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REVISTA

SARAU DA ALEPON
Publicação Oficial da Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova/MG

Hosp Noa Senhora das Dores:


150 Anos De Histórias, Saúde e Literatura
Foto: Alexandre Sammy (Criativo)

Junho/2023
Expediente
Revista Sarau da ALEPON
Publicação Oficial, N.8
Distribuição Gratuita
Circulação – Junho de 2023

Conselho Editorial
Júlio César de Oliveira
Gilson José de Oliveira
Alfredo Padovani - Registro Profissional 08.779

Projeto Gráfico e Diagramação


Dayane Godoy - (31) 99566.6460

Editores / Revisores
Gilson José de Oliveira
Alfredo Padovani

Páginas
50 páginas

Os textos assinados são de inteira


responsabilidade dos autores.
PALAVRAS DO
PRESIDENTE
Alepon na era Global
Há 29 anos a Alepon – Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova –
vem lançando luzes de interação na produção literária e das demais artes. Fundada no
dia 13 de junho de 1994 na cidade de Ponte Nova, tem objetivos voltados à promoção
de atividades e finalidades de relevância pública e social, especificamente, como
acolher como seus membros intelectuais nas áreas de Letras, Ciências e Artes.
Valorizar, engrandecer e estimular o desenvolvimento cultural da comunidade ponte-
novense, propugnando por melhor conhecimento da sua história. Valorizar as
produções literárias, artísticas e científicas no âmbito do município e da região,
apoiando-as e divulgando-as.
Seu quadro social compõe-se das seguintes categorias de associados, chamados
“acadêmicos” ou “membros”: efetivos, honorários, beneméritos e correspondentes.
Entre os sócios correspondentes, a Alepon conta com membros em várias cidades,
como Florianópolis, Curvelo, Manhuaçu, e Porto, em Portugal, onde se destaca a
figura de Oliveira Ribeiro, poeta que tem feito um trabalho digno de louvores, não só
divulgando as produções dos nossos acadêmicos na terra de Camões, também
organizando lá o Prêmio Mário Clímaco, em sessão de intenso brilho artístico e
altíssimo gosto estético.
Oliveira Ribeiro vem a Ponte Nova neste mês de junho, e recebe aqui a comenda
Lilá Mucci, em função do seu empenho incansável pela divulgação da Alepon. Seja
muito bem-vindo!
O trabalho da Academia há de seguir, conectando-se, não só com os países de
língua portuguesa, também com outras organizações mundo afora, que nutrem
apreço pela arte e acreditam que ela possa ajudar o mundo a ser melhor.
A Revista Sarau, de produção da nossa Academia, em seu 8º número, quer
apertar esse elo que nos congrega em tantas circunstâncias, nesses tempos de
tecnologias que muito ajudam, mas que também isolam as pessoas. Que estejamos
perto, na alegria de partilhar aquilo que produzimos como dons de Deus.

Acadêmico Dr. Júlio Cezar de Oliveira – Presidente


SUMÁRIO
RICARDO MOTTA: UMA METAMORFOSE AMBULANTE 05
NOITE CULTURAL NO CÉU DAS ARTES 09
RESGATANDO VALORES ATRAVÉS DO LÚDICO 10
JOÃO BOSCO TOMA POSSE NA ACADEMIA LÍBANO-BRASILEIRA DE LETRAS 12
AUTORRETRATO 13
O SUPLEMENTO LITERÁRIO E O MODERNISMO 15
RÉQUIEM PARA LUDOVINA PIRES, EX-PRESIDENTE DA ALEPON 17
NO AR, OS 80 ANOS DA RÁDIO PONTE NOVA! 19
ESPORTE CLUBE PALMEIRENSE, 80 ANOS SERVINDO À COMUNIDADE 20
GRAÇA BIGON LANÇA GERMINAÇÃO 22
FAZENDAS ANTIGAS: UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DE PONTE NOVA 23
LÉO BELICO, A VOZ DE PONTE NOVA EM BUENOS AIRES 24
150 ANOS DO HOSPITAL NOSSA SENHORA DAS DORES 25
PALESTRA E EXPOSIÇÃO NA SEMANA MUNICIPAL DA LITERATURA 26
REI DO GALO GANHA HOMENAGEM NA OAB 28
AS ESCADAS DE ANGÉLICA, OS CONTOS DE JOÃO LISBOA 29
DONA CHIQUINHA: UMA MESTRA NA ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS 31
EFEMÉRIDES DA HISTÓRIA DE RIO CASCA, NOVA FONTE DE PESQUISA 33
OBRAS DE AMÍLCAR DE CASTRO DEIXAM DOM SILVÉRIO 34
CORAL VOZES DO PIRANGA, A SONORIDADE DE PONTE NOVA 36
UM DICIONÁRIO DE POETAS 37
ESPAÇO DOS ACADÊMICOS DA ALEPON 38
Essa frase do compositor Raul
Seixas de ine um pouco o que é o
jornalista, radialista, escritor, diretor
teatral e ambientalista Ricardo Motta.
Com 50 anos de atividades pro issionais
Fotos: Alfredo Padovani

na imprensa de Ponte Nova, ele continua


atuante em jornal semanal e diariamente
numa emissora de rá dio da cidade.
Pioneiro nas questõ es ambientais na
regiã o, foi fundador da primeira ONG do
municıp ́ io, a Associaçã o dos Amigos da
Natureza (APAN). Isso no inal da dé cada
de 1970, quando já atuava como diretor
de teatro e de movimentos culturais.
Ricardo, meio século de atividades culturais em Ponte Nova
Ricardo é autor de trê s livros,
Eu pre iro ser milhares de crô nicas e editor de vá rios
jornais e revistas na mı́dia impressa.
essa metamorfose Sempre foi avesso à s formalidades e
protocolos. Sempre livre na forma de
ambulante. viver e se relacionar com as pessoas.
Do que ter aquela Recebe crıt́icas por isso, mas mesmo os
velha opinião crı́ t icos reconhecem seu talento e
capacidade inventiva.
formada sobre tudo. 5
01 - Quando e como você iniciou seu Palmeiras, com revelaçã o de nomes como
envolvimento com a arte de Ponte Elıźia Dornas, Luciano Sheikk, Maria do
Nova? Carmo Kneipp, Thelma Totino, Sıĺvia Lanna
(tinha 17 anos na é poca) e Neusinha
Meu envolvimento com a arte Kneipp.
começou quando estudava no 1º ano do 2º
Grau (hoje Ensino Mé dio) no Colé gio 02 - Você deve ter muito material escrito
Estadual. Na sala de aula, o professor de nesses seus 50 anos de jornalismo e
Portuguê s, Pires, gostava de debater envolvimento com a cultura. Por que
cultura e ainda tocava violã o. Achava somente três livros lançados?
aquilo revolucioná rio, era 1972. Depois,
agucei meus instintos no Colé gio Dom A pergunta mexe comigo. Na verdade eu
Helvé cio (CDH) com o advento dos festivais escrevi 03 (trê s) livros: “A luta do glorioso
de teatro promovidos pelo Padre Lisboa Sette de Barros contra o Capeta do Atraso
(Geraldo Martins Lisboa), escritor, artista (1986-Cordel)”; “Sette de Barros – O Inıćio
plá stico, maestro, compositor, cantor e de uma Revoluçã o (1993)”; “O Maldito dos
professor. Eu escrevia Esquete ou sketch, Malditos (2004)”. Tenho mais 02 (livros)
pequenas peças de até 30 minutos e prontos e possivelmente vou lançá -los este
ensaiava alunos e alunas para interpretar. ano. Um deles fala da luta ambiental no
Isso era intuitivo. Vale do Rio Piranga, que deveria ter sido
Aprendi a interpretar lendo revistas lançado em 2017 junto com José Alfredo
do SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Padovani, tinha até patrocı́nio, mas fui
Teatrais). Tive acesso à s té cnicas teatrais. atropelado por problemas judiciais e iquei
Estas revistas chegavam em Ponte Nova via fora do prumo e ansioso. O outro reú ne
Dé lcio Teobaldo, com quem contracenei minicontos com o tıt́ulo “As Aventuras de
em 03 peças que foram apresentadas no Dom Ricardo, o Visconde da Prata”, alter
auditó rio/cinema do CDH, que tem 348 ego de Ricardo Motta. Continuo
cadeiras: todas icavam lotadas e ainda escrevendo semanalmente no jornal Lıd ́ er
tinha gente em pé . Notıćias, sobre Meio Ambiente e polıt́ica.
Depois criamos informalmente o Este ano a cidade se surpreenderá com o
grupo cultural Geraçã o Esquina, que se lançamento de vá rios livros, com a minha
reunia no caramanchã o do jardim da Praça atuaçã o como curador. E segredo, por
C i d M a r t i n s S o a re s , e m Pa l m e i ra s enquanto.
(Guilherme Daniel Neto, Antô nio de Pá dua
Iná cio Boneca, Ayrton Pyrtz, Dé lcio 03 - Na sua avaliação, o que de legal e
Teobaldo, José Henrique (professor da interessante está se fazendo no meio
UFV), Tiã o Catarino, Afonso Mayrink). cultural da cidade?
Ainda era pouco. Resolvemos criar o
M A P ( M ov i m e n to A r t ı́ s t i c o Po n te - Vejo com bons olhos a efervescê ncia
novense) com outros atores: Afonso Timã o da Alepon (Academia de Artes, Ciê ncias e
Simplı́ c io (professora da UFV, campus Letras de Ponte Nova), com braços
Florestal), José Carlos Itaborahy Filho, territoriais estendidos para Portugal e
Penha, Edé sio Martins e Cirã o, entre para a Africa, futuramente. Existe grande
outros. Depois veio a Associaçã o Artıśtica e repercussã o das açõ es da Câ mara de Ponte
Cultural e o Projeto Musa no jardim de Nova, com artistas se apresentando em
6
sessõ es solenes e abrindo as portas da lê o jornal impresso e ica dialogando
biblioteca Maria de Abreu para sozinha sobre aquilo? Mas essas opiniõ es
periodicamente criar programas e projetos sã o fundamentadas em fatos ou sã o só dá
que envolvam cultura e arte. sua cabeça?”.
O u t r a á r e a a t u a n t e e n v o l v e o s Pois bem, aqui em Ponte Nova
inanciamentos da secretaria municipal de comecei o jornalismo opinativo ainda na
Cultura, Turismo e Comunicaçã o (Semctc), dé cada de 1979, com o Programa Canal
sob a batuta de Fernanda Ribeiro, que Livre de Participaçã o”, na Rá dio Ponte Nova.
inaugurou o novo espaço cultural que é o Acredito que opinar sobre notıćias faz toda
"CEU das Artes Ruy Merheb, que teve seu o diferença quando falamos de gê nero
pré dio iniciado no governo de Guto Malta, opinativo no Jornalismo. Tento levar aos
2016. Mas, existem movimentos culturais ouvintes no “Programa Acorda Vale/Rá dio
de natureza privada como os grupos de Montanhesa AM 670 Khz”, de segunda-feira
Capoeira, academias de danças, o grupo de a sexta-feira, de 07h30min a 07h40min,
Teatro Viver com Arte. informaçõ es bem apuradas, articulaçã o de
Temos que aplaudir o Circuito de ideias e expressã o pro issional da
Arte com mú sica e gastronomia, a Festa da experiê ncia no assunto. Tenho retorno do
Goiabada, Festival de Mú sica Canta Ponte pú blico nas ruas pelas abordagens das
Nova (Semctc). Tem o Festival de Teatro, pessoas que comentam o que ouviram.
este anualmente. O que chama atençã o é Acredito que a falta de opiniã o na Imprensa
que toda esta movimentaçã o, inclusive das de Ponte Nova se deve a 02 (dois) fatores
bandas de mú sica, está obtendo recursos cruciais, que sã o difı́ c eis de driblar:
de empresas de Ponte Nova, Via Lei Rounet. Censura Polıt́ica e Censura Econô mica. Eu
A cidade nã o para no quesito cultura, p e r d i m e u e m p r e g o p o r o p i n i õ e s
inclusive com shows musicais e artistas divergentes, em 1982. Sei o que é censura e
renomados mundialmente: Erasmo Carlos costumo driblá -la. Publico manchetes que
e Alceu Valença. agradam, mas com crı́ticas pesadas no
texto que segue abaixo na maté ria
04 - Ricardo, você é o único jornalıśtica.
jornalista/radialista que ainda analisa
as notícias e dá opinião sobre elas. Como 05- No início de sua inserção pela
você vê esses novos tempos nos meios de cultura em Ponte Nova, teve contato
comunicação na cidade sem opinião? próximo de Laene Mucci, sobretudo no
quesito teatro. Qual o legado que ela
No site MDG/Marketing de Gentileza deixou para Ponte Nova?
Comunidade existe esta informaçã o: “Você
é daquelas pessoas que assiste ao jornal e Considero a poeta Laene Teixeira
ica conversando com o apresentador Mucci uma irmã quase umbilical. Com Ela
sobre a notıćia que está sendo exibida? Ou aprendi a ser tolerante à s criticas quanto ao

