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Celine Santini não poderia ter ficado mais chocada do que quando o
bilionário solteirão Pierce D'Amato oferece um emprego como babá para sua
priminha de quatro anos. Afinal, ele nem sequer a conhece. Mas depois do
inesperado encontro íntimo entre eles, são realmente estranhos?

Ela é cativada pelo galã de olhos verdes que resgata seu coração, mas
como pode ceder a seus sentimentos quando eles são de dois mundos totalmente
diferentes?

Desde o primeiro dia em que ele coloca os olhos sobre a beleza de olhos
escuros, Pierce D'Amato sabe que está perdido. Ele imediatamente elabora um
plano para colocá-la sob seu teto... e funciona. Quanto mais ele passa a conhecer
a doçura sedutora de Celine Santini mais percebe que há muito mais nessa
mulher que ele jamais poderia ter imaginado. Sua intrigante combinação de
sofisticação e inocência o matem fora de equilíbrio e, antes que perceba, seu
coração é tomado por ela. Coração esse que sabe que ele quer Celine Santini...
Custe o que custar.

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Celine cantarolava uma canção de amor enquanto ela empurrava o carrinho
de limpeza no corredor acarpetado. Hoje ia ser um grande dia, ela disse a si
mesma, não importa que ela estivesse presa em Cambridge por mais um verão,
quando ela preferiria estar em casa na França, com sua mãe e dois irmãos
menores desordeiros.

Ela sorriu enquanto pensava em Marc e Sylvan. Aos dez e doze anos de
idade estavam, provavelmente, deixando sua mãe louca, neste momento, com
suas brincadeiras constantes e jogos duros. Se ela pudesse estar em casa com
eles. Ela era a única pessoa que podia manter os dois na linha.

Ela parou na porta da suíte 1206. Sem tempo para pensar sobre isso agora.
Ela tinha doze suites para limpar nas próximas horas e ela queria causar uma boa
impressão. Nos dois últimos verões ela tinha trabalhado em pequenos hotéis,
onde o pagamento era mínimo e as horas de trabalho longas. Neste verão, ela
tinha tido a sorte de conseguir um emprego em um dos maiores hotéis na Main
Street. Ela ganharia quase cinqüenta por cento a mais do que ela tinha ganho em
seu trabalho anterior. Ainda estava muito longe de ser suficiente, mas se
mantivesse um orçamento apertado, ela poderia ser capaz de economizar o
suficiente para ir para casa para o Natal.

Celine bateu na porta. Nenhuma resposta. Ela bateu de novo só para ter
certeza, então enfiou o cartão chave na ranhura e abriu-a. Reunindo um punhado
de toalhas e pequenos frascos de produtos de higiene pessoal, ela enfiou-os

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debaixo do seu braço, pegou a alça do aspirador de pó, em seguida, recuou para
o quarto.

A suíte presidencial era magnífica, com uma espaçosa sala de estar com
móveis antigos e ornamentado carpete. Um lustre de cristal cintilante pendurado
no teto. Celine fez uma pausa para admirar a sala elegante. Oh, poderia ser capaz
de viver assim. Ela riu para si mesma. Provavelmente, seria necessário um mês
de salário para ela pagar por uma noite nesta suite.

Agora, por onde começar? Ela tinha uma braçada de toalhas para o
banheiro.Ainda cantarolava quando empurrou a porta para entrar no quarto.

Naquele momento ela ouviu um clique e a porta do banheiro foi aberta. Ela
engasgou e as toalhas cairam de suas mãos. De pé em frente a ela, com o rosto
escondido por uma toalha grossa, estava um homem alto, musculoso e muito nu.

Celine gritou.

— O que... — O homem deixou cair a toalha e olhou para ela em estado de


choque óbvio.

— De onde você veio?

— Eu... eu sinto muito — disse ela se afastando. — Eu pensei que a suíte


estivesse vazia. Eu sinto muito.

O homem estava olhando para ela com olhos que eram incrivelmente verdes.
— Eu estava no chuveiro, — disse ele passando os dedos pelo cabelo castanho-
escuro. — Por isso, quando você bate eu não respondi.

Mon Dieu. Ele estava ali, alto e magro e cada polegada de homem, e ele não
estava fazendo nenhum movimento para se cobrir. Ela baixou os olhos, com o
rosto quente de vergonha. Ela virou-se para fugir.

— Espere. Eu quero falar com você.


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Ele estava falando sério? Ela não iria voltar a falar com um homem nu, não
importa o quão bonito fosse. Ela estava de volta na sala e já pegando seu
aspirador de pó quando sua voz a deteve.

— Não saia — Disse ele, com uma voz altiva. Ele parecia o tipo de homem
que deveria ser obedecido. Ele estava parado na porta do quarto e, desta vez,
felizmente, ele tinha a toalha enrolada na cintura. — Espere por mim na sala de
estar.Vou me vestir.

Sem se preocupar em esperar por uma resposta, ele se virou e voltou para o
quarto, deixando Celine olhando para a porta vazia. Quem este homem achava
que era para fazer pedidos em torno dela assim? Ela franziu o cenho enquanto
seus pensamentos corriam freneticamente. Quando pensou sobre isso achou que
era uma boa pergunta. Quem era ele, realmente? Ele tinha que ser uma pessoa
muito importante, ou então muito rica para ficar na suíte presidencial de um dos
hotéis mais caros da cidade. Seu coração batia acelerado com este novo
pensamento. Ele ia voltar e repreendê-la por invadir sua privacidade? Ele ia
denunciá-la, ou pior, fazer com que fosse demitida? As palmas das mãos ficaram
úmidas e ela deslizou-as para baixo dos lados de seu uniforme. Ela não podia
dar-se ao luxo de perder esse emprego. Quando ele voltasse, ela teria que
defender seu caso.

Em menos de um minuto, o homem estava saindo do quarto usando uma


calça escura e uma camisa branca que ele abotoava casualmente enquanto se
aproximava. E estava descalço.

— Sente-se — Disse ele e apontou para o sofá perto da janela.

— Desculpe-me? Celine ficou imóvel com a mão sobre o aspirador de pó, os


olhos arregalados, enquanto ela olhava para ele. Por que ele estava lhe pedindo
para se sentar? Se ele estava querendo repreendê-la por que não o fazia

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rapidamente e a deixava ir? Ele deveria estar planejando um discurso. Ela decidiu
falar, talvez apaziguá-lo antes que ele tivesse a chance de explodir com ela.

— Estou muito envergonhada por ter me intrometido assim em seu quarto,


— Ela disse, com voz séria. — Isso não vai acontecer novamente. — Volto mais
tarde para limpar seu quarto. Com isso, ela se dirigiu para a porta, empurrando o
aspirador de pó diante dela. Talvez se ela fizesse uma saída rápida, não teria que
ouvir mais nada sobre o assunto. Pelo menos, era o que ela esperava.

Ela estava a meio caminho da porta quando ele riu uma risada rouca,
profunda que enviou um arrepio até suas costas. Ele parou no meio do seu
caminho Ela se virou para olhar para ele.

— Não há necessidade de sair tão rápido — Disse ele, enfiando as


extremidades da camisa dentro da calça. — Eu não vou te morder. Eu só quero
falar com você sobre algo.

Ele queria falar com ela? Sobre o quê? Sua curiosidade levou a melhor sobre
ela e quando ele acenou para o sofá novamente ela lançou seu domínio sobre o
aspirador de pó e foi sentar-se discretamente na beirada do sofá.

— Meu nome é Pierce D'Amato — Disse ele e pegou um cartão de visita da


mesa. Ele estendeu a mão e entregou a ela. — E você é?

— Celine Santini.

— Prazer em conhecê-la, Sra. Santini — Disse com um sorriso, em seguida,


levantou uma sobrancelha.

— Você é italiana? Seu sotaque parece francês.

Ela assentiu com a cabeça e sorriu. — Bom palpite. Eu sou da França, mas o
meu pai era um militar americano italiano. Eu falo todas as três línguas.

Ele fez uma curva rápida com a cabeça e a olhou impressionado.

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— Agora que sabemos que podemos conversar um com o outro. Ele
encostou-se à mesa e cruzou os braços sobre o peito. Seu rosto ficou sério.

— Estou em um dilema, Sra. Santini, e me pergunto se você pode me


ajudar?

Celine fez uma careta. O que no mundo poderia fazer para ajudar um
homem como ele? Ele era, obviamente, um homem poderoso, rico e ela não
passava de uma estudante de pós-graduação (PhD) clandestina como uma
empregada do hotel.

— Eu sou um homem muito ocupado — Disse ele, habilmente abotoando


os punhos da camisa enquanto ele falava, uma vez que nunca tirava os olhos
dela.

— Mas de repente eu me encontro em uma situação difícil. Eu tenho o meu


negócio para tocar e agora eu tenho uma criança de quatro anos. Eu preciso dos
serviços de uma babá.

Celine só podia olhar para Pierce D'Amato, convencida de que o homem


havia enlouquecido. Ele não sabia nada sobre ela. O que ele estava pensando?

— Eu sei que isso parece loucura — Ele disse, dando-lhe um sorriso que lhe
dizia que tinha visto a confusão em seu rosto.

— Mas eu fui nomeado guardião da filha do meu primo e...Estou um pouco


perdido, para dizer o mínimo. — Ele encolheu os ombros. — O que eu sei
sobre crianças?

— Então você está procurando alguém para cuidar dela.

— Sim, uma babá, companheira, ajudante. O que quer que você chame. Eu
já tenho uma empregada, mas ela tem suas obrigações e eu não acho que ela está
à altura do desafio de uma criança de quatro anos. Sra. Simpson tem quase
sessenta anos.
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— E as agências de emprego? Eles podem ajudá-lo a encontrar muitas
pessoas que ficariam felizes em cuidar de uma criança.

—Eu já fui por esse caminho. Odiei.— Ele grunhiu como se de desgosto. —
Mandaram-me jovem, velho, gordo, magro. Kylie odiou todos eles. Ela é muito
exigente.

—E você acha que... que ela gostará de mim?

Ele riu. — Eu tenho certeza disso. A partir do segundo que eu coloquei os


olhos em você, eu sabia que você era a garota para Kylie.

O segundo que ele pôs os olhos em cima dela? Como ele poderia formar
uma opinião tão rápida? E então lembrou que tinha uma opinião formada sobre
ele naquela fração de segundo, também. E, quando lembrou seu encontro seu
rosto ficou quente. Celine balançou a cabeça. — Eu não entendo.

Ele riu, e em seguida, levantou-se e caminhou até a janela. Ele olhou para a
rua abaixo, em seguida, virou-se para olhar para ela. — Por mais estranho que
pareça, quando meus olhos encontraram os seus, algo estalou. Você tem um
frescor que eu acho que vai agradar Kylie. E você parece uma garota que não
tem medo de se divertir.

Agora, o que ele quis dizer com isso? Celine franziu a testa e levantou-se. —
Sinto muito, Sr. D'Amato. Eu não acho que seria uma boa idéia. Eu tenho um
bom trabalho aqui e...

Ele riu. — Trabalha pelo que? Salário mínimo? Eu posso lhe pagar varias
vezes o que ganha aqui sem pestanejar.

Celine prendeu a respiração. — O dinheiro não é tudo. Eu não sei você.


Como posso deixar meu trabalho para ir trabalhar para um homem que eu não
conheço?

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—Isso é tudo? — Ele acenou com a mão com desdém. —Eu tenho ótimas
referências, começando pelo dono deste hotel. Ele é um dos meus clientes.

—Mr. Pierrefond — Ela perguntou, sua voz um sussurro reverente. —Você


o conhece? Cada um dos funcionários do hotel conhecia e respeitava John
Pierrefond. Ele foi um dos poucos empresários bilionários na área que teve um
interesse pessoal em seus empregados. Ele estava com seus setenta anos, mas ele
manteve-se envolvido nas operações de suas empresas, como quando ele
começou. Os funcionários veteranos nunca param de falar sobre ele.

Pierce deu de ombros. — Estamos fazendo negócios por anos. Pergunte a


ele.— Então ele lhe deu um sorriso que revelou uma covinha encantadora em
sua bochecha direita. — Ele vai atestar o meu caráter. Eu não saio por aí
arrebatando donzelas inocentes, se é isso que está preocupadando você.

O sorriso desapareceu tão rapidamente como tinha aparecido. Ele olhou


para o relógio de ouro pesado em seu pulso, em seguida, de volta para ela. —
Escute, eu tenho que ir. Fique com o cartão e me ligue. Você tem até amanhã.
Estou voltando para Springfield e eu preciso de uma resposta antes de ir.

Celine assentiu e deslizou o cartão no bolso. — É claro — Disse ela,


apressando-se para recuperar o aspirador de pó. — Eu vou pensar em sua
proposta e entrarei em contato para lhe dar a resposta.

—Bom. Ele balançou a cabeça e antes que ela chegasse à porta, ele estava
voltando para o quarto.

Celine fechou a porta atrás dela, encostou as costas contra ela e fechou os
olhos. Falar sobre um início interessante para o dia. Ela tinha acabado de
conhecer o homem mais sedutor, bonito e seu coração ainda estava acelerado
pela memória de Pierce D'Amato, com seus ombros largos, cintura estreita e os
sedosos fios de cabelo negro que se aninhava em torno de seu...

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Mon Dieu. Ela reteve a si mesma. Mas a imagem de Pierce estava gravada
em sua cabeça e ela sabia que, gostasse ou não, iria pertuba-la por um longo
tempo.

Ela empurrou o carrinho para a próxima suite. Ela não tinha intenção de
ainda estar à vista, quando Pierce saisse de seu quarto. A próxima vez que ela o
visse, se é que haveria uma próxima vez, seria em termos muito diferentes.

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Com o coração batendo forte, Celine dirigiu até a longa e sinuosa entrada de
automóveis que levava à casa de Pierce D'Amato. Na verdade, casa era um
eufemismo. O que ela estava olhando era uma mansão. O lugar parecia grande o
suficiente para abrigar cinco famílias e ainda tinha espaço de sobra. Ela
estacionou o Toyota Corolla no espaço entre um Jaguar preto elegante e um
doce Porsche vermelho. Ela não pode deixar de fazer uma careta. Ao lado dos
outros veículos seu carro de dez anos de idade parecia tão fora do lugar. Oh,
bem. Os outros carros só tem que se acostumar à companhia da classe
trabalhadora.

Ela deslizou as palmas úmidas dos lados da calça jeans, sacudindo a cabeça
em aborrecimento. Ela odiava como elas transpiravam quando estava nervosa.
Não havia necessidade de estar, ela sabia, mas seu corpo estava dizendo o
contrário.

Depois de quase um dia inteiro de vacilação ela decidiu ligar para Pierce
D'Amato. Afinal, como ela poderia jogar fora a chance de possivelmente dobrar
o seu salário? Com esse aumento em seu orçamento ela seria capaz de pagar
duas, talvez até três viagens para a Europa todos os anos para visitar a sua
família. Seus olhos ficaram enevoados com o pensamento do Natal em casa na
França.

Ela confiou em Bridgette, uma amiga que fizera em seu primeiro dia de
trabalho, e recebeu um relatório brilhante da mulher mais velha. Bridgette tinha

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encontrado Pierce muitas vezes e ela o descreveu como um verdadeiro
cavalheiro conhecido por dar generosas gorjetas para funcionários do hotel que
o serviam. Ainda assim, havia um brilho nos olhos da mulher que disse a Celine,
que ela estava encantada por ele. E quem não ficaria? Com sua perfeita
aparencia,e intensos olhos verdes, Pierce D'Amato parecia que tinha o poder de
encantar qualquer mulher que ele quizesse.

Naquela noite, Celine ligou para Pierce e ele a convidou para ir até sua casa
para que ela pudesse ser apresentada a pequena. Eles poderiam conversar mais,
ele disse, e então ela poderia tomar sua decisão final.

E foi assim que ela se viu caminhando em direção aos degraus magníficos da
residência de Pierce D'Amato. Ela agarrou a alça de sua bolsa com mais força,
passou as mãos mais uma vez pela calça jeans e subiu os degraus de mármore.

Ela tocou a campainha, em seguida, ficou lá puxando a fivela de sua bolsa,


tentando acalmar seus nervos para seu próximo encontro com Pierce. Por mais
que tentasse, ela não conseguia tirar de sua mente a lembrança de seu corpo
tonificado, forte e ela se perguntou como ela reagiria quando ele abrisse a porta.
Ela respirou fundo, tentando acalmar seu coração disparado. Não deixaria este
homem ver seu suor.

A porta se abriu e uma mulher gorda de cabelos grisalhos sorriu para ela. —
Senhorita Santini. Bem-vinda. Eu estava esperando por você. Eu sou Elizabeth
Simpson, entre.

Celine soltou o ar, grata que foi a empregada que abriu a porta. Isso iria lhe
dar algum tempo para obter sua inteligência de volta. Ela deu à mulher um
sorriso e sussurrou — Obrigada. Em seguida, entraram na casa.

Celine estava assombrada. O hall de entrada era enorme, com um teto alto
catedral, agraciado com um lustre brilhante que parecia uma série de pequenas
estrelas flutuando no ar. As colunas brancas chegavam graciosamente até o teto e

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o piso de mármore multicoloridos brilhavam debaixo de seus pés. Ela estava
quase com medo de pisar neles. Esta não era à entrada de uma casa particular.
Era mais como o lobby de um grande hotel.

— Vou levá-la para o escritório e avisar o Sr. D'Amato que você chegou —
A Sra. Simpson disse enquanto ela abria caminho por um corredor que parecia
correr ao longo do comprimento da casa. — Você chegou um pouco cedo, pode
ser que ele não esteja completamente pronto, mas ele não vai deixar você
esperando.

— Obrigada — disse Celine novamente, mas ela mal ouviu a mulher. Ela
estava muito distraída com as belas pinturas que cobriam as paredes. Ela amava a
arte e pinturas em particular. Ela poderia viver dias em um museu e não se
importar com a vida no mundo exterior. A coleção de Pierce era fascinante. Ela
prendeu a respiração. Aquele era um Picasso? Não, não podia ser. Ela olhou para
ele, quase esbarrando na Sra. Simpson enquanto caminhava. Ela teria que voltar
e verificar isso mais tarde.

Elas estavam passando por grandes portas francesas agora, e através delas
Celine viu uma enorme piscina, a água brilhando azul na luz do sol brilhante. E
lá na piscina, de costas para ela, estava o homem que ocupava seus pensamentos
desde o dia em que se conheceram. Pierce estava em pé, na parte rasa da piscina,
a pele de seus ombros e costa profundamente bronzeada pelos raios do sol
quente. Seus cabelos, molhados e penteados para trás, brilhavam a luz do sol.

Celine quase parou de andar. Seus olhos fixos nos ombros largos, que ela se
lembrava, a cintura fina e os quadris magros agora envoltos em uma sunga preta.
Ela podia ver o contorno das bochechas firmes através do material molhado que
se agarrava ao seu corpo. Pela segunda vez em dois dias ela estava vendo aquele
homem sem suas roupas.

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Ela teve que morder os lábios para não rir.Se ela fosse totalmente honesta,
ela admitiria que a experiência não foi dolorosa.

Ela teve um vislumbre de uma cabecinha loira apenas pela mão de Pierce e
percebeu que ele estava na água com a menina que ela tinha ouvido falar. Ele
provavelmente estava dando uma aula de natação. Para um homem que deixou
claro o quão ocupado ele era, isto veio como uma surpresa para ela que ele
estava passando uma tarde da semana entretendo uma criança. Ela admirava isso.
Ela sorriu e continuou andando.

Sra. Simpson estava certa. Pierce não demorou muito a aparecer na porta do
escritório. Ela estava sentada lá menos de cinco minutos, apenas o tempo
suficiente para a Sra. Simpson trazer-lhe uma xícara de chá de ervas, quando
Pierce chegou completamente vestido em camisa branca de botão e calça
marinho.

— Você chegou cedo — Ele disse enquanto se aproximou e deu-lhe um


aceno de saudação. — Eu a esperava daqui a meia hora.

— Sinto muito — disse ela. — Eu não tinha certeza de como o tráfego


estaria, então eu decidi sair mais cedo. Ela colocou a xícara e o pires na mesa ao
lado dela. Pierce parecia bastante formal. Esta era uma entrevista de emprego, é
claro, e ela iria ser tão profissional quanto ele.

Ele virou os olhos verdes intensos sobre ela. — Obrigado — Disse ele com
um sorriso. — Eu aprecio a pontualidade. Agora vou coloca-la a par do que este
trabalho exige.

Pierce deu a Celine os detalhes sobre a situação de Kylie e do tipo de ajuda


que ele estava procurando. A mãe de Kylie, uma prima dele e viúva, tinha estado
em um grave acidente de carro e teve graves ferimentos na cabeça. Agora ela
estava em coma, com apenas uma chance de cinqüenta por cento de
recuperação. A menina estava na creche quando aconteceu. Não tinha nenhum

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parente próximo, a mãe de Kylie tinha deixado o nome de Pierce como a pessoa
de contato em caso de emergência. E foi assim que ele se tornou um pai
substituto da noite para o dia.

—Onde está o pai de Kylie — Perguntou ela, com o coração doendo pela
menina que agora estava sem a mãe. — Por que ele não ajudou?

Pierce balançou a cabeça, o rosto solene. — Infelizmente, ele morreu


quando Kylie tinha apenas dois anos. Ele tinha uma doença cardíaca congênita.
Teve um ataque cardíaco e morreu quando tinha apenas vinte e sete anos.

—Oh, não — Celine sussurrou. Que tragédia para uma criança


experimentar. Primeiro, a perda de seu pai e agora uma mãe que mal estava se
agarrando à vida. O que a pequena deveria estava passando?

Naquele momento, a Sra. Simpson entrou segurando a mão de uma menina


que tinha sido o assunto de sua conversa. Ela estava vestida como uma nuvem
branca, em um vestido de verão com um laço amarelo. Ela parecia uma pequena
margarida delicada.

— Aqui está ela, Sr. D'Amato. Kylie está pronta para atender sua convidada.
— Sra. Simpson sorriu para Kylie e deu-lhe um pequeno empurrão para Pierce.
A criança caminhou lentamente até ele e com o rosto um pouco sério ela
descansou a mãozinha na sua estendida.

Pierce deu um sorriso gentil e disse baixinho: — Há alguém que eu gostaria


que você conhecesse Kylie. Esta é Celine, que veio de Cambridge até aqui para
conhecê-la. Ele virou a criança para enfrentar Celine. —Por que você não vai lá e
diz Olá?

Kylie hesitou e virou seus grandes olhos azuis até Pierce como se procurasse
segurança. Então, no seu sorriso e aceno de cabeça, ela olhou para Celine pela
primeira vez. Ela tomou uma respiração rápida, em seguida, se aproximou.

