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Uma Amante Maravilhosa

Lori Foster

Soldados do Resgate 03

Resumo:
Possivelmente os opostos se atraiam... mas possivelmente não.
O bombeiro Zack Grange estava procurando esposa, mas não lhe valia qualquer; queria a mulher
perfeita que pudesse além de cuidar de sua pequena. Quando Wynn Lane se mudou à casa do lado, ele
pensou que isso era exatamente o que não queria. O posto não estava disponível para mulheres tão
desenvolvidas como ela. Mas isso era o que opinava o pai que havia nele, o homem dizia algo muito
diferente.
Wynn não era nenhuma florzinha delicada e não estava disposta a trocar pelo Zack, claro que ele
tampouco o tinha pedido. Não obstante, gostaria de pensar que a considerava algo mais que uma boa
companheira de cama... inclusive desejaria que a quisesse embora solo fora a metade do que a queria sua
filhinha...
Editora: Harlequin
Colecção: Harlequin Desejo 527
Idioma: Português
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Disponibilizado por Romances Com Tema Sobrenatural
Revisado por: Maria de Fátima Almeida
Formatado por: Brunelli Mendes

CAPÍTULO UM

- Maldito sejas, Conan! Já chega!


Zack Grange levantou-se bruscamente na cama, com o coração pulsando muito depressa e todo o
corpo em tensão. Aturdido pelo sonho, os seus pensamentos eram confusos. Tinha tido um sonho do mais

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ardente, com uma mulher muito sexy, uma mulher sem rosto mas com um corpo de deusa; então tinha
ouvido uma mulher a gritar.
Olhou ao seu redor, mas o seu quarto estava tão vazio como sempre. Não havia ninguém
escondido atrás das cortinas, e menos ainda a mulher com a qual tinha estado a sonhar; entretanto, aquela
voz de mulher tinha sido muito próxima. Com o coração ainda num punho, aguçou o ouvido, e então
ouviu uma risada de mulher. Franziu o rosto.
Olhou o relógio e viu que eram sete e meia. Não estava há muito tempo na cama e, certamente,
não lhe tinha dado tempo para se recuperar da exaustiva noite de trabalho.
- Não tem graça, imbecil, e sabes - queixou-se a mulher em voz alta, sem se importar que outras
pessoas pudessem estar a dormir. - Não posso acreditar que me tenhas feito isto.
- Melhor tu que eu, querida - ouviu-se uma voz de homem. - Ai! Magoaste-me.
Zack ficou de pé e aproximou-se da janela em cuecas. Ao sentir o ar fresco da manhã ficou com
pele de galinha. Estavam em meados de Setembro e as noites começavam a refrescar. Esticou-se a ver se
podia aliviar a dor das costas; ainda lhe doía de todo o peso que tinha tido que levantar há poucas horas.
arranhou o peito e retirou a cortina para ver.
«Vizinhos novos» pensou ao ver o poster de «Vende-se» deitado no chão e um montão de caixas
de cartão amontoadas no pátio. Entrecerrou os olhos para os proteger da alaranjada luz do amanhecer,
enquanto procurava com o olhar a pessoa que gritava.
Quando finalmente a viu, não pôde dar crédito aos seus olhos. Tinha o cabelo castanho muito
encaracolado recolhido num rabo-de-cavalo. Não lhe pôde ver bem a parte de acima visto que tinha um
suéter muito largo, mas as suas calças curtas deixavam ver umas pernas compridas e atléticas.
Como homem que era, as pernas da mulher chamaram-lhe imediatamente a atenção. Aturdido
ainda pelo sonho erótico do qual tinha despertado há uns minutos, imaginou-as enroladas à sua cintura, ou
talvez aos seus ombros, e pensou na força com que abraçariam ao afortunado que estivesse colocado entre
elas, fundo entre elas.
Mas como vizinho, tinha vontade gritar pela falta de consideração que animava essa mulher a
continuar a vociferar a essas horas da manhã. Com aquela mulher ali, o futuro não se apresentava nada
bom.
- Pai?
Zack voltou-se com um sorriso nos lábios, embora na realidade estivesse a desejar cometer um
assassinato. Sem dúvida, o ruído tinha despertado a sua filha, o que queria dizer que já não haveria
maneira que a menina voltasse para a cama. Estava exausto, mas mesmo assim estendeu-lhe a mão.
- Vem cá, querida. Parece que os nossos novos vizinhos se estão a mudar.
Dani aproximou-se dele arrastando a sua manta de felpa amarela. Os seus pezitos sobressaíam do
bordo da camisola. Aproximou-se dele e estendeu-lhe os seus braços.

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- deixa-me ver - pediu-lhe com a voz de menina adorável.
Zack levantou-a nos braços amavelmente. A sua filha era tão pequena, embora já tivesse quatro
anos; tão miúda como tinha sido a sua mãe. Zack abraçou-a com força contra o seu peito nu. Aspirou o
seu aroma de menina e esfregou a sua áspera face contra o seu cabelo fino e suave.
A menina gostava que lhe desse carinho. Como de costume, Dani deu-lhe um beijo de bom dia,
pôs os braços ao pescoço e olhou pela janela. Zack esperou a sua reacção. Para ter só quatro anos, a sua
filha era muito astuta. Em lugar de fazer inumeráveis perguntas como as crianças da sua idade, ela fazia
afirmações. Além dos dois dias por semana que ia ao colégio, Dani estava sempre em companhia dos
amigos de Zack. Talvez, a menina se expressasse tão bem por passar tanto tempo rodeada de adultos.
- Estou-lhe a ver o rabo. - Disse Dani franzindo o rosto exageradamente.
Zack agachou a cabeça e viu-o. A mulher agachou-se para levantar uma caixa de cartão do chão, e
tinha separado ligeiramente as pernas para não cair. As calças curtas subiam-lhe de tal maneira, que Zack
lhe viu parte dos socos do traseiro.
Bonito traseiro, pensava Zack com apreciação enquanto entre cerrava os olhos para a ver melhor.
A mulher levantou a caixa, mas então esta rompeu-se e ela caiu de cu. De algum lugar do alpendre
saiu a gargalhada de um homem.
- Queres que te ajude?
Zack notou a cólera da mulher, que pareceu um gato enraivecido.
- Vai-te embora, Conan!
- Mas pensei que querias a minha ajuda. - Chegou-lhe a resposta zombadora.
- Tu - disse-lhe ela enquanto se levantava e sacudia o pó das mãos com força, - já fizeste o
suficiente.
Zack tentou ver o misterioso Conan, mas não pôde. Seria o seu marido? O seu namorado? E de
onde tinha saído esse nome tão estranho?
- Meu deus é uma giganta! - Disse Dani, sobressaltada quando a mulher acabou de se levantar.
Zack abraçou-a.
- É quase tão alta como eu, verdade, querida?
A sua filha assentiu enquanto observava a mulher que esvaziava a caixa chateada. Dani apoiou a
cabeça sobre o peito de Zack e ficou pensativa, como fazia frequentemente. Zack começou a acariciar-lhe
as costas, esperando para ver o que dizia a seguir.
A menina surpreendeu-o voltando-se para a frente, colocando as mãos aos lados da boca a modo
de buzina e gritando pela janela.
- Olá!
A mulher voltou-se, colocou a mão diante dos olhos até que os viu e então agitou a mão com o
mesmo entusiasmo com que sacudiu o pó da roupa.

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- Olá! - Respondeu.
Zack, que estava em cuecas, escondeu-se atrás da cortina.
- Dani! - Disse disposto a tapar a boca à sua filha. - O que estás a fazer?
Ela olhou-o e enrugou o nariz.
- Devo ser amável com os vizinhos, como me disseste.
- Isso é com os vizinhos antigos. Estes nem sequer os conhecemos.
Dani começou a retorcer-se para que a descesse; quando ele a deixou no chão, disse-lhe.
- Vamos conhecê-los agora - anunciou, e deu a volta.
Zack agarrou-a pela camisola quando ela já ia a sair de casa.
- Espera um momento, senhorita. Primeiro temos que tomar o café da manhã, fazer algumas
tarefas e esfregar os dentes. De acordo?
Com certo enfado, a menina correu à janela.
- Já ai vou depois – gritou.
A mulher pôs-se a rir. Tinha uma risada sonora e sensual, muito mais bonita que os seus gritos.
- Estarei aqui, não te preocupes.
Zack apareceu sem saber o que fazer. Uma vez que a sua filha tinha chamado a atenção dos novos
vizinhos, não podia actuar como se não existissem.
O homem do alpendre saiu ao pátio e sorriu. Zack pestanejou com surpresa. Enorme. Foi a
primeira palavra que lhe ocorreu quando o viu. Levantou um braço que parecia o tronco de uma árvore e
agitou-o.
- O meu nome é Conan Lane - gritou. - E esta florzinha é Wynnona.
Para surpresa de Zack e deleite de Dani, a mulher deu-lhe uma cotovelada que o fez dobrar-se pela
cintura.
- Chamem-me Wynn.
Vendo que não tinha outra alternativa, Zack respondeu.
- Sou Zack Grange, e esta é a minha filha, Dani.
- Encantada de os conhecer os dois! - Disse Wynn. - E como estamos todos acordados e faz uma
manhã tão maravilhosa, se lhes parece bem levo aí um pouco de café para que nos conheçamos.
Zack balbuciou sem saber como negar-se a tão audaz proposta, mas ela já tinha dado a volta e
entrado em casa. Olhou para Dani com o rosto franzido, mas a sua filha encolheu os ombros e sorriu.
- Será melhor irmo-nos vestir - e dito isso, saiu a correr.
Zack deixou-se cair na cama. Gostava de tomar um duche quente e barbear-se. No dia anterior
tinha trabalhado doze largas horas, tinha atendido duas urgências especialmente exaustivas e, além de
estar cansado, estava morto de fome.

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Felizmente, aquele era o seu dia livre, e tinha a intenção de o passar indo às compras com a sua
filha. Como Dani gostava de brincar à bruta, tinha as calças e os cotovelos dos pulôveres destroçados. Ele
tinha que lhe comprar roupa de Outono nova.
O que menos gostava nesse momento era que os mesmos vizinhos que o tinham despertado com
os seus gritos fossem a sua casa chateá-lo a essas horas.
Levantou-se da cama com resignação, disposto a armar-se de paciência para aguentar os seus
novos vizinhos.
A campainha da porta soou uns três minutos depois. Apenas lhe tinha dado tempo de vestir uns
jeans e uma camisola. Com as sapatilhas de desporto na mão, foi abrir a porta. Ao passar pelo quarto de
Dani, viu que esta já se tinha vestido, mas que ainda não tinha posto o pulôver.
- Abriga-te, querida - disse à sua filha.
Nesse momento voltou a soar a campainha.
- Vai abrir, pai.
Zack pôs-se a rir enquanto pensava em quanto era sociável a sua filha. Desceu as escadas e foi
para a porta. Abriu o ferrolho, desejando estar na cama já a dormir. Passou todo no dia anterior sonhando
podendo levantar-se tarde. Depois tinha planeado tomar um bom banho relaxante, tomar o café da manhã
como um rei e passar o dia com a sua filha.
Entretanto, nesse momento devia mostrar-se amável com os novos vizinhos.
Ao abrir a porta, a mulher olhou para ele e deixou de sorrir.
- OH, Meu deus - disse. - Despertamo-lo, não foi?
Zack ficou mudo, olhando-a.
De perto era mais alta do que tinha pensado; quase tanto como ele. Zack ficou atónito, pois não
era muito frequente ver uma mulher tão alta.
Uma suave brisa balançava o seu cabelo despenteado. Era de uma bonita cor mel, mais claro ao
redor da cara, onde lhe teria dado mais o sol. Os cachos saíam por toda a parte, como molas em miniatura,
e Zack decidiu que seria difícil dominar um cabelo como aquele.
A mulher sorriu-lhe então e olhou-o com os seus olhos de uma cor avelã muito pouco habitual.
Eram tão claros que quase pareciam transparentes, e estavam adornados por umas pestanas compridas e
muito escuras tendo em conta a cor do seu cabelo. Então a mulher arqueou as sobrancelhas e sorriu de
orelha a orelha.
Zack repreendeu-se para si. Deus. Tinha estado a olhar para ela como se não tivesse visto uma
mulher em sua vida! E ainda por cima tinha olhado... com interesse?
- Como sabe que me despertou?
- Ah – estalou a língua. - Dormiu alguma coisa?
Zack passou a mão pelos cabelos.

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- Ontem à noite trabalhei até muito tarde - disse sem mais, pois não tinha vontade de repetir os
sucessos da noite anterior. - Entre.
- Conan vem já a seguir. Está a tirar uns pães-doces de manteiga do forno. É um cozinheiro
magnífico.
Conan, o gigante cozinhava? A mulher elevou um recipiente térmico que trazia na mão.
- Café acabado se fazer. Aromatizado com baunilha francesa. Espero que não lhe desgoste.
Odiava os cafés com sabores.
- Está bem - disse, - mas não devia ter-se incomodado.
- É o mínimo que posso fazer depois de o acordar.
Se não o tivesse feito, pensava ele, talvez tivesse podido terminar o seu sonho erótico e não estaria
tão tenso nesse momento. Ela vacilou na soleira da porta.
- Desculpe. Esta é a minha primeira casa e estou tão stressada como emocionada; e quando estou
assim, desgraçadamente... - encolheu os ombros, como querendo desculpar-se - grito sem me dar conta.
A sua sinceridade foi inesperada e agradável ao mesmo tempo.
- Entendo.
Entretanto, ela não entrou.
- Não quero invadir a sua casa; se tiver umas taças, poderíamos tomar o café aqui, no seu
alpendre. Tomaremos café, conversaremos um pouco e pronto. prometo. Está uma manhã maravilhosa e
agora já estamos todos acordados, não?
Nesse momento, Dani descia pelas escadas. Zack deu a volta e viu a sua filha a correr escada
abaixo.
- Devagar – disse-lhe em tom baixo mas firme.
Ela parou no penúltimo degrau e desculpou-se.
- Olá – disse Dani à mulher enquanto se aproximava.
A Wynn iluminou-se o olhar ao ver a menina, e os seus olhos dourados pareceram acender-se.
- Olá! - Ajoelhou-se à porta. - Gosto muito de te conhecer – estendeu-lhe a mão e Dani apertou-a
com formalidade. - Não me tinha dado conta que tinha outra vizinha. O senhor da agência disse-me que
aqui só vivia um homem solteiro.
- Sou a Dani. A minha mãe morreu – disse Dani, – assim só estamos o pai e eu.
Quando tinha oportunidade, Dani falava de alguma coisa. Normalmente não lhe teria importado,
mas nessa ocasião incomodou-a.
Em voz baixa, certamente porque se deu conta que Dani tinha tocado num tema muito privado,
Wynn disse.
- Bom, estou feliz por sermos vizinhas, Dani – olhou para Zack com receio. - E do teu pai
também, é óbvio.

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Zack deu a mão à sua filha, pois não queria deixá-la com uma estranha, e disse.
- Wynn, se quiser sentar-se um momento, vou buscar as taças agora mesmo.
Wynn ficou de pé outra vez, esticando aquele corpo comprido e esbelto e, sem se dar conta, Zack
fixou-se nas suas pernas. De repente sentiu um intenso calor por dentro e teve que olhá-la de novo para a
cara. Estava casada, pensou com culpabilidade; de todas as maneiras, não era sua intenção olhar desse
modo para nenhuma vizinha.
Em lugar de se sentir ofendida pelo olhar de Zack, Wynn sorriu.
- Parece-me bem – murmurou.
Voltou-se para o alpendre, dando a Zack a oportunidade de olhar umas pernas torneadas e um
traseiro escuro.
Dani olhou-o, mas ele sacudiu a cabeça indicando-lhe que ficasse calada um momento. Quando
chegaram à cozinha, sentou Dani junto a ele e calçou as sapatilhas de desporto.
- Queres sumo?
- De maçã – Dani balançou as pernas e inclinou a cabeça. - Não é mais alta que tu.
- Não, não é – Zack tirou uma bandeja e colocou três taças, uma delas com sumo, e uma terrina de
cereais para Dani. - Mas quase.
Dani revolveu-se no assento.
- Quero fazer um rabo-de-cavalo como o dela.
Zack sorriu. Talvez o ter uma vizinha nova, embora fosse muito grande, não fosse uma coisa tão
má. Eloise, a ama de Dani quando Zack trabalhava, era uma mulher amável e carinhosa, mas podia ter
sido mãe de Zack.
Os únicos amigos que Zack tinha eram Mick e Josh; e embora Josh soubesse tudo o que se devia
saber sobre as meninas maiores de dezoito, não sabia nada das meninas de quatro anos.
Pelo bem de Dani tinha decidido que precisava de uma esposa. Mas encontrar alguém apropriado
estava a ser mais difícil do que tinha pensado, sobretudo porque tinha muito pouco tempo para procurar.
Nas poucas ocasiões em que tinha saído, não tinha conhecido nenhuma mulher apropriada. Uma
esposa devia ser caseira, limpa e encantadora. E sobretudo, teria que entender que a sua filha estava
primeiro. E ponto.
- Um rabo-de-cavalo – repetiu Zack dizendo-se que não era o momento de pensar nisso. - Porque
não vais procurar a tua escova e um elástico e levas-lhe ao alpendre?
- Está bem.
Deslizou da cadeira e pôs-se a correr. A Sua filha exsudava energia e tinha uma imaginação que
frequentemente o deixava perplexo. Dani era a sua vida.
Wynn e Conan estavam a discutir de novo quando Zack abriu a porta mosquiteira. Ficou quieto,
sem saber o que fazer, enquanto Wynn assinalava aquele tipo tão enorme no peito e o ameaçava de morte.

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Conan não fez caso da maior parte das suas palavras e disse.
- Pois! - E então deu-lhe com o dedo no lóbulo da orelha.
Antes de poder dizer alguma coisa, Wynn saltou como movimentada por uma mola e levou a mão
à orelha.
- Ai! Magoaste-me.
- Também me estás a fazer mal, cravando o dedo no peito.
- Burro – pegou a cara à sua e deu-lhe outro golpe com o dedo. - Não sentes nada através desta
capa de músculos, e sabes.
Conan esfregou o peito e ia a dizer algo quando viu Zack. Então franziu o rosto.
- Estás a montar o número diante dos nossos vizinhos, Wynonna.
Zack, na soleira da porta, olhava-os assombrado. Não queria ver-se comprometido em brigas
domésticas.
Wynn correu e tirou-lhe a bandeja das mãos.
- Não faça caso do Conan – disse-lhe. - É um bruto.
Conan passou a mão pela cabeça de cabelo loiro e disse-lhe.
- Wynonna, juro-te que vou...
Ia agarrá-la, mas nesse momento Zack pôs-se entre os dois.
- Olhe, isto não é meu assunto, mas...
Wynonna deu a volta e plantou-se diante dele.
- O que me vais fazer? - Cravou-o.
Conan quis agarrá-la de novo, e Zack tirou a mão.
- Já chega. - Rugiu.
Pelo que estava totalmente seguro era de que não pensava deixar que nenhum homem tocasse
numa mulher, por muito grande que esta fosse.
Fez-se silêncio. Conan arqueou uma sobrancelha e olhou a mão de Zack, que apenas lhe agarrava
o pulso. Então olhou para Wynn e fez uma careta.
- Aqui tens um homem galante.
Wynn deixou a bandeja no chão e colocou-se entre os dois homens. Estava tão perto, que sentiu o
seu fôlego e o calor do seu corpo. Então estremeceu.
Wynn olhou com assombro, deu-lhe umas palmadas no peito e então disse-lhe.
- Obrigado, mas Conan jamais me faria mal, Zack. Juro. Só gosta de me chatear.
- É verdade - disse Conan. - Wynn, entretanto, nunca teve tal consideração comigo. Continua a
bater-me desde que deixámos as fraldas.
Wynn deu-lhe um olhar de desculpa.
- É verdade. Conan é tão grande, que sempre me deixou praticar com ele.

9
Conan puxou pela sua mão e Zack, que de repente se sentiu aturdido, e por alguma razão, aliviado,
soltou-o.
Irmãos?
- É tão alta - continuou Conan, - que sempre pareceu mais velha do que é. Quando estava no
colégio, teve que aprender a defender-se para bater nos mais velhos. Assim há anos que sou o seu saco de
boxe.
Zack aspirou e chegou-lhe o aroma a café, a pães-doces de manteiga, e o perfume de Wynn. O seu
perfume era diferente. Não era um aroma nem doce nem especial. Era mais um aroma fresco, como a
brisa que precedia à tempestade. Estremeceu de novo.
Maldita seja, aquilo não estava a sair como tinha planeado.
E a culpa era de uma mulher muito alta e atraente. Uma mulher que não só era sua vizinha, mas
continuava a tocá-lo e a olhá-lo com aquela mistura de ternura, humor e... desejo.
Tinha conhecido mulheres altas, como Dalila, a esposa de Mick, mas nenhuma tão forte como
aquela. Tinha a mão quase tão grande como a dele, os ombros e os ossos largos. À diferença de Dalila,
Wynn não era delicada.
Mas era muito sexy.
Precisava de dormir para poder pensar em tudo aquilo. E certamente, precisava de mais tempo.
E sobretudo, precisava de sexo, porque sabia que, quando uma amazona escandalosa e mandona o
excitava, era porque tinha passado muito tempo.

CAPÍTULO DOIS

Zack saiu da sua reflexão e olhou para Wynn e para Conan; então separou-se de Wynn.
- Entendo – disse à falta de algo melhor.
Wynn sorriu.
- De todos os modos, agradeço-lhe a consideração que teve pelo meu bem-estar físico – disse-lhe.
E disse de tal modo, que Zack se sentiu dez vezes mais palerma do que já se sentia.
- Senta-te, Zack – disse Conan dissipando a tensão do momento. - Parece que já te cansámos o
suficiente. Mas aviso, a coisa vai ser pior.
Como diabos podia piorar aquilo? Zack aceitou a taça de café e sentou-se numa cadeira muito
cómoda. Conan sentou-se em frente dele e Wynn na poltrona.
- Porquê? - Perguntou enquanto Conan lhe passava um pão-doce de manteiga e passas.
Conan olhou para a sua irmã, que de repente franziu o rosto e disse.

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- Os meus pais vão-se mudar. Precisavam de um sítio onde ficar durante um par de semanas, e
como Wynn acaba de vir para aqui, convenci-os que era melhor vir com ela do que comigo – sorriu de
orelha a orelha.
Wynn soprou.
- Não é que não goste dos meus pais, mas quando os conheceres entenderás porque estou a pensar
em fatiar o meu irmão.
Zack não queria conhecer os seus pais. Também não tinha querido conhecê-la a ela. Com um
pouco de sorte, a partir desse momento, conseguiria evitar o clã Lane.
- Não vai nada. - Conan deu-lhe uma palmada no ombro que esteve a ponto de o fazer derramar o
asqueroso café, – Vim, porque queria protegê-la. Sinto-me mais tranquilo sabendo que tem um vizinho
que pode defendê-la se for necessário. Dá-me medo que viva sozinha.
Nesse momento, antes que lhe desse tempo de se negar, apareceu Dani.
A menina, mostrando uma timidez desacostumada nela, vacilou um momento, com a escova numa
mão. Zack ficou de pé e estendeu-lhe a mão; a menina correu para ele.
- Dani, Conan é o irmão de Wynn.
Dani aproximou-se dele e sussurrou em tom alto.
- Como tenho que os chamar?
- O que te parece se nós te chamarmos Dani, e tu a nós Conan e Wynn? - Disse-lhe Conan. – De
acordo?
Dani deu a volta e estendeu-lhe a mão.
- De acordo.
Conan pôs-se a rir e agarrou-lhe com delicadeza a sua mão diminuta.
Depois de Wynn lhe dar também a mão, Dani disse-lhe.
- Tens o cabelo estranho.
- Dani.
O seu costume de dizer o que pensava era frequentemente engraçado, mas dessa vez não.
Olhou o seu pai com incerteza.
- Não?
A sua filha tinha razão, mas não podia compartilhar a sua afirmação.
- Sabes que não deves ser mal-educada.
Longe de se sentir insultada, Wynn pôs-se a rir e negou com a cabeça, de modo que os seus
cachos de cabelo se moveram como molas.
- Também parece estranho ao tacto. Queres tocar-lhe?

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Dani olhou Zack para lhe pedir permissão, e ele encolheu os ombros. Jamais tinha conhecido uma
mulher com um comportamento como o de Wynn Lane. De modo que como ia, ou seja de que maneira a
podia tratar?
Dani esticou o braço e tocou os cachos; primeiro uma passada e depois outra. Franziu o rosto
muito concentrada.
- É suave – então voltou-se para seu pai. – Toca-lhe, pai.
Zack esteve a ponto de se engasgar.
- Isto, não, Dani...
Conan devia ser um pouco safado, porque se adiantou e disse-lhe.
- Vá lá, Zack, vai em frente. A Wynonna não se importa.
- A Wynonna vai dar um bom murro se não deixares de me chamar «Wynonna!»
Dani pôs-se a rir. Zack ficou pensativo ao ver que a sua filha era capaz de reconhecer a ausência
de ameaça enquanto que ele se sentia alarmado.
- Eu chamo-me Daniella, mas ninguém me chama assim; excepto o meu pai às vezes, quando está
zangado.
Wynn soltou uma gargalhada exagerada.
- A sério? Mas és um anjinho...
- Não me deixes como se fosse um ogre diante dos nossos vizinhos novos - disse Zack.
Dani sorriu.
- É o melhor pai do mundo.
- Muito melhor – disse Zack e deu-lhe um beijo na face gordinha. - Tem os seus momentos, mas
às vezes os anjos ficam alvoraçados, mas sim, é um anjo.
Conan pôs-se a rir, mas Wynn lançou-lhe outro desses olhares carregados de intenção, e Conan
franziu o rosto e deu a volta.
- Não brigas com o Conan de verdade - Dani disse a Wynn, como se Wynn não soubesse.
- Nunca me arriscaria a fazer-lhe mal. - Disse-lhe. - Além disso, é meu irmão e gosto muito dele.
Dani cruzou os braços e apoiou-se sobre o peito do pai.
- Quero um irmão.
Zack engasgou-se. Conan passou-lhe um guardanapo, evitando de novo o embaraçoso momento.
- O mais divertido do cabelo de Wynn - disse Conan- é que o nosso pai é cabeleireiro.
Zack pensou que aquela gente não deixava de o surpreender.
- O que... interessante - comentou, e deu outro sorvo a aquele café intragável.
Wynn pôs-se a rir.
- Como não lhe deixo que me toque o cabelo, fica frenético. E por isso precisamente não o
permito. Cada vez que me vê, fica a gemer como se lhe doesse alguma coisa.

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- E quando diz gemer, refere-se a gemer mesmo. - Conan deu um sorvo de café e deixou a taça a
um lado. – O meu pai deve ser o único heterossexual extravagante do mundo.
Aqueles dois não sabiam falar de coisas mais mundanas? Não podiam falar do tempo ou algo
assim? Eram as duas pessoas mais peculiares que tinha conhecido na sua vida; de modo que, sem dúvida,
os seus pais seriam também muito estranhos. Ele não disse nada. Mas a sua filha sim.
- Isso também significa cabeleireiro? - Perguntou Dani.
Wynn olhou-a.
- Não, Dani. Quer dizer que gosta de vestir roupa de seda e trazer muitas correntes de ouro. Ah, e
terias que ver o solitário de diamante que traz; é enorme.
OH, Deus, pensou Zack, e desejou poder escapar.
- A nossa mãe, por outra vez, é uma autêntica hipoxia. Gosta de todas as coisas naturais e não usa
nada de joalheira, excepto a aliança de casada.
- Mas – interrompeu Conan dando um olhar dissimulado a Wynn – ama o meu pai o suficiente
para o deixar que lhe arranje o cabelo.
- Ao pai dar-lhe-ia um ataque se eu lhe pedisse agora que me arranjasse o cabelo. Sabes. Além
disso, gosta de resmungar por algo.
- A tua mãe tem o cabelo como tu? - Perguntou-lhe Zack sem saber por que sentia tanta
curiosidade.
- Não, Por Deus! Eu herdei o cabelo de algum antepassado - disse com um sorriso. – O meu pai
tem o cabelo castanho e liso, e a minha mãe loiro, como Conan, mas mais comprido, até à cintura.
Zack, que temia a resposta, perguntou-lhe.
- Quando chegam?
- No próximo fim-de-semana – murmurou mais abatida que resignada. - E eu que tinha tanta
vontade de viver sozinha.
- Viveste em casa dos teus pais até agora? - Perguntou-lhe Zack enquanto terminava de escovar o
cabelo a Dani e fazia um rabo-de-cavalo com habilidade.
Dani sorriu e deu-lhe um beijo, e Zack abraçou a sua filha afectuosamente.
- Não - respondeu Wynn.
Zack olhou-a e pareceu tão suave, tão feminina apesar do seu comportamento... Sem dúvida,
aquele contraste intrigou-o imediatamente.
- Tenho vinte e oito anos - continuou, aparentemente alheia à confusão que a sua pessoa estava a
causar em Zack. – Vivo há um tempo fora de casa. Mas tive duas companheiras de casa. Sou mais ou
menos o que alguém chamaria...
- Uma fanática - disse Conan. - Gosta de ter a casa imaculada e totalmente organizada. Põe-me os
nervos em pé.

