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Querido leitor,

Ida apareceu no livro de Cort Grier, Wyoming Heart, e eu tinha essa ideia de quem ela era. Ela não
compartilhou. Fui mais ou menos atraída por seu passado trágico e ela mudou minha ideia sobre seu
verdadeiro eu. (Não estou louca. A maioria dos escritores passa por algumas interações estranhas com seus
personagens. Eles se tornam bastante reais durante a escrita de um romance.)
Eu amei Jake McGuire desde o momento em que ele apareceu em Diamante Bruto (Série Homens de
Medicine Ridge 03), estava apenas esperando por uma história que se adequasse a ele. Ele e Ida foram
inimigos instantâneos. Mas um pneu furado mudou tudo isso. Duas pessoas feridas se encontraram, e esta
foi uma história que eu realmente gostei de contar.
Espero que vocês gostem do livro. À medida que fico mais velha (setenta e quatro este ano, você
sabe) e depois de escrever mais de duzentos romances, às vezes me repito.
Eu moro em uma pequena e maravilhosa cidade montanhosa no Norte da Geórgia e estou quase
sempre confinada em minha casa devido a incapacidades. Jim, que tem muito mais problemas de saúde do
que eu, e eu ficamos em casa jogando videogame para nos divertir e interagir socialmente. Estamos meio
fora de sintonia com a sociedade. Então, escrevo sobre o que sei; pequenas comunidades, onde todos nós
nos conhecemos, conversamos por cima da cerca e acenamos para qualquer um que passe pela varanda da
frente. E sobre passear com o cachorro, escovar os gatos e remover ervas daninhas do canteiro de ervas.
Esse é o meu mundo.
Obrigada por sua gentileza, suas orações e pelo amor que todos vocês me dão tão espontâneamente.
Eu gostaria de poder fazer mais por vocês do que apenas lhes dar alguns livros novos por ano. Cuidem-se,
amem um aos outros, estejam seguros. Ainda sou seu maior fã.

Amor e abraços,

Diana Palmer
CAPÍTULO UM
Jake Mcguire estava feliz por Mina. Ela se casou com um texano, Cort Grier, que se revelou um rico
pecuarista, uma grande surpresa quando ela o conheceu apenas como um cowboy que estava ajudando no
rancho do primo, Bart Riddle, nos arredores de Catelow, Wyoming.
Foi uma estranha história de amor. Mina era uma famosa autora de romances, e para fazer as
pesquisas para seus livros, realmente saía em missões de comando com um grupo de mercenários que a
colocou sob sua proteção. Cort Grier não sabia disso. Mas ele estava disfarçado também, fingindo ser um
cowboy pobre. Foi só depois do casamento deles que ela soube quem ele realmente era. E ele descobriu a
profissão dela de forma totalmente inesperada, aconteceu quando ela foi morar na fazenda dele, o grupo de
mercenários foi visitá-la e acabou ajudando na captura de um bando de traficantes de drogas na fronteira da
propriedade dele. Eles precisaram se adaptar, mas os dois pareciam destinados à felicidade.
Eles tiveram recentemente um filho a quem chamaram de Jeremiah, Mina mantinha o rancho da
família em Catelow que agora era administrado pelo pai dela, mas morava com Cort e Jeremiah no enorme
rancho da família de Cort, Latigo, no oeste do Texas.
Jake estava feliz por ela. Mas infeliz por si mesmo. Ele tinha um interesse real por ela, e doeu
perceber que nem mesmo sua própria riqueza e status foram suficientes para atraí-la. Foi a primeira vez em
sua vida que se apaixonou de verdade por uma mulher, e ela acabou se apaixonando por outra pessoa.
Bem, ele podia voltar para a fazenda de gado que dividia com o primo de Mina, Rogan, na Austrália,
mas os incêndios no interior estavam afetando seriamente seus vastos rebanhos de gado. Junto com as
centenas de incêndios florestais, muitos iniciados deliberadamente, havia seca e falta de alimento. Rogan já
havia mencionado que eles teriam que vender muito de seu estoque de raça pura para equilibrar as contas.
Jake voltou para os Estados Unidos para organizar suas finanças, enviar recursos suficientes para apagar os
incêndios na grande propriedade e mudar o gado sobrevivente para um local mais seguro.
Os incêndios florestais atingiram Rogan ainda mais duramente que a Jake. O primo de Mina adorava
a propriedade australiana. Ele tinha um grande rancho nos arredores de Catelow também, mas odiava neve,
então só voltava para casa nos meses quentes, deixando seu administrador no comando. Bem, a menos que
Jake estivesse lá para segurar as rédeas.
Cada vez menos Jake gostava de estar fora do país. Ele sentia falta de Catelow. Durante o tempo em
que ele saiu com Mina Michaels pela cidade e por vários restaurantes cinco estrelas em outros estados, ele
se acostumou a estar de volta aos Estados Unidos. E estava relutante em deixar o país.
Ele era verdadeiramente um idiota, perdeu Mina e não tinha outros interesses femininos por aqui.
Sentado na Cafeteria ele tomou um gole de café e olhou para a xícara. Se sentia mais sozinho do tinha se
sentido desde a morte de seus pais há muito tempo. Era filho único. Teve um irmão mais velho, que morreu
tragicamente, mas nenhum outro irmão. Ele sentia falta da mãe, embora nunca falasse do pai. Não lhe
restava mais família.
Ele teria amado ter um filho. A ideia o tinha acompanhado enquanto cortejava Mina, na esperança de
vencer o fazendeiro do Texas. Mas isso não aconteceu. Ele estava cuidando de um coração partido e
tentando não deixar transparecer. Enquanto isso, as casamenteiras de Catelow, especialmente Pam
Simpson, estavam atacando, tentando envolvȇ-lo com viúvas e divorciadas. Ele não tinha interesse em
nenhuma das mulheres locais agora. Teve sua cota de casos breves, mas se sentiu cansado, usado. As
mulheres o queriam pelo que tinha. Ele podia, e o fazia, concedia seus favores generosamente às mulheres
com quem saía. Diamantes, hotéis e restaurantes cinco estrelas, viagens para o exterior em seu próprio jato
particular. Porém, cada vez mais, sentia que as estava comprando. Ou, ele pensou sarcasticamente,
alugando-as.
Ele fez um som no fundo da garganta enquanto o pensamento era processado, atraindo olhares
interessados das pessoas no balcão à espera de seus pedidos.
Uma delas era notória. Aquela divorciada local, Ida Merridan. Ela era linda de morrer. Cabelo preto
curto e espesso, olhos azuis, cílios impossivelmente longos e um corpo de matar. O problema era que ela
era promíscua, ele pensou irritado. Todos sabiam que ela colecionava homens como bonecos e os jogava de
lado quando estava farta. Segundo a fofoca, ela foi casada duas vezes. Seu primeiro marido havia morrido,
mas ninguém sabia sobre o segundo marido, exceto que ela se divorciou dele. Cort Grier tinha saído com
ela antes de se envolver com Mina. Ele os viu em uma festa, colados um ao outro em uma pista de dança, e
depois indo embora juntos. Eles saíram muitas vezes enquanto ele esteve na cidade. Portanto,
provavelmente o barão do gado teve uma breve ligação com ela. Pelo que as pessoas diziam, ela não era
seletiva com os homens. Qualquer um servia.
Ele não gostava de mulheres assim. Isso provavelmente era hipócrita, considerou, porque havia feito
loucuras há alguns anos. Ele afastou seus olhos do brilho intenso da divorciada com magnífica indiferença
e bebeu um gole de café.
As pessoas falavam sobre o duplo critério, sobre os homens dormindo por aí enquanto as mulheres
eram repreendidas por isso. Mas havia uma razão legítima para isso, cento e cinquenta anos atrás, quando
não havia método real de controle de natalidade. Um marido vagava e espalhava seus favores para que não
tivesse uma esposa eternamente grávida que morreria antes de completar quarenta anos. Ele se perguntou
quantas mulheres modernas sabiam disso ou consideravam que os costumes sociais às vezes tinham bases
justificáveis. Bem, ele emendou, um pouco justificáveis.
Ele olhou para a mulher, que estava sorrindo para a balconista e pagando pela comida. Ele não
gostava dela. E ela sabia disso. Ele deixou bem clara sua opinião sobre ela em uma festa a que ambos
compareceram há uma semana. Sua anfitriã tinha atacado de casamenteira e os empurrou juntos para a
pista de dança. Ele sabia dançar ritmos latinos. Ela também. Mas a música era lenta e ele odiou o contato.
─ Eu não tenho uma doença contagiosa fatal. - Ida disse mordazmente quando ele a segurou,
relutantemente, como se tivesse uma banana de dinamite em seus braços.
Ela estava odiando o contato também, e o disfarçando com mau-humor.
Ele ergueu uma sobrancelha, seus pálidos olhos prateados* cintilantes se fixando nos azuis
porcelana* dela.
─ Mesmo? Você fez um exame de laboratório para ter certeza? - Ele acrescentou, só para irritá-la.
O brilho ficou mais intenso.
─ Eu não quero dançar com você. - Disse ela secamente. E estava rígida mesmo no leve abraço.
Era incrível que com sua reputação, ela parecesse não gostar dele.
─ Eles dizem que qualquer homem serve, no que diz respeito a você. - Ele falou lentamente. ─ Eu não a
atraio?
Ela engoliu em seco e olhou ao redor como se esperasse que a música parasse.
─ E eu aqui pensando que você iria inventar algo banal, do tipo que você só sai com indivíduos de sua
própria espécie. - Ele zombou.
Outro casal, girando, chegou perto demais, e Jake puxou Ida abruptamente para mais perto e a virou
para evitar uma colisão.
A reação dela foi repentina e extrema. Ela se afastou dele, quase tremendo, com os olhos baixos.
─ Eu não posso... - Ela começou em um tom sufocado.
Ele olhou para ela.
─ Qualquer homem menos eu, é assim que é? - Ele perguntou em um sussurro profundo e cortante,
violentamente ofendido e nem mesmo certo do por que estava ofendido.
Ela nem olhou para ele. Se virou e saiu da pista de dança. Minutos depois, ela agradeceu à anfitriã
pelo convite e foi embora dirigindo o próprio carro. Jake, parado perto da poncheira, ficou confuso com o
comportamento dela. Ela realmente parecia com medo dele. E isso era um pensamento fantasioso quando
toda a cidade sabia o que ela era.
Ele olhou para o balcão, onde ela estava pegando seu pedido e sorrindo para a balconista.
Talvez fosse uma atuação, ele meditou. Talvez ela fingisse estar nervosa com um homem quando o
estava perseguindo. O problema com essa teoria é que ela não tinha se aproximado de Jake desde a festa.
Na verdade, quando ela saiu do café, fez o caminho mais longo até a porta da frente, para não ter que
passar pela mesa onde ele estava sentado.
Ele terminou seu café e levou a xícara de volta ao balcão.
─ Você faz um bom café, Cindy. - Disse ele à funcionária, que era casada e avó.
Ela sorriu para ele.
─ Obrigado, Sr. McGuire. Meu marido funciona com café preto. Ele é caminhoneiro. Se eu não pudesse
fazer certo, eu estaria divorciada em algum momento. - Brincou ela.
─ Pouco provável. Mack é louco por você. - Ele riu. E olhou para a porta. ─ A feliz divorciada não come
com as pessoas comuns? - Ele adicionou.
─ Oh, você quer dizer Ida. - Ela disse. E fez uma careta. ─ Ela não sai muito. Mora perto de nós. Uma
noite eu a ouvi gritando e liguei para o departamento do xerife. Tive medo de que alguém tivesse invadido
a casa dela. Cody Banks, nosso xerife, estava trabalhando naquele turno e passou para ver o que havia
acontecido.
*olhos azul porcelana *olhos prateados
Ele franziu a testa, apenas esperando.
Ela suspirou.
─ Ele disse que ela estava branca como um lençol e parecia ter visto um fantasma. Ela disse a ele que era
um antigo pesadelo que tinha de vez em quando e se desculpou por incomodar os vizinhos.
─ Pesadelos. - Ele balançou sua cabeça. ─ Quem diria?
─ Fui vê-la no dia seguinte, era domingo, a caminho da igreja, para pedir desculpas por ter chamado a
polícia. Ela apenas sorriu e disse que não me culpava. Ela também se desculpou por fazer barulho.
─ Ela disse por que teve o pesadelo? - Ele perguntou.
Ela sacudiu a cabeça.
─ Ela mencionou seu segundo marido fazendo ameaças. Ele está envolvido em coisas ilegais, concluí. E
ela é rica.
─ Ela ficou rica se divorciando dele? - Ele perguntou com um sorriso.
Ela balançou a cabeça.
─ O primeiro marido dela tinha dinheiro. O segundo... aparentemente, ele se casou com ela pelo que ela
tinha. Ninguém sabe muito sobre isso.
─ Ela se mudou para cá recentemente? - Jake perguntou. ─ Não me relaciono muito com as pessoas,
embora eu tenha meu rancho e ainda seja dono da loja de suprimentos para rações aqui. Viajo muito a
negócios.
─ Os avós dela eram daqui. A mãe também. Na verdade, ela nasceu aqui. Mas quando o pai conseguiu um
emprego bem remunerado em Denver, eles se mudaram. Ela estava na quinta série. - Ela respirou fundo. ─
Foi logo depois que Bess Grady se matou.
─ O irmão do meu melhor amigo tinha uma queda pela garota Grady. Ele ficou muito mal. - Ele comentou,
sem entrar em detalhes. Como Ida, ele tinha estudado aqui. Ele nem sempre foi rico. ─ E os pais de Ida?
Ela balançou a cabeça.
─ O pai dela teve um ataque cardíaco fulminante quando tinha apenas 35 anos. - Disse ela com um suspiro.
─ A mãe seguiu a vida, mas não feliz. Ela viveu apenas por Ida. Quando Ida tinha dezoito anos, a mãe fez
um cruzeiro e caiu no mar. Eles nunca encontraram o corpo.
─ Isso deve ter sido difícil. - Ele admitiu.
─ Ida estava trabalhando para uma gráfica em Denver, logo depois do colégio, e seu chefe sentiu pena dela,
eu acho, porque se casou com ela logo depois. Houve fofocas, por causa da diferença de idade. Ele era
muito rico e nunca tinha se casado.
─ Foi um casamento feliz? - Ele odiava perguntar. E não sabia por que se importava.
─ Bem...
─ Vamos... - Ele brincou. ─ Você sabe que eu não fofoco.
─ Bem, meu primo de segundo grau, que conhecia o dono da empresa, disse que ele era gay.
As sobrancelhas dele arquearam.
─ Eu sei, por que ele iria querer se casar com Ida? Mas ele foi bom para ela.
─ Ouvi dizer que ele cometeu suicídio.
Ela assentiu com a cabeça, olhando em volta para se certificar de que ninguém estava por perto para
ouvir.
─ Seu namorado o havia deixado. Ele tinha outros problemas, mas isso o levou ao limite. Ele estava tão
desesperado que foi para o último andar de seu edifício e saltou. O namorado tentou processar Ida depois.
Ele achava que merecia algo por seu tempo com o homem mais velho. Ida o levou ao tribunal e contra-
atacou. Ele teve que pagar as custas judiciais. O advogado dela era muito mau. - Ela sorriu. ─ O marido
deixou tudo para ela, e havia muito. Ele deixou um bilhete para ela, agradecendo por ter sido tão gentil com
ele.
Ele ficou tocado, apesar de sua aversão por Ida.
─ Talvez ela não seja tão má.
─ Ninguém é totalmente mau, Sr. McGuire. - Respondeu ela. ─ Algumas pessoas têm vidas piores do que
outras, só isso.
Ele encolheu os ombros.
─ Parece que sim.
Ela sorriu gentilmente.
─ Você ainda sente falta de Mina?
Ele retribuiu o sorriso.
─ Um pouco. Mas ela, Cort e o bebê estão felizes no Texas. Estou feliz por eles. Eu mantenho contato
através do pai dela, que administra o rancho da família nos arredores da cidade.
─ Você é um bom perdedor.
─ Não há muita escolha sobre isso. - Respondeu ele. Seus olhos prateados estavam tristes. ─ Você não
pode fazer as pessoas te amarem.
─ Verdade, não é? - Ela concordou.

***
Ele saiu para entrar no carro e viu Ida parada ao lado de seu Jaguar com o celular no ouvido. O
Jaguar tinha um pneu furado.
─ Sim. - Ela disse cansada. ─ Sim, eu sei, mas vai demorar duas horas para trazer alguém aqui, e eu tenho
que estar no médico por volta das duas!
Jake parou ao lado do carro.
Ela olhou para ele, surpresa.
─ Eu posso levar você ao médico. Deixe a chave com Cindy Bates, lá dentro, e diga a pessoa com quem
você está falando onde elas estarão. Faça com que ele tranque o carro e devolva a chave para Cindy quando
terminar.
Ela estava parada ali, surpresa com a facilidade com que ele organizava as coisas.
Uma voz estava vindo do smartphone.
─ Oh, desculpe. - Ela disse no receptor. ─ Ouça, recebi a oferta de uma carona. Vou deixar a chave dentro
da Cafeteria com Cindy. Vocȇ pode pegar a chave com ela e devolver a ela quando terminar. Esse serviço?
Ótimo. Muito obrigada. Eu realmente sinto muito... Claro. Obrigada.
Ela desligou. E olhou para Jake com cautela.
─ Você tem certeza de que isso não o afastará do seu caminho?
Ele balançou sua cabeça.
─ Dê-me a chave.
Ela entregou a ele. Ele apontou para um Mercedes vermelho e usou sua própria chave inteligente para
destrancá-lo.
─ Vá em frente e entre. Não demorarei um minuto.
Ele não esperou para ver se ela obedecia, se virou e voltou para a Cafeteria. Ida ficou olhando para
ele com uma mescla de desconforto e apreciação. Ele era muito bonito. Alto, em forma, musculoso sem ser
muito exagerado. Ele tinha belas maneiras e olhos que pareciam penetrar todo o caminho até a alma. Se ela
pudesse achar um homem atraente, ele estaria no topo de sua lista. Do jeito que era, isso era impossível.

***
Ela estava sentada no banco do passageiro com o cinto de segurança colocado quando ele sentou ao
lado dela.
─ Eu nunca dirigi um Mercedes. Eles são bons? - Ela perguntou, para puxar conversa.
─ Eles são imortais e quase nunca dão defeito. Onde estamos indo? - Ele perguntou abruptamente.
─ Desculpa. Aspen Street, logo após a padaria.
Ele acenou com a cabeça, ligou o carro grande e saiu do estacionamento.
Ela segurou sua bolsa volumosa no colo e cravou as unhas nela. Ele não sabia o quão difícil era para
ela se sentar com um homem que era mais ou menos um estranho. Ele não gostava dela e não fazia segredo
disso. Soltar-se dos braços dele e fugir naquela festa que eles compareceram separadamente só piorou as
coisas.
Ela olhou pela janela enquanto ele dirigia, nem mesmo tentando puxar conversa.
Ela o encaminhou ao estacionamento de um grupo de cirurgiões ortopédicos. Ele não fez
comentários, mas ela era jovem, ou parecia ser. Ele associava a ortopedia a pessoas idosas.
─ Obrigada pela carona. - Disse ela calmamente.
─ Você vai precisar de uma carona para casa. - Respondeu ele. ─ Dê-me seu telefone celular. - Ele falou
com tanta autoridade que ela o entregou sem pensar. Ele o pegou e puxou sua lista de contatos. Estava em
branco. Ele olhou para ela com o cenho franzido.
Ela engoliu em seco.
─ Por que você precisa do meu telefone?
Ele abriu uma tela e colocou suas próprias informações de contato nela. E o devolveu.
─ Esse é o número do meu celular. Ligue-me quando terminar aqui e eu a levo de volta para o seu carro.
─ Posso pegar um táxi...
Ele apenas olhou para ela.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Será um abuso.
Ela o estava fascinando. A imagem que ele construiu dela não parecia em nada com a realidade. Ela
estava desconfortável com ele, tímida, retraída. Ele só a tinha visto sendo vivaz, a alma da festa. Era uma
máscara?
─ Tenho que ir a minha loja de rações e verificar algumas contas com o gerente. Não será um
inconveniente.
─ Bem... ok, então. Obrigada.
Ele deu de ombros. Desligou o motor, deu a volta e abriu a porta para ela. Ela realmente corou.
─ Isso ainda é permitido em nossa sociedade moderna e liberal demais? Abrir portas para mulheres?
─ Gosto de boas maneiras e não me importo se é permitido ou não. - Gaguejou ela.
Ele inclinou a cabeça e olhou para ela com explícita curiosidade.
─ Obrigada novamente. Eu vou chegar atrasada. - Acrescentou ela, olhando para o relógio de pulso
simples. Ela se virou e caminhou lentamente em direção ao prédio.
Não era muito óbvio, mas ele podia ver que ela mancava um pouco quando andava. Estranho. Uma
lesão antiga? Se perguntou. Uma queda ou algo assim? Não era da sua conta. Mas ele estava curioso sobre
ela. Muito mais curioso do que gostaria.

***
Ida sentou-se na sala de espera para ver o Dr. Menzer e tentou entender por que Jake McGuire, que
obviamente não gostava dela, tinha sido tão gentil. Ela não esperava bondade dos homens. Fingia ser uma
mulher liberada, apenas para fazer os homens a deixarem em paz. Ela exagerou sua reputação, deixou que
o boato de que tinha padrões elevados para seu quarto se espalhasse e falou sobre homens fictícios com
quem teve casos, para dar a ideia de que fofocava sobre um homem que não correspondesse às suas
expectativas. Como era de se esperar, isso a manteve livre de complicações em sua vida privada. Poucos
homens tinham ego para sequer se aproximar dela.
Cort Grier tinha, mas ela encontrou um amigo inesperado no cansado barão do gado que tinha seus
próprios problemas com mulheres que queriam sua riqueza, não ele mesmo. Eles desenvolveram uma
amizade. Ela se abriu com ele como não tinha sido capaz de se abrir com nenhum outro homem.
Ela estava feliz por ele. Ele amava Mina e o filho, e isso era maravilhoso. Mas era o único amigo que
tinha. Quando ele se casou, ela deletou o contato dele do telefone. Não queria parecer que o estava
perseguindo, ainda mais ele estando casado. Isso deixou a tela do seu celular completamente em branco.
Ela não tinha contatos, pois só usava o telefone para emergências e para navegar na internet. Seus
advogados tinham o número do telefone de sua casa, que tinha uma secretária eletrônica. Ela não fazia
ideia de como configurar o correio de voz no celular, então era melhor não ter ninguém ligando para o
número. Era por isso que sua tela de contato estava em branco e Jake tinha notado. Ela teria apostado que a
lista de contatos de telefone dele estava transbordando.
Bem, ela não queria um homem dessa maneira, não mais. E tinha seus próprios problemas. Seu ex-
marido, Bailey Trent, saiu recentemente da prisão e estava devendo dinheiro a seus parceiros de jogo.
Como ele saiu era um mistério. Ela o fez ser preso por agressão violenta e lesão corporal. Pouco depois de
sua chegada ao presídio, ele perdeu a paciência e matou outro preso, quase garantindo que nunca mais
sairia. Mas tinha saído.
Ele ligava para ela em seu telefone residencial e deixava mensagens ameaçadoras. Ela telefonou para
seus advogados em Denver, mas não tinha certeza do que eles poderiam fazer a respeito disso. Ele não
deixou nenhum número de contato. Ela nem sabia onde ele estava. Até tentou uma pesquisa reversa em seu
telefone, mas o número era bloqueado. E se ele viesse atrás dela de novo, do jeito que tinha feito da última
vez que ela se recusou a lhe dar dinheiro, antes mesmo de ele ir para a prisão?
Sua mão foi lentamente para seu quadril e ela contraiu o rosto. Ela teve um quadril fraturado e danos
no fêmur, as lesões foram devastadoras, pensou. O cirurgião ortopédico, um gênio por si só, havia
reconstruído o quadril e o fêmur como um quebra-cabeça. Duas cirurgias, uma prótese parcial de quadril e
uma placa de metal ao longo da coxa com parafusos de metal para mantê-la no lugar aliviaram a maior
parte do problema, mas a dor continuou e as visitas ao cirurgião ortopédico aumentaram nos últimos meses.
O frio que se aproximava geralmente trazia seu próprio conjunto de complicações. A artrite secundária
havia se instalado no quadril danificado. Ela precisava de outra receita para os antiinflamatórios fortes que
precisava tomar, por isso a consulta.
Ela tentou não pensar no ferimento que seu segundo marido havia causado. Ele parecia um homem
tão gentil e meigo. Ela não tinha percebido que tudo era uma encenação para atraí-la e fazê-la se casar com
ele para que ele tivesse acesso à fortuna que ela herdou.
Ela estremeceu, com a lembrança. Não foi uma longa queda, apenas sobre a mureta do primeiro piso
de um estacionamento. Ela caiu em solo duro, mas não, graças a Deus, no concreto. A dor foi algo
inimaginável. Quando a ambulância chegou, é claro, Bailey estava fingindo estar desesperado e
lamentando que sua pobre esposa houvesse caído, apesar de seus esforços para salvá-la. Falar a verdade de
como tudo aconteceu não daria em nada, teria sido a palavra dela contra a dele. Mesmo no hospital, ele era
o remorso em pessoa. Ninguém percebeu que ele havia causado os ferimentos, e ela estava muito abalada e
com tanta dor que a maior parte de sua internação no hospital foi uma névoa. A reabilitação a manteve fora
das mãos dele por um tempo. Mas, inevitavelmente, ela teve que ir para casa. Apenas um mês depois ele a
agrediu na presença de uma testemunha, uma surra severa que o levou à prisão.
Ela esperava que ele nunca saísse. Isso era irreal. Ele sempre conseguia convencer as pessoas sobre
as coisas. Ele tinha uma ligação com o tráfico de drogas e, de alguma forma, conseguiu a liberdade
antecipada, provavelmente ajudando alguém a ter acesso a substâncias controladas. O pesadelo recomeçou
no dia em que ele foi libertado da prisão.
Ele estava revoltado por ter sido preso e com a participação dela nisso. Estava furioso por ela ter
renunciado ao nome dele após o divórcio e voltado a usar o sobrenome do primeiro marido, Merridan.
Estava furioso por não poder fazer com que ela lhe enviasse dinheiro pela dor e sofrimento que havia lhe
causado. Ela devia a ele e ele planejava cobrar. Ela era rica e ele estava na miséria. Ela deveria pagar ou
coisas desagradáveis poderiam acontecer, ele ameaçou antes que ela desligasse na cara dele e bloqueasse
seu número. Ela se lembrou de algumas coisas desagradáveis que já haviam acontecido e se sentiu mal por
dentro.
Cody Banks, o xerife local, tinha sido um bom ouvinte. Ele era uma das poucas pessoas em Catelow
que conhecia a mulher por trás da máscara. Ele tinha sido gentil com ela. E prometeu que Bailey Trent não
chegaria perto. A orientou a pedir uma ordem de restrição. O que ela fez, embora a atendente lhe dissesse
que raramente valiam o papel em que eram impressas. Ela telefonou para seus advogados em Denver e
pediu que enviassem um investigador para ficar de olho em Bailey. Ela podia arcar com as despesas, o que
poderia salvar sua vida. Bailey usava drogas. Ele era perigoso mesmo quando não as usava.
Ela não conseguia acreditar o quão ingênua tinha sido em relação a ele. Vinda de um casamento com
um homem que era homossexual enrustido, não confiava em sua capacidade de atrair um homem. Só
depois que seu marido tirou a própria vida e deixou um bilhete foi que ela soube sobre sua condição sexual.
Ela simplesmente pensava que não era mulher o suficiente para atraí-lo.
Ele tinha sido um homem gentil e doce, sempre cuidando dela, fazendo tudo o que podia para tornar
sua vida feliz e fácil. Perdê-lo foi doloroso.
Em seguida, houve Bailey Trent. Ele era rude, autoritário, um verdadeiro macho, pelo menos aos
olhos ingênuos de Ida. Eles namoraram e ele se mostrava apaixonado por ela, mas não insistiu em ter
qualquer intimidade até que se casassem. Isso também, ela pensou tristemente, tinha sido calculado. Ela
estava desesperada para tê-lo, dominada por seus sentidos pela primeira vez em sua vida. Ele se aproveitou
de sentimentos que ela não podia evitar para levá-la rapidamente ao altar.
E então chegou sua noite de núpcias. Nada em sua jovem vida a havia preparado para a depravação
com que alguns homens se deleitavam. Ela tinha pesadelos sobre o que ele tinha feito com ela, naquela
noite e em outras, quando estava muito machucada e com medo de lutar mais. Naquela primeira semana
em que eles se casaram, ele perdeu a paciência e a jogou por sobre a mureta do estacionamento. Depois de
sua noite de núpcias, não foi uma grande surpresa, embora a dor tivesse sido algo muito além do que ela já
tinha suportado.
Ela tentou fugir uma vez, depois que saiu do hospital. Mas ele a encontrou e convenceu seus
protetores de que ela reagiu exageradamente ao que foi basicamente apenas um triste acidente. Ele a amava
desesperadamente. Não poderia viver sem ela. Disse a todos.
Ida sabia a verdade. Ele não poderia viver sem o dinheiro dela. Mas ela foi encorajada a perdoá-lo e
fazer seu casamento funcionar. Os doces amigos que a acolheram tinham um casamento feliz há vinte e
cinco anos. E não tinham ideia de como era sua vida. E ela estava com muita vergonha de dizer a eles.
─ Sra. Merridan?
Ela ergueu a cabeça e saiu do devaneio rapidamente. Sorriu para a enfermeira enquanto se levantava
lentamente e seguiu a mulher mais jovem até o consultório.
O Dr. Menzer a examinou e fez uma careta.
─ O que você fez? - Ele perguntou.
Ela enrubesceu.
─ É outono. - Ela começou.
─ Você pode contratar homens grandes e fortes para levar aqueles vasos de flores pesados do pátio para
sua varanda. - Ele disse rispidamente e a observou corar. Ela fazia a mesma coisa todos os anos, pouco
antes do aviso de geada, colocava suas preciosas ervas e plantas com flores para dentro. ─ Você não deve
tentar fazer isso sozinha.
Ela fez uma careta.
─ Eu não posso deixar minhas flores morrerem. E eu adoro ervas frescas.
─ Compre algumas na loja.
─ Não é a mesma coisa. - Ela pontuou.
Ele respirou fundo.
─ Ida, há coisas que você simplesmente não pode fazer mais. O trabalho pesado está no topo da lista. Você
tem que ser sensata.
─ Sensata. - Ela suspirou. ─ Ele está solto. - Acrescentou ela, seus olhos azuis comoventes. ─ Ele quer
dinheiro. E disse que se eu não lhe der, posso esperar coisas ainda piores do que eu esperava antes de ele
ser condenado.
─ Fale com Cody Banks.
─ Já falei. - Ela respondeu. ─ Eu pedi uma ordem de restrição, também. Mas se alguém quiser matar uma
pessoa, consegue. - Acrescentou ela.
─ Se ele quer dinheiro, matar você não é do interesse dele agora, não é? - Ele retrucou.
─ Eu acho que não. Eu fiz um novo testamento quando ele foi para a prisão, garantindo que se eu morrer,
ele não herda nada. - Ela deu um longo suspiro. ─ Os pesadelos voltaram, quando ele me ligou.
─ Você deveria estar sob os cuidados de um psicólogo.
Ela encolheu os ombros.
─ Eu tentei. Não funcionou. - Ela olhou para ele. ─ Meu primeiro marido era gay, mas ele foi um marido
melhor e mais amoroso para mim do que Bailey Trent jamais poderia ser.
Ele apenas sorriu.
─ Todos nós cometemos erros.
─ Sim, mas a maioria de nós não acaba na UTI por isso. - Ela respondeu com um sorriso fraco.
─ Pelo menos você sobreviveu. - Ele respondeu. ─ Isso é o que conta.
─ Eu acredito que sim.
─ Vou pedir a Melanie que imprima uma receita de antiinflamatórios mais fortes. - Disse ele, digitando em
seu computador. ─ Você vai tomá-los por cinco dias apenas, depois dez dias sem medicação. Dessa forma,
você poderá manter seu fígado e salvar seus rins.
─ Medicamento poderoso. - Ela comentou.
─ Muito. E não os tome e tente dirigir. - Advertiu.
─ Eu não vou. Obrigada. - Acrescentou ela. - Pelos remédios. E por ouvir.
─ Quem mais você tem? - Ele perguntou razoavelmente.
─ Triste mas verdadeiro.
─ Você deveria vir jantar uma noite. - Ele disse a ela enquanto se levantava. ─ Sandy adoraria fazer aquele
bolo de carne incrível que ela faz, junto com um pouco de pão caseiro.
─ Sua esposa é uma cozinheira maravilhosa. E eu agradeço a oferta. Mas... - Ele ergueu uma sobrancelha.
─ Mas?
─ Carl... - Ela disse. - qualquer pessoa com quem eu me associe pode estar na mira quando Bailey vier
atrás de mim. Não vou colocar você e Sandy em perigo.
─ Agora, ouça... - Ele começou.
─ Não. - Ela interrompeu. ─ Mas obrigada. E diga a Sandy que um dia quero que ela tente me ensinar a
fazer pães.
─ Eu direi a ela. - Respondeu ele. ─ Entre em contato com Cody. - Acrescentou. ─ Ele vai cuidar de você.
Ela assentiu.
Ele hesitou.
─ Só para constar, Sandy e eu lamentamos tê-la encorajado a voltar para Bailey. Na época não sabíamos
sobre ele.
─ Você não sabia. - Ela concordou. - E eu estava com vergonha de contar. Isso tudo está no passado. Não
se preocupe.
─ Cuide-se.
Ela sorriu.
─ Farei o meu melhor.
─ Alguns exercícios suaves ajudariam a fortalecer esses músculos. - Acrescentou.
─ Isso você sempre me diz. Comprei um DVD de Tai Chi. - Acrescentou. ─ É feito para pessoas com
artrite. Até agora, consegui um exercício inteiro sem cair na mesa de centro.
Ele deu uma risadinha.
─ Mantenha.
Ela sorriu.
─ Eu vou.

***
Ela foi ao balcão e marcou a próxima consulta, depois saiu. Ela puxou o telefone e hesitou.
Realmente não deveria começar nada com McGuire, disse a si mesma. Ele não gostava dela, embora
tivesse sido gentil hoje. E ela hesitou em colocá-lo na linha de fogo. Ela deveria apenas chamar um táxi.
Ela acessou a internet no seu smartphone e começou a procurar o número da única empresa de táxis
local, antes que pudesse copiar o número, um Mercedes vermelho entrou no estacionamento e parou ao
lado dela.

CAPÍTULO DOIS
Ida fez uma pausa com o telefone na mão e a boca ligeiramente aberta enquanto olhava para o
homem sentado no grande carro ao lado dela.
Ele abriu a janela.
─ Ligando para alguém? - Ele perguntou. ─ Um táxi, talvez?
Ela sentiu um arrepio por dentro. Como ele soubia?
─ Entre.
Ela estava muito inquieta para discutir. Subiu ao lado dele e apertou o cinto de segurança.
─ Como você sabia? - Ela perguntou.
Ele deu de ombros.
─ Eu tenho essas premonições às vezes. Eu não sei de onde elas vêm. Bem, isso não é bem verdade. Um
ancestral meu entrou em conflito com as autoridades em Salem,* Massachusetts, por volta do século
dezesseis.
Ela franziu os lábios e assobiou baixinho.
─ Portanto eu herdei o dom, de verdade. Eu soube que meus pais iam morrer. Eu sonhei.
─ Deve ter sido um dom difícil de conviver.
─ Ainda é. Você tem uma receita para pegar?
Ela assentiu.
─ Vou verificar se está pronta. Tem certeza de que não se importa? - Ela acrescentou preocupada.
Olhos prateados encontraram os dela e se afastaram.
─ Se eu me importasse, não estaria aqui.
─ Está bem então. Obrigada.
Ela ligou para a farmácia e falou com Carol, uma balconista que ela conhecia bem. Perguntou sobre a
receita, sorriu e agradeceu.
Ela guardou o telefone.
─ Ela disse que eles já estão trabalhando nela. Eles têm o medicamento em estoque.
─ Que tipo de medicamento?
─ Ibuprofeno. - Ela respondeu e disse a ele os miligramas.
─ Bom Deus, você vai destruir seu fígado. - Ele murmurou.
─ Cinco dias sim, dez dias não. - Respondeu ela. ─ E é para tomar junto com as refeições três vezes ao dia.
- Ela deu um longo suspiro. ─ Não é a primeira vez que uso este remédio, embora já tenham passado
alguns anos desde que precisei dessa dosagem. Tentamos outros medicamentos, mas não estavam
funcionando.
Ele fez uma careta. Ele sabia que uma dose tão grande indicaria um problema igualmente grande.
─ Osso quebrado? - Ele perguntou.
Ela assentiu. Houve várias fraturas, mas ele não precisava saber disso.
*Salem é uma cidade na costa norte de Massachusetts, acima de Boston. É célebre pelos julgamentos de bruxas de 1692, durante os quais vários habitantes locais
foram executados por supostamente praticarem bruxaria. A chamada caça as bruxas de Salém começou em meados do ano 1600, culminando com os
julgamentos de 1692, note que em 1601(16+1=17) inicia-se o século 17, portanto a Caça as bruxas ocorreu durante o século XVII.
Ele olhou para ela, curioso. Longe das pessoas, ela era uma mulher diferente. Ele estava curioso
sobre a mudança dela.
─ Você não fala muito. - Comentou.
Ela estava olhando pela janela.
─ Não estou acostumada com as pessoas. - Ela confessou. ─ Eu me preservo.
─ Isso quando você não está organizando orgias.
Ela ficou totalmente tensa e não conseguiu se forçar a olhar para ele. Não era verdade, mas ela não o
conhecia e não confiava nele. Ela virou a bolsa no colo e olhou pela janela. Ele notou sua falta de resposta
e atribuiu isso à aceitação. Afinal, ela mal podia negar o que era. Todo mundo sabia. Ele não conseguia
entender por que a estava levando em seu carro, cuidando dela. Não era próprio dele se envolver com uma
mulher promíscua. Deus sabia que existiram muitas delas quando ele era mais jovem. Mas à medida que
envelhecia, ficava mais cansado, com mais nojo. Que tipo de mulher se vendia por bugigangas? Ele franziu
a testa enquanto os pensamentos percorriam sua mente. Ela era financeiramente independente. Por que
precisaria se vender? Ele olhou para seu corpo com curiosidade indevida. Havia outra possibilidade. Talvez
ela apenas gostasse de homens. Ele deu de ombros. Era um mundo moderno. Se os homens podiam fazer
isso, as mulheres também, ele supôs que era isso que se considerava igualdade. Já se foram os dias em que
uma mulher era santificada por sua reputação impecável. Mas ele se perguntou sobre o efeito que isso tinha
nas crianças. Sua pequena mãe tinha sido doce, gentil e fiel ao marido. Não houve traição. Da parte dela,
pelo menos. Ele não gostava de pensar em seu pai.
Sua mãe tinha falado abertamente sobre as mulheres modernas e sua falta de moralidade. Sua vida
estava livre de escândalos. A de Jake também.
Ele se lembrou da conversa que teve com Cindy no café. Ele estava no ensino médio quando a
comunidade se voltou contra uma mulher cuja filha estava na quinta série. A mãe de Bess Grady dormia
com todos os homens que conseguia. Bess, uma coisinha tímida, foi para a escola com alguns dos filhos de
homens que sua mãe havia seduzido. O melhor amigo de Jake tinha um irmão na classe de Bess. Ele disse
que ela foi punida dia após dia por aqueles filhos. Jake se perguntou se a mãe da garota se importava em
torná-la parte da confusão sórdida que ela havia causado.
Quando o escândalo estourou, porque um dos amantes da mãe de Bess era um conhecido político
local e o caso custou-lhe uma cadeira no senado, a publicidade foi terrível. Bess era tímida, quieta e
introvertida. Ser feita de bode expiatório para sua mãe destruiu algo dentro dela, e aconteceu muito
rapidamente. Poucos dias depois que a publicidade ficou acirrada, Bess tomou vários comprimidos para
dormir de sua mãe e, quando começaram a fazer efeito, ela cortou a artéria do pescoço com uma faca de
açougueiro. A mãe voltou para casa na manhã seguinte, bem cedo, depois de uma noite na cidade de
Denver com um de seus ricos amantes de Catelow, e encontrou a filha no chão do banheiro em uma poça
de sangue. Pela primeira vez, a mãe não era só a fonte de escândalos, mas também de ódio da comunidade,
que ficou sabendo pelas fofocas que a pobre menina havia sido atormentada pelos filhos dos amantes da
mãe, por causa da destruição de suas famílias. Muitas pessoas compareceram ao funeral , mas nenhuma
pessoa local, exceto o ministro, falou com a mãe. Sua dor era visível, junto com sua culpa, mas pequenas
comunidades tinham sua própria maneira de lidar com pessoas que desrespeitavam as regras e feriam
inocentes.
Uma família poderosa, envergonhada pelo escândalo, foi atrás da mãe com tudo o que possuíam. A
mãe vadia, abandonada por seus amantes locais em face de tanta publicidade negativa, perdeu sua casa e
seu emprego, foi excluída pelas pessoas em todas as atividades que frequentava. No final, ela desistiu e se
mudou para Denver, aparentemente para morar com um de seus amantes.
Jake ouviu falar que ela morreu,aparentemente, de uma overdose. Ele não lamentou. O irmão de seu
melhor amigo tinha uma queda por Bess, que havia sofrido muito por causa da mulher odiosa. Foi um
golpe duro para o menino. Ele também estava se lembrando da mãe de Mina Michaels. Mina suportou os
amantes da mãe promíscua, alguns dos quais a trataram brutalmente. No entanto, isso aconteceu anos
depois de Bess se matar, e não tinha nenhuma conexão com a família de Mina. Que vida deve ter sido para
Mina. Coitadinha. Ele ainda sentia falta dela. Estava feliz porque ela estava feliz, morando com Cort Grier
e seu filho, Jeremiah, no Texas. Mas tê-la perdido ainda o feria. Ele tinha grandes esperanças quando
começou a sair com ela. Infelizmente, o coração dela pertenceu a Cort quase desde o dia em que se
conheceram.
Cort andava por aí com a alegre divorciada sentada ao lado dele, o que dizia muito sobre ela. Cort
Grier foi um notório mulherengo antes de seu casamento e passou muito tempo com Ida Merridan enquanto
esteve em Catelow visitando seu primo.
Jake se perguntou por que ele estava se incomodando com essa mulher, quando nem mesmo gostava
dela. Seus pálidos olhos prateados se fixaram na estrada à frente.
Ida, sem ideia do que se passava na mente de seu companheiro, notou a carranca sombria no rosto
bonito.
─ Escute, eu posso voltar mais tarde e ir à farmácia... - Ela começou inquieta.
Ele respirou fundo e olhou para ela.
─ Eu não me importo. Desculpa. Eu estava me lembrando da garota Grady.
Ela estremeceu.
─ Oh, coitadinha. - Ela disse calmamente. ─ Eu também me lembro dela. Ela estava na minha série na
escola, aqui em Catelow.
Ele olhou para ela.
─ Achei que você tivesse crescido em Denver. - Ele mentiu, porque não queria admitir que tinha falado
sobre ela com Cindy no café.
─ Sim, mas moramos aqui até eu terminar a quinta série. Bess era uma das minhas amigas. - Ela desviou os
olhos da janela. ─ Todos nós odiávamos a mãe dela. Bess era tímida, doce e nunca machucou ninguém.
Fizemos o que podíamos para protegê-la, para protegê-la da raiva das crianças. Mas crianças podem ser
muito cruéis. Foi um choque o que ela fez. Quero dizer, quantos alunos do quinto ano você conhece que
cometem suicídio com pílulas e uma faca?
─ Havia um artigo no jornal local, um artigo da agência de notícias, que mencionava a morte de um
homem importante no leste. - Observou ele. ─ Era muito detalhado sobre como ele se matou. O irmão mais
novo do meu melhor amigo gostava de Grady. Ele se culpou por anos porque contou a ela a história. Ele
sempre achou que ela se lembrou disso quando decidiu acabar com a vida.
─ Ele não deveria se sentir culpado. - Ela respondeu suavemente. ─ Todos nós temos um certo tempo na
terra, coisas que devemos fazer, propósitos que devemos cumprir. Deus decide quando a vida termina e
como. As pessoas podem agilizar isso, mas no final, nós realmente não escolhemos como morremos.
Ele foi pego de surpresa. Ele nunca a considerou uma pessoa religiosa.
─ Você não me parece uma fanática religiosa. - Disse ele abruptamente.
Ela apenas sorriu tristemente.
─ Meu primeiro marido era muito religioso. - Disse ela. ─ Íamos à igreja todos os domingos, quando nos
casamos. Ele mantinha listas de membros da congregação que eram pobres, que tinham contas que não
podiam pagar. Ele deu presentes anônimos a tantas pessoas que nunca souberam quem era seu benfeitor.
Ele foi o homem mais gentil que eu já conheci.
─ Ele era gay. - Ele disse.
─ Sim. - Ela respondeu. ─ Isso não é uma escolha. - Disse ela e olhou para ele. ─ As pessoas não acordam
uma manhã e decidem ser gays. É algo sobre a forma como seus cérebros estão conectados. Cort Grier é
casado com Willow Shane, a autora. - Acrescentou ela, surpreendendo-o. Ela deve ter ouvido falar que ele
namorou Willow, cujo nome verdadeiro era Mina Michaels.
─ Eu a conheço. - Disse ele.
─ Ela disse a um amigo em comum que os escritores não pensam como as pessoas comuns. Seus cérebros
estão conectados de maneira diferente. Eles veem o mundo de uma forma que a maioria das pessoas não
vê, e isso afeta a maneira como escrevem. Isso me fez pensar... - Ela continuou. ─ talvez nossos cérebros
sejam construídos de tal forma que nos predispõe a certas profissões, certos modos de vida pessoal. - Ela
riu. ─ Eu costumava pensar que todo mundo tinha padrões de pensamento como o meu. Quando penso,
imagino as coisas em cores vivas. Eu vejo pessoas e coisas em minha mente. Mas aprendi que nem todo
mundo faz isso.
Ele olhou para ela. Ele nunca tinha considerado isso.
─ Os engenheiros pensam em termos de diagramas. Os matemáticos pensam em termos de equações
matemáticas. Algumas pessoas veem imagens abstratas. A questão é... - Disse ela. ─ que quando
pensamos, é uma forma individual de interpretar os dados. - Ela sorriu timidamente. ─ Isso realmente me
fascina.
Ele inclinou a cabeça.
─ Você cursou uma faculdade?
Ela assentiu.
─ Qual foi a sua especialização?
Ela corou e desviou os olhos.
Agora ele estava realmente curioso.
─ O que? - Ele persistiu.
Ela engoliu em seco.
─ Física.
Ele quase saiu com o carro da estrada.
─ O que?
─ Eu sem dúvida reverenciava Albert Einstein. - Disse ela. ─ Eu amava matemática. E era muito boa nisso.
Eu não tinha certeza do que queria estudar, mas não estava realmente interessada em artes. Falei com um
orientador do corpo docente e ele me colocou em uma programação que incluía matemática avançada,
química e física. Eu tirei só notas altas. Meu marido me incentivou. - Acrescentou ela. ─ Meu primeiro
marido, quero dizer. Ele era muito instruído. Ele herdou sua riqueza, mas se formou em Yale com um
diploma de honra em administração. Ele me encorajou a ir para o MIT. Eu voltava para casa no verão e nas
férias. - Ela suspirou. ─ Agora que olho para trás, provavelmente foi mais para me impedir de descobrir o
seu segredo do que para me educar. Mas me senti na obrigação de tirar boas notas, para justificar o gasto.
─ E você está morando em Catelow, Wyoming, em vez de lecionar no MIT.
Ela riu suavemente.
─ Bem, eu realmente não consigo me relacionar com a maioria das pessoas. Eu tinha esse diploma incrível,
mas realmente não queria entrar em física teórica ou mecânica quântica, então ele meio que ocupa uma
gaveta no meu quarto. - Ela deu de ombros. ─ Eu amo arte, ópera e posso escrever com as duas mãos,
então acho que sou um enigma.
O que ela era encheria um livro. Ele ficou intrigado.
─ Arte e ópera. - Ele murmurou.
─ No meio, eu penso sobre a teoria de campo unificado. - Ela murmurou secamente.
Ele realmente riu.
─ Você é formado em economia, não é? - Ela perguntou.
Ele assentiu. Isso era um fato conhecido localmente.
─ Sim e me especializei em finanças. Queria saber como administrar o que tinha. Muitos empresários vão à
falência porque confiam nas pessoas erradas para administrar suas propriedades.
─ Tenho Edward Jones para os investimentos do meu primeiro marido. - Disse ela. ─ E uma equipe de
super advogados em Denver que cuidam das propriedades.
─ Por quanto tempo você foi casada pela primeira vez?
─ Cinco anos. - Ela disse. E sorriu. ─ Foram anos bons. Charles Merridan era um homem gentil, amável e
adorava ajudar outras pessoas. Ele me ensinou sobre arte. E ópera.
Ele entrou no estacionamento do shopping onde ficava a farmácia de Catelow.
─ O que seu segundo marido lhe ensinou? - Ele perguntou indiferentemente.
─ Como me abaixar.
Ele estacionou o carro e se virou para ela, carrancudo com a palidez repentina em seu rosto bonito.
Ele entrecerrou seus olhos.
─ Ele teria algo a ver com aquele osso quebrado para o qual você está tomando remédios potentes? - Ele
perguntou abruptamente.
Ela pigarreou.
─ Informações confidenciais, Sr. McGuire. - Disse ela, mas conseguiu sorrir. ─ Não vou demorar. -
Acrescentou ela, enquanto soltava o cinto de segurança.
Ele saiu do carro e deu a volta antes que ela pegasse a bolsa no chão, segurando a porta aberta para
ela.
─ Boas maneiras. - Ela disse distraidamente.
─ Minha mãe era uma defensora delas. - Respondeu ele. ─ Ela era uma mulher doce e altruísta que sempre
colocava a família em primeiro lugar.
─ A minha também. - Ela respondeu calmamente. ─ Sinto saudade dos meus pais.
─ Sinto falta da minha mãe.
Ela se voltou para a farmácia.
─ Serei o mais rápido que puder.
─ Sem pressa. - Respondeu ele.

***
Ela não precisou esperar. A balconista tinha o remédio pronto quando ela chegou ao balcão.
─ Não se esqueça de colocar comida no estômago antes de tomá-los. - O farmacêutico disse enquanto a
balconista pegava o cartão de crédito dela e efetuava a cobrança.
─ Eu não vou. Cinco dias sim, dez dias não. - Ela repetiu.
Ele fez um sinal de positivo com o polegar, sorriu e voltou ao trabalho.
─ Coisas poderosas. - Comentou Carol enquanto devolvia a receita e o cartão de crédito para Ida.
─ Normalmente só preciso deles no inverno. - Respondeu Ida. ─ Acho que este não será meu melhor ano.
É apenas outubro.
Carol apenas sorriu. Ao contrário da maioria dos habitantes locais, ela conhecia Ida muito bem. E
sabia que a imagem liberal da divorciada era apenas uma máscara que ela usava para se proteger. Elas
tinham um cunhado em comum que era parente do primeiro marido de Ida.
─ Obrigada. - Disse Ida.
─ Se precisar de mim, você sabe meu número. - Carol disse suavemente.
─ Eu sei. Você também sabe o meu. - Ela sorriu ao responder. ─ Nós cuidamos uns dos outros. Harry
cuidou de mim, quando eu realmente precisei. - Disse Ida. ─ Eu sinto tanto a falta dele.
─ Eu também. - Respondeu Carol. ─ Ele era tão diferente do que as pessoas pensavam que ele era.
─ É verdade, não é?
─ Tenha cuidado ao dirigir.
─ Oh, não estou dirigindo. Jake McGuire me levou ao médico e me trouxe aqui. - Ela corou e olhou em
volta, para se certificar de que ninguém tinha ouvido.
─ Estamos quase vazios hoje. Jake, hmm? - Carol brincou.
─ Não é desse jeito. Ele não gosta de mim de jeito nenhum. - Ela suspirou. ─ O que pensando bem é o
melhor, com a minha história.
─ Soubemos que seu segundo marido foi solto antes do tempo. - Disse Carol, baixando a voz. ─ Mantenha
sua porta trancada e coloque Cody Banks na discagem rápida. Apenas por precaução.
─ Eu pensei que eles iriam mantê-lo preso para sempre. - Disse Ida tristemente. Ela balançou a cabeça. -
Ele matou um homem e quase não cumpriu pena por isso. Agora ele perde tudo o que consegue roubar no
jogo. Ele fez ameaças.
─ Eu falei sério, sobre colocar nosso xerife na discagem rápida. Você vive no meio do nada.
─ Gosto da minha privacidade.
─ Talvez você deva investir em alguma proteção. Um cachorro grande e mau?
─ Meus advogados em Denver sugeriram um guarda-costas.
─ Uma boa sugestão. - Foi a resposta tranquila. ─ Você deveria aceitá-la.
Ida acenou com a cabeça.
─ Eu acedito que sim. Eu só não gosto da ideia de ter alguém me observando o tempo todo.
─ Se o guarda-costas não o fizer, seu ex fará. - Disse Carol. ─ Seja cuidadosa.
─ Eu vou tomar cuidado.

