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Proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem
permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor, qualquer semelhança com
acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor
desde 1º de janeiro de 2009.
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1 – ANNA
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 9 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15 - JESSEBELLE BACCHI
CAPÍTULO 16 – JESSEBELLE BACCHI
CAPÍTULO 17 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 27 - LAURA GUERRIERI
CAPÍTULO 28 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 31 – RICCARDO GUERRIERI
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33 - MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37 – FABRIZIO GUERRIERI
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40 – MATTEO GUERRIERI
CAPÍTULO 41 – ALGUNS MESES DEPOIS... ANNA
CAPÍTULO 42 – MATTEO GUERRIERI
EPÍLOGO – MATTEO GUERRIERI
Matteo Guerrieri sempre levou a vida de forma descontraída, um
conquistador nato que nunca se apega a nada ou a ninguém. Mas tudo
desanda quando uma bela jovem cruza seu caminho e vira sua vida pelo
avesso. Porém, por ser o Capo e viver sob as leis da Máfia, Matteo deixa
sua paixão escondida para se casar com a sua prometida, Anna, a quem ele
jura vingança por ter entrado em seu caminho.
Após a morte de seu cruel marido, Anna tenta libertar-se dos traumas
passados. Ela achou que finalmente poderia ser feliz ao lado de Matteo, mas
se decepciona ao descobrir que ele não é diferente dos outros homens da
máfia. E ele até poderia ser o pior, caso ela não mexesse tanto com os
sentimentos dele, bons ou ruins.
O tiro sairá pela culatra. O alvo da vez será o coração do belo rapaz.
Depois de vestir meu terno impecável, segui para o lugar onde iria
acontecer a recepção. Eu não queria festa, mas até nisso fui ignorado e
fizeram uma festa para duzentos convidados.
Entrei no carro e dirigi em alta velocidade pelas ruas de Sicília,
pensando em como iria me livrar de ficar amarrado a uma pessoa que não
amava. Anna havia sido casada com Antônio, isso fazia sua reputação não
ser uma das melhores. E logo eu tamparia o buraco, apenas porque ela era a
irmã da Laura. Caberia a mim salvar o nome da Família Bassi?
Isso não fazia o menor sentido.
Entrei no bar e bebi tanto quanto podia, não demorou muito para o
meu celular tocar dentro do bolso.
— Fala, Riccardo.
— Onde você está?
— Isso importa? — bufei. — Em alguns minutos estarei aí. Estou
tomando coragem para não dizer “não” quando me perguntarem se é de
livre e espontânea vontade que estou me casando.
Meu irmão ficou em silêncio. Ele sabia que eu merecia escolher com
quem eu me casaria, mas em vez disso ele optou por unir o útil ao
agradável. Seríamos todos da mesma família, afinal de contas.
— Sei que pode parecer ruim agora, Matteo. Mas você irá se
acostumar com o tempo, Anna é uma boa moça.
— Não comece, Riccardo. Não tente justificar. Eu amo Jessebelle.
— Você não a ama. Acredite em mim. Conheça Anna melhor e vai
perceber que ela é a mulher ideal.
Bufei já de saco cheio daquela conversa.
— Não vou abrir mão da mulher que amo — falei firme.
— Não estou dando escolhas.
— Se é assim, não vou dar herdeiros para a máfia. Não é porque Laura
é perfeita que significa que a irmã dela também seja. Anna é fria, se veste
como freira, e nossa, ela mal se arruma. É isso que você quer para a minha
vida?
— Você é a porra de um moleque mimado. Quanto às roupas, acho que
você pode cuidar disso. — Ele respirou fundo. — Tenho que desligar, vejo
você daqui a pouco. É bom que não se atrase.
— Você está linda. — Mamãe sorriu. Sim, tive que concordar com ela.
Eu estava mesmo linda.
— Tem certeza de que não quer ir junto? Posso tentar falar com Laura.
Ela balançou a cabeça negando.
— Tenho.
— Ficar aqui sozinha vai ser...
Ela me interrompeu:
— Anna, você é a esposa do Capo, e Laura, do Chefe. Não tem lugar
para mim lá.
