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E X P O S I Ç Ã O

M E S T R E D O S S O N H O S
30 de maio a 15 de julho de 2018
Foto capa e contracapa Rafael Martins

CAIXA Cultural Fortaleza


A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima
pelo respeito à diversidade, mantendo comitês
internos atuantes para promover entre os seus
empregados campanhas, programas e ações voltados
para disseminar ideias, conhecimentos e atitudes de
respeito e tolerância à diversidade de gênero, raça,
orientação sexual e todas as demais diferenças que
caracterizam a sociedade.

A CAIXA também é uma das principais


patrocinadoras da cultura brasileira. Em 2018 estão
previstos 244 projetos que receberão patrocínio da
Caixa Econômica Federal, um investimento de cerca
de R$ 44 milhões com ênfase para exposições de artes
visuais, peças de teatro, espetáculos de dança,
vivências e shows musicais, além de festivais de
teatro e dança em todo o território nacional.

Os projetos patrocinados são selecionados via


regulamento público, uma opção da CAIXA para
tornar mais democrática e acessível a participação de
produtores e artistas de todas as unidades da
Foto Helder Ferrer

federação, permitindo a utilização dos recursos com


maior transparência para a sociedade.

A exposição Brennand, Mestre dos Sonhos


homenageia os 90 anos do pernambucano Francisco
Pátio da Oficina Cerâmica Francisco Brennand Brennand, artista em plena atividade e absolutamente
contemporâneo, revelando sua trajetória pessoal e
como um dos mais importantes nomes das artes
visuais do Brasil. Hábil na utilização das mais
diversas técnicas plásticas, interessado na expressão
dos mistérios da origem da vida, Brennand é um
artista potente e isso se consagra quando se conhece o
homem que é. Por isso, a mostra destaca a sua figura,
conectando-a à sua criação. Um conjunto de 31 obras O Mundo dos Sonhos
trazidas da Oficina Atelier Museu Francisco Brennand,
organizadas entre fotografias, textos que ilustram seu
Mais do que uma exposição em comemoração à vida e
universo criativo, relatos de amigos e trechos de seus
à obra deste Mestre, Brennand, Mestre dos Sonhos é
diários escritos desde a década de 1940, constrói uma
uma ode à beleza, à magia e aos encantos que este
espécie de linha do tempo em que é possível reviver o
senhor de 90 anos construiu em seu mundo dos
tempo deste grande homem – um tempo atemporal, em
sonhos: a Oficina Brennand.
que vivacidade, curiosidade, sabedoria e talento se
exibem de forma profundamente bela e inspiradora.
Chegar até lá é como atravessar um portal, se
desprender de lógicas e se entregar às coisas
Desta maneira, a CAIXA contribui para promover e
indizíveis do mundo. É um outro mundo, povoado por
difundir a cultura nacional e retribui à sociedade
seres imaginários – ou reais? –, de novas formas, de
brasileira a confiança e o apoio recebidos ao longo de
símbolos, de coisas tão antigas quanto a própria Terra.
seus 157 anos de atuação no país, com efetiva parceria
no desenvolvimento de nossas cidades. Para a CAIXA,
Atravessamos os caminhos da propriedade de nome
a vida pede mais que um banco. Pede investimento e
Santos Cosme e Damião e chegamos na Oficina. Os
participação efetiva no presente, compromisso com o
guardiões protegendo a fortaleza mágica do Mestre, o
futuro do país e criatividade para conquistar os
símbolo de Oxóssi e os números de sua fundação
melhores resultados para o povo brasileiro.
gravados no chão: 1917 - 1971. Tudo estranho, mas
reverberando profundamente dentro de nós como um
mistério descoberto, como uma porta que se abriu.
Caixa Econômica Federal

Fonte Venus Sequestrada


Desejo que, ao percorrer este caminho da exposição,
todos vocês possam despertar para este sonho de
Francisco Brennand. Que possam sentir o mistério da
vida, a beleza e perceber o quão grande e pequena é
nossa existência. E a arte cumpra sua missão: nos
transformar.
Foto Rafael Martins

Agradeço à CAIXA pela oportunidade de realizar este


sonho, a Rose Lima, parceria do despertar, Francisco
Brennand, pela inspiração, e toda família Brennand e
da Oficina: a generosidade de vocês nos comoveu.

