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Dedicatória
PARA NEIL, COM TODO O MEU AMOR.
Agradecimentos
Um muito obrigada à Aida Amaral, Maureen Frew e Maria Medeiros
por toda a contribuição de vocês neste livro. Um agradecimento especial vai
para Maaike van der Leeden por me encorajar quando a insegurança tentava
aparecer.
E obrigada à minha família, pelo amor e suporte sempre.
Capítulo 1
Kent, 1806
UMA BATIDA à porta no meio da noite nunca trazia boas notícias.
Lançando um olhar ansioso para a cama acolhedora em que estava prestes a
se afundar, Louisa Evans amarrou a faixa de seu roupão. Deixando de lado
o cansaço que a arrastava, desceu correndo.
Esperava encontrar um de seus vizinhos quando abrisse a porta, mas
ficou surpresa que ao em vez disso, se deparou com um estranho. Um
homem muito alto com cabelo escuro estava caído de olhos fechados contra
o batente da porta. Ela estremeceu quando o ar frio do outono atravessou
sua camisola e roupão.
— Posso ajudá-lo? — perguntou ela.
Quando não obteve resposta, ela se perguntou se ele estava bêbado e, de
alguma forma, teria tropeçado em seu chalé. Colocou a mão no braço dele
para chamar sua atenção e repetiu a pergunta.
Os olhos dele se abriram, prendendo-a em um olhar escuro e penetrante.
— Preciso de ajuda… — conseguiu dizer antes de fechar os olhos
novamente.
Ele balançou um pouco e começou a deslizar pelo batente da porta.
Movendo-se instintivamente, Louisa colocou o ombro debaixo do braço
dele no mesmo instante, firmando-o enquanto o homem desabava. Ele era
muito maior do que ela e, por um segundo, pensou que iria desmaiar com
ele.
Ela endireitou-se e olhou atordoada para baixo, onde ele estava sentado,
encostado no batente. Hesitando apenas por um momento, inclinou-se sobre
ele para cheirar seu hálito e detectou um leve toque de álcool. Levou a mão
à testa dele e ficou alarmada ao descobrir que estava com febre.
Outra rajada do ar noturno, estranhamente frio no início de setembro, a
fez tremer de verdade agora. Ela teria que mover o estranho para dentro e
fechar a porta. Não sabia o que havia de errado com ele, mas com aquela
febre, ele não poderia se dar ao luxo de pegar um resfriado. Não era forte o
suficiente, no entanto, para carregá-lo para dentro sozinha.
Com a decisão tomada, ela correu para cima e bateu à porta de seu
irmão. Quando ele não respondeu, ela entrou no quarto e o sacudiu para
acordá-lo.
— Qual é o problema? — murmurou ele, seus olhos ainda fechados.
— Preciso da sua ajuda. Há um homem lá embaixo que está doente. Ele
caiu na nossa porta.
John acordou sobressaltado com a menção do estranho. Aos dezoito
anos, era sete anos mais novo que ela, mas desde a morte do pai, ele decidiu
que era seu dever proteger a família.
Vestiu-se rapidamente e a seguiu escada abaixo até onde o homem
estava sentado, ainda apoiado na porta.
— Quem é ele?
Louisa balançou a cabeça.
— Eu não sei, mas está doente e o frio pode não ser bom para ele.
Ajude-me a trazê-lo para dentro para que eu possa fechar a porta.
Conseguiram despertar o homem o suficiente para ajudá-lo a ficar de
pé, sustentando o peso dele entre os dois. Estava instável e seu progresso
era lento, mas por insistência dela, conseguiram levá-lo ao seu quarto, ainda
quente do fogo recém-apagado. Ele caiu na cama dela com um gemido.
— Vou cuidar do conforto dele — disse ela a John. — Vi um cavalo lá
fora que deve pertencer ao nosso convidado. O animal precisa de cuidados.
John endireitou os ombros e sabia que ele ia insistir para que ela
cuidasse do cavalo. Interrompeu-o antes que ele pudesse protestar contra a
impropriedade da situação:
— Você realmente acredita que este homem está em condições de me
fazer algum mal?
O irmão hesitou, mas estava claro que o estranho havia perdido a
consciência. Resmungando algo baixinho sobre irmãs mandonas, ele virou-
se e saiu para cuidar do cavalo.
Louisa ocupou-se em reacender o fogo na pequena lareira antes de se
virar para olhar o homem deitado em sua cama. Apesar de suas garantias ao
irmão, estava nervosa. Cuidara do pai durante sua longa doença, mas cuidar
daquele homem não era a mesma coisa.
Ela aproximou-se da cama e o olhou, e seu coração acelerou quando
percebeu o quão bonito ele era. Seu cabelo era castanho escuro, quase preto,
emoldurando um rosto que sem dúvida fazia muitos outros corações
baterem mais rápido também. Apesar da febre, ele estava muito pálido, a
pele esticada sobre as maçãs salientes do rosto e um maxilar forte que já
mostrava uma sombra de barba por fazer.
Ela engoliu em seco quando seu olhar percorreu o corpo dele. Ele estava
dormindo, mas sua presença enchia o quarto. Balançou a cabeça para
clarear as ideias e virou-se, dizendo a si mesma enquanto ia até o lavatório e
despejava a água da jarra na bacia, que cuidar daquele homem não seria
diferente de como cuidava de seu pai. Concentrando-se na tarefa familiar,
colocou o recipiente na mesa de cabeceira, mergulhou um pano na água e
torceu-o. Suas mãos não estavam muito firmes enquanto lavava o rosto
dele, esperando que a água fria lhe trouxesse um pouco de conforto. Seus
movimentos eram rápidos, mas diminuíram quando ele gemeu. Seus olhos
se abriram e ela congelou quando seu olhar negro e inescrutável capturou e
prendeu o dela.
Ela estava caindo em espiral, se afogando em piscinas gêmeas de
escuridão. O calor no quarto pareceu aumentar quando um rubor se
espalhou por seu corpo. Os segundos passaram, parecendo se estender em
minutos.
Sem outro som, os olhos do estranho se fecharam novamente. Ela
inspirou uma respiração trêmula e sacudiu a paralisia que havia tomado
conta dela. Ela não podia, no entanto, livrar-se de sua sensação de
desconforto.
Suas mãos ainda tremiam quando ela largou o pano úmido na bacia.
Deixando de lado sua apreensão, ela moveu-se para os pés da cama para
tirar as botas dele. Hesitou apenas por um momento antes de colocar uma
mão no calcanhar do couro preto moldado na perna direita dele e a outra no
joelho. Um choque de consciência surgiu com o contato e ela recuou. Seu
olhar voou para o rosto do estranho e deu um suspiro de alívio quando viu
que ainda estava dormindo. Ela teria morrido de vergonha se ele tivesse
visto sua reação tola ao tocá-lo.
Tirou as botas dele antes de voltar sua atenção para tirar o casaco, mas
ela sabia que sua bravura não iria tão longe. Os lençóis já estavam virados
para baixo e foram necessários apenas alguns puxões para libertar as pernas
dele completamente. Concentrando-se nos cobertores e não em sua forma,
ela o cobriu antes de soltar a respiração que estava segurando. A maior
parte dele estava agora escondida da vista, mas ela achou impossível
ignorar a sensação aguda de consciência provocada pelo conhecimento de
que um homem muito atraente agora dormia em sua cama.
Tentando ignorar os pensamentos menos castos que surgiam
espontaneamente em sua mente, Louisa pegou um cobertor para si mesma
no baú ao pé de sua cama e acomodou-se em uma poltrona para esperar.
Quando John voltou, depois de cuidar do cavalo do convidado inesperado,
ele tentou insistir em tomar o lugar dela, mas se a condição do estranho
piorasse, John não saberia o que fazer. Ele a ajudou a tirar o casaco do
homem e afrouxar sua gravata antes de retornar ao próprio quarto, mas só
depois de extrair a promessa dela de ir buscá-lo assim que o homem
acordasse.
Foi uma noite longa. O sono do estranho era inquieto e interrompido, a
princípio, por frequentes ataques em que ele se debatia e palavras
murmuradas que eram indecifráveis. Eventualmente, ele caía em um sono
profundo e ela conseguia fechar os olhos e descansar um pouco. Tinha
acabado de adormecer quando um gemido baixo a acordou. Ela lutou para
se levantar de sua posição apertada na poltrona ao lado da cama, e seu
cobertor deslizou para o chão.
— Papai? Precisa de alguma coisa? — perguntou ela, desorientada
depois de ser arrancada do meio de um sonho estranho.
Mas o homem deitado na cama, sua cama, não era seu pai. Ela ficou
confusa por um momento e então as memórias voltaram. Depois de um ano
de saúde debilitada, seu pai finalmente sucumbiu à morte seis meses antes.
Ela recostou-se na poltrona e examinou o estranho mais de perto na luz
fraca da manhã. Não tinha sonhado com ele, afinal.
O fogo havia se extinguido há muito tempo e ela estremeceu com o ar
frio da manhã. Pegou o cobertor de onde havia caído, enrolou-o nos ombros
e deu alguns passos até a cama. Inclinando-se para frente, colocou a mão na
testa do homem e deu um suspiro de alívio quando descobriu que sua
temperatura estava normal.
Ela olhou para a janela onde os primeiros raios de luz da manhã já
estavam rastejando no horizonte e suspirou suavemente. Quanta coisa para
uma boa noite de descanso, ela pensou enquanto começava a esticar as
torções de seus músculos nodosos.
LOUISA NÃO tinha mais para onde apelar. Tentara sem sucesso encontrar
mais costura para fazer ou pensar em alguma outra maneira de pagar a
Edward Manning o aluguel que ele exigia. Sua alternativa sugerida era
muito repulsiva para contemplar, muito menos aceitar, e ela não permitiria
que ele se aproximasse de Catherine com sua proposta vil.
Em um momento de frustração, ela quase contou ao irmão sobre a visita
do senhorio. A tentação de ter alguém com quem compartilhar esse fardo
era grande. Ela sabia, porém, que John não seria capaz de ajudar, e era
ousado o suficiente para fazer algo tolo como desafiar Edward para um
duelo pela proposta que havia feito. Ela não podia permitir que isso
acontecesse.
Ela parou o cavalo que havia emprestado de um vizinho no final do
caminho e olhou para os jardins bem cuidados que se estendiam diante da
Mansão Overlea. Sua antiga casa, embora respeitável em tamanho, não era
tão grande quanto a casa diante dela agora: três andares de altura, duas alas
se estendendo nas laterais e um pórtico impressionante que se elevava até a
linha do telhado, tudo em uma linda pedra colorida em tons de mel. Louisa
só podia olhar para ela com admiração, com o conhecimento se
solidificando de que aquela casa estava completamente fora de sua
profundidade.
Pedir a ajuda de Overlea tinha sido o único caminho que enxergou.
Conseguiu manter a calma durante o passeio, mas agora que estava ali, seu
coração acelerou. Respirou fundo em uma vã tentativa de acalmar os nervos
antes de iniciar o caminho até a frente da casa. Quando ela desmontou, um
cavalariço já vinha em sua direção. Ela sorriu enquanto lhe entregava as
rédeas.
De costas retas, fingindo uma confiança que estava longe de sentir, ela
virou-se e continuou subindo a pequena escada até a entrada principal.
Parou no topo e alisou a saia azul escura de seu traje de montaria. O estilo
estava desatualizado há mais de alguns anos, mas não fazia sentido ter um
traje mais moderno quando nem sequer possuíam um cavalo.
Ela respirou fundo novamente antes de levantar a aldrava de latão
pesada e deixá-la cair. A porta foi aberta imediatamente por um lacaio. Ele
a olhou e depois olhou para além dela. Louisa pôde vê-lo se enrijecer
quando percebeu que ela estava desacompanhada. Ela só podia imaginar o
que ele deveria estar pensando.
— Estou aqui para ver o Lorde Overlea.
O lacaio não se deu ao trabalho de esconder sua desaprovação.
— O marquês não está.
Ele realmente ia fechar a porta na cara dela. Por puro desespero, Louisa
entrou pela porta. Ele teria que removê-la fisicamente se quisesse que fosse
embora.
— Poderia, por favor, dizer a ele que Louisa Evans está aqui para vê-lo?
Ela ficou surpresa quando o comportamento dele mudou quase que
instantaneamente. Ele abriu mais a porta e deu um passo para trás para
permitir que ela entrasse, todo solicito agora.
— Claro, senhorita Evans.
Ele a levou para a sala de estar e recuou, fechando a porta atrás dele.
Louisa respirou trêmula. Cruzara a primeira barreira, ganhando entrada,
mas seus nervos ainda estavam instáveis. A parte mais difícil estava por vir.
Se pedisse ajuda a Overlea, não tinha certeza se ele a ajudaria. Afinal,
Edward Manning era seu primo e, dada a reputação do marquês, talvez não
visse nada de errado com o arranjo que Edward havia proposto. Afinal, era
muito comum homens de seu nível terem amantes.
Ela se perguntou se Overlea tinha uma amante e descobriu que a ideia a
incomodava mais do que gostaria de admitir.
Sua mente estava tão sobrecarregada por causa de seu próximo encontro
com Overlea que mal percebeu o ambiente elegante. Sentou-se na beira de
um sofá de cor creme e precisou de todo o seu foco para não ficar inquieta.
Conforme os minutos passavam, ela se viu ficando cada vez mais ansiosa.
Estava esperando um quarto de hora inteiro antes de ocorrer-lhe que
Overlea poderia se recusar a vê-la.
Ela esperou mais um quarto de hora antes de decidir procurar o lacaio.
Ela tinha acabado de chegar à porta da sala de estar quando ela se abriu.
Assustada, deu um passo para trás.
Achara o marquês de Overlea um homem bonito antes, mas da última
vez que o viu, suas roupas estavam amarrotadas de uma noite de
reviravoltas e uma barba escura cobria sua mandíbula. Ele parecia acessível
então. Agora, barbeado e impecavelmente vestido, ele a deixou sem fôlego.
Usava um casaco verde-escuro que se estendia pelos ombros que agora
pareciam mais largos, um colete em um tom mais claro da mesma cor e
calça de pele de gamo que se moldava às coxas musculosas e desapareciam
em botas que ela suspeitava serem as mesmas das quais ela se lembrava de
ter retirado dele. Ela estava agudamente consciente, como nunca antes, da
diferença em suas posições.
Que Overlea havia ficado surpreso ao vê-la era evidente, principalmente
porque estava sozinha. Ele não podia saber, então, que sua reputação já
estava à beira de ser arruinada. Que ela poderia muito bem se encontrar sem
alternativa a não ser aceitar a proposta de Edward se ele se recusasse a
ajudá-la.
— Senhorita Evans — disse ele, inclinando a cabeça.
Ela ouviu seu cumprimento, mas se viu incapaz de falar por um
momento.
— Por favor — disse ele, indicando o sofá que ela havia abandonado
—, fique à vontade.
Ela sentou-se e observou enquanto ele se acomodava em uma cadeira
em frente a ela.
— Eu a convidaria para um chá, mas sinto que não é uma visita social.
— Não — disse ela, antes de ficar em silêncio novamente.
Agora que estava ali, não sabia como começar. Como ela poderia contar
a ele o que seu primo havia proposto?
— Parece bem hoje, milorde — disse ela em uma tentativa de deter a
inevitável conversa desconfortável. — Suponho que sua doença já tenha
passado.
— Sim — disse ele.
Sua postura era rígida e estava claro que ele não queria discutir isso. Ela
não tinha alternativa a não ser ir direto ao motivo de sua visita.
— Sei que o senhor não esperava me ver tão cedo.
— Não esperava vê-la de jeito nenhum. — Ele moveu-se para frente em
sua cadeira com uma leve carranca, puxando os cantos da boca e continuou:
— Desculpe-me por ser direto, mas o que poderia ter acontecido nos
últimos dois dias para trazê-la até aqui? Me deixou com a impressão de que
não desejava ter mais contato comigo ou com minha família.
Ela resistiu ao desejo de se contorcer sob seu olhar atento.
— Deve ser muito sério para vir até aqui sem um acompanhante. Pensei
que estaria com seu irmão ou outra companhia.
— Meu irmão e minha irmã não podem saber que vim vê-lo.
Suas sobrancelhas se ergueram com isso. Ele recostou-se na cadeira sem
tirar os olhos dela.
— Recebi a visita de alguém de sua família.
— Mary? — perguntou ele, sua confusão evidente.
Ela balançou a cabeça.
— Não, seu primo, Edward Manning.
Ele franziu a testa.
— Por que isso a traria aqui? Não é inquilina dele?
— Não exatamente. — Ela hesitou por um momento antes de continuar:
— Quanto o senhor sabe sobre o que aconteceu entre meu pai e seu tio?
— Pouca coisa — respondeu Overlea, suas feições fechadas.
Ela estava grata por ter sido poupada de ter que retransmitir os detalhes
do que havia acontecido anos atrás.
— Depois… bem, depois do que aconteceu, nos mudamos de nossa
antiga casa para onde estamos morando agora. Suponho que depois de tudo
que ele nos tirou, seu tio decidiu nos mostrar um pouco de misericórdia. —
Não conseguiu esconder a nota de amargura em sua voz. — A casa é uma
das maiores da propriedade. Lembro-me de meu pai estar preocupado com
o aluguel pois não tinha mais a renda da propriedade, mas seu tio nos
permitiu morar lá sem ter que pagar.
— E agora?
Por sua quietude quase antinatural, ficou claro que ele suspeitava do que
ela estava prestes a dizer.
— Seu primo me informou que devemos começar a pagar o aluguel
imediatamente.
— E não pode pagar por ele.
— Não — disse ela, sua voz pouco acima de um sussurro.
Passaram-se vários segundos antes de Overlea dizer:
— Por que está aqui, Srta. Evans? Sei que não está aqui por caridade. A
senhorita gostaria que eu falasse com Edward? Convencê-lo a dar-lhe mais
tempo? Ou talvez continuar permitindo que permaneçam na casa nas
mesmas condições de quando seu pai estava vivo? Se for esse o caso,
infelizmente terei que decepcioná-la. Não tenho muita influência sobre as
ações de meu primo.
Ela teria que contar tudo a ele. O assunto já era desconfortável, mas o
beijo que ela e Overlea trocaram naquela manhã depois que ele acordou em
seu quarto o tornou ainda mais. Manter o silêncio, no entanto, poderia ter
consequências graves. Principalmente para Catherine.
— Há algo mais — disse ela, seu embaraço supremo. Incapaz de
abordar o assunto ainda, ela levantou-se e caminhou até a janela. Olhou
para os jardins perfeitamente cuidados por um minuto inteiro antes de
respirar fundo e virar-se para encará-lo novamente. Overlea levantou-se,
mas não disse nada, dando o tempo que ela precisava. Estava grata por isso.
— Seu primo me ofereceu uma alternativa para pagar o aluguel. Uma que
envolveria o uso de uma moeda de um tipo diferente, muito mais intragável.
Levou apenas um momento para ele entender o que ela queria dizer. Ele
fez uma careta e praguejou baixinho, mas ela continuou antes que ele
pudesse dizer qualquer coisa.
— John e Catherine não sabem nada sobre isso e não deverão saber
nunca. John é cabeça quente o suficiente para fazer algo tolo. E Catherine…
— Sua voz falhou. — Ele se ofereceu para abordá-la diretamente e fazer a
mesma oferta caso eu recusasse.
— Certamente ela nunca concordaria com uma coisa dessas. Não se
você falar com ela primeiro e lhe der seu apoio.
— Mamãe morreu no parto durante o nascimento de Catherine. Uma
parte dela acredita ser responsável pela série de eventos que nos levaram até
onde estamos hoje. Que papai nunca teria caído na armadilha de seu tio se
ela nunca tivesse nascido e mamãe não tivesse morrido. Papai nunca teria
começado a beber, nunca teria jogado fora a propriedade e nossa casa. Claro
— acrescentou ela, apressando-se a tranquilizá-lo para que ele não pensasse
que ela compartilhava dessa crença —, Catherine não é culpada pelas ações
de nosso pai, mas ela pode aceitar a oferta de seu primo como forma de
expiação para tudo o que aconteceu.
Os olhos escuros dele se fixaram nela pelo que pareceu uma eternidade.
Ela se contorceu, incompreensível e visivelmente sendo o único alvo
daquele olhar inescrutável. Finalmente, ele disse:
— Acredito que posso ajudá-la.
Um intenso alívio tomou conta dela e teve que fechar os olhos por um
instante. Ela começou a agradecer-lhe, mas as palavras dele a detiveram.
— Pode querer ouvir minhas condições primeiro.
Foi como se um dedo gelado de pavor percorresse sua espinha. Ela
havia cometido um erro ao ir até ele? Seria possível que ele fosse tão
desprezível quanto o primo?
— Talvez você devesse se sentar para isso.
Ela se enrijeceu.
— Está tudo bem. Estou confortável aqui.
Ela lançou um olhar apressado para a porta, imaginando suas chances
de escapar, mas percebeu que estava sendo tola. Este homem havia passado
uma quantidade considerável de tempo sob o teto dela e teve várias
oportunidades de fazer avanços indesejados. Além do beijo que deram
quando ele acordou e confundiu o relacionamento deles, uma ação pela qual
ele se desculpou mais tarde, ele foi cauteloso em suas atenções.
No entanto, estremeceu quando ele se aproximou dela. Seus
movimentos eram suaves, quase predatórios. Não havia indícios da cautela
com que ele agira naquela outra ocasião.
Ele parou a poucos metros dela. Ela não conseguia distinguir que
pensamentos espreitavam por trás de seu olhar escuro e intenso, mas sentiu
que ele estava chegando a uma decisão. Não teve que esperar muito para ele
lhe contar qual era.
— Precisa da minha ajuda e estou disposto a ajudá-la, mas tenho algo a
lhe pedir primeiro. Sem o seu acordo, temo ser incapaz de ajudá-la.
Louisa não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele estava prestes a
fazer a mesma oferta que Edward tinha feito. Ficou desapontada. Por
alguma razão, ela esperava mais dele.
Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo
suas palavras cuidadosamente. Quando ele finalmente falou, eram as
últimas que ela esperava ouvir.
— Preciso de uma esposa.
