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A ESTRUTURA DAS SESSÕES DE TERAPIA

COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
André Luiz Moraes Ramos
Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Lorena
Centro Universitário de Barra Mansa

A Terapia Cognitiva segue um modelo dire- dizer que estudante do curso de psicologia
tivo, isto é, as sessões são previamente es- e perguntar o nome do sujeito).
truturadas, de modo que o terapeuta segue Portanto, evite começar a sessão indo
um roteiro durante os atendimentos. Este diretamente ao assunto.
roteiro é composto dos seguintes elemen-
tos básicos: rapport, ponte com a sessão Atualização do estado do cliente:
anterior, revisão das tarefas de casa da Revisar o problema apresentado
sessão anterior, atualização, estabeleci- como motivo da consulta (queixa para a
mento de uma agenda para a sessão, abor- terapia). Está no prontuário do cliente,
dagem dos tópicos da agenda: verificação mas é importante o próprio terapeuta ouvir
de humor, educação do cliente sobre o mo- diretamente do cliente o que o trouxe à
delo cognitivo, educação do cliente sobre o terapia. Deve-se fazer uma atualização do
seu transtorno, uso de técnicas e estraté- seu estado (o que mudou: aumentou ou
gias cognitivo-comportamentais, enqua- diminuiu, e o que permaneceu da mesma
dramento, indicação de novas tarefas de forma em relação ao problema), desde a
casa, resumo da sessão e feedback. De triagem ou do psicodiagnóstico até a con-
acordo com as características de cada ses- sulta de hoje.
são, alguns elementos são omitidos. Se o É relevante investigar neste mo-
cliente for criança ou adolescente, deve-se mento as expectativas que o cliente tem em
iniciar com a entrevista com responsáveis, relação ao processo terapêutico, para saber
que será abordada mais adiante neste tex- se o que ele espera da terapia é possível de
to. ser alcançado. Lembre-o que a terapia é
focal e que serão tratados os motivos apre-
A PRIMEIRA SESSÃO: sentados para a consulta. Isto evita criar
Fazem parte da primeira sessão os expectativas irrealistas no cliente.
seguintes elementos: rapport, atualização
do estado do cliente, estabelecimento de Estabelecimento de uma agenda pa-
uma agenda para a sessão, abordagem dos ra a sessão:
tópicos da agenda: verificação de humor, Através da agenda, o terapeuta de-
educação do cliente sobre o modelo cogni- fine, juntamente com o cliente, um roteiro
tivo, enquadramento, indicação das tarefas para a sessão terapêutica, do tipo: Você já
de casa, resumo da sessão e feedback. me falou sobre o que lhe trouxe à terapia
(atualização do estado do cliente), agora
Rapport: eu preciso saber como você está se sentin-
Tem como objetivo quebrar o gelo do hoje (verificação do humor), Eu
no início da relação, pois visa a criação de preciso informar-lhe sobre como funciona
um clima favorável para o desenvolvimen- a terapia cognitiva (educação do clien-
to da entrevista, através de um tema amis- te sobre o modelo cognitivo: psicoe-
toso que interesse ao entrevistado. ducação) e detalhes sobre o atendimento
É através do rapport que serão cri- (enquadramento). Eu vou lhe passar
adas as condições para a construção do algumas tarefas para você fazer em casa
vínculo terapeuta e cliente. (tarefa de casa), e, no final, eu vou re-
O rapport deve compreender tam- lembrar o que falamos (resumo) e vou
bém o cumprimento inicial (Olá! Tudo querer saber o que você achou da terapia
bem?) e apresentação pessoal (seu nome e (feedback).
A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

