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Outra vez Joanna ficou em alerta por causa dos gritos que
escutou. Saiu da cozinha apressada, correndo para as escadas e,
em seguida, o quarto de Daniela, de onde vinha o barulho. Entrou
sem bater, se deparando com a cena de Patrício agredindo a própria
filha. Tomada de uma súbita coragem e força o empurrou para o
lado, fazendo com que saísse de cima da jovem. Patrício cambaleou
para o lado, mas Joanna foi mais rápida em abraçar Daniela,
colocando-se como um escudo humano protegendo-a.
— Sai daqui, Joanna! – gritou Patrício puxando-a. – Você não
tem que se meter em nada dessa família!
— Você está descontrolado, Patrício! É sua filha! – gritou
tentando traze-lo de volta a realidade.
Patrício se afastou, encarando as duas mulheres jogadas no
chão. O choro de Daniela estava abafado contra Joanna, que
acariciava seus cabelos, também sem conter as lágrimas. Pegou o
celular da jovem jogado no chão e saiu do quarto, trancando a porta
por fora.
— Você está bem Dani? Deixa eu te ver...
Daniela se afastou o suficiente para que Joanna pudesse ver seu
rosto. A feição preocupada dela lhe dizia que algo estava de errado.
Levou a mão a boca, onde sentia o maior dolorido, e esticou os
dedos para ver o sangue presente nele.
— Eu vou pegar uma toalha úmida, espera.
Daniela voltou a chorar encolhida no chão, desacreditada que
seu próprio pai havia feito aquilo. Jamais passara pela sua cabeça
que um dia ele seria capaz de levantar a mão para ela. Por um
breve momento pensou em quantas vezes ele já havia feito aquilo
com sua mãe.
— Vem aqui – Joanna pegou-a pelo braço, fazendo ela sentar-se
na cama. – Seu pai perdeu a cabeça! Perdeu completamente a
cabeça!
— Ele já fez isso com minha mãe?
Joanna apenas balançou a cabeça em sentido positivo.
— Seu pai não é um homem que possa ser controlado. Quando
ele perde a cabeça, ele não vê o que está fazendo.
— Por que minha mãe nunca denunciou ele? Por que ela
aguentou calada isso?!
— Porque ela tinha medo de perder vocês. Isso acontecia mais
quando você e Helena eram crianças. Já fazia muitos anos que não
via ele tão transtornado como agora.
— Minha mãe tinha que ter ido embora a primeira vez que ele
bateu nela. Fugido com Henrique logo que teve a primeira
oportunidade. Ninguém é obrigado a passar por isso!
— Seu pai a encontraria aonde quer que fosse – suspirou
Joanna deixando a toalha de lado. – Isso vai ficar um roxo enorme.
Vou pegar gelo.
— Não me deixa aqui sozinha, por favor! – pediu Daniela aflita
segurando seu braço.
— Tudo bem, está tudo bem. Por que ele estava bravo com
você?
— Helena já sabe que não é filha dele. Já sabe que os pais
foram mortos, que foi sequestrada.
— Meu Deus! Como ela descobriu?
— Minha mãe e Henrique contaram pra ela. Eu estava no
telefone com ela e o pai escutou a conversa. Você já sabia, não
sabia?
— Sabia. Eu não... Nunca poderia revelar esse segredo. Ele me
mataria.
— Eu acredito. Até ontem eu falaria que é tudo exagero, mas
agora eu sei que ele mataria. Todos têm medo dele, parece que a
única que pode bater de frente é Helena.
— Se eu não soubesse que ela já conhece a verdade, eu diria
que nem ela mesmo iria contra Patrício. Sua irmã sempre foi fiel a
ele.
— Helena não é minha irmã.
— O fato de não terem os mesmos pais não muda o carinho que
tem por ela, muda?
— Helena e eu estamos juntas.
— Juntas? Como assim juntas? – perguntou Joanna confusa.
— Eu amo Helena. Desde a primeira vez que a vi quando
cheguei de Nova Iorque, foi uma atração imediata. Nós tentamos
tanto controlar o que sentíamos porque pensávamos que éramos
irmãs.
— Mas vocês estão juntas como se fosse um casal?
— É um casal, Joanna, independente das pessoas envolvidas.
Nós chegamos a fazer um teste de DNA, mas o pai interferiu, deu
positivo.
— Mas vocês foram criadas como irmãs! Como que ficaram
juntas? Eu vi... Aquele dia no escritório eu percebi, mas achei que
era um carinho de irmãs.
— Eu nunca vi Helena como minha irmã, como de fato ela não é.