“O FECAPON (Festival da Canção de Ponte Nova),


nos anos de 1977 e 1978, foi marcado por momentos
de alto nível de cultura e ainda teve futebol
reunindo João Bosco, 7 Jaguar e outros.”
meu trabalho como escritor. Meu maior Nova), nos anos de 1977 e 1978, foi marcado
orgulho é ter sido editor do seu primeiro livro por momentos de alto nıv́el de cultura e ainda
lançado em 1977: “A Cançã o de Maria do teve futebol reunindo Joã o Bosco, Jaguar e
Piauı”́. O livro foi lançado durante a realizaçã o outros. Alfredo Padovani, acho que jogou, mas
do I Fecapon (Festival da Cançã o de Ponte vou deixar para Gilson José de Oliveira falar,
Nova, do Interact Clube). Na verdade, o livro por mim sobre o FECAPON. Veja o que o poeta
saiu porque fomos entrevistá -la (eu e Mansur Gilson José de Oliveira escreveu em no
Barbosa) para a Editora Espora, que ZDNEWS: “A digressã o sobre o Pasquim é para
fundamos no Rio de Janeiro, com os parceiros que o leitor avalie quã o revolucioná rio foi o
intelectuais Guilherme Daniel Neto e Dé lcio FECAPON (Festival da Cançã o de Ponte Nova)
Teobaldo. Ela disse na ocasiã o, na varanda de de 1977, que atravé s de Joã o Bosco, trouxe a
sua casa na Rua Aldo Aviani, Guarapiranga: Ponte Nova, na condiçã o de jurados: Jaguar,
“minha entrevista sã o estes poemas que Sé rgio Ricardo, Roberto Moura, Carlinhos
escrevi”. Transformamos em livro. Vergueiro, Joã o Aquino, Rildo Hora, entre
Escrevi sobre sua morte ocorrida em 14 outros. Ou seja, o bunker da resistê ncia do
de setembro de 2017 e li o texto no seu Pasquim veio para Ponte Nova e, apesar de ter
sepultamento no a seu dispor uma
c e m i t é r i o d a casa no bairro
Cidade (Rosá rio) Rasa, frequentou
no dia 15 de por vá rias vezes,
setembro. Eu n a q u e l a
disse que Ponte m e m o r á v e l
Nova nã o icaria semana, o sobrado
mais pobre dos Freitas Mucci,
culturalmente a casa de dona
com a morte de Lilá . O Festival em
L a e n e Te i xe i ra si já foi um ato
Mucci pois seu r e vo l u c i o n á r i o
l e g a d o e s t á naqueles tempos.
perpetuado em Em 1977 se
cada gesto de começava a falar
cultura da cidade. em abertura, mas
E disse ainda que Ricardo, ação ambiental, visitando isso era ainda um
ela era a “Fada a nascente do Rio Piranga em Ressaquinha/MG movimento
Madrinha das Artes” e no seu epitá io deveria tım
́ ido. Em abril, Geisel fechou o Congresso,
estar escrito: Tenho pra minha vida/A busca editando modi icaçõ es nas eleiçõ es do ano
como medida/ O encontro como chegada/E seguinte, o chamado Pacote de Abril. Ainda
como ponto de partida”, trecho do poema de em 1981 haveria o episó dio do Riocentro,
Sé rgio Ricardo, que virou a mú sica “Ponto de quando se tentou explodir um festival
Partida”, ainda na dé cada de 1970. musical”.
Minhas lembranças foram indescritıv́eis.
06 - Que memória você guarda do festival Posso falar sem medo: o maior acontecimento
de música que trouxe a Ponte Nova cultural de todos os tempos em Ponte Nova,
grandes artistas brasileiros nos anos de jamais superado. Foi graças ao FECAPON que
1970? Laene Teixeira Mucci transformou-se em uma
estrela de brilho intenso com o lançamento do
O FECAPON (Festival da Cançã o de Ponte seu primeiro livro, em 1977.

8
Fotos: Divulgaçã o
O público marcou presença na noite de autógrafos de Luciano Sheikk
O Cé u das Artes Ruy 3 ª E d i ç ã o d o P r o j e t o poesia, um romance e 4
Meherb, localizado no Educaçã o, Arte e Cultura. O livros de pesquisa. Já o
Centro Histó rico de Ponte fotó grafo Costa Melo lançou artista plá stico e acadê mico
Nova, é um espaço pú blico uma revista de fotogra ias Ademar Figueiredo
municipal, construı́do com de Ponte Nova, destacando organizou uma exposiçã o de
verba federal. O local abriga os espaços histó ricos. artes plá sticas, explicada
a Biblioteca Municipal e O e s c r i t o r e por ele quanto a ordem de
recebe ou promove eventos acadê mico Luciano Sheikk apresentaçã o que melhor
culturais. Na noite de 30 de fez um relato de suas obras, ajudaria a compreensã o do
março de 2023, promoveu a lembrando os 4 livros de visitante.

Estiveram
presentes alunos da
Escola Municipal
Reinaldo Alves Costa
e de uma faculdade de
Ponte Nova.................
V á r i o s
acadê micos da Alepon
compareceram,
prestigiando o
desempenho dos
c o l e ga s , Ad e m a r e
Sheikk.
9
Estudantes também prestigiaram a Noite Cultural
i
l ú d co
“O Lú dico apresenta valores especı́ icos para todas as fases da vida humana.
O Lú dico resgata a participaçã o das pessoas com uso da imaginaçã o. A educaçã o
lú dica está distante da concepçã o ingê nua de passatempo, brincadeira vulgar,
diversã o super icial. Ela é uma açã o inerente na criança, no adolescente, no
jovem e no adulto e aparece sempre como uma forma transacional em direçã o a
algum conhecimento, que se de ine na elaboraçã o constante do pensamento
individual em permutaçõ es com o pensamento coletivo.”
Revista Sarau dedicam parte do seu Nos velhos tempos, o
destaca uma das tempo contando povo se reunia ao redor
atividades lú dicas mais histó rias por aı́ . Sã o da fogueira para
antigas: Contar elas: Maria das Graças d i a l o g a r, n a r r a r
Histó rias. Uma volta ao Bigon Sanches e Ester acontecimentos.
passado que se faz Alves Magalhaes Contavam e repetiam
presente e contagia. Trindade. histó rias, para guardar
Vamos conhecer duas Contar histó rias é a suas tradiçõ es e sua
a c a d ê m i c a s q u e mais antiga das Artes. lı́ngua.

As acadêmicas Ester Trindade e Graça Bigon


10
numa apresentação em escola da cidade
Estudantes da Escola Municipal Dr. José Mariano e Escola Estadual Senador Antônio Martins
Atravé s da arte de contar histó rias podemos tornar possıv́el a construçã o
da aprendizagem relacionada à competê ncia cognitiva de quem ouve. Em se
tratando da escola, o professor como contador de histó rias, transforma- se em
um mediador privilegiado dentro do contexto da educaçã o, quando leva o aluno à
pesquisa e novas produçõ es, atravé s das expressõ es artıśticas em geral. E uma
experiê ncia de interaçã o entre a pessoa que conta e os que ouvem.

