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Projeto integrador e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas - 2023

Título do projeto: Escravidão: somos livres?


Tema integrador: Protagonismo juvenil.
Componentes curriculares da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: História, Sociologia, Filosofia e Projeto
de Vida.
Atividade: leitura e análise da obra literária “O Mulato” do escritor naturalista Aluísio de Azevedo.

O Mulato

O Mulato é uma obra do escritor naturalista Aluísio de Azevedo. Foi publicada em 1881 inaugurando o movimento
naturalista no Brasil. O nome do livro faz referência a seu protagonista, um mulato bastardo que nasceu numa
fazendo no nordeste do país.

Personagens da obra

• Raimundo: o mulato, filho bastardo de José


• José: fazendeiro e pai de Raimundo
• Quitéria: esposa de Raimundo
• Domingas: escrava da fazenda e mãe de Raimundo
• Padre Diogo: amante de Quitéria
• Manuel Pescada: tio e tutor de Raimundo
• Ana Rosa: filha de Manuel
• Luís Dias: empregado de Manuel e pretendente de Ana Rosa

Resumo da obra

A obra começa a ser narrada no interior do Maranhão, onde José Pedro da Silva era fazendeiro e comerciante
português. Com Domingas, uma de suas escravas, ele teve um filho bastardo: Raimundo. José casou-se com Quitéria
Inocência de Freitas Santiago e desconfiada da relação que tinha com sua escrava, a esposa pede para açoitar a
mulher e ainda, queimar suas genitais. Desesperado, José leva a criança para a casa de seu irmão Manuel. Quando
ele retorna à fazenda, encontra sua esposa na cama com o Padre Diogo. Num momento de fúria, ele mata sua
esposa e faz um pacto com o padre para que ninguém fique sabendo do ocorrido. Desolado, José passa a viver com
seu irmão, que tinha uma casa na cidade de São Luís. Pouco depois, ele adoece. Quando decide retornar a sua
fazenda, ele é morto a mando do Padre Diogo. Diante de tudo isso, Raimundo, ainda criança, vai para Lisboa, em
Portugal, se afastando de sua mãe. Ali passou anos de sua vida e se formou em Direito. Mais tarde, resolveu retornar
ao Brasil e vai morar no Rio de Janeiro. Decidido a encontrar seu tio Manuel Pescado, Raimundo viaja ao Maranhão.
A ideia inicial era saber sobre sua infância e origem. Além disso, seu pai deixou a herança para ele que estava aos
cuidados de seu tio. Assim, quando encontra Manuel, Raimundo fala que quer visitar fazenda onde morava quando
era criança. Ali, ele desvenda alguns fatos desconhecidos, por exemplo, quem era sua mãe e que fora filho bastardo
de José. Durante a estadia na casa de seu tio, apaixona-se por sua filha, Ana Rosa. Entretanto, Manuel pensa em
casar sua filha com um de seus empregados o Cônego Dias. Sendo assim, seu tio não lhe concede a mão de Ana.
Diante disso, Raimundo começa a desconfiar que essa recusa está associada com sua origem e cor de pele, uma vez
que ele era filho de uma escrava. Ana Rosa também nutre sentimentos por Raimundo e o casal resolve fugir. Na
hora da fuga, eles são surpreendidos por Padre Diogo e mediante a confusão, Raimundo é morto por Luís Dias, seu
rival. Ana, que estava grávida de Raimundo, fica em choque com a morte de seu amado e acaba abortando a criança.
Por fim, ela se casa com o assassino de Raimundo e com ele teve três filhos.
Análise da obra

O Mulato é uma obra com forte crítica social. Por meio de seus personagens estereotipados, Aluísio de
Azevedo aborda temas como o preconceito racial, a escravidão, a hipocrisia do clero e ainda o provincianismo.
Com 19 capítulos sem título, O Mulato foi uma revelação para a sociedade da época e recebeu muitas críticas. Além
dos temas explorados pelo autor, o final da obra distancia-se dos moldes clássicos e românticos onde o bem sempre
vence o mal. Aqui, o mal e a infelicidade das pessoas permeiam a obra. São encobertas por uma falsa felicidade
onde os interesses, a futilidade, a imoralidade e a discriminação estão acima de tudo. Isso pode ser revelado no
desfecho da obra. No fim do livro aparece Ana Rosa e o assassino de Raimundo supostamente felizes vivendo uma
vida burguesa e cuidando dos três filhos.

Trechos da obra
Paras conhecer a linguagem utilizada pelo escritor, confira abaixo alguns trechos da obra:

Capítulo 1

“Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase
que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes
diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças
d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e
pernas arregaçadas, invadiam sem-cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não
se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar
ou andavam no ganho.”

Capítulo 3

“O passeio à Europa não só lhe beneficiara o espírito, como o corpo. Estava muito mais forte bem exercitado e com
uma saúde invejável. Gabava-se de ter adquirido grande experiência do mundo; conversava à vontade sobre
qualquer assunto tão bem sabia entrar numa sala de primeira ordem como dar uma palestra entre rapazes numa
redação de jornal ou na caixa de um teatro. E em pontos de honra e lealdade, não admitia, com todo o direito, que
houvesse alguém mais escrupuloso do que ele. Foi nessa bela disposição de espírito, feliz e cheio de esperanças no
futuro que Raimundo tomou o “Cruzeiro” e partiu para a capital de São Luís do Maranhão.”

