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Teu Carinho
TEU CARINHO
Das ruas de Boston do século XIX até a selvagem fronteira ela teceu uma
rede de mentiras para conquistar seu amor!
A encantadora Anna Reardon de temperamento ardente foi forçada a
mentir para fugir da vida miserável que a envergonhava... para se tornar a
noiva por correspondência de Karl Lindstrom na bela e traiçoeira região
selvagem de Minnesota.
Karl perdoou Anna por suas mentiras, mas ainda havia um terrível e
vergonhoso segredo que ela tinha que esconder dele, sabendo que sua
revelação destruiria o amor que se tornara sua própria vida!
FICHA TÉCNICA
“TEU CARINHO”
Título original: The Endearment
Copyright © 1982 by LaVyrle Spencer
Todos os direitos reservados.
Tradução: C. Belo
Revisão: D. Silva
Distribuição: MR
Capa: MR
Criação do ePub: D. Silva
Este livro é uma obra de ficção histórica. Os nomes, personagens,
lugares e incidentes que se relacionam com figuras não históricas são
produto da imaginação da autora, ou se usam de forma fictícia. Qualquer
semelhança com figuras não históricas, lugares ou incidentes com
personagens reais, vivos ou mortos, acontecimentos ou lugares é pura
coincidência.
DEDICATÓRIA
A minha querida amiga
Ellen Anderson Niznik,
Cujos pais, faz muitos anos,
se deram as mãos e cruzaram o umbral da igreja
para se sentarem e contemplar o pôr do sol
NOTA HISTÓRICA
Durante os anos precedentes a admissão de Minnesota como
estado, quando, todavia, o consideravam a fronteira, poucas mulheres se
aventuravam em seus confins, em particular mais além das cataratas de
Saint Anthony. A vida na fronteira exigia um custo demasiado alto a
qualquer mulher que fosse viver na região Norte do país. Embora os
jornais do Leste descrevessem de forma tentadora o que o território de
Minnesota podia oferecer aos homens, e os convidava a estabelecer-se
ali, estes convites não se estendiam as mulheres. Ao contrário, os artigos
desses jornais as desalentavam a aproximar-se dessa terra selvagem e
indômita. Por isso, a maioria dos homens chegavam sozinhos ao
desolado território de Minnesota, dispostos a ganharem a vida com
sacrifício. Assim o costume de mandar pedir esposas, sem conhecê-las
previamente era necessário. Essas mulheres eram conhecidas pelo nome
de “noivas por correspondência”.
L. S.
CAPÍTULO 1
Anna Reardon havia feito algo imperdoável. Havia mentido
desavergonhadamente para que Karl Lindstrom se casasse com ela.
Havia enganado esse homem intencionalmente, a fim de que lhe
enviasse o dinheiro para viajar a Minnesota como sua “noiva por
correspondência”. Ele esperava uma moça de vinte e cinco anos, hábil
cozinheira, experiente dona de casa, disposta trabalhadora rural e...
virgem.
Mais ainda, esperava que chegasse só.
A única coisa sobre a qual não mentiu, foi sua aparência. Ela se
descreveu com precisão como uma irlandesa, com o cabelo da cor do
uísque, alta, magra, de olhos castanhos, orelhas chatas, com algumas
sardas, de feições comuns, com todos os dentes e sem marcas de varíola.
Quanto ao resto das cartas, eram uma série de mentiras muito bem
forjadas para fazer com que o crédulo Karl lhe enviasse o dinheiro da
passagem, dando-lhe assim a oportunidade de escapar de Boston.
Apesar destas invenções, Anna não achou fácil mentir. Desde o
momento em que a mocinha, desesperada e desabrigada, havia ditado as
cartas ao irmão mais novo, estas pesavam sobre sua consciência como
um castigo. De fato, cada vez que voltava a contar suas mentiras, o
castigo se manifestava em uma aguda dor na boca do estômago e mesmo
agora, somente a alguns minutos do encontro com Karl Lindstrom,
invadia-a um sofrimento tão intenso como nunca antes tinha
experimentado.