Inclusão de itens complementa- testagens com o BDI ao longo da terapia


res da agenda. Se o terapeuta, ao tomar (na segunda sessão, no meio e no fim do
contato com o caso através do prontuário processo terapêutico).
do cliente (na entrevista de triagem e/ou Outra forma de avaliação é através
no processo psicodiagnóstico) e/ou se du- de escalas que avaliam a intensidade dos
rante a atualização o cliente relatou alguma estados afetivos de tristeza (triste, pra bai-
coisa que precise de um maior esclareci- xo, infeliz, aborrecido, chateado, magoado,
mento, o terapeuta pode incluir mais este etc.), raiva (com raiva, com ódio, furioso,
item na agenda para ser investigado duran- irritado, etc.) e ansiedade (ansioso, nervo-
te a sessão. so, preocupado, temeroso, assustado, ten-
Tem alguma coisa que você gosta- so, etc.). Outros estados afetivos relatados
ria de acrescentar à nossa agenda de ho- pelo cliente também podem ser avaliados,
je? Em função da resposta do cliente, o tipo: sinto-me envergonhado, embaraçado,
terapeuta deve incluir na agenda o assunto humilhado, decepcionado, frustrado, inve-
proposto. Porém, se o terapeuta não tem joso, ciumento, culpado, ferido, desconfia-
condição de responder nesta sessão, ele do, inseguro, medroso, vulnerável, etc.
anota a pergunta e se prontifica a incluí-la Pode-se utilizar uma medida sim-
na agenda da próxima sessão. plificada que varia de 0 a 100. Pergunta-se
Em seguida, o terapeuta passa a ao cliente: De 0 a 100, o quanto você se
cumprir os itens incluídos na agenda sente triste agora? E repete-se a pergunta
(abordagem dos itens da agenda). para raiva e ansiedade: De 0 a 100, o
quanto você se sente raivoso(a) agora? E
Verificação do humor: De 0 a 100, o quanto você se sente ansio-
A avaliação do humor do cliente so(a) agora?
deve ser feito em todas as sessões. Além do Outra maneira de avaliar o humor é
relato subjetivo (Como você está se sentin- através de escalas categóricas: nada ou
do hoje?), deve-se monitorar de forma ob- muito pouco (até 20%), um pouco (21 a
jetiva o estado afetivo do cliente, seja atra- 40%), moderadamente (41 a 60%), muito
vés de inventários padronizados e/ou de ou bastante (61 a 80%) e intensamente (80
escalas. a 100%). Apresente uma folha com as se-
O mais utilizado é o Inventário de guintes questões e peça para que o cliente
Depressão de Beck (BDI), mas costuma-se assinale um x na coluna que representa
utilizar também o inventário de ansiedade como ele se sente em relação a cada um
e o de desamparo de Beck. Nos casos de dos afetos avaliados (tristeza, raiva, ansie-
depressão, deve-se fazer, pelo menos, três dade ou outro afeto relevante):

O quanto nada ou um pouco moderadamente muito ou intensamente


você se sen- muito (21 a 40%) (41 a 60%) bastante (80 a 100%)
te...? pouco (61 a 80%)
(até 20%)
Triste
Raivoso(a)
Ansioso(a)
(Outro afeto
relevante)

Se for atender criança, pode lançar É necessário que o terapeuta faça


mão de figuras apropriadas para represen- esta avaliação através da escala de 0 a 100
tar seu estado de humor, como os emoti- ou da escala categórica em todas as ses-
cons utilizados para a comunicação na sões, mesmo que utilize o BDI. Esta infor-
web. mação é importante para acompanhar sis-
tematicamente a evolução do caso.

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

Educação do cliente sobre o modelo procura identificar os seguintes itens: a


cognitivo - psicoeducação: situação (ex: Foi na escola, durante a
Ao longo do processo terapêutico, o aula de estatística, o professor perguntou
terapeuta vai ensinando paulatinamente ao qual resposta eu dei ao exercício e a mi-
cliente como funciona o modelo cognitivo: nha resposta estava errada), o(s) pen-
são os nossos pensamentos que provocam samento(s) (Eu sou incompetente, isso é
nossas emoções e determinam os nosso difícil demais para a minha cabeça, eu
comportamentos. não tenho capacidade para o estudo), os
Na primeira sessão, o terapeuta faz afetos (Fiquei nervosa e triste comigo
uma pequena exposição do modelo, utili- mesma) e o(s) comportamento(s) do
zando um exemplo do cliente. Eu gostaria cliente (Eu abaixei a cabeça e não conse-
que você me contasse uma situação recen- gui mais acompanhar a aula). Veja o or-
te em que você se sentiu particularmente ganograma abaixo:
desconfortável (ou triste, aborrecido, ansi-
oso, etc.)? Nesta fala do cliente, o terapeuta

PENSAMENTO EMOÇÃO
Eu sou incompetente, Nervosismo e tristeza.
SITUAÇÃO Isto é muito difícil para
Resposta errada mim,
na aula de esta- Não tenho capacidade COMPORTAMENTO
tística. para o estudo. Abaixar a cabeça e não acompa-
nhar mais a aula.