Murchei derrotada e permanecemos em silêncio enquanto
caminhávamos para o lado de fora da nossa casa, onde soldados me
esperavam.
Mamma me deu um beijo demorado na bochecha e eu senti meu
coração apertar com a tristeza que ela estava sentindo. Queria poder
arrancar a tristeza do coração dela, queria poder fazer meus irmãos
enxergarem o quanto ela sentia falta deles... porém infelizmente não tinha
poder para isso. Cada um tinha sua vida e eu devia respeitá-los.
— Eu te amo — sussurrei antes do carro dar partida e deixar mamma
na calçada da nossa casa.
Abri os olhos novamente quando senti meu corpo ser balançado. Laura
ainda estava na minha frente me olhando com preocupação. Não sabia se
era alucinação ou se ela realmente estava ali, no entanto, meu coração se
encheu de alegria, esperança.
— Preciso da sua ajuda, Matteo. Precisamos nos esconder antes que
eles voltem. Não consigo dar conta de todos eles.
Tossi forte enquanto obrigava meu corpo a sair do chão. Laura estava
me ajudando, e quando fiquei de pé, ela conseguiu caminhar comigo me
apoiando nela e nós conseguimos sair daquele lugar.
O lugar parecia uma caverna próximo às montanhas. Os matos e as
árvores cobriam nossa visão.
O ar puro fez com que eu fechasse os olhos e respirasse fundo,
sentindo as gotas grossas de chuva caírem sobre minha cabeça.
Meus ossos doíam muito a cada passo que eu dava.
Estávamos descendo uma ribanceira para tentar achar uma rodovia, e,
num determinado momento, perdi as forças nas pernas e caí sobre Laura,
perdemos o equilíbrio e rolamos morro abaixo. Os capins cortavam nossa
pele à medida que rolávamos sobre eles.
Rolamos até bater no tronco de uma árvore que estava no caminho.
Estava escurecendo, e a ideia de passar a noite no meio daquela
floresta não era animadora, mas não tinha outra alternativa que não fosse
procurar um lugar seguro para tentar se aquecer do frio.
— Laura... — Procurei por ela e a vi caída do meu lado.
— Estou bem. — Ela levantou, e quando tentei fazer o mesmo, fui
tomado por uma dor aguda na perna esquerda, um pedaço fino de madeira
tinha entrado nela.
— Acho melhor você ir procurar ajuda —sugeri, sabendo que eu não
iria mais conseguir andar. Eu não queria que Laura corresse risco.
— Não vou deixar você. — Ela andou em volta da floresta, afastando
capins e plantas. Laura havia sumido do meu campo de visão.
Nunca imaginei passar por situação parecida.
Fechei os olhos sentindo muita dor. Acordei em seguida quando mãos
suaves passaram por minha cabeça.
— Não pode fechar os olhos, Matteo.
— Não vou conseguir, Laura. Você sabe que sou um peso morto. Vá se
esconder, eu vou ficar e distrair eles.
— Não diga bobagens. Achei um esconderijo e nós iremos permanecer
lá até o amanhecer.
Laura foi me arrastando pelos braços enquanto eu ia apertando os
lábios para reprimir os gritos de dor.
Ela caía de bunda no chão quando tropeçava em algum galho, contudo
não desistia. Em nenhum momento Laura desistiu, continuava me
arrastando pelo meio da floresta escura e molhada.
Uma lágrima involuntária rolou pelo meu rosto quando fui arrastado
para um túnel pequeno e apertado, o lugar era escuro e muito pequeno.
Estávamos seguros do frio e chuva, embora o lugar fosse pouco úmido.
— Onde estamos?
Ela rolou por cima de mim e vedou o lugar com uma grade de ferro
jogada por ali, nos deixando isolados dos perigos da floresta. Não éramos
presas fáceis somente para nossos inimigos, mas para qualquer animal que
saísse para caçar.
— No bueiro. Aqui não vamos passar tanto frio. Também não vão nos
encontrar facilmente.
Exausto, fechei os olhos e dormi.
"A limpeza" foi feita. Todos os envolvidos com a máfia rival foram
mortos, expulsos do nosso território.