Capítulo 5
ELE A CHOCOU. Não precisava ver a cor sumir do rosto dela para saber
que uma proposta de casamento era a última coisa que Louisa Evans
esperava ou queria dele.
Maldito seja seu primo Edward por ser um bastardo sem escrúpulos, e
maldito seja ele por usar as circunstâncias angustiantes da Srta. Evans em
seu benefício próprio. Ele sabia que aos olhos dela ele era um pouco melhor
que seu primo. Assim que tomasse conhecimento dos termos completos de
seu casamento, essa opinião se solidificaria, mas por enquanto seria melhor
manter esses termos para si mesmo. Só precisava que ela aceitasse sua
proposta. Ele lidaria com o assunto de seus herdeiros mais tarde.
— Precisa de minha proteção e eu preciso de uma marquesa. É a
solução perfeita.
Ela olhou para ele como se tivessem crescido duas cabeças. Não era
uma expressão que ele estava acostumado a ver. Embora estivesse ciente da
animosidade justificada que a família dela sempre manteve em relação à
dele, sentiu a dor em seu orgulho masculino. Qualquer outra mulher teria
aceitado sua oferta de casamento, e não apenas por seu título. Por outro
lado, agora era perseguido implacavelmente desde que havia se tornado o
Marquês de Overlea, e ele nunca quis uma companhia feminina.
Ele poderia ter escolhido entre várias mulheres, mas por alguma razão
Louisa Evans era a que ele queria. Não era só porque ela era atraente,
embora fosse, com sua figura esguia, seu longo cabelo loiro claro, agora
preso, seus olhos grandes e cinzas e aquela boca carnuda. Uma boca
destinada a beijar, como ele havia descoberto.
Estava atraído por ela, mais do que deveria pelo tipo de união que tinha
em mente. No entanto, essa atração não era a razão pela qual ele a queria
como sua esposa. Na verdade, ele tinha certeza de que seria um grande
inconveniente. Não, ele a pediu em casamento porque Louisa Evans era
uma mulher inteligente e prática. Ela era uma lufada de ar fresco depois de
todas as mulheres sorridentes e preocupadas com o casamento de Londres.
O mais importante, porém, era o fato de que ela também era uma mulher
desesperada. Alguém que ele tinha certeza de que acabaria concordando
com seus termos.
Louisa permaneceu em silêncio e ele observou o jogo de emoções que
cruzou o rosto dela. O choque se desvaneceu rápido o suficiente, apenas
para ser substituído por confusão e incerteza. Então ela afastou-se dele
novamente, suas costas retas.
Ele esperou pacientemente. Sabia qual seria a resposta. Ela não tinha
outra escolha.
Finalmente ela virou-se de queixo erguido. Nicholas sentiu alívio e, para
ser honesto, uma sensação de admiração. Não haveria histrionismo ali,
nenhuma súplica. Ela lidaria com ele claramente.
— Por que eu?
— Por que não?
A tranquilidade dele a fez parar.
— Nós dois sabemos que você é a presa da temporada. Qualquer mulher
concordaria em ser sua esposa, a maioria delas, sem dúvida, mais adequada
para os deveres que tal posição implica do que eu. Então — ela continuou
após uma breve pausa —, vou lhe perguntar novamente: por que eu?
— Não consigo pensar em ninguém mais adequado para ser minha
marquesa — disse ele, feliz por poder ser honesto com ela nesse ponto.
Seus olhos se estreitaram enquanto ela olhava para ele atentamente.
— Está escondendo alguma coisa.
Uma pontada rápida de culpa o atingiu, mas ele rapidamente a suprimiu.
Não tinha escolha. Ambas as mãos já haviam sido negociadas.
— Tornar-se minha marquesa é a única maneira de garantir que você
estará a salvo dos caprichos de meu primo. — Ele podia vê-la pesando suas
palavras e aproveitou sua vantagem para continuar: — E claro que eu
percebo suas responsabilidades para com sua família e estou disposto a
sustentá-los. Eles irão morar aqui, conosco. Catherine terá uma temporada
em Londres e John…?
— John gostaria de estudar em Oxford.
Nicholas sorriu.
— Então ele irá.
Ele pôde ver a indecisão desaparecendo dos olhos dela.
— Muito bem, eu aceito sua proposta.
Ela estava se esforçando tanto para ser corajosa, mas Nicholas podia
dizer que ela estava se sentindo oprimida. A vida lhe tinha dado mais do
que sua cota de dificuldades. Ele estava disposto a aliviá-la de pelo menos
alguns desses fardos. Ela não iria agradecer-lhe quando soubesse de tudo,
mas por enquanto ele poderia ajudá-la.
A força de seu desejo de cuidar dela o pegou desprevenido.
— Cumprimente a si mesma — disse ele, esforçando-se por leviandade.
— Está prestes a se tornar a Marquesa de Overlea. Mulheres de todos os
lugares vão odiá-la à primeira vista.
O fantasma de um sorriso tocou seus lábios antes que ela ficasse sóbria.
— Sua tia não ficará satisfeita quando souber disso.
Ele franziu a testa.
— Por que ela se importaria?
— Não havia um entendimento de que seu irmão deveria se casar com a
Mary? O noivado nunca foi formalizado e eu assumi…
Ele não conseguiu esconder sua pontada de aborrecimento com as
palavras dela, e a voz dela sumiu ao perceber isso. Primeiro, a avó havia
sugerido que ele se casasse com sua prima e agora, Louisa Evans, uma
estranha aos meandros da dinâmica da família Manning, estava insinuando
a mesma coisa. Isso o fez se perguntar quantos outros também supunham
que ele se casaria a prima.
— Eu não sou meu irmão.
— Mas certamente as razões pelas quais tal união foi proposta em
primeiro lugar ainda existem.
— Meu irmão estava disposto a se sacrificar pela paz em nossa família,
mas como você sabe, eu não fui criado como herdeiro. Não sou tão nobre.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele com uma expressão estranha no
rosto.
— Não tenho tanta certeza disso.
Seu comentário o agradou mais do que deveria. Era uma pena que ele
não merecesse.
— Acredito que vamos nos dar muito bem juntos — disse ele. — Há
alguns assuntos que preciso atender antes que possamos discutir os detalhes
de nosso acordo. Posso visitá-la amanhã à tarde?
Ela inclinou a cabeça. Virando-se, ela foi em direção à saída da sala.
— Acredite ou não — disse ele, sua voz fazendo com que os passos
dela vacilassem —, eu não tinha pensado em propor até vê-la aqui.
Ela não se virou para encará-lo.
— Se não fosse por seu primo, eu não precisaria estar aqui. E eu não
teria aceitado.
E então ela foi embora.
QUANDO LOUISA terminou de arrumar a mesa para o jantar, não
conseguiu evitar que o olhar se movesse para a cadeira mais próxima da
porta, onde Overlea se sentara na manhã em que tomara café com eles. Ela
achou impossível acreditar que tinha sido apenas dois dias atrás. Tanta coisa
havia mudado em tão pouco tempo.
Ainda achava quase impossível acreditar que Overlea a havia pedido em
casamento e que ela realmente aceitara. Claro, dada a alternativa
apresentada por Edward Manning, o casamento com o marquês era a
melhor opção. A única opção. E se casar com Overlea garantiria o futuro de
Catherine e John. John não precisaria esperar para ver se conseguiria uma
bolsa de estudos para estudar em Oxford. E com o apoio de Overlea, tinha
certeza de que Catherine seria considerada um bom partido. Ela seria capaz
de escolher um marido de qualquer número de candidatos.
Ela não ignorava a ironia de sua situação. Um Manning havia tirado
quase tudo de sua família, deixando-lhes apenas a dignidade. Então o filho
daquele homem ameaçou tirar até isso deles. Parecia estranhamente
apropriado, então, que outro Manning devolvesse tudo o que haviam
perdido.
De alguma forma ela teria que convencer John disso. Não estava
ansiosa para lhe contar suas novidades. Sabia que Catherine concordaria
com sua decisão assim que superasse a surpresa inicial. Sua irmã não tinha
memória de como a vida deles tinha sido, então a perda de tudo que eles
tiveram uma vez não foi tão devastadora para ela. John, embora apenas um
ano mais velho, parecia se lembrar com muita clareza.
Louisa olhou ao redor da sala de jantar pequena com seus móveis
simples. Logo eles iriam embora dali, do chalé para o qual haviam sido
exilados tantos anos atrás e que agora era o lar deles. No dia seguinte,
quando Overlea chegasse para discutir os detalhes do casamento, ela
descobriria quanto tempo levaria até que as circunstâncias mudassem
novamente. Desta vez, porém, seria para melhor. Tinha que manter essa
crença.
Ela afastou a suspeita de que Overlea estaria escondendo algo dela. Para
sua própria paz de espírito, era melhor não perder tempo se preocupando
com o que poderia ser antes da hora.
Dando-se uma sacudida mental, ela se trouxe de volta para a tarefa em
mãos. Catherine logo estaria lá embaixo e John voltaria de suas aulas. Ela
teve tempo suficiente para limpar tudo antes do jantar. Ela estava
começando a subir as escadas quando John irrompeu pela porta da frente.
— Louisa — chamou ele, parando seu progresso. — Preciso falar com
você e Catherine.
— Isso pode esperar até o jantar?
A expressão no rosto dele a fez parar. Ele parecia culpado e
determinado, e isso a deixou desconfortável.
— Precisamos conversar — disse ele. Seu olhar foi para o topo da
escada. — Bom, Catherine está aqui. Podemos resolver isso de uma vez.
A inquietação a percorreu. De alguma forma, seu irmão deveria ter
descoberto sobre sua visita ao Solar Overlea. Ou isso ou ele ficara sabendo
da proposta de Edward. Nenhuma das alternativas era um bom presságio.
— Deixe-me explicar — começou ela, mas John a cortou.
— Não vai me dissuadir desta vez, Louisa. Minha decisão está decidida
e já falei com o reverendo Harnick.
Ela olhou para Catherine, que agora estava parada em silêncio ao lado
dela, mas ficou claro que ela também não tinha ideia do que seu irmão
queria discutir.
— Eu disse ao reverendo Harnick que não vou me candidatar a uma
bolsa de estudos em Oxford, mas espero, em vez disso, encontrar uma
maneira de nos apoiar. Ele conhece algumas famílias que acredita que
estariam dispostas a me contratar para ensinar latim e grego aos seus filhos.
Se ela ainda tinha dúvidas sobre a decisão de aceitar a proposta de
Overlea, elas se foram naquele momento. Ela esperava adiar contar aos
irmãos sobre sua decisão até que ela falasse com Overlea novamente e eles
acertassem os detalhes, mas o tempo não era mais um luxo.
— Isso não será necessário.
— Será sim — interrompeu John. — Eu sou o homem desta família
agora e é hora de começar a agir como tal.
— Ouça-me, John…
— Já cansei de ouvi-la. Eu deveria ter feito isso há muito tempo, mas
deixei você me convencer de que papai ficaria chateado se eu desistisse dos
meus estudos. — Ele foi até a porta e voltou, seu corpo jovem cheio de uma
energia vibrante. Passou a mão pelo cabelo loiro e disse: — Provavelmente
estava certa sobre isso, mas você se sacrificou por muito tempo, Louisa.
Agora é a minha vez de cuidar da família.
Louisa colocou a mão no braço do irmão.
— Eu não me importo — disse ela. — Não pode desistir dos seus
estudos. Sei o quanto ir para Oxford significa para você.
— Acho que todos aqui sabem que isso nunca vai acontecer. Como
poderia deixar vocês duas aqui, sozinhas, sem nenhuma renda? Que tipo de
homem isso faria de mim?
A desolação nos olhos dele fortaleceu ainda mais sua determinação.
— John está certo — disse Catherine. — Não podemos permitir que
você continue assumindo a responsabilidade exclusiva de cuidar da família.
Certamente posso encontrar uma posição como acompanhante de uma dama
ou governanta.
— Não. — A veemência em seu tom surpreendeu os irmãos. — Vou me
casar e meu futuro marido me garantiu que o futuro de vocês estará seguro.
Suas palavras caíram no cômodo com uma finalidade ensurdecedora.
Foi Catherine quem encontrou sua voz primeiro.
— Quem?
— O Marquês de Overlea.
Se ela não estivesse tão preocupada com a reação do irmão, a expressão
em seu rosto teria sido cômica. Ela sabia, no entanto, que isso não era
motivo de riso.
— O que está dizendo? Como isso pode ter acontecido?
Louisa sabia que, acima de tudo, John nunca deveria saber da proposta
de Edward Manning, nem de sua visita a Overlea naquela tarde. Seus
irmãos nunca acreditariam que suas núpcias iminentes seriam o resultado de
um casamento de amor, e ela não tinha dúvidas de que John não aceitaria o
casamento se pensasse que ela estaria se sacrificando por eles. Ela teria que
dar a eles o suficiente da verdade para satisfazer a descrença.
— Overlea decidiu que está na idade de se casar e garantir o futuro de
seu título. Ele propôs e eu aceitei.
O irmão praguejou e ela se encolheu com a veemência dele.
— A decisão já foi tomada — continuou ela. — Ele estará aqui amanhã
para discutirmos os detalhes.
A carranca de John aprofundou-se.
— Não concordo.
— Não exijo sua aprovação. Tenho idade suficiente para me casar com
quem eu quiser.
— Você se entregaria a um Manning? — Seu desgosto era palpável. —
Eles roubaram tudo da nossa família. Eles são a razão pela qual tivemos que
viver na miséria por anos.
Louisa balançou a cabeça.
— O marquês não tem culpa, nem seu pai ou irmão. Foi o tio dele quem
enganou o papai.
John balançou a cabeça, sua raiva só aumentando quanto mais ela
tentava fazê-lo enxergar seus motivos.
— Não importa. Ele é um Manning e eles são todos iguais.
— Lorde Overlea está nos salvando, John. Depois do nosso casamento,
nunca mais vamos precisar de nada.
— Já fiz planos para cuidar de nós. É minha responsabilidade, não sua.
Louisa queria gritar de frustração, sabendo que seu irmão nunca
entenderia o motivo para esse assunto. Catherine permaneceu em silêncio
durante a conversa, mas não foi difícil ler seus pensamentos pela expressão
em seu rosto. Culpa e esperança. Claramente, ela podia ver que as
vantagens de sua irmã de se casar com o Marquês de Overlea seriam
abundantes. Ignorando o irmão por um momento, ela agarrou as mãos de
Catherine.
— Vai ficar tudo bem. Eu quero fazer isso. Ainda temos que acertar os
detalhes, mas o marquês prometeu que você terá uma temporada. Apenas
imagine! Você vai ser uma estrela. Terá a possibilidade de escolher qualquer
homem que desejar.
— E você, Louisa? Também pode escolher qualquer homem.
Louisa balançou a cabeça.
— Tenho vinte e cinco anos, velha demais para uma temporada. E todos
nós sabemos que sem um dote e o patrocínio de alguém eu nunca
conseguiria um casamento.
Catherine estava prestes a protestar, mas Louisa a impediu:
— Overlea não é desinteressante — disse ela, tentando ignorar o calor
que ela podia sentir rastejando em seu rosto. — Não acho que o casamento
com ele seria uma grande dificuldade.
John se irritou com suas palavras, mas ela o ignorou. Pretendia que suas
garantias deixassem seu irmão e irmã à vontade, mas quando as disse,
percebeu que eram verdade. Ela se lembrou novamente do beijo que ela e o
Overlea tinham compartilhado e seu rubor se aprofundou. E, além do fato
de ser um homem muito atraente, ele havia demonstrado grande bondade
para com ela e sua família.
Ela se aproximou dele pedindo ajuda e sua resposta superou em muito
suas expectativas. Em vez de apenas garantir que a família continuasse a ter
um teto sobre suas cabeças, ele decidiu fornecer a ela os meios para garantir
o futuro de todos. Era verdade que seu relacionamento com Overlea seria
prático, mas a maioria dos casamentos começava dessa maneira.
O casamento iminente também lhe daria o que ela mais queria: a própria
família. Há muito tempo ela havia desistido de esperar que um dia fosse se
casar e ter filhos, mas agora esse sonho estava ao seu alcance.
Ela acreditava que ela e Overlea se dariam bem, apesar da dúvida de
que ele não tinha sido completamente honesto com ela. O que quer que ele
estivesse escondendo, ela lidaria com isso mais tarde. Por enquanto, ela
tinha que sustentar John e Catherine.
Ela voltou-se para o irmão.
— O marquês pode garantir sua entrada em qualquer universidade que
desejar. Já falei com ele e ele vai providenciar para que você possa
frequentar Oxford.
John não disse nada, mas seus braços estavam cruzados e sua expressão
rebelde. No entanto, Louisa não deixou de notar o breve lampejo de desejo
que cruzou o rosto dele com suas palavras. Ah, sim, ela definitivamente
estava fazendo a coisa certa.
Ela voltou-se para a irmã.
— Já coloquei a mesa e o jantar deve estar pronto. Poderia cuidar disso
enquanto falo com John a sós por um momento?
Catherine lançou um olhar duvidoso na direção de John, mas deu de
ombros e foi para a cozinha com um suave “boa sorte” destinado apenas aos
ouvidos de Louisa. Quando ela se afastou, Louisa levou John para a sala de
estar e fechou a porta.
— Você já adiou seus estudos por causa do falecimento de papai e,
como apontou, não quer nos deixar sozinhas. Agora não há nada que o
impeça de continuar com sua educação.
— O preço é muito alto.
— Tenho idade suficiente para saber o que estou fazendo e você sabe
que sempre fui uma boa juíza de caráter. Se eu tivesse alguma reserva,
nunca teria aceitado a proposta de Overlea.
— Não pode estar falando sério. Mal conhece o homem.
Ela tentou uma abordagem diferente:
— Não pensou em Catherine?
— O que ela tem a ver com isso?
— Sabe a culpa que ela carrega. Ela sempre se culpou pela morte de
mamãe.
— Catherine é uma criança. Papai é o único culpado pelas próprias
ações. Ele não tinha que beber até cair e jogar fora nossa casa e a
propriedade.
— Quanto tempo acha que levará até que ela se jogue nos braços de
algum homem que ela acredita que irá nos salvar? Ela tem dezessete anos e
eu vi o jeito que alguns dos homens da vila olham para ela.
A cor sumiu do rosto do irmão e ele cerrou os punhos.
— Vou matar qualquer um que tentar tirar vantagem dela.
— Este não é o melhor curso de ação, o que eu escolhi é o único. Assim
que tivermos a proteção de Overlea, a culpa de Catherine diminuirá.
— E você? Como suas ações são diferentes do que teme que ela possa
fazer?
Ela não podia acreditar o quão teimoso o irmão estava sendo.
— Overlea não está se aproveitando de mim. Não sou tola, John. Ele
precisa de uma esposa e um herdeiro e, por qualquer motivo, ele se decidiu
por mim. A nossa união será respeitável e não será diferente dos arranjos
matrimoniais que muitas vezes são feitos entre as famílias.
— Ainda não aprovo — disse John.
Louisa suspirou. Estava claro que o irmão estava determinado a não se
deixar influenciar.
— Vai dar tudo certo. Overlea nos visitará amanhã para discutirmos os
detalhes do contrato de casamento. Você pode agir como acompanhante
quando ele o fizer e ver por si mesmo que as intenções dele são honrosas.
Louisa fez uma oração silenciosa para que o irmão não percebesse sua
suspeita de que Overlea estava escondendo algo importante deles.
Capítulo 6
HAVIAM SE passado dois dias desde que Louisa tinha ido ao Solar
Overlea para pedir a ajuda do marquês. A última coisa que esperava que
resultasse daquele encontro era uma proposta de casamento. Estava
desesperada, mas de alguma forma conseguiu controlar seus nervos. Agora,
no entanto, a tarefa se mostrava quase impossível. Catherine, por outro
lado, estava cheia de expectativa.
Ela dirigiu um sorriso trêmulo à irmã antes de descer da carruagem que
a avó de Nicholas enviara para buscá-las. O mordomo as conduziu para
dentro imediatamente, ordenando-lhes para que esperassem na sala
enquanto ele notificava a marquesa viúva da chegada delas.
Tiveram que esperar alguns minutos antes que a avó de Nicholas
entrasse na sala. Ela era mais baixa do que Louisa e seu corpo esguio e
cabelo branco como a neve deveriam dar-lhe um ar de fragilidade. Em vez
disso, no entanto, a mulher mais velha possuía um ar inconfundível de
autoridade que fez Louisa se sentir completamente fora de lugar.
Ela e Catherine levantaram-se para cumprimentá-la.
— Peço desculpas por deixá-las esperando — disse Lady Overlea
depois que ela acionou o chá. — Eu estava na estufa cuidando das rosas e
Sommers não sabia onde me encontrar.
O interesse de Catherine foi imediatamente despertado, e estava quase
brilhando de excitação quando disse:
— Eu também adoro jardinagem. Li sobre estufas, mas nunca vi uma.
— Não devemos nos impor — disse Louisa, temendo que a avó de
Nicholas ficasse irritada com a exuberância de Catherine.
— Não é nenhuma imposição — disse a mulher mais velha. — Sou
muito orgulhosa da estufa de Overlea e gostaria de levá-las lá. Infelizmente
não teremos tempo hoje. Talvez em uma próxima visita.
— Vou esperar por isso — disse Catherine. — Vi alguns de seus jardins
no caminho e gostaria de dar uma olhada mais de perto. Observei que tem
algumas plantas que nunca vi antes.
— Descobriu meu amor secreto — disse Lady Overlea, seu sorriso largo
e caloroso. — Acho que vai gostar de explorar as plantas na estufa. Muitas
vieram de climas muito mais quentes e devem ser trazidas para dentro de
casa antes do inverno.
O sorriso de Catherine se alargou e Louisa começou a relaxar. Ela
congelou, no entanto, quando Lady Overlea voltou sua atenção para ela. O
peso da leitura da mulher mais velha era quase uma coisa palpável.
— Fiquei muito triste ao saber da morte de seu pai, senhorita Evans.
Um nó subiu em sua garganta com as palavras da outra mulher,
principalmente porque era óbvio que ela estava sendo sincera.
