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Esforço
Capacidade
Demandas
Falta de suporte
mento dicotômico carece de qualificadores tante, já que olhar para essas nuanças será
como “levemente”, “um tanto” e “às vezes”, importante para colocar as coisas em pers-
resultando num pensamento do tipo preto- pectiva. Pede-se, então, que o paciente reava-
-e-branco. Em vez de dizer: “Às vezes não lie o desfecho, atribuindo-lhe um novo valor
me saio bem em um teste”, o indivíduo diz: percentual, e indique por que esse resultado
“Sempre me saio mal”. Do mesmo modo, ele não é tão ruim quanto parece.
pode ver os resultados como totalmente bons
ou totalmente ruins. Perguntas a formular/intervenção
Esse tipo de pensamento pode ser exa-
minado com o uso da técnica do continuum. “Você disse que esse evento foi muito ruim.
O objetivo desta técnica é ajudar o paciente a O quanto você se sente mal, numa escala de
pensar em termos de graus ou variações em 0 a 100%, onde 100% representa o pior sen-
vez de totalmente bom ou totalmente ruim. timento que você pode imaginar – algo como
Muitas vezes, as pessoas deprimidas, ansio- o Holocausto – e 0% representa a ausência de
sas ou irritadas respondem aos eventos como qualquer coisa negativa? (Utilizando o For-
se fossem catastróficos. Em vez de encarar mulário 9.2) Vou desenhar uma linha, mar-
um evento como uma inconveniência ou uma cando cada incremento de 10 pontos.
frustração, o indivíduo pensa que o mundo Você atribuiu ao evento atual uma pon-
está chegando ao fim e que as coisas não po- tuação ruim, 90%. Agora, vamos exami-
dem ser toleradas como estão. Assim sendo, nar alguns outros pontos da escala. Vamos
ele acredita que “não consegue lidar com considerar 95%. O que poderia acontecer
isso”, mesmo que o resultado que experimen- a alguém que fosse 95, 80, 70, 60, 50, 40,
ta ou prevê não represente mais do que um 30, 20, 10%? Há alguns pontos que você
inconveniente temporário. acha difícil de marcar? Por que seria difí-
A técnica do continuum requer que o cil marcar os pontos abaixo de 60%? Será
indivíduo avalie o evento em uma escala de que é por que você está vendo o que acon-
0 a 100%, onde 0% corresponde à ausência tece agora em termos extremos? Você pode
de algo negativo e 100% corresponde ao pior pensar em mudar o ponto em que colocou
resultado possível imaginável – por exemplo, este evento na escala? Quais as razões pelas
o Holocausto ou ter a própria pele queimada quais isso não é tão ruim quanto você pen-
lentamente. Pede-se ao paciente que avalie o sou que fosse?”
quanto se sente mal em relação ao aconteci-
mento atual, coloque essa avaliação dentro de Exemplo
uma escala de 100 pontos de desfechos ruins
TERAPEUTA: Você disse que está aborrecida
possíveis e, então, considere outros pontos na
porque Roger não lhe telefonou de novo.
escala. Ao marcar os pontos “intermediários”
Você saiu com ele duas vezes. Parece
da escala, o cliente deve ver os eventos ao
muito chateada agora. Diga-me, em uma
longo de um continuum. Cada ponto ao longo
escala de 0 a 100%, onde 100% repre-
desse continuum, em incrementos de 10 pon-
senta o mais chateada que já se sentiu,
tos, é identificado e tem um evento corres-
o quanto está chateada agora, ao pensar
pondente associado. Tipicamente, os pacien-
sobre isso?
tes têm dificuldade de identificar eventos ou
resultados inferiores na escala dos resultados PACIENTE: Eu diria que uns 95%. Estou real-
negativos, especialmente pontos ao longo da mente muito zangada e magoada.
