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Copyright © 2022 Manuele Cruz

2° Edição – 2022
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução no todo ou em
parte, por quaisquer meios, sem a autorização da autora.

Capa: L.A Design


Revisão e diagramação: Manuele Cruz
Sinopse
Essa é a nova versão do livro que, anteriormente, era intitulado: Por

amor a você – Série ''Estúpido'' (Livro 3)

Esse livro conta a história de Brittany e Alejandro.

Brittany Herrera nunca teve uma vida comum, sempre viveu em meio a
violência e, posteriormente, tentando fugir dos inimigos. Anos se passaram,
e, pela primeira vez, ela sente que pode viver algo normal... Viver um
romance, mas o homem por quem é apaixonada é o cafetão, o dono de
clubes privados e depravados, que tem sociedade com um cartel de drogas,
pai solteiro e que também é o ''sócio'' do pai de Brittany.
Brittany não acreditava que viveria um amor, ainda mais sendo com
Alejandro...
Alejandro Rivera se interessou por Brittany no primeiro instante em que a
conheceu, porém, entendeu que uma mulher como ela jamais iria aceita-lo
em sua vida. Após a descoberta da sua filha, Alejandro precisa de ajuda
com o bebê, e Brittany é a pessoa que se oferece para ser a babá... Agora os
dois estão mais próximos e Brittany decide que é a hora de deixar os
traumas do passado e tentar viver.
Mas o passado ainda está ao redor, a espera de uma brecha para a vingança.
Porque tudo começou por Brittany, e é por ela que tudo deve terminar...
Sumário
Nota da autora
Livros da série
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
(1) Bônus
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
(2) Bônus
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
(3) Bônus
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
(4) Bônus
Capítulo 27
Epílogo
Segredos obscuros – Livro 5
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Contatos da autora:
Alguns livros da autora
Nota da autora
Essa é a nova versão do livro que, anteriormente, era
intitulado:
Por amor a você – Estúpido (Livro 3).

Para quem leu a primeira versão: Essa nova história é


completamente diferente da primeira versão.

O livro, desde a primeira história, apresenta um enredo de crimes


e cartel de drogas, a cada livro essa relação vai sendo mais
falada.

Esse livro contém algumas cenas com conversas e alguns


detalhes sobre violência e abuso sexual infantil!

*Os locais são fictícios, mesmo quando cito nomes de locais


que existem*

Para entender esse livro é necessário ler:

Meu CEO estupidamente arrogante – Segredos obscuros


(Livro 1) Primeira parte da história de Christopher e Jessica;

O herdeiro do CEO – Segredos obscuros (Livro 2) Segunda


parte da história de Christopher e Jessica;
Minha por contrato – Segredos obscuros (Livro 3) A história
de Matt e Camille.
Livros da série

Meu CEO estupidamente arrogante – Segredos


obscuros (Livro 1) Primeira parte da história de

Christopher e Jessica

O herdeiro do CEO – Segredos obscuros Livro (2)


Segunda parte da história de Christopher e Jessica;
Minha por contrato – Segredos obscuros (Livro 3) A

história de Matt e Camille;

A filha do chefe – Segredos obscuros (Livro 4) A

história de Brittany e Alejandro;


Só mais uma chance – Segredos obscuros (Livro 5) A

história de Jennifer e Carlos.


Prólogo
BRITTANY
Uma semana após o epílogo

''No tenía para entrar en las tienda'


Dudo que ese mundo tú ya lo entienda'
Me tenía que robar to'a las prenda'

Ahora pago to' los meses Hacienda''

Pego Lucas no colo e começo a dançar e cantar com ele, que ri


com meus movimentos.

''Gangster pide seguridade


No, no, no, no, no
Dicen tener la humildad
No, no, no, no, no''

Olho para Dulce e ela está segurando no sofá, dançando junto

comigo.

— É essa música que escuta com bebês?


Tomo um susto quando escuto essa voz, viro-me e dou de cara

com Carmen.

— Quer mesmo falar sobre educação para crianças? — vou até

meu celular e desligo a música. — BZRAP é meu novo vício, e essa


música é super de boa, as crianças não entendem espanhol. O que faz

aqui?

— Pensei que seu pai tivesse contado sobre minha chegada. —

ela se aproxima e aperta a bochecha de Lucas, depois de Dulce. — Ele


acredita que devemos ser pais agora.

— Você sendo mãe? — dou risada. — Onde estava esse tempo


todo?

— Sendo protegida.

— E esse sutiã cirúrgico? — aponto para seu sutiã que está quase
a mostra. — Juan! — grito duas vezes e ele entra correndo em casa. —

Eu pedi para pôr silicone, tirar a gordura da minha barriga e colocar na

minha bunda, você negou porque disse que isso aqui é proteção e não

SPA, como Carmen colocou peitão?

— Você faz um escândalo para isso?

— Sim!
— Se você fizesse cirurgia, teria que ser em algum hospital por
aqui, e teríamos que cuidar de você...

— Quem cuidou de você? — pergunto a Carmen.

— O cara esquisito.

— Espera. — olho para Oliver. — Oliver estava fora sendo

enfermeiro da Carmen?

— Viu, cara esquisito, nem preciso dizer seu nome, todo mundo

sabe de quem se trata.

— Também te amo, nena. — Oliver solta um beijo para Carmen,

ela revira os olhos.

— Eu esperava qualquer discussão entre vocês duas, menos que

fosse algo relacionado a silicone. — Juan cruza os braços. — Quando


essa confusão acabar, eu pago seu silicone, Brittany.

— Obrigada. — sorrio. — E o que Carmen faz aqui?

— Eu contei a ela sobre o que fez no passado...

— Fofoqueiro! — acuso.

— Brittany, eu fui uma mãe extremamente relapsa. — Carmen

fala calmamente. — Era bem louca, super esquecida... Sofia sempre foi a

mulher sensata, a mais inteligente e responsável, acabei confiando nela.

Juan me contou tudo o que passou, queria vir antes, mas ele me impediu.
— Por isso colocou silicone, tava tão mal que fez cirurgia

plástica.

— Eu aproveitei que Juan deixou dinheiro e fui em um cirurgião

barato. Cobrou cinco mil em silicone. Como deixaria essa oportunidade


passar?

— Cinco mil? — pergunto, incrédula.

— Barato, não é mesmo?

— Foi em um açougueiro?

— Foco! — Juan fala alto. — Falem de silicone depois.

Precisamos focar no que Brittany fez no passado, no que aconteceu com


Jessica e que ela não tem noção, e como Brittany está depressiva.

— Como é? — coloco Lucas no cercadinho junto com Dulce. —

Eu não estou depressiva!

— Você quase não sai mais de casa, e negou um jantar com

Alejandro.

— Você me quer com ele ou não?

— Você suspira por esse homem há meses, ele te chamou para


jantar e você desmarcou. — Juan está bem indignado. — Tem algo

acontecendo com você, precisamos de uma conversa em família para nos


entendermos.
— Mas estou bem. — ninguém acredita em mim. — Sou a única

solteira do rolê. Jessica, Camille e Vicent tem a vida deles, não posso
ficar indo atrás dessa galera sendo que eles têm a própria vida. Por isso

fico mais em casa, pronto, fim de papo.

— Bom, não que eu entenda de depressão, mas ela estava

cantando e dançando uma música sobre ser gangster. — Carmen


informa. — Eu gostei da música.

— Isso não significa nada, Carmen.

— Eu sei, Juan, mas Britt está certa, ela pode estar bem e
estamos vendo problema que não existe. Ela é uma mulher forte,

inteligente, violenta e louca, quer combinação melhor?

— Obrigada pelos elogios, Carmen.

— Fora que ela é linda e gostosa, ela pode ter Alejandro na hora
que quiser.

— Ela dispensou o Alejandro. — Juan informa.

— É bom que deixa o cara mais atiçado.

— Não, Carmen, ela dispensou mesmo! — Juan continua. —


Escutei ele falando com Carlos.

— Quando eu te chamo de fofoqueiro você diz que sou uma


idiota. — sussurro.
— Brittany, você dispensou aquele homão? — é a vez de Carmen
se indignar. — O que está acontecendo com você?

— Galera, estou bem, muito bem! A verdade é que minha


autoestima é uma merda, ok? — abro os braços. — Sou linda, gostosa,
minha bunda é perfeita, obrigada a Carmen pela genética. — ela sorri

com orgulho. — Só que eu sou louca, sou meio desbocada, falo o que
penso e sou virgem!

— Meu senhor! — Carmen coloca a mão no peito.

— Pois é, Carmen, e olha que nem é por trauma. Sou infantil,


chata, idiota, besta, como um homem como Alejandro vai me querer?

Pra que continuarei fantasiando com ele? Viverei a realidade, a realidade


que sou um ser humano lindo por fora, mas por dentro sou

desinteressante e louca.

— É a mulher mais interessante que já conheci na vida.

Oh, merda, por que não fecham essa droga de porta?

Não quero virar e dar de cara com Alejandro, não sei quanto ele

escutou.

— E tudo o que falou não me importa em nada...

— Olha, eu tô de saco cheio de ficar esperando dentro daquele


forno de carro. — agora sim viro para trás, para saber quem é essa
mulher.

Quem é essa mulher?

Loiríssima, tão bronzeada que parece estar laranja, roupa

curtíssima, mais siliconada que Carmen, bunda grande e perninhas


secas...

— Quem é a vadia? — mas é Carmen quem pergunta no meu

lugar, sendo mais direta que eu.

— Brianna. — ela sorri e se aproxima de Alejandro, mas quando

ela tenta toca-lo, ele tira o braço e se afasta. — Ex-namorada de

Alejandro, que será a oficial em breve.

— Nem fodendo. — Alejandro a interrompe.

— E o principal. — ela fala alto, elevando ainda mais os peitos

enormes. — Sou a mãe da Dulce.

Ah, merda, se não bastasse a minha mãe na minha vida, agora


Briana?

Espera, ela ama Dulce Maria? Eu perderei meu bebê, que não é

meu, mas eu crio como se fosse?

Deus, eu odeio essa vida!


Capítulo 1
BRITTANY

A minha raiva por essa cenoura siliconada é gigantesca nesse


momento. Ainda mais quando ela se agacha, ficando à frente de Dulce, e

tenta apertar sua bochecha. Totalmente sem jeito com criança, tão sem
jeito que até Dulce retira a mão de Brianna.

— Ela não foi com sua cara. — pego Dulce e agora sim ela sorri.
— Sabe como é, difícil gostar de quem a abandonou, e disso eu entendo.
— claro que eu preciso alfinetar Carmen e Juan! — Quer mesmo dar

uma de boa mãe? — ela fica em pé, me encarando de cima a baixo. — E


afinal de contas, o que está fazendo aqui?

Brianna me encara, sorrindo de lado e ficando com a cara de


deboche.

— Não fomos apresentadas. — finalmente fala algo ao invés de

ficar sorrindo. — Na verdade, Juan, eu gostaria de deixar claro o quanto


essa recepção está sendo horrível. — eu até dou risada quando ela fala

isso. — Ignoro também a parte onde essa senhora me chama de vadia.

— Senhora? — Carmen coloca as mãos na cintura.


— Voltando ao assunto. — Brianna olha pra mim. — Qual o seu

nome mesmo?

— Brittany.

— A babá da minha filha. — vadia! — Então, falarei algumas

ordens...

— Oh, não. — dou risada. — Não recebo ordens nem do meu

pai, quanto mais sua.

— Mas você é a babá.

— Porque ela ama Dulce. — Alejandro fala no meu lugar. —

Brittany é a primogênita de Juan.

A mulher arregala os olhos nesse momento, olha pra mim e para

Juan, completamente atônita diante da informação.

— São pai e filha? — pergunta em um sussurro e confirmamos.


— Ok. — pigarreia, tentando se recompor após ter tentado debochar da

filha de Juan. — O que gostaria de falar é que Dulce tem uma babá, o

que é ótimo, já que eu preciso descansar. Já que agora eu estou aqui,

você pode devolvê-la a noite...

— Brianna, você não se aproximará da minha filha. — é

Alejandro quem diz isso. — Não está aqui para descansar, sabe muito

bem disso, tampouco para termos algo e nunca terá qualquer tipo de
contato com Dulce. A partir do momento que entregou o bebê, você
perdeu seus direitos...

— Não perdi! — ela fala alto, girando e ficando de frente para


Alejandro. — Não é justo, eu estava perdida, e salvei a vida da minha

filha, agora que retorno não posso tentar conviver com ela?

Eu não faço ideia do que essa mulher faz aqui, também não sei o

que fez da vida e o que fará, mas, pelo que posso notar, pelo menos
Alejandro sente raiva dela.

— Não, não pode. — e assim, com essa voz grossa e autoritária,


Alejandro encerra o assunto. — Volte para o carro, Brianna!

— Você não manda em mim, Alejandro!

— Volte para a porra do carro, agora! — ele ordena.

Tão errado, mas tão másculo.

Brianna olha para Dulce, estende a mão e a aperta a bochecha


dela, novamente a mão de Brianna é afastada por Dulce.

E fazendo gestos dramáticos, como se fosse chorar e colocando a


mão no peito, Brianna sai da casa.

Te odeio sem nem te conhecer direito.

Alejandro se aproxima.
— Brianna não vai morar comigo e nem será a mãe de Dulce. —

Alejandro sussurra. — Porque sei bem que a última coisa que ela quer na
vida é ser mãe...

— Ela quer você. — vou direto ao ponto.

— Brianna quer qualquer homem com dinheiro. — sorri de lado,


o sorriso que acho tão lindo. — Depois conversaremos, Brittany.

Ele vai até Juan, enquanto isso eu coloco Dulce e Lucas


pertinhos um do outro para brincar. Quando paro de prestar atenção nas

crianças, percebo que Alejandro já foi embora.

— Você gosta dele. — Carmen fala ao meu lado, até me

assustando com a voz que aparece repentinamente. — Está muito na


cara, e Alejandro está afim de você. Talvez ele não tente tanto por causa

de Juan, já que é o chefe de Alejandro...

— Não, o problema não é Juan, sou eu. — olho para Carmen. —

Gostaria de ser mais como você nesse quesito.

— Gostosa você já é...

— Falo sobre ser atirada, direto ao ponto. — Carmen sorri ainda


mais com as características que dou a ela. — Falta atitude da minha
parte.
— Desculpa, Brittany, mas preciso falar disso, como pode ser tão

corajosa com pessoas perigosas, mas ser tão retraída para falar com o
cara que gosta? Defendeu tanto Jessica, lutou por ela, mas não consegue

ser direta ao ponto com o Alejandro? Você é a mulher mais direta ao


ponto que conheci na vida.

No dia lá com Henry eu falei com Alejandro, ele me convidou


para jantar e dei uma desculpa, não fui, porque senti vergonha, fiquei

morrendo de timidez, fiquei com muita ansiedade e simplesmente


cancelei o nosso compromisso. Após essa recusa ainda nos falávamos,
Alejandro puxava mais assunto e eu ficava cada vez mais nervosa, por

fim, acreditei que ele não me quisesse mais, afinal, que mulher
insuportável eu sou! Mas do jeito que Alejandro falou comigo agora...

— Veio disposta a ser a mãe conselheira? — olho para Carmen.

— Segundo seu pai, você precisa de pessoas ao redor, tem


traumas que não falou sobre...

— Eu matei pessoas e tô nem aí!

— Brittany! — pronto, agora é Juan surgindo do nada. — Você


passou por traumas, viveu para cuidar de Jessica, fomos péssimos pais...

— Essa última parte é muito real! — interrompo-o. — Muito

mesmo!
— Você precisa de pessoas por perto...

Ah, meu senhor! Do nada virei a pessoa traumatizada que

precisa de cuidados, mas eu não sou traumatizada!

— Sabe algo que ajudaria muito a recuperação dos meus


traumas? — Juan nem me dá atenção, ele sabe que não falarei sério. —

Que pague meu silicone, Juan! Quer resolver meus traumas? Me dê


dinheiro, já que está tão arrependido...

— Eu falo sobre relação familiar, sobre parar de ser uma grossa...

— Temos uma relação familiar, Juanito, eu moro com você, se eu

te odiasse eu jamais continuaria aqui, ao seu lado! Ok que eu só


demonstro amor por certas pessoas...

— Jessica, Lucas e Dulce!

— E o Vicent! — acrescento. — Apesar de discutirmos muito.

— Ok, Brittany, mas o que quero dizer é que depois daquilo que

falou para Henry, sobre o segredo que guardou por tanto tempo, sinto
como se tivessem mais coisas, talvez não tão alarmantes como aquilo,

mas tem coisas que você guardou somente para você, para poupar
Jessica e porque nós dois. — aponta para Carmen e ele. — Não

quisemos escutar.

— Está tentando se redimir.


— Sim.

— Eu realmente não tenho nada para dizer, Juanito, estou muito

bem...

— Talvez o seu passado impossibilite seus encontros com


Alejandro. — fecho os olhos quando Carmen fala sobre isso. — Eu mal

cheguei e já percebi tudo. Vocês dois se querem.

Juan passa a mão pelo rosto e pragueja em espanhol.

— Vou para o meu quarto. — ele fala sua decisão, quase

rosnando. — Eu preciso descansar um pouco.

— Descansar de que se não fez nada? — provoco.

— Não quero escutar discussão entre vocês duas, estão me


entendendo?

— Ok, Juan. — Carmen responde.

— Brittany?

— O que?

— Sem discussões com Carmen!

— Ok, Juanzito. — imito a voz de uma criancinha. Juan fica

irritado, faz um monte de carranca e por fim sobe as escadas,


praguejando sobre como sou uma filha que quer deixa-lo louco. — Juan

sempre foi dramático assim?


— Não, mas dizem que com os amigos ele sempre demonstrou

como é de verdade, mais gente boa, digamos assim. Eu conheci o lado


senhor de cartel, o machão com aquela aspereza toda...

— Ele tem namorada agora.

— Eu conheci, lindíssima, nem parece que tem quarenta anos,


daria vinte e cinco facilmente. Pele perfeita.

— Então uma galera já sabia do seu retorno?

— Sim, mas conhecem seu jeito rebelde e briguento, decidiram

não contar nada.

— Jessica sabia?

— Não, ela não saberia guardar segredo de você.

— Ok, Carmen, entendi a indireta.

— Eu acho que a principal vítima disso tudo já poderia saber o


que aconteceu, Brittany. — vou para o sofá e sento na frente das

crianças, que estão com seus brinquedos educativos, jogando de um lado

para o outro. — Sei que Jessica sempre foi a mais frágil, mas ela deveria

saber, não? Por anos eu não entendi o que aconteceu...

— Como soube? Juan te contou por querer ou...

— Ele me acusou, perguntou como deixei que tudo isso

acontecesse e eu não sabia explicar. Sofia sempre pareceu a pessoa mais


sensata para cuidar de vocês.

— Eu juro que não sei como você e Juan enxergaram Sofia desse

modo tão sensato, nem falo por ela ser cafetina, e sim do jeito áspero,

completamente sem paciência.

— Sofia era cafetina, todos gostavam dela. Eu era uma prostituta

que passava mais tempo fora que dentro de casa, e Juan é um homem do

cartel de drogas, o perigo sempre estava rondando a vida dele. Mas


Sofia? Não, era tudo mais normal, tranquilo. Ela era inteligente, sabia

comandar tudo, demonstrava ser calma, tudo aquilo que Juan e eu não

somos. E a própria Sofia pediu para cuidar de você enquanto eu estava


fora, e quando eu voltava, encontrava uma filha rebelde contra uma

adulta muito calma, Jessica parecia assustada, então você pedia para ela

confirmar o que você tinha dito e pronto, parecia que você a comandava.

— Eu era estupidamente burra naquela época, mas eu tinha raiva.


Deveria ter feito exatamente o contrário, ter demonstrado calma, ter

dado um jeito de mostrar que eu não mandava em Jessica, digamos

assim, no entanto, a minha raiva era tanta que eu parecia insana.

— Sim, e pra você ver, não acreditávamos tanto nisso, tanto que
mandamos para um psiquiatra te examinar, rezávamos para que não

fosse real, para que não fosse uma psicótica, mas deu tudo aquilo que

não queríamos. Uma personalidade que inventava histórias, que gostava


de mandar em pessoas mais frágeis e que tinha prazer em colocar uma

pessoa contra a outra, fomos em outro médico e deu a mesma coisa. No


fim descobrimos que Henry que pagava pelos diagnósticos, porque

assim Juan nunca acreditaria em suas histórias.

— Eu deveria ter sido internada, já que era tão insana, ou então

ser medicada.

— Você sumiu antes disso.

Apenas balanço a cabeça em concordância, porque eu realmente

seria internada.

— Talvez não tenha como, Brittany, entendo que te machucamos

muito, deveríamos te proteger e te mandamos para seus algozes, porém,

tentamos consertar nossos erros agora, tentamos ser os pais que não

fomos anteriormente. Talvez ainda haja tempo para isso.

Olho para Carmen, minha mãe, mas nunca a chamei desse modo,

igual a Juan. Por anos nutri raiva deles. Jessica queria ligar para Juan e

pedir ajuda, nunca aceitei, porque eu pedi socorro quando éramos

crianças e ele nunca acreditou em mim, então não quis ser recusada
novamente.

Mas olha só, agora moro com ele, confiando que Juan salvará

nossas vidas, que realmente está disposto a reparar os erros do passado.


No entanto, ainda acho estranho tê-lo como pai, afinal de contas,

passei anos rejeitando sua paternidade.

E agora tem Carmen, acabei de reencontrar, quer uma nova

chance. Lembro de Carmen no passado, meio louca e super


inconsequente, talvez por isso eu a aceite nesse momento, porque ela é

como eu, no entanto, começou a falar de reparar erros...

Seria mais fácil se não fosse um erro gigante a ser reparado.

Mas Christopher foi um digníssimo escroto com Jessica e eu falo

com ele normalmente, entretanto, eu lembro que ele nunca soube do

bebê, por culpa dele mesmo...

Deus, é tudo tão confuso!

— Daremos tempo ao tempo, Carmen. — sorrio para ela. — Pelo


menos eu continuo nessa casa, algum passo já foi dado.
Capítulo 2
ALEJANDRO

— Poderia me explicar por que Brianna está nua na casa ao lado

e por que ela está com as costas ferida? — e é assim que Eric, meu
irmão, entra no meu escritório. — Sério, cara, ela tá praticamente
fazendo um strip-tease lá na outra casa, alguns seguranças olham, mas

não sabem se devem ou não.

— Vai da inteligência, se eles quiserem uma louca no pé deles,

podem ir em frente. Agora se é por minha causa, não tenho interesse


algum em Brianna.

— E o que ela faz por aqui?

Peço para que Eric sente e ele faz o que peço.

— Eu nem sabia que ela estaria na casa ao lado, pedi para que ela

entrasse no carro e fui avisado que ela estaria bem ali. Ideia de Juan, ele
acredita que trazer Brianna para perto fará com que Charlie se mova de

algum modo. Temos uma quase certeza que tudo o que Brianna fez, foi
para ficar com Henry ou Charlie. Ela apareceu e entregou Dulce, no

mesmo momento que conhecemos Christopher. Depois ela retorna

pedindo ajuda quando tem a certeza que estamos juntos. Ou pode ser um
plano de Charlie, para ela ser informante, ou pode ser que Brianna se

ferrou e veio buscar ajuda. Eu acho que ela se ferrou, aquelas feridas nas
costas mostram que ela levou uma baita surra.

— Ok, mas não seria mais fácil torturar para sabermos a


verdade?

— Eu disse o mesmo, porém, Juan também acredita que Brianna

foi extremamente ferida nesse tempo distante. Ele acha que se forçarmos

para que ela fale, poderá ser pior. Eu acredito que ela falaria, mas Juan
quer apelar para o bom senso. Quem sabe dando proteção, Brianna fale

das coisas com mais detalhes.

— Esse não é o Juan que conhecemos. O Juan que conhecemos

já teria colocado Brianna em uma jaula e teria tirado a comida dela, ela

definharia, poderia ficar calada, mas Juan nunca facilitaria a vida dela.

— Juan está se achando a pior pessoa do mundo e talvez seja. —

sussurro a última parte. — Ele encontrou pessoas sofridas nesse lugar, a

começar pela filha que nunca conheceu e deve estar sofrendo com

Charlie, as outras duas filhas que ele nunca acreditou e sofreram, e então
temos Whitney, Camille e Christian, ou seja, várias pessoas que sofreram

nessa história, Juan não quer parecer um vilão, não mais.


Se Juan pudesse, eu aposto que ele estaria em algum retiro
espiritual, tentando se limpar de todo o mal que causou na terra. Seu

primeiro feito após assimilar que fez merda com Brittany foi justamente

sair de vez do cartel. Passou a liderança para seu antigo braço direito.

Poderia ser Carlos, mas ele não quis, pois queria vir ajudar Juan. Todos

os homens estão aqui estão por Juan para ajuda-lo, porque ele não

comanda mais qualquer cartel.

Mas não falará disso por enquanto, quer manter a fama de chefe

por mais tempo.

Mas foi notório como Juan ficou mal ao descobrir das duas filhas

na pobreza, e que não confiaram nele para pedir ajuda. Assim como está

sendo pior não saber onde a gêmea de Jessica está.

— Falando em Juan e filhas. — volto a prestar atenção em Eric.

— E Brittany? Ela já sabe de Brianna?

— Já está puta com a chegada de Brianna, e nem a conheceu

direito. Mas eu deixei claro que não quero nada com essa mulher.

— E Brittany?

— Está parecendo confusa, como sempre.

— E então?

— A mesma coisa, não sei o que fazer com ela.


— Ah, cara, tão engraçado ver quando o homem que arrasa

corações, está tendo o coração arrasado por uma mulher confusa. Pior,
ainda é a filha do seu chefe, para complementar, a filha do Juan!

— Antigo chefe, porque agora somos sócios. — Eric cruza os


braços e me encara com a sobrancelha arqueada. — Ok, Juan ainda é um

chefe, mas nada hierárquico como antigamente, e nem foi por isso que
convidei Brittany para jantar. Ela parecia uma pessoa pra mim e outra
para vocês, eu quero saber quem ela é de verdade.

— Você entende que ela tem baixo autoestima, certo? Temos que
começar por esse ponto. Você é a única pessoa da terra que não acha

Brittany louca, porque ela sempre foi vista desse modo, e pelo que pude
entender, isso acontece desde a infância. Eu acho que ela tem um lado
insano, mas é um lado forte, de uma mulher que luta por quem ama, que

nesse caso foi a Jessica. Acredito que Britt foi chamada de louca tantas
vezes que ela simplesmente aceitou isso e está nem aí, mas ela não

consegue ficar ao seu lado, pois acredita que você não vai querer uma
mulher assim. E vai por mim, cara, Brianna pode ferrar tudo.

— Não quero nada com Brianna!

— Aquela ali parece uma cenoura siliconada, que porra de

bronzeado é aquele?
— O bronzeado que prova que ela estava bem por algum tempo,

porque tem marca de biquíni.

— Pois então, cara, Brianna é uma cenoura siliconada, mas é

bonita. Tem mulher que não aceita essas aproximações numa boa, então,
Alejandro, não fique muito próximo de Brianna, porque Brittany pode

entender tudo errado e pelo que conheço dela, ela pode se afastar de vez.

— Brittany já está afastada, Eric, e eu não sei o que fazer para


mudar isso. Como você disse, as mulheres sempre estiveram prontas

para mim quando eu ia até elas, era fácil, mas Brittany? Já fui cordial, já
fui direto, já tentei ser amigo, mas nada dá certo. Não sei o que fazer.

— Brittany é linda, é inteligente e forte, mas ela tem uma história


de vida pesada e acho que nunca teve namorado. Talvez ache que você é

muita areia para o caminhão dela, mas eu acho o contrário. — inclino a


cabeça para o lado, o encarando. — Estou falando a verdade! Se quer
Brittany mesmo, precisa ser o mais normal possível...

— Eu sou normal!

— Ela fica toda desconsertada ao seu lado, precisa deixa-la


tranquila de algum modo. Preste atenção nos sinais, cara. Brittany te

quer, mas ela é tímida com você. Vai aos poucos, tente deixa-la
tranquila, assim será mais fácil.
(...)

Quando conheci Brittany eu a enxerguei como uma mulher


tímida, extremamente retraída e pensei que só estava naquele clube

repleto de sexo para sustentar a família, e não estava errado.

Ela sempre foi diferente de todas as mulheres, a maioria das

mulheres dos clubes são extremamente desinibidas, muitas dão em cima,


mesmo sendo o chefe delas. Como foi o caso Brianna, e caí no maldito

golpe do preservativo furado, mas isso é outra história.

A outras mulheres que não são desse modo são porque tem

família, filhos e marido. Alguns maridos aceitam que suas esposas e


namoradas sejam strippers por pura necessidade, alguns vão além,

aceitam que elas transem com clientes, no acordo deles, elas podem
transar por dinheiro, então nunca olharam pra mim de outro modo,
tampouco deram em cima.

Mas Brittany nunca se encaixou nessas características, depois


sabendo que é filha de Juan, imaginei que fosse apenas retraída, e
confesso, fiquei cada vez mais distante quando soube desse parentesco
tão próximo com meu antigo chefe.

Mas não deu, quando cheguei com Dulce, completamente


perdido por ter uma filha, foi Brittany quem a pegou dos meus braços e
disse que poderia me ensinar como cuidar de um bebê.

Apaixonei mais.

E agora ela está na minha frente, já que veio trazer Dulce para
casa.

— A cenoura siliconada está por aqui? — Brittany pergunta,

olhando para os lados.

— Não. — dou risada. — Foi você quem deu esse apelido a ela?

— Eu pensei, mas é a primeira vez que falo em voz alta.

— É que Eric falou o mesmo, achei que já tinham conversado.

— É muito fácil olhar para Brianna e enxergar a cor de cenoura e

o silicone gigante e desproporcional.

Pego Dulce dos seus braços, ela já está dormindo.

— Eu prometo que essa semana estarei mais presente na vida da

minha filha, e voltando ao assunto de Brianna, ela não mora aqui, nem
vai morar, está em outra casa. Não temos e nem teremos nada.

— Uau! Muitas respostas para nenhuma pergunta feita.


— Seu semblante enraivado mostra as perguntas ocultas.

— Sou muito expressiva, mas Brianna me irritou com aquela


falsa saudade da filha. Qual é a dela?

— Juan não te contou?

— Não falou nada, foi descansar, já que está cansado por fazer
merda nenhuma! Você trabalha mais que ele.

— Juan sabe que acha isso dele?

— A parte que trabalha mais que ele? — confirmo. — Sabe, fica

ainda mais irritado.

— Entre. — afasto-me da porta, sabendo que ela vai recusar. —

Podemos conversar mais.

— Oh, não, obrigada. Tenho uma mãe arrependida que me espera

para comer um bolo.

— Carmen está indo bem?

— Você a conhece?

— Mais ou menos, quase nada, pra falar a verdade.

— Não tivemos grandes contatos, mas ela é insistente e chata,


muito chata, não sei como Oliver está apaixonado por ela.

— Oliver gosta de ser pisado, quase um fetiche. — ao falar essa

palavra, noto como as bochechas de Brittany coram. — Tem certeza que


não quer entrar?

— Sim, tenho certeza. Tenho uma mãe arrependia para dar

atenção e tenho Juanito para irritar.

— Você gosta de Juan.

— Sim! — grita. — Eu amo poder irrita-lo sem levar um tapa,

ele está tão obstinado a ter meu perdão que posso chama-lo de ‘’rainha

do drama’’. Eu amo Juanito!

— E ele sabe disso?

— Não, não tem graça alguma ele saber que gosto dele. Agora eu

preciso ir.

— Um dia aceitará algum convite que faço?

Pensa um pouco.

— Talvez. — Brittany dá de ombros e nem me deixa falar mais

nada, pois já atravessa a rua e está na porta da casa onde mora.

Eu tinha que me apaixonar pela filha de Juan? E ela tinha que


ser a mulher que mais me esnoba?

Olho para Dulce, que continua dormindo segurando seu macaco

de pelúcia.

— Oh, Dulce, se não fosse você, nem comigo Brittany falaria. —


e parecendo que me entende, ela sorri. — Ok, ela também conversará
comigo como conversa com você. — ela sorri de novo, dessa vez como

se desse risada. — Até você ri da dificuldade que tenho em manter


qualquer contato com Brittany.

Escuto alguém chamando meu nome e olho para a outra casa:

Brianna de sutiã!

Foda-se!

Entro na minha casa e tranco a porta.

Por que Juan resolveu ser um homem bom agora? Seria mais

fácil torturar Brianna para saber a verdade, não trata-la como se uma
fosse uma ótima pessoa, porque ela grudará em mim e só dificultará

minha vida com Brittany.

Como se já não fosse difícil o suficiente...


Capítulo 3
BRITTANY

Alejandro é tão lindo, tão forte, tão grande... Não é como aqueles

bombados de academia. Né por nada não, mas sinto uma enorme aversão
a caras marombados, marombeiros, sei lá como se chama. Mas
Alejandro?

Suspiro novamente.

Aquele homem é perfeito!

E a voz dele?

— Garota, por que suspira tanto? — agora eu percebo Whitney

sentada no sofá. — Por que pergunto se a resposta é óbvia? Alejandro!

Sento ao seu lado.

— Ah, Whit, eu não sei como tirar isso de mim. — coloco minha

cabeça em seu ombro e ela acaricia meu rosto.

— Não sei como pode se colocar tão pra baixo, Britt. — olho
para ela. — Você é uma mulher tão incrível, leal, forte, divertida e é

linda, você é aquele tipo ‘’mulher ideal’’, perfeita em todos os sentidos,

por dentro e por fora. Precisa acreditar mais nisso.

— Eu não sei como alguém pode me querer...


— Alejandro te quer, é tão óbvio que Carmen percebeu, e ela mal

chegou.

— Espera, aquela fofoqueira está falando disso para todos?

— Juan é muito dramático, você conhece seu pai.

— Drama queen.

— Exatamente, assim que você saiu para levar Dulce, Juan


desceu correndo para indagar como todo mundo apoia você e Alejandro,

perguntou se já rolou algo e Carmen disse que não, mas espera que

aconteça em breve porque os dois se gostam e é nítido.

— E o que isso importa para Juan?

— Importa que ele tem que falar comigo primeiro! — ah, pronto,

lá vem Juan! — Nova tradição da nossa família! — levanta a mão, para


que eu não fale nada. — Sim, Brittany, nossa família! Agora todo

homem que quiser sair com uma filha minha, terá que passar por um

teste.

— Que teste? — pergunto.

— Se o homem quiser você, terá que lutar comigo, isso provará

que ele realmente está obstinado a ter algo sério com você.

Olho para Whitney, que está prendendo o riso, mas acabamos

rindo alto nesse momento.


— Não é uma porra de piada, Brittany e Whitney, são as novas
regras da casa! Christopher apanhou...

— Ele mereceu! — protesto. — Fez merda!

— Pois Alejandro terá que lutar comigo se quiser você.

— Deus, Juan, estamos no século vinte e um. — Whitney

também acha a ideia uma merda. — Pelo amor de Deus, que ideia

imbecil e arcaica.

— Oh, querida, eu comando um cartel, temos regras, se o cara

quer minha filha, que lute comigo e pague a porra do dote!

— Dote? — perguntamos ao mesmo tempo.

— Christopher me deu negócios.

— E o que eu ganho com isso, Juanzito? — cruzo meus braços.

— Eu quero duas mansões, meu silicone, uma Porsche...

— Viu só, Brittany, você é mercenária como. Eu sei bem que

quis matar Christopher envenenado.

— Foi uma brincadeira!

Agora Juan e Whitney me encaram.

— Ok, se ele tratasse Jessica mal eu o envenenaria para deixa-lo


em estado vegetativo, não para matar.
— Eu admiro sua mente vingativa. — Juan franze o cenho. —

Ao mesmo tempo que me assusta.

— Só mato gente ruim.

Juan sorri com orgulho.

— Eu realmente não sei o que faço aqui. — Whitney sussurra.

— Oh, Whit, querida, você tá com Juanito, tu também não bate


bem da cabeça.

— Brittany! — Juan grita meu nome e olho para ele. — O que


quer com Alejandro?

— Ah, não vai querer saber... — provoco. — É um ‘’conteúdo

mais dezoito’’.

— Por que pergunto, meu Deus? — olha para cima. — Por quê?

— Eu acho que você gosta das nossas discussões, cara.

— Odeio a falta de respeito comigo.

— Te chamei de ‘’senhor’’ e ficou complexado porque achou que


está velho. — falo e ele faz uma carranca, agora olho para Whit. —

Sério, Whitney, como aguenta?

— Às vezes me questiono a mesma coisa.

— Whitney! — Juan grita. — Mulheres, vamos lá, não tenho


nada contra Alejandro. Ele era um puto que ficava com qualquer
mulher? Sim. Ele é cafetão? Também. Ele fuma maconha? Às vezes. Ele

é bandido? Sim...

— Acabou de se descrever, Juanito.

Eu amo provoca-lo, é meu melhor hobby!

— É isso que quer para sua vida?

— Eu amo o nicho de ‘’mulher de preso’’ no TikTok, já tô


preparadíssima para chamar as manas de ‘’cunhadas’’ e postar ‘’libera o

preso seu juiz’’. Dane-se as dancinhas e makes, o melhor nicho é o de


mulher de preso, receitas, militantes de esquerda contra os de direita...

— Que?

— Ah, Juan, eu amo sua falta de modernidade. — suspiro.

— Eu não sei porque tento dialogar com você, Brittany.

— Porque me ama.

— É. — dá de ombros. — Deve ser isso mesmo.

— Eu gosto de você, Juanzito. — sorri para a minha fala. — Não


se acostume.

— Ainda vou falar sobre a surra de Alejandro.

— Realmente acha que vai vencer? — eu amo Whitney, é fato!


— Só mulher na minha vida, e todas me provocam, quer dizer, só
Jessica e Camille que não.

— Equilíbrio é tudo, Juanito. — aperto seu ombro. — E vá


treinar, precisará muito.

— Você realmente quer Alejandro?

— Para seu terror. — sorrio. — Sim.

(...)

— Está tudo bem por aqui? — é a primeira coisa que Jessica

pergunta quando me vê.

— Não, graças ao imbecil do seu marido, agora Juan quer bater

em todos os pretendentes das filhas.

— Todos?

— Eu sou solteira. — peço para que Jessica entre em casa e ela


vai até a sala, cumprimenta Carlos que está no sofá. — Em breve

Jennifer estará aqui e Carlos lutará com Juan.


— Que? — Jessica pergunta, sem entender nada.

— Eu ainda acho que Brittany precisa ser internada. — olhamos

para trás, onde Carlos mexe no celular. — Não sei de onde tirou essa
história sem pé nem cabeça.

— Você procura por Jennifer, Matt procurou Camille, e o que

aconteceu, Carlos?

— Eu não sou o Matt, Brittany!

— Exatamente, é como se fosse o filho de Juan, então eu posso te

atazanar com minha fanfic.

— Eu odeio o que me tornei. — Carlos resmunga.

— Então, Jess. — chamo a atenção dela. — Juan quer bater em


Alejandro para saber se ele realmente me quer.

— Chris ficará feliz em saber que foi o primeiro a passar por algo

tão medieval, mas eu me referi a Carmen. Depois retornaremos ao


assunto de Alejandro, pode ser? — confirmo. — Ontem eu quis vir até

aqui, mas você disse que não precisava.

— Está tudo bem. Oliver atazana a vida de Carmen, ela atazana a

minha e eu atazano a de Juanito...

— E a minha também. — Carlos acrescenta.


— Pode pedir para sair, Carlos. — falo seriamente. — Pode pedir

demissão dessa árdua missão que é ser minha babá.

— Eu não te deixarei sozinha, Brittany. Já enfrentei coisa pior.

— Ele se irrita com minha fanfics. — murmuro para Jessica. —

Agora que não mora comigo, não posso mais te atazanar, e Vicent fica na
lua de mel dele com Eric. Carlos é meu mais novo amigo...

— Amigo... — ele ri. — É meu castigo, minha cruz, um carma...

Carlos é minha babá, já que Juan acredita fielmente que fugirei

dessa cidade para ir atrás de Charlie e descobrir sobre Jennifer... Não


está errado em nada!

— Essa casa deve estar mais caótica que antes. — Jessica

murmura.

— Virou quase um cortiço. — começo a falar quando vejo


Carmen descendo a escada. — Ainda mais com a vulgaridade de

Carmen complementando o ambiente caótico desse recinto.

— Tão linda como insulta a mãe, mas não tem coragem de ter
qualquer diálogo com o seu amorzinho. — claro que Carmen tem que

retrucar.

— Eu converso com Alejandro!

— Não o suficiente. — Carlos sorri pra mim. — É bom, não é?


— Olha só, povo, está tudo bem comigo, eu só sou tímida. —

todo mundo dessa sala bufa e dá risada. — Ok, retraída, mas é instigante

para o homem. — olho para Carlos. — Não vai falar nada?

— Uma hora cansa. — dá de ombros. — Alejandro gosta de


você, isso é fato, então, pelo menos aceite algum convite que esse

homem faz.

— Mas antes ele lutará comigo! — ah, Deus, lá vem o Juan! —


Farei o convite formal hoje.

— Juanzito, se você tem qualquer vontade de ser meu pai, por

favor, não me faça passar por essa vergonha.

— Christopher passou por isso. — Jessica sorri.

— Ele mereceu!

— Pois é a nova rega dos Herrera! — Juan abre os braços e

Whitney, que está arás dele, revira os olhos. — A partir de agora, todo
genro terá que lutar com o sogro. Quando tiverem uma filha mulher,

tenham certeza que esses homens vão amar o que inventei, melhor

dizendo, Alejandro vai amar fazer isso quando for o momento de Dulce,

até o Matthew vai querer entrar na onda, é a cara dele fazer isso.

— Juan. — falo calmamente. — Por favor...


— É bom para você também, Brittany, assim você também saberá

se Alejandro quer você a ponto de lutar comigo.

— Você se acha um invencível. — Whitney debocha. — Espero

que perca, para ver que essa ideia é imbecil.

— Mulher, não é sobre perder, é sobre coragem!

— Coragem de ser um idiota?

— Eu te amo Whitney! — falo alto. — Porque pode insulta-lo no

meu lugar. Viu, Juanito? Eu te respeito!

— Não cola, Brittany, Alejandro terá uma conversa comigo. Onde

já se viu querer minha filha e não vir falar comigo? — termina de descer
as escadas. — Vamos, Carlos, vamos ter uma conversa com Alejandro.

Isso só pode ser brincadeira...

Pra que ser filha do Juan?


Capítulo 4
BRITTANY

O clima caótico só piora quando chegamos a porta da casa de

Alejandro e encontramos dois seguranças de Juan segurando os braços de


Brianna.

— Ainda bem que essa vizinhança é composta por pessoas que


nos conhecem. — Juan murmura, balançando a cabeça de um lado para o
outro. — Brianna sempre fazendo barraco.

Fico irritada só de vê-la, e juro por Deus, não é sobre Alejandro, é


sobre Dulce!

Sim, Brianna pode ser a mãe biológica de Dulce, mas eu odeio

isso e não quero que ela chegue perto do bebê.

‘’Ah, mas ela fugiu por proteção, deu Dulce para o bem dela, é

dever do pai criar a criança também’’, eu aceitaria todos esses


argumentos se Brianna não fosse uma cenoura siliconada de cabelo super

hidratado. Está na cara que essa mulher estava em algum local com sol,
piscina ou praia, talvez os dois. A marca de biquíni e esse cabelo sedoso

não negam que ela estava muito bem, talvez tenha sofrido em algum

momento... Talvez não... Não me importo!


— Brianna! — Juan fala tão alto que Brianna dá um pulo, depois

vira para frente e se recompõe, encarando Juan. — O que pensa que está
fazendo?

— Juan. — ela fala calmamente. — Obrigada por me trazer até


aqui, por me dar proteção, porém, você disse que eu não seria tratada de

maneira diferente, mas todos me evitam, a começar por Alejandro! —

cruza os braços. — Quero conversar com ele, tentar me explicar, ficar


próxima a nossa filha...

— Onde estava esse tempo todo? — questiono.

Ela me encara.

Brianna também me odeia.

— Estava sofrendo, ok?

— Com esse bronzeado e cabelo super hidratado?

— Eu exijo falar com Alejandro! — Brianna me ignora. — E

com minha filha! Eu tenho meus direitos...

— Você nem ao menos registrou o bebê, foi um processo para

conseguir registrar a criança sem a mãe e sem informações sobre Dulce.

— Juan fala após colocar a mão na minha boca, me silenciando. — Nem

ao menos registrou Dulce...


— Eu errei, entendo meu erro, mas não estava pronta para ser
mãe. Percebi meu erro e estou aqui, querendo me redimir.

Olha, parece que estou escutando a mesma história, sendo


contada por outra mãe relapsa.

Tiro a mão de Juan da minha boca.

— Se Alejandro quiser, ele aceita sua maternidade para a filha

dele. — e assim, falando com calma, Juan encerra o assunto. — Agora

volte para casa, é melhor para você.

— Juan...

— Para casa, Brianna! — fala alto, não gritando, mas é o

suficiente para que eu sorria.

Brianna abaixa a cabeça e vai para a casa onde está ficando.

— Eu realmente quero entender o que acontece aqui. — fico a

frente de Juan. — Essa mulher está arrependida? Ela sofreu algo ou é um


plano? — sussurro. — Eu posso odiá-la sem remorso?

— Se eu responder que ela sofre, terá alguma compaixão com


ela?

— Talvez. — ele cruza os baços e arqueia uma sobrancelha. —


Ok, eu não acredito nesse lance dela querer se redimir e ter vontade de

ser mãe.
— Não está errada, Brittany, mas eu acho melhor irmos com

calma, pode ser? — não respondo. — Pode ser?

— Eu não fiz nada!

— Porque ainda não teve oportunidade.

Juan bate na porta da casa de Alejandro, enquanto isso Jessica

puxa meu braço e fico ao seu lado.

— Por que Juan pergunta isso? — ela indaga. — Por que precisa

que Carlos sempre fique em casa? O que aprontou, Brittany?

— Juan acredita que eu irei atrás da gêmea e que matarei Brianna.

— Ele acredita em suas ameaças? — ela ri e balança a cabeça. —

Nossa, ele não te conhece mesmo.

Ok, mais cedo ou mais tarde precisarei contar que matei duas
pessoas e que Jessica foi molestada.

Mas enquanto não tenho coragem de ter essa conversa com


Jessica, eu viro para frente para ver a vergonha alheia de perto. Juan
enquadrando Alejandro.

— Eu gostaria de dizer que estou achando essa ideia estúpida! —


e é assim que Alejandro abre a porta, com Dulce em seus braços e ele

sem camisa. Suspiro. Carmen escuta e sorri ao meu lado. Idiota! — Acho
mais eficaz torturar Brianna para sabermos a realidade da história dela.
— Eu concordo plenamente com Alejandro. — Carlos fala.

Gostaria de dizer o mesmo, mas eu fico tímida perto de


Alejandro.

A única pessoa da face da terra que me desconserta por completo.

— A partir do momento que tratarmos Brianna com igualdade,

ela poderá entender que estamos abaixando a guarda, Charlie se moverá e


assim teremos o rastro dele novamente. Ou acredita que Brianna sabe

onde ele está? Que se ela ligar para ele, ele atenderá do esconderijo? Não,
Carlos e Alejandro! Temos que ir com calma. — a conversa é toda feita
com quase sussurros. — Ameaçar de nada adianta, vamos dar corda,

Brianna pode se comunicar com alguém, vamos rastreando e uma hora


conseguiremos algo.

Então Brianna realmente está do outro lado, agora sim que ela
não encostará em Dulce!

— Mas eu vim aqui falar de outro assunto. — Juan fala mais alto.
Meu senhor Jesus Cristo, a vergonha alheia vai começar. — Alejandro, o

que quer com Brittany além dela ser a babá de Dulce? Eu gosto de deixar
as coisas bem claras por aqui, a minha filha é uma mulher séria, de

família...

— Filha de um traficante e uma prostituta. — Carmen ri.


— Carmen! — Juan rosna. — Estou escutando cochichos que
quer a minha filha, e sabe bem como fazemos por aqui, Alejandro. Se
quer a filha de um dos nossos, precisa ser claro quanto a isso.

— Juan, eu gosto de Brittany, gosto muito, na verdade. — eu


sinto meu rosto queimando de vergonha, ao mesmo tempo que sinto-me

emocionalmente bem por escutar suas palavras. — Mas ela não aceita
meus convites, então não sei se sua filha me quer ou não, se ela me

quiser, conversarei com você.

— Brittany, você quer ou não quer o Alejandro? — agora Juan


está irritado comigo?

— Que? — grito.

— Eu achei que já tivessem tido algum dialogo sobre esse

assunto, por isso vim até aqui avisar da luta!

— Como é que é? — Alejandro pergunta.

— Se quiser ficar com Brittany, deverá lutar comigo.

— Eu não fiz nada contra Brittany...