13
- O pai também é - disse Dani. - Mick e Josh dizem que será um bom marido para a mulher que
tenha a sorte de casar com ele.
- É verdade? - Conan olhou Zack com expressão divertida.
Wynn deu outro sorvo de café, pigarreou como se de repente se sentisse envergonhada, e deixou a
sua taça finalmente de lado.
- Eu, decididamente, não consigo suportar ter as coisas arrojadas por toda parte. As pessoas
ocupadas têm que ser organizadas.
Como Zack pensava o mesmo, entendeu-a. À excepção dos brinquedos de Dani, que deixava por
qualquer lado para que a menina não se sentisse abatida, gostava de ter cada coisa no seu sítio e um sítio
para cada coisa. Ele mantinha a casa limpa, e uma vez por mês enviavam alguém de uma agência para
fazer uma limpeza mais profunda.
A ideia de que pudessem ter algo em comum alarmou-o um pouco, e rapidamente desterrou essa
ideia do seu pensamento.
Dani desceu do seu colo, correu a sentar-se ao lado de Wynn, e colocou-se numa postura igual à
da vizinha, com as costas rectas e a cabeça um pouco inclinada. À menina não chegavam os pés ao chão;
em troca, Wynn tinha as pernas dobradas de tal maneira, que os joelhos quase lhe chegavam à cara. Zack
pensou que nunca tinha visto umas pernas tão compridas nem tão bem formadas.
Dani sorriu a Wynn de orelha a orelha antes de agarrar a sua terrina de cereais e começou a comer.
- Conan também é um desarrumado. - Disse Wynn enquanto passava a Dani um guardanapo.
Zack perguntou-se se Wynn estaria frequentemente com crianças, e no momento decidiu que isso
não importava.
- Razão pela qual os meus pais decidiram passar duas semanas comigo. O seu apartamento está
cheio de jornais e na geladeira sempre tem algo podre.
Zack não pôde evitar estremecer; ao vê-lo, Wynn assentiu.
- Sim, é um nojo. - Confirmou.
- A que te dedicas, Zack? - Perguntou-lhe Conan para mudar de tema.
Tanto Conan como a sua irmã o olharam com curiosidade. A sua filha, com a boca cheia de
cereais com leite, respondeu por ele.
- Salva as pessoas. É um herói.
- Mmm, já percebi.
Wynn olhou Zack de cima abaixo, detendo-se aqui e ali. Aquele olhar cheio de interesse teve o
efeito de uma carícia sensual, e Zack teve vontade de gritar.
- O teu pai - disse Wynn - tem toda a pinta de ser um herói. É grande, musculoso, bonito e amável
- e então esboçou um sorriso íntimo e provocador. – Fico contente que seja meu vizinho.

14
Foi uma sensação do mais curiosa possível, como se o coração tivesse começado a ferver. Depois,
quando tinha sentado a sua filha sobre os seus joelhos e lhe tinha escovado o cabelo pacientemente,
derreteu-se por dentro. Jamais tinha sentido nada igual, nem nunca tinha visto um homem como ele.
Dani tinha parte da culpa. Wynn não podia imaginar uma menina mais adorável do que a que tinha
sentada ao seu lado. A menina possuía uma picardia que indicava que era esperta e precoce ao mesmo
tempo. Mas a maior impressão tinha-a causado Zack Grange. Não tinha ideia que existisse um homem
que pudesse impressioná-la tanto física como emocionalmente. Era um pouco mais alto do que ela, talvez
um par de centímetros. A sua altura, entretanto, não parecia curvá-lo.
Não. Embora ele mesmo não se desse conta, tinha-a olhado com admiração e tinha gostado. E
muito.
Desejou não ter vestido aquela horrível camisola que escondia o seu corpo. Quando se tinha
vestido essa manhã tinha feito um pouco de frio, mas nesse momento não sentia frio. Estava um pouco
sufocada. Para falar a verdade, tinha calor.
Pelo seu aspecto e a idade da sua filha, supôs que Zack teria à volta de uns trinta anos. Mas era o
seu incrível físico o que a empurrava a olhá-lo. Aquele homem era muito bem feito.
Não tinha um torso musculoso como o seu irmão, mas era atlético e em forma, com uma força que
em parte era inata à sua condição de homem, e em parte o resultado de um treino especializado. Tinha os
ombros e o peito largos. Os quadris eram estreitos, as pernas compridas e rectas, as mãos e os pés
enormes. Não tinha uma grama de gordura no estômago, e o seu porte era esbelto.
Tinha o cabelo castanho claro, muito liso, e ligeiramente despenteado, complementado com uns
intensos e amáveis olhos azuis. As sobrancelhas e a barba de vários dias eram mais escuras e tinha a
mandíbula forte.
Mas o que mais lhe tinha gostado era o modo como olhava a sua filha. A poucos segundos de ver
Zack, tinha-o desejado. O homem transpirava uma sensualidade primitiva, temperada pela sua paciência e
amabilidade. Uma combinação que parecia tremendamente potente.
Estando com ele, sentia-se confortável... de muitas maneiras diferentes.
Embora tão só o conhecesse há uma hora, já tinha aprendido que amava a sua filha, que era um
defensor natural das mulheres e que se mostrava cortês apesar de uns vizinhos mal-educados o tivessem
despertado de um descanso muito necessitado.
Suspirou, e os dois homens e Dani olharam-na com curiosidade.
- Sinto muito - murmurou a desejar poder sentar-se nos joelhos de Zack, apesar de já não ser uma
menina.
Fazia tanto tempo que não estava com um homem, que já não sabia o que era isso.
- Então, o que é o que te dá o título de herói, Zack?

15
- Sou ATS dos serviços de urgência. Dani acredita que Mick, Josh e eu somos três heróis. E acho
que agora pensa o mesmo de Dalila, a esposa de Mick.
- São heróis - disse Dani com devoção.
- Não fales com a boca cheia, querida - respondeu-lhe Zack.
- Então conduz uma ambulância? - Conan inclinou-se para a frente com interesse. - Para quem
trabalha?
- Para a brigada de bombeiros. Josh é bombeiro. Conhecemo-nos há uma vida.
Wynn inclinou a cabeça, e recordou o outro nome que tinha mencionado.
- E Mick? A que se dedica ele?
- Mick é polícia. A sua esposa, Dalila Piper Daw - é...
- A escritora! - terminou de dizer Conan, deslizando-se para o bordo da cadeira com emoção. -
Estás a brincar? Conheces Dalila Piper?
- Não te esqueças do Dawson, ou Mick mata-te.
Zack sorriu mostrando uma fila de dentes brancos, e formou-se uma covinha na face. A Wynn
começou a pulsar com tanta força o coração, que quase não ouviu o resto da explicação de Zack.
- Como ela e Mick estão casados, ele entendeu que deve conservar o seu primeiro nome porque
assim é como é conhecida. Está orgulhoso da sua profissão, mas insiste em que os que a conhecem devem
recordar que agora é uma mulher casada.
- Possessivo, não? - perguntou Wynn.
- Estás louca? É Dalila Piper - soprou. - Eu também seria possessivo.
- Sempre o foste.
O seu irmão punha louca a sua namorada actual com a sua possessividade.
- suponho que és fã dela - disse-lhe Zack.
- Acabo de ler a sua última história. A cena do rio é incrível.
- Se quiseres, posso pedir que te assine os livros.
Wynn notou com desgosto que o seu musculoso irmão estava ponto de se levantar e pôr-se a
dançar. Dani e ela olharam-se e a menina voltou os seus grandes olhos azuis. Wynn pôs-se a rir.
- Então dás-te leva bem com o Josh, Mick e Dalila? - perguntou a Dani.
- Josh sai com muitas mulheres, mas diz que nenhuma é mais bonita do que eu e que por isso não
pode casar-se com ninguém.
- É esperto.
- Sim - assentiu com expressão de causar pena pelo pobre Josh. – O pai quer casar, mas primeiro
tem que encontrar uma esposa - Dani enrugou a cara e estudou Wynn.

16
Wynn retorceu-se perante tal escrutínio. era uma menina! Felizmente para ela, nesse momento
Dani pediu permissão ao seu pai para ir à casa de banho. Quando a menina partiu, Zack e Conan
continuaram a conversar de Dalila Piper.
Wynn olhou-o com curiosidade. Então Zack queria casar-se? Ou teria inventado a sua filha?
Como era possível que Zack continuasse solteiro? Sem dúvida, um homem como ele teria mulheres aos
potes. Embora por outro lado, Zack parecia muito dedicado à sua filha, e sabia que nos serviços de
urgências se faziam turnos muito compridos, às vezes até sessenta horas por semana. Com esse trabalho
não teria muito tempo livre para sair com mulheres, e muito menos para cultivar uma relação duradoura.
Zack deve ter notado que o estava a olhar, porque olhou-a enquanto Conan continuava a adular o
notável talento da senhora Piper. Os seus olhares encontraram-se e Zack franziu o rosto. Desviou o olhar
e depois voltou a olhá-la. Wynn pestanejou e sentiu-se toda terna e excitada.
Ficou a observá-lo, consciente que o estava a olhar fixamente. Zack moveu-se um pouco no
assento e olhou-a chateado; então cruzou as pernas.
Tinha os tornozelos largos. E também as mãos. E os dedos compridos e... Um pensamento levou a
outro e não pôde evitar olhar entre as pernas. Tinha uns jeans velhos e descoloridos cujo tecido parecia
muito suave. Colavam-se amorosamente ao seu corpo, delineando uma protuberância que lhe pareceu do
mais considerável, apesar de ele não estar excitado.
O coração desceu ao estômago e começou a pulsar erraticamente. As palmas das mãos começaram
a picar, e desejou tocá-lo ali mesmo...
- Basta!
Pestanejou confusamente e olhou-o. Conan ficou calado. Zack ficou avermelhado, pigarreou e
ficou de pé.
- O café e os pães-doces estavam estupendos. Obrigado.
Conan ficou também de pé e apertou-lhe a mão, como se não se tivesse passado nada.
- Trago-te os livros assim que tiveres a certeza que não se importará de os assinar.
- Dalila é um doce; não se importa. - Zack não a olhou, e deu-lhe a impressão que o fazia
deliberadamente, mas a verdade era que a tinha apanhado a olhar para entre as pernas, quase a babar.
ficou vermelha. Conhecia-o há uma hora e já se estava a comportar como uma qualquer. Ou pior
ainda, como uma solteirona desesperada. OH, não! Talvez ele a visse assim. depois de tudo, tinha vinte e
oito anos e ainda estava solteira. O único homem que a tinha ajudado a mudar de casa tinha sido o seu
irmão. Zack não podia saber que isso era por escolha própria; porque ainda não tinha conhecido nenhum
que... nenhum que lhe fizesse ferver o sangue como ele.
Como não era tímida, estendeu-lhe a mão e ele apertou-a com um sorriso superficial nos lábios. O
seu gesto pareceu-lhe totalmente impessoal, e isso chateou-a bastante.
- Bem-vinda à vizinhança, Wynn.

17
- Obrigado - disse, e notou que ele tentava retirar a mão, mas ela não a soltou. - Estou certa que
nos veremos por aqui.
Ao dizê-lo, encolheu-se por dentro. Quase tinha divulgado como uma ameaça! E ainda por cima
tinha-lhe apresado a mão com força, como se ela fosse um macho.
Soltou-o rapidamente e meteu as mãos nos bolsos para não cair na tentação de voltar a agarrar-lhe
a mão. Conan recolheu a jarra de café e o prato de pães-doces.
- Bom, obrigado de novo. E sinto muito que te tenhamos despertado - repetiu sentindo-se como
uma imbecil.
Dani saiu dando saltos.
- Não se podem ir embora.
Zack pôs-lhe a mão sobre a cabeça loira.
- Wynn quer terminar de abrir as suas caixas. E tu e eu vamos às compras, querida.
Dani gemeu como se lhe arrancassem a pele, e Zack afogou um sorriso.
- Vá, nada de choramingar. Comeremos fora e passaremos bem. logo vês. Conan sorriu.
- Não gosta de ir às compras?
- comprar roupa, não. Mas tem toda a roupa de inverno velha e gasta.
- Como Wynn. Também não gosta de ir às compras.
Dani abriu os olhos como pratos.
- verdade?
Wynn encolheu os ombros.
- Sei que se supõe que é uma coisa de garotas, mas nunca entendi porquê. Graças a Deus que não
preciso de muita roupa. Além disso, com o meu trabalho, a roupa desportiva é a que mais me convém.
- A que te dedicas? - perguntou Zack, que imediatamente pôs uma cara como se quisesse
esbofetear-se se a si mesmo.
- Sou fisioterapeuta. Trabalho dois dias por semana num instituto e dois na faculdade - assinalou o
seu irmão com a cabeça. - Conan é dono de um ginásio, onde às vezes também vou ajudar, quando os que
usam os aparelhos se passam.
- Acho que devia ir - disse de repente Conan, que agitou a mão em sinal de despedida e começou a
descer as escadas. - Acabo de me lembrar que fiquei de ir ter com a Rachel, a minha namorada.
Wynn olhou-o e suspirou; então voltou-se para Zack.
- Eu também vou. tenho muito por desembalar - voltou-se para Zack, que parecia ansioso por se
despedir. - Já que somos vizinhos, vem quando precisares de algo. Já sabes, o típico, um pouco de sal,
uma taça de açúcar...
- Obrigado - disse Zack em tom seco. - E obrigado pelos pães-doces. Estavam... muito bons.
Como não havia nada mais a dizer, Wynn voltou-se e começou a descer os degraus devagar.

18
- De acordo... Adeus então.
- Adeus, Wynn.
Voltou a cabeça e viu que Zack se metia em sua casa a correr. Fechou a porta e ouviu o clique do
ferrolho. Maldita seja. A sua despedida tinha sido mais do que definitiva.
Mas não pensava permitir. Desejava-o e, de um modo ou de outro, conseguiria aquele homem.

CAPÍTULO TRÊS

- Olha, pai!
Zack avançou pelo caminho e deteve-se diante da casa. Não queria olhar porque sabia para onde
assinalava a sua filha, ou a quem tinha visto.
Sem querer tinha passado todo o dia a pensar nela, e não achava piada nenhuma. Até enquanto a
sua filha e ele tinham estado nas compras, tinha pensado em Wynn. Não tinha podido deixar de recordar o
modo em que sua vizinha o tinha olhado, ou para «onde» o tinha olhado. Por essa simples razão tinha
passado todo o dia distraído.
E não só distraído, tinha estado tenso e meio excitado. Embora, na realidade, dizer isso seria dizer
pouco. Na realidade não tinha deixado de pensar no que se poderia passar se fizessem amizade.
E isso não estava bem! Era sua vizinha, vivia ao lado, de modo que algo passageiro, como por
exemplo uma desenfreada e apaixonada relação sexual, estava fora de questão. E qualquer outra coisa,
como uma amizade, só conseguiria que acabasse a desejá-la ainda mais.
Wynn não cumpria nem por sombras as condições que ele tinha em memória para ter uma relação
séria e formal com uma mulher, de modo que o mais conveniente era não iniciar nenhum tipo de relação
com ela.
- Pai, olha.
Com a sua voz insistente, Dani deixou-lhe pouca escolha. Zack levantou a vista enquanto dizia.
- Temos que guardar toda esta rop... - a voz foi-se apagando ao ver Wynn, que nesse momento
tinha um Top bege, fazendo um grande esforço para levantar uma caixa larga e plana. O caminho estava
de um lado da casa, junto a uma garagem contígua, o qual lhe permitia ver na perfeição a casa de Wynn.
Sob o sol do entardecer, os amplos e atléticos ombros de Wynn brilhavam sob uma fina capa de
suor. O ventre... Tragou saliva com dificuldade. Tinha o ventre liso, forte, e a cintura esbelta e ágil
enquanto se agachava e dobrava. Tinha uma figura sensual, sã e forte, e tão feminina que se encolheu o
estômago.

19
Pela manhã tinham sido as suas pernas que o tinham perdido. Nesse momento, enquanto se
deleitava com o resto do seu corpo, Zack começou a suar. adorava os umbigos das mulheres, e o de Wynn
era particularmente provocador.
Sentiu que Dani o puxava brandamente pelo braço e conseguiu apagar a expressão de desejo da
sua cara antes de se voltar para olhar a sua filha.
- Devias ir ajudá-la - disse-lhe a sua filha.
OH, não. Zack não tinha nenhuma intenção de se aproximar de Wynn. Sacudiu a cabeça e
terminou de desabotoar os cinturões do assento de Dani. Pela idade, a sua filha já podia abandonar a
cadeira do automóvel, mas como era muito pequena, Zack tinha pensado que a deixaria uns meses mais.
- Temos muitas coisas que fazer, Dani.
Mas assim que soltou a menina do assento, a pequena abriu a porta do carro e saiu a correr.
- Olá, Wynn! - exclamou a menina agitando os braços para chamar a atenção.
Wynn deixou de puxar pela caixa e levantou a vista. passou a mão pela frente e entre cerrou os
olhos. Sorriu ao ver os seus vizinhos. Mesmo à distância, Zack percebeu a expressão afável do seu
sorriso.
Amaldiçoou entre dentes.
Wynn cruzou o pátio e aproximou-se deles. Ele não lhe queria fazer caso e preferia entrar em casa,
porque o que desejava nesse momento era fazer amor. Com ela, precisamente.
- olá a vocês os dois! - parou junto do carro de onde tinha saído Dani. - Que tal as compras?
Dani elevou a cabeça e sorriu a Wynn.
- Comprámos muitas coisas. E também vimos um filme.
Wynn ajoelhou-se automaticamente. Zack recordou que tinha feito esse gesto também essa manhã,
quando tinha falado com Dani. Seria pelo alta que era? Ou talvez porque gostava muito de crianças e
queria ficar à sua altura?
- Um roupeiro novo, não? Que bom!
Olhou para Zack; os seus olhos quase dourados encerravam uma expressão cálida e carinhosa.
- Compraste-lhe tudo? - acrescentou.
Zack pigarreou. Estava há tanto tempo a privar-se de estar com uma mulher, que ao ver Wynn ali
ajoelhada só lhe ocorreu pensar no sexo. A Sua cara, a sua preciosa boca, estavam ao mesmo nível que...
Não. Era muito. Zack deu a volta e começou a tirar os sacos do carro.
- Acho que, com o que lhe comprei, deve ter para toda a temporada.
- Eu também fui às compras - disse Wynn em tom confuso pela sua rejeição. - comprei uma rede
para o pátio.
Zack ficou imóvel, com as mãos cheias de sacos. Então voltou-se devagar.
- Uma rede?

20
Não estaria a pensar em estar por ali, deitada na rede, onde ele pudesse vê-la?
- Onde pensaste pô-la? - perguntou-lhe Zack.
Ela assinalou.
- Essas são as duas únicas árvores suficientemente grandes e que estão bastante perto uma da outra
para a pôr. Sempre desejei ter uma rede; quase tanto como ter a minha própria casa. depois de acabar de
desempacotar, não pude resistir à tentação. Nesta época faz um tempo ideal para estar cá fora a ler ou a
dormir a sesta.
Uma centena de perguntas começaram a dar voltas na cabeça dele, mas a única que lhe saiu foi.
- foste às compras assim?
O Top rodeava uns seios turgentes e em proporção com o resto do seu corpo. E Zack olhava-a de
tal modo, que soube que ela tinha entendido a que se referia. Mas então, assim que se deu conta do que
tinha dito e do tom possessivo que tinha utilizado, apressou-se a acrescentar.
- Estás a referir-te às minhas árvores? - perguntou para dissimular.
Ambos os pátios tinham abundância de zonas com sombra, mas as árvores que tinha falado Wynn
eram as que bordeavam a sua propriedade. Ela ficaria ali mesmo, onde ele pudesse vê-la, onde iria
minando pouco a pouco a sua resolução. Não podia suportar. Jamais tinha tido em sua vida nenhum
problema desse tipo; claro que, também não tinha conhecido Wynn até então.
Ela olhou-o com aqueles assustadores olhos cor mel e pestanejou com desconcerto; até esse gesto
lhe pareceu provocador, deliberado. «Maldita seja». Wynn ficou de pé com determinação, e Zack não
pôde evitar olhar as pernas e a cintura. Só de olhá-la, o coração começou a pulsar com força.
Ela colocou as mãos em jarras de um modo provocador e esperou a que ele a olhasse à cara.
Quando finalmente os seus olhares se encontraram, Wynn sorriu, mas o seu sorriso não teve nada
de amável.
- Troquei-me ao chegar a casa - informou-o - antes de tirar a caixa do carro. E as árvores são
minhas. Perguntei especificamente antes de comprar a casa. O agente imobiliário comprovou as que
limitam a propriedade só para estar mais certa.
Zack teve vontade de gritar. Queria dizer-lhe que não lhe importavam as árvores ou a quem
pertencessem. O que tinha vontade era de levar a sua filha, que a deitasse para uma sesta e depois agarrar
a sua vizinha e levá-la para a cama.
- Entendo - conseguiu sorrir apesar de tudo. Dani, alheia à repentina tensão entre os adultos,
esticou-se e puxou pelo tecido das calças curtas de Wynn.
- comprámos uma pizza para jantar. Wynn olhou a sua filha e sorriu genuinamente. - Parece que
passaram um dia maravilhoso, não foi? - acariciou-lhe a cabeça e depois olhou para Zack. - Será melhor
que volte para o trabalho. Quero montar a rede.
- Podes jantar connosco!

21
Zack amaldiçoou entre dentes ao ouvir o convite da sua filha, mas não o disse em tom
suficientemente baixo para que Wynn não o ouvisse.
elevou o queixo e olhou-o nos olhos. via-se que estava magoada. Fez-lhe mal a ele. «Maldita
seja», não tinha sido sua intenção insultá-la, mas também não queria estar na sua companhia por
obrigação.
- Obrigado, querida. - disse Wynn, embora continuasse a olhar para Zack, - mas tenho muito que
fazer. Talvez noutro dia, querida.
Wynn deu a volta e esteve a ponto de tropeçar. Pela primeira vez, Zack notou o cansaço nas suas
compridas pernas e braços, na suave queda dos seus ombros surpreendentemente largos e orgulhosos.
- Wynn - disse-lhe com o mesmo tom com o qual dirigia à sua filha.
Ela deteve-se e voltou-se para ele com expressão altiva; Zack pensou que tinha cara de cansada.
- Quando comeste pela última vez?
Ao seu lado, Dani saltava de alegria. Conhecia-o bem e sabia que já tinha tomado uma decisão.
- Como?
- almoçaste? - perguntou-lhe Zack, mas ela olhou-o sem expressão. - comeste algo além do café e
os pães-doces desta manhã?
Em lugar de responder normalmente, Wynn disse.
- Zack, agradeço a tua preocupação, mas estou certa que tens coisas mais importantes para fazer
do que levar em conta as minhas comidas.
Então voltou-se de novo.
Com a vista fixa no seu amplo e bem formado traseiro, Zack pensou que o melhor era deixá-la
partir. Mas percebeu que a sua filha o olhava com contrariedade. Sem dúvida, a sua filha esperava que
rectificasse e se desculpasse, e Zack soube que era o que devia fazer. Apesar da suave cadência dos seus
quadris, Wynn parecia quase a cair ao chão de cansaço.
Ela tinha sido amável, e ele um antipático. E tudo, porque estava há muito tempo sem estar com
uma mulher e ela atraía-o de um modo primitivo e louco. Mas não podia pôr a culpa disso em Wynn.
Dani olhou-o com severidade e disse-lhe.
- Convence-a para que venha connosco.
- Vou tentar. - respondeu com um suspiro.
- Corre! Vai antes que se meta em casa.
Wynn estava quase a subir as escadas do seu alpendre quando Zack a alcançou. Deve ter ouvido
aproximar-se, mas não fez caso. Zack agarrou-a por um braço e deu-lhe a volta.
- Espera um momento.
Ao ver que estava sozinho, encarou-se com ele.
- O que se passa agora?

22
Sem poder evitar, Zack sorriu e seguidamente pôs-se a rir.
- Como Dani não está a ouvir, puxas o teu génio comigo, verdade?
- Não te enganes - parecia furiosa e ainda magoada; retirou o cabelo da cara e esboçou um sorriso
zombador. - Se puxasse todo o meu génio, estarias agora deitado no chão.
A sua ameaça fê-lo evocar imediatamente uma imagem dele deitado no chão e de Wynn
escarranchada sobre ele. Tinha as pernas tão compridas e tão fortes, que não duvidava que essas pernas
aguentariam eternamente. Sem se dar conta, olhou-lhe os peitos, cheios pelo tecido fino do Top. De novo
e sem querer, imaginou os seus peitos, seus mamilos duros, rogando para serem acariciados. Tinha o peito
brilhante e suado pelo calor, e a pele radiante e de aspecto suave.
Ele não respondeu, mas ela deve ter-lhe lido o pensamento, porque em seguida retrocedeu e a sua
cólera dissipou-se.
- Não me referia a isso - sussurrou com voz tremente.
- A quê? - perguntou Zack sem poder evitar. Os seus olhares encontraram-se, e então ela encolheu
os ombros.
- Ao sexo. era nisso em que estavas a pensar. Embora suponha que agora o negarás.
Zack esfregou a cara.
- Não, não o negarei - doíam-lhe os ombros da noite anterior, e nesse momento todo ele pulsava de
desejo. - Olha, Wynn...
- Não, eu entendo. Dani é encantadora, mas as crianças falam muitas vezes no momento mais
inoportuno. Não aconteceu nada, e na verdade que tenho muito que fazer.
Ele não fez caso.
- Estiveste todo o dia a trabalhar, ou não? Estou certo que não comeste nada além do café da
manhã.
- Os meus hábitos de alimentação não são assunto teu.
porque raio tinha que a achar tão endiabradamente atraente para estar excitado como um
adolescente? Estava cansado, tinha o corpo dorido, estava frustrado sexualmente e ainda por cima isto.
Sabendo que Dani não demoraria para aparecer se demorava, decidiu justificar-se.
- Desejo-te. Por isso fui grosseiro.
Wynn abriu os olhos dourados como pratos e tragou saliva. Abriu a boca, mas não lhe saiu nada.
Olhou para as árvores onde ela planeava pendurar a rede.
- Entre Dani e o trabalho, não tenho muitas oportunidades de sair, e há muito tempo, muito, que
não estou com uma mulher. Ontem à noite não dormi bem, ou de outro modo teria conseguido conter-me
melhor hoje, mas a pouca paciência que tenho reservo para a minha filha.
- OH.
- Não quero que temas que me vá lançar...

23
- Isso não me dá medo - apressou-se a dizer-lhe.
- ... porque não tenho intenção de o fazer.
- OH - repetiu, dessa vez com evidente pesar.
- Vem comer connosco, depois ajudo-te a levar essa caixa para o pátio traseiro. A partir de então
podemos ser sociáveis, mas não muito. De acordo?
- Não muito sociáveis, porque não me queres desejar?
- Isso.
Falar disso não ia servir de nada. À medida que falava, sentia-se como um imbecil.
- Não seria boa ideia, sendo vizinhos e tudo isso - acrescentou Zack.
- Entendo.
Parecia perplexa. Suspirou de novo e, quando se voltou, viu que a sua filha o olhava com
interesse, de braços cruzados e dando golpezinhos com a ponta do pé no chão.
- Sem dúvida o entenderás. Uma coisa é ser vizinhos. Mas se a coisa for mais à frente, pareceria
estranho.
- Estranho. - afirmou em tom paternalista. - Entendo o que queres dizer. - acrescentou com
sarcasmo.
Zack apertou os dentes.
- Queres jantar pizza connosco ou não?
Ela passou a língua pelos lábios e inclinou a cabeça.
- Posso dizer uma coisa primeiro?
- Que seja rápido. Dani vai vir em seguida para nos vir buscar.
- Estou aqui suada e com o cabelo feito num nojo, e mesmo assim dizes que te excito?
Zack tinha vontade de a estrangular. Como não tinha querido feri-la nos seus sentimentos, tinha
sido sincero com ela e ela tomava a liberdade de o provocar.
- Não vamos continuar com isto, de acordo?
- De acordo. - disse. - Só queria ter a certeza.
Juntos puseram-se a andar para onde estava Dani. Zack percebeu o aroma da sua pele torrada pelo
sol misturado com o de um perfume muito feminino.
- há quanto tempo? - perguntou-lhe com descaramento, como se não fosse um tema pessoal.
Mas tinha sido ele quem o tinha puxado. Zack respondeu sem a olhar.
- Muito.
- Eu também - sorriu para Dani e agitou a mão. - Embora não acredito que me excites por isso -
olhou-o com os olhos levemente cerrados; nos seus lábios desenhou-se um leve sorriso. - Acho que é o
teu corpo fantástico que me está a proporcionar estes calores - sussurrou-lhe ao ouvido.