Faltava resolver apenas a situação de Giovanni, Mia e Fransuá.
Riccardo achou melhor esperar, porque sabia que Laura, em algum
momento, iria intervir.
Riccardo e eu estávamos sentados no sofá, bebendo uísque e jogando
conversa fora quando o soldado retornou, perguntando se poderíamos
receber nossas esposas.
Sim, meu irmão acabara de confessar que Anna e eu não estávamos
divorciados, disse que inventou a história apenas para eu tomar atitude.
Fiquei imensamente agradecido, embora não mudasse o fato de Anna me
odiar por tudo de ruim que a fiz passar.
Ele havia dito também que nomearia Anna como a nova contadora da
fazenda da Calábria, onde Giovanni administrava. Aquilo certamente iria
desbancar muitos marmanjos, e eu estava mais do que embasbacado com a
notícia. É até foi engraçado admitir que por anos fiquei distraído
procurando em outra mulher o que eu tinha em casa. Estava tão distraído
que acabei não vendo a pessoa inteligente do meu lado. Anna sempre esteve
lá.
Minha atenção desviou para a porta quando ela entrou envergonhada,
um pouco sem jeito. Colocando as mãos à frente do corpo e se escondendo
em um canto qualquer para não chamar muita atenção. Porém, mal sabia ela
que meu olhar estava cravado nela.
Minha mulher estava mais linda do que nunca, e eu cheguei à
conclusão que tudo que eu sentia era apenas um preconceito bobo, somente
pelo fato de Anna não ser mais virgem. Isso não tinha relevância alguma...
Que bobeira minha!
— Matteo — Riccardo estalou o dedo na minha frente, eu despenquei
na realidade desviando minha atenção para ele e Laura, agarrada no
pescoço dele. — Tá surdo, porra?
— Não. Só estava olhando uma coisa bonita quando você me chamou.
Aliás, ainda bem que as Guerrieri são lindas, porque os homens são
horrorosos.
Ele ergueu os ombros e riu:
— Ainda bem que você tem espelho em casa.
Laura e Anna colocaram a mão na boca para reprimir o riso.
— Não entendi.
— Vou para casa com minha mulher, vamos tomar um banho e trocar
de roupa.
— Vão sair? Anna e eu podemos ir com vocês?
— Não — Riccardo interferiu. — Não hoje.
— Matteo. — A voz de Anna saiu abafada do fundo da sala.
Riccardo olhou para Laura, inquieta.
— Nós vamos sair pra beber — respondeu envergonhada. — Vamos
amanhecer o dia... — Mordeu os lábios se dando conta do que ia falar. —
Anna precisa conversar com você.
— E...? — Anna encorajou a irmã, brincando com seu jeito
envergonhado. Parecia que elas estavam nervosas com algo.
— Porque a putaria vai rolar à vontade — Riccardo interrompeu. — É
isso. Entenderam ou querem que eu desenhe uma rola na testa de vocês?
Laura arregalou os olhos e ficou vermelha.
— Dio, Riccardo!
— Não é necessário — respondi.
— Ótimo. Anna precisa conversar com você, não é Anna? — Ela
piscou para a irmã enquanto puxava Riccardo pela mão e os dois saíram.
da sala.
Agora Anna e eu estávamos sozinhos.
Ela se aproximou de mim. Notei que estava muito nervosa.
— Eu queria que você me levasse para jantar. Eu preciso muito
conversar com você, Matteo.
Assenti. O soldado entrou no carro para dirigir e Anna me ajudou a
caminhar. Minha perna doía muito devido à esforços físicos.
A noite estava agradável: a brisa fresca e o céu repleto de estrelas
deixava o clima romântico.
— Vou te levar para jantar.
— Não vai tomar banho? — Mordeu os lábios enquanto reprimia o
riso.
— Engraçadinha!
— Seu irmão foi tomar banho. — Tamborilou os dedos no banco do
carro enquanto me olhava de soslaio.
— Não nasci colado com ele. Além do mais, não estou fedendo, estou?
— Puxei seu corpo para perto de mim e a fiz me cheirar.
