúdos, 2009, Edições CNE).

Boas práticas:

-Construir, com os lobitos, um quadro com a Oração do Lobito para valorizar e embelezar o Covil.
-Construir com os lobitos uma pequena pagela com a Oração do Lobito e um desenho alusivo à mesma. Fazer
vários exemplares da pagela e oferecer um exemplar a cada lobito.
-Sugerir ao pais que rezem a Oração do Lobito com o seu filho ou filha à noite, ao deitar.
-Terminar sempre as orações que se façam em Alcateia com a Oração do Lobito.

Bibliografia:
BADEN-POWELL, R. S. S., Manual do Lobito. Edições CNE.

BARCLAY, Vera, Sabedoria da Selva. Edições CNE.

Celebrações do CNE, Edições CNE.

FORESTIER, M. D., Pela Educação à Liberdade, Edições CNE.

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C.1.2 A Lei e Promessa na Expedição, Comunidade e Clã

I. A Lei

Para o Escuteiro do CNE, a Lei engloba os 10 Artigos da Lei, enunciados por B.-P., e os
3 Princípios do CNE.

Os Princípios
1. O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida.
2. O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão.
3. O dever do Escuta começa em casa.

A Lei
1. A honra do Escuta inspira confiança.
2. O Escuta é leal.
3. O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção.
4. O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas.
5. O Escuta é delicado e respeitador.
6. O Escuta protege as plantas e os animais.
7. O Escuta é obediente.
8. O Escuta tem sempre boa disposição de espírito.
9. O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio.
10. O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.

a) Os três Princípios
Os 3 Princípios do CNE focam três dimensões que o Movimento Escutista crê funda-
mentais para a vida do jovem. Segundo a WOSM (Organização Mundial do Movimento
Escutista), o Escuteiro deve viver segundo as seguintes dimensões: Deus, Outros e Eu.

No CNE, os Escuteiros, no seu dia-a-dia, vão completando o seu desenvolvimento, vi-


vendo segundo essas mesmas dimensões: Deus, País (outros) e Família (eu).
Cada um destes Princípios estabelece um ideal a alcançar, com os quais o Escuteiro se
compromete, criando metas específicas que visam desenvolver a responsabilidade de
cada um a nível espiritual, social e pessoal.

Sugestão: Ver Regulamento Geral do CNE, Artigo 3º.

1º Princípio: O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida.
O primeiro Princípio do Escuta elege como ideal o compromisso com Deus, fonte de feli-
cidade. Esta dimensão espiritual está presente no Movimento Escutista desde o início.
Com a adesão a princípios espirituais, pretende-se que o Escuteiro assuma a sua fideli-
dade à Religião que professa, numa aceitação dos deveres que daí decorrem, vivendo a
alegria de integrar a Igreja de Jesus Cristo.
57
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“Não temam responder generosamente ao chamado do Senhor. Dei-


xem que vossa fé brilhe no mundo, que as vossas acções mostrem o
vosso compromisso com a mensagem salvadora do Evangelho!”

Papa João Paulo II, Mensagem para a


XVII Jornada Mundial da Juventude

2º Princípio: O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão.


Este Princípio proclama a responsabilidade para com os outros. Essa responsabilidade
deve ir no sentido da promoção da Paz, da compreensão e cooperação entre todos e na
participação activa e empenhada no desenvolvimento da comunidade.

“Talvez não vejais bem como um simples rapazinho poderá ser útil à
Pátria, mas alistando- -se nos escuteiros e cumprindo a Lei escutista
todos os rapazes podem ser úteis. «A Pátria acima de mim» deve ser
a vossa divisa.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº2)

Neste sentido, sentir-se filho de Portugal não é assumir nenhum tipo de nacionalismo.
Pensar na pátria é pensar no nosso próximo, é assumir responsabilidade na construção
de um país justo, economicamente equilibrado e onde a igualdade não é uma utopia. O
bom cidadão, assim, é aquele que contribui para o bem do país, servindo-o de todas as
formas possíveis. Isto implica usar com moderação os seus recursos naturais, cumprir
os deveres cívicos, contribuir para o desenvolvimento da sociedade e fomentar a solida-
riedade, entre muitas outras coisas.

3º Princípio: O dever do Escuta começa em casa.


Neste princípio, vemos espelhados o ideal de cuidar de si, assim como dos que lhe são
próximos e parte integrante da sua vida, como a família. Esta é a célula fundamental da
sociedade. De facto, é em grande parte no seio da família que o indivíduo forma a sua
personalidade e apreende valores, descobrindo a importância da dignidade, da confian-
ça, do diálogo, da cooperação, do bom uso da liberdade, da obediência.

No entanto, para que esta aprendizagem seja profícua é necessário que exista disponi-
bilidade para estar com os outros e partilhar sentimentos e acções.

Por isto, como já disse antes, o Céu não é qualquer coisa vaga, algures
lá em cima nos ares. Fica aqui mesmo na Terra, no teu próprio Lar. Não
depende da riqueza ou da posição, mas depende de ti criá-lo, a teu
modo, com o teu próprio cérebro, coração e mãos.”
B.-P., A Caminho do Triunfo

58
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Resumindo, os Princípios do Escuta relacionam-se de forma específica com os seguintes


valores:

HONRA
O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela
CONFIANÇA
orienta toda a sua vida
SERVIÇO

CIDADANIA
O Escuta é filho de Portugal CUMPRIMENTO DO DEVER
e bom cidadão. SOLIDARIEDADE
DISPONIBILIDADE

O dever do Escuta começa em casa AMOR


DEVER

b) Os dez artigos da Lei


De acordo com aquilo que o próprio B.-P. definiu, o Movimento Escutista propõe a cada
elemento um conjunto alargado de valores que, interligados, permitem desenvolver o
sentido da responsabilidade, aprender a fazer opções e criar hábitos de convivência e
respeito para consigo mesmo e com o outro. Esses valores estão explicitamente defini-
dos nos artigos da Lei do Escuta:

1º A honra do Escuta inspira confiança.

A honra do Escuta inspira confiança, porque ele actua com honestidade em tudo o que
diz e faz. Os outros reconhecem no Escuteiro a sua honradez e confiam nele, porque
mostra e vive segundo esse valor.

Na prática, significa que o Escuteiro assume que a sua liberdade o leva a agir de forma
a nunca ser contrário à verdade, demonstrando a sua coerência de vida:

Aquilo em que acredito é aquilo que ponho em prática (tanto em público como
em privado);
O que eu penso e digo é o que eu faço;
O que eu digo é a verdade;
O que eu me comprometo a fazer, faço-o com seriedade.

“O Chefe pergunta então: «Sabes o que é a tua honra?»


O Aspirante: - «Sei sim; quer dizer que se pode confiar que sou verda-
deiro e honesto»”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº3)

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2º O Escuta é leal.
Ser leal é assumir compromissos e cumprir a palavra dada, ser fiel às suas convicções
e franco para com todos, sabendo agir de acordo com a sua consciência. O Escuteiro
leal respeita as regras do jogo da vida, actuando com coerência e respeito por si mesmo
e pelos outros. Não faz batota, não engana, não atraiçoa, não desampara ninguém.

“A lealdade era característica que acima de tudo distinguia os cavalei-


ros. Estes eram sempre dedicadamente leais ao rei e à sua Pátria.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº21)

3º O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção.


Ser útil é ter disponibilidade para ajudar os outros em todas as circunstâncias. Quem
assim procura agir, habitua-se a não orientar a vida exclusivamente pelos seus próprios
interesses, aprendendo a viver em verdadeira comunidade e espírito de serviço.

“Como Caminheiro, o teu objectivo supremo é SERVIR. Sempre se


pode confiar em que estarás pronto a sacrificar tempo, comodidades
ou, sendo preciso, a própria vida, pelos outros.”
B.-P., A Caminho do Triunfo

Para o Escuteiro, o altruísmo aprende-se através da boa-acção diária, cuja prática é


importante incutir em cada um. É ela que o exercita na arte de praticar o bem; é ela que,
pela repetição, acaba por criar o hábito de estar atento para o bem-estar dos outros e de
ter disponibilidade para os auxiliar.

A boa-acção deve ser realizada de forma discreta e sem esperar recompensa. A humil-
dade de fazer o bem sem esperar elogios é essencial: é o que permite que seja o Amor
a guiar as nossas acções. E Amor é o que Deus espera de nós.

O que começa com uma pequena boa-acção diária acaba numa vida de serviço.

4º O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas.


Num mundo como o de hoje, onde o egoísmo e a exclusão são quase banais, a amizade
é um valor precioso, pelo que este artigo da Lei do Escuta, que se divide em duas partes,
manifesta cada vez mais relevância. Numa primeira parte, mais geral, foca-se a necessi-
dade de estarmos disponíveis para amar todos (escuteiros, não escuteiros, amigos, não
amigos, etc.). A segunda parte proclama a fraternidade escutista mundial.

Ser amigo de todos implica ser capaz de se colocar no lugar do outro, actuando com
respeito e solidariedade perante as suas necessidades e diferenças e aprendendo a
perdoar.

O escuteiro tem que ser capaz de deixar cair medos, incompreensões e hostilidades,
60
manualdodirigente

pondo de lado reservas sem sentido relacionadas com raça, credo, sexo, cultura, classe
social, nacionalidade, etc. e mostrando sempre disponibilidade interior para aceitar como
possível amigo aquele que ainda lhe é desconhecido.

Ao ser escuteiro, o jovem sabe que está ligado a todos os escuteiros do mundo pelo
mesmo ideal, a mesma promessa e os mesmos valores, numa verdadeira fraternidade
global.

“Os escuteiros de todo o mundo são embaixadores da amizade, que se


dedicam a criar amigos e a abater barreiras erguidas pela cor, credo e
classe social.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº26)

5º O Escuta é delicado e respeitador.


Ser respeitador é ter consideração pelos outros e pela sua dignidade, é ter em conta os
seus direitos e ser tolerante perante ideias diferentes.

Esta consideração pela dignidade do outro traduz-se, na prática, pela delicadeza com
que tratamos os demais. O escuteiro deve comportar-se de forma amável, sensível e
afectuosa, mas não deve fazê-lo porque é bonito e fica bem: deve-o fazer sinceramente,
com o coração.

Ser delicado e respeitador é também não magoar os outros. O escuteiro não precisa de
chocar, melindrar, ou afrontar as outras pessoas para fazer ver e respeitar o seu ponto
de vista. Fá-lo de forma equilibrada e sem recurso à grosseria.

“Se desprezardes os outros rapazes, porque têm uma casa mais pobre
do que a vossa, não passais de presunçosos. Se odiardes os outros
rapazes, porque nasceram mais ricos do que vós, sois loucos.

Cada um de nós precisa de aceitar a sorte que lhe tocou no mundo e


aproveitá-la o melhor possível e colaborar com os que o cercam.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº26)

6º O Escuta protege as plantas e os animais.


No tempo de B.-P., não existiam as preocupações ambientais que hoje proclamamos.
Contudo, como visionário que era, Baden-Powell apercebeu-se da importância da Natu-
reza e da necessidade de a respeitar e proteger. E por isso concebeu este artigo da Lei,
através do qual todo o escuteiro é impelido a tomar consciência de que faz parte de um
obra maior e de que, como tal, tem o dever de amar e proteger todas as outras criaturas,
61
manualdodirigente

que tal como nós, fazem parte da Criação de Deus.

“O estudo da Natureza mostrar-vos-á as coisas maravilhosas de que


Deus encheu o mundo para vosso deleite.”
B.-P., Última Mensagem

Isto não se faz apenas com grandes gestos, mas começa com os pequenos. Assim, pe-
quenas acções também são capazes de mudar o mundo e ajudam a preservar a beleza
que Deus criou, para que todos usufruam dela.

O escuteiro aprecia e preserva a Natureza, servindo-se dela e pondo-se ao seu serviço


de forma equilibrada. Assim se cultiva o sentido da responsabilidade perante as maravi-
lhas de Deus, hoje tão exploradas e votadas ao desprezo.

7º O Escuta é obediente.
Todos os grupos possuem regras próprias, que os seus membros assumem como neces-
sárias para o bem-comum e que evitam a anarquia e o caos. E, se há regras informais,
outras são mais formais, como as leis, regulamentos, normas. Ser obediente não é mais
do que conhecer e perceber as regras e leis dos grupos a que se pertence, tomá-las
como suas e respeitá-las.

“Os Escuteiros desta [Patrulha] cumprem as suas ordens [do Guia], não
com receio de castigo (…), mas porque constituem um todo que joga
em conjunto e que apoia o seu Guia para honra e êxito da Patrulha.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº4)

Obediência não é submissão. Ser obediente é, em plena consciência, reconhecer como


legítima e necessária uma determinada autoridade, determinadas regras. Ser submisso
é não pensar no porquê das coisas e acatar ordens por desconhecimento, medo ou ver-
gonha. Assim, o escuteiro deve perceber e sentir que obedecer não é sinal de fraqueza e
não é uma humilhação. Obedecer é ter consciência que ainda se tem muito que aprender
e que o bom funcionamento do grupo está directamente dependente do cumprimento
das regras por parte dos seus membros.

Por fim, há ainda duas ideias que devem ser trabalhadas no Escuteiro:

A autoridade não é mandar. Um bom líder não precisa ser ditador, os
outros seguem-no porque lhe reconhecem autoridade, sabem que estão
bem liderados, que o seu grupo vai bem e que podem aprender muito.

Obediência não é supressão da consciência. Um indivíduo não deve


obedecer se a actuação que lhe é exigida for contrária ao que acredita,
62 sente e defende.
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8º O Escuta tem sempre boa disposição de espírito.


A alegria é, sem dúvida, uma das características que se deve apontar a todo o escuteiro.
Não o estar alegre, mas o ser alegre. Aquela alegria pura de quem tem a consciência
tranquila, de quem se sente bem consigo mesmo e com o mundo que o rodeia. Quem
assim procede é feliz, pois dessa alegria chega a força interior para enfrentar os maiores
desaires. Vivendo assim, o Escuteiro opta por viver a vida com optimismo, preferindo a
esperança à preocupação e ao medo.
Para além disto, importa transmitir que, por mais difícil que seja o caminho, por mais
desespero que possa sentir, o escuteiro procura sempre, em Deus, uma solução para
dias melhores e sorri.

“Quando se trabalha de bom humor, o trabalho transforma-se em prazer,


e esta alegre disposição torna também alegre os outros, o que constitui
um dos deveres do Escuteiro.”

B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº21)

9º O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio.


Este artigo da Lei envolve três ideias distintas que se revelam bastante importantes num
mundo consumista como o nosso, onde os bens materiais são cada vez mais valoriza-
dos, em detrimento das coisas realmente valiosas.

Em primeiro lugar, defende que todo o escuteiro deve ser sóbrio. Com isto, pretende-se
chamar a atenção para o equilíbrio que cada um deve ter na sua vida. Ser sóbrio significa
viver sem exageros, tanto a nível de pensamento como de acções. Assim, o escuteiro,
por um lado, esforça-se por conseguir o que quer e fica contente pelo que alcançou, não
tendo inveja dos outros se conseguiram mais ou melhor; por outro lado, procura ter uma
vida equilibrada, sem exageros, mostrando saber as coisas realmente importantes da
vida. Assim não desperdiça o seu tempo e vive mais.

“A orientação quase exclusiva para o consumismo dos bens materiais


retira à vida humana o seu sentido mais profundo.”
Papa João Paulo II – Homilia do XV centenário do nascimento
de São Bento e Santa Escolástica, 23 de Março de 1980

Em segundo lugar, foca o controlo do dinheiro, dizendo que o escuteiro deve ser eco-
nómico. E ser económico não é ser “forreta”, mas sim fazer uma boa gestão do seu
dinheiro. Ou seja, o escuteiro não gasta tudo o que tem nem arranja dívidas, mas deve
ser capaz de fazer planos conscienciosos para o que possui, amealhando e gastando
apenas o que precisa.

É necessário que o escuteiro perceba que o que traz felicidade não é a fortuna, mas sim 63
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o bom uso do que se tem, e que a satisfação advém de conseguir as coisas com o nosso
trabalho.

Por fim, este artigo aborda o respeito pelos bens dos outros. Quem é sóbrio e económico
valoriza o que faz e o que tem e, consequentemente, procede de igual forma para com
os outros. Assim, protege o que lhe emprestam como se fosse seu e restitui-o quando
já não precisa, devolve o que encontra ao seu legítimo dono, não rouba e não vandaliza
propriedade alheia.

10º O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.”


Mt 5, 8

Quando procura a pureza de pensamentos, o escuta evita o egoísmo e a inveja e pro-


cura que todas as suas intenções e ideias sejam pautadas pela verdade, tolerância e
honestidade.

Já a pureza nas palavras não se resume a evitar uma linguagem obscena ou agressiva,
mas implica também a capacidade de não usar as palavras como arma para ferir alguém
(com humilhações, mexericos, acusações sem fundamento ou ofensas).

Por fim, a pureza das acções impele o escuteiro a evitar todos os comportamentos poten-
cialmente prejudiciais para si e para os outros. As acções de cada escuteiro devem ser
de ajuda para com os outros, de delicadeza. Em cada gesto deve dar o melhor de si ao
mundo, sempre pautado pelo respeito que sente por si e pelos outros.

Resumindo, podemos considerar que os artigos da Lei do Escuta englobam vários va-
lores:

A honra do Escuta inspira confiança VERDADE, CONFIANÇA e COERÊNCIA

O Escuta é leal. LEALDADE e FIDELIDADE

O Escuta é útil e pratica ALTRUÍSMO, HUMILDADE,


diariamente uma boa acção. SERVIÇO e AMOR
O Escuta é amigo de todos e AMIZADE, DISPONIBILIDADE
irmão de todos os outros Escutas. e PERDÃO

O Escuta é delicado e respeitador RESPEITO e DELICADEZ

O Escuta protege as plantas RESPONSABILIDADE, CONTEMPLAÇÃO


e os animais. e PROTECÇÃO
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manualdodirigente

OBEDIÊNCIA, DISCIPLINA
O Escuta é obediente.
e HUMILDADE
O Escuta tem sempre
ALEGRIA, OPTIMISMO e ESPERANÇA
boa disposição de espírito
O Escuta é sóbrio, económico SOBRIEDADE, ECONOMIA
e respeitador do bem alheio. e HONESTIDADE
O Escuta é puro nos pensamentos,
PUREZA, INTEGRIDADE e RENÚNCIA
nas palavras e nas acções.

II. A Promessa

Iniciada há já algum tempo a fase de Adesão, a data do Compromisso Pessoal estará a


aproximar-se. E neste momento, é fundamental que o escuteiro entenda e sinta o verda-
deiro significado da Promessa e que esta não seja mais um rito engraçado.

“Vês, portanto, que o escutismo não é apenas divertimento, mas exige


muito de ti, e eu sei que posso confiar em que farás tudo o que puderes
para cumprires a promessa.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº 3)

A Promessa Escutista

Prometo pela minha honra e com a graça de Deus, fazer todo o possível por:

- cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria;


- auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias;
- obedecer à Lei do Escuta.

A promessa como um quadro-referência de valores

Prometo,
Pela minha honra e com a graça de Deus,
Fazer todo o possível por:

O Movimento Escutista contribui para a educação dos jovens propondo-lhes um projecto


de vida assente em valores espirituais, sociais e pessoais a que devem aderir de forma
livre. A Promessa deve ser, então, um momento de decisão pessoal, em que o escuteiro,
sentindo-se preparado para viver os valores descobertos e propostos na Lei, assume o
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manualdodirigente

compromisso de fazer todos os possíveis por os viver e aprofundar ao longo do seu cres-
cimento. E assume-o com a consciência de que se está a responsabilizar (pela minha
honra) e de que Deus o acompanha no seu esforço (e com a graça de Deus).

Isto não significa que os escuteiros não possam faltar ao prometido (“fazer todo o pos-
sível por” implica esforço pessoal, mas não garante sucesso). Só quem não conhece a
natureza humana poderá exigir ou esperar que não haja falhas. É aqui que o Dirigente
assume um papel basilar: sempre que necessário, compete-lhe relembrar aos seus ele-
mentos, com o máximo de clareza, a Promessa e o que ela significa, para os ajudar a
compreender a seriedade do compromisso que vão assumir. E caso verifique que os es-
cuteiros não assumem com responsabilidade a preparação para esse compromisso (ou
seja, logo à partida não fazem todos os possíveis por), não deve permitir facilitismos: o
lenço não é dado, é conquistado por aquele que, de facto, compreende que está a
assumir um compromisso e que trabalha para o poder fazer de forma consciente.

Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria.

Deus é presença constante na nossa vida, aparecendo de forma natural e espontânea.


Ele partilha os nossos projectos, sonhos, inquietações e alegrias. Será possível o escu-
teiro assumir um compromisso tão importante se não exprimir a sua Fé e não convidar
Deus a estar presente, fazer parte e a caminhar com ele? O compromisso do Escuteiro
é com Ele, por Ele e diante Dele.

Ao assumir este compromisso, o escuteiro inclui também nele o próximo, a família, os


amigos e todos os que, com ele, fazem parte da Igreja de Deus: é nosso dever, enquanto
membros desta Igreja, ser testemunhas de Deus e mostrá-Lo aos outros no nosso dia-
­-a-dia.

“Ao cumprirmos os deveres para com Deus, sejamos-lhe sempre gra-


tos. Sempre que apreciamos um prazer, ou um bom jogo, ou consegui-
mos fazer algum bem, demos-lhe graças, com uma ou duas palavras
pelo menos, como fazemos às refeições.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº22)

A Promessa é também um compromisso para com o país. Por isso, o escuteiro deve
cumprir os deveres de cidadania para com a sua pátria. Deve, assim, servir a terra em
que vive, assumindo o compromisso de salvaguardar a Natureza, de fomentar a justiça,
a paz, a solidariedade e de proteger e perpetuar as tradições históricas e culturais (idio-
ma, tradições, músicas tradicionais, etc.) que fazem parte da identidade do país a que
pertence.

“Em tudo o que fizerdes, pensai na vossa Pátria. Não gasteis todo o
vosso tempo e dinheiro apenas em vos divertirdes, mas pensai primeiro
como podereis contribuir para o bem comum.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº2)

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Auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias


O escuta deve estar disponível para auxiliar o próximo, não importando as condições e
as circunstâncias em que o faz. Assim, deve combater a indiferença e prestar atenção
aos sinais de quem precisa de apoio e muitas vezes sofre em silêncio, por vergonha,
medo ou para não gerar preocupações. O auxílio ao próximo não tem que passar por
actos de elevado heroísmo: pequenos gestos podem causar imensa felicidade. Neste
sentido, a boa-acção é um convite a agir e a converter o compromisso da Promessa em
acções concretas. E a insistência na sua prática diária permite que cada escuteiro, de
forma espontânea e gratuita, adquira capacidade de estar sempre preparado, de forma
voluntária e sincera, para servir o próximo.

“Quando nos levantamos de manhã, lembremo-nos de que temos de


fazer uma boa acção em benefício doutrem durante o dia. Façamos um
nó no lenço para nos lembrarmos dela.
Se alguma vez verificarmos que nos esquecemos de fazer a boa acção,
façamos duas no dia seguinte. Lembremo-nos de que pela Promessa
Escutista estamos «pela nossa honra» obrigados a proceder assim.
Mas não suponhamos que os escuteiros não precisam de fazer senão
uma boa acção por dia. Têm que fazer uma, se puderem fazer cinquen-
ta, tanto melhor.”
B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº2)

Obedecer à Lei do Escuta


Prometer obedecer à Lei do Escuta não significa saber os artigos da Lei de cor, pela
ordem correcta, ou cumpri-la como cumprimos de forma obrigatória qualquer outra Lei
do Estado.
O compromisso vai mais além: ao aceitar a Lei, o escuteiro está a assumir a responsa-
bilidade de viver de acordo com os seus valores. Pretende-se que viva a Lei porque ela
faz parte das suas convicções e por ela pauta a sua integridade. Ao aceitar viver a Lei, o
escuteiro fá-lo de forma natural, sem fingimentos, com responsabilidade e durante a toda
a sua vida. Decerto todos já ouvimos dizer: Escuteiro uma vez, escuteiro para sempre.

O Dirigente tem como tarefa:

- Manter nos seus elementos o desejo de ser fiel ao seu compromisso, não per-
mitindo que se esqueçam dele.

- Sempre que possível deve relembrar aos seus escuteiros a sua Promessa,
levando-os a reflectir sobre aquilo a que se comprometeram e a analisar o seu
desempenho, crescimento e conduta individual.

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Boa Prática:
Uma das alturas propícias para a reflexão sobre a Promessa é o momento em que noviços ou aspirantes se
preparam para ela. Ao incentivar os escuteiros mais velhos e investidos a acompanhar um noviço/aspirante na
sua preparação para este compromisso e ao convidá-los a renovar a sua Promessa, o Dirigente está também
a ajudá-los a crescer.

Eis, de forma resumida, os valores presentes na fórmula da Promessa:

Prometo… COMPROMISSO PESSOAL

pela minha honra… RESPONSABILIZAÇÃO PESSOAL

com a graça de Deus… AFIRMAÇÃO DA FÉ

Cumprir os meus deveres MISSÃO

para com Deus, a Igreja e a Pátria. CIDADANIA

Auxiliar os meus semelhantes… SOLIDARIEDADE, AMOR

Obedecer à Lei do Escuta RESPONSABILIDADE

III. Oração do Escuta

A Oração do Escuta foi criada a partir de um texto de Santo Inácio de Loyola, fundador
da Companhia de Jesus, e foi adaptada ao escutismo católico pelo Padre Jacques Sevin,
jesuíta francês, fundador da associação Scouts de France. É utilizada como a Oração do
Escuteiro em várias associações escutistas de todo o mundo.

A Oração do Escuta sintetiza dois aspectos essenciais da vida cristã, o Amor a Deus e o
Amor ao próximo:

O escuteiro dirige-se directamente a Cristo, num diálogo fra-


terno e respeitoso, abrindo o coração para O escutar.
Senhor Jesus,

A prece que faz é um pedido de sabedoria. O escuteiro não


pede uma acção directa de transformação fácil e automática,
ensinai-me pede que lhe seja ensinado como proceder, ele próprio, a essa
transformação.
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manualdodirigente

E segue-se a identificação das características dessa transformação:


GENEROSIDADE - A generosidade é o dom daquele que dá para satis-
a ser generoso fação da necessidade do próximo, em detrimento da sua, e não porque
lhe sobra.

SERVIÇO A DEUS – Esta forma de servir implica viver segun-


do os valores do Evangelho.
a servir-vos como Vós o mereceis

SERVIÇO AOS OUTROS – A missão, viver ao serviço dos


outros, não quando apetece ou dá jeito, mas é uma opção
a dar-me sem medida
de vida.

PERSEVERANÇA – A perseverança é o dom daquele que não


desanima nas contrariedades e nas dificuldades, conservan-
a combater sem cuidar das feridas do-se firme e continuando o seu projecto.

ESFORÇO – O empenho é necessário a tudo o que se faz e


só assim se pode ter bons resultados.
a trabalhar sem procurar descanso

CAPACIDADE DE ENTREGA – A capacidade de entrega é o


a gastar-me sem esperar dom daquele que serve o outro, humilde, dedicada e confiada-
outra recompensa, mente, sem medo do que possa vir.

E FÉ – A Fé impele a ter uma relação pessoal com Deus e


senão saber que faço a assim leva-nos a crescer na confiança de que o maior bem
está no cumprimento da Sua vontade.
Vossa vontade santa. Ámen

Bibliografia:
BADEN-POWELL, R. S. S., Escutismo para Rapazes. Edições CNE.

BADEN-POWELL, R. S. S., A Caminho do Triunfo. Edições CNE.

NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva. Edições CNE.

SEVIN, Jacques, Evangelho do Escuteiro, Porto: Edições Salesianas, 2003.


Maria Helena Andersen

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C.1.2.1 A vivência na Expedição

I. Viver a Lei

No Escutismo para Rapazes, B.-P. diz-nos o seguinte sobre a Lei: “a lei do escuteiro
contém as regras que se aplicam aos escuteiros de todo o mundo, e que tu prometes
cumprir quando és admitido como escuteiro.” Mais à frente, diz B.-P. sobre a Promessa:
“esta promessa é muito difícil de cumprir, mas é muito séria e o rapaz não será escuteiro
se não fizer todo o possível por viver de harmonia com ela. Vês, portanto, que o escutis-
mo não é apenas divertimento, mas exige muito de ti, e eu sei que posso confiar em que
farás tudo quanto puderes para cumprires a promessa.”

Com estas reflexões, B.-P. lembra-nos, por um lado, a seriedade e dificuldade em cum-
prir a Lei e por outro a confiança em que o escuteiro fará tudo o que puder para cumprir
a Promessa. Com os exploradores deverá ser também essa a postura da Equipa de
Animação: por um lado, apresentar a Lei tal qual ela é, sem facilitismos, e, por outro, ter
(e demonstrar) sempre confiança em que o explorador se esforçará cada vez mais por
cumprir a Lei.

Para que seja mais fácil incutir os valores da Lei nos exploradores, que devem conhecer e entender todos
os seus artigos, há algumas boas práticas que se devem seguir:

- A Lei deverá estar presente na Base (se possível no Canto de Patrulha), de forma a que esteja sempre
visível.

- Os valores da Lei devem ser incutidos sobretudo com actividades e jogos, criando situações que levem o
explorador a vivenciar esses valores. De facto, o explorador aprende mais pela vivência ou experimentação do
que por reflexões ou conselhos directos. Assim, aprenderá mais depressa a importância do cantil se ficar
sem água num raide do que com uma palestra dada pelo chefe a propósito do cantil. Por essa razão, o mais
pequeno dos jogos permite viver valores como a fraternidade (sendo um jogo de equipa), a obediência (às
regras o jogo), a alegria (saber perder e saber ganhar), a lealdade (para com a sua equipa e os outros), etc.
Outras actividades, como a participação numa boa-acção colectiva, permitirão viver outros valores. O mesmo
acontece com a vida em Patrulha.
- O dirigente não deverá perder a oportunidade de realçar, de forma positiva, a vivência da Lei. Assim, o diri-
gente terá mais sucesso se realçar as vezes em que um escuteiro cumpre a Lei do que se chamar a atenção
sempre que este não a cumpre. Como dizia B.-P., “eu sei que posso confiar em que farás tudo para cumprires
a promessa”. Cada escuteiro deverá sentir esta confiança dos seus dirigentes e não o medo de ser castigado
caso não cumpra a Lei.

- Outra forma de transmitir os valores da Lei aos nossos exploradores, e sem a qual nenhuma outra terá
sucesso, é o nosso exemplo. O dirigente terá de ser sempre exemplo da Lei, não só quando está diante
dos exploradores, mas em todos os momentos da sua vida, incluindo na relação com os outros adultos do
Agrupamento. Assim, os exploradores terão de ver na equipa de animação a vivência dos valores que esta lhes
apresenta na Lei do Escuta. De facto, como poderá funcionar uma Patrulha se a Equipa de Animação não se
entende? Como irá reagir um Guia se o seu chefe não respeita os adultos com que trabalha?
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II. Viver a Promessa

Na Expedição, o explorador fará a sua Promessa de Escuta que irá renovando nas sec-
ções seguintes. A Promessa do Escuta, que torna escuteiro o rapaz ou rapariga, é uma
escolha reflectida que o explorador assume de forma pessoal, mesmo que a celebre
juntamente com outros exploradores da Expedição.

A Promessa será sempre indissociável da Lei do Escuta: cumpri-la é viver a Lei. Esta de-
cisão é feita de forma livre, não se tornando, portanto, uma prisão. A Promessa de Escuta
é um compromisso para a vida, como diz B.-P. na sua última mensagem “Estai preparados
desta maneira para viver e morrer felizes – apegai-vos sempre à vossa promessa escutista
– mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.”

Para ajudar os exploradores a viverem a sua Promessa nada melhor do que o exemplo
da sua Equipa de Animação que, tal como em relação à Lei do Escuta, deve ver as coi-
sas sempre pelo lado positivo. De facto, a conduta alegre de quem cumpre a Promessa,
porque assim o quer e não porque alguém nos obriga, é o melhor exemplo para um
explorador.

Eis algumas boas práticas para ajudar os exploradores a viverem a Promessa de Escuta:
- O aspirante ou noviço deve saber o que se espera de um escuteiro antes de fazer a sua Promessa. Assim,
e ainda antes de decorar o cerimonial, deverá perceber o que ele significa. Para isso deve contar com a ajuda
da Equipa de Animação.
- A preparação da Promessa, assim como da Vigília, deverá ser feita de forma extremamente cuidada, para
dar a perceber ao futuro escuteiro a importância do momento que irá viver.
- As Promessas deverão ser momentos únicos, evitando repetições e rotinas. Neste sentido, os guiões a ser
preparados para a cerimónia deverão ter a data e os nomes dos que fazem a sua Promessa, evitando cópias
que passam de umas Promessas para outras.
- É importante que a Promessa de novas escuteiros seja celebrada por toda a família escutista. No entan-
to, o momento mais importante é o momento da Promessa e não qualquer festa que se lhe possa associar.

III. Viver a Oração do Escuta

Ao chegar à Expedição, um aspirante ou noviço depara-se com muitas coisas novas e


uma delas é a Oração do Escuta. Não será, para os exploradores, a primeira oração que
aprendem: aqueles que passaram pela Alcateia já aprenderam a Oração do Lobito e
todos aprenderam várias orações em casa e na catequese.

Tal como com todas as outras orações, não podemos falar da Oração do Escuta como
mais uma oração para ser decorada, apesar de se pretender que os exploradores a
aprendam e a memorizem. De facto, a Oração do Escuta deve ser vista como um pedido
a Deus para que Este nos ajude a cumprir a nossa Promessa. Deve por isso ser rezada
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ou cantada sempre que queremos ter presente a vivência da Lei e da Promessa do Es-
cuta. E deve ser rezada com a calma necessária para que as palavras tenham sentido,
podendo até, se as circunstâncias o aconselharem, explicar-se o sentido das expressões
que juntas formam a oração. O que o dirigente não pode é deixar que a rotina se instale,
fazendo com que se reze a Oração do Escuta de forma “papagueada”, como quem diz
a tabuada.

Seguem-se algumas indicações para que a Oração do Escuta esteja sempre presente na vida da Expedição.

- A Oração do Escuta deverá estar presente na Base, tal como a Lei, os Princípios e a Promessa de Escuta.
Mais do que um elemento decorativo, deverá ser uma marca da nossa condição de escuteiros católicos.
- Sempre que seja rezada em Expedição, a Oração do Escuta deverá ser rezada por todos os exploradores.
Neste caso, o quadro presente na Base poderá ser uma ajuda. Como os exploradores nem sempre estão na
Base, poderá ser entregue a cada explorador uma pagela com a oração. Assim, sempre que for necessário,
todos a poderão rezar. E porque não desafiar cada explorador a fazer a sua própria pagela?
- A Oração do Escuta não é exclusiva do Corpo Nacional de Escutas. Muitos outros escuteiros católicos por
todo o mundo usam esta oração nas suas línguas. Descobrir a forma que a Oração do Escuta toma noutras
línguas, para além de ajudar a descobrir a dimensão internacional do Escutismo, poderá ajudar a perceber o
seu significado.
- Se a Oração do Escuta for usada em alguma cerimonial, como a Vigília antes das Promessas, não nos devemos
esquecer de incluir todo o seu texto no guião desse cerimonial.

Bibliografia:
NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva, Edição do CNE.

PHILIPPS, Roland E., Cartas a um Guia de Patrulhas, Edição do CNE – Junta Regional de Braga.

BADEN-POWELL, R. S. S., Escutismo para Rapazes, Edição do CNE.


Arquivo CNE

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manualdodirigente

C.1.2.2 A vivência na Comunidade

I. Viver a Lei

A Lei do Escuta é, para o pioneiro, a codificação – o contrato, poderia dizer-se – atra-


vés da qual o jovem alcança a plenitude da sua adesão ao ideal de pioneiro que lhe é
proposto e a que ele, voluntariamente, adere através da sua promessa e/ou investidura.
Contudo, enquanto para um explorador este contrato é apresentado e é aceite de forma
fechada – apesar de ele poder entender que pode ser mudado com o consentimento com
o dirigente – o mesmo não se passa com o pioneiro.

“Lentamente (e especialmente na segunda metade da adolescência


- por volta dos 15 anos) o jovem torna-se capaz de compreender o con-
ceito de valores universais: justiça, reciprocidade, igualdade, dignidade.
Um “direito” é definido de acordo com a adesão pessoal e consciente a
princípios morais. Este é o estádio de acesso a um conceito 'adulto' da
Lei.” In «Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as ne-
cessidades educacionais actuais», do Departamento de Edu-
cação e Desenvolvimento, Bureau do Escutismo Mundial – Or-
ganização Mundial do Movimento Escutista

De facto, a Lei do Escuta, para o pioneiro, é muito mais do que um conjunto de obriga-
ções que o “Ser escuteiro” implica. O pioneiro tem necessidade e deve ser estimulado a
encontrar o alcance pleno do decálogo da Lei, dos Princípios e também, em consequên-
cia, da Promessa. Perceber a que valores (universais) cada artigo da Lei está associado
acaba por ser, assim, não só uma boa prática, mas, acima de tudo, um elemento essen-
cial da vivência da Lei na Comunidade. Neste sentido, o papel do dirigente é fundamental
na promoção de uma descodificação aberta e de uma procura livre e participada da parte
do jovem, para que a adesão aos valores seja consciente e plena.

O animador adulto deverá, ainda, perceber que as directrizes seguintes são importantes
e funcionam como um auxílio à sua acção com o jovem:

a) A Lei e a Promessa são elementos essenciais do Método Escutista;

b) Para um pioneiro, a Lei tem de ser compreendida para além do conjunto de obrigações
às quais o jovem tem de se submeter;

c) A Lei do Escuta tem uma formulação positiva e não proibitiva. Os artigos não deter-
minam um “não faças”, mas um “O escuta é…” Este aspecto é muito importante e está
patente na formulação essencial do escutismo desde a sua essência e fundação: “A Lei
do Escuta foi elaborada mais para o guiar nas suas acções do que para lhe reprimir os
defeitos” (in Auxiliar do Chefe Escuta, de B.-P.).

d) Esta formulação positiva da Lei do Escuta deve ser entendida como o fundamento
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de um modelo de educação baseado no amor e liberdade (e não no temor e repressão).


Educar pela liberdade implica uma responsabilização intensa do jovem e que tem de ser
por ele assumida como uma responsabilização pessoal (para consigo próprio e no seu
desenvolvimento) e colectiva (do jovem perante os outros);

e) A Lei do Escuta não deve ser entendida como uma codificação para um jovem ser es-
cuteiro e enquanto é escuteiro, mas como um modelo de vida a que o jovem adere para
o futuro. A Lei do Escuta só será realmente útil se a sua adesão se verificar no futuro, na
idade adulta, e nas acções de quem, na sua formação, aderiu ao movimento escutista;

f) Como em tudo no escutismo, a Lei deve ser “descoberta” através da vida em grupo,
na Equipa e na Comunidade. Assim, ela tem de estar presente nas experiências diárias
dos jovens e nas actividades escutistas que a equipa e a Comunidade vivenciam – no
Empreendimento, portanto, e especialmente em momentos de avaliação;

g) O exemplo dos mais velhos – escuteiros e dirigentes – na vivência da Lei do Escuta


é, especialmente nesta “maravilha”, um aspecto muito importante;

h) A Lei do Escuta é uma formulação universal e comum a toda a fraternidade escutista,


independentemente da forma como, ao longo de um século, o movimento se adaptou a
várias culturas e religiões diferentes. Este facto tem de ser visto como um factor de uni-
versalidade e dimensão global a que o pioneiro deve ser sensível.

Boas práticas:

- A Lei do Escuta afixada no Canto da Equipa ou no Abrigo


O Decálogo da Lei do Escuta e os Três Princípios devem estar afixados no Abrigo (ou mesmo no Canto da
Equipa), em local de destaque. À medida que o trabalho de descoberta e descodificação da Lei seja feito
pela Comunidade ou pela Equipa, este “quadro” pode ser incrementado – com a indicação dos valores associa-
dos a cada artigo, por exemplo.

Descodificar a Lei do Escuta na reunião semanal:


Ao longo de várias reuniões semanais – no âmbito da adesão à secção por parte de aspirantes e noviços, por
exemplo – constitui uma boa prática a partilha de reflexões, em Comunidade ou em Equipa, sobre um artigo
da Lei e os valores a ele associados. Assim, um pioneiro apresenta a sua explicação do que entende ser o ob-
jectivo do artigo da Lei e os outros partilham pontos de vista a esse respeito. Numa vivência mais profunda
desta boa prática, o pioneiro pode mesmo propor-se a desenvolver acções concretas de vivência dos valores
associados a um artigo escolhido.

- Descobrir a Lei do Escuta na Fraternidade Escutista:


Para uma tomada de consciência do carácter universal da Lei do Escuta, pode ser interessante que os
pioneiros “coleccionem” a formulação da Lei desde os escritos originais do Fundador até aos dias de hoje e,
na actualidade, reúnam articulados de várias associações mundiais, de escuteiros de outros países, conti-
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nentes, culturas ou religiões. Numa exploração comparativa, o pioneiro pode ser convidado a reflectir sobre
formas diferentes de dizer, codificar e aceitar os mesmos valores por realidades diferentes.

- Debater o alcance da Lei do Escuta:


O pioneiro gosta de debater, de contraditar, de questionar. A Lei do Escuta pode constituir-se como um
bom tema para a Comunidade debater. Note-se, contudo, que o debate deve ser bem preparado pelo mode-
rador, para que possa ser uma boa oportunidade de crescimento e de descodificação da Lei do Escuta.

- A Lei nos jogos, no Empreendimento e nas orações:


Faz sentido que haja a preocupação de nunca esquecer a Lei, e os valores que ela procura inculcar, nas acti-
vidades, jogos, empreendimentos (na preparação, realização e avaliação) e orações (nos momentos de prece,
acção de graças ou nas reflexões sobre o patrono e modelos de vida).

- A vigília das promessas e a cerimónia de investidura como celebração da Lei:


A vigília das promessas e a cerimónia de investidura são momentos em que a enunciação do articulado da Lei
deve ser fomentado e servir de ponto de apoio e oportunidade para uma celebração da Lei e do ideal escu-
tista, no seu modelo de vida, de sociedade e na educação pela Paz. Estes momentos celebrativos têm de ser
preparados com cuidado, devendo-se fomentar a participação dos pioneiros na sua preparação.

- Carta dos Deveres do Homem:


A reflexão sobre a Carta dos Deveres do Homem (uma formulação do CNE em 2009 – no Ano para a Educação
dos Direitos Fundamentais) pode constituir uma óptima oportunidade pedagógica para ajudar os pioneiros e
a Comunidade a crescer a nível dos valores.

- Textos de B.-P.:
Há um conjunto vasto de texto do fundador sobre a Lei do Escuta e os objectivos que preconiza. Na publi-
cação “O Rasto do Fundador”, por exemplo, há uma entrada sobre o assunto, que deve ser complementada
com tudo o que é citado sobre valores associados à lei.

- Conjunto de textos publicados na Flor-de-Lis:


A revista Flor-de-Lis publicou entre Janeiro e Dezembro de 2003 dez textos muito interessantes sobre
a visão actual e descodificação de cada um dos artigos da lei.

- Texto “Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais”

O texto “Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais” – ‘Re-
levance of the Scout Law and Promise to current educational needs’ – é um texto do departamento de
Educação e Desenvolvimento do Bureau do Escutismo Mundial que está traduzido por Matilde Correia dos
Santos e disponível em www.caleidoscópio.online.pt

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II. Viver a Promessa

A Promessa deve ser entendida e apresentada ao Pioneiro como a proclamação solene


do contrato de adesão e do quadro de valores pela qual se renova ou se torna escuteiro.
Se o decálogo da Lei são as cláusulas desse compromisso, premissas que o pioneiro
conhece, discute, interioriza, assume e vive, a Promessa é a assinatura, é o assumir
publicamente: “Eu quero viver desta maneira!”

É por ser algo muito importante que é fundamental que esta 'adesão', esta resposta ao
Apelo que lhe foi feito quando entrou na Comunidade, seja feita de forma verdadeira,
sem pressões ou condicionalismos de qualquer espécie. Assim, o compromisso é feito
quando tem de ser feito, ao ritmo de cada pioneiro, que se deve comprometer de forma
completamente livre e voluntária. De facto, tem de ser o pioneiro a reconhecer que quer
fazer parte da Comunidade e assumir o compromisso de viver a Lei do Escuta perante a
sua família e a sua Comunidade.

Boas práticas:

- Descodificar a fórmula da Promessa


Ao longo de várias reuniões semanais – no âmbito da adesão à secção por parte de aspirantes e noviços, por
exemplo – pode constituir-se uma boa prática a partilha de reflexões, em Comunidade ou em Equipa, sobre a
fórmula da Promessa. É importante que o pioneiro perceba, claramente, cada palavra que vai enunciar no dia
da investidura: a “quem” promete, “o que promete” e de que forma o faz.

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- Afixar a fórmula da Promessa no Abrigo ou no Canto da Equipa


A fórmula da Promessa deve estar afixada no Abrigo (ou mesmo no Canto da Equipa), em local de destaque. A
criatividade dos pioneiros ajudará a ilustrar as principais ideias que resultam da descodificação que fizeram
a propósito do que foi ou vai ser proclamado.

- Debater o alcance da Promessa


O que é, realmente, um escuteiro, o que distingue o escuteiro ideal do escuteiro real, o que muda com o com-
promisso solene e a investidura serão, certamente, bons pontos de partida para um debate e uma reflexão
em Equipa ou em Comunidade, especialmente em momentos em que seja necessário mostrar que determina-
dos comportamentos violaram o conteúdo da Promessa e põem em causa a sã convivência na Comunidade.

- Ajudar a preparar a vigília das promessas e a cerimónia de investidura


A Promessa é o ponto alto da vida de qualquer escuteiro. Envolver o futuro pioneiro na preparação dos
momentos da vigília da Promessa e na cerimónia de investidura é uma boa prática que vai enriquecer o envol-
vimento do jovem.

- Dinamizar a noite e a vigília das promessas


A dinamização de actividades (mesmo que sejam para o futuro pioneiro levar e fazer em casa) na noite ante-
rior ao dia da Promessa pode ser muito importante. De facto, a reflexão, solitária ou em Equipa/Comunidade,
ajudará a interiorizar a real dimensão do que acontecerá no dia seguinte. Assim se aproxima a vigília da Velada
d’Armas dos cavaleiros medievais, que está na génese da nossa Vigília antes das Promessas e que decorria
durante toda a madrugada.

- O momento da investidura
Há um momento no cerimonial tradicional da investidura do pioneiro em que o Chefe pergunta a todos os pio-
neiros se aceitam na Comunidade os jovens que ali estão, à sua frente. A resposta a esta questão deve ser
alvo de uma adesão e de um compromisso que os pioneiros já investidos devem compreender completamente.
Constitui boa prática que a resposta vá para além do que está escrito no ‘livro dos cerimoniais’ e possa ser
um texto que os pioneiros mais antigos recitam naquele momento, enriquecendo a cerimónia.
Com os mesmos objectivos, faz sentido que, quando os aspirantes e noviços estão a recitar a fórmula da
promessa, toda a Comunidade a proclame também, em voz alta, numa renovação colectiva e perpétua da
Promessa de Escuteiro.

- A renovação da Promessa
Constitui uma boa prática que, no ponto alto do empreendimento mais importante do ano, ou num momento
de particular importância e emotividade da vida da Comunidade, os pioneiros, em ambiente de oração e de
acção de graças, renovem a sua Promessa, recitando a sua fórmula, em saudação à bandeira e/ou em ambiente
de solenidade e celebração.

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manualdodirigente

III. Viver a Oração

Inspirada nos textos de Santo Inácio de Loyola, a Oração do Escuta é uma das mais be-
las peças da poética litúrgica que o património escutista católico encerra. Na sua versão
cantada, ou simplesmente no texto poético que a compõe – e cuja reflexão se propõe
acima –, é um fantástico ponto de partida para uma vivência enriquecedora do pioneiro
na sua fé e na comunhão com a sua Comunidade.

Neste âmbito, há vários documentos e ideias que podem ajudar os dirigentes da Equipa
de Animação da Comunidade no trabalho preparatório para realização de acções no
domínio da consciencialização dos pioneiros nesta matéria.

Boas práticas:

- A Oração do Escuta afixada no Canto da Equipa ou no Abrigo


Resulta numa boa prática que a Oração do Escuta esteja afixada no Abrigo (ou mesmo no Canto da Equipa),
em local de destaque. A criatividade dos pioneiros colocada ao serviço da arte, na decoração de uma moldura
ou mesmo na apresentação do texto da oração, pode ser uma óptima oportunidade pedagógica.

- Rezar e entender a Oração do Escuta


A Oração do Escuta – na versão cantada ou simplesmente rezada – deve ser usada com regularidade nos mo-
mentos de prece, de acção de graças e de reflexão e partilha da Comunidade. Ela própria deve ser, sempre
que possível e que se entenda adequado, objecto de reflexão e descodificação, para uma melhor aceitação
e adesão da parte do pioneiro.

- Descobrir Santo Inácio de Loyola e o Padre Jacques Sevin


A Oração do Escuta – na formulação do CNE – foi traduzida da formulação do Padre Jacques Sevin, jesuíta
e fundador dos Scout de France que, por sua vez, a criou a partir de textos de Santo Inácio de Loyola –
Fundador da Companhia de Jesus. Descobrir a origem da Oração, e a vida e obra de Santo Inácio de Loyola – e
de toda a temática inaciana – e do Padre Jacques Sevin pode revelar-se uma boa prática e um interessante
desafio para os pioneiros.

- Descobrir a Oração do Escuta na Fraternidade Escutista Católica


A Oração do Escuta tem formulação idêntica à de várias associações católicas de muitos países do mundo.
Para uma tomada de consciência do carácter internacional da Oração do Escuta, pode ser interessante que
os pioneiros “coleccionem” a formulação da oração usada por várias associações mundiais, de escuteiros de
outros países. Numa exploração comparativa, o pioneiro pode ser convidado a reflectir sobre a forma como
culturas distintas dizem, codificam e aceitam os mesmos valores.

- A biografia do Santo Inácio de Loyola e Jacques Sevin


Na internet há um vasto conjunto de trabalhos sobre esta temática, nomeadamente em sítios relacionados
com a Companhia de Jesus.

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manualdodirigente

Bibliografia:
BADEN-POWELL, R. S. S., Auxiliar do Chefe Escuta, Edições CNE.

BADEN-POWELL, R. S. S., Educação pelo Amor substitui Educação pelo Temor, Edições CNE.

BADEN-POWELL, R. S. S., Escutismo para Rapazes, Edições CNE.

Celebrações do CNE, Edições CNE.

FORESTIER, M. D., Pela Educação à Liberdade, Edições CNE.

Flor de Lis – órgão oficial do CNE.

Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.

NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva, Edições CNE.

O Rasto do Fundador, Edições CNE.

SANTOS, Matilde Correia (trad.), Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais, Bureau

do Escutismo Mundial, in www.caleidoscópio.online.pt.

SCOUTES DE FRANCE, Baden-Powell Hoje, Edições CNE.


Arquivo CNE

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manualdodirigente

C.1.2.3 A vivência no Clã

I. Viver a Lei e a Promessa

A Promessa e a Lei Escutista são exigentes. Mas é dever do escuteiro “fazer todo o pos-
sível” para as cumprir. Não apenas quando dá jeito, quando é fácil, ou quando se está de
lenço ao pescoço… mas sempre!

Durante o seu percurso no escutismo, o jovem é muitas vezes solicitado para saber a Lei,
para cumprir a Lei, etc. Quando chega à IV secção essa insistência na Lei muitas vezes
desaparece. Isto acontece porque já são mais velhos e pensa-se que já a devem saber
de “cor e salteado”, porque se acha que já não é necessário andar sempre a relembrar a
Lei aos caminheiros, ou por qualquer outro motivo… Contudo, a verdade é que também
o caminheiro diz na sua Promessa que vai obedecer à Lei do Escuta. É conveniente, en-
tão, que seja relembrado de várias formas do que prometeu e que consiga perceber cada
artigo da lei à luz da sua idade, maturidade e vida, dentro e fora do escutismo.

Não é despropositado que a Lei do Escuta esteja afixada no Albergue. No entanto, se calhar, o poster com
os dez artigos da Lei ao fim de algum tempo torna-se hábito e deixa-se de reparar nele. Porque não fazer
uma coisa mais dinâmica?

Ex 1 - Proposta para a Avaliação da Caminhada


Fazer o exercício de reflectir onde esteve presente cada artigo da Lei na Caminhada realizada. Se to-
dos os artigos estiverem presentes, o Clã está de parabéns. Se não, há sempre hipóteses de melhorar na
Caminhada seguinte.

Ex 2 – Proposta para o Albergue


Afixar a Lei no Albergue e, por baixo de cada artigo, escrever o que o Clã faz para o cumprir.
Ex: ‘“O Escuta é delicado e respeitador”, por isso o nosso Clã preocupa-se em conhecer todos os elementos
do Agrupamento, tratá-los com dignidade e ajudá-los nas suas dificuldades.’
(esta dinâmica também pode ser individual)

Ex 3 – Carta de Clã
Pegando um pouco no exemplo anterior, ou fazendo de uma outra forma qualquer, procurar ter presente a
Lei do Escuta quando se elabora a Carta de Clã.

Para além do cumprimento da lei, no seu compromisso o caminheiro prometeu estar


sempre ao serviço. E é isso que se espera dele. De facto, para o caminheiro, cumprir a
sua Promessa é, acima de tudo, estar ao Serviço.

A Promessa de Escuteiro é difícil de cumprir para todos, desde os mais novos aos mais
velhos, não excluindo os dirigentes. Contudo, todos têm que se esforçar por a cumprir
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e procurar ser exemplo a seguir. A este nível, a Equipa de Animação deve ser um pilar
forte e coeso e deve lembrar-se que, como nos disse B-P, “o exemplo não é uma forma
de educar, é a única”. Assim sendo, os dirigentes têm mais este incentivo para cumprir
da sua Promessa, pois não podem exigir aos escuteiros aquilo que eles próprios não são
capazes de dar.

Note-se que não é eficaz que a Equipa de Animação recorra à Lei e à Promessa apenas
quando pretende relembrar aos caminheiros os seus deveres. Deve, sim, relembrá-la
principalmente quando se pretende elogiar aqueles que se esforçam por a cumprir.

Convém também ter em conta que as actividades escutistas são, por excelência, o local
onde os caminheiros podem experimentar os valores da Lei e o que prometeram no seu
compromisso. Mas as actividades dos caminheiros não devem ser pensadas como um
casulo, “uma cena de escuteiros”, mas sim, e sempre, como exemplo para a vida, como
aprendizagem, como oportunidade, para os jovens crescerem e serem, na sua vida, no
seu dia a dia, aquilo que B-P um dia sonhou para eles: Cidadão conscientes e de vistas
largas!

Reparemos na seguinte situação, que já aconteceu várias vezes, em que se cai


no facilitismo, tornando a mensagem pouco eficaz:

Os caminheiros estão no Albergue e, em vez de irem arrumar as tendas que trou-


xeram do último acampamento, preparam-se para sair. O dirigente chega e diz:
“O dever do Escuta começa em casa, ou já se esqueceram? Ninguém sai daqui
antes de deixar isto tudo melhor do que encontraram!”

Muito mais eficaz é usar o reforço positivo:

Os caminheiros incluíram na sua Caminhada um projecto de limpeza das matas


do concelho. O dirigente diz: “Gostei muito que, para além de mostrarem dispo-
nibilidade para o serviço e consciência cívica, se tenham lembrado que o Escuta
protege as plantas e os animais.”

Para um jovem nesta idade, muitas são as solicitações e muitas coisas estão agora a
revelar-se interessantes. O papel da Equipa de Animação pode parecer ingrato, nesta
luta desleal, mas na realidade não é. De facto, não há nada mais gratificante para uma
Equipa de Animação do que ver os frutos do seu trabalho representados na vida equili-
brada e baseada em valores positivos daqueles que os seguem.

II. Viver a Oração do Escuta

Tal como a Promessa e a Lei, também a Oração do Escuta se reveste de uma exigência
e de uma beleza muitas vezes esquecidas na IV secção.
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Passado que está o tempo de a aprender, como acontece nos exploradores, e de achar
que 'não tem nada a ver', como pode acontecer nos pioneiros, a maturidade dos cami-
nheiros já permite que a assumam na sua vida, tal como os artigos da Lei e os Princípios.
De facto, não basta saber a oração e rezá-la de forma automática, sem olhar para o
sentido do que se diz. Uma oração é para ser rezada de forma consciente e pressupõe
que a pessoa que a reza esteja a sentir o que está a dizer.

Assim sendo, ao rezar a Oração do Escuta, o caminheiro deve ser levado a assumir-se
como adulto na fé, olhando Jesus Cristo não como um estranho, mas sim como um ideal,
o Homem-Novo… Por isso o trata por “Senhor Jesus”…

Para além disto, o que o caminheiro faz é pedir a Jesus que o ensine e ajude a cumprir a
sua promessa de estar sempre ao Serviço. Assim, e porque está consciente de que não
caminha sozinho e de que terá sempre que ser suficientemente humilde para aprender o
que os outros (e a vida) têm para lhe ensinar, o caminheiro pede “ensinai-me”.

Os caminheiros, ao logo do seu caminho de crescimento, também na fé, aperceber-se-


ão de que o Serviço é entrega incondicional, é dar-se na totalidade. E, porque quem se
entrega plenamente sabe que receberá muito mais do que o que deu, devem ter também
a noção de que a maior recompensa é, simplesmente, saber que “ faço a Vossa vontade
Santa”… Isso basta!

Não menos importante, e presença obrigatória no Albergue, é a Oração do caminheiro.

Oração do Caminheiro

Senhor Jesus,
Que Vos apresentastes aos homens como um
caminho vivo,
Irradiando claridade que vem do alto:
Dignai-Vos ser
O meu guia e companheiro
Nos caminhos da vida,
Como um dia O fostes no caminho de Emaús;
Iluminai-me com o Vosso Espírito,
A fim de saber descobrir
O caminho do Vosso melhor serviço;
E que, alimentado com a Eucaristia,
Verdadeiro Pão de todos os Caminheiros,
Apesar das fadigas e das contradições da
jornada
Eu possa caminhar alegremente convosco
Em direcção ao Pai e aos irmãos
Ámen.

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manualdodirigente

Esta Oração do caminheiro encerra em si muita da mística e simbologia da IV secção.


Assim, fala de um “Caminho Vivo” – Jesus Cristo, o Homem-Novo –, que se revela no
Caminho de Emaús (ver explicação na secção da mística); do Pão que alimenta, tanto o
dia-a-dia como na Eucaristia; de Caminho e de Serviço; das fadigas que se apagam nas
alegrias do caminho; e da descoberta e do fogo (a claridade, o Espírito).

Um caminheiro que queira viver a sua vida em pleno é de certeza espelho de felicidade.
Por isso, esta oração deve sempre acompanhá-lo, na medida em que é uma oração de
revelação, em que o caminheiro pede, para as suas obras, a companhia de Cristo, assu-
mindo que o caminho é vazio quando caminhamos sem Ele.

Perante isto, a Oração do caminheiro não pode passar indiferente na vida da secção. De
facto, ao desenvolver a sua identidade enquanto caminheiro, no seio da Tribo, do Clã, do
Agrupamento, do Movimento, não será difícil para o caminheiro fazer suas estas pala-
vras. Contudo, ao longo da sua caminhada no Clã, o caminheiro só a vai compreendendo
e dando sentido se a rezar conscientemente. De facto, e como já foi dito, uma oração não
é uma “lengalenga” e não deve ser dita só porque sim. Deve ser rezada e sentida!

Neste âmbito, a Equipa de Animação tem um papel fundamental, já que lhe compete mo-
tivar para a vivência destas duas orações e procurar aprofundar o seu sentido. De facto,
se os dirigentes não compreenderem o seu significado, dificilmente conseguirão que os
seus elementos o façam. Por outro lado, a Equipa de Animação deve ajudar a enquadrar
estas orações na vida do Clã e de cada caminheiro, dinamizando-as, com a ajuda de
caminheiros mais velhos, de modo a que elas façam parte da vivência na secção e não
se tornem mais um poster na parede do Albergue.

Boas práticas:
- Ter a Oração do Escuta e a Oração do Caminheiro impressa num local bem visível do Albergue.
- Começar ou terminar as reuniões de Tribo com uma destas Orações.
- Convidar alguém que desmonte a “Oração do Caminheiro” e que proporcione um espaço criativo de debate.
- Em Tribo ou em Clã, ir escolhendo uma frase de uma das orações e aprofundá-las ao longo de uma reunião
ou de uma actividade.
- Pedir aos Caminheiros que encontrem poesias ou músicas, mesmo do seu dia-a-dia, que lhes façam lembrar
a Oração do Escuta ou a Oração do Caminheiro e que criem com elas um momento de oração (para uma activi-
dade, reunião, Conselho de Agrupamento, etc.).

Bibliografia:
BADEN-POWELL, R. S. S., Auxiliar do Chefe Escuta, Edições CNE.
BADEN-POWELL, R. S. S., A Caminho do Triunfo, Edições CNE.
Celebrações do CNE, Edições CNE.
FORESTIER, M. D., Pela Educação à Liberdade, Edições CNE.
Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.
NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva, Edições CNE.
O Rasto do Fundador, Edições CNE.
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manualdodirigente

Gonçalo Vieira

C.2 Mística e Simbologia

C.2.0 'Mística' e 'Imaginário' do Programa Educativo

A criação do Escutismo resulta de uma aturada reflexão de Baden-Powell a partir da sua


experiência como condutor de homens e da meditação sobre a educação dos jovens.
Tudo começou no momento em que assumiu como missão dar um sentido à vida de
tantos rapazes que mergulhavam numa existência desequilibrada de vícios e delitos. O
Movimento escutista possui, assim, na sua génese, uma intenção educativa e a sua
finalidade é clara:

«O fim é o carácter – carácter com um propósito. E esse propósito é que a


próxima geração seja dotada de bom senso num mundo insensato, e que
desenvolva a mais elevada concretização do Serviço, que é o serviço activo
do Amor e do Dever para com Deus e o próximo».

(No Rasto do Fundador, 80)

Assim se sintetiza o Espírito escutista, que surge como ideal de vida a transmitir às
gerações mais novas. Para o conseguir, Baden-Powell cria um movimento baseado no
Jogo, onde abundam histórias, ambientes, pessoas/heróis, símbolos. Numa palavra: cria
um Imaginário.

Entende-se por Imaginário:

Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e


uma linguagem próprios. Envolve uma história com heróis e símbolos. Induz a
um sentimento de pertença em relação ao grupo e permite a transmissão de de-
terminados valores, na medida em que fomenta a identificação com os heróis e a
atribuição de importância e significado aos símbolos da história.

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manualdodirigente

Este Imaginário não tem apenas uma intenção lúdica, de jogo. Busca também educar.
E esta intenção educativa faz despontar a Mística, que constitui a expressão do ideal
espiritual a transmitir, sendo como que a alma do jogo, aquilo que lhe dá sentido. Para
Baden-Powell, a transmissão de valores religiosos é essencial e um dos objectivos do
Movimento consiste em ajudar cada rapaz a aproximar-se de Deus e a esforçar-se por
cumprir a Sua vontade.

«NO MOVIMENTO não há qualquer 'lado religioso', nem a religião 'entra'


em lado algum. Ela já lá está. É o factor FUNDAMENTAL E SUBJACENTE
AO ESCUTISMO.»
No Rasto do Fundador, 153

Neste sentido, e porque o CNE procura educar dentro dos valores da Igreja Católica, são
estes que dão forma à Mística que se procura desenvolver em cada secção.

Em sentido estrito, entende-se por Mística:

Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma das


secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.

O Escutismo propõe ainda um vasto enquadramento simbólico que visa exprimir o ideal
presente na Mística e no Imaginário de cada secção, com vista à sua mais profunda
vivência. Falamos a este nível, da simbologia escutista.

Por simbologia, entendemos:

Conjunto de elementos/objectos representativos de realidades, características ou


atitudes que materializam o ideal proposto por cada secção e, por isso, nos unem
e aproximam desse ideal. No Projecto Educativo do CNE, todas as secções têm
um ou mais símbolos, que podem estar integrados num conjunto de símbolos
complementares.

Com o intuito de estimular para a vivência da Mística e do Imaginário, o Projecto Educa-


tivo do CNE apresenta ainda a figura de Patronos.
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manualdodirigente

Entende-se por Patrono:

Santo ou Beato da Igreja que, no decurso da sua vida, encarnou na plenitude os


valores que se pretendem transmitir através da Mística e do Imaginário de uma
determinada secção, sendo por isso escolhido como intercessor e exemplo de
vida para os elementos dessa mesma secção.

Santa Maria São Jorge São Nuno São Francisco São Tiago São Pedro São Paulo
Mãe dos Escutas de Santa Maria de Assis Maior

São patronos: Santa Maria, Mãe dos escutas; São Jorge, patrono mundial do Movimento
escutista; São Nuno de Santa Maria, patrono do CNE; e também São Francisco de Assis,
patrono dos lobitos; São Tiago Maior, patrono dos exploradores/moços; São Pedro, pa-
trono dos pioneiros/marinheiros; e São Paulo, patrono dos caminheiros/companheiros.

Para além dos patronos, cada secção pode ainda recorrer a modelos de vida e grandes
figuras históricas cuja vida também pode ser encarada como um exemplo. São, por isso,
referências a ter igualmente em conta, embora de forma distinta: os modelos de vida são
escolhidos para exprimir a diversidade de carismas e, também, para atender à especifi-
cidade de cada local, com as suas tradições religiosas; as grandes figuras históricas são
apresentadas no sentido de estimular o desenvolvimento dos talentos de cada um, mas
sem se apresentar aqui o todo da vida da pessoa.

Entende­-se por Modelo de Vida:

Figura da Igreja Católica que, à semelhança do Patrono, também encarna os


valores e ideais da Mística e do Imaginário da secção a que está ligada e que
exprime a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver.

Entende­-se por Grande Figura:

Personalidade que, na sua vida, realizou grandes feitos, associados ao Imaginá-


rio da secção, que marcaram a História da Humanidade.

A Mística do Programa Educativo do CNE

A Mística do Programa Educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com
vista a uma formação humana e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são se-
quenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque
– e complementam-se (nenhuma vale por si mesma), na medida em que estão interli-
gadas e adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Desenrolam-se na
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manualdodirigente

lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento individual e


comunitário proposto a cada escuteiro:

O louvor ao Criador: o lobito louva Deus­ Criador, descobrindo-O no que o ro-


deia;

A descoberta da Terra Prometida: o explorador aceita a Aliança que o conduz


à descoberta da Terra Prometida;

A Igreja em construção: o pioneiro assume o seu papel na construção da Igre-


ja de Cristo;

A vida no Homem Novo: o caminheiro vive cristãmente em todas as dimen-


sões do seu ser.

Com o percurso sugerido, procura-se que o escuteiro compreenda que a sua vida tem
duas dimensões, uma sobrenatural (a realidade que nos transcende) e uma natural (a
realidade onde se vive), e que ambas se relacionam intimamente. Sendo Cristo – nas
palavras de H.Urs von Balthasar – “o abraço de Deus à humanidade”, Ele representa a
única possibilidade de o Homem entrar em comunhão com Deus, isto é, de o natural se
tornar sobrenatural. Só Cristo é o Caminho para chegar ao Pai. Por isso, em síntese,
todo o percurso proposto na Mística do CNE visa conduzir à comunhão mais perfeita
com o Senhor Jesus.

Nesta perspectiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no
Senhor o seu centro e fonte de irradiação de sentido.

JESUS CRISTO

O louvor ao A descoberta A Igreja em A Vida no


Criador da Terra construção Homem Novo
Prometida

O Lobito louva O Explorador O Pioneiro O Caminheiro


Deus-Criador, aceita a Aliança assume o seu vive cristãmente
descobrindo-O que o conduz à papel na em todas as
no que o descoberta da construção da dimensões do
rodeia. Terra Prometida. Igreja de Cristo. seu ser.

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manualdodirigente

O Imaginário do Programa Educativo do CNE

O Imaginário do Programa Educativo do CNE assume duas vertentes. Uma, mais sim-
ples, relaciona-se com a utilização de histórias criadas/adaptadas com cariz educativo
nos diversos projectos de cada secção (sempre que há uma Caçada, Aventura, Empre-
endimento ou Caminhada pode existir um imaginário específico para esse projecto).

Numa outra vertente, mais complexa, o Imaginário é, tal como a Mística, uma proposta
específica para cada secção e procura-se, através dele, transmitir valores específicos,
visando a formação humana dos elementos. Em cada secção, à excepção da Quarta,
este Imaginário “formal” deve ser trabalhado, sem prejuízo dos imaginários “informais” de
cada projecto específico. Assim:

na 1ª Secção, o Imaginário está associado à 'História da Selva' criada por Ru-


dyard Kipling, mais especificamente à vida de Máugli, o Menino-Lobo, na Alca-
teia de Seiouni.

na 2ª Secção, o Imaginário está ligado à figura do explorador que parte à aven-


tura da descoberta de novos mundos.

na 3ª Secção, o Imaginário está associado, de forma muito concreta, à constru-


ção de novos mundos (depois de descobertas novas realidades, na 2ª secção,
é altura agora de construir comunidade, pondo mãos à obra no sentido de de-
senvolver a capacidade de viver com e para os outros). Assume-se, assim, que,
se o explorador é aquele que descobre novas terras, o pioneiro é o que constrói
novas comunidades.

à 4ª Secção não é associado nenhum Imaginário específico, na medida em que


se entende que aos jovens adultos é mais útil a observação do mundo real. De
facto, nesta fase, importa preparar homens e mulheres para que, desenvolvendo
um conhecimento consciente de si mesmos e da realidade envolvente, possam
envolver-se de forma activa e eficaz na contínua renovação do mundo, partici-
pando nela como cidadãos conscientes e responsáveis.

Em conclusão, e relacionando Mística e Imaginário das Secções, poderíamos dizer que


os lobitos, através da história de Máugli, são levados a contemplar o mundo que os ro-
deia, aprendendo a louvar o Criador com S. Francisco de Assis. Após esta contemplação,
os exploradores são convidados a encontrar novos mundos e 'partem', com o exemplo
do Povo de Deus e de S. Tiago, à descoberta da Terra Prometida. Depois destas des-
cobertas, e já pioneiros que se dedicam a construir novas comunidades, são chamados
a ajudar na construção da Igreja, seguindo o exemplo de S. Pedro. Por fim, este auxílio
acaba por se converter, no Caminheirismo, na assunção de uma vida de Serviço aos
outros, alicerçada na Fé em Deus.

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C.2.1 Mística e simbologia na Alcateia

I. Mística dos lobitos: «O louvor ao Criador».

Vimos já (capítulo A.1) que a capacidade de abstracção própria de uma criança com
a idade de lobito não lhe permite compreender a realidade existencial de Deus, tanto
quanto é possível ao Homem compreender. Por esta razão, aos olhos dos lobitos, Deus
é representado, frequentemente através de alguns traços concretos (é, por norma, um
homem grande e poderoso, com barbas brancas). Mais próxima e mais concreta é a
imagem de Jesus, bastante mais fácil de compreender, dado o conhecimento que o
Novo Testamento oferece de alguns aspectos da sua dimensão humana. No entanto,
particularmente no âmbito da mística da Alcateia, não se devem excluir as menções a
Deus (Uno e Trino) como o Criador do mundo em que vivemos e de tudo o que dispomos
e é bonito.

Perante isto, a ligação da criança ao mundo espiritual faz-se essencialmente de duas


formas:

através da descoberta de Deus na vida concreta do dia-a-dia, ou seja, nos se-


res, nos objectos, nos acontecimentos, na Natureza, na beleza do que o Homem
constrói e, acima de tudo, no próprio Homem;

através do conhecimento da figura de Jesus, nomeadamente da Sua infância e


da Sua relação de amor com os mais pequeninos.

Assim sendo, ao ver a beleza da Natureza (mares, rios, montanhas, vales, plantas, ani-
mais, etc.) e, sobretudo, a beleza do próprio ser humano, o lobito começa a descobrir Deus
como Pai. Este, Criador de tudo quanto existe, ama muito todos os seus filhos e quer que
todos sejam felizes. Para que isso aconteça, enviou ao mundo o seu próprio Filho: Jesus,
que começou por ser o «Menino Jesus». A Ele o lobito reza a sua oração e começa a ofe-
recer o coração, pedindo para que o encha de virtudes e ensine a imitá-Lo.

Quando o lobito descobre as maravilhas da Natureza e vive alegre, contente, obediente,


amigo de todos e disposto a imitar em tudo o Menino Jesus, percebendo que Este o ama,
aprende a louvar o Criador.

Neste processo, assume papel preponderante a figura do patrono da primeira secção,


São Francisco de Assis. Profundamente apaixonado por Cristo, São Francisco de Assis
aprendeu a situar a sua vida no plano do Amor de Deus pela Humanidade, descobrindo
que tudo é dom de Deus:

toda a Criação fala de Deus e as mais pequenas coisas podem ser caminho
para Ele;

as nossas atitudes podem revelar a presença de Deus: «é dando que se rece-


be» e é «morrendo que se ressuscita para a vida eterna».
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São Francisco De Assis

Assis é uma pequena cidade que fica situada no norte de Itália. Foi nesta cidade
que nasceu Francisco, pelo ano de 1181. Seu pai era comerciante de tecidos e
queria que o filho se dedicasse ao mesmo ofício, mas Francisco preferia divertir-
se e desfrutar do mundo. Foi uma criança alegre, tinha muitos amigos, era de
trato amável, de profunda religiosidade e pureza. Já jovem, ouviu a voz de Deus
no seu coração, sentiu que Ele o chamava e convidava a um jogo maior, que
duraria toda a sua vida: procurar restaurar a Igreja de Jesus, que tinha muitos São Francisco
problemas. Francisco aceitou o convite, decidiu oferecer todas as suas coisas e de Assis

ser pobre, colocando toda a sua esperança em Deus a quem chamou “Pai-nosso
que estais nos céus”.

Agora ele é conhecido pelo seu amor à Natureza e aos homens, e pela simplicida-
de e humildade com que amava e ajudava a todos. Tinha uma maneira especial
de comunicar com os animais e era muito querido por todas as crianças. Tinha
sempre mensagens de paz e um sorriso para todos os que o rodeavam.

Francisco foi o primeiro a fazer um presépio ao vivo, numa pequena povoação


chamada Grécio, o que deu origem à tradição, que ainda hoje se mantém, dos
nossos presépios.

Aos 45 anos ficou muito doente e morreu na tarde do dia 3 de Outubro de 1226,
em Assis. Antes de morrer deixou esta mensagem: “Permanecei firmes no amor
de Deus e n'Ele perseverai até ao fim. Bem-aventurados os que perseverarem na
obra começada!”. Todos os anos, no dia 4 de Outubro, o mundo inteiro celebra a
entrada de São Francisco no céu.

Francisco de Assis, um modelo para os Lobitos

Ao longo da sua vida e em cada uma das suas aventuras, Francisco de Assis
procurou ser sempre melhor. Ao recordar ou ao ler as suas histórias à Alcateia,
poderemos mostrar como ele conhecia e cuidava do seu corpo, porque sabia
que era Criação de Deus; tratava de solucionar os seus problemas, pois sentia a
alegria de viver e queria construir um mundo melhor. Era alegre e dizia sempre
a verdade, para cumprir as tarefas diárias com os seus amigos; sabia escutar e
dizia o que sentia, para ser mais feliz e conversar facilmente com o Pai do céu;
era muito amigo e ajudava sempre os outros, porque em cada pessoa encontrava
o seu próximo e a Cristo; aprendeu a conhecer a Deus e a amá-I’O como o seu
grande amigo.

São Francisco foi uma criança igual a todos os Lobitos: inquieto e travesso, umas
vezes portava-se bem mas outras vezes menos bem, mas foi sempre um bom
amigo, a ponto de ser amigo até daqueles que não conhecia, dos pobres e dos
doentes. Quando ouviu a voz de Jesus que o chamava para uma tarefa difícil,
teve dúvidas. Custou-lhe muito, mas por fim ganhou coragem e, atrevendo-se,
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entregou toda a sua vida a Jesus, o seu melhor amigo. Viveu segundo aquilo em
que acreditava.

Ele compreendeu a integração do homem na Natureza, e ao mesmo tempo que


cuidava de plantas e animais fez-se amigo de todos os homens. Isto fez de São
Francisco um ser acolhedor para com todos e cheio de uma alegria que contagia-
va todos os outros. A simplicidade ajudou-o a aproximar-se mais e a amar toda a
gente, porque entendeu que o mais importante não é o que se tem, mas sim o que
se partilha. Para ajudar a sua comunidade foi um homem muito activo, pedindo
sempre a Deus mais energia para que a sua oração se reflectisse em cada uma
das suas acções.

Se algo distinguiu Francisco, acima de tudo, foi o seu desejo de dialogar muito
com Deus, na simplicidade e alegria, tal como era a sua vida, e fazer sempre a
Sua vontade para ser sempre melhor.
Fr. Albertino Rodrigues, OFM

Para que os lobitos aprendam com São Francisco de Assis a louvar o Criador é
preciso que:

sejam capazes de ver em Deus Pai a origem de tudo o que existe;

sejam capazes de se deixar encantar pela beleza da obra Criada (Natureza e


Homem);

vejam no «Menino Jesus» o maior dom de Deus à Humanidade e aprendam a


viver como Ele e para Ele.

Como modelos de vida, os lobitos podem ainda seguir o exemplo de Santa Clara de
Assis, que seguiu as pisadas de São Francisco na humildade e devoção a Deus, e dos
Beatos Francisco e Jacinta, meninos que assumiram plenamente a total confiança e
amor a Deus.

A animação da vivência cristã deve surgir com naturalidade, fazendo parte de toda a
vida da Alcateia e não de acções isoladas. Aliás esta inserção vai permitir que o lobito
compreenda que o verdadeiro sentido do catolicismo é o de ser vivido no dia-a-dia, na
Alcateia, na escola e, em casa, e vai também possibilitar ao dirigente, aproveitando as
características dessas idades, a transmissão deste verdadeiro sentido em Cristo através
da sua forma de estar na sociedade.

Boas práticas:
O desenvolvimento da Mística deve fazer-se nas diversas actividades, enriquecendo-as com valores e exem-
plos a seguir. Eis algumas sugestões:
- orações de louvor criadas pelos lobitos. Estas orações podem ter temas específicos (louvor à chuva, ao
calor, às árvores, etc.), de forma a exercitar a sua capacidade de contemplação da Natureza e a compreen-
são de que ela é dom de Deus;
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- cânticos adequados à infância que louvem os dons de Deus;


- utilização da mística;
- decoração de espaços da secção com referências à simbologia, mística e imaginário da Alcateia;
- exploração de episódios da vida de Jesus e dos Beatos Francisco e Jacinta que permitam a reflexão e
adesão a atitudes e valores;
- exploração de alguns episódios da vida de São Francisco, Santa Clara e outros franciscanos, normalmente
denominados ‘Florinhas de São Francisco’ (a história do Lobo de Gúbio é uma dessas Florinhas). Todos os
conceitos e formas de estar deverão ser apresentados aos lobitos inseridos nestas pequenas histórias:
qualquer tentativa de conversar de forma mais abstracta tende a não dar quaisquer frutos.

Bibliografia:
Florinhas de S. Francisco ­http://www.procasp.org.br/subcapitulo.php?cSubcap=58

Francisco, O Cavaleiro de Assis ­www.arquidiocese.org.br; www.diskshop.com.br

PIHAN, Jean, S. Francisco de Assis, Editorial Franciscana, 1985.

GUITON, Gerard, Descobrir S. Francisco, Editorial Franciscana

VELOSO, Tiago M. P., Francisco de Assis, Homem da Natureza. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2009. In

http://www.passionista.org/livros/ecologia.pdf

VÁRIOS, Os Bem-Aventurados Francisco e Jacinta. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2002.

http://www.servitasdefatima.org/Pages/Pastorinhos.aspx

II. Imaginário e simbologia dos lobitos: «A vida de Máugli (Livro da Sel-


va)»

A nível de símbolos, na Alcateia destaca-se a Cabeça de Lobo, que encima o Mastro

O Totem da Alcateia deve ocupar um lugar de destaque no Covil e guardá-lo ou


transportá-lo (como prémio de um concurso de Bandos, por exemplo) deve ser
uma honra para o Bando. De igual forma, as bandeirolas, que também são mar-
cadas pela Cabeça de Lobo, devem ser valorizadas e muito bem cuidadas pelos
lobitos, já que são a primeira 'marca' do Bando a que pertencem.

Totem da Alcateia, como símbolo máximo do grupo e de cada lobito.


Este símbolo é de especial importância, já que o imaginário da Primeira Secção gira todo
à volta da história de Máugli, nos dois volumes de “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling
('O Livro da Selva' e 'O Segundo Livro da Selva'). Nesta obra, Kipling faz, através dos
animais da Selva, uma descrição rigorosa da sociedade.

O tema da selva não é importante por si próprio: o que nele conta é o significado que
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lhe dão os lobitos. É um imaginário em que se cria uma atmosfera na qual os objectivos
do lobitismo são mais facilmente transmitidos. Isto porque, na infância, a apreensão e
abstracção que a criança faz da realidade é ainda reduzida e por isso o recurso à fantasia
ajuda em muito a transmitir os valores que se pretende transmitir. Assim, quando o lobito
é confrontado com o símbolo da selva, sente esse símbolo não como uma ficção, mas
como um elemento que para ele tem valor de verdade e se reveste de um significado. É
por esta razão que, ao ouvir histórias, a criança se identifica com o herói e vive os sonhos
desse mesmo herói: ao conhecer a história de Máugli, o 'Menino-Lobo', o 'Cachorro
de Homem', a 'Rãzinha', o lobito sente-se também um Máugli, ora corajoso ora frágil,
sábio ou ignorante. E através das atitudes reveladas pelo Menino-Lobo, começa a tomar
resoluções, desenvolver valores, ultrapassar etapas e aprender a ajudar os outros.

Exemplo:
Diz-nos a história da Selva que o Cachorro de Homem desobedeceu às ordens de Bálu e se juntou aos
Bândarlougues, o que gerou grande confusão (A Caçada de Cá). Máugli acaba por se arrepender do seu
comportamento e aprende que deve ouvir os bichos da Selva.
Sempre que existir um lobito desobediente, o Àquêlá deve relembrar esta história. É mais fácil modi-
ficar o comportamento de um lobito usando o exemplo de Máugli (que para ele é um herói real) do que
chamá-lo para uma conversa ‘adulta’ em que se enumeram as razões por que ele se deve portar bem.
O Àquêlá deve também incutir a ideia de que é uma grande vergonha ter comportamentos próprios de
Bândarlougue. Como encaram a história da Selva como se fosse real, os lobitos detestam ser apelidados
de Bândarlougue.

Neste contexto, as diversas figuras que surgem no Livro da Selva revestem-se de espe-
cial importância. De facto, a História da Selva não é mais do que a descrição da socieda-
de humana: os animais simbolizam os defeitos e qualidades dos homens e representam
o contraste entre povos com estilos de vida ou formas de agir muito diferentes. E para
uma criança é bem mais fácil compreender a sociedade em que vive através de uma
história. Através dela, ela confronta-se com o Bem e o Mal e compreende mais facilmente
as situações construtivas e não construtivas com que nos defrontamos continuamente na
vida e por quais devemos optar.

Neste sentido, a Alcateia de Seiouni é uma sociedade reconhecida na Jangal pela sua
capacidade de organização. Os lobos constituem o Povo Livre: aquele que, porque
cumpre as leis instituídas, não ultrapassa os seus direitos nem prejudica ninguém. Nesta
sociedade, o pequeno Máugli aprende a ser livre por meio da solidariedade para com
a Alcateia e através do respeito à lei. De início, é acolhido pelos seus pais (Pai Lobo e
Racxa) e irmão lobito (Irmão Cinzento), que representam todos aqueles que são capa-
zes de amar incondicionalmente os outros, sem preocupações sobre raças. Para além
disto, é também protegido pelo Chefe da Alcateia (Àquêlá), que simboliza a liderança
serena e equilibrada, que não se atemoriza perante ameaças ou dúvidas. A sabedoria e
a bondade dos velhos lobos ensinam-no a distinguir os exemplos que deve imitar e a ter
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cuidado para não assumir atitudes que, na fábula, se atribuem à estupidez dos macacos
ou à maldade de Xer Cane.
De facto, em contraposição com esta sociedade organizada, cumpridora e solidária,
surgem os macacos – os Bândarlougues –, o Povo sem Lei: sem ordem, sem solida-
riedade, sem metas claras para alcançar e sem constância para chegar a elas, não se
pode ser livre, nem puro, nem bom. Ser Bândarlougue é, assim, espalhar boatos, fazer
barulho, sujar tudo, destruir, sem nunca pisar em terra firme, sem assumir uma respon-
sabilidade ou comprometer-se com qualquer projecto.

Outros animais gravitam em torno destas duas sociedades, representando também o


Bem e o Mal.

Xer Cane, o tigre, simboliza a maldade pura: ele representa aqueles seres que se regem
pela crueldade, cobiça, vaidade e frieza. Acompanha-o no Mal Tábàqui, o chacal lisonjei-
ro e cobarde, que ganha a vida a inventar histórias sobre os outros: simboliza a hipocrisia
e a tendência para o mexerico.

Os amigos e protectores de Máugli simbolizam, por sua vez, o Bem. Destacam-se, como
mais importantes:

Bàguirà, a pantera esperta e ágil, é a caçadora que ensina Máugli a reconhecer


os melhores caminhos para a caça. É símbolo de todos aqueles que, pela sua
experiência de vida (muitas vezes dolorosa) nos ensinam a reflectir sobre os
caminhos a seguir.

Balu, o urso, ensina as Leis da Selva e as vozes dos animais: simboliza o co-
nhecimento, a ponderação, a tranquilidade e a benevolência que normalmente
os sábios possuem.

Cá, o pitão, de carácter inicialmente dúbio e esquivo, mas que se torna leal
amigo de Máugli e com ele ajuda a proteger a Jangal, representa todos aqueles
que, apesar de aparentarem não ser de confiança, acabam por se revelar leais
e amigos.

Hati, o elefante, é o guardião das memórias e dos valores. Simboliza, assim, to-
dos os que se preocupam em conservar as histórias passadas para retirar delas
ensinamentos para o futuro, ajudando o grupo a reger-se por valores.

Há outros nomes e outros símbolos associados à história de Máugli que também podem
ser explorados nas características que assumem na história. É o caso, por exemplo, de
Mangue (o morcego que espalha as notícias pela Selva), Tchil (o milhafre que vigia o
território), Rama (o chefe dos búfalos), Fao (o lobo que substitui Àquêlá na chefia da
Alcateia), etc.

Como já vimos, a vivência em Alcateia obriga à evocação constante dos acontecimentos


da Jangal dando origem a uma série de nomes e símbolos com os quais os lobitos convi-
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vem constantemente. É o caso, entre outras, das palavras lobito, Alcateia, Covil, Grande
Uivo, Rocha do Conselho, Rocha da Paz, Caçada, Bando, Mastro de Honra (ou Totem),
Círculo do Conselho, Danças da Selva, Dentada (conhecimentos adquiridos pelos lobitos
que contribuem para a concretização do sistema de progresso ou insígnias de compe-
tência – usa-se a expressão: “O lobito deu uma dentada nas pistas”, por exemplo), Flor
Vermelha (nome dado ao Fogo de Conselho dos lobitos), etc..

Esses nomes e símbolos que têm origem da história do Povo Livre são reforçados por
outros que se originaram na tradição do Movimento escutista, tais como o uniforme, o
caderno de caça, o livro de ouro, o Conselho de Guias, o Conselho de Alcateia, o Con-
selho de Honra, a divisa, a Equipa de Animação, o patrono, a bandeirola, e o Guia da
Alcateia, por exemplo.

Também a cor amarela do lenço funciona como um símbolo na Alcateia: para além da
alegria, a cor do sol dourado relembra Jesus, amigo de todos os lobitos, que ilumina o
caminho de cada um e ajuda a crescer. O amarelo, assim, relembra ao lobito que deve
ser alegre e procurar imitar o exemplo de Jesus em cada momento da sua vida.

Bibliografia:
B.-P., Manual do Lobito, Edições CNE.

KIPLING, R., O Livro da Selva. Lisboa: Livros do Brasil, 2007.

KIPLING, R., O Segundo Livro da Selva. Lisboa: Livros do Brasil, 2007.

BARCLAY, Vera, Sabedoria da Selva, Edições CNE.

Alaiii, Edições CNE.

III. Cerimoniais

A mística e o imaginário da Alcateia, embora presentes em todas as actividades, encon-


tram expressão concreta nos diversos cerimoniais que a 'Família Feliz' desenvolve.

Exemplos de cerimoniais próprios para lobitos:

Grande Uivo, Círculo de Parada, danças da Selva, abertura e bênção da Flor Vermelha (Fogo de Conselho),
Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Guias, Investidura de cargos, entrega de insígnias, etc.
Todos devem utilizar a linguagem e simbologia da Alcateia.

Estes cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, pos-
suem um cunho pedagógico que deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto
aconteça, os cerimoniais devem:

Desenrolar-se em ambiente escutista, estando presentes conteúdos relaciona-


dos com ele, como a Lei e as Máximas, exemplos, cânticos adequados, imagens
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relacionadas com a mística e imaginário, etc.. Neste sentido, deve-se zelar pela
presença de símbolos e linguagem adequados à Alcateia. Isto permite que haja
um ambiente propício a que a mensagem seja de facto absorvida, na medida em
que os conteúdos possuem uma carga formativa. Sempre que possível, deve-
se utilizar a Natureza para realizar os cerimoniais, já que o ar livre é o espaço
privilegiado para as actividades escutistas).

Ter dignidade e demonstrar respeito pelos valores escutistas: a título de exem-


plo, são de evitar cerimoniais de passagem de secção que se convertam em
verdadeiros atentados à Lei do Lobito ou do Escuta, por implicarem faltas de
higiene, perigos para a saúde ou perda de dignidade dos elementos.

Ser preparados com antecedência e correctamente, a nível da sua duração (há


que ter em conta a idade dos lobitos) materiais e ensaios, para que haja uma
integração adequada na vivência das secção e na idade dos lobitos.

Promover a participação directa e activa dos lobitos, na medida em que isto


permite que todos se sintam envolvidos, motivados e integrados na Alcateia. No
entanto, este envolvimento deve implicar sempre alguma flexibilidade, na medi-
da em que é possível que algumas crianças tenham mais dificuldade em estar
à vontade para participar.

Sofrer modificações periódicas (com novos materiais, outras canções, etc.) e


criativas, para que não se tornem desactualizado e desadequado. Note-se que,
embora as tradições reforcem a coesão do grupo, caso não haja, de vez em
quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos e da forma como os conteú-
dos são explorados, os lobitos podem começar a desmotivar-se, por ser sempre
tudo igual.

Nem sempre os cerimoniais tradicionais dos Bandos (como a permissão para aceder ao Livro de Ouro)
possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o dirigente auxilie os
seus elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve procurar-se que haja refe-
rências ao lema do Bando e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos,
as fórmulas e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza
e validade.

Bibliografia:
B.-P., Manual do Lobito, Edições CNE.

Alaiii, Edições CNE.

Cerimoniais do CNE, Edições CNE.

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C.2.2 Mística e simbologia na Expedição

I. Mística dos exploradores e moços: «A descoberta da Terra Prometida».

Com a adolescência, chega o período da vida em que os heróis e as aventuras seduzem


e são fonte de motivação. Nesta altura, e porque a abstracção o permite, o adolescente
começa a compreender a grandeza de Deus. Neste momento, é, então, convidado a
aceitar a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida.

Sabemos que, ao longo da história de Israel, Deus concluiu várias vezes uma aliança
com o Seu povo, mas só Jesus Cristo vem estabelecer a “Nova e eterna Aliança”. O
explorador ainda não entende, naturalmente, todo o alcance desta Aliança em Cristo,
mas sente-se motivado a fazer caminho de descoberta. Por isso, começa por acolher o
desafio que Deus lhe coloca e, tal como o Povo Hebreu fez ao caminhar pelo deserto,
aceita partir em busca do cumprimento das promessas de Deus, isto é da Terra Prome-
tida onde “mana leite e mel”.

Deste modo, aprende, que, no estabelecimento da Aliança com o Seu Povo, Deus ofe-
rece a garantia da Sua protecção paternal e aponta-lhe o caminho da Terra Prometida.
Essa aliança é renovada em Jesus Cristo que Se torna, entre outras coisas, o exemplo
a seguir pelo explorador, dada a sua tendência a seguir heróis que se batem por causas
justas. Nas parábolas e nos milagres e em toda a vida de Jesus Cristo o explorador des-
cobre que Deus também quer fazer a Sua aliança com ele.

Assim, nesta etapa da sua vida, o explorador/moço descobre cada vez mais que Deus
está presente. Aceita o desafio de se pôr a caminho, acolhendo a aliança com Deus, tal
como o Povo do Antigo Testamento: é altura de novos caminhos, de novas formas de
viver e de se dar aos outros que só Deus pode ajudar a encontrar. Pelo caminho (ou seja,
ao longo da sua passagem pela secção), Deus revela-se, aumentando a sua fé, coragem
e audácia. Jesus é o seu maior e mais completo exemplo de vida.

O Patrono: São Tiago Maior

O exemplo do patrono da 2ª secção, São Tiago (Maior), pode servir de estímulo a todos
a quantos têm a coragem de se pôr a caminho, para partilhar com outros a descoberta
que já fizeram.

Chamado por Cristo, São Tiago viu concretizadas as promessas de Deus ao seu
Povo, ao testemunhar o poder da Ressurreição de Cristo. A partir daí, fortaleci-
do pelo Espírito Santo, São Tiago assumiu a fé de forma destemida e aceitou
testemunhá-la até às últimas consequências (Act. 12,1-2). Sendo originário da
Galileia, São Tiago terá aceitado o desafio de partilhar com outros povos o tesou-
ro da fé: segundo a tradição, teria vindo até à Península Ibérica, para evangelizar,
tendo desenvolvido actividade sobretudo na Galiza e na zona hoje corresponden- São Tiago Maior

te a Aragão.

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Assim, São Tiago foi um autêntico explorador, na medida em que aceitou pôr-se
a caminho, guiado pela «estrela» da fé que o animava e fortalecido pelo desejo
insaciável de a dar a conhecer. Mesmo sem saber que dificuldades iria encontrar,
São Tiago partiu com o intuito de apontar, também aos outros, o caminho para a
«Terra Prometida»: o caminho para Deus.

Outros exemplos

Os exploradores podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras


bíblicas e santos que serão também para eles modelos de vida: Abraão, Moisés, David,
Santo António, Santa Isabel de Portugal.

Abraão

Abraão foi o primeiro patriarca do povo hebreu. Tendo recebido indicação de Deus,
deixou a sua cidade e dirigiu-se com a sua família para Canaã. Sendo já velho, e
não tendo um filho primogénito, Sara, sua esposa, concebeu por graça de Deus e
nasceu Isaac. Quando Isaac era ainda criança, Deus chamou Abraão e pediu que
ele levasse o seu filho ao alto do monte Moriah. A meio do caminho, Deus pediu
a Abraão que sacrificasse Isaac para mostrar o seu amor por Ele. Abraão não se
recusou em pegar num punhal, colocando-o sobre o seu filho. Deus então man-
dou um anjo para segurar o punho de Abraão, dizendo estar satisfeito com a sua
obediência. Em recompensa, Deus prometeu a Abraão que a sua descendência
seria tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar.

Moisés

Figura proeminente do Antigo Testamento, Moisés foi salvo das águas pela filha
do Faraó, sendo educado na corte. Após matar um feitor egípcio, foi obrigado a
exilar-se. Depois de encontrar Deus na sarça ardente, regressou do exílio para
libertar o seu povo da escravidão do Egipto e conduziu-o até às portas de Canaã,
a terra prometida por Deus a Abraão. Durante a longa jornada, atravessou o Mar
Vermelho e subiu ao Monte Sinai, onde recebeu as tábuas com os Mandamentos
da Lei de Deus. Guiou o seu povo durante 40 anos, atravessando o deserto, e
morreu depois de contemplar a Terra Prometida.

David

Tocou lira para acalmar o rei Saul, primeiro rei de Israel. Quando o exército filisteu
enfrentou os israelitas, um gigante chamado Golias desafiou o exército israelita
a enviar um homem para enfrentá-lo. Os israelitas tiveram medo de Golias, mas

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David decidiu enfrentá-lo e fê-lo munido apenas de uma funda e algumas pedras.
Logo no início do combate, David acertou com uma pedra na cabeça do gigante,
derrubando-o. Teve, então, de fugir para o deserto, por inveja do rei Saul. Com a
morte do rei, governou a tribo de Judá, tendo-se tornado o fundador de um estado
unificado e independente, que englobava todo o Israel. Apesar desse estado ter
subsistido pouco tempo, ficou para sempre na memória dos israelitas como um
tempo ideal.

Santo António

Fernando Bulhões nasceu em Lisboa a 15 de Agosto de 1195. Em 1210, tornou-


se noviço da Ordem dos Agostinhos. Em 1220, motivado pelo desejo de ser mis-
sionário, trocou o hábito de agostinho pelo de frade franciscano, tendo adoptado
o nome de Frei António. Em 1221, embarcou em missão com destino ao Norte de
África, mas voltou a Portugal gravemente doente. Na viagem de regresso, uma
forte tempestade empurrou a embarcação que o transportava para a Sicília. No
ano seguinte, conheceu São Francisco, em Assis, tendo-se tornado pregador da
ordem Franciscana. Partiu depois para o sul de França, onde ensinou Teologia
em Montpellier e em Toulouse e pregou em Puy e em Limoges. Após a morte
de São Francisco de Assis, regressou a Itália. Em 1231, dirigiu-se a Pádua para
acabar os seus dias, mas faleceu no caminho, em Arcella, a 13 de Junho. Foi
canonizado a 30 de Maio de 1232 pelo Papa Gregório IX. A sua festa litúrgica
celebra-se a 13 de Junho.

Santa Isabel de Portugal

Santa Isabel, filha dos reis de Aragão, nasceu no ano de 1271. Era ainda muito jo-
vem quando foi dada em casamento ao rei D. Dinis. Dedicou-se de modo singular
à oração e às obras de misericórdia, tendo criado um hospital, uma casa de refú-
gio para mulheres e um orfanato. Procurou ser sempre instrumento de concórdia
entre todos e revelou uma exemplar perseverança e capacidade de sofrimento
num casamento que não a fez feliz. Depois da morte de seu marido, distribuiu os
seus bens pelos pobres e tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco,
dedicando-se ao serviço de Deus e de todos os que dela precisaram. Morreu em
Estremoz, no ano 1336, quando mediava o acordo de paz entre seu filho e seu
genro. A sua festa litúrgica celebra-se a 4 de Julho, data da sua morte.

O desenvolvimento da Mística pode fazer-se com recurso à utilização, em diversas activi-


dades, de temas relacionados com a Mística da secção, possibilitando o enriquecimento
das mesmas com valores e exemplos a seguir.

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Boas Práticas:
- exploração de histórias do Antigo Testamento ligadas à procura e descoberta da Terra Prometida;
- exploração de histórias ligadas à vida de Jesus Cristo que permitam a reflexão/interiorização de
atitudes e valores relacionados com as dificuldades que a descoberta de novos caminhos acarreta
(incompreensão, defesa da Verdade, procura do que está certo, etc.);
- exploração da mensagem contida nas parábolas e milagres de Jesus Cristo;
- decoração de espaços da secção com referências à simbologia, mística e imaginário da Expedição
- orações e cânticos criados pelos exploradores/moços. Estas orações podem apelar à reflexão sobre a
fé, a coragem para defender os seus próprios valores, a vontade de conhecer melhor Deus.

Bibliografia:
Bíblia Sagrada.

Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.

A Pedagogia da Fé no Escutismo, Edições CNE.

Cartões com Enquadramento Simbólico, Edições CNE.

II. Imaginário dos exploradores e moços: «O explorador»

O imaginário da segunda secção gira à volta do Explorador, aquele que parte à aventura
da descoberta de novos mundos, que vai mais longe, mais além, aquele que descobre.

Logo no início do “Escutismo para Rapazes”, na Palestra de Bivaque nº1, B.-P. descreve-
­-nos essa personagem do explorador em tempo de paz. Ao longo de todo o livro são mui-
tas as histórias e exemplos que B.-P. conta destes “verdadeiros homens em toda a acep-
ção da palavra”. O explorador aprendeu a viver na natureza, a amá-la e respeitá-la. É um
homem capaz de cuidar de si próprio e de ajudar os outros. Adapta-se ao meio ambiente
em que vive e tira dele o maior proveito. Os exploradores são mestres na exploração – a
arte de explorar. Como nos diz B.-P., é uma arte fácil de aprender, concluindo: “A melhor
maneira de aprender é entrar para os escuteiros”.

