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Diana Palmer

Ela estava em perigo e ele lutava por protegê-la. Mas aquela doce
beleza texana desejava muito mais. Sally Johnson sonhava com uma
vida inteira de amor nos poderosos braços do Ebenezer Scott. Poderia
derrubar suas defesas de ferro e converter-se na esposa do mercenário?

Capítulo 1

Ebenezer Scott estava apoiado em seu jipe, olhando descaradamente a jovem


que, ao outro lado da rua, tinha a cabeça colocada dentro do capô de sua velha
caminhonete. Sally Jonson levava o cabelo loiro recolhido em um acréscimo, jeans e
botas. Mas não levava chapéu. Eb sorriu, recordando quantas vezes lhe tinha
advertido tempo atrás que ia sofrer uma insolação.

Tinham passado seis anos da última vez que se viram. Ela tinha vivido em
Houston até o mês de julho, quando havia tornado com sua tia e sua primo ao
Jacobsville, Telhas. Tinha-a visto várias vezes após, mas ela não tinha querido lhe
dirigir a palavra. E Eb não podia culpá-la porque sabia que lhe tinha feito muito
dano.

Era esbelta, mas sua magra figura fazia que seu coração se acelerasse. Eb sabia o
que havia debaixo dessa blusa. Com prazer recordou o brilho de surpresa nos olhos
cinzas da jovem quando ele a tinha beijado naquele sítio secreto. Seu impulsivo
intento de desanimá-la tinha funcionado muito bem e ela tinha fugido espavorida,
como esperava.

Eb se lamentava pelo que tinha podido ser se ela tivesse sido um pouco major e
ele não tivesse estado recém-chegado do pior banho de sangue de sua carreira. Um
mercenário não era um homem aceitável para uma menina inocente. Mas então Sally
não conhecia sua autêntica vida, a que se escondia depois da fachada do rancho.
Quase ninguém naquela pequena cidade a conhecia.

Tinham passado seis anos daquilo e Sally era uma mulher, uma professora de
primário. Ele estava…retirado, ou assim o chamavam. Em realidade, seguia em ativo,
mas a maior parte de seu tempo a passava treinando homens em táticas de
combate. Embora a gente do Jacobsville acreditava que era simplesmente o
proprietário de um rancho, seguia tendo inimigos e um deles tinha saído do cárcere
pouco tempo atrás. E aquele homem procuraria vingança disso estava seguro.
Sally tênia dezessete anos aquela tarde da primavera que ele a tinha feito sair
correndo. Em uma vida cheia de remorsos, ela era o maior de todos. A situação tinha
sido impossível, é obvio. Mas Eb não tinha querido lhe fazer danifico e o que
ocorreu seguia pesando em sua consciência.

Naquele momento, observou que Sally começava a perder a paciência com o


motor avariado de sua caminhonete. Devia levar uma vida muito singela, tendo que
manter a sua tia, cega depois de um acidente, e a sua primo de seis anos, pensou.

Admirava sua responsabilidade, embora lhe preocupava sua situação. Ela não
tinha nem idéia de qual era a razão pela que sua tia se ficou cega nem sabia que
toda a família estava em perigo. Por isso Jessica tinha persuadido a Sally de que
abandonasse seu trabalho como professora dêem Houston e voltasse com ela e seu
filho ao Jacobsville.
Jessica sabia que ele poderia protegê-los. Sally não sabia qual era a profissão da
Jessica, nem sabia o que seu defunto marido, Hank Myers, fazia para ganhá-la vida.
Mas, embora o tivesse sabido, não teria voltado para o Jacobsville se Jessica não o
tivesse rogado. Sally, tinha razões para odiá-lo, mas ele era sua única oportunidade
para sobreviver. Embora ela não sabia.

Nos cinco meses que levava no Jacobsville, tinha conseguido evitá-lo. Em uma
cidade tão pequena, aquilo era muito difícil, e indevidamente se viam de vez em
quando. Mas ela o esquivava. Era a única indicação da penosa lembrança que
ambos compartilhavam.

Eb a observou suar sobre o capô e decidiu que aquele era tão bom momento
como qualquer outro para aproximar-se.

Sally levantou a cabeça bem a tempo para ver o extenso e forte homem com
jaqueta de ante e chapéu Stetson cruzando a rua. Não tinha trocado, pensou
amargamente. Seguia caminhando com aquela tranqüilidade que o fazia tão atrativo.
Sally Odiava a sensação de ligeireza no coração que experimentava ao vê-lo. A sua
idade, deveria ter acontecido a fase de amor adolescente, pensava. Especialmente,
depois do que lhe tinha feito aquela tarde da primavera. Ainda seguia ficando tinta
ao recordá-lo…

Quando chegou a seu lado, Eb se jogou o chapéu para trás e cravou nela seus
olhos verdes.
Sally o olhou são dissimular sua hostilidade.

-Não me olhe assim -sorriu ele-. Teria pensado que tinha suficiente julgamento
como para não comprar uma caminhonete ao Turkey Sanders.
-É minha primo -recordou-lhe ela.
-É um canalha - replicou o-. Faz uns anos, Moss Hart lhe deu uma surra porque
lhe tinha vendido a sua mulher um carro que caía a pedaços. E à senhora Bate lhe
vendeu um carro lhe dizendo que o motor era “opcional”.

Sally sorriu sem dar-se conta.


-Não está tão mal, só que tenho que lhe fazer uns acertos.
-Sim -murmurou Eb, jogando uma olhada-. Motor novo, pintura nova, um
escapamento que funcione… e uma roda de reposto que não esteja cortada-añadió,
assinalando a roda-. Ponha uma nova, Sally. lhe pode permitir isso com seu salário.
-Ouça, senhor Scott…-começou a dizer ela, irritada.
-Sabe como me chamo -interrompeu-a ele-.E o da roda não é sozinho um
conselho. Eu não gosto de seus novos vizinhos e não quero que te crave uma roda
em meio da estrada.

Sally se levantou, estirando-se tudo o que pôde, de modo que sua cabeça ficava à
altura do queixo dele. Aquele homem era exageradamente alto…

-Estamos no século XX e as mulheres são capazes de cuidar de si mesmos -


espetou-lhe sem deixar-se amedrontar.
-Não me venha com essas -replicou o, pondo um enorme pé sobre o pára-choque
para examinar o motor. Uns segundos depois tirou uma navalha do bolso e ficou a
trabalhar.
- É minha caminhonete! -exclamou ela, furiosa.
-É uma tonelada de metal com um motor que não funciona.

Sally fez uma careta. Incomodava-lhe não ser capaz de arrumá-lo ela mesma e
ter que depender daquele homem. Olhar suas grandes e capazes mãos fazia que
recordasse muitas coisas…Conhecia a ternura dessas mãos e a lembrança fez que
sentisse um calafrio.
Cinco minutos depois, o voltou a guardá-la navalha.

-Tenta-o agora -indicou-lhe. Sally se colocou frente ao volante. A caminhonete


arrancou fazendo um ruído de mil demônio, mas ao menos, tinha arrancado. Eb se
parou frente ao guichê, cravando nela seus olhos verdes-. Tem problemas com as
válvulas e certamente perde azeite. Em qualquer caso, vais ter que chamar um
mecânico. E a próxima vez, não compre um carro ao Turkey Sanders, dá-me igual a
seja sua primo.
-Não me dê ordens -replicou ela.
-É um costume. Como está Jessica?
-Conhece minha tia? -perguntou Sally, surpreendida.
-Sim. E também conhecia seu tio Hank -respondeu ele- Tem uma pistola?

Sally ficou tão confusa que demorou uns segundos em encontrar a voz.

-O que?
-Uma pistola -repetiu ele-Tem alguma arma?
-Eu não gosto das armas.
-Conhece técnicas de defesa pessoal?
-Sou professora de primário -replicou ela, irônica-. Meus alunos não revistam me
atacar.
-Não estou preocupado por seus alunos. Já te hei dito que eu não gosto de seus
vizinhos -insistiu Eb. O que não lhe explicou foi que os conhecia e sabia porquê
estavam no Jacobsville.
-A mim tampouco. Mas isso não é tua coisa…
-É-o-a interrompeu ele -.Prometi ao Hank que cuidaria de sua mulher e penso
fazê-lo.
-Eu posso cuidar de minha tia.
-Não acredito. Irei a sua casa amanhã.
-Não estarei.
-Mas Jessica sim. Além disso amanhã é sábado e não tem classes -disse Eb, como
se fora seu dono ou algo assim.
-Senhor Scott… -começou a dizer Sally, incrédula.
-Só meus inimigos me chamam senhor Scott
-Muito bem senhor Scott…

Eb suspirou pesadamente.

-Foi tão jovem. O que esperava, que te seduzira no assento traseiro de um carro
a plena luz do dia?

Sally avermelhou até a raiz do cabelo.

- Eu não estava falando disso!


-Tivesse-me gostado não te fazer danifico, mas era a única forma de te
desanimar. O nossa era impossível, deveria sabê-lo!

Sally não podia suportar habar daquele assunto.

-Não me fez mal.


-Sim o fiz -murmurou ele, observando a cara ovalada, o nariz reta, os lábios
generosos-. Amanhã irei a sua casa. Tenho que falar com a Jessica e contigo. Há
coisas que não sabem nenhuma das duas.
-Que coisas?

O fechou a porta da caminhonete e apoiou as mãos no guichê.

-Conduz com cuidado -disse ignorando a pergunta-. E troca a roda de reposto.


-Eu não aceito ordens. E não necessito que um homem cuide de mim!

Eb sorriu, mas não era um sorriso alegre. Depois se deu a volta e voltou para seu
jipe com aquele passo tão peculiar.
Sally estava tão turvada que com muita dificuldade conseguiu conduzir a
caminhonete sem destroçar as marchas

Stevie estava vendo a televisão quando Sally entrou na casa.

-Compraste-me os cereais da televisão! -exclamou o menino, ajudando-a a deixar


as coisas na cozinha-. Obrigado tia Sally!

Embora eram primos, o menino a chamava tia por afeto e respeito.

-De nada. Também comprei gelado.


-Posso tomar um pouco agora?
-depois do jantar. De acordo?
-Bom, vale – murmurou Stevie, desiludido.

Sally se inclinou para lhe dar um beijo na frente.

-Que menino tão bom. Olhe, trouxe pêras e maçãs. Não quer uma? A fruta é
muito boa.
-Bom. Mas eu não gosto tanto como o sorvete.

Enquanto o menino lavava uma pêra. Sally foi ao dormitório para saudar a
Jessica. Os olhos da mulher olhavam ao vazio, mas reconheceu os passo de sua
sobrinha.

-ouvi a caminhonete -sorriu-. Sinto muito que tenha tido que ir à compra depois
do colégio, Sally.
-Eu gosto de ir à compra, não se preocupe. Como te encontra?

Jessica se incorporou um pouco, apartando o cabelo loiro da cara. Não tinha bom
aspecto.

-Tomei-me uma aspirina, mas segue me doendo o quadril.


-Jessica, Ebenezer Scott me perguntou por ti. Há dito que vai vir amanhã a verte.

Jessica não pareceu surpreendida.

-Imaginei que o faria -murmurou-. Temo-me que te coloquei em uma confusão,


Sally.
-Não te entendo.
-Não te perguntaste por que insisti tanto em voltar para o Jacobsville?
-Agora que o diz…
-Fiz-o porque Eb está no Jacobsville. Aqui estaremos a salva, enquanto que em
Houston…
-Está-me assustando.

Jessica sorriu com tristeza.

-Oxalá não tivesse ocorrido isto, mas não o posso evitar. Um homem muito
perigoso está me buscando.
-Um homem ao que eu ajude a meter no cárcere e que saiu que ela por um
truque legal.
-Você colocou a um homem no cárcere? Como? -perguntou Sally, atônita.
-Você sabia que trabalhava para o governo não?
-Pois sim. Como secretária.

Jessica respirou profundamente.

-Não carinho. Não era uma secretária, era um agente especial. Através do Eb,
consegui me pôr em contato com um dos homens do Manuel López, o chefe de uma
banda internacional de narcotraficantes, e ele me conseguiu provas suficientes para
colocá-lo no cárcere. Mas havia um pequeno problema legal e seu advogado o
aproveitou -explicou, observando a expressão de perplexidade na cara de sua
sobrinha-. Agora, López está na rua até que volte a celebrar o julgamento e quer
matar à pessoa que o traiu. E como solo eu conheço essa pessoa, está me
buscando.

Sally estava boquiaberta. Essas coisas só ocorriam nos filmes, não na vida real.

-Está de brincadeira verdade?

Jessica negro com a cabeça. Seguia sendo uma mulher muito atrativa aos trinta e
cinco anos. Era esbelta e tinha uns rasgos muito doces. Stevie, de cabelo loiro e
olhos escuros, não se parecia com ela. E tampouco se parecia com seu defunto
marido, Hank, moreno e de olhos azuis.

-Sinto muito, carinho -desculpou-se Jessica-. Não estou de brincadeira. Por isso
decidi procurar ajuda. Eb nos protegerá até que Manuel López volte para o cárcere.
- Eb também é um agente do governo?
-Eu não gosto de te contar isto e se que o tampouco vai gostar de lhe, assim tem
que me jurar que não o contará a ninguém, Sally.
-Juro-o -murmurou ela.
-Eb era um mercenário. O que está acostumado a chamar um soldado de fortuna.
lutou com comandos especialmente treinados por todo mundo. Agora está retirado,
mas segue sendo muito solicitado como instrutor por vários governos -explicou
Jessica-. Seu rancho é muito conhecido em círculos secretos como uma das melhores
academias de táticas de guerra -acrescentou. Sally não disse uma palavra. ficou-se
estupefata. Por isso Eb se mostrou tão distante, tão pouco disposto a manter uma
relação com ela. Por isso não tinha querido…-. Espero não ter destroçado suas
ilusões, Sally. Sei o que sentia por ele.
-Você sabia?

Jessica assentiu.

-Eb me contou isso tudo.

Sally sentiu que sua cara ardia. sentia-se humilhada. Eb tinha sabido o que sentia
e ela que acreditava ter dissimulado tão bem! Mas era óbvio. Encontrava qualquer
desculpa para vê-lo e tinha subido a seu jipe uma tarde da primavera para lhe pedir
que a levasse dar um passeio. Ele tinha aceito, mas meia hora mais tarde, Sally
saltava do assento e corria três quilômetros até sua casa. Nunca o tinha contado a
ninguém, mas Jessica sabia.

-Não me contou nenhum secreto, se isso for o que se preocupa -acrescentou


Jessica-. Só me disse que você estava coado por ele quando foi uma adolescente e
que teve que fazer algo para que te apartasse. Estava preocupado por ti.
-Não me posso imaginar ao Ebenezer Scott preocupado -murmurou Sally.
-Eu tampouco -sorriu Jessica-. Para mim foi uma surpresa. Disse-me que cuidasse
de ti e que controlasse a gente com a que saía. Mas se podia ter economizado a
preocupação porque não saíste com ninguém.
-Eb me assustou-dijo Sally.
-E sabe. Por isso estava aborrecido.
-Eu era muito jovem e suponho que ele fez o que acreditou que devia fazer. Mas
ia partir me do Jacobsville de todas formas depois do divórcio de meus pais, assim
não tinha que ter ido tão longe.
-Meu irmão segue sentindo-se como um idiota por deixar a sua mãe -disse
Jessica, refiriéndose ao pai da Sally-. E depois, ela voltou a casar-se…
-Como estão meus pais? – perguntou Sally. Era a primeira vez que os mencionava
em muito tempo. Quase tinha perdido o contato com eles do divórcio, quando se
tinha ido viver com sua tia a Houston.
-Seu pai se passa o dia trabalhando e sua mãe se separou de seu segundo
marido e vive no Nassau -respondeu Jessica-. por que não os chama por telefone?
-Para que? Agora têm outra vida e, em realidade, nunca se preocuparam muito
por mim -suspirou Sally.
-Eram dois pirralhos quando se casaram -tentou explicar Jessica-. Para eles foi
muito duro assumir a responsabilidade de ter um filho. Mas não foram maus pais,
Sally.
-por que Hank e você esperou tanto para ter um filho?
-Não era…conveniente com o Hank sempre fora do país -murmurou Jessica,
ficando tinta-. compraste uma roda de reposto? -perguntou, como se queria trocar
de conversação.
-por que sabe que tinha que trocá-la?
-Por que Eb chamou antes de que chegasse e me disse que lhe recordasse isso.
-Suponho que leva um telefone móvel no jipe.
-Entre outras coisas. Eb não se parece com os homens que conheceste na
universidade, Sally. É um homem de verdade.
-Já não sinto nada por ele -disse Sally com firmeza.
-Pois o lamento. esteve sozinho quase toda sua vida e precisa encontrar alguém
que o queira.
- Não tem família?
-Já não. Seus pais morreram.
-Uma vez me disse que tinha visto o Eb em várias festas com umas mulheres
muito bonitos -disse Sally então.
-Eb atrai às mulheres, mas não se toma a sério a nenhuma. Uma vez me disse
que nunca encontraria uma mulher que queria compartilhar uma vida como a sua-
explicou sua tia-. Além disso, tem muitos inimigos aos que gostariam de vê-lo morto.
-Como esse Manuel López?
-Sim. Esse homem tem muito dinheiro e comprou a políticos, policiais e juizes.
Por isso agora está na rua à espera de um segundo julgamento e procurando provas
contra ele. Faria algo para encontrá-lo, Sally. Algo.
-Então, todos estamos em perigo -murmurou ela, assustada.
-Temo-me que sim. Eu antes podia me defender, mas agora…Eb terá algum
plano, estou segura. lhe escute, Sally. Faz tudo o que te diga. É a única esperança
que temos.
-Farei o que seja necessário para te proteger a ti e ao Stevie -assentiu Sally,
apertando sua mão.
-Sabia que o faria.
-Jessica… Eb teve alguma relação séria?
-Sim. Uma mulher de Houston, faz anos. Mas ela o deixou ao inteirar-se de qual
era sua profissão -respondeu sua tia-. Não acredito que Eb siga sentindo algo por
ela.

Sally, que sabia muito sobre amores não correspondidos, tinha suas dúvidas. Ao
fim e ao cabo, ela seguia sentindo algo pelo Eb…

-por que alguma vez me tinha contado qual era sua verdadeira profissão, Jessica?
-Não fazia falta que soubesse.
-O tio Hank também era mercenário?
-Durante algum tempo. Mas ao Hank não gostava de arriscar sua vida. Foi uma
ironia que muriese em uma trincheira, mas por causa de um problema de coração
que ninguém sabia que padecesse.

Aquilo também era uma surpresa para a Sally.

-Eb me há dito que o conhecia.


-conheceram-se em um campo de treinamento antes de que se alistasse nos
Boinas Verdes -disse Jessica- Hank não passou o período de treinamento, mas Eb
sim. Foi o primeiro de sua promoção e os ingleses o recrutaram imediatamente para
uma missão secreta -acrescentou. Sally nunca se parou a pensar na profissão do Eb
até aquele momento. Um mercenário, um soldado de fortuna… um homem que
lutava por dinheiro-. Está muito calada-murmuró sua tia.
-Nunca me teria ocorrido pensar que Eb era um mercenário.
-Muito pouca gente conhece seu passado. Solo seus homens.
-Você conhece algum de seus homens?
-A um par disso-contestó Jessica-. Acredito que Dallas Kirk e Micah Steele seguem
trabalhando ocasionalmente para ele. Micah é um bom tipo. Está acostumado a
ajudar ao Eb nos treinamentos quando o necessita.
- E Dallas Kirk?

A expressão da Jessica se voltou tensa.

-Sei que Dallas foi ferido em um tiroteio o ano passado. Mas não nos falamos.
Tivemos um…enfrentamento faz anos.

Aquilo intrigou a Sally, mas não queria pressionar a sua tia.

-Gosta de jantar fajitas de frango? – perguntou, para aliviar a tensão.


-Estupendo-sorriu Jessica.

Sally saiu da habitação. A cabeça lhe dava voltas com tudo o que acabava de
descobrir. A vida estava cheia de surpresas.

Capitulo 2
Ebenezer era um homem de palavra e chegou a sua casa na sábado pela manhã,
quando Sally estava no curral. Tinha comprado duas vacas para as criar e as comer,
mas tinha terminado por lhes pôr nomeie. A vaca de cara branca se chamava Bonnie
e a de pele-vermelha, Annie. Eram seus mascotes e não podia imaginar em seu
prato.

O familiar jipe negro parou frente à grade e Eb saltou do veículo com agilidade.
Levava jeans, uma camisa de quadros azuis e o mesmo chapéu Stetson do dia
anterior.

-Não me diga. Compraste-as para as comer.


-Sim -disse Sally sem olhá-lo.
-vais sacrificar as e as vais meter na geladeira.
-Claro -murmurou ela, tragando saliva.

Eb sorriu brandamente, enquanto acendia um puro, com um pé apoiado na


grade.