— Obrigada, milady — agradeceu ela. — E já que em breve seremos
uma família, pode me chamar de Louisa e minha irmã de Catherine.
A avó de Nicholas esperou vários segundos antes de perguntar:
— Como meu neto veio a propor-lhe casamento? Eu nem sabia que ele
a tinha conhecido. — Uma ruga vincou sua testa.
A mente de Louisa ficou em branco e ela se esforçou para organizar
seus pensamentos dispersos. Não havia lhe ocorrido que Nicholas não teria
contado à avó como eles se conheceram. Ele deveria estar tentando poupá-
la de se preocupar com sua saúde. Ela teria que chegar o mais perto possível
da verdade sem revelar os detalhes da proposta de seu outro neto.
— Na verdade, nos conhecemos há pouco tempo. Ele passou por nossa
casa no início desta semana enquanto voltava de Londres e parou para
expressar suas condolências pela morte de nosso pai. — Ela ignorou o olhar
curioso que Catherine dirigiu a ela e continuou: — Eu mesma fiquei
surpresa quando ele me propôs casamento dois dias atrás.
Lady Overlea assentiu como se a explicação fizesse todo o sentido e
sorriu, a diversão iluminando suas feições.
— Esse é o Nicholas, incapaz de passar por uma bela jovem sem parar
para falar com ela.
Louisa corou com o elogio.
O humor da marquesa viúva mudou, tornando-se sombrio.
— Tenho uma confissão a fazer. Receio não ter deixado meu neto com
muita escolha. Era hora de ele se casar e eu forcei a questão.
Sua revelação surpreendeu Louisa. Ela não podia imaginar Nicholas
sendo forçado a fazer qualquer coisa contra sua vontade.
— Serei franca, meu neto provavelmente não lhe contou, mas a linha
Overlea está em perigo. Se Nicholas não produzir um herdeiro, o título irá
para seu primo. Não estranhe, amo todos os meus netos, mas a noção de
Edward como o próximo Marquês de Overlea… — Ela fechou os olhos
brevemente. — Bem, vamos apenas dizer que é importante que Nicholas
tenha um filho para garantir a linhagem.
Louisa quase podia sentir o peso dessa responsabilidade sendo
transferida diretamente para seus ombros.
— Não posso garantir um filho ao marquês, mas cumprirei meu dever
— disse ela, incapaz de conter o rubor.
Lady Overlea deu um tapinha no braço de Louisa.
— Isso é tudo o que podemos lhe pedir. Agora — disse ela, levantando-
se —, temos um casamento para planejar e um guarda-roupa para garantir.
Já mandei um recado para Londres e a modista estará aqui amanhã. Por
favor, venham comigo. Não temos tempo a perder.
A PRIMEIRA AÇÃO de Nicholas ao chegar a sua casa em Londres foi avisar
Richard Harding, o Conde de Kerrick, de que estava na cidade novamente.
Quando ele chegou mais tarde naquela tarde, Nicholas liderou o caminho
para seu escritório.
— É um pouco cedo para beber, não acha? — Kerrick perguntou
quando Nicholas foi até o aparador e serviu dois conhaques.
— Foi uma visita interessante — Nicholas disse enquanto entregava ao
amigo uma das bebidas.
— Certamente foi curta, mesmo para você. Espero que tenha
esclarecido toda essa bobagem sobre se casar. O que sua avó tinha a dizer
sobre isso?
Nicholas esperou até que Kerrick levasse o copo aos lábios para
responder:
— Cumprimente-me — disse Nicholas. — Vou me casar.
Ele sorriu quando o amigo se engasgou com a bebida. Deus sabia que
não havia muito o que achar divertido sobre toda aquela situação.
— Droga — disse Kerrick quando recuperou a compostura. — Isso não
foi engraçado.
— Eu não estava brincando.
Horrorizado, Kerrick olhou para ele.
— Puta merda.
— Sim, bem, espero que não seja tão ruim assim.
Espantado, Kerrick balançou a cabeça.
— Não consigo acreditar que a velha senhora o enganou. Sua tia deve
estar nas nuvens.
Nicholas fez uma careta.
— Não vou me casar com minha prima.
— Bom — disse Kerrick —, tenho que lhe dizer que nunca fui louco
por esse lado de sua família. Edward é uma criatura vil, e Mary é muito
mansa e sem sal para você.
Nicholas não poderia concordar mais plenamente.
— Dizer que ficaram descontentes quando dei a notícia a eles seria um
grande eufemismo. — Um pequeno sorriso de satisfação tocou seus lábios
quando ele se lembrou da cena.
Kerrick riu.
— Transformou o anúncio em um evento.
— Sim, foi muito divertido.
Ele não se incomodou em contar ao amigo sobre a proposta que Edward
fizera a Louisa. Esse assunto havia sido resolvido e seu primo seria um tolo
por não prestar atenção ao seu aviso no futuro.
— Então me diga, quem é essa mulher afortunada? É uma das muitas
que andam atrás de você desde que seu irmão faleceu?
— Não — disse Nicholas. — É uma vizinha em Kent.
— Sério? — As sobrancelhas de Kerrick se ergueram enquanto ele
especulava sobre a importância dessa revelação. — Você tem guardado
segredos de mim?
— Eu gostaria que fosse algo bem interessante — respondeu Nicholas.
— Você não conhece a família.
Bebeu o restante de seu conhaque. Teve algum tempo agora para
considerar essa discussão com Kerrick, mas não conseguiu pensar em uma
maneira de facilitar isso.
O amigo percebeu sua mudança de humor imediatamente.
— Por que está aqui, Nicholas? Não é um bom presságio para o seu
casamento iminente se você sentir a necessidade de escapar da presença
dela logo após o noivado.
Kerrick estava buscando leveza, mas Nicholas não estava com humor
para brincadeiras.
— Voltei à cidade para obter uma licença especial. A cerimônia
acontecerá no final do mês.
Kerrick assobiou.
— Ela está grávida?
Nicholas estremeceu com a pergunta.
— Não, graças a Deus.
Ele caminhou até sua mesa e então virou-se para se apoiar nela.
— Você pode querer se sentar.
Kerrick levantou uma sobrancelha, mas fez exatamente o que lhe foi
sugerido.
— Eu preciso de um favor.
— E você o terá — respondeu Kerrick sem hesitar.
— Você ainda não ouviu o que estou precisando.
— Não importa. Tudo o que você precisar, menos assassinato, e mesmo
assim iria depender de quem você quer que eu mate, você o terá.
Nicholas sorriu. Ele sabia que poderia contar com Kerrick para fazer
praticamente qualquer coisa que pedisse, mas o que iria pedir a ele agora…
Nicholas sabia que no final ele concordaria, mas também sabia que Kerrick
tentaria convencê-lo a desistir de seu plano.
— Tive uma crise a caminho de casa.
— Quão ruim?
— Muito. Eu desmaiei. Quando acordei, não conseguia me lembrar
onde estava ou por que estava indo ver a vovó.
Kerrick permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo a
importância da notícia. Nicholas estava feliz por ele não ter lhe oferecido
palavras banais de simpatia. Com esta última crise, ele não podia mais
negar que havia herdado a condição que levara à morte de seu pai e de seu
irmão.
— Você estava na estrada na hora?
Nicholas assentiu.
— Felizmente, vi uma casa de campo quando minha tontura piorou e
consegui procurar abrigo antes de perder a consciência.
— Você poderia ter ficado na estrada por horas.
— Sim, isso teria sido muito inconveniente. E você apreciará a poesia
da situação. Acabei na porta da mulher com quem estou prestes a me casar.
— Estou tendo muita dificuldade em imaginar você caindo prostrado
aos pés de uma mulher, depois se virando e pedindo para que ela se case
com você. — Kerrick balançou a cabeça com a imagem. Seu
comportamento tornou-se sombrio, porém continuou: — Sei que não quer
que eu fale sobre isso, mas certamente pode encontrar alguém que possa
ajudá-lo com esta doença.
Nicholas balançou a cabeça. Este era um assunto em que odiava ter que
pensar.
— Tanto meu pai quanto meu irmão consultaram todos os melhores
médicos e ninguém sabe que doença é essa. Aparentemente, nunca viram
nada parecido. A única coisa que sabem, e mesmo isso foi um palpite
depois que meu irmão adoeceu, é que a condição é hereditária.
— O que precisa que eu faça? — Kerrick perguntou depois de um
tempo em silêncio.
— Antes de continuar, preciso que você prometa que vai me ouvir.
— Está começando a me deixar nervoso. Apenas me diga do que
precisa.
Nicholas assentiu e afastou-se da mesa. Ele deu a volta, puxou a cadeira
e afundou-se nela pesadamente.
— Overlea precisa de um herdeiro.
— Eu presumo que é por isso que você está se casando.
— Em parte. Minha crise recente da doença, no entanto, me fez
perceber uma coisa. Eu não posso arriscar ter um filho.
Kerrick estava claramente confuso com suas palavras.
— Se não pretende ter filhos, então por que está se casando? Você já
tem um herdeiro.
— Não — disse ele, seu tom enfático —, Edward não pode herdar.
Kerrick inclinou-se para frente.
— Não está fazendo sentido. Posso ver por que você não quer que
Manning se torne o próximo marquês, mas a única maneira de evitar isso é
ter seu próprio filho homem.
Nicholas balançou a cabeça.
— Não exatamente. É minha esposa que produzirá o herdeiro. Todos
precisam apenas presumir que a criança é minha.
Kerrick recostou-se, atordoado.
— Faria isso?
— Não tenho outra escolha.
— Sim, Nicholas, você tem. Você está falando bobagem. Realmente
quer que sua esposa passe o filho de outra pessoa como seu? Quando nem
mesmo é certo que você passaria sua doença para seus filhos.
Nicholas riu um som amargo.
— Este não é um risco que estou disposto a correr. E o pai não seria
qualquer um. Seria alguém da minha escolha. Alguém com linhagem
impecável.
Nicholas soube no momento em que Kerrick entendeu o que ele estava
querendo dizer. Sua expressão mudou de confusão para incredulidade,
depois raiva. Ele levantou-se abruptamente, foi até a mesa e inclinou-se
sobre ele, seu rosto a poucos centímetros do de Nicholas.
— Você é insano. Sua futura esposa sabe que planeja prostituí-la para
outro homem? Para mim?
As palavras foram calculadas para fazê-lo se encolher e atingiram seu
alvo. Ele teve o cuidado de não pensar em qual seria a reação de Louisa
Evans. Ao contrário de Kerrick, no entanto, ela não teria escolha depois de
assinar o contrato de casamento, prometendo lhe dar um herdeiro.
— Tenha cuidado com o que fala.
— O inferno que terei — disse Kerrick, empurrando-se para longe da
mesa.
Nicholas estava esperando a descrença. Ele até sabia que Kerrick ficaria
zangado. O que ele não esperava era o lampejo de desgosto que ele viu no
rosto do amigo. Ele não disse nada enquanto Kerrick passeava pelo
cômodo. Por um momento, Nicholas pensou que ia sair correndo pela porta,
mas em vez disso, ele virou-se abruptamente e voltou para a mesa.
— Não vou fazer isso — disse ele, sua boca em uma linha sombria.
Nicholas já esperava sua recusa, mas tinha certeza de que poderia fazer
Kerrick enxergar a razão.
— Então vou encontrar outra pessoa.
A mandíbula de Kerrick se apertou.
— Quem?
Nicholas deu de ombros, fingindo uma indiferença casual que estava
longe de sentir.
— Tenho certeza de que há muitos homens que ficariam felizes em
fazer esse favor, mas eu estava querendo que fosse alguém que eu sabia que
poderia contar para manter a boca fechada, mas… — Ele deu de ombros
novamente enquanto permitia que sua voz sumisse.
— Não faça isso, Nicholas. Pense no escândalo se a notícia vazasse
— Não importa. Você sabe que haverá rumores de qualquer maneira
depois que Louisa e eu nos casarmos tão rapidamente, mas sua posição
como marquesa servirá como um bom amortecedor contra essas conversas.
— Ele apoiou os braços na mesa e inclinou-se para frente. — Meu herdeiro
sobreviverá a esses rumores. Dificilmente seria o primeiro bastardo a
assumir um título. Overlea, no entanto, não sobreviveria a Edward como
marquês. Ele levaria a propriedade ao chão. E você já ouviu os rumores que
estão circulando pela cidade sobre ele. Pelo que soube recentemente, ouso
dizer que a maioria deles é verdadeira.
Kerrick afundou-se na cadeira novamente e enterrou a cabeça nas mãos.
Passou-se quase um minuto inteiro antes que ele olhasse para cima.
— Tem tão pouca consideração por esta mulher com quem vai se casar?
Pelo que me disse, ela pode ter salvado sua vida. Você provavelmente não
teria sobrevivido a uma noite na estrada, não nas condições em que estava.
— Ela não vai ficar feliz. Na verdade, espero que fique furiosa, mas ela
é uma mulher prática. Vai fazer o que precisa ser feito. E quando eu morrer,
ela agradecerá todos os dias por nunca ter que ver seu próprio filho e netos
sucumbirem à mesma doença. A vovó já perdeu um filho e um neto para
essa doença. Em breve, ela terá perdido dois de seus quatro netos. Louisa
Evans não terá que sofrer o mesmo destino. Melhor ela me achar um
bastardo agora do que sofrer o que minha avó sofreu.
Kerrick se acalmou durante o discurso. Sem pensar de forma
consciente, Nicholas levantou-se em algum momento. Ele nunca havia
falado tão apaixonadamente sobre o que estava por vir. Sempre evitara o
assunto de sua eventual morte.
Ele virou-se e foi até a janela, tentando controlar suas emoções.
Nenhum dos dois disse nada pelo que pareceu muito tempo, os dois
homens travados em uma batalha silenciosa de vontades, nenhum dos dois
querendo admitir que poderiam estar errados. Kerrick aproximou-se de
Nicholas e colocou a mão em seu ombro.
— Não posso fazer promessas — disse ele —, mas voltarei com você
para Kent.
Nicholas fechou os olhos com alívio. Tudo ia sair como ele esperava.
Capítulo 8
NICHOLAS ESPERAVA por ela na base da escada, mas desta vez Louisa
estava preparada para a força de sua reação a ele. Estava vestido de preto, a
cor sombria contra sua camisa e gravata branca. Seu cabelo castanho
escuro, um pouco comprido, parecia se misturar com o preto de seu fraque.
Ela não tinha notado o leve tom bronzeado na pele dele antes, mas contra a
gravata branca como a neve, era a prova de que ele gostava de ficar ao ar
livre. Já sabia que ele gostava de cavalgar. Era realmente um dos homens
mais bonitos que já conhecera.
Quando chegou ao pé da escada, Nicholas estendeu o braço e ela o
pegou. Já esperava o frisson de consciência que passou por ela.
Ele lhe deu um sorriso, mas ela notou que o sorriso dele não alcançou
seus olhos.
— Serei a inveja de todos os homens daqui.
Ela sabia que seu vestido complementava sua cor clara. O vestido de
seda azul, com seu corpete baixo e saia que fluía sobre seu corpo esguio,
brilhava a cada passo que ela dava. Ela nunca tinha visto um tecido como
aquele e era de longe o vestido mais bonito que já tivera.
— E eu, sem dúvida, serei objeto de muito ressentimento das mulheres
solteiras presentes que esperavam atrair a sua atenção.
Nicholas riu de suas palavras, e ela ficou feliz em ver que um pouco de
calor havia voltado para seu rosto.
— Só ficarei mais nervosa se demorarmos mais — continuou ela.
— Vai se sair bem. Pode se confortar com o fato de que a vovó lhe deu
seu selo de aprovação.
— Ela tem sido muito gentil comigo — disse, embora a verdade fosse
que “gentil” era um grande eufemismo. A marquesa viúva de Overlea a
recebera de braços abertos na família. Se não fosse por sua ajuda e tutela
durante as últimas três semanas, Louisa temia estar escondida em seus
aposentos agora.
Nicholas liderou o caminho até o salão de baile. Quando entraram, um
silêncio caiu sobre o local e todos os olhares se voltaram para eles. A
especulação pairava no ar enquanto todos tentavam dar uma boa olhada
nela. Depois do que pareceu uma eternidade, Sommers os anunciou. As
palavras “O Marquês e a Marquesa de Overlea” caíram no salão com a
força de um tiro de canhão. Houve um momento de silêncio suspenso,
depois uma cacofonia de sussurros, suspiros e pessoas avançando,
esperando por uma apresentação. Era demais, mas Nicholas teve apenas que
levantar a mão e o silêncio pairou mais uma vez.
Ele a puxou para mais perto dele.
— Estamos muito felizes que todos vocês puderam vir celebrar o dia
mais feliz de nossas vidas. Todos terão a oportunidade de conhecer minha
adorável esposa, mas primeiro devo implorar sua indulgência, pois prometi
a ela uma dança antes que a roubem de mim.
Juntos, eles foram para o centro do salão e Nicholas virou-se para ela.
Com borboletas se agitando dentro dela, ela entrou nos braços dele e tentou
desviar a atenção de que todas as pessoas no salão estavam olhando para
ela. Era a primeira vez que dançava valsa em público desde que aprendera a
dança com o mestre de dança que Lady Overlea havia contratado, e ela fez
uma oração silenciosa para que não tropeçasse. Logo ficou claro para ela,
no entanto, que Nicholas não era um novato na dança. Ele teve o cuidado de
manter uma distância adequada entre os dois enquanto deslizava com ela
pelo salão de baile, mas Louisa não pôde deixar de estar ciente do quão
perto seus corpos estavam. Ela se lembrou, novamente, daquele primeiro
beijo que lhe dera, quando a puxou para a cama e como ela se afastou
exatamente quando o beijo ameaçou se tornar algo mais. Esta noite, no
entanto, ela não iria impedi-lo.
Curiosa se ele estava pensando a mesma coisa, olhou nos olhos dele e
ficou desapontada ao ver que o calor havia desaparecido novamente. Ele
havia perguntado se ela se arrependera de ter concordado em se casarem,
mas agora não podia deixar de se perguntar se era ele quem estava
pensando duas vezes.
A música terminou e Nicholas curvou-se sobre a mão dela, dando um
beijo suave em suas costas. Consciente de que todos os observavam, ela
sorriu e tentou convencer a si mesma e ao público de que não havia nada de
errado.
O RESTO da noite voou como um sonho para Louisa. Além dos membros
da família, ela não conhecia nenhum dos convidados, a maioria dos quais
eram membros da alta sociedade que viajaram para o Solar Overlea para o
que pensavam ser um baile para anunciar o noivado de Nicholas. Lady
Overlea tomou Louisa sob sua asa e a apresentou a todos. À medida que as
horas passavam, sua cabeça começou a doer pelo esforço de tentar lembrar
os nomes de todas as pessoas que estava conhecendo.
Louisa teve apenas vislumbres de seu marido depois da dança. Ela
dançou com muitos dos homens no baile, mas Nicholas não dançou com
nenhuma das mulheres. Não foi a única a notar esse fato.
Não lhe escaparam os olhares que algumas das mulheres lançavam em
sua direção. As piores eram aquelas que não se incomodavam em serem
discretas ao examinarem sua barriga. Ela sabia que haveria especulações
sobre a razão por trás da pressa de seu casamento, mas ninguém lhe disse
nada diretamente. Ela teria que fingir não notar. Quando nenhum bebê
aparecesse antes do nono mês de casamento, qualquer um que achasse que
ela já estaria grávida saberia que estava errado.
Quando a ceia estava para ser servida, a energia de Louisa estava
começando a diminuir. Não conseguiu dormir na noite anterior e a soneca
que tirou naquela tarde não tinha sido longa. Estava exausta e Nicholas
percebeu. Depois do jantar, quando todos voltaram ao salão de baile, ele a
puxou de lado.
— Está cansada — disse ele.
— Receio não estar acostumada a ficar até tão tarde e a soneca que tirei
mais cedo não foi muito longa.
Como se para provar suas palavras, ela bocejou. O canto de sua boca se
ergueu enquanto ela corava de vergonha.
— Gostaria de fazer com que mais algumas línguas começassem a
falar?
Ela não tinha certeza se deveria estar cortejando mais fofocas, mas o
brilho de travessura nos olhos dele a deixou curiosa.
— No que está pensando?
— Acho que deveríamos sair pela entrada dos empregados e ir até seu
chalé.
O estômago de Louisa revirou com a sugestão e um novo conjunto de
nervos a assaltou, mas não havia sentido em adiar a noite de núpcias. Ela
assentiu com a cabeça.
Ele abriu um sorriso e Louisa pôde ter um vislumbre de como ele
deveria ter sido quando criança. Perguntou-se se o filho deles teria aquele
mesmo brilho nos olhos quando estivesse aprontando alguma travessura.
Ele agarrou a mão dela com a sua muito maior e guiou o caminho para
fora do salão de baile, descendo até a cozinha. Passaram por alguns servos
no caminho, mas ele levou um dedo aos lábios para silenciar suas
perguntas. Louisa não perdeu os olhares divertidos que os criados lhes
dirigiram enquanto ela e Nicholas escapavam pela porta da cozinha.
Apanhada no momento, ela riu enquanto se dirigiam aos estábulos.
Nicholas tinha planejado tudo e um coche já havia sido preparado para a
partida deles. Não demorou muito para que os cavalos fossem tirados de
suas baias e amarrados. Seus olhos ainda estavam brilhando quando ele a
ajudou a entrar no veículo e subiu atrás dela.
Havia um cobertor no assento entre eles, que ele desdobrou e enrolou ao
redor dela. A intimidade do ato deixou todos os sentidos dela em alerta
máximo. Ele deve ter sentido isso também, pois suas mãos pararam e seus
olhos encontraram os dela por um momento insuportavelmente longo antes
de desviar o olhar e pegar as rédeas.
Ela nunca tinha viajado tão tarde antes. A noite estava fria, porém clara,
e o céu cheio com mil estrelas. Estava sentindo uma imensa alegria
enquanto afastavam-se da Mansão Overlea como dois ladrões.
Deve ter cochilado durante a viagem de meia hora, pois a próxima coisa
que ela percebeu foi que o coche estava desacelerando até parar do lado de
fora do chalé e ela se viu pressionada contra a lateral do corpo de Nicholas.