A dor tinha ficado cada vez mais intolerável durante a longa e
tediosa viagem até o Oeste, viagem que havia começado um mês atrás
depois que as geleiras se dissolveram nos Grandes Lagos. Anna e seu
irmão, James, tinham viajado de trem de Boston a Albany durante todo o
mês de junho, depois de barco pelo canal até Buffalo. Depois viajaram
em um navio a vapor pelo lago, cujo destino era uma fossa lamacenta
chamada Chicago, uma cidade que em 1854, consistia só em uma estrada
de madeira, que ia desde o barco até o hotel. Mais adiante, se estendia a
região deserta que Anna e seu irmão acabavam de atravessar.
Uma carroça levou-os a Galena, no território de Illinois. Esta parte
da viagem demorou uma semana inteira durante a qual os mosquitos, o
clima e o chocalho da carroça por terrenos irregulares contribuíram
para o mal-estar geral. Em Galena, tomaram um barco a vapor para St.
Paul, onde embarcaram em outra carroça puxada por bois que os levou a
alguns quilômetros das Cataratas de St. Anthony.
Meu Deus! Comparada a Boston, a cidade era completamente
decepcionante, nada mais do que algumas construções rudimentares,
toscas e sem pintura. Fez Anna pensar no que esperar de Long Prairie, a
cidade fronteiriça onde ela encontraria seu futuro marido.
Por mais de um mês, não teve mais nada a fazer além de observar
como deslizavam a sua frente quilômetros e quilômetros de terra e água
e se preocupar com o que Karl Lindstrom faria quando descobrisse as
mentiras.
Nervosamente cansada, se perguntou como lhe tinha ocorrido que
iria realizar com sucesso esse plano.
Uma mentira se tornaria evidente imediatamente: James. Ela
nunca disse a seu futuro marido que tinha um irmão por quem ela se
sentia responsável. Não fazia ideia da reação daquele homem quando
conhecesse um cunhado adolescente com sua futura esposa.
A segunda mentira era a sua idade. Karl Lindstrom havia
especificado no anúncio que queria uma mulher madura e experiente;
de modo que Anna, sem dúvida, sabia que, se tivesse admitido sua
verdadeira idade, Lindstrom a consideraria mais imatura do que o trigo
na primavera. Foi por isso que ela disse a ele que tinha vinte e cinco anos
de idade, assim como ele, em vez de dezessete. Anna imaginou que
qualquer mulher de vinte e cinco anos teria a experiência prática
necessária para ser uma esposa da fronteira. Deus a proteja quando a
diferença for descoberta!
Pela primeira vez em sua vida, Anna desejou ter algumas rugas,
alguns pés de galinha, alguma gordura extra em volta de sua cintura,
qualquer coisa que a fizesse parecer mais velha! Assim que ele a visse,
Lindstrom descobriria a verdade. E o que ele diria então? "Pegue seu
irmão e volte para Boston. Com o quê?”, pensou Anna.
O que eles fariam se Lindstrom os deixasse totalmente
desamparados e sem recursos? Anna tinha sido forçada a ganhar o
dinheiro da passagem para levar James a Minnesota com ela, sem
Lindstrom descobrir, e a lembrança à fez estremecer e fez o nó em seu
estômago mais doloroso. "Mais uma vez, não!", Pensou. "Nunca mais!"
Tanto ela como seu irmão estavam à mercê de Lindstrom. Pensar
que ele, talvez, tivesse contado algumas mentiras, ajudou-a a acalmar
seu estômago irritado. Não havia garantia de que Karl não tivesse
mentido. Escrevera-lhe sobre o lugar e seus planos para o futuro, mas
temia que lhe tivesse contado muito pouco sobre si mesmo. Talvez
porque não havia muito a dizer!
Havia escrito exaustivamente sobre Minnesota, Minnesota,
Minnesota! Pedindo desculpas por sua falta de originalidade e seu inglês
imperfeito, Karl citou artigos de jornais atraindo imigrantes e colonos
para aquele lugar indômito.
"Minnesota é uma terra maravilhosa. É um lugar onde você pode viver de
forma simples, mas com mais do que suficiente. Um lugar onde há árvores
suficientes para combustível e materiais para construção. Um lugar onde os
frutos silvestres crescem em grandes quantidades, enquanto animais de caça de
todos os tipos passeiam por florestas e prados; lagos e riachos onde abundam os
peixes. Florestas generosas, campos férteis, colinas, lagos e riachos, nos quais o
céu reflete generosamente, fornecem sua utilidade e beleza."
Estas descrições, escrevia Karl, chegaram à sua Suécia natal, onde
uma súbita explosão populacional trouxe consigo a falta de terra.