-Como se chamam?
-Bonnie e Annie -respondeu Sally, ficando tinta. Ele não disse uma palavra, mas
sua expressão o dizia tudo-. São vacas de ataque.
-Como?
-Vacas de ataque -sorriu Sally-. Se alguém me atacasse, defenderiam-me.

Eb se jogou o chapéu para trás e a observou durante uns segundos.

-Não trocaste nada em seis anos.


-Você tampouco. Segue fumando esses horríveis puros.
-Um homem tem que ter algum vício. Mas fumo pouco.
-E por que não o deixa?
-Não vais reformar me Sally –sorriu o-. Tenho trinta e seis anos e não há quem
me convença de nada.
-Já me dei conta.

Eb deu uma chupada ao charuto, enquanto observava as vacas.

-Suponho que seguirão a todas partes como se fossem perrillos.


-Quando entro no curral, sim.

sentia-se estranha a seu lado. Nervosa, excitada e segura de uma vez. Estava
muito perto dela, forte, musculoso, vibrante de masculinidade. Sally tivesse querido
estar mais perto, sentir seus braços rodeando-a… O pensamento fez que se
envergonhasse. depois de seis anos, a atração que sentia pelo homem não tinha
diminuído.
Ele a olhou então e seus olhos verdes relampejaram.

-Não esqueceste nada.


-Sobre o que?
Eb tomou pelo acréscimo e a atraiu para si. Seu aroma, seu calor, a largura de
seu torso…todo naquele homem a fazia tremer. Ele a apertou contra seu corpo, sem
deixar de olhá-la aos olhos. Podia sentir que tremia enquanto tentava esconder
corajosamente seu nervosismo.

Era um alívio que Sally se sentisse tão atraída por volta dele como o tinha estado
seis anos atrás. Fazia que se sentisse orgulhoso.

-Há um momento para tudo -disse brandamente.

Sally sentiu o impacto de seu olhar nos lugares mais secretos de seu corpo. Não
tinha experiência para esconder seus sentimentos e ficou olhando-o, com toda a
insegurança, todos os medos refletidos em seus quentes olhos cinzas.
Em silêncio, Eb se inclinou e roçou seu nariz com a dela.

-O que faz?-murmurou Sally, quase sem voz.


-Seis anos é muito tempo -sussurrou o sobre sua boca.

Os olhos da Sally estavam cravados na boca do homem e sob suas mãos podia
sentir o espesso e suave pêlo de seu torso. Quando ele cobriu sua boca com a sua,
pensou que ia deprimir se.
Eb sentiu que ela se rendia e a esmagou contra seu corpo enquanto explorava
seus lábios, saboreando-os, desfrutando da experiência.

-Segue tendo sabor de limonada e algodão doce -acrescentou sem dissimular o


prazer que isto lhe produzia.
-O que quer dizer? -murmurou Sally, hipnotizada.
-Que segue sem saber beijar -respondeu ele-. Fiz-te mais danifico de que
pretendia. Mas tinha dezessete anos e devia te apartar de mim, Sally. Não sabe o
que era minha vida naquela época.
-Jessica me contou isso.
-Contou-lhe isso tudo? -perguntou ele. Sally assentiu e os olhos do homem se
obscureceram de repente-. Não sei se queria que você soubesse.
-Os segredos são perigosos.
-Mais perigosos do que possa imaginar -replicou ele irônico-. Eu guardei o meu
durante muito tempo, como Jessica.
-Graças aos dois, agora sei como deve sentir um cogumelo, crescendo à sombra.

Eb riu brandamente.

-Jessica queria que fora assim. Pensava que desse modo estaria mais segura.

Tivesse-lhe gostado de lhe perguntar mais costure, mas não se atrevia. sentia-se
tímida com ele.
Eb voltou a cravar seu olhar em suas bochechas ruborizadas, os lábios inchados,
os olhos brilhantes. Aquela mulher alegrava seu coração. Só vendo-a-se sentia bem-
vindo, cômodo, querido. Tinha jogado isso de menos. Em toda sua vida, Sally Jonson
tinha sido a única pessoa que podia lhe alegrar a vida. Inclusive quando vivia em
Houston se manteve em contato com a Jessica para que lhe falasse dela: que fazia,
com quem saía. Sempre tinha sabido que Sally voltaria para ele algum dia, ou que
ele iria a ela. O amor, se existia, era uma força poderosa, imune ao tempo e a
distância.

Sally não podia esconder o que sentia e ao Eb adorava vê-lo em seus olhos. As
mulheres o desejavam desde que era um adolescente. Uma delas o tinha rechaçado
por sua forma de ganhá-la vida e isso tinha destroçado seu orgulho. Mas solo Sally
fazia que seu coração pulsasse acelerado.

Eb alargou a mão para acariciar os lábios que tinha beijado uns minutos antes.

-Teremos que praticar -murmurou.

Sally abriu a boca para protestar, mas nesse momento Stevie saiu da casa e
correu para eles alegremente.

-Tio Eb!

Nesse momento, Sally se deu conta de que embora ela não havia tornado a ver o
Eb durante seis anos, Jessica e seu filho se o tinham feito.

-Olá, tigre -sorriu ele, tomando ao menino em braços-. Quer vir a minha casa a
aprender karate?
-Como as tartarugas ninjas? Que bem! -exclamou o menino.
-Karate?-repetiu Sally.
-Só um par de movimentos de defesa pessoal -assegurou ele-. Quero que os dois
aprendam a fazê-lo. É necessário, Sally.
-De acordo.

Um minuto depois entravam no salão, onde Jessica estava escutando as notícias,


enquanto Stevie ia a sua habitação a ficá-las sapatilhas de esporte.

-Miúda confusão nos Bálcãs -murmurou a mulher-. Pobre gente


-A guerra -disse Eb-. Como estas, Jessica?
-Não posso me queixar. Mas não me deixam conduzir -respondeu ela, irônica.
-Espera a que aperfeiçoem a realidade virtual -sorriu Eb-. Poderá fazer tudo o
que queira.
-Que otimista.
-Sempre. vou levar me a Sally e ao Stevie ao rancho para lhes dar um pequeno
curso de defesa pessoal.
-Boa idéia.
-Dallas Kirk virá a te fazer companhia enquanto estamos…
-Não! -exclamou Jessica furiosa, incorporando-se no sofá-. Não, Eb! Não quero
que se aproxime de mim!
-Parece-me que não tem eleição -escutaram uma voz profunda a suas costas.

Quando Sally se deu a volta, viu um homem loiro de olhos escuros. Caminhava
com a ajuda de um fortificação e ia vestido com calças de camuflagem e uma
jaqueta de couro.
-Sally, apresentou a Dallas Kira -disse Eb.
-Prazer em conhecê-lo -disse o homem alto e magro.
-A Jessica já a conhece.
-Sim. Conheço-a -murmurou ele. Jessica se havia posto pálida.
-Suponho que poderão lhes levar bem durante uma hora -disse Eb, impaciente-.
Não posso te deixar sozinha, Jessica.
-Importa-te me dizer por que? -perguntou Dallas-. Ela tem melhor pontaria que
eu.

Jessica se ergueu no sofá.

-É que não sabe?


-Não, não sabe -respondeu Eb.
-Saber o que? -perguntou o homem.

Jessica levantou o queixo

-Que estou cega -disse, quase com satisfação, como se soubesse que aquilo ia
fazer lhe danifico.

Dallas se moveu como se o tivessem golpeado. aproximou-se da Jessica e colocou


a mão frente a sua cara.

-Cega -sussurrou-. Desde quando?


-Seis meses. Um acidente.
-Não foi nenhum acidente -interveio Eb-. Os homens do López tiraram seu carro
da estrada e escaparam antes de que chegasse a polícia.

Sally tragou saliva. Ela acreditava que tinha sido sozinho um acidente.

-E Stevie? encontra-se bem? - perguntou Dallas, quase sem voz.


-Não ia comigo no carro. E está perfeitamente -respondeu Jessica, com voz tensa.

Nesse momento Stevie entrava correndo no salão e a expressão no rosto de


Dallas deixou a Sally ainda mais surpreendida.

-Estou preparado! -anunciou o menino-. Olá-disse, olhando ao homem loiro que o


observava, fascinado.
-Stevie, apresento a Dallas. Trabalha para mim -disse Eb.
-Dói-lhe muito a perna, senhor Dallas?

O homem teve que tomar ar antes de responder.

-Só quando chove.


-A minha mãe também dói o quadril quando chove -disse o menino-. vai vir
conosco a fazer karate?
-Não, Dallas vai ficar cuidando de sua mãe.
-por que? -perguntou Stevie.
-Porque lhe dói o quadril -mentiu Sally-. Vamos?
-Vale. Adeus, mamem o pirralho, beijando a Jessica na bochecha-.Adiós-
acrescentou, dirigindo-se ao homem que seguia olhando-o atônito.

Sally se tinha dado conta do enorme parecido que havia entre o Stevie e Dallas
Kirk. Tão grande que não se atrevia a mencioná-lo.

-Voltaremos logo, Jessica.


-Contarei os minutos -murmurou ela, quando saíam do salão.

Dallas não disse nada e quase era uma sorte que Jessica não pudesse ver a
expressão que havia em seu rosto.
Tanto o menino como ela ficaram impressionados ao entrar no rancho Scott. A
casa era de dois pisos e havia várias garagens, um hangar, uma pista de
aterrissagem para helicópteros, uma piscina… Também havia uma zona de tiro,
casitas baixas para os convidados e um grande ginásio, além de antenas parabólicas
e câmaras virtualmente em todos os edifícios.

-Isto é incrível -disse Sally.


-O custo de manutenção sim que é incrível -riu Eb-. Não pode imaginar a
tecnologia que faz falta para que tudo isto funcione.

Estavam no ginásio e Stevie se atirou sobre um tatami, encantado da vida.

-Stevie se parece muito a Dallas -disse Sally então.


-É que Jessica e você não falastes que Dallas?
-Não
-Já vejo -suspirou Eb.
-Não é filho de meu tio, verdade?
-por que diz isso?
-Porque é igual a Dallas, Eb. A mesma cara.

Eb a olhou durante uns segundos sem dizer anda.

-Dallas e Jessica estavam trabalhando juntos e se sentiram atraídos o um pelo


outro -começou a explicar por fim-. Foi algo inexplicável e a atração era tão grande
que ambos esqueceram todo o resto. Jessica fico grávida e quando Dallas se
inteirou, voltou-se louco. Queria que ela se divorciasse do Hank e se casasse com
ele, mas sua tia se negou. Jurou-lhe que ele não era o pai do menino e lhe disse que
não tinha intenção de divorciar-se.
-Já vejo.
-Hank soube imediatamente que ele não era o pai do menino porque era estéril.
Mas Dallas e Jessica não sabiam -seguiu Eb-. Hank nunca perdoou a sua tia. E Dallas
tampouco. Até faz dez minutos, acreditava que o menino era de seu marido -
acrescentou, com um sorriso triste-. Será melhor que esperemos um par de horas
antes de voltar. Eu não gostaria de estar nessa casa agora mesmo.
-Pobre Jessica-murmurou Sally.
-E pobre Dallas. depois da briga com a Jessica, aceitou as missões mais perigosas
e esteve a ponto de morrer o ano passado na África.
-Agora entendo por que tem esse aspecto amargurado.
-Está amargurado porque amava a Jessica e, embora ela sentia o mesmo, não
quis deixar ao Hank. Ao final, fez-lhes mal aos dois. Hank não pôde viver com a idéia
de que ela ia ter o filho de outro homem e isso destruiu seu matrimônio. Foi uma
tragédia para os três.
-Sim -murmurou Sally, olhando a seu sobrinho-. Mas Stevie é um menino
estupendo.
-Tem muita personalidade.
-Não pensaria isso quando terá que colocá-lo na cama.

Eb sorriu.

-você adora os meninos, verdade?


-Sim.
-Não quer ter filhos?
-Claro--respondeu Sally, sem olhá-lo-. Algum dia.
-por que não agora?
-Porque tenho muitas responsabilidades. Não posso pensar em ter filhos agora.
Tenho que cuidar da Jessica e Stevie.
-Parece como se pensasse fazê-lo sozinha.

Sally se encolheu de ombros.

-Agora pude fazer-se com a inseminação artificial.

Eb levantou seu queixo com um dedo.

-Você gostaria de levar em seu ventre o filho de um homem ao que não conhece?
-perguntou. Sally se mordeu os lábios-. Um filho tem que nascer de amor, de forma
natural, não em um tubo de ensaio -acrescentou brandamente, procurando seus
olhos-. A menos que seja a única solução para um matrimônio. Mas isso é muito
diferente.
-Não sei se…-começou a dizer Sally- se quero estar tão perto de alguém.
-Sally, não pode deixar que o passado te converta em uma mulher solitária. Eu te
assustei porque a tentação era muito forte para mim e tinha que te desiludir. Foi
uma menina -explicou Eb-. O que ocorreu não teria sido tão aterrador se tivesse
tido alguma experiência com os homens. É que não tinha saído com nenhum menino
do instituto?

Ela negou com a cabeça.

-A minha mãe dava pânico que ficasse grávida.


-Não sabia -murmurou ele.
-Tivesse trocado algo?

Eb acariciou sua cara com ternura.

-Se o tivesse sabido, possivelmente não o teria feito.


-Você queria te liberar de mim…
-Eu te desejava -sussurrou ele roncamente-. Mas uma garota de dezessete anos
não está amadurecida para ter uma aventura com um homem treze anos maior que
ela.

Sally nunca tinha tentado ver as coisas desde seu ponto de vista. sentia-se muito
amargurada, muito ferida. Mas quando o olhou, viu no rosto do Eb, a dor das
lembranças.

-Eu estava desorientada -disse em voz baixa-. De repente, meus pais se


divorciaram, tinham vendido a casa e eu ia a Houston com minha tia. Sabia que não
voltaria a verte e só queria… que me beijasse. Devia estar louca.
-Os dois o estávamos -sussurrou ele-. Minha intenção era também te beijar. Um
beijo casto, além disso -acrescentou, deslizando sem querer o olhar por sua blusa.
Ao ver as duas cúpulas endurecidas, levantou uma sobrancelha-. Por isso não foi
casto.
-O que?
-É que não aprendeste nada? -sussurrou ele, exasperado, voltando-se para
comprovar que Stevie não lhes emprestava atenção. Depois, tomo um dedo da Sally
e o passo por seus tensos mamilos-. Por isso -explicou. Sally ficou tinta-. Segue
sendo uma menina.
-Eu não sabia…
-Pois deveria. vou ter que comprar alguns livros. E um par de cintas de vídeo.
-Mas bom…!

Eb se inclinou para ela e passou a língua por seus lábios.

-Recorda isto, Sally? Sabe o que vem depois?

Ela deu um passo atrás. Stevie seguia sem lhes emprestar atenção e Eb seguia
olhando descaradamente seus peitos, com um sorriso travesso.

-Deixa de me olhar assim. Seguro que você não nasceu sabendo-o tudo.
-É verdade -riu ele-. E tampouco tive uma mãe que me separasse das garotas.
Justamente o contrário. Meu pai dizia que não havia mulher boa.

Sally o olhou surpreendida.

-É que não queria a sua mãe?


-Desejava-a e ela se negou a deitar-se com ele até que se casassem-. Assim que
se casaram. Morreu quando eu nasci.
-Deveu ser um trauma para seu pai.
-Se foi, ninguém se inteirou. Aprendi muito dele, mas não era um homem
carinhoso -disse ele, olhando-a aos olhos-. Eu segui seu exemplo e me arrole no
exército. Quando ia deixar o, um homem me falou sobre certos comandos especiais
e quanto se pagava por esse trabalho. Aceitei e meu pai não voltou a me dirigir a
palavra. Disse-me que o que ia fazer era uma perversão para o exército e uma
desonra para ele. Anos depois, recebi uma carta dizendo que tinha morrido em
combate. Enterraram-no com tudas as honras.
A dor daqueles anos se refletiam em seu rosto e Sally, impulsivamente, pôs a
mão sobre seu braço.

-Sinto-o muito. Suponho que era um homem obstinado.


-É que você não crie que a de mercenário é uma profissão perversa?- perguntou
Eb, sarcástico.

Capítulo 3

Sally olhou aqueles olhos verdes cheios de dor e, sem pensar, levantou a mão
para acariciar sua cara. Mas quando se deu conta do que estava fazendo, apartou-a.

-Não, não acredito que a de mercenário seja uma profissão perversa. Há muitos
países cujos governos não têm recursos para proteger a sua gente. Não acredito que
seja algo mau se a causa for justa.

Eb parecia surpreso por sua resposta. Durante anos, perguntou-se como reagiria
quando lhe dissesse como ganhava a vida. Tinha esperado desde desprezo até ódio,
sobre tudo recordando como tinha reagido sua ex prometida. Mas Sally não parecia
julgá-lo.

Tinha visto como apartava a mão e lhe tinha doído. Mas ao escutar sua opinião
sentiu que seu coração se aliviava.

-Não esperava que encontrasse motivos nobres em minha profissão.


-Mas os há, não é assim?
-Em meu caso, sim -respondeu ele-. Não só o faço por dinheiro. Tenho que
acreditar no que estou fazendo para arriscar minha vida.

Sally sorriu.

-Eu pensei que seria como na televisão, mas Jessica me há dito que não é assim.
-Em parte, é-o.
-Por exemplo?
-Nós tínhamos um tipo ao que terei que embebedar para colocá-lo em um avião,
como o da equipe A.
-Sério? -riu ela.

Eb tomou sua mão e beijou a palma docemente.

-vamos trabalhar -disse, levando-a para o tatami-. Ensinarei-lhes os movimentos


básicos. Não temos muito tempo -acrescentou, com um sorriso-. Jessica estará a
ponto de chamar exigindo que vamos resgatar a.

Jessica e Dallas tinham começado a briga assim que o jipe se afastou da casa.
O homem tivesse desejado que Jessica pudesse vê-lo porque seus olhos estavam
cheios de fúria e amargura.

-Pensava que não ia me dar conta do parecido?-espetou-lhe-. Meu filho. Stevie é


meu filho! Mentiu-me, Jessica! E te negou a lhe pedir ao Hank o divórcio!
-Não podia fazê-lo! Por favor, Dallas, ele me adorava. Não podia lhe dizer que
tinha tido uma aventura com seu melhor amigo.
-Eu poderia haver-lhe dito -replicou o furioso-. Hank não era nenhum anjo,
Jessica. É que crie que alguma vez teve uma aventura?
-Isso não é certo!
-Claro que o é! Hank sabia que não deixaria grávida a nenhuma mulher e estava
seguro de que você não se inteiraria.

Jessica ficou a mão sobre a boca.

-Não sabia -murmurou, desfeita.


-Tivesse trocado algo?
-Não sei. É possível. Sempre soube que Stevie era teu filho, verdade?
-Não soube que Hank era estéril até muito mais tarde. Além disso, então nem
sequer estava seguro de que fora dele.
-Não pensaria…? Acreditava que me deitava com outros homens?
-Quão único eu sábia de ti então era que havia me tornado louco -suspirou
Dallas-. Sabia que Hank tinha aventuras e supus que você tinha a mesma liberdade -
acrescentou dirigindo-se à janela-. Pedi-te que te divorciasse do Hank solo para ver
qual era sua resposta. E foi exatamente a que esperava. Não me amava, eu sozinho
tinha sido uma aventura mais.

Jessica se cobriu a cara com as mãos, tremendo. A lembrança lhe tinha feito
chorar. apaixonou-se pela primeira vez em sua vida e não era de seu marido. Dallas
tinha estado presente em suas lembranças durante cada dia após. Stevie era seu
viva imagem.

-Sentia-me tão envergonhada -murmurou-. Tinha traído ao Hank. Tinha traído


minha lealdade, meu dever… me educaram para acreditar no matrimônio, Dallas.
Casei-me virgem e ninguém em minha família se divorciou até que o fez meu irmão -
explicou-. Meus pais estiveram felizmente casados durante cinqüenta anos.
-Às vezes não funciona e não é culpa de ninguém -murmurou Dallas, sentando-se
frente a ela e olhando-a com toda a amargura que tinha sentido durante aqueles
anos.
-Eb me disse que lhe tinham ferido em uma misión-murmurou Jessica-. Está
bem?

O suave tom de sua voz, aquela deliciosa preocupação eram muito para ele.
Dallas tomou sua mão e a apertou com delicadeza.

-Estou melhor do que parece estar tú-murmurou-. Que alto preço pagamos por
uma noite, Jessica.
-Muito alto -admitiu ela, tocando a cara do homem-. Stevie se parece com ti.
-Sim.
Jessica parecia procurar na escuridão a cara do homem que nunca voltaria a ver.

-Por favor, não me odeie, Dallas.


-É o único que tenho feito durante os últimos cinco anos. Mas possivelmente
tenha razão. Toda a cólera do mundo não pode trocar o passado. Temos que seguir
adiante.
-Podemos ser amigos?

