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Indice

Indice 1 Mensagem dos Fundadores da Vencer Autismo 3 Introdução 6

Definição 8 O que é o autismo 8

Mitos 9

O Modelo de Desenvolvimento 11 A pessoa com autismo 12 Sensorial 12 Visão 13 Audição 13 Olfato


13 Paladar 13 Tato 14 Interoceção 14 Proprioceção 14 Vestibular 14 Áreas de Desenvolvimento 15
Tempo de Atenção Conjunta 15 Contacto Visual e Comunicação Não Verbal 16 Comunicação Verbal
17 Flexibilidade 18 Saúde 19 Comportamento 20 Contexto / Ambiente 20 Adaptar o Ambiente 20
Motivações 20 Atitude do Cuidador 21 Crenças e Conhecimento 21 Comportamentos 21 Atitude 21
Ser Presente 21 Não Julgar 21 Amar/Aceitar 21 Esperança/Acreditar 21

Mais recursos úteis 23

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Mensagem dos Fundadores


da Vencer Autismo

Em 2010, começamos a loucura de trabalhar 32


horas por semana com a nossa filha (enteada do
Joe), a Caui.

As melhorias eram avaliadas a cada duas/três


semanas, mas eram melhorias - “milímetro a
milímetro”.

Treinamos e aprendemos junto de dezenas de


voluntários que passaram pelo quarto da Caui
durante vários anos. A história de sucesso da
Caui tinha que ser conhecida e tinha que ser
replicada onde fosse possível.

Pensávamos que tínhamos encontrado a fórmula


mágica e, assim, decidimos criar um centro no
Porto, onde tivemos até 35 crianças com
resultados espantosos - melhoraram 10% a cada
12 meses (o relevante não é a percentagem
concreta, mas sim as notáveis melhorias).

Mas só conseguíamos ajudar quem estivesse


perto geograficamente e quem tivesse dinheiro
para realizar uma terapia intensiva. Não era
escalável, não era “a” solução para as mais de
15.000 pessoas que têm Autismo, em Portugal.

Estudámos o problema do autismo e chegámos a esta conclusão que marcou (e marca


todos os dias) o rumo e missão da Vencer Autismo:


O problema não é o Autismo de quem o tem, o
problema é o estigma negativo. A sociedade não
entende Autismo.

Começámos a segunda loucura: vamos ensinar TODOS a entenderem o que é


verdadeiramente o Autismo e eliminar o grande estigma negativo que limita as

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oportunidades que as pessoas com Autismo poderiam (e deveriam) ter para atingir o seu
verdadeiro potencial.

Os anos passaram e a pandemia, em 2020, obrigou-nos a passar para o meio digital,


conseguindo, assim, chegar a mais pessoas sem precisarmos de percorrer todo o país, todas
as semanas. Isto tem-nos permitido dedicar mais tempo a entender os cuidadores: pais,
educadores, professores, terapeutas, psicólogos, médicos, enfermeiros,... todas as pessoas
que lidam com autismo.

E começámos a terceira loucura: criarmos soluções simples, práticas e acessíveis que


permitam a todas estas pessoas entenderem melhor as pessoas com autismo com quem
convivem/lidam no dia-a-dia, para que todos possam ser em maior ou menor grau, dentro
da sua atividade habitual, parte da mudança positiva, no desenvolvimento das pessoas com
autismo.

Sabemos que é possível e também sabemos que é a única forma das pessoas com autismo
ganharem autonomia: é o contexto que tem que perceber a pessoa com autismo (entrar no
mundo da pessoa com autismo) e adaptar-se às suas necessidades e características, até ela
ganhar as competências para sucessivamente e progressivamente estar cada vez mais “no
nosso mundo”.

[...] para que todos possam ser em maior ou
menor grau, dentro da sua atividade habitual
parte da mudança positiva da pessoa
comautismo.

Por isso, celebramos (em maiúsculas!) que estejas a ler este e-book. Porque sabemos que
estás um passo mais perto de ter impacto positivo na vida de alguém com autismo e na tua
própria vida também.

Sentimo-nos privilegiados por fazermos o que mais gostamos e honrados pela tua
companhia.

Continuamos… até todos compreenderem.

Abraços, Sorrisos e Gratidão,

Joe & Susana

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Introdução

Esta palestra é a primeira fase do nosso Modelo Entender Autismo, que inclui 3 fases:
Palestra, Workshop e Mentoria.
A palestra é o primeiro momento e oferece uma visão 360º sobre o autismo, que te permite
compreender a pessoa com autismo (independentemente da idade) e desmistificar o
diagnóstico e saber como melhor ajudar e diminuir os desafios.

Explicamos a definição de autismo e as variáveis que afetam para que uma pessoa tenha
dificuldades na interação social e realize atividades exclusivas e repetitivas (as duas
componentes que definem autismo), com base no nosso modelo de desenvolvimento.

Todas as variáveis contidas no modelo afetam ou definem “o Autismo” da pessoa de quem


cuidas ou podes vir a cuidar no futuro. Deves ter em conta que todas as variáveis afetam o
desenvolvimento de todas elas e aprender as técnicas para desenvolver cada uma delas terá
um impacto positivo no resto.