Bons sonhos para todos.

Elaine Hazin
Via Press
Mestre dos Sonhos:
O Sábio Brennand

Foto Rafael Martins


A exposição Brennand, Mestre dos
Sonhos é uma homenagem à trajetória de
um artista – pintor, desenhista, ceramista
e escultor – que nos orgulha por ser um
brasileiro-pernambucano de referências
universais.

Como homem de vasta vivência, do alto


dos seus recém-completados 90 anos,
pode ser tido como um sábio, no sentido
literal, e isso se expressa no seu talento,
habilidades e ciência, com profundos
conhecimentos em várias áreas do saber:
sejam eruditas ou contemporâneas (eis
uma figura atemporal), da literatura à
filosofia, passando pela música e pintura.

O sábio Francisco Brennand é um


homem que sabe em excesso e sua obra
assim o revela.

Segundo o amigo Ferreira Gullar,

“...há artistas que, por assim dizer, se


transportam de tal modo para a obra que se
tornam ela, e outros que, pelo contrário, não
cabem nela, transbordam, por mais obras
que façam e caminhos que inventem.”
Engenho Santos Cosme e Damião
Cerâmica São João
Oficina Cerâmica Francisco Brennand
Engenho Santos Cosme e Damião
O ano de 2017 é de dupla comemoração: dos 90 anos
de Francisco Brennand e dos 100 anos da Cerâmica
São João. Esta fábrica familiar de tijolos e telhas foi
inaugurada em 1917 por Ricardo Lacerda de Almeida
Brennand, pai do artista, dentro da propriedade Santos
Cosme e Damião, na Várzea do Capibaribe, no meio
da Mata Atlântica, em Recife.

Anos mais tarde, o filho então instalou seu ateliê,


futura Oficina Cerâmica Francisco Brennand, neste
lugar que se tornou cheio de significados. Criou uma
espécie de “santuário singular” nas ruínas da antiga
fábrica. Assim, desde 1971, alimenta uma
monumental instalação “work in progress”, formando
um conjunto de evidente identidade artística, que
remete ao sagrado e ao mitológico, com pátios ao ar
livre, grandes muralhas, murais com diversas
inscrições e citações, totens, espelhos d'agua e galpões
diversos povoados com milhares de obras acumuladas,
entre esculturas, murais, painéis, desenhos e pinturas,
que, independentemente do material ou técnica
utilizados, se conectam num mesmo agrupamento
temático: o mistério da origem da vida. Os elementos
associados aparecem no nascimento, no ovo, nas
figuras de corpos e da mulher – geradora da vida.
Cerâmica São João Alquimia com os quatro elementos: fogo, terra, água e
ar. De habilidades múltiplas e uma potência cultural
impressionante, Brennand tem inspirações variadas
que vão da mitologia greco-romana e oriental à
história europeia; de pássaros e animais imaginários às
mais genuínas flora e fauna brasileiras; temas
bíblicos à sexualidade.

Brennand construiu uma moderna nave, a


“Accademia” (2003), para abrigar o seu acervo,
com destaque para as pinturas, sua linguagem
preferida. O conjunto arquitetônico formado
por vários núcleos construtivos, que ocupam
cerca de 15 mil metros quadrados, ainda conta
com um belo jardim idealizado por Burle Marx
(1992); a Capela de Nossa Senhora da
Conceição, uma homenagem ao seu pai e sua
avó, projetada em sintonia com o conceito de
mínima intervenção, sobre as ruínas do século
XIX da casa-grande do Barão de Muribeca,
pelos arquitetos Paulo Mendes da Rocha e
Eduardo Colonelli (2006); o Templo do
Sacrificio (2005); a Reserva Técnica Particular,
o “Estádio” para grandes eventos; e, ainda mais
recente, o Memorial Ricardo Lacerda de
Almeida Brennand.

Ao completar 90 anos, Brennand continua


sendo Brennand. Um dos artistas mais
completos da atualidade e em pleno vapor. Em
sua rotina diária na Oficina, continua criando,

Foto Helder Ferrer


realizando e povoando seu templo, onde cada
obra tem uma força própria, única, mas que, ao
ser agregada ao conjunto, o faz ainda mais forte,
mais coeso. Um local ímpar no Brasil e,
provavelmente, no mundo.

