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Escandalosa Sedução What a Woman Needs

Caroline Linden

Inglaterra, Século XIX

Sedutor ou seduzido?...

Para pôr um ponto final em seus problemas financeiros, Stuart Drake decide que a única
solução é casar-se com uma mulher rica. E quem poderia ser melhor do que uma jovem
herdeira? Tudo que Stuart precisa é convencer a tia de sua futura noiva de que ele não é
um caçador de fortunas... o que, infelizmente, está longe de ser verdade. Mas Stuart está
convencido de que, com seu charme irresistível, será fácil ludibriar a velhota... Mal sabe
ele que está redondamente enganado... Porque Charlotte Griffolino é uma jovem mulher,
a mais linda e atraente que eleja conheceu. Dona de uma reputação escandalosa e de
uma astúcia incomum, é capaz de reconhecer um farsante com um simples olhar. Agora,
só resta a Stuart uma saída: vingar-se da intrometida que ameaça arruinar seus planos,
por meio da sedução. Porém, ele não imagina que o feitiço poderá virar contra o
feiticeiro...

Digitalização: Néia
Revisão: Cynthia
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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"Escandalosa Sedução é um livro excelente, muito bem-escrito, com uma empolgante


trama de ação." The Romance Reader

"Personagens maravilhosamente caracterizados, uma leitura prazerosa, envolvente,


contagiante!" Booklist

"Desde as primeiras páginas os leitores percebem que estão lendo uma obra
primorosa, altamente recomendada." Fallen Angel Reviews

"Um dos melhores livros dos últimos tempos, recomendado a todos os apreciadores de
romances históricos!" Affaire d'Coeur

"Uma história das mais envolventes..." All About Romance

"Escandalosa Sedução é um primor, um romance que dá gosto de ler!" The Romance


Reader

"Um regalo para os leitores de romances, uma história de amor com humor e
suspense!" A Romance Reviezv

"Um livro espetacular, com muita paixão e intriga!" Hannah Howell

"Uma genial combinação de sensualidade e ternura que compõem a paixão... Não


percam!" Eloisa James

"Refinada sensualidade e um enredo intrigante..." Leitora

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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Querida leitora,

A tensão cresce na mesma medida da paixão de Stuart e Charlotte, neste empolgante


romance de suspense, um livro com uma trama inteligente, personagens interessantes,
surpresas e reviravoltas, diálogos envolventes e atmosfera de perigo...

Leonice Pomponio - Editora

Copyright © 2005 by P. F. Belsey

Originalmente publicado em 2005 pela Kensington Publishing Corp.

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.


NY, NY - USA Todos os direitos reservados.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas
terá sido mera coincidência.

Proibida a reprodução, total ou parcial, desta publicação,


seja qual for o meio, eletrônico ou mecânico, sem a permissão expressa
da Editora Nova Cultural Ltda.

TÍTULO ORIGINAL: What a Woman Needs

EDITORA: Leonice Pomponio


ASSISTENTES EDITORIAIS: Patrícia Chaves Silvia Moreira
EDIÇÃO/TEXTO
Tradução: Eliana Campos
Revisão: Leonice Pomponio
ARTE: Mônica Maldonado
ILUSTRAÇÃO: Thomas Schlück
MARKETING/COMERCIAL: Andrea Riccelli
PRODUÇÃO GRÁFICA: Sônia Sassi
PAGINAÇÃO: Dany Editora Ltda.

© 2008 Editora Nova Cultural Ltda.


Rua Paes Leme, 524 – 10°andar - CEP 05424-010 - São Paulo - SP
www.novacultural.com.br
Premedia, impressão e acabamento: RR Donnelley

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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Capítulo I

Stuart Drake não se opunha à idéia de casamento, tampouco se importava com os


atributos da noiva. Sua disposição era negociável, porém a única e inflexível condição,
era que a candidata fosse rica. Extremamente rica, se possível. Já que tinha de se casar
por dinheiro, que fosse o máximo possível.
Pessoalmente, Stuart não considerava que a empreitada fosse difícil. O que tinha
para oferecer à esposa também possuía valor: um dos mais antigos e distintos títulos
honoríficos da Inglaterra, que seria seu, assim que o avô e pai falecessem. Talvez sua
futura esposa levasse anos, antes de receber o título de viscondessa Belmaine na fina
casa de Barrowfield. Contudo, quando o título chegasse, traria com ele uma fortuna
suficiente para satisfazer os desejos da mulher mais exigente.
Na verdade, eleja havia conhecido a noiva perfeita: Susan Tratter, uma moça doce
e recatada, dona de uma herança digna de inveja. E, como se não bastasse a fortuna, era
formosa; pele alva, como era comum nas mulheres inglesas, sorriso doce e cativante, e, o
principal, estava apaixonada por ele.
O único obstáculo era sua guardiã, irmã de seu pai. Susan lhe contara que a
condessa Charlotte Griffolino já viajara por todo o continente, mas se recusava a deixar
que ela saísse do perímetro restrito de Kent, não permitindo que tivesse pouco mais do
que uma tarde nos jardins da mansão, sempre acompanhada da aia.
Enquanto se vestia no mais apurado rigor da moda, exigia que a sobrinha
mantivesse o mesmo estilo inocente e recatado da infância.
Stuart não a conhecia, mas baseado em tudo o que ouvira a respeito da mulher,
considerava a tutora uma bruxa desalmada. Porém, ela fizera um favor a ambos ao se
ausentar por um dia, deixando apenas uma acompanhante para vigiar a sobrinha. E foi
então que Stuart teve chance de se aproximar de Susan, quando ela passeava no parque.
Bastou um encontro para convencê-la de que ele poderia libertá-la da gaiola de ouro em
que ela viva enclausurada. Não foi preciso muito para persuadi-la a aceitar a proposta de
casamento.
Tinha a donzela em suas mãos. Contudo, não estava feliz como deveria. Stuart
suspirou e seguiu pela alameda que levava à Mansão Kildair. O fato era que não tinha
escolha. O pai havia cortado sua renda e o proibido de voltar a Londres. Não havia como
conseguir dinheiro para satisfazer os banqueiros, mesmo que tivesse profissão. Casar-se
com uma herdeira era a forma mais rápida e fácil de resolver seus problemas financeiros.
Parou diante dos portões suntuosos da mansão, onde marcara encontro com
Susan. O grande baile, oferecido pelos Kildair, seria a ocasião perfeita para conhecer
Charlotte, que acabara de retornar à cidade e fora convidada para o evento. Esperava
encantá-la com seu charme, e convencê-la a aprovar sua união com a sobrinha. Se tudo
corresse conforme planejava, dentro de um mês seria um homem rico.
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Ao atravessar o jardim, viu Susan atrás de um arbusto, chamando-o. Quando se
aproximou, ela o puxou furtivamente, arrastando-o por um corredor que levava à
biblioteca.
— Oh, Stuart! O que vamos fazer? — Susan lamentou ao fechar a porta, atirando-
se nos braços dele.
— Qual é o problema, querida? — Ele sobressaltou-se, tomando as mãos
pequeninas.
— Tia Charlotte... Ela nunca vai nos deixar casar. Nunca! Aquela velha bruxa...
— Eu ainda não pedi sua mão. Como sabe que ela vai recusar?
— Eu insinuei que você faria a proposta e ela disse que não vai permitir. Disse
coisas terríveis a seu respeito. Como se soubesse! Ela sequer o conhece. — Susan se
afastou e fitou-o com aflição. — Por favor, Stuart, diga que vamos fugir juntos! Podemos
viajar ainda hoje...
— Isso arruinaria sua reputação, querida. — Lembrou-a, preocupado.
— Não me importo! — Susan soçobrou, pendurando-se nos ombros largos num
pranto convulsivo.
Stuart afagou-lhe as costas, suprimindo outro suspiro. Por que ela tinha de
antecipar à tia que pretendia se casar? Agora, a velha bruxa começaria a espalhar boatos
sem nem mesmo conhecê-lo.
Ele estava confiante de que poderia persuadir a condessa de que era o partido
ideal para a sobrinha. As damas da sociedade sempre se impressionavam com um título,
mesmo que não passasse de uma promessa.
— Acalme-se — pediu, desvencilhando os braços trêmulos do seu pescoço. —
Agora, seque as lágrimas, sorria e vá chamá-la.
— Deus! Não sei o que papai estava pensando quando a designou minha guardiã!
— Nada disso está sob nosso controle, querida, e devemos contornar a situação
da melhor forma. Você prometeu me apresentar a ela esta noite. Vou conhecê-la, e
prometo que a farei mudar de idéia.
— Oh, Stuart! Sei que não há ninguém melhor para amolecer o coração de
qualquer mulher, mas acho que nem mesmo você conseguirá. Ela será tão receptiva
quanto uma pedra.
— Está insinuando que meu charme não pode tocar uma pedra?
Susan ergueu o rosto e sorriu em meio aos soluços.
— Bem, talvez...
Stuart enfiou a mão no bolso do casaco e retirou uma pequena caixa de veludo. Se
lhe desse aquele anel, seria o mesmo que afirmar o compromisso do noivado. Pretendia

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ofertá-lo na presença tia, mas a premência de acalmar Susan o impeliu a antecipar o
momento.
— Não gosto de vê-la triste — murmurou, estendendo a mão. — Talvez isso
coloque um sorriso nesse rosto lindo.
Os grandes olhos azuis se arregalaram e os lábios inocentes entreabriram com
uma exclamação.
— Oh, meu amor! É maravilhoso!
Ela apanhou o anel com reverência, e uma nova cascata de lágrimas brotou de
seus olhos.
— Agora, vá procurá-la, querida. Sua tia deve estar sentindo sua falta. Traga-a
para cá, mas mantenha nosso casamento em segredo. Farei o que for possível para
conseguir nossa bênção.
— Está bem. Espere aqui.
Susan indicou uma poltrona ao lado da lareira e olhou para ele como se estivesse
se decidindo se deveria abraçá-lo ou não.
— Se ela não aprovar nossa união, fugiremos amanhã cedo.
De jeito nenhum! Stuart pensou ao vê-la se afastar. Sem o dote de Susan, viveriam
na miséria. Ainda não haviam assumido compromisso formal e podia simplesmente ir em-
bora. Susan ficaria magoada, mas sobreviveria, e ele estaria livre para procurar outra
candidata. Oakwood Park necessitava de um ano ou dois para gerar lucros e recusava-se
a perdê-la sem esgotar todas as possibilidades de salvação.
Enquanto esperava, ele se sentou, pensativo. Havia descoberto aquela modesta
propriedade na última primavera. A casa estava em ruínas e o telhado poderia despencar
a qualquer momento, mas ainda conservava um certo charme. Stuart planejava restaurá-
la e transformá-la numa confortável morada... desde que tivesse razoável quantia de
dinheiro. No entanto, a verdadeira beleza da propriedade estava na terra: colinas
verdejantes, bosques intocados e o solo mais fértil que já vira.
O problema era que, mesmo tendo crédito com um banqueiro na ocasião da
compra, não possuía renda para pagar as hipotecas. A propriedade não seria sua até que
quitasse a dívida atrasada e, sem dinheiro, seria impossível investir nas terras até que
começassem a gerar lucros.
Tentou se convencer de que, se não se casasse com Susan, encontraria outra
herdeira e nada seria diferente, exceto pelo tempo que perdera fazendo a corte.
Sentia-se um tanto patético. Ali estava ele, um homem feito, cortejando uma jovem
que mal saíra das fraldas e tentando seduzi-la com o anel que pertencera à mãe, o único
bem de valor que não poderia ser vendido para seu sustento ou o de Oakwood Park.
Porém, de alguma forma, experimentava a sensação de que estava se desfazendo de
algo mais caro e valioso do que o anel.

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— Ela já foi? — A voz feminina soou como um sussurro, sobressaltando-o. — Meu
Deus, aquela criança deveria estar num palco!
Stuart olhou ao redor e perscrutou a penumbra do ambiente, iluminado por dois
candelabros sobre a lareira.
— Sabia que não é cortês espionar pelos cantos, senhora? — ele censurou,
irritado.
— Oh, eu não estava espionando! — A resposta foi entrecortada por uma risada.
— Foram vocês que invadiram meu espaço. Eu estava apenas usufruindo um momento
de paz na sacada, sozinha com meus pensamentos.
A cortina farfalhou e ela atravessou a porta que se comunicava com o terraço,
parando no tênue círculo de luz, projetado pelos candelabros. O interesse de Stuart se
alertou no mesmo instante.
Cachos espiralados, brilhantes como a mais pura seda, pendiam sobre os ombros
numa cascata negra. A pele, no mesmo tom róseo que o vestido, dava ao material o
aspecto de transparência. O modelo luxuoso revelava as curvas atraentes, escondidas
sob a seda. Um fino xale do mesmo tecido a envolvia pelos ombros, chamando a atenção
para a curva do busto farto.
A estranha caminhou até a escrivaninha e se recostou no tampo. E ao colocar as
mãos na cintura, observou-o atentamente, como se pretendesse ler seus pensamentos.
Um sorriso divertido iluminou o rosto de traços marcantes e bonitos. No entanto, a
curvatura dos lábios sensuais emprestava-lhe a aura do verdadeiro fascínio.
— Creio que não nos conhecemos, Sr. Drake.
— Estou lisonjeado que saiba meu nome. — Stuart fez uma mesura galante,
notando que se colocara de pé sem perceber.
— Não se envaideça. Talvez eu o tenha visto ocasionalmente em alguma festa. Os
círculos sociais de Kent são um tanto limitados. — Havia uma insinuação melodiosa na
voz, denotando malícia.
— Não me oponho a isso. Eu, particularmente, prefiro limitar minhas relações a um
número restrito de pessoas.
— É mesmo? — Ela arqueou a sobrancelha e o fitou com expressão sedutora. —
Que decadência!
O sangue correu mais rápido nas veias de Stuart, que moveu-se para diminuir a
distância entre eles, estimulado ao ver que ela continuava no mesmo lugar.
— A senhora gosta de decadência? O riso gutural o excitou ainda mais.
— Admito que conheci a ruína de perto. Mas, diga-me... O que pensaria sua noiva
se nos visse tratar desse tema com tanta familiaridade?
Ele franziu a testa, desconcertado.

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— Susan não é minha noiva.
— Entretanto, suponho que planeje se casar com ela.
A mulher misteriosa entrelaçou os dedos na mecha de cabelo solitária que pendia
sobre seu ombro.
— Isso seguramente é uma questão privada, não? — Stuart se apoiou contra a
mesa, evitando discutir os planos de matrimônio.
A posição em que ela se encontrava enfatizava a curva firme do busto, atraindo
seu olhar como ímã. Depois, desviou os olhos para a boca sensual que se curvou num
sorriso coquete.
— Eu apenas supus. Ela parece pensar que você fará a proposta. Admiro sua
paciência, recusando a oferta de fugirem ao amanhecer.
Ele sorriu, sem se preocupar com a conversa de minutos antes. A beleza
misteriosa daquela mulher o instigava e a brincadeira sensual tivera o efeito de
restabelecer seu humor. Não costumava flertar agressivamente, mas a moça parecia
gostar. Até mesmo o exílio forçado naquela terra, pareceu repentinamente mais luminoso.
Galantear a velha bruxa guardiã de Susan não seria tão repulsivo com a presença
daquela deusa de beleza feiticeira.
Desejou saber se ela era viúva, lamentando não tê-la conhecido antes.
— Qual é seu nome? — indagou casualmente.
— Meu nome? — O sorriso enfraqueceu. — Realmente importa?
— Eu gostaria de saber.
— As vezes, nomes são irrelevantes. O importante é o desejo profundo que existe
em nossos corações — ela sussurrou, os olhos escuros ardendo com intensidade.
Stuart exalou, quase sem fôlego. Não podia recordar quando tinha se sentido tão
atraído por uma mulher, especialmente tendo a encontrado dez minutos atrás. Ele a
desejava e, a menos que estivesse cego, era correspondido.
— Tem razão — ele sussurrou, chegando mais perto. — As vezes, realmente não
importa.
Antes que Stuart capturasse os lábios sensuais, ela se virou, arrastando os dedos
ao longo da superfície polida da mesa.
— Estou curiosa... O que você vê naquela menina? Ela parece ser tão... inocente.
— A echarpe deslizou de um ombro, deixando-o fascinado. — Não entendo o que os
homens vêem em crianças...
Stuart segurou a extremidade da echarpe, os dedos roçando a pele acetinada.
Inalou o perfume exótico, diferente da água de rosas com que as jovens inglesas
costumavam se encharcar. Ela seria tão morna e picante quanto o cheiro?, perguntou-se,
ansioso por descobrir.

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— Você não é uma criança — murmurou com o coração acelerado.
— Certamente que não, meu caro Sr. Drake.
Stuart segurou a echarpe, quando ela deu um passo a frente, evidenciando os
contornos adoráveis. Ela relanceou sobre o ombro quando a peça deslizou para o chão.
Num ímpeto, tocou-a na nuca e deixou os dedos vaguearem na linha da espinha,
tateando os botões que ele ansiava por desatar.
— Sua noiva não está esperando?
A pergunta o trouxe para a realidade, e ele encolheu os ombros.
— Não somos formalmente noivos.
Um sorriso malicioso se insinuou nos lábios cheios.
— Certamente, você partirá o coração dela... Stuart respirou fundo.
— Não é essa minha intenção.
A mulher misteriosa assentiu e se sentou no sofá com movimento fluido, reclinando
a cabeça para o lado enquanto brincava com os cachos negros da vasta cabeleira.
— É óbvio que você não a ama. É apenas o desejo que conduz seus atos?
Não, com certeza não era o mesmo desejo que o flagelava naquele momento,
pulsando dentro do corpo forte com força selvagem.
— Não, não a amo — admitiu sem relutar. Ela cruzou as pernas e balançou o pé
delicado.
— O que pretende? — Stuart quis saber, sentando-se no braço da poltrona.
— Oh... Apenas conhecê-lo.
A situação ficava melhor a cada minuto, Stuart pensou, deslizando para o lado
dela. Inclinou o corpo, pressionando o abdômen às curvas sinuosas, e apoiou a mão
sobre o ombro delicado, com os rostos separados por apenas um sussurro.
— Nesse caso, vamos nos conhecer melhor...
— Ah, mas eu já ouvi falar de você — ela murmurou, esquivando-se quando Stuart
tentou capturar seus lábios.
— E provou ser exatamente como eu supunha.
Ele riu contra os cabelos perfumados, roçando o lóbulo da orelha com suavidade.
— E a noite só está começando.
Enquanto falava, Stuart afastou a mecha encaracolada para trás da orelha,
deixando os dedos demorarem-se no declive do ombro para descerem ao decote do
vestido. Ela o segurou com gesto firme.
— E quanto ao que ouviu falar de mim? Também provou ser verdadeiro?

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Ele congelou. O tórax arfava rapidamente sob sua mão, mas a nota hostil na
pergunta o assustou.
— Não a conheço. — Tentou empregar tom bem humorado. — E começo a desejar
saber o que ouviu falar de mim.
— Não sabe meu nome, e sei que faria amor comigo se eu libertasse sua mão.
Estou certa? — Ela se moveu para mais perto, roçando o quadril contra a ereção massiva
de Stuart.
— Hum... Presumo que seu silêncio fale mais alto que as palavras.
— Quem é você? — Stuart exigiu, afastando-se com brusquidão. — O que sabe a
meu respeito?
Ela não se moveu, mas os olhos misteriosos reluziram num brilho hostil por uma
fração de segundo.
— Oh, Stuart... — ela disse suavemente. — Ouvi falar de você assim como você
ouviu falar de mim. Eram suposições, mas pude ver com meus próprios olhos que você
deseja fazer amor comigo sem sequer saber meu nome.
— Eu agiria da mesma forma se qualquer mulher me seduzisse como você fez —
ele ralhou. — Que tipo de jogo é esse?
— Eu já disse. — Ela abriu um sorriso triunfante. — Estava curiosa sobre você.
Vim à biblioteca para pensar antes de conhecê-lo, pois Susan me disse que seríamos
apresentados esta noite.
Stuart sentiu o sangue congelar nas veias e desejou que o chão se abrisse para
tragá-lo quando ela prosseguiu:
— Sou Charlotte Griffolino, a velha bruxa desalmada, tutora e guardiã de Susan
Tratter.
— N... Não! Não pode ser! Charlotte é velha... Ela ergueu um ombro.
— Celebrei meu aniversário de trinta anos nesta primavera. Para minha sobrinha,
sou considerada velha.
Charlotte Griffolino era dois anos mais jovem que ele! Uma onda de fúria cresceu
em seu peito. Susan o enganara! Agora, a chance de tê-la como esposa estava
irremediavelmente perdida.
— Você deve estar se divertindo, não é? — ele vociferou, esquecendo-se do
tratamento respeitoso.
— Divertindo-me? Por descobrir sem sombra de dúvida que minha sobrinha estava
prestes a ser seduzida por um aventureiro? Por saber que o homem que quase arruinou
duas outras herdeiras em Londres pretendia fazer o mesmo com a filha do meu próprio
irmão, enquanto ela estava sob meus cuidados? Não, estou longe de me divertir.