No workshop, que é a segunda parte do modelo, exploramos mais aprofundadamente cada


uma das áreas e partilhamos mais estratégias específicas, para os desafios de cada área.

Na mentoria, a terceira fase do modelo, fornecemos apoio individualizado aos cuidadores,


com base no modelo de desenvolvimento - através da avaliação da pessoa com autismo,
sessão de mentoria individual (45 minutos) e relatório.

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Se tivesse 60 minutos para resolver um
problema
do qual a minha vida depende… dedicaria 55
minutos a entender o problema e 5 minutos a
resolvê-lo
- Albert Einstein

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Definição de Autismo
A definição oficial de autismo diz-nos, resumidamente, que a pessoa com autismo tem
dificuldades a nível da comunicação e interação social e comportamentos e interesses
exclusivos e repetitivos. No entanto, estas dificuldades apresentam-se num espectro:

Algumas pessoas podem “só” ter dificuldade a nível da interação, por exemplo, e não
conseguirem seguir uma conversa com várias pessoas; por outro lado, há pessoas também que
não olham nos olhos, não respondem pelo nome, estão sempre em estereotipia
(comportamento repetitivo e exclusivo), etc. Assim, não existem só as duas pontas do espetro,
há muitas variáveis e dimensões pelo meio, que abordaremos de seguida - Comunicação Verbal,
Flexibilidade, etc.

Por isso, gostamos de explicar este espetro não como uma linha, mas como um círculo com
várias dimensões, em que cada uma delas tem o seu próprio espetro.

A investigação diz-nos que cada vez há mais casos de pessoas com autismo no mundo e é
esse feedback que vamos recebendo na Vencer Autismo por parte dos profissionais
também.

Não precisamos de fazer destes dados um drama ou problema, mas deverão funcionar
como uma chamada de atenção. Se há cada vez mais pessoas com autismo, então esta é
uma realidade que temos de aceitar, sobre a qual devemos agir e para a qual é importante
estarmos preparados, com recursos para podermos melhor ajudar as pessoas com autismo
e os seus cuidadores.

Então, precisamos de ativar a sociedade para esta realidade e pôr mãos à obra!

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Mitos

Ao longo dos mais de 10 anos de trabalho da Vencer Autismo, temos vindo a perceber que o
problema não é o Autismo em si, mas sim o estigma negativo - ou seja, a falta de
compreensão por parte das pessoas de uma forma geral. Esse é o grande desafio e é
também aquilo que orienta todo o nosso trabalho na Vencer Autismo.

Muitas pessoas ainda têm ideias erradas ou limitadoras sobre o que é o autismo e isso afeta
a forma como lidam com o autismo, os recursos que procuram e o trabalho que fazem com
a pessoa com autismo.

Vamos então esclarecer estas ideias ou mitos sobre o autismo.

1. As pessoas com autismo estão desconectadas deste mundo.

Falso. Pode parecer assim, porque vemos pessoas com autismo no seu canto a brincar ou
fazer alguma atividade, a falar sozinhas, etc. No entanto, o que acontece, muitas vezes, é
que a pessoa com autismo está hiperconectada! Todos os estímulos presentes, entram no
seu cérebro ao mesmo tempo, velocidade e intensidade, tendo que registar toda essa
informação simultaneamente. Isto leva a que a pessoa precise de isolar-se para conseguir
processar tudo isso e fazer sentido de um mundo que lhe está a oferecer demasiados
estímulos. Se passássemos pela mesma situação, também teríamos de encontrar uma
estratégia que funcionasse para nós, para conseguirmos gerir todos esses estímulos

2. As pessoas com autismo não têm/sentem emoções.

Falso. O facto de uma pessoa não expressar emoções, não significa que não as tenha ou não
as sinta. Há até estudos que indicam que as pessoas com autismo têm mais empatia do que
pessoas sem diagnóstico de autismo - ora, para tal, é necessário sentir emoções e ser capaz
de se colocar no lugar do outro. As pessoas com autismo têm emoções e sentimentos e
devemos interagir com elas, respeitando e validando essas emoções.

3. As pessoas com autismo não querem ter amigos

Falso. As pessoas com autismo podem querer ter amigos, como qualquer outra pessoa. No
entanto, muitas vezes, estão ocupadas a cuidar de si próprias devido à quantidade de
informação que recebem a todo o momento e que precisam de processar, não conseguindo
dessa forma envolver-se numa interação. Da mesma forma que, quando temos, por
exemplo, uma forte dor de cabeça, a nossa prioridade não está em socializar, mas em gerir
e diminuir essa dor.
4. As pessoas com autismo são deficientes

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Falso. As pessoas com autismo são diferentes e únicas, na verdade, como todos nós. Mas
isso não faz delas deficientes e, pelo contrário, podem até ser altamente eficientes em
determinadas áreas. As pessoas com autismo têm dificuldades em diferentes aspetos, o que
pode tornar mais difícil mostrarem o seu conhecimento e capacidade reais (à exceção de
casos em que existem co-morbidades associadas). Mas ter um diagnóstico de autismo, não
significa que a pessoa tenha qualquer deficiência ou défice cognitivo/intelectual.