Rose Lima
Curadora

Pátio da Oficina Cerâmica Francisco Brennand


Roteiro para uma visita ao
Mestre dos Sonhos

O convite desta curadoria é fazer o visitante se conectar com o


legado do mestre Francisco Brennand através da exposição de
31 obras que fazem parte do acervo da Oficina Brennand, de
fotografias históricas e textos retirados dos murais da Oficina,
das resenhas dos amigos e dos diários que o artista escreveu
desde a década de 1940 e publicou em 2016. Assim, quase que
como numa linha do tempo, é possível viajar numa história que
se escreve em nove décadas, expressa em arte e beleza. É assim
que enxergarmos Brennand.

Filho de Olímpia e Ricardo Lacerda de Almeida


Brennand – este, um grande empresário bisneto de
ingleses que, ao herdar o Engenho São João da
Várzea e a Usina Central de São João da Barra,
indústrias de açúcar, entre outras propriedades, soube
multiplicar o seu quinhão. Com apenas 20 anos, em
1917, Ricardo abriu sua primeira fábrica, a Cerâmica
São João da Várzea, ambiente no qual o filho
Francisco teve sua vida e veia artística entrelaçadas.

Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand


nasceu em 1927, em Recife, capital do Pernambuco.
Desde muito cedo, começou a conviver com o artista
Símbolo de Oxossi
ferro Abelardo da Hora, escultor convidado por seu pai a
[s.d.]
trabalhar na fábrica. Incentivado pelo ambiente da
olaria e pelos pintores Álvaro Amorim e Murilo La
Greca, Brennand iniciou seus primeiros passos.
Instalou seu primeiro ateliê com 19 anos. Seu
primeiro trabalho é uma cabeça em barro, de
Deborah, que veio a se tornar sua esposa. Logo foi
premiado no 6º Salão de Arte do Museu do Estado
de Pernambuco, em 1947. E, já em 1948, recebeu o
primeiro lugar na sétima edição do mesmo Salão.

Em 1949, junto com a poetisa Deborah, Brennand


seguiu para a França, sendo tutoreado pelo pintor
pernambucano Cícero Dias. O principal motivo de
sua viagem era estudar pintura e aperfeiçoar-se
nesta técnica. Em sua estadia, fez uma imersão em
museus, galerias e visitas a ateliês de artistas.
Surpreendeu-se especialmente com uma
exposição, conforme menciona:

“Logo na primeira semana de minha chegada, carregado


por Cícero Dias, pude apreciar sem nenhum impedimento
uma belissima exposição de Picasso [...], a qual casou-me
uma profunda impressão, fazendo-me de imediato rever
uma enorme lista de preconceitos alimentado abertamente
contra essa forma de arte, apeser de no Recife toda a
minha família ser tradicionalmente dedicada à industria
de cerâmica. Aliás, esses preconceitos desapareceram por
completo quando, em uma tarde, entrando no Museu Jeu
de Paume, deparei com um belo potiche verde celadon, em
cuja etiqueta estava escrito o nome de Gauguin. Então, o
mestre dos mestres também adotou a cerâmica? O fato era
em si inacreditável, não aos meus olhos, mas ao meu
espírito, que naquele momento, já abalado pelas dúvidas,
procurava como se justificar.”
(Diário de Francisco Brennand - O Nome do Livro, 23.fevereiro.1949).

Isso fez com que o jovem Brennand mudasse sua


concepção sobre a arte.
Os desenhos O Sono (1949) e O Sonho (1950)
foram realizados na estadia parisiense, onde
Brennand foi ciceroneado por Cícero Dias e
conheceu um grande número de artistas.

Na década de 1950, ainda fez duas importantes


viagens para a Europa. Em 51, para uma nova
imersão em ambientes artísticos na França,
O Sono O Sonho Espanha, Suíça, entre outros países. Ao conhecer o
Crayon sobre papel Crayon sobre papel
23,5 x 29 cm 22 x 32 cm trabalho de Gaudí, Brennand se encantou e passou
1949 1950
a se interessar por arquitetura. Em 1952, viajou à
Deruta, na Itália, onde aprofundou o conhecimento
no ofício da cerâmica, conhecendo técnicas
especiais com experimentações com pigmentos e
queimas sucessivas, descobrindo, assim, novos
efeitos surpreendentes.