Ela se endireitou com um solavanco, o constrangimento inundando-a.
Nicholas saltou do veículo e estendeu a mão para ajudá-la a descer. As
mãos dele na cintura dela estavam quentes e permaneceram lá por vários
segundos depois que os pés dela já estavam no chão. Seus olhares se
encontraram. Seu humor brincalhão havia ido embora. Ele a olhou em
silêncio, sua expressão séria. Ela se viu esperando que ele fosse beijá-la.
Em vez disso, ele deixou cair as mãos depois de vários segundos e deu um
passo para trás. Ela sentiu a perda de seu toque agudamente.
— Os cavalariços estarão ocupados em Overlea Manor, então eu
cuidarei dos cavalos
Louisa só pôde assentir antes de entrar no chalé. Não deveria ter ficado
surpresa quando a porta foi aberta por um lacaio. Ela pensou que estariam a
sós, mas as vozes abafadas vindas da cozinha lhe disseram que pelo menos
alguns dos servos foram enviados para cuidar do conforto deles.
Fora isso, tudo estava como haviam deixado naquela manhã. Ela fez
uma nota mental para falar com o reverendo Harnick sobre doar os móveis
da casa para outras famílias necessitadas.
Subiu as escadas e foi para o quarto de seu pai, que ela sabia que tinha
sido preparado para a noite de núpcias. Quando entrou no aposento, ela
ficou surpresa com a transformação. A colcha era de um azul rico, com fios
de ouro. Estava dobrada e ela podia ver que os lençóis outrora puídos
também haviam sido substituídos por outros feitos de um material fino e
acetinado de um branco puro. Ela passou as mãos sobre o tecido frio, depois
sobre os novos travesseiros macios e suspirou. Ela nunca tinha imaginado
dormir em tal material antes, mas é claro que dormir não era tudo o que
faria com ele.
Virou-se para observar o resto do cômodo. A mobília era a mesma, mas
todos os tecidos e acessórios haviam sido trocados. As janelas estavam
cobertas com cortinas de um brocado azul que combinava com a colcha.
Havia até um tapete novo no chão. Ela deu uma olhada dentro do guarda-
roupa, que agora abrigava uma impressionante coleção de roupas para ela e
Nicholas. Ela achou difícil acreditar que tanto trabalho havia sido feito para
a estadia de uma noite, e se perguntou se Nicholas planejava ficar mais
tempo.
Fechou o guarda-roupa com firmeza. Sabia que deveria chamar sua
criada, que devia estar esperando em algum lugar lá embaixo para ajudá-la
a tirar o vestido e colocar a roupa de dormir, mas não teve tanta bravura.
Sentindo-se um pouco constrangida, sabendo que estava fazendo tudo
errado, desceu para a sala de estar para esperar por Nicholas.
Quando ele entrou pouco tempo depois, ficou surpreso ao vê-la.
— Estava cansada. Achei que já estaria na cama.
Louisa não conseguia encontrar o olhar dele.
— Meu pequeno cochilo na viagem parece ter renovado minhas
energias.
E era verdade. Ela não estava se sentindo nem um pouco cansada no
momento, embora suspeitasse que isso não iria durar muito.
— Talvez queira algo para beber antes de se retirar?
Ela não tinha notado que o aparador estava agora abastecido com
garrafas de xerez, conhaque e ela não sabia o que mais. Eles não podiam se
dar ao luxo de ter bebidas em casa.
— Xerez, por favor — disse ela. Talvez isso ajudasse a aliviar seus
nervos, que agora estavam em plena revolta.
Nicholas foi até o aparador e serviu uma taça de xerez para ela e
conhaque para ele. Ele lhe entregou a taça e ergueu a sua em uma saudação.
— Ao marquesado — disse ele antes de levar a taça aos lábios.
Ela achou um brinde estranho, mas também ergueu a taça, bebendo
mais devagar. Observou em silêncio enquanto ele colocava a taça na mesa e
caminhava até a janela. Ele parecia de alguma forma estar mais nervoso do
que ela. Como isso era possível? Nicholas tinha a reputação de ter estado
com muitas mulheres. Por que ele estaria nervoso com ela?
Quando ela terminou sua bebida, ele caminhou até ela e pegou a taça de
sua mão. Ela não tinha certeza do que esperar a seguir, mas certamente não
foi o que se seguiu.
— Deveria se retirar — disse ele suavemente.
Ela reuniu sua coragem antes de perguntar:
— Vai se juntar a mim?
Ele balançou sua cabeça.
— Precisamos conversar amanhã sobre minhas expectativas para este
casamento.
Ela não gostou do som disso. Queria insistir no assunto naquele
momento, mas podia ver que ele não estava com disposição para tal
discussão. Além disso, a fadiga, ajudada pelo xerez que havia bebido,
estava começando a se apoderar de seu corpo novamente.
Confusa, mais do que um pouco preocupada com a conversa do dia
seguinte, ela deu ao novo marido um desajeitado boa noite e subiu para seu
quarto. Chamou a criada para ajudá-la a se despir e foi para a cama sozinha.
Os lençóis estavam um pouco frios no início, mas sobrecarregada pelos
acontecimentos do dia, cansada pela falta de sono da noite anterior, ela
adormeceu imediatamente. Não tinha certeza de quanto tempo dormira
antes de ser acordada. A escuridão e a sensação dos lençóis frios contra sua
pele a desconcertaram e ela levou um tempo para lembrar onde estava.
Ouviu outro barulho, um som de raspagem e então a porta do quarto se
abriu. Louisa cobriu a boca para abafar o grito que quase lhe escapou. No
escuro, ela podia apenas distinguir uma sombra.
— Nicholas?
Houve um murmúrio de assentimento e Louisa sentou-se na cama.
— Ajude-me — disse ele.
Seus olhos se acostumaram com a escuridão e ela pôde ver que ele
estava segurando a maçaneta da porta para se manter de pé. Ela pulou da
cama e correu para o lado dele.
— Está tendo outra crise?
Assim que a pergunta saiu de sua boca, ela percebeu como soava tola.
Era óbvio que ele estava sofrendo de novo, de qualquer doença que o havia
atacado naquela outra vez. Ela inclinou-se para ele e passou seu braço livre
ao redor do ombro dele.
— Já pode soltar a porta.
Ele fez isso e Louisa lutou para permanecer de pé sob o peso dele. A
posição era estranha, mas ela conseguiu levá-lo com alguns passos até a
cama. Quando finalmente a alcançaram, ele a soltou e caiu nela.
Louisa colocou a mão na testa dele e ficou chocada ao perceber a febre.
Como era possível que ele estivesse tão doente quando estava bem apenas
algumas horas antes? Ela virou-se, mas ele a deteve com uma mão em seu
braço.
— Não vá embora — ele conseguiu dizer, sua voz pouco acima de um
sussurro.
— Já volto — disse ela.
Ela correu para o lavatório e colocou um pouco de água na tigela.
Mergulhando um pano no líquido frio, ela torceu o excesso de água e voltou
a colocá-lo na testa de Nicholas. Ele gemeu com o contato. Ficou ali, sem
saber o que fazer. Seus olhos se abriram e a enredaram em suas
profundezas.
— Não vá… por favor — disse ele antes de fechar os olhos novamente.
Louisa olhou para a espreguiçadeira, pensando que poderia dormir ali,
mas logo descartou a ideia. Ela e Nicholas eram agora marido e mulher.
Não haveria nada de errado em compartilharem a mesma cama. Ela seria
capaz de descansar um pouco e se ele precisasse dela, estaria lá.
Antes que pudesse mudar de ideia, ela puxou as cobertas sobre o corpo
de Nicholas, deu a volta para o outro lado da cama e escorregou entre os
lençóis. Desta vez ela ficou acordada por um bom tempo, ouvindo a
respiração constante do marido, antes de finalmente voltar a adormecer.
NICHOLAS ESTAVA grato por duas coisas. Primeiro, que a viagem de volta
ao Solar Overlea tinha sido curta e segundo, que ele escolhera conduzir sua
carruagem na noite anterior. Isso significava que ele poderia se concentrar
na tarefa de lidar com os cavalos em vez de encontrar-se no ambiente muito
mais íntimo da carruagem Overlea com sua esposa. Ainda estava quase
dolorosamente ciente dela, principalmente depois do que quase havia
acontecido naquela manhã, mas ele não estava em posição de fazer nada
tolo.
Percebia agora que tinha sido um imbecil ao pedir que Louisa fosse sua
esposa. Talvez ele devesse ter pedido Mary em casamento, afinal. Mas não,
ele descartou esse pensamento quase assim que ele lhe ocorreu. Mary podia
ser mansa, mas ela nunca teria concordado com o arranjo que ele tinha em
mente e não perderia tempo em contar à mãe e ao irmão sobre isso.
Tentou imaginar outras alternativas, mas no final sabia que Louisa tinha
sido sua única possibilidade. O fato de não ter os pais, de que ela tinha dois
irmãos mais novos para cuidar, sua situação desesperadora – tudo
combinado para presenteá-lo com a única mulher que ele sabia que
concordaria com a proposta que ele estava prestes a fazer.
Olhou para ela, mas seu rosto estava virado. Sua mente se esquivou de
qualquer pensamento de que a estivesse tratando tão mal quanto seu primo.
No entanto, lembrar-se da confusão dolorosa que viu no rosto dela quando
rejeitou suas tentativas de conversar durante o café da manhã, o fez se sentir
como um bastardo que chutara um filhote ferido.
Ele repassou a próxima conversa em sua mente. A conversa que teve
com Kerrick não era nada comparada à que teria com a esposa mais tarde
naquele dia. Ele sabia que logo ela o odiaria, e seria incapaz de culpá-la.
Soltou um suspiro de alívio quando a carruagem finalmente se
aproximou da mansão. Enviou seu valete e sua criada de volta ao Solar
Overlea naquela manhã com uma mensagem sobre quando eles voltariam,
mas ainda foi uma surpresa quando a avó os encontrou no saguão da frente.
— Estou feliz que vocês dois estejam de volta tão cedo. Precisamos
conversar — disse antes de se virar e entrar na sala de estar.
Ele encontrou o olhar perplexo de Louisa.
— Sabe do que se trata? — perguntou ela.
Por um momento, ele suspeitou que a avó tinha de alguma forma
descoberto seu plano para um herdeiro. No entanto, a única outra pessoa
que sabia era Kerrick, e seu amigo não teria contado a ela.
Ele balançou a cabeça.
— Não.
Parecendo um pouco nervosa, ela entrou na sala de visitas e Nicholas a
seguiu. Catherine já estava lá, sentada no sofá e parecia miserável. Lady
Overlea estava sentada em uma cadeira à sua frente, mas permaneceu em
silêncio.
— Catherine? — Louisa foi até a irmã e sentou-se no sofá ao lado dela.
— O que aconteceu? Por que está tão chateada?
Nicholas permaneceu de pé junto à porta, hesitante em se intrometer.
Catherine levantou a cabeça. A respiração profunda que ela inspirou
antes de responder foi trêmula.
— Sinto muito, Louisa. Tentei impedi-lo, mas ele não me ouviu.
Discutimos sobre isso. Seu amigo — disse ela, virando-se para olhar para
Nicholas —, ele nos viu, mas não sabia por que estávamos discutindo.
— Você está falando de John? — perguntou Louisa.
Catherine assentiu e estendeu um pequeno pedaço de papel dobrado que
não tinha notado que ela estava segurando no colo. Louisa pegou-o,
perplexa. Ela o desdobrou com as mãos trêmulas e começou a ler. Nicholas
moveu-se para trás do sofá e leu o bilhete por cima do ombro dela.
Louisa,
Agora que você se casou com Overlea, não seria apropriado que eu
procurasse um emprego como tutor. Felizmente, lembrei-me do velho amigo
de papai, o capitão Farrows. Acredito que ele esteja em Londres agora, ou
estava quando enviou suas condolências alguns meses atrás depois de
saber da morte de nosso pai. Sei que decidimos não aceitar sua oferta de
caridade, mas agora que você e Catherine estão bem, preciso fazer meu
próprio caminho no mundo. Pretendo abordá-lo para me patrocinar na
compra de uma comissão nas forças armadas.
Não mudarei de ideia. Você escolheu seu próprio caminho. Por favor,
permita-me fazer o mesmo.
John
— Não — disse Louisa, balançando a cabeça enquanto olhava para o
papel e o relia. — Ele não pode fazer isso. John deveria ir para Oxford. —
Virou-se para Catherine. — Quando ele foi embora? Conseguiremos detê-
lo?
Catherine balançou a cabeça.
— Ele saiu ontem à noite, logo depois que notamos que você e Overlea
haviam partido. Ele perguntou a um dos convidados que não ficaram
hospedados se poderia se juntar a eles quando voltassem para Londres.
Louisa levantou-se e deu a volta no sofá até onde Nicholas estava.
— Pode impedi-lo — ela disse a ele. — Deve impedi-lo. Você pode
enviar alguém para segui-lo. Ele estará com o capitão Farrows. Eu posso
lhe dar o endereço e…
Nicholas pegou as mãos dela, que estavam segurando o bilhete e
acalmou seu tremor. Pegou o bilhete e o devolveu a Catherine antes de
voltar-se para Louisa.
Ele disse as palavras que sabia que ela não gostaria de ouvir:
— Ele tem idade suficiente para tomar essa decisão. Não podemos
forçá-lo a fazer o que ele não quer.
Ela soltou um som estrangulado e Nicholas teve que resistir ao desejo
de puxá-la em seus braços.
— Não — disse ela, balançando a cabeça. — Ele queria ir para Oxford.
Para entrar no clero.
— Isso pode ter sido verdade em um ponto, mas não mais.
— A decisão dele foi tomada — disse Catherine. — Eu ameacei contar-
lhe, mas não adiantou. Ele disse que não havia nada que você pudesse dizer
ou fazer que o fizesse mudar de ideia, e eu não queria estragar sua noite de
núpcias.
— Você fez a coisa certa — disse Lady Overlea, falando pela primeira
vez desde que eles entraram na sala. — Não teria resultado e John ainda
teria ido embora, só que ele teria feito isso em maus termos com você e
Louisa.
— Isso não deveria acontecer — disse Louisa. — Tínhamos tudo
planejado.
— As coisas nem sempre saem conforme o planejado — disse Nicholas,
falando de seu próprio conhecimento cínico de quão fora do curso a vida de
alguém poderia ir.
Precisando oferecer-lhe conforto, ele levou as mãos dela aos lábios e
deu beijos suaves em suas costas. Os olhos dele encontraram os dela e o
poder de seu olhar triste o atravessou. Abalado, ele deixou cair as mãos dela
como se tivesse sido queimado.
— Minha cabeça me diz que você está certo, mas meu coração… — Ela
balançou a cabeça, incapaz de continuar por vários segundos. — Preciso
ficar sozinha agora.
Nicholas a observou partir, desejando ir atrás dela, mas sabendo que não
poderia fazê-lo.
— Fez a coisa certa — disse ele, virando-se para Catherine.
Os cantos da boca dela se ergueram um pouco em resposta, mas o
sorriso fraco não encontrou o olhar dele.
Então ele saiu da sala e foi até o escritório, sabendo que a avó faria o
que pudesse para confortar Catherine. Revisar os livros de contabilidade da
propriedade era a última coisa que queria fazer naquele momento, mas o
trabalho tinha que ser feito. O tédio da tarefa também ajudaria a tirar sua
mente da esposa e da bagunça que estava sua vida naquela tarde.
Nicholas sentou-se à sua mesa e abriu os livros da propriedade. Ele
levaria o resto do dia para percorrer as contas, uma tarefa que ele sempre
odiou. Ignorou a dor de cabeça que estava começando a latejar em suas
têmporas, sabendo que era um efeito colateral da crise que sofrera na noite
anterior.
Uma hora depois, uma batida soou na porta. Sem esperar por sua
resposta, Kerrick entrou. Normalmente Nicholas não teria se importado
com a interrupção, mas a maldita pulsação em sua cabeça sempre o deixava
irritado, para não falar do lembrete sobre o motivo de Kerrick não ter
retornado à Londres com o resto dos convidados.
— Por quanto tempo está planejando se esconder aqui? — perguntou
Kerrick.
— Tem uma propriedade. Sabe que elas não cuidam de si mesmas.
Kerrick não percebeu que o amigo estava aborrecido ou não se
importou. Fechou a porta atrás de si e sentou-se do outro lado da mesa.
Nicholas fingiu fechar o livro e dar atenção ao amigo.
— Há algo que eu possa fazer por você?
— Sua esposa é uma mulher bonita — disse Kerrick.
Um choque de aborrecimento passou por ele, mas se esforçou para
ignorá-lo. Afinal, isso era o que ele esperava. Seu amigo de longa data
estava mais propenso a concordar com sua proposta se achasse a mulher em
questão atraente.
— Viu-a hoje?
— Não, achei melhor falar com você primeiro. Contou a ela o que
planejou para nós?
Nicholas balançou a cabeça.
— Estou planejando contar a ela hoje à noite. — Ele hesitou apenas por
um momento antes de perguntar: — Você está concordando em me ajudar?
Kerrick balançou a cabeça.
— Não me decidi. Além disso, o ponto pode ser discutível se ela decidir
deixá-lo depois que você contar a ela.
Nicholas sabia que Louisa não iria embora. Ela não tinha para onde ir.
Poderia, no entanto, recusá-lo completamente.
Kerrick fez um grande show examinando suas unhas antes de continuar:
— Parece-me que está adiando contar à sua adorável esposa que deseja
que ela se deite com seu melhor amigo.
Nicholas achou difícil não vacilar com as palavras. Sua ideia de
conceber um herdeiro não parecia tão censurável quando pensou nisso pela
primeira vez. Porém, quanto mais tempo se passava e quanto mais ele
ficava perto de Louisa, mais desagradável a coisa toda ficava para ele.
— Por acaso você não teria ideia da melhor forma de introduzir o
assunto, teria?
— Eu? — disse Kerrick com uma gargalhada. — Esta ideia insana é
sua, uma com a qual ainda não concordei em ajudá-lo. Você vai ter que
descobrir isso por conta própria.
— Veio aqui apenas para me atormentar, então?
— Na verdade — disse Kerrick, inclinando-se para frente em seu
assento, sua expressão séria agora —, vim aqui para ver se você tinha
voltado a si.
— Foi enquanto eu estava lúcido que percebi que essa era a única
maneira de cumprir meu dever e fornecer um herdeiro aceitável para o
título.
Kerrick esperou um momento antes de dizer:
— Eu os vi juntos ontem à noite.
Nicholas levantou uma sobrancelha.
— Acredito que todos nos viram juntos ontem à noite. Esse era o
objetivo da coisa toda.
— Você sabe o que estou querendo dizer.
— Não, não sei. Por que não me esclarece?
Kerrick recostou-se em sua cadeira.
— Acredito que sua nova esposa desenvolveu uma atração por você. E
se não me engano, acho que não deixa de ser afetado por ela.
— Serei o primeiro a admitir que Louisa é uma mulher muito bonita.
No entanto, ela mal me conhece e certamente não é o suficiente para
desenvolver qualquer sentimento romântico por mim. Tomei o cuidado de
não encorajá-la nessa direção.
Teve que reprimir a culpa que o atravessou quando se lembrou de como
ela ficara magoada quando rejeitou suas tentativas de iniciar uma conversa.
Era melhor para todos os envolvidos se sua esposa descobrisse que a última
coisa que ele queria ou precisava era que eles se tornassem próximos. Já era
difícil ficar longe dela agora.
Nicholas encontrou o olhar curioso de seu amigo, tomando cuidado para
manter o seu próprio neutro. Kerrick exalou ruidosamente e levantou-se.
— Estará no jantar? Já que sei que não vai se envolver de outra forma
com sua nova esposa, então pensei que iria gostar de passar algum tempo
certificando-se de que seu melhor amigo não morresse de tédio.
Nicholas franziu a testa quando seus pensamentos foram imediatamente
para o que Kerrick poderia estar fazendo em breve para aliviar seu tédio.
Lutou para manter a voz casual quando respondeu:
— Vejo-o no jantar. Será uma boa oportunidade para você e Louisa se
conhecerem antes de eu falar com ela esta noite.
Kerrick apenas assentiu antes de sair.
Nicholas ficou sentado olhando por algum tempo para a porta pela qual
o amigo havia passado antes de voltar sua atenção para os livros. Não
queria pensar na conversa que logo teria com sua esposa.
ELE ESTAVA com medo. Este era, sem dúvida, o fim e ele havia deixado
um caso fracassado para trás. Edward seria o próximo Marquês de Overlea.
Pensou em Louisa. Tentou recordar o rosto dela, lembrar da sensação
dela em seus braços, mas tudo estava começando a desaparecer.
O tempo passou e ele se perguntou se já estava morto e ainda não sabia.
Ele parecia estar flutuando em um vazio escuro, sua força diminuindo
lentamente. A certa altura, ele ouviu vozes, mas elas se calaram e ele não
conseguiu entender o que estava sendo dito. Pequenas picadas o atingiram
em todos os lugares e ele sabia que este era o fim. Estava no inferno. Ele se
entregou completamente. Tinha pouquíssima força sobrando.
Ficou confuso no início quando a sensação de muitas bocas pequenas
saindo de seu corpo começou a desaparecer. Talvez tenha sido apenas uma
pausa momentânea antes que a dor piorasse. Sua confusão aumentou
quando o toque frio de uma toalha varreu seu corpo. E então ele podia sentir
o cheiro dela. Louisa. Ele respirou fundo, confortando-se com o
pensamento de que ela estava por perto. E então isso também se foi.
Desolado, ele se afastou ainda mais.
Não sabia quanto tempo ficara sumido antes de começar a perceber que
não estava morto. Abrindo os olhos, piscou algumas vezes para focar a
visão e exalou um suspiro de alívio quando percebeu que estava em seu
quarto. Em sua cama.
Não estava sozinho. Ele virou a cabeça para a direita e sua visão nadou
novamente por um momento.
Louisa.
Ela estava dormindo em uma poltrona ao lado de sua cama. Ele a
encarou, apreciando a oportunidade de tomá-la. Normalmente tentava evitar
olhar para ela ou pensar nela.
