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Ilustração, Iconografia
e Diagramação
Gabriela Naomi Umezu Oliveira
Luke Boaro Almeida Machado
Colaboração
Fabrícia Cristina Florencio
Roselaine Pontes de Almeida
Thaís Aparecida Zorzela
B862p
Brites, Luciana.
Programa de aperfeiçoamento em TDAH
– Livro Teórico/ Luciana Brites. – 1. ed. – Londrina: NeuroSaber, 2022.
69 p. ; il. ; 29,7 X 21 cm
ISBN 978-65-89959-35-9
1. TDAH. 2. Aprendizagem. 3. Intervenção.
4. Saúde. 5. Neuropsiquiatria I. Título
CDD – 618.928589
Um grande abraço,
Equipe NeuroSaber
3
Sumário
1 APRESENTAÇAO.............................................................5
3 COMORBIDADES...........................................................21
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NEUROLOGIA E
NEUROCIÊNCIAS DO TDAH
O que é Neurologia?
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estrutura central (braços, pernas, intestinos, coração, pulmão, rins etc), ou
seja, todas as áreas inervadas pelos nervos que saem do sistema nervoso
central.
NEUROLOGIA
Sistema
Nervoso
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Essas informações são importantes para entender como é o trans-
torno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e como ele ocorre no cére-
bro dos indivíduos.
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das, com choros em excesso, baixa autoestima e maior sensibilidade em
situações de conflito.
Além disso, o TDAH também pode levar a alterações cognitivas, de
linguagem e em neuroimagem funcional.
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vididos em dois grupos: um grupo com algum transtorno do desenvolvi-
mento ou deficiência (tinha um tumor cerebral ou uma sequela de menin-
gite, tinha um histórico de crises convulsivas ou em algum momento da
vida sofreu um trauma craniano e ficou com uma sequela, ou até mesmo
uma doença infecciosa que possa ter acometido o cérebro); no outro
grupo de crianças hiperativas, ele viu que não tinha nenhuma causa apa-
rente, eram indivíduos sem histórico clínico, porém mesmo assim eram
extremamente agitadas.
Por volta de 20 anos depois, esses indivíduos foram agrupados no
transtorno chamado Hipercinética da Infância, que foi descrita por dois
médicos Doutor Kramer e Doutor Pollnow, em 1932. O artigo deles mos-
tra, perfeitamente, alguns detalhes que até então não se tinham dessas
crianças. Segundo eles, elas apresentavam pouca capacidade de des-
canso motor, ou seja, qualquer momento que elas tinham que ficar quie-
tas, elas não conseguiam. Não havia sintomas corporais, nem distúrbios
do sono, nem agitação noturna. A agitação era primordialmente diurna,
onde apresentavam uma excessiva inquietude, moviam-se demais e mo-
viam os objetos sem qualquer objetivo.
Desse modo, essa foi a primeira descrição que começou a expor os
sintomas do TDAH como algo que leva a movimentos sem objetivos que
atrapalham a condução da própria vida da criança.
Por fim, Doutor Kramer e Doutor Pollnow foram os pioneiros em
perceber que além de agitados, eram distraídos e desatentos, tendo uma
desatenção excessiva tanto para tarefas do cotidiano quanto para brin-
cadeiras.
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Dano Cerebral Mínimo (1976)
Nos anos 70, um novo nome passou a ser dado para o TDAH, o cha-
mado Dano Cerebral Mínimo. Essa definição associava a hiperatividade
como algo resultante de uma lesão cerebral causada por algum dano
na vida da pessoa. Assim, os autores descreviam a hiperatividade na
época como associada à quadros de epilepsia, traumas, infecções cere-
brais como encefalite ou encefalite por Sarampo ou a Hipóxia Neonatal,
àqueles bebês que nasciam com um sofrimento durante e logo depois
do parto.
Nessa fase, começou-se a pensar que poderia haver alguma liga-
ção entre problemas de comportamento em algumas pessoas e cone-
xões cerebrais, uma vez que esses danos e traumas poderiam lesar áre-
as cerebrais, desconectá-las e fazer com que o indivíduo desenvolvesse
algum tipo de transtorno de comportamento. E o TDAH, a hiperatividade,
naquele tempo era um sintoma evidentemente claro para poder descre-
ver esse dano cerebral.
Goldstein, 1942, fez experimento no qual realizou a retirada do lobo
frontal de alguns macacos. O Lobo frontal está altamente associado ao
controle motor, controle de movimentos, planejamento e autocontrole
emocional. Ele observou que ao retirar o lobo frontal, os macacos fica-
ram extremamente agitados e distraídos. A partir disso, começaram a
imaginar que a hiperatividade pudesse ser um problema relacionado à
conexão neurológica.