Para ajudar a viver este Imaginário, os exploradores podem ainda ser chamados a seguir
o exemplo de grandes exploradores como Fernão de Magalhães (1ª Circum-navegação
da Terra), Ernest Shackleton (explorador da Antártida), Neil Armstrong (1º homem na
Lua), Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1ª travessia aérea do Atlântico Sul), Jacques
Cousteau (oceanógrafo), Dian Fossey (zoóloga, ficou célebre o seu trabalho com os
gorilas-da-montanha), Infante D. Henrique (o Navegador), Rosie Stancer (exploradora
do Ártico e da Antártida), etc.

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Simbologia dos exploradores/moços

Para ajudar os exploradores a viver a Mística e o Imaginário, a 2ª secção terá como sím-
bolos a Flor-de-Lis, a Vara, o Chapéu, o Cantil e a Estrela.

A FLOR-DE-LIS – de nome científico Sprekelia formosissima, é o símbolo do


escutismo de que o explorador é a imagem mais facilmente reconhecida (até
pela tradução da palavra inglesa scout, por exemplo). Nas três folhas da flor-
de-lis reconhecemos os três princípios do escutismo e os três compromissos
assumidos na fórmula da promessa escutista. A flor-de-lis é, também, símbolo
de rumo, indicando o norte nas cartas topográficas e de marear. É portanto
um auxiliar básico de alguém que pretende descobrir o mundo. O Norte que a
Flor de Lis representa é, acima de tudo, o próprio Cristo, pois só Ele dá sentido
à nossa vida

A VARA – é um símbolo que evoca a vara de Moisés, no Antigo Testamento,


sinal usado por Deus para manifestar o seu poder. De facto, a vara de Moisés
transformou-se em serpente, para que os egípcios acreditassem, permitiu a
Moisés abrir caminho através do mar, fez com que brotasse água do roche-
do, etc. Para além disto, é facilmente associada ao imaginário do escuteiro
dos primeiros anos da fundação e, por outro lado, à simbologia de São Tiago
Maior, o peregrino. A Vara do escuteiro tem um conjunto alargado de utilida-
des, de onde se destaca o auxílio: à caminhada, à progressão da marcha, na
navegação, no ultrapassar de obstáculos, em relação aos perigos e às adver-
sidades. Simboliza assim a solidariedade, o progresso e a vontade de se pôr
a caminho e partir à aventura.

O CHAPÉU – é símbolo da protecção. Em primeira análise, o “Chapéu” do


cristão, ou a sua protecção é, antes de tudo, a própria Fé. Em termos físicos,
permite o abrigo do sol, do frio, da chuva, etc. É ainda associado à imagem
que temos do próprio B.-P., que se preocupou em arranjar um chapéu para os
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escuteiros. Também São Tiago é reconhecido pelo chapéu que caracteriza o


traje do peregrino, especialmente no contexto dos caminhos de Santiago de
Compostela.

O CANTIL – é, na sua vertente de depósito, símbolo da responsabilidade –


andar sem água não é inteligente. Mas é também símbolo de coerência, de
estar preparado, como pedia B.-P. Numa Patrulha, gerir a água durante uma
actividade é tarefa muito importante que implica a consciência de que podem
surgir imprevistos para os quais temos que estar preparados. Está associado
também à sede de conhecimento, à sede de descoberta e de acção, carac-
terística do explorador. Por fim, representa também a água viva que é Cristo,
oferecida a quem dela quiser beber. Essa Água sacia verdadeiramente para
a vida eterna. A cabaça, associada à imagem de São Tiago Maior é, também,
ou acima de tudo, um cantil.

A ESTRELA – é símbolo da orientação. A Estrela Polar e o Cruzeiro do Sul


são referências de orientação, especialmente de noite, quando é mais difícil
encontrar e seguir um rumo. Todos os grandes exploradores recorreram a
elas para concretizar os seus sonhos. São pilares na imensidão do céu, sinal
da grandeza de Deus, que nos transmitem a segurança da fé e a certeza do
sucesso. Foi uma estrela que, segundo a lenda, permitiu encontrar o túmulo
do Apóstolo São Tiago e é lá, no Campo da Estrela (Campus stellae – Com-
postela), que permanecem os seus restos mortais. A vieira, símbolo jacobeu,
é, também, de certa forma, uma estrela. Além disso, do ponto de vista bíblico,
a estrela evoca ainda a Aliança de Deus com Abraão, em que lhe promete
uma descendência mais numerosa que as estrelas do céu, imagem do Povo
que Deus escolheu para Si, do qual também nós somos parte.

Cor verde

Não sendo formalmente um símbolo, a cor verde é um sinal identificativo da 2ª secção,


sendo-lhe atribuído um significado especial. Tal como é referido na imposição do lenço
na Promessa de explorador, o verde é símbolo da Natureza e da esperança que todos
colocam no explorador. A Natureza é o espaço privilegiado em que o explorador vive as
suas aventuras. Quanto à esperança posta no explorador, já B.-P. escrevia na Palestra
de Bivaque nº 3 do Escutismo para Rapazes a propósito da Promessa: “…eu sei que
posso confiar em que farás tudo quanto puderes para cumprires a promessa.”

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manualdodirigente

Linguagem simbólica nos exploradores

Para além de todos os símbolos já descritos, existem termos e nomenclaturas que ad-
quirem, na Expedição, uma dimensão e significado específicos. São termos que estão
intimamente ligados à secção e que a seguir se descrevem:

Explorador– adolescente que faz parte da 2ª secção do CNE. Tal como explica-
do acima, é aquele que parte à descoberta de novos mundos.

Expedição– Conjunto de exploradores que se agrupam para partirem em via-


gem à descoberta de algo: da selva, do mar, das regiões polares, da monta-
nha… A pertença a este grupo desperta a vontade de estar em movimento, de
partir em aventura.1

Aventura– Actividade de descoberta que deve ser planeada pela Expedição,


sendo depois realizada e avaliada em conjunto.

Patrulha– Um pequeno grupo de exploradores, dentro de uma Expedição, com


tarefas próprias a desempenhar para o sucesso da Aventura.

Base– Local de onde partem os exploradores quando saem. Serve de apoio, de


porto de abrigo, de ponto de partida e chegada das aventuras.

A nível dos marítimos, a nomenclatura está também adaptada à secção:

Moço– adolescente que faz parte da 2ª secção do CNE. Tal como explicado
acima, é aquele que parte à descoberta de novos mundos, usando o mar como
instrumento privilegiado de aprendizagem.

Flotilha– Conjunto de moços que formam um grupo unido que desenvolve as


suas aventuras no mar, descobrindo os seus segredos.

Expedição– Viagem de descoberta e exploração que deve ser planeada e ava-


liada pela Flotilha (ver nota 1).

Tripulação– Um pequeno grupo de moços, dentro da Flotilha, com tarefas pró-


prias a desempenhar na embarcação para o sucesso da Expedição.

Base– Local de onde partem os moços quando saem. Serve de apoio, de porto
de abrigo, de ponto de partida e chegada das expedições.
1
Note-se que, aqui, Expedição tem o sentido de 'grupo de pessoas que se deslocam a um lugar para descobrir algo', sentido este
que é distinto de Expedição como 'viagem de descoberta empreendida por um grupo' – sentido com que Expedição é utilizada no
escutismo marítimo. Ambos os significados existem no dicionário e compete aos dirigentes explicar aos seus elementos que a riqueza
e diversidade da Língua Portuguesa nos permite utilizar uma palavra com vários sentidos.
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manualdodirigente

Boas práticas:
- Ter presentes os símbolos na Base e usá-los para distinguir o que diz respeito à secção dentro do
Agrupamento.
- Durante o “Apelo” (adesão formal aos exploradores), cada futuro explorador deve arranjar a sua vara
pessoal. Esta deverá tornar-se uma “obra de arte” ao longo da vivência na Expedição. No canto de Pa-
trulha construir um local apropriado para serem guardadas as varas pessoais de todos os elementos da
Patrulha.
- Ter na sede um canteiro com a flor-de-lis.
- Descobrir as diferentes formas da Flor-de-Lis das Associações Escutistas espalhadas pelo Mundo.
O resultado poderá dar um belo quadro para o canto de Patrulha. Poderá ser feito o mesmo usando
representações de mapas antigos onde figurem a rosa-dos-ventos e a flor-de-lis.
- Em raid, usar o cantil e o chapéu.
- Na sede e em acampamento, promover comportamentos que permitam gerir a água de forma mais
responsável.
- Descobrir nos Evangelhos o sentido de “água viva”.
- No acampamento, à noite, contemplar o céu estrelado, identificar várias constelações e usar o texto
bíblico com a referência às estrelas do céu e à descendência de Abraão (Gn. 22, 1-18).
- Descobrir e representar passagens bíblicas ligadas à descoberta da Terra Prometida onde estão
presentes símbolos dos exploradores. Eis alguns exemplos: a vara de Aarão transformada em serpente
diante do faraó; a vara de Aarão a florescer; as estrelas do céu e a descendência de Abraão; o toque da
vara de Moisés no rochedo, fazendo brotar água; David e a bilha (cantil) do rei Saul; o aparecimento das
estrelas no quarto dia da Criação; a estrela que guia os magos vindos do Oriente;…

Bibliografia:
Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.

III. Cerimoniais

Existem diversos cerimoniais escutistas que são veículo da mística e imaginário próprios
de cada secção: servem-se dos símbolos das secções e de linguagem tipicamente es-
cutista para marcarem e darem sentido a momentos marcantes da secção ou agrupa-
mento.

Exemplos de cerimoniais escutistas vividos por exploradores:


Abertura e bênção do Fogo de Conselho, Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Guias, Investidura
de cargos, Totemização, entrega de insígnias, etc. Todos possuem em comum o facto de utilizarem os
símbolos das secções e linguagem tipicamente escutista.

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manualdodirigente

A intenção pedagógica deste tipo de momentos deverá ser valorizada. Assim, pretende-
se que os cerimoniais sejam:

Vividos num ambiente “místico”, que facilite a interiorização da mensagem que


se pretende passar. Os conteúdos escutistas (Lei, patrono, etc.) deverão estar
incluídos e a sua inserção no cerimonial deverá ser feita de forma cativante: com
cânticos, imagens escutistas, etc.

Realizados num local que permita um envolvimento adequado de todos os parti-


cipantes. A Natureza deverá ser sempre espaço privilegiado para os cerimoniais
(tal como o é para todas actividade escutistas)

Dignos e que respeitem os valores escutistas. A postura dos elementos, a segu-


rança ou a higiene não deverão pôr em causa o cumprimento da Lei do Escuta.

Adequados à secção em termos de linguagem, duração e conteúdos.

Participados. Os escuteiros deverão sentir-se integrados e parte do Cerimonial,


ajudando ou intervindo nos momentos adequados. A intenção de tornar os Ce-
rimoniais participados implica alguma flexibilidade para que os elementos se
sintam realmente à vontade para intervir.

Preparados atempadamente e com a atenção devida.

Surpresa! Não implica que os Cerimoniais mudem radicalmente a cada vez que
se realizam: é bom manter algumas tradições pois reforçam a coesão do grupo.
Mas convém não ceder às repetições que se podem tornar desmotivantes e
antiquadas. A revisão das dinâmicas e textos, dos símbolos, imagens e valores
explorados pode permitir modificar o que está desactualizado ou incoerente.

Nem sempre os cerimoniais tradicionais das Patrulhas (como a permissão para aceder
ao Livro de Ouro) possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é im-
portante que o dirigente auxilie os seus elementos a construir cerimoniais que veiculem
valores. Para isso, deve procurar-se que haja referências ao totem e ao lema da Patrulha
e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as fórmu-
las e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado,
riqueza e validade.

Bibliografia:
Cerimoniais do CNE, Edições CNE.

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manualdodirigente

C.2.3 Mística e simbologia na Comunidade

I. Mística dos pioneiros: «A Igreja em construção»

Depois da chegada à Terra Prometida, é Cristo quem estabelece a Nova e Eterna Aliança
e o início de um tempo novo para o Povo de Deus. Cristo, com palavras e obras, inaugura
na terra o Reino de Deus e institui a Sua Igreja para ser portadora desta novidade.

Pedra viva do Templo do Senhor, o pioneiro é chamado a assumir o seu lugar na cons-
trução dessa Igreja – de acordo com o pedido e sugerido por Cristo –, colocando os seus
talentos ao serviço da Comunidade e assumindo a tarefa de ser construtor de comunhão
e de sociedade.

Tal tarefa não é fácil: numa idade em que a dúvida se instala, o desafio é ajudar a que
o pioneiro/marinheiro seja capaz de ultrapassar as suas perplexidades, compreenda a
grandeza do amor de Deus e se assuma como cristão convicto e actuante.

Para facilitar a plena vivência da fé, o patrono da Terceira secção é São Pedro.

São Pedro

Apóstolo escolhido por Cristo para presidir à Igreja nascente, São Pedro (Galileia,
século I a.C. – Roma, 67 d.C.) é tão importante quanto humilde. Foi Deus quem
quis tornar forte o que antes era fraco e, apesar das limitações e debilidades hu-
manas deste Apóstolo, quis com ele empreender a obra grandiosa de construção
da Igreja de Cristo. Nesse sentido, São Pedro é pioneiro de um tempo novo, o São Pedro

tempo da vida «com Cristo», o tempo das primeiras comunidades que partilharam
os ensinamentos do Filho de Deus.

São Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja se começou a erguer e, nesse sentido,
foi sobretudo construtor de comunidade. Em seu redor surgiram outros que, atra-
ídos pelo seu testemunho de vida descobriram a presença do Senhor Ressusci-
tado na Igreja, Seu Corpo.

Com São Pedro, os pioneiros descobrem o sentido comunitário da vida e sentem-


se motivados a pôr a render os seus talentos, em vista do bem comum, com o
sentido último de ajudar a construir na terra o Reino dos Céus. Tem festa litúrgica
a 29 de Junho, juntamente com São Paulo.

Os pioneiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras da Igre-
ja que serão também para eles modelos de vida: São João de Brito, Santa Teresinha do
Menino Jesus, Santa Catarina de Sena.
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São João de Brito

São João de Brito foi um missionário jesuíta português, nascido em Lisboa, em


1 de Março de 1647. Realizou missões na China, no Tibete e na Índia, onde foi
assassinado e martirizado, em 4 de Fevereiro de 1693, em Urgur. Tornou-se um
missionário muito popular e foi muitas vezes chamado de “o Francisco Xavier
Português”. Em 22 de Junho de 1947, foi canonizado pelo Papa Pio XII. Tem festa
litúrgica a 4 de Fevereiro.

Santa Teresinha do Menino Jesus

Teresa de Lisieux nasceu em Alençon, em França, em 2 de Janeiro de 1873.


Foi uma religiosa carmelita descalça francesa e Doutora da Igreja. Faleceu em
Lisieux, em 30 de Setembro de 1897, com vinte e quatro anos apenas. O livro que
lhe deu maior notoriedade foi “História de uma Alma” e é conhecida como Santa
Teresa do Menino Jesus e da Santa Face ou, popularmente, Santa Teresinha.
Tem festa litúrgica a 1 de Outubro.

Santa Catarina de Sena

Catarina nasceu em Siena, em Itália, em 25 de Março de 1347, tornou-se religiosa


na Ordem Terceira de São Domingos e morreu em 29 de Abril de 1380. Foi uma
personalidade muito influente no Grande Cisma da Igreja Católica do Ocidente
– relacionado com o problema da sede da Igreja ser em Roma ou em Avinhão.
Em 1970, o Papa Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja. O Papa João Paulo II
declarou--a co-padroeira da Europa.

Para desenvolver a mística da secção, os dirigentes da Equipa de Animação da Comu-


nidade devem zelar para que, na realização das actividades, ela esteja presente. Neste
sentido, há vários documentos e ideias que os podem ajudar neste domínio.

Boas práticas:

A presença das referências no Abrigo:


Ter no Abrigo uma imagem de São Pedro – por que não uma peça moldada ou esculpida pelos próprios
pioneiros? – é importante para que a comunidade tenha presente o simbolismo do seu patrono e o seu
legado. O facto de serem os pioneiros a fazer a figura do patrono ajuda, ainda, a uma melhor compreen-
são hagiológica dos sinais que caracterizam a representação do santo.
Faz sentido, também, nalgum local comum do abrigo haver espaço para a afixação de uma imagem ou de um
símbolo que represente os modelos de vida que enquadram a mística do pioneiro.
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Conhecer a vida e a acção dos primeiros cristãos:


A compreensão dos primeiros passos da Cristandade é, também, uma boa prática acessível a todos os
pioneiros. Conhecer as “declarações de Cristo” sobre o que havia a fazer depois da sua partida e do que
para si era o modelo de um tempo novo. Conhecer as viagens e as adversidades dos apóstolos a quem foi
destinada a tarefa de espalhar a Boa-Nova – como São Tiago ou São Tomé, por exemplo –, a acção de
São Paulo e de São Pedro logo após a Ascensão de Jesus. A vida quotidiana e as proibições do culto dos
primeiros cristãos, a vida das primeiras comunidades cristãs, as perseguições, as prisões e os martírios
infligidos aos fiéis, etc. A informação decorrente desta pesquisa pode ser usada no empreendimento,
pode ser divulgada através de cartazes, de um filme, ou de qualquer outro suporte.

A vida de São Pedro:


Em momentos de partilha, ou pelo menos no empreendimento, pode revelar-se enriquecedor associar a
vida de São Pedro e os momentos históricos retratados nos evangelhos aos momentos específicos e
característicos da vida do pioneiro, pessoalmente, em Equipa ou em Comunidade. Assim, as dúvidas iniciais
de Simão Pedro quando Cristo lhe pede que “se faça ao largo”, o seu desprendimento quase imediato
depois da pesca milagrosa, a humildade, mas também a necessidade de reconhecimento de Pedro na Últi-
ma Ceia, a narrativa das três negações de Pedro são apenas alguns dos aspectos nos quais o pioneiro vai
encontrar paralelismo e reconhecimento e que podem ajudar a interiorizar o testemunho do patrono.

Vários documentos:

Os evangelhos:
Os quatro evangelhos do Novo Testamento podem ser uma extraordinária ferramenta para aprofundar
e desenvolver a Mística dos pioneiros, nomeadamente explorando as histórias relacionadas com São
Pedro ou com Jesus ligadas à construção do Reino de Deus.

Filmes, documentários e séries televisivas:


Há alguns filmes, documentários e séries televisivas que podem ajudar a compreender a vida de São Pe-
dro e dos primeiros cristãos. Películas mais antigas como ‘Ben-hur’ ou ‘Quo-vadis’ – há uma versão ameri-
cana de 1951 e outra italiana de 1985 –, até séries mais modernas como ‘Rome’, da HBO (especialmente a
segunda série), mostram o quotidiano da vida dos primeiros cristãos. Há, ainda, inúmeros documentários e
filmes sobre a vida dos apóstolos que podem ajudar a visualizar melhor esta temática.

Bibliografia:
Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.
A Pedagogia da Fé no Escutismo, Edições CNE.
Cartões com Enquadramento Simbólico, Edições CNE.

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II. Imaginário dos pioneiros: «O pioneiro»

O imaginário da Secção gira todo à volta do pioneiro, aquele que, depois da descoberta
do mundo que o rodeia, é assolado por um sentimento de insatisfação, de um ímpeto de
fazer diferente, de mudar, de inovar, que o leva a soltar-se do que considera supérfluo
para pôr mãos à obra na construção e concretização do seu sonho, das suas ambições.
Nesta tarefa, preocupa-se em conhecer o que há, em saber o que já foi feito por outros,
em conhecer e melhorar as suas próprias capacidades, em adquirir as ferramentas de
que precisa.

Reúne, a seguir, as vontades para o seu empreendimento. O pioneiro prefere trabalhar


em equipa, em conjunto, e o seu querer e o dos outros é capaz de, realmente, transfor-
mar, inovar, construir. O pioneiro é o insatisfeito, o que primeiro inova e primeiro constrói
a comunidade.

Reconhecemos este perfil em Pedro, o pescador de homens e construtor da Igreja nas-


cente, reconhecemo-lo nos primeiros navegadores e nos primeiros colonos das novas
terras do Novo Mundo, mas, também, nos primeiros astronautas, nos cientistas e nos
investigadores da modernidade e no rosto de cada adolescente.

O pioneiro vive sobre a máxima Saber, Querer e Agir, sendo fiel a si próprio e aos seus
sonhos.

Saber, Querer e Agir

Esta frase, esta máxima, apresenta-se ao pioneiro como o enaltecer das suas
próprias características. Do mesmo modo que o Papa João Paulo II, num discur-
so aos jovens, em 1985 dizia: «Jovens, sede jovens», esta máxima interpela o
pioneiro a ser pioneiro. E o pioneiro tem como características a ânsia de conheci-
mento e de respostas – muitas vezes no seu interior e no mundo que o rodeia –,
a vontade e a energia de inovar, de fazer diferente, e, por fim, a necessidade de
acção em todo o momento.

O assumir desta máxima – três poderosos verbos – vai reflectir-se no âmbito do


imaginário do pioneiro, mas também nos símbolos da secção, na linguagem sim-
bólica e na nomenclatura das etapas do sistema de progressão pessoal.

Ser pioneiro, realmente…

O imaginário da secção ultrapassa um enquadramento meramente simbólico. Na


terceira secção, o imaginário é, também, e imediatamente, um desafio. Um desa-
fio, um repto, que deve ser lançado ao adolescente logo que ele manifesta desejo
de integrar a secção. E isso, em actos concretos, manifesta-se em primeiro lugar,
numa atitude de desprendimento perante tudo o que é acessório, centrando-se
no que é essencial e lhe permite aprofundar o conhecimento de si mesmo e do
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mundo. Esta atitude de desprendimento, aliás, é típica dos adolescentes desta


idade, que, na busca da afirmação da sua maturidade, procuram largar as marcas
da sua meninice.

Em segundo lugar, o adolescente deve dar azo à necessidade natural de procurar


a razão de ser de tudo – o conhecimento (Saber) do mundo que o rodeia, da
experiência dos outros, dos limites do que é possível – e de se munir das ferra-
mentas que lhe permitem adquirir autonomia.

Este conhecimento vai aprofundar a vontade (Querer) de transformar o seu so-


nho em realidade, uma vontade que deve ser aplaudida e ajudada. Neste pro-
cesso de vontade, o adolescente não está sozinho: a vontade é colectiva, na
medida em que é no grupo e com o grupo que vai conseguindo concretizar as
suas aspirações.

É, assim, em Comunidade, no Empreendimento, que pode atingir o culminar do


crescimento na secção: a capacidade de construção (Agir) dos seus sonhos e a
experiência adquirida ao longo de todo o processo são o legado que transportam
consigo ao partir para uma nova fase.

Para apoiar e ajudar na percepção do alcance do imaginário que lhe é proposto, o pio-
neiro pode ainda ser chamado a conhecer e a seguir o exemplo de Grandes Pioneiros da
História da Humanidade. Tomemos, a título de exemplo, nomes de personalidades como
Leonardo da Vinci, Padre António Vieira, Albert Einstein, Marie Curie, Florence Nightin-
gale ou Isadora Duncan, entre muitos outros.

Boas práticas:

Lista aberta de grandes pioneiros:


Ou no abrigo, num cartaz, ou num apontamento pessoal ou da Equipa, é boa prática ir construindo, com o
tempo, uma lista dos Grandes Pioneiros. Uma lista de nomes, com uma menção biográfica (como data de
nascimento e de morte, se for caso disso) e a nota da razão que justifica o título de grande pioneiro.
Esta lista pode revelar-se importante como apoio na procura de imaginários para o empreendimento, na
preparação de actividades de reflexão ou outras e, acima de tudo, como referência e ajuda na hora de
escolher um grande pioneiro da humanidade para dar nome à Equipa.
Esta lista deve ir sendo actualizada a todo o tempo e, eventualmente ser transmitida às ‘gerações
seguintes’ pela história da Comunidade.

Documentos: filmes, documentários e séries televisivas:


Há alguns filmes, documentários e séries televisivas que podem ajudar a compreender e a visualizar
melhor do que falamos quando nos referimos a um pioneiro. Há canais especializados na exibição de
biografias de grandes pioneiros. Documentários sobre primeiros navegadores, sobre os primeiros colonos
das novas terras do Novo Mundo, mas, também, nos primeiros astronautas, nos cientistas e nos investi-
gadores da modernidade entre outros.
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Bibliografia:
Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.

Simbologia dos pioneiros

O pioneiro que vive sobre a máxima Saber, Querer e Agir, sendo fiel a si próprio e aos
seus sonhos, facilmente se revê em símbolos como a Gota de Água, a Rosa-dos-Ventos,
a Machada e o Icthus (peixe, símbolo dos primeiros cristãos).

Para alguém que sente necessidade de mudar, de construir o seu espaço e o seu mundo
onde nada existe, estes símbolos apresentam-se como ferramentas de transformação:

A Gota de Água é símbolo da pureza que vem de Deus. É para nós, tam-
bém, o símbolo do próprio pioneiro, do jovem enquanto pessoa, indivíduo.
Procuramos que seja transparente — consigo próprio e com os outros. Que
seja alento e alimento para os que o rodeiam. Que consiga fazer parte de
um grupo, juntar-se a outras gotas e tornar-se torrente. Nesta individualidade
procuramos salientar o SABER. O saber-Ser, o saber-Estar, o saber-Fazer e
todos os outros saberes que vêm à tona, resultado do combate que o pioneiro
trava consigo próprio pela marca da individualidade. A Gota de Água torna-se,
portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvi-
mento Intelectual, Espiritual e Afectivo.

A Rosa dos Ventos é símbolo do rumo certo, da boa escolha, da decisão


ponderada – daquela que encontramos quando seguimos o projecto de Deus.
É para nós, também, o símbolo daquilo que é a vida do pioneiro, nas suas es-
colhas, na sua atitude, no que quer dos outros. Procuramos que tome sempre
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o rumo certo, que esteja preparado para optar, para escolher… Que possa
falhar, errar, mas em segurança, e que aprenda, que tire das experiências
lições de vida. Que seja, de igual modo, portador de vontades, agregador de
desejos e de disponibilidade. Procuramos, com a Rosa dos Ventos, salientar o
QUERER. A importância da escolha, das suas consequências, mas, também,
a importância da vontade, da disponibilidade. A Rosa dos Ventos torna-se,
portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvi-
mento Social, Afectivo e Espiritual.

A Machada é símbolo da construção, da acção, da transformação do mundo


segundo a vontade de Deus. É para nós, também, o símbolo daquilo que é o
potencial do pioneiro, das suas capacidades, da sua energia transformadora,
do resultado final da combinação do que quer com o que sabe... Procuramos
que esteja apto a fazer, que domine a técnica, que consiga converter o sonha-
do, o desejado, em matéria, em realização e realidade. Procuramos, com a
Machada, salientar o AGIR. A Machada torna-se, portanto, um símbolo apro-
priado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Físico e do Carácter
e também Espiritual, pois esta dimensão está sempre presente em toda a
acção, ainda que nem sempre de forma explícita.

O Icthus é símbolo da presença de Jesus Cristo, entre os homens, que esta-


belece para sempre a nova e eterna Aliança. O peixe simboliza Jesus Cristo
– a palavra peixe, em grego, escreve-se Icthus (embora a transliteração do
grego pudesse sugerir, mais exactamente, ICTHYS), que foi, pelos primei-
ros cristãos perseguidos, adoptado como acróstico de "Jesus Cristo, Filho
de Deus, Salvador” (Iesus Christos Theou Uios Soter) e símbolo secreto de
identificação mútua. É para nós, também, o símbolo da evidência e da ma-
terialização de Deus à nossa frente, como alimento do corpo e da alma. É,
também, símbolo do patrono, São Pedro, um pescador que, convertido, se
tornou pescador de homens e testemunho da construção do novo reino inau-
gurado por Cristo. Procuramos que, para o pioneiro, o Icthus seja símbolo de
fé, mas também de lógica e racionalidade assente na incarnação do Verbo
de Deus, na «materialização» de Deus em Cristo, pois fé e razão não se con-
trapõem. Procuramos, com o Icthus, salientar o ACREDITAR consciente. O
Icthus torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas
de desenvolvimento Espiritual e, também, do Carácter e Intelectual.

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O azul do céu e do mar

A cor azul não é, pelo menos formalmente, um símbolo. Mas sendo um sinal distintivo da
secção ao qual é atribuída uma justificação simbólica, temos de a ele fazer referência.
O azul dos pioneiros recorda – como é referido no momento da imposição do lenço,
logo após a promessa – “a imensidão do céu e a profundidade dos mares, simboliza a
grandeza do ideal 'sempre mais longe' no serviço do bem” que na promessa o pioneiro
promete viver.

Linguagem simbólica nos pioneiros

O enquadramento simbólico da secção integra, ainda, um conjunto de outros conceitos e


nomenclaturas usados na terceira secção que importa fazer notar. No código dos pionei-
ros palavras como Pioneiro, Equipa, Comunidade e Abrigo têm significados precisos.

Pioneiro é o adolescente jovem que integra a terceira secção no CNE. A razão de ser da
utilização desta palavra é amplamente explicada acima. Um conjunto de pioneiros, com
uma identidade própria, objectivos comuns e relações formais de co-responsabilidade
constitui uma Equipa, termo facilmente perceptível e enquadrável. No âmbito da ciência,
por exemplo, onde o objectivo é inovar, e onde há grandes pioneiros, o trabalho é feito
por equipas de investigação.

A palavra Comunidade, que designa o conjunto dos pioneiros e das suas Equipas numa
unidade, tem uma grande carga simbólica. Os pioneiros (aqueles que inovam, desbra-
vam, que se instalam, que constroem, que desenvolvem) na história e no quotidiano
organizam--se em comunidades. A comunidade dos primeiros cristãos, as comunidades
de pioneiros colonizadores nos novos territórios, a comunidade científica que engloba o
conjunto dos investigadores pioneiros, e, mais recentemente, as comunidades virtuais
que se criam na internet nas redes sociais e outras. São termos usados nestes contextos
e facilmente reconhecíveis por todos.

Mesmo em termos semânticos, a palavra Comunidade é uma mais valia no contexto


escutista: uma Comunidade de pioneiros congrega, nestas idades, especialmente, a
"qualidade daquilo que é comum". Pretende-se, assim, que haja elos de ligação entre os
pioneiros, elos que os ligam na diversidade das características de cada um. A palavra
Comunidade elogia o aspecto ideal do conjunto dos pioneiros, a união na diversidade.

Para além disto, uma Comunidade de pioneiros procura ser uma "Sociedade", onde os
jovens ensaiam relações sociais e escolhas, têm vivências, experimentam em ambien-
te de perfeita segurança, planejam e desenvolvem em conjunto projectos organizados,
a que chamamos Empreendimentos. Uma sociedade/comunidade com "Identidade",
com "Paridade" (aspecto tão importante na relação educativa nos pioneiros) garante ao
pioneiro o lugar a salvo, o porto de abrigo que deve ser, também, o conjunto dos seus
amigos, das pessoas que o estimam e por quem ele sente estima. Faz sentido, assim,
ter um Abrigo como local, a sede, onde os pioneiros têm instalado o seu património. O
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abrigo é um termo associado à ideia de ter sido construído para proteger. Porto de abrigo
é, também, espaço de protecção e de serenidade.

A nível dos escuteiros marítimos, a nomenclatura está também adaptada à secção. Ao


adolescente, ao jovem escuteiro integrado na terceira secção do CNE num agrupamento
marítimo, chamamos Marinheiro. O uso da palavra adapta-se plenamente ao imaginá-
rio da secção, em contexto náutico. O marinheiro é alguém que se dispõe a arriscar a
adoptar um estilo de vida desprendido na concretização de um sonho e de uma missão
na perspectiva da máxima: Saber, Querer e Agir.

O conjunto de marinheiros que aceita viver sob uma identidade própria, relações formais
de co-responsabilidade e objectivos comuns é uma Equipagem – termo sinónimo da
tripulação de uma embarcação. A palavra Frota – expressão de natureza náutica, en-
tendida como o conjunto de navios dispostos a navegar juntos – designa a Unidade dos
marinheiros e das suas Equipagens.

Aos projectos organizados pela frota de marinheiros, no sentido da vivência de activi-


dades e experiências, em ambiente de perfeita segurança, por si planeadas e desen-
volvidas, em conjunto, chamamos Cruzeiros. O Abrigo é, também nos agrupamentos
marítimos, o local, a sede, onde os marinheiros têm instalado o seu património e têm
definido o seu local de reunião e de “porto” seguro.

Boas práticas:

Os símbolos como identificação da secção:


Ter no Abrigo uma representação dos quatro símbolos da secção – com objectos ou representações
gráficas – é importante para que a Comunidade tenha presente esses elementos como pertença co-
mum dos pioneiros de toda a associação. É, também uma boa prática usar os símbolos como sinal distintivo
da secção dentro do agrupamento – para marcar objectos da Comunidade, para sinalizar a localização do
abrigo, dos avisos exclusivos da Comunidade, etc. Ajuda, desta maneira, a que todos – mesmos os que não
pertencem à Comunidade – associem a simbologia à secção.

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“O nosso azul”

É um poema que foi escrito e utilizado como hino do Campo dos Pioneiros no XVIII Acampamento
Nacional do CNE, no Palheirão, em 1992, e simboliza bem o que pode ser uma forma interessante de
fazer chegar a simbologia aos pioneiros e trabalhar de forma criativa, com a música, por exemplo, esta
temática:

O NOSSO AZUL
(Hino dos Pioneiros no XVIII ACANAC)

O nosso azul, cor do céu e do mar,


Dá-nos mais força, para lá chegar.
Chegar é ser feliz, sentir-te perto de mim
Poder cantar e rir, dizer-te sempre que sim.

Somos pioneiros, e sempre os primeiros,


Queremos viver, sempre a crescer.
Pega na mochila, na tua viola,
Vamos em equipa, todos acampar.

Vamos acampar, para serra e para o mar,


E à fogueira, as cantigas ao luar.
Seguimos a pista, de mãos dadas,
E, em conjunto, rumo ao fim.

Somos pioneiros, construtores do Mundo,


Sentimos força, p´ra criar e lutar.
Protege o verde, que nos deixa viver,
Estar sempre Alerta para Servir.

Bibliografia:
Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.
Cartões com Enquadramento Simbólico, Edições CNE.

117
manualdodirigente

III. Cerimoniais

A mística e o imaginário de cada secção, embora presentes em todas as actividades,


encontram expressão concreta nos diversos cerimoniais escutistas.

Eis alguns exemplos de cerimoniais tipicamente escutistas:

Abertura e bênção do Fogo de Conselho, Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Guias, Investidura
de cargos, Totemização, entrega de insígnias, Passagens de secção etc.

Todos possuem em comum o facto de utilizarem os símbolos das secções e linguagem tipicamente
escutista.

Cuidados a ter nos cerimoniais escutistas

Os cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem
um cunho pedagógico que deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto acon-
teça, os cerimoniais devem:

Estar envolvidos por um ambiente escutista, tanto a nível dos conteúdos (Leis,
exemplo de B.-P., patronos, etc.), como a nível da elaboração (cânticos, ima-
gens escutistas, etc.), o que implica desenvolver um ambiente “místico” (com
recurso a sons, imagens, etc.) que contribua para uma maior receptividade da
mensagem. Será indicado, sempre que possível, utilizar o espaço da Natureza
para as realizar (é preciso não esquecer que a Natureza é o espaço privilegiado
para todas as actividades escutistas);

Revestir-se de dignidade e de respeito pelos valores escutistas;

Possuir uma carga formativa, utilizando símbolos, linguagem e duração adequa-


da à secção a que se dirigem;

Implicar uma participação activa dos escuteiros (não ficam apenas a ouvir), de
forma a que se sintam integrados na Unidade. Envolver directamente o grupo a
que se destina, recorrendo ao auxílio dos elementos e a alusões sobre as suas
características, induz a que todos se sintam envolvidos e motivados. Este envol-
118
manualdodirigente

vimento deve implicar alguma flexibilidade, para que todos se sintam à vontade
para participar;

Ser preparados correctamente e com antecedência (a nível de materiais, dura-


ção, ensaios), integrando-se de forma adequada na vivência das secções e na
idade dos participantes;

Ir variando de tempos a tempos: se os cerimoniais nunca mudam, o que de início


pode parecer que reforça a coesão do grupo (por se tratar e uma tradição) pode
acabar por se tornar antiquado e desmotivante. Convém, por isso, efectuar, de
vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos usados e dos valores
explorados, para que se possa modificar o que está desactualizado, desadequa-
do ou incoerente.

Papel do Dirigente nos cerimoniais de Equipa :

O dirigente deve ter a preocupação de auxiliar os seus elementos a construir cerimoniais


que veiculem valores, mesmo nos cerimoniais exclusivos da Equipa. Deve, ainda, ajudar
na compreensão de valores místicos da Secção, de gestos, fórmulas e acções desenvol-
vidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e validade.

Bibliografia:
Cerimoniais do CNE, Edições CNE
Caminho a seguir, Edições CNE.
Maria Amélia Gama

119
manualdodirigente

C.2.4 Mística e simbologia no Clã

I. Mística dos Caminheiros e Companheiros: «A vida no Homem Novo».

A construção da Igreja de Cristo, sinal da maturidade da fé, projecta o Homem para o


mundo. O cristão, chamado a ser «sal da terra», «luz do mundo» e «fermento na mas-
sa», assume o seu lugar activo na construção dos «novos céus e da nova terra». O Reino
de Deus, cuja lei está sintetizada nas Bem-Aventuranças, é a vida em Cristo, o Homem
Novo: essa é a meta a alcançar pelo caminheiro.

Neste sentido, o caminheiro é chamado a assumir integralmente o ideal do Homem


Novo. Sabe que a novidade não consiste na adesão permanente às últimas modas, mas
sim na descoberta, aprofundamento e assunção dos valores genuínos que estão ligados
à própria natureza do Homem e que, por isso mesmo, o farão ser mais feliz. Assim, não
busca uma felicidade ligada a coisas efémeras (dinheiro, fama, prazer, vicio, …), mas
a verdadeira Felicidade, aquela que tem como referência a novidade radical das Bem-
Aventuranças.

Num tempo como o que se vive, de extraordinários avanços em todos os campos e em


que o progresso parece não ter limite, é cada vez mais necessário mergulhar no interior
de si mesmo para encontrar algo verdadeiramente inovador: a vontade de amar, o gosto
de fazer, a necessidade de partilhar, o desejo de viver, o prazer de Servir, a satisfação
de sentir, a emoção de criar. Neste sentido, a proposta que é feita aos caminheiros não é
meramente romântica. É uma proposta concreta destinada a ser vivida todos os dias na
sua escola, no seu trabalho, com os seus amigos, com a sua família, etc. Dentro do seu
mundo estarão assim, a ser, artesãos de um mundo novo.

De forma a potenciar a descoberta da verdadeira felicidade, o caminheiro é convidado a


ter como exemplo São Paulo, o escolhido para o anúncio da Boa Nova aos gentios. De
facto, São Paulo é ícone da universalidade da Igreja: a salvação que Cristo anuncia, e
inaugura, tem como destinatários os homens e mulheres de todos os tempos, lugares e
culturas.

Com São Paulo como Patrono, o caminheiro aprende a dialogar com todas as pessoas,
no respeito pela diferença e pelo ritmo de cada um, mas afirmando a existência de um só
caminho para a salvação: Cristo Jesus. Sem medo de o afirmar, o caminheiro assume
o seu lugar activo na sociedade, procurando dar um contributo para que o Homem se
realize plenamente, de acordo com o projecto de Deus. A vida em Cristo, o Homem Novo,
é a meta para a qual caminha, até que possa dizer um dia, como São Paulo, «já não sou
eu que vivo; é Cristo que vive em mim» (Gal. 2,20).

Os caminheiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras bíbli-
cas e santos que serão também, para eles, modelos de vida. Ex.: Abraão, Moisés, São
João Baptista, São João de Deus, Beata Teresa de Calcutá, Santa Teresa Benedita da
Cruz, Beato João Paulo II, Santo Inácio de Loyola,... A estas figuras da Igreja, juntam-se
ainda grandes personalidades da História, como Aristides Sousa Mendes, Aung San Suu
120
manualdodirigente

Kyi, Wangari Maathai, Mahatma Ghandi, Martin Luther King e Nelson Mandela, entre
outros: são exemplo de grandes Caminheiros, que deixaram caminho a seguir pela vida
que viveram ou vivem.

«(…) foi o ter-se adoptado e desenvolvido a tal ponto o Caminheirismo nou-


tros países, que este constitui já o núcleo duma Fraternidade universal de
jovens orientados pelo mesmo ideal de SERVIR, ligados pelos laços de
amizade e bom entendimento.

É este, a meu ver, um passo decisivo para o nosso objectivo, que é promo-
ver, na terra, entre os homens, o estabelecimento do Reino de Deus, de Paz
e de Boa Vontade.»
B.-P. – A Caminho do Triunfo

Os caminheiros são ainda convidados a olhar para algumas passagens bíblicas de forma
especial, apesar de terem sempre o todo da Palavra de Deus como alimento de vida.

Uma é a passagem do Evangelho de São Lucas sobre o Caminho de Emaús (Lc. 24, 13-
35), uma das que melhor descreve o Caminheirismo, percurso de revelação, descoberta,
decisão e alegria, onde se propõe aos caminheiros que experimentem o verdadeiro sen-
tido de fazer caminho: descobrirem permanentemente o que os rodeia e, principalmente,
quem os rodeia. A exemplo de São Paulo, o desafio é Caminhar sem nunca desistir ou
parar, tentando perceber os sinais que, permanentemente, encontram no caminho.

Outra é a passagem relacionada com as Bem-Aventuranças (Mt. 5, 3-12), propostas


como o caminho para a Felicidade.

Bem-Aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu.


Bem-Aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-Aventurados os humildes, porque possuirão a terra.
Bem-Aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de
Deus.
Bem-Aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles
é o Reino do Céu.
Bem-aventurados sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, dis-
serem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-
vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perse-
guiram os profetas que vos precederam.
(Mateus 5, 3-12)
121
manualdodirigente

As Bem-Aventuranças podem ser difíceis de compreender à primeira vista, pois valorizam


comportamentos e valores antagónicos aos que a sociedade nos habituou a valorizar.

Ser Bem-aventurado significa ser Feliz. Podemos afirmar sem receio que, as Bem-
-Aventuranças ensinam-nos um revolucionário caminho para a felicidade a que aspira todo
o ser humano. Não a felicidade como o mundo a vê e propõe ­– material e efémera –, mas
a verdadeira felicidade.

As Bem-Aventuranças são, no fundo, um programa de vida cristã e abrem-nos o caminho


para uma vida em Cristo, com Cristo e para Cristo.

Nesta mensagem, Jesus ensina a maneira de vivermos para que o mundo seja um lugar
muito melhor para todos. E dá os critérios para podermos avaliar o que realmente tem
valor na vida.

Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos


céus.

Pobres em espírito são aqueles que, mesmo possuindo bens materiais, conseguem não
ter o coração preso a eles. Não quer dizer que a pobreza seja um bem ou que se tenha
que passar por ela para se poder ser feliz. O que Jesus anuncia é que somente aqueles
que por livre escolha não ficam presos ao material e se colocam à disposição dos outros,
alcançarão o Reino do Céus. Assim, quem é materialmente rico, atingiu uma posição
social de prestígio e se torna altivo, humilhando os menos afortunados e pensando ape-
nas em si, não caminha para a felicidade. Mas se põe as suas próprias capacidades e
dons ao serviço dos outros, se dá a sua disponibilidade a quem precisa de ajuda, então
é pobre em espírito.

Esta mensagem não é de resignação, mas de esperança: ninguém mais estará em situ-
ação de necessitado quando todos se tornarem pobres em espírito, colocando os dons
que receberam de Deus ao serviço dos irmãos.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

Segundo o profeta Isaías, os que choram são aqueles que não têm uma casa onde habi-
tar, que não têm campos para cultivar, que experimentam uma dor profunda perante uma
sociedade dominada ainda pela injustiça e que estão insatisfeitos e esperam de Deus a
salvação. No entanto, quem acredita, não tem motivo para dor e lágrimas e será conso-
lado, pois a felicidade não está no que se possui, está no modo como se vive a vida.

Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra.

No sentido de Santa Teresa de Jesus, «a humildade é a verdade». O Humilde é aquele


que aceita a verdade da sua condição, reconhecendo aquilo de que é capaz, mas tam-
bém as suas limitações. A humildade é o sentimento fundamental evangélico. Humildes
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são, assim, os que são pacientes, tolerantes e servos de todos; aqueles que confiam em
Deus e esperam a vinda do Seu reino; aqueles que, diante das injustiças, assumem as
suas convicções e não respondem do mesmo modo que são tratados.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão


saciados.

Justiça no Evangelho é sinónimo de Salvação, isto é, participação na vida de Deus. Assim,


os que procuram justiça não procuram castigo, mas salvação, arrependimento e a recupe-
ração de quem fez mal, cometendo o pecado. Quem experimenta esta fome e esta sede
para a salvação do irmão, será saciado. Ser justo não é julgar, mas dar a mão.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

Na Bíblia, a misericórdia, mais do que um sentimento de compaixão ou perdão, é uma


acção em favor de quem necessita de ajuda. O exemplo mais claro é o do samaritano
que usou de misericórdia para com o homem agredido pelos bandidos (Lc. 10, 30-37).

Misericordiosos são aqueles que fazem obras de misericórdia. Os que não olham para
si, pondo-se ao serviço dos outros, os que se empenham para que as pessoas necessi-
tadas encontrem aquilo de que precisam. Por assim procederem, encontrarão a miseri-
córdia dos outros e de Deus.

Bem-Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus

Não tem coração puro aquele que serve dois senhores, que se guia pelo bem e pelo mal
conforme precisa, o que tem uma conduta que não está de acordo com a fé que professa.

Os puros de coração são aqueles que têm um comportamento ético conforme a vontade
de Deus, aqueles que têm um coração indiviso, os que não amam simultaneamente
Deus e os ídolos, mas que souberam escolher qual o verdadeiro caminho que leva à fe-
licidade. Os puros de coração são Bem-Aventurados porque é a eles, e somente a eles,
que é dado fazer uma profunda experiência de Deus.

Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados


Filhos de Deus

Paz não significa somente ausência de guerras. Indica bem-estar, prosperidade, justiça,
saúde, alegria, harmonia com Deus, com os outros e consigo mesmo.

Bem-Aventurado é, sem dúvida, aquele que, sem recorrer à violência ou uso de armas,
se empenha com todas as forças para pôr fim às guerras e aos conflitos através do diá-
logo, da concórdia e da paz.

Os operadores da paz não são os que se resignam. São os que recusam o uso da violên-
cia para restabelecer a justiça, não se deixando levar pela ira e por sentimentos de ódio
123
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e de vingança. São aqueles que se empenham para que esta vida plena seja possível
para cada homem. A eles está reservada a mais linda das promessas: Deus considera-
­-os seus filhos.

Bem-Aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,


porque deles é o reino dos céus

Jesus não glorifica a perseguição, nem considera os que sofrem mais importantes que
os outros. Declara que os que são perseguidos não são abandonados por Deus, mes-
mo que sejam abandonados pelo Homem. Assim, os que sofrem são felizes porque o
fazem pela sua fidelidade ao Senhor e a perseguição torna-se motivo de alegria porque
demonstra que foi feita a escolha certa, aquela que está de acordo com a sabedoria de
Deus. De facto, a única força capaz de romper a espiral de violência é a do amor e do
perdão.

“A Igreja vê-vos com confiança e espera que sejam o povo das


Bem-Aventuranças!”

Papa João Paulo II – Mensagem para a


XVII Jornada Mundial da Juventude

Bibliografia:
SANTOS, Albertine et al., Onde moras? Uma história de encontro – Guia para a iniciação das crianças à fé cristã. Prior Velho:
Paulinas, 2006.
DUMAIS, Marcel, Sermão da Montanha. Lisboa: Difusora Bíblica, 1999.

Simbologia dos Caminheiros e Companheiros

As dimensões

De forma a reforçar a Mística da Secção, o itinerário do caminheiro vive-se em torno de


quatro dimensões que adquirem um valor simbólico: Caminho, Comunidade, Serviço e
Partida. É um itinerário de progressão pessoal, de tomada de consciência das possibi-
lidades de evolução, de pensamento, que se lhes oferece na vida em Clã e na vida de
cada dia. No final deste itinerário, o caminheiro está a franquear as portas da vida adulta,
livre e responsável, prestes a tomar a vida nas suas mãos.

Este itinerário tem assim quatro vertentes: é individual, mas também comunitário, está vi-
rado para o serviço aos outros e para o desafio do desconhecido. Essas quatro vertentes
estão presentes nas quatro dimensões em que o caminheiro vai crescendo:
124
manualdodirigente

O percurso individual – o Caminho

Nos caminheiros, o jovem é desafiado a escolher um itinerário de descoberta e


de acção que o leve a tornar-se construtor de um Mundo Novo. O Caminho sig-
nifica, então, a abertura, a largueza de vistas, o apelo do horizonte, a capacida-
de de aceitar a mudança, de viver na própria mudança. É, também, um espaço
de vida despojada, de rejeição do supérfluo, de atenção ao essencial. Por fim, é
um lugar de perseverança, de experiência de uma lenta e paciente construção
de si mesmo, de aprendizagem da capacidade de se comprometer para além
do imediato. Graças a isto, este Caminho dos caminheiros é, tal como o dos
Peregrinos, testemunho de vida cristã.

Ser caminheiro é ser mais (superar-se a si mesmo)… É ser Peregrino: no Cami-


nho de Emaús, Cristo Ressuscitado revelou-se aos seus discípulos, caminhan-
do com eles lado a lado…

O percurso em grupo – a Comunidade.

Durante o Caminho, o jovem é interpelado a avançar lado a lado com o outro.


O Caminho ajuda-o, assim, a desenvolver a sua capacidade de acolher o outro,
de o ajudar a avançar, de se deixar ajudar, de partilhar com ele as alegrias e
tristezas da jornada.

A Tribo é o espaço privilegiado para esta relação, já que é nela que se vive o
início da comunhão que se potencia depois na vivência em Clã.

Ser caminheiro é ser com (participar na Caminhada com os outros)… É ser Dis-
cípulo: no Caminho de Emaús, Cristo foi reconhecido pela fracção do pão…

Um percurso com sentido - o Serviço.

É o apelo das Bem-Aventuranças que dá sentido ao caminho conjunto, que se


torna assim experiência de comunidade, de partilha, de amor e de construção da
paz. Contudo, segundo este apelo, a comunidade não pode viver eternamente
virada sobre si mesma.

Viver o Serviço é um compromisso de cada instante que o caminheiro expressa


ao longo do seu itinerário. Este Serviço é algo natural que não implica forçosa-
mente um acto físico ou um dom material, na medida em que pode assumir-se
como um suporte moral, um intercâmbio ou outras coisas ainda. Para além disto
é gratuito, embora enriqueça quem o presta: o Serviço é uma dinâmica de des-
coberta, vivida numa relação de amor fraterno, de “receber, dando-se em troca”.
Neste sentido, ‘Servir’ é tornar-se apto para a missão.

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manualdodirigente

Esta vivência do Serviço deve ser experimentada individualmente, em Tribo e


em Clã, devendo ser convertida em acções de longo termo que denotem uma
vontade de compromisso e não surjam apenas como “mini- -serviços” rápidos e
sem continuidade.

Ser caminheiro é ser para (tornar-se apto para a Missão)… É ser Testemunho:
no Caminho de Emaús, Cristo serviu os seus discípulos ao explicar-lhes as Es-
crituras…

Um percurso para a vida: a Partida.

O caminheiro tem de avançar progressivamente para a sua Partida, que expri-


me simbolicamente que o acto de caminhar é mais importante do que o acto de
chegar. É por isso que, no final do seu tempo de caminheiro, quando sai do Clã,
o jovem não chega ao fim do seu caminho, mas parte para um novo caminho.
De facto, o fim de uma etapa significa sempre o início de outra e a Partida é o
momento de o caminheiro se lançar no caminho da vida e é também um ‘Envio’
(só pode haver Partida se houver quem envie).

Ser caminheiro é amar… É ser Enviado: no caminho de Emaús, Cristo, “partiu”...


E eles reconheceram-n’O vivo e ressuscitado.

Os símbolos

Estas quatro dimensões que o caminheiro vive na sua passagem pelo Clã, com vista a
preparar-se para a sua vida adulta, são coloridas por um certo número de sinais com
uma elevada carga simbólica: Vara bifurcada, Mochila, Pão, Evangelho, Tenda e Fogo.

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manualdodirigente

A Vara bifurcada é, antes de tudo, companheira e apoio no caminho. E, como


B.-P. tão bem sabia, muitas vezes na vida temos diante de nós dois caminhos
para seguir: o egoísmo e o serviço… A vara bifurcada torna-se, assim, o sím-
bolo da necessidade de o caminheiro fazer ou renovar a cada passo as suas
opções, as suas decisões e a rota que entende seguir nas encruzilhadas do
caminho, tendo sempre presente o compromisso que assumiu de aderir con-
tinuamente ao projecto das Bem-Aventuranças.

A Mochila convida o jovem a pôr-se a caminho, a arriscar, a decidir se quer


empreender ou não esta viagem que o pode levar longe. É ao caminhar de
mochila às costas que o caminheiro descobre o que é útil e o que é supér-
fluo, o que o faz penar e o que o impele para a frente. Descobre também a
diferença entre o acessório e o essencial: como na mochila só se deve levar
o essencial para a jornada, fazem parte do seu conteúdo, simbolicamente, o
Pão, o Evangelho e a Tenda. A mochila torna-se assim o suporte neste Cami-
nho, simbolizando o seu desprendimento e a sua determinação de ir sempre
mais além.

O Pão é alimento por excelência, fruto do trabalho de muitos homens e mulhe-


res. Quando é repartido por outros transforma-se em comunhão, na medida em
que ajuda a construir “humanidades novas” onde a fome de amor não aconteça.
Ser caminheiro alimentado por este Pão de cada dia é ser certeza da constru-
ção de um mundo melhor onde todos se reconhecem como irmãos.

O Evangelho representa a importância que Jesus Cristo tem para o cami-


nheiro: a Boa Nova anunciada e oferecida a toda a Humanidade é a referência
máxima do amor que se dá até ao fim numa Cruz. Nessa Cruz podemos ver
o sinal «mais» onde acontece a Nova Aliança entre o Céu e a Terra, entre o
Divino e o Humano... Sempre que a nossa vida se transfigura à luz desta Vida,
o Reino de Deus torna-se mais visível.

A Tenda, transportada na mochila, é sinal da mobilidade do caminheiro, da


sua capacidade de se fazer ao largo, da sua prontidão para se pôr em mar-
cha. Ao ser montada, demonstra a necessidade de paragem temporária, de
descanso. A tenda também é sinal de acolhimento dos outros, da presença de
Deus no meio do seu povo.

O Fogo simboliza a descida do Espírito Santo. No Escutismo, reúne, aquece


e ilumina a história que somos: à volta de uma fogueira muito acontece, desde
conselhos dos mais velhos a olhares dos mais novos. São vidas que se cons-
troem, aquecidas por outra Vida que dá mais vida - uma força transformadora
a que chamamos Espírito Santo. A sua descida sobre cada caminheiro ilumina
e renova cada passo e projecto.

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A cor do fogo e do sangue

O lenço dos caminheiros é de cor vermelha. Na Liturgia, é a cor do Espírito Santo e,


assim, relembra permanentemente aos caminheiros a presença Dele nas suas vidas.
É também cor do sangue e, por isso, símbolo de vida e de amor. Assim, o lenço rubro
lembra ao caminheiro que ele é vida, é testemunho, é força, é energia, é calor e, por isso,
não pode parar… A sua vida tem que ser uma caminhada permanente. O caminheiro não
se acomoda…É uma alma inquieta que procura sempre mais.

A linguagem simbólica

Também as designações associadas aos caminheiros se revestem de simbologia. A sua


escolha foi feita tendo como base a mística do caminheiro e aquilo que se pretende que
ele viva na sua passagem pelo Clã. Ao assumir como sua esta linguagem tão própria, ele
assume também parte da sua identidade enquanto caminheiro.

Clã foi desde sempre o nome atribuído por Baden-Powell à secção dos caminheiros; por
achar que estes deveriam ter laços fortes entre si, semelhantes aos laços familiares dos
clãs escoceses. Daí também considerar o Caminheirismo uma Fraternidade.

Na génese da sua definição, Tribo é o mesmo que 'Família' ou 'Clã'. No entanto, olhando
para a história da Igreja, encontramos as 12 Tribos de Israel que provinham do Clã de
Jacob. A maioria destas tribos eram nómadas, caminhantes sem morada permanente. É
esta a forma de estar que se espera das Tribos de caminheiros: que sejam despojadas
e estejam sempre prontas a partir para uma Caminhada, projecto planeado, organizado
e executado em conjunto.

À frente de cada Tribo está um Guia, ajudado pelo seu Subguia. Pretende-se que este ca-
minheiro lidere e seja Guia para os outros, não um chefe autoritário. Que seja um exemplo
a seguir, não só para a sua Tribo, mas em todos os contextos em que se insere.

O Albergue é um local de pernoita, onde os peregrinos descansam da jornada, mas


onde não pensam ficar. Mais do que um local de chegada e acolhimento, é um local de
partida para um destino maior. Assim sendo, como o local de reunião dos caminheiros,
é um local de partida para a jornada constante rumo à Felicidade e a Jesus Cristo – o
Homem-Novo.

A nível do escutismo marítimo, também existe nomenclatura específica, adequada à es-


pecificidade destes escuteiros.

Os Companheiros formam uma Comunidade. Assim como as comunidades piscató-


rias, em que muitas vezes são formadas por descendentes de uma mesma família, por
gente que defende os seus e as suas tradições, pretende-se que a Comunidade dos
Companheiros seja um grupo de laços estreitos, onde se cultivem ideais e responsabili-
dades, onde se planeiem e executem projectos em conjunto.
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Companhas é o nome, atribuído tradicionalmente à tripulação de um barco ou a um


conjunto de pescadores que partilham a faina marítima. Os Companheiros devem seguir
o mesmo ideal de grupo fraterno e unido que, tal como a tripulação de um barco, tem
que saber o rumo a seguir e todos têm que se esforçar para poderem avançar, em vez
de ficarem à deriva. Este é o ideal defendido por B.-P. para a IV secção: uma grande
Fraternidade.

A Companha é liderada por um Arrais. O arrais de um barco deve ser um guia, pessoa
que reúne consensos e cujo principal objectivo é levar a sua embarcação e os seus a
bom porto.

Tal como o Clã, a Comunidade abriga-se num Albergue, pois o seu lugar é a navegar,
apenas precisam de um local onde reabastecer, restaurar forçar e de onde partem para
outros destinos, destinos maiores.

Bibliografia:
SANTOS, Albertine et al., Onde moras? Uma história de encontro – Guia para a iniciação das crianças à fé cristã. Prior Velho:
Paulinas, 2006.
DUMAIS, Marcel, Sermão da Montanha. Lisboa: Difusora Bíblica, 1999.

II. Cerimoniais

A mística da IV secção e respectiva simbologia (que ajuda a colorir as vivências dos


caminheiros) devem estar sempre presentes nas actividades e na vida da Tribo e do Clã.
Mas há momentos na vida dos caminheiros em que devem estar especialmente presen-
tes: nos cerimoniais.

Exemplos de cerimoniais escutistas:


- Abertura e bênção do Fogo de Conselho
- Vigília de Oração
- Promessa Todos possuem em comum o facto de
- Investidura de Guias utilizarem os símbolos da secção e
- Investidura de cargos linguagem tipicamente escutista.
- Totemização
- Entrega de insígnias
- Partida,
- etc.

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Os cerimoniais devem estar envolvidos por um ambiente escutista, sendo o momento


ideal para relembrar Leis, ensinamentos do Fundador, exemplos dos patronos, etc. Os
cânticos devem ser adequados e os símbolos devem ajudar a desenvolver um ambiente
místico que contribua para que a mensagem seja correctamente apreendida. Na medida
em que, para o Escutismo, a Natureza é um espaço incomparável de crescimento e
aprendizagem, deve-se, sempre que possível, utilizá-la nas cerimónias escutistas, que
devem ter sempre presente a Lei do Escuta, revestindo-se de dignidade e de considera-
ção pelos valores escutistas.

A preparação e realização de uma cerimónia implica sempre a participação activa dos


caminheiros, devendo permitir uma certa flexibilidade, para que todos se sintam confor-
táveis e motivados para participar. A preparação é quase tão importante como a própria
cerimónia, na medida em que ajuda a que tudo corra conforme o desejado e seja con-
ferida dignidade e importância ao acto que se vai realizar. A participação activa permite
que todos percebam que são parte integrante do Clã e compreendam que o que se está
a realizar é para eles e por eles, não sendo apenas uma tradição a manter.

Apesar de o CNE ter proposto cerimoniais para vários momentos, é importante que não
se caia na monotonia. De início, as estratégias podem ser as mesmas, na medida em
que, assim, permitem a construção de uma tradição que reforça a unidade do Clã. Con-
tudo, se nunca se inovar, as cerimónias podem vir a tornar-se obsoletas e desmotivantes.
Assim sendo, importa, de vez em quando, rever as estratégias utilizadas (renovando
dinâmicas, símbolos, valores mencionados, etc.), para que se possa modificar dar nova
vida às cerimónias.

Partida

A Cerimónia da Partida é exclusiva da IV secção e é um dos mais importantes cerimo-


niais dos caminheiros.

Note-se que a Partida não é para os que atingem os 22 anos, para os que querem sair
do CNE ou para os que vão ser Dirigentes… A Partida é um envio, é o reconhecimento
das vivências do caminheiro, por parte do Clã.

Assim sendo, não parte o que quer ir embora, mas sim o que é enviado. O caminheiro
que parte é aquele em que o Clã deposita a sua confiança, aquele que, ao longo da sua
caminhada na secção, provou viver plenamente os valores escutistas. Assim, é aquele
que é exemplo de vida no Homem Novo e que o Clã envia para o mundo por ser boa
semente.

No escutismo marítimo, a Partida designa-se por Largada.

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manualdodirigente

Oração da Caminheiro que parte

Senhor:
Ajuda-me a ser:
Bastante Homem, para saber Temer
Bastante Corajoso, para saber Vencer
Bastante Sincero, para a Deus Conhecer
Bastante Humilde, para a Deus Crer
Bastante Rico, para sempre Dar
Bastante Bom, para sempre Pedir
Bastante Enérgico, para sempre Exigir
Bastante Generoso, para sempre Perdoar
Bastante Forte, para sempre Ajudar
Bastante Recto, para sempre Guiar
Bastante Humano, para saber Amar
Bastante Cristão, para saber Viver e saber Morrer.

AMEN

Bibliografia:
Cerimoniais do CNE, Edições do CNE.
Sugestão:
Ler também “A Partida”, no capítulo do Sistema de Progresso deste manual.
Mafalda

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João Almeida

C.3 Vida na Natureza

C.3.0 O valor pedagógico do contacto com a Natureza

“A floresta é, simultaneamente, um laboratório, um clube e um templo”


B.-P.

O contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os


jovens é uma característica do escutismo e um dos elementos fundamentais do méto-
do escutista. Pelo valor pedagógico que contém, como espaço privilegiado para o jogo
escutista, como espaço de desenvolvimento de instintos, capacidades e da consciên-
cia crítica, como oportunidade de crescimento, como materialização, visível, da obra do
Criador, interessa, por isso, retirar dele todo o benefício.

De facto, para um escuteiro, o contacto com a Natureza é condição imprescindível para


um crescimento pessoal e colectivo. Neste sentido, é importante que a criança, o ado-
lescente e o jovem cresçam sentindo-se parte integrante da Natureza. Só assim perce-
berão que se deve velar por ela não apenas porque é necessário preservar os recursos
naturais disponíveis, mas porque, ao cuidar dela, estão a cuidar da sua própria 'casa',
ou seja, de si próprios e de todos os outros (irmãos escutas, família, amigos, colegas,
vizinhos, etc.).

a) Um laboratório

Graças ao avanço da ciência e da técnica, é cada vez mais possível optimizar o conforto
de vida a todos os níveis (desde a mobilidade à climatização, passando pela comunica-
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ção, etc.), contrariando o ambiente natural, o que nos isola do resto da nossa 'casa', a
Natureza. Por esta razão, a vida ao ar livre permite-nos experimentar sensações diferen-
tes e desafia-nos a criar, com o que temos ao nosso alcance e sem destruir, o conforto
que nos é necessário (protecção da chuva, lume para cozinhar, técnicas de orientação,
etc.) para nos sentirmos parte integrante da Natureza. No fundo, para nos sentirmos em
casa.

Neste sentido, e como considerava B.-P., o espaço natural é um laboratório. De facto, é


na Natureza – pela observação e pela comparação – que muitas vezes a criança, o ado-
lescente e o jovem descobrem outras formas de viver e compreendem o funcionamento
do seu organismo e de outros fenómenos naturais, que lhes permitem entender mais
facilmente as relações sociais que o Homem tem como qualquer animal social.

Para além disto, o contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens
em relação à gestão dos recursos naturais que toda a comunidade tem ao seu dispor e
ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte dessa mesma comunidade. De fac-
to, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza,
a criança, o adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e
de censura em relação aos seus pares e aos mais velhos — que lhes dão uma espécie
de autoridade moral essencial.

Porquê um laboratório?

Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadeiramente, as mais


importantes;

Porque é o espaço ideal para descobrir a criação de Deus, a forma como os


vários elementos se completam e sustentam e o papel do Homem em todo o
ecossistema;

Porque permite que cada um adquira a consciência de que é passageiro e não


dono do planeta;

Porque promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabi-


lidade individual;

Porque permite a aquisição de conceitos e valores relacionados com a Ecologia


e o desenvolvimento sustentável;

Porque possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas carac-
terísticas, entraves e obstáculos;

Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suficiência, de conhecimento


do seu próprio corpo e do ambiente que o rodeia.

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O papel do dirigente

Neste processo, compete ao dirigente incentivar os seus elementos a assumir


comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de
que o exemplo é o melhor meio de educação.

Por outro lado cumpre-lhe incentivar a realização de actividades que procurem


conhecer a história natural e as ciências da Terra e da Vida, investindo na obser-
vação e análise crítica da vida natural e da Natureza em estado puro e na preser-
vação de espécies e de ecossistemas.

b) Um clube

O espaço natural é, também, o palco preferencial para a realização de actividades escu-


tistas. A este nível, lembramo-nos imediatamente dos acampamentos, mas convém sa-
lientar que o contacto com a Natureza não se resume a eles: todo o jogo escutista deve
ter como território ideal o ar livre e a Natureza. De facto, é a partir da observação dela
e da vivência, individual e colectiva, no espaço natural que a criança, o adolescente e o
jovem compreendem o conjunto das regras instintivas que presidem à natureza humana
e sociedade, por exemplo.

Porquê um clube?

Porque a Natureza permite descobrir o ambiente natural, as regras sociais bá-


sicas e a cooperação instintiva com os pares, no Bando, Patrulha, Equipa ou
Tribo;

Porque é o melhor espaço para o jogo social espontâneo, e para o desenvol-


vimento da educação integral, sobretudo a nível da auto-disciplina, espírito de
equipa e valores morais;

Porque ajuda a desenvolver capacidades de adaptação a realidades naturais e


sociais diferenciadas conforme o local onde se 'joga';

Porque permite o confronto com ambientes menos confortáveis que levam os


escuteiros a superar as suas dificuldades e os incentiva a respeitar a Natureza.

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O papel do dirigente

Compete ao dirigente, a este nível, desenvolver, sempre que possível, a realiza-


ção de actividades e jogos escutistas em ambiente natural e ao ar livre, privile-
giando o trabalho de Bando, Patrulha, Equipa ou Tribo. Isto permite-lhe animar a
secção numa lógica de aproveitamento da Natureza como espaço para o cresci-
mento saudável e harmonioso dos escuteiros.

c) Um templo

A Natureza também deve ser, para crianças, adolescentes e jovens, um espaço de con-
templação e de deslumbramento, uma montra privilegiada para vivenciar Deus: de facto,
é o campo mais limpo e claro da Criação. Assim, todos devem ser convidados a descobrir
nela a beleza de toda a obra de Deus, as mais elementares intenções de sã convivência
e o poder do livre arbítrio dado por Deus ao Homem.

Porquê um templo?

Porque, nas palavras de B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas


maravilhosas e belas de que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”;

Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela razão e pela lógica,
a ligação a Deus;

Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a activação de


todos os sentidos e da própria natureza da pessoa.

Papel do dirigente

Neste domínio, seria importante que o dirigente entendesse que deve aproveitar o
ambiente natural como um espaço privilegiado para incentivar atitudes de oração,
através da contemplação e da reflexão sobre as maravilhas da Criação, auxilian-
do os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus. Para
além disso, cumpre-lhe ainda incentivar, sempre que possível a partilha fraterna
dos dons de Deus em nós.

Bibliografia:
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e
Paula Almeida. Edições CNE, 2004.
WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo. Edições CNE, 1990.

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C.3.1 A Vida na Natureza na Alcateia

A Alcateia vive, à partida, no meio da Natureza, tão simplesmente porque todo o seu ima-
ginário se desenrola aí: somos lobos a viver em comunidade, como na Selva de Seiouni
Máugli também viveu. Assim sendo, cativar o lobito para o contacto com a Natureza é
uma tarefa particularmente fácil: basta relatar as aventuras que Máugli viveu na Selva
e o que aprendeu no contacto com os outros animais. Para além disto, qualquer lobito
saudável gosta de estar ao ar livre, a correr, a esconder-se, a saltar poças, etc., embora
não se baste a si próprio. Tendo isto em conta, é fundamental que o dirigente promova
a vida ao ar livre em todas as actividades, usando-a como ferramenta para desenvolver
cada lobito em diversas vertentes.

A Natureza como laboratório

“Pelas belas e longas tardes de Verão a mãe loba conduzia os lobitos


em pequenas expedições para caçarem para si próprios. Não era nem
a grande rena nem a raposinha sagaz, como se poderia supor, mas
ratazanas, ratos e outra caça miúda – a isso se limitavam as ambições
da mãe para os seus filhotes. (...)
Era de espantar a rapidez com que os lobitos aprendiam que a caça
não se apanha sem trabalho, como se colhem as amoras, e alteravam
o processo de caça, rastejando em vez de correrem tanto à vista que
até o porco­-espinho teria de os ver, escondendo-se atrás dos rochedos
e arbustos, até o momento preciso, e caindo então sobre a presa como
um açor sobre uma formiga. Lobo que não saiba apanhar gafanhotos
nada vale na caça ao coelho – tal parecia ser o motivo secreto que
levava a mãe loba, nas tardes de sol, a não fazer caso dos matagais
onde a caça se acoitava em abundância e a conduzir os seus lobitos às
planícies secas do caribu. Aí, durante horas, eles caçavam os esquivos
gafanhotos (...) O jogo é o primeiro grande educador – isto é tão verda-
deiro para animais como para o Homem – e, para os lobitos, as suas
corridas perdidas atrás dos gafanhotos eram tão emocionantes como
para a Alcateia uma caçada ao veado, tão cheia de surpresas como
uma corrida pela neve macia atrás de uma ninhada de linces. E embora
o não soubessem, em todas as horas dessas tardes luminosas apren-
diam coisas que não esqueciam e lhe seriam úteis para toda a vida.”

W.Y.Long, Northern Trails, 59-61

Na fase de crescimento em que se encontram, os lobitos estão a desenvolver a activi-


dade dos sentidos (mexer, tocar, cheirar, ouvir, ver, sentir), a usar a interacção com o
meio envolvente para enriquecer e diversificar a memória e a linguagem e a descobrir
que existe o outro. Nisto seguem o exemplo de Máugli, também ele um menino curioso
e em crescimento.
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De acordo com isto, o contacto com a Natureza é uma ferramenta única para o correcto
desenvolvimento sensorial do lobito, uma vez que favorece a interacção com as coi-
sas reais (feitas de matéria concreta). Esta interacção não é em nada substituível pelas
imagens dos videojogos, mesmo quando simulam movimentos reais. De facto, apenas
o contacto com a realidade das coisas provoca sensações e estímulos que permitem
desenvolver realmente o lobito: através de um videojogo, uma criança pode desenvolver
toda a destreza ao nível dos 10 dedos da mão, mas nunca ao nível das pernas como se-
ria se de facto tivesse que saltar na realidade (que lhe permite ainda sentir coisas como
a respiração acelerada, o bater do coração, o vento na cara ao correr, etc.).

Para além disto, é neste contacto real com a Natureza que o lobito vai tomando consci-
ência das suas características, apercebendo-se da sua fragilidade e da necessidade de
a proteger de comportamento pouco ecológicos. De facto, o contacto com a Natureza
só será pedagogicamente vantajoso se conseguirmos tomar consciência da forma como
interferimos com o ambiente. Neste sentido, se soubermos a razão por que plantas e ani-
mais vivem em determinados locais e quais as suas características e hábitos poderemos
ajudar a proteger a vida selvagem. Da mesma forma, se soubermos o que sucede a des-
perdícios como resíduos domésticos ou químicos industriais, podemos tomar medidas
que ajudem a tornar a Terra mais limpa.

Tendo em conta a curiosidade e energia tão próprias dos lobitos, compete ao dirigente
ajudar os lobitos a desenvolverem-se através do ar livre, programando actividades que
os estimulem a desvendar os segredos da Natureza, a descobrir a riqueza da interacção
com ela e a adquirir consciência da sua responsabilidade ecológica. Assim, deve criar
actividades de descoberta que proporcionem aos lobitos conhecimentos úteis e diver-
tidos sobre as plantas e os animais da sua região, por exemplo, e incentivar os seus
elementos a assumir comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza. Duas coisas
não deve esquecer:

conhecer é muito importante, dado que só se pode amar e proteger aquilo que
realmente se conhece;

o exemplo é o melhor meio de educação.


Gonçalo Vieira

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Sugestões de actividades a desenvolver em Alcateia:

- Fazer a separação de lixos em Alcateia e incentivar o mesmo em casa de cada lobito (pode-se fazer
um concurso sobre isto, por exemplo);
- Reaproveitar objectos, reciclando-os (por exemplo, aproveitar materiais usados para prendas, cons-
trução de um pórtico num acampamento ou decoração do Covil);
- Visitar centros de conservação da Natureza (neste âmbito, e porque vivemos em Alcateia, é de espe-
cial interesse saber como vive e podemos proteger o lobo ibérico);
- Investigar a vida de alguns animais e plantas da sua região;
- Realizar actividades de desenvolvimentos dos sentidos (por exemplo, distinguir diferentes cheiros
de plantas, reconhecer árvores pelo toque, identificar alimentos variados pelo paladar, aprender a
reconhecer o piar de várias aves, construir um herbário fotográfico, etc.);
- Fazer uma reportagem fotográfica sobre comportamentos muito ou pouco ecológicos da comunida-
de em que o Agrupamento está inserido.

A Natureza como um clube

Ao contactar com o meio natural, ao "brincar na Selva", pomos o lobito em contacto com
uma parte de si próprio que não atinge através de palavras ou conceitos. De facto, quan-
do falamos da Selva ao lobito, quando imaginariamente o colocamos lá e ele aprende a
viver nela, conseguimos uni-lo ao seu "eu", ao seu subconsciente, tão importante como o
seu próprio ser, tão precioso como a própria Vida. E é neste subconsciente que, através
do contacto com a Natureza, o lobito vai começando a compreender algumas das suas
características e aprende instintivamente como se organiza o mundo e como devemos
viver em sociedade. A este nível, coisas tão simples como observar um formigueiro ou
cuidar de uma planta permitem que o lobito compreenda que tudo na Natureza obedece
a uma certa ordem e a regras que, quando não respeitadas, arrastam consigo a destrui-
ção.

E, se isto acontece com os animais, também acontece com os homens. Por essa razão,
a vida ao ar livre permite que o lobito aprenda também a estar com os outros e se ha-
bitue a relacionar-se positivamente com os seus pares, contando com eles para vencer
desafios e dificuldades. É o começo da vivência em grupo, que tem muita importância a
este nível: no ambiente de ar livre, a interacção com os pares promove a vontade de en-
contrar e conhecer coisas novas da realidade e potencia as descobertas. Assim sendo,
a Natureza é um local cheio de novidades e surpresas que em muito favorece a vivência
em grupo.

Neste sentido, quando jogamos a "estar na Selva" com os lobitos, quando lhes contamos
uma história dela, quando lhes descrevemos a Selva com todas as suas maravilhas e
com todos os seus perigos, quando despertamos a sua imaginação a propósito de todos
os seus recursos inacessíveis ou quando os levamos a investigar como é a vida natural,
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saibamos que, ainda que não o compreendam, eles se sentem ligados tanto a uma di-
mensão pessoal, a eles próprios, como a uma dimensão universal, a um valor comum.
Já não estamos a brincar: tocamos algo que tem valor de realidade, ensinamo-los a
conhecerem-se e a conhecer os outros.

A este nível, o dirigente deve promover actividades que ajudem os lobitos a compreender
que também são responsáveis, a nível individual, pela conservação da Natureza e que o
trabalho conjunto com os outros lobitos permite conhecer novas realidades e ultrapassar
dificuldades, embora exija regras para ser proveitoso. Assim, deve criar actividades ao ar
livre que levem os lobitos a descobrir como se organiza a Natureza, o que cada um pode
fazer para a proteger e como se trabalha em grupo (mais especificamente, em Bando).

Sugestões de actividades a desenvolver em Alcateia:

- Investigar como se organizam os animais, verificando como é a sua vida em comunidade (lobos, formigas,
abelhas, elefantes, baleias, etc.);
- Plantar uma árvore e cuidar dela em Bando;
- Procurar, em Bando, soluções para resolver problemas ecológicos simples da sua comunidade (por exem-
plo, elaborar cartazes de sensibilização ecológica, investigar onde é que deveriam existir caixotes do
lixo e informar as autoridades competentes, etc.);
- Estimular boas práticas ambientais que demonstram respeito pela comunidade: não deitar papéis para
o chão, separar os lixos, arrumar as suas coisas adequadamente, etc.;
- Proteger pequenas árvores existentes no local de acampamento, para que não sejam destruídas
(colocando, por exemplo, uma cerca de paus ou pedras à sua volta para formar um pequeno canteiro).

A Natureza como templo

Para uma criança, é bem mais fácil compreender a sociedade através de uma história.
No caso dos lobitos, e como já vimos, a Selva - o ar livre - é o símbolo de aventura e de
mistério, o lugar onde existem animais selvagens, tesouros imensos, raças desconhe-
cidas, lugares onde viveram os primeiros homens e onde ele gostaria de viver. Assim,
quando levamos a criança a brincar na Natureza, a descobri-la, a conhecê-la, a respeitá-
la, levamo-la a descobrir-se a si próprio, aos outros e também a Deus.

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De facto, a vida ao ar livre constitui uma ocasião privilegiada para se implementar a Ani-
mação da Fé, na medida em que permite um contacto muito próximo com inúmeras ma-
ravilhas de Deus que os lobitos, donos de sensibilidade estética, conseguem perceber,
respeitar e admirar. Neste sentido, é possível ajudar os lobitos a sentir que a Natureza,
com toda a sua beleza, é um presente de Deus para os homens e que, sem ela, não seria
possível viver neste planeta. Por essa razão, devemos não apenas agradecer ao Criador
pela sua existência, mas também respeitá-la, amá-la e protegê-la.

Neste âmbito, é importante também a figura de São Francisco de Assis, padroeiro dos
lobitos e, porventura, o primeiro e um dos maiores ambientalistas da história da Humani-
dade. De facto, uma das características mais próprias de São Francisco é precisamente
o seu amor pela Natureza e há várias histórias – como a do Lobo de Gúbio – que o
atestam. De igual forma, os Pastorinhos de Fátima também podem ser evocados, so-
bretudo o pequeno Francisco, considerado muito sensível à Natureza e apaixonado por
animais.

“A vida do Francisco contempla­tivo é apelo de almas contemplativas,


almas que se deixem enamorar de Deus e mergulhem profunda­mente
no seu mistério, almas que façam do silêncio o espaço vital das suas
comunicações com Deus. Por elas, Deus torna-se presente no meio
dos homens. Bem necessárias são essas almas, para que o deserto
de Deus se torne oásis. O Francisco chama por elas. Era um encanto
vê-lo sentado nos penedos mais altos a tocar o pífaro e a cantar: «Amo
a Deus no Céu. Amo-O também na terra, amo o campo, as flores. Amo
as ovelhas na serra.» Na Natureza sabia descobrir o rasto de Deus; por
isso contemplava extasiado o lindo nascer e pôr do sol, o seu reflexo
nas vidraças das janelas ou nas gotas de orvalho. Como Francisco de
Assis, amava os passarinhos, porque são criaturas de Deus. Partia o
pão para eles em pedacinhos pequenos, em cima dos penedos; cha-
mava por eles: «Coitadinhos! Estão cheios de fome. Venham, venham
comer.»”
In Os Bem-Aventurados Francisco e Jacinta, Secretariado dos Pastorinhos

Perante tudo isto, o dirigente deve aproveitar todos os momentos vividos ao ar livre para,
sempre que se propiciar, chamar a atenção para a beleza da Criação, presente de Deus.
Note-se que, para o fazer, deve ele próprio ser sensível ao que vai encontrando em cada
momento: uma pedra brilhante, um ninho com ovos, o som de um riacho, etc.. Tudo deve
servir para ajudar o lobito a contemplar e respeitar a Natureza, a reconhecer Deus naqui-
lo que o rodeia e a agradecer-Lhe pelo que criou.

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Sugestões de actividades a desenvolver em Alcateia:

- Contar passagens da vida de São Francisco de Assis e dos Pastorinhos de Fátima onde há contacto
e cuidado com a Natureza;
- Incentivar uma oração espontânea sobre a Natureza;
- Explorar o Cântico das Criaturas (ou Cântico do Irmão Sol, atribuído a São Francisco de Assis) atra-
vés de um jogral, uma canção ou um cartaz construído pelos lobitos;
- Elaborar jogos de contemplação da Natureza (procurar sinais de Deus na Natureza – coisas bonitas
que vão encontrando, por exemplo; ao amanhecer tentar perceber o que estarão a dizer os pássaros
uns para os outros ao acordar; observar as estrelas, uma noite; etc.).

Bibliografia:
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e
Paula Almeida, Edições CNE.
Ajuda a salvar o Mundo, Edições CNE.
FITZSIMONS, Cecilia, 50 Actividades para Miúdos, Editorial Caminho.
FRUTOS, José et. al., Sendas Ecológicas: para a descoberta do ambiente, Edições Salesianas.
LONG, William J., Northern Trails, Boston: Ginn & Company, 1905, in http://ia331303.us.archive.org/0/items/northerntrailsso00longia-
la/northerntrailsso00longiala.pdf (em inglês)
VÁRIOS, Os Bem-Aventurados Francisco e Jacinta. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2002.
VELOSO, Tiago M. P., Francisco de Assis, Homem da Natureza. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2009.
In http://www.passionista.org/livros/ecologia.pdf
GONÇALVES, Joaquim C., 'S. Francisco de Assis e a ecologia.' In Dois mil anos: vidas e percursos. Lisboa, Edições Didaskalia,
2001: 159-180.
http://www.servitasdefatima.org/Pages/Pastorinhos.aspx
http://www.criancaenatureza.pt/scid/webnature/default.asp

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C.3.2 A Vida na Natureza na Expedição

A Natureza como um laboratório

O contacto com a Natureza permite ao explorador conhecer o mundo que o rodeia e as


consequências da acção do Homem sobre esse mundo. A Aventura deverá, nas suas ac-
ções (sejam ou não em campo), permitir que os exploradores façam essa descoberta.

Neste sentido, as várias actividades a desenvolver ao longo da Aventura deverão levar o


explorador a perceber que as suas acções têm impacto no mundo à sua volta e que se
torna necessário reduzir as consequências nefastas para o meio ambiente, mesmo que
isso acarrete maior trabalho ou leve mais tempo. Para além disto, o explorador deverá
perceber que pequenos gestos repetidos muitas vezes poderão fazer a diferença e que
cabe a cada um, a começar por si próprio, assumir essa responsabilidade com a nossa
casa – o Planeta Terra.

Há um conjunto de actividades e comportamentos que podemos incentivar os exploradores a desenvol-


ver. Eis alguns exemplos:

1. A Base – o ponto de partida


Deverá ser na Base que começam a ser adquiridos os gestos que fazem a diferença na conservação da
Natureza. Eis alguns desses gestos:
- Criação e manutenção de um ecoponto na Base ou para todo o Agrupamento;
- Redução do consumo de energia (usar lâmpadas economizadoras, abrir um estore ou persiana em vez
de acender a luz, ter o cuidado de apagar a luz ao sair da Base, etc.);
- Redução dos materiais usados, como por exemplo papel, reutilizando-o sempre que seja possível;
- Recuperação de material – por exemplo arranjar uma tenda em vez de comprar uma tenda nova.

2. Actividades com impactos reduzidos


As actividades ao ar livre levadas a cabo por escuteiros causam sempre impacto na Natureza. Preparar as
actividades de forma a que o impacto seja o mais reduzido possível é uma forma de formar consciências
preocupadas com o meio ambiente. Eis alguns dos cuidados que devemos ter em atenção:
- Reduzir o lixo que levamos para um acampamento;
- Separar o lixo;
- Reduzir o consumo de água na cozinha, na lavagem da louça, nos banhos, etc.;
- Escolher ementas que permitam reduzir o lixo produzido e a energia gasta;
- Reduzir os danos causados na vegetação rasteira pelo pisoteio;
- Minorar os efeitos da montagem do campo.

3. Conhecer para consciencializar


Podem-se ainda programar actividades que contemplem visitas a um Centro de Triagem de Lixos, uma
Quinta ou Horta Pedagógica, um Centro de Conservação da Natureza (Centro de Recuperação do Lobo
Ibérico, por exemplo), uma Reserva ou Parque Natural. Estas visitas são uma magnífica oportunidade
para o explorador descobrir a Natureza, com os seus animais e plantas. E conhecer é o primeiro passo
para amar…
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A Natureza como um clube

A Natureza é o ambiente próprio para que o explorador, em Patrulha, realize as suas


actividades. A vida na Natureza não são só acampamentos, raides, jogos nocturnos e
outros jogos: todo o tipo de actividades devem servir de motivo para sairmos da Base e
procurarmos o ar livre.

Estas actividades devem estar previstas na Aventura e serão, em muitos casos, a sua
grande actividade. De facto, é na Natureza que os exploradores melhor desenvolvem
as relações entre todos os elementos da Patrulha, já que é em campo que esta é cons-
tantemente colocada perante novos desafios. Para que estas actividades se possam
realizar com sucesso, os exploradores, em Patrulha, deverão ter conhecimentos das téc-
nicas que os ajudarão a desenvencilharem-se em campo. Neste sentido, técnicas como
pioneirismo, campismo, orientação, cozinha, socorrismo, etc. devem ser praticadas de
forma a que, quando chegar a grande actividade, esta seja uma festa e não um contínuo
desenrolar de queixumes e lamentações.

De entre todas as actividades ao ar livre que se podem proporcionar aos exploradores,


o acampamento tem especial destaque. De facto, este continua a ser um dos maiores
atractivos do Escutismo, como o próprio B.-P. sabia: “A parte mais agradável da vida
do explorador é o acampar” (Palestra de Bivaque nº2 do “Escutismo para Rapazes”).
Contudo, para que o acampamento se torne numa actividade marcante e educativa há
que ter alguns cuidados (caso contrário a experiência poderá ser traumatizante). Assim,
as Patrulhas deverão ser capazes de criar o mínimo conforto em campo, montando-o
com um mínimo de condições de comodidade e segurança. Não se lhes exigem grandes
construções: o que se pretende é que sejam capazes de montar a sua tenda e de cons-
truir uma mesa para todos, uma cozinha e o pórtico do campo da Patrulha. Estas serão
as construções básicas para que possam viver durante os dias do acampamento com
um mínimo de comodidade.

Para que as actividades decorram da melhor forma e ajudem a Patrulha a criar e desenvolver laços for-
tes de união, há algumas boas práticas que podemos desenvolver:

1. Preparação com antecedência


Se na próxima grande actividade irá ser usada uma técnica que as Patrulhas ainda não dominam, devem-
se fazer algumas experiências numa actividade anterior, de forma a que haja algum treino que assegure
o êxito na grande actividade que se vai desenrolar.

2. Existência de prémios
Criar um clima de competição sadia é uma forma de levar as Patrulhas a um maior empenho na vida em
campo. Neste âmbito, podem ser criados prémios como, por exemplo, “o melhor campo” ou “a melhor co-
zinha”.

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Acampamentos por Patrulha

B.-P. diz-nos que “a Patrulha é sempre a unidade em Escutismo, quer para o trabalho quer para os jogos,
para a disciplina ou para o dever” (Auxiliar do Chefe Escuta). Neste sentido, os acampamentos devem
ser organizados por Patrulha, devendo cada uma ter o seu campo, com as suas tendas, a sua cozinha.
Para além disto, todas as actividades em campo deverão ser efectuadas também por Patrulha: jogar,
cozinhar, tomar as refeições ou lavar a louça devem ser momentos em que a Patrulha, estando junta,
se torna mais unida e mais eficiente.

A Natureza como um templo

“A finalidade do estudo da Natureza é desenvolver a compreensão de


Deus Criador, e incutir o sentido da beleza da Natureza.”
B.-P., Girl Guiding

As actividades ao ar livre são uma excelente oportunidade para que os exploradores se


sintam mais perto de Deus. De facto, a vida na Natureza dá muitas oportunidades para
que o explorador se aperceba da obra maravilhosa da criação. Este é mais uma das ra-
zões pelas quais as actividades na Natureza devem estar presentes na Aventura.

Nesta área, a Equipa de Animação terá de ter uma particular atenção na preparação e
enriquecimento da Aventura. No entanto há oportunidades que não se preparam e, por
isso, os dirigentes devem estar atentos a pormenores que possam passar despercebi-
dos: a flor que nasceu no meio das pedras ou aquele pinheiro que teimou em crescer em
cima de uma rocha, um céu estrelado ou um pôr-do-sol na praia, o regato que canta por
entre as pedras ou o Sol que desponta no alto da montanha, o céu estrelado ou o Sol
depois de uma chuvada, o pássaro que canta empoleirado numa árvore ou o esquilo que
salta de ramo em ramo. Eis momentos que temos de saber aproveitar para aproximar o
explorador do Criador.

Neste sentido, eis algumas sugestões que podemos pôr em prática:

1. Prática quotidiana da oração


Em campo, o início de um jogo, a abertura ou encerramento do acampamento, as refeições, o fogo de
conselho, tudo são momentos em que podemos e devemos louvar e dar graças a Deus.
2. Um ambiente especial leva a uma oração especial

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A oração não pode ser encarada como uma rotina ou obrigação. Assim, uma oração da noite enquanto se
observa um céu estrelado ou uma oração da manhã no cimo de um monte, ao romper da aurora, são exem-
plos de como a Natureza pode ajudar a tornar diferentes estes momentos.

3. Os Ciclos da Natureza e as Festas Cristãs


As grandes festas Cristãs (o Natal e a Páscoa) coincidem com pontos de viragem nos ciclos da Natu-
reza. A partir do Natal os dias começam a crescer e na altura da Páscoa começa a Primavera e toda a
Natureza se renova. Neste sentido, a linguagem da Natureza pode ajudar os exploradores a perceber os
grandes acontecimentos do ano litúrgico.

Bibliografia:
BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE.
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Edições CNE, 2004.
WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo. Edições CNE, 1990.
Gonçalo Vieira

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C.3.3 A Vida na Natureza na Comunidade

A Natureza como um laboratório

A Comunidade dos pioneiros deve ter a preocupação de procurar ter no seu seio pessoas
sensíveis à preservação do Planeta Terra e de todos os seus ecossistemas, especial-
mente dos que lhe são mais próximos e onde a sua acção possa ser mais bem aprovei-
tada. De facto, pessoas sensíveis têm comportamentos diários de responsabilidade e
coerência capazes de fazer a diferença e de inovar – como é timbre de todo o pioneiro.

Não é difícil para um pioneiro perceber que o ambiente natural tem um manancial enor-
me de oportunidades através das quais ele pode crescer e saber mais sobre a razão
de ser das coisas e do impacto das nossas acções. É fundamental, por isso, que todos
os Empreendimentos da Comunidade, sejam capazes de acrescentar alguma coisa ao
conhecimento da história natural e das ciências da Terra e da Vida – directa ou indirec-
tamente. A observação e análise crítica da vida natural, a preservação de espécies e
de ecossistemas, o estar em contacto com a Natureza em estado puro é, então, muito
importante.

Boas práticas:

- O Abrigo eco-responsável
A primeira casa (os gregos chamavam-lhe oikos, que deu origem a eco, como em ecologia) da Comunidade
dos pioneiros é o Abrigo. Fará, por isso, sentido que seja nele que se tomem as primeiras medidas de
preservação do planeta. E haverá, certamente, muito a fazer: um uso responsável da energia, com a
utilização de lâmpadas de baixo consumo, ou a possibilidade de recurso exclusivo a energias renováveis, a
separação de lixos, o reaproveitamento de objectos e materiais como o papel (reciclagem) são apenas
alguns exemplos.

- O Acampamento de impacto mínimo


Muitas vezes é angustiante observarmos o impacto que um acampamento de escuteiros – e especial-
mente de pioneiros – pode fazer no ecossistema onde, temporariamente, se instalou uma Equipa ou uma
Comunidade. De facto, a madeira para as construções, os lixos, os ruídos, o fogo e os cozinhados podem
parecer-nos coisa natural, mas a sua utilização descuidada pode fazer mossa em certos ambientes.
Procurar fazer uma actividade com impacto mínimo pode constituir uma boa ideia (falamos de impacto
mínimo, porque reconhecemos que haverá, sempre, algum impacto). Neste sentido, a compostagem de
resíduos orgânicos, a drenagem e filtragem das águas de lavagem, a investigação e promoção de formas
de cozinhar com menos impacto e a consciencialização da Comunidade são importantes.

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- Pensar global, agir local


A observação e monitorização de um problema ambiental na área geográfica de implantação da Comuni-
dade de pioneiros pode ser uma óptima oportunidade educativa para o progresso pessoal dos elementos,
para a coesão da Comunidade e até para a afirmação do Escutismo na região. Neste âmbito, os pioneiros
podem encontrar o problema, analisá-lo e procurar encontrar as razões que lhe deram origem e as ac-
ções que o podem minimizar ou extinguir. A sensibilização da população, de autarcas e de organismos para
a partilha de responsabilidades pode ser um segundo passo para uma intervenção local. Assim, é possível
que vários problemas ambientais sejam resolvidos graças aos jovens.

- Observar é ver com a alma


Conhecer o mundo que nos rodeia e o património natural da nossa terra também é conhecermo-nos a nós
próprios. Assim, a visita a centros de investigação e conservação da Natureza e a reservas naturais – com
a possibilidade de participar em acções de voluntariado em alguns deles, por exemplo – pode constituir,
também, uma extraordinária oportunidade educativa. De facto, a observação de espécies em santuários
naturais ou reservas ou a identificação e listagem de espécies animais e vegetais que coabitam connosco
numa limitada área geográfica são actividades de que nenhum pioneiro pode prescindir.

- Vários documentos:

- Carta do índio Seattle


Trata-se de uma resposta do chefe da tribo Duwamish ao Presidente dos Estados Unidos, que queria
comprar as terras da sua comunidade. O texto terá sido escrito em 1854 e é também conhecido como
‘Manifesto da Terra-Mãe’.

- O Papalagui
Tuiavii, chefe da tribo Tiavéa, nos Mares do Sul, depois de ter visitado a Europa, explica aos seus con-
terrâneos os hábitos, usos e costumes do homem ocidental, a quem chama ‘Papalagui’ (branco, estran-
geiro). O choque entre as duas culturas, nomeadamente no que toca à relação com a Natureza, é grande
e Tuiavii descreve-o. O livro faz parte do Plano Nacional de Leitura para o terceiro ciclo do ensino
básico.

- Carta de Aalborg
Este documento, assinado em 1994, em Aalborg, na Dinamarca, pelos representantes das cidades euro-
peias, está relacionado com a sustentabilidade do planeta e é essencial para compreender a necessidade
de promover comportamentos, a nível local, para a preservação do planeta. A Carta de Aalborg é a base
para a Agenda 21 local, no seguimento do projecto de Agenda 21 das Nações Unidas.

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Bibliografia:
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e
Paula Almeida, Edições CNE.
Ajuda a salvar o Mundo, Edições CNE.
FITZSIMONS, Cecilia, 50 Actividades para Miúdos, Editorial Caminho.
FRUTOS, José et. al., Sendas Ecológicas: para a descoberta do ambiente, Edições Salesianas.

A Natureza como um clube

É no ambiente natural que o pioneiro tem mais oportunidades de inovar. A adaptação


da Natureza às necessidades do homem foi das primeiras inovações humanas e marca,
em todos os momentos, as características do ser pioneiro, que é 'o primeiro e o inova-
dor'. Assim, é na Natureza que a Comunidade de pioneiros tem mais oportunidades de
se mostrar capaz e de sonhar. Seja no acampamento, no raide, num bivaque ou numa
descida de rio, a Natureza é o melhor palco para a Equipa viver o jogo escutista com
intensidade e paixão. É por esta razão que todas as actividades e jogos escutistas têm
uma componente feita em ambiente natural e ao ar livre, aproveitando as características
de cada território em particular.

Boas práticas:

- O livro dos locais a descobrir


Tantas vezes, quando visitamos um qualquer local, vemos televisão ou conversamos com um amigo, dize-
mos: “Esse era um sítio espectacular para fazer uma actividade”. Contudo, muitas vezes a lembrança
não passa disso mesmo. Será uma boa prática fazer o registo – por Equipa, Comunidade ou a título
individual (o pioneiro ou o dirigente) – de todos estes locais que passam à nossa frente. Esse registo,
em forma de livro, por exemplo, pode ter as seguintes indicações: nome do local, sua indicação geográ-
fica ou de GPS, tipo de actividades que melhor se lhe adequam, contactos a estabelecer para lá poder
desenvolver a actividade, transportes que o servem, etc. Assim, sempre que houver necessidade de
escolher um local, em fase de preparação do empreendimento, já está ‘meio caminho andado’ e nunca
faltarão ideias.

- A noite como a melhor parte do dia


A Natureza que nos rodeia toma novas formas na noite. Os nossos olhos começam por não distinguir nada
no breu da noite, mas depressa se adaptam e, depois, é a luz que cega. A realização de raides nocturnos
ou mesmo de grandes jogos (de estratégia, por exemplo) que se prolongam noite dentro é uma óptima
oportunidade para a adequação da Equipa a uma realidade nova e eventualmente hostil. De facto, é uma
possibilidade para o cenário do desafio ganhar novas formas, dar mais adrenalina e unir mais a Equipa, que
fica mais vulnerável pela limitação da visão.
Incentivar os pioneiros a organizar jogos nocturnos arrojados e interessantes é, por isso, uma opor-
tunidade a não perder. Do mesmo modo a realização de raides nocturnos cuidados e bem enquadrados é
uma boa ideia para dar coesão às Equipas, por exemplo.

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- Vários documentos:

- “O Deus das Moscas”, de William Golding


Trata-se de um romance que pode ferir susceptibilidades. Sugerimo-lo aqui para leitura dos adultos e
não dos pioneiros. Nesta obra, o autor ensaia a brutalidade de um grupo de crianças numa selva, focando
a sua luta pela sobrevivência sem adultos e, logo, talvez por isso, sem códigos morais.

- Livros de memórias e biografias de grandes pioneiros


A vida de grandes pioneiros e da sua luta pela mudança e pela transformação pode motivar a Comunidade
dos pioneiros a desenvolver imaginários arrojados nas suas actividades, havendo sempre uma ligação com a
Natureza e com o espaço que esse herói tentou dominar.

- Guias turísticos e de divulgação


As revistas e outras publicações divulgam, com frequência, guias com locais naturais do nosso país que
classificam como maravilhas ou espaços a não perder. Muitas vezes sugerem até a realização de per-
cursos pedestres ou de exploração de alguns territórios. Coleccionar esses guias e tê-los no Abrigo ou
em local acessível aos pioneiros pode ser um importante atractivo para a realização de actividades em
locais novos e com grande valia pedagógica.

Bibliografia:
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e
Paula Almeida, Edições CNE.
BADEN-POWELL, Robert, Mil e uma actividades para escuteiros, Edições CNE.
BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE.

A Natureza como um templo

“O estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de que Deus en-


cheu o Mundo para nosso deleite”. A frase é de B.-P. e mostra bem o que, para o nosso
fundador, é a atitude que o pioneiro deve ter para com a Natureza: uma atitude de estudo
e de observação, no sentido da compreensão, da contemplação e do deleite.
Muitas vezes não há grande necessidade de proferir ardentes palavras de oração, quan-
do o silêncio, o espanto e o sorriso de um pioneiro, perante uma paisagem exuberante,
se fazem sentir. Ao dirigente cabe saber o momento em que pode intervir no sentido de
sensibilizar os pioneiros para o que os rodeia e para mostrar a graça de Deus nos peque-
nos sinais que nos deixa no caminho.