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Celine sentiu seu coração derreter instantaneamente. Havia um mundo de
tristeza nos olhos de Kylie, mas ela não vacilou e ela não chorou. Ela foi para a
Celine e pegou a mão dela e não pronunciou uma palavra de protesto. Estava
como um pequeno soldado corajo. Ela sentiu vontade de puxá-la em seus braços
e abraçá-la até que ela só sentisse amor e paz. Era muito triste ver a dor nos
olhos de alguém tão jovem.

Celine deslizou fora de sua cadeira e se ajoelhou na frente da criança para


que seus olhos estivessem no mesmo nível. — Eu gostaria de ser sua amiga,
Kylie — Disse ela, fazendo com que sua voz parecesse tão suave e reconfortante
quanto podia. — Posso?

A menina permaneceu em silêncio, olhando para Celine com os olhos cheios


de incerteza. Então, lentamente, ela balançou a cabeça loira encaracolada e
ergueu o polegar na boca.

—Posso ter um abraço? — Celine inclinou a cabeça e sorriu.

Kylie não esperou por Celine para abrir os braços. Ela simplesmente bateu o
polegar para fora de sua boca, deu os dois passos que ela precisava para chegar a
Celine, e envolveu seus braços apertados em torno de seu pescoço. Não havia
palavras para serem ditas, mas Kylie enterrou o rosto no pescoço de Celine e
começou a chorar baixinho.

—Está tudo bem, ma cherie, está tudo bem, Celine acalmou-a enquanto
esfregava as costas da menina e abraçou-a. — Eu estou aqui para você.

Durante quase um minuto Kylie se agarrou a ela, até que finalmente ela se
aquietou e levantou o rosto. — Estou feliz que você é minha amiga. Disse ela
em um pequeno sussurro em seguida descansou contra Celine com um suspiro.

Celine levantou a cabeça, seus olhos picando com lágrimas de simpatia, e


quando ela olhou para a Sra. Simpson a mulher estava enxugando o rosto com
um lenço apetecível. Quando seus olhos vagaram até onde Pierce levantou-se, as
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mãos enfiadas nos bolsos, seu rosto era sombrio e escuro com emoção. Todos
tinham sido afetados pelo pedido inocente de Kylie para o conforto.

Quando a Sra. Simpson saiu da sala levando Kylie com ela, Celine olhou
diretamente para Pierce. Depois de conhecer a criança não havia nenhuma
maneira dela dizer não a este trabalho. Como podia negar-lhe a atenção, simpatia
e amor que ela tão desesperadamente desejava?

—Quero este trabalho — Disse ela e sua voz falhou na última palavra. Ela
limpou a garganta, tentando desesperadamente esconder a profundidade de suas
emoções. — Eu quero estar aqui para Kylie. Quando posso começar?

Pierce acenou com a cabeça e, embora ele não sorrisse seus olhos lhe
disseram que estava satisfeito com sua decisão. Ainda assim, ele perguntou: —
Você tem certeza?

— Eu quero ajudar Kylie. — Ela disse sua voz séria. — Eu não posso
explicar isso, mas eu sinto uma conexão entre nós.

Pierce acenou com a cabeça novamente e desta vez o sorriso chegou a seus
lábios. — Eu já sabia. Não me pergunte como, mas o momento em que meus
olhos pousaram sobre você, eu sabia que você era a pessoa certa. Eu sabia que
você ia ser perfeita para Kylie.

Ela recostou-se na cadeira, surpresa com a força da confiança dele em


relação a ela. Como ele poderia saber isso? Ele não sabia nada sobre ela antes
desse dia. E mesmo se tivesse enviado o seu currículo e referências depois que se
falaram por telefone, ele ainda não saberia muito sobre ela.

E o que acontece com ele? Ela era perfeita para ele também?

A respiração de Celine ficou presa em sua garganta e ela lançou um olhar


culpado em Pierce. De onde tinha vindo esse pensamento? Porque era que ela
tinha ido lá mesmo? Ela não significava nada para este homem, absolutamente

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nada, exceto alguém que seria uma excelente babá para seu cargo. Se ela queria
sobreviver neste trabalho ela deveria controlar melhor suas emoções
incontroláveis.

E uma coisa ela sabia, era que ela e Pierce D'Amato estavam em duas classes
totalmente diferentes e a menos que de repente ela ganhasse algumas centenas de
milhões de dólares na Super Lotto os dois mundos nunca se encontrariam.

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Pierce obseervou como Celine entrou em seu carro e foi embora. Ele
agradeceu as estrelas por tê-la encontrado. Kylie precisava de alguém como ela
em sua vida. E aí entrou ele. O que sobre ela o atraiu tanto, que o fez tão
determinado a tê-la sob o seu teto? Tinha sido estranho. Naquele primeiro dia
em que se encontraram ele ouviu o grito, largou a toalha e se encontrou olhando
nos olhos castanhos líquidos de uma mulher assustada e belíssima. Não
importou que ela estivesse em um uniforme de camareira e tivesse o cabelo preto
lustroso puxado em um coque à moda antiga. Ele sentiu um choque de
eletricidade através dele, um choque que o fez congelar. Que diabos, ele pensou.
Ele nunca tinha reagido a uma mulher assim antes.

E ela apareceu justamente quando ele estava rezando por um milagre,


justamente quando ele tinha quase perdido a esperança de encontrar a babá
perfeita para Kylie.

Se lembrou da cara de susto dela e também de dizer uma coisa ou outra para
tranqüilizá-la, mas ele estava tão pertubado que segundos se passaram antes que
ele se lembrasse que ainda estava completamente nu na frente dela. Nessa altura
ela já estava virando para fugir. Ainda bem que ele a deteve antes que deixasse a
suíte completamente. Agora, por causa de sua ação rápida, ela estaria
trabalhando para ele sob seu teto. Ele não pôde deixar de sorrir com o rumo dos
acontecimentos. Ele estava ansioso para conhecer a Srta Celine Santini.

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Quando as luzes traseiras do carro de Celine desapareceram Pierce entrou
em busca de Kylie. Encontrou-a vendo desenhos animados.

— Tio, posso tomar sorvete?

Pierce passou e despenteou seus cabelos. — Claro, Kylie. E é posso tomar


sorvete ok?

— Tudo bem — Ela disse, enquanto enviava o polegar na boca e olhava


para ele com grandes olhos azuis, seu rostinho tão solene. Pierce sabia o que
aquilo significava e seu peito se apertou em simpatia. O polegar na boca
demostrava como Kylie estava realmente sentindo falta de sua mãe. Seu polegar
era sua fonte de conforto em um mundo que virou de cabeça para baixo.

— Venha querida — Disse ele e levantou-a em seus braços. — Vamos


tomar um sorvete.

***

Uma semana se passou desde que Celine chegou à casa de Pierce com suas
malas e alguns pertences empilhados em seu carro. Felizmente, ela seria capaz de
passar os próximos cinco meses mais ou menos focando Kylie e suas
necessidades já que ela não precisava fazer começar na universidade até outubro.
Desde sua chegada Kylie passou todo momento com ela e, lentamente,
provisoriamente, a menina começou a se abrir como uma doce flor no orvalho
da manhã.

As três primeiras noites foram difíceis. Kylie tinha chorado ao dormir cada
noite, recusando as tentativas de Celine para confortá-la. Na quarta noite, em vez
de tentar ler uma história antes de dormir, Celine puxou os brinquedos da caixa e
encenou a história de Branca de Neve e os Sete Anões ali em cima da cama da

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menina. Kylie ria tanto que tinha que limpar as lágrimas de alegria com as costas
da mão.

Depois disso, ela insistiu que Celine empilhasse os brinquedos na cama todas
as noites para que elas pudessem encenar Cinderela, os músicos viajantes
Bremen e todos os seus outros contos de ninar favoritos. Celine fez tudo com
contentamento e quando Kylie pediu-lhe para subir na cama com ela, ela puxou-
a em seus braços e elas ficaram abraçadas até que a cabecinha mergulhou em
seu ombro e Kylie deslizou suavemente no sono.

No dia seguinte, Celine acordou com o som dos pássaros assobiando do


lado de fora de sua janela. Ia ser um grande dia, ela sabia, porque era ensolarado
e brilhante, era sábado, e Pierce voltaria para casa.

Ela sabia que era estúpido se sentir do jeito que estava se sentindo, mas ela
não podia evitar. Ela estava realmente ansiosa para ver Pierce D'Amato
novamente. Ela tinha certeza de que um homem como ele teria mulheres
voando em torno dele como mariposas na luz. Ele provavelmente tinha milhares
de admiradoras do sexo feminino em todas as cidades que ele passava. Ele
certamente não a notou, uma simples babá trabalhando para ganhar a vida.

Mesmo sabendo que de maneira nenhuma ela puderia competir por sua
atenção Celine não pôde deixar de sentir uma pontada de excitação com a idéia
de vê-lo novamente. Com um sorriso no rosto, ela pulou da cama e caminhou
pelo corredor até o quarto de Kylie. Ela bateu na porta e entrou, em seguida,
inclinou-se para afagar o rosto da garotinha.

— Acorde, dorminhoca — ela disse com uma risada quando Kylie esticou-se
e abriu a boca pequena em um bocejo que poderia engolir um elefante. — Hora
de se preparar para um dia de diversão.

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Meia hora depois, Celine e Kylie estavam na cozinha tendo um café da
manhã com panquecas, ovos, morangos e iogurte. Elas estavam competindo
para ver quem iria terminar primeiro. Haviam programado o dia todo. Primeiro
Celine iria rever as letras e números com Kylie então elas dariam um mergulho
na piscina, em seguida, iriam almoçar e depois fazer jardinagem.

Celine sabia que trabalhar no jardim, plantando sementes e cultivando as


flores eram uma excelente terapia para a menina. Ela estava em seu segundo ano
do programa de doutorado em Psicologia e grande parte de sua pesquisa
envolvia o desenvolvimento da criança, motivação e aconselhamento. Havia algo
sobre trabalhar com as mãos, que acalmava os nervos, e trabalhando ao ar livre
rodeado pela beleza da natureza eram como mágica para acalmar o espírito e
confortar a alma. Isso era o que Kylie necessitava em sua vida agora - equilibrio,
atividade física e um sentimento de realização.

Após o almoço, Celine colocou um chapéu de palha de abas largas na cabeça


de Kylie e saíram para o jardim que circundava o pátio traseiro. A menina estava
armada com um garfo de jardim em miniatura e uma pá, enquanto Celine seguiu
com um regador.

— Correndo de você — Kylie gritou e saiu pela grama, rindo enquanto


corria.

Celine correu atrás dela, rindo muito, feliz por ver que ela estava em um
estado de espírito alegre.

Quando elas chegaram ao extremo do jardim Celine deixou-se cair sobre a


grama, ofegante e rindo, então ela deslizou um dedo na testa, fingindo enxugar o
suor. — Uau, você é uma corredora muito rápida — disse ela, abrindo os olhos
arregalados. — Eu não poderia pegá-la nem em um milhão de anos.

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— Sério? — Perguntou Kylie, os olhos arregalados de espanto. — Eu corri
tão rápido assim?

— Sim, você correu— disse Celine e estendeu a mão para fazer-lhe cócegas.
— Você é minha campeã olímpica.

Depois disso, dedicaram-se na jardinagem, com Celine cavando os buracos e


Kylie soltando as sementes e cobrindo-as com terra. Depois foi o trabalho de
Kylie regar as sementes, enquanto Celine verificava o jardim para se certificar de
que elas não sufocaram as mudas quando elas saltavam pela área.

Elas estavam tão absortas em sua tarefa, trabalhando em harmonia


confortável, que elas pularam ao ouvir o estalar de um galho atrás delas. Elas se
viraram para ver uma pessoa alta, loira e de uma rara beleza na figura de uma
mulher em um vestido de verão branco olhando para elas. Celine levantou a mão
para proteger os olhos do sol e foi quando ela viu o rosto da mulher,
perfeitamente confeccionado com os lábios escarlates engrenhados em o que
parecia desdém.

Celine, surpresa com a súbita aparição da estranha, tirou as luvas de jardim e


levantou-se. Ela era pelo menos um par de centímetros mais alta do que a
visitante inesperada, mas de alguma forma ela se sentia quase intimidada pela sua
presença. A mulher estava olhando para elas com uma expressão tão hostil que
era como se fossem intrusas e não ela.

— Olá — Celine disse, ainda sentindo um pouco fora de equilíbrio. —


Posso ajudá-la?— Ela sentiu Kylie se aproximar dela e colocou uma mão
reconfortante no ombro da criança.

— Então você é a nova empregada — disse a mulher, com os olhos


faiscando de algo semelhante ao ódio. — Eu ouvi sobre você, mas ninguém me
disse que você era linda.

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— Desculpe-me? — Celine disse nervosa com sua declaração.

— Pierce disse-me que tinha uma babá para sua nova... Responsabilidade.—
Ela voltou os olhos para Kylie e de seu olhar Celine poderia dizer que, por algum
motivo, a criança era uma fonte de aborrecimento para ela. Em seguida, ela
moveu seus olhos azuis que focaram em Celine novamente. — Mas eu pensei
que seria alguém como a Sra. Simpson. Ele nunca me disse que você era jovem.
Suas sobrancelhas cerraram em uma carranca que tornou óbvio que este era um
grande problema.

Celine ergueu as sobrancelhas, incapaz de esconder sua surpresa. — E você


é?

Os olhos da mulher se arregalaram chocados com esta pergunta. Ou talvez


estava chocada por que não sabia dela. Celine não sabia qual.

— Eu sou Sophia Redgrave dona da casa ao lado. Pierce e eu somos amigos


há vários anos. A mulher disse as palavras com um jeito arrogante.

Celine não perdeu sua ênfase deliberada na palavra — amigos — Sophia


Redgrave estava, obviamente, enviando-lhe uma mensagem. Sua relação com
Pierce era muito mais do que apenas amizade.

Celine não sabia o que a incomodava mais, o pensamento de que Pierce


estava envolvido com a mulher ou o pensamento de que não havia qualquer
possibilidade de Sophia Redgrave se envolver na vida de Kylie. A mulher,
obviamente, tinha um problema com a presença da criança na casa. Céus, e se
Kylie ficasse sob a tutela de Pierce permanentemente? E se Sophia se tornasse
sua esposa? O que aconteceria com a pobre Kylie? Ela balançou a cabeça,
tentando afastar o pensamento horrível. Ela deu à mulher um olhar frio, tão frio
como o que tinha sido dirigido a elas. — Existe algo que eu possa ajudá-la, Sra.
Redgrave?

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— Não, não há nada que você pode fazer por mim— ela disse, e levantou
uma mão delicada para afastar as mechas de cabelo que a brisa suave tinha
soprado em seus olhos. — Mas eu vou falar com Pierce sobre as atividades desta
criança. Por que você a tem aqui escavando na sujeira? Ela não deveria estar na
escola?

— Não há nenhuma escola aos sábados. Além disso, ela tem apenas quatro
anos. Tudo o que ela precisa aprender eu vou ensiná-la em casa.

Sophia fez uma careta. — Você? Ensiná-la? O que pode uma empregada
saber sobre o que é melhor para uma criança? Ela precisa de estrutura em sua
vida. A melhor coisa que Pierce poderia fazer por ela é colocá-la em um bom
colégio interno.

Celine engasgou. — Internato? Você está louca? — As palavras saíram antes


que ela pudesse parar a si mesma. Ela não podia acreditar no que a mulher disse.

Os lábios de Sophia apertaram e ela olhou para Celine. — Eu gostaria que


voce se lembrasse a sua posição nesta casa. Então, com um olhar cheio de
desprezo, disse: — Eu fui para um colégio interno na Europa durante toda
minha juventude e isso me fez muito bem.

Celine podia imaginar o bem que tinha feito a ela. Isso foi provavelmente o
que a transformou em uma cadela de classe mundial que ela era agora. A audácia
dela para sequer pensar em colocar a querida Kylie em um internato.

— Celine, eu vou embora?

Ela olhou para baixo para ver Kylie olhando para ela com olhos assustados
enormes, e lágrimas já aparecendo nos cantos.

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Celine sentiu como se alguém estivesse apertando seu coração. Como podia
ter sido tão imprudente? Ela estava discutindo o futuro de Kylie com essa
mulher na frente da criança, como se ela não estivesse lá.

Ela caiu de joelhos na terra e puxou Kylie em seus braços. — Não, cherie,
você não está indo a lugar algum. Sua casa é aqui com o tio Pierce.

— E você — perguntou Kylie, procurando os olhos de Celine como para


dar ainda mais segurança.

Mas como ela poderia prometer Kylie isso também? Ela era apenas uma
empregada, depois de tudo. Pierce poderia encerrar seu contrato de trabalho a
qualquer momento. E se essa intrometida Sophia Redgrave dissesse algo mais
esse dia poderia vir mais cedo ou mais tarde. Ainda assim, ela tinha que dizer
algo para acalmar a criança. Ela já tinha experimentado confusão suficiente para
um dia.

— Oui, cherie, e eu também.

Kylie sorriu e o coração de Celine cantou. A menina ia ficar bem. Puxando-a


para perto, ela deu um rápido beijo na testa.

— Ah, então você é uma estrangeira, não é?

As palavras de Sophia invadiram sua comunhão de amizade, voltando sua


atenção para ela novamente.

— Você a chamou de 'cherie. Muitos estrangeiros vêm para este país e, em


seguida, decidem não voltar mais. Você é uma imigrante ilegal ou algo assim?

De todas as coisas ruins, que ela poderia ter dito, para Celine esta foi uma
das piores. Tão rica e sofisticada como só Sophia Redgrave poderia ser,
obviamente, vivendo em um mundo de percepções estereotipadas. Ela era uma
fanática que precisava de uma resposta a altura.

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Mas, então, lembrou-se. Não na frente de Kylie. Por mais que se sentisse
tentada a colocar Sophia Redgrave em seu lugar ela não iria fazê-lo à custa da
felicidade de Kylie.

Respirando fundo, ela contou até dez mentalmente, em seguida, expulsou


lentamente o ar. Com uma voz calma, ela disse: — Se você me der licença eu
tenho que levar Kylie para dentro agora.— Então, rapidamente recolheu as
ferramentas, pegou a mão de Kylie e afastou-se deixando a grande Sra. Sophia
Redgrave olhando atrás delas.

Pierce gemeu e balançou a cabeça. No entanto, outro atraso e mais duas


horas, desta vez. Ele olhou para seu piloto e o homem deu um encolher de
ombros e um sorriso de desculpas. Não havia nada que ele pudesse fazer. Se os
controladores de tráfego aéreo disseram que teriam que ficar de fora da
tempestade, então, era o que eles fariam.

Pierce olhou para o relógio. Depois de oito horas. Sra. Simpson já teria ido
embora e Kylie já estaria na cama. Ele tinha falado com ela naquele dia e
prometeu que estaria em casa para ler uma história. Ele fez uma careta. Ele tinha
quebrado a promessa a uma criança que estava muito sensível agora e precisava
de estabilidade e segurança. Quebrar uma promessa definitivamente não era a
maneira de dar isso a ela.

Então, sua mente foi à mulher que tinha ocupado seus pensamentos durante
toda a semana em que ele esteve fora. Ele se mexeu na cadeira como suas costas
apertadas só de pensar nela. O que tinha Celine Santini que o transformou? Ele
não podia pensar nela sem imaginar beijá-la até que ela estivesse ofegante, as
mãos deslizando para o colo dela, seios fartos suaves.

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Ele balançou a cabeça e levantou-se, em seguida, ele foi até as janelas de
vidro do salão e começou a andar. Ele tinha que controlar seus pensamentos.
Celine era uma empregada e ele tinha que se lembrar disso. Mas, caramba, por
que ela tem que ser tão sexy?

E é não tudo. Havia algo nela que o atraía como um ímã. Não era apenas sua
beleza física. Talvez fosse o seu sorriso contagiante ou seu amor evidente com as
crianças. Havia algo de bom, calmo e carinhoso nela que o fez confiar nela
completamente. Ele confiava nela com Kylie e mesmo que ele tivesse verificado
todas as suas referências, ele teve a impressão desde o primeiro encontro –
mesmo breve - que ela era genuína.

Ele sorriu para si mesmo enquanto pensava em voltar para casa e vê-la
novamente. Claro que ele não iria vê-la esta noite. Seria tarde demais para isso.
Mas ele estaria em casa durante todo o domingo na companhia de suas duas
meninas. Ele riu com esse pensamento. Ele, o solteirão dedicado, tinha se
tornado um homem de família, no espaço de apenas um par de semanas. A idéia
da responsabilidade de uma família tinha colocado medo nele por anos, mas
agora ele estava ansioso para fazer de conta. Ele devia estar ficando velho.

Pierce chegou em casa quase as duas horas da manhã. Cansado e sujo depois
de suas viagens, ele jogou a mala no corredor e subiu as escadas para o quarto
principal, onde ele tirou a roupa e foi direto para o chuveiro. Foi só quando ele
se sentiu limpo e revigorado que percebeu como estava cansado. Deus, era bom
estar limpo.Ele vestiu a cueca em seguida, agarrou seu roupão e fechou-o com a
faixa. Então, descalço, ele se dirigiu até a ala que Celine e Kylie ocupavam. Ele
queria observá-las rapidamente antes de ir dormir. Primeiro, ele espiou o quarto
de Kylie. No quarto tinha uma luz fraca lançada pela noturna suavemente
brilhante cama de Kylie. Calmamente ele caminhou para olhar para a criança
dormindo. Ela estava descansando em paz enquanto segurava seu ursinho de

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pelúcia, seu cabelo loiro ondulando suavemente ao redor do rosto que estava
rosado do sono.

Ele saiu do quarto e voltou para o corredor, em seguida, olhou para a porta
do quarto de Celine. Pensou em checá-la também, mas logo desistiu da idéia. O
que ele era, um espreitador? Ele não poderia invadir a privacidade dela assim.
Não, ele tinha que ser paciente e esperar até de manhã para vê-la novamente.

Ele estava prestes a se virar quando percebeu que a porta estava


entreaberta. Ela devia ter feito isso deliberadamente, provavelmente para que
pudesse ouvir se Kylie gritasse no meio da noite? Ele podia ver uma luz fraca
através da fresta fina entre a porta e o batente. Ela poderia estar lendo.

Por um momento, ele fez uma pausa, em seguida, sua curiosidade levou a
melhor sobre ele, e se aproximou da porta. Ele deu um toque suave. Não
ouvindo nenhuma resposta ele lentamente abriu a porta apenas o suficiente para
colocar a cabeça e observar ao redor.

O abajur estava ligado, mas a cama de Celine estava vazia. Os lençois


estavam cuidadosamente arrumados e a cama parecia que não tinha sido mexida
ainda.

Pierce franziu a testa. Onde diabos ela estava? Seus olhos giraram para a
porta do banheiro, mas estava aberta e o banheiro estava na escuridão total.
Agora ele estava realmente preocupado. Celine não teria deixado Kylie em casa
sozinha, teria? Não. Ele tinha certeza que ela nunca faria uma coisa dessas.