Nem quando crianças. Ela sempre com o pai, sendo treinada por ele
e a mãe me mantendo sempre afastada de tudo. Nunca nem
brincamos juntas, você sabe disso.
— Seu pai vai matar Helena quando souber. Ele nunca aprovou
que ela ficasse com mulheres e agora... Ele vai matar Helena!
— Ele já sabe. Por isso que ele estava descontrolado. Eu falei
pra ele que estamos juntas.
— Helena não pode, nunca mais, voltar para essa casa. Patrício
vai matá-la!
— Ele vai ter que me matar também.
Joanna balançou a cabeça em sentido negativo, com um sorriso
surgindo em seus lábios.
— Não se pode mexer no destino. Se era pra vocês ficarem
juntas, nem a interferência de Patrício, colocando vocês como
irmãs, poderia impedir.
— É o que penso. Se Nolan não tivesse sido morto, tivesse
continuado a trabalhar com a família, encontraria Helena, como
Mirela, de qualquer forma.
— Mas ainda assim é estranho. Por mais que eu saiba que
Helena não é filha biológica de Rose e Patrício, eu sempre vi vocês
como irmãs, desde que eram pequenas. É estranho tentar ver de
outra forma.
— Acho bom tentar porque nós...
Daniela parou de falar ao escutar o barulho da porta se abrindo.
Ficou temerosa ao ver o pai retornar com mais três seguranças.
— Você vai sair dessa casa, Daniela – anunciou Patrício. – Você
vai para um lugar onde Helena nunca mais vai te encontrar.
— Cláudio?
— Eu não sei, Helena. Isso será um derramamento de sangue.
Não vou atirar contra meus colegas.
Helena apenas olhou para Cléber, dando ombros.
— A opção de sair ainda está em aberto.
— Eu vou sair.
— Ok. Bem-vindo, Hector.
Helena observou os dois seguranças saírem do apartamento,
ainda com a arma em punho. Somente quando ficou a sós com
Cléber e Hector, é que voltou a falar.
— Por que resolveu permanecer, Hector?
— Acredito mais no seu potencial para destruir a organização do
que em Patrício para conseguir te pegar. Eu sei o tanto que é
treinada, seu conhecimento dentro, até porque era você que cuidava
da maior parte dos negócios. Seria burrice minha ir contra você.
— Está certo. Esse é Cléber, ele está conosco nessa.
Helena observou os homens trocarem um aperto de mão e
novamente se sentaram, para discutir o que seria feito naquela
noite. Depois do encontro com Theodoro, e de acordo com seus
desdobramentos, iria tomar posse dos armazéns de mercadorias. O
passo seguinte era a tomada da fronteira.
Depois de acertado o que fariam, foi para o quarto, não antes de
pedir a Cléber que ficasse de olho em Hector. Por mais que ele
tivesse demonstrado boa vontade, ainda assim era muito recente
sua mudança de lado. Naquele ponto, todo cuidado era pouco.
Pediram comida e depois da refeição, saíram ao encontro de
Theodoro. O lugar marcado por ele era um prédio abandonado na
zona industrial da cidade. Assim que se aproximaram, já notou a
quantidade de homens armados ao redor e atiradores no andar
superior. Cléber que expressou sua preocupação primeiro.
— É uma emboscada.
— Não é – respondeu Helena analisando as posições. – Eles
que estavam esperando uma emboscada de nossa parte. Eu vou
descer e falar com Theodoro. Permaneçam aqui. O carro é blindado.
Cléber assentiu e assistiu Helena descer. A morena levantou as
mãos para os homens que lhe apontavam armas e ergueu a camisa,
mostrando que não estava armada. Um dos seguranças de
Theodoro se aproximou, escoltando-a até o carro parado mais à
frente. A porta foi aberta e ela convidada a entrar. Se sentou ao lado
de Theodoro, analisando, rapidamente, o segurança no banco da
frente, apontando uma arma na sua direção.
— Me perdoe a precaução, mas nunca confiei cem por cento em
Patrício. Sei também que você pode me matar sem nem tocar em
uma arma de fogo – disse Theodoro com um sorriso.
— Conheço minhas habilidades, mas lhe asseguro que nesse
momento meu interesse é ter você como um parceiro de negócios e
não como um inimigo.
— Fiquei sabendo que colocou fogo na casa do Millar. Está
disposta mesmo a acabar com ele?
— Sim. Patrício passou muito tempo me enganando, fui criada
como filha dele quando na verdade meus pais foram mortos por ele.