— Novo método da família Herrera. Se quer filha minha, terá que


lutar comigo. Mas eu achei que tivessem conversado sobre isso, sei que

ela não aceita os convites, mas pensei que fosse por minha causa. —
Juan se acha tanto. — Porém, fica de aviso. Alejandro, se quer algo com
Brittany, fale comigo, lutaremos e aí te darei a mão da minha filha, fora
isso, não. — Juan me pega pelo braço. — Vamos, Brittany!

E assim eu sou arrastada de volta para casa.

— Sério, eu não te suporto! — grito quando entro em casa. —


Você me fez passar vergonha lá fora.

— As coisas funcionam assim, Brittany! — Juan grita, pegando

sei lá que bebida e colocando no copo. — Eu sou o chefe de Alejandro,


ele é um cafetão, um cara que trabalha para o cartel, como ele quer a

minha filha e não fala comigo? Fale o que for, Brittany, mas só

acrescentei a parte que vou bater nele, de resto existe uma hierarquia que
não foi respeitada! Você é uma garota séria, de família, e foda-se que sua

mãe e eu não valemos nada, você vale e precisa ser tratada como tal.

— E ser tratada como tal é pedir sua permissão?

— Se o homem realmente te quer, Brittany, ele passará por isso.

— Você realmente se acha, não é mesmo?

— Eu sou! Eu sou o chefe dele, fui o cara que comandou a porra

de um cartel, fiz inimigos e cometi vários crimes, então sim, se Alejandro

te quer ele virá me encontrar e pedirá permissão, porque ele sabe o que
faço e precisa ter coragem de me encarar. É vergonhoso? Deve ser.

Primitivo? Também. Mas eu quero seu bem, Brittany, eu conheço esses


homens que estão aqui. Eu não valho nada, querida? Surpresa! Eles

também não. Se eu pudesse escolher, você não ficaria com nenhum deles.

— Você é um deles.

— Por isso sei do que estou falando.

— Então Whitney não deveria ficar com você.

Ele não responde.

— Sério, Juan, o que quer com isso? Do que quer me proteger?

Ele respira fundo.

— De tudo e todos.

— Eu não sou traumatizada. — aproximo-me dele. — Eu me


conheço, sou impulsiva, louca e muitas vezes infantil. Alejandro é um

homem sério, por isso sempre fico com vergonha de estar perto dele,

ainda mais em um encontro, porque sinto que se ele me conhecer muito,


não vai me querer...

— Você é maravilhosa, Brittany.

— Talvez esse seja meu trauma, lembrar do que achavam de mim

e do que ainda acham sobre ser louca. Mas ok que amigos achem isso,
mas um cara como Alejandro? Eu gosto dele, por isso tenho receio do

que ele pensará quando me conhecer mais. Só isso que penso, Juan, nada

a mais que isso. Sem traumas. Mas você tem. Tem medo que eu tenha
traumas porque não me ajudou no passado, tem medo que algum homem

me machuque como fui machucada no passado, por isso tenta mudar

agora. E talvez até com Christopher tenha sido isso, porque você pensa
muito no passado e se culpa, tenta evitar qualquer merda. Mas vai por

mim, estou bem, só não me sinto bem em contar a verdade a Jessica...

— E por que não?

— Por ela, não por mim. Ela já odiava pensar que quase foi
abusada, imagina saber que foi?

— Ok, entendo, mas...

— Estou bem, não precisa se preocupar comigo ou com alguém

que me machuque. Porque talvez isso nos afaste.

— Eu só acrescentei a surra, Brittany, é necessário que Alejandro

venha falar comigo. Você assiste toda essa ficção sobre máfia e afins, vai

dizer que nunca viu isso?

Sorrio para ele.

— Ok, Juan, está certo. Mas não tenho nada com Alejandro e

talvez ele acredite que nunca teremos, por isso nunca falou com você. E,

bem, eu sempre faço questão de espalhar ao mundo que não me importo


com sua opinião. Mas obrigada por se preocupar comigo, porém, não

precisa de tanto.
— Eu concordo que quero ser o pai que nunca fui, mas acabo

exagerando.

— Compreendo que seja o modo chefe de cartel, mas não me

envergonhe.

— Pais envergonham os filhos.

— E como seus pais te tratavam?

— Da pior maneira possível. — encolhe os ombros. — Por isso

acreditei que não conseguiria ser seu pai.

— É, viveríamos em pé de guerra.

— Mas teríamos evitado muito sofrimento.

— Já foi, já passou, encontraremos Jennifer, ela estará conosco e

pronto, família perfeita! — aperto seu ombro. — Eu só odiei a vergonha

que me fez passar, mas entendi o que quis dizer.

— Fez drama por nada.

— Como você. Drama queen.

— Brittany...

Suspiro.

Eu preciso acordar pra vida.


Como passei por tanta coisa e o simples fato de sair com

Alejandro me causa tanto nervoso e vergonha?

Capítulo 5
BRITTANY

— E aí, recuperada da vergonha alheia? — Jessica senta ao meu

lado no sofá. — Esperei um pouco lá fora, porque imaginei que fosse

conversar com Juan, não ouvi gritos, então acho que não foi tão ruim.

— Não, foi até de boa. — sorrio para ela. — Ser filha de um

chefe de cartel de drogas e querer um ‘’funcionário’’. — faço aspas no ar.

— Só poderia dar nisso mesmo. Segundo Juan, por conhecer essa galera,

ele sabe que não valem muita coisa.

— Mas você conheceu Alejandro antes de Juan entrar na história,

acha que vale ou não vale a pena?

— Vale tanto a pena que tenho vergonha de ficar perto dele, então

me acho patética e me afasto mais. Juan acredita que estou vivendo no


trauma.

— Sempre conversamos sobre tudo, Britt, mas nas últimas

semanas eu sinto como se algo tivesse bloqueando sua vida, não sei
explicar, mas sinto algo diferente, talvez Juan também perceba e está

querendo te ajudar. — segura minha mão. — Então, quer falar algo?

Lembro do meu ódio naquela época, a raiva que foi totalmente

descontada na minha vingança, quando os assassinei sem me importar.

Não me importei ao pensar no que fazer, nem durante a ação, tampouco

após. Mas contar a Jessica como aconteceu, seria pior, porque o trauma
dela ao saber e viver as tentativas de estupro já foram horríveis, imagina

saber que foi molestada?

Na época decidi guardar para mim mesma, contaria a ela na fase


adulta, porque, quem sabe anos depois, a situação toda, o trauma, estaria

menor... Ledo engano.

Continuou avessa a homens, não conseguia nem ao menos manter

diálogo com outras pessoas, e só tentou viver ao conhecer Christopher,


então pensei ‘’Como contarei algo que aconteceu há anos? Ela vai me

odiar por ter escondido, e talvez nem entenda o motivo de não ter falado

nada na época, afinal, foi um crime contra Jessica e ela deveria saber...
Um crime que desencadeou duplo homicídio e por isso somos

perseguidas até hoje’’.

Olhar para Jessica, anos depois do acontecido, não me faz pensar

nos assassinatos, nas surras que levei, da merda que tive que fugir,
realmente, nada disso me importa, mas o que penso é no que ela sofreu e
eu preferi esconder para poupa-la de mais sofrimento, sendo que eu
odiaria ser poupada da verdade.

— Ter toda essa galera próxima me deixa um pouco confusa. —

omito a realidade. — São muitos homens de cartel, aí tem meus pais, tem
Alejandro, Carlos... — dou de ombros. — Sempre foi você e eu, agora

você mora com seu marido e filho, tem sua vida e eu fico aqui, é meio

estranho ainda.

— É só me chamar que eu venho correndo...

— Não, não é sobre isso, fico extremamente feliz de ter sua

família, e ela ser incrível. É mais sobre viver com tanta gente ao lado que

jura querer te proteger. — suspiro. — Sei lá, apenas uma grande


novidade que não tive muito tempo de processar. Penso na gêmea

perdida, lembro do que passamos e só consigo imaginar o que ela sofre.

— Você iria atrás dela?

Solto a mão de Jessica e penso no que responder.

Na vida eu fiz diversas ameaças e briguei, Jessica sempre


acreditou em mim, afinal, o que mais fiz na vida foi bater em pessoas,
mas outras ameaças, como a de morte, ela sempre achou que era blefe ou

brincadeira.
— Sim. — confirmo. — Não a conheço, mas é a nossa irmã, uma
irmã que sofre o que sofremos ou pode estar pior, então sim, se eu tivesse
uma pista eu iria atrás dela.

Jessica franze o cenho, parecendo confusa.

— Quero deixar claro que não estou confusa por querer salvar a

nossa irmã. — começa a falar. — Mas agora estou confusa porque você
falou com bastante convicção, Juan colocou Carlos para ficar na sua cola

e evitar que faça besteira, ele acredita nas suas palavras ou você fez algo
que dá credibilidade nas suas ameaças e promessas?

— Eu fui até Henry, ameacei, debochei, talvez Juan acredite que

se eu quis ver o nosso algoz, eu possa fazer qualquer coisa.

— Não, Brittany, tem algo estranho nessa história toda, você me


esconde algo. Juan está com essa história que está traumatizada, Carmen

está aqui, algo aconteceu e não quer me contar porque acha que estou
vivendo bem e não quer estragar isso. — cruza os braços. — Brittany!

Respiro fundo.

— Tem coisas que aconteceram no passado que ainda estão

rondando minha mente, e acabei falando sobre o assunto, então estou


sendo cobrada por essa ocasião.

— O que aconteceu?
Seria tão fácil abrir a boca e falar sobre como tudo ocorreu,
compartilhar a verdade com Jessica. Mas ali, com Henry, foi para fazê-lo
sofrer, sei que se falar com Jessica ela poderá sofrer ou ficar pensando

em tudo, como foi, em que momento ocorreu, quem foram os culpados...

Mas sou salva da conversa quando batem na porta. Levanto do

sofá para abrir, e é Carlos.

— Alejandro pediu para conversar com você, caso não esteja

ocupada.

Conversar com Alejandro após a vergonha com Juan, ou encarar

Jessica que pede pela verdade?

— Já estou indo, Carlos.

Sou uma covarde!

Volto para Jessica, que ainda me encara de braços cruzados.

— Alejandro quer falar comigo, deixaremos essa conversa aqui


para outro momento...

— Brittany, podemos ter uma conversa séria?

— Depois.

— Brittany...

— É complicado, Jess. Eu juro que quero falar sobre o assunto,


mas eu não consigo, e, pensando bem, talvez essa sim seja a situação
mais complicada que passei durante toda a minha vida. — agora eu
percebo que ter escondido isso de Jessica é a coisa que mais afeta a

minha vida, me culpar por ter escondido uma coisa ruim que aconteceu
com ela, sendo que ela deveria saber. Quis proteger, mas depois quis
contar, quis proteger novamente e virou uma bola de neve que me culpo.

— Eu juro, Jess, não é que não queira contar, mas agora eu percebo que é
muito difícil ver como tudo ocorreu e eu não fiz nada.

Jessica levanta do sofá e segura minhas duas mãos.

— Eu sempre estarei aqui, Britt. Não importa o que aconteceu, se

fizeram com você ou você fez algo, eu sempre estarei aqui. Te darei o
tempo necessário, mas eu gostaria de saber o que tanto te deixa
preocupada agora.

Aperto sua mão.

— Em breve saberá. — sorrio para ela. — Agora tomarei

coragem para encarar Alejandro após aquela vergonha que Juan me fez
passar.

— Imagina o que pode ser?

— Juan basicamente deu um ultimato a Alejandro. Ou Alejandro

vai querer saber o que vai rolar entre nós dois ou dirá que não dará certo
e é melhor que eu continue como babá, nada além disso.
— Olha, se ele te perguntar o que vai rolar, devo dizer que Juan

está certo. Continuar em uma história que nunca aconteceu nada, após
aquele ultimato de Juan, significa que Alejandro realmente quer algo
sério com você. E, Brittany, pare de achar que ele é muito pra você, eu

acho o contrário, você que é demais para ele.

Sorrio para o incentivo que Jessica me dá.

— Eu também acho que você é muita areia para o caminhãozinho


capenga do Christopher.

— Olha, disso eu não tenho o que reclamar...

— Ah, senhor! — reviro os olhos. — Ok, seguirei o conselho de


todos e acreditarei que sou maravilhosa.

— Você é maravilhosa, sempre teve o ego lá em cima. Se um cara


como Alejandro te quer e não te acha louca de maneira ruim, vai fundo,

Britt.

— Eu sou louca...

— Não é uma louca de jeito ruim, um modo pejorativo de


chamar, e sim de ser doidinha, engraçada, falar sem pensar e sempre
querer defender a todos, sem pensar nas consequências. Todo mundo te

ama desse jeito, se Alejandro não te quiser por ser você mesma, você
merece alguém melhor.
— Ok, me convenceu! Conversarei com Alejandro e veremos o
que ele quer comigo.
Capítulo 6
BRITTANY

A decisão foi minha, era passar pelo interrogatório com Jessica

ou conversar com Alejandro após a vergonha que Juan me fez passar,


aceitei a segunda opção, porém, parada a frente da porta de entrada,
penso se fiz uma boa escolha... Era mais fácil ter fingido desmaio e

poupado das duas opções.

Ah, Brittany, nunca teve vergonha na cara, sempre foi destemida,

agora, por causa de homem, tá sendo uma pateta?

Nunca tive grandes interesses na vida real, por anos nunca fiquei

afim de homem algum e agora, quando acontece, acho tudo bem


estranho.

Nunca foi estranho pensar que beijei uma única vez na vida, que

sou virgem, que não tenho interesses amorosos, nunca fiz dramas sobre o

assunto porque nunca me importei. Cogitei ser assexuada, ou seja, uma


pessoa que não tem interesse algum em sexo, mas eu não tinha interesse

em relacionamento também, simplesmente parei de tentar me encaixar


em alguma sigla ou denominação.
Aí, do nada, vou trabalhar em um clube só para adultos e me

interesso por um cafetão!

Eu, que fugi de duas cafetinas, me interesso por um cafetão!

Nem nas minhas fanfics eu tinha escrito um personagem principal

assim.

E eu só penso nisso tudo para retardar o momento de bater na

porta ou tocar a campainha.

— Tá pensando demais no assunto, é só bater ou apertar aquele

troço ali.

Viro-me para Carlos, que está atrás de mim.

— O que está fazendo aqui? — pergunto.

— Sou seu segurança, devo estar no mesmo local que você.

— Estou na porta da casa de Alejandro.

— Juan mandou ficar na sua cola, ou seja, estar no mesmo local

que você. — arqueia uma sobrancelha. — Vai bater na porta ou precisa

de ajuda?

Coragem, idiota! Olha tudo o que já fez na vida, vai se acovardar

por causa de um homem?

Bato na porta, por puro impulso.


Minhas mãos suam, o suor frio começa a descer e a porta abre.
Um Alejandro com o sorriso enorme me encara.

— Que bom que aceitou conversar comigo, pela primeira vez. —


ele tem que frisar essa informação.

— Desculpa pela vergonha alheia que Juan te fez passar.

— Ele envergonhou a todos, porém, ele tem razão. — abre mais a

porta. — Podemos conversar aqui dentro?

Nunca aceitei um convite de Alejandro porque ele me desconcerta

por completo, me faz ter nervoso, me faz acreditar que passarei

vergonha, porque me acho bem inferior a ele...

— Ok. — mas aceito o convite com uma simples e minúscula

palavra.

Entro na sua casa e procuro pela minha salvação: Dulce, com ela

em meus braços eu me sentiria mais a vontade com Alejandro.

— Onde Dulce está? — pergunto.

— Dormindo. — droga! — É até bom, assim não teremos


distração na nossa conversa. — aponta para o sofá e vamos na direção

dele, sentamos, mas Alejandro fica um pouco distante, sentando do outro

lado. — Carlos também está lá fora, acredita que não fugirá dessa casa.
— Vocês realmente acreditam que vou atrás da gêmea? — olha

só, tentando desviar do assunto... Covarde!

— Acreditamos que Charlie poderá te usar em uma armadilha, ele

pode acreditar que você seguiria qualquer pista sobre sua irmã, então
você é um alvo. Jogue uma pista sobre Jennifer, você acredita, vai atrás

dela e pronto, te perderemos. Querem evitar esse possível contato.

— Ou poderiam conversar comigo sobre esse assunto, eu seria o


alvo de Charlie, mas vocês saberiam onde a armadilha seria, entende?

— Eu gosto do seu plano, mas Juan? — dá risada. — Ele está se


esforçando, Brittany, mas esse esforço está tirando o Juan Herrera dos

eixos que necessitamos, e é mais ou menos isso que quero conversar com
você. Juan nunca foi desse jeito que estamos vendo agora.

— Um dramático.

— Sim, ele está em um drama muito elevado desde que soube

sobre sua vida, aquela dificuldade que você passou junto com Jessica.
Está tentando ser uma pessoa melhor, uma pessoa mais sensata, se assim

posso chamar. O que ocorreu há alguns minutos, acredito que tenha a ver
com toda essa situação, ele quer ser uma pessoa melhor. Juan quer
proteger você, já que não conseguiu fazer isso anteriormente. E eu não

havia entendido isso, se tivesse compreendido teria falado com ele antes.
— Não compreendi o assunto.

— O que quero dizer é que antes de ter te convidado para


qualquer encontro, eu deveria ter falado com Juan, ele soube por outras

pessoas e deu no que deu. Anteriormente a esse ‘’novo Juan’’, eu não


precisaria me preocupar com isso, mas agora eu tenho que falar com ele.

Acabei pulando essa etapa.

— Mas é claro que ser uma mulher adulta não basta, Juan tem
que opinar na minha vida porque resolveu ser pai.

— Eu acho um drama desnecessário, mas é o novo Juan. — dá de


ombros. — Acredito que se fosse antes, se não tivesse tido a questão das

dificuldades que passaram, Juan não se importaria, mas ele está muito
protetor e muito arcaico, mas antes que eu converse com ele, continuo

querendo conversar com você. Eu quero entender o que realmente


acontece entre nós dois, se eu devo ter alguma esperança ou se realmente
não temos qualquer chance, se não tem interesse em mim.

Estava mais fácil quando o assunto estava em ‘’criticar Juan’’.

Engulo em seco.

Você ameaçou um bilionário na primeira vez que o viu, Brittany!


Ameaçou Christopher, fez piadinha com Matthew, grita com pessoas, bati
naquele imbecil que trabalhou com Jessica, pra que vergonha com
Alejandro?

Ah, é, eu gosto dele!

Gosto não, sou apaixonada!

Suspiro.

Droga, suspirei alto!

Pareço uma adolescente idiota, deve ser isso, pulei essa fase
porque estava pensando em matar pessoas e fugir de casa.

— A julgar pelo seu suspiro, espero que seja uma boa resposta.

Acordo do meu transe ao escutar Alejandro falando. Sinto meu


rosto queimando, mesmo sabendo que suspirei alto.

— Eu sou bastante tímida. — respondo. — Mais até do que havia


imaginado.

— Eu percebi, no entanto, outras pessoas me disseram o contrário


disso, inclusive o próprio Juan. Tentei te conhecer de verdade, mas nunca

consegui qualquer grande conversa com você.

— Bem, eu... — coço minha nuca, sem saber o que responder...


Eu sempre soube o que responder, na verdade eu nunca soube quando

calar a boca, mas com Alejandro... Nossa! Ele me desestabiliza por


completo. — Eu sou tímida com você. — confesso. — E é estranho pra
mim, mas não consigo ser eu mesma estando ao seu lado.

— E por que não?

Engulo em seco. Passei do interrogatório com Jessica para um


com Alejandro, mas a escolha foi minha, aguente!

— Não tenho ideia. — encolho os ombros.

— Certeza?

Penso um pouco.

— Ok. — respiro fundo. — Eu não me importo com a opinião

dos outros, por isso eu acabo sendo o meu normal de sempre. Mas você é

um homem, então eu meio que tenho vergonha.

— Os outros são homens também. — ele sorri de lado, porque ele

entende muito bem o que quero dizer, mas quer me fazer falar!

Toma, Brittany, vive irritando as pessoas, agora está sendo

encurralada pelo homem que está afim.

— Eles são idiotas. — respondo a mais pura verdade. —

Incluindo Christopher e Juan, esses são os piores!

— Fico feliz de não ser um idiota, mas ainda preciso entender


porque tem tanta vergonha de ficar ao meu lado.

— Você não é burro, Alejandro.


— Mas preciso ter certeza que minha inteligência está andando

lado a lado com a sua verdade, Brittany.

Respira fundo, lembra tudo o que fez na vida, não é difícil ter

uma conversa com um homem.

— Eu sinto que você é um homem diferente dos outros, ou seja,


se eu mostrar como sou de verdade, vai me achar louca, eu não me

importo dos outros me acharem louca, mas me importo se você me achar

louca, porque parece ser um homem sério, e um homem sério não vai

querer uma louca por perto, apesar de ter transado com Brianna, isso
mostra um desvio de inteligência, mas ok, pensou com outra cabeça,

voltando ao assunto, eu acredito nisso.

Mas que merda eu falei? Falei tão rápido e atropelei palavras


que nem eu mesmo me entendi!

Pisco meus olhos, sinto minhas mãos mais suadas que antes.

Nunca fiquei tão nervosa na minha vida!

Sou extremamente patética!

Como Alejandro vai me querer sendo que sou idiota?

— Viu só? Olha o que falei. — coloco as mãos no rosto. — Sou

muito idiota, do nada, fico besta.

— Acredita que não vou te querer por ser desse jeito?


— Eu não sou tão louca como falam. — continuo olhando para o

chão. — Mas eu nunca passei por isso aqui. Nunca tive uma conversa

formal com homem algum. — penso um pouco. — Deus, eu nunca


conversei com um homem hétero seriamente! Quer dizer, só para

entrevista de emprego e para tentar ajudar Christopher com Jessica.

Escuto o riso de Alejandro e olho para ele.

— É, eu sei que gosta de irritar homens héteros e ameaça-los, fico


honrado em não fazer parte dessa sua lista de ‘’homens que devem ser

ameaçados e irritados’’.

Querido, você me desestabiliza por completo, como abrirei minha

boca para te ameaçar? Quer dizer, nem tem porque te ameaçar...

— Ameaço quem merece. — deixo claro que não sou uma

psicótica.

— Não ameaçou matar Christopher sem nem conhecê-lo?

— Eu chamo de ‘’defender a honra da minha pobre irmã caçula’’,

Christopher foi um babacão com ela desde sempre, nem sei como ela se

apaixonou.

— Escreveu uma história onde Matt casava com uma stripper e


conseguiu irrita-lo.

— Tive uma visão profética.


— Matou dois homens.

— Uma doce vingança.

— Sempre vai visitar Henry para tortura-lo mais.

— Doce vingança 2.

— Está sorrindo para tudo o que falo.

— Eu gosto das coisas que fiz.

— As pessoas te conhecem desse jeito, e tudo o que sei de

verdade sobre você, sei pela boca de outras pessoas, e realmente eu me

interessei mais depois que escutei sobre tudo isso.

— Sério? — arqueio uma sobrancelha.

— Pense bem, o primeiro convite surgiu após sua conversa com

Henry, sendo que antes disso estavam falando como Brittany é louca.

Quando era uma mulher calma e calada, eu tinha interesse em você, mas
eu pensava que não ia me querer pelo que sou. Aí você me esconde quem

é de verdade, achando que não vou te querer, entende? — meneio a

cabeça, porque entendo o que Alejandro quer dizer, mas sou tímida com

ele! — Os dois acreditam que um não vai querer o outro pelo que são de
verdade, no entanto, sabemos como o outro é, mesmo assim queremos,

mas, no momento, é você quem me evita, como se eu já não soubesse

quem é.
Penso no que ele acabou de falar.

— É, faz sentido. — respondo. — Mas eu também sou tímida

porque nunca me interessei por ninguém, aí me interesso e nem sei ao

certo o que fazer, afinal, você é experiente... Até demais. — sussurro a


última parte para mim mesma.

Ele dá risada e percebo o que acabei de falar, novamente eu

ruborizo.

— É disso que falo, Brittany, essa mulher que fala as coisas sem

pensar, porque não tem vergonha. Em vários momentos você fala assim

comigo, mas sente vergonha, para e começa a calcular como terminará a

conversa. Eu gosto do que escutei sobre você e do que realmente sei,


gostaria que fosse assim comigo.

— Quer que eu te ameace e te irrite?

— Não. Quero que fale mais abertamente comigo sem ruborizar e

ficar pensando: ‘’Por que eu falei isso na frente de Alejandro? Ele vai me
achar uma louca e não vai querer mais nada comigo’’. Eu continuarei

querendo te conhecer melhor. Se te faz se sentir bem, vamos aos poucos,

vamos conversando e veremos onde isso dará. Eu gosto de você, gostaria


de uma chance para te conhecer de verdade. Se não aceitar, tudo bem,
mas dá para sentir que sua resposta é um ‘’sim’’, mas essa sua vergonha

está impedindo que viva do jeito que quer.


Capítulo 7
BRITTANY

Alejandro está certo, completamente certo em tudo o que disse!

Estou afim dele, porém, tenho vergonha de agir naturalmente


quando estou ao seu lado porque me acho patética, no entanto, agora ele

me deu uma espécie de ultimato.

— Querer eu quero... — minha voz sai quase como um sussurro,


pigarreio para ver se ela volta ao normal. — Eu tenho tantas questões...

— Quais questões?

Eu não sei... Droga, minhas únicas questões é que acho que ele é

demais pra mim, do nada tenho baixa autoestima e estou pensando que
sou um ser humano inferior.

Do nada!

Só porque me interessei por um homem!

Pedirei conselhos a Jessica! Não que Christopher seja uma grande


coisa, mas ela também foi tímida com ele.

Filha de um traficante que não perdeu tempo em ficar com


Whitney e filha de prostituta, mas Jessica e eu temos vergonha de ficar

com homem!
— Dramas femininos que nunca tive na vida. — respondo. —

Porém, agora estou tendo e acho muito bizarro. Eu nunca tive vergonha
na minha vida, nunca me interessei por qualquer homem... — fecho os

olhos. — Deus, novamente eu falo sem pensar!

Coloco as mãos no rosto.

Está sendo difícil, eu sabia que se tivesse mais que cinco minutos

de diálogo com Alejandro eu começaria a falar sem pensar e que muita

coisa sairia.

Alejandro senta ao meu lado, segurando a minha mão.

— Sou um homem muito sério, um dos poucos desse lugar.

— Alejandro, concordo plenamente. — interrompo-o e abro meus


olhos. — Acho que por esse motivo fico tão retraída em conversar com

você.

— O que preciso fazer para mostrar que seu jeito de ser não me

incomoda em nada?

— Não é você, sou eu. — solto sua mão.

— Ok, estou sendo dispensado.

— Não, não é isso. É que... — penso no que falar. — É algo

muito novo que está acontecendo tardiamente, tipo isso. Sabe aquela

sensação adolescente de se interessar por alguém? A timidez? Não saber


responder ao flerte? Primeiro encontro? — confirma. — Estou tendo isso
aos vinte e sete anos, pela primeira vez, e com alguém mais experiente.

Acho que se eu tivesse passado por isso antes, agora eu poderia ser

tímida, mas não tão tímida assim. Eu quero, mas minha mente está me

boicotando.

— Eu fico feliz em ser o primeiro a despertar esse sentimento em

você.

— Oh, eu não posso dizer o mesmo de você.

— Eu namorei poucas vezes na vida, e nenhuma foi com você.

— Ainda não namoramos.

— ‘’Ainda’’. — sorri de lado. — Mas nenhuma me despertou

tamanho interesse. Estou disposto a enfrentar Juan por você.

Lembro de Juan falando ‘’Se Alejandro realmente quiser algo

sério com você, ele concordará em lutar comigo’’.

— Lutará com Juan por mim?

— Ao que tudo indica, isso virou uma prova de amor e uma


maneira de massagear o ego do seu pai.

Sorrio para ele.

— Ok. — respiro fundo. — Começarei a trabalhar na minha

mente essa questão da autoestima, porque sei que é a falta dela que está
me dando esse bloqueio com você.

— Então estou ganhando uma chance?

— Sim, estou aceitando seu pedido e também pedindo para

entender que se em algum momento eu ficar muito tímida ou retraída,


realmente estarei tentando ser mais aberta.

Alejandro segura a minha mão.

— Entendo o seu lado perfeitamente, e prometo que respeitarei

seu espaço. Mas eu também te peço que não se afaste.

— Vou parar de fugir de você. — sorrio. — Vou parar de me

repreender tanto e viverei.

— Acho que viveu tanto por Jessica, depois por ela e Lucas, que
não consegue viver apenas por você.

— Minha vida meio que ficou vazia sem eles, ainda mais agora
que Vicent namora. — encolho os ombros. — Eu vivi por eles e por

trabalho, não reclamo de nada, na verdade fico imensamente feliz por


Jessica estar bem e ter uma família, mas, no momento, me sinto tão

deslocada que nem sabia conversar com o sexo oposto sem ameaçar e
irritar. Sério, Alejandro, o que viu de tão interessante para ficar afim de
uma pessoa como eu? Não tem sentido!
— Você acabou de falar que viveu para cuidar da sua irmã e para

trabalhar, olha o quanto lutou para salvar sua vida e a da sua irmã, na
verdade eu acho até que lutou mais por Jessica que por você. Aposto que

se pudesse, iria atrás de Jennifer. Você é destemida, forte, engraçada, ama


minha filha, você também é muito linda e nem sei pra que quer plásticas.

— Juan te contou?

— Reclamou que está exigindo silicone.

— Quero peitão, barriga chapada e minha bunda maior, e Juan vai


pagar, quero nem saber! Ficarei mais bonita do que já sou e dane-se o
‘’Ame do jeito que você é’’, vou me amar ainda mais sendo uma grande

gostosa! — fecho os olhos, novamente falando sem pensar. — Olha só,


falei umas três linhas sem me importar que é o Alejandro ao meu lado.

— Você já está começando a agir mais naturalmente ao meu lado,


é um bom sinal. E concordo que é linda, mas discordo falando que será

uma grande gostosa, porque, pra mim, você já é.

Ruborizo, mas, diferente de antes, eu não abaixo a cabeça, apenas

mordo meu lábio.

— Meus peitos são dois limões, quero dois melões. — e você não
reclamará quando estiver apertando meus novos peitos, mas essa parte

eu apenas penso, não falo em voz alta.


— O que está pensando?

— Nada.

— Está mordendo o lábio e sorrindo.

— Imaginando meus futuros peitos grandes. — dou de ombros.


— Não deveria falar dos meus peitos pra você, sou moça de família.

— Quer mesmo falar da sua família conservadora?

— Você é cafetão, esqueci desse detalhe por alguns segundos.


Você está acostumado a falar dessas coisas.

— Você que falou sobre virar uma grande gostosa.

— Não pensei no que diria, apenas falei! É isso que minha mente
faz comigo, quando menos percebo, já falei o que penso.

— Mas não falou o que pensou quando estava mordendo o lábio.

— Assunto pessoal, ainda bem que não falei nada, por milagre

minha boca não abriu.

— Eu acho que nos daremos bem juntos, Brittany.

— Porque está falando isso?

— Por baixo dessa mulher tímida, eu consigo enxergar nas

entrelinhas.

— O que isso quer dizer?


— Entendo seu olhar, entendo algumas falas que pensa e não diz.
Ou seja, combinamos um com o outro. — pisca um olho. — Ficará para
o almoço?

— Preciso conversar com Jessica.

— Jantar?

— Ok, podemos jantar.

— Nessa casa aqui, porque não podemos sair.

Jantar somente com Alejandro, na casa dele...

— Ok. — continuo confirmando. — Qual o horário?

— Pode ser as nove?

— Estarei aqui.

— Eu poderia dizer que te pegaria na sua casa...

— Ninguém quer escutar os dramas de Juan tentando ser um pai

exemplar, que na cabeça dele significa regular com quem a filha de vinte

e sete anos sai para jantar. Te entendo.

— Então nos veremos as nove da noite, sem falta?

— Sim, estarei aqui.

E estarei mesmo, dessa vez eu terei um encontro com Alejandro e

trabalharei essa timidez.


Despeço-me de Alejandro e saio da casa, encontrando Carlos

sentado na calçada a minha espera. Assim que ele me vê, levanta e espera
para saber meus próximos passos.

— Está ganhando bem para ser minha babá? — provoco. — Seu

trabalho é extremamente fácil, é só sentar e me esperar.

— Sim, ficar a sua espera é fácil, difícil é aturar você.

— Por que está tão irritadinho? — cruzo meus braços. — Nem te

irritei direito hoje, ou seja, não fanfiquei que ficará com a gêmea perdida.

— Eu realmente acredito que seu psicológico é extremamente


afetado e por isso cria uma realidade paralela em sua mente.

— Ai, Carlos, tá agressivo hoje. — coloco a mão no peito. — O

que afetou seu bom humor de todo santo dia? Chateado que até eu tenho

crush e você não?

— Eu não entendo seu linguajar de gente estranha...

— Deveria começar a usar a internet, menino Carlos.

— Eu uso a internet, mas vejo coisas úteis.

— Eu vejo coisas úteis! Assisti vídeos sobre métodos de torturas


antigos e tive várias ideias geniais!

Carlos faz uma careta e depois balança a cabeça de um lado para

o outro.
— Vai, pequeno gafanhoto, conte o motivo do seu estresse.

— No momento nem é você...

— Estamos criando uma linda amizade, Carlos, afinal, será meu


cunhado!

Ele rosna e se afasta.

— Ei! Garoto Carlos! — ele me odeia e eu amo esse fato! — Me

espere! Você que vem atrás de mim, não o contrário!

Para de andar e me encara.

— Tem como você fingir que ama Juan? — sua pergunta me pega

totalmente de surpresa.

— Pra que?

— Ninguém aguenta mais a Brianna, ela está exigindo muito e


Juan está dando corda. Todo mundo suspeita que ele está na fase ‘’Sou

um homem bom’’ por sua causa! Porque é a única pessoa que o trata mal

pelo o que ele fez no passado. Então a culpa está o corroendo a ponto
dele querer mudar. Só que, Brittany, a mudança de Juan pode afetar todos

os envolvidos nessa história. Porque Juan não quer escutar ninguém.

Então, já que odeia Brianna, tente ajudar Juan a voltar a ser quem era,
porque garanto, quando isso acontecer, essa prisão aqui terminará.

Porque, vai por mim, Brianna ainda vai importunar muito.


Capítulo 8
BRITTANY

Bato na porta da casa de Matt e Camille, e é ela quem me atende.

— Olá! — cumprimento. — Espero não estar atrapalhando a sua


aula.

— Não, terminamos há uns dez minutos. Pode entrar.

Entro na sua casa.

— E como foi a aula hoje?

— Eu amo e odeio matemática.

— Oh, querida, se quiser fazer faculdade, talvez seu ódio por

números só aumente. Porque a matemática só fica cada vez mais difícil.

— Ainda não sei o que quero fazer depois que terminar os

estudos, vocês me apresentaram diversas profissões, mas não sei


exatamente o que quero.

— Pode ser como eu, pegar uma baita grana e viver de renda.

— O que significa viver de renda?

— Investir o dinheiro em algo, dependendo do investimento você


pode ter apenas lucros ou pode se arriscar ganhando e perdendo, como
investir em alguma ação, por exemplo. — Camille me encara sem

entender nada. — Basicamente você só coloca seu dinheiro em algum


local e espera a magia acontecer, ou ganhará dinheiro ou perderá, ou

pode investir em casas, algum comércio, coisas do gênero. Se estiver

interessada, tenho certeza que o próprio Matthew poderá te explicar sobre


o assunto, eu sei pouca coisa, por isso Juan me ajudará.

Sorrio nesse momento porque vivo reclamando dele, mas vou


recorrer a Juanito para me ajudar a investir dinheiro. Mas é claro, o cara é

traficante, envolvido com coisas ilegais e legais, ele entende bem sobre

onde deve colocar o dinheiro.

— Pedirei ajuda de Matthew, porque, até o momento, ainda me


sinto perdida nessa questão de futuro.

— Eu te entendo, passei anos da minha vida com o pensamento

de sobreviver, fugir, achar um emprego e casa, o resto dos meus

pensamentos eram fantasias que eu sabia que não se realizariam, como


casar com um cantor.

— Eu sonhava com alguém me salvando e me dando uma vida,


também achei que fosse uma fantasia, mas aconteceu. No seu caso, talvez

não seja um cantor, e sim o Alejandro.

Sorrio para ela, pensando em um futuro ao lado de Alejandro.


— Como foi se envolver com Matt? — e aproveitando que
Camille puxou esse assunto, resolvo tentar ter algum conselho com ela.

— Como assim?

— Você não conheceu nada da vida, mas acabou conhecendo o

amor da sua vida, como foi suas primeiras interações com ele?

Sorrindo, Camille começa a contar.

— Foi muito confuso, eu não entendia muito bem o que ele

queria. Como tinha aquela fantasia de ser salva por alguém, imaginei que

pudesse ser ele. Mas como Matt também estava confuso, foi bem...

Estranho.

— Mas sua comunicação com ele tinha timidez? Você tinha

receio de falar besteira com ele?

Pensa um pouco.

— Acho que não. — pensa mais. — Não, não tinha. Está tendo
algum problema com Alejandro?

— Mais ou menos. Eu me sinto muito tímida com ele, pensei que


é por não ter vivido direito, então não sei como me comportar. E como

também não viveu uma vida normal, pensei que poderia ter um exemplo.

— Eu sei mais ou menos como foi a sua vida e a de Jessica, e

nem se compara a minha. Eu fui mantida presa, apanhei, cuidei de um


irmãozinho, mas era só isso.

— Foi muita coisa, Camille.

— É, foi. — dá risada. — Mas o que quero dizer é que não fui

apresentada a homens que queriam me estuprar na infância e


adolescência, não sofri na mão de outros adolescentes que me julgaram
por causa da minha mãe. Fui prostituída na fase adulta, e meu primeiro

cliente foi justamente o Matthew, ou seja, você e Jessica sofreram mais.


Eu não conheci a vida, você conheceu e não pôde viver. Eu imaginei

como seria, você sabia como era, mas tinha que ignorar para sobreviver.
Não sei se estou fazendo sentido.

— Acho que sim. — sorrio de maneira fraca para ela, não pelo
que ela falou, e sim por perceber que estou certa. — É basicamente o que

estou pensando, sabia como é a vida, mas não pude vivê-la porque fui
adulta antes da hora, com uma enorme carga nas costas, e não foi Jessica
sendo como uma filha pra mim, e sim a carga de fugir e sobreviver.

Sempre pulei fases porque tive que ser a adulta, mas o comportamento da
idade sempre ficou impregnado em mim, agora que posso viver, não sei

como reagir. Já você foi privada de viver, mas sem aquela enorme carga
de fuga, trabalho, cuidar de casa...

— Por pior que fosse, não tive que viver uma fuga, mudança de
país, de cidade, emprego, conviver com o medo de ser encontrada.
Convivi com o medo do próximo passo daqueles pais que conheci, mas

não tinha tanta noção da vida aqui fora para sonhar. — aperta meu
ombro. — Acho que o melhor sempre é ‘’ser você mesma’’. Eu fui do

jeito que sou com Matt, acho que Jessica e Vicent fazem o mesmo, a
minha mãe com Juan... Talvez não tenha segredo.

Não, não tem, eu que estou me boicotando.

— Acho que vou parar de perguntar esse assunto. — sorrio para


Camille. — Porque todos me respondem a mesma coisa, eu só quero

escutar outra coisa para não ser uma covarde.

— Por que seria uma covarde?

— Não estou aceitando o fato que me boicoto, que Alejandro está


querendo me conhecer, mas acredito que sou um nada e ele não vai me

querer, então fico perguntando a opinião da galera para ver se alguém


fala algo diferente de ‘’Seja você mesma’’.

— Você tem problema em ser você mesma?

— Pior que não tenho, mas com Alejandro isso está surgindo.
Acho que preciso fazer o básico, respirar fundo e apenas seguir em

frente. Dar essa chance e acreditar que não sou uma idiota, mesmo que eu
seja...
— Brittany, você é a pessoa mais elogiada desse lugar, até
Christopher fala bem de você, e todos sabem como se amam.

Sorrio nesse momento.

— É, talvez eu não seja tão ruim quanto eu penso que sou...

— Britt! — Christian grita pelo meu nome e paro de falar com

Camille, agora encarando a criança, que sorri pra mim. — É verdade que
você vai dar uma surra em Brianna?

— Quem falou isso? — pergunto sem entender de onde surgiu


esse assunto.

— Escutei minha mãe falando com Juan, ele disse que devem te
monitorar porque você pode dar uma surra em Brianna. Mas se der uma

surra nela, eu vou querer ver.

— Ficarei mais atenta para que não escute as conversas de


adultos. — Whitney se aproxima.

— E então? — pergunto. — De onde surgiu esse assunto? — sem


respostas. — Whitney?

— É melhor você conversar com seu pai. — ela responde. — É


coisa dele.

— Olha, eu vim aqui justamente para falar dele. E não, não é


sobre Alejandro, é sobre Brianna e como todos estão odiando as atitudes
do chefão. — ela continua calada. — Whit...

— Converse com Juan, é um momento complicado para essa

família, e será melhor uma conversa franca, sem insinuações e


implicâncias.

Sem entender nada, respiro fundo e despeço-me de todos. Agora

vou atrás de Juan, que não está em casa.

— Pra onde Juan foi? — pergunto a Carlos, que, como sempre,


está na minha cola.

— Resolver algo, como sempre.

— Acha que eu daria uma surra em Brianna por qual motivo? —

viro-me para Carlos, que parece não entender o que quero dizer. —
Christian disse que escutou Juan falando isso com Whitney, ela mandou

falar diretamente com ele, então é algo preocupante, certo? — meneia a

cabeça. — Eu não brigo por homem, mas brigaria por Dulce, será que
tem algo a ver com isso?

— Brittany, como eu disse, Juan está mudado, está muito

pacífico, isso preocupa a todos. Então sim, se puder, converse com ele,

porque pode dar muita merda. Ele compartilhou o básico conosco, antes
ele compartilhava tudo.
— Dramático, como sempre. — suspiro. — Mas ok, esperarei a

volta dele para termos uma conversa. Que horas são?

— Quinze pras doze. Tem algo para fazer além de ficar indo de

casa em casa?

— Você me odeia, não é mesmo?

— Sim. — fala sem nem ao menos abrir a boca.

Dou risada.

— Não farei nada. — respondo. — Apenas ficarei em casa.

Esperando o momento do jantar chegar.


Capítulo 9
ALEJANDRO

— Por que o Oliver sumiu do nada? — pergunto a Eric.

— Não faço a menor ideia. — responde. — Ninguém está


gostando de como as coisas estão acontecendo, ou melhor, como as

coisas não estão acontecendo. Como se Juan tivesse sabendo de algo,


mas não nos conta, e agora o sumiço de Oliver faz com que todos
imaginem que os dois estão juntos em algum plano.

— Não está fazendo um grande sentido. — pego o pedaço de


manga que escorregou a mão de Dulce e entrego novamente a ela. —

Entendi o ponto de vista dele, esse lance de dar corda a Brianna, mas sei
lá, parece simplista para o que Juan é. Por mais que tenha a coisa de

culpa por não ter cuidado das filhas... Não sei, algo não se encaixa.

— Bom, espere que se encaixe em algo, porque esses homens

saíram da antiga função para ajudar o chefe deles, ser mantido no escuro
só faz com que eles pensem que estão aqui para nada.

Olho para Dulce, que agora come os pedaços de tangerina — sem

o caroço — e deixa o bagaço cair. Pego os bagaços, mas agora ela quer
que eu coma o que ela está jogando fora e praticamente enfia na minha

boca, eu como.

— Deus do céu, isso é muito nojento. — olho para Eric, que faz

uma careta.

— Está inteiro! — mostro os gomos que Dulce continua não


querendo. — Ela só morde e depois deixa cair, ela está tentando se

esforçar a gostar de coisas parecidas com laranja, do mesmo jeito que

tentou com morango, mas já desistiu e não quer mais.

— Hum... Olha só, sabendo as frutas favoritas da filha, um bom

passo como pai.

— Estava muito afastado de Dulce por conta de toda essa

confusão, mas já que não tenho mais ligação com qualquer cartel, agora
ficarei mais próximo a ela. Sem ajuda de Brittany.

— Brittany vai odiar saber disso, ela não tem nada para fazer,

cuidar de bebês não é uma tarefa, é uma diversão.

— Melhor ainda, agora ela se divertirá comigo também.

— Você realmente acha que aquela mulher se entregará

facilmente pra você? Quero dizer, acha que ela perderá essa timidez em

um piscar de olhos?

— Acho.
— Deus do céu. — balança a cabeça de um lado para o outro. —
Vai por mim, eu andava com garotas no ensino médio e via de perto

como elas agiam, podem aceitar o convite, mas quando realmente são

tímidas, elas demoram muito para se soltar com o cara que elas estão a

fim. Brittany aceitou o jantar, não aja como se isso fosse um primeiro

grande passo. Na verdade, podemos dizer que é o segundo passo, não um

grande. Lembre disso.

— Pensei que veio para me ajudar, não para me derrubar.

— Não é isso, cara, mas é que você é bem pra frente, Brittany

não. Então qualquer coisa ‘’acelerada’’ que você faça, pode ser um

grande retrocesso. Deixe-a à vontade e aí vai olhando os sinais, se deve

continuar com cautela ou pode avançar mais.

— Eu realmente não creio que escuto seus conselhos.

— Eu sou bissexual e sempre fiquei com mulheres comuns, já

você sempre ficou com mulheres extremamente desinibidas, então sim,

tenho lugar de fala nessa questão. Vai querer escutar a voz da experiência

ou vai se basear nas mulheres com quem ficou? Porque o sorriso delas,

eram um convite para o beijo, mas eu acredito que o sorriso de Brittany, é


apenas o sinal que ela está se sentindo confortável falando com um

homem. — dá de ombros. — Você decide.


Pior que ele tem razão.

Depois de décadas, preciso de conselho... Do Eric, o irmão mais

novo!

— Ok, Eric, passe toda a sua sabedoria sobre mulheres.

(...)

Após escutar todos os conselhos de Eric, estou preparado para o


jantar com Brittany.

— Eu sei que você ama Brittany, então, pelo amor de Deus,


permaneça dormindo. — de olhos fechados, Dulce sorri pra mim. —

Pode ser? Se acordar, ela vai segurar você e mudará de assunto. — abre
os olhos. — Você não dorme, não é mesmo?

Já ninei, já contei histórias, já dei o leite, já procurei na internet


coisas que fazem bebê dormir e nada! Dulce deve me entender, pois
fecha os olhos, sorri e depois abre, tudo para me provocar.

— Deus, o que você fará comigo quando crescer se tão pequena


já me provoca? — murmurando sons, ela continua sorrindo. — Eu só
peço para que durma.

Lá se vão mais de meia hora tentando um milagre para que Dulce


durma e nada!

Olho para o celular. 21:11, nada de Brittany!

Ela sempre me dispensou, nunca me deu um bolo... Ela vem, ou

está pensando em uma desculpa para me dispensar?

Brittany falou sobre não ter vivido a adolescência, mas agora sou

eu que me sinto como um adolescente, aquele nervosismo, o medo de


Brittany não vir, de dar tudo errado...

A campainha toca!

Sou mesmo um adolescente, o nervosismo até aumenta, mas


sorrio no mesmo momento. Olho para Dulce, os olhos arregalados,

deixando claro que não dormirá tão cedo.

— Não nos atrapalhe, por favor. — beijo sua testa. — Você

também gosta de Brittany, então ajude o papai.

A campainha toca novamente e já estou abrindo a porta.

Brittany!

Quase suspiro de alívio ao ver que ela está aqui, que não me

dispensou e que, finalmente, estou ganhando uma chance com ela.


O grito de Dulce me tira do transe, ainda mais que ela quase se
joga para os braços de Brittany.

— Ah, meu amor, sentiu minha falta? — Brittany fala com voz de
criancinha, pegando Dulce nos braços e enchendo de beijos. — Sentiu
minha falta, não foi? Não foi? — Dulce ri e bate palmas. — Eu sei que

sou a preferida de todas as crianças, mas seu pai resolveu me dispensar...

— Na verdade eu trouxe você para mais perto. — ela olha pra


mim. — Bem mais perto, para falar a verdade. Entre.

Ela passa por mim.

— Bom, acho que fez algo para essa garotinha estar acordada até
agora.

— Eu juro que tentei fazê-la dormir, mas ela está obstinada a


participar desse jantar, até tentei deixa-la no berço, mas fez escândalo.

— Meu Deus, o papai quer mesmo te dispensar. — fala com

Dulce. — Nem parece que disse que queria passar o dia todo com a filha.

— Você aceitou jantar comigo, sei como Dulce é sua válvula de

escape.

— Prometo que hoje ela não será, apesar de amar brincar com ela.

E então, como foi o dia sendo pai?

— Falando assim, parece que sou o pior pai do mundo.