Em seguida, nos anos 60 e 80, começaram a perceber que alguns
indivíduos não apresentavam lesões neurológicas, mas apenas algumas
disfunções. Os indivíduos com sintomas de TDAH passaram a ser des-
critos como portadores de disfunção cerebral mínima. Logo, a hiperati-
vidade é o resultado de um distúrbio cerebral mínimo, sem que a lesão
ou alteração neurológica pudesse ser demonstrada. Eles começaram a
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notar isso, principalmente em algumas pessoas que tinham um elétron
extremamente alterado, eram hiperativas e quando se comparava com
crianças típicas, ao receber tratamento, o elétron se estabilizava e com-
portamento muitas vezes melhorava, ficando mais próximo de uma crian-
ça que não tinha hiperatividade.
Clementes (1966) foi mais longe e percebeu que além desses indi-
víduos terem uma melhora no padrão elétrico, eles também tinham pro-
blemas de percepção audiovisual, distúrbios de linguagem, problemas
de memorização e controle da atenção e do movimento.
A ideia que temos hoje sobre o TDAH é muito parecida com a ideia
do que se tinha nos anos 50, 60 e 70. O que vai contra a ideia de o que
o transtorno é algo da modernidade, visto que é possível perceber que
vários conceitos já eram bem amadurecidos em relação ao TDAH.
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muito mais ligado a isso do que a uma lesão neurológica.
Em 1980, o DSM-III mantém o diagnóstico só que com o nome de
Desordem de Déficit Atenção com e sem Hiperatividade. Ou seja, havia
crianças que eram desatentas, mas que não eram agitadas. Foi a primei-
ra vez que começou ser feita a separação da desatenção e da hiperati-
vidade.
Dessa forma, o DSM-III colocou os problemas atencionais e a im-
pulsividade como algo mais importante do que a hiperatividade. Nesse
tempo, eles já começaram a organizar melhor a definição e o Diagnós-
tico do TDAH, inserindo como sintomas-alvo essas três características
(atenção, hiperatividade e impulsividade). Já estavam sendo utilizadas
notas de corte em que o indivíduo tinha que atingir uma quantidade de
critérios para poder ser dado o diagnóstico. Nessa fase, também já se
inseriu uma idade mínima para se fazer o diagnóstico.
Atualmente, o TDAH já é melhor descrito pelo DSM-IV e também
pelo DSM-5 como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, sem
aquela distinção de ser com ou sem a hiperatividade. No entanto, se
separa em três grupos: o indivíduo com o TDAH puramente ou predomi-
nantemente desatento, o hiperativo/impulsivo e o combinado.
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Nesse contexto, é fundamental compreender que não só a defini-
ção do TDAH passou por evoluções, mas o conhecimento sobre o trans-
torno também.
Em 1798, tinha-se apenas os sintomas da hiperatividade como algo
descrito e visto nesses indivíduos, aquilo que mais chamava atenção. Os
prejuízos que esse indivíduo tinha na sua vida eram focados no com-
portamento. Tudo isso ocorria sem que se soubesse as causas, não que
as causas do TDAH hoje sejam conhecidas, pois ainda não se sabe os
mecanismos específicos do distúrbio.
O tratamento, naquela época, ainda não era preconizado. Os pri-
meiros tratamentos foram surgindo muitos anos depois das primeiras
descrições, deixando claro que o que vem primeiro no TDAH não é o
remédio para ver o transtorno, mas sim a descrição do transtorno. E os
processos terapêuticos só apareceram muitos anos depois.
Em 2013, já se sabe claramente que o TDAH tem como primordial
os sintomas de Déficit de Atenção, que podem ou não estar acompa-
nhados de hiperatividade e impulsividade. Os sintomas de atenção são
preponderantes na descrição e nos prejuízos, inclusive, relacionados ao
transtorno. Os prejuízos e as maiores dificuldades geradas pelo TDAH
não interferem só na vida da criança e do adolescente como um todo,
mas no desenvolvimento dessa criança. Hoje já se sabe que o transtorno
prejudica a criança nos primeiros três de vida, dos 4 aos 8 anos e dos
8 aos 11 anos. O que significa que a cada etapa que a criança tem de
desenvolvimento, vai sendo prejudicada pelos sintomas de TDAH.
Atualmente, as causas do transtorno estão mais aprofundadas.
Hoje, sabemos que o TDAH é um transtorno predominantemente ge-
nético, com alguma influência do ambiente em alguns casos. Assim, é
possível um tratamento muito mais definido.