***
Jake a viu andando e abriu a porta quando ela chegou ao carro.
─ Obrigada. - Disse ela. ─ Por tudo.
─ Todos nós temos esses impulsos estranhos de vez em quando. - Respondeu ele.
Ela apertou o cinto de segurança enquanto ele se sentava ao volante e ligava o carro.
─ Qualquer outro lugar que você precisa ir enquanto estamos fora? - Ele perguntou.
Ela balançou a cabeça.
─ Eu já o incomodei o suficiente por um dia.
─ Eu não me importei. - Disse ele e se surpreendeu ao perceber que era verdade, não apenas uma resposta
educada.
─ Eu posso dirigir. - Disse ela, inclinando a cabeça para trás. ─ Mas foi o meu quadril direito o mais
afetado e é o que é mais usado no pedal do acelerador e do freio. Mas isso... - Ela indicou o saco de
remédios. ─ vai me fazer voltar ao normal.
─ Você toma outro remédio para dor também?
Ela riu.
─ Sou alérgica a maior parte deles. Eu tinha uma receita de um remédio muito leve para dor que continha
apenas um traço de codeína. Eu tive urticária e quase acabei na sala de emergência. - A memória era
dolorosa. Ela olhou pela janela. ─ Meu ex-marido achou hilário. Tive que ir dirigindo até o alergista. Ele
estava assistindo a um filme e não se incomodou... - Ela ficou vermelha. ─ Desculpa.
─ Pessoas morrem de reações alérgicas como essa. - Observou ele, extremamente enfurecido com o que o
ex-marido dela havia feito.
Ela deu um longo suspiro.
─ Ele não teria se importado. Todo o meu dinheiro veio do meu primeiro marido. Meu segundo não
trabalhava. Ele dizia que eu tinha muito dinheiro para nós dois. Contanto que eu desse a ele o que queria,
as coisas estavam bem.
─ E se ele não conseguisse o que queria?
A mão dela foi distraidamente para o quadril.
─ Foi há muito tempo. - Ela mentiu.
Ele evitou comentar. Ela possuía uma má reputação, mas era uma linda mulher. Ele se perguntou que
tipo de homem a machucaria fisicamente.
─ Há quanto tempo está divorciada? - Ele perguntou.
─ Três anos. - Ela não acrescentou que ele estava na prisão todo esse tempo.
Ele a olhou. Então era mais velha do que ele pensou.
─ Quantos anos você tem? - Ele perguntou abruptamente.
Ela olhou para sua bolsa.
─ Vinte e seis.
─ Vinte e seis. - Ele estava fazendo contas em sua cabeça. ─ Você se casou com dezoito?
Ela suspirou.
─ Eu tinha acabado de perder minha mãe. Ela fez um daqueles cruzeiros no Mediterrâneo e me deixou com
amigos. O dr. Menzer e sua esposa. Ele é meu cirurgião ortopédico. Ele e sua esposa se mudaram para cá
pouco antes de eu voltar para cá. - Ela respirou fundo e olhou pela janela. ─ Disseram que minha mãe caiu
no mar. Ela estava no convés quando houve uma tempestade e ela foi jogada para o lado. - Ela olhou para
seu colo. Era uma lembrança dolorosa. ─ Eles nunca a encontraram.
─ Isso deve ter sido difícil.
Ela assentiu.
─ Eu sofri muito. Não tive um lugar para colocar flores. Então eu comprei uma daquelas urnas
ornamentadas em que eles colocam as cinzas, coloquei algumas de suas coisas favoritas nela e lacrei. Está
na minha lareira. - Ela sorriu tristemente. ─ Eu coloco flores ao lado da urna nos feriados e no aniversário
dela. É a coisa mais próxima de um túmulo.
─ Não é uma solução ruim.
─ Não é a melhor, também. - Seus olhos pareciam distantes. ─ Fiquei pensando, talvez ela tenha chegado à
praia em algum lugar e perdido a memória. Talvez ela ainda esteja viva e não saiba quem é. - Ela sorriu. ─
Tem um filme que eu sempre adorei, sobre uma agente da CIA que foi baleada e perdeu a memória. Ela
acabou em uma pequena cidade com um bebê e, anos depois, sua memória voltou.
Ele deu uma risadinha.
─ The Long Kiss Goodnight.* - Ele citou.
Ela ofegou.
─ Sim!
Ele sorriu.
─ Eu tenho no Prime vídeo. - Ele disse. ─ O melhor desempenho de Samuel L. Jackson, até Capitã Marvel.
- Ele emendou. ─ Ele é um dos meus atores favoritos.
─ O meu também. - Ela disse. ─ E eu amei Geena Davis no papel da mãe professora que acabou sendo
uma assassina.
Ele olhou para ela.
─ Você tem uma natureza aventureira.
─ Eu não posso fazer coisas aventureiras, então sou uma poltrona pirata, super-heroína, exploradora e
mercenária.
─ Pirata? - Ele perguntou, e seus olhos prateados brilharam.
─ Eu adoraria ter um navio pirata e navegá-lo no lago local. Teria velas pretas, uma bandeira com uma
caveira e ossos cruzados, e eu contrataria homens para navegá-lo vestidos como o Barba Negra.
─ Por que não ter?
─ Oh, eu dei a Catelow muitos motivos para falar de mim. Não há necessidade de adicionar ainda mais. -
Ela acrescentou e se arrependeu de dizer isso quando viu a diversão deixar seu rosto bonito. Ele se fechou.
Ela fez uma careta. Era seu talento especial se indispor com as pessoas.
─ Onde estamos indo? - Ele perguntou.
─ Oh! Desculpa! E ela deixou escapar e lhe deu as instruções.
* Esse filme passou aqui com o nome Despertar de um pesadelo. Samuel L. Jackson e Geena Davis. 1996. Pra quem não viu é um filme muito bom.

***
Sua casa era antiga. Tinha sido um rancho maior no começo. Tinha pertencido a um tio-avô que o
deixou para o pai dela. A família morava lá, mal sobrevivendo, antes que seu pai recebesse uma oferta de
emprego em Denver, na mesma empresa gráfica com cujo dono Ida se casou mais tarde. Tinha sido
vendido, mas o primeiro marido de Ida comprou e colocou um administrador. Ida deveria manter o lugar
para seus herdeiros, ele disse gentilmente, antes que ela soubesse que não haveria nenhum com ele. Foi um
gesto gentil de um homem gentil.
Agora era um rancho de cavalos. Ida mantinha um pequeno rebanho de palominos e dois vaqueiros
de meio período que não faziam nada além de cuidar deles.
─ Meu pai trabalhava como tipógrafo para o jornal local. - Ela comentou. ─ Mas nós morávamos aqui. Era
uma vida difícil. Tínhamos uma vaca para o leite e manteiga e galinhas para os ovos.
─ Sem carne?
Ela balançou a cabeça.
─ Já era difícil sustentar uma vaca leiteira e as galinhas. Não podíamos criar gado de corte.
Ele franziu a testa. Ele não havia considerado que a família dela era pobre. Assim como a dele. Ele
estava na casa dos trinta, mais de dez anos mais velho que ela. Provavelmente era por isso que ele não se
lembrava dela da escola.
─ Eu também cresci pobre. - Disse ele calmamente. ─ Eu morava normalmente com minha mãe e os pais
dela. Tínhamos um rancho um pouco mais próspero que o seu. Muita comida, mas sem luxos. Meu avô
dirigia um carro de dez anos com 160 mil Km. - Ele deu uma risadinha. ─ Ele costumava dizer que
qualquer carro que tivesse menos de 160 mil Km seria tão bom quanto um novo para ele.
─ Tínhamos uma picape de 12 anos com freios que precisavam de constantes reparos. Meu pai tinha um pé
pesado.
─ Quantos anos você tinha quando ele morreu?
─ Dez. - Ela disse suavemente. ─ Ele era o melhor pai do mundo. Eu o amei tanto. Minha mãe também.
Quase a perdi quando ele se foi tão de repente. Ela sofreu até morrer. E nunca olhou para outro homem.
─ Minha mãe era assim.
Ela olhou para ele, curiosa. Ela queria saber que tipo de homem foi o pai dele. Mas estava com receio
de perguntar. Havia uma expressão no rosto dele que era intrigante.
Ele estava ciente dessa curiosidade. E não cedeu.
Ele parou na longa estrada que levava à casa vitoriana em um bosque de pinheiros, com as Tetons*
pontiagudas e cobertas de neve à distância.
─ Bela vista. - Ele comentou.
─ É, não é? Eu esculpo, por hobby. Mas sempre desejei poder pintar.
─ Eu posso ver por quê. - Ele franziu a testa. ─ É muito isolado.
─ Eu gosto assim. - Ela disse. E respirou fundo. ─ Eu não... me misturo bem.
─ Eu sou obrigado a isso. - Disse ele. ─ Os negócios exigem isso.
─ Eu suponho que sim. Cuidado com Butler. - Disse ela rapidamente quando ele parou perto dos degraus.
─ Butler?
Em resposta, um enorme gato amarelo veio para a varanda, se arrastando contra os degraus.
─ Ele não tem medo de carros. - Disse ela. ─ Vivo com medo de que alguém o atropele.
─ A maioria dos gatos é inteligente.
─ Eu peguei o único idiota. - Ela riu. ─ Ele está velho e com artrite, mas é tão fofo.
Ele deu a volta e abriu a porta dela. O gato se enrolou em suas calças.
─ Não o deixe fazer isso. Ele vai soltar pelos em você. - Disse ela rapidamente, tentando espantar Butler
para longe.
─ Tenho um pastor alemão chamado Wolf. - Respondeu ele. ─ Tenho pelos de cachorro por toda parte,
apesar dos melhores esforços da minha governanta. Você tem pelos de gato. Pelos são pelos. - Acrescentou
ele com um leve sorriso.
─ Eu imagino que sim. - Ela olhou para ele. Era um longo caminho e a estatura dela era mediana. ─ Eu sei
que você não gosta de mim. Obrigada por me acompanhar apesar disso.
Ele fez uma careta.
* Montanhas Teton
─ Quantas cirurgias você fez nesse quadril? - Ele perguntou abruptamente.
─ Duas... - Ela deixou escapar sem pensar e então corou.
Seus pálidos olhos prateados se entrecerraram.
─ Duas. Deve ter sido um inferno.
Ela engoliu em seco, lembrando.
─ Foi. Meu quadril foi fraturado e o fêmur também.
Ele se perguntou se ela havia sofrido um acidente de carro. Ela não disse mais nada sobre isso e
corou, como se a envergonhasse ter dito até isso.
─ Fui pego no fogo cruzado quando estava lutando no Iraque, há mais de dez anos. - Disse ele calmamente.
─ Três tiros no peito. Um teria sido fatal, mas os médicos foram rápidos. Eu fui mandado para casa. - Ele
deu de ombros. ─ Eu teria voltado, mas eles me deram baixa. Acho que três tiros o qualificam para a
aposentadoria. - Havia outros ferimentos também, mas ele não os compartilhava.
Ela fez uma careta.
─ Deve ter sido muito doloroso.
─ Foi. - Ele enfiou as mãos nos bolsos. ─ As cicatrizes me lembram, toda vez que me olho no espelho. -
Ele riu sarcasticamente. ─ Eu nunca tiro minhas roupas na luz quando estou com mulheres. Eu cometi esse
erro apenas uma vez.
Ela corou e desviou os olhos.
Ele ficou pasmo. Ela estava envergonhada. Era tão óbvio que era inconfundível. Ela era uma vadia
que dormia com qualquer um que usasse calças, mas ficava constrangida ao ouvir um homem falar sobre o
que fazia com as mulheres.
─ Tenho que entrar e tomar isso. - Disse ela, segurando a sacola de comprimidos da farmácia. ─ Obrigada
novamente pela carona...
─ Eu dei meu número a Cindy. - Ele interrompeu. ─ Quando eles terminarem com o seu Jaguar, vou
mandar um dos meus homens vir comigo para trazê-lo para casa.
─ Mas você não precisa fazer isso. - Ela protestou.
─ Não tenho que fazer nada. - Disse ele. ─ Exceto pagar impostos.
Ela entendeu.
─ Bem... obrigada.
─ Você odeia dever favor a outras pessoas. - Ele adivinhou e viu os olhos azuis dela brilharem. Ele
assentiu. ─ Eu também. Mas não é ruim oferecer ajuda quando é necessário. Você mora sozinha.
─ Sim. - Ela respirou fundo. ─ Eu gosto... de estar sozinha.
─ Mesmo. - Ele a estudou por mais um minuto antes de voltar para o carro. ─ Cuidado com o seu gato.
Vou tentar não atropelá-lo. - Acrescentou.
─ Vamos, Butler. - Ela gritou para o grande gato amarelo, que estava tentando seguir Jake até o carro. ─
Butler!
O gato parecia dividido, mas trotou de volta para Ida e a seguiu até a varanda. Ela observou Jake ir
embora com emoções confusas. Ela não conseguia imaginar por que ele lhe ofereceu ajuda, quando era tão
óbvio que ele não gostava dela.
Jake também não entendia. Ele foi para casa, repreendendo-se de todas as maneiras por se envolver
com a mulher imoral, ainda que indiferentemente.

CAPÍTULO TRÊS
Ida odiava tomar os enormes comprimidos de ibuprofeno. Eles faziam seu estômago doer, mesmo
quando ela os ingeria com comida, e ela precisava tomar um antiácido apenas para tolerá-los. Mas
ajudavam com a inflamação e a dor.
O carro dela exigia uma peça que precisava ser encomendada, por isso não foi devolvido no dia em
que Jake a levou para casa. Ficaria pronto hoje. O mecânico, ex-mecânico da Jaguar, contou a ela por
telefone. Ela realmente não se importava. De qualquer maneira ela não podia tomar ibuprofeno e dirigir.
Ela fez alguns ovos mexidos e uma torrada para acompanhar. Não tinha muito apetite. Tudo em que
conseguia pensar era o quão perigoso era Bailey, e o que ele era capaz de fazer com ela. A dor em seu
quadril a lembrava claramente do que poderia acontecer se ela se recusasse a fazer o que ele queria.
Ao longo dos poucos meses de seu breve casamento, ele a transformou de uma mulher feliz e
divertida em uma reclusa assustada que nunca mais queria ter nada a ver com homens. O julgamento foi
rápido, para os padrões judiciais, e Bailey jurou vingança desde a entrada no tribunal até o momento em
que foi condenado. Ida estava na sala, compelida a saber o resultado do julgamento em primeira mão. Ela
nunca poderia esquecer a expressão no rosto de seu marido. Bem, ex-marido. Ela se divorciou dele
enquanto ele estava na prisão aguardando julgamento. Seus advogados o alertaram sobre o que eles
poderiam fazer se ele se recusasse a assinar. Então ele assinou, relutantemente. Mas ele não sabia que ela o
estava excluindo de seu testamento ao mesmo tempo. Ela se perguntou se ele sabia disso agora.
Ela se recusou a ir à audiência de fiança quando ele foi preso, com medo do que ele pudesse fazer
com ela. Os advogados de Denver concordaram. Um deles conhecia o promotor assistente que julgou o
caso. Ele alertou o homem sobre o que o réu fez a Ida, uma história completamente diferente daquela que o
réu contou. Bailey não tinha dinheiro próprio, nenhuma propriedade para uma caução, então foi forçado a
ficar na prisão até o julgamento. Após o julgamento, ele foi direto para a prisão. Foi a primeira vez em
meses que Ida se sentiu segura. Posteriormente, ela retomou o sobrenome de Charles Merridan, seu
primeiro marido. Ela nem queria que o nome de Bailey fosse um lembrete diário de que ela tinha sido
estúpida o suficiente para se casar com ele.
Ela contou apenas a um punhado de pessoas sobre as ameaças. Seus advogados contrataram um
guarda-costas temporário para ela. Ele estava disfarçado como um cowboy que ajudava com seu pequeno
rancho de cavalos. Ele morava no antigo barracão que ela reformou como um chalé de hóspedes. Ninguém
se importou com isso, por causa de sua reputação.
Ela fez uma careta. Não tinha contado a Jake. Quando ele descobrisse sobre o guarda-costas, e ele
descobriria, presumiria que o guarda-costas do Texas era apenas mais um amante, porque ele era jovem e
bonito. Ela iria odiar isso. Jake era um homem bom e gentil. Ela queria que ele pensasse melhor dela. Mas
então, faça a fama e deite na cama... E ela fez uma fama muito ruim, encorajando fofocas que a
protegeriam das atenções dos homens locais.
Ela odiava sua própria beleza, que a tornava atraente para os homens. Ela a minimizava ao não usar
maquiagem e andar normalmente com roupas que escondiam sua aparência elegante. Mas havia uma festa
ocasional e ela se vestia para isso. Elas se tornaram uma provação até que Cort Grier a ajudou fingindo um
interesse por ela.
Na festa, ela flertou com um homem mais velho deliberadamente, porque sabia que ele era casado e
provavelmente não gostaria de começar algo com ela. Infelizmente, o tiro saiu pela culatra. Ele ficou muito
interessado e sua pobre esposa foi chorar no banheiro. Ela o recuou depois disso e correu para Cort Grier,
que saiu com ela quando a festa acabou. Queria tanto se desculpar com a esposa do homem, mas não sabia
como se aproximar dela. Muito poucas pessoas em Catelow conheciam a mulher real por trás do disfarce
de divorciada feliz de reputação sórdida. Isso não era verdade, era o que as pessoas acreditavam. Ida era
uma prostituta que tentava roubar os maridos de outras mulheres. Essa era a última fofoca, depois da
famigerada festa.
Bem, era o que ela queria, não era, ser escandalosa? Ela achou que era a melhor maneira de manter
os homens afastados. Tinha funcionado, até agora. Ela não estava interessada em se casar novamente ou
em se envolver com um homem. Estava convencida de que não tinha bom senso, muito menos a
capacidade de detectar um agressor ao ver um.
Ela terminou seu parco café da manhã e foi para a sala de estar, carregando uma xícara de café com
leite de sua máquina de café europeia em uma delicada xícara de porcelana azul e branca com pires. Ela a
colocou na mesa de centro e apenas olhou para ela.
Ela bebia muito café. Isso a mantinha acordada à noite. Isso teria sido um problema se ela não tivesse
a dor diária que garantia que evitasse realmente o sono. Ela odiava quando as luzes se apagavam, porque
era quando os pesadelos vinham. Sonhos horríveis, cheios de violência apenas lembrados pela metade
quando ela acordava.
Então ela evitava dormir. Evitava os homens. Evitava quase todo contato com outros seres humanos.
Seu único companheiro era o velho Butler, aninhado em sua cama de gato, dormindo profundamente.
Havia uma televisão de tela plana, o modelo mais recente, com todos os canais de satélite conhecidos
pelo homem nela. Mas a peça central da sala era um piano de cauda. O primeiro marido de Ida tocava
lindamente. Ele a ensinou.
Ela também aprendia rápido. Sempre amou música. Piano era tão natural para ela quanto respirar,
para alegria do seu marido. Ela memorizou as peças favoritas dele e as tocava quando estavam em casa
juntos, o que não era frequente. Deixando o café na mesa, ela foi até o piano, posicionou o banco, sentou-se
e colocou o pé direito próximo aos pedais do chão. Sua música favorita era uma antiga que a avó adorava.
Sua avó tinha várias gravações de diferentes cantores e grupos, mas era a de Steve Alaimo* a sua favorita.
* Steve Alaimo é um cantor americano, ídolo dos adolescente na década de 1960. Mais tarde, ele se tornou proprietário da produtora e gravadora Records. E a
música é Cast Your Fate to the Wind
Ida cresceu a ouvindo e amando. Suas mãos foram para as teclas e ela começou a tocar, os olhos fechados,
a música preenchendo todos os lugares vazios e amedrontados dentro dela. Alheia a tudo a seu redor
quando tocava, nem mesmo ouviu o som da campainha. O toque finalmente chegou a ela. Ela parou no
meio de um compasso, se levantou e se moveu o mais rápido que pôde para a porta da frente. Jake
McGuire estava parado ali, olhando para ela com curiosidade.
─ Desculpe, não ouvi você chegar.
─ Um dos meus homens dirigiu minha Mercedes até aqui. Ele está esperando por mim. - Ele a estudou. ─
Seu rádio estava muito alto. - Disse ele. ─ Não é à toa que você não ouviu os carros. Meu avô costumava
tocar essa música. Como é chamada?
─ Lance seu destino ao vento. - Respondeu ela.
─ Melodia cativante.
─ É. - Ela concordou, sem dizer a ele que era ela mesma quem estava tocando. Ele entregou a ela uma
chave inteligente em um chaveiro de prata, o Jaguar símbolo, anexado. ─ Funciona como um sonho. -
Comentou. ─ Posso até considerar comprar um para mim.
Ela sorriu.
─ Obrigada por todo o trabalho.
─ Não foi. Trabalho, quero dizer. - Ele respondeu.
Ela olhou para ele com emoções conflitantes, sentindo coisas que não queria sentir. Ele estava apenas
sendo gentil. Era uma gentileza indiferente. Ele nem gostava dela, pelo amor de Deus!
Ele estava tendo o mesmo tipo de problemas. Sua impressão sobre ela havia mudado. Ela não era a
vadia que ele pensava que ela era. Estava curioso sobre ela. E não queria estar.
Assim que a tensão atingiu o ponto máximo, houve uma batida rápida na porta e um homem alto com
cabelos escuros e olhos ainda mais escuros entrou na casa.
─ Desculpe interromper... - Disse ele secamente. ─ mas temos um problema com um dos cavalos.
─ Qual? - Ela perguntou imediatamente. ─ Não é Silver, é? - Ela acrescentou preocupada.
─ Não, senhora, não é ele. É a égua palomino. A que deu à luz na última semana.
Ela suspirou.
─ Gold. Ela teve tantos problemas desde que pariu aquele potro. - Ela respondeu com tristeza. ─ O que há
de errado com ela? Você sabe?
─ Ela tem cortes profundos em ambos os flancos. - Disse ele sem inflexão. ─ Graves. - Ele tinha uma
expressão fechada enquanto falava.
─ Mas ela só esteve no pasto. - Exclamou Ida. ─ E não há nada que pudesse tê-la ferido lá!
─ Eu sei. - Laredo respondeu baixinho. ─ Eu chequei. - Seus olhos escuros estavam dizendo coisas a ela
que ela não queria compartilhar com Jake.
Ela apenas suspirou.
─ Ligue para o veterinário e veja se ele pode vir imediatamente.
─ Vou resolver isso imediatamente. - Ele saiu sem dizer mais nada.
A sobrancelha de Jake se ergueu.
─ Um empregado?
─ Um dos meus novos cowboys. - Respondeu ela, mas estava mentindo e não o fazia bem.
Ele sorriu. Não era um sorriso legal.
─ Tenha um bom dia.
─ Obrigada por trazer meu carro. - Disse ela calmamente.
Ele apenas deu de ombros e continuou andando.
Lá se vão os sonhos loucos, ela disse a si mesma enquanto voltava para dentro e fechava a porta.

***
Ela caminhou até o celeiro onde estava a palomino. A égua, Gold, estava de pé, mas cortes extensos e
sangrantes eram visíveis em seus quartos traseiros. Até Ida podia ver a dor que o animal sentia. O novo
homem, Laredo Hall, estava ajoelhado ao lado da égua com um dos vaqueiros do rancho ao seu lado. A
égua se esquivava dele.
─ Oh, Gold, meu pobre bebê! - Ida disse preocupada. Ela entrou na cocheira e passou os dedos pela crina
macia da égua. ─ Minha pobre menina! - Ela olhou para os cortes. ─ Isso não foi um acidente. - Disse ela
friamente.
─ Parece que alguém fez isso de propósito. - Disse Laredo. Seus olhos se entrecerraram.
Seu coração disparou. Bailey estava aqui? Ou um de seus amigos sombrios veio direto para seu
rancho e feriu seu cavalo? Era o tipo de coisa baixa, sorrateira e maldosa que ele faria, e ela sabia disso.
Laredo, a julgar por seu comportamento, estava pensando a mesma coisa.
─ Você ligou para o veterinário? - Ela perguntou.
Ele assentiu.
─ Ele está a caminho.

***
Ela envolveu os braços em volta de si mesma e estremeceu com a dor da égua. Gold ainda estava se
esquivando de Laredo e relinchando freneticamente. Perto, ela ouviu o potro da palomino choramingando,
como se entendesse que sua mãe estava doente. Ida se afeiçoou a égua desde que foi morar em Catelow.
Ela a montava ocasionalmente, como montava em Silver, outro cavalo de seu pequeno plantel de
palominos com uma bela crina branca, e pai do potro, mas os vaqueiros basicamente cuidavam dos cavalos.
Ela sempre gostou de cavalgar, mas agora tinha medo de animais grandes, medo de mais ferimentos que
precisassem de cirurgia. Foi tão doloroso...
O som de um caminhão parando do lado de fora chamou a atenção de todos. Um jovem veterinário
entrou, direto para o paciente.

***
Ele cumprimentou Ida, apresentou-se como Dr. Mulholland e passou alguns minutos examinando o
animal. E contraiu o rosto.
─ Bem, não encontro mais ferimentos, apenas esses cortes. Quem teria feito isso? - Ele acrescentou com
raiva, voltando-se para Ida.
─ Eu acho que alguém enviado pelo meu ex-marido, que acabou de sair da prisão. - Disse ela com firmeza.
─ Ele fez ameaças.
Os olhos do veterinário brilharam.
─ Ele deveria ser detido e colocado de volta na prisão.
─ Não conte com isso. - Ela disse tristemente. ─ Eu não posso provar que ele é o responsável. Ainda não,
pelo menos.
─ Quando você puder, ficarei feliz em testemunhar.
─ Obrigada. - Ela disse sinceramente.
Ele aplicou um anestésico local e suturou os cortes, então deu ao animal uma injeção de antibiótico,
para prevenir a infecção.
O veterinário suspirou enquanto guardava seu equipamento.
─ Se você não notar nenhuma melhora, ou se encontrar evidências de infecção, ligue para mim a qualquer
hora. Estou sempre disponível. Minha esposa Ashley também.
─ Um milhão de obrigadas. - Disse Ida com sinceridade. ─ Eu amo meus cavalos.
Ele sorriu.
─ Nós dois amamos qualquer coisa com pelo. Ou sem ele. - Ele riu. ─ Tenho um paciente que tem seis
metros de comprimento e pesa mais de cinquenta quilos.
─ Seis metros de comprimento! - Ela exclamou.
─ Ele é uma cobra albina. Criatura adorável, com escamas brancas e amarelas e olhos vermelhos.
Ela estremeceu levemente.
─ Eu não sou uma pessoa que gosta de réptil. Eu gosto de coisas de sangue quente. - Ela riu.
─ As pessoas são diferentes. - Ele disse e sorriu. ─ Ligue se precisar de nós, ok?
─ Combinado. E obrigada por vir tão rápido.

***
─ Ela vai ficar bem, eu acho. - Laredo disse a ela mais tarde, quando eles estavam sozinhos, em sua voz
profunda e calma. ─ Vou verificar aqui à noite. Mas nosso maior problema será quem fez isso. Você sabe
de quem eu suspeito.
Ela suspirou cansada.
─ Sim eu sei. Eu tenho a mesma suspeita. - Ela fez uma careta. ─ Por que alguém machucaria um animal
indefeso?
─ Alguns homens adoram fazer isso. Eles gostam da sensação de poder. Se excitam machucando os
animais. - Ele nem estava olhando para ela. Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos da calça jeans e ele
olhava sem ver o pasto, revivendo algum trauma de seu passado, talvez.
─ E quanto a Silver e os outros cavalos? - Ela perguntou tristemente.
─ Eu tenho uma câmera periférica instalada e o sono leve. Eu vou vigiar.
Ela assentiu.
─ Faça o que for preciso.
─ Farei.
Enquanto ela voltava para casa, se lembrou do que ele disse sobre homens que machucam animais,
amando o poder e se excitando por ele. Talvez algo tivesse acontecido com ele, em seu passado, que
provocouseu estranho comentário. Mas ela não queria ser pessoal, mesmo com um guarda-costas, então ela
tirou isso da cabeça.

***

Uma semana depois, houve um jantar para o qual foi convidada. Ela realmente não tinha planejado ir,
mas a anfitriã, Pam Simpson, foi um pouco insistente a respeito disso, suplicante.
─ Você tem que vir. Os números não batem e ninguém mais está livre. - Ela mentiu. ─ Por mim, Ida. Por
favor?
Ida sentiu essas palavras como pedradas. Pam não era maldosa, mas era óbvio que ela precisava de
uma mulher no lugar, não de uma amiga.
─ Isso foi indelicado. - Pam emendou. ─ Eu poderia encontrar outra pessoa, mas eu quero que você venha.
Você vem?
─ Serei acusada de tentar fisgar o marido de alguém e haverá uma batalha. - Suspirou Ida.
─ Não. Eu prometo, isso não vai acontecer. Por favor?
─ Oh, tudo bem. - Ida disse. ─ Mas eu realmente não posso ficar muito tempo. Estou com muita dor. Meu
cirurgião ortopédico me prescreveu anti-inflamatórios fortíssimos e não posso dirigir quando os tomo.
─ Nenhum problema! Vou enviar alguém para buscá-la e levá-la para casa. Que tal?
Ida cedeu. Ela riu.
─ Pam, você não tem jeito. Mas sim, eu irei.
─ Obrigada! Você não vai se arrepender. Sinceramente. - E desligou.

***
Então Ida colocou um lindo vestido de noite preto, midi, de mangas curtas, decote acima da
clavícula, que deixava suas belas costas nuas. Ela parecia elegante e bonita, seu lindo rosto realçado por um
batom vermelho e apenas um toque de pó. Ela colocou um presilha preta de strass em seu curto cabelo
preto e pegou sua pequena bolsa de noite.
Ela verificava sua pobre égua todos os dias. Gold, como era chamada, estava indo bem, mas ainda
nervosa, mesmo quando seu potro estava com ela. As feridas estavam sarando, mas lentamente. Os
traumas, Ida considerou, seriam piores do que os cortes. Pelo menos, Ida pensou, Gold viveria. Isso era o
suficiente.
Agora vinha a preocupação se Bailey era ou não responsável pelos ferimentos do animal. Mas Laredo
tinha a casa e o quintal vigiados e tinha câmeras externas em todos os lugares, junto com sensores que
alertariam qualquer pessoa que os ouvisse sobre intrusos. Bailey teria muita dificuldade em machucar
qualquer um de seus animais novamente, ela pensou com raiva. Mas ela gostaria que ele tentasse, para que
pudesse prendê-lo e mandá-lo de volta para a prisão.

***
Ela se perguntou quem Pam enviaria para buscá-la. Ela ficava nervosa com os homens. Pam sabia
disso, mas não o por quê.
A campainha tocou. Ela vestiu seu longo casaco de couro preto com dragonas* e cinto de couro e
abriu a porta.
* Dragonas
Ela estava sem palavras. Pam enviou um Jake McGuire bastante descontente para buscá-la. Ele
estava olhando feio quando ela abriu a porta, mas o olhar horrorizado no rosto de Ida, a beleza de seu rosto
e sua figura esguia naquele vestido, o deixaram momentaneamente sem fala.
─ Eu não pedi a Pam para mandar você. - Ela gaguejou. ─ Eu nem sei quem mais ela convidou. Ela disse
que me convidou apenas para fazer número. Eu nem queria ir!
O embaraço dela tocou algo dentro dele que estava congelado desde que Mina Michaels se casou
com Cort Grier. Ele estendeu a mão grande, magra e tocou os dedos em sua boca macia para interromper as
palavras.
─ Está tudo bem. - Disse ele suavemente.
Lágrimas, visíveis, arderam em seus olhos e ela as evitou.
─ Obrigada. - Ela quase engasgou.
Ele estava em transe. A reputação dela afastaria qualquer homem decente, mas quando estavam
sozinhos, ela não tinha essa reputação. Ela era um enigma.
─ É melhor irmos. - Disse ele gentilmente. ─ Cuidado. Há neve no chão.
─ Está bem. Eu não me importo com neve. O gelo me assusta.
─ Sem gelo. Ainda.
Ela trancou as portas e hesitou nos degraus. Ela usava saltos que mal tinham três centímetros de
altura, o único tipo que ela podia suportar por causa do seu antigo ferimento. A neve os cobriria.
Jake de repente a levantou em seus braços e começou a descer as escadas para seu carro, estacionado
bem na frente da casa.
Ida era como uma tábua em seus braços, assustada e muito tímida para lhe dizer por quê. Ele virou a
cabeça e olhou para ela quando chegou do lado do passageiro do grande Mercedes. Olhou diretamente em
seus assustados olhos azuis, os seus próprios olhos prateados entrecerrados e avaliadores enquanto a neve
caía em seu chapéu de aba larga e escorria para longe de seu rosto.
Ela apenas olhou para ele, vulnerável, frágil, hesitante.
─ Impostorazinha. - Disse ele no tom mais suave que ela já tinha ouvido dele.
─ O... o quê?
Ele apenas riu. A colocou no chão, abriu a porta e a deixou entrar. E não elaborou o que disse, mas
estava recebendo algumas informações interessantes sobre a divorciada liberal sem que uma palavra fosse
dita. Ela não agia como qualquer mulher promíscua que ele já conheceu, e houve algumas em sua
juventude. Ela era muito mais como uma atriz desempenhando um papel em público para impedir que as
pessoas vissem a mulher por trás dele. Ela estava ferida de alguma forma. Ele se perguntou quem a fez ter
tanto medo dos homens. Cindy havia dito algo sobre o segundo marido dela. Ida havia insinuado que o
homem era o responsável por seus ferimentos. Lembrar isso o irritou.
Ele se sentou ao lado dela, olhando de lado para se certificar de que o cinto de segurança dela estava
colocado antes de colocar o dele.
─ Há muitas pessoas lá? - Ela perguntou, para puxar conversa.
─ Cinco casais. - Disse ele. ─ Seremos em seis.
─ Pam não disse que tinha convidado você. - Disse ela após um minuto.
Seus lábios cinzelados franziram.
─ Idem.
Ela deu um longo suspiro.
─ Ela e Cindy, do café, são amigas. - Ele murmurou enquanto dirigia para a rodovia.
O que deixava as coisas muito claras. Cindy contou a Pam que Jake levou Ida para casa e voltou para
pegar o carro dela. As duas mulheres pressentiram um romance e Pam estava agindo para acelerar as
coisas.
─ Oh, Deus. - Ida disse preocupada, e suas mãos de dedos longos com unhas vermelhas esmagaram sua
pequena bolsa.
─ A fofoca só funciona se você permitir. - Disse ele.
─ É o que dizem.
Ele olhou para ela quando pararam em um semáforo. Ele podia ver o leve rubor em suas bochechas.
Isso o divertiu, mas ele não a deixou perceber.
─ Como está sua égua? - Ele perguntou, lembrando involuntariamente do belo cowboy que ela contratou.
─ Gold? Tivemos que chamar o veterinário. Alguém deixou profundas lacerações em toda a parte traseira
dela, em ambos os flancos. - Ela disse, sua voz cheia de indignação.
─ Como diabos isso aconteceu? Ela caiu?
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Não temos certeza de como aconteceu.
Ele deu a ela um longo olhar de lado antes de virar na estrada para a casa de Pam.
─ Não tem certeza?
─ Não posso falar sobre isso. - Disse ela. ─ Eu lamento muito.
Seu coração saltou. Ela estava dizendo algo sem expressar, e ele sabia disso. Alguém machucou o
cavalo. Quem? Por quê? Ele estava consumido por perguntas e ela estava ali sentada como a Esfinge, sem
dizer nada, sem revelar nada.
Ele parou na frente da casa de Pam. A neve da garagem estava limpa, então Ida entrou por conta
própria, com Jake logo atrás dela depois que ele estacionou o carro em frente à casa.
─ Bem-vindos! - Pam exclamou, abraçando Ida e Jake. ─ Estou tão feliz que vocês dois puderam vir.
Temos um jantar delicioso. O cozinheiro ficou na cozinha o dia todo.
─ Estou morrendo de fome. - Jake falou lentamente. ─ Bem, faminto por comida caseira, com certeza.
Tudo o que posso fazer são ovos mexidos e torradas.
─ Você não tem cozinheiro? - Pam exclamou.
─ Na verdade, não estou na cidade há tempo suficiente para contratar um. - Confessou. ─ Eu estive na
Austrália, ajudando Rogan a avaliar os danos e lidar com os incêndios. A chuva seria muito bem-vinda,
vou lhe dizer.
─ Todos nós ouvimos sobre os incêndios. - Pam disse enquanto os conduzia até a elegante sala de jantar. ─
Que tragédia. Muitos animais perdidos.
─ Tantos incendiários presos. - Respondeu Jake. ─ Espero que fiquem presos para sempre.
─ Eu também. - Ida disse calmamente.
Ele olhou para ela disfarçadamente, lembrando-se de seu velho gato e da égua ferida. Ela amava
animais.
─ Venham para a sala de jantar. Estamos começando um pouco mais cedo, mas tenho uma surpresa para
depois. - Pam disse com um olhar misterioso e divertido que Ida não viu.
─ Eu adoro surpresas. - Brincou Jake.
Pam riu suavemente.
─ Você realmente vai adorar esta. Eu prometo.
O jantar foi uma carbonara de frango e camarão finamente elaborada e um crème brûlée de
sobremesa.
─ Estava delicioso. - Ida disse à anfitriã com um sorriso caloroso.
Os outros casais ecoaram o sentimento. Dois maridos estavam olhando abertamente para Ida
enquanto suas esposas, um pouco menos atraentes do que a companheira de jantar de Jake, a olhavam
furiosamente. Ida cerrou os dentes. Pam percebeu para onde ela estava olhando e anunciou que todos se
retirariam para a sala de estar enquanto os pratos do jantar seriam retirados. Ela acrescentou que o café
estaria disponível para quem quisesse.

***
Jake foi menos do que amigável enquanto olhava para Ida disfarçadamente, notando os maridos que
estavam quase caindo um sobre o outro na tentativa de sentar ao lado dela.
Ele pegou o braço de Ida e, para irritação dos maridos, levou-a para um par de cadeiras estofadas
perto do sofá, todos os móveis voltados para um enorme piano de cauda reluzente em uma plataforma. O
piano era obviamente a peça central da sala. Todos sabiam que Pam estava tendo aulas. Jake se sentou ao
lado dela.
─ Obrigada. - Ela disse baixinho.
Ele olhou para ela e franziu o cenho. As mãos dela pousadas no colo tremiam. Seu rosto estava
pálido, sua postura rígida e retraída. Sua mente voltou para o cirurgião ortopédico que Ida estava vendo, a
enorme quantidade de antiinflamatórios que estava tomando. Algo havia acontecido com ela. Algo
traumático.
Automaticamente, sua grande mão deslizou sobre uma das dela, encontrando-a fria. A mão dele se
fechou em torno dos dedos dela, fazendo-a olhar para ele. Seus olhos prateados brilhavam ao registrar as
feições delicadas, a boca macia e pele sedosa.
─ Você está segura. - Disse ele baixinho, sem entender por que disse isso.
Ela estremeceu um pouco, como se não esperasse as palavras. E desviou o rosto, envergonhada.
A anfitriã entrou na sala, seguida por um garçom com uma bandeja de prata com o bule, as xícaras de
porcelana e condimentos.
─ Café para quem quiser. - Pam anunciou com um sorriso enquanto conduzia o garçom a uma linda
mesinha de mogno.
Ela virou.
─ Eu prometi a vocês uma surpresa. Mas vai ser uma surpresa para a minha convidada. - Ela olhou para
Ida. ─ Você poderia tocar? - Ela perguntou, indicando o piano de cauda.
─ Oh, por favor, eu realmente prefiro não... - Ida começou.
Pam gentilmente pegou a mão que estava sob a de Jake e puxou.
─ Vamos, covarde.
Ida enrubesceu. Mas Pam tinha sido gentil com ela, apesar de tudo.
O piano era lindo, Ida notou enquanto tocava nas teclas depois de posicionar o banco onde ela queria.
─ O que você vai tocar? - Pam perguntou, enquanto Jake olhava com choque mal disfarçado para sua
companheira de jantar.
Ida sorriu.
─ Esta é uma das minhas favoritas.
E quando seus dedos tocaram as teclas, a melodia maravilhosa de "Send in the Clowns"* de Stephen
Sondheim, do musical A Little Night Music de 1973, encheu a sala.
Os olhos de Ida fecharam enquanto ela tocava de ouvido, seu coração cheio, transbordando, enquanto
seus pensamentos se voltavam para o passado, quando sua mãe ouvia com uma expressão extasiada esta
música cantada por Judy Collins. Era a favorita de sua mãe.
Ela tocou com toda a sua habilidade, sentindo a música em cada célula de seu corpo enquanto ela
evoluía em um crescendo* e, lentamente, desaparecia em um silêncio atordoante.
Seus olhos abriram. Ela piscou. E de repente houve aplausos frenéticos, até mesmo de Jake.
─ Você toca lindamente. - Disse Pam. ─ Você deveria fazer isso com mais frequência.
Ida se levantou, meio constrangida. E sorriu.
─ Obrigada.
─ E agora que cansei de colocá-la na berlinda... - Provocou Pam. ─ café?
Ida riu.
─ Por favor.
***

─ Você estava tocando quando levei seu Jaguar para sua casa naquele dia. - Jake murmurou enquanto
dirigia para longe da mansão de Pam.
─ Estava. - Ela confessou. ─ O piano me ajudou a superar alguns momentos muito ruins.
─ Onde você aprendeu?
─ Meu marido, meu primeiro marido, me ensinou profissionalmente. - Ela respondeu com um sorriso
triste. ─ Era algo que compartilhávamos, o amor pela bela música. Ele tocava como um anjo. Eu adorava
sentar e ouvi-lo.
─ Você não se questionou quando estava casada?
─ Você quer dizer sobre a falta de contato físico? - Ela riu. ─ Eu me preocupei muito. Tinha certeza de que
cheirava mal, ou que não era bonita o suficiente, ou que ele simplesmente não se sentia atraído por mim.
Foi um alívio, de certa forma, descobrir a verdade.
─ Você não se importou? - Ele persistiu.
Ela observou a bolsa em seu colo.
─ As pessoas são o que são. - Disse ela simplesmente. ─ Ele era um homem bom e gentil que nunca me
bateu, desperdiçou o que tínhamos ou me envergonhou em público, como muitos homens fazem com suas
esposas. Era divertido estar com ele. Ele era muito educado. Gostávamos das mesmas coisas, tínhamos
gostos semelhantes na música, na política e até na religião. - Ela suspirou. ─ Ele foi o melhor homem que
já conheci, independentemente de como ele se sentia sobre seu lugar na vida.
Ele sorriu.
─ Você não é o que eu esperava.

*Send in the Clowns(Em tradução livre, Que Entrem os Palhaços). É uma balada lenta e tristonha, na qual a personagem Desiree reflete sobre as ironias e
desapontamentos de sua vida. O cantor brasileiro Renato Russo também gravou a canção, no idioma original, para o seu álbum The Stonewall Celebration
Concert, de 1994. O título refere-se a uma suposta frase do jargão circense e do teatro vaudeville, usada quando acontecia algum evento inesperado durante a
apresentação (normalmente, desastres como a queda de um acrobata ou um número excepcionalmente mal-apresentado). Para distrair a atenção do público,
enquanto o problema era resolvido, os palhaços entravam em cena. A mesma "diversão" (literalmente falando) ainda é usada hoje em dia
pelos palhaços de rodeio, quando o vaqueiro leva uma queda e a montaria precisa ser distraída enquanto ele se põe a salvo. Em 2019 a canção foi incluída no
filme Coringa.
*Crescendo é o aumento progressivo da intensidade sonora.
Ela deu de ombros.
─ Quem é, realmente?

***
Ele parou na porta da frente da casa dela.
─ Sua égua. Como foi ferida?
Ela ficou surpresa com a pergunta. E não conseguia pensar em uma mentira plausível.
─ Você acha que foi feito deliberadamente. - Ele persistiu.
Ela hesitou, respirou fundo e assentiu.
─ Por quem? - Ele perguntou.
Ela olhou para ele com olhos arregalados e aflitos à luz do GPS. E seu rosto contraiu.
─ Eu... não posso falar sobre isso.
─ Seu segundo marido. - Ele adivinhou. ─ O nome dele era Merridan?
─ Oh, não. - Ela disse rapidamente. ─ Era Trent. Quando me divorciei de Bailey, eu retomei o meu
primeiro nome de casada, Merridan. De qualquer maneira, a maioria de minhas ações, títulos e
propriedades ainda estavam com esse nome. Eu mudei meu testamento também. - Ela acrescentou
sombriamente, sem escolher suas palavras. ─ Para que, quando eu morrer, todos os meus bens sejam
divididos entre várias instituições de caridade. Ele não vai ganhar um centavo.
─ Há rumores de que ele estava na prisão.
Seu rosto pálido se voltou para o dele.
─ Sim, estava.
Sua expressão suavizou.
─ Então ele está solto agora, não é? - Jake perguntou. - Ela mordeu o lábio inferior. ─ Em busca de sangue
também, a menos que eu me engane.
─ Sangue. Dinheiro. É tudo igual para ele. - Disse Ida.
─ Você acha que ele machucou a égua?
─ Eu não sei. Laredo, o novo cowboy, instalou câmeras do lado de fora, só para garantir...
─ Ele é realmente um cowboy? - Jake perguntou.
Seus seios pequenos subiam e desciam com seu tormento interno.
─ Meus advogados sentiram que eu precisava de alguma proteção no rancho. - Ela deixou escapar.
Ele não disse uma palavra. Mas estava montando peças do quebra-cabeça em sua mente. Tudo ficou
claro rapidamente.
─ Por que ele estava na prisão, Ida? - Ele perguntou baixinho.
─ Informação confidencial. - Ela respondeu, sua voz quase inaudível. ─ Obrigada por me levar para a casa
de Pam e me trazer.
─ Obrigado e boa noite? - Ele murmurou.
Ela suspirou e forçou um sorriso.
─ Algo parecido. - Ela começou a abrir a porta do carro, mas foi lenta.
Ele se adiantou, abrindo a porta para ela. Ela teve dificuldades para sair. Suas costas doíam, assim
como o quadril. Ela cerrou os dentes de dor.
─ Você está bem? - Ele perguntou e parecia preocupado.
─ Vai chover, nevar ou algo assim. - Previu ela. ─ Meus ossos doem muito quando o tempo muda.
─ Uma reclamação que ouço dos meus cowboys. - Respondeu ele. ─ Eles têm todos os tipos de lesões.
Trabalhar perto do gado traz seus próprios perigos.
Ela assentiu.
─ Meu pai foi jogado de um cavalo quando era muito jovem. Ele quebrou uma costela, que perfurou um
pulmão. Eles mal o levaram ao hospital a tempo.
Ele a acompanhou até a porta.
─ Você vai ficar bem?
─ Uma almofada térmica e uma dose cavalar daquelas pílulas vão aliviar a dor. Obrigada por perguntar.
Ele inclinou o rosto dela para ele com uma grande mão sob o queixo.
─ Você realmente é linda. - Ele murmurou enquanto inclinava a cabeça, o hálito de café penetrando em sua
boca, segundos antes dos lábios cinzelados dele moverem-se para baixo e pousarem sobre os dela.
CAPÍTULO QUATRO
As únicas lembranças recentes de Ida sobre beijos eram mescladas com terror e dor. Ela estava
receosa com Jake dessa forma, e isso transparecia.
Ela se sentia tão rígida como uma tábua sob as mãos grandes e quentes que se acomodaram em seus
ombros enquanto os lábios duros dele roçavam os lábios macios dela.
Ele ergueu a cabeça e olhou nos olhos dela sob a luz da varanda. Seus próprios olhos entrecerrados
sob a aba larga de seu Stetson.
─ Você está com medo. - Disse ele suavemente. ─ Não há necessidade. Eu não tenho que bater em uma
mulher para me sentir homem. - Ele disse isso com total repugnância.
Os lábios dela se separaram soltando em um suspiro a respiração que estava presa.
─ Desculpe. – Ela disse. ─ Eu... eu tive alguns problemas.
─ Com um marido brutal.
Ela hesitou. Então assentiu.
─ Então você usa uma máscara, para manter os homens afastados, para que eles não saibam que você tem
medo deles.
Ela se mexeu inquieta sob suas mãos.
─ Geralmente funciona.
─ Você prejudicou sua reputação no processo. Isso não importa?
─ Quando voltei pra cá, eu estava... no momento, bastante desesperada. Onde quer que eu fosse, os homens
vinham até mim. Não em massa, mas mesmo um era assustador. Eu queria ficar sozinha. Tentei dizer a
eles, mas claro, ninguém acreditou. Então eu desenvolvi essa personalidade...
─ A prostituta feliz. - Ele murmurou e realmente riu suavemente.
─ Algo parecido. Sabe... eu sou tão boa na cama que julgo os homens, e quase todos falham, então eu
fofoco sobre eles. - Seus olhos azuis brilharam. ─ Realmente funcionou.
─ Quase bem demais. - Ele disse baixinho. E inclinou a cabeça. ─ Você tem medo de mim?
─ Agora não tanto.
Os dedos dele acariciaram a bochecha dela. Ela tinha uma pele encantadoramente sedosa, e quando
ela estava vulnerável assim, ela o fazia doer.
─ Isso é bom de ouvir.
Enquanto ele falava, seus dedos estavam brincando com os lábios dela, separando o lábio superior do
inferior, excitando-a.
Ela mal reconheceu as sensações. Só as teve realmente por Bailey antes de se casarem. Então, tão
rapidamente após a cerimônia, ele a brutalizou repetidamente durante seu breve casamento. Ela não
confiava no desejo. Já a havia traído uma vez.
Ela começou a recuar, mas Jake a acompanhou.
Ela colocou as mãos sobre a camisa dele e o empurrou com medo controlado.
─ Eu não vou machucá-la. Nunca. - Ele sussurrou, uma grande mão cobrindo a dela, onde descansava no
algodão macio da camisa dele.
Sob a camisa, ela podia sentir músculos rígidos e marcas curiosas. Ela lembrou que ele levou um tiro
e que nunca tirava a camisa quando estava com mulheres na luz. Ela corou com a lembrança, que a
envergonhou quando ele lhe contou isso. Havia algo macio sobre o músculo. Pelo?
Inconscientemente, suas longas unhas roçaram a pele dele enquanto ela estava ali no círculo de seus
braços, nervosa, mas confiante.
─ Eu realmente gosto disso. - Disse ele, sua voz profunda e rouca. ─ Portanto, pode ser uma boa ideia
parar.
─ Parar? - Ela olhou para cima com curiosidade nos olhos arregalados.
Sua mão pressionou a dela.
─ O que você está fazendo com as unhas.
Ela percebeu tardiamente que o estava excitando. E ofegou.
─ Oh, meu Deus!
Ele a impediu de recuar com uma risada suave.
─ Não entre em pânico. - Disse ele suavemente. ─ Não foi realmente uma reclamação. Estou sendo
protetor. Claro, isso é desaprovado em nossa esclarecida sociedade moderna.
─ Eu... não me importo. - Respondeu ela.
Ele inclinou a cabeça e sorriu.
─ Não?
─ Não sou muito convencional. Pelo menos, eu costumava ser assim. Sempre fui feliz, risonha. Eu amava a
vida... - Seu rosto ensombreceu.
Ele colocou o polegar sobre os lábios dela.
─ Memórias ruins podem ser substituídas por boas. - Ressaltou.
─ Boas? - Ela repetiu. Seu coração estava loucamente acelerado. Sua respiração estava saindo em pequenos
suspiros. Ele sabia?
Ele sabia. Ele era experiente e ela certamente não. Não nisso. Um marido que não gostava de
mulheres, um segundo que a fez ter medo dos homens. E esse era o resultado, essa mulher calada e inibida
que tinha medo do contato físico com um homem, qualquer homem. Mas ela estava reagindo a ele de uma
maneira normal e saudável, e ele adorou isso.
Ele curvou a cabeça novamente.
─ Você sabe... - Ele respirou contra seus lábios entreabertos. ─ a única coisa certa na vida é a incerteza.
─ Isso quer dizer? - Ela estava olhando para a boca cinzelada enquanto ela se aproximava, sem realmente
ouvir o que ele dizia.
─ Você nunca sabe o que esperar.
Ela acenou com a cabeça, mas ainda estava olhando para os lábios dele.
Ele sorriu gentilmente.
─ Você não ouviu uma palavra do que eu disse.
─ Não ouvi. - Disse ela, balançando a cabeça.
─ Que diabos. - Ele sussurrou, e seus lábios suavemente separaram os dela, hesitando quando ela enrijeceu,
aproximando-se quando ela relaxou. Os dedos dela cravaram em seu peito enquanto ele a puxava para mais
perto, enquanto sua boca ficava lentamente mais invasiva na escuridão fria, onde ele era o único calor.
Ele a sentiu ofegar e soube que isso não era motivado pelo medo. Mas um bom cavalheiro não se
precipita, e um homem inteligente não se torna excessivamente ardente com uma mulher ferida. Ele se
afastou dela, muito lentamente.
Ela estava olhando para ele, seu coração batendo como uma borboleta no peito, seus olhos azul-
porcelana vívidos, arregalados, fascinados.
Ele acariciou a bochecha dela.
─ O que você sabe sobre os homens, Ida... - Disse ele, observando-a reagir ao pronunciar seu nome pela
primeira vez. ─ pode ser escrito na cabeça de um fósforo.
Ela ainda estava olhando para ele, paralisada.
Ele a afastou suavemente.
─ Ligarei para você em alguns dias. Podemos sair para comer.
Ela enrubesceu.
─ Mesmo?
Ele olhou para ela e odiou os homens que a fizeram se sentir inadequada, quando ela era um tesouro
esperando para ser descoberto.
─ Mesmo.
Ela sorriu. E foi como se o sol nascesse.
─ Eu... eu gostaria disso. - Ela gaguejou.
Ele deu uma risadinha.
─ Eu conheço alguns restaurantes excelentes.
─ Eu amo boa comida.
─ Eu também. Você ainda tem meu número no celular, certo? - Ele perguntou de repente.
─ Sim.
─ Se precisar de ajuda, ligue. - Disse ele.
Ela respirou fundo.
─ Não quero envolver você em meus problemas.
O coração dele saltou. Era uma atitude muito protetora. E ele gostou.
─ Se eu estivesse mentindo, nunca teria oferecido. - Explicou ele.
─ Está bem então. Obrigada.
Seus olhos se entrecerraram.
─ Ou se você acordar gritando no meio da noite, pode me ligar. - Ele disse abruptamente. ─ Eu não durmo
muito.
Ela corou.
─ Cindy contou. - Ela disse sem graça.
Ele assentiu.
─ Ela se preocupa com você. - Seus olhos baixaram. ─ Deve ser uma péssima lembrança. - Disse ele após
um minuto. ─ Faremos algumas melhores. Jantar. Semana que vem. Mando uma mensagem.
Ela olhou para ele com uma sensação semelhante ao renascimento. Suspirou e sorriu.
─ Na próxima semana. - Ela sussurrou.
Ele estava tentado a puxá-la para perto e beijá-la até faze-la perder o fôlego, mas ela precisava de um
tratamento gentil. Ela estava traumatizada. Estranho, o quanto ele queria protegê-la. Era uma sensação que
não tinha desde que Mina fez parte de sua vida.
Ele sorriu, tirou o chapéu maliciosamente e voltou para o carro.
─ Tranque as portas. - Ele gritou.
Ela riu.
─ Tranque as suas também.
Ele ergueu a mão.
Ela entrou e trancou a porta, recostando-se contra ela com um longo e doce suspiro de puro prazer.

***
O prazer desapareceu em um instante quando seu celular tocou e ela o atendeu distraidamente.
─ Novo homem em sua vida, hein? - Veio uma voz ofensiva e zangada através da linha. ─ Bem, você me
pertence, e ele não a terá. Ninguém a terá.
─ Somos divorciados. - Disse ela friamente.
─ Um divórcio que você obteve por meio de fraude, me chantageando. - Ele retrucou. ─ Eu posso provar
isso, no tribunal. Você me deve!
Ela desligou na cara dele, chocada e apavorada. O telefone tocou novamente, mas ela correu para
uma mesa lateral onde guardava canetas e papel. Ela anotou o número e ligou para seu advogado, Paul
Browning.
─ Calma, agora. Está bem. Você tem o número do Laredo?
─ Laredo.
─ Seu guarda-costas. - Ele lembrou.
─ Oh. Ele. - Ela respirou fundo. ─ Sim.
─ Ligue para ele agora mesmo e conte o que aconteceu. - Respondeu ele. ─ Vou fazer as coisas girarem
aqui. Se Bailey Trent quer problemas, ele vai ter. Falo com você amanhã. Tente não se preocupar. As leis
existem para protegê-la. Existe uma ordem de restrição. Se ele ultrapassar a linha, voltará para a prisão. Ele
sabe disso.
─ Isso não o impede de me telefonar e me assustar. - Ela deixou escapar. ─ Eu deveria conseguir um novo
número!
─ Ele simplesmente descobriria. Ele tem um amigo que trabalha como rastreador para uma agência de
detetives. - Acrescentou. ─ Mudar o número não adianta.
─ Eu me sinto tão impotente. - Ela deixou escapar.
─ Tome um comprimido e vá para a cama. Certifique-se de que suas portas estão trancadas e durma com o
telefone celular. Não faria mal nenhum falar com o xerife local, também, e com o oficial da condicional do
caso do seu marido. Eu vou fazer o último. O oficial de condicional dele está em Denver, onde estou.
─ Obrigada, Paul. - Disse ela.
─ Nós cuidaremos de você. - Disse ele calorosamente. ─ Tente não se preocupar muito. É apenas uma
tática. Ele acha que vai assustá-la para que você lhe dê dinheiro.
Ela não disse a ele que estava funcionando. Mas estava.
─ Ok. - Disse ela em vez disso.
─ Entrarei em contato.
A linha ficou muda. Ela olhou em volta com olhos arregalados e assustados. Uma coisa era negar
dinheiro a Bailey, mas ela sabia muito bem do que ele era capaz. Ela nunca estaria livre dele? Ela se
esqueceu de mencionar sua égua ferida para Paul. Ela teria que ligar para ele pela manhã e contar.
Enquanto isso, ela ligou para Laredo no barracão e contou o que havia acontecido.
─ Ele pode chamá-la de tudo o que quiser. - Laredo falou lentamente. ─ Mas se ele colocar os pés no local,
vou colocá-lo na cadeia tão rápido que sua cabeça vai girar. Não se preocupe, Sra. Merridan. Estou
trabalhando.
─ OK. Obrigada. Ouça, você acha que Bailey machucou minha égua?
Houve uma pausa.
─ Bem, tudo é possível. Mas posso garantir que ele não esteve no rancho. Eu tenho câmeras colocadas em
locais estratégicos e as monitoro. Uh, elas foram colocadas na sua conta na loja de ferragens local. Espero
que esteja tudo bem.
─ Eu disse para você pegar o que precisasse. - Ela respondeu.
─ Tudo bem então. Vou ficar de olho. Boa noite.
─ Boa noite. Obrigada. - Acrescentou ela.
Ele desligou.
Ela vestiu a camisola e subiu na cama, ainda preocupada e chateada.
Sua mente voltou para o jantar, Jake McGuire e a maneira gentil e suave com que ele a beijou no
final da noite. Ela podia sentir a excitação nele, e compreendeu que não era essa a maneira que ele
normalmente agia com as mulheres. Ela não achou que ele seria brutal. Mas então, como ela poderia saber?
Os homens eram diferentes por trás de portas fechadas. Ela aprendeu isso da maneira mais difícil. Era uma
lição que nunca iria esquecer.