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— Você me enganou! — Furioso, ele apontou o dedo em riste, sem ter como
argumentar.
— Mas eu não disse nada para encorajá-lo.
Stuart tremeu com a força da raiva. Ela o seduzira, sabendo exatamente quem ele
era, fazendo-o cair na própria armadilha.
Desejou castigá-la da forma mais vil e, ainda assim, queria fazer amor com ela.
Ela o fitou com olhos superiores e desdenhosos.
— Vejo que você tem inclinação para forçar uma mulher a cair em sua teia.
O coração de Stuart bateu mais rápido.
— Eu nunca forcei mulher alguma! Foi você que me seduziu.
As sobrancelhas bem feitas se arquearam.
— É mesmo? Do mesmo modo que a Srta. Pennyworth o seduziu ao acompanhá-
la de Londres a Dover? Que a Srta. Anne Hale o convidou a molestá-la no jardim da
própria avó?
—Você não sabe nada do que aconteceu a qualquer dessas duas jovens. Eu não
manchei a honra de nenhuma das duas.
— E mesmo? Rumores sobre sua desgraça também chegam a Kent.
Stuart sabia disso. Foram as fofocas sobre os incidentes que enfureceram seu pai
e o conduziram ao exílio em Kent, duas semanas atrás. No entanto, aquela mulher fazia
soar como se ele deliberadamente desvirtuasse donzelas inocentes por esporte.
— Não tenho nada mais a dizer — ele anunciou, caminhando para a porta.
— Fico muito feliz em ouvir isso. Mostre alguma decência e vá embora. E lembre-
se de nunca mais procurar Susan.
Stuart parou com a mão na maçaneta. Sua consciência o alertava de que deveria
deixar aquela casa sem nenhuma palavra que dignificasse sua humilhação,
especialmente para Susan. Mas ele nunca partia sem dar a última palavra, nunca teve
disciplina para manter a boca fechada quando o melhor seria se calar.
— Ela suplicou para que fugíssemos — anunciou, como se revelasse um segredo
de estado.
— Você não concordará — foi o sussurro em tom calmo e sereno que obteve como
resposta.
Ainda segurando a maçaneta, Stuart se virou lentamente. A penumbra que a
envolvia, conferia-lhe uma aura de mistério, tornando-a ainda mais sedutora. A luxúria se
confundia com raiva numa combinação perigosa.
— Está muito segura de si, Charlotte.
Ela inclinou a cabeça, pensativa, e o estudou sem disfarçar o interesse.
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— Sim. Conheço muitos homens como você. — Sorriu com desprezo. — Você não
tem o menor interesse em Susan, embora a tenha influenciado a acreditar que o ama.
Seu objetivo é o dinheiro que pode conseguir com esse casamento. Se fugirem, não terão
um único xelim, posso lhe assegurar.
— Negaria à própria sobrinha os confortos que ela está acostumada? Que espécie
de tia é você?
Charlotte encolheu os ombros.
— Meu coração é frio como gelo e duro como o mármore. Se insistir em tomar
Susan como esposa, investirei toda libra que possuo para escondê-la em lugares que
você nunca localizará, mesmo que procure pelo resto de seus dias.
— A herança pertence a ela! — Stuart a lembrou.
Ela puxou a echarpe sobre os ombros e se envolveu como em um casulo.
— Herança que foi deixada sob meus cuidados pelo meu irmão. George
concordaria plenamente com minha decisão. Ele classificava os caçadores de fortunas
como as mais baixas criaturas, destruidores de sonhos, esperanças e reputação de
jovens inocentes. A vida não significa nada para esse tipo de gente. Tudo o que importa é
terminarem a aventura em posse de uma fortuna, que não fizeram nada para merecer.
Stuart fechou os punhos.
— Seu julgamento é severo demais. Sua sobrinha não tem o direito de opinar
sobre os assuntos do próprio coração?
— Se você foi o eleito daquele ingênuo coração, ela cometeu um erro sério. Um dia
Susan me agradecerá por preveni-la. Mas, você não estava de saída?
Stuart teve vontade de exalar uma rajada de fogo, só assim demonstraria toda sua
ira. Ela tinha razão; ele deveria estar a caminho. Galantear a tia de Susan estava fora de
questão, e se amaldiçoou por se deixar seduzir pela beleza de Charlotte.
— Sim, estava—disse afinal —, mas não pense que nossos caminhos não se
cruzarão novamente.
— Não faz a menor diferença para mim...
— Mas eu me importo — ele murmurou antes de sair. Charlotte não se incomodou
com a ameaça velada. A porta se fechou e ela terminou calmamente de desenrolar a
echarpe dos ombros.
— Esse não foi um truque agradável — uma voz soou das sombras.
Uma plumagem suave de fumaça flutuou pelas cortinas que escondiam as portas
do terraço. Charlotte encolheu os ombros sem olhar para Lúcia. A amiga italiana era o
mais próximo de uma família que ela possuía, mas não estava interessada em opiniões
naquele momento.
— Ele mereceu. Um homem honrado não teria agido de maneira tão baixa.

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— Somente um homem sem sangue nas veias não teria tentado seduzi-la.
Ela ignorou o comentário seco. Não era a sobrinha de Lúcia que estava à beira da
calamidade.
— O que importa é ter confirmado minhas suspeitas sobre ele. Stuart Drake não
ama Susan. Ele faria amor com outra mulher sem hesitar.
— Continuo achando que a idéia não foi boa. Ele não se esquecerá de que foi
enganado — advertiu Lúcia.
— Péssima idéia é você fumar, Lúcia. Não se esqueça de que foi o tabaco que a
tirou dos palcos — ela respondeu no mesmo tom. — Eu tenho de cuidar de Susan. Você
virá comigo?
— Não. Ficarei aqui um pouco mais. — Lúcia soltou uma baforada prazerosa e
Charlotte acenou a mão em protesto enquanto ia para a porta. — Stuart não é nenhum
tolo. Espero que não o subestime.
Charlotte parou defronte a porta. Stuart Drake era mais enérgico do que ela
esperava. Virilidade e displicência o tornavam encantador da maneira mais atormentadora
possível. A energia quase selvagem que havia aflorado quando estavam muito próximos
era excitante e perigosa. Algumas mulheres poderiam achá-lo atraente, mas ela não se
deixaria iludir.
— Ele é igual a todos os homens — declarou com firmeza antes de sair.
Charlotte caminhou pelo corredor e se reuniu aos convidados, enviando um sorriso
cortês para a anfitriã. A Sra. Kildair acenou com discrição em resposta, fazendo-a pensar
que a senhora provinciana somente a aceitara em sua mansão por não saber do seu
passado escandaloso. Ademais, a fortuna de Susan abria todas as portas da sociedade, e
sua guardiã era um apêndice indispensável.
Charlotte parou na entrada, procurando abertamente por Susan e disfarçando o
interesse em avistar Stuart. Achou-o primeiro.
Ele parecia mais jovem do que imaginara, e muito mais bonito. Os cabelos escuros
só não eram mais negros que os olhos. Alto, atlético, viril...
Sentiu um calafrio inesperado correr pela espinha quando ela ergueu o rosto por
sobre o ombro do cavalheiro com que conversava e os olhares se encontraram.
Ela não se moveu. Permaneceu impassível, sem um sorriso ou aceno. Não
demonstrou nenhum sinal de que o temia, embora o ar entre eles parecia chiar com a
ferocidade que ambos sentiam.
— Tia Charlotte?
Ela se virou imediatamente para Susan e sorriu.
— Sim, querida? Está desfrutando o baile?

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— Estou... — Susan baixou as pálpebras, culpada depois de ter se encontrado
furtivamente com Stuart. — Lúcia foi embora?
— Não. — Charlotte riu. — Céus, ela está tentando sufocar os jardins dos Kildair
com aqueles cigarros.
Susan enrugou o nariz.
— Eles são asquerosos! — Ela abafou um riso nervoso. — Desculpe, não pretendi
ser rude.
— Bem, você disse a verdade. — Charlotte comprimiu a mão ao redor do braço de
Susan. — Venha, vamos tomar uma taça de champanhe.
— Eu posso? — Os olhos azuis se arregalaram em surpresa. — Papai nunca
permitiu que eu bebesse, nem mesmo em ocasiões especiais.
Charlotte sorriu e tomou a mão da sobrinha para atravessar a ampla sala à procura
da mesa de bebidas.
Charlotte, tia aficionada que era, considerava Susan adorável. Os cabelos eram da
cor do trigo, sem nenhum cacho que denotasse a consangüinidade com ela, e olhos azuis
claros.
Mas também era objetiva o bastante para perceber que a sobrinha não era, e
provavelmente nunca seria, considerada bonita. Ainda assim, estava determinada a vê-la
casada com alguém que quisesse sua felicidade.
Susan se manteve calada até que estivessem com uma taça de champanhe cada
uma, assistindo aos casais rodopiarem no salão. Somente então decidiu expor o tópico
que Charlotte sabia ter estado na mente dela a noite toda. Porém, não suspeitava de que
a tia tivesse ouvido a conversa entre ela e Stuart.
— Tia Charlotte, a senhora sempre disse que poderíamos conversar sobre
qualquer assunto — ela começou, a voz um pouco mais alta que o habitual. — Há algo
que eu gostaria de lhe dizer.
— Claro, querida. O que é?
Susan tomou um gole, enchendo-se de coragem.
— Não sou mais criança. Tenho quase dezoito anos, idade suficiente para
conhecer meu próprio coração, e encontrei o homem com quem pretendo me casar. —
Ela pestanejou, surpreendida pela reação calma da tia. — Papai queria que eu fosse feliz,
e Drake é o homem que escolhi.
— Susan, não creio que este seja o momento mais indicado para conversarmos —
Charlotte disse em tom suave, notando que Stuart as observava de longe.
Por que aquele miserável não partira, como ela havia pedido? Susan ficaria
magoada, mas pelo menos as pouparia de uma cena pública. Um confronto na Mansão
Kildair não seria só humilhante para a sobrinha como uma descortesia com os anfitriões.

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— Por favor, tia, peço apenas que o conheça. Charlotte escondeu a contrariedade
atrás de uma expressão serena.
— Se você deseja, querida...
Susan não esperou que ela terminasse a frase. Atravessou o salão e voltou um
segundo depois de braço dado com Stuart.
Charlotte observou-o, perturbada por percebê-lo até maior e mais devastador que
na biblioteca.
— Gostaria de lhe apresentar Stuart Drake, tia. Drake, minha tia, condessa
Griffolino.
— Boa noite. — Charlotte inclinou a cabeça e ele se curvou numa mesura formal.
— Stuart, contei para ela o quanto nos amamos — Susan disse apressadamente,
sem disfarçar o nervosismo. — E que desejamos nos casar.
Ele sorriu, e Charlotte poderia acreditar na sinceridade que os olhos sedutores
revelavam.
— Realmente, o senhor roubou o coração de minha adorável sobrinha — ela
comentou em tom gentil.
Susan deu risada, parecendo ainda mais jovem e vulnerável ao lado dele.
— Ela é adorável. — Stuart fez uma mesura e a encarou. — A senhora me
honraria com uma dança?
Charlotte ficou desconcertada com o convite inesperado e se agarrou à echarpe
num gesto de defesa.
— Enquanto valsamos, podemos discutir minha proposta de casamento —
continuou ele com arrogância.
Charlotte passeou o olhar da mão estendida para o rosto. O sorriso encantador
ainda estava lá, mas não alcançava os olhos. Susan esperava com expectativa,
apertando as mãos em súplica.
— Talvez seja aconselhável que esta conversa tenha mais privacidade — Charlotte
sugeriu com cortesia. — Estaremos em casa amanhã. Por que não vai nos visitar?
— Não. Eu prefiro que seja agora. Na verdade, não posso esperar até amanhã.
Gostaria de ter sua resposta o mais cedo possível.
— Por favor, tia! — Susan prendeu a respiração e se virou para Stuart, que estava
com os olhos pregados na condessa.
Charlotte o odiou ainda mais ao perceber a esperança na voz da sobrinha.
Você já teve sua resposta, praguejou silenciosamente e entregou a taça para
Susan.
— Se você deseja... Querida, você esperará por mim?

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— Oh, sim! — A sobrinha quase aplaudiu quando Stuart tomou a mão delicada da
tia.
Imediatamente os dedos longos cercaram os dela num aperto firme, e seguiram
para o centro do salão, onde os pares se reuniam para a próxima dança.
— Você está desperdiçando seu tempo — ela murmurou, ajustando a echarpe a
uma posição mais segura.
Stuart não retrucou. Deslizou a mão pelo braço esguio, num movimento
deliberadamente sensual, e a envolveu pela cintura.
— O que está fazendo? — Charlotte vociferou por entre os dentes.
— Temos de ficar mais próximos. A próxima dança será uma valsa — ele
esclareceu, recusando-se a soltá-la.
— Não será uma valsa! Estamos em Kent, e não em Londres — Charlotte retrucou,
consciente de que a valsa era uma novidade das metrópoles que ainda não chegara à
província, assim como os boatos a seu respeito.
Empurrou-o com sutileza para não chamar a atenção, porém, não conseguiu se
desvencilhar da armadilha do braço que a prendia.
— Eu disse à Sra. Kildair que nenhuma anfitriã instruída deixa de incluir uma valsa
em suas recepções — justificou Stuart com um sorriso devastador.
Charlotte pestanejou aos ouvir os primeiros acordes e constatar que, de fato,
tratava-se de uma valsa. Antes que pudesse reagir, sentiu aumentar a pressão do abraço
e ser conduzida com tal domínio que não teve como não acompanhá-lo. Rodopiaram pela
pista, movendo-se em completa sintonia como se fossem um só corpo, e ela repugnou o
fato de ser guiada na mais completa submissão.
— Não é preciso me apertar — reclamou, empurrando-o. — Eu sei dançar.
— Minhas desculpas. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Talvez prefira conduzir.
— Não desejo dançar. Já teve sua resposta. Se não partir logo, será ainda mais
difícil para Susan.
— Você está segura de que pode me intimidar, não é?
— Minha intenção não é essa. Você não está apaixonado pela minha sobrinha, é
tudo que preciso saber para não aprovar a união.
Charlotte apertou os lábios com desprezo. A mão ainda apertava a sua e o braço
firme a prendia pela cintura, impossibilitando que se afastasse.
— Talvez o incidente na biblioteca tenha causado má impressão, mas saiba que
você tem tanta culpa quanto eu — Stuart sussurrou-lhe ao ouvido. — Reagi da mesma
forma que um homem normal reagiria... Ou você nunca seduziu um homem antes?
— Eu não o seduzi! — ela sibilou, tentando libertar a mão livre.

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— Então, deveria aprender a não provocar um homem. Ele pode se equivocar
quanto às suas reais intenções.
— Oh, tem razão. Nesse caso, serei clara para que não haja equívoco: você
nunca, de forma alguma, se casará com Susan. Não se iluda, pois não vou mudar de
idéia.
— Toda mulher muda de idéia, até mesmo eu, querida bruxa desalmada —
provocou ele com um murmúrio.
Charlotte o empurrou, mas se viu ainda mais presa no abraço firme.
— Você não entende nada de mulheres se pensa assim.
— Acredite, não faz idéia de como está errada.
Ele riu, e Charlotte odiou-se por ficar fascinada por aquele sorriso.
— É tolo por acreditar nisso. Aliás, não é diferente dos outros homens.
— Talvez tenha razão. Eu mesmo já cometi muitas tolices, mas aprecio o gênero
feminino, especialmente se estiver acompanhado de uma boa fortuna.
Outro sorriso, dessa vez malicioso, iluminou aquele rosto másculo.
— Claro. Freqüentemente, esse é o melhor atributo de uma mulher — Charlotte
respondeu com azedume.
— Sem dúvida, e em especial quando se trata de alguém uma disposição ácida,
temperamento difícil ou olhares desfocados pela idade.
A mão exigente tateou as costas de Charlotte, deixando ii pele arrepiada por onde
passava.
— Solte-me! — ela exigiu, controlando-se para não gritar.
— Não seja hipócrita! — A voz de Stuart soou perigosamente suave e calma. —
Você se insinua como uma depravada e se ofende como uma virgem enfurecida, quando
alguém entra no seu jogo. Além do mais, está longe de ser uma virgem ingênua.
Charlotte ofegou em choque quando ele aproximou os lábios para murmurar em
sua orelha:
— Não pense que esta disputa foi encerrada. Está apenas começando.
Sem considerar as conseqüências sociais, Charlotte o afastou com brusquidão. Os
convidados assistiram, escandalizados, quando ela estendeu o braço para estapeá-lo no
rosto antes de atravessar o salão com passadas furiosas.
Charlotte arrastou a sobrinha para fora do salão de baile, sentindo os olhos de
Stuart acompanhá-la. A anfitriã correu ao seu encalço, mas, para alívio de Charlotte, a
carruagem chegou rapidamente, e elas entraram na cabine antes que tivessem de dar
maiores explicações.

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— Como pôde fazer isso? — Susan lamentou em lágrimas, encolhida no banco. —
A senhora nos humilhou diante de toda sociedade de Kent!
— Você entenderá quando for mais velha, querida.
— Quando eu for mais velha! — Susan esbravejou. — Por que não posso ser
como a senhora? Por que tenho de seguir suas regras tolas sobre a cor dos meus
vestidos e com que cavalheiro devo dançar?
— O Sr. Drake me insultou — Charlotte disse com calma.
— Ele foi rude.
— Isso não é verdade! — Susan engoliu um soluço e apertou a mão sobre o
estômago. — Ele é encantador e cortês com todos, não só comigo. A senhora deve ter
dito algo que o ofendeu!
— O que a faz pensar que estou mentindo? — Charlotte franziu a testa, indignada.
— Stuart Drake é um trapaceiro. Não é homem para você.
— Sim, ele é! E eu o amo!
— Susan, eu só quero...
— Eu sei o que quer. Quer arruinar minha felicidade para que eu termine tão
miserável quanto a senhora!
Ao ver que a sobrinha estava à beira da histeria, Charlotte reprimiu uma resposta
mais cortante.
— Stuart Drake não passa de um caçador de fortunas. Você se ilude ao pensar
que o segurará pela vida toda. Quando ele tiver gastado sua herança, não hesitará em
abandoná-la.
— Está com ciúme porque ele não prestou atenção na senhora.
— Ouça, Susan, não importa o que você diga, eu não permitirei que se case com
ele.
— Eu o amo e se não tivermos seu consentimento, esperaremos a ocasião
oportuna para fugirmos!
— Sua tola — Charlotte murmurou com certa simpatia.
— Ele terá ido embora antes do fim da semana, sabendo que não se casará com
uma herdeira.
— Ele não quer meu dinheiro — Susan clamou entre soluços. — Se a senhora se
casou por interesse, não significa que todos farão o mesmo!
Charlotte obrigou-se a ficar quieta pelo restante do trajeto. Susan não era
responsável pelo que dizia no calor da raiva.

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— Acho que deveríamos discutir isto pela manhã — propôs logo que entraram em
casa. — Sinto muito se está magoada, mas é melhor que enfrente a verdade agora. Tudo
vai terminar bem, eu prometo.
— Para a senhora, talvez. — Susan soluçou, subindo em desabalada carreira a
escada para o segundo piso.
Charlotte sentou-se numa poltrona com um suspiro agoniado. Poderia viajar para
Londres com a sobrinha, mas isso não evitaria que Susan ficasse ressentida. Faria
qualquer um usa para protegê-la, entretanto, não suportaria se a odiasse.
A porta da frente se abriu para a entrada de Lúcia, que levou com ela uma nuvem
recendendo a rosas e tabaco.
— Isso que eu chamo de uma noite! — ela exclamou, caindo pesadamente na
poltrona ao lado de Charlotte. — Os bailes oferecidos pelos Kildair são os melhores.
Charlotte sorriu com indiferença. Lúcia deveria ter sido uma das estrelas mais
luminosas em Milan. A renomada soprano ainda era uma celebridade em Kent, embora já
não pudesse cantar com o mesmo brilhantismo com que encantara as platéias da Europa.
— E você, cara mia, proporcionou um espetáculo à parte! — Lúcia riu, tirando um
cigarro da carteira.
— Susan nunca me perdoará! — Charlotte lamentou, estendendo um cinzeiro para
a amiga italiana.
— Bobagem. Deixe-a fazer beicinho. Agora não a ajudará, mas depois, com um
homem... — Lúcia acenou, gesticulando com o cigarro. — O que o Sr. Drake disse para
ser esbofeteado em público?
— Em síntese, para ele a fortuna é o melhor recurso de uma mulher — respondeu
ela com desprezo.
— Bem, não posso negar que admiro a honestidade desse cavalheiro.
— Ele não é um cavalheiro! — Charlotte protestou. — Fez observações insultantes
sobre minha honra. Chamou-me de hipócrita e disse que eu não era nenhuma virgem
inocente.
— Mas você de fato não é. Ademais, não há qualquer uso para uma virgem.
— Pode ser que não, quando se trata da Itália, mas os ingleses não pensam assim.
— Suspirou Charlotte. — Talvez eu seja mesmo hipócrita. Em parte, casei-me com Piero
pelo dinheiro, mas paguei caro por isso.
— Você se casou para protegê-lo, e o dinheiro o acompanhou. Sem contar que ele
tinha idade para ser seu avô. Queria uma mulher bonita nos braços, e conseguiu.
— E o que Stuart Drake tem a oferecer para Susan, além de um ego colossal?
— O avô dele é visconde, Lotte. — A amiga lembrou-a. — Ele não parece ser mau
partido; é um belo herdeiro e possui classe. Um dia, Susan será viscondessa.

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— Isso não basta para uma jovem cujo pai foi um verdadeiro gentleman.
— Não basta? Que outra razão as pessoas têm para se casar? — Lúcia soltou
uma longa e prazerosa baforada. — Não entendo por que os ingleses se sentem
compelidos a se casarem para desfrutar os prazeres do sexo. E muito melhor deixar o
casamento fora disso. Por que se prender a um só homem, se há tantos no mundo?
— Naturalmente, não contarei sua opinião para Susan. Lúcia riu, mas a amiga se
manteve séria. Stuart Drake era perigoso, especialmente para uma moça ingênua como
Susan, repleta de sonhos românticos.
— O casamento entre eles não duraria uma semana, Lúcia.
— Qual caso amoroso dura mais que isso? — O comentário foi acompanhado de
uma nuvem de fumaça. — Se você mesma não quiser seduzir o rapaz, eu posso fazê-lo...
Para o bem de Susan, é claro.
— Não!
Charlotte sentiu um estranho incômodo ao pensar na boca sensual de Stuart,
deslizando pelo pescoço de Lúcia e os dedos longos acariciando o corpo curvilíneo.
Forçou-se a se lembrar de que ela própria quase cedera aos apelos eróticos, entregando-
se a ele na biblioteca da Mansão Kildair.
Stuart Drake não merecia ser seduzido. Merecia ser atirado numa masmorra.
— Não, Lúcia, não ajudaria. Além disso, ele é muito velho para seu gosto.
— Quantos anos tem?
— É mais velho do que eu. — Charlotte riu com ironia ao pensar que Susan a
considerava à beira de morte.
Porém, ao contrário do que a sobrinha pensava, ela se lembrava com clareza de
como era ter dezessete anos e estar apaixonada. Conhecia também a maldade do mundo
e não permitiria que a sobrinha colocasse o coração nas mãos de um mercenário.
Seria inevitável que Susan se ressentisse com qualquer interferência,
especialmente sua. Seria muito mesmo, se Stuart se afastasse por si próprio, ela decidiu,
pondo-se a andar pela sala.
A menos que...
Charlotte parou de súbito e olhou para a amiga com um suspiro aliviado.
— Acaba de me ocorrer um plano excelente que vai eliminar de vez o charmoso Sr.
Drake!
A manhã de Stuart não foi menos frustrante que a noite anterior. Sendo dia de
pagar o aluguel, o proprietário cobrou-o antes do desjejum. Ele tentou não pensar nas
finanças, cada vez mais escassas. Esperava logo ter uma noiva rica para obter crédito no
mercado. Se os boatos do incidente da noite anterior chegassem aos ouvidos dos
credores, começariam a requerer pagamento adiantado.

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Antes de sair do quarto, ele abriu a carta da mãe, que o mensageiro acabara de lhe
entregar. Leu-a depressa, permitindo-se um breve momento de remorso por não estar
com ela em Londres.
Para completar o mal-estar, descobriu que a fascinação por Charlotte Griffolino não
tivera a morte súbita que ele esperava, depois de ter sido humilhado publicamente duran-
te a valsa. Passara a noite pensando naquela mulher, com enfoque especial nas formas
do corpo bem feito.
Enquanto caminhava tranqüilamente pelas calçadas, chegou a ter esperança de
que conseguiria esquecê-la facilmente, mas quando a vislumbrou em seu passeio
matutino, soube que a batalha estava perdida.
Assistiu-a de longe descer da carruagem e entrar na Mansão Kildair, movendo-se
com a mesma graça sensual que o encantara na noite anterior. O vestido acinzentado
com decote alto, mangas longas e saia simples pretendia ser sóbrio, mas tinha efeito
contrário, deixando-a ainda mais atraente. O gorro azul pálido se moldava à face e ele
não se surpreenderia se visse um livro de oração, apertado naquelas mãos enluvadas.
Estava quase irreconhecível, e somente um olhar mais apurado revelava que era a
mesma mulher com quem flertara na noite anterior.
Stuart contraiu o rosto. Havia algo estranho. Apostaria seu último centavo e
perderia com satisfação, mas aquele não era o estilo da condessa.
Charlotte foi admitida na casa e a sensação de desconforto aumentou no íntimo de
Stuart. Não sabia por quê, mas teve a certeza de que ela estava tramando algo.
Deveria evitá-la como a uma praga, e ainda assim, não pôde. Ajeitando o chapéu,
aproximou-se da carruagem que a conduzia. O cocheiro se sobressaltou quando foi
abordado, despertando abruptamente da soneca.
— Diga-me, esta é a carruagem da Sra. Griffolino?
— Sim — o homem respondeu sem nenhum rastro de curiosidade.
— Eu estava indo visitá-la. E pena que não esteja em casa para me receber. —
Stuart apertou os lábios com um gesto afetado. — Ela pretende ficar muito tempo?
— Não sei dizer.
Stuart estava certo de que o cocheiro fora contratado apenas para a temporada.
Ele próprio tinha empregados temporários e conhecia os sinais. Sabia que a tentação era
maior que a lealdade.
— Ela não vai se demorar — o cocheiro disse ao ver a moeda reluzente na mão de
Stuart. — Disse para esperá-la aqui.
Stuart olhou de um lado para outro da rua, que começava a ficar movimentada.
— Não é bom para os cavalos ficarem neste sol, não acha?