escala que estão abaixo de 75%, ilustrando a TERAPEUTA: OK. Isso é bem ruim. Agora,
tendência a ver as coisas em termos de tudo- vamos imaginar que Roger não telefone
-ou-nada. Esse é um reconhecimento impor- nunca mais. Onde você colocaria essa
322 PARTE II Técnicas
triviais. O profissional pode examinar as ori- ela. Em cada um dos casos mencionados, o
gens deste esquema de invalidação por meio indivíduo ficou exclusivamente focado no
do trabalho com os esquemas (ver Cap. 10). momento presente – ou na perda presente
Outro problema comum é que os pacientes –, e não consegue recuar e considerar outras
ficam frustrados ao preencherem os pontos opções que podem ainda estar disponíveis.
abaixo de 60% –, e o terapeuta pode hesitar
em insistir na conclusão do preenchimento Perguntas a formular/intervenção
do formulário. Descobrimos que persistir
no preenchimento de cada incremento de 10 “Posso ver que você está incomodado por isso
pontos na escala, até os 10%, é “positivamen- ter acontecido, e parece que acredita que esta
te frustrante”, pois remete o cliente ao extre- é uma perda terrível. Às vezes nos concentra-
mismo das suas classificações iniciais. mos exclusivamente no que é perdido ou vi-
venciado no momento presente e deixamos de
considerar as muitas outras opções que ainda
Referência cruzada com outras técnicas
estão disponíveis. Vamos imaginar que eu vou
Outras técnicas relevantes incluem análise a um bufê para jantar. Particularmente, gosto
dos custos-benefícios, categorização das dis- de salmão, mas eles me dizem que o salmão
torções cognitivas (pensamento catastrófico, acabou. Fico desapontado, até que percebo
raciocínio emocional, rotulação, pensamento que há outras 20 entradas disponíveis. Pos-
do tipo tudo-ou-nada), construção de alterna- so escolher outras coisas para comer e ainda
tivas e técnica do duplo padrão. desfrutar do bufê. Então, imagino se você não
poderia perguntar a si mesmo: ‘Mesmo que
Formulário isso tenha acontecido – a perda que me deixa
Formulário 9.2 (Exercício do continuum). incomodado –, o que ainda posso fazer?’.”
Além disso, o terapeuta pode perguntar:
“Em consequência dessa perda, quais são as
TÉCNICA: O que ainda posso fazer coisas que você não poderá mais fazer? Você
conseguiria fazer algumas dessas coisas no
Descrição futuro? Com outra pessoa? Em que circuns-
Em muitos casos, um evento negativo é visto tâncias conseguiria fazer isso? O que você
em termos extremos, e a perda de alguma coi- teria que fazer para buscar essas alternativas?
sa (p. ex., um relacionamento, um trabalho, Alguma delas parece ser possível?”.
uma oportunidade) é vista como devastado-
ra. O indivíduo se concentra na única coisa Exemplo
que não está mais ali – que foi perdida – e
TERAPEUTA: Posso ver que você está chateado
não consegue ver as muitas fontes possíveis
com o rompimento com Jenny, e parece
de gratificação que ainda estão disponíveis
que não consegue ver mais nada que pos-
– ou potencialmente disponíveis. Por exem-
sa trazer significado ou prazer à sua vida.
plo, um homem que está vivendo uma sepa-
Isso deve ser difícil para você.
ração se concentra exclusivamente no fato de
que não terá mais sua namorada ao seu lado, PACIENTE: Sim, é como se não houvesse mais
e não consegue ver as muitas outras fontes de nada na minha vida, a não ser o vazio.
gratificação que estão disponíveis atualmente TERAPEUTA: Deve ser difícil se sentir assim.
ou estarão no futuro. Ou uma mulher vai a Só o vazio, nada. Vamos dar uma olhada
uma festa e um homem que acha atraente nisso por um momento e ver o que mais
não demonstra interesse em conversar com existe. Vamos pensar. Considerando que