O tratamento é multidisciplinar e já existem Guidelines (consensos
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e orientações bem detalhadas e embasadas em pesquisa), ou seja, é um
guia com linhas de ação, de como agir de acordo com o diagnóstico de
TDAH, quais os aspectos a serem levados em consideração, a idade da
criança etc. A partir daí, tem-se uma linha de tratamento, correlacionada
às questões acerca das dificuldades e do perfil da criança, indicando o
que se deve fazer, qual o remédio usar e como a escola deve agir.
Transtorno de Desenvolvimento
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os de desenvolvimento da coordenação, os transtornos de aprendiza-
gem verbal (dislexia, discalculia, disgrafia) e os transtornos de aprendi-
zagem não verbais.
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• Atraso motor: é muito frequente e pode ocorrer dois ex-
tremos – ou a criança começa a andar precocemente ou
começa a andar muito tarde (até os 2 anos).
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São crianças que por terem dificuldade de concentração,
acabam demorando mais para cumprir as mesmas tarefas
quando exigem uma flexibilidade maior, não só motora e de
linguagem, mas também de aumentar o nível de foco para
poder dar conta de um novo desafio. Isso já começa a ocor-
rer nos primeiros anos de vida.
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Atualmente, sabe-se que o TDAH pode estar associado a outros
transtornos de desenvolvimento, como: deficiência intelectual, autismo,
transtornos de linguagem, transtorno de aprendizagem e transtorno do
desenvolvimento.
Dos anos 80 para cá, o TDAH passou a ser visto de forma mais
ampla, considerando todas as coisas importantes que o permeiam e as
implicações na interação da criança com a sua vida e com o que está a
sua volta, seja em casa, na escola e, depois, no trabalho.
Epidemiologia
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Epidemiologia no TDAH
- EUA: 6%
- Europa: 4%
- América do Sul: 12%
- África: 8-9%
- Ásia: 3%
- Oceania: 5%
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Todos esses índices seguem uma média, independentemente de
cultura, perfis educacionais e sociais totalmente diferentes. Então, pode-
mos concluir que o TDAH é um transtorno intercultural, intersocial, interli-
gado a vários fatores que independem da região e da cultura. Indicando
que a questão está muito mais ligada à genética.
Comorbidades
Uma das coisas importantes no TDAH, e que a epidemiologia au-
xilia, é o estudo das comorbidades. A comorbidade é a frequente as-
sociação entre outros sintomas que podem estar relacionados a outros
diagnósticos. É comum termos essas associações em quadros clínicos,
em que há a junção de um diagnóstico a outras comorbidades.
O TDAH é um transtorno extremamente ligado às comorbidades,
70% das pessoas que têm o transtorno apresentam alguma comorbida-
de associada, o que mostra que é preciso ter uma visão holística e não
focar somente no TDAH. Atualmente já foi constatado que 40 a 50% das
pessoas com TDAH possuem o Transtorno Opositivo-Desafiador, de 20
a 40% têm Transtorno de Ansiedade, 5% têm Transtorno Bipolar, de 20
a 30% têm Transtornos de Aprendizagem, 23% têm Fobia Social, de 18
a 40% apresentam Depressão, dentre outras comorbidades menos co-
muns.
De acordo com os estudos epidemiológicos, observa-se também
que o indivíduo que apresenta o transtorno de ansiedade com o TDAH
tem mais chances de ter os riscos que o TDAH traz, mesmo não sendo o
diagnóstico principal.
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Durante o ciclo da vida
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dos casos e transtornos de humor em 20 a 40%, podendo levar a proble-
mas de habilidade social, bullying, entre outras dificuldades relaciona-
das à autoestima e à quadros depressivos.
Comorbidades Neurológicas
Prevalência Nacional
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cações sobre o assunto, inclusive a nível internacional. O Brasil possui
muitos pesquisadores de renome e com destaque, entre eles, o Dr. Luiz
Augusto Rohde, considerado o maior nome em TDAH no país e que par-
ticipou de todo o processo dos novos critérios do DSM-5.
Apesar de todo esse avanço, ainda não existe no Brasil um con-
senso ou um Guideline. Isso ocorre por conta de muitas dificuldades re-
lacionadas à pesquisa e à resistência do sistema público, que pouco
participa desse processo, em dar condições para que os pesquisadores
façam esse trabalho.
Além disso, há muita dificuldade e muita burocracia para o acesso
à medicação de qualidade e, muitas vezes, os pais necessitam judiciali-
zar a questão para que o Estado forneça os medicamentos.
O fato de não existir uma regulamentação e uma proteção legal
aos pacientes com TDAH faz com que muitas crianças hoje sejam vistas
com olhar de preconceito, até mesmo sofrendo discriminação pela sua
condição.