Resumo do modelo: são os pensa- Abordagem dos itens complementa-


mentos da pessoa em uma determinada res da agenda:
situação que desencadeiam as emoções que Neste momento, deve-se abordar
ela sente e as reações que ela tem (seus com o cliente os itens acrescidos à agenda
comportamentos). pelo próprio terapeuta ou por solicitação
Nas próximas sessões, o modelo do cliente.
será ampliado, com a inclusão da distinção Neste ponto, o terapeuta pede in-
entre os pensamentos da crença central formações, esclarecimentos, aprofunda-
(Eu sou incompetente) e dos pensamentos mento de alguns assuntos, exploração de
automáticos (Isso é difícil demais para a assuntos não mencionados, mas que estão
minha cabeça, eu não tenho capacidade relacionados ao problema do cliente.
para o estudo), que sevem de base para a Deve o terapeuta atender às solici-
crença central. Este conjunto de pensa- tações do cliente, explicando o processo,
mentos forma o Esquema Cognitivo, que dirimindo as dúvidas, respondendo, dentro
será apresentado através do Mapa Cogniti- do possível, às questões apresentadas pelo
vo, que vamos aprender mais adiante e do cliente.
preenchimento do Diário de Pensamentos
Disfuncionais.
Enquadramento:

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O enquadramento refere-se ao con- em relação à tarefa) na agenda da próxima


trato de trabalho de trabalho estabelecido sessão.
entre o terapeuta e o cliente e equivale à São diversas as opções de ativida-
configuração do campo de atuação do psi- des para serem cumpridas como tarefa de
cólogo, com o estabelecimento de parâme- casa: monitorar os pensamentos, pensar
tros básicos. Ele funciona como um ele- amanhã como foi a sessão terapêutica de
mento ordenador que propõe normas que hoje, fazer uma lista com assuntos a serem
regem qualquer tipo de tarefa entre duas incluídos na agenda da próxima sessão,
pessoas, pois estabelece os limites da iden- biblioterapia (leitura de textos sobre o pro-
tidade e das possibilidades de ação. blema enfrentado pelo cliente, de livros
Estes referenciais possibilitam ao sobre o modelo cognitivo, de livros leigos
psicólogo perceber aspectos latentes da ou da própria literatura que aborde o seu
conduta do entrevistado, principalmente problema, etc.), fazer uma lista de ativida-
através das dificuldades do cliente de com- des prazerosas ou que o cliente realiza com
preender e / ou respeitar o enquadramento competência, fazer uma atividade física
e o contrato de trabalho. Isto é também específica que lhe dê prazer (caminhar,
associado às emoções que as atitudes do passear, andar de bicicleta, nadar, pescar,
entrevistado despertam no psicólogo. dançar, etc.) e outros.
Neste contrato de trabalho, são No monitoramento dos pensamen-
definidos: especificações das sessões: o tos, é importante que o cliente aprenda
horário (evitar atrasos), o tempo de dura- desde o início em dar atenção especial aos
ção da sessão (50 minutos) e de todo o seus pensamentos. Para isto, quando ele se
processo terapêutico (inicialmente, está sentir desconfortável ou com alguma sen-
previsto pra se encerrar no final do semes- sação desagradável, é preciso que ele iden-
tre letivo), o lugar (sala do SPA), faltas tifique os elementos básicos do modelo
(depois de duas faltas sem justificativa o cognitivo, respondendo às perguntas: O
cliente é desligado da terapia), os honorá- que está acontecendo comigo? (situação);
rios (geralmente é cobrado R$ 5,00 por Quais são os pensamentos que vêm à mi-
sessão, que o cliente paga ao completar nha cabeça neste momento? (pensamen-
quatro sessões, isto é R$ 20,00, sendo que to); O que eu estou sentindo agora? (afeto
nos casos em que o cliente não tem condi- e emoção); O que eu fiz diante desta situa-
ções de arcar com o custo do atendimento, ção? (comportamento: resposta adaptati-
o responsável pelo setor faz uma análise da va). Monitorar os pensamentos é a ferra-
situação, podendo dar um desconto ou menta chave para o desenvolvimento da
tornar o atendimento gratuito, os objetivos psicoterapia.
(qual é o foco do atendimento), os papéis Procurar estabelecer, em conjunto
dos participantes (do terapeuta e do clien- com o cliente (ele deve concordar com a
te) e as responsabilidades do profissional e tarefa, pois, caso ele discorde da atividade,
do cliente (quanto ao respeito, liberdade, esta deixa de atingir seu objetivo colabora-
integridade e dignidade) e o aspecto do tivo), as tarefas de casa em cada sessão.
sigilo (em termos de confiança, intimidade As tarefas de casa devem ser regis-
e confidencialidade) e encerramento e de- tradas por escrito pelo cliente e anotadas
volução das informações ao final do pro- pelo terapeuta.
cesso.
Resumo:
Tarefas de casa: O terapeuta faz uma breve síntese
O terapeuta deve partilhar com o de tudo o que ocorreu na sessão e reforça
cliente a responsabilidade pela terapia e os pontos importantes. Deve incluir tam-
um dos caminhos é a tarefa de casa. bém as tarefas de casa que o cliente con-
Alguns clientes têm resistência cordou em realizar durante a semana.
quanto à palavra tarefa, pois se recordam Nas próximas sessões, o terapeuta
de experiências desagradáveis em relação pode compartilhar com o cliente a respon-
às tarefas escolares. Se isto for detectado, é sabilidade pela realização do resumo e até
necessário incluir este item (dificuldade