Dallas riu amargamente.

-É isso o que quer?

Jessica assentiu.

-Eb me há dito que está trabalhando para ele e quero que… conheça o Stevie. No
caso de.
-Não diga isso! -explorou ele, levantando-se torpemente da cadeira-. López não
conseguirá aproximar-se de ti. Não o permitiremos -acrescentou. Ela se deixou cair
sobre o respaldo do sofá sem dizer nada. Os dois sabiam que López tinha contatos
em todas partes e que, se a queria morta, conseguiria-o-. vou fazer um pouco de
café -disse Dallas então com voz tensa.
Enquanto ele estava na cozinha, Jessica olhava para frente sem ver, pensando na
direção que tinha tomado sua vida.

Dirá-o de brincadeira! -exclamou Sally, levantando do tatami por enésima vez-.


Quer dizer que vou passar me duas horas me atirando ao chão? Acreditei que foste
ensinar me métodos de defesa pessoal!
-E o estou fazendo -replicou Eb-. Mas o primeiro é aprender a cair para não fazer-
se danifico. É fácil.

A seu lado, Stevie praticava as quedas laterais e parecia passá-lo bomba.

-Para ti -murmurou ela, observando o corpo do Eb, tão fibroso como o de um


homem de vinte anos-. Treina todos os dias?
-Tenho que fazê-lo. Se perder a forma não servirei de nada a meus alunos. Bem
feito Stevie.

O menino riu, encantado.

-Claro que o faz bem. É mais baixinho que eu. E mais jovem.
-Pobre viejecita -riu Eb.
-Não sou velha. Mas não estou em forma -disse Sally, atirando-se de novo sobre
o tatami.

Eb deslizou o olhar por seu corpo.

-Eu tivesse acreditado que sim. E não só para o karate.


Sally se levantou, esclarecendo-a garganta.

-Quando aprendeu estas coisas?


-Faz muito tempo. E me salvou a vida várias vezes -respondeu ele-. Quando tiver
um pouco de confiança, não estará nervosa. Mas nunca te enfrente com alguém a
menos que sua vida esteja em perigo e essa seja a única opção. Se não ser assim,
sal correndo.
-Sério?
-Sim. Ter muita confiança não é bom.
-Sally, um de meus alunos vazio o carregador de sua pistola contra um homem
que o atacou com uma faca. Ao final, morreram os dois.
-De verdade?
-Se alguém tenta te atacar, não tente raciocinar com ele porque não se pode. E
não tente lutar. Corre tudo o que possa. Se uma automática não puder com um
homem, menos poderia você.
-Recordarei-o -murmurou ela.
.Às vezes, uma retirada é uma vitória.
.Muito educativo -riu Sally.
-Sério? -sorriu ele. Naquele momento não a olhava como se olhe a um aluno-. Me
ocorrem um par de coisas nas que precisa…te educar.

Sally olhou ao Stevie, que seguia atirando-se no tatami.

.Suponho que deveria seguir me atirando ao chão. Se aprender a fazê-lo, poderia


me ensinar a me atirar em cima de um adversário.
-Não valeria de nada a menos que engordasse cem quilogramas -sorriu ele-. Mas
poderia provar comigo. Pode que consiga me imobilizar. Quer que me atire?

Sally riu, nervosa.

-Parece-me que ainda não estou preparada.


-Como você queira. Não há pressa. Temos muito tempo.

Sally recordou então a Jessica e ao chefe da banda de narcotraficantes e ficou


séria.

-De verdade é tão perigoso…?

Eb lhe fez um gesto com a mão.

-Stevie, gosta de um refresco?


-Sim!
-Pode ir por ele à cozinha. E traz um para sua tia e para mim.
-Agora mesmo -sorriu o menino, antes de sair correndo como uma bala.
-É mais que perigoso--disse então Eb-. Não saia nunca de noite. Há um homem
vigiando a casa, mas se tiver que ir a alguma parte, diga-me isso e irei contigo.
-E isso não danificará seus planos? -perguntou ela, sem olhá-lo.
-Não tenho planos. Ao menos, não nos que você está pensando. E você
tampouco os tem, se Jessica disser a verdade.
-Não tive tempo para os homens.
-quanto mais tempo espere, mais difícil será manter uma relação com um
homem, Sally.
-Tenho que pensar em minha tia e o menino.
-Essa é uma desculpa. E não muito boa -disse ele. Quando a olhou, Eb viu em
seus olhos um montão de sonhos quebrados-. Nunca voltará a ocorrer. Prometo-lhe
isso.

Sally apartou o olhar

-Crie que Dallas e Jessica se atiraram os pratos à cabeça? -perguntou, para trocar
de conversação.

Ele tomou pelos ombros para obrigá-la a olhá-lo.

-Agora cresceste e deveria saber algo mais sobre os homens, Sally. Eu estava
muito excitado aquele dia. Levava muito tempo sem ter uma mulher e você tinha
dezessete anos. Entende-o? -perguntou. Sally assentiu com a cabeça-. Pode voltar a
tentá-lo.
-Tentar o que?
-O que tentou aquela tarde -murmurou ele com ternura-. Poderia passar algo.
-Já não sou a mesma pessoa, Eb. Mas você sim.

A luz nos olhos do homem desapareceu.

-Não o sou, Sally. Eu também troquei.


-Não quer ter uma família.
-pensei muito nisso recentemente. Possivelmente deveria deixar este trabalho
quando tiver meninos. Não penso deixar que meus filhos cresçam rodeados de
armas. Mas poderia seguir ensinando teoria.
-Está seguro que te conformaria com isso?
-Não o estarei até que o tente -sorriu Eb-. Nenhum homem quer atar-se. É
necessário que uma mulher o convença.

Eb parecia estar tentado lhe dizer algo, mas antes de que pudesse lhe pedir que o
esclarecesse, Stevie voltou com os refrescos.

Jessica e Dallas estavam em silêncio quando chegaram a casa e, quando


entraram, ele partiu sem dizer uma palavra.

-Não tenho que perguntar que tal foi -disse Eb.


-Pode-o imaginar -suspirou Jessica.
-Mamãe, aprendi a cair ! -exclamou Stevie, saltando sobre o regaço de sua mãe-.
Oxalá me tivesse visto.

Jessica teve que dissimular a emoção enquanto beijava a seu filho na frente.
-Seguro que o tem feito muito bem. E seu tio é um professor excelente.
-Os dois são muito bons alunos -disse Eb-. Bom, tenho que voltar para rancho.
por agora, todo esta controlado, mas pedi a Sally que não saia de noite.
-Não o farei-disse ela.
-Seguiremos com as lições ao menos três vezes por semana.
-Muito bem.
-Não se preocupe. Tudo vai sair bem. Sei o que estou fazendo.

Sally conseguiu sorrir.

-Sei.
-me acompanhe à porta -disse-lhe então-. Até mais tarde, Jessica.
-te cuide, Eb -despediu-se ela.

No alpendre, Eb a olhou aos olhos.

-A casa está vigiada, mas deve tomar cuidado. Não abra a porta a nenhum
estranho e fecha bem as janelas de acordo?

Sally se mordeu os lábios, preocupada.

-Nunca vivi uma situação como esta.


-Sei. E sinto muito que Stevie e você estejam na linha de fogo. Mas estou seguro
de que poderá suportá-lo. É uma mulher forte.

Ela observou seus rasgos profundos e as cicatrizes da violência que tinha tido que
viver e soube então que Eb nunca lhe mentiria. A confiança que depositava nela a
fazia sentir-se capaz de algo.

-Tentarei-o.
-Se Stevie não fora tão imprevisível, beijaria-te -murmurou Eb então. Sally se
engasgou. Ninguém mais que ele conseguia lhe fazer sentir-se tão excitada-. Estava
acostumado a sonhar com aquela tarde. Despertava suando e amaldiçoando pelo
que te fiz- acrescentou. Sally apartou o olhar, mas Eb tomou sua cara entre as mãos.
Estava muito sério-. Nenhum homem poderá ter o que eu tive de ti aquela tarde. Foi
tão inocente…

Os lábios femininos se abriram ante a intensidade de sua voz e o brilho dos olhos
verdes.

-Não era isso o que me disse então.


-Então me doía tanto que não pude escolher as palavras. Só queria que saísse de
meu carro antes de que te arrancasse aquelas calças curtas.

Se antes se pôs tinta, Sally ficou então lívida. A imagem que ele acabava de
evocar era surpreendente. Nunca lhe tinha ocorrido pensar que ele tivesse querido
despi-la, que tivessem podido…
-Não ponha essa cara, não te tinha ocorrido pensar o que podia ter passado?-
perguntou ele. Sally negou com a cabeça-. Alguém deveria ter um sério bate-papo
contigo.
-Você o fez -murmurou ela, nervosa.
-É verdade. Um bate-papo largo e explícito ao dia seguinte -assentiu ele-. Você
não queria me escutar, mas te obriguei a fazê-lo. Eu gostaria de pensar que isso te
salvou de alguma outra má experiência.
-Não foi exatamente uma má experiência -sussurrou ela, envergonhada-. Esse é o
problema.

depois disso houve um silêncio.

-Sally…- murmurou ele. Um segundo depois, atraía-a para si. Sally ficou nas
pontas dos pés para estar mais perto, perdida nas lembranças daquela tarde. Sentia
as mãos dele obrigando-a a rodear seu pescoço antes de tomá-la pelos quadris para
esmagá-la contra seu corpo.

Ela abriu a boca então, surpreendida, lhe oferecendo o que ele desejava. Sally
sentia a exploração da língua masculina, o suave roce de seus dentes. Sentia uma
sensação ardente em seu abdômen que a obrigava a apertar-se contra ele. Era como
se seu corpo lhe dissesse que não podia pertencer a nenhum homem mais que a
aquele.

Eb a soltou pouco depois e estudou sua cara, os lábios úmidos, os olhos


brilhantes, a expressão confusa.

-Sim -murmurou com voz rouca.


-Sim?

Eb deslizou o olhar até sua blusa, onde as cúpulas duras se marcavam através do
tecido e Sally sentiu o poder daquele olhar em suas partes mais secretas.

-Você sabe tão bem como eu que é só uma questão de tempo. Sempre o foi -
sussurrou ele, acariciando seus peitos por cima da blusa. Sally abriu a boca, atônita,
mas o som se converteu em um gemido de prazer-. Não vou fazer te danifico -
acrescentou Eb, antes de tomar sua boca com ânsia. Foi o beijo mais apaixonado e
mais adulto de sua vida, eclipsando inclusive o beijo anterior. Eb introduziu a mão
sob sua blusa e a acariciou por cima do sustento. Ela respondeu imediatamente a
sua carícia, apertando-se contra ele, total-. Daria algo por desabotoar isto, mas
estou seguro de que se o fizesse, Stevie apareceria no alpendre.

A idéia o fez sorrir e quando olhou a Sally, ela também estava sonriendo.

-Enfim… terá que esperar -suspirou, apartando-se de novo-. Não se sinta


envergonhada. Todos temos um ponto débil.
-Você não. Você é de ferro -brincou ela.
-Falaremos sobre mim a próxima vez. Enquanto isso recorda o que te hei dito.
Sobre tudo o de sair de noite.
-Onde ia de noite no Jacobsville?
Eb sorriu como despedida e quando Sally entrou de novo na casa, estava
tremendo.
Cap 4

Jessica estava muito triste depois de ter visto Dallas. Tentando animá-la Sally
esqueceu que tinha uma reunião de pais na terça-feira seguinte e quando chamou o
rancho do Eb para avisá-lo só pôde lhe deixar uma mensagem na secretária
eletrônica. Mas, apesar de que lhe havia dito que estava em perigo, não acreditava
que pudesse lhe ocorrer nada por ir sozinha.

Reuniu-a foi larga e cheia de problemas e saiu muito mais tarde que o habitual.
Só pensava em meter-se na cama enquanto conduzia pela escura estrada, mas
quando passou por diante da casa que ocupavam seus novos vizinhos, sentiu um
calafrio. Três deles estavam no alpendre e quando viram sua caminhonete, ficaram
olhando-a.
Sally pisou no acelerador. Uns minutos mais e estaria em casa…
De repente, escutou o som de uma roda cravada e seu coração deu um tombo.
Não tinha roda de reposto. Tinha-a tirado da caminhonete para colocar a comida do
gado no dia anterior. De modo que teria que chegar a casa a pé. E o pior era que
estava escuro e aqueles homens a estavam olhando…

Mas não se meteriam com ela, pensou, enquanto saía com a bolsa ao ombro.
Levava um apito e não pensava deixar-se amedrontar. Confiada, apesar das
advertências do Eb, fechou a caminhonete e começou a caminhar.
O som de uns lhes passe atrás dela fez que Sally voltasse a cabeça. Dois dos três
homens se aproximavam correndo para ela. Devia permanecer tranqüila, dizia-se,
levantando o queixo para lhes demonstrar que não tinha medo. Mas ao dar-se conta
do tamanho dos homens, levo-se a mão à bolsa, se por acaso precisava usar o apito.

-Olá, bonita -disse um deles-. Se quiser, podemos te ajudar a trocar a roda.


O outro homem, um pouco mais alto, sem barbear e francamente feio, sorriu de
forma desagradável.

-Certamente!
-Não tenho roda de reposto, mas muito obrigado.
-Levaremo-lhe a casa -insistiu o alto.
-Não, obrigado -tentou sorrir Sally-. Eu gosto de passear. boa noite.

Tinha começado a caminhar quando os dois homens a atacaram por detrás. Um


deles lhe tirou a bolsa, lhe sujeitando o braço, enquanto o outro abria seu moedeiro.

-Só dez dólares -murmurou, atirando a bolsa ao chão-. Pelo menos, poderemos
comprar uma caixa de cervejas.
-me solte! -exclamou Sally, tentando lhe dar uma cotovelada. Mas o homem lhe
retorceu o braço com tal força que a dor a fez desistir.

O outro homem se colocou frente a ela e a olhou de cima abaixo.


- Não está mal-murmurou-. Rápido, traz-a aqui, à sarjeta.
- Ao López não vai gostar de lhe isto! -escutou gritar ao terceiro homem do
alpendre.

Sally tinha um medo atroz e o nome do López a assustou ainda mais, mas seguia
tentando soltar-se. Aqueles homens eram maiores e fortes que ela e não podia fazer
nada. Não podia procurar seu apito e embora tentava defender-se a patadas, eles a
evitavam. Muito tarde, pensou, para recordar o que Eb lhe havia dito sobre o
excesso de confiança.
Seu coração pulsava furiosamente enquanto a arrastavam até a sarjeta coberta
de erva. Lutaria, faria o que pudesse, mas sabia que não poderia contra aqueles dois
homens. Lágrimas de impotência começaram a rodar por seu rosto quando um deles
rasgo sua blusa.
Nesse momento, escutou um som e ao princípio pensou que se deprimiu. Mas
não era assim. O som se aproximava cada vez mais. Era um jipe. As luzes
iluminavam a estrada, mas não a luta que estava tendo lugar na sarjeta.
Era como se o condutor soubesse o que estava passando porque o jipe parou
com um frenazo seco e um homem muito alto e com chapéu Stetson se dirigiu a
grande velocidade para seus captores, que a soltaram imediatamente. Eb!

-Algum problema?-perguntou sarcástico.

Um dos homens tirou uma faca.

-Isto não é assunto dele. Vá-se.

O recém-chegado plantou firmemente os pés no chão.

-Nem o sonhe.
-vais desejar havê-lo feito -replicou o mais alto, dando um passo para ele com a
faca escondida à costas.

Sally o olhou horrorizada. Eb ia morrer por sua culpa.


Mas ele se moveu de forma repentina, com a velocidade de uma serpente. O
homem que levava a faca acabou sobre a erva, sujeitando o antebraço. O outro se
lançou para o Eb, mas se encontrou com um golpe seco que o enviou ao chão, de
onde não voltou a levantar-se.

Eb se inclinou para tomar a Sally em braços e a levou a jipe, sujeitando-a sobre


uma de suas fortes coxas enquanto abria a porta.

-Minha…bolsa -murmurou ela, tremendo. Tinha tentado dissimular seu horror, o


pânico que havia sentido, mas naquele momento, em braços do Eb, todo seu corpo
se convulsionava.
O fechou a porta, tomou a bolsa do chão e o deu através do guichê.

-Está bem, carinho?


-Esses homens…
-Não o pense -interrompeu-a ele, tirando o móvel do porta-luvas-. Bill? Sou Scott.
Deixei-te um par de tipos na estrada, frente à casa dos Bell. tentaram atacar à
senhorita Jonson… De acordo, iremos amanhã. Por certo, será melhor que envie
uma ambulância -disse antes de pendurar-. Te grampeie o cinturão. Enviarei a algum
de meus homens para que troquem a roda e levem sua caminhonete a casa -
acrescentou, observando sua blusa rasgada. Sem dizer nada, tirou-se a jaqueta e a
pôs sobre seus ombros.
-Tinha um apito…incluso me lembrei do que me tinha ensinado para me
defender…

Eb a estudou solenemente.

-Sally, você não podia fazer nada contra esses dois homens.
-Eles não puderam te tocar.

Os olhos verdes do homem tinham uma frieza que lhe produziu um calafrio.

-Disse-te que arrumasse essa maldita roda de reposto.


-Não aceito ordens de ninguém -replicou Sally, tentando salvar o pouco orgulho
que ficava.
-Não era uma ordem. Era um conselho e acaba de ver os resultados de não havê-
lo seguido. Ao menos, teve suficiente sentido comum para me deixar uma
mensagem. Mas, o que teria passado se não o tivesse escutado, Sally? Quer
imaginar onde estaria agora? Quer que lhe o eu diga?
-te cale! -exclamou ela, cobrindo-a cara com as mãos.
-Não vou desculpar me -disse ele abruptamente-. O que tem feito é uma
estupidez, embora haja tido muita sorte. Mas a próxima vez, pode que não chegue a
tempo. Disse-te que estava em perigo e que não saísse de noite e espero que agora
entenda por que. Acerta essa maldita roda e compra um telefone móvel.
-São muito caros-murmuró ela.
-Se tivesse tido um hoje, isto não teria ocorrido, Sally. Um homem tem mais força
que uma mulher. A menos que seja uma pessoa treinada, nunca poderia te defender
de um ataque.

Ela voltou a sentir um calafrio. Estava despenteada e lhe doíam os braços, E o


pior era que estava começando a entender o que poderia lhe haver passem.

-Não pensei que isto poderia ocorrer.


-Sei. Mas te direi uma coisa a seu favor. Tem coragem.
-Sim, claro, sou muito dura -riu ela com tristeza.
-Não te havia dito que saísse correndo? -recordou-lhe Eb. Ela levantou um pé
com um gesto eloqüente. Levava saltos-. Se voltar a te encontrar em uma situação
parecida, tira-lhe isso e sal correndo.
-De acordo.

Eb acariciou sua cara com doçura.

-Não quero que te ocorra nada mau, Sally.


-Tem razão, deveria ter tido mais cuidado. Mas não voltará a passar.
Tinham chegado à casa e Eb observou que alguém movia a cortina no salão.
Dallas estava com a Jessica e Stevie.

-Deveria me haver feito saber o da reunião muito antes.


-Sei -murmurou ela, tentando não voltar a chorar. Mas sabia que seria impossível
esquecer aquela terrível experiência-. Havia um terceiro homem no alpendre e disse
que ao López não gostaria do que foram fazer.

Ele a olhou durante comprido momento, vendo em seu rosto o medo e a


revulsión.

-Vêem aqui, carinho -disse meigamente, tomando-a em seus braços. Sally deixo
escapar então toda sua angústia e rompeu a chorar.
-Estou tão…zangada! Tão zangada! Sinto-me como uma boneca de trapo!
-Qualquer pode perder uma briga.
-Seguro que você nunca perdeste nenhuma.
-No acampamento, um tipo que media a metade que eu me pegou uma surra.
Isso me ensino uma boa lição.

Sally se limpou com o lenço que ele tinha tirado do bolso.

-De acordo entendi a mensagem -suspirou-. Sempre há alguém maior e mais


forte.
-Me alegro de que o entende.
-Dizem que se salvas uma vida, converte-se em tua -murmurou Sally então,
olhando-o com olhos de adoração.

Ele olhou a jaqueta que logo que cobria a blusa rasgada.

-Isso também é meu?


-Como?

Eb abriu a jaqueta e assinalou sua pálida pele nua. Sally não protestou, nem
sequer tentou cobrir-se. ficou muito quieta e deixou que a olhasse.

-não há protestos?-perguntou ele, olhando-a aos olhos.