— Ai, credo — gargalhou. — Parece um gambá em decomposição.
Nós dois rimos. Com ela ali do meu lado eu me sentia completo. Não
havia outro lugar onde eu queria estar que não fosse ao lado de Anna.
Ficamos um tempo nos encarando enquanto o sorriso morria aos
poucos dos nossos lábios.
— Você é linda, Anna.
Ela abaixou a cabeça.
— Pensei em esperar até chegarmos em um lugar tranquilo para
conversarmos, mas acho que aqui nesse carro é o lugar ideal. E se depois do
que eu disser você ainda quiser me levar para comer, vou ficar imensamente
agradecida e feliz.
Eu ri fraco enquanto acariciava seu rosto e seus cabelos.
— Nada me fará mudar de ideia. Quero você, Anna. Me deixe
consertar a besteira que fiz? Por favor, estou implorando por essa
oportunidade.
— Estou grávida.
— Assim tão rápido? — foi a única coisa que consegui dizer e me
amaldiçoei por isso.
— Jura que vou ter que responder essa pergunta?
Fiquei estático e foi possível ouvir o som do meu coração batendo
freneticamente dentro do peito. Eu não sabia nada sobre ser pai, não fazia
ideia de como era trocar uma fralda. Sabia apenas que bebês eram irritantes
na maioria do tempo. Mas ouvir Anna dizer que ia ser mamãe não me
pareceu tão desesperador. Não parecia bicho de sete cabeças... tive vontade
de enfrentar, de seguir em frente com ela.
— Estou com você. — Beijei sua testa e a puxei para deitar no meu
ombro.
— Você não precisa fazer isso se não quiser.
— Mas eu quero. — Toquei seu queixo. — Anna, me deixe cuidar de
você e dessa criança. Sei que errei muito, estou disposto a melhorar e ser o
homem que você merece.
— Podemos ir devagar? Ainda estou muito magoada.
— Te dou todo o tempo do mundo.
Ela sorriu fraco e se aconchegou em mim.
— Vamos alimentar você e o bebê — sugeri depois de alguns minutos
em silêncio curtindo apenas o som da noite...
Ela concordou sorrindo e eu ordenei ao soldado para ligar o carro e o
rádio em uma música romântica. Seguimos até o restaurante que ela disse
gostar.
O jantar foi incrível. A noite foi incrível. Pela primeira vez em anos
tive o privilégio de sentir como é ser amada. Como é ser uma mulher amada
por um homem.
Matteo foi um perfeito cavalheiro e me proporcionou momentos
incríveis, em apenas uma noite. Ele estava disposto a mudar, na verdade,
Matteo parecia outro homem depois de ser torturado pela máfia rival.
— Onde estamos indo? — Sorri ao sentir a brisa fresca entrando em
contato com minha pele.
Matteo apenas sorriu e continuou me guiando pelo deck onde no final
havia um iate aguardando.
Matteo embarcou primeiro antes de majestosamente oferecer sua mão
para que eu embarcasse junto. Eu ri antes de aceitar sua ajuda e pulei
desajeitada, caindo por cima dele.
— Calma gatinha, os soldados estão olhando para nós.
Nós rimos. Em nada ele se parecia com o homem indiferente que um
dia conheci. Eu sabia que as coisas na máfia nem sempre foram fácies e elas
nunca seriam para nenhum de nós. O mundo em que vivíamos era diferente
do habitual de muitas pessoas. Aceitando coisas que outras pessoas jamais
aceitariam apenas porque não tínhamos outro estilo de vida a seguir. Isso
que nos foi ensinado.
A máfia não dava escolha e só havia uma forma de se livrar dela:
através da morte. Morrer seria a única solução para ser livre, porém, para
nenhum de nós essa escolha seria viável. Principalmente para mim que
amava viver, presenciar o esplendor do sol nas manhãs.
Vivíamos em um mundo onde os casamentos eram escolhidos a dedo.
Muitas crianças ainda eram prometidas no ventre de suas mães. No fundo,
eu sempre soube como Matteo se sentia em relação a mim. Sabia que não
estava apta para ser esposa de um Capo, mas, ainda assim, eu fui. Tornei-
me esposa de Matteo apenas por ser irmã de uma pessoa importante da
Máfia.