A poltrona o encosto em forma de asas e ela havia se acomodado em
um dos cantos. Seu cabelo dourado pálido havia começado a escapar de
seus grampos e vários tentáculos longos emolduravam seu rosto oval
pálido. Suas bochechas estavam coradas por causa do sono e seus lábios
entreabertos.
Lembrava-se muito bem da sensação da boca dela sob a dele. Ficou com
raiva quando descobriu o bilhete que Kerrick havia deixado para ela. Era
uma emoção estúpida e que não entendia completamente. Afinal, fora ideia
dele ter Kerrick como pai de seu futuro herdeiro. Ele havia promovido a
ideia para ambas as partes e estava ansioso pelo acordo. Então por que
havia ficado furioso ao descobrir que os dois tinham combinado de se
encontrar depois que todos fossem para a cama? Ele deveria ter ficado
aliviado.
Na hora, no entanto, pareceu uma traição. Disse a si mesmo que se eles
tivessem ido até ele e revelado que haviam concordado com sua proposta,
não teria se sentido tão enganado. O fato de nenhum deles falar com ele
sobre a aceitação e que estavam tentando organizar encontros secretos pelas
suas costas, o fez se perguntar se havia mais naqueles encontros do que o
arranjo prático que ele havia proposto.
Ao observar os dois rindo durante o jantar, enquanto Kerrick flertava
abertamente com sua esposa, ele percebeu que provavelmente seria muito
fácil para Louisa se apaixonar por seu amigo. E por que ela não deveria?
Seu marido estava sendo um bastardo frio e insensível com ela. Só fazia
sentido para ela buscar consolo do único homem que parecia ansioso
demais para oferecê-lo.
Quando descobriu o bilhete, pensou que Kerrick estava tentando roubar
sua esposa. Estava ciente do absurdo da situação e que era tudo de sua
autoria. Bem, nem tudo. A maior parte provinha da doença amaldiçoada
que ele herdara do pai. A que o fez tirar sua carruagem da estrada, matando
a si mesmo e a mãe de Nicholas.
Observando Louisa agora, aparentemente em paz enquanto dormia,
Nicholas estava dolorosamente consciente do quanto a queria para si. O
pensamento de ela e Kerrick juntos se tornou odioso para ele.
Ele fez um som de desgosto com seus meandros melancólicos e se
mexeu para poder sair da cama. Supôs que não deveria ter ficado surpreso
ao descobrir que não conseguia fazer isso sozinho.
— Nicholas! — exclamou Louisa, despertando completamente e
curvando-se sobre sua forma prostrada. — Você está acordado.
O sorriso enorme que cruzou o rosto dela o deslumbrou por um
momento e ele descobriu que tinha que desviar o olhar para clarear os
pensamentos.
— Claro que estou acordado — disse ele. — Por que diabos não
consigo me sentar? — Ele lutou para se erguer sobre os cotovelos.
O sorriso de Louisa diminuiu um pouco e ele se arrependeu de seu tom
ríspido.
— Está de cama há dois dias e o médico o fez sangrar. Seu corpo
precisa de tempo para recuperar a força.
Ele parou de lutar para se sentar e afundou-se de volta na cama. Dois
dias? Ele nunca tivera uma crise que durasse tanto tempo.
Ela deve ter percebido a preocupação dele, pois apressou-se em
acrescentar:
— Temo que seu médico tenha sido muito zeloso em cumprir seu dever
e eu o mandei embora quando vi o que ele estava fazendo.
Surpreso, ele só conseguiu olhar para ela por vários segundos antes de
encontrar sua voz.
— Mandou-o embora?
— Ele estava fazendo você sangrar — disse ela com uma ponta de raiva
rastejando em sua voz.
— Isso é o que todos os médicos fazem quando não sabem mais o que
fazer.
— Eu sei, vi os médicos fazendo isso algumas vezes com meu pai. E
cada vez ele ficava mais fraco. Eu deveria tê-los detido mais cedo. No final,
ele não tinha força suficiente para lutar para viver. — Seus olhos brilharam
com uma indignação apaixonada quando seu olhar encontrou o dele. —
Não vou permitir que eles façam isso com você. Que o drenem até que
também não tenha mais forças para lutar contra sua doença.
Lembrou-se então de sua certeza de que estivera no inferno. Lembrou-
se da sensação de pequenas criaturas agarradas ao seu corpo e bebendo
dele. Ele também se lembrou da remoção abrupta delas e da sensação das
mãos de Louisa em seu corpo enquanto ela o limpava. O cheiro dela quando
ela inclinou-se sobre ele de novo e de novo, sem dúvida verificando se ele
ainda estava vivo. Ele também se lembrou de que ela havia falado com ele
durante toda a sua provação, embora não conseguisse se lembrar agora do
que havia dito.
Ele olhou para ela com admiração, a intensidade apaixonada de seu
olhar tocando uma corda dentro dele. Percebeu então que já estava perdido.
Estava apaixonado por ela.
Ele desviou o olhar, odiando sua fraqueza. Ela o tinha visto assim
muitas vezes para o seu gosto. E agora as crises estavam piorando. Ele se
perguntou quanto tempo levaria antes que elas o matassem. A ironia da
situação não passou despercebida para ele. Nunca quis ser herdeiro e
sempre foi grato por ter nascido um segundo filho. Também nunca quis se
casar e certamente nunca se considerou um tolo romântico a ponto de se
apaixonar. Agora ali estava ele, o Marquês de Overlea e apaixonado por sua
esposa. E ele nunca viveria o suficiente para desfrutar das duas posições.
— Precisa comer. Vou mandar buscar algo leve. — Ela foi até a
campainha para chamar um criado.
Ele falou sem olhar para ela:
— Obrigado por tudo que tem feito. No entanto, você está claramente
cansada. Tem que se cuidar também. Se convocar Harrison, tenho certeza
de que ele poderá providenciar tudo o que preciso.
Ele estaria mais seguro com seu valete. A última coisa que queria era
pedir a ajuda de sua esposa para ajudá-lo a se sentar. Sabia que não corria o
risco de puxá-la para a cama com ele, não em sua condição atual. Permitir
que Louisa continuasse cuidando dele, no entanto, especialmente à luz de
sua recente descoberta sobre seus sentimentos por ela, adicionaria um nível
de intimidade ao relacionamento deles que seria difícil de afastar. Por mais
que odiasse só de pensar nisso, esta última crise significava que era
imperativo que seguissem com seu plano original para Louisa conceber um
herdeiro com Kerrick.
Ela ficou em silêncio e Nicholas cometeu o erro de olhar para ela. Todo
o seu comportamento havia endurecido e percebeu que a havia machucado.
Novamente. A mulher quente, sonolenta e feliz que acabara de acordar
havia ido embora. Em seu lugar estava uma mulher que estava se tornando
muito hábil em manter-se distante dele.
KERRICK FICOU aliviado ao ouvir uma criada dizendo a um lacaio que
Lorde Overlea estava se sentindo melhor. Ele realmente temia que Nicholas
morresse. Quando encontrou Louisa na sala do café da manhã, porém, esse
alívio rapidamente se transformou em aborrecimento. Ela não iria contar o
que tinha acontecido, mas estava claro que estava chateada.
Sem se preocupar em perguntar se o amigo estava disposto a receber
visitas, foi direto para o quarto de Nicholas depois do café da manhã, bateu
bruscamente e entrou. Nicholas estava, de fato, parecendo melhor. Sua pele
não tinha mais aquela aparência cinzenta horrível e ele estava sentado na
cama ao lado dos restos de sua bandeja de café da manhã.
Nicholas largou o jornal que estava lendo e levantou uma sobrancelha.
— Parece que nos últimos dois dias as pessoas se acostumaram a entrar
no meu quarto sempre que dá vontade.
Kerrick sorriu. Apesar do fato de que Nicholas era um tolo teimoso,
Kerrick se confortou ao vê-lo com uma boa aparência.
— Você esteve por um fio — disse ele.
— Ouvi falar sobre isso.
— Espero que tenha percebido que pode muito bem dever sua vida à
sua esposa.
Nicholas franziu a testa.
— Todos estão me dizendo isso.
— Todos?
— Minha avó também esteve aqui — disse ele com um suspiro
exagerado. — Ela realmente quer que eu concorde em não me mover sem
supervisão. Nem mesmo na minha própria casa. Consegue imaginar? Eu
com uma babá, na minha idade?
Era óbvio que ele estava tentando aliviar o clima, mas Kerrick não
estava com disposição para brincar sobre a situação. Ele foi até a poltrona
onde Louisa ficara durante a doença do marido e afundou-se no assento.
— O que aconteceu, Nicholas?
Seu amigo soltou um suspiro áspero e recostou-se.
— Sabe o que aconteceu — disse ele, os cantos de sua boca virando
para baixo. — Tive uma crise. Uma criada me encontrou e o médico foi
chamado. Saberia melhor do que eu, já que fiquei inconsciente a maior
parte do tempo.
Kerrick observou o amigo atentamente. Ele sempre sabia quando
Nicholas estava mentindo ou escondendo algo e seus instintos lhe diziam
que ele estava escondendo algo agora.
— Você também pode me contar. Não vou embora até que faça isso.
— Eu poderia mandá-lo embora.
— Poderia, mas não vai.
Nicholas não se deu ao trabalho de negar.
— Preciso falar com você sobre Louisa — disse ele.
Então é isso. Ele vai me dizer que reconsiderou seu pedido ridículo de
que eu seja pai de um filho que ele reivindicaria como herdeiro, pensou
Kerrick. Ele teve o cuidado de manter a expressão neutra enquanto esperava
que o amigo continuasse.
— Pareceu-me antes desta última crise que os dois tinham ou estavam
prestes a chegar a um entendimento sobre minha proposta.
Ele não respondeu. Ele queria saber o que seu amigo estava pensando
primeiro.
— Pelo amor de Deus, Kerrick, não vai me responder?
— Desculpe, isso foi uma pergunta? Parecia mais uma declaração.
Nicholas fez uma careta.
— Tem sorte de eu estar muito fraco para sair desta cama agora.
Kerrick decidiu que agora talvez não fosse o melhor momento para
testar a paciência do amigo. Ele não tinha dúvidas de que Louisa o
estrangularia com as próprias mãos se sua provocação fizesse com que seu
marido sofresse uma recaída.
— Se quer saber — disse ele —, ela ainda não me disse se está disposta
a fazer isso. E você já sabe que não vou pressioná-la.
— Então decidiu que o melhor curso de ação é cortejá-la abertamente
em minha própria casa?
— Não estou cortejando; estou tentando conhecê-la. Você dificilmente
pode esperar que ela concorde em se deitar com um homem que mal
conhece. Outra mulher poderia fazer isso, mas sua esposa não. Até eu sei
disso pelo pouco tempo que passei na companhia dela.
— Meu cérebro não ficou confuso com este último episódio. Vi você
em ação e sei quando está cortejando uma mulher.
Isso é bom, pensou ele. Nicholas estava definitivamente aborrecido e
isso só podia ser porque queria Louisa para si.
— Se preferir, eu sempre posso ir embora. Não gostaria de exceder sua
hospitalidade.
Nicholas pareceu lutar para dizer as próximas palavras:
— Não — disse ele. — Não quero isso.
— Então o que quer?
— Quero isso tudo acabado imediatamente. Quero que Louisa já esteja
grávida de seu filho e então quero fazer o meu melhor para esquecer essa
coisa toda.
Kerrick ficou atordoado.
— Você deseja que continuemos?
— Preciso que pergunte a ela de uma vez por todas se ela vai fazer isso
ou não. Certamente ela já o conhece bem o suficiente. E dado o que
aconteceu, reconhecerá que o tempo não é um luxo que temos.
— Mas você acabou de me dizer… — Ele não conseguiu encontrar as
palavras para continuar. Não conseguia acreditar que Nicholas desejava
continuar com tal absurdo, principalmente porque estava tão claro para
todos os envolvidos que ele estava odiando cada segundo.
— Eu disse que não quero que o mundo inteiro veja você cortejando
minha esposa. Não quero que haja qualquer dúvida sobre a paternidade do
filho de Louisa.
Embora estivesse no papel há pouco tempo, Nicholas vestiu sua
imperiosa fachada de marquês. Kerrick odiava quando fazia isso, pois o
forçava a colocar sua própria máscara formal. Já era bastante cansativo ter
que fazer isso com o resto do mundo. Ele odiava quando tinha que
representar o papel do Conde de Kerrick com seus amigos.
— Como quiser, Overlea. Farei o possível para seduzir sua esposa e
depois me retirar de sua presença. Com alguma sorte, não terei que voltar
no próximo mês ou em nove se ela tiver uma menina. — Ele pegou o aperto
reflexivo das mãos do amigo. Isso é bom, pensou ele. — Acho que você ia
me dizer o que está escondendo.
Quando Nicholas permaneceu em silêncio, Kerrick pensou que não iria
responder. Apesar de seu aborrecimento com a obstinação colossal do
amigo, ele não tinha intenção de sair do quarto até descobrir o que Nicholas
estava escondendo.
— Você sabe que meu pai e meu irmão também sofreram com essas
crises.
Kerrick assentiu. Nicholas estava muito preocupado com a saúde deles.
— Eu também lhe disse que as crises eram frequentemente
desencadeadas ou agravadas pelo consumo de álcool.
Kerrick franziu a testa.
— Sim, mas isso não se aplicaria aqui porque sei que está sendo
cuidadoso.
A boca de Nicholas se torceu com ironia.
— Não exatamente.
Kerrick praguejou. Incapaz de ficar parado por mais tempo, levantou-se
e começou a andar de um lado para o outro. Ele não podia acreditar no que
estava ouvindo.
Ele virou-se para encarar Nicholas.
— Deixe-me entender, está mesmo me dizendo que está bebendo?
Mesmo sabendo o que aconteceu com seu pai e irmão?
— Já tive algumas crises sem beber.
— Sim, mas dane-se. Que inferno, Nicholas! Por que seria tão
imprudente? Deseja morrer? — Um pensamento horrível lhe ocorreu. —
Meu Deus, não vai me dizer que estava à beira da morte nos últimos dois
dias porque andou bebendo?
Nicholas permaneceu em silêncio, o que Kerrick tomou como uma
confirmação. Horror e culpa o inundaram quando percebeu que a culpa era
sua. Ele tinha feito isso com o amigo. Seu joguinho para tentar fazer
Nicholas perceber que se importava com a esposa o levou longe demais.
Louisa lhe dissera que ela e o marido haviam se beijado naquela noite na
biblioteca. Ela também disse a ele que o beijo não fez diferença para o
marido. Que ainda estava determinado a seguir em frente com seu plano
para seu herdeiro. Isso só podia significar que Nicholas estava bebendo para
tentar tirar essa confusão horrível da mente. Para esquecer o beijo que dera
na esposa. Um beijo que poderia nunca ter acontecido se ele não tivesse
planejado provocar o ciúme de Nicholas e unir ele e Louisa deixando
aqueles bilhetes malditos.
Capítulo 13
ELA VIROU-SE para sair, mas Nicholas não estava pronto para deixá-la ir.
Movendo-se rapidamente, ele levantou-se e cruzou o espaço que os
separava para alcançá-la e fechar a porta antes que pudesse escapar. Ela
ficou ali de frente para a porta fechada, mas sua atenção estava focada na
proximidade do corpo dele a poucos centímetros atrás do dela. Sua mão
permaneceu na porta, e agora sua outra mão também se aproximou para
pressioná-la, efetivamente prendendo-a. Ela não conseguia se mexer. Ele a
cercou, o calor de seu corpo a alcançando para envolvê-la.
Ela respirou fundo e virou-se para ele. Ela estava muito perto e deu um
passo para trás, mas parou quando suas costas encontraram a madeira sólida
da porta. Ela olhou nos olhos de Nicholas. Estavam mais escuros que o
normal, quase pretos. E o calor dentro deles… Ela estremeceu, mas se era
de nervosismo ou antecipação, ela não sabia dizer.
Sua respiração ficou presa quando ele abaixou a cabeça. No último
momento, pouco antes de seus lábios encontrarem os dela, moveu a cabeça
para o lado e levou a boca contra sua orelha. O calor de sua respiração teve
um efeito estranho nela, fazendo com que precisasse estar ainda mais perto
dele.
— Diga-me, Louisa, está aqui para bancar minha mãe?
Ela balançou a cabeça, incapaz de responder.
— Então por que está aqui e vestida apenas com isso?
Sua voz tremeu quando ela respondeu:
— Eu… eu ouvi a cadeira cair. Eu queria ter certeza de que não estava
doente novamente.
Ele exalou suavemente em seu ouvido, causando arrepios na espinha
dela.
— Deveria ter ficado segura em sua própria cama.
A voz dele era baixa com um tom de ameaça, mas ela soube naquele
momento que o último lugar que queria estar era sozinha em sua cama fria.
Queria estar ali, com Nicholas. Ele estava enganado se pensava que a estava
assustando. Ignorando a pequena voz de advertência em sua mente que lhe
dizia que corria o risco de ser rejeitada mais uma vez, ela colocou as mãos
no peito do marido. Ele ficou estranhamente imóvel. Encorajada, ela
separou as bordas de seu roupão para revelar que ele não estava vestindo
uma camisa. Ela podia sentir a parte superior de seu corpo subindo e
descendo. A respiração dele ficou tão irregular quanto a dela. Fascinada
pela visão dele, e incapaz de parar agora, ela empurrou mais as bordas e
colocou as mãos em seu peito nu. Ele era tão diferente dela, mais largo,
seus músculos sólidos sob seu toque.
Ela moveu as mãos para os ombros dele, depois de volta para baixo e
ele ainda estava sob suas carícias. O roupão estava totalmente aberto agora
e viu que ele ainda estava de calça. O fato de ele não a ter afastado deu-lhe
mais coragem, e ela moveu as mãos mais para baixo para traçar os
músculos bem definidos de seu abdômen. Perguntou-se até onde teria que ir
antes que Nicholas a afastasse ou finalmente a levasse para a cama dele.
Tentando não pensar em sua rejeição, ela arrastou as mãos para baixo.
Quando alcançou a borda da calça, ele a deteve segurando seus pulsos. Ele
se afastou, olhando para ela com uma expressão ilegível. Ela inalou
bruscamente quando notou o aperto de sua mandíbula e o brilho de suor em
sua testa.
— Você não está bem?
Foi um momento antes que respondesse:
— Não.
Ela passou a língua nos lábios e notou, novamente, que seu olhar foi
atraído para o pequeno movimento.
— Me permite ajudá-lo? Ou prefere que eu chame outra pessoa para
cuidar de você?
Ele continuou olhando-a, seu corpo completamente imóvel e ela
começou a se perguntar se ele iria desmaiar. Quando finalmente falou, ela
levou um momento para perceber o que estava dizendo.
— Acho que isso é algo que só você pode me ajudar.
Ele trouxe os braços dela para envolver seu pescoço. Incapaz de
acreditar no que estava acontecendo, ela se agarrou a ele quando ele a
soltou. Um arrepio de antecipação passou por ela quando ele segurou seu
rosto em suas mãos.
— Eu não sou forte o suficiente para mandá-la embora novamente.
Preciso que seja forte o suficiente por nós dois.
Ela balançou a cabeça.
— Não esta noite, Nicholas. Nunca mais.
Ele gemeu e fechou os olhos brevemente, como se estivesse com dor,
antes de colocar sua boca na dela. Ela podia sentir o gosto do álcool em seu
hálito, mas não se importava mais que ele tivesse bebido. Ela mesma estava
intoxicada com o conhecimento inebriante de que Nicholas não a negaria.
Que finalmente admitiu querê-la.
Ele foi gentil no início. Seus polegares acariciaram ao longo da linha de
suas bochechas enquanto seus lábios bebiam dos dela. Em vez de se
preocupar com o marido, ela agora temia que suas próprias pernas
cedessem e fosse desmaiar. Agarrou-se ao pescoço dele e pressionou-se
contra seu corpo.
As mãos dele deixaram seu rosto e se estabeleceram na cintura dela. Ela
suspirou com a sensação deliciosa de suas mãos acariciando-a ali através do
tecido fino de sua camisola antes de se mover mais para cima.
— Diga-me para parar, Louisa — disse ele contra a boca dela.
— Não — disse ela com um som de negação. — Por favor, não pare.
Ela se viu pressionada contra a porta, as mãos dele cobrindo seus seios.
Ele segurou seu peso e seus polegares desenharam círculos
enlouquecedores ao redor de seus mamilos. Ela ofegou e a língua dele
surgiu em sua boca, aprofundando seu beijo. Ela fez um som suave de
encorajamento e se empurrou mais firmemente em suas mãos.
Seus dedos pararam, então suas mãos se moveram para os ombros dela.
Ele levantou a cabeça para olhar para ela e ela pôde ver o desejo escuro
refletido em seus olhos. Ele respirou fundo e, por um momento ela entrou
em pânico, certa de que ele iria afastá-la novamente. Em vez disso, seus
dedos pegaram as bordas da camisola e ele começou a arrastar a roupa pelos
braços dela. Hipnotizada, só conseguia olhar para ele enquanto observava o
progresso do material quase transparente deslizando por seu corpo. Quando
passou por seus seios, ela viu o tique de um músculo ao longo da mandíbula
dele. Ficou imóvel quando ele soltou o tecido que caiu no chão com um
sussurro suave. Estava com medo de se mexer, quase com medo de respirar,
para que o momento não se transformasse em um sonho cruel do qual ela
logo acordaria.
Nicholas também ficou parado, olhando para ela. Então como se
finalmente tivesse decidido que esse momento sempre fora inevitável,
inclinou-se e a pegou nos braços. Sentindo-se um pouco constrangida, ela
enterrou o rosto em seu ombro enquanto ele a carregava até a cama, ciente
de sua pele pressionada contra seu peito nu. Ele a deitou suavemente na
cama e deu um passo para trás para olhá-la. Deitada diante dele sem
nenhuma peça de roupa, ela sentiu como se fosse morrer de vergonha.
— Nicholas — disse ela, uma sensação de urgência correndo por seu
corpo.