— E o que mais aconteceu? Você não faria tudo isso por causa
de uma vingança que poderia ser resolvida com um simples tiro na
cabeça dele enquanto dormia. O que mais tem por trás?
— Rose estava com um dos seguranças, são amantes. Patrício
descobriu isso e me mandou matá-lo. Ele que me disse o nome do
meu verdadeiro pai. Porém já sabia que Patrício não era meu pai.
— Como desconfiou?
— Estou namorando com Daniela.
— Sua irmã? – perguntou Theodoro, desconfiado. – Tua irmã,
Helena?
— Não vou discutir moralidade. O que importa é que foi por
causa do que sentimos que Daniela começou a desconfiar. Fizemos
um teste de DNA, mas descobri que Patrício interferiu para dar
positivo. Antes que fizesse outro, Rose inventou de fugir com
Henrique, Patrício os pegou, o resto já sabe.
— Você tava comendo sua irmã?!
— Ela não é minha irmã, Theodoro, e só fiquei com Daniela
porque o que sentimos foi mais forte que meu senso de que ela
poderia ser minha irmã. E nem tivemos convivência na infância
também, passamos anos longe uma da outra, eu na Europa, ela nos
Estados Unidos. Enfim, o que importa é que por causa disso é que
fomos confirmar se éramos mesmo irmãs. Falei para Rose que
estava fazendo os testes, disse que estava colocando Daniela na
minha lista de compatibilidade clínica, ela se apavorou porque
Patrício também já sabia, pois o resultado deu positivo e seria
impossível, resolveu fugir com Henrique, o que nos traz ao momento
atual. Eu destruindo a organização.
— Daniela está com Patrício?
— Sim. Ele pode usá-la para me atingir.
— Entendi. Uma bela reviravolta para Patrício. Sua arma de
guerra, como ele já se referiu a você, se virando contra ele – sorriu
Theodoro. – Como posso ter certeza que não vai me passar a perna
quando tiver o controle da organização?
— Seus homens estarão comigo. Basta uma ordem sua e eles
me matam.
— Como posso fazer isso agora, não é?
— É uma opção. Patrício fica livre e você continua atuando por
fora, dentro das áreas que ele permitir. Eu estou lhe propondo um
controle total.
— Está certo. Do que precisa, Helena?
— Cinco homens direto comigo. Amanhã à noite precisarei de
um grupo maior, vinte exatamente, para tomarmos o controle da
fronteira.
— Me mande notícias. Estarei em meu escritório com uma taça
de champanhe. Os rapazes irão lhe acompanhar.
— Te mantenho informado.
Helena se despediu de Theodoro e saiu do carro. O segurança
que estava na frente também desceu e acenou para o grupo que
estava no alto para descer. A morena foi até o veículo onde Cléber
esperava com Hector e em pouco tempo, um grupo de cinco
homens se apresentaram. A morena os cumprimentou rapidamente,
antes de embarcar no carro e sair, seguida pelo outro veículo.
O primeiro passo foi voltar para o apartamento, onde explicou
exatamente o que fariam para tomar posse do escritório. Assim
como a casa, Helena conhecia cada metro quadrado do prédio e
com a planta gravada na mente, passou as entradas por onde
fariam a incursão. A ordem de tiro era somente para revidar. Iria dar
a todos a chance de sair com vida ou se aliar a ela.
Eram duas da manhã quando o grupo chegou no prédio onde
funcionava a operação dos Millar. Helena ficou em alerta ao ver
todos os seguranças na rua.
— O que está acontecendo? – perguntou Cléber ao seu lado.
— Eles já sabem da tomada. Pedro ou Cláudio deve ter falado a
eles.
— Uma rendição?
— Vamos descobrir.
Helena pediu que Hector lhe entregasse o colete a prova de
balas que carregava no banco detrás. Depois de vesti-lo, carregou
uma submetralhadora e saiu, acompanhada de Cléber, para a rua
ainda usando o veículo como escudo. Acenou para o carro com os
outros homens para aguardar. Um dos homens de Patrício, do outro
lado da rua, ergueu as mãos, mostrando que não estava armado.
Helena gesticulou para que ele se aproximasse, ainda o mantendo
na mira.
— Nós já sabemos o que está acontecendo. Não vamos lhe
impedir de entrar no prédio.
— E porque fariam isso?
— Não vamos ficar contra você. Antes de ir, Patrício passou aqui
com sua irmã, disse que precisava ir porque você iria atrás dele.
— Ele disse para onde iria?
— Não. Saiu acompanhado de seis seguranças. Provavelmente
para a fazenda.