-Salvaste-me a vida -suspirou ela-. Além disso, pertenço-te, Eb. Nunca houve
ninguém mais.
-Isso poderia ter trocado esta noche-murmurou ele, acariciando seu pescoço com
expressão séria-. Tem que confiar em mim o suficiente para fazer o que te digo.
-Não vou cometer um error-prometeu ela.
-E como chamas a isto? -perguntou ele, assinalando a rasgada blusa que deixava
quase ao descoberto um terso e formoso peito.
-me tampe se você não gostar do que vê -desafiou-o Sally.
-Acredito que será o melhor -riu ele, tampando-a com a jaqueta-. Dallas está na
janela, aprendendo o que é a vida.
-E me parece que o necessita -brincou Sally.
-Igual a você -sorriu Eb-. Crie que possa dormir esta noite?
-Sim -respondeu ela, abrindo a porta-. Eb…
-O que?
-conseguiste que a violência não fique doente?
-Nunca -respondeu ele, muito sério-. Será melhor que entre. na quinta-feira e na
sábado lhes levarei a rancho para seguir praticando.
-Para o que me vale...-conseguiu dizer ela, nervosa.
-Eram dois contra ti. Não terá que sentir vergonha de perder uma briga quando
se tentou tudo.
-Você crie?
-Sei-. Respondeu Eb, tocando seu despenteado coque-. Aquela tarde levava o
cabelo solto -murmurou brandamente-. Recordo o que senti quando o tinha sobre
meu peito.

Sally quase se engasgou recordando aquilo. Os dois tinham estado nus até a
cintura. Podia fechar os olhos e sentir o pêlo de seu musculoso torso contra o seu
enquanto a beijava e beijava…

-Às vezes a vida dá uma segunda oportunidade.


-Seriamente? -sussurrou Sally.

Ele acariciou seus lábios docemente.

-Não vou deixar que ninguém volte a te fazer danifico -murmurou-. Vamos, será
melhor que entre.
-Suponho que sim -sorriu ela, tocando sua jaqueta-. Devolverei-lhe isso.
-Não faz falta.
-Eb, tenho que ir amanhã a falar com o delegado?
-Sim. Irei te buscar depois do colégio. Não se preocupe, não vai comer te -disse
ele-. Não podemos deixar que os homens do López se vão de rositas.

Sally sentiu um calafrio.

-O que faria se atestar contra seus homens?


-Não se preocupe por isso. Ninguém vai tocar te sem as ver-se comigo.

O coração da Sally se acelerou ao ver o olhar de determinação nos olhos do


homem. Ela era uma mulher moderna e possivelmente não deveria fazer gostado
daquele apaixonado comentário, mas gostava. Eb era um homem forte e seguro de
si mesmo que quereria ter a seu lado uma mulher tão forte como ele. Sally não tinha
sido essa mulher aos dezessete anos, mas o era naquele momento.

-Está-te perguntando se estiver bem que a uma mulher moderna goste que a
protejam? -perguntou Eb, como se tivesse lido seus pensamentos.
-Você mesmo há dito que ninguém é invencível. Não me parece mal admirar a
força de um homem, especialmente quando acaba de me salvar o pescoço -
respondeu ela, olhando para a estrada-. Não virão esta noite para me buscar?
-Em sua condição, não acredito que lhes resulte fácil. E tiveram sorte -disse Eb,
com expressão tensa-. Faz dez anos não tivesse sido tão suave. Já sabe que classe
de vida vivi. Mas nunca te faria mal a ti, Sally.
-O que quer dizer, Eb?
-Estou deixando claras minhas intenções.
-Intenções?
-A última vez me detive. A próxima, não o farei.
-Refere a esses homens…?
-Refiro a ti -interrompeu-a ele-. Desejo-te com todas minhas forças e a próxima
vez não me deterei.
-Você e quantos mais? -tentou brincar ela.
-Eu sozinho. Mas pode que você necessite ajuda -sorriu ele-. Vamos, entra.
-Obrigado, Eb.
-Tenta dormir.
-Seu também.

Eb a observou entrar na casa e esperou que Dallas saísse, tão sério como
sempre.

-O que passou?-perguntou, entrando no jipe.


-Os homens do López tentaram violá-la. Felizmente, cheguei a tempo -respondeu
Eb, arrancando o jipe-. Quero ir ver se tiver chegado a ambulância.
-Uma ambulância? -repetiu Dallas-. Isso é novo.
-Estamos tentando ser formais, não? É difícil sê-lo se se deixa a dois tipos morrer
em uma sarjeta.

Uns minutos depois, chegaram onde estava a caminhonete da Sally, mas os dois
homens tinham desaparecido e a casa estava às escuras.

Nesse momento, viram as luzes de uma ambulância e o carro patrulha.


Eb saiu do jipe. Conhecia o Rich Burton, um dos ajudantes do delegado, e os dois
homens se deram a mão.

-Onde estão as vítimas?


-Estavam tombadas aí quando levei a Sally a casa -respondeu Eb.

O ajudante e os meninos da ambulância jogaram uma olhada, mas não


encontraram nada.

-A menos que algum de vocês necessite assistência médica, vamos -disse um dos
enfermeiros, irônico.
-Esses homens a necessitavam. Um deles tinha vários ossos quebrados.
-Parece que não as pernas.
-Não. Não tinham as pernas rotas.

A ambulância desapareceu e Rich se apoiou no carro patrulha.

-Nessa casa ocorre algo estranho -disse o ajudante do delegado-. E isso não é
tudo. No Jacobsville estão começando a ocorrer coisas que eu não gosto de nada.
Uma imobiliária comprou o terreno que linda com o rancho do Cy Parks e o está
enchendo de material. Parece que querem abrir um negócio.
-O que sabe da pessoa que alugou esta casa?-perguntou Eb.
Rich se encolheu de ombros.

-Não tanto como eu gostaria. Mas meus contatos me informaram que são
homens da banda de um tal Manuel López, um narcotraficante mexicano.

Eb e Dallas intercambiaram um olhar.

-Que classe de negócio pensam abrir?


-Não sei. levantaram um enorme armazém -respondeu Rich, com expressão
preocupada-. Se querem saber minha opinião, parece-me que querem distribuir
droga desde o Jacobsville.

Capítulo 5

-Um centro de distribuição de drogas -repetiu Eb. E à frente, Manuel López, o


chefe da banda de narcotraficantes mais violenta do mundo! Justo o que nos fazia
falta no Jacobsville.
-É que conhece o López?-perguntou o oficial.

Eb não quis responder.

-Obrigado, Rich. Se souber algo sobre os homens que atacaram à senhorita


Jonson, direi-lhe isso.
-Obrigado mas não acredito que voltem por aqui.
-Já imagino. Até logo.

Quando Rich se desapareceu, Eb se dedicou a procurar algo na sarjeta. Como


tinha imaginado, entre os arbustos encontrou um tablón coberto de pregos sujeito
com uma corda. Assim era como a Sally lhe tinha cravado a roda. De modo que tinha
que haver um quarto homem, que tinha atirado da corda para esconder o tablón.

-foi uma tabela -disse Dallas.


-Tem que haver quatro homens e não acredito que a violação fora o único objeto.
Vou falar com o Cy Parks amanhã. Pode que ele saiba algo.

Cy Parks estava de mau humor. Não tinha dormido bem e parecia esgotado.
Quatro anos depois, seguia tendo pesadelos sobre o incêndio no que tinha perdido a
sua mulher e a seu filho. depois disso, mudou-se ao Jacobsville porque ali vivia
Ebenezer Scott, seu único camarada e amigo. Cy podia falar com ele sobre a morte
de sua família à mãos dos homens do López e Eb o ajudava a exorcizar os pesadelos
de um passado que compartilhavam.
Quando estava servindo uma segunda taça de café, escutou um golpe na porta.
Provavelmente seria seu capataz, pensou. Harley Fowler, um aprendiz de aventureiro
que se passava o dia lendo revistas bélicas sem saber que seu chefe tinha sido um
autêntico mercenário., E não saberia nunca.
Nenhum de seus homens sabia estavam inteirados que tinha perdido a sua família
em um incêndio, mas ninguém sabia que tinha sido um mercenário e que o incêndio
tinha sido causado pelo Manuel López. E Cy preferia que seguisse sendo assim.
Estava cadeado de sua antiga vida.
Mas quando abriu a porta não se encontrou com o Harley, a não ser Ebenezer
Scott.

-Perdeste-te?- perguntou, passando-a mão pelo cabelo.


-Faz anos-rió Eb-. Convida a um café?
-Claro -disse o homem, convidando-o a entrar.
-Manuel López anda solto, não se se souber -disse Eb sem mais preâmbulos-.
Alguns de seus homens estão no Jacobsville.
Cy o olhou com expressão tensa.

-Está seguro?-perguntou tentando dissimular seu ódio.


-Sim.
-E o que faz aqui?
-Jessica Myers está no Jacobsville. Vive com seu filho e sua sobrinha, Sally
Jonson. Jessica conseguiu que um de seus homens lhe desse provas contra ele e
López a está procurando.

Cy fez um gesto impaciente.

-Brigar cara a cara não é o etilo do López. Ele é dos que lhe cravam uma faca
pelas costas.
-Sei. Isso é o que me preocupa -disse Eb-. Ontem à noite tentaram violar a Sally.
-A garota se encontra bem?
-Felizmente, cheguei a tempo. Os dois assaltantes terminaram com alguns ossos
quebrados, mas desapareceram. O que me diz da atividade ao norte de suas terras?
-Há todo tipo de veículos entrando e saindo-contestó Cy-. montaram uma espécie
de armazém, pelo visto para construir uma fábrica de mel -acrescentou furioso-.
Matt Caldwell levava anos tentando conseguir uma permissão de construção e agora
o dão a uma gente que ninguém conhece. E isso não é tudo. investiguei um pouco
por minha conta e a imobiliária que comprou os terrenos tem uma base no Cancún,
México.
-Cancún? -repetiu Eb-. Que interessante. O último que se sabe do Manuel López é
que comprou uma vila precisamente no Cancún.
-E que demônios tem que ver López com um negócio de mel?
-Obviamente, é uma coberta -assegurou Eb-. Pode que tenha eleito Jacobsville
porque é uma cidade pequena, isolada e em que os federais não se colocaram
nunca.

Cy se levantou da cadeira, todo seu corpo rígido de fúria.

-Esse homem matou a minha mulher e a meu filho!


-E conseguiu tirar o carro da Jessica da estrada. ficou-se cega -interrompeu-o
Eb-. veio aqui de Houston porque necessita amparo, mas vou necessitar ajuda, Cy.
Tenho que pôr um sistema de escuta em suas terras.
-Feito -disse Eb-. Há algo mais que eu possa fazer? -perguntou. Eb nunca tinha
visto aquela expressão de ódio no rosto de seu amigo. Provavelmente, era a mesma
que tinha tido o dia que sua família morreu no incêndio.
-Teremos que fazê-lo tudo de forma legal.
-Isso é novo -murmurou Cy, sarcástico.
-Reformei-me--sorriu Eb, sentando-se escarranchado sobre uma cadeira-. Quero
viver uma vida tranqüila, mas antes devo enviar ao López ao cárcere para sempre.
Por isso te necessito.
Cy se levantou a manga da camisa e lhe mostrou um braço cheio de terríveis
cicatrize. As que se causou ao tentar salvar a sua família das chamas.

-Vi-as antes, Cy. Se por acaso não o recorda, estive contigo no hospital.
-Não recordo muito daquela época. Consegui me salvar, mas já não seria de
muita ajuda se me visse encurralado.
-Não o estará.
-Embora pudéssemos enviar ao López ao cárcere outra vez, isso não impediria
que algum de seus homens de confiança seguisse dirigindo seu império. Já sabe
como estão organizadas estas bandas -disse Cy-. Operam como se fossem uma
multinacional.
-Sei. São eficientes e não têm piedade. Só Deus sabe quantos agentes perdeu a
brigada de estupefacientes, por não falar do departamento de polícia. Os
narcotraficantes não têm escrúpulos. Mas um dos homens do López se atreveu a
reunir provas contra ele. Só Jessica Myers conhece seu nome e não espero que
López abandone sua busca.
-Eu tampouco. Tem algum plano?
-Ainda não. Não podemos fazer nada sem ter provas e López terá muito cuidado
esta vez. Estava em liberdade sob fiança, mas se partiu a México -explicou Eb,
servindo uma taça de café-. Se podemos conseguir autorização para cravar as linhas
telefônicas do armazém uma vez esteja em marcha, poderemos conseguir provas.
Não sei se sabe, mas um de seus vizinhos pertence à brigada de estupefacientes e
se infiltrou em bandas organizadas muitas vezes.
-A maioria dos homens do López são hispanos.
-Este tipo poderia passar por hispano. Um tipo muito bonito, além disso. O pai de
sua mulher lhes deixou um pequeno rancho…
-Lisa Monroe -interrompeu-o Cy, apartando o olhar-. Poderíamos nos aproximar
do armazém. Se formos a cavalo, pareceria que estamos dando um passeio.
Eb foi procurar seus prismáticos ao jipe e quando chegou ao estábulo, o jovem
capataz do Cy tinha dois cavalos selados.

-Senhor Scout! - exclamou Harley ao vê-lo, olhando-o com admiração. Harley


conhecia a autêntica profissão do Eb pelas publicações militares que recebia.
-Conhecemo-nos?
-Não, senhor. Mas tenho lido muitas coisas sobre você.
-Já imagino -murmurou Eb, acendendo um puro.
-Vamos até o lindero norte para comprovar as grades -disse Cy, subindo com
muita dificuldade a seu cavalo. Para um homem que antes do incêndio, tinha estado
em esplêndida forma, aquilo devia ser uma humilhação, pensou Eb.
-Quem é? -perguntou quando saíram do estábulo.
-Meu novo capataz. É um autêntico <<mercenário>> -respondeu Cy, irônico-.
Esteve em um <<comando>> o verão passado.
-Um herói das pradarias, não?
-Miúdo herói. Certamente o que fez foi proteger aos turistas em algum
acampamento do verão.
-Recorda como fomos você e eu a sua idade? Estávamos desejando que a gente
nos visse vestidos de uniforme. E então nos inteiramos de que confusões autênticas
mercenários foram sempre de incógnito.
-Fomos como Harley. Tudo de boquilha.
-Paguem-lhe o que lhe paguem nunca é suficiente para o que terá que sufrir-
suspirou Eb.
-Sim, suponho que sim. Mas nosso melhor trabalho foi voar uma planta de
cocaína que dirigia López na América Central.
-Eu conheci seu pai -disse Cy então-. Um bom homem que morreu quando se
inteirou de quem era seu filho em realidade.
-Nunca se sabe como vão sair os filhos -murmurou Eb.
-Eu sim se como teria sido o meu -corrigiu-o Cy-. Um de seus professores teve
um acidente e Alex organizou uma coleta entre todos os meninos da classe. Pôs tudo
seu pagamento de um mês…-acrescentou com voz rota. Os anos não tinham
conseguido que as lembranças fossem menos dolorosos. Possivelmente se conseguia
enviar ao López a prisão, ferida-las começariam a curar, pensava.
-Apanharemos ao López, Cy. Custe o que custar, apanharemo-lo.
-Se for assim, me deixe a sós com ele cinco minutos.
-Não posso fazer isso. Temos que entregá-lo às autoridades vivo para que
possam julgá-lo.
-Já o fizeram uma vez.
-Mas houve uma falha. Esta vez me encarregarei pessoalmente de que se julgue
no Texas e que o advogado da acusação seja o melhor do estado.
-Suponho que tem razão. Não é culpa de ninguém que López possa pagar uma
assinatura de advogados que leva trajes do Armani.
-Assim é.

Neste momento chegaram ao lindero norte das terras. Através do arame de


espinheiro podiam ver um enorme armazém pré-fabricado. Desde sua posição sob as
árvores, Eb observava através dos prismáticos.

-Vê algo?
-Não conheço nenhum desses homens. Mas seguro que todos estão fichados.
López não é muito exigente e gosta dos homens sem escrúpulos -suspirou Eb-. E te
asseguro que não quero ter uma rede de distribuição de droga no Jacobsville.
-Eu tampouco.
-Será melhor que vamos. Acredito que nos viram.
-Pior para eles -sorriu Cy.
Eb sorriu também. Fazia tempo que não via sorrir a seu amigo.

Aquela tarde, Eb foi procurar a Sally e Stevie para sua lição de artes marciais.
Os olhos da Sally se iluminaram ao vê-lo e ele sentiu que lhe alegrava o coração.
-Como está Jessica?

Sally fez uma careta.

-Dallas acaba de chegar. Não se falam.


-As coisas se arrumarão, já verá.
-O que sabe sobre equipes de escuta? -perguntou Sally, pilhando-o por surpresa.
-Com minha experiência, você que opina?
-Ah, é verdade, perdoa. Se alguém colocar um microfone fora da casa pode
escutar o que se fala no interior? Ontem mencione ao López e Jessica me disse que
me calasse.
-Tem muito que aprender, Sally. E suponho que este é tão bom momento como
qualquer outro,

Quando chegaram ao rancho, Eb deixou ao Stevie na cozinha com o Carl, o


cozinheiro, e levou a Sally a uma habitação cheia de quipos eletrônicos.
Indicou-lhe que se sentasse e enfocou uma câmara de segurança por volta de
dois jeans que moviam o gado no prado. Depois, pulsou um botão e Sally pôde
escutar sua conversação. Nem sequer estavam falando em voz alta e, se havia um
microfone, devia estar colocado no celeiro, a muitos metros deles. Sally olhou ao Eb,
incrédula.

-A maioria das equipes modernas podem recolher um suspiro a cem metros -


explicou ele. Depois assinalou uma estantería com aparelhos que pareciam
prismáticos, mas mais sofisticados-. São prismáticos de visão noturna. Tenho outros
que podem detectar uma fonte de calor na escuridão.
-Sério?
-Há câmaras escondidas em pacotes de cigarros, armas que podem esconder-se
em pipas ou dentro de um sapato. Por não mencionar isto -disse Eb, assinalando seu
relógio. Parecia um relógio normal, mas quando tocou um botão da esfera saltou a
folha de uma faca. Sally lançou uma exclamação de horror-. vivi em sítios muito
perigosos, com gente muito perigosa. Até muito recentemente tempo, não podia
deixar de olhar por cima de meu ombro -explicou ele-. Os homens do López lhe
viram chegar pela estrada com uma câmara de visão noturna. Não o esqueça, Sally.
-Suponho que não queria acreditar que era um homem tão perigoso.
-O mais perigoso que conheço. Não tem compaixão por nada nem por ninguém.
Possivelmente pelos meninos. Dizem que é seu ponto débil.

Sally olhou a seu redor.

-Poderia estar nos escutando agora?


-Impossível.
-Isto parece a Guerra das Galáxias.
-Falando de filmes, ao Stevie e vocês gostariam de ir ao cinema na sábado?
-Podemos ir?
-Claro -respondeu ele. Seus olhos se iluminaram perversamente ante a idéia de
estar com ela em um lugar escuro…
Capítulo 6

Para a Sally, o treinamento começou a resultar mais fácil quando passaram das
quedas aos movimentos de defesa. Era excitante aprender e, além disso, desfrutava
de do contato físico com o Eb. E não podia escondê-lo.
Ao Stevie também divertia o treinamento. Mas, inclusive a sua curta idade,
entendia que as artes marciais não eram para as praticar no recreio a não ser em
caso de perigo.

-Muita gente acredita que o que estuda artes marciais é uma pessoa violenta,
mas não é assim. O que tentamos é fazer que a gente tenha confiança em si
mesmo. Se souber que pode te defender, é muito estranho que vá por aí provocando
brigas.

Sally o olhou uns momentos sem dizer nada.

-Ontem estive vendo um filme sobre mercenários. De verdade lançam


amadurecidas e foguetes?
-Entre outras coisas -respondeu Eb.
-Por exemplo?
-Explosivos de alta tecnologia, bombas com cargas de plástico, armas pequenas.
Mas a maior parte do tempo se dedica à espionagem. E te asseguro que não é muito
divertido.
-Dallas era um de seus homens verdade?
-Dallas, Cy Parks e Micah Steele, entre outros.
-Cy Parks era mercenário? -perguntou, surpreendida.
- Sim. Um dos homens do López acendeu sua casa em Wyoming, mas Cy se
salvou.
- E por que queria López queima sua casa?
- Essa é sua forma de fazer as coisas. Não pode imaginar os açougues que
organizou em México.
- Não sabia que houvesse gente como ele.
- Oxalá eu pudesse dizer o mismo-suspirou Eb-. Mas não vivemos em um mundo
perfeito. Por isso quero que aprenda a te defender.
- Para o que me serve a noite que me cravo a roda…-murmurou ela-. Se não
tivesse chegado a tempo…
- Mas o fiz. Não siga pensando nisso, não serve de nada-la interrompeu ele. Sally
o olhou, pensativa-. No que pensa?
- Em que durante todos estes anos tive uma imagem equivocada de ti.
- Aquela tarde faz seis anos…eu acabava de chegar de um banho de sangue na
África. Perdi à maioria dos homens de mim unidade e os amotinados lançaram uma
bomba sobre o palácio presidencial. Não era um bom momento.

