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Harry part

Harry tirava forças de seu próprio respirar para conseguir sair de sua cama macia, tudo em
que ele pensava lhe dava razões para que continuasse deitado em seu mundinho pequeno
e incrível onde ele jamais precisaria trabalhar ou pegar em um livro de álgebra na vida,
porém toda essa ideia utópica desmorona quando escuta seu alarme tocar alto.

— Harry, levante, garoto! Está atrasado! – Seu pai Desmond batia em sua porta com
bravura, afinal esse era o segundo aviso que ele deu para o garoto de olhos verdes e
cabelos castanhos. Harry finalmente aparece parado na porta com uma escova de dentes
rosa dentro da boca. — Edward, você ainda está escovando os dentes?! Tenho que levar
para a faculdade em quinze minutos. Sua mãe vai me matar

— Não vai não, ela bebeu muito ontem, pai. Tenho certeza de que nem vai perceber.

Desmond casou-se com Anne em um espaço de tempo onde eles praticamente não se
conheciam 100% e apenas se casaram para sustentar a formação do precioso garoto Harry,
porém isso não significa que eles não se amavam na maior parte do tempo e sim que
Desmond não conhecia Anne direito para tê-la pedido em casamento e quando casou
percebeu que havia manias que o incomodavam; o alcoolismo era uma dessas mas jamais
saberemos se é certo chamar algo tão destrutivo de apenas “mania”.

— Já vou, pai! Estou indo. Calminha, não se descontrole. – Disse Harry calçando seus tênis
vermelhos, desgastados e sujos, porém não havia muito o que fazer já que ele adorava
esse tênis e podemos combinar que quando você não tem dinheiro, não tem benefício de
escolha.

O garoto vivia em sua realidade paralela, era uma pessoa que estava acostumada com a
solidão estufada em seu peito e para isso não o degradar, ele apenas fingia que estava em
um mundo diferente, um que ele não precisaria fingir que estava feliz.

— Pronto. – Disse ele mordendo uma maçã carnuda correndo em direção ao carro.

Era engraçado ele andando e só conseguindo pensar que daria a vida “só mais uma
chance”.

Louis part

Louis fazia incansáveis séries de movimentos usando a barriga, flexionando e esticando,


flexionando e esticando até sentir-se pingando querendo se livrar daquela culpa que ficava
estagnada por debaixo de seus poros e ossos.

— Só mais uma série, Louis, você consegue! – Dizia a si mesmo enquanto mais uma vez
flexionava e esticava.

— Louis, filho, o que está fazendo em pé às 4 e meia da manhã?! – Disse Johannah, mãe
de Louis que possuía olhos azuis marcantes e cabelos escuros.
— Nada não, mamãe. Só aquecimento para o corpo.

— Mas essa hora?! – Disse ela, com o olhar desconfiado que você oferece a um mentiroso
barato. Louis se sentiu um mentiroso barato depois daquele olhar, então o propósito
funcionou.

Ele não poderia falar que estava planejando mais uma hora e meia de exercícios pesados
que acabariam com seus músculos apenas porque comeu uma banana, não é?

Droga. Ele estava ferrado.

— Eu estava estudando, mãe. Você sabe como meus professores são exigentes e eu
batalhei muito para chegar onde estou, não quero perder a chance. – De qualquer forma,
ele não mentiu já que estava realmente estudando antes de fazer exercícios. Desde que
Louis entrou para a UAL (Universidade of the Arts London - Universidade de Artes de
Londres) ele sentia que precisava dar seu máximo, até simplesmente morrer com a cabeça
enfiada nos livros.

— Entendo, filho. Mas você não pode trocar o dia pela noite dessa maneira, já avisei os
males sobre isso.

— Eu sei, me perdoe. Eu te amo, mãe. – Depois de cinco minutos, Louis olhou para cima e
viu os olhos de sua mãe úmidos e avermelhados, sabendo assim que ela estava
extremamente perto de desabar. A verdade era que ela apenas fingia que não sabia e Louis
fingia que ela sabia mentir.