Em detrimento disso, existem pesquisas que mostram a prevalên-
cia do TDAH no Brasil, que é de 5,8% a 17,1%, dependendo da meto-
dologia estabelecida, resultado que está dentro da média internacional.
Estima-se que 58% a 60% das crianças com TDAH no Brasil apresentam
comorbidades, sendo que dessas, segundo Pastura (2003), 35% são de
Transtorno Opositivo-Desafiador, 15% são Tics e 7% de Transtornos de
Humor e de Ansiedade.
Uma outra dificuldade encontrada quando se estuda o TDAH, é
que se depende muito de relatos dos pais, dos professores e de outros
profissionais. Ainda hoje o que se destaca no Brasil é a desinformação e
o despreparo desses profissionais para auxiliar pesquisadores. Os pro-
fissionais ainda não sabem observar de forma criteriosa o comporta-
mento do paciente, pois falta a cultura de transmissão consolidada de
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conhecimento para todas essas pessoas que precisam saber sobre o
assunto.
Além disso, existem alguns outros fatores importantes sobre o
TDAH no Brasil:
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Avaliação e encaminhamento
Para que se entenda a razão desses índices estarem altos ou bai-
xos, o primeiro ponto é observar como essas crianças estão sendo ava-
liadas e encaminhadas. Para isso, deve-se observar como os profissio-
nais envolvidos realizam as avaliações a partir dos pontos a seguir:
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dade para saber como observar o comportamento e associá-lo com
problemas cognitivos e de aprendizado.
• Resistência dos pais: muitos pais não querem levar os seus filhos a
um neuropediatra por preconceitos construídos e receios sobre os
possíveis diagnósticos.
- Influências genéticas;
- Influências ambientais;
- Interação genético-ambiental.
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Aspectos Genéticos
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de forma muito peculiar no sexo biólogico masculino e que mudam
quando se expressa no sexo biólogico feminino;
Aspectos ambientais
• Prematuridade;
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• Influências sócio-culturais: o perfil da família, o jeito da família lidar
com problemas, a forma como a família instiga a criança, também in-
fluencia muito no desenvolvimento dela nos seus primeiros anos de
vida;
Interação genético-ambiental
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Epigenética
a)
b)
©Shutterstock/SpicyTruffel.
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Após um período de observação, ao fazer a comparação entre os
dois cérebros, notou-se que o cérebro do rato (b) possuía quantidade
maior de neurônios grandes e ricamente ramificados. Este estudo com-
provou que, mesmo nascendo com a mesma genética, diferentes am-
bientes influenciam o desenvolvimento e a capacidade de maior ou de
menor adaptação, levando a um estímulo biológico de desenvolvimento
do cérebro.
Existem alguns genes já estudados hoje que, em interação com
determinados fatores do ambiente, podem desenvolver um determinado
transtorno. O TDAH é um transtorno em que já foram mapeados pelo me-
nos nove genes diferentes, que estão direta ou indiretamente ligados.
Um deles é o Gene Dat 1, responsável pelo desenvolvimento dos trans-
portadores de dopamina. Indivíduos que nascem com esse gene certa-
mente desenvolverão TDAH.
Os Genes Serotoninérgicos são responsáveis por organizar e pro-
duzir serotonina no cérebro. A baixa expressão desse gene durante o
desenvolvimento neurológico da criança somado a um ambiente de ins-
tabilidade familiar e sentimento de culpa, aumenta muito o risco da crian-
ça ter TDAH.
O artigo de revisão Environmental influences on child menta health,
dos brasileiros Ricardo Halpern e Amira Figueiras, mostra que vários
fatores negativos do ambiente têm papel na geração de problemas emo-
cionais na infância. Quanto maior o número de problemas emocionais no
ambiente, maior a chance dessa criança apresentar dificuldades no seu
desenvolvimento.
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Atenção é uma habilidade cognitiva cerebral caracterizada por au-
mento da percepção com o objetivo de direcionar toda a energia cere-
bral para um determinado assunto, objeto ou tarefa.
Em virtude da atenção, o nosso cérebro aumenta o grau de per-
cepção geral e de detalhes, de enumerar sequências, controlar o ritmo,
de flexibilizar interesses, prioridades e ações em detrimento de outros
que não são tão importantes. Assim, podemos direcionar com qualidade,
memorização e percepção de detalhes as nossas atividades do cotidia-
no.
A atenção está classificada em dois grandes grupos:
Características da Atenção
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Neurotransmissores da Atenção: Dopamina
A atenção não possui somente áreas múltiplas de localização, é
uma atividade que depende bastante do bom funcionamento e de níveis
ótimos de neurotransmissores. Os neurotransmissores mais associados
à atenção são a Dopamina, Noroadrenalina e, em menor quantidade, a
Serotonina.