***
Na semana seguinte, Paul Browning tinha investigadores verificando as alegações dela sobre as
ameaças que Bailey tinha feito, e ela estava se preparando para um jantar com Jake.
Ele ligou para ela na quinta à noite.
─ Eu conheço este pequeno e agradável lugar de frutos do mar em Galveston. - Ele disse. ─ Fica a apenas
algumas horas de avião. Que tal na sexta à noite?
Ela riu, encantada.
─ Oh, eu adoro frutos do mar.
─ Eu também. Vou buscá-la por volta das cinco. Tudo bem?
─ Isso é bom. - Ela hesitou. ─ O que eu devo vestir?
─ O que quiser, mas vou de jeans e uma jaqueta quente. Eu odeio me vestir quando não preciso.
Ela sorriu.
─ Eu também. Calça jeans.
─ Até logo então.
Ela estava tentando pensar em uma resposta sofisticada, mas ele já havia encerrado a ligação. Ainda
bem, ela pensou. Ela não era muito boa em conversar.

***
Ele estava usando jeans, uma camisa de cambraia com uma jaqueta de pele de carneiro e um Stetson.
Parecia confortável, mas o jeans e as botas eram de grife, e a jaqueta de pele de carneiro provavelmente
custava mais do que os diamantes do anel de Ida.
─ Pronta? - Ele perguntou com um sorriso gentil.
─ Pronta. Alimentei Butler e deixei muita comida. Ele está sempre morrendo de fome.
Ele a ajudou a entrar no carro.
─ Como você acabou com um velho gato maltratado? - Ele perguntou.
─ Ele foi um resgate. - Disse ela. ─ Eu o encontrei na floresta com uma corda bem amarrada em volta do
pescoço e vergões por toda parte. Nunca soube exatamente o que havia acontecido. Ele estava com medo
de mim no começo. Mas eu o convenci a sair do esconderijo e o levei ao veterinário. Quando o trouxeram
de volta em boas condições, adotei-o e levei-o para casa. Ele tem sido minha família desde então.
─ Você gosta de animais.
Ela assentiu.
─ Que tal gado? - Ele disse.
Ela riu.
─ Bem, eu não tenho estado muito perto deles. Eu amo cavalos. Acho que o gado é semelhante. - Ela olhou
para ele. ─ Mas eu adoro um bom bife. - Acrescentou ela com tristeza.
Ele deu uma risadinha.
─ Eu não crio gado de corte na propriedade daqui, mas conheço alguns fazendeiros que fazem isso. - Seus
olhos encontraram os dela por alguns segundos antes de voltarem para a rodovia. ─ Eu posso fazer um bife.
─ Eu também. - Disse ela.
─ Eu posso deixar você comprovar isso um dia no futuro. - Ela hesitou. Ainda era cedo. ─ Sem pressa. -
Acrescentou ele, como se entendesse.
Ela soltou um suspiro.
─ Está bem então.
Eles dirigiram em silêncio até o pequeno aeroporto de Catelow. Tinha uma pista longa o suficiente
para acomodar um pequeno jato, mas era principalmente para aeronaves pequenas. Muitos criadores de
gado usavam aviões para ajudar a pastorear o gado. Ela se perguntou se Jake fazia isso.
Ele parou em frente a uma bela aeronave branca com linhas suaves e elegantes.
─ Meu Deus, é lindo. - Disse ela baixinho.
Ele arqueou as sobrancelhas.
─ Você não voou em jatos particulares com seu primeiro marido?
Ela riu suavemente.
─ Ele tinha medo de voar. Ele nem mesmo ia em um avião convencional se pudesse dirigir. Eu voei
comercial, quando estava na faculdade.
─ Você não tem medo de voar? - Ele perguntou.
Ela balançou a cabeça.
─ Quando eu era mais jovem, tínhamos um amigo que reconstruía aeronaves para revenda. Eu andei em
um artesanal e ia amarrada com uma corda. Foi uma das coisas mais emocionantes que já fiz. Bem, exceto
pelo paraquedismo.
─ Paraquedismo. - Ele olhou para ela. ─ Paraquedismo?
─ Oh, foi emocionante. - Disse ela, rindo, e seus olhos azuis brilharam de emoção. ─ Eu amei! - O sorriso
desapareceu lentamente. ─ Algo que nunca mais serei capaz de fazer, infelizmente. - Disse ela, e a tristeza
estava em seu rosto, assim como em seus olhos.
─ Eu não posso montar cavalos ariscos. - Disse ele, depois de apresentá-la ao seu piloto e eles se
prepararem para a decolagem.
Ela olhou para ele com curiosidade.
─ Você costumava fazer isso? - Ela perguntou.
Ele assentiu.
─ Ganhei cinturões por isso na minha adolescência. - Respondeu ele. ─ Depois do Iraque, tornou-se
impossível.
─ Você tem mais do que apenas cicatrizes de bala. - Ela adivinhou baixinho.
Ele hesitou. Suspirou. Então acenou com a cabeça.
─ Eu tenho uma haste de metal em uma das minhas pernas.
─ Oh, meu Deus. - Ela disse suavemente. ─ A dor deve ter sido terrível.
Ele olhou para ela, surpreso. Ele contou a uma namorada sobre isso, alguns anos atrás, e ela
comentou que a aparência deveria ser absolutamente horrível. Ida estava mais preocupada com o quanto foi
doloroso para ele.
Ele a estudou com curiosidade.
─ Como você sabe disso?
Ela fez uma careta.
─ Eu tenho uma haste de metal, uma placa e muitos parafusos que prendem tudo no lugar.
─ Meu Deus. - Ele sussurrou.
Ela olhou para a bolsa em seu colo.
─ Foram necessárias duas cirurgias... - Observou ela. ─ porque tive complicações. - Ela ergueu os olhos. ─
Quantas você fez?
─ Apenas uma. - Disse ele. ─ Mas o meu ferimento foi causado por estilhaços de um IED. Como você
conseguiu tanto dano no seu corpo?
Ela conseguiu sorrir.
─ Se você disser informação confidencial de novo, não vou alimentá-la. - Ameaçou ele, mas com os olhos
cintilantes.
Ela deu de ombros.
─ Eu tive um acidente.
─ Que tipo de acidente?
Ela olhou pela janela quando o avião decolou de repente e disparou para o céu.
─ Seu piloto é muito bom. - Ela comentou.
─ Sim, ele é. - Disse ele. ─ Eu geralmente voo sozinho, mas estou tendo alguns problemas com minhas
articulações. - Acrescentou ele secamente. ─ E você está mudando de assunto.
Seus olhos azul-porcelana encontraram os dele e ela sorriu.
─ Que bom que você notou.
Ele riu, derrotado.
─ OK. Eu entendi a ideia. Que tipo de frutos do mar você mais gosta?
─ Ostras fritas. - Disse ela imediatamente.
Ele riu.
─ Eu tenho que confessar, é o meu também.
─ Meu pai costumava fazê-las. - Lembrou ela com carinho. ─ Era uma das poucas coisas que ele sabia
cozinhar, mas era bom nisso. Minha mãe nos ensinou a cozinhar. - Seus olhos estavam tristes. ─ Eu ainda
sinto falta dela.
─ Sinto falta da minha própria mãe. Ninguém mais fica tão orgulhoso de suas realizações.
─ Ou o ama tanto. - Ela concordou. E suspirou. ─ Se ela tivesse morrido na cama ou em um naufrágio,
talvez fosse mais fácil de lidar. Mas cair de um navio no mar. - Acrescentou ela com tristeza. ─ Você
nunca sabe de verdade.
─ Gostei do que você fez. - Disse ele. ─ Colocar as coisas favoritas dela em uma urna e colocá-la sobre a
lareira. É uma solução nova.
─ Eu tinha esquecido que disse isso a você.
Ele inclinou a cabeça.
─ Como ela era?
─ Linda. - Ela disse, seus olhos brilhando com a lembrança. ─ Olhos azuis claros e cabelo preto, ondulado
e comprido que ia até a cintura nas costas. Ela estava sempre rindo.
Ele franziu a testa.
─ Então de onde vêm seus olhos azul-porcelana?
─ Do meu pai. - Disse ela, rindo. ─ Ele era loiro, acredite ou não.
─ A genética é fascinante.
─ Eu sei. Eu poderia ter tido filhos louros, se... bem, se eu tivesse casado com alguém com um gene
recessivo para olhos e cabelos claros... - Sua voz sumiu.
─ Você queria filhos.
Ela acenou com a cabeça, os olhos nas nuvens pela janela.
─ Uma esperança perdida. Um homem que não queria filhos e outro que estava a um passo de ser um
assassino. - Ela suspirou. ─ Sei escolher com certeza.
─ Todo mundo comete erros. - Observou ele.
Ela olhou para ele.
─ Até você?
Ele desviou os olhos. Uma grande e bela mão alisou o tecido de sua calça jeans, onde ele tinha uma
perna cruzada sobre a outra.
─ Eu era jovem, rico e nunca me ocorreu que algumas mulheres fariam qualquer coisa por dinheiro. Eu me
confundi com o que pensei ser uma garota pobre, mas honesta, que estava sendo atormentada por um
namorado. - Ele riu brevemente. ─ Acontece que o namorado era na verdade marido dela e seu parceiro no
crime. Ele tirou algumas fotos incriminatórias e tentou me chantagear.
Ela arregalou os olhos.
─ O que você fez?
─ Eu dei a ele o endereço de um dos melhores tablóides.
─ O que? - Ela explodiu e riu.
Ele sorriu.
─ Ele ficou em estado de choque. Também pedi cópias para emoldurar e colocar na parede de casa. Ele
estava muito inquieto. Ela também.
─ Você deveria ter dado o nome deles àquele programa que mostra os criminosos especialmente burros.
─ Eles eram jovens e estúpidos. - Ele disse simplesmente. ─ O advogado da minha mãe conseguiu
convencê-los de que seria mais seguro esquecer tudo e entregar os negativos. O que eles fizeram.
Ela estava ouvindo, fascinada.
─ O dinheiro mudou de mãos?
Ele balançou a cabeça.
─ Eles ficaram aliviados demais por não irem para a prisão para pensar em exigir dinheiro.
─ Meu Deus! - Ela exclamou.
─ Pedi ao meu advogado que recomendasse aconselhamento e paguei por isso. O jovem é agora um
advogado em ascensão em um escritório de advocacia em Houston, e a jovem se formou com honras e
agora leciona história em uma escola secundária em San Antonio.
Ela assobiou.
─ Minha mãe sempre procurou o lado bom das pessoas, não o lado ruim. - Disse ele. ─ O aconselhamento
foi ideia dela. Ela manteve contato com os dois enquanto iam ao psicólogo. Aprendi muito com ela sobre
como lidar com as pessoas.
─ Como ela morreu? - Ela perguntou suavemente.
Seus olhos estavam feridos antes que ele os desviasse.
─ Ela era uma cavaleira* experiente. E tinha um cavalo que amava profundamente. Mas estava chovendo
no dia em que ela saiu em sua montaria favorita. O cavalo perdeu o equilíbrio em uma colina e rolou sobre
ela. - Ele estremeceu. ─ Ela adorava Clydesdales.*
─ Uma das maiores raças de cavalos. - Ela disse.
─ Sim. Eu queria que o cavalo fosse abatido. Eu estava de luto, furioso, bêbado como um gambá. Meu
capataz escondeu o cavalo até que eu me acalmasse o suficiente para ouvir a razão. Ele era um ministro
leigo em seu tempo livre. - Ele sorriu. ─ Ele me sentou e me explicou a vida. As coisas acontecem por uma
razão. Todos nós morremos. Ninguém sai vivo. Temos um propósito. Quando é a nossa hora, é a nossa
hora. Coisas assim. - Ele deu de ombros. ─ Eu finalmente escutei. Ele era um bom homem.
─ Ele ainda é seu capataz?
Ele balançou a cabeça.
─ Ele era como eu. Patriota. Nos alistamos juntos. Eu voltei para casa. Ele não.
Ela estremeceu.
─ Eu sinto muito.
─ Eu também.
Ela franziu a testa, olhando para ele.
─ Você se alistou depois de perder sua mãe. - Ela adivinhou.
Ele assentiu.
─ Seu pai não se opôs?
Seu rosto endureceu.
─ Eu não falo do meu pai. Nunca.
─ Oh. Desculpa.
Ele deu um longo suspiro.
─ Foi há muito tempo. Exceto pelas feridas de guerra que doem quando chove, eu já superei isso.
Ela sorriu tristemente.
─ Eu gostaria de poder dizer isso. - Sua mão foi involuntariamente para o quadril.
Ele viu isso.
─ Está doendo?
Ela assentiu.
─ Você tem algo para tomar para isso?
─ Ibuprofeno. - Respondeu ela. ─ Mas me deixa sonolenta e prefiro não tentar comer enquanto estou
dormindo.
Ele deu uma risadinha.
─ Idiota. Como você pode desfrutar de comida quando está com dor?
─ Eu, geralmente não tenho muito apetite.
─ Você tem o ibuprofeno na bolsa?
Ela fez uma careta.
Ele alcançou um compartimento ao lado dele e tirou um refrigerante.
─ Tome a pílula.
Ela suspirou.
─ Eu gostaria, mas não me atrevo a tomar, exceto com comida.
─ Eu esqueci.
─ No entanto, vou tomar o refrigerante. - Acrescentou ela com um sorriso. ─ Estou com sede.
Ele deu uma risadinha.
*O feminino de cavaleiro é cavaleira, substantivo utilizado para se referir à mulher que monta a cavalo. A palavra amazona também pode ser utilizada como
feminino de cavaleiro, no entanto esse termo era mais utilizado para designar a mulher que montava a cavalo sentada lateralmente com uma saia longa, na época
medieval. Amazona era, também, o nome da saia utilizada nessa ocasião.
*Clydesdale é uma raça de cavalo de tração originária da Escócia. Semelhante ao cavalo Shire, porém com pernas mais longas, foi criado no sudeste da Escócia,
na metade do século XVIII, especialmente para transportar todo e qualquer tipo de carga pesada. É um animal ativo e forte, de temperamento disposto e
equilibrado. 
─ Eu também. - Ele entregou a ela a lata e pegou outra para ele mesmo.
─ Você não bebe cerveja? - Ela perguntou, observando que o que ele escolheu para si mesmo não era
alcoólico.
─ Odeio álcool. - Disse ele, e seus olhos refletiram isso.
Ela se perguntou sobre a violência em seu tom quando ele disse isso e se perguntou se o pai dele era
alcoólatra. Não podia ser sua mãe, ele a amava profundamente. Tinha que ser o pai de quem ele não falava.
Bem, afinal, ela era reticente sobre o ex-marido e a maneira como ele a tratava. Era muito cedo em
seu relacionamento para segredos enterrados.
─ Eu não gosto muito de bebidas alcoólicas também. - Disse ela tardiamente. ─ Não gosto do sabor e não é
uma boa ideia tomá-la quando estou usando antiinflamatórios fortes. Seria como beber ácido de bateria. -
Acrescentou ela com um sorriso divertido.
Ele retribuiu o sorriso.
─ Bom argumento.
─ Você toma antiinflamatórios? - Ela perguntou.
Ele assentiu.
─ Poucos. Meus ferimentos não foram nas articulações.
Um lado de sua linda boca puxou para baixo.
─ Os meus foram. Meu quadril e minha coxa. Também machucou meu joelho, mas não o suficiente para
precisar de reconstrução.
Ele franziu a testa.
─ Deve ter sido uma lesão e tanto.
Ela se lembrou da queda, da agonia que sentiu até ser encontrada e transportada para o hospital. Em
seguida, as intermináveis horas de exames, cirurgia e recuperação, e então mais cirurgia devido às
complicações após a primeira cirurgia.
─ Foi. - Ela disse veementemente.
Seus pálidos olhos prateados se entrecerraram. Ela parecia ter visitado o inferno e voltado com
memórias que não desapareceriam. Ele sabia como era isso. Mas o perturbou que alguém a tivesse
machucado deliberadamente. Ele tinha quase certeza de que foi o segundo marido dela, que agora estava
fora da prisão e atrás dela.
─ Ele bateu em você com alguma coisa? - Jake perguntou abruptamente. ─ Para causar esses ferimentos. -
Acrescentou.
Ela encontrou seus olhos.
─ Não.
─ Então como?
Ela engoliu em seco.
─ Ele me levantou e me jogou de lado por sobre a mureta de um estacionamento, no chão. - Ela disse
finalmente.

CAPÍTULO CINCO
Jake a olhou com horror absoluto.
─ Ele o quê? - Ele explodiu, enfurecido.
Ela deu de ombros.
─ Ele disse que eu merecia. Fomos a uma festa e o marido da anfitriã dançou comigo. Ele era vinte anos
mais velho do que eu. Apenas um homem muito bom, só para deixar claro. Bailey estava lívido. Estávamos
casados há menos de uma semana, na época.
─ Você o fez ser preso?
─ Ninguém viu. - Disse ela simplesmente. ─ Ele esteve no hospital a cada minuto, dizendo a todos o quão
culpado se sentia por eu ter caído acidentalmente e ele não ter conseguido me segurar a tempo.
─ Que belo trabalho. - Ele murmurou.
Ela suspirou.
─ Ele era muito bom em mentir. Ele podia convencer as pessoas de que preto era branco. Eu não tive
reação. Eu estava tão louca por ele que mal podia acreditar que ele tinha feito isso. Mas os sentimentos que
eu tinha por ele já se foram, desapareceram completamente. Ele me torturou de maneiras que nem gosto de
lembrar. Depois da queda, quando saí da reabilitação, estava tentando me recuperar da cirurgia, mas isso
não me salvou. Então eu tive que fazer outra cirurgia, para reparar o novo dano. - Seus olhos se fecharam.
─ Eu tentei deixá-lo uma vez, mas ele me trouxe de volta e fez ameaças violentas sobre o que faria se eu
tentasse novamente. Eu estava com medo dele. Eu sabia que ele falava sério. E estava tão fraca e com tanta
dor que não tive forças para tentar novamente. - Ela olhou para suas mãos. ─ Alguns meses depois de nos
casarmos, sorri para um homem em um restaurante que foi gentil o suficiente para pegar a bolsa que eu
acidentalmente deixei cair. Quando entramos no estacionamento, Bailey puxou o punho para trás e me
deixou sem fôlego. Mas desta vez houve testemunhas. Eles tiveram que tirá-lo de cima de mim. - Ela
acrescentou, tremendo. ─ Achei que ele fosse me matar. A polícia veio. Ele foi preso e levado para a
prisão. Recusei-me a pagar a fiança dele. Liguei para os advogados do meu primeiro marido e eles trataram
do divórcio. - Seus olhos se fecharam. ─ Tenho medo dos homens desde então.
─ Não é de admirar. - Ele ficou indignado. ─ Que tipo de canalha faz isso com uma mulher? - Ele
perguntou com raiva.
─ Um covarde. - Ela respondeu simplesmente. ─ Ele tinha medo de outros homens. Não dizia uma palavra
para alguém que o deixava louco. Ele voltava para casa e descontava em mim. Pelo menos houve
finalmente uma prova do que ele estava me fazendo. Foi um grande alívio poder dormir e não me
preocupar se eu viveria até de manhã.
─ Eles nunca deveriam tê-lo deixado sair da prisão. - Ele disse entredentes.
─ Ele cumpriu a pena. Eles tiveram que deixá-lo sair. - Ela olhou novamente para fora da janela. ─ Pelo
menos tenho pessoas cuidando de mim no rancho.
─ Sim.
─ Sinto muito. - Disse ela, observando o rosto tenso e os olhos brilhantes dele. ─ Eu estraguei nosso jantar
antes mesmo de começarmos.
Seus olhos encontraram os dela.
─ Sinto muito pelo que ele fez com você. - Disse ele calmamente. ─ Estou feliz por você me dizer a
verdade.
Ela sorriu tristemente.
─ Eu não minto bem. Fui criada para acreditar que mentiras são más.
Ele deu uma risadinha.
─ Fui criado assim também, mas às vezes mentir é uma virtude incomparável. Quero dizer, se uma mulher
perguntar a você se um vestido a faz parecer gorda, e realmente fizer...
Ela começou a rir.
─ Acho que esse seria um daqueles momentos em que mentir é a escolha certa.
─ Certamente. - Seus olhos brilharam. ─ Eu gosto de ouvir você rir.
Ela enrubesceu.
─ Eu não faço mais isso.
─ Você vai fazer quando provar esses frutos do mar. Na verdade, estamos entrando no aeroporto de
Galveston agora. - Disse ele, indicando a vista pela janela enquanto o piloto se virava em direção à pista de
pouso.
─ Ostras fritas. - Disse ela, quase sonhadora.
─ Sem mencionar os melhores hush puppies* em três estados.
─ Mal posso esperar!
Ele deu uma risadinha.
─ Eu também.

***
O restaurante era um lugar minúsculo em um Centro Comercial. Uma limusine estava esperando por
eles na pista de pouso. O motorista os deixou sair na porta da frente e foi estacionar para que ele pudesse se
acomodar com um bom livro até que fosse chamado.
─ Eu adoro isso. - Comentou Ida, com os olhos nas redes arrastão, pequenas âncoras e outras coisas
náuticas que adornavam as paredes.
─ Eu também. É um dos meus restaurantes favoritos. Muitas pessoas também não sabem sobre ele, então
não está superlotado.
─ Eu gosto mais disso. - Ela comentou quando a garçonete veio conduzi-los até uma mesa em um canto.
*Hushpuppies são salgadinhos típicos da culinária do sul dos Estados Unidos tradicionalmente servidas para acompanhar peixe frito.  Supostamente o nome se
deve a alguém que estava fritando peixe e começou a ficar incomodado com cachorros latindo então rapidamente preparou umas bolinhas com a farinha, fritou-
as e atirou-as aos cachorros com a expressão "Hush, puppies!" A palavra "hush" na língua inglesa é o equivalente à expressão portuguesa "Calado!" e "puppy" é
um nome popular para filhotes de cachorro ou de outros animais. 
A receita básica moderna consiste numa mistura de farinhas de milho e de trigo com ovos batidos, fermento em pó, sal e leite ou leitelho, numa
consistência que permita modelar pequenas bolas com duas colheres e fritá-las em óleo quente, mas não demasiado quente, para que o interior das bolas fique
bem cozidas. No entanto, existem muitas variantes à receita básica, que incluem vários tipos de pimentas, cebola, cebolinha,
alho, camarão ou caranguejo, queijo ralado, e milho ralado ou cerveja para substituir o leite, arroz cozido, ervilhas ou feijões,
Ela anotou o pedido de bebidas, que era café, e ofereceu os cardápios enquanto ia buscar o café.
─ Decisões, decisões. - Disse ela, balançando a cabeça enquanto lia o menu.
─ Ostras. - Ele a lembrou com uma risada.
Ela suspirou.
─ Sim. Ostras. Mas há muito mais!
Ele a viu se entusiasmar enquanto olhava o menu com prazer. Foi uma coisa tão simples trazer aquele
sorriso para seu rosto adorável. Ele gostava da mulher que estava conhecendo. Esperava não ser enganado
pelo charme dela. Era difícil para ele confiar nas pessoas. Ela realmente sabia muito pouco sobre o passado
dele, embora ainda houvesse algumas pessoas em Catelow que conheceram seu pai. Seu rosto endureceu
apenas com a memória. Ele nunca perdoou seu pai pelo que aconteceu. E tinha certeza de que nunca o
faria.
Ida não entenderia como ele se sentia. Os pais dela eram, aparentemente, muito apaixonados e felizes
juntos. As primeiras lembranças dele eram de brigas violentas que se tornavam físicas. Eventualmente, elas
se tornaram tragicamente físicas. Ele sabia mais sobre violência doméstica do que ela pensava. Mas ele não
confiava nela o suficiente para contar. Ainda não. Ele guardava segredos.
Ela espiou por sobre o cardápio e viu a raiva e a mágoa na expressão dele antes que ele pudesse
disfarçá-los.
─ Eu disse algo errado? - Ela perguntou imediatamente, presumindo que se ele estava com perturbado, ela
teria causado isso.
Que vida horrível ela teve, ele pensou.
─ Não tem nada a ver com você. - Disse ele suavemente. ─ Más lembranças.
─ Oh. - Ela sorriu fracamente. ─ Eu também tenho isso.
─ Onde ele está agora? Seu ex-marido.
Seu rosto ensombreceu.
─ Ele está em Denver. Meus advogados o estão mantendo sob vigilância. Apenas por precaução.
─ Você quer dizer, apenas para o caso de ele vir atrás de você. - Ele adivinhou.
Ela suspirou.
─ Algo parecido.
─ Ele falou com você?
─ Se você pode chamar ameaças de falar. - Ela concedeu. ─ Ele pensa que porque eu tenho muito dinheiro,
ele tem direito a uma parte dele.
─ Depois do que ele fez com você? - Ele perguntou, assustado.
─ Oh, para ele, foi tudo culpa minha. - Respondeu ela. ─ Eu fiz com que ele perdesse a paciência ao flertar
com outros homens. - Ela olhou para ele calmamente. ─ Eu nunca fazia isso deliberadamente naquela
época. Eu tinha muito medo de Bailey. Só faço isso agora para evitar que os homens cheguem perto
demais. Geralmente funciona.
─ Geralmente. - Ele sorriu.
─ Há sempre uma rara exceção, como aquele homem na festa que Pam Simpson deu para Mina Michaels,
antes de ela se casar com Cort Grier. - Acrescentou ela. E fez uma careta. ─ Achei que era seguro flertar
com ele, porque era casado. Sua pobre esposa! Ela estava chorando e eu me senti muito mal com isso. Eu
não sabia o que dizer a ela, como explicar o que tinha feito. Eu realmente poderia ter chutado o marido
dela. - Ela acrescentou friamente.
─ Você criou uma reputação para si mesma. - Ele a lembrou. ─ É difícil para as pessoas não acreditarem
nela.
─ Eu estava com medo. - Ela disse tristemente. ─ Com tanto medo de que se eu encontrasse outra pessoa,
fosse tentada novamente. Houve um jornalista, depois que me divorciei de Bailey. - Lembrou ela, sem
notar a repentina postura rígida do homem à sua frente. ─ Ele era gentil e doce, mas gostava do perigo. Ele
se sentia atraído por zonas de combate e disse que nunca poderia se contentar com um trabalho das nove às
cinco. - Ela baixou os olhos. ─ Eu fugi. Eu estava muito atraída por ele, mas havia perdido a capacidade de
julgar o caráter e não conseguia confiar em meus próprios sentimentos. - Ela ergueu os olhos. ─ Ele foi
morto em uma das incursões no exterior, seguindo uma matéria para sua revista. Então, talvez tenha sido
melhor assim, a maneira como as coisas aconteceram.
Ele tocou sua xícara de café quente sem olhar para ela. Havia sentido uma onda de ciúme. E não
estava feliz com isso.
─ Você andou com Cort Grier antes dele se envolver com Mina.
Ela riu.
─ Sim. Ele não era o que eu esperava. Ele era legal. Ele nem mesmo deu em cima de mim. Nós apenas
conversávamos sobre a vida e jogávamos xadrez ocasionalmente.
Ele arqueou ambas as sobrancelhas.
Ela viu isso.
─ Sim, eu sei, eu caio na cama com todo homem que convida, e Cort era reconhecidamente um playboy.
─ Eu não quis insultá-la. - Disse ele. ─ Mina ainda é uma ferida para mim. - Ele fez uma careta e tomou
um gole de café. ─ Eu esperava que ela não estivesse falando sério sobre ele. Ela gostava de mim, mas não
da maneira que eu queria que ela gostasse. Ela era a mulher mais singular que eu já conheci.
─ Ela é realmente especial. - Disse ela, lutando contra a onda de ciúme. Ele não tinha superado Mina de
jeito nenhum, e era melhor ela se lembrar disso. ─ Eu li sobre algumas de suas façanhas. Espero que Cort
consiga mantê-la perto de casa.
Ele deu uma risadinha.
─ O bebê está fazendo isso. - Disse ele. ─ Ela realmente não quer se arrastar pela selva com uma criança
para criar. Então, seus mercenários saem em missões, voltam e contam a ela tudo sobre elas. - Ele balançou
a cabeça. ─ Eu os conheci no batismo. Eles são um ótimo grupo. A maioria tem família própria.
─ Engraçado, você não pensa em mercenários tendo famílias. Quer dizer, é uma profissão de alto risco,
certo?
─ Altíssimo risco. - Seus olhos assumiram um aspecto distante, repleto de lembranças de horror. ─
Encontramos um deles em um posto avançado que estávamos ocupando. Os insurgentes tinham... - Ele
parou abruptamente antes de contar a ela o que tinha sido feito ao homem. Não era uma conversa adequada
para quem não tinha estado em combate.
─ Foi algo muito terrível, não é? - Ela perguntou.
─ Muito terrível. - Ele admitiu.
Ela sorriu.
─ Obrigada por não compartilhar isso. Eu não tenho um estômago forte.
─ Você deve ter, para ser capaz de entender a mecânica quântica. - Ele brincou.
Ela riu.
─ É principalmente matemática. - Ela ressaltou. ─ Eu tinha um bom cérebro para isso.
─ Eu também, anos atrás. Agora minha cabeça está cheia de taxas de ganho de peso e estratégias de
marketing.
─ Ainda é matemática. - Ela o lembrou.
─ Sim é. - Ele a estudou em silêncio. ─ Você ainda pode ensinar.
─ O quê, mecânica quântica? - Ela brincou.
─ Não. Matemática no ensino médio. Ou ciências. Ou ambas.
Ela fez uma careta.
─ Isso exigiria mais educação, e eu não quero me enterrar na Faculdade. Gosto de ter tempo livre. Talvez
seja frívolo, mas passei muitos anos no que parecia ser um confinamento.
─ Você gosta de viajar?
─ Oh, sim. - Ela disse rapidamente. ─ Quando me casei com Charles, subi Machu Picchu no Peru,
caminhei por toda Chichen Itza no México, segui os passos de Zane Gray no Arizona, estive nas ruínas do
Grande Zimbabwe na África, e tracei O avanço de Rommel na Argélia...
─ Uau. - Ele disse imediatamente. ─ Rommel?
─ Segunda Guerra Mundial, campanha no Norte da África, 1942. - Disse ela.
─ Bem maldição!
Ele estava xingando, mas sorrindo.
─ É um interesse seu? - Ela perguntou.
─ Meu avô estava com a divisão de Patton na África. Rommel já havia voltado para a Alemanha, doente,
mas suas estratégias ainda estavam sendo seguidas. Meu avô voltou cheio de histórias sobre Rommel
contadas por outros soldados e prisioneiros alemães. Isso me fascinou quando menino.
Ela riu.
─ Meu pai era um fã de história. Um de seus parentes, não tenho certeza de qual, lutou no Norte da África
também. - Ela sorriu. ─ Mundo pequeno.
─ É, não é? - Ele riu.
Eles terminaram o jantar. Então Jake pediu ao motorista que os levasse até um longo trecho de praia
deserta. Eles desceram, enquanto o motorista se acomodava com seu livro.
Ida tirou os sapatos e caminhou descalça na areia, os olhos nas ondas brilhantes, a meia-lua brilhando
ao longe.
─ Os piratas devem ter navegado aqui no passado distante. - Ela murmurou enquanto caminhavam.
─ Sem dúvida. Hoje em dia, é bom para a pesca em alto mar.
─ Eu nunca pesquei. Não consigo me imaginar tentando puxar algo que pesa 26 ou 27 quilos.
Ele olhou para ela. Ela tinha um corpo pequeno, embora tivesse altura média, e seus ferimentos
nunca permitiriam que ela fizesse algo tão extenuante como pescar em alto mar.
─ Seria difícil para você. Esses peixes lutam e é preciso muita força para pegar um.
Ela se virou para ele.
─ Você conseguiu. - Ela adivinhou.
Ele deu uma risadinha.
─ Eu consegui. Puxei um marlin que pesava muito mais do que 15 quilos. No momento em que o coloquei
a bordo, eu estava suando, tremendo, com os músculos tensos e falando meus melhores palavrões.
─ Você o empalhou? - Ela perguntou.
─ Eu o devolvi ao mar.
─ Mesmo?
Ele riu da expressão dela.
─ Eu não guardo troféus.
Ela sorriu.
─ Eu sabia que você era um homem bom.
─ Bom. - Ele revirou os olhos e começou a andar novamente.
─ Não é um palavrão. Ressaltou ela. ─ Você prefere ser considerado um canalha?
─ Na minha experiência, os canalhas se divertem muito mais do que os homens legais.
─ Eu não sei. - Ela suspirou. ─ Já estou farta de canalhas.
Ela avançou, um pouco cautelosamente, mas o ibuprofeno estava fazendo efeito. Então ela dançou
dentro e fora da espuma das ondas, rindo, seu rosto quase radiante ao luar, sua linda figura delineada sem o
casaco que ela havia deixado no carro, por que realmente não precisava dele aqui. Mas a água ainda estava
fria, porque era outubro.
─ Você vai pegar um resfriado. - Disse ele. ─ Está muito frio para entrar na água.
─ Desmancha prazeres. - Ela brincou. ─ Eu estou me divertindo. Não estrague isso.
─ Quando você estiver espirrando e tossindo...
─ Eu sei, não vou culpar você. Não se preocupe. Eu não vou. - Ela riu. ─ A vida é curta. - Ela disse,
dançando de volta na água. ─ Vou vivê-la ao máximo. Ninguém está garantido amanhã, sabe disso.
Ele sentiu uma estranha sensação de afinidade com ela. Ele perdeu a mãe, a quem amava
profundamente. Ela perdeu seus próprios pais. Ambos eram órfãos. Órfãos adultos sem ninguém para
compartilhar seus triunfos e tragédias.
Ela olhou para ele, curiosa.
─ O que há de errado?
─ Eu estava pensando que nós dois somos órfãos.
Ela parou de brincar nas ondas e voltou para ficar bem na frente dele, segurando os sapatos em uma
das mãos.
─ Somos, não é?
Ele se curvou, emoldurando seu rosto bonito e corado com suas mãos esguias e bonitas.
─ Sozinhos no escuro... - Sua boca roçou a dela com uma ternura que encheram os olhos dela de lágrimas.
Ela ficou muito quieta, para que ele não parasse. Mas ele sentiu as lágrimas em seus lábios e ergueu a
cabeça, chocado.
─ Por quê? - Ele perguntou, preocupado por estar indo rápido demais.
─ Eu não estou acostumada a isso.
─ Acostumada a que, Ida?
Ela engoliu em seco.
─ Ternura.
Ele sorriu.
─ Você pode não acreditar, mas eu também não.
─ Aposto que você deixa rastros de mulheres com o coração partido para trás.
─ Eu costumava. Não mais. - Ele suspirou. ─ Estou cansado de comprar falso afeto com presentes caros.
Sua pequena mão foi até a bochecha dele e a puxou para baixo. À luz da lua, ela podia ver a angústia
em seu rosto tenso. Tinha certeza de que ele disfarçava isso com humor com a maioria das pessoas. Mas
com ela, ele podia baixar a guarda. Isso a deixou orgulhosa.
─ Nós dois vivemos tragédias. - Disse ela.
Ele pegou a mão dela e a pressionou contra a boca. E franziu o cenho.
─ Como você sabe?
─ Você tem um rosto expressivo, quando não está fingindo. - Disse ela simplesmente e lhe deu um sorriso
triste. ─ Acho que as pessoas que conheceram a tragédia podem perceber isso em outras pessoas.
─ Poucos viram em mim. - Disse ele secamente. Nem mesmo Mina percebeu, e ela era sensível.
─ Ou em mim. - Ela concordou. ─ A maioria das pessoas já tem traumas suficientes em suas próprias
vidas, sem adicionar as minhas lembranças ruins a elas.
Ele sorriu fracamente, fascinado por ela.
─ É assim que me sinto.
Os dedos dela traçaram a boca cinzelada dele. Ele a fascinava.
─ Eu não acho que me senti segura com um homem desde que meu primeiro marido morreu. - Disse ela em
um tom suave e rouco.
Ele olhou para ela. Nenhum homem queria que uma mulher se sentisse apenas segura. Ele queria que
ela se sentisse apaixonada, excitada, todas essas coisas.
Ela riu suavemente.
─ Má escolha de palavras. - Disse ela, quando percebeu a irritação que ele não se incomodou em esconder.
─ Deixe-me reformular isso. Você é o primeiro homem de quem não tenho medo.
─ Oh.
Era apenas uma palavra, mas seu rosto relaxou e perdeu a raiva rapidamente.
─ Eu sei que você não vai me machucar. - Acrescentou ela. E sorriu. ─ Pode não parece muito para você,
mas é um mundo de diferença para mim.
Ele inclinou a cabeça.
─ Você não flerta comigo. - Ressaltou.
─ Você perceberia se eu o fizesse. - Respondeu ela. ─ Você é um homem prático na maioria das vezes.
Duro, quando tem que ser, mas compassivo e gentil.
Havia um leve rubor em suas maçãs do rosto salientes.
─ Agora meti os pés pelas mãos novamente. - Ela suspirou, fazendo uma careta.
─ Você vê profundamente. - Ele disse simplesmente.
─ Eu entendo. - Respondeu ela. E sorriu para ele. ─ Sem espiar por baixo da máscara que você usa, certo?
─ Certo. - Ele respondeu. Ela o deixava desconfortável com sua percepção acurada. Ele não queria as
pessoas por perto. Não emocionalmente perto. Seu único lapso foi Mina, a quem ele amava.
Ela observou as expressões dele com fascinação.
─ Você não quer ninguém próximo emocionalmente, não é? - Ela perguntou lentamente. ─ Quer dizer, eu
sei que você se importava profundamente com Mina. Mas você teve que lutar contra seus instintos até
mesmo com ela. Alguém o machucou profundamente, o deixou com uma cicatriz.
Ele retirou a mão. E estava olhando para ela agora.
Ela se afastou discretamente e voltou para o oceano. A lua deixou um rastro de luz cintilante em seu
rastro. As ondas atingiram a costa ruidosamente com espumas brancas agarrandodo-se a areia branca
apenas por um instante antes que o oceano as arrastasse de volta para o mar.
─ É tão lindo. - Disse ela, de costas para ele. ─ Meu primeiro marido gostava de praia e tinha casas na
Jamaica e nas Bahamas, onde eu podia ficar quando quisesse. Passei muito tempo nadando nas ondas,
assim como aqui. - Ela correu de volta para as ondas e dançou dentro e fora das espumas até que seu
quadril começou a incomodar.
Ela fez uma careta e se virou, caminhando lentamente de volta para Jake, que tinha as duas mãos nos
bolsos. Ele ainda estava carrancudo, mas agora sua atenção estava em Ida, não no passado.
─ Você está mancando. - Observou ele.
Ela fez uma careta.
─ Eu sei que não devo dançar com as ondas. - Ela disse e riu baixinho. ─ Meu quadril não permite muito
disso. Tudo dói quando eu exagero.
Ele se aproximou.
─ Dolorida? - Ele perguntou suavemente.
Ela assentiu. Se abaixou para colocar os sapatos no chão e reprimiu um gemido.
─ Aqui. Confie em mim.
Ela o fez, enquanto colocava os pés de volta nos sapatos.
─ Estúpido, correr pelas ondas daquele jeito. - Ela confessou.
─ O que eu mencionei. - Ele apontou.
Ela respirou fundo.
─ Sim, vocȇ mencionou.
─ Foi apenas seu quadril e coxa? - Ele perguntou baixinho.
Ela suspirou.
─ Principalmente.
Ele estava lendo nas entrelinhas. Uma queda como a dela deve ter causado muitos ferimentos. Mais
do que ela admitia.
─ E eles deixaram seu maldito marido sair da prisão. - Ele rosnou.
─ Ex-marido. - Ela o lembrou. ─ Muito ex.
─ Ele é.
Ela começou a caminhar em direção ao carro, muito lentamente e com evidente dor.
─ Venha aqui. - Disse ele suavemente. Ele se curvou e a ergueu, segurando-a próximo enquanto
caminhava.
Ela olhou para seu queixo quadrado, bem barbeado, e o cheiro de colônia cara que ele usava chegava
até suas narinas. Ele era quente e muito forte. Ela nunca se sentiu tão segura em toda a sua vida. Ela se
aconchegou a ele, os braços ao redor de seu pescoço e a bochecha em seu peito largo.
Essa submissão suave fez o coração dele disparar, e enrijeceu seu corpo. Ele estava sendo atraído por
uma paixão violenta que não queria sentir. Ele ainda amava Mina. Não havia espaço em sua vida para outra
mulher.
Mas esta era suave, carinhosa e ferida e o atraía de maneiras que não entendia muito bem. Ele estava
desconfiado dela. Além da má reputação, ele não acreditava nela. Ela estaria fingindo? Mas por que
precisaria fingir? Ela tinha dinheiro próprio. Era rica. E não o perseguiria por nada que ele tivesse.
Ele estava muito quieto. Ela podia sentir o coração dele batendo sob seu ouvido, sentir a batida
acelerada. Ele estava atraído por ela. Isso a fez se sentir como uma menina novamente, toda trêmula e
encantada. Mas estava insegura. Seu segundo marido tinha sido assim, terno, protetor e gentil. E depois de
se casarem, a portas fechadas ele se tornou um monstro.
Seus braços afrouxaram o aperto e ela enrijeceu um pouco. Não podia se dar ao luxo de ceder ao
desejo. Era perigoso, mesmo com um homem que parecia seguro.
Jake notou o enrijecimento. Aparentemente, ela estava tão insegura quanto ele. Era melhor assim. Ele
não ia entrar de cabeça de novo, não com uma mulher que atraía fofoca como esta fazia.
Ele a colocou suavemente na porta dos fundos, que o motorista estava segurando aberta para eles. Ele
a ajudou a entrar e se sentou ao lado dela, acenando com a cabeça para o motorista.

***
Enquanto eles voltavam para o aeroporto, ele notou a dor no rosto dela.
─ Você tem mais alguma coisa para tomar com você? - Ele perguntou.
Ela virou a cabeça, surpresa.
─ Qualquer um do ibuprofeno. - Ele esclareceu.
Ela fez uma careta.
─ Eu só tinha um comprimido comigo. Deixei o resto em casa. Eu não achei que fosse precisar. Estou bem.
- Acrescentou ela rapidamente. ─ É apenas uma pequena pontada, nada grave. - Mas estava mentindo
descaradamente. Ela nunca deveria ter corrido nas ondas, por mais tentador que fosse.
─ Não vamos demorar muito para chegar em casa. - Disse. Ele estava preocupado com ela. E não gostou
disso. A maioria das mulheres o deixava frio. Ele foi muito mulherengo na juventude, interessado nas
mulheres apenas por seus corpos e não muito mais. A maioria das mulheres em seu meio era sofisticada e
indiferente a sair para uma noite de prazer, tanto quanto ele.
Mas agora ele estava pensando em uma família, um lugar ao qual pertencer, uma mulher à qual
pertencer. Ele nunca quis ter filhos até sair com Mina. Ele podia imaginá-la como mãe, segurando um bebê
e adorando isso. Amando-o. Mas isso não aconteceu. Ele amava Mina. Ela gostava dele, mas apenas como
amigo.
Ele ficou amargo e triste quando a perdeu para o barão do gado do Texas. Toda a sua riqueza e poder
não significavam nada para ela. Mina não era mercenária, como a maioria de suas aventuras casuais.
A mulher ao lado dele na parte de trás da limusine era da mesma forma, ele percebeu com alguma
surpresa. Tinha dinheiro próprio, mas não usava roupas ou joias caras. Usava um anel de ouro com uma
pequena esmeralda na mão direita e um relógio de médio porte no pulso esquerdo. Usava também uma cruz
celta* em uma corrente de ouro. É intrigante para uma mulher promícua usar tal coisa. Mas ele estava se
convencendo de que o que quer que Ida fosse, não era uma mulher promíscua.
─ Você não usa sua riqueza. - Disse ele abruptamente.
Ela riu, surpresa.
─ Não. Não sou como os Navajo, que realmente usam sua riqueza. - Disse ela calmamente.
─ Eles usam. Servi com um homem que tinha uma fortuna em turquesa, prata e joias antigas. - Seu rosto
endureceu. ─ Ele morreu ao meu lado, no Iraque.
Sua respiração ficou presa.
─ Ele era seu amigo.
Ele assentiu.
─ Foi um golpe. Houve muitos outros... - Ele parou e olhou para ela. ─ Não gosto de falar sobre isso.
Ela sorriu.
─ Eu não vou perguntar. - Ela assegurou. ─ Eu tenho minhas próprias memórias ruins. Eu também não falo
sobre elas.
Ele não sabia o que dizer. Então não disse nada.

***
Não foi um voo longo. Pelo menos não pareceu muito. Ida e Jake passaram o tempo discutindo a
próxima campanha política local. Ambos ficaram surpresos ao notarem que se sentiam da mesma maneira
em relação às questões. Eles passaram para o governo nacional e ainda assim concordavam.
Ele riu.
─ Nunca imaginei você como uma conservadora. - Disse ele.
Ela sorriu.
─ Eu não ajo como uma, não é? As aparências enganam.
─ Nem me fale. - Ele a estudou em silêncio na porta da frente, a cabeça inclinada para o lado, os olhos
escondidos sob a aba larga do chapéu. ─ Isso foi divertido.
─ Realmente foi. - Ela concordou. Estava com muita dor, mas não demonstrou. Ela não queria piedade
desse homem. ─ Obrigada.
Ele encolheu os ombros.
─ Podemos fazer de novo um dia.
Isso foi decepcionante, porque parecia que ele a estava desencorajando. Ela apenas sorriu. Também
estava insegura.
─ Isso seria legal.
─ Bem. - Ele disse, sem se aproximar. ─ Boa noite. Vou deixar você voltar para sua medicação para dor.
Acho que você está com dor.
Ela engoliu em seco.
─ Bastante, receio. Valeu a pena a dor. Adorei dançar nas ondas. - Acrescentou ela suavemente.
─ Eu gostei de tudo.
Ela sorriu para ele.
─ Então boa noite.
Ela hesitou por apenas um segundo, mas ele não se aproximou. Ela destrancou a porta e entrou.
Ele ficou em sua varanda, suas emoções em turbilhão, sua mente girando. Ele queria dar um beijo de
boa noite nela. Então, por que não o fez?
Porque ele não confiava nela. Ela era a mulher reservada com quem ele saiu esta noite, ou estava
fingindo? Seu marido tinha sido realmente brutal com ela, ou ela não estava dizendo a verdade sobre ele?
Suponha que ela tenha caído acidentalmente, como seu ex-marido alegou, e ela o mandou para a cadeia por
rancor, aversão ou por algum outro motivo.

A Cruz Celta é um símbolo que representa o povo Celta, e o seu uso é mais remoto do que a cruz cristã . É uma cruz com um
círculo onde as barras vertical e horizontal se encontram, e representa a espiritualidade focada na criação. Segundo estudiosos,
seu uso remonta ao equilíbrio da vida e a eternidade, com a junção dos quatro elementos essenciais: água, terra, fogo e ar.
Hoje, a Cruz Celta também é um dos símbolos do presbiterianismo, e das igrejas Batista e Anglicana reformadas, e
representa o nascimento, morte e ressurreição de Cristo. O círculo, que na simbologia pagã representava o sol, agora
representa a circularidade da vida, a renovação eterna. Ao usar a Cruz Celta, as igrejas afirmam a sua doutrina e identidade,
revelando a sua herança protestante. Nessa perspectiva, a Cruz Celta representa a vida eterna no reino de Deus.
Para os neo-pagãos, a Cruz Celta mantém a sua simbologia ancestral um símbolo de fertilidade e prosperidade, e é
* usada como amuleto de proteção e também como um talismã para ajudar a ultrapassar obstáculos.
Ele não a conhecia. Ela parecia ter muitas coisas que o atraíam, mas ele era cauteloso com as
armadilhas. Teve suas aventuras com mulheres que pareciam uma coisa e eram na verdade algo muito pior.
Ele se virou e voltou para a limusine que o esperava. Talvez ele a levasse para sair de novo um dia. Ou
talvez não. Assim que ele entrou no carro, notou o novo capataz dela entrando na varanda da frente e
batendo na porta.
Viu Ida sorrir para o homem ao abrir a porta e deixá-lo entrar. Fechando a porta atrás deles.
Jake disse ao motorista para ir. Ele ficou com raiva. Ela estava recebendo uma visita a esta hora, a
portas fechadas. O homem, seu chamado guarda-costas, era bonito e forte. Ela o recebeu bem, embora
supostamente estivesse com muita dor no quadril.
Ele riu friamente para si mesmo. Ele tinha certeza de que nunca mais queria ver Ida novamente.

CAPÍTULO SEIS
─ O que está acontecendo? - Ida perguntou a Laredo enquanto fechava a porta da frente atrás dele.
─ Nós tivemos uma invasão. - Disse ele calmamente. ─ Alguém passou pelas câmeras de segurança e
espancou um dos cavalos. Ele tem cortes profundos em seus flancos, assim como Gold.
─ Novamente? - Ela exclamou. ─ Qual cavalo? - Ela acrescentou horrorizada.
─ Aquele que você chama de Rory. - Ele respondeu. ─ O cavalo de sela.
Ela sentia muito por Rory, mas gostava mais de Gold e Silver e se sentia culpada por estar aliviada
por não ser Silver.
─ O que você fez sobre isso? - Ela perguntou.
─ Chamei o veterinário. - Disse ele. ─ Achei que era isso que você gostaria que eu fizesse.
─ Claro. - Disse ela. E mordeu o lábio inferior. ─ Você ligou para o Xerife Banks? - Ela acrescentou.
Ele parecia ligeiramente irritado.
─ Não.
─ Bem, faça isso. - Disse ela com raiva. ─ Bailey não vai se safar com isso! Se houver evidências que
apontem para ele, o xerife é o mais óbvio para procurá-las. Ele tem um investigador. Peça a ele para trazer
o homem com ele.
─ Eu vou fazer isso. - Disse ele.
─ Dois cavalos feridos em um mês. - Disse ela, com os olhos brilhando de raiva. ─ Eu quero câmeras de
segurança em todos os lugares. Eu não me importo com o que possa custar! Pegue algumas dessas câmeras
de trilha que os caçadores usam. Eles são compatíveis com Wi-Fi e gravam tudo. Certifique-se de tenham
Wi-Fi, visão noturna e colorida.
─ Tudo bem. - Disse ele.
─ Droga. - Ela disse. ─ Qualquer homem que machuque um animal indefeso deve ser colocado sob tortura!
─ Século errado. - Ele ressaltou.
Ela o fulminou com o olhar.
─ Cadeia, então, e por anos.
Ele deu de ombros.
─ Alguns homens não gostam de animais.
─ Sim, mas neste rancho ninguém vai ferir um. Fique atento.
─ Sim, senhora. - Disse ele com acentuado sotaque. ─ Vou resolver isso imediatamente.
Ele saiu pela porta e Ida praguejou até ficar sem palavrões. Só depois de ir para a cama ela percebeu
que Jake ainda estava sentado em sua limusine no quintal quando deixou Laredo entrar na casa.
Ela gemeu interiormente. Isso era ruim. O guarda-costas era forte e bonito, e Jake já não confiava
muito nela. O que será que ele pensou? Se ele pensasse que Ida tinha algo com Laredo, talvez não voltasse.
Esse pensamento a assombrava. Ela já estava fascinada por Jake, que parecia ser tudo que um
verdadeiro homem deveria ser. Mas ele não confiava nela, e isso era parte de qualquer relacionamento,
confiança. Ela se perguntou como poderia ganhar a dele.