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— Sim, mas tenho que seguir as ordens. — Stuart sacudiu outra moeda, que ele
guardou-a discretamente no bolso. — Claro, não posso ficar parado aqui por muito tempo.
A carruagem está bloqueando o tráfego.
— Tem toda razão, meu amigo. Por que não vai dar uma volta no parque?
O cocheiro assentiu com um toque na aba do chapéu, antes de agitar as rédeas.
Stuart assistiu com um sorriso lânguido. Assumiu posição perto do portão e esperou.
— Sra. Kildair. — Charlotte sorriu timidamente ao entrar na mansão. — Receava
que não quisesse me receber depois de ontem à noite.
— Oh, não! — Os olhos curiosos notaram a expressão abatida de Charlotte. —
Está indisposta? Sente-se e tome um pouco de chá.
Levou-a para a sala de estar e indicou uma poltrona, piscando rapidamente.
— A senhora é muito amável. Eu... Eu tenho de me desculpar por ontem à noite.
Não pretendia causar uma cena.
— Charlotte se interrompeu, pressionando um delicado lencinho nos lábios com
afetado constrangimento. Quase riu ao ver que a curiosidade da anfitriã era quase
tangível.
— Minha querida condessa! O incidente de ontem não é digno de nota. — A Sra.
Kildair alcançou mão de Charlotte.
— O que a aborreceu a ponto de precisar dar um tapa no rosto do Sr. Drake?
Era óbvio que a simpatia da anfitriã era forçada, mas Charlotte assentiu,
pressionando-lhe a mão.
— E muito gentil por dizer isso. Eu imaginei que tivesse causado rumores e até que
minha atitude fosse considerada afrontosa. Sr. Drake... Oh, eu sei que o recebeu como
cavalheiro legítimo. Naturalmente, ninguém tinha idéia que não fosse! Mas, Sra. Kildair,
se soubesse o que ouvi falar sobre esse homem... Quando descobri que minha própria
sobrinha tinha caído em sua teia... — Ela suspirou, simulando enxugar uma lágrima. —
Eu perdi a cabeça. Por favor, me perdoe.
A Sra. Kildair deu uma tossidela.
— O que quer dizer? Está insinuando que o Sr. Drake é... Charlotte fechou os
olhos e inalou profundamente, como se fosse doloroso prosseguir.
— Estive em Londres há duas semanas, depois de viajar para a Itália com a Sra.
Ponte para resolver assuntos do testamento de meu falecido marido. Não costumo
freqüentar os eventos sociais, mas mesmo em meu limitado círculo, ouvi falar do Sr.
Drake.
A Sra. Kildair murmurou em condolência e ofereceu-lhe uma xícara de chá.
Charlotte tomou um gole lentamente.

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— Ele tem reputação de ser notório caçador de fortunas. Está atolado em dívidas e
correm boatos escandalosos a respeito dele. Coisas que nem consigo dizer!
Os olhos da anfitriã se arregalaram em expectativa.
— Mas ouvi dizer que a família dele é uma das mais respeitadas da corte! O Sr.
Drake é herdeiro do título de visconde de Belmaine...
— O próprio pai o expulsou de casa, banindo-o de Londres — Charlotte a
interrompeu. — Ele está sem o suporte financeiro da família até que receba o título de
nobreza, o que pode levar anos, já que o avô e o pai estão em excelentes condições de
saúde.
— Oh, não! — A respiração da Sra. Kildair se tornou ofegante. — E nós pensamos
que ele fosse um cavalheiro...
Charlotte balançou a cabeça em negativa.
— É o que ele quer que todos pensem. Além do quê, pretende encontrar uma
noiva rica, só que a razão pela qual o pai o expulsou afasta qualquer jovem decente.
— E mesmo?
Charlotte reprimiu o riso ao perceber que sua interlocutora estava à beira de uma
síncope, fitando-a sem sequer piscar. Em seguida, apanhou a xícara e sorveu o chá sem
pressa.
— Ele se aproximou de minha sobrinha quando eu não estava aqui para
aconselhá-la e vigiá-la.
— Naturalmente. — A Sra. Kildair tossiu levemente antes de perguntar: — O quê,
precisamente, ele fez para ser banido do Londres?
Charlotte hesitou. Abriu e fechou a boca, olhou para fora o inalou com força para
emitir um sussurro confidencial, aumentando assim a cena.
— Duas herdeiras se encantaram com as atenções do Sr. Drake. A honra de uma
delas foi arrumada, quando foram flagrados, enquanto ele removia a meia-calça da moça
no jardim da própria avó. A família o expulsou da propriedade com promessa de
processá-lo, caso ele voltasse a por os pés por lá. A outra jovem concordou em dar um
passeio de carruagem, sem desconfiar do verdadeiro caráter de seu acompanhante.
Depois de um tempo razoável, o irmão dela foi procurá-los. Encontrou-os na estrada de
Dover, e só Deus sabe até onde ele pode tê-la levado! Ela foi afortunada por ter um
pretendente e se casar pouco tempo depois, não dando tempo de ficar marcada pelo
escândalo. Como vê, o pai do Sr. Drake teve sérios motivos para expulsá-lo.
Uma exclamação chocada escapou dos lábios da Sra. Kildair, e Charlotte se
recostou no assento para assistir ao efeito de seu pequeno espetáculo particular.
— Acha que ele realmente desonrou aquelas jovens? Charlotte tomou o chá,
alcançando o lenço.

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— Sra. Kildair, eu acho que ele é capaz de arruinar a reputação de todas as
donzelas de quem se aproximar, incluindo minha própria sobrinha! E teria sido... — Ela
estremeceu e cobriu os olhos com o lenço. — Teria sido minha culpa!
Deixou escapar duas lágrimas e a anfitriã, sensibilizada com tamanho sofrimento,
aproximou-se e tocou-a no braço.
— Minha querida Sra. Griffolino, devo-lhe muito pelo que contou. Esteja certa de
que, de hoje em diante, o Sr. Drake não será bem recebido em nenhuma casa decente
desta cidade!
Charlotte reprimiu o riso ao sair da Mansão Kildair. Sua atuação fora perfeita. Sem
grande esforço, conseguira uma aliada fundamental para seu pequeno plano.
Alcançou o passeio e parou, olhando de um lado para outro à procura da
carruagem. Quando, em vez do carro, avistou Stuart parado do outro lado da rua, sentiu o
sangue ferver.
O coração bateu descompassado quando ele atravessou com passadas vagarosas
e sorriso provocante, parando a seu lado.
— Acho que começamos mal a noite passada. Nossa relação ficará fadada ao
insucesso se eu não tiver chance de me defender. Nunca quis ofendê-la, e peço
desculpas se, inadvertidamente, possa tê-la ultrajado. — Stuart usou o mais sensual dos
tons de voz para aquela conversa.
— Não há nenhuma relação entre nós — sibilou ela sem encará-lo, estremecendo
de raiva. Pensou em seguir andando, mas receou que ele a acompanhasse. — Por favor,
vá embora.
— E deixar uma senhora desamparada e aflita em pleno passeio público? Nunca!
— Você é a causa do meu desespero.
Stuart riu, admirando o perfil bem feito. De perto, o vestido não parecia tão severo
quanto ele julgara. O tecido macio não escondia a saliência do busto ou a curva generosa
dos quadris. Ele imaginou suspendê-lo e avançar lentamente, tateando cada polegada de
pele macia... Respirando fundo, forçou-se a lembrar que por mais que ela o atraísse, não
cederia à qualquer tentação. Tinha outras preocupações no momento, como por um fim
na hostilidade que ele próprio causara.
— Estou despontado por não ter me concedido a mão de sua sobrinha.
— Estou certa de que está.
— E não tenho dúvida de que agiu impulsivamente quando estávamos dançando.
— Esperará muito tempo se anseia ouvir minhas desculpas.
— Proponho que esqueçamos o incidente — Stuart prosseguiu, ignorando a
hostilidade. — Kent é pequena demais para começarmos uma guerra.

Projeto Revisoras 24
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— Estou de pleno acordo, e espero que encontre outro lugar para seduzir alguma
outra herdeira ingênua. Receio que não encontre presas tão suscetíveis por aqui de agora
em diante.
Para alívio de Charlotte, a carruagem surgiu como em um passe de mágica, e ela
se apressou em entrar.
Imóvel na calçada, Stuart assistiu-a se afastar com senso crescente de apreensão.
Se por um acaso, ela tivesse conseguido se aliar à Sra. Kildair, sua reputação se
arruinaria num piscar de olhos.
Seus receios foram confirmados. Ao final do dia, cinco das senhoras mais
arrogantes da cidade haviam virado o rosto ao vê-lo passar. Fora abertamente
menosprezado no parque. As moças que costumavam enviar olhares sedutores, não lhe
dedicaram nada além de um profundo desprezo. ,
Ele podia suportar a recusa da mão de Susan. Afinal, fora sua própria culpa ter
sucumbido ao ardil de Charlotte. Porém, não tinha dúvida de que ela estava por trás do
ostracismo ao qual fora lançado e não estava disposto a perdoá-la.
De alguma forma, daria o troco, decidiu. Afinal, na guerra e no amor, tudo era
permitido.
Além do mais, Susan ficara com o valioso anel que pertencera a sua mãe. Stuart
se viu sem escolha: tinha de resgatá-lo a qualquer custo.
A casa, situada numa rua tranqüila nas imediações da cidade, era modesta para
uma mulher que tinha nas mãos a fortuna Tratter. Porém, diante do que planejava fazer,
Stuart se sentiu grato por não ser uma fortaleza.
Da sua posição, agachado por trás dos arbustos, observou a deusa da vingança
sair. Trajava vestido azul, da mesma cor das safiras que ostentava ao redor do pescoço.
Ao seu lado, Susan trajava um vestido da mesma cor, em tom mais pálido, e permanecia
cabisbaixa. Stuart endereçou-lhe um pedido silencioso de desculpas pelo ato que estava
prestes a cometer. Se não fosse pelo anel da mãe, teria esquecido do assunto. Era óbvio
que não se casaria com Susan Tratter. Sendo assim, queria o anel de volta.
Ele retirou do bolso o luxuoso frasco de prata que ganhara de Phillip Ware, seu
melhor amigo, e sorveu uma dose de uísque. Não costumava beber com freqüência, no
entanto, precisava de um estímulo extra para criar coragem. Nunca invadira uma casa
antes, mas as circunstancias exigiam que agisse com determinação.
Quando a carruagem se afastou com as três mulheres, Susan, Charlotte e a
cantora hospedada na casa; ele se esgueirou pelo jardim e seguiu para os fundos. Com
as damas fora durante a noite, seria previsível que os criados se recolhessem aos
aposentos ou a cozinha, deixando livre o restante da casa.
Encontrou uma janela lateral aberta e entrou sem esforço. Ficou imóvel por um
momento, atento ao menor ruído, antes de continuar a missão.

Projeto Revisoras 25
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Percebeu que havia entrado na biblioteca, que parecia não ser muito usada. O piso
estava recoberto de pó e receou que sua presença fosse denunciada pelas pegadas no
chão. Mesmo assim, decidiu procurar o anel em todos os recantos possíveis. Deixou a
cortina entreaberta para que o luar iluminasse o aposento e se pôs a vasculhar as
gavetas da escrivaninha, sem o menor sinal do anel. Avistou uma caixa no alto da estante
e colocou-se na ponta dos pés para apanhá-la. Ao suspendê-la, acabou por se
desequilibrar e se viu sufocado, quando algo como um manto pesado o encobriu.
— Por Deus! — balbuciou, com o coração disparado.
Levou alguns segundos para se convencer que de que não havia razão para
alarme. Desvencilhou-se da armadilha e se afastou, estreitando os olhos com espanto ao
perceber que se tratava de uma pele de tigre.
Que tipo de mulher mantinha algo como aquilo em casa?, pensou com repulsa.
Ele respirou fundo e tratou de se acalmar. Não estava ali para julgar o caráter de
Charlotte. Hesitante, ponderou se o anel valia tanto esforço. No entanto, pensou em
quantas vezes havia desapontado a mãe e se convenceu a prosseguir.
Guardou a pele de tigre no mesmo lugar em que a encontrara e saiu, subiu com
cuidado a escadaria para os quartos. Com sorte, encontraria as acomodações de Susan.
Na certa, o anel estaria lá, cuidadosamente guardado.
Ao colocar a mão na maçaneta da primeira porta, ouviu vozes femininas.
Exasperado, prendeu a respiração e olhou redor, procurando algum lugar para se
esconder. Passos, cada vez mais próximos, o forçaram a agir. Sem pensar, abriu a porta
e entrou. No mesmo instante, soube a quem pertencia o aposento. Bastou inalar para
reconhecer o perfume inconfundível de Charlotte.
O fogo na lareira crepitava num murmúrio repousante, iluminando a alcova. O
quarto era comum, mas os objetos pessoais revelavam bom gosto e excentricidade.
Entrou em uma das portas e reconheceu o quarto de vestir. Sem resistir ao impulso, tocou
a fina camisola de seda que ainda guardava o cheiro de sua dona. Desejou beijar cada
vestido, com o sangue correndo mais rápido nas veias, ao imaginar que estaria tocando
um pouco de Charlotte.
Voltando ao quarto principal, sentou-se na cama e esperou que as vozes das
criadas silenciassem. Aventurou uma rápida olhada para o corredor, certificando-se de
que não havia mais ninguém no andar superior, e voltou às buscas. Quanto mais tempo
permanecesse na casa, mais chances teria de ser apanhado.
Abriu o porta-jóias sobre o toucador e prendeu a respiração, espantado. Havia uma
fortuna em jóias, bem ao alcance de sua mão. Retirou um colar de esmeraldas e admirou-
o com reverência, imaginando como seria retirá-lo do pescoço de Charlotte.
O som de uma porta se fechando o assustou. Num impulso irrefletido, enfiou o
colar no bolso e se agachou por trás da cama até que o silêncio voltou a reinar. Mesmo
sem ter encontrado o anel, decidiu que seria melhor partir antes de ser flagrado. Caso

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isso acontecesse, a condessa acrescentaria o humilhante adjetivo de ladrão à sua
reputação de caçador de fortunas.
Com cuidado, ele desceu a escada com a intenção de voltar à biblioteca, onde
deixara a janela aberta. Apenas quando fechou a porta ao passar, percebeu que havia
entrado no aposento errado. Todo o espaço fora preenchido com caixotes fechados. Será
que estariam de partida, ou não tiveram tempo de desempacotar os pertences?
Curioso, tentou abrir um dos caixotes. Retirou uma peça envolta em palha e,
mesmo na penumbra, reconheceu um valioso vaso de porcelana.
Um som mais alto fez com que ele congelasse. Escondeu-se atrás do caixote,
consciente de que não estava sozinho. Quem quer que fosse, não havia levado lampião.
Um vulto surgiu no seu campo de visão, entrando silenciosamente pela janela. O
intruso entrou no aposento, e Stuart sentiu-se um hipócrita por desejar defender a casa,
quando ele próprio era um invasor.
A figura se agachou diante do caixote que ele abrira e vasculhou apressadamente.
A seguir, forçou todas as tampas e vasculhou caixas após caixas, com tamanha
habilidade e discrição que Stuart mal conseguia respirar, receando ser ouvido. Ficou
aliviado quando ouviu passos na sala de estar. Seu oponente congelou e, num piscar de
olhos, desapareceu pela janela.
— Quem está aí?
Ele espichou o pescoço para ver o mordomo parado à porta, segurando um
lampião. Tentando controlar as batidas desenfreadas do coração, permaneceu imóvel até
que a porta se fechasse novamente e a escuridão o protegesse.
Pulou a janela com cuidado e saltou para o jardim. Somente então, percebeu o
peso extra no bolso do casaco e lembrou-se, horrorizado, de que não havia reposto o
colar de esmeralda no porta-jóias. Agora, era um ladrão de jóias!
Desolado, rumou para casa amaldiçoando o dia e em que havia conhecido
Charlotte Griffolino.
— Está faltando alguma coisa? — Charlotte perguntou pela quinta vez, no centro
da sala de música. Suspirou e olhou para o mordomo num pedido de desculpas. — Não
se preocupe, Dunstan. Eu não esperava que detivesse o ladrão. Quero apenas saber o
que ele levou.
O mordomo olhou ao redor com desgosto.
— Não faço idéia, senhora.
Os dois cavalariços entraram na sala depois de vasculhar a casa.
—Não encontramos ninguém, senhora. Verificamos todos os quartos e aposentos.
— Obrigada. — Ela os dispensou com gesto discreto e voltou para o hall, onde
Susan e Lúcia a esperavam em companhia das criadas.

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— Oh, tia Charlotte, eu nunca pude imaginar que havia ladrões em Kent. E se
estivéssemos em casa?
— Não estávamos, e é o que importa. Vá para a cama, querida. Eu cuidarei de
tudo. Vou pedir a Tom e Henry que durmam no hall esta noite. Ficaremos seguras.
— Está bem.
Susan suspirou e saiu do quarto. Ela fez o mesmo, acompanhada de Lúcia, não
sem antes se certificar de que todas as portas e janelas estivessem fechadas.
Os caixotes estavam remexidos, indicando que alguém procurava algo em
particular. Ela havia reservado aquele aposento como depósito da coleção de arte que
herdara do marido italiano e as caixas permaneciam intocadas desde que se mudara. Ela
não pretendia desembalar as peças, ao menos até aquele momento.
— Por que você mantém a valiosa coleção de Piero guardada em caixas? — Lúcia
quis saber ao subirem juntas a escada.
— Se eu desfizer as embalagens, a casa ficará parecida com um museu.
E parecida com a Itália, completou em pensamento. A verdade era que não
desejava nada que estava dentro daquelas caixas. Não esperava que o falecido marido
deixasse a coleção de arte como herança. No entanto o testamento continha uma
cláusula específica, onde Piero ressaltava que não se desfizesse de nada para manter a
memória da afeição que ele nutria pela esposa. Não pôde recusar quando o advogado se
prontificou a mandar a carga por navio da Itália para a Inglaterra. Se Lucia não a
estivesse acompanhando, Charlotte teria jogado cada caixa no oceano durante a viagem.
— Bem, não há mais nada a fazer — ela comentou, detendo-se à porta do quarto.
— Boa noite. Nos veremos pela manhã.
Quando entrou, lamentou que o fogo da lareira estivesse apagado. As criadas
estavam assustadas demais para subirem ao quarto e alimentarem as chamas. Então,
colocou o candelabro sobre o toucador e começou a remover a jóias. Quando abriu o
porta-jóias, notou de imediato a falta do colar de esmeraldas. Horrorizada com a noção de
que alguém entrara em seu quarto, vasculhou cada canto, sem deixar de notar que a
colcha da cama estava enrugada e que o intruso também mexera em suas roupas no
quarto de vestir.
Uma onda de repulsa revirou seu estômago. A idéia de que alguém se deitara em
sua cama e tocara as roupas com mãos sujas a deixou doente. A sensação de que sua
intimidade fora violada tirou-lhe o sono.
Charlotte vestiu-se para dormir e se deitou. Quando conseguiu dormir, foi para
sonhar com a vingança contra o homem que tivera a ousadia de entrar em seu santuário.
Na manhã seguinte, Charlotte escondeu os sentimentos da sobrinha, quando ela e
Lucia se sentaram à mesa para desjejum.

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— O que acha de irmos às compras hoje? — ela indagou com entusiasmo forçado.
— Estive pensando sobre aquela musselina amarela que você gostou. Talvez possamos
dar uma olhada.
— E mesmo? — Susan arregalou os olhos, surpresa. — Mas a senhora disse que
era inadequado para a uma moça da minha idade.
— Bem, eu reconsiderei.
Susan assentiu com os olhos brilhantes de entusiasmo. Quando George morreu e
Charlotte soube que tinha sido nomeada como guardiã da única filha, ela passara a
alimentar a esperança secreta de que Susan se tornasse uma amiga próxima, numa
combinação da irmã mais nova que sempre desejara e da filha que nunca teve.
Infelizmente, Susan não passava de uma criança quando Charlotte deixou a Inglaterra,
mas se lembrava da sobrinha com afeto.
Sim, satisfaria o desejo de Susan. O vestido era um tanto provinciano para seu
gosto, mas a garota já tinha idade suficiente para escolher suas roupas e desenvolver
estilo próprio.
— Com licença, senhora — o mordomo interrompeu seus pensamentos. — Tom
encontrou isso no jardim.
Ele segurava um pequeno frasco prateado contendo alguns goles de uísque.
Charlotte apanhou-o, surpresa. Era uma peça fina que somente um cavalheiro poderia
carregar. Não parecia ser típica de um ladrão barato que invadia casas.
— Posso ver? — Susan pediu com evidente nervosismo. — Por favor?
Relutante, Charlotte entregou-lhe o frasco, estranhando o interesse da sobrinha.
Ela apanhou o recipiente como se o objeto a tivesse queimado os dedos. Então,
embrulhou o frasco como o guardanapo, afastando a cadeira.
— Com licença, tia. Já terminei o desjejum. Charlotte franziu a testa ao ver que ela
não tocara em nenhum dos ovos mexidos.
—Preciso do frasco, Susan. Vou levá-lo para o magistrado. Talvez ele possa
descobrir a quem pertence.
— Oh, não! Tenho certeza de que não é do ladrão. Não pode ser.
— Susan, dê-me o frasco!
Ela estendeu a mão e a sobrinha recuou um passo, com respiração ofegante.
— Não, não... Eu... Eu acho que é meu. Papai me deu.
— Então, deixe-me vê-lo de novo.
Charlotte se levantou e apanhou-o contra a vontade de Susan. Por que estava
tentando escondê-lo?, pensou, intrigada. E foi então que entendeu. Uma elegante letra
"D" estava gravada em um dos lados, sobreposta ao entalhe de um dragão flamejante.
Drake!