Ele saiu do quarto, em seguida, caminhou para a outra porta no corredor.


Antes mesmo que abrisse, ele poderia dizer que este era o lugar onde iria
encontrar Celine. Enquanto ele estava na porta a fragrância de seu perfume
flutuou em direção a ele. Ele seguiu o perfume floral, entrando na sala de estar
que Celine compartilhava com Kylie, e caminhou até o sofá perto da janela.

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E lá estava ela, encolhida no assento como um pequeno gato, um livro de
contos de fadas descansando em seu quadril. Ela deve ter entrado na sala de
estar depois de colocar Kylie na cama e dormiu com o livro ainda no colo.

Pierce pensou em pegar um cobertor e cobri-la. Ela estava vestindo uma


camisola de seda branca e o frescor da noite certamente dando-lhe um calafrio.
Mas então ele percebeu que não seria o suficiente. A chaise long não tinha sido
feita para acomodar como uma cama e o braço íngreme mantinha seu pescoço
posicionado no que parecia ser um ângulo extremamente desconfortável. Ela
certamente teria um torcicolo de manhã. Ele não tinha escolha, senão acordá-la.

— Celine — Ele sussurrou baixinho, não querendo assustá-la.

Ela não se moveu. Sua respiração ficou profunda e pacífica.

— Celine — disse ele novamente e desta vez ele tocou em seu braço. Era
suave e frio ao toque. Ele franziu a testa. Ela precisava estar na cama debaixo de
um cobertor quente. Na segunda tentativa dele acordá-la seus olhos mexeram,
mas ela não acordou.

Ele se sentou no sofá, seu quadril tocando a curva de sua cintura, e se


inclinou sobre ela.

— Celine, acorde — ele sussurrou. — Você precisa ir para a cama. Ele


colocou a mão em seu ombro e deu uma leve sacudida.

Suas pálpebras moveram novamente e desta vez seus olhos abriram. Ela
olhou para ele, sonolenta.

— Pierce — ela sussurrou, seus olhos castanhos nublados confusos. — O


que é? Então seus olhos se arregalaram e ela se esforçou para sentar. — Kylie.
Há algo de errado com ela?

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— Kylie está bem. Ele a acalmou, colocando um braço para firmá-la. —
Você precisa ir para a cama.

— Oh. — Ela suspirou e relaxou contra seu braço. — Você me assustou. Eu


pensei que algo tinha acontecido.

— Nada aconteceu — Disse ele, mas desta vez sua voz estava tensa e ele
estava encontrando dificuldade para respirar. Celine tinha caido contra ele, e ele
agora podia sentir o peso de um de seus deliciosos seios. Ele imediatamente
endureceu em resposta. Cristo, o que essa mulher estava fazendo com ele?

A seda macia da camisola dela deslizou sobre os cabelos do seu braço,


enviando ondas de choque subindo rapidamente através de seu corpo. Sua boca
ficou seca de desejo. Ele queria tanto beijá-la, provar esses lábios, para consumi-
la. Ele queria beijar os topos desses belos seios. Ele olhou em seus olhos, em
seguida, ele baixou a cabeça, a intensidade do seu desejo fazendo-o gemer, e
pressionou seus lábios nos dela.

Celine assustou-se e, em seguida, para seu grande alívio ela estava


correspondendo, timidamente no início, em seguida, com uma paixão que quase
igualou a sua própria. Agitado por seu ardor, ele brincou e explorou então
tomou posse de sua boca, beijando-a até que ela estava sem fôlego em seus
braços.

— Celine, onde está você? Estou com sede. A interrupção da pequena voz
cortou através da tensão escaldante.Pierce congelou. Em seguida, ele afastou-se
para trás e pulou fora do sofá.

— Posso pegar um pouco de água? A porta se abriu e Kylie ficou lá


sonolenta esfregando os olhos. Então os olhos da pequena menina se
arregalaram quando ela olhou para Pierce.

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— Tio Pierce, você está em casa. Ela correu para os seus braços e ele a
pegou em um enorme abraço de urso.

— Sim, tem pouco tempo que cheguei. Demorei, mas cheguei afinal. Sentiu
minha falta? Kylie acenou com a cabeça, os olhos enormes e sérios.

— Uh huh. Eu queria que você chegasse em casa antes da minha hora de


dormir.

— Me desculpe, eu cheguei tarde, querida. — Ele disse suavemente. — Mas


eu estou aqui agora. Você me perdoa por estar atrasado?

Ela assentiu com a cabeça novamente. — Uh sim.

— Obrigado. Pierce sorriu e lhe deu um beijo suave na bochecha. — Agora


vamos pegar um pouco de água.

Quando Kylie descansou a cabeça em seu ombro Pierce virou-se para olhar
para trás, para Celine. Ela se sentara no sofá olhando para eles, ou, mais
precisamente para ele, como se estivesse em estado de choque.

— Vá para a cama. — Ele disse as palavras silenciosamente, em seguida,


antes de Kylie pudesse começar a fazer perguntas, ele a levou para fora da sala
para o corredor.

Depois que ele colocou Kylie de volta na cama e voltou para seu quarto, ele
deitou e ficou por muito tempo revivendo cada segundo que ele passou com
Celine. Ele ardia, pensando no que poderia ter sido. Ele sabia, sem dúvida, que
se Kylie não tivesse aparecido naquele momento eles teriam encontrado o êxtase
nos braços um do outro. Mas não era para ser. Não esta noite, pelo menos.

Ele cruzou as mãos atrás da cabeça enquanto olhava para o teto. Seu cérebro
estava dizendo para ficar longe dela, que ele ultrapassou a linha e devia recuar.
Ela era sua empregada, afinal.

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Mas, ao mesmo tempo tinha a outra parte dele que queria possuí-la, corpo e
alma. Ele tinha conseguido apenas um gostinho da doce senhorita Celine Santini,
e ele queria desesperadamente mais...

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Celine sentou-se na cama e torceu os cobertores nas mãos. Ela olhou
para as cortinas balançando suavemente por sua janela. Depois do episódio na
noite passada como ela iria enfrentar Pierce?

Ela mal conseguia se lembrar de como tudo começou. Tudo que ela
lembrava era encontrar-se nos braços de Pierce, em seguida, ele a estava beijando
e depois ela se perdeu. Ele tinha habilmente despertado seu corpo para uma
sinfonia sensual interpretada por suas mãos, seus lábios, seu corpo, tão poderosa
e vibrante ao seu toque. Ele beijou seus lábios até que ela se derreteu em seus
braços. Graças a Deus, Kylie entrou naquele momento. De alguma forma, no
fundo do seu coração ela sabia que, se o feitiço não tivesse sido quebrado, ela
teria sido incapaz de resistir a ele.

Respirando fundo ela reuniu coragem e saiu da cama. Era domingo e não
haveria a Sra. Simpson para fazer o café da manhã para Kylie, por isso ela
precisava estar pronta para enfrentar o dia. Gostasse ou não, ela teria que
enfrentar Pierce D'Amato.

Quando ela desceu com Kylie o homem que dominava seus pensamentos já
estava sentado à mesa, copo na mão, lendo o que parecia ser o New York Times
em seu Ipad. Ele virou-se quando elas entravam na cozinha.

— Olá, senhorita olhos brilhantes. — Disse ele com um sorriso, em seguida,


colocou o copo na mesa e abriu os braços para dar um abraço de bom dia em

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Kylie. Ele beijou o topo de sua cabeça, em seguida, ainda sorrindo, ele ergueu os
olhos para Celine que ficara para trás, mantendo-se a poucos metros de distância
entre eles. Seu sorriso parecia bastante inocente, mas nele tinha um olhar que fez
Celine contorcer-se.

Então, ele estava se lembrando, também. Isso era óbvio pelo seu olhar. Mas
onde ela se sentia envergonhada de seu comportamento, com a facilidade com
que ela tinha caído sob o feitiço de sua carícia sedutora, ele parecia satisfeito.
Não havia uma ponta de arrependimento em seus olhos.

Celine não sabia se devia sentir-se irritada com a falta de vergonha ou


lisonjeada. Isso era tudo tão confuso. Ela baixou os olhos e caminhou até o
fogão, ansiosa para encontrar algo para fazer, para impedi-la de ter que encará-lo
novamente.

— Bom dia, Celine.

Com sua saudação Pierce a forçou a voltar sua atenção para ele. Ela colou
um sorriso nos lábios.

— Bom dia.— Ela disse, e olhou para ele, então, rapidamente voltou-se para
sua tarefa, dolorosamente consciente de seus olhos sobre ela. Furtivamente ela
respirou rápido, então exalou lentamente, tentando acalmar os nervos à flor da
pele. Como ela iria sobreviver a um dia em sua companhia?

Ela deu um suspiro de alívio quando Pierce e Kylie se envolveram em uma


conversa. Eles começaram uma discussão séria sobre os méritos de cada um de
seus brinquedos e quem seria o melhor amigo de todos, Barbie ou Elmo ou A
Pequena Sereia. Celine terminou o mingau de aveia de Kylie e em poucos
minutos ela colocou seu cereal, suco de laranja e banana em cima da mesa.Só
então ela voltou os olhos para Pierce.

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— O que você gostaria? — Ela perguntou, sua voz muito mais controlada e
calma do que sentia.

Ele olhou para ela, seu olhar enigmático, mas houve uma onda nos lábios
que lhe disse que ele estava lendo muito mais na sua pergunta do que ela
significava.

Ela sentiu o calor subir ao rosto e ela estava se virando, tentando esconder
sua angústia, quando ele falou.

— Eu vou comer o mesmo que você — Disse ele, em seguida, deu uma
risada suave.

Ela se esforçou para conseguir tomar o café da manhã com ovos mexidos e
torradas com Pierce. Foi difícil sentada à direita logo em frente dele, tentando
todo o tempo evitar seus olhos. Graças a Deus Kylie estava ali para entretê-los.

Ela recolheu os pratos e colocou-os na máquina e então suspirou com alívio.


O café da manhã tinha acabado. Agora ela poderia escapar.

— Então o que você gostaria de fazer hoje, princesa? As palavras de Pierce


interromperam seus pensamentos. — Eu sou todo seu.

— Nadar. Kylie gritou e bateu palmas de alegria. — Eu amo nadar. Pierce


deu uma risadinha.

— Eu nunca teria imaginado. Ele olhou para Celine, que estava ao lado da
pia. — O que você me diz, de nos encontramos na piscina em cerca de 45
minutos?

Celine assentiu. — Ela vai estar pronta. Isso será mais do que suficiente para
a digestão do café da manhã.

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Pierce levantou uma sobrancelha. — O que você quer dizer, com ela vai
estar pronta? Quer dizer que você não vai estar pronta?

Celine o encarou. Ele a queria na piscina com eles. Ele somente com uma
sunga e ela de maiô exposta ao seu olhar? Como ela iria conseguir manter os
olhos afastados dele? Depois da noite passada, sabendo o que ela sentiu ao ter
esses ombros largos sob as palmas das mãos, sua pele quente pressionada contra
a dela, como ela iria manter a calma tão perto de seu corpo nu?

Não, não é uma boa idéia. — Eu... Estava pensando em recuperar o atraso
em algumas... Leituras.— Ela titubeou em uma desculpa. Mentir nunca foi fácil
para ela. — Talvez você e Kylie pudessem passar algum tempo juntos?

Ele deu-lhe um olhar que dizia que ele sabia que ela estava fazendo o seu
melhor para evitá-lo. Então ele encolheu os ombros e olhou para Kylie.

— Desculpe, Princesa, Celine não quer ir nadar hoje. Eu acho que nós
vamos ter que deixar para outro dia.

— Não. Kylie lamentou. — Eu quero nadar.

Pierce balançou a cabeça e em seu rosto tinha uma expressão exagerada de


arrependimento. — Não posso fazer nada. A não ser que Celine esteja junto
para me ajudar com você.

— Celine, você tem que vir. Kylie gritou puxando sua mão. — Por favor?

Celine afagou-lhe a cabeça e com a menina distraída ela teve a chance de


encarar Pierce. Ela ficou ainda mais irritada quando viu o sorriso largo no rosto
dele. Ele usou Kylie para forçar. Ele sabia que ela nunca iria recusar um pedido
da menina. Como ele podia ser tão baixo?

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Aparentemente, ele poderia ir tão baixo e com bastante facilidade, também.
Sem qualquer sinal de que ele se sentia culpado, ele sorriu e disse: — Ok,
senhoras, encontramo-nos aqui em quarenta e cinco minutos. Não se atrasem.

Quando Celine e Kylie chegaram à piscina, Pierce já estava na água. Seu


corpo, elegante e forte, cortando a água, enquando nadava para cima e para
baixo na piscina. Quando ele olhou para cima e as viu ele virou de costas e
acenou.

— Vamos lá.— Ele as chamou. — A água está boa. Kylie foi a primeira a
responder. Deslizando a mão da de Celine, ela correu para a borda da piscina e
pulou, quase caindo em cima da cabeça de Pierce. Ele riu e a pegou em seguida
acenou para Celine.

— Sua vez. Ela fez uma careta e balançou a cabeça. Será que ele realmente
achava que ela iria pular em seus braços? Acho que não.

— Deixe eu te pegar — Ele disse com um sorriso e elevou Kylie sobre seus
ombros, e começou a nadar em direção à borda da piscina.

Celine não sabia se ele estava brincando. Rapidamente ela deixou a toalha
cair de onde ela segurava firmemente sob os braços, expondo seu maio ao seu
olhar. Pierce parou de brincar e seu olhar apreciativo disse a Celine que ele
gostou do que viu. Ela podia sentir seu corpo ficar inteiro corado. Querendo
esconder-se o mais rápido possível, ela apressou a sentar-se na borda da piscina,
em seguida, deslizou para dentro da água, aliviada quando a mesma corria por
seu corpo. É claro que a água não escondeu nada de sua vista, mas deu-lhe um
pequeno conforto, sabendo que alguma coisa, embora transparente, estava a
cobrindo.

Levou cerca de quinze minutos antes que Celine começasse a relaxar. Talvez
fossem os gritos de riso de Kylie quando Pierce balançou-a para cima e para

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baixo ou talvez fosse esse outro lado dele que ela estava vendo, tão
despreocupado, brincalhão e até travesso. Ele pensou em pregar uma peça na
pobre Kylie, afundando para o fundo da piscina, fazendo-a pensar que ele tinha
desaparecido, ou nadando para trás dela e agarrar sua orelha. Era como se Celine
estivesse vendo o menino, que ele devia ter sido. Ela só conseguia imaginá-lo
ativo e impertinente e muito divertido. Logo ela entrou na brincadeira também.
Quando Pierce quase engasgou com uma onda de água que ela jogou atrás dele,
tentando dar-lhe um gostinho de seu próprio remédio. Mas ele era muito forte e
muito rápido. Por mais rápido que ela nadasse, não conseguia chegar até ele e,
finalmente, desistiu e nadou de volta para Kylie, que estava rindo
incontrolavelmente, enquanto observava da parte rasa da piscina.

Celine abaixou-se e sussurrou em seu ouvido. — Preste atenção — Disse ela.


— Eu vou pegá-lo. Então, ela levantou a mão direita, Kylie fez o mesmo, e elas
bateram as mãos juntas, fazendo um gesto de vitória. Celine virou-se para
verificar a localização de Pierce. Ele ainda estava na outra extremidade da
piscina, mas agora ele estava descansando, fazendo o nado de costas, flutuando
calmamente de volta para elas. Obviamente, ele sentiu que não havia mais
ameaça. Ele provavelmente pensou que ela tinha desistido e voltado para sentar-
se com Kylie e lamber suas feridas. Bem, ele tinha se enganado grosseiramente e
estava prestes a receber o choque de sua vida. Com a discrição escorregadia de
uma cobra, Celine deslizou de volta para a água, mas desta vez ela respirou
profundamente e mergulhou, nadando rapidamente ao longo do fundo da
piscina. Enquanto se movia ela via Pierce flutuar em sua direção, totalmente
alheio ao perigo que espreitava abaixo. Então, quando ele estava bem acima, ela
se agachou e, usando o fundo da piscina para impulsionar, ela pulou para cima
em sua direção.

Celine agarrou-o pela cintura e o puxou para baixo e quando ele chutou
surpreendido, ela fugiu para longe de seu alcance.

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Ela estava rindo quando voltou para o lado de Kylie. Por que ela fez isso?
Ela jamais poderia saber o que a tinha levado a dar um caldo no seu próprio
patrão. Querido Deus, ela devia estar perdendo a cabeça.

Ele estava tão perto, tão quente quando ela o agarrou pela cintura, ele era tão
firme ao toque. E ela estava tão consciente dele. A brincadeira era para ter sido
divertida, inocente e pura, mas seu corpo dizia outra coisa. Toda vez que Pierce
chegava perto, seus mamilos se endureciam como pedras, e ela tinha certeza que
ele podia ver através do tecido de seu maiô. E cada vez que ela via seu corpo
musculoso cortar a água sua respiração ficava presa na garganta. Ela estava
morrendo de vontade de deslizar as mãos sobre o peito musculoso e apertar seus
braços. Ela tinha o desejo de deslizar os lábios para baixo em suas costas. Ela
nunca tinha tido tais pensamentos ousados em sua vida. O que este homem está
fazendo com ela?

Agora ele tinha nadado de volta à superfície e ainda cuspindo água, olhando
para ela através da água escorrendo pelo seu rosto. O brilho em seus olhos dizia
que ele não estava disposto a deixar passar sem uma resposta. Ele balançou as
mechas do cabelo molhado do rosto e fixou seus olhos escuros em Celine,
abaixou-se na água, o seu corpo, boca e nariz abaixo da superfície. Como um
crocodilo espreitando sua presa, apenas com seus olhos e o topo de sua cabeça
acima da superfície, ele veio em sua direção.

Embora soubesse que era de brincadeira, e embora ela estivesse plenamente


consciente de que este era um homem e não uma besta, um medo irracional
tomou Celine em cheio e ela gritou. O jogo estava ficando muito real. Ela pegou
Kylie e nadou rapidamente em direção aos degraus, com a intenção de sair da
piscina e fugir das garras de seu perseguidor. Ela estava quase fora, quando a voz
estridente de uma mulher cortou o ar.

— Bem, o que temos aqui?

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Ela se virou na direção da voz. E lá estava Sophia Redgrave. Em seus braços,
ela cuidadosamente segurava uma bandeja sobre a qual havia um bolo colorido.
Ela deu um sorriso apertado.

— Eu estava tocando a campainha, mas quando não houve resposta eu


decidi vir por aí. Estraguei uma festa? Seus olhos brilharam com algo parecido
com raiva quando varreu Celine e Kylie. Mas, então, seu rosto se suavizou
quando ela voltou sua atenção para Pierce.

— Eu trouxe uma coisa especial — Disse ela, o rosto suavizando-se num


sorriso. — Vou levá-lo para a cozinha. Venha ver. Pierce levantou as
sobrancelhas, então ele sorriu e nadou para o lado da piscina, onde ela agora
estava olhando para ele.— O que você tem aí? — Ele perguntou sua voz cheia
de diversão.Sophia balançou a cabeça e fez cara de provocação. — Eu não vou
dizer. Só se você for um bom menino e me seguir. Sem esperar por uma
resposta, ela fez seu caminho com suas sandálias douradas de salto alto, seu
traseiro balançando sedutoramente enquanto andava.

Pierce assistiu-a ir, em seguida, virou-se para Celine e Kylie, que não tinham
se movido a partir da borda da piscina, quando Sophia os encontrou. Ele ergueu
as sobrancelhas e sorriu.

— Quem não gosta de uma surpresa? — Ele disse com um encolher de


ombros. Então ele colocou as mãos sobre a borda, arrastou-se para fora da água
e andou pelo caminho pavimentado até a casa.

A cada passo de Pierce, Celine assumiu que seu coração caia mais e mais.
Quando ele finalmente desapareceu dentro da casa, ela sentiu como se seu
coração fosse uma pedra que rolou para o fundo da sua barriga.

Como podia ter sido tão estúpida? Como ela poderia ter esquecido Sophia
Redgrave?

45
Ela teve dúvidas, quando a mulher deu a entender que ela e Pierce eram mais
do que apenas amigos. Ela não tinha ouvido a Sra. Simpson mencioná-la assim,
então ela pensou que a mulher estava provavelmente exagerando. Talvez ela só
quisesse que Celine pensasse que tinha alguma coisa acontecendo.

Mas se ela tinha quaisquer dúvidas quanto à veracidade da declaração da


mulher, agora ela não tinha mais. A forma como o rosto de Pierce ficou
interessado, o jeito que ele tinha fugido depois que a mulher falou, era tudo o
que ela precisava saber. Pierce D'Amato tinha dona e se ela sabia o que era bom
para ela, ia ficar o mais longe possível dele.

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No dia seguinte, Pierce voou para o Texas e foram mais quatro dias antes
que Celine o visse de novo. Não que ela se importasse. Ela precisava de um
tempo sem ele perto, tempo para construir suas defesas e aceitar que Pierce era o
seu empregador e isso era tudo.
O que ela estava pensando? O homem era um bilionário. Porque ele iria querer
algo com ela? Mulheres como ela eram apenas brinquedos para homens como
ele, brinquedos para serem usados e descartados quando se cansava. Sophia, por
outro lado, era de sua classe. Ela tinha muito dinheiro, Celine tinha certeza, e ela
certamente tinha atitude.
Ela, por outro lado, não tinha nada. Como poderia competir?

Naquela noite, quando Pierce chegasse em casa, Ela estaria preparada para
ele. Seu coração estava envolto em um cofre de aço e nada do que ele dissesse ou
fizesse teria qualquer impacto sobre ela. Ela iria manter sua expressão neutra e
iria cumprimentá-lo com um sorriso profissional. Por mais difícil que fosse, para
o bem de Kylie e para o bem de sua própria sanidade ela iria separar suas
emoções. Ela seria tão legal quanto possível, e seria a empregada perfeita. Nada
mais, nada menos.

Esse era o seu plano.

Mas quando Pierce entrou pela porta, o olhar de desânimo e tristeza em seu
rosto frustaram todos os seus planos bem-feitos.

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Chocada, ela precipitou-se para o seu lado.

— Você está bem? — Ela perguntou, procurando seu rosto. O que poderia
ter acontecido para ele estar com aquele olhar tão devastado?

— Eu preciso de um minuto. — Disse ele e colocou as malas no chão. Seus


olhos balançaram passadando por ela e por Kylie, que parecia ter percebido que
algo estava errado. Ela não tinha ido correndo para saltar nos braços de seu tio
Pierce. Ela ficou ali, os dedinhos torcendo a faixa que pendia do seu vestido,
seus olhos azuis enormes em seu rosto mágico.

Ele se endireitou e quando fez isso respirou fundo e olhou para Celine.

