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UMA PROPOSTA CHOCANTE
Carlos Aquino
Carlos Aquino
cedibra
— —
Copyright MCMLXXX
CEDIBRA EDITORA BRASILEIRA LTDA.
Direitos exclusivos.
Rua Filomena Nunes, 162
A garota
tirados.
Os olhos, imensos, também negros.
Gostaria de ter o nariz arrebitado, os
E carregava.
A garota não sabia exatamente porque
era tão triste
Seria a pobreza?
Mas havia tanta gente pobre e alegre.
E tanto rico triste...
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Apenas dezenove anos de idade.
Todos elogiavam:
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como as outras, correndo e pulando, sujando-
se, caindo e voltando pra casa aos
berros, quando se feriam.
Crescera assim.
E não mudara
rua.
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Desde aquela época que ajudava a mãe
nas despesas.
Alisou-os.
Teve uma sensação agradável.
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Gostaria também de ser esperta.
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Além de estar com a porta do quarto
trancada, Cândida tinha ido fazer as compras
da semana.
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Não completou o pensamento,
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Sem que se desse conta, automaticamente,
começou a acariciar as próprias coxas.
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Um ladrão?
Não podia ser. Como poderia ter a chave?
Ouviu a voz da mãe:
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capítulo 2
Tarde triste
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Aquilo era bom
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E assim haviam passado quinze anos.
Antonio morreu. Cândida não via mais
nenhum sentido em continuar vivendo no
Rio de Janeiro.
Mas voltar para sua terra, também ão
da janela.
E ficou observando a tarde triste.
E a rua molhada.
Os grossos pingos de chuva batiam no
vidro embaçado da janela.
Dália limpou com a mão para poder
melhor olhar a rua.
Uns moleques, ensopados, mas completamente
alheios à chuva, jogavam bola.
Riam, gritavam, brigavam
Viviam, enfim.
Como Dália gostaria de viver.
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Livre.
Sem inibições.
Sem receios.
maior.
Tudo monótono, sem esperança.
Até gostava quando tinha que traba
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Mas era um sábado.
o de Cândida.
—É aqui que mora D. Cândida?
— É, sim.
— Ela está em casa?
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Olhando para o rapaz, Dália nem se
lembrou de mandá-lo entrar. Deixou o desconhecido
debaixo da chuva mais alguns
segundos, com o guarda-chuva aberto. Observou
entretanto, que a capa que ele usava
era velha e surrada.
— Mamãe já vem.
Com efeito, logo em seguida, Cândida
apareceu. Seus olhinhos, ainda sonolentos,
bateram curiosamente as pestanas, aproximando-
se do rapaz e o olhando-o:
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— Boa-tarde.
— Eu sou Denis, filho de D. Elenice, lá
de Sergipe...
Cândida sorriu feliz e incrédula:
— Como?
— O filho de D. Elenice.
— Já deste tamanho! Não acredito. Você
está um rapagão.
O rapaz continuava com a capa molhada,
o guarda-chuva e o embrulho na mão
— Quer um cafezinho?
— Não precisa ter trabalho.
— Não é trabalho nenhum. Além disso
está fazendo frio. Nada como um café
feito na hora. Faço questão. Não adianta
prostetar.
E a mulher levantou-se indo em direção
à cozinha, desaparecendo no interior da
casa.
responder.
Afinal, não se conheciam.
Denis venceu a timidez e quis ser sociá
vel:
— Você estuda?
— Não.
— Não?!
— Acabei o ginásio. Agora estou trabalhando.
— Em quê?
—Numa loja de tecidos, aqui mesmo em
Madureira.
A conversa terminou aí.
Minutos depois, Cândida apareceu de
— Está bom?
— Está ótimo! — elogiou Denis.
Foi então que Cândida fez uma pergunta
que não devia ter feito. Ou melhor, praticamente
afirmou; não foi bem uma pergunta.
E o que ela disse feriu muito Dália,
que por um momento quase chegou a odiá-
la. Por que a mãe tinha estragado assim
seus sonhos?
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depois a de Dália. Esta sofreu uma emoção
muito forte ao sentir o contato da
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E de repente, sentiu uma força estranha
dentro de si mesma e tomou uma determinação.
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capítulo 3
ânsia de amar
— Por quê?
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— Porque sim. Ele bem que podia ca
sar com você.
— Ora, mamãe, ele mal me conhece.. .
— Mas eu adoraria se Denis casasse
com você. Só assim eu teria motivo novamente
de ter alegria na vida.
— Deixe de pensar bobagens.