— Daniela me disse que viajaram por quatro horas, não é o
tempo de chegar à fazenda – respondeu pensativa. – Recolha as
armas de todos.
O segurança obedeceu a ordem e passou recolhendo o
armamento dos outros quatro colegas. Cléber se aproximou para
pegá-las e, somente quando percebeu que estavam realmente se
rendendo, é que tirou os homens de mira. Acenou para que os
outros seguranças se juntassem a ela.
— Vamos subir.
Helena subiu para o escritório acompanhada dos doze homens.
Ao entrar na sala, notou o cofre aberto e vazio, assim como gavetas
remexidas. Olhou para o grupo que aguardava suas ordens e deu a
volta na mesa analisando o que aquilo significava. Sentou na
cadeira, antes ocupada por Patrício, com a consciência de que tinha
tomado o lugar para o qual fora tanto treinada.
— Nós vamos alinhar algumas coisas. Vamos tomar os
armazéns de mercadorias pela manhã e, na parte da tarde,
viajaremos para a fronteira. Vamos tomar o comando de lá.
Capítulo 23
Helena passou as três horas seguintes conversando com os
homens, explicando o que fariam para tomar os armazéns de
contrabando naquela manhã. Ela própria havia aprovado a
segurança do lugar e sabia que não seria tão fácil atacá-los, como
também sabia que Patrício deveria ter reforçado todas as suas
defesas com o seu avanço. Depois de tudo alinhado, seguiram para
buscar o armamento que precisariam, pois não iriam ter sucesso
apenas portando automáticas com vinte tiros.
O local onde os Millar guardavam o arsenal era uma casa que
parecia comum aos olhos de pessoas que não tinham conhecimento
do que se passava ali. A propriedade, classe média, estava
localizada em um bairro comum, e possuía dois andares, uma
grande garagem e vasos com plantas ornamentando a entrada.
Helena observou, de longe, a casa silenciosa. Dentro deveria ter
dois homens fazendo a proteção, com ordem de evacuar caso a
polícia ou um grupo rival se aproximasse do lugar. Pegou o celular e
discou para o segurança responsável do local.
— Lucas, Helena.
— Pois não, senhora.
— Preciso pegar algumas coisas aí. Está tudo tranquilo na
redondeza?
— Está sim. Já quer que separe algo?
— Não precisa. Vou montar um presente com alguns venenos.
Quero a sala livre.
— Sim senhora.
Helena desligou o telefone e ficou rodando-o na mão. Estava
fácil demais. Era obvio que àquela altura qualquer um dentro da
organização já sabia dos ataques que estava orquestrando contra
Patrício.
— Me dá essa mochila – pediu para Hector, acomodado no
banco detrás.
Ao receber a mochila, Helena a apoiou nas pernas e abriu para
tirar duas facas, acomodando-as no antebraço, por dentro da manga
do casaco.
— Algum problema, Helena? – perguntou Cléber, diante do seu
silêncio.
— Está fácil demais.
— O que vamos fazer?
— Vamos entrar no jogo deles. Coloque o colete por baixo da
camisa. Me dê cobertura. Certamente irão tentar me pegar viva para
entregar para Patrício. Vou entrar demonstrando uma leve boa fé.
— É arriscado. Já podem atirar de longe.
— Então é bom ficar atento.
Cléber deu ombros, balançando a cabeça em sentido negativo.
Rapidamente colocou o colete enquanto Helena ligava para os
outros seguranças, pedindo para esperar.
A dupla desceu do carro depois de alguns minutos. Caminharam,
atentos, até o portão e Helena o abriu, entrando na garagem. De
imediato viu o segurança aparecendo na porta, aparentemente
solicito. A morena manteve a desculpa para sua presença, entrando
na casa. Assim que atravessaram a soleira, Helena sentiu o
segundo segurança prendendo-a pelo pescoço em um gesto rápido,
enquanto o primeiro atirava contra Cléber, na altura do peito, que
caiu de bruços.
— O senhor Millar está esperando por você, Helena.
— Onde? – perguntou segurando o braço, que apertava seu
pescoço, com as duas mãos.
— Ele virá buscá-la – informou Lucas.
— Vocês não sabem onde ele está, não é? – concluiu com um
suspiro.
— Não precisa ter pressa.
Helena olhou para Cléber, ainda no chão e para o segurança que
se aproximava dele. Abaixou os braços e puxou as facas da manga,
cravando nas duas pernas do homem que a segurava. Cléber se
virou com o grito de dor do segurança e, aproveitando o momento
de distração, atirou contra o outro. Helena se afastou, assistindo
Cléber se levantar.