Embora Antônio tivesse cavado meu sepultamento junto ao dele
quando resolveu trair a organização, consegui escapar casando com alguém
muito mais importante do que ele. Certamente um benefício que nenhuma
outra pessoa teria, para mim o casamento foi um bálsamo, no entanto não
podia dizer o mesmo de Matteo Guerrieri, o conquistador irresponsável, que
vivia na espreita seduzindo mulheres comprometidas, ou até mesmo
solteiras. Ser casado comigo não era sinal de orgulho.
— Anna. — Desviei minha atenção para Matteo com a testa levemente
franzida. — O que há de errado? Droga, não dou uma dentro. Já estou
fazendo você chorar novamente.
— Não. — Enxuguei as lágrimas. — Apenas lembranças ruins.
— Esqueça apenas por esta noite. — Tocou meu rosto.
Concordei e seguimos para dentro do iate, mas parei abruptamente
quando me deparei com a cama arrumada e decorada com pétalas de rosas.
Era até engraçado dizer que tudo ali estava decorado como se fossemos
curtir a lua de mel que não tivemos.
— Você planejou tudo isso?
— Planejei. — Matteo coçou a cabeça antes de pegar um controle e
ligar o rádio numa música ambiente e clássica.
— Não conhecia esse seu lado romântico.
— Nem eu. — Ele riu. — Gostava de ser o bobo da corte a quem
ninguém levava a sério. Mas chega um momento que é preciso mudar. Não
é somente vocês mulheres que precisam amadurecer. Não é somente vocês
que têm medo, nós homens também temos. Nós temos nossos passados
conturbados que nos transformam no que somos hoje.
Matteo pegou minha mão e me guiou até o centro do quarto. Aos
poucos fui me deixando levar pela música e quando dei por mim, dançava
lentamente com ele.
— Gostaria de saber mais sobre você, Anna.
— Minha vida sempre foi uma droga. Me casei muito nova com
Antônio. Me submeti a maus-tratos somente pela responsabilidade de
alimentar minha família enquanto meu pai esbanjava seu dinheiro com
mulheres e jogos.
Matteo respirou fundo antes de capitar meus olhos emocionados.
— É verdade. Papai tinha muitas amantes. Mas a verdade que ninguém
sabe é que nem o colégio de Laura ele pagava. É claro que ele gostava de
dizer que sim, que ele era o provedor da casa, mas, na realidade, era o
Antônio quem ajudava em todas as despesas. Antônio me pedia para
escolher entre mim e minha família, então eu passava fome para alimentá-
los. Foi exatamente por isso que papai não hesitou em mandar Laura para
bem longe quando Antônio tentou violentá-la, ele queria evitar problemas
com o meu marido.
Antônio acobertava as sujeiras do meu pai, assim como papai fazia
com Antônio.
— Antônio sempre foi mentiroso, Anna. Quem garante que ele não
mentiu para deixá-la ainda mais humilhada, somente para fazê-la lamber o
chão por onde ele passava?
— Talvez você tenha razão.
Matteo respirou fundo enquanto acariciava meu cabelo.
— Antônio sempre foi transparente sobre o que ele fazia com você.
Em todas as reuniões ele deixava claro o quanto te maltratava. Teve uma
época que cheguei a sentir pena de você.
— Lembro-me da época em que você foi amável comigo em algumas
ocasiões.
— Sim. Gostava de você como pessoa, Anna. Como irmã da Laura.
Nunca imaginei que iria vê-la como um obstáculo. E foi assim que passei a
te enxergar quando Jessebelle entrou na minha vida.
Meu coração se apertou quando o ouvi falar o nome dela.
— Matteo...
— Deixe-me falar, Anna. Vamos falar sobre esse assunto antes de
esquecermos de vez. — Ele parou para me olhar, esperando meu
consentimento.
— Tudo bem. — Caminhei até a cama e me sentei.