Sally nomeou o país, para surpresa do Eb.

- Estávamo-lo estudando na classe de Ciências Políticas-le explicou.


- Foi uma operação muito custosa, perdemos muitos homens. depois disso, tentei
me dedicar solo a ensinar táticas- A guerra não é nobre, Sally.

Sally recordou então as cicatrizes de sua cara aquela tarde, cicatrizes que ela
tinha atribuído erroneamente a seu trabalho no rancho. Eb se aproximou, obrigando-
a a levantar a cara. Não era tanto a proximidade como sua forma de olhá-la-o que
fez que seu coração se acelerasse e Sally deu um passo atrás, olhando ao Stevie,
que seguia lhe dando murros a um saco de areia.

- Tinha-me esquecido de Stevie-murmurou ele, olhando seus lábios. Inclusive


sem maquiagem e com o cabelo revolto, estava bonita-. Uma destas noites vou levar
te a jantar. Dallas pode ficar com o Stevie e Jessica.
Até que disse aquilo, Sally tinha esquecido que estava em perigo, mas o recordou
então.

- Crie que devemos fazê-lo?


- claro que sim. Não podemos deixar de viver por culpa do López.
- Isso espero-suspiró ela-. Cy Parks sabe que López saiu que o cárcere?
- Sim. E vou ter que vigiá-lo. Cy nunca teve muita paciência. Não descansará até
que López esteja entre grades e se ele chegar antes, não haverá necessidade de
juicio-explicou Eb, passando-a mão pelo cabelo-. Não se pode atuar por raiva. A
raiva nubla a razão e pode te custar a vida.
- Não pode culpá-lo por odiar ao López. Pobre hombre-murmurou Sally.
- Inclusive inválido, Cy é mais homem que muitos que conheço.
- Eu não o vejo como um inválido. É muito atrativo.
Eb a olhou.
- Não quero que diga essas coisas.
- O que?
- Já me ouviste.
- Eu não sou propriedade de ninguém.
- Eu tampouco. Mas não quero que pense no Cy. te concentre em mim-disse ele,
tomando sua mão-. Têm umas mãos bonitas. As unhas curtas, cuidadas, sem
anéis…-murmurou, acariciando seu dedo anelar, enquanto ela tocava o selo de ouro
que ele levava no mindinho-. Era de meu padre-explicou-. Um grande soldado,
embora não fora o melhor pai do mundo.
- O sente falta de?
- Suponho que sim, a vezes-contestó ele, tocando o selo-, Isto passará a meu
filho, se tiver algum.
A idéia de ter filhos com o Eb fazia que a Sally lhe dobrassem os joelhos, mas não
disse nada. Eb parecia com dizer algo quando foram interrompidos.

- Tio Eb, olhe o que faço!- gritou Stevie, lhe dando uma patada ao saco de areia.
- Muito bem! Aprende muito rápido.
- Tenho que aprender rápido-disse o menino.
- Para que?
- Para lhe dar uma patada a esse senhor que faz chorar a meu madre-respondeu
Stevie.
- Dallas?
- Esse. Minha mãe estava chorando ontem à noite e quando lhe perguntei por
que me disse que era porque esse homem a odiava.

Eb se aproximou do pequeno.
- Sua mãe e Dallas se conheceram faz muito tempo, Stevie. Tiveram uma briga e
nunca voltaram a falar-se. Por isso chora.
- por que se zangaram?
- Não sei. Se quiserem, eles mesmos lhe dirão isso. Mas Dallas não é má pessoa.
- Está cheio de feridas -disse Stevie.
- Foi ferido em um tiroteio.
- De verdade? Quem lhe deu um tiro?
- Uns homens muito maus -respondeu Eb-. Esteve a ponto de morrer. Por isso
agora tem que caminhar com fortificação e por isso tem cicatrizes.
- Seu também tem cicatrizes -murmurou o menino, tocando sua cara.
- Sim, é verdade.
- Dispararam-lhe alguma vez?
- Várias vezes -respondeu Eb com sinceridade-. As pistolas são muito perigosas,
Stevie. Espero que saiba.
- Sei -disse o menino-, Um de meus amigos se pegou um tiro em um pé quando
jogava com a pistola de seu pai. Eu não vou jogar nunca com pistolas.
- Me alegro
- Mas a esse homem não gosta de minha mãe -insistiu Stevie-. A olhe com a
frente enrugada, assim…-explicou-. Ela não o vê, mas eu sim.
- Nunca lhe faria mal. Está ali para protegê-la quando você está no colégio.
- Claro. Porque eu a protejo quando estou em casa. Sou muito forte. Viu o que
tenho feito com o saco?
- claro que sim! -sorriu Eb-. Golpeia muito bem, mas tem que tomar cuidado com
os joelhos. Deixa que te ensine.

Sally os observava, encantada. Era uma pena que ao Stevie não gostasse de
Dallas porque algum dia teria que saber a verdade.

Eb parou o jipe frente à sorveteria e decidiu convidá-los a tomar um sorvete,


como recompensa pelo trabalho duro.
Enquanto os dois adultos se sentavam frente a uma mesa, Stevie se ocupou de
olhar a cristaleira no que vendia quinquilharias.

- Lhe dá muito bem -disse Eb.


- Seguro que a mim não -sorriu ela.
- Você não tem sua idade. Os meninos aprendem mais rápido que os adultos. Por
isso lhes ensinam idiomas no colégio.
- Suas falas algum idioma?
- Os que vêm do latim e vários dialetos africanos.
- Sério?
- Os idiomas são importantes para meu trabalho. Se tiver que trabalhar em um
país estrangeiro, não falar o idioma pode te custar a vida.
- Eu estudei espanhol na universidade. Ao princípio me dava fatal, mas logo
consegui lê-lo. É fascinante poder entender a um autor em seu próprio idioma.
Nunca tinha pensado que poderia entender parte do Quijote! Embora na Espanha se
publicam livros escritos nos diferentes idiomas do país.
- Blasco Ibáñez também fazia que o protagonista de Sangue e Areia, Juan
Galhardo, falasse no idioma de sua região.
- Sim
- Comecei a me sentir fascinada pelas corridas desde que li esse livro. E em
Internet encontrei a biografia de todos os matadores de princípios de século.
- Até que se lê ao Blasco Ibáñez, não se sabe quão perigosas são as corridas.
- Muitos autores espanhóis têm escrito sobre elas. Lorca, por exemplo, escreveu
um famoso poema sobre a remoo de seu amigo Sánchez Mejías no arena.

Eb apartou uma mecha de cabelo de sua frente.

- Sinto falta de conversações como esta. Embora alguns de meus homens têm
boa formação. De fato, Micah Steele era médico quando se uniu a meu grupo.
- por que abandonou a medicina?
- Ninguém sabe e ele não o há dito nunca.

Sally olhou a seu sobrinho, que seguia tomando o sorvete enquanto observava as
quinquilharias na cristaleira.

- É agradável passar o dia assim -suspirou-. Faz-me esquecer o perigo.


- Surpreende-me que López não haja tornado a tentar algo. E me preocupa.
- Possivelmente tem medo de que esses homens sejam detidos.
- Não o cria, Sally. Ele os carregaria antes de que tivessem tempo de falar. Pode
que seja isso o que passou. Nas bandas de narcotraficantes não há segundas
oportunidades. Nunca.
Sally sentiu um calafrio.

- Mantemos as portas e janelas bem fechadas.


- Não baixe o guarda, Sally. Sempre haverá alguém vigiando, mas você tem que
fazer sua parte.
- E te fazer saber onde e quando vou a algum sítio sozinha. Não o esquecerei.
Ele alargou a mão e enredou os dedos nos seus, olhando-a aos olhos.

- As coisas tampouco foram fáceis para ti, verdade? Sua vida se complicou a
partir dos dezessete anos.
- Trocou muito. Mas se tiver aprendido algo é que tudo troca.
- Suponho que assim é -murmurou ele-. Eu também aprendi algumas costure.
- Por exemplo?
Eb olhou suas mãos entrelaçadas.

- A não dar nada por descontado -respondeu. Ela o olhou, confusa-. Hei-te dito
que estive prometido uma vez? -perguntou. Sally assentiu com a cabeça-. Nunca lhe
contei o que fazia para ganhar a vida e ela nunca me perguntou -começou a contar
ele, apoiando-se no respaldo da cadeira-. Seus pais tinham morrido e ela e outro
menino de sua idade foram adotados por uma mulher muito rica. Eu me sentia
incômodo com meu segredo e o dia antes das bodas o contei. Maggie deixou o anel
sobre a mesa, recolheu todas suas coisas e parto. Três meses depois, casou-se com
outro homem.

Sally sabia que tinha estado prometido, mas não sabia que aquela mulher lhe
tinha importado tanto. A expressão de seus olhos lhe dizia que a dor não tinha
desaparecido.

- Não te chamou por telefone ou te enviou uma carta?


- Até que me encontrei com ela faz uma semana em Houston não tinha nem idéia
de onde estava. Sua mãe adotiva morreu pouco depois que rompêssemos.
O coração da Sally se parou durante uma décima de segundo.

- Viu-a em Houston?
O assentiu, sem precaver-se de sua expressão de surpresa.

- Resulta que é sócia da empresa de investimentos com a que eu estou


acostumado a trabalhar. E viúva -explicou ele, olhando-a intensamente-. Você está
em uma situação precária, Sally e estamos juntos devido a algo excepcional. Somos
amigos, mas não tem por que te gostar do que faço.

Todas as esperanças e os sonhos da Sally se derrubaram naquele instante.


<<Amigos>>. E isso eram, em realidade. Eb estava tentado proteger a de um
homem muito perigoso, ensinando-a a defender-se em caso de que a atacassem.
Isso não significava que ele queria compartilhar sua vida com ele.

- Se a uma mulher importasse o suficiente se arriscaria não crie? -perguntou, sem


olhá-lo.
- Não é tão fácil.

Sally não sabia que dizer e teve que apartar o olhar.


- Stevie, temos que ir carinho.

Eb não disse nada. Estava começando a sentir claustrofobia e não sabia por que.
Não falaram muito de volta a casa e Sally pensou que as lembranças de sua
prometida o tinham entristecido. Possivelmente ela o tinha amado mas o constante
perigo ao que o submetia sua profissão deveu ser mais do que podia suportar. Mas
Eb se retirou e isso já não era um obstáculo.
Aquele era um pensamento deprimente. Sua ex prometida era viúva., ele tinha
uma profissão segura e… acabavam de ver-se. Aquilo foi suficiente para que Sally
saísse do jipe e se despedisse a toda pressa com um sorriso forçado.
Enquanto conduzia para sua casa, Eb se sentia confuso. De repente, Sally se
comportava distante e não podia entender por que.
Eb se tinha posto em contato com a brigada de estupefacientes para informar
sobre os movimentos do López e seus levantes no Jacobsville. E também tinha
perguntado se havia possibilidades de infiltrar a um homem na banda. Não tinham
querido lhe dar uma resposta e, como Eb conhecia bem como trabalhavam, tinha
assumido que já havia alguém infiltrado, mas não pensava contar-lhe a ninguém.
Aquela noite, além disso, alegrou-se de ter cravado o telefone da Jessica.
Às duas da madrugada, o telefone começou a soar e Sally despertou
sobressaltada.

- me diga? -respondeu, meio dormida.


- Se não nos disser o nome antes do sábado, pagarão-o muito caro -escuto uma
voz seca ao outro lado do fio.
Sally se assustou tanto que pendurou o auricular e, durante uns segundos, esteve
olhando o telefone sem saber o que fazer. Aquela voz lhe tinha gelado até os ossos.
O telefone voltou a soar. Seu coração pulsava desbocado e tinha a boca seca,
mas desprendeu apesar de tudo.

- Tem uma última oportunidade -seguiu dizendo o homem-. Deve chamar a este
número de telefone na sábado a meia-noite e nos dar o homem. Se não, todos
sofrerão as conseqüências -acrescentou. Depois, deu um número de telefone e
pendurou. Sally soltou o auricular e o olhou horrorizada. Sabia que havia homens
vigiando, mas também estariam escutando?
O telefone soou uma terceira vez e ela desprendeu, aterrada.

- Não pudemos localizar a chamada -escutou a voz do Eb-. Encontra-te bem?

Sally fechou os olhos.

- Sim -respondeu por fim-. Estou bem. Ouviste-o?


- Sim. Não se preocupe
- Que não me preocupe? Quando um homem acaba de ameaçar nos matando a
todos?
- Não vai matar a ninguém -assegurou-lhe ele-. Dorme tranqüila.

Sally voltou a meter-se na cama e ficou olhando ao teto quase até o amanhecer.
Justo antes de levar-se ao Stevie ao colégio contou a Jessica o que tinha passado.

- Eb e outros estão pendentes de tudo -assegurou-lhe-. Mas não abra a porta a


ninguém.
- López só entra em ação quando suas demandas não foram obedecidas. Temos
até na sábado de noite para pensar algo.
- Maravilhoso. Temos dois dias. Seguro que para então conseguimos que López e
todos seus homens estejam no cárcere.
- vá trabalhar. Não vai ocorrer nada por agora.
Sally sabia que a vida não voltaria a ser a mesma depois daquilo e se perguntava
como tinha terminado vivendo aquele pesadelo.
Não a ajudou nada quando Eb voltou a chamar para dizer que o número de
telefone que o homem lhe tinha dado era o de um móvel roubado, impossível de
localizar até que alguém respondesse. E não haveria tempo de localizá-lo antes do
sábado de noite.
Era a notícia mais descorazonadora que Sally tinha escutado em muito tempo.

Capítulo 7
Eb estava preocupado pela mensagem do López porque sabia que não era uma
mera ameaça. López não tinha piedade. Tinha neutralizado a incontáveis inimigos e
não se deteria porque Jessica fora uma mulher.
Dallas e ele começaram a procurar um plano, sabendo que López ia atacar. Eb
pretendia ter gente em lugares estratégicos antes que os homens do López
encontrassem a forma de entrar na casa e levar a cabo as ordens daquele louco.
Algo era impossível, já que Jessica jamais lhe daria o nome de seu informador, nem
sequer para salvar sua vida.

-López sabe que estou aqui e que tenho profissionais treinados, assim enviará a
seus melhores homens.
-Poderíamos trazer para os três a seu rancho.
-Poderíamos, mas isso só pospor o inevitável. López não abandona nunca e não
podem ficar aqui. Sally tem que trabalhar e Stevie tem que ir ao colégio.

Dallas ficou em silencio durante um momento.

-Ao Stevie não gosta -murmurou-. Há-lhe dito a sua mãe que está aprendendo
karáte para me dar uma lição -acrescentou, olhando ao Eb com um brilho divertido
nos olhos-. Um menino com muito caráter.
-É verdade. É uma pena que tenha que crescer sem um pai. E antes de que me
diga nada -interrompeu-o quando Dallas ia replicar- já se que Jessica não te disse
quem era o pai, mas agora sabe.
-Sei -murmurou Dallas, irritado-. Mas não me vale de nada. Ela nem sequer quer
falar comigo. Assim que entro na casa, encerra-se em si mesmo e fica assim até que
me parto. Se logo que posso lhe dizer olá e adeus…
-E depois se vai à cama chorando porque acredita que a odeia.

Dallas abriu os olhos como pratos.

-O que?
-Por isso Stevie quer te pegar -respondeu Eb-. É um menino muito protetor.
-Vá. Então, Jessica não é tão indiferente como aparenta -murmurou Dallas,
apoiando-se na parede.
-Está preocupado, não é assim?
-Claro que o estou -respondeu Dallas-. Conheço o López e sei que contra esse
homem não há amparo possível.
-Então a nossa fará história -prometeu-lhe Eb-. Vamos a casa do Cy Parks. Quero
saber se pode ficar em contato com um grupo de comandos que estava acostumado
a infiltrar-se nas bandas de narcotraficantes.
-O chefe desse grupo era Bretman -sorriu Dallas-. Agora é juiz no estado de
Illinois. Imagina!
-Também estavam Vão Meer, que agora vive nas montanhas Rochosas com sua
família e Diego Laremos. Sabe algo dele?
-Vive no Yucatán e deixou o ofício. Esses tipos eram mais jovens que nós quando
começaram e fizeram uma fortuna.
-Então era um jogo diferente. As coisas trocaram muito. E as regras também. Nós
nunca tivéssemos podido fazer muitas das coisas que eles fizeram -disse Eb,
tomando as chaves do jipe-. Cy conhecia muito ao Diego e pode que este siga tendo
contato com um tipo que estava acostumado a trabalhar em México.
-Quem é?
-Canton Rourke.
-O rei dos ordenadores? -riu Dallas.
-O mesmo. É uma larga história, mas Rourke tem um amigo em México que seria
de grande ajuda nesta operação. Fez muitos trabalhos infiltrando-se em bandas de
narcotraficantes e viveu para contá-lo.
-Se queria nos ajudar seria perfeito.

Encontraram ao Cy nos estábulos, examinando a um cavalo doente.

-Vão dar um volta? -sorriu ao vê-los.


-Hoje não. Necessitamos um nome.
-Que nome?
-O do tipo que estava acostumado a trabalhar em México com o Rourke e Diego
Laremos.
-Rodrigo? -exclamou Cy-. Devem estar loucos.
-por que?
-Rourke me disse que é um renegado. Ninguém quer contratá-lo.
-O que tem feito? -perguntou Dallas.
-Fez explorar um navio cheio de cocaína que o governo mexicano queria confiscar
e que valia milhões. Além disso, seqüestrou um avião, destroçou vários carros e
entrou em um escritório do governo para roubar papéis. Depois, viram-no
embebedando-se no Panamá, com uma mala cheia de dinheiro negro que pertencia
ao Manuel López…
-Estamos falando do mesmo Rodrigo que os federais consideravam um homem
de gelo? -perguntou Eb, surpreso.
-Fui-dijo Cy.
-Alguém sabe por que se tornou tão louco?
-Há muitos rumores -encolheu-se Cy de ombros-. Mas se quiserem a alguém que
odeie ao López, Rodrigo é seu homem. Tenho o telefone de contato em meu
escritório. Irei por ele -acrescentou, saindo do estábulo. Voltou uns minutos depois
com um papel no que tinha escrito um número de telefone-. Este é o último número
que tenho. Mas seguro que conseguirão lhes pôr em contato com ele.
-Sabe um pouco do Laremos?
-Falamos todos os anos, em Natal.
-Muito obrigado, Cy. Agora será melhor que vamos-se despediu Eb.

Quando voltaram para rancho, Eb chamou o número que Cy lhe tinha dado.
Alguém desprendeu ao outro lado do fio e lhe deu umas instruções. Tinha que deixar
seu número de telefone e seu nome e pendurar imediatamente. Fez-o e uns minutos
depois, seu telefone começou a soar.

-Tem uma escola de táticas em Telhas -disse uma voz.


-Sim.
-ouvi falar de ti. É amigo do Cy Parks.
-Cy e eu estávamos acostumados a trabalhar juntos, com Dallas Kira e Micah
Steele.
-Se está procurando a alguém para que vá a América Central, te esqueça.
puseram um preço a minha cabeça.
-Não é um trabalho na América Central. Preciso infiltrar a alguém em uma banda
de narcotraficantes em telhas -disse Eb.

Ao outro lado do fio houve uma pausa.

-Que classe de banda?


-Manuel López. Quero colocá-lo no cárcere para sempre.

O homem se lançou então a descrever o que pensava do Manuel López, seus pais
e todos seus ancestros em espanhol e em inglês.

-Estamos de acordo em tudo -sorriu Eb-. Está interessado?


-Em matá-lo, sim. Em levá-lo ao cárcere, não, de ali pode seguir dirigindo a
banda.
-Enquanto ele está dentro, alguém poderia infiltrar-se e destruir a organização -
sugeriu Eb-. De fato, a razão pela que López tem problemas no Jacobsville é que um
de seus homens reuniu provas contra ele.
-Segue falando -disse Rodrigo.
-López está tentando matar à antiga agente de governo que conseguiu convencer
a esse homem para que o delatasse. Só está fora do cárcere até que haja um novo
julgamento e está utilizando esse tempo para tentar carregar-se ao informador e a
agente. Se consegue fazê-lo, nunca voltará para o cárcere. De fato, já se saltou a
liberdade condicional. Está em México.
-Não me diga. Puseram-lhe um milhão de dólares em fiança e ele os pagou em
dinheiro -disse Rodrigo, sarcástico.
-Exatamente

Ao outro lado do fio houve um segundo de dúvida.

-Estou contigo.
-Uma só coisa mais. López te conhece?
-Não me viu nunca. Veremos-dijo-nos o homem antes de pendurar.

Eb levou a Sally para jantar aquela noite, no novo Jaguar que estava acostumado
a usar quando ia à cidade.

-Gosta de ir a Houston?