As placas Floral e o Peixe são representativas


da época do seu retorno ao Brasil e reencontro
com a cerâmica.
Placa Floral oval
Cerâmica
67 x 53 cm Na sua volta ao Brasil, o artista redescobriu o
[s.d.]
barro, o forno, as altas temperaturas, e iniciou
novos trabalhos e experimentos na arte da
escultura e cerâmica, sempre se mantendo ligado à
pintura, sua prática preferida. Começou a trabalhar
na fábrica do pai com peças decorativas. Neste
momento, iniciou projetos para murais de grandes
dimensões em ladrilhos cerâmicos para fachadas
de prédios, destacando-se os murais “Pastoral”
(1958), para o Aeroporto Guararapes em Recife,
“Batalha dos Guararapes” (1960-61), “O
Placa Peixe
Cerâmica Canavial” (1961), painel para a fachada da sede da
39 x102 cm
[s.d.]
indústria de bebidas Bacardi em Miami (1963),
“Mergulhadoras” (1974), dentre outros.

Dois desenhos originais dos estudos para


Guararapes, Tricentenário da Restauração
Pernambucana, da série Batalha dos
Guararapes (1954-1961), um painel com 75m2
inaugurado no centro do Recife, mostram seu
trabalho para retratar o episódio histórico que
resultou na expulsão dos holandeses das terras Guararapes,
Tricentenário da Restauração
pernambucanas. Pernambucana [da série]
Batalha dos Guararapes
Monotipia e nanquim s/ papel,
52 x 70 cm
Brennand tem uma trajetória formidável que conta 1954 -1961

com muitos prêmios e dezenas de exposições em


cidades brasileiras e outras tantas no exterior.
Recebeu o Prêmio Gabriela Mistral, conferido pela
OEA em Washington, em 1993. É cavaleiro da ordem
das Letras e Artes da França e já recebeu a Medalha
de Mérito Cultural do Governo Brasileiro.
Painel Batalha dos Guararapes
fragmento - 1961
Após participar de vários Salões em Pernambuco, em
1955 integrou a III Bienal Hispano-Americana em
Barcelona e o 5º Salão Baiano de Belas Artes em
Salvador, onde ganhou uma medalha de prata. Em
1956, participou da exposição 50 Anos da Paisagem
Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo
(MAM-SP). A partir daí, engendrou-se uma brilhante
carreira nacional e internacional, com muitas
exposições.

Basta Brennand começar a falar e já se percebe que


este homem alto, com mãos expressivas, é de
intensos conhecimentos em muitas áreas. Um
erudito que conviveu com grandes artistas – pintores,

Foto Fred Jordão


escritores, músicos. Vem de uma geração que
prezava pela convivência e por observar um ao
outro. Encontravam-se, declamavam, escreviam e
estudavam juntos. Influenciavam-se mutuamente.

Em 1960, Brennand fez parte de um grupo de


amigos que se reuniam em sua casa, no Engenho São
Francisco, para troca de conhecimentos. Eles se
auto-intitulavam “Academia dos Emparedados”.
Neste período, também se arriscou em algumas
incursões nas artes cênicas, realizando cenários e
figurinos para peças teatrais.

Uma amiga com a qual fez grandes e diferentes


pontes foi a arquiteta italiana-brasileira Lina Bo
Bardi. A seu convite, em 1961, Brennand expôs 76
peças em cerâmica, incluindo painéis, placas e
pratos, no recém-criado Museu de Arte Moderna da
Bahia (MAM-BA), cuja primeira sede foi o Foyer
do Teatro Castro Alves (TCA). A partir desta
exposição, Lina publica um artigo sobre a questão
do internacionalismo versus cultura nacional, onde
afirma enfaticamente que a segunda nasce “dos que
olham para dentro de si e em volta deles,
procurando, fatigadamente, nas poucas heranças de
uma terra nova e apaixonadamente amada, as raizes
duma cultura ainda informe, para construí-la com São Francisco
Pintura óleo
uma seriedade que não admite sorrisos. Procura sobre tela,
2,03 x 1,22 cm
fatigada, nos emarranhados de heranças [s.d.]