— Desculpa, é que falo sem pensar, mas é que realmente nunca
passou vinte e quatro horas com Dulce, já que trabalha. Hoje foi seu
primeiro dia sem trabalhar, ou sem ter qualquer reunião. Normal, tem

família onde o pai e mãe trabalham.

— Entendo o que quis dizer e estava nervoso com isso, mas foi

bastante tranquilo. Não há nada que eu já não saiba, sei trocar fralda, dar
banho, o que ela come... Foi bastante ok, menos na hora dela dormir.

— Ela quer se certificar que estará presente no nosso primeiro

encontro, participar dos momentos.

— O que aconteceu para estar tão tranquila?

— Carmen me ofereceu maconha, mas recusei. Whit me ofereceu


algum chá, odeio chá! Mas todo mundo levantou meu ego, então acredito

que sou gente boa e você será o louco se não me quiser.

Arqueio a sobrancelha para ela.

— Ok, estou fazendo piadas para esconder meu nervosismo e

estou feliz que Dulce está nos meus baços, assim eu terei uma válvula de

escape. Satisfeito?

— Agora faz sentido.

— E então, o que faremos?


— Eu pensei em um jantar perfeito, segundo Eric, você gosta de

pizza...

— Tem pizza?

— Sim, pizza!

— Eu amo pizza! Teve uma época que era meu maior vício, pizza
e Coca-Cola! Perfeito!

Brittany sorri, seus olhos brilham e ela parece extremamente feliz

com nosso cardápio.

Eric perguntou a Vicent sobre a comida preferida de Brittany, ele


nem soube responder, pois disse que ela come de tudo, mas ela sempre

teve uma preferência a mais por pizza. Segundo Vicent, se Brittany quer

comemorar algo, será com pizza, depois lasanha e macarrão. Então como

Eric estava aqui, ele fez a pizza e eu colocarei no forno.

Se fosse a minha escolha, seria um jantar mais elegante, mas

olhando agora, Brittany odiaria, e eu também, odeio restaurantes caros,

mas iria para impressionar Brittany...

Ela não é assim, ela fica feliz com pizza.

— Que foi? — volto a prestar atenção em Brittany. — Tá me

encarando e sorrindo, por quê?


— Pensando que ficou feliz com pizza, mas eu te levaria em um

restaurante caro.

— Tá repreendido, assisto resenhas desses restaurantes, pratos

caros, pequenos e quase não tenho interesse nos pratos que vejo. Mas
pizza? — sorri. — Tem que ser um péssimo cozinheiro para fazer essa

maravilha ficar ruim, ou comprar os ingredientes ruins. Pizza é o amor da

minha vida, inclusive quero ir a Itália para saber coimo é o sabor no país
original.

— Quando toda essa loucura terminar, poderemos ir a Itália

realizar seu sonho, mas com a pizza sendo o segundo amor da sua vida,
ou o terceiro.

Entendendo o que quero dizer, vejo a bochecha de Brittany ficar

bem vermelha.

— Direto ao ponto, pensarei no seu convite. Mas gostaria de


saber se é esse homem que anda em restaurantes caros, não te imagino

comendo pratos cheios de frescuras.

— Você é a mulher mais diferente pela qual tive interesse, a

verdade é essa. As outras amariam um jantar caro, luxo, você não. Você
sorri para uma pizza na minha casa, é o que prefiro.

— Então pagava caro para impressionar.


— Faz parte da arte da sedução.

— Então você fez a pizza como a arte de sedução?

— Não, o Eric fez.

— Menos um ponto.

— Eu assarei.

— Ligar o forno? — bufa. — Que belo trabalho, Alejandro.

— Forno a lenha, precisa saber manusear o fogo.

— Ok, meio ponto na arte da sedução.

— Eu poderia fazer mais, no entanto, falamos de ir com calma.

— E temos um bebê acordado. — mostra Dulce. — E acho que


ela passará o resto da noite assim.

Obrigado, Dulce!

— Vamos lá para o fundo, onde temos o forno.

Brittany me segue até o local, onde as pizzas já estão à espera.

— Pepperoni e margherita, minhas favoritas! — quase grita. —

Eu amo pizza forno a lenha, eu amo massa, a verdade é essa! Qual sua

comida favorita?

— Fará um jantar pra mim?

— Se merecer, talvez.
— Churrasco.

— Não sei assar carne.

— Eu sei mexer com fogo e você zombou da minha cara.

— Eu não disse que levar alguém para comer faz parte da


sedução.

— E o que faz parte da sedução, Brittany? — encaro-a, ela parece

confusa. — Do que gosta? No geral mesmo, o que gosta?

Pensa um pouco, enquanto coloca Dulce sentada na bancada.

— Nunca imaginei que gostaria tanto de crianças, essa, com

certeza, foi minha maior surpresa. Ter um sobrinho despertou isso em

mim.

— Quer ter filhos?

— Não sei. — dá de ombros. — Nunca pensei seriamente no

assunto. Assim como casar, era tudo sonho adolescente, não algo

verdadeiramente real, não sei explicar.

— Você cria histórias para os outros, talvez para não encarar sua
própria história.

— E qual é a minha própria história?

— Essa, a mulher que ajuda a todos, mas não pensa nela mesma.
E quando pensa, coloca empecilhos que só dificulta tudo. Às vezes é bom
sermos egoístas. Porque as pessoas que cuidamos criam a própria vida, e

ficamos para trás.

— O que quer dizer?

— Acho que estamos ficando muito profundos nessa história,

então é melhor mudar o clima. — decido mudar a conversa. — Mas e

então, do que gosta?

Começo a acender o fogo do forno.

— Música, amo música.

— Reggaeton, seu pai odeia e vive reclamando porque você vive

escutando essas ‘’’baixarias’’.

— Do que Juan não fala? Meu Senhor! Esse homem vive para

reclamar da filha maravilhosa que tem!

Olho para Brittany.

— O que foi?

— Vocês são iguais, ele reclama de você para os outros e você

reclama dele para os outros.

— Normal a filha reclamar do pai, eu sou filha do Juan! Como


não reclamar?

— Iguais!

— Se somos iguais, você tem interesse nele também?


Então essa é a Brittany que retruca tudo que falam!

— Juan não tem seu rosto e seu corpo.

— Então só me quer por isso?

— Você é menos dramática que Juan, mas são dois reclamões!

— Eu não vim aqui para ser insultada. Eu sou como Juan? —


balança a cabeça de um lado para o outro. — Sério, não sei o que é pior,

ser como Carmen ou Juan.

— Você só parece com Carmen de fisionomia, mas o jeito?

— Alejandro, sei que isso é uma tática para quebrarmos o gelo,

mas é péssimo!

— Não é uma tática...

— Eu jamais falaria para alguém te bater para provar seu


interesse por mim.

— Amou saber que Christopher apanhou.

— Ele mereceu!

— Eu já sei como poderei te irritar no futuro, só citar que parece

com Juan.

— Será que no futuro eu aceitarei jantar com você, Alejandro?

— Claro que aceitará, estará morando comigo.


— Como é que é? — coloca as mãos na cintura.

Sério que ela não sabe?

— O primeiro passo foi dado, Brittany. Por isso não havia falado
com Juan antes de conversarmos, mas ele já sabe. Quando uma pessoa do
cartel tem interesse na filha de algum membro, eles basicamente já têm

um relacionamento, ou seja, você já é minha.

— Como é que é?
Capítulo 10
BRITTANY

Como assim eu sou de Alejandro?

Eu não estou entendendo nada!

— Sente-se. — faço o que ele pede. — Juan é o chefe de todos, o


mais respeitado. Eu não poderia falar com ele antes de falar com você

justamente porque não sei o que quer. No entanto, Juan sabe que tenho
interesse por você, assim como sabe que você tem por mim. No cartel
funciona dessa maneira, por isso temos dois tipos de homens aqui: os que
querem as filhas dentro do assunto, porque assim alguém pode querer

ficar com elas, o que é bom para os negócios; e os que mantém as


mulheres longe, porque sabem que essa vida é perigosa e querem evitar

uma possível relação. Quando queremos a filha de alguém que faz parte
do cartel, não é aceito ficar, temos que namorar, ser algo sério, em muitos

casos já vão morar juntos.

— Já as filhas dos homens de fora, vocês podem fazer o que bem

entender?

— Não dá pra pedir coerência vindo da nossa parte. Mas sobre

você, sim, Juan já deve saber desse jantar, então todos os outros sabem.
No geral, já temos uma espécie de relacionamento e se antes não te

olhavam por ser filha do Juan, agora que não olharão mesmo, pois está
comigo. Mas se você não quiser, falo com seu pai e pronto, não existirá

mais nada. Não precisa de contato físico para que entendam que

namoramos, e sim dessa proximidade.

— E se eu disser que não, essa proximidade termina?

— Em respeito a Juan e ao cartel, sim, deve terminar.

— Claro que imaginei que teríamos um teor machista em uma

quadrilha, mas realmente não compreendi que já estávamos tratando essa

situação como um relacionamento. Juan não me informou isso, e sim que


deveria haver respeito em você falar com ele.

— Acho que ele imaginou que você odiaria a informação.

— Não odiei, só achei uma novidade.

Eu realmente não odiei, eu quero Alejandro e se já temos uma

relação e ele aceita, que ótimo!

— Você me surpreende a cada fala.

— Pelo menos não é forçado, certo? — ele confirma. — Então

tudo ok. Achei que estivéssemos falando sobre ‘’Você é minha e ponto

final!’’.

— Você me mataria se eu falasse isso.


— Gostei da parte onde sabe que eu posso te matar.

— Eu falarei que você é minha, mas te prender comigo? — faz

uma carranca. — Seria bem psicopata, e sabemos como esse papo de


possessividade está acabando.

— Você acha que Charlie é possessivo com Jennifer ou apenas

psicopata? Quero dizer, acha que ele sente algo por ela?

— Não sei dizer, ele a usou e ela deve sofrer, pode ser os dois,

mas, na mente dele, é amor.

— Já amou alguém? — mudo de assunto. — Já me fez muitas

perguntas, agora é minha vez de indagar.

— Você respondeu o básico.

— Mas eu respondi. — pisco um olho. — Agora é a minha vez de


perguntar, já amou?

— Primeiramente meu irmão e depois com Dulce. Amor real, só


com eles.

— Seus pais?

— Gostava, mas amar? Não, não amei.

— Como virou cafetão?

— Negócio de família. — olha para Dulce. — Eu não tive uma

boa criação por parte dos meus pais. Minha mãe era como Sofia, a
cafetina que todas as prostitutas procuravam, que era confiável. Meus

pais tinham boates, cada um se dividia nas noites para cuidar dos locais.
Minha mãe me levava com o Eric para uma senhora tomar conta. Uma

senhora era paga para cuidar dos filhos de quem trabalhava a noite
naquelas ruas. Os filhos das cafetinas, prostitutas, traficantes... Era essa
senhora e a filha, acho que tinham umas vinte crianças ali, de bebês a

crianças de uns dez anos. Era uma gritaria, choro, um fedor insuportável.
Elas não cuidavam, elas só queriam saber do dinheiro, e as mães sabiam

disso, mas não tinham outra opção. No entanto a minha mãe tinha opção,
meu pai também, os dois tinham dinheiro, mas sempre foram os pais

relapsos. Por anos vivi com meu irmão a base de macarrão instantâneo,
pão, suco, coisas nada saudáveis, mas era aquilo, não tínhamos uma
grande expectativa de vida fora dali, o plano era crescer um pouco e ir

embora. Existem dois tipos de pais nesse negócio: os que ganham


dinheiro e querem o melhor para a família, e os que ganham dinheiro e

estão pouco se lixando pra família. Ganham dinheiro e foda-se as


crianças. Eric e eu fomos essas crianças.

— Eu não sabia que também tinha tido pais tão relapsos.

— Não precisei fugir, não sofremos violência, mas tivemos


bastante negligência sem necessidade alguma disso. Poderíamos ter tido

uma babá ou escola de boa qualidade em tempo integral, ganhamos duas


mulheres relapsas e uma escola que vivia em greve. As comidas? Como

falei, só coisa que não é saudável. Quando soube de Dulce, eu tinha


certeza que eu não queria repetir aquele meu passado. Mas não sabia

como, nunca fui pai, nem mesmo para Eric, sempre fomos irmãos, no
entanto, eu nunca deixaria Dulce para trás, mas como cuidar dela? Fiquei

com essa preocupação, cheguei com ela e pronto, você a pegou dos meus
braços e disse que me ajudaria em tudo. — sorri pra mim. — Eu não sei
o que seria de nós dois sem você, Brittany, eu ficaria completamente

perdido.

— Eu também não sei o que seria de mim se não tivesse

conhecido vocês dois.

Porque eu amo Dulce, amo estar com ela, e Alejandro é o


primeiro homem por quem me apaixonei... Não tenho Jessica e Vicent

como tinha antigamente, mas tenho Dulce e agora sinto que tenho
Alejandro.

Ele estica a mão e aperta a minha.

— Acho que seremos um ótimo casal. — murmura.

— Acho que estou começando a acreditar nisso. — sorrimos um

para o outro e depois ele solta a minha mão, voltando a sua atenção para
a pizza no forno. — Seus pais morreram?
— Sim, inconsequentes, realmente morreriam cedo.

— E como conheceu Juan?

— Por mais que tivéssemos o pensamento de fugir dos nossos

pais, tínhamos um teto ficamos por lá. Na adolescência meu pai me


colocou para trabalhar no bar e acabei ficando por ali mesmo. Eric

também começou a se aprofundar mais no assunto e pronto, assumimos o


lugar do nosso pai, que havia morrido de overdose. Anos depois
aconteceu o mesmo com minha mãe. Juan já tinha os negócios com

minha família, mantivemos o contato, em uma situação ele precisou da


minha ajuda, para abrigar um fugitivo da prisão, acabei ajudando e nos

aproximamos, foi isso. Ah, só para constar, eu já era amigo do Carlos,


por isso Juan confiou em colocar o fugitivo em um local que indiquei.

Então a confiança só aumentou e pronto, negócios juntos e algum nível


de amizade...

— Um nível grande de amizade, já que ela fala mal de mim pra


você.

— Juan não fala mal, só reclama.

— Isso não é falar mal?

— Não, é apenas citar alguma chateação. Juan te ama, ele não

fala tanto de Jessica porque ela o aceita, você não, então acaba dando
uma certa indignação nele e sabemos como Juan é dramático. Mas e
você? Sei que ama irrita-lo, mas sente algum amor por ele?

Pergunta profunda... Não tenho uma resposta concreta.

— Nunca tivemos uma grande conversa, não sei o que dizer.

— Por que não tentam?

— Porque colocamos uma birra na frente.

— Tipo como fez comigo? — sorri de lado. — Olha como

estamos, estamos conversando normalmente. Às vezes só é necessário


respirar fundo e ser como é de verdade, sem colocar algum

comportamento na frente para que atrapalhe.

— Você é um bom psicólogo.

— Falam isso das prostitutas, não dos cafetões, mas aceito o

elogio.

Sorrio para ele.

Pela primeira vez na vida, eu acredito que pode dar certo.

— Já que não sairei com um garoto de programa para que ele vire

meu psicólogo e eu desabafe, contento-me com o cafetão. — brinco um

pouco.

— Falavam que você poderia ser uma ótima funcionária no bar,

no entanto, uma hora ou outra, você pediria para mudar de função. —


olha pra mim. — Bonita, atrevida, corpo natural, mas sempre achei que

não, Brittany jamais serviria bebidas e o corpo.

— Sério que achavam isso?

— Vai por mim, a maioria dos funcionários acabam vendo aquele

rio de dinheiro com strippers e garotas e garotos de programa, que


acabam indo para esse lado. Mas você parecia mais abismada que

interessada.

— Aquelas moças se arreganhavam, e, cara, a noite das mulheres

era uma vergonha alheia, aqueles homens rebolando e tirando a roupa?


— dou risada só de lembrar. — Um horror! Mas as mulheres

enlouqueciam.

A noite que mais enchia era a noite das mulheres, Jesus! O local

ficava lotado, um caos de gritos de histeria, tudo por causa de homens


bombados tirando a roupa e sendo rebolativos.

Noite das mulheres era apenas um modo de chamar, também

tinham homens por ali, e os dançarinos rebolavam, tiravam a roupa, se


esfregavam na galera, no pole dance... Nunca vi motivo para tanta

euforia! Ainda mais aquelas fantasias brochantes.

Eu não entendia a euforia da galera. Vicent mesmo, nossa, um dos


mais histéricos.
Não curto, não acho sexy, na verdade eu acho engraçado.

Lembro que ver a euforia daquela galera me fazia questionar se

eu realmente sou uma mulher comum, todo mundo gritando, achando um

máximo e eu querendo rir de vergonha alheia, sem interesse algum


naquilo.

Mas aí Alejandro aparecia no clube e eu suspirava, pensava ‘’Ok,

mesmo se Alejandro fizesse aquilo pra mim, eu acharia horrível! Então


não sou eu, é que esse show é zero interessante’’.

— Eu via como você ria e ficava quase repreendendo o Vicent.

— Reparava muito em mim? — arqueio uma sobrancelha.

— Claro, queria entender mais da sua vida, já que tentando


manter um diálogo não íamos para canto algum. E reparando eu vi que

era uma mulher tímida, provavelmente estava ali por pura necessidade,

mas não passaria de batender, e não tinha qualquer interesse em mim,

nem ao menos olhava na minha cara, ao mesmo tempo que quase


gaguejava um ‘’oi’’ quando me encontrava.

Deus, eu estava sendo patética!

— Tentando manter o profissionalismo. — sorrio de lado. — Ao


mesmo tempo, uma arte sedução, deu certo, não é?
— Deu tanto certo que aceito Juan nessa luta doida que ele

inventou.

— Ele disse que se você realmente me quisesse, aceitaria essa

idiotice. Não que ele tenha se chamado de idiota, mas você entendeu o

que quero dizer.

— Quando Juan aparecer, marcaremos essa loucura. Por falar

nele, não mandou mensagem alguma sobre esse jantar?

— Não, ele nem deve saber, ou sabe?

— Você passou aqui em casa mais cedo, sempre tem algum


informante de Juan por aqui.

Tira a pizza de pepperoni do forno. Tá com a cara ótima! Ele

corta a primeira fatia, o queijo até estica, estou com água na boca.

Dulce está olhando a pizza, ela está bem quietinha, até parece que
entende e quer nos deixar mais à vontade, mesmo que ainda esteja

acordada.

Alejandro me entrega o primeiro pedaço.

Pego a fatia com a mão, ainda está quente e retiro o primeiro


pedaço.

— Eric deveria ter me contado que sabe fazer pizza! Isso aqui

está maravilhoso! — Alejandro me serve a Coca-Cola. — Sério, uma das


melhores que já comi. Aprenda com ele.

— Da próxima vez eu farei a pizza.

— Você não sabe cozinhar nada?

— Nem um pouco.

— E vai aprender pizza pra fazer pra mim?

— Não deve ser tão difícil se o Eric faz rapidamente.

— Hum... Veremos se conseguirá fazer uma tão boa quanto o

Eric.

— Não, eu disse que não é tão difícil.

— Terá que ser melhor que a do Eric!

— E o que eu ganho se for melhor que a do Eric?

— Minha companhia, quer coisa melhor?

Ele falaria algo, até abriu a boca, mas logo fecha e retorna ao

forno, para olhar a outra pizza.

— O que você ia falar? — pergunto. — Abriu a boca e fechou.

— É melhor não falar nada.

— Mas aí eu fico curiosa, de tudo que fui diagnosticada na vida,

com certeza eu tenho ansiedade, então não contar me dá ansiedade.


— Eu diria que se a pizza fosse melhor que a do Eric, você me

daria algo em troca, mas você é diferente e não posso chegar com esse
linguajar.

Se soubesse as coisas que leio... Porém, eu sou retraída e

Alejandro quer ir com calma... Eu quero ir com calma... No entanto, se

ele me beijasse agora eu iria para os ‘’finalmentes’’.

Nem eu sei o que quero.

Mentira, sei sim, quero Alejandro, mas sou tímida.

Uma merda, como sempre.

— Apesar de você escutar umas músicas bem inapropriadas. —


Alejandro acrescenta.

— Nem todo reggaeton é uma baixaria, tem uns que são sobre

crimes, outros sobre amor, festejar e inclusive quero te dizer que esse é
um ótimo jeito de fazer Dulce gastar energia e dormir, é só dançar com

ela. Ela ama reggaeton, como eu e não se preocupe, jamais colocaria

músicas impróprias para crianças escutarem.

— Então quer dizer que para Dulce dormir eu tenho que fazê-la
gastar energia e não fazer algo calmo?

— Sim, ela cansa gastando energia, fica molinha e pronto,

dormiu, você fez tudo ao contrário, por isso ela está até agora acordada.
Pelo menos está quietinha.

Alejandro parece indignado com a informação, algo como

‘’Como eu não pensei nisso antes?’’.

— Bom, pelo menos ela não tirou sua atenção. — dá de ombros.

— Acho que você deve ter pedido muito em voz alta e Dulce

compreendeu, vai por mim, ela parece entender as coisas, já que não

gosta de Brianna. Ignorar aquela cenoura siliconada foi a prova que

minha pequena Dulce é uma geniazinha.

— Puxou ao pai.

— Você transou com aquela cenoura, isso não mostra

inteligência.

— Eu não queria engravida-la, só aliviar o estresse. Eu me

preveni, mas acabei caindo no golpe do preservativo furado.

— Boatos que Drake, o cantor, colocou pimenta dentro do


preservativo, a mulher que estava com ele pegou essa camisinha, jogou o

conteúdo que estava ali dentro dela e, bem, podemos imaginar como isso
terminou.

— Ah, isso é um clássico, mas geralmente eu só jogava no vaso e

dava descarga.

— Sério que isso é real?


— Quando temos muita coisa a perder, acabamos fazendo coisas
‘’estranhas’’. Com Brianna foi um grande vacilo da minha parte, o que é
estranho, ela nunca pediu dinheiro, pelo contrário, deixou Dulce e foi

embora, só agora retornou.

Como estávamos comendo e conversando, a primeira pizza se foi.

— Talvez tenha recebido outra oferta e foi melhor do que tirar seu
dinheiro, mas ela não ganhou nada e retornou. — suponho. — Só estive

com Brianna em duas ocasiões, não a suporto, mas não sei dizer qual é a
dela.

— Espero que não envolva Dulce, porque não tem quem me faça

entrega-la para Brianna, ainda mais imaginando com quem ela estava.
Capítulo 11
BRITTANY

O jantar foi maravilhoso, conversamos bastante e, em nenhum

momento, me senti constrangida ou fiquei imaginando no que Alejandro


estava pensando sobre mim.

E assim que abro a porta de casa, todo mundo me encara.

Jessica, Carmen, Camille, Whitney e Vicent. Os cinco a minha


espera, para saber como foi o jantar.

— Nem adianta olhar assim, dona Brittany. — Jessica é a


primeira a falar. — Você também ficou a espera para saber do meu
primeiro jantar com o Christopher, lembro perfeitamente disso.

— Ok, povo, só não esperei que todos estivessem aqui.

— Anda logo, conta! — Vicent grita. — Ele te beijou?

— Não.

— Que? — Carmen é outra escandalosa. — Esperamos tanto e


nem um beijinho?

— Não, Carmen, nem um beijinho.

— E o que fizeram?
— As pessoas conversam, Carmen.

— Eu disse, Carmen, eu falei que não aconteceria nada de mais.

— Vicent dá risada. — Mas o jantar durou umas duas horas, então, deu

certo? Vão namorar? Estão juntos?

— Está tranquila com ele? — Jessica pergunta.

— Sim, estamos tranquilos um com o outro.

— Só isso? — Camille franze o cenho.

— Quando eu não quis contar da primeira vez com o Christopher


você ficou irritada!

— Eu queria zoar com sua cara, Jess. Quem queria saber o

tamanho do Junior de Christopher foi o Vicent, não eu.

— Mas depois eu quis saber a do Juan. — Vicent suspira.

— Que? — Whitney olha para Vicent.

— Coisa antiga, Whit, não rolou nada.

— Juan não quis. — acrescento. — Se dependesse de Vicent eles


estariam casados.

— Ele falou o mesmo do Matt. — Camille recorda.

— Olha só, temos mais uma vadia no recinto, por isso nos demos

bem de primeira. — claro que é a Carmen. — Porque, de resto, tudo


puritano!
— Sente falta de Oliver, Carmen? — provoco.

— Brittany. — Carmen fala o meu nome com os dentes cerrados.

— Continue falando sobre Alejandro.

— Tenho nada pra falar, foi ótimo, conversamos bastante e estou

mais afim do que antes, basicamente é isso.

— Só não converse tanto, porque aí vira amizade. Um beijo

precisa acontecer, e não, não é por ser uma depravada, é uma realidade.

Precisam de conversa, mas precisam avançar um pouco mais. — Carmen

fala seriamente. — Sei que foi o primeiro encontro, mas querida, você
quer esse homem, ele te quer, não vá devagar como uma tartaruga,

porque até elas acasalam.

— Que?

— Eu amo sua mãe, apesar dela ser uma péssima mãe. — Vicent

suspira.

— Galera, em breve contarei dos próximos passos. — corto o

assunto. — Sei que eu sou a pessoa mais sensata desse recinto, já que não

dei de primeira...

E é claro que todas gritam comigo se defendendo, mas eu não

perco essa chance de irritar todo mundo coletivamente.


— Queridos, podem tentar! — falo mais alto. — Vocês não me

constrangem, eu sou a única com esse poder. Sei que se reuniram aqui
para descontar todo o constrangimento que já causei a vocês, mas quando

eu transar, eu contarei tudo, cada detalhe, falarei da maneira mais


vergonhosa possível para que vocês me mandem calar a boca. Não
conseguiram me envergonhar. — sorrio. — O único que tinha esse poder

era Alejandro, e já estou perdendo isso.

— Eu disse que ela não ficaria envergonhada e nem irritada. —

Jess sussurra. — Conheço a irmã que tenho e só para que se lembre, Juan
também te envergonhou e ele tem uma luta marcada com seu amorzinho.

— faço uma carranca e ela sorri. — Bom estar apaixonadinha, não é?

— Não me irritarão, só Juan tem esse poder no momento, e é


mútuo. — mostro a língua para ela.

— Ainda usa calcinha de vovó, Brittany? — Jess cantarola,


tentando me irritar.

— Você usa calcinhas grandes? — é quase uma ofensa para


Carmen. — Mudaremos isso. Com um homem daquele tamanho não

pode usar calcinha de vovó!

Olho para Jessica, que está sorrindo, porque fez isso apenas para

Carmen encher meu saco.


— Vaca! — grito com Jessica e subo as escadas.

— Também te amo, Brittany!

(...)

A mesa farta do café da manhã me faz sorrir, estou quase


cantarolando como naqueles musicais onde tudo é feito com uma

musiquinha.

— Nem é preciso perguntar qual o motivo do seu sorriso em

plena manhã, já que, na maioria das vezes, seu humor é péssimo. —


Carlos já está resmungando.

— Bom dia pra você também, Carlos. Creio que meu mau humor
passou pra você. — brinco um pouco. — Sabe como isso pode ser
melhorado? Pois é, quando ficar com minha irmã.

Ele fecha os olhos e balança a cabeça de um lado para o outro.

Eu gosto de criar histórias, a maioria parece impossível, mas


acontece! Shippei Jessica e Christopher, Matt e Camille, Alejandro e eu...
Ok, de primeira não shippei Juan e Whitney, mas quando vi os dois
conversando, pronto, imaginei que ficariam juntos. E Carlos? Bem, ele
estava irritado por ter que ficar na minha cola, eu estava assistindo as
Kardashian, ele detestou todo mundo do reality show e criticou meus

gostos, então eu disse que ele precisava de uma namorada para ficar mais
leve, ele se irritou e, do nada, falei que ele ficaria com minha irmã

perdida, pronto, mais irritado ainda.

Agora eu uso disso para perturbar a sua vida.

Mesmo que eu ainda acredite na minha fanfic.

EU NUNCA ERREI NOS CASAIS QUE SHIPPEI!

— Juan ligou. — muda totalmente de assunto. — Pediu para te


levar ao encontro dele.

— Ele não virá para casa?

— Disse que passará uns dias fora resolvendo alguns assuntos,


mas ele quer te ver. Talvez para dramatizar seu jantar de ontem.

— Falando nisso, você não esperou.

— Você estava com Alejandro, pra onde fugiria? — dá risada. —

Mais fácil você não sair da casa dele.

— Juan perguntou sobre ontem?

— Sim.

— O que respondeu?
— Que foi apenas um jantar. Eu não tinha muito o que responder.

— Ele aceitou numa boa?

— Mandou prestar atenção na hora que sairia da casa de

Alejandro, somente isso, nada a mais.

Talvez Juan entenda que tenho vinte e sete anos e não dá para

ficar me vigiando e cobrando horário de voltar pra casa, mas também

espero que ele tire essa imbecilidade da cabeça, de lutar com Alejandro
por minha honra.

Pelo amor de Deus, eu tenho vinte e sete anos e Alejandro trinta e

quatro, não somos dois adolescentes e nem temos uma diferença gigante

de idade para que Juan fique tão preocupado.

— Juan faz toda essa idiotice por questão hierárquica ou acredita

que realmente seja algo como proteção?

Carlos coloca o pão, que estava prestes a comer, no prato e olha


pra mim.

— Ele ficou puto com aquela história do Christopher, ele o

mataria, a verdade é essa. Juan ficou confuso naquele dia, pela primeira

vez pediu conselhos pra mim. Depois a Alejandro, Eric, Oliver, e assim
foi indo, Juan não pede conselho, ele conta uma historinha e pede sua

opinião, tudo para não dar o braço a torcer, mas naquele dia, ele falou
‘’Preciso do conselho de vocês, o que fariam no meu lugar?’’. Ele tinha

ódio de Christopher, ao mesmo tempo que ele tinha noção que fez o
mesmo com vocês, Juan praticamente abandonou vocês, na cabeça dele,

ele fez o certo, protegeu as filhas, na verdade, nunca protegeu. Oliver

acabou falando que um homem de verdade faria de tudo para se redimir,


e que se Christopher aceitasse conversar com Juan, já seria uma resposta,

afinal, Juan é um chefão de cartel de drogas. — ele sorri. — Juan falou:

‘’Se ele realmente quiser mostrar que está arrependido, ele vai lutar

comigo, na frente de vários homens armados, dependendo da minha


raiva, eu mato ele ou não’’.

— Ele não sentiu tanta raiva.

— Não, Juan viu que Christopher realmente iria até o fim para
provar que mudou, que é digno do perdão de Jessica, mesmo que,

naquele momento, fosse Juan a sua frente. Então nesse ponto acredito

que não é o ego de Juan falando mais alto, querendo competir e dizer que
precisa da aprovação dele. É realmente sobre ‘’Esse homem tem coragem

de me enfrentar, sabendo que posso mudar de ideia e atirar a qualquer

momento?’’. Juan ama as filhas, ama muito mesmo.

— Não sei se consigo corresponder dessa maneira.

— Entendo, muitas pessoas tem pais horríveis, que por mais que

mudem, não sabemos se perdoamos ou não.


— Seus pais também foram relapsos? — ele só balança a cabeça

confirmando, entendo que não quer falar do assunto. — Ok, somos todos

ferrados.

Rindo, Carlos volta a comer o pão.

Eu apenas coloco o café na xicara e tento não pensar em Juan, e

talvez esse seja o meu grande problema, não pensar...

Não penso e, por isso, não chego a qualquer conclusão sobre o


que acho dele.

Mas eu tenho tanta coisa para pensar...

Suspiro.

Pronto, meu sorriso, meu bom humor, já se foram.


Capítulo 12
BRITTANY

Saio de casa para ir me encontrar com Juan e a primeira pessoa

que encontro é o Alejandro carregando Dulce, que está dormindo. Ele


sorri na minha direção e vem ao meu encontro.

— Bom dia. — me cumprimenta.

— Bom dia. — respondo, sorrindo de volta para ele.

— Indo a algum lugar? — aponta para o carro.

— Sim, indo me encontrar com Juan. — arregala um pouco os


olhos e assente. — Já imaginando o drama do dia? — pergunto, sabendo

que a resposta será afirmativa, todos sabem o drama que Juan fará sobre
o assunto.

— Se pensarmos que ele marcou esse encontro após o nosso


jantar sim, provavelmente ele fará algum drama sobre o assunto. E você,

como está?

— Muito bem, e você?

— Indo para a aula de pizza com Eric.

— Olha só, começando as aulas cedo. — sorrio para ele. — Mas

e então, pretende tomar quantas aulas?


— Não deve ser tão difícil assim, talvez uns dois dias? — meneia

a cabeça. — Em menos de uma semana teremos um jantar preparado por


mim, mas não significa que só nos encontraremos daqui a uma semana.

— Então já teremos um novo encontro?

— Sim, pode ser hoje, dependendo do nível de drama de Juan.

— Juan não manda em mim.

— Juan pode querer brigar hoje.

Solto um longo suspiro.

— Deus, Juan segue sendo um besta!

— Desculpa atrapalhar o casalzinho. — Carlos se aproxima. —

Mas precisamos ir ao encontro de Juan.

— Onde ele está? — Alejandro pergunta.

— No depósito. — Carlos responde. — Ele não pediu segredo,

Juan só não quer ser incomodado.

— Falou o motivo para isso?

— Não, mas espero ter alguma resposta, e que esse encontro não

seja apenas sobre você e Brittany jantarem.

Eu ainda não entendi muito bem o que está acontecendo com

Juan, entendo que ele sente muito pelo que fez comigo, Jessica, e a
gêmea perdida, mas tem essa questão que ele está pegando leve com
Brianna, por culpa, ao mesmo tempo ele some e parece que trama algo?

Pior é que todos devem pensar que a mudança de Juan é por mim,
para me impressionar e ganhar meu perdão. Logo eu, que ameaço e

cumpro a maioria, não faz sentido ele querer pegar leve com alguém por

minha causa...

— Ok, vamos logo a esse encontro. — acabo atrapalhando a


conversa de Alejandro e Carlos. — Quero descobrir se Juan tem algo de

diferente para contar.

Carlos assente e se despede de Alejandro. Como Dulce está

dormindo, eu dou apenas um beijo no seu rosto e ela dá um breve sorriso.

Ah, sinto falta dos meus bebês, e só tem dois dias que não cuido
deles!

— Por que essa cara? — olho para Alejandro.

— Jessica não me deu Lucas e nem você me deu Dulce, estou

sem meus bebês e isso já fará dois dias! E sim, são meus bebês, eu sou a

tia deles!

— Pelo menos para Dulce você não é uma tia.

— E se Brianna...
— Sim, ela é a mãe, tem os direitos dela, mas ela não quer ser

mãe. Por algum motivo não posso me encontrar com Brianna para
entender o que ela realmente quer, mas tenho certeza, não é amor de mãe.

— Brittany! — Carlos grita o meu nome, dando pressa para que


eu termine a conversa.

— Isso que dá você irritar o Carlos.

— Ele me dedurou?

— Eu disse que você é uma mulher sensata, então ele quis me


mostrar que estava enganado.

— Filho da mãe! — grito e olho para Carlos, que apenas sorri e


dá de ombros. — Mas só para constar, eu shippei Matt e Camille, parecia

improvável, mas olhem só, estão juntos! Posso ter alguma razão sobre
Carlos e Jennifer.

— Brittany! — Carlos grita novamente.

— Ok, Alejandro, pode ir a sua aula e lembre-se, amo pepperoni


e a massa bem assada, queijo em quantidade média...

— O que fará por mim?

— Estarei no seu jantar. — bato no seu ombro. — Não há nada

melhor que minha companhia! Agora tchau!


Deixando-o para trás, entro carro de Carlos, que fica me

encarando.

— O que é? — pergunto.

— Esse sorriso de gente tonta no seu rosto. — liga o carro e


começa a dirigir. — Apaixonou mesmo e nem cite a irmã gêmea! — fala

a última parte rapidamente. — Sei que vai começar no falatório.

— Oh, Carlos, estou de bom humor e disposta a não te irritar, não

se preocupe. Mas e então, Alejandro falou que ele não pode ver Brianna,
tem algum motivo para isso?

— Creio que Juan não gostou de ver Brianna na rua naquele dia,
no caso, na porta de Alejandro, não sei, talvez ele não queira esse tipo de
movimentação.

— Ah, é, esqueci que há esperança que esse encontro dê respostas


sobre as atitudes de Juan.

— Exatamente, tentar entender se ele quer ser bom ou só quer paz


para pensar em algo maior.

— De onde tiraram que ele quer ser bom?

— Sei lá. — dá de ombros. — Talvez impressionar as filhas.

Pelo retrovisor do carro eu vejo dois carros vindo atrás desse e


dois que entram na nossa frente.
— Não se preocupe, é por segurança. — Carlos informa. — Não
sabemos quando algo pode acontecer.

— Nenhum avanço sobre Jennifer?

— Não até o momento, o pior é que mesmo que nunca tenhamos


visto essa moça, sabemos que ela é a cara de Jessica. Mas, realmente,

nunca achamos nada sobre Jennifer. E o pior é que já vimos Charlie, mas
Juan não quer ataca-lo.

Já viram Charlie três vezes, todas as vezes ele estava sozinho.


Juan acredita que era uma armadilha, e também acredita que se pegarmos
Charlie, nunca saberemos o paradeiro de Jennifer, porque ele morrerá

calado.

Ou, até mesmo, Jennifer poderá estar presa e ficará presa para

sempre, novamente, Charlie jamais contará algo. Mas quando o seguem,


ele desaparece... É uma armadilha clara, por isso não prosseguem tanto.

— Falando nesses loucos, tem uns dias que não vejo Henry. —
falo e olho para Carlos, que dá um pequeno sorriso. — Ah, não negue,

você também gosta de ver o sofrimento daquele velho escroto.

— É bom ver filho da puta se fodendo. — encolhe os ombros. —


É engraçado te ver contando, pela centésima vez, como matou os filhos

dele. O jeito como ele fica puto e alguém dá um soco na cara dele, depois
o choque... — suspira. — Talvez se fizéssemos isso com Brianna,
saberíamos de algo mais.

— Viu só, Carlos? Nos entendemos muito bem!

E, pela primeira vez, ele ri.

— Ok, Carlos, o que fizeram com você? — cruzo meus braços.

— Nunca te vi de bom humor.

— Eu só ri porque falei de torturar Brianna e você gritou, sim,


Brittany, você gritou de felicidade! Então penso que se Juan estiver sendo

um bom samaritano para te conquistar, ele está fazendo tudo errado.

— Pois bem, Carlos, se essa teoria estiver certa, não se preocupe,

farei questão de dizer a Juan que ele pode fazer o que bem entender com
Brianna. Porque se existe qualquer porcentagem de chance dela querer

fazer o mal, é melhor parar antes que isso se concretize.

(...)

A primeira coisa que vejo ao chegar no local marcado, são os


homens carregando caixas enormes de madeira de um lado para o outro.
— Será que posso saber o que tem dentro das caixas? — sussurro

para Carlos, que desliga o carro.

— Isso mesmo que está pensando.

— Armas?

Apenas sorri, sem confirmar ou negar. Carlos pede para descer do


carro e faço o que foi pedido. Os homens me cumprimentam e

adentramos o local.

— Tem mulheres no cartel? — pergunto a Carlos.

— Sim, algumas são até mais cruéis que homens.

— Por que não vieram?

— Preferiram ficar no cartel, no caso, onde tudo acontece. —

explica rapidamente. — Juan está naquela sala ali. — para de andar e

aponta para uma porta. — Pode ir, provavelmente essa conversa será em
particular.

Confirmo e ando até o local indicado, bato na porta e a voz

autoritária de Juan manda entrar. Abro a porta e o encontro sozinho,

mexendo em um notebook.

— Olha só, Juanito sabe mexer com tecnologia.

— Um dia longe e a primeira coisa que fala é para me provocar?


— Se pensar que não sabe baixar um aplicativo, sim, é uma

surpresa que mexa em um notebook. Quem te ajudou?

— Eu fiz tudo sozinho! — cruzo os braços e inclino a cabeça para

o lado. — Ok, fizeram por mim. Satisfeita?

— Agora está explicado. Então, novidades?

Aponta para a cadeira a sua frente, onde sento.

— Como foi seu jantar com Alejandro? — fecha o notebook. —

Foi o assunto da noite.

— Seus homens são um bando de fofoqueiros.

— É que não é todo dia que um cafetão quer a filha do chefe.

— Quer falar sobre criminalidade, Juanzito?

— Quero ter uma conversa franca com minha filha, podemos?

— Ok.

— Então, como foi?

— Bem, conversamos, comemos pizza e é isso.

— Só isso? — franze o cenho, parecendo não entender nada do


que falei.

— Ué, queria algo mais?

— Vindo de Alejandro...
— Ele respeitou meu momento.

— Filha do chefe.

— Ah, Juan. — reviro os olhos. — Marcamos outro encontro.

— Ok, ele vai lutar comigo, não sei se esse encontro acontecerá

tão cedo.

— Ele me contou que já sou dele, com ou sem luta. — arqueio


uma sobrancelha. — Isso é só para aumentar seu ego e sua masculinidade

altamente tóxica.

— Não comece com seus discursos feministas que nem de mulher

você é muito fã.

— Ei! — levanto um dedo. — Eu sou do time ‘’bateu, levou’’,

‘’se me atacar, eu vou atacar’’, nem todas merecem nossa sororidade,

então não venha desviar o assunto, Juanito! — ele sorri para minha fala.
— Eu sou de Alejandro, certo? — não responde. — Se jantamos, você

concorda com isso e só quer socar a cara dele para dizer ‘’Olha aqui,

Alejandro, eu sou o chefe, eu mando! Nunca esqueça disso!’’. Errei em


algo?

— Não. — seu sorriso é gigante. — Eu realmente não sei o que

viu nele...

— Já viu o tamanho daquele homem?


— Brittany... — fala meu nome com os dentes cerrados e prendo

meu riso. — Não comece. O que quero dizer, é que com toda a sua

questão do passado, realmente não imaginei que ficaria com Alejandro,

que gostaria dele.

Pronto, o ar do ambiente até muda, já que o assunto ficou sério.

— Ok, as provocações e brincadeiras terminaram. — respiro

fundo. — Sinceramente, não sei como isso aconteceu, no entanto eu creio


que nunca tive esse trauma. Perdi o emprego, por culpa minha, estava

com Vicent e vimos que uma boate precisa de bartender. Nunca fiz nada

disso na vida, mas fui até lá. Não era para preparar drinks, era só para

servir, isso eu conseguiria fazer. Então nunca senti aversão pelo local,
tampouco com Alejandro. Entendo a problemática de cafetões e

cafetinas, é ilegal, é crime, estão ganhando dinheiro em cima do corpo de

outra pessoa, por outro lado, eu via como era aquele ambiente, não me
senti mal ali.

Naquela boate eu lembrava da minha época com Sofia e Carmen.

Várias garotas de programa confiavam em Sofia, iam até ela em busca de

ajuda e tinham certeza que ali estariam seguras.

Por muitas pessoas terem medo de trabalhar nas ruas, por conta

própria, elas procuram clubes, casas e até cafetinas e cafetões para

agenciarem tudo. Tem os que não valem nada e tem aqueles que até
valem alguma coisa... Como pensavam de Sofia, e realmente ela era

ótima com a galera da prostituição, mas um terror com duas crianças, e


sabe se lá com quantos menores de idade que ela aliciou...

— Alejandro não parecia ser do mesmo nível de Sofia e Henry,

parecia respeitoso, ainda assim um chefe, não era amigável, mas era bem

na dele. Me trata bem e é lindo, se eu tivesse tido qualquer trauma,


realmente, não conseguiria ficar ali, mas não foi o caso.

— Meu problema foi esse, acreditei que agora seria a hora de

mudar nossa relação e acredito que tem traumas, por não termos uma
convivência comum, queria ajudar... — pensa um pouco. — E talvez sua

grande questão seja mais familiar que qualquer coisa sobre Henry e

Sofia.

— Eu não consigo, Juan, a verdade é essa. Eu só vivi com Jessica


por todos esses anos, é meio complicado me abrir com mais pessoas da

família. E em um ponto você acertou, é complicado contar a Jessica o

que aconteceu no passado dela, é como se eu tivesse traído sua confiança.

— Você a salvou.

— Mas nunca contei, ela nunca entendeu porque somos

perseguidas até hoje. Ela acredita que foi pela fuga, pela briga com
Charlie, por sabermos que essa família não vale nada, mas é sobre eu ser
uma assassina.

— E você acha que Jessica sentirá algo de ruim por você por esse

motivo?

— Não, mas não contei a ela. Tive treze anos para contar e nunca

falei nada, porque sempre pensava: ‘’Jessica está triste, está mal, pra que

falar disso agora, pra piorar?’’. Agora que está bem eu penso: ‘’Ela está
tão feliz, pra que contar agora?’’.

— Por anos eu pensei a mesma coisa, Brittany, pensei que foram

embora e tinham razão, aquela vida não é para vocês. Deixei pra lá, não

quis levar essa merda até vocês, impedi uma ajuda. Então, quando
descobri a verdade, também pensei se deveria aparecer em suas vidas,

estavam com dificuldade e eu poderia piorar tudo... Mas acabei entrando


em suas vidas.

— O que te fez ter esse impulso de voltar?

— Vocês. Pensei e repensei, quando dei uma surra em

Christopher meu plano era apenas ajudar de longe, mas eu já tenho um


neto, Jessica era minha filha do coração e eu descobri que é minha filha
de sangue... Perdi tantos anos com vocês e agora perderia mais? Imaginei

que seria mais fácil com Jessica, com você seria mais duro, mas eu
precisava tentar e ainda tento. Não é sobre mim, mas quero que entenda
que tem algumas decisões que precisam ser tomadas. Jessica pode não
gostar de ter tido essa parte ocultada, mas estamos falando da Jessica!

Ela tem um bom coração, é tão calma que chega a ser bobinha. — damos
risada no momento. — Pelo amor de Deus, ela se apaixonou por
Christopher!

— É o que eu sempre digo, a inteligência dessa garota é ofuscada


por essa escolha.

— Não é? E ela perdoou Christopher. — agora volta a seriedade.


— Me perdoou, não joga na cara de ninguém os erros que cometemos,

me fale como pensa que ela vai te odiar por isso?

— É que eu me odeio por isso.

— Essa é sua principal questão, Brittany. Não é o que passou, e

sim o que não contou. E digo mais, aí no fundo, você se culpa por não ter
evitado, por não ter lutado antes. E te digo, você lutou, lutou muito e
conseguiu. E se estão aqui hoje, é graças a você. Não se cobre tanto, você

é incrível e não deve pensar no ‘’se’’ e sim no que fez.


Capítulo 13
BRITTANY

Meus olhos ardem pelas lágrimas não derramadas. Imaginei que

conversaríamos sobre uma coisa e é outra, no entanto, isso ajuda bastante


para ter coragem de falar com Jessica, contar como tudo aconteceu.

— Imagino que não queira continuar a nossa conversa.

— Acho melhor não. — respondo, tentando não chorar. — Ou


então eu começarei a chorar.

— Então partiremos para o outro assunto. Talvez tenha escutado


alguns cochichos sobre minha nova fase de vida.

— Esse povo é bem fofoqueiro para membros de um cartel de


drogas.

Juan dá risada e depois abre o notebook novamente, digita algo e


depois vira na minha direção.

— Quem é essa? — pergunto, já que ele me mostra a foto de uma

mulher.

— Cássia, imagino que já tenha escutado falar.

— A mulher daquele clube onde Camille trabalhou? — confirma.

— O que ela fez? E por que está me contando?


— Porque você é a mais impulsiva e preciso que mantenha algum

nível de calma, não tanta calma, mas algum nível. — não entendo o que
ele quer dizer. —Quando Franklin, aquele antigo cafetão, sumiu, comecei

a dar atenção aos outros integrantes daquele local. Cássia também estava

desaparecida, tem alguns dias que soubemos o paradeiro dela. Sabe


como?

Penso um pouco...

Alguns dias... Cássia era como se fosse uma cafetina... Juan quer
minha calma, mas nem tanto...

— Brianna. — respondo imediatamente.

— Gosto da sua inteligência. As pessoas desse lugar são

acostumadas com calma para começar os confrontos, mas não com a


calma para fazer uma armadilha, se assim posso dizer. Encontramos

Brianna há alguns dias, todos queriam uma tortura, porque está na cara

que ela tem envolvimento nessa questão, mas como já disse, talvez ela

não saiba da peça principal, provavelmente ela se comunica com outro

alguém, e essa pessoa sim poderá nos levar até a peça principal, que é o
Charlie.

— Brianna já te levou até Cássia.