— Eu também te amo, Louis. Eternamente.

Louis se sentia fraco, com fome, ele não lembrava de sua última refeição e se lembrasse
provavelmente lembraria do que fez com ela depois. Ele odiava a sensação. A sensação de
passar os dedos pelo estômago e sentir qualquer tipo de relevo. A sensação de passar os
dedos sobre as costelas e não sentir seus ossos tão perfeitamente. A sensação de sentir-se
um ogro mesmo tendo o sonho de querer ser delicado.

Louis olha fixamente para a fruteira em sua frente, contando calorias de forma tão intensa
que até mesmo a Anvisa ficaria orgulhosa. Ele pega um punhado de 4 morangos, olhando
para a fruta vermelha tão pequena e sutil. Ele as enfia na boca, mastiga e mastiga por
tempo demais e finalmente as engole, sentindo-se assim, cheio novamente. Decidindo-se
não querer pensar nisso naquele exato momento, chamou Lottie, sua irmã, para poderem ir
à cafeteria.

— Lottie, vamos à Gambardella tomar um milk shake?!

Lottie demora aproximadamente seis minutos para responder, resolvendo apenas aparecer
entre a escada e dar seu sorriso de lado. Lottie era linda, loira dos olhos azuis e com um
sorriso encantador, Louis não podia negar seu ciúmes, era como um lobo em cima dela mas
não há como culpá-lo, ela era sua única irmã e era realmente muito bonita. Gambardella era
o lugar deles, era onde tinham suas conversas mais profundas e onde se desencontravam
dos problemas que os assombravam.

— Graças a Deus, maninho. Finalmente falando algo que preste!

— Ok, agora você vai pagar pelo seu próprio milk shake.

— O quê?! Não! – Gritou ela rindo.

— É isso mesmo, medidas drásticas precisam ser tomadas com você, mocinha. – Disse
Louis com um sorriso sacana. Afinal, ele sempre pagava para ela e Lottie já sabia do final
desta história.

Harry part

— O que?! Niall, eu não vou vender metanfetamina!

— Harry, em Breaking Bad deu super certo! Você consegue fazer também! Qual é, é pelo
Arctic Monkeys que estamos falando, sua banda favorita! – Disse o garoto loiro de olhos
verdes.

— Do que adianta ir ao show e depois passar o resto da vida na cadeia?

— Bom, se eu visse o gostoso do Alex Turner antes de ser preso, acho que não me
importaria. – Niall dizia enquanto fechava seu armário cheio de desenhos sem nexo.

— Pensando bem, você está certo. – Disse Harry, sorrindo ao seu melhor amigo enquanto
pensava em diversas maneiras de conseguir ir a esse show.

Desde que o cacheado conhecia-se como gente, o loiro era seu melhor amigo. Obviamente
que eles brigavam as vezes e até mesmo surgiam xingamentos que aterrorizavam qualquer
um que escutasse, mas no final um sempre seria a casa do outro e como os dois sabiam
disso não havia o que se preocupar.

Harry não tinha uma casa grande e também não tinha uma família estruturada (nem
psicologicamente e nem economicamente falando), ele tinha o grande plano de fazer
faculdade e conseguir um emprego que desse para sair de casa e ter uma vida tranquila em
algum lugar deserto longe de qualquer tipo de seres vivos. Ele fazia faculdade de economia
exatamente por isso, mesmo que números não fossem seu forte e ele amasse dançar, ele
não tinha o benefício de escolha.
Harry amava a banda Arctic Monkeys, tudo que envolvia essa banda fazia ele se arrepiar
por inteiro, ele sentia-se envolvido pela música mesmo que não tivesse muita experiência
com o amor e com as dádivas do “tesão”. Ele e Niall eram fãs consideráveis número 1 e 2,
seus sonhos eram curtir um show da banda juntos e ele até mesmo pensou em pedir para
Gemma, sua irmã a qual ele não mantinha muito contato, já que ela trabalhava com
publicidade e propaganda e entrava em diversos shows à trabalho mas Harry achou isso
sem noção demais, até mesmo para ele.