Ela assentiu, incômoda. prometeu-se a si mesmo não voltar a sair com ele depois
de saber que tinha visto sua ex prometida e, entretanto, ali estava. Mas não queria
voltar a arriscar seu coração e decidiu ser agradável, mas distante.
Eb o notou, mas não entendia a razão. Com muita dificuldade podia apartar os
olhos dela aquela noite. Levava um vestidito negro decotado e estava preciosa.
-Seguro que esta é uma boa idéia? -perguntou ela-. Sei que Dallas cuidará da
Jessica e Stevie, mas…
-López é um demônio, mas um demônio muito previsível -interrompeu-a ele-.
Dará a Jessica exatamente até na sábado a meia-noite e não fará nada até então.
Às doze e cinco, começaremos a nos preocupar.
-Do que vai servir ao López matar a Jessica? Se estiver morta, não poderá lhe dar
o nome de seu informador.
-Faz-o para dar o exemplo. Mas acredita que lhe dará o nome para salvar a seu
filho. Faria-o você?
-É uma decisão terrível -admitiu Sally-. A idéia de que alguém faça mal ao
Stevie…
-Ninguém lhe fará mal -assegurou Eb-. Os homens do López não poderão dar um
passo sem que alguém se o límpida.
-Oxalá seja certo.
-A vida é assim, Sally. Terá que aceitar as coisas boas e as más. Os bons tempos
não nos fazem mais fortes.
-Suponho que tem razão -murmurou ela, apoiando a cabeça no respaldo de
couro-. eu adoro o aroma dos carros novos.
-Este tem algumas modificações.
-Não me diga que tem uma metralleta no escapamento?
-Tem de deixar de ver filmes do James Bond-riu Eb.

Sally olhou seu perfil. Seguia sendo um homem muito atrativo aos trinta e seis
anos. Sabia que não podia esperar nada permanente com ele, mas às vezes olhá-lo
era suficiente para fazê-la feliz.
Eb se deu conta de que o estava observando e a olhou, desfrutando da tímida
admiração nos olhos cinzas.

-você gosta de dançar? -perguntou.


-Claro. vamos dançar?
-Vamos a um restaurante que tem uma orquestra. Um sítio sofisticado…com
alguns de meus amigos colocados estrategicamente, é obvio.
-Deveria havê-lo imaginado.
-Você gostará -prometeu-lhe ele-. E a meus amigos não os verá sequer. Nunca
chamam a atenção.
-Você sim chama a atenção.
-Se isso for um completo, obrigado -sorriu Eb-. Seu também chama a atención-
acrescentou olhando-a com olhos ardentes.

Sally teve que apartar o olhar. Mas adorava a idéia de dançar com ele, estar entre
seus braços… Era algo com o que tinha sonhado quando estava no instituto, mas
que nunca se feito realidade.

-Está seguro de que Jessica e Stevie estão protegidos?


-Seguro. Dallas está dentro e há dois homens fora da casa. Além disso, já te hei
dito que López não atacará até na sábado.
Sally se imaginava que sua larga experiência lhe dava essa segurança, mas não
podia deixar de preocupar-se com sua família. Se ocorria algo enquanto estava fora,
nunca o perdoaria a si mesmo.

O restaurante era tão discreto que quão único chamava a atenção eram os carros
de luxo estacionados frente à porta.

-É precioso, Eb - disse Sally, quando o maitre os sentou perto do grupo de jazz


que animava aos casais a dançar.
-Tenho que admitir que é um de meus restaurantes favoritos.
-Já vejo por que -murmurou ela.
Eb não sorriu. Olhava-a com intensidade e Sally quase podia escutar os
batimentos do coração furiosos se seu coração.

-Eb! -escutaram uma voz feminina atrás deles-. Que coincidência!


Sally soube imediatamente quem era a mulher. Não podia ser outra que a ex
prometida do Eb.

CAP 8

-Olá, Maggie -disse Eb, levantando-se para saudar a bela moréia de olhos verdes
que em seguida se pendurou de seu braço.
-Me alegro muito de voltar a verte -sorriu a mulher, apaixonada-. Recorda a meu
meio-irmão, Cord Romero? -perguntou, assinalando a um homem alto e moreno que
ia com ela.
-Claro. Como está, Cord?

O homem, tão alto e forte como ele, saudou-o com um movimento de cabeça.

-Sally, apresento ao Maggie Barton e Cord Romero. Querem lhes sentar conosco?

O coração da Sally se afundou quando viu o brilho de alegria nos olhos da


mulher.

-Não será uma intromissão? -perguntou Cord.


-Absolutamente -disse Sally.
-me permita -disse Cord, apartando a cadeira para ela.
-Obrigado.

Eb a olhou com uma expressão indefinível antes de voltar-se para o Maggie.

-Que coincidência lhes haver encontrado aqui.


-Foi idéia do Cord -disse Maggie-. É melhor sair com sua meio-irmã que com
ninguém, verdade? -tentou sorrir, sem consegui-lo de tudo.
-Suponho que sim -murmurou ele.
Sally sentia curiosidade por aquele homem. Devia ter a mesma idade que Eb e
tinha também a mesma expressão de estar permanentemente alerta.

-Uma de meus amigas vai dar uma festa no Cancún em Natal -murmurou Maggie,
roçando com um dedo a mão do Eb-. por que não vem comigo?
-Não posso. Tenho muito trabalho -respondeu ele, com um sorriso amável.
-Poderia te retirar definitivamente. Estou segura.
-E que faria? Tomar o sol no alpendre de minha casa?
-Não quis dizer isso. Queria dizer que poderia deixar de viver dessa forma tão…
perigosa.
-É uma velha discussão e já sabe qual é a resposta, Maggie.

Ela apartou a mão com um suspiro.

-Sim, sei. Leva-o no sangue -murmurou olhando involuntariamente ao Cord.

Sally se sentia incômoda. Olhava suas unhas curtas e as comparava com as largas
e sofisticadas unhas do Maggie. A diferença era quão mesma havia entre elas;
Maggie era elegante e chamativas, ela discreta, pratica e…aborrecida. Ao lado da
exótica Maggie, sentia-se insignificante.

-A que te dedica, Sally? -perguntou Cord.


-Sou professora de primário.
-Você não gostaria de dar classes em um instituto?
-Tentei-o quando fazia as práticas e ao final da classe, aquilo era um zoológico.
Temo-me que a disciplina não me dá muito bem.
-A meu sim me dava bem, mas ao diretor do colégio não gostava de meus
métodos -disse Cord então.
-É professor?
-Fui professor de Ciências durante um ano quando terminei a universidade, mas
logo deixei a profissão -respondeu o homem-. Dava-me conta de que tinha outras
habilidades…em um campo completamente diferente.
-E o que é o que faz?
-lhe pergunte ao Eb -respondeu o homem-. Podemos pedir já? Estou faminto.

Eb chamou o garçom com gesto sério. Foi o jantar mais tenso que Sally tinha tido
que sofrer em sua vida. Maggie e Eb falavam sobre gente que só os dois conheciam,
enquanto ela se concentrava na comida.

Cord era amável, mas não tentou retomar a conversação. Ao final do jantar,
quando os dois casais se separavam, Maggie apertou a mão do Eb com força.

-Pode dever jantar conosco outra noite?


-É possível -respondeu Eb-. Encantado de voltar a verte, Cord.

Cord assentiu e depois olhou a Sally.

-Prazer em conhecê-lo
-O mesmo digo -disse ela.
Quando estiveram dentro do Jaguar, Eb a olhou com uma expressão que a deixou
geada.

-Não fazia falta que o animasse.


-O que?
-Ouviste-me -respondeu ele-. Estava-te comendo com os olhos -acrescentou,
acariciando seu decote com os olhos. Sally não sabia que dizer e enquanto o
pensava, Eb lhe aconteceu uma mão pelo pescoço e a atraiu para ele-. E eu também
-sussurrou roncamente, abrindo os lábios com os seus, devorando-a. Ao mesmo
tempo, deslizou a mão por seu decote e começou a acariciar seu peito.
-Eb! -exclamou ela, surpreendida.

Ele seguiu acariciando-a com um ritmo lento e sensual que a fez abrir a boca para
lançar um gemido e que ele aproveitou para aprofundar o beijo de uma forma tão
claramente possessiva que Sally perdeu a cabeça. Eb sentiu os dedos nervosos dela
tentando desabotoar os botões de sua camisa e, impaciente, desabotôo-se três
botões e levou sua mão sobre um torso peludo até um diminuto mamilo tão duro
como o que ele acariciava com seus dedos.
Sally estava aturdida pela paixão que se desatou tão repentinamente e não
encontrava forças para questionar as liberdades que se estavam tomando em um
estacionamento público. Em realidade, não lhe importava nada exceto ele não
parasse. Eb não podia parar, mas devia fazê-lo…
E o que fez, de repente. Tomou suas mãos entre as suas e respirando
entrecortadamente se apartou.

-Não -murmurou.

Ela olhou seus olhos obscurecidos, confusa. Eb deslizou o olhar por seu vestido e
ao observar os gestos visíveis de sua excitação apertou a mandíbula. Seu próprio
corpo sofria uma agonia, mas seria muito pior se não paravam imediatamente. Ela
era muito tentadora e aquele era o pior momento. Se perdia a cabeça por ela
naquele momento, poderia lhes custar a vida.

-Tenho que te levar a casa -disse entre dentes.

Sally assentiu. Tinha a garganta seca e quão único podia fazer era olhar pela
janela.
Foi uma viagem de volta silencioso e triste para os dois. Ele estava preocupado,
distante, e Sally se perguntava se estaria lamentando a decisão que tinha afastado
ao Maggie de sua vida. Maggie devia ter quase a mesma idade que Eb, mas seguia
sendo uma mulher muito atrativa e não terei que ser muito preparado para dar-se
conta de que seguia apaixonada por ele. O que Eb sentia por ela era mais difícil de
saber.

-Maggie e Cord são meio-irmãos de verdade? -perguntou, esclarecendo-a


garganta.
-Em realidade, não -respondeu Eb-. A senhora Barton os tirou os dois do mesmo
orfanato. Ela adotou seu sobrenome, mas Cord conservou o seu. Eu acredito que
Maggie lhe tem certo medo.
-por que?
-Porque, no fundo, está apaixonada por ele. Sempre pensei que se comprometeu
comigo para evitar a tentação.
-por que há dito ele que te perguntasse qual era seu trabalho?
-Porque é meu colega. É um perito em demolições.
-Esse é um trabalho muito perigoso
-Certamente. Sua esposa morreu faz quatro anos. Se suicidó -explicou Eb-. Cord
nunca pôde superá-lo.
-por que se suicido?
-O estava trabalhando para o FBI e caiu ferido uns meses depois de casar-se.
Após, as missões nas que participava o afastavam de casa ou o devolviam ferido e
ela não pôde suportá-lo.
-Suponho que Cord se sente culpado.
-Sim. Foi então quando Maggie rompeu comigo. Dizia que não queria terminar
como Patricia -explicou Eb-. Algo ocorreu entre o Cort e Maggie depois do funeral
da senhora Barton. Eu não sabia, mas pelo visto essa foi a razão pela que se casou
apressadamente.
-Cord é um homem…especial.
-Sim -murmurou Eb-. É um mercenário endurecido. Quando Patricia morreu,
deixou de trabalhar para o FBI e entrou em uma unidade de comandos especiais.
especializou-se em demolições e a isso é ao que se dedica.
-Quer morrer -murmurou Sally.
-É muito perceptiva. Eu também penso isso. É uma pena que Maggie e ele não se
dê conta do que sentem.
-Não se sente atraído por ela? -perguntou Sally, sem olhá-lo.
-Não. É uma mulher encantadora e me teria casado com ela se as coisas tivessem
sido diferentes, mas não acredito que tivesse podido viver comigo. toma as coisas
muito a peito.
-E eu não? -perguntou Sally.
-Às vezes. Mas você é uma mulher muito forte.
-Pode que seja verdade, mas se dedicasse às demolições parece que sairia
correndo.
-Que é exatamente o que fez Maggie -disse Eb-. Está ciumenta.
-Sim - respondeu, com sinceridade.
-Isso é muito adulador -sorriu ele-. Maggie é pare de meu passado e não sinto
nenhum desejo de retomar antigas paixões. Exceto a que compartilhamos você e eu
-acrescentou. Sally voltou a cabeça e seus olhares se encontraram-. Se quiser,
poderíamos procurar uma estrada deserta…

Sally duvidou um instante. Uma coisa era que ocorresse de forma espontânea,
mas planejar fríamente um interlúdio sensual com o Eb… Sabia que se deixaria levar
até o final e possivelmente não estava preparada.

-Não há pressa. Temos todo o tempo do mundo -sorriu ele ao ver que duvidava.
-Você crie?
-Não vou deixar que te ocorra nada. Jamais, Sally.
-Dá-me pânico esse López.
-Ninguém pode aproximar-se da casa sem que o vejamos. Meus homens levam
umas equipes muita sofisticadas.
-Mas é um homem tão diabólico…
-vou provar lhe de uma vez por todas que não pode sair-se com a sua.
-Como se leva aos tribunais a um homem que pode comprar um país inteiro?
-Cortando a fonte do dinheiro -respondeu Eb-. Sem cabeça, a serpente não pode
ir muito longe.
-Já entendo.
-Deixa de preocupar-se, Sally.
-Tentarei-o.

Eb tomou sua mão e a apertou com força.

-Parece-me que vou começar a lhes levar ao Stevie e a ti ao colégio todos os


dias.
-por que?
-Porque três quilômetros são muitos quando não se leva amparo.
-por que se meteria Jessica nesta confusão…? -começou a dizer ela, assustada.
-Recorda que López faz entrar neste quarta país parte das drogas que se vendem
pelas ruas, Sally. Milhares de meninos e jovens morrem por culpa dela.
-É verdade. Estava sendo egoísta.
-Não é egoísta preocupar-se com a vida da gente que alguém quer -disse Eb
antes de levar sua mão aos lábios para beijá-la-. Hei-te dito que está muito bonita
esta noite?
-Obrigado.

Eb tinha que fazer um esforço para manter os olhos na estrada. Tivesse-lhe


gostado de parar o carro e lhe fazer o amor, mas sabia que não podia fazê-lo devido
às circunstâncias. Quão único os homens do López esperavam era uma oportunidade
e ele não pensava lhes dar nenhuma.
Quando chegaram a sua casa, as luzes estavam acesas e Dallas estava fumando
no alpendre.

-Aconteceste-lo bem?
-Muito bem -respondeu Eb-. O que faz aqui?
-Jessica tem tosse e não queria irritá-la com o cigarro.
-Falam-lhes?

Dallas riu brandamente.

-Ao menos deixou que me atirar coisas.


-O que te atirou? -perguntou Eb.
-O primeiro que encontrava à mão. Felizmente, Stevie está em seu quarto vendo
a televisão e não se inteirou de nada -respondeu o homem, levantando-se-. Estarei
por aí com o Smith -acrescentou, desaparecendo entre os arbustos.

Eb e Sally o olharam, divertidos.


-boa noite. Tenta dormir -despediu-se Eb. Beijando-a brandamente nos lábios.
-De acordo -sorriu ela-. Obrigado pelo jantar.
-Tivesse sido melhor sem companhia, mas foi inevitável. A próxima vez estaremos
sozinhos.
-Feito.

Eb a observou entrar na casa e fechar a porta com chave. Enquanto se voltava


para o carro, ia pensando que logo que ficavam vinte e quatro horas para que os
homens do López tentassem um ataque.

Sally ficou parada na porta do salão ao ver o resultado da briga de Dallas e


Jessica.

-meu deus! -exclamou.


-Ele me provocou -murmurou sua tia-. Há-me dito que me tornei preguiçosa e
que quão único faço é estar tiragem no sofá. O que quer que faça, conduzir um
caminhão?
-Não se preocupe -disse Sally, enquanto recolhi às peças de cerâmica do chão.
-Acusou-me que estar louca por não dar o nome ao López. Diz que uma boa mãe
não poria a vida de seu filho em perigo. Então foi quando lhe atirei o floreiro. E
espero lhe haver dado na cabeça.

Sally nunca tinha visto sua tia tão alterada.

-Ultimadamente não é você mesma, Jessica.


-Claro que sou a mesma! Mas agora tudo o que digo ou faço é um engano,
segundo esse homem!
-Dallas não parece uma má pessoa.
-Eu não hei dito que seja mau. Mas se insuportável, paternalista e soberbo -
replicou Jessica, apartando uma mecha de cabelo da frente-. Além disso, estava-se
rendo todo o tempo.
-Seriam risadas de dor, Jessica.
-Para fazer machuco a Dallas teria que lhe colocar uma bomba dentro da camisa.
-Uma medida um pouco drástica, não te parece?

Jessica suspirou.

-Ódio as discussões, mas lhe encantam -murmurou-. Ensinou ao Stevie a trançar


uma corda.
-Acreditei que Stevie queria lhe pegar.
-Estiveram conversando no alpendre, não se do que -confessou sua tia-. Mas
pareciam estar acontecendo-o em grande. E então me disse que eu poderia lhe
ensinar muitas coisas a meu filho, em lugar de estar sentada frente a uma televisão
que nem sequer podia ver.
-Já entendo.
-É uma pena que me tenha ficado sem coisas para lhe atirar -murmurou Jessica,
irritada-. Estava a ponto de lhe atirar o abajur quando me disse que se ia ao
alpendre -suspirou-. Bom, que tal seu jantar?
-Regular. Encontramo-nos com sua ex prometida no restaurante.
-Maggie? Como vai?
-Muito bonita e… acredito que segue interessada pelo Eb. Se não tivesse sido por
seu acompanhante, um tal Cord Romero, nos teria seguido até aqui.
-Como está Cord?
-Conhece-o?

Jessica assentiu.

-Não sei se Eb te contou…


-Se, há-me dito que sua esposa se suicido.
-Estava louco por ela, mas seu trabalho é muito perigoso e difícil de aceitar para
uma mulher de caráter débil.

Sally ficou olhando pela janela, perguntando-se como se sentiria ela nas mesmas
circunstâncias. Sabia que poderia adaptar-se à vida do Eb, mas a questão era
convencer o de que era assim… e de que ele a necessitava tanto como o necessitava
ela.

Capítulo 9

na sábado, Sally estava em tensão.

-Tem que confiar no Eb -disse-lhe Jessica-. Ele sabe o que faz. López não poderá
nos fazer nada.

Sally fez uma careta.

-Não estou preocupada conosco. É Stevie…


-Dallas não deixará que lhe ocorra nada mau.

Sally sorriu, recordando os objetos quebrados a noite anterior.

-Ao menos lhes falam.


-Apenas -brincou Jessica-. Pior ao Stevie agora cai bem. Honestado discutindo
sobre luta livre sabe?
-Luta livre! -riu Sally.
-A verdade é que é bastante interessante, embora não posso ver o que fazem.
Mas me explicaram os movimentos-sonrió Jessica-. Por certo, o que te pareceu Cord
Romero?
-É o ex-professor mais estranho que vi em minha vida -respondeu Sally.
-Não estava feito para esse tipo de trabalho. Mas dedicar-se às demolições
tampouco é uma grande profissão. Uma pena. Qualquer dia destes, sua necrologia
aparecerá nos periódicos.
-Eb me disse que Maggie está apaixonada por ele.
-Sempre pensei que se prometeu com o Eb para dar ciúmes ao Cord, mas não
funcionou. Ele nem sequer se fixa nela.
-Cord se dedica a um trabalho perigoso como Eb. E se supõe que essa foi a razão
pela que Maggie o deixou.
-Se amas a um homem, sua profissão não te importa. Além disso, Maggie não é
nenhuma dissimulada. Uma vez a atacaram uns ladrões e lhes golpeou com uma
lanterna que levava na bolsa. Tiveram que lhes dar um montão de pontos -riu
Jessica-. Maggie poderia ter suportado a profissão do Eb, mas não o amava de
verdade.
-Eb diz que já não se sente atraído para ela.
-E por que ia fazer o? É uma mulher bonita, mas ele tampouco esteve nunca
realmente apaixonado por ela. Eb queria estabilidade e pensou que a encontraria
com o Maggie, mas em realidade, encontrou-a depois de um combate na África,
justo aqui no Jacobsville.
-Crie que algum dia se casará?
-Quando estiver preparado -respondeu Jessica-. Mas não acredito que seja com o
Maggie.
-Jessica, você sabe onde está seu informante agora?

Sua tia negou com a cabeça.

-Perdemos contato quando López foi detido. Acredito que voltou para México.
-E se o informador se traísse a si mesmo?
-Isso não vai ocorrer, Sally. E não vou lhe dar ao López seu nome porque sei que
o mataria a sangue frio.
-Sei que não o fará. Eu tampouco o faria. Mas tenho medo.
-Passará logo, não se preocupe. O que tenha que ser, será. Mas não posso me
trair a mim mesma nem trair meus ideais para tentar me salvar.
-Entendo-te.
-Sally, Eb é um dos melhores em seu trabalho e López sabe. Não se lançará de
cabeça a nos atacar porque sabe que estamos protegidos.
-E se tiver mísseis ou armas parecidas?