24
Zack tropeçou com os seus pés e quase caiu. Ela continuou até ao seu pátio, deu a mão a Dani e
juntas rodearam a casa para o alpendre dianteiro.
- Posso-te mostrar a minha roupa nova! - ouviu dizer Dani.
- Depois de comermos. - disse Wynn alegremente. - Estou morta de fome.
Wynn terminou o seu quarto pedaço de pizza e suspirou. Até não ter começado a comer não se
apercebeu da fome que tinha.
- Estava faminta. Muito obrigado.
- comeste tanto como pai. - disse Dani.
- Não é verdade! Ele comeu um pedaço mais do que eu. - então olhou para Zack. - Mas como ele
tem mais músculos do que eu, deve comer mais.
Zack engasgou-se com o refresco e olhou-a de esguelha. Desejava-a. Não queria fazê-lo, mas
desejava. Ao menos era um começo; um ponto de partida.
Ela, por sua vez, já estava louca por ele. Zack não só era bonito e tinha um corpo que tirava o
soluço, mas além disso era muito terno e carinhoso com a sua filha e tinha a casa imaculada.
- a tua casa tem uma distribuição diferente da minha - olhou à sua volta admirando a harmonia que
havia ali.
- São basicamente parecidas, só que eu tirei uns quantos tabiques para fazer os quartos maiores.
- Também é maior. - Ele encolheu os ombros.
- Nem tanto. Acrescentei espaço ao salão quando pus a banheira de hidromassagem, e fechei o
pátio.
Wynn tinha visto a enorme banheira de hidromassagem imediatamente. Estava junto à porta do
salão, à esquerda da cozinha, e parcialmente escondida por uma cerca.
- Fechei o pátio para utilizar a banheira todo o ano sem ter que cruzar o pátio no inverno.
- Utiliza-la todo o ano? - perguntou com assombro.
Wynn ficou com a boca seca quando o imaginou nu. Seria estupendo se a convidasse a
compartilhá-la com ele, mas não ia fazer ilusões.
Ele encolheu os ombros.
- Durante todo o ano, de vez em quando. Wynn pigarreou e ficou a pensar em coisas menos
perigosas.
- Eu gosto de como decoraste a casa. É agradável, bonita e cómoda.
Tudo estava decorado em madeira de pinheiro claro combinada com diferentes tons cremes e
verdes. Havia umas quantas plantas, muitas fotografias de Dani e um par de fotos que supôs que seriam
da sua esposa falecida. A mulher era loira, como Dani, mas com o cabelo mais comprido. Parecia muito
jovem, e Wynn decidiu não olhar muito as fotos. Quando perguntasse a Zack sobre a sua esposa, faria-o
sem que a menina estivesse à frente.

25
- Podes desculpar-nos um momento, pai?
- Sim, mas primeiro lava as mãos.
Dani correu à pia e fez o que seu pai lhe tinha pedido.
Zack levantou-se da mesa, mas não quis olhá-la nos olhos.
- Vou levar essa caixa até ao pátio traseiro enquanto Dani te mostra a roupa nova - então deu à sua
filha um beijo na cabeça. – Volta já, está bem?
A menina assentiu.
Saiu pela porta da cozinha e desapareceu antes que ela pudesse dizer alguma coisa.
Quando Dani lhe deu a mão e a levou ao piso de cima, Wynn pôde dar uma olhada ao resto da
casa. Não havia uma bolinha de pó em nenhum sítio e tudo estava em ordem, excepto por algum
brinquedo de Dani. Havia duas cómodas de pinheiro na sala de estar; uma delas estava aberta e Wynn viu
que continha bonecas e jogos. Também havia uma mesa cheia de lápis de cera, papel e tesouras para
crianças.
Passou pelo quarto de Zack e espreitou com a esperança que Dani não se desse conta. Mais limpo
ainda. Uns pesados móveis de pinheiro ocupavam o espaço no meio do quarto. Sobre a cama havia uma
colcha de cor marrom escura. Pela janela aberta entrava uma suave brisa. Wynn olhou para a janela e
imediatamente viu Zack no seu pátio, a mudar a caixa. Observou-o durante uns momentos antes de se dar
conta que, se ela o estava a ver nesse momento, ele podia vê-la cada vez que estivesse ela no pátio.
- era aqui que estavam esta manhã quando me saudaram?
- Sim, só que o pai ainda estava em roupa interior porque acabava de despertar.
- Entendo.
se entendia. Para que não se desse conta do seu interesse, deixou-se arrastar pela menina até ao
seu quarto. Naquele, os móveis eram brancos, a colcha de cor amarela pálida, e o papel que cobria metade
da parede de listas amarelas e brancas, rematado com uma tirinha branca.
A janela de Dani também dava para o mesmo sítio que do quarto do seu pai, mas Wynn conteve-
se e não foi espreitar. Em lugar disso, concentrou-se no montão de roupa que havia sobre a cama.
As duas passaram pelo menos quinze minutos vendo tudo e falando sobre a roupa que, na sua
grande maioria, podia ter sido para um menino. Nada nas pontas dos pés nem laços para o Dani. Wynn
estava de acordo.
Wynn fixou-se numa cortiça enorme pendurada da parede à cabeceira, cheio até aos batentes de
desenhos. Quando disse a Dani que tinha muito talento, a pequena empenhou-se em lhe fazer um
desenho. Como Dani não queria que o visse, Wynn baixou de novo ao piso de baixo.
Encontrou Zack na cozinha, levantando a mesa. Wynn levou dois copos ao lava-loiça.
- Queria ajudar-te com isto.
- Não é preciso.

26
Wynn achou piada por não a querer olhar. apoiou-se contra a pia e colocou os braços ao lado.
- É o mínimo que posso fazer depois de me impor. Duas vezes.
Zack foi para a porta da garagem e pôs o lixo num cubo que tinha ali.
- Convidamos-te. - disse ao voltar.
- A contra gosto.
Zack deteve-se um momento, começou a esfregar a parte de trás do pescoço, como se quisesse
tirar a tensão dos seus músculos. Quando a olhou, os seus olhos eram de um azul-escuro.
- Já te expliquei isso, Wynn.
- Certamente que sim - Wynn cruzou as pernas e Zack observou-as um momento antes de voltar a
olhá-la na cara; era estranho que a achasse atraente quando na realidade parecia uma pena.
- Olha...
Nesse momento, interrompeu-o o telefone. Zack deu duas grandes pernadas e desprendeu o
auricular do aparelho que havia na parede da cozinha.
- Sim?
Quem seria? Wynn fez como se não estivesse a ouvir, mas era evidente que estava a falar com
algum amigo ou amiga. Seria uma amiga? Isso não lhe fez nenhuma graça.
- Claro, gostas de ter companhia - Zack fez uma pausa. - De acordo, dentro de quinze minutos
então. - disse antes de pendurar.
Nesse momento, Dani entrou na cozinha e Zack levantou-a em braços.
- Quem era?
- Mick e Josh vêm fazer-nos uma visita. Se queres tomar banho antes, podes estar com eles um
momento antes de ir para a cama.
Wynn espreitou para ver o desenho que Dani tinha na mão.
- É para mim?
- Sim - disse Dani timidamente, e então mostrou-o.
Dani tinha desenhado duas árvores, a rede e Wynn junto a ela. Wynn sorriu ao ver o alta que a
tinha pintado, e ao ver o seu cabelo, que parecia uma escarola.
- É lindo, Dani. - disse sentindo-se curiosamente comovida. - eu adoro. Vou pô-lo na geladeira
para que o vejas sempre que me venhas visitar.
Isso pareceu agradar à menina.
- De acordo. - disse a pequena. - até podia visitar-te algum dia e vê-lo - disse com todo o
descaramento infantil.
Wynn despediu-se de Dani com um beijo e saiu pela porta depois de piscar o olho a Zack.
Se queria montar a rede a tempo de a desfrutar essa noite, tinha que se apressar antes que se
ocultasse o sol.

27
Quinze minutos depois, quando quase tinha terminado de a montar, ouviu um carro entrando em
casa de Zack. Não conseguiu conter a curiosidade e olhou para a casa. Sobre a garagem de Zack havia um
foco que iluminava a porta. Wynn viu dois homens que saíam de um carro, os dois altos e bonitos. Um
deles era moreno de pele, e o outro parecia um dourado Adónis. Mick e Josh, decidiu.
O loiro levantou a cabeça e olhou-a mesmo quando ela ia dar a volta; e ficou a olhá-la um bom
momento. Maldição! deu-se conta que o tinha estado a olhar e sem dúvida sabia também porquê. Um
homem como ele, alto, sexy e bonito, esperava sem dúvida que as mulheres o adorassem.
O seu companheiro voltou-se, pôs as mãos em jarras e também a olhou. meu deus, o primeiro dia
que passava ali e não tinha feito mais que chamar a atenção.
Como já a tinham apanhado, Wynn agitou a mão com gesto amigável, o qual foi correspondido
por ambos. O moreno limitou-se a olhá-la com cortesia e curiosidade, enquanto que o outro a observou.
Um segundo depois, abriu-se a porta de casa e ambos os homens desapareceram no interior da
moradia.

CAPÍTULO QUATRO

- Afasta-te da maldita janela - rugiu Zack.


Sem soltar o bordo da cortina cor café da janela pequena que havia sobre a pia, Josh voltou a
cabeça para olhar Zack.
- Quem é?
- Ninguém. Só uma vizinha.
- É Wynn - Dani, subiu ao colo de Mick, não mostrou a reserva de Zack em nenhum momento. - É
nossa vizinha.
Josh arqueou uma sobrancelha.
- verdade?
- Tomou o café da manhã connosco - Dani sorriu.
Mick e Josh olharam-se.
- Café da manhã, não é?
Zack pôs gelo nos três copos que tinha à frente.
- Não comecem a tirar conclusões precipitadas. Despertou-me esta manhã, isso é tudo.
Josh deixou a cortina e voltou-se.
- Uma mulher alta, esbelta e sexy tira-te da cama e dizes «isso é tudo»?
Mick pôs-se a rir.

28
- Não é assim! - disse com veemência, surpreendendo-se inclusive a si mesmo. - Mudou-se hoje, e
o seu irmão e ela estavam a fazer muito ruído. Quando se deu conta que nos tinha despertado, trouxe café
e uns pães-doces.
- Que vizinha mais agradável - murmurou Josh, e voltou-se para a janela.
- Também comeu pizza connosco, e eu fiz-lhe um desenho.
- Um desenho lindo. - disse-lhe Zack, dando-se conta que a sua filha tinha estado a ouvir.
Dani mostrou o que estava a pintar.
- E o que estás a fazer é lindo também - confirmou-lhe, e deu-lhe um abraço e um beijo.
- E deixa de trabalhar alguma vez? - perguntou Josh.
- Que eu saiba, não - sem poder evitar, Zack aproximou-se da janela e espreitou. - O que está a
fazer?
- a colocar uma corda para pendurar a roupa. Caramba, já é de noite. Está a trabalhar com a luz do
alpendre.
- Que diabos está a fazer?
Josh entre cerrou os olhos.
- Parece que vai pendurar a roupa. Neste momento... – sorriu - acho que a sua roupa interior.
Mick aproximou-se rapidamente da janela, com Dani nos braços.
- São os dois um par de bisbilhoteiros. Deviam deixá-la um pouco em paz.
Mas nenhum dos três se moveu.
- Esta manhã vi-lhe o traseiro - disse Dani de repente.
Tanto Josh como Mick voltaram-se para a olhar.
Quando estava quase a dar uma explicação, viu que Wynn colocava uma camisola sobre a corda.
Não era uma camisola sexy, mas sim mais um objecto com metros e metros de tecido. Claro que, com o
tamanho que tinha, era preciso muito tecido para a cobrir.
Por alguma razão, aquele pensamento fê-lo sorrir.
porque estava a pendurar a sua roupa de noite? E pensando bem, como era possível que ainda
continuasse em pé? Esteve todo o dia a trabalhar sem parar.
- Isto é ridículo. - protestou Mick. - Têm-me aqui a bisbilhotar quando preferia estar a jogar às
cartas.
- Isso é porque estás felizmente casado e por isso imune às fantasias - disse Josh.
Zack olhou-o com raiva.
- Não me digas que te interessa.
E antes que Josh pudesse responder, Dani meteu a cabeça entre Mick e Josh e gritou pela janela.
- Olá, Wynn! Somos bisbilhoteiros!
Os três agacharam-se tão depressa, que golpearam as cabeças ao fazê-lo.

29
Sentado no chão, apoiado sobre um dos armários, Mick sentou Dani sobre seus joelhos, morto de
rir.
- Devia pendurar-te pelos dedos dos pés pelo que acabas de fazer! - fez-lhe cócegas na barriga e
Dani pôs-se a rir.
- Achas que ouviu? - perguntou Josh a Zack.
- Essa? Ouve tudo. - então voltou-se para a sua filha. - Querida, não se diz às pessoas que se está a
olhar.
- porque não?
Josh pôs-se de pé devagar e espreitou pela janela com cuidado. Terminou de ficar direito com
expressão resignada e disse em voz alta.
- É um pouco tarde para tentar enganá-la.
Zack deu-se conta que Wynn devia ter estado a olhar para a sua janela e também ficou de pé.
Então ouviu-a rir.
- Não trazem a minha máquina de lavar roupa e a de secar novas durante alguns dias, e preciso de
roupa limpa para amanhã.
Para desgosto de Zack, Josh sorriu, foi para a porta da cozinha, saiu e pôs-se a andar para a casa
de Wynn.
Dani separou-se de Mick e seguiu Josh. Mick olhou para Zack, encolheu os ombros e fez o
mesmo.
Zack apertou os dentes, mas seguiu o grupo.
Quando Wynn os viu, deixou a cesta da roupa e foi recebê-los. Embora tivesse refrescado muito,
continuava com o Top e as calças curtas. Quando a viu, teve vontades de tirar o casaco e tapá-la. Mas era
muito tarde. Josh já a tinha visto e estava quase a desdobrar o seu encanto.
Wynn ofereceu-lhe a mão quando ele se aproximou.
- Olá. Meu nome é Wynn Lane.
Josh deu-lhe a mão com delicadeza, como se seus dedos fossem frágeis.
- Josh Marshall - murmurou num tom que delatou os seus pensamentos de sedução. - Prazer em
conhecê-la.
Zack teve vontade de lhe dar uma patada.
Wynn tentou retirar a mão, mas Josh não a soltava. Deu um olhar a Zack e depois olhou de novo
para Josh.
- É bombeiro, não?
Ele pareceu levemente surpreso.
- Dani falou de vocês os dois - explicou-lhe Zack.
Wynn voltou-se para Mick.

30
- O meu irmão é um grande fã do trabalho da sua esposa.
Mick agarrou Josh pelo pulso, retirou-lhe a mão e então deu a mão a Wynn.
- Mick Dawson. Prazer em conhecê-la, Wynn.
Então olhou para Zack.
- Espero que não estivesse a incomodar-te outra vez.
- Estávamos a olhar. - informou-a a Dani.
Wynn pôs-se a rir e acariciou o cabelo a Dani com tanto carinho, que Zack sentiu que se encolhia
o coração.
- Bom, imagino que qualquer um que fique a espreitar à luz da lua vai chamar um pouco a
atenção. Além disso, a roupa pendurada ao ar sempre cheira muito bem, não vos parece?
Zack achava que ela cheirava bem. Mas decidiu deixar de lado a sua ridícula fantasia e disse.
- Há uma lavandaria a um par de quilómetros, junto a um supermercado.
- Podes usar nossa máquina de lavar roupa e de secar enquanto não te trazem as tuas. - ofereceu
Dani.
A Zack gelou-se o sorriso.
- Claro... podes usar as nossas.
Wynn sacudiu a cabeça.
- Não, não me importo utilizar a corda.
Josh plantou-se em frente de Zack.
- Eu não vivo tão longe assim. Podes utilizar a minha máquina de lavar roupa quando quiseres.
Zack pensou em estrangulá-lo. Não era por nada pessoal, mas seria quase tão estranho que Josh se
atasse com ela quanto o fizesse ele mesmo. Josh não estava preparado para assentar a cabeça e, na
realidade, nas bodas de Mick, passou-se muito da raia. Zack não queria que se passasse também com a
sua vizinha.
- Se tiveres terminado, podias tomar algo connosco - convidou-a Mick.
Ela retrocedeu um passo.
- OH, não, mas obrigado de todos os modos.
- vejam, vejam, por favor! - disse Dani pegando botes com energias renovadas.
- Tu - disse Zack à sua filha - estás quase a ir à cama.
antes que Dani ficasse a protestar, Wynn disse.
- A verdade é que eu também.
Os três homens ficaram a olhá-la.
- O certo é que tenho que tomar banho e... - olhou para cada um dos fascinados homens. – Estou
um nojo. Estive todo o dia a trabalhar.
Josh inclinou a cabeça.

31
- Eu acho que está muito bem. - disse, de novo no mesmo tom suave e cheio de admiração; Zack
teve vontade de estrangulá-lo.
Wynn retrocedeu um passo.
- Tenho que acabar isto. Mas foi um prazer conhecê-los. Doces sonhos, Dani!
- Desejo-te o mesmo - acrescentou Josh no mesmo tom provocador.
Ela sorriu, deu a volta e pôs-se a andar rapidamente para sua casa. Josh ficou ali a olhá-la e, pela
direcção do seu olhar, Zack notou que lhe estava a olhar o traseiro. Até que Zack lhe deu uma cotovelada.
Bem forte.
Enquanto voltavam para a cozinha de Zack, Dani bocejou ruidosamente. Sabendo como que Dani
ficaria a dormir, os homens olharam-se e sorriram.
Zack tomou em braços a sua filha.
- Para a cama, querida.
A menina olhou para Josh e para Mick com os olhos meio fechados já.
- boa noite.
Josh inclinou-se e beijou-a no nariz.
- boa noite, princesa.
Mick fez-lhe cócegas nos pés.
- boa noite, querida.
Quando Zack deu a volta para sair da cozinha, viu que Mick se sentava à mesa e que Josh voltava
para a janela. Grunhiu entre dentes enquanto subia as escadas com a sua filha nos braços.
- o Josh gosta dela - disse-lhe Dani quando a pôs na cama.
Zack retirou-se e olhou a sua filha.
- Achas?
Dani assentiu.
- Eu também gosto. Tu não?
- Está bem. - Zack agasalhou Dani e deu-lhe um beijo na frente. - Precisas de fazer chichi?
- Não - voltou-se de lado e apoiou a face sobre o punho diminuto.
Deu-lhe um último beijo na face e ficou de pé. Em dois segundos, Dani já estava a roncar
brandamente. Zack ficou a olhar um momento a sua filha. Dani era o mais precioso que tinha na vida.
Cada vez que a olhava, dava-se conta do muito que a queria.
Josh continuava junto à maldita janela quando voltou para a cozinha.
- Parece um cãozinho apaixonado.
Mick pôs-se a rir.
- Em comparação contigo, que interpretas o papel de cão raivoso?

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Zack deteve-se ao ouvir as palavras do seu amigo. Conhecia os seus amigos e se, suspeitassem do
efeito que lhe causava Wynn, não deixariam de gozar com ele. Dissimuladamente, fingindo desinteresse,
aproximou-se e olhou pela janela. Wynn não estava no pátio, graças a Deus. Olhos que não vêem...
Suspirou e sentou-se à mesa; então esticou-se e esfregou o pescoço.
- Sem comentários, não é? - disse Mick.
- Não sei do que estás a falar. - disse, muito cansado para pensar noutra resposta.
Mick inclinou-se para a frente e sussurrou.
- Da possessividade.
Josh deu a volta.
- entrou em casa há uns segundos - Josh sentou-se com seus amigos. - Viram que pernas tem
aquela mulher?
- Como são quilométricas, seria difícil não ver.
Josh arqueou uma sobrancelha.
- É bem feita, sim senhor.
- não tiveste que a aguentar a primeira hora da manhã - disse Zack desejando ter mordido a língua.
Josh saudou-o com o copo e disse.
- A mim pode-me levantar quando quiser.
- Josh, pensas sempre no mesmo. - disse Mick.
- Certamente, agora sim que estou pensando. Sem dúvida.
Zack grunhiu antes de poder evitar.
- Sinto restringir qualquer fantasia com a qual te estejas a deleitar, mas esquece-te dela.
Josh vacilou.
- Quem o diz?
- digo eu. Eu tenho que viver com ela. Não tenho vontade que saias com ela, deixá-la e depois eu
tenha que carregar com as consequências - Zack sacudiu a cabeça com resolução. – nada disso, de modo
que esquece.
Mick tocou Josh com a perna por baixo da mesa.
- Além disso, ele já tem os seus planos - disse Mick.
Dessa vez, Zack mordeu a língua. quanto mais falasse, mais conclusões tirariam os seus amigos
das suas palavras.
Josh olhou Zack e perguntou.
- É verdade, isso?
- Não, não é. - disse com esperança de parecer mais firme do que se sentia. - Podemos mudar de
assunto?
- Porque vou pôr-me atrás, na fila, se a estás a reclamar para ti.

33
- Não a estou a reclamar. - disse Zack com os dentes apertados. - Mas tu vais ficar atrás.
Josh olhou um instante; então pôs-se a rir e olhou para Mick.
- Acho que tens razão.
- vamos jogar às cartas, ou vamos ficar aqui a sonhar com mulheres? - rugiu Zack.
- De acordo, de acordo - disse Josh em tom tranquilizador. - Não fiques assim. Não devemos
sonhar.
- Fala por ti mesmo - grunhiu Mick. - Eu estou a sonhar. Preferia estar em casa com Dalila neste
momento.
Josh sacudiu a cabeça com pena. Inclusive Zack conseguiu soltar uma gargalhada bastante
credível.
- Ainda és quase recém-casado, de modo que é natural.
- E além disso - acrescentou Josh, - Dalila pode fazer sonhar qualquer um.
Mick fez um gesto de se levantar.
- Preferia que não falasses em tom tão íntimo da minha esposa.
Josh ficou impassível diante da fúria de Mick.
- Só estava a dizer que estou de acordo contigo.
- Olha que...
- Cala-te... Mas que susceptíveis são os homens apaixonados - queixou-se Josh. - Primeiro Zack
quase me come, e agora tu.
- Zack não está casado, eu sim.
- Zack quer casar-se - assinalou Josh. - É quase o mesmo - então dirigiu-se a Zack. - Estás a pensar
em te casar com a Wynn?
- Não.
- Viste-lhe de verdade o traseiro?
- Não.
Josh sorriu.
- Aceitarei o primeiro «não». Mas para o segundo precisa de uma explicação.
Zack sabia que se atirava Josh ao chão, Dani despertaria, de modo que se resignou.
- Estava agachada... - balbuciou sem saber como explicar.
Josh protestou perante a sua hesitação.
- Sou todo ouvidos.
- Eu também - reconheceu Mick.
- trazia umas calças curtas.
- Também reparei.
- Eu também - acrescentou Mick.

34
- Querem que vos conte ou não? - Zack olhou para os dois com raiva, esperando, mas os dois
calaram-se. - Estava agachada tentando arrastar uma caixa ao pátio traseiro e as calças desceram um
pouco. Não lhe vi todo o traseiro.
Mas tinha visto o suficiente para saber que o tinha tão lindo como as pernas.
- E eu perco isto - sussurrou Josh.
Zack deu-se por vencido e explicou-lhes sua relação completa com a senhorita Lane. Falou-lhes
da família de Wynn, que logo se transladariam com a sua filha, do seu irmão, que era grande e forte como
um touro, e da sua maneira de ser, descarada e insistente.
- Não é a esposa que procuro - disse Zack.
Uma vez esclarecido o assunto, Zack relaxou um pouco e começou a baralhar as cartas.
- O outro dia, Dani perguntou-me sobre as compressas das mulheres.
Josh e Mick ficaram gelados.
- Viu nos anúncios? - perguntou Josh.
- Sim. Estava a ver uns desenhos quando de repente os cortaram e saiu este anúncio de
compressas.
- E o que disseste?
- Bom, arranjei-me mais ou menos - mentiu Zack.
Na realidade tinha feito mal, mas não estava disposto a reconhecê-lo.
- Por isso preciso de uma esposa. Imagino todas as perguntas que surgirão no futuro. Quero dizer,
o que sei eu de moda para jovens, ou de soutiens desportivos? - enquanto acabava de baralhar as cartas,
Zack lembrou-se de outra coisa. - Mick, o Josh contou-te que na brigada de bombeiros estão a fazer um
calendário com fins caridosos?
- O que é isso? - perguntou Mick.
Josh tomou o baralho de cartas e começou a repartir.
- Uma miúda de promoção muito prepotente é quem está a organizar tudo. Quer que um grupo de
homens pouse de roupa para as fotos do calendário. Depois vendem-no, e os benefícios irão para o centro
de queimados.
- Uma miúda muito prepotente, não é? - repetiu Mick devagar, como saboreando as palavras. -
Queres dizer que teve a audácia de te excluir do grupo de modelos?
- Não lhe dei a oportunidade. Os interessados tinham que lhe ligar e marcar uma entrevista.
certamente para dar um bom festim com o olhar. Que incrível!
- Conhece-la? - perguntou Zack.
- Não é preciso. Um amigo de outra brigada falou-me dela. Parece que é uma menina rica que
colabora nesta organização caridosa por aborrecimento.
Mick e Zack olharam-se. Mick deixou suas cartas na mesa e cruzou os braços.

35
- Desde quando te importa o carácter de uma mulher?
de repente, Josh parecia incómodo. Zack pensou que já era hora que se desse a volta à omelete.
- Parece que é linda, está bem? E já estou farto das miúdas assim. Quero alguém mais normal.
Uma mulher genuína - olhou para a janela. - Wynn, ou como se chama, também me valia. Quero uma
mulher natural, não uma boneca artificial.
- esqueçamo-nos de Wynn e da mulher do calendário e joguemos às cartas - disse Zack.
Três horas depois, Zack estava preparado para ir dormir. Mick também estava a bocejar. Josh, o
único que não parecia cansado, decidiu ligar para uma mulher de casa de Zack e fez planos para passar a
noite com ela.
depois de se despedir dos seus amigos, Zack subiu ao seu quarto e foi-se despindo pelo caminho.
tirou os sapatos e sentou-se no bordo da cama para tirar as meias. depois de apagar a luz, foi à janela e
aspirou o ar nocturno enquanto descia o fecho das calças.
E dali, à luz da lua, recostada na maldita rede como uma oferenda sexual, estava Wynn. Por um
instante, o desejo apoderou-se dele e fê-lo sentir-se numa confusão extrema.
Então deu-se conta de uma coisa muito importante. Parecia totalmente adormecida. Zack não
podia acreditar no que via. Era uma mulher solteira, nova na vizinhança e, o suficiente estúpida para ficar
a dormir no pátio da sua casa.
Zack saiu do seu quarto com os dentes apertados e passo resolvido. ao vê-la no dia anterior, deu-se
conta que só lhe ia dar problemas, tanto para a sua saúde mental como emocional.

CAPÍTULO CINCO

A relva bem cortada. Estava húmido e escorregadio sob os seus pés descalços, e uma brisa suave
agitava o seu cabelo. Em troca, ele estava cada vez mais zangado, mais acalorado conforme se ia
aproximando de Wynn.
Quando se deteve ao seu lado, Wynn não moveu nenhuma pestana. tirou as calças curtas e a
camiseta, e tinha posto uma camiseta larga.
Zack olhou-a com gosto. Sem aqueles penetrantes olhos a observá-lo ou aquela língua afiada a
desafiá-lo, sentia-se mais tranquilo, livre para a olhar a seu desejo.
Umas finas nuvens cruzaram a lua obscurecendo o firmamento, de modo que só a débil luz do
alpendre a iluminava. Na penumbra as suas pestanas pareciam de seda, e a sua boca tinha um aspecto
brando e suave.
O perfume de seu xampoo misturava-se com os aromas da noite. De tanto a olhar, Zack sentiu que
reagia, e deu-lhe raiva.