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— A quem pertence esse objeto, Susan? — insistiu em tom grave.
— Já disse que foi papai que me deu. — A garota pestanejou rapidamente.
— Por acaso, não pertence ao Sr. Drake?
Susan abriu e fechou a boca, mortificada. Então, o suposto cavalheiro havia
invadido a casa e mexido em seus itens pessoais. Como ele ousara mexer em suas
roupas íntimas?
— Ele não invadiu a casa! Drake é um cavalheiro!
— Depois que você foi para a cama, descobri que um colar de esmeraldas
desapareceu. O Sr. Drake está desesperado por dinheiro.
— Ele não faria isso! — Susan se pôs a chorar.
— Faria, se tivesse perdido a esperança de se casar com você e sua fortuna.
Susan engoliu as lágrimas e Charlotte se arrependeu por ter sido tão cruel. Antes
que pudesse se retratar, a sobrinha correu para fora e bateu a porta com força.
Charlotte examinou a peça mais uma vez com fúria crescente. Susan não
acreditava que seu querido namorado fosse ladrão, mas era óbvio que roubar era
considerado natural para um caçador de fortunas.
Ela apertou os dedos ao redor do frasco, ponderando se deveria levá-lo como
prova para as autoridades e exigir que o prendessem, ou convidar Stuart para retornar à
cena do crime e recebê-lo com uma pistola nas mãos... Melhor ainda, pensou em invadir
os aposentos dele e responder com a mesma moeda. Qualquer uma das criadas poderia
fornecer-lhe o endereço de Drake, já que todos se conheciam naquela cidade.
Indecisa, ela refletiu que não podia fazer tal coisa. Se fosse razoável, não entraria
no quarto de Stuart para vandalizar seus pertences à procura do colar...
Mas foi exatamente o que fez!

Capítulo II

Charlotte ficou surpresa com a facilidade que encontrou para entrar nos aposentos
de Stuart. Uma rápida escalada pela macieira, cujos galhos tocavam a janela no segundo
piso bastou para levá-la a seu destino.
O apartamento, obviamente mobiliado pela senhoria, era modesto e destituído de
conforto. Stuart deveria estar verdadeiramente desesperado para se instalar ali...
Apavorado o suficiente para invadir casas, ela lembrou, voltando ao trabalho.
Pretendia achar seu colar, deixar uma nota ácida em seu lugar e nunca mais dirigir um
olhar que fosse a Stuart Drake.

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Mal abriu a primeira gaveta da cômoda quando ouviu um ruído abafado no
corredor. Arregalou os olhos, assustada, e procurou algum lugar para se esconder ao ver
a maçaneta girar lentamente. Correu para trás da cortina pesada de veludo e encolheu os
pés, prendendo a respiração.
Stuart entrou e atravessou o quarto para acender o lampião. Se prestasse atenção,
poderia ver claramente a saliência na cortina. Para alívio de Charlotte, ele se dirigiu ao
outro aposento, levando junto a lamparina. Ela respirou aliviada e avaliou os riscos de sair
pela janela. Na certa, ao descer pela árvore, faria mais ruído do que se atravessasse pé
ante pé e fugisse dali pela porta.
E foi o que fez. Com respiração suspensa, caminhou na ponta dos pés. Quando
alcançou a maçaneta, um círculo de luz invadiu o quarto. Sem pensar, ela olhou sobre o
ombro.
— Mas o quê...? — Stuart ergueu o lampião e pestanejou como se não acreditasse
no que estava vendo. — Oh! Que inesperado prazer! — exclamou, recobrando-se da
surpresa. Com gesto ágil, segurou Charlotte pelo braço e arrastou-a pelo quarto para
sentá-la na cama.
— Deixe-me! — ela exigiu, tentando se desvencilhar.
— Ainda não... Não antes de saber a que devo a honra da sua visita. Eu a teria
deixado entrar. Bastava bater à porta. Não havia necessidade de invadir o quarto.
— Aqui é o último lugar onde eu gostaria de estar. Porém, você sabe muito bem
porque vim. Quero meu colar de volta. Você o roubou.
— O que a faz pensar que fui eu?
— Você não é um ladrão tão esperto quanto pensa — ela disse por entre os
dentes, afastando o rosto. — Devolva-me o colar e deixe-me ir. Se fizer isso, talvez eu
não comunique o furto às autoridades.
— Oh, é mesmo? — Ele a focalizou com sorriso provocante. — Como fui tolo por
pensar que você tinha vindo para se desculpar dos rumores maldosos que espalhou a
meu respeito...
Charlotte sentiu o sangue ferver e puxou o braço com um movimento brusco. No
entanto, Stuart segurou-a com firmeza e estendeu o braço livre para alcançar um lenço,
usando-o para prender as mãos delicadas atrás das costas.
— Não vou deixá-la partir ainda, não até que tenha reparado o que fez.
— Solte-me, ou cortarei sua garganta! — ela retrucou com voz baixa e olhos
brilhantes de fúria, porém, não se moveu.
— Não está em posição de me dar ordens. Mesmo porque ainda não decidi o que
farei com você...

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Com gentileza, ele afastou dos olhos faiscantes, uma mecha de cabelos negros.
Os dedos deslizaram para a curva do queixo e a linha o pescoço. Stuart inalou
profundamente.
Aquela pele macia e perfumada era um convite para beijos ardentes.
— Você está muito atraente, mesmo nesses trajes masculinos — murmurou ao
ouvido de Charlotte. — E sei exatamente o que gostaria de fazer com você...
— Eu me enganei a seu respeito — ela sibilou sem encará-lo, e Stuart julgou que
fosse ouvir um pedido de desculpas até que ela prosseguiu: — Achei que fosse um
conquistador, seduzindo as mulheres com suas maneiras educadas. No entanto, não
esperava que tivesse de usar força física em suas conquistas.
— Nunca tive de usar a força física para ter uma mulher, e não será essa a
primeira vez.
A mão atrevida desceu para o decote da camisa e roçou de leve os seios fartos.
Stuart sorriu ao sentir o tremor que o contato provocou.
— Solte-me! Você está me machucando!
— E o que fez comigo? Os comentários que espalhou a meu respeito destruíram
minha reputação.
— Não posso retratar o que disse a seu respeito. A Sra. Kildair já se incumbiu da
tarefa. Mas se me deixar sair, posso tentar redimi-lo.
— Quanta bondade! — ironizou ele. — Basta de discussões. Devo desculpas pela
minha pequena performance naquela noite, na biblioteca. Porém, sou um simples mortal e
sucumbi aos desejos da carne.
— Por que você invadiu minha casa? — Charlotte exigiu saber, fuzilando-o com o
olhar.
— Não, não... — Ele estalou a língua em reprovação. — Você já fez perguntas
demais.
Enquanto Charlotte observava, atônita, ele abriu o primeiro botão da camisa e
afrouxou o colarinho.
— Se não me desamarrar agora mesmo, vou registrar queixa de assédio sexual da
forma mais cruel e perniciosa possível! — ameaçou ela.
— E como vai explicar o fato de estar no meu quarto? Há dois amigos respeitáveis
que poderão jurar que jantamos juntos, sem a companhia de qualquer acompanhante.
Charlotte praguejou em voz baixa, odiando-se por sentir a pele queimar de desejo
com o toque daquela mão possessiva.
— Seu pescoço é adorável... — a voz soou como doce provocação. — Tão
delgado e macio... Adoro a curva onde encontra os ombros, aqui... Um homem poderia
enfrentar um exército por estes ombros.

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Os dedos tocaram levemente o colarinho da camisa e Charlotte abriu a boca para
protestar, sem encontrar palavras.
Encolheu-se quando os lábios quentes pousaram em seu colo arfante, logo abaixo
do pescoço.
— Você está me tocando — reclamou ela por entre os dentes.
— Oh, desculpe... — Tudo que Charlotte pôde ver foi o brilho daqueles olhos
sedutores. — Sua pulsação está acelerada... Seria por imaginar o que poderia acontecer
se eu a beijasse?
— Pare! Por favor!
— A faixa que está usando para disfarçar o busto está muito apertada... — ele
prosseguiu, tocando de leve o volume que se insinuava sob a camisa. — Seus seios se
encaixam perfeitamente na minha mão. — Enquanto falava, Stuart desceu a camisa,
desnudando parte dos ombros delicados. — Eu poderia beijá-la por uma eternidade,
antes de deixá-la cavalgar em mim... Você gosta de comandar, Charlotte? Ou gosta que
seu amante fique sobre você, assumindo o controle?
Ela balbuciou um som inaudível quando as mãos abaixaram a camisa até a cintura,
expondo a faixa que envolvia os seios.
— Quase posso ver sua expressão de deleite quando eu possuí-la... Você se
movimenta lentamente, ou gosta de fazer amor de forma selvagem? — Com vagar, ele
começou a desatar a faixa. Charlotte fechou os olhos, tentando acalmar as batidas
desenfreadas do coração. — Abra os olhos. Veja como seus seios se moldam
perfeitamente nas minhas mãos. Assim...
Uma onda de arrepios percorreu a pele de Charlotte ao sentir o contato das palmas
quentes. Os polegares se moviam, brincando com os mamilos rijos. Ela rezou em silêncio
para que acontecesse algum milagre que a salvasse daquela deliciosa tortura. Traída pelo
próprio instinto, sentiu-se inundar pelo desejo que pulsava por todo seu corpo já entregue.
As palavras de Stuart se transformavam em imagens vívidas. Podia delinear aquele corpo
vigoroso, totalmente nu em sua imaginação. Quase podia senti-lo penetrando-a com uma
força possessiva.
— Mas vou mostrar quem de fato está no comando... — A voz grave, agora soava
como música. — Depois que fizer sua cavalgada, quero possuí-la de pé, contra a parede,
sem que tenha nada para se apoiar a não ser meu corpo. Quero seus braços ao redor do
meu pescoço, suas pernas envolvendo meu quadril...
Os dedos escorregaram até os joelhos, passeando livremente pelas coxas macias.
Charlotte prendeu a respiração, buscando apoio nos travesseiros, quando sentiu-se
tocada com ousada intimidade. Naquele instante, uma força maior derrubava sua razão,
impedindo-a de reagir. Não podia mais suportar aquele toque, mas seria capaz de morrer
sem ele.

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Stuart respirou fundo, embriagando-se do perfume inconfundível que inundou o
quarto, quando abriu o zíper da calça de Charlotte. Depois, começou a viajar pelo ventre
macio, insinuando, vez por outra, os dedos sobre o monte de Vênus, pressionando
delicadamente.
Depois de uma exploração eterna, os dedos hábeis encontraram o ponto mais
sensível da feminilidade, quente e úmida, recepcionando-os. Um sorriso curvou os lábios
de Stuart. Sim, ela o desejava e a noção deixou-o ainda mais excitado.
No entanto, seduzir uma mulher que o odiava não fazia parte da sua conduta. Com
esforço supremo, retirou a mão e Charlotte gemeu em um suave protesto. Os olhos
estavam fechados e as madeixas aneladas se espalhavam pelo travesseiro como um
manto negro. Stuart hesitou. Seria pedir muito a um homem que resistisse ao apelo
erótico que emanava daquela mulher.
Decidiu, então, desamarrá-la. Se ela permanecesse na cama por vontade própria,
ficaria evidente que desejava ser seduzida.
Alcançando o lenço que a prendia, ele se inclinou para capturar a boca macia no
momento em que soaram batidas insistentes na porta. Ele parou a meio caminho,
pestanejando como se tivesse sido abruptamente despertado de um sonho.
Decidiu ignorar o chamado e roçou os lábios de Charlotte, pronto para capturar a
boca sensual.
— Drake! Abra a porta!
Charlotte abriu os olhos no mesmo instante, como se tivesse recobrado a razão.
— Não se preocupe — Stuart sussurrou. — São meus amigos. Fique quieta, ou
todos na cidade saberão que está aqui.
Ele se levantou e saiu do quarto, fechando a porta ao passar.
— O que querem? — Não deixou que Jameson e Whitley entrassem no quarto,
mantendo-se colado à porta.
— Uma carruagem para voltar para Londres — Whitley respondeu, visivelmente
embriagado.
O amigo, hospedado na mesma pousada, o acompanhara a Kent disposto a fazer-
lhe companhia e viver algumas aventuras amorosas na província, mas começara a se
entediar depois da primeira semana longe da corte.
— Todas as mulheres querem saber aonde você se meteu — Jameson comentou
com um sorriso. — Você não costuma se recolher tão cedo.
— Drake, a vida no campo está acabando com você! — Whitley anunciou com voz
pastosa. — Vamos voltar para Londres amanhã!
—Você sabe que não posso voltar, Whit — ele resmungou, irritado. — Fora isso,
não tenho fundos para gastar dinheiro com mulheres.

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— Stuart, seu demônio! — Whitley deu dois passos cambaleantes na direção do
aparador a um canto do corredor. — Se não tem dinheiro, como comprou este magnífico
colar?
Stuart abriu a boca, atônito. Havia se esquecido completamente que colocara o
colar ali enquanto pensava numa forma de devolvê-lo.
Jameson se adiantou e pegou a jóia das mãos do amigo. Aproximou-a da luz do
lampião e virou-a de um lado para outro.
— Onde você comprou o colar, Stuart? Foi numa joalheria de boa reputação?
— Não. Comprei de um amigo — mentiu, intrigado ao ver o amigo examinar a peça
com atenção.
— Espero que tenha pagado uma ninharia. — Jameson balançou a cabeça e o
estendeu para Stuart. — Você sabe que é falso, não sabe?
Surpreso, Stuart colocou a jóia sobre o toucador. Jameson fora o primeiro amigo
que fizera em Kent. A opinião dele acerca da jóia merecia consideração, já que era filho
de um dos joalheiros locais.
— A pedra ficaria em mil pedaços se fosse submetida à pressão. Claro, não tenho
lupa nem luz apropriada para a um exame mais apurado, mas diria que há grandes
chances de ser uma falsificação barata.
— Nesse caso, vamos esclarecer os fatos — Whitley propôs, momentaneamente
recobrado da embriaguez. —Vamos falar com o pai de Jameson.
— Não. Meu pai não deve saber disso, mas há outro joalheiro na cidade, e sei que
é um homem discreto. No entanto, depende de Drake.
— É claro que ele quer saber! Ele foi enganado.
Stuart ouvia os dois amigos, porém estava com os pensamentos longe. Charlotte
saberia que as esmeraldas eram falsas? Se sabia, por que invadira seus aposentos atrás
do colar?
De súbito, decidiu que tinha de saber a verdade.
— Vou apanhar o casaco e volto num instante. Entrou no quarto e trancou a porta
com duas voltas na fechadura para que a curiosidade dos amigos não os levasse a entrar.
— Quem está aí? — Charlotte quis saber.
— Alguns amigos — respondeu simplesmente. — Tenho de sair, mas voltarei
dentro de uma ou duas horas.
— E vai me deixar aqui, amarrada?
— Seja paciente. Você não pode sair enquanto eles estiverem no corredor. Espere
até meu retorno.
— Não!

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— Shhh... Fale baixo! Não quer que eles saibam que está deitada seminua na
minha cama, não é?
— Ao menos, tenha a gentileza de me desamarrar.
Ele hesitou e se aproximou para subir a camisa e abotoá-la, cobrindo a nudez de
Charlotte.
— Drake? — Jameson o apressou do outro lado da porta. — Vai demorar muito?
— Desculpe, mas tenho de ir. — Stuart fez uma mesura antes de sair, fitando
Charlotte com brilho divertido nos olhos.
Levou menos de uma hora para que falassem com o joalheiro. Depois de um
minucioso exame profissional, as suspeitas de Jameson foram confirmadas: tratava-se de
uma jóia falsa.
Stuart se despediu dos amigos, dispostos a terminar a noite em uma taverna, e,
enquanto voltava para casa, refletiu sobre as razões que levariam Charlotte a usar uma
falsificação.
Decidiu que não tinha nada a ver se a jóia era verdadeira ou não. Todos tinham
direito de ter pequenos segredos, até mesmo a mulher que se empenhara em difamá-lo
para toda a cidade.
Ele entrou no quarto e se aproximou da cama para desamarrar Charlotte.
— Pronto! Está livre agora.
— É muito gentil da sua parte — ela respondeu com ironia, esfregando os pulsos
doloridos. — Não me espantaria He minha aia invadisse esta pensão com a polícia para
me procurar!
— Se não contou aonde pretendia ir vestida como homem, ela na certa supôs que
você estava disfarçada para algum encontro furtivo...
Ele estendeu a mão e entregou-lhe o colar. Era uma admissão tácita de culpa, mas
não se importou.
— Isso é tudo?
— Sim. Não trouxe mais nada comigo.
— Então, por que invadiu minha casa?
— Acredite, não tinha intenção de roubá-la — declarou, sem contudo revelar o real
motivo. — Coloquei o colar no bolso do casaco sem querer, quando me assustei ao ouvir
passos no corredor. — Stuart suspirou e sentou-se na cama ao lado dela. — Entrei na
porta errada e me deparei com uma sala repleta de caixotes. Só que alguém mais entrou
lá...
— Quem? Quem era? — Charlotte indagou, preocupada.
— Como vou saber? Ele remexeu em todas as caixas.

Projeto Revisoras 36
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— O que ele estava procurando?
Stuart ergueu os ombros, subitamente cansado.
— Não faço idéia.
— E ele disse alguma coisa? O que usava?
— Não tivemos tempo de conversar. — Ele se levantou e apanhou o casaco do
armário. — Vista isso. A noite está fria e você não quer ser reconhecida, certo?.
— Quero saber quem estava na minha casa!
— Eu já disse, não sei. — Ele jogou o casaco na cama e foi para o vestíbulo
apanhar o chapéu. — Vamos. Já tivemos excitação suficiente por uma noite.
Stuart e Charlotte caminharam lado a lado. Passava das dez horas da noite e as
ruas estavam desertas. Durante o trajeto, ela insistiu com veemência em saber mais
detalhes sobre o homem que invadira sua casa na noite anterior, mas foi inútil.
Ele a acompanhou até a porta e esperou que ela entrasse em segurança.
Atravessava o jardim com passadas rápidas, quando ouviu o farfalhar de um arbusto.
— Stuart!
Ao som da voz, ele fechou os olhos e se virou. Susan correu ao encontro dele,
aflita. O que estaria fazendo no jardim, àquela hora?
— Não consegui dormir — justificou ela, como se adivinhasse o pensamento dele.
— Fiquei pensando em como tia Charlotte o humilhou. Nunca vou perdoá-la!
Por um segundo, ele julgou que ela estivesse se referindo aos rumores sobre sua
reputação, mas lembrou-se do baile na Mansão Kildair.
— Tem sido uma semana difícil — ele disse vagamente.
— Está tarde, Susan. Creio que seria melhor se...
— Oh, não suporto mais todos a minha volta me dando ordens! — ela desabafou.
— Juro, não vou mais permitir que se intrometam na minha vida. Ainda vou conseguir ir
para Londres. Deve ser uma cidade maravilhosa!
—Temos de encarar a verdade—ele ponderou com calma.
— Sua tia nunca dará consentimento para nossa união.
— Quando eu já estiver casada, talvez ela mude de idéia.
— Susan, minha doce criança, o destino traçou caminhos separados para nós dois
— murmurou ele com dramaticidade afetada.
— Oh... Como Romeu e Julieta!
— Sim. Meu único consolo é que você enfrentará com mais nobreza do que eu.
— Já me conformei, Stuart. Sei que não ficaremos juntos. Mas, e quanto a você? O
que fará?
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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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— Não sei — informou ele com a mais pura sinceridade.
A verdade era que não havia mais condições de permanecer na província. Whitley
estava farto da monotonia e conseguiria facilmente convencer o amigo a voltar para casa.
Susan estendeu a mão num gesto de despedida, distraindo-o dos pensamentos.
— Sentirei sua falta.
Ele conteve o ímpeto de dizer que também sentiria, sabendo que era mentira. Por
fim, ficou satisfeito com o desfecho da situação. Embora tivesse perdido a oportunidade
de se casar com uma herdeira milionária, estava aliviado ao constatar que Susan não
saíra com o coração partido. Aos dezessete anos, as paixões eram tão fugazes quanto o
esquecimento.
— Susan, o que está fazendo aí?
Os dois olharam ao mesmo tempo para a varanda e se depararam com Charlotte,
trajando um elegante robe sobre a camisola. Era óbvio que ela havia se trocado para
dormir e, antes de ir para a cama, vislumbrara o movimento no jardim.
— Boa noite, Srta. Tratter — Stuart despediu-se com formalidade, fazendo um
gesto para que Susan entrasse.
— Susan, está na hora de ir para cama! — Charlotte insistiu em tom severo.
— Oh! A senhora acha que sabe tudo, mas não sabe! — Susan parou diante da tia
e levantou o queixo em desafio. — Por que insiste em destruir minha vida?
Perplexa com a reação hostil, Charlotte fez um gesto para que Stuart fosse embora
e entrou atrás da sobrinha.
— Susan? — Bateu à porta do quarto e abriu uma fresta. A sobrinha estava parada
à janela. — Posso entrar?
— Por que pergunta? Vai entrar mesmo que eu não queira. Charlotte mordeu os
lábios e entrou. A luz das quatro velas no candelabro mal iluminava o aposento.
—Peço desculpas por tê-la envergonhado diante de Stuart. Sinto muito.
— Não, não sente! — retrucou Susan sem se voltar. — Por que o odeia tanto? A
senhora mal o conhece.
—Porque ele me faz lembrar de alguém que conheci certa vez, alguém que me fez
acreditar que me amava. Eu tinha a mesma idade que você. Quando me apaixonei
completamente, descobri que ele não queria nada além da minha herança.
— E como sabe que Stuart ou qualquer outro homem que se aproxime de mim
será igual ao seu antigo amor?
— Stuart foi expulso de Londres pelo próprio pai. Além disso, não conta mais com
a renda proveniente da família.
— Então, estou fadada a me casar somente com alguém que tenha mais dinheiro
que eu? Como posso encontrar tal pretendente, vivendo presa nesta cidade tediosa?
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— Você só tem dezessete anos, querida...
— Quantos anos a senhora tinha quando viajou pela Europa sozinha? Papai
costumava contar sobre todos os países pelos quais a senhora passava...
— Acredite, não foi tão romântico quanto você imagina
— Charlotte murmurou com tristeza. — Querida, estou tentando fazer o melhor.
Sinto muito se você não concorda com minhas atitudes, mas seu pai me nomeou sua
guardiã. Espero que entenda algum dia.
Como viu que a sobrinha não estava disposta a ceder, deu-lhe as costas e saiu do
quarto carregando uma profunda tristeza no coração. Durante a noite mal dormida
Charlotte rezou para que, um dia, Susan pudesse entender suas boas intenções.
Na manhã seguinte, ela dispensou os cuidados da aia para se vestir, sentindo-se
desolada demais para compartilhar qualquer companhia. Escovou os cabelos e os
prendeu com dois pentes, num coque simples no alto da cabeça. Escolheu um vestido
modesto e botas de pelica, completando a vestimenta com um xale de lã antes de descer
para desjejum.
— O que houve? — Lúcia franziu o cenho ao vê-la tão desanimada. — Alguém
morreu?
— Não. Por quê?
— Está sem maquiagem.
— As inglesas não são muito adeptas dos cosméticos, e decidi fazer o mesmo. E
também não estou com disposição para me maquiar — sentenciou Charlotte, olhando ao
redor.
— Susan ainda não desceu?
— Não sei dizer. Ela nunca fala comigo.
Charlotte assentiu. Era natural que a sobrinha se ressentisse de sua amiga italiana,
cujo comportamento libertino lhe causava inveja.
Ao convidar Lúcia para acompanhá-la a Kent, não imaginou que a presença da
amiga perturbasse Susan.
— Talvez ela queira dormir até mais tarde — ponderou. — Tivemos outra
discussão na noite passada.
— É difícil não discutir com ela. Aquela criança é birrenta o ingrata — criticou
Lúcia.
— Ela está numa idade difícil, sob circunstâncias difíceis. Pelo que pude ver,
terminou com Stuart ontem à noite e, na certa, atribui a mim a culpa pela sua infelicidade.
— Bem, não estarei aqui para presenciar mais uma discussão quando ela sair do
quarto. — Lúcia se levantou e colocou o guardanapo sobre a mesa. — Tenho um
encontro com um rapaz inglês que se ofereceu para ler algumas poesias de sua autoria.
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— Divirta-se. Vou esperar por Susan.
Charlotte terminou sozinha o desjejum e esperou a manhã toda sem que a
sobrinha saísse do quarto. À hora do almoço, começou a ficar preocupada. Subiu os
degraus e bateu de leve à porta do quarto.
— Susan, por favor, venha almoçar.
Não obteve resposta e ficou ainda mais preocupada. Abriu a porta devagar e enfiou
a cabeça pela fresta.
— Estou entrando...
As janelas fechadas não permitiam que a luz entrasse e ela estreitou os olhos para
se certificar de que a cama estava realmente vazia. Com tensão crescente, abriu a porta
da sacada e constatou que a cama não fora tocada. Apavorada, saiu correndo do quarto e
interpelou a primeira criada com quem cruzou.
— Onde está a Srta. Tratter?
— Não sei, senhora. Ela não me chamou hoje de manhã, e como a senhora nos
proibiu de entrar nos quartos até que fôssemos chamados...
— Por que não me disse que ela não chamou? — Charlotte censurou, irritada.
— Bem, eu... Eu achei que não fosse importante. A Srta. Tratter sempre dorme até
mais tarde, e achei que...
A frase da criada morreu na garganta quando Charlotte atravessou o corredor sem
lhe dar ouvidos, entrou no quarto e abriu a porta do guarda-roupa.
— Verifique se está faltando alguma coisa.
Enquanto a criada procurava, Charlotte andou pelo quarto. Nada parecia fora de
lugar, e ela caminhou até a escrivaninha.
E foi então que viu a folha manuscrita com a caligrafia bem-feita de Susan:
Tia Charlotte,
Não posso esperar mais. Sei que não poderá compreender e sinto muito que a
senhora não esteja presente no meu casamento, mas decidi seguir meu coração. Susan
Charlotte levou alguns segundos para registrar o sentido do que acabara de ler.
—Notei a falta de alguns vestidos, senhora. Devo verificar se estão na lavanderia?
— A aia pestanejou ao ver a expressão lívida de Charlotte. — Senhora?
— Eu vou matá-lo! — Charlotte disse por entre os dentes, ignorando a expressão
assustada da aia. — Juro que vou matá-lo com minhas próprias mãos!
O último dia de Stuart em Londres foi melhor do que esperava. Tinha dinheiro
suficiente para pagar o aluguel e para a viagem cansativa que teria pela frente.
Na noite anterior, depois de constatar que ninguém mais naquela cidade lhe daria
crédito e que sua reputação ficara irremediavelmente abalada, decidiu voltar para
Projeto Revisoras 40
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Londres. Ficou surpreso com a decisão de Whitley em permanecer na cidade, contudo,
manteve sua disposição em ir embora.
Benton, seu valete, havia carregado parte de seus pertences para a carruagem de
aluguel. Quando ouviu batidas à porta, julgou que ele havia voltado para apanhar nova
remessa.
— Onde está ela?
Stuart congelou ao ver a pistola nas mãos delicadas de Charlotte, apontando para
seu peito.
— Não tenho idéia do que está falando. — Deu-lhe as costas e entrou, sem
demonstrar a tensão que fazia seu sangue correr mais rápido.
— Não fuja, Stuart! Juro que vou atirar!
—E não terei como detê-la.—Ele olhou por sobre o ombro. — Como vê, estou
desarmado.
— Diga-me onde está Susan!
Ele se virou e não conteve uma gargalhada.
— Que tipo de estratégia está usando dessa vez? E muito boa, embora um tanto
melodramática. Na próxima vez, apele para um estilo mais moderno do que tragédias.
Quando segurar uma arma, é mais assustador para a vítima se estiver calma.
—Você não é nenhuma vítima. Onde está minha sobrinha? Stuart ergueu os
ombros, começando a ficar curioso.
— Já disse, não tenho idéia. Não a vejo desde ontem à noite. Por quê? Perdeu sua
preciosa herdeira, Charlotte?
— Não Sou nenhuma tola, Stuart. Se atirasse em você agora mesmo, faria um
favor a todas as mulheres, mas serei bondosa dando mais uma chance. Diga-me onde ela
está, e o deixarei viver.
— Por mais magnânima que seja sua oferta, não posso aceitá-la. Não sei onde sua
sobrinha está.
— Você fez as malas... — Ela olhou ao redor. — Vai deixar a cidade?
— É o que pretendo, e o quanto antes, melhor.
— E para onde vai?
— Para Londres — anunciou ele, depois de hesitar por um segundo.
— Bem, bem... Então, vai para Londres. — Charlotte pressionou o cabo da pistola
sem desviar a mira. — Vou com você. E quando finalmente encontrarmos Susan, terá de
contar a ela sobre seu plano cruel de se casar por interesse. Vai revelar suas tentativas
de arruinar a reputação de outras herdeiras, e como foi banido de Londres pelo próprio
pai. Então, vai implorar pelo perdão da minha sobrinha.