***
A dor era intensa. Ela foi ver Rory, seu cavalo de sela, e estremeceu com os cortes profundos em seus
flancos. Ela ficou ao lado do veterinário enquanto ele aplicava uma anestesia local e os suturava,
murmurando sobre a desumanidade de algumas pessoas. Ela concordou com ele, com raiva por ter
acontecido duas vezes. Ela mencionou isso ao veterinário, que disse que ficaria feliz em testemunhar se ela
pudesse encontrar o canalha responsável. Ela disse que falaria com o xerife no dia seguinte e acompanharia
a ligação de Laredo para ele.
Mais tarde, quando ela teve certeza de que Rory ia se curar, e quando verificou, preocupada, Gold se
recuperando em uma baia próxima de ferimentos semelhantes, ela tomou ibuprofeno com alguns biscoitos,
queijo e um antiácido. Estava ajudando. Não parou totalmente a dor, mas foi eficaz. Ao menos trataria da
inflamação.
Havia narcóticos que fariam um trabalho melhor para a dor, mas Ida não os pediria. Ela não queria se
tornar viciada em algo que provavelmente não funcionaria por muito tempo. Os antiinflamatórios eram
bastante eficazes, e a dor era algo com que ela aprendeu a conviver. Ela fechou os olhos e finalmente
adormeceu.
Na manhã seguinte, foi acordada por uma batida na porta. Quando a abriu, vestindo seu robe
comprido e grosso, ela encontrou o xerife Banks na varanda.
Ele tirou o chapéu. Havia um sorriso tranquilo e amigável em seu rosto. O xerife era ultraconservador
e conhecia Ida apenas pela reputação quando ela voltou para Catelow. Ele conversou com Cindy, que o
informou sobre sua vizinha reclusa. E na noite em que Cody conversou com ela, quando os gritos dela
levaram Cindy a ligar para o xerife, muitas de suas dúvidas sobre a divorciada foram deixadas de lado.
O xerife Cody Banks era alto, de olhos e cabelos escuros, um homem bonito com o físico de um peão
de rodeio. A autoridade assentava sobre ele como um manto. Ele não tinha medo de nada na terra e era
xerife do condado de Carne por mais de nove anos, reeleito, por unanimidade, todas as vezes que
concorreu. Ele era incorruptível, o que o mantinha no cargo.
Ida o convidou a entrar.
─ Seu vaqueiro disse que você teve um ferimento suspeito em um cavalo. - Disse ele sem preâmbulos.
─ Sim. - Ela respondeu, muito séria. Ela cruzou os braços sobre os seios. Ainda era desconfortável ficar
sozinha com um homem estranho. No momento ela não confiava em ninguém. ─ Primeiro foi um dos meus
palominos. Agora é meu cavalo de sela mais velho. Ambos têm cortes profundos em seus flancos, mas não
há como eles terem se ferido acidentalmente.
Ele empurrou o chapéu sobre o cabelo escuro e espesso.
─ Você acha que foi feito intencionalmente?
─ Sim. - Ela se mexeu desconfortavelmente. ─ Lamento. Tenho que me sentar. - Disse ela depois de um
minuto. ─ Eu tenho parafusos de metal no quadril e parafusos segurando uma haste de metal no osso da
minha coxa. Este tempo frio causa muita dor. - Ela se sentou, fazendo uma careta quando o simples ato
enviou uma onda de dor através de seu corpo.
Cody fez uma careta.
─ Você nunca me disse que tipo de acidente causou tanta cirurgia reconstrutiva. - Disse ele
categoricamente.
Ela suspirou.
─ Ser jogada por cima da mureta de uma garagem de estacionamento. Funciona muito bem.
Ele parecia chocado.
─ Foi isso que seu ex-marido fez com você? - Ele acrescentou, a indignação aparecendo em seu rosto duro.
─ Meu ex-marido. - Ela simplesmente concordou. ─ Toda o dinheiro é meu. Ele sentiu que tinha direito a
metade dele. Divorciei-me enquanto ele estava na prisão aguardando julgamento por agressão. Não houve
testemunhas da primeira vez, quando ele me jogou por cima da mureta, mas ele cometeu o erro de me
esmurrar na frente de uma testemunha algumas semanas depois que eu saí do hospital. - Seu rosto estava
marcado pela dor e más lembranças. ─ Ele deveria cumprir cinco anos por isso, de uma sentença mais
longa, mas eles o soltaram em três por bom comportamento. - Ela riu sem humor. ─ Ele me ligou no dia
em que saiu, exigindo dinheiro novamente. - Ela ergueu os olhos. O xerife parecia inquieto. ─ Ele disse
que alguns gângsteres estão atrás dele por causa de uma dívida de jogo, e eu devo a ele porque ele foi para
a cadeia devido ao meu testemunho. - Ela deu a ele um sorriso irônico. ─ As fotos e raios-X dos meus
ferimentos foram bastante convincentes para o júri que o condenou.
─ Bom Deus. - Ele disse severamente. Ele não sabia tudo isso sobre ela. Os fatos que ela tinha lhe contado
na noite em que gritou por causa de um pesadelo eram nebulosos na melhor das hipóteses, não explícitos.
Apesar de tudo isso, ele ainda estava um pouco desconfiado por causa da reputação dela.
─ Entendo. - Ela murmurou, estudando-o. ─ Você ainda está acreditando no meu disfarce. Provavelmente
foi uma ideia estúpida, mas pelo menos mantém a maioria dos homens afastados. - Ela se abraçou
novamente. ─ Eu nunca mais quero terminar em um relacionamento como aquele novamente, e eu pareço
não ter nenhum discernimento sobre os homens. Portanto, é mais fácil mantê-los à distância.
Ele inclinou a cabeça.
─ Não consigo entender.
Ela deu a ele um olhar experiente.
─ Eu sou simplesmente uma devoradora de homens, julgo suas performances e fofoco sobre eles. Eu falo
muito sobre meus chamados ex-amantes. A maioria dos homens não arriscará o dano a sua reputação, então
eles encontram desculpas para não me perseguir. É uma faca de dois gumes, mas na verdade funciona
muito bem como um impedimento. - Ela colocou a mão nas costas e franziu o cenho. ─ Provavelmente não
será necessário por muito mais tempo. Espero que a dor ou os anti-inflamatórios me matem um dia de
qualquer maneira.
Ele estava tendo uma perspectiva de Ida muito diferente da que tinha . Ele se lembrava dos gritos
quando a vizinha dela ligou para ele e disse que Ida devia estar em perigo. Ela o encontrou na porta, muito
pálida e calada, e disse que era apenas um pesadelo. Ele não questionou ou disse muito a ela. Ela contou a
ele sobre seu ex-marido, mas não muito. Agora ele começou a entender os pesadelos.
─ Então era por isso. - Ele murmurou em voz alta.
─ O que?
─ Os pesadelos.

***
Ela se lembrou da noite em que ele veio verificar como ela estava. Ela fez uma careta e acenou com a
cabeça.
─ A vida com Bailey Trent foi marcante. - Ela respondeu calmamente. ─ Os espancamentos foram apenas
a ponta do iceberg. - Ela olhou para ele com olhos frios. ─ Os homens podem ser animais. Pior que
animais.
─ Eles podem. - Ele teve que admitir. ─ Eu vi minha cota de espancadores de mulheres. Eu deti alguns e
mandei vários para a prisão. Eu odeio um homem que descarrega sua raiva em uma mulher ou uma criança.
Ela ouvi falar que ele era famoso por perseguir esses criminosos. Isso a fez se sentir mais segura.
─ Bailey fez ameaças. - Disse ela. ─ Meus advogados em Denver têm um agente que o está monitorando,
já que ele mora na cidade. Mas eles achavam que eu corria mais perigo aqui, então insistiram que eu
tivesse um guarda-costas. O homem que falou com você sobre o cavalo, Laredo, é o homem que eles
contrataram em meu nome.
─ Um guarda-costas. - Seus olhos escuros se entrecerraram e ele assentiu. ─ Não é uma má ideia. Você
está muito isolada aqui e, com mau tempo, pode demorar um pouco para chegar até você, embora tenhamos
correntes e muita experiência em dirigir na neve. Acontece que os acidentes se multiplicam. Algumas
pessoas vêm de climas mais quentes. Elas não se ajustam rapidamente às más condições da estrada.
─ Eu sei o que você quer dizer. - Ela respondeu. ─ Meu primeiro marido e eu passamos uma semana nas
Montanhas Apalaches, no norte da Geórgia. Nevou apenas alguns milímetros e a polícia local ficou
sobrecarregada com as colisões. - Ela balançou a cabeça. ─ Eu me pergunto como eles se sairiam aqui,
onde a neve é medida em centímetros.
─ Mal, suponho. - Ele disse, e sorriu pela primeira vez. ─ Seu guarda-costas, o escritório de advocacia o
investigou, certo?
─ Tenho certeza que sim. - Respondeu ela. ─ Eles cuidaram de mim muito bem todos esses anos. Eles
administram minhas propriedades.
─ Eles são advogados civis, não criminais, certo?
─ Correto. Administradores imobiliários, coisas assim.
Ele não disse nada, mas tinha uma expressão estranha no rosto.
─ Eles têm uma empresa de detetives com que trabalham. - Disse ela rapidamente, antecipando seu
próximo comentário. ─ É muito boa. Eles verificam os novos funcionários da empresa também. - Ela
sorriu.
Ele riu.
─ Você leu minha mente.
─ Nem tanto. - Ela inclinou a cabeça. ─ Eu não me importaria de jogar pôquer com você, xerife. -
Acrescentou ela.
Ele fez uma careta.
─ Eu perderia até a minha camisa. Eu não tenho uma cara de pôquer, embora eu tenha tentado mostrar
uma. - Seus olhos escuros se entrecerraram. ─ Se você não se importa com uma pergunta pessoal, como
seu primeiro marido morreu?
─ Suicídio. - Disse ela simplesmente.
─ Deve ter sido um choque. - Disse ele.
─ Ele era um homem adorável. - Lembrou ela com um sorriso terno. ─ Ele era educado, talentoso, amava
as artes. Ele me ensinou muito. Eu teria feito qualquer coisa por ele. - Ela respirou com raiva. ─ Quando
ele morreu, o amante dele entrou com uma ação judicial pelos bens alegando danos morais e materiais.
Joguei os advogados do meu marido contra ele. Ele acabou pagando as custas judiciais. Ele perdeu até a
roupa do corpo. Ele terminou mal, em outro relacionamento. Devo lhe dizer, não derramei uma lágrima.
Meu pobre marido. Ele não merecia ser tratado tão mal, quando era um homem tão gentil e generoso.
Cody ainda estava assimilando todas as informações. Isso o chocou. A maioria das mulheres ficaria
furiosa quando descobrisse sobre um marido que as traiu. Esta estava indignada porque o marido havia sido
maltratado pelo amante.
─ Como você pode imaginar... - Ela murmurou. ─ eu saí do meu casamento intocada. E então conheci
Bailey. - Seu rosto endureceu. ─ Eu estava de luto por meu falecido marido e Bailey era másculo, excitante
e divertido. Achei que ele era o homem perfeito. Casei com ele na segunda semana de namoro. E aprendi o
verdadeiro significado do abuso físico de maneiras que gostaria de poder apagar da minha mente. - Ela
olhou para as mãos no colo. ─ Nunca imaginei que um homem me tratasse assim.
Ele estava lendo nas entrelinhas. Ele já trabalhava para a aplicação da lei há muito tempo.
─ Depois da queda do estacionamento, você o mandou prender?
─ Ele ia ao hospital todos os dias, levava flores, dizia a todos como se sentia culpado por não ter
conseguido chegar até mim a tempo de me salvar. Ele foi muito convincente. Quando terminei a cirurgia e
saí da anestesia, ele convenceu todos da equipe, incluindo meu cirurgião, de que era o marido perfeito.
Quem acreditaria que ele me pegou e me jogou por cima da mureta? - Ela suspirou. ─ Tive sorte nisso, de
ser apenas um andar acima e não mais, e ter caído na grama e não no concreto. - Cody praguejou baixinho.
─ Então ele cometeu o erro de me agredir novamente, em público. Mas desta vez houve uma testemunha.
Ele foi preso, processado e condenado. Divorciei-me enquanto ele estava na prisão, com uma pequena
ajuda dos meus advogados. E também o excluí do meu testamento. Ele pode não estar ciente disso ainda.
Os ferimentos em meus cavalos podem ser uma ameaça velada de que eu poderia sofrer um acidente fatal.
Eu não me surpreenderia. Daí o guarda-costas.
─ Bom argumento. Seus cowboys vão avisar sobre os ferimentos dos cavalos?
─ Eles vão. Principalmente Laredo. Ele trabalhou em fazendas. Ele é bom com o gado, embora eu não ache
que ele seja realmente louco por cavalos como eu. - Acrescentou ela. ─ Ele não parece se apegar a eles e
faz o trabalho, mas ele não é, bem, afetuoso com eles.
Ele deu uma risadinha.
─ Muitos homens têm dificuldade em expressar afeto.
─ Meu primeiro marido não. - Disse ela suavemente. ─ Ele estava sempre me abraçando, me presenteando,
me mimando. Eu não conseguia descobrir por que ele nunca me beijava ou queria ser um marido de
verdade para mim. Eu era muito ingênua e muito protegida. Achei que devia cheirar mal ou parecer
repulsiva para ele ou algo assim. - Lembrou ela com um sorriso triste. ─ Eu não soube a verdade até ele
morrer. Ele me deixou um bilhete muito meigo. - Ela parou, emocionada. Ela levou um minuto para se
recuperar, durante o qual evitou os olhos úmidos e uma expressão de luto. ─ Ele deixou tudo pra mim, e há
muito. Ações, títulos, propriedade, o negócio. - Ela suspirou. ─ Eu preferia tê-lo.
Ele tinha uma nova imagem dela. Ela o estava encantando, sem nem tentar.
─ Como você administra o negócio?
─ Eu não. Meu diploma é em física, não em negócios, então contratei um gerente para o negócio e meus
advogados cuidam de tudo relacionado à propriedade, ações e CDs.*
─ Física? - Ele explodiu.
Ela enrubesceu.
─ Bem, sim.
─ Onde você estudou física?
O rubor aumentou.
─ MIT.
─ E você está morando em um pequeno rancho no Wyoming? - Ele perguntou, horrorizado.
─ Não gosto de cidades. - Disse ela. ─ E não sou professora. Eu amava matemática. E era boa em
trigonometria e cálculo, e realmente adorava Stephen Hawking e Michio Kaku.*
─ Física teórica. - Ele murmurou.
Ela assentiu.
*Credit Default Swap(CDs) - E um contrato ou derivativo de crédito bastante utilizado no mercado financeiro. O conceito é simples: o CDS permite fazer uma
troca (swap) com outra pessoa disposta a compensar os riscos de crédito de certos investimentos. De modo geral um contrato bilateral negociado em particular.
Por exemplo: uma parte A, geralmente conhecida como comprador da proteção, paga uma taxa ou prêmio à parte B, chamada de vendedor da proteção.
Consequentemente, o comprador do CDS faz uma série de pagamentos ao vendedor. Em retorno, se o ativo for inadimplente, pode esperar receber um
pagamento. Essa transação é conhecida como evento de crédito. 
*Michio Kaku é um físico teórico estadunidense. É professor e co-criador da teoria de campos de corda, um ramo da teoria das cordas, que viria para ajudar na
explicação da chamada Teoria de tudo, buscada por diversos físicos ao longo da nossa história, incluindo Albert Einstein.
─ Albert Einstein era meu ídolo quando estava na faculdade. Incrível o que ele foi capaz de conceber em
sua cabeça.
─ Um homem extraordinário. - Ele concordou. E balançou a cabeça. ─ Você não é o que parece.
Ela riu.
─ Quem é?
Ele levantou.
─ Bem, vou falar com seus cowboys. Meu investigador pediu demissão e voltou para o Leste, e acabei de
contratar um novo, mas ele só deve chegar amanhã. Enquanto isso, estou fazendo minhas próprias
investigações e deixando tarefas menores para o meu subsecretário e meus cinco auxiliares. É uma loucura.
─ Xerife Banks. - Disse ela, preocupada por ter contado a ele tanto sobre si mesma. ─ O que eu contei...
─ É uma informação privilegiada. - Disse ele, com um sorriso. ─ Eu não fofoco.
─ Obrigada. - Disse ela. E respirou fundo. ─ Eu não falo sobre isso há anos. Apenas algumas pessoas
sabem. Mas nunca entrei em detalhes. - Ela olhou para ele. ─ Eu sei que as pessoas na aplicação da lei
veem coisas terríveis. Isso não é algo que eu me sinta confortável falando, para a maioria das pessoas. - Ela
sorriu timidamente. ─ Obrigada por ouvir.
─ De nada. - Respondeu ele.
Ela começou a se levantar, obviamente com dor.
─ Fique aí. - Ele disse suavemente. ─ Você não precisa vir comigo. Vou passar por aqui depois de falar
com os homens, e vou entrar, se estiver tudo bem para você.
Ela engoliu em seco. Ele era um homem bom.
─ Obrigada.
─ Sem problemas. - Ele tirou o chapéu novamente e saiu pela porta. Mulher incrível, ele estava pensando, e
se seu ex-marido pusesse os pés no condado de Carne, Cody iria providenciar para que ele fosse seguido
nem que tivesse que contratar um homem de seu próprio bolso. Ninguém ia machucar aquela mulher
novamente, não comigo aqui.

***
Ida ainda estava sentada onde a havia deixado quando ele voltou depois de uma verificação
superficial.
─ Seus homens corroboraram o que você me disse. Seu guarda-costas concorda que os ferimentos não são
consistentes com ferimentos acidentais. Vou falar com o seu veterinário, também, se você não se importa.
─ Não me importo. - Ela respondeu. ─ Eu me preocupo com meu casal reprodutor, Silver e Gold. Gold foi
a primeira a se machucar e ela ainda está se recuperando. Silver é seu companheiro. Eles são especiais. Eu
gosto de todos os meus cavalos, mas aqueles dois... - Ela cerrou os dentes. ─ Estou muito preocupada com
Silver...
─ Deixe-me levar os dois ao rancho de Ren Colter para você. Ele tem proteção de última geração para seus
cavalos e odeia a ideia de alguém ferindo um animal indefeso. Ele tem J.C. Calhoun trabalhando para ele.
Calhoun, como vários funcionários de Ren, é um ex-mercenário. Eles protegeram a esposa de Ren de um
assassino contratado há alguns anos.
─ Seria uma imposição...
Ele deu uma risadinha.
─ Eu tomei a liberdade de telefonar para Ren, na varanda antes de eu entrar. Ele disse que enviaria seus
homens com dois reboques de cavalos para seus palominos. Ele tem um lugar para os dois em seus
estábulos. Eles são incríveis. Eu nunca vi tais instalações em minha vida. Eu não me importaria de viver
neles. E ele tem um guarda vinte e quatro horas com seus cavalos. Ele cria alguns garanhões reprodutores e
éguas que valem uma fortuna.
─ Que tipo de cavalos ele tem?
─ Os cavalos de sela de sempre, mas ele se apegou aos frísios* e os cria.
─ Eles são lindos. - Ela exclamou. ─ Há uma criadora no YouTube que faz vídeos sobre os dela. Estou
viciada nisso.
─ Eles são lindos. - Ele concordou. ─ Você não se importa, por eu ter pedido para ele enviar o trailer?
* Frísio
─ De modo algum. Muito obrigada. E diga a ele que eu agradeço muito também. Eu não o conheço. É uma
grande gentileza que ele está fazendo, por uma estranha.
─ Eu direi a ele. Não mencionei isso aos seus vaqueiros. - Disse ele abruptamente. ─ E não pretendo dizer.
Seu sangue gelou. Suas mãos agarraram os braços da cadeira em que estava sentada.
─ Você não acha...
─ Eu não confio em ninguém. - Disse ele categoricamente.
Ela respirou fundo.
─ Eu costumava confiar. Não mais. Eu não vou contar a eles também.
Ele assentiu.
─ Eu tenho algumas ligações para fazer, mas voltarei quando Ren me ligar com um horário. - Ele sorriu. ─
Nunca é demais ter um distintivo quando você está fazendo coisas secretas. - Ele riu.
Ela retribuiu o sorriso, não um sorriso sedutor, mas genuíno.
─ Obrigada.
Ele tirou o chapéu e saiu, fechando a porta atrás de si.

***
Laredo bateu e entrou alguns minutos depois.
─ O xerife colocou todos nós contra a parede. - Disse ele com uma risada curta. ─ Ele acha que somos
todos fugitivos da justiça.
Ela riu também.
─ Ele está apenas sendo cauteloso. E tenha em mente que ele realmente não conhece nenhum de vocês. Faz
diferença. Eu disse a ele que confio em você.
Ele ergueu uma sobrancelha.
─ Obrigado.
─ Então, como estão os outros cavalos?
─ Indo bem. Posso colocar alguém no estábulo à noite, se você achar que é necessário. Para o caso de
alguém entrar com más intenções. Eu sei o quanto você gosta de Silver, especialmente depois que Gold e
Rory foram feridos. Eu odiaria que algo acontecesse com Silver. - Havia uma nota estranha em sua voz
profunda quando ele disse isso, mas ela culpou a tensão pelo interrogatório do xerife.
─ Acho que é uma boa ideia. - Disse ela, sem mencionar a partida iminente de seus dois cavalos favoritos.
─ Está bem então. Vou encontrar uma vítima e dizer que ele vai dormir com os cavalos. - Disse ele e
sorriu.
─ Bom trabalho.
***
Jake McGuire ficou lívido quando viu o novo suposto guarda-costas entrando na casa de Ida depois
que ele a deixou na noite em que voltaram de Galveston. Ele não confiava nela e suspeitava do belo
vaqueiro.
Mas duas semanas de reflexão silenciosa trouxeram um pensamento ao primeiro plano. Se Ida estava
com tanta dor a ponto de precisar tomar altas doses de antiinflamatórios, se ela nem conseguia usar salto
alto devido aos ferimentos, como estava levando uma vida sexual secreta? Ele sabia por seus próprios
ferimentos o quão difícil seria, embora fosse uma informação que ele não compartilhava com ninguém.
Nem mesmo com Rogan Michaels, seu melhor amigo.
Ele finalmente decidiu que ela provavelmente estava falando com o guarda-costas sobre seus cavalos.
Talvez tenha ocorrido outro incidente. Seu coração parou. Ela estava lá totalmente sozinha. Seria um
guarda-costas suficiente, se seu ex-marido mandasse mais um ou dois bandidos para ferir outro de seus
cavalos?
Ele se preocupou com isso. Ele esteve fora da cidade a negócios duas vezes, mas teve tempo para ver
como Ida estava. Ele só não tinha feito isso por suspeitar que ela estava se divertindo com o guarda-costas
bonito. Ele ligou para o xerife, Cody Banks, porque estava preocupado.
─ Não, é apenas um guarda-costas. - Respondeu Cody, um pouco surpreso por estar recebendo uma ligação
de McGuire, que desdenhava abertamente da linda divorciada.
─ Ela está sozinha lá e toma altas doses de ibuprofeno para seus ferimentos. - Acrescentou.
Cody ficou surpreso que o homem soubesse disso sobre ela.
─ Doses maciças como essa colocam a maioria das pessoas para dormir. - Jake continuou obstinadamente.
─ E até os guarda-costas têm que dormir. Ela teve um cavalo ferido. E se acontecer de novo?
─ Já aconteceu.
─ O que? Quando?
Cody disse a ele quando. Jake percebeu que foi na noite em que eles voltaram de Galveston. Não
admira que seu guarda-costas estivesse na porta da frente assim que ela chegou. Irritou-se por ter se
precipitado em julgá-la e por tê-la ignorado por duas semanas, quando ela teve tantos problemas. Ele
falhou com ela. Realmente o perturbava saber disso. Ele se sentiu culpado.
─ Alguém feriu outro de seus palominos? - Jake persistiu.
─ Não. Seu cavalo de sela. Cortes profundos nos flancos, assim como o outro, e outra visita do veterinário
para suturá-lo e dar-lhe antibióticos.
─ Maldição. Ela deve estar preocupada com o outro dos dois palominos que cria, Silver. Ela o ama. - Jake
disse. ─ O outro ainda está se recuperando. E o estábulo dela não é tão seguro.
─ Isso não é mais um problema. Ren Colter enviou um homem com dois reboques de cavalos para pegar
Gold e Silver no dia seguinte ao dia do cavalo de sela ser ferido, e ele os levou direto para o rancho dele.
Você sabe que tipo de homem ele tem e quanta segurança ele mantêm em seu rancho. Além disso... - Ele
acrescentou com uma risada. ─ ele ainda tem J.C. Calhoun trabalhando para ele.
─ Entendi. - Jake relaxou um pouco. ─ Você acha que é um dos cowboys dela fazendo isso?
─ Se eu achasse, não poderia dizer a você, Sr. McGuire. - Disse Cody. ─ Não posso discutir uma
investigação em andamento.
─ Você não poderia fingir que sou um de seus auxiliares e me dizer assim mesmo?
Cody deu uma risadinha.
─ Receio que não.
─ Então você não se importa se eu perguntar a Ida? - Ele perguntou.
Cody sorriu para si mesmo.
─ Não tenho controle sobre a Sra. Merridan. - Disse ele.
─ Ela não é o que parece. - Disse Jake calmamente.
─ Percebi.
Jake não gostou dessa nota na voz do xerife. Ida era muito atraente...
─ Bem, obrigado por me dizer o que você pode.
─ Sem problemas.
Jake desligou e foi até sua limusine, ligando para o motorista no caminho. Fred saiu correndo da casa
atrás dele, vestindo uma jaqueta e fechando a camisa. Ele era novo no trabalho. Tudo bem até agora,
pensou Jake.
Ele abriu a porta para Jake, ofegante com o esforço supremo de acordar e se vestir rapidamente.
─ Você vai se acostumar com isso. - Jake disse a ele com um sorriso irônico. ─ Eu sou imprevisível.
─ Sim senhor.
─ Tire um minuto para terminar de se vestir. - Disse Jake antes de fechar a porta. ─ Eu tenho algumas
mensagens para enviar antes de irmos.
O motorista deu uma risadinha.
─ Sim senhor. Obrigado.
Jake estava sentado no banco de trás, abrindo lentamente as telas e enviando mensagens de texto a
dois gerentes sobre problemas nas empresas que dirigia. Quando ele terminou, seu motorista estava lá
dentro, ligando o carro. Fred ainda estava se ajustando ao seu chefe impetuoso. Seu ex-motorista desistiu
repentinamente, citando um parente doente em sua casa em Montana. Este tinha vindo de uma agência,
mas parecia confiável e era um excelente motorista.
─ Para onde vamos, Sr. McGuire? - Ele perguntou.
─ A casa de Ida Merridan. - Disse ele.
─ Sim senhor.

***
Tardiamente, Jake enviou uma mensagem para Ida perguntando se haveria algum problema em ir vê-
la. Ele tinha algo para discutir com ela.
Ela não respondeu. Ele olhou para a tela, perguntando-se se ela o estava evitando porque ele a
ignorou por tanto tempo, se estava com problemas, ou se foi cavalgar. Ele sabia que ela saía com o cavalo
de sela quando não estava sentindo muita dor. Ela poderia estar fora em sua propriedade. Isso o preocupou.
O ex-marido havia feito ameaças. Ele devia estar cuidando dela. Cada vez mais se sentia responsável por
ela. Ela era mais vulnerável do que qualquer mulher que ele já conheceu. Ele não gostou disso, mas não
pôde deixar de se importar. Ele não confiava nas mulheres. Nem mesmo em Ida. Principalmente em Ida.
***
O jaguar dela estava parado na garagem. Ninguém parecia estar por perto. O motorista abriu a porta
para ele, e Jake subiu na varanda e bateu.
Nada se mexeu lá dentro. Ele esperou, sem saber o que fazer a seguir, quando uma sombra se moveu
lá dentro.
Houve o som de uma bengala e ele viu Ida vindo lentamente pelo corredor até a porta da frente. Ela a
abriu.
─ Você está horrível. - Disse ele abruptamente.
─ Obrigada. - Ela disse irritada. ─ Você também parece encantador.
Ele se virou para o motorista.
─ Vá ler algo. Chamo quando estiver pronto para ir.
O motorista riu.
─ Sim senhor.
Jake entrou e fechou a porta atrás dele. Ele apoiou a bengala de Ida na porta, pegou-a no colo e foi
para a sala de estar.
─ Eu não... - Ela começou indignada.
Ele se curvou e beijou os olhos dela.
─ Shhh. - Ele disse suavemente.
Ela ficou surpresa com a ternura, algo que ela nunca tinha realmente recebido de qualquer homem,
exceto este, e as lágrimas transbordaram de seus olhos azul-porcelana.
Ele se sentou em uma poltrona grande e confortável com Ida nos braços e começou a beijar todas as
lágrimas. O que só as fez cair mais rapidamente.
─ Agora. - Ele disse suavemente. ─ O que está acontecendo aqui? - Acrescentou ele, fingindo inocência.
─ Alguém veio aqui e usou algo como um chicote no meu melhor cavalo de sela, Rory. - Ela se
emocionou. ─ Seus pobres flancos tinham cortes profundos. Liguei para o xerife. Ele está investigando.
Mas eu sei que é Bailey. Ele me ligou ontem à noite, de novo, e disse que eu poderia pagar a ele ou poderia
haver mais pequenos acidentes!
─ Maldito idiota. - Ele murmurou.
─ Eu disse ao xerife. Ele vai conseguir um mandado para os registros telefônicos de Bailey. - Ela olhou
para Jake com os olhos úmidos. ─ Eu estava tão preocupada com Silver e Gold, embora Gold pareça estar
se curando bem...
─ Podemos levá-los para minha casa. - Disse ele, esperando que ela contasse o que ele já sabia.
─ Isso é tão gentil da sua parte. - Ela se emocionou. ─ Mas Ren Colter os levou para seu rancho. Ele tem
segurança de última geração. Bailey seria louco de ir lá e causar problemas.
─ Ele seria. - Jake concordou. ─ Ren tem J.C. Calhoun na folha de pagamento. - Ele balançou a cabeça. ─
Não é um homem que você gostaria de encontrar em um beco escuro se você tivesse más intenções. Ele se
acalmou um pouco desde que se casou, mas ainda é uma força a ser enfrentada quando está trabalhando.
─ Eu ouvi dizer. - Ela deixou sua bochecha encostar no peito de Jake e forçou seu corpo dolorido a relaxar.
Ela fechou os olhos com um suspiro. Ela sempre se sentia muito segura com ele.
─ Seu ex-marido admitiu que machucou os cavalos? - Ele perguntou em seu ouvido, seu queixo no topo de
sua cabeça.
─ Ele não disse isso explicitamente. - Disse ela, cansada. ─ Mas mencionou que tinha ligações com a
máfia e que não tinha medo de usá-las, apesar do meu guarda-costas e do xerife caipira. Essas foram suas
palavras textuais. - Ela olhou para ele. ─ O Sr. Banks não é um xerife caipira. Ele é um bom homem. Eu
não acho que ele acreditou em mim no início, mas ele escutou. Acho que o convenci.
─ Você fez. - Disse ele mau-humorado.
Suas sobrancelhas arquearam.
─ Como sabe disso? - Ela perguntou desconfiada. ─ Como, que mal lhe pergunte, você sabe?
O rosto de Jake se contraiu enquanto ele procurava uma resposta que não o levasse a ser expulso da
casa dela.

CAPÍTULO SETE
─ Você telefonou para o xerife Banks. - Ela o acusou.
Ele fez uma careta.
─ Bem, eu estava preocupado. - Disse ele secamente. ─ Finalmente me dei conta de que seu guarda-costas
não estaria praticamente esperando na porta quando chegamos em casa, sem um bom motivo.
Isso a atingiu, essa insinuação de ciúme.
─ Sim. Meu melhor cavalo de sela havia se machucado, com cortes profundos nos flancos, assim como
Gold. Ele veio me contar sobre isso.
─ Seu ex-marido precisa de mais alguns anos de prisão, apenas para lhe dar a noção de que ele não tem o
direito de maltratar animais indefesos. - Disse ele.
─ Ele não se importa. Não com animais ou pessoas. Eu não acho que ele seja capaz disso. Falei com uma
amiga da faculdade que é psicóloga forense. Ela diz que existem pessoas que não têm senso de compaixão,
que não sentem empatia. Eles são egocêntricos. Os únicos sentimentos que os preocupam são os seus
próprios. - Ela balançou a cabeça. ─ É um conceito difícil de entender.
─ Sim. - Ele concordou. Sua mão magra deslizou para cima e para baixo em seu braço nu
inconscientemente. ─ Quando eu estava no exterior, tínhamos um cara em nossa unidade que trabalhava
como atirador. Ele riu quando matou um insurgente. Riu. - Ele suspirou, seu rosto rígido de raiva. ─ Eu
matei homens. Eu tive que fazer isso, para salvar meus próprios homens. Mas nunca ri. É difícil conviver
com isso, tirar uma vida. Qualquer vida.
─ Fomos criados para acreditar que matar é um pecado. - Disse ela. ─ Aí eles colocam uniformes nas
pessoas, mandam para o exterior, dão uma arma e mandam matar gente. É uma contradição dolorosa.
Algumas pessoas simplesmente surtam.
─ Eles realmente o fazem. - Disse. Ele se recostou na cadeira, colocando Ida em uma posição mais
confortável contra ele. ─ Tivemos um oficial que viu dois de seus homens serem despedaçados por tiros
em um ataque noturno. Ele correu para o tiroteio, gritando, antes que qualquer um de nós pudesse detê-lo.
Ele foi morto instantaneamente.
Sua pequena mão alisou o tecido macio da camisa dele. Os olhos dela, bem abertos, olharam sobre o
peito largo para a janela.
─ Todo mundo tem um ponto de ruptura. - Disse ela. ─ Pobre homem. Ele tinha família?
─ Uma esposa e um novo bebê, um filho. Ele ficou tão animado quando o bebê nasceu. Ele parou estranhos
para mostrar-lhes as imagens digitais do pequeno garoto. - Ele respirou fundo. ─ Que maneira infernal de
morrer.
─ Sim.
Sua grande mão alisou a dela, onde estava em seu peito.
─ Você queria filhos?
─ Oh, muito. - Ela disse calmamente. ─ Com meu primeiro marido. Ele não era particularmente bonito,
sabe, mas tinha qualidades maravilhosas. Uma criança com aquele pai teria sido abençoada. Mas isso
nunca foi feito para acontecer. Com Bailey, usei controle de natalidade desde o início. Ele disse que não
queria filhos. Quando nos casamos, fiquei tentada a renunciar aos comprimidos. Graças a Deus não o fiz!
Ele podia sentir o tormento nela. Ela era tão diferente da pessoa que ele pensava conhecer meses
atrás.
─ Você quer filhos? - Ela perguntou distraidamente.
Seu coração saltou. Ele os queria com Mina, os queria quase desesperadamente. Ele respirou fundo.
─ Eu os queria. - Ele disse finalmente.
Ela sorriu tristemente.
─ Com Mina. - Ela adivinhou.
Houve uma hesitação fria.
─ Sim.
─ Lamento. Eu não deveria ter perguntado...
─ Está tudo bem. - Disse ele, surpreso com a empatia dela.
─ Eu também sou uma pessoa reservada, como regra, Jake. - Disse ela, usando o nome dele pela primeira
vez.
Ele ficou surpreso com a excitação que isso acendeu nele. Surpreso e chocado. Houve um longo
silêncio. Sua grande mão acariciava suavemente o cabelo curto dela enquanto eles apenas sentavam juntos
em silêncio.
Jake tinha sido uma espécie de playboy em sua juventude. Ele ainda gostava sair com mulheres
bonitas. Esta mulher em seu colo era linda, mas também frágil, gentil e amável. Ele acreditou em todas as
fofocas sobre ela sem questionar, como muitas outras pessoas na comunidade fizeram. Ele sentiu a mão de
dedos longos espalmada em seu peito largo e musculoso com uma sensibilidade perturbadora. Ele a sentiu
suspirar. E não precisava olhar para o rosto dela para saber que ela confiava nele. Devia ser muito difícil,
ele decidiu, para uma mulher com o passado dela, ao menos deixar um homem abraçá-la. Isso o tocou, de
maneiras inesperadas.
─ Você já almoçou? - Ele perguntou abruptamente.
─ Não. - Ela disse. ─ Eu ia fazer um sanduíche...
Ele levantou a cabeça e ergueu o queixo dela.
─ Ainda quer comer ostras fritas?
─ Oh, sim. - Ela disse, seus olhos azuis arregalados e curiosos enquanto olhavam para os olhos prata dele.
Ele franziu os lábios sensuais.
─ Eu conheço um ótimo lugar em Santo Agostinho.
Ambas as sobrancelhas dela arquearam.
─ Flórida? Santo Agostinho, Flórida?
Ele deu de ombros.
─ O jato é rápido. E confortável. Há até uma cama, se você precisar deitar.
Seus lábios se separaram em uma respiração suave.
─ Seria um monte de problemas.
Ele sorriu.
Ela retribuiu o sorriso, encantada.
Ele se levantou e gentilmente a colocou em pé.
─ Então pegue sua bolsa, um suéter e vamos.
Ela hesitou. Ela estava vestindo jeans, tamancos e uma blusa de botões azul e branca.
─ Eu deveria mudar...
Ele deu uma risadinha.
─ É só um almoço. Você pode perceber que não estou usando terno.
Ele não estava. Ele estava com jeans, botas e uma bela camisa de cambraia que era macia sob seus
dedos.
Ela sorriu.
─ OK.

***
Ele esperou enquanto ela dizia a Laredo que iria passar a tarde fora. Ele desejou a ela um dia
agradável, acenou para Jake e voltou ao trabalho.
Jake a colocou ao lado dele na parte de trás da limusine e instruiu seu motorista para levá-los ao
aeroporto. Ele digitou números no celular e ligou para o piloto, pedindo que os encontrasse no aeroporto.
Ida estava maravilhada com ele. Mesmo seu primeiro marido, que era dono de uma empresa, não era
tão eficiente em fazer as coisas com tanta praticidade. E mencionou isso.
─ Eu cresci cheio de regras. Meu pai era militar de carreira. - Disse ele um pouco rigidamente. ─ Ele se
aposentou como capitão do exército e voltou para cá para administrar o rancho quando o pai morreu. Não
era exatamente um rancho, estava completamente endividado, e meu pai só tinha sua pensão militar para
sobreviver. Ele não gostava de trabalhar com o gado. Sujava as mãos. - Ele sorriu ironicamente. ─ O pai da
minha mãe tinha dinheiro. Ela se tornou uma herdeira do petróleo quando ele morreu. Eu herdei dela.
Ela ficou fascinada.
─ Ela era gentil?
Ele assentiu.
─ Amável e gentil, o tipo de mulher que beijava hematomas e assava biscoitos. - Seu rosto endureceu. ─
Meu pai se ressentia da riqueza da família dela.
Ela podia sentir a dor que viu em seu rosto bronzeado.
─ E a fez pagar por isso. - Disse ela sem pensar.
Ele a olhou fixamente por um minuto.
─ Psíquica, hein? Tem certeza de que não estudou cartomancia? - Ele sondou, mas estava sorrindo.
Ela riu suavemente.
─ Desculpe.
─ Sim, ele a fez pagar por isso, repetidamente, até que eu fosse grande e mau o suficiente para fazê-lo
parar. - Seu rosto endureceu. ─ Não há nada no mundo que eu odeie mais do que um espancador de
mulher.
─ Você e o xerife, pelo que ouvi. - Ela disse.
─ O pai dele era alcoólatra, a mãe foi vítima dele. - Respondeu ele. ─ Cody tinha um irmão mais velho que
era sensível e gentil. Amava a mãe, mas tinha medo do pai, que também batia nele. Ele tentou impedir o
pai apenas uma vez, quando estava batendo em sua mãe, e por isso, foi espancado até sangrar. Dois dias
depois, o irmão de Cody tirou a própria vida. Cody disse que seu pai nem foi ao funeral.
─ Oh, coitado! - Ela exclamou, e sua simpatia era óbvia e não fingida. ─ E ele é tão gentil!
─ Sim, ele é. - Respondeu Jake. Ele estava tentando lidar com uma má memória de si mesmo, de um irmão
que ele teve e perdeu para a tragédia. Ele entendia como Cody se sentia.
─ O que aconteceu com o pai dele?
─ Morreu de ataque cardíaco quando Cody se formou no ensino médio e entrou para o exército.
─ Foi melhor assim. E a mãe dele?
─ Ela sempre foi frágil. Num inverno pegou pneumonia, pneumonia viral. Ela estava sozinha em casa
porque Cody estava no exterior, e por um capricho do destino, a prima distante por casamento que deveria
estar com ela não apareceu. A mãe dele morreu.
Ida apenas balançou a cabeça.
─ Como você pode imaginar, ele e a prima nunca mais se falaram. Soube que ela tentou se explicar, mas
ele não quis ouvir. Ela tinha apenas dezesseis anos na época. Sempre achei que Cody se precipitou em
condená-la. As pessoas geralmente têm motivos para o que fazem, e a garota não era volúvel ou má.
─ Ele se culpava, mas era mais fácil culpar a prima. - Ela murmurou.
Sua inspiração foi audível.
─ Você sempre faz isso? - Ele perguntou.
Ela olhou para ele com as sobrancelhas arqueadas.
─ Faço o que? - Ela perguntou meio perdida.
─ Percebe coisas que a maioria de nós não percebe?
Ela desviou os olhos dos penetrantes olhos prateados dele.
─ Suponho que me tornei perceptiva por passar tanto tempo sozinha.
─ Sem namorados, em outras palavras.
Ela balançou a cabeça.
─ Nunca mais. - Disse ela, as palavras ásperas e com raiva.
Ele franziu a testa.
─ Ida, existem homens gentis no mundo.
─ Talvez eles pareçam assim. - Disse ela. ─ Até mesmo podem agir dessa forma. Então colocam você atrás
de uma porta fechada... - Ela parou abruptamente e respirou fundo. ─ Para onde estamos indo exatamente?
- Ela perguntou com um sorriso social.
Ela estava muito mais traumatizada do que ele percebeu. Ele se perguntou o que mais o ex-marido
tinha feito com ela e ficou surpreso por se importar.
─ Para esse pequeno restaurante de frutos do mar que conheço. - Respondeu ele após um minuto. ─ As
melhores ostras fritas em ambas as costas.
─ E você sabe disso, como? - Ela perguntou com um pequeno sorriso.
Ele sorriu.
─ Porque eu já comi na maioria deles. Eu posso escolher um restaurante.
─ Você pode, mesmo? - Ela riu.
─ Espere para ver. - Foi tudo o que ele disse.

***

O restaurante era um pequeno estabelecimento em um Centro comercial, junto ao oceano. Havia um


pátio nos fundos onde as pessoas podiam sentar-se a uma pequena mesa e comer enquanto observavam as
ondas baterem na praia, deixando sua espuma branca na areia.
─ Isso é absolutamente encantador. - Ida exclamou quando eles se sentaram, esperando por seu pedido. ─
Eles poderiam ganhar dinheiro apenas alugando as mesas!
Ele riu suavemente.
─ Concordo. É um lugar bonito.
─ Eu morei em Massachusetts enquanto estava na faculdade. - Lembrou ela. ─ Eu amava o oceano. Na
verdade, meu marido comprou um hotel à beira-mar perto de Boston para que eu tivesse um bom lugar
para ir nos finais de semana e feriados.
Ele sentiu uma pontada de algo que não conseguia identificar.
─ Gentil da parte dele.
Ela sorriu.
─ Ele era assim. Ele me enviou a Paris em nosso primeiro aniversário de casamento e contratou um guia
turístico pessoal para me levar a qualquer lugar que eu quisesse. Foi uma viagem extraordinária! Eu nunca
tinha saído do país. Eu vi Versalhes, a Torre Eiffel e o Louvre...
─ Ele não foi com você?
─ Não. - Ela suspirou. ─ Eu nunca soube por quê até ele morrer.
Ele estava pensando em Paris, como poderia ser emocionante. Ele já havia se apaixonado uma vez
por uma modelo que havia trabalhado lá. Ele a seguiu até Paris, e eles tiveram alguns meses emocionantes
enquanto o caso durou. Infelizmente, ela estava superando um caso fracassado e, quando Jake estava
pronto para lhe dar um anel, seu antigo namorado voltou e ela se foi, sem mais nem menos. Isso o deixou
magoado e com um preconceito imerecido contra a Cidade Luz.
─ Você está pensativo. - Disse ela.
Ele reagiu.
─ Desculpe. Más memórias. - Ela inclinou a cabeça, ponderando sobre isso. Ele arqueou as sobrancelhas
escuras. ─ Sem leitura de mentes.
Ela ergueu as duas mãos.
─ Eu não sei de nada.
─ Aposto que não. - Ele murmurou baixinho, porque ela era a mulher mais perceptiva que ele já conheceu.
─ Não, sério, eu não sei nada. - Seus olhos azuis brilharam. ─ Você pode ameaçar me levar para casa antes
que as ostras cheguem, se eu abrir minha boca.
Isso o distraiu de seu breve mau humor e ele riu.
─ Entendido.

***
─ Estas são... incrivelmente deliciosas. - Ela gemeu enquanto mergulhava uma segunda ostra
delicadamente frita em molho vermelho e a colocava na boca. ─ Ainda melhor do que as de Galveston, e
aquelas eram de outro mundo!
Ele sorriu.
─ Eu lhe disse. - Ele estava comendo as suas com tanto gosto quanto ela. ─ O proprietário poderia abrir
uma franquia se quisesse. Os temperos são uma receita familiar muito antiga e ele tem uma mão hábil para
empanar, o que ele mesmo faz. Mas ele está muito contente em continuar aqui.
─ Um homem feliz. - Respondeu ela. ─ E muito afortunado.
Ele respirou fundo e tomou um gole de cappuccino.
─ A felicidade é uma coisa rara.
Ela assentiu.
─ Exatamente.
Ele a estudou enquanto ela comia, seus olhos indo dos círculos profundos sob seus olhos azuis para
suas mãos de dedos longos.
─ Meu cabelo está torto? - Ela perguntou depois de um minuto, ambas as sobrancelhas arqueadas.
Ele riu alto.
─ Não. Eu estava apenas percebendo as olheiras sob seus olhos. - Ele disse honestamente. ─ Você não
dorme muito, não é?
Ela fez uma careta.
─ É um pouco perturbador. - Disse ela finalmente. ─ Bailey fez algumas ameaças muito graves. - Ela
ergueu os olhos. ─ Ele realmente não ameaça. Ele faz o que diz que fará. - Ela estremeceu um pouco,
lembrando-se de algumas delas.
Jake estremeceu, mas ele não a deixou ver.
─ Você já passou por muita coisa.
─ Oh, sim, mas todo mundo tem problemas. - Ela respondeu e sorriu. ─ Os meus não são piores do que os
de outra pessoa. Basta colocar um pé na frente do outro e continuar.
─ Bom conselho.
Eles terminaram as ostras e tomaram um segundo café com uma delicada torta que era uma das
especialidades da casa.
─ O que é isso? - Ela exclamou quando deu uma mordida. ─ Meu Deus, é incrível!
─ Torta de amêndoa. - Ele riu. ─ É boa, não é? Mack também a faz. Ele tem um cozinheiro, mas o homem
passa muito tempo girando os polegares. Mack adora sua cozinha.
─ Você o conhece. - Ela adivinhou.
Ele assentiu. Seu rosto endureceu.
─ Ele esteve no exterior comigo, quando fomos ao Iraque pela segunda vez.
Ela fez uma careta, porque aquele rosto duro ficou brevemente vulnerável.
─ Eu sinto muito.
Seus olhos se ergueram para os dela e ele fez uma careta.
─ Sobre o que?
─ Memórias ruins. - Ela disse calmamente. ─ Elas transparecem. - Antes que ele pudesse responder com
raiva, ela acrescentou: ─ Eu também as tenho.
O que o impediu de dizer as palavras ferinas que estavam na ponta da sua língua. Ele respirou fundo
e riu.
─ Você tem um talento especial para me desarmar.
─ Eu também passei por guerras, embora nunca tenha estado em combate. Isso... endurece você. - Ela disse
depois de um minuto.
Ele poderia ter respondido que isso apenas a deixou mais vulnerável. Ela via profundamente dentro
dele. E ele não tinha certeza se gostava disso. A maioria de seus encontros, com exceção de Mina, tinham
sido mulheres superficiais, com os olhos voltados para diamantes e vida na alta sociedade. Nenhuma delas
tinha a capacidade de Ida de sentir as emoções das pessoas ao seu redor. Era um verdadeiro presente. Ele se
perguntou se ela percebia isso.

***
Após o almoço, Ida esperava que ele fosse para o aeroporto. Em vez disso, ele pegou a mão dela e a
levou até a praia atrás do Centro comercial.
A sensação de sua grande mão segurando a dela a fez se sentir estranha no início, mas a mão era
quente e forte, e depois de um minuto, ela relaxou.
Ele sentiu isso, sorrindo internamente.
─ Eu amo o oceano. - Ela disse suavemente. ─ Eu coleciono praias. - Ela riu. ─ Minha favorita era a do
Marrocos. Passei algumas semanas em Tânger. Havia camelos entrando e saindo das ondas. - Ela lembrou
com olhos suaves.
─ Já estive em Tânger. - Respondeu ele. ─ Cidade fascinante. Você viu a igreja que os Bérberes deram aos
cristãos?
Ela riu.
─ Sim. Foi uma surpresa. - Ela suspirou. ─ Mas o que eu mais amei na cidade, ainda mais do que o bazar e
a comida maravilhosa, foi o chamado à oração transmitido pelos alto-falantes. Não sei por que exatamente.
Foi bonito.
A mão que segurava a dela ficou repentinamente rígida. Ela lembrou que ele lutou no exterior,
provavelmente lutou com algumas pessoas que teriam adorado aqueles chamados para orar. Ela parou de
repente e olhou para ele.
─ Eu sinto muito.
Seus olhos eram como placas de aço, mas ele não estava olhando para ela. Os olhos dele estavam no
oceano, e ele não falava.
Ela nunca tocou em homens voluntariamente. Não desde Bailey. Mas ela se moveu, hesitante, para
mais perto de Jake e deslizou os braços ao redor dele, colocando o rosto contra a suave cambraia de sua
camisa. Ela o segurou, apenas o segurou. Depois de um minuto, ela sentiu algo como um estremecimento
percorrer o corpo poderoso, e os braços dele se fecharam em torno dela um pouco rudemente.
Ela não se importou. Ele era familiar para ela, de uma forma que não entendia. Ela fechou os olhos e
deu um longo suspiro.
Ele a abraçou, deixando-a abraçá-lo, enquanto a angústia da lembrança lentamente desaparecia. A
mão dele percorria para cima e para baixo a coluna dela.
─ Você não pode viver no passado. - Disse ela após um minuto. ─ Não importa o quão doloroso seja, você
tem que seguir em frente.
─ Você roubou essa frase do Conheça os Robertsons.* - Ele a repreendeu em sua têmpora, porque ela só
chegava até o queixo dele.
Ela riu inesperadamente.
─ Não me diga que você assiste a filmes de desenho animado!
Ele sorriu.
─ Um dos meus vice-presidentes tinha um filho pequeno, cerca de sete anos na época. Esse era o filme
favorito dele. Eu ia jantar em sua casa ocasionalmente, e toda a família se reunia para assistir o filme com
ele. - Sua mão parou. ─ Ele era um garoto encantador. - Ele parou.
* Filme de animação dos Estúdios Disney, lançado em 2007. No Brasil o desenho se chamou A Família do Futuro.
Ela recuou e olhou para ele.
─ O que aconteceu?
─ O pai dele estava atrasado para o trabalho. Ele saltou para dentro do carro e não percebeu que o menino
estava parado atrás dele.
─ Querido Deus. - Ela sussurrou reverentemente.
─ Ele perdeu a cabeça. - Disse ele. ─ Largou o emprego, deixou a esposa, acabou nas ruas e morreu de
uma infecção respiratória em um inverno como um indigente. Tentei encontrá-lo depois que ele saiu da
minha empresa de mineração, mas ele não queria ser encontrado. Ele voltou para o leste da cidade de Nova
York e simplesmente se perdeu na multidão. Ele foi identificado por meio de suas impressões digitais, faço
todos os meus funcionários enviarem as suas, então elas ficam mantidas em arquivo. Isso foi um
sofrimento. Eu o trouxe de volta para o Billings, onde ele foi enterrado.
─ O que aconteceu com a esposa dele? - Ela perguntou.
─ Ela foi morar com uma irmã em Phoenix. - Disse ele. ─ Ela veio ao funeral. - Seu rosto endureceu. ─ Eu
não acho que ela se casou novamente. Ela o amou, até o fim. Ela o perdoou. Mas ele não conseguiu se
perdoar.
Ela não disse uma palavra. Voltou a pousar a bochecha na camisa dele e apenas ficou lá, com a brisa
chicoteando ao redor deles, o som da arrebentação na praia e o raro piar de uma gaivota.
─ Você é relaxante. - Ele comentou após um minuto.
Ela sorriu.
─ Esse é um adjetivo novo.
Ele deu uma risadinha.
─ Você tem um talento especial para me acalmar. Eu me inclino para os extremos de emoção.
─ Eu costumava ser assim.
─ O que aconteceu?
─ Ibuprofeno. - Ela murmurou secamente.
Ele não riu, como ela pretendia. Ele recuou.
─ Seu quadril está doendo?
Ela fez uma careta.
─ Só um pouco. Não, ainda não quero ir, por favor. - Ela pediu. ─ Eu também adoro praias. - Seus olhos
azuis imploravam.
─ OK. Só por alguns minutos.
Ela sorriu.

***
Eles caminharam ao longo da praia, de mãos dadas. Isso era revigorante, o som do oceano, o açoite
do vento, a agitação espumante das ondas dançando dentro e fora da praia.
─ Oh, olhe, uma concha! - Ela exclamou e se afastou dele o tempo suficiente para pegá-la.
─ É apenas uma concha, não um tesouro. - Ele brincou.
Ela a virou. Era uma concha simples mas, perfeita, com um rosa suave por dentro e a cinza perfeito
por fora.
─ Vou guardar como lembrança. - Disse ela.
─ Posso comprar algo em uma das lojas... - Ele começou.
Ela ergueu os olhos, surpresa.
─ Não. - Ela disse. ─ Isso não seria... bem, não seria realmente uma lembrança, é? Quero dizer, as coisas
nas lojas vêm de todos os lugares. - Ela girou a concha em suas mãos. ─ Isso veio daqui, desta praia. - Ela
franziu a testa e ergueu os olhos azuis suaves para ele. ─ Não estou fazendo sentido.
─ Sim, você está. - Respondeu ele. E olhou para as mãos dela. Elas estavam nuas. Sem diamantes, sem
joias de qualquer tipo. Ela valia milhões, pelo que tinha ouvido, mas não usava sua riqueza. Nem mesmo
uma pequena parte dela. ─ Você não gosta de joias? - Ele perguntou abruptamente.
As sobrancelhas finas dela arquearam.
─ O que?
─ Você não está usando anéis ou pulseiras.
Ela observou o rosto dele em silêncio.
─ Não gosto de anéis e pulseiras. - Disse ela. ─ Atrapalham quando estou trabalhando com argila.
Suas próprias sobrancelhas se arquearam.
─ Argila?
─ Eu gosto de esculpir. É um hobby que comecei quando estava no colégio, antes de minha mãe morrer.
Ela costumava fazer vasos, mas eu gosto de fazer estatuetas. - Ela riu. ─ É um ótimo exercício para minhas
mãos.
Ele balançou a cabeça. Nunca conheceu uma pessoa tão complexa.
─ Física e escultora. - Seus olhos prateados brilharam. ─ Naves estelares e canoas.* - Ele murmurou
distraidamente.
─ Freeman Dyson.* - Ela respondeu imediatamente.
Ele começou a rir.
─ Sim. Dyson. É um ótimo livro. Ele é bastante famoso por sua teoria.
─ As esferas de Dyson. - Ela concordou. ─ Eu me pergunto se nossa civilização avançará a ponto de
podermos realmente empregá-las.
─ Cá entre nós, eu duvido seriamente. Houve alguns eventos massivos que encerraram a civilização no
passado. Eles nem foram descobertos até o final do século passado. Quando eles notaram uma camada de
irídio que circundava todo o planeta e deduziram que era de uma colisão entre a Terra e...
─ Um asteróide. - Ela terminou por ele.
Ele sorriu.
─ Exatamente.
─ Luis Alvarez* propôs a teoria no início dos anos 1980, observando que uma camada de irídio marcava o
Cretáceo-Terciário ou K-T.* Visto que o irídio é um elemento muito raro neste planeta, mas bastante
comum em asteróides, Alvarez propôs a teoria do asteróide.
Ele olhou para ela com admiração.
─ Você está sempre me surpreendendo.
─ Eu tenho problemas geek.* - Ela respondeu com uma risadinha.
─ Problemas geek.
Ele suspirou. Pegou a mão dela e eles caminharam mais um pouco.
─ Você sabe o que é o verdadeiro geekdom? * - Ele perguntou levemente.
─ Não. Diga.
─ É quando você olha seus apps de previsão do tempo para ver se está chovendo, em vez de abrir as
cortinas e olhar pela janela.
Ela começou a rir. Ele também.
─ Você faz isso? - Ela perguntou.
Ele deu de ombros.
─ De vez em quando.
─ Eu também.
─ Vivo em aplicativos que cobrem clima, espaço, vulcões, terremotos, esse tipo de coisa geek, quando não
estou metido até o pescoço em assuntos de negócios.
─ Tenho cinco aplicativos de terremoto, dois de vulcão e cerca de seis aplicativos de clima. - Ela
confessou.
Ele sorriu.
─ Bem!
─ Eu acho que isso vem de passar tanto tempo sozinha.
─ E rede social? - Ele perguntou.
* Starships and canoes(Naves estelares e canoas) é um livro de Kenneth Brower, no qual ele narra a estranha relação entre pai e filho cujos objetivos de vida são
muito diferentes, enquanto um sonha em explorar os céus e projeta uma nave espacial barata para levá-lo até lá, o outro vive em uma árvore e projeta uma canoa
gigante. Os dois homen personificam os extremos do século XX, ciȇncia e tecnologia e a revolta contra elas.