— Não é bobagem coisa nenhuma. Ele
é filho da minha maior amiga. Ela também
ficaria muito contente
— Mas como a senhora mesmo disse,
ele é noivo.
— Noivado se desmancha a qualquer
hora.
* * *
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Mas Dália temia que Cândida notasse
os movimentos que fazia por baixo da coberta.
Agora ela afagava o próprio desejo.
De olhos fechados, viu Denis ao seu lado,
prestes a amá-la...
* * *
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Um dia Suzana estaria ao seu lado; ele
mandaria buscá-la e se casariam.
Com a mão começou a fazer movimentos...
Estava excitadíssimo.
Fez de conta que estava possuindo Suzana.
E em pouco tempo atingiu o clímax...
Levantou-se para lavar as mãos e tornou
a deitar-se, desta vez mais aliviado.
E a figura doce de Suzana lhe veio novamente
à mente, no último encontro...
* * *
* * *
* * *
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Sentia uma ânsia de viver como nunca
antes em sua vida.
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capítulo 4
O emprego
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Assim, na segunda-feira aprontou-se
com vivacidade e saiu Tomou a condução
e dirigiu-se à repartição na qual fizera o
teste. À medida que se aproximava começou
a temer que não fosse aceito. Apesar
da carta de recomendação. Apesar de ter.
feito um bom teste.
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Aí, então, seria feliz, completamente
feliz.
* * *
* * *
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Uma noite, depois da novela, Cândida
falou de uma idéia que tivera:
— É mesmo...
— Seria muito melhor pra todo mundo
Logo a alegria de Dália se dissipou.
— Mas será que ele aceitaria morar tão
longe? O emprego dele é na cidade.
— É, este é o único impecilho...
E Dália odiou morar no subúrbio. Até
então não se importava muito com o fato.
Mas qualquer coisa que servisse de obstáculo
entre ela e Denis, fazia com que imediatamente
passasse a odiar. Assim como
odiava Suzana.
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apesar de não ter dito o dia em que voltaria
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Desta vez não chovia.
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— Deve vir amanhã.
— A senhora acha?
— É bem provável.
* * *
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capitulo 5
Alegria
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No emprego ainda não tinha intimidade
com os colegas.
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— Oi, Denis, como vai? — perguntou
Cândida
— Bem, e a senhora?
Ela o convidou a entrar.
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Ele jantou com elas.
* * *
As visitas se sucederam.
* *. *
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capitulo 6
O passeio
De tarde, sugeriu:
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dois saíram mais ou menos às três da tarde.
— Quer ia ao cinema?
— Não. Podemos ficar só passeando.
A moça lembrou-se do reduzido orçamento
de Denis e não queria forçá-lo a
gastar.
— Eu sou noivo
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— Você já me disse isso.
— Gosto muito de Suzana.
— Ela tem sorte...
Dália envergonhou-se depois que disse
isso. Não queria revelar seus verdadeiros
sentimentos
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Como se tivessem combinado, os dois
levantaram-se do banco.
* * *
perar.
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Em vez de ir direto para casa, Denis
deu uma volta pela Cinelândia, na esperança
de encontrar Silvia.
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capítulo 7
Prazer
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Enlaçava-o com as pernas, dominava-o,
fazia com que o rapaz ficasse nas mais diversas
posições.
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vez por mês. As outras, ela vinha de graça,
de livre e espontânea vontade, porque realmente
sentia prazer com Denis...
* * *
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rante muito tempo, num beijo que parecia
interminável
* * *
* * *
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No entanto, no domingo seguinte, lá es
* * *
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— Eu o amo, Denis.
— Eu sei disso.
— Desde o primeiro dia em que foi lá
em casa.
— Eu também senti qualquer coisa.
Não pense que fiquei tão indiferente como
demonstrei.
— Você ainda pretende continuar o
noivado?
— Não sei, Dália.
— Não sabe?!
— Vai casar com Suzana?
— Também não sei.
— E eu?
— Nunca a enganei.
— Claro...
— Não queira estar no meu lugar. Não
posso terminar com Suzana.
— Ela está longe, logo vai esquecer você.
É capaz até de já ter outro.
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— Não acredito.
— Você não está lá em sua terra pra
saber. do mesmo modo que ela não sabe
que você está namorando comigo.
— Não posso fazer uma sujeira destas
— Não é sujeira.
— Não vamos falar mais nisso hoje, tá
icsal?
* * *
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A jovem entrou meio encabulada
Dália observava-o.
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Voltou-se entáo, e ela verificou o quanto
o rapaz estava excitado.