5. Se a pessoa tem diagnóstico de autismo então não há nada que eu possa fazer.

Falso. As pessoas com autismo crescem e desenvolvem-se tal como todas as outras pessoas
e nesse desenvolvimento vão apresentar diferentes dificuldades e desafios, bem como
potencialidades. É possível que surjam fases em que apresentam mais dificuldades numa
área e depois noutra área. Mas, podemos apoiar a pessoa a desenvolver-se nessas
diferentes áreas, a diminuir as suas dificuldades ou saber gerir determinados desafios, o
que significa que há muito que podemos e devemos fazer quando recebemos um
diagnóstico de autismo.
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O Modelo Compreender Autismo


Estudámos as variáveis mais importantes que influenciam as dificuldades das pessoas com
autismo e criámos um modelo de desenvolvimento. De seguida, abordaremos cada uma
delas de forma clara e simples, para te ajudar a compreender melhor as pessoas com
autismo.

Para nós, esta é a base para compreender o autismo e, por isso, consideramos tão
importante que as pessoas assistam à palestra para compreendam como funciona o modelo
e para que comecem a entender um pouco melhor o autismo - diminuindo, assim, o estigma
negativo associado. Acreditamos que, se entenderes a pessoa com autismo, tomarás
decisões mais eficientes e positivas para a apoiar, bem como aos seus cuidadores (e/ou a ti
próprio/a).

Vamos então explicar o modelo:


● Do lado esquerdo, a azul, tens a pessoa com autismo, que tem uma configuração
sensorial própria que terá impacto no seu desenvolvimento e nos seus desafios, por
isso, aparece no centro. À volta, encontras as 4 áreas de desenvolvimento da pessoa
com autismo (tempo de atenção conjunta, flexibilidade, contacto visual e
comunicação verbal), sem esquecer as duas áreas extra da saúde e do
comportamento, que têm influência no desenvolvimento da pessoa;

● No meio, e ao longo de todo o modelo, consideramos o contexto/ambiente e as


motivações da pessoa com autismo que, veremos mais à frente, o seu papel
essencial, na construção da ponte entre a pessoa com autismo e o/a cuidador/a - a
relação;

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● Do lado direito, a rosa, tens o/a cuidador/a - pais, terapeutas, professores, educadores,
outros familiares, etc. Muitas vezes, este lado é menos valorizado e menos abordado,
quando falamos de autismo. No entanto, para nós, esta é a mais importante: a tua
atitude, a tua compreensão sobre o tema e o teu comportamento face à pessoa com
autismo.

Agora, vamos mergulhar e explorar cada uma das áreas do modelo para ficares e percebê-lo
ainda melhor.

A configuração Sensorial da Pessoa com autismo

O nosso sistema sensorial inclui vários sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato… mas
também a interoceção (noção do corpo físico interior), propriocepção (consciência do corpo
no espaço) e a área vestibular (equilíbrio). Para a maior parte das pessoas, o cérebro
consegue filtrar a informação que é mais importante a cada momento, diminuindo o
“volume” dos estímulos não-essenciais, para que nos possamos focar no que é mais
importante e não sermos sobrecarregados. No caso do autismo, o que acontece é que o
cérebro tem dificuldade em fazer esse filtro e, como já referimos anteriormente, todos os
estímulos entram ao mesmo tempo, intensidade e velocidade, criando uma situação de
sobrecarga. Também pode acontecer, apenas uma das áreas entrar ao máximo volume e
intensidade, o que pode ser suficiente para deixar a pessoa desorientada - tal como
acontece quando ouvimos um barulho muito alto e repentino.

Lembra-te que cada pessoa tem a sua própria configuração sensorial, portanto, aquilo que é
verdade para uma pessoa com autismo, pode não o ser para outra.

Visão
“Quando vocês olham para um objeto primeiro veem o objeto por inteiro. só depois, é que
observam os detalhes e os pormenores. Contudo, para pessoas com autismo, os detalhes e
pormenores, destacam-se logo, e só depois, gradualmente, detalhe por detalhe, a imagem flutua
até aparecer, por inteiro.”

- Naoki Higashida (2005)

Para pessoas com autismo, as luzes podem ter maior ou menor intensidade. A visão
pode-se assemelhar a olhar pelo lado contrário dos binóculos e até podem ter objectos a
aparecer no seu campo de visão mesmo depois de terem afastado o objecto (da mesma
forma que quando olhas para o sol e fechas os olhos, continuas a ver o sol dentro do
escuridão dos teus párpados).

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Audição

Conseguem ouvir o barulho dentro das vossas cabeças? Parece bater e guinchar. Parece um
comboio que ressoa através dos nossos ouvidos.”

- Powell, J., in Gillingham, G. (1995)

Não são necessariamente sons altos, que também - mas podem ser sons específicos que
resultam em um grande desafio para a pessoa com autismo. O som dum frigorífico, dum
ar-condicionado ou duma máquina de café podem ser muito incômodos para a pessoa com
autismo.