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

pedir que o cliente resuma, sozinho, a ses- realizar atendimento não eventual, o psicó-
são. logo deverá obter autorização de ao me-
nos um de seus responsáveis, observadas
Feedback: as determinações da legislação vigente.
É importante de ser realizado, pois É o responsável que vai fornecer as
transmite a idéia de que o terapeuta se informações relevantes para o caso e assi-
incomoda com o que o cliente pensa, sendo nar o termo de compromisso, que vai auto-
esta uma oportunidade para que ele se ex- rizar que a criança ou o adolescente receba
presse livremente. Para o terapeuta, é uma atendimento psicológico. É importante
chance de resolver quaisquer mal- destacar que, sem esta autorização, o psi-
entendidos. cólogo não pode dar início ao atendimento.
De modo geral, o feedback deve O contato com o responsável, ini-
revelar a opinião do cliente em relação aos cia-se pela queixa, procurando-se ter uma
aspectos positivos e negativos da sessão e o percepção da sintomatologia atual, que
seu grau de adesão ao processo (o quanto serve como referencial para identificar
ele se dedica, está empenhado e envolvido conflitos, quando surgiram, as possíveis
na terapia). causas percebidas, em que situações se
Neste sentido, algumas questões manifestam, como evoluíram. Isto tem por
podem orientar o feedback: O que você finalidade identificar quais as áreas de de-
vivenciou hoje aqui que é importante para senvolvimento que devem ser mais deti-
você se lembrar? Quanto você sentiu que damente exploradas.
poderia confiar no seu terapeuta? Houve Além das informações relativas à
qualquer coisa que incomodou você du- queixa, é necessário fazer com o responsá-
rante a terapia hoje? Quão propenso você vel a Anamnese ou História de Vida da
está a fazer as tarefas de casa? criança e do adolescente. Para esta Anam-
nese, há modelos extensos que podem ser-
vir como roteiro. Mas o conhecimento da
História de Vida é o objetivo mais impor-
ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E tante neste momento e pode-se buscar in-
ADOLESCENTES: formações do cliente, explorando os se-
Entrevista inicial com o responsável: guintes tópicos: Contexto familiar (gene-
De acordo com a legislação brasilei- tograma: vide Figura 1); saúde (gestação,
ra, expressa no Estatuto da Criança e do nascimento, doenças, etc.), vida social e
Adolescente, que estabelece garantias para afetiva (amigos, atividades preferidas,
o atendimento de crianças e adolescentes, etc.); vida escolar (início, desempenho
o Código de Ética do Psicólogo determina, escolar, relacionamento com colegas e pro-
em seu No Art. 8º, alínea “c”, que: para fessores, etc.).

Figura 1: Genetograma de Pedro Paulo

LEGENDAS

pedreiro diarista
masculino

Júlio Maria
(1972-2007) (1977-)
feminino
C 1995

falecido

Pedro Paulo Pedro Paulo Juliana


(1995-1997) (1997-) (1998-) (2006-) gay
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Embora a maior densidade dos da- que pode ser obtida através de entrevistas
dos da entrevista com a mãe, é bastante ou nas sessões lúdicas, para alargar e apro-
elucidativo, também é importante ter a fundar o entendimento dinâmico.
versão da própria criança ou adolescente,

DA SEGUNDA SESSÃO EM DIANTE: verificação de humor, educação do cliente


Fazem parte das próximas sessões sobre o modelo cognitivo, educação do
os seguintes elementos: rapport, ponte cliente sobre o seu transtorno, indicação de
com a sessão anterior, revisão das tarefas novas tarefas de casa, resumo da sessão e
de casa da sessão anterior, atualização, feedback.
estabelecimento de uma agenda para a
sessão, abordagem dos tópicos da agenda:

Rapport:
O rapport deve ser breve e continu- Estabelecimento de uma agenda pa-
ar o processo de vinculação iniciado na ra a sessão:
primeira sessão. Estabelecer um roteiro com o clien-
te para a sessão. Hoje nossa sessão será
Ponte com a sessão anterior: bastante variada. Vamos fazer a verifica-
No início da sessão, retomar com o ção do seu humor, como na semana pas-
cliente os principais pontos abordados na sada. Vamos conversar sobre o modelo
sessão anterior. Sobre o que falamos na cognitivo, sobre sua vida e o seu proble-
sessão anterior? O que foi importante para ma, uso de técnicas e estratégias cogniti-
você? O que você aprendeu sobre si mesmo vo-comportamentais, estabelecer as tare-
na sessão passada? fas de casa para a próxima semana e fina-
lizar com o resumo e o feedback desta ses-
são.
Revisão das tarefas de casa da sessão Inclusão de novos itens comple-
anterior: mentares da agenda, que serão abordados
Recorde com o cliente as tarefas de antes da educação do cliente sobre o mode-
casa passadas na sessão anterior, uma a lo cognitivo e sobre seu problema. Há al-
uma. Questione o cliente: Que tarefa de gum assunto que você gostaria de incluir
casa você fez? Houve alguma que você na agenda? Eu (o terapeuta) gostaria de
não fez? Por quê? Como se sentiu ao reali- que você me falasse um pouco sobre um
zar a tarefa? O que você pensou sobre a assunto importante (por exemplo: sua vida
tarefa? Como você acha que se saiu em escolar, namoro, atividades de lazer, famí-
relação às tarefas? O que você aprendeu lia, emprego, etc.).
com as tarefas de casa?
Caso identifique alguma dificuldade Verificação do humor:
em relação às tarefas da sessão anterior, o Fazer a avaliação do estado afetivo
terapeuta pode incluir este item na agenda do cliente, utilizando as escalas de 0 a 100
desta sessão. ou as escalas categóricas.
No caso de depressão, incluir nesta
sessão a avaliação através do inventário de
Atualização do estado do cliente: Beck, o BDI.
O objetivo é obter uma compreen-
são do sujeito que abranja o período entre Inclusão de itens complementares da
esta e a sessão anterior. Como foi a sua agenda:
semana? Houve algo que lhe incomodou Abordar com o cliente cada um dos
durante a semana? Como esteve o seu hu- temas incluídos na agenda pelo próprio
mor nos últimos dias comparando com terapeuta ou por solicitação do cliente.
outras semanas?

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

Educação do cliente sobre o modelo namorado), que sevem de base para a


cognitivo: crença central.
Aprofundar o entendimento sobre o Ensinar o cliente a preencher o Diá-
modelo cognitivo. rio de Pensamentos Disfuncionais, que
Nesta e nas próximas sessões, o consiste em uma ficha que o terapeuta en-
modelo será ampliado, com a inclusão da trega ao cliente para que este preencha
distinção entre os pensamentos da crença com detalhes a respeito do seu problema,
central (Ninguém me ama) e dos pensa- informando a data e a hora em que ocorreu
mentos automáticos (Meus pais gostam tal situação, o(s) pensamento(s) automáti-
mais do meu irmão do que de mim, eu não co(s), a(s) emoção(ões) desencadeada(s) e
tenho amigos, eu não consigo arranjar a sua resposta(s) comportamental(is), con-
forme o modelo abaixo:

Data e Situação Pensamento Emoção Comportamento


hora automático
(PA)
Que evento real, fluxo Que pensa- Que emoção O que você fez?
de pensamentos, sensa- mento(s) e/ou você sentiu
ções físicas, devaneios imagem(ns) neste mo-
ou recordações levou à passou pela mento? (tris-
emoção desagradável? sua cabeça? E teza, raiva,
o quanto você ansiedade,
acreditou em etc.) e qual a
cada um no intensidade?
momento?
12/03/2008 Conversando ao celular Ele não está Triste: 80% Fingi que tinha
às 10:30 com o amigo César interessado no Rejeitada: que desligar
que eu digo. 90%
60%