sofisticadamente desprezadas por uma crítica Acervo


MAM Bahia
improvisada que as define drasticamente como
regionalista e folclórica” (Lina Bo Bardi, artigo no
Diário de Notícias de Salvador, 1961).
Com Lina, partilhou ainda o interesse pela Na década de 1970, Brennand participou do
arquitetura, principalmente a que denomina Movimento Armorial, junto a outros nomes
arqueologia industrial, e aplicou esse novo importantes da cultura pernambucana, entre eles, o
conhecimento na construção da sua Oficina Atelier próprio Suassuna.
Museu.
Nas quatro fotos expostas de Fritz Simon, a
Em 1966, em Salvador, Brennand foi convidado fábrica da Cerâmica São João, quando
a expor em uma sala especial da 1ª Bienal Brennand iniciou sua ocupação.
Nacional de Artes Plásticas, no Convento do
Carmo, onde apresentou, entre outras obras, o
quadro São Francisco, que demonstra sua
reverência à religião católica. Atualmente, a
obra integra o acervo do MAM-BA.

Na Bahia, Brennand foi apresentado ao


candomblé. A marca da Oficina, que viria a fundar,
é o Ofá (arco e flexa), símbolo ligado ao orixá da
caça Oxóssi, que comanda as matas. O sincretismo
é também um traço que permeia suas obras.
Brennand é um protetor das matas e da várzea,
delas retira sua inspiração.

Desde o Colégio Marista, iniciou uma longa


parceria com Ariano Suassuna. De início, fez
ilustrações para os poemas do amigo, que foram
publicados nos jornais da escola e, mais tarde, em
importantes periódicos. Ainda depois, chegou a
criar figurinos para peças de teatro do parceiro.
Nossa Senhora,
[da série]
O desenho original da Nossa Senhora, da série O Auto da
Compadecida
O Auto da Compadecida, cujo texto é do amigo Mista, Nanquim
e lápis aquarelado
Suassuna, é representativo da criação estética sobre papel,
44,5 x 28,5 cm
deste trabalho. 1968
Em 1971, já instalado nas ruínas da Cerâmica São A escultura La Tour de Babel (1975) serviu de
João, Brennand iniciou a recuperação do espaço ao inspiração para o quadro Amarradas I (1981).
tempo que produziu suas peças. Logo no ano seguinte, Demonstra como o artista tinha domínio sobre as
começou a produzir revestimento cerâmico artesanal, diferentes técnicas.
mas em escala industrial, até mesmo para ter respaldo
na concretização da ocupação de todo o espaço, como
exemplo o revestimento de todo o prédio e piso da Amarradas I
Acrílica sobre duratex,
100 x 92 cm
Sudene. Ele participou de uma concorrência e ganhou. 1981
Isso possibilitou o sustento financeiro pelos 2 a 3 anos
iniciais da oficina.

“Trabalhei neste projeto visionário [...] sempre


à procura de um mundo genésico, onde, com
o decorrer do tempo, isso sim, consegui expressar uma
mitologia pessoal. Acrescente-se a esse tempo mais
cem anos e não seria ainda suficiente para terminar
projeto tão atroz. O seu desgaste natural e os olhos
arrebatados das novas gerações saberão como mantê-
lo vivo, novo e cada vez mais antigo como o futuro”.
(Fernando Brennand em O Nome do Livro – 11.set 1992)

Um passeio pela atual configuração da Oficina La tour de Babel


Cerâmica vitrificada
Cerâmica Brennand pode ser feito na tela de plasma. A h. 66 - Ø 33 cm
1975
planta-baixa referenciada com fotografias
transportam ao espaço.

Brennand tem como método de trabalho fazer Na década de 1980, Brennand realizou uma nova
estudos com desenhos e maquetes. Quatro interação com a Bahia. A convite de Paulo Sérgio
maquetes de obras emblemáticas são dispostas: Tourinho, criou vários painéis e esculturas, além de
Serpente, Prometeu, Cavalo de Troia e Venus uma grande quantidade de revestimento para pisos e
Sequestrada, sendo esta última da fonte construída paredes, especialmente para o Hospital Aliança.
na entrada da Oficina, ao lado das esculturas Segundo o próprio artista, esse legado constitui-se no
Comediantes, contemplada no painel fotográfico. seu maior acervo fora da Oficina pernambucana.
A sólida amizade entre o artista e o empresário,
apreciador de cultura, possibilitou uma
transmutação do pensamento cartesiano e levou
arte para o espaço frio de um hospital,

Foto Fred Jordão


proporcionando inusitado acolhimento aos
pacientes e acompanhantes.