A Dopamina é uma substância neurotransmissora que tem como
principal função a motivação, o prazer e estímulo ao funcionamento de
ação e de atitude no cérebro. As vias de acesso da Dopamina saem des-
de áreas inferiores, involuntárias do cérebro e vão se espreitando a áre-
as cerebrais superiores e voluntárias. Ela se origina na área Tegmental
Ventral, que é uma área do tronco encefálico responsável pelo estímulo
ativador do cérebro. O Núcleo Accumbens é o responsável pelo sistema
de recompensa cerebral e dele saem vários feixes de neurônios dopami-
nérgicos para a região do córtex frontal superior, médio e inferior, que é
a área das nossas funções executivas.
Outra via de grande importância são as noradrenérgicas que tam-
bém se localizam no tronco, passam pelo sistema límbico e se distribuem
por várias áreas cerebrais, não só áreas frontais como também pelas
posteriores. A Noradrenalina tem a função de manter o cérebro em aler-
ta, com em situações de medo, de estresse, de necessidade de tomada
de decisão.
Atenção: neurotransmissores
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da satisfação frente às experiências do cotidiano e é responsável pelo
impulso para cumprir tarefas.
Já a Noradrenalina serve para manter o cérebro em um bom nível
de vigilância e uma ativação generalizada.
O balanço da atenção
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Sendo assim, é necessário que a atenção seja aumentada ou dimi-
nuída conforme a situação. No caso do TDAH, veremos mais à frente que
esse nível de atenção deveria aumentar, mas isso não ocorre.
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é automaticamente retirada desse local, metabolizada e quebrada para
que a ação dela fique suficiente ou em níveis controlados, não podendo
ficar em excesso.
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1) Como tem uma baixa ativação do sistema de recompensa, pois tem
pouca dopamina, ele acaba extinguindo precocemente uma postura (de-
sempenha atividades que não oferecem recompensa com baixa vigilân-
cia e motivação);
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• DSM-5;
• Escalas de Avaliação Comportamental;
• Perfil neuropsicológico;
• Aspectos desenvolvimentais que devem ser pesquisados na criança;
• Aspectos da estrutura da linguagem (fonológica, pragmática, morfos-
sintática, semântica, etc.);
• Tipos de prejuízos observados na vida social, afetiva e acadêmica;
• Consequências no humor, sono, alimentação, esfíncteres e sensibili-
dade a dor;
• Fatores de risco genético e ambientais.
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Por outro lado, o TDAH do tipo desatento é aquele do tipo quieto,
introspectivo, não dá trabalho e, por isso, ninguém repara na escola, mas
apresenta baixo rendimento escolar porque não se concentra.
Déficit de atenção
Hiperatividade e impulsividade
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• Dificuldade em esperar
• Interrompe importunamente
Logicamente não se pode ter como base somente os critérios, mas
é preciso tê-los como algo formal para se orientar.
• Sono
• Atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor
• Mais alergias
• Problemas escolares diversos
• Problemas motores
• Problemas espaciais
• Problemas de comportamento global (comorbidades de ansiedade,
opositivo-desafiadoras, autísticas)
• Maior risco de epilepsia
• Baixa sensibilidade a dor (não em todos os casos)
• Risco de traumas (se machucar)
Aprendizagem escolar
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desenvolvimento completados adequadamente nos primeiros 5 a 6 anos
de idade, formalidade (regras, prazos), processo estruturado, sequen-
ciação de tarefas, postura comportamental, atenção e concentração.
Comportamento acadêmico
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• Sucesso no ambiente escolar (evolução)
- Séries
- Reprovações
- Curso de escolarização (satisfação)
- Nível de escolarização atingida
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Educational Outcomes of a collaborative School-Home Behavioral Interven-
tion for ADHD esse tipo de conduta é fundamental para transformar o
futuro e a evolução do indivíduo com TDAH no ambiente escolar, fazendo
com que situações de risco se transformem em situações de oportunida-
de.
Desse modo, a pouca satisfação escolar e esse risco de fracasso
no processo acadêmico, leva a consequências afetivas, sociais e a várias
outras que se coadunam a esse processo.
Dificuldades na alfabetização
A alfabetização define-se como o processo de aquisição e apro-
priação do código alfabético, ou seja, a percepção do som e da grafia
da letra. A partir do momento em que o indivíduo adquire a união entre
essas duas condições, auditiva e visual, ele está começando a ser alfa-
betizado. O processo de alfabetização depende da aquisição de pré-re-
quisitos de percepção visual e auditiva, da construção e estruturação da
linguagem da criança e também de estruturação motora.
No início do processo acadêmico, a criança precisa de muito mais
atenção e de uma boa estruturação de suas funções executivas, para
que possa se adequar às propostas e metodologias utilizadas para a
alfabetização.