— Exatamente. As duas não são pessoas do crime, pelo menos,
não sabemos de nenhuma ligação delas com algo criminoso, a não ser a

compra de Camille, mas não temos uma ideia da relação de Cássia nessa

história. Não sei como se envolveram com Charlie, talvez para salvar a

vida de alguém, não sei. Brianna viveu bem, então talvez alguma coisa

tenha acontecido e tudo mudou. Charlie está sozinho nessa, Henry está

preso conosco, o pai de Christopher, filhos e madrastas morreram, o


escândalo aconteceu, ninguém vai quer se associar a Charlie, ele só tem

alguns capangas e essas duas mulheres, mas ele também tem Jennifer, ela

é uma arma nesse momento. Ele deve imaginar que não queremos o mal

dela, então usará disso para ir se safando, por isso temos que pensar a

frente de Charlie. E é isso que estou fazendo, envolvendo poucas pessoas

porque não é difícil, mas também é delicado.

— Por que me conta tudo isso?

— Como disse, necessito de alguma calma vindo da sua parte,

mas nem tanto. Como já falei, nada acontece! O que temos nesse

depósito são armas, ou seja, eu vivo normalmente. Se tivermos qualquer

traidor, o que Charlie sabe é que vivemos uma vida segura, mas, ainda

assim, comum. Brianna está aqui porque pediu pela ajuda de Alejandro.

No entanto, Charlie também deve imaginar que sabemos sobre Brianna


pertencer ao outro lado, ou seja, ela sabe muito e vamos mantê-la viva.
Mas existe algo importante em toda essa história. Você é a principal

causa da raiva de Charlie. Se pensarmos bem, a maior afetada foi Jessica,


Vicent já levou uma surra em uma suposta tentativa de assalto, e depois

teve aquela ameaça de Hillary sobre Lucas, nunca foi diretamente algo
contra você.

— Ele quer me fazer sofrer usando pessoas que eu amo.

— Quem é sua nova pessoa preferida? Uma pessoa que ama


muito...

— Dulce.

— Exatamente. Brianna é a mãe de Dulce, ela tem direitos que

pode até conseguir quando puxarem a linda ficha criminal de Alejandro.


Ser prostituta não é crime, só é considerado imoral, mas ser cafetão?

— Brianna quer pegar Dulce e entregar para Charlie?

— Sim, ela já me contou que quer lutar pela guarda de Dulce e é

por isso que me afastei, para pensar no que fazer.

Começo a tomar longas respirações, porque Juan quer alguma

calma vindo da minha parte.

— O que fará? — pergunto.

— Rastreamos a conversa dela com Cássia, isso não deveria


acontecer. Brianna jamais deveria entrar em contato com alguém
enquanto estivesse conosco. É como eu disse, Brittany, as pessoas que

estão ao lado de Charlie são leigas nesse assunto. Brianna nem ao menos
lembrou que poderia ser rastreada. Sabemos onde Cássia está, mas essa

sim é mais resistente, ela não fez qualquer ligação ou foi ao encontro de
Charlie, mas sabemos onde ela está, já é alguma coisa. Brianna ligou

para Cássia quando se desesperou ao ver que está em um local cercado


por homens do cartel, precisamos que ela se desespere mais, no entanto,
que não seja por nossa causa.

— E por que não? Você são do cartel, normal torturar gente...

— Porque se fizermos algo, isso indicará que estamos atentos em

Brianna, que queremos respostas, não é para mostrar que estamos tão
interessados nela. Mas você, Brittany, tem um motivo para fazer algo e
causar desespero nela. Desespero a ponto de Brianna ligar para Cássia

informando que Brittany a atacou. Imagina Charlie descobrindo que a


principal inimiga dele continua infernizando seus planos? Eu acredito

que Cássia falará algo e Charlie ficará tão puto que cometerá algum erro.

— Acredita mesmo nisso? Como pode ter certeza que Charlie

cometerá um erro?

— Eu sei do que estou falando, só falta uma coisinha para ele dar

o que queremos. E preciso de você nessa.


Três dias depois

Entro na casa de Alejandro, que fica surpreso com minha

presença.

— Olá. — me cumprimenta, sem entender o que faço aqui tão

cedo, já que nem são oito da manhã. — Aconteceu algo?

— Ainda não, mas acontecerá. — pede para que eu entre na sua

casa. — Precisamos falar sobre minha conversa com Juan.

— Colocou mais dramas no assunto? — sentamos no sofá.

— Não, por um milagre ele está bem com isso, no entanto, ainda

quer brigar, isso ele não abre mão. Mas o que quero falar é algo mais
sério, é sobre Brianna.

— O que ela fez?

— Na verdade ela ainda fará, Juan pediu para te contar isso hoje,

como sou ansiosa, vim logo. Então, não se irrite e não faça nada.

— Quem está ficando ansioso sou eu.

— Brianna pedirá a guarda de Dulce.


Ele fica alguns instantes em silêncio, como se processasse o que
acabei de falar.

— Como é? — indignado e com raiva, Alejandro faz essa


pergunta.

— Juan está distante esses dias porque ele estava planejando

como tudo ocorrerá, resumindo, ele descobriu que Brianna mantém

contato com Cássia, que é aquela mulher do clube de Franklin. Brianna


cometeu esse deslize de ligar para essa mulher, então o plano de Juan é,

basicamente, fazer com que Brianna tenha medo novamente e ligue para

Cássia, e se Cássia souber que Charlie me odeia, ele poderá agir sem
pensar e pronto, conseguiremos pega-lo. — Alejandro parece não

entender nada do que digo. — Brianna quer Dulce porque eu amo Dulce,

talvez ela nem saiba disso, mas Charlie sabe. Obviamente ele sabe.

— Traidor aqui dentro. — não é uma pergunta.

— Sempre pode ter, ainda mais que Brianna já disse que quer

Dulce. Juan suspeita que é isso. Sequestrar um bebê nesse local é

complicado, mas entrar na justiça...

— Entrar na justiça é pior ainda!

— Juan deixou.

— Que?
— Quer dizer, ele não deixou, ele cedeu. Basicamente, Juan

acredita que Charlie está perdido, sem pessoas de confiança e


importância ao lado, Brianna e Cássia são as melhores pessoas que ele

tem. Então Juan está dando corda. Porém, não se preocupe, não é um

plano dar Dulce para Brianna, e sim dar uma brecha para que Charlie
acredite que, aos poucos, vocês estão cedendo. Vocês ainda não estão

legalmente no país, ou seja, cederam a chantagem de Brianna.

— Acha mesmo que Charlie cairá nessa? Que vai acreditar que

Juan, do cartel, caiu nessa chantagem?

— Juan tem alguma fonte que informou que Charlie está meio

pirado, ainda mais com o pai desaparecido e, possivelmente, morto. Está

quase insano, perdido. É uma tentativa para ver se Charlie cai nessa.

— E como tudo isso acontecerá?

— Brianna ligou para Cássia ao perceber que estava cercada aqui,

no desespero ela fez isso. Charlie me odeia, Juan pediu para que eu

infernize a vida de Brianna a ponto dela se desesperar e ligar pra Cássia,


e se Cássia souber sobre mim, ela pode se comunicar com Charlie e, na

raiva, ele pode fazer algo por impulso.

— Se Juan sabe sobre tudo isso, ele sabe onde Charlie está,

sempre soube. Ele quer atacar sem deixar Jennifer para trás...
— Sem que Charlie perca a cabeça e mate Jennifer. Só Charlie

tem contato com Jennifer. Segundo Juan, um passo em falso e ele pode

descontar em Jennifer. Como já imaginávamos, Jennifer é a maior arma


que Charlie tem contra nós, temos que desestabilizar Charlie para

conseguir pegar Jennifer com vida.


(1) Bônus

JENNIFER

O cheiro podre não me deixa dormir e, muito menos, comer.


Quando Charlie disse que estávamos indo para outro lugar, eu não
imaginei que seria para um lugar rodeado de lixo.
Levanto da ''cama'' e vou até a ''cozinha''. O café está na xícara e
tem um pedaço de pão ao lado.
— Eu gostaria de te dar mais, mas, por enquanto, só temos isso.
— Charlie me abraça por trás e beija o meu pescoço.
Um calafrio sobe. Odeio quando ele me toca. Fizemos sexo duas
vezes. Só sei que doeu na primeira vez e na segunda foi mais estranho
ainda. Além de doer muito, ele falou que eu tinha que gritar bem alto.
Ele jurou que só me tocaria novamente quando eu me sentisse
bem.
Charlie é louco. Na primeira vez que eu fiz o tal ''sexo'', ele se
arrependeu e implorou perdão. Eu chorei muito depois que tudo
terminou, ele jurou que só me tocaria depois que eu estivesse pronta. Eu
não estava pronta na segunda vez, mais uma vez ele implorou perdão.
— Isso já está bom. — falo.
Sento na cadeira e tomo um pouco do café. O cheiro do lugar
embrulha o meu estômago, mas estou com muita fome para recusar um
pão.
Charlie senta a minha frente e coloca as duas mãos no queixo,
dando apoio a sua cabeça. O seu olhar é idiota e me dá medo.
— Você sabe que te amo. — fala bem baixo, aquela voz quando
quer algo. — Prometo que tudo mudará em breve, que nossa vida será
melhor. Seremos felizes. Felizes juntos.
Odeio Charlie e essas palavras.
— E para onde vamos? — pergunto, mesmo sabendo que,
provavelmente, não terei qualquer resposta.
— Um lugar melhor que esse.
Um riso quase escapa quando ele termina de falar. Qualquer lugar
é melhor que esse aqui, ou seja, sua resposta não é a melhor.
— Sei que é péssimo, o cheiro é horrível...
— Continuarei presa?
— Não está presa, Jennifer, não fale assim. — olho para as suas
mãos, ele está apertando com força, contendo a raiva. — É proteção.
Quando amamos alguém de verdade, nós protegemos. É isso que faço.
Pode parecer uma prisão, mas é a mais pura proteção. Tem pessoas que
querem você, preciso te dar segurança.
— Sei... — respondo, sabendo que não tenho muito o que falar
nesse momento, já que ele nunca fala nada.
Olho para a caixa do leite. Uma raiva cresce em mim. Charlie
tirou uma grande parte da minha vida, nem lê uma caixa de leite eu sei...
— Você me ama? — toca a minha mão. Seguro a vontade de tirá-
la. — Você é a pessoa que mais importa na minha vida, Jennifer. Eu te
amo, e, de coração, espero que seja recíproco.
— Amo. — confirmo, porque, na verdade, isso não me incomoda,
eu realmente não sei o que é amor, então, tanto faz dizer que o amo. Pra
falar a verdade, falar que amo Charlie faz com que ele sorria e pare de
ficar irritado comigo.
Mesmo tentando comer, o olhar de Charlie não me deixa, ele me
incomoda, ainda mais quando fica sorrindo.
Eu quero mata-lo!
Pretendo mata-lo!
Charlie não me deixa perto de uma arma, pelo menos quando
dormíamos juntos, ele tinha uma ao seu lado, com certeza ainda tem.
Uma vez eu tentei pegar, mas ele acabou acordando, eu disse que estava
com frio e estava tentando pegar o outro lençol para me aquecer.
Terminei dormindo abraçada com ele.
Nem preciso dizer algo sobre facas e até garfo, tudo de plástico,
para não ser uma arma. Vejo objetos pesados e imagino que conseguiria
bater nele, mas Charlie é alto, sei que temos que acertar na cabeça.
Sou uma covarde, não tenho coragem alguma de tentar algo
assim.
Por isso Charlie pensa que sou burra... E realmente sou. Não
conheço nada da vida, não sei ler, escrever e não tenho ninguém no
mundo. Uma vez eu o vi usando uma arma, prestei atenção nisso. Eu só
preciso de um momento de deslize da parte dele e todo o meu pesadelo
chegará ao fim.
Mas, o que farei fora daqui? Não conheço nada. Sei que estava
em um lugar com praia e agora estou no lixão.
Eu tenho que concluir o meu plano.
Ser sozinha no mundo é melhor que ficar com esse louco.
— O que está pensando? — pergunta.
— Nada, só não quero vomitar com o cheiro desse lugar.
Ele levanta e fica atrás de mim.
— Meu amor. — aperta o meu ombro. — Daqui a pouco
estaremos em uma praia deserta, somente nós dois, mais ninguém.
Essa ideia não é boa, nada boa!
— Coma logo! — é uma ordem, mas a sua voz sai de maneira
suave. — Porque precisará voltar para seu lugar seguro, e sabe como
pode demorar para sair.
Lugar seguro, a mesma coisa de estar acorrentada e amordaçada.
A minha fome passa. Não consigo engolir nada, só penso nas
vidas que serão tiradas se não pararem Charlie. Esse é seu plano, matar
todos que estão contra ele... Não sei se conseguirá, mas seu humor
mudou nesses últimos dias, ele está mais feliz.
Infelizmente, ele pode conseguir o que tanto deseja.
Não sei quem são seus inimigos, mas se odeiam Charlie e Henry,
não devem ser tão ruins.
— Eu pegarei Brittany e me vingarei pela morte de todos. — a
voz alta de Charlie me tira dos meus pensamentos. — Claro que meu pai
já deve estar morto nesse momento. Aquela vadia acabou com a minha
vida e eu acabarei com a dela. Você verá, Jennifer, acabaremos com
todos!
Espero matar você antes disso.
Capítulo 14
BRITTANY

Primeiro dia.
Primeiro dia onde Alejandro concorda em deixar Brianna ter esse
devaneio que está conseguindo ser mãe de Dulce, primeiro dia que
poderei atazanar a vida dela e primeiro dia que Juan está de volta ao lar.
— Sabe, Juan, estava pensando em algo. — cantarolo.
— O que? — sua paciência é incrível!
— Gostaria de aprender a atirar!
Juan fecha o jornal e começa a rir.
— Não é uma piada! — me defendo. — Nós conversamos sobre
esse assunto, você mesmo concorda que corro perigo, que sou a pessoa
que Charlie mais odeia, ou seja, eu preciso aprender a atirar!
— Ah, Brittany, nem pensar. — abre o jornal novamente e
começa a folhear.
— As pessoas usam internet para ler notícias.
— Foda-se a internet, prefiro o papel.
— Porque é velho!
— Mais um lindo dia de implicâncias de pai e filha. — Carmen
ficou calada esse tempo todo e agora vem falar! — Tão lindinhos.
— Juan, quando Oliver voltará? — provoco.
— Espero que nunca. — Carmen cantarola.
— Em breve. — Juan responde. — Ele sente saudades da nena
dele.
— Vá se ferrar, Juan! — Carmen grita. — E eu apoio a ideia de
Brittany!
— Obrigada, Carmen! — agradeço.
— Ela precisa aprender a se defender, vai que todos os seguranças
morrem e só ela fique em pé? É bom ter uma arma e saber usar.
— Que bela história. — penso um pouco. — Mas Carmen tem
razão. Sei que pensa que sou louca, que sairei matando gente, mas
Juanito, eu não sou assim. Só matarei se for necessário.
— Brianna.
— Eu concordei em não fazer algo grandioso com ela. Sei que ela
está com Charlie, mas como você mesmo disse, pode ser por conta de
uma ameaça. Então estou serena.
— Também não exagere. — Carmen sussurra.
Juan olha pra mim, depois para Carmen.
— Ok, Brittany, te darei algumas aulas por precaução. Porém,
assim que tudo isso terminar, sem armas!
— Você acha que sou uma psicopata?
— Acho que não tem controle da própria raiva.
— Olha quem fala. — Carmen bufa. — Disse a pessoa mais
calma desse mundo, que está marcando uma luta com o genro.
— Ele ainda não namora Brittany!
— Se um homem do cartel tem interesse na mulher que faz parte
da família de outro membro, automaticamente, eles têm uma relação. —
relembro. — Ainda mais sendo a filha do chefe.
— Eu acho essa regrinha tão idiota, nem se beijaram e já tem
relacionamento? — Carmen balança a cabeça de um lado para o outro. —
Pensando pelo lado bom, pelo menos Alejandro ainda não te viu com
calcinhas sensuais...
— Como é? — Juan fecha o jornal com tanta força que até rasga.
— Sua filha usa calcinhas de vovó. — fecho os olhos e respiro
fundo. — Sabe como é, um homem como Alejandro precisa de algo
mais, uma lingerie sexy sendo usada pela mulher amada...
— Nem pense...
— Ok, galera, já estou indo! — falo bem alto e levanto da
cadeira. — Não falarei de calcinhas com meus pais.
— Você me chamou de pai?
— Eu te irritei? — Carmen coloca a mão no peito. — Fico feliz
por isso.
— Ela nos chamou de ‘’pais’’ e está preocupada com isso?
— Foi maneira de falar, Juan, Brittany claramente quer se
esquivar desse assunto.
— Tchau! — grito e deixo os dois no dilema ‘’somos pais ou
Brittany só falou isso para mudar o assunto sobre como usa calcinha
grande e de cores neutras?’’.
Sem problemas, galera, já comprei calcinhas sensuais na
internet!
Porque, obviamente, estou me preparando para todas as primeiras
vezes com Alejandro.
E assim, sorrindo, me encontro com Carlos.
— Sorriso de gente idiota, Brittany.
— Não é sobre Alejandro. — cruza os braços. — Ok, é algo
relacionado a ele, nada de mais. Então, podemos ir?
— Sim, podemos.
Isso significa dar alguns passos até chegar na casa de Alejandro,
que está com a porta aberta.
Sem nem bater eu entro porque sei que a cenoura siliconada está
aqui.
Chego à cozinha e vejo vários homens conversando, incluindo
Alejandro, já Brianna fica se inclinando na bancada, mostrando a poupa
da bunda, porque está com um short muito curto.
— Bom dia. — falo para todos.
— Bom dia. — dizem ao mesmo tempo.
Brianna vira para mim. Percebo que o short foi cortado, muito
mal cortado. Ela sorri para mim com arrogância, mas não diz nada.
Alejandro vem na minha direção.
— Podemos conversar? — confirmo.
Ele me leva até o andar de cima, ficamos na porta do quarto de
Dulce.
— Brianna falou que gostaria de ficar um tempo a sós com Dulce
e neguei. Não me importo se tem que dar corda a essa mulher, ela não
chega perto de Dulce, ainda mais sozinha.
— O que ela fez?
— Obviamente ela não está aqui pela filha e temo pelo que
realmente quer. E se o plano não for levar Dulce e sim fazer algo com ela
aqui mesmo?
— Não se preocupe, Juan não falou nada sobre deixar Brianna
com Dulce.
— Mesmo se falasse, eu negaria no mesmo instante. Ok deixar
Brianna sentindo que está conseguindo algo, mas não aceito colocar
minha filha como isca.
— Eu também não deixaria, e creio que nem Juan. Se algo
desandar, mudaremos esse plano. Até o momento está tudo bem.
— Claro, Juan pediu para você ser a algoz de Brianna.
— É a melhor parte. — sorrio.
— Sabe o que vai fazer?
— Pedi para Juan me ensinar a atirar, espero que ele concorde
com minha ideia de usar Brianna como alvo.
— Eu amo seu senso de humor.
— Eu não estava brincando.
— Sabia que falaria isso. É bom conhecer a verdadeira Brittany
pela primeira vez.
— Gosto de saber que aceita minhas doideiras. — a voz de Dulce
falando coisas sem sentido algum começa a soar. Alejandro pega o
celular e mostra na tela que ela já está acordada. — Como sempre está
querendo participar das nossas conversas.
— Quando isso deve parar? Quando pediremos para que ela
durma e ela entenderá?
— Talvez daqui a um ano? — dou risada com seu
desapontamento. — Eu só não digo que deveria ter se prevenido o triplo
porque amo Dulce...
— Ser pai é isso, mas tudo bem. — abre a porta do quarto, e uma
Dulce em pé no berço começa a gritar ‘’papai’’.
Eu queria ter ensinado ‘’mamãe’’, mas não sabia se seria correto,
cuido dela, mas não sei se Alejandro estaria de acordo com isso então só
ensinei ‘’papai’’.
— Oh, deveria chamar ‘’mamãe’’ também. — Alejandro dá um
beijo no rosto de Dulce. — Ou ela não aprendeu?
Alejandro fica me encarando, esperando a minha resposta.
— Não ensinei. — encolho os ombros.
Ele abre a boca para falar algo, mas desiste.
— Darei banho e vou arruma-la, quer me ajudar? — por fim, faz
essa pergunta.
— Claro, até trocar fralda é melhor que encarar Brianna.
Mas eu não faço nada, Alejandro faz tudo e eu só fico admirando,
quase babando nele.
Sei que é obrigação de pai e blá blá blá, mas não nego que quase
suspiro por vê-lo cuidando de Dulce. Ele sempre cuidou, mas não na
minha frente, já que eu me recusava em ficar perto dele sozinha.
E agora aqui estou eu, encarando-o sem camisa.
Dulce o molhou por completo. Ele está trocando de camisa na
minha frente. Dulce está em meus braços e eu babo no seu pai.
Lindo, maravilhoso, eu faria qualquer coisa nesse exato
momento...
— Gostando do que vê? — seu sorriso malicioso me faz corar.
— Talvez.
— Se Dulce não estivesse em seus braços...
Poxa, Dulce!
Te odeio, Brianna!
Agora é essa cenoura siliconada que entra no quarto, sem ser
convidada, e tenta tirar Dulce dos meus braços.
— Olá, minha linda. — Brianna tenta pegar Dulce novamente e
me afasto dela. — Ela é minha filha!
— Que você abandonou! — Alejandro fala no meu lugar. — Juan
está passando por alguma crise existencial e quer te deixar sendo mãe,
mas eu, como pai, não deixarei que isso aconteça.
— Foi um erro, Alejandro! — grita e Dulce a encara, agora
prestando atenção no seu escândalo. — Eu já falei, estava mal e...
— Foi curtir sei lá onde e deixou Dulce para trás? Pior, deixou na
boate e se mandou, nem se preocupou se eu seria bom ou não.
— Você cuidou de Eric!
— Como irmão, não como pai!
— Não importa! Você é o pai de Dulce, deixei em um lugar
seguro...
— Enquanto foi curtir com algum cliente? Com um homem? Foi
foder por aí e deixou a filha para trás sem registro algum...
— Estou de volta!
— Onde estava?
— Não é da sua maldita conta!
— A minha filha não ficará com uma mulher que sumiu e do
nada retorna com as costas toda ferida, levou uma surra, ela pode correr
perigo e você quer ser mãe? Pelo amor de Deus, não faz qualquer
sentido!
— Eu quero ser mãe e não corro qualquer perigo!
— Então de onde são essas marcas?
— Sadomasoquismo extremo!
— E porque pediu ajuda de Juan?
— Porque o cliente era meio psicótico.
— Então quem ele era? Conte, Brianna, quem sabe assim eu
poderei ajudar.
— Ajudar? — ela ri. — Você terminará de me ferrar...
— Eu também posso te ferrar. — é a minha vez de falar. — Eu
posso ser até pior que qualquer homem que está aqui.
E como se eu tivesse contado uma piada, ela dá risada.
— Não estou brincando, Brianna! — falo alto. — Se existe
alguém te ameaçando, é um perigo para Dulce, e se é um perigo para
Dulce, eu vou protegê-la. E se não falar, farei da sua vida um inferno.
— Eu não tenho medo de vocês.
— Mas tem medo de quem lá fora? — Alejandro pergunta. — Eu
realmente não acho que foi ameaçada, acho que ganhará algo em troca de
Dulce, tem gente que gosta de crianças. — percebo que Brianna fica um
pouco tensa. — Não acredito que ame alguém, talvez ganhe algo com
isso. A oferta do cliente foi alta e você largou Dulce, se ferrou, mas será
que foi ameaçada ou ganhará uma recompensa?
— Nem uma coisa e nem outra, só quero minha filha.
— Eu não acredito em você. — ela olha pra mim. — E você
mexeu com a pessoa errada.
— Repito, eu não tenho medo de você e não me importo se é filha
de Juan!
— Se não se importa, é porque acredita que alguém com mais
força ajudará você. — agora ela encara Alejandro, que acabou de falar
isso.
— A lei.
— A lei nunca será maior que o cartel. — Alejandro se aproxima
de Brianna. — E pode acreditar, Brianna, seja lá o que lhe foi prometido,
essa pessoa não tem mais como te pagar por isso. Então é melhor
colaborar do que atrapalhar.
Ela pensa um pouco, sua mão está trêmula.
— Eu quero ser mãe, já disse.
— Ok, Brianna. — Alejandro se afasta. — A escolha foi
totalmente sua.
Capítulo 15
BRITTANY

Brianna sai do quarto, indo embora.


— Acha que surtiu algum efeito? — pergunto a Alejandro, que
fica parado na porta, se certificando que Brianna saiu.
— Tem algo mais nessa história, ela tem medo... Talvez tenha
sido ameaçada. Mas isso aqui não foi o suficiente para que ela ligue para
alguém pedindo socorro. — sussurra a última parte. — Gostei de ver
como foi firme na atitude.
— Sou firme em tudo.
— Menos para vir ao meu encontro.
— Eu vim! Demorei, mas aqui estou! Você que prometeu bastante
e não cumpriu. — de onde saiu isso?
— Foi você que falou para irmos devagar, ou se arrependeu
disso?
— Já fomos devagar. — encolho os ombros. — Pode acelerar um
pouco, mas não agora, tenho que cuidar de Dulce.
— Mas eu vou cuidar dela!
— Oh, não, já tem dias sem as crianças, chega! Vou levar Dulce
para casa e pegar Lucas, minhas crianças, necessito delas!
— Pode ter mais uma em breve.
— Você tem uma que vive participando dos nossos momentos. —
mostro Dulce. — Vai querer outra para chorar no seu ouvido?
— Gosto da parte onde diz que serei pai do seu filho.
Droga! Agora que percebei que fiz isso.
— Amo como ruboriza.
— Tchau, Alejandro!
— E olha que nem nos beijamos...
— A demora é sua!
— Pode me beijar também.
— Na minha fanfic é o homem que toma a iniciativa! Tchau!
Saio do quarto, ao mesmo tempo envergonhada por praticamente
dar a entender que teremos um filho, e ao mesmo tempo sorrindo porque
ele praticamente aceitou e nem nos beijamos!
Realize minha fanfic, Alejandro, me beije!
— Eu acho que Alejandro está passando pela crise da meia idade.
— lá vem a vadia! — Como ele pode querer você? Suas coxas são
enormes, tem celulite, o seu cabelo não é liso e nem loiro natural, é
maluca, deve ter um metro e meio...
— Ainda está aqui? — encaro Brianna. — E agora vai me atacar
para tentar ter Alejandro? Eu não brigo por homem...
— Sabe que perderá.
— Você é uma puta interesseira, Brianna. Foda-se se Alejandro
tem obrigação como pai, você abandonou sua filha, nunca tentou contato
para saber se essa menininha aqui. — mostro Dulce, que está brincando
com sua pelúcia. — Estava bem. Ela não te quer porque nem te conhece.
Nada do que você fala me abala, porque o que mais importa você não
tem, a atenção de Dulce. — a julgar por meu entendimento, baseado em
vídeos do YouTube, toda a leitura corporal de Brianna demonstra que ela
está nem aí. — Na verdade toda essa merda só me motiva nos meus
planos. Eu prometi a mim mesma que faria da sua estadia aqui a pior
possível e eu cumprirei.
— Eu não tenho medo de você. — ela me encara. — Nem um
pouquinho.
— E quem disse que eu quero que você tenha medo de mim? Eu
quero que você sofra nas minhas mãos, apenas isso. Não sei se sabe
sobre mim, Brianna, mas se sabe, eu sou pior do que te contaram. —
pisco um olho para ela. — E você saberá no que está se metendo.

Dia seguinte

Juan me deu a primeira aula de tiro. Gostaria que Brianna fosse o


meu alvo, mas ela estava sentada na cadeira, dando em cima de
Alejandro que estava mais interessado em Dulce e Lucas, que estão
brincando com os macacos de pelúcia.
Sim, Juan deu uma espécie de ‘’acesso livre’’ a Brianna e agora
sou obrigada a atura-la em todo canto.
— Você já pode atirar. — Juan tira a arma da minha mão. —
Agora só falta você atirar em um alvo em movimento.
— Eu posso arranjar isso. Coloque Brianna correndo e eu tento
atirar nela.
— Você sabe que não terá uma arma até que pare de querer atacar
Brianna dessa maneira. — começa a sussurrar. — É para dar medo e
fazer com que ela procure pelo mandante, não para terminar com nossa
principal pista.
— Sou como você, não reclame comigo.
Praguejando em espanhol, Juan vai na outra direção, guardar as
armas e os alvos improvisados.
Quando viro na outra direção, eu vejo Brianna tentando se
aproximar de Dulce, mas Alejandro entra com as crianças e a deixa
sozinha.
Lá vem a vadia, sorrindo na minha direção.
— Dulce sorriu para mim, a verdadeira mãe. — Brianna toca em
meu cabelo. — Você pode perder a maternidade.
— E você pode perder a vida. — retruco e bato na sua mão.
Tenho raiva e preciso fazer algo!
Entro na casa e procuro por Carlos. Ele tem que me ajudar nisso.
— Preciso falar com você. — encontro Carlos almoçando
sozinho.
— Algum problema?
— Na verdade é uma solução. Você foi chamado para cuidar dos
curativos de Brianna, certo?
— Sim. Sempre ajudei quando alguém estava ferido e não tinha
enfermeiros e médicos por perto. — para de mastigar e me encara. — O
que você quer com isso?
— Já cicatrizou?
— Não. Ela insiste em usar roupas apertadas e isso não ajuda em
nada.
— Ela quer tirar Dulce daqui, então vamos mais firme contra ela.
Ela não está arrependida, está tramando algo.
— O que você quer?
— Nada de mais, apenas fazer o curativo da minha maneira.
— Jogar álcool na ferida? — confirmo. — Eu avisarei para que
você esteja pronta.
— Muito obrigada, futuro cunhado.
— Nem vou te responder, Brittany.
Suspiro.
Eu sou romântica, não parece, mas sou. Eu sempre tive mania de
juntar as pessoas e formar casais. É bizarro e sem sentido, mas eu acabei
imaginando Jennifer com Carlos. Ela sofre nas mãos de Charlie, por isso
eu quero salvá-la. Seria tão lindo se ela viesse conosco e se apaixonasse
por Carlos. Ela estaria um pouco traumatizada e o cara malvado seria
doce com ela, assim eles se apaixonariam e seriam felizes.
Cara, isso tem que acontecer!
Precisamos salvar Jennifer e coloca-la com Carlos.
Suspiro.
É, eu sei, sou um ótimo cupido!

(...)
Carlos me avisa que já vai fazer o curativo em Brianna. Deixo
Dulce com Alejandro e dou a desculpa que tomarei banho, por isso saio
da casa dele, para ir onde moro com Juan.
Mas, ao invés disso, vou para a casa onde Brianna está e subo as
escadas, entro no quarto e olha ela ali!
Brianna está deitada de bruços e completamente nua. Ela só está
ferida nas costas, mas tem que mostrar a bunda seca para Carlos.
Carlos faz um sinal para eu me aproximar e me entrega o álcool.
Vai queimar e eu gosto disso. Brianna pensa que estou brincando,
mas não estou.
O que vou fazer é desnecessário? Não sei, mas eu quero fazer
isso. Ainda mais sabendo da ligação dela com Charlie.
— Vai queimar um pouquinho.
Quando Brianna percebe que estou aqui, jogo o álcool em suas
costas. Ela se debate e grita de dor.
— Sua vagabunda! — ela levanta da cama.
— Se aproxime de Dulce que eu faço pior. Brianna, eu não estou
brincando. Afaste-se dela!
Ela continua gritando e chorando de dor.
Agora eu espero que ela faça algo, que ligue para Cássia para
informar o que aconteceu e Cássia entre em contato com Charlie, que a
ideia de Juan faça algum sentido.
Que Charlie fique tão irritado a ponto de tentar fazer algo sem
pensar... E que esse ‘’algo’’ não envolva nenhuma pessoa que amo.
Capítulo 16
ALEJANDRO

— Acho que poderíamos dizer que você está verdadeiramente


apaixonado por Brittany. — escuto Carlos falando e viro em sua direção.
— Antes eu ainda pensei ‘’Não, depois desse jantar talvez ele desista de
Brittany’’, mas olha só, acho que se apaixonou mais ainda.
Entrego os brinquedos para Lucas e Dulce e sento ao lado do
cercadinho deles.
— O que poderia dizer? Os opostos se atraem. — encolho os
ombros. — Sei que minha fama não é uma das melhores, mas nada
diferente do que já fizeram. Ficar com todas? Orgia? Quem não fez isso
nesse lugar?
— É estranho por ser Brittany, sabe o que quero dizer.
— Entendo que é como um filho para Juan, provavelmente você e
Brittany tem um sentimento de irmãos....
— Nem comece! — levanta as duas mãos, para que eu não fale
mais nada. — Completamente diferente. Brittany é irritante, um porre!
Por isso que acho estranho você ter se apaixonado por ela. Ou vai dizer
que já conheceu uma mulher como Brittany?
Sorrindo, começo a pensar no que ele falou.
Brittany é a mulher, melhor dizendo, a pessoa mais diferente que
já conheci na vida. Apesar de sermos opostos, não é aquela diferença que
me faz odiar e depois gostar dela, porque sempre gostei do seu jeito,
melhor dizendo, sempre quis conhecer o seu verdadeiro jeito.
Brittany é engraçada, um tanto louca, destemida, autêntica,
briguenta, ama provocar, é leal... Tudo aquilo que nunca encontrei antes.
Como já havia notado, todas as mulheres que conheci seguiam aquele
padrão mais desinibido, no entanto, ainda contido. Desinibidas em
questão de intimidades, mas contidas em relação a mostrar quem eram,
como se fosse para me conquistar.
Já Brittany ficou contida com vergonha, por medo que eu não a
quisesse conhecê-la de verdade.
— Nunca conheci alguém como Brittany. — respondo o
questionamento de Carlos. — E ela só irrita três pessoas, Christopher,
Juan e você.
— Não sei de onde ela tirou que eu ficarei com a filha de Juan.
— Entendo seu drama, Carlos. Tem medo que ela fale demais e
chegue aos ouvidos de Juan, você sabe como é quando se trata de genros.
— Deus que me livre aceitar ser genro de Juan. — dá risada. —
Jennifer pode ser a melhor mulher da face da terra, mas Juan vem junto...
— Medo dele partir você ao meio?
— Não corro esse risco, Alejandro, ficarei bem longe dessa
moça...
— Será, Carlos? — arqueio uma sobrancelha para ele. — Vale
lembrar que você é a pessoa de confiança de Juan, se Jennifer precisar de
ajuda, é você que fará isso. Ou vai negar esse pedido com medo da
profecia de Brittany se concretizar?
— Eu acho que é você quem precisa se preocupar com essas
coisas, Alejandro, não sei se notou, mas Juan está aqui novamente, ou
seja, sua surra ocorrerá em breve.
— Eu acertarei alguns socos também.
Tudo pelo ego de Juan.
Eu tinha que me interessar pela filha dele?
— Se Juan tivesse uma mente psicótica, ele seria aquele vilão
megalomaníaco. — olho para Carlos. — Porque tudo isso é por ego.
— E se não quero uma guerra com ele, preciso acertar alguns
socos nele e ainda deixar que ele me acerte. — respiro fundo. — E ele
ainda diz que está mudando.
A campainha tocando me interrompe. Torço para não ser Brianna.
Juan criou esse plano, onde Brianna pode circular mais pelo local,
em compensação, eu preciso atura-la mais perto da minha filha.
Vou até a porta e abro.
Juan!
— Parece muito contente em me ver. — sorri. — E então, será
que agora podemos ter uma conversa?
Abro mais a porta e peço para que ele entre. Vai até Carlos e o
cumprimenta.
— Depois falaremos sobre essa sua amizade com minha filha.
— Amizade? — Carlos quase dá risada ao escutar isso indo de
Juan. — Eu não chamaria assim.
— Você ajudou Brittany com o plano dela, eu chamo de amizade.
— Eu não gosto de Brianna, aliás, ninguém gosta, ajudei por isso.
— Por que odeia Brittany?
— Ela tem umas ideias doidas, Juan. Sabe como ela ama
perturbar as pessoas, então é isso. Só Alejandro gosta dela, ah, as
mulheres, Vicent e Eric, obviamente.
Pronto, agora Juan olha para mim.
Carlos não quer ser colocado como um possível genro de Juan,
essa história não tem qualquer sentido, fica claro que Brittany só
inventou para irritar Carlos, no entanto, ele corre desse assunto só para
não ter que enfrentar os dramas de Juan.
— Até por isso eu preciso ir. — Carlos fala rapidamente. —
Deixarei vocês a sós.
Carlos passa por mim e vai embora.
— O que Brittany fala tanto para esse homem para ele quase
correr? — Juan pergunta.
— Não tenho ideia. — mas como sou um bom amigo, não
respondo o motivo... Uma história criada por Brittany para irritar Carlos
e ele acredita que isso vai irritar Juan... E do jeito que Juan é, talvez ele
fique com raiva. — E então?
Juan vai até o cercadinho e olha as crianças, que estão brincando
com alguns objetos que fazem barulho.
— Resolveu ser pai de dois agora? — Juan pergunta.
— Brittany pediu para ficar de olho neles e sumiu.
— Foi torturar Brianna. Acho que ela não entendeu o nível de
calma que foi pedido.
— Vai dizer que não gostou?
Sorrindo de lado, Juan não responde a pergunta.
— Sabe, Alejandro, como eu te falei, em algum momento todos
os homens dessa família vão me agradecer por minhas ideias que vocês
julgam como ‘’massagear o ego do Juan’’. Está vendo esses dois? —
aponta para Dulce e Lucas, os dois juntos, chacoalhando esses
brinquedos barulhentos e apertando o outro que faz som de bichos, rindo
juntos. — Você fará isso com Lucas.
Criar histórias é coisa de família, mas se eu falar que Brittany é
como Juan, ela vai me odiar.
E aí que tá, reclamo de Juan e me apaixono pela filha que é super
parecida com ele.
Vai entender...
— Quando Brittany falou dos bebês juntos você odiou e a
chamou de louca. — relembro.
— Brittany é louca, sabemos disso.
— Você concordou com ela sobre os bebês.
— Eu não vim falar sobre uma suposta semelhança comigo e com
ela, Alejandro. — e assim como a filha, ele também não aceita tal
semelhança. — Vim falar sobre suas intenções com ela. Foda-se a parte
que ela fala que tem vinte e sete anos e blá blá blá. Eu fui seu parceiro de
negócios, seu chefe e espero que amigo. Então, Alejandro, eu te conheço
e preciso saber das suas intenções com minha filha. Sem ameaças, apesar
de lutarmos daqui a pouco...
— Daqui a pouco?
— Sim, daqui a pouco. Então preciso saber, quais suas intenções
com Brittany?
— Falar que são as melhores possíveis soará muito clichê, mas é
isso mesmo. E devo acrescentar, eu não seria louco de fazer qualquer
coisa de ruim com sua filha. Se não acredita em mim, pelo menos
acredite na parte onde todos temem a você.
Apesar de todo o drama feito, quando Juan está no modo ‘’chefe
de cartel’’, ele é muito temido.
Por isso todo mundo está estranhando seu novo estilo.
O antigo Juan já teria feito Brianna falar tudo, ela estaria
definhando a uma hora dessas.
— Não é algo que gostaria para minha filha, e nem falo sobre
você, falo no geral, como Christopher, por exemplo. E como eu também.
Elas viveram tantas merdas que penso como elas foram parar com
homens iguais a vocês, ao mesmo tempo que olho para Whitney e
imagino a mesma coisa com ela. Apesar de sermos assim, nem todo pai,
irmão, avô, tio e qualquer homem de família desse cartel, não quer que a
garota da família se envolva com alguém do nosso meio. É algo como
‘’faça o que digo, mas não faça o que eu faço’’.
Sorrio para ele, porque entendo bem o que ele quer dizer.
Agora que sou pai eu não gostaria que Dulce tivesse algo com um
homem como eu. Apesar de todo o caráter, temos o nosso ‘’trabalho’’,
algo ilícito, por menos perigoso que seja, ainda assim, é ilegal.
Será que se Dulce aparecesse com um homem como eu, eu
acharia isso bom?
E por que não saio desse negócio? Porque sou assim. Caráter
para algumas coisas e sem caráter para outras.
— Apesar de todo esse meu ‘’temor’’, chamaremos assim, eu sei
que deve sentir algo verdadeiro por minha filha. É mais o meu medo dela
cair em algo ruim, do que realmente saber que ela vai cair. Compreende?
— Brittany passou por muita coisa difícil, e até hoje é perseguida
por se defender. O seu medo é que esse relacionamento seja ruim e ela
tenha mais algo ruim na vida. Talvez acredite que ela não terá, mas o
medo ainda está aí.
— Sim, isso mesmo. — confirma. — E por mais que realmente
seja meu ego, também é uma maneira de falar ‘’Eu posso ter saído do
cartel, mas ainda tenho todo um legado e parceiros, se realmente quiser
algo com minha filha, me enfrente, e também saiba que se vacilar, no
futuro eu ainda te matarei’’. Eu acredito em você, mas todo o passado...
— não termina de falar. — O problema está em mim. E devo dizer
também, você é melhor que eu e não fale isso para mais ninguém. — fala
tão rapidamente que quase dou risada. — Você aceitou um bebê sem
pensar duas vezes, enquanto eu optei pela facilidade e deixei minhas
filhas irem. Eu sei que será ótimo para Brittany, na verdade ela que é
muita areia para seu caminhãozinho.
— Concordo com isso.
— Sei que não importa, Brittany nunca me obedeceria mesmo.
Mas tem minha bênção. — estende a mão e eu aperto. — Mesmo assim
eu lutarei com você. — solta a minha mão. — Daqui a meia hora, nos
fundos da minha casa!
Deus, por que a filha de Juan?
Mas é Brittany, então, passarei por essa idiotice por ela.
Capítulo 17
BRITTANY

— Você jogou álcool na ferida de Brianna? — Camille fica com


os olhos arregalados quando confirmo. — E o que ela fez depois?
— Gritou, esperneou, chorou e foi correndo me dedurar para
Juan. — sorrio. — Dane-se, estou nem aí! Farei novamente, se for
necessário.
— Eu sempre disse que não devem mexer com Brittany. — Jess
senta ao meu lado. — Mas e então, acha que isso ajudará em algo? Eu
ainda não sei se faz um grande sentido.
— Segundo Juan, se ele atacar Brianna, Charlie pode não se
importar, mas se eu atacar, aí sim ele pode ficar irritado e fazer algo.
— Mas por que ele te odeia? — Camille questiona. — Por ter
fugido dele?
— Provavelmente. — respondo. — Juan acredita que ataca-lo me
usando pode ser melhor. Antes eu ainda tinha alguma dúvida se Brianna
realmente estava com ele, mas se ela tem ligação com essa Cássia,
obviamente ela tem ligação com Charlie.
— Eu achava Cássia estranha, mas não a esse ponto. Ao mesmo
tempo que ela parecia que ia me proteger, ela parecia que me queria
naquela prostituição forçada. Porém, pensar que ela realmente participa
disso...
— Juan acredita que ambas podem ter sido ameaçadas, Cássia e
Brianna. Porém, não sei qual o nível de ameaça que Brianna pode ter
sofrido para que ela coloque um bebê, a própria filha na história. — olho
para Dulce, que está dormindo. Acabei de pega-la na casa de Alejandro,
junto com Lucas. — Algo não se encaixa, tem que ter um grande motivo.
Não é por odiá-la, mas, pelo menos se tratando de Brianna, não consigo
acreditar que ela sofra uma grande ameaça.
— Por causa do bronzeado, cabelo hiper hidratado e essas coisas?
— Jess pergunta.
— Sim, é como se ela tivesse vivido muito bem, aí algo desandou
e ela apanhou. Ela disse que foi um cliente que exagerou no
sadomasoquismo, mas se ela está aqui era só falar a verdade, cara, ela
estaria protegida.
— Mas se for uma ameaça mesmo, a outra pessoa está sem
proteção. — Camille supõe.
— Sim, pode ser, mas... — eu sei que não faz um grande sentido.
— Sei que sou conhecida por inventar histórias e acreditar que elas farão
algum sentido. No entanto, algo me diz que tem alguma coisa maior, algo
que Brianna está sendo ameaçada. Não é alguém que sofre e sim ela que
sofre, e talvez sofrerá mais desse lado se descobrirem.
— Espera, você acha que ela pode ter sido como Sofia? —
Jessica pergunta.
— Talvez. — respondo. — É algo que pensei. Eu não acredito
que Brianna tenha algum nível de inocência, posso estar hiper enganada,
mas essa mulher esconde algo.

(...)
— Então, acham que estou sendo louca de pensar algo assim? —
pergunto e recebo a troca de olhares de Eric e Vicent. — Ok, me acham
louca! Eu quis falar com Alejandro, mas não sei onde ele está, talvez
esteja trabalhando ou sei lá.
— Está em reunião. — Eric responde. — Mas vamos falar de
Brianna. Você acha que Brianna pode ter rabo preso com Charlie e está
sendo ameaçada?
— Os parentes de Cássia desapareceram, certo? — Eric confirma.
— Então eles podem estar sendo ameaçados e Cássia está nessa para
salva-los. Mas Brianna? Como os parentes dela estão?
— Bem. — Eric responde. — Mas pode ser uma ameaça distante,
Britt. Temos que lembrar que na época de Camille, Henry ainda estava
livre, os negócios iam bem, eles teriam gente suficiente para sequestrar a
família toda de Cássia, caso fosse necessário. Mas quando Brianna
surgiu, Henry já estava preso e os negócios estava em declínio.
— E como Charlie teria acesso a Brianna? — questiono. —
Como ele conseguiu tira-la do bem e bom e trouxe nessa loucura? Eles já
estavam juntos!
— Tem sentido. — Vicent concorda comigo.
— Tem, mas ao mesmo tempo não tem. — Eric fala.
— Eles não teriam dinheiro para sequestrar a família dela, mas
tem para manter pessoas vigiando a casa? — cruzo meus braços e encaro
Eric. — Fiquei pensando nisso antes de ataca-la, e só isso faz algum
sentido. Brianna já estava com Charlie e Henry. Se Cássia e Franklin
estavam nessa, por que Brianna não estaria? Talvez por isso ela deixou
Dulce para trás, não poderia levar um bebê para aquele lugar, sabemos o
que fazem com crianças. Mas agora ela está sendo ameaçada, repito, ela
está sendo ameaçada, então prefere entrar no jogo do que correr o risco
de Juan descobrir.
— Descobrir que ela faz parte dos negócios de Henry e Charlie?
— Eric pergunta calmamente, ainda sem crer na minha teoria.
— Faz algum sentindo sim! — falo um pouco alto, mas depois
falo baixo. — O problema é que já inventei mil e uma histórias, já
fanfiquei horrores, e como odeio Brianna, todo mundo vai achar que é
cisma, e não me darão ouvidos!
Como foi no passado.
— É que sei lá... — Eric coça a nuca. — Não é que não faz
sentido, Britt, faz e não faz.
— Eu acredito em sua teoria. — Vicent aperta meu ombro. — E
se precisar de ajuda, estarei aqui.
Aperto sua mão.
— Mas acredita por fazer sentido ou só por amizade?
— Faz sentido e não faz, então prefiro acreditar por nossa
amizade. E se precisar de ajuda, estarei aqui para te ajudar a descobrir.

(...)