“Além da eficiência, a beleza: a beleza da arte de


Brennand, seu esplendor em todo o espaço do
Hospital Aliança. No piso, nas paredes, nos
gabinetes [...], na capela onde se reza: a capela é um
caso à parte, só por si valeria um poema, é por
Parque das Esculturas - Marco Zero (PE)
demais, obra-prima do artista, culminante”
(Jorge Amado - por ocasião de uma temporada
médica no Hospital Aliança, 1994)
Brennand também realizou grandes esculturas em
espaços públicos e privados. Destaque para um
Capela Hospital Aliança (BA)
projeto monumental: “Eu vi o mundo... Ele
começava em Recife” (2000), um parque de
esculturas no Marco Zero da capital
pernambucana, em homenagem aos 500 anos do
descobrimento do Brasil. Entre as esculturas, a
Torre de Cristal, maior escultura realizada por
Brennand, com 32 metros de altura.

Do conjunto de esculturas da Oficina, de


diferentes épocas, estão apresentadas algumas
Foto Rosilda Cruz

que fazem parte de séries especiais e


representativas, como: O Ovo da Serpente
(1977), Antígona (1978), Joana D'Arc
Guerreira (1978), Torre de Babel (1982),
Fonte dos Desejos (1987), Pelicano (1988) e a
atualíssima Ligia (2015).
Antígona Torre de Babel
Cerâmica vitrificada Cerâmica vitrificada
h. 100 cm h. 1.25 cm
Base: 38 x 58 cm Base: 38 x 38 cm
1978 1982

O Ovo da Serpente
Cerâmica vitrificada
h. 62 cm
Base: 38 x 38 cm
1977

Joana D'Arc Guerreira A Fonte do Desejo


Cerâmica vitrificada Bronze
h. 117 cm h. 183 cm
Base: 39 x 39 cm Base: 45 x 45 cm
1978 1987
A preferência de Brennand sempre foi a pintura e, por isso, construiu
uma nova nave dentro dos limites da Oficina: a “Accadêmia”, que foi
inaugurada com a exposição retrospectiva “Brennand: Uma Obra
em perspectiva”, com curadoria de Emanoel Araújo. Deste ambiente,
estão expostas Chapeuzinho Vermelho e o Lobo (1995), A jovem e a
mãe terra (2005) e Toques (Série O Castigo) (2013), além de
autorretratos representativos de várias fases do artista: Auto-retrato
aos 19 anos (1947), Auto-retrato aos 70 anos (1997), Auto-retrato
como Neptuno (1997), Auto-retrato, da série Auto-retrato (2002),
Bonjour Monsieur Brennand (2008) e Estamos Sós (2016), que faz
parte da recente exposição As Névoas de Caspar, de 2017.

A jovem e a mãe terra


Acrilica sobre duratex
92x65 cm
2000

Pelicano
Cerâmica vitrificada
h. 77 cm
Base: 23,5 Ø cm
1988

Ligia
Cerâmica vitrificada
h. 1.36 cm
Base: 63 Ø cm
2015

Toques (Série O Castigo) Chapeuzinho vermelho e o lobo


Acrílica s/duratex Acrílica sobre duratex,
77 x 98 cm 81 x 65 cm
2013 1995
O Brasão

Ele pediu
Que o retrato fosse assim:
No meio de caixotes
Brancos, com faixas
De cor azul,
Seu rosto triste.
Como em Getsêmani,
Os outros dormiam.
Tantas caixas, uma única
palavra:
“Frágil”, gravada
Como legenda.
Auto-retrato, [da série]
Francisco Brennand Auto-retrato
Mista, bastão de cera
sobre papel,
Auto-retrato aos 19 anos 31 x 21 cm
Óleo sobre madeira 2002
42 x 37 cm
1947

