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Clara dos Anjos foi o último livro escrito por Lima Barreto. O trabalho
foi concluído em 1922, ano da morte do autor. O romance que carrega
como título o nome da protagonista foi lançado apenas
postumamente, em 1948.
Resumo
Narrado em terceira pessoa por um narrador onisciente e por vezes
intruso, Clara dos Anjos tem como tema central o racismo e o lugar
ocupado pela mulher na sociedade carioca do princípio do século XX.
Cassi, o músico sugerido por Lafões, fará a vida da família virar pelo
avesso. Sedutor convicto, sem qualquer tipo de preocupação com as
mulheres com quem andava, Cassi colecionava no seu currículo
amoroso dez defloramentos e a sedução de muito maior número de
senhoras casadas.
Assim que adentrou no ressinto, Cassi fez a alegria das damas que lá
estavam. O rapaz foi apresentado por Lafões aos donos da casa e à
aniversariante e logo se interessou pela jovem.
—Ora, vejam vocês, só! É possível? É possível admitir-se meu filho casado com
esta... As filhas intervieram:
—Que é isto, mamãe?
A velha continuou:
—Casado com gente dessa laia... Qual!... Que diria meu avô, Lord Jones, que foi
cônsul da Inglaterra em Santa Catarina — que diria ele, se visse tal vergonha?
Qual!
Parou um pouco de falar; e, após instantes, aduziu:
—Engraçado, essas sujeitas! Queixam-se de que abusaram delas... É sempre a
mesma cantiga... Por acaso, meu filho as amarra, as amordaça, as ameaça com
faca e revólver? Não. A culpa é delas, só delas...
Pela fala da mãe de Cassi é possível perceber marcas claras de
preconceito e discriminação racial e social.
—Mamãe! Mamãe!
—Que é minha filha?
—Nós não somos nada nesta vida.
Personagens principais
Clara
Engrácia
Contexto histórico
O Rio de Janeiro durante o princípio do século XX vivia graves
problemas sociais e de saúde pública.
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant'Ana,
no meio da multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa
de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa cidade estranha. No
subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores; no subúrbio tinha os seus
companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte,
era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones
de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant'Ana para baixo, o que era
ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o
seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo
como esmagado por aqueles "caras" todos, que nem o olhavam. Fosse no
Riachuelo, fosse na Piedade, fosse em Rio das Pedras, sempre encontrava um
conhecido, pelo menos, simplesmente de vista; mas, no meio da cidade, se
topava com uma cara já vista, num grupo da Rua do Ouvidor ou da avenida, era
de um suburbano que não lhe merecia nenhuma importância. Como é que ali,
naquelas ruas elegantes, tal tipo, tão mal-vestido, era festejado, enquanto ele,
Cassi, passava despercebido?