Maria das Graças Bigon Sanches e Ester Alves Magalhã es Trindade fazem
parte da Alepon, na Sessã o Poesia. Elas desenvolvem um trabalho voluntá rio de
Contaçã o de Histó rias nas escolas e entidades, desde que convidadas. Já se
apresentaram nas escolas: Senador Antô nio Martins, Carlos Trivellato, Luıś
Martins Soares Sobrinho, Reinaldo Alves Costa, Quadra Esportiva do Bairro
Triâ ngulo (Semana do Idoso), Encontro de “Vides” - Divinó polis, Escola D. Bosco e
Escola José Maria da Fonseca.
Recriando textos, poesias, estó rias, vã o espalhando sementes de alegria, de vida.
E uma atividade prazerosa que transmite valores e desperta interesses pela cultura.
-Olá ! Eu sou Graça! Nos revestimos de Aqui e ali
- Olá ! Eu sou Ester! alegria Estamos a caminho
Somos professoras. E com muita emoçã o Levando o nome da
Gostamos da arte A “estó ria” lui. Alepon
De representar. No palco, ou atrá s da E o nosso compromisso
Provocar o riso cortina De educadoras
A emoçã o A magia acontece! E sempre uma novidade
E criar um tempo novo. Faz tempo Nã o tem idade
Esticamos um varal. Que vivemos Pra se ouvir “estó rias.”
Amarramos uma cortina. 11
Nessa aventura.
O mê s de março de 2023
foi muito especial para o
cidadã o Joã o Bosco de Freitas
Mucci. Ele tomou posse como
membro efetivo da Academia
Lı́ b ano-Brasileira de Letras,
Artes e Ciê ncias. O ano é
marcante para os libaneses que
vieram para o Brasil. Sã o 140
anos de imigraçã o. O pai de
Joã o Bosco, Daniel Mucci,
Reinaldo e João Bosco: encontro de craques
vendedor de seguros e goleiro
do Pontenovense Futebol Clube (há quem diga que poderia ser
pro issional), deixou o Lıb ́ ano em busca de uma vida melhor. Nas margens
do rio Piranga, em Ponte Nova, encontrou trabalho e a professora Lilá
Freitas (Acadê mica da ALEPON). O casal formou uma famıĺia com muitos
ilhos e muitos artistas.
A A c a d e m i a L ı́ b a n o - Compõ e-se a ALB de 40 membros
Brasileira de Letras, Artes e efetivos, acadê micos de honra,
Ciê ncias (ALB) é uma instituiçã o s ó c i o s c o r r e s p o n d e n t e s n o
cultural inaugurada em 09 de exterior, membros colaboradores e
setembro de 2022, com sede no Rio membros a iliados.
de Janeiro, cujo objetivo é o de O cantor Joã o Bosco tomou
cultivar e preservar a criatividade posse e foi diplomado pelo Cô nsul
literá ria, intelectual, artıśtica e os Geraldo do Lıb ́ ano no Rio Janeiro,
valores culturais do Lı́ b ano e Alejandro Bitar. Ele ocupa a cadeira
á r a b e s n o B r a s i l , a l é m d e de nº 20, cujo o patrono é o saudoso
salvaguardar, promover e divulgar compositor Tito Madi. O pró prio
as obras literá rias, artıśticas e de acadê mico escreveu sua biogra ia.
c i ê n c i a d o s s e u s p a t r o n o s , Vale a pena conferir.
f u n d a d o r e s e a c a d ê m i c o s .

12
Os acadêmicos Alfredo Padovani, Dona Lilá Mucci e o cantor João Bosco

Por João Bosco (Publicado na página da ALB)

H á u m a s u s p e i t a d e q u e a d e s c o n i a d o s d a c o l ô n i a á ra b e
escassez de cabelos na cabeça in lui na pontenovense. Como primeiro ilho
quantidade do sono. Enquanto isso homem ajudei em sua redençã o.
meu nariz aponta para a linha do nada
onde tudo se reparte em ideias, ilhas e Cresci em meio aos matagais,
continentes. Meus olhos con irmam trilhas, mata-burro, veredas e grutas;
tudo. A minha boca é toda ouvidos para descalço, tive os pé s regulados para
o meu coraçã o. Os meus ouvidos andar por esses caminhos ao som de
atentam para outras bocas. pios de uma fauna alegre e ingê nua;
matuto, vivia contando estrelas,
Amamentado pelo meu violã o, ouvindo carrilhõ es e sonhava muito.
moro na estrada. Sem saber quem sou e
nem porque vim, eu vou. Da primeira Quando os libaneses se reuniam
vez que nasci, lá pelo ano de 1946, em nossa casa, se entendiam naquela
trouxe comigo uma grande alegria para lın
́ gua de quem gosta de montar em
o meu pai que até aquele momento camelo. Eu achava aquilo meio
contabilizava o feito de cinco moças e estranho. Era como clamar no deserto.
mais os olhares interrogativos e
13
Logo depois eu aprendi a fumar, cidade natal. Angela, minha
m a t a r a s a u l a s d e u m C o l é g i o companheira insepará vel em todas
Salesiano, e fui apresentado a um anjo essas andanças e mã e dos nossos
de grande topete negro, envergado ilhos, foi criada em Ponte Nova mas
sobre uma guitarra, cuja cançã o dizia t a m b é m é n a t u r a l d a C i d a d e
para mim: Vai Joã o, ser torto na vida. Maravilhosa. Bem que eu devia ter
Passei pela terra de Aleijadinho e o descon iado que aquelas Congadas e
meu coraçã o que até entã o era vadio, Folias me trariam até Clementina de
icou barroco. Subi e desci ladeiras. Jesus. O meu coraçã o icou ativo e
Descobri que na vida existem mais cantou: “Atividade no Abano / Antes
hipó teses que teoremas. Supor é que o fogo se apague”.
melhor que demonstrar e na dú vida
mora a vontade de continuar. Eu sou do signo de Câ ncer, por isso
pre iro uma toca, entretanto aprendi a
Foi assim que deixei a memó ria, o contrariar o meu signo vá rias vezes,
patrimô nio de sé culos construı́dos por isso gosto tanto de viajar por esse
pelas mã os do homem, o calçamento mundo afora, só nã o consigo contrariar
em forma de pé -de-moleque, o silê ncio o meu signo de mineiro.
das almas, o barulho interno de minha
alma. Calcei os sapatos, peguei o trem e Eu sei que esse deveria ser um retrato
vim pra cá , onde as ruas sã o largas, pintado ou desenhado, falado ou
retas e simé tricas; as sirenes sã o escrito do autor pelo pró prio autor,
cortantes e os pastores das almas sã o mas quando se trata de revelar-me,
barulhentos. O vizinho nã o mora ao pre iro assim, meio de lado (do jeito
lado, as á rvores sã o introvertidas e os que a gente anda no samba), no lugar
pios das aves sã o intrigantes. de frente ou verso. O silê ncio, a
liberdade e a terceira margem do rio
Quando nasci da segunda vez, o meu foram inventados em Minas Gerais.
coraçã o bateu a lito. Mas logo que vi o
mar, serenei pois tudo que havia O amor é o meu dia de folga. Meu
existido voltou subitamente e volta melhor trabalho é a minha famı́lia,
sempre quando estou caminhando no minha alegria é Rubro-Negra. Quem
c a l ç a d ã o q u e va i d o L e b l o n a o sabe de mim é o meu violã o. Nesse im
Arpoador. Aı,́ o que foi e o que poderia de semana, se eu nã o for pra Belô , a
vir a ser andam comigo, incluindo as gente se cruza do calçadã o.
sementes, o pã o de queijo e a goiabada
cascã o. João Bosco

Os meus ilhos Francisco e Jú lia


nasceram aqui mesmo cujo padroeiro
(Sã o Sebastiã o) é o mesmo da minha 14
Em valioso artigo na Glá uks: Revista
de Letras e Artes- jul-dez,2022, à s pá ginas
140 a 156, o acadê mico correspondente
da Alepon em Sã o Joã o Del Rei, Nilo da
Silva Lima faz precioso estudo sobre o
Modernismo em Minas Gerais, tendo
como um dos focos o Suplemento
Literá rio, encarte do Jornal do Povo, de
Ponte Nova. O tı́tulo do trabalho é AS
REVELAÇOES CONTEMPORANEAS DO
M O D E R N I S M O : E S C AVA Ç O E S
O escritor e acadêmico Nilo Lima LITERARIAS POR MINAS GERAIS
O artigo apresenta o resultado
parcial de pesquisa em andamento acerca
do centená rio da Semana de Arte
Moderna, a partir da possiblidade de
reescrita da historiogra ia literá ria
advinda da pluralidade de vertentes do
Modernismo pelo interior de Minas
Gerais, especi icamente, em Sã o Joã o Del
Rei e Ponte Nova.
15
Nilo publicou, no ano Ponte Nova e de Minas Gerais”.
anterior, Um Dicioná rio de Poetas O Suplemento Literá rio do Jornal
q u e r e t r a t a u m a p l ê i a d e d e do Povo nasceu 29 anos apó s a
escritores e poetas sã o-joanenses, Semana de Arte Moderna e, nesse
dentre eles, Otto Lara Resende ano 2022, aos 72 anos de sua
(1922-1992), cujo centená rio faz primeira ediçã o, em 10 de setembro
conexã o com as celebraçõ es do de 1950, aos 100 anos da Semana de
centená rio do Modernismo. O A r t e M o d e r n a , e m m e i o à s
esforço por um processo de comemoraçõ es do centená rio desse
democratizaçã o de acesso a esse marco histó rico que trouxe novos
patrimô nio cultural sã o-joanense se ares e inspiraçõ es para a cultura
dá à medida que se estabelece a brasileira, reiteram-se esforços pelo
possibilidade de uma cartogra ia de seu resgate, estudos, pesquisas e
autores sã o-joanenses, que sã o ascensã o ao cená rio dos estudos
patrimô nio cultural da literatura de contemporâ neos de literatura, pela
Minas Gerais e do pró prio paıś. sua pertinê ncia em literatura e em
cultura brasileira.
Dedica um espaço especial a
aná lise do Suplemento Literá rio. O Suplemento Literá rio teve
“Nã o nos é impossıv́el vislumbrar, trê s anos de duraçã o e é fonte
nesse projeto inaugural, no ato de primá ria de riquı́ssima pesquisa
sua criaçã o, os cinquenta anos de p a ra qu em qu er en ten der os
publicaçã o que o Jornal do Povo c ı́ rc u l o s c u l t u ra i s d e g ra n d e
atingiria. Tampouco, atentar-se vitalidade travados em Ponte Nova.
p a r a a c o n s c i ê n c i a d o q u e Teve ampla recepçã o entre os
representava, naquele momento, e intelectuais do paıś.
do que signi icaria para a histó ria e a
memó ria cultural e literá ria de

A íntegra do artigo pode ser acessada em:


https://www.revistaglauks.ufv.br/Glauks/article/view/311/202

16
Pontenovense, viveu a infâ ncia e a
mocidade em Anna Florê ncia, onde
moraram seus pais, Alfredo de Souza
Rodrigues (vindo de Alé m Paraıb́ a) e Edina
Braga Rodrigues (nascida em Cataguases).
Ludovina aposentou-se de cargo efetivo na
Superintendê ncia Regional de Ensino e foi
diretora da Escola Municipal Dr. José
Mariano. Foi també m professora na FAVAP-
Faculdade de Ciê ncias Humanas do Vale do
Piranga, ministrando Teoria Literá ria e
Introduçã o ao Estudo de Texto.