A partir da semana seguinte, o terapeuta 6) Se _______ (nome do(a) amigo(a))


ensinará a responder a seus pensamentos estivesse na situação e tivesse esse pensa-
automáticos, através do questionamento mento , o que eu diria a ele(a)? O cliente
da validade de tais pensamentos. O cliente também é ensinado a identificar distorções
será ensinado a enfrentar, através de res- cognitivas.
postas adaptativas, seus pensamentos dis- Estas respostas adaptativas e o re-
funcionais. Pode-se utilizar de perguntas sultado de sua utilização, sendo que ambas
do tipo: 1) Qual a evidência de que o pen- serão acrescentadas como colunas à direita
samento é verdadeiro? 2) Há uma expli- do quadro do Diário de Pensamentos Au-
cação alternativa? 3) O que é o pior que tomáticos, conforme modelo em anexo.
poderia acontecer? Eu poderia superar O Mapa Mental deve ser utilizado
isso? Qual é o resultado mais realista? 4) para representar graficamente a organiza-
Qual é o efeito de eu acreditar no pensa- ção dos pensamentos na construção dos
mento automático? Qual poderia ser o Esquemas Cognitivos, de acordo com o
efeito de eu mudar o meu pensamento? 5) modelo:
O que eu deveria fazer em relação a isso?

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

.
Situação: Comportamento:
Crença central:
Conversa entre Permanecer calada
Eu sou inadequada
colegas de clas- durante a conversa
se

PA 3: eu não sei
PA 1: Eu só
me expressar bem
falo besteira
verbalmente
PA 2: Eles acham
que sou tola

Educação do cliente sobre o seu problema:

Logo no início do tratamento, o cliente é tivos) sobre o problema do seu paciente.


informado de que a terapia tem uma fun- Este texto, formulado com base na literatu-
ção pedagógica destinada a ensiná-lo a ra científica da área (CID-10, DSM IV-R,
detectar e a reduzir os seus sintomas. Nes- entre outros) e escrito em linguagem ade-
te sentido, é função do terapeuta informar quada ao nível de compreensão do cliente,
ao cliente sobre o seu problema, ajudando- será entregue a ele para que este o leia
o a conhecer-se melhor. (como tarefa de casa) e o discuta nas ses-
Para isto, o terapeuta deve preparar sões. A fim de identificar transtornos men-
um material bibliográfico (folhetos explica- tais, pode-se consultar o quadro a seguir:

Transtorno Conteúdo do pensamento típico


Depressão Visão negativa de si mesmo, do mundo e do fu-
turo
Transtorno de ansiedade generalizada Medo de risco físico ou psicológico

Transtorno de pânico Medo de acidente físico ou psicológico iminente

Transtorno alimentar Medo descontrolado de não ser fisicamente


atraente
Hipocondria Preocupação com distúrbio médico insidioso
sério

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

Transtorno de personalidade anti-social Sensação de ser tratado de maneira injusta e de


ter direito à sua parte justa, não importa por
quais meios
Distúrbios médicos nos quais os pacien- Sensação de dor intolerável e impotência para
tes apresentam queixas de dor em graus controlá-la
significativos

Uso de técnicas e estratégias cogniti- testes psicométricos e técnicas projetivas.


vo-comportamentais: Dependendo do caso, pode-se pedir para
As técnicas empregadas na Terapia que o cliente trabalhe um sonho significa-
Cognitivo-Comportamental são muito di- tivo ou faça um exercício de cadeira vazia.
versificadas e requerem um estudo especial Cabe ao clínico escolher a melhor
para que a escolha da técnica e a sua exe- técnica ou estratégia que considera produ-
cução com o cliente seja produtiva. Deve-se tiva para o seu cliente.
buscar estas técnicas e estratégias em ma-
nuais de terapia. Tarefa de casa:
Entre as técnicas especificamente Ao final de cada sessão, será discu-
cognitivas, destacam-se o diário de pen- tida com o cliente uma lista de atividades a
samentos disfuncionais para identificação serem realizadas fora da terapia, nos mol-
e registro de auto-observação, técnica de des apresentados na primeira sessão.
distanciamento para analisar uma situação
semelhante a do cliente que ocorre com
uma pessoa próxima, técnica de busca de
interpretações alternativas com o intuito Resumo:
de buscar outras explicações sobre o pro- Concluir o trabalho com uma sínte-
blema, técnica de reatribuição através da se do que foi realizado na sessão é uma das
qual o cliente é ensinado a atribuir realisti- características da terapia cognitiva. Paula-
camente a responsabilidade a fatores ex- tinamente, esta atividade se tornará cada
ternos a si, técnica da flecha descendente vez mais uma responsabilidade do cliente.
através da qual o terapeuta faz perguntas
sobre o que aconteceria se o pensamento Feedback:
fosse verdadeiro, o questionamento socrá- É necessário, em cada sessão, ouvir
tico em que o terapeuta contesta a lógica do próprio cliente o que ele achou daquela
dos pensamentos automáticos, a técnica sessão, o que é obtido através do feedback.
da auto-revelação permite ao terapeuta
partilhar sua experiência pessoal em rela- A ENTREVISTA DEVOLUTIVA:
ção ao problema com o cliente, entre ou- No final do atendimento, é necessá-
tras. rio fazer a devolutiva do processo psicote-
As técnicas comportamentais mais rápico.
utilizadas são a exposição gradual, a mo- As entrevistas devolutivas têm co-
delação, os experimentos comportamen- mo objetivo comunicar aos sujeitos o resul-
tais, o relaxamento, o planejamento de tado do tratamento. Para tanto, deve-se
atividades, as tarefas graduadas, o de- procura ajudar os sujeitos a compreende-
senvolvimento e o treinamento de habili- rem os resultados e remover fantasias e
dades sociais. distorções em relação às suas necessida-
São empregadas, também, técnicas des. Outro objetivo desta entrevista é per-
experienciais, do tipo role playing, a dra- mitir aos sujeitos expressarem seus pen-
matização de uma situação emocional- samentos e sentimentos em relação às con-
mente significativa, e a visualização de clusões e recomendações do psicólogo.
memórias antigas na presença do afeto. Permite também avaliar a reação dos sujei-
Podem ser utilizadas técnicas de tos em relação às conclusões e recomenda-
outras abordagens teóricas, como a aplica- ções, seu desejo de segui-las ou não.
ção de questionários, escalas, inventários,