36
- Wynn.
Mas ela não se moveu.
- Maldita sejas, Wynn. Acorda. - repetiu, pois não queria tocar-lhe.
As suas pestanas tremeram um segundo e um suave gemido escapou dos seus lábios ligeiramente
entre abertos. Ao Zack acelerou-se o pulso e encolheu-se o ventre.
Então decidiu sacudi-la com força.
- Maldita sejas, Wynn, queres levantar-te daí antes que...? Ai...!
No momento seguinte, estava deitado de costas sobre a relva coberta de orvalho, sem fôlego e com
o joelho de Wynn colado ao seu peito.
- Que raios se passa? - conseguiu dizer.
Nesse momento, sentiu que o pressionava com os dois joelhos nas costelas e gemeu, tentando
respirar. Wynn aproveitou para o pôr ao contrário e colou-se a ele pelas costas, para seguidamente lhe
prender a garganta com o braço.
- Mas o que te achaste que estava...?
Zack pôs o braço para trás, e empurrou-a. Aproveitou o momento e deitou-se sobre ela cobrindo-a
totalmente com o seu corpo. Agarrou-a pelos pulsos, que segurou sobre a cabeça, e imobilizou-lhe as
pernas com as suas. Tinha-lhe feito tanto mal com os joelhos de lado, que parecia como se lhe tivesse
partido as costelas. Tinha imaginado que teria as pernas fortes, mas...
- Que demónios se passa? - gritou-lhe quando ela começou a retorcer-se.
Não tinha querido gritar, mas era a primeira vez na vida que uma mulher o atacava. E certamente,
jamais tinha pensado em atacar uma mulher! Ao ver que Wynn não respondia, inclinou-se para diante,
temeroso já de ter feito mal.
- Não sabia que eras tu. - sussurrou.
pensava que se estava a defender de algum atacante? Talvez, mas isso não o tranquilizou. Se não
ficasse a dormir no pátio, nada disso teria acontecido.
- Dás-te conta – continuou - que te estou a deixar que me faças isto?
Incapaz de acreditar nas suas palavras, Zack retirou-se e olhou-a.
- a deixar-me?
Ela assentiu brandamente.
- Podia ter-te mordido a cara há uns segundos. Até a jugular.
- Por todos os...
- Mesmo agora - cravou-o, - se não tivesse medo de te fazer mal, lançar-te-ia ao chão.
Nesse momento, Zack ficou consciente do corpo que tinha por baixo, das suaves montanhas dos
seus seios, do generoso vale dos seus quadris, das suas coxas largas e fortes... Tinha-a agarrado pelos

37
pulsos, que não eram delicados, mas fortes, e colocou-os sobre a cabeça obrigando-a a estar naquela
postura de submissão.
E o facto de poder controlá-la, gostava muito. Muito. Não tinha dúvida que ela já teria notado a
sua erecção, visto que esta lhe pressionava o ventre. Zack inclinou-se para a frente para lhe poder ver a
cara. fixou-se na sua boca sensual, entre aberta nesse momento em busca de ar, e naqueles olhos tão
diferentes. À ténue luz da lua, pareciam os olhos de um lobo; e esses olhos provocavam-no.
- Tenta. - disse-lhe ele.
- Oh, não. - olhou para a boca dele e isso excitou-o ainda mais. - Não te quero fazer mal, agora
que sei que és tu.
Sem querer , Zack apertou-se contra ela. Só os separavam o fino tecido de algodão das suas calças.
Fechou os olhos, pôs a cabeça para trás e começou a mover-se ritmicamente sobre ela.
Os seus corpos acoplaram-se na perfeição, peito com peito, entre pernas com entre pernas. Podia
beijá-la e fazer amor ao mesmo tempo. Só de pensar estremeceu.
Os seus mamilos ficaram duros e sentiu-os a roçar-lhe o peito nu. Ela moveu as coxas, talvez para
que ele se adaptasse, mas ele negou-se a arriscar-se. Os seus braços não lhe ofereceram resistência, apesar
da força que ele sabia que possuía.
Sentiu um fogo abrasador.
- Wynn...
Ela levantou a cabeça com o descaramento que a caracterizava, e isso foi a gota que encheu o
copo. Zack nunca tinha sido um homem que se deixasse levar pelo desejo; mas, por outro lado, jamais
tinha experimentado tanto desejo.
Passou a língua pelos lábios enquanto gemia de pura excitação, de aceitação, de avidez. Apanhou-
lhe a língua e sugou-a com força antes de lhe oferecer a sua. As suas agitadas respirações romperam o
silêncio da noite, misturando-se com os leves sons dos grilos, das folhas balançadas pelo vento. Agarrou-
lhe os dois pulsos com uma só mão e deslizou a outra entre os seus corpos para lhe tocar os peitos.
Como resposta às suas carícias, ela levantou os quadris com tanto ímpeto, que o elevou durante
uns segundos. Zack custou empurrá-la para voltar a esmagá-la contra o chão.
- Zack... solta-me - sussurrou quando ele começou a beijar-lhe o pescoço.
- Não - respondeu enquanto lhe acariciava o mamilo com o polegar.
Wynn soltou um gemido rouco e, depois de uma manobra hábil, tombou-o de novo no chão. Zack
teve vontade de desatar a rir. Então ficou sobre ele escarranchada e começou a acariciar-lhe o peito nu e a
mover-se sobre ele com sensualidade. Acariciou-lhe o pescoço com o nariz e a boca, e então mordeu-o
antes de o lamber de tal modo, que Zack pensou que ficaria louco.

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Agarrou-lhe o traseiro com ambas as mãos e deleitou-se com a suavidade da sua pele, em
contraste com a sua força. Explorou-a deslizando os dedos sobre a seda das suas calcinhas, pressionando
para dentro para lhe tocar desde trás. Tinha as calcinhas muito húmidas, e toda ela estava muito quente.
Então agarrou-a pelos quadris e começou a mover-se entre as suas coxas simulando uma
penetração; esteve quase a perder o controle. Estava preparado para a tomar, preparado para lhe tirar a
ridícula camiseta e tocá-la por toda parte. Preparado para a beijar sem parar.
Só que não tinha nenhum preservativo em cima. Além disso...
A realidade caiu-lhe em cima como uma tonelada de tijolos. E então gemeu de frustração em voz
alta, consciente das suas responsabilidades.
Só se conheciam há menos de vinte e quatro horas. Além disso, estavam ao ar livre. Se ele a tinha
visto pela janela, talvez a sua filha os estivesse a ver nesse momento. Certo era que Dani dormia
profundamente, mas tudo era possível.
sempre se teve a si mesmo como um pai responsável, como um bom servidor da sua comunidade.
de repente sentiu-se horrorizado, envergonhado e tremendamente furioso.
Furioso com Wynn.
Agarrou-a pelos pulsos com força.
- Wynn.
Mas o seu tom de voz não lhe fez efeito. soltou-se e continuou a beijá-lo com tanta paixão, que
quase esteve quase a esquecer o seu dever. Voltou a cabeça para um lado.
- Não.
- Sim - insistiu ela; então agarrou-o pelas orelhas para que ficasse quieto. - Deus, és incrível. Tão
forte, tão sexy e doce.
Doce? Zack ficou de lado, tirou-a de cima e em seguida ficou de pé.
- levanta-te - disse-lhe Zack sem poder olhá-la.
deu a volta, incapaz de suportar. Era tão linda, tão sexy. Finalmente ouviu um leve rangido e
voltou-se; ela estava sentada de lado na rede, olhando-o fixamente, sem pudor.
Zack aspirou fundo.
- Sinto muito.
- Sim, eu também - sorriu e sacudiu a cabeça.
Isso fê-lo reagir.
- O que é que sentes?
Wynn ficou de pé e olhou-o nos olhos.
- De momento, sinto por tudo - deu a volta. - boa noite, Zack.
ficou tão estupefacto enquanto olhava aquele corpo de sereia caminhando à luz da lua, que quase
esteve a deixá-la partir sem se dar conta.

39
- Espera um momento!
- É inútil esperar. acredita, eu entendo.
Zack agarrou-a por um braço e deu-lhe a volta. no momento seguinte, ficou nas pontas dos pés e
enfrentou-se com ele com raiva.
- Não penses nem por um momento que me venceste! - cravou-lhe o dedo indicador no peito e ele
retrocedeu. - Além disso, apanhaste-me a dormir e estive um momento dormente. Agora estou bem
acordada e acabou o beijo. Puseste-te outra vez desagradável e odioso, mas não vou permitir que me
maltrates.
Então deu a volta para partir.
- Wynn - disse em tom de advertência.
Ela estendeu os braços e voltou-se rapidamente.
- O que é?
Zack recordou-se que ele era um homem razoável; um homem lógico, tranquilo e pacífico. Jamais,
sob nenhuma circunstância, brigava com uma mulher, nem sequer com as mais encorajadas.
Aspirou fundo e acalmou-se um pouco.
- porque estavas a dormir na rede? - disse mais calmo.
Ela olhou a rede e encolheu os ombros.
- estive todo o dia a trabalhar, tinha calor e depois do duche só queria descansar e tomar um pouco
o ar. Fiquei a dormir sem querer.
Zack juntou as mãos nas costas para não a tomar entre os seus braços.
- Sabes, por acaso, o perigoso que pode ser para uma mulher fazer isso?
- Referes-te a um vizinho louco que me espreita, está quase a atirar-me ao chão, beija-me
apaixonadamente e toca-me até que estou excitada, para depois se afastar sem razão alguma? - sorriu-lhe
com ar de suficiência. - Sim, agora já sei.
- Referia-me - começou a dizer aproximando-se pouco a pouco dela - a que poderia entrar um
estranho e fazer-te algo sem hesitar nem um momento. alguém que te pudesse violar, ou assassinar, ou...
- Acho que violar e assassinar é o suficiente. Não é preciso continuar.
- Isto não é nenhuma brincadeira, bolas!
Ela cruzou os braços e inclinou a cabeça.
- Acabo de dizer que fiquei a dormir sem querer? Parece-me que o disse, mas dada a tua atitude, já
não estou segura.
- foi uma irresponsabilidade.
- Bom, obrigado, mãe, pela tua preocupação.
- Wynn, sei que estás emocionada com a tua casa nova...

40
- E com o meu vizinho novo, que gosta de provocar as mulheres para depois se retirar e
comportar-se como se minha resposta carnal tivesse ferido a sua deliciosa sensibilidade.
Zack esfregou o pescoço e agachou a cabeça para conter a gargalhada.
- Não foi minha intenção fazer nada disso.
- Ah, não? Ficaste satisfeito com o que fizeste? - sacudiu a cabeça. - Pobre homem, estás a perder
o melhor.
- Olha, Wynn, foi um erro que nós... - olhou par o chão. - Isso. Tu não sei, mas eu não gosto das
confusões de uma noite.
Ela nem confirmou nem negou os seus hábitos, o qual só conseguiu exasperá-lo mais. Pouco a
pouco, os músculos do pescoço e os ombros ficaram duros e começaram a doer-lhe.
Ela entre cerrou os olhos e aproximou-se dele.
- O que se passa? Magoei-te?
Ele afastou as mãos do pescoço.
- Claro que não.
- Mas dói-te, nota-se muito.
Zack ia responder-lhe, mas conteve-se. Já era hora de repensar um pouco. Eram vizinhos e
precisavam de se dar civilizadamente.
- Ontem à noite tive que atender duas emergências bastante desagradáveis. A primeira foi um caso
de violência doméstica - disse em tom esmigalhado. - Tive que levar a mulher ao hospital com duas
costelas partidas e contusões múltiplas. Graças a Deus que a polícia deteve o marido num bar.
Wynn, consciente das suas turbulentas emoções, acariciou-lhe o braço. Foi um gesto
tranquilizador que o ajudou a recuperar a compostura.
- Depois houve um acidente de tráfico. A mulher sofreu um choque, estava cheia de sangue, e não
foi muito fácil tirá-la.
- Era grande como eu?
- Não, esta mulher era obesa - disse. - Tive que me pôr numa postura um pouco estranha para tirá-
la e acho que me magoei um pouco quando o fiz.
- Mmm. Parece como se tivesses feito um entorse.
Ele ficou quieto.
- O quê?
- O trapézio - explicou-lhe ela.
Deu-lhe a volta sem ele opor resistência e começou a tocar-lhe as costas, os ombros, o pescoço.
Zack gemeu. As suas carícias excitavam-no e ao mesmo tempo acalmavam a tensão.
- Aqui? - perguntou-lhe enquanto amassava um músculo oculto.
- Sim - disse. – percebes bem disto.

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- percebo bem muitas coisas.
Ele abriu muito os olhos.
- Aplicaste calor húmido?
Deus, porque tudo o que ela dizia, ele relacionava com o sexo?
- Não tive oportunidade.
- Bruto. Trabalhas na profissão, devias saber que as lesões devem ser atendidas. Se for necessário,
terás que tirar um tempo. Olha, em lugar de jogar às cartas com os seus amigos, devias ter-te metido no
teu banho de água quente.
ao ouvir a sua sugestão, a sua criatividade deu um salto e imaginou os dois dentro da banheira.
- Vou fazê-lo.
- Quando?
A sua persistência chateou-o.
- Talvez amanhã, depois de trabalhar.
- Que horário tens?
Esse, ao menos, era um tema sem riscos.
- Por turnos. Trabalho dez horas diárias, quatro dias por semana. Eu estou acostumado a trabalhar
de oito a seis. Os três dias livres variam e quase nunca são seguidos, mas ao menos assim todo o mundo
tem um fim-de-semana de vez em quando.
- Quem cuida de Dani enquanto trabalhas? – perguntou-lhe ao olhá-lo.
- Há uma senhora que vive a dois quilómetros daqui. Eloise tem uns setenta anos e é uma mulher
doce e maravilhosa. Para Dani é como a sua segunda casa.
- Tem amigas da sua idade?
- Vai ao colégio dois dias por semana, mas Dani diz que a maioria das crianças ali são «bebés».
Wynn pôs-se a rir.
- Sim, imagino-a a dizer isso. Está acostumada a estar com adultos, verdade?
- Muito. Pensei que a escola ajudaria, e a verdade é que gosta de ir. Uma das suas companheiras
de aulas vive no bairro e Dani esteve em sua casa em algumas ocasiões.
- Mmm. Isso é bom para a Dani.
Enquanto conversavam, Wynn ia baixando pouco a pouco pelas costas de Zack. A ele estiveram
quase a falhar os joelhos. sentia-se tão perverso com a massagem, tão bem.
- Se trabalhares quarenta horas semanais, imagino que às vezes chegas muito tarde a casa.
- Certo.
- Vais buscá-la a essas horas?

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- É óbvio - quis olhar, mas não o deixou dar a volta enquanto trabalhava um nó num dos
músculos. - Deus deu-me uma filha com o sono muito profundo - disse-lhe enquanto gemia dorido. -
Agasalho-a e trago-a para a sua cama. Ela nem se apercebe.
- Se Eloise tiver já setenta anos, quanto tempo mais achas que pode continuar a cuidar da menina?
- Pensei nisso - murmurou. - Estou a pensar em abandonar o trabalho de campo.
- Sim? Para fazer o quê? - perguntou-lhe enquanto os seus dedos lhe pressionavam os músculos
com a força correcta.
- Talvez me promovam a supervisor - disse, - ou a director de operações. Ou talvez me dedique à
instrução. Isso eu gosto.
Wynn emitiu um som de interesse e baixou as mãos até aos glúteos.
«Maldita sejas», pensava Zack. Que dedos tão mágicos os daquela mulher... tão maravilhosos...
Tão íntimos!
Zack voltou-se para ela.
- Estás a seduzir-me!
- Não, só a tocar um pouco as tuas preciosas nádegas.
Ele balbuciou, tanto escandalizado como adulado e, se fosse sincero, um pouco excitado. bastante.
Na realidade, estava quente e preparado para se perder entre as suas coxas.
Ela teve o descaramento de tornar a rir na sua cara, e então deu-lhe umas palmadas no peito.
- relaxa-te, Zack, a tua virtude está a salvo comigo. Agora sentes-te melhor, verdade?
Flexionou e rodou os ombros para experimentar. Tinha razão, maldita Wynn. Assentiu com
relutância.
- Bem. - deu-lhe outra palmada. - Se ficares duro outra vez, vem ver-me.
Estava sem dúvida bem duro, só que não onde ela dizia.
- Não te fazia mal aplicares um pouco de ultra-som nos músculos afectados, e isso podias fazer no
ginásio.
- Vai passar. - disse com voz quebrada.
Ela volteou os olhos.
- És um super herói, não? Imune às necessidades do teu corpo, verdade?
O ser insistente provavelmente era algo natural nela. Certamente tinha crescido a fazer exigências
e a causar conflitos.
- Estou a tentar fazer o que é melhor para os dois, e sabes disso. Somos vizinhos. Algo além de
uma amizade seria muito difícil.
Ela suspirou longamente antes de dizer.
- Como é. - e voltou-se para partir.
- Espero que o entendas - gritou-lhe Zack enquanto ela se dirigia para sua casa.

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Tinha o corpo depravado da massagem, mas tremendamente vivo. Cheio de vida. Era uma mistura
de sensações muito estranhas. Um pouco carnal.
Ela agitou a mão sem se voltar. Segundos depois ouviu o clique da porta.
Que mulher mais impertinente.
Tinha tomado a decisão correcta, apesar da sua enorme erecção. Mas então, porque se sentia tão
mal consigo mesmo? porque odiava tanto ter tomado aquela decisão?
Uma luz acendeu-se no piso de acima e ouviu-a assobiar. Era uma mulher sem preocupações,
enquanto que ele estava ali no pátio sem se poder mover, aflito por um sem-fim de fortes emoções. Olhou
para a sua janela desejando que aparecesse, mas quando apagou a luz soube que tinha ido para a cama.
A partir desse momento, teria que tomar cuidado para não a encontrar. E dado o seu horário, isso
não era muito difícil.

Wynn observou Zack da janela do seu quarto às escuras. Parecia tão rígido, todo ele destilando
frustração, que quase esperou que ficasse a uivar. Mas ele deu a volta e partiu para sua casa.
A sua massagem tinha sido inútil. dava-se conta que aquele homem estava empenhado em estar
tenso.
Suspirou. Que enfadonho o destino, pensou com o coração um pouco encolhido ao ver como se
afastava. Suspirou com frustração. Zack era o primeiro homem que a fazia sentir-se como gelatina por
dentro. Desgraçadamente, tinha sido um maldito dissimulado.
Mas no momento deu-se conta que existia a possibilidade que não fosse um dissimulado
absolutamente. Um homem tão forte, tão sexy, tão inteligente e responsável como Zack sem dúvida
sentiria mais desinteresse que restrições morais.
porque se ia interessar por ela?
Desde que se tinham conhecido nessa manhã, não tinha feito mais que ficar em ridículo
continuamente. Fechou os olhos enquanto pensava no que tinha feito. Deus, tinha-o acossado a cada
momento, provocado e até se derrubou com ele na relva. Tinha-o insultado e tudo, e ainda por cima
queria que a desejasse embora só um pouquito.
Sacudiu a cabeça. Era uma total e absoluta cretina.
separou-se da janela e saiu para o corredor. Precisava de outro duche. Aquele, preferivelmente,
bem frio para afugentar o desejo que se negava a abandonar. Sabia que não conseguiria dormir nessa
noite; sobretudo, depois de o ter sentido em cima dela, de ter aspirado o aroma da sua parte mais íntima.
Tinha que recuperar a compostura e dar ao homem o seu espaço. Apressá-lo não era a melhor
táctica. Zack era um homem discreto. Era um bom pai, um homem meigo e, o homem mais atraente que
Wynn tinha conhecido na sua vida.
Zack precisava de tempo para se acostumar a ela, para a conhecer.

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Iria pouco a pouco. Seria encantadora, doce e cortês... Porque com ele a sedução não parecia
funcionar.

CAPÍTULO SEIS

Zack via-a a cada maldito dia da semana. despertava pela manhã e ela estava lá fora a trabalhar no
pátio, a limpar o caminho ou a conversar com outros vizinhos.
Chegava a casa do trabalho e ela entrava ou saía nesse momento. Encontrava-a no supermercado,
e uma vez quando os dois saíram a atirar o lixo. Dani conversava com ela cada vez que a via, como se
fossem amigas de toda a vida. E Wynn estava mais atenta e doce... Mas com a Dani.
Irritava-o, sobretudo porque cada maldita noite se deitava na rede. antes de se deitar, aproximava-
se à janela e olhava-a. Todo o seu corpo começava a cantar ao vê-la ali tão relaxada. Cada vez que a
olhava, excitava-se.
Às vezes ela lia até que se punha o sol; às vezes só se balançava na rede escutando música no
rádio. Às vezes dormitava e às vezes assobiava, mas nenhuma só vez ficou profundamente adormecida.
Quase desejou que o fizesse, para assim ter uma desculpa legítima que lhe permitisse aproximar-
se dela.
Já não se mostrava intrometida. Na realidade, parecia ter perdido o interesse nele. Sempre se
mostrava cordial, saudava-os com a mão e continuava com o que estivesse a fazer. Wynn tratava-o como
tratava os outros vizinhos, e não gostava disso.
Jamais se tinha dado conta que fosse um homem fingido. Mas o certo era que sentia a falta dela.
Apenas a conhecia e já se acostumara a ela. Assim como Dani.
A sua filha sentava-se frequentemente à porta da cozinha e ficava a olhar a casa de Wynn à espera.
Dani sentia falta dela. Não a satisfaziam as breves e amigáveis conversas nem as saudações com a mão, e
isso era algo com que Zack não tinha contado.
Partia-lhe o coração.
- Dani - chamou a sua filha, - vem comer a sanduíche.
Dois segundos depois, Dani apareceu à porta.
- vou comer isso aqui fora.
Normalmente Zack não se importava, mas não queria que a sua filha ficasse triste.
- Dani...
- Wynn também vai querer uns sanduíche.
Zack ficou imóvel e invadiu-o uma estranha emoção, algo que se negava a analisar.
- Está aí fora?

45
- Está com um grupo de homens muito grandes.
antes que o seu cérebro pudesse dar a ordem aos seus pés, estava à porta da sua cozinha. Sem
dúvida, ali estava Wynn, rodeada de três culturistas; todos eles enormes, todos bonitos.
Todos a adulá-la.
Franziu o rosto e pensou em meter-se dentro antes que algum deles o visse, mas de novo a sua
filha o traiu.
Dani avançou dois passos pela coberta de relva e agitou os braços como um moinho.
- Não é, Wynn!
Wynn levantou a vista e sorriu a Dani com aquele sorriso deslumbrante. Deu umas palmadas no
peito a um deles e a outro, um golpe nas costas, antes de se aproximar de Dani. Zack notou que se
acelerava o pulso. Fazia uma semana que tinha falado com ela, uma semana que tinha estado perto dela.
Por muito que quisesse negar, tinha sentido a falta dela. Talvez até mais que a sua filha.
surpreendeu-se ao ver que Dani se punha a correr para os braços de Wynn. Claro que, Wynn não o
surpreendeu quando se agachou e abraçou a sua filha com afecto.
- O que fazes, diabinho?
- Podes comer manteiga de amendoim e gelatina comigo!
Wynn olhou Zack, viu-o com uma sanduíche num prato e disse.
- eu adoro a manteiga de amendoim com gelatina. Não te importas de partilhar?
- Não.
- Como estás, Wynn? - perguntou-lhe Zack depois de esclarecer a voz.
- Muito ocupada. Os meus pais mudam-se amanhã. tive que organizar todas as minhas coisas para
poder deixar sítio para as suas. Esta mudança dela, além da minha, está-me a deixar exausta.
Tomou a sanduíche, ofereceu metade a Dani e deu uma boa dentada na outra metade.
- Mmm. Delicioso.
Zack fez caso omisso ao seu comentário e perguntou-lhe.
- Quem são os teus convidados?
Ela encolheu os ombros com negligência.
- Queriam ver a minha casa nova; também me vão ajudar a colocar os móveis do pátio. comprei
uma mesa de lanchonete com sombrinha e umas cadeiras. Também tenho umas quantas plantas. Estou a
desejar ver tudo montado. O caminhão deve estar quase a chegar.
- E fazem-te falta três gigantes para colocar os móveis do jardim?
Ela surpreendeu-se perante a amargura do seu tom. «Maldita sejas», quase parecia que estivesse...
ciumento.
- Também queriam ver a minha casa nova - anunciou. - Parece-me que tens um problema no
ouvido. Ou só escuta o que te convém.

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- Eu também te ajudo - disse Dani.
- Não sei, não sei - disse Wynn fingindo que a examinava. Preciso de trabalhadores fortes. Deixa
ver que músculos tens?
Dani flexionou o magro braço.
- Vá lá. - disse Wynn enquanto lhe apertava o músculo inexistente. - De acordo, acho que és forte
o suficiente - olhou para Zack. - Isso, se o teu pai não se importar.
- Por favor, pai... - suplicou-lhe olhando-o com os seus grandes olhos azuis.
- Vamos, Zack - disse-lhe Wynn. - Tomaremos cuidado. E prometo que tomo conta dela.
Zack olhou-a. Wynn trazia umas calças jeans cortadas pelo joelho e uma camiseta de algodão
cinza. Estava descalça e com o cabelo recolhido num rabo-de-cavalo sobre o cocuruto, de modo que
parecia uma fonte.
De um modo singular, estranho, a Zack pareceu a mulher mais atraente que tinha visto na vida.
Dani queria estar com ela e ele permitiria. Mas como pai, decidiu que devia estar ao lado da sua
filha. Era o mais lógico.
- De acordo, mas eu também te ajudo.
Wynn olhou-o.
- Não tens que o fazer.
- Eu vou onde vai a minha filha - disse-lhe, deixando que ela assumisse que não confiava de todo
nos seus amigos.
Ela entre cerrou os olhos, que se iluminaram de raiva como se fossem dois lingotes de ouro. Zack
sorriu. Era tão fácil provocá-la.
- Bem - respondeu ela. - Mas terás que passar também a prova da força.
- Não sejas ridícula.
- Não sou, foste tu que insististe. E parece-me justo, já que Dani também teve que a passar.
Dani ficou a pegar botes.
- Pai, mostra os músculos!
- Sim, mostra-mos pai - acrescentou Wynn, e ao Zack deu a horrível impressão que se pôs
avermelhado como um tomate.
- Juro que sou forte - respondeu com os dentes apertados.
Wynn sacudiu a cabeça.
- Não é suficiente. Aos meus amigos já vi os músculos, e Dani mostrou-me que os tem - arqueou
as sobrancelhas e sorriu com suficiência. - Agora mostra-me o que tens.
Zack sabia que estava em forma. Tinha que fazer pranchas de ginástica diariamente no parque de
bombeiros. Levava uma dieta sã, já que o seu trabalho exigia muito, tanto física como mentalmente.
Wynn agarrou-o pelo pulso e olhou-o nos olhos.

47
- Agora flexiona.
Zack apertou os dentes e fez o que lhe pedia. Os seus bíceps incharam. Não tinha os braços tão
grandes como os culturistas, mas ele estava de acordo com a sua força.
O olhar de Wynn obscureceu-se e tremeu-lhe a mão que o agarrava pelo pulso.
- Bonito - murmurou em tom muito íntimo. - Acho que talvez me valhas.
Dani ficou nas pontas dos pés para assinalar a parte superior do braço de Zack.
- Foi ali onde deram o tiro ao pai.
- Um tiro?
Wynn quis ver melhor, mas Zack afastou o braço.
Nesse momento chegou o caminhão com os móveis, que começou a meter a parte detrás no pátio
de Wynn. depois de dar um olhar que prometia que o tema não ficaria aí, voltou-se para os três homens
que estavam no seu pátio.
- chegou o caminhão - gritou-lhes. - O cheque está sobre a mesa do átrio. Podem ir um de vocês
buscá-lo e assinar a factura? Já aí vou.
Os gigantes assentiram em uníssono e foram fazer o que Wynn lhes tinha pedido.
- Podem dar-me um pouco de leite? A manteiga de amendoim ficou colada aqui - disse, e
assinalou o peito.
Zack ficou imóvel imaginando o que havia sob a camiseta cinza. Felizmente, a sua filha era uma
anfitriã perfeita.
- Sempre temos leite em casa - agarrou Wynn pelo braço e entraram na cozinha, e Zack teve que
as seguir.
- Tens que regular os teus hábitos alimentícios - disse-lhe enquanto lhe servia o leite num copo
comprido. - E não posso acreditar que deixes que esses homens assinem a factura dos teus móveis. Nem
que os deixes entrar e sair de tua casa com tanta liberdade - acrescentou passando-lhe o copo.
Wynn bebeu meio copo e então olhou-o nos olhos.
- Marc, Clint e Bo são bons amigos. Sei que posso confiar neles.
Dani estava junto à porta, olhando os homens.
- São mais velhos.
Zack esboçou um sorriso malicioso antes de dizer.
- Parece que Wynn gosta assim.
sorriu provocativamente e aproximou-se dele para lhe sussurrar.
- Mas nunca estive no meu pátio, atirada no chão com nenhum deles. Nunca. - então ficou direita e
perguntou-lhe - Como te deram o tiro?
Zack decidiu cortar aquela conversa imediatamente; agarrou-a pelo braço e empurrou
brandamente a sua filha para a porta.

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- Se vamos ajudar, será melhor que o façamos já.
- O que posso fazer eu?
- Tenho umas plantas pequenas que necessitam de um cuidado especial até que as leve para o
jardim - disse-lhe Wynn. - Se quiseres, podes levá-las para o alpendre traseiro, sob o telhado, para que os
homens possam colocar os móveis sem as pisar. Confio mais em ti do que em algum desses rapazes.
Dani saiu a correr e Zack gritou-lhe.
- Tem cuidado, Dani. Não te ponhas no meio.
Assim que Dani partiu, Wynn voltou a perguntar-lhe.
- Como te dispararam?
- Não foi nada.
- De verdade. O que aconteceu?
- És uma mulher tão insistente.
Ela olhou-o fixamente, e Zack deu-se conta que ainda a tinha agarrada pelo braço. Soltou-a e
olhou-a.
- O que foi? - perguntou-lhe ao ver que ela continuava a olhá-lo.
Pela primeira vez na sua vida, ela olhava-o com arrependimento.
- Não foi minha intenção ser insistente - murmurou e ficou vermelha até às orelhas. - É... suponho
que um vício. Sinto muito - ia dizer algo mais, mas então calou-se e deu a volta para partir.
Zack agarrou-a de novo.
- Wynn.
Ela deteve-se, mas não o olhou na cara; olhou os pés.
Nesse momento, Zack dirigiu a vista para a janela e viu que os três homens estavam a olhar.
- Que móveis tão grandes que compraste.
Ela encolheu os ombros, mas não levantou a cabeça.
- Sou uma garota grande. Preciso de coisas grandes para estar cómoda.
- Certo. Esses rapazes que te estão a ajudar a colocá-los também são grandes, e vê-se que te
querem proteger.
Wynn entendeu-o e levantou a vista. ao vê-los, Wynn recuperou a sua arrogância natural.
- Oh, por amor de Deus. vão passar assim todo o dia?
Um deles, um gigante com bronzeado de abajur, esboçou um sorriso de cumplicidade.
- Só até que vejamos que está bem.
- Preocupa-vos o Zack? - perguntou Wynn em tom muito surpreso.
E para completar o insulto, assinalou Zack, que estava atrás dela, com o polegar e disse.
- Por favor, não sejam tolos.
Um dos que agarrava o sofá esboçou o que se podia chamar um sorriso.