Capítulo 12

“Ele o que queria era penetrar no seu passado, percorrê-lo, estudá-lo, conhecê-lo a fundo; encontrara até então
todas as portas fechadas e mudas, como a sepultura de seu pai; embalde bateu em todas elas; ninguém lhe
respondera. Agora um alçapão se denunciava na recusa de Manuel; havia de abri-lo e entrar, custasse o que
custasse, ainda que o alçapão despejasse sobre um abismo. E, tão dominado ia pela sua resolução que, ao passar
pelo cruzeiro da Estrada Real, nem só não deu por ele, como pelo guia que logo se pusera a caminho.”

— Ó meu amigo! gritou-lhe o tio. Isto também não vai assim!... Despeça-se deste lugar!
E apeou-se, para depor aos pés da cruz um galho de murta.

Raimundo voltou atrás e, depois de um grande silêncio, fitou Manuel e perguntou-lhe, externando um retalho do
pensamento que o dominava:
— Ela será, porventura, minha irmã?...
— Ela, quem?
— Sua filha.
O negociante compreendeu a preocupação do sobrinho.
— Não.
Capítulo 18

“Isto pensava o caixeiro de Manuel escondido na treva, por detrás de um montão de pedras e barrotes, ao lado dos
espeques de um casebre em ruínas. Mas o tempo corria, e Raimundo ia entrar pra casa, sumir-se numa fronteira
inexpugnável, e só reapareceria no dia seguinte, à luz do sol. “Era preciso aviar!... Um instante depois seria tarde, e
Ana Rosa passaria às mãos do mulato e a cidade inteira ficaria senhora do escândalo, a saboreá-lo, a rir-se do
vencido! E, então, estaria tudo acabado, para sempre! sem remédio! E ele, o Dias, coberto de ridículo e... pobre!
Nisto, rangeu a fechadura. Aquela porta ia abrir-se como um túmulo, onde o miserável sentia resvalar o seu futuro
e a sua felicidade; no entanto, tamanha calamidade dependia de tão pouco! O grande obstáculo da sua vida estava
ali, a dois passos, em magnífica posição para um tiro. Dias fechou os olhos e concentrou toda a energia no dedo que
devia puxar o gatilho. A bala partiu, e Raimundo, com um gemido, prostrou-se contra a parede.
Aluísio Azevedo - Aluísio Azevedo foi caricaturista, jornalista, escritor e cônsul brasileiro. Sua trajetória literária
inaugurou a estética naturalista no Brasil.

Aluísio Azevedo foi o principal autor da vertente naturalista no Brasil e o primeiro escritor a viver de literatura no
país. Exímio retratista de tipos sociais, escreveu inúmeras obras, entre romances, contos, crônicas e peças teatrais,
além de ter sido desenhista e caricaturista. Sua produção literária concentra-se entre os anos de 1882 e 1895,
aproximadamente, com destaque para o célebre romance O cortiço, leitura obrigatória para ingresso em diversas
universidades brasileiras, bem como para a compreensão das estruturas sociais cariocas, no final do século XIX,
pautadas na exploração econômica e na perpetuação das desigualdades.

Biografia de Aluísio de Azevedo

Nascido em São Luís do Maranhão (MA), em 14 de abril de 1857, Aluísio Azevedo era filho de D. Emília Amália Pinto
de Magalhães e do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo. Demonstrou, desde muito jovem, grande
interesse por desenho e pintura, o que o levou a mudar-se para o Rio de Janeiro em 1876, a fim de matricular-se na
Imperial Academia de Belas Artes. Para manter-se na capital, desenhava caricaturas para os jornais O Fígaro, A
Semana Ilustrada, O Mequetrefe, e Zig-Zag. Também rascunhava cenas de romances. Morto seu pai em 1878,
retorna a São Luís, onde dá início à sua carreira de escritor no ano seguinte, com o romance Uma lágrima de mulher,
ainda aos moldes da estética romântica. Trabalha também para a fundação do jornal O Pensador, publicação
anticlerical e abolicionista. Em 1881, lança seu primeiro romance naturalista, O mulato, abordando o assunto do
preconceito racial. Bem recebido na corte, apesar da temática da obra ter sido considerada escandalosa, Aluísio
embarca de volta para o Rio de Janeiro, decidido a ganhar a vida como escritor. De volta à capital do Império, produz
diversos folhetins, que garantiam sua sobrevivência. Nos intervalos dessas publicações, geralmente melodramáticas
e românticas, dedicava-se à pesquisa e à escrita naturalista, que o consagrou como grande autor brasileiro. Foi nessa
época que lançou suas principais obras, Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). Aprovado em concurso para o
cargo de cônsul em 1895, abandona a carreira literária. Reside na Espanha, no Japão, na Inglaterra, na Itália, na
França, no Uruguai, no Paraguai e na Argentina, onde falece, em Buenos Aires, em 21 de janeiro de 1913.

Obras de Aluísio Azevedo

Romances

• Uma lágrima de mulher (1880)


• O mulato (1881)
• Mistérios da Tijuca [reeditado com o título Girândola de amores] (1882)
• Memórias de um condenado [reeditado com o título A condessa Vésper] (1882)
• Casa de pensão (1884)
• Filomena Borges (1884)
• O homem (1887)
• O coruja (1890)
• O cortiço (1890)
• A mortalha de Alzira (1894)
• Livro de uma sogra (1895)

Teatro

• Os doidos (1879)
• Flor-de-lis (1882)
• Casa de orates (1882)
• O caboclo (1886)
• Venenos que curam (1886)
• A República (1890)
• Um caso de adultério (1891)
• Em flagrante (1891)
• Contos
• Demônios (1895)
• Pégadas (1897)
• O touro negro [contos, cartas e crônicas em ed. póstuma] (1938)

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