— Nunca fui apaixonado por Jessebelle. Sempre me senti atraído por
ela, querendo aquilo que não poderia ter. Até que um dia descobri que ela
estava apenas me manipulando. Foi isso que me fez abrir os olhos e
enxergar você. Você sempre esteve ao meu lado sem querer nada em troca.
Não tenho vergonha de admitir que fui burro. Eu não deveria mais assimilar
você com a imagem de Antônio. Ele se foi e você está comigo agora.
— Eu fui tão magoada por Antônio que achei que mais nada nessa
vida me surpreenderia. Você também foi horrível comigo, usou meios
baixos para satisfazer o ego daquela mulher.
Matteo se ajoelhou e abriu um caixinha de veludo.
— Estou lhe pedindo perdão, Anna. E se não for muito para sua
cabeça, quero que se case comigo novamente. Quero um casamento bonito
dessa vez, sem pressão.
Finalmente teria a chance de viver feliz depois de tudo que passei?
Matteo seria capaz de me fazer esquecer as coisas ruins que passei?
Eu não tinha resposta para nenhuma das perguntas, contudo, tinha
opção de deixar que a vida se encarregasse de respondê-las, mas apenas
seria possível se eu desse uma segunda chance a Matteo, para ele mostrar
que mudou.
— Você tem meu perdão. Mas ainda não muda o fato de eu querer ir
devagar. Vamos começar aos poucos, como um casal de namorados. Se
estiver tudo bem para você.
Na minha cabeça eu não tinha o direito de impor muitas regras a ele,
sendo que nunca o fiz com Antônio, que era mil vezes pior. Antônio me
usou do jeito que queria e não se importava com meus sentimentos.
Mas foi por meio de Matteo que encontrei meu verdadeiro eu. Sabia
que por meio dele poderia chegar a lugares inimagináveis. Através dele eu
poderia viver uma vida nova, esquecer o passado e conhecer o lado bom da
vida, já que eu nunca planejei um futuro antes. Por anos vivi dia após dia
esperando o momento em que Antônio fosse acabar com minha vida. Ele
morreu, e eu estou mais viva do que nunca esperando um lindo bebê.
— Está ótimo. — Ele sorriu levemente. — Leve o tempo que precisar.
E se você achar que está demais, iremos mais devagar do seu jeito. Só
quero ser o marido que você merece.
Concordei. Matteo olhou no fundo dos meus olhos e pude ver um olhar
carregado de promessas sinceras.
— Posso te beijar?
A pergunta me pegou desprevenida, mas depois concordei, sorrindo
discretamente. Ele sorriu e se inclinou, tocando meus lábios delicadamente
e abrindo espaço antes de enfiar a língua e aprofundar o beijo. De repente,
Matteo se inclinou sobre meu corpo, fazendo minhas costas encontrarem o
colchão macio, as mãos deles viajaram até minha coxa, separando-as.
O ar esquentou de repente, minha respiração ficou acelerada.
— Posso fazer amor com você, Anna? Só quero se estiver tudo bem
para você.
Concordei timidamente. Matteo beijou meu pescoço, depois desceu
para o ombro até alcançar meus seios sensíveis. A língua entra com avidez
na minha boca, explorando, enquanto minhas unhas arranhavam suas
costas.
Ele tirou minha roupa e me fez cair na cama de novo, mantendo
minhas pernas abertas enquanto beijava entre elas.
— Matteo — gemi arqueando o corpo quando a língua dele encontrou
meu clitóris sensível. O lençol macio estava entre meus dedos enquanto
Matteo me lambia, mordia e chupava. Ele sabia perfeitamente como levar
uma mulher à loucura na hora do sexo, e comigo não estava sendo
diferente.
— Goze para mim, meu amor.
Foi como se meu corpo estivesse apenas esperando um incentivo para
começar a se libertar. Meus músculos ficaram rígidos e meu corpo
estremeceu quando a tensão tomou conta, ansiando sair. Agarrei os lençóis
ainda com mais força enquanto arquejava com os espasmos, tremendo sobre
a cama. Minha mente ficou em branco e meus sentidos sumiram por alguns
instantes.
— Isso — Matteo continuou, acabando com minha sanidade.