Suas primeiras incursõ es na Literatura,


no tempo de inıćio do magisté rio, foram
marcadas pela ediçã o de peças teatrais,
discursos, jograis, adaptaçõ es, crô nicas e
composiçõ es em prosa e verso. Ludovina foi
Professora Ludovina: educação e literatura uma das responsá veis pelo "Entrelinhas",
Faleceu no dia 28/8/22, s u p l e m e n t o l i t e r á r i o d o j o r n a l " O
a ex-presidente da Alepon Municı́pio". Escreveu os livros "Cantos e
L u d o v i n a d a C o n c e i ç ã o Recantos" , "Vozes de Rua" e “Contos de
Aparecida Rodrigues Pires, 87 Aprendiz”.
anos. Ela foi a 7ª presidente da
Graduada e pó s-graduada em Letras
Alepon, no biê nio 2006 a
(Lıń gua Portuguesa e Suas Literaturas) na
2008. Antiga moradora do
PUC/MG, em 1975, ela cursou Pedagogia na
bairro Palmeiras, ela deixa o
Faculdade de Sã o Joã o Del Rey (lato sensu
marido, Antô nio Paulo Pires
em Administraçã o Escolar). Participou das
(Jared), um ilho, seis ilhas,
Antologias Del Secchi e da Faculdade de
genros e netos.
Ciê ncias Humanas/Favap - Ponte Nova e das
trê s Antologias da Alepon, que també m
ajudou17 a organizar.
Ludovina (quarta jogadora em pé da esquerda para a direita): pioneirismo
no futebol feminino em Anna Florência

Participou de congressos e cursos de extensã o, alé m de ciclo de


estudos literá rios na Universidade de Catâ nia/Itá lia, em 1994. Recebeu
vá rios prê mios - Trofé u Excelê ncia Cultural, no Esporte Clube Palmeirense,
e Mençã o Honrosa, na Academia Montesclarense de Letras - e icou em 3°
lugar no Concurso de Poesias do Sindicato dos Professores/MG.

18
Por Alfredo Padovani

No ú ltimo dia 26 de fevereiro, a Rá dio O rá dio era o lugar onde se brincava
Sociedade Ponte Nova completou 80 anos de calouro e concorria a prê mios nos
de existê ncia. Lá no distante ano de 1943, programas de auditó rio. Onde se vibrava
surgia uma emissora no interior de Minas, sem poder ver com os des iles das escolas e
fruto da coragem e determinaçã o de blocos carnavalescos. Onde, em frente ao
pessoas empreendedoras, reunidas em radinho à pilha, muitas vezes as lá grimas
torno da Associaçã o Comercial e Industrial rolaram ao ouvir as mú sicas româ nticas. O
rá dio, esse velho e insepará vel amigo, que
de Ponte Nova. Quantas histó rias, notıćias,
vem me trazendo emoçõ es desde que me
prestaçõ es de serviços foram irradiadas
entendo por gente. Esse rá dio que um dia
atravé s dos seus microfones! E até difıćil de me permitiu falar aos seus microfones,
quanti icar. Fato é que a emissora faz parte realizando um sonho de criança.
do cotidiano da cidade e da regiã o.
Viva o rá dio com todas as suas
i m p e r f e i ç õ e s e p e r f e i ç õ e s d e u m
equipamento que une e faz companhia.
Vivam os locutores, sonoplastas, té cnicos,
redatores e todo seu pessoal de apoio.
Parabé ns à Rá dio Ponte Nova! Que sua vida
seja longa até onde suas ondas possam
encontrar um ouvinte.

Minha homenagem à queles que


passaram pela Rá dio Ponte Nova nesses 80
anos. ZYL 279: Rá dio Sociedade de Ponte
Nova - uma emissora que impulsiona o
Joel Saltarelli e esposa Nélia: proprietários
da Rádio Ponte Nova por mais de 40 anos progresso da Zona da Mata.

Sou de uma geraçã o que cresceu


ouvindo rá dio. Curtia cada cançã o
executada. Que se informava com seus
n o t i c i á r i o s . Q u e a c o m p a n h a v a a s
transmissõ es esportivas, principalmente o
futebol. Que mandava recado na
adolescê ncia para a garota por quem se
estava apaixonado. Onde acompanhava a
santa missa aos transmitida domingos. 19Equipe de Esportes da Rádio Ponte Nova na década de 1970
Este ano de 2023 marca os 80 anos do Esporte Clube Palmeirense. O nome
Palmeirense vem do bairro Palmeiras, criado em 1895, pelo entã o prefeito de Ponte Nova,
José Mariano Duarte Lanna. Por sua vez, o bairro adotou o nome da fazenda que ali existiu,
a Fazenda das Palmeiras, cuja sede se tornou o Colé gio Auxiliadora.

O esporte, mais precisamente o futebol, chegou ao bairro por volta de 1912 e logo
ganhou adeptos. Durante quase 30 anos, vá rias equipes esportivas surgiram e acabaram
em Palmeiras. As mais duradouras foram “Marianos" e "Brasil". O nú cleo inicial do que

Fotos: Isabella Ottoni

viria a ser o Palmeirense se formou em 1913 com o nome de Brasil Futebol Clube. Trinta
anos depois, em 10 de outubro de 1943, surgiu o Esporte Clube Palmeirense, reunindo
todos os desportistas do bairro sob uma mesma bandeira. O ato aconteceu no Cine Brasil,
em assembleia presidida pelo professor Antô nio do Carmo Pinheiro.

Já o Está dio Má rio Lobo, o Pau D’Alho, tem o inıćio de sua construçã o em 1945, em
terreno doado pela prefeitura, atravé s do prefeito Cid Martins Soares. Em 1949, o
Palmeirense tornou-se campeã o da cidade jogando já no seu Está dio.

Em 1967, a Praça de Esportes se tornou o grande espaço dos associados. Muitas


melhorias foram feitas e mais tarde, incluiu-se o Giná sio Coberto, inaugurado em 26 de
novembro de 1986.

20
A Sede Social, na Travessa Antô nio Gomes de Queiroz, projeto arquitetô nico do
engenheiro Aldo Aviani, só icaria pronta em setembro de 1974.

Esse valioso patrimô nio da cidade, chamado Palmeirense nã o é só fıśico, é
també m a memó ria de muita gente querida, muitas realizaçõ es, promoçõ es, eventos,
presenças e ausê ncias.
Trata-se de um Clube que tem sua marca no
cená rio esportivo mundial, dado que por aqui
passaram també m atletas que brilharam na
seleçã o brasileira de futebol, de vô lei, de
handebol, e artistas que dançam, cantam e
representam mundo afora. E uma histó ria de
arrojo e determinaçã o.

O Esporte Clube Palmeirense, alé m de


atividades como escolinhas de futebol de
campo e dos esportes especializados (futsal,
vô lei, handebol, basquete e nataçã o), há muitos
anos cede suas dependê ncias para os grupos da
terceira idade e de outras iniciativas populares e
ilantró picas. Em 1995, promoveu juntamente
com a Associaçã o dos Moradores e Amigos de
P a l m e i r a s ( A M A - PA L M E I R A S ) , a s
O famoso escudo
do Clube Indio das Palmeiras
comemoraçõ es dos 100 anos, e em 2015, os 120
anos do bairro de Palmeiras. Vá rias sessõ es
solenes e saraus da Alepon foram ali realizados,
seja no Salã o Cacau Mayrink, seja na Sede Social.

O Departamento Cultural do EC Palmeirense sempre foi aberto ao


pú blico para eventos escolares, grupos teatrais e festivais de mú sicas e
declamaçõ es. Sediou e bancou durante mais de 20 anos o Prê mio Xeleco de
Cultura e eventos culturais e bene icentes. Trata-se de um Clube aberto
constantemente à comunidade, um espaço absolutamente democrá tico, a
serviço de Ponte Nova. Sã o 80 anos de uma bela histó ria.

21
Graça Bigon, acadê mica ilosofar e poetar.
da Alepon, professora O livro revela uma
de Geogra ia, acaba de autora preocupada com
publicar seu livro de a bondade do mundo,
poesia, Germinaçã o. com pessoas boas, com
Nele, reú ne poesias de relacionamentos que
Fotos: Gilson José de Oliveira

vá rios momentos da tragam valor, seja com o


existê ncia, nos quais mundo, seja com o ser
revela sua busca pela humano, pois um viver
essê ncia das coisas, a ecoló gico se faz urgente
essê ncia de si, o valor da para a segurança do
vida. Sã o como que p l a n e t a . A ı́ é q u e a
salmos rezados e Geogra ia se casa com a
cantados no dia a dia, na poesia, pois a paisagem
simplicidade, mas que q u e o h o m e m
n a v e r d a d e é t u d o transforma necessita de
complexo e precisa ser humanidade e da
traduzido pelo sensibilidade e nã o de
sentimento, pelo e x t e r m ı́ n i o e d e
pensamento, pelo exploraçã o.