A vários quilômetros de distância, um homem de olhos verdes lhe dava ordens a


um subordinado nesse mesmo instante. Não estaria mal comprovar aquela
possibilidade. Sally estava muito nervosa, mas poderia ter razão.

Manuel López era um homem pequeno com grandes ambicione. Tinha quarenta
anos, estava começando a ficar cravo e era cínico e cruel dos pés à cabeça. Frente a
uma das janelas de sua mansão em México, estava lançando maldições. Um de seus
subordinados, nervoso, acabava de lhe dar más notícias.

-Só são um punhado de homens -disse-lhe o sicário-. Não serão um problema se


enviarmos um comando contra eles.

López se voltou e cravou no homem seus olhos castanhos.


-Se mandarmos um comando, o FBI enviará outro com mais homens, estúpido.
-Para então, seria muito tarde.
-Já tenho suficientes problemas com os Estados Unidos! Isso lhes daria uma
desculpa para enviar um comando de infiltrados e me levar de volta! Quero o nome
do informador, não entrar nessa casa e matar a todo mundo.

O sicário ficou olhando o tapete.

-Ela nunca nos dará o nome. Nem sequer para salvar a vida de seu filho.
-Porque até agora as ameaças não foram mais que palavras. Terá que fazê-lo
real, entende-me? Esta noite, exatamente às doze e cinco, um helicóptero
sobrevoará essa casa e lançará uma bomba de fumaça. Esse será o ataque que
anteciparam…mas não o verdadeiro.
-Provavelmente terão mísseis -objetou o homem.
-São muito brandos para usá-los -sorriu López, sarcástico-. Por isso ganharemos
nós. Não temos escrúpulos e eles sim. E agora, escuta. Desfarão-lhes de um dos
zeladores do colégio como é e um de vós se fará pára por ele. Tem que ser um
homem que conheça a cara do menino.
-Quer que o seqüestremos?
-Isso.
-E onde o levamos?
-À casa que alugamos ao lado dos Jonson. Não seria essa a maior das ironias? -
sorriu López fríamente-. Mas ninguém lhe fará mal ao menino. Espero que não
tenham esquecido o que lhe passou ao homem que acendeu a casa do Parks em
Wyoming. Está claro? -perguntou. O outro homem tragou saliva-. Se alguém lhe
tocar um cabelo a esse menino, eu pessoalmente me encarregarei de castigá-lo. Não
estou neste negocio para matar meninos. Possivelmente essa minha única virtude -
acrescentou voltando-se para a janela-. Me faça saber quando tudo está preparado.
-Sim, senhor.

López ficou sozinho e seus olhos se obscureceram. Tinha presenciado o


assassinato de sua mãe e seus irmãos à mãos do chefe de uma guerrilha quando era
um menino. Seu pai era um pobre lavrador que tinha que matar-se trabalhando de
sol a sol, mas tinha conseguido levar a seu filho a Telhas quando tinha dez anos.
López tinha visto seu pai aceitar qualquer trabalho para sobreviver e inclinar a
cabeça ante os todo-poderosos americanos e aquilo lhe tinha deixado um amargo
sabor de boca. Tinha jurado que quando fora um homem não seria pobre, custasse
o que custasse. E, apesar das recomendações de seu pai, logo tinha encontrado o
caminho para consegui-lo.
López olhou o tapete branco que estava pisando, um dos sonhos de sua
juventude. Seu dinheiro saía das drogas e a morte. Era imensamente rico e
poderoso. Uma palavra sua lhe custava a vida a muita gente. Mas era uma existência
vazia e amarga. Ao princípio, tinha-o feito por vingança, para esquece o assassinato
de sua mãe e seus irmãos e depois… só por dinheiro e poder. Um passo tinha levado
a outro. Era um homem sem piedade e sabia que algum dia teria que pagar por seus
pecados. Mas até esse momento, estava decidido a encontrar ao homem que o tinha
vendido às autoridades americanas. Era uma ironia que a vingança o tivesse levado
a poder e que, naquele momento, fora a vingança o que estava a ponto de derrubá-
lo. Amaldiçoava a aquela agente federal por negar-se a lhe dar o nome, mas a
obrigaria a dar-lhe Conseguiria o nome do traidor a toda costa.

López olhou para baixo, para a praia, recordando o vestido branco, a cara pálida
e os olhos mortos da mulher que tinha amado mais que a nada no mundo. Isabella
Medina, recordou, angustiado. Nunca antes tinha amado a uma mulher. E aquela se
converteu no mais importante de sua vida, mas quando tinha tentado beijá-la
durante uma festa em seu iate, Isabella se apartou com expressão de asco e ele,
furioso, tinha-a empurrado. Isabella tinha cansado pela amurada, desaparecendo
sob a água.
Seus homens a tinham procurado até o amanhecer e depois uns pescadores
tinham encontrado seu corpo flutuando na praia. A morte da Isabella tinha arruinado
para sempre sua vida. López lamentava profundamente que seu temperamento o
tivesse feito reagir daquela forma e que isso lhe houvesse flanco o mais precioso de
ou vida. Tinha-a matado. Estava maldito, pensava. Maldito para sempre. E
provavelmente o merecia.
Desde aquela noite quão único pensava era em encontrar ao homem que o tinha
delatado. Nada o tinha feito feliz após. Nada poderia fazê-lo feliz jamais.
López pensou na Jessica Myers e em seu filho, no medo que ela sentiria quando
soubesse que o tinha seqüestrado. Então lhe daria o nome do informador. Teria que
fazê-lo. E ele, por fim obteria sua vingança.

Eb não se aproximou da casa em todo o dia. depois de colocar ao Stevie na


cama, Jessica e Sally se sentaram o salão e olharam o relógio até que deram as
doze.

-É a hora -murmurou Sally com voz rouca, tentando conter os nervos.

Jessica se limitou a assentir. Como Sally, sua postura era um pouco rígida. Tinha
tomado uma decisão e todos foram pagar por ela. Seu filho, sua sobrinha…
Nesse momento, escutaram o som de um helicóptero sobre suas cabeças.

-Ao chão! -gritou Jessica. Nesse momento, escutaram uma explosão e, através da
chaminé, começou a entrar uma fumaça espessa. Fora, escutavam o helicóptero e
ruído de disparos se chocando contra o metal. Imediatamente depois, um som como
o de um foguete seguido de uma terrível explosão. Tinham derrubado ao
helicóptero-. Sally, encontra-te bem?
-Sim. Temos que sair daqui -disse ela, tossindo-. A fumaça vai afogar nos!

Sally ajudou a Jessica a levantar-se e a deixou na porta antes de correr para tirar
o Stevie da cama. Era como um pesadelo, mas não havia tempo para pensar.
Os três saíram ao alpendre a toda pressa e Sally viu que Eb se dirigia correndo
para elas, mas era um Eb que logo que reconheceu. Ia vestido de negro com a
cabeça coberta por um pasamontañas e levava uma arma automática na mão.
Outros homens, vestidos como ele, dirigiam-se correndo para a parte traseira da
casa.
-Venham comigo -disse Eb, levando-os para seu jipe-. Esperem aqui até que
comprovemos toda a casa.

Eb desapareceu e Stevie se apertou entre os braços de sua mãe. Embora o


ataque tinha sido o esperado, era mais aterrador do que Sally tivesse podido
imaginar.
Um golpecito no guichê a fez dar um salto, sobressaltada. Era Dallas, que se tirou
o pasamontañas, sonriendo.

-derrubamos o helicóptero, mas só lançaram uma bomba de fumaça.

Sally não disse nada, mas sabia que sabia que alguém devia ter pilotado o
helicóptero. A idéia de que um homem tivesse morrido ali mesmo a fazia sentir-se
doente.

-Todo mundo está bem? -perguntou Jessica-. ouvimos disparos.


-Graças a Deus, não feriu -respondeu Dallas, alargando o braço para acariciar sua
cara-. Não se preocupe. Não deixarei que lhes ocorra nada.

Jessica apertou a mão do homem contra sua bochecha, afogando um soluço e o


homem colocou a cabeça pelo guichê para beijá-la brandamente nos lábios.
Impulsivamente, Stevie o abraçou. Observando-os, Sally se sentia vazia e
sozinha. Já eram uma família, embora não se deram conta.
O walkie talkie de Dallas começou a emitir sons nesse momento.

-Tudo limpo -escutaram a voz do Eb-. vou chamar ao delegado. Levaremo-nos


aos três ao rancho a passar a noite. Sally?
-Sim? -respondeu ela, quando Dallas lhe aproximou o walkie talkie.
-Vêem me ajudar a procurar um pouco de roupa.
-De acordo.
-Dallas, pode te levar a Jessica e Stevie ao rancho. Reuniremo-nos ali.

Quando Sally entrou em salão, Eb estava pendurando o telefone e parecia


furioso. Não disse uma palavra quando a viu entrar, pálida e assustada. Só abriu os
braços.
Sally correu por volta dele e Eb a deixou chorar durante um momento.

-Não sou nenhuma covarde, de verdade -sussurrou ela depois-. Mas não estou
acostumada a que minha casa se bombardeada.

Eb riu brandamente.

-Só era uma bomba de fumaça, felizmente. López é um homem de palavra e


tinha que atacar esta noite.
-Maldito López.

Eb levou a Sally até o dormitório para que colocasse algumas costure em uma
bolsa de viagem.
-Temos que esperar ao delegado. Esta é sua jurisdição e me temo que vou ter
que lhe dar muitas explicações.
-vou ter que pagar uma fiança por ti? -tentou brincar ela.
-Faria-o?
-É obvio.

Eb tomou pela cintura e a apertou contra seu peito.

-O perigo é um afrodisíaco, sabia? -sussurrou com voz rouca, antes de inclinar-se


para tomar sua boca com urgência, apertando seus quadris contra as dele.
Sally se sentia indefesa e seu corpo se arqueou para o corpo masculino. Devolvia-
lhe o beijo ardentemente, gemendo quando o abriu as pernas para colocá-la entre
elas, deixando-a sentir sua poderosa ereção.
depois de uns segundos selvagens, Eb se apartou, sem soltá-la, olhando-a com
olhos ardentes.

-Levo esperando isto muito tempo -murmurou, inclinando-se de novo para


procurar sua boca. Abraçava-a com tal força que parecia querer transpassá-la-.
depois da explosão não sabia o que ia encontrar quando entrasse na casa -disse o
ao ouvido-. O helicóptero voava sob o radar e não ouvimos nada até que lançaram a
bomba…

Sally não tinha imaginado que Eb tivesse medo por ela. Era maravilhoso.
Abraçou-o com mais força e sentiu que o homem tremia.

-Assustamo-nos um pouco -sussurrou ela-. Mas estamos bem.


-Não esperava sentir isto…-disse ele entre dentes.
-O que sente, Eb?

Os olhos verdes do homem encontraram os suaves olhos cinzas dela.

-Estou-murmuró, apertando-se deliberadamente contra ela sem deixar de olhá-la


aos olhos.

Sally se ruborizou.

-Faz seis anos sábia que foste ser um problema -sussurrou beijando-a de novo,
ferozmente, antes de apartar-se para tentar recuperar o controle. Ela estava
tremendo depois do encontro mais explosivo que tinha vivido em sua vida-.
Tampouco você havia isto sentido, verdade? -perguntou em voz baixa. Sally negou
com a cabeça, incapaz de falar-. Se te consolar, a partir de agora será pior. Pensa
nisso.

Eb se deu a volta e saiu da habitação deixando-a confusa e desorientada.

O delegado Bill Elliott, e dois de seus ajudantes chegaram uns minutos depois e
interrogaram brevemente a Sally. Depois, Eb a levou a rancho, deixando alguns
homens na casa.
-Não acredito que López vá tentar o outra vez esta noite, mas não vou arriscar
me.
-O que vamos fazer agora?
-Até que isto termine ficarão em minha casa. Ao menos ali há uma habitação que
não está <<cravada>> -respondeu Eb, olhando seus peitos descaradamente. Sally
sabia por que o dizia e seu coração começou a pulsar desbocado-. Não se preocupe.
Não deixarei que as coisas vão muito longe.

Ela não estava preocupada por isso. O que se estava perguntando era como
poderia seguir vivendo se lhe fizesse o amor e depois a abandonasse.

Eb mostrou suas habitações a Dallas, Jessica e Stevie e depois lhes deu as boa
noite, afastando-se com a Sally pelo corredor.

-Onde vamos?
-À cama. Estou cansado. Você não?
-Sim.

Sally imaginou que a levava a habitação que ela ia ocupar, mas Eb entrou com
ela em um enorme dormitório e fechou a porta.

-Pode te pôr a parte de acima e eu me porei as calças -disse, tirando um pijama


masculino da cômoda.
-Eb… -começou a dizer ela, surpreendida.

Ele tomou em seus braços e a beijou lentamente com deliberada sensualidade,


introduzindo as mãos por debaixo de sua camiseta.
Sally lançou um gemido quando o desabotoou o prendedor e a acariciou com
ânsia. Seu corpo se arqueava para ele como por vontade própria.

-Não vou fazer te danifico -sussurrou Eb-. Mas esta noite vais dormir entre meus
braços.

Ela começou a protestar, mas a boca do homem voltou a cobrir a sua,


sossegando-a, sossegando suas dúvidas.
Eb lhe tirou a camiseta e o prendedor e a olhou com olhos possessivos, como se
queria beber a beleza daquela pele tão suave. inclino-se para seus peitos e começou
a beijá-los brandamente, cada carícia mais ardente que a seguinte, antes de lhe tirar
os jeans e as sapatilhas, deixando-a solo com a braguita. Depois, pô-lhe a camisa do
pijama e a levantou em braços para levá-la à cama. Quando esteve entre os lençóis,
inclinou-se sobre ela e observou seu rosto fascinado e pálido.

-Voltarei quando tiver terminado de comprovar os monitores.

Ela não se incomodou em protestar.

-De acordo.
Os olhos de homem se iluminaram.

-Que durma bem - murmurou, beijando suas pálpebras.

Sally o observou sair da habitação, sem saber que significava aquela despedida.
Estava tão cansada que dormiu quase assim que fechou os olhos.

Capítulo 10

Sally teve sonhos violentamente apaixonados aquela noite. movia-se arqueando-


se para prolongar o quente e doce contato. Seu corpo queimava, doía. Sussurrava
palavras ininteligíveis a um fantasma sem cara, lhe rogando que não parasse. Em
seu ouvido escutou uma suave risada e o roce de uma bochecha sem barbear onde
seu coração pulsava frenético e de repente lhe ocorreu que aquilo era muito vívido
para ser um sonho.
Quando abriu os olhos, a luz que entrava pela janela iluminava um cabelo
castanho com reflexos loiros sobre seu peito. Ela tinha enredado as mãos nele e
então se deu conta de que tinha o pijama aberto

-Eb! -exclamou.
-Não passa nada. Só estas sonhando -sussurrou ele, incorporando-se para tomar
sua boca. Sally sentiu o pêlo masculino roçando seu peito nu e notou que ele
enredava as pernas com as suas. Sentiu o calor de seu corpo, a ternura de suas
mãos e sua boca.
-Sonhando?
-Isso -respondeu ele, olhando-a aos olhos-. E é um sonho precioso -acrescentou
em um sussurro, admirando tudo o que o pijama aberto não cobria-. Mais bonita do
que tinha imaginado.
-Que horas são? -perguntou ela, confusa.
-Está amanhecendo -respondeu Eb, apartando o cabelo de sua cara-. E todos
dormem -acrescentou, tombando-se de costas e colocando-a sobre ele-. ia deixar
que e despertasse sozinha, mas não pude. Com a camisa do pijama médio
desabotoada, o cabelo sobre meu travesseiro…Não imagina quão preciosa está ao
amanhecer. Como uma fada, rodeada de um halo dourado. Irresistível para um
homem que jejuou durante tanto tempo como eu.
-Quanto tempo jejuaste? -perguntou ela, acariciando seu peito.
-Anos -respondeu ele, procurando seus olhos-. E por isso hei posso o despertador
na habitação de Dallas e soará dentro de…cinco minutos. Ele despertará a Jessica e
ao Stevie e seu sobrinho virá a te buscar. dá-se conta de que estou cuidando de sua
virtude, senhorita Johnson? -brincou. Sally olhou seu peito nu e levantou uma
sobrancelha irônica-. Hei dito virtude, não modéstia. Eu não seduzo vírgenes, em
caso de que o tenha esquecido-aclaró, ficando sério-. Sally, o mas difícil que tive que
fazer em minha vida foi me apartar de ti aquela tarde faz seis anos- tive sonhos
apaixonados, te recordando. E sigo teniéndolos-acrescentou, acariciando seu peito-.
E você também, a julgar pelo que vi quando subi faz dez minutos. Tombei a seu lado
e você começou a me tocar de uma forma que… melhor não lhe digo isso.
-Que eu tenho feito o que? -perguntou ela, assustada.
-Quer sabê-lo? Muito bem -sorriu Eb, inclinando-se para lhe dizer ao ouvido. Sally
lançou um grito horrorizada-. Não tem porque te assustar. A meu encantou.

Sally se tinha posto tinta até a raiz do cabelo, mas ele parecia estar acontecendo-
o em grande.

-Por uns segundos, esqueci-me do López e todo o resto -murmurou Eb, com os
olhos obscurecidos-. vivi que sonhos durante muito tempo, Sally.
-Sonhos?

Ele assentiu. Tinha deixado de sorrir.

-Desejava-te faz seis anos. E sigo fazendo-o, mais que nunca -murmurou-. Eu sou
seu lar. Onde eu vá, irá você -acrescentou. Sally não entendia aquilo e o olhou com
os olhos interrogantes-. Por isso sei de ti, meu estilo de vida não te assusta. Tem
espírito e coragem e não tem medo de dizer o que pensa. Não penso voltar a partir
do país e vou seguir ensinando táticas de combate, mas deixarei de fazê-lo quando
chegarem os meninos.
-Os meninos?
-O resultado do que estamos fazendo são os meninos -sorriu Eb-. Bom, não
exatamente, não o que estamos fazendo agora, mas se levássemos menos roupa e
fizéssemos algo mais, esse seria o resultado.

Sally o olhou, incrédula.

-Quer ter um filho comigo?


-Quero ter muitos filhos contigo -sussurrou ele, com solenidade.

Sally o olhou com o cenho franzido. Ele não tinha falado de amor, nem de
matrimônio.

-O que ocorre?
-Minha reputação no colégio…
-Crie que te estou pedindo que vivamos em pecado?-perguntou ele com fingida
indignação.
-Não há dito nada de nos casar.
-De verdade crie que passo tanto tempo contigo para te ensinar karáte? -riu
Eb-.Querida, demoraria anos em aprender técnicas suficientes para te defender dos
homens do López. Traga-te aqui só para poder te tocar.
-De verdade? -sorriu Sally.
-Vê o baixo que tenho cansado? Tinha que te dar tempo de maturar. Não queria
uma adolescente louca por mim, queria uma mulher adulta que pudesse me olhar
frente a frente.
-Acredito que posso fazer isso -murmurou ela, acariciando seus ombros.
-Eu também acredito. Você molesta o que faço para ganhar a vida, Sally?
-Não -sorriu ela.
Eb respirou profundamente e cravou nela um olhar mais possessivo que nunca.

-Então, solucionaremos o problema da Jessica e nos casaremos.


-Sim -sussurrou ela contra a boca do homem.

Uns segundos mais tarde, estavam tão perto que Sally não estava segura de
poder apartar-se. Felizmente, alguém bateu na porta.

-Tia Sally! -escutou a voz do Stevie-. Quero tomar o café da manhã mas não
encontro os cereais de chocolate!

Sally riu quando Eb conseguiu me separasse da confusão de braços e pernas com


um gemido de agonia.

-Irei em seguida!
-por que está fechada a porta? -perguntou o menino.
-Vamos Stevie, seguro que encontramos algo rico na cozinha -escutaram a voz de
Dallas.
-Vale!

As vozes se afastaram pelo corredor. EB estava convexo com os braços debaixo


da cabeça e sorriu quando Sally o olhou com os olhos cheios de amor.

-Quase nos pilha.


-Sim.

Ele olhou a camisa aberta do pijama uma vez mais e, com decisão, incorporou-se
para grampear os botões.

-Possivelmente a comida seja um substituto suportável para o que realmente


quero.
-Farei que te alegre de ter esperado -sussurrou Sally, beijando-o brandamente
nos lábios.

Vários acalorados minutos mais tarde, reuniram-se com outros na cozinha, mas
Eb não mencionou seus planos de bodas. Esteve falando sobre as regras que terei
que seguir a partir de então, começando pela segurança que necessitavam Sally e
Stevie para ir ao colégio na segunda-feira.