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Boas práticas:

- Oração de contemplação
As maravilhas e a beleza (ou não) do que a Natureza oferece são uma oportunidade educativa – que
não se ensaia e que depende muito da sensibilidade do próprio dirigente -que se pode aproveitar para
incentivar os pioneiros a agradecer a Deus. Seja a beleza das flores, dos verdes, do perfume no ar, do
sol (no fundo aquilo que torna especial o lugar de acolhimento, por mais singelo que seja), tudo pode ser
utilizado. Quando, num raide, os pioneiros chegaram ao cume de uma montanha, podemos incentivá-los a
contemplar e agradecer. Não se diz com isto que o dirigente deve acompanhar os pioneiros em todos os
momentos de um raide. Contudo, no material que produz – mensagens, caderno de caça, etc. – é conve-
niente deixar sempre um convite à contemplação e louvor a Deus.

- Os ciclos e Deus
Em Portugal, o Sol nasce e põe-se todos os dias. A Lua tem ciclos mensais de que muitas vezes não
damos conta, mas nos acompanham, influenciando-nos e influenciando a Natureza. Procurar admirar
estes fenómenos, em contexto de actividade escutista, e aproveitá-los para criar momentos de es-
piritualidade no meio do quotidiano ou para fazer uma oração da manhã ou da noite, por exemplo, pode
ser interessante e uma boa oportunidade pedagógica de crescimento.

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- Documento: A vida de São Francisco de Assis


São Francisco de Assis é considerado, por muitos, como o primeiro ecologista. São-lhe atribuídos tex-
tos fantásticos de louvor a Deus, como o “Cântico das Criaturas”, por exemplo. A sua vida é, provavelmen-
te, o melhor e maior testemunho do que pode ser uma atitude contemplativa da Natureza.

Bibliografia:
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e
Paula Almeida, Edições CNE.
A Pedagogia da Fé no Escutismo, Edições CNE.
Gonçalo Vieira

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C.3.4 A Vida na Natureza no Clã

A vida ao ar livre é uma das vertentes que mais identifica o escutismo e a vivência na IV
secção não escapa a esta característica. Aliás, B.-P. disse-nos que os caminheiros eram
a fraternidade do Ar Livre e do Serviço. De facto, para o fundador, o contacto com a Na-
tureza tinha que fazer parte da formação de jovens saudáveis e felizes. E, na verdade,
todos os caminheiros que experimentam este contacto, desenvolvendo as suas activi-
dades na Natureza, sabem o quanto é especial esta vivência: ela fá-los sentir pequenos
perante a obra de Deus, mas gigantes por fazerem parte desta maravilha em que nada
foi deixado ao acaso.

A Natureza como um laboratório: a consciência ambiental

No contexto actual da Humanidade, as preocupações ambientais são uma constante do


dia-a-dia. De facto, a consciência ambiental dos jovens tem aumentado ao longo dos
anos e hoje temos, sem dúvida, pessoas muito mais atentas ao que se passa em seu
redor e que estão conscientes de que vivemos num planeta frágil e delicado cujos recur-
sos naturais são finitos.

Neste âmbito, não é apenas fundamental que todos, sem excepção, estejam alerta para
esta realidade: é igualmente importante que se disponham a fazer a sua parte para
deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraram.Assim, não se espera que os
caminheiros tenham apenas uma atitude de respeito para com a Obra da Criação. Ob-
servando a Lei – nomeadamente o artigo “O Escuta protege as plantas e os animais” –,
espera-se que manifestem a atitude proactiva de tentar perceber os ecossistemas, de
procurar saber o que fazer, de ajudar a educar as gerações mais novas e de demonstrar
comportamentos adequados, de modo a diminuir a pegada ecológica de cada um.

Note-se que a Equipa de Animação deve ter consciência de que é exemplo, pelo que é
a ela que compete, em primeiro lugar, demonstrar comportamentos equilibrados (como
implementar medidas de redução de energia, de vigilância a nível do impacto ambiental,
etc.). De facto, não basta mostrar e promover o que se deve fazer: é preciso viver isso
com os caminheiros.

Não se é caminheiro apenas quando se está em actividade, por isso pode-se fazer muita coisa, todos
os dias, para melhorar a vida do planeta e para adquirir consciência de que é preciso contribuir para isso.
Assim, a nível individual, pode-se:

- Preferir transportes públicos e combinar boleias, sempre que possível, em vez de cada um levar o seu

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carro vazio;
- Minimizar o uso de sacos de plástico;
- Reduzir o consumo de água;
- Utilizar lâmpadas económicas;
- Desligar aparelhos eléctricos e lâmpadas quando possível;
- Reciclar, reduzir e reutilizar;
-.. …

E na vida em Clã?

- Utilizar lâmpadas económicas no Albergue;


- Promover a decoração do espaço do Albergue com materiais biodegradáveis e reciclados;
- Fazer a separação de lixos nas actividades;
- Reduzir o consumo de água nas actividades;
- Criar um código de conduta para as actividades, onde, por exemplo, se refere como é que os caminhei-
ros se vão comportar em relação ao lixo, barulho, impacto no local, fogo, águas de lavagens, etc.;
- Incentivar a existência de preocupações ambientais no PPV;
- Conhecer as áreas protegidas do nosso país, que fazem parte no nosso património natural;

Oportunidades escutistas para a IV secção desenvolver esta Maravilha:

- Insígnia Mundial de Conservação da Natureza


- Programa Scouts of the World

A Natureza como um clube: fraternidade e oportunidade de cresci-


mento

Nas actividades ao ar livre, o conforto a que os caminheiros estão habituados desapare-


ce… A cama é dura, faz frio e calor, chove, é preciso andar a pé, há quem ache que se
perdeu, o caminho é íngreme, é preciso montar e desmontar, falta água, a comida não
é suficiente, etc.

Perante isto, e com o cansaço acumulado, é fácil surgirem discussões. Contudo, é mais
comum todos estes obstáculos abrirem a mente e ajudarem o grupo a sentir-se mais uni-
do e coeso, dado que o esforço em conjunto ajuda a perceber que, se todos trabalharem
para o mesmo, é mais fácil alcançar os objectivos propostos. Esta é a razão pela qual o
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jogo escutista, vivido ao ar livre,é uma escola de vida. De facto, é óptimo para a coesão
das Tribos e para a vida do Clã e este benefício é reconhecido até por quem não é escu-
teiro: não é à toa que as grandes empresas recorrem a práticas “outdoor” para reforçar a
coesão entre as equipas dos seus colaboradores.

Note-se que não são só os objectivos a atingir ou as dificuldades que unem as pessoas:
acima de tudo, é o próprio contexto – a Natureza – que incentiva a coesão. De facto,
quando só se leva o essencial na mochila, é necessário contar com os outros e unir
esforços para arranjar estratégias, poder seguir caminho e atingir os objectivos de cada
um e da Tribo. Assim sendo, todas as situações que surgem fomentam a criatividade e
a união do grupo.

As actividades ao ar livre acabam por ser uma metáfora da vida:


- É preciso esforço e perseverança para se conseguir o que se quer.
- É mais fácil progredir quando se avança em conjunto.
- Caminhar sozinho é sempre mais duro.
- Não é necessário muito mais na vida do que o essencial para sobreviver e ami-
gos que façam o caminho connosco.

Neste âmbito, a Equipa de Animação deve orientar o Clã nas actividades ao ar livre, so-
bretudo para que nestas se promova a coesão e haja segurança. É também importante
que os Dirigentes vivam estas actividades: o ar livre não é só uma coisa para caminhei-
ros, deve ser partilhado com os seus irmãos mais velhos. No entanto, este acompa-
nhamento deve salvaguardar sempre o espaço da Tribo e do Clã, pois os caminheiros
também precisam de estar sozinhos com os seus pares.

Eis algumas sugestões:

- As Tribos podem preparar momentos diferentes das actividades, para poderem surpreender os ou-
tros caminheiros.
- Deve existir a preocupação de conhecer os locais onde as actividades vão decorrer, para que se possa
prever o melhor possível o que vai acontecer e proceder às adaptações necessárias.
- A Equipa de Animação deve ser capaz de proporcionar, no jogo escutista e em contacto com a Natu-
reza, momentos capazes de contribuir para a coesão das Tribos e do Clã.

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A Natureza como um templo: a vivência espiritual

O estudo da Natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de


que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que
tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado
melhor das coisas e não o pior.
Última Mensagem de B.-P.

Uma das coisas mais importantes que a vida ao ar livre proporciona é o encontro com
o nosso ser mais íntimo e a proximidade com toda a obra de Deus, que acaba por nos
deixar mais próximos Dele. Assim, e embora a vida ao ar livre seja a marca do escutismo,
ela é, acima de tudo, um meio privilegiado de estar com Deus, cuja presença se encon-
tra em cada flor, na água corrente, numa borboleta, num prado, nas montanhas, etc.

Um momento propício para este encontro é a noite: quando se está na Natureza, ela
acaba por ter um impacto diferente e pode ser aproveitada de modo a proporcionar mo-
mentos de convívio, reflexão, de avaliação e até de relaxamento. De facto, quem nunca
sentiu especial ao olhar o céu estrelado? Quem não fez as sua reflexões mais profundas
em redor de uma fogueira? Quem nunca se sentiu mais acompanhado do que nunca,
mesmo quando estava sozinho numa caminhada nocturna?

Neste âmbito, o Fogo de Conselho é um momento sempre especial. E, quando se de-


senrola só com caminheiros, pode ser interessante fazê-lo de modo mais espontâneo, de
forma a que os sentimentos e emoções venham ao de cima e se selem amizades.

Para além disto, é importante incentivar os caminheiros a contactar frequentemente com


a Natureza, proporcionando-lhes momentos de simbiose com toda a obra de Deus, para
que se sintam parte integrante da obra da Criação.

Neste sentido, pode-se:

- Iniciar a actividade durante a noite, com uma pequena caminhada e algumas reflexões que preparem
o dia seguinte.
- Pernoitar num locar e ver como ele parece diferente no outro dia de manhã.
- Procurar que o Fogo de Conselho seja um espaço de conversa, reflexão e avaliação.
- Preparar momentos de oração que explorem a noite e os seus elementos.
- Chamar a atenção dos seus caminheiros para a beleza de cada paisagem, colocando-os em sintonia com
Deus Criador.

Bibliografia:
http://portal.icnb.pt
www.quercus.pt
www.lpn.pt
OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Edições CNE, 2004.
WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo. Edições CNE, 1990.
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Região de Portalegre e Castelo Branco

C.4 Aprender fazendo

C.4.0 Valor pedagógico do «Aprender Fazendo»

A 'Educação pela Acção' é uma das características do Método Escutista. Poderia, até,
dizer-se que – ao contrário da Educação formal que é ministrada nas escolas e apoiada
por outros agentes de Educação – o Escutismo fornece ao escuteiro as ferramentas para
que o jovem possa formar-se, auto-educar-se, no sentido de se tornar um membro activo
e responsável na sua comunidade.

Apesar de o exemplo ser aquilo a que B.-P. chamou “a única forma de educar”, isto não
significa que ele eduque apenas através da explicação teórica de “como é que se deve
fazer” ou do “ver fazer”. Pelo contrário, no Escutismo, para aprender é necessário experi-
mentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um processo dinâmico
e activo e o exemplo dos dirigentes deve estar impregnado deste dinamismo.
Desde sempre, então, que o Aprender Fazendo reflecte a visão do Escutismo como
método educativo activo para crianças e jovens. Estes possuem, naturalmente, desejo
de aventuras, de desafios e de acção e as actividades escutistas devem conter oportu-
nidades de satisfazer esses anseios, permitindo-lhes descobrir, experimentar e explorar
novos mundos, com vista ao seu próprio desenvolvimento.

Através do Aprender Fazendo, a criança ou jovem vai progressivamente experimentan-


do, sentindo, vivendo novas formas de fazer, pondo “as mãos na massa”. Isto significa
que não se limita a ver ou ouvir de forma passiva, mas é chamado a ser sempre um ele-
mento activo e dinâmico da sua aprendizagem. Ao longo deste processo, vai adquirindo
progressivamente maior autonomia no desempenho das suas tarefas, tornando-se cada
vez mais agente activo da construção dos seus próprios conhecimentos e capacidades.
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Esta 'Educação pela Acção' deve-se fazer em todos os momentos que a experiência
escutista proporciona: reuniões semanais, actividades de campo ou de sede, acampa-
mentos, jogos diversos, encontros de Núcleo, de Região ou nacionais. Para além disto,
acontece não só na hora da acção, mas desde o início, na própria preparação das ac-
tividades, e atendendo ao grau de autonomia de cada um. Neste âmbito, com a correc-
ta aplicação do Aprender Fazendo, a criança ou jovem envolve-se verdadeiramente na
realização das tarefas e projectos, assume responsabilidades e desempenha diferentes
papéis, percebendo assim o sentido das coisas que foi aprendendo. Desta forma não
se centra apenas no desenvolvimento de habilidades mais práticas ou 'manuais', o que
possibilita a descoberta de facetas da sua personalidade que, de outra maneira, poderia
até não vir a descobrir.

Este elemento do método preconiza, assim, a adopção de uma atitude activa da criança
e do jovem relativamente a tudo aquilo que lhe diga respeito ao longo da vida, relacionan-
do-se com a constante descoberta das capacidades próprias em diferentes contextos e a
sua correcta utilização em prol de si mesmo e da sua comunidade.

O próprio fundador do Movimento Escutista, Baden-Powell, refere que as crianças que-


rem fazer coisas e, como tal, a aprendizagem activa deve ser encorajada. No entanto é
importante que lhes seja permitido cometer erros pois, desta forma, vão adquirindo expe-
riência. De facto, convém lembrarmo-nos de que 'quem nunca errou, nunca fez nada!'

I. O valor do jogo

Esta forma de aprender, eminentemente prática, activa, pressupõe o uso intensivo do


jogo, olhado aqui como espaço de descoberta das capacidades individuais, de expres-
são da criatividade e de consciencialização do papel que cada um deve individualmente
desempenhar para ajudar ao sucesso colectivo do seu pequeno grupo.

Crianças, jovens e adultos gostam de jogar. De facto, o ser humano é um ser lúdico,
que espontaneamente se organiza para jogar a qualquer coisa, desde o mais simples
ao mais elaborado e complexo jogo. Neste âmbito, para concretizar a sua intenção edu-
cativa, o Escutismo apoia-se no jogo social espontâneo, ou seja, no dinamismo natural
das crianças e jovens, que, neste gosto pelo jogo, descobrem espontaneamente a ne-
cessidade de se organizar, de criar e respeitar regras sociais, de colaborar entre si e de
interiorizar os valores do grupo

O chamado 'jogo social espontâneo' estimula o desenvolvimento do ser humano, na me-


dida em que o ajuda a progredir a nível pessoal e social: quando bem utilizado, permite
descobrir os talentos de cada um; desenvolve capacidades individuais como a imagina-
ção, a destreza, a flexibilidade, a orientação, a capacidade estratégica, etc.; apura os
sentidos e a concentração; ajuda a entender a necessidade de cumprir regras; permite
desenvolver o espírito de grupo, o respeito pelo outro e a auto-confiança; etc. Este tipo
de jogo tem características específicas: pode desenrolar-se à volta de um imaginário,
respondendo a sonhos, a aspirações (os médicos, os polícias e ladrões, etc.); tem sem-
pre uma acção e um espaço (a rua, a natureza, um pátio); exige a participação de um
grupo (por isso se chama 'jogo social'); tem papéis (as tarefas dos vários jogadores) e
regras definidas.
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Ao observar estas características, Baden-Powell compreendeu que o jogo era uma ex-
celente ferramenta pedagógica e adoptou-o como base do trabalho. Deu origem, assim,
ao 'jogo escutista', composto também ele por elementos essenciais:

Imaginário: deve ter sempre uma história, baseada na Mística e Imaginário de


cada secção ou em imaginários específicos dos projectos que se vão realizando
(os índios, os exploradores, etc.);

Acção: implica sempre uma actividade cujas características devem ser pensa-
das e preparadas – é o caso do projecto da secção: Caçada, Aventura, Empre-
endimento, Caminhada;

Espaço: deve ser vivido essencialmente ao ar livre, na Natureza, podendo tam-


bém desenrolar-se no espaço da sede ou da comunidade envolvente;

Grupo: desenrola-se essencialmente à volta dos pequenos grupos de cada sec-


ção (Bandos, Patrulhas, Equipas, Tribos), que devem ser respeitados, pois são
a base da aprendizagem do trabalho em grupo;

Regras: para além das regras específicas do jogo, baseia-se sempre no estrito
cumprimento da Lei (que se juntam os Princípios, Máximas dos lobitos e Pro-
messa), interiorizada, aprofundada e enriquecida com novas regras, de activi-
dade em actividade;

Papéis: exige que cada elemento tenha uma tarefa específica que é da sua res-
ponsabilidade (por exemplo, os cargos e funções – guia, cozinheiro, secretário,
etc.).

“Assim, ajudada pelo dirigente, a criança/jovem graças ao jogo irá ade-


rir livremente a novas regras, viver a experiência insubstituível da cria-
ção de uma comunidade onde cada um tem o seu lugar e deve respeitar
os outros; onde explora o mundo que a rodeia conseguindo a pouco e
pouco a construção de um espaço simbólico interior, necessário à ela-
boração do pensamento.”
Baden-Powell hoje

Todos estes elementos ajudam o dirigente a educar melhor os seus elementos. De facto,
o jogo escutista permite desenvolver, em cada um, por exemplo, a cidadania, a solida-
riedade e a responsabilidade. De facto, através dele cada elemento exercita as capaci-
dades necessárias ao seu desenvolvimento integral (autodisciplina, vida em sociedade,
afectividade, criatividade, valores morais, espírito de equipa, etc.) e é levado a compre-
ender que o bem-estar do grupo depende do cumprimento das tarefas individuais e do
respeito pelas normas, fazendo-o perceber que estamos inseridos numa sociedade em
que todos têm direitos e deveres e que a partilha e a entreajuda são essenciais.
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É absolutamente essencial que, na utilização do jogo escutista, as regras estejam


previamente definidas e sejam conhecidas por todos. Para além disto, é impres-
cindível que, depois, as actividades realizadas sejam avaliadas e contabilizadas
a nível do progresso efectuado. Só assim se ajuda cada elemento a tomar cons-
ciência do caminho que trilhou, dos progressos que fez e do que ainda necessita
desenvolver.

II. Actividades de secção

“As actividades são a parte mais visível do Programa; representam o


que os jovens fazem no Escutismo.”
Baden-Powell

No Movimento escutista, os jovens aprendem fazendo e não apenas de forma teórica


ou por verem o adulto fazer. A aprendizagem pela acção permite uma aprendizagem
por descobertas, de forma activa e gradualmente mais responsável, fazendo com que
os conhecimentos, competências e atitudes se interiorizem se forma natural. Assim, de
alguma maneira, os jovens auto-educam-se.

De facto, quando um escuteiro vai acampar e tem de construir as infra-estruturas do seu


campo, está a passar para o campo do real o que aprendeu e treinou uma tarde na sede.
Da mesma forma, quando escolhe os projectos que gostaria de realizar e se envolve na
sua realização, consegue perceber a utilidade do que vai aprendendo (o que o motiva para
aprender mais), desenvolver as suas capacidades e descobrir habilidades e gostos que, de
outro modo, provavelmente não descobriria. Está, assim, a aprender pela acção.

As actividades são o meio privilegiado para alcançar essa aprendizagem. Segundo a


WOSM (documentação RAP), são “um conjunto de experiências que proporciona a cada
jovem a oportunidade de adquirir conhecimentos, competências e atitudes que o/a levam
a atingir um ou mais objectivos educativos estabelecidos.”

Atendendo ao efeito que se pretende que as actividades tenham nos jovens é absoluta-
mente fundamental ter em atenção o seguinte:

As actividades têm de ser programadas, seleccionadas e desenvolvidas de for-


ma adequada. Uma actividade bem projectada, com sentido, com objectivos
bem definidos e com empenhada participação de todos os intervenientes é sem-
pre uma maravilhosa oportunidade de crescimento individual e colectivo, mes-
mo que as coisas não corram bem. A falta de programação e organização, nas
actividades, torna as actividades fracas: têm pouco conteúdo e qualidade, são
confusas e provocam facilmente a desmotivação dos elementos.

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É importante introduzir inovações, especialmente nas actividades que tendem a


seguir um padrão na sua forma de realização. Não podemos deixar que a rotina
se instale e constitua uma “pedra na engrenagem”, já que, se isto acontecer, as
actividades podem perder o seu valor educativo e o seu interesse por parte dos
nossos jovens escuteiros. Por esta razão, é necessário, de tempos a tempos, ir
introduzindo variações, questionarmo--nos se não poderemos melhorar as acti-
vidades ou projectar novas componentes que as tornem mais atractivas.

Cada grupo tem as suas actividades específicas, que podem variar de secção
para secção ou em termos de tempo, espaço ou grau de autonomia e desenvol-
vimento dos elementos. De facto, um acampamento de lobitos não pode ter os
mesmos tempos de um acampamento de pioneiros. Já um raide de caminheiros,
por exemplo, permite um grau de autonomia maior por parte das tribos do que
um de exploradores. É importante, a este nível, que a Equipa de Animação tenha
consciência das características da secção que lidera e das especificidades do
grupo, para que todas as actividades realizadas sejam adequadas e contribuam,
de facto, para o crescimento de cada elemento.

III. O método do Projecto

Entre as actividades típicas de cada secção, encontramos uma grande actividade que,
pela necessidade de planeamento, organização e valor educativo necessita de ser ex-
plorada com mais detalhe. Falamos do Projecto, cuja metodologia é aplicada em todas
se secções.

1. Pedagogia do Projecto

Quando alguém, certo dia, terá perguntado a B.-P. o que deveria fazer com os
rapazes, o velho general terá respondido: “Pergunta-lhes!” (“Ask the boy”). Esta
é, até hoje, uma frase idiomática, um mote, uma inspiração para o dirigente, no
trabalho que lhe compete a nível do “Aprender Fazendo”.

O que é um Projecto?

É um conjunto determinado de acções inter-relacionadas que se planeiam e implemen-


tam com vista a atingir um objectivo específico num determinado prazo. No Escutismo,
é a principal “ferramenta” utilizada para organizar diferentes actividades visando um ob-
jectivo comum.

Um projecto escutista:

É um desafio colectivo; 161


manualdodirigente

Tem uma meta clara e um horizonte temporal;


Envolve 4 fases principais;
Está baseado no uso do Método Escutista;
Incorpora uma variedade de oportunidades de aprendizagem;
Tem em conta interesses, talentos, capacidades e necessidades distintas;
Inclui objectivos individuais e de grupo;
Procura que cada elemento do Bando/Patrulha/Equipa/Tribo se comprometa em
atingir objectivos adequados à sua idade através de esforço pessoal.

2. Valor educativo do Método do Projecto

Desenvolve a capacidade de dialogar e trabalhar em cooperação com outros.


Contribui para garantir a genuína participação dos elementos nas decisões que
lhes dizem respeito, ajudando-os a exercitar a comunicação, a cooperação e a
manifestação activa das opiniões.
Desenvolve a responsabilidade.
Permite compreender o valor de atingir objectivos, tendo, portanto, um efeito
motivador.
Permite a descoberta de talentos ou a sua busca.
Permite treinar competências de diversa ordem.
Cria hábitos de funcionamento “em projecto”, úteis para a vida contemporânea.

3. As Fases do Projecto

1ª Fase: Idealização e Escolha

Nesta fase, realizam-se as seguintes actividades pela ordem apresentada:


1- Motivação/orientação prévia levada a cabo no Conselho de Guias;
2- Desenvolvimento de uma ideia em Bando/Patrulha/Equipa/Tribo (este é um espaço
privilegiado para a participação e criatividade);
3- Apresentação criativa dos projectos preparados por cada Bando/ Patrulha/ Equipa/
Tribo no Conselho de Alcateia/ Expedição/ Comunidade/ Clã;
4- Escolha, de forma democrática, de um dos projectos idealizados.

2ª Fase: Preparação

Após a escolha, o projecto é depois enriquecido pelo Conselho de Guias. Este enrique-
cimento deve conter o seguinte:

Análise da actividade na sua globalidade, para definir:


Que aspectos devem ser reforçados no projecto;
Que outros objectivos se podem incluir;
Que aspectos operacionais merecem especial atenção;
Que se pode incluir dos projectos das outras Patrulhas que não foram aceites
162
manualdodirigente

Análise dos objectivos propostos, para verificar:


Que objectivos concretos se querem atingir;
Que actividades se pode sugerir que sejam adicionadas;

Verificação dos valores escutistas presentes na actividade, em especial:


Que dimensões educativas se querem trabalhar com cada acção definida;
Onde estão presentes os elementos do Método Escutista;

Exploração, até ao limite possível, do progresso individual, verificando:


Que objectivos educativos de secção podem ser trabalhados.

De seguida, em Bando/Patrulha/Equipa/Tribo (ou ainda em Conselho de Guias), prepa-


ram-se as diversas actividades relacionadas com o projecto. Estas actividades, que in-
cluem, por exemplo, ateliers, tarefas e missões, responsabilidades, contactos e recursos
de diversos tipos (Humanos, Financeiros, Materiais, etc.) são depois calendarizadas e
anotadas no Painel do Projecto que deve ser colocado num local bem visível.

É dever do Dirigente orientar e não substituir os seus escuteiros na planificação


de actividades e na realização e tarefas. Só assim permite que o escuteiro seja o
principal motor da sua educação. É preciso não esquecer, então, que educamos
para a autonomia. Por isso, é necessário que, mantendo-nos vigilantes e atentos,
eduquemos com autonomia.

3ª Fase: Realização

Nesta fase é a altura de viver o projecto e deve ser feito tudo o que foi preparado: ac-
ções, acampamentos, jogos, visitas, construções, actividades artísticas (como cantar e
representar).

4ª Fase: Avaliação

Esta é uma fase importantíssima, em que se procura “extrair o sumo” ao que se viveu.
Deve ser feita:
Pelo Conselho de Guias;
Pela Alcateia/Expedição/Comunidade/Clã;
Pelos Bandos/Patrulhas/Equipas/Tribos.

Consiste na análise do que foi realizado, procurando perceber como correram as diver-
sas actividades e o que se atingiu, em termos educativos (o que se adquiriu). Deve ainda
contemplar os seguintes aspectos essenciais:
Deve ser feita em vários momentos – 'a quente' (logo no fim do projecto) e al-
gum tempo mais tarde (para proporcionar uma reflexão mais detalhada e menos
emotiva);
163
manualdodirigente

Deve ser feita de forma criativa, para que todos se sintam motivados em parti-
cipar;
Deve avaliar várias coisas:O que correu bem? Que erros se cometeram? Que
objectivos não se alcançaram? Porquê? Que fazer para que esses aspectos me-
nos positivos sejam ultrapassados na próxima Aventura? Que sugestões para
o futuro (para os projectos seguintes, para os próximos objectivos educativos a
atingir, etc.)?;
Deve reconhecer o progresso feito a nível do alcance de objectivos educativos
e insígnias de especialidade.

1ª Fase: 2ª Fase: 3ª Fase: 4ª Fase:


IDEALIZAÇÃO PREPARAÇÃO REALIZAÇÃO AVALIAÇÃO
E ESCOLHA

Motivar e orientar Organizar, planificar Viver o projecto Celebrar o final do Projecto,


através do Conselho e enriquecer o Pro- através da realiza- analisando o que sucedeu.
de Guias. jecto em Conselho ção das actividades
de Guias. programadas. Avaliar o Projecto:
Preparar um projecto Avaliação global pelos Conselhos
de Bando/ Patrulha/ Reunir em Bandos/ À medida que as de Guias e de Alcateia/Expedição/
Equipa/ Tribo: Patrulhas/ Equipas/ actividades vão Comunidade/Clã e ainda pelos
- Reunir as ideias Tribos para definir e sendo desenvolvidas, Bandos/Patrulhas/Equipas/ Tribos.
individuais. distribuir tarefas o Painel do Projecto
- Escolher um tema e individuais e colec- deve ser enriqueci- Esta avaliação deve conter:
imaginário sugestivo tivas. do no Covil/ Base/ - propostas de alteração/correcção
e cativante; Abrigo/ Albergue. do que correu menos bem;
- Definir o que se Elaborar o Painel - verificação dos objectivos
quer fazer, como, do Projecto, que A Equipa de Ani- alcançados a nível do projecto e a
porquê e onde. deve ser afixado no mação: nível do progresso pessoal;
Covil/ Base/ Abrigo/ - motiva a Alcateia/ - verificação dos níveis de
Apresentar o projec- Albergue. Expedição/ Comuni- participação.
to em Conselho de dade/ Clã;
Alcateia/ Expedição/ A Equipa de Anima- - vive a Caçada/ Reconhecimento do progresso a
Comunidade/ Clã: ção acompanha o Aventura/ Empreendi- nível dos objectivos educativos e
Apresentação original projecto e aconselha mento/ Caminhada; das especialidades.
e criativa - cartazes, sempre que achar - soluciona ou ajuda a
canções, peças de necessário solucionar impre- A Equipa de Animação (em
teatro, fotografias, (conforme a secção, vistos (conforme a conjunto com os elementos):
mapas, postais. a Equipa de anima- secção). - lança pontos para debate;
ção é mais ou menos - faz o balanço do Projecto e
Eleger o projecto interventiva). objectivos alcançados;
(pelo Conselho de - analisa os CCA.
Alcateia/ Expedição/
Comunidade/ Clã).

Bibliografia:
BADEN-POWELL, Robert, Auxiliar do Chefe-Escuta, Edições CNE.
BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE.
BADEN-POWELL, R. S. S., Mil e uma Actividades para Escuteiros, Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, Baden-Powell hoje – Pistas para um Educador no Escutismo, Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE.
WIERTSEMA, Huberta, 100 Jogos de Movimento. Porto: Edições ASA, 2003.
SEQUEIRA, Luís e DINIS, Alfredo O., Vamos Jogar – Manual de Jogos. Braga: Editorial A.O., 1989.

164
manualdodirigente

C.4.1 Formas de Aprender Fazendo na Alcateia

Os lobitos, pela idade que têm, são ávidos de histórias, de novas descobertas e brinca-
deiras. De facto, duas das características fundamentais das crianças na idade dos lobitos
são a imaginação e o gosto pelo jogo, dois elementos fundamentais nas actividades
escutistas.

Qualquer actividade é um meio privilegiado para trabalhar o 'aprender fazendo', na me-


dida em que é através delas que se conseguem criar diferentes situações que permitem
aprender e aprofundar as experiências. Nesse sentido, é muito importante que tudo o
que se faz na Alcateia seja programado, seleccionado e desenvolvido de forma adequa-
da. De facto, o improviso – a que normalmente chamamos preparar actividades “em cima
do joelho” – não é uma boa solução, na medida em que este tipo de preparação conduz
à falta de materiais importantes, a confusões a propósito do que se vai fazer ou a atrasos
e tempos mortos, por exemplo.

Por outro lado, há que ter em atenção que a imaginação é uma das grandes responsá-
veis pelo sucesso de uma actividade. Assim, é responsabilidade da Equipa de Animação
não deixar esmorecer o entusiasmo. De facto, o lobito, na sua sede de aprender, passa
rapidamente de um interesse para outro, não conseguindo estar muito tempo a fazer a
mesma coisa (se tal acontecer, corre-se o risco de ele nada fazer ou de não fazer senão
metade, porque se aborrece). Por tudo isto, é fundamental que a Equipa de Animação
prepare actividades variadas e estimulantes e as viva com entusiasmo e empenho, en-
carnando verdadeiramente o espírito da Selva. Para além disto, é importante que vá
introduzindo inovações, sobretudo em actividades repetitivas: elas permitem a fuga à
rotina e mantêm aceso o interesse e a vontade de aprender dos lobitos.

A Equipa de Animação deve organizar as actividades de acordo com as carac-


terísticas psicológicas e gostos dos lobitos, formulando os objectivos do ano e
programando as actividades por trimestres. Esta planificação deve ser maleável,
para poder sofrer os ajustes necessários. Ao planificar o ano, a Chefia deverá
pensar no seguinte:

- O Quê? Definição dos grandes objectivos para a Unidade.


- Quando? Em que época (por exemplo, Natal, Carnaval, Páscoa, Verão...)
- Quem? Pensar nos elementos que pertencem à Equipa de Animação ou a con-
vidar.
- Para Quem? Unidade, Bandos, Guias, Subguias, Aspirantes, elementos na mes-
ma Etapa.
- Onde? Meio físico (sede, campo, outro), meio social (Unidade, paróquia,...), etc.
Esta forma de programar deve ser utilizada na planificação e programação de
todas as actividades da I Secção.

165
manualdodirigente

As actividades da Alcateia

As actividades da Alcateia giram à volta de dois tipos: Reuniões de Alcateia (com ou


sem tema específico) e Caçadas. Há ainda lugar para outras actividades: Conselhos
de Guias, Conselhos de Alcateia, acampamentos, bivaques, visitas de estudo, festas,
celebrações, etc.

I. As Reuniões de Alcateia

As actividades da Alcateia desenrolam­-se sobretudo em reuniões semanais, com uma


duração aproximada de uma hora e meia/duas horas. Estas reuniões tanto servem para
pôr em prática uma Caçada, como se podem consagrar exclusivamente ao trabalho de
Bando (servindo para auxiliar cada lobito/Bando a desenvolver-se em aspectos específi-
cos, para fazer Conselhos de Alcateia, para ensinar algum aspecto particular de técnica
escutista, educação ambiental, etc.), pondo em prática o jogo escutista.

Compete à Equipa de Animação a tarefa de saber dosear a forma e o ritmo das activida-
des próprias da secção que se propõe desenvolver e que podem ser de diversos tipos:

Actividades de expressão: histórias (contadas pelos dirigentes ou pelos próprios


lobitos ou Bandos), danças da Selva, dramatizações, canções, trabalhos manu-
ais, etc.;

Actividades ao ar livre: jogos de movimento (gincanas, obstáculos, jogos tradi-


cionais, etc.), pistas, raides, acampamentos, reconhecimento da Natureza, etc.;

Actividades de técnica escutista: pioneirismo, pistas, códigos, etc.;

Actividades de desenvolvimento social: festas (Natal, idosos, etc.), campanhas


de angariação de alimentos ou brinquedos, entrevistas a pessoas/instituições
locais, etc.

É conveniente que as reuniões estejam sujeitas a temas, como por exemplo:

­ a vida dos animais selvagens (formigas, abelhas, castores, etc.);

os animais domésticos (ovelhas, vacas, gatos, cães, etc.);

Os animais marinhos (peixes, mamíferos);

A pesca;

­ O jornal;

­ Os correios;
166
manualdodirigente

O mercado;

O trânsito;

As plantas.

Neste caso, todas as actividades da reunião terão um elo de ligação que é o tema e que
pode ser enriquecido pelo trabalho dos Bandos, devendo ter sempre em conta a impor-
tância do jogo. A duração máxima para estas reuniões com tema é de duas reuniões,
sendo aconselhável, no entanto, um só tema para uma reunião.

Uma reunião de Alcateia pode ter, por exemplo, o esquema seguinte, que não é uma
“receita” para todas as reuniões, mas pode servir de orientação:

MOMENTO ACTIVIDADE TEMPO

1º Grande Uivo 5 min.

2º Período de Informações 2 a 5 min.

3º Canção e Dança da Selva 2 a 5 min.

4º Reunião de Bando 20 min.

4º Período de Administração (contas, presenças, etc) 5 min.

4º Formação/Instrução (técnicas, ateliers, progresso, etc.) 15 min.

5º Jogo 15 min.

6º Formação/Instrução (técnicas, ateliers, progresso, etc.) 30 min.

7º Avaliação 2 a 5 min.

8º Encerramento (oração e/ou cântico) 2 a 5 min.

TEMPO TOTAL 76 a 90 min.

II. O projecto da Alcateia:

A Caçada

Na Alcateia, dá­-se o nome de Caçada ao projecto que a Alcateia prepara e desenvolve


ao longo de algumas semanas (por norma entre um a dois meses, incluindo todas as fa-
ses). Este nome está integrado no imaginário da secção: Máugli cresceu entre os lobitos,
na companhia do Pai Lobo e Mãe Loba, seus pais adoptivos. Com eles e outros animais
167
manualdodirigente

aprendeu a caçar, partindo de pequenas coisas: primeiro aprendeu a distinguir o rumor


das ervas, as notas do canto da coruja, as pegadas dos animais; depois caçou pequenos
animais, como gafanhotos, lagartixas, grilos. E assim, aos poucos, adquiriu habilidade e
destreza, tomando-se hábil caçador.

Como Máugli, pretende-se que os lobitos escolham e realizem pequenas actividades


onde aprendem coisas novas e se habituam a colaborar e a assumir responsabilidades,
vencendo as dificuldades com que se vão deparando. Assim, se a Caçada for bem pre-
parada, e em clima de entusiasmo, os lobitos têm oportunidade de adquirir experiências
que os prepararão para uma vida futura e de beneficiar de uma Educação Integral, ou
seja, a Educação proposta por B.-P.. Desta maneira, uma Caçada deve ajudar a desen-
volver, em cada lobito a imaginação, a Fé, a saúde, o respeito, a responsabilidade, o
espírito de iniciativa, etc., favorecendo nele a auto-confiança e ajudando-o a ser cada vez
mais autónomo. É esse o sentido do projecto na Alcateia.

É desejável que a Alcateia faça uma Caçada por trimestre em que participe toda a Alca-
teia e em cuja preparação colaborem todos os Bandos. Neste âmbito, é importante que
haja respeito pelo método do projecto, em todas as suas fases, para que cada lobito te-
nha um papel activo na escolha, preparação e realização das actividades que ele próprio
desenvolve e se sinta cada vez mais útil no seio da Família Feliz em que está inserido – a
Alcateia. Neste sentido, há que respeitar a existência dos seguintes elementos:

Imaginário definido a explorar e a desenvolver.

Plano comum que deve ter em conta características dos lobitos como a idade, o
desenvolvimento psicológico, o progresso e a coesão da própria Alcateia.

Um tempo de organização e realização adequado: a Caçada não deve ser muito


prolongada, pois pode tomar-se fastidiosa e desmotivadora para os lobitos.

Possibilidade de poder haver um progresso de cada lobito ao longo das diversas


actividades.

Tarefas específicas para cada lobito: ter funções específicas permite que o lobito
contribua "Da Melhor Vontade" e com toda a sua alegria e coragem para o êxito
da Caçada, o que o ajuda a sentir-se importante e feliz.

Como viver as Fases do projecto na Alcateia

A preparação da Caçada, ainda que esta seja muito simples, obedece sempre a regras
e momentos, como vimos na introdução geral deste capítulo. Da mesma maneira, imagi-
nário e acção exigem sempre uma preparação. Vejamos agora algumas características
específicas do método do projecto na Alcateia.

168
manualdodirigente

Ao desenvolver uma Caçada, o lobito não actua sozinho, mas sim em grupo, des-
de a preparação até à realização o que lhe permite, pouco a pouco, ir conseguin-
do maiores relações de cooperação e de socialização no grupo que integra.

1ª Fase: Idealização e Escolha

Para que os lobitos possam sugerir coisas interessantes, compete à Equipa de Animação
fazer uma preparação que motive cada um a contribuir com boas sugestões. Assim, nes-
ta fase, a Equipa de Animação já deve ter ideias concretas sobre o que pretende para ser
possível, em Conselho de Guias, direccionar as ideias dos lobitos. É importante, assim,
que lance um tema, dando ideias sobre o imaginário a tratar. O lobito, como qualquer
outra criança é dotado do instinto do maravilhoso e entusiasma-se com toda a acção que
tenha um centro de interesse onde ele possa encarnar o papel de determinado perso-
nagem (cavaleiro, índio, herói, santo...). Assim, o lançamento de um tema, que depois
irá converter-se numa história, ajuda-o a entusiasmar-se e a imaginar o que gostaria de
fazer.
De seguida, o tema é apresentado ao Conselho de Alcateia, que é, sem dúvida, o mais
importante ponto de partida para uma Caçada, pois é aqui que são tomadas as grandes
decisões. Por esta razão, a Equipa de Animação deve preocupar-se em criar bons ima-
ginários e apresentá-los de forma atractiva, podendo recorrer a técnicas como cartazes,
fotografias, postais, filmes, diaporamas, saídas (visitas ao campo, cidade, etc.), jogos,
leituras, dramatizações, etc.

Sugestões para imaginários das Caçadas:


- O circo;
- Saltimbancos;
- A viagem de um folha de árvore à volta do Mundo;
- Uma viagem ao fundo do mar;
- A Selva;
- As cruzadas;
- Índios e Cowboys;
- A conquista do castelo;
- Robin dos Bosques;
- Viagens de Marco Pólo;
- Vidas de santos: São Francisco de Assis, Santa Clara de Assis, Beatos Francisco e Jacinta, Rainha
Santa Isabel, São Nuno de Santa Maria, etc.;
- Histórias bíblicas: A arca de Noé, Moisés, passagens da vida de Jesus;
- História de Portugal (Povos que habitaram a Península, D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique,
Egas Moniz, Missionários portugueses, Viriato, Sertório, etc.).

169
manualdodirigente

Uma vez introduzido um tema a toda a Alcateia, compete aos Bandos apresentar su-
gestões sobre o que gostariam de fazer. Neste sentido, a Equipa de Animação pode dar
pistas: O que queremos fazer? Como vamos fazer? Porque é que queremos fazer isto?
E onde?

Depois, cada Bando reúne e prepara a sua proposta, competindo a cada Guia de Bando
ou outro elemento registar todas as ideias. Após este momento, a Alcateia volta a reu-
nir para que cada Bando exponha as suas ideias de forma criativa (podem recorrer a
cartazes, canções, peças de teatro, fotografias, mapas, etc.). Note-se que quanto mais
interessante for uma apresentação, mais hipóteses terá de ser escolhida pelos outros
lobitos. Por essa razão, os dirigentes devem acompanhar de perto a sua preparação,
incentivando os lobitos a usar toda a criatividade que conseguirem. À medida que cada
exposição é feita, num quadro apropriado vão-se registando todas as sugestões: assim,
no fim, todos sabem o que cada Bando sugeriu.

Perante todas as propostas, é importante que os dirigentes ajudem os lobitos a reflectir


sobre as sugestões, para que cada um decida pela Caçada que ofereça mais garantias
de êxito. Depois desta breve análise, é escolhida a Caçada e aqui cada lobito tem direito
a um voto (treino da democracia).De seguida, pode haver algum espaço para que os
lobitos sugiram acções que enriqueçam a Caçada escolhida, de novo com a ajuda dos
dirigentes, para que todos possam manifestar a sua opinião.

2ª Fase: Preparação

Após a escolha da Caçada, compete à Equipa de Animação proceder ao enriquecimento


da Caçada, tendo em atenção, em especial:

A definição concreta e clara dos objectivos a atingir;

A definição das áreas educativas e das oportunidades educativas a trabalhar;

A verificação dos elementos do Método Escutista que estão presentes e de


quais devem ser reforçados;

Os aspectos que devem ser reforçados e os que exigem especial atenção;

A integração de sugestões relacionadas com as propostas dos Bandos que não


venceram;

Outras actividades que se podem incluir.

Note-se, neste ponto, o papel importante que o imaginário desempenha: ao desenvolver


acções que se relacionem com imaginários, a imaginação dos lobitos intensifica-se de
tal forma que eles vivem mais intensamente os momentos da Caçada. Assim, se o ima-
170
manualdodirigente

ginário for bem explorado, cada lobito tem a possibilidade de desenvolver capacidades e
de satisfazer necessidades e desejos que, por qualquer motivo, na vida real lhe estavam
vedados. Assim, os temas a desenvolver devem implicar acções em que o imaginário
seja bem realçado, dando oportunidade a que a Caçada vá de encontro à fantasia das
crianças.

A nível do imaginário e das acções a realizar, é conveniente que se mantenha,


ao longo da Caçada, um certo mistério que envolva as actividades. Assim, há co-
nhecimentos que só devem ser do domínio da Chefia (como por exemplo, como
acaba a história que se está a trabalhar na Caçada ou todas as actividades que
se vão realizar no final da mesma). De facto, manter o mistério é muito importante
para uma boa actividade de lobitos, na medida em que os mantém motivados e
interessados.

Depois deste enriquecimento, é necessário, em Conselho de Guias, explicar o resultado


final obtido e preparar concretamente as actividades. Para tal, podem ser definidas cla-
ramente com os Guias as seguintes questões:

O que temos de preparar: actividades, ateliers, jogos, etc.;

Como e quando fazer: que tarefas é necessário distribuir (preparar materiais,


fazer objectos, etc.) ;

Quando: qual o calendário a definir;

Quem faz: que responsabilidades vai assumir cada elemento;

Onde.

Conforme as acções a desenvolver, vão surgir tarefas que os lobitos poderão realizar.
Compete ao Conselho de Guias defini-las e distribui-las, sempre sob a direcção da Equi-
pa de Animação. Cada Bando responsabilizar-se-á pela tarefa ou tarefas que tiver de
desempenhar e, dentro do Bando, cada lobito, individualmente, terá de assumir alguma
responsabilidade.

Eis algumas tarefas que os lobitos podem desempenhar, dentro de uma Caçada:
- Preparação do espaço onde vão ser realizadas as Caçadas;
- Fabrico de disfarces, trajes e outro vestuário adequado à acção (em ateliers);
- Fabrico dos mais variados utensílios e objectos a utilizar na Caçada;
- Criação de poemas e canções relacionadas com o imaginário da Caçada;
- Preparação de um atelier (pelos lobitos mais velhos) onde se ensinam aos mais novos algumas técnicas
escutistas (danças, nós, pistas, códigos, etc.).
171
manualdodirigente

Na véspera da realização da Caçada, o dirigente, em conjunto com os Guias de Bando,


deve certificar-se de que tudo está em ordem e assegurar-se de que cada um cumpriu
da melhor maneira possível o que lhe foi confiado.

3ª Fase: Realização

Nesta fase, cada lobito e/ou Bando deverá pôr em prática as tarefas pelas quais ficou
responsabilizado, competindo aos Guias, e na medida do possível, coordenar os traba-
lhos dos Bandos.

Neste processo, a Equipa de Animação deve ser entusiasta, incitando cada lobito
à descoberta, despertando-lhe a curiosidade e tornando-o desejoso de saber.
Mas, no momento de dificuldades, é também quem anima e ajuda a ultrapassar
os obstáculos.

Neste sentido, à Equipa de Animação compete supervisionar, de forma geral, as


actividades (vendo se cada lobito está a corresponder àquilo que lhe foi confiado),
tentar ultrapassar os problemas que vão surgindo, em conjunto com os Guias e/
ou a Alcateia e estimular todos os lobitos para que, tal como prepararam a acti-
vidade, a realizem da melhor forma, cumprindo até ao fim tudo aquilo a que se
propuseram. Só em caso de necessidade é que se deve ajudar o Guia de Bando
ou algum lobito de forma mais individualizada. Assim, o papel dos dirigentes é au-
xiliar cada Guia a dirigir o seu Bando, nunca o substituindo ou fazendo o trabalho
dele: a chefia do Bando compete ao seu Guia e não ao dirigente.

Depois de realizadas todas as tarefas, a Caçada deve terminar numa actividade de cam-
po, festa (pais, amigos, lares, hospitais, etc.), acampamento ou celebração onde se põe
em prática o que se aprendeu e planeou através da realização de actividades como as
que se seguem:

jogos de interior ou exterior, de curta e longa duração, etc.

saídas variadas: pistas (pode-se fazer um concursos inter-Bandos); excursões


de observação da Natureza (para treino dos sentidos e protecção do ambiente);
visitas de estudo (para conhecimento da história, usos, costumes da zona onde
vive ou de outras zonas); etc.

técnicas de expressão e comunicação: canções (cantar e usar instrumentos mu-


sicais), danças (da Selva, folclóricas, etc.), dramatizações (teatro de sombras,
fantoches, mímica, improvisos, etc.), ateliers de construção (de cartazes, jor-
nais, objectos para o Covil, etc.)

aplicação de técnicas escutistas como montagem de campo, pioneirismo, orien-


tação, Flor Vermelha (fogo de conselho), etc.
172
manualdodirigente

momentos celebrativos de reconhecimento do progresso feito (etapas de pro-


gresso, trilhos alcançados, insígnias de competência) ou de animação litúrgica
(pequenas vigílias, orações para os momentos do dia, observação da Criação/
Natureza, etc.).

E, como cada lobito deu o seu melhor na preparação, agora esforçar­-se-á por desempe-
nhar o seu papel, contribuindo assim para que esta festa decorra no melhor ambiente,
onde reine a alegria, boa disposição e o espírito de entre­ajuda.

4ª Fase: Avaliação

Uma vez realizada a Caçada, é importante avaliá-la em dois momentos:

Logo a seguir à acção – é importante que cada lobito, no momento em que ainda
se encontra sob os efeitos da Caçada (positivos ou negativos) manifeste a sua
opinião;

Num Conselho de Alcateia, passados alguns dias, destinado a esse fim – esta
avaliação da Caçada é indispensável.

Quer num quer noutro momento, é importante que o lobito, individualmente, em Bando e/
ou Alcateia faça uma pequena reflexão sobre:

O alcance dos objectivos inicialmente definidos;

O cumprimento do programa previamente fixado;

O seu empenho individual e em Bando (se foi o mais conveniente para o


êxito da acção, se cumpriu todas as tarefas que lhe foram confiadas,
etc.);

Como se pode alterar/corrigir o que correu menos bem;

Que sugestões pode dar para Caçadas que eventualmente se venham a


realizar.

Esta reflexão não tem de ser escrita nem necessita de ser um momento aborrecido ou
constrangedor para o lobito. Assim, compete à Equipa de Animação usar meios criativos
para que a avaliação seja espontânea e verdadeira e não dar oportunidade aos lobitos
de fazerem críticas destrutivas (relativas a um ou outro lobito que por acaso não desem-
penhou tão bem o seu papel), que podem provocar consequências nefastas.

Bibliografia:
Alaiii, Edições CNE.
BADEN-POWELL, Robert, Manual do Lobito, Edições CNE.
Jogos para lobitos, Edições CNE.
O acampamento de lobitos, Edições CNE.
Flor de Lis – órgão oficial do CNE.
SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE. 173
manualdodirigente

C.4.2 Formas de Aprender Fazendo na Expedição

“Os rapazes chegam a ver aventuras até mesmo num charco de água
suja.”
“A imaginação leva o rapaz através da pradaria e dos mares. No Es-
cutismo, ele sente-se parente do pele-vermelha, do pioneiro e do ser-
tanejo.”
Auxiliar do Chefe Escuta, Baden-Powell

Os exploradores são enérgicos, instintivos, imaginativos, gostam de desafios e de se


descobrirem a si mesmos e ao mundo que os rodeia de forma intensa, apaixonada, vi-
brante. O explorador é, assim, e por natureza, alguém activo, que busca algo, que nunca
está satisfeito, que quer descobrir, que “parte à descoberta do desconhecido”. E fá-lo
dando muita importância à vivência em grupo e à necessidade de ter um círculo íntimo
de amigos: é em conjunto com eles que dá azo à descoberta do seu potencial, vivendo
sonhos, emoções, aventuras...

O lugar próprio do explorador é, assim, junto da sua Expedição, a viver Aventuras na


Natureza, que aprende a respeitar e a amar, vendo nela a obra de Deus e reconhecendo
toda a sua enorme variedade como uma dádiva a preservar e defender.

I. As Actividades da II Secção

O dia-a-dia da Expedição tem de ser um espaço onde os exploradores se sentem entre


amigos e são apoiados pelos mais velhos. Neste espaço, devem sentir que a sua voz
conta e que aqui podem concretizar as suas ideias. Se os exploradores se sentirem aca-
rinhados, compreendidos e ouvidos irão sentir-se felizes e motivados a voltar sempre e
com mais entusiasmo.

As actividades da Expedição realizam-se, em primeiro lugar, ao longo das reuniões se-


manais. O programa para estas reuniões não deve ser muito rígido e deverá ter a flexibi-
lidade para se adaptar a algum imprevisto que possa surgir. No entanto, deverá contem-
plar os seguintes elementos:

Abertura - Marca o início da actividade. Deve ser simples e breve, mas não
rotineira. As Patrulhas podem formar dando o seu Grito, a que se segue, por
exemplo, uma mensagem do Chefe de Expedição ou a apresentação de alguém
que, naquela reunião em particular, irá ajudar a Expedição em determinado as-
sunto. Deve fazer-se também uma oração, que é responsabilidade da Patrulha
encarregada da animação. Este momento transmite dignidade, é um incentivo à
disciplina e à coesão e predispõe para as tarefas a desempenhar.

174
manualdodirigente

Tempo de trabalho – Tempo para tratar das tarefas da Patrulha, de acordo com
a fase do projecto em curso. Assim, poderá ser uma Reunião de Patrulha para
idealizar a proposta da Patrulha, ou para desempenhar alguma tarefa atribuída
à Patrulha na preparação da Aventura. Poderá ainda ser um momento para os
responsáveis pelos ateliers se reunirem de acordo com as tarefas distribuídas ou
ainda um momento em que os titulares dos cargos da Patrulha desempenham
os seus trabalhos (por exemplo, os Cozinheiros de Patrulha definem a ementa
do próximo acampamento, o Guarda-Material verifica o estado do material de
campo da Patrulha, etc.).

Tempo de aprender – Tempo para adquirir novos conhecimentos ou desenvolver


técnicas conforme as necessidades da Expedição ou da Aventura em curso (por
exemplo, montar e desmontar a tenda da Patrulha antes do próximo acampa-
mento da Expedição, fazer ateliers de pioneirismo ou socorrismo, etc.). Envolver
elementos externos à Equipa de Animação poderá ser uma forma de prender
melhor a atenção dos exploradores (Por exemplo, quem ensina a usar um extin-
tor é um bombeiro). Em todos os casos não esquecer nunca que os explorado-
res aprendem fazendo.

Tempo de jogar – O jogo pode servir para motivar os exploradores para o que
se irá passar a seguir, para sedimentar conhecimentos adquiridos, para gas-
tar energias ou para ajudar a retomar a atenção para os trabalhos seguintes
(por exemplo, pode-se fazer uma corrida de cavaletes depois de a Patrulha ter
aprendido as ligações).

Fecho – Tal como no início, também no final deverá haver uma breve cerimó-
nia que encerra a reunião. Deverá ter as mesmas características da abertura,
incluindo ainda uma breve avaliação. Poderão ser incluídos avisos ou recomen-
dações, lembrando as tarefas a desempenhar até à próxima reunião (por exem-
plo, saber os horários dos transportes para o local da próxima actividade), Os
exploradores deverão ser motivados a porem em prática, fora da vivência em
Unidade, a Lei, a Promessa e os Princípios do Escuta.

O tempo de cada momento deverá ser definido de acordo com as características


da Expedição, o tempo disponível para a reunião e as necessidades da Aventura
que a Expedição vive no momento.

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manualdodirigente

MOMENTO ACTIVIDADE TEMPO

1º Abertura 5 min.

2º Jogo/canção 2 a 5 min.

3º Reunião de Patrulha/Atelier 20 min.

4º Jogo 15 min.

5º Tempo de aprender 15 min.

6º Jogo 20 min.

7º Avaliação 2 a 5 min.

8º Fecho 2 a 5 min.

TEMPO TOTAL 76 a 90 min.

O Jogo nas actividades

“O Escutismo é um jogo de jovens, sobre a direcção deles mesmos,


em que os irmãos mais velhos podem oferecer aos mais novos um am-
biente saudável e encorajá-los a praticar actividades saudáveis, que os
ajudarão a desenvolver o civismo.”
Auxiliar do Chefe Escuta, Baden-Powell

No escutismo, as dinâmicas de grupo são optimizadas na Patrulha, uma pequena socie-


dade em que todos têm direitos e deveres e um papel importante. Aqui, só a vontade e
trabalho de todos permite atingir os objectivos delineados. Assim sendo, o jogo dá-lhe a
oportunidade de, aderindo livremente às regras, dar expressão à sua inteligência criativa
para optimizar a estratégia no seio da sua Patrulha.

O jogo em Patrulha permite construir algo em comunidade, um verdadeiro


espírito de Grupo: o Espírito de Patrulha.

Assim sendo, o jogo permite ao explorador enriquecer, pouco a pouco, a sua persona-
lidade, através de experiências sempre novas, de situações diferentes e de funções di-
versas. Para além disto, ajuda-o também a descobrir o mundo que o rodeia, os objectos,
176
manualdodirigente

os sentimentos, as regras de uma sociedade onde cada um é uma peça importantíssima


na criação do reino de Deus. O explorador assumirá intuitivamente esta realidade, num
clima de sonho, num espaço simbólico e numa aventura imaginária.

Também aqui o papel da Equipa de Animação é fundamental. De facto, cabe-lhe zelar


para que o jogo seja mesmo motivador e motor de aprendizagem. Neste âmbito, mesmo
os pequenos jogos (com o objectivo de dinamizar um ou outro momento da reunião)
deverão estar embebidos pelo espírito da Aventura em curso. Para além disto, a Equipa
de Animação deve ter o cuidado de preparar tudo convenientemente. Assim, os jogos
deverão ser avaliados com critérios objectivos e previamente estabelecidos, e a pontua-
ção deverá ser afixada na própria semana ou semana seguinte de uma maneira atraente
no painel da Unidade. Por outro lado, a Equipa deve ajudar e orientar os exploradores,
mas nunca resolver um problema por eles ou fazê-los sentir que o seu desempenho não
é importante.

II. A Aventura – O Projecto da Expedição

Uma Aventura, enquanto projecto da II secção, decorre em períodos até 3 meses e deve
ser orientada de acordo com os objectivos definidos para o ano pelo Agrupamento e pelo
Plano Anual da Unidade, aprovado em Conselho de Guias.

A Aventura é o concretizar de todos os sonhos, desejos e anseios que os escuteiros


transportam na sua vivência na Patrulha e na Expedição. É função primordial da Equi-
pa de Animação da Expedição estimular a imaginação, o trabalho, o compromisso e o
investimento de todos os elementos da unidade, de forma a permitir que a Aventura se
concretize de uma maneira positiva e seja um momento enriquecedor e marcante para
todos os que a viveram. Ao longo do projecto, a Equipa de Animação deve assegurar o
entusiasmo e o empenho de todos os intervenientes, ajudando a ultrapassar dificuldades
e assegurando a exequibilidade do projecto.

Primordial é ainda que a Equipa de Animação seja capaz de efectuar as suas “ausências
pedagógicas”, isto é, que permita que os exploradores, as Patrulhas e a Expedição se-
jam cada vez mais autónomos, cada vez mais auto-suficientes. Contudo, tudo isto deve
decorrer num ambiente seguro, ou seja, onde se pode errar. De facto, é importante que
os elementos experimentem, que façam, que se enganem, que errem: é normal, é salutar
e é educativo! Recordemos, a este nível, as palavras do nosso fundador: “Quem nunca
errou, nunca fez nada!”

Na animação da vida da Expedição pretende-se que a Equipa de Animação seja


capaz de criar um ambiente que motive os exploradores a viverem aventuras e
a descobrirem o mundo que os rodeia. Este ambiente é fundamental para o seu
bem-estar e desenvolvimento equilibrado, permitindo que os exploradores apre-
endam os valores contidos na Lei, na Promessa e nos Princípios do Escuta. Para

177
manualdodirigente

tal, torna-se necessário que a Equipa de Animação tenha sempre presente que
a animação da vida da Expedição não se faz de improviso e que o dia-a-dia da
Expedição tem de estar integrado na Aventura em curso, permitindo desenvolver
os objectivos definidos no Plano Anual.

Ao preparar as actividades da Aventura, a Equipa de Animação deverá ter em


atenção o seguinte:

• O Imaginário, a Mística e a Simbologia, próprias dos exploradores e da Aventura


em curso devem estar sempre presentes. Estes elementos ajudam a criar um
ambiente propício ao desenvolvimento dos exploradores.

• Os exploradores necessitam de muito movimento, pelo que, havendo palestras,


elas devem ter uma duração adequada às suas características. De facto, não pode-
mos esquecer que os exploradores aprendem sobretudo pela experimentação.

• Cada um dos exploradores é diferente e necessita de atenção e estímulos distin-


tos. A Equipa de Animação deverá demonstrar à vontade em todas as situações de
forma a permitir que os exploradores se sintam à vontade sendo eles próprios.

• Para que se possa estabelecer uma relação educativa que dê frutos, é necessá-
rio que se crie um clima de confiança mútua entre a Equipa de Animação e cada
um dos exploradores.

Note-se que não é função da Equipa de Animação substituir as Patrulhas na pre-


paração da Aventura, “convidando” depois os elementos a nela participarem. Isso
pode ser uma actividade qualquer... Escutismo não é.

As Fases da Aventura

Na 1ª Fase, de idealização e escolha, é importante pôr os elementos a sonhar, fazendo-


­-os reflectir em perguntas como: Que gostarias de ser? Qual é o herói que gostavas
de ser? Que aventura agora te enchia as medidas? Estas e outras perguntas devem
ser formuladas/encorajadas em Conselho de Guias para que tenhamos um “pontapé
de saída” para a Aventura. É o lançar da semente, do desejo de partir à descoberta do
desconhecido, que depois cada Patrulha irá trabalhar.

Durante a idealização do projecto de Aventura, pelas Patrulhas, a Equipa de Ani-


mação deverá, em Conselho de Guias, motivar, orientar, ajudar e dar sugestões
às Patrulhas sobre os seus projectos.

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manualdodirigente

Só depois deverão ser privilegiadas as Reuniões de Patrulha por forma a que estas
possam idealizar não só o seu projecto, mas também a forma de o apresentarem à
Expedição. Este é o momento para cada uma para criar e apresentar o seu projecto à
Expedição, pondo em prática as mais diversas técnicas para o apresentar de uma forma
atractiva e inovadora.

No momento da apresentação todos os elementos da Patrulha devem ser cha-


mados a ter um papel activo. É um momento importante de união e entreajuda na
Patrulha e deve haver particular atenção/ apoio aos elementos mais introvertidos
ou tímidos.

A este nível, é importante que a Equipa de Animação encoraje os exploradores a criar


e apresentar imaginários interessantes e que permitam novas descobertas e aprendiza-
gens ao longo da Aventura.

Exemplos de imaginários para Aventuras:


- As cruzadas;
- O espaço;
- A Idade Média;
- Os Piratas;
- As Viagens Marítimas;
- Os Índios;
- O “Far-West”;
- A procura do ouro;
- A libertação do Egipto;
- David e Golias;…

Nestas Aventuras, os exploradores são os heróis:


“Somos astronautas em busca de uma galáxia longínqua!”
“Somos navegadores em busca de tesouros escondidos em ilhas distantes!”
“Somos cavaleiros em busca de um objecto sagrado para a nossa Expedição!”

A escolha do melhor projecto, em Conselho de Expedição, é importante, na medida em


que permite treinar a democracia. Assim, e depois de ressalvados todos os aspectos
positivos de cada projecto, procede-se a uma votação em que cada elemento das Patru-
lhas tem um voto. Aqui pode inserir-se um componente de negociação do estilo “voto no
projecto da vossa Patrulha, caso integrem este aspecto do nosso projecto.”
179
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A votação/ escolha é um momento educativo importante por implicar a hipótese


dos exploradores de uma Patrulha não verem o seu esforço reconhecido e po-
derem ficar tristes e/ou frustrados. Aqui, é de primordial importância a acção da
Equipa de Animação: deve fazer ver que, no final, aquele já não é o projecto de
Aventura da Patrulha A ou B, mas sim de toda a Expedição, na medida em que
deve integrar sugestões dadas pelos projectos que não venceram.

À escolha, segue-se depois o Enriquecimento, em que deverá existir o cuidado de inte-


grar sugestões dos projectos não escolhidos e outras ideias dos exploradores. Contudo,
há que zelar para que a Aventura não deixe de ter coerência em termos de Imaginário e
não fique sobrecarregada com demasiadas acções.

No Enriquecimento, a Equipa de Animação deverá garantir que a Aventura ajuda-


rá a atingir os objectivos propostos tanto no Plano Anual do Agrupamento, como
no Plano Anual da Expedição.

Na 2ª Fase, e depois de realizado o enriquecimento do projecto escolhido, em Conselho


de Guias começa-se a preparar tudo: é o momento para definir papéis e responsabilida-
des para pôr no terreno a Aventura e concretizá-la.

O Conselho de Guias deverá acompanhar o desenrolar de toda a preparação da


Aventura reunindo sempre que necessário. Num determinado Conselho de Guias
poderá estar presente o responsável de um atelier cujo trabalho seja importante
conhecer nesse momento.

Tudo o que ficar definido – actividades, ateliers, tarefas, etc.,não esquecendo os recur-
sos necessários – deve constar do Painel de Aventura, onde se colocam todas as infor-
mações relevantes à aventura que se está a viver:

Nome;
Lema;
Data de realização;
Local;
Objectivos;
Actividades (à medida que vão sendo realizadas).

O Painel de Aventura é elaborado pela Expedição para permitir acompanhar a


evolução da Aventura e manter a motivação dos elementos.
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manualdodirigente

A Aventura, deverá conter um conjunto de pequenas actividades, jogos, etc.,que têm de


estar de acordo como imaginário da Aventura. Aliás, toda a Base, os cantos de Patrulha,
etc., devem ser decorados de acordo com a Aventura escolhida, e em qualquer activida-
de o explorador deverá sentir e viver o imaginário em curso. Todas as actividades têm de
se desenrolar por uma sequência lógica (seguindo o imaginário) e devem culminar pelo
menos numa grande actividade: o ponto mais alto da Aventura.

Para além disto, a Aventura deve comportar tarefas relacionadas com ateliers e também
tarefas específicas destinadas a cada Patrulha e a cada explorador, bem como a imple-
mentação dos Cargos e das Funções de Patrulha.

Durante esta 2ª Fase da Aventura, deverão ser realizadas Reuniões de Patrulha


de acordo com as tarefas distribuídas, não esquecendo o tempo necessário a que
cada atelier possa desenvolver aquelas que lhes foram atribuídas.

A 3ª Fase da Aventura é a fase da realização concreta das actividades planeadas. E aqui


devem ser colocados desafios aos exploradores no sentido de estes realmente viverem
o projecto, a Aventura! Para isto, devem ser desafiados a encarnar da forma mais intensa
possível o conjunto de personagens e de situações definidas pelo projecto escolhido.

É importante, na fase de realização concreta das actividades, usar de facto o ima-


ginário da Aventura (através de trajes, canções, construções, jogos, etc.), levando
os exploradores a encarnar o papel dos heróis que idealizaram. Assim se ajuda a
melhorar a sua criatividade e a manter a motivação.

Na última fase, a da avaliação, é preciso ver o que marcou e ganhou raízes nos explora-
dores depois da Aventura. Esta avaliação é muito importante e deve ser feita pela Expe-
dição e Patrulhas, em momentos variados: uma avaliação a quente, no final da Aventura
e antes de regressar à Base, e em outro momento, mais a frio (na semana seguinte,
durante a primeira reunião da Expedição pós-Aventura, por exemplo).

A Avaliação deverá ser feita numa perspectiva positiva, realçando sobretudo o


que se conseguiu atingir e zelando para que todos tenham o direito de se fazer
ouvir. Os erros deverão ser usados como forma de crescimento, de forma a evitar
voltar a cometê-los em próximas Aventuras.

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manualdodirigente

Bibliografia:
BADEN-POWELL, Robert, Mil e uma Actividades para escuteiros. Edições CNE.
FARIA, Manuel, Jogos para exploradores, Edições CNE.
FITZSIMONS, Cecilia, 50 Actividades para Miúdos, Editorial Caminho.
Flor de Lis – órgão oficial do CNE.
Nós e as construções. Edições CNE.
Nós e os Nós. Edições CNE.
OPPIE, Frankie, Escuteiro Global. Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE.
WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo, Edições CNE.
Gonçalo Vieira

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C.4.3 Formas de Aprender Fazendo na Comunidade

O 'Saber-fazer' – a par do “Saber-Ser' e do 'Saber-Saber' –, o 'Agir' – em conjunto com


o 'Saber' e com o 'Querer' –, são desígnios que se apresentam ao pioneiro e, por con-
seguinte ao animador adulto que trabalha na Comunidade. Esta capacidade, a aptidão
para a 'construção' – da Igreja, da Comunidade, de si próprio – está bem presente na
necessidade fundamental de trabalhar, dignamente e com todo o empenho, o Aprender
fazendo com os pioneiros.

I. 'As reuniões' como escola na vida

No Escutismo, as reuniões – Reunião de Equipa – e conselhos – Conselho de Guias e


Conselho de Comunidade, são uma grande oportunidade de crescimento dos jovens a
nível do Aprender fazendo (o seu valor pedagógico está explicitado no capítulo sobre o
Sistema de Patrulhas). De facto, pela vivência prática das reuniões, os pioneiros apre-
endem uma série de regras e conceitos com forte valor pedagógico e que lhes vão ser
muito úteis no futuro.

A reunião de Equipa é o espaço privilegiado onde cada pioneiro partilha as suas


ideias, apresenta sugestões, questiona os outros elementos e constrói o projecto
(conjunto de soluções para Empreendimentos e actividades) a apre­sentar pela
Equipa ao Conselho de Comunidade.

Estas reuniões devem realizar-se semanalmente e, embora não obedeçam a nenhum


programa rígido, devem contemplar alguns elementos básicos: a abertura (oração, reco-
mendações iniciais, etc.), tempo para a vida de Equipa (verificação de presenças, quo-
tas, etc.), para pôr em prática o Empreendimento (através da sua idealização ou da reali-
zação de tarefas se já estiver escolhido), para adquirir ou pôr em prática conhecimentos
(por exemplo, de técnica escutista) e para jogar. Na sua conclusão, deve haver ainda
espaço para uma oração final, avaliação breve e avisos. Pode ainda ser necessário, em
183
manualdodirigente

alguma reunião, incluir momentos como cerimoniais (por exemplo, o da Investidura de


Guias), Conselhos (de Guias ou de Comunidade), lanche, preparação da Eucaristia, etc.
(ver, também, o capítulo Sistema de Patrulhas sobre este assunto é desenvolvido).

O espaço do jogo e da técnica escutista

Nas reuniões semanais deve haver lugar tanto para o jogo como para a técnica escutista.

Pode pensar-se que o jogo escutista está mais vocacionado para os exploradores ou lobi-
tos do que para os pioneiros. Não será, de todo, assim. De facto, para os pioneiros, o jogo
é, acima de tudo, uma oportunidade pedagógica assente na pedagogia da valorização do
esforço de cooperação e que permite ao jovem testar em segurança os seus limites, as
suas capacidades e potencialidades e, na continuação, avaliá-las e aumentá-las.

O papel do dirigente, nos jogos escutista da Comunidade, passa pela orientação para
que o jogo seja motivador e motor de aprendizagem. Nesse âmbito, a sua presença
torna-se imprescindível. Assim sendo, o dirigente não pode assumir o papel de simples
árbitro, mas deverá olhar para ele como uma importante componente educativa para o
pioneiro.

Boa prática:
O jogo para os pioneiros será necessariamente diferente do que se pratica nas outras secções, mas,
embora os elementos fundamentais sejam os mesmos, deve haver, uma adequação à idade. Por outro
lado, eles próprios têm noção exacta do tipo de jogos que preferem e têm autonomia suficiente para
contribuírem para a preparação desses jogos. Jogos de destreza física e de estratégia intelectual
estão, por norma, entre os preferidos.

Por seu turno, a técnica escutista é o elemento mais facilmente ligado ao 'Aprender Fa-
zendo', pela componente de habilidade manual que encerra. Este é um elemento muito
importante da pedagogia escutista e deve estar presente em toda a acção que o método
promove e proporciona.

Nos pioneiros, a secção em que a mística passa pela edificação da Igreja Nascente, em
que o imaginário se relaciona com a construção das primeiras comunidades cristãs, em
que um dos símbolos é a machada, a técnica torna-se, assim, um elemento central e que
importa valorizar. Assim sendo, o trabalho com os pioneiros tem, necessariamente, uma
forte incidência no domínio da técnica escutista, que deve ser aprofundada, em ateliês
dos Empreendimentos, nos acampamentos, nos raides, nos jogos, em toda a vida em
campo e na natureza.

Neste sentido, é imprescindível que, antes da Promessa, o aspirante/noviço já domine


alguma técnica escutista como códigos e cifras, sinais de pista, cozinha em campo, pio-
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manualdodirigente

neirismo (nós e amarrações, construções em madeira com encaixes – froissartage) e


manuseamento de ferramentas e equipamentos (instrumentos de trabalho com a madei-
ra, como machadas, maços, martelos, formões, puas, serras e serrotes, etc.; equipamen-
tos necessários à vida em campo, como petromax, fogões a gás, etc.).

Boa prática:
A técnica escutista está em todo lado na acção escutista e não é pelo facto de não haver provas
de natureza técnica que ela deixa de existir. Interessa, pois, que o animador adulto tenha perfeita
consciência de quais devem ser os conhecimentos técnicos mínimos que o pioneiro precisa de dominar.
Constitui, portanto, uma boa prática, que a Direcção do Agrupamento produza um documento que
possa estabelecer quais são os aspectos técnicos que a Alcateia e a Expedição procurarão fomentar,
de modo a que não se repitam nem se antecipem conhecimentos e competências que depois se mostrem
desajustadas.
Note-se que estes conhecimentos e competências podem ser diferentes de realidade para realidade.
De facto, num certo Agrupamento, localizado num determinado meio (com características sociais e
sociológicas próprias), os escuteiros podem dominar alguns aspectos técnicos de vida ao ar livre que não
serão tão habituais noutro Agrupamento.

II. A pedagogia do Projecto nos pioneiros: o Empreendimento

O Empreendimento é um conjunto de acções inter-relacionadas que os pioneiros –, in-


dividualmente e em Equipa/Comunidade e com o apoio dos adultos da Equipa de Ani-
mação – planeiam e implementam de forma gradual com vista a atingir um objectivo
último, concreto, num determinado espaço de tempo. Um Empreendimento é, então, um
conjunto de momentos e de iniciativas que podem demorar vários fins-de-semana de
actividades e que se materializam em formas tão diversas como reuniões, jogos, acam-
pamentos, raids, ateliês, actividades com a comunidade paroquial, viagens, entre outras.
É importante, no entanto, que estas actividades procurem responder a um determinado
objectivo, definido previamente e estejam interligadas.

Boa prática:

É importante que um cartaz com o esquema das diversas fases do empreendimento esteja afixado em
local de destaque no Abrigo (ou no Canto da Equipa). De facto, a familiaridade dos pioneiros com o es-
quema das fases do empreendimento vai ajudar muito o jovem na sua vida futura: o método do projecto
é uma forma de organização de actividades adaptável a todas as realidades (escola, vida profissional,
projectos pessoais) e conhecê-lo e interiorizá-lo pode revelar-se importante no “mundo real”.

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Ao longo de um ano escutista, a Comunidade pode realizar vários Empreendimentos,


cabendo ao Conselho de Guias a decisão sobre o número de projectos a realizar, os
períodos temporais que procurarão ocupar e as datas de início e fim dos mesmos. Isto
deve ser definido no início do ano escutista. Para além disto, compete também a esta
estrutura estabelecer – se necessário e em consonância com o que é o entendimento
da Comunidade – algumas ideias que devem estar presentes nos projectos a apresentar
pelas Equipas (por exemplo, estabelecer que um determinado empreendimento deve
cumprir determinados objectivos ou que um acampamento deve-se realizar num deter-
minado local). Essa determinação deve ser estabelecida previamente ao trabalho de
Idealização das Equipas.

Boa prática:

No início de cada ano escutista, a Equipa de Animação deve procurar munir-se de toda a informação pos-
sível para planificar da melhor maneira os meses que se seguem. Neste sentido, deve procurar saber, em
concreto, as datas do calendário escolar dos pioneiros (com especificidades como períodos escolares e
exames nacionais/provas de acesso) e as datas das actividades escutistas de relevo (de Agrupamento,
Núcleo, regionais e nacionais, que por vezes exigem actividades/jogos de preparação).
Para além disto, deve ter em conta os Planos Trienais que o Agrupamento, o Núcleo, a Região ou a Junta
Central podem ter preparado (têm objectivos sequenciais, envolvimento temático estruturado no
sentido de “dar sentido ao caminho” de cada escuteiro, Equipa, Comunidade e Agrupamento). De facto,
faz todo o sentido que, a par da planificação das actividades no tempo, haja a preocupação de saber
que propostas nos fazem as estruturas dos níveis superiores em cada ano. Todos ganham com esse
esforço e essa coerência.

1.ª Fase – IDEALIZAÇÃO E ESCOLHA

Marcada a data do Conselho de Comunidade para a escolha do Empreendimento (pelo


Conselho de Guias), cabe à Equipa de Animação dar início à motivação dos pioneiros,
procurando o envolvimento, fomentando a criatividade, estimulando os pioneiros a irem
mais além e organizando prioridades na multidão de sonhos e ideias que povoam a sua
imaginação e ambição.

Apesar de este momento de motivação ocorrer, por norma, no Conselho de Guias, tal
não é obrigatório: a motivação pode ser feita através de um jogo, de uma pequena acti-
vidade realizada na reunião semanal ou de uma conversa dos Chefe de Comunidade a
toda a Comunidade, no início ou no final da reunião semanal. O que se pretende é que
o dirigente crie condições que possibilitem, favoreçam e estimulem a iniciativa e a criati-
vidade de cada um dos elementos (ajudando-os a sonhar, a optar, a ser criativos). Para
isto, tem de ter consciência de que o seu exemplo, dinamismo e entusiasmo contribuem
positivamente para animar e motivar os pioneiros.
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Boas práticas:
- O papel do Guia no momento da Motivação
O Guia é um importante agente de motivação, pelo que é importante que o seu papel seja valorizado por
parte da Equipa de Animação, que deve respeitar o seu papel e as deliberações tomadas nos diferentes
conselhos.
- O teu progresso é o nosso progresso
Em cada fase do Empreendimento, a Equipa de Animação deve ter em conta que o elemento central
do Projecto é o crescimento do pioneiro e que todas as actividades devem ter esse objectivo. Neste
âmbito, é também importante que os pioneiros tenham consciência de que as actividades de um em-
preendimento são oportunidades pedagógicas ideais para a concretização e validação dos objectivos
educativos do seu progresso pessoal. Esta informação deve ser dada aos pioneiros no momento da
motivação para que se sintam estimulados a incluir, num empreendimento, as acções concretas com que
se comprometeram no seu progresso pessoal.
- “Guiai… não empurrai!” (B.-P.)
O processo de motivação não é uma ‘ordem’ da Equipa de Animação para que se prepare um determinado
empreendimento nem implica a indução de ideias por parte da Equipa de Animação. Assim sendo, os diri-
gentes devem estimular a criatividade dos pioneiros sem darem sugestões pré-concebidas (a menos que
isso tenha, de facto, relevância pedagógica e seja feito com esse objectivo). Para além disto, devem ter
atenção o grau de autonomia que devem respeitar para que o crescimento dos pioneiros seja feito em
“aprender fazendo” e não em “obedecendo”.

Depois da motivação, segue-se o momento da concepção de uma proposta de Empre-


endimento. Esta concepção começa na cabeça de cada pioneiro (cada um tem noção do
que gostava de fazer e das acções concretas que tem de realizar para validar os objecti-
vos que escolheu) e é seguida de um trabalho de diálogo dentro da Equipa, que tem de
se entender para apresentar um projecto comum.

Note-se que a proposta de cada Equipa deve ser o mais concreta e completa possível,
contemplando objectivos, o modo como são concretizados (acções concretas, activida-
des a realizar) e os aspectos logísticos a ter em conta (custo das actividades, formas de
financiamento, transporte, locais de pernoita etc.). Interessa ainda que a proposta seja
apresentada da forma mais atractiva possível, para aumentar as possibilidades de ser
escolhida.

A seguir é feita a apresentação de cada uma das propostas, em Conselho de Comu-


nidade, competindo a cada Equipa fazer uma apresentação o mais atractiva possível
do projecto que concebeu (deve saber “vender” o seu trabalho). Este momento é uma
oportunidade para trabalhar a expressividade oral e corporal e a criatividade e revela-se
de especial importância no crescimento dos pioneiros: sensibilizar um grupo para as qua-
lidades de uma proposta, é uma tarefa que a realidade do mundo do trabalho pode vir a
exigir a cada um, mais tarde. Para além disto, esta é uma oportunidade para integrar os
escuteiros mais tímidos ou introvertidos e para fomentar o Espírito de Equipa (a Equipa
une-se em torno de um objectivo concreto para o qual todos terão contribuído).
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Boas práticas:

- Ajudar a conceber
Este momento de concepção é feito exclusivamente pelos pioneiros, mas o dirigente deve mostrar-se
atento e disponível para ajudar a conceber bons projectos. Note-se, contudo, que não interessa que
intervenha sem ser solicitado.

- Usar ferramentas
A Comunidade pode ter, no Abrigo, ferramentas que podem apoiar as Equipas na concepção da sua pro-
posta: um mapa de Portugal com as redes de transportes, documentos sobre parques escutistas ou
naturais, maravilhas da Natureza, património histórico ou cultural, etc. Para além disto, pode também
usar-se a internet, criando uma lista de ligações úteis de parques escutistas, comboios, parques na-
turais, câmara municipais, entre outros. Por fim, também podem servir de apoio e inspiração livros de
receitas, fórmulas de capitação alimentar, cartazes de antigos empreendimentos e fotografias e
relatórios de actividades passadas.

- Ser eficaz
Os pioneiros podem conseguir uma apresentação atraente recorrendo a meios tecnológicos, peças tea-
trais, um jogo, etc. Faz sentido que sejam incentivados a abandonar a estratégia do cartaz de carto-
lina, usando a sua criatividade para fazerem com que os outros “se liguem” ao projecto da sua Equipa.

Todo este processo termina com a escolha de uma das propostas, momento importante
para a formação da cidadania a nível do que é decisão democrática. Assim, depois de
apresentadas as propostas, deve haver um espaço para que se possa fazer perguntas
sobre elas (para tirar dúvidas ou explicitar algum aspecto), a que se segue a votação.
Aqui, cada pioneiro vota na proposta que mais lhe agrada e a proposta mais votada pas-
sa a ser o Empreendimento da Comunidade.

Note-se que, quanto mais empenhado o pioneiro estiver na concepção da proposta da


sua Equipa, mais difícil será para ele votar numa proposta que não a sua, o que pode
prejudicar a decisão democrática, porque pode dar origem a empates e injustiças (pode
ganhar a Equipa que tiver um maior número de elementos, por exemplo). A forma de
resolver esta situação não é fácil, mas pode passar, caso se prevejam complicações,
por inserir uma componente de negociação: dá-se o voto a outra proposta em troca da
integração de um determinado componente do projecto da sua Equipa. Esta é uma boa
oportunidade de formação da cidadania: a tomada de decisões com vista ao bem-estar
colectivo.

Para que uma Equipa ganhe é preciso que todas as outras percam, mas perder não é fá-
cil. Nestes momentos de frustração e desapontamento perante uma derrota na votação,
o papel da Equipa de Animação é de particular relevância: compete-lhe ensinar a perder.
Esta pedagogia da derrota passa por ensinar os pioneiros a perceber o que correu mal
188
manualdodirigente

(para não repetirem o mesmo erro numa próxima ocasião) e por procurar incentivá-los
a participar na fase de enriquecimento, integrando algumas das suas sugestões na pro-
posta vencedora.

2.ª Fase – PREPARAÇÃO

A segunda fase do Empreendimento é a da Preparação. Depois da escolha, cada Equipa


deve pensar como se pode melhorar a proposta vencedora e de que forma é que uma
proposta boa se pode tornar num espectacular Empreendimento. Também a Equipa de
Animação deve proceder ao mesmo esforço e à mesma análise. Estamos, assim, num
momento de enriquecimento, em que se aperfeiçoa a proposta vencedora, muitas vezes
com contributos das propostas preteridas.

O Enriquecimento é, talvez, a fase do Empreendimento em que o papel do diri-


gente é mais relevante. Neste momento, compete-lhe:

- preocupar-se em valorizar a actividade escolhida de forma global, ajudando os


pioneiros a aproveitar aspectos que constaram de propostas preteridas na fase
de Escolha.

- dar realismo e pragmatismo à proposta vencedora, retirando aspectos impossí-


veis de concretizar (por serem inviáveis ou por não se ajustarem).

- valorizar os objectivos propostos, adicionando outras actividades ou sugerindo a


retirada de actividades que são supérfluas.

- impregnar o projecto de valores escutistas, procurando que estejam presentes


todos os elementos do Método Escutista e todas as áreas de desenvolvimento.

- adaptar o Empreendimento à progressão pessoal de todos e não apenas à dos


pioneiros que pertencem à Equipa cuja proposta foi a mais votada. Isto implica
zelar para que todos os pioneiros possam desenvolver acções concretas para a
validação dos objectivos educativos do seu sistema de progressão pessoal.

Feito esse trabalho em Equipa, o Conselho de Guias reúne para definir concretamente
as características do Empreendimento. Após este enriquecimento, cabe-lhe definir os
passos seguintes até à realização de cada uma das diferentes actividades. Nesse senti-
do, é sua tarefa o planeamento das medidas a tomar e da estratégia a seguir.

Após o estabelecimento de um plano, é altura de proceder à organização das actividades


a realizar. Este passo exige a participação de todos, na medida em que implica a divisão
de tarefas por todos os elementos (ninguém deve ficar de fora).
189
manualdodirigente

Boas práticas:

- Comissões técnicas
O Conselho de Guias, no planeamento e organização das actividades, pode determinar a criação de Co-
missões Técnicas, pequenos grupos compostos por elementos de diferentes Equipas da Comunidade
que se agrupam com uma missão específica (cada elemento só deve participar numa, para que todos
possam experimentar e crescer). Podem constituir-se comissões técnicas para a animação de um
acampamento(animação de todos os momentos comuns e de oração da actividade), organização logística
da actividade (condições para acampar, transportes, etc.), finanças, saúde e alimentação, contactos
e relações públicas, etc.

Os elementos que formam as Comissões Técnicas devem definir um responsável para cada Comissão
(que tem assento no Conselho de Guias, sempre que necessário) e podem procurar formação na área
que estão a tratar, assim como promover essa mesma formação na Comunidade, através, por exemplo,
de ateliês.
Os dados acerca da Comissão Técnica são colocados no Painel do Empreendimento, para que toda a
Comunidade possa acompanhar a sua evolução.

- Atribuição de funções
Durante a organização e a realização de um Empreendimento específico, pode surgir a necessidade
de realizar tarefas que impliquem o exercício de funções (responsabilidades temporárias atribuídas
a cada elemento e que são diferentes dos cargos – ver capítulo do Sistema de Patrulhas para mais
informações). Assim, por exemplo, num Empreendimento que contemple um acampamento, poderá haver
a necessidade de existirem um ou mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, ou
financeiros ou socorristas, etc.

É importante incentivar a atribuição de funções, na medida em que o seu desempenho permite que os
pioneiros experimentem novas realidades, podendo descobrir talentos e gostos escondidos (por exem-
plo, um secretário que nunca teve o cargo de animador pode, num acampamento, cumprir essa função).

- Painel do Empreendimento
Todas as acções deve estar inscritas no Painel do Empreendimento, registo público do dia-a-dia do
Empreendimento: o nome do projecto, o lema, os objectivos, cada uma das actividades – com as respecti-
vas datas, locais e as fotografias das já realizadas –, e, ainda a composição das comissões técnicas – a sua
constituição, tarefas e missões –, os ateliês preparatórios, bem como espaço para informações comuns,
e as listas dos afazeres e tarefas.

Assim se expõem todas as informações relevantes acerca do projecto que se está a viver, o que é fac-
tor de motivação para os pioneiros, que observam a evolução do que estão a realizar.

3.ª Fase – REALIZAÇÃO

A terceira fase do Empreendimento é a da Realização, o momento da vivência concreta


do Empreendimento. Esta é a fase em que as coisas acontecem, se constroem e se ma-
terializam na actividade que foi preparada (acampamento, raid, etc.).
190
manualdodirigente

Boa prática:
Pese embora alguma adaptação ou alteração, deve procurar-se que as actividades de um Empreendi-
mento sejam realizadas e vividas o mais próximo possível do que foi idealizado e organizado. Assim sendo,
e mesmo que, na hora da verdade, se pense que se poderia ter feito tudo de modo diferente, é impor-
tante que se realize o que foi planeado e organizado, para que não haja desmotivação por parte dos
pioneiros, que certamente prepararam tudo com entusiasmo.

4.ª Fase – AVALIAÇÃO

A quarta etapa é a da Avaliação, ou seja a identificação – primeiro individual e depois


colectiva (em Equipa e/ou em Comunidade) – do que correu bem, do que correu menos
bem e do que correu mal na concretização dos objectivos definidos. Essa avaliação deve
ser feita em consciência e com toda a honestidade.

Há inúmeros métodos que se podem utilizar, conforme o tipo de avaliação que se pre-
tende: conversa informal, placard de avaliação, preenchimento de um formulário, etc. O
dirigente deve conhecer estas diferentes formas para poder utilizar a que mais se adequa
à vida da Comunidade num determinado momento. Neste âmbito, importa que procure
verificar pontos específicos que podem ser úteis para crescimento da Comunidade ou
para a elaboração de novos projectos. Deve, assim, zelar para que a avaliação permita
a recolha de sugestões futuras.

É nesta fase também que a Comunidade celebra a sua evolução, partilhando as vivên-
cias que a enriqueceram e registando o progresso alcançado pelos seus elementos. As-
sim, este deve ser um momento em que não só se recorda o que correu menos bem, mas
também se ajuda os pioneiros a sentir orgulho pelo que fizeram e alcançaram – mesmo
que o que tenha acontecido não tenha sido um rotundo sucesso. O que é importante é
que conseguiram completar o tríodo: “Saber, Querer e Agir!”.

Boa prática:

- Registo da Avaliação
Tanto os pioneiros como a Equipa de Animação devem fazer um registo da avaliação da actividade, atra-
vés de relatórios, do registo no Painel do Empreendimento ou no Livro de Ouro da Equipa, no Diário de
Vivências dos pioneiros, etc. Este registo poderá servir de guia durante a organização de actividades
futuras, evitando que se repitam os mesmos erros.
- Celebrar O final do Empreendimento pode ser marcado por uma festa, um jantar, uma exposição de
fotografias, a exibição de um filme com os melhores momentos e a história do Empreendimento.

191
manualdodirigente

Bibliografia:
BADEN-POWELL, R. S. S., Mil e uma Actividades para escuteiros, Edições CNE.
Flor de Lis – órgão oficial do CNE.
Nós e os Nós, Edições CNE.
Nós e as construções, Edições CNE.
OPPIE, Frankie, Escuteiro Global, Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, O Empreendimento (Colecção Manual do Dirigente n.º 10), Edições CNE.
WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo, Edições CNE.
Joana Martins

192
manualdodirigente

C.4.4 Formas de Aprender Fazendo no Clã

“Se queres triunfar, precisas de concluir a tua educação, educando-


­-te a ti mesmo. Proponho que o faças com três objectivos principais:
prepara-te para as responsabilidades:
- do teu futuro ou profissão;
- de futuro pai de filhos;
- de cidadão e guia de outros homens.”
B.-P., A Caminho do Triunfo

I. Actividades da IV Secção

A aprendizagem pela acção motiva os jovens, pois eles estão a fazer coisas reais e úteis
enquanto interiorizam, de forma natural, todas as descobertas, tornando-se mais conhe-
cedores de variados temas, ganhando novas habilidades e adquirindo novas atitudes
(Conhecimentos, Competências e Atitudes). Ao experimentarem, conseguem perceber
para que tarefas estão mais aptos e também melhorar o que fazem menos bem. É tam-
bém uma forma de descobrirem novos interesses e talentos.
193
manualdodirigente

“O fim da educação Caminheira é auxiliar os jovens a tornarem-se ci-


dadãos felizes, saudáveis e úteis e dar a cada um a possibilidade de se
preparar para uma carreira que lhe seja útil.
Permite ao rapaz mais velho continuar sujeito a influências benéficas no
período difícil da transição para a idade adulta.”
B.-P., A Caminho do Triunfo

No “aprender fazendo” verifica-se uma espécie de auto-educação, na medida em que


são os próprios jovens os responsáveis pela sua aprendizagem prática. Esta aprendiza-
gem desenvolve-se de forma privilegiada nas actividades com os outros caminheiros. Na
verdade, os pares e as tarefas em conjunto são fundamentais para a motivação para a
aprendizagem pela acção.

Uma vez que se pretende que as actividades sejam pedagógicas e contribuam para o
desenvolvimento pessoal do jovem, tendo um efeito importante e positivo neles, é crucial
que as mesmas sejam programadas, seleccionadas e desenvolvidas da melhor forma.
O facto de se preparar uma actividade “em cima do joelho” pode implicar improvisos que
tenham consequências nefastas na experiência dos caminheiros.

As actividades são propostas, organizadas e realizadas pelos caminheiros, mas


a Equipa de Animação tem sempre o papel fundamental de garantir que as ac-
tividades não são meramente de recreio. De facto, as actividades têm que ser
pedagógicas e contribuir para o desenvolvimento pessoal de cada caminheiro,
assim como para a evolução do Clã.

As actividades desenvolvidas num Clã tendem, ao longo do tempo, a seguir um deter-


minado padrão, seja na sua forma de realização, seja na sua forma de participação. Isto
acontece, por exemplo, porque a mesma Equipa de Animação está há muito tempo no
Clã, ou porque se trata de uma tradição, ou ainda porque os caminheiros aprendem uns
com os outros e às vezes têm uma fraca imaginação ou motivação.

Seria extremamente preocupante se a rotina se instalasse na vida de um Clã, e não


permitisse a criação de novos projectos e o surgimento de novas ideias. É normal que
esta dificuldade algum dia apareça, mas não é permitido que se instale e nada se faça
para mudar.

Os dirigentes devem ter a preocupação de as actividades não se tornarem rotineiras para


que não se corra o risco de perderem o seu valor educativo e o interesse por parte dos
caminheiros.

A inovação é algo extremamente importante nas actividades. Por isso é tão importante
avaliar: só assim se pode ter sempre presente a questão “onde é que se pode melho-
194
manualdodirigente

rar?” e se pode ir introduzindo variáveis que tornem as actividades mais atractivas, tendo
sempre em atenção que elas, por serem “originais”, não podem deixar de ser escutistas
e devem ser impregnadas dos seus valores e métodos.

Outra coisa que a Equipa de Animação deve ter sempre presente, é que os Clãs não são
sempre iguais e que o grupo de jovens que tem à sua frente muda de ano para ano. Daí
ser tão importante adaptar o modo de trabalhar, actividades, timings, etc. ao grupo que
se tem “aqui e agora”, pois o que resulta com uns, pode não resultar com outros.

Exemplos de actividades a desenvolver com o Clã:

-Actividades de campo: descida de rio (jangada, canoa, a pé…), raide de sobrevivência, hike, acampamentos,
limpeza de matas/florestas/praias, vigilância de matas, protecção a espécies protegidas

-Actividades desportivas: jogos de diversas modalidades ou tradicionais, torneios, trilhos pedestres,


montanhismo

-Actividades de expressão: espectáculo de dança, dramatizações (encenação/mimo de parábolas, por


exemplo), exposições, jornal do Clã, ateliers de expressão dramática, de pinturas faciais e caracteri-
zação, de construção de instrumentos musicais, etc.

-Actividades sociais: animação de tempos litúrgicos (Natal, Páscoa, etc.) ou festas (para doentes e/ou
idosos, por exemplo), colaboração em campanhas de solidariedade (Banco Alimentar, recolha de brinque-
dos, etc.), organização de actividades culturais, peddy-papers, etc.

II. A Caminhada – O Projecto do Clã

A idade dos caminheiros permite-lhes o alcance de uma maior autonomia, que lhes pro-
porciona uma acção mais ousada e com resultados mais visíveis face ao trabalho de-
senvolvido.

Os caminheiros são curiosos e ousados, querem saber mais, fazer mais e diferente. Não
querem estagnar, investem na sua evolução enquanto pessoas, gostam da novidade e
querem conhecer o mundo, as pessoas, os lugares e as ideias. Procuram vivências dife-
rentes, procuram viajar, principalmente para o estrangeiro e com isso apreendem novos
conhecimentos e pontos de vista… É assim que se definem como Homens, cidadãos do
Mundo!

Uma Caminhada é premiada pela ousadia. Ter um projecto assumido por todos, que
conte com o empenho de todo o Clã, é um sucesso com toda a certeza. Os projectos
dos caminheiros são bastante ousados e, se estes os conseguirem executar, estarão
sem dúvida no caminho certo, provando que conseguiram apostar em algo importante e
adequado à realidade do Clã.
195
manualdodirigente

Aqui é fundamental o papel da Equipa de Animação, que deve acompanhar os seus


caminheiros, para que se consigam orientar no equilíbrio entre as Caminhadas ousadas
e as Caminhadas realizáveis. De facto, por muito atractivas que sejam as ideias e as
propostas, o Clã deve preparar Caminhadas que pode mesmo realizar, para que depois o
resultado não redunde em frustrações, desmotivação e abandono. Neste âmbito, o papel
da Equipa de Animação pode ser importante (ajuda a dosear o entusiasmo).

A Equipa de Animação deve acompanhar todas as fases da Caminhada, sempre


como irmãos mais velhos, deixando grande autonomia aos caminheiros e viver o
Projecto tanto quanto possível com os seus Escuteiros.

Para além disto, e a nível pedagógico, para os caminheiros é valiosa a percepção de


que sozinhos não conseguiriam atingir metas que se tornam mais fáceis quando há um
esforço conjunto.

Elaborar uma Caminhada.

Para elaborar uma Caminhada é importante estar ciente dos passos do Método de Pro-
jecto anteriormente descritos.

As Caminhadas do Clã devem evoluir de umas para as outras, não esquecendo que,
quando se parte para uma nova Caminhada, temos sempre experiências (positivas e
negativas) vividas anteriormente que nos condicionam. Isso é bom, pois permite que o
Clã cresça e se desenvolva.

Na Caminhada é imprescindível:
- Viver em Clã, logo viver em Tribo: respeitar a Carta de Clã;
- Assumir responsabilidades;
- Descobrir-se, progredindo pessoalmente com o apoio dos outros;
- Abrir-se ao mundo: agir no seio da sociedade, ou seja, não só em prol de cada
um, ou do Clã, mas agir para a comunidade;
- Cultivar o espírito de Serviço.

A Caminhada deve contemplar vários passos, em que cada caminheiro é chamado a


pronunciar-se em maior ou menor grau ou desempenha um papel. Isto é muito importan-
te, na medida em que a Caminhada terá êxito se, em Clã e em Tribo, cada um dos seus
membros se empenhar.

Na 1ª Fase do Método do Projecto, encontramos dois momentos em que a Tribo tem um


papel fundamental: a idealização de um projecto e o diálogo sobre o mesmo. Após isto,
ocorre a escolha do projecto, feita em Conselho de Clã, a que se segue o enriquecimento
196
manualdodirigente

da Caminhada. Este último passo faz-se, por norma, em Conselho de Guias, mas, se o
Clã entender que é preferível, pode optar por enriquecer a Caminhada no Conselho de
Clã (pode-se proceder assim se daí não resultar grande confusão e poucas decisões).

Na 2ª Fase da Caminhada, a 'Preparação', a organização é feita por todos, consoante o


cargo e as tarefas que cada um assumiu (note-se que podem ser diferentes dos cargos
assumidos na Tribo). A Caminhada deve ser preparada minuciosamente, para que não
aconteçam contratempos e se possa minimizar o risco de acidentes. Chega depois a
hora de viver a parte mais visível da Caminhada – a 3ª Fase do Projecto. Aqui, e embora
possa ser necessário adaptar-se alguma coisa, deve-se viver a Caminhada tal como foi
idealizada e organizada, para que não haja desmotivação por parte dos caminheiros, que
certamente prepararam tudo com entusiasmo.

Depois da realização de tudo o que foi planeado, entramos na 4ª Fase da Caminhada,


que implica a avaliação, em Tribos e em Clã, do que foi feito. A este nível, deve haver
discussão sobre se os objectivos foram atingidos ou não (quer os da Caminhada em si,
quer os individuais) e o que correu mal, para que se possa corrigir de futuro. Para além
disto, deve-se reforçar tudo o que correu bem, por forma a que o Clã possa celebrar mais
uma meta atingida e partilhar as suas vivências e o seu progresso.

A avaliação final da Caminhada é das fases mais importantes do Projecto, pois


permite corrigir, acertar caminhos e crescer. Não menos importante é a avaliação
de cada uma das actividades que compõem a Caminhada, logo após a sua reali-
zação, de modo a que, de umas actividades para outras, se possa fazer pequenas
alterações do que correu menos bem, sempre numa perspectiva de crescimento
e evolução contínua.