Olfato
Cheiros como: cheiro de cão ou gato, desodorizantes e aftershaves são muito fortes para mim,
de tal forma que não os suporto. E os perfumes?! Dão comigo em louco.”

- Gillingham, G. (1995)
Para algumas pessoas com autismo, os cheiros podem ser muito mais ou muito menos
intensos. Para qualquer pessoa, cheiros muito fortes ou desagradáveis podem ser muito
incômodos - por isso é importante perceber qual a configuração sensorial da pessoa com
autismo, para compreendermos quais os estímulos que causam desconforto, para os poder
evitar.

Paladar
“[...] algumas pessoas com autismo, catalogam apenas alguns alimentos como comida e com
algum sabor. Todo o resto é tão apetitoso como a comida de plástico que utilizam, por exemplo,
as crianças numa brincadeira da hora do chá.”

- Naoki Higashida, (2005)

Reparem que para uma pessoa com autismo, comer pode ser um desafio por múltiplas
razões: o cheiro, o sabor, a textura… até a cor dos alimentos! Não todos temos os mesmos
gostos pela comida. Por exemplo, existem alimentos que são adorados e odiados por
diferentes pessoas como a beterraba e a trufa!

Tato
“Cada vez que me tocam, dói; parece fogo a correr por todo o meu

corpo.” - Gillingham, G. (1995)

Muitas pessoas com autismo nos dizem que fazer-lhes festinhas sem estarem à espera
pode ser extremamente incômodo, mas apertar-lhes os músculos, a cabeça, etc. pode ser

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muito agradável. O mais importante é compreendermos a configuração sensorial da pessoa


que acompanhamos para podermos ser de apoio se necessário.

Sentido do meu corpo interior


“É o meu próprio desespero que causa muitas vezes a má interpretação das “É o meu próprio
desespero que causa muitas vezes a má interpretação das mensagens que os meus sentidos
me enviam. Se toda a minha atenção for canalizada apenas para uma área do meu corpo, é
como dizer que toda a minha energia corporal também está concentrada naquela área, e aí os
meus sentidos informam-me que alguma coisa nessa zona está a correr muito mal.”

- Naoki Higashida, (2005)

Os sentidos dentro do nosso corpo, por exemplo a fome e a vontade de ir ao WC, são
sentidos de aquilo que está a acontecer dentro de nós. Para estes sentidos vamos ter que
ser detetives ainda mais dedicados para perceber os comportamentos que resultam destes
desafios.
Sentido da minha consciência corporal
“Nem sempre sei o que os meus braços e pernas estão a fazer. Eu não tenho uma sensação
clara onde os meus braços e pernas estão ligados ao meu corpo, ou como fazê-los fazer o que
eu estou a dizer-lhes para fazer. É como se os meus membros fossem a cauda de borracha de
uma sereia.”

- Naoki Higashida, (2005)

Imagina que tens as pernas adormecidas. E eu te peço imediatamente para te levantares e


saíres a correr. Conseguir-ias? Muito pouco provável. Podemos imaginar, que, da mesma
forma, as pessoas com autismo também têm dificuldade em controlar as suas
extremidades.

Sentido do Equilibrio
O sistema vestibular ajuda a regular o nosso sentido de equilíbrio e controlo corporal. Esta
dificuldade pode impedir compreender o que lhes acontece a eles e ao mundo que os
rodeia. Baloiços, ginástica, trampolins etc. podem estimular este sentido.

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Áreas de Desenvolvimento
Através do Modelo de Desenvolvimento que criámos, conseguimos identificar o perfil da
pessoa com autismo, que nos indica em que áreas é que a pessoa tem mais desafios,
ajudando-nos a definir objetivos para cada área, que depois irão guiar a intervenção e
estratégias aplicadas. A escala vai do grau 1 ao grau 5 em que 1 indica mais dificuldades e 5
menos dificuldades.
Tempo de Atenção Conjunta
O tempo de atenção conjunta diz respeito ao tempo que a pessoa está em interação
connosco, sendo uma competência crítica para trabalhar com pessoas com autismo, uma
vez que a interação é a base para criarmos relações com os outros - e esta é uma das
principais dificuldades no autismo. Além disso, é uma competência essencial para a
aprendizagem, de uma forma geral. Todos nós precisamos de estar conectados com o que
está a acontecer, com o que está a ser dito ou apresentado para aprendermos - assim,
permitir-nos-á também trabalhar nas outras áreas de desenvolvimento.

Muitas vezes, fala-se de um diagnóstico de défice de atenção em conjunto com o autismo.


Porém, em grande parte das situações, a pessoa com autismo consegue estar muito focada
em determinada atividade que lhe interessa (hiperfoco), mas o mesmo não acontece em
interação com os outros e é aqui que entra o tempo de atenção conjunta - tem de ser
partilhado com outra pessoa.