Naquele momento, ela soube. Não precisou que palavras fossem trocadas
entre eles, mas a angústia em seus olhos, o cansaço extremo em seu rosto, era
tudo o que ela precisava. O pior tinha acontecido. A doce e suave Kylie havia
perdido sua mãe.

Os lábios de Celine tremeram e mesmo sem nunca ter conhecido a mulher


ela sentia como se fosse explodir em lágrimas. Quando ela sentiu seu rosto
começar a desmoronar, mordeu o lábio e respirou lentamente. Não, ela não iria
quebrar. Este não era o seu momento. Esta perda era a de Pierce e mais do que
ninguém, de Kylie.

— O que você quer que eu faça? — Celine sussurrou enquanto ela olhava
para a tristeza no rosto ferido dele.

— Leve-a — Disse ele. — Eu preciso de alguns minutos. — Apenas leve-a


para o quarto dela e eu irei em breve.

Celine assentiu e foi até Kylie e pegou sua mão. — Venha, querida. — Ela
disse em uma voz suave e relaxante. — Tio Pierce irá ve-la em seu quarto.
Vamos apenas dar algum tempo para ele descansar um pouco.

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Kylie não disse nada. Por um momento, ela continuou a olhar Pierce, em
seguida, ela balançou a cabeça, o rosto parecendo agora muito mais velho do que
seus quatro anos e virou-se com Celine e se afastou.

Kylie Nichols era a menina mais corajosa que Celine conhecia. Como um
soldado em miniatura, ela sentou-se calmamente, com as mãos no colo, quando
Pierce disse a ela como ele tinham ido visitar a mãe depois de receber uma
chamada urgente do hospital. Infelizmente, ela morreu antes que ele chegasse.
Mas as enfermeiras disseram-lhe que ela tinha morrido em paz, assim como
adormecer por um tempo muito longo.

— A mamãe está no céu agora? — Kylie perguntou em um sussurro quase


inaudível.

— Sim — Disse Pierce, com os olhos brilhantes de emoção. — Os anjos


estão cuidando dela agora.

Só então as lágrimas de Kylie começam a fluir. Quando Pierce se ajoelhou


no chão na frente dela, ele abriu os braços. Ela entrou no abraço e deitou a
cabeça sobre seus ombros. Em seguida, seu pequeno corpo tremeu com os
soluços.

Ele a deixou chorar e enquanto ele esfregava suas costas suavemente e


sussurrava palavras suaves de conforto em seu ouvido. Demorou vários minutos
antes de acalmar o choro, e Kylie levantou o rosto para olhar nos olhos de
Pierce. — Eu gostaria que a mamãe pudesse ter ficado comigo — Disse ela com
um suspiro. — Mas eu acho que o papai precisava mais dela. Eu sei que eles
estão juntos agora.

Quando Celine ouviu-a proferir essas palavras sentiu-se puxando-a em seus


braços e gritando. O que era um pouco estóico para quatro anos. Ela estava
agindo com uma maturidade muito além de sua idade, manejando sua tragédia
com uma coragem que muitos adultos não teriam sido capazes de reunir.

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Naquela noite, Kylie dormiu na cama de Celine, em seus braços. Ela não
deixaria de que ela dormisse sozinha por nada no mundo. Enquanto a criança
dormia, ela acariciou seus cabelos até que ela, também, caiu num sono sem
sonhos.

Dias depois eles voaram para New Haven no jato particular de Pierce, onde
Kylie disse seu adeus final. Por causa dela, ele manteve tudo tranquilo, com a
presença apenas de parentes e amigos. Ela passou a cerimônia inteira sentada no
colo de Celine, envolta em seus braços.

Quando voltaram para casa eles foram especialmente agradáveis com Kylie,
nunca deixando ela passar muito tempo sozinha, mas permitindo-lhe espaço
suficiente para chorar. Mesmo Sophia saiu do seu caminho para ser agradável,
trazendo alguns brinquedos e um livro sobre anjos. Ainda assim, demorou
alguns dias antes do primeiro sorriso surgir no rosto de Kylie e ainda mais dias
antes de ouvi-la rir. Levaria muito tempo para ela se curar, mas Celine sabia que
sua pequena soldado iria sobreviver.

***

— Eu quero uma mudança de ambiente para Kylie. Desde o funeral que ela
não sai de casa. Ela precisa sair para respirar de novo. — Pierce cruzou os
braços sobre o peito e encostou-se no tampo de mármore no meio da cozinha.

Ele estava pensando nisso há algum tempo. Ele queria levá-la para um lugar
onde ela pudesse brincar e rir de novo, em algum lugar que não a lembrasse de
sua perda.

— Disney World? — Celine apoiou o queixo na palma da mão enquanto


olhava para ele. Hoje ela dispensou o rabo-de-cavalo e deixou seus cabelos
escuros cairem suavemente em seu ombro.

Pierce pensou um pouco, em seguida, balançou a cabeça. — Não, um pouco


demais para ela, eu acho. Tipo partir de um extremo ao outro, sabe?
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— Que tal um cruzeiro pelo Caribe? Um daqueles que atende a crianças.
Perguntou Celine com uma ligeira inclinação de cabeça. Ela ficava tão bonita
quando fazia isso.

Ele franziu a testa. — Hum, não. Isso é apenas mais do mesmo. Ele soltou
os braços e estendeu-os bem para soltar as dobras nas costas. — Eu quero levá-
la para algum lugar diferente, mas eu quero que seja uma mudança mais suave.
Não tão rápida.

Então um pensamento veio a ele. Celine tinha falado com tanta animação
cada vez que ela mencionava seus irmãos e sua mãe. Será que uma semana ou
duas, na companhia de uma família amorosa era a mudança que Kylie
necessitava?

— Que tal uma viagem para a Europa?

Com suas palavras as sobrancelhas de Celine levantaram e ela olhou para ele
com apenas um toque de emoção em seus olhos. — Europa? — Ela perguntou.
— Tão longe?

Pierce deu uma risadinha. — Um vôo de sete horas? Isso não é ruim. Tente
quatorze ou 18 horas. Já fiz muitos desses. Isto é longe.

Havia um olhar distante nos olhos de Celine. Era claro que ela estava
pensando em casa.

Pierce decidiu pressionar seu ponto e levá-la ao limite, enquanto ela parecia
estar em um estado de espírito nostálgico. — Quando você gostaria de ir ver a
sua família?

Celine virou seus grandes olhos expressivos para ele. — É o que significa
isso? Sua voz era um sussurro ofegante, quase como se tivesse medo de
pronunciar as palavras.

51
— Claro. Você falou tanto sobre Marc e Sylvan que eu sinto que quase os
conheço. Eu adoraria conhecê-los. Ele estava sorrindo quando caminhou até a
mesa e puxou uma cadeira. Ele se sentou em frente a Celine. — O mais
importante, seria ótimo para Kylie. Estar perto de outras crianças é
provavelmente o que ela precisa agora.

Celine começou a mordiscar o lábio inferior com os dentes.

— Eu não sei. Eu absolutamente adoraria ir para casa para uma visita, mas...
os meninos e Kylie? Eu não estou muito certa. Eles podem ser um pouco
difíceis.

— Não subestime a profundidade da compreensão que as crianças podem


mostrar. E mesmo eles sendo meninos — Disse ele com uma risada.— Eles
podem ser compassivos. Hey, os meninos não são tão ruins. Eu sei. Eu
costumava ser um.

Com esse comentário seu rosto relaxou e seus lábios se curvaram em um


sorriso. Seus olhos castanhos líquidos brilharam quando ela olhou para ele.

— Você me convenceu. Eu adoraria que Kylie conheçesse minha família.

Ele colocou uma carranca fingida. — E eu?

Celine começou a rir.

— E você, também, Pierce. Tenho certeza de que todos vão amar você.

***

— Então, este é o Sr. Pierce D'Amato. Bienvenue, Monsieur.

Claire Santini tomou as mãos na dela e ficou na ponta dos pés para beijá-lo
nas duas faces. Ela era uma mulher diminuta com cabelos negros presos em um
coque no alto da cabeça. Seus olhos escuros brilhavam em seu rosto rosado e

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seus lábios falavam de muito riso e alegria. Ela lembrou Pierce um pequeno
pardal alegre, cheio de energia viva que nunca poderia ser extinta.

Ela era uma espécie de contraste com sua filha. Onde ela era pequena e um
pouco gorda com olhos tão negros como a noite, Celine era de uma constituição
delgada com profundos olhos castanhos os quais um homem poderia perder-se
dentro. Mesmo se ela fosse de estatura mediana, ela seria pelo menos quatro ou
cinco centímetros mais alta do que sua mãe.

Quando Claire liberou as mãos Pierce olhou para Celine, enquanto ela estava
no meio da modesta sala de estar.

— Então, onde estão os jovens que eu tanto ouvi falar?

Ela revirou os olhos. — Escondidos tenho certeza, apenas esperando para


fazer uma brincadeira com a gente. Mas então ela abriu um largo sorriso e seus
olhos brilharam com grande expectativa. Ela colocou os dedos nos lábios e foi
na ponta dos pés para a porta que dava para a cozinha. Ela estava entreaberta e,
sem aviso, ela esticou um braço ao redor e voltou com um menino, agora com
uma gargalhada.

— Marc, o que você tem aí? Ela perguntou quando puxou uma pistola de
água enorme de suas mãos. — Você estava preparando para nos molhar, menino
travesso. Você é um malvado. Ela depositou o brinquedo no chão. — Venha,
menino travesso. Dê um abraço na sua irmã. — Ela colocou os braços ao redor
dele e beijou o topo de sua cabeça.

— Ugh, beijos. Nojento. Não é bom! Marc esgueirou-se fora de seus braços,
mas seus olhos escuros piscaram mostrando que estava amando a atenção.

— Marc, assim não, mon petit. Comporte-se. Claire balançou a cabeça e


deu-lhe um olhar severo. — Agora vá e traga o seu irmão. Diga-lhe que já é
suficiente e que saia do esconderijo.

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Sylvan obviamente estava ouvindo tudo, porque ao ouvir as palavras de sua
mãe, espiou pelo canto da porta e entrou na sala de estar. Com seus grandes
olhos castanhos e cabelos escuros, ele era como uma versão masculina de Celine.
Mais moderado do que seu irmão, ou talvez querendo parecer mais maduro, ele
se aproximou de sua irmã com um pequeno sorriso, que ampliou para um
enorme sorriso. Obviamente, ele não foi capaz de conter sua alegria ao ver sua
irmã novamente.

— Sylvan. Celine chorou. — Você cresceu e está tão alto. Ela deu-lhe o
mesmo tratamento que ela tinha dado a Marc, abraçando-o apertado, mas ele era
quase tão alto quanto ela, por isso ela acabou beijando-o na bochecha. Ao
contrário de seu irmão, ele não apresentou objeções.

Em seguida, Celine foi até onde Kylie ficou escondida atrás de Pierce.

— Venha, cherie. Não seja tímida. — Ela pegou a mão da menina.


Gentilmente, ela puxou-a para frente. — Gente, está é Kylie. Venham aqui e
digam oi.

Kylie agarrou-se a Celine com uma das mãos e em seguida enfiou o dedo
polegar da mão livre em sua boca. Ela olhou para os meninos, com enormes
olhos cansados.

Marc sorriu e deu-lhe um rápido aceno.

— Olá — Disse ele, em seguida, enfiou as mãos nos bolsos.

Sylvan, porém, teve uma abordagem diferente. Ele deve ter visto a incerteza
de Kylie em estar em uma casa estranha, com três estranhos que falavam
engraçado. Ele se agachou e olhou em seus olhos. Com um sorriso, ele estendeu
a mão.

— Prazer em conhecê-la, Mademoiselle Kylie. — Por um momento ela


hesitou, então, sem deixar a mão de Celine, ela tirou o dedo da boca e estendeu a

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mão direita para Sylvan. Ele pegou-a com polegar molhado e tudo mais, e
apertou a mão dela. — Eu sei que nós vamos ser bons amigos — Disse ele.

Kylie não disse nada, mas balançou a cabeça lentamente e colocou o polegar
de novo em sua boca.

Claire deve ter visto o quanto cansada estava a criança porque ela bateu as
mãos e começou a espantar os meninos para fora da sala.

— É hora de descansar agora. Os viajantes estão muito cansados.

Suas palavras provocaram uma sensação de cansaço em Pierce que se sentiu


tão cansado e podia imaginar como os outros se sentiam especialmente Kylie,
que não estava acostumada com vôos longos. Embora ela tivesse dormido
durante a maior parte da viagem, ela não tinha dormido tão profundamente
como quando estava em sua própria cama.

O que piorava é que agora estaria no meio da noite em Massachusetts e


ainda estava claro na França. Levaria pelo menos 24 horas para os seus relógios
biológicos se ajustarem.

Depois de uma refeição rápida Claire levo-os para a cama, Celine


compartilhava um quarto com Kylie e Pierce ocupando o quarto de Marc.

A casa de Celine era um pequeno bangalô na pequena aldeia de Thomery-By


fora de Avon, a cidade de tamanho significativo mais próxima. Quando
chegaram em Paris, eles viajaram quase uma hora do Aeroporto Charles De
Gaulle para chegar aqui. Tinha sido uma longa jornada, mas como Pierce tinha
imaginado tinha valido a pena.

Aqui na aldeia, longe da agitação da cidade, ele sabia que Kylie iria encontrar
a cura. Quando ele se deitou na cama ouvindo os pássaros assobiando nos ramos
que pendiam pela janela ele podia imaginá-la correndo através dos prados
verdejantes com os meninos ou escolhendo as flores que ladeavam os caminhos

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sinuosos que tinha visto no caminho para cá. Onde quer que você olhasse havia
flores. Jardins florescendo na frente das casas pequenas e Pierce podia sentir o
orgulho dos habitantes com sua bela pequena cidade.

Ele sorriu. Ele tinha certteza que seria uma estadia pacífica e relaxante nesta
calma aldeia.

Na tarde seguinte, depois que eles tinham se recuperado totalmente da


viagem de avião, Celine decidiu introduzir Pierce e Kylie em sua cidade natal.
Eles saíram para um passeio a pé pela vila, em duas horas eles viram tudo. Eles
pararam para comprimentar o açougueiro que estava pendurando uma fileira de
linguiças na janela, em seguida, eles foram para a loja de uma costureira que se
sentava na janela cantarolando enquanto trabalhava no que parecia ser um
vestido de casamento. Quando ela viu Celine ela largou o tecido, juntou as mãos,
em seguida, correu para o exterior para cumprimentá-la. Celine teve a mesma
resposta na estação de correios, na farmácia e na pequena biblioteca dizendo que
era sua segunda casa. Era óbvio que ela era conhecida e amada em sua
comunidade.

Eles continuaram, desfrutando o ar fresco e a luz do sol, até que chegaram a


mercearia local agora dirigida pelo velho professor de piano de Celine. Alto,
magro e débil, ele parecia um personagem de contos com óculos. Ele beijou
Celine e Kylie em suas bochechas. Quando ele se virou em direção a ele, Pierce
deu um passo involuntário para trás, mas o homem só estendeu a mão em
saudação.

— Bonjour — Disse ele, olhando Pierce desconfiado.

— Bonjour — Pierce respondeu, mas com certa reserva. Porque esse cara
estava olhando para ele assim?

O homem virou-se para Celine e começou uma conversa animada em


francês, da qual ele entendeu apenas duas palavras, noivo e casamento.

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Quando as palavras saíram da boca do homem um olhar estranho passou
pelo rosto de Celine. Ela mordeu o lábio e olhou para o chão. Era óbvio que
tudo o que ele tinha dito a perturbara. Quando ela finalmente olhou para ele, sua
expressão serena desaparecera e seus olhos castanhos brilharam com uma raiva
inconfundível.

Ela respondeu ao comentário do homem, em um tom brusco. Ela


concordou e disse seu adeus, em seguida, ela colou um sorriso no rosto e virou-
se para Kylie e Pierce.

— Eu acho que vocês devem estar com fome agora. Vamos para casa?

Eles estavam andando em silêncio por alguns minutos, Celine parecia


perdida em pensamentos, quando Pierce decidiu questionar sua mudança de
comportamento. Ela tinha ido de alegre e borbulhante para quieta e sombria, no
espaço de minutos, tudo por causa de uma conversa que ela teve com seu antigo
professor. Havia, obviamente, algo preocupante, porque ela continuou
mordendo o lábio inferior e franzindo a testa. Ela provavelmente nem percebeu
que estava fazendo isso.

— O que está acontecendo? — Perguntou ele. — Esse cara, obviamente, te


irritou. Quer falar sobre isso? Ela olhou para ele, então, com uma expressão de
espanto no rosto. Sua pergunta a empurrou para fora de seu devaneio.

— Eu... — Ela balançou a cabeça e olhou para o lado e Pierce podia jurar
que viu o brilho de lágrimas em seus olhos.

Que diabo tinha o homem dito a ela para aborrecê-la tanto?

— Celine, diga-me — Ele insistiu. — Existe alguma coisa que eu posso


fazer?

Ela respirou fundo e deu-lhe um sorriso corajoso. Em seguida, ela balançou


a cabeça.

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— Obrigado por perguntar, mas não... Não há nada que você pode fazer.

Não querendo forçar, ele continuou andando ao seu lado. Em seguida,


sentiu uma mão suave em seu braço.

— Talvez ... se eu falar com alguém sobre isso, possa ajudar. Sua voz era
suave, hesitante, e havia uma súplica em seus olhos. — Podemos falar mais tarde
...?

— É claro — Disse ele, procurando nos olhos por uma dica do que pode ter
causado a ela tal angústia. Poderia ser algo a ver com a sua família? Seria alguma
coisa que dinheiro pudesse consertar? Se fosse assim, ele tinha muito. Por
alguma razão que ele não conseguia explicar sentiu-se protetor com ela, quase
como se ela fosse... Dele.

Mais tarde naquela noite, depois de uma refeição de salada, peixe assado, pão
e queijo Camembert, Pierce deixou Kylie com os meninos e caminhou até um
córrego próximo com Celine. Eles se sentaram na grama macia da margem e
Celine, com a voz baixa e suave, começou a falar.

— É muito difícil falar sobre isso, e eu sinto muito preocupá-lo — Disse ela
com um sorriso triste, — Mas eu acho que o meu comportamento mais cedo
requer alguma explicação.

Ela olhou para suas mãos, em seguida, de volta para ele.

— Eu estive envolvida uma vez, com o filho do senhor que acabou de


conhecer. O dono da mercearia.

Pierce sentiu seu coração dar uma guinada em seu peito. Era como se ela
tivesse dito a ele que ela estava prestes a morrer, sua reação foi tão violenta. Por
que suas palavras o afetaram assim? Inferno, ele a conhecia a menos de dois
meses. Ainda assim, suas palavras tinham dado um choque real nele.

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— Nós fomos para a escola juntos e, em seguida, acabamos indo para a
mesma universidade em Paris. No último ano, nos envolvemos. — Ela parecia
estar deliberadamente evitando seus olhos, olhando para o chão onde ela puxava
distraidamente pedaços de grama. — Nós planejamos nos casar logo após a
formatura, mas depois ele disse que deveríamos esperar até depois da pós-
graduação.

Ela soltou um suspiro, em seguida, ergueu o rosto, mostrando a tensão no


aperto dos lábios. Ela engoliu em seco.

— Eu esperei. Ele queria obter seu MBA na INSEAD. Ele sabia que um
diploma da escola de negócios superior na França iria abrir as portas para ele.
Ele não queria começar uma família sem isso, então eu apoiei a sua decisão. —
Ela encolheu os ombros. — Eu queria muito fazer, então eu pensei em fazer a
minha pós-graduação, enquanto ele fazia a dele e depois do meu Mestrado nos
casaríamos. Um ano a mais ou a menos não iria fazer diferença certo?

Pierce não disse nada, percebendo que tudo o que ela queria fazer naquele
momento era conversar. Ela precisava conseguir colocar fora de seu peito o que
a estava incomodando.

Ela deu uma risada amarga.

— O problema foi que ele voltou para Paris, mas eu fui para os Estados
Unidos. Eu queria fazer parte de um excelente programa de Psicologia que eu vi
sendo oferecido em Harvard e fui aceita. Esse foi o começo do fim. — Ela
deslizou as pernas para cima, colocou os braços ao redor delas e apoiou o queixo
nos joelhos. — Cheguei em casa no Natal, ainda usando meu anel de noivado.
— Disse a voz embargada. — E fiquei sabendo que ele ia ser pai em dois meses.

Então era isso. O bastardo tinha enganado ela. Não é à toa que ela não
queria falar sobre isso. Pierce franziu a testa. Então, por que seu pai falou com

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ela em um tom que fez parecer que ela era a única culpada? Algo não estava
certo.

Sua confusão deve ter sido óbvio, porque Celine começou a falar novamente
e desta vez ela estava oferecendo uma explicação.

— Monsieur Girard, sabe que depois do meu mestrado, voltei para os


Estados Unidos para fazer o meu PhD, porque eu não queria estar perto de
Giles, da memória e do pensamento do que poderia ter sido. Ela começou a
mordiscar seu lábio novamente. — Ele está chateado porque ... ela fez uma
pausa e deu um longo suspiro — Porque Giles me quer de volta e não vou dizer
que sim.

O que isso significa?

— Espere. Estou perdido. — Pierce levantou a mão. — Ele quer você de


volta? E sobre a outra mulher? E a criança?

Celine balançou a cabeça.

— Essa é a coisa. Ele continua dizendo que foi um acidente. — Ela deu uma
risada cheia de descrença. — No entanto, ele se casou com ela e se
estabeleceram aqui em Thomery.

— E então você saiu.

Celine assentiu.

— Eu tinha que fazer.

Pierce levantou-se e limpou a grama de suas calças. Esta história estava


ficando cada vez mais confusa.

— Eu ainda não entendo. Você disse que ele quer você de volta.

Ela riu secamente.

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— Sim. Engraçado, não é? Então ela balançou a cabeça. — Ele e sua esposa
estão divorciados há um ano e ele está me perseguindo desde então.

— Filho-de-uma-puta. — Agora, ele quer você de volta?

Ela assentiu com a cabeça.

— Agora ele me quer de volta.

Por um instante, Pierce ficou em silêncio. Estremecendo de raiva. Se ele


tivesse a chance ele iria socar esse cara Giles bem no meio dele. Por mais que
não fosse seu problema estava chateado com a situação.

Mais do que isso, ele percebeu espantado que ficara alarmado. E se Celine
ainda gostasse do cara? E se este doninha tentasse fazê-la voltar? Como diabos
eles ficariam?

Ele passou os dedos pelos cabelos e olhou para a água. As coisas estavam
ficando muito complicadas. Ele pensou que estava fazendo a melhor coisa,
escolhendo a cidade natal de Celine como o seu local de férias, mas ele caiu em
um vespeiro.

Ele virou-se para encará-la.