*Freeman John Dyson ( 1923 – 2020) foi um astrofísico e matemático inglês. Após o fim da segunda guerra, mudou-se para os Estados Unidos e nacionalizou-
se. Dyson trabalhou no Projeto Orion que pretendia realizar o voo espacial utilizando a propulsão, mas a Declaração para o Uso Pacífico do Espaço da ONU
proibiu qualquer tipo de explosão nuclear na atmosfera e no espaço, o que provocou o abandono do projeto. Teorizou sobre a possibilidade de que uma
sociedade avançada pudesse circundar completamente uma estrela para maximizar a captura da energia emitida, mediante nuvens de asteroides, o que foi
denominado esfera de Dyson. Também propôs a árvore de Dyson, uma planta desenhada geneticamente para crescer num cometa. O objetivo imaginado era que
a árvore transformaria o cometa numa estrutura oca com uma atmosfera respirável no seu interior, utilizando-se da luz do sol distante e material do cometa para
crescer e produzir o oxigênio necessário, e assim poderiam ser criados habitats para a humanidade no sistema solar exterior.

*Luis Walter Alvarez foi um físico e inventor estadunidense.

*O final do período Cretáceo (final da Era Mesozóica), e transição para a Era Cenozóica são marcados pela 2ª maior e mais conhecida extinção em massa da
história da Terra, a extinção do K-T (Cretáceo - Terciário – o antigo período da Era Cenozóica), a aproximadamente 65 milhões de anos, com e extinção de 25%
das famílias, e 75% de todas as espécies do planeta, entre eles, a extinção dos dinossauros, entre outros grandes grupos continentais e marinhos. A causa mais
aceita para essa extinção é a queda de um asteroide, que desencadeou uma  reação em cadeia a partir da sua colisão, como o efeito estufa, ativação de vulcões, e
consequente acidificação das águas da chuva e dos oceanos.
* Geek é um anglicismo e uma gíria inglesa que se refere a pessoas peculiares ou excêntricas, fãs de tecnologia, eletrônica, jogos eletrônicos ou de tabuleiro,
histórias em quadrinhos, mangás, livros, filmes e séries. 
* A primeira definição de geekdom no dicionário é o estado de ser um geek. Outra definição de geekdom é o mundo habitado por geeks. Geekdom também é um
termo coletivo para geeks.
─ Twitter.
Ele citou algumas outras.
Ela balançou a cabeça.
─ Eu não me entroso bem. - Respondeu ela. ─ E eu não lavaria minha roupa suja online, não importa o
quão popular seja.
─ Eu me sinto da mesma forma.
Eles caminharam mais um pouco. Ela ainda tinha sua linda concha em uma das mãos. Ela a virou
entre os dedos e olhou para ele. Sabia que a manteria para sempre. E cada vez que ela olhasse para ela,
lembraria de caminhar na praia em St. Augustine com Jake.

***
Eles estavam quase de volta ao restaurante quando ele avistou uma concha nas ondas. Ele largou a
mão dela e foi pegá-la. A dele era uma pequena concha em espiral, mas também tinha a delicada coloração
rosa por dentro. Ele a entregou a ela.
─ É linda. - Disse ela.
Ele a pegou de volta, para surpresa dela.
─ Recordação. - Ele disse distraidamente e colocou-a no bolso da camisa sem mais comentários.
Ela se sentiu estranha. Feliz. Segura. Mas suas emoções eram turbulentas. Não estava certa do que
estava acontecendo com ela. E não tinha certeza se gostava também. Eles voltaram para casa com um
silêncio estranho entre eles. Era agradável, mas perturbador. A facilidade de falar um com o outro parecia
ter sido substituída por uma estranha inquietação. Ida não entendia por quê. Mas sorriu e iniciou uma
conversa apenas para aliviar a tensão.

***
O motorista de Jake estava esperando por eles no aeroporto de Catelow. Ele os levou de volta ao
pequeno rancho de Ida.
Eles se sentaram separados no banco de trás.
─ Muito obrigada pelo almoço. - Disse Ida quando avistou a casa do rancho. ─ Foi muita gentileza de sua
parte me convidar. Nunca provei uma comida tão boa.
─ Eu também não. - Ele estava sendo agradável, mas havia algo diferente sob a superfície, como correntes
em um mar calmo.
A limusine parou na frente da porta dela. As luzes estavam apagadas. A casa parecia solitária, fria e
de alguma forma sinistra.
Jake deu a volta para ajudá-la a sair do carro e a levou até a varanda.
Ela hesitou. Não sabia por quê. Ela sentiu algo, como um arrepio percorrendo sua coluna.
Jake olhou para ela com olhos que ela não conseguia ver. O rosto dele estava na sombra, mas ela
sentia a irritação dele.
─ Obrigada de novo. - Ela começou.
Ele enfiou as mãos nos bolsos. Isso o impedia de fazer o que queria.
─ De nada.
─ Boa noite. - Disse ela.
Ele apenas acenou com a cabeça.
Ela se virou e começou a destrancar a porta. E hesitou.
─ Eu sei que tranquei...
Ele a moveu para trás e empurrou a porta, procurando o interruptor de luz ao mesmo tempo.
O que ele viu o deixou furioso.

CAPÍTULO OITO
Jake estava tão silencioso que Ida se moveu atrás dele e olhou além dele para sua sala de estar.
─ Oh meu Deus! - Ela avançou, mas ele a segurou. ─ Butler! Não. - Ela soluçou. ─ Não!
Jake passou por ela, seguindo o rastro de sangue até seu grande gato amarelo.
Butler estava deitado em um tapete, sem se mover.
─ Eu gostaria de conhecer um assassino de aluguel! - Ela soluçou. ─ Eu o mandaria atrás de Bailey Trent
neste exato minuto! Ele matou meu gato! Ele matou meu bebê!
Jake estava com a mão no gato. Ele prendeu a respiração.
─ Ele ainda está vivo. Você pode ir e pedir a Fred que abra a porta traseira da limusine? Eu vou carregá-lo.
Vamos levá-lo ao veterinário agora mesmo!
─ Continua vivo? - Ela engasgou, as lágrimas rolando pelo seu rosto.
─ Sim!
***
Eles o colocaram no banco de trás. Ida não se preocupou em trancar a porta. Afinal, quem quer que
tenha ferido o gato, não foi parado por uma fechadura.
Fred, o motorista de Jake, enlouqueceu quando foi autorizado a ultrapassar os limites de velocidade.
Eles pararam em frente ao consultório em poucos minutos, onde foram recebidos pelo próprio veterinário,
que tinha vindo de casa após Jake telefonar da limusine.
─ Traga-o imediatamente. - Disse o veterinário rapidamente.
Jake pegou o gato, enrolado no tapete, do colo de Ida e o carregou para dentro. Ele colocou Butler na
mesa de exame e passou o braço em volta de Ida, que estava angustiada.
─ Ele é tudo que eu tenho. - Ela soluçou. ─ Por favor, doutor, você pode salvá-lo? Eu não me importo com
o que custar!
O veterinário, Donald Mulholland, ainda estava examinando o gato.
─ Existem algumas lacerações profundas, não fatais, mas preocupantes, e parece uma costela quebrada.
Provavelmente uma cauda quebrada, também, aqui na ponta. - Ele se virou para ela e sorriu gentilmente. ─
Não ferimentos fatais. Vou precisar de um raio-X... Lá está Ashley. - Acrescentou ele com um sorriso para
a jovem que entrava pela porta. ─ Minha esposa. - Disse ele, apresentando-os. ─ E minha sócia. Ela é mais
inteligente do que eu. - Ele acrescentou em voz alta.
Ashley deu uma risadinha.
─ Mentiroso. O que temos? - Ela perguntou, movendo-se para ficar ao lado do marido, enquanto ele a
informava.
─ Vamos levá-lo para o raio-X. Você vai ficar?
─ Oh, claro. - Disse Ida imediatamente, reprimindo outra onda de lágrimas.
O médico pegou Butler e, seguido por sua esposa, foi para a sala de raios-X.
─ Você não precisa ficar. - Ida começou, olhando para Jake.
Ele se curvou e beijou os olhos dela.
─ Shhh. - Ele sussurrou. O que não contribuiu em nada para conter as lágrimas, mas induziu mais delas. A
ternura ainda era novidade para Ida.
Ele a segurou gentilmente enquanto ela chorava, e então enxugou seu rosto com um lenço branco
imaculado.
─ Eu não imaginava que os homens ainda andavam com lenços. - Disse ela, com a voz rouca de tanto
chorar.
─ Minha mãe achava que qualquer homem decente deveria ter um estoque amplo. - Brincou ele.
Ela sorriu.
─ Obrigada. Por tudo.
─ Alguém entrou em sua casa e não parecia uma entrada forçada. - Disse ele calmamente.
Ela deu um longo suspiro.
─ Sim, eu percebi isso. - Ela olhou para ele. ─ Laredo tem uma chave. - Ela disse hesitantemente.
Jake pegou seu telefone celular e ligou para Cody Banks.
─ Mas eu não tenho certeza... - Ela começou.
─ Você não pode se dar o luxo de hesitar. - Ele interrompeu bruscamente. ─ Um homem que faria isso com
um gato faria com uma pessoa. Ou um cavalo. - Ele acrescentou com raiva. E lembrou que os cavalos dela
tinham ferimentos semelhantes aos do gato, o que podia indicar que um único agressor foi responsável por
ferir todos os três animais.
Ela suspirou. E assentiu.
─ Banks. - Veio uma voz do outro lado da linha.
─ Jake McGuire. Alguém entrou na casa de Ida Merridan e quase matou seu gato. A porta não foi forçada.
Seu suposto guarda-costas tem uma chave.
Houve uma palavra muito ruim do xerife.
─ Onde você está, em casa?
─ No veterinário, com o gato. - Respondeu Jake.
─ Me ligue quando você a levar para casa. Posso chegar lá em menos de cinco minutos.
─ Eu farei isso. Obrigado.
Ele desligou o telefone.
Ela deu um suspiro de alívio.
─ Eu devia saber. - Ela gemeu. ─ Eu devia ter suspeitado que qualquer coisa que me importasse estaria na
linha de fogo. Qualquer coisa ou qualquer pessoa... - Ela parou com um olhar de horror enquanto olhava
para Jake.
Ele deu a ela um olhar irônico.
─ Eu passei um período do serviço militar em um dos piores buracos do inferno da existência, e você acha
que um homem que é covarde o suficiente para torturar animais é uma ameaça para mim?
─ Qualquer um pode ser pego de surpresa. - Ela começou.
Os olhos dele eram tão ternos quanto seu sorriso.
─ Você se preocupa comigo, não é? - Ele perguntou.
Ela ficou vermelha.
O veterinário saiu bem a tempo de poupá-la de mais constrangimento.
─ Duas costelas quebradas. - Disse ele. ─ E alguns cortes feios. A cauda dele tem uma fratura apenas na
ponta. - Ele balançou a cabeça. ─ Qualquer pessoa que pode machucar um gato assim...! - Disse ele,
zangado.
─ Acho que ele também machucou dois cavalos. - Respondeu Ida. ─ Eles têm cortes profundos nos
flancos...
─ Meu Deus, eu tinha esquecido disso! - O veterinário exclamou. ─ Eu me lembro agora. Tratei de seus
cavalos. - O veterinário balançou a cabeça. ─ Você faz inimigos cruéis, Sra. Merridan.
─ O ex-marido dela. - Jake disse secamente. ─ Recém-saído da prisão por agredi-la. - Foi um resumo, mas
causou uma reação visível no veterinário, que estava ciente da má reputação de Ida.
─ Uma ameaça? - O veterinário perguntou.
─ Temo que sim. - Disse Ida, suspirando. ─ Eu gostaria que tivesse sido eu, em vez dos meus pobres
cavalos e Butler. - Ela mordeu o lábio inferior. ─ Eu salvei Butler quando ele era muito jovem... Você acha
que ele vai ficar bem? - Ela acrescentou, seus olhos azuis porcelana arregalados de emoção.
─ Posso garantir que ele vai ficar. - Ele a estudou. ─ Temos alarmes contra roubo aqui, porque temos
medicamentos para animais à mão. Se alguém tentar entrar, o xerife pode chegar aqui em menos de cinco
minutos. - Acrescentou ele deliberadamente.
Ela soltou um suspiro.
─ O que você vai fazer?
─ Ficar com ele por alguns dias, apenas para monitorá-lo e ter certeza de que ele está se recuperando.
─ Antibióticos, descanso, dieta cuidadosa, carinho. - Disse sua esposa, juntando-se a eles. Ela sorriu. ─
Você pode ligar a qualquer hora que quiser para ver como ele está.
─ Obrigada. - Disse Ida com voz rouca.
─ Nós também amamos animais. - Disse o veterinário gentilmente.
Ida apenas sorriu. Ela estava exausta de preocupação e medo.

***
Mas, enquanto o motorista os levava de volta para a casa de Ida, ela teve outro medo, e era o que
Bailey faria a seguir. Os cavalos e o gato sublinharam a ameaça.
─ Talvez se eu apenas pagasse... - Ela começou preocupada.
─ E recompensá-lo por quase matar Butler? - Jake perguntou laconicamente. ─ Só sobre o meu cadáver!
Ela olhou para ele com olhos arregalados.
─ Eu quero uma palavra com seu guarda-costas. Acho que o xerife pode querer mais do que eu. - Ele
pegou o celular e ligou para Cody Banks.
O xerife estava esperando por eles na varanda da frente de Ida.
─ Precisamos falar com o guarda-costas. - Disse Jake enquanto ajudava Ida a subir os degraus.
─ Isso seria bom. - Cody respondeu. ─ Acabei de falar com um de seus funcionários em tempo parcial.
Curiosamente, Laredo teve uma morte na família e teve que voltar correndo para o Texas pouco antes de
você chegar em casa.
─ Que conveniente. - Disse Jake friamente.
─ Não é? - Cody respondeu. ─ Meu novo investigador começou hoje. Ele está fazendo uma verificação de
antecedentes de Laredo com a agência que o enviou.
─ A esta hora? - Ida perguntou.
─ Oh, ele não se importa em tirar as pessoas da cama para responder a perguntas. - Disse Cody com um
sorriso divertido.
─ Pode ser uma coisa legal. - Ida comentou.
O telefone do xerife tocou com um bipe surdo. Ele atendeu. Suas sobrancelhas arquearam sob seu
Stetson.
─ Não diga. Obrigado, Dirk. Certo. Ótimo trabalho. - Ele desligou e se virou para Ida e Jake. ─ A agência
que seus advogados contataram, ia mandar um guarda-costas. Alguém ligou, em seu nome, e disse para não
mandá-lo. - Ele fez uma pausa. ─ Aparentemente, seu guarda-costas foi substituído.
Ida ficou boquiaberta.
─ Se eu tivesse verificado! - Ela disse angustiada.
─ Se seus advogados tivessem verificado. - Jake interrompeu, irritado.
─ Ele não vai desistir, sabe disso. - Disse Ida com tristeza. ─ Ele vai conseguir outra pessoa.
─ Nesse caso, ambos faremos uma verificação de antecedentes. - Respondeu Jake.
─ É tudo minha culpa. - Disse Ida. ─ Meus pobres cavalos. Meu pobre gato!
─ Vamos ficar de olho. - Prometeu Cody. Ele sorriu para ela. ─ Eu tenho um policial se recuperando de um
ferimento à bala. Posso mandá-lo ficar com você?
Ela estremeceu.
─ Obrigada. Não.
Cody e Jake trocaram um olhar silencioso.
─ Faça uma mala. - Disse Jake. ─ Você vai para casa comigo.
─ Eu não vou!
Ele notou seu rubor escarlate e riu.
─ Tenho um casal de idosos morando comigo. Ele cuida dos cavalos e ela cozinha. Também tenho uma
empregada que vem diariamente. Eu posso pedir para um deles morar na casa, enquanto você estiver lá. -
Ele acrescentou significativamente.
─ Vá com ele. - Disse Cody imediatamente. ─ Você não está segura aqui. Não até que façamos algumas
investigações. Preciso do nome do seu advogado e do número de telefone dele. Vamos providenciar algo
juntos.
─ Você é tão gentil. - Ela começou.
─ Crimes foram cometidos. - Respondeu Cody. ─ E vou lhe dizer novamente que qualquer homem que
maltrata animais não hesitará em atacar uma mulher.
Ela parecia dividida.
─ Podemos explorar mais alguns restaurantes. - Jake persuadiu.
Ela hesitou.
─ Restaurantes? - Cody perguntou.
Ele acenou com a cabeça, sorrindo.
─ Já estivemos em Galveston e St. Augustine, mas conheço muito mais em todo o país.
Cody riu.
─ Parece divertido. Eu gosto de comida também. - Ele se moveu em direção aos degraus. ─ Eu direi boa
noite. Se você tiver notícias de seu ex-marido, gostaria de saber. - Disse ele a Ida.
Ela assentiu.
─ Eu ligo se souber alguma coisa. E muito obrigado, Xerife Banks.
─ Apenas Cody. - Disse ele, e com um sorriso caloroso que fez os cabelos de Jake arrepiarem um pouco.
─ Cody, então. - Ela concordou, retribuindo o sorriso.

***
Eles viram o xerife ir embora. Jake entrou com Ida e observou a sala enquanto ela fazia a mala. A
marca de sangue ainda estava no chão. Ele franziu a testa, curvando-se para olhar. Havia duas marcas, uma
menor que a outra e mais espessa. Era, ele decidiu, uma mancha, como se quem feriu o gato pudesse ter
levado uma unhada no processo e deixado a mancha ao soltar o gato.
Ele pegou o telefone e ligou para Cody novamente, informando-o sobre o sangue.
─ Estou voltando agora. - Disse Cody. ─ Vou levar o meu investigador comigo. Se você estiver certo,
podemos extrair DNA do esfregaço de sangue.
─ Pode fornecer algumas informações interessantes sobre o suspeito. - Observou Jake.
─ Sim, pode.

***
Cody chegou no momento em que Ida estava saindo do quarto.
─ Estou fazendo as malas, mas precisava saber quanto levar.
─ O suficiente para alguns dias. Sente-se. - Ele disse suavemente, porque ela estava mancando novamente.
Houve uma batida forte na porta da frente.
─ Eu atendo. - Jake disse a ela.
Ela ficou tensa.
─ E se for um dos bandidos de Bailey? - Ela se preocupou.
─ É o xerife. Acabei de ligar para ele.
─ Por quê?
─ Espere e veja. - Ele abriu a porta.
Cody Banks entrou com um homem alto, de ombros largos, cabelo louro prateado e olhos cinzentos
frios.
─ Este é Dirk Coleman. - Ele apresentou o outro homem. ─ Eu o roubei do Gabinete do Xerife do Condado
de Bexar em San Antonio, Texas. Jake McGuire e Ida Merridan.
Dirk assentiu. Seus olhos foram para a mancha de sangue. Ele avançou e apoiou-se em um joelho,
atento às evidências. Ele puxou um kit de coleta de sangue.
Enquanto o investigador realizava sua tarefa, Cody fez mais perguntas, algumas que ele nunca havia
pensado em fazer antes. Uma era sobre os outros vaqueiros que trabalhavam para ela.
─ Apenas dois funcionários em tempo parcial. - Disse ela. ─ Eu só tenho um punhado de cavalos, e eles
cuidam bem de Silver, Gold, Rory e os outros quatro. Eles são quase como uma família. Estão aqui desde
que meu primeiro marido comprou o rancho da família de volta e o reformou. Ele pensou que eu gostaria
de passar algumas das minhas férias aqui, e foi o que fiz.
─ Os palominos estão aqui há algum tempo? - Cody perguntou.
Ela assentiu.
─ Cerca de dois anos. - Ela fez uma careta. ─ Gold muito mais. - Seus olhos procuraram os de Cody. ─
Você não acha que Bailey pode mandar alguém até a casa do Sr. Colter para machucá-la e a Silver, acha?
─ Se o fizessem e encontrassem J.C. Calhoun, estariam correndo para a fronteira em pouco tempo. - Disse
Cody categoricamente.
─ Eu conheço J.C. - Disse Jake. ─ Estávamos em unidades separadas no Iraque. Ele era um ótimo soldado.
─ Não é um mercenário ruim, também. - Disse Dirk Coleman sem erguer os olhos.
─ Você o conhece? - Cody perguntou.
Ele assentiu.
─ E você sabe disso, como? - Cody perguntou com leve suspeita.
─ Oh, fofoca.
Cody não acrescentou nada a isso. Seu novo investigador era muito fechado. Um bom detetive, mas
com um passado misterioso. Ele nunca falava sobre isso, e seus registros datavam de uns sete anos. Antes
disso, era difícil encontrar até mesmo vestígios dele. Isso deixou Cody intrigado, mas ele estava tão
desesperado por ajuda que não prestou muita atenção a omissão. Afinal, se o xerife do condado de Bexar
recomendou o homem e eles trabalhavam juntos, eles teriam feito uma verificação exaustiva dos
antecedentes dele.
─ Você falou com o advogado de Ida? - Jake perguntou a Cody.
─ Sim. - Ele suspirou. ─ Ida, ele é um cara muito legal e com as melhores intenções, mas é um advogado
civil. Ele não está realmente informado sobre os contatos da máfia e o que eles podem significar em uma
situação como esta.
─ Certíssimo. - Murmurou Dirk ao terminar de coletar as evidências. Ele as colocou em uma bolsa e
guardou o telefone celular, ele o estava usando para fotografar as evidências da mancha de sangue e do
rastro de sangue. Ele se levantou. ─ Gostaria de voltar de manhã e falar com seus funcionários em tempo
parcial. - Disse ele. ─ Só por precaução. - Ele acrescentou quando ela pareceu preocupada.
─ Você não vai... bem... fazer com que eles se sintam sob suspeita ou algo assim? - Ela perguntou. ─ Eles
são bons homens.
Dirk inclinou a cabeça e olhou para ela. Mesmo com os olhos vermelhos, ela era linda.
─ Eu não vou causar confusão. Mas precisamos saber se há alguma conexão. Um deles pode ter um parente
ou amigo que faria algo pelo seu ex-marido.
─ Oh, entendo. - Ela respondeu, balançando a cabeça.
Ele sorriu. Seus olhos cinza brilharam. Ele era muito bonito.
─ Se o seu ex-marido estava por trás disso, nós descobriremos. E ele lamentará muito que tenhamos feito.
Ela relaxou e retribuiu o sorriso.
─ OK. Obrigada.
Jake se aproximou e pegou a mão dela gentilmente.
─ Sim. Muito obrigado. - Acrescentou ele gentilmente, mas seus olhos cinza pálido, apenas um tom mais
claro que os do investigador, estavam lançando faíscas.
Dirk riu disfarçadamente, desejou boa noite a ambos e voltou para o carro com as provas.
─ Ele vai levar o sangue para o escritório do laboratório criminal do estado. - Disse Cody. ─ Tenho quase
certeza de que há o suficiente para obter DNA. Eu direi a vocês dois quando tivermos os resultados.
─ Muito obrigada. - Disse Ida.
Cody sorriu.
─ Sem problemas. Boa noite.

***
Jake olhou furioso para eles. Ele se virou para Ida e a carranca foi rapidamente apagada.
─ Termine de fazer as malas e vamos embora. - Disse ele suavemente.
─ OK. - Ela sorriu. ─ Obrigada, Jake. Não me sinto confortável em ficar aqui sozinha, mas nunca o teria
convidado...
─ Eu sei disso. - Ele a interrompeu.
─ Mas e o resto dos meus cavalos? - Ela se preocupou. ─ Os funcionários em tempo parcial vão para casa à
noite.
─ Eu vou cuidar disso. Você acabou de fazer as malas, certo? - Ele perguntou gentilmente.
Ela sorriu.
─ Certo.
Ele pegou o celular e ligou para o capataz, que disse que em uma hora teria um homem na casa de
Ida, armado e pronto.

***

Ida voltou lentamente ao quarto, intrigada com o comportamento estranho de Jake quando estava
conversando com o investigador. Ele não podia estar com ciúmes dele, é claro. Ela sentiu uma onda de
prazer passar por ela enquanto processava o pensamento improvável. Não, ela disse a si mesma com
firmeza, ele estava apenas sendo gentil. Claro.
Ela juntou roupas suficientes para alguns dias e as colocou em uma mala. Estava pesada.
Ela saiu para o corredor, franzindo a testa enquanto caminhava.
─ Jake, você pode pegar a mala para mim?
─ Claro. - Ele olhou ao redor do quarto enquanto pegava a bagagem. Sem frescuras, nada extravagante. O
quarto era espartano. Havia uma cama, uma cômoda, uma mesinha de cabeceira com um abajur, vários
tapetes, uma penteadeira com espelho e uma cadeirinha. Nada mais. Nem mesmo uma foto na parede.
─ Você vive com simplicidade. - Observou ele.
Ela deu de ombros.
─ Eu tenho pinturas que gostaria de colocar, mas precisam colocar fundo e molduras primeiro, e é um
longo caminho até Casper.
Ele arqueou as sobrancelhas.
─ Eu realmente não posso dirigir tão longe. - Ela confessou. ─ E não há nenhuma loja de molduras em
Catelow.
─ Entendi. - Ele liderou o caminho para a sala de estar, observando que ela havia pegado a bengala e a
estava usando. Provavelmente um mau tempo estava a caminho. Pessoas com lesões nas articulações
sentiam muita dor pouco antes de um sistema de baixa pressão entrar em ação.
─ Você está bem? - Ele perguntou, preocupado.
─ Estou bem. - Ela mentiu. O efeito do ibuprofeno estava passando. Ela parou. ─ Jake, meu ibuprofeno
está no armário do meu banheiro...
Ele largou a mala e foi buscá-lo. O armário de remédios continha band-aids, creme antibiótico e
ibuprofeno. Ele pegou o frasco.
─ Sem escova de dente? - Ele perguntou quando se juntou a ela.
Ela riu.
─ Na mala. - Disse ela, indicando a bagagem.
No caminho de volta, ele notou uma caixa, aberta, com cabos dentro.
─ O que diabos é isso? - Ele perguntou.
─ É a minha unidade TENS.* - Disse ela.
─ O que?
─ Tem eletrodos. Você os coloca onde está a dor e liga a energia. Ele impulsiona choques elétricos no
músculo para ajudar a relaxá-lo. Funciona muito bem, mas é desconfortável de usar.
Ele sorriu.
─ Vivendo e aprendendo. - Ele riu.
─ É verdade. - Ela retribuiu o sorriso.
─ OK. Se você estiver pronta, podemos ir.
Ele a levou para fora da porta e ela a trancou.
O motorista, Fred, estava parado no banco de trás da limusine com a porta aberta, sorrindo para eles.
─ Tudo certo? - Ele perguntou. ─ Espero que eles peguem a pessoa que machucou seu gato, senhorita. -
Acrescentou. ─ Eu tenho gatos também.
Ela sorriu.
─ Obrigada.
Jake a ajudou a entrar no carro e entrou atrás dela.

***
O rancho dele era grande. A limusine desceu por uma calçada pavimentada com cercas brancas de
cada lado. Mesmo à noite, era impressionante. A casa ficava bem longe da estrada, em um bosque de
álamos e choupos. Era de tijolos amarelos com arcos elegante e muitos acabamentos de ferro forjado preto.
Havia duas varandas. De cada lado da casa havia o que pareciam jardins.
─ Deve ser lindo aqui na primavera. - Ela disse enquanto ele a ajudava a sair do carro. ─ Meu Deus, parece
que deveria estar no Texas ou no Arizona...
Ele deu uma risadinha.
─ Aqui é chamada a Casa espanhola. - Ele disse, observando seu motorista tirar a mala dela do porta-
malas. ─ Meu avô se casou com uma dama espanhola. Ela era aparentada com a maioria das casas reais da
Europa, embora sua família a tenha rejeitado quando ela veio para a região selvagem do Wyoming para
viver em uma pobre fazenda de gado. Ela era a mãe da minha mãe. Meu avô reformou a casa para ela
depois que algumas ações nas quais ele investiu tiveram um lucro enorme. Foi a única vez que ele teve
dinheiro, mas nunca se arrependeu de gastá-lo. Ele amou minha avó até o fim de seus dias. Eu também. -
Ele acrescentou bruscamente, afastando a emoção. ─ Quando ela morreu, minha mãe herdou muito
dinheiro e propriedades. Meu pai já estava morto.
─ É lindo. - Disse Ida. ─ Há flores na primavera?
─ Muitas delas. - Respondeu ele. ─ Minha mãe as amava. - Ele fez uma careta. ─ Meu pai arrancou cada
uma delas, a cada primavera. Eu as replantei quando ele finalmente se foi, e éramos apenas minha mãe e
eu. Eu as mantive do jeito que ela as deixou.
─ Que homem terrível - Disse ela.
─ Você não sabe nem a metade. - Ele respondeu.
O motorista abriu a porta e Jake a conduziu suavemente pelo caminho de paralelepípedos que levava
à porta da frente.
Era difícil para ela andar na superfície irregular, dependendo da bengala para atravessar com
segurança o que parecia um labirinto enquanto evitava as pedras mais proeminentes.
Jake olhou para trás e percebeu tardiamente o quão difícil era para ela.
─ Aqui. - Disse ele, pegando a bengala dela e jogando-a para o motorista da limusine, que a pegou
habilmente no ar.
Jake ergueu Ida nos braços e a carregou até a porta, que foi aberta por sua pequena governanta,
Maude Barton.
Ela sorriu para Jake e acenou com a cabeça secamente para Ida.
*Aparelho de eletroterapia(TENS)
─ Eu trouxe a Sra. Merridan para casa comigo por alguns dias, Sra. Barton. - Disse ele. ─ A cama do
quarto de hóspedes está arrumada?
─ Sim, senhor. - Foi a resposta reservada.
Ida suspirou. Aparentemente, sua reputação a precedeu. Ela apenas sorriu tristemente para a mulher
mais velha quando Jake se virou e a carregou pelo corredor até uma porta aberta.
Além dela, estava o tipo de luxo ao qual ela se acostumou ao longo dos anos. O quarto de hóspedes
era decorado em tons pastéis suaves, pêssego e bege, com paredes azul-claro e um carpete combinando. A
cama, king-size, estava coberta com um edredom estampado em azul e bege.
─ É lindo. - Ela disse baixinho enquanto Jake a colocava no chão.
─ Fico feliz por você gostar. Por que você não se deita um pouco, enquanto eu examino alguns papéis e
converso com meu administrador?
Ela forçou um sorriso, porque estava com muita dor.
─ Isso seria bom, se você não se importa. E você poderia pegar meu ibuprofeno e pedir à sua governanta
algo para que eu possa tomá-lo?
─ Claro.
Ele pegou os remédios receitados e foi à cozinha falar com a sra. Barton.
─ Você pode fazer café e levar uma xícara para Ida? - Ele perguntou.
Maude o fulminou com o olhar.
─ Por que ela não pode vir aqui e pegar? - Ela perguntou irritada.
Os olhos claros dele adquiriram um brilho de aço.
─ Se não gosta de trabalhar aqui Maude, você sabe onde fica a porta.
Ela prendeu a respiração. Era um trabalho muito bem pago. Nunca encontraria outro igual. Ela cerrou
os dentes.
─ Vou levar imediatamente, Sr.McGuire.
─ Eu imaginei que sim. - Ele retrucou. ─ E se você não for educada ao entregar, eu saberei.
Era uma ameaça velada. Ela engoliu em seco.
─ Claro, Sr. McGuire.
Ele acenou, um breve movimento de sua cabeça, e saiu pela porta da frente para falar com o
motorista da limusine antes de começar a trabalhar.

***
A Sra. Barton levou uma bandeja para o quarto onde Ida estava deitada na colcha, apoiada em alguns
travesseiros, seu lindo rosto tenso e pálido de dor.
Ela fez uma careta ao ver a bandeja.
─ Oh, por favor, Sra...
─ Barton, não era isto?
─ Eu não precisava disso. Só um pouco de água, para tomar meu remédio.
Maude inclinou a cabeça.
─ Remédio? - Ela perguntou curiosamente.
Ida acenou com a cabeça. Ela se sentou na beira da cama, balançou as pernas, dolorosamente, e abriu
o frasco de remédio. Ele saltou de sua mão, espalhando comprimidos por todo o edredom imaculado.
─ Oh maldição! - Ela gritou, lutando contra as lágrimas. ─ Primeiro meus cavalos, depois meu gato, agora
isso!
Maude colocou a bandeja na penteadeira e recuperou o frasco de remédio, olhando para ele com as
sobrancelhas arqueadas enquanto colocava os comprimidos de volta nele.
─ Quantos destes você toma? - Ela perguntou, em um tom muito menos hostil do que Ida esperava.
Ida suspirou.
─ Três por dia.
─ São comprimidos de 800 miligramas. - Observou ela.
─ Sim. É preciso muito quando o tempo muda. Eu tenho uma prótese parcial do quadril e uma haste de
metal com parafusos na minha perna direita, segurando o fêmur quebrado no lugar. A coisa toda lateja
quando temos sistemas de pressão em movimento.
Maude entregou o frasco de comprimidos para Ida, que pegou um comprimido e esperou enquanto
Maude colocava a bandeja na cama ao lado dela.
─ Você quer creme e açúcar? - Ela perguntou educadamente.
─ Não. Eu bebo puro. Obrigada. - Ida acrescentou quando ela o pegou com a mão instável e tomou o
ibuprofeno com dois goles de café escaldante.
─ Meu primo toma isso para um problema nas costas. - Maude disse a ela. ─ Ele diz que só pode tomar
cinco dias, depois precisa esperar dez para tomá-los novamente. Ele também deve tomá-los com a comida.
Ida suspirou.
─ Não estou com vontade de comer. Alguém quase matou meu gato. Ele está no veterinário...
─ Bom Deus! Quem machucaria um gato? - Maude exclamou.
─ O mesmo tipo de homem que ri quando joga você por cima da mureta para o piso inferior de um
estacionamento. - Disse Ida com um sorriso triste. ─ Pelo menos eu caí na grama ou provavelmente estaria
morta.
Maude fez uma careta, estremecendo por dentro com a dor que o ferimento deve ter causado à
mulher mais jovem.
─ Bem, você tem que comer alguma coisa ou vai prejudicar seu estômago. - Ela murmurou. ─ Vou fazer
alguns ovos mexidos.
─ Por favor, não tenha nenhum trabalho extra...
─ Não é trabalho. - Disse a mulher mais velha secamente. ─ Nenhum mesmo. - Ela colocou o pequeno
bule e o guardanapo na mesa lateral. ─ Vou levar de volta para a cozinha. - Acrescentou ela, indicando os
potes na bandeja.
─ Muito obrigada, Sra. Barton. - Respondeu Ida.
─ De nada. - Maude não sorriu ao sair. Mas Ida não esperava que ela o fizesse. A má reputação que ela
trabalhou tanto para construir estava tendo consequências tristes. Isso a protegia dos homens, mas a tornava
inimiga instantânea da maioria das mulheres que ela conhecia.
Bem, isso não poderia ser evitado. Ela terminou o café e pousou a xícara com cuidado, recostando-se
nos travesseiros com os olhos fechados.
Apenas alguns minutos se passaram antes que a Sra. Barton voltasse com um prato de ovos mexidos
e duas fatias de bacon.
─ Coma isso. - Ela disse em um tom maternal. ─ Isso vai impedir que essas pílulas desagradáveis
dissolvam suas entranhas.
Ida riu involuntariamente.
─ Sim, eu espero que sim. Muito obrigada. Lamento dar mais trabalho a você...
─ Não se preocupe. - Maude respondeu, e ela ainda conseguiu dar um breve sorriso. ─ Apenas coloque isso
na mesa lateral quando terminar. - Ela fez uma pausa. ─ Por que alguém iria atacar seu gato? - Ela
perguntou novamente.
─ Meu ex-marido foi mandado para a prisão por me agredir. - Ela disse simplesmente. ─ Ele foi solto, eu
tenho muito dinheiro e ele tem muitas dívidas de jogo. Ele diz que devo a ele pelo que aconteceu. Ele já
machucou dois dos meus cavalos. Acho que o pobre Butler era o elo mais fraco da corrente. Pobre gato
velho. - Acrescentou ela tristemente. ─ Ele tinha uma corda em volta do pescoço que quase o sufocou
quando eu o encontrei na floresta. E vergões por todo o corpo, como se alguém o tivesse atingido com um
cinto. Eu tirei a corda e o levei para casa comigo. Demorou quase duas semanas para ele sair do
esconderijo quando eu entrava na sala. O veterinário disse que ele parecia ter sido torturado por alguém.
Foi o que pensei também. Ele viveu isso e agora de novo. Duas costelas quebradas, uma cauda quebrada,
vergões por toda parte... - Ela parou, engolindo em seco. ─ Havia uma trilha de sangue na metade da sala
quando cheguei em casa. Se o Sr. Colter não tivesse levado meus pobres cavalos, imagino que eles seriam
vítimas de novo. Ambos tinham cortes profundos nos quartos traseiros. Meu ex-marido disse que era
apenas uma amostra do que eu poderia esperar se não lhe desse algum dinheiro.
Maude assobiou baixinho.
─ E eu pensei que tinha uma vida difícil. - Ela murmurou. ─ Ele deveria ser preso de novo.
─ Se o xerife puder encontrar qualquer coisa que o conecte aos ferimentos dos meus bebês, ele o prenderá.
- Ida respondeu, os olhos azuis faiscando.
─ Você pode ser a próxima. - Disse Maude e fez uma careta.
─ Sim. - Ela olhou para a outra mulher preocupada. ─ Estou colocando você e Jake em perigo só por estar
aqui!
─ Não, você não está. - Foi a resposta firme. ─ O Sr. McGuire tem dois cowboys que costumavam ser
mercenários. Ele os tirou de Ren Colter. Nada, e quero dizer nada, passa por eles. Você está segura aqui.
Ida mordeu o lábio inferior.
─ Segura. - Ela riu fracamente. ─ Não estive segura desde o dia em que conheci Bailey Trent.
─ Bem, você está agora. Coma esses ovos antes que esfriem. E se precisar de mais café, é só me chamar,
ok?
─ OK. - Ela pegou o garfo com um longo suspiro. ─ Obrigada pela comida. E as palavras gentis. E por
ouvir.
Maude enrubesceu.
─ Foi... de nada. - Ela sorriu abruptamente e voltou para a cozinha.
Ida terminou os ovos e o bacon, pôs o prato na mesa, bebeu meia xícara de café e deitou-se nos
travesseiros. Minutos depois, ela estava dormindo.

CAPÍTULO NOVE
Maude encontrou Jake na porta quando ele entrou.
─ Lamento muito ter sido precipitada em julgar a Sra. Merridan. - Disse ela com firmeza. ─ Eu não
conhecia suas verdadeiras circunstâncias.
─ Fofoca é uma coisa perigosa. - Respondeu Jake. ─ Ela tem alguns problemas sérios.
─ Ela me disse. - Ela fez uma careta. ─ Com que tipo de monstro ela foi casada?
─ Um dos piores tipos. - Respondeu ele. ─ Acho que ele vai colocá-la em perigo logo. Seus animais foram
um aviso.
─ Coitado do gato dela. - Ela retrucou. ─ Ela disse que o encontrou na floresta com uma corda amarrada
em volta do pescoço e vergões por todo o corpo. Ela o levou a um veterinário e o adotou. Ela estava muito
chateada por ele ter passado por algo semelhante novamente. - Ela ergueu os olhos para ele. ─ Ela não é o
que eu pensava.
─ Ela também não é o que eu pensava, Sra. Barton. - Ele respondeu baixinho. ─ Ela é como um camaleão.
Finge ser algo que não é, para que os homens não a ataquem. Ela tem medo deles.
─ Pobre criança. - Ela suspirou. ─ Que vida ela teve.
Ele assentiu.
─ Ela poderia ter continuado na faculdade e ensinado física. Pena que ela não fez isso.
─ Física? - Maude exclamou.
Ele deu uma risadinha.
─ Ela se formou no MIT.
─ Bem, você não sabe como são as pessoas, não é? Eu a alimentei com ovos mexidos e bacon. Não é uma
boa ideia tomar um remédio tão forte com o estômago vazio. Meu primo está no mesmo tipo de dose.
─ Um dia, espero, eles encontrarão um tratamento que funcione melhor e não seja tão perigoso. - Ele
respondeu.
─ E então eles vão levar dez anos para aprová-lo para uso geral. - Murmurou Maude. ─ Vou limpar a
cozinha. O que você gostaria de jantar, Sr. McGuire?
─ Só sopa e salada. Acho que isso é tudo que Ida vai querer também. Ela está chateada com o gato.
─ Eu sei como ela se sente. Tenho quatro gatos em casa. Um foi atropelado por um carro e quase não
escapou com vida. Eles tiveram que arrancar uma de suas pernas, mas ele ainda corre muito bem. - Ela
acrescentou com um sorriso.
Ele assentiu.
─ Gato sortudo.
─ Esse é o nome dele, agora.
─ Vou jantar por volta das seis.
─ Seis está bem. Como está Ida?
─ Dormindo. - Ela balançou a cabeça. ─ Ela tem olheiras enormes sob os olhos. Eu não acho que ela
durma bem.
─ Ela tem pesadelos. - Ele respondeu.
─ E isso não me surpreende em nada.
─ Se o consultório do veterinário ligar para cá, se eles não conseguirem me encontrar no celular, anote a
mensagem, ok?
─ Eu adoraria. E, senhor... - Acrescentou ela, um pouco envergonhada. ─ sinto muito sobre a maneira
como eu estava quando a Sra. Merridan entrou aqui. Ela não é a mulher que eu pensava. De modo nenhum.
Ele sorriu.
─ Ela não é a mulher que ninguém espera.

***
Ele entrou para olhar Ida. Ela estava encolhida de lado na cama enorme, os olhos fechados, longos
cílios negros apoiados em suas bochechas. Ela estava linda assim. Ele teve que se forçar a sair do quarto.
Quando ele se lembrou não apenas do xerife, mas também do interesse do investigador por ela, se
sentiu enfurecido. Ele tinha concorrência. E não tinha certeza de como iria lidar com isso, o que o
surpreendeu, porque ele tinha certeza de que Ida não se aproximaria dele. Aparentemente, ele cometeu um
erro de cálculo. Isso lhe deu algo em que pensar enquanto trabalhava no escritório.

***
Ida acordou bem a tempo do jantar. Maude trouxe uma bandeja com sopa, salada e molho caseiro,
com um bolinho recheado de sobremesa.
─ Eu poderia ter ido até a mesa, Sra. Barton. - Ela protestou. ─ Isso dá muito mais trabalho para você!
Maude apenas sorriu.
─ Não é nenhum trabalho. Adoro cozinhar. E não é como se você estivesse no décimo andar de um prédio
de apartamentos. Você está bem no final do corredor.
Ida riu suavemente.
─ Sim. Mas obrigada.
─ De nada. Espero que você goste.
Ela voltou para a cozinha e serviu o jantar de Jake. Ele estava sentado à mesa lendo um boletim da
bolsa e olhando raivosamente para ele.
─ Ora, ora, Sr. McGuire, ler todo esse material vai apenas bagunçar sua mente e arruinar seu apetite.
Ele deu uma risada.
─ É verdade. - Ele admitiu. Dobrou o papel e o moveu para o lado.
─ É uma boa noite para a sopa. - Ressaltou. ─ Cruelmente frio e eles estão prevendo trinta centímetros de
neve esta noite.
─ Eu sei. Tenho feito ligações para organizar as coisas aqui. É melhor você ir para casa enquanto a estrada
ainda está transitável. Vamos colocar os pratos na pia quando terminarmos o jantar.
─ Sra. Danbury ainda não apareceu, e o marido dela ligou e disse que uma das crianças estava doente e ela
não poderia vir aqui esta noite. - Ela comentou preocupada. ─ Tem certeza de que não quer que eu fique?
Ele apenas riu.
─ Com Ida em sua condição atual, não acho que nós vamos provocar um grande escândalo.
Ela sorriu.
─ Eu deveria pensar que não. Vou passar isso adiante, a propósito. A Sra. Merridan teve sua cota de
problemas. Vou ver se posso ajudar a resolver pelo menos um deles.
─ Obrigado.
─ Eu gosto dela. Ela é legal.
─ Sim. - Ele suspirou. ─ Ela é.

***
Após Maude sair, Jake retirou-se para seu escritório para examinar os mais novos registros de
computador sobre seu rebanho de raça pura. Sua mente não estava realmente nisso. Estava em sua hóspede.
Ele não confiava nela, ainda não, mas estava atraído por ela de uma forma que não queria estar. Ela era
uma incógnita. Ele estava tentando superar Mina. Este era um momento ruim para se envolver com outra
mulher. Especialmente alguém tão frágil quanto Ida parecia ser.

***
Ele telefonou para o homem que mandou para a casa de Ida para monitorar os cavalos restantes.
─ Ei, Bob. - Ele disse gentilmente. ─ Como está indo?
─ Tudo bem, chefe. - Foi a resposta. ─ Eu montei alguns sensores no estábulo e coloquei câmeras de
vigilância por todo o lugar, como você me disse para fazer. O investigador do xerife veio alguns minutos
atrás com a mesma pergunta que você acabou de fazer. Eu disse a ele que você levou a Sra. Merridan para
sua casa.
Jake abafou uma risada satisfeita.
─ Ela está dormindo. Ela adora aquele gato. O veterinário diz que tudo ficará bem com tempo e cuidado.
─ É preciso uma pessoa má para machucar um gato dessa maneira. Ou cavalos. - Ele acrescentou com
raiva.
─ Sim. É por isso que você está aí e ela está aqui. Ainda está carregando aquela espingarda?
─ Ah, sim. - Respondeu Bob. ─ Eu tenho chumbinho para advertência e carga dupla para intrusos sérios.
Jake riu.
─ Coisa desagradável, chumbinho.
─ Tente sal mineral. - Bob respondeu com uma fala arrastada. ─ Eu estava trabalhando para um vizinho no
final da adolescência e carreguei um fardo nas minhas costas. Doeu quase tanto quanto o cinto do meu pai
quando ele descobriu pelo fazendeiro o que eu estava fazendo. E, além disso, mamãe teve que tirar o sal da
minha pele.
─ Ah, infância. - Jake respondeu com uma risada. ─ Memórias tão doces.
─ Essas não foram agradáveis, chefe. - Foi a resposta divertida.
─ Nunca paro de me surpreender com as pessoas falando sobre como a infância foi maravilhosa. - Jake
suspirou. ─ A minha também não foi tão boa.
─ A de ninguém foi. - Bob respondeu. ─ Acho que é tudo fantasia, algo para fazer seus próprios filhos
pensarem que deveriam se comportar melhor, para que possam ter uma infância semelhante.
─ Seu demônio sortudo. Você tem três.
─ Lucy e eu amamos cada um deles também. - Disse Bob. ─ Por que você não se casa e tem os seus
próprios? Você não está ficando mais jovem.
─ Eu estou. - Disse Jake com arrogância fingida. ─ Estou fazendo cursos sobre como viver para sempre,
mas não os compartilharei se você insistir na minha idade.
Bob deu uma risadinha.
─ Mantenha seus olhos abertos. Se houver algum problema, chame o xerife primeiro e depois a mim, ok?
─ Vou fazer isso.

***
Ele desligou o telefone. O ex-marido de Ida sabia que seu capanga havia fugido para as montanhas?
Ele ficou desanimado pela vinda dos homens da lei depois que o gato foi ferido? Ou ele estava apenas
ganhando tempo, esperando para fazer algo mais traumático do que machucar os cavalos de Ida e seu gato?
Isso era preocupante.
Enquanto ele estava sentado em sua mesa, pensando sobre isso, ouviu um movimento no corredor.
Ele saiu para ver o que era.
Ida parou no meio do caminho.
─ Eu o atrapalhei? Desculpa. Queria ver se havia café. Sua governanta disse que deixaria a cafeteira
aquecida na cozinha. Devo ter cochilado.
─ Você precisava descansar, eu imagino. - Ele disse, sorrindo. ─ Eu também gostaria de uma caneca.
Vamos.
Ele foi à frente até a cozinha, notando que ela estava andando um pouco melhor. Ela estava vestindo
jeans com um suéter azul de mangas compridas que quase combinava com a cor de seus olhos. Seus pés
estavam em chinelos.
─ A dor está diminuindo? - Ele perguntou.
Ela assentiu.
─ Isso oscila. - Disse ela. ─ Tenho artrite pós-traumática no quadril por causa dos ferimentos. Eles fizeram
uma artroplastia parcial do quadril e tiveram que recolocar o fêmur no lugar e quase reconstruí-lo. Daí a
haste e os parafusos. - Ela suspirou. ─ Tive sorte de não ter sido pior.
─ Você disse que também tinha vértebras danificadas. - Lembrou.
─ Duas, na parte inferior da minha coluna. Eles as restauraram. - Ela riu suavemente. ─ Claro, também
tenho problemas nas costas. - Ela balançou a cabeça. ─ Tudo minha própria culpa, acredito. Eu deveria
saber que Bailey era bom demais para ser verdade. Mas eu era tão estúpida com os homens.
─ Você não saiu com ninguém enquanto estava na faculdade? - Ele perguntou distridamente enquanto
servia o café quente em duas canecas.
─ Eu era casada. - Disse ela com um olhar irônico.
Ele se virou, franzindo o cenho.
─ Desculpa. Não estava pensando.
Ela sorriu.
─ Está bem. Minha reputação me segue. Foi realmente uma ideia estúpida, mas eu estava tão desesperada
para manter os homens afastados quando voltei para cá. Eu não saí com ninguém, exceto amigas quando
estava no MIT. Elas pensavam que eu estava louca. - Ela bebeu café e suspirou. ─ Acho que estou sem
contato com o mundo moderno. Fui protegida por toda a minha vida, então me casei com um homem que
também me protegeu. Depois houve Bailey. - Ela fez uma careta.
─ Todos cometemos erros. - Ressaltou.
─ Alguns de nós mais do que outros. - Ela respondeu. ─ Eu estava com medo de encontrar outro homem,
ficar louca por ele e acabar como já tinha feito, duas vezes. Aparentemente, eu não tenho nenhum
discernimento a respeito de homens. - Ela não citou o jornalista que ela evitou, porque ele a atraiu também,
antes dele morrer no exterior. Ele poderia ter sido uma boa escolha, mas ela não confiava mais em seu
próprio julgamento.
─ É preciso levar em conta que você era ingênua. - Disse ele. ─ Ser experiente leva tempo e vivências
difíceis.
Ela inclinou a cabeça e o estudou com vívidos olhos azuis escuros.
─ Você teve vivȇncias difíceis?
─ Com mulheres? Sim. - Ele suspirou. ─ Fiquei rico muito rapidamente. Quando minha mãe morreu... -
Disse ele. ─ fiquei com uma fortuna.
─ Não foi para o seu pai? - Ela parou, rangendo os dentes. ─ Desculpe, eu não queria dizer isso.
Mas ele não se ofendeu. Ele olhou para sua caneca de café.
─ Ele estava na prisão naquela época.
Ela não se moveu. Ela apenas ficou lá, olhando para ele.
─ Ele era como o seu ex-marido, só que não saiu por bom comportamento. Ele pegou uma faca e tentou
matar um outro preso. E morreu em vez disso.
─ Eu sinto muito. - Disse ela suavemente.
Ele tomou um gole de café, queimando o lábio para parar a dor da memória.
─ Nós não lamentamos. Minha mãe teve um pouco mais de dois anos de paz e serenidade antes de morrer,
pelo menos. O pai dela morreu logo depois que ela se casou com meu pai. Não foi até meu pai ser preso e
condenado que a mãe dela morreu, deixando-a como a única herdeira da fortuna da família. Então ela se
tornou uma herdeira. Até então éramos pobres. A avó teria ajudado, mas meu pai recusou qualquer oferta.
Ele odiava a riqueza da minha mãe. O dinheiro estava do lado dela da família, não dele, obviamente.
Quando ela morreu, eu herdei as empresas. - Ele sorriu tristemente. ─ Eu preferia tê-la.
Ela deu um longo suspiro.
─ Eu amava minha mãe assim. - Respondeu ela. ─ Mas meu pai era tão especial para mim. - Ela sorriu. ─
Eu o amava muito. - Ela tomou um gole de café e olhou para ele. Ela queria perguntar por que seu pai tinha
ido para a prisão, mas ela não queria bisbilhotar.
No entanto, ele viu a pergunta em seus olhos. A dor que sentiu contraiu seu rosto, acendeu raiva em
seus olhos.
─ Meu pai estava batendo em um de nossos cavalos com um martelo. - Disse ele com os lábios apertados.
─ Eu tinha um irmão mais velho, Dan. Eu tentei parar meu pai e fui derrubado. Dan estava furioso. Ele me
amava, mas também amava o cavalo que nosso pai estava tentando matar. Dan foi por trás do papai e foi
atingido na cabeça pelo martelo. Ele morreu no local.
─ Oh, Jake. - Ela disse, estremecendo. ─ Eu sinto muito!
─ Então tivemos dois traumas familiares ao mesmo tempo. Eu tive que testemunhar. Não que eu me
importasse. - Ele acrescentou secamente. ─ Foi um prazer absoluto quando o advogado de acusação trouxe
à tona as muitas ligações para o 911 que minha mãe havia feito para a polícia local por causa da brutalidade
de meu pai com ela e seus filhos. Mas perdi meu irmão. Esse foi o inferno mais puro que já conheci, até
que minha mãe morreu, quase três anos depois.
Ela não disse nada. Apenas olhou para ele, com olhos suaves e tristes.
─ Você sabe como é isso. - Acrescentou ele, forçando um sorriso. ─ Você perdeu seus pais também.
Ela assentiu.
─ Fiquei rico da noite para o dia e já estava traumatizado por perder minha mãe, sem falar no que veio
antes. Eu fiquei louco. Eu comprei um jatinho, comprei algumas empresas de mineração, investi em ações
de crescimento* com um olho no longo prazo, não nos lucros de curto prazo, e fiquei ainda mais rico. - Ele
riu. ─ Mulheres, algumas mulheres... - Ele qualificou. ─ enlouquecem por homens ricos. Acho que
encontrei minha parcela delas. Lindas, refinadas, talentosas, cérebros do tamanho de uma ervilha. -
Acrescentou ele com um sorriso. ─ Mas sabe de uma coisa? Depois de um tempo, elas...
─ Todas se parecem. - Ela terminou por ele. ─ Isso foi o que Cort disse. Ele se cansou de ser procurado
pelo que tinha, não pelo que era.
─ Eu também. - Confidenciou. ─ Estou cansado de ser uma carteira com pernas. Eu tenho trinta e sete
anos. - Ele acrescentou calmamente. ─ Eu tenho tudo. Exceto alguém para quem voltar para casa. Achei
que Mina poderia preencher esse lugar na minha vida. - Ele fez uma careta. ─ Mas o barão do gado do
Texas me venceu.
*Ações de crescimento são aquelas que estão aumentando receita e participação no mercado e possuem maiores perspectivas de valorização. A expectativa de
serem maiores no futuro faz com que sejam negociadas a múltiplos mais caros.
─ Ela o ama. - Ida disse suavemente. ─ Não é como se você tivesse perdido uma competição. Ela se
apaixonou.
─ Você já se apaixonou?
─ Eu pensei que sim. - Disse ela depois de alguns segundos. ─ Mas o que eu sentia por Charles era
gratidão, e o que eu sentia por Bailey, a princípio, era apenas atração física e mental. - Ela olhou para ele.
─ Eu não sei o que é amor. E não quero saber. Não mais.
Seu rosto estava calmo e triste.
─ Nem eu.
─ Duas almas perdidas, afogando nossas tristezas no café. - Ela murmurou, e seus olhos azuis brilharam.
─ Que par fazemos!
Ele deu uma risadinha.
─ Nós dois sozinhos, ricos como piratas e ninguém com quem conversar à meia-noite, quando as paredes
começam a se fechar.
Ela assentiu tristemente.
─ Eu sei exatamente como é isso. Paredes. Pesadelos. - Ela fechou os olhos. ─ Eu costumava pensar que
iria melhorar, que eu superaria. - Ela suspirou. ─ Você nunca supera um trauma assim.
Os olhos dele pareciam distantes.
─ Foi assim que me senti quando voltei do exército para casa. Eu pensei, sou um homem adulto, sou durão,
vou saber lidar. - Um lado de sua boca cinzelada virou para baixo. ─ Eu não soube. Só envelheci. - Ele
olhou ao seu redor. ─ Tudo isso... - Disse ele, indicando a riqueza de antiguidades ao seu redor. ─ centenas
de milhares de acres de terra em dois continentes, gado de raça pura, mais dinheiro do que eu poderia
gastar em duas vidas. E eu estou sozinho quando escurece.
─ Eu também. - Ela disse, seu rosto rígido com dor e memórias ruins.
Ele inclinou a cabeça e olhou para ela.
─ Eu não quero me apaixonar novamente. Nem você. Ambos somos ricos e sozinhos. Mas nos damos
muito bem.
─ Nos damos. - Ela disse, tomando mais café.
Ele respirou fundo. Ele teve um pensamento insano. E nem sabia de onde veio, mas parecia certo.
─ Como você se sentiria sobre se casar? - Ele perguntou abruptamente.
Ela piscou. E olhou para ele.
─ Quer dizer, casar com alguém um dia...
─ Quero dizer, casar comigo.
No início ela pensou que era uma piada de mau gosto, exceto que ele não estava sorrindo, e seus
olhos prateados estavam brilhando com algum tipo de sentimento, entrecerrados e penetrantes em seu
rosto.
Seus lábios se separaram em uma respiração instável. Ela apenas olhou para ele e seu rosto ficou
tenso quando se lembrou de como se sentiu atraída por Bailey e o que veio depois.
─ Um casamento de amigos, Ida. - Ele disse calmamente. ─ Só isso. Podemos explorar o mundo juntos,
entre criar gado e cuidar de cavalos. Já tive mulheres mais do que suficientes que me queriam por minha
conta bancária.Você já teve homens mais do que o suficiente, ponto final.
─ Sim, mas você é um homem. - Ressaltou.
─ Deus, espero que sim. - Disse ele, e então riu.
Ela riu também, mas seus olhos azuis estavam sombrios segundos depois.
─ É apenas... bem, a coisa física.
─ Podemos deixar a coisa física de fora. - Interrompeu ele. ─ Não senti muito interesse por sexo desde que
perdi Mina, não que estivéssemos nem perto de ser íntimos. Ela não se sentia assim por mim. O que estou
propondo é um tipo de casamento platônico. Posteriormente, se ambos concordarmos, podemos considerar
a alteração dos termos do acordo. Mas, por enquanto, você terá um quarto separado e eu não vou exigir
nada de você.
─ Isso seria bom para mim. - Ela confessou. ─ Tenho medo dos homens, dessa forma. Mas você...?
─ Estou sentindo minha idade. - Disse ele pesadamente.
─ Trinta e sete não é velho, Jake. - Ela disse suavemente.
Ele sorriu.
─ Você é boa para o meu ego. - Ele suspirou. ─ Alguns homens perdem o controle à medida que
envelhecem. Não é assim comigo. Gosto de boa comida e boa companhia para compartilhá-la.
─ Bem, quando você coloca assim. - Disse. Ela estudou seu rosto magro. Ele era muito bonito. Havia tantas
vantagens no que ele estava propondo, a mais notável sendo que ela não teria que se preocupar em ser
caçada por outros homens, nunca mais. Jake iria protegê-la. E se ele estava disposto a renunciar a aventuras
no quarto, então isso era um bônus adicional. Ela não tinha certeza de que seria capaz de superar o que
Bailey tinha feito com ela.
─ Você está pensando nisso, não é? - Ele perguntou depois de um minuto.
Ela assentiu.
─ Se você acha que poderia viver comigo, desse jeito. - Disse ela. ─ Quartos separados, quero dizer. - Ela
acrescentou e corou, desviando os olhos.
─ Eu posso. - Ele respondeu e era verdade.
Ela deu um longo suspiro.
─ Eu me sinto muito segura com você. - Ela disse suavemente. ─ Eu sei que provavelmente não é o que um
homem gostaria de ouvir...
Ele sorriu.
─ Me faz sentir bem que você pensa em mim dessa maneira.
─ Você é um homem gentil e um cavalheiro. - Disse ela inesperadamente. ─ Eu ficaria honrada em me
casar com você.
Um calor repentino o percorreu como lava derretida. Ele sentiu seu coração disparar como um
foguete, sentiu o sangue correndo em suas veias como uma torrente. Ele não conseguia explicar ou
entender, mas ouvi-la dizer as palavras o fez se sentir invencível. Forte.
─ Eu ficaria honrado se você aceitasse, Ida. - Respondeu ele.
Ela corou também e depois riu baixinho.
─ Suponho que não seja um tipo de casamento comum.
─ Não é da conta de ninguém, exceto o nosso, também. - Ressaltou.
Ela assentiu.
─ Então... - Ele disse com um suspiro e sorriu. ─ que tipo de anel você gostaria?