Dica: Como trabalhas o tempo de atenção conjunta? Começar por usar as motivações da
pessoa! Contacto Visual e Comunicação Não Verbal

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Apesar de ser uma das formas mais básicas de nos conectarmos com os outros, a maioria
das pessoas com autismo tem dificuldade em manter o contacto visual sustentado, com
outra pessoa. Por outro lado, sabemos que é também através da visão que aprendemos
muito do que se passa à nossa volta e sobre o mundo, por exemplo, aprendemos ao vermos
os outros fazer e começamos a imitar. Com dificuldade nesta área, as pessoas com autismo
não apreendem, muitas vezes, muito do conhecimento e pistas sociais que vamos
aprendendo naturalmente, dessa forma.

No entanto, não queremos promover o contacto visual, forçando-o. Queremos inspirar a


pessoa com autismo a olhar para nós, mas que seja algo agradável e espontâneo.

Então, temos de nos tornar interessantes para a pessoa, seguindo os seus interesses e
motivações, para que, dessa forma, o seu foco esteja em nós, porque somos aquilo que de
mais interessante está a acontecer, chamando a atenção da pessoa de diferentes maneiras
(da maneira que resultar melhor para cada pessoa).

Além disso, é importante celebrar e agradecer, para reforçarmos o comportamento da


pessoa, mostrando que valorizamos o seu esforço!

Por último, também podes facilitar a tarefa da pessoa olhar para ti, colocando-te numa
posição favorável ao contacto visual, nomeadamente:

● Um pouco abaixo do nível dos olhos da pessoa com autismo


● Afastada cerca de 1 metro (se estivermos muito próximos, é difícil olhar e estamos a
ser invasivos)

E podes entregar os objetos que a pessoa quer, seguindo a linha dos nossos olhos até às da
pessoa.

Dica: Podes também utilizar um espelho para facilitar o contacto visual - para algumas
pessoas torna o processo mais fácil.

Comunicação Verbal
É a área que mais preocupa a maioria dos cuidadores. É importante referir que se a criança
ainda não fala, por exemplo, aos 7 anos, não significa que nunca vai falar. Há muitas
crianças que começam a falar mais tarde e muitas crianças que mantêm um registo de
pouca comunicação verbal, enquanto outras comunicam naturalmente. Não podemos dizer
o que é que cada pessoa vai conseguir fazer no futuro, mas sabemos que o facto de a
pessoa não conseguir neste momento, não implica que não venha a aprender e conseguir
fazê-lo mais tarde. Por isso, não desistas - respeita o tempo da pessoa, mas não deixes de
estimular.

Há vários níveis de dificuldade na comunicação verbal também: existem pessoas que só


emitem sons, pessoas falam pouco com frases curtas, pessoas que falam bastante, mas que
não respeitam ciclos de conversação, não sabem iniciar conversas, pessoas que só falam

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dos temas do seu interesse, etc. Por isso, esta área vai para além da competência de
conseguir verbalizar, mas também conseguir estar envolvido na conversa.

Também é importante referir que o facto de a pessoa com autismo não comunicar connosco
verbalmente, não significa que ela não compreenda o que lhe dizemos - na maioria das
situações, a pessoa compreende tudo. Por isso, devemos falar normalmente com a pessoa,
não infantilizar e muito importante explicar tudo - o que aconteceu, vai acontecer, ou
porque é que algo não aconteceu - à pessoa.

Foca-te em usar palavras que sejam significativas e funcionais - utiliza palavras motivadoras
e que tragam uma ação. Se a pessoa gosta de carros, vamos usar palavras que façam parte
do mundo dos carros - carro, rodas, corridas, volante, velocidade, meta, etc.

Para além de tudo isto, ficam aqui 4 dicas básicas:


● Criar ambiente calmo e sem estímulos: como vimos anteriormente, se estamos num
ambiente com muito estímulo sensorial, há uma grande possibilidade de a pessoa
com autismo ter uma sobrecarga ou, pelo menos, estar mais focada na sua
autorregulação do que em interagir/comunicar connosco. Por isso, se queres facilitar
e promover a comunicação, deves procurar criar um ambiente o mais neutro e
sossegado possível, diminuindo assim as distrações. Isto inclui barulhos, luzes, cores,
pessoas, etc. Assim, tanto tu como a pessoa com autismo podem estar 100% focadas
um/a no/a outro/a

● Ouvir atentamente: a diminuição dos estímulos também te vai permitir a ti estares


mais atento/a e conseguires ouvir a pessoa com autismo. Queres estar focado/a em
qualquer som que a pessoa faça, para poderes responder adequadamente,
mostrando que um som/palavra/frase, tem uma resposta - reforçando a
comunicação verbal e motivando a pessoa, assim, a comunicar cada vez mais.

● Celebrar: celebra qualquer esforço da pessoa em comunicar contigo! Não importa se é


“apenas” um som, se não consegues perceber ainda exatamente o que a pessoa
quer. Mas vais celebrar para que a pessoa entenda que estás atento/a e que valorizas
a sua tentativa. Se não celebrares, se ignoras o som que a pessoa fez, estás a
mostrar-lhe que é indiferente ela fazer um som ou não fazer, quando na verdade,
esse som breve, pode ser o início da sua comunicação verbal. A celebração pode ser
feita de diferentes formas, desde que seja de maneira significativa e valorizada pela
pessoa - cantar, sussurrar, agradecer, dançar, etc.