Bonjour Monsieur Brennand


Acrílica sobre duratex,
45 x 45 cm
2008
Auto-retrato aos 70 anos
Auto-retrato como Neptuno Acrílica sobre papel, Estamos sós
Mista, Tinta esferográfica, aquarela 49 x 40 cm Acrílica sobre tela colada em duratex,
e bastão de cera sobre papel, 1997 90 x 71,5 cm
50 x 40 cm 2016
1997
O mestre Brennand é tema de dezenas de livros, teses Mesmo vivendo até hoje no seu “universo
de mestrado e doutorado, vídeos e filmes. particular” situado na Várzea do Capiparibe,
Francisco Brennand é um ser em permanente
O documentário “Francisco Brennand” (2012), da conexão com o mundo. Sua vivacidade se abastece
cineasta Marianna Brennand Fortes, sua sobrinha- de um interesse genuíno por tudo e por todos, o que
neta, é exemplar deste conjunto de produções que o mantém com a inspiração potente e com os
desvendam o artista. A diretora também o ajudou na fornos acesos. “Essa curiosidade é que eu conservo
publicação do “Diário de Francisco Brennand”, com em relação a todo o mundo, a todas as coisas e as
quatro volumes, em 2016, que aponta desejos que criaturas, eu não desligo disto”, diz o próprio
motivam sua arte: de saber, de potência criativa, da artista.
vontade de dizer e da demanda por amor insaciável.
Em um dos murais espalhados pela sua Oficina, lê-
se uma inscrição de Carlo Levi: “O futuro tem um
“O Diário não busca legitimar sua arte nem coração antigo”. Para Brennand, que nunca deixa
seus relatos de encontros significativos são atos de se reinventar e reinterpretar o que já conhece,
vulgares de esnobismo, mas a revelação de ideias, isto que é sabedoria.
imagens, escrituras e experiências
Lançamento do Diário de Francisco Brennand - 2016
que se incorporam ao seu processo. Tanto fôlego
para escrever exigiu ainda mais fôlego para viver,
para lembrar-se de tanta urgência, para aceitar
ser impossível esquecer como condição inquieta
do artista”.
(Paulo Herkenhoff na Apresentação do Vol. 1 de
Diário de Francisco Brennand)

Do casamento com Deborah Brennand (1927-2015),


sua companheira desde os tempos do Colégio
Osvaldo Cruz, teve duas filhas: Maria da Conceição e
Maria Helena. É pai também de Helena Viktoria,
Fabrício e Oliver.

Foto Fred Jordão


Realização - Via Press Comunicação e Eventos
Direção Geral - Elaine Hazin
Curadoria - Rose Lima
Projeto Expográfico - Rose Lima e Fritz Zehnle Jr.
Assistentes do Projeto Expográfico - Suellen Santana
Revisão de textos - Paula Berbert
Coordenação Geral - Via Press Comunicação e Eventos
Coordenação de Produção - Raína Biriba
Produção Executiva - Rebeca Lisboa e Catriel Chamusca
Produção de Montagem - Marina Alfaya
Produção Local - Daniele Yanes
Montagem - K&F Produção / Agile Montagem - Kelviane Lima, Amanda Oliveira,
Renan Coutinho, Julio Cesar, Jonathan Hudson e Rony Laureano
Iluminação e Eletricista - Francisco Ivanilson
Pintura e Marcenaria - José Nerivan, João Paulo, Jocélio dos Santos e Esmael Muniz
Laudo Técnico - Marinez Teixeira
Comunicação Visual - Belmiro Neto e Patrícia Simplício (Lado B)
Assessoria de Imprensa - Capuchino Press
Documentário “Francisco Brennand” - Mariana Brennand Fortes
Vídeo da Entrevista - Vitor Giovanni Branco
Edição Vídeos - Yuri Rosat
Iluminação - Caco Peukert
Fotografia - Rafael Martins, Celso Pereira Jr., Fred Jordão,
Helder Ferrer, Jailton Costa, Rosilda Cruz

Apoio Institucional - Oficina Cerâmica Francisco Brennand,


Diário de Pernambuco, Museu de Arte Moderna da Bahia
Patrocínio - Caixa Econômica Federal e Governo Federal

Agradecimentos:
À Oficina Cerâmica Francisco Brennand: Maria da Conceição Brennand; Maria Helena
CAIXA Cultural Fortaleza
Brennand; Marinez Teixeira da Silva; Fernanda Barbosa; Cristiane Dantas; Helcir Roberto de Almeida;
Av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema
À Cláudio Fontoura Junior, Luiza Zehnle, Tereza Sales, Zivé Hiudice. Informações: 85 3453.2770
Agradecimento especial - e carinhoso - ao Mestre Francisco Brennand e à família Brennand

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