49
- Só Wynn nos chamaria tolos - disse ao Zack. - Sou Bo. Um... amigo.
Os outros dois sorriram, coisa que irritou Wynn e chateou Zack. Que diabos teria querido dizer
Bo? Seria uma brincadeira entre eles? Estariam atados Bo e Wynn?
O tipo que sustentava o outro extremo do sofá disse.
- Bo, Wynn vai-te deitar aos cães por isso - e depois voltou-se para Zack. - Sou Clint, e este aqui é
o Marc.
Zack assentiu.
- Eu sou o vizinho de Wynn, Zack Grange.
- Sim, claro - todos riram com satisfação e olharam Zack e Wynn. - Um vizinho.
Zack apertou os dentes.
- A menina que está a brincar e a correr por aí é minha filha, Dani.
Bo piscou-lhe um olho.
- É uma doçura. E ouve, Wynn assobia às crianças.
Wynn olhou rapidamente para Zack; então voltou-se para os três culturistas e disse-lhes em voz
baixa.
- Vão trabalhar.
Imediatamente, os três rapazes dispersaram-se, como se de verdade lhe tivessem medo, e
continuaram a colocar-lhe os móveis no pátio.
Zack puxou por ela para que o olhasse na cara.
- Bo é teu noivo?
Ela abriu os olhos como pratos e pôs-se a rir.
- Não, claro que não!
- Então, o que eram todas aquelas brincadeiras e olhares que vocês deram?
- Bo namora com todas, mais ou menos como o teu amigo Josh. Tem pelo menos uma dúzia de
namoradas. E sim, finge que me quer acrescentar à lista, mas é na brincadeira. Não sou uma idiota e ele
sabe.
Isso fê-lo recordar outro tema que o chateava.
- Pois parecias bastante interessada com o Josh.
- Ah! Bom, é muito bonito e apanhou-me de surpresa. Estou acostumada a que Bob diga coisas,
mas não outros homens. Isso é tudo - olhou para Zack e perguntou. - E tu? Tens namorada?
- Não.
Mas não porque não o tivesse tentado. Ainda não tinha conhecido a mulher adequada para ele e
Dani, e não via razão alguma para atar-se com a pessoa errada.
Só que Wynn... Sentiu a tentação.
Ela olhou-o com cepticismo.

50
- Não tens que te preocupar por esses três. só são muito protectores, mas agora que lhes disse que
és inofensivo, ficarão tranquilos.
- Inofensivo? - aproximou-se dela de tal modo, que quase se roçaram. - Um destes dias vou fazer
com que comas todos esses insultos.
Ela olhou-o com fascinação.
- A sério? Como?
- ocorrem-me umas quantas ideias.
Para ajudá-lo, sugeriu-lhe.
- Podíamos lutar outra vez. Talvez possa ganhar.
Essa mulher era endiabradamente fastidiosa, irracional... Soltou-a e separou-se dela. Ela soltou
uma gargalhada de satisfação, mas em seguida foi atrás dele.
E ele que tinha pensado que tinha sentido falta dela. Pois sim! Que tolice!
Então, porque ia a sorrir?

O pátio começava a estar como Wynn o tinha imaginado; até o precioso andaime de gás que Zack
tinha sugerido que colocasse longe da janela da cozinha para que não enchesse a casa de fumo.
Havia coisa de meia hora quando Zack tirou a camisa porque fazia muito calor. Wynn olhou-o e
deu-se conta que estava mais pendente dele que de nenhum outro homem.
Viu que elevava a cabeça e que procurava a sua filha com o olhar. Sem dúvida, era o pai mais
cuidadoso que tinha visto na sua vida. No momento localizou Dani com um dos culturistas, tomando um
refresco de copo, e sorriu com orgulho e amor. Ao vê-lo, pensou que lhe estalaria, o coração. Fazia já
uma semana que não estavam juntos, e sentia a necessidade de estar de novo com ele.
Nesses dias tinha feito o possível para lhe dar tempo e espaço, mas não acreditava que pudesse
suportar mais.
Bo aproximou-se dela e deu-lhe uma palmada no traseiro.
- Preciso de me nutrir depois de tanto trabalho. Tens algo de comer?
Deu um olhar em direcção a Zack e viu que, em lugar de sorrir, olhava-a com desaprovação.
Wynn reprimiu a vontade de esfregar o traseiro. Não era culpa dela que os amigos do seu irmão tivessem
tanta confiança com ela.
- ia pedir uma pizza.
- Não é preciso, querida. - disse-lhe Marc. - Não podemos ficar tanto tempo. Mas uma sanduíche
não era mau.
Ela assinalou a cozinha.
- Na geladeira têm de tudo. preparem o que quiserem.

51
Wynn foi ao outro lado do pátio e sentou-se no sofá. As almofadas de listas verde-escuro e nata
eram suaves e confortáveis, e passou a mão pelo assento com satisfação. Aquilo era tudo dela, a casa, o
pátio, as árvores, a rede e... o seu vizinho. Tudo dela.
Viu que Zack a olhava e sorriu.
- Bonito, verdade?
Zack parecia tão zangado, que pensou que não lhe responderia. Então sentou-se a seu lado.
- É muito bonito. Tens bom gosto.
Zack voltou-se e olhou para onde estava a sua filha. Enquanto observava o seu perfil, Wynn
suspirou.
- Bo só é... Bo. Conheço-o quase desde que conheço o Conan. Foram juntos ao colégio e tudo isso.
O certo é que ele não...
- Não mostra hesitação alguma na hora de te tocar o traseiro. Já me dei conta. E também não te
importas.
Ela zangou-se.
- Trata-me como a sua irmã mais nova a maior parte do tempo.
- Pois... - Zack voltou-se para ela. - Não sei por que me surpreendo, tendo em conta que... - emitiu
um som de zangado enquanto se voltava a olhar para a frente.
O coração começou a pulsar com força e encolheu-se o estômago.
- Tendo em conta o quê? - quando não respondeu, ela continuou. - Zack, não é preciso seres um
hipócrita. Eu não estava sozinha essa noite. Os dois deixámo-nos levar.
Ele passou a mão pelo cabelo.
- Jamais na minha vida fiz algo assim, de modo que teve que ser por tua culpa.
Disse-o com tanta tranquilidade, jogou-lhe a culpa com tanta parcimónia, que Wynn teve vontade
de estrangulá-lo.
- Foste tu que apareceste de repente!
- Não apareci de repente - grunhiu ele.
- Sim! Estava a dormir.
- Sim, e que mulher faz isso? - voltou-se a olhá-la com expressão raivosa e confusa. - Que mulher
dorme no pátio da sua casa de noite, meio nua?
- Não estava meio nua, cretino. Dizes como se me tivesses visto algo - sacudiu a cabeça, deu-se
conta de que acabava de o insultar e quis morder a língua; aspirou fundo e tentou falar com calma. - Zack,
eu...
Mas ele não a deixou terminar.
- Eu nunca me deixo levar desse modo. Nunca.
- Pois a outra noite fizeste-o.

52
Ele entre cerrou os olhos e olhou-a.
- Sim. Mal feito da minha parte.
Wynn aspirou fundo. Maldita seja, isso tinha-lhe feito mal. Não sabia se queria golpeá-lo ou ficar
a chorar. Nunca tinha sido de lágrima frouxa, mas nesse momento sentiu vontade de chorar. Tremeu-lhe o
lábio de baixo.
Por um instante, Zack pareceu sentir-se culpado.
- Olha, Wynn, na realidade nada do que faças é meu assunto.
Nesse momento, ouviu-se uma voz conhecida. Wynn voltou a cabeça e quase se deu com o
cinturão da calça do Josh, que se aproximou deles por trás do sofá. trazia uns texanos desbotados e uma
camiseta branca.
Zack também se voltou para ele.
Josh apoiou-se sobre as costa do sofá.
- passei para cancelar o jantar de hoje - disse Josh. - Mick tem que acompanhar a Do a um sítio -
assentiu em direcção à sanduíche que lhe tinha dado Marc. - Embora veja que te tinhas esquecido.
Josh rodeou o sofá e sentou-se ao lado de Wynn. Até lhe pôs o braço pela cintura.
Zack passou a sanduíche a Wynn e cruzou os braços.
- Josh, tens que conhecer os três protectores de Wynn. Bo e Marc, e aquele que está com o Dani é
Clint.
Bo e Marc assentiram, mas Clint não tinha visto o Josh.
Josh deu-lhes a mão.
- Josh Marshall. Como estão?
- Estavam quase a ir-se embora - disse Wynn dando uma indirecta.
Bo volteou os olhos.
- Deixa de te preocupar, boneca. Não vamos maltratar o teu vizinho.
Josh pôs-se a rir.
- Maltratar o Zack? Pois claro que não. Sabem que é enfermeiro, não?
Os homens olharam Josh com curiosidade.
- Pois é, assim não se deixem enganar, porque o pessoal médico tem que estar muito em forma. Eu
vi-o levantar homens de cento e cinquenta quilogramas e levá-los às costas como se fossem crianças. E
outras muitas coisas. É capaz de...
- Sou capaz de saltar por cima dos arranha-céus e sou mais rápido que uma bala, não?
Josh pôs-se a rir.
- Não sei dos arranha-céus, mas vi a bala que te feriu o braço, assim tão rápido não és.
Wynn aproveitou a oportunidade.
- Eu também a vi. Como se passou, tu sabes?

53
- Claro que sei. Eu estava lá.
- Josh - disse Zack em tom de advertência.
Mas todo o mundo os olhava com curiosidade. Wynn não pensava deixar passar o momento, e
parecia que Josh também não.
- Chamaram-nos para uns distúrbios. Havia edifícios em chamas e vidros por toda a parte; a rua
estava cheia de gente.
- meu deus - exclamou Wynn.
Nunca tinha imaginado Zack comprometido num sítio tão violento, e de repente sentiu medo.
Josh assentiu.
- A gente inocente escondeu-se nos becos, sem se poder mover. Uma mulher recebeu um tiro e
estava a sangrar no chão, no meio de toda a animação. Havia polícia por toda a parte. Mas tivemos medo
que morresse antes de chegar até ela.
Wynn já sabia o que Josh ia contar, e nesse instante sentiu que se apaixonava dos pés à cabeça por
Zack. Ao corno com todas as inconveniências. O seu coração sabia sem dúvida o que lhe convinha.
Zack sacudiu a cabeça.
- Não foi tão dramático. Muitos polícias me cobriram.
- Não o suficiente bem - assinalou Josh. - Na realidade, feriram-no quando cobriu com o seu corpo
a mulher para a proteger de que a voltassem a feri-la.
- no final tudo saiu bem - grunhiu Zack enquanto procurava a camisa.
- Sim - sorriu Josh. - Que eu recorde, ficou eternamente agradecida depois. Agradecida de
verdade, já me entendem.
Marc e Bo puseram-se a rir com cumplicidade. Wynn volteou os olhos.
- cala-te, Josh.
- Sou uma tumba.
Zack tirou outra vez a sanduíche a Wynn e mordeu um bom bocado.
- Como interrompi o teu almoço, Josh, gostavas que te preparasse também uma sanduíche?
- vais-lhe preparar uma sanduíche? - disse Bo. - Maldita seja, nós passámos toda a tarde a
trabalhar para ti e não te ofereceste a preparar-nos nada.
Wynn deu-lhe uma boa cotovelada.
- comportem-se como é devido - disse, e incluiu Zack nessa ordem; então agarrou Josh pelo braço
e puxou por ele para a porta do pátio. – Já voltamos.

CAPÍTULO SETE

54
Wynn convidou-o a passar. Quando chegaram ao corredor, empurrou-o contra a parede.
- alegro-me tanto que viesses.
Josh ficou pasmado.
- Isto... - agarrou Wynn pelos braços para impedir que se aproximasse mais. - Sim, bom, eu pensei
que... bom... - olhou ao seu redor com aspecto arrasado.
Wynn custou um momento averiguar o que se passava. Que fraudes podiam chegar a ser os
homens!
- O caso é que... – continuou. - pensava que gostavas de Zack.
Wynn passou-lhe a mão pelo ombro forte e musculoso.
- Eu gosto - confirmou-lhe. - Por isso te trouxe aqui - deu-lhe umas palmadas no peito. - Para que
me contes mais coisas sobre ele.
- Ah, bem! - exclamou relaxando-se visivelmente. - É mesmo o que queria ouvir - acrescentou
mais sorridente. - Isso é estupendo.
- Mas acho que o Zack não gosta muito de mim.
- Acho que gosta muito. Esse é o problema, pelo menos para ele - ela afastou-se e foram juntos
para a cozinha. - Pessoalmente, eu acho que és perfeita para ele.
- De verdade?
- Pois claro, palerma. - retirou-lhe uma cadeira para que se sentasse. – olha para ti! És atraente,
está sã. Pelo seu trabalho e desde que perdeu a sua esposa, Zack parece muito importante cuidar dele,
levar uma vida sã.
Wynn pestanejou perante tanto sentimento.
- Também és divertida e parece que queres a Dani - franziu o rosto. - É muito importante, sabes?
que gostes da sua filha. E não podes fingir nisso, porque muitas mulheres tentaram e ele sempre se
apercebeu que não o faziam de coração.
Wynn ficou sem fala diante tal coisa. Por isso é que não lhe tinha feito nenhuma pergunta!
Olhou-a um pouco preocupado pelo seu silêncio.
- Tu gostas da Dani, não?
- É obvio que sim - disse. - É adorável, esperta, precoce, valente - encolheu os ombros. - Bela
como o seu pai.
Josh sorriu.
- Zack é belo, não é? Que engraçado.
Wynn deu-se conta do que tinha dito e corou.
- Não te ocorra dizer-lhe nada a ele.
- OH, não, claro que não.
Wynn não acreditou.

55
- Josh...
- Tens algo para comer?
- Claro, come o que quiseres.
- Os teus amigos tinham razão. Não gostas de servir os homens.
Com todas as perguntas que queria fazer ao Josh, Wynn tinha esquecido as suas maneiras.
- Sinto muito - ficou de pé. - Tenho muitas coisas na cabeça.
Josh empurrou-a para que se voltasse a sentar e deu-lhe umas palmadas no ombro.
- Estiveste todo o dia a trabalhar e já sou grandinho, posso fazê-lo sozinho.
Apoiou os cotovelos sobre a mesa e gemeu de frustração.
- É horrível. Estou há tanto tempo sem sair, que já não sei atrair um homem. Estou a fazer tudo
mal - disse sem levantar a vista.
- Estás a tentar atrair o Zack?
- Sem muito êxito.
- Não é verdade. - Josh abriu o frigorífico e Wynn viu que se servia de sumo e que tirava alguns
ingredientes para preparar uma sanduíche.
Então sentou-se à mesa.
- Zack fixou-se bem em ti. Só que não quer é reconhecer.
- Achas?
- Eu sei que sim - disse enquanto colocava as suficientes fatias de carne assada entre duas fatias de
pão como para que comessem várias pessoas. - Zack não se comportou de maneira tão estranha com uma
mulher desde que esteve com a sua esposa.
Wynn perguntou-se como abordar o tema; então decidiu que era inútil andar com rodeios.
- Queres falar-me dela?
Josh mordeu um bocado e assentiu.
- Jovem, linda. Muito doce e pequena. - olhou para Wynn. - Não se parecia em nada contigo,
excepto em que também és linda.
Wynn ficou vermelha imediatamente. Josh era tão coquete! Decidiu que o melhor era não lhe
fazer caso.
- Só tenho vinte e oito; também não sou assim tão velha.
- Uma anciã comparada com a Rebecca.
Assim Zack atraíam as mulheres muito jovens e miúdas? Tudo o que não queria ouvir.
- Era assim que se chamava? Rebecca?
- Sim. Teria completado vinte e um anos um mês depois de ter a Dani, se não tivesse falecido.
Muito jovem. Embora Wynn não tivesse conhecido a mulher, doeu-lhe pensar nela. Dani e Zack
tinham perdido tanto.

56
- Quanto tempo estiveram casados?
- Só uns sete meses. A gravidez foi uma surpresa e a razão do seu matrimónio. Assim que Zack
soube, insistiu até que Rebecca cedeu. Não estou seguro que fosse o que os dois queriam nesse momento.
Wynn tragou a saliva.
- Como morreu?
Josh deixou o prato de um lado e recostou-se sobre as costas. Olhou para a janela que havia atrás
de Wynn e a sua expressão ficou triste.
- Passou muito mal durante a gravidez. Era tão pequena, que a pressão foi muito para o seu corpo.
Incharam-lhe os tornozelos, doía-lhe as costas, bom... já fazes uma ideia.
- Sim.
- As mudanças físicas fizeram-lhe muito mal, de modo que o seu estado mental não era o melhor
também. Desejava ter a Dani, sem dúvida, mas passou muito mal naqueles últimos meses de gestação.
Física e emocionalmente.
- Acho que isso é bastante comum, não?
Josh encolheu os ombros.
- Zack e eu estávamos os dois no incêndio de um armazém quando entrou em trabalho de parto
com cinco dias de antecipação. Ela chamou o parque de bombeiros, e imediatamente fizeram o possível
por encontrar alguém que substituísse o Zack, mas a destruição era enorme e todos estavam de serviço.
Zack estava a atender um monte de coisas diferentes, a trabalhar sem parar, preocupado, nervoso e muito
zangado porque não se podia ir embora de qualquer jeito. Pensou que Rebecca estava bem, que teria
chegado ao hospital e que se estariam a ocupar dela...
- Mas?
Josh ficou de pé.
- As contracções foram muito fortes e não pôde continuar a conduzir. Perdeu o controle do veículo
e caiu numa sarjeta. levou dois carros à frente, mas ninguém sofreu nenhuma ferida grave. No trajecto de
helicóptero para o hospital, morreu. Conseguiram salvar a Dani.
Wynn sentiu que a afogava a emoção. De repente, doía-lhe o estômago e o coração batia tão forte
que lhe doía. podia imaginar o que tinha passado Zack.
- Normalmente é como uma rocha - disse Josh em voz baixa, como se tivesse adivinhado o
pensamento. - Não se inquieta por nada. Sempre é tranquilo, educado e razoável. Sempre.
Ela levantou a cabeça. Zack tranquilo e razoável? Pois com ela quase nunca se mostrava tranquilo.
- Quando salvou a vida daquela mulher e recebeu o tiro, foi porque Zack se colocou entre ela e as
balas. Arriscou a sua vida por uma pessoa que não conhecia. Ele é assim. Não pode suportar ver ninguém
a sofrer. - aspirou fundo. - Imagina o que sentiu quando não pôde estar com Rebecca.
- sentiu-se culpado?

57
- Sim, durante um tempo. Mas logo Dani o fez esquecer. Durante as duas primeiras semanas foi
um bebé maravilhoso, mas depois converteu-se num pequeno demónio. Quando estava com a ama
comportava-se maravilhosamente, mas assim que o ouvia ele, começava a exigir. Queria que a tivesse nos
braços todo o tempo.
Wynn ficou pensativa.
- Queres dizer que ao princípio ele não a atendia?
- OH, não, nada disso. preocupou-se que alguém cuidasse dela e, quando ia trabalhar, beijava-a e
abraçava-a. sentia-se responsável, mas tinha tanta pena, tanto arrependimento, que não havia sítio para
nada mais, e menos ainda para o amor. Até que Dani lhe roubou o coração.
- É um bom pai.
- É o melhor pai que conheci. E será também um marido maravilhoso.
Wynn estava tentando assimilar a indirecta quando Zack apareceu à porta feito uma fúria.
- Agradeço os elogios, Josh, mas estás-te a passar.
- não deixaste nenhum cadáver lá fora, verdade?
- cala-te já - entrou na cozinha. - Sabes que sou pacífico.
- Claro. O que tu disseres. - levantou-se e passou junto a Zack. - vou conversar um momento com
os teus amigos, Wynn. Parecem uns tipos muito agradáveis.
Um segundo depois fechou-se a porta mosquiteira.
- Tipos agradáveis - repetiu Zack – parecem-me possessivos e ciumentos.
- Protectores, não possessivos. Já te disse que nunca saí com nenhum dos três.
- Disseste? Não me lembro dessa conversa.
Ela esclareceu a voz.
- passou-se alguma coisa?
Ele avançou sem deixar de a olhar nos olhos.
- Ninguém se passou da raia, mas os teus valentões aplicaram-me o terceiro grau.
- Não me digas!
Encolheu-se o coração. Como ia causar uma boa impressão num homem como Zack se Bo não
deixava de se comportar como um asno?
- Como ouviste.
Ela colocou-se atrás da cadeira quando ele avançou. Não lhe tinha medo, mas estava de um humor
estranho, como em tensão, como aceitando algo.
- Sinto muito.
- Parece que pensam que tens as tuas miras postas em mim.
«OH, Deus. OH, santo céu». Sabia que tinha a cara vermelha como um tomate.
- Eu…, isto…, não mostro muito interesse pelo sexo oposto.

58
Zack arqueou uma sobrancelha.
- O que me estás a dizer? Que os homens não te interessam?
- Não! Quero dizer que ultimamente não mostro muito interesse pelo sexo em geral.
Zack sorriu divertido.
Ela mordeu a língua e aspirou fundo.
- Queria dizer – afirmou - que não estou acostumada a ir atrás de um homem. Tenho amigos mas é
só. É tudo o que quero - acrescentou para não parecer muito ridícula.
- Alegra-me ouvi-lo - disse-lhe em tom mais calmo.
Estava já tão perto dela, que o seu fôlego roçou-a ao falar. Se ele se adiantasse um par de
centímetros estaria a beijá-lo. Claro que, não sabia como tomaria Zack. Até ao momento, a atracção
mútua tinha-o torturado até ao ponto de não querer nem reconhecer.
- foi por te conhecer a ti, Zack. Desejo-te. Não o ocultei em nenhum momento. Mas deves
entender que o que se passou o outro dia no pátio foi também uma aberração para mim. Não me
arrependo disso, mas não posso dizer que me tenha acontecido.
Ele torceu um pouco a boca, e deu-lhe a desagradável impressão que não acreditava.
Wynn perdeu os estribos.
- Só porque tenho amigos culturistas, e porque me deixasse levar a outra noite, não te dá o direito
de assumir que sou assim com outros homens.
- Também não te dá o direito de ir farejar na minha vida privada. Se querias saber da minha
esposa, devias ter-me perguntado a mim.
Elevou a cabeça e olhou-o.
- Ter-me-ias contado alguma coisa?
- Não - disse-lhe sem rodeios. - Porque não é teu assunto.
Wynn elevou as mãos.
- Vês? - suspirou e agachou a cabeça. - Suponho que tudo isto é inútil, não?
Zack levantou-se.
- O que queres dizer com isso?
- Quer dizer que estou a começar a aceitar que não estás absolutamente interessado em mim -
encolheu os ombros. - Josh contou-me toda a história da tua esposa, e sei que gostas mais de mulheres
pequenas.
- Wynn - disse-lhe em tom de advertência.
Ela estendeu os braços.
- Sou uma garota grande e trôpega. Não sou nem bonita nem pequena. Tu gostas das mulheres
pequenas às quais possas proteger, e eu não preciso de amparo. Nem sequer sou mais fraca que tu.
Ele ficou pensativo.

59
- Ai isso é que és. Muito mais fraca do que eu.
Mas Wynn apenas o ouvia já; estava muito desgostada pensando que Zack nunca quereria ter nada
com ela. Começou a passear pela cozinha, pela primeira vez alheia a tudo o que a rodeava.
- Sinto muito. Suponho que fui um problema.
- Sim.
Então Zack aproximou-se e agarrou-lhe a cara com as duas mãos.
- És um problema, Wynn, e uma peso e tudo o resto. Mas sabes uma coisa? É uma tolice dizer que
não me atrais.
Ela pestanejou e surpreendeu-se tanto, que esteve quase a perder o equilíbrio.
- Não estás cega e de estúpida não tens nada. Tens que ter dado conta que te desejo.
- É verdade?
- Sim.
Beijou-a brevemente, mas foi o suficiente para deixá-la sem fôlego.
- Agora também, com toda essa gente aí fora? Embora não me tenha deitado em cima de ti?
- era isso o que pensavas? - esboçou um sorriso sensual que lhe acelerou o ritmo do coração. - Só
porque te apanhei de surpresa e me deixasses deitado no chão não quer dizer que fosse a única razão pela
que me comportei assim a semana passada.
Wynn assentiu. Mas os pormenores do interlúdio da semana anterior não tinham já importância. O
importante era o presente, e o que mais desejava era que voltasse a beijá-la.
Mas ele continuou olhando para os lábios enquanto lhe acariciava as faces muito devagar com os
polegares de ambas as mãos.
- Wynn, apanhaste-me de surpresa, querida, mas de maneira nenhuma me podias superar num
confronto físico.
- De acordo.
Ele pôs-se a rir e sacudiu a cabeça.
- Queres tranquilizar-me, não é? - e beijou-a de novo. - És maravilhosa, sabes? Nunca conheci
uma mulher que desejasse um homem mas que não deixasse de insultar a sua masculinidade a cada
momento - então levantou-lhe a cabeça e beijou-lhe o pescoço e atrás da orelha. - Um destes dias - disse-
lhe enquanto lhe mordiscava a orelha. – vou-te demonstrar isso.
- Sim.
Não tinha nem ideia do que queria lhe demonstrar, mas fosse o que fosse, estava disposta a
participar.
Dessa vez a sua gargalhada foi mais forte. Olhou-a e assentiu.
- De acordo. O que devo fazer? depois de tudo, só sou um homem, sou feito de carne e osso - disse
com um sorriso.

60
- E então?
- vais estar na rede esta noite?
Isso chamou a atenção a Wynn, que o olhou esperançada e emocionada.
- Sim. Claro, é óbvio.
- Que ânsia - sorriu e beijou-lhe o lábio inferior. - Sei que isto está mal, juro que sei. Mas, maldita
sejas, mulher, estás-me a pôr louco.
Ela sorriu com expressão sonhadora.
- Tu também me estás a pôr louca. Tentei deixar-te em paz para que te acostumasses a mim...
- Sim! - Zack sorriu. - Isso levaria toda uma vida.
Wynn gostou do que disse. Toda uma vida com o Zack. Cada dia, cada minuto, sentia-se mais
atraída por ele, num milhão de maneiras diferentes.
Ao ver a sua expressão, ele sacudiu a cabeça.
- Wynn, não te estou a prometer nada. Se nos juntarmos esta noite, será só para fazer amor.
As suas esperanças caíram aos pés. mordeu o lábio sem saber o que fazer. Por um lado, nunca
tinha tido o sexo assim. Mas por outro, nunca tinha desejado um homem como desejava o Zack.
Não sabia nada do futuro, mas talvez averiguasse algo nessa noite. Uma vez tomada a decisão,
logo podia esperar.

CAPÍTULO OITO

Zack foi ver Dani pela última vez. inclinou-se para lhe dar um beijo, e Dani moveu-se um pouco e
esticou-se ligeiramente.
- Pai?
Zack sentiu um nó na garganta; só o chamava assim quando estava muito cansada ou a sentir-se
mal. sentou-se no bordo da cama e acariciou-lhe a face.
- Sim, querida, sou eu.
Então bocejou e agarrou a mão a seu pai.
- Hoje passámos muito bem.
- Sim, é verdade - disse Zack sorrindo.
- Eu gosto muito de Wynn.
- A sério?
Ela assentiu.
- E tu também.

