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O mano mais novo

O David tinha um irmão mais novo que o seguia para todo o lado.

No início era muito engraçado, ver o mano sempre atrás dele quando ia da sala para o
quarto, do quarto para a cozinha, … mas ao fim de algum tempo, o David estava a ficar
cansado de ter sempre o seu mano atrás de si. Quando o David estava a estudar, o mano
trazia os carros e fazia barulho; quando estava a lavar os dentes, o mano ia buscar a sua
escova de dentes e colocava-se ao seu lado a lavar os dentes; até quando estava a brincar
com os seus amigos, o mano andava atrás dele.

O David nunca pensou que o seu pedido tivesse este resultado; é que ele tinha pedido
muito aos pais para ter um mano, mas… não era isto que ele tinha pensado. Na verdade,
ele queria um irmão mais velho que jogasse à bola com ele (o mano não conseguia dar
grandes pontapés na bola), que lhe fizesse companhia na escola (o mano ainda estava a
aprender as cores), que dividisse os castigos com ele (os pais diziam que o mano era
muito pequeno e não sabia o que fazia).

Não, não era nada disto que ele tinha pensado! E agora não podia fazer nada. Não havia
nenhuma loja onde se conseguisse trocar um mano mais novo por outro, mais velho, a
estrear.

Então um dia, enquanto remexia no sótão (escondido lá, para o mano não o encontrar),
encontrou uma arca cheia de velharias; lá dentro estava uma caixa com uma fechadura.
O David procurou a chave por todo o lado até a descobrir. Quando abriu a caixa, depois
de espirrar por causa do pó, saiu de lá de dentro um homenzinho muito pequeno (do
tamanho de uma mão aberta), vestido de uma forma engraçada e, imaginem só, azul!
Mesmo azul, da cabeça aos pés (e não falo da roupa). O homenzinho agradeceu ao
David e perguntou-lhe se o podia ajudar em troca do favor que o David lhe tinha
acabado de fazer. O David disse logo que sim, claro que podia. E se ele pedisse ao
homenzinho para que o irmão deixasse de andar atrás dele o dia todo? O homenzinho
respondeu-lhe que sim, que amanhã o irmão já não andaria o dia inteiro a segui-lo. O
David mal podia esperar pelo próximo dia.

Quando acordou no dia seguinte viu que o irmão não estava na cama dele. Espreitou
pela casa todo e nada. Uau! Não tinha mais o irmão atrás dele, nem a derrubar as suas
construções, nem a atrapalhar os seus jogos.

O dia foi passando para o David, mas havia qualquer coisa estranha: ele não conseguia
perceber porquê, mas não conseguia entreter-se com nada: o computador não tinha
piada, fartava-se rapidamente dos carros e nem à bola lhe apetecia jogar.

Bem, a verdade é que sentia algumas saudades do mano, porque às vezes ele até tinha
graça; estava sempre pronto para brincar ao que o David queria, ria sempre das suas
palhaçadas e até era engraçado ensiná-lo a jogar (mesmo porque o David ganhava
sempre os jogos, a não ser que quisesse mesmo perder).
Ao fim do dia, o David já estava arrependido; se calhar era melhor ter um irmão
pequeno atrás dele do que nenhum; e depois ele haveria de crescer e deixar de ser
trapalhão e começar a ir para a escola (e a ter trabalhos de casa). Voltou ao sótão para
ter uma nova conversa com o homenzinho azul. Mas a caixa estava vazia e não estava lá
mais ninguém. E agora? Se não encontrasse o homenzinho nunca mais veria o irmão. E
os pais? Iam ficar tristes. Como é que ele ia resolver isto?

Pensou, pensou e tornou a pensar. Mas nada! Por mais voltas que desse não conseguia
encontrar uma solução. Estava tão concentrado que chegou rapidamente a hora do jantar
e a mãe foi chamá-lo para a mesa. Sem saber como ia dizer aos pais que o mano nunca
mais voltava, muito triste, lá desceu para jantar.

Quando estava a chegar à porta, sentiu algo a agarrá-lo; qual não era o seu espanto
quando viu o mano de volta dele. Então o que tinha acontecido? Como é que o mano
voltou a aparecer? Que grande confusão!

Afinal o mano tinha ido de manhã muito cedo levar as vacinas e depois tinha ido
passear com o avô. Só tinham voltado à tarde, mas o David estava no sótão tão
concentrado que não os tinha ouvido chegar.

O David ficou tão contente e tão aliviado! Nunca mais voltava a pedir que o mano fosse
embora (por mais chato que o mano pudesse ser).

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