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Stuart cruzou os braços e se recostou no postigo da cama.
— E isso que a incomoda, não é? Está aborrecida porque Susan confia em mim.
— Não seja ridículo! Ela foi iludida por suas mentiras.
— Você lhe disse para me evitar como à praga, e ainda assim, ela corre para meus
braços tão logo você vira as costas. Isso, minha querida, está me cheirando a orgulho
ferido.
Charlotte abriu a boca para retrucar e ele ergueu as mãos em sinal de paz.
— Está bem. Pode não acreditar, mas também estou preocupado com o
desaparecimento de Susan. Vou levá-la para Londres comigo, já que está segurando uma
pistola, e poderá satisfazer sua suspeita de que sua sobrinha fugiu para se casar comigo.
Afinal, é disso que me acusa, não é? E se eu estiver mentindo... — Ele abriu os braços
num gesto indefeso. — Você poderá ter sua vingança da forma que escolher.
— É o que farei — Charlotte jurou.
— Mas se estiver enganada... — Stuart balançou a cabeça com um sorriso nos
lábios. — Então, eu terei o que quero: você, por uma noite.
Charlotte pestanejou. Como ele ousava!? Jamais concordaria com um acordo
daqueles.
No entanto, ela os vira juntos na noite passada e tinha plena certeza de que
haviam combinado um plano de fuga. Se ele julgava que poderia intimidá-la, fazendo-a
desistir frente àquela proposta indecente, estava muito enganado.
— Está bem. — resolveu ela por fim. —- Estamos combinados.
— Chegamos — anunciou Stuart.
Charlotte afastou a cortina da janela e espiou para fora. A carruagem havia parado
defronte uma magnífica mansão num bairro nobre de Londres.
Durante a exaustiva viagem, trocara apenas uma ou duas palavras com Stuart,
mantendo sempre a pistola apontada para o peito musculoso.
Não sabia para onde estavam indo e supôs que ele havia ordenado ao cocheiro
que parasse num endereço aleatório para tentar fugir. Porém, começou a mudar de idéia
quando Stuart atravessou o jardim com naturalidade. Seguiu-o, perplexa quando o
mordomo de trajes impecáveis abriu a porta da frente para recebê-lo.
— Boa noite, Sr. Drake. Não o esperávamos.
— Estou certo de que não. — Stuart entregou o sobretudo ao mordomo. — Há
alguém em casa?
— Lady Drake está na biblioteca, mas não estou certo de que lorde Drake tenha
voltado do clube.
— Onde está Susan? — Charlotte exigiu, com a mão no bolso do casaco onde
escondera a pistola.
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— Eu já disse, não tenho idéia. Você quis me acompanhar e saber para onde eu
estava indo. Bem, esta é minha casa. Está satisfeita?
— Só sossegarei quando vir minha sobrinha.
Stuart suspirou e fez um gesto para que o mordomo a ajudasse a tirar o casaco.
— Ah, você voltou?
Stuart e Charlotte se viraram ao mesmo tempo ao ouvirem a voz grave. Um
homem alto e de expressão séria os encarava, parado ao pé da escada. Os olhos
estavam fixos em Stuart, que hesitou antes de sorrir.
— Estou certo de que o senhor não esperava que eu passasse toda a estação em
Kent, Terrance.
Charlotte recuou um passo. Sua intuição lhe dizia que cometera um grande erro,
além do terrível pressentimento de que precisaria mais do que a cooperação forçada de
Stuart.
— Querido! Graças a Deus você está de volta!
Uma mulher de compleição delicada e feições suaves, emolduradas por cabelos
castanho-claros, correu ao encontro de Stuart.
— Oh! Que bom tê-lo em casa! — A mulher abraçou-o com ternura. — Eu não
sabia que viria hoje. Se tivesse avisado, teria mandado preparar um jantar especial para
você. Stuart beijou-a carinhosamente no rosto.
— Não é preciso, mamãe. Mamãe? Aquela era a mãe de Stuart?
Charlotte prendeu a respiração. Ele a levara para sua casa!
— Quem é sua convidada, filho?
— Oh, desculpe-me... Esqueci de apresentar minha amiga, a condessa Griffolino.
— Stuart fez um gesto na direção de Charlotte. — Esta é minha mãe, Amélia Drake, e
meu pai, Terrance Drake.
— É um prazer conhecê-la.—Amélia sorriu com educação.
— Viemos tratar de um assunto urgente — Stuart explicou. — A sobrinha da
condessa desapareceu e receamos que tenha sido seqüestrada e trazida para Londres.
— Meu Deus! — Amélia cobriu a boca com a mão. — A senhora deve estar muito
preocupada.
— Nós dois estamos, mamãe. Não há muitas pistas sobre o desaparecimento.
Deixamos Kent às pressas e ela não tem onde ficar esta noite.
Charlotte olhou para Stuart, surpresa com o comportamento tão cordial. Afinal, ele
fizera a viagem como seu refém, e agia como se estivesse cooperando com a busca por
vontade própria.
— Stuart, se você acha que pode...

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— Bem, os dois são bem-vindos nesta casa — Amélia interrompeu o marido e
tomou as mãos de Charlotte num gesto amigável.
— Não quero causar transtornos, Sra. Drake — Charlotte começou a dizer, mas foi
interrompida por um gesto categórico da simpática senhora.
— Não será transtorno algum. Ao contrário, ter meu filho nesta casa é motivo de
grande alegria para mim. Não é, Terrance?
O austero senhor grunhiu algo incompreensível e Amélia ignorou o marido.
— O que estamos fazendo, parados no hall de entrada? — Amélia passou o braço
sobre os ombros do Charlotte. — Vamos nos acomodar na sala enquanto mando preparar
uma pequena ceia. Vocês devem estar famintos!
Amélia seguiu para a cozinha e Charlotte desejou que ela não tivesse ido. Sem a
presença da anfitriã, sentia-se desamparada frente à hostilidade de Terrance Drake.
—A senhora tem alguma idéia de onde sua sobrinha possa estar? — Terrance
indagou quando se acomodaram nos luxuosos sofás da sala de estar. — Questionou os
empregados da casa?
— Eles não sabem de nada. — Charlotte gemeu num suspiro. — Sr. Drake,
imploro que perdoe minha intrusão em sua casa, mas estou desesperada. Tenho de
encontrar minha sobrinha! Temo que ela esteja em perigo.
Terrance assentiu e fez um gesto discreto para Stuart.
— Condessa se nos der licença, tenho de dar uma palavra com meu filho.
Terrance conduziu Stuart para a saleta de refeições anexa à cozinha.
— Escute aqui, você sabe o que tenho para dizer. Leve sua amante daqui antes
que eu expulse os dois!
— Ela não é minha amante, e não tem para onde ir.
Ao perceber a presença dos dois, Amélia se juntou a eles.
— Terrance, Stuart tem todo o direito de ficar aqui! — Fuzilou o marido com o
olhar.
Contrariado, ele os deixou e seguiu para a escadaria que levava ao segundo piso,
passando por Charlotte sem lhe dirigir uma palavra.
—Por Deus, é claro que não ficarei aqui, mamãe. — Stuart disse por entre os
dentes. — No entanto, peço que receba a condessa, ao menos por esta noite.
— É claro que sim, meu filho. — Um sorriso triste curvou os lábios de Amélia. —
Entendo seus motivos e peço que perdoe seu pai. Ele estava preocupado com você, mas
ainda não superou o ressentimento causado pelas suas últimas aventuras amorosas.
— Creio que meu pai não superou o ressentimento por eu ter nascido — comentou
ele com amargura.

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— Não foi isso que eu quis dizer. — Amélia relanceou o olhar para a sala. — Sua
amiga precisa de você. Vá falar com ela enquanto supervisiono o jantar.
— Obrigado, mãe. — Stuart beijou-a com ternura na testa. — Eu te amo.
Ele foi para a sala e Charlotte se levantou assim que o viu se aproximar.
— Você está louco? Como pôde me trazer para casa de seus pais?
—Não se esqueça de que foi você que me obrigou a trazê-la comigo! — retrucou
ele, irritado.
— Estou totalmente sem jeito. Seu pai quase me expulsou daqui!
— Não se incomode com ele, seu mau humor é notório. — Ele tentou tranqüilizá-la.
— Ouça, não é momento para melindres. Você ficará bem instalada aqui. Mamãe é uma
anfitriã perfeita e adora ter hóspedes em casa. Como você pode constatar, meu pai não é
a melhor das companhias.
— Stuart, não posso ficar aqui.
— E para onde pretende ir, a esta hora da noite? Charlotte abriu a boca para
responder, mas não encontrou argumento. Ela saíra às pressas de Kent e carregava
apenas uma pequena maleta de viagem. A urgência de encontrar Susan a fizera agir sem
pensar, mas era tarde demais para se arrepender.
— Tenho certeza de que mamãe ficará feliz em hospedá-la por alguns dias —
Stuart assegurou, como se fosse capaz de ler seus pensamentos.
— Alguns dias? Que tipo de pessoa pensa que sou? — A fúria baniu o vazio dos
olhos de Charlotte.—Minha sobrinha desapareceu, e não vou ficar sentada, esperando
que ela surja como em um passe de mágica. Tenho de encontrá-la!
A visão de Charlotte perambulando sozinha pelas ruas desertas de Londres
preencheu a mente de Stuart.
— E onde pretende procurar?
— Em todos os lugares.
— Está maluca? Você não pode simplesmente invadir todas as casas que
suspeitar.
— Não me lembro de ter pedido seu conselho.
— Não vou permitir que saia por aí sozinha, sujeitando-se a todo tipo de perigo. —
Ele se aproximou e a envolveu pela cintura.
O gesto terno a sensibilizou, e ela terminou por apoiar a cabeça nos ombros largos.
Um soluço escapou de sua garganta ao sentir a pressão firme do abraço confortador.
— Fique tranqüila. Você não pode se desesperar. Tem de se manter calma e
racional. Prometo que vamos encontrá-la.

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— Vamos? — Charlotte ergueu o rosto para fitá-lo. Teria ouvido bem? Ele estava
se oferecendo para ajudar?
Por que, depois da forma como o tratara?
No entanto, mesmo sem saber a resposta, seria tola se recusasse qualquer ajuda,
não importava o que significasse para seu amor-próprio. A segurança de Susan estava
em primeiro lugar.
— Obrigada — foi tudo que conseguiu dizer.
— Tudo ficará melhor pela manhã. — Stuart se afastou e fez um gesto na direção
da saleta de refeições. — Vamos comer alguma coisa e depois pedirei a um dos criados
que leve sua bagagem para o quarto de hóspedes. — Ela assentiu, exausta e confusa
demais para retrucar. — Vou deixá-la sob os cuidados de minha mãe, Charlotte. Como
você mesma viu, meu pai não quer minha presença nesta casa.
— Mas...
— Não se preocupe, estarei bem. Tenho muitos amigos em Londres e estou certo
de que qualquer um deles me receberá com prazer.
Antes que Charlotte pudesse argumentar, Amélia chamou-os para se acomodarem
à mesa. Ela se resignou a comer uma deliciosa refeição, enquanto ouvia a anfitriã
tagarelar, radiante de alegria com a chegada do filho.
— Boa noite, mamãe.
Stuart deixou Amélia na varanda e desceu os degraus da varanda. Parou por um
momento, hesitante. Charlotte ficaria bem, convenceu-se. Ela estava confortavelmente
instalada no quarto de hóspedes, e tão exausta que dormiria assim que se deitasse. Mas,
para onde ele iria? Não tinha dinheiro e não pretendia pedir ao pai.
Ele suspirou e começou a caminhar pela calçada. Vinte minutos mais tarde, subiu
os degraus de uma imponente mansão em Mayfair. Tocou o sinete e esperou até que o
mordomo abrisse a porta.
— Boa noite. Phillip está em casa?
— Drake!
A voz grave vinda da sala chamou-lhe a atenção. O duque de Ware em pessoa foi
recebê-lo.
— O que faz na cidade? — o simpático senhor cumprimentou-o efusivamente.
— O de sempre. Uma mulher.
— É mesmo? Achei que fosse a razão por você ter partido.
— Dessa vez, é uma mulher diferente.
— Ah... A paixão da juventude!

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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Lorde Ware riu e o conduziu ao escritório. O fogo crepitava na lareira e a
escrivaninha, repleta de papéis, sugeria que ele ainda estava trabalhando.
— Que tipo de mulher é dessa vez? — O duque ofereceu-lhe um copo com uma
dose de uísque.
Stuart tomou um gole e fechou os olhos, enlevado ao sentir o sabor rico da bebida.
— Acredite, é uma história longa demais para uma noite.
— Espero que me conte algum dia.
— E uma promessa. Mas vim saber se Phillip ainda está em Viena. Ele me
ofereceu o chalé caso eu precisasse, e é chegado o momento.
— Phillip já saiu de Viena. Se me lembro bem, está em Florença ou Roma. Não
estou a par dos planos do meu filho. E é claro que pode usar o chalé, ou ficar aqui, se
quiser.
A oferta, embora genuína, era impossível de ser aceita. A duquesa não era tão
benevolente e receptiva quanto o marido.
— Obrigado, mas não quero atrapalhar.
— Tem certeza de que não quer ficar até amanhã?
— Não, obrigado.
Ware fitou-o nos olhos por um momento e abriu a gaveta da escrivaninha para
retirar um molho de chaves.
— Você já resolveu seus problemas financeiros?
— Infelizmente ainda não.
— Estive com Barclay na semana passada.
Stuart congelou à menção do banqueiro de ambos. Na certa, ele contara ao duque
sobre a atitude de seu pai. Se soubesse que ele não teria chance de pagar o empréstimo
ou a hipoteca de Oakwood Park, poderia dá-la por perdida.
— Eu disse a ele que você pagaria o empréstimo. — Ware o tranqüilizou. — Você
só precisa de tempo. Sei que nunca quebrou sua palavra.
— E não será dessa vez. Obrigado.
O duque inclinou a cabeça com um sorriso amigável e se despediu.
Stuart caminhou pelas ruas até Cherry Lane, onde o amigo mantinha um chalé
para ficar recluso e se dedicar à poesia.
Tratava-se, na verdade, de uma casa luxuosa, pouco menor que a dos pais. Ele
entrou sem se surpreender por encontrar o chalé impecavelmente limpo.
Para seu alívio, a caldeira fora mantida ligada. Ele se despiu e tomou um longo e
relaxante banho antes de cair na cama e adormecer profundamente, exausto pela
viagem.
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Charlotte acordou na manhã seguinte, sentindo-se ao mesmo tempo relaxada e
apreensiva. Não estava certa de que a noite anterior fora real. A estranha sensação de
que estava envolvida por uma bruma a atordoou. O único fato de que se lembrava, com
penosa clareza, era a magnitude do seu erro ao julgar que Stuart fosse o responsável
pelo desaparecimento de Susan.
Vestiu-se e escovou os cabelos com vagar para adiar o momento de tomar o
desjejum. Ao descer a escadaria, notou a elegância da decoração que a fez lembrar da
casa do pai, anos atrás. Não soube dizer se a lembrança era boa ou má.
Havia acreditado nos boatos de que Stuart abusara da paciência do pai, até que o
pobre homem não tivesse escolha a não ser despachá-lo para a província. Porém, depois
de ter conhecido Terrance Drake, começara a suspeitar de que talvez os mexericos não
fossem totalmente verdadeiros.
Stuart seria um homem imoral que seduzia jovens, ou o cavalheiro que se
oferecera para ajudá-la mesmo depois de ter sido ameaçado com uma pistola? Agora, ela
não tinha mais certeza de nada.
Uma criada a conduziu à saleta, onde seria servido o desjejum. Antes de entrar, ela
ouviu vozes e parou. Não pretendia interromper uma discussão particular.
— Não em minha casa! — dizia uma voz masculina. Ela reconheceu o timbre da
voz do pai de Stuart e espiou pela arcada que separava as duas salas, vislumbrando
aquele rosto masculino, vermelho de raiva. Por um segundo, desejou ceder ao impulso de
voltar para o quarto.
— Terrance, você não está sendo razoável! — a voz de Amélia soou mais branda.
— Ele não pode trazer uma mulher para esta casa. Ela pode ser sua amante, ou,
pior, alguma tola que se iludiu com mentiras dele. Não vou permitir!
Charlotte sentiu o rosto queimar de humilhação. O que Stuart havia dito ou feito
para deixar o pai tão furioso?
Paralisada pelo constrangimento, decidiu que faria as malas e partiria o mais
rápido possível. O mordomo poderia indicar-lhe algum hotel. Ela recuou dois passos,
pronta para partir, quando uma terceira voz a paralisou.
— Ela não é minha amante — Stuart determinou com firmeza.—É uma viúva
responsável pela sobrinha que fugiu com um trapaceiro, e eu gentilmente ofereci ajuda.
Asseguro-lhe, ela está tão contrariada quanto o senhor com meus erros e ficaria
mortificada se ouvisse suas acusações.
— Tenho de admitir que você está certo em um aspecto: não tenho o direito de
julgar o caráter de alguém que não conheço. No entanto, qualquer um que esteja com
você é suspeito — o pai declarou com hostilidade.
A cada palavra ouvida, maior era o estarrecimento de Charlotte. O pai de Stuart o
odiava! Ela olhou ao redor e entrou na saleta, incapaz de deixá-lo encarar tanta animo-
sidade enquanto a defendia.
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— Bom dia — saudou com voz clara.
Lorde Drake a encarou antes de voltar a atenção para o seu desjejum e Amélia se
levantou, indicando-lhe o lugar que deveria ocupar à mesa.
—Bom dia. — Stuart sorriu e inclinou a cabeça.—Dormiu bem?
— Sim, obrigada. E obrigada à senhora, por sua gentil hospitalidade.
— Oh, isso não é nada. — Amélia acenou com a mão. — A senhora será bem-
vinda para ficar conosco até encontrar sua pobre sobrinha.
— Obrigada, mas não quero aborrecê-los. Pretendo procurar um hotel ainda hoje.
— É claro que não! A senhora deve ficar aqui. Eu insisto. Stuart, por favor, ajude-
me a convencê-la.
— A condessa é perfeitamente capaz de tomar as próprias decisões. — Ele
apanhou a xícara de Charlotte e encheu-a com chá, omitindo-se de tomar partido.
— Sra. Griffolino, insisto para que fique! Um hotel é tão impessoal... Estará mais
confortável aqui conosco.
Charlotte ergueu o rosto, consciente de que lorde Drake a fitava como se estivesse
diante da encarnação de Jezebel.
Stuart, por sua vez, continuava a comer, aparentemente alheio a hostilidade do pai.
— Sra. Drake, terei de recusar sua adorável oferta. Não posso coagi-los a tolerar
minha presença.
— E quem está falando em imposição ou algo do gênero?
— Stuart intercedeu por fim. — Por favor, faça a vontade de minha mãe.
Charlotte respirou fundo, percebendo que não tinha saída.
— Está bem. Eu...
— Ótimo! — Ele sorriu e mudou de assunto. — Hoje de manhã, antes de vir para
cá, falei com um investigador. Ele nos manterá informados sobre tudo que descobrir.
— Excelente, querido. E agora, tome seu chá antes que esfrie, condessa — Amélia
sugeriu, dando o assunto por encerrado.
Por uma semana, não tiveram nenhuma notícia. O investigador, Sr. Pitney, não
conseguiu encontrar nenhuma pista do paradeiro de Susan. Stuart enviou seu valete,
Benton, de volta a Kent, e ele também não conseguiu descobrir nada.
Sentada na biblioteca depois do desjejum, Charlotte abriu sua correspondência e
se pôs a ler uma carta de Lúcia. Ela contava que também não tinha notícias de Susan e
revelava detalhes picantes do seu relacionamento com o jovem cavalheiro inglês com
quem estava se relacionando.
— Alguma novidade?