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A alfabetização é um processo que exige controle motor e contro-
le de linguagem. Essas são características em que crianças com TDAH
podem apresentar déficits, apresentando maiores dificuldades em se al-
fabetizar. Além disso, existem evidências que mostram que uma criança
com TDAH tem de 2 a 7 vezes mais chances de apresentar dificuldades
na construção da linguagem, o que também pode prejudicar essa etapa
do desenvolvimento.
Sendo assim, as crianças precisarão de uma mediação muito maior
do professor para que a alfabetização se faça da melhor forma possível.
Os estudos nessa área falam muito da necessidade de um maior enga-
jamento do alfabetizador da criança que apresenta sinais de TDAH, do
contrário ela provavelmente ficará com lacunas nesse processo e toda
consolidação da alfabetização será prejudicada, fazendo com que pas-
se uma parte da sua vida escolar com dificuldade de compreensão de
leitura.
Outras evidências mostram que as habilidades atencionais são
também muito importantes para que a criança adquira uma alfabetiza-
ção adequada. Sabemos que existem vários critérios fundamentais para
adquirir uma boa alfabetização, são eles:
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Sabemos que o processo escolar, especialmente no Brasil, não se
preocupa muito em identificar essas dificuldades e fazer uma interven-
ção precoce. Desta forma, muitas crianças acabam sendo empurradas
para aprovações automáticas, sem levar em consideração se está plena-
mente alfabetizada ou se apresenta algum sinal de risco, chegando no 3°
ou 4° ano com insuficiência de compreensão de leitura.
Todos os testes e programas, nacionais e internacionais, que fa-
zem avaliações periódicas da capacidade de leitura e escrita das nossas
crianças, têm mostrado que o Brasil tem ficado nas últimas posições, o
que pode ser explicado por vários motivos, sendo um deles justamente
a falta de preocupação em identificar se a criança apresenta sinais de
déficit de atenção, por exemplo.
Existem basicamente seis sinais que ajudam o professor a iden-
tificar, ou pelo menos levantar a suspeita de que essa criança que não
está conseguindo ter a mesma performance de outros colegas, possa ter
desatenção.
Dificuldades de leitura
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Assim, para podermos ler adequadamente, necessitamos da aten-
ção seletiva e sustentada, pois é preciso concentrar, focar e manter
a atenção. A partir do momento em que o indivíduo passa a ter esse
engajamento atencional, são ativadas duas vias: uma auditiva e outra vi-
sual. A via visual é a ativação de áreas no cérebro que permitem a visão
espacial, com movimentos sacádicos da esquerda para a direita, ter o
reconhecimento das letras, palavras e seu conjunto sequencial para que
se possa compreender a frase e fazer inferências de análise, síntese e in-
terpretação. Ao mesmo tempo, áreas auditivas são ativadas, onde se faz
o reconhecimento dos sons das letras, dos sons das sílabas e da palavra
pronta, fazendo um processo de decodificação e codificação, associan-
do essas palavras aos seus significados, que é a associação semântica.
Por fim, durante e ao término do processo, tem que, automaticamen-
te, trazer para o processo de leitura, as memorizações de aprendizagens
anteriores e atuais para que se possa entender o texto, contextualizá-lo,
problematizá-lo. Para um cérebro sem marcas de alterações biológicas
todo esse processo já é bem cansativo, para um cérebro que tem baixa
autorregulação emocional e cognitiva para cumprimento de tarefas sem
recompensa, que é o caso do TDAH, é ainda mais difícil.
A leitura é uma habilidade complexa, que deve ser construída por
meio de várias sequências e pré-requisitos básicos para aprender a ler.
A leitura consolidada, estando a criança alfabetizada, passa a usar o
instrumento de leitura para aprender outros conteúdos. No desenvolvi-
mento escolar infantil, a leitura é um processo de duas fases:
1) Aprender a ler
- Desenvolvimento de aprendizagens fonológicas, ou seja, consciência
dos sons das letras;
- Transformar os sons dos símbolos gráficos (decodificação fonêmico-
-grafêmica);
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- Estruturação de linguagem (habilidade lexical, semântica, pragmática
e morfo-sintática);
- Memorização sintática;
- Associar informações não-verbais com as verbais.
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Já no processo ler para aprender, se tem as seguintes dificulda-
des: baixo rendimento em atividades de memorização e atenção susten-
tada que usam a leitura, pobreza em interpretação, principalmente de
textos, dificuldades em análise e síntese, baixa percepção de detalhes e
sequências durante o processo textual.