Minnesota, assim como sua amada Skane, o seduzira com esse convite.
Foi assim que ele atravessou o oceano com a esperança de que seus
irmãos e irmãs o seguiriam em breve. Mas sua solidão não foi aliviada
por nenhum irmão, irmã ou vizinho.
Quão idílico tudo soou quando James leu para Anna o que Karl
estava dizendo sobre Minnesota! No entanto, quando se tratou de
descrever a si mesmo, Lindstrom foi muito menos expressivo.
Tudo o que ele disse foi que ele era sueco, loiro, de olhos azuis e
muito "corpulento". Do seu rosto ele havia dito: "Eu não acho que assuste
ninguém".
Anna e seu irmão riram quando James leu, e os dois concordaram
que Lindstrom parecia ter senso de humor. Indo ao seu encontro pela
primeira vez, Anna desejou ardentemente que assim fosse, pois ele o
precisaria mais cedo do que imaginava.
Em um esforço para dissipar seus medos, Anna começou a pensar
sobre como Lindstrom seria. Ele seria um bom homem? Como seria o
timbre de sua voz? Seu jeito de ser? Que tipo de marido seria?
Considerado ou severo? Terno ou rude? Indulgente ou intolerante? Isso,
acima de tudo, preocupava Anna, que homem não ficaria zangado ao
saber que sua esposa não era virgem? Ao pensar nisso, suas bochechas
queimaram e seu estômago revirou. De todas as suas mentiras, era a
mais séria e menos perdoável. Era a que mais facilmente podia esconder
de Karl até que fosse tarde demais para ele reagir; no entanto, ela não
conseguiu impedir que um suor frio e úmido percorresse por seu corpo.
James Reardon havia se tornado um cúmplice voluntário no plano
planejado por sua irmã. Na verdade, ele foi o primeiro a encontrar o
anúncio de Lindstrom e mostrou a Anna. Mas como sua irmã não sabia
ler nem escrever, coube a ele ocupar-se das cartas. A princípio, foi fácil
fazer uma descrição adequada do tipo de mulher que Lindstrom queria.
No entanto, com o passar do tempo, James percebeu que eles estavam se
envolvendo em um enredo que eles mesmos haviam tecido. O menino
insistira que Lindstrom soubesse, pelo menos, que ele, James, também
iria. Mas Anna sempre tinha a última palavra. Ela argumentou que se
Karl soubesse a verdade, suas esperanças de escapar de Boston seriam
frustradas.
James estava viajando em cestos, barris e bolsas, com a testa
franzida de preocupação. Pensava, enquanto sacudia sobre aquela
estrada, qual seria seu destino se Lindstrom mantivesse sua promessa de
se casar com Anna, mas não incluí-lo no acordo. Ele olhou para o sol,
franzindo a testa. Usava um gorro gasto cobrindo os olhos; um tufo
marrom avermelhado escapava sobre suas orelhas; linhas muito
profundas para esse rosto de criança franziam a testa.
— Vamos —, disse Anna, tocando suavemente as juntas do menino,
de tamanho inadequado para o comprimento de seus dedos. — Tudo vai
ficar bem.
Mas ele continuava olhando para o oeste, enquanto a cabeça,
encostada na lateral da carroça, tremia toda vez que as rodas caíam em
algum buraco.
— Ah sim? E se ele nos mandar de volta? O que fazemos então?
— Eu não acho que ele fará isso. De qualquer forma, concordamos,
certo?
— Concordamos? — ele perguntou, dando-lhe um rápido olhar. —
Deveríamos ter dito a ele essa parte da verdade.
— E acabar apodrecendo em Boston! — Anna respondeu pela
centésima vez.
— E assim, vamos acabar apodrecendo em Minnesota. Qual é a
diferença?
Mas Anna odiava discutir e deu-lhe um aperto afetuoso no braço.
— Vamos, você está com medo.
— E você não!? — James respondeu sem aceitar o mimo.
Ele tinha visto Anna segurar seu estômago. Percebendo seu rosto
contraído, James lamentou ter começado a discussão novamente.
— Estou tão assustada quanto você —, ela admitiu finalmente, não
mais fingindo disfarçar. — Meu estômago dói tanto que acho que vou
vomitar.
TEU CARINHO
FICHA TÉCNICA
DEDICATÓRIA
NOTA HISTÓRICA
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
SOBRE A AUTORA