— Então, o que o pai deste cara tem a ver com tudo isso? Porque ele te
abordou sobre esse assunto?

— Monsieur Girard sempre quis que nós casassemos. Eu era sua aluna
favorita. Ele ainda quer que eu considere voltar com Giles. Ela encolheu os
ombros.

— Ele me quer bem.

— Sim, certo.— A resposta de Pierce estava fria. — Ele precisa ocupar-se de


seu próprio negócio e não pressioná-la para algo que você não quer fazer. Ele

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olhou para ela quando ele disse as palavras. Era realmente algo que ela não
queria fazer? Ou será que ela ainda tinha algum sentimento por seu ex?

Como se sentisse a direção de seus pensamentos Celine levantou-se e


colocou a mão cheia de pedaços de folhas de grama na água borbulhante.

— Está ficando frio aqui fora. Eu acho que seria melhor voltar para a casa.

Bem, isso foi um fim eficaz para a conversa. Parece que ele havia tocado em
um ponto muito sensível. Pierce olhou para Celine, tentando avaliar seus
sentimentos, mas ela já virava, efetivamente protegendo o rosto de seu olhar. Ela
estava indo até a margem, deixando-o segui-la.

A reação de Celine não era um bom sinal, e agora ele estava preocupado.
Muito preocupado.

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Os dias se passaram e nem Pierce ou Celine trouxeram à tona o assunto da
conversa. Sem palavras ambos pareciam de acordo focando em Kylie e sua
diversão.

Quando Pierce viu as bochechas rosadas da criança enquanto corria ao ar


livre atrás de Sylvan, Marc e um cachorrinho que tinham adquirido, ele sabia que
tinha feito a escolha certa em trazê-la aqui. Nenhuma viagem à Disney World
poderia ter feito para Kylie o que as novas amizades tinham feito para ela. Sem
mimá-la os meninos assumiram o comando completo dela, a levavam para
longas caminhadas nas quais ela voltava exausta, mas repleta de histórias de
pássaros que tinha visto na floresta, as flores que ela tinha escolhido e os bichos
que ela tinha capturado.

— Bichos? — Celine torceu o nariz quando Kylie primeiro contou a ela


sobre seu novo interesse encontrado. — Nojento.

Kylie só riu e saiu correndo para encontrar os meninos, que agora ela parecia
ver como seus irmãos mais velhos. Obviamente, ela queria ser como eles e se
recolher bichos era o que gostavam de fazer, então ela iria fazer também.

A semana inteira passou e a vida de Pierce estabeleceu-se em um ritmo


confortável, o que fez ele se perguntar como iria se ajustar ao rápido mundo dos
negócios, quando voltasse para os Estados Unidos.

Ele tinha gestores competentes em sua empresa de desenvolvimento de


software para que não ficasse preocupado. Ainda assim, ele sabia que não
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poderia ficar fora por muito tempo. Ele iria se desatualizar e quando se trata de
negócios e negociações você não pode fazer isso. Ainda assim, ele estava
gostando do tempo calmo e ele sabia que a Sra. Simpson estava feliz com o
tempo de folga para visitar seus netos.

Uma noite, depois de pegar uns bifes no açougue, Pierce achou que a bolha
mágica que ele estava vivendo, de repente estourou.

Quando ele virou a esquina e caminhou em direção ao beco sem saida, onde
a casa de Celine estava localizada ele percebeu que ela estava em pé na parte
inferior do cascalho e ela não estava sozinha.

Parado a meros centímetros de distância dela estava um homem, alto e loiro


e que certamente poderia ser concorrente de Brad Pitt. Ele estava em uma
conversa tensa com Celine e, enquanto falava, ele moveu suas mãos de forma
expressiva como se estivesse tentando enfatizar um ponto. E num instante ele
estendeu o braço e colocou a mão em seu ombro. Ela parecia vacilar e ele se
afatou.

Pierce diminuiu o ritmo quando se aproximou, dando tempo para que


pudesse observar a reação de Celine com o homem que ele assumiu ser seu ex-
noivo. Sua cabeça estava para baixo e os ombros caídos como se ela carregasse o
peso de uma nação sobre eles. Quando ela levantou o rosto para responder a um
comentário que Giles fez, seus olhos brilhavam com raiva. Ou era o brilho de
lágrimas não derramadas?

Pierce sentiu uma mão pegando seu coração, apertando com força, fazendo-
o sentir uma dor quase física. Eles iriam se beijar e fazer as pazes?

Ele estava muito perto deles agora quando aquele homem se virou e olhou
para ele. Agora ele podia vê-lo. Sim, aquilo eram lágrimas nos olhos de Celine.
Que diabo o idiota tinha dito para fazê-la chorar? Pierce virou-se para ele e ele
sabia que o seu rosto se transformou em uma carranca feia, mas ele não deu a

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mínima. Se o homem estava assediando Celine seria melhor estar preparado para
uma luta.

Ele andou até eles os poucos metros de distância. Seus olhos percorreram o
rosto corado de Celine e foi parar no rosto magro e longo do homem que ele
agora considerava seu algoz. Ele olhou para ele.

O homem deu um passo para longe de Celine franzindo a testa enquanto


olhava para o recém-chegado. Ele olhou para Celine, com os olhos incertos.

Antes que Pierce tivesse a chance de pensar no que fazer em seguida, ele
sentiu os braços delgados correndo em volta de sua cintura e olhou para baixo
para ver Celine sorrindo para ele. Em seus olhos uma expressão de alívio.

— Mon amour, porque que você demorou tanto? Eu estava esperando você
— Ela disse, com voz doce, baixa e sedutora.

Pierce quase prendeu a respiração, mas se conteve a tempo. Deus, ela parecia
sexy quando falava assim. E o olhar que ela estava lhe dando. Este devia ser o
que eles chamaram de — olhos amorosos. O que quer que chamasse, estava
fazendo um inferno de efeito sobre ele. Podia sentir-se endurecer em suas calças.

— Eu voltei, logo que pude. — Ele disse e devolveu o sorriso. —Você sabe
que eu não posso ficar longe de você por muito tempo. — Ok, então isso era
brega, mas ela o pegou desprevenido. Não havia tempo para pensar em linhas
sofisticadas. Mas não importa, o seu ato estava funcionando. Um rubor começou
a deslocar-se desde o pescoço de Gyles qualquer que fosse o nome dele, e logo
seu rosto estava totalmente vermelho.

— Desculpe-me — Balbuciou, em seguida, afastou-se e, enquanto Pierce


puxava Celine perto com um braço e segurava seu pacote de carne com o outro,
o homem virou-se e praticamente fugiu pela estrada de volta para a casa de seu
pai. Assim que ele estava longe ouviu Celine soltar seu fôlego em um assobio e

65
puxar os braços ao redor da cintura de Pierce, em seguida, ela deu um passo para
trás e para fora de seu alcance.

Ele sentiu a perda. Ele gostava de ter seu corpo quente, suas curvas sensuais,
pressionado contra seu torso e ele queria mais. Pelo breve que o atingiu e como
se quisesse arrastá-la de volta em seus braços, ele não tinha escolha a não ser
obedecer a distância que ela tinha criado entre eles.

— Muito obrigada — Disse ela com um sorriso. — Você apareceu na hora


certa.

— Por que exatamente? — Ele perguntou, procurando seu rosto. O que ela
estava sentindo neste momento? E o que a levou a fazer esse ato?

— Eu tenho certeza que você sabe quem era.

— Sim, eu imaginei — Respondeu ele. — Seu ex.

— Sim. Ele esteve aqui na última hora tentando voltar às graças de Maman.
Ele foi tão persistente que eu podia ver que ele estava deixando-a nervosa. —
Ela deu uma risadinha. — Aí, eu achei que seria melhor sugerir um passeio com
ele pelo caminho. Foi quando ele começou a trazer à tona lembranças antigas,
todos os bons momentos, tentando me convencer a revivê-los novamente.

— Lembranças... foi isso que te fez chorar?

Ela riu baixinho.

— Como é que você adivinhou? Eu dizia para não relembrá-las, mas ele
continuou mesmo assim. Minhas lágrimas eram em parte de tristeza com o que
tinha perdido, mas também por pura frustração. Eu não conseguia fazê-lo calar a
boca. Eu só queria bater nele.

Pierce riu.

— Você? Bater em alguém? Eu adoraria ver isso.

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— Ah, eu sou muito capaz — disse ela com uma risada que lhe disse que o
seu espírito alegre estava de volta. — Não tente me testar.

Pierce sorriu, mas não disse nada. Oh, ele estava tentado a testá-la. Ele não
queria nada mais. Ele queria testar esses lábios tão suaves e cor de rosa. Ele
queria morder tudinho até o pescoço, em seguida, descer para os deliciosos seios.

— Estou feliz por ter vindo nesta viagem.

As palavras de Celine empurraram Pierce fora de seu devaneio.

— Apesar do estresse? — ele perguntou. Então ele disse: — É claro que,


vendo sua família faz valer a pena.

— Sim, isso é óbvio, mas não é o que eu quis dizer. — Ela lhe deu um
sorriso, obviamente divertido quando ele franziu a testa em confusão. — Eu
estou feliz que eu consegui ver Giles novamente.

Pierce sentiu como se tivesse sido chutado no estômago. Agora, que raio de
jogo que ela estava jogando? Ela não tinha acabado de dizer que não queria falar
com ele?

— Estou feliz, porque todo esse tempo eu culpei a mim mesma pela nossa
ruptura. Eu estava tão consumida pela culpa que a metade do tempo eu não
conseguia me levantar.

Ele deu-lhe um olhar penetrante. O que ela estava falando agora? Ela era
como um pêndulo que o mantinha confuso oscilando de um lado para o outro.

— Ok, eu posso ver que isso vai levar a alguma explicação porque agora
você me confundiu todo. — O que me diz de deixar essa carne na cozinha e
descer para o rio?

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Ela pareceu gostar da idéia. Ela estava sorrindo enquanto subiam o caminho
para a casa e seu passo era calmo. Parecia que ela tinha tirado uma tonelada de
problemas fora de seus ombros.

Pierce não podia esperar para chegar até o rio e ouvir o que Celine tinha a
dizer. Ela era a mulher mais desconcertante que conhecia. E logo que chegaram,
deixou-se cair na grama.

— Agora me tire desta minha miséria — disse ele, olhando para ela
enquanto ela estava em pé acima dele em sua blusinha rosa sexy e um ainda mais
sexy jeans skinny. — Desembuche.

Ela caiu na grama ao lado dele e colocou os braços ao redor das pernas, em
seguida, deixou cair o queixo nos joelhos. Parecia ser a posição favorita dela.

— O que eu estava dizendo, é que não me sinto mais culpada. Pela primeira
vez eu me sinto como se tivesse sido posta em liberdade.

— E porque, você estava se sentindo culpada? — Pierce puxou uma folha


de grama e usou-a para fazer cócegas em seu ombro.

Ela riu e deu de ombros. Em seguida, seu riso se extinguiu e um olhar mais
sério fixou em seu rosto.

— Eu nunca compartilhei isso com ninguém, mas de alguma forma eu sinto


como se pudesse confiar em você. Ela virou o rosto e olhou para a água.

Essa declaração chamou sua atenção. Ele tirou o sorriso do rosto e sentou-se
melhor para lhe dar cem por cento de sua atenção.

— Giles e eu estávamos em um relacionamento no último ano na faculdade


e ao longo de todo ano da pós-graduação. Durante esse tempo ele me
perguntou... Muitas vezes se podiamos... Fazer amor. Eu lhe disse que não. Eu
queria esperar até o casamento.

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Pierce franziu a testa, quase não acreditando no que estava ouvindo. Ela
estava dizendo o que ele achava que ela estava dizendo?

— Quando ele engravidou Amelie fiquei arrasada. Eu estava machucada e


confusa, mas eu também sentia que era tudo culpa minha. Talvez se eu não
tivesse negado ele ainda estaria comigo, talvez até sendo o meu marido agora. —
Ela virou-se para Pierce, com os olhos sérios. — Mas você sabe o quê? Não foi
até a viagem de volta para casa que eu percebi o idiota que ele realmente é. Fico
feliz que ele não esperou por mim.

Por um instante, Pierce ficou em silêncio, deixando tudo dentro para


analisar. Então, o que ela estava dizendo era que apesar de dois anos de sua
relação com este homem, ela permanecia virgem? No século XXI? Era isso
mesmo possível?

Ele balançou a cabeça, sabendo que ele era o único a ser idiota agora. Ainda
bem que ele não era estúpido o suficiente para deixar escapar os seus
pensamentos em voz alta.

— Então o que foi que fez você perceber que ele é um idiota? Você o
conhece há anos.

— Pierce, você sabe o que ele me disse? Quando eu perguntei por que ele
me queria de volta, porque ele não tinha ficado com sua esposa, ele disse que
nunca a quis, em primeiro lugar. Ele só se casou com ela, porque ele a
engravidou.

Ele assentiu. Isso era uma coisa estúpida e insensível de dizer. Ainda assim,
ele não seria o primeiro homem que disse algo parecido. Muitos homens
engravidam as mulheres e casam apenas para salvar a cara. Tinha que haver algo
mais para fazer Celine enfurecer-se.

— E quando eu perguntei a ele sobre seu filho, o pobre pequeno no meio


disso, ele disse que sempre pode ter outras crianças. Ele quer ter filhos comigo.
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Seus olhos brilhando com indignação, ela lançou as pernas e levantou-se,
aparentemente, muito agitada para ficar parada. — Eu não podia acreditar que
ele disse algo assim. Se ele pode falar assim sobre a sua própria carne e sangue,
você pode imaginar o que ele faria comigo quando ele se cansasse de me ter por
perto? Porco. Ela cuspiu as palavras, não escondendo seu desgosto.

Pierce assentiu. Aquilo foi baixo. Para um homem negar seu filho, ele teria
que ser menor do que uma cobra rastejando em seu ventre.

— De qualquer forma. — Celine disse com um suspiro. — Eu finalmente


percebi o quão sortuda eu sou por não ter um idiota assim na minha vida. Eu
não quero que ele passe isso para mim. Ela estremeceu como se o pensamento
desse nojo. — E quando você me viu com lágrimas nos olhos, elas não eram por
mim, eram pela criança que tem um bastardo cruel como pai.

Pierce levantou-se em seguida. Ele podia ver as emoções que tocaram em


seu rosto. Sim, ela estava com raiva, mas ela também estava com dor. Ela podia
não saber, mas ele estava lendo cada emoção que passava em seu rosto.

Antes que ele percebesse o que estava fazendo, ele estendeu a mão para ela e
envolveu-a em seus braços e desta vez ela não recuou ou saiu de seu abraço. Em
vez disso, ela descansou a bochecha em seu peito, bem contra o seu coração
batendo, e ela chorou.

Ela chorou, ele sabia que era por muitas coisas. Ela não tinha que dizer a ele.
Ela tinha sufocado suas emoções durante tantos anos e agora era hora de deixá-
las fluir livremente. Ela chorou pelo que poderia ter sido, pelo que nunca foi,
pela culpa que ela tinha suportado e agora pelo alívio de saber que ela tinha
tomado a decisão certa. Ela chorou porque agora ela estava livre.

Ele a deixou chorar e depois, após longos momentos seus soluços


suavizaram em suspiros, ele colocou o dedo sob o queixo e inclinou seu rosto
para o dele. Ela estava vulnerável, mas ele queria beijá-la tanto que ele abafou a si

70
próprio, abaixou a cabeça e apertou os lábios nos dela, na desejada boca. Ela
respondeu-lhe ansiosamente, quase desesperadamente, e quando os braços
deslizaram em volta de sua cintura, ele sentiu um arrepio correr por ele. Ele
apertou-a mais e seu beijo cresceu urgente, a fome que ele sentia por ela
intensificando com o gosto de seus lábios. Deus, como ele queria essa mulher.

Muito cedo ele teve que liberar seus lábios. Ele ouviu Kylie à distância e
sabia que em poucos minutos eles seriam atacados por uma menina de quatro
anos de idade, gritando, dois garotos desengonçados e um cachorro latindo.

Por um longo tempo ele olhou profundamente para aqueles olhos castanhos
líquidos, tentando ler suas profundezas. Esta mulher, tão sedutora e sensual e ao
mesmo tempo tão vulnerável e inocente, o que ela estava pensando agora? Ela o
queria tanto quanto ele a queria?

Ele não teve a chance de descobrir. Quando os gritos das crianças chegaram
mais perto ele deslizou as mãos pelos braços até sua mão, em seguida,
lentamente soltou e deu um passo atrás.

Celine o encarou, com os olhos arregalados.

Ele podia ver que ele chocou-a com o beijo, mas esse era o menor dos seus
problemas. Eles estavam voltando para os Estados Unidos em poucos dias e
quando ela ficasse novamente sob seu teto, seria um inferno manter as mãos
longe dela. Deus o ajudasse.

71
Celine chegou aos Estados Unidos sentindo-se uma nova mulher. Uma
viagem inesperada com todas as despesas pagas para ver sua família tinha sido
como um milagre, e com ambos Pierce e Kylie com ela fez a visita ser ainda mais
especial. E ainda por cima tinha encontrado a solução para essa parte de sua vida
que a assombrava há tanto tempo. Giles St. Juste, não era e nunca tinha sido o
homem certo para ela. Agora ela tinha virado a página.

Ela logo se instalou em sua velha rotina com Kylie, revendo letras e números
e lendo histórias na parte da manhã, em seguida, passando as tardes brincando
no gramado, nadando na piscina ou trabalhando no jardim. Ela era babá da
pequena há dois meses e quase a via como sua própria filha. Às vezes sua mente
avançava rapidamente para o dia em que ela teria que ir embora e voltar à sua
vida de estudante, deixando para trás uma filha que se tornou tão especial para
ela. E Pierce. Pensar que chegaria um dia em que ela nunca mais o veria. Ela não
queria pensar nisso.

Ainda se lembrava do beijo naquele dia perto do rio em Thomery-By. O


reviveu tantas vezes em sua mente. Não queria que aquele momento acabasse.

Mas ele acabou. E isso era uma coisa boa também, porque ela estava
perdendo seu coração e alma para Pierce D'Amato.

O que ela iria fazer? Ela tinha acabado de superar um obstáculo, expurgando
Giles de seu coração e agora ela estava criando outro problema? O homem era

72
seu patrão, o que já era ruim o suficiente, e além de tudo ele estava
comprometido.

Ou será que não? Sophia tinha aparecido várias vezes desde que eles
retornaram, mas na maioria das vezes era quando Pierce não estava em casa.
Cada vez que vinha, ela deixava claro que estava morrendo de vontade que ela e
Kylie desaparecessem. Ela continuou a sugerir uma relação de longa data com
Pierce, mas, depois, Celine raramente os via juntos. Seria um relacionamento
secreto? Pierce teria seus encontros amorosos em sua casa, em vez da dele, por
que ela e Kylie estavam lá? Só de pensar isso fazia seu coração doer.

Havia algo que ela tinha que fazer, algo que era contra a sua natureza, mas
totalmente necessário nas circunstâncias. Ela ia ter de se intrometer em alguns
assuntos.

Naquela noite, depois que colocou Kylie na cama, ela desceu as escadas para
encontrar Pierce. Ele estava recostado no sofá confortável na sala, ele o chamava
de seu “homem da caverna”. Equipado com uma televisão enorme que cobria
metade da parede que tinha som surround que fazia parecer como uma sala de
cinema, quando a TV estava ligada.

Mas esta noite ele não ligou. Ao contrário, ele estava na sala semi-escura,
parecendo estar perdido em seus pensamentos.

— Pierce — disse enquanto estava na porta — Podemos conversar?

Ele pulou claramente assustado ao ouvir sua voz. Em seguida, se apoiou em


um cotovelo e olhou para ela. — Claro, entre.

Ela entrou na sala, mas não chegou perto do sofá onde ele estava. Preferia
não ter que chegar tão perto de um homem que parecia tão sexy em uma
camiseta e jeans desbotados que pendiam baixo em seus quadris.

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Ela foi sentar-se na beira de uma poltrona e cruzou as mãos no colo. Estava
deliberadamente tentando parecer calma. O que estava prestes a dizer era uma
coisa que poderia irritar Pierce, e ela não queria enfrentar qualquer sinal de
intolerância.

— Eu quero falar com você sobre Kylie — Disse em voz baixa.

Pierce franziu a testa e se sentou. Ele colocou os pés descalços no chão e


apoiou os cotovelos nos joelhos. Ela focou seu olhar nos olhos verdes dele.

— O que foi? Celine respirou. Como começar? Ela decidiu ser direta —
Estou preocupada com Kylie. O que vai acontecer com ela quando eu for
embora no outono?

Pierce soltou o fôlego e uma expressão de alívio passou por seu rosto. — Eu
pensei que você ia me dizer que algo estava errado com ela.

— Não, pelo contrário — Ela respondeu rapidamente. — Desculpe-me, se o


assustei eu realmente não quero me intrometer, mas... eu só preciso saber quais
são os planos que você tem para Kylie depois da minha partida.

Suas sobrancelhas levantaram. Ele pareceu surpreso com a pergunta e por


um momento houve silêncio.

E se o tivesse incomodado com a pergunta? Ela prendeu a respiração. Sabia


que era um risco intrometer-se no seu lado pessoal, mas ela tinha uma boa razão
para perguntar.

— Eu tenho de pensar um pouco — Disse ele, finalmente, em seguida,


balançou a cabeça — Mas para dizer a verdade, eu ainda não tomei nenhuma
decisão.

— Você tem alguma ideia, algum plano? Sua voz saiu sem fôlego com alívio.
Ele estava, na verdade, tendo uma conversa com ela sobre o assunto. Graças a
Deus ele não tinha achado que ela era uma intrometida.
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— Eu tenho algumas opções — Disse com um olhar pensativo. — Um
parente distante pode cuidar dela, uma senhora mais velha que pode ser como
uma mãe para ela ou o internato.

— O que? As palavras de Celine sairam em um sussurro veemente. —


Como você pode até mesmo considerá-lo?

—O quê? O tutor ou o...

— O internato! — Ela o interrompeu antes que ele pudesse terminar a frase.


— Pierce, você não vai enviar aquela menina para um colégio interno.

—Eu nunca disse...

Celine pulou para seus pés, incapaz de ficar parada por mais um momento.

— Sim, você disse. Você disse que estava pensando.

— Você vai se acalmar? — Pierce endireitou as costas e olhou para ela. —


Sente-se, para que possamos ter uma conversa sensata.

Celine prendeu a respiração. Ele estava mandando?

— Por favor — Disse ele, com um tom mais suave, quase apologética.
—Não é bem assim. Sente-se, para que possamos conversar.

Ela sentou-se na cadeira e esperou que ele falasse. Seria melhor controlar
suas emoções, ou então ela estaria fora da vida de Kylie ainda mais cedo do que
tinha previsto. Não podia permitir que isso acontecesse. Ela iria agarrar a chance,
enquanto podia.