Após toda a conversa com Vicent e Eric, finalmente sou


informada do paradeiro de Alejandro: Se preparando para a luta com
Juan!
— Apareceu a margarida. — fico ao lado de Christopher. —
Quanto tempo, Christopher.
— Eu não poderia perder o segundo genro passando por essa luta
com Juan. Eu abri a tradição, precisava ver como segundo vai sair.
— Melhor que você, eu aposto. — provoco. — Você apanhou
mais do que bateu.
— Eu tinha brigado com Matt antes daquela luta e estava
fragilizado pela maneira que fui tratado pela Jess, fui em completa
desvantagem.
— Apanhou de todos, Christopher. — Matt se aproxima. —
Alejandro sairá melhor, com toda a certeza.
— Veremos, mas, de qualquer maneira, fico feliz em ter aberto
essa tradição.
— E espero que torçam por mim. — Juan se aproxima.
— Sabe bem por quem estou torcendo...
— Brittany, eu não falarei com você.
— Já está falando, Juanito.
— Então, homens, prontos para ver a luta? — me ignora por
completo. — Me preparei bastante.
— Espero que acabe com ele. — Christopher sorri na minha
direção.
— Ah, não, esse não é o plano. — Juan interrompe Christopher,
que agora parece não entender. — Alejandro é um bom homem, gosta
muito da minha filha e a trata muito bem. Essa luta é algo normal, nada a
ver com nossa briga antiga, Christopher. Você mereceu apanhar,
Alejandro não.
— Toma, otário! — grito.
— Como é? — Christopher pergunta.
— É uma luta simbólica, pela honra e coração da minha filha, a
primogênita. — reviro os olhos para essa idiotice. — Não porque um
babaca magoou minha filha caçula, como foi o seu caso.
— É, Christopher, eu avisei que você sempre seria a chacota. —
Matt murmura.
— Eu lutei bravamente contra o senhor.
— Ele te chama de ‘’senhor’’?
— Sim, Brittany, hierarquia. — drama queen. — Depois da
merda feita com Jessica, sim, deveria lutar bravamente mesmo. Mas aqui
é tudo por uma simples questão de honra. — olha para mim. — Nem vou
aleijar seu amor.
— Nem é louco de fazer isso.
— Não duvide disso, posso até matar se quiser.
— Quer que eu passe o resto da minha vida na sua casa? Porque
se fizer algo ruim...
— Não, Brittany, não farei nada contra Alejandro.
— Claramente a filha preferida. — Christopher resmunga ao meu
lado.
— Eu amo minhas filhas igualmente, mas os genros? — eu amo
que Juan também irrita Christopher. — Alejandro é melhor.
— Eu te dei negócios!
— Alejandro não me deu desgosto.
Eu sei que Christopher jogaria na cara o abandono paterno, mas
ele apenas se cala e engole a raiva.
— Ok, garotos, se preparem parar ver uma boa luta. — e assim,
abrindo os braços como um vencedor, Juan se afasta.
— Eu sei o que falaria, Christopher. — ele olha para mim. —
Juan fala essas merdas sendo que não foi um pai. — concorda comigo.
— Juan é dramático, não ligue tanto para ele, você é um bom pai e
marido.
— Você é uma irmã muito boa só falta um detalhe...
— Falarei com Jessica em breve. — sei que está se referindo ao
passado que escondi dela.
— Viu só, podemos ser cordiais um com o outro, não precisa ser
uma insuportável e mal-educada...
— Vá a merda!
— Não conseguem passar de três linhas sem brigar. — Matt
balança a cabeça de um lado para o outro. — Ainda bem que Camille não
é uma Herrera.
— Espero que tenha um filho com Camille, e que Brittany ou
Jessica tenha uma filha, porque aí seu filho lutará comigo ou com
Alejandro...
— Deus, virou Brittany e criou uma fanfic com uma pessoa
inexistente?
— Seu filho terá algo com uma Herrera, Matt. — continuo a
provocação. — Ou com um Herrera, vai que ele seja gay, bi ou qualquer
outra sigla que goste de homem? — revira os olhos. — Terá um Herrera,
e quando eu falo, isso acontece. — sorrio. — Pronto, te irritei. Agora
verei a luta.
Capítulo 18
BRITTANY

Olho para o lado e a primeira pessoa que vejo é Brianna.


— Calma, Brittany, não se esqueça, precisar ter algum nível de
paciência. — Carlos aperta meus ombros. — Brianna precisa dizer que
está circulando, porém, você precisa ser o pesadelo dela...
— Para que ela fale com Cássia e ela passe a informação para
Charlie, é, eu sei, mas odeio ver a cara dessa mulher. — ela me encara e
acena um ‘’tchau’’ na minha direção. Viro-me para Carlos. — Acha que
Brianna está bem ou finge?
— Acho que finge, não sei a informação que ela tem sobre você,
mas é filha de Juan, ela pode começar a temer.
— Isso tem que fazer algum sentido. — respiro fundo. — Onde
Alejandro está?
— Lá nos fundos, se preparando para a luta.
— Para essa idiotice, isso sim.
— Será que já posso vê-lo?
— Não o viu?
— Não, falaram que ele estava bem ocupado, ou será que é
melhor eu não ir para não distrai-lo?
— Vem, eu entro e perguntarei a Alejandro se você pode entrar.
Acompanho Carlos até o local que Alejandro está, ele entra e em
seguida dois homens saem, demora alguns segundos e Carlos volta,
avisando que já posso vê-lo.
Entro no local sozinha, porque Carlos também saiu, e encontro
Alejandro sem camisa.
Perfeito!
— Juan não perdeu tempo mesmo. — faço a observação. — Mal
chegou e já marcou a luta.
— Primeiro disse que seria meia hora, depois disse que seria
bonzinho, me deu quarenta minutos para a preparação.
— E está bem?
— Juan não vai me matar e nem me espancar, não fiz nada de
ruim. É tudo por ego, como sempre.
Gostaria de falar que Juan confirmou isso, que não vai espancar
Alejandro, mas vai que é mentira? Vai que eu fale isso, Alejandro abaixa
a guarda e Juan ataca?
— Então não vai bater tanto nele? — indago.
— Não e espero que ele também não bata tanto em mim. Mas
qual o seu desejo? Quer que eu bata ou não em Juan?
— Acho que nenhum dos dois merecem levar qualquer soco, mas
segundo Juan é por minha honra.
— Ele disse que em breve falaremos do dote.
— Oi? Ele ainda está nessa?
— Christopher virou parâmetro agora, se ele deu negócios ao
sogro, também preciso dar.
— Não mesmo! Conversarei com Juan sobre esse assunto, já está
bem ridículo...
— Brittany, seu pai é um chefe de cartel! Ele é criminoso,
corrupto, prepotente, ganancioso e tantas outras coisas, seria estranho se
ele não pedisse nada em troca do casamento.
— Então não vê problemas nessa idiotice?
— É o que esperamos, existem tradições dentro do cartel, não
seguimos as normas da civilização, como já percebeu. Seguimos nossas
próprias regras, pode soar absurdo, mas é o que esperamos. — estica a
mão e aperto. — A única parte chata disso tudo é que fui me interessar
justamente pela filha do chefe, ou seja, ele enfia uma nova tradição do
nada e temos que respeitar.
— Pior parte de se relacionar com uma Herrera é aturar Juan.
Será que se eu tivesse vivido com ele, estaríamos nessa situação? — mas
já sei a resposta. — Não, porque Jessica não conheceria Christopher,
mas eu te conheceria... — penso um pouco. — Ou não?
— Sabendo que Juan deixou você com Carmen por proteção, para
não ter contato com o cartel, membros e os inimigos, creio que não, não
nos conheceríamos. Juan nunca deixaria você perto dos homens do cartel,
menos ainda de um cafetão. Falamos sobre isso hoje. Juan e eu nos
conhecemos, por isso ele tem dúvidas sobre minhas intenções com você,
ao mesmo tempo que acredita no meu caráter. Olhei para Dulce e entendi
o ponto de Juan, eu não gostaria que ela ficasse com um homem como
eu.
— Oh, querido, sinto lhe informar, mas se for passado de pai para
filho, você terá esse problema, afinal, Lucas poderá assumir o lugar de
Christopher.
— Deus do céu. — revira os olhos. — Juan também juntou os
dois bebês, ainda dizem que não são parecidos.
— Eu vim te desejar boa sorte, Alejandro! Então não mude meu
bom humor.
— Sabe o que me fará ter boa sorte mesmo?
— O que?
Como ainda estamos de mãos dadas, Alejandro me puxa contra
seu corpo. Suspiro com a surpresa, já imaginando se é isso mesmo que
estou pensando... E é!
Alejandro beija a minha boca.
Pela primeira vez, depois de mais de uma década, alguém me
beija e eu gosto!
E é o Alejandro.
Ele tem gosto de menta.
Alejandro é todo forte, o corpo duro, firme dos músculos, mas,
ainda assim, é bom de abraçar. Suas mãos passam pelo meu corpo, eu sou
um pouco mais tímida e fico apenas com a mão nas suas costas e outra na
sua nuca. Já que ele abaixa muito para poder me beijar, ficar na minha
altura.
Seu beijo é intenso, é maravilhoso... É perfeito como imaginei.
Não sei se faço certo, porque a única vez que beijei foi perdendo
o BV, então não tenho qualquer nível de experiência, diferente de
Alejandro.
Mas é tão bom beija-lo, e ele não se afasta, então acho que estou
fazendo o correto.
Esse aqui não é um selinho. Não, um homem desse tamanho não
se contentaria apenas com um selinho.
E ainda bem por isso.
Eu tiraria a minha roupa nesse momento.
É isso, não sou nenhuma puritana, ainda mais com esse homão a
minha frente.
Mas somos interrompidos quando dão um soco forte na porta e
um homem fala do outro lado, sem abrir, que em poucos minutos a luta
começará.
Olhamos um para o outro, quase sem fôlego.
Alejandro sorri e acaricia minha bochecha.
— Tomei a iniciativa. — não sei o que responder, pois ainda
estou atônita depois do nosso beijo. — Agora eu preciso ir para a luta, e
obrigado pelo incentivo e pelo desejo de boa sorte.
— Não imaginei que meu beijo seria sua boa sorte. — falo
baixinho, ainda tentando voltar ao normal. — Mas espero que tenha
passado para você.
— Passou, e mais tarde teremos a comemoração pela minha
vitória ou empate, sei lá o que Juan quer. Mas sei o que quero. — pisca
um olho. — Agora eu preciso ir.
E como uma adolescente, aos vinte e sete anos, eu toco meus
lábios após a saída de Alejandro. Sentindo formigando, como se ele
ainda estivesse me beijando.
Suspiro e sorrio no mesmo instante.
Ah, Alejandro, estou cada vez mais apaixonada por você!
Saio do local e ando em direção a luta, onde começará as
apresentações de quem é cada um. Fico ao lado de Jessica.
— Eu ainda não sei se dou risada ou reclamo sobre como isso é
estupidamente idiota. — Jessica murmura ao meu lado. — Mas se for
melhorar seu humor, estão apostando quantos socos cada um levará, não
sobre quem vencerá ou quem perderá. — me olha mais atentamente. —
Falei de melhorar seu humor, mas reparando bem, você parece ótima.
— Beijei Alejandro, quer dizer, ele me beijou. — prendo meu riso
e Jessica aperta minhas mãos.
—Finalmente! — bate palmas, sem que o som saia. — Deus!
Como foi?
— Foi maravilhoso, Jess! Ainda sinto como se ele estivesse aqui,
me beijando... Pareço meio carente, eu sei.
— Carente nada, apaixonada!
— Por que estão tão felizes? — Vicent, Carmen, Whitney,
Christian e Camille se aproximam. — Não, deixe-me adivinhar, Britt e
Alejandro se beijaram.
— Isso mesmo. — confirmo.
— Se tio Juan souber disso, ele bate em Alejandro pra valer. —
olho para Christian. — Porque ele falou que Alejandro nunca te
desrespeitou.
— Beijar não é desrespeito. — Whitney fala. — Quer dizer, se a
outra pessoa quiser, como é o caso da Brittany, ela quis beijar Alejandro.
— Segundo tio Juan falou, se não tem beijo, não tem desrespeito.
Mas se tem beijo, tem desrespeito as regras.
— Whit, acho que Christian está andando muito com Juan. —
faço a observação. — E é incrível como Juan fala da minha vida pra todo
mundo!
— Ele estava me ensinando como devo proteger uma mulher da
família, porque sou da família agora. — Christian sorri. — Ele disse que
sou o filho mais novo dele, Carlos é o mais velho e vocês, meninas, serão
protegidas por mim.
O sorriso de Christian tem tanta esperança, orgulho e felicidade,
que nem implico com as idiotices de ‘’macho alfa’’ de Juan. Apenas
bagunço o seu cabelo e digo que Christian será melhor que Juan e mais
simpático que Carlos.
— Ok, mas voltando ao assunto do beijo. — Carmen pigarreia,
para chamar a atenção. — Vocês me devem cem, cada um! Eu disse que
você beijaria Alejandro ainda essa semana, essa galera te acha lenta e
disse que seria semana que vem e olhe lá.
— ‘’Semana que vem e olhe lá’’? — cruzo meus braços. — Eu
não sou tão lenta!
— Foi Alejandro que tomou a iniciativa. — Jess faz a fofoca.
— Jess...
— Então acho que Carmen só leva cinquenta, afinal, não foi Britt
que beijou, Alejandro começou. — Whitney me interrompe.
— Whitney, até você? — estou indignada.
— Sabe como é, Britt, perturbou a vida de todos, chegou a nossa
hora. — Vicent aperta a minha bochecha. — Você sabe, brincadeiras
bobas e leves.
— Não é justo! Estou sozinha para encher o saco de todo mundo,
enquanto eu tenho todos para me irritarem. Nem Oliver está aqui para
irritar Carmen.
— Graças a Deus e espero que Oliver não volte.
— Vai dizer que está chateada, Britt? — Camille arqueia uma
sobrancelha para mim.
— Não. — dou risada. — Apenas surpresa como vocês realmente
querem me irritar de alguma manheira, mas não conseguirão!
— Se o beijo aconteceu. — lá vem a Carmen. — Agora pode ser
a vez do sexo. Já comprou lingeries apropriadas, Brittany?
Pronto, agora me afasto desse povo e ando pra frente, porque a
luta já vai começar.
Fico ao lado de Christopher, que está indeciso se quer que o
segundo genro apanhe mais que ele ou se quer que Juan apanhe mais...
Estou torcendo para Alejandro, obviamente.
A luta começa.
Se dependesse de mim nada disso estaria acontecendo, mas já que
está acontecendo por puro ego de Juan... Não sei se estou errada... Mas
grito por Alejandro.
Não sei como Juan consegue identificar minha voz no meio dessa
gritaria, mas ele olha na minha direção com raiva, no momento exato que
ele faz isso Alejandro acerta um soco em Juan.
Coloco a mão na boca. Até que fiquei com dó de Juan, mas
depois passa porque ele já parte para cima de Alejandro.
Eu nem sei mais o que acontece, é um socando a cara do outro,
gritaria a favor de um, depois a favor de outro. Ficam na minha frente,
tento pegar meu lugar de volta...
Um caos!
Um caos por puro ego!
E ninguém venceu!
Os dois estão com a cara ensanguentada, quase morrendo, sem
fôlego, e a luta acaba com Juan dizendo que Alejandro tem a bênção
dele.
— Uma imbecilidade! — rosno, porque as pessoas me encaram,
já que Juan fez o favor de apontar na minha direção.
Cruzo meus braços e encaro os dois.
Os dois estão sorrindo cordialmente um para o outro enquanto
Juan fala que será uma honra ter Alejandro na família e blá blá blá.
— Pelo menos Alejandro não apanhou tanto. — Vicent aperta
meus ombros. — E acho que hoje ele ainda conseguirá fazer algo com
você.
— Ainda surpresa com tamanha violência para nada.
— Para nada? — Vicent coloca a mão no peito. — O cara lutou
com o sogro por você...
— Isso não é romântico!
— Mas é tipo ‘’ele lutou com o chefe do cartel para ficar
comigo’’. Fala sério, Brittany, tu já leu tanto livro assim e está irritada
que isso está acontecendo com você?
— Não estou irritada, apenas envergonhada com essa luta por
minha honra. Todo mundo me encara como se fosse uma grande coisa.
— Você é uma grande coisa. — Jess aperta meu rosto. — Você
está irritada porque Juan está bancando o pai protetor. — solta meu rosto.
— E realmente ele passa dos limites, mas o que podemos fazer? O cara
manda em um cartel de drogas. — sussurra. — Meio difícil pedir
sensatez dele.
E ela tem razão, o motivo da minha irritação repentina é esse
pensamento que Juan força essa coisa de ‘’pai protetor’’. Ao mesmo
tempo que já falaram que é coisa de chefe de cartel querendo mostrar
quem manda...
— Comemorar? — agora saio dos meus pensamentos e presto
atenção em Christopher, que resmunga. — Na minha época ninguém
comemorou nada!
— Comemorar o que? — Jess pergunta.
— Juan acabou de falar que não comemorar a entrada de
Alejandro na família. — ele responde. — Sendo que na minha vez ele
tomou meus negócios.
— Você deu os negócios para comprar a simpatia de Juan. —
Vicent corrige Christopher.
— E nem tinha como comemorar, não estávamos juntos. — Jess
sorri. — Demorou para que conseguisse meu perdão.
— Aceite que Alejandro é o melhor genro, Christopher. — é a
minha vez. — Você abriu a tradição da briga, mas não é o favorito.
— Foda-se, não me importo com Juan, sou casado com a filha
dele.
— E perdeu alguns negócios para o sogrão. — provoco.
Agora Christopher rosna e continua indignado com esses parentes
que a esposa tem.
Não vou até Alejandro porque ele está cercado pelo povo do
cartel, Juan está exibindo o genro e se eu me aproximar, pronto, virarei o
assunto da rodinha.
— Brianna não estava aqui? — pergunto a Vicent.
Ele olha ao redor, procurando por ela.
— Dulce está com a mãe de Matt, certo? — Vicent pergunta e eu
confirmo, mesmo assim resolvemos ir até a casa onde a mãe de Matt
está.
Nada de Brianna.
Encontramos dois seguranças na rua e perguntamos por Brianna,
eles informam que ela voltou para casa e está no quarto.
— E aí, deixa pra lá ou fará algo? — Vicent pergunta. — Você
ainda tem aquela suspeita, tentará algo para descobrir ou seguirá o plano
de Juan de só irritar Brianna e pronto?
Penso na pergunta de Vicent.
Joguei álcool na ferida dela, bem extremo, mesmo assim acho que
não foi o suficiente para que ela procure por Cássia novamente, mas se
eu começar a indagar, talvez Brianna fique com medo e procure por
ajuda.
— Vamos até Brianna. — respondo. — Terei uma conversinha
com ela.
Capítulo 19
BRITTANY

Entro na casa onde Brianna está e sou informada pelo segurança


que ela está no quarto. Caminho cuidadosamente até lá, tentando não
fazer qualquer barulho, para ver se ela está fazendo ou falando algo, mas
está tudo silencioso. Bato na porta do seu quarto e ela manda entrar.
Assim que abro a porta ela arregala os olhos.
— O que faz aqui? — pergunta. — Não vai cuidar ou comemorar
com seu homem? — bufa. — Ou ele tem mulheres melhores para isso?
Conheço Alejandro, sei do que ele gosta...
— Eu já disse que não brigo por homem. — interrompo. — Só
quero saber sobre Dulce, o que você quer com ela.
— Acho que já disse que ela é minha filha. Que quero meus
direitos...
— O que te fez sumir e deixar a sua filha para trás? — encosto-
me na parede e Vicent fica na porta, do lado de dentro do quarto. —
Resolveu tirar umas férias da maternidade recém estabelecida? Como foi
criar Dulce por alguns meses? Algumas pessoas dizem que o bebê
consegue reconhecer as pessoas, mas é como se Dulce nunca tivesse te
visto, então, Brianna, como foi a sua vida?
— Acho que não te devo satisfação, Brittany. — ela permanece
com os olhos nos meus, não desvia em nenhum momento. — Não tenho
motivos para me justificar com você.
— Será que não tem? Caso queira a guarda, tenha certeza que vou
pontuar tudo isso, melhor dizendo, o advogado fará isso.
— Que advogado? — ela ri. — Primeiro que Alejandro terá que
se explicar sobre a ilegalidade dele...
— O que não faz sentido. — interrompo mais uma vez. — Está
cercada de gente perigosa, mesmo assim você fala sobre falar dos crimes
de Alejandro. Ou tem peixe grande por trás das suas ações, ou você fez
algo de tão ruim que é melhor ficar contra essa galera aqui do que ser a
favor deles.
— Que? — ela desvia o olhar do meu. — Não faz sentido algum.
— Você não cuidou de Dulce em momento algum, com quem ela
ficou? Por que ela só foi entregue a Alejandro quando ele estava aqui
conosco? Por que você só retornou quando todo mundo já estava junto?
E por que permaneceu com os olhos nos meus e só desviou quando citei
que fez algo de ruim e é melhor ficar contra o cartel que a favor dele? —
ela levanta da cama e fica de costas pra mim. — Será que você sempre
teve contato com Charlie? — ela dá um riso nervoso, que, com certeza,
era para ser de deboche. — Seus negócios com ele são antigos, você
engravidou de Alejandro, talvez nem soubesse dessa inimizade de Henry
e Charlie com o cartel, deixou a filha de lado, mas Charlie precisou desse
contato...
— Não faz sentido! — ela grita e vira na minha direção. — Nem
sei quem são Henry e Charlie!
— Oh, não? Não sabe? — cruzo meus braços. — Todas as suas
reações mostram o contrário.
Dá risada. Brianna tenta mostrar algum nível de deboche, mas só
consegue mostrar muito nervosismo.
— Vamos lá, Brianna. Não sei se sabe das atualizações sobre a
vida de Henry e Charlie. Henry caiu, caiu muito. — eu percebo sua
tensão, ela está forçando o ‘’olho nos olho’’, mas está trêmula. — Charlie
está sozinho, Brianna, se você está sendo usada nessa merda de plano,
tenha certeza, é porque Charlie não tem gente para isso. Você não me
parece ser uma criminosa sanguinária, talvez uma cafetina? Uma
aliciadora? — desvia um pouco o olhar. — Se você está aqui, é porque
não existe gente ao lado de Charlie para lutar contra o nosso lado. É tão
fácil de entender, Brianna, está claro como água. Seja lá que ameaça
existir, tenha certeza, você terá mais gente contra você desse lado do que
no outro. Agora, fale olhando nos meus olhos, o que te faz continuar? Por
que continua? Por que mexer com um cartel de drogas? Olha as suas
costas, quem fez isso em você pode fazer coisa pior. Então a única
justificativa para as suas ações é essa. Você faz algo de ruim, se não
seguir o plano de Charlie, ele dá um jeito do cartel saber e aí sim será
pior para você.
— Não tem qualquer sentido.
— Não tem, Brianna? Pois eu digo que tem, Charlie me odeia, ele
quer me atingir, nada melhor que Dulce para isso. Pensando melhor,
Dulce só fez sentido no plano depois que virei babá dela, ou seja, alguém
daqui contou a Charlie sobre isso. E para me atingir, nada melhor que
mandar a mãe biológica para cá, para me desestabilizar. Mas dê um aviso
a Charlie, não dá para me desestabilizar, ele sabe bem do que sou capaz,
se matei a família de merda dele na adolescência, eu farei pior na fase
adulta. — sorrio para ela. — Pode passar o recado.
— Não tem como passar o recado, porque não...
— Porque você não tem contato direto com Charlie, é, eu
imagino, mas sem problemas, Brianna, fale com sua fonte e aí ela passará
o recado.
— Eu não estou com Charlie! Nem sei de quem você está
falando!
— Claro, Brianna, eu acredito em você. — pisco um olho. —
Agora eu tenho uma festa para ir. Pensarei se falo ou não com Juan sobre
minha desconfiança nas suas ações...
— Eu não fiz nada!
— Minha teoria faz sentido, se eu tiver o apoio de Juan, você
pensa se é melhor ser a favor de Charlie ou contra ele.
Brianna grita que não tem nada com Charlie, que nem o conhece,
mas é óbvio que é mentira.
Viro as costas e saio do quarto, deixando uma Brianna
desesperada para trás.
Porque se ela não queria que Charlie contasse a verdade sobre ela,
agora já era, porque eu desconfio. Ou ela faz algo aqui ou liga para
Cássia contando tudo isso, e se a ameaça de Charlie para Brianna não for
mais um segredo, talvez ele fique irritado porque eu estraguei isso.
Não sei se esse plano de Juan faz algum sentido, espero que sim.
Saio da casa onde Brianna está.
— Ok, Britt, acredito fielmente na sua teoria. — Vicent fala,
andando ao meu lado. — Brianna está sendo ameaçada por algo que fez,
mas e agora?
— Acontecerá a comemoração, pode ser o momento ideal para
algum ataque ou para que Brianna entre em contato com Cássia. Falarei
com Juan e pedirei para que todos fiquem em alerta. Não dá para esperar
muito, não sabemos como Jennifer está.
Vou até a casa onde as crianças estão e as levo para a casa onde
moro com Juan. Ainda está em clima de comemoração e de harmonia —
o que parece uma ironia, já que houve uma luta aqui, sem sentido, mas,
ainda assim, uma luta.
Procuro por Juan, mas sou informada que ele está tomando
banho, mas Alejandro está no quarto.
Deixo Lucas com Vicent e vou ao quarto com Dulce.
Bato na porta e Alejandro pede para que eu entre.
É o quarto de hóspedes e Alejandro está vestindo a camisa.
Está com alguns hematomas no abdômen e no rosto.
— Você sumiu. — fala comigo. — Te procurei após a luta e
falaram que estava na minha casa com as crianças.
— Juan fez o favor de gritar ao mundo sobre minha honra intacta
e depois todos os homens estavam comemorando, não quis ser o centro
das atenções...
— Você já era o centro das atenções, a luta foi sobre você.
— Nem me lembre dessa vergonha. — fecho os olhos, deixando
essa vergonha passar e depois abro os olhos. — Como está?
Coloco Dulce sentada na cama e ligo a TV em canal de desenho,
automaticamente ele presta atenção na tela.
— Normal, pensei que poderia ser pior.
— E então, bateu mais ou apanhou mais?
— Para não termos dramas, foi dito que Juan bateu mais, porém,
a verdade foi que ele apanhou mais.
— Deve ser bom ser um chefe, todo mundo massageia o ego
deles.
— Eu venci, então estava esperando alguma gratificação da sua
parte...
— E o que gostaria?
Olha para Dulce.
— Sim. — dou risada. — Ela sempre estará presente.
— Então apenas um beijo.
Sem esperar que eu fale algo — e, provavelmente, não é para
falar —, Alejandro se aproxima e me beija novamente.
Já era, eu amo ficar nos braços de Alejandro!
Mas isso não dura por muito tempo, pois escutamos um gritinho e
olhamos para o lado, uma Dulce boquiaberta e com os olhos arregalados
nos encara.
Alejandro pega Dulce e beija seu rosto, ela dá risada.
— Acho que é a primeira vez que ela vê um beijo assim, tão de
perto.
— Com certeza, deve ter achado que você me engoliria. —
brinco. — Pelo menos ela não ficou com ciúme, Lucas não gosta de ver
os pais se beijando.
— Lucas...
— Oh, cara, eu amo que minha fanfic de bebês está se espalhando
por aí! Mas para não perdermos a linha de raciocínio...
— Linha de raciocínio sobre bebês e beijos?
— Não, é que eu vim com um assunto na mente, mas perdi a
linha de raciocínio, mas preciso falar do assunto.
— Entendo ter perdido a linha de raciocínio. — Alejandro brinca.
— Mas continue.
— Queria falar com Juan, mas ele estava tomando banho. Quero
pedir um reforço na segurança, caso a ideia de comemorar continue.
— Por quê?
— Porque eu agi de outro modo com Brianna, segui meus
instintos e talvez hoje aconteça algo, pode ser ruim ou pode trazer algum
avanço sobre a história de Charlie.
(2) Bônus
— Deus do céu, Brianna, eu já não havia pedido para me ligar
apenas se fosse necessário? — Cássia fala com raiva. — Qual é a parte
que não consegue compreender?
— É necessário, ok? — Brianna fala do outro lado. — Brittany já
sabe de tudo.
— De tudo o que?
— Que estou aqui por causa de Charlie, que quero Dulce, ela até
mandou um recado para Charlie. Se Brittany acabou com a família dele
na adolescência, ela terminará com mais gente na fase adulta...
Cássia encerra a ligação, agora encarando o celular.
Sem saber ao certo o que fazer, anda de um lado para o outro,
como se isso fosse dar alguma direção para o próximo passo.
— Eu não queria fazer parte disso. — sussurra. — O que eu faço?
Os minutos vão passando e ela finalmente decide ligar para
Charlie, porque, talvez, ele saiba sobre essa ligação de Brianna, e se ele
souber, pode acreditar que Cássia não contou para ferra-lo.
Cássia gostaria de ferrar com Charlie, mas, para fazer isso, ela
precisa ter certeza que dará certo.
Infelizmente ela precisa se comunicar com ele, para tentar fazer
uma ‘’política de boa vizinhança’’.
Pega outro celular e faz a ligação. No terceiro toque Charlie
atende.
— Espero que seja urgente, porque eu avisei...
— É urgente, Brianna me ligou. — Cássia o interrompe. — Ela
foi descoberta.
— Imaginei que colocar uma puta na história não ajudaria em
nada, só é inteligente para uma única coisa...
— Brittany a descobriu. — Cássia para de falar, esperando
alguma fala de Charlie, mas nada acontece. — Ela disse que Brittany
falou que se conseguiu matar sua família na adolescência, agora ela fará
pior.
— Brittany descobriu sobre Brianna? Como?
— Eu desliguei a ligação, você disse que não podemos conversar
para evitar um rastreio...
A respiração de Charlie fica tão pesada que Cássia escuta.
— Se Brittany sabe sobre Brianna estar comigo, então Juan
também sabe e foda-se! — Cássia já imaginava essa reação vinda de
Charlie. — Qualquer coisa eu te ligo.
Charlie encerra a chamada.
Do outro lado da cidade, Charlie dá um soco na mesa, tendo raiva
do que acabou de escutar.
— O que aconteceu? — Sacramento, o novo segurança de
Charlie, pergunta, mas não obtém resposta. — Senhor, desculpe se for
uma grande intromissão, mas é bom escutar uma segunda opinião.
— Opinião de um segurança? — Charlie quase dá risada ao
escutar isso.
— Já trabalhei para muita gente importante, pessoas que
sequestravam filhos de políticos, juízes, gangues inimigas e coisas do
gênero. O senhor saber que fazer algo desse nível é de uma grandiosidade
sem tamanho.
— Então me entregue Brittany.
— A filha de Juan? — Sacramento dá um sorriso. — Posso fazer
isso, na verdade sempre teve como, mas o senhor nunca quis me escutar.
— Tem como? — o deboche e a descrença de Charlie estão
presentes em sua voz. — Então me ilumine com sua grande sabedoria.
— É simples, é só colocar uma armadilha na pessoa que eles
querem, quando falo ‘’eles’’, quero dizer o cartel. O cartel não saiu da
Colômbia em peso, uma viagem dessa, sendo ilegal, não pode acontecer
aos montes. Mas para resgatar a pessoa que eles tanto querem? — sorri
de lado. — Eles virão com tudo e estaremos preparados para ataca-los e
quando falo ‘’eles virão com tudo’’, quero dizer as pessoas que estão
nesse lugar. Faremos uma armadilha e pronto, terminamos com eles.
— Você quer que eu coloque Jennifer na história? — a raiva de
Charlie é evidente. — Nunca!
— Entendo que tenha medo de perde-la, mas ela é sua principal
arma contra eles.
— Eu não tenho medo.
— E não deveria mesmo. O número deles não é absurdo, e nem
todos virão nessa armadilha, pois poderão pensar que podem atacar as
casas e ficarão lá para proteger. Coloque Jennifer como isca e, quem
sabe, Brittany não virá junto? Já pesquisei sobre ela e escutei histórias.
Ela parece um pouco louca, gosta de tripudiar. Na intenção de mostrar
que ela te venceu, ela pode vir junto para rir um pouco, provocar.
Jennifer não será capturada, será apenas a isca...
— Não gosto dessa ideia...
— É a nossa melhor solução já fiz isso várias vezes, dê pouco
tempo para pensarem e eles agirão no impulso. Talvez eles nem saibam
que Jennifer é amada por você, talvez uma ameaça surta efeito. Diga que
se não aparecerem, você vai mata-la. O impulso vem, tenha certeza disso.
— Se perdermos...
— Você acredita mesmo que vai perder? — Sacramento ri. —
Pensei que acreditasse na sua força, Charlie. É apenas uma mulher que
acha que é inteligente, você a quer, certo? — Charlie confirma. —
Brittany sempre agiu por impulso, ou será que está com medo dela?
Porque parece que não liga para o cartel, e sim para essa tal Brittany.
— Não, não tenho medo de Brittany, claro que não. — o olhar de
Charlie até muda ao falar isso, fica mais destemido, pronto para fazer
qualquer coisa nesse momento. — Eu pegarei Brittany, tenha certeza
disso.
Capítulo 20
BRITTANY

Após contar o que aconteceu para Juan, ele pediu para que
continuássemos a comemoração, como se nada tivesse acontecido. Por
isso estou no fundo da casa, dançando com Jessica e Camille.
Grito quando Ryan Castro começa cantando ‘’Malory’’.
E claro que eu danço essa música, de um jeito que Juan até se
aproxima e diz que devo me comportar.
— Vinte e sete anos! — grito e puxo para que ele dance comigo.
— Vai, Juan, para de ser chato!
— Essa música tem danças inadequadas.
— Eu não acredito que estão discutindo sobre isso no meio da
festa.
— Jess, controle sua irmã!
— Camille vai me ensinar a dançar no pole dance! — provoco.
Juan rosna de raiva e dou risada junto com Jess. Ele grita e pede
para trocarem a música, colocar qualquer uma que seja mais romântica.
— Música romântica? — arqueio a sobrancelha. — Ótimo!
Assim eu posso dançar com Alejandro.
— Vocês sabem que no fundo se amam, não é mesmo? —
olhamos para Jess. — Ah, qual foi? Implicam um com o outro, mas todos
sabem que no fundo se amam.
— Não engoli que essa garota não torceu por mim!
Dramas!
— Quer saber a verdade, Juan?
— Acho melhor não. — responde rapidamente.
— Saberá sim! — ignoro sua resposta. — A verdade é que eu não
queria que essa imbecilidade acontecesse, que nem você e nem Alejandro
saíssem machucados. — aponto para o rosto de Juan, que está inchado.
— Tudo isso por uma idiotice, então, sendo sincera, minha torcida foi
para que terminasse logo. Sim, gritei por Alejandro, porque, como disse,
isso foi uma digníssima imbecilidade!
A seriedade que ele tinha antes se esvai e dá lugar a um sorriso de
alívio.
— Já passou, agora só espancarei Alejandro novamente se ele
fizer alguma merda contra você. Mas eu acho que ele não fará.
— Espancar novamente? — dou um riso de deboche, que o deixa
bem irritado. — Ai, Juanito, amo seu senso de humor e seu ego bem
inflado.
— Eu venci, Brittany!
— Ok, Juanzito.
— Pergunte a qualquer um, eles sabem quantos socos eu dei...
— Ok, Juanito.
Seu suspiro é tão alto que escuto, mas ele decide não discutir e
vai embora.
— Quando falará algo legal para Juan? — Jess pergunta.
— Não sei se tenho algo legal para falar. — dou de ombros. — É
óbvio que gosto dele, mas, no momento, não tenho nada para falar de
legal com ele. E talvez essa seja a essência da nossa relação. Carmen
aceita isso muito bem.
Olhamos para Carmen, que está sentada na cadeira ao lado de
Whitney, rindo juntas.
— Carmen sente falta de Oliver. — murmuro para Jess.
— Ela te contou isso ou são vozes da sua cabeça?
— Desde que Oliver saiu, para sei lá aonde, ela está mais séria,
distante, sente falta dele. Ela pode negar o quanto quiser, mas sente
saudades do Oliver!
— Juan não contou o que Oliver está fazendo?
— Disse que voltou para a Colômbia, resolver algo do cartel. —
dou de ombros. — Talvez não seja isso, mas Juan não me contará nada.
— Agora mudando um pouco o assunto, como está com
Alejandro?
— Nos beijamos novamente e quero ir logo aos finalmentes.
— Oi?
— Jess, eu nunca fui puritana. Já perdi a vergonha com
Alejandro, rápido assim. Então, se hoje ele me quiser, é só suspender
meu vestido e fim.
— Está sem calcinha? — ela prende o riso. — Eu te traumatizei
com esse assunto?
— Eu nunca esperei encontrar alguém no meio desse caos,
melhor dizendo, nunca esperei que Alejandro fosse me desejar. E minhas
partes de baixo são sem graça ou bem adolescentes, nada sexy.
Encomendei em uma loja, mas a entrega está um caos, é melhor ficar sem
mesmo.
— Talvez ele não ligue para a sua calcinha...
— Eu ligo! Não me sentirei a vontade com minhas peças feias.
— Mas se sentirá à vontade completamente nua?
— Sim, acho a minha Larissinha bonita.
— ‘’Larissinha’’? — prende o riso.
— Sim, nunca ouviu ninguém chamando assim? — nega com a
cabeça. — Vocês precisam usar a internet, meu senhor!
— Eu não sei se estou em choque por chamar sua vagina de
‘’Larissinha’’ ou por você estar super afim de transar com Alejandro.
— Eu descobri que não sou assexuada.
— É safada, pelo que estou vendo.
— Querida, a mamãe aqui sempre leu livro erótico, você sempre
foi a tonta revirando os olhos por meus amores literários.
— Seus livros só tinham homens escrotos com mulheres. —
pensa um pouco. — Ok que eu me apaixonei por um, mas, para a minha
defesa, Chris estava níveis abaixo. Pelo amor de Deus, tinha livro que o
cara transava a força com a mulher e do nada ela estava gozando?
Amarrava a força e do nada ela estava amando?
— Para a minha defesa, quando cheguei nessas cenas eu parei de
ler, porque realmente não dá. Mas agora eu leio livros de homens menos
ogros, porque, realmente, não tá dando para aturar tanto homem babaca,
escroto e dominante de maneira doentia, em um lugar só. Por isso quero
Alejandro, um homem real. — suspiro. — Que está colocando a filha
para dormir. Sério, do nada comecei a ver vários livros de viúvos e pais
solteiros, pensei ‘’Que novo fetiche é esse?’’, mas quando Alejandro está
com Dulce eu suspiro. É tão fofo. Entendo a galera amando esses pais
solteiros e viúvos, aclamados por fazerem na a mais e nada a menos que
a sua obrigação. — suspiro. — Ah, Alejandro!
— Oh, sua fanfic está sendo realizada. — aperta minha bochecha.
— Só falta transar pela primeira vez, achar um máximo, na madrugada
repetir e pela manhã fazer anal e dizer que é a coisa mais maravilhosa e
não é tão ruim quanto falaram, e a virgem vira expert no sexo.
— Eu sei que isso é coisa de livro, participei de grupos literários e
as mulheres sempre falaram isso, que essa coisa da virgem transar de
todos os modos na primeira noite é a mais pura ficção e ainda sendo
hiper exagerada. Ou seja, darei a noite, dormirei e, quem sabe, amanhã,
eu possa repetir a dose, mês que vem eu penso no anal.
— Te conheço há mais de duas décadas e nunca sei quando está
brincando.
— Será que estou brincando? — fecho um pouco os olhos e
inclino a cabeça para o lado. — Não sei, Jess, em breve te informarei,
pois contarei cada detalhe dos meus dias e noites repletos de
depravação...
— Alejandro está vindo, pode continuar o assunto com ele.
— Não. — sorrio. — Em breve falarei com ele sobre ser
amarrada.
— Eu nunca sei se é brincadeira ou não...
— Em breve...
— Te contarei. — ela sabe o que falarei. — É, eu sei, Brittany.
Agora eu verei Christopher, que deve estar discutindo que levou menos
socos que Alejandro. Tentando ter alguma honra em ter sido o primeiro a
apanhar do sogro.
Jess sai e Alejandro se aproxima.
— E aí, Dulce dormiu? — pergunto.
— Sim, ela, Lucas e Christian, todas as crianças dormiram.
Camille ficou com elas, Matt também está indo pra lá.
— Camille ainda não curte festas.
Por conta da vida naquela casa de prostituição e por ela ser bem
tímida, Camille quase nunca participa de algo que envolva muita gente.
Ela garante que está bem e que prefere ficar mais na dela, talvez em
algum momento ela se sinta mais à vontade, ou pode ser algo dela
mesma. Eu, por exemplo, não curto sair com pessoas que não conheço,
tipo a vez que Jess resolveu sair com Avadia e teve que me levar junto.
Odeio sair com gente que não conheço, porque minha vontade de
conversar é abaixo de zero.
— Por que Juan trocou a música? — Alejandro pergunta.
— Ele disse que eu estava dançando indecentemente, sendo que
eu só estava brincando, não fiz nada de mais. — nem posso, já que
poderei fazer um movimento errado e ficarei nua nessa festa. Tudo por
vergonha das minhas peças íntimas. — Eu falei que colocar música
romântica poderia ser pior.
— Você sabe dançar?
— Claro que sei! — prende o riso quando dou minha resposta. —
O que foi?
— Eu te vi dançando no casamento de Jessica e Christopher,
aquilo não foi uma dança.
— É uma brincadeira, eu sei dançar e cantar.
— Eu também já te escutei cantando, está lado a lado com a
dança.
— Eu seria facilmente a Eponine em ‘’Os miseráveis’’. Sei cantar
e minha atuação é ótima!
— Claro que sabe.
— Alejandro...
— Brittany...
— Você me chama pelo nome completo.
— Percebi que muitos te chamam de Britt, menos Carlos e Juan,
quando está com raiva, então eu meio que quis te chamar assim também.
— Carlos me odeia e Juan odeia quando o irrito, qual o seu
motivo?
— Não éramos íntimos. — encolhe os ombros. — Todo mundo
que te conhece te chama Britt, mas quem não conversa tanto chama de
Brittany, achei que fazia sentido. Mas posso de chamar de Britt.
— Eu gosto de Brittany. — porque sua voz sai mais grossa do que
quando fala ‘’Britt’’. — Eu posso te chamar de ‘’Alê’’.
—- Não.
— ‘’Randro’’.
— Piorou.
— Não teremos qualquer apelido?
— Só se você gostar de algo carinhoso.
— Você gosta de algo carinhoso?
Pensa um pouco.
— Não sei. — responde. — Por que estamos falando disso? Ah,
é, você mudou o assunto porque disse que não sabe dançar e nem cantar.
— Eu posso provar que sei fazer os dois, quer dizer, pelo menos a
dança, não preparei minhas cordas vocais para um showzinho particular.
Estica a mão na minha direção.
— Então dance comigo. — faz o convite.
— Eu amo Selena. — me refiro a Selena Quintanilla, que está
cantando no momento. — Te provarei que sei dançar.
Aceito seu convite para dançar e começamos.
Tem mais gente dançando, o que me deixou mais à vontade desde
o início para dançar com Jessica.
Por essa música não ser lenta, — na verdade é cúmbia —
dançamos nos movimentando mais. Entre risos e alguns elogios da parte
de Alejandro, terminamos a dança, mas logo em seguida começa ‘’Amor
prohibido’’.
— Eu amo essa música! Amo a Selena! — falo alto. — Ela não
deveria ter morrido, ainda mais daquela maneira!
— Acho que Juan concorda com você. — aponta para Juan, que
também canta a música ao lado de Carlos.
— Ele está bem? — pergunto a Alejandro.
— Você sabe que seu pai bebe e fuma, não é? Que fuma a melhor
de todas.
— O que isso quer dizer?
— Erva da boa, por isso ele está tão animadinho.
— Jess, Whit e eu somos as únicas não maconheiras dessa
família? Christopher e Matt já fumaram, óbvio que sim, aqueles olhinhos
apertados não me enganam.
— Bem-vinda a família evoluída do século vinte e um, Brittany.
— Dulce não vai fumar!
— Amém!
— Nem o menino!
— Já sabe o sexo do bebê?
— Juan só teve meninas, mas Jess teve um menino, talvez a nossa
genética facilite a chegada de um menino.
— Porque estamos falando de genética?
— Porque falamos da família maconheira!
Ele dá risada, como estamos de mãos dadas, ele me leva para
dentro de casa. Eu sigo sem fazer perguntas.
— Podemos ir ao seu quarto? — pergunta.
Deus, será agora?
— Aproveitando a calma de Juan? — pergunto, levando até meu
quarto.
— Você não vai querer continuar lá embaixo, vai por mim.
— O que acontecerá lá embaixo?
— Pediram para chamar algumas mulheres do clube.
— Oh, uma festinha ‘’mais dezoito’’. — entendo o que ele quer
dizer. — Mas eu já vi coisas do gênero.
— Um bando de velho babando nas mulheres e tocando nelas, te
garanto que ali em baixo a coisa será mais intensa.
— E você acha que Juan me deixaria presenciar algo assim? —
viro-me para ele.
— Na verdade elas podem aparecer, os homens sairão, Juan não
deixará nada disso acontecer na casa dele, com filhas e crianças aqui.
Porém, como sou um bom namorado, estou te tirando de lá mais cedo.
— Namorado? Não lembro de ter feito o pedido.
Aponta para o próprio rosto.
— Isso aqui serve até como pedido de casamento.
Pior que é verdade, começando a entender as ideias de Juan. É
sobre ego, mas também sobre até onde um homem vai por uma Herrera.
Olhando assim até que concordou com as idiotices de Juanito.
Abro a porta do quarto e entramos, depois eu tranco.
— Quer namorar comigo? — olho para Alejandro. — Eu juro que
não sei fazer esse pedido, mas sabe bem que gosto muito de você, talvez
até um pouco além. Você e minha filha... Gosto de pensar no que
podemos virar no futuro. Então, quer namorar comigo?
— Já pensou se eu falasse que não depois de você levar uma
surra?
— Eu ficaria tão puto, passei por esse drama todo pra você não
me querer? Mas eu lembro que te pedi primeiro. — se aproxima e segura
a minha cintura. — E me garantiu que me quer como eu te quero.
— Ou até mais.
— Será? — arqueia uma sobrancelha. — Duvido um pouco.
— Duvida do meu interesse em você?
— Tímida do que jeito que? — fica muito próximo a mim. —
Não sei se acredito.
— Eu perdi a timidez.
— Para falar sem pensar, sim. Mas para me beijar? Ainda acredita
na sua fanfic que sempre preciso tomar a iniciativa?
E naquele mesmo impulso de sempre, de falar sem pensar,
sussurro:
— Estou sem calcinha.
E eu não sei como não ruborizo, pelo contrário, mordo meu lábio
e sorrio para os olhos arregalados de Alejandro.
— Não estava esperando por isso, não é?
— A cada dia que passa você me surpreende mais. — coloca o
dedo indicador no meu queixo e suspende, beija meu rosto e vai para o
lado, depois desce, chegando ao meu pescoço, mas depois ele volta e
olha nos meus olhos. — Será que preciso perguntar se é isso mesmo que
quer?
Sorrio para ele em resposta.
E sua resposta é beijar minha boca.

Sua boca está na minha, sua língua também. Seu corpo está
colado ao meu e sua mão passeia pelas laterais do meu corpo.

Alejandro me aperta, como se não quisesse que eu me afastasse,

mas não quero me afastar dele.

Sua boca desce pelo meu pescoço, depois sobe novamente e volta
para a minha boca.

Alejandro segura a alça do meu vestido e abaixa, com apenas um

movimento estou nua a sua frente.

Alejandro olha para meus seios, que são pequenos, e coloca a

boca em um deles. Ele chupa, suga, dá uma mordida, depois vai para o
outro e faz a mesma coisa.

Isso é muito bom! A pulsação lá em baixo já está bem forte e


quero que Alejandro continue.

Ele solta meus seios e olha pra mim.

— Eu juro que não estava esperando por isso. — sussurra e me

coloca deitada na cama. — Não esperava te encontrar assim, preparada


para mim.

— Acho que ainda não me conhece tão bem.

— Quando conversamos, sempre dá para perceber um sorrisinho

da sua parte. — coloca a mão na minha vagina. — Que deixa claro que
está pensando coisas bem, inadequadas, se assim posso dizer.

— Então sempre soube como sou... — paro de falar quando ele

começa a massagear meu clitóris.

— Sim, mas sempre mudando de assunto ou desviando o olhar.

Claramente não é uma puritana, mas estar nua pra mim?

— Poupar o tempo. — isso aqui é muito bom!

— Mas para beijar não foi assim...

— Minha fanfic!

— Na sua fanfic você viria sem calcinha e ficaria nua a minha

frente? — dá um pequeno sorriso. — Ok, agora posso gostar das histórias


que inventa.

Não, eu encomendei calcinhas sensuais, mas não chegaram a

tempo e imaginei que você fosse querer algo mais nessa festa, então vim

logo sem nada por baixo do vestido.

— É meio clichê pensar em festa, dança, comemoração e não

pensar nos finalmentes.

— Qual seria o finalmente? — pergunta.

— Você tem algum prazer em me ouvir falar, é isso?

— Precisa perder a timidez.

Eu não deveria ter falado que sou tímida!

— Eu também preciso perder outra coisa...

— Precisa ou quer?

— Quero. Agora.

Sorrindo de lado, e sem que eu precise dizer muita coisa após


isso, Alejandro abre mais as minhas pernas e me deixa com joelhos
dobrados, dando mais acesso a minha vagina.

Completamente exposta a sua frente!

Praticamente trêmula, sinto minha vagina pulsando e meu ventre


dando algumas contrações quando ele passa a língua pelo meu clitóris.
Não é como nos meus livros, é ainda melhor!

Ainda mais quando Alejandro faz mais e mais, intensificando o


toque em mim...

Agarro o lençol com força, tento lembrar que tem gente no quarto
ao lado, e tento não gemer alto...

Eu nem imaginei que seria capaz de ter gemidos, porque sempre


achei meio constrangedor.

Mas é involuntário, simplesmente sai!

E quando menos espero, já estou segurando a nuca de Alejandro,


puxando-o para mais perto, rebolando no seu rosto. Querendo mais e

mais.

Minha vagina se contorce mais, depois pulsa, talvez isso sejam


espasmos, não sei ao certo.

É como se minhas pernas também estivessem trêmulas, um frio

na barriga também, não sei explicar, é melhor do que fazer sozinha!

Muito melhor.

E quando menos espero, minhas pernas tremem ainda mais, sinto

aquele alívio, aquela onda que toma conta do meu corpo todo...

Perfeito!

Tomo longas respirações, tento ter meu fôlego de volta.