“Eu nã o consigo entender o homem aqui na terra destruindo á rvores, lorestas.
Tudo, tudo é belo”. Ou seja, a esté tica da poesia se casa com esté tica da vida, até porque
a vida nã o pode dissociar-se da poesia.

En im, é um vir e ir dentro de si, levando algo que construa o mundo, ou pelo
menos ajude a construir, e algo trazendo que a eleve, transcenda, poeticamente
ressigni icando. Saudamos com alegria a publicaçã o de Graça Bigon. Declamadora,
colaboradora sempre presente, agora acadê mica, entrando nesse processo de
germinaçã o da poesia.

22
Fazendas Antigas: Um passeio
pela História de Ponte Nova
Os acadê micos da Alepon, Gilson José
de Oliveira e Alfredo Padovani, lançaram, no
inal de 2022, a revista Fazendas Antigas,
um passeio pela histó ria de Ponte Nova, por
ocasiã o dos seus 156 anos de emancipaçã o
polıt́ica. Alfredo, jornalista, Gilson, iló sofo e
teó logo, pó s-graduado em Histó ria do
Brasil, abordam o protagonismo polıt́ico e
Fotos: Alfredo Padovani

econô mico da regiã o, alcançado com a


intensidade da produçã o agrıćola.

Trê s anos antes, a dupla publicou a


revista Ponte Nova, 153 anos, sua
história, sua gente, retratando pré dios e
lugares histó ricos da cidade, escavando sua
histó ria e o per il dos construtores e
proprietá rios.

As revistas constituem rico material


que oferece pistas para pesquisa e outros
t ra b a l h o s q u e p o s s a m q u a l i i c a r a
Capa da revista distribuída gratuitamente

historiogra ia da cidade. Há , no interior dessas fazendas, muita conexã o com a


literatura, a mú sica, a tradiçã o religiosa e eventos polıt́icos de grande repercussã o,
como a Revoluçã o Constitucionalista, por exemplo.

23
Fazenda Esperança/Resende: produtora de café no passado e doces especiais na atualidade
Fotos: Album de Famıĺia
A arte pode levar qualquer pessoa
aos lugares mais distantes, belos e
sofisticados do mundo. Assim
aconteceu com o cantor Léo Belico,
nascido em Piedade de Ponte Nova,
quando era distrito de Ponte Nova. Lá
pelos anos de 1950, o bancário de
profissão, cantor de bailes e casas
noturnas de Belo Horizonte resolveu
fazer a mala e partiu para Buenos Aires.
Fez tanto sucesso cantando sambas e
boleros numa boate daquela cidade, que
acabou sendo convidado para se
apresentar numa das mais importantes
Léo aos 30 anos no auge do sucesso emissoras de rádio da capital portenha.
Não demorou muito estava cantando na
Casa Rosada, sede do governo argentino.

Filho de pais músicos, Léo começou cantando no coro da igreja e logo a família ganhou
espaço nos saraus musicais de Ponte Nova. Mudou-se para Belo Horizonte e lá passou a se
apresentar em casas noturnas e na Rádio Guarani. Já havia ingressado como office boy no
Banco Credireal e depois no Banco Mineiro da Produção (que depois se tornou Bemge). De
férias em Buenos Aires, ele frequentava os bares e boates quando, por acaso, foi
descoberto por um produtor da Rádio El Mundo.

Léo Belico participou de vários shows beneficentes na capital argentina e ganhou a


admiração da toda poderosa Eva Perón. Recebeu elogios do presidente Juan Domingo
Perón, que o apelidou de El Negro Belico. O mais interessante é que Léo só cantava em
português. Viajou por alguns países da América do Sul, inclusive Colômbia, onde chegou a
ter que pedir escolta policial para locomover-se na cidade.

No início da década de 1960, com saudades das terras mineiras, resolveu voltar para
BH. No Brasil e com fama internacional,
participou de vários programas de
televisão em São Paulo e da famosa
Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 30
de abril de 1968, animou o baile dos 50
anos de fundação da Sociedade
Esportiva 1º de Maio como principal
atração da Orquestra de Gilberto
Santana. Nos primeiros anos da década
de 1970, participou do Programa
Mineiros Frente a Frente, da TV
Itacolomi de BH. Ele defendeu Ponte
Nova com sua voz marcante e afinada.
Léo faleceu em 2011. 24
Léo já aposentado em seu apartamento em BH
150 Anos do Hospital Nossa Senhora das Dores
Marco importante da história de
Ponte Nova, o Hospital Nossa Senhora
das Dores completa 150 Anos neste
2023. Sua construção evoca uma época
de enfrentamento das dificuldades, de
empreendimentos vultosos, de união do
povo para as grandes causas.

Para que fosse erguido e mantido


como referência de instituição de
saúde, contou com a dedicação e empenho de muitos benfeitores da comunidade para sua
construção. O fato do padre João Paulo Maria de Brito ter encontrado uma senhora pobre, já
sem vida, na sarjeta, fez com que o religioso idealizasse um local que acolhesse os doentes e
lhes desse a chance de se curar. Reunindo médicos, farmacêuticos, políticos, fazendeiros,
populares e religiosos, o padre João Paulo e sua equipe elaboraram o projeto de criação de
uma Irmandade. O Hospital teve como patrona Nossa Senhora das Dores.

Também o Imperador Dom Pedro II, em visita ao Hospital, no dia 30 de junho de 1886, fez a
doação de 400$ (Quatrocentos réis). O padre Gerônimo Migliarini, que colaborava
generosamente nas atividades do Hospital, instituiu, em 1904, a Romaria 13 de Maio que
desde aquele ano até hoje continua sendo o Dia do Hospital.

Uma comissão foi constituída para administrar a obra, tendo a frente o médico Leonardo
José Teixeira da Silva, auxiliado pelo Frei Paulino Vicente Fabbri.

O sonho da Irmandade do Hospital de Nossa Senhora


das Dores se tornou realidade no dia 12 de junho de 1872,
quando o Arcebispo de Mariana, Dom Antônio Viçoso
Acadêmico, médico e escritor Salvador Ferrari

enviou a Carta de Provisão, instituindo e dando


legitimidade ao projeto de filantropia. A sua inauguração
aconteceu no dia 21 de setembro de 1873.

Nos quadros do corpo clínico do hospital, sempre


figuraram personalidades de vulto, que além de aplicados
com denodo á Medicina, eram também grandes homens
cultores da literatura. Podemos citar Dr. Jarbas Sertório de
Carvalho, Salvador Ferrari, um dos fundadores da Alepon,
que foi provedor do Hospital na década de 90, e atualmente
é acadêmico da Alepon o Dr. Juliano de Paiva Boscolo,
renomado pediatra do Hospital.
25
Acadêmicos da ALEPON na abertura da Exposição

Para marcar a Semana Municipal da Literatura Brasileira (30/4 a 6/5), ocorreu na


sede do Legislativo de Ponte Nova o Encontro Literá rio, promovido pela Câ mara e a
Academia de Letras, Ciê ncias e Artes de Ponte Nova/Alepon, tendo como destaque a
histó ria da literatura Ponte-novense.

Na noite de 2/5, houve abertura da exposiçã o de recortes e publicaçõ es raras e


histó ricas sobre fatos marcantes da produçã o literá ria local, seus literatos (poetas,
escritores, articulistas etc.) e suas obras. Pela Alepon, discursaram Gilson José de Oliveira
e Luciano Sheikk - este, curador da exposiçã o. Houve pronunciamento de Marcelo
Carvalho, pela Secretaria de Cultura, Turismo e Comunicaçã o/SMCTC, e Wellerson
Mayrink/PSB, presidente da Câ mara. Ester Magalhã es, també m da Alepon leu o poema
“Operá rio em Construçã o”, de Vinıćius de Moraes.

Na noite de 3/5, Luciano Sheikk ministrou palestra sobre suas pesquisas, as quais
ilustram o livro “A Histó ria da Literatura em Ponte Nova” - publicado em 2013 como
projeto da Alepon. Em seguida, houve sorteio de exemplares do livro “Poesia Ensinada aos
Jovens”, de Ivo Barroso, provenientes de doaçã o à Câ mara Municipal.
26
Sheikk destacou os pioneiros da e contistas, mencionou a atuaçã o da
literatura local, a começar pelo jornal O Alepon (desde 1994) e de outras
Rio Doce, de 1886, mencionando nomes instituiçõ es para viabilizar a ediçã o de
de poetas e cronistas que se sobressaıŕam livros. Concluiu falando sobreo
na cidade e se projetaram na regiã o, no jornalismo cultural de hoje, expresso por
Estado e no Brasil. Ele deu ainda espaço diversos setores, incluindo a coluna Arte
para quem difundiu a literatura nos & Cultura da Folha de Ponte Nova.
jornais e nas escolas.

O palestrante lembrou o
Suplemento Literá rio do Jornal do Povo
(meados dos anos 1950). Citou escritoras

O escritor e historiador Luciano Sheikk contou a história da literatura em Ponte Nova

27
Fotos: Album de Famıĺia

Reinaldo com os pais e irmãos no apartamento da família em Belo Horizonte

A Diretoria Cultural da 7ª Sub Secção da Ordem dos Advogados (OAB), coordenada pelo
acadêmico, professor e advogado Wander Silva, através do Projeto Ponte Nova Canta,
presta homenagem ao ex-jogador do Clube Atlético Mineiro e Seleção Brasileira, Reinaldo
de Lima, chamado pela torcida do Galo de Rei. O evento acontece em 18/08/2023, no
auditório da OAB, no Centro Histórico de
Ponte Nova (19 horas). A entrada é franca,
mediante apresentação de senha. A ideia é
homenagear personalidades ponte-
novenses, principalmente aquelas ligadas as
artes e cultura.

A OAB já homenageou os artistas Pedro


Zaidan, João Bosco, Marcos Braga, Tunai e
Marco Antônio Silveira. Compositores e
escritores produzem músicas destacando a
vida e obra dos homenageados. O evento
marca o Mês do Advogado.