***

Passaram-se dois dias antes que a neve parasse e as estradas ficassem livres. Jake a levou ao
consultório do veterinário para ver Butler, que estava muito melhor, e depois a Catelow para a joalheria. O
velho Brian Pirkle era dono da Catelow Jewelry Company há cinquenta anos e ainda vivia, embora seu
filho, Bill, foi quem atendeu Jake e Ida. As sobrancelhas de Brian subiram, tão prateadas quanto seu
cabelo, quando eles caminharam até o balcão que exibia os conjuntos de casamento.
─ Não era você que não ia se casar, Jake? - Brian perguntou.
Jake riu.
─ Eu não ia. Mas agora vou. - Ele olhou para Ida, que corou lindamente.
─ Bem, parabéns!
─ Obrigado. - Eles disseram em coro. ─ Que tipo de anel você gostaria? - Jake perguntou a Ida.
Ela estava hesitante. Charles comprou um diamante para ela. Bailey permitiu que ela comprasse um
conjunto de esmeraldas. Ela olhou para Jake.
─ Você também deve decidir. - Disse ela.
─ Eu gostaria que eles combinassem.
─ Você vai usar uma também? - Ela acrescentou hesitantemente.
─ Oh, sim. - Disse ele, quando não tinha planejado tal coisa. Ele se perdeu brevemente nos grandes olhos
azuis dela.
─ Então, que tipo de pedra você gosta? - Ela persistiu.
Ele sorriu gentilmente.
─ Minha avó adorava rubis. Eu tenho os dela no cofre. Entre eles está um pequeno anel de ouro amarelo
muito simples com um rubi facetado em uma configuração Tiffany* que o avô deixou para ela. Diz a lenda
que pertenceu a um membro real da corte espanhola de Isabella no século XV. Se você quiser usá-lo como
um anel de noivado, podemos conseguir uma aliança aqui para combinar. Rubis de sangue de pombo.* -
Acrescentou, que eram os mais caros.
* Configuração ou engaste - A famosa joalheria nova-iorquina Tiffany foi a inventora de um engaste aberto formado por seis pequenas garras de platina que
seguravam a pedra no anel, expondo grande parte das facetas da pedra, que assim podiam ser admiradas em toda a sua beleza. Isso exigia o uso de gemas sem
manchas que ficariam escondidas em engastes antigos.
* O rubi de sangue de pombo é a variedade de gemas de rubi de cor mais procurada.  O significado de Pigeon Blood Ruby está principalmente associado à sua
cor, que corresponde exatamente ao sangue colhido de um pombo recém-morto. Exibe uma tonalidade vermelha brilhante com um leve tom de roxo que parece
vermelho profundo quando visto na luz. Este efeito de cor torna a gema Pigeon Blood Red Ruby, universalmente popular e astrologicamente mais relevante.
─ Devemos ter uma aliança de ouro amarelo 18 quilates com rubis ali na parte de trás, Bill. - Disse o velho
ao filho.
─ Sim, senhor, nós temos. Aqui está. - Ele pegou a aliança e a colocou sobre um pano no balcão. Era um
padrão hera* pontilhado com rubis de sangue de pombo facetados e incrustados, o tipo de anel que se
tornaria uma herança.
Ida prendeu a respiração ao pegá-lo.
─ É o aliança mais linda que eu já vi. - Disse ela em um tom abafado.
─ Aqui. Vamos ver. - Jake pegou a aliança e a mão esquerda dela. Ele deslizou a aliança suavemente no
dedo anelar dela, onde se encaixou como se tivesse sido feita sob medida. Ele olhou em seus suaves olhos
azuis e sentiu outro choque inesperado como uma explosão de eletricidade.
─ Você quer? - Ele perguntou a ela.
─ Oh sim por favor. - Ela procurou seus olhos. ─ Você tem que ter uma também.
─ Há uma aliança masculina combinando, um pouco menos ornamentada. - Bill disse a eles e pegou uma
aliança de ouro mais larga com rubis incrustados no centro. Não era extravagante e definitivamente era
uma aliança masculina. ─ Temos um designer que trabalha conosco. Ele está em Nova York, mas nos
envia remessas com seu trabalho mais recente. Eu não sabia por que comprei isso. - Acrescentou ele, rindo.
─ Sinceramente, a maioria das pessoas só quer os conjuntos tradicionais de casamento com diamantes.
─ Eu gosto de algo um pouco fora do comum. - Disse Jake, sorrindo.
─ Eu também. - Concordou Ida. Seus olhos estavam na aliança. ─ É linda. - Ela repetiu.
─ Estou feliz por você gostar.
─ Você não experimentou a aliança masculina. - Disse Ida.
Ele a pegou e a entregou a ela, em seguida, estendeu a mão esquerda. Ele sorriu quando ela deslizou
a aliança no dedo dele. Foi um ajuste perfeito.
─ Esse é para os livros. - O homem idoso riu.
─ Um bom presságio. - Jake disse suavemente, sorrindo para Ida enquanto tirava sua aliança e pegava a
dela, entregando as duas de volta para Bill, para serem colocadas na caiximha, antes que ele pegasse sua
carteira.
─ Um bom presságio, de fato. - Bill disse, sorrindo.

***
Eles voltaram para o rancho e ele levou Ida para a sala de estar, para o cofre na parede atrás de um
retrato da avó que ele havia dito a ela que era da realeza espanhola.
─ Ela era magnífica. - Ida murmurou, olhando para o sorriso gentil exibido pela respeitável senhora
espanhola no retrato, cabelos prateados presos no alto da cabeça, usando um vestido preto com gola alta de
renda preta e adornada com rubis.
─ Ela era. - Ele respondeu. Ele abriu o cofre e tirou uma elegante caixa de joias de madeira com jade
incrustado. ─ Esta era a caixa de joias dela. - Ele acrescentou enquanto a colocava na mesa de centro, se
sentava ao lado de Ida. E abria a tampa.
Ela prendeu a respiração com o que estava dentro.
─ São lindos. - Disse ela, tocando carinhosamente com a mão o colar de teia de aranha* de rubis, os
brincos de filigrana* que combinavam com ele, a pulseira e, por fim, o pequeno anel.
─ Aqui. - Ele pegou o anel e deixou que ela olhasse, pegou o conjunto de noiva que haviam escolhido e
abriu a caixa para comparar.
A forma como o anel de noivado e a aliança de casamento combinaram, foi incrível.
─ Não poderíamos ter feito melhor se tivéssemos levado o anel conosco. - Ele disse, sorrindo enquanto
observava Ida se entusiasmar com o solitário rubi.
*Padrão Hera

* colar teia de aranha brincos de filigrana


─ Eu amo coisas com história. - Ela disse suavemente. ─ Coisas que carregam histórias. Um anel que você
compra novo não é o mesmo. - Ela olhou para os entrecerrados olhos prateados e franziu o cenho. ─ Isso
saiu errado. O que quero dizer é que não é o mesmo até que tenha uma história própria, depois de pertencer
a alguém. - Ela estendeu a mão direita, com a palma para baixo, indicando um anel de ouro amarelo com
uma configuração de olho de gato.* ─ Isso pertenceu a minha bisavó. - Disse ela. ─ Foi a única joia cara
que ela possuiu, e meu bisavô vendeu uma vaca leiteira e um bezerro para comprar para ela.
Ele sorriu, compreendendo.
─ Você aprecia muito mais essas coisas se souber como é não ter nada.
─ Exatamente. - Ela concordou. E girou o pequeno anel em suas mãos. ─ Eu o adorei. - Disse ela. ─ Vou
cuidar muito bem dele.
─ Eu sei que você vai. - Disse ele.
Ela entregou a ele.
─ Você poderia...? - Ela estendeu a mão esquerda.
Ele franziu os lábios.
─ Mesmo que seja um casamento de amigos, não deveríamos fazer a coisa certa? - Ele perguntou.
Enquanto ela se perguntava o que ele queria dizer, ele se ajoelhou na frente dela e não estava
sorrindo.
─ Ida Merridan, você me daria a honra de se tornar minha esposa? - Ele perguntou em um tom suave,
profundo e terno.
Lágrimas arderam nos olhos dela.
─ Oh, sim. - Ela respondeu, e sua voz vacilou.
Ele pegou a mão dela e deslizou o anel no lugar. Foi um ajuste perfeito. Ele o levou à boca e o
acariciou suavemente com os lábios. Ela olhou para o cabelo escuro dele e de repente soube que o amava.
Era uma coisa muito ruim acontecer quando acabaram de concordar com um casamento platônico...

CAPITULO DEZ
Jake deu uma risadinha ao se levantar, antes que Ida pudesse se envergonhar dizendo algo
sentimental.
─ Vamos colocar um anúncio nos jornais. - Disse ele enquanto se sentava ao lado dela. ─ Você quer um
casamento na igreja? - Ele perguntou.
Ela hesitou. Foi casada duas vezes e tinha um ex-marido ainda vivo. Ela mordeu o lábio inferior e
parecia atormentada.
Ele fez uma careta.
─ Por que isso?
Ela olhou para ele inquieta.
─ Você conhece um ministro que concordará em casar uma mulher divorciada com a minha reputação? -
Ela lutou contra as lágrimas. ─ Eu cometi tantos erros estúpidos na minha vida. Essa de ser uma mulher
promícua foi a pior, muito pior!
Ele segurou a mão dela.
─ Escuta. - Disse ele suavemente. ─ Ninguém é perfeito. Bem, exceto eu. - Ele falou lentamente, e seus
olhos prateados brilharam.
─ E nem um pouco presunçoso. - Ela concordou, mordendo a isca.
Ele deu uma risadinha.
─ Eu conheço um ministro heterodoxo que vai nos casar. - Disse ele. ─ A igreja dele não é exatamente
convencional, mas é uma igreja. - Ele inclinou a cabeça. ─ Você quer usar cetim branco? - Ele brincou.
─ Eu me casei com um terno na primeira vez e um vestido de seda roxo na segunda vez. - Ela suspirou. ─
Estou muito velha para usar cetim branco. - Ela encontrou seus olhos. ─ Que tal um belo traje de lã branca
com um grande chapéu chique com um véu? - Ela perguntou, e sorriu.
─ Estou surpreso. E parece muito bom.
*Anel olho de gato
─ Você pode me levar para Manhattan antes de nos casarmos? Eu gostaria de comprar lá em uma das casas
de alta costura. - Acrescentou ela.
─ Eu tenho uma conta...
Ela ergueu a mão.
─ Obrigada, mas eu poderia comprar um pequeno país com o que tenho no banco. Vou pagar pela minha
própria roupa de casamento. - Seus olhos azuis brilharam. ─ Você pode providenciar as flores, e espero
metros delas, estou avisando. Eu amo flores.
Ele deu uma risadinha.
─ OK. Podemos dizer a todos que você vai se casar comigo pelo meu dinheiro.
─ Podemos dizer a todos que você vai se casar comigo pelo meu. - Ela rebateu.
Ambos riram. Era um começo maravilhoso. Eles se davam bem, gostavam da companhia um do
outro. Ida já estava louca por ele e preocupada em como iria esconder, mas ela se preocuparia com isso
mais tarde. No momento, sua única ambição na vida era se casar com Jake McGuire e fazer tudo a seu
alcance para fazê-lo feliz. Havia apenas uma preocupação real.
─ E se Bailey descobrir? - Ela perguntou. ─ Ele pode tentar fazer algo...
─ Deixe que eu me preocupe com o seu ex-marido abominável. - Disse ele com firmeza.
Seus olhos se arregalaram de tanto rir.
─ Abominável?
─ Eu ouvi essa palavra em um talk show e me apropriei dela. - Ele a informou. ─ Pretendo usá-la
livremente pelo resto da minha vida, apesar do medo de violação de direitos autorais.
Ela riu.
─ Jake, é muito divertido estar com você. - Disse ela.
Ele sorriu.
─ Gosto de ouvir você rir. - Disse ele. ─ Estou surpreso por você ainda poder, com tudo que passou.
─ É preciso menos músculos para sorrir do que para franzir a testa. - Ressaltou.
─ Sim. Você quer um casamento formal, com um padrinho e uma dama de honra?
Ela fez uma careta.
─ Poderíamos nos casar só nós mesmo e algumas testemunhas? - Ela perguntou. ─ Eu realmente não tenho
amigos, exceto os Menzers e Cindy, e Cindy não pode pagar o tipo de vestido que precisaria como dama de
honra. Eu compraria um para ela, mas ela nunca me deixaria. Ela é muito orgulhosa. Eu adoraria tê-la
como minha madrinha.
Sua consideração o surpreendeu e comoveu. Ele nem mesmo teria considerado que um amigo poderia
não ter dinheiro suficiente para comprar uma peça de roupa chique para usar em um casamento.
─ Só nós soa bem. - Disse ele. ─ Eu também gostaria disso.
Ela assentiu com a cabeça, os olhos cheios de sonhos que ela cuidadosamente escondeu dele.
─ Só nós. - Ela hesitou. ─ Jake, você gosta de gatos?
─ Claro que gosto de gatos! O que você achou, que deixaríamos Butler em sua casa? O que me lembra, eu
tenho que pegar Wolf no veterinário. Ele teve um pequeno problema intestinal, então o mantiveram lá
enquanto ele estava sendo tratado.
─ Eu lembro. Nós o vimos no veterinário quando visitamos Butler. Ele é um cachorro lindo. Ela suspirou.
─ Espero que ele goste de gatos, e não como entrada.
─ Tínhamos um gato aqui, até recentemente, quando um dos netos de Maude implorou para substituir seu
gato, que tinha acabado de morrer. Wolf dormia com ele, no meu quarto. - Acrescentou ele com uma
risada. ─ Ele ficou vagando por aí por uma semana depois que o gato foi embora. Ele vai adorar Butler.
Ela relaxou.
─ Isso é ótimo. - Era um alívio.
─ Não se preocupe mais. - Disse ele. ─ Você vai ter rugas.
Ela riu.
─ Estou fadada a ter mais à medida que o tempo passa. Eu não gosto de lifting facial.
─ Nem eu. - Respondeu ele com um sorriso. ─ Nós ganhamos nossos anos. - Ele estudou seu cabelo preto.
Havia alguns fios de cabelo grisalhos quase imperceptíveis. ─ E nem pense em pintar o cabelo. Acho a
prata muito bonita.
Ela sorriu.
─ Você ficará muito elegante com cabelo prateado. - Disse ela suavemente.
Ele riu.
─ Não por alguns anos ainda, no entanto. OK. Que tal uma pequena recepção? Um serviço de bufê?
Ela apenas olhou para ele, perplexa. Não havia considerado essas coisas.
Ele respirou fundo.
─ Felizmente para você, sou um grande organizador. Vou resolver isso imediatamente.
─ Devemos ter convites impressos ou apenas enviar e-mail para as pessoas?
Ele franziu os lábios e sorriu.
─ Que tal impressos? Tenho um amigo que dirige uma gráfica. Ele me deve um favor. Vou ligar para ele.
Preciso do seu nome completo e dos nomes de seus pais.
O rosto dela ficou tenso.
Ele se aproximou, tocando sua bochecha com a mão carinhosamente.
─ Ida, terei os nomes dos meus pais no anúncio do casamento. Você tem que ter o dos seus também.
Mesmo que sejamos ambos órfãos.
Ela relaxou um pouco.
─ Ainda dói. - Ela confessou. ─ Especialmente mamãe, por causa da maneira como ela morreu.
─ Eu também sinto falta da minha mãe. Eu gostaria de pensar que eles estarão pairando em algum lugar,
assistindo. - Acrescentou ele com um sorriso terno.
Ela retribuiu o sorriso.
─ Essa é uma boa maneira de ver as coisas.
Ele retirou os dedos. Tocá-la era desconcertante. Não era uma boa hora para lembrar como era a
sensação de sua boca sob a dele. Ele não a beijava com frequência, mas a lembrança era excepcionalmente
vívida.
─ Seu primeiro casamento foi por necessidade. O segundo foi uma desgraça total. Então, use branco, certo?
─ As pessoas ficariam indignadas... - Ela começou preocupada.
─ As pessoas que importam, não. - Ele respondeu com firmeza. ─ Você estará usando para mim. Não para
as pessoas. Tudo bem?
Ela se sentiu mais leve de repente, como se vários problemas tivessem acabado de ser resolvidos a
contento.
─ Bem, se você tem certeza. - Ela disse.
─ Tenho certeza. - E ele sorriu.

***

Ela se preocupava com Mina. Era óbvio que Jake ainda não havia superado seus sentimentos por ela
e que ainda estava ferido por sua rejeição. Você não pode fazer com que as pessoas o amem, isso é
verdade. Mas era igualmente difícil superar um amor não correspondido. A surpreendeu um pouco que
Jake não tivesse amado antes. Ele confessou ter algumas paixões por mulheres que estavam totalmente fora
de sua experiência de vida, mas elas foram apenas paixões, logo esquecidas. Mina havia partido seu
coração. Ida garantiu a si mesma que não estava com ciúmes. Então, com a mesma rapidez, e no silêncio de
sua mente, admitiu que estava sim. Ela não tinha o direito de ficar com ciúmes, essa era a questão.. Ela e
Jake iam se casar porque tinham muito em comum e ambos estavam sozinhos. Olhando para trás, para sua
fácil aceitação, ela se perguntou se estava fazendo a coisa certa. Ela era apenas uma conveniência. Ele
poderia nunca superar Mina. Pior ainda, ele poderia se apaixonar novamente, por uma mulher que
retribuísse o seu amor, e Ida ficaria bem no caminho. Isso era um risco, e ela era uma mulher que
raramente se arriscava. Bem, exceto por aquele tempo com as máquinas caça-níqueis, onde ela perdeu uma
pequena quantia de dinheiro. Isso a ensinou que o jogo pode ser uma ladeira escorregadia.
Jake havia saído para cuidar dos preparativos e Ida sentou-se na sala de estar com a cesta de trabalho
que trouxe de casa. Ela gostava de tricotar. Isso mantinha suas mãos e sua mente ocupadas. Ela estava
fazendo um cobertor amarelo com o mais fino fio de lã macia, feito especialmente para bebês. Ela as fazia
para distribuir. Não tinha mais amigas, mas conhecia muitas grávidas no lugar. Amarelo era uma cor
neutra, quando alguém não sabia o sexo de seu filho por nascer. E, afinal, ela adorava amarelo.
Suas mãos estavam ocupadas com as agulhas de madeira quando Maude enfiou a cabeça pela porta.
─ Você quer almoçar, Sra. Merridan? - Ela perguntou. ─Eu tenho sopa caseira e pão crocante.*
─ Pão crocante? - Ida perguntou.
O rosto da governanta corou como se ela estivesse preocupada em ter feito uma má escolha de
alimentos para cozinhar.
─ Eu adoro pão crocante! - Ida exclamou rapidamente e ficou feliz ao ver o rosto de Maude relaxar. ─ Meu
pai costumava fazer para nós. - Ela acrescentou suavemente. ─ Era uma das poucas coisas que ele sabia
cozinhar, mas ele o fazia maravilhosamente bem!
* O pão crocante(crackling bread), na culinária do sul dos Estados Unidos, é um pão de milho com torresmos. 
Maude sorriu.
─ Então venha para a cozinha e coma um pouco. A menos que você prefira comer na sala de jantar,
prefere? - Ela perguntou.
─ Oh, não. - Ida disse imediatamente. ─ A sala de jantar é um pouco formal demais para mim. Sempre
como na cozinha de casa. Costumávamos fazer isso quando meus pais estavam vivos. - Acrescentou ela
com uma leve tristeza enquanto entravam na cozinha.
Maude colocou a comida sobre a mesa.
─ O que você gostaria de beber? - Ela perguntou. ─ Oh, vou buscar o café. Vá em frente e sente-se. - Disse
Maude.
Ida estava com fome e não tinha percebido. Ela provou a sopa e o pão de milho.
─ Estão deliciosos! Mesmo meu pai não poderia ter feito o pão crocante melhor.
Maude colocou uma caneca de café preto na frente dela, junto com creme e açúcar em recipientes de
prata.
─ Estou feliz que você gostou. - Ela fez uma pausa. ─ Há quanto tempo você perdeu seus pais, se não se
importa que eu pergunte?
─ Não me importo. - Disse Ida. ─ Por favor, sente-se. Eu sei que você esteve de pé a manhã toda. Você não
gostaria de uma xícara de café também?
Maude sorriu.
─ Sim eu gostaria.
Ela pegou uma xícara e se sentou.
─ Meu pai morreu de ataque cardíaco quando ainda era jovem. - Disse Ida entre garfadas na deliciosa
refeição. ─ Ele estava no consultório médico na hora, e nada do que fizeram pode salvá-lo. Minha mãe
ficou arrasada. Eu também. Ela ficou viva apenas por mim, mas sentiu falta do meu pai todos os dias de
sua vida. Quando eu tinha dezoito anos, ela fez um cruzeiro. Eu trabalhava em uma empresa em Denver, de
propriedade de meu primeiro marido. - Seu rosto ficou tenso, só um pouco. ─ De alguma forma, mamãe
caiu no mar. Eles nunca a encontraram.
─ Isso é muito pior do que se eles a tivessem encontrado. - Maude disse calmamente. ─ Deve ter sido
difícil para você.
─ Eu fui muito protegida. - Respondeu ela. ─ Não tive muitos encontros. Nenhum dos homens que conheci
jamais pensou em casamento e filhos. Eles só queriam se divertir. Não posso tolerar pessoas superficiais. -
Acrescentou calmamente. Ela sorriu melancolicamente. ─ Meu primeiro marido era compreensivo e
tranquilo. Ele se casou comigo. Achei estranho que ele não quisesse, bem... dormir comigo. Ele disse que
nós éramos almas gȇmeas, mas não fisicamente.
─ Meu Deus. - Exclamou Maude.
‒ Eu nunca me relacionei com alguém, então eu realmente não tinha aqueles impulsos febris sobre os quais
as pessoas falam. - Ela suspirou. ─ Ele era um homem bom e gentil. Me mimava, cuidava de mim, me
tratava com carinho. Eu o adorava. Passamos cinco anos maravilhosos juntos, apenas como amigos. Então,
um dia, ele deixou um bilhete para mim, foi até o último andar do prédio, subiu no telhado e saltou. - Ela
engoliu em seco. Era uma lembrança dolorosa. ─ O amante dele, um homem mais jovem, mau-caráter, veio
ao funeral e fingiu estar de luto. Eu o deixei entrar. Então ele entrou com uma ação por perdas e danos,
dizendo que meu marido o havia maltratado. - Seus olhos azuis escuros faiscavam. ─ Sabe, os advogados
corporativos são muito bons em direito civil. Eles o encurralaram e o fizeram arcar com as custas judiciais
depois que ele perdeu o processo. Ele teve um novo amante, que, infelizmente, o matou alguns meses
depois. - Ela olhou para Maude. ─ Eu não sofri. De modo algum. Meu pobre marido!
Maude ficou pasma. Ela nunca conheceu alguém que não tivesse ficado furiosa com um homem
escondendo esse tipo de segredo. E aqui estava Ida, com sua reputação escandalosa, furiosa porque seu
marido havia se magoado.
─ Você não suspeitou? - Maude perguntou gentilmente.
Ida balançou a cabeça. Ela terminou sua refeição e se recostou para beber o café forte.
─ Eu ouvi outras mulheres falando sobre seus maridos, é claro, mas eu não tinha nenhuma experiência
prática. - Seus olhos brilharam, só um pouco. ─ Por algumas coisas que ouvi, talvez não fosse tão ruim que
meu marido não estivesse interessado em mim dessa forma. Claro, eu fiquei viúva e encontrei Bailey Trent.
- Ela tomou um gole de café, seu rosto mostrando a angústia de dizer aquele nome em voz alta.
─ Um marido ruim?
Os olhos de Ida, assombrados, encontraram os da governanta.
─ Você não sabe o que um homem realmente é até que esteja atrás de uma porta fechada com ele. - Ela
engoliu em seco. ─ Bailey era um sádico e eu não sabia. Ele me conquistou. Eu vivi cinco anos sem
contato físico, e ele me beijava esporadicamente. Ele era um pouco rude, mas atribuí isso a sua excitação
por mim. Eu estava errada! - Ela estremeceu. ─ Ele foi brutal. Eu tinha tanto medo dele. Ele era
insanamente ciumento. Sorri para outro homem e ele se virou e me jogou do primeiro nível de um
estacionamento. Se eu não tivesse caído na grama, acho que estaria morta ou com danos cerebrais. Eu bati
de tal forma que apenas minhas costas, quadril e coxa foram impactados. Ainda demorou uma cirurgia e
muito tempo de físioterapia para me colocar de pé. - Ela riu. ─ Eu manco quando o tempo muda. Eles
fizeram uma substituição parcial do quadril, e eu tenho uma haste de metal e parafusos na minha perna
direita, onde o fêmur foi quebrado. Pelo menos não aparece. Não que eu seja vaidosa sobre isso. -
Acrescentou ela. ─ Eu já tive minha cota de homens.Nunca mais quero nada físico, nunca mais.
─ Não posso culpar você por se sentir assim. - Disse Maude. ─ Mas você não queria filhos?
─ Eu teria adorado tê-los com meu primeiro marido. - Ela riu. ─ Ele estava acima do peso, estava ficando
careca e um pouco lento. Eu o amei com todo meu coração. Seus filhos teriam sido como ele, gentis, doces
e amáveis ... - Ela lutou contra as lágrimas e levou a xícara de café à boca. ─ Eu ainda sinto falta dele,
depois de todo esse tempo.
─ Isso só mostra que a aparência não importa muito, se você ama alguém. - Disse Maude suavemente. ─ O
chefe disse que seu ex-marido agrediu seus animais.
Ida respirou fundo.
─ Sim. Não posso provar, mas sei que ele foi o responsável. Ele até fez ameaças. Meus pobres cavalos.
Pobre Butler... - Ela hesitou. ─ Sra. Barton, Jake disse que você gosta de gatos? - Ela adicionou.
─ Bem, sim. Tenho vários em casa. - Disse ela, intrigada com a pergunta.
Ida franziu o cenho.
─ O Sr. McGuire quer que nos casemos...
Maude realmente sorriu.
─ Aleluia! - Ela disse. ─ Já era hora de ele parar de vagar por aqui, miserável porque Mina não quis se
casar com ele.
─ Não vai ser esse tipo de casamento. - Ida começou. ─ Gostamos um do outro e gostamos das mesmas
coisas. - Acrescentou. ─ Ele disse que tínhamos o suficiente em comum para que pudéssemos fazer um
bom casamento sem drama.
Maude deu uma risadinha.
─ O drama é o que faz um casamento. Meu marido e eu costumávamos ter pequenas brigas quando nos
casamos. Oh, fazer as pazes! Que divertido!
─ Eu realmente não acho que Jake vai querer isso.
─ Bem, você nunca sabe, não é? Por que você quer saber se eu gosto de gatos?
─ Porque se vivermos aqui, e acho que vamos, Butler virá comigo.
─ Ele não vai me incomodar. - Maude lhe assegurou. ─ Eu tive gatos toda a minha vida. Três deles se
amontoam na cama com meu marido e comigo à noite. Todos eles têm Maine Coon* em sua
ancestralidade, então eles são enormes. O macho, Calipher, pesa quase dez quilos e é apenas um bebê!
─ Maine coon? - Ida perguntou, curiosa.
─ É uma raça de gato cara, se eles forem de raça pura. Eles foram nomeados em homenagem ao capitão
Coon, que navegou para a Nova Inglaterra no início do século XVIII. Aparentemente, havia gatos persas a
bordo de seu navio que fugiram e, diz a lenda, cruzaram com linces na selva.
─ Que história fascinante!
─ Você pode querer um para fazer companhia ao seu gato. - Sugeriu Maude. ─ Se quiser, conheço uma boa
criadora que vive aqui mesmo na cidade.
─ Você conseguiu o seu dela?
─ Senhor, não. - Maude riu. ─ Eles são terrivelmente caros. Eu peguei o meu porque um dos gatos da
Jessie fugiu e se divertiu um pouco com a fêmea persa de um vizinho. Jessie me mandou para a senhora do
gato persa.
─ Ela parece muito boa.
─ Ela é. A maioria das pessoas em Catelow é. Você sabe disso. Você nasceu aqui, não é?
─ Ai sim. Fiquei muito tempo longe. Mas foi bom voltar para casa. Ou teria sido, exceto por Bailey
tentando me forçar a pagar suas dívidas de jogo.
─ Você passou por momentos difíceis. Mas sempre há recompensas por viver tempos difíceis.
Ida sorriu.
* As chaves da origem do Maine Coon estão em seu nome, sendo Maine seu estado de origem e Coon subtraído do termo guaxinim em inglês (Raccoon). É uma
das primeiras raças originadas nos Estados Unidos. Existem muitas lendas em torno da raça, uma delas é a descrita no livro, mas a principal delas diz que o
Maine Coon teria origem do cruzamento de gatos selvagens com guaxinins, por isso teria sua pelagem e cauda característica, no entanto essa combinação seria
geneticamente impossível. É muito provável que a raça tenha se originado do Angorá trazido para a América por marinheiros.
─ Eu percebi isso.
─ Você será feliz com o Sr. McGuire. - Disse Maude. ─ Ele é tranquilo e nunca se irrita. Bem, ele pode
fazer um alvoroço quando perde a paciência, e sua linguagem fica um pouco áspera com os homens se eles
fazem coisas que ele não gosta. Mas ele é basicamente gentil.
Ida, que nunca o tinha visto mal-humorado, ficou um pouco preocupada. Certamente, ele não seria
como Bailey, que era perigoso quando explodia!
Tinha que parar de se preocupar, disse a si mesma. Isso não mudaria nada. Ela poderia desistir do
casamento, mas realmente não queria fazer isso. Ela se sentiu atraída por Jake, adorava estar com ele. E
não tinha força para recusar. Mas estava preocupada com o futuro. Se ele nunca amou alguém antes de
Mina, então ele poderia ser um homem capaz de amar uma só vez. O pensamento era tão desanimador que
ela lutou contra as lágrimas. Ela as ocultou com bom humor e perguntou a Maude sobre seus gatos. Isso foi
bom por dez minutos.

***
Jake voltou para casa sorrindo.
─ Tudo feito. - Ele disse enquanto ela estava sentada tricotando em uma cadeira na sala de estar. Ele
arqueou as sobrancelhas. ─ Eu não tinha ideia de que você sabia tricotar.
Ela sorriu.
─ Isso me dá algo para fazer com minhas mãos. - Ela disse simplesmente.
Ele se sentou em frente a ela, deslizando seu Stetson até final da mesa com uma precisão enervante.
─ Minha mãe costumava fazer suéteres para mim e meu irmão, quando éramos crianças. - Seu rosto
endureceu, lembrando-se de seu irmão e como ele havia morrido.
─ Você não deveria olhar para trás. - Ida disse suavemente. ─ Eu sei como você deve se sentir. Eu também
não tenho mais família. Mas você tem que seguir em frente.
Ele fez uma careta para ela.
─ Otimista.
Ela riu e inclinou a cabeça para o tricô.
─ O que você está fazendo?
─ Um cobertor de bebê. - Ela disse e corou, viu as sobrancelhas arqueadas dele, e corou ainda mais. ─ Para
uma mulher que trabalha no consultório do meu médico, que vai ter um bebê. - Ela gaguejou.
Jake não disse nada. Ele apenas a olhou.
Ela voltou os olhos para o tricô. Estava envergonhada e não entendia por quê. Ela pensou sobre o
casamento deles, um casamento de amigos, sem contato físico. Ele a estava lembrando disso, com sua
expressão chocada? Ele achava que ela estava fazendo uma declaração sobre suas necessidades ao tricotar
algo para um bebê, quando eles quase certamente concordaram que nunca teriam um?
Sua mente voou para a imagem de um bebê em um berço, com cabelos negros e olhos prateados, ela
pigarreou e deixou de lado o tricô.
─ Você colocou o anúncio no jornal? - Ela perguntou um pouco rápido demais.
─ Sim. Falei com o ministro. E a florista. - Ele acrescentou com um sorriso. ─ Você vai precisar de uma
tesoura de poda para passar pelos enormes vasos de flores da igreja. - Prometeu.
Ela riu.
─ OK. Eu não vou me importar.
─ Quando você quer voar até Manhattan para comprar seu traje de casamento?
Ela enrubesceu.
─ Bem, podemos ir amanhã?
─ Certo.
─ Tudo bem então. - Ela começou a fazer uma lista mental das coisas de que precisava. No meio disso, ela
se lembrou de seu gato. ─ Eu tenho que ligar para o veterinário sobre Butler! - Ela exclamou.
─ Isso também está resolvido. - Disse ele gentilmente e sorriu para ela. ─ Vamos pegar Butler e Wolf esta
tarde e trazê-los para casa para que possam se conhecer.
─ Perguntei a Maude se ela se importaria de Butler estar aqui e ela disse que não, ela tem alguns na casa
dela. - Disse ela.
Ele deu uma risadinha.
─ Ela mima os gatos dela. Ela vai mimar Butler também.
─ Ele precisa ser mimado. Pobre gato velho. - Disse ela com tristeza. ─ Ele nunca machucou ninguém, mas
a vida tem sido difícil para ele.
─ Vai melhorar muito em breve. E a sua casa? Eu sei que você não quer vender. Você cresceu lá. Suponha
que contratemos um administrador, alguém casado, com filhos talvez, e eles podem morar na casa.
Ela sorriu.
─ Parece uma ideia maravilhosa. Seria bom se pudéssemos encontrar algumas pessoas que realmente
precisassem de um emprego. - Acrescentou ela, pensativa.
─ Nós podemos, e eu tenho alguém. Vou levá-la e apresentá-la a eles amanhã.
Ela relaxou.
─ Está bem então. Se você gosta deles, eu também gostarei.
Ele arqueou as sobrancelhas. Ela apenas riu.

***
Eles eram um casal jovem, Tanner e Grace Lowell, com três filhos pequenos, todos com menos de
dez anos.
─ Eu apenas corro o tempo todo. - Grace riu, correndo atrás de seu filho, cuja fralda tinha caído. ─
Tivemos dificuldade em sobreviver desde que Tanner foi derrubado no último rodeio. - Ela fez uma careta
com a expressão de seu marido. ─ Bem, não é como se fosse segredo que você se machucou, querido. -
Acrescentou ela suavemente.
Ele suspirou.
─ Não, acho que não.
─ Você será o administrador. - Jake disse com os olhos prateados cintilantes. ─ Isso significa que você vai
ficar sentado dando ordens.
─ Nem sempre terei uma perna ruim. - Prometeu Tanner. ─ Vou à fisioterapia três vezes por semana.
─ É maravilhosa, não é? - Ida perguntou gentilmente. ─ Eu tenho um problema no quadril. Eles fizeram
uma prótese parcial e há uma haste de metal e parafusos onde meu fêmur foi quebrado, então ainda tenho
problemas para andar. Mas a terapia é maravilhosa. Eu adoro especialmente o infra-vermelho. - Ela
acrescentou com um sorriso. Os Lowells, que tinham ouvido coisas ruins sobre a Sra. Merridan, ficaram
fascinados com a visão da mulher real. A fofoca, aparentemente, estava muito errada aqui, como sempre.
─ O infra-vermelho não é ruim. - Tanner concordou e sorriu para a esposa.
─ Você pode começar na sexta-feira, se quiser. - Jake disse a ele. ─ Você vai receber um salário, a casa é
gratuita, assim como as utilidades. A casa tem uma horta que você pode plantar da maneira que quiser.
─ Também há um estábulo para seus cavalos. - Acrescentou Ida. ─ O meu irá para a casa de Jake conosco
quando nos casarmos. - Seu rosto ficou tenso. ─ Eu tenho dois feridos. Eles vão ficar com Ren Colter por
enquanto.
─ Feridos? - Tanner perguntou preocupado.
─ Meu ex-marido quer dinheiro. - Ida disse calmamente. ─ Ele tem maneiras de tentar extraí-lo de mim
que o levarão à prisão se pudermos provar. E não se preocupe. Vou fazer com que ele saiba que não estou
mais morando no rancho. Seus animais e sua família estarão seguros. É só de mim que ele está atrás.
Os Lowells trocaram olhares. Eles tinham uma boa ideia de como o quadril de Ida foi ferido, mas não
mencionaram.
─ Eu adoraria começar na sexta-feira. - Disse Tanner. ─ Se você tiver paciência enquanto eu me recupero.
Jake sorriu.
─ Nenhum problema aí. Você vai querer levar seus móveis, então precisamos tirar os de Ida de lá.
─ Podemos guardar a maior parte, mas quero meu piano. - Disse ela a Jake.
─ Você toca? - A Sra. Lowell perguntou gentilmente.
Ida sorriu.
─ Sim. Meu primeiro marido me ensinou. Ele tocava tão bem. Ele era um homem gentil. - Ela olhou para
Jake timidamente. ─ Ele toca também.
Ele arqueou as sobrancelhas.
─ E como você sabe disso? - Ele quis saber.
─ Maude.
Ele fez uma careta.
─ Por que você não tem um piano? - Ela persistiu.
─ Eu tive um. - Seu rosto se fechou, mas ele não disse outra palavra, mudando de assunto para a questão
dos deveres de Tanner.

***
Mais tarde, quando eles estavam sozinhos, ela perguntou a ele sobre o piano.
─ Eu estava tendo aulas, quando tinha quinze anos. - Ele disse a ela, seus olhos brilhando com a memória.
─ Meu pai disse que era uma coisa de maricas para um menino fazer. Eu disse a ele que não era maricas e
que mamãe disse que eu poderia aprender a tocar, se quisesse. Então ele foi até o celeiro, pegou sua
marreta, voltou para dentro e quebrou o piano em pedaços. Era o piano da avó da minha mãe. Ela chorou
por dias depois disso, e eu me senti muito culpado.
─ Foi culpa do seu pai, não sua. - Disse ela suavemente. ─ E eu sei que sua mãe nunca culpou você. - Ela
hesitou. ─ Você não se importa se eu levar meu piano comigo?
Ele se retraiu por alguns segundos. Então seu rosto clareou.
─ Certamente não. Você toca lindamente. Vou gostar de ouvir.
Ela sorriu.
─ OK. Obrigada.
Ele se sentou na sala de estar com ela.
─ Você entende que eu viajo muito? - Perguntou ele, porque isso precisava ficar claro desde o início. ─ Eu
faço negócios no mundo todo e tenho propriedades na Austrália que compartilho com Rogan Michaels.
Não espero que você viaje comigo.
Ela teria se oferecido para ir, mas algo na expressão dele impediu as palavras de sairem de sua boca.
─ Eu terei coisas para me manter ocupada aqui. - Ela respondeu e foi recompensada por um alívio
rapidamente escondido nas feições duras.
─ Esculpindo? - Ele perguntou depois de um minuto e sorriu.
Ela assentiu.
─ O que me lembra, eu tenho que ter minha argila e ferramentas. - Ela suspirou. ─ Eu tenho sacos de 11
quilos de argila especial. - Ela colocou a mão no quadril. ─ E uma tonelada de vasos de plantas que tem
que vir também, inclusive uma bananeira, um limoeiro e...
─ Bem, bem. - Ele disse lentamente e riu. Ele levantou. ─ Venha aqui. Eu quero lhe mostrar algo.
Ela o seguiu lentamente pelo longo corredor em direção aos fundos da casa. Ele abriu a porta e havia
uma sala, fechada por vidro, uma sala enorme com bandejas iluminadas que continham dezenas de
orquídeas de todas as cores, junto com árvores frutíferas anãs, arbustos floridos, cestos pendurados de
samambaias e filodendros,* até mesmo um Pinheiro-da-ilha de Norfolk e uma enorme planta ave-do-
paraíso.*
─ Oh, meu Deus. - Ela ofegou, sem palavras.
─ Eu gosto de plantas. - Disse ele, com as mãos nos bolsos enquanto examinava a sala enorme.
Ela riu.
─ Eu também. As minhas são principalmente plantas com flores, mas eu adoro orquídeas e árvores
bonsai...
Ela se interrompeu quando avistou uma mesa atrás de algumas folhagens. Sua respiração ficou presa.
Vasos e vasos de bonsai de todos os tipos, de plantas de jade* a ciprestes e salgueiros-chorões em
miniatura.
─ Isso deve ter levado anos! - Ela exclamou.
─ Sim. Maude cuida quando estou fora da cidade. As orquídeas precisam de muitos cuidados. Elas são
borrifadas todos os dias e regadas a cada dois dias. Elas não gostam de ficar encharcadas, então você deve
ter cuidado com a quantidade de água com que as rega. E elas precisam de fertilizantes periodicamente.
─ Sempre adorei orquídeas. Eu nunca fui capaz de cultivar uma, nem mesmo uma phalaenopsis,* e elas
deveriam ser perenes.
─ Elas precisam de luz do espectro solar.* - Disse ele simplesmente. ─ Por isso, as bandejas verticais com
luminárias.
*filodendros *Ave do paraíso(estrelícia) *Pinheiro da ilha de Norfolk *planta de jade(árvore da felicidade)

* phalaenopsis(orquía borbolea)

*Planta perene -  È a designação botânica dada às espécies vegetais cujo ciclo de vida é long o permitindo-lhe viver por mais de dois anos, ou seja por
mais de dois ciclos sazonais.

* A luz azul na faixa de 400-500 nm promove o crescimento radicular e a fotossíntese intensa. A luz vermelha na faixa de 640-720 nm estimula o crescimento
do caule, a floração e a produção de clorofila.
Ela notou as cadeiras colocadas ao redor da sala.
─ Este seria um lugar adorável para simplesmente sentar e admirar as plantas.
─ O que eu faço quando estou inquieto ou preocupado. - Respondeu ele.
Ela se virou e olhou para ele.
─ Parece que você nunca fica assim.
Ele suspirou e sorriu.
─ Você não me conhece. - Respondeu ele. ─ Ainda não.
Ela apenas acenou com a cabeça.
─ Mas você vai. - Ele brincou. ─ Que tal um pouco mais de café? Então, seria melhor decidirmos sobre
como guardar seus móveis e as providências para trazer seu piano e seus outros pertences para cá.

CAPÍTULO ONZE
Foi uma correria, embalar, transportar todas as coisas de Ida, trazer um wolf feliz e Butler para vagar
pela casa, antes que os Lowell se mudassem para a casa de Ida na fazenda. Mas ela e Jake juntos
conseguiram.
Seus móveis foram guardados, exceto o piano e a cama, que tinha um colchão especial que a ajudava
a dormir. Jake havia guardado a cama e os móveis do maior dos quartos de hóspedes em um depósito junto
com as coisas de Ida, para abrir espaço para a cama e o conjunto de móveis correspondentes. Ela também
tinha um enorme tapete de alpaca* que ficava ao lado de sua cama sobre o carpete.
Jake avaliou o tapete curiosamente.
─ É uma coisa confortável. - Ela murmurou. ─ Gosto da sensação dele sob os meus pés descalços quando
levanto de manhã.
─ Você não é alérgica a pelo?
Ela balançou a cabeça e sorriu.
─ Minha mãe comprou o tapete em um shopping quando eu era pequena. É uma espécie de herança. Isso
me faz lembrar dela.
Ele entendeu.
─ É lindo.
─ Eu o conservo. - Disse ela.
Ele olhou em volta para os móveis brancos provençais franceses que ela tinha desde o primeiro
casamento. A cama tinha um edredom branco, e havia um dossel, branco e franzido, junto com uma saia
em volta do colchão queen-size. As cortinas, Priscillas,* combinavam com a colcha com babados e o
dossel.
─ Muito feminino. - Ele murmurou.
Ela riu.
─ Suponho que sim. Éramos tão pobres que passei minha juventude cobiçando um cenário assim. Minha
amiga, cujos pais eram prósperos, tinha uma cama com dossel e móveis brancos. Jurei que um dia, se eu
tivesse dinheiro suficiente, compraria um conjunto para mim.
─ Combina com você. - Ele franziu a testa ligeiramente. ─ Você tem ascendência francesa?
─ Eu realmente não sei. - Respondeu ela. ─ Mamãe disse que tínhamos um parente que morreu na França
há duzentos anos, mas não quem ou como.
─ Você precisa fazer uma dessas pesquisas de ancestralidade. - Ele sugeriu. E franziu os lábios.
─ Que boa ideia! Um objetivo!
Ele inclinou a cabeça.
─ O que?
*Planta perene -  È a designação botânica dada às espécies vegetais cujo ciclo de vida é long o permitindo-lhe viver por mais de dois anos, ou seja por
mais de dois ciclos sazonais.

* A luz azul na faixa de 400-500 nm promove o crescimento radicular e a fotossíntese intensa. A luz vermelha na faixa de 640-720 nm estimula o crescimento
do caule, a floração e a produção de clorofila.
*Alcapa - A alpaca é um animal da família dos camelídeos. É menor que a lhama, tendo uma pelagem mais longa e macia.

* cortina Priscilla
─ Bem, é algo que aprendi logo depois de me ferir. - Respondeu ela. ─ O médico disse que todos
precisamos de metas, especialmente quando estamos feridos, magoados e com medo. Precisamos de
pequenas coisas para esperar. Uma nova joia, férias, até mesmo uma refeição especial em um restaurante.
Ele disse que as metas tornam a espera mais fácil. E ele estava certo. Tenho feito isso desde então.
Pequenos objetivos. Passos de bebê.
Ele sorriu.
─ Não é uma má ideia. - Seus profundos olhos claros estavam no rosto dela. Ela estava animada, e isso
trouxe uma beleza ainda maior ao seu rosto élfico. Ele sentiu uma onda repentina de afeição por ela e lutou
contra isso. O casamento deles seria de amigos. Não haveria lugar para nada físico. Era uma má hora para
lembrar o quão doce foi beijá-la. Ele ansiava por repetir, mas reprimiu o desejo.
─ Gostaria que você viesse comigo amanhã para conversar com o ministro sobre os detalhes.
Ela se virou e o olhou, tão perdida no passado que não o tinha ouvido direito.
─ O que? - Ela perguntou suavemente. ─ Eu sinto muito. Eu estava me lembrando de quando era criança.
Ele deu um passo mais perto e olhou para ela.
─ Você era pobre. - Lembrou.
Ela assentiu.
─ E agora eu poderia financiar os cofres de um pequeno país. Você também pode. - Acrescentou ela.
Ele suspirou.
─ Sim. Muito dinheiro, muito tempo, muitos dias e noites passados sozinho.
Ela corou e desviou os olhos.
Ele se abaixou e segurou a mão dela. E sentiu uma onda de prazer. Isso estava refletido no rosto
surpreso dela.
─ Ouça... - Disse ele gentilmente. ─ vamos nos casar, mas não vai ser convencional. - Ele hesitou, porque
ela não estava entendendo. Ele soltou um suspiro áspero. ─ Não dividiremos a cama, é o que estou
tentando dizer.
─ Oh. - Ela olhou para ele com tantas emoções nublando sua mente que ela mal conseguia ter um
pensamento coerente. Ela corou novamente.
─ Vai ser difícil para você. - Ela gaguejou.
─ Por quê?
─ Bem, você está... você está acostumado com mulheres, não é? Quero dizer, intimamente acostumado
com elas.
O polegar dele acariciou o pulso dela enquanto ele contraía a mão sobre a dela.
─ Eu estava. - Ele confessou. ─ Mas desde Mina, eu não quis mais ninguém. Eu não tenho desejado
qualquer coisa íntima, com qualquer mulher. - Ele ficou surpreso ao se lembrar de quanto tempo ele estava
sem uma mulher.
─ Se você encontrar alguém que possa amar, você vai me dizer, não é? - Ela perguntou preocupada.
─ OK. E se você encontrar alguém...
─ Oh, não, não serei eu. - Ela interrompeu. ─ Eu estou farta de homens. - Ela parou e cerrou os dentes. ─
Você não. - Acrescentou ela. ─ Você não é como nenhum homem que já tive na vida. - Ela hesitou, corada.
─ Quero dizer... - Ela começou.
Ele a puxou para si com muito cuidado e colocou os braços em volta dela, como um amigo faria ao
oferecer conforto.
─ Eu sei o que você quer dizer. - Ele disse em sua têmpora. E gostou da sensação de tê-la em seus braços.
Ela era macia, quente e cheirava levemente a flores. - Ele sorriu. ─ Nós vamos nos dar bem. - Disse ele,
sua voz profunda e aveludada. ─ Quando você tiver problemas com seu quadril, eu vou cuidar de você.
Ela suspirou, sorrindo contra seu peito quente. Ela podia ouvir o batimento cardíaco profundo e
ritmado dele sob seu ouvido.
─ E se você ficar doente, eu cuidarei de você. - Respondeu ela.
Seu coração saltou. Ele nunca teve uma mulher fazendo aquela oferta, nem mesmo Mina quando ele
pensou que tinha uma chance com ela. Mas então, Mina queria Cort, não ele. Ele sentiu a rejeição feri-lo
novamente. Foi a primeira vez em sua vida que uma mulher que ele queria não retribuia seu interesse.
Ela passou a mão sobre o peito dele. Sob o calor, ela podia sentir o pelo grosso e macio. Sob ele
havia músculos firmes. Ela sabia que ele trabalhava no rancho. Isso explicaria os músculos que sentia,
porque ele não era o tipo de homem que se sentava em sua mesa e apenas apreciava sua riqueza. A mão
dele deteve a dela enquanto se movia em direção ao lugar onde seu coração estaria, mas ela estava muito
contente para pensar em qualquer coisa.
─ Você não quer ninguém no casamento? - Ele perguntou de repente.
Ela respirou fundo. Eles já haviam discutido isso, e ela sabia que Cindy, sua única amiga de verdade,
não tinha dinheiro para um vestido elegante e era orgulhosa demais para pegar um de Ida.
─ Não tenho mais família. - Respondeu ela. ─ Eu gostaria que Maude viesse. E meus dois cowboys de
meio período. E o Dr. Menzer e sua esposa.
─ OK. Gostaria que Rogan Michaels viesse, Cort e Mina, também. - Disse ele, e Ida sentiu seu corpo
inteiro retesar. ─ Mas Rogan ainda está na Austrália, lidando com as consequências dos incêndios, então
ele não pode vir. E Cort e Mina levaram o bebê para Jacobsville, Texas, para visitar dois dos irmãos de
Cort. - Ele não percebeu que ela relaxou de repente. ─ Eu também não tenho família. - Ele olhou para ela e
franziu o cenho. ─ Eu ia levar você para Manhattan. O que vocȇ acha de irmos a Los Angeles? - Ele
perguntou abruptamente. ─ Tenho que encontrar um empresário lá sobre um potencial investimento.
─ Los Angeles está bem. - Disse ela, sem se importar. Na verdade, ela temia o longo voo para Nova York,
embora o jato de Jake fosse muito confortável.
─ Alguém mais que você queira que venha? - Ele perguntou.
Ela ergueu os olhos.
─ Pensei em perguntar aos meus advogados, mas seria como amarrar o passado ao presente. Existem
muitas conexões com Bailey. - Ela explicou.
Ele enterrou os dedos nos cabelos preto curtos dela. Parecia seda contra sua pele.
─ Você pode dizer a eles mais tarde que foi um casamento apressado.
Ela riu.
─ Eles vão pensar que eu engravidei e você teve que se casar comigo muito rapidamente. - Brincou ela. ─
Catelow é tão pequena que ainda tem pessoas com essas atitudes sobre essas coisas.
Seu coração saltou descontroladamente quando ela disse isso, porque ele imediatamente pensou em
como ela ficaria carregando seu filho debaixo do coração.
─ Não penso em crianças desde... - Ele parou, porque sabia que ela perceberia o que ele queria dizer. Ele
queria um filho com Mina, que não o queria.
─ Desculpe. - Ela disse, sentindo-o ficar tenso. ─ Eu não deveria ter dito isso.
Sua mão apertou seu cabelo.
─ Por que não?
─ Se eu o aborrecer, você vai me mandar ir embora. - Disse ela simplesmente, e com uma honestidade que
o surpreendeu. ─ Não tenho sido abraçada com frequência. Não desde meu primeiro marido. - Acrescentou
ela.
Isso arrancou uma risada suave do homem que a segurava. Seus braços deslizaram ao redor dela e a
abraçaram.
─ Eu não queria deixar você desconfortável. - Disse ele. ─ Você ainda tem medo dos homens, Ida. Até de
mim.
Ela cerrou os dentes. Como ele sabia disso?
─ Estou tentando. - Disse ela após um minuto.
Ele recuou e ergueu o rosto dela para ele. Seus olhos azuis estavam cheios de consternação,
turbulência.
─ Não se preocupe com isso. - Disse ele calmamente. ─ Você realmente não me conhece. Mas você terá
todo o tempo do mundo. Você não vê as pessoas como elas realmente são até que vivam juntos. Você vai
descobrir que eu sou desorganizado, mal-humorado de vez em quando, irracional, teimoso e impaciente.
─ Eu também sou desorganizada e tenho um temperamento explosivo, mas é geralmente passageiro. Eu
fico brava e supero isso. - Ela fez uma pausa. ─ Posso ser irracional e mal-humorada também. Mas vou
tentar não ser.
Ele deu uma risadinha.
─ Nós dois tentaremos não ser. - Ele olhou para ela com leve afeto. ─ Nós gostamos das mesmas coisas.
Temos muito em comum. Casamentos tiveram sucesso com menos. E a paixão não é razão para casar,
porque rapidamente se torna desinteresse.
─ Acho que sim. - Respondeu ela, e pensou em Mina, a quem ele amava. Isso não tinha sido paixão, e
meses depois de Mina se casar com o barão do gado do Texas, Jake ainda estava preso a ela. Ela teria que
ser paciente. Mina era uma mulher doce. Ida gostaria de saber como apagá-la da memória de Jake. Ela se
perguntou tardiamente se eles teriam um casamento adequado, com seu terceiro marido apaixonado por
outra mulher. Doía seu orgulho, ela disse a si mesma. Não estava com ciúmes. Ela suspirou. Sim estava.
─ Não se preocupe. - Disse ele suavemente. ─ Tudo ficará bem.
Ela deu um longo suspiro.
─ Ok, Jake.
O som de seu nome nos lábios dela causou um impacto em suas emoções. Ele ignorou isso e sorriu.
─ OK.