Projeto Revisoras 49
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Ela dobrou a carta que acabara de ler e colocou-a sobre a escrivaninha quando
Stuart entrou na biblioteca.
— Lúcia começou a desempacotar todas as caixas. Ela disse que a casa parece
uma villa italiana.
Stuart sorriu e se sentou na cadeira oposta à dela.
— Lúcia não soube nada a respeito do homem que invadiu sua casa?
— Não, mas tem esperança de descobrir o que ele procurava, quando avaliar o
conteúdo dos caixotes. Julgou que o invasor pudesse voltar e esperou-o acordada por
diversas noites, mas a espera foi inútil.
— Acordada? — Stuart dirigiu-lhe olhar malicioso. — Whitley deve estar muito
ocupado, pelo que vejo.
— Whitley?
— Angus Whitley, o cavalheiro que está cortejando sua amiga. Você não sabia?
— Não imaginava que você o conhecesse.
— Ele foi para Kent comigo, a fim de me fazer companhia. Não esperava que
gostasse tanto de lá a ponto de ficar, mas agora posso compreender.
— Oh... Quantos anos ele tem?
— Vinte e nove. Por quê?
— Lucia acha que um homem está em sua melhor forma antes dos trinta.
Stuart riu e mudou de assunto.
— Vim lhe propor um novo plano. Pitney não descobriu informação alguma, e já se
passaram seis dias. Se você tem certeza de que Susan veio para Londres, creio que
devemos tentar algo novo.
— Sim, acredito que Londres seja o lugar mais indicado para ela estar. — Charlotte
o fitou com curiosidade. — Mas o que sugere?
— Se não tivermos nenhuma pista nos próximos dias, temos de considerar outros
lugares, embora Londres seja nossa maior esperança. — Ela assentiu, observando-o com
expectativa. — Enquanto isso, creio que você deva se expor perante a sociedade.
— Você não pode estar falando sério!
Charlotte congelou. Seu retorno forçado à Inglaterra se devia exclusivamente à
morte do irmão e à tutela da sobrinha. Ela havia jurado nunca mais voltar, sabendo que
onde quer que passasse, os rumores sobre seu passado a acompanhariam.
No entanto, ao chegar a Kent, percebeu que encontrara o refúgio secreto para uma
nova vida ao lado da sobrinha. Na província, poderia usufruir paz e tranqüilidade, longe da
agitação da corte.

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Quando as circunstâncias mais uma vez a forçaram a mudar seus planos, levando-
a a Londres, ela não hesitara em fazer as malas para seguir o suposto paradeiro da
sobrinha. Contudo, expor-se em sociedade seria um martírio que não estava disposta a
se submeter.
O problema era que Stuart não sabia de suas motivações íntimas para se manter
reclusa. Como se recusar ao que ela propunha sem ter de explicar suas razões?
— Não vim para a cidade para me divertir, Stuart. — Tentou justificar. — Nem seria
possível, enquanto Susan está desaparecida.
— Não me refiro à diversão — ele interrompeu —, embora distrair-se não faria mal
algum. Manter-se enclausurada nessa casa não é saudável, Charlotte. Porém, não é esse
o motivo da minha proposta. Em primeiro lugar, será útil ouvir os boatos espalhados por
aí. As notícias correm como o vento em Londres e, mais cedo ou mais tarde, poderemos
discernir o que pode ser útil, já que você conhece bem sua sobrinha.
— Eu não a conheço tão bem assim — ela confessou, baixando os olhos. — Se
conhecesse, nada disso teria acontecido.
— Charlotte, não foi sua culpa. — Ela mordeu os lábios sem encará-lo. — Minha
outra razão é mais complicada — Stuart prosseguiu, escolhendo as palavras com
cuidado. — Estive pensando no dia em que Susan desapareceu.
— O que você pensou?
— Em primeiro lugar, tentei imaginar que tipo de homem poderia persuadir uma
jovem a fugir de casa, e concluí que deve ser charmoso e atraente. As jovens nem
sempre consideram o caráter de um homem, mas sempre prestam atenção no rosto e
maneiras.
Charlotte franziu o cenho, interessada. Stuart não percebeu que acabara de
descrever seu próprio relacionamento com Susan.
— Não temos idéia de onde ela pode estar. Minha intuição diz que ela conheceu
este rapaz nas imediações da sua casa em Kent, já que Susan não costumava sair com
freqüência. Um estranho misterioso, sedutor e atraente, deve ter se aproximado e feito
promessas românticas para iludi-la. Estou quase certo de que ela se apaixonou.
— Ou então, está à procura de aventura — acrescentou Charlotte. — Susan
ansiava por conhecer o mundo, como eu fiz. O pai era um homem pacato que sempre a
manteve sob suas asas.
— Bem, o que está me dizendo confirma minha suspeita. E, mesmo que você fique
aborrecida com o que vou dizer, Susan é uma jovem facilmente influenciável. Se ele lhe
ofereceu romance e aventura, ela deve ter aceitado sem hesitar.
— Sim... Creio que seria difícil resistir a um impulso dessa natureza.
— Há quanto tempo você está em Kent?

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— Um mês. Voltei da Itália na última primavera depois da morte do meu irmão —
explicou ela.
— Conheci Susan na semana da minha chegada. Na noite em que fugiu, ela havia
se despedido de mim e parecia conformada e tranqüila com nossa separação. Portanto, já
que estava apaixonada por mim praticamente desde que você chegou a Kent, tenho
certeza de que conheceu alguém naquele mesmo dia. E tudo isso me leva a suspeitar do
ladrão que entrou em sua casa.
— O quê? — Charlotte, que começava a aceitar as hipóteses de Stuart, não
concordou. — Como seria possível? É óbvio que ele não queria Susan!
— Não. Ele estava vasculhando os caixotes. Se quisesse apenas ela, por que teria
feito isso? Estou certo de que o seqüestrador sabe o que quer, e é algo de valor. Porém,
pode ser que acredite que você tenha escondido o tal bem valioso. Ter Susan como refém
é a melhor forma de atingir você.
— Mas que bem valioso será esse? Os caixotes contêm a coleção de arte que
herdei de Piero. Não pode ser o que o ladrão procurava.
— Por que não? — ele indagou com surpresa. Charlotte baixou o rosto e não
respondeu.
O que Stuart dissera fazia sentido. O ladrão queria algo que lhe pertencia, mas
Susan jamais saberia do que se tratava. Por que a teria raptado?
— O que você sugere?
Como resposta, Stuart estendeu o convite para o camarote do duque de Ware na
Opera Real.
— Tudo o que peço é que estabeleça sua presença na cidade. Talvez o
seqüestrador goste de ópera. Ele precisa vê-la ou, ao menos, saber que está aqui. Pode
ser a única chance de fazê-lo aparecer.
Stuart manteve silêncio, esperando que ela refletisse.
Charlotte ponderou sobre as suposições e concluiu que faziam sentido. Se
quisesse ter sua sobrinha de volta, teria de se sacrificar e expor-se à opinião pública.
— Está bem. — disse por fim. — Vamos à ópera!
A ópera não foi a melhor produção que Charlotte já assistira. Entre os atos, o
simpático duque de Ware pediu o jantar e permaneceram no camarote, tentando ficar o
mais visíveis possível.
Ela mal conseguia prestar atenção ao drama que se passava no palco. Seus
ouvidos estavam atentos ao murmúrio de vozes, na esperança de reconhecer alguma
delas. Stuart, que ficara calado e atento durante os primeiros atos, começou a conversar
com o duque, sentado a seu lado.
— Recebi uma nota de Barclay — Ware murmurou. Charlotte sentiu a tensão que
pairava no ar. Quem seria
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Barclay? E por que Stuart ficara tenso à menção daquele nome?
— Espero que ele não descubra onde encontrá-lo. Eu insinuei que deveria procurá-
lo em Oakwood Park.
— Agradeço por isso — Stuart sussurrou. — Ainda não posso pagá-lo.
— Compreendo. Não se preocupe, você conseguirá encontrar uma saída.
A ópera findou e os aplausos da platéia a impediram de ouvir o final da conversa.
Observou Stuart com o canto dos olhos e se preocupou ao notar melancolia naquele
olhar. Ele não percebeu que era observado e quando a encarou, toda a tristeza
desapareceu.
— Se me derem licença, tenho de voltar para casa — o duque se desculpou ao
chegarem à calçada. — Foi um prazer conhecê-la, Sra. Griffolino. Espero que possa me
alegrar com sua companhia sempre que quiser vir à ópera. Meu camarote está à sua
disposição.
Encantada com a gentileza do duque, Charlotte observou-o se afastar com um
sorriso afável nos lábios. Não percebeu que Stuart a avaliava com expressão fechada,
tampouco imaginou que a atenção inocente, que dedicara ao nobre senhor, provocaria
ciúme irracional em seu acompanhante.
— Lorde Ware é um homem adorável! No entanto, parece ser muito solitário.
— Suponho que sim. Lady Ware não acompanha o marido nos eventos sociais.
Vamos para casa?
— Mas ainda não falamos com ninguém. — Charlotte estranhou a súbita frieza. —
Achei que você quisesse ouvir boatos que pudessem nos ajudar a encontrar Susan.
— Mudei de idéia. Acho que será mais fácil deixar que o seqüestrador ouça falar a
seu respeito do que o inverso. Duvido que ficaremos sabendo de qualquer coisa sobre
Susan aqui — sentenciou Stuart.
Mesmo sem compreender a mudança de atitude, ela assentiu e o acompanhou até
a carruagem.
Porém, o que Charlotte não percebeu de imediato, foi o verdadeiro motivo para
toda aquela pressa. Ciúme, puro e simples, e Stuart se odiou por isso, mas não pôde
evitar. E, pela primeira vez na vida, soube que corria o risco de se apaixonar
verdadeiramente.
No dia seguinte, Charlotte desceu para o café da manhã e não se surpreendeu por
encontrar Stuart à mesa. Ele fazia as refeições diariamente no casa dos pais, ao contrário
do Sr. Drake, que passara a comer em seus aposentos desde a chegada do filho.
Quando a viu, ele inclinou a cabeça e dirigiu-lhe um sorriso de boas-vindas.
— Nenhuma palavra de Pitney — comentou, levantando-se para puxar uma
cadeira. — Espero vê-lo hoje.

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Charlotte suspirou, e o momento de felicidade se esvaiu.
— Não desanime — Stuart consolou-a. — Pitney pode parecer lento, mas ele
segue seus próprios métodos e consegue resultados garantidos. Sua amiga enviou
alguma notícia útil?
— Não. As cartas só contavam fofocas e outras notícias. — Ela evitou encará-lo,
sem querer compartilhar os detalhes da fascinação de Lúcia pelo amante. — Mas não há
nada sobre Susan.
— Bem, não devemos esperar muito. O centro de nosso esforço ainda está em
Londres.
Ela observou-o afastar com uma pequena mecha de cabelo caída sobre a testa,
subitamente fascinada pelo movimento casual da mão viril. Havia algo familiar e íntimo
em notar que ele precisava de um corte de cabelos. Nenhum homem fora tão informal na
sua presença. Até mesmo Piero se recusava a vê-la até que o criado cuidasse de sua
higiene matinal. Stuart, no entanto, tinha designado o criado para procurar Susan. Seus
cabelos estavam descuidados porque ele priorizara ajudá-la em vez de seus cuidados
pessoais.
E não era só isso... Ele também havia se sujeitado à hostilidade do pai em nome
do compromisso que assumira em encontrar a sobrinha desaparecida.
Ninguém nunca fizera nada parecido. Ninguém jamais se preocupara com seu
bem-estar. Stuart agia como se a felicidade dela estivesse acima de tudo.
— Você gostou da ópera? — perguntou ela, aturdida pelos pensamentos.
— Sim, muito.
E passaram a comentar sobre o espetáculo da noite anterior, até que o mordomo
os interrompeu.
— Acaba de chegar uma mensagem, senhora. Charlotte quase deu um pulo da
cadeira.
— É de Susan! — exclamou, apanhando o envelope com mãos trêmulas.
— Quem trouxe a correspondência? — Stuart inquiriu o mordomo.
— Um rapaz magro e desalinhado, senhor.
Stuart correu para a porta, tentando alcançar o mensageiro, enquanto Charlotte
abria a folha com um pequeno texto. Na ânsia de ter notícias da sobrinha, não percebeu
que um bilhete menor flutuou no ar e caiu a seus pés.
Querida tia Charlotte,
Escrevo para assegurá-la de que estou bem e feliz. Londres é tudo que sonhei!
Vou me casar em breve. Espero que não esteja aborrecida com minha súbita partida.
Peço que me desculpe. Gostaria que enviasse minhas roupas e outros pertences.

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Avisarei quando tiver me estabelecido em definitivo. Por enquanto, ainda não temos casa.
Escreverei novamente. Susan
Ela levantou-se e correu ao encalço de Stuart. Encontrou-o na varanda, respirando
pesadamente.
— Não consegui alcançá-lo — ele anunciou, frustrado, acompanhando-a para o
interior da casa. — Brumble, quando qualquer outro rapaz entregar mensagens para a
Sra. Griffolino ou para mim, segure-o e não deixe que se vá até que eu possa vê-lo. — O
mordomo se curvou, e Stuart virou-se para Charlotte. — O que diz a nota?
Charlotte entregou-lhe a mensagem de Susan e colocou as mãos na cintura.
— O que faremos agora?
— Bem, nós tínhamos razão sobre vários aspectos. — Ele devolveu o papel e,
antes de prosseguir, puxou-a para a biblioteca a fim de terem maior privacidade. — Sem
dúvida alguma, Susan está em Londres, há romance e aventura nessa história e o rapaz
soube que você esteve na ópera ontem, em minha companhia.
— Mas, quem é ele?
— Vou falar com Pitney. Se pudermos localizar o mensageiro, avançaremos um
passo importante na investigação.
— O problema é que isso poderia levar dias. — Ela suspirou, desolada, e sentou-
se na poltrona ao lado da lareira.
— Deve haver centenas de rapazes magros e desalinhados em Londres.
— Milhares — Stuart corrigiu. — Paciência, Charlotte. Pitney conhece a cidade e
os mais baixos cidadãos de Londres.
— E o que faremos enquanto isso? — Ela se levantou, exasperada. — Preciso
fazer alguma coisa!
Pressentindo que estava à beira da histeria, ela saiu para apanhar um copo de
água. Foi então que notou outro pedaço de papel caído sob a mesa da saleta de
refeições.
Esquecida da sede, correu para apanhá-lo e voltou à biblioteca para traduzir em
voz alta o texto escrito em italiano:
Prostituta escarlate, você levou meu tesouro e eu tomei o seu. Quando devolver
meu tesouro italiano, terá sua sobrinha de volta.
Alguém que a vigia.
— Maldição! — Stuart arrebatou o papel e estudou a caligrafia imprecisa. — Do
que se trata esse tesouro italiano?
— Não tenho a menor idéia. — Charlotte tremia, numa combinação devastadora de
pânico e fúria. — O seqüestrador está por perto... E Susan está com ele!

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— Bem, temos mais uma pista: ele é italiano. Deve tê-la seguido da Itália, e é o
provável ladrão que arrombou sua casa.
— O que ele quer? — Charlotte apertou as mãos. — Não tenho tesouro algum!
— Mas, obviamente, ele acha que você tem. — Stuart tomou as mãos trêmulas nas
suas, tentando passar alguma tranqüilidade. — Escreva para sua amiga em Kent e peça
que empacote tudo que você trouxe da Itália e envie para cá o mais rápido possível.
Enviarei uma nota a Benton para ajudá-la. Tudo vai dar certo, eu prometo.
Tocado pelo sofrimento estampado no rosto de Charlotte, Stuart deslizou as mãos
pelos braços delgados e pegou-a de surpresa ao pousar um beijo rápido em seus lábios.
Na hesitação do momento, Charlotte inclinou o rosto para recebê-lo. O desejo
emergiu, suplantando as preocupações do momento.
Estimulado pela resposta afável, Stuart a enlaçou pela cintura e insinuou a língua
pelos lábios entreabertos.
Charlotte sentiu os joelhos fraquejarem, quando a mão livre subiu para seus seios.
Nunca desejara um homem com tanta intensidade, tampouco almejara uma presença e
um toque tão desesperadamente. Colou-se a ele, convidando-o a um contato mais íntimo,
e gemeu baixinho, entrelaçando a perna pelo quadril estreito sem comandar a própria
volição.
Stuart pressionou-a de encontro à mesa de leitura, derrubando os livros que
repousavam sobre o tampo. A barreira sólida pressionou Charlotte, que friccionou o
quadril contra ele.
— Não posso fazer amor com você aqui — ele murmurou, interrompendo o
contato. — Deus sabe o quanto quero, mas não posso.
Charlotte o libertou como se tivesse sido queimada por uma brasa incandescente.
— Stuart... Eu... Eu sinto muito. — Ela se afastou, tentando regular o ritmo da
respiração.
Condenando-se por se comportar como a mais promíscua das cortesãs, ela
atravessou apressadamente a biblioteca, mas ainda teve tempo de ouvir a voz gutural e
rouca de Stuart soar como uma doce promessa:
—Algum dia, vamos terminar o que começamos, Charlotte...

Capítulo III

Quando Charlotte colocou a mão na maçaneta, a porta se abriu de súbito.


— Bom dia! — Amélia saudou com sorriso radiante. — Eu estava à procura de
vocês.
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Stuart beijou a testa da mãe, enquanto Charlotte baixou as pálpebras,
constrangida. Estivera a ponto de fazer amor com Stuart na biblioteca, e a noção de que
pudessem ser flagrados por Amélia a transtornou.
— Nós recebemos uma nota de Susan. — Ouviu Stuart comentar, tranqüilo como
se nada tivesse acontecido.
—Oh! Pobre menina. — Amélia lastimou ao ouvir o relato, voltando-se para
Charlotte. — Como fará para pagar o resgate? Do que se trata esse tal tesouro italiano?
Charlotte abriu a boca para explicar, mas Stuart se adiantou:
— Vou deixá-las conversando. Charlotte explicará todos os detalhes. — O rosto
afilado se iluminou com o sorriso habitual. — Tenho de falar com Pitney. Quanto a você,
Charlotte, escreva para Lúcia assim que puder.
— Farei isso — prometeu ela.
Ele se despediu e saiu, deixando-as a sós.
— Vamos tomar uma xícara de chá, querida — Amélia propôs, levando-a para a
saleta de refeições e livrando-a do embaraço.
Charlotte tomou o chá sem perceber o sabor. O que diria a Sra. Drake se soubesse
do que acabara de acontecer entre ela e o filho?
— Você está apaixonada por Stuart, não?
A pergunta sem rodeios a aturdiu. Com mãos trêmulas, depositou a xícara sobre a
mesa e baixou os olhos.
— Eu não a culpo — Amélia prosseguiu, entendendo o silêncio como uma
confissão. — Os homens da família Drake são irresistíveis!
Charlotte deu uma tossidela, sentindo-se um pouco mais relaxada com a
naturalidade com que o assunto estava sendo tratado.
— Nós nos tornamos bons amigos — declarou sem se comprometer.
— Bem, bem... Nós duas somos mulheres crescidas. Você não é, penso eu,
ingênua nem inexperiente. Eu lhe dou licença para admitir que se sente atraída por meu
filho.
Charlotte abriu a boca para responder, fechando-a em seguida, sem ter idéia do
que dizer.
Amélia alcançou o bule e colocou mais chá em sua xícara, o vapor denso subiu em
espiral por seu pulso.
— Mas tenho de adverti-la, querida — continuou, olhando-a com simpatia. — Ele
nunca se casará.
Os olhos de Charlotte quase saltaram das órbitas.

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— Asseguro-lhe, Sra. Drake, eu não tenho tal pretensão! Matrimônio? Para Stuart?
Ele queria uma noiva jovem e rica; enquanto ela desfrutava liberdade e independência.
Matrimônio entre eles estava fora de questão.
No entanto, suspeitou de que Amélia pretendesse afastar qualquer risco de ter uma
nora com o passado manchado. Tinha consciência de que não era o tipo de mulher com
quem um homem respeitável se casaria. Não importava que mudasse de país, trocasse
as vestes luxuosas por trajes modestos e deixasse de usar maquiagem. Estava
acorrentada a um passado que não podia mudar.
—Não digo que não ficaria feliz se meu filho se assentasse. — Amélia tomou um
gole do chá, estudando-a com interesse. —Alguns homens simplesmente não são
capazes de assumir responsabilidades como uma esposa e família. Stuart é um deles.
— Eu não posso concordar — Charlotte disse com hesitação. — Penso que ele
almeja ter responsabilidades.
Amélia balançou a cabeça em negativa.
— Meu filho nunca almejou responsabilidade. Ele não seria um bom administrador
de uma propriedade rural, por exemplo.
— O fato é que ele nunca teve de administrar qualquer coisa, nem mesmo o
dinheiro que recebia do pai. — Charlotte não sabia por que estava defendendo-o. A
opinião dela fora exatamente a mesma dias atrás. — A senhora não acredita que ele
enfrentaria os desafios se surgisse necessidade?
Amélia sorriu tristemente.
— Não. Conheço meu filho como ninguém, e embora me doa dizer isso, ele
sempre confiará no charme e no rosto bonito para conseguir o que quer.
— Ele tem sido inestimável para mim — Charlotte protestou, esquecendo que já o
descrevera naqueles mesmos termos. — Stuart é brilhante, afetuoso, leal e muito deter-
minado.
— Quando um homem tem intenção de seduzir uma mulher, ele pode assumir uma
variedade infinita de disfarces. Gentil, aventureiro, misterioso, audaz... Os homens agem
com um propósito em mente, e garanto-lhe que não é o matrimônio. E no momento em
que alcançam a meta, partem para novos desafios.
— Isso é verdade quando se trata de alguns — Charlotte admitiu depois de um
momento. — Mas não é uma verdade universal. Seguramente a senhora, como mãe, é
capaz de enxergar o melhor no caráter de seu filho.
Amélia deu uma risada breve e triste.
— Infelizmente, minha querida, Stuart herdou o caráter do pai. No entanto, ainda
espero que o amor da mulher certa faça dele um homem melhor do que é.
Sob o olhar da anfitriã, Charlotte imaginou se ela poderia ser tal mulher.