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

Deve-se fazer um resumo do pro- O clínico deve manter o interesse, e


cesso, abordando o que de mais importan- não guiar o cliente, acompanhando a sua
te foi trabalhado nas sessões terapêuticas, fala com locuções apropriadas (É, sim, en-
com destaque para a evolução da queixa tendo, hum...hum, etc.), mantendo o con-
até o momento atual, as estratégias utiliza- tato visual, fazendo assentimentos com a
das, os resultados produzidos. cabeça, etc.
Neste momento, deve-se observar A fim de facilitar o processo, o tera-
as reações do cliente ao que lhe está sendo peuta deve estimular a fala para aprofun-
dito, sua concordância ou não. Pode ser dar os temas: retomar colocações feitas
que o cliente tenha resistência ao término pelo cliente, utilizando, se possível, as
do tratamento e isto deve ter sido aborda- mesmas palavras e entonação, pedir para
do nas sessões anteriores, para que agora que explique melhor o que disse (como
ele possa acatar melhor a devolutiva. assim..?o que você quer dizer com...), re-
A devolutiva pode ser concluída sumir a fala do entrevistado, etc.
com a alta do cliente ou com o encami- Respeitar os silêncios é um dos se-
nhamento do cliente para outro profissio- gredos preciosos da terapia. Eles podem
nal, desta ou de outra abordagem. representar um momento de reflexão, no
É importante também dar orienta- qual o cliente está em processo interno de
ções para o cliente sobre como proceder elaboração, necessitando de tempo para
após o término do processo, a fim de man- isto; todavia pode também precisar de um
ter a reestruturação cognitiva e o emprego apoio do terapeuta nesta elaboração; por-
das técnicas aprendidas no processo que se tanto, espere. Mas o silêncio pode indicar o
encerra, de modo a evitar recaídas. Caso esgotamento do assunto, sendo que neste
isto ocorra, o terapeuta deve colocar-se a caso o clínico deve interferir, buscando
disposição para atender o cliente. retomar a fala.
Entrevistas de acompanhamento A empatia é uma ferramenta útil à
posterior (follow up) podem ser realizadas, terapia, pois auxilia não apenas na com-
com pausas cada vez maiores, dependendo preensão do problema, mas na solidifica-
do estado do cliente. Podem ocorrer após o ção do vínculo terapeuta cliente. É preciso
primeiro mês, daí a três meses, seis meses que o clínico se ponha no lugar do cliente
e até depois de um ano, com contatos espo- para poder entender o problema apresen-
rádicos para acompanhamento da evolução tado do ponto de vista do seu protagonista
do caso. em vez de tentar analisar a situação como
Nos atendimentos de crianças e um mero observador.
adolescentes, a entrevista devolutiva é rea- Pôr à luz os conteúdos não-verbais
lizada também com os responsáveis. Antes de natureza latente. Atenção aos gestos,
disto, a criança ou adolescente deve ser movimentos corporais, postura, tiques,
informado sobre este contato com seu res- cacoetes, movimento dos olhos, sobrance-
ponsável e o que lhe será comunicado. lhas, mãos, braços, pés, pernas, etc., en-
quanto o cliente fala. Da sua fala, atente
POSTURA DO TERAPEUTA para os sinais paralingüísticos, tais como
COMO FACILITADOR DO entonação, pausas para a escolha das pala-
PROCESSO TERAPÊUTICO: vras, alterações no ritmo da fala, uso de
linguagem estereotipada, atos falhos, etc.
Alguns cuidados do terapeuta Estes indicadores são muitas vezes revela-
quanto à sua postura durante o processo dores de informações úteis a serem checa-
terapêutico são importantes para o bom das com o cliente.
andamento da terapia.
Este cuidado manifesta-se através CONSIDERAÇÕES FINAIS:
da sua aparência, que deve ser sóbria, seja Estas são algumas orientações que
no vestir, em termos da suas roupas, ade- vão ajudar o terapeuta, principalmente o
reços, maquiagem, etc. e nos seus gestos, iniciante, a atuar de maneira mais segura
que devem ser apropriados para o setting na condução do processo terapêutico se-
terapêutico. guindo um modelo cognitivista.