61
Zack vacilou. A sua filha nunca tinha feito de casamenteira, de modo que aquela afirmação em
particular apanhou-o de surpresa.
- Parece-me agradável - disse finalmente.
- Para mim é mais do que isso. É a mais divertida do mundo.
- Descarada - Zack fez-lhe cócegas. - Mais divertida do que eu?
- É a mulher mais divertida - Dani bocejou outra vez. - vou ficar com ela.
Disse-o meio adormecida, em voz baixa, mas mesmo assim ouviu-a.
- Dani? O que queres dizer com isso?
- Quero que seja minha - anunciou-lhe a sua filha, meio a dormir. - Podia ser tua esposa e minha
mãe.
Zack ficou a olhar a sua filha. Se não estivesse sentado na cama, teria caído ao chão. Dani já tinha
fechado os olhos e tinha a cabeça apoiada sobre a palma da mão.
Então sorriu agradada e disse.
- E podia ter um irmão - abriu um olho. - Quero um irmão, pai.
- Querida...
- Um irmão como o Conan.
Santo céu!
- Eu vou ajudar a trocar as fraldas.
- Sei que o farias, querida, mas ter um irmão leva muito tempo.
Fechou de novo os olhos.
- o Josh também gosta de Wynn.
Zack ficou gelado.
- Achas?
- Talvez ele queira um irmão - franziu o rosto. – Isto é, um filho.
Zack tinha tentado falar com Josh sobre o seu interesse com Wynn, mas não tinha tido
oportunidade. Quando os amigos de Wynn se foram, Josh tinha ido também.
ficou ali, a pensar no que Bo lhe tinha dito. Wynn não saía com homens, e muito raramente tinha
mostrado verdadeiro interesse pelo sexo oposto. A sua reacção para ele, dito por aqueles que a
conheciam, tinha sido extrema.
Marc tinha-o avisado que Wynn era uma mulher pouco comum, que via o mundo de uma maneira
pouco habitual.
Como se lhe tivesse feito falta esse aviso! Já se tinha dado conta desde o começo.
Clint tinha acrescentado que era uma mulher divertida, mas que odiava perder. Em tudo. Se
desejasse alguma coisa, seria difícil dissuadi-la dessa ideia.
E todos tinham coincidido em que queria o Zack.

62
Sorriu. O comportamento de Wynn era resolvido, mas também alentador. E uma vez que se deu
conta de que a reacção era tão única para ela como para ele, a sua resistência tinha desaparecido.
Zack permaneceu em silêncio, pensando no que soube nesse dia, e também no que sentia a sua
filha, até que a ouviu roncar ligeiramente. Deu-lhe um beijo na frente e ficou de pé. Pela janela aberta do
seu quarto entrava uma brisa suave.
Zack foi à janela e olhou. Como tinha prometido, Wynn estava na rede, esperando-o. Ao vê-la,
puseram-se os músculos tensos e uma onda de calor percorreu-o de cima abaixo.
Tinha muitas coisas que pensar. Mas de momento, tinha que fazê-la sua.
Deixou a sua filha no quarto e fechou a porta com suavidade. tirou os sapatos para não fazer ruído
enquanto cruzava a casa para a porta traseira. Enquanto caminhava, começou a desabotoar a camisa
deixando que a brisa mitigasse o calor da sua pele.
O que planeava, o que ambos planeavam, pareceu-lhe provocador, e tão erótico que já estava
excitado antes de a tocar.
Estava de costas para ele, abraçando-se à cintura.
- Wynn - disse-lhe quando chegou por fim ao seu lado.
voltou-se com tanta rapidez, que quase perdeu o equilíbrio.
- Não te ouvi chegar! - e acrescentou rapidamente. -. Tinha medo que mudasses de opinião.
A sua sinceridade sacudiu-o. Wynn expor o seu coração sem reservas, e a sua confiança pesou-lhe
como uma laje. Era uma responsabilidade que não desejava.
- Tive que deitar a Dani.
Wynn olhou para sua casa.
- Fica bem ali sozinha?
- Dani dorme como um urso a hibernar. Mas se ela se levantasse, ia procurar-me na banheira de
hidromassagem. Se assim fosse, veríamos a luz do pátio.
Ela assentiu.
- Muito bem.
- Estás nervosa?
- um pouco - moveu os pés e aproximou-se um pouco mais a ele. - Nunca tive um encontro sexual
em toda a minha vida.
Zack sorriu.
- Eu também não.
- Não?
- Não trago mulheres para casa com a Dani aqui. Esta é a sua casa e eu jamais faria isso. O meu
horário de trabalho é já bastante anormal e, quando tenho um momento para estar com ela, não gosto de o
perder com mulheres.

63
- Então não saíste muito desde que morreu a tua esposa?
- Mais ultimamente que antes - tinha estado procurando esposa, de modo que isso tinha sido
necessário. - Embora isso não signifique muito.
- Sei que não te ficaste celibatário.
pôs-se a rir perante a sua incredulidade.
- O que tens Wynn, que me fazes rir nos momentos mais estranhos?
Ela franziu o rosto.
- Não foi minha intenção divertir-te. E o que tem de estranho este momento?
Zack roçou-lhe a face, deslizou-lhe os dedos pela garganta e pelo ombro nu. trazia um vestido de
algodão escuro sem mangas, como uma espécie de camisa larga, e tinha a pele quente e suave.
- É estranho, porque estou tão excitado que quase não posso respirar.
- Zack - disse enquanto o abraçava. - Como... como vamos levar tudo isto? Não só não tive
nenhuma encontro, como não fiz amor numa rede - levantou a cabeça, e o seu fôlego acariciou-lhe a face.
- E tu?
- Não, mas não importa - beijou-a de novo, primeiro na têmpora e depois no nariz. - Estás
totalmente segura disto, Wynn?
Vacilou um momento, o suficiente para o assustar.
- Muito segura.
- Graças a Deus - beijou-a de novo saboreando a sua excitação, a sua urgência, quase iguais às
suas.
Tinha uns lábios ternos e carnudos que se separaram para se deixar beijar. E beijar Wynn era...
bom, era certamente emocionante. Mas era mais do que isso. Enquanto a beijava, sentiu a sua cabeça
dando voltas e umas cãibras nas coxas. Deslizou-lhe uma mão pelo seu traseiro e a apertou-a com força
contra o seu corpo; quando ela começou a esfregar-se contra a sua erecção, começou a gemer sem poder
remediar. Em segundos ambos estavam a ofegar.
Wynn retirou-lhe a camisa dos ombros, e ele terminou de a tirar e atirou-a ao chão. Wynn gemeu
de aprovação quando lhe estendeu ambas as mãos sobre o peito e o acariciou enquanto o provocava com
as suas mãos e com os movimentos de seu corpo.
Ele fê-la retroceder até à árvore; quando chegaram ao tronco, imobilizou-a com os seus quadris e
apertou-se contra ela. Começou a tocar-lhe os peitos com entusiasmo enquanto se beijavam, lambiam e
exploravam ardentemente. Zack adivinhou a rigidez de seus mamilos e sentiu a sacudida de seu corpo
quando começou a tocar-lhe Mas não era suficiente. Baixou-lhe os suspensórios do vestido até aos
cotovelos, e Wynn tirou os braços de modo que o vestido ficou caído pela cintura.
Sob a luz da lua, os seus seios nus pareciam de mármore e os mamilos escuros e apetitosos. Zack
estremeceu de desejo e inclinou a cabeça para lhe sugar um mamilo com ardor.

64
- Zack!
- Cala-te...
lambeu e apanhou-o entre os lábios. Os sensuais sons que provocou nela, gemidos de avidez, de
verdadeira satisfação, desataram o seu desejo. Quando lhe levantou o vestido, deu-se conta de que não
tinha calcinhas.
- Caramba...
Zack viu uns olhos que o olhavam cheios de surpresa, enquanto lhe acariciava o traseiro de pele
sedosa. Fechou os olhos de uma vez que a explorava, enquanto se desfrutava com as sensações que lhe
produziam as suas carícias e a sensualidade do momento.
- Caramba, Wynn - repetiu.
- Eu... - murmurou em tom ofegante. - Pensei que a roupa interior só seria um obstáculo, e eu...
não sabia se...
Zack ficou de joelhos e levantou-lhe o vestido um pouco mais.
Assustada, Wynn tentou afastar-se, mas ele segurou-a contra a árvore.
- Mas o que estás a fazer? - disse em tom frenético enquanto o empurrava pelos ombros.
- Está tudo escuro - Zack olhou-a e viu que estava confundida. - Nenhum homem te beijou aqui?
Pegou-lhe no ombro.
- Zack - sussurrou e, para surpresa de Zack, olhou ao seu redor.
Ele não pôde evitar tornar a rir.
- É um pouco tarde para te preocupares com os bisbilhoteiros, não te parece?
Wynn continuava a agarrá-lo pelos ombros, para que não se aproximasse dela.
- Não podemos fazer isso aqui fora!
- Podemos fazer amor mas não praticar o sexo oral?
Ela soltou uma exclamação entrecortada, visivelmente escandalizada pelas suas palavras enquanto
passeava o olhar pelo pátio deserto.
Zack adorou. Por uma vez, levava ele as rédeas e não pensava soltá-las. Sobretudo porque ansiava
saboreá-la, ouvi-la gemer quando alcançasse o clímax.
- vai gostar, Wynn - provocou-a. - E a eu também.
- Não sei...
Agarrou-lhe o vestido com força por trás enquanto amaldiçoava as inoportunas nuvens que
obscureciam a luz da lua. Queria vê-la por inteiro, não só pela metade. E sobretudo, desejava ver cada
suave e rosado centímetro de seu sexo, a fenda de seu umbigo.
Gemeu. O que já via pareceu-lhe espectacular. Tinha as coxas escuras, de pele tersa, e nesse
momento apertados um contra o outro enquanto os acariciava. Olhou-lhe os peitos, grandes como o resto
de seu corpo, turgentes e brancos.

65
Não via bem a cor do pêlo que se frisava entre as suas pernas, mas supôs que seria da mesma cor
que suas sobrancelhas. Deslizou os dedos entre o seu pêlo e ouviu-a gemer de prazer. inclinou-se e colou
a face ao seu ventre enquanto a tocava.
Seu ventre... Bom, sempre tinha gostado dos ventres das mulheres. Para Zack era a personificação
da feminilidade. suaves, lisos e levemente arredondados. Wynn tinha um ventre extremamente sensual.
Sentiu o seu estremecimento, voltou-se, beijou-a e lambeu-lhe o umbigo, enquanto não deixava de brincar
com os dedos. Só a estava a roçar, mas isso excitava-a tanto que pensou que ia explodir ali mesmo.
- Zack, não sei se eu gosto disto...
- vais gostar - assegurou-lhe em tom rouco.
Deslizou os dedos um pouco mais abaixo e pouco a pouco foi metendo-lhe entre as coxas
apertadas. As suas nádegas pressionavam a mão que segurava o seu vestido, e Zack empurrou-a um
pouco para a frente.
Continuou a tocá-la um pouco mais. Wynn tinha as suas zonas mais íntimas torcidas, quentes e
molhadas. Começou a tocá-la brandamente, deslizando o dedo de frente para trás até que ela ficou ainda
mais molhada. Chegado esse ponto, Zack introduziu um dedo até ao fundo.
Wynn apertou os joelhos e emitiu um gemido carregado de prazer.
- Isto... não é o que eu esperava - sussurrou.
- Abre as pernas, Wynn.
Ela pôs a cabeça para trás.
- Excita-me muito... que me digas isso - olhou-o. - Muitíssimo.
Zack olhou-a.
- abres-te, Wynn?
Wynn suspirou longamente e então separou as pernas. Zack esteve quase a perder o controle
quando viu que o fazia só para ele.
- O que vais fazer? - perguntou, tão excitada como estava ele.
- Isto - disse-lhe enquanto deslizou o dedo um pouco mais, para ao momento tirá-lo; seus
músculos o apertaram com força, e Zack lhe introduziu um segundo dedo. - Estás muito apertada, Wynn.
Ela elevou os braços e agarrou-se a um ramo que havia sobre a sua cabeça; então abriu as pernas
um pouco mais.
- Esperavas outra coisa de uma garota grande como eu?
- Nunca sei o que esperar de ti - Zack aspirou o aroma de sua pele. - Cheiras maravilhosamente.
Wynn protestou um pouco quando ele retirou os dedos, e começou a acariciá-la de novo até que
lhe estendeu aquele mel quente sobre o clitóris.

66
Ela gemeu enquanto estremecia de pés a cabeça. Ele continuou acariciando-a, por toda parte,
provocando-a cada vez mais, empurrando-a ao limite. Wynn adiantou os quadris; todo seu corpo estava
em tensão, e Zack percebeu o aroma de fêmea excitada, fresco e penetrante.
Tinha passado tanto tempo. Muito tempo. inclinou-se para diante, abriu-a um pouco mais com os
dedos e aproximou a boca para começar a saboreá-la com avidez e satisfação. O contacto foi tão
surpreendente, tão intenso, que tentou afastar-se, mas ele segurou-a contra a árvore enquanto saciava a
sua sede.
Wynn deu-se por vencida e abriu ainda mais as pernas, dando-lhe melhor acesso. Zack não
desperdiçou a oportunidade e trabalhou em excesso em lambe-la e chupar-lhe a carne doce e quente. Ela
agarrou-o pelo cabelo e apertou a cara contra o seu corpo.
A Zack o coração pulsava com força no peito, e o membro apertava-se contra o fecho das calças
jeans. Não podendo esperar nem um segundo mais, ficou de pé e deu-lhe a volta.
- agarra-te à árvore.
Sem fôlego, Wynn olhou-o por cima do ombro.
- O quê...?
Zack abriu o fecho e pôs a camisinha em poucos segundos. aproximou-se dela, deslizou-lhe os
dedos para a abrir um pouco e mordiscou-a no ombro enquanto tomava sem tréguas.
Wynn colocou as palmas estendidas sobre o tronco da árvore gemendo ao mesmo tempo que ele.
Zack começou a acariciá-la por toda a parte. Manuseou-lhe os peitos, tocou-lhe os mamilos, acariciou-lhe
o ventre e continuou mais abaixo, brincando com os dedos até que ela gritou, relaxou-se e ele pôde
penetrá-la até ao fundo.
- OH, sim... - gemeu Zack, porque finalmente estava onde queria estar desde quase o primeiro
momento em que a tinha visto. – põe para atrás os quadris, Wynn. Aperta-te contra mim, querida. Isso,
isso.
Agarrou-a pelos quadris e ajudou-a. Quando ela conseguiu igualar o mesmo ritmo frenético, ele
voltou a acariciá-la entre as pernas com uma mão, enquanto que com a outra lhe tocava os peitos.
Tinha as costas empapadas em suor, apesar de não ser aquela uma noite calorosa. Fechou os olhos
com força e concentrou-se para não perder ainda o controle. Desejava que Wynn voltasse a alcançar o
clímax com ele. Então colou-lhe a cara ao ombro enquanto todos os músculos do seu corpo tremiam da
tensão; de repente ela ficou imóvel.
- Sim, Wynn - urgiu-a sabendo que não duraria muito.
Agachou a cabeça entre os braços rígidos que seguravam contra a árvore e emitiu um grito rouco e
sensual que foi o que finalmente a fez perder o controle.
estremeceu ao mesmo tempo que alcançava o clímax, enquanto lhe cravava o membro com força,
enquanto Wynn bamboleava os quadris sinuosamente ao compasso dele e gemia descontroladamente.

67
Uma mulher grande era muito melhor, muito melhor.
derrubou-se sobre ela, o que a obrigou a fazer a mesma contra a árvore. Momentos depois, ela
voltou-se um pouco.
- Zack?
- Mmm.
Zack não queria mover-se dali. Nunca.
- Esta árvore não é muito cómoda - disse Wynn. - E se fossemos para a rede?
As pernas tremiam-lhe ainda, e o coração não tinha retomado o seu ritmo normal. Além disso,
zumbiam-lhe um pouco os ouvidos.
- Sim, claro. Não aconteceu nada.
Empenhado em não cair, ficou direito muito lentamente.
tirou a camisinha e atirou-a na erva, de onde pensou retirá-la depois, e então subiu as calças outra
vez.
Tudo isso lhe custou mais esforço do que podia fazer, e a quase caiu ao chão. Olhou a rede, que
não estava muito longe, tendo em conta que eles estavam apoiados contra uma das árvores que a
segurava. Jogou o braço a Wynn e caíram sobre a lona. Ela pôs-se a rir quando a rede começou a
balançar-se com força de lado a lado, e aninhou-se até que esteve quase em cima dele.
- gostei muito do que me fizeste - disse-lhe na voz mais delicada e feminina que tinha ouvido.
Zack fechou os olhos e sorriu.
- Eu disse-te.
- Tu gostas?
Abriu um olho e viu que Wynn parecia duvidosa.
- A minha única queixa é que de novo me empurraste a perder o controle.
- Não é verdade!
- Queria passar mais tempo a saborear-te - sorriu. - Eu gosto do teu sabor - ela esfregou a cara
contra o seu peito e ele, como se sentia tão completo, tão satisfeito, justificou-se. - Ao menos esta noite
poderei dormir bem.
- Queres dizer que ultimamente não dormiste bem?
Plantou-lhe ambas as mãos no traseiro e abraçou-a.
- Não. estive tão inquieto como um adolescente no cio.
Isso fê-la rir, mas rapidamente ficou séria.
- Os meus pais vêm amanhã.
Zack bocejou.
- Sim, é verdade.
Ela olhou-o com acanhamento enquanto brincava com o pêlo de seu peito.

68
- Esperava poder repetir isto.
Zack deu-se conta do que dizia e ficou quieto. Maldição, uma só noite não era suficiente para
saciar-se dela! Tinha estado muito excitado e tinha terminado muito rápido. Não se tinha deleitado com
ela, não a tinha explorado como tinha planeado, como pensava fazer assim que tivessem ocasião. Uma
semana, talvez duas, tirar-lhe-iam de cima o nervosismo. Mas não uma só noite.
- Devo assumir pela tua expressão carrancuda que queres fazê-lo outra vez?
Zack levantou a cabeça o suficiente para dar um festim dando um beijo molhado, lento e
devorador. Quando se separou dela, os dois estavam a ofegar outra vez.
- Sim - disse. - Deves assumi-lo.
Wynn apoiou a cabeça em seu ombro. Tinha uma perna dobrada sobre o corpo de Zack e a outra
estirada até o extremo da rede. Ele tinha uma perna junto à dela e o outro pé apoiado no chão para
balançá-los.
- Os teus pais são muito protectores?
Ela soprou.
- Não.
Não gostou da rapidez com que lhe tinha respondido. Os pais deviam ser protectores,
especialmente com uma filha que vivia sozinha.
- Tenho planos para amanhã e na terça-feira, mas na quarta-feira de noite chegarei a casa por volta
das oito. Por volta das nove e meia, Dani pode estar a dormir - disse enquanto ideava um sem-fim de
possibilidades eróticas. - Podias vir para me ver, digamos, para utilizar a banheira de hidromassagem, e
que eles não venham atrás de ti a ver o que fazes?
Embora Wynn não se moveu, os batimentos do coração de seu coração delataram-na.
- Digamos melhor às dez. os meus pais estarão já na cama a essa hora.
- Estarei pendente, porque já será de noite.
Com a postura de Wynn, Zack começou a acariciá-la de novo entre as pernas, onde imediatamente
sentiu calor.
- Fizeste amor numa banheira de hidromassagem alguma vez?
- Não - olhou-o com uma mistura de excitação e suspeita. - E tu?
Zack pensou que talvez estivesse algo ciumenta e, coisa estranha, gostou.
- Não - disse-lhe. - Mas também não o fiz contra uma árvore, nem numa rede.
Acariciou-lhe os lábios tenros, ainda inchados, ainda molhados de fazer amor, e então deslizou-
lhe um dedo dentro.
Ela ofegou.
- Eu também não.

69
Como estava virtualmente escarranchada sobre ele, Zack deu impulso para que a rede se movesse.
Ela agarrou-se a seus ombros para não cair. Zack olhou os peitos nus e isso foi suficiente para ficar em
tensão de novo.
- Tenho outra camisinha no bolso.
- Que homem tão preparado.
Zack pôs-se a rir, mas quando ela se abraçou a ele e começaram a beijar-se de novo, só pôde
pensar em fazer amor. quarta-feira parecia muito longe, assim teria que fazer que aquilo durasse.
- Wynn?
- Mmm? - continuou lhe beijando a boca, a face.
- Sobe um pouco.
Ela ficou olhando-o.
- porquê?
- Porque quero beijar-te os peitos. E depois o ventre; tem um ventre adorável. E depois, talvez
queira te mordiscar um pouco esse traseiro teu tão apetitoso.
Ela tragou saliva com dificuldade.
- Vais... fazer-me isso outra vez?
Ele assentiu devagar.
- Certamente. Conta com isso.
Wynn ficou imóvel um momento, aguentou a respiração e então atacou-o com a excitação que
continha. Para Zack, parecia muito estranho sentir risadas e desejo ao mesmo tempo. Estranho, mas
também aditivo.
Era mais da meia-noite quando finalmente arrastou o seu corpo gasto e satisfeito até sua casa. E
como suspeitava, ao meter-se na cama ficou a dormir com um sorriso estúpido nos lábios.

CAPÍTULO NOVE

- Querida!
Wynn apanhou tal susto ao ouvir aquela voz a gritar que perdeu o equilíbrio e precipitou-se no
vazio da escada de mão em que estava ascensão. Tentou agarrar-se ao telhado, mas foi muito tarde. em
poucos segundos, aterrava sobre uns arbustos com um golpe sonoro. A escada de madeira caiu-lhe em
cima.
- OH, Meu deus! Wynn! Wynn! - viu um brilho de seda vermelha ao mesmo tempo que o seu pai
se ajoelhava diante dela. - Minha menina! Estás bem?

70
A cabeça dava-lhe voltas e sentiu uma dor de lado. Tinha a boca cheia de folhas e algo agudo se
cravava no quadril. O seu pai começou a retirar coisas do cabelo, mas nesse momento chegou a sua mãe e
empurrou-o para o lado.
- meu deus, quase a matas, Artemus! – a sua mãe, que vestia uns jeans descoloridos cortados pelo
joelho e uma camiseta larga, inclinou-se sobre ela. - Menos-mal que estamos aqui, Wynonna; quase te
matas, filha.
Wynn ficou olhando-os. Se o seu pai não a tivesse assustado, não teria caído. Claro que, nem
sequer tinha ouvido aproximar o carro. É óbvio, tinha estado pensando em Zack e no alucinante episódio
que tinha tido lugar na noite anterior.
A mãe olhou para o seu marido.
- Artemus, olha para ela! Acho que fez mal à cabeça.
- Não é, princesa? bebé, podes ouvir-nos?
de repente, Artemus sentiu que alguém que não era a sua esposa o afastava para um lado com
determinação. Zack, vestido só com uns jeans que ainda não tinha terminado de fechar, agachou-se diante
dela.
- Wynn? - disse-lhe em tom suave e aflito enquanto lhe acariciava a face. - Não te movas, querida.
Fica quieta até que me assegure que estás bem.
«Querida?» Wynn olhou para os seus pais e viu que olhavam Zack com especulação. OH, Meu
deus.
- Isto... o que fazes aqui?
Era muito cedo, nem sequer sete da manhã, e Zack tinha estado a preparar-se para ir trabalhar.
- Estava a fazer café quando te vi a subir essa escada. Quando me estava a vestir vi como caías.
- O meu pai assustou-me.
- Vá! - Artemus exclamou em tom ofendido. - Se não tivesses o cabelo metido nos olhos, ter-me-
ias visto chegar.
Zack voltou-se a para dizer algo, mas ficou mudo. Naquele dia o pai de Wynn estava totalmente
em forma. Vestia uma camisa de seda vermelha, desabotoada por acima, de modo que mostrava um bom
arbusto de pêlo encaracolado e algo grisalho; uns jeans azul-marinho de desenho que lhe sentavam como
uma segunda pele, e uns sapatos abotinados que reluziam como espelhos. Nas mãos levava dois anéis e o
enorme solitário de diamante que quase nunca tirava, e uma corrente de ouro ao pescoço. Tinha o cabelo
castanho dourado, muito diferente do de Wynn, penteado com um risco no meio e quase pelos ombros.
Zack fechou a boca e voltou-se para Wynn sem medir as palavras.
- Onde te dói?
- Em nenhum sítio. Estou bem - mas quando se quis levantar, fez uma careta de dor e Zack
agarrou-a pelos ombros. - Não, deixa que te examine.

71
- Pai?
Dani estava ali, ainda em camisola e com a sua manta de felpa amarela na mão. Wynn sorriu-lhe.
- Estou bem, diabinho.
- Caíste nos arbustos.
- Menos-mal.
Dani sorriu.
- Vi-te no telhado. Eu também queria subir.
Zack voltou-se tão bruscamente, que todos se assustaram.
- Dani, se te apanho… nem sequer penses em fazer algo assim. ficas um mês inteiro sem sair do
teu quarto - Zack soprou e então voltou-se para Wynn; parecia furioso. - Wynn vai-te dizer que o que fez
é uma estupidez, verdade, Wynn? - disse-lhe em tom de advertência.
Todos a olharam. Os seus pais esperando sem dúvida que o fizesse em pedaços. Jamais deixava
que ninguém lhe falasse assim. Mas Dani estava ali, esperando, e só de pensar que pudesse subir ao
telhado lhe pôs a pele de galinha.
- Devia ter esperado até que houvesse alguém em baixo para me agarrar a escada, Dani. Às vezes
faço coisas sem pensar. É um vício.
A sua mãe soltou um gemido entre cortado e o seu pai fingiu cambalear. Zack assentiu em sinal de
agradecimento.
- Pai, mãe, este é o meu vizinho, Zack Grange, e a sua filha Dani - disse Wynn, mais aliviada. -
Zack é enfermeiro de urgências.
- Ah, isso explica tudo - disse o seu pai com humor.
Wynn fez uma careta enquanto Zack lhe pressionava ligeiramente o flanco.
- Zack, apresento-te a minha mãe, Chastity, e o meu pai, Artemus.
- Eu gosto de muito Wynn - disse Dani.
Zack não prestou atenção às apresentações.
- Deixa que te suba um momento a camisa para ver o que te fizeste - Zack não esperou e levantou-
lhe a camisa; Wynn tinha um arranhão muito grande da base das costelas até quase ao peito. – terei que o
limpar.
- Eu curo-me assim que me levante - disse Wynn, que se apoiou na parede da casa para se
levantar; mas quando tentou fazer um esforço, esteve quase a cair.
- O que te dói? A perna?
- Não - choramingou com os olhos fechados. - É o dedo mindinho do pé.
- O dedo mindinho? - perguntou o seu pai.
Estava apoiada sobre a perna esquerda, de modo que Zack assumiu que teria magoado no outro pé.
- vou levantar-te - disse-lhe. – diz-me se te magoar.

72
- Zack! Não podes comigo.
- Pesa mais do que eu - disse seu pai.
- nada disso!
no momento seguinte, Zack levantou-a. Não lhe tremiam os braços e tinha as pernas firmes.
De repente, Wynn deu-se conta que há anos que ninguém a levantava em braços. Até Conan dizia
que era muito grande.
E por parva que parecesse, gostou. Jogou os braços ao pescoço, mas pediu-lhe que a descesse.
- Dani, vem comigo a casa de Wynn. Vestimo-la num momento - disse Zack, que nem sequer
estava fatigado.
Wynn olhou os seus pais, que contemplavam a cena com assombro.
- Vamos, Dani - disse-lhe o seu pai. – abre-me a porta. Acho que os pais de Wynn estão um pouco
assombrados.
- Estão confundidos porque de repente chega um vizinho, começa a taquetear-me depois levanta-
me em braços com uma confiança que não me viram exibir com nenhum homem.
- Não te estava «a taquetear», mas a examinar. Há uma grande diferença.
- Sim, bom, mas pelas caras que puseram, parece que para eles é o mesmo.
Zack deteve-se um momento. O fôlego cheirava a pasta de dentes.
- Estava a olhar-te pela janela. Se quiseres que te diga a verdade, quando te vi cair parou-me o
coração.
O tom sensual e afectuoso de Zack fê-la sentir algo estranha por dentro.
- Sinto muito - respondeu no mesmo tom que ele. - Não ouvi chegar os meus pais.
- Estavas a sonhar acordada - disse Dani enquanto abria a porta com impaciência.
- É verdade? - Zack entrou pela cozinha e foi para o salão. - Estavas a sonhar, Wynn? Pergunto-
me com o quê?
- Como se não soubesses - disse-lhe ao ouvido, e ele sorriu com satisfação.
No salão, Zack deixou-a com cuidado no sofá e desabotoou-lhe os cordões do sapato com
cuidado.
- Deixa. tenho o pé suado. Estou a trabalhar desde as cinco da manhã.
- Descansas alguma vez? - Zack afastou-lhe as mãos e tirou a meia. - Suado - confirmou enquanto
o deixava de lado e começava a examinar-lhe o dedo.
O dedo pequeno estava já arroxeado e o inchaço subia pela perna.
- Maldita sejas, Wynn. Partiste-o. Precisas de pôr gelo e depois enfaixá-lo. Podes ir ver o médico
hoje mesmo?
- Para o dedo mindinho? - olhou-o com incredulidade. - Não sejas ridículo.
Wynn duvidava muito que pudesse ir ao médico, conforme lhe doía o pé.