Minha respiração estava irregular e meu corpo explodia em milhões de
pedaços dentro do meu peito. Gozei como nunca tinha gozado na vida,
gemendo alto e chamando o nome de Matteo, do homem que foi minha
ruína.
Antes que pudesse me recuperar do orgasmo, Matteo se debruçou
sobre meu corpo e pressionou o membro na minha entrada. Podia senti-lo
crescendo cada vez mais, e latejando contra minha carne úmida.
— Vou entrar agora... Tudo bem? — Beijou minha testa.
— Sim.
Ele empurrou fundo. A sensação era poderosa quando ele se movia
devagar e depois, rapidamente. Sentia o peso dele sobre mim enquanto ele
metia fundo e acertava em cheio algo dentro de mim, algo sensível que me
deixava louca toda vez que ele tocava lá. A pressão no meu ventre estava
me enlouquecendo.
— Está gostando?
Não conseguia responder, apenas continuei me contorcendo embaixo
dele enquanto o seu pênis mergulhava em mim. A língua de Matteo
encontrava novamente minha boca depois de chupar meu pescoço.
— Ah! — Mordi os lábios.
— Isso... Se solta, Anna.
Matteo aumentou o ritmo e as bolas dele batiam firme em mim. Nossas
respirações estavam tão aceleradas que mal conseguia ouvir as coisas que
ele dizia. Ele golpeou forte enquanto eu gozava pela segunda vez, e o ouvi
gemer alto, indicando que viria logo depois de mim.
Ele caiu sobre mim, nossas respirações aos poucos foram voltando ao
normal. Nossos corpos permaneceram colados e suados.
— Está tudo bem?
— Está. — Sorri, aconchegando-me no peito macio dele.
— Durma um pouco.
— Obrigada — agradeci, e ele beijou minha cabeça enquanto me
mantinha em seus braços. — Não podemos demorar muito aqui, minha mãe
está sozinha.
— Ela não está sozinha. Sua mãe está sendo bem cuidada pelos
melhores profissionais. É hora de você descansar e cuidar do nosso bebê.
— Ela precisa de mim.
Ele sorriu e acariciou meu cabelo.
— Eu sei que sim. Por isso que vamos levá-la conosco quando nos
mudarmos para a Calábria.
— Vamos? — Arregalei os olhos.
— Temos uma fazenda enorme. Lá o ar é puro, e vai fazer bem não
somente à sua mãe, mas também ao nosso bebê. Tem espaço para ele correr,
jogar bola... Enfim... Fazer suas travessuras de criança.
Eu ri. Seria perfeito.
— Mas a máfia exige que todos morem perto.
— Eu vou dar um jeito. Só acho que o ar em Sicília não me favorece
mais. Quero uma vida nova, e longe daqui.
— Eu adoraria morar em uma fazenda. Tomar leite fresco, comer
comidas saudáveis.
— Temos de tudo lá. De lá saem os melhores vinhos. Nós temos
negócio legais, Anna.
Fiquei louca para conhecer, minha mente já começava a projetar
imagens da fazenda, dos animais e da paisagem verde.
Puxei as cobertas e fechei os olhos pesados de sono depois do sexo. O
bebê estava me deixando cansada e sonolenta. Finalmente eu teria uma boa
noite de sono antes de ir ficar com minha mãe. Pelo menos dessa vez eu
teria energias positivas para transmitir.
Não tinha palavras para descrever a sensação de paz que sentia no
peito. Pela primeira vez na vida eu estava fazendo o certo, assumindo
minhas responsabilidades e dando um novo rumo à minha vida.
Estava terminando de colocar as malas na caminhonete quando
Fabrizio se juntou a mim para ajudar, colando o restante das coisas no carro.
— Tem certeza que está fazendo a coisa certa? — ele murmurou.
Eu sabia que meus sentimentos ainda estavam confusos e que minha
vida estava bagunçada, estava tudo de pernas para o ar. Havia anos que me
sentia assim, desde que meus pais foram mortos pelo meu irmão. Eu os vi
sem vida e não foi uma coisa legal, muito menos para uma criança.