Participar na Caminhada

É importante identificar os aspectos e assuntos da Caminhada que interessem a cada


um, o que há para fazer e o que há a aprender, de modo a que os caminheiros possam
escolher o que é mais adequado para cada elemento e permite progredir aquando da
distribuição de tarefas no seio do Clã. Só assim a Caminhada é uma construção colec-
tiva, em que se tem em conta os desejos de todos os caminheiros. Sem dúvida, será
necessário negociar, fazer compromissos, encontrar ideias comuns. Isto é essencial, de
modo a que cada um tenha espaço para crescer.

Neste âmbito, por vezes será necessário realizar tarefas que ninguém, à partida, quer
fazer, mas que são necessárias para a realização da Caminhada. Neste momento, é im-
portante ajudar os caminheiros a perceber que não podem esquecer que a Caminhada
é uma construção de todos e que, por vezes, têm de se fazer coisas de que se gosta
menos para que o Projecto funcione e ande para a frente. De facto, a Caminhada só será
197
manualdodirigente

verdadeiramente do Clã se todos se empenharem ao máximo e derem um pouco da sua


energia e disponibilidade.

Para além das diferentes tarefas a realizar, durante a Caminhada, podem ainda formar-
­-se “Comissões Técnicas”, pequenos grupos formados por elementos de diferentes Tri-
bos que se agrupam com uma missão específica dentro da Caminhada. A formação de
Comissões Técnicas durante as Caminhadas não é obrigatória, mas elas são um bom
modo de trabalhar e de ajudar os caminheiros a desenvolver algumas valências menos
trabalhadas. Estas Comissões têm características específicas:

Deve ser definido um responsável de cada Comissão, que deve estar presente
no Conselho de Guias aquando do enriquecimento da Caminhada.

A Comissão Técnica é formalizada no Painel da Caminhada e os elementos não


devem ser sempre os mesmos nas mesmas Comissões Técnicas, de forma a
que todos possam experimentar e crescer.

Os elementos que formam as Comissões Técnicas podem procurar formação na


área em que estão a trabalhar, assim como promover essa mesma formação no
Clã, através, por exemplo, de ateliers e workshops.

Exemplo de Comissões Técnicas e suas funções:

- Comissão Técnica de Animação – elementos de várias Tribos juntam-se para


planear e tratar especificamente dos momentos e dinâmicas de animação na rea-
lização da Caminhada (não tem que ser, obrigatoriamente formada pelos anima-
dores das Tribos, podendo escolher-se outros elementos para essa função).

- Comissão Técnica de Reportagem – elementos de várias Tribos tratam da re-


colha de informação e fotos para uma notícia no jornal ou blog/site da Secção/
Agrupamento ou para o relatório da actividade.

- Comissão Técnica de Logística – elementos que tratam de tudo o que é neces-


sário para a realização das actividades: material, transportes, levantamento das
condições para acampar e realizar determinadas actividades, etc.

Para além desta vivência em grupo, a Caminhada é um motor de progressão pessoal.


Neste sentido, os objectivos pessoais de cada um, delineados no Projecto Pessoal de
Vida - PPV (parte fechada), têm, com certeza, alguns pontos que podem ser integrados
na Caminhada, podendo ser, dessa forma, partilhados com todo o Clã. Para além destes
objectivos pessoais, também os objectivos educativos escolhidos por cada um, projecta-
dos no PPV (parte aberta) e já, de algum modo, integrados na Carta de Clã, devem ser
introduzidos na Caminhada, de modo a que cada um possa progredir no seu Sistema
198
manualdodirigente

de Progresso Pessoal. Só assim a Caminhada permitirá adquirir novos conhecimentos,


novas competências e novas atitudes.

Note-se, ainda, que é preciso ter em conta duas coisas:

O Caminho não será sempre direito: a Caminhada terá altos e baixos, curvas e
contra-curvas, até mesmo paragens que a tornam desencorajante. Mas estes
momentos fazem parte da Caminhada e ultrapassá-los fortalecerá todos e tor-
nará o Clã mais unido. Assim sendo, é importante que os caminheiros estejam
preparados para algum desaire do caminho. Nestas situações, o papel da Equi-
pa de Animação é fundamental, competindo-lhe sempre motivar, desmistificar o
problema e ajudar os caminheiros a procurar as suas próprias soluções. Não se
pretende que seja a Equipa de Animação a fazer e a andar com a Caminhada
para a frente, mas que ela seja capaz de pôr os caminheiros ‘a mexer’ quando
desanimam.

O Caminho será movimentado: cada Tribo e Clã viverá momentos de entusias-


mo e de satisfação, mas também desacordos, desacertos e falta de motiva-
ção. Para encontrar uma solução para os problemas que surgirem, é importante
analisá-los e discuti-los em Tribo ou Clã. Mais uma vez é fundamental o irmão
mais velho estar atento e presente, principalmente como moderador de algumas
discussões que possam surgir, mas deixando sempre a resolução dos proble-
mas e conflitos para os caminheiros.

Duração da Caminhada

A duração da Caminhada, assim como o número de actividades que deverão integrar a


mesma, deve ser decidida pelo Clã, não havendo uma regra rígida a seguir. Importante
é que as datas da realização das actividades que integram a Caminhada sejam escolhi-
das de comum acordo e de modo a que todos possam participar. Para estarem sempre
presentes, devem ser afixadas no Painel de Caminhada.

Por a Caminhada ser um compromisso do Clã, as actividades devem ser marca-


das com tempo e por todos e tem que haver uma responsabilização dos cami-
nheiros para gerirem a sua vida em torno das datas definidas.

Quanto ao número de Caminhadas a realizar, geralmente faz-se uma Caminhada, que


acompanha o ano escutista. No entanto, têm-se verificado bons resultados quando se
realizam duas Caminhadas por ano escutista: uma de Setembro a Dezembro e outra de
Fevereiro a Junho, sensivelmente. Esta divisão pode ter vantagens:
199
manualdodirigente

Obriga os caminheiros a começar a trabalhar logo no início do ano lectivo (têm


cerca de 3 meses para realizar a 1ª caminhada, pelo que não podem estar
parados), em vez de projectarem todas as actividades no futuro e passarem os
primeiros meses sem saber bem o que fazer.

Permite deixar livre o mês de Janeiro, altura em que é frequente abandono das
actividades escutistas (por ser um mês de exames e entrega de trabalhos para
quem está no Ensino Superior). Não havendo responsabilidades a cumprir nesta
altura, depois desta época os caminheiros, que realizaram e avaliaram já uma
primeira Caminhada, voltam cheios de vontade para uma segunda, em vez de
haver um interregno na Caminhada anual, faltas constantes e um grande espa-
çamento temporal entre actividades da mesma Caminhada (perdendo-se o fio
condutor que deve ter).

Boa prática:
Fazer mais do que uma Caminhada por ano, seguindo sempre todas as fases do Método Projecto, por-
que é mais motivador:
- em Caminhadas mais curtas, é possível ver mais depressa os resultados, o que torna as actividades mais
aliciantes para os caminheiros;
- há pouco tempo para levar a cabo as Caminhadas, pelo que os caminheiros são obrigados a manter-se
activos, não deixando para depois o que é necessário fazer agora.

Bibliografia:
BADEN-POWELL, R. S. S., Mil e uma Actividades para escuteiros, Edições CNE.
Flor de Lis – órgão oficial do CNE.
Nós e os Nós, Edições CNE.
Nós e as construções, Edições CNE.
OPPIE, Frankie, Escuteiro Global, Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE.
WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo, Edições CNE.

200
manualdodirigente

Tiago Pereira

C.5 Sistema de Patrulhas

C.5.0 O modelo criado por B.-P.

“O Sistema de Patrulhas é o principal motor do Escutismo, permitindo a


cada Escuteiro encontrar o seu lugar entre os outros.”
Baden-Powell Hoje – pistas para um educador no Escutismo

O sistema de patrulhas, tal como B.-P. o idealizou, assenta na divisão de rapazes e


raparigas em pequenos grupos – Patrulha –, dentro dos quais estabelecem relações e
são chamados a assumir diversas tarefas para a promoção do bem-comum. Um dos ele-
mentos assume a direcção e cada um dos restantes é chamado a desempenhar tarefas
específicas, que permitem a cada um contribuir para o bem geral. Esta divisão de tarefas
incentiva, assim, a co-responsabilidade e permite a aprendizagem da democracia e da
solidariedade. Ao mesmo tempo, possibilita também a compreensão do papel do líder e
da importância de uma boa e equilibrada liderança para o desenvolvimento do grupo.
No CNE, os pequenos grupos têm nomes diferentes, consoante a secção a que se ligam.
Assim, a Alcateia divide-se em Bandos, a Expedição em Patrulhas, a Comunidade em
Equipas e o Clã em Tribos.
201
manualdodirigente

I. Vivência e valor pedagógico

O Sistema de Patrulhas ajuda a dar forma ao método de educação natural e não for-
mal pensado por B.-P., na medida em que induz cada elemento a desenvolver-se pelo
contacto natural com os outros. Assim, este sistema permite que haja, nas Unidades e,
por conseguinte, em todo o Escutismo, um verdadeiro esforço de cooperação: cada ele-
mento cresce com os outros e entre eles e, pela vivência conjunta e pela prática da Lei
do Escuta, aprende que o seu valor individual deve estar sempre ao serviço do Bando/
Patrulha/Equipa/Tribo e, consequentemente, da Unidade, sendo que cada um trabalha
segundo as suas forças e recebe segundo as suas necessidades.

Assim sendo, a Patrulha surge como uma micro-sociedade, um grupo de rapazes e ra-
parigas que estão unidos por ideais e objectivos comuns, são regidos por uma mesma
lei – a Lei do Escuta – e vivem juntos experiências inesquecíveis. E, ao assumir a respon-
sabilidade de determinadas tarefas no seio do Bando/Patrulha/Equipa/Tribo – essenciais
para o sucesso das actividades –, cada elemento é levado a renunciar ao seu egocentris-
mo e a aprofundar o seu sentido de responsabilidade e solidariedade. Para além disto,
a criação de hábitos de divisão de tarefas e bens permite ainda a promoção de valores
como o da liderança responsável, da democracia e do trabalho em equipa, unindo os
elementos num ideal comum, repleto de camaradagem, cumplicidade e amizade.

Bibliografia:
PHILIPPS, Roland, O Sistema de Patrulhas, Edições CNE.
BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, Edições CNE.

202
manualdodirigente

II. ORGANIZAÇÃO

A nível prático, o Sistema de Patrulhas, no CNE, assume as seguintes características


gerais:

Designação do Lobito (a) Explorador (a) Pioneiro (a) Caminheiro (a)


elemento e sua - Criança dos 6 - Crianças e - Adolescentes e - Jovens dos 18
idade aos 10 anos adolescentes dos jovens dos 14 aos aos 22 anos
10 aos 14 anos 18 anos

Designação do Bando Patrulha Equipa Tribo


pequeno grupo - 5 a 7 lobitos -4a8 4 a 8 pioneiros -4a8
e suas - De preferência, exploradores - De preferência, caminheiros
características sempre mistos - De preferência, sempre mistos - De preferência,
- Identificado por sempre mistos - Identificada por sempre mistos
uma de cinco - Identificada por Santo da igreja, - Identificada por
cores: Branco, nome de animais ou um pioneiro da Santo da igreja,
Cinzento, Preto, - Constituída por Humanidade ou ou um benemérito
Castanho e Ruivo elementos de herói nacional. da Humanidade
- Constituído por diferentes idades - Constituída por ou herói nacional.
elementos de - Liderados por um elementos de - Constituída por
diferentes idades Guia de Patrulha diferentes idades elementos de
- Liderados por um - Liderados por um diferentes idades
Guia de Bando Escutismo Guia de Equipa - Liderados por
marítimo: um Guia de Tribo
Escutismo
marítimo: Tripulação Escutismo Escutismo
- 4 a 8 moços marítimo: marítimo:
Bando - Liderados por
- 5 a 7 lobitos um Timoneiro Equipagem Companha
- Liderados por um - 4 a 8 marinheiros -4a8
Guia de Bando - Liderados por um companheiros
Mestre - Liderados por
um Arrais

Designação Alcateia Expedição Comunidade Clã


da Unidade (2 a 5 bandos) (2 a 5 patrulhas) (2 a 5 equipas) (Entre 10 e 32
caminheiros)
Escutismo Escutismo Escutismo
marítimo: marítimo: Escutismo marítimo:
marítimo:
Comunidade
Alcateia Flotilha Frota (Entre 10 e 32
(2 a 5 bandos) (2 a 5 tripulações) (2 a 5 equipagens) companheiros)

Designação do Covil Base Abrigo Albergue


local de reunião

Designação Caçada Aventura Empreendimento Caminhada


do Projecto Escutismo Escutismo Escutismo Escutismo marí-
marítimo: marítimo: marítimo: timo:
Caçada Expedição Cruzeiro Campanha

203
manualdodirigente

C.5.1 O Sistema de Patrulhas na Alcateia

I. O Sistema de Bandos

Quando criou o Lobitismo, B.-P. imaginou um sistema similar ao Sistema de Patrulhas


que denominou 'Sistema de Bandos'. Tal como no caso dos escuteiros mais velhos, este
sistema baseia-se na organização da Secção em pequenos grupos que partilham brin-
cadeiras e responsabilidades.

a) Características gerais

Vejamos as características gerais que este sistema tem:

Denomina-se Alcateia a Unidade formada por Bandos de lobitos e pela sua


Equipa de Animação.

Dentro de cada Alcateia, os lobitos estão organizados em pequenos grupos,


denominados Bandos, segundo as suas particulares predilecções, afinidades e
características.

Cada Alcateia tem entre dois a cinco Bandos.

Não pode haver mais do que cinco Bandos.

Cada um dos Bandos designa-se e distingue-se obrigatoriamente por uma das


cinco cores que o pêlo dos lobos pode ter: branco, cinzento, preto, castanho e
ruivo. Estas cores figuram no distintivo da Bando de cada lobito e na bandeirola
de Bando.

Não se podem usar outras cores para os nomes dos Bandos

Os nomes dos Bandos seguem uma ordem fixa: se a Alcateia só tiver dois Ban-
dos, estes devem ter como nome Bando Branco e Bando Cinzento. Ao terceiro
Bando criado chamar-se-á Preto, o quarto será o Castanho e o quinto será o
Ruivo.

b) Número de elementos

A experiência recomenda que cada Bando deve ter entre 5 a 7 lobitos, por uma questão
de funcionamento. De facto, e dada a pouca autonomia dos lobitos, um Bando com
apenas 4 elementos poderia prejudicar o normal funcionamento das actividades (seriam
muito poucos nos jogos, ficariam sobrecarregados em termos dos cargos a desempe-
nhar, etc.). Por outro lado, um Bando com 8 elementos torna a tarefa do Guia muito difícil
de realizar, correndo-se o risco de ser o dirigente a substituí-lo nessa tarefa. Na verdade,
um Guia de Bando tem pouca autonomia e ter tantos elementos a seu cargo implica uma
204
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capacidade de organização e de liderança que a maioria das crianças não tem.

No entanto, em casos excepcionais (como a existência de uma Alcateia apenas com


9 elementos), os Bandos poderão ter 4 ou 8 lobitos. Esta situação deve ser encarada
sempre como uma solução a prazo, já que não é a melhor solução do ponto de vista pe-
dagógico. A decisão cabe à Equipa de Animação, que deve ter em conta alguns critérios,
como o número de elementos da Alcateia, o tamanho do Covil (pode não ter espaço para
3 Bandos de 5 lobitos, por exemplo), o número de dirigentes da Unidade (ver caracterís-
ticas das Equipas de Animação, neste capítulo), etc.

c) A formação dos Bandos

Ao formar Bandos, os dirigentes têm de ter em conta sobretudo dois parâmetros: o gé-
nero e a idade.

A nível de género, os Bandos devem ser sempre mistos, englobando, na medida do


possível um número similar de rapazes e raparigas. Note-se que nunca deve existir um
Bando que tenha apenas um elemento de um género (por exemplo, um lobito e cinco
lobitas), na medida em que isso pode fazer com que o lobito que está sozinho se sinta
isolado e fique desmotivado.

Sabemos que, na idade dos lobitos, nem sempre é fácil pôr meninos e meninas a traba-
lhar em conjunto, mas esta situação é necessária não apenas porque espelha a socie-
dade a que pertencemos (onde homens e mulheres partilham vivências), mas também
porque ensina as crianças a partilhar e a respeitar o outro. De facto, viver, aprender e
brincar em conjunto com o outro género permite que as crianças exercitem o respeito, a
solidariedade, a tolerância, a partilha, etc.

Em acampamento, a tenda deve ser vista como um espaço de intimidade e priva-


cidade. Assim, e independentemente da idade dos lobitos, rapazes e raparigas
devem dormir em tendas separadas, embora possam partilhar o mesmo canto de
Bando.

Já a nível de idade, o mais adequado, em termos pedagógicos, é a existência de Bandos


verticais, na medida em que permitem maiores benefícios.

Bandos verticais são os que possuem elementos de diferentes idades. Bandos


horizontais são aqueles em que todos os elementos têm a mesma idade.

De facto, e ainda que a heterogeneidade de idades possa criar obstáculos (pode haver
uma grande diferença de interesses ou maturidade), a sua existência pode trazer enor-
mes benefícios:
205
manualdodirigente

Permite o acompanhamento dos mais novos por parte dos mais velhos, que,
ao partilharem o seu conhecimento (ensinando e orientando), desenvolvem o
sentido de solidariedade, tolerância e paciência.

Permite a transmissão de conhecimentos e a manutenção, por essa via, das


tradições e costumes da Alcateia (o que contribui para o espírito de corpo).

Permite que os mais novos se exercitem na obediência e no respeito pelos mais


velhos.

Os Bandos horizontais, ou seja, com lobitos todos da mesma idade e na mesma fase
de desenvolvimento, devem ser evitados. Assim, esta situação só deve ser utilizada em
casos da mais absoluta necessidade. De facto, e ainda que este tipo de Bandos facilite a
integração dos elementos (partilham interesses, gostam das mesmas brincadeiras, etc.),
possui grandes desvantagens:

Não permite a transmissão de conhecimentos dos mais velhos para os mais


novos, algo absolutamente essencial no sistema imaginado por B.-P., que de-
fendia a aprendizagem através do 'irmão mais velho';

Nas situações de competição, e porque não há equilíbrio de idades, os Bandos


com lobitos mais velhos têm muito mais probabilidades de vencer. Isto pode
conduzir tanto a sentimentos de frustração por parte dos mais novos, com a sen-
timentos de vaidade e orgulho excessivo por parte dos mais velhos, perdendo-­
-se os valores da solidariedade, fraternidade e humildade.

Na formação dos Bandos, para além do género e da idade, é importante que a Equipa
de Animação tenha em conta critérios como a fase de desenvolvimento das crianças,
empatias e afinidades, proximidade familiar entre elas, laços de amizade, etc. Assim, e
embora a integração na Alcateia seja facilitada pelo facto de as crianças se aproxima-
rem umas das outras de forma espontânea e informal, criando facilmente relações de
amizade, nunca a formação dos Bandos deve ser deixada ao critério delas, porque isso
facilmente conduziria a Bandos desiguais (os mais velhos, os amigos, os irmãos têm
tendência natural para se juntarem). Tendo isto em conta, a distribuição de novos lobitos
pelos Bandos é sempre da responsabilidade da Equipa de Animação.

Depois de formados os Bandos, a Equipa de Animação pode constituí-los, em Alcateia, usando o jogo, o
que, para além de tornar este momento dinâmico e divertido, permite criar nos lobitos a ideia de que,
de alguma forma, contribuíram para esta formação. Eis algumas sugestões:
- Espalhar, por um terreno, fitinhas da cor dos Bandos com o nome de cada lobito. Cada um tem de pro-
curar a fita com o seu nome e deve-se juntar aos elementos que possuem a mesma cor. Ganha o Bando
que primeiro ficar completo.
- Fazer uma pista em que são deixadas mensagens que permitem que os lobitos vão completando os
Bandos (por exemplo, a primeira mensagem pode dizer quem são os guias, a segunda pode dizer que as-
pirantes estão em que Bando, etc.).
- Dar aos lobitos um conjunto de frases que dão indicações precisas sobre quem se deve juntar a quem
(por exemplo, a única lobita que usa tranças deve juntar-se ao único lobito com óculos, etc.)
206
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d) O espírito de Bando e de Alcateia

“A«linguagem da selva», a utilização dos Totens, as «palavras-chave»


e os cânticos. Eis alguns dos principais aspectos da vida da Alcateia
nos quais o ambiente da selva se vive continuamente.”
Alaiii!, 14

O espírito de corpo de um grupo – chamado, nos lobitos, espírito de Bando ou espírito de


Alcateia – é o ambiente de cumplicidade, hábitos e tradições que permite criar uma iden-
tidade comum e une os elementos de um grupo. Sem esta identidade comum, os lobitos
não se sentem parte de coisa nenhuma e desmotivam com facilidade. Pelo contrário, se
este espírito funcionar, os lobitos sentem-se parte da Família Feliz que a Alcateia deve
ser.

Para que este espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a duas
estratégias:

Promover constantemente o trabalho em equipa em cada Bando (como a divi-


são de tarefas, a co-responsabilização, a decisão democrática, etc.), dado que
ele une e fortalece.

Usar ferramentas pedagógicas como objectos, símbolos e tradições escutistas


que foram idealizadas para promover a identidade do grupo (uniforme, o totem,
o livro de ouro, a divisa, a bandeirola, etc.).

Eis algumas das ferramentas pedagógicas que se usam para a promoção do Espírito de
Bando e Alcateia:

Mastro de Honra, Mastro Totem ou Vara Totem


Cada Alcateia tem o seu Mastro de Honra, ou Totem, vara no alto da qual se fixa uma
figura recortada, desenhada ou esculpida em madeira, representando uma cabeça de
Lobo. No Totem são inscritos sinais representativos da história da Alcateia pois são lá
colocados os nomes de todos os lobitos que fazem promessa e outros símbolos que se-
jam importantes para o grupo (por exemplo uma fita com o nome de todos os lobitos que
participaram numa determinada actividade, com o nome dos lobitos que progrediram, ac-
tividades importantes da Alcateia, prémios e distinções recebidas, etc.). O Totem acom-
panha a Alcateia em todas as actividades (incluindo missas e procissões, por exemplo),
por se tratar do seu símbolo máximo. Ocupa necessariamente um lugar de destaque no
Covil, devendo ser muito respeitado. Pode ser usado como prémio (por exemplo, quan-
do um Bando vence uma competição, pode ficar com o Totem no seu canto durante uma
semana ou transportá-lo numa actividade).

Canto do Bando
Canto, no Covil, que pertence exclusivamente ao Bando e é da sua responsabilidade.
Só o Bando e a chefia podem aceder a este lugar, que pode estar organizado e deco-
207
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rado ao gosto dos lobitos (deve-se zelar para que esteja asseado e em ordem). Pode
incluir espaços variados: local de arrumação de materiais (cordas, material escolar, etc.),
quadros variados (de nós, de sinais de pista, de presenças, com colecções), decoração
relacionada com a história da Selva, etc.

“Calculo que muitos de vós tenhais na sede um cantinho vosso ou uma


pequena parte da parede confiada ao Bando. Se assim é, pertence-vos
torná-lo tanto quanto possível alegre e «lobítico». (...) Enfim, há um con-
junto de coisas a fazer para dar a vossa toca o aspecto dum verdadeiro
covil (...).”
Baden-Powell, Manual do Lobito, 92-93

Bandeirola
Vara com uma bandeirola em tecido branco, debruado a amarelo, com a cabeça de lobo
desenhada, da cor do Bando. Cada Bando é identificado através de uma vara destas,
que fica guardada num lugar especial no canto do Bando. Sempre que o Bando sai em
actividade, acompanha-o, devendo ser transportada pelo Guia (pode ser transportada
pelo subguia se o Guia estiver incumbido de outras tarefas ou não participar na activi-
dade).

Livro de Ouro
Caderno onde se registam as actividades e acontecimentos marcantes da vida da Alca-
teia, sendo um depósito da história da Unidade. Guarda ainda os nomes dos lobitos que
passaram pela Alcateia, as competências obtidas, etc., através de textos, fotografias e
desenhos. Por fim, aqui se registam também as tradições ou hábitos da Alcateia. Por ser
um 'tesouro', só deve ser aberto de forma cerimoniosa.

Totem pessoal
Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adoptar um
totem pessoal, um nome de um animal que personifica as características do escuteiro e
com o qual ele se identifica ou cujas capacidades gostava de ter. É seguido de um adjec-
tivo que deve ser uma característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar.

A nível deste assunto, há divergências de actuação, pelo que exploraremos aqui as três
estratégias que normalmente se usam:

a) Umas Alcateias optam por não utilizar o totem pessoal, deixando o seu uso para a
Expedição. Desta maneira, reforçam o imaginário da 2ª secção, permitindo que os lobitos
desejem novas experiências (BP, aliás, dizia que não se devia dar aos lobitos ferramen-
tas próprias para exploradores);

b) Algumas Alcateias utilizam os chamados 'Nomes da Selva', o que as coloca no meio


das duas situações anteriores. Aqui, parte­-se do pressuposto de que todos os lobitos já
têm um totem: são lobos. Como tal, o que os distingue é uma característica, sempre que
possível positiva, e é por essa característica que são conhecidos na Alcateia ('Amiga',
208
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'Sorridente', 'Forte', 'Alegre', etc.). Desaparecem, assim, os 'nomes de Homem' e os lobi-


tos são completamente imersos no espírito da Alcateia: são lobos e, como tal, têm nome
de lobo.

c) Outras Alcateias utilizam o Totem pessoal, levando cada lobito a escolher um animal
com o qual se identifique ou que goste particularmente, bem como, uma característica
pessoal inata à criança (ex. Lobo distraído, Golfinho Brincalhão, Pantera atento). Assim
se procura levar a Alcateia perceber que todos são diferentes, mas de uma forma positi-
va, ou seja, não existem características boas nem más, mas sim diferentes.

Saudação
A saudação dos lobitos difere da dos escuteiros por usar dois dedos abertos, que repre-
sentam os artigos da Lei do Lobito e as orelhas do lobo, quando está atento. Assim se
relaciona este símbolo com o imaginário da secção e se reforça a coesão por se tratar
de um 'sinal secreto' (B.-P., Manual do Lobito, 23), cujo significado só os lobitos conhe-
cem. Os membros da Equipa de Animação da Alcateia usam a saudação normal, salvo
quando saúdam os lobitos, situação em que, por razões de ordem educativa, utilizarão a
saudação específica da I Secção.

Competição entre Bandos


A criação de um quadro de pontuação no Covil, à vista de todos, para atribuição de
pontos aos Bandos em todos os pormenores das suas actividades (assiduidade, limpeza
dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento, respeito pela Lei, alegria, /etc.)
permite estimular a competição entre os Bandos. Esta competição, quando realizada de
forma saudável (por exemplo durante uma Caçada), funciona como incentivo e vontade
de ser melhor e desenvolve o espírito de Bando, na medida em que leva os lobitos a
zelar pelo sucesso do seu Bando. Para além disto, e se for organizada com sentido de
justiça, atenção e cuidado, estimula o respeito pelas regras, ensina a lidar com a derrota
e a vitória, promove o gosto pela eficiência e por ser melhor, etc.
No caso da Alcateia, pode­-se optar por não utilizar pontuação numérica, mas sim visual.
Um quadro que se vai pintando, boiões que se vão enchendo de nozes, contas que se
vão enfiando num fio são exemplos de pontuações visuais que vão mostrando aos Ban-
dos a progressão de cada um, estimulando a competição saudável.

Cerimoniais e formaturas
Na Alcateia há cerimoniais e formaturas específicos que ajudam a criar o sentido de
corpo. Para além da Promessa, que segue um cerimonial próprio e diferente do das
outras secções (ver livro de cerimoniais do CNE ), existem o Grande Uivo, do Círculo de
Conselho e do Círculo de Parada. Eis as suas características gerais:

GRANDE UIVO
É a saudação colectiva que os lobitos fazem habitualmente aos seus Chefes ou a um
visitante. Executa-se da seguinte maneira:

a) Por ordem de Àquêlá, o Guia designado pelo Conselho de Guias, ou na falta deste, o
Guia mais antigo (ou outro Guia) gritará com tom agudo e prolon­gado: «A-la-iii...»;
209
manualdodirigente

b) Ao ouvir este grito, todos os Lobitos, correndo e uivando "Hiauuu" formam o Círculo
de Parada em torno de Àquêlá, por Bandos, ficando cada Guia à direita do seu Bando
e os Bandos à esquerda uns dos outros pela ordem se­guinte: branco, cinzento, preto,
castanho e ruivo;

c) Formando o Círculo, ao grito de "Àquêlá" soltado pelo Guia designado, todos os lobitos
se acocoram, ficando com os calcanhares unidos e levanta­dos, joelhos afastados, pon-
tas dos dedos em apoio no solo. Imitam assim a posição do Lobo sentado. A face deve
estar erguida para o Chefe fitando-o com satisfação;

d) Logo que tomam esta posição os lobitos gritam a plenos pulmões, uníssona e pausa-
damente: "Àquêlá! Serei melhor! melhor! melhor!";

e) Ao gritar "melhor" pela terceira vez, todos se levantam num movimento rá­pido e si-
multâneo, ficando bem direitos, com as mãos aos lados da cabeça, em saudação dupla,
imitando as orelhas de um Lobo;

f) Então Àquêlá interroga, dizendo a primeira palavra pausadamente e as síla­bas se-


guintes rápidas, mas destacadamente: "Quereis cap, cap, cap, cap? (cumprir a pro-
messa)";

g) Num grito prolongado, todos respondem: "Sim... (e baixando o braço esquerdo) cov,
cov, cov, cov! (com vontade)". E baixando o braço direito, ficam em sentido, aguardando
as ordens de Àquêlá.

CÍRCULO DE CONSELHO
É formado pelos lobitos, colocados na mesma disposição do Grande Uivo, e deve
ter de cinco a sete passos de diâmetro, consoante o número de lobitos. O local que
Àquêlá ocupa no centro do Círculo denomina-se Rocha do Conselho e é demarcado
por um pequeno círculo de pedras ou de giz traçado no solo. Os lobitos formam o
Círculo do Conselho para receber instruções ou ouvir belas histórias contadas por
Àquêlá.
O Guia de Bando designado orientará a formação do Círculo de Conselho, procedendo
como nas alíneas a) e b) do Grande Uivo. À voz de "lobitos! Formar Conselho", dada pelo
Chefe de Alcateia, os lobitos dão um a dois passos para o centro do Círculo.

“Deve ser absolutamente proibida a formatura a quatro (...). A formatura


da Alcateia é o Círculo e não a fila, e não haverá dificuldades em o
formar se os lobitos compreenderem a voz de 'Alcateia!! Alcateia! Al-
cateia!!!'”
Baden-Powell, Manual do Lobito, 168

CÍRCULO DE PARADA
O Círculo de Parada destina-se à execução das Danças da Selva, de certos jogos e ce-
rimónias e forma-se como se descreve nas alíneas a) e b) do Grande Uivo.
210
manualdodirigente

II. Cargos e funções dos elementos

“Já vedes que numa Alcateia cada lobo tem o seu ofício. (...). Eis, pois,
em resumo, o dever principal dum Escuta: desempenhar o seu papel
naquilo que lhe compete.”
Baden-Powell, Manual do Lobito, 32

No Lobitismo, mantêm-se, para as crianças, algumas características do Sistema de Pa-


trulhas idealizado por B.-P.. Uma delas é a atribuição de cargos individuais, ou seja, a
responsabilização de cada lobito por uma tarefa específica e pessoal dentro do Bando
a que pertence. Através disto, procura-se que cada criança desenvolva o seu sentido de
dever e sinta que tem um papel importante a nível do bem-estar e sucesso do Bando.
De facto, responsabilizado perante os outros no que concerne à sua actuação, o lobito
sente-se indispensável ao Bando e conquista um lugar de importância junto dos outros:
pode assumir a qualquer momento a liderança do seu Bando (em questões de material,
é ao Guarda de Material que cabe a tarefa de chefiar o Bando, etc.) e revelar espírito de
iniciativa e criatividade na resolução dos problemas.

Esta divisão de tarefas permite que as crianças aprendam progressivamente a desempe-


nhar diversos papéis de forma responsável e se preparem para a vida.

Será esse um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Bandos: que cada
lobito cresça consciente do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por
base a alegria, o respeito pelos outros, a partilha e a fraternidade. Assim, é-lhe proporcio-
nado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão de pilares para a vida.

O desempenho de um cargo no seio do Bando ou de uma função na Caçada constitui


uma oportunidade de ouro para progredir. Isto porque o exercício de cargos e funções
privilegia o crescimento em várias áreas.

a) O Cargo

Dentro do Bando, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este
constitui uma forma de motivar a participação do escuteiro e de desenvolver o seu senti-
do de responsabilidade individual e de utilidade para o bem-estar dos outros.

CARGO
Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de for-
ma fixa e estável ao longo de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, ani-
mador, etc.). O exercício de um cargo implica o uso da insígnia correspondente.

Dentro do Bando, é conveniente que todos possuam um cargo, já que, através dele, po-
demos motivar os lobitos e ajudá-los a desenvolver o seu sentido de responsabilidade.
211
manualdodirigente

Note-se, contudo, que cada lobito não deve desempenhar mais do que um cargo de cada
vez, para que não fique sobrecarregado. A única excepção é o subguia que, por ser, na
maioria da vezes, um adjunto, pode ter uma outra responsabilidade, só sua.

Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos:


Guia,
Subguia,
Secretário/Cronista,
Tesoureiro,
Guarda de material.

Podem ainda existir alguns cargos complementares:
Animador,
Socorrista/Botica,
Intendente
Informático.

Estes cargos devem ser rotativos, para que cada lobito possa crescer em diversas áreas
de desenvolvimento. Assim, não é aconselhável que um lobito desempenhe sempre o
mesmo cargo ao longo dos anos que permanece na Alcateia.

O exercício de um cargo permite o crescimento em áreas de desenvolvimento específicas, pelo que


pode ser usado pela Equipa de Animação para ajudar cada elemento a crescer em determinada direcção.
Assim, pode­-se dar a cada lobito um cargo que o possa ajudar a desenvolver numa área em que apresente
dificuldades (por exemplo, um tesoureiro tem de possuir capacidades de raciocínio matemático e de
organização da informação). Note-se, contudo, que:

- pode haver necessidade de organizar ateliers ou criar actividades específicas para cada cargo, para
que os lobitos possam desenvolver ao máximo as suas capacidades, aprendendo mais sobre as suas res-
ponsabilidades e pondo em prática as tarefas que lhes competem (um lobito que não possa exercer o
seu cargo em nenhuma circunstância facilmente se desinteressa, a este nível);
- há que avaliar as reais capacidades de cada lobito, sob pena de algum poder ficar frustrado ou começar
a rejeitar as tarefas que lhe foram atribuídas (por exemplo, um lobito muito tímido pode ter grandes
dificuldades em exercer o cargo de animador).

212
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Cargos básicos

1. Guia

“Um Bando compreende (…) rapazes debaixo da direcção de um Guia,


auxiliado por um Subguia. Deve dar-se-lhes apenas a responsabilidade
real de mandar e ensinar, sob a fiscalização directa do Chefe. O guia de
Bando não é um «Guia de Patrulha mais novo» e não deve considerar-
­-se capaz de tomar conta do Bando e instruí-lo.”
Baden-Powell, Manual do Lobito, 167

O cargo de Guia é muito importante na Alcateia, na medida em que permite que a lideran-
ça comece a ser treinada desde a infância. Note-se, contudo, que os lobitos demonstram
muitas dificuldades neste domínio, pelo que devem ser constantemente ajudados pelos
dirigentes, que devem estar presentes em todos os momentos.

O Guia de cada Bando é escolhido por Àquêlá e respectiva Equipa de Animação,


em sintonia com cada Bando.

Ao Guia compete, sempre com o auxílio do dirigente:

Dirigir e animar o seu Bando;

Ajudar o seu Bando a progredir;

Transportar a bandeirola do Bando;

Representar o Bando nos Conselhos de Guias, dando algumas informações


sobre o seu Bando e recebendo indicações e instruções para transmitir;

Representar o Bando no Conselho de Alcateia, explicando as ideias e projectos


do Bando;

Distribuir tarefas e cargos;

Nomear o Subguia, ouvindo o Bando e os dirigentes;

Formar a Alcateia em Círculo de Conselho e de Parada e dirigir o Grande Uivo


(se for escolhido para tal em Conselho de Guias).

213
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Há que ter em conta que:

Quem dirige o Bando não é o chefe, mas sim o Guia. Há que resistir à tentação
de substituir o Guia nas tarefas de liderança quando se verifica que ele tem difi-
culdades a este nível. Compete ao dirigente estar presente e ensiná-lo a liderar
(dando-lhe sugestões, por exemplo), mas não o substituindo. Esta formação
pode ter momentos próprios, na medida em que podem ser criados ateliês ou
discutidos assuntos específicos no Conselho de Guias (por exemplo, como se
deve portar um Guia, como ajudar os mais novos, etc.).

Os dirigentes devem ir rodando pelos Bandos, não se habituando a trabalhar


apenas com um, para que possam conhecer todos os lobitos.

O Guia de Alcateia

Sempre que a Equipa de Animação julgar necessário, pode ser nomeado um Guia de Al-
cateia, que deve ser eleito entre os Guias. Este cargo é exercido durante o ano escutista
em que o Guia é eleito, mas pode terminar se o lobito assim entender ou se Conselho
de Guias o decidir. A existência deste Guia pode revelar-se interessante, na medida em
que pode permitir à Equipa de Animação exercitar de forma especial a liderança com
algum lobito.

É essencial que o Guia de Alcateia:

Respeite os Guias de Bando, não os ultrapassando no exercício dos seus car-


gos.
Seja um exemplo a seguir para os outros, tanto a nível da sua postura, como do
seu progresso pessoal.
Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar-se a
si próprio.

2. SubGuia

“A vida de Bando está na base da vida em família feliz. Animada de


guias e subguias de Bando empreendedores e atentos aos outros, a Al-
cateia assentará em bases sólidas pois os Bandos serão outras tantas
células de progresso e da dinamismo.”
Alaiii!I, 27

O Guia tem por braço direito o Subguia, que o auxilia e substitui em caso de ausência.
Esta responsabilidade reveste-se, assim, de especial importância, na medida em que um
lobito que a tenha deve estar atento à evolução do Bando e desenvolver as suas capa-
cidades de liderança, que pode ter de usar a qualquer momento. Contudo, e como este
214
manualdodirigente

cargo não implica uma responsabilização constante, o lobito que o desempenha pode
acumulá-lo com outro cargo dentro do Bando.

Para que Guia e Subguia consigam trabalhar em conjunto, devem conhecer-se bem.
Isto implica que o Subguia deve ser escolhido pelo Guia, que terá tendência a escolher
alguém com quem tem afinidades. Note-se, contudo, que tanto o Bando como os dirigen-
tes devem dar a sua opinião acerca desta escolha.

3. Secretário/cronista
É o especialista do Bando na área da documentação e da comunicação básica. Tem
como principais tarefas:

Arquivar os documentos do Bando (por exemplo, as mensagens dadas num


jogo de pista);

Ajudar a tratar de toda a correspondência do Bando (por exemplo, um postal de


Natal para outra Alcateia ou Bando).

4. Tesoureiro
É o especialista do Bando na área económica. Tem como principais tarefas:

Ajudar a anotar e recolher as quotas;

Ajudar a verificar o preço do material a adquirir para as actividades;

Participar, à sua medida, em campanhas de angariação de fundos.

5. Guarda de material
É o responsável pela conservação do seu material e equipamento. Tem como principais
tarefas:

Ajudar os dirigentes a inventariar o equipamento e material do Bando (para ver


se não falta nada);

Cuidar do equipamento e material do Bando (verificar se os marcadores estão


tapados e bem arrumados, se a cola está bem fechada, se as folhas estão arru-
madas, se a corda não está molhada, etc.);

Controlar, nas actividades, o equipamento e material utilizados, verificando o


seu estado de conservação à saída e no regresso.

215
manualdodirigente

Cargos complementares

1. Animador
É o responsável por ajudar o Bando em todos os momentos de animação. Tem como
principais tarefas:

Ajudar a preparar os novos elementos do Bando para as cerimónias e rituais;

Coordenar, nas actividades, encenações, gritos, canções, etc. do Bando.

2. Socorrista/Botica
É o responsável pela saúde do Bando. Tem como principais tarefas:

Cuidar da farmácia do Bando;

Tratar as pequenas feridas dos elementos do Bando, quando em actividade,


sempre sob supervisão do dirigente;

Ajudar a zelar pela higiene do Bando nas actividades.

3. Intendente
É o especialista do Bando na área gastronómica. Tem como principais tarefas:

Ajudar os dirigentes a elaborar a lista de alimentos para as actividades;

Distribuir, de forma equitativa, os géneros alimentícios nas actividades.

4. Informático
É o especialista de comunicação e procura de informação do Bando. Tem como princi-
pais tarefas:

Procurar informação relacionada com locais de realização de actividades (len-


das, histórias, tradições, etc.);

Ajudar os dirigentes a escolher informação para pôr no site do Agrupamento ou


da Alcateia;

Ajudar os dirigentes a organizar e guardar os ficheiros informáticos do Bando


(documentos, fotografias, etc.).

216
manualdodirigente

Em resumo, os cargos caracterizam-se por:

Desempenho de um cargo Ao longo do ano

Duração do cargo 6 meses a 1 ano

Distribuição dos cargos Pelo Guia eleito


Recomenda-se um cargo por lobito

Cargos básicos Guia, subguia, secretário/cronista, tesoureiro, guarda de material

Cargos complementares Animador, socorrista/botica, intendente, informático

b) A Função
Durante uma Caçada, pode surgir necessidade de realizar tarefas específicas que impli-
quem o exercício de funções.

FUNÇÃO
Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada
lobito. Assim, por exemplo, numa Caçada que contemple um acampamento, pode
haver necessidade de existir um ou mais guardas de material, socorristas, etc.
É possível que cada lobito desempenhe mais do que uma função (o guarda de
material pode ser também o encarregado das construções, o animador pode ser
também treinador, etc.). O exercício de uma função não é acompanhado pelo uso
de uma insígnia.

Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras (secretário/cronista, repórter,


saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, treinador, explorador, navegador, etc.). Partilham
com os cargos o facto de estarem ligadas a determinadas áreas de desenvolvimento, po-
dendo ser usadas para auxiliar um lobito a progredir numa área onde não seja tão forte.

FUNÇÃO ÁREA PRINCIPAL OUTRAS ÁREAS BREVE DESCRIÇÃO DAS SUAS TAREFAS
Trata do painel da caçada, regista o que vai
Secretário Intelectual Carácter, Social acontecendo e prepara um resumo do que
aconteceu para a avaliação.
Documenta uma actividade através de um texto
e/ou fotografias ou desenhos.
Repórter Intelectual Carácter, Social
Coordena um jornal de parede ou de papel do
Bando.
Estabelece contactos com outros Bandos, sec-
Relações ções, grupos, agrupamentos, entidades, etc.,
Intelectual Carácter, Social
públicas na companhia (ou com aviso prévio) dos diri-
gentes.
Participa na orçamentação da actividade, aju-
Tesoureiro Intelectual Carácter, Social dando a controlar contas e pagamentos, para
depois poder informar o tesoureiro do Bando..

217
manualdodirigente

FUNÇÃO ÁREA PRINCIPAL OUTRAS ÁREAS BREVE DESCRIÇÃO DAS SUAS TAREFAS
Prepara a lista de material que o Bando leva
para uma actividade, tentando com isso iden-
tificar falhas. Em campo é o responsável pelo
Guarda de
Intelectual Carácter, Físico estaleiro de material e por alertar todos os lo-
material
bitos do Bando para os cuidados a ter com a
utilização do equipamento e para a segurança
dos elementos.
Memoriza poemas, músicas, danças e/ou gri-
Carácter, Social, tos de animação para poder animar momentos
Animador Espiritual
Afectivo dinâmicos e de reflexão e oração da Alcateia
ou o Bando.
Procura pesquisar formas de apresentação
dramática e coordena as apresentações na
Saltimbanco Afectivo Carácter, Social Flor Vermelha (Fogo de Conselho), sendo o
responsável por verificar as vestes e outros
elementos cénicos.
É o responsável pela mala de primeiros so-
corros do Bando, procurando verificar onde
está o material que deve ter, se este está bem
Carácter, Social, guardado e qual o seu prazo de validade.
Socorrista Físico
Intelectual Deve saber para que serve cada objecto e o
seu modo de aplicação (por exemplo, como se
usa um termómetro), informando-se quando
não sabe.
Ajuda os dirigentes a tratar do lixo e verifica se
os outros lobitos do Bando são responsáveis a
Ambientalista Social Carácter
nível dos cuidados ambientais (se não deixam
lixo espalhado, se protegem as plantas, etc.).
Ajuda a programar as compras alimentares
para uma actividade, informando-se sobre os
Intendente Intelectual Carácter, Físico melhores locais de compra e preços. Distribui
ingredientes pelos elementos do Bando, nas
saídas em que cada um leva o seu almoço.
Faz pesquisas sobre construções simples que
o Bando pode ajudar a fazer.
Encarre- Ajuda os dirigentes a analisar as condições
gado das Intelectual Carácter, Físico físicas do local das actividades, para ver onde
construções se devem montar as construções.
Coordena algumas montagens (tendas, por
exemplo). ens (tendas, por exemplo).do.
Ajuda a elaborar e organizar documentos in-
formáticos (por exemplo, listas de material)
necessários para a actividade.
Informático Intelectual Carácter
Ajuda a enriquecer os conteúdos do site de
Agrupamento/Alcateia ou um jornal de pare-
de.
Ajuda os dirigentes na cozinha, preparando
Carácter, alguns alimentos.
Cozinheiro Físico
Intelectual Colaborar com a construção da ementa para
a Actividade.
Conhece vários jogos que se podem fazer em
Carácter,
Treinador Físico qualquer altura.
Intelectual
Ajuda a orientar a ginástica matinal.
Ajuda a coordenar os meios de transporte para
o local.
Explorador Intelectual Carácter, Físico Ajuda os dirigentes a analisar as condições do
local da actividade em coordenação com o en-
carregado de construções.
É o principal responsável pela descodificação
Descodifica
Intelectual Carácter, Físico de mensagens, nas actividades. Inventa novos
-dor
códigos.
Ajuda a definir trajectos a seguir, incluindo pa-
ragens para descanso e alimentação.
Navegador Intelectual Carácter, Físico
Conhece bem os sinais de pista e ajuda a
orientar o Bando.
218
manualdodirigente

O desempenho de uma função pode ser feito pelo lobito que detém o cargo relacionado
com ela (por exemplo, o tesoureiro pode ser o financeiro, o cozinheiro pode ser o inten-
dente, etc.), mas esta situação não é obrigatória (o tesoureiro do Bando pode, numa
actividade, ter a função de cozinheiro, por exemplo). No entanto, isto não significa que
o detentor do cargo fique sem responsabilidade: um tesoureiro de Bando tem sempre a
obrigação de ajudar o lobito que vai desempenhar a função de financeiro e de controlar,
com a ajuda dos dirigentes, o que vai acontecendo.

Em termos de periodicidade, as funções vão mudando de actividade para actividade


(por exemplo, de Caçada em Caçada), para que cada lobito possa experimentar várias
tarefas. Neste âmbito, a Equipa de Animação deve ter em conta:

As necessidades de cada actividade, relativamente ao número e tipo de funções


que são necessárias (por exemplo, se não houver necessidade de cozinheiros,
esta função não deve existir);

A capacidade e vontade de cada lobito para aprender uma nova tarefa ou para
pôr em prática algum talento que tenha. Assim, na distribuição de funções, de-
vem ser tidos em consideração os gostos e as capacidades de cada lobito.

Em resumo, as funções caracterizam-se por:

Exercício de uma função Ao longo de uma actividade

Duração da função Variável de acordo com a duração da actividade

Distribuição das funções


Pelo Conselho de Guias / actividade

1 lobito pode desempenhar 1 ou mais funções

Funções (lista apenas Secretário, repórter, financeiro, guarda do material, animador, sal-
ilustrativa) timbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista, intendente, informá-
tico, encarregado das construções, treinador, explorador, navega-
dor, etc.

III. Equipas de Animação

“Para poder apreciar estes aspectos, os velhos lobos repartem a tarefa,


observando cada um, um Bando, o que permitirá aliás, conhecer me-
lhor os lobitos e o seu progresso pessoal (...).”
Alaiii!, 27

219
manualdodirigente

À frente de cada Alcateia está sempre um Chefe de Unidade, o seu Adjunto e outros
instrutores necessários (que podem ser dirigentes ou candidatos a dirigente). Atendendo
a que as Unidades são mistas, é fundamental que a Equipa de Animação também o seja,
não só porque é importante que seja representativa da sociedade em que a Unidade se
insere, que representa, mas também porque podem ocorrer situações em que a presen-
ça de um único género crie algum desconforto nos lobitos.

É muito importante que o número de elementos da Equipa de Animação seja


adequado: cada Bando deve ser ajudado por um dirigente, ficando Àquêlá de fora
para poder ir gerindo os tempos e as actividades. Assim, e embora a dimensão
das Equipas de Animação dependa do efectivo da Unidade, é essencial que o nú-
mero de dirigentes seja igual ao número de Bandos, a que se acrescenta Àquêlá
(por exemplo, se a Alcateia tem 5 Bandos, deve ter 6 dirigentes, se tem 3 Bandos,
precisa de 4, etc.).

Para além disto, todos terão nomes dos animais da história de Máugli, no «Livro da Sel-
va» de Rudyard Kipling, devendo ser tratados pelos lobitos por esses nomes (na Alcateia
não há homens, só animais, pelo que não faz sentido usar nomes de homem).

A distribuição dos nomes de animais pelos dirigentes obedece a algumas regras:

- O Chefe de Alcateia toma a designação de Àquêlá.

- Os outros membros da Equipa de Animação assumem outros nomes da história


de Máugli, sendo que devem existir sempre, antes dos restantes animais, um
Bálu e uma Bàguirà.

- Não devem ser usados os nomes de Xer-Cane e Tàbàqui (é essencial que os


dirigentes personifiquem os animais que apresentam uma boa conduta e não
aqueles que têm um comportamento negativo).

- Nenhum dirigente pode assumir o nome de Máugli (os lobitos identificam-se com
o Menino-Lobo, querendo ser como ele, pelo que não faz sentido esta figura ser
associada a um dirigente).

Atendendo à idade dos lobitos, ainda pouco autónomos, a Equipa de Animação tem
competências bastante alargadas e uma responsabilidade acrescida.

“Para uma equipa de chefes, é necessário primeiramente tomar consci-


ência das suas responsabilidades de educadores.”
Alaiii!, 59

220
manualdodirigente

Assim, as suas tarefas passam por:

Elaborar o plano educativo anual da Alcateia, tendo em conta outros planos (de
Agrupamento, Regional, de Núcleo, Nacional).

Executar as tarefas de gestão de Unidade.

Programar antecipadamente todas as actividades (desde uma reunião semanal


até aos acampamentos de Verão), de forma a não prejudicar a qualidade peda-
gógica das actividades com tempos mortos e improviso.

Reunir com o Conselho de Guias, ensinando os lobitos a participar activamente


na planificação da vida da Alcateia.

Programar e organizar cada Caçada aos seguintes níveis:

Propor projectos de Caçada, motivando os lobitos para a sua concep-


ção, preparação e organização.

Ajudar cada guia a orientar os seus lobitos na reunião de Bando, no mo-


mento da elaboração de propostas para o projecto de cada Caçada.

Enriquecer a Caçada escolhida em Conselho de Alcateia a nível de


imaginário, objectivos, fio condutor de actividades e programação de
cada uma delas;

Velar pela execução das tarefas distribuídas aos lobitos;

Promover a correcta realização de todas as actividades, bem como a


avaliação final.

Procurar ter uma relação pessoal com cada lobito de forma a conhecer as cir-
cunstâncias da sua vida e cultivar o conhecimento próximo de cada um para
poder desenvolver e potenciar as suas qualidades e capacidades.

Orientar cada lobito a nível de todas as tarefas que lhe competem, desde as
inerentes ao seu cargo/função, até às mais rotineiras (como vestir/despir, arru-
mar saco-cama, etc.), para que adquiram mais autonomia (pode ser necessá-
rio integrar estes ensinamentos no plano educativo da Alcateia: só depois de
aprenderem as coisas rotineiras e simples é que os lobitos deverão avançar
para tarefas mais escutistas).

“O grande princípio a seguir na direcção de uma Alcateia de lobitos,


princípio que os seduz e lhes pode corrigir os defeitos, é fazer deles
uma família feliz – não apenas uma família, mas uma família feliz.”
Baden-Powell, Manual do Lobito, 166

221
manualdodirigente

A qualidade e inovação das actividades e a motivação dos lobitos dependem da


boa interacção e da capacidade de trabalho da Equipa de Animação. Por isso,
para que os objectivos traçados sejam alcançados e todos se mantenham motiva-
dos, é importante que a Equipa de Animação se dê bem e reúna semanalmente,
sendo importante que, pelo menos de vez em quando, o Assistente de Agrupa-
mento esteja presente (ainda que seja transversal ao Agrupamento, o Assistente
é um precioso auxílio, uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa).

Note-se que só através das reuniões se consegue planear todos os momentos


da vida da Alcateia e evitar o improviso, que provoca a falta de qualidade a nível
pedagógico. De facto, este deve ser apenas um recurso perante uma situação
inesperada e não a regra.

IV. Reuniões e Conselhos

Tanto nas reuniões com tema como nas reuniões de preparação de Caçadas (ver ca-
pítulo 'aprender fazendo’), há espaço para diversos tipos de encontro entre lobitos. Em
actividades ao ar livre, o espaço preferencial, mas, também, na sede, na intimidade do
Bando ou entre a Alcateia. Falamos, aqui, das reuniões de Bando e dos Conselhos de
Guias e de Alcateia, momentos importantes de crescimento.

a) Reunião de Bando

Uma reunião de Bando deve ter, no máximo, 20 minutos e é nela que o Guia conversa
com o Bando sobre os assuntos do Conselho de Guias: promessas, actividades, projec-
tos, angariações de fundos, etc. Também pode ser usada para preparar as propostas
do Bando para as Caçadas ou para realizar um ateliê. Assim se estimula o diálogo, a
cooperação e responsabilidade, a auto-gestão, a organização, a participação de todos e
a capacidade crítica.

Esta reunião é exclusiva do Bando, mas é necessário que um dirigente esteja


presente, apenas para auxiliar o Guia, sempre que possível, a coordenar os seus
elementos e zelar para que todas as informações sejam dadas.

b) Conselho de Guias

Tal como nas outras secções, o Conselho de Guias reveste-se de especial importância
na Alcateia, já que é o órgão consultivo que, sob a coordenação de Àquêlá, orienta a vida
da Alcateia, competindo-lhe:
222
manualdodirigente

Conversar sobre assuntos gerais da Alcateia;

Preparar as reuniões de Bando;

Motivar para a preparação das Caçadas e para a sua realização, distribuindo as


tarefas dos Bandos, escolhendo ateliês, etc.;

Analisar o progresso de cada lobito, assuntos disciplinares, distinções e pré-


mios;

Dar formação aos Guias sobre competências específicas;

Fixar os critérios para a escolha do Guia de Bando que orienta o Grande Uivo,
o Círculo de Conselho e o Círculo de Parada.

Assim se estimula o sentido de organização, cooperação e responsabilidade (os Guias


sentem-se mais próximos das decisões e percebem que são importantes para o seu
crescimento e dos amigos), o sentido de chefia (ali aprendem a melhorar a nível da lide-
rança) e a liberdade e autonomia.

Este Conselho é formado por um número variável de membros, devendo ter-se em aten-
ção a constituição da Alcateia. Nele têm assento sempre a Equipa de Animação e os
Guias, mas, se os Bandos forem apenas dois ou três, os Subguias também poderão
participar.

Quem preside ao Conselho de Guias é Àquêlá, mas deve procurar que o Guia
de Alcateia, se existir, o auxilie na coordenação dos trabalhos. Note-se que, para
garantir uma boa reunião, é essencial que a Equipa de Animação a prepare con-
venientemente.

A sua periodicidade deve ser estipulada pelo próprio Conselho. No entanto, seria dese-
jável que fosse semanal (diária, em campo), devendo ocorrer meia hora antes ou depois
da reunião da Alcateia, para evitar que esta última seja prejudicada pela ausência de
dirigentes e Guias. Se for antes, servirá sobretudo para preparar actividades; se for de-
pois, deve servir para avaliar o que foi feito. Eis um possível horário para um Conselho
de Guias:

2 minutos Oração inicial e/ou cântico

5 minutos Informações

5 minutos Sugestões, interesses, problemas dos Bandos

15 minutos Preparação da Reunião de Bando - Formação específica

3 minutos Oração final/ cântico.


223
manualdodirigente

c) Conselho de Alcateia

O Conselho de Alcateia é o órgão deliberativo máximo da Alcateia, tendo, por isso, muita
importância. De facto, aqui tomam-se todas as decisões sobre a Alcateia (como a esco-
lha da Caçada). É realizado sempre que necessário (para escolher e avaliar as Caçadas,
quando é necessário analisar o trabalho dos Bandos, receber novos elementos, etc.) e
nele têm assento todos os lobitos e a Equipa de Animação, sendo que todos podem dar
a sua opinião. Assim se estimula a vivência comunitária e o sentido de participação de-
mocrática e se desenvolve a capacidade crítica e de avaliação e o respeito pelas ideias
e opiniões alheias.

Ao Conselho de Alcateia compete:

Analisar o bom funcionamento dos Bandos e o progresso de cada lobito.


Reconhecer o progresso de cada lobito, as distinções e os prémios.

Escolher a Caçada, depois de cada Bando apresentar as suas propostas (cada


lobito tem direito a um voto).

Dar sugestões sobre ateliês e actividades que se podem integrar na Caçada


vencedora.

Avaliar a Caçada, analisando, por exemplo, as actividades e ateliês realizados


(para verificar se o trabalho de cada lobito atingiu o nível técnico pretendido).

Àquêlá coordena os trabalhos, organizando os tempos, a participação e inter-


venção dos lobitos, a apresentação de propostas, as votações, etc. É necessário
que permita que todos participem, para que os lobitos compreendam que, numa
comunidade democrática, todos são importantes.

V. Sede
Embora o território do Bando deva ser a Natureza, nem sempre é possível estar sempre
em contacto com ela. Deve existir, assim, um local de reunião da Alcateia, o Covil, que
deverá ser, tanto quanto possível, um espaço próprio decorado de acordo com o imagi-
nário da História da Selva, incluindo representação dos animais da Selva. Este ambiente
de selva é fundamental, na medida em que permite o envolvimento do lobito na mística
e imaginário da Secção.

No Covil, deve haver lugar para os cantos dos Bandos, espaço exclusivo para a chefia
(estante, armário, baú), espaço comum para reuniões de Conselhos de Alcateia, de
Guias e de Equipa de Animação. Para além disto, convém que tenha espaço para o To-
tem da Alcateia, Rocha do Conselho e oratório e cartazes para o progresso individual, o
plano anual, a Lei e as Máximas do lobito, imagem de Baden-Powell, etc.
224
manualdodirigente

Na vida da Alcateia os lugares, os espaços, os momentos devem estar associados a locais da Jangal onde
têm lugar momentos importantes da vida de Máugli, da Alcateia de Seiôuni, e de todos os animais. O Covil
pode, assim, assemelhar­se a um local onde existem os diversos espaços da Selva:

- A Rocha do Conselho é o círculo que marca o espaço onde toda a Alcateia se reúne para tomar as
decisões importantes. Na Rocha do Conselho posiciona-se Àquêlá e à volta dele, em círculo de Conselho,
está toda a Alcateia. É neste espaço que têm lugar as reuniões do Conselho de Alcateia.

- A Rocha da Paz é local de paz entre todo: na Alcateia, pode marcar o sítio onde os lobitos vão re-
solver os seus problemas uns com os outros, sendo, assim o local da reconciliação. Pode também ser o
oratório.

As Moradas Frias, local onde não há lei, pode ser o nome dado ao local do castigo na Alcateia: é aquele
sítio para onde ninguém quer ir porque é sinónimo de ser um Bândarlougue.

- A Aldeia dos Homens é o espaço exterior ao Covil. É um sítio desconhecido, potencialmente perigoso a
que os lobitos vão tendo cada vez mais acesso à medida que vão crescendo.

Bibliografia:
Alaiii, Edições CNE.
BADEN-POWELL, R. S. S., Manual do Lobito. Edições CNE.
BARCLAY, Vera, Sabedoria da Selva. Edições CNE.
Cadernos de Função, Edições CNE.
Celebrações do CNE, Edições CNE.
PHILIPS, Roland, O sistema de patrulhas, Edições CNE.
Regulamentos do CNE
THURMAN, John, O conselho de guias, Edições CNE.
Miguel Lontro

225
manualdodirigente

C.5.2 O Sistema de Patrulhas na Expedição, Comunidade e Clã

I. Constituição
a) Nome

“O grupo é a unidade natural entre os rapazes, quer para a brincadeira,


quer para o mal, e o rapaz de carácter mais decidido entre eles é geral-
mente escolhido para chefe.”

Baden-Powell, O Sistema de Patrulhas, 7 (introdução)

No CNE a designação 'Patrulha' é diferente em cada uma das secções para que esteja
mais de acordo com o enquadramento simbólico adoptado para cada secção.

Assim, se na Expedição se utiliza especificamente a designação “Patrulha”, na Comuni-


dade emprega-se “Equipa” e no Clã, “Tribo”.

Ao conjunto formado por estes pequenos grupos, a que se junta a Equipa de Animação,
chamamos, genericamente, Unidade.
226
manualdodirigente

Todas as Patrulhas têm um Totem – nome de um animal, escolhido pela Patrulha


– que as distingue dentro da Expedição. Dessa escolha resulta o uso do nome do
animal, mas devem ser assumidas, também, as vivências, qualidades e virtudes que
lhe estão comummente atribuídas. Devem ainda ser objecto de estudo as suas capa-
cidades físicas, hábitos e lendas: quanto maior o contacto com as características do
animal, maior será a ligação entre todos os elementos, que partilham um conhecimen-
to comum e só deles.

No capítulo referente ao espírito de Patrulha, é abordada a questão do lema, grito,


bandeirola, etc., decorrentes do totem da Patrulha.

Sugerimos que os exploradores usem como Totem um de 44 animais definidos, uma


vez que são todos facilmente identificados através do seu símbolo (já à venda no
DMF) e do seu grito (som produzido pelo animal). A maior parte destes animais existe
na nossa fauna nacional.

Ao invés de usar os gritos sugeridos no 'Escutismo para Rapazes', cada Patrulha


deverá fazer uma pesquisa sobre os sons reais dos animais, por forma descobrir o
verdadeiro grito do seu animal. Essa pesquisa pode ser uma verdadeira aventura:
a Patrulha pode partir à caça desse som, deslocando-se até um local onde o possa
registar. Pode ainda pesquisá-lo na Internet (o método fica ao critério e ao desejo
de aventura de cada Patrulha). Todos os elementos da Patrulha deverão conseguir
reproduzir o som real do animal.

As Equipas têm um Patrono que as distingue dentro da Comunidade. Este Patrono é


escolhido pela Equipa e pode ser um santo da Igreja, um pioneiro da Humanidade ou
ainda um herói nacional. Se por um lado devem ser os pioneiros a escolher o nome
do seu Patrono, por outro lado deve haver critérios rigorosos e inflexíveis para essa
escolha, na medida em que uma escolha desapropriada pode conduzir a situações de
conflito, de brincadeira ou de chacota (escolher como Patrono uma figura que, apesar
de conhecida, não é um exemplo, mas é escolhida apenas por brincadeira, não per-
mite que os pioneiros encontrem nela um exemplo de vida).

Neste sentido, qualquer escolha deve ser consciente e pensada e deve ser justificada
à Comunidade e à Equipa de Animação, referindo-se as qualidades do Patrono e as
características que os pioneiros poderão imitar. Para a escolha de nomes apropria-
dos, há listas de sugestões no sítio oficial do CNE.

As Tribos são um pequeno grupo de elementos que partilha ideais, tradições e respon-
sabilidades, criando, a partir daí, uma identidade própria. Esta identidade passa pela
existência de um Patrono– nome de um santo da Igreja (como Santa Zita), benemérito
da Humanidade (Jean Henri Dunant, por exemplo) ou herói nacional (como Aristides
de Sousa Mendes), escolhido pela Tribo – que as identifica e que as distingue dentro
do Clã. Este Patrono deve ter características com as quais a Tribo se identifique e cuja
vida conheça, revelando-se um exemplo que os caminheiros procuram seguir. Para a
escolha de nomes apropriados, há listas de sugestões no sítio oficial do CNE.
227
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b) Número de elementos

Muito embora não se possa definir o número ideal de elementos de uma Patrulha, Equipa
ou Tribo, a experiência recomenda que esse número esteja compreendido entre 5 a 8
elementos. Isto por uma questão de funcionamento – a quantidade de tarefas a realizar
por Patrulhas/Equipas/Tribos exige um número mínimo de elementos e não permite, por
outro lado, que eles sejam muitos –, mas, também, por uma questão de convenção –
para melhor funcionamento e harmonização colectiva.

Acontece, no entanto, que, se numa unidade, e por determinada razão, só existirem 9


elementos, terá de se arranjar uma solução enquanto o grupo não cresce. Assim, aceita-­
-se que, em casos excepcionais, haja uma divisão e o pequeno grupo possa ser cons-
tituído por 4 elementos. Note-se, no entanto, que essa deve ser encarada como uma
solução a prazo e não a melhor resolução do ponto de vista pedagógico.

c) A construção da Patrulha/ Equipa/ Tribo

Os adolescentes e os jovens criam empatia e laços de amizade com relativa facilidade, o


que pode proporcionar uma boa integração de novos elementos. Para a fomentar, deverá
dar-se espaço à Unidade e aos noviços/aspirantes para que possam, de forma espontâ-
nea e informal, criar essas relações de amizade, integrando-se naturalmente.

Note-se, contudo, que, apesar desta adaptação natural, a distribuição de novos elemen-
tos pelas Patrulhas/Equipas/Tribos é sempre da responsabilidade da Equipa de Anima-
ção, ouvido o Conselho de Guias, na medida em que é ela que tem noção clara das
características e necessidades da Unidade e de cada elemento, em particular.

Para formar as Patrulhas/Equipas/Tribos, por que não recorrer a um jogo? Eis um exemplo:

Depois de observado o grupo, a Equipa de Animação forma as Patrulhas/Equipas/Tribos, mas não informa
a Unidade sobre isto. Apresenta-lhe, sim, um conjunto de critérios que é preciso cumprir para formar
as Patrulhas/Equipas/Tribos (por exemplo, critérios de idade e género, interesses, características
físicas, etc.). Estes critérios induzem os elementos a escolher-se uns aos outros, de acordo com a
formação inicial da Equipa de Animação, na medida em que são exclusivos (por exemplo, uma Patrulha é
formada a partir de características únicas: o único rapaz de olhos azuis + o único rapaz que anda na
banda + a única rapariga que anda no ballet, etc.).
Isto permite que a Equipa de Animação determine a formação das Patrulhas/Equipas/Tribos, mas que
os elementos pensem que tiveram um papel nessa formação.

228
manualdodirigente

O género

Recomenda-se que as Patrulhas/Equipas/Tribos sejam mistas, isto é, que sejam consti-


tuídas por elementos de géneros diferentes, ainda que as especificidades de cada Uni-
dade (como a existência de poucos elementos de um género) possam exigir, a determi-
nada altura, grupos exclusivamente de um género.

Há vantagens na constituição de Patrulha/Equipa/Tribo mistas, que passam, sobretudo,


pelo facto de os adolescentes e jovens viverem, estudarem e se divertirem em conjunto
independentemente do género a que pertençam. Por essa razão, pequenos grupos mis-
tos transmitem de forma mais fiel a imagem da sociedade a que pertencemos. Todavia,
caberá à Equipa de Animação analisar costumes, culturas, temores, e assim decidir so-
bre qual o melhor método a adoptar.

Na implementação de Patrulhas/Equipas/Tribos mistas, há que salvaguardar e


acautelar duas situações:

- Numa Patrulha/Equipa/Tribo mista, nunca deve existir apenas um elemento de


um género (por exemplo, 5 raparigas e 1 rapaz), já que isto limita a partilha de
experiências e pode desmotivar o elemento que está isolado.

- Em acampamento, a tenda deve ser vista como um espaço de intimidade em


que a privacidade dos géneros tem de ser conservada. Por essa razão, cada
Patrulha/Equipa/Tribo mista deve ter duas tendas: uma para rapazes, outra para
raparigas.

A idade

Consideram-se verticais as Patrulhas/Equipas/Tribos constituídas por elementos de di-


ferentes idades. Denominam-se Patrulha/Equipa/Tribo horizontais as que possuem ele-
mentos todos com a mesma idade.

O aconselhamento pedagógico vai claramente para o modelo vertical. De facto, a inte-


gração, numa Patrulha/Equipa/Tribo, de adolescentes ou jovens de diversas idades é
a situação mais positiva. É certo que esta heterogeneidade poderá criar obstáculos no
seio do pequeno grupo, pela diferença de interesses ou estágios de maturidade em que
cada um deles se pode encontrar, mas, por outro lado, poderá trazer também enormes
benefícios, dos quais destacamos o acompanhamento dos mais novos por parte dos
mais velhos e a partilha do conhecimento.

229
manualdodirigente

Compete aos elementos mais velhos, olhados como exemplo a seguir, ensinar
e orientar os mais novos e dar testemunho dos costumes que vão sendo cons-
truídos no seio da Patrulha/Equipa/Tribo. Assim se estimula a solidariedade e se
mantêm as tradições, que vão permitir a conservação da memória colectiva e a
formação de espírito de corpo ao longo da vida.

Menos vulgar, e a ser utilizada apenas em casos de necessidade, é a implementação do


modelo horizontal que, por sua vez, integra adolescentes ou jovens da mesma idade e
na mesma fase de desenvolvimento. Isto facilita a integração dos elementos na Patrulha/
Equipa/Tribo (uma vez que partilham interesses), mas tem grandes desvantagens:

Quando se dá a passagem simultânea de todos os elementos para a secção


seguinte extingue-se esse pequeno grupo e não houve lugar à aprendizagem
colectiva e à transmissão de tradições da Patrulha/Equipa/Tribo.

Nos jogos e competições sadias, e porque não há equilíbrio de idades, as Patru-


lha/Equipa/Tribo com elementos mais velhos têm mais probabilidades de vencer
as mais novas, perdendo-se os valores da solidariedade e da fraternidade.

A estratégia do 'irmão mais velho', que orienta e ensina, é impossível de imple-


mentar, dado que não há diferenças etárias.

d) O espírito de Patrulha/Equipa/Tribo

“O espírito de patrulha quer dizer que cada um dos membros da patru-


lha sente que é parte essencial de um todo completo e uno – um corpo
em que a cada membro cumpre executar o seu papel individual com o
fim de se atingir a perfeição e plenitude do conjunto.”

Roland Philips, O Sistema de Patrulhas,25

São várias as imagens que podem utilizar-se para ilustrar a valia pedagógica e o que se
entende por “espírito de Patrulha/Equipa/Tribo”, ou aquilo que vulgarmente se chama de
“espírito de corpo” – a rede de identidades, de cumplicidades, de hábitos e tradições que
dão coerência e são factor de unificação dos elementos de um determinado grupo.
Pode dizer-se que uma Patrulha/Equipa/Tribo se assemelha a um corpo humano: cada
órgão e cada membro tem a sua função e todos funcionam para o mesmo objectivo, mas,
se um deles adoece, todo o corpo sofre com isso e deixa de funcionar perfeitamente. São
Paulo, na Carta aos Romanos (Rm 12, 3-8), utiliza exactamente essa imagem.

O mesmo se passa com uma Patrulha/Equipa/Tribo que não tenha espírito de corpo:
se os seus elementos não sentem que funcionam como um corpo, que pertencem a um
230
manualdodirigente

grupo, vão desmotivar-se e tudo vai deixar de funcionar.

Para que esse espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a dois tipos
de acções:

Utilizar e incentivar todas as características do trabalho em equipa: divisão de


tarefas, democracia interna para decisão de interesses comuns, corresponsa-
bilização, debate, etc. Toda a responsabilidade individual, se for devidamente
assumida, une e fortalece.

Recorrer, mostrar ou dar a descobrir aos escuteiros as ferramentas pedagó-


gicas (objectos, símbolos e tradições) em que o Escutismo é riquíssimo e que
foram idealizadas com vista à distinção e promoção da identidade dos grupos.
Algumas são sugeridas por B.-P. nas várias publicações e intervenções que
fez (o grito, a bandeirola, por exemplo) e outras (como o Livro de Ouro) foram
nascendo com o tempo.

Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Patrulha/Equipa/Tribo

- Totem ou Patrono

Totem é o animal que cada Patrulha escolhe para lhe servir de identificação, como
vimos anteriormente. O Patrono, por seu lado, é a individualidade escolhida por
Equipas ou Tribos como exemplo a seguir, pelas suas características de vida.
Tanto num caso como no outro, o conhecimento aprofundado das características
e qualidades que vão servir de exemplo aos escuteiros reforça o espírito de cor-
po: todos partilham de um ideal de vida a seguir que é comum a toda a Patrulha/
Equipa/Tribo.

- Divisa ou Lema

Frase escolhida de acordo com o nome da Patrulha e da Equipa. No caso dos ex-
ploradores, deverá fazer referência às características mais evidentes do Totem,
funcionando como um objectivo que a Patrulha pretende alcançar (por exemplo,
a Patrulha Puma poderá ter como divisa ‘Com as quatro patas a correr, o nosso
destino é vencer!’). Nos pioneiros, a Divisa ou Lema deve procurar ser um mote
de vida do Patrono (por exemplo, a Equipa de Gago Coutinho poderia ter como
divisa ‘Mais longe e mais alto!’).

- Grito

Sinal sonoro, utilizado exclusivamente pelos membros da Patrulha, que imita o


som produzido pelo animal escolhido para totem. O grito permite que a Patrulha
comunique entre si, distinguindo-se das outras, mas serve também para chamar
todos os seus elementos para formatura ou reunião. Na formatura em si, é lança-
231
manualdodirigente

do pelo Guia para informar que a Patrulha está pronta para ouvir e se apresen-
tar. Salientava B.-P., no Escutismo para Rapazes, que “nenhum Escuteiro poderá
servir-se do grito de Patrulha que não seja a sua”.

Numa Equipa de pioneiros, não havendo lugar à reprodução da voz de um animal,


o Grito assume a forma de proclamação da divisa ou lema da Equipa, quando é
necessário dar o sinal de que a Equipa está completa na formatura.

- Bandeirola

Pequeno estandarte da Patrulha e da Equipa, é um sinal da sua presença que


deve estar presente em todas as actividades. Deve ocupar um lugar especial no
canto de Patrulha ou da Equipa, sendo sempre honrada e querida pelos elemen-
tos (nunca deve ser maltratada ou deixada ao acaso). Pode ser adquirida no DMF,
mas é aconselhável que seja feita pelos escuteiros, nascendo da sua imaginação.
Pode ser fabricada em diversos materiais (penas, pêlo, tecido, etc.) e ter diferen-
tes formas (triangular, rectangular, etc.). Deve sempre respeitar as dimensões
máximas de 25cm X 40cm e reproduzir obrigatoriamente o Totem, no caso dos
exploradores, ou ter um sinal identificativo do Patrono, no caso dos pioneiros.
Pode ainda conter o lema, as cores do animal totem, etc. A vara do Guia, que
a suporta, pode ser decorada com elementos a gosto da Patrulha ou da Equipa
(como entalhes, desenhos, troféus, nomes, etc.).

- Livro de Ouro

Caderno confidencial a que poderão aceder apenas os elementos actuais e os do


passado da Patrulha ou da Equipa. Serve para transmitir aos futuros elementos
as experiências vividas, na medida em que regista todos os feitos e acontecimen-
tos marcantes da vida da Patrulha ou Equipa. Regista, assim, a sua história, os
motivos de orgulho do seu passado e os acontecimentos relevantes do presente.
Guarda, também, textos, fotografias, desenhos, etc. que recolhem informação,
consoante se trate de exploradores ou pioneiros, sobre o Totem ou o Patrono, o
grito e lema, códigos secretos, nomes dos elementos que passaram pela Patrulha
ou Equipa, actividades realizadas, competências obtidas, etc.

É no Livro de Ouro que se registam ainda as tradições, instrumentos fundamen-


tais para fazer com que a Patrulha ou Equipa seja única e igual a si mesma.
De facto, o carácter secreto de algumas dessas tradições aguça e fortalece o
espírito de corpo (elas são exclusivas daquele pequeno grupo e mais ninguém
pode conhecê-las, a não ser que tenha a honra de ingressar no grupo). Estas
tradições podem ser instituídas e conseguidas nas mais diversas formas: através
de simbologias próprias, de rituais e cerimoniais, de códigos secretos, de nomes
de totens pessoais, etc.
Dada a riqueza deste Livro e a sua importância, ele deve ser decorado com cui-
dado e muito bem tratado (deve ser quase uma obra de arte). A sua natureza
secreta leva a que só deva ser aberto de forma cerimoniosa e pelos elementos
da Patrulha ou Equipa.
232
manualdodirigente

- Totens pessoais

Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adop-


tar um totem pessoal, que o acompanha ao longo da sua passagem pelas diver-
sas secções. Trata-se de um nome usado pelo próprio e pelos seus irmãos escu-
teiros, quase como uma segunda identidade, exclusivamente escutista. O totem
pessoal é um animal que personifica as características do escuteiro e com o qual
ele se identifica ou cujas capacidades gostaria de ter. É seguido de um adjectivo
que deve ser uma característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar.
Nos exploradores, é possível que o totem de Patrulha seja aquele com o qual to-
dos os elementos se identifiquem, sendo adoptado como totem pessoal de todos.
Contudo, isto não é obrigatório.

- Canto de Patrulha/Equipa/Tribo

Sempre que possível, deve existir na Base/Abrigo/Albergue um local exclusiva-


mente reservado à Patrulha/Equipa/Tribo, da sua responsabilidade e a que só
ela e a chefia podem aceder. Este canto pode estar organizado e decorado como
cada pequeno grupo entender, exigindo-se, porém, asseio e ordem. O canto pode
incluir, entre outras coisas, espaço para materiais (cordas, tenda, ferramentas,
material escolar, etc.), quadros variados (de informações, de nós, de sinais de pis-
ta, de presenças, com colecções, fotos da Patrulha/Equipa/Tribo em actividades,
etc.), local para arrumar as varas, decoração relacionada com o totem ou patrono,
mesa e bancos para todos, etc.

Nos exploradores, pode ainda ter um nome associado ao totem – ‘Ninho do Cor-
vo’, ‘Ramo da Serpente’, ‘Covil do Lobo’, ‘Toca da Raposa’, etc.

- Quadro Inter-patrulhas/Inter-equipas

Painel de pontuação que promove a competição entre Patrulhas ou Equipas,


através da atribuição de pontos a aspectos da vida na sede e das actividades –
assiduidade, limpeza dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento,
respeito pela Lei, alegria, etc. A pontuação obtida por cada Patrulha ou Equipa é,
depois, registada neste painel, que deve estar afixado na Base ou no Abrigo.

A definição de pontuações pode ser um importante instrumento pedagógico, na


medida em que a competição é uma ferramenta riquíssima na animação dos
grupos de escuteiros e torna as tarefas mais simples ‘missões’ de grande im-
portância. Neste âmbito, a competição entre as Patrulhas ou Equipas (ao longo
de um ano escutista ou durante uma Aventura ou Empreendimento), organizada
com sentido de justiça, atenção e dedicação, possui várias vantagens: faz cres-
cer substancialmente o espírito de corpo (todos são obrigados a ‘lutar’ pelo seu
grupo),promove o respeito pelas regras, ensina a lidar com a derrota e a vitória,
desenvolve a eficiência e o gosto por ser melhor, etc.

233
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Ricardo Perna

Bibliografia:
Regulamento Geral do CNE
Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.
BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE.
PHILIPS, Roland, O Sistema de Patrulhas, Edições CNE.
SCOUTS DE FRANCE, Baden-Powell Hoje, Edições CNE.

II. Cargos e funções dos seus membros

“A finalidade do Sistema de Patrulhas é principalmente atribuir autên-


tica responsabilidade a tantos rapazes quanto seja possível para lhes
formar o carácter.”
Aids. WB.34

“Por ele cada rapaz é levado a ver que tem uma responsabilidade indi-
vidual para bem da sua Patrulha.”
Aids.WB.4

O Sistema de Patrulhas, tal com B.-P. o pensou, aposta amplamente na atribuição de


cargos individuais. Assim se entrega a cada escuteiro a execução de uma tarefa pessoal
dentro do Patrulha/Equipa/Tribo. Responsabilizado, desta forma, perante os outros no
que concerne à sua actuação, ele sente-se indispensável ao seu grupo e conquista um
lugar de importância junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança
(por exemplo, em questões de material, é ao Guarda de Material que cabe a tarefa de
chefiar a Patrulha/Equipa/Tribo, etc.) e tem de revelar espírito de iniciativa e criatividade
na resolução dos problemas relacionados com o seu cargo.

Para além disto, o desempenho de um cargo no seio do Patrulha/Equipa/Tribo ou de uma


função no Projecto da Unidade constitui uma oportunidade de ouro para progredir, na
medida em que o exercício de cargos e funções permite o crescimento em várias áreas.
234
manualdodirigente

De facto, a divisão de tarefas permite que os adolescentes e os jovens aprendam pro-


gressivamente a desempenhar diversos papéis de forma responsável e se preparem
para a vida. Será esse, de facto, um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema
de Patrulhas: que cada escuteiro cresça consciente do seu valor e do seu lugar na socie-
dade, tendo sempre por base a alegria, o respeito pelos outros, a partilha e a fraternida-
de. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão
de pilares para a vida.

a) O Cargo
Dentro da Patrulha/Equipa/Tribo, é conveniente que todos possuam um cargo, na medi-
da em que este constitui uma forma de motivar o escuteiro a participar nas actividades
do grupo e a desenvolver o seu sentido de responsabilidade individual e de utilidade
para o bem-estar dos outros. Neste sentido, é importante que haja um conjunto variado
de cargos, por forma a satisfazer as necessidades dos grupos e os interesses e aptidões
de todos os escuteiros.

Conceito de CARGO

Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de


forma fixa e estável ao longo de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro,
animador, etc.).

Sugestão:
O exercício de um cargo privilegia sempre o crescimento numa determinada área de desenvolvimento (ser
Guia, por exemplo, potencia o crescimento sobretudo a nível da gestão, liderança, etc.), podendo ainda
potenciar o aperfeiçoamento de outras áreas. Nesta medida, o cargo é uma ferramenta pedagógica
específica que a Equipa de Animação poderá utilizar para desenvolver em cada elemento aspectos
específicos. Assim sendo, pode dar a um escuteiro, tendo em atenção as suas capacidades e desenvol-
vimento, um cargo que o possa incentivar a desenvolver determinadas características e competências
numa área em que pode revelar dificuldades.

Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos na Patrulha/Equi-


pa/Tribo:

Guia,
Subguia,
Secretário/Cronista,
Tesoureiro,
Guarda de material.
235
manualdodirigente

Se houver mais elementos, poderão ainda ser desempenhados os cargos complemen-


tares de:

Animador,
Socorrista/Botica,
Intendente
Informático.

O exercício de cada um destes cargos implica o uso da insígnia correspondente.

Na atribuição de cargos aos elementos de cada Patrulha/Equipa/Tribo, dever-se-á ter


em conta o seguinte:

Os cargos devem ser exercidos de forma rotativa, para que os escuteiros am-
pliem os seus conhecimentos e competências nas diversas áreas de desenvol-
vimento.

Não é desejável que um escuteiro desempenhe mais do que um cargo na Pa-


trulha/Equipa/Tribo, na medida em que isto implica uma acumulação excessiva
de responsabilidades. É sobretudo importante evitar que o Guia acumule outro
cargo, já que deve estar concentrado na coordenação dos seus elementos. A
única excepção a esta regra é o cargo de Subguia, que permite a acumulação
com outro cargo.

Cada escuteiro deve desenvolver ao máximo as suas capacidades no desem-


penho de um cargo único, devendo, para isso, procurar saber mais sobre as
responsabilidades que lhe são inerentes ao longo do período de tempo em que
o detém.

Sugestão:
A Equipa de Animação deverá considerar a oportunidade de organizar ateliês para cada cargo, recor-
rendo, por exemplo, aos elementos que desempenharam esses mesmos cargos no ano anterior, a outros
dirigentes, pais, etc. As actividades da secção devem também contemplar a possibilidade de explorar as
diversas tarefas inerentes a cada cargo (podem até ser criadas actividades específicas para apro-
fundar cada um).

Cargos básicos

1.Guia

“Um dia perguntaram a Baden-Powell que cargo escolheria, no Escutis-


mo, se não fosse Chefe Mundial. Ele respondeu: «Se me permitissem
escolher, escolheria o de Guia de Patrulha».”
J. Marques da Silva, Pistas para o Guia de Patrulha (Edições Flor de Lis, 1970)

236
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O cargo de Guia é muito importante, pela capacidade de liderança que implica. De facto,
numa Unidade onde é correctamente implementado o Sistema de Patrulhas, o dirigente
tem no Guia um grande aliado na condução do grupo: ele actua como intermediário en-
tre a Equipa de Animação e os restantes escuteiros e é a ele que compete (e nunca ao
dirigente) a liderança da Patrulha/Equipa/Tribo.

Boa prática:
Quando necessita de dar uma ordem ou informação, o dirigente deve sempre comunicá-la aos Guias para
que estes a façam chegar aos elementos da Patrulha/Equipa/Tribo. Nunca deve falar para a Unidade
como se todos fossem iguais: se o fizer, que valor dá aos Guias?

Ao Guia compete:

Dirigir e animar a sua Patrulha/Equipa/Tribo.


Distribuir tarefas e cargos.
Transportar a bandeirola de Patrulha/Equipa/Tribo.
Representar a Patrulha/Equipa/Tribo nos Conselhos de Guias.
Nomear o Subguia, ouvida a Patrulha/Equipa/Tribo.
Analisar e propor a validação do progresso dos seus elementos.

O 'poder' que o cargo de Guia tem atrai, por norma, todos os elementos de Patrulha/Equi-
pa/Tribo, que assim aspiram a vir a exercer tarefas contínuas de liderança. No entanto,
e pelas consequências negativas que uma má escolha acarreta, há que ter especial
atenção à sua eleição, que deve ser secreta. De facto, um mau Guia, incapaz de liderar,
de assumir a Lei ou de assumir responsabilidades, dá origem a Patrulhas/Equipas/Tribos
fracas, desorganizadas ou que não conhecem o valor do espírito de corpo. Para evitar
más lideranças, o chefe deve promover momentos de formação para os seus Guias.
Estes momentos podem passar por encontros de formação específica para Guias ou
podem surgir nos Conselhos de Guias.

“As qualidades de chefia são em parte naturais e em parte adquiridas.


As qualidades naturais são importantes, pois que, por muito excelente
que um rapaz seja, não pode ter a esperança de vir a ser Guia deveras
eficiente, se não possuir uma parcela daquela qualidade especial – da-
quele magnetismo pessoal…”
Roland Philips, O Sistema de Patrulhas, 13

Apesar do cuidado e da vigilância que o dirigente é chamado a exercer a este nível,


não deve ser ele a impor a sua escolha à Patrulha/Equipa/Tribo. De facto, e na medida
do possível, devem ser os elementos a escolher o seu Guia. Contudo, o dirigente deve
ter em atenção a necessidade de ter elementos de ambos os géneros na chefia destes
pequenos grupos e pode dar indicações sobre o perfil que o Guia deve possuir (particu-
larmente nas secções mais jovens).
237
manualdodirigente

Apesar destas indicações, pode dar-se o caso de uma Patrulha/Equipa/Tribo escolher


para Guia um elemento que, embora líder natural, não revela um comportamento exem-
plar. Neste caso, a Equipa de Animação não deve impedir este elemento de ascender ao
cargo, mas compete-lhe encontrar estratégias para que esse Guia sinta a importância
do cargo e melhore a sua conduta até se tornar um exemplo a seguir. De facto, muitos
escuteiros com condutas pouco adequadas têm apenas falta de auto-estima e, como não
querem perder o cargo (através do qual adquirem uma importância que nunca tiveram),
respondem muito bem ao reforço positivo e à exigência dos dirigentes.

Se houver necessidade de destituir o Guia de Patrulha/Equipa/Tribo – ou pelo


próprio grupo ou pela Equipa de Animação –, este acto deve resultar de uma
decisão tomada em Conselho de Lei (o Guia nunca deve ser destituído por inicia-
tiva isolada da Equipa de Animação da Unidade) e deve ser bem ponderado. No
entanto, não deve ser evitado caso se conclua que, de facto, é o melhor para a
Patrulha/Equipa/Tribo e para o elemento.

O Guia de Expedição/ Comunidade/ Clã

Para além do Guia de Patrulha/Equipa/Tribo, a Unidade ainda pode ter um guia de Expe-
dição, Comunidade ou de Clã (adiante designado Guia de Unidade) que deve ser eleito,
de entre os Guias, por voto secreto individual e em Conselho da Unidade. O seu mandato
termina no final do ano escutista em foi eleito, mas pode ser interrompido por decisão do
próprio ou por determinação do Conselho de Guias.

Apesar de a sua existência não ser obrigatória, o Guia da Unidade é uma mais valia para
a Equipa de Animação, uma vez que exerce funções de liderança e aconselhamento:
coopera com todos os Guias na interpretação das dificuldades e valências de cada um
dos elementos, actua como elo de ligação entre os escuteiros e a Equipa de Animação
e representa toda a Unidade. Por esta razão, deve revelar capacidades de liderança e
organização, sendo um exemplo a seguir para os outros, tanto na sua postura, como no
seu progresso pessoal.

Ao Guia da Unidade compete:

Presidir ao Conselho de Guias;


Auxiliar a Equipa de Animação em todas as actividades da Unidade;
Incentivar, apoiar e monitorizar a evolução dos elementos no sistema de pro-
gresso;
Transmitir à Equipa de Animação a sua perspectiva do que se passa nas Patru-
lhas/Equipas/Tribos; Identificar problemas de liderança na Unidade, partilhando-
os com a Equipa de Animação;
Aconselhar os Guias, nomeadamente em questões que digam respeito à lide-
rança das Patrulhas/Equipas/Tribos.
238
manualdodirigente

É essencial que o Guia da Unidade:

Respeite os outros Guias, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos.


Procure um equilíbrio constante entre a disponibilidade necessária para o exer-
cício do seu cargo e todas as obrigações para com a família, escola e Igreja.
Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar--se a
si próprio.

2.Subguia
O Guia é acompanhado, na sua função de liderança, pelo Subguia, um elemento da
Patrulha/Equipa/Tribo que o co-adjuva e substitui em caso de ausência. Esta função
reveste-se, assim, de especial importância.

Para que entre Guia e Subguia haja um espírito forte de união e cooperação, é essencial
que ambos se conheçam bem. Por essa razão, o Subguia não deve resultar de uma im-
posição do dirigente ou de uma eleição da Patrulha/Equipa/Tribo: deve, sim, ser uma es-
colha pessoal do Guia, que tende naturalmente a seleccionar um amigo ou um elemento
com quem tem afinidades. Assim se promove a complementaridade e interajuda.

“A tarefa de dirigir uma Patrulha é tão importante que não se poderá


esperar que um rapaz a desempenhe só por si. (…) O Subguia é um
rapaz escolhido pelo Guia para seu ajudante. É essencial que o Guia e
o Subguia trabalhem em íntima colaboração. O Chefe que escolhe os
Subguias comete um erro.”
Roland Philips, O Sistema de Patrulhas

Compete ao Subguia auxiliar o Guia em todas as suas tarefas, acompanhando-o de


forma próxima, não apenas para o apoiar, mas também para ir desenvolvendo as suas
capacidades de chefia. Como este cargo é subsidiário, o elemento que o desempenha
pode acumulá-lo com outro cargo dentro da Patrulha/Equipa/Tribo.

3.Secretário/Cronista
É o especialista na área da comunicação escrita, oral e audio­visual. Terá como principais
atribuições:

Cuidar e ilustrar o Livro de Ouro da Patrulha ou Equipa;


Redigir convocatórias e actas de Patrulha/Equipa/Tribo;
Arquivar os documentos de Patrulha/Equipa/Tribo;
Tratar de toda a correspondência de Patrulha/Equipa/Tribo;
Ter um registo dos dados pessoais dos elementos da Patrulha/Equipa/Tribo
(nome, data de nascimento, filiação, contactos, etc.;
Estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades exteriores;
Preparar os momentos de comunicação: reportagens fotográficas ou outras, en-
trevistas, jornal de parede, etc.

239
manualdodirigente

4. Tesoureiro
É o especialista na área da intervenção económica. Terá como principais atribuições:

Escriturar o livro de quotas (ou folha de cálculo informática, se assim preferir) e


demais receitas de Patrulha/Equipa/Tribo e recolha das mesmas;
Orçamentar as actividades de Patrulha/Equipa/Tribo, bem como o respectivo
controlo das contas;
Planificar as campanhas de angariação de fundos da Patrulha/Equipa/Tribo.

5. Guarda de material
É o perito na conservação do material da Patrulha/Equipa/Tribo. Terá como principais
atribuições:

Inventariar o material;
Controlar as saídas de material de Patrulha/Equipa/Tribo;
Zelar pelo bom estado de conservação do material;
Prever o material necessário para as actividades;
Requisitar o material para as actividades de Patrulha/Equipa/Tribo.

Cargos complementares

1. Animador
É o guardião das tradições da Patrulha/Equipa/Tribo. Tem como principais atribuições:

Coordenar as cerimónias e rituais da Patrulha/Equipa/Tribo;


Preparar os novos elementos para estas cerimónias e rituais;
Transmitir o historial da Patrulha/Equipa/Tribo;
Coordenar as apresentações da Patrulha/Equipa/Tribo (em Fogo de Conselho,
por exemplo).

2. Socorrista/Botica
É o técnico de saúde da Patrulha/Equipa/Tribo. Terá como principais atribuições:

Equipar e cuidar da farmácia da Patrulha/Equipa/Tribo;


Tratar as pequenas feridas dos elementos ao seu cuidado, quando em activi-
dade;
Zelar pela higiene e segurança física da Patrulha/Equipa/Tribo nas actividades;
Ter um registo dos dados pessoais dos elementos da Patrulha/Equipa/Tribo (nú-
mero do cartão de saúde, alergias, doenças, etc.).

3. Intendente
É o especialista na área gastronómica. Terá como principais atribuições:

Elaborar a lista dos produtos alimentares necessários para a alimen­tação de


Patrulha/Equipa/Tribo, bem como a sua aquisição e/ou requisição à Unidade;
Cuidar e enriquecer o ficheiro gastronómico de Patrulha/Equipa/Tribo (ementas,
240
manualdodirigente

receitas e riqueza nutritiva destas);


Zelar para que todos os elementos da Patrulha/Equipa/Tribo adquiram conheci-
mentos básicos de cozinha e participem na confecção de refeições, auxiliando o
elemento que tem a função de cozinheiro.

4.Informático
É o especialista no relacionamento com pessoas e entidades exteriores. Terá como prin-
cipais atribuições:

Auxiliar o Secretário a estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com en-
tidades exteriores;
Pesquisar e compilar, em formato electrónico, informação relativa a locais de
realização de actividades (informação histórica, cultural), mantendo um ficheiro
actualizado;
Manter informações sobre a Patrulha/Equipa/Tribo na Internet, sob supervisão
do dirigente (site de Patrulha/Equipa/Tribo, Blog, correio electrónico, etc.);
Gerir os ficheiros informáticos usados (documentos, imagens, cartazes, fotogra-
fias, etc.), em colaboração estreita com o Secretário/Cronista e o Tesoureiro da
Patrulha/Equipa/Tribo.

Em resumo:

Distribuição dos cargos Ao longo do ano

Duração do cargo 6 meses a 1 ano

Distribuição dos cargos Pelo Guia eleito. Recomenda-se um cargo por jovem, e todos
os jovens têm de ter um cargo.

Cargos básicos Guia, subguia, secretário/cronista, tesoureiro, guarda de mate-


rial
Cargos complementares Animador, socorrista/botica, intendente, informático

b) A Função

Durante um projecto específico, poderão surgir, caso a caso, necessidades de organiza-


ção ou de realização de tarefas que impliquem o exercício de funções.

Conceito de FUNÇÃO

Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada


elemento. Assim, por exemplo, numa projecto que contemple um acampamento,
poderá haver necessidade de existirem um ou mais cozinheiros, encarregados
pelas compras e abastecimentos, financeiro, socorristas, etc. É possível que cada
elemento desempenhe mais do que uma função (o guarda de material pode ser
também o encarregado das construções, o animador pode ser também treinador,
etc.).
241
manualdodirigente

Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras: secretário/cronista, repórter,


tesoureiro, guarda do material, animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socor-
rista/botica, intendente, informático, encarregado das construções, treinador, explorador,
descodificador, navegador, etc.

Também elas, à semelhança dos cargos, estão intimamente ligadas a determinadas áre-
as de desenvolvimento, podendo ser usadas como ferramentas de auxílio à progressão
de cada elemento.

Da mesma forma que um Guia de Patrulha/Equipa/Tribo não pode acumular outros car-
gos, também ninguém pode ter a função de Guia.

Quadro ilustrativo de funções

Área principal que


Função Outras áreas Breve descrição
permite desenvolver
Tem gosto pela escrita, e normalmente é um
Secretário/ elemento organizado. Coordena o painel de ac-
Intelectual Carácter, Social
Cronista tividade, regista os acontecimentos e prepara o
relatório final do projecto.
Documenta as actividades através de fotos e
texto, coordena um jornal de parede ou de pa-
Repórter Intelectual Carácter
pel e prepara apresentações com vídeo ou foto-
grafias, podendo usar as novas tecnologias.
Coordena os contactos com o exterior (outras
patrulhas, secções, grupos, agrupamentos,
Relações Carácter, entidades, etc.), usando várias ferramentas:
Físico
públicas Intelectual telefone, internet, cartas, etc. Zela ainda pela
apresentação e boa imagem da Patrulha/Equi-
pa/Tribo nas actividades.
Orçamenta actividades, controla contas e paga-
mentos e planeia campanhas de financiamento,
Tesoureiro Intelectual Carácter, Social
prestando contas ao Tesoureiro da Patrulha/
Equipa/Tribo.do.
Deve ser um elemento com especial interesse
pelo equipamento. Compete-lhe preparar a lista
de material da Patrulha/Equipa/Tribo, fazer um
constante controlo do inventário (tentando iden-
Guarda de tificar falhas) e resolver pequenos problemas no
Intelectual Carácter, Físico
material equipamento com o Guarda de Material de Pa-
trulha/Equipa/Tribo. Em campo, é o responsável
pelo estaleiro de material e por alertar todos os
elementos para os cuidados a ter com a utiliza-
ção do equipamento e com a segurança.do.
Deve ser um elemento que se sente à vontade
para animar a Patrulha/Equipa/Tribo ou a Uni-
Carácter, Social, dade e memoriza facilmente letras, músicas,
Animador Espiritual
Afectivo danças e gritos de animação. É responsável
por animar os momentos dinâmicos e os de re-
flexão e oração das actividades.do.
Deve ter especial interesse por representações
e coordena-as no Fogo de Conselho. Para isto,
deve pesquisar diversas formas de apresenta-
Saltimbanco Afectivo Carácter, Social ção, tentando encontrar a que mais se adapte
ao imaginário do momento, e é ainda o respon-
sável por vestes e outros elementos cénicos.
do.