— Agora — Pierce começou seu tom firme: — Eu disse que tenho


sugestões, mas isso não significa que eu estava planejando implementar qualquer
uma delas. Eu preciso avaliar todas as opções e depois vou decidir o que é
melhor para Kylie.

75
— E quando é que você vai decidir? Celine atirou de volta.

— Em breve — Disse ele, franzindo a testa novamente.

Celine não sabia se era de aborrecimento com suas perguntas ou


simplesmente porque ele estava pensando. Ela decidiu assumir que ele estava
pensando. Agora seria o melhor momento para eliminar sua maior preocupação.

— Eu sei quem fez essas sugestões. Foi Sophia, não foi?

Ele acenou com a cabeça.

— E você já parou para pensar que ela poderia ter um motivo?

Pierce levantou uma sobrancelha e olhou para ela. Ele não disse nada. Ele
estava obviamente esperando ela se explicar.

— Sophia deixou muito claro que ela não quer Kylie... Ou eu... Por perto.
Ela balançou a cabeça, quando a raiva subiu nela. — Eu não me importo com o
que ela pense de mim, mas como ela pode não gostar de Kylie?

Ele franziu a testa.

— O que faz você pensar isso?

Os homens eram tão obtusos. Como ele poderia não ver que a mulher não
gostava?

— Pierce, você não percebeu como ela é fria com a Kylie? Foi só após a
morte da mãe de Kylie que ela agiu com algum tipo de afeto... Isso se você puder
chamar de afeto alguns brinquedos de pelúcia.

Celine levantou-se, incapaz de ficar sentada por mais tempo. Ela precisava se
expressar e precisava de suas mãos, todo o seu corpo, a fim de fazer isso. Estava
inconformada demais para ficar parada. E tinha que fazê-lo entender.

76
Ela apertou as mãos, em seguida, colocou para fora tudo aquilo que vinha
preocupando-a todo esse tempo.

— O que vai acontecer com Kylie quando você e Sophia se casarem? Como
é que ela vai viver com uma mulher assim?

— O quê? — Ele olhou para ela como se ela tivesse enlouquecido. — Do


que você está falando?

—Você e Sophia — Ela disse irritada. Por que ele estava fingindo?

— Ela disse que vocês estão vendo um ao outro por anos e que é somente
por causa de seu negócio e viagens frequentes que decidiram adiar o casamento.

Pierce ainda parecia estupefato, ela gesticulou com a mão em frustração.

— Pense sobre isso. Agora que há uma criança em sua casa não há nenhuma
razão para adiar o casamento. Na verdade, é uma boa razão para se estabelecer.
Mas então quem é que vai proteger Kylie... Dela?

Sua voz falhou e ela sentiu a picada de uma lágrima no canto do olho. Ela se
virou. A última coisa que ela queria era que ele visse como isso a estava afetando.
Ele que pensasse que isso era apenas por Kylie, claro também era na verdade,
sua maior preocupação. Mas no fundo ela tinha que admitir que era sobre ela
também. Como poderia suportar a dor de saber que não tinha chance neste
mundo de estar com o homem que havia roubado seu coração?

Pierce deu uma gargalhada.

Celine girou para encará-lo. O que ele achou tão engraçado? Antes que ela
pudesse se mover, ele estava de pé e vindo em sua direção. Em seguida, ele
estava perto o suficiente para que ela respirasse o perfume que devia ter sido do
sabonete com que ele tomou banho. Era fresco, perfumado e masculino e fazia
enrolar tudo dentro dela.

77
Ele colocou a mão em seu ombro.

— Fique tranqüila, Sophia e eu não vamos nos casar.

Ela olhou seus olhos, com o coração batendo forte em seus ouvidos.

— Não vão?

— Não — Ele disse. — Nós não estamos juntos. — Ele deixou sua mão
escorregar de seu ombro, mas ele não se afastou. Em vez disso, tomou-lhe as
mãos. — Eu conheço Sophia há muitos anos. Eu a conheci através de seu
marido. Quando Celine franziu a testa, ele sorriu. — Eles estão divorciados. Ela
ficou com a casa. Ele sacudiu a cabeça. — Confie em mim, seja o que for quer
levou Sophia a acreditar que estamos juntos, não há nada acontecendo entre nós.
Somos apenas amigos.

— Então por que ela... A voz de Celine foi sumindo.

— Quem sabe? Talvez ela só quisesse que você acreditasse. Ele deu de
ombros. — Talvez ela ache que você é uma ameaça à nossa amizade.

Agora Celine estava realmente confusa.

— Eu? Como? Eu sou apenas a babá

— Oh, mas muito bonita, uma babá extremamente sedutora.

O coração dela pulou com suas palavras. Ela olhou para cima rapidamente,
os olhos à procura dos dele. Ele estava brincando com ela? Mas não, seus olhos
verdes tinham obscurecido com uma paixão que não podia ser confundida.

— Deixe-me te beijar, Celine. — Ele sussurrou sua voz rouca de emoção. —


Eu estava morrendo para saborear seus lábios novamente e eles estão me
deixando louco.

78
Celine olhou profundamente em seus olhos. Ela devia resistir a ele. Querido
Deus, ela sabia que deveria. Mas como poderia, quando seu corpo estava
reagindo tão fortemente ao dele? Sua respiração ficou presa na garganta quando
seus mamilos ficaram rigidos em resposta à sua proximidade e, oh Senhor, ela
estava ficando molhada, lá em baixo. Ela abaixou a cabeça quando uma onda de
vergonha caiu sobre ela.

Mas, assim como ele tinha feito perto do rio, Pierce assumiu o controle. Ele
não iria deixá-la fugir. Com uma mão suave debaixo do queixo ele inclinou a
cabeça para cima. Em seguida, ele baixou a cabeça e cobriu sua boca com a dele.

O beijo no rio tinha sido gentil e doce. Esse beijo não era nada do tipo.
Pierce beijou-a com um fervor que falava de paixão reprimida e de desejo e dessa
vez parecia que ele não estava segurando nada de volta.

Sua língua deslizou por seus lábios para saquear sua boca até que ela estava
ofegante. Suas mãos deslizaram até os ombros, tão sólido e forte, e lá ela se
agarrou. Suas pernas, como geléia, não podiam mais sustentá-la. Ela ficou como
chocolate derretido em suas mãos que pareciam atear fogo onde tocassem.

Pierce deixou seus lábios apenas o suficiente para pegar e levantá-la em seus
braços.

— Pierce — Ela engasgou. — O que você está fazendo?

— Só deixando você mais confortável. — Ele sorriu maliciosamente, os


olhos verdes brilhando devido a luz da lâmpada no canto da sala. — Relaxe —
Ele sussurrou. — Eu não vou te machucar.

Ele a levou até o longo sofá preto e colocou-a delicadamente nas almofadas,
em seguida, ele estava debruçado sobre ela, bloqueando a luz e tudo o que ela
podia ver era o rosto bonito, sua forte testa, os lábios firmes e sua mandíbula
forte com a cativante covinha em seu queixo.

79
Ela estremeceu, sentindo-se nervosa. Fique tranquila, Celine. Acalme-se. Ele
é apenas um homem, afinal. Mas esse era o problema. Pierce D'Amato era um
homem e ele a queria. Ela podia ver no brilho de seus olhos. Ela podia ouvi na
respiração ofegante quando ele baixou a cabeça para beijá-la no pescoço. Ela
podia senti-lo no bater do seu coração, quando pressionou a mão dela contra seu
peito. E pior ainda, ela podia sentir a intensidade de sua paixão na dureza que
agora pressionava contra sua perna.

Se ela tinha qualquer medo, este fugiu quando Pierce começou a mordiscar o
lóbulo de sua orelha. Ela suspirou e arqueou as costas em resposta. Ele deve ter
visto a reação dela como um sinal para ir mais longe, pois seus lábios sairam de
seu pescoço e deslizaram até os seus seios. Suas mãos segurando-os e depois os
polegares estavam circulando os mamilos através do tecido da blusa, deixando-os
enrugados e deliciosamente dolorosos, enviando ondas de choques correndo
através de seu corpo.

— Tão linda — Ele sussurrou em seguida, com um gemido ele afastou a


blusa e a parte superior do sutiã e tomou o bico rosado distendido em sua boca.

Ela suspirou e se contorcia sob a perita provocação de seus lábios. Oh Deus,


ele a estava deixando louca de desejo. Ele soltou o mamilo, em seguida, moveu
os lábios para seu irmão gêmeo, administrando a mesma doce tortura até que ela
gritou e arqueou as costas, empurrando o mamilo mais fundo em sua boca.

Foi quando suas mãos deslizaram abaixo para acariciar sua barriga que ela
congelou. Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu o que estava
acontecendo. Pierce a tinha enfeitiçado com suas carícias e agora ela estava
caminhando para o matadouro. Como podia ter sido tão facilmente seduzida?
Como podia ter sido tão estúpida?

Pierce era um homem do mundo e ele deve ter ficado com muitas mulheres.
Ele sabia exatamente como seduzir uma mulher. Ele certamente estava fazendo

80
um bom trabalho com ela. Mas ele estava usando seus encantos sedutores para
levá-la para sua cama? E para que? Assim, ele poderia dar-lhe o último salário e
enviar sua bagagem, no fim do verão?

O pensamento foi como um balde de água fria em seu rosto.

Ela queria Pierce, não havia nenhuma dúvida em sua mente sobre isso. Mas
não assim. Ela ficaria feliz em dar-se toda se ele tivesse a metade do amor que ela
sentia por ele. Mas por que ele iria querer? Ele poderia ter qualquer mulher do
mundo. Por que em nome de Deus ele iria se contentar com ela?

— Não. — Disse sua voz saindo em um gemido. — Por favor. Pare

Pierce ficou completamente imóvel. Até seu peito pareceu congelar, como se
ele tivesse parado de respirar. Lentamente, ele ergueu a cabeça e no verde
nebuloso dos seus olhos havia uma mistura de desejo e confusão.

Ele se afastou e, em seguida, se levantou para sentar na almofada ao lado


dela. Ele olhou para ela, seus olhos perfurando-a com uma intensidade que a fez
desviar o olhar.

— O que há de errado? — Ele perguntou, sua voz calma e baixa.

Ela se recusou a olhar para ele, não poderia encarar seus olhos. O que ela iria
dizer? Que ela não queria ir mais longe, porque ele não tinha dito a ela que a
amava? Ele iria rir na cara dela, se ela dissesse algo tão estúpido como isso. Em
vez disso, ela apenas balançou a cabeça.

— Eu não posso... — Ela disse a voz em um sussurro quebrado.

Pierce prendeu a respiração. Então ele estendeu a mão e tomou seu queixo
em sua mão e virou o rosto na direção dele.

Ela manteve os olhos baixos, não querendo que ele visse a sua expressão.

81
— Celine — Ele disse suavemente. — Não me diga que você é... É virgem
ainda?

Ela mordeu o lábio, não confiando em si mesma para falar. Em vez disso, ela
simplesmente assentiu.

Ela sabia que o estava enganando, fazendo pensar que era por isso que ela
tinha parado. Mas esse não foi o principal motivo. Ela parou, porque ela estava
com medo. Ela não queria ser usada, entregar seu corpo a um homem depois de
esperar tanto tempo, e depois ser descartada como um trapo velho sujo.

Sua mãe ensinou-lhe bem. Não até o casamento, ela lhe disse, ou assim que
eles conseguem o que querem eles a trocam por alguém mais bonita, ou melhor.
Não deixe que usem você. Ela nunca esqueceu aquelas palavras e ela segurou-se
firme a esse princípio em sua única relação com Giles.

Mas agora, com Pierce era diferente. O que ela sentia por ele foi muito além
do que ela já sentiu por Giles. Com ele ela teria jogado o conselho de sua mãe
fora pela janela, sem outro pensamento... Se ele pudesse amá-la.

Ele olhou para ela em silêncio e balançou a cabeça.

— Sinto muito, Celine. Eu não queria ir tão rápido, mas eu não tinha ideia...
Sua voz foi sumindo e ele parecia estar procurando por palavras. — Eu sei que
você falou sobre esperar o casamento, mas eu pensei... já que você e Giles
terminaram e você veio para a América, eu só achei que você tinha um
relacionamento aqui.

Ela o olhou de soslaio.

— Desculpe isso não é bem o que eu quis dizer — Disse desculpando-se. —


Estou fazendo disso uma bagunça, não é? Ele parou e levantou, em seguida,
passou a mão pelos cabelos, em um sinal evidente de frustração. —Escute,
esqueça o que eu disse. Eu só... Sinto muito.

82
Oh, Pierce, você simplesmente não entende. Eu amo você, mas como eu
posso fazer você me amar também? Ela pensou, mas ela não se atreveu a dizer
as palavras em voz alta.

Em vez disso, ela simplesmente ajeitou a blusa e com uma voz que estava
surpreendentemente calma, ela disse:

— Tudo bem, não é necessário desculpar-se. Ela baixou as pernas ao chão.


—Eu acho que é melhor eu ir agora. Ela levantou-se e percorreu alguns passos
em direção à porta, em seguida, parou. Virando para olhar para ele.

— Por favor, pense no que vai fazer Kylie feliz. Então ela se virou e saiu
pela porta.

***

Pierce olhou Celine se retirando, em seguida, com uma maldição suave sob
sua respiração, ele caminhou até o sofá. Em vez de sentar-se nele, ele encostou-
se na parte de trás do grande assento e cruzou os braços. Ele estava chateado,
mas era consigo mesmo que ele dirigia sua ira. Depois que Celine tinha confiado
nele, contando sobre a sua decisão com relação a sua sexualidade, ele mesmo
assim tinha ido em frente e feito a suposição errada.

Agora ela provavelmente pensava que ele era um idiota e com razão. Ele não
podia culpá-la, se ela decidisse ficar um milhão de milhas longe do seu alcance.
Mas ele desejou que ela não fizesse isso. Ele queria essa mulher em sua vida. Ele
seria o primeiro a admitir que o sexo, tinha algo a ver com isso. Não havia como
negar sua atração por ela. Mas era mais do que isso. Houve algum tipo de
conexão espiritual que ele não podia explicar. A cada dia que passava ela parecia
estar crescendo com ele e nele, tornando-se parte de sua alma. Era quase como
se ele não pudesse imaginar acordar e não vê-la em sua casa. Dele, Celine e
Kylie. Foi assim que ele começou a pensar na casa.

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E então houve a conexão com Kylie. Desde o primeiro dia que ele tinha
observado sua interação com a menina, como ela puxou-a para fora de sua
concha para florescer como uma pequenina flor ao sol. Como ele poderia
separar Kylie disso?

Ele balançou a cabeça. Ele não sabia o que ele faria no outono, quando
chegasse a hora de Celine voltar para a universidade. Kylie ficaria devastada. E
ele? Ele nem queria pensar nisso.

Celine tinha perguntado sobre suas opções e insistiu com ele para fazer o
que era melhor para Kylie. Houve uma opção que ele não tinha mencionado, e
que seria o ideal, pelo menos para ele e para Kylie. Mas para Celine? Ele não
sabia.

Havia tantas coisas que ele não sabia. Celine... Ela era um enigma. Será que
sentia algo por ele? Ela o desejava tanto quanto ele a desejava?

Ele sabia que a queria de uma forma que nunca tinha querido qualquer
mulher. Ela era diferente de qualquer uma que ele já tinha conhecido. Mas ele,
solteirão convicto, estava pronto para desistir de sua antiga vida para se tornar
um pai e marido de uma só vez? E o mais importante, se pedisse para casar-se
com ele, será que ela iria dizer sim?

Seus lábios se apertaram e ele olhou com o olhar perdido à sua frente. De
alguma forma, depois da maneira como ele se comportou esta noite, ele
duvidava.

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Naquele fim de semana Pierce levou Kylie e Celine ao zoológico, onde, pela
primeira vez, a menina viu elefantes, leões, tigres e zebras vivos e reais. Entre os
adultos, os favoritos eram os macacos que os divertiam com suas palhaçadas.
Um deles bateu em seu irmão que caiu, de cara com o patriarca do clã, que lhe
deu outro golpe. Todos riram em voz alta com isso.

Em seguida, eles foram para o pequeno parque de diversões, onde eles


brincaram em todos os brinquedos – no carrossel, no trem fantasma, nos carros
de bate-bate e na montanha-russa para crianças.

A última e mais assustadora de todas era a roda-gigante. Todos os três se


sentaram na cabine e foram subindo, subindo, tão alto que podiam ver as copas
das árvores e edifícios, Celine foi a única que gritou para descer. Mesmo depois
que chegaram em casa, Kylie não deixava ela esquecer. Tanto ela quando Pierce
brincavam com ela naquela noite incansavelmente até que ela fingiu uma careta e
marchou para a cama.

No dia seguinte, domingo, foi mais um dia de clima maravilhoso. E,


novamente, Celine decidiu que ela e Kylie passariam a maior parte da tarde ao ar
livre. Para o choque e quase horror de Celine, Pierce decidiu tentar a sua sorte na
cozinha. Ela decidiu que tinha tomado a decisão certa de levar Kylie para fora
apenas no caso de que ele explodisse a casa experimentando usar o fogão.

Elas ficaram brincando no gramado por um tempo quando Celine colocou a


mão no ombro de Kylie e parou. Ela ouviu um som vindo do bosque de árvores

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que rodeava o caminho do jardim. Ela ficou parada ouvindo. Lá estava de novo,
o grito suave do que parecia ser um gato.

— Kylie, espere perto do balanço — Disse ela. — Eu só quero ver uma


coisa.

Andando furtivamente pela grama, ela abaixou-se sob um ramo avançando


através de alguns arbustos, até que entrou nas sombras frescas da alcova criada
pelas árvores.

— Celine, Aonde você vai? O chamado de Kylie foi amedrontado.

Celine percebeu que ela provavelmente se assustou quando ela desapareceu,


mas, não querendo assustar o animal, permaneceu em silêncio. Tinha um fraco
por gatos. Eles eram seus animais favoritos e ela teve vários como animais de
estimação, enquanto crescia.

O pequeno grito veio novamente então Celine viu um gatinho preto e


branco enrolado na raiz de uma árvore.

— Oi, querido — Ela sussurrou. — O que você está fazendo aqui? Você
está sozinho? Ela olhou ao redor, mas a mamãe do gatinho não estava à vista.

Ela se aproximou, lentamente, temendo que o pequeno gato fosse fugir de


medo. Para a surpresa de Celine, ele fez exatamente o oposto. Quando seus
grandes olhos verdes pousaram sobre ela, ele se levantou do seu berço, ao pé da
árvore e caminhou até ela. O gato parecia ter cerca de três ou quatro meses de
idade, ainda muito jovem, mas com idade suficiente para sobreviver e prosperar
sem a sua mãe. Nem um pouco tímido, ele bocejou e esticou o pescoço para
cima, como se convidando Celine para coçar-lhe a cabeça.

— Ah, você é tão bonito. Ela aceitou o convite e fez cócegas na cabecinha.
Em seguida, ela se endireitou. O que fazer agora? Não podia deixar o gato na
floresta para morrer de fome. Por outro lado, este não era o seu lar. Se ela

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estivesse na França, o gato seria instalado em sua casa, não haveria dúvida sobre
isso. Mas aqui? Ela não tinha esse direito. A única opção, ao que parecia, era
pegar o gatinho e pedir para Pierce levá-lo para um abrigo.

Estendeu a mão e o gato veio imediatamente para ela. Devia ter escapado da
casa de alguém, era tão manso. Em seguida, segurando-o no peito, ela voltou
para o gramado.

— Celine — Kylie gritou com a voz cheia de alívio. — Onde você estava?
Por que você foi para a floresta?

— Olha o que eu encontrei — Celine disse com uma risada. Ela mudou seu
pequeno pacote de lugar de modo que Kylie pudesse ver.

— Um gatinho — exclamou maravilhada. —Você encontrou um gatinho.

— Sim, e eu vou dar-lhe um pouco de leite e encontrar uma bela caixa para
fazer uma cama para ele.

— E então nós podemos ficar com ele? Os olhos da menina estavam


arregalados e cheios de esperança.

— Eu não sei cherie. Celine balançou a cabeça. — Vai depender do que seu
Tio achar disso Eu estava pensando em levá-lo para um abrigo.

— Um abrigo? Oh, não. Eu quero ficar com ele. Eu quero que ela seja
minha amiga, e fez cara de choro.

O coração de Celine ficou apertado. Um animal de estimação era o que ela


precisava algo para abraçar, para amar, para chamar de amiga. Ela poderia sugerir
essa idéia para Pierce. Eles podiam levar o gato ao veterinário para ser
examinado e vacinado, e, em seguida, Kylie poderia ter um animal de estimação.
No final das contas, seria uma decisão de Pierce.

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— Posso tocá-la? Ela estendeu a mão, mas Celine virou-se, mantendo o gato
fora de seu alcance.

— Não, ainda não. Eu tenho que ter certeza que ela é saudável antes de eu
deixá-la brincar com ela. Ela viu o rosto triste da menina. — Mas há algo que
você pode fazer para me ajudar enquanto isso. Por que você não me ajudar a
fazer uma caixa de transporte para ela, para que possamos levá-la em segurança
ao veterinário? Você pode me ajudar a fazer os buracos para entrar ar na caixa.

Isso pareceu animá-la. Seu rosto se iluminou e ela correu à frente de Celine
no caminho para a casa.

— Tio Pierce, adivinhe? Temos uma surpresa — Ela gritou quando


entraram na cozinha.

Ele virou-se em direção a elas, um pé de alface na mão.

— Que tipo de surpresa? — Ele disse com um sorriso que combinava com o
dela. — É algo delicioso?

— Não, você não pode comê-lo — Disse ela com uma risada. — Você pode
abraçá-la e beijá-la.

Pierce franziu a testa como se estivesse em profunda concentração. — É um


bebê? Talvez uma boneca bebê?

— Não — Ela falou e sacudiu a cabeça.

Celine riu e ainda segurando o gato muito confortávelmente, se virou para


Pierce para que ele pudesse ver.

Ele olhou para o pacote em seus braços e piscou. Em seguida, seu rosto
ficou pálido.

Ele deixou a alface cair no chão e começou a se afastar, seus olhos treinados
sobre o gato nos braços de Celine. Então, para seu horror, começou a suar e

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tremer, então ele estava ofegante. Afastou-se em um canto da sala e deslizou as
costas pela parede para se agachar no chão. Envolvendo suas mãos ao redor de
seus joelhos, ele começou a tremer incontrolavelmente.

O que no mundo, pode ter sido... Tinha algo a ver com o gato. Pierce tinha
dado uma olhada e tinha simplesmente desmoronado.

Celine correu para fora e depositou o gato na grama. Então ela correu de
volta para dentro, onde Kylie ficou olhando para ele, com os olhos arregalados
de aflição. Ele ainda estava agachado no chão, com o corpo tremendo.