73
abriu-se a porta da cozinha e os seus pais aproximaram-se do sofá. Imediatamente, Zack olhou
para eles.
- Preciso se ir trabalhar - disse-lhes. - Wynn tem um dedo partido, talvez o pé, e precisa que lhe
façam umas radiografias. Também tem muitos arranhões que deveriam ser curados.
Chastity olhou Zack de cima abaixo.
- Bom, você vá-se, jovem. Agora estamos aqui; trataremos bem dela.
- É hippie! - disse Dani com assombro.
- Dani! - repreendeu-a Zack.
Mas Chastity pôs-se a rir.
- Dissete a minha filha?
Dani assentiu.
- E que traz anéis nos dedos dos pés.
- Só dois, mas são feitos de um metal especial que tem poderes curativos. vou pôr um a Wynn
para que lhe cure o dedo.
- Não! - exclamou Zack. - Nada de anéis. Precisa uma radiografia - acrescentou devagar mas em
tom firme.
Ao ver a sua expressão séria, Wynn cedeu.
- Bom, está bem.
- Pela tarde venho ver como estás. Enquanto isso, senhora Lane, porque não vai buscar um pouco
de gelo para o inchaço? E você, senhor Lane, podia trazer o telefone a Wynn para que possa chamar o seu
médico?
Os seus pais pareciam contentes de ser úteis. Artemus foi buscar o telefone e Chastity correu à
cozinha.
Ao sair do salão, Zack inclinou-se sobre ela.
- Sinto muito não ter mais tempo. Se não for agora, chegarei tarde.
- Entendo-o. De verdade, estou bem. Quando chegares esta noite, o meu pé grande e eu estaremos
bem descansados.
Roçou-lhe a face.
- Pés grandes para uma mulher grande e bela.
Wynn sorriu e sentiu como se lhe liquidificasse o cérebro.
- vejo-te logo.
- Pensei que tinhas planos.
- E tenho - disse sem mais explicação.
Wynn queria perguntar quais eram, mas tinha medo que fosse sair com outra mulher.
Dani deu-lhe um beijo na face.

74
- Logo venho ver-te. Vou-te fazer um desenho.
Nesse momento, Chastity entrou com uma terrina cheia de gelo e vários trapos de cozinha na mão.
- Foste tu que fizeste aquele desenho tão artístico que há na porta do frigorífico? - perguntou a
mãe a Dani enquanto se sentava descuidadamente no sofá.
- Sim, foi ela. Não é verdade que tem talento?
- Muito - disse Chastity enquanto envolvia umas partes de gelo num pano. - provaste alguma vez
as pinturas de dedos?
Tanto Wynn como Zack fizeram uma careta.
- Mãe, com isso fica tudo perdido.
- E então? - fez um gesto com a mão como lhe tirando importância. - tu e as tuas manias de
limpeza. Dani é uma menina! Não é bom curvar o seu espírito criativo só porque vai manchar um pouco
as unhas.
Com muito cuidado, Chastity pôs o pano com gelo sobre o pé.
- Trago as minhas pinturas de dedos comigo, Dani. Vais adorar, vais ver.
- Obrigado - respondeu Dani.
Nesse momento, entrou Artemus com o telefone na mão.
- Aqui o tenho - o passou a Wynn junto com uma pequena agenda; então voltou-se para Dani e
acariciou-lhe a cabeça. - Uma trança linda - disse antes de olhar a sua filha. - Não queres que te arrume
um pouco o cabelo enquanto fazes a chamada?
- Não - disse Wynn imediatamente, e seu pai fingiu ficar sério.
Zack tomou Dani nos braços.
- Temos que ir a correr. Wynn, lembra-te do que te disse.
Cinco segundos mais tarde, Zack partiu. Wynn recostou-se no sofá. Pulsava-lhe o pé, doíam-lhe as
costelas, ardiam-lhe os arranhões que tinha por todo o corpo.
Nesse momento, os seus pais olhavam-na á espera.
Duvidava que Zack desse conta, mas depois de tudo o que acabavam de presenciar, não se
enganariam com uma simples visita á banheira de hidromassagem. Não. Eram excêntricos, mas não eram
tolos.
E reconheciam a química sexual quando a tinham em frente.
A sua mãe, fingindo de repente muito interesse no seu dedo inchado, disse.
- Caramba, caramba. Que bombom - olhou Wynn de soslaio com um sorriso de cumplicidade.
- Muito viril - comentou o pai enquanto se atirava do pendente distraidamente e olhava as pernas
de Chastity; apesar de levar muitos anos de matrimónio, Artemus continuava a sentir uma atracção
especial pela sua esposa. - imagino que está solteiro.
Wynn arranjou-se no assento.

75
- Sim.
Reinou o silêncio durante uns momentos, e então o seu pai agarrou as mãos e suspirou.
- Bom, a menina tem um cabelo maravilhoso. Ou pelo menos terá quando eu tratar dele. No geral,
eu diria que seriam uma maravilhosa ampliação para a família. O que te parece, Chastity?
A sua esposa sorriu.
- Acho que chegámos bem a tempo de ver as faíscas da paixão.

Assim que saiu do carro, Zack ouviu o ruído que provinha da casa de Wynn. A música a todo
volume misturavam-se com as gargalhadas e as vozes.
Eram seis e meia da tarde, e estava cansado, faminto, preocupado e stressado. Parecia que se
atrasou no momento em que se levantou da cama, e não se recuperou.
Primeiro tinha dormido. depois dos excessos da noite anterior e de dormir tão bem, o despertador
tinha passado meia hora a tocar até que Zack o ouviu. Quando se tinha recuperado disso, foi preparar café
antes de se barbear. Enquanto acrescentava o café à máquina, tinha olhado pela janela da cozinha e tinha
visto Wynn a subir com precariedade aquela velha escada de madeira tentando limpar os canos.
Imediatamente tinha subido para vestir as calças e despertar Dani, para sair e falar com Wynn antes que
caísse.
Mas tinha sido muito tarde.
estremeceu só de pensar no momento em que tinha aberto a porta e tinha visto Wynn a cair
daquela altura. Que sorte que só tinha partido um dedo do pé!
Então pensou nos seus pais e na descrição que Wynn lhe tinha dado no primeiro dia. Agora já
sabia que tinha sido a adequada. Nunca tinha conhecido um homem tão extravagante e teatral; cada
palavra dele, cada gesto, eram exagerados.
A mãe era, como tinha dito ela mesma, uma hippie. Tinha o cabelo comprido e loiro com mechas
grisalhas, mas a sua figura continuava a ser jovem. Certamente Wynn tinha herdado as preciosas pernas
da sua mãe. Chastity não era tão esbelta como Wynn, mas no geral era uma mulher atraente. Estranha,
mas atraente.
depois de sair de casa de Wynn, tinha voltado para a sua para terminar de se preparar e partir para
trabalhar. Tinha saído de casa na hora de sempre. Desgraçadamente, quando tinha chegado a casa de
Eloise para deixar Dani, tinha-a encontrado muito doente. Eloise tinha-se empenhado em que só era gripe,
mas Zack tinha insistido em levá-la ao hospital. Tinha ligado ao seu supervisor e explicado por que
chegaria tarde. Enquanto a mulher preparava algumas coisas se por acaso tivesse que ficar em
observação, Zack tinha ligado a Josh, que esse dia tinha livre.
Uma mulher tinha-lhe respondido ao telefone. Zack pensou em desligar e ligar a outro amigo, mas
Josh veio atender e, ao saber do que acontecera, tinha ficado de ir procurar Dani ao hospital.

76
De caminho para o hospital, Zack tinha localizado a neta de Eloise, que tinha ficado de se
encontrar com eles ali se por acaso a sua avó tivesse que ser internada.
Quando por fim tinha chegado ao trabalho, passavam quase duas horas. As mulheres que
trabalhavam com ele ralharam com ele pois ia sem se barbear e com uma expressão aflita.
E tinha pensado em Wynn durante todo o dia.
Invadia-lhe o pensamento, perseguindo-lhe o ânimo e aquecendo-lhe o corpo. Num momento,
estava preocupado por ela e pelo que se tinha passado, e no seguinte só pensava em fazer amor outra vez.
Nesse momento olhou para sua casa, em cujo caminho de entrada havia uns quantos carros
estacionados.
Uma festa. Estava a celebrar uma festa. Tinha-lhe prometido que iria com calma, que subiria o pé
ao alto e que descansaria. Em lugar disso, organizava uma festa.
Zack apertou os dentes e avançou para a rampa da sua cozinha. Bem. Que fizesse o que quisesse.
Limitar-se-ia a não fazer caso dela e das suas irresponsáveis maneiras. Além disso, quanto menos se
preocupasse com ela ou pensasse nela, melhor.
O que queria era possuí-la uma e outra vez, de muitas maneiras diferentes. Desejava beijá-la por
todo o corpo, começando pelos dedos dos pés, subindo pelas pernas até chegar ao seu delicioso...
- OH, maldita seja - Zack abriu sua porta. - Já estou em casa - cantarolou.
Quando ninguém lhe respondeu, deu-se conta que no caminho de sua casa não tinha visto o carro
do Josh. ficou de pé no meio do salão, cansado e dorido, pensando no que fazer.
Irritado e de mau humor, foi à cozinha para espreitar pela janela. Ali, no pátio de Wynn, havia
pelo menos uma dúzia de pessoas, incluindo Josh e Dani. De um alto-falante no pátio saía música a todo o
volume e também tinham montado uma rede para jogar peteca. Uma mulher que não conhecia jogava a
par com o Conan contra Marc e Clint, enquanto Bo estava apoiado contra uma árvore e animava os
jogadores.
No pátio, Chastity cantava enquanto dava voltas a um cravo que se torrava no andaime. Artemus,
vestido nesse momento de negro, dançava com Dani. A sua filha parecia levar uma das camisetas cheias
de nós de Chastity, que lhe chegava quase até aos pés.
Zack olhou ao seu redor e finalmente localizou Wynn. Estava sentada no sofá do pátio com Josh.
Ao ver que tinha o pé apoiado no colo deste, Zack encolheu-se o estômago.
Em poucos segundos cruzou a relva com a vista fixa em Wynn, que ainda não tinha dado conta de
nada. nesse dia estava vestida com uma regata cor pêssego, muito parecido ao tom da sua pele, e umas
calças brancas de pinças que deixavam a descoberto as suas pernas compridas e sensuais.
Zack sentiu uma angústia na garganta. Quando chegasse ia...
Conan aproximou-se para o saudar.

77
- Olá, Zack, onde vais? - aproximou-se dele um pouco mais. - O caso é que - sussurrou-lhe -
pareces muito zangado, e a minha irmã esteve todo o dia bastante triste.
- Sim - disse Zack, que não tinha deixado de observar Wynn enquanto ela sorria e ria com Josh. -
Parece muito triste.
Conan pestanejou e então pôs-se a rir.
- Os ciúmes são um problema, verdade?
Zack deu um olhar de advertência e o irmão de Wynn retrocedeu um pouco.
- De acordo - disse afogando um sorriso e levantando as mãos para acalmá-lo. – Retiro o que
disse. Não estás ciumento.
Zack entre cerrou os olhos.
- E porque devia estar ciumento?
- Por nada! Por nada absolutamente. Quero dizer, Acredites ou não, Wynn está a passar mal; dói-
lhe tudo e... Não é, espera um momento!
Wynn estava a sofrer? Não podia suportar.
Zack respirou fundo para tentar acalmar o seu nervosismo. Normalmente não ficava assim, e sabia
que a causa do seu estado de ânimo era Wynn e só Wynn. Sempre tirava o pior dele. Claro que, também o
excitava mais que nenhuma mulher que tinha conhecido na sua vida.
- Sinto muito. De verdade que sim - disse Conan em tom afável. – os meus pais deram esta festa
surpresa para ver se a animavam um pouco, mas vê-se que não se sente bem. Quero dizer, partiu o dedo
em dois sítios. O que te parece? Tem os pés maiores que a maioria, mas continua a ser o dedo mindinho.
Zack fechou os olhos e contou até dez; para cúmulo, Conan continuou a falar naquele tom
ligeiramente malicioso.
- o teu amigo esteve a afugentar todos do seu lado, incluindo os meus pais. Pôs o pé de Wynn
sobre os seus joelhos quando já lhe tinham dado três vezes sem querer. Tinhas que tê-la ouvido a gritar.
- Maldita seja.
Conan esfregou o pescoço, olhou para o sol que se ocultava e depois para os seus companheiros de
jogo que o esperavam para continuar. Então voltou-se para o Zack.
- A intenção dos meus pais é boa. Só que Wynn quase nunca se queixa e jamais reconhece que fez
mal, por isso não se dão conta de...
- Pai! – a sua filha correu como uma louca para ele, interrompendo a explicação do Conan.
Zack entendia a situação, mas não gostava que Wynn tivesse que se comportar como se fosse um
homem. Apesar de ser forte, continuava a ser uma mulher. E maldição, ele queria protegê-la.
Dani lançou-se aos seus braços e Zack notou que a sua filha tinha umas sandálias em lugar das
sapatilhas de desporto. No dedo gordo do pé trazia um anel de prata.
Zack levantou-a e abraçou-a.

78
- Caramba, Dani, trazes um vestido posto - brincou.
Ela pôs-se a rir, agarrou-lhe a cara e deu-lhe um beijo muito ruidoso.
- Não é um vestido. É de Chastity. Deixou-me vestir isso para pintar com os dedos. Não é bonita?
- Sim, é muito bonita. Sobretudo, ficas muito bonita.
- Conan disse que era uma menina flor.
- Mas mais bonita - esclareceu Conan.
Zack abraçou-a outra vez e pôs-se a andar para Wynn. De repente deteve-se, voltou-se para o
Conan e disse.
- Obrigado.
Conan fingiu alívio.
- Sim, quando quiseres. Quero dizer, é um peso, mas continuo a gostar da minha irmã - baixou a
voz, que adoptou um certo tom de advertência. - E eu não gostaria que ninguém lhe desse um desgosto.
Ou lhe fizesse mal - olhou Zack para se assegurar que este tinha entendido o significado das suas
palavras.
Zack assentiu, o que era o melhor que podia oferecer de momento.
- Então, passaste bem hoje? - perguntou á sua filha.
- Melhor que nunca, pai! Artemus está a ensinar-me a dançar e olha o que me fiz no cabelo - disse
voltando a cabeça de um lado a outro.
Tinha-lhe feito uma trança que depois tinha enrolado num coque com um montão de pequenas
contas de cristal multicoloridas em forma de flor inseridas nele. Dois saca-rolhas penduravam-se diante
das orelhas.
- Preciso da sua permissão para lhe cortar as pontas - disse a Zack antes que este pudesse saudá-lo.
- Tem um cabelo maravilhoso, simplesmente maravilhoso. Mas Deus sabe o tempo que não o arranjam.
Está a pedir aos gritos um bom acerto.
Zack olhou para Dani, que o olhava com esperança.
- Queres que te arranjem o cabelo?
Ela assentiu.
- Então dou a minha permissão.
Artemus aplaudiu muito contente. Nesse momento, Chastity voltou-se para Zack.
- Hambúrguer ou cachorro quente?
Zack olhou aquela fascinante mulher que tinha dado á luz Wynn.
- Os hippies comem carne?
- Carinho, quando têm a minha idade, fazem o que lhes dá na gana.
Artemus aproximou-se e deu-lhe um beijo na orelha.
- E querem fazer muitas coisas - piscou um olho a Zack. - Os hippies são do mais criativo que há.

79
- Ah - Zack sorriu divertido diante o evidente afecto que se prodigalizava o casal. - Nesse caso,
como um hambúrguer. Obrigado, senhora.
- Partindo um hambúrguer.
Josh retirou o pé de Wynn do seu colo e levantou-se para saudar Zack.
- Como está a Eloise?
- Liguei para o hospital antes de sair do trabalho. Tem bronquite. Com o medicamento que lhe
deram, sente-se muito melhor.
- Tem alguém que cuide dela?
Zack assentiu sem olhar ainda para Wynn. Se a olhasse, teria desejos de se aninhar contra o seu
peito, acariciá-la e mimá-la.
- vai ficar uma semana com a sua neta até que se recupere.
Dani e Artemus passaram junto a eles a dançar ao compasso dos Beach Boys.
- Uma semana, não é? - disse Josh. - O que acontece á ratita? Quem vai cuidar dela?
Zack olhou a sua filha e pôs-se a rir.
- Arranjei-me isso para conseguir uma semana de férias antes do tempo. Não foi fácil, mas troquei
as minhas com o Richards.
Josh parecia contente.
- Então estarás por aqui todos os dias desta semana - olhou par Wynn.
- Isso é o que acabo de te dizer - disse, e ajoelhou-se diante de Wynn. – Como estás?
- Bem.
Zack soube que estava a mentir. Tinha má cara. Ele olhou-a e franziu o rosto, como dizendo que
sabia como se sentia, e então ocupou o assento do Josh. Zack colocou-lhe o pé no seu colo para a olhar.
Ainda tinha o pé inchado sob as ligaduras e, por alguma estúpida razão, teve vontades de a beijar.
- tomaste algo para a dor? - perguntou-lhe sem a olhar.
- Aspirina.
Josh sentou-se sobre o braço da poltrona e inclinou-se por volta dos dois.
- Vós sabem que o gelo é bom para baixar o inchaço, mas colocá-lo em água quente é o melhor
para a dor.
Zack volteou os olhos; Josh não tinha tacto nenhum, nem tampouco conhecimentos médicos.
Wynn olhou-o.
- Estava a pensar na tua banheira, Zack - Josh esclareceu a voz e continuou. - Um bom vizinho
oferecia-se a permitir que a utilize.
Sem se voltar para eles, Chastity comentou.
- Estou certa que lhe teria ocorrido mais cedo ou mais tarde.

80
Artemus riu-se com satisfação do humor cáustico da sua esposa. Então deu uma volta a Dani e
terminou o baile com uma vénia.
Dani aproximou-se deles e, com toda a naturalidade do mundo, subiu aos joelhos de Wynn.
Zack teve que tragar saliva da emoção ao ver a sua filha nos braços da sua vizinha. Mas Dani
sorria e parecia segura e totalmente a gosto.
Por essa razão, Zack amaldiçoou para si mesmo.
Wynn não era a mulher adequada para ele. Quando imaginava a mulher adequada, imaginava uma
mulher discreta, circunspecta e responsável. Uma mulher que fosse uma boa influência para a sua filha e
o par que o ajudasse a educá-la. Wynn era directa, impetuosa e irresponsável. Não tomava cuidado nem
pensava nas coisas antes de as fazer. Conhecia muitos homens que a conheciam muito bem... Não, isso
não era exactamente verdade, e imediatamente sentiu-se culpado por pensar desse modo. Mas ao mesmo
tempo também se dava conta que de repente sentia ciúmes quando nunca na sua vida os tinha sentido. E
isso também o irritava.
Wynn vestia provocativamente, não comia bem e dizer que a sua família era estranha era dizer
pouco. Mas ela era tão linda e sensual, que não podia deixar de pensar nela.
Que diabos devia fazer?
- Come - disse-lhe Chastity, como se lhe tivesse lido o pensamento, e passou-lhe um prato com
um delicioso hambúrguer com alface, pepinos japoneses e queijo.
A Wynn deu outro igual e a Dani um cachorro quente.
Todos os que estavam a jogar peteca se aproximaram e Conan apresentou Zack á sua noiva,
Rachael. Esta era uma mulher bonita e esbelta de estatura media. Ia vestida razoavelmente com uns
calções cor tabaco e uma camisa pólo azul. E nenhum dos homens lhe dava palmadas no traseiro.
Entretanto, assim que Wynn disse que precisava de entrar um momento, as crianças ficaram em
fila para a ajudar. Começaram a brincar e a comparar os bíceps, tentando decidir quem era o
suficientemente forte para a levar.
Zack não lhes deu a oportunidade de lhe roçar num cabelo. Tomou-a em braços e ficou de pé.
- Que tolice, Zack. Sou capaz de andar, sabes?
Wynn apoiou a cabeça no ombro de Zack.
- Sei. Mas os outros não acreditam - voltou-se para Dani. - Fique aqui com o Josh, querida.
- está bem!
Zack foi para a porta de trás. O certo era que estava encantado de tê-la nos braços, de carregar com
aquele peso suave e compacto. Gostava de a abraçar, e de maneira nenhuma ia permitir que nenhum dos
seus amigos a levantasse nos braços e experimentasse as mesmas sensações que estava a sentir ele.
- Só estão a brincar - disse-lhe Wynn - e tu estás a cair na sua armadilha.
Ela esticou o braço para abrir a porta da cozinha quando Zack parou em frente.

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- onde?
- casa de banho.
Quando fechou a porta, Zack esfregou-lhe o nariz contra a orelha.
- Vens esta noite?
Ela olhou-o surpreendida.
- Pensei que tinhas planos.
- Estarei livre às onze. tive um dia horrível e não posso imaginar melhor maneira de acabar senão
com uma repetição de ontem à noite - roçou-lhe os lábios com os seus. - Isto é, se puderes.
- Achas que me vou ficar atrás por um dedo partido?
Zack beijou-a no queixo e sentiu que toda a tensão do dia se dissipava só de estar perto dela.
- De acordo - acrescentou Wynn. - Dou-me por vencida. O que vais fazer esta noite?
Estavam no corredor à porta do quarto de banho. Wynn não lhe pediu que a pusesse no chão e
Zack parecia não ter pressa. Olhou-lhe a boca e gemeu para si. Sentiu que se começava a excitar e
controlou-se.
- vão vir a Do e o Mick. Eles os dois, Josh e eu vamos ver a entrevista que Do gravou para o seu
próximo livro. Vai emitir-se no canal...
Ouviram um golpe e, ao levantar a vista, viram Conan desmaiar contra a parede, com o punho
colado ao peito.
- Dalila Piper vai estar aqui? Na casa do lado? OH, Meu deus.
- Dalila Piper Dawson. Recorda-te, já te disse que Mick não gosta que utilizes só o seu sobrenome
de solteira.
Conan elevou o olhar e suspirou ruidosamente.
- Uma celebridade entre nós. Esperem que eu conte aos outros.
- Conan - disse Wynn com suspeita. - O que estás a fazer aqui?
- Bom... - vacilou Conan, que o tinham apanhado distraído. - trouxe os livros da senhora Piper
para dar ao Zack.
- Sim…
- Mas agora que sei que os posso dar eu mesmo - esfregou as mãos. - Estou a desejar.
Zack supôs que Conan tinha entrado para ver o que fazia a sua irmã; mas fosse o que fosse, ficou
esquecido enquanto saía da casa como uma exalação para compartilhar a notícia.
Zack olhou para Wynn e então deu-lhe um beijo no pescoço.
Ela suspirou.
- Sinto muito, Zack, mas dá-me a impressão que a reunião com os teus amigos acaba de ir pelo
cano abaixo.
Ele voltou a beijá-la.

82
- Estou encantado que venha o Conan. A Do fará ilusão e manterá Mick em alerta. Chateia-o cada
vez que um homem a olha com admiração, embora seja pelo seu trabalho.
- Zack?
- Mmm?
- Podes descer-me.
- Não sei se queres.
- Se não me desceres, não será só o Conan a entrar, mas também os meus pais.
Com muito cuidado, Zack deslizou-a pelo seu corpo até ao chão. Não lhe soltou os ombros nem
deixou de a olhar nos olhos.
- Eu gosto do tua uniforme. É sexy.
Zack sorriu.
- A sério?
- E isto também é interessante - passou-lhe a mão pela penugem de dois dias.
- Esta manhã não tive tempo de me barbear - disse enquanto esfregava a face contra a sua; então
olhou os peitos. - Mas vou barbear-me mais tarde. Eu não gostava de te fazer uma queimadura.
- Zack...
Suspirou o seu nome de tal modo, que Zack sentiu a tentação de se meter com ela na banheira.
- Entra antes que me coloque contigo.
Ela esboçou um sorriso e meteu-se no quarto de banho. Zack sacudiu a cabeça e invadiu-o uma
ternura e um desejo muito grandes. A sua ridícula falsa valentia não devia fazer sentir essas coisas. Ela
mesma não devia fazê-lo sentir essas coisas. Mas fazia, e Zack soube que estava metido até ás
sobrancelhas.
O problema era que, por alguma estranha razão, não era capaz de fazer provisão da energia
suficiente para o evitar.

CAPÍTULO DEZ

Eram onze horas e os seus pais retiraram-se para o seu quarto há quase meia hora. Wynn ouvia-os
a conversar e a rir. Como seus pais continuavam brincalhões mesmo depois de tantos anos, Wynn disse-se
que não se devia esquecer de acender o ventilador do teto do seu quarto quando se deitasse nessa noite.
Desgraçadamente, estava quase em casa de Zack quando se deu conta que vários carros
continuavam à entrada da casa do seu vizinho. via-se que os seus amigos ainda não tinham partido. Estava
quase a dar a volta quando uma voz de mulher lhe disse.
- Você deve ser a Wynn.

83
Wynn ficou gelada. Zack tinha acesa, como ela, a luz do alpendre e sabia que a mulher a estava a
ver. Mesmo assim, pensou em esconder-se.
- Sou a Do - disse a mulher em tom amável. - Vem conversar connosco.
Wynn não se uniu ao grupo do seu irmão e dos seus amigos quando estes tinham ido beijar os pés
à escritora. Não foram muito as histórias de mistério e, por outro lado, não queria ser pesada com o Zack.
Doía-lhe o pé e sentiu vergonha porque ia em robe, mas avançou e até sorriu.
- Olá. Sim, sou Wynn, uma vizinha.
Dalila Piper Dawson estava apoiada contra uma árvore. Quando Wynn se aproximou, Do deu-lhe
a mão.
- ouvi falar muito de ti.
- Ah, sim?
Quem lhe teria falado dela? Zack? Wynn aproximou-se um pouco mais.
Embora Dalila fosse uma mulher alta, Wynn era um pouco mais. Do tinha uma dessas figuras
esbeltas, que fez com que Wynn se sentisse como uma lenhadora.
- Vais para a cama? - perguntou-lhe Dalila ao ver como ia vestida.
- OH, não - disse. - Tenho posto o fato de banho. Hoje parti... isto, um dedo, e Zack convidou-me
a utilizar a sua banheira de hidromassagem.
- É verdade! Já me tinham contado isso também.
Wynn olhou a mulher.
- O que é exactamente o que te contou o Zack?
- Bom, não muito. Zack, como te terás dado conta, é muito reservado - disse Dalila. - Também é
muito tranquilo - acrescentou. - Mas tanto Josh como Mick me disseram que, quando está contigo, muda
por completo. Perde os estribos, e não deixa de se queixar e grunhir. eu adoro. Foi tão divertido quando
começou a dizer que queria procurar esposa. Tinha todas as noções estúpidas sobre o que devia reunir a
candidata - Dalila sacudiu a cabeça e a sua preciosa juba negra, lisa e reluzente, brilhou sob a luz da lua..
Wynn tocou o cabelo, que tinha recolhido num coque sobre a cabeça.
- Deixa que te avise de uma coisa. Se te casares com o Zack, quererão que te vistas de noiva para
as bodas.
Dalila disse-o como se isso fosse o pior de tudo. Mas como Wynn também não gostava muito de
se emperiquitar, compreendeu-a perfeitamente.
Do fez uma careta.
- Mas tendo em conta os resultados finais, não é tão mau.
Wynn olhou de um para o outro, sem saber como responder a isso.
- Não nos vamos casar. Zack não vai a sério comigo. Quer... Bom, só me deseja - acrescentou.
Mas não para se casar comigo.

84
Dalila olhou-a e então agarrou-a por um braço.
- vamos sentar-nos. Você tens o dedo partido e eu tenho-te aqui de pé compartilhando
confidências - agarrou-a por um braço e avançaram com cuidado. - Não façamos ruído. As crianças estão
a tagarelar. Saí para tomar um pouco de ar, mas não quero que se unam a nós ainda.
detiveram-se junto à banheira e Dalila sentou-se no bordo e cruzou as pernas.
- As cortinas do pátio estão jogadas, de modo que não nos verão. Podes meter-te se gostares.
Wynn sacudiu a cabeça.
- De acordo, mas voltemos para o assunto do sexo.
- Eu não disse isso exactamente - disse Wynn, que não tinha nem ideia porque tinha confessado
isso a uma estranha.
- Não aconteceu nada. As pessoas sempre me confiam essas coisas. Sou escritora, já sabes.
Wynn não sabia o que tinha isso a ver com nada.
- o teu irmão contou-me muitas coisas sobre ti. Diz que nunca te interessaste tanto por um homem
como Zack.
- vou matá-lo.
Dalila pôs-se a rir.
- Não te preocupes. Ninguém o ouviu. Mas devias saber que Zack sente o mesmo. Pensei que
Mike era estranho quando o conheci, mas Zack é ainda pior. Josh, entretanto, não conhece limites quando
se trata de mulheres.
- Acho que Josh é um conquistador - comentou Wynn. - É assim.
- Gosta de pensar isso - disse. - Desgraçadamente, as mulheres estão de acordo com ele. Mas
voltemos para vocês os dois. O que te quero dizer é que, faças o que fizeres, não te ponhas atrás. Eu estive
quase a dar-me por vencida com o Mick, mas felizmente a sua família convenceu-me para continuar. Já
que nos consideramos virtualmente a família de Zack, sinto-me obrigada a dar-te o mesmo conselho.
Wynn sentou-se junto de Dalila no bordo da banheira e deixou cair a cabeça para trás.
- Não te admires que Zack não se interesse em ter nada sério comigo. Cada vez que estou com ele,
acabo por termino fazer alguma tolice.
- Mmm - Dalila ficou de pé e começou a passear-se de um lado para o outro; trazia umas calças
curtas de globo e uma camiseta branca, e mesmo assim o seu aspecto era do mais feminino. - Acho que
devias dizer ao Zack o que sentes.
- A sério? - Wynn fez uma careta só de pensar em fazê-lo. - Isso foi o que fizeste com o Mick?
Ela pôs-se a rir.
- Totalmente. O pobre Mick não sabia o que pensar de mim. Mas não estou acostumada a ocultar
os meus sentimentos, sobretudo quando são tão fortes. Soube quase no momento em que o vi que o queria
para mim só.