Enquanto isso Alejandro beija as laterais das minhas coxas, vai
subindo beijando minha barriga, seios, pescoço, até que para, olhando pra
mim.

Sua boca tem o brilho da minha excitação.

Corada e um pouco envergonhada, desvio o olhar do seu.

— Oh, não, depois de tudo isso não poderá ter vergonha na minha
frente. — beija meu queixo. — Agora que conheço a Brittany que

ninguém mais conhece, quero ter um pouco mais dela.

— O primeiro homem da minha vida...

— Primeiro e único. — levanta meu queixo, fazendo com que eu


olhe para ele novamente. — Não se esqueça disso. — me dá um selinho.
— O primeiro e único homem da sua vida.
Capítulo 21
BRITTANY

Acordo no dia seguinte com um sorriso enorme.


Alejandro está dormindo ao meu lado e eu fico olhando para ele,
admirando-o, mas lembro que estamos no meu quarto, na casa de Juan!
Eu perdi a virgindade aqui!
Quase dou risada, pensando no drama que Juan fará se descobrir
isso...
Mas Juan não tem que saber de nada, ainda mais sobre o meu
início na vida sexual!
Levanto da cama e vou até o banheiro, faço toda a higiene e
retorno ao quarto, Alejandro ainda está dormindo. Saio sem fazer barulho
e vou até o quarto onde as crianças estão, somente Dulce e Christian
estão aqui, Jessica já deve ter levado Lucas.
Dulce dorme no berço que tenho aqui para ela, e Christian dorme
na cama de solteiro ao lado, tem outra cama aqui, provavelmente Matt
deve ter colocado para Camille ficar.
Dulce continua dormindo tranquilamente, viro para sair, mas a
voz sonolenta de Camille me para.
— Bom dia. — cumprimento quando a vejo saindo do banheiro.
— Bom dia. — responde.
— Não quis te dar todo esse trabalho.
— Não, sem problemas. — senta na cama. — Até que consegui
dormir, pensei que o barulho fosse atrapalhar, mas não foi tanto e
terminou super cedo.
— Não teve mais barulhos, eles foram para outro local.
Provavelmente Juan falou sobre as crianças, que não é algo para
acontecer perto delas. É melhor falarmos lá fora, para não acorda-los.
Saímos do quarto e vamos a segunda sala de estar, que fica nesse
andar de cima da casa.
— Obrigada por olhar as crianças ontem à noite. — agradeço
novamente.
— De nada, não teve qualquer problema ou dificuldade. Eles já
estavam alimentados e com as fraldas limpas. Christopher e Alejandro já
haviam feito isso.
— Mas você não se divertiu ontem à noite.
— Matt comentou sobre a chegada das mulheres do clube, acho
que eu ficaria bem desconfortável.
— Por isso eu acho que Juan mandou o povo ir a outro local, tem
toda essa questão de desconforto por parte das mulheres que estão nessa
casa. Fora as crianças, Christian já é maiorzinho, poderia entender o que
se passa ou ter dúvidas.
— Ele tem lembranças das mulheres dos clubes, não sabe ao certo
o que faziam, mas poderia entender que são parecidas e aquelas
perguntas sobre o passado retornariam.
— Christian ainda pergunta sobre aquele local de Franklin?
— Às vezes ele ainda indaga, mas não profundamente. Um dia eu
sei que ele vai querer saber que local era aquele, e é melhor falar antes
porque chegará em uma idade que ele vai compreender o que aconteceu.
— Será difícil contar?
— Não, porque saí dali antes que o pior acontecesse. É só uma
questão que não acredito que seja um assunto para essa idade. Ele até
quis ir na comemoração, mas achei melhor não.
— Mas e você? Não curte festas ou ainda é algo que te faz
lembrar do passado?
Pensa um pouco, até que responde:
— Realmente eu não curto muito festas e coisas assim, não sei se
não estou acostumada ou se realmente não gosto de música alta, pessoas
falando alto ao mesmo tempo. — encolhe os ombros. — Bom, quando
me informaram que terá uma festa sem mulheres para entreter homens,
eu tentarei novamente. Falando nisso, Eric e Vicent não estavam
presentes por esse motivo?
— Creio que sim, eu só soube dessa diversão masculina arcaica
depois. Mas você soube antes por Matt, provavelmente Christopher e
Eric também sabiam. Vicent tem zero interesse em ver mulheres
dançando.
— De pensar que eu poderia fazer isso... — fecha os olhos e
balança a cabeça de um lado para o outro, como se quisesse expulsar as
imagens que passam na sua mente. — Deus, eu nunca conseguiria dançar
para tantos homens.
— Só para Matt.
Ela dá risada e abaixa a cabeça com vergonha.
— Dormiu com Alejandro? — pergunta. — Desculpa se for
inconveniente da minha parte.
— Ah, não, sem problemas, dormi com ele e fiz umas coisinhas a
mais.
— Bem que falaram que você não teria vergonha alguma... Ou
teve?
— Zero vergonha, querida, sou formada em livro erótico e não
tenho muita vergonha na cara, a timidez se foi e o espírito safado se
apossou de mim. Fui lá e pronto, adeus hímen e olá homem maravilhoso!
— Eu amo sua falta de vergonha! Mas se bem que eu fiz quase o
mesmo com Matt.
— Querida, quando queremos, às vezes a vergonha simplesmente
vai embora.
Continuamos conversando um pouco e descemos para a cozinha,
onde uma Carmen de mal humor come ovo frito com torrada e rúcula.
— Bom dia, Carmen. — sorrio para ela. — Está com essa cara
emburrada pela falta do seu ‘’neno’’?
Rosna.
— Não, Britany! Apenas extremamente irritada com toda essa
merda!
— O que aconteceu? — pergunto.
— Fiquei como Camille e Matthew, sem ninguém ao lado.
Simplesmente um bando de prostituta chegou e a festa foi para outro
canto, até aí tudo bem, mas você, Brittany, sumiu com Alejandro, do
nada Jessica e Christopher sumiram, Juan e Whitney também! E eu?
Ninguém me quer porque sou do Oliver! Quem disse que sou do Oliver?
— Ele. — respondo.
— Eu não sou do Oliver! — levanta da cadeira. — Olha bem pra
mim, Brittany, olha esse corpo, esse rostinho, essa sensualidade. — passa
a mão pelo corpo e dá uma rodadinha na nossa frente. — Como eu ficarei
com aquele cara feio e esquisito?
— Oliver não é feio e nem esquisito. — Camille o defende. — Já
conversei um pouco com ele, achei bem amigável, gentil, engraçado...
— Ele é fofo! — defendo Oliver. — Tem uma filha, acho que tem
vinte anos, achei um amorzinho.
— Ele é esquisito! — claro que Carmen continua falando do seu
ódio por ele. — E Oliver é feio, magrelo, alto... — tenta achar outra coisa
para falar, mas não consegue, por isso dá um rosnado. — Olha pra mim!
Uma sentada nele e quebro o cara.
— Dizem que os magrelos super aguentam. — provoco.
— E por que vocês duas estão com os musculosos?
— Eles são na medida, Carmen. — respondo. — E Oliver é um
amor, é bonito...
— Parece aquele Floki deVikings. — cruza os braços. — Ou seja,
feio!
— Carmen, querida, você está com raiva porque ele sumiu sem
dar satisfação. — Whitney chega à cozinha. — Sim, ela perguntou a Juan
sobre Oliver e fez um texto gigante sobre como o ‘’idiota jurou amor
eterno e sumiu sem dar satisfação’’.
— Whitney, eu pensei que fossemos amigas. E minha procura por
Oliver é para saber de onde ele tirou essa besteira que sou dele!
— Essa família aqui é bem fofoqueira, Carmen. — sorrio. — Seja
bem-vinda.
Senta na cadeira novamente e fica com raiva.
Tomamos café e conversamos sobre assuntos mais corriqueiros,
sem ter relação com Oliver ou com a festa de ontem.
Depois de quase meia hora, Christian também chega para tomar
café e depois Alejandro chega com Dulce.
Mas eles não ficam na casa. Alejandro me chama para o lado de
fora da casa e eu vou atrás dele, achando estranho sua reação tão séria.
— Aconteceu algo? — pergunto. — Está estranho.
— Acabei de receber uma mensagem de Eric, pegaram dois
traidores do cartel e Brianna. Juan decidiu acabar com todo esse teatro de
‘’estamos bem’’ e agora está com eles.
— Que?
— Juan está chamando por você.
— Pra que?
— Porque foi você que entendeu tudo o que aconteceu, então
Juan quer saber se vai querer estar presente para saber o desfecho.
Capítulo 22
BRITTANY

Chego ao local onde os três estão presos.


Brianna está sentada e com as mãos acorrentadas, chorando de
medo.
— O que aconteceu? — me aproximo de Juan.
— Foi como falou, você foi direto ao ponto com Brianna e ela
entrou em contato com Cássia. Fomos mais fundo e pronto.
Conseguiremos.
— Eu ainda não entendi o que está querendo dizer.
— Falar que você desconfia e que ainda ameaçou Charlie, fez
com que ele se mexesse um pouco, como não foi o suficiente, demos um
impulso. Sei que estava se divertindo contando e recontando os
assassinatos para Henry, mas ele precisava morrer, informei a três
seguranças que tinha desconfiança, peguei Brianna e pronto, a fúria de
Charlie veio com muita força. A verdade é que Brianna estava envolvida
em todo esse tráfico de pessoas, prostituição forçada e aliciamento de
menores. Se eu soubesse de algo assim, obviamente, eu ficaria
extremamente irritado.
— A ameaça era sobre isso, eles contariam a verdade sobre ela e
a fúria da sua parte seria pior.
— Sim, ela não teve chance porque com Charlie ela foi açoitada,
sofreu muito, mas não morreria, apenas ficaria agonizando até o dia de
morrer, o que poderia demorar muito. Já aqui ela poderia contar com a
sorte, tentar algum teatro de mãe desesperada pela filha, cairíamos nessa
e pronto, seja lá o que fosse planejado, ela poderia fazer.
Olho para onde Brianna está, agora ela está sendo levada para
ouro lugar e Alejandro está indo junto.
— Ela não contou o que realmente era planejado?
— Não, ela estava esperando as ordens de Charlie, mas como
começou a ficar com medo de ser descoberta, entrou em contato com
Cássia. Após a sua ameaça Cássia entrou em contato com Charlie e
pronto, bem simples.
— Então após isso já vamos pegar Charlie? — nem eu acredito
que pode ser tão fácil.
— É, eu entendo o seu espanto, tantos anos e parece que tudo foi
bem fácil. Mas é como conversamos, Charlie não se importa se eu mato
alguém, mas você, Brittany? Ele age sem pensar, a inteligência dele
sempre veio por parte de Henry, ele era a calma de todos os planos.
Quando matamos Henry demos um jeito dele falar sobre você, brincamos
que você não aparece mais para perturba-lo, ele ficou com raiva, acabou
confirmando que você o irritava... Fomos ao encontro de Cássia, porque
já sabíamos onde ela estava e pronto, pegamos o celular dela, ela foi bem
solicita, e enviamos o vídeo para Charlie.
— Tudo isso depois da festa?
— Você achou que todos aqueles homens são os únicos que estão
comigo? — dá risada. — Não, tem mais gente ao meu lado. A festa foi
para que os informantes dissessem que está tudo bem, os outros estavam
trabalhando. Como Eric não ia para qualquer comemoração, pedi a ajuda
dele para atuar dentro da casa de Brianna. E também dará certo porque
tenho uma pessoa com Charlie, uma pessoa para pressionar bem a sua
mente, para dar raiva contra você. E você poderia estar em casa, Brittany,
mas te chamei até aqui porque precisava de uma prova que você saiu e
participou de tudo isso, dando mais raiva a Charlie.
— E todo mundo achava que você estava parado e sendo pacífico.
— Eles não entendem a minha mente.
Nesse mesmo momento eu escuto um barulho de tiro e tomo um
susto.
— O que foi isso?
— Provavelmente acabaram de matar Brianna. Preferi esperar por
Alejandro. Não te falaria que ela morreria agora, você iria até ela e não
quero mais violência na sua vida.
Respiro fundo.
Provavelmente foi Alejandro quem deu o tiro...
Eu matei dois, mataria mais se fosse necessário...
Nunca fui uma puritana mesmo...
— Ok. — dou de ombros. — Mas voltando a Charlie, tem certeza
que conseguiremos? Porque demos raiva a Charlie, mas e se não servir
de nada? E se só servir para sermos atacados? Não sabemos onde
Jennifer está, e se ela for usada...
— Calma, Brittany. Jennifer será usada, na verdade, já está sendo
usada. E o plano é esse, Jennifer sair do esconderijo e aparecer para
outras pessoas, ela só tinha contato com Charlie, agora ela pode ver mais
gente. Na cabeça de Charlie, é só colocar Jennifer de isca, porque você,
Brittany, estará indo ao encontro dele. Mas nada disso estará
acontecendo.
— Tem certeza absoluta que isso dará certo?
— De tudo o que já fiz na vida, esse plano aqui é um dos mais
certeiros que já fiz.

ALEJANDRO

Estou cara a cara com Brianna depois da sua chegada e nem


preciso ser calmo.
Ela chora, sua saliva está caindo da mordaça.
Retiro sua mordaça e a primeira coisa que faz é suplicar por sua
vida.
— Eu já sei o que fez, Brianna, só quero entender onde Dulce
entra na história, nada a mais que isso.
— Eu nunca a venderia, eu juro! — soluça. — Eu jamais faria
algo com ela...
— Tenho algumas perguntas. — ignoro seu desespero. — Por que
engravidou? Por que não me procurou no início? Por que largou Dulce
no clube? E por que aceitou o plano de Charlie?
— Eu juro, nunca faria mal a Dulce...
— Brianna. — falo sério, mas com a voz bem calma. — Eu só
quero respostas. Eu, apenas eu. Juan não se importa com o que fez, que
fique bem claro. Ele já tem os nomes de várias pessoas nesse esquema de
compra e venda de seres humanos. Juan não quer alarde, só quer matar e
pronto. Não sei se sabe, mas existem garotas, que eram crianças, quando
foram aliciadas. Então é uma raiva extremamente pessoal, mas ele não
quer chamar a atenção. Sim, Brianna, Juan poderia apenas dar um tiro na
sua cabeça, mas eu não, porque minha raiva por você é pessoal. Eu posso
poupar todo um sofrimento, se responder as minhas perguntas, ou posso
prolongar, caso não responda. Você escolhe o que farei com sua vida.
— Eu nunca faria algo com Dulce...
— Responda as perguntas, Brianna!
— Eu nunca...
Estou cansado de seu choro jurando que nunca fez e nem faria
nada contra Dulce, por isso vou logo para as ameaças e pego uma tesoura
de jardinagem com Eric.
— Não se preocupe, não dá para escutar os gritos de Brianna do
lado de fora daqui. — fala comigo. — Porém, um barulho mais alto,
talvez possa ser escutado.
Apenas assinto e retorno a Brianna, mostrando a tesoura.
Ela se engasga com o choro.
— Um dedo de cada vez, começando pelos pés...
— Ok! — grita. — Eu respondo as perguntas. Por favor, por
favor...
Suplica e abaixo a tesoura.
— Por que engravidou? — repito a primeira pergunta.
— Porque você é rico. Estava bebendo naquele dia,
comemorando a conquista de mais um território do cartel, estávamos ali
para entretê-los, mas vi a oportunidade perfeita de engravidar de você.
— Colocou algo na minha bebida, sem que eu percebesse. Já fez
isso muitas vezes, não foi? — não responde. — Se não responder as
minhas perguntas, Brianna, um dedo...
— Sim! — fala imediatamente. — Eu já fiz isso com algumas
pessoas, geralmente para rouba-las, apenas. Eu era da sua confiança,
então se eu engravidasse e sumisse, não daria em nada, era só retornar
depois com o bebê. Acreditei que ajudaria com os custos da criança, se
eu aparecesse grávida, talvez exigisse o aborto e eu sairia perdendo.
— E por que me procurou muitos meses após o nascimento de
Dulce?
— Charlie ofereceu mais. Eu não trabalhava diretamente com ele.
Eu nunca levei uma adolescente a força, elas me procuravam porque
confiavam em mim para encontrar clientes.
— Adolescentes te procuravam por clientes? — dou um riso de
escárnio. — Conta outra Brianna, com certeza outros adultos, pais,
abusadores, ou qualquer merda do gênero te entregavam os menores de
idade, não é isso? — não responde. — Brianna!
— Ok! Sim, era isso, mas eu nunca tive nenhum negócio com
Charlie, ter que procurar um adolescente em especifico e aliciar,
sequestrar, coagir, essas coisas, mas Charlie sabia sobre minha vida,
sabia da gravidez... Eu falei com uma garota do clube, ela nem deve
trabalhar mais lá. — sim, uma mulher saiu do clube, deve ter um ano,
provavelmente é essa. — Charlie foi ao clube, tentando colher alguma
informação sobre você e essa mulher acabou falando sobre eu estar
grávida. Charlie foi a minha procura, falando sobre ser um cliente, que
tinha ótimas referencias sobre meus serviços. Ofereceu uma grana muito
alta para ficar com ele, disse que tinha fetiche por grávidas, leite materno
e essas merdas. Estava me preparando para falar com você, mas Charlie
me ofereceu muito dinheiro. Era só ficar com ele após o nascimento de
Dulce, por dois meses... Mas acabei ficando por mais tempo. De início
era perfeito, férias, praias, roupas caras...
— Onde Dulce estava?
— Com a babá, eu juro, ela nunca sofreu nada! Eu contei do
dinheiro que ganharia com ela, porque ela é sua filha, então Charlie
nunca foi contra, ele só queria meu corpo, isso era o que eu achava. Até
que em um determinado tempo tudo mudou e ele disse que eu deveria
entregar Dulce no clube, para vivermos juntos sem uma criança por
perto, porque ela cresceria logo, que não importaria o dinheiro que
ganharia falando da paternidade, ele me daria mais. Foi isso, entreguei
Dulce pra você, Charlie me deu uma vida melhor e pronto. Continuei
vivendo bem, até que ele teve a confirmação de algo e me colocou nessa.
Eu disse que eu não voltaria, que eu não poderia aparecer após largar
Dulce no clube, eu tinha certeza que você faria algo para saber a verdade
e estaria irritado porque te dei um golpe. Aí Charlie disse que tinha como
provar que prostituí adolescentes, contou que o cartel estava nessa
história, que existia uma história muito pessoal sobre aliciamento de
menores, e que se soubessem disso, eu morreria nas mãos do cartel.
Sinceramente, nunca me importei. Charlie me prendeu, me açoitou,
violentou, me humilhou de todas as formas que possa pensar...
Engole em seco e para de falar.
— Ficou com medo dele e resolveu aceitar esse plano. — não é
uma pergunta.
— Eu não tinha pra onde fugir. Era ficar com aquele doido ou
tentar reverter minha história aqui. Eu não poderia falar com vocês sobre
Charlie, porque me perguntariam o motivo de estar com ele... E vocês já
sabiam, era só uma questão de achar a melhor maneira de fugir das duas
partes. Eu não daria Dulce para Charlie, apenas disse que aceitei usa-la
para sair de perto dele.
— E por que entrou em contato com Cássia? Para Charlie agir,
virar um confronto e você ter a brecha de fugir...
— Era minha única chance, Alejandro... — sussurra. — Era
minha única saída...
— Diz que nunca colocaria Dulce na história, mas a colocou
quando entrou em contato com Charlie para dizer que estávamos
desconfiando de você, sabia bem dos dois informantes do cartel, se
Charlie quisesse, poderia colocar esses dois homens para pegar Dulce,
mas você nunca pensou nisso...
— Eu... — ela não tem um argumento para isso.
— Eu poderia tentar entender toda essa história doida em que se
meteu, Brianna, mas prostituiu adolescentes, engravidou para me dar
golpe, se juntou com Charlie e deixou minha filha com babá paga por
Charlie? Largou minha filha com uma desconhecida, depois deixou a
garota no clube e sumiu, depois retorna para ajudar Charlie...
— Não tive saída!
— Eu não quero me estender nessa história, Brianna, nem me
alongar com qualquer sofrimento da sua parte. — estico minha mão e
Eric me entrega a arma. — Eu não consigo engolir toda as suas
desculpas, fez tudo para salvar a própria pele e colocou a filha nisso...
— Não, Alejandro, eu não tive saída...
— Admitiu que tentou achar uma brecha para se salvar, nunca
falaria de Charlie, ou seja, foda-se o bebê! Era mais importante se
salvar...
— Não... — não tem o que falar.
Levanto a arma, colocando na sua testa.
— Obrigado por ter gerado Dulce, teria sido melhor continuar
com seu plano inicial. — sorrio para ela. — Apenas me entregar minha
filha e sumir das nossas vidas.
— Não, Alejandro. — soluça. — Por favor...
— Pelo menos fez algo de bom durante sua vida. Teria sido
melhor falar a verdade, desde o início.
(3) Bônus
JENNIFER
Horas depois

Depois de muito tempo essa é a primeira vez que vejo outras


pessoas, mesmo assim sou mantida longe deles. Quer dizer, eles me
trouxeram pra cá, mas eu não poderia falar uma palavra com eles.
Agora vejo que tem mais homens e escuto que eles estão
preparados para qualquer coisa.
Não sei o que acontecerá, provavelmente Charlie já está pronto
para atacar e, talvez, eu seja usada em seu plano.
Não entendo o que Charlie quer, porque do mesmo modo que ele
ama dizer que não tenho qualquer importância para outras pessoas, é
como se elas me quisessem, segundo Charlie é para meu mal, eles
querem me matar, ao mesmo tempo é como se fosse algo a mais.
Não sei explicar.
E acho que nem tem o que explicar.
Estar cercada de homens armados não ajuda em nada. Já deveria
ter entendido que essa é a minha situação, que a liberdade está
completamente longe de acontecer e acho que nunca acontecerá.
— Venha comigo. — Charlie sussurra no meu ouvido. Como não
o acompanho, ele coloca a mão novamente em minha cintura e faz com
que eu ande ao seu lado.
Andamos pela casa, passando pelos homens armados e voltamos
ao quarto onde eu estava. Charlie tranca a porta e fica de frente para
mim, me olhando com um sorriso idiota no rosto.
Charlie sempre me olhou dessa maneira. Esse sorriso que sempre
achei idiota, mas que, ao mesmo tempo, me causa pânico.
— Viu a surpresa que fiz para você? — aponta para a parede,
onde está a sua mensagem de ''boas-vindas'' para mim. — Gostou da cor?
— não respondo. — Desculpe, esqueci que não sabe ler, mas não tem
problema, eu leio para você. ''Jennifer, bem-vinda de volta’’. Gostou da
minha declaração? — balanço a cabeça confirmando.— segura a minha
mão. — Está gelada. Aqueles filhos da puta te fizeram algum mal?
— Não! — respondo imediatamente, sabendo que ele está se
referindo aos homens da sua segurança. — Eles nem chegaram perto.
— Eu fiz tudo isso para que sempre se lembre do meu amor por
você. Estamos juntos desde que você era bem pequena, lembra disso?
Claro que lembro, achei que éramos amigos, seu pai e irmãos
viviam me agredindo e me humilhando, mas Charlie era bom comigo, o
único amigo que tinha. Charlie dizia que por ser uma menina eu era
tratada de maneira diferente, mas o amor era igual, pois ele também não
era tratado do mesmo modo, pois ele é negro e o resto do povo branco,
mas isso não importava, para a sociedade ele era um ninguém, mas para a
sua família ele sempre foi muito amado.
Nunca fez sentido, ele era tratado diferente, mas era amado? E eu,
sendo uma menina, também era tratada com ignorância, mas era amada?
Mas Charlie foi legal por pouco tempo, acreditei nele.
Depois mudou, ele já estava maior, me levou para sua casa, virei
sua mulher, ele me agarrava e eu chorava, ele parava e pedia perdão, mas
eu nunca poderia sair, nunca!
Voltava a falar da tal Brittany e Jessica, tentava me dar algum
ódio sobre elas, mas nunca senti nada...
Como sentiria algo por elas se não faço ideia de quem sejam?
Em alguma época da minha vida fizemos sexo, ele queria alivio,
mas nenhuma vagabunda — é assim que ele chama —, aceitou sair com
ele. Como estava extremamente irritado foi lá e me pegou a força, mas
disse que guardaria a minha virgindade para depois, porque é o bem mais
precioso que tenho e precisa ser feito com carinho e amor.
El não teve carinho e amor no tal sexo, foi horrível, doeu muito...
Sei que foi estupro, uma vez vi sobre isso no jornal, mas ele desligou a
TV... Eu quero mata-lo!
A segunda vez foi igual, mas ali, pra ele e as pessoas que
assistiram ao vídeo, eu era a Jessica.
Acho que Jessica não quis Charlie e ele acha que sou ela, não sei,
na cabeça doida dele deve fazer algum sentido, porque na minha não faz.
— Fiquei tão preocupado com você. — agora Charlie segura a
minha mão novamente e me leva até a cama. Ele senta e faz com que eu
sente em seu colo. — Você não está se alimentando bem, um dos
seguranças comentou que você estava meio sonolenta durante o percurso,
mas sei que é fraqueza, você não comeu e quando engoliu algo
vomitou.
— Um pouco difícil comer cercada pelo cheiro do lixo. —
sussurro.
Por mais que tivesse fome, era como se eu engolisse o mau cheiro
de lixo e não conseguia comer. Fora tudo o que estou passando,
completamente presa, só vejo o céu quando Charlie permite, porque nem
posso olhar o lado de fora, no máximo uma janela alta, que só dá para ver
o céu.
Assim que cheguei eu vim para esse quarto aqui e acabei
vomitando, porque vi aquelas letras vermelhas na parede, homens
armados e fiquei nervosa.
— Não se preocupe. — beija meu rosto. — Daqui a pouco tudo
terminará.
Um calafrio sobe pelo o meu corpo.
Escuto o som de alguém batendo na porta. Um homem aparece.
— O que quer? — Charlie grita.
— Desculpe atrapalhar, mas preciso limpar a sujeira. — está se
referindo ao meu vômito, que ainda está ali no chão.
— Alguma notícia sobre Cássia? — Charlie pergunta. — Com
certeza morreu. Aquela puta da Brianna tinha que ficar ligando para
Cássia, nem pensou que poderia estar sendo vigiada.
— Por que não proibiu ou a alertou de não ligar? — o homem
indaga.
— Porque agora alguns homens de Juan devem estar ocupados,
agora, provavelmente estão torturando Brianna e Cássia por respostas. E
mesmo que tenham pego o celular de Cássia, não dá para saber onde
estou. Ou seja, estão ocupados à toa, mas Brittany não. — Charlie sorri.
— Ela sempre foi a impulsiva. É só mostrar que estamos juntos e pronto,
ela virá. Tenho gente lá dentro para me dar informações. Os homens de
Juan se ocupam com as duas e os meus homens pegam Brittany.
A mão de Charlie vai passando pela minha coxa, que está coberta
pela calça. Aperto as minhas pernas uma na outra, impedindo que ele me
toque naquele lugar.
— Oh, meu amor, logo logo eu estarei aí. Sabe que sempre quis
fazer isso, mas eu prometi que seria no momento em que você se sentisse
bem. — beija o meu ombro. — Não vejo a hora de isso acontecer. Assim
que tudo isso terminar, tenho certeza que ficaremos muito bem.
A mudança repentina de assunto me assusta.
Aperto as minhas mãos com força, evitando ter uma reação
contrária a que Charlie espera.
— Mas eu gostaria tanto de matar a saudade de você. — continua,
agora sussurrando no meu ouvindo, me fazendo contorcer de medo, essa
reação eu não consigo controlar. — Por muito tempo eu quis, mas fiquei
tão ocupado com tudo acontecendo, meu pai desaparecido, os negócios
parados...
— Matar a saudade como?
Que não seja o que eu estou pensando.
— De sexo. — sussurra. — Meu amor. — ele me empurra para o
lado, para que as minhas costas fique a sua frente.
Escuto o som de alguém pigarreando.
— Que porra você ainda está fazendo aqui? — Charlie grita com
o homem.
Obrigada por estar aqui.
— É que ela estava muito mal no carro, quase desmaiada. Se
queremos que ela esteja acordada para mandar um vídeo para Brittany,
que pelo menos ela ainda tenha alguma força para falar. Creio que sua
ideia será péssima para o momento, fora que ela já vomitou.
Obrigada. Muito obrigada por isso.
— Você tem razão. — Charlie me abraça novamente. — Te
assustei, não foi? — não respondo. — Às vezes fico extremamente
impulsivo, ainda mais quando estou ansioso. Mas te prometo que não me
aliviarei usando você. Tudo mudará a partir de hoje, Jennifer. Farei a
promessa novamente, só tocarei em você quando você estiver à vontade,
eu juro.
Levanta da cama e me dá a mão, para que eu segure.
Mesmo não querendo, faço o que ele quer.
— Pode limpar o quarto. — fala com o homem. — E depois
vamos nos reunir para falar do plano.

(...)

O tempo passa e continuo sozinha em outro quarto, me deram um


prato de feijão e carne. Consegui comer sem aquele mau cheiro
insuportável, mesmo assim não foi tanta coisa, já que estou nervosa pelo
que vai acontecer.
Escutei vários homens falando sobre pegar Brittany e a levar para
algum local. Também falaram que, no momento, não importa pegar os
outros e sim Brittany.
Logo em seguida escutei muitos passos e sons de carros, depois o
silêncio.
Mais algum tempo se passa até que a porta é aberta e Charlie
entra, logo após ele tranca novamente.
— Prometo que nada te acontecerá. — se ajoelha a minha frente.
— Só preciso que grave um vídeo chorando e pedindo ajuda. Vou colocar
uma arma na sua cabeça, mas saiba que jamais atirarei, ok? Isso é algo
que chamamos de teatro, tipo aquelas coisas que assistíamos na TV,
lembra? Pessoas fingindo cenas, choro, tristeza, essas coisas, lembra? —
não respondo, porque estou nervosa demais para qualquer coisa. — Só
chore e peça socorro, apenas isso. Tenha certeza que depois disso só
teremos a vida tranquila, bem longe daqui. Agora levante.
Não levanto.
— Sei que está com medo dos homens armados, mas eles não
estão aqui, quer dizer, apenas um, porque ele vai ajudar na questão do
nosso fingimento. Aqui é um local seguro, não precisa ter medo. — ele
tenta me levantar do chão mais uma vez, porém, o meu medo me impede
de ficar em pé e mordo o lábio para não chorar. — Jennifer, nosso plano
começará a dar certo. — se ajoelha novamente a minha frente, segura o
meu queixo e levanta minha cabeça, para poder olhar para ele. — Confie
em mim, nos conhecemos desde sempre, eu jamais te faria algum mal.
Quase dou risada nesse momento, mas respiro fundo, tentando
não chorar.
Pensa, Jennifer, só tem Charlie e o outro segurança, talvez agora
seja fácil de fugir.
Charlie fica acariciando meu braço, para me acalmar.
Enquanto isso eu tento manter alguma calma para pensar em
como escapar, mesmo sem saber onde estou, é melhor tentar e conseguir
fugir em um local estranho, do que viver o sonho de Charlie.
Porque se Charlie conseguir matar Brittany, o plano dele é irmos
para um local muito deserto e ficar lá para sempre.
E do jeito que ele é, passarei o resto da minha vida ao seu lado.
Estar presa e sozinha é melhor que ficar solta e ao seu lado.
Tendo tudo isso em mente, levanto do chão.
— Ok, podemos fazer o fingimento. — falo com ele.
Ele sorri, ficando feliz com minha resposta.
Saímos desse quarto e passamos pelas outras portas, estou à
frente de Charlie e quando chego a sala vejo uma arma em cima de um
dos sofás.
Pode ser a arma de Charlie, porque é a que eu sempre vi com ele
e, pelo menos na minha cabeça, eu sei como usar.
Mas eu tenho medo!
Medo de não conseguir usar a arma e acabar fazendo tudo
errado... Se Charlie ou o segurança me pegar, será pior.
Não sei onde o segurança está, mas Charlie disse que um ficou
aqui.
É melhor tentar fugir.
Antes de ter qualquer reação, o segurança sai de algum quarto e
vejo o momento em que ele mira em Charlie e atira em sua perna.
Assusto-me com o que acabou de acontecer e viro-me para
Charlie, olho para ele e para o segurança.
— Que porra está fazendo? — Charlie grita, segurando a perna.
— É chamado de justiça com as próprias mãos. — o homem
começa a rir. — Vingança? Não sei, mas sei que será bem divertido. Não
te ensinaram a sempre ficar perto da sua arma? Nunca deixe sua arma
para trás, Charlie! Mas essa lição não servirá para mais nada.
Muitas vezes, quando Charlie queria ser bonzinho comigo, ele
deixava a arma para trás, para que eu não tivesse medo dele...
Charlie segura a perna e tenta pegar a sua arma, estou mais perto
dela que ele, então, na impulsividade, eu pego a sua arma.
— Jennifer, me entregue a arma! — Charlie grita. — Você não
sabe usar!
— Eu acho que sei. — falo e olho para o segurança, que apenas
sorri. — Eu...
— Jennifer, saia daqui! — Charlie grita. — Ele não está do nosso
lado, atire nele!
Tento lembrar de como usar a arma, e, nesse momento, o
segurança atira na outra perna de Charlie.
— Jennifer, por favor, salve a sua vida! — Charlie grita em
desespero. É como se eu estivesse congelada no lugar, apenas olhando
seu sofrimento... E gostando disso. — Me entregue a porra da arma!
Ele tenta levantar e não consegue, tenta vir na minha frente,
praticamente se arrastando. Dou passos para trás e miro a arma na sua
cabeça.
Sua surpresa é evidente, ele arregala os olhos, abre a boca, mas
não consegue falar nada.
O segurança se aproxima de mim com a arma, dou um passo para
trás, mas ele apenas sorri.
— Essa é a sua chance, nena. Sei que você é a que mais precisa
disso. Tenha certeza, essa será a pior morte para Charlie. Ele será morto
pela pessoa que mais ama, ou que ele pensa amar.
O homem segura a arma que está na minha mão, e eu deixo, ele
mexe nela, sei que está destravando.
— Jennifer... — olho para Charlie. — Atire nele, não acredite
nesse homem.
Charlie está pedindo para que eu o deixe viver...
— Sabe, Charlie, você só existiu por causa do seu pai. — o
homem encara Charlie. — Porque se não fosse pela inteligência de
Henry, você teria sido morto por Brittany há muitos anos. Nem pesquisou
para saber quem sou, pior, nem tinha algum dossiê sobre o cartel de Juan
Herrera. Uma pesquisa básica, Charlie, e você saberia que sou do cartel,
minha foto está estampada em vários jornais por assassinato e venda de
armas desviadas do exército. — dá risada. — Provavelmente seu pai até
já saberia disso, mas não o homem mimado que viveu por vingança. — o
homem se agacha, ficando a altura de Charlie. — É engraçado que você
viveu por uma família que nunca te colocou e nem te colocaria em algum
testamento. Na sua cabeça Whitney e Camille foram jogadas para
escanteio por serem mulheres, mas por que Sofia ficou? Branca, padrão,
mulheres que seriam respeitadas na sociedade, mas Camille e Whitney?
Por que escondidas como uma vergonha? Por que usadas e jogadas fora?
O que tem em comum com elas, Charlie? Cor da pele e você sabe bem
disso.
— Jennifer... — Charlie olha pra mim. Essas palavras doem nele.
— Você acreditou ser um Stanford, mas nunca foi. Foi o filho
escondido, aquele nunca mencionado, aquele que serviu de capataz, você
só ganhou reconhecimento após a morte dos irmãos, mesmo assim nunca
foi para uma reunião da empresa do seu pai, nunca foi apresentado como
legítimo herdeiro, nada disso. Mas Henry dizia te amar. Henry te deu
uma mulher como presente. — aponta pra mim. — Mas ele deu rios de
dinheiro aos seus finados irmãos. Você é tão descredibilizado que os
clientes do seu pai, dos negócios ilegais, nem acreditam que você pode
comandar algo. — dá risada. — Porque você nunca foi importante. Você
caiu graças ao seu pai, porque ele nunca falou sobre você para os outros
desse negócio. O homem que você puxa tanto o saco, que tem esse
suposto amor, no entanto, é a mais pura dependência emocional. Henry te
usou, você não tem credibilidade alguma, nem inteligência para o ramo.
Acredita que essa moça aqui te ama? — aponta pra mim. — A arma está
destravada, estou de costas, ajoelhado na frente dela, e ela não atira em
mim. Mas, na sua cabeça cheia de merda, ela te ama.
Charlie olha pra mim nomeante, olhos cheios de lágrimas.
— Jennifer...
— Continue sussurrando, talvez ela não puxe o gatilho, mas ela
também não puxará contra mim. — levanta e fica a minha frente. — Seu
pai e irmãs te esperam.
— Que? — sussurro a pergunta.
— Juan, Brittany e Jessica, que são seu pai e irmãs. Você tem
família, mas eles só souberam disso há alguns meses, Charlie e a família
tirou você deles. Aparentemente eles te venderiam, mas aquele psicopata
ali se interessou por uma criança e você ficou com ele, melhor dizendo,
foi preservada para ele.
— Eu tenho... — minha voz quase não sai. — Família?
— Tem, e estão fazendo de tudo para te resgatar, por isso estou
aqui. Charlie jamais te contaria que tem família, Jennifer, porque você
teria para onde correr pedindo ajuda, e eles te ajudariam sem pensar.
Por anos acreditei que fui abandonada, que não tinha para quem
pedir ajuda.
— Mentira dele, Jennifer! — Charlie grita.
— Pense bem, Jennifer. — olho para o segurança. — Por que
você foi usada no plano? Por que seria usada agora? Por que alguém viria
atrás de você se não tivesse algum nível de importância para eles? Por
que fingiria que está triste, sofrendo e chorando para atrai-los? Só para
atingirmos Charlie? Então por que você era mantida presa? Para não
sabermos da sua existência! E você só começou a ficar presa, sem ver
outras pessoas, após aquele plano escroto onde ele estuprou e você fingia
que era Jessica, que é a sua irmã.
Fico completamente trêmula agora.
— Sua mãe vendeu você e Jessica, mas ela fugiu com a ajuda de
Brittany, mas nunca souberam da sua existência... Mesmo que sejam
idênticas.
Como assim?
— Jennifer, atira nele!
— É a única coisa que Charlie sabe falar, Jennifer, porque não há
o que falar, nada do que ele fez tem defesa ou explicação.
— Jennifer, mostre para ele que está errado. Mostre que você me
ama. Essa é a sua chance. — a mesma voz suave que ele faz para tentar
me conquistar, tentar me convencer. —Eu sei que você não vai me matar,
sei que me ama. Lembre todos os nossos momentos juntos. Lembre o
nosso amor. Lembre que eles mataram a nossa família.
Nossos momentos juntos não passaram de uma grande tortura.
Algumas vezes foram tapas, gritos, humilhações, pânico... Ele me
colocou tanto medo sobre as coisas da vida, que teve uma época em que
eu preferia ficar trancada ao invés de sair do quarto. Charlie, junto com
seus irmãos e seu pai, me fizeram acreditar que eu não tinha família e que
eu não prestava para nada. Charlie me estuprou e ainda filmou.
Eu sempre torci para a minha liberdade chegar, eu tinha visto
Charlie matando uma pessoa e pensei que faria aquilo com ele, para
conseguir me livrar da sua loucura. Livrar de todo o mal que ele me fez.
— Atira nesse filho da puta... — é como se eu estivesse surda a
partir desse momento.
Charlie está quase ajoelhado no chão, segurando as pernas. Não
há mais nada que ele possa fazer para se defender. O homem que deveria
estar ao seu lado, destravou a arma...
Lembrando como Charlie havia feito no passado, eu dou o
primeiro tiro, acertando a sua perna.
Escuto o seu grito e isso me apavora, mas, também, me dá uma
sensação de alívio.
— Eu não posso acreditar nisso. Jennifer! Lembre os nossos bons
momentos. Não deixe que essa lavagem cerebral dê certo. — ele começa
a chorar.
As suas lágrimas lembram as minhas. Quando eu implorava para
que ele parasse, ele continuava, ainda ria, pedia por mais, depois, ele
aparecia arrependido, me pedia perdão e prometia que isso não iria mais
se repetir. Ele nunca cumpriu a promessa
— Charlie, meu bom momento com você sempre foi o dia em que
eu te mataria. — falo com a voz firme, nem estou mais me reconhecendo.
— Não teve um único dia que eu não pensasse nisso. Agora, Charlie,
chegou a hora que eu sempre esperei. O momento em que você pagará
por tudo o que fez comigo.
CHARLIE
Passado

Um presente.
Meu pai disse que tem um presente para mim. Mas, que tipo de
presente eu posso querer? Já tenho carro, casa... O que mais poderia
querer?
Olho para o meu irmão, que está ao meu lado, enquanto assiste
um programa inútil na TV.
— Onde está o meu pai? — pergunto. — Quero a porra do meu
presente! Tenho mais o que fazer do que fiar esperando por ele.
— Só espero que ele não traga a puta da sua mãe. — faz cara de
nojo. — Imagine só aquela negra aqui.
— Eu sou negro. — lembro-o.
— Mas é diferente. — fala mais suavemente. — Nós somos
irmãos de sangue, tem sangue branco nas suas veias, diferente da sua
mãe que é negra. Muito negra.
Meu pai entregou Camille porque disse que não queria uma
menina na casa, por meus irmãos sempre frizarem sobre a negritude da
pessoa, achei que fosse racismo, mas eu fiquei e sou negro. Meu pai
disse que fiquei porque além de ser homem, me pareço muito com ele.
Camille é uma garota, então não teria serventias... Pelo menos,
não por enquanto.
Mas sei que meu pai me ama e ele jamais me abandonaria, se
não ele já teria feito.
Com Whitney foi à mesma coisa, ele gostou dela e acabou
levando para casa, mas ele não poderia apresentar uma negra às
pessoas que ele conhece.
É racismo, eu sei, mas eles não são racistas comigo!
— Charlie. — olho para frente e vejo o meu pai. — Trouxe o seu
presente.
— E onde está? — pergunto. — Só vejo a sua mão vazia.
— Está aqui.
Ele vai para o lado e vejo uma garota atrás dele. Levanto-me do
sofá e caminho em direção à garota.
Eu a conheço!
Jessica?
— O que isso significa? — pergunto ao meu pai.
— Ela é obediente e vai fazer dez anos, está sendo moldada para
ser uma mulher exemplar. A sua mulher.
— Jessica?
Meu pai vem a minha frente e fala bem baixo:
— É a gêmea de Jessica. — arregalo meus olhos. — Isso mesmo.
Você gostava daquela garota, enquanto não temos a verdadeira, você
pode ficar com a cópia.
— Onde ela estava esse tempo todo?
— Esperando algum comprador, vi como Jessica teve uma
evolução no corpo, então espero o mesmo de Jennifer. Uma adolescente
com corpão vale muito mais que uma criança frágil.
— Mas por que está me dando se ela vale tanto?
— Pra você se acalmar um pouco, Charlie. Anda muito nervoso,
muito irritado. Quem sabe com uma cópia da sua amada, você para um
pouco e relaxa mais? Ela é toda sua, basta ser obediente, Charlie. Se
não voltar a me obedecer, eu pego essa garota novamente, está me
entendendo?
— Acha mesmo que essa garota me fará mudar? — dou risada.
— Ok, veremos.
Olho para a garota que está assustada a minha frente. O seu
cabelo está solto e é da altura do ombro, os seus olhos são castanhos
claros e sua pele é como se fosse bronzeada, mas sei que não deve tomar
sol.
Olho para o seu corpo e noto que ela, realmente, não parece uma
menina de dez anos, ela parece mais velha... E já vem obediente.
Vou até ela e ajoelho, para ficar na sua altura.
— Olá, garota. — falo com a voz bem baixa, para não assusta-la.
— Qual o seu nome?
— Jennifer. — ela responde rapidamente.
Perfeito! Ela é obediente.
— Olá, Jennifer. Eu cuidarei de você. — sorrio para ela. — Você
me pertence a partir de agora. É a minha mulher.