Ele deveria saber o que ela queria. Ela observou em silêncio enquanto
ele tirava o roupão, seus movimentos refletindo seu próprio senso de
urgência. Ele desabotoou a parte de baixo da calça e tirou-a, e então tirou a
roupa de baixo que estava vestindo. Foi a vez de ela olhar enquanto ele
estava nu à sua frente.
Ele era tudo o que ela não era. Duro onde ela era suave e escuro onde
ela era clara. Seu olhar se moveu rapidamente para aquela parte dele onde
ele era mais diferente, mas ao vê-la, ela se perguntou se a consumação de
seu casamento seria muito dolorosa. No entanto, recusou-se a insistir nesse
pensamento. Isso era algo que ela queria pelo que parecia uma eternidade.
Ele se abaixou na cama, seu corpo sobre o dela, mas ainda sem a tocar.
Sua cabeça mergulhou e sua boca cobriu a dela. Alívio e desejo a varrendo,
ela levou as mãos aos seus ombros e se agarrou a ele, retribuindo o beijo
com um fervor crescente. Ele fechou o espaço entre seus corpos, e ela
ofegou ao sentir sua pele quente na dela. Seu peito musculoso pressionou
contra seus seios e aquela parte mais íntima dele roçou contra a coxa dela.
Nada jamais pareceu tão maravilhoso.
Sua boca deixou a dela e arrastou uma linha de beijos em seu pescoço.
Ele continuou descendo até que seus lábios cobriram seu seio. Ele puxou
seu mamilo, e ela pôde sentir o puxão da boca dele diretamente em seu
núcleo.
Cobriu o seio dela com uma mão e com a outra começou um
movimento lento e agonizante pelo interior de sua coxa. Ela se contorceu, o
tumulto de sensações quase demais para suportar.
Sua boca voltou para o pescoço dela enquanto a mão continuava seu
movimento implacável. Ficou tensa por um momento, então abriu as pernas
quando a mão alcançou a junção de suas coxas. O choque a congelou
quando a tocou ali. Ele a separou com os dedos e começou um lento
movimento de vai e vem que logo a fez esquecer seu constrangimento.
Nicholas ergueu a cabeça para olhá-la enquanto deslizava um dedo
profundamente em seu interior.
Queria tranquilizá-lo, dizer que estava bem, mas na verdade não estava.
Mexeu-se inquieta enquanto ele continuou, primeiro um dedo, depois dois
movendo-se dentro dela enquanto seu polegar circulava em um ponto de
sensibilidade quase dolorosa do lado de fora.
Ela gemeu e puxou a cabeça dele para beijá-lo.
— Goze para mim, Louisa — disse contra a boca dela, aumentando o
ritmo de suas carícias.
E então tudo desmoronou para ela. Ela ofegou de surpresa, mas ele
captou o som com a boca. Então a mão dele a deixou e ela fez um som
suave de decepção. Ele agarrou os joelhos dela e afastou mais suas pernas
para que ele pudesse se acomodar entre elas.
— Mal posso esperar — disse ele, sua voz apertada com o esforço para
se conter.
Ela colocou a mão na bochecha dele.
— Eu quero isso também.
O sexo inchado dele cutucou sua excitação e ela instintivamente moveu
seus quadris para que pudesse senti-lo mais completamente. Não havia nada
no mundo além de Nicholas quando ele começou a empurrar para dentro
dela. Seu corpo se abriu para aceitá-lo. Ela tinha se esquecido de que
deveria temer sua primeira vez com um homem, mas a pontada aguda de
dor a lembrou.
Ela endureceu, seus dedos afundando nos músculos dos braços dele
quando ele se colocou completamente dentro dela. Vendo o desconforto
dela, ele parou.
— Sinto muito — disse ela, temendo tê-lo desapontado.
— Está tudo bem, Louisa. Aqui, deixe-me…
Ele colocou a mão entre eles e começou, novamente, a acariciar aquele
ponto sensível logo acima de onde seus corpos estavam unidos. Sua boca
capturou a dela em um beijo acalorado que a fez se esquecer da dor quando
seu sangue começou a esquentar novamente.
Ela fez um som suave de angústia quando ele removeu sua mão
novamente e começou a puxar para fora dela, pois estava com medo de que
ele fosse parar porque estava preocupado com ela. Quando ele voltou para
ela, no entanto, ela poderia ter chorado de alegria. A dor tinha diminuído
para uma dor surda, e isso também se tornou uma memória distante
enquanto ela se deliciava com a sensação gloriosa de ser preenchida por ele
repetidamente. Ela se moveu com ele, combinando com seus impulsos e ele
murmurou seu consentimento:
— Louisa. — Ele levantou a cabeça e olhou para ela novamente, seus
olhos refletindo a profundidade de sua paixão.
O ritmo de seus impulsos se acelerou e, sentindo como se estivesse
girando fora de controle, ela o envolveu com suas pernas e braços. Nunca
imaginou que tal prazer fosse possível.
Desta vez, quando ela atingiu o ápice, chamou o nome dele e o levou
com ela.
PELA PRIMEIRA vez desde que tinha ido morar no Solar Overlea, Louisa
estava feliz. Não podia acreditar que Nicholas tinha feito aquele comentário
sobre cavalgar na frente de Catherine, mas era um bom presságio para o
casamento que ele não a estivesse mais evitando.
Depois que ele saiu com Kerrick, não o viu novamente até o jantar.
Ficou ocupada com assuntos domésticos durante a maior parte da manhã, e
Nicholas tinha se encontrado com seu administrador naquela tarde por
algum tempo. A maneira como ele continuou olhando para ela durante todo
o jantar, seus olhos prometendo um mundo de prazer sensual mais tarde,
tornou difícil acompanhar o que todos estavam dizendo. Mais de uma vez
teve que pedir a alguém para repetir quando lhe dirigiam um comentário.
Nicholas sorria se divertindo por seu estado de distração, o que por sua vez
só piorou. Ainda não conseguia acreditar o quão diferente ele estava e meio
que temia que voltasse ao seu antigo eu distante
Mais tarde naquela noite, depois de dispensar sua criada, Louisa
esperou por Nicholas. Ela usava a mesma camisola que vestira na noite
anterior, lembrando-se de como isso o havia inflamado, e seu cabelo caía
solto pelas costas.
Retirou-se primeiro e demorou um pouco antes de ouvir o som de seu
marido e as vozes de seu valete através da porta que ligava seus quartos.
Franziu a testa quando pensou no que Catherine havia revelado naquela
manhã. Harrison era um homem sério e meticuloso e, embora não o achasse
velho, já não era mais jovem. Teve dificuldade em acreditar que ele ficaria
com a criada de Mary, que era um pouco mais nova que ela. Reconheceu,
porém, que sua percepção poderia estar sendo influenciada pelo fato de que
ele sempre se mantivera muito distante e ela nunca tenha visto um
vislumbre de sua verdadeira personalidade. Sua formalidade não era a
mesma deferência que recebia do resto da equipe da casa. Sempre parecia
muito cuidadoso em evitar olhar para ela, o que a deixava desconfortável
em sua presença.
Balançou a cabeça e riu de si mesma por ser supersensível. Harrison era
meramente leal ao marido e preocupado com o casamento deles. Antes da
noite anterior, era dolorosamente óbvio para todos que Nicholas a evitava
sempre que possível. Como seu criado, Harrison teria notado seu
relacionamento tenso, e isso teria influenciado seu trato com ela.
Ela ouviu a porta se fechar e esperou pelo que pareceu uma eternidade,
tentando reunir coragem para ir até o quarto de Nicholas. Uma coisa era
entrar correndo quando temia que ele tivesse adoecido de novo e outra bem
diferente entrar descaradamente.
Levantou-se e respirou fundo. Antes de tudo, pelo menos precisavam
conversar. Precisava saber de uma vez por todas o que ele esperava em
relação ao relacionamento dos dois. Ela deu um passo em direção à porta,
mas parou quando uma batida suave soou. Ela se perguntou se tinha
imaginado isso. Deu os últimos passos com o coração martelando no peito e
abriu a porta.
Seu marido nunca falhava ao roubar seu fôlego. Ele estava na soleira,
vestindo seu roupão por cima das calças e parecendo deliciosamente
pecaminoso. Seus olhos escuros percorreram seu corpo mal escondido sob o
tecido transparente da camisola.
— Não consigo ficar longe de você.
Ela fechou o espaço entre eles, jogando-se em seus braços, e ele a
puxou contra ele e a abraçou. Alívio e alegria a inundaram. Eles ficaram
assim por um bom tempo, simplesmente sentindo a sensação de estar nos
braços um do outro.
— Eu sou um bastardo egoísta — disse ele, sua respiração
despenteando o cabelo dela. — Eu deveria estar pensando no futuro. Deus
sabe como eu tentei fazer a coisa nobre.
Louisa recuou e olhou para ele.
— Acho que prefiro você quando não é nobre.
O calor entrou nos olhos dele.
— Então vai gostar muito de mim pelo tempo que tivermos juntos.
Ela levou um momento para examiná-lo de perto antes de responder.
Precisando ter certeza de que era isso que ele realmente queria, ela
perguntou:
— Andou bebendo?
Um sorriso pesaroso cruzou seu rosto.
— Não se preocupe, Louisa. Este sou eu. E apesar do que possa ter
temido, ontem à noite também era.
Ela podia sentir um sorriso correspondente se formando em seu próprio
rosto. O que quer que acontecesse no futuro, eles tinham um ao outro.
Nicholas podia não a amar, mas a queria. Isso era o suficiente por enquanto.
Ele abaixou a cabeça e tomou sua boca. O beijo foi gentil, mas cheio de
promessas. Ela colocou as mãos em volta do pescoço dele e o segurou
contra ela, com medo de soltá-lo enquanto eles exploravam um ao outro.
Quando Nicholas levantou a cabeça, seus olhos escuros ardiam com
intensidade. Ele a pegou pela mão e a levou para a cama dele. Quando ela
se deitou com ele a seguindo, viu o que estava na mesa de cabeceira. A
raiva a percorreu, ela colocou as mãos no peito dele para empurrá-lo para
trás e se arrastou para se sentar.
Uma pitada de cautela penetrou na expressão de Nicholas.
— Há algo errado?
Ela não podia acreditar que ele iria bancar o inocente.
— Há algo errado? — Ela enterrou as mãos no cabelo e balançou a
cabeça. — O que há de errado contigo, Nicholas? Está tentando se matar?
Não precisava contar a ele o que havia causado seu desânimo. Seus
olhos viajaram para a garrafa de conhaque e o copo que repousavam em sua
mesa de cabeceira.
— Eu não pedi isso. Harrison trouxe por conta própria, pensando que eu
iria querer.
Ela zombou:
— Esse é o seu conhaque favorito? O que eu pedi ao pessoal para
descartar? E você saiu ontem à noite para beber. Por quê? Por que faria
isso?
Para seu horror, ela começou a chorar. Nicholas a puxou para si
enquanto ela soluçava todos os seus medos. Quase vê-lo morrer trouxe para
ela o quão pouco tempo ela poderia muito bem ter com ele e ela estava
furiosa por ele estar se arriscando tanto com sua vida. Estava furiosa e
aterrorizada.
Quando seus soluços diminuíram, Nicholas recuou e olhou para ela.
— Eu estava bebendo ontem à noite por sua causa.
Ela riu, mas terminou em um soluço sufocado. Ele a sacudiu levemente.
— Eu a queria tanto… Eu estava tentando tanto fazer a coisa certa, mas
imaginá-la junto a Kerrick… — Ele desviou o olhar. — Estava me
matando.
Vendo a dor em seu rosto, a raiva dela começou a diminuir, sendo
substituída por uma necessidade de tranquilizá-lo. Ela ergueu a mão para a
bochecha dele, que se aninhou contra sua palma, mas ele manteve os olhos
baixos.
— Nicholas, olhe para mim.
Ele ergueu o olhar e a angústia em seus olhos quase a fez suspirar.
— Eu gosto de Kerrick — disse ela. Ele começou a virar a cabeça, mas
ela levou a outra mão ao rosto dele para mantê-lo quieto. — Gosto muito
dele, mas apenas como amigo. Eu nunca poderia estar com ele. Meus
sentimentos por você nunca permitiriam.
Não houve palavras depois disso. Ele a tomou em seus braços e juntos
caíram de volta nos travesseiros. Ao contrário da noite anterior, seu ato de
amor era mais urgente desta vez. Havia perdido suas inibições e passou as
mãos ansiosas por cada parte dele que podia alcançar. Ficou claro pela
reação dele que fazia algo que lhe agradava, e isso deu-lhe a confiança que
precisava para explorá-lo enquanto ele fazia o mesmo. Nem chegaram a
tirar as suas roupas quando se viu debaixo dele, sua camisola puxada até a
cintura. Ele abriu as calças e ela estremeceu com antecipação ao toque de
seu membro duro contra seu quadril. Abriu as pernas para recebê-lo dentro
dela, mas ele a surpreendeu rolando e colocando-a sobre ele.
— Assim — disse ele, arrumando-a para que ela ficasse escarranchada
sobre ele, posicionada bem sobre seu eixo duro.
Ela não sabia o que deveria fazer.
— Eu não posso — ela começou, mas ele a interrompeu.
— Shh — disse ele, arrastando-a para um beijo.
Ele alinhou seus corpos novamente e então mostrou a ela como levá-lo
para dentro dela. Ela aliviou-se sobre ele, amando a forma como ele a
preenchia, só parando quando atingiu o fundo. Ele colocou as mãos em seus
quadris e puxou-a ao longo de seu comprimento, então de volta para baixo
com mais força do que da primeira vez. E então ela encontrou o jeito e ele
permitiu que ela ditasse o ritmo enquanto suas mãos se moviam para seus
seios, seus dedos fortes levantando o peso deles e acariciando as pontas
endurecidas através da camisola. Deleitou-se com a sensação dele duro
dentro dela enquanto alcançava seu próprio clímax. Ela deveria ter ficado
envergonhada com os sons que estava fazendo, quase ofegante enquanto se
movia sobre ele, mas seus gemidos correspondentes lhe diziam que ele
estava gostando de fazer amor tanto quanto ela.
Impaciente, ele acelerou seus movimentos, empurrando-a enquanto ela
deslizava para baixo. As mãos dele percorriam pelo corpo dela, deixando
um rastro de fogo onde quer que ele a tocasse. Atordoada, ela olhou para
ele, para seu lindo rosto, enquanto continuava a se mover. A maneira como
ele estava a olhando, seus olhos queimando através dela, ela quase podia se
fazer acreditar que ele a amava.
— Nicholas — disse ela com um gemido, o ritmo constante ameaçando
destruí-la. As mãos dele se estabeleceram em seus quadris e ele a segurou
enquanto empurrava nela de novo e de novo. Ela explodiu e ele a seguiu
momentos depois.
Ela caiu em cima dele. Ele a segurou contra ele, uma mão enterrada em
seu cabelo e a outra deitada possessivamente em seu traseiro, logo acima de
onde eles ainda estavam unidos. Lentamente, seus batimentos cardíacos se
estabilizaram e a respiração de ambos desacelerou.
— Posso ficar aqui esta noite? — perguntou ela.
Por um momento, pensou que ele iria dizer não. Ele os rolou até que
estivessem de lado, um de frente para o outro, e ela soltou um suspiro
quando ele saiu dela. Ele trouxe a boca dela para a dele e a beijou
intensamente.
— Espero que fique aqui na maioria das noites — disse ele, sua
expressão tão satisfeita quanto o que ela imaginava que a sua estivesse.
Contente, ela se aconchegou contra ele e adormeceu.
A DESCOBERTA DE que seu valete poderia estar em algum tipo de
relacionamento com a criada do primo perturbava Nicholas. Ele não tinha
prestado muita atenção ao homem até agora porque seu valete nunca tinha
sido muito amigável, mas agora que o observava de perto, parecia que
Harrison tinha o comportamento de alguém tentando esconder sua culpa.
Certamente Harrison não tinha medo de sofrer repercussões por causa de
seu relacionamento. Nicholas não era tão insensível a ponto de esperar que
sua equipe evitasse relacionamentos pessoais.
Nicholas revirou a situação várias vezes em sua mente, mas ainda não
conseguia acreditar que mesmo a mais tola das mulheres enviaria um
bilhete de amor para seu valete. No final, decidiu falar com Catherine
novamente antes de se aproximar de Harrison. Talvez ela tenha interpretado
mal a cena, já que seu valete não aparentava ser um homem apaixonado.
Deus sabia que Nicholas estava intimamente familiarizado com esses
mesmos sintomas. Claro, também era possível que Harrison estivesse
simplesmente envolvido em um encontro romântico e que suas emoções
não estivessem envolvidas.
— Milorde — exclamou Catherine quando ele entrou na estufa. — Isto
é uma surpresa.
— Catherine — disse ele com um sorriso carinhoso —, quantas vezes
tenho que lhe pedir para que me chame de Nicholas?
— Muitas, ao que parece.
Nicholas riu em resposta. Ele gostava do entusiasmo juvenil de
Catherine. Isso o lembrava de sua própria juventude despreocupada.
Aqueles dias pareciam muito distantes agora.
— Tenho que lhe mostrar essas duas plantas que acabei de identificar.
Ela desapareceu na fileira de vegetação que cobria a parede de vidro ao
longo de um lado da estufa. Nicholas suspirou e seguiu-a enquanto ela
recitava os nomes latinos de duas das plantas tropicais. Ele tocou
preguiçosamente em uma grande flor branca enquanto ela divagava sobre a
flor, fingindo um interesse que ele estava longe de sentir.
— Eu queria agradecer-lhe por me dar uma temporada na próxima
primavera — disse ela, recuperando sua atenção. — Estou muito ansiosa
por isso. — Ela parou por um momento antes de continuar, o calor
rastejando em seu rosto. — Lorde Kerrick prometeu dançar comigo no
Almack’s.
Essa declaração inocente disparou alarmes em sua mente e ele fez uma
nota mental para falar com Kerrick sobre sua cunhada. Seu amigo não era o
tipo de pessoa que brincava com as afeições de uma jovem, mas estava
claro que Catherine havia desenvolvido uma preferência por ele.
Nicholas estremeceu de horror simulado.
— Como sempre, deixarei o planejamento de tais diversões para a vovó
e sua irmã.
Catherine exalou dramaticamente.
— Não vejo a hora da primavera chegar. Estou tentando ser paciente,
mas está sendo muito difícil.
Nicholas voltou o assunto para o verdadeiro motivo de sua visita. A
atmosfera abafada da estufa estava começando a afetá-lo.
— Queria falar com você sobre o que nos disse ontem. Sobre o encontro
entre meu valete e a criada de Mary.
O entusiasmo dela diminuiu.
— Eu não deveria ter dito nada. Eles estão em apuros agora?
Nicholas se apressou para tranquilizá-la.
— De jeito nenhum. Enquanto a equipe continuar fazendo seu trabalho,
não me importo nem um pouco com quem se encontram em particular. No
entanto, esse é o ponto da minha visita. Simplesmente não consigo imaginar
Harrison se envolvendo em tal comportamento. Tem certeza de que o que
você testemunhou foi um encontro romântico?
Catherine franziu a testa em concentração.
— Por que mais eles se encontrariam? E ele aceitou uma carta dela.
Uma dor surda começou atrás de sua têmpora, que ele massageou
distraidamente. Ele não conseguia explicar seu senso de urgência, mas
precisava de mais informações sem despertar ainda mais a curiosidade de
Catherine.
— Talvez ele estivesse aceitando a carta para outra pessoa. Quero
garantir a Harrison que sua posição aqui é segura, mas não quero dizer nada
se ele estava apenas agindo como intermediário.
Ela lhe deu um sorriso largo que o lembrou de sua irmã.
— É muito gentil. John achava que não, mas eu sabia que Louisa
tomara a decisão certa quando aceitou sua proposta.
Ele sentiu uma pontada de culpa por mentir para a garota e mais do que
indigno de seu elogio. Pensativa, ela franziu a testa, e ele esperou,
ignorando o calor crescente da estufa.
— É verdade que eles não pareciam excessivamente afetuosos um com
o outro. Fiquei tão surpresa com o que vi que não considerei o
comportamento deles. No entanto, agora que estou pensando nisso, eles
estavam bem sérios.
— O amor pode ser um negócio sério, especialmente quando se tenta
escondê-lo — disse ele, pensando em sua própria situação confusa.
A testa de Catherine relaxou.
— Claro, deve ter sido isso.
A visão de Nicholas se turvou momentaneamente e o pavor se instalou
em sua barriga. De novo não. Sem uma palavra, ele foi para a porta que
levava para fora. Ele supôs que deveria entrar na casa ao invés de ir para
fora, mas no momento estava desesperado por ar fresco.
— Milorde… Nicholas — chamou Catherine enquanto o seguia, sua
preocupação evidente.
Ele se atrapalhou com a maçaneta da porta, incapaz de abri-la.
Catherine o alcançou e abriu a porta para ele. Ele tropeçou, sua cabeça
começando a rodar de verdade agora. Balançando à beira de cair, ele deu
alguns passos pela lateral do jardim de inverno em um esforço para escapar
do ar sufocante que entrava pela porta antes de parar para se encostar na
parede externa, inalando grandes lufadas de ar.
Catherine o seguiu, a ansiedade estampada em suas feições. Para ser
honesto, Nicholas estava mais do que um pouco preocupado. Tudo o que
ele conseguia pensar naquele momento era em Louisa e o quanto ele não
queria perdê-la. Não quando ele havia acabado de encontrá-la.
— Vou buscar Sommers — disse Catherine.
Nicholas balançou a cabeça. Ele foi incapaz de falar coerentemente,
mas percebeu que este episódio era diferente dos outros. Sua cabeça já
estava começando a clarear. Em questão de minutos, sua visão embaçada
clareou e sua respiração não estava mais restrita.
— Quer que eu o ajude a voltar para casa? A estufa é o caminho mais
rápido…
— Não! — Em seu pânico, ele falou mais alto do que pretendia. Tentou
um sorriso tranquilizador. — É muito estranho, mas estou me sentindo
melhor agora.
Cautelosamente, ele se afastou da parede. Preparou-se para a queda
inevitável e ficou perplexo quando ela não veio.
Ele virou-se para encarar Catherine.