● Responder: tal como referido anteriormente, queres ouvir com atenção para poderes
responder adequadamente! Para além do celebrar, é importante dar uma resposta,
mostrar que a comunicação que a pessoa tentou fazer, tem como consequência uma
ação da tua parte que, idealmente, vai resultar em algo que a pessoa quer/gosta.

Dica: há coisas que fazemos inconscientemente que funcionam como barreiras à


comunicação, entre elas a forma como respondemos ao choro e à birra. Apesar de sermos,
muitas vezes, inconsistentes na forma como respondemos aos sons ou tentativas de
comunicação que a pessoa com autismo, por norma, somos altamente consistentes na

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forma como reagimos quando a pessoa chora, faz birra ou ter comportamentos
desajustados.

Por exemplo, temos uma criança com autismo a brincar ao nosso lado e, entretanto,
recebemos um telefonema e estamos envolvidos na conversa telefónica. A criança começa a
dizer “agu” (imaginemos, para àgua), nós sabemos que ela quer àgua, mas ainda estamos na
nossa conversa ao telefone. A criança volta a verbalizar “agu” e pedimos que aguarde um
bocadinho. A criança tentou e não obteve resposta, então passa para o plano B: chora, faz
uma birra, atira com coisas… e aí, lá vamos nós dar-lhe o que ela pediu e a criança pára de
chorar.

O que mostramos à criança com o comportamento que temos neste exemplo é que não
vale a pena o esforço de tentar verbalizar (porque a criança não obteve resposta), é muito
mais eficaz fazer uma birra.
Flexibilidade
Ser flexível é essencial para interagirmos e vivermos em sociedade, pois temos de nos
adaptar a diferentes situações, uma vez que o mundo está em constante mudança e há
muita coisa que não está dentro do nosso controlo.

Alguns exemplos de inflexibilidade (existem muitos mais!):

● Só comer certas comidas ou comer sempre no mesmo prato


● Querer ler sempre a mesma história/ver mesmo filme
● Querer usar mesmas roupas/mesma t-shirt
● Fazer a mesma pergunta vezes sem conta
● Querer ouvir a mesma resposta
● Ter objetos nos quais não podemos tocar
● Jogo que gostam de jogar mas tem que ser certa forma

As pessoas com autismo têm tendência para preferir que esteja tudo mais estruturado e
organizado, pois dá-lhes controlo e segurança. E nós temos tendência a seguir esse padrão,
porque acaba por ser mais fácil para nós também. Mas se facilitarmos sempre, não estamos
a ajudar a trabalhar este músculo, nem a preparar a pessoa para eventuais situações que
possam surgir. E há uma imensidão de situações que podem (e vão acontecer): achávamos
que ia estar sol e afinal chove, o autocarro atrasa-se, ficamos doentes e já não podemos ir à
praia, etc. Mas há um equilíbrio a encontrar aqui.

Ter controlo nestas e noutras situações, oferece à pessoa uma sensação de segurança e
previsibilidade, num mundo que para ela é, muitas vezes, caótico. Quanto mais controlo
deres, mais relaxada a pessoa com autismo vai ficar e, eventualmente, ao sentir-se mais
segura, poderá aceitar pequenas alterações.

Como dar mais controlo à pessoa? Por exemplo, numa atividade de pintura, podes
perguntar-lhe se quer pintar com canetas ou com lápis; ao lanche, podes perguntar se quer

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maçã ou pêra - em vez de decidires estes pequenos pormenores pela pessoa, sem a
consultarmos.

Como dar mais previsibilidade à pessoa? Por exemplo, se calhar ao ir ao parque não
podemos dar previsibilidade, porque não sabemos o que vai acontecer lá (no entanto,
podemos dar previsibilidade, informando com antecedência, que vamos ao parque). Se
sabemos que vamos ter uma consulta no médico na sexta-feira e sabemos que é algo difícil
para a pessoa, podemos começar a falar sobre isso na segunda-feira, e ao longo da semana,
explicando o que vai acontecer, a que horas vão, com quem vão, como vão, etc, dar a
possibilidade de levar um objeto que ajude a autorregular-se, etc.

As próximas duas àreas, Saúde e Comportamento, não são áreas de desenvolvimento da


pessoa com autismo, mas são áreas importantes de ter em conta quando interagimos com
uma pessoa com autismo, pois afetam o seu bem-estar.
Saúde
Sabemos que a nossa saúde tem impacto no nosso bem-estar e energia que temos no
dia–a-dia, o mesmo acontece com uma pessoa com autismo. E há vários fatores a ter em
conta e que podem afetar o seu funcionamento/desenvolvimentos, nomeadamente:

● Alterações de sono: muitas pessoas com autismo têm dificuldades relacionadas com o
sono e sabemos perfeitamente que, se não conseguimos descansar bem, a nossa
disponibilidade diminui e a nossa irritabilidade aumenta, porque não estamos bem,
nem física nem mentalmente.

● Controle de esfíncteres: para algumas pessoas, este também é um grande desafio, que
pode ter impacto na sua autonomia.