***
Eles foram juntos ver o pastor, para que Ida soubesse quem os casaria. Tolbert Drake era pastor de
uma igreja interdenominacional no centro de Catelow. Ele era alto, louro e tinha uma pessoa cheia de
energia. Quando Jake perguntou a ele sobre casá-los, ele aceitou de imediato.
─ Temos uma congregação muito heterogênea. - Disse ele. ─ Todas as raças, gêneros e filiações políticas
conhecida pelo homem. - Ele se inclinou. ─ E um ex-mafioso também. - Acrescentou com uma risada.
─ Benevolência! - Ida exclamou.
─ Então, casar vocês dois não é problema para mim. Acho que Deus perdoa muito mais do que a maioria
das pessoas imagina. - Ele olhou para Ida ao dizer isso e ela corou.
O que fez Jake se sentir estranhamente protetor.
─ Ela sofreu abusos físicos do segundo marido. - Disse ele a Tolbert. ─ Ele quebrou o quadril dela, seu
espírito e agora ele está fazendo ameaças, porque ela é rica e ele tem dívidas de jogo que quer que ela
pague.
Tolbert franziu a testa. Ele não tinha ouvido falar disso.
─ Eu me dei uma má reputação para manter os homens afastados. - Ida disse em um tom derrotado. ─ Meu
primeiro marido era um homem maravilhoso. Ele era gay e eu não sabia. - Ela sorriu. ─ Mesmo assim nós
éramos próximos e nos amávamos, mas ele morreu. Meu segundo marido me conheceu em um momento
de vulnerabilidade. Ele parecia ser tudo que um homem deveria ser. E ele foi, até que estivéssemos atrás de
portas trancadas. - Seus olhos azuis estavam arregalados com a memória dolorosa enquanto ela olhava para
o ministro. ─ Então entenda, eu não tenho discernimento algum sobre os homens. Achei que a melhor
maneira de mantê-los longe de mim era fingir que era... bem, tão experiente que ridicularizaria qualquer
homem corajoso o suficiente para me convidar para sair.
─ Você estava namorando o homem com quem Mina Michaels se casou. - Lembrou Tolbert.
Ela sorriu.
─ Sim. Ele era como eu, rico e preocupado em ser apenas um carteira ambulante. Jogamos xadrez juntos.
Nada mais. Eu... - Ela engoliu em seco, com força, e desviou os olhos. ─ Não acho que serei capaz de estar
com um homem nunca mais. - Ela parou, horrorizada, quando encontrou os olhos de Jake com um pedido
de desculpas.
─ Eu vou explicar. - Disse Jake suavemente e sorriu. Ele se dirigiu ao ministro. ─ Será um casamento de
amigos. - Disse ele. ─ Nós gostamos das mesmas coisas. Gostamos um do outro. Temos interesses comuns.
Isso vai durar mais que qualquer paixão que qualquer um de nós possa ter sentido no passado por outras
pessoas.
Tolbert viu mais do que eles perceberam. Ele sorriu para Ida.
─ Até os ministros ouvem fofocas. - Disse ele. ─ Sinto muito. Eu não deveria acreditar de olhos fechados.
Mostramos ao mundo um rosto que não mostramos em particular. - Havia algo sombrio em seus olhos
quando ele fez essa observação, rapidamente apagado. ─ Acho que seus motivos para se casar são sólidos.
- Acrescentou ele. - E ficarei muito feliz em oficiar seu casamento. Você mencionou no próximo sábado?
Jake e Ida se entreolharam inexpressivamente. A data real era algo que eles realmente não haviam
discutido.
─ Você tem uma licença de casamento? - O ministro acrescentou.
Ambos olharam para ele.
─ Vou providenciar uma hoje. - Disse Jake, se açoitando mentalmente por ter esquecido. Ele estava
envolvido em um acordo comercial muito complicado e a longa distância, e o casamento tinha saído da sua
cabeça. Ele não ia dizer isso a Ida, é claro.
Tolbert sorriu.
─ Então, se você conseguir a licença amanhã, eu poderia casar vocês dois sábado que vem de manhã. Se
quiserem. - Acrescentou. ─ E você não terá que esperar uma semana.
─ Bem? - Jake perguntou a Ida.
Ela tinha dúvidas. Preocupações. E realmente não conhecia Jake tão bem. E se ele fosse como Bailey
quando eles estivessem realmente sozinhos?
Ele tocou sua bochecha com as pontas dos dedos.
─ Eu nunca machucaria você. - Ele disse suavemente, e a verdade disso estava nos olhos prateados olhando
tão intensamente nos dela.
Ela relaxou. Confiava nele.
─ Sábado de manhã seria bom. - Disse ela após um minuto.
Ele sorriu.
─ OK. - Ele não tinha certeza de por que queria se casar com ela. Só tinha certeza de que queria.

***
─ Eu esqueci alguém. Quero convidar Pam Simpson e o marido. - Disse Ida, enquanto se sentavam para
tomar café na mesa da cozinha, enquanto Maude fazia o jantar muito mais tarde naquele dia. ─ E, Maude,
você tem que ir também. - Acrescentou ela.
Maude ficou surpresa. Ela gostava muito de Ida, mas sabia seu lugar na casa. Ela teve até mesmo que
ser forçada a fazer as refeições junto com eles na sala de jantar.
─ Eu?
─ Sim, claro, você. - Respondeu Ida. ─ Você tem sido tão gentil comigo. Mais legal do que qualquer
pessoa nos últimos anos. - Ela acrescentou suavemente. ─ Você pode ser minha madrinha, e se precisar de
um vestido chique, Jake e eu vamos sair com você e comprar um.
Maude parecia flutuar. Ela sorriu de orelha a orelha.
─ Você faria isso por mim? - Ela perguntou com visível entusiasmo. E corou um pouco. ─ Veja, não temos
muito dinheiro para extras, embora o Sr. McGuire me pague muito mais do que eu mereço. Meu marido
tem uma pensão por invalidez. Sua coluna foi quebrada anos atrás, montando cavalos, então eu sou a única
trabalhando.
─ É claro que vamos conseguir o que você precisar. - Disse Jake, radiante. ─ E eu quero dizer qualquer
coisa. Você deve ter notado que estamos um pouco melhor do que a maioria das pessoas.
─ Acho que a Mercedes e o Jaguar enfatizam isso. - Disse Maude ironicamente.
Ambos riram.

***
E eles levaram Maude a Los Angeles para comprar em uma das butiques mais caras da cidade.
Maude era como uma garotinha em uma confeitaria. Ela foi de roupa em roupa, parecendo como se
tivesse ganhado na loteria, enquanto o casal carinhosamente satisfeito a observava.
─ Ela é uma mulher tão doce. - Ida murmurou para Jake quando Maude levou dois vestidos para o
provador, ambos adequados para um casamento chique.
─ Ela é. - Respondeu Jake. ─ Podemos considerar dar a ela um aumento. Ela vale seu peso em ouro.
Ela sorriu.
─ Sim vale. Eu também gostaria disso.
Ele deslizou um braço cuidadoso ao redor dos ombros dela, apenas um sinal de afeto, mas isso
provocou um estremecimento no seu corpo alto e em forma. Ele esperava que ela não percebesse isso e
ficasse com medo dele.
Ela percebeu. E estava sentindo a mesma coisa. Como um raio, disse a si mesma, mas sensual. Ela
ficou chocada que lhe agradasse tanto estar perto dele. Inconscientemente, ela se aproximou mais e o braço
a seu redor apertou um pouco. Foi um choque para os dois. Eles se entreolharam com uma leve surpresa
em seus rostos.
Eles não falaram ou se moveram até que Maude apareceu usando um dos vestidos, o cor de rosas
antigas desbotadas. Isso fez seu rosto simplesmente brilhar.
─ Esse. - Disse Jake antes que Ida pudesse. Ela apenas balançou a cabeça e sorriu. Maude veio até eles,
sorrindo para a vendedora. Ela se inclinou para Jake.
─ Senhor, você tem alguma ideia de quanto vai custar este vestido?
─ Eu não me importo. - Disse ele.
Ida sorriu.
─ Nem eu. - Ela brincou. ─ Queremos que você seja a mulher mais bem vestida que existe. Bem, exceto
por mim. - Ela adicionou com um pequeno sorriso. ─ Mas estarei de branco. Você está muito bonita,
Maude. A cor realmente combina com você.
─ Obrigada. - Disse Maude. ─ E pelo vestido. Eu nunca tive nada tão bonito. - Seus olhos estavam muito
brilhantes. Ela se virou e voltou para a vendedora.
Ida se mexeu para poder colocar a bochecha contra o peito largo de Jake.
─ Você realmente é um homem gentil. - Ela disse suavemente.
Sua mão grande e magra acariciou as costas dela.
─ Maude é um tesouro. Lamento não ter pensado nisso antes. Eu sei o que é ser pobre. Você também.
Nunca houve extras em nossa casa. Eu ia para a escola com buracos nas calças que não eram feitos
deliberadamente como uma declaração de moda e botas que muitas vezes tinham buracos nas solas.
─ Tínhamos muito o que comer, porque morávamos em uma fazenda e cultivávamos nossos próprios
vegetais, carne bovina e suína. Mas os sapatos sempre foram um problema porque meus pés cresciam
muito rápido.
Ele olhou para baixo e sorriu. Os pés dela estavam calçados com tênis rosa elegantes que
combinavam com a blusa de seda sob seu longo casaco de couro.
─ Lindos pezinhos. - Ele comentou.
Ela olhou para baixo e riu.
─ Aposto que você tem que usar as caixas de sapatos. - Ela sussurrou.
─ Pés grandes, coração grande. - Ele respondeu com arrogância fingida.
Ela riu.
─ Enquanto estamos aqui, você precisa dar uma olhada nos vestidos de noiva, Ida. - Acrescentou.
Ela estava hesitante.
─ Você tem certeza? - Ela perguntou, preocupada. ─ Eu não sou uma jovem menina e não é um primeiro
casamento. Além disso, vai ser apenas um pequeno casamento...
─ Já tivemos essa discussão. - Lembrou ele. ─ Branco quente de inverno. Algo atraente. E com um véu.
Ela se lembrou de que ele insistiu nisso. Nenhum de seus outros dois maridos queria algo semelhante
a uma cerimônia adequada. Ela olhou nos olhos suaves de Jake e cedeu.
─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Branco. E um véu.
Ela deixou Jake sentado enquanto Maude procurava acessórios para usar com seu vestido de dama de
honra e foi para o departamento de vestidos de noiva de alta costura, com os olhos brilhantes.
Ela olhou através do que parecia ser um mar de branco, até que estava quase atordoada pelas
escolhas. Mas um vestido em particular chamou sua atenção. Ele tinha um decote fechadura no pescoço,
enfeitado com renda antiga, justo no busto e na cintura, saia rodada até o tornozelo, e com uma cauda. Era
de cetim com sobreposição de renda, mangas bufantes e bordados intrincados apenas na parte inferior da
saia, ao redor da bainha, em cores pastel. O mesmo bordado dava o acabamento ao redor dos punhoa e em
torno do decote. O véu era de renda antiga e sua bainha tinha o mesmo bordado fino e em pastel. Era como
algo saído de um conto de fadas, Ida pensou enquanto se estudava nos três espelhos do provador.
Ela suspirou, preocupada por estar muito velha para um vestido como este e achando que deveria
escolher algo mais simples.
Mas a vendedora entrou, a viu com o vestido e prendeu a respiração.
─ Senhora... - Disse ela suavemente. ─ eu nunca vi uma noiva ficar tão linda em um vestido. Também é de
um novo designer, e ele tem alguns dos vestidos mais bonitos que se gostaria de usar.
Ida soltou a respiração que estava prendendo. E riu.
─ Eu estava preocupada por estar velha demais para isso. - Disse ela. ─ Já fui casada duas vezes, sabe...
─ Ninguém é muito velha para um lindo vestido de noiva como esse. - Respondeu ela, e sorriu.
Ida deu mais uma olhada no espelho e teve que concordar. Ela sorriu de orelha a orelha.
─ Eu levo. - Disse ela.

***
Maude foi deixada em sua casa, para que pudesse guardar o vestido, depois de mostrá-lo e suas
outras compras ao marido.
Jake e Ida, sentados na parte de trás da limusine, esperaram por ela pacientemente, trocando uma
conversa preguiçosa enquanto Fred, o motorista, olhava pelo retrovisor, como se estivesse impaciente para
ir embora.
─ Ficando nervoso, Fred? - Jake brincou. ─ Não estamos roubando um banco. Embora, a maneira como
você dirige às vezes, me lembre o cara do volante. - Ele riu.
Fred sorriu, mas de um jeito estranho.
─ Acho que esses caras têm que ser muito bons no volante. - Disse ele.
─ Muito bons, eu acho. - Jake concordou, balançando a cabeça. Então ele se voltou para Ida. ─ Que tal um
concerto amanhã à noite? Jantar antes.
─ Não temos um concerto em Catelow. - Disse ela sem expressão.
─ Bem, não, mas há um em Manhattan, e por acaso eu sei que eles estão tocando Debussy.
Sua respiração ficou presa.
─ Como você sabe que é o meu favorito?
─ Eu não sei. - Ele respondeu, surpreso. ─ É o meu favorito.
Ela riu.
─ Outra coisa em comum. Qual restaurante?
─ O Plaza, é claro. - Ele brincou. ─ A menos que você prefira ir ao Bull and Bear. Este último é no
Waldorf Astoria.
─ Há um que quero muito conhecer, em Manhattan, e só estive na cidade uma vez. É o Algonquin Hotel...
─ Meu Deus! - Ele exclamou. ─ Dorothy Parker* e as outras estrelas literárias do dia!
Seus olhos azuis se arregalaram e suavizaram de deleite.
─ Sim!
Ele apenas balançou a cabeça.
─ Ida, vamos ser a maior história de sucesso conjugal da história de Catelow. - Ele murmurou suavemente.
Ela sorriu para ele.
─ Nós podemos ser.
Ela estava nas nuvens. E nem estava impaciente esperando por Maude. Seu coração estava tão pleno
que quase explodiu. O que ela temeu no início acabou por se tornar uma das melhores decisões que já
tomou. O medo de Bailey e seus capangas se foi. Seu desconforto em se casar com Jake se foi. De repente,
ela teve certeza de que eles realmente teriam um casamento maravilhoso.
Era um longo caminho até Manhattan, uma viagem cansativa. Mas ela queria muito ir. Uma noite
com Jake seria fora de série. Ela pensou em viajar com ele depois que se casassem. Havia muitos lugares
para conhecer. E simplesmente ser casada com ele seria muito bom.
O único problema é que ela queria um filho. Ela havia falado com o Dr. Menzer sobre isso, sem o
conhecimento de Jake, porque precisava saber, por precaução, se poderia carregar um filho com seus
problemas de saúde.
Ele garantiu que ela poderia. Isso poderia colocar mais carga em seu quadril machucado, mas havia
maneiras de lidar com isso. Ele sorriu e zombou dela sobre seu chamado "casamento platônico" com o
solteiro mais cobiçado da cidade. Ela foi rápida em mencionar que ela e Jake haviam concordado que seria
um casamento de amigos. O médico, porém, tinha certeza de que não permaneceria assim por muito tempo.
Não quando ela estava perguntando sobre suas chances de dar à luz um bebê. Mas ele não disse isso.
Ela olhou para Jake, imaginando como seria um filho dele. Ele tinha olhos prateados e os dela eram
azuis. Ambos eram altos e tinham inclinações musicais. Seu filho poderia ser um prodígio, quem poderia
dizer? Ela se permitiu um breve devaneio, com ela segurando um bebê nos braços e Jake se curvando sobre
ela com alegria em seu rosto, em seus olhos. Verdadeiramente um sonho, ela pensou após um minuto. Um
sonho impossível.

***
Maude voltou quando Fred estava realmente nervoso. Ele estava batendo no volante e olhando ao
redor, como se esperasse a polícia a qualquer minuto. Ida divertia-se, pois não sabia por que ele estava tão
nervoso. Ela comentaria isso cok Jake mais tarde, se houvesse tempo.
Fred os levou de volta para casa e Maude, após um minuto de sincera gratidão a ambos, foi à cozinha
preparar algo magnífico para o jantar.
─ Você precisa descansar um pouco. - Jake disse a Ida. ─ Você está de pé há muito tempo. - Ele sentiu o
peso do vestido que ela comprou e que ele não conseguia ver, em sua bolsa elegante. ─ Vai mostrar para
mim mais tarde? - Ele perguntou com um sorriso malicioso.
─ Não até o casamento. - Disse ela com firmeza.
─ Ele vem com um véu?
Ela riu.
─ Sim. Ele vem com um véu.
Ele se aproximou, uma mão esguia indo para sua bochecha enquanto seus olhos prateados olhavam
fixamente nos dela.
─ Vou levantar o véu quando nos casarmos e ser o primeiro a ver você como uma mulher casada. - Ele
sussurrou.
*Dorothy Parker foi uma escritora, poetisa, dramaturga e crítica estadunidense, conhecida pelo olhar perspicaz sobre a sociedade norte-americana do
início do século XX. Não há lugar em Nova York mais importante para o legado duradouro de Dorothy Parker do que o Algonquin Hotel.  Qualquer devoto de
Parker que valha seu peso em livros saberá que “The Gonk” é onde a Távola Redonda se reuniu por vários anos, começando em junho de 1919. O “Círculo
Vicioso” é o grupo literário mais célebre da literatura americana. O Algonquin é um dos hotéis literários mais prestigiados de Nova York. Por mais de 100 anos,
foi palco de escritores, editores, atores, e produtores.
Seu coração acelerou. Sua respiração ficou presa na garganta enquanto o olhava com fascinação. Ela
nunca conheceu ninguém como ele, e teria apostado sua vida que ele nunca levantaria a mão ou gritaria
com ela como Bailey fazia.
─ Sra. Jake McGuire. - Ele adicionou em um sussurro rouco, seus olhos em todo o seu belo rosto enquanto
a estudava.
Ela apenas olhou para ele impotente.
─ Sim. - Ela conseguiu dizer.
Ele abaixou a cabeça e roçou a boca suave e ternamente contra a dela, rapidamente, para não
incomodá-la ou fazê-la se sentir ameaçada.
Ele recuou. Ela tinha gosto de mel. Ele sorriu.
─ Não entre em pânico. - Ele provocou. ─ Estou apenas praticando para quando Tolbert nos casar.
Ela riu baixinho e seus olhos estavam cheios de seu próprio deleite.
─ OK. - Ela hesitou. ─ Tem certeza de que não precisamos apenas de um pouco... de prática? - Ela hesitou,
insegura.
Mas ele sorriu.
─ Nós precisamos. - Ele murmurou.
Ele se curvou novamente, mas desta vez o beijo demorou, crescendo lentamente até uma intensidade
que a fez se aproximar quando o braço que não estava segurando o vestido passou por seus ombros e a
pressionou contra ele. Sua boca era quente e gentil, embora seu coração estivesse disparado e ele se sentiu
muito tenso até com aquele contato. Mas não devia assustá-la, disse a si mesmo. Ele tinha que ser calmo
por enquanto, e não ceder ao desejo que inesperadamente borbulhava dentro dele.
Ele recuou muito cedo, sua respiração tocando os lábios dela enquanto ele se erguia. Ela parecia, ele
não tinha certeza, atordoada, talvez. Fascinada. Ele sorriu. E gostou muito da maneira como ela estava. Ele
começou a inclinar a cabeça novamente, com medo de que desta vez não fosse ser gentil ou breve, porque
estava perdendo rapidamente o autocontrole. Ele estava fora de si. Não conseguia parar. Mas precisava.
Seus lábios estavam quase tocando os dela quando a porta da cozinha se abriu de repente e eles se
separaram.

CAPÍTULO DOZE
Maude escondeu um sorriso ao dizer a eles que o jantar seria servido em breve. Eles pareciam
corados e desorientados. Bom, ela pensou. Este poderia ser um casamento melhor do que eles planejaram.
Especialmente, acrescentou para si mesma, por que a patroa estava tricotando uma manta de bebê. Ela
disse que era para o filho de uma amiga, mas a maneira como ela parecia enquanto tricotava revelava sua
própria vontade de ter um filho. Ela se perguntou se o chefe sabia disso.
Ele não sabia. Estava muito preocupado com os preparativos do casamento e com pequenas dúvidas.
Ele gostava muito de Ida. Se sentia à vontade com ela. Mas tinha memórias que não podia compartilhar,
memórias que o faziam despertar gritando no escuro. Flashbacks de horror, sangue, guerra. Ele morava
sozinho, então ninguém sabia sobre elas. Ele se lembra de Cindy ter mencionado que Ida a acordou
gritando uma noite, e ela ligou para o xerife, pensando que a pobre mulher estava sendo atacada. Nesse
caso também eram lembranças ruins. Jake suspirou. Se Ida também tivesse pesadelos, eles poderiam se dar
bem. Mas ele também tinha cicatrizes de batalha que nunca compartilhou. Ele não ficava sem camisa no
verão, mesmo nos dias mais quentes, quando ajudava os homens no rancho, aqui e na Austrália. Isto gerava
comentários, que eram rapidamente reprimidos pelos capatazes que sabiam sobre ele. Ele se perguntou se
Ida também tinha dúvidas. Ele deu sua palavra, prometeu se casar com ela, comprou um anel. Era tarde
demais para desistir. Ele teria que ir em frente com isso. Uma pequena parte dele queria se casar com ela.
Ele estava sozinho.
Ele sentia falta dos dias maravilhosos que teve com Mina quando esperava fazer com que ela o
amasse. Aqueles dias eram apenas lembranças. Elas o consolavam quando estava triste. Ele pensou nela
com o menino que teve com o marido, Cort, e lembrou o quanto desejou que fosse seu filho.
Ele não achava que Ida iria querer filhos, não em sua condição física. E não tinha certeza se ela
poderia carregar uma criança em seu corpo com todos os danos que sofreu. Mas se lembrou dela tricotando
um cobertor de bebê. Isso lhe deu um choque inesperado de prazer.
Ele voltou a falar com Tolbert, porque estava preocupado. O casamento seria amanhã. Não podia
desistir agora. O casamento foi anunciado em todos os jornais dos condados vizinhos. Jake era bem
conhecido nos círculos de pecuaristas, em círculos sofisticados nas cidades também. Haveria cobertura do
casamento. Ele não tinha contado a Ida. Seria impossível manter os jornalistas afastados, mesmo que
pudessem ser impedidos de entrar na igreja durante a breve cerimônia. Era apenas mais uma preocupação
para resolver.
─ Você está preocupado. - Tolbert adivinhou quando eles estavam sentados em seu escritório na igreja.
─ Sim. - Confessou Jake. Ele estava sentado na beirada da cadeira, os cotovelos apoiados nos joelhos
enquanto se inclinava para frente. ─ Acho que a maioria dos solteiros fica com medo um pouco antes da
cerimônia.
─ Todos. - Tolbert disse com um sorriso. ─ As mulheres também. Espero que sua Ida esteja andando de
um lado para o outro.
Ele não tinha pensado nisso. Mas fazia sentido.
─ Escute. - Tolbert disse gentilmente . ─ Você e Ida combinam muito. Ela é linda, rica e talentosa. Sim, ela
tem problemas físicos, mas pode pagar qualquer reabilitação de que precise para continuar. Mulheres com
próteses de quadril podem ter filhos. - Ele acrescentou e notou a surpresa de Jake. ─ Temos duas mulheres
em nossa congregação que tiveram bebês e elas tiveram problemas pelo menos tão graves quanto os de Ida.
─ Bem! - Jake disse, animando-se. E ficou sério. ─ Mas não vai ser esse tipo de casamento. - Acrescentou
ele rapidamente. ─ Apenas Amigos.
─ Certamente. - Tolbert concordou. ─ Apenas Amigos. - Mas ele estava escondendo um sorriso.

***
Ida saltou quando Jake bateu na porta de seu quarto. Ela a abriu, parecendo tão incomodada e
preocupada quanto ele estava antes de falar com o ministro.
─ Saia, vamos beber um café e conversaremos sobre dúvidas e o futuro. - Disse ele com os lábios franzidos
e um sorriso divertido.
Ela começou a rir.
─ Olha quem lê mentes. - Ela brincou, seus olhos azuis brilhando com humor.
Ela era incrivelmente bonita, ele pensou, olhando para ela. Ele sorriu, escondendo sua reação a ela.
Ele não a queria mais nervosa do que ela já estava.
Ela caminhou ao lado dele, sem sua bengala.
─ Está se sentindo bem hoje?
Ela assentiu.
─ Estou tomando ibuprofeno. Eu vou tomar até domingo. - Ela fez uma careta. ─ Então paro por dez dias. -
Ela olhou para ele. ─ Nunca serei a mesma de novo. - Disse ela. ─ Está tudo bem? Posso não ser capaz de
acompanhar você se o tempo estiver ruim e a articulação ficar inflamada...
─ Se você não conseguir me acompanhar, eu a carrego. - Ele disse suavemente.
Ela ficou vermelha como uma beterraba. Era a última coisa que ela esperava que ele dissesse.
─ Oh.
Ele deu uma risadinha. Gostava de como ela reagia a ele. Ela conhecia pouco os homens. Ambos os
seus casamentos foram fora do normal, e o segundo a transformou em uma versão quebrada de si mesma.
Mas pessoas quebradas podem ser consertadas, se assegurou. Ele iria se certificar de que Ida tivesse uma
vida boa, que ela estivesse protegida de seu ex-marido maníaco, custe o que custasse. Se fosse necessário,
pegaria emprestado o bando de mercenários de Mina e os colocaria em volta da casa. Deixe Trent e seus
capangas tentarem qualquer coisa então! Ele sorriu para si mesmo.
─ Você parece presunçoso. - Ela disse, se perguntando por quê.
Ele deu uma risadinha.
─ Eu estava pensando no grupo de mercenários de Mina.
Ela baixou os olhos e sentiu o coração apertar.
─ Entendo.- Ele ainda estava ligado a Mina. A amava de uma forma que nunca seria capaz de amar outra
mulher. Por que esse pensamento doeu tanto?
─ Seu ex-marido e os capangas dele pensariam que atingiram uma parede de tijolos se os encontrassem. -
Ressaltou.
Os lábios dela se separaram em uma respiração rápida. Ele estava sendo protetor. Talvez ele se
importasse, só um pouco. Tinha que se importar, ela disse a si mesma. Ele a acolheu, protegeu, salvou seu
gato, fez tudo a seu alcance para aliviar suas preocupações. Se isso não significasse pelo menos afeto, nada
faria. Ela se sentiu melhor. Havia uma pequena chama dentro dela que cresceu quando ela olhou para cima
e sorriu para ele.
Ele sentiu aquele sorriso percorrer seu corpo. Os olhos dela eram suaves e curiosos, quase...
amorosos. Ele sentiu sua respiração prender enquanto olhava para ela. A tensão cresceu exponencialmente.
Ele se aproximou e sua grande mão foi descansar contra sua bochecha macia.
─ Amanhã... - Disse ele suavemente. ─ nos casaremos.
─ Sim. - Ela respondeu.
─ Chega de dúvidas.
Ela sorriu.
─ OK.
Ele retribuiu o sorriso. A excitação o estava deixando muito desconfortável. Ele se virou.
─ Que tal um pouco de café e torta? Aposto que Maude está escondendo os dois na cozinha.
─ Escondendo? - Ela perguntou e riu.
Ele deu de ombros. Seus pálidos olhos prateados cintilaram.
─ Má escolha de palavras.
─ E eu aqui pensando que era insubstituível!
Ele estendeu a mão. Ela deslizou a dela na dele. O contato foi maravilhoso, ela pensou, e se
perguntou por que seus pés não pareciam estar tocando o chão.

***
─ Eu encontrei uma maneira de conseguir um vestido para Cindy sem ferir seu orgulho. - Disse Jake
enquanto bebiam café.
─ Você encontrou? Como?
─ O marido dela faz biscates para mim quando não está trabalhando em tempo integral. Eu disse a ele que
era um bônus de festas antecipado, mas ele tinha que usar parte dele para comprar um vestido de dama de
honra para Cindy. Também mencionei que Maude vai usar um cor rosa claro. - Ele inclinou a cabeça. ─ Eu
fiz bem?
Ela soltou um longo suspiro.
─ Ai sim. Partiu meu coração pensar que ela não viria. Ela tem sido uma boa amiga. Eu não sabia como
resolver isso. Obrigada.
─ De nada. - Respondeu ele. ─ Eu gosto da Cindy também. Ela provavelmente ligará para você mais tarde.
O marido ia levá-la às compras esta manhã.
─ Adorável!
Ele olhou para o rosto brilhante e feliz dela sobre a xícara de café.
─ Amanhã a esta hora, estaremos casados.
O coração dela pulsou em sua garganta. Ela estava certa de que ele não era nada parecido com
Bailey. E não havia chance de ele não gostar de mulheres. A única coisa que a preocupava era Mina. Ele
nunca a superou. E se ele nunca o fizesse?
─ Chega de dúvidas. - Disse ele, lendo a expressão preocupada no rosto dela sem entender por que estava
lá. ─ Vamos ter um bom casamento.
Ela observou os olhos dele por um longo tempo, sentindo a eletricidade percorrer todo seu corpo com
a intensidade do olhar que de repente estavam trocando.
─ Você estava tricotando um cobertor de bebê. - Ele disse, sua voz soando estranhamente rouca. ─ Você
gosta de crianças.
─ Oh, sim. - Ela disse suavemente.
Ele olhou para sua xícara de café. Não iria mencionar sobre o que ele e o ministro haviam
conversado. Entretanto...
─ O ministro mencionou que havia duas mulheres em sua congregação com ferimentos semelhantes aos
seus. Ambas tiveram filhos.
Seu coração disparou em seu peito. Seus lábios se separaram em uma respiração surpresa.
─ Mesmo? - Ela perguntou, sem confessar que havia consultado seu cirurgião ortopédico sobre isso.
─ Não que vamos ter esse tipo de casamento. - Disse ele rapidamente, interpretando mal a expressão no
rosto dela. Ele desviou os olhos. ─ As crianças dão muito trabalho.
─ Sim. - Ela teve que esconder sua decepção. E forçou um sorriso. ─ Teremos várias pessoas no
casamento.
─ Um belo bando, sem superlotação. - Disse ele, contente por deixar passar o assunto das crianças. Isso o
perturbou, o quanto ele queria um filho. Ida era linda. Ele se perguntou se um filho deles teria olhos azuis
ou prateados. Ele pensou em uma versão em miniatura de si mesmo, com pequenas botas de cowboy,
seguindo-o pelo rancho. Ele sorriu para si mesmo e depois apagou o sorriso. Sonhos impossíveis eram
perda de tempo.
─ Bem, eu tenho alguns telefonemas para fazer. As pessoas se casam, mas os negócios são para sempre. -
Provocou. ─ Vejo você mais tarde.
─ OK.

***
Ela sentou-se com Maude, discutindo pequenos detalhes sobre a cerimônia. O telefone tocou e era
Cindy.
─ Meu marido recebeu um bônus de Natal muito cedo. - Disse ela entusiasmada. ─ E ele disse que íamos
gastá-lo em um vestido de dama de honra. Disse que Maude tinha um vestido rosa claro, então eu comprei
um também... Estou convidada?
─ Você está de brincadeira? Claro que você está convidada! Oh, Cindy, eu queria tanto que você viesse,
mas eu sabia que você nunca me deixaria vesti-la...
─ Não, eu não deixaria. - Respondeu Cindy, mas havia um sorriso em sua voz. ─ Estou tão feliz por poder
ir.
─ Eu também. Somos amigas há muito tempo. De certa forma, devo nosso casamento a você. Se você não
tivesse se preocupado tanto quando meu carro quebrou, Jake e eu poderíamos nunca ter ficado juntos.
─ Oh, eu duvido disso. - Provocou Cindy. ─ Ele costumava olhar para você quando vocês dois estavam no
café. - Acrescentou ela.
O coração de Ida deu um pulo.
─ Ele olhava? - Ela perguntou ofegante.
─ Ele olhava. Não tenho certeza se ele percebe o que sente. - Ela disse muito suavemente. ─ Mas ele sente
algo.
─ Obrigada. - Ida disse, sua voz baixa, esperançosa. ─ Ele tem sido muito gentil comigo. Tive medo de que
fosse, bem... pena.
─ Ele não se casaria com ninguém só porque sente pena. - Disse Cindy. ─ Oops, clientes amontoando-se.
Eu tenho que ir. Vejo você na igreja amanhã. Você conseguiu um vestido bonito?
─ Eu consegui. Algo branco, porque Jake insistiu.
Houve uma risada rápida.
─ Bem, sinceramente, você não teve um casamento tradicional até agora, então o branco parece muito
apropriado.
─ Só espero que ninguém comente sobre isso. Muitas pessoas pensam que deveria ser vermelho em vez de
branco. Não fiz nenhum favor a mim mesma, tentando desencorajar os homens.
─ Você ficaria surpresa com o que as pessoas estão falando sobre você ultimamente... Tenho que ir! Até
amanhã! - E ela desligou.
Ida largou o telefone, sua expressão tranquila e curiosa.
─ Cindy disse que as pessoas estão falando coisas sobre mim ultimamente. - Disse ela a Maude.
─ Sim, sobre o seu ex-marido nojento e o que você fez para evitar que os homens a incomodassem. -
Maude disse com um olhar presunçoso. ─ Cindy e eu começamos nossa própria fofoca. - Ela parecia
culpada. ─ Espero que você não se importe. Eu me senti tão mal com a maneira como a tratei quando o Sr.
McGuire a trouxe para casa com ele. Cindy também não gostou da fofoca, então juntamos nossas cabeças e
conversamos com algumas pessoas.
Ida sorriu.
─ Obrigada, Maude. - Disse ela. ─ Muito obrigada.
─ Não foi muito. Estou feliz que ajudou. - Ela sorriu. ─ Por que você não se deita um pouco e descansa?
Grande dia amanhã!
─ Ai sim.

***
Ida se deitou sobre a coberta da cama com um suspiro. Já havia tomado sua dose matinal de
ibuprofeno, o que estava ajudando muito, mas ainda sentia um pouco de dor. Ela fechou os olhos, apenas
para descansá-los, mas adormeceu.
Ela estava fugindo de Bailey. Ele a estava perseguindo com um porrete, enquanto a xingava aos
berros. Ela estava quase em um lugar seguro quando tropeçou e caiu. Bailey a segurou com uma mão e
ergueu o porrete com a outra.
“Vou fazer você pagar por me colocar na prisão!” Ele estava gritando.
O primeiro golpe veio contra seu ombro. Ela gritou. O próximo atingiu a parte inferior das suas
costas, o próximo seu quadril machucado. Ela sentiu os golpes como se estivessem realmente acontecendo,
ela estava chorando, gritando por socorro...
─ Ida. - Veio uma voz suave em seu ouvido.
Ela se sentiu erguida, virada, segurada perto de um peito largo que cheirava a sabonete, colônia cara
e couro.
─ Ida. - A voz profunda e lenta veio novamente. ─ Acorde, querida. Acorde. Você está segura. É apenas
um sonho ruim. Você está segura.
Ela estava tremendo. Seus olhos azuis se abriram, cheios de medo, dor e lágrimas.
─Jake? - Ela sussurrou, sua voz falhando em seu nome. ─ Oh, Jake! - Ela se aconchegou em seu corpo e se
agarrou a ele, ainda tremendo.
Maude estava no batente da porta, o rosto contraído e preocupado.
─ Há duas garrafas de bebidas no armário do meu escritório que guardo para as visitas. Sirva um copo de
conhaque e traga aqui, por favor. - Disse Jake.
─ Imediatamente, Sr. McGuire.
Os braços de Jake se apertaram quando Maude foi até o armário de bebidas na sala.
─ Ele estava me perseguindo, com um bastão. - Ida murmurou contra sua camisa. ─ Ele me bateu, mais e
mais!
─ Ele não está aqui. Ele nunca vai chegar até você de novo, eu prometo!
Ela engoliu em seco.
─ Eu estava com tanto... medo.
Sua grande mão acariciou o cabelo liso. Ele beijou a testa dela.
─ Eu não vou deixá-lo machucar você. Eu não vou deixar nada machucar você, nunca mais.
Ela fechou os olhos com um suspiro áspero.
Maude estava de volta com um pequeno copo de conhaque.
─ Espero que esta seja a garrafa certa. Eu não sei muito sobre bebidas. - Disse ela se desculpando.
Ele deu uma risadinha.
─ Você não precisou, até agora. - Ele disse. E cheirou o líquido. ─ Bem, não é conhaque, é uísque, mas que
diabos, vai servir.
Ele o colocou nos lábios de Ida.
─ Eu sei que você não gosta de bebidas alcoólicas. Mas precisa disso. Vamos. Beba.
Ela colocou a mão sobre a dele no pequeno copo, tomou um gole e fez uma careta.
─ Tem gosto de gasolina. - Ela reclamou.
─ A maioria das bebidas alcoólicas parecem assim para mim também. - Ele confidenciou. ─ Mas beba
assim mesmo. - Ele hesitou, sorrindo. ─ Tudo de uma vez é melhor.
Ela deu um suspiro resignado e bebeu de uma vez só.
─ Oooh! - Ela gemeu. ─ É horrível de engolir!
─ Espere um minuto. - Ele devolveu o copo para Maude, que estava escondendo um sorriso.
─ Nenhum de nós jamais se qualificaria para a reabilitação. - Ressaltou.
─ Por que você mantém um armário de bebidas se não bebe? - Ida perguntou quando conseguiu recuperar o
fôlego.
─ Porque eu tenho jantares de negócios e muitos empresários bebem. - Ele encolheu os ombros. ─ Quando
em Roma...
─ Jantares de negócios? - Ela perguntou, preocupada.
─ Você será a anfitriã perfeita. - Ele prometeu. ─ Você é bonita, culta e não sorve seu café.
Maude perdeu o controle.
─ Vou apenas lavar isso. - Ela engasgou e foi para a porta. Ida também começou a rir.
─ Eu não sorvo meu café?
─ Bem, é uma característica admirável para mim. - Ele disse enquanto Maude fechava a porta atrás dela.
Ela apenas sorriu para ele, delicada e dócil em seus braços fortes, o pesadelo esquecido. Os dedos
dela acariciando o centro do peito dele onde seu coração estava e pararam, inertes.
Havia uma cicatriz grossa e longa. Seus olhos se ergueram para os dele e viram a inquietação ali.
Mas ela não afastou os dedos. Eles percorreram a cicatriz.
─ Isso ainda doi? - Ela perguntou.
Era a última pergunta que ele esperava.
─ Não.
─ Tem mais? - Ela perguntou suavemente.
Seu rosto estava tenso, duro como pedra. Ele moveu os dedos dela até sua caixa torácica. Havia outra
cicatriz, quase tão grave quanto a mais acima. Ele moveu os dedos dela para o outro lado de seu estômago,
onde havia uma cicatriz menor.
─ Oh, Jake. - Disse ela suavemente, franzindo a testa. ─ Você deve ter estado em agonia quando
aconteceu!
O desconforto em sua expressão diminuiu um pouco.
─ Elas não são repulsivas?
─ Não seja bobo. - Respondeu ela, levando a mão de volta para a maior.
─ Posso ver? - Ela perguntou, seus olhos azuis procurando os prateados dele. Ele estava hesitando quando
Maude apareceu na porta.
─ Estou sem ovos e quero fazer um bolo de casamento. Eu vou correr para a loja. Você precisa de alguma
coisa enquanto eu estou fora?
─ Absolutamente nada, Maude. Obrigada. - Disse Ida.
Maude sorriu para ela.
─ Sem problemas. Ah, e eu alimentei Butler e Wolf. Eles estão na cozinha. Vou me certificar de fechar a
porta dos fundos antes de sair. - Ela hesitou. ─ Está se sentindo melhor agora?
Ida assentiu e retribuiu o sorriso.
─ Está bem então. Não vou demorar. – O som dos seus passos desapareceran enquanto ela descia o
corredor. Um minuto depois, a porta dos fundos abriu e fechou.
Ida ainda estava olhando para Jake, a pergunta em seus olhos. Ele estava constrangido com as
cicatrizes há muito tempo. Mesmo com Mina, a quem amava, ele era reticente em falar delas, muito menos
em mostrá-las. Mas Ida não sentiu repulsa. Ele deu de ombros e desabotoou a camisa. Quando ele afastou a
camisa, os suaves olhos azuis de Ida estremeceram. As cicatrizes eram profundas, cobertas agora sob o
pelo preto espesso e encaracolado. Seu peito era largo e musculoso, mas as cicatrizes não eram
perturbadoras ou o faziam parecer menos sensual. Ida ficou surpresa com o quanto gostava de olhar para
ele, de tocá-lo enquanto traçava a maior das cicatrizes.
─ Como? - Ela perguntou, olhando para cima para surpreender uma expressão estranha em seu rosto tenso.
─ IED. - Respondeu ele. ─ Estávamos em um comboio. Lembro-me de um solavanco e um barulho alto,
como se o mundo tivesse explodido. Acordei em um hospital na Alemanha. Eles disseram que eu estive
inconsciente a maior parte do dia enquanto eles me transportavam de avião do hospital de campanha.
─ É um milagre que você tenha vivido, considerando onde está essa cicatriz. - Ela observou e pensou na
perda que teria sido para ela se ele tivesse morrido. O pensamento foi doloroso.
─ Eles tiveram que extrair muitos estilhaços. - Ele concordou. ─ Parte dela ainda está aí, mas não perto o
suficiente para colocar meu coração ou pulmões em perigo. – Ele acariciou as costas da mão dela. ─ Eu
nunca deixei uma mulher vê-las. - Confessou ele tenso. Ele teve mulheres. Claro que sim. No escuro, para
que as cicatrizes não aparecessem, porque o tipo de mulher com quem ele estava acostumado não gostaria
de nenhuma imperfeição física. Ela afastou os dedos, perturbada pelos pensamentos que se filtravam em
sua mente.
─ Desculpe. - Ele disse secamente. ─ Eu sempre me esqueço de como você é ingênua.
Ela olhou para ele, a cabeça inclinada para o lado.
─ Já fui casada duas vezes. - Ela começou.
─ E você não sabe nada sobre os homens. - Respondeu ele, seus olhos gentis e suaves. ─ Eu gosto disso. -
Acrescentou ele calmamente.
Ela corou um pouco.
─ Por quê?
Ele deu de ombros.
─ Não estou acostumado com inocentes. - Disse ele simplesmente. ─ Eu preferia um tipo diferente de
companhia, quando saía de casa.
─ Deixe-me adivinhar... - Ela murmurou. ─ dançarinas e socialites.
Ele deu uma risadinha.
─ Mais ou menos.
Ela suspirou.
─ Mulheres sofisticadas e experientes. - Ela murmurou.
─ Exatamente. Mulheres que sabiam como não engravidar.
Ela corou intensamente.
Ele riu suavemente.
─ Que expressão. - Ele moveu os dedos dela pelo seu peito, não se importando mais com as cicatrizes. Sua
bochecha acariciou o cabelo escuro dela.
─ Eu também sabia como não engravidar. - Disse ela, com uma memória dolorosa.
─ Bom. - Disse ele.
─ Sim. Bailey disse que não queria filhos, mas tinha medo de que ele tentasse me engravidar. Teria dado a
ele uma arma para usar contra mim. Eu teria feito qualquer coisa que ele quisesse, para salvar meu filho.
Sua grande mão acariciou o rosto dela que estava contra ele enquanto tentava ignorar a sensação
deliciosa da pele macia contra seu peito nu.
─ Alguma vez você gostou com ele? - Ele perguntou baixinho.
─ Não. - Ela estremeceu. ─ Ele era tão brutal. Na primeira vez, doeu tanto... Eu gritei e ele riu. Ele sempre
ria...
Seus braços se contraíram.
─ Meu Deus! - Seus lábios eram ternos nos cabelos dela.
─ Aposto que você nunca machucou uma mulher em sua vida. - Ela murmurou.
─ Nunca. - Respondeu ele.
─ Tenho tanto medo disso. - Ela confessou em um sussurro.
─ Não admira. - Seu peito subia e descia contra ela enquanto silenciosamente amaldiçoava seu ex-marido
por ser o canalha que era. ─ Acho que não adianta dizer que a maioria dos homens não sente prazer em
machucar uma parceira.
─ Eu levei uma vida estranha. - Respondeu ela. Seus olhos estavam abertos, olhando através de seu peito
de pelo áspero para a janela além.
─ Você realmente teve. - Disse ele. ─ Você nunca sentiu falta de intimidade quando se casou com seu
primeiro marido? - Ele acrescentou, curioso. ─ Você foi casada por cinco anos.
─ Li sobre isso em um livro. - Disse ela. ─ Se você nunca foi íntimo de ninguém, não sente falta, porque
não tem experiência disso.
─ Suponho que faça sentido.
─ Eu estava curiosa, sabe? - Acrescentou ela. ─ Tentei todas as coisas que lia nas revistas para fazê-lo se
interessar. Camisolas curtas, perfumes, tudo. Ele me abraçava, dizia que eu estava linda e me incentivava a
ir ao Shopping e comprar muito mais camisolas para encantá-lo. - Ela suspirou. ─ Então eu enchi um
armário. E ele me mandou para o MIT.
─ Não havia homens lá?
─ Eu era casada, Jake. - Ela o lembrou, porque eles já haviam tido essa conversa antes. ─ Eu nunca o teria
traído.
Seu coração disparou, porque ele sabia que ela aplicaria a mesma lógica ao casamento deles. Não
importando o que aconteça, ela nunca o trairia.
─ Por que você estava tão constrangido sobre isso? - Ela perguntou, deslizando os dedos suavemente sobre
a grande cicatriz em seu peito.
Sua mão cobriu a dela. Seus olhos estavam na parede, não nela.
─ Alguns meses depois de eu voltar para casa, um dos meus cowboys trouxe a namorada para o roundup.*
Eu estava sem camisa. As feridas não estavam curadas, ainda eram recentes e vermelhas. Ela disse ao
namorado que não poderia ficar onde eu estava. Disse a ele que tinha certeza de que eu nunca teria uma
namorada que agentasse olhar para mim.
─ Que mulher estúpida. - Ela murmurou.
Ele olhou para ela, surpreso e encantado com a expressão em seu rosto. Ela estava indignada.
Ela sentiu os olhos dele nela e ergueu o rosto.
─ E que tipo de homem namoraria uma mulher que não tem coração?
Ele riu suavemente.
─ Na verdade, ele próprio ficou bastante indignado. Ele a largou como uma pedra quente depois daquele
dia.
─ Bom!
Ele deu de ombros.
─ Mesmo assim, não tirei a camisa depois disso. - Ele fez uma careta. ─ E quando estava com mulheres, eu
me certificava de que as luzes estivessem apagadas. Ainda assim, uma delas sentiu as cicatrizes e disse que
sentia muito, mas não poderia continuar com isso. Ela se levantou, se vestiu e saiu. Eu fiquei bêbado.
Seu rosto se contorceu. Ela não sabia nada disso sobre ele. E tinha certeza de que ninguém mais sabia
também. A lisonjeava que ele pudesse compartilhar algo tão íntimo com ela. Não que ela gostasse das
referências sobre o que ele fazia com outras mulheres.
Ele a estava observando. Seus pálidos olhos prateados se entrecerraram.
─ Que expressão. - Ele murmurou. ─ Eu a envergonhei?
* Roundup - É um processo que acontece na primavera e que consiste na reunião do gado com a finalidade de desmame dos bezerros, marcação e classificação
dos bezerros entre gado de corte e leiteiro para posterior venda.
─ Sim. - Ela disse sem graça, tentando não corar. E falhou.
Os dedos longos dele tocaram a pele delicada do rosto dela.
─ Foi há muito tempo. - Ele disse suavemente. ─ Não sou um playboy agora.
Ela parecia preocupada.
─ Agora, o que há de errado? - Ele brincou gentilmente.
─ É que... bem... você está acostumado a ser íntimo de mulheres. - Disse ela. ─ E eu estou... traumatizada.
─ E você acha que vou uivar para a lua porque não consigo dormir com você? - Ele perguntou, seus olhos
brilhando.
─ Você é muito honrado para trair, e fico apavorada com os homens quando as luzes se apagam. - Ela
ressaltou. ─ Oh, Jake, o que faremos se...? - Ela parou porque os lábios dele se acomodaram lenta e
ternamente em seus lábios entreabertos. Ela esqueceu o que começou a dizer. Seus olhos se fecharam. Ele
era gentil, não exigia nada. A rigidez repentina saiu de seu corpo e ela se recostou contra a força dele, sem
protestar. Os dedos dela no peito nu dele estavam gelados, mas ela não os afastou.
─ Você pode me dizer o que quiser, quando quiser. - Ele sussurrou contra seus lábios. ─ Se você não quiser
nada, pode me dizer isso também. - Ele ergueu a boca da dela e apenas a olhou. Ela sentiu o coração
disparar, apenas com a pressão lenta e suave dos lábios dele nos dela. Ela parecia estranhamente com uma
criança na manhã de Natal, feliz diante de um monte de presentes. Ele sorriu. Ela retribuiu o sorriso,
fascinada. ─ Você entendeu o que eu disse? - Ele perguntou
Ela assentiu lentamente. Ela olhou para a vasta extensão de seu peito sob sua mão, para a constituição
forte dele, o rosto bonito e austero, o cabelo preto espesso. Ela amava a aparência dele. Amava a maneira
como o sentia contra ela. E não tinha medo dele. Ele sabia disso. Podia ver na suavidade relaxada do
corpo dela, no calor silencioso dos olhos azuis.
─ Eu vou... tentar. - Disse ela depois de alguns segundos, sua voz tão baixa que era quase imperceptível. ─
Se você for paciente.
Ele sorriu.
─ Eu sou sempre paciente.
Ela retribuiu o sorriso. O que havia começado como uma proposta prática estava assumindo uma
forma totalmente diferente. Ela estava com medo, animada, esperançosa e maravilhada.
Jake viu isso nos olhos dela e se sentiu otimista em relação ao futuro.