José Reinaldo de Lima, filho de Dona


Regina Coeli e Sr. Mário Lima, nasceu em
Ponte Nova, no dia 11/01/1957.
28 Baby craque quando chegou ao Atlético
Capa do livro de contos do mé dico Joã o Lisboa
Foi publicado em 2020, mas
apresentado apenas após a
pandemia, As escadas de Angélica,
livro de contos do médico e escritor
ponte-novense João Lisboa Cotta.
(Cotta, João Lisboa. Belo Horizonte.
Quixote+Do Editoras Associadas,
2020). São 35 contos, distribuídos
em 276 páginas, que não podem ser
lidos de um único fôlego, pois cada
um exige revisão e reflexão. Cada
texto pede um silêncio a ruminar as
possibilidades e lições oferecidas.

Escritor já tarimbado de
outras publicações, Dr. João Lisboa
vai desvelando, ao correr dos contos, etnias, intrigas mundiais, viajar pela filosofia, mas é
com naturalidade, sua ampla e também enriquecer o vocabulário, dado que expõe
profunda cultura, vasta visão de um repertório clássico que exige, até mesmo do
mundo. Ampla, porque abarca uma leitor mais familiarizado com um linguajar elevado, a
variedade de temas que vão da presença amiga do dicionário.
medicina mais avançada até as
religiões, da arte à história, dos Seus contos são curtos e possuem trama que
avanços tecnológicos ao passado flui e prende. Convidam a viajar, imaginar, criar e
remoto, da ecologia à enologia. recriar. E possuem a característica de encerrar o
Projeta acontecimentos a trezentos enredo abruptamente, com a presença do inusitado,
anos futuro, delineando como da incerteza, o inesperado. Assim como na vida, as
poderia ser o mundo daqui a dois narrativas são atravessadas por fatos que
séculos e meio. Mas não é um interrompem os sonhos, impõem mudanças de rota,
sobrevoo super ficial: desce à surpreendem o leitor, assim como na vida, fica-se na
profundidade, com domínio suave mão quando não se tem segunda possibilidade. Bem
sobre dos assuntos que vai na linha do que propõe Edgar Morin, a história é
espalhando pelo livro. Ler seus muito mais eivada de incertezas. Preparamo-nos
contos é apreender paisagens, intensamente para algo, mas o inesperado muda ou
29
interrompe o planejado.
Dr. João Lisboa cria história de um espaço mal Ler a presente obra é
também universos assombrado, de forças um momento de prazer, de
sobrenaturais, contatos invisíveis que movem e conhecer melhor o estilo de
reiterados com situações removem nossos grande escritor que é João
em que a lógica não tem a ambientes, de porteiras que Lisboa, de fôlego, de grande
explicação. O universo se abrem sozinhas, de capacidade inventiva e
conspira além do que é telhados que assoviam e narrativa, surpreendente.
visível e sensível. Nele, a atiram pedras. O que faz
margem para a influência inferir, não poucas vezes,
do invisível é constante e que as forças do universo
possível, abordada como não são apenas físicas. Há
corriqueira e usual na vida. conspirações para o bem e
De fato, cada leitor tem sua para o mal.

João Lisboa recebeu vários prêmios pelo seu trabalho literário

30
Fotos: Arquivo Pessoal

Dona Chiquinha em uma apresentação para futuras professoras

Quem conheceu Chiquinha na contaçã o de histó rias. Nã o parou mais.


juventude ( ilha do casal Dona Nice e Sô Fez cursos, participou de palestras,
N e n e g o ) , j á s a b i a d e s u a g ra n d e encontros e tudo que se referia a té cnica
capacidade de comunicaçã o. Alegre, de contar histó rias.
expansiva e muito brincalhona, assim era
aquela moça que ia de casa em casa Sua arte ganhou o Brasil apó s participar
atender suas clientes com os serviços de do Projeto “Minas Alé m das Gerais”.
manicure e pedicure. O tempo passou. Ela Dentre os mais diversos programas de
mudou de Ponte Nova para Viçosa e lá televisã o em que esteve, o destaque ica
veio a oportunidade de envolver-se com por conta da entrevista que concedeu ao
as artes pelas mã os do professor, diretor Jô Soares. A partir daı́ surgiram muitos
teatral e escritor Marcelo Andrade. Na convites para palestras e apresentaçõ es.
é poca Secretá rio Municipal de Cultura. Francisca Alves da Silva, seu nome de
Ele promoveu uma o icina cultural na batismo, cursou até a 8ª sé rie do antigo
cidade e o també m escritor Celso Sisto foi primá rio, mas nem por isso deixou de ser
o responsá vel por uma das atividades. convidada muitas vezes para eventos em
Chiquinha entrou de cabeça e saiu daqui universidades. Ganhou homenagens em
disposta a fazer parte do mundo da Viçosa e outras cidades mineiras.

31
A contaçã o de difusã o de valores tidos identidades culturais via
histó rias é uma forma como necessá rios para o memó ria oral. Diferentes
lú dica de transmissã o de estabelecimento de uma modos de expressã o vã o
conhecimentos e um convivê ncia harmoniosa sã o estimulados, o que
poderoso estı́ m ulo à entre os humanos. facilita as interaçõ es e até
imaginaçã o. Por auxiliar o entendimento das
n o d e s e nvo lv i m e n t o Assim, mais do que pró prias emoçõ es. Tudo
f ı́ s i c o , c o g n i t i v o u m a a ç ã o e d u c a t i v a isso sem falar que a
e socioemocional das prazerosa, ela atividade ajuda a
crianças, se destaca como proporciona aos reinventar o espaço da
uma importante aliada da p e q u e n o s sala de aula, tornando-o
e d u c a ç ã o i n f a n t i l . u m a c o m p r e e n s ã o mais divertido e atrativo
Considera-se uma das alargada do mundo, bem aos sentidos.
maneiras mais antigas de como a construçã o das

Grande parte do Brasil conhece o trabalho de Dona Chiquinha

Dona Chiquinha nã o pensa em se leitura. Promove principalmente na


aposentar tã o cedo. Alé m da contaçã o de regiã o da Zona da Mata o Teatro dos
histó rias, ela desenvolve trabalhos na Oprimidos, com uma forte mensagem
á rea do artesanato, teatro e incentivo à contra todo tipo de preconceito.

32
Foi lançado, em 3/12/21, o livro

Foto: Arquivo Pessoal


Efemé rides da Histó ria de Rio Casca, assinado
pelo pesquisador Glá ucio Batista Vieira, atual
presidente da ARCA, Associaçã o Amigos de Rio
Casca. O livro, editado pela D&M, com 182
pá ginas, tem o patrocıń io da lei Aldir Blanc e da
Prefeitura Municipal de Rio Casca.

Trata-se de um banco de dados que


refere personalidades que marcaram a cidade,
destacando datas de nascimento, posses
(vereadores, juı́zes, direçã o do hospital, do
Gulau, guardião da memória de Rio Casca

asilo, etc...), falecimentos, alguns casamentos, inauguraçõ es. Para isso, foram fontes os
jornais antigos como O Rio Casca, da dé cada de 1910, o Eco Infantil, dé cada de 1930, A Voz
de Rio Casca, da dé cada de 1950 do sé culo passado, Livros de atas, como da Câ mara, da
SSVP, do Comercial Esporte Clube, O Rio Casca em Jornal, dé cadas 70/80, Arquivos da
prefeitura, da Câ mara e de escolas.
O autor Glá ucio Batista, popularmente conhecido como Gulau, usou como
metodologia a divisã o por meses, encadeando as efemé rides por ordem cronoló gica
dentro de cada mê s.
O registro mais antigo que consta no livro é de 14 de março de 1693, ocasiã o em que
Antô nio Rodrigues Arzã o, bandeirante, visitou a nascente do rio Casca e encontrou nã o só
o primeiro ouro de Minas Gerais, como també m uma casa grosseira de tá buas.
O registro mais recente consta de 21 de novembro de 2021, como a data em que o
autor recebeu a biogra ia de Marleyde de Paula Mucida
Miranda, Leidinha, vice-prefeita no lançamento do livro
e agora prefeita, destacada como a primeira mulher a
ocupar esse cargo no municıp ́ io.
Efemé rides religiosas sã o anotadas, como a morte
do Mons. Antô nio Russo, em 27-01-1986, gramense cuja
Foto: Alfredo Padovani

famı́ l ia ergueu o laticı́ n io Cotoché s, entre outros


empreendimentos. Russo foi, alé m de grande pensador,
Vigá rio Geral da Arquidiocese de Mariana.

En im, o livro é um sopro que revolve as cinzas do


passado para acender o desejo da pesquisa, da
reverê ncia e do amor à terra em que nascemos.
Disposiçõ es valiosas nestes tempos de esquecimento do
passado, talvez razã o de tanta falta de horizonte no Capa do livro do pesquisador Gulau
nosso presente. 33
Esculturas de Amilcar de Castro deixaram Dom Silvério e foram levadas para Brasília
Até o ano passado, o municıp ́ io de circulando por um museu vivo.
Dom Silvé rio possuı́a um museu a cé u As obras foram levadas para Brasıĺia
aberto que abrigava muitas das obras do para serem expostas no projeto de
escultor, artista plá stico e designer grá ico homenagem ao escultor e ao mineiro
b ra s i l e i ro , A m ı́ l c a r d e C a s t ro . S ã o Má rcio Teixeira, maior colecionador
esculturas em aço, com a passagem do privado dos trabalhos de Amıĺcar. Apó s a
desenho para a tridimensionalidade. morte recente do colecionador mineiro, os
Amı́lcar de Castro se tornou referê ncia trabalhos de Amıĺcar estã o sob os cuidados
para os artistas brasileiros e, do Instituto do Patrimô nio Artı́stico e
especialmente, para seus alunos na Escola Cultural (IPAC).
Guignard, em Belo Horizonte.
Realizado pelo Instituto do
Suas obras sã o fundadas quase Patrimô nio Artıśtico e Cultural da Bahia
exclusivamente em duas açõ es (corte e (IPAC), agora guardiã o do acervo, o Parque
dobra, que nem sempre vê m juntas) sobre de Esculturas será o primeiro tributo em
ferro e madeira, e que impressionam pela memó ria de Teixeira e Castro. Com
economia de meios e pela liçã o que curadoria de Marıĺia Panitz, o projeto O
oferecem sobre a capacidade a irmativa do Jardim de Amıĺcar de Castro: Neoconcreto
gesto e o fato de realizarem a passagem do sob o cé u de Brasıĺia, ocupará uma á rea de
plano para o volume. 20 mil m², e apresentará as esculturas do
premiado artista brasileiro por um perıo ́ do
Assim, a cidade se despede das de dois anos. A exposiçã o gratuita tem
esculturas do artista plá stico Amıĺcar de como proposta criar um grande jardim de
Castro. Até entã o, quem chegava a Dom esculturas nos gramados de Brası́ l ia,
Silvé rio se defrontava com uma das obras permitindo ao pú blico uma visita a cé u
em cada esquina, praça, rua, como que aberto.
34
Serã o desenvolvidos site, aplicativo, catá logo, seminá rios, palestras, mesas redondas e
o icinas de visitaçã o do projeto. A mostra propõ e destacar o que poderia ter sido do
encontro da arte neoconstrutivista de Amıĺcar de Castro com a arquitetura e urbanismo
de Brasıĺia, cidade caracterizada pelo espaço aberto e amplo horizonte.