● Seletividade alimentar: seletividade alimentar é diferente de fazer uma birra porque


não quer comer determinado alimento - para algumas pessoas determinados
cheiros/texturas/etc causam mal-estar e até dor.

● Epilepsia

● Hiperatividade

Comportamento
Por norma, esta também é uma área que preocupa bastante os cuidadores, porque é algo
visível e com a qual têm muita dificuldade em lidar. Mas, como dizemos sempre, o primeiro
passo é entender e depois, torna-se mais fácil saber como agir adequadamente.

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Estereotipias

São comportamentos repetitivos e exclusivos que funcionam para a auto-satisfação da


pessoa. Ou seja, ajudam-na a autorregular-se, fazem a pessoa sentir bem, melhor, mais
tranquila. As estereotipias podem são muito diversificadas:

● Abanar as mãos
● Balançar o corpo
● Saltar ou correr de um lado para o outro
● Mexer em fios
● Rodar/alinhar objetos
● Falar sobre o mesmo assunto sem parar
● Fazer sempre as mesmas perguntas
● Dizer sempre a mesma palavra ou som
● etc

Como lidar: se a pessoa com autismo está agitada ou a apresentar este tipo de
comportamentos porque precisa de se autorregular, então a solução nunca poderá ser
parar este comportamento, mas sim aceitá-lo e permitir que o faça e que cuide de si.

Além disso, também podes juntar-te à pessoa, ou seja, fazeres o que ela está a fazer,
mostrando que a aceitas e compreendes. Primeiro observas o que ela faz e depois podes
fazer como ela - estás a ter um comportamento empático e a colocares-te no seu lugar dela,
entendendo-a. E isto também te pode ajudar a perceber porque é que aquele
comportamento é relaxante e tranquilizador para ela. Se a pessoa mostrar que não quer
que tu o faças, aceita e respeita igualmente.

Comportamentos desafiantes/agressivos/birras:

É importante ter em consideração que todos estes comportamentos têm uma função - a de
comunicar. Por alguma razão, há uma maior probabilidade de a pessoa ter comportamentos
agressivos, quando tem apresenta dificuldades a nível da comunicação verbal. Estes
comportamentos são uma forma de a pessoa comunicar que não quer, não gosta, está
desconfortável, com dores, etc - mostrar que algo não está bem. E, tal como já referimos
anteriormente, o que acontece é que nós, cuidadores, tendemos a ser muito responsivos a
este tipo de comportamentos, porque nos incomodam, porque queremos terminá-los o
mais rapidamente possível, principalmente, se estivermos em locais públicos.

Com estes comportamentos, as pessoas com autismo procuram também ver a nossa reação
- provocar uma reação em nós. Ou seja, de cada vez que a pessoa tem este tipo de
comportamentos e nós ficamos em stress, temos expressões faciais maiores, gritamos,
pedimos para parar, paramos tudo o que estamos a fazer, etc, estamos a reforçar o seu
comportamento. Porquê? Porque lhe estamos a dar aquilo que ela quer. Assim, a melhor
forma de lidar é manter uma atitude neutra e responder calma e tranquilamente, para que

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a pessoa veja que, com este tipo de comportamentos não tem aquilo que procura, não tem
uma ação rápida da nossa parte… ou seja, não funciona!

É importante distinguirmos uma birra de uma crise. A birra no autismo é exatamente igual a
uma birra noutra criança qualquer: a criança quer algo que não pode ter naquele
momentos, chora para mostrar o seu descontentamento e tentar obtê-lo dessa forma. Por
outro lado, a crise tem origem numa sobrecarga sensorial, ou seja, a pessoa não está a
conseguir lidar com todos os estímulos que está a ter nesse momento e tem uma crise
(pode chorar, pode congelar, pode ter comportamentos mais agressivos). Numa crise
queremos ajudar a pessoa, diminuindo os estímulos que estão à sua volta, orientando para
um local mais tranquilo e neutro.
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O Contexto e o Cuidador
Por norma, quando se fala em autismo, foca-se muito mais na pessoa, do que no contexto à
sua volta. No entanto, percebemos que o contexto, do qual fazem parte todos os
cuidadores, é o aspeto mais importante no desenvolvimento da pessoa com autismo. Por
isso, é tão importante que compreendas autismo, para que possas ser um/a facilitador/a do
desenvolvimento e aprendizagem da pessoa com autismo.

Adaptar o Ambiente
A pessoa com autismo, muitas vezes, não nos consegue verbalizar/explicar o que a está a
incomodar, mas com o conhecimento que já temos, nomeadamente das questões
sensoriais, podemos ser um agente facilitador e adaptar o ambiente. Sabendo das
dificuldades da pessoa com autismo, podemos limitar ao máximo esses estímulos, tornando
o ambiente mais agradável para a pessoa - seja para a sua aprendizagem na escola, para
interação connosco ou simplesmente para se tranquilizar.

Por exemplo, para crianças/jovens em idade escolar, pode ajudar se falares com a escola
para deixares a criança um pouco antes ou um pouco depois do toque da campainha, para
evitar o momento de maior confusão e estímulos, ajudando-a a iniciar o dia de
aprendizagens com maior tranquilidade.