• Evitar rever erros, ou seja, a leitura pode não ser boa, mas não conse-
guem voltar atrás para revê-los;
• Ter baixo nível de vigilância para o processo de leitura;
• Apresentar fragmentação e lacunas de conteúdo, ou seja, faz a leitura
de maneira displicente;
• Proferir “eu acho” em vez do que realmente estava escrito, por não
prestar atenção no que está lendo;
• Confundir e trocar termos e localização de fragmentos. Acaba de ler,
mas não consegue encontrar determinada página no texto;
• Fazer uma leitura superficial, deixando os detalhes do que foi lido, de
lado;
• Faz a leitura rapidamente e até pula determinadas partes para termi-
nar mais rápido;
• Ter dificuldades para escrever.
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Escrita
50
Ato de escrever
ATO DE ESCREVER
Atenção seletiva e
sustentada
Planejamento Motor
e Visual
Reconhecimento
Grafêmico e Fonológico
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Escrever requer fazer-se entender pelos leitores, tem que ter obje-
tivos e utilizar elementos retóricos. Saber fazer esboço, detalhes especí-
ficos e também demonstrar uma certa complexidade no texto para que
este tenha uma qualidade literária. É necessário fazer o uso de informa-
ção contida na memória de outras vivências com manipulação de todos
os dados necessários e aplicados para determinado tema.
Assim, os problemas frequentes dos indivíduos com TDAH e que,
mesmo depois de terem passado por todo o processo de aprendizagem
da leitura e da escrita persistem por anos, são: erros sintáticos, incoe-
rência, uso de estrutura simples e vocabulário básico, planejamento sim-
ples, pouca supervisão, baixa criatividade, histórias curtas e omissão de
palavras-chave.
52
gem de leitura e escrita; quase 40% das crianças vão ter problemas para
aprender, manter e utilizar a escrita como recurso do processo acadêmi-
co e isso é muito mais comum em criança com TDAH do tipo desatento.
Portanto, a criança precisa ser constante e intensamente instigada
para dar conta do processo de escrita. É evidente que as dificuldades
não desaparecerão tão facilmente, aí entra o papel da mediação da es-
cola e da identificação das dificuldades.
Dificuldades na Matemática
53
de trabalho não-verbal é a noção de empréstimo para o lado direito ou
esquerdo, noção de subtração, proporção etc.
A memorização de longo prazo (conceitos, regras e propriedades)
corresponde à possibilidade de ter à disposição do cérebro os concei-
tos que se aprendem desde os primeiros anos escolares.
A atenção seletiva e sustentada para o “passo-a-passo” é a capaci-
dade de aplicação de todas as habilidades anteriores no momento certo,
de maneira que possa resolver adequadamente problemas relacionados
ao raciocínio lógico matemático.
Na imagem a seguir, podemos observar de que forma ocorrem os
processos de aprendizagem de habilidades matemáticas.
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Na coluna da esquerda, podemos ver as habilidades cerebrais par-
ticipantes dos processos de aprendizagem matemática e, na coluna da
direita, as habilidades matemáticas propriamente ditas, importantes para
a formação do processo de raciocínio e de apropriação do aprender e
do conduzir processos matemáticos.
Podemos observar na imagem a atenção seletiva, que é extre-
mamente importante para selecionar o fato matemático específico; a
atenção sustentada, junto com a memória de trabalho verbal, que leva
à fluência e recuperação de dados; o raciocínio verbal, que é a utili-
zação dos símbolos e dos códigos matemáticos para a resolução de
problemas; e, por fim, o raciocínio não-verbal, que é a aplicação do
conceito, da noção abstrata de determinada propriedade que está sen-
do utilizada no momento.
TDAH e Matemática
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precisa-se estar a todo o momento decidindo entre o que se deve e o
que não se deve utilizar.
Nessa questão automática de raciocínio, o indivíduo com TDAH tem
muita dificuldade no controle inibitório do “não deve”, e acaba colocan-
do sinais que não devia, números que não eram necessários, não per-
cebendo que deixou para trás alguns conceitos essenciais para aquela
expressão numérica.
Déficit de atenção
- Desatenção a detalhes e erros;
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- Dificuldade em sustentar atenção: dificuldade de manter o foco por mui-
to tempo, especialmente em situações que exijam esforço mental prolon-
gado, organização, regras e rotinas, atividades sequenciais, entre outros;
- Parece não ouvir;
- Dificuldade com instruções, regras e prazos;
- Desorganização;
- Evita/reluta tarefas de esforço mental;
- Perde, esquece objetos;
- Alta distractibilidade: se distrai facilmente com qualquer coisa inútil du-
rante uma tarefa importante, reduzindo o rendimento e a eficácia no que
está fazendo;
- Não automatiza tarefas do cotidiano.