85
Wynn assentiu. Ela sentia o mesmo pelo Zack. Quase desde o começo tinha percebido o quanto
era maravilhoso.
- De acordo - disse Dalila. - tira o robe e entra na banheira. Mick, Josh e eu iremos enviar o Zack.
Como é o teu fato de banho? - abriu muito os olhos. - Ou não trazes nada? - perguntou-lhe com delícia.
- É obvio que trago! - exclamou Wynn, - Não sairia nua de minha casa.
Dalila parecia decepcionada.
- De acordo, deixa-me ver.
- É... um pouco pequeno.
- Para provocar o Zack? Boa ideia, embora na realidade não seja tão boa como estar nua. Além
disso, ele não precisa de provocação alguma. passou toda a noite nervoso e impaciente. Todos sabíamos
que queria que nos fossemos embora para estar contigo, assim Mick e Josh empenharam-se em ficar um
momento mais para ver o Zack a ficar nervoso - Dalila sacudiu a cabeça. - Estão todos loucos, mas eu
gosto deles. - Dalila deixou de falar um momento, e então esclareceu voz. - Posso ver o fato de banho?
Wynn, que não tinha nenhuma amiga íntima, tinha gostado muito de Dalila imediatamente.
- De acordo, mas não te rias.
- porque me ia rir?
Wynn abriu o robe. Não estava nua, mas a tanga de agulha de croché era o mais parecido com o
estar.
Dalila assobiou.
- Zack terá sorte se conseguir durar meia hora. Estás estupenda. Como uma modelo.
Wynn fechou o robe.
- A única vez que Zack e eu fizemos amor estava escuro como a boca do lobo e não me viu bem.
- Pois com esse biquíni vai ver-te maravilhosamente! Ligas-me amanhã para me dizer como foi?
Wynn ficou estupefacta.
- Bom, claro. Sim.
- Espera! Melhor ainda; podemos comer juntas. Acabei de terminar um livro, de modo que tenho
um tempo livre. Preciso de deixar descansar o cérebro antes de começar a idear outra trama. Onde
trabalhas? Posso ir-te buscar.
Comovida pelo entusiasmo de Dalila, Wynn deu-lhe a direcção do ginásio do seu irmão.
- Conan fará chichi em cima se te vir lá.
- o teu irmão é um verdadeiro doce. eu adoro conhecer os meus leitores. Na realidade, não lhe diga
ainda, mas estou a pensar situar uma história num ginásio.
Wynn estava encantada.
- Acho que é interessante. Acho que Conan vai ficar encantado por te ajudar e responder a
qualquer pergunta que lhe queiras fazer.

86
- Estupendo. A que hora queres almoçar? - perguntou Dalila.
- Parece-te bem se for às onze e meia?
- Perfeito. Lá estarei. Agora entra na banheira e em seguida envio o Zack.
- Prazer em conhecer-te, Dalila.
Dalila voltou a cabeça.
- O mesmo digo eu . E chama-me Do.
Wynn ficou a olhá-la, sentindo como se tivesse passado um tornado por ali. Então pensou que
Zack sairia de um momento para o outro; não queria ter que tirar o robe à frente dele. Assim deixou-o
sobre uma cadeira e meteu-se na água morna. Os jorros ainda não estavam ligados, mas a água estava que
dava glória, e cobria-lhe a maior parte do seu corpo nu. Só esperava que Zack apreciasse a sua falta de
pudor.

Assim que Zack, graças a Do, conseguiu livrar-se de Mick e de Josh, fechou a porta da casa com o
ferrolho e correu para o pátio. Dani estava há muito tempo a dormir, os seus amigos tinha ido embora e
Wynn esperava-o já na banheira. Finalmente, o dia começava a ficar interessante.
Abriu as cortinas da porta que dava para o pátio e olhou para Wynn uns segundos antes de abrir as
portas e sair. Estava linda, embora só a visse de ombros para cima.
Tinha o cabelo recolhido num coque sobre o cocuruto, mas estava diferente pelo efeito do vapor
de água. Nas têmporas despontavam minúsculos cachos de cabelo dando-lhe a aparência de um pintainho
recém-nascido.
Zack sorriu e teve que admitir que não foi só o desejo o que lhe subiu à garganta.
- Olá.
Wynn levantou a cabeça e olhou para ele.
- Olá.
Sem deixar de a olhar, começou a desabotoar a camisa.
- Se soubesse que estavas aqui, teria saído antes.
- Não há problema; não queria interromper a tua visita.
- gostaste de conversar com a Do?
Mais do tudo, perguntava-se do que teriam falado. Claro que, com a Do, quem sabia?
- É estupenda, não é?
- Do é uma querida - deixou a sua camisa e sentou-se numa cadeira para tirar os sapatos. - Mick
está louco por ela.
depois de tirar os sapatos e de os deixar a um lado, ficou de pé para desabotoar as calças.
- Não me vou incomodar em vestir o fato de banho. Importas-te?

87
Wynn olhou-lhe o abdómen e sacudiu a cabeça. Já estava tão excitado, que era impossível não
notar a sua erecção. Desejava-a, muito mais ainda desde que tinha estado com ela e sabia o quanto era
incrível.
Estavam rodeados por uma cerca que impedia que alguém os visse. Mesmo assim, meteu-se
dentro e apagou as luzes, deixando a banheira em penumbra.
Wynn protestou levemente, e Zack pôs-se a rir.
- Os teus olhos acostumar-se-ão à escuridão, mas não quero arriscar-me a que apareçam os seus
pais ou qualquer outra pessoa.
- Estão na cama - disse. - A não ser que se passe um desastre natural, não sairão dela.
Zack tirou a carteira do bolso. Tirou duas camisinhas e deixou-as à mão. Então tirou as calças e as
cuecas e colocou-as sobre as costas da cadeira.
- Queres que ligue os jorros? - perguntou-lhe enquanto se metia na banheira. - Ou gostas assim?
Wynn tragou saliva. Estava diante dela, e notou o seu olhar como um dardo de fogo acariciando-a
entre as pernas. Separou as pernas e esperou.
- Zack?
- Sim?
- Já me acostumaram os olhos à pouca luz.
Ele sorriu e quis sentar-se, mas ela agarrou-o pelos quadris.
- Não, espera um momento. Deixa que... Olha. Não te toquei muito a outra noite. Depois pensei;
pensei que podia tê-lo feito, mas que não o fiz. Agora posso.
Deslizou-lhe as mãos pelas coxas, para baixo e para cima. Zack observou como ela o olhava, e
pareceu-lhe tão erótico que esteve quase a não poder aguentar.
- Quase não te dei a oportunidade de o fazer.
- Foste maravilhoso.
Sem dizer mais, inclinou-se para a frente e acariciou-lhe os testículos. Tinha as mãos quentes da
água, molhadas e sedosas. O coração começou a pulsar-lhe com força.
Com a outra mão começou a tocá-lo por toda parte, excepto onde mais desejava que o tocasse. O
seu membro pulsava e estendia-se, mas ela ignorou-o enquanto lhe passava as palmas das mãos molhadas
sobre o traseiro, os quadris, as coxas, com uma suavidade e uma curiosidade que o excitaram ao extremo.
Quando se inclinou para a frente e lhe plantou um beijo no quadril, ele gemeu.
- Wynn, és uma provocadora.
- Não. Só que, desejo-te tanto. Todo inteiro.
Como ela era tão aberta, tão valente, Zack soube que não mentia.
Por isso não pôde suportar e agarrou a mão, que não parava de se mover, e pô-la onde mais queria
que ela o tocasse.

88
- Aqui, Wynn - disse-lhe, e ela agarrou-o com doçura.
- gostas? - perguntou-lhe enquanto levantava a cabeça e o olhava com os seus olhos.
Uma mulher com as mãos grandes era uma bênção, pensava Zack. Agarrou-o na perfeição, com
firmeza mas com cuidado, com suavidade, mas com força. Um gemido de prazer escapou dos seus lábios.
- Sim...
Sem o soltar, Wynn ficou de joelhos devagar. Ao fazê-lo, Zack viu-lhe os peitos, que estavam
contidos na minúscula parte de cima do biquíni. Enquanto isso, Wynn não deixava de o acariciar.
- É suficiente - disse-lhe, e agarrou-lhe as mãos.
- Mas...
Puxou por ela com cuidado e abraçou-a pela cintura.
- Cuidado - disse enquanto a olhava com desejo. - Não te magoes no pé.
ela sorriu.
- Que pé?
Ele também sorriu enquanto começava a acariciar-lhe os peitos.
- Deus, és linda.
- Sou enorme - respondeu.
- E sexy.
- É a primeira vez que ponho um biquíni como este.
- Graças a Deus.
- A minha mãe comprou-me isto quando me tentava casar.
Imediatamente, Zack levantou a cabeça.
- Como?
Wynn encolheu os ombros.
- Disse-te que não saio muito. Isso incomoda os meus pais. Eles conheceram-se jovens; sempre
foram felizes e querem que eu seja feliz.
Zack abraçou-a com cuidado, tentando afogar a sensação de náusea que de repente tinha no
estômago.
- Precisa de te casar para ser feliz?
Ela desviou o olhar.
- Não tenho pressa.
Não tinha a certeza se gostava muito dessa resposta.
- porque não?
- Como tu, acho que estou à procura de alguém especial. Deve ser por isso que não me atraem
muitos os homens, entendes? E acabo de comprar a minha própria casa. Quero desfrutar dela um tempo
antes de ter que começar a mudar outra vez as coisas.

89
- Entendo - disse, embora na realidade não entendesse.
- Podemos deixar de falar agora?
- Queres continuar, verdade?
Acariciou-lhe o peito e depois mais abaixo.
- Sim, quero continuar.
Zack sentou-se no assento da banheira.
- Vem cá, Wynn.
Wynn aproximou-se e desabotoou a parte de cima do biquíni, que deixou junto à banheira.
- Um destes dias - começou a dizer - vou fazer amor ao sol para te poder ver bem.
antes que pudesse responder a isso, inclinou-se para a frente e começou a sugar-lhe o mamilo
direito.
- Zack... - gemeu sem se poder conter; ele fez o mesmo com o outro peito e Wynn continuou a
gemer em tom baixo. - Já estou preparada, Zack - sussurrou-lhe com urgência.
- Impossível - respondeu Zack. – começámos agora.
- Mas passei o dia a pensar nisto, até durante a estúpida festa - levantou a cara para o olhar. - Por
favor, Zack.
Ele olhou-a enquanto lhe deslizava os dedos por debaixo da calcinha do biquíni. A água estava
quente, mas ela estava ainda mais quente, húmida e escorregadia. Retirou-lhe a mão e baixou-lhe as
calcinhas do biquíni apressadamente. Então levantou-se e sentou-se no bordo da banheira para por uma
das camisinhas. depois de a pôr sentou-se de novo no bordo do assento.
- Senta-te em cima de mim, Wynn.
E ela sentou-se. Os seus peitos deslizaram sobre o peito de Zack. Os seus corpos estavam quentes,
molhados e escorregadios. Zack ajudou-a a colocar-se, com cuidado de não lhe magoar o pé.
- Apoia as mãos nos meus ombros.
Ela fez e Zack penetrou-a enquanto ela gemia brandamente. Beijou-a no pescoço, cheio de
emoção, de prazer, de tanto prazer que quase lhe produziu dor. Agarrou-a com cuidado e, em lugar de
investir com força, balançou-se junto com ela sem deixar de a beijar e de lhe sussurrar ao ouvido palavras
doces. Havia tantas coisas que desejava dizer; claro que, nem ele mesmo entendia já que força o
empurrava. Só sabia que a desejava, e nesse momento tinha-a entre os seus braços.
Quando sentiu que os músculos de Wynn lhe apertavam o membro, colocou a mão entre os seus
corpos e ajudou-a a alcançar o clímax. Mordeu-lhe o ombro enquanto chegava ao topo e lambeu-lhe os
lábios quando ele fez o mesmo segundos depois.
Então apoiou a cabeça sobre o ombro de Zack e disse.
- Achas que alguma vez faremos amor na cama?

90
Zack queria dizer-lhe que sim, que iriam para a sua cama imediatamente. quanto mais a via, mais
desejava estar com ela. Não queria dar-lhe as boas noites e enviá-la para sua casa. Queria abraçá-la toda a
noite, despertar com ela pela manhã, compartilhar o café da manhã com ela e com Dani, e até discutir
com ela.
Mas não tinha nada decidido. Não só tinha que pensar nele, mas também na sua filha.
- Tenho uma semana livre. Dani vai ao colégio duas tardes da semana, assim, a casa estará livre
nessas tardes. Se puderes escapar um momento...
Deu-lhe um beijo no queixo.
- vou escapar. Mas... Zack?
- Sim?
Acabava de amá-la e já estava a pensar em fazê-lo outra vez. Estava obcecado.
- Estás a ver alguém agora?
- Não. porquê?
- Disseste que estavas à procura de uma esposa. E como disseste que tinhas planos para amanhã à
noite também, perguntava-me porquê.
Ele sorriu.
- Amanhã pensava fazer limpezas.
- Ah - então levantou a cabeça e olhou para ele. - Se queres ver outra pessoa, quero que me digas.
- porquê? - perguntou-lhe enquanto lhe acariciava a face.
- Porque então não quererei ver-te mais.
Só de a ouvir dizer, deu-lhe vontade de gritar.
- De acordo - passou-lhe o polegar pelo lábio inferior. - Eu sinto o mesmo.

CAPÍTULO ONZE

- Dás-te conta que faz um mês que não vamos a casa do Marco?
Zack, sentado à mesa da cozinha, olhou para Josh. Antes, Josh, Mick e ele iam a casa de Marco
comer uma vez por semana. Agora Mick estava casado e Zack... fazia três semanas que gostava de passar
o seu tempo livre com Wynn. Tinha-lhe roubado o pensamento, o ânimo e certamente também o coração.
Esse pensamento sacudiu-o por dentro e ficou de pé para passear de um lado para o outro.
Mick pôs-se a rir.
- Já estás outra vez.
- Wynn já o dominou - Riu Josh. - Isso não vai ser bom. Passou-se o mesmo contigo.
Mick encolheu os ombros.

91
- Apaixonar-se dá medo.
Zack voltou-se a olhá-lo com expressão carrancuda. Apaixonar-se? Não a conhecia há muito
tempo, só há menos de um mês, mas sabia que Wynn não tinha o que ele sempre tinha desejado numa
esposa. Sem dúvida tinha o que lhe gostava, mas isso não era o apropriado para o pai de uma menina
pequena.
- Merda - disse em voz muito baixa.
- OH, deixa-o, Zack - Josh lançou-lhe uma batata frita que lhe fez ricochete no peito. - Vais por aí
com cara de morto, e não há razão para isso. Diz-lhe o que sentes e pronto.
Nesse momento, Dani estava em casa de Wynn. Estavam sentadas na erva, com um cilindro de
papel gigante entre elas e a pintar com os dedos. Graças a Chastity, converteu-se no passatempo favorito
da menina. Ela e Artemus, com as suas deliciosas e íntimas excentricidades, converteram-se nos avós
adoptivos de Dani, e a menina tinha-lhes um grande afecto. No fim não tinham encontrado uma casa, mas
Zack sabia que quando se mudassem, a menina não ia gostar.
aproximava-se a noite do Halloween, e uma fresca brisa outonal entrava nesse momento pela
janela da cozinha e pela porta mosquiteira. Zack, entretanto, estava sufocado dos nervos que sentia.
sentou-se de novo na sua cadeira e disse.
- Não sei.
Mick deu um sorvo de café.
- O que é o que não sabes?
- Nada. Não sei o que fazer, nem o que sinto.
- É uma mulher do mais especial que há, Zack - disse Josh.
Zack apoiou a cabeça na palma da mão.
- Não é o que estava à procura.
- Eu não estava à procura de ninguém quando conheci a Dalila. dá no mesmo, Zack.
- Não posso pensar só em mim mesmo.
Josh inclinou a cabeça.
- Que diabos quer isso dizer?
- Quer dizer que tenho uma filha. Devo pensar na Dani.
- Dani adora-a, e vice-versa.
Zack agarrou uma mecha de cabelo com força.
- Queria uma mulher caseira, uma pessoa tranquila e razoável.
Josh pôs-se a rir a gargalhadas.
- Caseira ela é. Mas tranquila e razoável? E dizes que queres que seja uma mulher? Boa sorte.
- Tens algum problema com as mulheres, Josh? - perguntou-lhe Zack de repente.
Mick sorriu.

92
- Com uma mulher. chama-se Amanda Barker e é a que está a organizar o calendário com fins
caridosos. Bom, já começaram a fazer as reportagens fotográficas e Josh não aceitou ainda. Ela está a
ficar... insistente. Parece que não aceita um «não» por resposta.
- É um petardo. - Josh encolheu os ombros. - Vá onde for, encontro-me com ela. Mas se eu lhe
faço caso, já está.
Josh recostou-se nas costas e colocou as mãos atrás da nuca.
- Sim, claro. Como que tu não faças caso de nenhuma mulher.
Josh cruzou os braços tranquilamente.
- Não é como a Do ou a Wynn.
Tanto Mick como Zack ficaram imediatamente direitos.
- Do que é que falas?
- São mulheres de verdade, directas, graciosas, simples. Não choramingam nem se queixam para
conseguir o que querem, e não arranjam continuamente as unhas e o cabelo. eu gosto dessa simplicidade
numa mulher – deu uma cotovelada a Mick. - Ambas são o que qualquer homem podia desejar... e mais.
Mick olhou para Zack.
- Queres matá-lo tu ou faço-o eu?
Zack sacudiu a cabeça. Tudo o que Josh dizia era certo. Wynn trabalhava com ímpeto, brincava e
ria com ímpeto, e não pareciam preocupar-lhe as típicas coisas que preocupavam as mulheres. Nem por
indício a imaginava a queixar-se.
- A tua Amanda parece uma mulher responsável.
- Não é a minha Amanda. E Wynn também é responsável.
Zack ficou de pé outra vez.
- Vá! Wynn é escandalosa. Fala sem pensar, actua sem ter em conta as consequências. Vai por aí
como se fosse um homem, e anda de um modo tão sexy que me deixa louco.
Mick e Josh olharam-se.
- Como diabos vou viver com alguém assim?
Mick olhou a sua taça de café e falou sem olhar para Zack.
- E como vais viver sem ela? - perguntou-lhe em voz baixa.
Zack voltou-se para trás.
- Dani tem-nos para a ensinar a fazer coisas de crianças. Eu quero uma mulher que seja uma boa
influência nela, alguém que faça todas essas coisas femininas que acabo de mencionar, Josh. Alguém que
seja um modelo para ela seguir.
- És um imbecil, Zack - Josh sacudiu a cabeça com pena. - Wynn é maravilhosa. É independente,
inteligente e honesta. Sim, diz o que pensa. E então? Assim sempre saberás o que tem na cabeça. Já por
mim, eu gosto de como a vejo e como ela é.

93
Zack esteve quase a ficar vesgo. Josh não se apercebeu. Abriu a boca para explodir de frustração e
então viu que Wynn estava ali, mesmo diante da porta aberta da cozinha.
- Ai, por favor.
Sem dizer nada, Wynn deu a volta e partiu a toda pressa. Imediatamente, Zack foi atrás dela e os
seus dois amigos levantaram-se e saíram da cozinha. Aquela endiabrada mulher não lhe tinha dado a
oportunidade de se explicar sequer.
Como ia muito depressa e ela ainda tinha o pé débil, Zack foi salvando pouco a pouco a distância.
No pátio de Wynn viu que a sua filha e Chastity levantavam a cabeça. Artemus e Conan, junto com Marc,
Clint e Bo, levantaram a vista. Atrás dele ouviu Mick e Josh.
Então agarrou-a por um braço; mas ela voltou-se feita uma fúria e soltou um grito de guerra que o
apanhou de surpresa. Deu-lhe um puxão pelo braço, fez-lhe uma rasteira e ele caiu ao chão.
Durante uns segundos, Zack ficou deitado de costas, com a vista fixa no céu azul, ouvindo
gargalhadas e sussurros que só conseguiram zangá-lo mais.
Wynn inclinou-se sobre ele; tinha os olhos vermelhos e a boca apertada.
- Não me voltes a tocar. Queres livrar-te de mim? Pois bem, já te livraste!
Rapidamente, ele agarrou-a pelo cotovelo e tombou-a ao seu lado.
- Ai, o meu pé! - gritou, e Zack ficou gelado ao pensar que poderia ter-lhe feito mal ao pé.
No mesmo momento, Conan gritou.
- É um truque.
Mas era muito tarde. Wynn aterrou em cima dele; plantou-lhe os joelhos nos ombros e o traseiro
sobre o diafragma, de modo que Zack não conseguia respirar.
- Para que saibas, cretino miserável, nunca te pedi para ser tua esposa. Quanto a isso, jamais seria
sua esposa mesmo que me pedisses de joelhos.
Zack conseguiu não voltar a rir, embora custasse trabalho.
- Estavas a ouvir as conversas alheias.
- Outro de meus horríveis defeitos - disse com ironia. - Mas não te preocupes - inclinou-se para a
frente, quase agasalhando-o com os seus peitos. - Não voltarei a incomodar-te. És livre para ir procurar a
mulher que estás à procura. Desejo-te sorte!
Wynn quis levantar-se, ainda com certa dificuldade posto que o dedo não tinha terminado de
curar, mas Zack apanhou-a com as suas pernas.
- nada disso! – fê-la cair de novo e deitou-se sobre ela. - depois do que fizeste, não vou deixar que
te vás embora assim.
- Faço o que gosto. Não é teu assunto! - olhou-o com desdém, mas Zack viu que lhe tremia o lábio
inferior. - Já não é.
Doeu-lhe o coração e sentiu uma grande emoção.

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- Wynn...
Ela moveu a cabeça de um lado para o outro, mas não pôde soltar-se.
- Nem sequer sei porque me incomodei contigo.
Zack ouviu comentários em voz baixa. deu a volta e viu que todos se reuniram ao redor deles os
dois.
- Não me vais deixar.
Então Zack inclinou-se para a beijar. Ela esteve quase a mordê-lo, mas ele pôs-se a rir e retirou-se.
- Amo-te, Wynn.
Abriu como pratos os seus lindos olhos dourados, e ambos sopraram quando Dani se montou
sobre as costas do seu pai e começou a saltar.
- Ficamos com ela, ficamos com ela!
Zack voltou-se a sorrir.
- Ainda não, carinho. Primeiro tens que me dizer que me ama também.
Dani tombou-se sobre o Zack, passou pelo ombro de seu pai e acariciou a face a Wynn.
- Quero que sejas a minha mãe.
Wynn aspirou fundo, mas tremia de cima abaixo.
- OH... - e sem poder evitar, pôs-se a chorar.
Zack voltou a cabeça e beijou a sua filha na face.
- Sai daqui, Dani.
- Sim, pai.
Zack acariciou a Wynn com o nariz.
- Precisamos um pouco de intimidade, querida. Não me rejeites, está bem?
Ela assentiu. Conhecendo Wynn como a conhecia um pouco, lembrou-se que umas lágrimas eram
para ela uma grande humilhação. E permitiria que escondesse as suas lágrimas dos outros, mas não queria
que escondesse nada dele.
Zack ficou de pé, pôs Wynn ao ombro e deu a volta para ir para sua casa.
Conan gritou.
- Por uma vez na tua vida, Wynonna, sê razoável. Não estragues tudo.
Bo, Clint e Marc puseram-se a rir, dando sugestões a Zack para a dominar.
- Cuidado com as suas pernas!
- Se ficar com vontade de brigar, recorda-te que tem cócegas!
Zack agitou a mão que tinha livre em sinal de agradecimento.
Então Artemus disse.
- Carinho, penso fazer-te algo no cabelo para o dia das bodas, de modo que já te podes ir
acostumando.

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Zack, sorrindo como um idiota, deu-se conta que se sentia melhor que bem. Sentia-se... incrível.
Cruzou a cozinha e o salão, subiu as escadas de dois em dois, entrou no seu quarto e deitou Wynn
na cama.
- Porra, tu pesas - disse enquanto esfregava as costas.
jogou os braços.
«Surpreendente», pensava Zack enquanto se deleitava vendo-a ali na sua cama e sabendo que
queria vê-la naquele lugar cada dia da sua vida. tombou em cima dela.
- Amo-te - voltou a dizer-lhe.
Ela abraçou-o com força.
- Eu também te amo.
A emoção afogava-o.
- O suficiente para te casares comigo e ser a mãe de Dani?
Ela empurrou-o.
- Não vou mudar por ti, Zack - disse com olhos brilhantes. - Sou quem sou, e eu gosto de mim
como sou.
- Também eu gosto de ti como és - beijou-lhe a ponta do nariz e sorriu. - Dás-me um medo
horrível, às vezes pões-me furioso ou fazes-me sentir uns ciúmes tremendos, mas não te trocaria por
ninguém, querida. Bom, excepto que vou ter que insistir em que todos outros homens deixem as mãos
quietas no que a ti respeita.
Ela pôs-se a rir, mas em seguida ficou séria.
- Desejava tanto ser a mãe de Dani. Quero-a tanto - voltaram a saltar as lágrimas. - Ai, Meu deus,
que terrível é isto - disse, e enxugou as lágrimas no ombro de Zack.
Zack sorriu.
- O que te pareceria se déssemos um irmãozito a Dani? ela também me pediu isso várias vezes.
- A sério?
- Sim. No primeiro dia que me explicou que queria ficar contigo.
Wynn aspirou fundo.
- Tenho vinte e oito anos. Eu gostaria de ter um bebé antes dos trinta.
- Queres praticar agora? - beijou-a de novo. - Estou preparado, quando quiseres. E amo-te.
Ela engasgou-se um pouco e então sacudiu a cabeça.
- Se Josh me visse aqui a choramingar como uma boba, ficaria horrorizado.
Zack beijou-lhe as faces húmidas e a comissura dos lábios.
- quem se importa o que pensa o Josh?
- Eu. depois de tudo, ele é quem te fez mudar de opinião.
Zack pôs-se a rir.

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- Eu já sabia que te amava, e podes acreditar que Josh não teve nada a ver com isto.
- Bem. Então o que era o que estavas a dizer na cozinha?
Ele encolheu os ombros.
- Só estava a fanfarronar, adoptando a pose que tomaria um homem respeitável - então olhou-a. -
tu devias entender isso.
Ela fez uma careta.
- Ouvi-te, Zack. Não sou o que queres.
- és sim. és quem eu amo. Quem eu preciso - agarrou-lhe a cara e beijou-a. - Desde que te conheci,
estive a pensar em deixar o trabalho de campo e em me fazer instrutor. Inclusive já dei alguns passos
nessa direcção.
- De verdade?
- E pensei em mudar o quarto da Dani par o de hóspedes; faz tempo que me pediu isso porque o
outro é maior, mas sempre quis que estivesse perto e, até que te conheci ti, nunca tinha pensado em ter
uma mulher em casa com a Dani. Então comecei a pensar em mudar a Dani para ter mais intimidade.
Ela arqueou as sobrancelhas.
- Sim, porque fazes muito ruído quando te excitas - disse-lhe com seriedade. - Gemes e grunhes, e
se te toco aí, gritas e...
Zack retirou-lhe a mão e beijou entre gargalhadas.
- Wynn, sei que não vai ser fácil de controlar, mas...
- Controlar!
Quis agarrá-lo, mas ele imobilizou-a sobre a cama.
- Mas graças a isso vamos passar muito tempo a lutar - meneou as sobrancelhas, - e fazendo outras
coisas. E agora que tomei uma decisão, devias saber que não sou nada doce. Na realidade, sou desumano
quando quero algo... ou alguém.
Wynn deixou de lutar e olhou-o com acanhamento.
- E tu queres-me ? - ele colou-se mais a ela e, ao notar a força da sua erecção, sorriu. - Bom, como
nos queremos, acho que devíamos casar.
Zack desabou sobre ela.
- Graças a Deus. Tu sabes tirar a incerteza às coisas, não é?
- Há algo que devias saber.
Ele abriu um olho.
- Os meus pais já me disseram que se nos casarmos, querem ficar com a minha casa - Zack soltou
uma exclamação entrecortada, mas ela continuou. - Acho que suspeitavam que isto podia acontecer, e por
isso não têm feito muito esforço por encontrar casa.
- Eu gosto dos teus pais, e a Dani também. Enquanto viveres comigo, o resto não me importa.

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Uns minutos depois, Zack afastou-se um pouco de Wynn e olhou a sua futura esposa de cima
abaixo. Então olhou-a na cara e ficou sério.
- Wynn, há algo que te devo dizer.
Ela olhou-o alarmada.
- O que se passa?
- Acho que vamos ter que comprar uma cama maior.

FIM!

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