242
manualdodirigente

Área principal que


Função Outras áreas Breve descrição
permite desenvolver
É o elemento responsável pela mala de primei-
ros socorros da Patrulha/Equipa/Tribo. Compe-
te-lhe, assim, saber onde está, quais as suas
Carácter, Social, condições de higiene e o que deve fazer parte
Socorrista/
Físico dela. Para além disto, deve saber os prazos de
botica Intelectual
validade dos diversos materiais e medicamen-
tos, para que servem e como se utilizam e apli-
cam. É fundamental que mostre interesse em
se informar e formar.
É o responsável pelas análise das condições
ambientais do local de uma actividade, pelo
Ambientalista Social Carácter tratamento de lixos, racionalização de recursos
e verificação das condições sanitárias e de hi-
giene.
Compete-lhe programar compras, descobrir os
melhores locais de compra e respectivos pre-
Intendente Intelectual Carácter, Físico ços, acondicionar correctamente todos os ali-
mentos em campo e distribuir os ingredientes
pelas Patrulhas/Equipas/Tribos.
É um elemento com um interesse especial por
projectos de construções de campo. Compete-
-lhe fazer pesquisas sobre construções e tentar
Encarregado arranjar um projecto bem desenhado e calcu-
das constru- Intelectual Carácter, Físico lado ao pormenor. Para além disto, analisa as
ções condições físicas do local de uma actividade,
coordena as construções e faz listas de mate-
riais para o Tesoureiro poder orçamentar e o
Intendente programar a compra.do.
Compete-lhe armazenar, em formato electró-
nico, os documentos que forem necessários
Informático Intelectual Carácter (relatórios, cartas, fotos, etc.) e ainda coordenar
o site/blog da Patrulha/Equipa/Tribo enquanto
durar a actividade.o.
É o elemento que, numa actividade, actua
como responsável na cozinha (embora possa
ter ajudantes, sobretudo se for uma actividade
Carácter,
Cozinheiro Físico que dure vários dias). Antes de ir para campo,
Intelectual
deve colaborar com o Intendente e Equipa de
Animação na construção da ementa para a
actividade.o.
É o elemento responsável pela “boa forma” dos
elementos da sua Patrulha/Equipa/Tribo, dando
Carácter, sentido à máxima “mente sã em corpo são”.
Treinador Físico
Intelectual Pode orientar a ginástica matinal e deve conhe-
cer vários jogos de movimento e coordenação
motora.o.
Compete-lhe coordenar os meios de transpor-
te para o local de uma actividade e analisar
as suas condições (em coordenação com am-
Carácter,
Explorador Intelectual bientalista e encarregado de construções). Dá
Físico
formação à Patrulha/Equipa/Tribo a nível dos
meios de orientação, em coordenação com o
Navegador.
Dá formação à Patrulha/Equipa/Tribo a nível
dos meios de orientação (em coordenação com
o explorador), coordenando as actividades de
Carácter, orientação. Para além disto, define os trajectos
Navegador Intelectual
Físico a seguir numa actividade ou as etapas de um
raide, incluindo paragens para descanso e ali-
mentação (em coordenação com a Equipa de
Animação).
Será o elemento que tem um especial interes-
se por códigos e aprende a descodificar men-
Carácter, sagens com rapidez e eficácia. Também pode
Descodificador Intelectual
Físico tratar de inventar novos códigos, que apenas os
elementos da sua Patrulha/Equipa/Tribo conse-
guem descodificar.
243
manualdodirigente

Note-se que a existência de funções implica que o detentor de um cargo pode optar
por assumir uma função (com características e tarefas diferentes das do seu cargo)
numa actividade específica. Contudo, isto não diminui as suas responsabilidades:
se alguém assumir a função de realizar as suas tarefas, ele, como detentor do
cargo, deve vigiar o que é feito. Por exemplo: o João tem o cargo de Tesoureiro e
pediu para ter a função de Socorrista num acampamento. A Luísa, por seu lado,
pediu para ter a função de Tesoureira nessa mesma actividade. Como o detentor
do cargo de Tesoureiro é o João, ele deve zelar para que o trabalho da Luísa seja
bem feito nessa actividade. Assim, compete-lhe ajudá-la (caso ela não saiba o que
fazer) e, no fim da actividade, deve reunir com ela para analisar o orçamento feito,
avaliar as necessidades de fundos e receber e conferir as contas.

A periodicidade do exercício da função deverá ser avaliada actividade a actividade, pro-


movendo-se assim a rotação de funções e valorizando as experiências que cada um
pode ter ao longo do ano ou da sua vivência na secção.

Os critérios a ter em conta relativamente à rotatividade deverão englobar:

As necessidades particulares de cada actividade face às funções (se não hou-


ver necessidade de cozinheiros, quem tinha esta função terá de ter outra, por
exemplo);

A disponibilidade/vontade dos escuteiros em aprender ou aplicar aptidões es-


pecíficas associadas a uma determinada função. Assim sendo, ao distribuir as
funções, o Conselho de Guias deverá ter em conta as apetências e gostos de
cada elemento.

Nesta dinâmica, não se prevê que o exercício de uma função seja acompanhado pelo
uso de qualquer insígnia correspondente.

Boa prática:
Para que cada um saiba exactamente o que fazer e quando fazer, o dirigente pode sugerir aos seus
Guias a elaboração de escalas de serviço nas actividades que o justificarem. Esta ferramenta permite
aumentar a eficácia de Patrulha/Equipa/Tribo (cada um tem noção exacta da sua responsabilidade) e
ajuda a reforçar o espírito de corpo, já que todos se sentem a contribuir para o bem do grupo.

244
manualdodirigente

Em resumo:

Exercício de uma função Ao longo de uma actividade

Duração da função Variável de acordo com a duração da actividade

Distribuição das funções Pelo Conselho de Guias, tendo em conta as características de


cada actividade. Um escuteiro pode desempenhar uma ou mais
funções

Funções (lista apenas Secretário/cronista, repórter, financeiro, guarda do material, ani-


ilustrativa) mador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista/botica,
intendente, informático, encarregado das construções, treinador,
explorador, descodificador, navegador, etc.

III. Equipas de Animação

“Os princípios do Escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplica-


ção, depende do Chefe e do modo como ele os aplica.”
Baden-Powell, Auxiliar do Chefe Escuta

a) Constituição
A dimensão das Equipas de Animação dependerá do efectivo da Unidade, bem como das
idades dos elementos que compõem essa mesma Unidade. Contudo, deve haver sem-
pre um Chefe de Unidade, que pode ser coadjuvado por um Chefe de Unidade Adjunto,
Instrutores e Candidatos a Dirigente.

Na Expedição, aconselha-se a que haja um animador adulto por cada Patrulha, in-
cluindo o próprio Chefe de Expedição. Assim, para um grupo com 4 Patrulhas devem
existir 4 dirigentes. Nos casos em que não é possível cumprir esta indicação, a Equipa
de Animação deve ter, no mínimo, Chefe de Unidade e um outro elemento adjunto
(investido ou em formação).

Na Comunidade, é aconselhada a existência de um animador adulto por cada dez


pioneiros, o que faz com que a Equipa de Animação comporte vários elementos. Caso
isto não seja possível, no mínimo deve ter Chefe de Unidade e um outro elemento
adjunto (investido ou em formação).

245
manualdodirigente

No Clã, atendendo a particularidades de efectivo muito díspares, a Equipa de Ani-


mação deve ser constituída por um número de elementos tal que permita conhecer
individualmente e em profundidade cada um dos caminheiros.

Atendendo a que a realidade evidencia a existência de Unidades mistas, é fun-


damental que a Equipa de Animação também o seja, sob pena de se criar algum
desconforto dos elementos perante determinado tipo de situação que possa ocor-
rer. De facto, poderá haver situações e necessidades específicas dos elementos
que os farão buscar apoio no dirigente do mesmo sexo, pelo que é importante que
esta premissa seja salvaguardada.

b) Competências

As competências da Equipa de Animação passam por:

Coordenar a organização da vida da Unidade;

Executar as tarefas de gestão de Unidade que são da sua responsabilidade;

Inventariar e aplicar soluções de optimização do pequeno grupo e da Unidade;

Ajudar o Conselho de Guias na selecção dos objectivos do plano anual da Uni-


dade;

Contribuir para o enriquecimento do plano anual da Unidade;

Ajudar na elaboração dos ante-projectos da Secção (Aventura, Empreendimen-


to, Caminhada);

Enriquecer a programação das actividades dos projectos;

Velar pela execução das tarefas distribuídas;

Analisar cada escuteiro de forma a poder ajudar a superar dificuldades;

Responsabilizar-se, em última instância, pela vivência da Unidade e pelo pro-


gresso individual dos escuteiros.

A qualidade do Escutismo praticado, a inovação nas actividades, a cativação e motiva-


ção que é necessária empreender na Unidade (as “injecções de entusiasmo”), depen-
dem da boa afinidade, interacção e capacidade de trabalho da Equipa de Animação.
246
manualdodirigente

Por isso, para que os objectivos traçados sejam alcançados e para que se tenha uma
Unidade motivada, é importante que a Equipa de Animação reúna com frequência, não
permitindo que vigore o improviso (que deve surgir apenas numa situação inesperada e
não ser a regra).

Ainda que sendo transversal ao Agrupamento, o Assistente deverá integrar a Equipa de


Animação, sendo um precioso auxílio uma vez que lhe é atribuída toda a assistência
religiosa.

IV. Reuniões e Conselhos

A vivência escutista é feita entre os irmãos escuteiros em actividades ao ar livre, na sede,


na intimidade da Patrulha ou entre a Unidade. O espaço de reunião é, então, um momen-
to importante do crescimento escutista e deve ser valorizado e vivido com entusiasmo.

Há diversos tipos de reuniões e conselhos em cada secção. No capítulo do 'aprender


fazendo' exploram-se algumas das suas particularidades, na medida em que é nestes
momentos que se desenrolam as actividades práticas escutistas. Vejamos aqui outras
características destes momentos.

a) Reunião de Patrulha/ Equipa/ Tribo


Uma reunião de Patrulha/Equipa/Tribo deve ser muito própria e muito íntima, na medida
em que só a ela diz respeito, pelo que este momento pode assumir muitas formas. Neste
âmbito, enquanto momento de partilha, organização e criação, deve ser exclusivo da Pa-
trulha/Equipa/Tribo. Por isso, o animador adulto, os dirigentes apenas deverão participar
se e só se tal for solicitado.

A reunião de Patrulha/Equipa/Tribo tem diversos objectivos:

Elaborar uma proposta de Projecto (a apresentar em Conselho de Unidade),


pensando no imaginário a propor, actividades a realizar, etc.;

Resolver os problemas financeiros e administrativos de Patrulha/Equipa/Tribo;

Tratar de assuntos de interesse geral de Patrulha/Equipa/Tribo para serem leva-


dos, ou não, a Conselho de Guias;

Avaliar a evolução técnico-espiritual de Patrulha/Equipa/Tribo;

Elaborar o Livro de Ouro, no caso da Patrulha e da Equipa;

Indicar os cargos a criar em Patrulha/Equipa/Tribo, bem como os respectivos


titulares.

Analisar e debater a validação dos objectivos educativos do sistema de progres-


so dos elementos.
247
manualdodirigente

Neste âmbito, tem um grande valor pedagógico, já que permite desenvolver:

O espírito de corpo;

O sentido de organização e responsabilidade mútua;

O sentido de auto-gestão;

O diálogo e a cooperação;

A capacidade avaliativa;

A participação e envolvimento no sistema de progresso dos escuteiros.

Esta reunião pode ter uma duração variável, na medida em que pode ocupar todo o
tempo do encontro semanal da Unidade ou apenas uma parte dele, dando espaço para
actividades em comum de toda a Secção, como orações, instrução, jogos entre todas as
Patrulhas/Equipas/Tribos ou Conselhos de Unidade e de Guias.

b) Conselho de Guias

“O Conselho de Guias é tão velho como o Escutismo e é fundamento


essencial para um Escutismo eficiente no Grupo. Sem o Conselho de
Guias a procurar desempenhar as suas funções eficazmente, o sistema
de Patrulhas está condenado (...) ao fracasso.”

John Thurman, O conselho de guias

Enquanto órgão permanente que orienta a vida da Secção (sob a coordenação do Chefe
de Unidade), este conselho é o elemento mais importante do Sistema de Patrulhas e tem
um grande valor pedagógico, na medida em que permite desenvolver o sentido de chefia,
organização e responsabilidade e promove o diálogo e a cooperação, estimulando ainda
a autonomia e a liberdade.

Aqui, mais que nunca, o Guia marca a sua posição de responsável de Patrulha/Equipa/
Tribo, competindo-lhe fazer valer os interesses, projectos e realizações dela e receber
indicações e advertências a respeito da mesma.

Como responsável pela Patrulha/Equipa/Tribo, o Guia deve pôr a Equipa de Animação


ao corrente dos progressos e dificuldades de cada um dos seus elementos. Como con-
selheiro, o Guia deve também participar com as suas sugestões, ideias e aprovações na
orientação definida para a Unidade.

É importante que o Guia se aperceba da amplitude de acções e de responsabilidades


que tem enquanto membro dos Conselhos.
248
manualdodirigente

Boa prática:
O Chefe de Unidade pode propor ao Conselho de Guias a elaboração de um Regulamento de Funcionamen-
to (Regimento) do Conselho, que deverá ser simples, mas deve espelhar as competências e funções de
cada membro (por exemplo, quem redige as actas). Para além disto, deve estabelecer a periodicidade e
horário do conselho, em que suporte são registadas as actas, o que acontece em caso de votações com
empates e/ou falta de membros, etc.
Além da vantagem organizativa e da implementação de normas de funcionamento, este documento
contribuirá também para reforçar a importância do Conselho e de quem nele tem assento.

1. Constituição
O Conselho de Guias é composto pelos Guias de Patrulha/Equipa/Tribo e pelo Chefe de
Unidade, competindo a sua gestão ao Guia da Unidade. Não havendo este cargo, a ta-
refa caberá a quem o Conselho definir: geralmente é ao Guia mais antigo, mas pode ser
rotativa (passando todos os guias pela experiência de gerir o Conselho de Guias).

Poderão participar, também, os Subguias e todos os elementos da Equipa de Animação.


No entanto, isto implica que a Unidade não seja muito grande. De facto, se ela for consti-
tuída por cinco Patrulha/Equipa/Tribo, por exemplo, uma reunião com Guias, Subguias e
toda a Equipa de Animação implica demasiados participantes. Paralelamente, pode sur-
gir outro problema: se Guias e Subguias estão no Conselho e este se realiza no horário
normal de actividades da Unidade, quem orienta a Patrulha/Equipa/Tribo? E quem orien-
ta a restante Unidade se a totalidade da Equipa de Animação estiver no Conselho?

Perante esta possibilidade, deve-se colocar à consideração do próprio Conselho quem


tem assento nele (se somente Chefe de Unidade e Guias, se toda a Equipa de Animação,
Guias e Subguias). Para além disto, pode-se optar por dinamizar este Conselho fora do
horário de actividades da Unidade, não permitindo que a Secção fique ao abandono
durante as actividades.

Boa prática:
Porque não “converter” o Conselho de Guias num jantar em casa do Chefe de Unidade? Este momento de
maior intimidade trará inúmeros benefícios: a informalidade, a cumplicidade, a confiança, a aproximação
entre dirigente e Guias e uma mais fácil partilha de vivências, segredos, preocupações, etc.

2. Tarefas:

Compete ao Conselho de Guias:

Tratar dos assuntos gerais da Unidade;


249
manualdodirigente

Elaborar plano anual da Unidade;

Estabelecer a ligação entre o plano anual da Unidade e os planos de Patrulha/


Equipa/Tribo;

Estimular o lançamento e preparação das propostas de Aventuras/Empreendi-


mentos/Caminhadas;

Enriquecer o Projecto da Secção depois da sua escolha, integrando partes de


outras propostas não escolhidas;

Acompanhar as ideias para as actividades;

Distribuir missões de Patrulha/Equipa/Tribo;

Escolher os ateliês necessários para realizar um Projecto e nomear os seus


responsáveis;

Analisar e validar o progresso de cada elemento e o progresso conjunto das


Patrulhas/Equipas/Tribos;

Tomar decisões sobre a gestão administrativa e financeira da Unidade;

Apreciar assuntos disciplinares, distinções e prémios.

Após a aprovação de cada projecto de Secção, e havendo responsáveis das oficinas


(ateliês) com quem é necessário reunir para que ele se possa concretizar, estes podem
ser chamados ao Conselho de Guias para ajudar a:

Seleccionar os meios que são necessários para a execução da parte técnica do


projecto;

Fixar o público-alvo de cada ateliê;

Inventariar as potencialidades de cada ateliê, deixando margem à cria­


tividade;

Verificar as especialidades potenciais a tirar durante o projecto;

Inventariar e prever os meios materiais e financeiros para a realização do pro-


jecto.

Seleccionar os meios adequados;

Comprovar a possibilidade de resolução dos problemas.


250
manualdodirigente

3. Periodicidade
A periodicidade deverá ser estipulada pelo próprio conselho. Todavia, sugere-se uma
regularidade semanal, que se deve converter em diária quando a Unidade está em
campo.

Eis um exemplo dos diversos momentos que podem ser incluídos num Conselho de
Guias:

5 minutos Oração inicial e/ou cântico

5 minutos Leitura da Acta do último Conselho

20 minutos Reflexão das Patrulha/Equipa/Tribo sobre a vivência de cada uma.

20 minutos Espaço destinado à formação.

5 minutos Espaço para os avisos

20 minutos Espaço para discussão de projectos de Patrulha/Equipa/Tribo.

12 minutos Espaço para reflexão sobre áreas temáticas.

3 minutos Oração final/ cântico.

4. Papel do Animador Adulto


Também no seio do Conselho de Guias é fundamental que o dirigente esteja ciente das
suas atribuições e competências, devendo ter um especial cuidado em coordenar os
trabalhos sem se substituir ao Guia da Unidade e aos restantes Guias.

É ainda importante e fundamental perceber que o Chefe de Unidade não tem voto no
Conselho de Guias, mas que isto não implica qualquer diminuição da sua responsabi-
lidade pedagógica naquele órgão: ainda que o Chefe de Unidade não tenha direito de
voto, tem direito de veto. No entanto este é um direito que só deve ser usado em última
instância e em casos manifestos de incumprimento das tarefas e funções do Conselho
de Guias.

De facto, um Conselho de Guias onde um Chefe tenha que exercer o direito de veto
sobre uma decisão é indicador de que algo está mal na Unidade!

c) O Conselho de Lei

“O Conselho reúne em si dois poderes: o executivo e o judicial. O Con-


selho só reúne com capacidade judicial quando se tenha cometido qual-
quer violação da Lei do Escuteiro.”
Roland Philips, O sistema de patrulhas

251
manualdodirigente

O Conselho de Lei permite tratar de casos disciplinares com reconhecida gravidade e é


formado a partir do Conselho de Guias. Só reúne quando existem fortes razões para tal.
É muito importante o seu valor pedagógico, na medida em que, através dele, de desen-
volve o sentido de chefia e de integração na vida comunitária e se promove a capacida-
de de avaliação, decisão e responsabilidade, estimulando-se constantemente o respeito
pelas ideias e opiniões alheias.

1. Constituição e tarefas
O Conselho de Lei é formado pela Equipa de Animação, Guias e elementos implicados
no caso a tratar. Podem ainda ser chamadas outras pessoas para ajudar (Chefe de Agru-
pamento, Assistente, testemunhas, etc.). Quando se junta, compete-lhe:

Analisar os problemas disciplinares graves;

Ouvir os implicados;

Ouvir as vítimas e ver quais os prejuízos;

Decidir-se como reparar os erros;

Tomar medidas para que o caso não se volte a repetir;

Decidir se o caso deve ser apresentado em Reunião de Direcção do Agrupa-


mento.

2. Papel do Animador Adulto


À semelhança do Conselho de Guias, o dirigente não se deverá sobrepor ao Guia da
Unidade e aos restantes Guias, mas assiste-lhe o direito de veto da decisão tomada pelo
Conselho. Todavia, neste Conselho deverá ter especial atenção às emoções geradas,
tentando acalmar os ânimos e apelar ao verdadeiro sentido de justiça (nem sempre é
fácil, para os Guias, manterem um distanciamento em relação ao elemento com proble-
mas, na medida em que pode haver amigos envolvidos).

d) Conselho de Expedição/ Comunidade/ Clã

1. Constituição e tarefas
Este Conselho é fundamentalmente deliberativo e engloba toda a Unidade, que se re-
úne sempre que necessário (para escolher ou avaliar um projecto, analisar o trabalho
de Patrulha/Equipa/Tribo, etc.) com o propósito de conversar sobre a vida do grupo, de
reconhecer o progresso de cada escuteiro realizado ao longo do projecto, de atribuir
distinções e prémios e de escolher um projecto para realizar.

Neste âmbito, é um momento importante porque através dele se promove:


252
manualdodirigente

O sentido de integração na vida comunitária e de participação;

O sentido de auto-gestão;

O respeito pelas ideias e opiniões alheias (saber perder).

A capacidade de avaliar crítica e objectivamente uma situação.

As tarefas deste Conselho são:

Escolher o Projecto de Secção (um voto por cada elemento), depois de cada Patrulha/
Equipa/Tribo, através do seu representante, publicitar as vantagens e qualidades da sua
proposta e de se colocar à disposição para esclarecer dúvidas;

Dar sugestões sobre os ateliês necessários;

Avaliar os Projectos;

Analisar o funcionamento dos ateliês e se o trabalho de cada elemento nos mes-


mos atingiu o nível técnico pretendido;

Analisar o bom funcionamento de Patrulha/Equipa/Tribo e o seu progresso;

No caso da IV Secção, analisar se a Carta de Clã está a ser cumprida.

2. Papel do Animador Adulto


Quando o Conselho reúne com o propósito de escolher o Projecto da Secção, o dirigente
deverá ter um papel de coordenação, sem ingerência demasiada, no sentido de deixar
fluir as propostas e ambições dos membros do conselho relativamente ao que pretendem
com a actividade que estão a preparar. Para além disto, desempenha ainda um papel
organizativo, na medida em que faz a gestão das diferentes propostas elaboradas pelas
Patrulha/Equipa/Tribo e contabiliza os resultados aquando da votação.

Se o Conselho reúne para avaliação do progresso dos elementos ou outros assuntos, o


dirigente deverá ouvir as opiniões dos Guias e restantes elementos (coordenando as in-
tervenções) e ajudar a delinear projectos que visem cumprir os objectivos traçados pelos
elementos relativamente ao seu progresso individual.

Nos diversos assuntos todos têm direito a exprimir-se e a opinar, devendo


a Equipa de Animação zelar para que isso seja possível.

253
manualdodirigente

V. Sede

O “território” da Patrulha/Equipa/Tribo, por excelência, é o campo, a Natureza. Todavia,


como nem sempre é possível estar em comunhão com ela, cada Unidade tem a sua
sede, que é, então, o local onde se reúne. A sede deverá ser íntima, exclusiva, é o espa-
ço onde se “respiram” as tradições e o espírito de Unidade.

A sede da Expedição chama-se Base.

A sede da Comunidade chama-se Abrigo.

A sede do Clã chama-se Albergue.

Na sede, deve haver lugar para:

Cantos de Patrulha/Equipa/Tribo;

Espaço (estante, armário, baú) exclusivo para a chefia;

Oratório;

Espaço comum para reuniões de Conselhos da Unidade, de Guias e de Equipa


de Animação.

Para além disto, convém que tenha espaço para o painel do Projecto de Secção e di-
versos quadros, como um quadro do progresso (onde é registado o progresso de cada
elemento), ordens de serviço, pontuação inter-Patrulha/Equipa/Tribo, escalas de serviço
para tarefas comuns. Pode haver também lugar para quadros decorativos (sistema de
progresso, uniforme, Baden-Powell, Lei e Princípios, sinais de pista, etc.).

Cada Patrulha/Equipa/Tribo pode ter um Canto decorado de acordo com a natu-


reza do espaço onde vive o seu animal Totem ou Patrono. Por exemplo, o charco
da Rã, o ninho da Águia, a toca do Esquilo, etc.

Bibliografia:
Cadernos de Função, Edições CNE.

Manual do Guia de Patrulha, Edições CNE.

PHILIPS, Roland, O sistema de patrulhas, Edições CNE.

THURMAN, John, O conselho de guias, Edições CNE.

Regulamentos do CNE.

254
manualdodirigente

Maria Helena Andersen

C.6 Progresso Pessoal

C.6.0 Valor pedagógico do Sistema de Progresso

“Porque nos havemos de preocupar com a formação individual?”, per-


guntam. Porque é a única forma por que se pode educar. Podemos
instruir qualquer número de rapazes, mil de cada vez, se tivermos voz
forte e métodos atraentes para manter a disciplina. Mas isso não é edu-
cação.
In Aids, WB, 30

A progressão pessoal tem por objectivo essencial ajudar cada criança ou jovem a en-
volver--se de forma consciente e activa no seu próprio desenvolvimento. Desta forma,
aprende a comprometer-se verdadeiramente com o seu crescimento, condição essencial
para a sua educação.

“O segredo de uma sã educação é fazer com que cada aluno aprenda


por si mesmo, em vez de instituí-lo injectando-lhe conhecimentos de
uma maneira estereotipada.”
In Aids, WB, 30

O sistema de progresso é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal e tem


três características principais:
está centrado no indivíduo;
considera as capacidades de cada um;
é baseado num conjunto de objectivos educativos.
255
manualdodirigente

Importa, no entanto, perceber que não se pretende criar indivíduos perfeitos ou servir de
base para estimular qualquer tipo de individualismo. De facto, o objectivo do Escutismo é
formar cidadãos conscientes e preocupados tanto com o seu próprio bem-estar e desen-
volvimento como com o dos demais.

“A educação individual implica uma total confiança entre o professor e


o aluno, baseada na relação entre irmão mais velho e irmão mais novo;
empregando um tratamento diferente para cada caso, graças ao conhe-
cimento pessoal do seu temperamento, idade e carácter.”
in Aids (edição 1919), 16

Para o conseguir, procura-se que cada criança ou jovem, através do sistema de pro-
gresso, atinja os objectivos educativos da Secção em que se insere (adquirindo, assim,
conhecimentos, competências e atitudes). Esta maravilha do Método Escutista, então,
guia­-o no seu percurso de desenvolvimento, sem o forçar a escolher caminhos pré-
-determinados. É, sim, uma oportunidade de aprofundamento de habilidades próprias,
valorização pessoal ou até mesmo de descoberta vocacional que impulsiona crianças e
jovens a adquirir “rotinas” de análise e planeamento da sua vida.

Desta forma pode ser um excelente auxiliar para ajudar cada indivíduo a alcançar todo o
potencial encerrado dentro de si, levando-o a ser e fazer melhor.

O sistema de progresso é orientado por objectivos educativos de secção e apresen-


ta as seguintes componentes, que representam as suas principais vantagens:

- o diagnóstico inicial é valorizado;

- há um reforço da consciência pessoal do elemento no que diz respeito ao seu


progresso e à sua preparação para a Promessa (é ele que reconhece que está
preparado para assumir um compromisso com a Unidade);

- são identificadas oportunidades educativas que permitem atingir determinados


objectivos a nível de crescimento;

- na relação educativa entre elemento e dirigente surge a possibilidade de nego-


ciação sobre o caminho a percorrer e as metas a atingir;

- o diagnóstico, a avaliação e o reconhecimento envolvem diversos intervenientes


(os pares, os dirigentes e outros organismos), o que enriquece o processo.

Bibliografia:
BADEN-POWELL, Robert, O Rasto do Fundador, Edições CNE.
256
manualdodirigente

C.6.1 O Sistema de Progresso na Alcateia

Durante a sua passagem pela Alcateia, os lobitos vivem alguns momentos importantes:
primeiro, passam por um processo de integração – que envolve um diagnóstico inicial e
uma etapa de adesão à secção, que culmina com a Promessa – e depois entram num
processo de vivência, onde percorrem as diferentes etapas de progresso até à saída
da secção, que culmina com a passagem para a II Secção. De seguida, descrever-se-á
cada uma destas fases e as suas características principais.

I. A integração na Secção

a) O Diagnóstico inicial

Todas as crianças que entram para a Alcateia apresentam características diferentes a


nível da sua personalidade e crescimento: idade, contexto familiar e escolar, níveis de
desenvolvimento intelectual, virtudes e defeitos, capacidades e dificuldades. Assim sen-
do, cada uma está num estádio de desenvolvimento próprio e, por isso, tem de principiar
o seu caminho na secção de um ponto de partida próprio e diferente do das outras crian-
ças. Só assim crescerá de forma harmoniosa e, idealmente conseguirá atingir em pleno
os objectivos educativos da secção.

Compete à Equipa de Animação promover o desenvolvimento pessoal equilibrado


de cada lobito, ajudando-o a atingir os objectivos de crescimento da secção. No
entanto, para o fazer tem de conhecer bem a criança que chega à Alcateia. A este
momento de conhecimento e investigação chamamos diagnóstico inicial.

Esta fase de diagnóstico é muito importante para o que sucede depois da Promessa. De
facto, depois dela, o lobito vai ter de escolher, com os Velhos Lobos, os trilhos em que vai
evoluir e esta escolha tem de ter em consideração as suas necessidades de desenvolvi-
mento, que só conhecemos se fizermos um diagnóstico profundo do elemento.
257
manualdodirigente

No diagnóstico inicial, a Equipa de Animação deve promover actividades variadas que permitam saber con-
cretamente quais são as características da criança que chega. Estas actividades podem passar por:

·-observar a criança em dinâmicas e jogos variados, pensados especificamente para o efeito: este tipo
de actividade constitui uma excelente oportunidade para conhecer e testar comportamentos e é a
melhor forma de observar e conhecer sem que a criança se aperceba.

·-observar o comportamento e reacções da criança durante as primeiras actividades e reuniões.

·-conversar informalmente com os Pais e com a própria criança: esta conversa permite aos dirigentes
conhecer melhor os lobitos e pode ajudá-los a definir prioridades a nível do projecto de progressão in-
dividual de cada um e das formas como ele será implementado. Para além disto, ajuda os pais a reflectir
sobre o desenvolvimento do seu filho ou filha e, para a criança, é uma experiência para se conhecer melhor
e ver reconhecido o seu valor.

·-conversar com outros agentes educativos que podem ter informações importantes (catequistas,
professores, etc.).

Todas estas observações podem ser registadas numa folha própria onde se mencionam as informações
recolhidas nas diversas conversas e também os conhecimentos, comportamentos e atitudes que o
lobito revela em cada reunião (pode-se fazer o registo de acontecimentos e atitudes que ilustrem o
que se atingiu). Esta folha pode tomar muitas formas (no anexo 1 – Apoio ao registo de CCAs - lobitos –
apresenta-se um exemplo) e pode ser descritiva (com explicações detalhadas) ou valorativa (ter alíneas
em que se avalia, por exemplo, de 1 a 4 – de não adquirido a totalmente adquirido). Para além disto, pode
tanto ser usada no diagnóstico inicial como ao longo do percurso do lobito, para avaliar o seu progresso.

O que acontece com lobitos de 7 e 8 anos?


No caso de estarmos perante um aspirante com idade igual ao 2º ou 3º ano na Secção
(7 ou 8 anos), o diagnóstico formal pode incluir informações mais aprofundadas de ou-
tros agente educativos (professor, catequista, etc.), na medida em que é possível que
a criança já tenha adquirido alguns dos conhecimentos, competências e atitudes que a
proposta educativa da Alcateia se propõe ajudar a desenvolver (ou seja, já terá atingido
alguns objectivos educativos).

A recolha de boas informações, nestas idades, é fundamental, na medida em que, depois


da fase de adesão e da Promessa, a Equipa de Animação terá de definir concretamente
que objectivos educativos é que o lobito já atingiu, se já possui trilhos completos e em
que etapa de progresso vai ser integrado.
Assim, no reconhecimento do progresso pessoal, se o lobito tiver completado todos os
objectivos:

258
manualdodirigente

De 1 trilho de cada área de desenvolvimento: fica na etapa 1;


De 1 a 2 trilhos de cada área de desenvolvimento: fica na etapa 2;
De 2 a 3 trilhos de cada área de desenvolvimento: fica na etapa 3.

Note-se que:

1. Se um lobito for colocado na primeira etapa por ter apenas um trilho ou dois
completos, é aconselhável que escolha outros seis trilhos (um de cada área) para
esta etapa e deixe de lado – para reavaliação na etapa seguinte – os trilhos que
aparentemente já completou

2. O aspirante só completa uma etapa se tiver completado um trilho de cada


área de desenvolvimento pessoal. No caso de existir um lobito, por exemplo, que
tenha completado dois trilhos da área de desenvolvimento espiritual, 2 da área
de desenvolvimento físico e 1 da área de desenvolvimento intelectual, ele fica na
primeira etapa porque ainda lhe falta alcançar um trilho das outras áreas (social,
afectiva e de carácter).

3. Caso um lobito tenha alcançado 7 trilhos (de áreas diferentes), é colocado na


segunda etapa e deve escolher 5 trilhos para a completar.

O que acontece com lobitos de 9 anos?


No caso de a Alcateia receber um aspirante com 9 anos, a Equipa de Animação deverá
realizar um diagnóstico formal o mais completo possível (caso seja necessário, pode-
se mesmo recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito preferencialmente na
presença de dois dirigentes da Unidade, para poder haver várias opiniões). Depois deste
diagnóstico, duas coisas podem ocorrer:

Se se percebe que a criança não cumpre todos os trilhos educativos da Alcateia


(ainda não atingiu todos os objectivos educativos), ela fica como aspirante na
Alcateia, inicia a sua adesão e após a Promessa é colocada na etapa de pro-
gresso adequada (de acordo com os trilhos que já alcançou).

Se se percebe que o aspirante já atingiu todos os objectivos educativos e cum-


priu, por isso, todos os trilhos educativos da Alcateia, ele pode passar a ser as-
pirante nos exploradores. Esta opção tem de ser muito bem equacionada, já que
pode ser traumático para o aspirante ir para os exploradores se tiver todos os
amigos na Alcateia e se encontrar no 4º ano de escolaridade. É por isso neces-
sário avaliar bem a situação deste lobito a nível de família, grau de escolaridade
e grupo de pares.

259
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Esquema 1
RESUMO- SECÇÃO I

260
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b) A etapa de Adesão

Quando dá início à sua adesão à Alcateia, o aspirante a lobito recebe uma insíg-
nia de adesão e passa a chamar-se “Pata-Tenra”.

Esta etapa tem alguns objectivos:

Ajudar o aspirante a adquirir conhecimentos básicos acerca do funcionamento


da Alcateia: como se organiza a unidade, qual a mística e imaginário que a
definem, que actividades se fazem e quais são os compromissos de um lobito
(adesão a um quadro de valores).

Permitir uma experimentação concreta do método escutista, através da vivência


real da vida de bando e das actividades da secção (nomeadamente uma Caça-
da).

Levar o aspirante a contactar e reflectir sobre o compromisso que deverá assu-


mir formalmente na sua Promessa e sobre a forma como se desenrola o pro-
gresso depois da Promessa.

Para além de tudo isto, durante a adesão o aspirante toma conhecimento das áreas de
desenvolvimento (“os Bichos da Selva que lhe vão ensinar coisas”) e dos trilhos educa-
tivos (“trilhos da Selva por onde ele vai andar”) do sistema de progresso. Nos lobitos, as
áreas de desenvolvimento e os trilhos educativos estão recodificadas de forma a estarem
mais próximos do imaginário dos lobitos. Assim, a cada área está associado um perso-
nagem da história da Selva e cada trilho está convertido numa acção que esse animal
desempenha, como se vê no quadro seguinte:

Relacionamento e
Equilíbrio emocional Auto-estima
sensibilidade
Afectivo Racxa Racxa defende Máugli Racxa ama Máugli
Racxa acolhe
de Xer Cane como ele é
Máugli no Covil
Autonomia Coerência
Responsabilidade Bálu
Carácter Balú Bàlu ensina a Bálu orgulha-se de
ajuda a cumprir a Lei
Lei da Selva Máugli
Serviço
Descoberta Vivência
Máugli aprende com
Espiritual Hathi Halthi conta a Hathi guarda toda a
Halthi a Sabedoria da
história de Tha Sabedoria da Selva
Selva
Desempenho
Auto-conhecimento Bem-estar físico
Físico Cá Cá defende Màugli
Cá muda de pele Máugli brinca com Cá
dos Bândarlougues
Procura do conheci- Resolução de Expressão/Comuni-
mento problemas cação
Intelectual Bàguirà
Màugli e Bàguirà Bàguirà responsabiliza Bàguirà defende Máugli
caçam juntos Máugli na Rocha do Conselho
Exercício activo da
cidadania Cooperação e Interacção
Social Àquêlà Àquêlà orienta as solidariedade Àquêlà ajuda Máugli a
reuniões na Rocha do Àquêlà ajuda Fao guiar os búfalos
Conselho

A ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos é aprofundada no Anexo 2.


261
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c) A Promessa

A preparação para o compromisso

A vivência correcta da fase de adesão permite que cada aspirante se consciencialize


da realidade da vida da Alcateia e possa, de forma individual, tomar a decisão de aderir
ou não à secção, através da Promessa. Note-se que, apesar de competir à criança, em
primeiro lugar, o reconhecimento de que gosta de estar na Alcateia e de que quer fazer
a sua Promessa, há muitos lobitos para quem esta decisão não é fácil: são crianças de
tenra idade que, muitas vezes, não estão habituadas a tomar decisões.
Para além disto, durante a fase de adesão, cada lobito revela um ritmo próprio de adap-
tação a novas pessoas e a novas regras que deve ser respeitado. Isto significa que, en-
quanto uns decidem rapidamente aderir ao Movimento e se preparam num curto espaço
de tempo para fazer a Promessa, outros podem demorar mais tempo. Assim sendo, a
duração da adesão deve ser adaptada ao aspirante, embora não deva ultrapassar os 4
meses.
Por tudo isto, os aspirantes devem ser acompanhados de muito perto pelos dirigentes,
que devem tentar ajudá-los a escolher o que querem fazer e a preparar-se para o seu
compromisso.

A Promessa deve ser preparada com todo o cuidado e, com base em dinâmicas
propostas, o seu sentido e importância deve ser explicado ao aspirante, para que
este possa tomar consciência do valor deste compromisso, fortalecendo a sua
decisão de aderir ou não à Alcateia.

Validação da Promessa

Neste processo, o papel dos pares, ou seja, dos Guias, no acompanhamento e avalia-
ção do progresso pessoal dos seus elementos é bastante importante. De facto, é no
Conselho de Guias que se verifica como está a decorrer a fase de adesão dos aspiran-
tes, nomeadamente a nível da vivência no Bando, na Alcateia e nas actividades típicas.
Depois de tudo avaliado, e caso se conclua que o aspirante está pronto para fazer a
sua Promessa, os Guias elaboram uma proposta que deve ser validada por todos em
Conselho de Alcateia.

A avaliação dos elementos em Conselho de Guias implica um suporte cuidado e


uma orientação clara por parte da Equipa de Animação. De facto, a autonomia
dos lobitos é limitada, pelo que não se pode deixar tudo nas mãos deles (em
muitos casos não saberiam o que fazer ou decidir). Há que ter cuidado, contudo,
em orientar e não em substituir: a Equipa de Animação deve ajudar os Guias a
emitir opiniões fundamentadas e a tomar decisões ponderadas em conjunto, mas
não os deve substituir nas tomadas de decisão. No entanto, a última palavra é
sempre dos dirigentes.

262
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Depois de tudo estar decidido, a Promessa deve ser marcada no máximo até 2 meses
a seguir à decisão de adesão. Note-se que, apesar de ela ser agora individualizada, os
aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, caso haja vários que tenham
visto ser validada a sua decisão dentro do mesmo tempo.

II. A Vivência da Secção

a) As Etapas de Progresso

Preparação das etapas de Progresso

Durante a fase de adesão, o lobito deve conhecer e preparar a forma como se vai desen-
rolar o seu progresso a partir da Promessa. Assim, através do diálogo, e tendo em conta
o diagnóstico inicial, a Equipa de Animação tem de o ajudar a escolher o seu primeiro
percurso de progresso.

Em termos de etapas de progresso, e para reforçar o compromisso pessoal, a


insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa. Assim se dá
relevo ao compromisso assumido pelo lobito de procurar progredir nos conheci-
mentos, competências e atitudes que o levam a alcançar os objectivos educativos
da Secção.

Nome das etapas

No caso dos lobitos, os nomes das etapas de progresso são “Lobo Valente”, “Lobo Cor-
tês” e “Lobo Amigo”. Tal como as áreas de desenvolvimento, estes nomes também estão
associadas ao imaginário da secção: utilizou-se linguagem concreta e com uma sim-
bologia própria (Pata-Tenra, por exemplo), valores (como a Amizade) e ensinamentos
presentes na História da Selva.

“Coração valente e língua cortês – disse –, levar-te-ão longe através da


Selva, homenzinho.”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 73

263
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Etapa do Pata-Tenra (adesão)

Pata-Tenra' é o lobito que mal sabe andar e


que nem caça, por não ter ainda forças nas
suas patas. É aquele que precisa de ajuda para
descobrir e compreender as primeiras leis e os
primeiros segredos da selva, porque tem tudo
para aprender. Precisa, assim, dos Velhos Lo-
bos e dos lobitos mais velhos para crescer em
alcateia e se tornar um bom lobito.

O distintivo de progresso da secção possui, para além da etapa de Pata-Tenra, outras


três partes, cada uma correspondendo a uma das etapas depois da Adesão. Em cada
parte encontra-se uma qualidade do lobito.

Etapa do Lobo Valente

O início de uma nova pista arrasta consigo, por norma, o medo do desconhecido. Na
idade dos lobitos, este desconhecido toma diversas formas: são os chefes que não co-
nhecem, as primeiras noites de acampamento, um grupo de crianças desconhecido,
espaços novos, etc. Mas o lobito deve ser semelhante a Máugli: ele, que representa
todos os lobitos, encara pela primeira vez a Selva com toda a sua coragem. Assim, não
manifesta nenhum medo, antes enfrenta a nova realidade de cabeça erguida.

“– Que pequenino! Que nuzinho e que ousado! – disse brandamente


Mãe Loba. (…) – Eia! Está a comer com os outros. Este é então um ca-
chorro de homem. (…) Chegou nu, de noite, só e esfomeado; todavia,
não tinha medo!”
O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 16, 19

Nesta etapa, encontramos um lobito que, em-


bora já saiba andar, ainda tem um longo cami-
nho pela frente, nem sempre fácil de percorrer.
Para o conseguir, vai precisar de toda a sua va-
lentia. Com a ajuda da Alcateia, vai aprender a
controlar o medo e a trabalhar o auto-domínio.

264
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Etapa do Lobo Cortês

“OBRIGADO – DESCULPE – SE FAZ FAVOR


Três palavras de ordem que a Alcateia não pode deixar de viver.”

Alaiii

Conhecidos os principais caminhos da Selva, esta é a altura em que o lobito é responsa-


bilizado de forma mais activa. Esta é a época em que começa a ser um exemplo para os
outros. É a época em que tem de ser cortês, ou seja, em que tem que se revelar amável
e respeitador para com os outros, sobretudo os mais novos, que precisam de mais ajuda.
No entanto, para o ser tem de aprender a controlar-se: é altura de cumprir a Lei de forma
instintiva, aprendendo a reflectir sobre os seus actos e respectivas consequências. Só
assim pode aperfeiçoar-se: um lobito já relativamente autónomo sabe que deve ser deli-
cado no falar, mesmo que tenha de dizer algumas coisas que nem todos gostam de ouvir
e que deve ser gentil com todos sem se revelar subserviente ou bajulador. Conhece,
assim, os caminhos certos e os errados: não gosta de faltas de respeito, de ofensas, de
troça e sabe que os mais novos são mais frágeis e que devem ser protegidos e ajudados.
É chamado, a este nível, a seguir o exemplo de Máugli, que foi chamado a reflectir e a
dominar-se, respeitando os mais fracos e sendo amável.

“Os miúdos da aldeia irritavam-no deveras. Felizmente, a Lei da Selva


ensinara-o a dominar a cólera, porque na Selva a vida e sustento de-
pendem desse poder; (…) só a consciência de que não era desportivo
matar pequenos cachorros nus o impedia de pegar neles e de os rachar
ao meio.”

O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, p. 87

Já mais crescido, o lobito começa agora a ser


capaz de ser amável e paciente para com os
mais novos, os Patas-Tenras acabados de
chegar e que precisam de ser ajudados. Nes-
ta etapa, deve mostrar-se alegre, respeitador,
simpático e ajudar a zelar por todos e pelo bem
da Alcateia.

Etapa do Lobo Amigo

Na última etapa da vida na Alcateia, o lobito é chamado a ajudar os Velhos Lobos a aju-
dar a instruir os mais novos. É agora, mais do que nunca, um modelo para os restantes
e deve ser um exemplo de amizade. Assim, deve ser capaz de perdoar, em vez de se
mostrar vingativo, ressentido ou rancoroso; e deve ser capaz de ajudar os que mais
265
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necessitam, mesmo que não goste muito deles: é que não é fácil ensinar os mais novos,
que ainda não conhecem os caminhos da Jangal e a Lei do Povo Livre. É preciso muita
paciência e brandura para ajudar Àquêlá e ensinar os faltosos, mas um lobito é sempre
um irmão, nunca um inimigo, e os mais fortes protegem sempre os mais fracos. Também
aqui é chamado a seguir o exemplo do Menino-Lobo: é a amizade, o amor e a gratidão
que estão presentes quando Máugli protege a Alcateia e, mais tarde, quando abandona
a Aldeia dos Homens.

“Uma mulher – era Messua – atravessou a correr para a manada e


gritou: - Ó filho, filho! Dizem que és bruxo, que podes tornar-te em qual-
quer bicho que queiras. Não acredito, mas vai-te daqui, senão matam-
te (…).
Máugli soltou um riso breve e desdenhoso porque uma pedra lhe acer-
tara. – (…) Não sou bruxo nenhum, Messua. (…) Girou com os calca-
nhares e afastou-se com o Lobo Solitário, e, olhando para as estrelas
sentiu-se contente. – Para mim acabou-se o dormir dentro de armadi-
lhas, Àquêlá. Peguemos na pele de Xer Cane e vamo-nos. Não, não
faremos mal à aldeia, porque Messua foi boa para mim.”

O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, pp. 103-104

Na última etapa, o lobito já cresceu: está cheio


de vida e no máximo das suas capacidades. Já
é capaz, assim, de uivar tal como Àquêlá, com
cuja idade e experiência aprende a ser me-
lhor. Compete-lhe agora, neste âmbito, ser um
exemplo para os outros: um lobo amigo domina
a sua vontade e os seus sentimentos e cum-
pre a Lei da Alcateia e a sua Promessa (escuta
Àquêlá, pensa primeiro nos seus semelhantes
e é amigo de Jesus, amando os outros).

Quando as quatro insígnias se completam, po-


demos verificar que o lobo Pata-Tenra observa
atentamente o uivo do lobo Amigo. Assim se
torna claro que, num ciclo interminável, os mais
novos aprendem com o exemplo dos mais ve-
lhos.

266
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b) Os Objectivos Educativos

A progressão por objectivos


Toda a dinâmica do sistema de progresso assenta no desenvolvimento individual de
conhecimentos, competências e atitudes, com base em três esferas do saber: o saber
saber, o saber fazer e o saber ser.

Estes conhecimentos, competências e atitudes desenvolvem-se através de um conjunto


de objectivos definidos para vários trilhos que, por sua vez, integram áreas de desenvol-
vimento.

Progredir significa, neste âmbito, atingir objectivos em campos que a criança ainda não
evoluiu e não aprofundar indefinidamente conhecimentos, competências e atitudes já
dominados. Por exemplo: se se percebe que um lobito já cumpre tudo o que está dentro
de um objectivo, então este último é dado como atingido e o progresso passará por tentar
atingir outros objectivos, ainda não cumpridos.

Estrutura do sistema de progresso


O sistema de progresso está estruturado da seguinte forma:

Tem 6 áreas de desenvolvimento: afectivo, carácter, espiritual, físico, intelectual


e social.
Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos.
Cada trilho educativo contém um ou mais objectivos educativos.

Em cada etapa de progresso, o lobito tem de procurar evoluir em todas as 6 áreas de de-
senvolvimento. Para isso, vai trabalhar em 6 trilhos, um de cada área, procurando atingir
os objectivos presentes neles.

Note-se que compete a cada lobito, em primeiro lugar, a construção das suas etapas de
progresso, na medida em que deve seleccionar um trilho de cada uma das diferentes
áreas de desenvolvimento em cada etapa. Contudo, não pode estar sozinho neste pro-
cesso de decisão. Pelo contrário, deve ser ajudado pelos dirigentes, na medida em que,
pela idade que tem, é frequente não conseguir tomar decisões ou escolher o que mais
lhe convém. Neste processo, então, o Àquêlá (ou outro dirigente) desempenha um papel
importante:

Deve diagnosticar os conhecimentos, competências e atitudes que o lobito já


detém, ajudando-o a seleccionar os trilhos educativos que irão constituir as suas
etapas;
Deve observar a evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que
contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

267
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A escolha individualizada de trilhos implica que:

- dois ou mais lobitos podem trabalhar objectivos diferentes apesar de es-


tarem na mesma etapa de progresso. Vejamos um exemplo: um lobito, para a
sua etapa de Lobo Valente, por exemplo escolhe trilhos como os de sensibilidade
e relacionamento (área afectiva), autonomia (área do carácter), vivência (área es-
piritual), desempenho (área física), procura do saber (área intelectual) e exercício
activo da cidadania (área social). Outro lobito, na mesma etapa, escolhe trilhos
diferentes destes, pelo que vai trabalhar objectivos educativos diferentes.

- dois ou mais lobitos podem trabalhar os mesmos trilhos mesmo estando


em etapas diferentes. Por exemplo, um lobito na etapa de Lobo Valente pode
escolher trilhos que outro lobito, já na etapa de Lobo Cortês, também pode querer
seleccionar (por ainda não os ter cumprido).

É de esperar e de desejar que a maioria dos lobitos atinja o fim do sistema de progresso,
ou seja, que à data de saída da Alcateia a maioria tenha conseguido completar todos os
trilhos. No entanto, pode haver lobitos que não completam todos os trilhos da Alca-
teia antes de passar de Secção (isto pode acontecer tanto com lobitos que estão desde
os 6 anos na Alcateia, como com os que entraram com 9). Nesse caso, os trilhos não al-
cançados nos lobitos não transitam nem se acumulam com os trilhos dos exploradores.
Perante esta situação, o Àquêlá deve informar o Chefe da Expedição acerca da situação
destes lobitos, explicando que objectivos/trilhos ficaram por atingir e porquê. Assim se
identificam as dificuldades de desenvolvimento desses lobitos. Depois disto, o Chefe da
Expedição deve acompanhar com especial cuidado escolha dos primeiros trilhos destes
novos exploradores: o ideal será que as áreas/trilhos mais frágeis sejam os primeiros a
ser trabalhados, para que as dificuldades não se aprofundem.

c) As Oportunidades Educativas

As actividades
Para atingir os objectivos de cada etapa, os lobitos têm de realizar algumas actividades
que lhe permitem crescer e desenvolver­-se. A essas actividades, que permitem à criança
viver experiências enriquecedoras e desenvolver-se, chamamos oportunidades educa-
tivas. Dado que todo o meio ambiente é potencialmente um campo de aprendizagem,
elas não surgem apenas no Covil, mas podem também surgir na escola, catequese,
associações desportivas ou artísticas, etc., porque em todos estes planos há espaço
para o desenvolvimento de conhecimentos, competências e atitudes. Assim, todas as
actividades que os lobitos fazem dentro e fora da Alcateia (jogos, saídas, vivência de
grupo, família ou escola, técnicas, etc.) são oportunidades educativas, na medida em
que podem ajudar a alcançar os objectivos educativos da Secção.

268
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Os dirigentes devem verificar que conhecimentos, competências e atitudes o lo-


bito pode ter adquirido em outros campos que não o escutista, verificando se
permitiram atingir objectivos. Se tal acontecer, o lobito não terá de fazer nada para
atingir esses objectivos: já estarão concluídos.

Neste âmbito, deixam de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de


qualquer outra ordem e passa a dizer-se “o lobito deu provas de” (foi observado nele um
determinado comportamento recorrente a nível de conhecimentos, competências e atitu-
des) em vez de “o lobito prestou provas” (realizar uma determinada acção que consiste
numa prova específica a fazer num tempo e espaço únicos).

As oportunidades educativas permitem atingir os objectivos educativos de uma


forma indirecta e progressiva. Isto significa que não é pelo facto de fazer uma
actividade que um lobito vai atingir automaticamente um objectivo. De facto, é a
avaliação do desenvolvimento do lobito que conta (e não a realização ou não da
oportunidade educativa): ao observarem o lobito, os dirigentes definem que opor-
tunidades educativas são necessárias para que ele atinja um objectivo.
O lobito pode participar nesta definição, na medida em que podem ser “negocia-
das” com ele as actividades que eventualmente o ajudarão a atingir os objectivos
educativos. Esta participação é importante, na medida em que ajuda o lobito a
envolver-se no seu próprio desenvolvimento.

Cargos e funções
Para além das actividades, o desempenho de um cargo ou função no Bando ou numa
Caçada também é uma oportunidade educativa, na medida em que o exercício destas
tarefas específicas permite ajudar os lobitos a crescer nas diversas áreas de desenvolvi-
mento. O quadro seguinte demonstra precisamente as áreas que mais facilmente podem
ser desenvolvidas pelo desempenho de um determinado cargo ou função:

QUADRO ILUSTRATIVO DE CARGOS E DE FUNÇÕES

CARGO ÁREA PRINCIPAL OUTRAS ÁREAS


Guia Carácter Afectivo / Social
Subguia Carácter Afectivo / Social
Secretário/cronista Intelectual Carácter / Social
Financeiro Intelectual Carácter / Social
Guarda do material Intelectual Carácter / Físico
Animador Espiritual Carácter / Social / Afectivo
Socorrista/botica Físico Carácter / Social / Intelectual
Intendente Intelectual Carácter / Físico
Informático Intelectual Carácter
269
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Especialidades
Também as especialidades, quando trabalhadas e aplicadas na vida quotidiana dos Ban-
dos, permitem desenvolver aptidões, pelo que também elas constituem oportunidades
educativas. O trabalho neste âmbito pode e deve iniciar-se a partir do momento em que
o lobito realiza a sua Promessa e entra nas etapas de progresso.

d) Avaliação
A avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes que os lobitos vão manifestan-
do e adquirindo não depende de provas que eles realizem em determinado momento. De
facto, e como é suposto que tudo o que eles fazem, dentro e fora da Alcateia, seja olhado
como oportunidade educativa que contribui para o seu desenvolvimento, há que observar
e avaliar o que se passa em outros ambientes educativos (como a família, a escola, o
clube desportivo, etc.).

Esta avaliação, e posterior validação de objectivos educativos concluídos, deve ser reali-
zada pelos dirigentes de forma contínua e durante um percurso prolongado de tempo, ao
longo da vivência escutista do lobito. Isto implica dois tipos de relação:

1. um contacto próximo com os outros agentes educativos que contactam com


o lobito (como os pais);

A avaliação do lobito, tal como no diagnóstico inicial, passa por uma ligação es-
treita entre o dirigente e os pais, para que seja possível receber informações
sobre o comportamento do lobito em casa a partir da observação feita por estes.
De igual forma, a avaliação do progresso pessoal também poderá ser realizada
com a ajuda de professores, catequistas, etc.

2. uma relação muito próxima com o lobito, com quem deve conversar frequen-
temente sobre os conhecimentos, competências e atitudes que este adquiriu,
para verificar se um objectivo educativo está concluído, se o lobito deverá
esforçar-­se mais para o concluir e se tem consciência de que está a evoluir.

Esta relação mais personalizada com cada um dos lobitos implica uma boa orga-
nização por parte da Equipa de Animação: cada dirigente deve estar incumbido
de se relacionar de forma mais próxima com um determinado número de lobitos
(preferencialmente 1 por bando, ficando o Àquêlá de fora), de modo a que todos
possam ser devidamente acompanhados no seu desenvolvimento pessoal.

Para além desta avaliação por parte dos dirigentes e da consciencialização por parte do
lobito (tem de perceber que evoluiu), também o Conselho de Guias é chamado a avaliar
270 os elementos.
manualdodirigente

Repete-se, na progressão de etapa para etapa, o que se faz a propósito da valida-


ção da Promessa: o Conselho de Guias é o espaço privilegiado para a tomada de
decisões relacionadas com o progresso dos elementos – escolhas de percurso,
avaliação e reconhecimento de progresso. Também esta avaliação exige uma
orientação cuidada por parte da Equipa de Animação que, não se devendo subs-
tituir aos lobitos nas tomadas de decisão, deve ter a última palavra, para garantir
que há justiça e consciência na avaliação.

e) O Reconhecimento

O reconhecimento de que um trilho ou uma etapa de progresso foram concluídos deve


ser feito depois da avaliação das actividades típicas (altura em que se aprecia a evolução
de cada lobito).

Este reconhecimento não será registado num cartão de progresso, mas sim no Caderno
de Caça do lobito (é um suporte ao progresso e um diário de registo da aprendizagem e
vivências na Alcateia), que conterá uma página destacada com uma ilustração relaciona-
da com a história da Selva e contendo as personagens associadas às áreas educativas.
À medida que os lobitos concluam os objectivos de um determinado trilho, é-lhes entre-
gue um autocolante para que seja colado nesse mapa da selva.

Quando o lobito terminar a sua última etapa (isto significa que tem de completar todos os
objectivos educativos da I Secção), irá receber a Anilha de Mérito com o símbolo da Sec-
ção (a cabeça de lobo), de forma a ser reconhecida a conclusão do seu percurso educa-
tivo na Alcateia. A anilha pode ser usada até ao momento da promessa de explorador.

III. Passagem de Secção


Como em qualquer processo de transição, a passagem para a II Secção pode ser assus-
tadora para o lobito, mas não é isso que se quer. O que se pretende é que este momento
seja, ao mesmo tempo, suave e desafiante.

A adesão informal aos exploradores


Para que tudo seja equilibrado, o processo de passagem de secção não se resume a
um momento no início do ano escutista, mas prolonga-se, de forma informal, durante
o último trimestre do último ano na Alcateia. O objectivo é promover uma aproximação
dos lobitos aos exploradores, que funcione como um “quebra-gelo”, ajudando a que os
lobitos que vão passar se sintam mais à-vontade e mais seguros. Assim se desvanece
o medo do desconhecido e se promove a integração a partir do momento da efectiva
passagem e do início da adesão formal à II Secção.

271
manualdodirigente

No seu último trimestre na Alcateia, o lobito continua a pertencer e a viver em


pleno as dinâmicas da I Secção, mas é chamado a familiarizar-se, de forma in-
formal, com a Expedição (conhecer as Patrulhas, os Guias, os Chefes e a Base,
ir-se inteirando das dinâmicas da secção, etc.). Para que isto aconteça, pode ser
convidado, pelos Guias dos exploradores, a visitar a Base ou a participar em acti-
vidades de uma Aventura (jogo, celebração, saída pequena, etc.), por exemplo. A
ideia é ir observando, sem participação activa (sem tarefas ou responsabilidades)
e de forma informal e sem pressões, como é a vida da Expedição.

A Passagem
No início do ano escutista seguinte, o lobito passará definitivamente para a II Secção.
Este momento nem sempre é de festa para os lobitos: muitos há que temem deixar a
Família Feliz. Neste âmbito, a serenidade e optimismo dos Velhos Lobos é muito impor-
tante, assim como a segurança que demonstram. Fundamental é também deixar a porta
aberta, ou seja, explicar aos lobitos de que podem sempre vir visitar a Alcateia, para
matar saudades, e que todos ficarão felizes se eles vierem ao Covil de vez em quando.

“Bálu interrompeu-os:
- Eu ensinei-te a Lei. Compete-me falar – disse – e, embora não possa
agora ver os Rochedos à minha frente, vejo longe. Rãzinha, segue a tua
própria pista, faz o teu covil com o teu próprio Sangue, a tua Alcateia, a
tua Gente. Mas quando houver necessidade de pata, dente, e olho ou
de recado levado rapidamente de noite, lembra-te, Senhor da Selva, a
Selva está às tuas ordens.”
O Segundo Livro da Selva, Correrias da Primavera, pp. 202

Apesar de tudo isto, é possível que algum receio ainda se mantenha. Por essa razão, a
cerimónia de passagem é muito importante, na medida em que é um momento que, se
mal concretizado, pode marcar negativamente o lobito, prejudicando a sua integração e
a sua progressão. Neste sentido, é essencial conceder dignidade e profundidade a este
cerimonial, zelando para que marque, de forma positiva, todos os que passam.

No caso dos lobitos, será interessante criar um cerimonial de passagem de secção, onde esteja paten-
te o imaginário da Selva. Por exemplo, na passagem da I para a II, porque não criar um cerimonial que
assente na ida de Máugli para a Aldeia dos Homens? Neste processo, o trabalho conjunto das Equipas de
Animação intervenientes é fundamental.

272
manualdodirigente

O papel das Equipas de Animação


A Passagem deve ser marcada por um trabalho de conjunto entre os chefes das duas
secções. Assim, deve existir um intercâmbio de ideias em que são explicados alguns
pontos essenciais:

O Chefe da Expedição deve compreender que é natural que algum lobito sinta
necessidade de regressar à Alcateia, sobretudo no início da sua vida da Expedi-
ção. Esta necessidade do aspirante não deve ser motivo de troça ou de crítica:
todos temos saudades de quem gostamos, permitir a expressão deste senti-
mento é saudável e positivo e tentar reprimir o aspirante pode levá-lo a rejeitar o
novo grupo em que se insere (por não se sentir acolhido nem respeitado).

Quando passa para a II Secção, o lobito vai passar por novo processo de diag-
nóstico, agora levado a cabo pela Equipa de Animação da Expedição. Este
trabalho deve ser precedido por uma conversa entre o Àquêlá e o Chefe da
Expedição, no sentido de identificar as áreas em que o noviço tem mais dificul-
dades e de compreender as particularidades de cada lobito que vai passar.
É também este o momento para conversar com mais profundidade sobre aque-
les lobitos que não completaram o sistema de progresso e apresentam, por isso,
algumas lacunas a nível do seu desenvolvimento.
Ricardo Perna

273
manualdodirigente

C.6.2. O Sistema de Progresso na Expedição

A estrutura do Sistema de Progresso

Podemos dividir a passagem do explorador pela 2ª secção em duas grandes fases: a


integração (na qual o explorador faz a sua adesão) e a vivência (em que este evolui nas
etapas de progresso).

I. Integração

a)Adesão informal aos exploradores

Qual o objectivo?
O objectivo é promover uma aproximação entre a Expedição e os lobitos que irão passar
para os exploradores. Deverá funcionar como “quebra-gelo”, ajudando os lobitos a estar
mais à vontade entre aqueles que os irão receber. Permitirá a integração mais fácil, a
partir do momento da efectiva passagem e do início do Apelo (adesão formal).

Como e quando fazer?


A adesão informal iniciar-se-á no último trimestre do último ano de lobito. Neste último
trimestre, o lobito continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da Alcateia.
Assim, estes momentos deverão ser combinados entre as Equipas de Animação das
duas Secções de forma a não perturbar o envolvimento do lobito na sua secção.

Os Guias das Patrulhas deverão convidar os lobitos que irão passar de secção
para participarem numa (ou em mais que uma) actividade sua, para conhecerem
as Patrulhas, os Guias, a Equipa de Animação, a Base e o tipo de Aventuras que
o esperam no ano seguinte. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir obser-
vando, sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.

274
manualdodirigente

b)Diagnóstico inicial

Qual o objectivo?

Existem diferenças entre todas as crianças na altura em que se juntam à Expedição.


A idade, o contexto escolar e familiar, as aptidões e gostos, as dificuldades e medos, o
nível de desenvolvimento – todas estas questões fazem de cada criança um elemento
diferente de todos os outros. O facto de cada elemento estar, provavelmente, num dife-
rente ponto de partida no que diz respeito a estes e outros factores, exige que a equipa
de animação consiga conhecer cada um dos elementos da Expedição, de forma a facili-
tar a promoção do seu desenvolvimento pessoal harmonioso, ajudando os elementos a
atingirem em pleno os objectivos educativos da 2ª secção.

Torna-se portanto imprescindível conhecer a criança que chega à Expedição – a


isto chamamos diagnóstico inicial.

Como e quando fazer?


Cabe ao Chefe de Expedição, em colaboração com a Equipa de Animação, a partir da
chegada de um novo elemento à secção, fazer o diagnóstico inicial.

Há diferentes formas de se chegar às informações relevantes para este processo:


· -diálogo formal com os Pais (Por que entrou nos escuteiros? Qual a relação com a escola?
Tem algum problema que devamos conhecer? Alguma limitação ou medo? Etc…)
· -observação atenta nas primeiras actividades (como se relaciona com os elementos? E c o m
a Equipa de Animação? Como reage a regras? Costuma estar atento? Etc…)
· -partilha de informações com o Chefe de Alcateia (no caso de ser noviço)
· -jogos ou dinâmicas para observar atitudes
· -entrevista com o aspirante/noviço (O que gosta de fazer? Gosta da escola? Tem muitos
amigos? Gosta da ideia de acampar? Tem actividades extra-curriculares? Etc…)
-conversa com o Guia da Patrulha (no caso de ser aspirante com 11 ou 12 anos, para ajudar a
definir em que etapa de progresso o elemento se encontra após o Apelo, com base nas
actividades e convivência)

Esta abordagem inicial é essencial para a posterior escolha dos trilhos. A escolha deverá
ter em conta as necessidades de desenvolvimento do adolescente e deverá incentivar-se
a escolha de trilhos onde o desenvolvimento seja premente. Ou seja, deve-se motivar
para a escolha do que faz o elemento crescer em detrimento do que é facilmente atingí-
vel. Claro que a vontade de progredir rapidamente poderá dificultar este trabalho. Mas se
ambicionamos o cumprimento de todos os objectivos devemos ajudar o elemento a per-
ceber o que deverá trabalhar em cada momento. Há que procurar o equilíbrio na escolha
275
manualdodirigente

entre o que é fácil e o que é necessário para cada fase de crescimento e o diagnóstico
inicial é importante para se detectarem questões a valorizar.

Noviços ou aspirantes com 10 anos


O diagnóstico inicial permitirá ao Chefe de Expedição ajudar o elemento numa escolha
de trilhos adequada às suas necessidades de crescimento.
Os noviços ou aspirantes de 10 anos, terminando a fase de Apelo, começam obrigatoria-
mente na primeira etapa. Na óptica de identificar necessidades em vez de validar compe-
tências, caso o aspirante já tenha alcançado algum trilho este será reavaliado mais tarde
e o explorador escolhe outros 6 trilhos para a sua 1ª etapa.

Aspirantes com 11 ou 12 anos


Os dois últimos exemplos de meios de fazer o diagnóstico são de extrema importância
quando estamos perante um aspirante com 11 ou 12 anos, pois podem contribuem para
a definição da etapa de progresso em que o elemento se encontra após a fase de ade-
são.
Nestes casos, é necessário fazer um reconhecimento do progresso pessoal. Assim, se
o elemento tem…

Até 1 trilho de cada área de desenvolvimento alcançado – deverá ser colocado


na etapa 1 – Aliança
Entre 1 e 2 trilhos de cada área de desenvolvimento alcançados – estará na
etapa 2 - Rumo
Entre 2 e 3 trilhos de cada área de desenvolvimento alcançados – deverá ser
colocado na etapa 3 - Descoberta

Atenção: o aspirante só completa uma etapa se tiver 1 trilho de cada área de


desenvolvimento pessoal.

Mais uma vez na óptica de identificar necessidades em vez de validar competên-


cias, caso o aspirante tenha alcançado mais trilhos que os que permitem fechar
uma etapa, estes serão reavaliados mais tarde e o explorador escolhe outros 6
trilhos para a etapa em que se encontra.

Aspirantes com 13 anos


No caso de a Expedição receber um aspirante com 13 anos, após o diagnóstico formal
surgem 2 hipóteses:

Cumpre todos os trilhos educativos dos exploradores e passa a ser aspirante


nos pioneiros;

Não cumpre todos os trilhos educativos dos exploradores e fica como aspirante
276
manualdodirigente

na Expedição, inicia a sua adesão e após a promessa será colocado na etapa


de progresso de acordo com os trilhos já alcançados (tal como explicado acima
no reconhecimento do progresso pessoal).

Se não alcançou todos os trilhos da Expedição, é provável que o aspirante já não tenha
tempo para o conseguir antes de passar de secção. Nesse sentido, o Chefe de Expedi-
ção deverá informar o Chefe de Comunidade das necessidades de desenvolvimento em
áreas específicas. Na nova secção o chefe deverá ter em consideração estas necessida-
des no percurso individual do jovem. Atenção que os trilhos não alcançados nos explo-
radores não transitam e acumulam com os trilhos dos pioneiros – apenas são tidas em
consideração as necessidades na escolha dos primeiros trilhos na Comunidade. Ou seja,
ao passar de secção, o jovem tem perante si apenas os trilhos referentes à 3ª secção.

Neste contexto, é sempre necessário reflectir também sobre qual a secção em que o
elemento melhor se poderá integra. Se tiver sido trazido por um amigo dos pioneiros, por
exemplo, poderá ser aconselhável ficar nos pioneiros e não nos exploradores.

277
manualdodirigente

Esquema 2
RESUMO- SECÇÃO II

278
manualdodirigente

Alguns exemplos de ferramentas de diagnóstico para a atribuição de trilhos:

1­ Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes de cada sessão –


Pode também ser usada como diagnóstico. Ver Anexo 3
Este tipo de documento poderá ser preenchido (na totalidade ou parcialmente) pelo próprio
com os pais, catequista, guia…. Poderá inclusive valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmen-
te adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e atitudes que exemplifiquem.

2­ A entrevista do elemento com o Chefe de Expedição é um momento de reflexão, conhecimen-


to e crescimento muito importante, aumentando essa importância à medida que aumenta a ida-
de do explorador. Para o dirigente é uma oportunidade privilegiada para conhecer melhor aquele
explorador. Para a criança é uma experiência única de se conhecer melhor e ver reconhecido o seu
valor. É uma oportunidade para validar trilhos, mas também para definir prioridades, dar corpo a
projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e formas de os implementar.

3­ E, claro, o Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiencias de aprendi-


zagem activa, constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a
conhecer.

c)Apelo (Adesão formal aos exploradores)

No caso dos exploradores, os noviços e aspirantes recebem uma insígnia de


adesão no seu início que será a insígnia do “Apelo”.

Na vida há algo que nos chama a deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrá-
mos. Este é o apelo à força da vida, à solidariedade, à vontade, à educação e à entrea-
juda. Um apelo que vem de cima, que vem do alto…

279
manualdodirigente

Qual o objectivo?
Durante este período pretende-se que o elemento (noviço ou aspirante) tome consciên-
cia do funcionamento da unidade, das actividades típicas, mística, simbologia e do que
se espera de um explorador. É com base nessa tomada de consciência individual que se
pretende que o noviço/aspirante tome, por si, a decisão de aderir ou não à Expedição.

Como e quando fazer?


Pretende-se que o explorador participe no quotidiano da secção, integrando uma Patru-
lha. Deverá viver pelo menos uma Aventura de forma a conviver de perto com a aplica-
ção do método a uma actividade típica da secção.

O explorador tem no seu Caderno de Descobertas uma série de questões que o podem orientar nesta
fase.

Quando e como surgiu o Escutismo e o CNE?


Como se organiza o CNE?
Quem foi Baden-Powell?
Quem foi o São Nuno de Santa Maria?
Conheces a Lei, os Princípios e a Oração do Escuta?
Como se organizam os Exploradores/Moços?
Quais são os Cargos existentes nas Patrulhas/ Tripulações dos Exploradores/Moços?
Qual o Imaginário e Mística dos Exploradores/Moços?
Conheces o Patrono dos Exploradores/Moços (São Tiago)? e o da tua Expedição/Flotilha?
Já sabes trabalhar e viver em Patrulha/Tripulação?
Já conheces as áreas e os Trilhos que terás de escolher ?
Já participaste numa Aventura/Expedição?

No caso dos aspirantes, a adesão inclui ainda, no campo do conhecer, a organização do


agrupamento e o domínio prático de técnica escutista.

Deve-se tentar encontrar um equilíbrio entre o que é aprendido pela investigação pessoal
motivada pela curiosidade própria de um explorador que quer aderir à Expedição e a
aprendizagem feita nas actividades. A Equipa de Animação poderá, por exemplo, abor-
dar alguns destes temas em jogos que prepare.

Como já referido, nesta fase o noviço/aspirante deverá ter contacto com as áreas de
desenvolvimento e trilhos que terá que escolher.
Nos exploradores, os trilhos educativos estão recodificados de forma a serem mais facil-
mente compreendidos, como se segue:
280
manualdodirigente

ADP ÁREA PRINCIPAL OUTRAS ÁREAS


Desempenho Gosto de desenvolver as minhas capacidades
Físico Bem-estar físico Vivo de forma saudável
Auto-conhecimento Conheço-me e aceito as mudanças que ocorrem em mim
Relacionamento e sensibilidade Relaciono-me com os outros respeitando as diferenças
Afectivo Equilíbrio emocional Sei gerir as minhas emoções
Auto-estima Conheço-me e quero ser melhor
Autonomia Faço escolhas para abrir caminhos
Caracter Responsabilidade Assumo as minhas escolhas
Coerência Vivo de acordo com as minhas ideias
Descoberta Procuro conhecer a Igreja de Cristo
Espiritual Aprofundamento Vivo a Fé Cristã
Serviço Trabalho para a paz na Boa Acção
Procura do conhecimento Procuro saber sempre mais
Intelec-
Resolução de problemas Procuro soluções quando identifico problemas
tual
Criatividade e Expressão Sou criativo quando apresento aquilo que penso e imagino
Exercer activamente cidadania Gosto de ser bom cidadão
Social Solidariedade e tolerância Sou tolerante e solidário
Interacção e cooperação Sei viver em grupo

Pretende-se ainda que nesta fase de adesão, o noviço/aspirante contacte e reflicta sobre
o compromisso que deverá assumir formalmente na sua Promessa. Com base em di-
nâmicas propostas, deverá progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso,
valorizando e fortalecendo a sua decisão de aderir ou não à Expedição.

A duração da adesão deverá ser adaptada ao noviço/aspirante. Cada elemento


levará o tempo necessário para tomar a sua decisão de aderir ou não. A adapta-
ção a novas pessoas e a novas regras podem por isso resultar em ritmos muito
diferentes, que devem ser respeitados. Sugere-se, no entanto, que não ultrapas-
se os 5 meses

Após decidir que quer aderir à Expedição, o elemento terá que o comunicar. A decisão
deverá ser validada por:

1. Conselho de Guias (no qual estará presente a Equipa de Animação)


2. Conselho de Expedição

Nestes momentos, deverá haver uma validação da reunião das condições particulares
de adesão, nomeadamente no que toca à vivência na Patrulha, na Expedição e na acti-
vidade típica.
Aconselha-se que o Conselho de Guias vá acompanhando a evolução dos noviços/aspi-
rantes de forma a poder decidir conscientemente.
281
manualdodirigente

d)Compromisso
Estando a criança no centro da acção pedagógica, deverá ser a criança a reconhecer
que gosta de estar na Expedição e que quer fazer a sua Promessa.

A Promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de


adesão. Por isso, deve ser individualizada o que não quer dizer que seja feita
individualmente. Pretende-se que o elemento não fique mais de 2 meses à espe-
ra desde o momento em que se propõe a fazer a Promessa. Assim, os noviços/
aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, agrupados de acordo
com o tempo da sua tomada de decisão e validação da Expedição.

II. Vivência

a)Etapas de progresso
No caso dos exploradores, os nomes das etapas de progresso são:

Iª Etapa – Aliança
O nó de escota representa muito mais que um
simples nó. Representa um nó entre duas par-
tes, distintas na sua essência mas que procu-
ram firmeza na união.

2ª Etapa – Rumo
O rumo de um escuteiro é o caminho do bem.
Tem uma direcção e, mais que isso, um senti-
do. Tem rumo, rumo que permite avançar sem
medo mas com cautela e olhar de frente o ho-
rizonte.

3ª Etapa - Descoberta.
Descobrir o caminho a seguir nem sempre é
fácil. Requer maturidade, empenho, persistên-
cia. Passa também por uma reflexão interior de
como Ele está sempre presente na nossa vida,
pois essa é sem dúvida a nossa maior desco-
berta.

282
manualdodirigente

Também em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar


esta vertente de compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entre-
gue no início de cada etapa.

Corresponde ao compromisso assumido pelo explorador em procurar progredir


nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a atingir os objectivos
educativos da secção.

No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso vá de encontro aos objecti-


vos definidos para os trilhos e estes para as áreas de desenvolvimento.
Progredir significará assim atingir objectivos, ao invés de aumentar a especialização em
conhecimentos, competências e atitudes que o jovem já dominava.

Por exemplo, nesta proposta, pretende-se que o jovem seja capaz de jogar um jogo em
equipa. Se ele já pratica regularmente um desporto de equipa, o objectivo está cumprido.
O progresso será então tentar desenvolver outras atitudes que levem a atingir outros
objectivos.

Os objectivos estão organizados do seguinte modo:


Existem 6 áreas de desenvolvimento: FACEIS (Físico, Afectivo, Carácter,
Espiritual, Intelectual, Social)
Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos.
Cada trilho educativo contém 1 ou mais objectivos educativos.

283
manualdodirigente

b)A escolha / negociação


Cada uma das 3 etapas será variável em termos de composição. Quer isto dizer que
cada explorador constrói a sua etapa de progresso, seleccionando 1 trilho de cada uma
das diferentes áreas de desenvolvimento.

Isto implica que não há etapas definidas. Que sabermos que um explorador está na etapa
Rumo não nos dá informação sobre os objectivos que já tem atingidos. Sabemos que já
cumpriu um trilho de cada área e que está na segunda etapa. Mas um outro elemento que
esteja na etapa Rumo pode-se ter proposto a fazer trilhos completamente diferentes.

O explorador tem liberdade de escolha. No entanto, o Chefe de Expedição e o Guia de-


sempenham aqui um papel importante, a 2 níveis:

No apoio do diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o


explorador já detém e que o ajudam a seleccionar os trilhos educativos que irão
constituir as suas etapas;

Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que


contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

Como já foi referido na parte do diagnóstico inicial, a escolha de trilhos deverá ter
em conta as necessidades de desenvolvimento da criança e deverá ser incen-
tivada a escolha de trilhos onde o desenvolvimento seja premente. Daí falar-se
também em Negociação. Ou seja, a Equipa de Animação deve motivar para a es-
colha do que faz o elemento crescer (em termos de conhecimento, competência
e atitudes) em detrimento do que é facilmente atingível.

Como boa prática, sugere-se que, após a escolha dos trilhos, o explorador seja incen-
tivado a definir acções concretas que o ajudem a atingir os objectivos que compõem
esse trilho. Não se trata de algo imediato: cumprir a acção/ atingir o objectivo. No en-
tanto, facilita a compreensão do objectivo e do que se pretende por parte do explorador.
Deste modo poderá no seu dia-a-dia e na vivência das aventuras trabalhar activamente
para atingir os objectivos. Estas acções concretas serão parte das do que chamamos de
Oportunidades Educativas.

c)Oportunidades Educativas
O explorador progride através de oportunidades educativas que o nosso método, com as
suas 7 maravilhas, oferece. Abandona-se assim o conceito de prova, obrigatória, faculta-
tiva, opcional ou de qualquer outra ordem.
Assim, em vez de se dizer que “o explorador prestou provas“ porque realizou determina-
da acção, faz sentido dizer-se que “o explorador deu provas de” (porque isso foi obser-
vado em conhecimentos, competências e atitudes).
284
manualdodirigente

As oportunidades educativas contribuem para se alcançar os objectivos educati-


vos de uma forma indirecta e progressiva. Ou seja, não existe uma relação directa
entre a realização de uma oportunidade e o alcançar de um objectivo educativo.
Daí se referir que a listagem de acções do ponto anterior é parte do que terão
que fazer… Mediante a avaliação do desenvolvimento da criança – e não da
realização ou não da oportunidade educativa – poderá ser necessário escolher
novas oportunidades educativas e insistir na aquisição de novos conhecimentos,
competências ou atitudes.

Validação de objectivos fora do ambiente escutista


Tudo o que os exploradores fazem dentro e fora dos escuteiros ajuda-os a alcançar os
objectivos educativos da secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimento
pessoal. Assim, os objectivos devem ser apresentados como propostas ou desafios que
podem ser alcançados de forma atractiva e divertida através de experiências enriquece-
doras que levam ao desenvolvimento pessoal.

É possível cumprir objectivos pelos conhecimentos, competências e atitudes adquiri-


dos na vivência escolar e catequética, nos clubes e outras actividades que o explorador
tenha. O Chefe de Expedição deverá verificar esses conhecimentos, competências e
atitudes não havendo necessidade de o explorador as repetir.

Como exemplo, poderemos ter um explorador, nadador de competição, que nada facil-
mente 100 metros sem necessitar de se desenvolver ou esforçar para isso. No entanto,
para outro explorador, apenas o aprender a nadar, o esforço e o ultrapassar de receios
pode permitir caminhar na validação de trilhos. Assim, não são as acções mas sim o que
elas significam para cada elemento em termos de crescimento que devem ser valoriza-
das.
É importante colocar ao explorador o desafio de aplicar as suas capacidades na sua vida
em Patrulha e na Expedição. Só assim o seu desenvolvimento pessoal será partilhado
com os outros, permitindo uma aprendizagem de todos.

Cargos e Funções
Assumir e desempenhar correctamente um cargo no seio da Patrulha ou ter determinada
função na Aventura constitui uma oportunidade educativa para progredir. Isto porque o
seu exercício privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento.

285
manualdodirigente

QUADRO ILUSTRATIVO DE CARGOS E DE FUNÇÕES

CARGO ÁREA PRINCIPAL OUTRAS ÁREAS


Guia Carácter Afectivo / Social
Subguia Carácter Afectivo / Social
Secretário/cronista Intelectual Carácter / Social
Financeiro Intelectual Carácter / Social
Guarda do material Intelectual Carácter / Físico
Animador Espiritual Carácter / Social / Afectivo
Socorrista/botica Físico Carácter / Social / Intelectual
Intendente Intelectual Carácter / Físico
Informático Intelectual Carácter

Especialidades
O desenvolvimento de aptidões em determinadas áreas e a sua aplicação na vida da
Patrulha privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento. Assim, as
especialidades constituem também uma oportunidade educativa para progredir.
O trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se logo após a Promessa de explora-
dor e escolha dos seis trilhos, ou seja, logo que se inicia a fase de vivência – Etapa da
Aliança.

d)Avaliação

Como fazer?
A avaliação dos objectivos educativos implica a observação contínua do progresso do
explorador durante um período prolongado de tempo. Isto porque, como já foi referido,
não se pode controlar o progresso com um exame ou prova.

Assim, foram identificados em documento específico os conhecimentos, competên-


cias e atitudes que devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos
exploradores. Quando estes forem observados no adolescente e avaliados pelo próprio,
pelos “pares” e pela equipa de animação, o Conselho de Guias poderá reconhecer que o
explorador alcançou aquele objectivo educativo.

É importante que se mantenha o registo de observação dos conhecimentos, competên-


cias e atitudes de cada um dos exploradores.

Quem participa?
É na vida da Patrulha que se vão debatendo os conhecimentos, comportamentos e ati-
tudes que cada explorador vai adquirindo e que poderão ser indícios de que um determi-
nado trilho poderá estar concluído.

O explorador – deverá despoletar, junto da Patrulha, o processo de reconheci-


mento dos trilhos como finalizados.

286
manualdodirigente

A Patrulha – acordo/desacordo em relação ao reconhecimento do trilho.

O Guia – caso a Patrulha esteja de acordo, apresenta a proposta de validação


do trilho no Conselho de Guias.

O Conselho de Guias - acordo/desacordo em relação ao reconhecimento do


trilho. Se estiver de acordo, pede ao Chefe de Expedição para obter a sua valida-
ção que, em caso afirmativo, significa que ao explorador lhe foi atribuído o trilho
como concluído.

Caso os Guias não concordem com a conclusão do objectivo, ou estes concordando, o


chefe de Unidade dá parecer desfavorável fundamentado, o Guia da Patrulha do explo-
rador em causa explica, na Patrulha, as razões para a não-aceitação da sua proposta,
explicando ao explorador o que ele deverá ainda adquirir, em termos de conhecimentos,
competências e atitudes, para que possa concluir o trilho.

Partindo da ideia de que tudo o que os exploradores fazem dentro e fora dos escuteiros
pode constituir uma oportunidade educativa, contribuindo para o seu desenvolvimento,
temos que passar a considerar outros “agentes” na avaliação: pais, professores, etc…
No entanto, mesmo esta avaliação terá que ser validada pelo processo descrito.

Quando fazer?
A avaliação dos objectivos deverá basear-se na observação contínua do progresso do
explorador.

A reconhecimento da finalização dos trilhos deverá ser feita no Conselho de Guias.


O reconhecimento desses objectivos e a consequente atribuição de trilhos educativos ou
de etapas de progresso concluídas deve ser feito na fase da celebração das actividades
típicas.

e)Relação Educativa

O dirigente e o Conselho de Guias


O papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos guias e do Conselho de Guias
no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos foi valori-
zado.
As tomadas de decisão relativamente ao progresso dos elementos serão feitas privile-
giadamente no Conselho de Guias. Isto implicará que a Equipa de Animação dê suporte
e tente orientar os Guias, não os substituindo nas tomadas de decisão mas ajudando a
formular opiniões e tomar decisões em conjunto.

O dirigente e o explorador
O novo sistema de progresso, baseando-se numa escolha individualizada de trilhos irá im-
plicar uma relação mais personalizada com cada um dos elementos. Desde o diagnóstico
inicial à observação de conhecimentos, competências e atitudes e à sua avaliação, são
muitos os momentos que permitem um conhecimento mais profundo dos elementos.

Este acompanhamento (com excepção do diagnóstico inicial que deverá ter a participa-
ção do Chefe de Expedição) deverá ser feito por cada um dos elementos da Equipa de
Animação em relação a um determinado número de exploradores – preferencialmente 1
por Patrulha. 287
manualdodirigente

f)Reconhecimento

Caderno de Descobertas
O Caderno de Descobertas será utilizado na função de registo do progresso individual.
Para além disso, servirá também como diário de vivências pessoais na Expedição e
compêndio de informações relevantes para o explorador.

Base – painel de progresso


Recomenda-se que a Base seja também local para afixar um painel onde esteja expli-
cada a sequência do progresso e em que cada um dos exploradores tenho uma marca
feita por ele, que o situe.

Poderá ser feito por Expedição, distinguindo as Patrulhas por cores, por exemplo. Cada
Patrulha poderá também manter esse registo.

Vara
Recomenda-se também que cada explorador seja incentivado a ter uma vara (valorizan-
do--se a simbologia) que será trabalhada por ele com elementos decorativos feitos por
ele e que marcam o culminar de cada trilho educativo.

Anilha
Quando o explorador terminar a sua última etapa, ou seja, completar todos os objectivos
educativos definidos para a II Secção, irá receber a Anilha de Mérito com o símbolo da
Secção, de forma a ser reconhecido que completou a totalidade do percurso educativo
proposto aos exploradores. A anilha pode ser usada até ao momento da promessa de
pioneiro.

III. Passagem de Secção

Adesão informal aos pioneiros


Para os exploradores mais velhos o último trimestre do seu último ano na Expedição será
já um período de adesão informal aos pioneiros. Como em qualquer processo de transi-
ção pretende-se que este seja ao mesmo tempo suave mas também desafiante.
Os objectivos desta fase são os mesmos que os descritos na fase da adesão informal
aos exploradores, adequando-se à secção.

A decisão sobre a passagem de secção


O Regulamento Geral do CNE, no n.º1 do art. 23º, fixa as idades dos escuteiros em cada
uma das secções. Refere ainda que “A passagem de Secção deve ocorrer no final ou
no início do ano escutista em que o Escuteiro tem a idade de sobreposição prevista no
número anterior.”

Todavia, no seu crescimento a criança/jovem atinge sucessivamente períodos de matu-


ridade diferentes, passando por isso por algumas rupturas a diversos níveis: dos centros
de interesse, da imaginação, das formas de pensar e de agir. Todas estas situações são
importantes e convém ter presente que nem sempre a idade física corresponde à idade
288
manualdodirigente

psicológica e que os desajustamentos que daí advêm podem justificar uma deficiente
integração.

O Chefe de Expedição terá que estar atento a estas questões para não correr o
risco de falhar a Proposta Educativa do Escutismo. Um explorador não deverá
passar para os pioneiros apenas porque atingiu a idade de passar: será neces-
sário que estejam reunidas as condições para que essa passagem corresponda
de facto às exigências de período de maturidade diferente. Deverá por isso haver
bom senso e alguma flexibilidade na idade de passagem sob pena de se perde-
rem escuteiros.

Cerimonial de passagem
A expectativa no momento das passagens e o receio que muitos dos jovens sentem
nesta altura perante a mudança, poderá causar um friozinho na barriga aos intervenien-
tes. Esta cerimónia é, também por isto, muito importante e a forma como o elemento se
despede da antiga secção e é recebido na nova por marcar desde logo positiva ou nega-
tivamente a mudança que se está a dar na sua vida enquanto escuteiro.

É então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando um mo-


mento marcante e ansiado por todos. As ideias poderão passar por conjugar a mística
das diferentes secções, por exemplo. O trabalho conjunto das Equipas de Animação de
todas as secções intervenientes para dar consistência à cerimónia.

Informação ao Chefe de Comunidade


Do mesmo modo que é aconselhável uma conversa entre o Chefe da Alcateia e o Chefe
de Expedição aquando da passagem dos lobitos, poderá ser necessária uma conversa
entre o Chefe de Expedição e o Chefe de Comunidade aquando do diagnóstico inicial, no
sentido de identificar algumas áreas em que o noviço tenha mais dificuldades.
Arquivo CNE

289
manualdodirigente

C.6.3. O Sistema de Progresso na Comunidade

A estrutura do Sistema de Progresso

A passagem do adolescente pela secção é feita em duas grandes fases: a integração e a


vivência. Durante a integração, o pioneiro faz a sua adesão à Comunidade. Na vivência
dá-se a evolução propriamente dita, é feita o crescimento do adolescente, ao longo das
diferentes etapas de progresso.

I. Integração

a)Adesão informal aos pioneiros

Qual o objectivo?
A Adesão Informal é, acima de tudo, uma boa prática, cujo propósito é fomentar a aproxi-
mação entre a Comunidade e os exploradores que irão passar de secção, para os pionei-
ros. A Adesão Informal tem o objectivo de funcionar como uma espécie de “quebra-gelo”,
no sentido de auxiliar os exploradores a integrarem-se num novo grupo e se aproxima-
rem dos que os irão receber. Esta prática permitirá uma integração mais facilitada, a par-
tir do momento da efectiva passagem para a Comunidade e do início do Desprendimento
(adesão formal).

Importa não perder de vista que o objectivo da Adesão Informal é motivar o explorador
para a vida na Comunidade e evitar que um ambiente novo e, aparente e eventualmente,
hostil o possa afastar.

Quando e como fazer?


Interessará que a Adesão Informal se faça no último trimestre do ano escutista. Os Guias
das Equipas convidam os exploradores que vão passar de secção a participarem numa
(ou em mais que uma) actividade da Comunidade. Actividade que procurará ser exemplo
do “que se faz nos pioneiros”, mas sem perderem de vista os objectivos de encontro e
de aproximação aos futuros pioneiros. Este encontro deverá servir para os exploradores
conhecerem as Equipas, os seus Guias, a Equipa de Animação, o Abrigo e, de certa ma-
neira, o tipo de actividades e Empreendimentos os esperam no ano seguinte.
290
manualdodirigente

Estes encontros/actividades devem ser vividos de modo informal, sem pressões. A ideia
é permitir que os exploradores possam observar, sem uma participação activa, com ta-
refas ou responsabilidades.

Nesta fase final do ano escutista, na recta final da actividade nos exploradores, o jovem
continua a pertencer à Expedição de modo pleno e sem reservas a viver todas e comple-
tamente as dinâmicas da sua secção.

Boas práticas:
- Preparar a Adesão Informal de modo concertado
O convite formal para o explorador participar na actividade/encontro com a Comunidade é feito pelos
Guias das Equipas. No entanto, interessa não esquecer que tudo deve ser combinado entre as Equipas
de Animação – eventualmente, até, em sede de Direcção de Agrupamento – de forma a não perturbar
o trabalho em cada uma das secções do Agrupamento e o envolvimento dos escuteiros na secção que
continua a ser a sua até à Adesão Formal.
O Chefe da Comunidade tem de se preocupar com a Adesão Informal dos exploradores que vai receber,
mas, também com a Adesão Informal dos seus pioneiros ao Clã, sendo certo que, alguns destes poderão
mesmo ser Guias das Equipas da Comunidade.
O envolvimento do explorador na sua Expedição e do pioneiro na Comunidade não podem ser prejudicados
nem minimizados ou relativizados de forma alguma na adesão informal à Comunidade e ao Clã, respec-
tivamente.

b)Diagnóstico inicial

Qual o objectivo?
As pessoas – crianças, adolescentes ou jovens –, mesmo que com a mesma idade, são
todas diferentes. Factores como o nível de maturidade, o contexto escolar e familiar, as
aptidões e gostos, as dificuldades e medos, o desenvolvimento físico e anatómico, con-
dicionam, de sobremaneira, cada indivíduo nas suas características.

Com um sistema de progressão pessoal na associação que se centra na individualidade


e nas características de cada criança, adolescente ou jovem, não podemos minimizar
o facto de, antes de darmos inicio a um trabalho de crescimento através do escutismo,
termos de avaliar e determinar o ponto de partida de cada adolescente quando entra na
Comunidade – tenha a idade que tiver.

Esta necessidade vai exigir que a Equipa de Animação procure conhecer cada um dos
elementos da Comunidade – e aqui falamos de todos, mesmo – de forma a facilitar
a adequação de actividades, experiências, conhecimentos e atitudes a um desenvolvi-
mento pessoal harmonioso, ajudando os pioneiros a atingirem em pleno os objectivos
educativos que a associação estabelece para a III secção.
291
manualdodirigente

Esta avaliação prévia do adolescente que chega à Comunidade, imprescindível


para o conhecer, toma o nome de Diagnóstico Inicial.

Como e quando fazer?


A tarefa cabe, em primeiro lugar, ao Chefe de Comunidade que a vai desenvolver em
conjunto com a sua Equipa de Animação, num esforço de avaliação e observação co-
lectiva. O Diagnóstico inicial deve ser feito a partir da chegada de um novo elemento à
secção.

As formas de conseguir coligir as informações relevantes e determinar o estado de de-


senvolvimento de cada adolescente são diversas. A observação em jogo, na Equipa e
nas actividades escutistas, a conversa com o adolescente poderão ser das mais efica-
zes. A partilha de informações com os principais agentes na educação do jovem – famí-
lia, professores, treinadores, catequistas e, naturalmente o Chefe da Expedição – serão
determinantes.

Boas práticas:
Acções que podem ajudar no Diagnóstico inicial
- Diálogo formal com os Encarregados de Educação – por que entrou nos escuteiros? Qual a relação com
a escola? Tem algum problema que devamos conhecer? Alguma limitação ou medo? Etc..
- Conversa, mesmo que informal, com outros agentes de Educação do adolescente com quem o Chefe
de Comunidade possa ter proximidade (especialmente nas comunidades locais pequenas e médias), como
professores, treinadores de alguma actividade desportiva, catequistas, etc..
- Partilha de informações com o Chefe de Expedição (no caso de ser noviço).
- Observação atenta nas primeiras actividades (como se relaciona com os elementos? E com a Equipa de
Animação? Como reage a regras? Costuma estar atento? Etc..)
- Promoção e realização de jogos ou dinâmicas especificas para observar comportamentos, conheci-
mentos e atitudes.
- Conversa com o próprio jovem sobre os seus interesses (curriculares, extra-curriculares, vocacionais,
de diversão e lazer), preferências (na escola, na internet, na sociedade), gostos de naturezas diversas
(musicais, cinematográficos, desportivos etc), relação com autoridade (pais, professores, familiares
mais velhos), relação com os outros (amizades, grupos informais), experiência escutista – quando existe
– (percurso, actividades marcantes, pessoas que marcaram), etc..
- Conversa com outros elementos da Comunidade – Guias, pioneiros mais velhos, eventuais colegas (no
caso de ser aspirante com mais idade, com 16 ou 17 anos).

292
manualdodirigente

O resultado prático do Diagnóstico Inicial


Toda esta abordagem inicial, todos os contactos e acções, ajudarão a conhecer o ado-
lescente e serão determinantes em toda a relação educativa que se estabelecerá entre
os dirigentes e o escuteiro. E, bem assim, no acompanhamento de todo o sistema de
progresso e validação do crescimento do jovem ao longo do tempo em que estará na
comunidade.

Noviços ou aspirantes com 14 anos


O diagnóstico inicial vai possibilitar ao Chefe de Comunidade que a ajuda que vai prestar
ao adolescente na escolha de trilhos ainda na fase de adesão (Desprendimento), ainda
antes de fazer o compromisso, seja adequada às suas necessidades de crescimento
mais prementes, às áreas prioritárias para um desenvolvimento harmonioso e equilibra-
do.
Os noviços ou aspirantes de 14 anos, na fase preparatória para “fazer promessa”, ter-
minando a fase de Desprendimento, começam, obrigatoriamente, a preparar a primeira
etapa do seu sistema de progresso, escolhendo trilhos e antevendo acções concretas
que permitam validar os objectivos educativos. Na óptica de identificar melhor as neces-
sidades, em vez de, pura e simplesmente, validar competências, o diagnóstico inicial é
fundamental.

Aspirantes com 15, 16 ou 17 anos


O diagnóstico inicial auxiliará, no caso dos aspirantes mais velhos, a definir em que eta-
pa de progresso o elemento se encontra após o Desprendimento, depois de fazer a sua
promessa, com base nas suas competências, conhecimentos e atitudes.
293
manualdodirigente

O posicionamento do jovem no sistema de progresso, depois do Diagnóstico Inicial.


Como se viu, o diagnóstico inicial vai permitir o posicionamento do adolescente no sis-
tema de progresso – seja na escolha de trilhos para os de 14 anos, seja na definição da
etapa de progresso em que se encontram os mais velhos – após a promessa.

Noviços ou aspirantes com 14 anos


Feito o diagnóstico inicial de um adolescente de 14 anos – a entrar num percurso com-
pleto de três anos na comunidade – vai apurar-se que objectivos educativos estarão já
validados com base nas suas competências, conhecimentos e atitudes. Entende-se, no
caso dos aspirantes, especificamente, que, uma vez que o adolescente tem um percur-
so completo à sua frente, no caso de ter alcançado o que seria equivalente a um trilho
completo, este deverá ser reavaliado mais tarde, nessa altura eventualmente validado,
e o adolescente deve escolher outros 6 trilhos para a sua primeira etapa do sistema de
progresso.

Aspirantes com 15 ou 16 anos


Quando o adolescente, pela sua idade, e tem, naturalmente, um estado de desenvolvi-
mento mais avançado do que é expectável num pioneiro de primeiro ano é possível que,
depois da sua promessa, tenha reconhecidos pelo diagnóstico inicial trilhos completos e
seja “colocado” numa outra etapa de progresso que não a primeira.
Nestes casos, é o próprio diagnóstico inicial que faz o necessário reconhecimento do
progresso pessoal. Assim, se o elemento tem:

Trilhos validados em diferentes áreas de desenvolvimento, mas ainda não tem


seis trilhos diferentes das seis áreas de desenvolvimento – deverá ser colocado
na 1.ª etapa – Conhecimento;

Pelo menos um trilho de cada área de desenvolvimento e, nalgumas áreas, até


dois trilhos validados – estará na 2.ª etapa – Vontade;

Pelo menos dois trilhos de cada área de desenvolvimento e, nalgumas áreas, até
três trilhos validados – será colocado na 3.ª etapa – Construção;

Não esquecer que o aspirante só completa uma etapa se tiver validados um trilho
de cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal.

Mais uma vez na óptica de identificar necessidades em vez de validar compe-


tências, caso o aspirante tenha alcançado mais trilhos do que os que permitem
fechar uma etapa, estes trilhos excedentes deverão ser reavaliados mais tarde e
o pioneiro escolhe outros 6 trilhos para a etapa em que se encontra.

294
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Aspirantes com 17 anos


Num sistema de progresso que centrou toda a atenção num individuo, no escuteiro, nas
suas características e individualidade, não poderia deixar de ser dada uma atenção espe-
cial ao jovem que, aos 17 anos – ou próximo disso, quando aos 18 será natural que passe
para o Clã – ingresse no movimento e, do ponto de vista formal será colocado na Comu-
nidade. A situação, sendo especial, não pode deixar de exigir medidas particulares.

Assim, no caso de no Agrupamento ingressar um jovem com 17 anos, deve o diagnóstico


inicial ser feito pela Equipa de Animação da Comunidade, com o apoio da Chefia do Clã.
E feito o referido diagnóstico pode surgir uma de duas hipóteses:

O jovem tem competências, conhecimentos e atitudes que permitem validar to-


dos os objectivos educativos, dos 18 trilhos educativos, que a associação estabe-
lece para a III secção. Neste caso o jovem deve ser colocado no Clã, passando
a aspirante a caminheiro;

O jovem não tem todos objectivos dos trilhos educativos dos pioneiros valida-
dos. Neste caso concreto, ingressa na Comunidade, como aspirante a pioneiro,
iniciando a sua adesão, fazendo a sua promessa e sendo colocado na etapa
de progresso de acordo com os trilhos já alcançados (tal como explicado acima
noreconhecimento do progresso pessoal).