-Stevie pode deixar de ir ao colégio até que isto se termine -sugeriu Dallas-. Não
quero me arriscar, Eb.
-Eu tampouco -disse Jessica-. Mas a verdade é que López tem debilidade pelos
meninos. O que ocorreu com o filho do Cy Parks é algo que ninguém pode explicar-
se. Não acredito que faça mal ao Stevie.
-Estou de acordo com isso -disse Eb.
-Então, o melhor será seguir fazendo as mesmas coisas de sempre e esperar a
que López cometa um engano.
-O que acontece Rodrigo?
-Chamou-me ontem à noite. Parece que tem um parente que trabalha para o
López em Houston, um parente longínquo que não sabe qual é a profissão do
Rodrigo, e lhe conseguiu trabalho de condutor para a operação que estão levando
aqui -explicou Eb-. Assim que consigamos que López deixe de emprestar atenção a
Jessica, essa operação será nosso seguinte objetivo.
-Não pode falar com o delegado para que prenda a esses homens?-perguntou
Sally.
-por agora o único que temos contra eles é uma conexão longínqua com o jede
de uma banda de narcotraficantes, mas não podemos prová-lo. A menos que os
pilhemos com droga, do que poderíamos acusá-los? Construir um armazém é legal
neste país.
-Por isso vamos cravar o assim que tenhamos oportunidade -disse Dallas, olhando
a Jessica e ao Stevie com expressão preocupada-. Mas primeiro terá que resolver os
problemas imediatos.

Jessica alargou a mão e Dallas a apertou com força.

-Tudo se arrumará -murmurou-. Não podia lhe entregar ao López a vida desse
homem. Essa pessoa o arriscou tudo para me dar as provas.
-Não será fácil encerrar ao López uma segunda vez, Jessica. Tem suficiente poder
com o governo mexicano para evitar sua extradição -disse Eb-. Bom, amanhã pela
manhã eu seguirei a Sally até o colégio e Dallas os seguirá à volta. Estaremos em
contato todo o tempo e esperaremos o melhor.
-O melhor seria que López abandonasse-dijo Dallas.
-Mas isso não vai ocorrer.
-pensaste em te pôr em contato com seu informador? -perguntou Dallas a
Jessica-. Se pudéssemos conseguir que voltasse para os Estados Unidos…
-Não sei onde está, Dallas. E a gente que poderia me ajudar a encontrá-lo
morreu.
-Todos eles?

Jessica assentiu, suspirando.

-Todos, justo antes de meu acidente.


-É possível que Rodrigo possa inteirar-se de algo -disse Dallas.
-É muito possível -assentiu Eb-. Jessica, já sei que não quer pôr a seu informador
em perigo, mas ao Rodrigo poderia lhe confiar seu nome. vamos necessitar o.

Jessica duvidou um momento.

-De acordo -disse por fim-. Mas tem que prometer que não dará a ninguém essa
informação. Posso confiar nele?
-Fui-contestó Eb.
-De acordo então. Quando podemos fazê-lo?
-Amanhã, depois do colégio. Farei que Cy Parks se encontre com ele de forma
<<acidental>> e lhe aconteça uma nota. Desse modo, López não suspeitará.

Jessica apoiou a cabeça sobre o ombro de Dallas.


-Oxalá tivesse feito as coisas de forma diferente. arrisquei a vida de tanta gente…
-Qualquer de nós teria feito o mesmo -murmurou Dallas-. E conseguiu que
prendessem o López, Jessica. Mas os advogados sabem bem como encontrar
enganos legais.
-Obrigado -murmurou a mulher.
-vais casar te com minha mãe, Dallas? -perguntou então, Stevie.
-Stevie!
-claro que sim -riu o homem-. Embora ela não sabe ainda. O que te parece?
-me parece muito bem! -exclamou o menino, entusiasmado-. Poderemos ver a
luta livre na televisão!
-É verdade -disse Dallas, olhando a seu filho com orgulho.

Sally sorriu ao observar a cena. Tudo ia sair bem, estava segura.

Eb a seguiu até o colégio à manhã seguinte, a uma prudente distancia, e quando


estiveram dentro do edifício, sentiu-se segura.

-Tudo vai sair bem, verdade, tia Sally? -perguntou o menino na porta de sua
classe.
-Eu acredito que sim -respondeu Sally, acariciando seu carita.
-Senhorita Johnson, aqui cheira muito mal! -disse então um dos meninos.

Sally comprovou que o que o menino dizia era certo. Era muito estranho, pensou.
Encarregado-los da limpeza sempre mantinham as salas-de-aula muito limpa.

-Será melhor ir procurar um zelador -murmurou. Quando saiu ao corredor,


encontrou ao Harry, um dos zeladores, faxineira em mão-. Olá, Harry. Precisamente
ia te buscar. Cheira mal na classe, importaria-te passar a faxineira?
-Claro que não… -começou a dizer o homem. Nesse momento, uma das rodas do
cubo de metal se dobrou-. Terei que ir por outro cubo. Algum destes meninos tão
fortes pode me ajudar?
-Eu irei! -gritou Stevie.
-Você pode me ajudar com um cubo tão grande?
-Claro, eu estudo karate!
-Então, vamos jovencito -brincou o homem-. Voltaremos em seguida, não se
preocupe.
-De acordo.

Sally observou ao menino desaparecer pelo corredor ao lado do homem, sem lhe
dar importância ao incidente. Até cinco minutos depois, quando Stevie não havia
tornado.
Assustada, baixou ao quarto de limpeza. Ali estava o cubo com a roda rota, mas
não havia rastro do Stevie. Harry, entretanto, sim estava ali. No chão. Alguém o
tinha golpeado na cabeça. Sally correu ao escritório para chamar o Eb e a uma
ambulância. Deveria haver-se imaginado que aquilo podia passar, dizia-se. Como
podia ter sido tão ingênua?
Eb chegou ao colégio com o chefe da polícia uns minutos depois. Procuraram por
todo o colégio, mas Stevie não aparecia por nenhuma parte. Outro dos zeladores
recordava ter visto um homem levando um menino da mão até uma caminhonete
marrom.
Com esta informação, a policita lançou um boletim urgente. Mas era muito tarde.
Encontraram a caminhonete cinco minutos depois, abandonada. Mas Stevie não
estava por nenhuma parte.

Aquela tarde, esperaram uma chamada que sabiam ia chegar. E quando soou o
telefone, foi Eb quem respondeu. Sally e Jessica estavam desfeitas em lágrimas.

-Agora a mãe do Stevie me dará o nome que quero -disse uma voz, geada-. Ou
seu filho não voltará para casa.
-tiveram que sedá-la. Está desfeita -disse Eb.
-Tem uma hora. Nem um segundo mais -disse o homem antes de pendurar.

Eb lançou uma maldição.

-O que fazemos? -perguntou Sally.

Eb chamou o Cy Parks.

-conseguiste dar a mensagem ao Rodrigo? -perguntou-lhe.


-Sim -respondeu o homem, antes de lhe dar um número de telefone-. Vos desejo
o melhor.
-Obrigado.

Eb pendurou e marcou o número que Cy lhe tinha dado. O telefone soou uma
vez, dois, três, quatro vezes.

-Vamos! -murmurou Eb entre dentes. Alguém desprendeu ao outro lado-.


Rodrigo?
-Sim.
-vou pôr a Jessica Myers ao telefone. Vai te dar um nome. Já sabe o que tem que
fazer.
-De acordo.

Eb deu o auricular a Jessica e lhe fez um gesto a todo mundo para que saísse da
habitação.

-O nome de meu informante é Isabella Medina… -começou a dizer Jessica.

Ao outro lado do fio, Jessica acreditou escutar um gemido de dor.

-Mas é que não sabe? -exclamou Rodrigo.


-Saber o que?
-Isabella morreu no Cancún justo antes de que prendessem o López.
-meu deus.
-Como é possível que não soubesse?

Jessica se passou a mão pela frente.

-Perdi contato com ela antes do julgamento e…


-Esse é o nome que procura López? -interrompeu-a Rodrigo.
-Sim -respondeu ela-. E tem a meu filho!
-Então não perde nada por lhe dar o nome.
-Mas é possível que não a recorde…
-Estava louco por ela -voltou a interrompê-la Rodrigo-. Dizem que ele a matou,
mas é obvio, não há provas. E, obviamente, não sabia que ela era seu informador -
acrescentou com amargura-. Lhe dê o nome. Isso o pacificará e evitará que lhe
ocorra algo a seu filho.
-Conhecia a Isabella?
-Era minha irmã -respondeu Rodrigo com voz afogada pela dor-. Lhe diga ao
Scott que estaremos em contato. Quando tiver algo concreto, chamarei-o.
-O direi. Obrigado.
-De nada.

Jessica chamou o Eb e, um segundo depois, todos voltavam a entrar na


habitação.

-O que passou?
-Meu informador está morto.
-E agora que fazemos? -perguntou Rally.
-Vou dar o nome ao López -disse Jessica-. Agora não poderá lhe fazer danifico.
Era uma mulher tão valente… Seus pais tinham sido assassinados pelo López e teria
feito o que fora para reunir provas contra ele.
-Sinto muito -disse Eb.
-Eu também -murmurou Jessica-. E se López não me crie?
-Acreditará-te.
-Esperemos -disse Dallas.
-Conseguiremos que não devolva ao Stevie, Jessica -disse Sally, abraçando a sua
tia-. Não se preocupe.
-O que faria sem ti? -soluçou Jessica.
-Logo saberá -sorriu Sally-. vou ser sua dama de honra.
-Possivelmente seja umas bodas dobro -disse Eb.
-O que?
-vou casar me com sua sobrinha, Jessica. Sempre quis fazê-lo -disse ele, olhando
a Sally com olhos cheios de amor.

Lhe devolveu o olhar, mas estava muito preocupada com a Jessica para fazer o
que tivesse desejado nesse momento.

-López devolverá ao Stevie, verdade?


-com certeza que sim -respondeu Eb.

Sally olhou a Jessica, que tinha a cabeça apoiada sobre o peito de Dallas. Parecia
que sempre tivessem estado assim. As coisas tinham que sair bem. López tinha uma
só virtude; não gostava de fazer machuco aos meninos. Mas Sally não estava segura
de tudo. Só rezava para que estivesse a seu lado são e salvo.

Capítulo 11

Exatamente uma hora depois, o telefone voltou a soar e aquela vez foi Jessica
quem respondeu.

-me diga.
-O nome -escutou uma voz geada.
-Quero que entenda que nunca tivesse dado o nome de meu informador em
outras circunstâncias. Mas nada do que diga pode danificá-la agora.
-me dê o nome -insistiu López.
-Isabella Medina.

O gemido rouco que escutou ao outro lado do fio lhe assegurou que Rodrigo
havia dito a verdade.

-Isabella… -repetiu o homem. López não disse nada mais e seu silêncio durou
tanto que Jessica pensou que tinha pendurado-. Eu a amava, mas ela não queria
saber nada de mim. Deveria me haver dado conta!
-Você a matou, verdade? -perguntou Jessica, com frieza.
-Sim -respondeu López. Mas sua resposta não tinha divulgado violenta,
justamente o contrário-. Foi um acidente, mas já não posso fazer nada para lhe
devolver a vida. Ela sabia coisas sobre mim que não sabia ninguém mais. Me ocorreu
que fazia muitas perguntas, mas fui tão estúpido que pensei que ela… -López fez
uma pausa-. O menino será devolvido são e salvo. Estará na loja de brinquedos
dentro de dez minutos e não voltarei a ser uma ameaça para você nem para seu
filho. Lamento…tantas coisas -a voz do homem tinha trocado tanto que Jessica
pensou que falava com uma pessoa diferente. Um segundo depois, pendurou o
telefone.

Jessica sustentava o auricular na mão, incrédula.

-O que há dito? -perguntou Dallas.


-Que Stevie estará na loja de brinquedos em dez minutos. São e salvo -repetiu
ela, incrédula.
-Vamos - disse Eb.
-E se tiver mentido?
-López sempre foi um homem de palavra, Jessica -disse Dallas-. Temos que
esperar que siga sendo assim.

Jessica rezava enquanto foram de caminho ao Jacobsville. Sally a olhava,


angustiada, enquanto Eb sujeitava sua mão.
Os minutos pareciam horas e quando chegaram frente à loja de brinquedos,
Jessica saltou do carro ajudada por Dallas.
Eb e Sally seguiram ao casal e ali encontraram ao Stevie, jogando com um
elefante mecânico.

-Está bem! -exclamou Dallas.


-Stevie! -chamou-o sua mãe.
-Mamãe! -gritou o menino, correndo a seus braços-. Eu tinha medo, mas me
ensinaram a jogar às cartas e me deram um refresco, assim me passou. Você tinha
medo?

Jessica logo que podia falar e apertava ao Stevie entre seus braços, como se não
queria voltar a deixá-lo ir jamais.

-Deixa que desfrute um pouco da reuniu -murmurou Dallas.

Stevie o abraçou com força.

-Agora não tenho papai, mas você será um estupendo, Dallas. Iremos aos
combates de luta livre e os descreveremos a mamãe, verdade?
-Sim - respondeu o homem com os olhos brilhantes-. Faremo-lo, Stevie.

Jessica se abraçou aos duas e Sally apertou a mão do Eb, aliviada.

-Posso-me levar o elefante? -perguntou em menino.


-Pode te levar o circo inteiro se quiser -sorriu Dallas.

Uns minutos depois, os cinco entravam no jipe.

-Poderia nos deixar em casa, Eb? -perguntou Jessica. Eb duvidou segundo-. López
há dito que deixaria de me incomodar e a verdade é que sua voz soava… não sei,
quase diria arrependida. Quem sabe? Até os criminosos têm alma.
-Um dia o apanharemos -disse Dallas-. Isto não se terminou e vai pagar por tudo
o que tem feito. De alguma forma evitaremos que mote um negócio de drogas no
Jacobsville.
-Rodrigo e Cy estão vigiando a operação. Se podemos lhe cortar a cabeça, a
serpente morrerá.
-Amém -assentiu Dallas.

-De verdade crie que López não voltará a incomodar a Jessica? -perguntou Sally
quando estiveram sozinhos.
-Sim. É um criminoso, mas sua palavra é de ouro -respondeu Eb. Sally estudou
seu perfil, fascinada-. ocorreram muitas coisas desde ontem à noite. Segue sendo
verdade o que me disse ao amanhecer?
-O que me casaria contigo?
-Sim.
-É obvio. Quero viver contigo durante toda minha vida.
-E não te incomodará ter mercenários correndo por toda parte? -brincou ele.
-por que ia incomodar me? depois de tudo, serei a mulher de um mercenário.
-Me alegro de que me tenha esperado, Sally.
-Eu também -disse ela, apertando sua mão.
-Quer que nos casemos pelo civil ou pela igreja?
-Pela igreja -disse ela imediatamente-. Quero um matrimônio para sempre.
-Eu também. E terá que comprar um vestido branco e um véu. Não só vais ser a
esposa de um mercenário, mas também a virtuosa esposa de um mercenário. Quero
verte percorrer o corredor com um véu sobre a cara para poder levantá-lo depois de
nos haver prometido amor eterno.

Sally sorriu com todo seu coração.

-Isso seria maravilhoso. Há uma boutique em…


-iremos comprar o em Houston e quero que seja um vestido de desenho -
interrompeu-a ele-. Recorda que vais casar te com um homem rico. Por favor, faz-o
por mim. Quero que seja a noiva mais bonita do mundo.
-Muito bem -sorriu ela, com olhos cheios de amor. Só havia uma pequena
preocupação-. E Maggie?
-Maggie é um capítulo fechado de minha vida. Queria-a, a minha maneira, mas
ela nunca esteve apaixonada por mim.- Respondeu ele-. Quero-te, Sally. Se não fora
assim, não te teria pedido que te casasse comigo.
-Eu também te quero, Eb. Sempre te quererei.
-Alguns sonhos se fazem realidade -murmurou ele, apertando sua mão.

Foi o evento social do ano no Jacobsville. Na primeira fila estavam a mãe da Sally,
Dallas, Jessica e Stevie. Nas demais, Maggie, Cord Romero e dúzias de elegantes
convidados que formavam parte do passado do Eb.
Sally caminhou pelo corredor do braço de seu pai, com um precioso vestido
branco de raso e um véu que acentuava seu aspecto virginal.
Eb estava esperando-a no altar, com um traje cinza e uma rosa na lapela. voltou-
se para escutar o rumor dos convidados e cravou nela um olhar que fez que lhe
dobrassem os joelhos.
A cerimônia foi breve, mas emocionante e quando Eb levantou seu véu para
beijá-la pela primeira vez como seu marido, seus olhos se encheram de lágrimas.
Na porta da igreja, Sally atirou o ramo e Dallas o apanhou para dar-lhe a Jessica.
Depois, entraram em uma limusine e foram ao rancho para trocar-se de roupa
antes de tomar um avião de pequeno porte que os levaria a Porto Vallarta para uma
breve lua de mel.
A viagem foi fatigante e Sally decidiu relaxar-se no jacuzzi enquanto Eb reservava
mesa no restaurante. Depois, seu marido se meteu na banheira com ela. Eb teve
que rir ao ver sua expressão, mas logo Sally esqueceu a surpresa de ver seu marido
sem roupa pela primeira vez e se perderam em um abraço que não conhecia
obstáculos.
Eb a beijou até que ela teve que separar-se para procurar ar.

-Onde? -perguntou o, acariciando-a meigamente-. Aqui ou na cama?

Sally logo que podia falar.

-Na cama -respondeu com voz rouca.


-Parece-me muito bem.

Eb saiu da banheira e a tirou braços, colocando-a sobre seus joelhos para secá-la
com uma toalha.
Sally sabia que a primeira vez sempre era dolorosa, embaraçosa e incômoda, mas
a sua deveu ser uma exceção. Eb era um homem com muita experiência e a excitava
até voltá-la frenética. Quando por fim começou a acariciá-la intimamente, Sally se
arqueava para ele, lhe rogando que a possuísse.
E ficou sem fôlego quando sentiu pela primeira vez a invasão do homem.
Escutava o som de sua dificultosa respiração mesclando-se com seus gemidos de
prazer, que se incrementavam com cada investida.
Banha teve que afogar um grito quando ele se apartou um pouco e começou a
acariciá-la com um dedo sem deixar de mover-se.
Eb riu brandamente enquanto aumentava o ritmo e seguia acariciando a da forma
mais íntima possível, sem deixar de sussurrar palavras que a faziam ruborizar-se.
Sally se encontrou a si mesmo suspensa em alguma parte, fora do mundo, enquanto
lhe parecia estar caindo por um escarpado imaginário.
E o sentiu a ele caindo com ela, sentiu o prazer que recebia o homem de uma vez
que o seu, parecia não terminar nunca. Sally se perguntou bobamente se
sobreviveria a aquilo. Todo seu corpo tremia enquanto a envolviam ondas de prazer
e se apertava contra seu marido, lhe rogando que não parasse.
Quando estava exausta, ele a apertou entre seus braços e a cobriu com o lençol.

-Dorme -sussurrou-lhe ao ouvido.


-Assim?
-Assim -respondeu ele, sem apartar-se-. Dormiremos um pouco e depois…
-E depois.

A reserva que tinha feito para jantar, esquecida, Eb dedicou toda a noite a
ensinar a sua esposa mais do que ela tivesse podido imaginar sobre a arte do amor.
Tomaram o café da manhã na cama e depois saíram a explorar a antiga cidade.
Mas de noite se exploraram uma ao outro de novo.

Uma semana mais tarde, voltaram para rancho e se encontraram com algo
inesperado. O agente da brigada de estupefacientes que vivia perto do rancho do Cy
Parks tinha sido assassinado. Aparentemente, infiltrou-se na organização do López e
o tinham descoberto. Rodrigo seguia infiltrado na operação e Eb estava preocupado
por ele. As coisas começavam a esquentar-se no Jacobsville.

-Ao menos tivemos uma lua de mel -disse Eb, abraçando a sua nova esposa.
-É verdade -assentiu ela, olhando a seu marido com amor-. E agora, de volta às
aventuras.
-Você também. depois de tudo, dar classe a meninos primário todos os dias é
uma aventura, verdade?
-Estar casada contigo é a maior aventura de minha vida, mas tem que me
prometer que não voltarão a te disparar.
-Dou-te minha palavra -sorriu ele.
-Se te meter em uma confusão, ali estarei eu para te ajudar. Onde seja e como é.
-Certamente, é uma mulher de caráter -sorriu Eb.
-Me alegro que o tenha notado.
-Que afortunado sou! -riu ele, beijando a sua esposa.

Sally o abraçou com força, tão embriagada de prazer como ele. Sempre existiria a
ameaça do perigo, mas nada que o mercenário e sua esposa não pudessem
suportar. E, no momento, tinha a aquele mercenário onde queria, entre seus braços.

Fim

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