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Motivações

As motivações são a base para a aprendizagem - de crianças, jovens ou adultos. E, portanto,


vamos usar as motivações da pessoa com autismo para trabalhar todas as áreas de
desenvolvimento que falámos anteriormente. As motivações são a porta de entrada para a
interação e aprendizagem, as pessoas com autismo estão muitas vezes a mostrar-nos o
caminho claramente, nós é que nem sempre somos capazes de ver.

Dica: vamos deixar de ver as motivações da pessoa com autismo como um atalho para ter a
sua atenção e promover a sua aprendizagem e vamos passar a ver as motivações como a
estrada principal, a via rápida para atingirmos esses objetivos - através do que interessa a
pessoa.

Lembramos que o nosso objetivo final é CRIAR RELAÇÃO e não modificar um


comportamento. Porquê? Porque a interação é a grande dificuldade da pessoa com autismo,
por isso temos que a facilitar. Ao mostrar interesse no que interessa a pessoa com autismo,
estamos a criar pontos em comum, a criar uma base para construirmos a relação - “esta
pessoa gosta do mesmo que eu, até que enfim que encontro alguém que gosta do mesmo
que eu”

Crenças, Conhecimento e Comportamento


do Cuidador
Está tudo interligado. As nossas crenças, aquilo em que acreditamos, depende em muito do
conhecimento que temos sobre determinado assunto. Por isso, é que temos como missão
que todas as pessoas compreendam autismo. Ou seja, que todas as pessoas tenham
conhecimento sobre autismo, para que possam mudar as suas crenças e dessa forma
modificar o seu comportamento.

Se eu acredito que determinada pessoa pode evoluir, se eu sei, de facto, que isso é possível,
eu vou agir de forma a potenciar o desenvolvimento dessa pessoa. Se eu não acredito que é
possível, então eu não vou procurar promover o seu desenvolvimento.

Atitude
Não temos que estar sempre a 1000%, nunca ninguém está sempre assim. Mas é
importante trazer energia para a interação com a pessoa com autismo, principalmente
crianças e jovens. Atenção, trazer energia não quer dizer falar alto, cantar e dançar… trazer
energia vai significar coisas diferentes, consoante a pessoa com autismo.

Vamos ser divertidos/as e aceitar o que acontece no momento, sem estar sempre com
regras e a tentar que a pessoa brinque como achamos que deve brincar, que faça a
atividade como achamos que deve fazer.

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Ser Presente

O que a atitude inclui sempre é a nossa presença e disponibilidade a 100% e a nossa


motivação em estar e interagir com a pessoa. Mesmo que só consigas tirar 15 minutos para
estar a 100% com a pessoa, aproveita. Mais vale 15 minutos completamente disponível do
que 1 hora em que estás a pensar em mil e uma outras coisas.

Não Julgar

Tentar encontrar o porquê de determinados comportamentos, antes de os julgar.


Acreditando que a pessoa com autismo terá bons motivos para estar a ter determinado
comportamento, porque se assim não fosse, não teria esse comportamento. Então, vamos
tentar compreender primeiro, para depois podermos ajudar e adaptar - sem julgamentos.

Amar/Aceitar

Aceitar incondicionalmente a pessoa com autismo. Acreditamos que não podemos aceitar a
pessoa e não aceitar o seu autismo, pois estamos a passar a mensagem de que não
aceitamos a pessoa como ela é. Aceitar a pessoa incondicionalmente, implica também
aceitar o seu autismo, com tudo o que isso implica. Mas isso não implica que não vamos
trabalhar, é apenas reconhecer e aceitar a situação que temos neste momento.

Esperança/Acreditar

Ninguém consegue prever o futuro, não sabemos o quanto cada pessoa irá evoluir. O que
sabemos é que não podemos colocar limites nas possibilidades de
desenvolvimento/crescimento de cada pessoa, pois isso limitaria o nosso trabalho, limitaria
o quanto iríamos tentar ajudar e desenvolver a pessoa.

A esperança não vai fazer com que a pessoa consiga fazer o que neste momento não
consegue, mas vai-me dar motivação para continuar a trabalhar e a promover as suas
competências.

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Nós, simplesmente não sabemos como fazer as
coisas da mesma forma que vocês fazem. Mas,
como toda a gente, queremos fazer o melhor
que pudermos. Quando sentimos que desistiram
de nós, isso faz-nos sentir miseráveis. Por
isso, por favor, continuem a ajudar-nos,
continuem a ajudar-nos sempre.

- Naoki Higashida (2005)

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Quando uma flor não floresce até ao seu máximo potencial, tu não tentas arranjar a flor:
pões terra fresca, regas com água, pões a planta ao sol e a flor, floresce.

Assim é também no autismo. Vamos adaptar o seu ambiente, para que a pessoa com
autismo possa desenvolver-se até ao seu máximo potencial.
Obrigada por quereres mais e melhor para a tua criança.

Tu és o verdadeiro herói.

Caminhamos juntos…

até todos compreenderem Autismo.

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Recursos úteis
Próxima Palestra:
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Próximo Workshop:
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Contactos:
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Tel +351 220931390
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