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A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

Como sugestão, é importante que o


clínico procure complementar as informa-
ções aqui expostas com uma sólida forma-
ção em psicopatologia, um aprofundamen-
to na compreensão dos conteúdos cogniti-
vos, em especial, a identificação das cren-
ças, e, por fim, ampliar o seu domínio no
uso das técnicas e estratégias de interven-
ção.

REFERÊNCIAS:
ABREU, C. N. & ROSO, M. (Orgs.) Psicoterapias
Cognitiva e construtivista. Porto alegre: Artes Médi-
cas, 2003.
BECK, A. et. al. Terapia cognitiva da depressão.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, J. Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, A. et. al. Terapia cognitiva dos transtornos
da personalidade. Porto Alegre: Artes Médicas,
1993.
CONSELHO DE FEDERAL DE PSICOLOGIA – CFP.
Código de ética profissional do psicólogo. Brasília:
CFP, 2005.
CUNHA, J. A . e col. Psicodiagnóstico V . Porto
Alegre, Artes Médicas, 2000.

11
A estrutura das sessões em Terapia Cognitivo-Comportamental

ANEXO: Quadro completo do Diário de Pensamentos Disfuncionais


Instrução: quando você perceber que o seu humor está piorando, pergunte a si mesmo O que está passando pela minha cabeça agora? E assim que possí-
vel, anote o pensamento ou imagem na coluna Pensamento Automático e complete o quadro abaixo:
Data e Situação Pensamento au- Emoção Comportamento Resposta Resultado
hora tomático Adaptativa
Que evento real, fluxo Que pensamento(s) Que emoção você O que você fez? Que distorção cogniti- O quanto você
de pensamentos, sen- e/ou imagem(ns) pas- sentiu neste mo- va você utilizou? acredita agora
sações físicas, deva- sou pela sua cabeça? E mento? (tristeza, Resposta às perguntas em cada pensa-
neios ou recordações o quanto você acreditou raiva, ansiedade, abaixo para compor a mento automáti-
levou à emoção desa- em cada um no mo- etc.) e qual a in- resposta ao(s) pensa- co?
gradável? mento? tensidade? mento(s) automáti- Que emoção
co(s)? você sente ago-
Quanto você acredita ra?
em cada resposta? O que você fará?
12/03/2008 Conversando ao celu- Ele não está interessado Triste: 80% Fingi que tinha que Catastrofização PA: 30%
às 10:30 lar com o amigo César no que eu digo. 60% Rejeitada: 90% desligar 1) ele já fez isto antes
(90%) Tristeza: 40%
2) ele está preocupado Rejeição: 50%
com outra coisa (50%)
3) ele não quer minha
amizade (30%). Eu
não superaria isto
(60%). Pode ser im-
pressão minha (40%)
4) eu vou perder o
amigo (75%) e Insistir
na amizade (50%)
5) eu deveria falar pra
ele o que penso (80%)
6) você está enganado
(90%)
Acrescentar outro
fato
Acrescentar outro
fato
Pode-se utilizar de perguntas do tipo: 1) Qual a evidência de que o pensamento é verdadeiro? 2) Há uma explicação alternativa? 3) O que é o pior que poderia acontecer?
Eu poderia superar isso? Qual é o resultado mais realista? 4) Qual é o efeito de eu acreditar no pensamento automático? Qual poderia ser o efeito de eu mudar o meu
pensamento? 5) O que eu deveria fazer em relação a isso? 6) Se _______ (nome do(a) amigo(a)) estivesse na situação e tivesse esse pensamento , o que eu diria a ele(a)

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