Celine correu para ajoelhar-se ao lado dele.

— Pierce — Ela gritou, tocando suas costas. — O que há de errado?

Ele não respondeu e se encolheu ainda mais, como se para fugir de suas
mãos.

Celine pulou e pegou o telefone. Ela precisava de ajuda. Ela começou a


discar 911.

Não demorou muito para Celine perceber que Pierce tinha uma fobia grave
de gatos. Com a ajuda de um paramédico no telefone ela foi capaz de acalmá-lo
para que os violentos tremores cessassem e sua respiração ofegante cresceu
profunda e estável novamente. Ela pegou a toalha de cozinha e enxugou o suor
que se instalara em sua testa, em seguida, ela passou o braço em torno do
ombro.

Foi só quando ele voltou ao normal ela tirou o braço. Ele levantou a cabeça
e olhou para ela com uma mistura de gratidão e vergonha. Então ele perguntou
por Kylie, mas Celine a tinha levado para o gabinete e ligou no canal da Disney,
efetivamente tirando-a da cena do sofrimento de Pierce.

— Obrigado. — ele disse sua voz rouca e tensa.

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Celine balançou a cabeça, ainda se recuperando do que tinha acontecido.

—Não, Pierce. Não me agradeça. Eu quase te matei, trazendo o gato para


dentro de casa. Ela se sentiu tão cheia de culpa que seu coração estava ferido.

Ele balançou a cabeça e deu-lhe um sorriso tranquilizador.

— Não, você não fez. E de qualquer maneira, como você poderia saber?

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Então ela fez a pergunta em


primeiro lugar em sua mente.

— Porque você tem tanto medo de gatos?

— Eu acho que tem a ver com um incidente, quando eu era criança. Minha
mãe me disse que ela tinha uma gata de estimação antes de eu nascer e quando
ela deu à luz e me levou para casa a gata pareceu enlouquecer. — Ele riu. —
Devo tê-la irritado já que ela não era mais o centro das atenções. Minha mãe
disse que ela costumava miar para mim o tempo todo, quando eu estava em casa
e uma vez que ela arranhou meu braço.

— O quê? — Celine disse, indignado. — E os seus pais não se livraram


dela?

— Eventualmente eles fizeram, mas não antes qude ele causar danos
duradouros. Desde então eu não consigo olhar para um gato, sem me apavorar.

— Oh, Pierce. Eu não posso imaginar como deve ter sido.

— Ei, não é tão ruim assim — disse ele com um encolher de ombros. — Eu
passei a ficar longe deles e está tudo bem.

— Até hoje — Disse ela.

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— Até hoje. Mas ele estava sorrindo para ela agora, de volta ao seu antigo
eu, o confiante de olhos verdes o Pierce que ela amava.

E depois do que aconteceu hoje, ela sentiu que o amava ainda mais. Ela
sempre o tinha visto como tão ousado, poderoso e invencível - o empresário
bilionário, sempre no controle. Agora ela tinha visto outro lado dele, um lado
que estava vulnerável, um lado que precisava dela. Ela tinha sido capaz de levá-lo
nos braços e confortá-lo e sua força tinha sido sua. Pela primeira vez, ela sentiu
que ela tinha sido a única a dar, e não receber.

Meia hora depois, os três se sentaram para a refeição que Pierce preparou
macarrão e frango frito feito por suas próprias mãos e uma salada. Ele não podia
levar o crédito pela salada por que Celine tinha resgatado a alface, lavado e
preparado. Depois de seu ataque de pânico Pierce não tinha sido capaz de fazer
mais nada na cozinha.

Depois de uma surpreendentemente deliciosa refeição, considerando que


tinha sido feito por um quase novato, Celine encontrou o gatinho e colocou-o
dentro de uma caixa ainda ao ar livre, em seguida, ela levou-o para o abrigo onde
ela entregou-o aos cuidados do pessoal responsável.

Naquela noite, depois de colocar Kylie na cama, Celine desceu as escadas


para checar Pierce. Ela estava sendo uma espécie de mãe galinha, mas ela não
podia deixar de ajudá-lo. Hoje, o instinto de proteção nela havia sido acionado e
agora estava trabalhando horas extras.

Encontrou-o no seu habitual refúgio, na toca.

— Tudo bem? — Ela perguntou espiando dentro

Ele estava recostado no sofá, com os pés em cima da poltrona e quando ele
a viu, ele sorriu.

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— Tudo está bem. Bem, no meu mundo, pelo menos. Quando ela hesitou
na porta, ele acenou. — Vem. Sente aqui.

Celine sorriu para si mesma. Dando ordens, como de costume.

Ela se lembrou da última vez que tinha estado a sós com ele, ela sentou-se na
cadeira mais distante dele nesta sala. Hoje ela sentou-se no sofá ao lado dele. Ele
ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada. Ele simplesmente se afastou para
dar-lhe mais espaço.

Ela relaxou no sofá e olhou para ele. Ele estava vestido casualmente com
calça de moletom cinza e uma camisa de algodão leve. Quando vestido com seus
ternos ele parecia intocável, mas em casa ele estava totalmente relaxado e casual.
Ela gostava disso.

— Pierce, posso fazer uma pergunta?

—Claro vá em frente.

— Hoje cedo você mencionou sua mãe. Por que ela não vem visita-lo?

— Eu queria que ela viesse — Ele disse. — Meus pais decidiram se


aposentarem e morar no Havaí. Eu converso com eles todos os dias, mas como
você pode imaginar visitas levam algum planejamento antecipado,
particularmente com a minha agenda lotada.

— E os seus irmãos e irmãs. E eles?

— Não tenho irmão, só uma irmã. Bem casada, morando em San Diego
com o marido e dois filhos. — Ele deu-lhe um sorriso divertido. — Alguma
coisa mais que você queira saber?

Ela gemeu interiormente. Ela tinha sido a senhorita intrometida novamente.

— Não se preocupe, eu não estou ofendido. Lisonjeado, na verdade. O que


mais você quer saber sobre a minha família?

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Ela olhou para ele, em seguida, desviou o olhar de novo, uma súbita timidez
tomou conta dela.

— Eu só quero saber mais sobre você.

Ele parecia satisfeito com isso e seu coração disparou. Ela realmente queria
conhecer Pierce e ela tinha tão pouco tempo. O fim do verão estava se
aproximando rápido. Quando ela fosse embora, ela queria levar todas essas
lembranças com ela.

— Como você era quando criança?

Ele riu.

— Um Nerd. Eu era o garoto com os óculos, que estava sempre por perto
do laboratório de informática implorando para ser admitido para a criação de
novos programas.

— Ah, isso é tão doce — Disse ela, rindo.

— Não, não era. — Ele balançou a cabeça. — Eu posso rir sobre isso agora
e agradeço por todas aquelas horas no laboratório. Eu comecei minha empresa
de software ainda na escola.

— Sério? — Celine poderia ter adivinhado que ele era um tipo de gênio, mas
ele agora tinha ultrapassado as suas expectativas.

— Seus pais deviam ser muito orgulhosos de você.

— Eles eram, mas na época eu quase desejei que eu pudesse ter sido uma
criança normal. Não era fácil ser um nerd na escola. Ele deu de ombros, mas
tinha uma dor em seus olhos que ele não pode esconder.

— Você foi humilhado?

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— Sim — Ele disse casualmente. — Como a maioria dos garotos nerds eu
era o alvo de piadas. Apanhei um bom número de vezes.

— Oh, não — Ela sussurrou. Seu coração doeu pelo garoto que ele tinha
sido. Ele deve ter sofrido tanto.

— Mas — continuou ele — tudo ficou bem. Eram todas as horas passadas
escondido no laboratório de informática que me tornaram o homem que eu sou
hoje.

E que homem. Ele estava tão longe do nerd quanto poderia ser. Existia uma
sofisticação nele, uma aura de autoconfiança que o tornava muito atraente. E ele
era extraordinariamente bonito. Não era de admirar que ela o achasse irresistível.

Com pensamentos semelhantes, Celine e Pierce voltaram-se um para o outro


ao mesmo tempo. Quando seus olhos se encontraram, ela sabia que ele estava
pensando exatamente o que ela estava pensando. Ela o queria tanto que sua boca
ficou seca.

Não havia nada que ela quisesse mais agora do que ter seus braços em volta
dela, seus lábios nos dela. Mas quando ela olhou de volta para ele, ela sabia que
ele não iria fazer esse movimento.

Então ela fez.

Com a recente ousadia, Ela deslizou pelo sofá, fechando os poucos


centímetros que separavam seus corpos. Então, antes que ela pudesse mudar de
idéia, ela estendeu a mão para tocar seu rosto.

Ele olhou para ela, seus olhos verdes brilhando de emoção, mas ele ainda
não fez nenhum movimento. Ele estava esperando que ela assumir a liderança.

Deslizando a mão para a parte de trás de sua cabeça, ela inclinou-se até que
seus lábios se tocaram. Ela gemeu enquanto seu corpo formigava em
antecipação.
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Só então ele se moveu. Deslizando os braços ao redor dela, ele inclinou-se
para o beijo, tomando o controle total como ela sabia que ele faria. Ela
maravilhou-se quando sua língua deslizou por seus lábios para prová-la, provocá-
la, em seguida, saqueando até que ela sentiu como se seus próprios ossos se
transformavam em líquido.

Enquanto se beijavam, Celine deslizou as mãos para dentro de sua camiseta


para acariciar seus ombros e, em seguida, quando a paixão de seu beijo
intensificou se agarrou a ele como se fosse para salvar sua vida.

No momento em que ele levantou a boca da dela, ela abaixou a cabeça e


pegou seu lóbulo da orelha entre os dentes. Ela sentiu um arrepio de satisfação
quando o ouviu gemer. Ela tirou vantagem, deslizando os lábios por seu
pescoço. Então, ela estava levantando sua camiseta para beijos suaves em todos
os grandes músculos de seu peito agora nu para seu olhar.

Ela não se atrevia a olhar em seus olhos, sabendo que haveria perguntas lá.
Desta vez, ela não queria nada para ficar no caminho. Assim como ele tinha feito
com ela antes, ela moveu os lábios abaixo, abaixando até que ela pegou um
mamilo plano tenso entre os dentes. Quando ele gemeu, ela sorriu, mas não
parou. Ela cobriu a parte sensível dele com os lábios e chupou e mordiscou até
que seu peito arfava e seu coração batia em seus ouvidos.

Em seguida, ela deslizou suas mãos pela sua musculosa e definida barriga e
parou apenas tímitímidamente no cós da sua calça moletom. Ela ousaria ir mais
longe?

Sim, ela ousaria. Ela amava esse homem. Ela sabia sem dúvida. E agora,
quaisquer que fossem as consequências, ela estava pronta.

Ela foi deslizando as mãos sob o cós de sua calça de moletom, quando ela
sentiu suas mãos firmes nas dela.

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— Celine, pare agora, ou então eu não serei responsável por minhas ações.
Sua voz era rouca, sua respiração ofegante. Ela sabia que ele estava se
esforçando para resistir a ela.

Mas ela não iria deixá-lo fugir. Não desta vez.

— Você não vai ser responsável — Ela sussurrou. — Eu vou.

Com um gemido, ele estendeu a mão para ela e puxou-a para que ele pudesse
capturar sua boca. Ele deu-lhe um beijo ardente que falou de paixão reprimida e
desejo.

E então, sempre muito suavemente, ele a empurrou, sentou-se e empurrou


sua camiseta de volta para baixo.

Ela o encarou em um silêncio chocado. Levou alguns segundos antes que ela
pudesse falar.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou totalmente desnorteada. —


Por que você me parou?

Enfiando a camiseta em por dentro da calça, quase como para se proteger


dela, ele olhou para ela com uma expressão que ela não conseguia entender.

— Eu tive que parar. Eu não quero que você se arrependa do que estava
fazendo.

— Mas eu queria — Disse ela. — Eu estou pronta Pierce. Eu realmente


quero isso.

Ele olhou para ela, seu rosto um reflexo drefletindo a batalha travada dentro
dele. Mas então ele balançou a cabeça.

— Não — Você não quer. Não ainda. Levantou-se e, quando ele olhou para
ela seu rosto era grave e os lábios apertados.

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— Eu vou subir agora. — Sugiro que você vá para a cama.

Então ele virou e caminhou até a porta e foi assim que ele saiu.

Ela se sentou no sofá, incapaz de se mover. Esta noite tinha acabado por ser
uma das piores noites de sua vida. Ela veio para Pierce pronta para dar-lhe tudo,
e ele recusou a única coisa que tinha para dar. O que mais ela poderia dar a um
homem que tinha tudo? O que mais além de si mesma?

Mas ele rejeitou seu presente mais precioso e agora ela sabia que era inútil
tentar. Ela nunca seria boa o suficiente para Pierce D'Amato.

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Os dias que se seguiram foram difíceis para Celine. Foi difícil ter que colocar
um sorriso no rosto, rindo e brincando com Kylie, quando por dentro ela estava
morrendo. Cada vez que ela estava na mesma sala que Pierce, ela sentia o calor
do arrependimento no rosto, quando a memória de sua rejeição voltava
correndo. Cada vez que ele falava com ela, ela evitava seus olhos, não querendo
ver diversão ou desprezo refletido ali. Ela não seria capaz de viver com isso.
Quando ela fosse embora, ela queria lembrar os bons momentos que teve
naquela casa. Ela não queria estragar mais nenhuma dessas memórias além do
que já tinha sido manchada naquela noite.

Na semana seguinte, no entanto, as coisas começaram a melhorar. Ela


finalmente aceitou o fato de que, fora de sua relação de trabalho nunca haveria
nada entre ela e Pierce. É claro que ela sabia isso desde o início. Ainda assim, ela
tinha sido estúpida o suficiente para deixar-se cair sob o feitiço passando tanto
tempo juntos. Ela havia esquecido o seu papel. Agora, porém, as coisas estavam
em perspectiva de novo. Ela sabia onde estava e não ia esquecer.

Após essa conversa com ela mesma as coisas ficaram muito melhores. Ela
começou a rir de novo e Kylie, que teve que aturar sua distração, pareceu aliviada
com a volta da velha Celine. Quanto à suas interações com Pierce se manteve
leve e amigável. Ela não procurava sua companhia, mas já não evitava ficar na
mesma sala que ele desde de que Kylie estivesse lá também.

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Estar sozinha com ele era outra questão. Seu corpo parecia que tinha a
intenção de traí-la, sua respiração ficava cada vez mais superficial e os mamilos
endureciam a qualquer hora que ele chegasse perto. Mas ela fez o seu melhor
para esconder sua reação a ele. Ela só esperava que ele não pudesse sentir a
profundidade de seu tumulto interior.

Então, numa manhã aconteceu algo que fez Celine perceber que ela não era
a única que estava sofrendo. Ela acordou com o som de soluços suaves e sentou-
se para encontrar Kylie enrolada na cama ao lado dela.

— O que há de errado, cherie? O coração de Celine deu um pulo. Kylie


estava ferida? Ela jogou as cobertas para que pudesse ver o corpo da criança.

Não, ela parecia bem. Ela afastou as mãos que cobriam o rostinho.

— Você está machucada?

Kylie sacudiu a cabeça e começou a chorar mais alto.

Celine pegou-a em seus braços e a abraçou. As lágrimas da criança


ensopavam o topo de sua camisola.

— Calma meu bem. Ela de fato se acalmou enquanto a embalava nos braços.

— Sinto falta da minha mãe. Lamentou-se Kylie e começou a chorar de


novo, a força de seus soluços fazendo todo o seu corpinho tremer.

Ela sentiu como se uma faca estivesse atravessando seu coração. Pobre
menina. Ela estava tão absorta em seus próprios problemas que não estava lá
para a criança como ela deveria estar, mantendo-a tão ocupada que ela teria
menos tempo para preocupar-se com sua perda. Ela amaldiçoou a si mesma por
ter sido tão insensível.

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— Oh, Kylie, eu sei que você sente. — Disse em voz baixa, as lágrimas
enchendo seus olhos. — Só chore cherie, ponha para fora. Vai lavar tudo.
Apenas chore.

Era como se as palavras de Celine estourassem uma represa de tristeza no


interior da menininha em seus braços. Agarrou-se a ela e chorou. Durante vários
minutos, elas ficaram assim, mulher e criança, abraçadas uma a outra como se
elas nunca fossem se separar.

Quando Kylie finalmente se acalmou e os soluços pararam, Celine acariciou


seu cabelo e cantarolou uma canção de ninar. Ela esperava que os sons suaves
dessem algum conforto calmante.

Levou um longo tempo para elas sairem da cama naquela manhã. Por um
tempo, elas ficaram lá, quietas e pensativas, não necessitando qualquer palavra
naquele momento, apenas descansando depois de uma limpeza emocional.

O dilúvio foi uma fonte óbvia de alívio para Kylie. Celine podia ver a maneira
como ela relaxou contra ela e começou a brincar com seus dedos.

Para Celine, no entanto, teve o efeito oposto. Ela lembrou o quanto Kylie
ainda iria precisar de um ombro para chorar. Haveria mais explosões emocionais
e quem iria auxilia-la? Queria estar lá para confortá-la, mas como poderia?

O coração de Celine estava muito dolorido. Ela tinha resolvido viver o resto
de sua vida sem Pierce, mas como ela poderia sufocar seu amor por Kylie?

***

Pierce assistiu da janela de seu quarto quando Celine e Kylie sentaram-se no


banco à sombra do velho carvalho no quintal. Ambas as cabeças ficaram
dobradas, um liso e preto lustroso, o outro encaracolado e dourado. Elas
estavam concentradas com a aula matinal de Kylie. Celine dissera que estaria
revendo simplesmente de duas a três palavras de cada letra. Agora Kylie estava

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em profunda concentração enquanto Celine indicava através de sua lista de
palavras para o dia.

Toda vez que as via juntas, ele agradecia a sua estrela da sorte pelo dia em
que ela entrou em seu quarto de hotel. Enquanto ele estava no chuveiro do hotel
naquele dia, Kylie estava em sua mente e ele estava frustrado e cansado até as
orelhas da longa lista de candidatas que a agência havia enviado, nenhuma das
quais poderia se conectar com Kylie. Ele saiu do banheiro rezando por um
milagre. O pensamento ainda não tinha tido tempo para se apresentar em sua
mente quando ela entrou na frente dele, um anjo em uniforme de empregada.

Ele riu quando pensou naquele dia. Sua primeira lembrança de Celine era
dela gritando e afastando-se dele, os olhos arregalados de medo. E ainda assim
ele soube o momento em que seus olhos viram que ela era a resposta as suas
orações. Por mais estranho que pudesse parecer agora, naquele momento ele não
teve absolutamente nenhuma dúvida. E foi por isso que ele teve a certeza que ela
não escaparia antes que ele fizesse uma oferta que ela acharia difícil de recusar.

Agora, enquanto observava suas meninas juntas, ele não tinha absolutamente
nenhum pesar e de sua inspiração com a decisão de improviso. Celine tinha sido
uma dádiva de Deus em mais de um sentido.

E foi por isso que ele decidiu ir com calma com ela. Ele não iria subestimar o
sexo quando ela estivesse com ele e ele sabia que tinha sido em um momento de
fraqueza. Ele não seria capaz de viver consigo mesmo se tivesse aproveitado
aquele momento. Mesmo que ele tenha sofrido um inferno para ter força de
vontade, ele a salvou de si mesma naquela noite e não se arrependeu. Ela
provavelmente o odiava por isso, mas foi a coisa certa a fazer.

E, embora ela estivesse aborrecida com ele agora, ele esperava que tudo isso
fosse fazer valer a pena. Ele sorriu enquanto pensava sobre isso. Esse dia seria
em breve.

101
No dia seguinte, Pierce saiu para o escritório cedo, como de costume, para
evitar o tráfego de pico. Ele tinha um dia cheio pela frente, como estava
esperando um grupo de programadores do Japão que estariam em consultoria
com ele em um projeto especial. Era um grande negócio para a sua empresa, que
poderia levar a uma explosão de crescimento no mercado internacional.

Ele estava no meio de seu encontro quando sua assistente administrativa


bateu na porta da sala de conferências. Ele franziu a testa. Lynette tinha estado
com ele durante anos e ela sabia que não devia interromper uma reunião tão
importante.

Ela correu e se inclinou para sussurrar em seu ouvido. Com suas palavras o
seu sangue gelou. Kylie. Piscina. Hospital. Ambulância.

Nesse instante, todo o pensamento fugiu de sua mente, exceto por um.
Kylie. Ele tinha que chegar a Kylie.

Ele empurrou a cadeira para trás e com um breve pedido de desculpas, ele
foi para fora da porta. Lynette teria que fazer a explicação. Ele não tinha tempo a
perder.

Ele entrou em seu carro e arrancou do estacionamento, os pneus cantando


quando ele saiu. Dentro de 15 minutos ele estava na frente do Hospital St.
Mary’s. Ele estacionou o carro na zona proibida, mas não deu a mínima. Eles
que o multássem. Tudo o que ele queria era ver sua filhinha.

Ele correu até a recepção e quase estendeu a mão e estrangulou a enfermeira


quando ela calmamente disse para pegar uma senha e se sentar. Quando ele
rosnou para ela e pediu para ver Kylie imediatamente, ela saltou e parecia que
estava prestes a chamar a segurança, mas ela deve ter visto o desespero em seus
olhos, porque ela pediu a um atendente que o escoltasse até a enfermaria de
cuidados intensivos.

102
Lá Pierce viu Celine. Ela estava sentada sozinha em um banco comprido e
estava torcendo as mãos no colo, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ele correu até ela.

—Celine. O que aconteceu? Onde ela está? Ela está ... —Ele não podia dizer
a palavra.

Celine saltou e virou os olhos vermelhos, inchados em sua direção.

—Pierce. Mon Dieu, Pierce. Sinto muito. Sinto muito.

Isso o deteve em seus passos. Foi como uma pancada em seu coração. As
palavras eram uma confirmação de seu pior medo. Kylie foi embora.

As palavras sugaram suas forças, a própria vida dele. Ele caiu sobre o banco
e olhou para Celine em estado de choque. Sua Kylie, sua pequena doce Kylie,
estava morta.

Ele tinha a intenção de fazer a vida tão boa para ela, dar-lhe uma família, e
agora era tarde demais. Tarde demais, tarde demais. As palavras soaram em sua
cabeça. Oh Deus era tarde demais.

Ele baixou o rosto com as mãos e chorou.

Celine veio a ele então. Ele sentiu quando ela se sentou no banco ao lado e
em seguida, seus braços estavam ao seu redor, abraçando, confortando-o como
tinha feito antes.

—Temos que rezar— ela sussurrou. —Ore por Kylie, Pierce. Apenas ore.