Neste segundo caso, importa ter atenção o facto de, dada a sua idade, o jovem já não
ter, na Comunidade, tempo suficiente para conseguir validar todos os objectivos educati-
vos da secção. Acontecendo, deve o Chefe da Comunidade informar o Chefe de Clã da
situação e das necessidades “prementes” de desenvolvimento em áreas específicas. Na
nova secção o chefe deve procurar ter essa informação, e essas necessidades, em conta
no apoio e auxilio ao definir do percurso individual do jovem.

Lembre-se, no entanto, que com isto não se está a dizer que, no Clã, deve este escu-
teiro procurar validar objectivos educativos da III Secção. Os trilhos não alcançados nos
pioneiros não transitam nem os seus objectivos devem ser acumulados aos trilhos dos
caminheiros. O que se pretende é que as necessidades prementes do jovem sejam tidas
em consideração quando este escolhe os primeiros objectivos do seu progresso no Clã.
Dito de outra forma, no Clã ao jovem são apresentados os objectivos educativos finais da
associação, e apenas esses.

Sublinha-se a necessidade de a avaliação neste caso concreto ser feita, de modo con-
certado, com as chefias da Comunidade e do Clã. A decisão sobre em que secção deve
ser ingressar um jovem de 17 anos deve, ainda, ter em conta outros pressupostos, para
além do diagnóstico inicial quanto a conhecimentos, competências e atitudes coinciden-
tes com objectivos educativos. Se o jovem que ingressa tiver “sido trazido” por um amigo
pioneiro, por exemplo, poderá ser aconselhável fique nos pioneiros e não nos caminhei-
ros. Ou se tiver vindo com um caminheiro, será conveniente que ingresse no Clã e não
na Comunidade.

295
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Esquema 3
RESUMO- SECÇÃO III

296
manualdodirigente

Boas práticas:

- Ferramentas de apoio ao diagnóstico inicial

1­ Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes. Ver Anexo 4

Um registo clássico e simples que é facilmente preenchido. Em vez de o registo ser feito na
dicotomia sim/não, poderá ter uma avaliação quantitativa, numérica, por exemplo de 1 a 4 (de não
adquirido a totalmente adquirido), acompanhada do registo de acontecimentos e atitudes que
exemplifiquem.

2­A entrevista/conversa do elemento com o Chefe de Comunidade é uma boa oportunidade privi-
legiada para conhecer melhor aquele escuteiro. Para o adolescente será um momento memorável,
sem, no entanto, dever ser encarado como uma prova oral. Faz sentido que pese embora dever
ser profícuo seja, de algum modo, informal. É uma oportunidade para validar trilhos, mas também
para definir prioridades, dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e formas
de os implementar.

3­O Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiencias de aprendizagem activa,
constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer. Ver
recursos: www.cne-escutismo.pt

c)Adesão formal aos pioneiros: Desprendimento

A existência da boa prática Adesão Informal não exclui, nem tão pouco esvazia, o valor
pedagógico e a importância para os escuteiros, para a secção e para o agrupamento,
da Adesão Formal, do ritual – cheio de sentido comunitário e de tradição escutista – das
'Passagens'.

Boas práticas:
- A importância do ritual da ‘Passagem’
Os rituais e os momentos de vida comunitária da secção e do agrupamento com aspectos de cerimónia
e, de algum modo, ritualizados, são muito importantes e uma grande oportunidade pedagógica. Para além
do aspecto identitário e de fomento do espírito de corpo, estes cerimoniais permitem aos escuteiros
a tomada de consciência do agrupamento e do futuro.
Não é de somenos importância um explorador tomar consciência do progresso e do processo de cresci-
mento que vai ter de fazer até passar para os caminheiros. É uma grande oportunidade pedagógica, um
importante factor de motivação, o acolhimento feito pelos pioneiros mais velhos ao noviço acabado de
entrar na Comunidade que, por sua vez, dentro de momentos passam para o Clã.
297
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A cerimónia de passagem assume assim grande relevância e a forma como o elemento vai ser recebido na
secção seguinte pode marcar positiva ou negativamente a sua integração e consequentemente a sua
progressão.
Será então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando esta data um mo-
mento marcante na vida de um escuteiro.
E porque não criar cerimoniais de passagem de secção, onde esteja patente a mística de ambas as sec-
ções? O trabalho conjunto das diversas Equipas de Animação intervenientes é fundamental!

A Adesão do adolescente à Comunidade – seja ele noviço ou aspirante, tenha que idade
tiver – é um processo muito importante, e essencial para uma vivência plena do método
escutista e do seu crescimento individual no movimento e, especificamente, na secção.
Na III secção, esta fase, entre o Ritual da Passagem e a Cerimónia de Compromisso
(Promessa para os noviços e Investidura para os aspirantes), tem o nome de Despren-
dimento.

- Desprendimento

No dicionário: Substantivo masculino – 1. Acto de desprender-se (1. Soltar-se, desligar-se, desatar-se,


separar-se, libertar-se, 2. Renunciar); 2. Desapego, generosidade; 3. Independência.
Na mística da secção: A Igreja em construção de Cristo começa com a Adesão dos primeiros apóstolos,
os pescadores do Lago Genesaré, que depois “de se fazerem ao largo”, e de comprovarem o poder do Sal-
vador, “deixam tudo e seguem-no” (Lucas 5, 1 – 11). Neste grupo está o pescador Simão Pedro, que passa, a
partir deste momento em que adere ao projecto de Cristo (o ICTHUS), a ser “pescador de homens”.
No imaginário do pioneiro: O noviço e o aspirante, como os primeiros apóstolos, “deixam tudo”, soltam-se
do que é acessório, “de tudo o que os impede de ver o mundo”, libertam-se de preconceitos e impos-
sibilidades, para aderirem ao caminho do Saber, Querer e Agir, que os levará à Construção de algo novo e
inovador.

298
manualdodirigente

Depois do ritual da passagem dos aspirantes e da entrada dos noviços cada adolescente
recebe a primeira de quatro partes da sua insígnia de progresso. Numa demonstração
clara ao jovem e à Comunidade de que o progresso daquele começou imediatamente
após a sua entrada na secção e de que o “Desprendimento” é (em sentido objectivo e
metafórico) parte integrante desse progresso.

Qual o objectivo do “Desprendimento”?


Durante o período da fase de Adesão, ou do Desprendimento – que vai desde a passa-
gem ou entrada na secção até ao compromisso – procura-se que o adolescente (novi-
ço ou aspirante) tome consciência de elementos fundamentais como o funcionamento
do agrupamento e da unidade, das actividades típicas, da mística e da simbologia da
secção, de alguma técnica escutista, bem como do que se espera de um pioneiro. Por
outro lado, pretende-se que esta tomada de consciência individual se estenda, por si, à
decisão de aderir ou não à Comunidade e, em caso positivo, de promover o seu próprio
crescimento individual, o seu progresso pessoal, através de acções concretas que levem
à validação de objectivos educativos concretos.

Como fazer?
Durante o Desprendimento pretende-se que o noviço/aspirante tenha contacto e se inte-
gre no quotidiano da secção, fazendo parte de uma Equipa.

A diferença entre Aspirante e Noviço

Noviço é nome dado ao adolescente que já fez a promessa de escuteiro nos explo-
radores e que, chegado aos 14 anos, passa para a Comunidade dos pioneiros;

Aspirante é o nome dado ao adolescente que nunca fez a promessa de escuteiro


(pode ter sido investido lobito, sem, no entanto, ter feito promessa de escuteiro) e
que entra, directamente, para a Comunidade dos pioneiros.

Durante o tempo da Adesão, no contacto com os seus pares, com o método e com o
universo escutista, o adolescente deverá adquirir um conjunto de competências, conhe-
cimentos e atitudes que, uma vez verificados, lhe permitirão aderir, através do compro-
misso, ao movimento (no caso dos aspirantes) ou, apenas, à Comunidade (no caso dos
noviços).

A fase de Adesão, o Desprendimento, é uma fase de vivência – e não, tão só, de forma-
ção ou observação – pelo que o adolescente, não podendo viver um Empreendimento
completo (no caso de este ser anual, por exemplo), deve envolver-se, ou ter participado,
nalgumas fases do projecto. Do mesmo modo, o adolescente deve ter participado várias
actividades – acampamentos, raids, bivaques – de forma a conviver de perto com a apli-
cação do método a uma actividade típica da secção.
299
manualdodirigente

O espaço da Equipa é um “território” de oportunidades para essa interacção e integra-


ção do adolescente no escutismo. O conhecimento do funcionamento da Unidade e do
Agrupamento, as tradições escutistas, a história, a memória colectiva de acontecimentos
passados ajudarão o jovem a sentir-se integrado. Os pioneiros mais velhos, a Equipa e,
de maneira especial, o Guia podem ter neste domínio um papel extraordinário.

O que se espera do pioneiro no Desprendimento?


Para além de uma integração saudável na Comunidade, de um contacto proveitoso com
o método e com as actividades típicas dos pioneiros há um conjunto de conhecimentos
que o noviço/aspirante deve dominar, adquiridos ao longo do Desprendimento.

Sugestão de conhecimentos tidos como relevantes:

- Quando e como surgiu o Escutismo e o CNE?


- Como se organiza o CNE?
- Quem foi Baden-Powell?
- Conheces os Princípios e a Lei do Escuta?
- Conheces o livro “Escutismo para Rapazes”?
- Quem foi o São Nuno de Santa Maria?
- Como se organizam os Pioneiros?
- Quais são os Cargos existentes nas Equipas de Pioneiros?
- Quais são os símbolos e qual é a Mística dos Pioneiros?
- Conheces o Patrono dos Pioneiros, o da tua Equipa e o da tua Comunidade?
- Já sabes trabalhar e viver em Equipa?
- Já participaste num Empreendimento?
- Já conheces as Áreas e os Trilhos que terás de escolher na tua Etapa do Conhecimento?
- Já pensaste nas acções concretas que pretendes levar a cabo na Etapa do Conhecimen-
to?

A presente lista de questões consta do Diário de Vivências (na parte “O que se espera de mim?”) e
constituem um modelo de orientação no sentido de harmonização de critérios.

No caso dos aspirantes, a adesão deverá incluir, ainda, no campo do conhecer, a or-
ganização do agrupamento e o domínio prático de técnica escutista. Neste sentido, é
imprescindível que, antes da Promessa, o aspirante/noviço já domine alguma técnica
escutista.

300
manualdodirigente

- Técnica Escutista na fase de “Desprendimento”

Durante a fase de “Desprendimento”, é fundamental que o aspirante/noviço já domine alguma técnica


escutista. A título meramente exemplificativo considera-se que o jovem conheça nós e amarrações,
que tenha algumas bases do que vulgarmente se chama de pioneirismo (principalmente nas construções
em madeira amarrações – as bases das construções com encaixes, froissartage, poderão ser apreendi-
dos mais tarde), conheça e saiba manusear ferramentas para a vida em campo, nomeadamente relaciona-
das com o trabalho com a madeira (machadas, maços, martelos, formões, puas, serras e serrotes, etc),
saiba utilizar, em segurança, equipamentos necessários à vida em campo – petromax, fogões a gás, por
exemplo –, tenha noções de cozinhas em campo, códigos, cifras, sinais de pista, etc.

Não se pode esperar que o noviço/aspirante consiga, apenas pela investigação pessoal
motivada pela curiosidade própria, adquirir todos os conhecimentos tidos como essen-
ciais. No mesmo sentido, nem todos os aspectos da técnica poderão ser completamente
adquiridos nas actividades. O trabalho da Equipa de Animação em jogos e no enriqueci-
mento do empreendimento, nesse sentido, podem revelar-se fundamentais.

O Desprendimento como ponto de partida para as fases seguintes


No sentido do que já foi anteriormente referido, é na fase de Desprendimento que come-
ça a preparação para as fases seguintes do sistema de progresso nos pioneiros.

É no Desprendimento que o noviço/aspirante toma conhecimento do funcionamento do


sistema de progressão pessoal e das formas de reconhecimento do mesmo.

É, também, nesta fase inicial, na adesão que o noviço/aspirante deverá escolher os tri-
lhos, das seis áreas de desenvolvimento, da etapa que iniciará logo após o compromisso.
Mas deverá ir mais além e definir, já nesta altura, antes de fazer a sua promessa/inves-
tidura, as acções concretas que pretende levar a cabo na etapa seguinte para validação
dos objectivos e dos trilhos escolhidos.

O compromisso como decisão pessoal do jovem


Pretende-se que ao longo da fase de adesão, do Desprendimento, o contacto do noviço/
aspirante com a Comunidade – no quotidiano, nas actividades e nos projectos – propor-
cione a reflexão necessária sobre a decisão da adesão concreta e definitiva, o compro-
misso, assumido, formalmente, na sua Promessa/Investidura. Cabe ao jovem determinar
quando se sente preparado para assumir esse compromisso, de forma pessoal e sem
constrangimentos. Essa decisão deve ser declarada pelo jovem e ratificada pela Equipa,
pelo Conselho de Guias, pelo Conselho de Comunidade – onde tem assento a Equipa
de Animação. Ou seja, o jovem fará promessa/investidura quando se sentir preparado e
quando, cumulativamente, os seus pares e a chefia reconheçam a sua aptidão.
301
manualdodirigente

O trabalho na Equipa com noviços/aspirantes, na própria Comunidade com a acção de-


terminada da Equipa de Animação deve proporcionar a realização de momentos e de
dinâmicas que permitam, progressivamente, ao jovem aspirante/noviço aprofundar o
sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a sua decisão de aderir ou não
à Comunidade.

O procedimento deve iniciar-se com o noviço/aspirante a declarar à sua Equipa e ao


seu Guia que decidiu, depois de ponderadas todas as consequências, aderir, definiti-
vamente, à Comunidade e fazer a sua Promessa/Investidura. A Equipa deve receber
essa informação e se concordar com ela deve o Guia levá-la ao Conselho de Guias
que a deve validar. A decisão deve, ainda, e logo a seguir, ser validada no Conselho
de Comunidade.

A Equipa de Animação, que tem assento no Conselho de Guias e no Conselho de Comu-


nidade, deve exercer, nestes fóruns, com parcimónia e sentido pedagógico, a sua acção
de concordância ou discordância/veto, sempre devidamente fundamentada.

Esta validação na Equipa, no Conselho de Guias, no Conselho de Comunidade, sempre


com a concordância da Equipa de Animação deve ter subjacente o facto de estarem
reunidas as condições particulares de adesão, nomeadamente no que toca à vivência
na Equipa, na Comunidade, nas actividades, e em termos de conhecimentos e atitudes.
Para tal validação fará sentido que, ao longo de toda a adesão, os Guias de Equipa, e
o próprio Conselho de Guias – não valerá a pena falar dos adultos, uma vez que estará
subjacente a tudo isto – vá acompanhando a evolução dos noviços/aspirantes de forma
a poder decidir, no momento certo, conscientemente.

O facto de a decisão de fazer (ou não) o compromisso, e de a determinação da altura


em que se sente apto a fazê-lo ser de cada noviço/aspirante faz com que a duração
da adesão seja adaptada a cada jovem. Jovens diferentes levarão tempos diferentes a
tomar a decisão de aderir ou não. Cada jovem fará uma adaptação a novas pessoas e
a novas regras que resultarão em ritmos muito diferentes, que devem ser respeitados.
Considera-se que este tempo de adesão não deva ultrapassar os 7 meses. Se no final
deste tempo o jovem não tiver tomado uma decisão, importa saber o que se passa, uma
vez que alguma coisa poderá não estar a correr convenientemente.

Poderá acontecer que, especialmente no caso dos noviços, se dê o caso de todos, num
determinado momento, movidos por uma espécie de “efeito de massas”, declarem, ao
mesmo tempo, a sua vontade em fazer o compromisso. Não será de todo anormal se
houver, entre eles, laços que perduram ou que se estabeleceram durante a adesão.
Importa, no entanto, que seja promovida a ideia de que a decisão é pessoal, e que as
especificidades de cada individuo – tanto no que são as suas características como no
que foi a sua prestação/ participação/integração durante a adesão, como no que são os
seus conhecimentos – são valorizadas neste momento.

302
manualdodirigente

d)Compromisso

Conforme foi referido supra, estando o adolescente no centro da acção pedagógica, de-
verá ser ele próprio a reconhecer a sua aptidão para fazer parte da Comunidade e fazer
a sua Promessa/Investidura.

O noviço/aspirante informa a sua Equipa e ao seu Guia que quer aderir à Comunidade
e se sente pronto, ponderadas todas as consequências, para fazer a sua Promessa/In-
vestidura. O procedimento segue, depois com a Equipa, a pronunciar-se e, concordando,
é o Guia que leva o assunto ao Conselho de Guias – onde a Equipa de Animação tem
assento – que a deve validar. A decisão deve, ainda, e logo a seguir, ser validada no
Conselho de Comunidade, onde está, também, a Equipa de Animação.

Uma vez mais importa salientar que a Equipa de Animação tem obrigação de, nos fóruns
próprios, exercer, com sentido pedagógico, a sua acção de concordância ou discordân-
cia/veto, sobre a Promessa/Investidura. As posições da Equipa de Animação têm de ser,
sempre, devidamente fundamentadas.

A diferença entre Promessa e Investidura

Um escuteiro faz a sua Promessa apenas uma vez. Sempre que muda de secção
e renova o seu compromisso faz a sua Investidura.

Ou seja, no caso da Comunidade, os Aspirantes fazem Promessa de escuteiros e


os Noviços fazem a sua Investidura de pioneiros.

Promessa e Investidura são genericamente o Compromisso.

Depois de o Conselho de Comunidade validar a aptidão para o aspirante/noviço fazer


a promessa/investidura, a cerimónia deve realizar-se num prazo máximo de 2 meses,
a contar do momento em que se jovem se propõe a fazer o Compromisso. Este tempo
permitirá que mais noviços/aspirantes assumam a vontade de fazer o seu compromisso
e isso dará azo a que a promessa/investidura possa ser feita em conjunto, com os jovens
agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação da Comuni-
dade.

303
manualdodirigente

Boas práticas:

- Valorização do Compromisso

O Compromisso, momento marcante na vida de qualquer escuteiro é algo que deve ser valorizado.
- A cerimónia do Compromisso pode ter aspectos de individualização, relacionados com a vivência do
jovem na secção ou com as suas características pessoais.
- A chamada para a cerimónia pode passar a ser feita com o jovem a aproximar-se do Chefe da Co-
munidade, no altar, saudá-lo e declarar qualquer coisa do tipo: “Chefe, é minha vontade tornar-me
Pioneiro!”.

II. Vivência

a)Etapas de progresso

ADESÃO DESPRENDIMENTO CONHECIMENTO VONTADE CONSTRUÇÃO


INFO RMAL (adesão)

Nos pioneiros, os nomes das etapas de:

1ª Etapa- Conhecimento

2ª Etapa- Vontade

304
manualdodirigente

3ª Etapa- Construção

Os nomes das etapas estão intimamente ligados à máxima do pioneiro: “Saber, Querer
e Agir”. Esta máxima tem uma graduação, uma espécie de precedências, que impelem
para a lógica progressiva e de evolução da personalidade humana.

- Saber = Conhecimento, Querer = Vontade e Agir = Construção.


- É relativamente fácil associar as etapas do progresso dos pioneiros à simbologia dos pioneiros:
Desprendimento associado ao ICTHUS, Conhecimento ligado à Gota de Água (conhecimento pessoal),
Vontade relacionado à Rosa dos Ventos (determinação no rumo), Construção associado à Machada.

Vide: Mais desenvolvimentos no Capítulo 2 – Mística e Simbologia

Porque nas etapas de progresso a intenção de reconhecimento do progresso do pioneiro


se associa, claramente, à vertente de compromisso pessoal em crescer, evoluir e “cons-
truir”, a insígnia de progresso é entregue ao pioneiro no início de cada etapa.
305
manualdodirigente

Procura-se, assim, que o compromisso assumido pelo jovem no momento em que faz a
promessa de adesão ao ideal do pioneiro se associe à progressão nos Conhecimentos,
Competências e Atitudes (CCA), que o levam a atingir os objectivos educativos da Sec-
ção. Objectivos educativos de secção que estão associados em trilhos em cada uma das
seis áreas de desenvolvimento.

Procura-se, então, que todas as dinâmicas na Comunidade – reuniões, vida na Equipa,


jogos, actividades típicas – constituam (ou possam constituir) oportunidades educativas
de progresso – na medida em que permitem a evolução de Conhecimentos, Competên-
cias e Atitudes – ao encontro dos objectivos definidos para os trilhos (escolhidos em cada
etapa pelo jovem) e estes para as áreas de desenvolvimento.

Em suma: Progredir significará, assim, atingir objectivos, ao invés de aumentar


uma espécie de especialização em conhecimentos, competências e atitudes que
o jovem já dominava. A progressão centra-se no crescimento, na superação, e
não no “prestar prova”.

Organização do progresso no CNE

O progresso está organizado da seguinte maneira:


Há 6 áreas de desenvolvimento: Físico, Afectivo, Carácter, Espiritual,
Intelectual, Social.
Cada uma das áreas de desenvolvimento suporta 3 trilhos educativos.
Cada trilho educativo tem (um ou mais) objectivos educativos.

Para mais fácil memorização das seis áreas de desenvolvimento considere-se o acróstico:
FACEIS
F – FISICO
A – AFECTIVO
C – CARÁCTER
E – ESPIRITUAL
I – INTELECTUAL
S – SOCIAL

Importa que o pioneiro, em cada etapa, progrida, através de acções concretas – espe-
cialmente em ambiente escutista, mas não só –, no sentido de validar todos os objectivos
de seis trilhos, um de cada uma das seis áreas de desenvolvimento.

No final de três etapas estarão validados todos os objectivos de todos os trilhos das seis
áreas de desenvolvimento.
306
manualdodirigente

b) O processo

i. A escolha / negociação

Com este figurino é fácil perceber que, respeitada a estrutura, dois escuteiros na mesma
etapa poderão ter trilhos distintos, logo objectivos diferentes a superar.

Quer isto dizer que cada pioneiro constrói a sua etapa de progresso, seleccionando, indi-
vidualmente, um trilho de cada uma das diferentes áreas de desenvolvimento.

Termos a informação de que um pioneiro está na etapa Vontade não nos permite saber
quais os trilhos que validou na primeira etapa, quais os que escolheu para a etapa em
que está, nem quais os que lhe restam para a terceira etapa.

Assim, o progresso é construído pelo próprio pioneiro, naturalmente que com o apoio do
Chefe da Comunidade e do Guia da sua Equipa. Chefe de Comunidade e o Guia desem-
penham, então, um papel importante neste domínio, a três níveis:

Em primeiro lugar na motivação, incentivo, valorização da auto-estima do pionei-


ro sempre no sentido de o ajudar no seu percurso;
Em segundo lugar no apoio ao diagnóstico dos conhecimentos, competências e
atitudes que o pioneiro já tem e que o vão ajudar a seleccionar os trilhos educa-
tivos que irão constituir as suas etapas;
Em terceiro lugar na observação da evolução dos conhecimentos, competências
e atitudes que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

Como já foi referido na parte do diagnóstico inicial, a escolha de trilhos deverá ter em
conta as necessidades de desenvolvimento do adolescente e deverá ser incentivada a
escolha de trilhos onde o desenvolvimento seja premente.

É aí que surge a negociação. A intervenção, mesmo que subtil e indirecta, da Equipa de


Animação deve servir para auxiliar o pioneiro a estabelecer um compromisso de progres-
so pessoal, e a fazer as escolha que o farão, realmente, crescer (em termos de conheci-
mentos, competências e atitudes) em detrimento do que seria fácil ou automaticamente
atingível.

O pioneiro faz as suas escolhas e deve ter o Chefe da Comunidade como um parceiro
que o auxilia no seu percurso. Parceiro a quem apresenta “a sua proposta” e de quem
recebe conselho e opinião. Esta conversa, esta negociação é fundamental para o su-
cesso do progresso do jovem. Não há qualquer espécie de contrapartida e o Chefe da
Comunidade deve ser um apoio e procurar respeitar a autonomia do jovem.

Escolhidos os trilhos, e observados os objectivos educativos, o pioneiro deve definir ac-


ções concretas conducentes ao seu crescimento para superação e validação dos objec-
tivos que compõem esse trilho. Não se trata de uma relação directa: Cumprir a acção/
validação do objectivo. Isso seria uma prova. E não é isso que se pretende.
307
manualdodirigente

A acção concreta vai ajudar o pioneiro a consubstanciar um objectivo geral e abstracto


em algo real e concreto. Isso vai facilitar a compreensão do objectivo e do potencial de
crescimento em cada caso concreto.

A Equipa de Animação deve incentivar o pioneiro a estabelecer as acções concretas de


acordo com o seu potencial – não o menosprezando nem o sobrevalorizando – e de-
monstrar que estas acções concretas são auxiliares para o crescimento, oportunidades
educativas, que devem ser acompanhadas de gestos de coerência na acção escutista
diária, e não provas.

Estas acções concretas que o pioneiro identifica para cada um dos objectivos dos trilhos
que escolheu poderão consubstanciar-se, preferencialmente, em actividades no ambien-
te escutista, mas não só: também no dia-a-dia, na escola, nos seus hobbies desportivos
ou de lazer, no que são os seus interesses. O Chefe da Comunidade deverá verificar
esses conhecimentos, competências e atitudes não havendo necessidade de o pioneiro
as repetir.

ii.O quotidiano, o crescimento e as Oportunidades Educativas

A progressão do pioneiro faz-se, como já se disse, através das oportunidades educativas


que o Método Escutista, e as suas sete maravilhas, proporcionam. Abandona-se assim o
conceito de prestar provas, obrigatórias, facultativas, opcionais ou de qualquer outra or-
dem. O crescimento do pioneiro faz-se através da acção escutista, de acções concretas,
da vivência escutista nas actividades, com os seus pares, na relação educativa.

Assim, em vez de se dizer que “o pioneiro prestou provas” porque realizou determinada
acção, faz sentido dizer-se que “o pioneiro deu provas de crescimento em” (porque isso
foi observado no crescimento em termos de conhecimentos, competências e atitudes).

As oportunidades educativas – no fundo toda a acção escutista – contribuem para o al-


cançar de objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva. Ou seja, como já
se disse, não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade, de uma
acção concreta, e o alcançar de um objectivo educativo. Daí se referir que a listagem de
acções do ponto anterior é parte do que terão que fazer…

Mediante a avaliação do desenvolvimento do jovem – e não da realização ou não da


oportunidade educativa – poderá ser necessário avaliar e ajustar as acções concretas
escolhidas no sentido de insistir na aquisição de novos conhecimentos, competências
ou atitudes.

Só em último caso, e quando se perceba que o progresso do pioneiro está obstaculizado


por alguma razão, é que se deve recorrer à mudança de algum trilho escolhido no inicio
da etapa.

Validação de objectivos fora do ambiente escutista


Tudo o que os pioneiros fazem dentro e fora do ambiente escutista ajuda-os a alcançar
308
manualdodirigente

os objectivos educativos da secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimen-


to pessoal. Assim, os objectivos devem ser apresentados como propostas ou desafios
que podem ser alcançados de forma atractiva e divertida através de experiências enri-
quecedoras que levam ao desenvolvimento pessoal.

Como já se disse o Chefe da Comunidade deve ter em conta todos os conhecimentos,


competências e atitudes que o pioneiro tem, mesmo que apreendidos fora do ambiente
escutista, não havendo necessidade de o pioneiro as repetir.

Cargos e Funções
Assumir e desempenhar correctamente um cargo no seio da Equipa ou ter determinada
função no Empreendimento constitui uma oportunidade educativa para progredir. Isto
porque o seu exercício privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvi-
mento.

Especialidades
O desenvolvimento de aptidões em determinadas áreas e a sua aplicação na vida da
Equipa privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento. Assim, as
especialidades constituem também uma oportunidade educativa para progredir.
O trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se logo após a Promessa e escolha
dos seis trilhos, ou seja, logo que se inicia a fase de vivência – Etapa do Conhecimento.

iii. Avaliação e validação

A avaliação e a validação do progresso são elementos essenciais de todo o processo

Como fazer a avaliação?


A avaliação dos objectivos educativos implica a observação contínua do progresso do
pioneiro durante um período, relativamente prolongado, de tempo. Isto porque, como já
foi referido, não se pode controlar o progresso com um exame ou prova.

Assim, foram identificados em documento específico, os conhecimentos, competências


e atitudes que devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos pio-
neiros.
A observação desses conhecimentos, competências e atitudes (CCA) no jovem, pelo
próprio, pelos seus pares e pela equipa de animação passa-se, então à validação dos
objectivos respectivos.

A validação
Depois do pioneiro reconhecer em si próprio os CCA relativos a um determinado ob-
jectivo de um trilho por si escolhido para a etapa em que se encontra, manifesta essa
informação à sua Equipa, que deve pronunciar-se sobre o assunto. Esta é a validação
pelos pares, que prossegue com a validação pelo Conselho de Guias que reconhecerá,
se for caso disso, que o pioneiro deu mostras de que tem aquele objectivo educativo
alcançado.
309
manualdodirigente

A Equipa de Animação, que tem assento no Conselho de Guias, manifestará a sua opi-
nião concordante ou discordante/veto – sempre pedagogicamente fundamentada. Esta
será a última palavra para a validação e que deve ser anunciada no Conselho da Comu-
nidade.

É importante que se mantenha o registo de observação dos conhecimentos, competên-


cias e atitudes de cada um dos pioneiros.

Quem participa na avaliação e na validação?


Começa na vida da Equipa a avaliação dos conhecimentos, comportamentos e atitudes
que cada pioneiro vai adquirindo na prossecução de objectivos e dos trilhos por si esco-
lhidos.

A Equipa manifesta o seu acordo ou desacordo em relação ao reconhecimento do trilho.


Em caso de concordância, o Guia, apresenta o assunto, para validação no Conselho de
Guias. O Conselho de Guias manifesta o seu acordo ou desacordo – fundamentando-o
sempre – e a palavra passa para o Chefe de Comunidade e para a sua equipa que têm
a última palavra. A validação final do trilho como concluído deve ser comunicada no
Conselho da Comunidade.

No caso de os Guias não concordarem com a conclusão do objectivo, ou estes concor-


dando, o chefe de Unidade dá parecer desfavorável fundamentado, as razões para a não
aceitação da sua proposta deve ser sempre expostas à Equipa e ao visado, sendo-lhe
explicado o que deve, ainda, procurar alcançar, em termos de conhecimentos, compe-
tências e atitudes, para que possa concluir o trilho.

Estudo de caso:
- Se a Equipa de Animação considera que o objectivo/trilho não deve ser validado e o Conselho de Guias
achar que sim?
A palavra final cabe sempre à Equipa de Animação. A posição da Equipa de Animação deve ser fundamenta-
da e explicada ao Conselho de Guias, à Equipa e ao pioneiro visado tendo em atenção todos os preceitos
pedagogicamente relevantes.
- Se a Equipa de Animação considera que o objectivo/trilho deve ser validado e o Conselho de Guias ou a
Equipa acharem que não?
O Chefe da Comunidade deve procurar perceber o que se passa. Deve procurar saber que motivos levam
a Equipa ou o Conselho de Guias a tomarem essa posição. Perceber se é um problema pessoal, de sobre-
valorização ou má interpretação dos objectivos educativos ou se há alguma informação acrescida que
a chefia não dispõe.
Também nesta situação, a sensibilidade pedagógica do adulto deve intervir no sentido de repor a nor-
malidade e o bom-senso.

310
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Partindo da ideia de que tudo o que os pioneiros fazem dentro e fora dos escuteiros pode
constituir uma oportunidade educativa, contribuindo para o seu desenvolvimento, temos
que passar a considerar outros “agentes” na avaliação: pais, professores, etc… No en-
tanto, mesmo esta avaliação terá que ser validada pelo processo descrito.

Quando fazer a avaliação e a validação?


A avaliação dos objectivos deverá basear-se na observação continua do progresso do
pioneiro. O processo de validação termina com a declaração de opinião da Equipa de
Animação, preferencialmente no Conselho de Guias e “proclamada” no Conselho de
Comunidade.

O reconhecimento desses objectivos e a consequente atribuição de trilhos educativos ou


de “passagem” de etapas de progresso deve ser feito, em momentos relevantes da vida
da Comunidade dos pioneiros, preferencialmente na fase da celebração das actividades
típicas.

iv. A Relação Educativa ao longo do processo

O dirigente e o Conselho de Guias


O papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos Guias e do Conselho de Guias
no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos deve ser
valorizado.

As tomadas de decisão relativamente ao progresso dos elementos serão feitas privile-


giadamente no Conselho de Guias. Isto implicará que a Equipa de Animação dê suporte
e tente orientar os Guias, não os substituindo nas tomadas de decisão mas ajudando a
formular opiniões e tomar decisões em conjunto.

O dirigente e o pioneiro
O sistema de progresso, baseando-se numa escolha individualizada de trilhos, irá impli-
car uma relação mais personalizada com cada um dos elementos. Desde o diagnóstico
inicial à observação de conhecimentos, competências e atitudes e à sua avaliação, são
muitos os momentos que permitirão um conhecimento mais profundo dos elementos.

v. Reconhecimento

Todo o progresso pessoal carece de um reconhecimento público, no seio da Comuni-


dade para ser, convenientemente, valorizado. O reconhecimento acaba por ser, então
essencial, para que o pioneiro sinta que cresceu.

O reconhecimento pode ser feito através das seguintes ferramentas:

Diário de Vivências:
O Diário de Vivências é o que na tradição escutista se chama um caderno de caça do
311
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pioneiro. O Diário de Vivências tem um caderno comum, vendido no DMF e para down-
load no sitio do CNE, e separatas para os pioneiros acrescentarem o que entenderem
por conveniente. Nesse caderno comum, consta um espaço que poderá ser utilizado na
função de registo do progresso individual. Para além disso, servirá também como diário
de vivências pessoais na Comunidade e compêndio de informações relevantes para o
pioneiro.

Painel de progresso no Abrigo


Recomenda-se que no Abrigo haja espaço para afixar um painel onde esteja mostrada,
publicamente, o progresso colectivo e individual, de cada pioneiro, através de uma marca
por si produzida, que o situa e identifica.

Anilha de Mérito
Quando o pioneiro terminar todos os objectivos da III secção, (todos trilhos de todas as
áreas de desenvolvimento) e concluir, portanto, a sua última etapa, receberá uma 'Anilha
de Mérito' com o símbolo da Secção, de forma a ser reconhecido por toda a associação
como tendo completado a totalidade do percurso educativo proposto aos pioneiros. A
anilha poderá ser usada até ao momento da promessa de caminheiro.

III. Passagem de Secção

Adesão informal aos caminheiros


Para os pioneiros mais velhos o último trimestre do seu último ano na Comunidade
será já um período de adesão informal aos caminheiros e como em qualquer pro-
cesso de transição pretende-se que este seja ao mesmo tempo suave mas também
desafiante.

A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista na Co-


munidade. Neste último trimestre, o pioneiro continua a pertencer e a viver em pleno as
dinâmicas da Comunidade. Pretende-se que ele se vá familiarizando, de forma informal,
com o Clã.

O objectivo é promover uma aproximação aos caminheiros, que funcione como “quebra-
-gelo” e que ajude a colocar os pioneiros que passam para os caminheiros mais à-von-
tade, promovendo uma integração mais fácil, a partir do momento da efectiva passagem
e do início da adesão formal.

Pretende-se que os Guias de Tribo convidem o pioneiro a participar numa caminhada


(ou em parte, se for longa), de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do
Clã, conhecer as Tribos, os seus Guias de Tribo, a Equipa de Animação e o Albergue.
Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa, em
termos de tarefas ou responsabilidades.

312
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Cerimonial de passagem
A expectativa no momento das passagens e o receio que muitos dos jovens sentem nes-
ta altura perante a mudança, dá um carácter muito importante a esta cerimónia.

Esta cerimónia é também muito importante pela forma de como o elemento se despede
da antiga secção e é recebido na nova, podendo marcar desde logo positiva ou negativa-
mente a mudança que se está a dar na sua vida enquanto escuteiro.

É então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando um mo-


mento marcante e ansiado por todos. As ideias poderão passar por conjugar a mística
das diferentes secções, por exemplo. O trabalho conjunto das Equipas de Animação de
todas as secções intervenientes para dar consistência à cerimónia.

Informação ao Chefe de Clã


Do mesmo modo que é aconselhável uma conversa entre o Chefe da Expedição e o Che-
fe de Comunidade aquando da passagem dos exploradores, poderá ser necessária uma
conversa entre o Chefe de Comunidade e o Chefe de Clã aquando do diagnóstico inicial,
no sentido de identificar algumas áreas em que o noviço tenha mais dificuldades.

Bibliografia:
Proposta Educativa do CNE – Edições CNE

Programa Educativo do CNE – Edições CNE

A Pedagogia do Projecto – Colecção Manual do Dirigente n.º 1 – Tradução dos Scout de France – Edições CNE

O Empreendimento – Colecção Manual do Dirigente n.º 10 – Tradução dos Scout de France – Edições CNE

Flor de Lis – Dossiês sobre Programa Educativo do CNE – órgão oficial do CNE

Flor de Lis – Textos sobre Fase Piloto (Boas Práticas) do Projecto RAP – órgão oficial do CNE

Documentos de Apoio ao RAP – Edições do Bureau Mundial do Escutismo


Ana Teresa Vermelho

313
manualdodirigente

C.6.4 O Sistema de Progresso no Clã

A estrutura do Sistema de Progresso

A passagem do jovem pelo Clã é distribuída em 2 grandes fases: a integração e a vivên-


cia. Durante a primeira fase, o noviço/aspirante vai-se integrando no Clã, fazendo a sua
adesão e preparação para a Promessa. Neste momento, a Equipa de Animação deve
fazer o Diagnóstico Inicial, ou seja, deve tentar conhecer e perceber quem é esta pessoa
que começa agora o seu caminho numa nova secção.

Depois da Promessa, já Caminheiro, encontra-se na fase da vivência e deve evoluir nas


etapas de progresso, sempre na perspectiva de caminhar rumo à Partida, momento que
marca o fim do trajecto no Clã.

I. Integração

a) A Adesão
1. A Adesão informal ao Clã

A Adesão Informal procura familiarizar o noviço com o Clã e deverá iniciar-se no último
trimestre da vivência escutista na Comunidade dos pioneiros. Durante este período, o
jovem continua a ser pioneiro, a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da Comu-
nidade. O que se pretende é uma aproximação suave ao Clã e não um afastamento da
Comunidade de onde faz parte.

314
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O objectivo é promover uma aproximação aos caminheiros que funcione como “quebra-
-gelo” e que ajude a colocar os pioneiros que passam para a IV Secção mais à-vontade,
promovendo uma integração mais fácil, quando chegarem ao Clã e iniciarem a sua Ade-
são Formal.

Durante esta fase, pretende-se que os pioneiros que vão passar para o Clã no ano es-
cutista seguinte sejam convidados pelos Guias de Tribo a participar numa actividade, de
modo informal e sem fazer parte da sua organização, para que se possam inteirar da di-
nâmica do Clã e conhecer as Tribos, os seus Guias, a Equipa de Animação e o Albergue.
Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa em
termos de tarefas ou responsabilidades.

Adesão Informal:
- Surge no último trimestre em que os pioneiros estão na Comunidade;
- É uma aproximação e não uma passagem antecipada;
- É apenas para os pioneiros que vão passar de secção no ano escutista seguin-
te;
- Implica a participação esporádica numa actividade/ saída/ reunião no Albergue;
- Os pioneiros não devem fazer parte da Caminhada (decidir, organizar, etc.);
- Por participarem numa actividade do Clã, os pioneiros não deixam de estar in-
tegrados na Comunidade.

2. Adesão Formal ao Clã – Etapa Caminho

A Adesão Formal ao Clã tem início quando o noviço/aspirante chega realmente ao Clã e
prolonga-se até à Promessa. A esta etapa de adesão chama-se Etapa Caminho. Nesta
altura, o noviço/ aspirante é acolhido pelo Clã e faz a sua integração pouco a pouco, à
medida que vai conhecendo melhor as pessoas, as Tribos, preceitos, costumes, etc.
É durante esta fase que a Equipa de Animação deve proceder ao diagnóstico inicial do
noviço/ aspirante.

2.1. Diagnóstico inicial

Num sistema de progresso orientado por objectivos, torna-se imprescindível conhecer


em profundidade o jovem que chega ao Clã. Este é um processo dinâmico e não um
único momento. Ao tempo inicial em que se começa a conhecer o jovem em pormenor
chamamos Diagnóstico Inicial.

Todos os jovens que chegam ao Clã são diferentes em diversos aspectos: idade, con-
textos familiares, escolares e profissionais, níveis de desenvolvimento, aptidões, dificul-
dades, entre muitas outras coisas. Desta forma, poderão estar em graus de maturida-
de e autonomia diferentes. Será papel do Chefe de Clã e da sua Equipa de Animação
promover o desenvolvimento harmonioso dos seus elementos (mesmo quando partem
315
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de patamares diferenciados e por caminhos que poderão ser diferentes), levando-os a


atingir em pleno os objectivos educativos finais.

O diagnóstico inicial e formal deverá ser realizado, em conjunto, pelo aspirante/


noviço, pelo Chefe de Clã e por um caminheiro mais experiente, escolhido pelo
aspirante/noviço. Poderá ser necessário recorrer a dinâmicas e jogos específicos
para o efeito.

O resultado prático deste processo de Diagnóstico Inicial vai ser utilizado quando o
Chefe de Clã for negociar com o caminheiro o conjunto de objectivos educativos que
constituirá a sua etapa de progresso. Isto significa que o Chefe de Clã não precisa de
despender demasiada energia no início deste processo, tentando fechar um diagnóstico
numa semana ou duas porque, no caso dos caminheiros, tem até 9 meses (tempo máxi-
mo para eles aderirem ao Clã) para “afinar” este diagnóstico, completando-o, revendo-o,
modificando-o, etc.

Contudo, esta fase do Diagnóstico Inicial é crucial para a escolha posterior dos objecti-
vos educativos, uma vez que as opções do jovem devem ter em consideração as suas
necessidades e lacunas de desenvolvimento. De facto, o aspirante/noviço deverá ser
incentivado a escolher em primeiro lugar os objectivos que sente que terão que ser mais
bem trabalhados, concretizando-os em várias acções práticas na parte aberta no seu
PPV.

O posicionamento do jovem no sistema progresso, depois do Diagnóstico Inicial

Diagnóstico a noviços e aspirantes com 18 anos e escolha dos objectivos para a


1ª Etapa (Comunidade):

Os noviços e os aspirantes com 18 anos vão sempre para a 1ª etapa. Mesmo que
Chefe de Clã e noviço/aspirante considerem que já existem objectivos fechados
em número suficiente para completar a 1ª Etapa, esses objectivos devem ser
“reservados” e avaliados mais tarde, no final da 1ª etapa. O noviço/aspirante,
deve escolher para a sua 1ª etapa um conjunto de objectivos educativos que,
decididamente, não foram atingidos.

Diagnóstico a aspirantes entre os 19 e 21 anos:

O diagnóstico inicial auxiliará, no caso dos aspirantes mais velhos, a definir em


que etapa de progresso o elemento se encontra após a Promessa, com base nas
suas competências, conhecimentos e atitudes.

Este diagnóstico mais formal irá servir para reconhecer - depois da sua fase de
adesão - que objectivos educativos ele já detém e que equivalência será atribuí-
da em termos de etapa de progresso.

316
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Na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o


elemento já tenha alcançado algum objectivo este fica «fechado» e escolhe ou-
tros objectivos para a sua etapa (2 a 3 de cada área).

Assim no reconhecimento do progresso pessoal:


menos de 2 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançado- etapa 1 (Comunida-
de)
entre 2 a 4 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançados - etapa 2 (Serviço)
mais de 4 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançados - etapa 3 (Partida)

Diagnóstico a aspirantes com 22 anos:


Deve-se equacionar a hipótese de passar a ser candidato a dirigente.

Exemplo de ferramentas para o Diagnóstico Inicial

A folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes para a IV sec-


ção deve ser preenchida pelo Chefe de Clã, com a ajuda da sua Equipa de Animação, o próprio
noviço/aspirante, o Guia da Tribo onde ele está inserido, etc. Poderá inclusivamente valorar-se de
1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e compor-
tamentos que exemplifiquem o que foi atingido. Esta ferramenta não só auxilia ao Diagnóstico
Inicial, como pode, também, ser um apoio verificar a evolução do Caminheiro em todas as Etapas
do Sistema de Progresso. Ver Anexo 5

A entrevista (conversa mais ou menos estruturada) com o Chefe de Clã ou Adjunto é um


momento de reflexão, conhecimento e crescimento muito importante. Para o dirigente é uma
possibilidade privilegiada para conhecer melhor aquele Caminheiro. Para o jovem abre-se a oportu-
nidade de falar de si, expor as suas dúvidas, medos, sonhos e projectos e de ver reconhecido o seu
valor. É o espaço em que o jovem, auxiliado pelo seu irmão mais velho, começa e definir prioridades,
a pensar como dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e em formas con-
cretas de os implementar.

O jogo: os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo, como experiências de aprendizagem


activa, constituem uma oportunidade, por excelência, para o dirigente observar e avaliar os seus
escuteiros.

A Vivência no Clã: a observação atenta do comportamento do jovem nas actividades do Clã,


ao longo da Etapa Caminho, pode contribuir para perceber como procede em relação aos outros
(como reage perante os outros elementos e a Equipa de Animação, por exemplo) e como reage
perante regras, novos desafios, tarefas, responsabilidades, etc.

Envolvimento de diversas pessoas: Chefe de Comunidade do ano anterior (no caso dos no-
viços), o próprio (aspirante/noviço), Chefe de Clã/ Equipa de Animação, Caminheiro mais velho e
experiente escolhido pelo aspirante/noviço, pais e amigos do jovem, etc.
317
manualdodirigente

Esquema 4
RESUMO- SECÇÃO IV

318
manualdodirigente

2.2. Etapa Caminho

Quando chegam ao Clã, os noviços e aspirantes iniciam a Etapa Caminho (adesão) e


recebem a respectiva insígnia. Durante esta fase de Integração, cada noviço/aspirante
irá viver a experiência do Clã de forma muito pessoal, pelo que a adaptação a novas
pessoas e a novas dinâmicas podem resultar em ritmos muito diferentes, que devem ser
respeitados.

O objectivo da adesão é o de valorizar a tomada de consciência individual do noviço/


aspirante sobre como funciona o Clã, como se vive o dia-a-dia das actividades típicas,
qual é a mística, a simbologia, o patrono e quais são os compromissos que se esperam
de um caminheiro. É com base nessa tomada de consciência individual que cada noviço/
aspirante toma, por si, a decisão de aderir ao Clã, ou seja, de fazer a sua Promessa.

319
manualdodirigente

Durante a Etapa Caminho, o noviço/aspirante tem que, obrigatoriamente, adquirir


os conhecimentos e passar pelas vivências que a seguir se apresentam, para
poder fazer a sua Promessa:

Conhecimentos:
- Conhecer a organização do Clã e das Tribos, assim como as suas tradições
e funcionamento.
- Conhecer a mística e enquadramento simbólico da IV Secção.
- Conhecer os percursos de vida e exemplo que constituem para o Caminheiro o
Patrono da IV Secção (São Paulo) e o Patrono do seu Clã.
- Ler o Livro «A Caminho do Triunfo», escrito por B.-P. para os jovens caminheiros
e que ainda hoje é uma referência para o caminheirismo, pela sua actualidade.
- Conhecer os Objectivos Educativos que são propostos para a IV secção.
- Saber o que é e qual a importância do PPV.

Vivências:
- Participar no quotidiano da Tribo e do Clã, dentro do sistema de patrulhas.
- Participar activamente na Caminhada. O objectivo é que conviva de perto com
a aplicação do método projecto numa actividade típica do Clã.
- Promover um debate ou dinâmica sobre o livro «A Caminho do Triunfo», com
o Clã ou Tribo, de modo a tirar dúvidas e apresentar a sua perspectiva da leitura
que fez.
- Fazer o PPV.

No caso dos aspirantes, deve adicionar-se, no campo do conhecer, o seguinte:

Conhecimentos:
- Organização do Agrupamento.
- Vida e mensagem de Baden-Powell.
- Domínio prático de técnica escutista e pioneirismo.

É, também, durante a etapa Caminho, que o noviço/aspirante começa a pensar nos ob-
jectivos educativos que vai escolher para atingir no primeiro ano de vivência do sistema
de progresso – Etapa Comunidade.

De facto, será nesta fase que o aspirante/noviço irá conhecer o que se espera dele
quando se tornar caminheiro. Com o apoio do Chefe de Clã e de um caminheiro mais
experiente (escolhido pelo noviço/aspirante), e tendo em conta o diagnóstico inicial, o
caminheiro irá escolher o seu percurso de progresso. Neste âmbito, e após a selecção
de 2 a 3 objectivos educativos de cada área de desenvolvimento, o noviço/aspirante
320
manualdodirigente

deve começar a concretizar o que vai fazer para conseguir atingir os objectivos a que se
propôs, assim como as datas limite para o fazer.

3. O Compromisso - Promessa

Sempre com o objectivo de colocar o jovem no centro da acção pedagógica, deverá ser
em primeiro lugar o jovem a reconhecer que quer pertencer ao Clã e que está apto a
fazer a sua promessa – a assumir o seu compromisso perante o Clã.

Assim, pretende-se ainda que, durante a etapa Caminho, o noviço/aspirante reflicta e


pondere sobre o compromisso que vai assumir formalmente na sua investidura de cami-
nheiro. Com base em dinâmicas propostas pelo Tribo, Clã ou Equipa de Animação, deve-
rá progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando, fortalecendo
e dando sentido à sua decisão de aderir ao Clã.

Cada jovem necessitará de tempo diferenciado para tomar a sua decisão de aderir. As-
sim sendo, a duração da etapa Caminho deverá ser adaptada ao noviço/aspirante, em-
bora não deva ultrapassar os 9 meses. Quando a Equipa de Animação nota atraso na
adesão de um noviço/aspirante, deve avaliar o que se passa, incentivá-lo a completar a
etapa Caminho e ajudá-lo nas dificuldades. Não se deve “dar” a Promessa só para que o
jovem não fique atrasado em relação aos outros, ou porque todos vão fazê-la.

A validação da adesão e da decisão de fazer Promessa por parte do noviço/aspirante


deve ser feita no Conselho de Guias, que decide se o noviço/aspirante reúne as con-
dições particulares de adesão, acima descritas, nomeadamente no que toca à vivência
na Tribo, no Clã e na Caminhada. Para além disto, o noviço/aspirante só faz a sua Pro-
messa se o Clã também validar que está preparado, com base em proposta dos Guias
no Conselho de Clã.

A Promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão.


Por isso, deve ser sempre auto-proposta pelo jovem, deve partir de uma opção individu-
alizada e não resultante de data(s) marcadas “administrativamente”. Após a Validação
do Clã, o compromisso pessoal deve ser marcado durante os 2 meses seguintes. Os no-
viços/aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, agrupados de acordo
com o tempo da sua tomada de decisão e validação do Clã.

321
manualdodirigente

II. Vivência

a)Nomes e significado das etapas de progresso

Os nomes das etapas de progresso são: Caminho (adesão); Comunidade, Serviço e


Partida.

As etapas têm o mesmo nome das 4 dimensões do caminheirismo, embora sejam


coisas distintas. Em cada Etapa deve valorizar-se cada uma dessas dimensões,
mas as outras não devem ser deixadas para trás, abandonadas ou esquecidas. O
caminheiro deve ter sempre presente todas as 4 dimensões que o caminheirismo
abrange.

1) Adesão - Caminho
É nesta fase que o noviço/aspirante inicia o seu
caminho no Clã e enceta essa grande aventu-
ra de querer tornar-se caminheiro e caminhar
para o Homem-Novo. Inicia também o caminho
rumo à Partida.
O Caminho significa então, a abertura, a lar-
322
manualdodirigente

gueza de vistas, o apelo do horizonte, a capa-


cidade de aceitar a mudança, de viver na pró-
pria mudança. É também um espaço de vida
despojada, de rejeição do supérfluo, de aten-
ção ao essencial. Graças a isto, este Caminho
dos caminheiros é, tal como o dos peregrinos,
testemunho de vida cristã.
Finalmente, o Caminho é, também, um lugar
de perseverança, de experiência de uma lenta
e paciente construção de si mesmo, de apren-
dizagem da capacidade de se comprometer
para além do imediato.

2)1ª Etapa - Comunidade


Ao fazer a sua Promessa, o caminheiro assume
o compromisso de pertencer a esta comunida-
de – o Clã – e de ser activo na comunidade a
que pertence. É altura de partilhar experiências
e de se dedicar ao Clã que acaba de recebê-lo
como irmão.
Na Tribo vive-se o início da comunhão, que
se potencia na vivência em Clã. É o apelo das
Bem-Aventuranças que dá sentido a este cami-
nho conjunto, que se torna assim experiência
de comunidade, de partilha, de amor, de cons-
trução da paz. Contudo, segundo este apelo,
essa comunidade não pode viver virada sobre
si mesma.

3)2ª Etapa - Serviço


Ao longo do seu percurso, o caminheiro vai as-
sumindo, cada vez mais, o serviço como algo
natural, um modo de vida. Nesta etapa, o servi-
ço ao outro e a vontade de ser melhor deve es-
tar reforçada. Contudo, há que ter em atenção
que prestar serviço não é forçosamente um
acto físico, ou um dom material: pode ser um
suporte moral, um intercâmbio, ou muito mais
ainda. O serviço é gratuito, mas quem presta
serviço enriquece. O serviço é uma dinâmica
de descoberta, vivida numa relação de amor
fraterno, de “receber, dando-se em troca”. Daí
que se possa dizer que a verdadeira descober-
ta só é possível no serviço.

Servir é tornar-se apto para a missão


323
manualdodirigente

A vivência do Serviço deve ser experimentada


individualmente, na Tribo e no Clã, em acções
de longo termo que denotem uma vontade de
compromisso e não apenas “mini-serviços” rá-
pidos, sem continuidade e muitas vezes sem
sentido.

4)3ª Etapa - Partida


Esta é a Etapa em que o caminheiro se assume
como um exemplo para os outros. Está cada
vez mais próxima a saída do Clã e as atenções
do caminheiro devem voltar-se, cada vez mais,
para fora do Clã: é altura de se tornar cada vez
mais activo no mundo. Assim sendo, esta é
uma etapa em que o caminheiro vive no Clã e
para o Clã, mas que cada vez mais deve viver
para os outros, para fora do Clã e do próprio
CNE, de forma a que possa dizer com verdade
que caminha para o Homem-Novo e que o seu
exemplo é exemplo a seguir.
Para além disto, esta é a etapa em que se deve
preparar, mais intensivamente, para receber
a Cerimónia da Partida. É, também, onde é
convidado a fazer o seu Desafio.

b)Como se desenrola o progresso

A proposta de progresso assenta em conhecimentos, competências e atitudes, com


base nas 3 vertentes do saber: o saber saber, o saber fazer e o saber ser.

324
manualdodirigente

No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso envolva os objectivos defi-


nidos para cada uma das áreas de desenvolvimento. Progredir significará, assim, atingir
objectivos.

Como se processa a progressão?


Existem 6 áreas de desenvolvimento: físico, afectivo, carácter , espiritual, intelec­
tual e social. Cada uma destas áreas de desenvolvimento tem entre 6 a 8 objectivos.

FÍSICO 6 ob je ctivos
AF ECTIVO 6 ob je ctivos
CARÁ CTER 8 ob je ctivos
ESPIRITUAL 8 ob je ctivos
INTELECTUAL 7 ob je ctivos
SOCIAL 7 ob je ctivos

Para progredir, o caminheiro tem de escolher, em cada uma das 3 etapas de progresso
da secção, vários objectivos a atingir, contemplando todas as áreas de desenvolvimento.
Assim sendo, um caminheiro constrói cada etapa de progresso seleccionando 2 a
3 objectivos educativos de cada uma das diferentes áreas de desenvolvimento.
Como esta escolha é individual, outro caminheiro pode escolher objectivos distintos para
completar a mesma etapa.

Exemplo:

O Tiago pode, após a sua adesão, seleccionar os seguintes objectivos:

Físico
- Identificar e evitar, na vida quotidiana, os comportamentos de risco relacionados
com a segurança física e consumo de substâncias.
- Conhecer e aceitar o desenvolvimento e amadurecimento do seu corpo com na-
turalidade.

Afectivo
- Valorizar e demonstrar sensibilidade nas suas relações afectivas, de modo conse-
quente com a opção de vida assumida.
- Respeitar a existência de várias sensibilidades estéticas e artísticas, formando a
sua opinião com sentido crítico.

Carácter
- Ser capaz de formular e construir as suas próprias opções, assumindo-as com
clareza.
- Mostrar-se responsável pelo seu desenvolvimento, colocando a si próprio objecti-
vos de progressão pessoal.
325
manualdodirigente

Espiritual
- Conhecer e compreender o modo como Deus se deu a conhecer à humanidade,
propondo-lhe um Projecto de Felicidade Plena (História da Salvação).
- Conhecer as principais religiões distinguindo e valorizando a identidade da Igreja
Católica.

Intelectual
- Definir o seu itinerário de formação preocupando-se em mantê-lo actualizado.
- Adaptar-se e superar novas situações, avaliando-as à luz de experiências anterio-
res e conhecimentos adquiridos.
- Procurar de forma activa e continuada novos saberes e vivências, como forma de
contribuir para o seu crescimento pessoal.

Social
- Mostrar capacidade de relacionamento e trabalho em equipa, contribuindo activa-
mente para o sucesso do colectivo através do desempenho com competência do
seu papel.
- Usar de empatia na forma de comunicar com os outros, demonstrando tolerância
e respeito perante outros pontos de vista.
- Conhecer e exercer os seus direitos e deveres enquanto cidadão.

Para o Tiago, esta combinação de 14 objectivos educativos constituem a sua etapa


Comunidade.
A Joana, que também está na etapa Comunidade, pode ter uma combinação de
objectivos totalmente diferente da escolhida pelo Tiago.

Como o desenvolvimento se pretende equilibrado, se o elemento já tiver alcançado todos


os objectivos de uma determinada área de desenvolvimento, não completa etapa ne-
nhuma: estas só estão completas quando ele atinge, pelo menos, 2 objectivos de cada
área de desenvolvimento.

326
manualdodirigente

Exemplo da Carolina, que está a tentar terminar a etapa Comunidade:

Imagine-se que a Carolina tem atingidos 3 objectivos da área de desenvolvimento físico,


2 da área intelectual e 3 da área de social (marcado com ).

Para fechar a Etapa 1 – Comunidade - tem ainda de alcançar 2 objectivos (pelo menos)
de cada uma das outras 3 áreas restantes. (marcado com , o que ela escolheu atingir,
para completar a Etapa).

Caso tenha, pelo menos, 12 objectivos alcançados (pelo menos 2 em cada área de de-
senvolvimento), passa para a 2ª etapa – Serviço – e escolhe pelo menos mais 12 objecti-
vos (pelo menos 2 de cada área de desenvolvimento) para completar esta 2ª etapa.

Marcados com X os objectivos educativos alcançados pela Carolina na 1ª etapa – Co-


munidade. A sublinhado, os objectivos educativos a que a Carolina se propõe a atingir
na 2ªetapa - Serviço

327
manualdodirigente

O que se pretende é que, no final, os caminheiros validem todos os 42 objectivos educa-


tivos finais definidos. Só assim têm o sistema de progresso completo.
Note-se, por fim, que a liberdade de escolha compete inteiramente ao caminheiro. No
entanto, o Chefe de Clã e o Guia de Tribo desempenham aqui um papel importante,
principalmente a 2 níveis:

No apoio ao diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o ca-


minheiro já detém e que o ajudam a seleccionar os objectivos que irão constituir
as suas etapas;

Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que


contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos. A este nível, é
importante compreender que progredir implica que o jovem possa aumentar ver-
dadeiramente os seus conhecimentos e competências e desenvolver as suas ati-
tudes, em vez de apenas mostrar o que já domina. Isto significa que um objectivo
só estará cumprido quando o caminheiro demonstrar que assume determinado
comportamento de forma constante e que, consequentemente, cresceu.

Vejamos um exemplo: um caminheiro escolheu, para um dos seus objectivos,


ser capaz de “mostrar capacidade de relacionamento e trabalho em equipa, con-
tribuindo activamente para o sucesso do colectivo através do desempenho com
competência do seu papel.”

Se ele pratica regularmente um desporto de equipa, onde trabalha bem integrado


para sucesso da equipa, isto não significa que o objectivo esteja cumprido. Só o
estará quando o caminheiro conseguir transpor isso para as várias áreas da sua
vida (por exemplo, na relação com os colegas de estudo em trabalhos de grupo,
ou na preparação de uma Caminhada, com a sua Tribo).

Se realmente o jovem tem esse objectivo cumprido, o progresso passará então


por tentar desenvolver outras atitudes, conhecimentos e comportamentos que o
levem a atingir outros objectivos.

Em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar esta verten-


te de compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início
de cada etapa. Corresponde ao compromisso assumido pelo caminheiro em
procurar progredir nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a
atingir os objectivos educativos finais.

Os caminheiro que terminam o sistema de progresso recebem, como reconhecimento pelo


seu empenho e realização dos objectivos a que se propuseram, a Anilha de Mérito.

328
manualdodirigente

Esta não deve ser apenas entregue ao caminheiro, mas sim, envolvida numa cerimónia,
ou momento mais solene. Deste modo, por um lado, está-se a dignificar e a dar como
exemplo aquele caminheiro empenhado que completou o seu progresso. Por outro, está-
­-se a dar um incentivo a todos os outros caminheiros que, certamente, terão mais uma
motivação para completar o seu sistema de progresso pessoal.

Nota: A Anilha de Mérito, recebida por quem completa o sistema de progresso, só


pode ser usada pelo caminheiro até à cerimónia da Partida

c)As Oportunidades Educativas

1) As Oportunidades Educativas e o alcance de objectivos educativos

Os conhecimentos, competências e atitudes são trabalhados no seio do Clã e da Tribo


no desenrolar do dia-a-dia e das fases da vivência das Caminhadas. Neste âmbito, tudo
o que os caminheiros fazem dentro e fora do movimento ajuda-os a alcançar os objecti-
vos educativos finais, ou seja, a crescer nas 6 áreas de desenvolvimento pessoal. Assim
sendo, os objectivos educativos que apresentamos aos jovens nesta idade não são mais
do que propostas atractivas que os desafiam a ser mais e melhor.

No nosso sistema de progresso faz sentido dizer-se que “o caminheiro deu provas de”
(porque isso foi observado em conhecimentos, competências e atitudes) em vez de “o
caminheiro prestou provas” (porque realizou uma determinada acção prevista num sis-
tema de progresso com provas especificadas). Neste sentido, o progresso não se faz
através de provas específicas e idênticas (obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de
qualquer outra ordem) para todos, mas através de oportunidades educativas – activida-
des e acções – que o nosso método, com as suas 7 maravilhas, oferece. Os caminheiros
podem ainda adquirir conhecimentos, competências e atitudes na sua vivência escolar,
catequética, nos clubes a que pertençam, equipas de outros organismos, etc., dado que
também aqui realizam actividades que podem contribuir para alcançarem objectivos edu-
cativos. A ideia é o chefe de Clã verificar esses conhecimentos, competências e atitudes,
sem que o caminheiro tenha que os repetir, necessariamente.

As oportunidades educativas permitem que cada jovem viva experiências enrique-


cedoras que levam ao desenvolvimento pessoal. São elas, assim, que contribuem
para se alcançar os objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva.
Assim sendo, a cada objectivo educativo devem ser associadas algumas oportu-
nidades educativas, como meras sugestões, que podem ser adaptadas e “nego-
ciadas” com os caminheiros. Com isto, pretende-se criar condições para acolher
novas propostas e sugestões de oportunidades educativas, potenciando desta
forma a participação dos jovens no processo.

329
manualdodirigente

Note-se que, a este nível, não existe uma relação directa entre a realização de uma
oportunidade e o alcançar de um objectivo educativo. É através da avaliação do desen-
volvimento do jovem – e não da realização ou não da oportunidade educativa – que se
pode comprovar a aquisição de novos conhecimentos, competências ou atitudes. Se
esta aquisição não se verificar ou não for satisfatória, poderá ser necessário escolher
novas oportunidades educativas para o caminheiro.

2) As oportunidades educativas e o PPV

O PPV deverá ter uma parte aberta, que deve conter os objectivos educativos que o
caminheiro que escolheu para atingir na etapa do sistema de progresso em que se en-
contra, assim como as oportunidades educativas (acções concretas) para os alcançar e
respectivas datas em que prevê tê-los atingido. Essa parte é partilhada com a Tribo e
com o Chefe de Clã e deve estar exposta no Albergue.

A importância da partilha e exposição dos objectivos educativos escolhidos por cada um,
prende-se com a possibilidade da Equipa de Animação e todo o Clã poderem e deverem
incentivar a ajudar os seus elementos a progredir.

Exemplo PPV Parte Aberta:

Objectivo educativo final: “Cultivar um estilo de vida saudável e equilibrado –


alimentação, actividade física e repouso – adaptado a cada fase do seu desen-
volvimento”.

Concretização deste objectivo:


1. O que significa este objectivo para o jovem?
2. Acções concretas que ajudam a atingir o objectivo (Por exemplo: ir ao ginásio
1 vez por semana; fazer 5 refeições por dia, variadas e nutritivas; dormir, pelo
menos, 7 horas diárias..).

Será, também, com base nessa partilha da parte aberta do PPV que a Carta de Clã deve
ser construída.

Para além disto, o PPV conterá ainda uma parte fechada, em que devem constar os
objectivos pessoais e íntimos do caminheiro, projectos, sonhos, assim como os passos
para os concretizar e as datas em que espera realizá-los. A parte fechada é partilhável
ou não, no entanto, é aconselhável que o caminheiro partilhe o seu PPV (parte fechada)
com alguém mais velho e mais experiente, que o possa ajudar e orientar, preferencial-
mente, o Chefe de Clã.

330
manualdodirigente

3) As Oportunidades Educativas e as Especialidades

Durante a fase da vivência no Clã, o desenvolvimento de aptidões associadas a espe-


cialidades constitui igualmente uma oportunidade educativa para progredir. De facto, tal
como no desempenho dos cargos e das funções, o trabalho em especialidades e a sua
aplicação na vida quotidiana das Tribos privilegiam o crescimento em determinadas áre-
as de desenvolvimento.

Este trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se a partir do momento em que
começa a fase da vivência, isto é, logo após o jovem ter realizado a sua Promessa.

4) Avaliação

A avaliação de conhecimentos, competências e atitudes


Nos caminheiros, é na vida da Tribo que se vão debatendo os conhecimentos, compe-
tências e atitudes que cada caminheiro vai adquirindo e que poderão ser indícios de que
um determinado objectivo poderá estar concluído. Este processo deverá ser induzido
pelo próprio e apoiado pelo caminheiro mais experiente que foi escolhido pelo próprio. O
caminheiro, tem que concretizar como pretende alcançar os objectivos, através da esco-
lha de acções concretas, isso faz com que tenha ao seu dispor um excelente indicador
sobre a sua própria progressão. Ou seja, a realização, ou não das tarefas com sucesso,
ajuda-o a perceber se está perto de atingir o objectivo.

Neste sentido, há que ter em conta que a avaliação dos conhecimentos, competências
e atitudes adquiridas e validação de objectivos educativos concluídos deve ser feita de
forma contínua, ao longo da vivência escutista do jovem.

Note-se que, num sistema orientado por objectivos educativos, estes não podem ser
controlados como se fossem “provas” ou “exames”. A avaliação tem que ser feita me-
diante a observação do progresso dos jovens durante um percurso prolongado de tempo.
Quando o progresso for observado no jovem e avaliados pelo próprio, pelos “pares” e
pela Equipa de Animação, o Conselho de Guias poderá reconhecer que o caminheiro
alcançou aquele objectivo educativo.

A importância dos pares


O reconhecimento que os objectivos foram alcançados e a consequente atribuição da
conclusão das etapas de progresso deve ser feito na fase da celebração das Caminha-
das. Neste âmbito, e reforçando o papel e a importância dos “pares” e partindo da pre-
missa de que o Clã é autogerido pelos membros que o compõem, também a componente
do progresso deverá ser acompanhada e avaliada pelos seus elementos.

O Conselho de Guias será o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas


com o progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de
progresso.
Em termos de avaliação, se a Tribo concorda que um caminheiro concluiu um determi-
331
manualdodirigente

nado objectivo, o Guia apresenta esse caso no Conselho de Guias seguinte, sendo o as-
sunto debatido entre os Guias. No caso de Tribos isoladas (quando só há uma Tribo, por
haver menos de 10 caminheiros), o assunto é debatido em Tribo e com o Chefe de Clã.

Se os Guias de Tribo se colocam de acordo, significa que foi atribuído ao caminheiro o


objectivo como concluído.

Caso os Guias de Tribo não concordem com a conclusão do objectivo – ou o Chefe


de Clã vete a decisão – o Guia de Tribo do caminheiro em causa explica, na Tribo, a
não-aceitação da sua proposta, explicando ao caminheiro o que ele deverá ainda ad-
quirir, em termos de conhecimentos, competências e atitudes, para que possa concluir
o objectivo.

Nota: A Promessa e a Partida são aprovadas pelo Conselho de Clã.

Outros agentes da avaliação


Para além dos caminheiros, novos “agentes” foram considerados na fase de avaliação
do progresso pessoal. De facto, se partirmos do pressuposto de que tudo o que os ca-
minheiros fazem, dentro e fora dos escuteiros, contribui para o seu desenvolvimento, e
que existem oportunidades educativas a ser concretizadas em outros “ambientes educa-
tivos”, tal como a escola, associações, instituições, etc., em alguns casos a avaliação do
seu progresso pessoal poderá ser feita também por outros intervenientes.

d)O Desafio

No último ano, e quando estiver na etapa Partida, o caminheiro deve ser incentivado a
comprometer-se com uma causa pessoal, que envolva uma acção mais continuada no
tempo (mínimo de 3 meses). Essa acção deve privilegiar um esforço de cooperação ou
de voluntariado com uma instituição ou organização escolhida pelo caminheiro o que po-
derá implicar uma menor participação do caminheiro na vida do Clã e da sua Tribo e não
deve ser penalizado por isso. De facto, deverá ser realizada preferencialmente fora do
Agrupamento, embora seja possível que ocorra dentro dele. No entanto, é mais enrique-
cedor o Desafio ser realizado noutro ambiente, não se resumindo a uma Comissão de
Serviço numa Secção, já que isto pode torná-lo redutor. O objectivo do Desafio é permitir
que o caminheiro faça do Servir o seu lema, de forma ambiciosa e individual. Estando na
última etapa do sistema de progresso e, provavelmente, no seu último ano no Clã, está
a preparar-se activamente para a Cerimónia da Partida. Assim sendo, este ano, o cami-
nheiro deve, cada vez mais, transpor o que aprendeu e cresceu no Clã para a sua vida
pessoal, fora do Movimento. O caminheiro deve tentar provar ao Clã que merece receber
a Cerimónia da Partida, pois é um exemplo a seguir na sociedade.
Este Desafio deve ser apresentado e partilhado no Clã, na medida em que o caminheiro
332
manualdodirigente

deve ir dando testemunho da sua experiência. Todo o Clã é incentivado a crescer com
esta experiência de um dos seus elementos.

Para o caminheiro, o Desafio constitui uma excelente oportunidade concluir o seu pro-
gresso.

e)A Cerimónia da Partida

O final do percurso pessoal de um caminheiro deverá ser assinalado pela Cerimónia da


Partida, se o Clã o acha merecedor. Este momento que deve constituir o grande objectivo
para o qual se prepara ao longo de toda a sua passagem pelo Clã.

Quando o caminheiro termina a sua última etapa, ou seja, quando completa todos os
objectivos educativos definidos para a IV Secção (objectivos educativos finais), estará
pronto para fazer a sua Partida do Clã, reconhecendo-se assim que completou a totali-
dade do percurso educativo proposto aos Escuteiros do CNE.

A Partida de um caminheiro dá-se depois da sua auto-proposta (quando ele se sente


apto e preparado) e tem que ser aprovada em Conselho de Clã. Ao aprovar a Partida, o
Clã está a assumir que envia o jovem para a sociedade e para o mundo porque reconhe-
ce nele valores, conhecimentos e aptidões dignos de um verdadeiro caminheiro, activo
na sociedade e capaz de contribuir para um mundo melhor e mais justo.

Tal como a Promessa, a partida não se “dá”. O caminheiro tem que a merecer. Tem que
ser o tal exemplo de Homem que a sociedade precisa.

Se ao longo de todo o seu percurso no Clã, o caminheiro não se envolveu no seu pro-
gresso pessoal, se não contribuiu para a vida da Tribo e do Clã, se não participou e não
cresceu, então, o Clã não lhe deve dar a Partida, pois não será este o exemplo de cida-
dão descomprometido e pouco envolvido que quer enviar para a sociedade. O facto de
atingir 22 anos, não dá “direito” á Partida, apenas diz que é hora e sair do Clã.

É preciso marcar a diferença entre sair do Clã (porque desistiu, porque atingiu a idade,
etc…) e Partir do Clã, ou seja, ser enviado para a sociedade pelos seus pares, porque o
consideram exemplo a seguir.

333
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Lobitos

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Físico - Cá defende Máugli dos Bândarlougues


F1. Participo em actividades físicas
que me ajudam a ser mais ágil e
habilidoso.

Físico - Cá muda de pele


F2.Conheço os principais órgãos do
meu corpo, sei onde estão
localizados e para que servem.

F3.Conheço as principais
diferenças do corpo das meninas e
dos meninos.

Físico - Máugli brinca com Cá


F4. Sei o que devo e não devo
comer e que tenho de descansar.

F5. Cuido do meu corpo e do meu


aspecto.

F6. Sei que há comportamentos e


produtos que me podem fazer mal.

Afectivo - Racxa acolhe Máugli no Covil


A1. Escolho as minhas amizades
e dou-me bem com todos.

A2. Escuto e respeito os mais


velhos, tendo os pais como
exemplo.

A3. Distingo aquilo que gosto e não


gosto e consigo falar sobre isso.

A4. Sei que meninos e meninas se


comportam de maneira diferente e
respeito isso.

334
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Lobitos

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Afectivo - Racxa defende Máugli de Xer Cane


A5. Sou capaz de falar
daquilo que sinto.

Afectivo - Racxa ama Máugli como ele é


A6. Sei quais são as minhas
qualidades e os meus defeitos.

A7. Esforço-me por ser melhor.

A8. Esforço-me por fazer tudo,


mesmo quando tenho medo ou acho
que não sou capaz.

Carácter - Bálu ensina a Lei da Selva


C1. Sei a Lei e as Máximas da
Alcateia e percebo o que
querem dizer.

C2.Tenho em conta a opinião dos


mais velhos quando tomo decisões.

C3. Participo em actividades que me


ajudam a aprender coisas novas.

Carácter - Bálu ajuda a cumprir a Lei


C4. Cumpro as tarefas que me são
dadas, porque sei que isso é impor-
tante para todos.

C5.Não desisto, mesmo quando as


tarefas são difíceis.

C6. Reconheço que as minhas


acções têm consequências.

335
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Lobitos

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Carácter - Bálu orgulha-se de Máugli


C7. Defendo o que me parece certo
de forma alegre e calma.

C8.Mostro, pelas minhas acções,


que conheço a Lei e as Máximas da
Alcateia.

Espiritual - Hathi conta a história de Tha


E1. Conheço as primeiras
histórias da Bíblia.

E2. Sei como Jesus nasceu e que


Ele quer ser o meu melhor amigo.

E3.Sei que a Igreja é uma família a


que eu pertenço.

Espiritual - Hathi guarda toda a Sabedoria da Selva


E4. Sei que a oração diária é a
maneira de eu falar com Jesus.

E5. Imito Jesus, porque sei que ele


é um exemplo a seguir.

E6. Identifico diferentes religiões.

Espiritual - Máugli aprende com Hathi a Sabedoria da Selva


E7. Respeito a Criação de Deus
[pessoas e Natureza].

E8. Falo de Jesus aos meus amigos


e explico-lhes porque é que Ele é
importante para mim.

Intelectual- Máugli e Bàguirà caçam juntos


I1. Proponho à Alcateia temas novos
para pesquisar.

336
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Lobitos

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

I2. Sei onde procurar e guardar


novas informações.

I3. Sou capaz de escolher o que


mais gostava de fazer e aprender.

Intelectual - Bàguirà responsabiliza Máugli


I4. Sou desembaraçado e uso as
coisas que aprendo para resolver
problemas.

I5. Sei dizer quando há um proble-


ma e o que é preciso fazer para o
resolver.

Intelectual - Bàguirà defende Máugli na Rocha do Conselho


I6. Gosto de imaginar e fazer coisas
novas.

I7.Sou capaz de apresentar e expli-


car aquilo que imagino.

Social - Àquêlà orienta as reuniões na Rocha do Conselho


S1.Conheço as regras de boa
educação que me fazem dar bem
com os outros.

S2. Participo da melhor vontade


em todas as actividades.

S3. Respeito aquilo que é de todos.

S4. Não me aborreço quando perco


nas votações e nos jogos.

Social - Àquêlà ajuda Fao


S5. Procuro ser útil aos outros
no meu dia-a-dia.

337
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Lobitos

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

S6. Sou capaz de escutar e dar


importância às opiniões dos outros,
aguardando a minha vez de falar.

Social - Àquêlà ajuda Máugli a guiar os búfalos


S7. Sou capaz de trabalhar
com os outros.

S8. Sou amigo dos outros quando


sou eu a mandar.

338
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

Área de Desenvolvimento Físico (Cá)

Cá, a pitão a quem os Bândarlougues chamam 'minhoca amarela sem pernas', é um dos
animais da Selva com mais destreza física: para ela, praticamente não há obstáculos.
Embora possua um carácter dúbio, acaba, no Livro da Selva, por se tornar profundamen-
te amiga de Máugli. Conhece-o quando luta para o salvar do rapto dos Bândarlougues
(1), satisfaz-lhe a curiosidade quanto às suas transformações físicas (2) e acaba por
brincar frequentemente com ele, auxiliando-o a desenvolver a sua agilidade e a manter
comportamentos saudáveis (3).

1 Desempenho: Cá defende Máugli dos Bândarlougues.


“Cá mal acabara de escalar a muralha ocidental (…) e enroscou-se e desenroscou-se
uma ou duas vezes para se certificar de que todos os palmos do seu comprido corpo
estavam em boa forma. (…) O primeiro golpe foi dirigido para o centro da multidão que
envolvia Bálu – foi despedido de boca fechada, em silêncio, e não foi preciso outro. Os
macacos dispersaram aos gritos de: – Cá! É Cá! Fugi! Fugi!
Máugli voltou-se e viu a cabeça do grande pitão balouçando-se um palmo acima da sua.
– Este é então o homúnculo – disse Cá. (…) Acautela-te, homenzinho, que te não tome
por macaco, ao crepúsculo, quando tiver mudado de pele.
– Somos o mesmo sangue, eu e tu – respondeu Máugli. – Recebo a vida de tuas mãos
esta noite. A minha caça será a tua caça, se alguma vez tiveres fome, ó Cá.”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 69-70, 72-73

F1. Participo em actividades físicas que me ajudam a ser mais ágil e habilidoso.

2 Auo-conhecimento: Cá muda de pele.


“Cá, a grande jibóia das rochas, mudara a pele talvez pela ducentésima vez desde que
nascera; e Máugli, que nunca se esqueceu de que devera a vida a Cá, pela acção de
uma noite nas Moradas Frias, de que talvez vos lembreis, foi felicitá-la. A muda de pele
torna a serpente caprichosa e deprimida até que a pele nova comece a reluzir e a ter
bonito aspecto. (…)
– É perfeita até às escamas dos olhos – disse Máugli baixinho, brincando com a pele
velha. – É estranho ver a cobertura da própria cabeça aos próprios pés!
– Sim, mas a mim faltam-me os pés – disse Cá. – (…) Que te parece a minha capa nova?
Máugli correu a mão de cima a baixo pelo axadrezado em diagonal do enorme dorso.
– A tartaruga marinha tem o dorso mais duro, mas menos vistoso – disse ele. – A rã, que
tem o meu nome, é mais vistosa, mas menos dura. É muito linda à vista.”

O Segundo Livro da Selva, O acicate do rei, pp. 105-106


339
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

F2. Conheço os principais órgãos do meu corpo, sei onde estão localizados e para que servem.
F3. Conheço as principais diferenças do corpo das meninas e dos meninos.

3 Bem-estar físico: Máugli brinca com Cá.


“– Vou-te levar eu – disse Máugli, e curvou-se a rir, para erguer a secção média do
grande corpo de Cá , exactamente onde o tronco era mais grosso (…). Começou então
o habitual jogo de todas as noites – o rapaz, no vigor da sua grande força, e o Pitão, na
sua esplêndida pele nova, erguidos um em frente do outro para uma sessão de luta –,
prova de vista e de força. Cá podia, evidentemente, esborrachar uma dúzia de Máuglis,
se se não contivesse; mas jogava com cautela, e nunca soltava um décimo da sua força.
Desde que Máugli tinha robustez suficiente para aguentar um pouco de tratamento duro,
Cá ensinara-lhe o jogo e este exercitava-lhe os membros como nenhum outro.”

O Segundo Livro da Selva, O acicate do rei, p. 106

F4. Sei o que devo e não devo comer e que tenho de descansar.
F5. Cuido do meu corpo e do meu aspecto.
F6. Sei que há comportamentos e produtos que me podem fazer mal.

Área de Desenvolvimento Afectivo: Racxa

Na idade dos lobitos, a família (e sobretudo os educadores, por norma os pais) desempe-
nha um papel fulcral. Por essa razão, optámos nesta área por uma das figuras parentais
que surge no Livro da Selva: Racxa, a Mãe Loba, que adopta Máugli incondicionalmente,
mostrando como podemos dar-nos bem mesmo com os que são diferentes (1), defen-
dendo-o de Xer Cane (2) e amando-o com todo o seu coração (3).

1 Relacionamento e sensibilidade: Racxa acolhe Máugli no Covil.


“– Que pequenino! Que nuzinho e que ousado! – disse brandamente Mãe Loba. (…) –
Eia! Está a comer com os outros. Este é então um cachorro de homem. (…)
Pai Lobo disse-lhe gravemente:
– (…) O cachorro tem de ser apresentado à alcateia. Queres ainda conservá-lo, Mãe?
– Conservá-lo! – disse ela, arquejante. – Chegou nu, de noite, só e esfomeado; todavia,
não tinha medo! (…) Se o quero conservar? Pois que dúvida? Está quieto, rãzinha.”

O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 16, 19

A1. Escolho as minhas amizades e dou-me bem com todos.


A2. Escuto e respeito os mais velhos, tendo os pais como exemplo.
A3. Distingo aquilo de que gosto e não gosto e consigo falar sobre isso.
A4. Sei que meninos e meninas se comportam de maneira diferente e respeito isso..

340
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

2 Equilíbrio emocional: Racxa defende Máugli de Xer Cane.


“O rugido do tigre encheu o covil como um trovão. Mãe Loba sacudiu de si os lobitos e
avançou dum salto, com olhos que no escuro lembravam duas luas verdes, a desafiar o
olhar chamejante de Xer Cane.
– Sou eu, Racxa [o Demónio], que respondo. – O cachorro de homem é meu, Langri –
meu e só meu! E ninguém o matará. Viverá para correr com a alcateia e caçar com a
alcateia; e no fim, repara bem, caçador de cachorrinhos nus, papa-rãs, mata-peixes –
caçar-te-á a ti. E agora retira-te, senão, pelo sâmbar que matei (eu não como gado morto
de fome), vais voltar para a tua mãe, fera queimada da selva, mais coxo do que vieste
ao mundo! Vai-te!

O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 18-19

A5. Sou capaz de falar daquilo que sinto.

3 Auto-estima: Racxa ama Máugli como ele é.


“– Agora – disse [Máugli] –, vou ter com os homens. Mas antes preciso dizer adeus a
minha Mãe. – E dirigiu-se para o covil onde ela vivia com Pai Lobo, e chorou-lhe sobre
o pêlo (…).
– Não te demores – disse Mãe Loba –, meu filho nuzinho, porque, ouve bem, filho de
homem, tive-te mais amor do que a qualquer dos meus lobitos.
– Com certeza virei – disse Máugli –, e quando vier será para estender a pele de Xer
Cane sobre a rocha do conselho.

O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 39-40

A6. Sei quais são as minhas qualidades e os meus defeitos.


A7. Esforço-me por ser melhor.
A8. Esforço-me por fazer tudo, mesmo quando tenho medo ou acho que não sou capaz.

Área de Desenvolvimento do Carácter (Bálu)

Bálu é, no Livro da Selva, o animal responsável pelo desenvolvimento do carácter de


Máugli. De facto, é ele que ensina os preceitos da Lei da Jangal (que, na Iª secção,
está corporizada na Lei e nas Máximas do Lobito). Assim, ele ensina a Máugli a Lei
(1), ensina-o a cumpri-la da melhor forma, pensando no que faz e não desistindo (2) e
orgulha-se da aprendizagem do 'Cachorro de Homem', que se revela particularmente
respeitador e capaz (3).

341
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

1 Autonomia: Bálu ensina a Lei da Selva.


“Bálu, o mestre da Lei, ensinou-lhe as leis dos bosques e das águas: a distinguir um
ramo podre dum são; a falar cortesmente às abelhas silvestres quando encontrasse
uma colmeia destas a cinquenta pés do solo; o que havia de dizer ao morcego Mangue,
quando o importunasse nos ramos ao meio-dia, e a adverti as cobras-d'água, nos lagos,
antes de mergulhar no meio delas. (…) Depois Máugli aprendeu também o grito de caça
do forasteiro, que tem de se repetir com força até obter resposta, todas as vezes que um
dos moradores da Selva caça fora do seu próprio terreno. Quer dizer em tradução: «Dai-
me licença de caçar aqui porque tenho fome.» E a resposta é: «Caça então para comer,
mas não por prazer».”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 46-47

C1. Sei a Lei e as Máximas da Alcateia e percebo o que querem dizer.


C2. Tenho em conta a opinião dos mais velhos quando tomo decisões.
C3. Participo em actividades que me ajudam a aprender coisas novas.

2 Responsabilidade: Bálu ajuda a cumprir a Lei.


“Tudo isto vos mostrará quanto Máugli tinha de aprender de cor, e ele aborrecia-se deve-
ras a repetir a mesma coisa mais duma centena de vezes; mas, como Bálu dissera um
dia a Bàguirà depois de esbofetear Máugli, que fugira zangado:
– Um cachorro de homem é cachorro de homem e precisa de aprender toda a Lei da
Selva.
– Mas lembra-te de como ele é pequeno – disse a Pantera Negra, que teria estragado
Máugli com mimo, se a deixassem. – Como poderá ele reter tudo o que dizes naquela
pequenina cabeça?
– Há por acaso na selva coisa tão pequena que se não possa matar? Não. É por isso
que lhe ensino estas coisas, e é por isso que lhe bato, com brandura, quando se esque-
ce. (…) Mais vale que ele seja ferido da cabeça aos pés por mim, que o amo, do que se
perca por ignorância – respondeu Bálu muito sério.”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 47

C4. Cumpro as tarefas que me são dadas, porque sei que isso é importante para todos.
C5. Não desisto, mesmo quando as tarefas são difíceis.
C6. Reconheço que as minhas acções têm consequências.

3 Coerência: Bálu orgulha-se de Máugli.


“– Sus! Sus! Sus! Sus! Illo! Illo! Illo, olha cá para cima, Bálu da Alcateia de Seiôuni! (…)
Vi Máugli entre os Bândarlougue. Ordenou-me que to dissesse. (…)
– Papo cheio e sono profundo te desejamos, Tchill – disse Bàguirà. – Hei-de lembrar-me
de ti logo que matar e reservarei a cabeça para ti só, ó modelo de milhafres!
342
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

– Nada! Não há de quê. O rapaz lembrou-se da palavra-mestra. Eu não podia fazer outra
coisa. – E Tchill subiu às voltas para o seu poiso.
– Não se esqueceu de se servir da língua – disse Bálu, com um risinho de orgulho. –
Imagine-se uma pessoa tão jovem a lembrar-se da palavra-mestra das aves enquanto o
arrastavam através das árvores!”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 60-61

“– Estás ferido? – disse Bálu, abraçando-o brandamente.


– Estou cheio de dores e de fome e bastante magoado; mas, oh, muito mal vos trataram,
irmãos! Estais feridos. (…)
– Não é nada, não é nada, se tu estás salvo, meu orgulho de todas as rãzinhas – cho-
ramingou Bálu!”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 72

C7. Defendo o que me parece certo de forma alegre e calma.


C8. Mostro, pelas minhas acções, que conheço a Lei e as Máximas da Alcateia.

Área de Desenvolvimento Espiritual (Hati)

Hati, o elefante, é, no Livro da Selva, o animal que domina todos os conhecimentos so-
bre a Jangal, sendo respeitado por todos por ser sensato e bom conselheiro. Ele é o fiel
depositário de toda a Sabedoria da Selva, que apresenta nas histórias maravilhosas que
conta e que permitem aos bichos compreender o mundo e sentir-se uma família unida.
Uma delas é da criação de tudo o que existe e da forma como a selva é uma família (1). A
Sabedoria da Selva está ainda repleta de valores morais (que o lobito descobre à medida
que aprofunda o conhecimento sobre Jesus) ligados ao bem e à tolerância (2). São todos
estes ensinamentos que Hati transmite a todos os bichos e a Máugli, para que em cada
dia respeitem o mundo em que vivem e compreendam o que é, de facto, importante (3).

1 Descoberta: Hati conta a história de Tha.


“– …Calai-vos aí nas margens que eu vou contar-vos a história. (…) Sabeis, meus filhos
– começou –, de todas as coisas, o homem é a que mais temeis. (…) E não sabeis por-
que temeis o Homem? – continuou Hati. – Eis a razão: no começo da Selva, e ninguém
sabe quando isso foi, nós os da Selva andávamos juntos sem receio uns dos outros (…)
E o Senhor da Selva era Tha, o Primeiro dos Elefantes. Este extraiu a Selva das águas
profundas com a tromba; e onde fez sulcos no chão com os dentes aí correram os rios; e
onde bateu com a pata, apareceram lagos de boa água; e quando soprava pela tromba,
assim, as árvores caíam. Foi deste modo que a Selva foi feita, e assim me contaram a
história. (…) Nesses tempos não havia trigo, nem melões, nem pimenta, nem cana-de-
açúcar, e tão pouco existiam pequenas choupanas como as que todos conheceis; e os
343
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

moradores da Selva nada sabiam do Homem, mas viviam na Selva juntos, formando um
só povo.”

O Segundo Livro da Selva, Como nasceu o medo, p. 18

E1. Conheço as primeiras histórias da Bíblia.


E2. Sei como Jesus nasceu e que Ele quer ser o meu melhor amigo.
E3. Sei que a Igreja é uma família a que eu pertenço.

2 Aprofundamento: Hati guarda toda a Sabedoria da Selva.


“Pedira as palavras-mestras a Hati, o elefante selvagem, que sabe todas as coisas.”

A caçada de Cá, 49

“O calor continuava e devorava toda a humidade, até que por fim o canal maior do Uein-
ganga era o único que levava um fiozinho de água entre as suas margens mortas; e
quando o elefante bravo, Hati, que vive cem anos e mais, viu aparecer, precisamente no
meio do rio, uma crista de rocha extensa, magra e azul, sabia que estava a ver a Rocha
da Paz, e, sem mais delongas, ergueu a tromba e proclamou a Trégua da Sede (…). Pela
Lei da Selva é réu de morte quem matar nos bebedouros logo que se tenha declarado
a Trégua da Sede. (…) Os moradores da Selva aproximavam-se, famintos e exaustos,
do rio sumido – tigre, urso, veado, búfalo e porco, todos em conjunto, bebiam das águas
conspurcadas (…).
– Homem! – disse Xer Cane tranquilamente. – Matei um, há uma hora. (…) Tinha esse
direito na minha noite, como sabes, ó Hati. – Xer Cane falava quase cortesmente.
– Sei, sim – respondeu Hati; e após breve pausa: – Já saciaste a sede? (…) Então vai-te.
O rio é para beber e não para conspurcar. Ninguém senão o Tigre Coxo seria capaz de
se gabar do seu direito nesta época em que todos nós sofremos. (…)
– Qual é o direito de Xer Cane, ó Hati? [– perguntou Máugli.] (…)
– É uma história velha – disse Hati –, uma história mais velha que a Selva (…).
Hati avançou até lhe dar a água pelos joelhos no pego do Penedo da Paz. Embora ma-
gro, enrugado e de presas amarelas, tinha o ar do que a Selva via nele – o seu senhor.”

O Segundo Livro da Selva, Como nasceu o medo, pp. 11, 16-17

E4. Sei que a oração diária é a maneira de eu falar com Jesus.


E5. Imito Jesus, porque sei que Ele é um exemplo a seguir.
E6. Identifico diferentes religiões.

3 Serviço: Máugli aprende com Hati a Sabedoria da Selva.


“– E assim aconteceu o Primeiro dos Tigres ensinou o Pelado a matar, e sabeis o mal
que isso tem causado desde então a toda nossa gente, por meio do laço, da cova, da
344
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

oculta armadilha, do pau voador e da mosca mordente que saiu do fumo branco (Hati
referia-se à espingarda), e Flor Rubra que nos faz fugir para campo aberto (…). E só
quando paira um grande Medo sobre todos, como agora, podemos nós, os da Selva,
desprezar os nossos pequenos medos, e reunir-nos num só lugar, como agora. (…)
– É só por uma noite que o Homem teme o Tigre? – perguntou Máugli.
– Só durante uma noite – disse Hati.
– Mas eu.. nós, toda a Selva sabe que Xer Cane mata Homem duas e três vezes numa
lua.
– Assim é. Então ele salta-lhe de trás e volta a cabeça para o lado, porque está cheio de
medo. Se o Homem o fitasse, ele fugiria. (…)
– Oh! – disse Máugli para consigo, virando-se na água. – Agora vejo a razão por que Xer
Cane me mandou olhar para ele! De nada lhe valeu, pois não conseguiu aguentar-me o
olhar (…).
– Os homens sabem desta história? – perguntou.
– Ninguém sabe senão os Tigres e nós, os Elefantes… os descendentes de Tha. Agora
vós, os da beira da água, a ouvistes, e tenho dito.
Hati mergulhou a tromba na água em sinal de ponto final.”

O Segundo Livro da Selva, Como nasceu o medo, pp. 23-24

E7. Respeito a Criação de Deus (pessoas e Natureza).


E8. Falo de Jesus aos meus amigos e explico-lhes porque é que Ele é importante para mim.

Área de Desenvolvimento Intelectual (Bàguirà)


O lobito é, por inerência, muito curioso: interessa-se por tudo, adora descobrir coisas no-
vas. Bàguirà, a pantera negra que, com a sua inteligência e imaginação, protege Máugli,
contribuindo decisivamente para a sua entrada na Alcateia de Seiôuni (3), é, no Livro da
Selva, o animal que ajuda o 'Cachorro de Homem' a trilhar novos caminhos. Assim é ela
que lhe ensina os segredos da caça, ajudando-o a escolher o que é mais conveniente e
interessante (1), e a usar o que aprende para ser melhor e mais capaz (2).

1 Procura do conhecimento: Máugli e Bàguirà caçam juntos.


“– Espera – disse Bàguirà, atirando-se para a rente quanto podia num soberbo salto. A
primeira coisa a fazer quando a pista se não entende é dar um lanço para diante, sem
deixar as próprias pegadas no chão. Bàguirà voltou-se ao cair em terra e enfrentou Máu-
gli, bradando:
– Aqui vem outra pista ao encontro dele. O pé é mais pequeno, o da segunda pista, e os
dedos virados para dentro!
Máugli aproximou-se a correr e observou a nova pista.
– É o pé de um caçador Gonde – disse. – Olha, aqui arrastou o arco sobre a erva. Foi
a razão por que a primeira pista se desviou tão de repente. O Pé Grande ocultou-se do
Pé Pequeno.
– É verdade – disse Bàguirà. – Agora, para não desmancharmos as pegadas ao cruzar
345
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

o rasto um do outro, cada um de nós siga uma pista. (…)


Continuaram a correr outra meia milha, mantendo sempre a mesma distância pouco
mais ou menos, até que Máugli, que não levava a cabeça tão perto do chão como Bà-
guirà, exclamou:
– Já se encontraram. Boa Caça.”

O Segundo Livro da Selva, O acicate do rei, pp. 118, 120

I1. Proponho à Alcateia temas novos para pesquisar.


I2. Sei onde procurar e guardar novas informações.
I3. Sou capaz de escolher o que mais gostava de fazer e aprender.

2 Resolução de problemas: Bàguirà responsabiliza Máugli.


“– Eu não vi senão uma grande serpente a descrever círculos caprichosos até que escu-
receu. E tinha o focinho todo ferido. Ora! Ora!
– Máugli – disse Bàguirà, colérica –, tinha o focinho ferido por tua causa; assim como
eu tenho as orelhas, ilhargas e patas doridas, e Bálu o pescoço e as espáduas, por tua
causa. Nem Bálu nem Bàguirà poderão ter gosto na caça durante muitos dias. (…) E tudo
isto, cachorro de homem, por teres brincado com os Bândarlougues.
– Verdade, é verdade – disse Máugli, pesaroso. – Sou um malvado cachorro de homem,
e trago cá dentro o coração muito triste. (…)
Bálu não queria meter Máugli em mais apuros, mas também não podia torcer a Lei; por-
tanto, tartamudeou:
– O arrependimento não suspende o castigo. Mas lembra-te, Bàguirà, de que ele é
pequenino.
– Descansa que não me esqueço, mas portou-se mal, e tem de ser punido. Máugli, tens
alguma coisa a alegar?
– Nada. Procedi mal. Tu e Bálu estais feridos. É justo.”

O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 75-76

I4. Sou desembaraçado e uso as coisas que aprendo para resolver problemas.
I5. Sei dizer quando há um problema e o que é preciso fazer para o resolver.

3 Criatividade e Expressão: Bàguirà defende Máugli na Rocha do


Conselho.
“Uma sombra negra caiu dentro do círculo. Era Bàguirà, a Pantera Negra, preta retinta
(…).
– Ó Àquêlà, e vós, gente livre – ronronou –, não tenho direito a participar na vossa reu-
nião; mas a Lei da Selva declara que, havendo dúvida, e não sendo questão de morte a
respeito dum lobito novo, a vida desse lobito pode comprar-se por certo preço. E a Lei
não diz quem pode ou não pode pagar esse preço. Digo bem? (…) Sabendo que não
tenho direito de falar aqui, peço-vos licença.
346
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

– Fala, fala – bradaram vinte vozes


– Matar um lobito nu é vergonha. (…) Às palavras de Bálu acrescento eu agora um tou-
ro, e por sinal bem gordo, morto de fresco, a menos de meia milha daqui, se quiserdes
admitir o cachorro de homem, de acordo com a Lei. É coisa difícil?”

O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 23-24

I6. Gosto de imaginar e de fazer coisas novas.


I7. Sou capaz de apresentar e explicar aquilo que imagino.

Área de Desenvolvimento Social (Àquêlà)

Àquêlà, o Lobo Solitário que chefia a Alcateia de Seiôuni, é, para Máugli, o exemplo do
guia. De facto, ele consegue orientar de forma correcta e respeitosa as reuniões na Ro-
cha do Conselho (1) e sabe discernir como pode ser útil: quando, já velho, é obrigado a
ceder o seu lugar de chefe da Alcateia a outro, tem humildade suficiente para ficar e aju-
dar Fao, que agora é o responsável pelo Povo Livre (2); quando Máugli mata Xer Cane,
ele desempenha na perfeição as tarefas que Máugli guardou para ele, não impondo
ditatorialmente a sua autoridade (3).

1 Exercer activamente cidadania: Àquêlà orienta as reuniões na


Rocha do Conselho.
“Àquêlà, o grande lobo cinzento solitário, que governava a alcateia por força e astúcia,
jazia a todo o comprido no seu rochedo (…).
Por fim – e as cerdas do pescoço de Mãe Loba retesaram-se ao chegar o momento – Pai
Lobo empurrou «Máugli, a Rã», como lhe chamavam, para o centro (…).
Ouviu-se por detrás do rochedo um rugido abafado – a voz de Xer Cane bradando: – O
cachorro é meu. Entregai-mo. (…) – Àquêlà nem sequer mexeu as orelhas e disse ape-
nas: – Reparai bem, ó lobos! Que tem a gente livre que ver com as ordens de quem quer
que seja, senão do Povo Livre? Reparai bem! (…) Quem defende este cachorro? (…)
– O cachorro de homem? O cachorro de homem? – disse [Bálu]. – Falo eu pelo cachorro
de homem. (…)
– Precisamos doutro ainda – disse Àquêlà. – Bálu já falou, que é mestre dos nossos
lobitos novos. Quem o acompanha?
Uma sombra negra caiu dentro do círculo. Era Bàguirà (…).
– Leva-o – disse ele a Pai Lobo –, e cria-o como convém a um da gente livre.”