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— Minha querida Sra. Griffolino, Stuart é minha única criança. Eu o adoro, e
confesso, fiz questão de que a senhora ficasse aqui para que eu pudesse vê-lo com
freqüência. Mas não sou cega às faltas dele e não desejo que se deixe iludir.
— Como a senhora disse, não sou ingênua nem inexperiente. Por isso mesmo
acredito, do fundo do meu coração, que seu filho é um homem raro. Qualquer jovem rico
e mimado que nunca tenha sido chamado à responsabilidade, agiria com a mesma
leviandade que ele. — Ergueu o queixo, orgulhosa por defender Stuart com paixão. — No
entanto, eu mesma já o julguei mal e me arrependo por isso. Eu não poderia ter
encontrado homem mais digno e honrado que ele, Sra. Drake.
Os olhos de Amélia se iluminaram com a mais pura satisfação ao colocar a mão no
braço de Charlotte.
—Fico feliz que pense assim, querida. E saiba que ganhou mais uma amiga ao
demonstrar tamanha consideração pelo meu menino.
Stuart passou um dia exaustivo, investigando tavernas e pubs. Charlotte lhe dera
dinheiro para recompensas, mas, apesar de distribuir moedas de ouro em profusão, não
encontrou pistas sobre o mensageiro, que entregara a carta de Susan.
Depois de se encontrar com Pitney, rumou para a mansão, exausto e frustrado.
Tudo o que queria, era seguir para Mayfair e cair na cama, mas tinha de contar a
Charlotte como fora seu dia. Além disso, desejava vê-la novamente, mesmo sabendo ser
provável que Terrance estivesse em casa.
Ao chegar, avistou-a na varanda e a visão fez seu humor melhorar
consideravelmente.
— Você não o achou... — Charlotte lamentou assim que ele subiu os degraus.
— Não. Vasculhei todos os lugares possíveis, mas não há a menor pista sobre
quem seja o mensageiro.
— O que está fazendo aqui?
A voz grave ribombou como o estrondo de um canhão, e Stuart se voltou para
encarar o pai, parado à porta de entrada. Ele saíra à varanda com um charuto nas mãos e
fez menção de retornar para o interior da casa assim que viu o filho.
— Boa noite. Não se preocupe, eu já estava de saída. Terrance grunhiu alguma
coisa incompreensível e olhou para Charlotte.
— Não se deixe enganar, Sra. Griffolino. Não deposite sua confiança nesse
salafrário.
Charlotte pestanejou antes de se recompor do constrangimento.
— Acredite, Sr. Drake, seu filho não me desapontará.
— É só uma questão de tempo — o lorde sentenciou antes de se recolher.

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O clima tenso que pairou no ar, afastou qualquer possibilidade de conversação.
Stuart tomou as mãos de Charlotte, beijando suavemente as palmas macias.
— Tenho de ir... Mas prometo que amanhã faremos um passeio especial à tarde.
Esteja preparada. — Despediu-se com um sorriso que a aqueceu.
— Aonde vamos? — Charlotte indagou ao subir no cabriole. — Espero que não
seja muito longe.
Stuart sentou-se a seu lado e pegou as rédeas sem dizer nada. Dirigiu durante
algum tempo em silêncio, guiando os cavalos pelas ruas do bairro elegante.
Quando tomaram uma estrada marginal, deserta e ensolarada, ele espicaçou os
cavalos e o coche sacolejou com a velocidade.
— Oh, meu Deus! — Charlotte riu, apertando o cabo da sombrinha. — Você sabe
fazer com que um simples passeio seja excitante.
— Eu tento. — Os olhos chamejaram da estrada para ela. — Ganhei esses cavalos
do meu avô. Eles são excepcionais e seria um desperdício não deixar que mostrem do
que são capazes.
— É verdade — ela concordou, admirando os animais. — Não sabia que você
gostava de cavalos. Não os vi quando fui à estrebaria.
— Eu os deixo na casa de Phillip, onde estou hospedado.
— Oh... Poderíamos ir até lá? — A curiosidade a impeliu a pedir.
Desde que haviam chegado em Londres, Stuart passava as noites fora da mansão.
Ela sempre se perguntava onde estaria, e aquela era uma oportunidade perfeita.
— Será um prazer — ele afirmou, estalando os chicotes para aumentar ainda mais
o ritmo do trote.
Minutos depois, pararam diante de uma adorável casa de campo rodeada por um
esplêndido jardim florido. Stuart ajudou-a a descer e desatrelou a parelha de cavalos,
soltando-os no cercado aos fundos da casa.
— Está surpresa com o modesto chalé do meu amigo? — indagou ao constatar a
evidente admiração de Charlotte. — Você ainda não viu nada...
Ele retirou a chave do bolso e abriu a porta, lançando o chapéu sobre o aparador.
Charlotte soltou uma exclamação abafada ante o luxo e conforto do interior. Segurou a
barra da saia e deixou-se conduzir para a escadaria, encantada com os belíssimos
quadros que ornamentavam as paredes.
— Stuart, é maravilhoso! — comentou quando chegaram ao topo dos degraus. —
Como você nunca...
Porém, ela não pôde concluir a frase. Parado à sua frente, Stuart a fitava com
volúpia, acariciando seu rosto com o olhar. Sem que dissessem nada, abraçaram-se e ele

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a pressionou contra a parede, procurando sua boca com paixão avassaladora. Charlotte
se sentiu derreter ao contato da língua exigente.
— Eu a desejo há tanto tempo... — ele sussurrou com voz rouca. — Diga que me
quer. Preciso ouvir...
— Eu o quero... — Charlotte ofegou enquanto dedos ágeis abriam os botões de
seu corpete, expondo o colo.
Lentamente, ele se inclinou para mergulhar o rosto na curva macia do busto. Beijou
os seios voluptuosos sobre o tecido da roupa de baixo, antes de soltar os delicados laços
da peça e escorregá-la pelos ombros de Charlotte.
A força do desejo a fazia ansiar por senti-lo pulsando dentro de seu corpo.
Entretanto, a deliciosa tortura proporcionada pelos lábios quentes e úmidos em seus
mamilos, a fez mudar de idéia.
Quanto antes desejava ser possuída de forma selvagem e rápida, e passou a
desfrutar a excitação crescente que percorria seu corpo em ondas de calor, ensinando-a a
delícia das preliminares.
Stuart ocupava-se em sugar os mamilos rijos, alternando de um para o outro, numa
viagem alucinante, enquanto dobrava os joelhos até apoiá-los no chão.
Uma necessidade urgente de assisti-lo a assaltou, e abriu os olhos, extasiada ao
vê-lo sugar e mordiscar com a força precisa do limiar entre o prazer e a dor. Uma onda
fluida e quente percorreu o corpo frágil.
Mãos exigentes subiram pelos quadris curvilíneos para desabotoar a saia,
enquanto ela suspendia os pés para se livrar da peça incômoda.
Com um gemido abafado, Stuart pousou o rosto sobre o ventre macio, inalando o
perfume inebriante da feminilidade guardada pelas rendas das peças íntimas. Com
agonizante vagar, despiu-a peça por peça, demorando-se em deslizar as meias de seda
pelas pernas bem torneadas. Ainda ajoelhado, beijou a penugem negra, insinuando a
língua até encontrar o ponto mais sensível da intimidade que se oferecia úmida.
Charlotte agarrou-se aos cabelos fartos quando as carícias se tornaram mais
ousadas, fazendo-a contrair-se em espasmos encantadores. Stuart parecia adivinhar seus
anseios mais secretos, ora tocando-a suavemente com a ponta da língua, ora sugando-a
com paixão lasciva.
O fogo da paixão os consumia internamente, num misto de cobiça e desejo.
Uma vertigem a fez flutuar, tragando-a para outra dimensão. E ela se sentiu
desfalecer quando ondas de prazer pulsaram em seu ventre, convergindo para sua
intimidade.
— Oh, Stuart — gemeu, deslizando para o chão ao relaxar subitamente.
— Levante-se — ele ordenou, suspendendo-a com agilidade.
Stuart pressionou-a com o corpo e fez com que ela se encostasse à parede.
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— Assim... — murmurou, tateando os pêlos sedosos.
— Oh, querido... — ela ofegou ao sentir o toque possessivo.
— Eu havia esquecido que você quer me possuir assim... Contra a parede...
— Foi o que eu lhe disse? — ele balbuciou, ofegante.
— Não se lembra? — Charlotte gemeu, com dificuldade para articular as palavras.
— Você me ameaçou naquele dia em que invadi seu quarto...
— Não posso me lembrar de qual fantasia mencionei.
— São muitas? — ela conseguiu entoar entre um beijo e outro.
— Centenas... Milhares — ele sussurrou, penetrando a língua com uma
possessividade imperiosa.
Charlotte afastou as pernas e arqueou as costas, pronta para se entregar por
completo.
— Não... Não quero fazer amor aqui.
Ele a conduziu pelo corredor e abriu uma porta antes de tomá-la nos braços para
colocá-la sobre a cama.
Mãos, bocas e pernas se confundiam em um bailado exclusivo, enquanto
devoravam-se um ao outro, até que Stuart se afastou com um suspiro.
— O que houve? — Charlotte apertou os braços, tentando impedi-lo de deixá-la.
— Dê-me um minuto, ou terminarei antes de começarmos
— ele se justificou com um sorriso de desculpa.
— Nós já começamos.
Charlotte ziguezagueou sob ele, alcançando com as mãos a masculinidade
pujante.
A ereção pressionava seu ventre, mas apesar disso ele fingia-se distante.
O jogo da sedução a excitou ainda mais, deixando-a cada vez mais impaciente.
Fitou Stuart, que se tornara imóvel; até mesmo os lábios tinham deixado de mover.
Ela percebeu o esforço para não sucumbir aos prazeres culminantes.
Afastou-se para admirar o corpo magnífico, completamente nu. Sorrindo, apoiou os
joelhos no colchão e ondulou de um lado para outro, roçando os seios no peito largo.
— O que está fazendo? — ele murmurou. — Quer me enlouquecer?
— Assista... — ela sugeriu com volúpia.
Charlotte deslizou os lábios pelo abdômen atlético e seguiu a trilha de pêlos
macios. Um gemido rouco escapou da garganta de Stuart ao sentir os lábios úmidos se
fecharem, envolvendo sua masculinidade.

Projeto Revisoras 62
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Charlotte manteve os olhos fixos nas reações que estava provocando, lendo o
desejo crescente provocado por suas carícias. Quando pressentiu que ele estava a ponto
de explodir de prazer, posicionou-se sobre ele e fechou os olhos ao senti-lo dentro de si.
Ofegante, ela o levou por uma cavalgada até o céu. Num crescente de prazer,
desabou sobre Stuart no exato momento em que sentia a explosão fluida e quente
inundá-la.
— Por Deus... — ele gemeu, mal conseguindo respirar. — Eu juro, nunca pensei,
nem nas mais loucas fantasias, que seria assim...
— Nem eu... — Charlotte sorriu, ainda de olhos fechados, e girou o corpo para se
deitar de costas, usufruindo a deliciosa sensação de paz e plenitude total.
— Piero era um homem velho — Charlotte comentou momentos depois, deitada
face a face com Stuart. — Ele perdeu duas esposas antes de se casar comigo, e não
queria morrer só. Eu aceitei a proposta de casamento depois que Carlos me abandonou
em Milão com nada mais que minha bagagem.
— Quem era Carlos? — Stuart quis saber, enrolando uma mecha negra de cabelo
nos dedos.
— Um espanhol que conheci em Nice. Fiquei completamente encantada e quando
ele me convidou para ir à Itália, eu não hesitei. Parecia romântico e impulsivo, e ele era
ótimo... — Parou abruptamente, mas Stuart soube que amante era a palavra que fora
omitida. — Descobri bem depois que ele era procurado por contrabandear munição para a
guerrilha espanhola. — Ela sorriu com tristeza. — Como vê, eu tenho o hábito de escolher
os piores homens que podem existir.
Stuart acenou a cabeça, discordando.
— Ele a deixou?
— Sim, sem nenhum tostão. Ele desapareceu junto com a maioria das minhas
jóias. Fiquei sem dinheiro, sozinha na Itália. Piero me salvou.
— Pelo menos ele não era trapaceiro como Carlos — comentou Stuart para
confortá-la.
— Piero era generoso e amável. Vivi com ele os melhores anos da minha vida.
— E você o amou?
— Oh, não. O que houve entre nós foi uma troca de favores. Ele gostava de
colecionar coisas bonitas e eu era uma delas. Lúcia costumava dizer que eu era uma
boneca de luxo, sua desculpa para comprar sedas e jóias valiosas.
Stuart assentiu em silêncio, reprimindo o ímpeto de comentar sobre a esmeralda
falsa.
— Era um bom marido, embora fosse impotente.

Projeto Revisoras 63
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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— Não consigo imaginar como um homem pode ser impotente a seu lado — ele
comentou, aproximando-se para beijá-la.
Charlotte ruborizou e Stuart percebeu que nunca a vira corar antes.
— Piero não exigia que eu fosse fiel. Na realidade, preferia que eu tivesse
romances discretos... e gostava de assistir enquanto eu fazia amor com outro homem.
Stuart disfarçou o espanto. Não era possível conceber tal idéia. A noção de que
Charlotte pudesse fazer amor com outro homem já era, em si, dolorosa. Vê-la nos braços
de outro seria um martírio intolerável.
— E seus parceiros sabiam que ele assistia enquanto faziam amor?
Charlotte constrangeu-se diante da própria história de vida.
— Sim. E alguns gostavam de ostentar suas habilidades para outro homem.
— E você... — Ele hesitou. — Você gostava? A tristeza nublou os olhos adoráveis.
— Eu não tinha o direito de recusar. Devia muito a Piero e era a única alegria de
sua vida.
Stuart suspirou, indeciso sobre seus os sentimentos. Repulsa e ira o faziam odiar
Piero mesmo sem conhecê-lo. Por fim, decidiu deixar o passado para trás e se concentrar
no presente. Olhou para Charlotte e percebeu, penalizado, que uma lágrima furtiva
escapara de seus olhos.
Com ternura, vagueou os dedos sobre a linha da coluna desnuda, numa carícia
gentil. Ela abriu os olhos e sorriu. Os cabelos se espalhavam numa profusão de cachos
sobre a face e ombros. O luar pálido invadia o aposento, envolvendo-a numa aura
prateada. De súbito, ele teve a impressão de que estava diante de um anjo caído dos
céus.
Charlotte ergueu a cabeça, afastando as mechas caídas sobre a face. Um gesto
simples, mas repleto de sensualidade inflamou os sentidos de Stuart.
Apoiando-se em um cotovelo, ele sorveu o mel dos lábios macios, ternamente,
num convite gentil para reiniciar a dança dos corpos apaixonados.
Charlotte sentiu o peso do corpo vibrante sobre o seu e o enlaçou pelo quadril com
as pernas longilíneas.
Quando sentiu a penetração em uma investida firme, ela agarrou-se aos lençóis,
abafando um grito extasiado.
Stuart impôs ritmo lento e suave a princípio, adiando o momento do clímax para
usufruir ao máximo o corpo quente que envolvia o membro intumescido.
Quando Charlotte ofegou, estremecendo numa onda lânguida, ele acompanhou-a
até chegarem juntos ao almejado clímax. Stuart rolou para o lado, puxando-a consigo.
Fechou os olhos e inalou o perfume suave dos cabelos que caíam em cascata sobre seu

Projeto Revisoras 64
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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peito musculoso. Nunca estivera tão feliz em sua vida, e permaneceu em silêncio como se
não quisesse romper a magia que os envolvia.
— O que é Oakwood Park? — Charlotte deslizou para o colchão, deitando-se de
costas.
— Hum? Onde você ouviu falar disso?
— Na noite em que fomos à ópera. É seu? Stuart ficou calado durante um minuto.
— Não — informou ele, seco.
— Quem é Barclay?
Stuart vacilou, e então rolou para longe e saiu da cama.
— Não quero falar sobre isso, Charlotte — determinou, apanhando o roupão
pendurado no cabideiro para cobrir o corpo.
— Quem é Barclay, Stuart? — ela insistiu. — Por que tem de pagá-lo? Você está
em perigo?
Ele deu uma risada melancólica.
— Você não vai desistir, não é? — ele resmungou contrariado. — Oakwood Park é
uma pequena propriedade que almejo possuir, mas não posso dispor do dinheiro para
comprá-la. Barclay é meu banqueiro. Satisfeita? — Ele atirou um roupão para ela,
disposto a mudar de assunto. — Está com fome?
Charlotte continuou encarando-o confusa.
— Se você precisa pagá-lo, significa que já tem uma hipoteca.
— Este assunto está encerrado — ele determinou, ajoelhando-se para procurar as
botas sob a cama.
— Se eu tivesse consentido com seu casamento com Susan, você poderia dispor
do dinheiro — ela ponderou. Não era para menos que ficara tão furioso com ela! — Mas
você perdeu tudo por minha causa.
— Charlotte, por favor! — Ele esfregou as mãos sobre o rosto, aflito.
— Você teria sido um bom marido... — Charlotte sentiu um nó na garganta. — E se
ela tivesse se casado, não teria fugido.
Lágrimas molharam o rosto sem que ela pudesse reprimir. Levantou-se num
impulso e fez menção de sair do quarto, mas Stuart a segurou antes que chegasse à
porta.
— Você não fez nada injusto — ele disse com firmeza. — Tinha razão sobre
minhas intenções. Eu queria me casar pelo dinheiro, não pelos encantos de Susan, e
menos ainda por amor. Tinha razão em desconfiar de mim e protegê-la. Ela fugiu porque
é uma menina imatura e impaciente demais para antever as conseqüências de suas
decisões. Nunca seríamos felizes juntos. — A voz grave se tornou um débil lamento. —
Eu não poderia olhar para ela sem pensar em você.
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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Charlotte contraiu o queixo, recusando-se a chorar. Stuart suspirou, e os ombros
penderam pesados.
— Sim, eu comprei Oakwood Park. Serei um homem velho antes de herdar o título
aristocrático e não posso passar o resto da minha vida, vivendo às custas dos meus pais.
Se as terras se tornassem produtivas, eu teria uma fonte de renda, sem mencionar uma
casa para me abrigar. — Ele fez uma pausa, encarando-a com pesar. — Mas a
propriedade foi negligenciada durante muitos anos. Agora será preciso empreender muito
trabalho e dinheiro para colher frutos dali. Tive de pedir empréstimo para Barclay e, sem a
mesada de meu pai, não posso reembolsá-lo.
— Oh, Stuart... Eu sinto muito! — ela sussurrou.
— A culpa não é sua. Eu subestimei Terrance. Não esperava que ele tivesse
reação tão visceral frente aos boatos mentirosos, diga-se de passagem.
— Talvez ele possa reconsiderar — Charlotte sugeriu, mas ele negou com um
gesto de cabeça enfático.
— Não posso contar nem contar com essa possibilidade.
E pelo tom de voz a advertiu de que não deveria insistir no assunto.
— O que pretende fazer?
Stuart não disse nada. Apenas encolheu os ombros, a expressão sombria,
revelando o mais profundo pesar.
Sim, ele tinha todo o direito de resolver as dificuldades do próprio modo, ela
pensou, mesmo que isso implicasse se casar com uma herdeira rica. Não podia censurá-
lo. Ela própria tivera ações semelhantes, senão piores.
Quando tentou sair, Stuart não a impediu. Charlotte colocou o vestido e ele se
prontificou a abotoá-lo, fazendo-a morder o lábio ao toque das mãos quentes em sua
pele.
— Está tarde — rompeu o silêncio, voltando-se para ele. — Creio que eu deveria ir
para um hotel.
Ele suspirou, os dedos pausando na nuca.
— Não. Ir para um hotel é o mesmo que anunciar ao mundo que somos amantes.
— Sentiu que ela vacilava. — Volte para a casa de meus pais. Eles devem estar fora e
não notarão seu retorno.
Charlotte suspirou, resignada.
— Está bem. Mas se seu pai disser uma só palavra...
—Você já o confrontou com maestria. Pode fazer o mesmo. Terrance precisa de
alguém que o encare do mesmo nível.
Ela refletiu por alguns segundos antes de assentir. Stuart apertou-lhe a mão,
libertando-a em seguida para terminarem de se vestir.
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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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O curto trajeto até a casa da família Drake transcorreu em silêncio. Ambos sabiam
que o breve interlúdio que haviam criado naquela tarde, terminara e tinham de encarar os
problemas que viriam pela frente.
Stuart se despediu de Charlotte com formalidade e esperou que ela entrasse.
No caminho de volta à casa de Phillip, refletiu sobre os acontecimentos daquela
tarde. Tentara evitar a pergunta que insistia em clamar na sua consciência, mas não
podia mais ignorá-la. Teria de enfrentar a realidade cedo ou tarde, e receava que as
respostas não fossem diferentes de quando deixara Kent.
Sabia que Terrance não estava disposto a reconsiderar. A verdade era que seu
sofrimento parecia instigar o pai com um prazer sádico.
Perdido em reflexões, não percebeu a passagem do tempo até chegar à casa de
Phillip. Estranhou o silêncio habitual ao entrar, como se estivesse faltando alguma coisa.
Escalou os degraus com a mente preenchida pelas lembranças vívidas, e parou onde
beijara Charlotte. No quarto, inalou o perfume impregnado no travesseiro, desejando tê-la
a seu lado.
Assim que Susan fosse encontrada, Charlotte voltaria para Kent ou para qualquer
outro lugar onde o escândalo não a perseguisse. Mesmo ansiando pela segurança e bem-
estar da ex-noiva, ele não pôde se furtar do desejo de que aquele momento se retardasse
ao máximo.
Com má vontade, começou a examinar os motivos para ajudar Charlotte a procurar
a sobrinha. Ele passara a última semana vasculhando Londres, enquanto sua situação
financeira piorava a cada dia. Ser um cavalheiro honrado era parte da razão; ademais,
também sentia alguma responsabilidade pelo desaparecimento da garota, desde que fora
o seu namoro que causara a desavença de Susan com a tia.
No entanto, o maior motivo não se relacionava com honra. Ele se oferecera de livre
e espontânea vontade para ajudar Charlotte, pelo simples prazer de estar ao seu lado.
Queria vê-la sorrir, sentir o toque das mãos aveludadas em sua pele, respirar o cheiro
inebriante do perfume que o enlouquecia.
Porém, não havia futuro para eles, não com a miséria batendo à porta.
Antes de Charlotte, casar-se com uma herdeira rica parecia ser a solução ideal.
Depois do que haviam compartilhado, não conseguia se imaginar ao lado de outra mulher.
Stuart pensou novamente em Oakwood Park, procurando motivação para voltar à
idéia antiga. Aquele fora seu sonho durante anos, desde que havia abandonado a
universidade e percebera finalmente como a vida poderia ser cruel, se não tivesse uma
ocupação rentável. De súbito, sentiu que não valeria a pena, quando a mulher que o
estaria esperando ao final de cada dia não seria Charlotte.
Sim, não havia mais como negar. Estava perdidamente apaixonado, e a
intensidade do sentimento o assustou. No entanto, não podia desejá-la só para si, quando
não tinha nada a oferecer.
Projeto Revisoras 67
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Sorriu com tristeza, tentando apaziguar o coração. Não tomaria decisões
precipitadas, ponderou. Em primeiro lugar, se preocuparia em encontrar Susan. Até que
ela reaparecesse, a bruma de tristeza que envolvia Charlotte não desapareceria. Então,
quando a sobrinha fosse devolvida com segurança e tudo voltasse ao normal, poderia
resolver se merecia o amor daquela mulher.
Charlotte retardou ao máximo o momento de sair do quarto, como se o simples fato
de ser vista, denunciasse o prazer que desfrutara nos braços de Stuart. A saleta onde o
café da manhã era servido estava vazia, e um criado se apressou em colocar uma
bandeja com chá e torradas à mesa. Havia duas cartas endereçadas a ela, que leu
enquanto comia.
A primeira era de Lúcia. As notícias detalhadas sobre o romance da amiga com o
amigo de Stuart eram hilárias. Ela ficou aliviada por saber que não houvera mais nenhum
arrombamento na casa.
A outra carta revelava uma caligrafia familiar. O coração de Charlotte disparou ao
reconhecer a letra de Stuart. Ele lhe deixara uma nota, contando que Benton descobrira
que um jovem moreno, elegante, com traços de ascendência italiana, havia alugado um
quarto e fora visto numa taverna em Kent. O rapaz tinha partido abruptamente e fora visto
pela última vez na mesma noite em que Susan desaparecera. Stuart prometia enviar
notícias assim que pudesse e assinava simplesmente com um "S".
Charlotte relia o texto, pensando na mão que o escrevera, quando Amélia entrou
na saleta.
— Bom dia, Sra. Griffolino.
— Bom dia. — Charlotte dobrou a carta e sorriu para a anfitriã.
— O dia está adorável! Gostaria de passear pela Bond Street comigo?
— Oh , não, obrigada.—Ela guardou as cartas, apressada. Aquela era uma
situação nova e constrangedora: tomar o desjejum com a mãe do seu amante. — Sra.
Drake, aprecio imensamente sua hospitalidade, mas talvez fosse melhor que eu me
mudasse para um hotel. Não posso ficar aqui para sempre.
— Tolice! — Amélia ergueu as mãos com um gesto enfático. — Você tem de ficar
aqui! Uma mulher sozinha, em um hotel? Não é apropriado, querida.
— Posso chamar minha amiga em Kent para ficar comigo — Charlotte insistiu, mas
Amélia balançou a cabeça com vigor.
—Mas você já está instalada! Por favor, fique... Faço questão de estar a seu lado
durante esse difícil momento.
— É muito gentil da sua parte, mas a senhora já foi muito benevolente por aceitar
uma estranha em sua casa e...