Hiperatividade e Impulsividade
- Movimento excessivo do corpo durante postura;
- Dificuldade em permanecer sentado;
- Sobe, escala, exposição a perigos;
- Acelerado para as atividades;
- Faz tudo “a mil”;
- Fala demais e se intromete;
- Responde antes de concluir perguntas;
- Dificuldade em esperar;
- Interrompe inoportunamente.
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e 50% apresentam-se antes dos sete anos de idade, o que possibilita que
o diagnóstico seja feito bem cedo.
Escalas de Avaliação
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O SNAP-IV completo possui mais de 90 itens de avaliação, mas
existe uma versão resumida desta escala que pode ser utilizada na es-
cola ou pelos pais.
No SNAP-IV cada item deve ser avaliado quantitativamente: Nada
– Pouco – Bastante – Demais, sendo que Bastante e Demais valem um
ponto. Se a soma dos pontos for maior do que dez, há risco significativo
do indivíduo ter TDAH. É importante ressaltar que somente a escala não
define o diagnóstico, sendo utilizada juntamente com a avaliação clínica,
escolar e também de outros profissionais que acompanham o caso.
Entrevista com os pais: investigação de fatores
genéticos, perinatais e desenvolvimentais (DNPM)
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• Prejuízos observados em casa e/ou na escola;
• O que a escola tem referido: qual o relato do professor em relação aos
quesitos observados na criança;
• História perinatal e familiar: é essencial saber se existem casos de
transtornos de desenvolvimento na família ou qualquer condição mé-
dica com alto índice de herdabilidade;
• Intercorrências do nascimento até hoje.
Testes neuropsicológicos
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Avaliação neuropsicológica: alguns testes utilizados
Testes fonoaudiológicos
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culdades em várias habilidades fonoaudiológicas relacionadas especi-
ficamente a dificuldade de processamento auditivo (não há concentra-
ção suficiente no momento de ouvir/reproduzir frases), fragmentação da
compreensão (não compreende adequadamente), dificuldade na utiliza-
ção da informação e não pensar nas consequências do seu comporta-
mento verbal.
30% dos pacientes com TDAH têm problemas no desenvolvimento
da linguagem, é comum ver pacientes muito agitados e com problemas
de fala. A criança com TDAH faz mais omissões e substituições de fone-
mas (trocas de letras e sons), omissões de sílabas, reduções vocabula-
res, perda de elementos nas frases, fala acelerada ou elevada e dificul-
dade de controle motor da fala.
Avaliação fonoaudiológica
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Testes psicopedagógicos
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4) Testes de consciência fonológica.
5) Anamnese e histórico escolar.
6) Avaliação do perfil de aprendizagem (maiores dificuldades, avanços,
melhor forma da criança aprender etc.).
Testes psicomotores
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mais efetivamente quando os processos são feitos da seguinte forma:
observação, imitação, repetição dos atos e memorização.
A atenção é uma habilidade que controla e faz a conectividade de
todas essas competências ligadas ao ato motor. Então, não é por acaso
que o ato motor possui a atenção como base, porque ela permite que se
memorize o ato motor, dê a ele ritmo e persistência de acordo com con-
texto, sempre utilizando o controle inibitório.
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• Derruba mais, cai mais, se envolve em acidentes, sofre mais culpa
pela fama de desastrado;
• Menos equilíbrio;
• Dificuldade de ritmo em atividades compartilhadas socialmente.
Testes motores
Diagnóstico TDAH
O diagnóstico do TDAH é complexo e nos leva a ter que buscar ou-
tros recursos, porque não existe um marcador biológico. O conhecimen-
to superficial sobre o transtorno também dificulta o diagnóstico precoce,
visto que muitos profissionais da saúde e educação ainda não sabem
exatamente o que é TDAH.
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Além disso, o TDAH é um transtorno que sofre muito preconceito
dependendo da cultura, do lugar e de áreas que têm fortes influências
ideológicas de processos histórico-sociais, como se o TDAH fosse um
processo gerado pela forma de educar a criança, o que não é verdade.
Ainda, não há exames específicos para fechar o diagnóstico e ava-
liar o comportamento é complexo. É uma questão muito mais dimensio-
nal, ou seja, quanto mais dados sobre o comportamento são avaliados,
mais próximo estamos de chegar a um diagnóstico.
Diagnóstico: primeiros passos
Por isso, para chegar a um diagnóstico é preciso:
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REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diag-
nóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed
Editora, 2014.
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HALPERN, RICARDO, AND AMIRA FIGUEIRAS. Environmental influen-
ces on child mental health. Jornal de pediatria 80, 2004.
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MUITO OBRIGADO
ABRAÇOS, EQUIPE NEUROSABER!
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