Mas a partir daqui estava decidido: eu faria tratamento psicológico,
talvez encontrasse a razão de minha existência... estar consciente quando
meu filho viesse ao mundo.
— Quero mudar de vida, Fabrizio.
Ele assentiu, colocando as mãos de volta no bolso.
Fabrizio ainda não havia falado nada a respeito de Alessandra, isso
ainda era uma incógnita. Eu respeitei seu espaço e não fiz questionamentos.
Mas sabia que ele tinha ido atrás dela e a trazido de volta para Sicília.
— É um bom começo. Só posso desejar sorte. — Bateu no meu
ombro. — Riccardo sabe que está indo?
— Esse é o grande problema. Queria estar lá quando ele descobrisse.
Fabrizio ergueu a sobrancelha. Ele e Riccardo eram parecidos quando
se tratava da máfia, enquanto eu era a ovelha negra. "O cachorrinho que
caiu da mudança."
Sempre gostei de levar a vida de forma descontraída, porque não
queria pensar na vida que levávamos. O mundo do crime era perigoso, e
não tinha como saber se voltaríamos vivos.
— Pretende sair assim?
— Pretendo. — Desviei minha atenção para Anna, carregando
algumas caixas rosas. — Se eu for pedir permissão, ele não vai permitir,
vai?
— Talvez. Você já tentou?
Corri ao encontro de Anna e tomei as caixas de suas mãos.
— O que eu disse sobre esforços?
— Ai, Matteo. Estão leves.
— Só quis ajudar. — Virei-me para Fabrizio novamente: — Não posso
correr o risco.
— Então não seja exagerado. — Anna se afastou para pegar mais
alguma coisa dentro de casa.
Fabrizio tossiu, disfarçando um sorriso.
— Mulheres — bufei. — Eu só quis ajudar.
— Nunca pensei que você seria responsável algum dia — ele riu. —
Você vai ser papai e não está surtando com isso. Dessa vez não teremos que
intervir.
— Já fiz muita merda, eu sei. Eu cansei, Fabrizio. Cansei de ser o
canalha, moleque sem juízo. Já deu para mim, isso está incomodando.
Ele assobiou.
— Muito bem. Está amadurecendo.
— Se quiser levar as crianças para ficar uns dias comigo e Anna, fique
à vontade. É bom que vou treinando.
— Vou aceitar o seu convite. — Ele abaixou a cabeça e chutou uma
pedra para longe.
— Como você está... Agora que ela voltou? — Toquei o ombro dele.
Fabrizio desviou o olhar vazio para algo que somente ele conseguia
enxergar.
— É complicado, Matteo. Muito complicado.
— Estou aqui ouvindo.
— Pensei que não queria que Riccardo soubesse que você está indo
embora de Sicília, sem o consentimento dele — respondeu áspero,
desviando o foco. — É isso que vai acontecer se você não colocar a bunda
no carro e pegar logo a estrada.
Balancei a cabeça negando, mostrando para ele que fugir do assunto
não era a solução. A hora sempre chegava e nós tínhamos que resolver.
— Só não a machuque. Não faça com ela o mesmo que fiz com Anna.
Ele riu.
— Você ainda não ama sua esposa. Está com ela apenas porque vive
numa lei que não permite divórcio ou casamento com alguém fora do nosso
mundo. Então sem falso moralismo.
— Fabrizio...
— Você irá amá-la com o passar dos dias, com o tempo de
convivência. Está no caminho certo, Matteo. Mas a culpa de ter feito o que
fez com sua esposa vai vir ainda mais forte quando você estiver realmente
apaixonado. E lhe digo: a dor da culpa é terrível, ela dilacera você vivo e
queima sua alma, depois te lança nas profundezas da solidão. É assim que
me sinto quando olho para minha esposa. — Ele enxugou a lágrima. —
Faça uma boa viagem. — Bateu no meu ombro e se afastou.
— Obrigado. Dou notícias quando chegar lá.
— Estarei aguardando.
— E sobre Riccardo...
— Eu resolvo com ele, Matteo. Vá se feliz com sua família. Aproveite
esse momento porque eles são raros.
Assenti.