Beijaram-se.
Murmurou:
— Denis...
alcançaram o clímax.
* * «
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se mais casar. Mas isso era um raciocínio
de pessoas antiquadas. Hoje em dia não tinha
mais isso. Até já lera que era bem melhor
o homem e a mulher se conhecerem
sexualmente antes de casarem Assim, o casamento
poderia ter mais chances de ser
bem sucedido.
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momento teve medo que a mãe tivesse descoberto
tudo.)
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Desvirginara Dália do mesmo jeito que
fizera com Suzana.
E agora?
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E depois, gostara de Dália na cama
* * *
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Cândida dormia tranqüilamente.
Dália, não.
Deitada na cama, virava-se de um lado
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capítulo 8
As cartas
"Suzana querida:
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Aqui não. É tudo muito distante. Fazemos
verdadeiras viagens, todos os dias, para
chegarmos no emprego. E quando voltamos
para casa, muito cansados, não aguentamos
mais fazer nada. Só dá vontade de
cair na cama e dormir.
Absolutamente impossível.
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Você é jovem, bonita. Encontrará outro
que queira casar com você.
Eu a amei.
Um beijo,
Denis."
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Talvez ela chorasse quando a lesse.
Enxugaria as lágrimas.
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Mas no último instante desistiu de enviá-
la. Precisava pensar melhor. No outro
dia colocaria a carta no correio. Um dia
a mais ou a menos não tinha importância.
* * *
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co mais tarde, e teriam, então, mas tempo.
* * *
— Pra mim?
— Sim.
Só podia ser de Suzana.
Mas lembrou-se que podia ser também
dos pais.
Recebeu o envelope que o empregado
lhe entregou.
Olhou o remetente. Era de fato Suzana.
Ele quis abrir logo, mas deixou para fazê-
lo no ônibus, enquanto fazia a viagem
para o emprego.
* * *
E começou a ler:
"Querido Dênis:
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Já era para ter lhe contado nas outras
cartas, mas não sabia como, não tinha coragem.
Uma coisa ao mesmo tempo maravilhosa
e terrível me aconteceu.
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"Eu não estou desesperada, apesar de
tudo. Apenas com um certo receio de que
você não fique contente com a notícia.
Um filho seu.
E continuou a leitura.
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E como meus pais são. Eles têm a mentalidade
atrasada, estão vivendo no século
passado. E quando descobrirem que vou ter
um filho, certamente vai acontecer uma
cena dolorosa.
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E todo o amor que sentia por ela ressurgia
das cinzas.
E começou a recriminar-se.
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reção ao emprego. Não tanto, porque podia
chegar atrasado. Isso no momento lhe
parecia secundário. Talvez estivesse quase
correndo para ver se conseguia fugir de si
mesmo
Chegou no emprego.
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Ele, que nunca costumava errar quando
datilografava, não conseguia bater trêstéelas
sem cometer um erro.
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do, mas tinha vontade de tomar um pile
que, gastar as reservas do dinheiro que tinha
para passar até o fim do mês com bebida.
Era Silvia.
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Tiraram a roupa no escuro e deitaram-
se na cama.
O colega de Denis roncava.
Silvia deitou-se com o rapaz
Os dois se abraçaram. E pela primeira
vez ele também sentiu ternura por Silvia.
Silvia delirava.
* * *
* * *
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Denis não conseguiu acordar a tempo
de ir para o trabalho. A cabeça doía. Sentia-
se um trapo.
ses.
Retornou ao quarto.
Viajaria no sábado.
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Apesar de sentir uma ponta de remorso;
não era tão culpado assim.
1. 1 6—
capitulo 9
O destina de cada um
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local onde ela fazia ponto Teve novamente
a sorte de encontrá-la:
o amedrontava.
E ansiou que chegasse logo o momento
de ver de novo Suzana...
* * *
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No domingo, Cândida e Dália passaram
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Dirigiu-se à pensão onde tinha passado
horas de amor inesquecíveis
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tava com uma sunga minúscula, e parecia
excitado, ou melhor, estava excitado.
A jovem, apesar de toda sua perturbação,
notou o fato.
Ele perguntou:
— Eu não sirvo?
Ela se virou, olhou e viu que ele era
bem mais bonito e desejável do que Denis.
Sentiu-se tentada.
O rapaz ainda disse:
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Não adiantava chorar.
E logo ali. disponível, estava um outro
homem que talvez lhe proporcionasse mais
prazer ainda.
Ele insistiu:
— Você vem?
— Venho, sim.
— Domingo, às três da tarde, combinado?
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