Amı́ l car de Castro nasceu em Pará , entre outros, alé m de ter trabalhado
Paraisó polis - MG, a 8 de junho de 1920 e como diagramador de livros na Editora
faleceu Belo Horizonte, a 21 de novembro Vozes.
de 2002. A p ó s r e c e b e r u m a b o l s a d a
Fundaçã o Guggenheim e o Prê mio
Estabeleceu-se em Belo Horizonte Viagem ao Exterior no XV Salã o Nacional
em 1934 e formou-se em Direito na de Arte Moderna, em 1967, viajou para os
Universidade Federal de Minas Gerais Estados Unidos, ixando-se em Nova
(UFMG) em 1945, onde conheceu Otto Jersey. Em 1971 retornou a Belo
Lara Resende e Hé lio Pellegrino. Horizonte, dedicando-se a atividades
artı́ s ticas e educacionais. Dirigiu a
Frequentou a Escola Guignard Fundaçã o Escola Guignard (1974/77),
entre 1944 e 1950, onde estudou onde ensinou expressã o bidimensional e
desenho com Alberto da Veiga Guignard e t r i d i m e n s i o n a l . Fo i p ro fe s s o r d e
escultura igurativa com Franz composiçã o e escultura na Escola de
Weissmann. Mudou-se para o Rio de Belas Artes da UFMG (1979/90) e de
Janeiro em 1953, iniciando sua carreira escultura na Fundaçã o de Arte de Ouro
de diagramador nas revistas Manchete e Preto-FAOP (1979).
A Cigarra. Participou do Grupo
Neoconcreto no Rio de Janeiro (1959- Amı́lcar de Castro é considerado
1961), e elaborou a reforma grá ica do pelos crıt́icos e historiadores da arte um
Jornal do Brasil (1957/59). Durante os dos escultores construtivos mais
anos 60 fez a diagramaçã o dos jornais representativos da arte brasileira
Correio da Manhã , Ultima Hora, Estado de contemporâ nea.
Minas, Jornal da Tarde e A Provın ́ cia do

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Coral Vozes do Piranga apresentando-se na Matriz de São Sebastião,
sob a regência do maestro Délcio Stavanato

O Coral Vozes do Piranga, fundado em 1995, tem sido constante em apresentaçõ es


musicais das mais encantadoras. Tradicionalmente, em conjunto com a Banda Santıśsima
Trindade, apresenta o Concerto de Natal. As apresentaçõ es ocorrem na Matriz Sã o
Sebastiã o, ambiente que repercute a sonoridade maviosa de Adeste Fidelis, Noite Feliz,
Jesus Alegria dos Homens, entre outros. O Coral, outras vezes faz-se acompanhar també m
da Banda Uniã o Sete de Setembro.

O coral participa també m das apresentaçõ es da Alepon, sempre com grande adesã o e
agradá vel recepçã o do pú blico.

O maestro Dé lcio Stavanatto dirige o Coral desde sua fundaçã o, em 1995. Exıḿ io
arranjador, instrumentista, compositor, professor, tem se aperfeiçoado també m em canto
barroco.

Camila Batista dirige a Sete de Setembro, que tem mais de 70 anos de existê ncia e é
patrimô nio cultural do municıp
́ io. Já a banda Santıśsima Trindade tem como maestro o
Paulo Cé sar Gomides.

Dé lcio Stavannato é membro da Alepon.


36
Um diciário
soltam algumas migalhas do orçamento para dar

de poas
voz à arte, principalmente a literatura. Pensam que
entidades como uma Academia de Letras
requeiram esmolas. Que uma Fundação requeira
auxílio, como se fora pedinte assentada numa
praça. Pedintes também tem sua dignidade! Mas
não é o caso aqui: entidades culturais que de fato
Recebemos com entusiasmo o livro produzem pesquisa, são imprescindíveis, são
Dicionário de escritores e poetas são-joanenses, parte da governança, porque agentes da justa
do amigo Nilo da Silva Lima. Antes e acima de tudo, guarida à identidade de um município. Não podem
meu amigo de origem e destino. Em seguida, Nilo é ser olhados com desdém e desprezo por quem está
um poeta que já proclamei Maior, porque do andar no poder central do município. Merecem incentivo
real, institucional.
de cima, da cobertura, no edifício da literatura
brasileira, do espaço reservado aos grandes.
A gestão da cultura, resguardados os critérios
Também hoje um dos grandes críticos literários do
técnicos, tem que abrir programas de apoio a esta
Brasil, de uma forja própria, estilo único, que produção, como faz a Alepon, aqui em Ponte Nova,
encontra alma na obra que avalia, desvenda a Arca, em Rio Casca, a Acla, em Manhuaçu, as
segredos das costuras dentro do texto, enxerga a academias de Mariana e, pelo visto, a Academia de
beleza rara e pinça com olhos de lince as pérolas São João Del Rei.
incrustadas no subsolo invisível para o comum dos
leitores. Um grande crítico literário! Nilo da Silva Lima, urucaniense, residente há
quase 40 anos em São João del Rei, de uma tacada
Mas é também cronista, contista e vai só presta um grande serviço a cidade em que se
trabalhando romances, tudo de fina estampa, de abrigou, aos próceres da literatura, portanto,
construtores de um jeito de expressar acoplado a
um prazer de leitura que pede mais e mais. Acima
uma história e a uma gênese, mas acerta também
de tudo, a milhares de pés, sobrevoa com sua
uma urgência de outros municípios, que é
poesia, ora majestosa, rica, ora breve e bem
compreender que literatura, música, artesanato,
talhada, de costura de palavras tão bem etc.., não são madeiras podres eivadas de
arranjadas, que parecem estrelas nascentes, no escorpiões e cupins à beira do caminho. São
brilho e no ritmo. esteios da sociedade, que devem ser conhecidos,
destrinchados na alma do povo, e para isso, tem
“Dicionário de escritores e poetas são- que entrar no orçamento. Uma cidade precisa
joanenses” é um trabalho excepcional, utilíssimo, t a p a r
necessário, feito com esmero, destinado a indicar também os
o endereço inicial de celebridades como Otto Lara buracos da
Resende, ou de gente um tanto esquecida, mas de memória e
f a z e r
um valor literário supremo, caso de Oranice
t a m b é m
Franco. Nilo lança um pantheon para veneração e
pontes entre
estudo, indicando fontes primárias e secundárias
o passado, o
a quem deseja mergulhar no entendimento da presente e o
memória e razão de ser dessa gente. futuro.

Aliás, esse trabalho, é bom dizer, tem o


apoio do poder público municipal, com base em lei
aprovada no legislativo. Em boa hora: gestores
públicos acham que estão fazendo favor quando
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38
O poeta Gilson José de Oliveira, esperançando e resistindo. A dor da poesia
acadê mico, ex-presidente da Alepon, é a dor da vida, com seus tropeços,
lançou seu ú ltimo livro de poesia em recomeços, percalços, medos, arremedos e
16/02/2022: A dor da poesia. Sã o 62 perdas. Nesse caminhar trô pego da vida, há
poemas esculpidos ainda no contexto da uma presença invisıv́el, mas certa como a
pandemia, das perdas, dos fechamentos e luz do dia: Deus presente, silencioso,
isolamentos, de vidas indo, e de superaçã o, senhor de tudo. Há poesia na dor, porque
de viradas importantes, transformaçõ es, Ele é amor. Entã o a poesia passa da
mudanças. angú stia para a esperança num piscar de
olhos.
“A poesia desta coletâ nea contabiliza
um tanto da angú stia e outro tanto de A sua poesia fala de perdas. Sim, muitas
esperança. Angú stia de uma pandemia que perdas. Perder pessoas, tanto no golpe
causou espanto e incerteza. També m de certeiro da morte quanto da distâ ncia nã o
outros males transitó rios, desses que corporal, nem fı́ s ica necessariamente.
ameaçam a vida, a liberdade, a expressã o, a També m, porque há distancias de tempo e
palavra. Esperança e angú stia compõ em a de espaço que nos apartam e isso dó i tanto.
condiçã o humana e impulsionam a luta
pela vida. A arte joga um papel singular na Segundo o autor, esperançar, resistir,
existê ncia e na resistê ncia. Constitui um d o e r n ã o s i g n i i c a m e t e r n i z a r
grito da alma atingida, seja por um bô nus corporalmente, mas entrar na memó ria, na
ou por um ô nus. Pode conformar ou histó ria, na alma, no desejo de se fazer
esconjurar. A poesia responde ou provoca caminho para quem vem atrá s, alumiar as
respostas. Ela mesma pode ser a resposta, a noites, os dias sem sol de quem já perdeu
coisa posta, a contra indicaçã o da condiçã o companhias maravilhosas no campear da
dada. Dizer a palavra à s vezes dó i. Nem longa estrada da vida.
tudo é romance, nem tudo é verso, há
reversos, onde a dor precisa ser
compreendida e superada, sem ser
menosprezada”, escreveu o autor na
contracapa.