Agora
Os tiros nem estão doendo. O que está doendo é o meu peito. A
dor de ver Jennifer atirando em mim.
Bato no chão como uma criança birrenta e choro, esse sou eu
sofrendo por Jennifer.
Como ela pode fazer isso?
— Mais um, Jennifer! — e o filho da puta desgraçado continua
incentivando. — Um no joelho, e assim por diante.
— Por quê? — grito com Jennifer. — Você jurou amor por mim!
Jennifer foi dada porque eu queria Jessica, sempre quis.
A verdadeira função de Jennifer seria a venda, mas ela era muito
criança, muito pequena e magra, o preço para ela nunca foi alto. Foi
cuidada por uma senhora até ter alguma fisionomia melhor e valer mais...
Porém, como eu era louco por Jessica, meu pai acreditou que me dando
uma garota mais frágil e solicita, eu o obedeceria, porque se não entrasse
na linha, perderia Jennifer.
E por Jennifer eu andei na linha, obedeci meu pai, trabalhei para
ele... E agora ela atira em mim?
Na primeira oportunidade ela se volta contra mim?
Joga tudo o que vivemos no lixo?
— Eu jurei me livrar de você! — ela cospe todas essas palavras e
isso dói. Dói no fundo da minha alma. Eu poderia morrer nas mãos de
qualquer pessoa, mas Jennifer? Isso nunca! Isso nunca passou por minha
cabeça. — Eu passei todos aqueles dias torcendo para que algum dos
seus inimigos te matasse, eu poderia não sentir a sensação boa que estou
sentindo agora, mas me livraria de você. Eu fiquei feliz quando seus
irmãos morreram. Mesmo sem saber quem foi, eu digo que amo as
pessoas que fizeram isso com eles.
— Jennifer, não entende que tudo isso é um plano para que fique
contra mim? Lembra dos nossos momentos, mais de dez anos juntos!
Ela me ama! Sei que me ama!
— Você nunca me ajudou em nada! Você só me fez sofrer desde
criança! Eu sempre te odiei e isso nunca mudará!
— Não, Jennifer... — eu não sei o que pedir, é como se eu não
conhecesse essa mulher a minha frente... E não conheço! — Por que,
Jennifer?
— Porque eu te odeio, não é óbvio? Não é obvio que tenho nojo
de você? Eu não ficava gelada e tremendo por te amar, eu ficava naquele
estado por te odiar e por ter nojo. Você nunca me causou nada além de
pânico e nojo!
Escuto os sons de tiros sendo disparados. Sinto as balas me
perfurando e a risada do homem que contratei para me ajudar... E que
pertence ao cartel de Juan.
Nunca servi para nada disso. Meu pai estava certo, sempre muito
instável, muito sentimental... E agora perco tudo pelo meu próprio erro.
Mas nada disso me abala, o que mais me abala é isso estar sendo
feito por Jennifer.
— Eu te amo, Jennifer. — murmuro, com a voz fraca. Sei que já
estou morrendo.
Vejo Jennifer em cima de mim. Minha visão está ruim e já estou
fraco, obviamente já perdi muito sangue.
— Eu...
— Me ama? Você me ama, Charlie? Pois eu te odeio. Eu sempre
vi a hora de fazer isso. Agora você está aí, no chão, chorando, sabe o que
me lembra? Lembra meu passado, quando era eu que estava chorando e
você me fazia ''engolir o choro''. Eu chorava assim, talvez pior que você.
Você ainda está tendo sorte. Charlie, eu passei mais de seis anos sofrendo
ao seu lado, você sofreu por apenas alguns minutos.
— Jennifer, eu...
— Poupe suas palavras, elas não servirão de nada. Você não
estará aqui para mais nada. Você vai estar como o seu pai e seu irmão,
também queria ter feito isso com eles, mas já que eles morreram há muito
tempo, só me restou você. — outro tiro é dado. — Adeus, Charlie.
Capítulo 23
BRITTANY
Dia seguinte

— Estou tão ansiosa! — bato palmas. — Finalmente verei minha


irmã!
— Não encha os ouvidos dela com suas falas rápidas e sem
sentido. — Alejandro me alerta. — Ela entrou em estado de choque,
lembre-se disso.
— Alejandro, eu sei bem como chegar na minha irmã, ok?
— Eu concordo com Alejandro. — Juan fala. — Você pode ser
bem intensa, Brittany!
— Farei tudo com calma, não precisam se preocupar, ok?
E finalmente conseguimos a vitória.
Cássia também morreu, entenderam que ela foi ameaçada, que os
parentes estavam presos. Mas Oliver descobriu, ou melhor, Charlie
contou, que Cássia sempre foi uma cafetina dos negócios de Henry, a
mulher que lucrava em cima das pessoas que eram obrigadas a se
prostituírem.
Camille foi entregue para Cássia, para dar lucro aos negócios,
mas ela acabou colocando Franklin na história e nunca o apresentou a
Henry. Ou seja, Franklin foi morto porque aceitou o dinheiro de Matt
para ter Camille, arruinando o plano dos chefes.
E Cássia foi ameaçada para fazer algo no futuro, mas acabou
virando uma ligação entre Brianna e Charlie.
Ou seja, todos culpados e todos morreram.
Os familiares dela, que estavam presos, foram liberados hoje do
cativeiro e receberam a informação que Cássia morreu, apenas isso.
Os outros seguranças de Charlie também foram mortos em uma
emboscada.
E Jennifer matou Charlie. Oliver acreditou que ela poderia querer
vingança e deu a arma a ela...
Jennifer matou, falou tudo o que queria, mas depois entrou em
estado de choque e Oliver a trouxe para o hospital.
Assim como esse lado aqui, ela não sabia da nossa existência
como família, apenas como inimigos.
Mas agora ela verá que tem pai, irmãs e sobrinho.
Ah, não vejo a hora de vê-la!
Chegamos ao hospital e somos informados qual quarto ela está.
Assim que chegamos ao corredor, encontro Carlos do lado de fora do
quarto.
— Carlos... — cantarolo, ele sabe o que quero dizer. — Como
chegou tão rápido?
— Oliver pediu ajuda, estava mais próximo e vim até aqui.
— Hum...
— Parem com essas falas estranhas! — Juan fica a frente. —
Vamos logo ver Jennifer.
Sigo Juan e entramos no quarto. Para quem queria calma, o
homem quase derruba a porta.
Saio de trás de Juan, já que ele ficou paralisado.
Deus, é a Jennifer!
Ela está nos olhando bem assustada.
— Calma, não te farei nenhum mal. — Juan fala calmamente. —
Você entrou em estado de choque e desmaiou...
Ela parece não entender nada.
— Você teve uma queda de pressão. — me olha atentamente. —
Você caiu porque está fraca.
— Sim. — ela parece não entender nada e olha para o pulso.
— Oliver avisou que pediu para o médico colocar isso em você.
— Juan aponta para a algema. — Ele contou que você está bem
desnorteada e não sabe da nossa existência, não sabemos como sua
cabeça está e achamos melhor te manter segura.
— Eu não farei nada... Nada de ruim.
— Acreditamos nisso. — falo calmamente. — Mas não é sobre
nos causar algum mal, e sim de você fugir ou qualquer outra coisa.
— Eu não tenho pra onde ir.
— Agora você tem. — sorrio e me aproximo dela. — Eu sou
Brittany.
Seus olhos se arregalam.
— Eu sou o Juan.
— Jennifer. — murmura.
Quando menos espero, Juan já está indo na direção de Jennifer e
está a abraçando.
— Perdoe-me por tudo. Eu juro, se soubesse da sua existência eu
teria ido até você!
— Ok. — ela não entende nada!
Juan pediu calma, já está abraçando com força e pedindo perdão.
— Estou tão feliz por ter você aqui comigo. — ele dá um beijo na
testa de Jennifer. A mulher vai desmaiar novamente com tantas
informações sem sentido. — Você está confusa, mas eu sou o seu pai. Eu
não sabia que tinha outra filha. Se soubesse, eu juro que teria ido atrás de
você antes.
— Eu tenho família mesmo?
— Sim. Eu sou seu pai e ela é Brittany, a sua irmã.
Tanta calma nas informações, Juan!
— Você está confusa. — é a minha vez de falar. — Passou por
muita coisa ao mesmo tempo, mas, aos poucos, começará a entender. —
sorrio para ela e ela sorri pra mim. — Acredito que me conhece da pior
maneira possível.
— Matou os irmãos de Charlie?
— Meu maior feito e orgulho.
Ela dá risada.
— Sou sua irmã mais velha e a melhor pessoa que poderá
conhecer. — olho para trás e vejo que Alejandro está aqui. — Esse aqui é
Alejandro, meu namorado. — ele acena para ela e ela apenas balança a
cabeça. — Tem mais pessoas para que conheça, incluindo Jessica. — ela
se retrai um pouco.
— É uma ótima pessoa. — Juan continua. — Charlie deve ter
falado muita coisa ruim sobre nossas vidas, mas é tudo mentira, ok? —
ela balança a cabeça em concordância. — Se estiver bem, já podemos ir
pra casa.
— Casa?
— Sim, você vem morar conosco. — Juan informa. — Não se
preocupe, você será muito bem tratada. Não somos pessoas ruins, apenas
pessoas que foram mantidas no escuro sobre você.
Alejandro vem em minha direção e entrega a chave que Oliver
acabou de dar, tiro a algema de Jennifer.
— Eu cuido de uma menininha. — começo a falar com Jennifer,
enquanto tiro sua algema e aproveito para resumir quem é quem nesse
parentesco — Mas ficou em casa, as últimas horas foram bem
complicadas. Você tem um sobrinho, Lucas, ele vai casar com a Dulce no
futuro. Christopher é casado com Jessica, ele é um grande insuportável,
mas é do bem, quer dizer, depende do ponto de vista, do nosso ponto ele
é do bem.
— Você terá todo o tempo para contar tudo para Jennifer. —
Alejandro fala comigo. — Ela já teve muita informação para um único
dia.
— Ok. — reviro os olhos. — Conheceu Carlos?
— Sim. — ela sorri e fica vermelha.
— O que acha de Carlos?
— Ele é alguma coisa da família? — pergunta.
— Um amigo extremamente próximo, zero parentesco. Ou seja,
caminho li...
— Brittany, é melhor que você não esteja fazendo o que eu acho
que está fazendo. — Juan aparece ao nosso lado. — Já basta Alejandro.
Carlos é do cartel, nem pense nisso!
— Juan, deixe acontecer naturalmente.
Juan está se preparando para mais um drama, mas o médico
aparece para falar com ele.
— Acostume-se, Juan pode ser bem dramático. — sussurro para
Jennifer. — Está se sentindo bem?
— É um pouco estranho, Charlie sempre falou mal de você.
— E você acreditava?
— Nunca entendi se matou ou não os irmãos dele, mas se matou,
eu já te amava.
— Posso te abraçar? Juan pediu calma, então fui aos poucos, não
imaginei que ele fosse se jogar em cima de você em um abraço.
Sorrindo, ela confirma.
Abraço Jennifer, pensando em como seria se tivesse a conhecido
antes.
— Queria ter te conhecido antes. — sussurro. — Provavelmente
não vai querer falar por agora, mas imagino o quanto sofreu com aquele
povo. Lembre-se, sempre que quiser falar algo, estarei aqui para você. —
aperto sua mão e olho para ela. — Na verdade sempre estaremos aqui.

(...)

Entro na casa e vou diretamente para Dulce, que está sendo


cuidada por Whitney.
— Ela chorou muito quando você saiu. — Whitney fala. — Ela
queria a mãe.
— Saudades do meu amor. — beijo seu rosto e ela aperta meu
rosto. — Também senti sua falta. Obrigada por cuidar dela.
— Nem precisa agradecer, estou aqui para qualquer coisa. —
levanta da cadeira. — Ela está aqui?
— Lá na sala.
— Por que Jessica não pode vir? — Christian pergunta.
— Juan quer ir com calma nas informações, mas agarrou a
menina depois de um estado de choque. — bufo. — Mas realmente,
talvez ver uma pessoa idêntica, logo de cara, assuste um pouco. Mas
acho que daqui a pouco as duas vão se encontrar. Podemos ver Jennifer
agora.
Caminhamos até a sala e Jennifer está sozinha, mexendo as mãos
em um gesto bem nervoso.
Levo Dulce até Jennifer, que continua muito assustada.
— Essa daqui é a Dulce Maria, mas chamamos de Dulce ou de
Du. Ela é sua sobrinha.
— Sobrinha? — Jennifer inclina a cabeça, como se não
entendesse o que falei.
— Eu cuido dela. Ela não é a minha filha de sangue. — explico.
— Alejandro teve uma crise nervosa e ficou com uma cenoura
siliconada, mas ela já morreu.
— Brittany. — Alejandro adverte. — Você vai confundir a garota.
— Alejandro é um pouco calado, mas é um amor de pessoa. —
sussurro para Jennifer. — Essa aqui é a Whitney, sua madrasta e
Christian, nosso irmão mais novo.
— Espera, Whitney e Christian?
— E tem a Camille!
Sua boca se abre e ela não consegue falar nada.
— Acho que já ouviu falar dos nossos nomes. — a voz de
Whitney quebra um pouco e ela vai até Jennifer. — Também fomos
salvos dessa gente e estamos muito felizes aqui.
— Deus... — Jennifer não consegue falar nada. — Eu pensei que
todo mundo estava morto... É muito...
— Confuso. — falo com ela. — Uma hora entenderá tudo.
— Posso te dar um abraço? — Whitney pergunta e Jennifer
confirma.
As duas se abraçam. Provavelmente Jennifer sabe a história de
Whitney, e por isso ela chora.
— Ela chora feio que nem Jessica. — Christian sussurra ao meu
lado.
— É, eu sei, Jessica é um horror chorando e Jennifer é igualzinha.
Jessica assistiu a terceira temporada de Stranger things e chorou
horrores com aquela cartinha do Hopper, pronto, o assunto mudou para
como ela é feia chorando.
— Um horror. — murmuro.
— Você é ótima nas boas vindas. — Alejandro sussurra ao meu
lado. — E agora que estamos bem, espero te ver por mais tempo.
— Terei que continuar apresentando a vida para minha irmã. —
sorrio para ele. — Ou Carlos pode ajudar.
— Eu acho que acredito na sua fanfic.
— Eu sempre tenho razão. — pisco um olho. — Pode esperar e
verá.
Capítulo 24
BRITTANY

Após o abraço de Jennifer e Whitney finalizar, chamo por ela.


— Vou te mostrar algumas pessoas. Incluindo Jessica.
— Ela... — Jennifer não completa.
— Ela é sua irmã gêmea.
— Jessica. — ela fica um tempo pensando. — Irmã gêmea, o que
isso significa?
— Isso significa que vocês são irmãs, estavam na barriga da
mesma vadia ao mesmo tempo. Você e sua irmã são quase idênticas. —
resumo.
— Eu me passava por Jessica. — ela fala. — Charlie me levava a
alguns lugares e ele me chamava de Jessica. Era o acordo, ele me
chamava de Jessica e eu não apanhava.
— Eu sei. — seguro sua mão. — Charlie está morto, não mudará
nada do que aconteceu, mas não temos que nos preocupar mais com ele.
— Ele filmou algo. — fala bem baixo. — Ele realmente mostrou
para todos?
— Sim. — fecha os olhos quando respondo. — Mas você está
bem agora, nunca mais terá que fazer isso. — sorrio tentando mudar o
clima da situação. — Não se preocupe, ninguém nem lembra e nem vai
comentar sobre o assunto.
— Por que ele fez aquilo? Filmou e mostrou?
— Para trazer sofrimento coletivo, para todos. Charlie era uma
pessoa bem ruim, sem inteligência, mas sobressaía na maldade. Não
tenha vergonha, todos entendem sua situação.
— Eles viram...
— Não se preocupe, ninguém vai mencionar isso, ninguém. E
nem lembram sobre isso. — aperto seu ombro. — E se falarem algo, me
fale, eu acabarei com eles.
— Do mesmo jeito que acabou com os irmãos de Charlie? —
sorri.
— Eles também fizeram coisas ruins, e por isso me vinguei deles.
— Eram como Charlie, não é?
— Sim. E quem passou por aquela situação com eles, também
sofreu, então por isso ninguém vai mencionar qualquer coisa que cause
constrangimento. Se em algum momento quiser entender a história, eu
contarei, mas só se você se sentir à vontade com isso.
— É estranho não ter tido ninguém e agora ter, eu achei que
Whitney e Christian nem existissem, assim como Camille. Todo mundo
sofreu?
Eles estão mais afastados de nós duas, assim como Alejandro.
— Sim, vivendo presos, Camille foi vendida para a prostituição,
mas foi salva antes que uma grande merda acontecesse.
— E você?
— Fugi de adultos querendo me vender e me estuprar. — dou de
ombros. — Vivendo sem saber se seria atacada ou não.
— Jessica?
— Sofreu também, junto comigo, mas fugimos.
— Alguém não sofreu?
— Os homens, eles apareceram depois.
— Mas Juan te conhecia, ele não te salvou?
Prendo um riso amargo que viraria choro.
— Essa galera que se foi, tinha modos de me deixar parecendo
uma louca, ou seja, o nosso pai acreditou que eu era doente. Que toda a
história que contei era fantasiosa. Mas Juan não é ruim, assim como
Carmen, minha mãe. Vacilaram, mas eu perdoo.
— Você tem mãe e ela não é minha mãe? Igual a Whitney que só
é mãe de Charlie?
— Tipo isso, é uma longa história. Nossas mães eram amigas,
Sofia vendia crianças e prostituía uma galera a força, Carmen, minha
mãe, é ou era prostituta, ainda não entendi o que ela quer da vida. E
trabalhava para Sofia sem imaginar que ela era ruim. Sofia enganou
muita gente, se fingindo de boazinha. Basicamente eu era louca e Sofia a
heroína que cuidava de duas crianças com muito amor.
— Uau! Muita coisa junta.
— Quer ver esse povo todo junto?
— Pode dar uma breve resumida novamente?
— Claro! Tem o Christopher, o marido de Jessica. Ele era muito
chato no início, mas eu percebia que Jessica gostava dele. Sua gêmea é
uma tonta e caiu na conversa dele, claro que eu sempre soube que eles
acabariam juntos, mas ele precisava mudar antes disso. Eles tiveram esse
filho lindo, Lucas, o futuro namorado e marido de Dulce. — ela sorri
com a minha explicação. — Tem o Vicent e seu namorado Eric, eles são
gays e Eric é o irmão de Alejandro. — ela balança a cabeça como se
entendesse, mas tenho certeza que não entendeu. — Tem o Matt, que é
primo de Christopher e está casado com Camille.
— Quando Camille, Whitney e Christian foram salvos?
— Parece que tiveram uma longa relação, não é? Que sempre
estiveram aqui, já que Whitney está com Juan e Camille com Matt, mas
chegaram há poucos meses. Essa galerinha daqui é muito rápida para
casar, Jessica mesmo, senhor! Mal transou e engravidou! Continuando...
Continuo as apresentações até que finalmente contei a vida de
todos.
— Você fala muito. — ela diz.
— Eu sou a única desse lugar que conversa e, finalmente,
encontrei alguém para me escutar. Antes eu enchia os ouvidos de Carlos,
mas ele é péssimo de papo, na verdade ele não vai muito com minha cara
porque digo umas verdades para ele.
— Ele conversou comigo.
— Conte-me mais, Jenny.
— Ele disse que me ajudará e que é melhor não falar muito com
ele quando estivermos perto de Juan.
— Cara esperto. — sorrio. O filho da mãe já quer Jennifer. —
Juan é dramático e sempre quer fazer algo com os namorados das filhas,
Carlos está se protegendo.
— O que Juan faz?
— Nada de mais.
Não preciso falar para a garota o que Juan fez com Christopher e
Alejandro, ela vai querer ir embora.
— Então, preparada para conhecer a galera?
— Eu preciso falar uma coisa antes. Talvez eu não tenha uma
reação que todos esperam.
— Como assim?
— É meio confuso, Brittany, eu nem sei como converso muito
com você.
— Tenho poder de fazer a galera falar.
— Deve ser isso mesmo. Eu só vivi com a família de Charlie,
ninguém mais. Então eu posso ficar calada, não reagir como esperam...
Ainda mais com Jessica. Foram anos sem entender porque eu tinha que
ser ela, então...
Não consegue completar a fala.
— Não se preocupe, entenderemos perfeitamente tudo o que fizer.
— sorrio para ela. — Inclusive se não quiser ver ninguém, pode
descansar se quiser, a escolha é totalmente sua.
— Nunca tive escolha.
— Pois agora tem, pode falar o que quer fazer.
— Eu quero ver as pessoas, tenho curiosidade, mas sei que não
terei essa reação de alegria extrema porque eu só soube de todos agora...
Como posso dizer?
— Você nunca nem pensou na nossa existência, então nunca
sonhou com qualquer encontro para ter uma emoção.
— Conheci como inimigos, mas nunca considerei nada disso.
Mesmo assim... — suspira. — Quero conhecer as pessoas.
Segurando minha mão, vamos para o lado de fora da casa e devo
dizer que amo o conceito de ‘’calma’’ de Juan. Todo mundo reunido na
frente da casa a espera de Jennifer.
— Tanta gente. — Jennifer sussurra.
— Pode voltar para casa se for melhor para você.
Olha pra mim.
— Quero conhecê-los.
Andamos até eles e percebo que o olhar de Jennifer vai
diretamente para Jessica. Elas ficam se encarando.
Só tem diferença de cabelo e corpo, porque agora Jessica tem o
cabelo mais curto e o quadril e bunda são grandes. Jennifer tem o cabelo
comprido e suas curvas são como as de Jessica antes da gravidez.
— Jenny, essa é a sua irmã, Jess. — faço a apresentação.
— Olá. — Jessica dá um sorriso tranquilizador. — Prazer em
conhecê-la e seja bem-vinda.
— Obrigada. — Jennifer apenas murmura um ‘’obrigada’’ e
desvia o olhar.
Jennifer tem noção do vídeo do estupro, talvez saiba que foi para
prejudicar Jessica em algo... Ou ela tem algum ressentimento por Jessica,
já que foi tratada mal por cauda da irmã.
Mas é algo que só entenderei quando Jennifer se sentir à vontade
para se abrir e conversar mais.
— Esse aqui é o seu sobrinho. — mostro Lucas, que está sentado
na grama com Dulce e só tem olhos para ela. — Eu disse que eles vão
namorar no futuro.
E mesmo que Jennifer sorria, eu sei que ela está extremamente
nervosa com isso aqui. Por esse motivo sou bem rápida na apresentação,
porque ela parece que quer correr para dentro de casa.
E dito e feito, assim que termino de apresentar todos, ela segura a
minha mão e diz que gostaria de descansar.
Levo Jennifer até o quarto da casa de Juan, que está desocupado,
e pego os lençóis para que ela se cubra.
— Gostou do que viu? — pergunto, vendo como ela está
encolhida na cama e praticamente agarrada ao travesseiro.
— Parecem legais.
— Quando estiver se sentindo melhor, podemos conversar mais,
acho que o dia já foi muito cheio pra você.
— Conhecer as pessoas foi mais estranho que matar Charlie.
Dou risada.
— Eu matei duas pessoas e meu maior medo é saber que não
contei isso a Jessica.
— Por que não contou?
— Porque quis protegê-la do mundo e da verdade. Mas eu
contarei daqui a alguns minutos.
— Estou bem, acho até que vou conseguir dormir, pode ir
conversar com Jessica.
— Qualquer coisa é só gritar, em menos de um minuto alguém
vai aparecer para te ajudar.
— Sei que não sabia da minha existência, mas obrigada por ter
matado aqueles dois. Minha vida teria sido pior se eles tivessem
continuado vivos.
— A partir de agora a sua vida será muito melhor. — sorrio para
ela. — Não se preocupe.
(...)

Ter essa conversa com Jessica parece melhor agora que Charlie e
Henry já estão mortos. Por isso a chamei até o meu quarto.
— Jennifer está dormindo? — pergunta.
— Sim, está cansada, muitas informações em menos de vinte e
quatro horas. — bato na cama e Jess senta à minha frente. — O que está
achando da nova irmã?
— Eu acho que está sendo estranho para Jennifer, provavelmente
nunca soube de uma pessoa idêntica a ela nesse mundo. Como já tinha
ideia sobre sua vida, esperava por essa reação, mas ela...
— Jennifer se passava por você. Ela comentou sobre aquele vídeo
que te separou de Christopher. Jennifer foi chamada pelo seu nome, não
sei o que se passa na mente dela, até porque, acabamos de nos conhecer,
mas dá para entender a reação que tem.
— Sim, claro que dá para entender. Só não sei se em algum
momento ela vai querer se aproximar, porque nós duas também passamos
por certas situações, e sabemos como foi difícil deixar alguém entrar em
nossas vidas. Entendo o lado de Jennifer, só é estranho pensar que é
justamente por minha causa.
— Não é por sua causa ou sua culpa, Jess. — seguro sua mão. —
Sabemos como pessoas ruins agem, quando não tem como fazer aquela
pessoa sofrer, ela pega uma que tenha relação. Você não fez nada para
que isso acontecesse, para que houvesse essa culpa. O nosso grande feito
foi nos defendermos, e, do nada, Henry decidiu que seria uma boa ideia
dar uma criança ao filho, e esse filho cresceu querendo nos atingir e usou
nossa irmã, que não sabíamos da existência, para isso. Ou seja, sem
sentido algum!
— Nunca fez sentido algum, essa é a verdade. Fugimos, ok, mas
por que tudo isso?
Respiro fundo, eu já contaria, mas Jess acabou trazendo esse
assunto.
— Em uma das nossas conversas, antes da minha conversa com
Alejandro, você disse que eu estava estranha. Então, eu te chamei aqui
para falar sobre isso. Por muitos anos eu evitei tocar nesse assunto para
não piorar tudo, e quando estava tudo relativamente bem, não consegui
contar porque pensei que poderia estragar seu momento feliz, ao mesmo
tempo que pensei que eu poderia ter contado antes, e não contei. Me senti
mal por esconder tudo isso de você, então virou uma bola de neve, um
ciclo de achar que fiz certo, depois de me culpar, querer contar, ver que
está tudo bem, desistir e depois retornar ao ‘’fiz certo’’, me culpar e por
aí vai.
Jess não entende nada do que estou falando, mas pede para que eu
continue.
— O pontapé para a nossa fuga foi o que fiz, o que desencadeou
toda essa perseguição com nós duas. Eu matei os dois filhos de Henry.
Sofia sabia disso, mas Henry não acreditou que fui eu, ele me achava
incapaz de fazer algo assim, então desconfiou dos seus capangas e saiu
matando esses homens, quando finalmente entendeu que fui eu, já
estávamos fugindo...
— Espera, você matou os dois filhos de Henry? Ele tinha dois
filhos? E por que nunca me contou? Eu nunca te julgaria, não tem sentido
algum te julgar nessa situação...
— Eu me vinguei de algo que aconteceu com você. —
interrompo. Jess pisca os olhos, fica confusa, mas pede para que eu
prossiga com a história. — Tinha aquele homem que sempre estava com
David. Lembra que antes da nossa fuga você passou alguns dias
reclamando de incômodo nas partes íntimas?
Agora ela entende o que quero dizer.
— Não... Mas... — ela não consegue formular uma frase. — Mas
eu era virgem...
— Dedos. — vejo como ela engole a saliva com força e fica
tensa. — Um dia antes desses incômodos acontecerem, estávamos bem
cansadas praticamente lentar, até que você ficou desacordada e eu
paralisada. Eu conseguia abrir os olhos, tinha consciência, mas não
conseguia mexer nada, nem abrir a boca e nem meus olhos piscavam. Eu
vi quando aquele cara fez tudo aquilo com você desacordada, eu só
queria levantar e impedir, mas não tinha como, Jess. Mas David chegou
ao local e disse que ele não poderia fazer aquilo, que aquele cara tinha
que parar, ou perderia a parte preciosa, ou seja, sua virgindade, e que
deveria ser por trás, caso ele quisesse fazer algo. E eles fariam, mas
alguém chegou chamando por eles e nada aconteceu. Mas se eles fariam
naquela noite, eles poderiam fazer na noite seguinte, e foi com esse
pensamento que eu decidi que mataria os dois e que fugiríamos. Mas,
para a minha surpresa, Sofia sabia de tudo. Você estava com incômodo
nas partes íntimas, mas já tinha passado por tanta coisa e tínhamos que
fugir dali, pensei que se te falasse a verdade você quebraria naquele
momento e se Sofia sabia e não fez nada, se você falasse ou sofresse pelo
assunto, seria pior ainda, ela poderia contar que você estava fazendo um
alarde sobre o assunto. Então preferi falar que poderia ser infecção, pela
falta de banhos constantes, já que fomos privadas disso, Sofia aceitou
minha mentira, afinal, melhor pra ela. E assim eu fiz o plano todo em
minha mente, rezando para que Sofia, pelo menos, tivesse alguma
decência de entender que aquilo te machucou. E acho que ela entendeu,
não para o bem, claro, mas sim que a ‘’mercadoria’’. — faço aspas no ar.
— Estava com sequelas.
Jess derrama lágrimas silenciosas.
— Não é que foi uma surpresa sobre Sofia ser ruim. — continuo.
— Mas é que havia alguma esperança dela, pelo menos, esperar, sei lá, a
pessoa estar ao menos acordada. Não sei explicar, acho que foi meio
inocente da minha parte.
— Ao longo dos anos eu tive aversão por homens. — começa a
falar. — Não gostava do modo como me olhavam, não gostava do meu
corpo porque culpava todas essas curvas e volumes, acreditei que era isso
que me fazia virar um pedaço de carne, que não merecia qualquer
respeito. Ao mesmo tempo que não entendia porque minha cabeça
funcionava daquele modo, então associei tudo isso ao que vivi, mas lá no
fundo eu sentia que aquilo não fazia sentido, sentia que tinha algo mais,
no entanto, continuava sem repostas e atribui tudo isso a época que
seríamos prostituídas. E talvez lá no meu subconsciente, eu tenha uma
certa ideia do que aconteceu, mas não tinha como confirmar.
— Eu percebia, por isso falei do ciclo. Você parecia bem, então
não queria estragar nada disso contando o que aconteceu. Mas tinham
vários momentos que você estava mal, ficava confusa, comentava sobre
homens mostrando sentir nojo, mas você não entendia muito o motivo de
sentir isso. Eu pensava em explicar, mas tinham várias situações que era
algo normal e você entendia de maneira ruim, se eu contasse a verdade
tudo seria pior. Você levaria tudo a um nível mais elevado, não tínhamos
dinheiro para terapia, nada! Então deixei que essa história fosse indo e
indo, mas eu sabia que já deveria contar, só que...
— Seria uma pessoa com mais traumas ainda, sem qualquer
modo de ter auxílio profissional. Eu já era um caos só por causa de
olhares, sabendo que fui estuprada seria pior ainda. — enxuga as
lágrimas, mas elas ainda caem. — Eu não sei explicar o que sinto...
— Imaginei...
— É que... — para de falar um pouco e respira fundo. — É como
se eu já soubesse que algo tinha acontecido, eu tinha ideia que era
virgem, já que Christopher foi meu primeiro e só sangrei uma única vez,
mas algo me dizia que eu tinha passado por uma situação no passado. Eu
não conseguia pensar que passei por aquilo intacta. Porque você era vista
como louca, inconsequente e violenta, mas eu era a boba e idiota, todos
olhavam pra mim, me desejavam, era como se algo gritasse que eu tinha
sofrido algo. Então o que sinto agora não é nem surpresa, é tipo ‘’É, eu
sabia’’. Não sei explicar.
— Não sente raiva?
— De você? — olha pra mim e acaba dando risada. — Se eu
sentisse raiva você deveria me bater, porque você evitou que algo pior
acontecesse. E bem, se me falasse na manhã seguinte, eu teria chorado,
teria paralisado, acho que sim, teria fugido, mas o resto daqueles dias,
dos anos, eu não sei o que seria de mim. Eu já não gostava dos olhares
dos homens, se soubesse do que aconteceu acho que nem sairia de casa,
até porque eu ainda era uma adolescente... Minha mãe... — engole em
seco e vejo que prende o choro, respira fundo. — Eu entendo o que quis
dizer de Sofia, por mais que esperássemos o pior dela, é uma surpresa
pensar que ela sabia do que aconteceu, deixou e se calou. Então a minha
mente não processaria nada disso, eu não teria nem ao menos tentado
viver, ou teria, para ajudar em casa, mas o medo de ser encontrada seria
tão grande que não conseguiria sair de casa. Porque o que vivi foi medo,
mas não entender o que realmente aconteceu me fez pensar ‘’Talvez não
tenha sido algo tão grave, talvez eles nem lembrem da nossa existência’’.
Eu acho que sinto mais raiva ainda de Sofia, sinto raiva daqueles
homens, mas eles já morreram, e sinto algo como ‘’é, eu sabia que algo
aconteceu’’. Eu não sei o que sinto sobre o que aconteceu comigo.
Jessica chora alto e com força, seu corpo até balança e eu vou
abraça-la. Ela coloca a cabeça em meu ombro, acaricio suas costas, sem
saber o que dizer... Nem sei se tem o que dizer.
Jessica acabou confirmando aquilo que pensei, se ela soubesse
antes, ela não teria vivido nada, teria vivido pelo medo, pelo trauma, não
sairia de casa e eu não teria como ajudar, porque um caso assim é com
profissionais, e ainda não estávamos legalizadas nesse país, como
conseguiria um tratamento em um local do governo, sendo que não havia
documentação para isso?
Roubamos dinheiro na fuga, o que deu para comprar passagens e
chegar até aqui. Na verdade, o dinheiro acabou aqui e fomos procurando
algo para fazer. Até conseguir um emprego ‘’ok’’, e regularizamos nossa
vida.
Mas não teria sido assim se Jessica soubesse da verdade.
Confesso que em vários momentos pensei se não seria egoísmo
da minha parte, no entanto, egoísmo seria penar em mim, mas eu
realmente pensei em Jessica, em como ela não teria um tratamento
adequado, o quanto sofreria e não conseguiria viver.
— De tudo o que aconteceu, Britt, eu também tenho outra certeza.
— se afasta e olha nos meus olhos. — Você nem foi uma irmã, foi uma
mãe mesmo. — é a minha vez de soluçar ao chorar. — Porque cuidou de
mim até nessa situação, e mesmo aqui nessa casa, com tudo protegido, eu
sei que continuou cuidando para que nenhum mal me atingisse. Então
não, não sinto algo ruim sobre o que fez, pelo contrário, se tudo de bom
que aconteceu na minha vida tem um motivo, esse motivo foi você. Eu
não teria qualquer força para aguentar aquela barra na adolescência, não
teria mesmo e eu sei que me sentiria culpada de atrapalhar sua vida...
— Nunca atrapalharia...
— Mas na minha mente não seria assim, eu me conheço. Eu teria
me entregue, e só Deus sabe o que eu faria. — engole em seco. — Saber
disso anos depois é estranho, confuso, me dá raiva, mas dá uma sensação
de ‘’acho que foi melhor assim’’. Ainda pensarei nisso, ficarei penando
em como aconteceu, em que momento eu apaguei, em como fui tratada
após isso, porque é do ser humano ficar remoendo o passado, mas acabou
antes que uma defloração maior acontecesse. — enxuga as lágrimas com
força. — Eu odeio eles e dane-se se morreram, estou com raiva.
— Eu... — eu não sei o que dizer.
— Eu amo você, Britt. E agora entendo ainda mais essa sua
selvageria com todos os homens que se aproximavam de mim.
— Eu envenenaria Christopher, nunca foi uma brincadeira.
— Eu amo que você o odeia, mas também o ama.
— Eu não amo!
— Ele me faz feliz.
— Obrigação dele, já que você é muita areia para aquele
caminhão caindo aos pedaços. — dá risada. — Eu vivi com medo dessa
conversa, acho que esperei que tudo terminasse para que você tivesse
algum alívio.
— Se eu soubesse disso antes eu teria te acompanhado nas suas
sessões de conversas com Henry!
— Você faria algo?
— Não, mas teria o prazer de ver você fazendo, sei como você é
ótima em fazer alguém sofrer.
— Não me liberaram para torturar, Juan não me quer sanguinária.
Então eu contava e recontava os assassinatos, já que era perseguida por
ter matado os filhos branquelos de Henry. Charlie foi o único que restou
e Henry teve que aceitar, óbvio que o racismo de Henry nunca aceitaria
um negro retinto na família.
— Nunca te julgaria por nada disso. — beija meu rosto. — Pelo
contrário, só tenho a agradecer e dizer que te amo muito.
Ainda chorando em seus braços, murmuro, com a voz embargada:
— Também te amo, Jess.
Capítulo 25
BRITTANY
Horas depois

Após contar a verdade para Jessica, ela me pediu para contar


como matei os filhos de Henry, sua surpresa ao saber como tudo
aconteceu parece que foi algo satisfatório. Como ela disse, ainda está
confusa no que sente, mas, no geral, acho que ela vai pensar muito nesse
assunto, mas a questão deles já terem morrido pode trazer alguma
porcentagem de alívio, mesmo que mínima.
Agora terminei de tomar banho e vou ao quarto de Jennifer e ela
continua dormindo. Fecho a porta do seu quarto e desço a escada,
encontrando Oliver saindo de casa.
— Ei, neno! — chamo por ele, que vira rapidamente, sorrindo na
minha direção. — Não tive tempo de falar com você desde que tudo
aconteceu, mas quero muito te agradecer. — me aproximo dele. — Por
ter entrado nessa para salvar Jennifer.
— Eu faria qualquer coisa para salvar as filhas de Juan. Ainda
mais alguém que sofreu como Jennifer.
— Mesmo assim, obrigada. — o abraço. — Você foi incrível, por
isso sempre te defendi e gosto de você.
— Oh, nena. — suspira e olho para ele. — Também gosto muito
de você e espero que possamos conviver por mais tempo, e conheça a
minha filha, a Vitoria. Ela vive com a mãe, mas tenho certeza que vocês
vão se dar muito bem.
— Claro! Temos que juntar essa família, já que será meu
padrasto.
— Brittany, não comece com suas merdas! — Carmen grita lá da
sala.
— Converse um pouco com Carmen. — olho para Oliver. — Nos
veremos mais tarde, enteada.
Carmen grita lá da sala e damos risada.
Vou até a sala, Carmen está sentada no sofá, com as mãos na
cabeça.
— Pensei que ficaria feliz do seu mozão estar de volta. —
provoco. — Sabe, Carmen, eu aproveitaria Oliver, fala sério, o cara
salvou Jennifer! Pelo amor de Deus, ele é um homão! E acho o Floki de
Vikings bonitão.
— Não é sobre isso. — olha pra mim, a mulher parece que está
sofrendo.
— Deve ser algo ultra sério, porque nem ligou para minha
provocação. — sento ao seu lado. — O que foi?
— Escutei sua conversa com Jessica, não era meu objetivo, fui te
chamar para comer e acabei escutando sobre Sofia e sou curiosa.
— Como eu.
— É, exatamente. Eu já sabia dessa história, mas escutar a
história saindo da sua boca foi bem... — pensa um pouco. — Eu não sou
como Juan nesse quesito, ele te pede perdão, na verdade quase implora, e
fica feliz com o mínimo de atenção que dá a ele. Whitney contou que
você não era muito necessária no plano, ele só queria fazer algo com
você.
— Sério? — pergunto. — Mas fazia sentido causar terror na vida
de Brianna para que ela me dedurasse e desse raiva a Charlie.
— Tudo aconteceria do mesmo jeito, com você ou sem você. O
plano estava certo porque Oliver estava com Charlie, era só ameaçar
Brianna e pronto, ela entraria em contato com Cássia e assim falaria com
Charlie. Porém, Oliver tinha que ganhar a confiança de Charlie, para que
ele entendesse que seria seguro ficar com Jennifer no mesmo ambiente de
Oliver, então essa demora foi por isso. Você não mudaria nada no tempo,
Juan também não deixaria Jennifer sofrendo para que ele ficasse perto de
você, apenas usou essa oportunidade para te ter por perto.
— Juanito é um cara legal.
— Sim, é, e por isso eu não sou como ele, porque eu estava perto
de você e simplesmente não vi nada disso. Não consigo imaginar sendo
sua mãe, porque nunca fui. Juan teve a intenção de te proteger de toda
essa vida do cartel, mas e eu?
— Estava trabalhando.
— Deveria cuidar de vocês.
— Alejandro me contou a história do passado dele, sobre
mulheres que precisavam deixar os filhos aos cuidados de uma senhora
com uma filha, para trabalharem a noite, geralmente em coisas ilícitas.
Ou seja, elas não deixavam os filhos para trás, mas algumas mães tinham
como dar uma vida melhor aos filhos, mas não se importavam com eles,
já outras mães realmente não tinham o que fazer. O seu caso e o de Juan,
a mulher que cuidou dessas crianças estava sem nenhuma suspeita. Vocês
conheceram uma Sofia que Jessica e eu nunca vimos. Na verdade,
inúmeras pessoas conheceram uma Sofia justa, amiga, leal, qualquer
coisa era só ir até ela que ela ajudaria. Eu lembro de várias mulheres indo
a procura de Sofia para ter segurança no trabalho, até mesmo buscando
ajuda por terem sido violentadas. Ou seja, como acreditariam em mim?
Como acreditariam que aquela mulher que abrigava moças abusadas,
dava apoio, comida, segurança e casa, seria capaz de deixar duas
meninas, a filha biológica e a filha da melhor amiga, serem abusadas?
Hoje, sem toda aquela raiva, vejo que não tinha como suspeitar de Sofia.
Eu tinha raiva, revolta, era a mais briguenta em qualquer canto que
chegasse, Jessica era assustada, tinha medo de tudo e todos, e eu ali,
gritando com ela para que ela confirmasse minha história. O laudo
médico tinha algum sentido, sou mandona, meio psicótica e violenta...
— Mas não inventava histórias e nem gostava de exercer o poder
sobre uma pessoa mais fraca.
— Mas não tinha como desconfiar de nada, era Sofia e médicos,
contra a minha revolta. Eu não posso dizer que faria o mesmo porque eu
escutaria crianças, mas a sua época é um pouco mais estranha. As
crianças falavam qualquer coisa e era visto como invenção, hoje em dia
ainda tem pais que acham isso, mas tem aqueles que se a criança sente
desconforto perto de outro alguém, elas respeitam isso e afastam,
perguntam para saber se tem algo por trás desse não gostar. Acredito que
muito do que passei tem um pezinho nesse lance que criança inventa
coisas, entende tudo errado, adolescente então, nossa! Bando de rebeldes
sem causa, que só querem causar o caos. — dou de ombros. — Entendo
tudo o que aconteceu ao enxergar tudo com um olhar crítico.
— Acho que a culpa sempre estará comigo e por isso não consigo
ser como Juan, pedindo perdão, porque acredito que não tem perdão.
— Se não tivesse perdão, vai por mim, eu teria feito uma merda
na sua estadia aqui, tipo Brianna, mas eu brinco com você, conversamos,
sento ao seu lado e quero que seja feliz com Oliver.
— Nem que fosse o último homem existente e dependesse dele
para povoar a terra!
— Ah, qual foi, Carmen? Já deve ter transado com gente mais
estranha.
— Sempre fui uma puta seletiva!
— Eu amo sua falta de vergonha.
— Oh, disse aquela que falou sobre vergonha e em menos de uma
semana tava dando para o amorzinho.
— Pelo menos não dou para o bonde todo.
— Nunca fiz isso, sou seletiva!
Dou risada.
— Gosto de você, Carmen.
— Também gosto de você, Brittany. — me abraça. — Sua
encomenda de calcinhas chegou.
E assim, do nada, ela muda todo o tom da conversa.
— Você abriu?
— Não, mas estava escrito que foi entrega especial, entrega
rápida, e você disse que comprou calcinhas, ou seja...
— Puxei a mãe.
— Não, Brittany, você é muito melhor.

(...)
— Achei estranho quando disse que ia para uma reunião do cartel
e levou Dulce junto.
— Não foi de negócios nem algo muito barulhento, e como você
tinha Jennifer e Jessica, achei melhor ficar com Dulce. E então, como foi
com as irmãs?
— Bem melhor do que imaginei. Jessica entendeu toda a situação
e Jennifer acordou, dei um sanduíche e vitamina de banana a ela, mas não
comeu tudo e nem bebeu, depois voltou a dormir.
— Ainda é confuso ter tanta gente nova na vida dela.
— Sim, aceito isso por uns três dias, depois é melhor incentivar a
sair do quarto e comer, levar ao psicólogo, caso ela queira, porque se não
quiser, obrigar é pior.
— Você é uma mãe para essas mulheres e não imagina sendo
mãe? — arqueia uma sobrancelha.
— Nunca pensei tanto no assunto sendo na vida real, e eu tenho
dois bebês na minha vida, um terceiro só se for de Camille.
— Ok filho dos outros, mas não o seu?
Aponto para Dulce, que está dormindo em seu carrinho.
— Sabe, papai, tem um bebê que só sabe andar e falar ‘’papai’’
corretamente até o momento.
— Ela já pede ‘’aga’’ também. Que é água.
— Uau! Daqui a pouco ela já pode ajudar a mamãe a arrumar a
casa.
— Sabe que agora já pode pagar por uma faxineira.
— Falarei isso com Juan.
— Vai continuar extorquindo o homem?
— Minha indenização! Ainda falta meu silicone, minha lipo...
— Nem precisa, mas já que quer tanto.
— Quando meus peitos e minha bunda estiverem grandes,
lembrarei de você falando que não precisava.
— Você já é perfeita do jeito que é, mas se quer aumentar. —
aperta a minha bunda. — Não reclamarei, cuidarei de você no pós-
operatório também.
— Ok, já tenho um enfermeiro particular. Quem cuidará dos seus
negócios?
— Eric, está na hora dele fazer alguma coisa além de subir e
descer com Vicent, as férias dele terminaram.
— Mas ele não é do cartel?
— Decidiu não ser mais.
— E Juan aceitou?
— Se não aceitasse, provavelmente Vicent bateria de frente com
ele, e vai por mim, Juan odeia dramas de outras pessoas. Acho que Juan
falará disso com você. Agora você tem um jantar comigo, Jennifer parece
se sentir confortável com Whitney, então...
Aponto para Dulce.
— Whitney também aceita olhar Dulce por algumas horas, assim
como Carmen. — fala. — Sei lá, Carmen está estranha, falou para cuidar
bem de você, que você é uma amor de pessoa e que se eu te machucar ela
corta meu pau e vai enfiar na minha bunda e depois ela chamará Juan
para terminar a vingança. O que deu nela?
— Espírito materno batendo de maneira tardia. — dou risada. —
Mas agora você tem que me alimentar, estou sonhando com pizza desde
que comi aquela. E espero que seja tão boa quanto.
Capítulo 26
BRITTANY
Uma semana depois

‘’¿Dónde están las gatas que no hablan y tiran pa' alante?


¿Dónde está el corillo guilla'o de maleante?
Vamos pa' la disco para hacer escante
Ahora
Dale pa' la barra loco, que te vo'a pagar el trago
Mira aquellas gatas que nos están mirando
Vamo' a tirar labia pa' ver si ganamos
Ahora
¿Cómo es que te llamas tú?
¿Y de dónde eres tú?’’.

Nossa cantoria ao som de Nicky Jam é interrompida quando Juan


chega e desliga minha caixa de som.
— Ah, Juan! — gritamos em conjunto por causa dessa
interrupção.
— ‘’Onde estão as gatas’’? — balança a cabeça negativamente.
— Isso é uma porcaria para nossos ouvidos!
— Isso é reggaeton! — grito.
— Mesma coisa, não é música boa, não tem letra...
— Quer falar sobre bons conteúdos? — Jess cruza os braços.
— Até você, Jessica? — seu espanto piora ao olhar para Jennifer.
— Já está contaminando a garota com essas baixarias!
— Todo mundo estava animado dançando. — fico a frente dele.
— Eu, Jessica, Jennifer, Camille, Vicent, Whitney, Carmen e Christian.
— Em breve você vai para a escola e terá amigos. — Juan fala
com Christian. — Em breve essa tortura terminará.
— Eu gosto porque sempre tem algo para comer. — Christian dá
de ombros. — Não ligo para como elas cantam muito mal.
— Viu que eu falei? — Alejandro murmura pra mim, já que ele
insiste em dizer que minha voz é feia.
— Ok, por que interrompeu nossa comemoração? — pergunto a
Juan.
— O que estão comemorando? — Christopher pergunta.
— A vida.!— Jessica responde.
— Poderiam comemorar com Luis Miguel. — lá vem Juan... —
Marc Anthony...
— Bad Bunny. — provoco. — Daddy Yankee, Ivy Queen, Karol
G é Nicky Jam, Wisin y Yandel, só música poética...
— Não contamine Jennifer com suas sandices, basta todas as
mulheres amarem essa baixaria.
— Os homens também. — aponto para o quarteto Alejandro,
Christopher, Matt e Eric.
— Por isso se merecem. Voltando ao assunto principal. — Juan
fala alto. — Vim comunicar a vocês uma decisão que tomei há bastante
tempo e resolvi falar abertamente agora. Não faço mais parte do cartel.
A informação nos pega de surpresa. Os múrmuros na sala, sem
acreditar na notícia, fica bem alto.
— Passado o choque inicial. — Juan continua. — Eu já havia
saído, quando vim pra cá, já vim sem ser o chefe do cartel. Porque por
anos eu escolhi o cartel ao invés da minha família, coloquei o perigo que
o cartel traz a frente de tudo, e preferi deixar a família protegida, de nada
adiantou, porque deixei vocês em um perigo ainda maior. E quando
finalmente descobri a verdade, descobri também que deixei garotas para
trás, sofrendo e agora também tenho netos. Ou seja, não poderia escolher
o cartel novamente e perder todo um futuro. Porque no cartel eu também
escolhi cuidar de duas crianças, mas não foi por serem meus filhos ou
porque eu quis trazê-los para minha vida, e sim porque o pai dessas
crianças os entregou como pagamento, e esse pagamento, por muitos
anos, me fez questionar se fiz certo ou não em deixar duas garotas para
trás. — sigo o seu olhar e ele está em Carlos. — Porque se estivessem
comigo, estariam muito próximas ao cartel, e acho que errei em deixar
longe e também errei em deixar outros por perto. Ou seja, o problema
sempre foi esse. Ao mesmo tempo que cresci muito no negócio, perdi
muito também. Saí de lá com cabeça erguida, sem trair ninguém e com a
ideia de ter minha família bem protegida e todos juntos, alguns homens
aceitaram me ajudar, largaram a vida do cartel de drogas e vieram ajudar
minha família. No momento alguns voltaram para o cartel, outros vão
trabalhar nos meus negócios, sejam os legais ou ilegais, e a minoria está
indo seguir o rumo deles em outro local, porque dei uma boa quantia a
eles, já que deixaram suas vidas pelas nossas. Então, resumindo, agimos
como se fossemos de um cartel de drogas aqui, até com armas, mas não
temos qualquer vínculo com eles, porque nossa ideia era de, realmente,
recomeçar.
Estou muito surpresa com essa notícia, porque por anos soube
que Juan escolheu o cartel do que a mim, já que era sua única filha,
porque o medo do perigo impediu que ele me criasse, continuou no
cartel e agora sai dele por nossa causa.
— Bem que eu te achei muito dramático para um chefe de cartel.
— fico a frente de Juan e sussurro isso para ele. — Qual será sua ameaça
quando Jennifer encontrar um homem?
— Nem comece Brittany. E para começo de conversa, eu sempre
terei uma arma, seja afiada ou com mira. — sorri. — E eu não sou
dramático.
— É uma drama queen.
— Não comece...
— Sabe, Juanito, eu amo você, mesmo quando reclama das
minhas músicas.
— Isso é alguma tática para me fazer mudar de assunto? —
levanta a mão. — Não, não responda, vai falar ‘’pense e saberá a
resposta’’ e não saberei de porra nenhuma.
— Se eu tivesse sido criada por você seria pior, Colômbia tá
lotada de reggaeton, festas...
— Eu não te deixaria sair de casa.
— Perrear é muito legal.
— Brittany...
— Farei isso em Alejandro.
— Brittany!
— Te amo, drama queen.
— Isso é real? — cruza os braços. — O que quer? É a porra o
silicone...
— É apenas uma maneira de dizer que te amo, sem ser
emocional. — pronto, ele fecha a boca e os olhos, depois abre e parece
que vai chorar. — É, drama queen, Britt te ama e continuará enchendo
seu saco e te chamando de Juanito e Juanzito, porque gosto disso, agora
coloque meu reggaeton da velha escola e pare de reclamar!
— Você realmente me ama?
— Sim.
— Não é por causa da porra do reggaeton?
— Não, isso me faz revirar os olhos, tu traficava e julga umas
músicas sensuais?
— Explícitas!
— Tu matou gente...
— Mas minha filha deve ser uma dama...
— Dama do bordel, só se for, já que Alejandro é dono de vários.
— Não sei de onde puxou essas idiotices, deve ser culpa de
Carmen!
— Cara, eu te amo. — repito e ele para de falar. — Amo sua
dúvida se é verdade ou só quero te calar. Mas saiba que é verdade.
— Então podemos ter um abraço?
Respondo o abraçando.
Eu até gosto de Carmen, mas não tivemos contato com intuito de
perdão e recomeço, pelas nossas últimas conversas entendi que ela se
culpa bastante e, por esse motivo, ainda não se sente bem em conversar
muito sobre o assunto ou tentar pedir perdão. Juan não, desde que
chegou aqui ele tenta e tenta, conversa, me protege, me irrita, depois
rimos, há preocupação...
Eu realmente já sentia algo bom por ele, mas como Carmen,
ainda não me sentia pronta para me abrir para uma pessoa do passado.
Mas agora me sinto pronta com Juan, depois de tudo o que
passamos, sei que não conseguiria ficar sem ele na minha vida. Cara, eu
amo irrita-lo e depois conversar algo sério com ele!
Já Carmen... Ela é legal, mas ainda não me sinto cem por cento
com ela, quem sabe daqui a algum tempo...
Assim como Jessica precisou de tempo para processar a
descoberta do passado, e Jennifer ainda precisa de tempo para processar
a vida toda, eu também preciso de algum tempo para processar a falta de
uma mãe e a entrada dela na minha vida novamente.
Mas, de qualquer modo, agora estamos bem.
Olho para Alejandro, que está com Dulce, onde ela anda de um
lado para o outro, caindo e levantando e ele vai atrás.
Suspiro.
Eu amo Alejandro, é oficial...
Como se já não fosse óbvio!
Espero que ele sinta o mesmo por mim, que eu não esteja sendo a
emocionada que ama com menos de um mês.
Pelo menos tenho a desculpa que estamos transando e é bom,
muito bom...
— Que sorriso é esse? — Juan pergunta.
Tive devaneios com as transas com Alejandro.
— Adivinhe, Juanito.
— Eu não sei pra que pergunto. Mas espero que se casem logo,
quero o dote.
— Você vende suas filhas...
— De onde tirou o espírito mercenário, Britt?
— Eu seria uma ótima herdeira do tráfico.
— Nem comece!
Dou risada, porque eu não seria do cartel, de jeito nenhum.
É bom rir sem ser para distrair alguém ou para melhorar a tensão
do local.
Finalmente, tudo está caminhando bem.
(4) Bônus
JESSICA

Uma semana se passou desde que Brittany conversou comigo


sobre o que aconteceu no meu passado.
É estranho porque sempre achei esquisito aquela aversão pelo
sexo oposto. Entendia que era aquele olhar predador, me comendo com
os olhos, que me fazia lembrar sobre os aliciadores, mas sentia que tinha
algo mais, no entanto, não havia sentido, porque não tinha qualquer
recordação sobre ter acontecido algo pior.
Porém, lá no fundo, eu sentia que era algo mais, que não era
apenas o nojo, e sim que algo aconteceu.
Na minha mente funcionou como se ela gritasse: ‘’É, eu sabia que
algo tinha acontecido’’.
Tive raiva dos culpados, mais raiva ainda de Sofia, senti o alívio
por Brittany ter evitado o pior, e depois só fiquei pensando e repensando,
como se eu fosse lembrar de algum detalhe.
E mesmo sendo doloroso, me questionei: ‘’Por que quero
lembrar?’’, então tentei esquecer, mas pensei: ‘’Por que tentar esquecer,
sendo que aconteceu?’’. Foi confuso demais.
Christopher me ajudou bastante, ele contou que sabia, porque
estava presente quando Brittany mencionou isso com Henry, mas achou
que ela deveria me contar, não ele.
Não tenho porque culpa-los por evitar que esse transtorno
passasse por minha cabeça.
Sete dias desde que soube e sete dias que só penso nisso, como se
fosse trazer algum sentido... Não tem sentido... Eu não sei explicar nada.
Mas tento me distrair com todos a minha volta, sorrir com meu filho,
estou fazendo mais tortas e doces que o normal, fico rindo com todos
para me distrair...
Eu deveria ir a um psicólogo...
Eu devo ir.
Mas, ao invés de procurar por alguma ajuda profissional, estou
encarando Jennifer, que sorri pra mim de maneira tímida.
Não conversamos muito, estávamos ali na sala dançando,
sorrimos verdadeiramente uma para outra, mas a sós? Não, ela não gosta
de mim ou sente algum tipo de aversão. Afinal, ela sofreu por minha
causa.
— Oi. — cumprimento. — Sei que não é o momento para isso,
mas vi você se afastando na hora da comemoração, quis saber se está
bem.
— Começou a tocar essa música e eu não sei dançar.
— Juan é grande fã de Selena Quintanilla, as músicas dela nunca
passarão de moda.
— Ela não canta mais?
— Foi assassinada por uma fã, um horror! Tem filmes, séries e
documentários sobre o assunto. Ela era super famosa, jovem e muito
linda. Uma grande perda.
— A fã dizia ama-la, aposto.
— Sim, bem tóxico. Mas você está bem?
— É que é meio estranho, você parece muito comigo. Na verdade
só o nosso corpo é um pouco diferente, e o cabelo. — ri, mas eu percebo
o seu nervosismo. — É tudo muito novo para mim. E também tem muita
gente e eu... Não estou acostumada com isso. Sempre foi Charlie e eu,
sendo que nunca foi bom... É estranho não ter costume com algo bom.
— Entendo o que quer dizer.
— Mas você também não parece bem, quer dizer, eu não te
conheço muito bem, mas você parece sempre muito aérea... É por minha
causa?
— Não! — falo rapidamente. — Estou muito feliz que esteja
aqui, muito mesmo. É que sua chegada trouxe alívio para todos, e com a
morte de Charlie temos a certeza que tudo terminou. Brittany me falou o
que aconteceu no meu passado e, bem, ainda estou processando algo que
nunca soube.
— É difícil pensar que algo aconteceu no seu passado, não tinha
sentido, e agora tem e continua sendo horrível.
— Descobriu algo?
— Sim.
E não falamos nada depois disso, apenas uma de frente para
outra, pensando em algo do passado.
Já acabou, segue em frente... Mas não, não conseguimos!
Estamos pensando e pensando, quase entrando em paranoia para
entender...
— Não nos conhecemos direito. — mas decido parar esses
pensamentos. — No momento eu realmente estou processando tudo que
aconteceu na minha vida e deixando claro, não tem relação com você, e
sim com os irmãos de Charlie. Mas espero estar bem em breve, mesmo
assim, você pode me procurar se quiser conversar sobre qualquer coisa,
seja agora ou daqui a alguns dias, mas eu estarei aqui para qualquer coisa
que precisar.
— Obrigada. Eu sei que posso parecer estranha com você, mas é
que... — não consegue completar a fala.
— Entendo. — apenas sorrio para ela.
Jennifer sofreu por minha causa, por um doido, mesmo assim,
sofreu por parecer comigo.
— Obrigada por me aceitar aqui. — agradece.
— Eu sempre te aceitaria. Não temos culpa do nosso passado,
fomos usadas por essa galera, mas já estão mortos. Temos que seguir em
frente.