— Está tudo bem?
— Tudo tranquilo.
Helena balançou a cabeça em sentido positivo, antes de se virar
para Lucas, que segurava ambas as pernas.
— Agora nós, Lucas – falou se abaixando na sua frente. –
Cléber, vá chamar os rapazes. Vamos levar todo o armamento e
munição. Estão no chão da cozinha e do quarto. Temos que ser
rápidos. Alguém pode ter chamado a polícia por causa do disparo
que deu.
Cléber concordou com um aceno e logo saiu para o portão,
acenando para que os outros entrassem. Ao passar pela sala, ainda
enxergou Helena retirando a faca, cravada no peito de Lucas. A
morena pegou o celular e discou para Patrício.
— Oi Patrício.
— Resolveu acabar com sua insignificante guerrinha, Helena?
— Depende. Me entregue Daniela e eu paro.
— Nunca pensei que fosse tão demente! Pra que me ligou?
— Pra dizer que tomei posse do principal arsenal da família. Meu
próximo passo é o Armazém do distrito industrial. Tem mais duas
horas, caso queira mudar de ideia.
Helena desligou o telefone e olhou para os homens que
carregava grandes bolsas para fora. A partir daquele momento,
todos os avanços seriam confrontos diretos.
Patrício desligou o telefone e olhou para Javier ao seu lado e
seus seguranças particulares. Batucou os dedos na madeira da
mesa por alguns segundos antes de pegar o celular novamente.
— Carlos, preciso de um favor. Quero homens fazendo a
segurança dos armazéns. Mande quantos precisar. Qualquer coisa
que se aproximar, pode atirar para matar.
— Você vai mesmo matar Helena? – perguntou Daniela, que
havia escutado a conversa ao lado da porta.
— O que você acha? Quando eu pegar aquela filha da puta vou
fatiar ela inteira listando todos os motivos que tenho para fazer isso,
começando por ter tocado você!
Daniela saiu da sala, observando o segurança na porta da frente.
Sabia que em cada local ali tinha um, garantindo que não sairia de
forma alguma. Voltou para o quarto e abriu a janela, olhando para o
quintal e mais seguranças em todos os cantos. Precisava, de
qualquer forma, falar com Helena.
Helena voltou para o carro e embarcou para rapidamente saírem
dali. Seguiram para o escritório, onde deu um tempo de três horas
para que os homens descansassem, antes de partirem para o
próximo ataque. Voltou a ocupar a sala principal e pegou um papel,
começando a desenhar, de lembrança, o lugar onde fariam a
incursão naquela noite. Sua atenção foi desviada do plano que
traçava quando Cléber bateu na porta.
— O que foi?
— Sua secretária está aqui. Disse que quer falar com você.
— Reviste ela e deixe entrar.
Cléber consentiu com um aceno e poucos minutos depois,
Simoni entrava em sua sala.
— Oi Simoni, como posso te ajudar?
— Está correndo rumores que está tomando conta do escritório
agora. Vim lhe dizer que se precisar dos meus serviços, estou à sua
disposição.
— Por que faria isso? – perguntou, desconfiada.
— Porque seu pai sempre foi um grande filho da puta com todas
nós aqui. Sempre com assédios morais e sexuais. Se está disposta
a acabar com ele, eu terei imenso prazer em lhe ajudar.
— É perigoso. Estou derrubando todas as bases de Patrício e,
quando ele vier para cima, vai matar qualquer um tenha me
ajudado. Não quero deixar chegar nesse ponto, porém tenho que
contar com tudo o que pode acontecer.
— Eu sei bem quem é Patrício. Eu tenho todos os arquivos que
ele mandou Giovanna guardar. Ela me fez prometer que manteria
em segredo.
— Onde ela está agora?
— Escondida. Não vou lhe falar o local, eu prometi a ela que
nunca lhe falaria, dado o relacionamento que ela mantinha com seu
pai, mas posso lhe entregar essas documentações desde que
garanta que ela não sofrerá nenhuma represália sua.
— Não tenho interesse em Giovanna. O que quero é acabar com
o império Millar.
— Eles estão em um guarda-volumes em um aeroporto.
— Que aeroporto?
— Giovanna não sofrerá nada com isso?
— Lhe garanto que não. Por minha causa ela não precisa nem
se esconder. O único que quero atingir é Patrício.
— Armário vinte e cinco no aeroporto internacional – respondeu
a secretária ao jogar a chave na mesa. – O que eu faço agora?