Com esta publicaçã o, Gilson de


Foto: Gilson José

Oliveira concluiu uma trilogia poé tica. Em


2020, publicou Esperança Arredia e em
seguida Poesia de Resistê ncia. Os trê s
formam um conjunto, se completam,
dialogam entre si.

A Dor da Poesia completa o “lutar


com palavras” para assegurar viva a
Esperança, Resistir diante dos revezes.
Tudo é dor, tudo é amor, tudo é viver. Na dor
reside a certeza de que se está vivendo, Último livro da trilogia poética
39
Nestes primeiros dias do outono as Poucas casas comerciais tiveram uma
águas de março estão fechando um pouco equipe tão bem treinada e educada para
mais do que o verão. Nesta segunda-feira, 3, tratar os fregueses. Lembro-me do Sô
primeiro dia útil do mês de abril, o bairro de Popô, Iaiá, Maria, Sônia, Vilma Tosatti e
Palmeiras amanheceu um pouco mais outros que o tempo deu conta de me fazer
tristonho. Após 60 anos, as portas da esquecer. Mas ficará para sempre em nossa
tradicional Casa Helena amanheceram memória o brinde ofertado pela empresa
fechadas. Foram seis décadas de nos finais de ano. Era um pano de prato com
convivência respeitosa, amiga e de bons a figura de um calendário estampado na
negócios travados entre os proprietários e frente.
os funcionários daquela elegante empresa
familiar com os clientes. Naquela casa Foi-se o casal Alfeu e Dona Heloisa,
comercial encontrava-se o que de melhor deixando Palmeiras um pouco ór fã
existia no ramo de tecidos, confecções, daqueles comerciantes que nasceram para
cama, mesa, banho, roupas íntimas, meias e bem servir seus clientes. Pessoas que
tantas outras mercadorias de qualidade sabiam valorizar seus fregueses, mas antes
superior. de tudo, oferecem produtos de alta
qualidade. Agora, a Casa Helena encerra
Desde quando se transferiu para suas atividades. Vai ficar um grande vazio
Ponte Nova, vindo da simpática Jequeri, Sr. na vida comercial de Ponte Nova.
Alfeu Augusto Gomes instalou um letreiro
luminoso em frente a fachada da loja, onde
se podia ler em letras garrafais: Casa
Helena. Lá, na vizinha cidade, era Casa
Estrela. Aqui ganhou o nome de sua irmã,
que ao tornar freira vicentina teve de trocar
o nome para Helena (chamava-se Nair).

Helena não era somente o nome do


estabelecimento comercial do Sr. Alfeu e
Dona Heloisa. Todas as suas cinco filhas
chamavam-se Helena: Heloisa Helena,
Maria Helena, Nair Helena, Vilma Helena
(que ficou com a loja) e Marisa Helena.
40
Nas plantas dos pé s, O poema nã o cabe
raıźes aé reas; na obra capital,
Nas palmas das mã os o verso quebra o pé
as linhas de terra; na mé trica do mercado,
No olho da rua a rima rica sonega
ó culos de sol; o que a pobre paga,
a olhos nus o verso bá rbaro rouba
na roupa de ver Deus; a redondilha menor,
na boca de lobo a chave de ouro prende
a mã o beijada; o verso livre
na corda bamba
do umbigo do mundo
o coraçã o na mã o.

41
Como era linda aquela Professora
elegante, discreta, bem vestida,
a me ensinar as coisas desta vida,
como se fosse a minha genitora!

Amá vel, tolerante, sedutora,


dela me lembro, alegre, divertida,
outras vezes, chorando, comovida,
por ser a responsá vel condutora

de almas jovens em busca do saber


que lhes desse uma chance de viver
o futuro em total felicidade.

Guardo, comigo, ainda, na lembrança,


aqueles belos dias de criança
em que, a me iluminar, tive a Bondade.

Enquanto o feijã o fervia,


minha mã e nã o perdia tempo:
sentada num pilã o, à porta da cozinha,
remendava e cerzia nossas roupas de roça.
De vez em quando, soltava um grito: ui!
Era a agulha que lhe espetava o dedo.
Quase sempre o feijã o entornava o caldo
e ela nã o via.
42
Embalo de amor
Manuseio carinhoso
Sobre o ventre acolhedor
Aguardando o rebento

Como agradecimento
Ele reage na bolha aquecida
No cordã o que nos une
Num afeto fetal

Mã e sorri!
Sentindo os movimentos
De um ser que já vem
Em seus braços icar

Nasceu! Cresceu!
Amor de mã e permanece
Na alegria ou dor
E nã o esquece
Do alimento natural
Que ela lhe concebia

As noites indormidas
Cançõ es de ninar
Acalento dos choros
Por uma dorzinha qualquer
Você mã e, sofria demais

Apesar dos contratempos


Jamais ela abandona
Jamais ela despreza
43 O presente que Deus lhe deu.
dou à luz
mais um verso louco
tempo pouco
de gestaçã o
veio vindo
no escuro, a lito
da madrugada
que junto nasce
em formas
escandalosas de té dio
veio no assé dio
das notas má gicas
da cançã o que vibra
num tom de partida
em tontas batidas
tantas quantas
suporta o coraçã o
um verso torto
manco, de iciente
carente de força
na beleza triste
das horas que badalam
um verso embalo
sem rima
sem ritmo
sem sono
gestado no outono
pra verdejar o tempo
invento um nome
de cor de festa
aposto um sonho
pra nã o morrer de fome
o pobre verso
que nasceu reverso
na paté tica hora de mim
en im, agora

44
A pensar estou
pensamento sou
pensando…
senciê ncia ...
penso
existê ncia

presente
O tesouro me faço
Estava ali e nã o o vimos fato
Um minuano cá lido o levou
Paramos e repousamos valor
me tenho
No momento em que a vida se recompô s
farto

A luz novamente formada ausente


Algo alé m de nó s nã o preciso
Pseudopodizados para você
me esquecer
Eramos no tempo que se foi santi icar
vilipendiar
Talvez já estejamos
Fagocitados saudades
Pinocitados com emoçõ es
universais
Metamor izados sentirá

E no entanto, entã o…
O tesouro corre com amplas asas
presente
Paramos e repousamos
se faça
Quando o vimos, já se foi farto
45 fato
Quando em sua vida Refazer o interior,

A primavera passar, Encher-se de puro amor

Nã o abrace o outono Para o inverno enfrentar;

Como se fosse Colorindo de mansinho,

O im do seu caminhar Renovando as emoçõ es,

Como tardes mornas Descortinando primaveras

Apressando da noite, o chegar. Que com certeza voltarã o

Viva sim, como a natureza... Para a natureza e o coraçã o...

Usufruindo do seu saber: As cores esmaecem, descolorem-se

As folhas amarelecidas Mas há sempre renovaçã o.

Ou vermelhas outonais Outonear, sim,

Que caem sem cessar, Carregando cores vibrantes

Sem terem como do vento se Para pincelarmos com alegria


esconder,
As estaçõ es que vê m e vã o...
Sempre se renovam
Assim como as emoçõ es
Rejuvenescendo a terra,
Renovando cada dia
Fazendo-a revigorar.
Nossas cores, nosso brilho,
Lembre-se:
Nossas folhas esmaecidas
E apenas uma transiçã o
Recolhidas pelo caminho.
Uma pausa para o pensar,

46
Sou assim...
Pessoa negra, eu sou!
Fundamento de uma raça
Cor, pele, Ubuntu
Sou porque nó s somos
Arvore genealó gica antiga
Ancestralidade, tempos imemoriais
Pigmentaçã o intensa
Negritude no cabelo crespo
Na pele escura, triguenho
Parda, afrodescendente
Nariz largo, lá bios carnudos
Membros alongados, poucos pê los
Caracterıśticas fenotıṕ icas.

Ignorâ ncia faz preconceituosos


Intolerâ ncia, discriminaçã o
Hostilidade, implicâ ncia
Aversã o, exclusã o
Perseguiçã o, descon iança
Violê ncia, repressã o
Repú dio, rejeiçã o
Xenofobia, agressã o
Pensamento retró grado, prenoçã o.

Importâ ncia da força dos negros


Diversidade, luta pela igualdade
Respeito, empatia, equidade
Negro heró i, sobrevivente
Da escravidã o se fez irmã o
Combatendo a antepaixã o
Asserçã o a toda prova, moral
Puro orgulho, lisura ancestral
Estigmas, marcas da histó ria
Direitos humanos, vitó ria
Trancas, selas nunca mais
Basta de injú rias raciais!

47
corações
abnegados
abrigam
lágrimas
alheias
amor
PONTE NOVA-MG
ABR/2023

Em apenas quatro versos


o coração se renova Contra o óbvio e indiscutível
de pensamentos dispersos não existirá quem atente
surge a magia da trova porém, será perceptível
quando o indiscutível mente
PONTE NOVA-MG
PONTE NOVA-MG-ABR/2023
MAR/2023

Não me tenhas por um santo insuspeito Amei no descontrole, e inconsciente


que o amor já me tem feito vil culpado jamais ouvi a voz de um amor presente
conheci mil prazeres do pecado teimando em habitar-me o ego perdido
engendrei opróbrios por simples despeito

Os anos já passados são imutáveis


Rasgaram-se céus de um ar rarefeito e nem sempre se mostram agradáveis
e arfei-me na cela de um condenado Se o amor com o ódio foi confundido
Ponte Nova - MG - out/22
perdido em veleidades, desvairado
aceitei o erro e dele tirei proveito

48
Guardei meus versos cortados
Nos meus recortes
Dentro do vaso de porcelana
Molhei com á gua
Para aliviar a dor do corte
Enfeitei com rosas brancas
E coloquei na minha varanda
Eis que o inusitado vento
Derrubou aquela porcelana
Tã o bela e soberana
No chã o frio e branco
Espalhando seus estilhaços
Ferindo as pé talas e os versos.
Versos feridos e molhados
Choram no meio das pé talas
Que lamentam as horas do vento
Inclino o meu corpo
E amparo meus versos molhados
Pingando gotas de poesia!

49
SARAU
SARAU

50
A
LE
PON

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