— Você sabe sobre a minha condição? — Em seu aceno de cabeça, ele
estremeceu por dentro. Logo todos saberiam. O pensamento o deixou
sombrio. — Achei que estava tendo uma crise, mas parece que me enganei.
— Isso já aconteceu antes?
— Não, nunca. Nunca tive isso, apenas caia de repente.
A testa de Catherine se enrugou.
— O que você estava sentindo?
Ele supôs que não deveria ter ficado surpreso com a franqueza de sua
pergunta. Ele não conhecia sua cunhada há muito tempo, mas já sabia que
era da natureza dela ser curiosa.
— Tontura, principalmente. Também achei difícil respirar.
— E você começou a suar.
Ele levantou uma sobrancelha.
— Acho que sei o que lhe causou isso. Algumas das plantas do
conservatório são altamente venenosas. Claro, a maioria só causaria
sintomas se ingerida. Algumas podem deixar óleos em sua pele se você as
tocar… e você estava esfregando os olhos.
— Estava?
— Sim — disse ela. — Você estava esfregando suas têmporas, aqui. —
Ela gesticulou para seu próprio rosto. — Então você esfregou os olhos
brevemente. — Uma tristeza penetrou em sua expressão. — Infelizmente
acho que você tem que evitar a estufa. Parece que, dada a sua doença, você
pode ser mais sensível às plantas lá de dentro.
Sua cabeça estava girando novamente, mas desta vez com a importância
de suas palavras. Seria possível…? Ele odiava até mesmo considerar tal
coisa, mas seria possível que a doença de sua família não fosse devido a
uma condição hereditária? Seria possível que todos os homens da família
tivessem sofrido porque eram sensíveis a uma das plantas de sua avó?
Ainda mais horripilante era a suspeita de que sua exposição a essa planta
não tivesse sido acidental.
Ele não tinha percebido que tinha começado a andar de um lado para o
outro. Ele parou e virou-se para encarar Catherine.
— Acho que talvez você esteja certa. Acha que seria possível que me
fornecesse uma lista das plantas que são as mais prováveis de serem as
culpadas?
Ela estava prestes a perguntar o motivo, mas ele não queria que ela
soubesse sobre suas suspeitas até que tivesse alguma prova. Qualquer um
que já tivesse assassinado duas pessoas e estivesse tentando matar uma
terceira, sem dúvida, não pararia por nada para manter seu segredo.
— Precisamos garantir que as criadas não tragam nenhuma dessas flores
para dentro de casa — acrescentou.
Sua feição clareou.
— Ah, isso seria terrível! Já identifiquei muitas das plantas que Lady
Overlea não conhecia, mas ainda estou procurando informações sobre
algumas…
Sua voz sumiu e ela virou-se e voltou para a estufa, concentrada em sua
tarefa. Ele também estava perdido em pensamentos. Todo o seu mundo
tinha acabado de se desequilibrar, mas pela primeira vez no que parecia
uma eternidade ele começou a ter esperança.
Capítulo 16
ESTA FOI a primeira discussão que eles tiveram desde que se casaram e
Louisa não conseguia entender por que Nicholas tinha escolhido aquele
momento, quando eles eram esperados em breve para o jantar de sua tia,
para teimosias. Ela ficou consternada ao saber que ele ainda não tinha se
vestido e finalmente o encurralou em seu escritório, onde agora estava de
frente para o marido em sua mesa enquanto ele se reclinava em sua cadeira.
— Se cancelarmos agora, a rixa entre você e seus primos nunca será
consertada.
— Bom — disse ele, sua carranca se aprofundando —, todos eles
podem ir para o inferno. Não me importo se não vir algum deles
novamente.
Por mais que concordasse de todo o coração quando se tratava de
Edward Manning, não podia deixar de sentir que Mary não merecia tal
censura do marido.
— Se não comparecer por causa de sua avó, faria isso por mim?
— Estou fazendo isso por você. Não a quero perto do meu primo. Eu
não me importo com quantas pessoas estejam no cômodo no momento.
Ela pensou que eles já tinham resolvido esse assunto e não conseguia
entender por que estavam discutindo sobre isso mais uma vez. Teria que dar
a ele um incentivo extra. Com um cálculo cuidadoso, ela colocou as palmas
das mãos na mesa dele e inclinou-se para frente, dando-lhe uma visão
tentadora de seus seios que agora ameaçavam transbordar. Ela escondeu o
sorriso quando os olhos dele desceram.
— Lembra daquela coisa que você queria fazer na cama na outra noite?
Sua carranca levantou e um brilho de interesse entrou em seus olhos.
— O que você está propondo?
— Faça uma coisa para sua avó, uma noite na casa de sua tia. Em troca,
vou concordar em tentar o que você sugeriu.
Ele franziu a testa.
— Isso é chantagem.
— Prefiro pensar nisso como uma negociação.
Ele levantou-se rapidamente e contornou a mesa. Quando ela se
endireitou para encará-lo, ele segurou sua nuca, seu polegar acariciando ao
longo da coluna e de seu pescoço.
— Talvez possamos tentar o que eu pedi primeiro e depois podemos ir
ao jantar.
A voz dele era baixa e rouca e, apesar de suas dúvidas, um arrepio de
antecipação passou por ela.
Ela balançou a cabeça e girou fora do alcance dele para aproveitar sua
vantagem.
— Não, porque assim você não terá nenhuma razão para manter sua
parte do acordo.
Os olhos dele se estreitaram.
— Qual é a minha garantia de que depois do jantar você não vai mudar
de ideia?
— Vai ter que confiar em mim.
Ele caminhou em direção a ela.
— Isso não é bom o suficiente. Acho que vou precisar de um pequeno
adiantamento primeiro.
— Deixamos para cancelar muito tarde e não temos tempo para… você
sabe. — Ela podia sentir que estava corando.
— Não deixamos muito tarde. Você que decidiu ignorar meus desejos
de enviar nossas desculpas. — Ele capturou uma de suas mãos e a puxou
para ele. — Acho que, dadas as circunstâncias, você me deve alguma
compensação.
O coração dela acelerou quando ele arrastou a mão pela parte externa de
sua coxa e começou a puxar seu vestido para cima. Ela enterrou a cabeça no
ombro dele. Sabia que seu protesto era fraco, mas tinha que fazer isso.
— Não temos tempo…
— Tia Elizabeth esperou tanto tempo para preparar seu pequeno jantar
de reconciliação. Ela pode esperar mais um pouco.
Ela não resistiu quando ele a virou e começou a fazer com que andasse
para trás. Quando o traseiro dela bateu contra a borda de sua mesa, ele a
levantou para que ela pudesse se sentar na borda. Não precisava dizer a ela
o que queria. Agora quase tão ansiosa quanto ele, ela desabotoou a calça
dele e estendeu a mão para envolver sua ereção. A respiração dele sibilou
quando ela o apertou.
— Megera — disse ele, levantando suas saias até que ela estivesse nua
da cintura para baixo.
— Acredito que você me prefere assim — disse ela, puxando a mão
para cima e para baixo ao longo de seu comprimento considerável.
— Você não pode nem começar a imaginar — disse ele, abrindo as
pernas dela e movendo-se entre elas.
Ela ajudou a guiá-lo, seu corpo pronto, e gemeu em apreciação quando
ele empurrou nela com um golpe certeiro. O ritmo que estabeleceu foi
implacável, e ela atingiu seu pico duas vezes antes que ele se permitisse à
própria liberação.
POR FIM, atrasaram meia hora. Pelo alívio óbvio no rosto de sua avó,
Nicholas podia dizer que ela esperava que ele a mandasse sozinha. Ele
ainda tinha grandes reservas sobre a sabedoria de colocar sua esposa em
perigo. Permitiu que ela o influenciasse, mas apenas porque parte dele
queria a oportunidade de observar seu primo. Rezou para que Edward não
fosse estúpido o suficiente para fazer qualquer coisa com toda a família lá,
mas sabia que homens desesperados não podiam agir racionalmente. O
atentado contra a vida de Louisa tinha sido a prova disso.
Ele estava no limite e não se incomodou em tentar mascarar seu humor.
A tensão na viagem de carruagem até a casa de sua tia era palpável. Até
Catherine, sempre disposta a preencher qualquer silêncio com conversas
animadas, permaneceu calada. Pegou Louisa examinando-o algumas vezes.
Odiava não poder ser honesto com ela, mas não queria que se preocupasse
ou tivesse falsas esperanças sobre sua doença até que tivesse provas de suas
suspeitas.
NICHOLAS OLHOU para cima dos papéis que estava estudando e esfregou
os olhos. Nunca tinha percebido quanto trabalho estava envolvido em ser
um marquês. Como filho mais novo, ele nunca teve que aprender todos os
detalhes envolvidos na administração da propriedade e, embora sempre
tenha se interessado por política, suas opiniões eram apenas isso. Opiniões.
Agora que era esperado que ele se sentasse no Parlamento, ele levava essa
responsabilidade a sério. Especialmente porque agora ele tinha uma
esperança renovada em seu futuro.
Seu futuro. Ele sorriu ao pensar em Louisa e na vida que teriam juntos,
mas primeiro ele tinha que determinar a culpa de Edward. Kerrick poderia
não chegar ali rápido o suficiente. Sua carta dizia que estaria acompanhado
por Lorde Brantford. Não deu mais detalhes, mas Nicholas sabia que
Kerrick tinha amigos envolvidos na inteligência. No entanto, nunca
imaginou que o Conde de Brantford fosse um desses homens.
Ele voltou a atenção para sua leitura, mas foi interrompido alguns
minutos depois por uma batida na porta. Esperando que fosse sua Louisa,
ele a mandou entrar, mas em vez disso era seu valete. Ficou desapontado,
mas apenas por um momento. Harrison estava agindo de forma estranha e
era hora de entender o motivo de sua evasão.
— Peço desculpas, milorde — disse o valete com uma breve reverência.
O homem estava definitivamente nervoso. Nicholas fingiu olhar para o
relógio da lareira antes de falar.
— É algo que não podia esperar até que eu o visse mais tarde?
— Lady Overlea pode interferir mais tarde.
Parecia que ele não precisaria chamar seu valete depois de tudo. Sabia
que o homem se referia a Louisa e teve que reprimir a vontade de
repreendê-lo por falar contra a dona da casa.
— Então o que é?
— Consegui adquirir algumas garrafas de seu conhaque favorito. Lady
Overlea foi bastante meticulosa quando se livrou de todas as bebidas da
casa, e sei que ela pegou a última garrafa que lhe dei. Achei que seria mais
prudente se ela não soubesse que o senhor tem um novo estoque.
Novo estoque? Meu Deus, quanto o homem havia adquirido? Ele
percebeu que era muito provável que sua próxima bebida contivesse uma
dose letal do veneno. Edward deveria estar ficando impaciente.
Ele recostou-se na cadeira, fingindo uma aparência de resignação.
— Isso não será necessário, Harrison.
— Ela desistiu?
Ele balançou a cabeça.
— Receio que minha esposa tenha razão. Dada a gravidade da minha
última crise, decidi parar de beber.
Nicholas observou o outro homem cuidadosamente para analisar sua
reação.
— Parar de beber? Quer dizer não beber conhaque, milorde? Se for esse
o caso, posso obter outra coisa para o senhor.
Nicholas balançou a cabeça.
— Infelizmente terei que parar de beber destilados.
A expressão no rosto de Harrison era impagável.
— Mas o senhor sempre gostou de uma boa bebida de vez em quando.
Nicholas suspirou.
— Receio que esses dias tenham ficado para trás. Terá de ser chá e café
pelo tempo que me resta.
— Chá?
Enquanto seu valete estava desequilibrado, Nicholas se moveu para
matar.
— Quando estava planejando me contar sobre sua conexão com a casa
do meu primo?
A cor sumiu completamente do rosto de Harrison.
— Perdoe-me, milorde?
— Foi visto, Harrison.
Seu valete parecia que não queria nada além de dar meia-volta e fugir.
— Achou que o iria desaprovar formando um apego romântico? Posso
ter sido um solteirão declarado antes do casamento, mas dificilmente era
um monge. Entendo que um homem tem suas necessidades.
O alívio no rosto do outro homem era ridiculamente óbvio. Ele esperava
que Harrison nunca começasse a jogar. Ele seria horrível nisso.
— Um interesse romântico. É claro. Está se referindo a…
— Seu encontro com a criada do meu primo. Ela foi vista lhe passando
um bilhete de amor.
Harrison desviou o olhar e limpou a garganta antes de continuar:
— Não havia nada a dizer, milorde. Receio que a garota tenha formado
um apego mais forte do que eu pretendia. Foi apenas um flerte leve.
Ele tropeçou em suas palavras enquanto falava. Ótimo, pensou
Nicholas. Ele deixara o homem claramente abalado.
— Entendo, mas se o relacionamento se tornar mais sério, virá até mim,
espero. Eu não sou um ogro a ponto de esperar que os dois continuem se
esgueirando pelas minhas costas.
— Não, milorde. Obrigado, milorde. Vou permitir que volte ao seu
trabalho agora…
A boca de Nicholas se firmou em uma linha sombria enquanto
observava o homem sair correndo de seu escritório. Ficou claro que
Harrison estava envolvido no envenenamento. Nicholas tinha toda a
confiança de que confessaria rapidamente sob interrogatório.
Ele levantou-se e começou a andar. Não queria nada além de seguir seu
valete e torcer o pescoço do homem para descobrir os detalhes da trama
naquele exato momento. Quando pensou em como Edward tinha matado
seu pai e irmão… Seus punhos se fecharam e ele teve que respirar fundo
várias vezes antes que pudesse relaxar. Nada seria ganho se ele se revelasse
agora. Só esperava que seu questionamento impulsivo não lhe tivesse
entregado. Era vital que seu primo acreditasse que ele teria sucesso em
matar o atual marquês.
Fez o seu caminho de volta para a mesa e tentou reorientar sua atenção
em sua leitura. Tudo o que podia fazer agora era esperar.
Capítulo 18
PELA MANEIRA que Louisa continuava olhando para ele durante o jantar,
Nicholas percebeu que queria falar com ele. Como Catherine lhe dera a lista
que ele pedira naquela manhã, ele imaginou que ela poderia ter comentado
com a irmã o que havia acontecido na estufa. Relutou com o quanto contar
a ela sobre aquele incidente e sua crescente convicção de que os homens de
sua família tinham sido, e continuavam sendo, envenenados. Não queria
mentir para ela, mas era primordial que a mantivesse segura. Ela já tinha
sido alvo de uma tentativa deliberada de machucá-la. Saber a verdade
permitiria que ela fosse mais cautelosa, ou colocaria um alvo maior nela se
começasse a se comportar de maneira diferente depois de saber a verdade?
Graças a Deus, Kerrick e Lorde Brantford deveriam chegar no dia
seguinte. Queria que toda essa bagunça terminasse. Não havia como dizer o
que Edward faria em seguida.
Louisa retirou-se depois do jantar, alegando dor de cabeça. O olhar que
ela lhe dera antes de subir as escadas, no entanto, deixou claro que queria
que a seguisse. Ele sorriu enquanto contemplava todas as coisas que faria
para tentar distraí-la das perguntas que queria fazer. Ele a deixaria sem
dúvidas de que estava no auge da saúde.
Sorrindo, ele entrou em seus aposentos um quarto de hora depois. Ele
esperava encontrar Louisa acordada, então a visão dela dormindo em sua
cama, em cima da colcha, o fez parar. Talvez ela realmente estivesse com
dor de cabeça.
Ele fechou a porta suavemente antes de se aproximar da cama e olhar
para a esposa. Seu coração se revirou com a profundidade de seus
sentimentos por ela. Mal podia esperar que essa provação terminasse para
que pudesse dizer a ela que a amava. Enquanto sua vida estava em perigo,
no entanto, não queria aumentar a perda dela caso algo lhe acontecesse.
Sabia que ela sentia o mesmo por ele. Pelo menos, esperava que ela
sentisse. Sofreu um momento de dúvida enquanto se perguntava se ela só
estava preocupada com ele porque era de sua natureza cuidar dos outros.
Afinal, ela estava há alguns anos encarregada da casa e de sua família,
cuidando dos irmãos mais novos e do pai durante a doença que finalmente
acabou tirando a vida dele. Ele franziu a testa enquanto as dúvidas enchiam
sua mente.
Sua respiração congelou quando percebeu que ela estava corada. Isso
não era um sintoma normal de uma dor de cabeça. Ele colocou uma mão
ligeiramente trêmula em sua testa e xingou silenciosamente quando
descobriu o quão quente ela estava ao toque. Isso era mais do que apenas
uma dor de cabeça.
Foi só então que ele notou a xícara de chá espreitando debaixo de uma
dobra de seu vestido. Seu olhar se moveu para a mesa de cabeceira, sobre a
qual repousava uma bandeja com um bule e outra xícara. Ele estava tão
preocupado que não percebeu e seu coração se apertou quando entendeu o
que deveria ter acontecido.
Amaldiçoou-se por sua estupidez quando atacou Harrison naquela tarde,
dizendo-lhe que só tomaria chá a partir daquele momento. Nunca lhe
ocorreu que Louisa pudesse consumir um veneno que era para ele. Não, não
só para ele. Havia duas xícaras. O suor brotou em sua própria testa.
Harrison, em um ato de desespero, decidiu resolver o assunto com suas
próprias mãos, ou foi ordenado a fazê-lo?
Caminhou até a campainha e a puxou antes de voltar para a cama.
Colocou a xícara vazia com seu mate na bandeja de chá e com um cuidado
exagerado se abaixou na cama ao lado de sua esposa. Ele levantou a mão
para embalar a bochecha dela e falou baixinho:
— Louisa? Pode me ouvir?
Nada.
Ele a sacudiu suavemente.
— Louisa? Por favor, querida, abra os olhos. Deixe-me saber que está
bem.
Para seu alívio, as pálpebras dela se abriram, mas fecharam de novo
quase que imediatamente. Sua boca se moveu, formando seu nome, mas
nenhum som escapou.
Houve uma batida suave à porta antes que uma das criadas entrasse.
Nicholas não ficou surpreso. Depois de um ato tão desesperado, Harrison
provavelmente se fora há muito tempo.
Ordenou à criada que enviasse um dos lacaios e que fosse chamar um
médico. O pânico nublou seu cérebro e seu estômago se apertou quando ele
olhou para Louisa, deitada imóvel na cama. Sua respiração era superficial,
mas ele agradeceu a Deus por ela ainda estar respirando.
Levantou-se quando o lacaio entrou. Nicholas não conhecia o homem
pessoalmente, mas conhecia sua família. Os Tate eram inquilinos da
propriedade há muitas gerações e, de tudo o que ele ouvira, eles eram uma
família boa e sólida. Era o suficiente. Ele teria que esperar que o homem
pudesse ser confiável.
— Nancy me disse que Lady Overlea adoeceu — disse o criado, seu
olhar indo para Louisa antes de retornar para Nicholas. — O que eu puder
fazer para ajudá-los, milorde, farei com prazer.
Nicholas assentiu sombriamente com as palavras do homem. Sabia que
Louisa era muito querida entre os funcionários.
— Preciso de sua ajuda, William. Posso contar contigo para manter
silêncio sobre o que vou lhe dizer?
O lacaio se endireitou com a pergunta.
— Tem a minha palavra, milorde, que não direi nada a ninguém.
— Bom homem — disse Nicholas. — Primeiro, preciso saber se
Harrison está lá embaixo.
O lacaio balançou a cabeça.
— Não tenho certeza, milorde. Eu o vi há cerca de uma hora, mas não o
vi desde então. É uma casa grande.
— Acho que percebeu que Harrison já tenha ido embora.
Os olhos de Tate se arregalaram quando a importância das palavras de
Nicholas o atingiu e seu olhar se moveu novamente para Louisa.
— O senhor não acredita…
— Temo que ele possa ter dado a Lady Overlea algo que a fez adoecer.
Os punhos de William se fecharam.
— Aquele vira-lata. Eu mesmo vou encontrá-lo e fazê-lo se arrepender.
Nicholas concordou plenamente com o sentimento. Não queria nada
além de perseguir o homem, mas não podia sair do lado de Louisa. Não
enquanto sua vida estivesse em perigo.
— Preciso que veja se pode encontrá-lo. Se ele não estiver em casa,
pergunte nos estábulos. Veja se consegue descobrir em que direção ele pode
ter viajado. E por favor, não conte a ninguém sobre minhas suspeitas.
Ele observou como o lacaio, com os punhos ainda cerrados, virou-se e
saiu correndo do quarto. Se Nicholas fosse um bom juiz de caráter, William
Tate não estava envolvido nesse esquema. Ele parecia genuinamente
surpreso e zangado com o que havia descoberto.
Nicholas passou as mãos pelo cabelo. Desejou que Kerrick já estivesse
lá. O matou saber que Harrison provavelmente estaria escapando naquele
exato momento, mas enquanto a criada permanecesse a serviço de seu
primo, e era improvável que seu valete tivesse tido tempo de enviar uma
mensagem a ela, tinham alguém que poderia testemunhar sobre a culpa de
Edward. Porém, Harrison quem havia administrado o veneno e Nicholas
garantiria que ele fosse enforcado por isso.
A porta tinha acabado de ser fechada quando se abriu novamente e um
redemoinho de cabelos louros voou para dentro do quarto.
— Ouvi dizer que Louisa está doente.
Catherine correu para o lado de sua irmã e tomou seu rosto ruborizado e
imóvel antes de virar-se para enfrentá-lo. — O que aconteceu? Ela disse
que estava com dor de cabeça, mas isso não se parece com nenhuma dor de
cabeça que eu já tenha visto.
Catherine. Se ele estivesse pensando com clareza, teria mandado
chamá-la primeiro. Ela estava estudando as plantas na estufa. Sabia que
algumas eram venenosas, e era possível que soubesse o que precisaria ser
feito naquele momento.
Ele fechou a porta do quarto e virou-se para ela antes de retirar do bolso
a lista que ela lhe dera naquela manhã. Estendendo-o para ela, ele
perguntou:
— Qual destas plantas pode fazer com que sua irmã adoeça dessa
maneira?