O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 20, 22-23, 25

S1. Conheço as regras de boa educação que me fazem dar bem com os outros.
S2. Participo da melhor vontade em todas as actividades.
S3. Respeito aquilo que é de todos.
S4. Não me aborreço quando perco nas votações e nos jogos.
347
Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

2 Solidariedade e tolerância: Àquêlà ajuda Fao.


“Os lobos novos, os filhos da Alcateia de Seiôuni, que se dissolvera, prosperavam e
aumentavam, e quando atingiram o número aproximado de quarenta elementos de cinco
anos, mas sem chefe, de voz plena e pés limpos, Àquêlà disse-lhes que se deviam juntar
para seguir a Lei e andar sob as ordens de um chefe, como competia ao Povo Livre. (…
) Quando Fao, filho de Faona (o pai deste era o Pisteiro Cinzento dos bons tempos de
Àquêlà) se guindou à chefia da Alcateia, em sucessivos combates, de harmonia com a
Lei da Selva, e as velhas vozes e canções começaram a ouvir-se mais uma vez sob as
estrelas, Máugli apareceu na Rocha do Conselho para recordação. Quando lhe apeteceu
falar, a Alcateia escutou até ao fim (…). Fao e Àquêlà estavam juntos sobre a rocha, e
abaixo deles, de nervos tensíssimos, sentavam-se os outros.”

O Segundo Livro da Selva, Mabecos, pp. 156-157

S5. Procuro ser útil aos outros no meu dia-a-dia.


S6. Sou capaz de escutar e dar importância às opiniões dos outros, aguardando a minha vez de
falar.

3 Interacção e cooperação: Àquêlà ajuda Máugli a guiar


os búfalos.
“– Àquêlà! Àquêlà! – disse Máugli, batendo as palmas. – Eu podia saber que não te es-
quecerias de mim. Temos uma grande tarefa em mão. Divide a manada em duas, Àquê-
là, as vacas e vitelos a um lado e os touros e búfalos do arado a outro. (…)
–Que ordens dás? – disse Àquêlà, ofegante. – Já tentam misturar-se de novo.
Máugli guindou-se para cima de Rama.
– Toca os machos para a esquerda, Àquêlà. (…) Muito bem! Outra carga, e tê-los-emos
a andar como queremos. Cautela, agora – cautela, Àquêlà. Um estalo dos queixos a
mais e os bois arremetem. Huiah! Isto é tarefa mais arriscada que perseguir gamos pre-
tos. Sabias que estes bichos podiam andar tão depressa? – bradou Máugli.
– Também.. também já os cacei nos meus bons tempos – arquejou Àquêlà na poeirada.
– Viro-os agora para a Selva?
– Pois sim! Vira-os depressa!”

O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, pp. 94-95

S7. Sou capaz de trabalhar com os outros.


S8. Sou amigo dos outros quando sou eu a mandar.

348
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Exploradores

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Físico - Desempenho
F1. Pratico actividades físicas em
que testo as minhas capacidades
e torno-me mais ágil, flexível e
desembaraçado.

Físico - Auto-conhecimento
F2. Aceito que o meu corpo está
a mudar e respeito os diferentes
ritmos de desenvolvimento quando
me comparo com os outros.
F3. Conheço o diferente ritmo de
crescimento dos rapazes e rapari-
gas e respeito o espaço próprio de
cada um.

Físico - Bem-estar físico


F4. Sei equilibrar as minhas acti-
vidades físicas com o descanso e
uma alimentação saudável.

F5. Esforço-me por ter


bom aspecto e tenho hábitos regula-
res de higiene que contribuem para
a minha saúde.

F6. Identifico e evito comportamen-


tos e substâncias prejudiciais à
saúde.

Afectivo - Relacionamento e sensibilidade


A1. Comprometo-me com o bem-
estar e crescimento do grupo, man-
tendo uma relação amigável com os
outros elementos.

A2. Valorizo a minha família e assu-


mo o meu papel no seio da mesma.

A3. Expresso interesse e espírito


crítico por uma forma de arte.

A4. Aceito as diferentes formas de


demonstrar sentimentos, nos rapa-
zes e nas raparigas.

349
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Exploradores

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Afectivo - Equilíbrio emocional


A5. Reconheço e exprimo as minhas
emoções com naturalidade e sem
magoar os outros.

Afectivo - Auto-estima
A6. Assumo as minhas qualidades
e defeitos.

A7. Reconheço os meus erros e


procuro corrigi-los.

A8. Empenho-me em ultrapassar as


minhas dificuldades e melhorar tudo
o que tenho de bom.

Carácter - Autonomia
C1. Conheço e compreendo a Lei do
Escuta e os Princípios.

C2. Assumo as minhas opiniões,


participando activamente nas deci-
sões que me dizem respeito.

C3. Escolho e participo em activida-


des que me ajudam a crescer.

Carácter - Responsabilidade
C4. Desempenho o papel que me é
atribuído dentro dos grupos a que
pertenço com responsabilidade e
empenho.

C5. Não desanimo perante as


dificuldades e procuro sempre
aprender com elas.

C6. Prevejo as consequências que


as minhas acções/ decisões têm na
vida dos grupos de que faço parte.

350
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Exploradores

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Carácter - Coerência
C7. Defendo as ideias e comporta-
mentos que me parecem correctos.

C8. Demonstro que os meus com-


portamentos diários estão de acordo
com a Lei do Escuta e os Princípios.

Espiritual - Descoberta

E1. Conheço e compreendo a


história dos heróis que procuraram
alcançar a Terra Prometida, a partir
da Aliança.

E2. Conheço e percebo a men-


sagem contida nas parábolas e
milagres de Jesus Cristo.

E3. Descubro que somos


Igreja e que nela todos temos um
papel a desempenhar.

Espiritual - Aprofundamento
E4. Sei que me relaciono com Deus
sempre que faço oração pessoal e
participo na oração comunitária.

E5. Integro-me cada vez mais na mi-


nha comunidade paroquial, através
da catequese, celebrando os sacra-
mentos que a Igreja me propõe.

E6. Identifico as principais dife-


renças e semelhanças entre as
religiões.

Espiritual - Serviço
E7. Cuido e protejo a
Natureza, consciente de que isso é
importante para a vida das pessoas.

E8. Falo da minha vivência em


comunidade e convido outros a
participar.

351
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Exploradores

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Intelectual - Procura do conhecimento


I1. Procuro descobrir o mundo que
me rodeia, a partir das minhas
experiências.

I2. Conheço e utilizo diferentes


meios de recolha da informação.

I3. Descubro as minhas aptidões e


aprofundo os assuntos que me inte-
ressam e podem ser úteis no futuro.

Intelectual - Resolução de problemas


I4. Enfrento situações novas usando
o que aprendi.

I5. Consigo identificar, de forma


organizada, as causas de um pro-
blema e propor soluções.

Intelectual - Criatividade e Expressão


I6. Aceito desafios que me fazem
imaginar e criar coisas diferentes.

I7. Utilizo de modo criativo diferen-


tes formas de expressar ideias e
emoções.

Social - Exercer activamente cidadania


S1. Dou exemplo de cumprimento
das regras de boa convivência na
comunidade.

S2. Descubro a necessidade de


participar nos vários grupos onde
me integro.

S3. Cuido do que é de todos.

S4. Aceito as derrotas em todas


as situações, com respeito e sem
desanimar.

352
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Exploradores

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Social - Solidariedade e tolerância


S5. Sou sensível às situações de
necessidade no meio que me rodeia
e procuro ser útil na sua resolução.

S6. Sei manter um diálogo, apre-


sentando os meus argumentos com
entusiasmo e ouvindo os dos outros.

Social - Interacção e cooperação


S7. Reconheço as vantagens de
trabalhar em grupo e contribuo com
os meus conhecimentos e o meu
trabalho.

S8. Demonstro que sei orientar res-


peitando as opiniões dos outros.

353
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Físico - Desempenho
F1. Testo de forma responsável
os limites do meu corpo e pratico
actividades físicas que me permitem
conseguir um desenvolvimento
equilibrado.

Físico - Auto-conhecimento
F2. Aceito as características próprias
do meu corpo e respeito as diferen-
ças físicas entre as pessoas.

F3. Reconheço que homens e


mulheres têm características físicas
diferentes e respeito os comporta-
mentos e necessidades que vão
surgindo.

Físico - Bem-estar físico


F4. Faço escolhas saudáveis a nível
da minha alimentação, repouso e
actividades físicas.

F5. Tomo as medidas necessárias


para o meu bem-estar físico e ando
aprumado.

F6. Conheço os malefícios das


substâncias e comportamentos de
risco e evito-os.

354
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Afectivo - Relacionamento e sensibilidade


A1. Valorizo as minhas relações
afectivas e demonstro equilíbrio na
gestão de conflitos.

A2. Comprometo-me com o bem-


estar da minha família.

A3. Reconheço que existem


diversas sensibilidades estéticas e
partilho os meus gostos.

A4. Encaro com naturalidade a mi-


nha sexualidade e procuro integrá-la
harmoniosamente na minha vida,
respeitando-me a mim e aos outros.

Afectivo - Equilíbrio emocional


A5. Ajo de forma ponderada e
reflectida, respeitando os
sentimentos dos outros.

A6. Reconheço quando me excedo


e esforço-me por corrigir o meu
comportamento.

Afectivo - Auto-estima
A7. Reconheço as características da
minha personalidade.

A8. Reconheço que erro e com-


prometo-me a melhorar as minhas
características menos positivas.

A9. Aceito as minhas próprias


limitações, esforçando-me sempre
por melhorar.

A10. Conheço bem as minhas capa-


cidades e invisto no meu desenvol-
vimento.

355
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Carácter - Autonomia
C1. Escolho conscientemente as
minhas referências e valores
fundamentais.

C2. Sou capaz de fazer opções e de


reconhecer as suas implicações.

C3. Estabeleço para mim, com regu-


laridade, metas a atingir em várias
áreas da minha vida.

Carácter - Responsabilidade

C4. Correspondo à confiança que


em mim depositam.

C5. Reconheço a importância das


minhas tarefas, estabeleço
prioridades e respeito-as.

C6. Encaro os obstáculos sem


desistir de encontrar soluções ou
alternativas e reconhecendo as
lições a tirar.

C7. Assumo as minhas acções,


aceitando as consequências das
mesmas para mim ou para os
grupos a que pertenço.

Carácter - Coerência
C8. Partilho e defendo aquilo em
que acredito de forma serena e
fundamentada.

C9. Ajo, em cada dia, de acordo


com as convicções e referências
que vou tomando para mim, tendo
consciência do testemunho que dou
aos outros

356
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Espiritual - Descoberta
E1. Conheço e compreendo a vida
dos profetas.

E2. Conheço e percebo a vida de


Jesus com os Apóstolos.

E3. Reconheço que cada membro


da Igreja é diferente e que isso é im-
portante e enriquece a comunidade.

Espiritual - Aprofundamento
E4. Vivo a oração como parte do
meu quotidiano e participo nas
celebrações comunitárias.

E5. Conheço a perspectiva da Igreja


sobre os temas principais a partir da
fundamentação
Bíblica.

E6. Aprofundo as razões da minha


fé no contacto com as outras
religiões.

Espiritual - Serviço
E7. Defendo a vida humana como
um valor absoluto.

E8. Sei o que é ser “Sal da Terra e


Luz do Mundo”
e ponho-me ao serviço dos outros.

357
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Intelectual - Procura do conhecimento


I1. Procuro sempre aumentar os
meus conhecimentos, diversificando
as vivências.

I2. Sei onde procurar a informação


e selecciono-a de acordo com as
necessidades.

I3. Conheço as minhas aptidões,


sou capaz de optar por uma área
profissional ou de estudo e identi-
ficar outros domínios de interesse
pessoal.

Intelectual- Resolução de problemas


I4. Sei avaliar as experiências que
vivo e utilizo o que aprendo de
forma criativa nas novas situações
que enfrento.

I5. Analiso problemas, proponho so-


luções e escolho a mais adequada.

Intelectual- Criatividade e Expressão


I6. Assumo o desafio de criar ideias
e projectos inovadores em que
relaciono os meus conhecimentos
e gostos.

I7. Apresento ideias e emoções de


forma criativa, explorando diferentes
técnicas e meios e adequando-as a
quem me dirijo.

358
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Social - Exercer activamente cidadania


S1. Conheço os meus deveres e
direitos e promovo que, à minha
volta, os outros os conheçam.

S2. Participo activamente nas comu-


nidades em que me insiro, intervindo
na promoção de causas comuns.

S3. Quando perco uma votação,


aceito a decisão e trabalho nesse
sentido.

Social - Solidariedade e tolerância


S4. Identifico situações em que
posso ser útil na resolução ou mini-
mização de um problema social.

S5. Participo, sozinho ou em equipa,


na resolução ou minimização de um
problema social.

S6. Exponho as minhas ideias,


respeitando e valorizando as dos
outros.

Social - Interacção e cooperação


S7. Valorizo as diferentes funções
no grupo e desempenho o melhor
possível aquelas que me são
confiadas.

S8. Respeito as necessidades do


grupo, nunca sobrepondo a minha
liderança.

359
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Físico - Desempenho
F1. Praticar actividade física que
promova o desenvolvimento e
manutenção da agilidade, flexibilida-
de e destreza de forma adequada à
sua idade, capacidade e limitações.

Físico - Auto-conhecimento
F2. Conhecer e aceitar o desenvol-
vimento e amadurecimento do seu
corpo com naturalidade.

F3. Conhecer as características


fisiológicas do corpo masculino e
feminino e a sua relação com o
comportamento e necessidades
individuais.

Físico - Bem-estar físico


F4. Cultivar um estilo de vida saudá-
vel e equilibrado
– alimentação, actividade física e
repouso –, adaptado a cada fase do
seu desenvolvimento.
F5. Cuidar e valorizar o
seu corpo de acordo com os
padrões de saúde, revelando
aprumo.

F6. Identificar e evitar, na vida


quotidiana, os comportamentos de
risco relacionados com a segurança
física e consumo de substâncias.

360
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Afectivo - Relacionamento e sensibilidade


A1. Valorizar e demonstrar sensibi-
lidade nas suas relações afectivas,
de modo consequente com a opção
de vida assumida.

A2. Respeitar a existência de várias


sensibilidades estéticas
e artísticas, formando a sua opinião
com sentido crítico.

A3. Assumir a própria sexualidade


aceitando a complementaridade
Homem / Mulher
e vivê-la como expressão
responsável de amor.

Afectivo - Equilíbrio emocional


A4. Ser capaz de identificar, com-
preender e expressar as suas emo-
ções, tendo em conta o contexto e
os sentimentos dos outros.

Afectivo - Auto-estima
A5. Reconhecer e aceitar as ca-
racterísticas da sua personalidade,
mantendo uma atitude de aperfeiço-
amento constante.

A6. Valorizar as próprias capa-


cidades, superando limitações e
adoptando uma atitude positiva
perante a vida.

361
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Carácter - Autonomia
C1. Possuir e desenvolver um
quadro de valores que são fruto de
uma opção consciente.

C2. Ser capaz de formular e


construir as suas próprias opções,
assumindo-as com clareza.

C3. Mostrar-se responsável pelo


seu desenvolvimento, colocando a
si próprio objectivos de progressão
pessoal.

Carácter - Responsabilidade

C4. Demonstrar empenho e vontade


de agir, assumindo as suas respon-
sabilidades em todos os projectos
que enceta, estabelecendo priorida-
des e respeitando-as.

C5. Demonstrar perseverança nos


momentos de dificuldade, procuran-
do ultrapassá-los com optimismo.

C6. Ser consequente com as opções


que toma, assumindo a responsabili-
dade pelos seus actos.

Carácter - Coerência
F-C7. Ser consistente e convicto na
defesa das suas ideias e valores.

C8. Dar testemunho, agindo em


coerência com o seu sistema de
valores.

362
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Espiritual - Descoberta
E1. Conhecer e compreender o
modo como Deus se deu a conhecer
à humanidade, propondo-lhe um
Projecto de Felicidade Plena
[História da Salvação].

E2. Conhecer em profundidade a


mensagem e a proposta de Jesus
Cristo [Mistério
da Encarnação e Mistério
Pascal].

E3. Reconhecer que a pertença à


Igreja é um sinal de Deus no mundo
de hoje [Igreja Sacramento Univer-
sal de Salvação].

Espiritual - Aprofundamento
E4. Aprofundar os hábitos de oração
pessoal e assumir-se como membro
activo da
Igreja na celebração comunitária.

E5. Integrar na sua vida os valores


do Evangelho, vivendo as propostas
da Igreja.

E6. Conhecer as principais religiões


distinguindo e valorizando a identi-
dade da Igreja Católica.

Espiritual - Serviço
E7. Testemunhar que a presença
de Deus no mundo dignifica a vida
humana e a Natureza.

E8. Viver o compromisso


Cristão como missão no mundo em
todas as dimensões
[humanas, sociais, económicas,
culturais e políticas].

363
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Intelectual - Procura do conhecimento


I1. Procurar de forma activa e con-
tinuada novos saberes e vivências,
como forma de contribuir para o seu
crescimento pessoal.

I2. Conhecer e utilizar formas


adequadas de recolha e tratamento
de informação e, dentro dessas,
distinguir o essencial do acessório.

I3. Definir o seu itinerário de forma-


ção preocupando-se em mantê-lo
actualizado.

Intelectual- Resolução de problemas


I4. Adaptar-se e superar novas
situações, avaliando-as à luz de
experiências anteriores e conheci-
mentos adquiridos.

I5. Analisar os problemas de forma


crítica, sugerindo e aplicando estra-
tégias de resolução dos mesmos.

Intelectual- Criatividade e Expressão

I6. Ser capaz de utilizar conheci-


mentos, percepções e intuições na
criação de novas ideias e obras,
mantendo um espírito aberto e
inovador.

I7. Expressar ideias e emoções de


forma lógica e criativa, adaptada
ao[s] destinatário[s] e utilizando os
meios adequados.

364
Folha de apoio ao registo de conhecimentos,
competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Reconhecimento
Área/Trilho/Objectivo Conhecimento, Competência, Atitude pelo Conselho
de Guias

Social - Exercer activamente cidadania


S1. Conhecer e exercer os seus di-
reitos e deveres enquanto cidadão.

S2. Participar activa e consciente-


mente nos vários espaços sociais
onde se insere, intervindo de uma
forma informada, respeitadora e
construtiva.

S3. Respeitar as regras demo-


cráticas e assumir como suas as
decisões tomadas colectivamente.

Social - Solidariedade e tolerância


S4. Assumir que é parte da socie-
dade onde se insere, agindo numa
perspectiva de serviço libertador e
de construção de futuro.

S5. Usar de empatia na forma de


comunicar com os outros, demons-
trando tolerância e respeito perante
outros pontos de vista.

Social - Interacção e cooperação


S6. Mostrar capacidade de rela-
cionamento e trabalho em equipa,
contribuindo activamente para o
sucesso do colectivo através do
desempenho com competência do
seu papel.

S7. Assumir papéis de liderança,


de forma equilibrada, tendo em
conta as suas necessidades e as
do grupo.

365
manualdodirigente

Manuel Madeira

C.7 Relação Educativa

“Os princípios do escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplica-


ção depende do chefe e do modo como ele os aplica.”

in Auxiliar do Chefe Escuta, p44

C.7.0 O Adulto no Escutismo

O adulto é um elemento essencial de qualquer pedagogia ou metodologia educativa, pois


não há educação sem a sua presença.

Para se “funcionar educativamente, (…) é imprescindível que alguém


(…) se resigne a ser adulto”

in Fernando Savater, O Valor de Educar

No escutismo, o adulto é o garante da educação integral dos jovens da sua unidade; a


sua missão não é mais do que educar, e educar através da aplicação do método criado
por Baden-Powell, tendo em conta, no caso particular do Corpo Nacional de Escutas, o
Evangelho de Jesus Cristo.

Ser adulto no escutismo não pode resultar apenas do voluntarismo, nem ser encarado
como algo apenas acessível a alguns escolhidos. Deve, pelo contrário, resultar de um
encontro entre uma intenção voluntária do próprio e o cumprimento de requisitos estabe-
lecidos pela associação. Este encontro terá de se consubstanciar num compromisso que
envolve formação contínua ao longo do ciclo de vida na associação.
367
manualdodirigente

I. Perfil do Animador Adulto

O dirigente do CNE é um adulto que assumiu um compromisso pessoal e voluntário de


trabalhar na implementação e desenvolvimento da Proposta Educativa do CNE enquan-
to educador. Ao assumir este compromisso, assume-se uma missão de serviço com as
devidas implicações – em termos de responsabilidades e de deveres – daí resultantes.
Nestes termos, o adulto que adere ao CNE deverá, para além de ter idade, saúde e dis-
ponibilidade para desempenhar as suas responsabilidades:

CONHECIMENTOS COMPETÊNCIAS ATITUDES


(saber) (saber fazer) (saber ser)

Ter conhecimentos e Ser capaz de assumir Comprometer-se com a


qualificação adequados à responsabilidades educa- actualização contínua dos
função que tivas, observando a Lei e seus conhecimentos e
desempenha; os Princípios e aplicando investir na sua formação,
o método escutista e o manifestando uma atitude
Conhecer e identificar-se Projecto Educativo da intelectual aberta e pró-
com a Proposta Educa- secção em que trabalha; -activa;
tiva do CNE, dominando
o Projecto Educativo da Ser capaz de trabalhar Ser um exemplo para
secção em que trabalha; com os seus elementos, os outros, manifestando
motivando-os, jogando maturidade em espe-
Conhecer as com eles e ajudando-os a cial no que diz respeito
características do trabalhar em conjunto e a à rectidão de carácter,
desenvolvimento dos crescer com os erros; às relações sociais de
seus elementos e as género e interculturais, ao
suas particularidades Ter capacidades de desenvolvimento emo-
individuais, reconhecendo observação, diálogo, cional e ao trabalho em
as capacidades de cada liderança e animação; grupo;
um e o meio em que se
inserem; Garantir um ambiente Assumir-se como cristão
seguro e equilibrado, convicto, dando testemu-
Saber ler a realidade aplicando correctamente nho de fé e comprome-
do meio para adaptar a coeducação; tendo-se activamente na
com eficácia o método sua comunidade;
escutista; Gerir o seu grupo a nível
administrativo, financeiro Orientar, sem se im-
Conhecer técnicas de e logístico; por, pela sua postura e
diagnóstico, planeamento exemplo, minimizando os
e animação; Ser capaz de identificar e conflitos geracionais;
minimizar o risco associa-
Conhecer técnicas de do a cada actividade; Revelar bom senso e
avaliação e de gestão de alegria;
conflitos;
Mostrar respeito pela na-
tureza e gosto pela vida
ao ar livre;
368
manualdodirigente

II. Funções e formas de actuação

A missão do dirigente tem contornos definidos e procedimentos próprios, desdobrando-


­-se em tarefas específicas que têm por objectivo central EDUCAR. Assim sendo, consti-
tuem funções do Dirigente:

PLANEAR

Organizar a unidade, garantindo o bom funcionamento de todos os elementos do
método e a sua ligação à realidade local;

Garantir o equilíbrio na organização e composição da unidade, especialmente
nos momentos de entrada e saída de elementos.

ANIMAR

Lançar desafios de desenvolvimento da unidade, promovendo a integração na


comunidade e a autonomia pessoal;

Dotar os guias de competências e espaço para o exercício pleno da sua activi-


dade, remetendo-se para um papel supervisor e de auxílio.

MOTIVAR

Estimular a iniciativa e o desenvolvimento das capacidades pessoais de cada


jovem, fomentando uma cultura de progressão e superação pessoal e ajudando
a potenciar talentos e a gerir limitações;

Sugerir vias de exploração e de busca de soluções, ensinando a ultrapassar


erros e falhanços e promovendo, de forma autêntica e não manipulativa, o entu-
siasmo e a perseverança.

GERAR COMPROMISSOS

Incentivar a autonomia na tomada de decisões, promovendo a análise das op-


ções existentes e a consistência das decisões;

Assumir os seus compromissos, sendo exemplo, e ajudar os seus elementos a


fazê-lo.

369
manualdodirigente

Estas atribuições concretizam-se através das seguintes formas de actuação:

ESTABELECER UMA RELAÇÃO EDUCATIVA

Conhecer as características gerais dos jovens da faixa etária da secção onde


presta serviço e cada elemento em particular, dando espaço e tempo ao ritmo
pessoal de cada um;

Ser capaz de observar e reagir serena e ponderadamente, manifestando abertu-


ra à partilha, ao diálogo e à aprendizagem.

SABER IMPLEMENTAR E AVALIAR ACTIVIDADES

Saber analisar e organizar actividades e promover a avaliação das mesmas,


orientando os elementos para a autonomia e a responsabilidade;

Ter abertura à aprendizagem e formação contínuas, seja por vias formais [cursos,
seminários, …] ou informais [experiência, interacção, pesquisa pessoal, …].

ESTAR ENVOLVIDO NA COMUNIDADE

Estar integrado na sua comunidade, participando nela de forma activa e com-


prometida;

Aceitar e promover a partilha de tarefas e resultados, valorizando as diferenças,
capacidades e respeito democrático;

Demonstrar disponibilidade para corresponder às exigências da sua função.

CONPREENDER E CONTROLAR O RISCO

Antecipar situações de risco, minimizando as possibilidades de dano físico e/ou


psíquico;

Estabelecer limiares de risco, habilitando-se, ou providenciando técnicos h abili-
tados e com os conhecimentos adequados.

De uma forma resumida, estas atribuições e formas de actuação do dirigente podem ser
esquematizadas, como um “8”, em que o “educar” – o seu papel, a sua vocação e missão
– se perspectiva quer do ponto de vista das suas funções – “o quê…” – como das suas
formas de actuação – “como”.
370
manualdodirigente

371
manualdodirigente

C.7.1 Interacção Educativa

“O Educador, porque é o herói dos seus rapazes, tem uma poderosa


alavanca para o seu desenvolvimento, mas ao mesmo tempo pesa so-
bre ele uma grande responsabilidade. Os rapazes estão sempre pron-
tos a apanhar as menores manifestações da sua maneira de ser, sejam
elas virtudes ou defeitos. O seu estilo torna-se o deles; a afabilidade ou
a irritação, a alegria sorridente ou o seu entusiasmo impaciente, o domí-
nio da vontade sobre si próprio ou as suas esporádicas falhas à moral,
não são simplesmente notadas, são copiadas pelos seus discípulos.”

“O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio


'exemplo pessoal' do Chefe Escuta.”

Baden-Powell, «Le Guide», citado in Pela Educação à Liberdade, p.36

I.1 Importância do exemplo

Um dos pilares fundamentais do método é a relação educativa, ou seja, a relação de pro-


ximidade afectiva e pedagógica que se estabelece entre dirigente (o adulto) e elementos
(as crianças ou jovens). Por esta razão, é absolutamente fundamental que o dirigente
compreenda o papel de modelo que assume para os seus escuteiros.

De facto, em qualquer relação adulto/jovem, a tendência é que o comportamento do


adulto influencie, pela positiva ou pela negativa, o comportamento dos jovens. Assim
sendo, a postura perante a vida e a sociedade, a maneira como age e lida com os as-
suntos ou a personalidade que revela são tudo elementos comportamentais observados
e registados, com minúcia e perspicácia, pelos mais novos.

A este nível, o escutismo não é diferente e é fundamental que o dirigente compreenda


que é sempre olhado como um exemplo, e que, por isso, influencia muito os seus ele-
mentos. Para o fazer de maneira positiva, deve modelar o seu comportamento de forma
correcta (de acordo com os valores escutistas) e tendo em conta a idade e maturidade
dos elementos da secção com quem interage.

I.2 O Estilo de animação

Para que a influência positiva se registe não basta que o dirigente tenha um comporta-
mento exemplar. É também necessário que conheça os seus elementos, que crie com
eles relações de proximidade e afinidade, para que consiga perceber quais as áreas
onde a sua influência pode ser mais positiva. Interessa, assim, ser amigo, o 'irmão mais
velho' que observa e ajuda.
372
manualdodirigente

Neste sentido, a forma como cada dirigente interage com os jovens, isto é, o seu estilo de
animação, revela-se um assunto importante no âmbito a interacção educativa, na medida
em que há um estilo de animação próprio na relação escutista que se estabelece entre
o adulto e os seus elementos. Este estilo de animação é o democrático ou participativo:
através dele, o dirigente deixa aos seus elementos o máximo de espaço para imaginar,
decidir, planear, concretizar, avaliar e celebrar (facultando-lhes o ambiente necessário
para que possam viver e jogar o jogo escutista), evitando ser autoritário, directivo ou
super--protector. Na realidade, uma estrutura rígida e pré-determinada e uma atitude
dirigista impossibilitam que os escuteiros exerçam a sua liberdade e desenvolvam a sua
autonomia – o jogo escutista não é, assim, possível.

Note-se, porém, que o contrário também não é positivo. De facto, o dirigente não pode
dar aos seus elementos todo o espaço, pois a falta de enquadramento e de referências
impede igualmente o jogo, que não pode existir sem regras. Assim sendo, o estilo de-
mocrático não representa nem implica assim, para o dirigente, qualquer demissão da
sua dimensão adulta e educativa: o dirigente não é o amigalhaço do escuteiro, o amigo
da sua idade. É, sim, o seu amigo adulto, que sabe misturar-se com ele, mas nunca se
confunde no seu papel de educador.

Pretende-se, então, que o dirigente garanta aos seus elementos um espaço de liberdade
e iniciativa, mas onde exista um enquadramento e as regras sejam estabelecidas, conhe-
cidas e respeitadas por todos. De facto, só um espaço com todas estas características
permite jogar o jogo escutista.

I.3 A Promoção da autonomia

Isto não significa, contudo, que toda a acção esteja concentrada no dirigente. Na rea-
lidade, no escutismo, pretende-se que a acção pedagógica esteja centrada no próprio
escuteiro, que é chamado a ser protagonista do seu auto-desenvolvimento. Neste sen-
tido, e embora o dirigente seja chamado a liderar e a assegurar um ambiente seguro,
sadio e harmonioso, baseado nos ideais e valores do escutismo, a sua intervenção deve
ir diminuindo à medida que a idade e maturidade dos elementos aumenta. De facto, se
a finalidade do escutismo é que o escuteiro desenvolva a sua autonomia, o papel do
dirigente não pode ser senão o da promoção dessa autonomia, que se deve reforçar ao
longo do percurso educativo do jovem através das secções.

373
manualdodirigente

Note-se que, dependendo da secção, há maior ou menor necessidade de 'espaço', mais


ou menos graus de liberdade, formas diferentes de companheirismo e de partilha de
cumplicidades. Contudo, em todas as secções é fundamental a permanência e a sensa-
ção de presença do dirigente, que transmite segurança, que está presente sempre que é
preciso e para o que é preciso, que caminha com os seus elementos nos momentos bons
(incentivando) e maus (orientando).

Isto não significa, porém, que a ausência não seja, também ela, pedagógica. De facto,
se a presença do adulto é fundamental no escutismo, a ausência também o pode ser,
na medida em que assim se dá espaço aos elementos para que possam crescer e de-
senvolver a sua autonomia. Todavia, estas ausências – mesmo físicas, não apenas das
reuniões, mas também das próprias actividades – que devem estar de acordo com a
idade e maturidade dos elementos: se com os lobitos pode ser o jogo de pista vigiado à
distância, com os exploradores já são etapas do raid; nos pioneiros alarga-se o âmbito
da autonomia e nos caminheiros pode até – se assim for considerado adequado – haver
uma total ausência (mas não desconhecimento ou falta de informação) do dirigente, por
exemplo. Estas ausências não se assumem, assim, como um vazio, mas possuem uma
intencionalidade pedagógica.

II. A animação da vida da Unidade

Ao animar as actividades, o dirigente deve enriquecê-las pedagogicamente, não esque-


cendo que elas devem ser adequadas às idades dos elementos (a nível de esforço,
exigência e apreensão, avaliação e gestão do risco, por exemplo). Com isto, procura-
­-se a satisfação dos escuteiros e o seu desenvolvimento. Note-se que as actividades
escutistas são um meio e não um fim em si mesmo. O fim é o auto-desenvolvimento do
escuteiro e a sua identificação com os valores próprios do escutismo. Isto consegue-se
através da vivência de actividades pedagogicamente consistentes e ricas, que se atin-
gem através de várias acções:
374
manualdodirigente

Neste âmbito, há que não esquecer que é necessário cuidar, em todas as iniciativas e
actividades, do bem-estar físico, psicológico e anímico dos elementos, devendo o olhar
atento do dirigente recair sobre aspectos como a higiene, a alimentação, o descanso ou
a saúde. Para além disto, deve zelar para que sejam cumpridas as normas de segurança
legais ou em vigor na associação e excluídos comportamentos e opções que acarretam
riscos inrrazoáveis e/ou não devidamente acautelados. Note-se que, em termos de res-
ponsabilidade jurídica, os jovens se encontram confiados aos adultos que os acompa-
nham e que são responsáveis por tudo o que acontece. Compete-lhes, assim, a perma-
nente avaliação e gestão do risco, tendo em consideração que a segurança adequada
de uma actividade não pode implicar negligência facilitista nem deve permitir excessos
de zelo que impeçam a concretização do que foi projectado.

375
manualdodirigente

Dentro da animação da vida da Unidade, assume ainda especial destaque a Animação


da Fé, através da qual se deve promover um ambiente de convivência e partilha, de mo-
mentos de descoberta e contemplação, de oportunidades de formação e de caridade, de
vivência eucarística e sacramental e de oração. Tudo isto, de uma forma escutista, inte-
grada no processo educativo, num prisma de desenvolvimento pessoal e num ambiente
de vivência comunitária.

A animação da fé assenta numa responsabilidade pessoal tripartida: por um lado, temos


o assistente, a quem cumpre ser o guia; por outro, temos o jovem, aquele que, à justa
medida da sua idade e maturidade, participa, procura, explora, e se compromete. Entre
eles, está o dirigente, a quem cumpre ser aquele que procura chegar ao coração de cada
elemento, convidando-os a caminhar lado a lado consigo. Mas, para que tal aconteça,
ele tem de procurar – ele próprio – crescer na fé, zelando pela sua formação, pela vivên-
cia pessoal da Eucaristia e Sacramentos, pela acção caritativa e pela oração. Só assim
há testemunho autêntico de vida cristã, que é a mais pedagógica das ferramentas ao
serviço do dirigente do CNE enquanto animador da fé.

376
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C.7.1.1. A Interacção Educativa na Alcateia

No caso da 1ª secção, o envolvimento dos lobitos nas suas actividades está limitado
pelo desenvolvimento físico e psicológico que eles possuem. De facto, por muito que o
dirigente gostasse de dar aos Bandos autonomia e responsabilidade, nem sempre isto é
praticável, dado que as crianças ainda não conseguem, em muitos casos, valer-se a si
mesmas. Assim sendo, nesta secção a intervenção do dirigente assume-se de especial
importância e são dele, sempre, a palavra e responsabilidade últimas. Esta é a secção
onde esta intervenção é mais notória.

Nota-se claramente, pela análise do quadro da página 373, que o espaço de autonomia
e a liberdade concedida aos lobitos não é muito grande. De facto, numa Alcateia, o en-
volvimento e participação dos lobitos na organização de uma actividade é, naturalmente,
limitado. O risco é ser nulo, o que desvirtuaria por completo o espírito do lobitismo. Por
isso, cumpre ao dirigente criar espaço para que o envolvimento possa ter lugar, estimular
a que a participação aconteça e torná-la fonte de desenvolvimento pessoal.

Assim sendo, nesta secção, a participação na escolha das caçadas, no desenvolvimento


da mística da secção, na elaboração de imaginários e na planificação e concretização
das actividades, bem como a colaboração em tarefas e a assunção de responsabilidades
nas actividades e na vida em campo são oportunidades excelentes para o desenvolvi-
mento de competências em termos de iniciativa, análise, escolha, autonomia e respon-
sabilidade.

Note-se contudo que, embora devam participar, na medida do possível, na preparação,


organização e desenvolvimento das actividades, os lobitos necessitam de sentir constan-
temente a presença do dirigente, que transmite segurança e controla os movimentos da
Unidade a todos os níveis. De facto, compete-lhe prestar atenção particular não apenas
à organização das actividades, mas também ao bem-estar – higiene, alimentação, des-
canso, saúde, entre outros – dos lobitos, em função da maturidade e fraca autonomia
destes. Contudo, não deve adoptar uma postura super-protectora que infantilize, deven-
do demonstrar, sim, uma postura que incentive à progressiva autonomia.

Por outro lado, e porque a segurança é algo de que o lobito nem sempre tem noção, cabe
ao dirigente velar pela mesma, ensinando-o a tomar atenção e a precaver riscos. Vencer
medos e inseguranças, próprios da idade ou associados à infantilidade, é um desafio
para o lobito e para o dirigente e deve ser encarado sem aventureirismos, insensibilidade
ou pieguice.

Isto não significa, contudo, que não possam existir alguns momentos de ausência peda-
gógica. No entanto, esta ausência é muito limitada. No caso da Alcateia, pode ser o jogo
de pista, um raid ou uma reunião de Bando vigiados à distância (há sempre presença do
dirigente, mas ele pode não intervir, mantendo-se à distância).

377
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C.7.1.2 A Interacção Educativa na Expedição

Tal como em todos os aspectos da vivência escutista, o envolvimento dos exploradores


nas suas actividades é crucial no sentido da respectiva formação pessoal em termos de
autonomia e responsabilidade. No entanto, esta participação deve ocorrer de acordo
com o desenvolvimento dos elementos, sendo que é do dirigente a palavra e responsa-
bilidade últimas.

Sabemos que a intervenção do dirigente deve ir diminuindo à medida que a idade e ma-
turidade dos elementos aumenta. É o que se mostra no quadro da página 373.

No caso dos exploradores, nota-se claramente que há um equilíbrio entre a intervenção


do dirigente e a autonomia dos elementos. De facto, nesta secção o 'espaço' reservado
aos escuteiros e o grau de liberdade que lhes é dado são maiores do que acontece na
Alcateia e vai acompanhando a idade e maturidade desta secção.

Note-se, contudo, que é muito importante a permanência e presença do dirigente que,


neste momento, ainda tem um papel preponderante a nível da transmissão da segurança
e da organização da secção e das actividades. No entanto, este papel é mais de super-
visão e controlo atentos do que de comando: pretende-se que, na Expedição, os Guias
já actuem como braços direitos do dirigente, ajudando-o a conduzir a secção em todas
as actividades.

Ao dirigente compete ensinar cada um deles a chefiar de forma eficaz e organizada a sua
Patrulha (local, por excelência, de idealização, escolha e planeamento de actividades),
zelando pelo cumprimento da Lei do Escuta. De facto, na Expedição a Patrulha deve
ser estimulada e orientada a ser o viveiro da autonomia dos exploradores e a fonte das
actividades que estes começam a idealizar, a escolher, a planear.

O dirigente assume aqui um papel de estímulo à iniciativa, ao alargamento de horizontes


e à subida progressiva da fasquia; um papel de orientação nos processos de escolha e de
planeamento (seja ensinando metodologias, seja alertando para oportunidades, lacunas
e riscos); um papel de facilitador de recursos, mormente na fase de enriquecimento das
actividades; um papel de crítico construtivo e pedagógico, que fomenta e complementa
a avaliação proporcionando vias de aperfeiçoamento pessoal e colectivo; um papel de
motivador para a vivência da fé nas diversas actividades da secção.

Os Conselhos de Guias ou de Expedição são os espaços próprios – por excelência –


para o dirigente exercer este seu papel de formação para autonomia pelo envolvimento e
crescente autonomia dos exploradores na organização das actividades.

Para além disso, compete ao dirigente supervisionar todas as actividades, no sentido de


verificar a correcta vivência dos valores escutistas e a sua organização e segurança de
tudo o que se faz. A este nível, o Conselho de Guias, bem como o Conselho de Expedi-
ção, voltam a ser os locais próprios para o dirigente ir introduzindo a temática do risco e
378
manualdodirigente

da segurança nas actividades, promovendo sempre uma reflexão, fornecendo elementos


de análise e auxiliando na procura de soluções.

Já a Patrulha, enquanto comunidade, é o grupo onde as soluções em termos de bem-­


-estar, designadamente em termos de higiene e alimentação, devem ser pensadas pelos
exploradores, com a supervisão discreta, mas orientadora, do dirigente. Note-se, a este
nível, que a faixa etária das exploradoras é um período de profundas alterações associa-
das à puberdade, como a menarca, cuja manifestação pode trazer perturbações à dispo-
sição e ao bem-estar com que se vive a vida em campo, momentos em que ao dirigente
se exige compreensão, aconselhamento e orientação. Nestas situações específicas, a
relação de confiança, em especial com as dirigentes do sexo feminino, enquanto 'irmãs
mais velhas', é extremamente importante e reconfortante para as exploradoras.

A ausência pedagógica, neste âmbito, passa por permitir que as Patrulhas desenvolvam
de forma autónoma algumas das suas actividades, sem que haja intervenção ou controlo
directo da chefia. É por isso que algumas etapas de raids ou uma actividade de angaria-
ção de fundos podem ser feitas sem que os dirigentes acompanhem a Patrulha em todos
os momentos.
Jamborre da Madeira

379
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C.7.1.3 A Interacção Educativa na Comunidade

Uma das características do Método Escutista é o envolvimento dos pioneiros nas acti-
vidades que desenvolvem. Este envolvimento é fundamental e imprescindível para que
haja um correcto desenvolvimento a nível da autonomia e da responsabilidade do pionei-
ro. É importante ter também em conta que esta participação, como em tudo o que diz res-
peito à vida da Unidade, deve ser feita de acordo com o estádio de desenvolvimento e de
autonomia dos elementos. Neste domínio, o dirigente deve assumir as suas responsabi-
lidades e ter noção de que tem, sempre, a última palavra em tudo o que é organizado.

Com isto não queremos dizer que cabe ao dirigente organizar tudo e colocar o pioneiro
numa posição de mero utilizador. Ao pioneiro tem de ser reconhecida autonomia e, de fac-
to, ela deverá estar num nível considerável, como observamos no quadro da página 373.

Pela análise do quadro, nota-se claramente que a vida de uma Comunidade, onde os
pioneiros interagem e as Equipas funcionam como pequenas estruturas, é marcada por
uma forte autonomia. O 'espaço de actuação' dos pioneiros e o grau de liberdade que
lhes é concedido são bastante alargados. Ao pioneiro cabe reconhecer isso e correspon-
der com uma contribuição activa, empenhada e permanente no planeamento, organiza-
ção e na concretização de todas as actividades da Unidade.

Para que isto se verifique, a intervenção do dirigente nas actividades é menor do que
nas secções anteriores e deve progressivamente focalizar-se não na organização e pla-
neamento das actividades, mas sim no seu enriquecimento, na análise e discussão dos
métodos de planeamento, dos métodos de organização e de avaliação que são usados
pelos elementos.

Ser dirigente não é ser Guia

O papel do dirigente numa comunidade de pioneiros não se confunde com o do


Guia, que coordena a Equipa, ou com o de qualquer outro elemento da Equipa. Ao
dirigente não cabe gerir as actividades da Equipa ou organizá-las. Se o dirigente
ocupar o lugar do Guia, a Equipa não pode funcionar e o método escutista está
posto em causa, uma vez que assenta na co-responsabilização dos escuteiros
nas suas próprias actividades. A ideia “se eu não fizer, eles também não fazem”
não ajuda ao crescimento dos pioneiros, antes pelo contrário.

Da mesma forma se põe em causa o método escutista se os pioneiros forem


meros utilizadores de uma actividade, que “compraram” ao pagar o preço da ins-
crição, fornecida pelos dirigentes que fizeram tudo.

O dirigente não está na Comunidade para organizar ou planear actividades, se-


jam elas de grande ou pequena envergadura. Ao dirigente cabe, então, contribuir
para o enriquecimento das actividades escolhidas pela Comunidade e fornecer
ferramentas aos pioneiros que ajudem na sua tarefa de organização e avaliação
das actividades.
380
manualdodirigente

Boas práticas:

- Auto-avaliação constante

Perguntar: “Até que ponto a minha acção na organização das actividades não está a anular o Guia?” Esta
deve ser uma pergunta que o dirigente deve fazer permanentemente no âmbito das reuniões e avalia-
ções da equipa de animação. Só uma auto-avaliação honesta pode levar ao crescimento.

- Dirigente formador tem de ser formando

Ao dirigente cumpre estimular o aparecimento e desenvolvimento de ideias e promover a participação


e iniciativa de todos. Esse é um gesto pedagógico importante e característico de um dirigente. Para
além disso, deve fomentar novas formas de planeamento e organização, despertar a atenção para
aperfeiçoamentos organizacionais e logísticos, colaborar no enriquecimento técnico das actividades
e orientar na avaliação e prevenção dos riscos, provocando posteriormente a avaliação. Mas, para fazer
tudo isto, o dirigente deve procurar permanentemente novas formas de o fazer, preocupar-se em
procurar conhecer boas práticas noutros agrupamentos e aproveitar sistemas de promoção de avalia-
ção que encontrou ao longo da sua experiência escutista. Por fim, pode envolver-se na organização de
actividades de núcleo, regionais e nacionais também como forma de aprender coisas novas para levar para
a sua Comunidade.

Para além disto, o escutismo, pelas suas actividades, é uma espécie de micro-sociedade
– uma vez que pode apresentar-se como uma sociedade em miniatura – na qual os
jovens podem experimentar, construir com arrojo, intervir, transformar em segurança e
testar as suas capacidades e talentos que vão levar para a vida fora, protegidos das
consequências do fracasso no mundo real. O escutismo é, portanto, ambiente seguro
para arriscar.

Esta segurança é garantida pelo dirigente, que deve manter-se alerta para os riscos das
actividades escutistas que são desenvolvidas pela Comunidade e também para os riscos
a que os pioneiros estão expostos na sua vida quotidiana de adolescentes e jovens. Ao
dirigente cumpre, ainda, ajudar os pioneiros a reflectir sobre a temática do risco e da
segurança nas actividades e nas suas próprias vidas.

O pioneiro, em plena adolescência – fase de descoberta e afirmação pessoal – pode


revelar, a nível do seu bem-estar psicológico e anímico, problemas relacionais, de auto-
-estima, de afirmação entre os pares e de integração social, que o podem induzir a co-
locar em risco a sua segurança e bem-estar. Esta é também a fase – tantas vezes como
factor de afirmação pessoal – de iniciação ao consumo de álcool e de tabaco, bem como
de desenvolvimento e amadurecimento da expressão da sua afectividade e sexualidade.
Um olhar atento, uma conversa oportuna, o testemunho pessoal por parte do dirigente
têm um papel importante, quer no despiste precoce deste tipo de perturbações, quer na
sua correcção ou resolução, quando manifestas.
381
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Ser dirigente não é ser nem o general nem o amigalhaço

O dirigente tem de ser sensível à necessidade de ‘dar’ mais ou menos espaço,


mais ou menos liberdade, à Comunidade e aos pioneiros, sabendo gerir formas
diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. É importante que a
sua presença transmita segurança e seja garante de que “ele está lá sempre que
for preciso e para o que for preciso”. É fundamental que o pioneiro veja no chefe
alguém que caminha com ele nos bons momentos (incentivando) e nos maus
momentos (orientando).

Interessa que o dirigente seja amigo e não ‘general’, aquele que ordena ou que
é respeitado pelo temor. Mas o dirigente amigo não se confunde com o amigo da
escola, com o amigalhaço: ao ser amigo, tem de saber misturar-se com os jovens,
sem nunca se deixar confundir com eles, e não se demite da sua qualidade de
adulto e de educador. O dirigente é, assim, um amigo adulto que tem consciência
de que o equilíbrio é a chave de ouro na relação educativa escutista entre jovens
e adultos.

Boas práticas:

- Valorizar os Conselhos de Guias e de Comunidade

O Conselho de Guias, bem como o Conselho de Comunidade, são momentos privilegiados para que a presen-
ça efectiva e eficaz do dirigente, como garante da segurança e de proximidade, se faça notar. Estes
Conselhos devem ser ocasiões de partilha, onde a colaboração e orientação do dirigente é fundamental
para chamar a atenção, fornecer elementos de análise, formar e auxiliar na procura de soluções, analisar
a presença ou ausência de responsabilidade perante compromissos e valores escutistas e cristãos.

- Conhecer os escuteiros

Pode parecer uma frase feita, mas o dirigente deve conhecer os seus escuteiros para além do que são
relações formais entre educador e educando. Se o pioneiro joga futebol, faz sentido que o dirigente
lhe vá perguntando como está a correr o campeonato. Se o pioneiro está envolvido num grupo de teatro
ou numa banda de música, não custa ir perguntando quando é o próximo espectáculo e, eventualmente,
até ir assistir. Perguntar aos pioneiros o que sugerem para compra de um presente a um familiar da sua
idade mostra vontade de proximidade, mostra respeito e valorização pela sua opinião.

382
manualdodirigente

Ausência pedagógica?

Sabemos que o método escutista educa para a Paz, para a liberdade e para a responsa-
bilidade, que é crescente porque é conquistada e retribuída com mais liberdade. De fac-
to, no ambiente educativo escutista, um aumento de liberdade pressupõe igual aumento
de responsabilidade, pessoal e de grupo.

É esta responsabilidade que deve ser ensinada e pedida aos pioneiros em momentos de
ausência pedagógica do dirigente (num raide ou outra actividade exterior, por exemplo,
as Equipas podem ir sem acompanhamento de um adulto).

Vimos já que o papel do dirigente não é o de Guia e que uma Equipa deve funcionar
autonomamente sob a liderança do Guia e numa cooperação de responsabilidades e
vantagens da parte de todos os elementos da Equipa. Assim, ao dirigente não cabe estar
em todos os momentos com os pioneiros, que precisam de espaço para interagir como
Equipa – com sucessos e fracassos, avanços e recuos, são eles que vão fortalecer a
Equipa. O dirigente deve ter a preocupação de não intervir e de, por vezes, não estar
presente para que os jovens possam crescer. A isso se chama ausência pedagógica e
ela ajuda a crescer nos raides, numa actividade exterior, mas também nas reuniões se-
manais no abrigo, ou nas tarefas quotidianas da Equipa.

Assim sendo, não é negligência ou displicência: é, antes, uma oportunidade pedagógica


de crescimento em segurança. Esta ausência é muitas vezes entendida pelos pioneiros
como um voto de confiança. Pode ser visto desta maneira, não pode é deixar de mo-
tivar o dirigente a procurar saber se tudo correu bem durante essa ausência. De facto,
convém sublinhar que ausência não é sinónimo de desconhecimento: como responsável
pela Unidade, em termos educativos e de responsabilidade civil, o dirigente deve estar
sempre a par do que sucede a todos os níveis, para evitar problemas futuros.

Boas práticas:

- Experimentar a ausência pedagógica

É uma boa prática experimentar, de vez em quando, qual é a reacção dos pioneiros se em vez de encon-
trarem o chefe num local combinado, encontrarem uma mensagem com uma tarefa. Como se organizam
para cumprir essa tarefa.

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C.7.1.4 A Interacção Educativa no Clã

O envolvimento dos caminheiros na idealização, preparação, organização e participação


nas actividades é um dado adquirido em termos do projecto educativo desta secção. De
facto, como jovens adultos que são, é de supor que possuam já autonomia e responsa-
bilidade suficientes para conseguirem pôr em prática aquilo que idealizaram. É por essa
razão que o dirigente, nesta secção, assume mais um lugar de auxiliar, sempre atento e
responsável, do que o de chefe directivo. Isso implica que o seu envolvimento prático nas
actividades é baixo, como observamos no quadro da página 373.

Assim sendo, o que se pretende é que exista, por ser característica fundamental de um
Clã, uma autonomia acompanhada: os caminheiros – jovens adultos – interagem e
vivem comunitariamente em Tribos independentes, competindo ao dirigente acompanhá-
­-las, através da supervisão do trabalho autónomo em que se envolvem. Para além disto,
o cerne da intervenção do dirigente nas caminhadas do Clã implica o aperfeiçoamento de
técnicas de planeamento, organização e avaliação, o aconselhamento experiente, o en-
riquecimento técnico das actividades, a orientação na prevenção de riscos e o estímulo
à participação, à iniciativa e à transformação de sonhos em projectos, não esquecendo a
valorização dos valores escutistas e cristãos.

Para além disto, uma quase autonomia na avaliação e na precaução do risco é o que
se espera que caracterize os caminheiros, pelo que o dirigente deve ter aqui um papel
subsidiário, embora não possa estar alheio a estes assuntos. Assim, compete-lhe estar
atento para poder, se necessário, recordar, habilitar, orientar ou intervir.

Por fim, caso se note que o Clã possui já uma autonomia madura e responsável, pode até
considerar-se adequado que o dirigente não esteja presente num hike ou num acampa-
mento de Tribo. Note-se, contudo, que isto não implica ignorância ou falta de conhe-
cimento acerca do que sucede nessas actividades. Estas ausências nunca podem
assumir-se como um vazio (vão sozinhos porque sim), mas devem ter sempre subjacente
uma intencionalidade pedagógica (vão sozinhos porque se pretende que consigam ou
atinjam algo).

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C.7.2. – A Coeducação

O que é a Coeducação?

A coeducação é a educação que considera a heterogeneidade. Embora no início, quando


se começou a falar de coeducação apenas se considerasse as diferenças de género,
hoje em dia, a coeducação contempla outro tipo de heterogeneidade: idade, nível sócio-
­-económico, condição física, cultura, entre outros. Assim, podemos considerar a coedu-
cação como a educação em conjunto de indivíduos distintos.

Para que haja desenvolvimento e para que este seja equilibrado, o processo educativo
deve visar a heterogeneidade e o contacto com a diferença, sendo que na diversidade se
encontra não a desigualdade mas sim a verdadeira riqueza do mundo.

A prática da coeducação promove a complementaridade, a integração, a inclusão e a


não discriminação servindo de alicerce a uma nova sociedade baseada na interacção,
cooperação e respeito mútuo.

A coeducação tem em atenção o escuteiro em si e o modo deste se relacionar com os


outros, porque promover a igualdade de oportunidades não é dar o mesmo a todos indi-
ferenciadamente, mas sim dar a cada um o que lhe faz falta.

Numa sociedade habituada a acentuar diferenças sem as tentar compreender, o Escu-


tismo tem o papel importante de esclarecer essas diferenças e de, através delas, criar
novas competências que enriquecem o escuteiro individualmente e, em consequência,
contribuem para uma nova sociedade com valores globais e não globalizantes.

Todas as crianças e jovens têm necessidades individuais e é ao encontro delas que o


Escutismo deve ir.

As unidades devem ser coeducativas desde os escuteiros que a compõem até às Equi-
pas de Animação. Devem estar preparadas para trabalhar a diversidade seja ela ao nível
do género, da cultura, da forma física ou outra, proporcionando educação com vista à
construção de uma sociedade mais multicultural e tolerante.

Assim, na integração dos elementos não devemos esquecer alguns aspectos:


Grau de desenvolvimento dos rapazes e das raparigas;
Idade física e idade psicológica;
Estrato social - Sinais exteriores que possam criar mau estar, acanhamento, pro-
blemas de ordem económica, entre outros;
Centros de interesse
O seu Bando/Patrulha/Equipa de origem e para onde vai - os amigos, as ligações
afectivas, etc.;
Casos particulares – Deficiências físicas ou outras, traumas, etnia, etc.

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manualdodirigente

Em casos em que se verifiquem algumas destas situações, é imprescindível o diálogo


entre os dirigentes das secções intervenientes e, se necessário for, a análise em reunião
de direcção. Fundamental será a preparação prévia da integração dos jovens nas sec-
ções.
De igual modo, revela-se de especial importância, nestes casos, a Coeducação, que o
CNE promove.
Manuel Joaquim

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C.7.2.1 Escutismo Inclusivo

I. Introdução

Actualmente, tem vindo a registar-se um aumento de crianças e jovens com Necessida-


des Educativas Especiais (NEE) no CNE, por um lado porque se enquadram na missão
escutista e, por outro, porque a evolução do conceito de inclusão pretende que a mesma
se estenda não só à escola, mas também às estruturas da comunidade. O CNE, enquan-
to maior movimento de educação não formal de jovens a nível nacional, não poderá ficar
de fora do paradigma actual de Inclusão, sendo sua obrigação fazer todos os possíveis
por ser um meio promotor do desenvolvimento pessoal e social destas crianças e jovens,
reconhecendo que uma criança ou um jovem com NEE é, antes de mais, uma pessoa
com características, interesses, necessidades e gostos próprios.

II. Enquadramento histórico das NEE

Hoje em dia as NEE são encaradas de uma perspectiva inclusiva mas nem sempre foi
assim: há cerca de 50 anos estas crianças/jovens ficavam em casa com familiares ou
eram institucionalizadas em escolas de ensino especial sem que houvesse qualquer
posição legal que os enquadrasse.

Actualmente, existem leis e documentos oficiais, como a Convenção dos Direitos do


Homem e da Criança, que não só enquadram socialmente estas crianças/jovens como
prevêem a sua inclusão na sociedade. Por exemplo, em Portugal a Lei prevê que estas
crianças e jovens estejam incluídos na escola regular durante todo o período de ensino
obrigatório, tendo o estado o dever e a obrigação de criar todas as condições para os
receber e promover o seu desenvolvimento e bem-estar.

Os Estados Partes reconhecem à criança mental e fisicamente deficien-


te o direito a uma vida plena e decente em condições que garantam a
sua dignidade, favoreçam a sua autonomia e facilitem a sua participa-
ção activa na vida da comunidade.

In Convenção Mundial dos Direitos das Crianças; Artigo 23, ponto 1

O conceito de inclusão tem vindo a evoluir no sentido de nos tornar conscientes das
diferenças entre os seres humanos e da necessidade de promover o desenvolvimento e
bem-estar das pessoas com deficiência ou quaisquer condições especiais, dando-lhes o
direito à igualdade de oportunidades e de participação activa na sociedade.

387
manualdodirigente

III. NEE na Missão Escutista

O CNE, enquanto associação educativa, não se pode apartar dos paradigmas actuais de
inclusão, sendo necessário um grande esforço para fazer acompanhar a evolução social
e educativa a este nível.

Na verdade, a preocupação com estas questões vem desde a origem do Movimento.


Baden-Powell há 100 anos atrás já se preocupava com esta questão, dando-nos a indi-
cação de que o escutismo é para todos:

Graças ao Escutismo há inúmeros jovens aleijados, tais como surdos,


mudos, cegos e coxos, que adquirem agora mais saúde, felicidade e
esperança, do que jamais tiveram. (…) O Escutismo auxilia-os asso-
ciando-os a uma fraternidade à escala mundial, dando-lhes alguma
coisa a fazer e a esperar, e facultando-lhes a ocasião de provarem a si
mesmos, e aos outros, que são capazes de fazer coisas – e até coisas
difíceis – só por si.”
Baden-Powell

Em termos formais existem dois documentos que nos dão indicação de como agir com
crianças e jovens com NEE: a Conferência Mundial do Escutismo de Paris (1990) e o Re-
gulamento Geral do CNE. Entre outras coisas, chamam-nos a atenção para o seguinte:

É importante sublinhar que o termo “escutismo com deficientes” é utili-


zado em vez de “escutismo para deficientes” com o intuito de chamar
à atenção que os jovens com necessidades especiais devem ser os
principais agentes do seu próprio desenvolvimento e que o movimento
deve garanti-lo – como para os outros jovens – proporcionando-lhes
oportunidades para o seu desenvolvimento e participação.
In Conferência Mundial do Escutismo, Paris, 1990

O CNE, integrado no Movimento Escutista, tem por finalidade a educa-


ção integral dos jovens, contribuindo para o desenvolvimento do seu
carácter e ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às
suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais, afectivas e espirituais,
como pessoas, cristãos e cidadãos responsáveis e membros das comu-
nidades onde se inserem.
In Artigo 2º, ponto 2 do RG do CNE

Estas são as linhas que nos permitem afirmar que o escutismo é para todos e, nesse
sentido, a inclusão de crianças e jovens com NEE é um dever que o CNE deve cumprir
com responsabilidade e bom senso.
388
manualdodirigente

IV. Classificação das NEE

Entende-se que uma criança/ jovem tem Necessidades Educativas Especiais (NEE)
quando, comparativamente com os seus pares, apresenta dificuldades significativamen-
te maiores para aprender ou manifesta algum problema de ordem física, sensorial, inte-
lectual, emocional ou social, ou uma combinação destas problemáticas, a que os meios
educativos existentes não conseguem responder, sendo necessário recorrer a adapta-
ções de recursos ou a condições de aprendizagem adaptadas. Estas dificuldades podem
manifestar-se temporária ou permanentemente.

Embora tenhamos consciência de que cada caso é um caso e nada pode ser visto de
forma taxativa, importa conhecer os tipos de NEE que podem surgir assim como conhe-
cer a sua classificação.

V. Admissão de crianças/jovens com NEE no agrupamento

Muitas vezes, conscientes de que o escutismo é para todos, forçamo-nos a aceitar crian-
ças e jovens com NEE sem fazermos uma análise dos nossos recursos, correndo o risco
de seguir numa direcção oposta à inclusão.

Desta forma, a decisão de admitir uma criança/jovem com NEE cabe à direcção do agru-
pamento, mais do que ao chefe de unidade, uma vez que é a direcção do agrupamento
que pode e deve responsabilizar-se pelo percurso escutista desse elemento até à data
da sua partida; por isso a admissão de uma criança/jovem com NEE deve ser pondera-
da tendo em conta os recursos humanos e físicos existentes no agrupamento a curto e
médio prazo.

Assim, antes de tomar uma decisão é um importante que a direcção do agrupamento


tenha em conta o seguinte:

Preparação dos adultos para receber estas crianças.


Condições físicas da sede (por exemplo para o caso de necessidade de utiliza-
ção de cadeiras de rodas).
Rácio crianças/adulto (deve haver mais adultos por criança em casos de maior
dependência como por exemplo deficiências motoras, mentais e perturbações do
espectro do autismo);
Previsão do crescimento do efectivo, incluindo os recursos adultos.
Número de crianças com necessidades educativas já incluídas no agrupamento
(10% do máximo do efectivo para casos com pouca autonomia em cada secção);

Caso não reúna o mínimo de condições para receber uma criança/jovem com NEE, a
direcção do agrupamento não deve aceitar a sua inscrição. No entanto não deve deixar
de encaminhar a família para outro agrupamento mais próximo que reúna condições,
fazendo contacto prévio com o mesmo.
.
389
manualdodirigente

VI. Princípio da inclusão no escutismo

Antes de mais, importa salientar que a ideia da inclusão no escutismo assenta em cinco
princípios básicos:

1. É bom sermos todos diferentes;


2. Todos temos os mesmos direitos e os mesmos deveres;
3. Todos temos um papel e uma função no grupo e na sociedade;
4. O Escutismo é um método de educação não formal e não um método terapêu-
tico.;
5. A inclusão não pode ser feita a qualquer preço, devendo acautelar-se a correcta
integração do elemento com NEE no grupo e preparar o grupo para essa inte-
gração.

Para que haja um verdadeiro processo de inclusão no escutismo, importa não esquecer
que antes de nos centrarmos na criança/jovem com NEE temos de aceitar a diferença
como parte de nós mesmos, seguindo a premissa de que “somos todos diferentes”.
Isto significa que incluir implica muito mais que apenas ter um elemento com NEE no
agrupamento. De facto, implica:

Conhecê-lo
Aceitá-lo
Fazê-lo participante activo na vida do grupo
Ajudá-lo a ser o principal agente do seu desenvolvimento

Importa dizer que incluir crianças com NEE não significa centrar a animação nelas (es-
quecendo as outras), mas sim criar estratégias que permitam a participação de todos
sem excepção, mediante as capacidades de cada um. No fundo, pretende-se que haja,
em todo o processo de inclusão, um equilíbrio justo que permita que todos cresçam
harmoniosamente.

Neste processo, o Chefe de Unidade tem um papel preponderante na medida em que


deve acompanhar de perto o elemento com NEE e contribuir para o seu desenvolvimen-
to. Para isso tem que passar por diversas etapas de trabalho, sendo o principal agente
da inclusão através da aplicação do método escutista e do envolvimento de todos os
elementos da secção e de toda a Equipa de Animação (EA).

Inclusão de Aspirantes

Quando se recebe na Alcateia/Expedição/Comunidade/Clã um aspirante com NEE, o


Chefe de Unidade, em conjunto com a sua EA deve preocupar-se em primeiro lugar em
conhecer o novo elemento em quatro vertentes:

Contacto com pais ou prestadores de cuidados
Estudo do diagnóstico médico
Contacto com técnicos especializados que trabalhem com a criança (caso haja
necessidade)
Observação directa do elemento no contexto escutista.
390
manualdodirigente

Com todos estes passos, pretende-se que o Chefe de Unidade fique a conhecer generi-
camente as características do diagnóstico do elemento e especificamente as caracterís-
ticas individuais da criança/jovem, tendo em conta áreas importantes como a autonomia,
particularidades do comportamento, cuidados específicos a ter, medicação a tomar e
efeitos da mesma, etc.

Inclusão de Noviços

Quando se admite na Expedição/Comunidade/Clã um noviço com NEE, há que ter em


conta alguns procedimentos:

Recolher informações acerca do noviço junto do anterior Chefe de Unidade –


como foi o seu processo de inclusão, tipo de participação nas actividades, etc.
Recolher informações acerca do noviço junto dos pais e prestadores de cuida-
dos
Recolher outras informações, caso haja necessidade

A recolha destas informações é fundamental para o sucesso da inclusão, no sentido em


que ajudarão a EA a vários níveis, nomeadamente:

Escolha do Bando/Patrulha/Equipa/Tribo
Atribuição de cargos
Distribuição de funções e tarefas
Gestão da EA
Adaptação do espaço do covil/base/abrigo/albergue, se necessário
Adaptação do sistema de progresso

Tão desafiante quanto aceitar um elemento com NEE é preparar o grupo para a sua
inclusão. Neste sentido, os escuteiros devem ser ajudados a tomar consciência de si pró-
prios e das diferenças entre todos. Também é importante que experimentem as dificulda-
des de pessoas com necessidades especiais, de modo a que o grupo aceite a diferença
de forma positiva e reconheça os talentos de uns e de outros. Só assim se derrubam
barreiras e preconceitos - sem a aceitação de todos não é possível incluir!

O método escutista, pela forma como possibilita trabalhar com crianças e jovens, permite
por si só a inclusão de crianças/jovens com NEE, sendo fulcral, para estes elementos, a
delineação de objectivos ao longo de todo o seu percurso escutista (exactamente como
deve acontecer para os restantes elementos). Para isso, é necessário que os dirigentes,
adultos responsáveis e pares ultrapassem as barreiras impostas pelo preconceito e acre-
ditem que estes elementos não só têm lugar no escutismo, como também têm talentos
que importa aprofundar e desenvolver através da sua participação activa no agrupamen-
to e na comunidade em que se inserem.

Em suma, os objectivos/propósitos para o dirigente são exactamente os mesmos que no


trabalho com qualquer outra criança ou jovem escuteiro. A grande diferença reside no
facto de ser necessária, por parte do dirigente e de toda a equipa, uma maior disponibi-
391
manualdodirigente

lidade interior para aceitar este desafio que poderá ou não ser maior que com qualquer
outra criança ou jovem. É necessário estar atento, disponível e alerta… em suma, ser

A coisa mais admirável em tais rapazes é a sua boa disposição e o seu


anseio de realizar no Escutismo tanto quanto lhes seja possível fazer.
De provas e tratamentos especiais não desejam mais do que o absolu-
tamente necessário.”

Baden-Powell

verdadeiramente o irmão mais velho.


Bibliografia:
Basta passar a ponte, Edições CNE

Existem alguns sites institucionais que podem ajudar na recolha de mais informação acerca deste assunto:

Instituto Nacional para a Reabilitação: http://www.inr.pt/ (através deste site podem não nó recolher diversas informações, como pedir

livros sobre diversas temáticas ligadas a este assunto gratuitamente)

Portal do cidadão Deficiente: http://www.pcd.pt/

Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal: http://www.acapo.pt/

Associação Portuguesa para as perturbações do desenvolvimento e autismo: http://www.appda-lisboa.org.pt/

Fenacerci: http://www.fenacerci.pt/

Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21: http://www.appt21.org.pt

Associação Portuguesa de Surdos: http://www.apsurdos.pt/

Fundação Liga: http://www.fundacaoliga.com/

Raríssimas: http://www.rarissimas.pt/
Maria Helena Andersen

392
manualdodirigente

C.7.2.1.1 Escutismo Inclusivo na Alcateia

“Não há partilha de passatempos a não ser quando nos divertimos


todos juntos.”

Henry Bissonnier

A chegada de uma criança com Necessidades Educativas Especiais (NEE) à Alcateia al-
tera sempre a sua dinâmica, na medida em que é necessário ter em conta uma realidade
diferente e que exige uma atenção particular por parte dos dirigentes. Contudo, o ideal é
que, depois da fase inicial de adaptação da criança com NEE, a dinâmica do grupo volte
ao que seria de se esperar.

I. Preparar a Alcateia para a inclusão

Para que o processo ocorra de forma tranquila e eficaz, há um primeiro passo a dar:
assumir que o respeito pelas características de cada um é o ponto de partida para a
aceitação da diferença.

Aceitar a diferença implica reconhecer que todos somos diferentes, temos pontos fortes
e fracos e somos melhores numas coisas e piores noutras. Para tal, é necessário que os
lobitos sejam ajudados a tomar consciência das suas capacidades e limitações, de modo
a que cada um possa reconhecer e assumir um papel importante no bando e na Alcateia,
sendo igualmente capaz de aceitar o papel dos outros, mesmo que tenham característi-
cas individuais diferentes.

Assim é importante que os lobitos aprendam que, este novo elemento é uma criança
como eles, que quer ser escuteira e que devem ajudá-la sem a protegerem em demasia
ou a porem de lado nas brincadeiras.

Deste modo, há algumas estratégias que os dirigentes podem utilizar.

393
manualdodirigente

Boas práticas:

Utilizar histórias bem conhecidas das crianças para trabalhar o tema da diferença de uma forma posi-
tiva em caçadas ou jogos.

A primeira será a de Máugli, que é marcadamente uma história sobre a diferença: o Menino-Lobo é, no fim
de contas, diferente dos lobos – move-se e alimenta-se de maneira distinta – e os Lobitos conseguirão
(num jogo, por exemplo) nomear estas diferenças e explicar como Máugli podia fazer coisas que os ou-
tros não conseguiam e era, por isso, importante para a Alcateia.
Happy Feet, a história de Mumble, um pinguim que gostava de dançar;
O Pequeno Nemo, que tinha uma barbatana maior que outra e que quis provar que nadava tão bem como
os outros peixes;
Ratatui, ratinho que, em vez de comer do lixo como os outros ratos, quis ser cozinheiro.

Elaborar ateliers de descoberta de características individuais que podem incluir a construção de uma
galeria de fotografias com os elementos da Alcateia (com fotografias, desenhos e descrição das par-
ticularidades e qualidades de cada lobito) ou o desenho das silhuetas dos lobitos em papel cenário (pe-
dindo a um lobito que identifique o lobito que foi desenhado) para mostrar que, no fundo, as diferenças
entre as pessoas são mínimas. Posteriormente, os lobitos podem decorar a sua própria silhueta ou as
dos outros lobitos, fazendo-se depois uma exposição de silhuetas.

II. Papel do Chefe de Unidade

O papel do Aquelá é fundamental no processo de Inclusão, sendo que este é o principal


responsável por acompanhar o elemento com NEE no seu percurso na Alcateia. Contu-
do, e apesar de na Alcateia os adultos serem os principais agentes da inclusão e também
os elementos mais próximos destes lobitos, deve ter-se em atenção que não deve existir
uma atitude de proteccionismo ao ponto de impedir o lobito de viver o que é fundamental
no escutismo - crescer em pequeno grupo, com os seus pares. Vejamos então como agir
atendendo a algumas particularidades do método escutista.

Sistema de Patrulhas
A escolha do Bando em que se vai incluir o lobito com NEE é possivelmente o passo mais
importante a dar e por isso deve ser bem ponderado tendo em conta diversos factores:

A liderança: o Guia do Bando deve ter perfil para ter um elemento diferente no
Bando.
Os elementos mais velhos do Bando devem ser elementos responsáveis que
ajudem o lobito com NEE sem o superprotegerem.
394
manualdodirigente

A idade dos elementos do Bando, no sentido de garantir que o lobito com NEE
possa acompanhar pelo menos um elemento do Bando aquando a passagem de
secção.

Para participar activamente na vida de Bando, o lobito com NEE deve ter um cargo para
o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo. Assim, no caso de crianças com
deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com menos
responsabilidade, mas que seja importante para o Bando. No caso de uma criança com
deficiência motora, devem adaptar-se os meios necessários de modo a permitir ao lobito
desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for secretário.

O Chefe de Unidade tem um papel preponderante na escolha do cargo e na atribuição


de tarefas ao lobito com NEE, sendo imprescindível um conhecimento mais profundo
das capacidades da criança e das tecnologias de apoio que costuma utilizar na sua vida
quotidiana e que lhe permitem a execução de diversas tarefas. É importante não esque-
cer que o elemento deve estar envolvido na vida do Bando e que é essencial motivar o
Bando para a aceitação das limitações do lobito com NEE, assim como para aprender a
respeitar o seu ritmo, sem que se deixe de lhe atribuir tarefas e funções.

O papel do Guia de Bando é para este elemento igual ao que desempenha para os ou-
tros elementos, não devendo ser dada responsabilidade adicional específica em relação
ao lobito com NEE. Contudo deve ser sensibilizado para as dificuldades do seu elemento
e ajudado a lidar com a diferença dentro do Bando. De facto existem momentos em que
o Bando fica sozinho e é importante que o Guia esteja consciente do que deve fazer em
algumas situações, nomeadamente chamar um adulto quando necessário.

Sistema de Progresso
O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o lobito com
NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes.

Antes de mais, é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o lobito
não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existem défices cognitivos.
Neste caso, não podemos recorrer ao facilitismo de atribuir insígnias de progresso só
porque o elemento está lá e ia ficar triste se não as recebesse como os outros. Para me-
recer fazer a Promessa, e receber as suas etapas de progresso é importante que o lobito,
independentemente das suas dificuldades, sinta que a sua conquista dependeu do seu
esforço e aprendizagem. É de lembrar que também isto é uma forma de discriminação
pois não estamos a dar as mesmas oportunidades que damos aos outros.

Assim, para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada
objectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da criança com NEE,
ajudando-a a evoluir de acordo com as suas potencialidades.

No caso de lobitos com défices cognitivos ou outros problemas que não lhes permita
escolher etapas ou delinear acções concretas, deve ser a EA a fazê-lo, tendo em conta
as características, potencialidades, necessidades e gostos do lobito.
395
manualdodirigente

As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm


de uma participação activa na vida do grupo.

Método de Projecto
Os lobitos com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases da caçada a
par dos seus companheiros do Bando, com a salvaguarda de que as tarefas que lhes
sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades. Mais uma vez todo este processo
depende da intervenção directa do Chefe de Unidade no apoio ao Bando e de um conhe-
cimento aprofundado do elemento e das tecnologias que o podem apoiar na execução
das suas tarefas.

Participação em Actividades
Para decidir qual o nível de participação de um lobito com NEE em determinadas activi-
dades importa conhecer quais os seus limites e que tecnologias o podem apoiar nessa
participação, tal como já foi referido.

O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não
deve ser a primeira opção para lobitos com NEE, a menos que essa actividade ponha
a sua integridade física em causa. Assim, antes de se decidir a não participação de um
lobito numa actividade devem esgotar-se todas as possibilidades, sendo que a EA deve
fazer um esforço adicional, devidamente apoiado por técnicos e familiares, para tornar
possível a participação da criança nas actividades, mesmo que o façam parcialmente.
Por exemplo, não temos que deixar um lobito numa cadeira de rodas fora de uma esta-
feta só porque não pode correr, alguém pode empurrar a sua cadeira de rodas a correr e
o lobito transportar o testemunho, ou então se puder conduzir a sua própria cadeira deve
poder participar sozinho não caindo no erro de a sua participação não contar porque
atrasa o grupo. Também pode fazer parte das regras do jogo que um elemento da equipa
adversária também faça o percurso na cadeira de rodas conduzindo-a, aqui impera o
bom senso e é fundamental o trabalho com a Alcateia para que esta se torne verdadei-
ramente inclusiva.

Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante consi-


derar alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de organização
da participação do elemento, devendo o Chefe de Unidade informar das características
do lobito, assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, como por
exemplo, o acesso a casas de banho adaptadas, para lobitos em cadeira de rodas ou
com mobilidade reduzida. Mesmo que o lobito não possa participar em pleno em todas as
actividades, não deve por isso ser deixado em casa visto este tipo de actividades terem
outras componentes extremamente importantes, tais como a socialização com lobitos de
outras Alcateias, tendo em conta que na impossibilidade de participação total nas activi-
dades previstas, o lobito deve ter outras actividades para ocupar o tempo livre.

Passagem para a II secção


Na passagem para a II secção é importante ter em conta alguns aspectos:
O lobito deve acompanhar o seu grupo de referência mesmo que intelectualmente possa
estar abaixo dos restantes elementos.
396
manualdodirigente

É aconselhável que passe para a EA da Expedição um elemento da EA da Alcateia que


sirva de referência ao lobito e à nova EA. Neste caso não é imperativo que seja o Chefe
de Unidade, basta que seja um adulto próximo da criança e que conheça bem as suas
necessidades.

O Chefe de Unidade deve transmitir exaustivamente toda a informação que tem acerca
do lobito para o novo Chefe de Unidade, podendo mesmo fazê-lo com a presença dos
pais ou prestadores de cuidados de forma a facilitar este processo.
António Laranjeira

397
manualdodirigente

C.7.2.1.2 Escutismo Inclusivo na Expedição

No caso dos exploradores, o nível de autonomia das Patrulhas permite que haja um
maior envolvimento dos elementos da Patrulha na inclusão de um elemento com NEE,
não sendo necessária uma intervenção tão directa por parte dos adultos, como se veri-
fica na Alcateia.

Neste caso os adultos têm um papel activo de orientação e supervisão da Patrulha, no


sentido de a orientar e ajudar no seu papel de inclusão, não devendo passar a responsa-
bilidade para os exploradores sem uma supervisão muito próxima

I. Preparar a Expedição para a inclusão

O processo de inclusão não passa apenas por fazer diligências em relação ao elemento
com NEE, sendo necessário preparar o grupo para a inclusão.

O primeiro passo é aceitar a diferença o que implica reconhecer que todos somos dife-
rentes, todos temos talentos e dificuldades. Assim, é necessário que os exploradores
sejam ajudados a tomar consciência das suas capacidades e limitações assumindo que
têm um papel importante na Patrulha e na Expedição e que o mesmo acontece com os
outros.
Tiago Pereira

398
manualdodirigente

Boas práticas:

A vivência de imaginários relacionados com a diferença contribui para a sensibilização dos exploradores
em relação a esta temática. Existem várias histórias de heróis bem familiares dos exploradores e que
fazem parte dos seus imaginários quotidianos que podem ser utilizadas; tais como:
O Demolidor (Dare Devil) que é cego;
O Homem-Aranha que é muito desajeitado e tímido;
O Harry Potter um jovem feiticeiro que foi criado por Muggles e que foi marcado em criança pelo ter-
rível Voldemort;
As aventuras de Asterix, em que Obelix é o único Gaulês que não precisa de tomar a poção mágica por ter
caído no caldeirão quando era pequeno.

Também nas actividades há a possibilidade de ensinar aos exploradores o valor da diferença. Eis alguns
exemplos de jogos que podemos utilizar neste âmbito:
- jogos de mímica, que permitem a exploração de diferentes formas de comunicar e aprender que não
é necessário falar para transmitir mensagens.
- jogos de auto-conhecimento que permitam aos exploradores compreender que são todos diferentes
e cada um tem talentos e dificuldades.
- Gincanas com algumas nuances que podem depois ser aproveitadas para reflexão, tais como: os olhos
vendados, tentar reconhecer os objectos pelo seu cheiro (sem os tocar); fazer percursos de obstá-
culos e com os olhos vendados e seguindo instruções verbais; fazer percursos com os dois pés amarrados
e o auxílio de canadianas ou cadeiras de rodas, etc.

II. Papel do Chefe de Unidade

O papel do Chefe de Unidade é fundamental no processo de inclusão, sendo que este


é o principal responsável por acompanhar o elemento com NEE no seu percurso na
Expedição. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades do método
escutista

Sistema de Patrulhas
A escolha da Patrulha em que se vai incluir o explorador com NEE deve ser feita tendo
em consideração alguns aspectos importantes:

No caso dos noviços haver pelo menos um elemento de referência do ano ante-
rior, preferencialmente que tenha sido do mesmo Bando.
A liderança: o Guia deve ter perfil para ter um elemento diferente na Patrulha
Os elementos mais velhos da Patrulha devem ser elementos responsáveis que
ajudem o explorador com NEE sem o superprotegerem.

399
manualdodirigente

A idade dos elementos da Patrulha, no sentido de garantir que o explorador com


NEE possa acompanhar pelo menos um elemento da Patrulha aquando a pas-
sagem de secção.

Para participar activamente na vida da Patrulha, o explorador com NEE deve ter um
cargo para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo. Assim, no caso de
crianças com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo
com menos responsabilidade, mas que seja importante para a Patrulha. No caso de uma
criança com deficiência motora, devem adaptar-se os meios necessários no sentido de
modo permitir ao explorador desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no com-
putador se for secretário.

No caso dos exploradores, o Chefe de Unidade deve assumir um papel de auxílio e


orientação ao Guia e da Patrulha, no sentido de os ajudar a seleccionar o cargo e a dis-
tribuir tarefas e funções para o elemento com NEE, assim como fazê-las cumprir. Para
isso é imprescindível um conhecimento mais profundo das capacidades da criança e das
tecnologias de apoio que costuma utilizar na sua vida quotidiana e que lhe permitem a
execução de diversas tarefas. É importante não esquecer que o elemento deve estar
envolvido na vida da Patrulha sendo para isso necessário que o Chefe de Unidade e EA
façam uma supervisão muito próxima da Patrulha.

É também essencial não pôr a responsabilidade num só elemento da equipa, por exem-
plo no caso de crianças menos autónomas, pois essa tarefa torna-se cansativa para o
elemento que fica responsável e limita do círculo social do elemento com NEE.

Sistema de progresso
O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o explorador
com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes.

Antes de mais, é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o ex-
plorador não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existe um défice
cognitivo.

Não devemos recorrer ao facilitismo e atribuir insígnias de progresso só porque o ele-


mento está lá ou porque iria ficar triste se não as recebesse como os outros. Para mere-
cer fazer promessa, e receber as suas etapas de progresso é importante que o explora-
dor, independentemente das suas dificuldades, sinta que a sua conquista dependeu do
seu esforço e aprendizagem.

Assim, para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada
objectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da criança com NEE,
ajudando-a a evoluir de acordo com as suas potencialidades.

No caso de explorador com défice cognitivo ou outros problemas que não lhe permita es-
colher etapas ou delinear acções concretas, deve ser a EA em conjunto com o Conselho
400
manualdodirigente

de Guias a fazê-lo, tendo em conta as características, potencialidades, necessidades e


gostos do explorador.

As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm


de uma participação activa na vida do grupo.

Método de Projecto
Os exploradores com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases da
Aventura a par dos seus companheiros de Patrulha, com a salvaguarda de que as tarefas
que lhes sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades. Mais uma vez todo este
processo depende da intervenção directa do Chefe de Unidade no apoio à Patrulha e de
um conhecimento aprofundado do elemento e das tecnologias que o podem apoiar na
execução das suas tarefas.

Participação em Actividades
Para decidir qual o nível de participação de um explorador com NEE em determinadas
actividades importa conhecer quais os seus limites e que tecnologias o podem apoiar
nessa participação, como já referido.

O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não
deve ser a primeira opção para exploradores com NEE, a menos que essa actividade po-
nha a sua integridade física em causa. Assim, antes de se decidir a não participação de
um explorador numa actividade devem esgotar-se todas as possibilidades, sendo que a
EA deve fazer um esforço adicional, devidamente apoiado por técnicos e familiares, para
tornar possível a participação da criança nas actividades, mesmo que o façam parcial-
mente. Por exemplo, não temos que deixar um explorador numa cadeira de rodas fora de
uma estafeta só porque não pode correr, alguém pode empurrar a sua cadeira de rodas a
correr e o explorador transportar o testemunho, ou então se puder conduzir a sua própria
cadeira deve poder participar sozinho não caindo no erro de a sua participação não con-
tar porque atrasa o grupo. Também pode fazer parte das regras do jogo que um elemento
da equipa adversária também faça o percurso na cadeira de rodas conduzindo-a, aqui
impera o bom senso e é fundamental o trabalho com a Expedição para que esta se torne
verdadeiramente inclusiva.

Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante consi-


derar alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de organização
da participação do elemento, devendo o Chefe de Unidade informar das características
do explorador, assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, por
exemplo acesso a casas de banho adaptadas para o caso de um explorador em cadeira
de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o explorador não possa participar em
pleno em todas as actividades, não deve por isso ser deixado em casa visto este tipo de
actividades terem outras componentes extremamente importantes tais como a sociali-
zação com exploradores de outras Expedição, não esquecendo que na impossibilidade
de participação plena deve ser tida em conta a ocupação do explorador com algumas
tarefas úteis durante o tempo livre.

401
manualdodirigente

Quando numa actividade específica da Patrulha se verifique que não existem condições
para este elemento participar em condições de segurança, a Patrulha deve ser desafia-
da a encontrar para este seu elemento uma forma de participação alternativa em que,
sendo útil ao desenvolvimento da actividade, não ponha em risco a sua integridade e a
dos outros. Damos como exemplo um raid individual, em que se atravessarão algumas
barreiras - riacho, subir pequena montanha; um elemento cujos problemas de saúde o
impeçam de fazer grandes esforços, poderá, por exemplo ser o elo de ligação a meio do
percurso, controlar as partidas ou chegadas… é necessário utilizar a imaginação para
encontrar tarefas úteis.

Passagem para a IIIª secção


Na passagem para a IIIª secção é importante ter em conta alguns aspectos:

O explorador deve acompanhar o seu grupo de referência mesmo que intelectu-


almente possa estar abaixo dos restantes elementos.
É aconselhável que passe para a EA da Comunidade um elemento da EA da
Expedição que sirva de referência ao explorador e à nova EA. Neste caso não é
imperativo que seja o Chefe de Unidade, basta que seja um adulto próximo da
criança e que conheça bem as suas necessidades.
O Chefe de Unidade deve passar exaustivamente toda a informação que tem
acerca do explorador para o novo Chefe de Unidade, podendo mesmo fazê-lo
com a presença dos pais ou prestadores de cuidados de forma a facilitar este
processo.
António Laranjeira

402
manualdodirigente

C.7.2.1.3 Escutismo Inclusivo na Comunidade

“O Escutismo auxilia-os associando-os a uma fraternidade à escala


mundial, dando-lhes alguma coisa a fazer e a esperar, e facultando-
lhes a ocasião de provarem a si mesmo, e aos outros, que são capa-
zes de fazer coisas – e até coisas difíceis – só por si.”

Baden-Powell

Apesar de os pioneiros serem bastante autónomos, o Chefe de Unidade terá que prepa-
rar todo o processo de inclusão antes de o implementar junto dos pioneiros.

Nos pioneiros, o nível de autonomia das equipas é elevado, sendo que a inclusão de
um adolescente com NEE depende, na sua maior parte, do envolvimento dos elementos
da Equipa e do Guia. Ressalve-se, contudo, a importância do apoio do dirigente, que,
apesar do papel de retaguarda que já assume nesta secção, tem de estar bem presente
e vigilante no auxílio que deve prestar aos Guias ao nível da sua responsabilidade para
com os elementos com NEE.

O papel do dirigente, nesta problemática, não é fácil nem simples. De facto, aqui, e mais
do em qualquer outro domínio, o dirigente tem um papel de tutoria e de supervisão,
devendo monitorizar a inclusão dos elementos com NEE na vivência da Equipa e da
Comunidade. Esta monitorização não implica necessariamente um acompanhamento
directo e presencial, mas envolve vigilância e conhecimento constante de tudo o que é
feito e do modo como interagem os pioneiros entre si, e o pioneiro com NEE com o resto
da comunidade.

É de salientar que a admissão de jovem com deficit cognitivo severo na III secção, cons-
titui um desafio maior, pois ao chegar à Comunidade este jovem confronta-se com jovens
mais maduros em termos do seu desenvolvimento, gerando uma décalage que importa
vencer; claro que esta diferença de maturidade também existe no caso dos noviços con-
tudo o noviço já criou laços afectivos, que facilitam a inclusão.

Atendendo à faixa etária da III secção há algumas questões inerentes ao desenvolvimen-


to dos jovens com e sem NEE que importa salientar. Uma delas é o facto de estas idades
serem mais propícias ao surgimento de quadros depressivos e perturbações do foro
psicológico, como por exemplo, as perturbações alimentares. O Chefe de Comunidade
e a sua EA devem estar minimamente informados (ou, devem ter alguma informação)
acerca destas problemáticas de forma a poderem estar atentos aos sinais que possam
eventualmente surgir, sendo importante não os desvalorizar.

403
manualdodirigente

Outra questão que merece referência é o desenvolvimento psíquico e emocional dos


jovens com NEE. É comum nestas idades os jovens com NEE, mais especificamente
os que têm algum tipo de deficiência como por exemplo ambliopia ou cegueira, surdez,
deficiência motora, entre outros, sofrerem alguns distúrbios de personalidade, o que os
pode levar à não aceitação da sua deficiência ou ao isolamento social.

É de notar que os comportamentos que surgem associados a estes distúrbios podem


colocar o jovem em risco, como por exemplo um cego deixar de utilizar a sua bengala, ou
um deficiente motor querer realizar actividades que comportem para ele riscos acresci-
dos, que os outros jovens também fazem. É preciso estar atento e reforçar a auto-estima
destes jovens sendo preponderante contar com a ajuda dos pares.

Outro dos aspectos para o qual o dirigente deverá estar atento é o desenvolvimento
sexual nos jovens com NEE, principalmente nos jovens com deficiência mental ou per-
turbações do espectro do autismo. O desenvolvimento hormonal e sexual acentuado é
característico dos jovens na faixa etária dos pioneiros, contudo alertamos para o facto
de este desenvolvimento poder ser desadequado nos jovens acima referidos, uma vez
que na maioria dos casos não têm noção de intimidade e é comum não saberem res-
peitar a intimidade e o corpo dos outros. É muito importante que os pioneiros estejam
conscientes desta ausência de limites, de forma a poderem lidar com ela, podendo assim
defenderem-se e ajudar o jovem com NEE a adequar o seu comportamento.

Uma abordagem correcta desta questão com os pioneiros é essencial para evitar com-
portamentos abusivos de parte a parte.

I. Preparar a Comunidade para a inclusão

O processo de inclusão não passa apenas por fazer diligências em relação ao elemento
com NEE, há que preparar o grupo para receber e incluir elementos com NEE.

É importante criar actividades que ajudem a Comunidade dos pioneiros a perceber e


aceitar a diferença, o que implica reconhecer que todos somos diferentes, todos temos
talentos e dificuldades. Para isto é importante que os pioneiros sejam ajudados a tomar
consciência das suas capacidades e limitações assumindo que têm um papel importante
na Equipa e na Comunidade e que o mesmo acontece com os outros.

404
manualdodirigente

Boas práticas:

São exemplos de actividades de sensibilização:

- Jogos de auto-conhecimento: descrição e exploração de característica pessoais, física e de perso-


nalidade, seguidas de reflexões sobre o valor da diferença;

- Jogos de exploração das capacidades físicas ou da ausência das mesmas (visão, audição, fala, obser-
vação, uso de mãos e pernas perante obstáculos, etc.), para reflexão e consciencialização sobre as
barreiras sociais impostas às pessoas com Necessidades Especiais;

- Actividades de visita/entrevista a pessoas com deficiência/handicaps;

- Actividades de exploração espacial (análise de condições de acesso a edifícios, apoio a deficientes


em organismos públicos, etc.) para reflexão sobre a solidariedade social e a responsabilização individual
a esse nível.

- A visita a instituições que prestam assistência a pessoas com deficiência pode ser uma óptima opor-
tunidade educativa. De acordo com as características do grupo, a deslocação a uma instituição com
pessoas com deficiência cognitiva, e eventualmente a interacção com elas, pode revelar-se interessan-
te. Do mesmo modo a visita a uma escola de cães-guia, treinados para ajudar invisuais, pode ser importan-
te para sensibilizar os pioneiros para o princípio de igualdade de oportunidades de todas as pessoas.

Este tipo de actividades, recomendadas como forma de sensibilização poderão e deve-


rão ser efectuadas quer nesta altura, quer em situações em que não se prevê a admissão
dum elemento com NEE. Quantos jovens ditos normais não ficam paraplégicos devido
a acidentes de viação? E se esta situação ocorrer com um elemento da nossa unidade?
Ou um dos elementos da Equipa de Animação?

II. Papel do Chefe de Unidade


O papel do Chefe de Unidade é fundamental no processo de inclusão, sendo que este
é o principal responsável por acompanhar o elemento com NEE no seu percurso na Co-
munidade. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades do método
escutista.

Sistema de Patrulhas
A escolha da Equipa em que se vai incluir o pioneiro com NEE deve ser feita tendo em
consideração alguns aspectos importantes:

No caso dos noviços haver pelo menos um elemento de referência do ano ante-
rior, preferencialmente que tenha sido da mesma Patrulha.
405
manualdodirigente

A liderança: o Guia deve ter perfil para ter um elemento diferente na Equipa, ou
seja, deve ser um elemento capaz de atender e respeitar os outros, ter capaci-
dade de discernimento para ir percebendo até onde o novo elemento é capaz de
ir e um bom relacionamento com a chefia, para que recorra a ela quando sentir
alguma dificuldade ou dúvida.
Os elementos mais velhos da Equipa devem ser elementos responsáveis que
ajudem o pioneiro com NEE sem o superprotegerem.
A idade dos elementos da Equipa, no sentido de garantir que o pioneiro com NEE
possa acompanhar pelo menos um elemento da Equipa aquando a passagem
de secção.

Para participar activamente na vida da Equipa o pioneiro com NEE deve ter um cargo
para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo, assim, no caso de jovens
com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com me-
nos responsabilidade mas que seja importante para a Equipa, no caso de um jovem
com deficiência motora devem adaptar-se os meios necessários no sentido de permitir
ao elemento desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for
secretário.

No caso dos pioneiros o Chefe de Unidade deve assumir um papel de auxílio e orien-
tação ao Guia e da Equipa no sentido de os ajudar a seleccionar o cargo e a distribuir
tarefas e funções para o elemento com NEE, assim como fazê-las cumprir, para isso é
imprescindível um conhecimento mais profundo das capacidades do jovem e das tecno-
logias de apoio que costuma utilizar na sua vida quotidiana e que lhe permitem a execu-
ção de diversas tarefas. É importante não esquecer que o elemento deve estar envolvido
na vida da Equipa sendo para isso necessário que o Chefe de Unidade e EA façam uma
monitorização de todo o processo junto do Guia.

É importante não pôr a responsabilidade num só elemento da Equipa, por exemplo no


caso de jovens menos autónomos, pois essa tarefa torna-se cansativa para o elemento
que fica responsável e limita do círculo social do elemento com NEE.

Método de Projecto
Os pioneiros com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases do Em-
preendimento a par dos seus companheiros de Equipa, com a salvaguarda de que as
tarefas que lhe sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades, todos os pioneiros
são necessários para diferentes tarefas, pelo que todos devem ser chamados a ter uma
participação activa, contribuindo segundo as suas possibilidades e limitações. Há que
ter em atenção, a este nível, os critérios de atribuição das funções e tarefas (vontade,
aptidão, capacidade, etc.), já que todos devem ser tidos em conta.

Sistema de progresso
O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o pioneiro
com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes.
Antes de mais é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o pioneiro
não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existe um défice cognitivo.
406
manualdodirigente

Não devemos recorrer ao facilitismo e atribuir insígnias de progresso só porque o ele-


mento está lá ou porque iria ficar triste se não as recebesse como os outros. Para mere-
cer fazer promessa, e receber as suas etapas de progresso é importante que o pioneiro,
independentemente das suas dificuldades, sinta que a sua conquista dependeu do seu
esforço e aprendizagem.

Assim para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada ob-
jectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da criança com NEE,
ajudando-a a evoluir de acordo com as suas potencialidades.

No caso de pioneiro com défice cognitivo ou outros problemas que não lhes permita es-
colher etapas ou delinear acções concretas deve ser a Equipa de Animação em conjunto
com a Equipa a fazê-lo, tendo em conta as características, potencialidades, necessida-
des e gostos do pioneiro/marinheiro.

As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm


de uma participação activa na vida da Comunidade.

Participação em Actividades
Para decidir qual o nível de participação de um pioneiro com NEE em determinadas acti-
vidades importa conhecer quais os seus limites e mais uma vez que tecnologias o podem
apoiar nessa participação.

O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não
deve ser a primeira opção para pioneiros com NEE, a menos que essa actividade ponha
a sua integridade física em causa.

Assim, antes de se decidir a não participação de um pioneiro numa actividade devem


esgotar-se todas as possibilidades, sendo que a EA deve fazer um esforço adicional,
devidamente apoiado por técnicos e familiares, para tornar possível a participação da
criança nas actividades, mesmo que o façam parcialmente. Por exemplo, não temos
que deixar um pioneiro numa cadeira de rodas fora de uma estafeta só porque não pode
correr, alguém pode empurrar a sua cadeira de rodas a correr e o pioneiro transportar o
testemunho, ou então se puder conduzir a sua própria cadeira deve poder participar sozi-
nho não caindo no erro de a sua participação não contar porque atrasa o grupo, podendo
fazer parte das regras do jogo que um elemento da equipa adversária também faça o
percurso na cadeira de rodas conduzindo-a, aqui impera o bom senso e é fundamental o
trabalho com a Comunidade para que esta se torne verdadeiramente inclusiva.

Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante ter em


conta alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de Organiza-
ção da participação do elemento, devendo o Chefe de Unidade informar das caracterís-
ticas do pioneiro assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, por
exemplo acesso a casas de banho adaptadas, sem escadas para o caso de um pioneiro
em cadeira de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o elemento não possa
participar em pleno em todas as actividades não deve por isso ser deixado em casa visto
407
manualdodirigente

este tipo de actividades terem outras componentes extremamente importantes tais como
a socialização com elementos de outras Comunidades, não esquecendo que na impos-
sibilidade de participação plena deve ser tida em conta a ocupação do pioneiro durante
o tempo livre.

Nos pioneiros a participação e vivência das actividades é na maioria do tempo feita pelas
Equipas de forma autónoma pelo que todos os elementos da mesma devem estar cons-
cientes das características de cada um dos seus elementos e condições de participação
nas actividades – Viver em Equipa é trabalhar para o bem comum respeitando-se e
respeitando os outros.

Passagem para a IV secção


Na passagem para a IV secção é importante ter em conta alguns aspectos:

O pioneiro deve acompanhar o seu grupo de referência mesmo que intelectual-


mente possa estar abaixo dos restantes elementos.
O Chefe de Unidade deve passar exaustivamente toda a informação que tem
acerca do pioneiro para o novo Chefe de Unidade.
António Laranjeira

408
manualdodirigente

C.7.2.1.4 Escutismo Inclusivo no Clã

Na passagem para a IV Secção, é de esperar um nível de autonomia no Clã que lhe


permita assumir muita responsabilidade na inclusão de um jovem com NEE.

Preferencialmente, um jovem com NEE deve ser aceite nesta secção como noviço e
não como aspirante, pois significa que já houve um percurso escutista e o jovem já
conhece alguns elementos. Para além disso não nos podemos esquecer da missão
educativa do CNE, isto é, ao admitir qualquer jovem no Clã temos que ter em conta
aquilo que o escutismo lhe vai poder proporcionar. Tendo em conta que poderá não ir
mais além do Clã, podemos estar em situação de não ter nada para oferecer a este
jovem. Este aspecto é de maior importância quando se trata de um jovem com deficit
cognitivo acentuado.

Incluir jovens com NEE significa criar estratégias que permitam a participação activa de
todos os caminheiros sem excepção, mediante as capacidades de cada um.
Neste processo o Chefe de Clã tem um papel de retaguarda devendo ajudar o Clã a
acompanhar de perto o elemento com NEE e contribuir para o seu desenvolvimento.