CAPÍTULO TREZE
A igreja estava cheia de flores de todos os tipos, e Jake encomendou um buquê de orquídeas para Ida.
Ele tinha ido à igreja com Ren Colter, seu padrinho e Maude trouxe Ida com ela. Ida estava
preocupada em ter alguém para entregá-la e triste porque seu pai havia morrido há tantos anos, e por que
seu pai e sua mãe não a veriam casar. Mas talvez eles estivessem assistindo de algum lugar distante e feliz
onde estivessem juntos.
─ Você não tem ninguém para entregá-la, não é? - Maude perguntou quando chegou à igreja.
─ Não. - Ida disse suavemente, endireitando o véu no espelho iluminado do carro do rancho. Ela sorriu
para sua companheira. ─ Mas está tudo bem. Eu só queria que meus pais estivessem aqui.
─ Eles estão. - Disse Maude confortavelmente.
Ida sorriu.
─ Isso é o que eu acho também.
***

Elas pararam na porta. Ida sinalizou para o ministro. A organista começou a tocar a “Marcha
Nupcial” e todos os olhos se voltaram para a linda noiva, em seu elegante vestido branco, enquanto ela
caminhava lentamente pelo corredor depois que Cindy e Maude já tinham tomado seus lugares no altar,
com o alto e belo Ren Colter.
Assim que ela alcançou Jake, ele se virou e olhou para ela. Sua expressão era impossível de ler. Ele
parecia surpreso, encantado, absolutamente sem palavras. Ele prendeu a respiração e se abaixou para unir
seus dedos aos dela.
O ministro sorriu para eles e começou a ler as palavras da cerimônia de casamento. Ida mal as tinha
ouvido antes. Ela estava muito nervosa e animada quando se casou com Charles, e dolorosamente
apaixonada quando se casou com Bailey. E não tinha ouvido o que o ministro disse. Mas desta vez ela
ouviu cada palavra. Quando ele chegou à parte sobre “na saúde e na doença”, ela estava se lembrando de
como Jake foi gentil quando ela estava sofrendo por causa dos ferimentos, quando seus cavalos foram
feridos, quando seu gato quase morreu. Ela o olhou e o amou tanto, tão profundamente, que mal conseguia
se controlar. Mas ele apenas pensava nela como uma amiga.
A dor de saber disso drenou o sangue de seu rosto. Felizmente, com seu véu no lugar, isso não
apareceu. Mas seus dedos, tão intimamente ligados aos de Jake, estavam instáveis e repentinamente frios.
Os dele se contraíram, como se a confortassem.
Jake procurou no bolso as alianças de casamento que haviam escolhido e soltou um suspiro fraco,
quase inaudível, quando as encontrou. Ele deslizou a dela suavemente no lugar e então esperou, em
contrapartida que ela calmamente deslizasse no seu dedo a sua aliança, que estava antes pressionada na
palma da mão dela.
O ministro os declarou marido e mulher, algo comovente e desconcertante que fez o coração dela
disparar de alegria. Jake se virou para ela e lentamente levantou o véu de seu rosto bonito. Ele nunca a
tinha visto tão linda.
Ele apenas a encarou por alguns segundos, seus olhos cheios de alegria, antes de inclinar a cabeça e
beijá-la com uma ternura que a fez estremecer de prazer. Ele ergueu a cabeça rapidamente, porque sentiu
um arrepio, e franziu a testa. Mas ela estava sorrindo com todo o coração nos olhos e ele relaxou. E sorriu
também.
Eles caminharam pela nave da igreja em direção ao salão de confraterrnização ao lado, para receber
os parabéns e, do lado de fora da igreja, uma chuva de confetes os cobriu levemente. A multidão os seguiu.
Jake riu enquanto ele e Ida tentavam retirar os confetes um do outro na porta.
─ Desculpe. - Maude e Cindy murmuraram juntas enquanto se juntavam a elas. ─ Não resistimos.
─ Não é um problema, e a chuva vai dissolver o papel e não causar um desastre ambiental. - Disse o xerife
Cody Banks. ─ Eu invadi o casamento. - Ele brincou.
Os dois se viraram e caíram na gargalhada.
─ Ninguém se importa. - Jake lhe assegurou.
─ Absolutamente ninguém. - Concordou Ida.
Ele apertou a mão de ambos, para alívio de Ida, porque ela ficava nervosa até com homens bons. Ela
queria que Jake a beijasse, mas nenhum outro homem.
Eles comeram bolo, compartilharam ponche e socializaram com todas as pessoas que vieram
comemorar o dia especial com eles. Apenas alguns foram convidados, mas foi como se metade de Catelow
tivesse aparecido para asssistir o casamento.
─ Estou muito feliz por você. - Disse Pam Simpson a Ida. Ela estava radiante. ─ Eu sinto que ajudei nisso,
do meu jeito.
Ida estava se lembrando de um jantar na casa de Pam quando Jake não gostava muito dela. Ela sorriu
de orelha a orelha.
─ Você ajudou, e eu nunca vou esquecer isso. Obrigada. - Ela abraçou a mulher mais velha.

***
Eles voltaram para casa com Fred ao volante. Jake a retirou do carro e a carregou para dentro de casa.
Ele parou na porta da frente para beijá-la, muito gentilmente.
─ Sra. McGuire. - Ele brincou suavemente.
Ela retribuiu o sorriso e colocou o rosto sob o queixo dele.
─ Você cheira bem. - Ela murmurou enquanto ele a carregava para quarto dela.
─ Você também, anjo. - Ele a colocou suavemente sobre o lençol. ─ Maude nos deixou frios para depois.
Estou tão cheio de bolo que mal conseguiria beber café, mas vou fazer um pouco se você quiser beber
comigo. - Acrescentou.
─ Eu adoraria. - Disse ela.
Wolf entrou pela porta, ofegando um pouco porque o aquecimento estava ligado. Butler trotou atrás
dele e saltou na cama para passar a cabeça em Ida. Ela o acariciou distraidamente e depois passou a mão
sobre a cabeça de Wolf.
─ Obrigada por deixar Butler dormir dentro de casa. - Ela murmurou.
─ Ele é um membro da família, assim como Wolf. Wolf também mora aqui dentro. - Acrescentou ele. Seus
olhos a percorreram lentamente, como dedos a acariciando. ─ Você é a noiva mais linda. Suponho que os
fotógrafos tiraram fotos suficientes para durar meses. Um até disse que tinha pensado em atrair você para
fora da igreja com chocolates e levá-la para algum lugar exótico antes da cerimônia.
Ela enrubesceu e riu.
─ Minha nossa. - Ela suspirou. ─ Não imaginei que haveria tantos repórteres lá. - Acrescentou ela. Seus
olhos azuis brilharam. ─ Mas vi que eles não chegaram ao salão de confraternização, graças ao nosso
xerife.
─ Cody pediu que seus auxiliares fizessem um cordão de isolamento ao redor da igreja. - Confessou ele,
rindo. ─ Ninguém passou por eles.
─ Isso foi legal. - Ela inclinou a cabeça e sorriu para ele. ─ Café?
─ Já está vindo. Talvez devêssemos trocar de roupa primeiro. - Seus olhos percorreram o vestido de noiva.
─ Eu nunca vi um vestido tão bonito. Poderia ser uma relíquia de família... - Ele parou, se virou e saiu pela
porta.
Ida sabia o que ele estava pensando. O vestido deveria ser entregue a uma filha amada. Mas o
casamento deles não era assim. Não haveria filhos. Ela lutou contra as lágrimas enquanto trocava suas
roupas elegantes por jeans e um pulôver rosa.
Ela foi até a cozinha e se sentou à mesa, estremecendo um pouco. Estava de pé há muito tempo.
─ Está doendo? - Ele perguntou, sem perder nada.
─ Apenas algumas pontadas. - Disse ela e sorriu para impedi-lo de se preocupar.
Ele serviu café fresco em duas canecas e sentou-se à mesa com ela.
─ Foi um longo dia. - Ele murmurou.
Ela assentiu com a cabeça, soprando seu café antes de tentar um gole. Muito quente. Ela colocou a
caneca de volta na mesa.
─ Mas um bom.
─ Teremos uma lua de mel mais tarde. - Ele prometeu. ─ Qualquer lugar que você queira ir.
─ Opções, opções. - Ela brincou.
─ Hoje, porém, você deve descansar. Tenho alguns telefonemas a fazer e preciso verificar o gado.
Especialmente seus cavalos.
Ele trouxe os cavalos do rancho de Ren Colter alguns dias antes, e tinha dois homens armados,
vigiando-os.
─ Bailey não vai tentar nada, vai? - Ela se preocupou. ─ Ele não me ligou desde que o capanga dele fugiu
para as colinas.
─ Podemos ter esperança. Mas se ele fizer isso, eu resolvo. - Disse ele com firmeza. ─ Você está segura
aqui.
Ela sorriu. Seu coração estava disparado quando ela olhou para ele.
─ Eu sei disso, Jake.
Ele terminou seu café.
─ É melhor eu começar a trabalhar. - Disse. Ele não queria deixá-la, mas estava tendo alguns problemas.
Ela era linda e a cada dia sua paixão por ela crescia. Ele não podia permitir que a necessidade dolorida se
soltasse. Ela precisava de paciência. Muita paciência. Ele sorriu e a deixou à mesa.

***
Por vários dias, ele trabalhou quase até a morte no rancho, fazendo trabalhos que poderia facilmente
ter delegado. Ida era linda. Ela se preocupava com ele, e isso doía também. Ele tinha sido tão frio com ela
no início. Disse coisas que gostaria de poder retirar. Ela o deixava faminto e a excitação aumentava dia a
dia. Ele não sabia como lidar com isso. Ele se afastou e pôde ver o olhar ferido no rosto dela quando o fez.
Não queria machucá-la, mas não podia se permitir chegar perto. Se perdesse o controle, faria ainda mais
danos a ela do que o idiota do ex-marido.
Bailey não tinha entrado em contato, mas tarde da noite, quando Jake estava em seu escritório
fazendo ligações de negócios, o telefone de Ida tocou.
Ela atendeu sem pensar.
─ Acha que está segura, não é, Sra. McGuire? - A voz irritada de Bailey soando em seu ouvido. ─ Eu tenho
planos para você. Grandes planos. É melhor você mudar de ideia sobre esse dinheiro. Isso é, se você quiser
viver.
Ele desligou. Ela estava tremendo de medo. Bailey tinha esse efeito sobre ela. Queria correr para Jake
e contar, mas de que adiantaria? Eles já tinham proteção em todo o rancho. Jake estava fazendo tudo o que
podia para mantê-la segura.
Ela guardou seus medos para si mesma e se vestiu para dormir, com uma camisola de seda amarela
claro com apliques de renda e alças finas. Ela parecia frágil e bonita nela. Mas é claro, lembrou a si mesma,
ninguém iria ver, exceto ela mesma.
Ela dormiu. Ela estava correndo novamente, de Bailey, soluçando e apavorada. Ele a estava
perseguindo novamente, mas desta vez com uma arma. Ela correu em direção à segurança, em direção a
Jake, que estava parado à distância com os braços abertos, chamando por ela. Ela correu e correu, e então
ouviu o tiro. Mas não era para ela. O tiro atingiu Jake. Ele se dobrou e caiu, e ela gritou e gritou...
─ Acorde!
Ela se sentiu reconfortantemente abraçada quando seus olhos se abriram. Ela olhou para Jake. Ele
estava vestindo apenas a calça do pijama. Seu cabelo estava despenteado. Ele parecia muito sexy. Ela
estava saindo do terror, sua mente ainda quase no limbo.
─ Ele atirou em você! - Ela ofegou, seus olhos no rosto dele. ─ Ele atirou em você! Ele estava me
perseguindo. Deveria ter sido eu! - Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e apertou, agarrando-se
com toda a força. ─ Achei que ele tivesse matado você! Eu também teria morrido. Eu teria morrido se o
perdesse!
O coração dele disparou. Ela... se importava. Ele não tinha percebido isso antes. Seus braços se
contraíram avidamente e sua boca deslizou até a garganta macia. Suas grandes mãos subiram e desceram
pelas costas dela contra a seda quente. Ele podia sentir seus seios pressionados com força contra seu peito,
sentir as pontas duras enquanto ela se aproximava ainda mais.
─ Ida. - Ele ofegou, tentando se afastar.
─ Jake. - Ela sussurrou, estremecendo um pouco. ─ Jake... você poderia... me tocar?
Sua respiração ficou presa na garganta quando ela se virou um pouco e arqueou em direção a ele, os
olhos nublados de excitação, os lábios carnudos separados.
─ Onde? - Ele perguntou com voz rouca.
Ela pegou os dedos dele e os atraiu muito lentamente para seus seios. Era como parte do pesadelo,
mas se transformando no sonho mais doce que já teve. Meio acordada, ela não tinha medo dele. Ela se
arqueou quando a mão dele deslizou sob a alça da camisola, contra a pele macia e quente que parecia seda.
─ Oh, Deus. - Ele sussurrou reverentemente, porque sabia que não queria parar. Ele tentou. ─ Ida... - Ele
começou, tentando se afastar.
─ Por favor, não vá. - Ela sussurrou e o alcançou para beijá-lo.
Como se ele pudesse, depois disso! Ele a deitou na cama. E apesar do fato de que já fazia meses
desde que esteve com uma mulher, ele agia calma, paciente e ternamente.
Ele retirou a camisola dela, seus lábios traçando um caminho ida e volta por seu corpo trêmulo. Sua
mão fazendo mágica na parte interna das coxas dela quando de repente a tocou de uma forma que ela nunca
tinha sido tocada. Ela ofegou, envergonhada, porque todas as luzes estavam acesas.
Ele apenas sorriu.
─ Isso faz parte. - Ele sussurrou. ─ Eu não vou machucá-la.
Ela estremeceu.
─ É uma sensação... boa. - Ela ofegou, surpresa, perdida nos olhos prateados dele, as únicas coisas vivas
naquele rosto duro e rígido.
─ É para se sentir bem. - Sua boca deslizou até seu seio nu e levou um para dentro de sua boca para
provocar o mamilo com a língua enquanto começava a sugá-lo.
A reação que ele obteve foi surpreendente. Ela se elevou da cama, arqueando-se, e um gemido muito
estranho saiu de sua garganta.
─ Você gosta disso. - Ele sussurrou e fez isso de novo.
Ela foi de platô em platô, não mais preocupada se ele a machucaria ou não, porque nunca sonhou que
fazer amor pudesse ser tão doce. Ela ansiava por ele, ardia por ele, seguia seus comandos sussurrados
avidamente e então, de repente, o sentiu dentro de seu corpo, todo o caminho para dentro, enquanto ele se
movia para ela, uma longa perna se inserindo entre as dela.
─ Olhe para mim. - Ele sussurrou vacilante.
Ela o olhou, seus próprios olhos enlouquecidos de excitação, levemente envergonhados, enquanto o
prazer crescia a níveis insanos.
─ Jake! - Ela gritou, surpresa com o ardor que ele acendeu nela, vibrando de prazer que ela pensou que
poderia matá-la. Ela sussurrou para ele, seus olhos fixos nos dele enquanto iam para o fogo juntos.
Ela sentiu a mão magra sob seus quadris enquanto os lábios dele cobriam os dela nos últimos
segundos antes de estremecerem e estremecerem, perfeitamente sintonizados quando o ȇxtase os atingiu tão
profundamente que ambos gritaram.
Lágrimas rolaram por suas bochechas, mas ela estava se agarrando a ele, não tentando fugir. Ela
beijou sua garganta quente e úmida, suas unhas cravando nos ombros largos enquanto ela se movia
impotente sob ele, incapaz de parar enquanto pequenos choques de prazer continuavam e continuavam,
ecoando a satisfação que ele lhe deu.
─ Eu não... sabia. - Ela sussurrou trêmula.
O peito dele subia e descia sobre os seios úmidos.
─ Eu também não sabia. - Ele sussurrou, beijando-a com ternura. ─ Nunca foi como isso, Ida. Nunca na
minha vida, com ninguém.
Seus braços se contraíram. Ela o amava muito. Mais do que tudo, mais do qualquer pessoa. Ela
queria dizer, mas ele não tinha falado de amor. Isso poderia magoá-lo, se ele não se sentisse da mesma
maneira. Então ela manteve o silêncio, saboreando uma proximidade que nunca havia experimentado.
Finalmente, ele rolou para longe, respirando pesadamente, o suor escorrendo do pelo espesso que
cobria os músculos rígidos de seu peito.
Ida se sentou, não mais envergonhada com sua nudez, e olhou para ele com ousadia. Havia mais
cicatrizes, algumas em suas coxas musculosas. Ela apenas sorriu.
─ Marcas de honra. - Ela sussurrou.
Ele sorriu, surpreso com o comentário. Ela não parecia se importar com as cicatrizes. Ele a trouxe até
ele e a virou, para que pudesse ver as cicatrizes no quadril dela, onde a cirurgia havia sido realizada.
─ É feio. - Disse ela.
─ Não é. - Respondeu ele. Ele a puxou para perto e a curvou sobre o seu corpo. ─ Eu não quero um
casamento platônico.
─ Nem eu. - Ela sussurrou. Ela se aproximou ainda mais. ─ Jake...
─ O quê? - Ele perguntou, sua grande mão acariciando o cabelo dela.
─ Eu quero um bebê. - Ela sussurrou vacilante.
Os braços dele contraíram repentinamente quando as palavras o envolveram como fogo.
─ Eu também. - Ele disse, sua voz profunda e rouca de excitação. As palavras acenderam uma reação
repentina e inesperada em seu corpo.
Ela sentiu isso maravilhada. Ela rolou de costas e o olhou. Se moveu sinuosamente, arqueando os
quadris, como se ele tivesse feito uma pergunta e ela estivesse respondendo, sem palavras.
Ele se moveu para ela, seus olhos prateados fixos nos dela enquanto a despertava novamente. Foram
os minutos mais pungentes de sua vida, ainda mais intensos do que a primeira intimidade, porque ele
estava pensando em uma criança, e ela também.
Por fim, ele gritou de prazer. Ela soluçou, seu próprio corpo se contorcendo com a força da satisfação
sexual. Eles se agarraram mutuamente na sequȇncia, acalmando um ao outro.
─ Em toda a minha vida... - Disse ele em seu ouvido. ‒ nunca tentei engravidar uma mulher.
Ela riu suavemente.
─ Até agora.
Ele ergueu a cabeça e olhou em seus suaves olhos azuis.
─ Até agora. - Ele sorriu.
Ela estendeu a mão e passou os dedos sobre seu rosto bonito.
─ Eu estava com medo, apenas no início.
─ Mas não mais? - Ele perguntou ternamente.
─ Não mais. - Ela respondeu solenemente. ─ Eu... - Ela hesitou e tentou novamente. ─ Jake, eu...
Mas antes que ela pudesse pronunciar as palavras, o telefone tocou ruidosamente, o telefone base da
sala de estar.
─ Oh, droga. - Ele murmurou. ─ Eu desliguei meu celular...
Ele se levantou, vestiu a calça do pijama e, com um sorriso gentil, foi ver quem estava do outro lado
da linha.
Ida, satisfeita como uma gata após um pires de leite, espreguiçou-se e relutantemente voltou a vestir a
camisola amarela. Ela nunca sonhou que poderia sentir paixão depois de Bailey. Mas Jake foi tudo o que
ela sempre sonhou, terno e paciente. Ela estava ciente de que ele estava há muito tempo sem uma mulher,
mas esperava que sua reação a ela não fosse apenas por isso.
Ele disse que também queria um filho. Ela suspirou e fechou os olhos, imaginando um bebê em seus
braços e Jake ao seu lado, olhando para ela com olhos amorosos. Bem, olhos afetuosos, ela corrigiu
silenciosamente. Ele poderia nunca amá-la, mas ele a desejava. Isso teria que servir por agora. Talvez se
ela se esforçasse nisso, ele pudesse começar a amá-la um dia.
Ele parou na porta do quarto, sua boca cinzelada puxada para um lado.
─ Um negócio está prestes a dar errado porque o parceiro em potencial decidiu que só quer fazer negócios
cara a cara.
Ela se sentou, seus olhos azuis curiosos.
─ Onde ele está?
Ele fez uma careta.
─ Texas.
Seu coração deu um salto. Era muito longe. Seu rosto refletia a tristeza que sentia.
Ele se sentou ao lado dela, sua mão acariciando seu cabelo preto desgrenhado.
─ Eu não quero ir. - Confessou. ─ Mas tenho que ir.
Ela quase pediu para ir com ele, mas havia algo estranho em sua expressão, algo que sugeria emoções
confusas e dúvidas. Ela não se atreveu a forçar.
─ Ok. - Ela disse suavemente. Seus olhos azuis brilharam. ─ Certifique-se de que seu piloto esteja sóbrio. -
Disse ela em um sussurro.
Ele começou a rir. Era a última reação que esperava. Eles eram recém-casados. Ela podia ter se
ressentido, porque ele não a havia convidado para ir junto. Mas ele estava preocupado com a mudança
repentina do relacionamento deles e precisava se afastar e analisar melhor as coisas.
─ Não vou demorar mais do que alguns dias. - Disse ele.
─ Tudo bem. - Respondeu ela. ─ Vou pegar minha argila, minhas ferramentas e fazer estátuas exóticas ou
algo assim.
─ Eróticas? - Sua voz profunda estava divertida.
Ela olhou para ele e quase viu os pensamentos perversos em sua mente.
─ Esculturas de pássaros e lagartos. - Ela exclamou e realmente corou. ─ Vida selvagem exótica! Não...
isso!
Ele estava rindo. Ela amou a maneira como os olhos prateados dele brilharam com humor quando ele
a olhou.
─ Você é um homem mau. - Disse ela secamente.
Ele se inclinou e a beijou, mas na testa.
─ Sim, sou, de vez em quando. - Confessou. Ele suspirou. ─ Ah, bem, quanto às minhas esperanças de ter
algo do Kama Sutra para colocar em meu escritório...
O rubor ficou muito, muito mais profundo. Ele observou isso com verdadeiro fascínio.
Dois casamentos na bagagem, e ela ainda era, em alguns aspectos, bastante inocente.
Ele sorriu e ela retribuiu o sorriso.
─ Bem, vou arrastar meu piloto para fora da cama e partir. Maude estará aqui pela manhã. - Ele franziu a
testa. ─ Você ficará bem, sozinha, esta noite?
─ Claro. - Respondeu ela. ─ A casa está monitorada e há cowboys em tempo integral que moram logo
adiante. Eu tenho meu telefone, e se eu ligar para o 911, Cody Banks terá alguém aqui rapidamente. Não se
preocupe. - Acrescentou ela, confusa e satisfeita por ele estar preocupado com ela.
Ele acariciou o cabelo dela novamente. Contraiu o rosto. Ele estava preocupado. E não tinha
percebido o quanto. Seu ex-marido louco estava mirando nela, e ela podia estar em perigo.
─ Eu vou ficar bem. - Ela enfatizou. ─ Realmente.
Ele suspirou ao se levantar.
─ Vou ligar para você todas as noites.
─ Vou manter meu celular comigo. Mas se eu estiver esculpindo, você terá que ser paciente. Não posso
atender o telefone com argila nos dedos. - Acrescentou ela maliciosamente.
Ele franziu os lábios e seus olhos prateados brilharam.
─ Por que você não faz um busto meu? - Ele perguntou. ─ Imortalize-me em argila assada.
Ela riu.
─ Eu não faço bem pessoas. - Respondeu ela. ─ Animais, sim, até flores. Mas não pessoas. Todos nós
temos nossos pontos fortes e fracos.
─ Nós temos. - Ele olhou para ela e pensou, sem querer, que ela estava rapidamente se tornando uma de
suas próprias fraquezas. Ridículo, claro. Ele gostava dela. E não se importaria de ter um filho com ela. Ela
era bonita. Uma menina, ele estava pensando, com aquele mesmo cabelo preto e olhos azuis ou prateados.
─ É melhor eu me vestir. - Disse ele, voltando à fria realidade.
Ela o observou partir, confusa. Ele a olhou parecendo estar ressentido. Talvez sim. Se ele ainda
estava apaixonado por Mina Michaels Grier, então era compreensível. Ele queria um filho, mas o queria
com Mina. Ele estava apenas se contentando com a segundo opção? Era uma preocupação que a
perseguiria.

***
Ela levantou e se vestiu também, para poder se despedir dele. Eles pararam na porta. Fred sentou-se
ao volante da limusine, esperando, olhando ao redor e batendo os dedos no volante.
─ Ele sempre parece que está esperando a polícia. - Ida sussurrou para Jake e riu baixinho.
Ele riu com ela.
─ Eu o investiguei. - Respondeu ele. ─ Ele está limpo. Talvez ele sonhe em ser o motorista de uma
quadrilha de assalto.
─ Ele dirige bem. - Ela o olhou, tentando esconder a tristeza. ─ Você vai telefonar quando chegar lá? Então
eu vou saber que vocȇ chegou bem. OK?
O coração dele saltou.
─ Eu vou. Cuide-se. Não exagere.
Ela sorriu gentilmente.
─ Claro que não. Tenha cuidado também.
Ele suspirou.
─ Isso não está funcionando da maneira que eu esperava. - Disse ele enigmaticamente. Ele se curvou e, por
alguns segundos, ela pensou que ele fosse beijá-la. Ele o fez, mas na bochecha.
─ Vejo você em alguns dias. - Disse ele em um tom afetado e saiu para o carro. E não olhou para trás. Nem
uma vez

***
Ida preparou a argila e começou a esculpir. Maude hesitou na porta do quarto de hóspedes que ela
escolheu para trabalhar. Havia uma lona no chão, embaixo da mesa que Ida usava, porque esculpir com
argila envolvia água e panos molhados, e havia um tapete imaculado sob a lona. Ela sabia que Jake poderia
se dar ao luxo de substituir o tapete, mas parecia mais sensato não colocá-lo em risco.
─ Oh, meu Deus. - Maude exclamou quando viu o que Ida estava fazendo. ─ Que veado fofo!
Ida riu.
─ Obrigada. Eu esculpo melhor animais do que pessoas. Jake queria que eu o fizesse, mas eu nunca seria
capaz de capturá-lo no barro. Ele é muito complexo.
Maude suspirou.
─ Esse veado parece que pode sair da mesa e ir para a floresta. - Acrescentou ela. ─ Você realmente é
talentosa.
─ Obrigada.
─ Sra. McGuire... - Maude começou.
─ Uau. - Disse Ida, parando-a no meio do pensamento. Ela riu. ─ Desculpa. Eu simplesmente gosto do som
do meu nome de casada. - Ela corou um pouco. ─ O que você ia dizer?
Maude suspirou.
─ Eu ia perguntar a você sobre Fred.
Ida se virou para ela, com as mãos cinzentas de argila, enxugando-as com um pano.
─ O que você quer dizer?
─ Ele saiu sozinho ontem à noite. - Disse ela. ─ Eu vi a limusine descendo a estrada em direção a Catelow.
─ Ele provavelmente foi colocar gasolina. - Ida disse simplesmente. ─ Ele cuida muito bem do carro.
─ Sim ele cuida. Ele age como um homem em fuga. - Maude deixou escapar.
Ida começou a rir.
─ Bem, ele age. - Maude persistiu, um pouco envergonhada.
─ Jake e eu conversamos sobre isso. - Foi a resposta divertida. ─ Achamos que ele está apenas nervoso.
Jake disse que tinha investigado Fred e que não havia nada em seu passado para preocupar ninguém.
─ Eu suponho que sim. - Ela estudou a mulher mais jovem. ─ Mas você sabe, muitas pessoas cometem
crimes, escapam ilesos e nunca são apanhadas. Alguém assim não teria ficha criminal, teria?
Ida não havia considerado isso. Mas ela o descartou.
─ Se ele tem más intenções, teve muito tempo para fazer algo. - Ela hesitou. ─ Bailey fez outra ameaça. Eu
não disse a Jake. Ele tinha o suficiente em sua mente sobre esta fusão que estava prestes a fracassar.
─ Você deveria ter contado a ele. - Disse Maude gentilmente. ─ Ele é seu marido.
Ida acenou com a cabeça distraidamente.
─ Eu já dei tanto trabalho que pensei... eu simplesmente deixei essa ameaça passar, sabe? O homem
mandado por Bailey deixou marcas de derrapagem atrás de si tentando fugir logo depois de machucar
Butler.
─ Ele foi brutal com seus animais. - Maude concordou. ─ E ele pode ter se preocupado que estava prestes a
ser pego. Eu me preocupo. - Ela acrescentou com um encolher de ombros.
Ida sorriu para ela.
─ Obrigada, Maude. - Disse ela. ─ Eu não sei o que Jake e eu faríamos sem você, e é a verdade. Mas Fred
é apenas o motorista, e ele nunca disse ou fez nada fora da linha. Além disso... - Ela acrescentou. ─ ele não
é o tipo de capanga de Bailey. - Seu rosto endureceu. ─ Bailey estava sempre saindo com homens que
pareciam pertencer a alguma organização secreta e maligna com ligações com chefes do crime. Ele não se
aproximaria de alguém tão simples e convencional como Fred. - Ela riu. ─ Fred nem mesmo parece um
homem que infringiu a lei alguma vez, não é?
Recordando o sorriso e as boas maneiras do homenzinho, Maude teve que admitir que ele não parecia
o tipo.
─ Só tome cuidado, se você pedir que ele leve você a qualquer lugar. - Maude insistiu.
─ Eu vou. Mas não consigo imaginar que precisarei ir a qualquer lugar antes que Jake volte.
─ Quanto tempo ele vai ficar longe?
─ Ele disse três ou quatro dias. - Respondeu Ida, tentando não pensar no assunto.
Ela já sentia falta dele. E se perguntou se ele estava sentindo sua falta.

***
Ele estava sentado em um quarto de hotel em El Paso, Texas, após uma reunião bem-sucedida com
um novo parceiro em potencial. O negócio foi fechado. Ele poderia voltar para casa quando quisesse. Mas
estava inquieto.
Ele pegou o celular e ligou para os Griers. Eles estavam na casa de Jacobsville, onde estavam
visitando, e ele foi convidado para jantar por Cort e Mina.
─ Você tem que ver o seu afilhado. - Mina disse quando ela e Cort o encontraram na porta. ─ Ele se parece
mais com o pai a cada dia!
Jake riu.
─ Pobre criança.
─ Pare com isso. - Brincou Mina. Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. ─ Você se casou com Ida
Merridan.
─ Sim. - Seu rosto ficou tenso. ─ O ex-marido ainda está atrás dela. Ele a mandou para o hospital antes que
eles se divorciassem. Ele está fora da prisão e determinado a tornar a vida dela um inferno por colocá-lo lá.
Ele tem dívidas de jogo e está tentando forçá-la a pagá-las. - Seus olhos brilharam. ─ Ele mandou um de
seus capangas machucar seus cavalos e até mesmo o seu gato!
A respiração de Mina ficou presa.
─ Bom Deus!
─ Ele a colocou no hospital. Jogou-a por cima da mureta de um estacionamento e ela quebrou o quadril e o
fêmur.
─ Eu não tinha ideia. - Disse Mina, lembrando-se da raiva que teve de Ida.
─ Ninguém tinha. Ela vive com medo. Pobre criança. Casada com um homem que não a quis por cinco
anos, depois abusada por seu segundo marido. Ela estava morrendo de medo de homens, então ela se
reinventou como uma sedutora que falava sobre os homens que a decepcionavam. - Ele balançou a cabeça.
─ Má reputação, quando ela mal consegue andar quando chove ou faz muito frio.
Mina e Cort trocaram olhares divertidos. Jake tinha falado abertamente sobre a reputação de Ida, e
agora ele estava casado e aparentemente, muito preocupado com ela.
─ Eu sabia de tudo isso. - Disse Cort calmamente. ─ Tive muita pena dela. Ela não era o que as pessoas
pensavam.
Mina se aproximou dele, descansando a bochecha em seu ombro enquanto o braço dele se curvava ao
redor dela.
─ E eu estava com tanto ciúme que mal conseguia trocar duas palavras com ela. Sinto muito por isso agora.
─ Ela não guarda rancor. - Disse Jake. E sorriu. ─ Ela está em casa, esculpindo animais.
─ E o ex-marido dela? - Mina perguntou.
─ Tenho boas pessoas trabalhando para mim. - Disse Jake rapidamente e riu. ─ Ninguém pode tocá-la no
meu rancho. Ela está muito segura. Agora. Onde está meu afilhado? - Ele acrescentou com um sorriso.

CAPÍTULO CATORZE
Mas Ida não estava em casa esculpindo. Ela recebeu um convite de Pam Simpson para almoçar.
Estava entediada e triste. Jake havia telefonado para saber como ela estava, mencionando distraidamente
que passaria alguns dias com Cort, Mina e seu afilhado.
A notícia desiludiu Ida. Ela não esperava por isso. E se perguntou como Cort se sentia, tendo o ex-
pretendente de sua esposa sob seu teto. Jake ainda era apaixonado por Mina. Isso nunca iria mudar. Ele
podia querer Ida fisicamente, até mesmo gostar dela. Mas Mina ainda tinha seu coração. Ida nunca se
sentiu tão deprimida.
─ Maude, Pam Simpson me convidou para almoçar. Você ainda não começou a cozinhar, não é? - Ida
perguntou na porta da cozinha.
─ Não, ainda não. - Maude respondeu com um sorriso. ─ Você vai voltar para o jantar?
─ Sim. Mas vamos comer algo leve. - Acrescentou ela com um suspiro. ─ Estou me sentindo um pouco
enjoada.
Maude, que não fazia ideia de que seus patrões eram mais do que bons amigos, apenas assentiu.
─ Pode ser aquele vírus estomacal que está circulando. Volte para casa se não se sentir melhor, ok?
─ OK. - Ela sorriu. ─ Não vou demorar. Só preciso sair um pouco.
─ O Sr. McGuire não vai voltar hoje? - Maude perguntou, porque ele disse dois dias, e este era o terceiro
dia de sua ausência.
─ Ele está em El Paso. Perto de El Paso. Ele vai ficar com Mina e Cort Grier. - Acrescentou ela com
relutância e não sabia que a profunda tristeza em seu rosto era visível para a mulher mais velha.
─ Oh. Provavelmente foi ver aquele garotinho. - Maude respondeu, tentando ser reconfortante, porque ela
sabia ainda melhor do que Ida o quanto Jake era apaixonado por Mina. Depois do casamento de Mina, ele
ficou bêbado por três dias. Ninguém sabia disso. Apenas Maude.
─ Acho que sim. - Disse Ida.
Maude quase disse que os dois deveriam estar pensando em uma família própria, mas ela não ousou.
O chefe era calado e Ida também. Não valia a pena arriscar seu bom trabalho por fazer tais sugestões.
─ Bem, tenha um bom almoço na casa da Sra. Simpson. - Disse Maude. ─ Vou alimentar Butler para você.
- Acrescentou ela.
Ida sorriu. O gato dormia com ela. Wolf também, na verdade. Ela ficou chocada quando o grande
pastor alemão pulou no pé da cama e se aninhou com Butler. Isso também lhe deu uma sensação de
segurança. Ela amava os dois animais.
─ Precisamos de alguém para levar Wolf para uma corrida. - Acrescentou ela. ─ Eu tentaria, mas...
─ Vamos chamar um dos cowboys para fazer isso. - Maude interrompeu. ─ Não se preocupe. Vou pedir a
Johnny para fazer isso. Ele ama Wolf e fará questão de não deixá-lo se machucar. OK?
─ OK. Obrigada, Maude. Estarei de volta em algumas horas.
─ Até logo então.

***
Ida saiu e entrou na parte de trás da limusine. Fred segurou a porta aberta para ela, sorriu
educadamente e a fechou.
Ida afundou no couro macio do banco traseiro e fechou os olhos.
─ Você sabe para onde ir, certo, Fred? - Ela perguntou.
─ Casa da Sra. Simpson. Sim, senhora.
─ OK.

***
Ela estava sonolenta. Não tinha dormido bem e seu estômago ainda estava enjoado. Devia ser algo
que ela comeu, pensou, mas não tinha comido nada fora do comum. Ainda...
Seus olhos foram para a paisagem e ela franziu a testa.
─ Fred, estamos no caminho certo? - Ela perguntou.
─ É mais perto por aqui, senhora. - Ele lhe assegurou. ─ Espero que não se importe.
─ Claro que não. - Ela sorriu. ─ Você é um bom homem, Fred. Temos sorte por vocȇ ser nosso motorista.
Houve uma hesitação surpresa.
─ Bem... bem, obrigado, Sra. Merr... quero dizer, Sra. McGuire. - Ele gaguejou.
Ela se recostou no assento e fechou os olhos novamente, sentindo-se sonolenta.

***
Jake estava sentado para jantar com Mina e Cort, depois de passar meia hora maravilhosa com seu
afilhado no chão com uma quantidade enorme de brinquedos de plástico. Estava de bom humor. Ele pensou
em um filho seu, com Ida.
─ Ela conversou com o médico sobre ter um filho. - Ele mencionou aos seus chocados companheiros de
jantar. ─ Ela tem uma prótese parcial de quadril e às vezes é difícil para ela se locomover.
─ Uma das minhas cunhadas tinha uma válvula cardíaca defeituosa quando engravidou. - Disse Cort. ─ Ela
conseguiu apesar disso. Ela e Garon têm um filho e ela está grávida de novo, com válvula artificial e tudo. -
Ele deu uma risadinha. ─ O relacionamento deles foi turbulento. Ele pensava que ela era uma mulher
antiquada, sem habilidades, e ela acabou por ser membro do Mensa. Ele ficou chocado quando ela
começou a falar árabe para uma testemunha no escritório dele. Ele é SAC no escritório satélite do FBI de
Jacobsville. - Acrescentou.
─ Bem, se uma mulher com uma condição tão ruim pode engravidar, não há razão para que Ida não possa. -
Ponderou Mina.
Jake realmente corou, então sorriu.
─ Claro que sim. - Ele concordou.
Mina e Cort esconderam os sorrisos.
Mas alguns minutos depois ninguém estava sorrindo. Jake recebeu um telefonema de casa, de Maude.
─ Lamento incomodá-lo, Sr. McGuire... - Maude disse. ─ mas Ida saiu há três horas para almoçar com a
Sra. Simpson. Fiquei preocupada e liguei para ver se ela tinha ficado conversando ou algo assim, e a Sra.
Simpson disse que ela não apareceu...
Houve uma confusão de linguagem áspera. Jake havia se levantado da cadeira e estava xingando de
raiva.
─ Ela está com Fred? - Ele perguntou abruptamente.
─ Sim senhor. Ele a levou.
─ Ligue para Cody Banks e diga a ele o que você acabou de me dizer. Estou indo para o aeroporto. Eu
estarei aí o mais rápido que puder. Se você ouvir qualquer coisa, qualquer coisa, você me liga!
─ Sim senhor.
Ele desligou e ligou para o piloto e o motorista. Depois, enquanto esperava pela carro, ele virou um
rosto pálido e preocupado para Cort e Mina.
─ Ida está desaparecida. O ex-marido dela fez muitas ameaças. Eu tenho que ir.
─ Se pudermos fazer alguma coisa, faremos. - Disse Mina, Cort assentindo ao lado dela.
─ Obrigado. - Ele saiu correndo pela porta quando a limusine apareceu. ─ Você pode enviar minha mala
para Catelow? - Ele perguntou por cima do ombro.
─ Claro. - Mina gritou atrás dele.
Ele ergueu a mão, entrou no carro e ele saiu em disparada.
Mina olhou para Cort com um sorrisinho presunçoso.
─ Eu disse.
Ele riu, puxando-a para perto.
─ Você disse.
─ Espero que ela fique bem. - Acrescentou ela calmamente. ─ Que coisa terrível para acontecer.
─ Jake chegará a ela a tempo. - Garantiu ele à esposa. ─ Ele não é um homem mau, agora que não está
tentando convencê-la a se casar com ele. - Acrescentou.
Ela riu.
─ Ele simplesmente tinha suas prioridades misturadas. Eu garanto, elas não estão mais confusas. Ele estará
sentado ao lado do piloto, tentando fazer o avião voar mais rápido. - Ela balançou a cabeça. ─ Aposto que
ele nem percebeu que a ama.

***
Isso era óbvio.Aterrorizado com o que poderia encontrar quando voltasse para casa, Jake poderia ter
se chutado por não perceber isso antes. Ele era louco por Ida. Talvez sempre tenha sido. Mas certamente,
desde o momento em que ele a levou ao consultório médico, desde aquele primeiro dia ele nunca deixou de
pensar nela. Ele cuidou dela, se preocupou com ela, se casou com ela para mantê-la segura. E mesmo
depois de tudo isso, não tinha percebido o que sentia por ela.
Ele certamente percebeu isso agora. Só esperava que não fosse tarde demais. Ele cerrou os dentes
angustiado.

***
Enquanto isso, Ida estava sentada no banco de trás da limusine bebendo uma xícara de café que Fred
comprou para os dois em uma cafeteria em Billings. Foi uma longa viagem. Fred estava quieto e triste,
especialmente quando Ida percebeu que eles não estavam indo em direção à casa de Pam Simpson.
─ Para onde vamos, Fred? Ela perguntou, inclinando-se para frente, seu lindo rosto tenso de medo. ─ Por
favor, me diga que você não se envolveu com Bailey. Por favor me diga isso!
O terror que ele viu no rosto dela, somado à sua própria consciência culpada, o fez diminuir a
velocidade do carro. Ele parou em um estacionamento de mercearia, baixou o vidro entre o banco da frente
e o de trás e desligou o motor.
─ Sra. McGuire, eu nunca machuquei um ser humano em minha vida. - Disse ele miseravelmente. ─ Mas
ele está com a minha mãe... - Ele parou, quase sufocando de medo.
─ Oh, Fred. - Ela disse suavemente e estremeceu. ─ Eu sinto muito!
─ Não. Eu sinto muito. Ele prometeu que deixaria minha mãe ir. Tudo que eu tenho que fazer é levar vocȇ
para a casa em que ele está hospedado, perto de Powell, Wyoming. - Ele desviou os olhos. ─ Não parecia
tão ruim. Quer dizer, não achei que ele fosse machucá-la. - Ele olhou para ela. ─ Eu não sabia o que ele
tinha feito com você. Fiquei infeliz por ele ter machucado seu gato. Eu tenho uma gata. Ela tem vinte anos.
Eu a amo.
─ Eu amo Butler também. - Disse ela.
─ Não sei o que fazer. - Disse Fred tristemente. ─ Veja, eu trabalhei como motorista de uma quadrilha de
assalto em Denver, há anos. Bailey sabia. Ele me enviou para me candidatar ao cargo de motorista do Sr.
McGuire, assim que descobriu que o Sr. McGuire estava saindo com vocȇ. Achei que ele estava me
ajudando. Você sabe, me dando uma segunda chance porque tinha acabado de sair da prisão e não há
muitas pessoas que contratam um ex-presidiário. Ele disse que faria com que meu histórico parecesse bem
limpo. - Seus olhos se fecharam. ─ Eu não queria fazer isso.- Ele olhou para ela. Seu rosto estava
dilacerado de desconforto. ─ Eu não quero deixá-lo machucá-la. Mas ele está com a minha mãe, e ela é
tudo o que tenho no mundo. Ela ficou ao meu lado quando fui preso, apesar de sempre me alertar para ficar
longe de gente má. Ela vinha me ver todas as semanas quando eu estava atrás das grades. Eu não sei o que
fazer!
─ Fred, você confiaria em mim? - Ela perguntou suavemente.
─ Eu gostaria. Mas você não deve confiar em mim. Eu sou um homem mau!
─ Você não é. - Disse ela, sua voz baixa e suave. ─ Vou ligar para meus advogados em Denver. Eles
enviaram Bailey para a prisão. Quero dizer a eles que você testemunhará contra Bailey. Você vai me deixar
fazer isso?
─ Mas... a minha mãe!
─ Eles têm um investigador de primeira linha. Ele era mercenário antes de assumir o cargo. - Ela sorriu. ─
Ele tem contatos nos quais você não acreditaria.
─ Contanto que minha mãe não se machuque...
─ Ela não vai se machucar, eu prometo.
Ele hesitou, mas apenas por alguns segundos.
─ OK.
***

O estacionamento estava bem iluminado. Eles estavam esperando pelo investigador. Ele estava com
eles há anos, durante todo o turbulento segundo casamento de Ida e suas consequências. Ele estava na casa
dos trinta agora, mas ainda era o homem mais perigoso que ela já conheceu.
Ele estacionou ao lado da limusine, dando a Ida e Fred alguns segundos de ansiedade até que ele
saísse do sedã escuro e abrisse a porta traseira da limusine.
Ele não desperdiçou palavras.
─ Onde está Trent? - Ele perguntou a Fred.
Fred disse a ele.
─ Ele está com minha mãe. - Acrescentou.
Hunt Garrison apenas sorriu.
─ Não, ele não está.
Fred quase engasgou.
─ Ele não está?
─ Ela está sã e salva em um motel fora de Catelow, com um dos homens do Sr. McGuire protegendo-a
como um falcão.
─ Oh! Graças a Deus! - Fred disse reverentemente. ─ Obrigado! Eu não mereço, mas obrigado!
─ Você vai testemunhar? - Garrison perguntou a Fred.
O homenzinho olhou para Ida com pesar e tristeza.
─ Pode apostar que sim. - Disse ele. ─ Mesmo que isso signifique voltar para a cadeia. Eu sou um ex-
presidiário...
Garrison acenou com a mão.
─ Não podemos afirmar isso. Ninguém vai apresentar acusações contra você. A menos que... - Ele olhou
para Ida.
─ Ninguém vai apresentar queixa contra ele. - Respondeu Ida, e sorriu para um Fred chocado. ─ É difícil
encontrar um motorista realmente bom.
Todos riram, quebrando a tensão.
Nesse momento, seu telefone tocou.
Ela atendeu, ainda tomada pela alegria de não ter que enfrentar um Bailey furioso.
─ Alô?
─ Onde diabos você está? Você está bem? Se aquela doninha machucou um fio de cabelo em sua cabeça,
vou socá-lo até virar uma polpa sangrenta e servi-lo como alimento para Wolf!
Era o seu marido, e estava delirantemente furioso.
─ Está tudo bem, Jake. - Ela disse suavemente. ─ Estou aqui com Fred e o Sr. Garrison, do escritório do
meu advogado. Fred vai testemunhar contra Bailey. Bailey sequestrou a mãe do Fred. ─ Ela adicionou
rapidamente. ─ Mas ele não conseguiu me levar para Bailey. - Houve um silêncio significativo. ─ Ele é o
melhor motorista que poderíamos encontrar. - Acrescentou ela, com um leve apelo em sua voz.
─ Onde você está? - Ele repetiu.
Ela olhou em volta.
─ Onde estamos? - Ela perguntou aos dois homens.
Garrison disse a ela com um sorriso divertido. Ela contou a Jake.
─ Estou no ar. Vamos pousar em Rimrocks. Você pode me encontrar lá? - Ele deu a ela a hora prevista de
chegada.
Ela disse, por sua vez, aos homens e perguntou se eles poderiam levá-la ao aeroporto.
─ Vamos levar você lá... - Ele fez uma pausa, porque seu próprio telefone estava tocando. Ele saiu do carro
para atender.
─ Se alguma coisa tivesse acontecido com você... - Jake falou entredentes.
A exaltação a encheu como um bolo.
─ Estou bem. Mesmo.
Ele relaxou.
─ OK. Até logo.
Ela desligou.
─ Está tudo bem. - Ela assegurou a Fred, que ainda estava atormentado.
Garrison voltou para o carro.
─ Era o seu xerife, Cody Banks. Ele esteve em contato com as autoridades de Denver. Eles enviaram um
US Marshal para buscar seu ex-marido. Ele está sob custódia.
Ida e Fred soltaram suspiros aliviados.
─ Estamos seguros, Fred. - Ida disse ao motorista.
Ele riu. Então fez uma careta.
─ Bem, até que seu marido chegue, pelo menos. - Ele disse timidamente.
─ Eu não me preocuparia. - Garrison riu. ─ Espero que ele fique muito aliviado por sua esposa estar segura
para sair à procura de um porrete grande.
Ida esperava que fosse esse o caso.

***

O rosto de Jake estava abatido e pálido, e ele caminhou na direção dela tão rapidamente que antes
que ela pudesse dizer olá, ele a segurou em seus braços e a beijou, cego e surdo para as idas e vindas dos
viajantes com olhares divertidos em torno deles.
─ Minha querida. - Ele gemeu em seu ouvido enquanto seus braços se apertavam. ─ Achei que o avião
nunca chegaria aqui! Tem certeza de que está bem? - Ele acrescentou, colocando-a suavemente no chão.
─ Estou, graças a Fred e ao Sr. Garrison. - Acrescentou ela, indicando os dois homens.
Fred avançou, encurvado e extremamente infeliz.
─ Eu sinto muito, Sr. McGuire. Eu tenho uma condenação. Eu fui motorista da máfia e já cumpri pena. O
Sr. Trent estava com a minha mãe. Ela é tudo que eu tenho. Ele disse que a mataria se eu não fizesse o que
ele mandasse. - Ele olhou para Jake. ─ Não me importo de voltar para a cadeia. Minha mãe está segura...
─ Sua mãe e você. - Disse Jake calmamente. ─ Eu não posso agradecer o suficiente pelo que você fez. Foi
preciso coragem.
─ Como você sabe? - Fred perguntou. Jake indicou Garrison, que estava sorrindo. ─ Ele me ligou.
─ Oh. - Fred olhou para ele. ─ Eu não estou demitido?
─ Bons motoristas são difíceis de encontrar, Fred. - Jake murmurou, sorrindo.
Fred desviou o rosto para esconder os olhos muito brilhantes.
─ Obrigado. - Ele engasgou. ─ Serei o melhor motorista que você já teve e nunca vou deixar nada
acontecer com a Sra. McGuire. Eu juro!
─ É melhor eu voltar. - Disse Garrison. Ele dirigiu seu próprio carro até Rimrocks para encontrar o avião.
─ Entraremos em contato com Fred após a audiência de fiança, ou pelo menos o promotor público entrará.
E vamos garantir que a fiança seja alta o suficiente para que o Sr. Trent não saia tão cedo.
─ Obrigada, Sr. Garrison. - Disse Ida, apertando a mão dele.
─ Isso vale o dobro para mim. - Acrescentou Jake, fazendo o mesmo.
─ Apenas mais um dia de trabalho. - Garrison deu um tapinha no ombro de Fred. ─ Você deveria ligar para
sua mãe. Ela está com seu telefone celular. Ela estava preocupada com você.
Fred deu uma risadinha.
─ Sim. Eu também estava preocupado com ela. Obrigado.
O outro homem deu de ombros, acenou e foi em direção ao estacionamento.
─ Fred, você terá que levar o carro de volta para Catelow. - Disse Jake. ─ Ida vai comigo no jato.
─ Sem problemas, Sr. McGuire. - Ele franziu os lábios. ─ Quer apostar em quem chega primeiro?
Jake deu a ele um olhar frio.
Fred ergueu as duas mãos.
─ Só brincando. De verdade.
Jake começou a rir.

***
Jake tinha ida no colo o tempo todo, beijando-a suavemente de vez em quando enquanto discutiam
muitas coisas, principalmente o quase sequestro dela e a surpreendente reviravolta de Fred.
─ Você estava com medo? - Ele perguntou.
─ Só no começo. Pobre Fred. Ele ama a mãe. E também adora animais. Ele estava furioso com o que
Bailey tinha feito com meus cavalos e Butler, mas temia pela vida da mãe. Eu ainda não sei como o Sr.
Garrison conseguiu encontrá-la e resgatá-la.
─ Eu acredito que ele teve uma ajudinha.
Os braços de Ida se contraíram em torno do pescoço dele.
─ Que tipo de ajuda?
─ Mina chamou seus rapazes. - Ele disse, e seus olhos suaves estavam observando o rosto dela.
─ Oh. - Mina novamente. Ela suspirou sem perceber.
Ele inclinou o rosto dela para o dele.
─ Eu estive apaixonado por Mina. Você sabe disso. - Seus olhos prateados se entrecerraram. ─ Mas eu amo
você.
Seu rosto inteiro ficou vermelho. Ela não conseguia pronunciar uma única palavra. Era como ter
todos os doces sonhos de sua vida se tornando realidade, de uma só vez.
─ Não são más notícias, não é? - Ele brincou gentilmente.
Ela enterrou o rosto na garganta dele.
─ Eu também te amo. - Ela sussurrou com a voz entrecortada. ─ Mas eu pensei que você só queria que
fôssemos amigos.
Ele riu suavemente e beijou o cabelo dela.
─ Quero que sejamos tudo um para o outro, o tempo todo. Meu Deus, eu nem percebi como me sentia, até
que soube que você estava em perigo. - Seus braços se apertaram. ─ Eu fiquei louco.
Ela sorriu na garganta dele.
─ Lamento por vocȇ se preocupar. Mas estou feliz que não seja mais Mina, se é que você me entende.
Ele se curvou e a beijou ternamente.
─ Foi você desde o dia em que o seu pneu furou. - Disse ele simplesmente. ─ Só demorei um pouco para
perceber.
─ Eu também. - Ela aninhou o rosto contra seu peito largo. ─ Foi quando nos casamos. Eu o olhei na igreja
e soube, naquele momento. Foi como... como...
─ Como um raio de eletricidade. - Ele terminou por ela.
─ Sim.
Ela se recostou em seus braços e observou seu rosto magro e bonito.
─ Espero que tenhamos um filho que se pareça com você.
─ Espero que tenhamos uma filha que se pareça com você.
Eles sorriram um para o outro. Ela não contou a ele sobre o enjôo. Ela não entendeu direito. Até uma
semana depois de voltarem para casa.

***
Ela foi ao médico duas semanas depois, quando teve mais certeza de seus sintomas, e foi informada
do que ela queria tanto ouvir.
Fred quebrou os limites de velocidade para levá-la de volta para casa, porque ele já havia adivinhado
o que estava acontecendo.
Ela correu para a casa, para a sala onde Jake estava ao telefone. A expressão dela o fez terminar a
ligação imediatamente e ir até ela.
─ O que é? - Ele perguntou preocupado. ─ Você está bem?
─ Estou grávida! - Ela deixou escapar.
Seu rosto ficou branco. Depois, vermelho. Então ele caiu na gargalhada e a girou em círculos.
─ Grávida. - Ele disse, sua voz ofegante. ─ Bem, lá se vai aquela reunião de negócios que planejei para
amanhã. Precisamos falar sobre faculdades!
─ Jake, isso será daqui a alguns a anos! - Ela protestou, rindo.
─ Os anos voarão. Você vai ver. Mas não muito rápido, eu espero. - Ele adicionou, beijando-a ternamente.
─ Quero saborear cada minuto, de cada hora, de cada dia. Especialmente agora.
Ela suspirou e o beijou.
─ Eu também. Especialmente agora.
Fred e Maude estavam parados na cozinha, ambos adivinhando o que estava acontecendo. Eles
sorriram um para o outro.
─ Estabilidade no emprego. - Fred sussurrou.
Maude acenou com a cabeça vigorosamente.

***
Quando sua filha recém-nascida tinha seis meses e seu filho dois anos, o processo judicial havia
terminado e Bailey Trent estava de volta à prisão sob a acusação de tentativa de sequestro e conspiração
para cometer extorsão. Ele infelizmente entrou em conflito com um líder de gangue na prisão e acabou no
necrotério. Ida sentiu pena dele, de certa forma, mas sua morte a deixou com menos preocupações sobre o
futuro, agora que ela e Jake eram pais.
─ Sabe... - Jake murmurou enquanto observavam seu filho montar um quebra-cabeça colorido gigante no
chão. ─ de todas as coisas que já fiz na minha vida, acho que ser um homem de família é de longe o
melhor.
Ele a puxou para perto e a beijou, depois baixou a cabeça para beijar a cabeça de sua filhinha, que
estava mamando.
─ Nunca sonhei que seria tão feliz. - Confessou Ida. ─ E é bom ter Fred de volta. - Acrescentou ela com
um sorriso. ─ Melhor ainda da parte do governador conceder-lhe um perdão total.
Ele franziu os lábios.
─ Eu fiz alguns telefonemas.
─ Seu demônio. - Ela brincou.
─ Bem, ele é um ótimo motorista. E ele tem ótimas histórias sobre sua antiga profissão. - Acrescentou com
um brilho nos olhos prateados.
─ Acho que não podemos deixar as crianças ouvirem essas histórias tão cedo. - Ela respondeu com uma
risada. ─ Pelo menos, não até que sejam adolescentes.
─ Um dia de cada vez, querida.
Ela se aconchegou a ele, observando sua filha mamar.
─ Um dia de cada vez. - Ela sussurrou e suspirou. O rosto que ela ergueu para o marido estava quase
luminoso de felicidade.
FIM

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