— Ok, mas e se nós participássemos daqueles sorteios de rádio em que eles colocam
ingressos de shows? – Niall deu a ideia sorrateira, enquanto caminhava arrastando-se em
direção à biblioteca.

— Como isso funciona? Você precisa fazer o que para conseguir os ingressos? - Disse
Harry, pensando seriamente em aceitar a proposta totalmente patética e ao mesmo tempo
convincente do amigo.

— Nós nos inscrevemos no site deles para conseguirmos a “entrevista" e depois eles nos
ligam e fazem perguntas sobre a banda. - Disse Niall, surpreso por seu amigo realmente
parecer entretido na proposta.

— Olha, não custa tentar, Nialler! O máximo que pode acontecer é nós termos de ver esse
show pela MTV. Vamos nos inscrever para a entrevista e torcer para que tudo ocorra bem.

Harry e Niall sentaram-se em bancos um ao lado do outro para se inscreverem no site da


rádio, apenas conseguindo pensar que mereciam que algo pudesse dar certo uma única
vez em suas vidas.

Louis part

Eram quatro horas de uma tarde chuvosa em Londres e Louis estava com a cabeça enfiada
em livros de teatro, os testes iriam começar em duas semanas e mesmo assim ele ainda
não estava pronto para nada que estava por vir. Tapava seus ouvidos e ignorava sua
barriga doendo de fome, ele não tinha problema em passar por momentos de fome, no
fundo ele enxergava aquilo como um castigo por achar não estar dando o seu melhor,
mesmo que estivesse.

— Louis, pelo amor de Deus, venha aqui agora mesmo! – Gritava Lottie histericamente. Oh
Deus, hoje realmente não era seu dia de sorte. Ele não havia conseguido ficar 1 hora de
seu dia quieto.

Levantou-se e caminhou até o quarto rosa com as letras formando “Music” na porta. Ele
sempre sentiu inveja que o quarto de sua irmã era maior que o dele.

— O que há?

— Irmãozinho, você não sabe quem vai fazer show em Londres!!! – Disse a irmã saltando e
mostrando todos os seus dentes perante um sorriso enorme.
— Quem? – Disse Louis com a curiosidade aflorada.

— O Arctic Monkeys! Precisamos ir ao show, Lou, por favorzinho. – Disse Lottie fazendo a
sua famosa carinha de pedinte, a qual ela sabia que Louis nunca negava nada quando ela
fazia essa careta.

— Ah, Lottie, você com essa banda de novo?! Já falei que ela é fraquinha.

— A mamãe disse que ela paga se você for comigo, ela não deixa eu ir sozinha. E qual é,
você gosta do The Fratellis, eles e o Arctic são praticamente a mesma banda!

— Retire o que disse agora mesmo, Lottie! – Disse Louis se aproximando devagar.

— Ah não, Louis, não é justo, sai. – Disse a loira saindo correndo e gritando quando
percebeu que seu irmão estava atrás dela.

Louis e Lottie tinham uma relação extremamente agradável, contanto que ele fizesse o que
ela quisesse no momento em que ela dissesse, tudo acabava bem. Ele só não entendia
como aquela pirralha de quinze anos conseguia mandar tão bem em um homem de 21,
afinal ele era um completo capacho quando o assunto era a irmã.

Cansando-se da corrida, Lottie senta-se no sofá e puxa Louis para sentar-se ao seu lado,
onde pede mais uma vez pela compaixão de Louis para levá-la ao show.

– Tudo bem, pequena, eu te levo ao show.

— Jura?! – Disse Lottie com um sorriso imenso, mesmo que Louis não gostasse tanto da
banda, ver um sorriso brotando no rosto da irmã fazia tudo valer a pena.

— Juro.

— Amo você, Louis. Você é o melhor irmão do mundo.

— Também te amo, não quero que você cresça nunca.

A realidade era que ele não queria crescer nunca.

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