O papel do dirigente, nesta problemática, não é fácil nem simples. De facto, aqui, e
mais do em qualquer outro domínio, o dirigente tem um papel de tutoria e de supervi-
são, devendo monitorizar a inclusão dos elementos com NEE na vivência da Tribo e
do Clã. Esta monitorização não implica necessariamente um acompanhamento directo
e presencial, mas envolve vigilância e conhecimento constante de tudo o que é feito
e do modo como interagem os caminheiros entre si, e o caminheiro com NEE com o
resto do Clã.

I. Preparar o Clã para a inclusão

O processo de inclusão não passa apenas por fazer diligências em relação ao elemen-
to com NEE, há que preparar o Clã para receber e incluir elementos com NEE.

É importante criar actividades que ajudem a Clã a a aceitar a diferença, o que implica
reconhecer que todos somos diferentes, todos temos talentos e dificuldades. Para isto
é importante que os caminheiros sejam ajudados a tomar consciência das suas capa-
cidades e limitações assumindo que têm um papel importante no Clã e que o mesmo
acontece com os outros.

409
manualdodirigente

Boas práticas:

São exemplos de actividades de sensibilização:

Jogos em que a actividade física é limitada (olhos vendados, tampões nos ouvidos, mãos e pés amarrados)
e que são seguidos de plenário onde se discutem as dificuldades sentidas, os problemas detectados e
as soluções possíveis;

Debates ou fóruns de discussão sobre a diferença e o direito à individualidade, aproveitando histórias e


crónicas para hikes, retiros, fogos de conselho, etc.;

Visitas a Instituições, planear actividades de equipa com jovens destas Instituições e técnicos.

II. Papel do Chefe de Unidade

Em todo este processo, não podemos esquecer o papel fundamental do Chefe de Clã na
orientação dos caminheiros, na medida em que lidar com jovens com NEE nem sempre
é fácil, pelo que não pode ser uma tarefa que se deixa por completo a cargo do Clã, sem
vigilância do Dirigente. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades
do método escutista

Sistema de Patrulhas
Na passagem para o Clã é importante ter em conta o percurso do jovem com NEE no
agrupamento tendo em conta que este deve acompanhar sempre alguns elementos de
referência da secção anterior, e este factor deve ser tido em conta na escolha da Tribo a
que o jovem vai pertencer.

Para participar activamente na vida do Clã o caminheiro com NEE deve ter um cargo
para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo, assim, no caso de jovens
com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com me-
nos responsabilidade mas que seja importante para a Tribo, no caso de um jovem com
deficiência motora devem adaptar-se os meios necessários no sentido de permitir ao
elemento desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for se-
cretário.

Método de Projecto
Os caminheiros com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases da Cami-
nhada a par dos seus companheiros de Clã, com a salvaguarda de que as tarefas que lhe
sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades, todos os caminheiros são necessá-
rios para diferentes tarefas, pelo que todos devem ser chamados a ter uma participação
activa, contribuindo segundo as suas possibilidades e limitações.
410
manualdodirigente

Sistema de Progresso
O sistema de progresso, cuja adequação às competências e características de cada
elemento (através do estabelecimento de oportunidades educativas concretas e indivi-
dualizadas) se reveste de especial importância, também permite que jovens com mais
dificuldades cumpram todos os requisitos para progredir.

O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o caminheiro


com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes.

Antes de mais é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o ca-
minheiro não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existe um défice
cognitivo.

Assim para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada ob-
jectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da jovem com NEE,
ajudando-o a evoluir de acordo com as suas potencialidades.

No caso de caminheiro com défice cognitivo ou outros problemas que não lhes permita
escolher objectivos ou delinear acções concretas deve ser o Clã e o Conselho de Clã,
devidamente ajudados pelo Chefe de Clã a fazê-lo, tendo em conta as características,
potencialidades, necessidades e gostos do caminheiro.

As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm


de uma participação activa na vida do grupo.

Participação em Actividades
Para decidir qual o nível de participação de um caminheiro com NEE em determinadas
actividades importa conhecer quais os seus limites e mais uma vez que tecnologias o po-
dem apoiar nessa participação, não esquecendo que os seus companheiros são jovens
com um nível de responsabilidade que lhes permitirá ajudá-lo nessa vivência.

O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não
deve ser a primeira opção para caminheiros com NEE, a menos que essa actividade
ponha a sua integridade física em causa.

Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante ter em


conta alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de organiza-
ção da participação do elemento, devendo o Chefe de Clã informar das características
do caminheiro assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, por
exemplo acesso a casas de banho adaptadas, para o caso de um caminheiro em cadeira
de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o elemento não possa participar em
pleno em todas as actividades não deve por isso ser deixado em casa visto este tipo de
actividades terem outras componentes extremamente importantes tais como a socializa-
ção com elementos de outros Clãs.

411
manualdodirigente

A Partida
Esta secção marca a entrada na idade adulta, em que se atinge uma maturidade mais
responsável e na qual os projectos de vida futura começam a tomar forma. Por esta
razão, é também a fase em que será necessária uma decisão em relação ao futuro dos
jovens com NEE no CNE.

Como para qualquer caminheiro, a partida de um jovem com NEE deve ser preparada
com base num fim de percurso pré-estabelecido e o início de outro. A diferença é que,
depois da Partida, para estes jovens, e especificamente no caso de deficiência mental,
o caminho a seguir não pode implicar a assunção de responsabilidades de animação
pedagógica e a formação para dirigente, dada a responsabilidade civil que é imputada a
cada dirigente quando tem crianças ou jovens a seu cargo. Isto pode ser difícil de expli-
car aos caminheiros, principalmente se tiverem crescido todos juntos no escutismo.

Neste caso, há que ter em atenção que não se podem criar expectativas no jovem ao
longo do seu caminho, devendo-se, pelo contrário, preparar a sua saída do Movimento.
Isto pode passar por encontrar alternativas que o mantenham incluído na comunidade e
que lhe tragam tanta satisfação como o escutismo. São hipóteses:

Ingresso na Fraternidade Nun'Álvares;


Exercício de tarefas específicas, que não de responsabilidade pedagógica, no
agrupamento (como auxiliares);
Exercício de tarefas específicas na Paróquia ou Comunidade.

Contudo, importa referir que cada caso é um caso e que qualquer decisão respeitante ao
jovem na idade da sua Partida, tal como na data da sua admissão, é da responsabilidade
da Direcção do Agrupamento e deve ser cuidadosamente analisada tendo em conta as
capacidades do jovem em questão.
António Laranjeira

412
manualdodirigente

C.7.2.2 A interculturalidade

"Interculturalidade refere-se à existência e interacção equitativa de


diversas culturas, assim como à possibilidade de geração de expres-
sões culturais compartilhadas por meio do diálogo e respeito mútuo.”

UNESCO; Definição aprovada na Conferência Geral da


Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, na sua 33ª
reunião, celebrada em Paris, de 03 a 21 de Outubro de 2005

I.Portugal, nação do mundo

É inegável que o mundo se tornou um local mais pequeno nos últimos anos. A possibili-
dade de comunicarmos em tempo real, face a face, com alguém no outro lado do planeta
é hoje uma realidade. De igual modo, a capacidade de termos uma fonte de conhecimen-
tos infinito à distância de um terminal de Internet ajudou-nos a conhecer melhor o nosso
lugar no mundo e a nossa relação com o próximo, mesmo que de forma virtual.

Viajar tornou-se também mais fácil e mais seguro, possibilitando um fluxo crescente de
bens e pessoas. Este contacto entre culturas leva à inevitável absorção de diferentes
formas de entender a vida em sociedade por parte de indivíduos que estariam, à partida,
plenamente integrados e com uma origem cultural partilhada com o meio social onde
habitam.

Uma das manifestações da crescente pequenez do nosso mundo reflecte-se nos fluxos
de pessoas que percorrem o planeta. A sociedade portuguesa, vista de uma perspectiva
transfronteiriça, acolhe no seu território apenas dois terços dos seus cidadãos. Um em
cada três portugueses vive assim fora das fronteiras portuguesas, o que torna Portugal
num dos países com maior diáspora. Por outro lado, o território nacional acolhe hoje
cerca de meio milhão de imigrantes, fazendo com que um em cada vinte habitantes do
nosso território tenha escolhido Portugal para sua nova morada, para se fixar, trabalhar
e criar a sua família.

Seguindo a tendência histórica dos fluxos humanos, a sociedade portuguesa encontra-se


exposta a vários estímulos de ordem cultural, estímulos esses que, sendo diversificados
nas suas formas, obrigam todos a uma cada vez mais rápida capacidade de adaptação
ao meio em que vivemos. Neste processo adaptativo, o desafio da multiculturalidade não
tem como fonte única a presença de pessoas com diferentes origens mas também os
estímulos que tocam a todos diariamente através dos meios de comunicação social.
413
manualdodirigente

A atomização cultural da sociedade portuguesa apresenta-se assim como um processo


de raiz individual e social, onde cada pessoa desenvolve a sua própria cultura a partir de
uma base que pode ou não ser comum aos restantes indivíduos que a rodeiam. Por outro
lado, a vida em sociedade e a necessidade de laços de confiança obrigam ao sentimento
de pertença a uma realidade comum marcada pela diversidade, respeito mútuo e parti-
lha. É neste plano que a multiculturalidade dá lugar à interculturalidade.

Estes são apenas alguns dos principais estímulos com que a sociedade portuguesa se
confronta e tem confrontado ao longo da sua história, sendo que o processo evolutivo é
bastante notório na forma como se manifesta no meio e nas pessoas. É nesta realidade
que se sublinha a importância maior de avaliar, debater e promover a interculturalidade,
ao mesmo tempo que se reconhece a necessidade de diálogo e promoção da partilha
pela diversidade cultural.

II.O CNE como movimento intercultural

Desde a sua criação que o CNE assume-se como membro participativo da sociedade a
que pertence. A dinâmica gerada por esta relação entre sociedade e CNE projecta-se,
antes de mais, na capacidade que o movimento tem de influenciar positivamente a so-
ciedade através da formação integral de homens e mulheres válidos. Por outro lado, o bi-
lateralismo desta relação leva a que o CNE não escape à constante influência do mundo
que o rodeia e que parece tornar-se mais pequeno e próximo a cada dia que passa.

O CNE é assim facilmente entendido como um reflexo da sociedade em que vive, e di-
ficilmente poderíamos verificar o sucesso da intervenção social do CNE se esta relação
tivesse uma natureza diferente. É esta capacidade de entender a sociedade, as suas
mutações e as suas necessidades, que ajuda a moldar as iniciativas do CNE no sentido
de continuar a formar cidadãos válidos.

Desta forma, a necessidade de uma particular atenção a temas relacionados com


a interculturalidade surge como fruto desta dinâmica simbiótica entre CNE e so-
ciedade portuguesa, onde o CNE:

· Entende as diversas culturas como elementos enriquecedores e promotores


do desenvolvimento material e espiritual humano, numa perspectiva de mútuo
respeito e entendimento pela partilha num ambiente de liberdade colectiva e indi-
vidual;
· Observa a crescente multiplicidade cultural da população portuguesa como
um desafio e uma oportunidade para identificação do movimento e da sua ac-
ção;
· Assume a necessidade de resposta constante às exigências surgidas com a

414
manualdodirigente

natural evolução da sociedade em que se insere.

Neste contexto, o CNE:


· Vive e actua de acordo com os seus princípios;
· Defende o respeito pelo próximo em todas as circunstâncias;
· No âmbito dos seus princípios, acolhe todos sem distinção da sua origem ou
cultura;
· Educa para a paz e mutua compreensão através do diálogo intercultural;
· Renuncia e denuncia toda a descriminação fundamentada na origem ou ma-
triz cultural;
· À luz dos seus princípios e do evangelho, retrata-se e está alerta para a
contínua adequação das respostas do movimento aos desafios da sociedade.

III. Educar para a interculturaridade

A multiculturalidade que hoje vivemos coloca novos desafios ao dia-a-dia da vida dos
agrupamentos. Em muitos casos, a sede tornou-se o local de encontro de crianças das
mais variadas origens. Crianças e jovens de diferentes estratos sociais, originários de
diferentes matrizes culturais ou até falando outros idiomas.

Comportamentos individuais ou sociais que são evidentes para uns podem não fazer
parte da experiência de outros. O próprio modo de vestir, de olhar, de comunicar pode
causar estranheza, mútua incompreensão e distanciamento. Diferentes estilos de apren-
dizagem, formas de relacionamento, ritmos com que se desenvolvem as diversas com-
petências podem também ser outras das formas de heterogeneidade presentes. Esta é
a realidade multicultural dos dias de hoje.

Tendo em mente o papel do dirigente, são evidentes as implicações para a sua acção
pedagógica enquanto animador. Situações mundanas como quando contacta com novos
elementos provenientes de outra cultura ou quando reúne com pais que podem desco-
nhecer a língua podem evidenciar a necessidade de preparação do dirigente para esta
realidade.

Só incorporando o papel do “outro” será possível entendê-lo enquanto “próximo”. Pela


capacidade de reflexão que produz crítica e auto-crítica, observação e auto-observação.
Assim, uma das primeiras necessidades é a de tomar consciência da sua própria iden-
tidade, com o consequente descentramento de si próprio. Passa ainda por ter uma es-
pecial sensibilidade para a percepção das condições que rodeiam e influenciam o jovem
escuteiro.

Pequenas coisas, pequenas atitudes que, afinal, trazem novas perspectivas para a ac-
ção individual do dirigente, tendo em mente a construção de um movimento escutista
que não é só mundial quando pensamos para lá das nossas fronteiras, mas que se torna
universal dentro de cada agrupamento
415
manualdodirigente

V. Gerir a interculturalidade

Existe em cada um de nós uma dimensão diferente do que é ser-se humano, e assim,
todo o dirigente entende que para cada um dos jovens com quem trabalha existe uma
forma diferente de educar no escutismo. O facto de existir uma dinâmica intercultural no
seio da unidade deverá ser entendida como um elemento de enriquecimento pela diver-
sidade e não de entropia.

É no sentido de auxiliar o dirigente neste processo de mútua adaptação e influência que


se chama a atenção para algumas situações e iniciativas passíveis de facilitar o seu pa-
pel de formador de crianças e jovens com diferentes bases culturais

Boas práticas:

Para os que acabam de chegar…

Adaptação
- Deixe que o jovem se instale no novo ambiente. Dê-lhe tempo;
- Procure compreender os seus ritmos. Mantenha-se atento/a, sem pressionar, mas sem qualquer
tipo de distinção condescendente

O Nome é muito importante


- Dê atenção ao nome da criança/jovem e assegure-se de que todos o sabem pronunciar correcta-
mente;
- Aprenda e encoraje os outros a aprender algumas palavras da língua da criança/jovem (fórmulas diver-
sas, por exemplo, de boas-vindas).

Ajudar a criança/jovem a sentir-se bem


- Dê atenção aos seus comportamentos. Verifique se exprime e se mantém alguma forma de insegu-
rança inicial e ajude-o neste processo de acolhimento;
- Inclua sempre as outras crianças/jovens no acompanhamento e na resolução de problemas.

Criar uma auto-imagem positiva


- Aproveite as oportunidades para chamar a atenção das vantagens de ser bilingue;
- Procure, ou construa, livros e imagens que representem a cultura da criança/jovem de forma positiva
e evitando estereótipos;
- Dê espaço à criança/jovem para usar a sua língua (contando uma história ou cantando uma canção,
por exemplo).

416
manualdodirigente

Português Língua de Acolhimento

Estabelecer a comunicação
- De início verifique se é compreendido. Use frases simples de forma consistente;
- Lembre-se que a criança/jovem pode precisar de mais tempo para se sentir à vontade na outra
língua. Eles têm direito ao silêncio;

Exercícios úteis
- Organizar sequência de texto ou imagens;
- Identificar palavra-chave/ideia-chave;
- Descobrir correspondências entre palavras, frases e/ou imagens;
- Use canções (com refrão) e histórias com frases repetidas;
- Jogos como o “passa-a-palavra”. Os jogos, para além de motivadores, são óptimos para introduzir novo
vocabulário e fórmulas sociais;

Bons exemplos
- Assegure que a criança/jovem integra grupos de trabalho com falantes competentes, para que possa
aprender com bons exemplos;
- Exercícios e jogos de computador são fáceis de obter e ajudam. Para trabalho individual ou com um
colega que domina bem a língua;

O Agrupamento e os Pais

- Envolva os pais e mantenha-os informados do progresso da criança/jovem;


- Procure conhecer o ponto de vista dos pais e as suas expectativas;
- Explique as razões porque utiliza determinadas estratégias;
- Coloque-se na posição de quem poderá ter alguma dificuldade em exprimir-se e imagine como gos-
taria que o outro reagisse;
- Procure saber se, no caso de crianças/jovens que falam outras línguas, alguém da família ou amigo
pode ser mediador e participar (ocasionalmente ou não).

A Sede
- Afixe em lugares visíveis mensagens em diferentes línguas (boas-vindas, toponímia, informações,
etc.);
- Lembre-se que nem todas as culturas celebram as mesmas festas e que nem todos tiveram o
mesmo imaginário infanto/juvenil;
- Procure materiais multiculturais. Peça a colaboração da criança/jovem;
- Dinamize iniciativas interculturais;
- Lembre-se que o fundamental é que todos sintam a sede como sua.

417
manualdodirigente

Sugestões de sites:
http://www.acidi.gov.pt
http://www.oi.acidi.gov.pt
http://www.ciga-nos.pt
http://www.sef.pt
http://www.apedi.net
http://europa.eu
http://www.salto-youth.net/diversity
http://www.unhcr.org
Sugestões de publicações:
ROSINSKI, Philippe, Coaching Intercultural. Edições Monitor, 2010,
NETO, Felix, Portugal Intercultural. Editora Legis, 2010,
FERREIRA, Manuela Malheiro, Educação Intercultural. Edições Universidade Aberta, 2004
ACIDI, 44 Ideias Simples para Promover a Tolerância e Celebrar a Diversidade. Lisboa: Diário de
Notícias, 2007
ANDRADE, Domingos, et al, Gente de Fora Cá Dentro. Porto: ACIME e Jornal de Notícias, 2002.
ANDRÉ, João M., Diálogo Intercultural, Utopia e Mestiçagens em Tempos de Globalização. Coimbra:
Ariadne Editora, 2005
ANÍBAL, C., Ferreira, C. & Borges, R. P., Estudo sobre a Integração de Crianças de Minorias Étnicas
nas Escolas do 1.º ciclo do Ensino Básico – Relatório Final. Câmara M. Lisboa.
CANOTILHO, J. Gomes, Direitos Humanos, Estrangeiros, Comunidades Migrantes e Minorias. Lisboa:
Celta, 2000.
CORTESÃO, Luisa & Stoer, Stephen (coord.), Projectos, Percursos, Sinergias no Campo da Educação
Inter/multicultural – Relatório Final. CIIE – FPCE, U. Porto, 1995.
COTRIM, Ana (coord.), Educação Intercultural: Abordagens e Perspectivas. Lisboa: Secretariado
Entreculturas,1995.
GARCIA, José Luís (org.), Portugal Migrante: Emigrantes e Imigrados, Dois Estudos Introdutórios.
Lisboa: Celta, 2000.
GONÇALVES, Manuel, et al., Educação Intercultural – Guia do Professor (1.º ciclo). Lisboa: Secreta-
riado Entreculturas, 1995
PERES, Américo N., Educação Intercultural: Utopia ou Realidade? Processos de Pensamento dos
Professores face à Diversidade Cultural: Integração de minorias na escola. Porto: Profedições,
1999.
PEROTTI, António, A Apologia do Intercultural. Lisboa: Secretariado Entreculturas, 1997.
SEABRA, Teresa, Educação nas Famílias: Etnicidade e Classes Sociais. Lisboa: IIE, 1999
Secretariado Entreculturas, DGEBS, Guião Orientador da Elaboração de Projectos Interculturais
(Ensino Básico). Lisboa: ME., 1992
STOER, Stephen, Magalhães A., A Diferença Somos Nós – A Gestão da Mudança Social e as Políticas
Educativas e Sociais. Porto: Edições Afrontamento, 2005
STOER, Stephen & Cortesão, Luísa, Levantando a Pedra: da pedagogia inter/multicultural às políti-
cas educativas numa época de transnacionalização. Porto: Edições Afrontamento, 1999
VIEIRA, Ricardo, Histórias de Vida e Identidades: Professores e Interculturalidade. Porto: Edi-
ções Afrontamento, 1999.
418
manualdodirigente

C.7.2.2.1 A interculturalidade na Alcateia

I. Tantos Lobitos e tão diferentes

A Organização Mundial do Movimento Escutista é a maior associação juvenil do mun-


do, com cerca de 28 milhões de escuteiros. Já imaginaram a quantidade de etnias que
temos nesta grande família que é o escutismo? E que todos nós, enquanto viventes do
mesmo espírito, temos um objectivo comum de “deixar o Mundo um pouco melhor do
que o encontramos”?

De certeza que em grande parte das Alcateias de Portugal podemos encontrar estas di-
ferenças culturais. De lobito para lobito, de localidade para localidade, de país para país,
de continente para continente esta variedade cultural, esta multi-cultura, é visível dentro
desta “Força Escutista” global.

No mundo somos mais de 6,6 mil milhões de pessoas. Pessoas que pensam de maneira
diferente, que crêem em Deus de maneira diferente, que se expressam de maneira dife-
rente, que se vestem de maneira diferente, pessoas que são diferentes.

Máugli, filho do Homem, foi ele próprio incluído num meio que não era o dele. Foi adop-
tado e incluído num meio nada semelhante ao que estava habituado, rodeado de animais
tão diferentes e que contudo o amaram e educaram como se fosse mais uma das cria-
turas da selva. Aos olhos de Máugli e aos olhos dos seus amigos da selva as diferenças
físicas não tinham qualquer importância. Eles eram antes de mais e de tudo amigos que
partilhavam brincadeiras e que aprendiam uns com os outros.

A vida em Alcateia está envolta nos ensinamentos do Livro da Selva mas também das
palavras de São Francisco de Assis, patrono dos lobitos, que amava todas as criações
de Deus como sendo seus irmãos. Esta é a melhor mensagem de inclusão que podem
passar à Alcateia. É o melhor exemplo de inclusão pelo amor e amizade e de enriqueci-
mento pela partilha de formas diferentes de viver a vida. Todo o covil é um espaço que
respira interculturalidade, e ninguém quer ser visto como o Xer Cane da Alcateia por ficar
de fora.

Nós, escuteiros num Mundo multicultural, constituímos uma família à qual podemos cha-
mar de “Força Escutista”, porque realmente somos uma força capaz de ultrapassar obs-
táculos através do diálogo e da união.

II. O Aquelá como agente de mudança

Diziam os romanos “Ubi Homo Ibi Societas”, que quer dizer “Onde estiver o Homem,
existirá Sociedade”. É uma realidade que o Homem é uma animal social, e que a própria
sobrevivência da raça humana depende desta relação de interdependência entre todas
as pessoas.

419
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A sociedade humana à qual todas as pessoas pertencem divide-se ainda em socieda-


des mais pequenas, onde vários grupos de pessoas têm características próprias que
lhes permitem viver de acordo com as suas necessidades. Chama-se a isto a forma de
como o meio onde vivemos influência a nossa cultura. Se pensarmos que não existem
dois lugares iguais na Terra, podemos então falar de uma diversidade humana cultural
infinita em todo o planeta.

A cultura de cada sociedade está um pouco espalhada por toda a superfície terrestre.
Temos o exemplo do caso português. Neste momento existem milhões de portugueses
espalhados pelo mundo a viver noutros países, e é possível ouvir falar a nossa língua
em sítios como a Inglaterra, os Estados Unidos ou até a China. E isto não acontece só
connosco portugueses mas com todas as sociedades.

É cada vez mais frequente ouvirmos falar outras línguas nas nossas ruas. São as lín-
guas de tantas pessoas que escolheram Portugal para viver e criar as suas famílias.
Ajuda a estes fluxos de pessoas o facto de o mundo ser hoje mais pequeno, com as
viagens entre as várias regiões do Mundo a serem de mais fácil acesso e mais rápidas.
É neste contexto que surge a interculturalidade.

No escutismo vivemos um método e um meio privilegiado para estas vivências intercul-


turais. Exemplo disso são as actividades internacionais, que juntam e misturam povos
e culturas distintas mas com a busca do objectivo comum de “Deixar o Mundo um
pouco melhor que o encontramos”.

No combate à exclusão, aos preconceitos e à discriminação, cabe-nos a nós escuteiros


moldar o movimento para que este seja no futuro uma entidade aberta às vivências
interculturais. O acolhimento de pessoas provenientes de culturas diferentes no nosso
meio, como por exemplo a inclusão de um lobito estrangeiro na Alcateia, é factor igual-
mente importante que nos torna agentes promotores da interculturalidade nos nossos
agrupamentos.

Boas práticas:

DINÂMICA “O OVORCÍCIO”
Em que é que um exercício com um ovo se pode assemelhar a uma verdadeira aventura intercultural…

Recursos necessários:
Um ovo cru para 4-5 participantes, fios para prender os ovos ao candeeiro, muito papel, tesouras,
revistas velhas, cartão e cola.
Um espaço de pelo menos 4X4 metros para cada grupo de 4-5 participantes.

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Tamanho do grupo:
5 participantes no mínimo, 35 no máximo. Se houver mais participantes, pode reparti-los em vários
grupos de grande dimensão que vão separadamente fazer o exercício completo (incluindo a discussão
e avaliação).

Tempo necessário:
Cerca de 1h15:
10 minutos para a introdução
30 minutos para a resolução do problema
30 minutos para a avaliação

Etapas:
1 Prepare as divisões nas quais os pequenos grupos de participantes (4-5) vão trabalhar. Para cada
um dos pequenos grupos, prenda um fio à volta de um ovo cru, envolvido num papel e suspenda-o no
candeeiro, a cerca de 1,75 – 2 metros do chão. Não coloque muito papel à volta do ovo, ele deve poder
partir-se em caso de cair. Coloque à disposição de cada um dos pequenos grupos uma pilha de revistas
velhas, tesouras e cola.
2 Divida os participantes em pequenos grupos (4-5) e depois apresente o exer­cício: 30 minutos
depois do início do exercício, o facilitador irá a todas as divisões cortar os fios que seguram os ovos.
A missão das equipas consiste em realizar uma construção que impeça que, ao cair, o ovo se parta. O
jogo tem as seguintes regras:
* Os participantes e os materiais utilizados para a construção não devem tocar nem no ovo, nem no
fio que os segura;
* Os participantes só podem utilizar o material preparado para o jogo (não podem usar nem as cadeiras
nem as mesas existentes na sala, por exemplo!).
3 Vigie os grupos (terá necessidade de um facilitador para cada dois grupos) e assegure--se de que
eles cumprem as regras.
4 No fim dos 30 minutos suspenda o exercício, e vá a todas as salas cortar o fio e ver se todas as
equipas conseguiram impedir que o ovo se parta.
5 A avaliação pode desenvolver-se em duas etapas: primeiro em grupos pequenos (facultativo), depois
com todos os participantes.

Opções extra:
Como indica a sua descrição, este jogo consiste num trabalho de equipa. Existem várias possibilidades
de adaptar o jogo às suas necessidades específicas.
Para reforçar a dimensão intercultural do método, pode integrá-lo numa simulação onde cada um dos
membros da equipa desempenhe um papel (“cultural”) diferente. Na discussão pode colocar a tónica nas
possibi­lidades e limites de uma cooperação intercultural. O que é que os par­ticipantes consideraram
difícil no trabalho em comum. De que forma chegaram a compromissos?
Para reforçar a dimensão intercultural do jogo, mas de forma mais simples, pode conferir a cada uma
das equipas (ou a cada um dos membros no seio das equipas) uma ou várias limitações:

421
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– Não poder falar


– Estar muito focado numa liderança ou, pelo contrário, ignorar
– Não estar concentrado no tempo ou, pelo contrário, estar muito consciente da passagem do tem-
po
–…
Reflexão e avaliação:
Para todas estas variantes, a discussão pode concentrar-se na cooperação no seio das equipas para
realizar a sua construção. O que constataram os participantes? Sentiram dificuldades de comu-
nicação? Em que é que as diferentes formas de resolver o problema influenciaram a natureza do
trabalho em equipa?
Se tiver acrescentado uma dimensão intercultural ao jogo, deve interrogar os par­ticipantes sobre
este aspecto particular: Em que é que a “regra” ou a “limitação” em questão influenciou o trabalho em
equipa? Como fizeram para ultrapassar as dificuldades?
É importante que esta sessão não se torne pretexto para “culpar” alguns par­ticipantes pelo seu
comportamento durante o exercício. Tente antes fazer uma aproximação entre este exercício
e situações reais – quanto a formas de trabalhar, comportamentos e preferências no seio de uma
equipa –, nomeadamente no caso de equipas interculturais. Como gerir as diferenças de maneira cons-
trutiva? Em que casos é possível fazer compromissos?

Este método na prática…:


O interesse deste exercício reside na sua grande flexibilidade – graças a uma situação simples, per-
mite abordar qualquer tipo de questões: o trabalho em equipa, o modo como os indivíduos resolvem os
problemas e trabalham em conjunto. Contudo, esta flexibilidade pode também ser um inconveniente:
o exercício pode tornar-se completa­mente sem sentido se não se desenvolver num contexto ade-
quado.
Arquivo CNE

422
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C.7.2.2.2. A interculturalidade na Expedição

I. Exploradores da Terra, Moços dos 7 Mares

A Interculturalidade trata-se de uma realidade que, não sendo nova, tem hoje um lugar
de importância maior num mundo que se torna mais pequeno e que nos aproxima. É uma
realidade que nos coloca desafios de aprendizagem e que leva à reflexão.

No CNE existem muitas realidades. Se olharmos bem encontraremos em cada uma de-
las particularidades que as tornam únicas. Todas são diferentes, mas todas são de igual
valor para o Escutismo. E não estará a riqueza do CNE nessa diferença que apenas
reforça o sentimento de irmandade?

Quantos de vós não terá um irmão escuteiro que provém de outra região de Portugal
ou até mesmo de outro País? Repararam de certeza em alguns hábitos e vivências
diferentes dos vossos. Já pensaram que essas diferenças, tal como se fossem pontes,
aproximam mais que distanciam?

Façamos um exercício. Imaginemos que estamos em pleno acampamento e que temos


alguns convidados estrangeiros provenientes da Marrocos. Chegada a hora de fazer
a ementa todos têm que decidir o que fazer para o jantar dessa noite. Os portugueses
decidem-se pelo arroz à escuteiro, mas não sabem que os escuteiro marroquinos não
podem comer carne de porco porque vai contra a sua religião e cultura. Como reagiriam?
Ficariam zangados pelo facto de não comerem todos arroz à escuteiro ou tentariam per-
ceber o porquê e até aprender uma nova receita?

Podemos também imaginar esta mesma situação, mas ao contrário. Imaginem que estão
numa actividade com escuteiros australianos e que é a vez deles cozinharem. Naquela
noite seria cozinha selvagem e o jantar seria... cobra assada. Quantos não iriam para o
saco cama sem comer?

Baseado nestes exemplos simples podemos perceber a riqueza que existe na partilha
das diferenças culturais. Aprendemos que é saudável aceitar a diferença e respeitar rea-
lidades que desconhecemos, na mesma medida que esperamos ser respeitados, quan-
do o diferente somos nós. A diferença não é um impedimento à troca de experiências
mas antes um importante factor de enriquecimento do nosso conhecimento. Trata-se de
um processo que deve envolver os intervenientes, intelectual e emocionalmente, uns
pelos outros e pela compreensão da interacção entre ambas.

Sendo o movimento escutista mundial uma escola maior para aprendizagem global e
educação integral ao nível dos valores, devemos estar mais atentos e ser mais sensíveis
à diversidade de culturas e vivências dentro do movimento. Este reconhecimento é feito,
em particular, no que respeita à promoção da paz, da cooperação, da solidariedade, da
interculturalidade e da inter-religiosidade.

423
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O que quer dizer?

Estereótipo
Ideias preconcebidas, sem sustentabilidade empírica, que generalizam frequen-
temente uma imagem negativa acerca de determinadas comunidades.

Etnia
Valores culturais e normas que distinguem os membros de um dado grupo dos
outros grupos. Um grupo étnico caracteriza-se por os seus membros partilharem
uma consciência distinta da sua identidade cultural, que os separa dos outros
grupos à sua volta. Em, virtualmente, todas as sociedades as diferenças étnicas
estão associadas a diferenças de poder e riqueza.

Etnocentrismo
Tendência para privilegiar os valores e as normas do grupo de pertença e para o
erigir em modelo de referência, com a desvalorização e a adopção de sentimen-
tos negativos em relação às outras etnias.

Comportamento habitualmente associado à recusa da diversidade cultural, sinó-


nimo de intolerância e xenofobia, fonte de racismo e de discursos moralizadores.

Identidade
Processo pelo qual um actor social se reconhece a si próprio e constrói signifi-
cado, sobretudo através de um dado contributo cultural ou conjunto de atributos
culturais determinados, a ponto de excluir uma referência mais ampla a outras
estruturas sociais.

Minoria
Um grupo constitui uma minoria quando os seus membros possuem uma identi-
dade socialmente inferiorizada ou desvalorizada – uma situação de desvantagem
relativa, seja demográfica, política, económica ou cultural.

Preconceito
Ideias preconcebidas acerca de um indivíduo ou grupo, que dificilmente se alte-
ram mesmo face a nova informação.

Raça
É uma construção social utilizada para classificar pessoas. Originalmente tinha
por base a falsa crença que existiam espécies humanas biologicamente diferen-
tes, e que umas espécies seriam superiores a outras. Contudo, a ciência provou
que não existe qualquer diferença genética e que, portanto, não existe uma base
biológica para a divisão do Homem em diferentes espécies ou raças.

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Racismo
Valorização de diferenças com vantagem para o acusador e em detrimento da
vítima, a fim de justificar os seus privilégios ou a agressão.

Conjunto de práticas e efeitos discriminatórios que afectam mais frequentemente


os grupos minoritários, definidos em termos raciais ou étnicos.

Xenofobia
Medo ou ódio dirigido a pessoas provenientes de uma localização geográfica di-
ferente.

Boas práticas:

“Podem trocar os vossos valores?”


Este método tornou-se particularmente efi­caz com grupos que ainda não tinham sido verdadeira-
mente confrontados com a aprendizagem intercultural e serviu de ponto de partida para uma re-
flexão sobre os valores. A formulação dos valores nas cartas desempenhou um papel essencial – alguns
dos valores citados revelaram-se muito gerais (e apenas partilhados), outros muito específicos. Para
obter um bom resultado, deves discutir antes com a tua equipa os vários valores e as diversidades de
opiniões que poderão suscitar.

Recursos necessários:
- Uma sala suficientemente grande que permita que os participantes se movimentem
- Cartas, apresentando cada uma um valor (ex.: “não podemos confiar na gene­ralidade das pessoas”,
“os seres humanos deveriam a todo o custo viver em total harmonia com a natureza, etc.) em número
suficiente para que cada participante possa ter 8; algumas podem estar duplicadas, mas são precisas,
pelo menos, 20 cartas diferentes

- Entre 8 e 35 participantes.

Tempo necessário:
O tempo necessário pode variar, mas é estimado entre 1 e 2 horas (cerca de 10 minutos para aplicar o
exercício, 20 minutos para as trocas, entre 20 a 60 minutos para as negociações e 30 minutos para a
desconstrução). As variantes do exercício que demo­rem mais tempo (ex.: mais tempo e espaço para as
negociações) são possíveis.

425
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Etapas:
1 - Prepara as cartas de valor. Assegura-te que os valores apresentados estão profundamente en-
raizados nas percepções de certo e errado. Faz com que todos os valores possam beneficiar do apoio
activo de pelo menos um participante.
2 - Depois de ter explicado o exercício aos participantes, distribui as cartas ao acaso, assegurando-
te que cada participante receba oito.
3 - Pede aos participantes para “revalorizarem” as suas cartas trocando-as – isto é, trocando as
cartas por outras que tenham valores que lhes sejam mais convenientes. Não é obrigatório trocar as
cartas segundo o princípio de “uma por uma”; a única regra é que ninguém termine o exercício com menos
de duas cartas.
4 - No fim das trocas, pede aos participantes para formarem grupos que possuam cartas com valores
semelhantes e discutir os seus pontos comuns. Se quiseres, podes pedir aos participantes que se
fixem na origem destes valores e que se questionem porque possuem valores semelhantes.
5 - Em seguida, pede-lhes para encontrarem pessoas que partilhem valores diferen­tes. Formados os
pares, deverão de seguida formular valores partilhados a partir do que figura nas suas cartas. Mesmo
sabendo que os participantes possam ser tentados por compromissos, optando por afirmações muito
abstractas ou pratica­mente sem sentido, é preciso incentivá-los a serem o mais concreto possível.
6 - Termina o exercício quando achares que a maior parte dos pares chegou a dois ou três compro-
missos.
7 - Posteriormente procede a uma reunião de avaliação com todo o grupo.

Reflexão e avaliação:
No que respeita à avaliação, pode ser interessante colocar as seguintes questões:
- O que sentiram os participantes face a este exercício? Foi fácil trocar valores? De onde vinha a
dificuldade/facilidade?
- Descobriram alguma coisa a respeito dos seus valores e das suas origens?
- O que sentiram ao terem que assumir compromissos em relação aos seus valo­res? O que é que tornou
esta operação particularmente difícil? Como chegar a compromissos respeitantes aos valores?

Se desejares, podes associar esta discussão a uma reflexão acerca do papel que desempenham os
valores na aprendizagem intercultural. Os valores são com frequência considerados como fundamen-
tos da “cultura”. Estão de tal forma enraizados que a maior parte dos indivíduos tem dificuldade em
negociá-los. Como podemos então viver de maneira intercultural? Existem valores comuns a todos os
indivíduos? Como podemos viver em conjunto se não conseguimos chegar a acordo acerca de determi-
nados valores? Que tipo de “consentimentos de trabalho” podemos fazer?

426
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C.7.2.2.3. A interculturalidade na Comunidade

I. O mundo cabe no nosso abrigo

Falar em interculturalidade é por si só uma experiência intercultural!

Quando mergulhamos na aprendizagem intercultural temos, naturalmente, que abordar


o conceito de “cultura” enquanto forma de construção humana, quase como sendo um
software que usamos no dia-a-dia e ao qual estão associados valores, pressupostos e
normas fundamentais que possuímos em nós e aplicamos no nosso dia-a-dia.

A cultura está necessariamente ligada a um grupo ou também poderemos falar de cultura


individual? Que elementos compõem uma cultura? Podemos elaborar um mapa-mundo
cultural? As culturas sofrem evolução? Porquê e como? Até que ponto a cultura é flexível
e tolerante a uma interpretação individual? Bem… todas estas e outras questões devem
convidar è reflexão sobre o que é cultura e, tendo a percepção que as respostas poderão,
obviamente, diferir de acordo com os diversos contextos em que elas são respondidas.

No Mundo globalizado em que hoje vivemos é inevitável depararmo-nos com pessoas de


outros cantos do Globo (e do País), com hábitos e vivências, pensamentos e abordagens
diferentes dos nossos, mas que nos tornam tão mais fortes, tão mais próximos e unidos
e… tão mais ricos. Contudo, esta interacção de culturas prevê, naturalmente, que nos
aceitemos, respeitemos e toleremos uns aos outros, e que promovamos aprendizagens
mútuas. Não existem dúvidas que o Movimento Escutista em geral e o CNE em particu-
lar, estão bem cientes desta realidade.

A cultura portuguesa deriva, dizem os “entendidos”, de um emaranhado de influências


celtas, romanas, bárbaras e muçulmanas. Não bastassem estas influências, com os
Descobrimentos tornámos o nosso país uma montra e porta de entrada do mundo para
a “velha Europa”.

Basta olhar para a televisão e olhar para as 7 (entre inúmeras) Maravilhas de Origem
Portuguesa no Mundo e reparar que elas são uma estampa inter-cultural de carácter
mundial com cunho português. Uma estampa que permanece até hoje e que tornou, e
continuará a tornar, o nosso Portugal um país culturalmente riquíssimo. Desde o Fado à
gastronomia, desde as danças à língua e aos seus regionalismos, e desde as crenças e
formas de viver a religião aos trajes e indumentárias, são muitas as culturas, regionais e
estrangeiras, que se inter-relacionam dentro das nossas fronteiras.

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II. Guia pessoal para a interculturalidade

As migrações de pessoas e povos fazem, há longo tempo, parte da nossa história. Por-
tugal é hoje, de forma cada vez mais visível, um lugar de encontros, onde vivem e se
cruzam pessoas com uma grande diversidade de experiências e de histórias.

No nosso quotidiano, o contacto com outros modos de vida e outros valores e crenças
coloca desafios e questões, nem sempre de fácil resolução. Comportamentos e formas
de estar que parecem naturais e espontâneos são, por vezes, interpretados de maneiras
muito diversas, causando estranheza, desconfiança e até, por vezes, hostilidade.

Neste quadro de comunicação alargada que é o nosso, ”lidar com a diferença” significa,
em primeiro lugar, olhar as pessoas naquilo que elas são, e não fechando-as numa ima-
gem estereotipada da(s) sua(s) cultura(s). A multiculturalidade é, desde sempre, parte
integrante da vida em sociedade. Diz respeito a todos nós, aos de longe e aos de perto,
pois todos somos, simultaneamente, iguais e diferentes.

Aprender a comunicar é fundamental e requer de cada um disponibilidade para se co-


nhecer melhor e se relacionar com os outros sem preconceitos. Só comunicando é pos-
sível esclarecermos equívocos, compreendermos e aceitarmos quadros de referência
diferentes.

Boas práticas:

Dinâmica “ABIGAIL”

Discussão a respeito de uma triste história de amor: Quem se comportou pior? Quem se comportou
melhor?

Recursos necessários:
Um exemplar da história seguinte para cada um dos participantes:
Abigail está apaixonada por Tomás que vive do outro lado do rio. Uma inundação destruiu todas as pon-
tes em contacto com o rio, tendo-se salvo apenas um único barco. Abigail pede a Sinbad, o proprietário
do barco, que a leve até à outra margem. Sinbad aceita com a condição de Abigail se entregar primeiro
a ele. Abigail, sem saber o que fazer, corre a pedir conselhos à sua mãe que lhe responde que não se
quer intrometer na vida da filha.

Desesperada Abigail cede a Sinbad que, mais tarde, a coloca do outro lado do rio. Abigail corre para se
juntar a Tomás, abraçando-o cheia de felicidade e conta-lhe tudo o que se passou. Tomás rejeita-a
sem rodeios e Abigail foge. Perto da casa de Tomás, Abigail encontra João, o melhor amigo de Tomás, e
também lhe conta o que se passou. O João dá uma estalada a Tomás e parte com Abigail.

428
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Espaço suficiente para que os participantes possam trabalhar individualmente e depois em grupos de
4-5 e todos juntos.

Tamanho do grupo:
Pelo menos 5 participantes, no máximo 30 (os grupos maiores podem estar divididos e proceder à
avaliação separadamente).

Tempo necessário:
No total entre 1h 15 e 2h 15
- 5 minutos para a apresentação
- 10 minutos para a leitura e avaliação dos comportamentos (tarefa individual)
- 30 a 45 minutos para o trabalho em pequenos grupos
- 30 minutos em grupos maiores (opcional)
- 30 a 45 minutos para a avaliação em conjunto

Etapas:
Explique aos participantes que se trata de um exercício sobre o estudo dos valores. Peça-lhes para
ler a história e fazer a avaliação individual de cada uma das personagens (Abigail, Tomás, Sinbad, a mãe
de Abigail e o João) em função do seu comportamento: quem é que se comportou pior? Quem é que se
comportou melhor?.. etc.

Assim que os participantes tiverem feito a sua avaliação, peça-lhes que formem pequenos
grupos (de 3 a 6) para falarem da forma como percepcionaram o com­portamento das personagens da
história. A tarefa de cada grupo consiste em estabelecer uma lista (do melhor para o pior) acordada
por todos os membros do grupo. Para tal peça-lhes que evitem o recurso a métodos matemáticos, mas
sim que se baseiem na compreensão comum do que julgam certo ou errado.

Assim que os pequenos grupos tenham a sua lista, pode repetir a fase anterior formando grupos de
tamanho médio (neste caso os grupos iniciais não deverão comportar mais de 4 pessoas).

Proceda à avaliação do exercício em conjunto partilhando com todos os resulta­dos obtidos e depois
discutindo as suas semelhanças e diferenças.

Passe em seguida, progressivamente, da forma como os indivíduos procederam à sua classificação. Em


que se basearam para decidir sobre o que era correcto ou incorrecto?

Reflexão e avaliação:
A avaliação pode orientar-se nomeadamente para a pertinência dos valores que determinam a nossa
percepção de correcto e incorrecto. Depois de ter colocado esta questão, a próxima etapa diz
respeito à dificuldade/facilidade de negociar os valores com a finalidade de constituir uma lista co-
mum. Pode perguntar aos participantes como chegaram a acordo, que argumentos os convenceram, se
sentiram uma fronteira para lá da qual era impossível compreender e seguir o outro e porquê?

429
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Através do seguimento que é possível prever, podemos examinar os contextos nos quais aprendemos
o que estava correcto ou incorrecto – e o que é que isso nos ensina face ao que temos em comum e
ao que nos diferencia.

Este método na prática…:


Esta história foi muitas vezes utilizada para preparar os participantes para um intercâmbio inter-
cultural. Torna-se muito útil para introduzir o conceito de valores, geralmente abstractos, na medi-
da em que obriga os participantes a fazer referência a valores para proceder a uma classificação.

Uma variante deste exercício consiste em utilizar primeiro a versão original da história e depois re-
peti-la com uma história modificada invertendo os papéis masculinos e femininos. Chegamos à mesma
classificação? Porque houve mudanças?

Outras variantes são possíveis: incluir a idade das personagens na história e brincar com isso, fazer
intervir apenas personagens do mesmo sexo, juntar backgrounds étnicos ou nacionais e depois observar
a influência destes elementos na classificação e analisar as razões dessas mudanças.

Para tirar melhor partido deste exercício, é preciso estabelecer um ambiente aberto que favoreça
a aceitação de todas as classificações e evitar repreender alguns participantes por se referirem a
argumentos que lhe pareçam estranhos ou incorrectos.

Outras sugestões:

Ideias para manter uma atitude de abertura, disponibilidade e cooperação:


1. Experimenta participar em eventos multiculturais.
2. Visita diferentes igrejas, sinagogas, templos e tenta conhecer outras crenças.
3. Experimenta fazer compras numa loja especializada em produtos de diferentes países.
4. Procura lugares “estrangeiros” na tua localidade: lojas, restaurantes, associações, etc..
5. Aprende outras línguas.
6. Relaciona-te e promove iniciativas com pessoas de outras culturas.
7. Tenta imaginar como seria a tua vida se tivesses chegado recentemente a Portugal
8. Oferece prendas sobre e de outras culturas.
9. Fala sobre tolerância e ajuda a compreender o ponto de vista dos outros.
10. Não aceites passivamente preconceitos e informações erradas.
11. Leva os outros ao contacto com pessoas de outras culturas.

430
manualdodirigente

12. Fomenta uma perspectiva saudável do ‘espírito de grupo’ numa realidade multicultural.
13. Encoraja a participação em grupos/instituições da comunidade.
14. Tenta ser consistente e tolerante na sua relação com os outros.
15. Promove o reconhecimento da diversidade como uma oportunidade para aprender
16. Olha sempre para a ‘pessoa’ por detrás das diferenças.
17. Sugere no teu agrupamento a aquisição de materiais que promovam a diversidade.
18. Cria um programa de amizade por correspondência/e-mail com diferentes culturas.
19. Propõe a criação de um placard multilingue com informação sobre o agrupamento.
20. Sugere a diversificação das ementas e o reconhecimento de outros hábitos alimentares.
21. Apoia a criação de um calendário que contemple a diversidade cultural.
22. Identifica e supera a existência de barreiras discriminatórias a outras culturas.
23. Incentiva uma verdadeira igualdade de oportunidades.
24. Divulga legislação anti-discriminatória, bem como recursos e materiais existentes.
25. Promove sistemas de tomada de decisão participativos e diversificados.
26. Contribui para uma relação de trabalho assente na partilha de conhecimento.
27. Sugere a organização de acções para a promoção do diálogo intercultural.

Bibliografia:
ACIDI, 44 Ideias Simples para promover a tolerância e celebrar a diversidade, 2009
António Laranjeira

431
manualdodirigente

C.7.2.2.4. A interculturalidade no Clã

“Minha alma é de todo o mundo


Todo o mundo me pertence
Aqui me encontro e confronto
Com gente de todo o mundo
Que a todo o mundo pertence”

Poema “Minha aldeia”, in Poesias Completas de António Gedeão

I.O Albergue, ponto de partida para o mundo

Comparativamente a um passado não muito distante, vivemos hoje uma era em que
circulam bens, pessoas e capitais mais facilmente entre países. As razões para este
fenómeno são variadas, sendo a mais simples de compreender a necessidade de ajus-
tamento entre o que se oferece e o que se procura no panorama internacional. Com a
ajuda dos avanços tecnológicos e as melhorias nos meios de transporte, a mobilidade
tornou-se mais acessível e mais fácil, ficando criadas as condições necessárias para a
existência de uma sociedade mais heterogénea em termos culturais.

Contudo, para uma vivência harmoniosa em comunidade, muito mais é necessário para
além da mera mudança para um país diferente, onde muitas vezes os costumes e os
valores são diferentes. Ganha assim importância o termo “interculturalidade”, no sentido
que se entende a educação igualitária e transnacional como ideia oposta à supremacia
de algumas culturas sobre outras. Quer isto dizer que, através do respeito entre culturas,
se pretende obter uma sociedade integradora, equitativa, justa, responsável e solidária,
de modo a manter as diferenças sem subalternizações nem sobreposições e intolerân-
cias.

Por outro lado, a promoção da interculturalidade não se faz por si só. Necessita de gen-
te que a pratique. E ninguém melhor que o escuteiro para a preconizar, recorrendo ao
instrumento mais eficaz que possui – o exemplo! Nas palavras de Albert Schweitzer,
Prémio Nobel da Paz em 1952, “O exemplo não é a melhor forma de ensinar; é a única
forma”. Só dando exemplo é possível a obtenção de uma sociedade mais tolerante e
respeitadora.

Olhando para o nosso patrono São Paulo, encontramos um percurso de vida absoluta-
mente intercultural. Através das várias viagens que fez com o intuito de pregar a palavra
de Cristo, viveu experiências culturalmente muito enriquecedoras. Desde Damasco a
Corinto, passando por Atenas e Roma, São Paulo teve a oportunidade de conviver com
gentes diferentes, com valores e visões distintas da dele. Contudo, soube sempre respei-
tar cada povo por onde passava. Nas suas palavras: “Não há judeu nem grego, não há
escravo nem livre, não há masculino nem feminino, porque todos sois um só em Cristo”.
Sigamos o exemplo.
432
manualdodirigente

Boas práticas:

Dinâmica “O MEU PRÓPRIO ESPELHO”

Trata-se de um exercício de observação e de tomada de consciência de si mesmo, que convida os


participantes a observarem-se, a observar os seus comportamentos e reacções em relação a um dado
tema. Fazemos descobertas surpreendentes quando nos observamos com olhos diferentes…

Materiais necessários:
Participantes activos e interessados que podemos motivar desde o início através de algumas sessões
de sensibilização (para a linguagem corporal, percepção, estereó­tipos, teorias da cultura e da apren-
dizagem intercultural).
Um caderno de notas para cada um dos participantes.

Tamanho do grupo:
Indiferente

Tempo necessário:
Pode ser colocado em prática durante um exercício particular, uma unidade ou mesmo um dia completo
(semana).

Etapas:
1. O exercício inicia-se com a explicação aos participantes da ideia de observação de si mesmo. Durante
o dia, os participantes serão convidados a “observarem-se a si próprios” com muita atenção, a obser-
varem os seus comportamentos, as suas reacções em relação aos outros (o que entendem, sentem e
vêem), a sua linguagem corporal, preferências e sentimentos.

2. Devem manter um “diário de investigação” confidencial e anotar todas as obser­vações que conside-
rem importantes, assim como as circunstâncias, a situação, as pessoas implicadas, as causas prováveis,
etc.

3. Os participantes recebem uma série de questões de orientação escolhidas em função do foco


de observação. O trabalho de observação pode servir para evo­car os estereótipos (Como é que eu
percepciono os outros? Como é que reajo para com os outros, em que aspectos, de que maneira?);
ou elementos culturais (O que é que me afasta ou me aproxima dos outros? Quais são as reacções/
atitudes que me agradam/ desagradam? Qual é a minha reacção em relação ao que é diferente? Qual é
a distância que eu adopto? Que impacto tem nas minhas interacções?). Pode igualmente inspirar-se
nas teorias de Hall & Hall a respeito do espaço e do tempo para colocar as questões.

4. O quadro de observação (início e fim) deve ser claramente definido, eventualmente com recurso a
algumas regras simples (respeito mútuo, confidencialidade do diário de investigação, etc.). É impor-
tante que o exercício se desenvolva sem interrupções, mesmo durante as pausas e os tempos livres.
Em jeito de ponto de partida e para entrar no espírito do jogo podemos pedir aos participantes para

433
manualdodirigente

“saírem do seu corpo” e de se verem ao espelho (pequeno exercício). Depois o programa “normal” pode
prosseguir. Uma forma de estruturar o exercício pode consistir em fazer uma pausa depois de cada
um dos elementos do programa, para que os participantes possam tomar notas no seu diário.

5. No fim da unidade, os participantes devem distanciar-se do exercício e “reencarnar o seu corpo”.


Cada um, individualmente, terá necessidade de tempo para rever o dia, reler o seu diário e reflectir
nas razões dos seus comportamentos… (isto pode fazer-se sob a forma de “auto-entrevista”)

6. Como última etapa, podemos organizar uma partilha sob a forma de entrevista a pares ou em grupos
pequenos. Se o grupo for muito aberto e reinar uma atmosfera de confiança, os participantes podem
em seguida ser convidados a participar numa discussão informal, a fim de trocar as suas percepções e
elaborar novas estratégias para gerir as suas reacções.

7. Uma sessão final, em plenário, pode permitir que os participantes falem da forma como viveram o
exercício, dos seus aspectos interessantes e das dificuldades encontradas.
Reflexão e avaliação:

A um nível pessoal: Como senti o facto de me observar? Foi difícil? O que des­cobri? Como interpreto
os meus comportamentos? Porque reagi desta maneira? As minhas atitudes apresentam semelhanças,
características? De onde vêm? Posso relacionar as minhas conclusões com algumas teorias acerca da
cultura? Teria reagido de forma diferente se estivesse menos (ou mais) consciente do exercício? Há
paralelismos entre a minha vida quotidiana e as partilhas com os outros?

Para partilhar: É importante sublinhar que os participantes podem não dizer aos outros o que eles
desejam. O exercício deve ser um ponto de partida para reflexões e questões colocadas a nós mes-
mos.

Este método na prática…:


Mesmo que desejemos interrogar os nossos próprios comportamentos ou que quei­ramos instaurar
uma tensão benéfica, os resultados vão depender sempre muito do ambiente no seio do grupo. Este
exercício pode ajudar a compreender melhor os nossos enraizamentos culturais. Nos encontros in-
terculturais é de facto possível estar mais atento aos mecanismos que desenvolvemos se nos con-
frontarmos com eles. As questões devem ser adaptadas ao objectivo do exercício (quanto mais ques­
tões forem precisas, melhor é) e ao processo já experimentado pelo grupo.

Atenção: nem sempre é fácil para todos observarem-se em vez de observar os outros. Tam­bém é im-
portante insistir na colocação de questões a si e não aos outros. Também não é fácil agirmos sempre
de forma natural no decorrer do exercício.

434
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ALGUMAS DEFINIÇÕES PARA DISCUSSÃO

Cultura
Corresponde a uma estrutura de conhecimentos, de códigos, de representações,
de regras, de modelos de comportamento, de valores, de interesses, de aspira-
ções, de crenças e de mitos. Esta estrutura manifesta-se no dia-a-dia através do
uso de vestuário, pela culinária, modos de habitat, atitudes corporais, tipos de
relações, organização familiar, práticas religiosas.

A cultura cobre o viver e o fazer. A génese desta estrutura opera-se nas transfor-
mações técnicas, económicas e sociais próprias de uma determinada sociedade
no espaço e no tempo. Ela é o resultado do encontro dos três protagonistas da
vida: o homem, a natureza e a sociedade.

Diálogo Intercultural
O Diálogo Intercultural permite que indivíduos e grupos se envolvam numa dis-
cussão aberta acerca da vida numa sociedade multiétnica. É a chave para o mul-
ticulturalismo.

Ilegal
Será antes de mais necessário vincar que nenhum Ser Humano pode ser entendi-
do como ilegal pelo facto de escolher ou ser obrigado a morar noutro país. Ainda
assim são entendidos como estando em “situação irregular” todos os migrantes
que não possuem uma autorização de trabalho ou de residência ou visto válido.

Interculturalismo
O Interculturalismo serve de base à interacção, compreensão e respeito mútuo
entre culturas demograficamente maiorias e minoritárias. Deverá ajudar a desen-
volver uma sociedade intercultural mais inclusiva e a promover as condições para
a interacção e igualdade de oportunidades.
Dirige-se tanto aos grupos maioritários, confrontados com as novas culturas,
como aos minoritários, e que considera que não é suficiente ‘proteger’ ou ‘tolerar’
as culturas minoritárias mas antes favorecer a interacção dinâmica entre as dife-
rentes culturas.

Multiculturalismo
O multiculturalismo reconhece a necessidade para conhecer e celebrar as dife-
rentes culturas numa sociedade. O Multiculturalismo tem como maior crítica o fac-
to de ter potenciado o reconhecimento destas diferenças mas não o diálogo entre
elas, empurrando-as assim para o distanciamento e mútua incompreensão.

435
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Refugiado
Um refugiado é alguém que deixou o seu país e ao qual não pode regressar
devido a um receio fundamentado de perseguição devido à sua etnia, religião,
nacionalidade, opção sexual ou por ser pertencer a um determinado grupo social
ou politico. O estatuto de refugiado está previsto no Direito Internacional pela
Convenção de 1951 das Nações Unidas para o Estatuto dos Refugiados.

Tolerância
Tolerância foi até recentemente erradamente utilizada para definir as relações
inter-étnicas ou inter-religiosas. Contudo é hoje considerado desadequado pois
assume à partida uma postura de superioridade da pessoa que é tolerante face
à outra, que é tolerada. A tolerância é muitas vezes utilizada em relação a algo
ou alguém que não se gosta ou se gosta pouco, pelo devemos utilizar antes o
termo interculturalismo, mais adequado a situações de relações entre diferentes
de igual importância
Alfredo Newtun

436
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C.7.2.3. Igualdade de direitos e oportunidades

INTRODUÇÃO

O Escutismo, enquanto movimento educativo, procura desenvolver, de forma integral,


a personalidade de cada indivíduo. Neste processo, assume especial relevância a edu-
cação em comum dos dois sexos que, se usual nos dias de hoje, se reveste de alguns
problemas. Há quem considere mesmo que a discriminação que atinge, por vezes, um
determinado sexo configura um caso de 'racismo sexual'. De facto, nem sempre a socie-
dade compreende que o respeito entre todos implica o reconhecimento da igualdade de
direitos e oportunidades.

Neste contexto, importa reflectir sobre a problemática da educação para a igualdades de


oportunidades de rapazes e raparigas, cujos estudos procuram, hoje em dia, sensibilizar
a sociedade para a necessidade premente de erradicar todos os tipos de discriminação
sexual

1.1.A pressão social e o estabelecimento de papéis sexuais

A sociedade inculcou em todos nós ideias definidas sobre o papel destinado a homens
e mulheres, sobre os valores, atitudes, características que cada um deve ter. Existem,
assim, diferentes visões sobre o papel que os dois géneros (masculino e feminino) de-
sempenham no mundo.

Falamos em género, e não em sexo, porque se trata de realidades diferentes:

Sexo – conjunto de características biológicas que marca um grupo de seres, dis-


tinguindo, no caso humano, homens e mulheres (sexo masculino e feminino);
Género – conjunto de características, valores, normas de conduta e aptidões
que a sociedade considera próprias de cada sexo e lhe impõe, indicando o que
devem 'ser' e 'fazer'.

A sociedade considera que às mulheres, sexo feminino, correspondem todas as carac-


terísticas do género feminino e que aos homens, sexo masculino, as que se relacionam
com o género masculino.

437
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“É no meio social que meninos e meninas adquirem o conhecimento


e formam os seus esquemas iniciais sobre o mundo e sobre o dividir
de papéis e estatutos entre homens e mulheres na sociedade (…). É
este processo social que pressiona meninos e meninas que constru-
am não a sua identidade, ou seja, a definição de si próprios, dos seus
projectos futuros, do seu papel e função no mundo como pessoa, mas
sim uma identidade adaptada à sociedade em que se está inserido.
Esta pressão social é facilmente detectável, basta ligarmos a TV e
observarmos a quantidade de mensagens que convidam os meninos
a desenvolverem a agressividade, a competitividade e o espírito béli-
co para dominar o mundo, sem terem em conta os afectos e os sen-
timentos, enquanto que às meninas é-lhes proposto mensagens de
mulheres como mães, esposas ou como objecto sexual”

A escola e a construção da identidade, 38

A sociedade construiu, assim, papéis diferenciados para cada sexo, considerando deter-
minadas tarefas próprias de mulher e outras próprias de homem. A convivência entre os
sexos está assim marcada pela pressão social, constituída por modelos, ideias gerais,
juízos pré-concebidos que não têm em conta as características individuais. São os cha-
mados estereótipos sexuais, ou estereótipos de género.

Tudo isto é transmitido pelos diferentes grupos e instituições sociais, com especial des-
taque para os seguintes:

Família: muitos pais consideram que há diferenças inatas entre rapazes e rapa-
rigas e que, por isso, a cada sexo correspondem condutas diferentes. Por essa
razão, induzem a criança a assumir os comportamentos que consideram mais
apropriados para o seu sexo. Para isto, escolhem brinquedos de forma estere-
otipada (carros para meninos, bonecas para meninas), promovem actividades
diferentes para cada sexo (o rapaz ajuda o pai com o lixo, a rapariga ajuda a mãe
a fazer as camas) e utilizam uma linguagem que induz as crianças a aprender
que cada sexo tem características e condutas diferentes (“Quem é uma menina
linda?”; “Um homem não chora!”).

Instituições educativas: tanto a escola normal como outras instituições ligadas


à educação (Catequese, Escutismo, etc.) transmitem estereótipos. Não raro, as
crianças ouvem frases que, inconscientemente, reforçam preconceitos.

“Há por aí dois rapazes fortes para ajudar a levar esta mesa? (…) As
raparigas estão a portar-se tão bem que podem vir escolher em pri-
meiro lugar. Então, os homens grandes não choram.”

Sutherland (1987), 45

438
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De igual modo, os livros educativos estão cheios de imagens estereotipadas: a mãe


cozinha, o pai lava o carro.

Grupo de pares: o grupo a que cada pessoa pertence é constituído por indivídu-
os que consideramos nossos pares, nossos iguais. Sobretudo na adolescência,
o grupo de pares exerce uma forte influência sobre o indivíduo, a nível dos este-
reótipos, “reagindo com aprovação ou desaprovação em relação aos comporta-
mentos apropriados ou inapropriados ao género, respectivamente” Esta situação
pode provocar verdadeiras rejeições por parte do grupo e o isolamento de algum
elemento.

Meios de comunicação social: estes meios (em especial a televisão e o cine-


ma) têm um poder enorme e ajudam a manter os estereótipos sexuais, na medida
em que reproduzem imagens padronizadas (os super-heróis, por exemplo, são
praticamente todos masculinos). Estes estereótipos são facilmente assimilados
pela criança, que depois os transporta para a sua vida adulta.

1.2. O poder social

Para além de transmitir estereótipos, a sociedade também determina a influência que


homens e mulheres têm sobre o mundo. E, a este nível, beneficia, por norma, o homem.
Na nossa sociedade, o homem possui mais influência social do que a mulher, pois as
características que lhe são atribuídas – agressividade, competitividade, frieza, objec-
tividade – estão mais vocacionadas para a vida pública, enquanto que as do género
feminino – afectividade, solidariedade, paciência, submissão – se relacionam sobretudo
com a vida privada.

Apesar de os dois sexos estarem aptos a realizar todas as tarefas, aos homens são atri-
buídas predominantemente as actividades públicas e de maior prestígio, enquanto que
à mulher ficam reservadas as tarefas consideradas domésticas e predominantemente
relacionadas com a vida privada.

Esta situação leva-nos a afirmar que a figura masculina é mais prestigiada e, consequen-
temente, detém o poder social.

Contudo, esta situação nem sempre é vantajosa para os homens. De facto, “o estereóti-
po masculino é mais rígido e melhor definido do que o estereótipo feminino”. Isto significa
que, se uma rapariga não é criticada por assumir atitudes masculinas (usar calças, brin-
car com carrinhos), porque a sua conduta a eleva a um 'patamar superior', prestigiante,
o mesmo não acontece com o rapaz: como os estereótipos masculinos são mais rígidos,
não admitem que o homem possua características femininas, socialmente consideradas
pouco prestigiantes. Assim, se um rapaz assumir atitudes femininas (brincar com bone-
cas, por exemplo), é bastante censurado.

439
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1.3. Os estereótipos de género

Os estereótipos influenciam o ser humano das mais variadas formas, pois estendem-se
pelo tempo (desde a infância até à idade adulta) e pelas mais diversas áreas:

Na infância e adolescência:
Nas épocas privilegiadas do crescimento, há variados estereótipos que inculcam ideias
feitas, como é o caso, por exemplo, dos brinquedos e actividades. De igual modo, tam-
bém as cores do vestuário, por exemplo – rosa para as meninas, azul para os meninos
– são estereotipadas.

Na comunicação verbal e não verbal:


A nível da comunicação não verbal, verificamos, por exemplo, na publicidade, que as
imagens da mulher que a sociedade transmite estão muito associadas ao seu corpo,
tornando-se um objecto sexual. A isto associam-se ainda imagens que relacionam fre-
quentemente a mulher com as tarefas domésticas, imagem que é também habitual nos
livros escolares e de literatura para a infância.

Já a nível da comunicação verbal, na nossa língua há claramente uma desvalorização


das palavras associadas à mulher, que tanto podem indiciar a sua inferioridade perante o
homem (governante/governanta), como são utilizadas para conotar promiscuidade sexu-
al (homem perdido/mulher perdida, vadio/vadia, mãe solteira). De igual forma, o estado
civil das mulheres é controlado, ao contrário do que sucede com os homens ('Menina Jo-
ana', 'Senhora Antónia'), e elas são, como as crianças, muitas vezes tratadas pelo nome
próprio, em detrimento do sobrenome (Dr. Oliveira, Dr.ª Andreia).

Na capacidade física e intelectual:


Também a nível das capacidades há diferenças entre os dois géneros. De facto, por nor-
ma há uma desvalorização intelectual e física da mulher, que é considerada inferior. Esta
desvalorização é bastante visível, por exemplo, a nível da profissão.

Para além disto, há ainda uma ligação muito forte da mulher ao trabalho doméstico e à
educação dos filhos, sendo o homem associado, predominantemente, ao trabalho fora
de casa (a mulher é a dona-de-casa, o homem o chefe da família, o ganha-pão). Isto leva
a sociedade a tolerar a incapacidade masculina para as lides domésticas e a indiferença
educativa, mas a censurar toda a mulher que não tem apetência para cuidar de uma casa
ou que não manifesta 'instinto maternal'.

Na personalidade:
A nível da personalidade, tudo quanto diz respeito ao romantismo, sensibilidade, submis-
são é associado à mulher, enquanto que a frieza, a objectividade e a agressividade são
associadas ao homem.

440
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1.4. A igualdade de direitos e oportunidades

Verificamos, a partir da análise da realidade, que “na nossa cultura (…) está legitimada
uma ordem que determina qual é o lugar e o papel do homem e da mulher na sociedade,
sendo essa hierarquização bastante mais benéfica em relação ao homem que à mulher;
foi estabelecido e está enraizado na nossa cultura que o homem é um ser superior; ele é
o ser que domina e a mulher o ser dominado”.

Perante este cenário, levantam-se muitas vezes vozes críticas que exigem mudanças.
Em casos extremos, há excessos que defendem a total igualdade de sexos.

Cai-se, assim, na tentação de desvalorizar a diferença, “como se a igualdade não pudes-


se conviver com a diversidade, como se todos pudéssemos ser tudo”.

De facto, se os sexos são, por natureza, diferentes, não podemos exigir que se tornem
iguais. Não podemos exigir igualdade de sexos, mas sim igualdade de direitos e de opor-
tunidades, o que é substancialmente diferente.

“Educar para a igualdade não é anular as diferenças, mas reconhe-


cer a flexibilidade e a plasticidade dos papéis. Não é tratar todos da
mesma forma, (…) mas a cada um de forma única, não encerrando
ninguém em estereótipos rígidos”.

Machado, in Neto (2000), 5-6

Isto implica que se deve procurar que todos tenham o direito de chegar onde quiserem e
igual oportunidade para que isso aconteça.

Ora, hoje em dia não é isto que se verifica, pelo que se torna necessário mudar as men-
talidades, no sentido de se aumentar o respeito entre homem e mulher e de levar todos
a compreender que a complementaridade dos sexos desenvolve muito mais a sociedade
do que a primazia de um sobre o outro.

1.5. Conceito e estratégias de educação para a igualdade e oportunidades

Esta é:

a educação em conjunto de ambos os sexos que tem em conta as suas necessidades


comuns, mas que respeita as particularidades físicas, mentais e de carácter de cada ser.
Promove a complementaridade dos sexos, procurando valorizar cada um e fomentar a
aceitação e a compreensão entre ambos.

441
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Perante isto, podemos concluir que a educação para a igualdade de oportunida-


des pretende educar em conjunto ensinando a:

- Respeitar o outro;
- Valorizar o outro pelo que é e não pelo seu sexo;
- Aprender a tirar partido da complementaridade e da partilha;
- Desenvolver a aceitação e a tolerância.

2.1. Igualdade de direitos e oportunidades no escutismo

À pergunta “Quem faz melhor escutismo?” os jovens responderam sem hesitação “Os
rapazes, claro!”

Esta questão, que evidencia claramente que a coeducação requer muito mais do que
simplesmente colocar juntos rapazes e raparigas, surgiu no âmbito de uma pesquisa
sobre a educação do género num contexto não-formal, realizada em 2001 pela Orga-
nização Mundial do Movimento Escutista, através da Região Europeia e Eurásia e em
cooperação com a Universidade de Oslo, sob a orientação da Professora Harriet Nielsen.
A pesquisa desenvolveu-se em quatro Países: Dinamarca, Eslováquia, Portugal e Rússia
e contou com a colaboração de alguns grupos locais e respectivos dirigentes.

Embora já existisse algum envolvimento das mulheres no Escutismo, só em 1977 a


OMME se tornou oficialmente coeducativa. Um ano após Portugal adoptar uma das
Constituições mais promissoras em termos de igualdade de oportunidades em toda a Eu-
ropa e de o CNE fazer aprovar em Conselho Nacional o estatuto de Associação mista.

Nas décadas seguintes grandes esforços foram feitos, no sentido de modernizar a plata-
forma de valores escutistas, de forma a ser menos estereotipada em termos de género.

Em 1999 a Conferência Mundial adopta uma nova política sobre rapazes e raparigas,
mulheres e homens no Movimento Escutista:

“...contribuir para a educação de jovens, femininos e masculinos, como


iguais e na base das necessidades e aspirações de cada indivíduo”.

442
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Ou seja, permitir que cada indivíduo se desenvolva integralmente sem restrições pelo
modelo tradicional dos papéis femininos e masculinos.

A estratégia mundial definida em 2002 vem depois reforçar a necessidade de as Associa-


ções Nacionais reverem e actualizarem o programa educativo que oferecem aos jovens:

“O Movimento toma em consideração as necessidades e aspirações de ambos


os sexos quando elabora os programas educativos?

“São os dirigentes adultos capazes de observar e analisar o que acontece real-


mente nos seus agrupamentos?

O actual programa educativo do CNE, reflecte não só o contributo da pesquisa realizada


no nosso país, mas também as ferramentas produzidas ao nível mundial, para a adequa-
ção dos novos projectos educativos a objectivos e práticas escutistas mais equilibradas
na área da coeducação.

Evolução do efectivo nacional 1990-2010

Nos últimos 10 anos, o género feminino aumentou de 42% para 49%


enquanto o género masculino reduziu na quantidade inversa. Numa
análise da evolução anual, percebe-se que há uma tendência para o
equilíbrio.
Edgar Zeferino, in CNE em números

443
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2.2. Características necessárias ao dirigente para implementar a educação para


a igualdade de oportunidades

O Escutismo tem um papel de responsabilidade perante a sociedade. Uma vez que é um


movimento educativo, compete-lhe EDUCAR e, dado que é dirigido a rapazes e rapari-
gas, fazê-lo aplicando os princípios da coeducação.

Para isto, é essencial que tenha dirigentes competentes, uma vez que são eles os primei-
ros responsáveis pelo desenvolvimento integral dos escuteiros. De facto, nada resulta se
os dirigentes não souberem assumir integralmente o seu papel de educadores, conscien-
cializando-se de que são modelos para os seus elementos. O próprio B.P. o diz:

“O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio


exemplo pessoal do Chefe-Escuta. É fácil vir a ser o herói, bem como
o irmão mais velho do rapaz. Nós temos, ao tornarmo-nos adultos, a
tendência para esquecer o fundo de culto dos heróis que existe no
rapaz” .

Perante isto, que características deve ter o dirigente para coeducar os seus elementos?

Ter maturidade psicológica e afectiva;


Ter capacidade para ouvir e para dialogar;
Ter capacidade para observar;
Ter preparação técnica na área da coeducação;
Ter capacidade para reflectir sobre o seu sistema de valores e pô-los em prática,
tendo como pano de fundo os valores escutistas;
Ter comportamentos coeducativos na sua relação com a Equipa de Animação e
com os seus escuteiros.

2.3. E quais os principais aspectos a ter em conta para um programa educativo


mais equilibrado?

Consciência da coeducação
O primeiro aspecto será a chamada consciência da coeducação por parte dos dirigentes,
ou seja, o entendimento dos conceitos fundamentais da coeducação, a importância dada
à sua aplicação e o acesso aos recursos necessários.

A coeducação efectiva baseia-se em objectivos e a sua prática é sistemática e afecta


a totalidade do que os jovens fazem no escutismo. Ultrapassa, em muito, os simples
aspectos práticos de organização das Unidades, como por exemplo a existência de pa-
trulhas ou equipas mistas.
444
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Esta consciência é fundamental e não permite que se remetam as questões para o mero
contexto formal, como se o facto de sermos uma associação mista (oficialmente reconhe-
cida nos estatutos e regulamento geral) seja garante da prática de coeducação, deixando
a gestão do dia-a-dia a cargo dos jovens e demitindo-nos do nosso papel de educadores,
sob pretexto de não interferir nos problemas da patrulha ou do grupo.

Equilíbrio entre as áreas de desenvolvimento pessoal


Por educação integral entende-se que todas as áreas de desenvolvimento pessoal de-
vem ser consideradas no programa educativo da Associação. Essas áreas estão directa-
mente ligadas com as dimensões de crescimento do próprio jovem, tendo por isso igual
peso no desenvolvimento harmonioso do mesmo.

“Se não fazemos actividades grandes e duras não é verdadeiro escutismo”.

Esta concepção de Escutismo, orientada em excesso para a prática de actividades de


carácter mais físico, como referido por um dos entrevistados, será não só um motivo de
desequilíbrio educativo, em termos gerais, como mais especificamente em termos de gé-
nero, atendendo a que este tipo de actividades se relacionam mais com as preferências
dos rapazes.

Relação entre as necessidades e aspirações dos rapazes e raparigas e as activi-


dades realizadas
Outro aspecto importante a considerar será a ligação entre as necessidades e aspira-
ções dos rapazes e raparigas e as actividades realizadas. O quadro apresentado pode
ajuda-nos a perceber até que ponto as actividades devem ser diversificadas, responden-
do às especificidades dos géneros.

ACTIVIDADE PREFERÊNCIA ESTATUTO FREQUÊNCIA PREFERIDO GÉNERO


PESSOAL RAPAZES OU SIMBÓLICO
RAPARIGAS
Pioneirismo Alta Alto Em todos os Ambos Masculino
acampamentos

Primeiros Média Médio Uma vez por Raparigas Feminino


socorros ano

Lavar a loiça Baixa Baixo 3x por dia em Nenhum Feminino


acampamentos

Corrida de Média Alto 2x por ano Rapazes Masculino


orientação

445
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Preferência pessoal do dirigente. Pode ser alta, média, baixa


Estatuto da actividade – o valor e prestígio atribuído á actividade. Pode ser alto,
médio ou baixo
Frequência com que é realizada – diariamente, 1 x por semana, 1 x em cada
acampamento, várias x durante o ano, raramente)
Preferência de rapazes ou raparigas – rapazes, raparigas, ambos
Género simbólico – quando a actividade pose ser associada em termos culturais
a um género específico. Pode ser masculino, feminino, nenhum

O direito a ser igual e a ser diferente

Os géneros não são iguais, são diferentes e complementares.

Por vezes a relação entre os conceitos da igualdade e diferença é confusa. Uma das
razões prende-se com o facto de igualdade e diferença não serem conceitos opostos. O
oposto de igualdade é desigualdade ou hierarquia, enquanto que o oposto de diferença
é semelhança.

Isto significa igualdade de direitos e oportunidades, apesar das diferenças dos géneros.

No Escutismo e mais propriamente em termos do programa educativo podemos falar em


redistribuição e reconhecimento.

Redistribuição – o direito a ser igual na distribuição/escolha das tarefas e no acesso às


actividades. Atendendo a que actividades têm diferente estatuto ou prestígio, o género
que estiver mais associado às actividades ditas fixas (a pesquisa indica que é o feminino)
não tem a oportunidade de participar num maior leque de actividades enriquecedoras.

Reconhecimento – o direito a ser diferente e a ver as suas capacidades reconhecidas


independentemente do género.

Assim para um modelo educativo mais justo e democrático em termos de complementa-


ridade de género, todas as actividades devem ser reconhecidas na condição de:

não limitar o direito do outro de se auto-exprimir;


não serem consideradas universais;
não se tornarem numa norma para todos;
de forma a garantir o direito de reconhecimento de todos os participantes, o pro-
grama deverá ser mais variado.

446
manualdodirigente

Resolver estes dilemas requer uma dupla acção:

dar estatuto às tarefas e valores considerados femininos


separar essas tarefas e valores da questão do género e vê-las simplesmente
como parte do repertório humano.

Sem dúvida uma tarefa aliciante e de grande responsabilidade para todos os níveis da
Associação.
Sandra Correia

447
manualdodirigente

C.7.2.3.1. Vantagens da educação para a igualdade na Alcateia

Os dirigentes dos lobitos sabem que a relação entre os sexos e a compreensão da dife-
rença, nesta faixa etária, nem sempre é fácil.

De facto, rapazes e raparigas apresentam, por norma, algumas características diferen-


tes.

Assim, por exemplo, as meninas têm tendência para actividades mais estáticas (brin-
car com bonecas, pintar) e são psicologicamente mais maduras, enquanto os meninos
preferem actividades mais activas (jogar à bola, lutar) e gostam de se destacar, o que
os leva a serem muitas vezes considerados pelas meninas como agressivos, palermas
e aldrabões. Nestas idades, as crianças gostam de gozar e são, muitas vezes, cruéis
perante a diferença.

Ora, esta situação facilmente provoca a rejeição entre sexos: é frequente meninos e me-
ninas não gostarem uns dos outros e preferirem relacionar-se apenas com crianças do
seu sexo; afastamento de crianças de nível económico e social diferente, porque não tem
os mesmos brinquedos para trocar, ou porque não acompanham as conversas…

Este comportamento levanta alguns problemas na hora da aplicação da coeducação. De


facto, não é fácil desfazer estereótipos quando há uma rejeição do que é diferente. No
entanto, e porque a infância é um momento crucial para o desenvolvimento da socializa-
ção, é importante que nesta fase as crianças compreendam que a partilha de actividades
entre todos só enriquece a sua vida.

Ao utilizarmos a coeducação na Alcateia, estamos a permitir que cada lobito cresça de


forma equilibrada, compreenda a riqueza humana que o rodeia e aceite, pela sua própria
experiência pessoal, as diferenças, respeitando-as de forma integral, independentemen-
te das imagens estereotipadas que já lhe foram inculcadas nos primeiros anos de vida.
Assim, coeducar na Alcateia permite que cada lobito:

Desenvolva atitudes familiares equilibradas, compreendendo que o respeito e a


aceitação devem nortear o relacionamento afectivo;
Estabeleça relações equilibradas com os outros, independentemente do sexo,
idade, condição social…, baseadas na ajuda e na partilha de todas as tarefas,
para diluir os estereótipos que a sociedade impõe;
Aprenda a desenvolver atitudes de confiança, compreensão, aceitação e res-
peito de si mesmo e dos outros, compreendendo que eventuais diferenças são
motivo de riqueza e não de desprezo;
Desenvolva uma visão natural da diferença;
Escolha actividades baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na
pressão social.

448
manualdodirigente

Estratégias de Coeducação na Alcateia

A este nível, há algumas estratégias que podem ajudar os dirigentes a pôr em


prática a coeducação. São elas:

• Realizar com todos jogos variados que promovam o conhecimento pessoal, do


outro sexo, de outras realidades, da deficiência e que estimulem a solidariedade
e a partilha:
- jogos que impliquem esforço e destreza física e ateliers que impliquem mi-
núcia manual (assim, as meninas são incentivadas a serem mais activas e os
meninos aprendem a desenvolver a paciência e a perfeição);
- jogos e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a
inversão de papéis;
• Partilhar todas as tarefas, não em função do sexo, mas em função das habilida-
des pessoais;
• Permitir que todos assumam rotativamente os cargos dentro do bando;
• Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos, pobres e ricos, rurais e
citadinos, que incutam valores positivos;
• Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito e coo-
peração entre todos (reforço positivo);
• Promover o mais possível, através da Lei e Máximas, valores como o respeito,
a amizade, a solidariedade;
• Desenvolver a imagem das figuras do Livro da Selva femininas, em especial
Racxa (a Mãe Loba) e Báguirà, cujos papéis não são os que tradicionalmente se
associam às mulheres: Racxa defende a família perante Xer-Cane (por norma, o
papel de defensor a família é do homem) e Báguirà tem um papel educativo activo
(ensina Máugli a caçar – o ensino mais passivo, das Leis da Selva, é reservado
a Balu); ver que os animais da selva são de espécies diferentes, mas são amigos
e cooperam entre si;
• Desenvolver a imagem do Menino Jesus como exemplo de solidariedade, ami-
zade e cooperação.

449
manualdodirigente

C.7.2.3.2. Vantagens da educação para a igualdade na Expedição

Na II Secção, surge a etapa da puberdade e os exploradores são obrigados a enfrentar


mudanças súbitas que os levam a perder o equilíbrio da infância e nem sempre facili-
tam o processo relacional. Tem início uma nova forma de relação entre os sexos que é,
por norma, problemática. De facto, as modificações físicas conduzem à necessidade de
protecção num grupo do mesmo sexo e não facilitam a convivência por se iniciarem em
momentos diferentes para raparigas e rapazes.

Assim, as raparigas tendem a modificar-se mais cedo e a evoluir mais depressa, alcan-
çando mais cedo uma maturidade que as leva a desconsiderar os rapazes da mesma
idade, olhados como infantis e fanfarrões. E estes não se adaptam às suas compa-
nheiras, uma vez que possuem gostos diferentes em termos de actividades e são mais
inconstantes (preferem actividades com muita acção, que vivem com uma certa agressi-
vidade, mas cansam-se depressa).

De um modo geral, as crianças desta idade, são intolerantes e impacientes para todos os
que não partilham os mesmos interesses, os que têm costumes diferentes, os que não
conseguem acompanhar as brincadeira.

Este comportamento levanta bastantes problemas, uma vez que a rejeição produz inca-
pacidade relacional. E a tendência, se não for combatida, é para manter e confirmar este-
reótipos e para desprezar de forma por vezes evidente o outro que é diferente. Por essa
razão, a correcta aplicação da coeducação é absolutamente imprescindível nesta faixa
etária, uma vez que só a utilização coerente e consciente de estratégias coeducativas
pode ajudar a unir os exploradores, levando-os a compreender a riqueza que a partilha
de tarefas e actividades e o conhecimento mútuo possuem.

Ao utilizarmos a coeducação na Expedição, estamos a permitir que cada escuteiro desta


faixa etária desenvolva, de forma equilibrada, as suas capacidades relacionais e aprenda
a lidar com a diferença, compreendendo que optar pela tolerância, partilha e respeito
mútuo é mais produtivo e valioso do que sustentar imagens estereotipadas que menos-
prezam alguns e tantas vezes limitam a cooperação.

Assim, coeducar na Expedição permite que cada explorador:

Conheça as suas características pessoais e valorize as diferenças dos outros;


Desenvolva atitudes de confiança, compreensão e aceitação recíprocas, apren-
dendo a respeitar-se e a respeitar o outro;
Desenvolva atitudes de tolerância em relação às características dos outros, tra-
tando cada um como um ser único e com particularidades específicas, ao invés-
de utilizar um comportamento uniforme em relação a um grupo (por exemplo,
rapazes e raparigas aprenderão a distinguir que o facto de não gostarem de
um elemento do outro sexo não significa rejeição de todos os elementos desse
sexo);

450
manualdodirigente

Reconheça a riqueza da complementaridade que, baseada na ajuda e na parti-


lha de todas as tarefas, permite a rapazes e raparigas trabalhar em conjunto de
forma serena;
Desenvolva uma visão natural da sexualidade, compreendendo que as diferen-
ças que despontam implicam uma atitude de respeito perante o outro;
Desenvolva um comportamento familiar equilibrado e harmonioso, compreen-
dendo, no seu íntimo, que o respeito e a tolerância devem presidir ao relaciona-
mento familiar;
Escolha actividades e pense no seu futuro baseando-se nas suas preferências e
aptidões e não na pressão social.

Estratégias de coeducação na Expedição

Algumas das estratégias que podem ajudar os chefes da Expedição a pôr em


prática a coeducação são as seguintes:

• Realizar com todos actividades que promovam o conhecimento pessoal e do


outro e que estimulem a solidariedade e a partilha:
- actividades que impliquem esforço e destreza física e ateliers que impli-
quem minúcia manual, por forma a que todos possam aceder a todo o tipo
de acções;
- actividades e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimu-
lando a inversão de papéis (por exemplo, convém que tanto raparigas como
rapazes aprendam a serrar e varram a Cabana ou lavem a loiça);
• Realizar actividades que estimulem o trabalho da Patrulha, em detrimento do
esforço individual;
• Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito, coope-
ração e entreajuda entre todos;
• Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos pobres e ricos, rurais e
citadinos, que incutam valores positivos;
• Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como o res-
peito, a amizade, a tolerância, a solidariedade

451
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C.7.2.3.3. Vantagens da educação para a igualdade na Comunidade

Passada a etapa da puberdade, os pioneiros entram numa fase de maturação, em que


as mudanças corporais são bem visíveis e a pulsão sexual aumenta. Nesta altura, in-
tensifica--se a insegurança em relação ao seu corpo, identidade e convivência com os
outros. A necessidade de afirmação conduz à procura de elementos do mesmo sexo (que
permitem alguma estabilidade) e o grupo torna-se mais importante do que a própria famí-
lia, pelo que surgem atitudes contestatárias. Este é também o momento em que podem
surgir grupos rivais, com códigos de conduta próprios.

É neste contexto que tem início uma nova forma de relação entre os sexos que é, por
norma, mais equilibrada do que na II secção. De facto, e ainda que haja diferenças de
maturidade (as raparigas amadurecem mais cedo, pelo que tendem a preferir rapazes
mais velhos), as relações entre os sexos não são tão tensas. Apesar de rapazes e rapa-
rigas continuarem a apreciar mais o seu sexo do que o outro, a descoberta da existência
de interesses comuns leva-os a conseguir trabalhar em conjunto, respeitando-se mutua-
mente e convivendo com tranquilidade.

Ao utilizarmos a coeducação na Comunidade, estamos a permitir que cada escuteiro


desta faixa etária continue a desenvolver, de forma equilibrada, as suas capacidades
relacionais. Descobrirá, assim, que a relação entre o ser humano, marcada pela igual-
dade de direitos e obrigações, deve reger-se, acima de tudo, pela complementaridade,
tolerância e respeito mútuo.

Assim, coeducar na Comunidade, permite que cada pioneiro:

Desenvolva uma relação equilibrada com os pares, marcada por atitudes de ami-
zade, confiança, compreensão e aceitação recíprocas;
Aprofunde, a partir da sua própria experiência, o conhecimento pessoal e dos
outros, valorizando a diferença como fonte de riqueza e complementaridade;
Desenvolva atitudes democráticas e de tolerância em relação aos outros, tratan-
do cada um como um ser único e insubstituível;
Desenvolva uma visão natural da sexualidade, compreendendo que as relações
afectivas devem ser norteadas por uma atitude de respeito perante o outro, cen-
trando-se no conhecimento da pessoa e não na atracção sexual;
Demonstre um comportamento familiar equilibrado, compreendendo que o res-
peito e a tolerância devem presidir ao relacionamento entre todos;
Se questione sobre quem é e quais são as suas verdadeiras aspirações;
Escolha actividades e pense no seu futuro baseando-se nas suas preferências e
aptidões e não na pressão social.

452
manualdodirigente

Estratégias de coeducação na Comunidade

Algumas das estratégias que podem ajudar os chefes da Comunidade a pôr em


prática a coeducação são as seguintes:

• Realizar com todos actividades que promovam o conhecimento pessoal e do


outro e que estimulem a cooperação e a partilha:
- actividades de carácter físico e manual que impliquem cooperação e de-
monstrem que todos podem desenvolver todo o tipo de aptidões;
- actividades e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulan-
do a inversão de papéis;
- actividades que estimulem o trabalho da Equipa, em detrimento do esforço
individual;
• Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito, coope-
ração e entreajuda entre os jovens;
• Partilhar todas as tarefas zelando para que os pioneiros escolham as tarefas a
assumir a partir das suas preferências pessoais e não em função dos papéis que
a sociedade determina para cada sexo;
• Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos, e de condições, culturas
e credos diferentes, para que os pioneiros compreendam que a sociedade evolui
a partir do contributo de todos
• Elaborar um ‘Código de Grupo’ que evidencie o compromisso para com a tole-
rância, a cooperação e o respeito mútuo;
• Promover o diálogo sobre o papel que homens e mulheres devem ter na constru-
ção de uma sociedade justa e equitativa, chamando a atenção para os problemas
que se criam quando não há respeito mútuo e cooperação, mas sim discrimina-
ção;
• Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como a aber-
tura ao outro, a honra, a autonomia, a lealdade, a amizade, o respeito, a tolerân-
cia, o serviço, a solidariedade, a honra, o compromisso;

453
manualdodirigente

C.7.2.3.4. Vantagens da educação para a igualdade no Clã

Ao utilizarmos a coeducação no Clã, estimulamos nos jovens o desenvolvimento e aper-


feiçoamento da relação com o outro, permitindo que valores como a tolerância, coopera-
ção e respeito mútuo sejam praticados de forma constante.

Mais concretamente, a acção coeducativa permite que cada caminheiro:

Aprofunde o conhecimento pessoal e dos outros, encarando as potencialidades


dos que o rodeiam (incluindo as suas diferenças) como factor de riqueza;
Desenvolva atitudes de tolerância, confiança, compreensão e aceitação recípro-
cas, compreendendo que todos são seres únicos e iguais em dignidade, direitos e
obrigações. Isto permite o crescimento pessoal e desenvolve o respeito mútuo;
Tome consciência da necessidade de todos partilharem responsabilidades em
todos os domínios da vida;
Desenvolva um grau de autonomia que lhe permita assumir, para toda a sua vida,
um papel activo de cooperação e partilha numa relação de amor;
Desenvolva atitudes familiares equilibradas, compreendendo o papel de respeito
e aceitação que deve nortear o relacionamento afectivo;
Decida o seu futuro baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na
pressão social;
Desenvolva uma estrutura psicológica e moral suficientemente forte para supor-
tar eventuais discriminações profissionais e sociais que possam surgir.

Estratégias de Coeducação no Clã

A IV Secção é constituída por jovens em busca da maturidade plena. Funcionan-


do bem, torna-se uma comunidade de amigos que, em conjunto, procuram um
conhecimento mais profundo de si mesmos, dos outros e da sociedade em que
se inserem, que procuram servir.

No entanto, os jovens desta faixa etária não estão isentos de perigo, a nível da
maturidade psicológica e sexual. Numa fase em que a resistência e a força, a
concentração, a persistência, a iniciativa, a confiança, a assertividade estão em
plena fase de desenvolvimento ou já caracterizam alguns jovens em maior ou
menor grau, se as etapas escutistas anteriores foram vividas de forma positiva, os
hábitos e as atitudes dos jovens são eminentemente positivos.

A nível coeducativo, isto significa que aprenderam já a riqueza da cooperação e


solidariedade entre todos e conseguem estabelecer as suas próprias escolhas,

454
manualdodirigente

não se deixando influenciar de forma profunda por estereótipos. No entanto, nem


sempre isto acontece, pelo que é necessário que os dirigentes utilizem estraté-
gias coeducativas como as seguintes:

• Estimular a realização de actividades com todos, que promovam o conhecimento


pessoal e do outro e que estimulem a solidariedade, a cooperação e a partilha:
• Actividades variadas, que ponham plenamente à prova a capacidade física, de
forma a todos poderem compreender que, independentemente do sexo e condi-
ção física, todos podem desenvolver variadas aptidões;
• Actividades evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão
de papéis:
• Partilhar todas as tarefas zelando para que os caminheiros escolham as tarefas
a assumir a partir das suas preferências pessoais e não baseados papéis sociais
estereotipados;
• Incentivar a utilização de imaginários com figuras masculinas e femininas, de vá-
rias religiões e contextos sociais, de forma a que se valorize o papel na evolução
da sociedade independente de raça, cor ou credo;
• Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como o res-
peito, a amizade, a tolerância, a solidariedade;
• Desenvolver o PPV, estimulando a escolha de actividades segundo as prefe-
rências pessoais e não segundo estereótipos sociais com os quais não há iden-
tificação;
• Incitar à reflexão sobre as características do outro sexo, a nível social e familiar,
e a riqueza que pode advir da complementaridade e do respeito mútuo;
• Incitar à reflexão sobre a discriminação sexual existente na sociedade, debaten-
do os perigos e injustiças que assim são criados.

Bibliografia:
Coeducação – Manual do Dirigente 9, Lisboa, CNE, 1995.

Para uma Pedagogia da Coeducação, Lisboa, Ministério da Educação Nacional e Secretaria de Estado da Instrução e Cultura,

1973.

Abranches, G. e Carvalho, E., Linguagem, poder, educação: o sexo dos B, A, Bas, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os

Direitos das Mulheres, 2000.

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Baden-Powell, Auxiliar do Chefe Escuta, Lisboa, CNE, s/d.

Diniz, M. A. G. S., Lugar da mulher nas rimas tradicionais infantis, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 6-10.

Dupont, B., Rapaz ou rapariga: igual educação?, Póvoa do Varzim, Brasília Editora, 1982.

455
manualdodirigente

Filiod, J. P., Observações sociológicas sobre a feminização da docência, in Acioly-Regnier, N., Meios escolares e questões de género:

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García Colmenares, C., Repensar el género: propuestas para el currículo de formación del profesorado, in Coeducação: do princípio

ao desenvolvimento de uma prática, Actas do Seminário Internacional (Lisboa, 28 e 29 de Junho de 1999), Lisboa, Comissão para a

Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 1999, 107-131.

Martelo, M. J. A., A Escola e a construção da identidade das raparigas, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das

Mulheres, 1999.

Monge, M. G., Criatividade na Coeducação: uma estratégia para a mudança, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos

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Neto, A, et al., Estereótipos de género, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000.

Neto, A, et al., Estereótipos de género: uma proposta de intervenção na formação inicial de professores/educadores, in Coeducação:

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Pinto, T., Coeducação e Igualdade de oportunidades, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000.

Pinto, T., A Profissão Docente e os desafios da Coeducação, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres,

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Ribeiro, M., A questão da (des)igualdade entre os sexos, ao nível do ensino, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 2-5.

Rosa, M. H. V., Igualdade de oportunidades em matéria de educação, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 53-54.

Silva, R. T., Igualdade de oportunidades nas escolhas profissionais, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 55-56.

Sutherland, P. D., Igualdade de oportunidades na educação das raparigas e dos rapazes, in Escola Democrática 9.1, 1987, 44-49.

World Scout Movemment, One of the Boys

456
manualdodirigente

Índice

Introdução ao Imaginário – “Jorge e o seu Dragão”

Parte A – A Acção Pedagógica

03 A.0. - Os destinatários da acção pedagógica


05 A.1. – A criança dos 6 aos 10 anos
11 A.2. – O adolescente dos 10 aos 17 anos
19 A.3. – O jovem dos 18 aos 22 anos
Parte B – O Projecto Educativo que oferecemos
25 B.1. – Proposta Educativa do CNE
29 B.2. – Áreas de desenvolvimento, trilhos e objectivos educativos
Parte C – Como Implementar
43 C.0. – As Sete Maravilhas do Método
47 C.1. – Lei e Promessa
47 C.1.0. - Um quadro referência de valores
49 C.1.1. - A Lei e Promessa na Alcateia
57 C.1.2. - A Lei e Promessa na Expedição, Comunidade e Clã
70 C.1.2.1. - A vivência na Expedição
73 C.1.2.2. - A vivência na Comunidade
80 C.1.2.3. - A vivência no Clã
85 C.2. – Mística e Simbologia
85 C.2.0. - 'Mística' e 'Imaginário' do Programa Educativo
90 C.2.1. - Mística e Simbologia na Alcateia
99 C.2.2. - Mística e Simbologia na Expedição
108 C.2.3. - Mística e Simbologia na Comunidade
120 C.2.4. - Mística e Simbologia no Clã
133 C.3. – Vida na Natureza
133 C.3.0. - O valor pedagógico do contacto com a Natureza
137 C.3.1. - A Vida na Natureza na Alcateia
143 C.3.2. - A Vida na Natureza na Expedição
147 C.3.3. - A Vida na Natureza na Comunidade
153 C.3.4. - A Vida na Natureza no Clã
157 C.4. – Aprender Fazendo
157 C.4.0. - Valor pedagógico do Aprender Fazendo
165 C.4.1. - Formas de Aprender Fazendo na Alcateia
174 C.4.2. - Formas de Aprender Fazendo na Expedição
183 C.4.3. - Formas de Aprender Fazendo na Comunidade
193 C.4.4. - Formas de Aprender Fazendo no Clã

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manualdodirigente

201 C.5. – Sistema de Patrulhas


201 C.5.0. - O modelo criado por B.-P.
204 C.5.1. - O Sistema de Patrulhas na Alcateia
226 C.5.2. - O Sistema de Patrulhas na Expedição, Comunidade e Clã
255 C.6. – Progresso Pessoal
255 C.6.0. - Valor pedagógico do Sistema de Progresso
257 C.6.1. - O Sistema de Progresso na Alcateia
274 C.6.2. - O Sistema de Progresso na Expedição
290 C.6.3. - O Sistema de Progresso na Comunidade
314 C.6.4. - O Sistema de Progresso no Clã

334 Anexo 1 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos


339 Anexo 2 - Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia
349 Anexo 3 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores
354 Anexo 4 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros
360 Anexo 5 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

367 C.7. – Relação Educativa


367 C.7.0. - O Adulto no Escutismo
372 C.7.1. - Interacção Educativa
377 C.7.1.1. - A Interacção Educativa na Alcateia
378 C.7.1.2. - A Interacção Educativa na Expedição
380 C.7.1.3. - A Interacção Educativa na Comunidade
384 C.7.1.4. - A Interacção Educativa no Clã
385 C.7.2. – A Coeducação
387 C.7.2.1. - Escutismo Inclusivo
393 C.7.2.1.1. - Escutismo Inclusivo na Alcateia
398 C.7.2.1.2. - Escutismo Inclusivo na Expedição
403 C.7.2.1.3. - Escutismo Inclusivo na Comunidade
409 C.7.2.1.4. - Escutismo Inclusivo no Clã
413 C.7.2.2 . - A interculturalidade
419 C.7.2.2.1. - A interculturalidade na Alcateia
423 C.7.2.2.2. - A interculturalidade na Expedição
427 C.7.2.2.3. - A interculturalidade na Comunidade
432 C.7.2.2.4. - A interculturalidade no Clã
437 C.7.2.3. - Igualdade de direitos e oportunidades
448 C.7.2.3.1. - Vantagens da educação para a igualdade na Alcateia

450 C.7.2.3.2. - Vantagens da educação para a igualdade na Expedição


452 C.7.2.3.3. - Vantagens da educação para a igualdade na Comunidade
454 C.7.2.3.4. - Vantagens da educação para a igualdade no Clã
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