Seu rosto ficou branco com o choque. Levou vários segundos antes que
ela conseguisse perguntar:
— O que está dizendo? — Ela pegou a lista com os dedos trêmulos, mas
não olhou para ela.
— Sei que isso é muito para assimilar, mas preciso que pense,
Catherine. Eu tive essa reação outro dia na estufa… Acho que foi por causa
de uma sensibilidade que tenho a uma determinada planta. Uma planta que
alguém vem administrando em mim sem meu conhecimento há algum
tempo.
— Mas por quê?
— O motivo não importa agora. Basta dizer que passei a acreditar que
minha doença foi, na verdade, resultado de envenenamento. Faz sentido que
a fonte do veneno seja a planta que me fez reagir. Com toda a
probabilidade, também é o veneno que Louisa bebeu.
Catherine ofegou com a notícia e olhou perturbada, para a irmã.
— Preciso que se concentre — disse Nicholas, com urgência na voz. —
Qual planta pode causar isso e, o mais importante, o que podemos fazer
para neutralizar seus efeitos?
Catherine balançou a cabeça enquanto olhava para a lista.
— Não sei. Podem ser várias. Tudo dependeria de quanto fosse dado…
— Ela olhou para Nicholas, o desespero em seus olhos. — Algumas dessas
são fatais se ingeridas em qualquer quantidade.
Nicholas fechou os olhos brevemente, concentrando-se em conter seu
próprio pânico antes de dizer:
— Temos que assumir que ela recebeu o mesmo veneno que eu. Isso
eliminaria as plantas que são imediatamente fatais.
Catherine assentiu e olhou para a lista novamente.
— Algumas delas deixariam a pessoa muito doente, mas não são fatais,
a menos que sejam administradas em grande quantidade. — Seus olhos
estavam esperançosos quando ela olhou para Nicholas novamente.
Pensou no que ele acreditava ser sua doença.
— Acho que estamos procurando uma planta que possa ser
administrada em pequenas quantidades para produzir mudanças na
percepção. Causaria tontura, esquecimento e provocaria febre. E sim,
também causaria a morte com uma dose grande — disse ele, pensando no
irmão.
Catherine engoliu em seco visivelmente.
— Acha que Louisa…
— Espero que não — disse ele, enviando uma oração silenciosa e
fervorosa.
As mãos dela tremiam, mas ela revisou a lista novamente com cuidado.
— Não tenho certeza. Pode ser a Datura, mas não tenho certeza de
todos os sintomas.
Nicholas respirou fundo antes de fazer a próxima pergunta:
— Há algo que possamos fazer? Louisa ficou sozinha por quinze
minutos antes de eu encontrá-la.
A pouca cor que ainda restava no rosto de Catherine parecia se esvair
diante de seus olhos.
— Para ter causado este efeito, a dose deve ter sido grande.
A mente de Nicholas girou com as implicações. Ele olhou para a esposa
novamente. Sua cor estava forte e sua respiração ainda superficial. Ele se
familiarizou com o sentimento de impotência dos últimos meses à medida
que sua própria doença progredia, mas isso era muito pior.
Catherine interrompeu sua miséria com um som de exclamação.
— O veneno não está no organismo dela há muito tempo. Podemos ser
capazes de liberar o resto antes que seja totalmente absorvido.
Nicholas virou-se para ela, momentaneamente confuso.
— Como…?
Catherine era a imagem da eficiência agora. Ela o fez lembrar de sua
irmã, o que fez seu coração doer.
— Se ela bebeu o veneno há pouco tempo, ainda estará no estômago.
Podemos induzi-la a esvaziar seu conteúdo…
— O que diminuiria o tamanho da dose que ela recebeu — ele terminou
por ela. É claro. Ele deveria ter pensado nisso.
Ele se moveu rapidamente para o lavatório e voltou com a bacia.
— Gostaria que eu fizesse isso? — perguntou Catherine.
— Eu mesmo vou fazer. Vá buscar água na cozinha. Traga uma jarra
grande e uma taça. Depois que eu terminar aqui, fazê-la beber água pode
ajudar a diluir o que foi absorvido no organismo. — Ele balançou a cabeça.
— Não sei se será útil, mas não há mais nada que possamos fazer, então
devemos tentar.
Catherine virou-se para sair, mas ele a deteve, acrescentando:
— Certifique-se de pegá-los pessoalmente. Não temos como saber
quem mais pode estar envolvido nesta trama.
Catherine assentiu e sem uma palavra saiu correndo do quarto.
Nicholas virou-se para a esposa e endireitou os ombros.
— Hora de acordar, Louisa. — O momento não estava para gentilezas.
— Precisamos lhe tirar essa coisa maldita.
FOI UMA longa noite, mas em algum momento nas primeiras horas da
manhã Louisa abriu os olhos e olhou para ele.
— Eu estava imaginando coisas, ou…?
Ela levou a mão à boca e imitou o movimento.
Um alívio mais poderoso do que qualquer coisa que Nicholas já tinha
experimentado varreu seu corpo.
Louisa franziu o cenho.
— E por que não está na cama comigo?
Ele subiu na cama ao lado dela, arrastou-a em seus braços e apenas a
abraçou. Passou-se um minuto inteiro antes que ele pudesse encontrar sua
voz.
— Me assustou até a morte ontem à noite.
Louisa tentou se sentar.
— O que aconteceu? Por que ainda estou com minhas roupas?
— Lembra-se do que aconteceu ontem à noite depois do jantar?
Ela o encarou inexpressivamente.
— Depois do jantar? Não aconteceu nada.
— Disse a todos que estava com dor de cabeça e subiu as escadas.
Ela levou a mão à cabeça.
— Minha cabeça está doendo. — Sua carranca se aprofundou. — Mas
não estava doendo ontem à noite. Só disse isso porque queria lhe falar em
particular. — Ela deixou cair a mão. — Falando nisso…
Ele a interrompeu:
— Antes de chegarmos a isso, diga-me o que aconteceu quando chegou
ao meu quarto.
— Eu já lhe disse, não aconteceu nada. Eu vim aqui para esperá-lo.
Nicholas precisava saber se Harrison havia colocado a mão em Louisa.
Se ele a forçara a beber o chá.
— Meu valete estava aqui?
— Harrison? Não, o quarto estava vazio. — Ela olhou para ele, sua
expressão curiosa. — Desde quando começou a tomar chá antes de dormir?
Encontrei um bule de chá ainda fresco e duas xícaras na sua mesa de
cabeceira.
— E tomou uma xícara?
— Estava um pouco frio, mas achei que acalmaria meus nervos
enquanto o esperava. Eu estava mais chateada contigo. Catherine me contou
que teve um breve episódio no conservatório. Houve mais crises que
escondeu de mim?
O tempo de proteger sua esposa havia acabado. Com Harrison fora, era
provável que estivessem a salvo de qualquer perigo imediato, mas Nicholas
não podia correr esse risco. Até que esse assunto terminasse e todos os
envolvidos fossem apreendidos, ambos teriam que ter cuidado com tudo o
que consumiam.
Ele contou a ela o que sabia e sobre sua suspeita de que o primo o
estava envenenando. Ele esperava que a reação dela fosse semelhante à de
Catherine na noite anterior, choque e descrença no início. O que ele não
esperava era a compreensão e a compaixão repentinas que iluminaram os
olhos dela.
— Oh, Nicholas — disse, pegando as mãos dele. — Isso vai muito além
de você, não é?
Ele deveria saber que sua primeira preocupação não seria consigo
mesma, mas com ele. Um nó se formou em sua garganta. Ele estava
tentando não pensar em seus pais e seu irmão. Sentira profundamente a
perda deles, mas conseguia manter uma fachada de compostura sempre que
falava dos dois. E depois de saber sobre o envenenamento, a emoção que
ele estava experimentando predominantemente sempre que pensava neles
era a raiva. Raiva pela pessoa que causou suas mortes prematuras – seu
primo Edward – e uma necessidade quase irresistível de vingá-los.
Confrontado agora com a compaixão de Louisa, no entanto, essa raiva
retrocedeu.
Ele enterrou o rosto no pescoço da esposa e se agarrou a ela quando
uma onda de tristeza o varreu. Não poderia dizer quanto tempo eles
permaneceram assim. O que sabia, porém, era que Deus lhe dera um
presente quando seu caminho se cruzou com o de Louisa Evans. Ele quase
estragou o relacionamento deles com seu esquema absurdo para que ela
gerasse um herdeiro com outro homem, mas de alguma forma ele não
conseguiu afastá-la. Jurou que faria o que fosse preciso para mantê-la
segura, mesmo que isso significasse matar Edward ele mesmo.
Capítulo 19
TANTA COISA aconteceu nos últimos meses que era quase impossível para
Louisa absorver tudo. Depois da dramática confissão e saída de Mary,
Edward e Elizabeth foram embora sem dizer mais nada. Junto com o agora
falecido Henry Manning, sua família se ressentia do ramo da família de
Nicholas com um ódio que ia além da razão. Ficou claro, no entanto, que
ninguém imaginou que seu ódio contagiaria de tal maneira Mary, o membro
mais frágil da família.
Quando Nicholas voltou, disse a Louisa que Mary havia confessado
tudo. Como ela ficou sabendo das qualidades venenosas da flor que ela
tanto gostava com a observação casual de um amigo pouco antes de os dois
lados da família Manning finalizarem o acordo para que o irmão de
Nicholas, James, se casasse com Mary. O que eles não sabiam era que Mary
havia se apaixonado pelo filho mais novo de um baronete empobrecido
durante sua primeira temporada, mas sua mãe havia proibido o casamento.
Ela assistiu, com o coração partido, enquanto ele cortejava e depois se
casava com outra.
As sementes de sua loucura foram plantadas e cresceram rapidamente.
Ela tentou se matar consumindo um chá preparado com as folhas da planta.
Em vez de morrer, no entanto, ela apenas adoeceu. Ela então concebeu a
ideia de dar o veneno ao seu tio, esperando que sua doença resultante
fizesse com que os Overlea adiassem seu casamento com James.
Ela não pretendia matá-lo, mas os efeitos da ingestão da planta não
eram instantâneos se apenas uma pequena quantidade fosse usada. Quando
o pai de Nicholas sofreu um ataque tardio enquanto dirigia até a vila,
perdendo o controle da carruagem que acabou matando-o e a esposa
instantaneamente, em vez de sentir culpa, no entanto, Mary ficou aliviada.
Seu noivado com James ainda não havia sido anunciado oficialmente, e ela
esperava que ele mudasse de ideia durante o período de luto.
Ela ficou desapontada quando soube que ele pretendia continuar com a
união deles depois que o período de luto terminasse e seguiu em frente com
um cronograma mais agressivo para James, sem se importar que ela
estivesse desempenhando um papel ativo na morte de outra pessoa. Em seu
desespero, ele recebeu doses muito maiores e sua morte rápida pelo veneno
foi inevitável. Ela estava tão envolvida naquele ponto que não conseguia
parar. Decidiu que só estaria livre dos esquemas casamenteiros de sua mãe
se garantisse que seu irmão se tornasse o Marquês de Overlea.
Eles estavam se preparando para dormir quando Louisa disse a Nicholas
que sentia pena de Mary.
Nicholas zombou com a brandura de seu coração.
— Aquela “coitadinha” matou minha família e quase conseguiu me
matar. E para que não se esqueça, ela fez o mesmo contigo. Não uma, mas
duas vezes. A primeira foi quando ela ordenou que Harrison sabotasse sua
sela para que caísse do cavalo.
Louisa ofegou.
— Foi ela quem causou meu acidente? Quando descobriu isso?
— Soube que sua sela tinha sido adulterada quase que imediatamente.
— E nunca me disse nada?
— Eu não queria assustá-la. — Nicholas a alcançou e a puxou em seus
braços. — Eu já suspeitava do envenenamento, mas não suspeitei que
também estaria em perigo. Acredito que naquela época Mary não estava
pensando com clareza.
— Acho que ela nunca pensou com clareza — disse Louisa, balançando
a cabeça. — O que irá acontecer com ela?
— É provável que seja internada em um asilo.
Louisa estremeceu com o pensamento. A morte seria mais
misericordiosa.
— Eu não entendo a parte de Harrison em tudo isso. Disse que a criada
de Mary não sabia o que estava entregando a ele, mas Harrison claramente
sabia exatamente o que estava fazendo.
— Ele fez isso pelo dinheiro — disse Nicholas. Ela franziu a testa
incrédula e ele continuou: — Aparentemente ele teve um filho em sua
juventude. Quando o menino atingiu a maioridade, desenvolveu um gosto
por cartas, mas não tinha habilidade com isso e rapidamente acumulou uma
quantidade bem grande de dívidas de jogo. Claro, ele piorou sua situação
pegando dinheiro emprestado das pessoas erradas. — Nicholas fez uma
pausa enquanto lutava para manter a voz calma. — Se Harrison tivesse ido
até meu pai em vez de aceitar o pagamento de Mary para envenená-lo,
tenho certeza de que o teria ajudado.
Ele a puxou para um abraço apertado, e ela esperava que ele encontrasse
tanto conforto no abraço quanto ela.
— Graças a Deus ele foi encontrado — disse ela, recuando um pouco
para olhar para Nicholas. — Se tivesse conseguido fugir, nunca saberíamos
que Mary estava por trás de tudo e ela poderia ter encontrado outra pessoa
para terminar a tarefa.
— Sim, graças a Deus e a William Tate — disse Nicholas. — Ele
lembrou que Harrison havia falado sobre ter família em Londres. Quando o
cavalariço lhe disse que Harrison tinha ido para o norte, apostou em seu
palpite e foi em direção à cidade.
— Devemos pensar em uma maneira de agradecer-lhe.
— Já pensei. Como agora estou precisando de um novo criado e não
consigo pensar em ninguém mais merecedor, ofereci-lhe o cargo. Tenho
certeza de que nós dois vamos nos atrapalhar até que ele aprenda os laços.
Ela retribuiu o sorriso com um que estava longe de sentir. Estava
tentando, sem sucesso, livrar-se da sensação de angústia que se apoderara
dela quando percebeu o que precisava fazer. Nicholas havia se casado com
ela pensando que estava à beira da morte. Era verdade que o relacionamento
deles tinha crescido desde o que ele havia imaginado inicialmente, mas ela
o amava o suficiente para não forçá-lo a passar o resto de sua vida com
alguém que ele não amava em troca. Ele já havia perdido tanto na vida. Os
pais, o irmão. Ele merecia a chance de ter alguém em sua vida que pudesse
amar. Se não fosse ela, ela se afastaria para que ele pudesse encontrar essa
pessoa. Provavelmente a mataria, mas faria isso por ele.
Nicholas passou a conhecê-la bem no pouco tempo que estiveram
juntos, e ela não conseguia esconder seu humor dele.
— Está acontecendo alguma coisa — disse ele levemente, inclinando o
rosto dela para cima para encontrar seu olhar. Ele passou o polegar ao longo
de seu lábio inferior. — Está infeliz.
Louisa estremeceu ao toque dele. Não seria capaz de fazer isso se ele a
estivesse tocando. Respirando fundo, ela saiu de seus braços.
— Está completamente saudável — disse ela.
— Vou pedir ao médico que me examine, mas espero saber que não
sofri efeitos duradouros do veneno. — Ele a examinou, tentando ler a
intenção dela. — Espero que o fato de que agora esteja presa a mim
indefinidamente não lhe cause angústia.
Ele falou as palavras levemente em uma tentativa de arrancar um sorriso
dela, mas tiveram o efeito oposto.
— Na verdade, era sobre isso que eu queria falar-lhe — disse ela. —
Agora que não está mais doente, não tem a necessidade urgente de um
herdeiro.
Os olhos dele se estreitaram.
— Ainda preciso de um herdeiro.
Ela seguiu em frente, suas palavras saindo apressadas:
— Sim, mas não precisa ter um comigo. — Ele começou a falar, mas ela
ergueu a mão para detê-lo. — Tenho que dizer isso agora, enquanto posso.
Quando me pediu em casamento, foi uma questão de conveniência. Eu
precisava de sua ajuda e você precisava de algo que eu poderia lhe dar, mas
esse não é mais o caso.
Uma expressão estranha cruzou o rosto dele. Sua voz era gentil quando
disse:
— Eu ainda preciso de você, Louisa.
Ela acenou com a mão para ele e pressionou:
— Precisa de mim da mesma forma que precisava das amantes que sem
dúvida teve antes do nosso casamento, mas não precisa ficar amarrado a
mim.
Uma pitada de cautela surgiu nos olhos dele.
— O que exatamente está querendo dizer?
Então era isso? Ele ficaria aliviado quando ela dissesse que estava
devolvendo sua liberdade?
— As circunstâncias que cercaram nosso casamento foram
extraordinárias, e na época havia a preocupação sobre sua saúde. Nós dois
sabemos que em circunstâncias normais nunca teria se casado comigo. —
Ela teve que respirar fundo novamente antes de continuar: — Eu vou
entender se quiser se separar. Isso é feito o tempo todo e ninguém comenta.
Um silêncio longo e desconfortável se estendeu entre eles quando ela
terminou.
— E quanto a você? — perguntou ele finalmente. — Realmente acha
que eu simplesmente a deixaria de lado como um lixo e voltaria a viver
como um solteiro na cidade?
Ela estremeceu com as palavras dele e virou-se, incapaz de encará-lo.
Não o ouviu se mover e ficou surpresa quando ele a virou para encará-lo
novamente, as mãos segurando seus braços. Ele estava com raiva dela.
— Pensa tão mal de mim que acredita que eu lhe faria isso?
Ela colocou a mão na bochecha dele. Ele era tão bonito e ainda podia
lhe tirar o fôlego, mas ela o amava o suficiente para não o prender se ele
não compartilhasse dos mesmos sentimentos.
— O nosso não foi um casamento de amor. Merece isso, Nicholas.
Ele reagiu como se ela o tivesse esbofeteado. Ele a soltou e deu um
passo para trás.
— Vamos falar claramente aqui, Louisa. Sei que está acostumada a
cuidar dos outros. Catherine, John, seu pai. Eu. Isso era tudo que eu era para
você? Outra causa? Alguém para cuidar e, agora que sabe que estou bem,
acha insuportável a ideia de passar o resto da vida comigo?
Ela ofegou com a amargura em seu tom.
— Não…
Ele riu, mas o som não era de felicidade.
— Bem, isso é muito ruim. Não vou concordar com uma separação.
Eles ficaram lá pelo que pareceu uma eternidade. Ele estava muito
bravo com ela. Suas mãos estavam fechadas nas laterais de seu corpo, sua
respiração áspera.
— Parece que estamos em um impasse — disse ele finalmente.
Louisa podia sentir toda a energia sendo drenada de seu corpo com as
palavras dele para ser substituída pela derrota. Ela havia arruinado tudo. Só
queria fazê-lo feliz, mas em vez disso, tudo o que conseguiu foi arruinar a
pouca felicidade que os dois conseguiram arrancar da situação em que se
encontravam.
Ela virou-se e dirigiu-se à porta que ligava seus quartos. Ele estava com
raiva dela e ela não podia ficar perto dele quando estava assim. Como o
estranho frio e distante com quem havia se casado. Doía demais. Talvez
com o tempo, pudessem voltar à camaradagem fácil que haviam
desenvolvido recentemente. Poderia ser o suficiente que ela o amasse e ele
parecesse gostar dela. Ou pelo menos que sentisse isso antes daquela noite.
Ela alcançou a porta e girou a maçaneta, mas Nicholas foi por trás dela
e estendeu a mão ao redor dela para mantê-la fechada. Eles ficaram ali
daquele modo por vários segundos, Louisa de frente para a porta e Nicholas
parecendo grande e poderoso atrás dela, prendendo-a entre seus braços.
Seus pensamentos voltaram para aquela outra noite quando ela se viu na
mesma posição. Na noite em que os dois fizeram amor pela primeira vez.
Estava com medo de dizer qualquer coisa que pudesse deixá-lo ainda
mais irritado. Ela pensou apenas em lhe dar a liberdade que ele merecia e,
em vez disso, ele tomara suas palavras como um insulto. Deveria ter
percebido que ele não era o tipo de homem que abandonaria suas
responsabilidades.
— É realmente isso que quer? — perguntou ele, sua voz tensa. —
Deixar-me?
Ela fechou os olhos enquanto a dor a invadia. Essa era a última coisa
que queria fazer.
A boca dele caiu para a curva do pescoço dela e ele a beijou ali. Ela
relaxou nele e soltou a respiração que estava segurando.
— Eu não quero ir.
Ele então a virou, mas não recuou. Ela levou as mãos ao peito do
marido e encontrou seu olhar escuro e intenso.
— Bom, porque eu não vou deixa-la ir tão facilmente.
Sua boca encontrou a dela em um beijo terno, roubando a respiração de
Louisa. Ela fez um som de alívio e ergueu as mãos para emaranhá-las no
cabelo dele, segurando-o contra ela. As mãos dele deslizaram pelas costas
dela e a trouxe totalmente contra ele.
— Diga-me o que quer — disse ele, sua boca pairando sobre a dela.
Ela passou a língua nos lábios dele e ele gemeu em resposta.
— Eu quero você. Sei que não deveria. Merece ser feliz, Nicholas, não
ligado a mim, uma mulher com quem se casou apenas por necessidade.
Ele levantou a cabeça e olhou para ela, claramente perplexo.
— Estou feliz, Louisa. Nosso casamento pode ter acontecido por todos
os motivos errados, mas você é a mulher que eu quero. A mulher que eu
amo.
A felicidade se desdobrou no peito dela.
— Me ama?
— Achei que estava óbvio. Tenho agido como um tolo apaixonado
desde que a conheci, embora tenha demorado um pouco para perceber isso.
Ela jogou os braços ao redor dele, agarrando-se nele.
— Isso significa que não ouvirei mais bobagens sobre terminar nosso
casamento?
— Eu também te amo, Nicholas — disse ela, quase com medo de deixá-
lo ir e de descobrir que estava apenas sonhando.
Ele exalou com alívio e enterrou a cabeça no pescoço dela.
— Graças a Deus.
Epílogo
Vire a página para ler uma prévia de Seduzindo o Conde, livro 2 da série
Conquistando um Lorde.
Seduzindo o conde
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