Rezar? Para que orar? Rezar não a traria de volta para que ele pudesse
segurá-la em seus braços novamente, para que ele pudesse sentir sua energia, a
sua menina, tão cheia de vida. Celine podia rezar tudo o que ela quisesse, mas ele
só queria Kylie.

103
—Temos que ser forte por ela, Pierce. Ajudá-la a sobreviver.

Levou um momento para as palavras fazerem sentido. O que ela estava


dizendo? Kylie estava... viva?

Ele levantou a cabeça e olhou nos olhos de Celine, querendo que ela disesse
as palavras.

—Kylie, — ele disse.

—Eles estão tratando dela agora, — disse ela. —Ela está na sala de cirurgia.

Os ombros de Pierce cairam com alívio. Graças a Deus.

A rocha gigantesca que havia pousado bem no meio do seu peito começou a
ruir, deixando pedrinhas de medo para trás.

—O que eles disseram? Será que ela vai ficar bem?

Celine sacudiu a cabeça e seus olhos estavam cheios de tristeza.

—Eu não sei.

Pierce olhou para ela. Se ele tivesse tido esperança apenas para tê-las
frustradas? Não, Deus não seria tão cruel. Ele agarrou-se a esse pensamento,
essa esperança, e só então ele foi capaz de respirar livremente.

Pierce pegou a mão de Celine na sua. Sua palma estava úmida. Ele só podia
imaginar o que ela devia ter passado lidar com tudo isso sem ele. Ele acariciou as
costas da mão, tentando dar-lhe um pequeno conforto. Sentaram-se assim em
silêncio.

Por fim, ele perguntou:

—Celine, o que aconteceu?— Ele sabia que seria traumático para ela reviver
a experiência, mas ele tinha que saber.

104
As mãos de Celine agarram a sua com força e, em seguida, ela puxou
afastando-as. Ela deu uma respiração trêmula.

—Kylie e eu... nós fizemos jardinagem esta manhã e estavamos tão


enlameadas... Eu levei-a para cima e dei um banho. — Ela respirou fundo, em
seguida, deixou sair para fora um suspiro pesado. —Ainda havia lama que tinha
espirrado na minha perna, então eu fiz um lanche rápido para Kylie e sentei-a na
mesa da cozinha para comer. Eu lhe disse que estaria lá embaixo em cinco
minutos. Eu só queria tomar um banho rápido.

—Por que não a deixou com a Sra. Simpson?

—Ela ligou um pouco depois que você saiu esta manhã. Seu neto estava
doente e sua filha chamou de repente para que ela fosse tomar conta dele,
enquanto ela ia para o trabalho.

— Celine mordeu o lábio. —Eu estava sozinha com Kylie.

Ela ficou em silêncio e, em seguida, Pierce poderia imaginar que ela deveria
estar se culpando por alguma brecha de tempo, quando ela deixou Kylie fora de
sua vista. Ele falou então.

—Mas como é que Kylie chegou ao redor da piscina? — Ele tinha instalado
uma cerca na mesma semana em que Kylie mudou.

Celine prendeu a respiração.

—Isso é o que eu não entendo. Eu sei que eu tranquei a porta ontem à noite
e nós não fomos a qualquer lugar perto dela durante toda a manhã. Eu sei que
Kylie e muito pequena para chegar perto da trava para a porta, o que significa
deve ter sido deixada aberta. — Ela balançou a cabeça, os olhos angustiados,
com o rosto escuro em confusão. — Eu sei que eu tranquei o portão. Eu tenho
certeza disso. Eu fiz, Pierce, eu fiz. — Ela cobriu o rosto com as mãos e
começou a chorar.

105
—Acalme-se, — ele disse, e colocou o braço em torno do ombro. — Eu sei
que sim.

Levou vários minutos para Celine se acalmar e então eles se sentaram juntos
em silêncio, os momentos passando. Cada vez que a porta que dava para a sala
de operação abria os dois se viraram, mas cada vez era uma enfermeira ou um
enfermeiro cuidando de suas várias funções.

Finalmente, depois de exaustivas duas horas um cirurgião vestido com


roupas verdes entrou pela porta.

—Senhorita Santini, — disse ele quando ele se aproximou, — e Mr. ...

—D'Amato. Pierce D'Amato — Pierce disse, levantando-se.

O médico balançou a cabeça.

—Você é o guardião de Kylie, correto?

—Sim — ele disse rapidamente, desejando que o médico falsse logo. O


suspense era uma tortura.

—Como vocês sabem, nós estivemos tratando Kylie durante algum tempo.
Ela ingeriu um pouco de água, mas foi pouca coisa — ele virou-se para Celine
— você a tirou rapidamente e começou a RCP imediatamente. Se não fosse por
isso, não teriamos sido capaz de salvá-la. Os paramédicos teriam chegado tarde
demais. Sua ação rápida salvou a vida dela.

—Então ela vai ficar bem?

O cirurgião sorriu.

—Sua menina é uma verdadeira lutadora. Nós vamos ter que mantê-la por
pelo menos uma semana em observação, mas parece que ela está fora de perigo.

Pierce poderia tê-lo beijado, o alívio foi tão grande. Kylie ia ficar bem.

106
Ele virou-se agarrou Celine e a abraçou com força, expressando todo o seu
alívio e alegria nesse abraço.

Então ele a soltou e estendeu a mão.

—Obrigado, Doutor — ele disse, e apertou a mão do homem que salvou a


vida de sua filha.

Sim, ele disse isso. Sua filha. E foi o que Kylie veio a ser para ele - um
membro da sua família, sua filha. Ele estava pensando nela já há algum tempo e
ele sabia tudo o que o futuro reservava para ele, Kylie seria sempre uma parte
dele. Ele iria torná-lo oficial. Ela seria sua filha.

—Podemos vê-la? — ele perguntou.

—Sim, mas um de cada vez. E você vai ter que se lavar primeiro. Nós não
queremos qualquer risco de infecção. —Ele acenou para Pierce. —Você vai
primeiro, Sr. D'Amato.

Pierce olhou para Celine, e ela balançou a cabeça, o rosto corado de alívio.

—Vai com ela.

Quando Pierce desapareceu atrás das portas do centro médico, Celine


sentou-se e olhou para o chão. Graças a Deus que ia dar tudo certo com Kylie.
Ela não podia imaginar o que teria sido se não a tivesse puxado. Ela estava
morrendo de vontade de correr até ela e abraçá-la apertado, mas teria que
esperar sua vez.

Então ela pensou sobre o papel que ela desempenhou nessa tragédia de
Kylie. Por que ela a deixou sozinha? Ela foi rapidamente no banheiro e havia
retornado pelas escadas para encontrar a cozinha vazia e Kylie tinha saído. Ela
tinha ido para o jardim, pensando que ela estivesse andando por ali, mas não viu
Kylie. Então ela correu de volta para a piscina e foi quando ela viu o portão
aberto. Ela correu e viu o rosto de Kylie flutuando para baixo da água.
107
Ela gritou, em seguida, mergulhou na água e arrastou-a para fora. Ela
imediatamente começou com as técnicas de salvamento que ela aprendeu com
uma babá adolescente. Ela só parou o tempo suficiente para chamar a
ambulância e, em seguida, ela continuou trabalhando nela até os paramédicos
assumirem.

Tudo tinha levado poucos minutos, mas para Celine parecia uma vida inteira.

Levantou-se, agitada demais para ficar parada por mais tempo, e começou a
caminhar pelo corredor. Então, ela chegou a um impasse e encostou a testa na
parede de concreto frio. Seus ombros tremeram, mas não houve lágrimas. Ela
estava chorando de novo, porque ela sabia o que tinha que fazer. Por uma
questão da segurança de Kylie seria melhor para ela ir embora.

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Kylie chegou em casa seis dias depois. Pierce instalou-a em seu quarto com
montes de livros infantis, brinquedos e jogos. Ele passou quase o dia inteiro com
ela, brincando com as bonecas em sua cama e jogando com fantoches que ele
mesmo fizera. Celine podia ver que ele estava tentando fazer as pazes com Kylie
pelo o trauma da semana passada, mesmo ao ponto de exagerar. Foi só quando
as pálpebras dela caíram que ele decidiu deixá-la sozinha.

Agora que Kylie estava em casa, Celine decidiu que era hora de abordar o
assunto de sua saída. Ela perguntou a Pierce se podia encontrar-se com ela na
cozinha e, em seguida, sentou-se e falou seu plano. Ela iria ficar mais uma
semana para que ele pudesse encontrar uma substituta, mas então ela estaria
saindo.

Pierce não ficou nada satisfeito com o seu anúncio.

—Você está saindo em uma semana? Isso é cinco semanas mais cedo do que
o planejado.

—Eu sei, e é por isso que eu vou ficar esta semana para te dar tempo de
encontrar uma substituta. Você e eu sabemos que é o melhor.

—O melhor para você? Certamente não é o melhor para Kylie.

—Especialmente para Kylie — ela gritou. —Olha o que aconteceu com ela
aos meus cuidados? Eu nunca seria capaz de perdoar a mim mesma se as coisas
tivessem sido... Piores.

109
—Celine — disse ele, com o rosto exasperado — Não foi sua culpa.
Poderia ter acontecido sob vigilância de qualquer um.

—Mas aconteceu sob a minha. Você não entende o que isso significa para
mim? Eu quase matei a Kylie. —A culpa a invadiu e ela sentiu como se seu
coração fosse quebrar.

—Celine, pare com isso! — A voz de Pierce foi dura. — O que aconteceu
foi um acidente. Poderia ter acontecido com qualquer um de nós, esquecer de
trancar a porta. Eu sei que não foi intencional.

Celine prendeu a respiração, os olhos arregalados com o choque.

—Você não acredita em mim. Você acha que a culpa foi minha.

—Eu não estou dizendo isso. — Pierce estava olhando para ela agora. —
Qualquer um de nós, você, eu, Sra. Simpson, poderiamos ter deixado o portão
aberto. Eu não estou tentando culpar ninguém. Só estou dizendo que, mesmo
que tivesse sido você eu não iria condená-la pelo que aconteceu.

Agora, ele estava mudando sua história. Na mente de Celine, Pierce a


culpava. Essa discussão só estava confirmando que ela tinha tomado a decisão
certa. Ela precisava ir o mais rápido possível.

—Pierce, — ela disse baixinho: — Eu já decidi. Eu sei que você não confia
em mim mais com Kylie, por isso é melhor para todos nós, eu sair. Por favor,
comece a procurar a minha substituta.

Pierce estava carrancudo para ela agora.

—Essa é a sua palavra final?

—É a minha palavra final. — Disse ela, mantendo seu rosto inexpressivo,


mesmo que ela se sentisse oca por dentro.

110
Ela não tinha para onde ir. Ela perderia Kylie. E Pierce. E mesmo que ele
tivesse dito que ela não tinha que ir, mesmo que ele disse que ainda confiava
nela, Era a grande questão que a fez querer fugir. Como ela poderia confiar em si
mesma?

Ela deixou o portão aberto, ao que parece, mesmo ela lembrando que
trancou. Pierce parecia pensar assim, embora ele não fosse admitir isso. Ela tinha
certeza e olha o que aconteceu. Como ela poderia ter certeza de que não iria
acontecer de novo?

Não, por uma questão da segurança da Kylie era melhor se ela ficasse longe...
não importa que seu coração estivesse rompendo com o pensamento.

***

Dezesseis dias. Fazia 16 dias desde Celine tinha visto pela última vez Kylie e
Pierce. Ela pensou que as coisas iriam melhorar com o tempo, que a dor acabaria
por ir embora, mas tinha piorado. Ela estava longe de Kylie e era como ser
separada de sua própria filha.

Neste verão, ela teve uma família, uma família muito diferente do que a da
França, mas família da mesma forma. E perdê-los foi como perder sua própria
carne e sangue.

Ela se esforçou para não se intrometer em sua vida, mas ela não tinha sido
capaz de resistir chamando Kylie quase todos os dias desde que a deixou. Mas
telefonar não era o mesmo que vê-la, segurá-la, o cheirinho de cereja do seu
cabelo.

Celine fez questão de ligar na casa durante o dia, quando ela sabia que Pierce
não estaria por lá. Ela não sabia se seu coração poderia aguentar o profundo
timbre de sua voz, sem acabar em lágrimas. Ela sentia demais a falta dele para
descrever em palavras. Ela tinha medo de que, se ela o visse ia quebrar e deixar
escapar o que ela realmente sentia por ele. E o que iria conseguir com isso? Ele
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provavelmente ficaria atônito com constrangimento ou precipitaria para a saída
mais próxima.

Hoje, porém, ela não se importava. Ela tinha que ver Kylie novamente. Ela
pegou o telefone e discou o número do celular de Pierce. Ao som de sua voz um
tremor percorreu.

—Pierce, é Celine, — ela disse suavemente. —Você tem um minuto? — Ela


odiaria saber que tinha perturbado a reunião.

—Sim, vá em frente. — Pierce soou formal, cortante.

—Eu queria saber se você me deixar visitar Kylie. Eu adoraria ir hoje se


estiver tudo bem para você. —Ela disse tudo com pressa, querendo chegar as
palavras antes que perdesse a coragem.

Silêncio. Esta foi a resposta na outra extremidade da linha. Silêncio total.

—Olá?— Celine disse ao telefone. Ele tinha desligado?

—Celine. — Pierce estava falando novamente. Finalmente. — Em que


momento eu lhe disse para não ver Kylie?

—Bem... não, — disse ela, sentindo-se estúpida.

—Exatamente. Então, por que você acha que precisa minha permissão?
Você falou como se esperavasse que eu dissesse não. —A voz parecia como se
ela o tivesse ofendido.

—Me desculpe, eu não queria impor...

—Que horas que você gostaria de visitar Celine?— Ele cortou no meio da
frase.

—Eu estava pensando as duas horas da tarde. — Ela tinha escolhido


especificamente esse horário, porque ela sabia que ele não estaria em casa.

112
—Tudo bem. Vou deixá-los saber que podem esperar você. —E então ele
desligou.

Ele não tinha dado a ela a chance de dizer adeus. Bem, seria muito que ele
quisesse vê-la novamente. Ele não tinha sequer perguntado como ela estava
passando. Era óbvio que todos os sentimentos entre eles tinham acabado afinal.
Sentindo-se esvaziada, ela gentilmente colocou o receptor de volta no local e
levantou-se para se vestir para sua viagem.

Quase duas horas mais tarde, Celine entrava no longo caminho circular da
casa que tinha sido como sua durante a maior parte do verão. Seu coração se
acelerou na expectativa. Ela saiu do carro, abriu a porta de trás e pegou o
enorme saco de presentes com o conjunto da Molly Dolly com suas vinte e
cinco roupas fashion. Ela sabia que Kylie adoraria vesti-la.

Ela subiu a escada e tocou a campainha, um sorriso brilhante no rosto. Ela


estava ansiosa para ver a Sra. Simpson, também. Sempre achou ela uma
companhia agradável.

A porta se abriu e Celine se viu olhando para o rosto fino e bem feito de
Sophia Redgrave.

O sorriso de Celine fugiu. O que Sophia está fazendo lá? E se ela tivesse
usado a sua partida como uma oportunidade de arrastar-se como um verme na
vida de Pierce?

—Boa tarde, Sophia— disse ela, quando seu bom senso retornou. —Estou
aqui para ver Kylie.

Sophia acenou com a cabeça, mas como de costume não havia sorriso de
saudação.

—Nós estávamos esperando por você.

113
Ela abriu mais a porta para Celine poder entrar e a levou pelo caminho
através do hall de entrada e corredor.

—Kylie, — ela chamou. —Celine está aqui.

Do nada um embrulho de rosa e amarelo veio voando em direção a ela e


Celine teve tempo suficiente para largar o saco de presentes e pegar Kylie
quando ela pulou em seus braços.

—Celine, eu senti tantas saudades de você, — ela choramingou e colocou os


braços ao redor do pescoço de Celine.

—Eu senti saudade de você, também, cherie. Tanta. — Celine fechou os


olhos e se deliciou com a sensação do pequeno corpo em seus braços. Ela
cheirava a morangos e pêssegos.

Elas ainda estavam se abraçando, quando ouviram o barulho de um motor


na frente.

—Papai, — Kylie gritou e se contorceu tanto que Celine teve que colocá-la
no chão.

Papai? Tinha que ser Pierce. Kylie estava chamando papai, mas quando ela
tinha começado a fazer isso?

Imediatamente com o pensamento em Pierce seu coração começou a


acelerar. Apesar de seus esforços, hoje ela iria ver Pierce novamente. Obrigado,
Deus.

Lentamente, tentando parecer casual, ela seguiu Kylie de volta para a varanda
da frente. Seu coração deu um salto quando o viu.

Pierce estava saindo de um Porsche preto, os óculos escuros ainda em seu


rosto. O sol brilhava em seu cabelo chocolate escuro. Ele olhou super-sexy em
seu poderoso terno preto e gravata vermelha.

114
Kylie correu para ele agora. Ele pegou-a e deu um grande beijo na bochecha.

Como Celine desejou que pudesse ser ela.

Então, ele olhou para cima e muito lentamente tirou os óculos de sol. E lá
estavam eles, aqueles olhos verdes lindos que pareciam que podiam ver sua alma.
Ele estava olhando para ela, e nos lábios a sugestão de um sorriso.

Ainda segurando Kylie com um braço Pierce subiu a calçada e os degraus até
que ele estava em pé na frente dela.

—Olá, Celine. — disse ele, olhando para ela como ela estava olhando para
ele.

—Olá, Pierce.— Ela limpou a garganta. —Eu pensei que você estivesse no
trabalho hoje.

—Eu estava, — disse ele. —Eu decidi voltar para casa mais cedo.

—Por minha causa?— Dieu, ela disse em voz alta?

—Por causa de você— disse ele e havia tanto sentimento em sua voz que
Celine piscou.

—Papai, Celine voltou para casa para ficar— Kylie falou. —Eu estou tão
feliz.

Com olhos arregalados, Celine olhou para Kylie. De onde a criança tirou
isso? Ela não queria enganá-la. — Não, cherie, eu estou aqui apenas para uma
visita.

—Não, você não vai. Você voltou para ficar comigo, — a criança insistiu.
Ela começou a se contorcer nos braços de Pierce. — Eu quero ir para a mamãe.
— E ela estendeu os braços para Celine.

115
Celine engasgou e lágrimas rápidas picaram seus olhos. Em seguida, seu
rosto enrugou e as lágrimas derramaram em suas bochechas.

—Kylie, querida doce Kylie, — foi tudo que conseguiu, com a garganta
apertada pelas emoções. Ela estendeu as mãos e pegou-a de Pierce e enterrou o
rosto no pescoço da criança.

—Eu ainda amo a minha velha mãe, — Kylie sussurrou, —mas eu quero
você como minha nova mamãe agora.

—Eu ... — Como ela poderia dizer que ela adoraria mais do que qualquer
coisa no mundo, mas que não poderia acontecer? —Eu... — Ela tentou de
novo, mas não poderia ir mais longe.

Pierce veio a ela em seguida. Enquanto ela segurava Kylie nos braços ele
ficou olhando-a nos olhos.

—Celine, como você pode ver Kylie ... e eu ... estamos tendo um tempo
muito difícil vivendo sem você. Quando você nos deixou você levou uma parte
de nós com você. Nós precisamos de você.

Celine olhou para ele, sem acreditar no que estava ouvindo.

—Kylie precisa de mim— ela sussurrou, — Mas você?

Ele deu-lhe um sorriso que disse tudo o que ela precisava saber. —Eu não
posso viver sem você, Celine. Você vai voltar para casa, mas desta vez como
minha esposa?

Celine estava esperando ansiosamente por essa pergunta toda a sua vida e
agora o homem dos seus sonhos estava esperando por sua resposta. Era tudo
um sonho?

—Você tem certeza?— Celine sussurrou. —Você ainda está com raiva de
mim?
116
—Eu nunca estive com raiva de você. Eu te amo. Você foi meu anjo
milagroso desde o dia em que nos conhecemos.

—Obaaa, — Kylie gargalhou. —Mamãe e papai vão se casar.

—Espere, Kylie— Pierce disse, rindo. — Celine ainda não disse que sim.

—Sim, sim, sim— Celine disse em meio às lágrimas e foi para os braços que
Pierce tinha mantidos abertos.

E assim eles se abraçaram - Pierce, Celine e Kylie, todos os três - felizes em


saber que eles eram agora uma família.

117
Kylie era a garota mais bonita do mundo. Devagar e com cuidado, com o
rosto radiante de orgulho, ela deixou o vestíbulo da igreja e caminhou pelo
corredor com sua cesta de pétalas de rosas vermelhas, polvilhando as flores ao
longo do caminho.

Ela seguia um pagem portador de anel muito nervoso, um pequeno amigo


que fizera em seu primeiro dia no jardim de infância. Em seu terno preto o
pequeno cavalheiro andou à frente de Kylie, parando a cada poucos passos para
verificar se ela ainda estava lá.

A igreja estava cheia de amigos e familiares, incluindo Claire, Sylvan e Marc.


A família de Pierce estava lá também, Elizabeth e Carlos do Havaí e Sharon, seu
marido e dois filhos de San Diego.

A Sra. Simpson sorriu quando ela olhou para a parte de trás da igreja e viu
Celine ali, à espera do organista para iniciar a marcha nupcial.

Sophia estava na congregação, também, parecendo mais elegante e moderna


do que qualquer um na igreja. Ela tinha sido a maior surpresa de Celine. Com a
notícia de que Pierce tinha proposto casamento a ela, a mulher parecia ter
mudado todo o seu comportamento, como se aceitasse que já não fazia mais
sentido fingir. Ela não ficou calorosa e convidativa, mas ela se tornou uma
grande fonte de conselhos para Celine, enquanto se preparava para seu grande
dia.

118
Para maior surpresa e alívio de Celine ela resolveu o mistério do portão da
piscina. Foi Sophia, que tinha deixado o portão aberto e não Celine. Ela veio de
manhã cedo para emprestar a longa rede para dar ao seu limpador de piscina.
Era muito cedo para acordar alguém. Foi só quando ouviu a Sra. Simpson falar
sobre o mistério da porta que ela percebeu que seu papel na experiência de quase
morte de Kylie. Ela desculpou-se em lágrimas e desde então se tornou a maior
aliada de Kylie, mesmo nos momentos em que ela merecia ir para o canto
impertinente.

Agora era a hora de Celine caminhar até o altar. À medida que a marcha
nupcial começou, ela levantou a cabeça. Seu coração disparou quando ela sorriu
para o homem que esperava por ela na outra extremidade. Alto, moreno e
deliciosamente bonito em seu terno e gravata borboleta, Pierce estava sorrindo
para ela e em seus olhos eram uma luz que dizia a ela para nunca mais duvidar de
seu amor novamente.

E assim, quando os tons da marcha encheram a igreja, ela deu um passo


adiante com orgulho, pronta para começar a sua nova vida como mãe de um
anjo e com seu amado esposo, Pierce D'Amato.

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