JENNIFER

Vejo Christopher e Jessica juntos e logo me dá um aperto no


peito. Não é apenas por ela, é por todos a minha volta. Todos felizes em
suas famílias. Sinto que sou uma estranha no meio deles que, a qualquer
momento, eles vão deixar de me ajudar.
Nada de bom acontece comigo, por que mudaria agora?
Sorrio ao ver Brittany dançando com Alejandro e com Dulce, ela
me chamou para dançar, mas disse que estava cansada... Sendo que não
faço nada.
Carmen também me chamou para dançar, neguei, ela pediu
novamente, mas terminou aceitando o convite de Oliver e agora está ali,
com ele.
Por isso decido ir para o meu quarto, não sei o que sentir, não sei
o que fazer, sinto como se não pertencesse a esse lugar. Nunca tive
contato com outras pessoas, e agora que tenho, não sei bem o que fazer.
Hoje Jessica conversou comigo, ela deve perceber que sou bem
estranha com ela, mas não é culpa dela. Eu sei que o meu estupro foi
usado para separa-la de Christopher, Charlie contou isso há algum tempo.
Sei que ela e o marido viram aquilo, acho que Juan deve ter visto...
Talvez todos tenham visto.
Tento não chorar.
Tento esquecer.
Impossível!
— Olá, Jennifer. — Carlos para a minha frente, antes que eu
chegue no quarto.
— Olá. — respondo, contendo meu choro.
— Está bem? Eu te vi feliz e depois parecia que você queria fugir
dali, e talvez esteja fugindo.
— Muitas pessoas juntas, não sei o que fazer e nem o que dizer.
Nessa parte de cima da casa tem dois sofás, então ele aponta na
direção deles e sentamos, lado a lado.
— Todos que estão aqui querem seu bem, acredite em mim. —
aperta a minha mão. — Imagino que é estranho ter tanta gente nova
junta, mas também acredito que se isolar não é bom.
— Sinto-me estranha aqui. Eu nunca fui amada e, agora, todos
querem me ajudar. — por algum motivo que desconheço, sinto-me
relaxada em conversar com Carlos.
Eu não entendo de onde vem essa tranquilidade quando estou
com Carlos.
— Você sente que as pessoas tem pena de você, é isso?
— É que Charlie dizia o mesmo, mas era mentira, e essas
pessoas, você...
— Não confia em Brittany, Juan...
— Eu só não entendo, é como se eu não merecesse, como se não
fosse real, eu não sei explicar o que sinto.
— Ainda somos estranhos para você e, depois de tudo o que
aconteceu, não seria fácil para você viver assim. Sair de um cárcere com
um psicótico e chegar em uma casa onde todos dizem que vão te ajudar...
— E me ajudam, por isso não me entendo.
— Não é fácil sair de tudo o que passou e estar aqui, ainda está
bem recente, com o tempo você vai se acostumando e entendendo que
isso aqui é real. Mas se continuar confusa, é bom conversar com alguém,
seja daqui ou pessoas que entendam do assunto. Não sei se psiquiatra tem
a ver com sua situação, mas sei que psicólogos podem ajudar, são
profissionais que vão escutar o que tem para dizer, seja bom ou ruim.
Caso não se sinta à vontade em conversar com alguém daqui, pode ir até
um psicólogo. Mas também quero dizer que sempre estarei aqui para
ajudar, como todos os outros. — aperta a minha mão novamente. — Mas,
eu prometo que, se você me chamar a qualquer momento, estarei aqui
rapidamente para te ajudar. Sei que é difícil para você, mas será que você
confia em mim?
Olho em seus olhos e respondo, sem nem pensar:
— Confio.
Capítulo 27
BRITTANY
Um mês depois

Devo confessar, ainda estou processando tudo o que está


acontecendo na minha vida.
Um mês vivendo bem, sem perigos, sem ficar pensando que
escondi algo de Jessica e com Alejandro ao meu lado.
E o melhor de tudo: Jessica está bem melhor e Jennifer já está se
alimentando bem, está saindo mais do quarto e está conversando por
mais tempo sem se calar ou dizer que vai descansar.
— Conhecendo esse sorriso, não é por minha causa. —
Alejandro chega por trás e beija meu ombro. — Acho que todos já
sabem quando sorri por mim.
— ‘’Um sorriso idiota’’, como Carlos ama falar. E ‘’um sorriso
esquisito e muito saidinho’’, como Juan ama reclamar. — dou risada. —
Tem a ver com você, mas com outras pessoas também, apenas pensando
como tudo está indo muito bem. Tão bem que nem parece real.
— É muito real, finalmente estamos bem! — viro-me, ficando na
frente dele, e ele me beija.
Beija a minha boca e me coloca sentada em cima da bancada da
pia do banheiro. Abraço-o com minhas pernas e trago para mais perto.
Como estamos de roupão, com um movimento super rápido, desfazemos
os nós e depois tiramos, ficando nus.
Passo minha mão por seu peito, depois por sua barriga. Alejandro
é bem duro, musculoso, maravilhoso...
Sua boca desce para meus seios, depois barriga, chega lá em
baixo...
Me lambe, coloca o dedo, vai e volta, massageia...
Eu o amo!
Amo muito!
— Te amo. — mas não sou eu que digo isso, é ele, quando está
com a testa junto a minha. — Senti a necessidade de dizer isso nesse
momento.
Dou risada, porque realmente foi bem o nada.
— Eu te amo há algum tempinho, mas achei que seria muito
emocionada de dizer isso com menos de um mês...
— Já tem um mês que me ama?
— Mais que isso, na verdade.
— Na verdade eu te amo desde o momento que resolvi ter aulas
de pizza com Eric, foi uma tortura, se passei por aquilo por você, então
eu já te amava, fui mais emocionado ainda.
— Sim, sua boca estava lá embaixo e do nada você se declarou
pra mim. Ok, melhor declaração de todas.
Beija minha boca.
— Mas agora preciso terminar o que comecei, antes que Dulce
acorde e comece a gritar para tirarem do berço.
— E você queria ter mais um filho logo... — paro de falar
quando sua língua passa pelo clitóris.
— Teremos um filho. — massageia meu clitóris. — Quando
Dulce tiver, pelo menos, uns três anos. Por enquanto, vamos aproveitar a
nossa vida juntos.
(...)

Assim que termino de tomar banho e vestir a roupa, escuto o


barulho na babá eletrônica. Dulce acordou.
Vou até ela, assim que abro a porta ela grita de felicidade e dá
risada.
— Amo que fica feliz quando me encontra. — vou até ela. —
Coisa mais linda da minha vida.
Beijo seu rosto e depois sua barriga.
— Mama, mama...
Até coloco Dulce na minha frente quando ela começa a falar isso
sem parar e fica mexendo os braços na minha direção, dando risada.
— Está falando ‘’mama’’ de comer? Tipo ‘’mamar’’?
— Não, é de ‘’mamãe’’. — viro-me para Alejandro, que está na
porta do quarto. — Achei meio injusto que criou Dulce e só ensinou o
‘’papai’’ a ela. Então comecei a ensinar quem é a mamãe e ela entendeu.
— Espera, eu sou a mamãe?
— Se aceitar, pode ser oficialmente a mãe de Dulce e minha
esposa.
— Espera... O que?
— Você é a pessoa mais especial da minha vida. Cuidou de
Dulce quando eu estava completamente perdido, sem saber como é
cuidar de um bebê. Está sendo a mãe dela durante todo esse tempo, é a
pessoa que a ama como uma mãe, inclusive Juan considera Dulce como
uma neta. Então, se aceitar, é só fazer toda a parte burocrática e vira a
mãe de Dulce no papel, porque de coração mesmo, sabemos que você já
é.
Ok, desde que conversei com Jessica eu não choro, mas agora eu
começo a chorar.
— E o segundo pedido, vindo com menos de dois meses de
namoro, é se você aceita ser minha esposa?
— Por isso disse que me ama no meio daquele ato? — dou risada
em meio as lágrimas.
— Eu faria esse pedido, porque se quero ter você como mãe de
Dulce, quero que seja minha esposa, então acabou saindo. Mas eu te
amo. Amo te conhecer de verdade, toda a sua loucura de fanfic...
— Carlos e Jennifer ficarão juntos, assim como Dulce e Lucas!
— Olha as loucuras que fala, isso é um máximo!
— Não é loucura! — paro de chorar.
Eu tinha medo de Alejandro me achar louca, e ele me acha! Só
que ele ama a minha loucura!
— Você é engraçada.
— Quando tudo que digo acontecer, vocês me darão razão! —
enxugo minhas lágrimas e Dulce também faz o mesmo, me ajudando. —
É, meu amor, a mamãe é vista como louca, mas não sou!
Como se me entendesse, ela balança a cabeça de um lado para o
outro e fala ‘’não’’ com firmeza.
— É destemida. — olho para Alejandro, que volta a falar. — É
amiga, é incrível, cozinha muito bem, quando quer, sabe dançar...
— E cantar.
— Sabe dançar, sabe dar conselhos... É perfeita, na verdade é
muito pra mim.
— Sabe, Alejandro, para me ter ao lado, tem que ser muito
incrível.
— Eu passei por aquela idiotice com Juan.
— No final das contas adorei o lance da briga, porque, realmente,
aceitar aquela imbecilidade e ainda ter Juan na vida, é amar muito.
— E aguentar a sua loucura...
— Que belo pedido de casamento, mas tem razão, sei que sou
uma pessoa diferente na maior parte do tempo. E somos diferentes, eu
sou um tanto louca e você é mais centrado, até por isso acreditei que não
ia me querer.
— E foi justamente isso que me fez continuar querendo te
conhecer, e quando conheci, foi o que me fez querer te namorar e agora
casar.
— A galera desse lugar não sabe mesmo esperar mais de um ano
para casar.
— É chato ter que passar por Juan toda vez que for te visitar. —
dou risada, cada ida de Alejandro em casa é uma indireta de Juan. —
Então, aceita casar comigo?
— O que acha? — arqueio uma sobrancelha.
— Acho que Dulce quer participar de todos os momentos
importantes da nossa vida. — olhamos para Dulce, que está em meus
braços, calada, como se entendesse cada palavra que é dita, pois olha
atentamente para Alejandro e sorri. — Ok, senhora Rivera, marcaremos
o nosso casamento, porque eu sei que a resposta é ‘’sim’’.
— Eu seria louca se falasse que não.
— Eu que seria louco se não quisesse você para sempre na minha
vida.
Epílogo
BRITTANY
Dois meses depois

Eu disse ‘’sim’’ para ser a mãe de Dulce, e agora virei a mãe


dela, oficialmente.
E acabei de dizer ‘’sim’’ no casamento, na frente do juiz. Tem
uma aliança no meu dedo, coloquei uma na de Alejandro. Agora eu o
agarro, seguro sua nuca e puxo na minha direção, para o nosso beijo,
para selar o nosso matrimônio. Ele coloca a língua na minha boca...
— Chega! — é claro que Juan grita e eu dou risada. — Brittany...
— Eu amo irritar Juan em qualquer situação.
— Eu amo que ganharei o dote. — Juan fala alto. — Minha filha
vale ouro.
— E duas boates. — Alejandro fala com os dentes cerrados. —
É, Juan, eu sei.
— Meu silicone, minha lipo...
— Ela não sabe fazer um casamento normal. — Juan revira os
olhos.
— Foi você quem começou! — Whitney dá uma cotovelada em
Juan.
— Ela fez pra me irritar, Whit!
Eu amo uma família que discute por nada, nos momentos mais
inapropriados...
Quem diria que eu amaria Juanito?
Mas assim nos calamos e assinamos os papéis, depois disso vem
as fotos com Dulce, que está a coisa mais linda com esse vestidinho
branco, e Lucas, que está de terno e agora já consegue dar vários passos
sem cair.
— Agora uma foto só deles. — falo com o fotógrafo. — É que
eles vão casar no futuro, aí quero que eles tenham uma foto crianças para
falar ‘’O destino de vocês sempre esteve escrito’’, ou algo do gênero.
— Brittany... — Alejandro respira fundo.
— Ainda bem que não é minha filha. — olho para Christopher.
— Eu vou quebrar a cara de Lucas no futuro. — Alejandro sorri
para Christopher, que responderia, mas Juan se aproxima.
— Eu disse que essa tradição seria uma boa ideia. — Juan toma o
gole do seu uísque. — Sempre escutem a voz da sabedoria.
— Vocês realmente estão dando ouvidos a Brittany?
— Matthew, que eu lembre, foi você quem casou com Camille,
sendo que eu disse que...
— Vou voltar para a festa. — e assim Matt se afasta, não
querendo escutar meus argumentos verdadeiros.
Pego Dulce e Christopher pega Lucas, olho as fotos e fiaram
perfeitas!
Mas as crianças não querem ficar em nossos braços, elas saem
correndo para Jessica e Camille.
— Matt não quer escutar que terá um filho para ficar com alguém
da nossa família. — explico. — Porque Christopher é outro Maria vai
com as outras, para pegar a ideia de Juanito.
— Deus, você me ama!
— Amo te irritar!
— Bem-vindo ao clube. — Juan suspira. — Alejandro é o único
que não sofre com isso, de resto, até as garotas sofrem. A pobre da
Jennifer está sendo parte de alguma história escrita por Brittany, só não
sei quem é o coitado que sofre com as idiotices da minha filha de vinte e
sete anos.
Carlos!
Alejandro e Christopher sabem do que se trata, mas eles também
conhecem o drama de Juan, por isso ficam quietos.
Mas eu grito quando trocam a música e Ryan Castro começa com
Malory!
— Não acredito que essa merda vai tocar até aqui! — Juan grita.
— Meu casamento, Juanzito, meu reggaeton! — empurro Juan e
Alejandro e passo no meio deles, correndo para a festa do meu
casamento. Vou até Jessica, Whitney, Carmen, Vicent, Camille e puxo
Jennifer, porque essa música é minha e temos que dançar. Coloco as
crianças no meio e elas ficam se balançando e rindo. — Eu amo
reggaeton!
Como meu vestido não é tipicamente de casamento, só é branco,
e é até colado nas minhas curvas, eu danço perfeitamente bem com ele.
Coloco as mãos nos joelhos, faço o famoso ‘’quadradinho’’,
danço com as meninas. Jennifer ri de nervoso, fica vermelha, mas
continua conosco, até que a vergonha dá lugar ao riso de felicidade.
Depois vem Daddy Yankee, J Balvin, Nicky Jam, Don Omar...
Depois de Malory terminar eu já danço com Alejandro, depois com
Dulce, depois com os dois, depois com as meninas, Carmen, Whitney...
Mas quando Selena começa com ‘’Como una flor’’, eu vou até
Juan e o chamo para dançar.
Parecendo que ganhou na loteria, ele sorri e aceita meu convite.
— Isso é musica de verdade. — começamos a dançar juntos. —
Desejo a você toda a felicidade, Britt. — segura meu rosto. — E eu
sempre estarei aqui, para qualquer coisa. — beija minha testa. — E nem
preciso dizer que será uma ótima mãe e esposa, porque a sorte é de
Alejandro por ter você como esposa e Dulce, por ter você como mãe.
— E sua, por me ter como filha.
— Obrigado por me aceitar e me perdoar como pai. — beija
minha testa novamente. — Te amo, filha.
— Te amo, pai. — beijo sua mão.
— Agora darei a sua mão para Alejandro.
— Mas já casamos.
— Para dançar. — Alejandro fica ao lado de Juan. — Romeo
Santos é um bom cantor para dançarem juntos.
Agora a música é com Romeo Santos, ‘’Un beso’’.
Aceito a mão de Alejandro e começamos a dançar a bachata.
— Devo dizer que você dança muito bem. — brinco.
— Ainda mais sem Dulce nos meus braços, querendo participar
de todas as danças.
— Com quem ela está?
— Jennifer. — aponta para ela. Jennifer está com as duas
crianças nos carrinhos de bebê e Carlos está sentado ao seu lado, ela
sorri para algo que ele diz. — E agora com Carlos.
— Incrível como ele fala muito com Jennifer e ela sempre sorri.
E vocês ainda duvidam da minha capacidade de juntar casais
improváveis.
— Em algum momento você nos juntou? Quero dizer,
acreditando que seria real?
— Pior que não, eu sempre acreditei que jamais iria me querer,
pensei que me acharia infantil, louca, que me olharia de uma maneira
diferente, então por mais que eu quisesse, que tivesse interesse, parecia
super impossível de acontecer, preferi não me iludir.
— E agora estamos casados e você é mãe. — coloca nossas testas
juntas. — Eu seria louco se não te quisesse. Te amo muito, Britt. E serei
o melhor marido de todos, melhor até do que nos seus sonhos.
— Já está sendo melhor que nos meus sonhos, porque nele, por
mais que eu sonhasse, eu não acreditava que fosse acontecer. Mas a
realidade acontece e ainda sou mãe de Dulce. — sorrimos no mesmo
momento. — Te amo. — beijo sua boca. — Nossa família sempre será
melhor do que tudo que já imaginei na minha vida.

Fim da história de Brittany e Alejandro.


Só mais uma chance
Segredos obscuros – Livro 5
(Livro de Jennifer e Carlos)
Prólogo
JENNIFER
Passado

Abro os olhos e vejo um teto branco. Tento levantar, mas é como


se algo me prendesse. Olho para meu pulso e vejo que estou algemada.
— Olá. — um homem aparece na minha frente.
Quem é esse homem? Aonde estou?
— Eu não fiz nada, eu juro. — falo rapidamente. — Eu fiz aquilo
porque...
— Não se preocupe. Não farei nenhum mal, estou junto com
Oliver, o homem que te ajudou contra Charlie.
— Onde eu estou?
— No hospital. Após o que fez você começou a chorar muito, caiu
no chão, ficou paralisada e depois desmaiou. Estado de choque.
Olho para o meu corpo, estou sentada, mas ao mesmo tempo
deitada. Estou amarrada a cama.
E se ele me fizer algum mal?
Tento sair, mas é impossível.
— Calma, não te farei nenhum mal. — ele continua falando
calmamente. — Você desmaiou...
— Desmaiei?
— Sim, perdeu a consciência. Seus exames mostram que você está
bem fraca, faltam muitas vitaminas no seu corpo, incluindo a ‘’d’’, que
vem do sol. Está me entendendo?
— Sim. — minto. Não sei o que ele está dizendo.
— Não sabíamos a sua reação, por isso está presa, para
evitarmos que você queira ir embora sem nem nos escutar. — sorri e vai
para o lado, depois volta com um prato nas mãos. — Aqui tem um pouco
de sopa, é bom comer. Acho que não conseguirá com a algema, Oliver
foi ao banheiro. Posso te dar, se quiser. — não respondo nada. — Aqui.
— ele pega um pouco da sopa com a colher, assopra e me dá na boca.
Ele continua colocando a sopa na minha boca enquanto conta um
pouco sobre as pessoas que vou conhecer, confesso que não presto
atenção em nada. Esse homem fala muito.
É o primeiro homem que fala calmamente comigo, quer dizer, o
segurança que me ajudou também falou, mas foi diferente, era para
matar Charlie.
— E você? — pergunta, limpando a minha boca. — Fale um
pouco da sua vida.
— Meu nome é Jennifer.
— Só?
— É só isso que sei.
— Você vai conhecer todas essas pessoas que te contei. — ele
para de falar e depois sorri. — Brittany vai amar te conhecer, ela é um
pouco irritante, mas é uma ótima pessoa.
— Irritante? — eu sei o que é isso. Henry dizia que eu era
irritante e ele queria me bater por isso, mas Charlie não deixava.
— Ela fala muito.
— Você também.
— Foi sem querer, normalmente eu não falo muito.
— Por quê?
— Não sei. Acho melhor procurar Oliver para ele te soltar.
Ele vai até a porta, mas antes que ele saia eu o agradeço.
— Não precisa agradecer. — sorri. — Estarei aqui para qualquer
coisa que precisar.

(...)

Conheci Brittany, Juan e Alejandro. Alejandro é bem quieto, Juan


está bem emocionado e parecia confuso também, e Brittany fala
bastante, mas eu gostei dela, talvez por saber que ela matou os irmãos
de Charlie e me livrou desses outros sofrimentos.
Pai e irmã...
Ainda muito confuso para entender.
Mas eu não vi Carlos durante esse tempo.
E por que estou pensando nele? Ainda falta tanta gente para
conhecer...
E quando saio do hospital, encontro Carlos novamente, ao lado
do carro.
Ele me ajuda a levantar da cadeira de rodas e me coloca no
banco do carro.
— Eles são boas pessoas. — ele fala baixinho.
— Você também vai?
— Pra onde?
— Pra essa casa que estão me levando.
— Eu sempre estarei por perto. — ele olha para Juan que está
fazendo algo sobre documentos do hospital, ou sei lá. Brittany e
Alejandro estão em outro carro. — Só me faça um favor, não fale comigo
perto de Juan.
— Por quê?
— Eu sou um funcionário, digamos assim, não é muito bom falar
com a filha do chefe. Mas estarei aqui para qualquer coisa. — sorri pra
mim. — Se quiser conversar, também estarei aqui.
— Só quando Juan não estiver por perto. — entendo o que ele
quer dizer, nesses anos com Charlie e Henry, eu sempre vi como os
funcionários ficavam mais calados na frente dos chefes. — Ok,
entendido.
— Seja bem-vinda a liberdade.
Uma sensação estranha acontece. Uma vontade de sorrir, eu
nunca tive isso antes... Eu sorrio para Carlos e sinto algo bom dentro de
mim.
Talvez seja a sensação da liberdade.
Pela primeira vez, sinto que algo bom pode acontecer na minha
vida.
Capítulo 1
JENNIFER
Seis meses após o epílogo do livro 4

Positivo.
É isso. Estou realmente grávida e Carlos é o pai.
Quantas vezes eu rezei para que isso não acontecesse? Carlos não
se importa comigo, ele só se importa com o cartel, nada mais.
Espero ele chegar em casa enquanto olho para o resultado do
exame. Estava com medo do resultado, porém, eu não poderia mais
esperar. Eu tinha que saber a resposta. E aqui está ela.
Grávida de uma pessoa que não gosta de mim.
A campainha toca, chamando a minha atenção. Não é Carlos, ele
tem a chave de casa.
Levanto do sofá e guardo o meu papel no bolso. Caminho até a
porta e, quando abro, dou de cara com uma mulher.
Merda! É aquela mulher.
— Olá, preciso falar com Carlos.
Ela é mais bonita que eu... Eu me odeio!
— Ele não está. — tento controlar a minha vontade de chorar.
— Sabe a que horas ele volta?
— Não.
— Ah. Ele disse que estaria me esperando. — ela olha para os
lados. — Diga que Vanessa veio aqui e está na cidade, eu preciso
conversar com ele.
— Eu falarei. — fecho a porta com força.
Por que eu continuo nesse lugar? Não é como se eu gostasse de
estar aqui. Eu amo as pessoas, mas elas sempre estão felizes e eu... Eu
sempre estou sofrendo por Carlos e nem posso falar sobre isso.
Com esse bebê agora, não mudará nada, na verdade vai piorar
tudo.
Decidida sobre o que fazer, vou até a cozinha e pego a minha
mochila. Ela já estava arrumada, mas eu ainda tinha esperanças de falar
com Carlos, agora não mais. Ele estará feliz ao lado do seu grande amor
e eu... Bem, eu estarei mudando de vida.
Saio de casa e vou até a rodoviária. Avisto o carro de Oliver e me
aproximo.
Oliver me salvou de Charlie, é bem simpático comigo e sei que
está indo em uma viagem para ver a filha, e Carmen pegará carona com
ele, pois estão indo a outro país. Eles podem me levar a algum lugar.
— Nena, aconteceu algo? — ele pergunta, olhando para mim e de
depois para a minha mochila.
— Quero ir embora.
— Por quê? O que aconteceu?
— Jennifer? — Carmen sai do carro e também me encara sem
entender nada. — O que está acontecendo?
— Eu apenas preciso sair desse lugar, não me sinto bem aqui.
— Jennifer, eu...
— Oliver, tudo bem. — Carmen interrompe. — Ela vem conosco,
eu sou como uma tia, nós a ajudaremos.
— Mas...
— Oliver, nós vamos para a cidade vizinha, não é como se
estivéssemos voltando para a Colômbia nesse mesmo instante! — eu não
entendo o tom de voz de Carmen, mas Oliver apenas concorda com ela.
— Pode ficar conosco, entendo como essa aura de família feliz pode ser
um pouco sufocante.
— Eu só quero sair daqui, apenas isso. Não é sobre as pessoas. —
dou um sorriso fraco, porque é sobre meu bebê e Carlos. — Podemos ir?
— Então, andem logo, pessoas! — Oliver fala com a voz mais
animada. — Temos uma longa viagem pela frente.
É isso, adeus pessoas que eu amo.
Agora eu só preciso de uma vida nova para mim e para o meu
filho.

(...)

— Por que está chorando? — olho para o lado e vejo Carmen me


encarando, parecendo que está assustada. — Se quiser, poderemos voltar.
— Não quero voltar. — enxugo minhas lágrimas. — Estou
fazendo o certo em ir embora.
— E por que está indo embora?
— Porque acho que devo viver a minha vida sozinha. —
respondo. — Não quero as pessoas fazendo tudo por mim e preocupados.
Parece que vou quebrar a qualquer momento.
Isso também não é uma mentira. Todos me tratam como se eu
fosse quebrar, como se eu fosse fraca e não pudesse fazer nada sozinha.
Ok, quando cheguei à vida de todos eles, eu não sabia nada sobre a vida,
mas agora eu sei e eles continuavam me tratando da mesma maneira.
— Isso me cheira a amor, um grande amor não correspondido. —
Carmen sorri. — Mas não precisa falar, em algum momento pode querer
desabafar. Mas sabe como sobreviverá sozinha? Desculpe, mas você não
sobreviverá aqui fora se for tão inocente a ponto de entrar no carro com
duas pessoas que não valem nada.
— Achei ofensivo. — Oliver olha para trás. — Mas ela não fala
uma mentira. — volta a olhar para a frente, para a estrada. — Nena, você
me parece uma pessoa inocente, não sobreviverá nesse mundo estranho.
— Por isso eu quis sair de lá, todos acham que sou quebrável.
— Eles te amam e só querem te proteger. — Carmen murmura.
— Então vocês me amam e também querem me proteger?
— Não me importo com muitas pessoas. — Carmen fala com
desdém. — Mas eu até gosto de você.
— Minha nena diz isso, é brava, grossa e pode fazer inúmeras
ameaças, mas, bem lá no fundo, no fundo mesmo, ela vai te ajudar.
— Não se intrometa, cara esquisito! E não sou sua nena! — cruza
os braços. — Por que aceitei essa merda de carona?
— Porque me ama, e desde que estou na sua vida ela tem ficado
cada vez melhor, mesmo que seja uma insuportável de não admitir.
Sinto um breve mal-estar e me recordo de Brittany falando sobre
gravidez. O quanto o médico custa caro e o enxoval. Lembro-me que não
tenho nada disso, eu peguei o dinheiro que Juan me dava para comprar as
coisas para mim, está na minha mochila, mas sei que não será o
suficiente.
Preciso conseguir um emprego, mas de quê?
Oliver para o carro no que me parece ser um mercado. Descemos
do carro. Carmen entra para comprar algo e Oliver fica ao meu lado.
— Nena, como está?
— Mal.
— Por causa de Charlie? Porque se for...
— Não, nada tem a ver com ele. O passado ainda assombra, mas
saber que Charlie morreu traz algo bom na mente.
— Então, é realmente um amor?
— Amor só da minha parte.
— Vale a pena abrir mão de tudo por causa de um amor não
correspondido? Você está perdendo uma família e amigos, está indo para
um lugar desconhecido, isso vale a pena?
— Acho que sim. — encolho os ombros. — Sabe, não é apenas
por isso. Você não sabe como é ruim ser tratada como uma pessoa que
não sabe de nada e parece que vai quebrar a qualquer momento. Fora que
eu não conseguia ver todos felizes. Sei que isso é algo ruim, mas quando
vejo todos aqueles casais, eu me sinto só. Porque eu quero ter aquilo na
minha vida, mas sei que não terei.
— Não existe apenas um cara no mundo, talvez ele não seja o
certo.
— Você está certo, mas vai muito além disso.
— Tem um bebê aí, não é? — não respondo. — Olhe, não nos
conhecemos muito depois do ocorrido e você pode até ter medo de mim,
mas não te farei mal. Não machuco garotas legais, indefesas e grávidas.
Eu te ajudei quando vomitou, lembra? — confirmo. — E quando passou
mal e foi no hospital, você se negou a fazer qualquer exame, você já
desconfiava de algo, também escutei Brittany falando algo sobre o seu
bebê, e por julgar o olhar do jovem latino, eu acho que ele é o imbecil
por quem você é apaixonada.
— Você é um grande observador.
— Não tinha nada para fazer naquele momento. — dá de ombros.
— Você é uma boa garota, jovem latino também, conheço Carlos desde
que ele era criança, mas todo mundo sabe da fama de Juan. Carlos é o
homem da maior confiança do seu pai. Vai por mim, disso eu entendo. Eu
vi que Carlos tentou falar com você e você correu para longe dele. O que
ele fez?
Sentindo uma enorme vontade de desabafar, acabo falando:
— Eu me senti segura perto de Carlos, uma sensação estranha
tomou conta de mim desde o momento em que o vi. Ele sempre
conversava comigo escondido, mas estava lá, ao meu lado. No entanto
quando as coisas foram mudando, ele resolveu conversar e disse que não
poderia fazer aquilo. Óbvio que o cartel vale mais a pena. — respiro
fundo e engulo a saliva, sentindo a dor na garganta e controlando a
vontade de chorar. — Carlos não gosta de mim, eu fui uma iludida.
— Ele sabe dos seus traumas e ficou com você. — aponta para a
minha barriga. — Não consigo pensar em Carlos fazendo algum mal a
você nessa situação.
— Não aconteceu de uma maneira rápida, demorou até eu me
acostumar com Carlos em minha vida. Estava louca por ele e queria ser
feliz, acreditei nas histórias de Brittany, onde sempre tem um feliz.
Simplesmente aconteceu, acho que não estava nos nossos planos. Eu fui
burra, sei disso.
— O amor nos faz burro. — sorri. — Mas Carlos sabe do filho?
— Quando eu ia contar, uma mulher apareceu. — lembro-me de
Vanessa e meu peito aperta com a dor. Será que eles já se encontraram?
— Bem, já que ela apareceu, eu decidi sair.
— Ainda acho que ir embora de casa é uma grande furada, mas
estou do seu lado, assim como Carmen. Mas se meu conselho servir de
algo, preciso dizer, não sei de qualquer mulher na vida de Carlos,
conheço há anos e não acredito que ele faria algo de ruim com a filha de
Juan, ainda mais sendo você. Você espera um filho dele, não tem nem um
ano que saiu de um cárcere, você precisa de pessoas ao lado. Tire esse
tempo para pensar, mas pense com carinho e veja o que é melhor para
você e o bebê.
E com essas palavras de Oliver, nos calamos e esperamos por
Carmen.
Depois retornamos para o nosso caminho e passo a viagem toda
processando as palavras de Oliver.
Estou escondendo um filho de Carlos... Quando estiver me
sentindo melhor, eu contarei a ele... Ou não. Eu não quero olhar para
Carlos.
Uma grande dúvida do que fazer com minha vida, mas também
preciso pensar na vida do bebê!
Depois de algum tempo paramos em frente a uma grande casa e
Oliver pede para descermos.
Fico parada, olhando para a casa a minha frente. Oliver pega a
minha mochila, mas eu não a solto.
— Algum problema? — ele pergunta.
As minhas mãos ficam molhadas, com o suor que está se
formando. Sinto como se eu tivesse dando voltas sem sair do local.
— Você está bem? — Carmen toca a minha testa.
— Eu acho que vou... — fecho os olhos. — Eu apenas não
consigo...
— Ela vai desmaiar. — acho que é Oliver quem me segura para
não cair no chão.
Mais uma vez, as minhas vistas escurecem.
Capítulo 2
CARLOS
Passado

— É só dar alguns trocados e sua mãe abrirá as pernas para


mim!
Jogo minha mochila e meu caderno no chão e corro na direção
de quem falou isso.
Derrubo o garoto no chão e logo percebo que seu tom zombador
mudou para desesperado.
— Vai me bater? Vai ser expulso do colégio, pode bater.
Isso não é um desafio. Ele está apavorado e está querendo me
amedrontar com essas palavras, mas, para o seu desespero, eu não me
importo com o colégio.
— Carlos! — escuto essa voz e sei que é Juan.
— Não! — grito e aperto o pescoço do garoto, mas é em vão,
Juan já conseguiu me tirar de cima do idiota que falou da mulher que
chamo de mãe.
— Você. — Juan aponta para o garoto que eu tentei estrangular.
— Eu não estarei sempre aqui para te salvar. Seja lá o que você fez para
irritar Carlos, não faça mais. Esse é um conselho para que você se
mantenha vivo.
O garoto sai correndo junto com os seus amigos.
Abaixo-me e começo a pegar a minha mochila e meu caderno.
Quando levanto, Juan está me olhando com piedade.
— O que foi? Não pedi para vir até aqui. — falo com ódio.
Não tenho nada contra Juan, mas sei que ele odeia vir até aqui
para me levar para casa.
— Não pediu, mas eu me sinto na obrigação de vir até aqui.
— Você não é nada meu. — falo, olhando-o nos olhos. — Não
vejo porque é obrigado a isso.
Juan aperta o meu ombro e me leva até o seu carro.
— Eu sei pelo o que está passando. — começa a falar. — Tive
pais horríveis e sei pelo o que passa. Seu pai me deu você e sua irmã
como pagamento, mas sabe que eu não farei mal algum para você e para
sua irmã, só estou aqui para ajudar.
— Ajudar? Você odeia meus pais!
— Sim, odeio. Mas você é um garoto que não tem culpa de ter
esse tipo de pais. Eu tenho Brittany, que ainda é muito pequena, mas ela
mora tão longe de mim...
— Por que não vai até ela? Ela é sua filha e sua obrigação é com
ela, não comigo e com minha irmã.
— Você é muito petulante. — puxa a minha orelha, mas logo solta
quando dou um grito. — Brittany não pode viver comigo, você sabe o
que faço para sobreviver. Você vive naquele lugar, com aquelas pessoas...
Eu apenas quero te ajudar. Brittany está bem com Carmen, apesar de ela
ser uma vadia, ela não é uma pessoa ruim.
— Podemos ir? Não quero escutar sobre a sua vida.
— Só quero entender uma coisa, você não gosta da sua mãe, mas
vive brigando por causa dela.
— Porque eu sirvo como piada para eles, e eu não quero que
fiquem rindo de mim.
Juan parece aceitar a minha resposta e começa a dirigir. Depois
de quase uma hora, chegamos a sua casa.
— O que estou fazendo aqui? — pergunto.
— Você mora comigo a partir de agora. Posso dizer que sua mãe
está ferrada e, se você for para casa, você não voltará. Sua irmã está na
escola, mais tarde ela também virá.
— Minha mãe morreu?
— Ainda não, mas está desaparecida.
Por mais estranho que pareça, eu não sinto nada em relação a
isso. Ela nunca foi boa com ninguém.
— E se eu não quiser morar com você?
— Você não me odeia. Você quer me odiar, mas não consegue.
— Muito egocêntrico.
— Não, apenas salvando a sua vida. Quando tiver idade
suficiente para sobreviver sozinho, você poderá ir embora, se quiser.

Atualmente

— Carlos, você é como um filho para mim. — Juan diz com o


tom de voz carregado de emoção, mesmo que ele tente disfarçar, eu sei
que ele está emocionado com suas palavras. — Você sempre esteve ao
meu lado. Até mesmo quando eu tinha que estar com minhas filhas.
— Por algum motivo estranho, você acreditava em Sofia e
Carmen.
— É que você não as conhecia, elas eram boas, eu juro. Brittany
sempre foi revoltada e teve o laudo médico forjado, pensei que fosse
mentira dela para ela vir morar comigo, mas isso não vem ao caso agora.
— Sabia que essa conversa não seria para falar sobre o quanto
você gosta de mim.
— Não. — ele ri. — Estou com Jennifer, Whitney e Christian,
eles moram comigo. Você acabou ficando ao meu lado e sabe como tudo
funciona. Alguns homens retornaram ao cartel, outros apenas pegaram o
pagamento e decidiram mudar de vida, alguns trabalham ao meu lado e
você ficou comigo. Recebi a ligação do atual chefe e ele me questionou
sobre você. Nunca tivemos essa conversa, mas agora preciso saber se
quer voltar ao cartel. Uma pessoa ficará responsável por toda a parte dos
transportes das armas, eles têm interesse em você, por já conhecer tudo.
Se quer minha opinião, não gostaria que aceitasse voltar para o cartel,
mas tenho que perguntar.
— Ainda não tenho certeza.
— Eles sabem que você consegue convencer os compradores, os
vendedores, sabe fazer contas, o que é muito importante e tem todo o
respeito, já que sempre esteve ao meu lado. Mas eu realmente não
gostaria que fosse embora, que retornasse a essa história. Falo de tudo o
que sabe fazer, mas tem todo o perigo que envolve essa vida. Aqui é mais
tranquilo, você tem dinheiro, temos o nosso investimento...
E Jennifer...
— Sabe que meu pensamento sempre foi o cartel. — interrompo-
o. — Cresci por causa dele. — não porque Juan quis, sempre foi do
contra, agora não seria diferente. — Gosto de estar ali.
— Sim, mas você continuou aqui após a morte de Charlie, nunca
falou de retornar.
— Eu não tenho muito o que fazer aqui, Juan.
— Os nossos investimentos, casas noturnas, empresas de fachada,
a imigração não chega até aqui, estamos muito bem nesse lugar. — como
não digo nada, ele suspira, parecendo ter raiva. — Te darei mais uma
semana para pensar, sei que viveu pelo cartel, mas pode mudar de vida.
Se eu mudei, você também pode. Pense nisso, Carlos.
Apenas balanço a cabeça e despeço-me de Juan, saindo do
pequeno quarto e ando para fora da casa. Subo na minha moto para ir
para casa, preciso conversar com Jennifer. Odeio ter que fazer isso, mas
ela merece algo melhor, ela merece outro alguém... Já matei e sei que se
depender de mim continuarei assim, a diferença é que faço isso para me
defender, mesmo assim, sou tão ruim quanto todos que já passaram pela
vida de Jennifer.
Eu nem ao menos deveria tê-la ajudado. Quanto mais me
aproximei, mais eu gostei dela. E tudo acabou de uma maneira tão
inesperada. Do nada Jennifer levantou da cama e começou a falar de
Vanessa, depois, Jennifer não quis mais olhar para mim.
Mas sei que Jennifer fez o certo, não daria certo nós dois juntos.
Eu sempre quis o cartel e ela merece uma vida feliz, diferente de tudo
que já viveu.
Eu sei que continuarei no cartel, fazendo meus contatos e dando
sequência aos negócios. Isso foi o que sempre quis.
Viver com Juan fez com que eu quisesse ser como ele. Um
homem respeitado e com grande poder nas mãos. Amor não importa
nesse momento. E pelo o que Jennifer fez comigo nesses tempos, eu sei
que ela me odeia e não suporta nem olhar para mim.
Paro a minha moto na calçada da minha nova casa e logo recebo
uma pancada na cabeça. Perco o equilíbrio e caio junto com a minha
moto.
— Seu grande imbecil, babaca. — isso é Brittany me agredindo?
— Eu vou te matar! Eu juro!
Seguro os braços de Brittany e vejo seu rosto vermelho.
— Qual o seu problema? — grito.
— Você! Minha irmã foi embora por sua culpa!
— Do que está falando?
— Eu vim dar as aulas de Jennifer e ela não está, nem as roupas
estão lá. Ela foi embora por sua causa!
— Jennifer foi embora?
— Sim, seu babaca! — ela tenta me bater, mas aperto os seus
braços com força.
— Explique melhor, Brittany!
— Jennifer deve te amar e foi embora por sua culpa! Jennifer
estava te odiando nesses tempos, não sei o motivo para isso, mas tenho
certeza que ela foi embora por sua causa.
Jennifer me excluiu da sua vida... Ela está por aí, sozinha, em um
mundo que não conhece.
— Eu vou encontra-la! — falo rapidamente.
Brittany levanta de cima de mim e eu levanto do chão.
— Eu te darei uma chance, porque sei que Jennifer pode acabar se
dando mal, também sei que ela não fará besteira. Se não a encontrarmos,
eu juro que te matarei com as minhas próprias mãos. Te cortarei em
pedacinhos com você ainda vivo. Eu sei que você pode ter algum cargo
no cartel, mas se minha irmã for menos importante...
— Eu encontrarei Jennifer. — levanto a minha moto. — Só
precisarei pegar a minha carteira e dinheiro para o combustível.
— Juan estará indo para uma viagem daqui a algumas horas, ver
os negócios nas outras cidades. Eu vou pedir para que Jessica o enrole
quando ele quiser falar com Jennifer, mas eu, Alejandro, Vicent e Eric
estaremos indo junto.
— Ok, Brittany.

(...)

— Falaram que ela entrou em um carro. Tinha um homem


branco, alto e magro; uma mulher loira, curvilínea de altura média.
— Oliver e Carmen? — pergunto a Alejandro e ele diz que,
provavelmente, devem ser eles. — Para onde eles foram?
— Pelo menos a minha irmã tem grandes chances de estar bem,
mas não te salva do meu futuro espancamento e mutilação.
— Ninguém tem o número deles? — Eric pergunta.
— Já tentamos ligar e nada. — Vicent responde. — Dá fora de
área, podem estar na estrada ainda.
— E não ligaram para avisar sobre Jennifer? — indago. — Não,
algo aconteceu.
— Precisamos ir a cada canto procurar. — Alejandro começa a
dirigir. — Não devem estar muito longe daqui.
— Carlos. — Brittany bate no meu braço com uma força
exagerada. — O que sente por minha irmã?
Não respondo a sua pergunta.
— Você, pelo menos, gosta dela? — faz outra pergunta.
— Gosto.
— Gostar não é amar. — ela bate no meu braço mais uma vez. —
Acho que Jennifer está certa em ter ido embora e eu estava errada em
pensar que você é o homem certo para ela. Você é um grande idiota.
— Por que parece que sabe de algo mais? — pergunto, olhando
para trás, diretamente para Brittany.
— Se Jennifer quiser te contar, ela fará isso por conta própria.
Mas, vendo como você está calmo com o sumiço da minha irmã, acredito
que você só se importa com o que Juan pensará de você.
Brittany está errada.
Eu me importo com Jennifer...
Não é o momento de pensar no que sinto por Jennifer. É o
momento de encontra-la para podermos conversar seriamente.
E tentar entender o que acontece conosco... Mesmo que eu saiba
que sou o grande covarde da história, por me aproximar de Jennifer e
depois afasta-la, por acreditar que não sou digno dela.
Que Jennifer merece um homem e uma vida melhor...
E olhando agora...
Acho que tenho razão.

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