Projeto Revisoras 68
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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— Sra. Griffolino, peço-lhe que fique. Eu usufrui a companhia do meu filho durante
essa semana, mais do que todas as vezes que o vi no último ano. Não sou tola a ponto de
pensar que ele vai jantar nesta casa todas as noites depois que a senhora partir.
Charlotte refletiu que aquela era a família mais estranha que já encontrara.
Enquanto o Sr. Drake quase a expulsara da mansão, a esposa lhe implorava que
ficasse...
— Se minha presença não é um fardo, eu ficarei — consentiu por fim, com certo
desconforto, mas o sorriso aliviado de Amélia a tranqüilizou. — E, por favor, não me trate
com tanta formalidade.
— É claro! E saiba que a senh... digo, você é bem-vinda para ficar o tempo que
quiser.
Charlotte assentiu e indicou as cartas sobre a mesa.
— Stuart enviou uma mensagem esta manhã. O valete dele soube de um forasteiro
que pode ser italiano. Ele e o Sr. Pitney tentarão obter maiores informações. — Suspirou
com tristeza. — Espero que Susan seja encontrada logo.
Ela agradeceu mais uma vez pela hospitalidade, despediu-se da anfitriã e foi para
o quarto.
Não pretendia voltar a freqüentar a sociedade de Londres. Porém, se fosse
necessário, não hesitaria em se expor. Ainda esperava que a sobrinha pudesse ter a
chance de ter um casamento respeitável, depois de tudo. E, se a reputação de alguém
tivesse de ser atacada, que fosse a dela própria. Se algum escândalo envolvesse a
sobrinha, seu passado notório distrairia a sociedade e faria com que as pessoas se
esquecessem do desaparecimento de Susan.
Ela permaneceu no quarto até ser chamada para o almoço. No entanto, a
ansiedade que lhe apertava o peito a impediu de comer. Voltou para o quarto e se deitou,
tentando descansar, mas seus olhos se recusaram a fechar. E com o olhar preso no teto,
deixou-se perder em divagações.
Fazer amor com Stuart não satisfizera a luxúria, como esperava. Só em pensar nas
mãos percorrendo seu corpo sequioso, uma intensa onda de calor levantava a pele alva
em doces arrepios. Contudo, o que mais a perturbava, era a estranha e incômoda
sensação de que Stuart poderia ser diferente de todos os homens de sua vida.
Charlotte escondeu a face no travesseiro. Acontecera novamente... Apaixonara-se
por um homem que não seria seu marido. Não tinha ilusões sobre o futuro. Stuart
precisava se unir a uma mulher rica. O que se passara entre eles teria de ser breve e
fugaz, horas roubadas ou minutos que não a satisfariam. Por um momento desesperado,
desejou que Susan ficasse desaparecida por mais algumas semanas para lhe dar mais
tempo de saborear a companhia de Stuart.
Sentindo-se mal por querer sacrificar a sobrinha inocente em favor de seus desejos
pecaminosos, ela se levantou pensando em se ocupar com algo que a distraísse. Entrou
Projeto Revisoras 69
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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na biblioteca, percorrendo com o olhar as prateleiras repletas. O ambiente pouco
iluminado deixou-a ainda mais triste. Vagou pelas estantes, lendo os títulos sem registrar
o que via.
De súbito, notou uma janela escondida sob as cortinas pesadas. Puxou-as e a luz
fluiu para o interior do aposento. Ao se virar, Charlotte ofegou.
Deparou-se com os olhos de Stuart encarando-a e levou alguns segundos para
perceber que se tratava de um quadro a óleo, pendurado na parede oposta a janela.
Ela se aproximou e estudou-o com atenção. O rosto retratado possuía os mesmos
traços aristocráticos, mas as roupas não condiziam com a época atual. Aquele estilo de
casaco datava de, no mínimo, trinta anos atrás.
Na certa, era algum parente próximo da família, concluiu. Desejou saber quem era,
e por que a magnífica pintura fora relegada ao canto mais escuro da casa.
— A senhora é curiosa, não é?
Charlotte girou o corpo e viu Terrance Drake parado à porta.
— Desculpe pela intromissão — murmurou, mortificada. — Eu estava procurando
um livro, e não pude ver no escuro...
Terrance se aproximou.
— Vá em frente. Pergunte o que quer saber — sugeriu, acenando na direção do
quadro.
— Não é da minha conta — ela justificou, ainda constrangida. — Eu apenas fiquei
admirada com a semelhança com Stuart.
— É misterioso em todos os sentidos. É como se fossem irmãos gêmeos. Ambos já
nasceram imorais.
— Oh! — Charlotte exclamou antes de pensar. — Ele é seu filho!
— O sangue não pode ser enganado; eu o conheço pelo que ele é.
— Não posso concordar, senhor — ela disse com frieza. Terrance continuou
encarando o retrato como se tivesse prazer em destruir a imagem do filho.
— Seu próprio sangue também a traiu, não é? — ele comentou com desprezo. —
Sua sobrinha fugiu com um salafrário. Laços de sangue não significam nada quando a
paixão fala mais alto.
— Ela não passa de uma menina! — Charlotte protestou, indignada. — Susan é a
única família que tenho. É a mim que ela deve satisfação, e a mais ninguém.
— Sedutores, mentirosos, trapaceiros... —Terrance apontou o retrato. — Meu
próprio irmão! Foi uma bênção ter morrido jovem. Meu filho é como ele. Se eu fosse a
senhora, nunca teria filhos. Sua sobrinha já provou a fraqueza de seu próprio sangue. —
Ele se inclinou numa mesura que não disfarçava o sarcasmo. — Tenha um bom dia.

Projeto Revisoras 70
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Chocada com a rudeza de Terrance Drake, Charlotte desistiu da leitura e voltou
para o quarto.
O que levaria um pai a odiar o próprio filho? Cada vez mais arrependia-se de ter
difamado Stuart para Sra. Kildair, que se incumbira de espalhar as fofocas em primeira
mão. Agora, ela se afundava em vergonha à descoberta de que fora responsável por
difundir mentiras, destruindo injustamente a reputação de Stuart. Mortificada, percebeu
que sua atitude a colocava no mesmo patamar que o amargo e vingativo Terrance Drake.
Para surpresa de Charlotte, o convite inesperado para um baile na Mansão Ware,
rompeu a monotonia da tarde. Era óbvio que havia a mão de Stuart por trás daquilo,
concluiu.
Ela foi recebida pelo duque e duquesa de Ware como se fizesse parte da família.
Porém, sentiu-se apreensiva quando os anfitriões a deixaram para dar atenção a outros
convidados. Sentia-se insegura por estar em sociedade depois de tanto tempo. Qualquer
um que conhecesse sua família a reconheceria.
Permaneceu em um canto, alerta para qualquer rumor a seu respeito. Felizmente,
havia um acontecimento social ainda mais escandaloso que competia com sua presença:
o duque de Exeter aparecera com uma esposa com idade para ser sua neta.
— Se acontecesse um assassinato neste salão, ninguém notaria — a duquesa
comentou ao se aproximar, referindo-se ao duque.
Charlotte assentiu, permitindo-se um sorriso culpado. Um cavalheiro se aproximou
e a duquesa o recebeu com um sorriso.
— Oh! Lorde Robert Fairfield! — ela disse com prazer. — Veio convidar minha
amiga para dançar?
Ele se curvou, fitando Charlotte com interesse.
— Será uma honra, senhora.
Charlotte hesitou, e a duquesa se apressou em estimulá-la.
— Vá dançar com lorde Robert, querida. Ele é um cavalheiro respeitável.
Sem ter como recusar, colocou a mão sobre o braço estendido do lorde.
— Não tema — ele sussurrou quando tomavam seus lugares no centro do salão.
— Drake me advertiu para tratá-la com respeito.
— O que quer dizer? — Charlotte relanceou o olhar para ele.
— Ele me pediu para cuidar de você.
— Ah... Então, foi Stuart quem pediu que me tirasse para dançar?
Lorde Robert sorriu.
— Drake me ofereceu esta oportunidade, já que chegará tarde ao baile. Uma vez
que ele estiver aqui, não mais ousarei convidá-la.

Projeto Revisoras 71
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Charlotte riu, sentindo-se infinitamente mais relaxada por saber que Stuart estava a
caminho.
Stuart chegou tarde à Mansão Ware, exausto depois de procurar o misterioso
rapaz italiano em todas as docas e ruelas de Londres.
O salão de baile estava abarrotado, e ele não viu Charlotte ou Robert. Enquanto
atravessava o recinto, deu graças aos céus ao perceber que novos escândalos haviam
desviado a atenção dos rumores que sua saída de Londres provocara.
Ele cumprimentou os convidados e foi recebido com naturalidade, constatando que
o fato de ter sido expulso pelo pai havia caído no esquecimento.
Finalmente, viu Charlotte, esplêndida num vestido de seda cor de safira. Ela sorria
enquanto rodopiava pelo salão e ele quase caiu de joelhos diante da beleza estonteante
daquela mulher.
— Stuart Drake, de volta a Londres afinal! — Uma mão feminina tocou-o no braço.
Emily, lady Burton, aproximou-se a uma distância incômoda, impedindo que
alguém se interpusesse entre eles. Stuart suspirou de enfado, tomando a mão delicada
para fingir um beijo na pele alva.
— Boa noite, Emy. A ex-amante sorriu.
— Que noite! Imagine que o duque de Exeter apareceu ostentando uma criança,
apresentando-a como a próxima duquesa de Exeter...
— Pensei que ele seria o último solteiro de Londres — Stuart comentou sem
interesse.
— Pois achei que esse posto pertencia a você...
— Como sempre, você é uma verdadeira fonte de informações, Emy. — Ele
removeu a mão.
Como pudera ter se interessado por mulher tão fútil?, pensou, contrafeito.
—Ah, mas você não ouviu as notícias mais interessantes... — sussurrou ela.
— Mais tarde, talvez. Estou atrasado para um encontro.
— Oh, você ficará muito interessado, eu garanto! — lady Burton insistiu. — A
condessa italiana que você tem escoltado é a Srta. Charlotte Tratter, filha de sir Henry
Tratter, não é? Lembra-se daquele cavalheiro carrancudo que era amigo do seu pai? —
ela prosseguiu sem esperar pela resposta. — Ele despachou a filha da Inglaterra para
proteger sua reputação.
— Como sabe disso? — Stuart perguntou, curioso.
— Porque o Sr. Hyde-Jones a reconheceu. Onde está ele?... Oh, bem ali! — Ela
elevou a mão e um cavalheiro elegantemente vestido cruzou o salão para encontrá-los.
O pomposo senhor, com cabelos grisalhos impecavelmente arrumados, beijou a
mão de Emily com um sorriso de falsa inocência.
Projeto Revisoras 72
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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—Jeremy, você conhece o Sr. Drake? Stuart, o Sr. Hyde-Jones conheceu a
condessa quando ela ainda era Srta. Tratter, claro. Não é um mundo pequeno?
— De fato. — Stuart conhecia Jeremy Hyde-Jones de vista e ficou surpreso ao vê-
lo na Mansão Ware.
Hyde-Jones tinha se casado com duas herdeiras milionárias, sendo que as uniões
duraram muito pouco. Ambas esposas morreram em circunstâncias suspeitas. Uma delas
caíra da escada numa queda fatal, e a outra sofrera um trágico acidente de carruagem no
último ano. Desde então, Hyde-Jones passara a ser aceito nas mais proeminentes fa-
mílias, o que representava grande ironia para Stuart, já que era recebido apenas por
conta das enormes fortunas que herdara.
No entanto, aquele homem tinha conhecido Charlotte quando ela era mais jovem.
A curiosidade foi maior do que o preconceito, e ele se curvou para saudá-lo.
— Sr. Hyde-Jones.
— Boa noite, Sr. Drake. — O sorriso do homem mais velho denotava
condescendência. — Creio que o senhor não ficará surpreso em saber que sua dama
italiana é, na verdade, de origem inglesa.
— Não. Eu já sabia — Stuart respondeu com uma naturalidade forçada. Aquele
homem parecia muito idoso para conhecer Charlotte. Talvez Hyde-Jones fosse amigo de
seu pai. — Então, conheceu-a na Inglaterra?
— Sim — foi a resposta lacônica que escondia uma ponta de sarcasmo.
— Jeremy, você é terrível! — Emily comentou com uma risada. — O que um
homem como você poderia querer com uma criança de dezessete anos?
— Asseguro-lhe, ela não se comportava como criança — ele disse com o mesmo
sorriso intrigante. — Certamente, era uma mulher na ocasião em que nosso
relacionamento terminou.
Uma imagem de Charlotte aos dezessete anos, flamejou pela mente de Stuart.
Encarou Hyde-Jones com suspeita. Que interesse poderia ter um cinqüentão numa
mulher duas décadas mais jovem?
— Deve ter se surpreendido com as mudanças de Charlotte
— comentou com falsa simpatia. — Afinal, ela está longe da Inglaterra há doze
anos.
— Stuart, não fica bem divulgar a idade de uma dama!
— Emily o cutucou.
— Oh, mas, a exemplo de um bom conhaque, algumas damas melhoram com a
idade — ele disse automaticamente, com a atenção voltada para Hyde-Jones.
O elegante senhor assistia Charlotte com evidente interesse. Ao comentário de
Stuart, ele se virou e sorriu.

Projeto Revisoras 73
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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— Concordo inteiramente. Eu nunca teria esperado que Charlotte se tornasse uma
mulher tão bela.
Stuart concluiu que não gostava daquele sujeito. Havia algo ali que soava falso,
apesar da opulência das vestes.
— Na verdade, nós quase nos casamos.
— Quase? — Stuart percebeu tarde demais que a voz soara mais alto do que
pretendia.
— Sorte dela por ter escapado! — Emily provocou com uma risada.
— Bem, não considero sorte — Hyde-Jones disse com olhar astuto. — O conde
Griffolino também está em Londres?
— Ele faleceu — Stuart sibilou, desejando um destino semelhante para o próprio
Hyde-Jones se ele continuasse a olhar para Charlotte.
Durante a viagem para Londres, ele havia perguntado a Charlotte quem fora o
responsável por partir o seu coração. Não obtivera resposta, aliás o assunto serviu para
retraí-la durante todo o trajeto. No entanto, começava a suspeitar de que Jeremy tinha
alguma relação com a súbita viajem de Charlotte pelo continente, doze anos atrás.
— Oh... — A face de Hyde-Jones se iluminou com satisfação-. — Que trágico!
— Deve ser traumático perder um cônjuge. A propósito, minhas condolências pelo
acidente fatal com sua esposa no ano passado. — Stuart tirou a mão de Emily do braço e
passou por Hyde-Jones, ignorando a sobrancelha erguida sarcasticamente.
Charlotte dançava com Robert Fairfield, seu grande amigo. Encarou-o e fez um
aceno discreto para anunciar sua chegada. Se não fosse pelo execrável Hyde-Jones,
Stuart estaria segurando-a nos braços naquele momento, pensou, desgostoso.
— Minhas desculpas, Sr. Drake. — Um dos criados se curvou e estendeu-lhe uma
bandeja prateada. — Isso foi entregue há pouco, e é urgente.
Stuart murmurou um agradecimento inaudível e abriu a folha com a caligrafia de
Pitney. Ele encontrara uma pista do seqüestrador. Um estrangeiro, espanhol ou italiano,
estava viajando com uma jovem inglesa e estavam hospedados numa pousada de
Clerkenwell durante os últimos dias.
Stuart olhou para a pista de dança. Robert e Charlotte ainda estavam dançando.
Ela ficaria exultante quando soubesse. Além disso, exigiria que ele respondesse o mais
cedo possível.
Stuart hesitou. Levaria só alguns minutos para enviar uma resposta, e em breve
poderia contar a Charlotte as boas novas.
Quando a música cessou, Fairfield conduziu Charlotte para fora do salão e ela
abanou o rosto afogueado.
— Obrigada pela companhia, lorde Robert — agradeceu com um sorriso.

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— O prazer foi meu. — Ele olhou ao redor com a sobrancelha encurvada.—Drake
estava aqui agora mesmo... Ele nos olhava como se tivesse brasas nos sapatos. Cheguei
a recear que nos interrompesse no meio da valsa. Onde terá ido?
Charlotte riu, disfarçando a onda de calor que a preencheu. Por fim, ele chegara!
Mal podia esperar para demonstrar sua gratidão pela maravilhosa noite. Poderia parecer
pouco, mas revelava que Stuart pensara em todos os detalhes, desde a preocupação em
proporcionar-lhe distração, como mantê-la em companhia de amigos para que não se
sentisse deslocada em meio a estranhos.
Lorde Robert se dirigiu a ela com um sorriso de desculpa.
— Bem, ele deve voltar logo. Gostaria de um pouco de vinho?
— Não, obrigada — agradeceu ao adorável rapaz. — Por favor, lorde Robert, não
se prenda a mim. Tenho certeza de que Stuart estará comigo em breve. Há muitas jovens
bonitas neste salão ansiando pelo convite para dançar. O senhor foi extremamente gentil
e sua companhia é adorável, mas não quero que desperdice sua noite comigo.
— Estar em sua companhia jamais seria um desperdício — assentiu ele com uma
mesura. — No entanto, creio que gostaria de estar a sós com Drake, por isso, vou deixá-
la.
O rapaz fez outra mesura e saiu. Charlotte aceitou a taça de vinho tinto que um dos
criados lhe ofereceu, e saiu para a sacada a fim de se refrescar. Tomou um gole da
bebida e suspendeu os cabelos, arrependendo-se por tê-los deixado soltos. Quando
Stuart fosse ter com ela, pediria que a levasse para um passeio no jardim, pensou,
excitada com a possibilidade de vê-lo em breve. O pensamento provocou um sorriso
lânguido. Ela e Stuart, sozinhos no jardim escuro...
— Boa noite, condessa, ou eu deveria dizer minha querida Charlotte?
O calor fugiu do corpo de Charlotte ao ouvir aquela voz cínica e familiar. Virou-se
devagar, receando confirmar o que já sabia.
E então, viu o homem que tinha arruinado sua vida.
— Seguramente você se lembra de mim. — Jeremy Hyde-Jones sorriu com
malícia. — Eu me lembro de você, embora não com as mesmas curvas que tem agora.
— Meu mote na vida tem sido aprender com meus erros e então esquecê-los —
ela respondeu com frieza. — Boa noite, senhor.
Charlotte retrocedeu e fez menção de entrar no salão, mas foi detida pela mão
firme em seu ombro.
Por que, em nome de Deus, ela encontrara aquele homem novamente? A simples
visão da figura repugnante a fazia se sentir estúpida e a envergonhava.
— Ora, vamos, Charlotte... — Ele se moveu para mais perto. — Não está feliz em
me ver, depois de tudo que significamos um para o outro?
Ela olhou ao redor, aflita. Onde Stuart se metera?
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— Você era uma criança apaixonada. — Hyde-Jones avaliou-a da cabeça aos pés
sem disfarçar o interesse.—E transformou-se em uma mulher com muito mais atributos
para segurar a atenção de um homem. Está magnífica! Seu charme só aumentou com a
maturidade.
— E o seu se extinguiu de vez — agrediu ela com azedume.
— Vejo que não perdeu a altivez... Mas admiro uma mulher com língua ferina.
Você aprendeu muito desde a mocidade, não é?
— Aprendi a matar a serpente em vez de fazê-la amiga — Charlotte retrucou sem
amenizar o tom de voz. — Basta ter sido picada uma vez para conhecer o veneno.
— Hum... Eu me lembro do gosto da sua pele — ele sussurrou com volúpia. —
Seria bom poder mordê-la novamente.
— Como ousa?! — Ela recuou, incrédula.
— Ora, Charlotte, o que esperava que eu fizesse? Seu pai me apontou uma arma.
— Lastimo apenas que não tivesse atirado!
Ele riu e aumentou a pressão dos dedos nos ombros desnudos.
— Mas agora, não há mais nada nem ninguém para se colocar entre nós. Drake
está rastejando a seus pés, eu sei, mas confio no seu discernimento. Ele é um caçador de
fortunas. A própria família o dispensou.
— Não é irônico ouvir isso de você, o homem que me enganou, fazendo-me pensar
que fosse um cavalheiro?
— Não há razão para reagir como uma solteirona ofendida, minha querida. Ouvi
falar de você por onde andei. Soube que não tem escrúpulos em ferir seus amantes. Há
rumores de que desfrutou dois homens ao mesmo tempo... Conheci um dos amantes que
passou por sua cama, enquanto seu marido pervertido assistia. — Ele livrou-a do peso da
mão áspera nos ombros e riu. — Você é afortunada por eu fazer-lhe a oferta de se tornar
minha amante. Uma mulher com sua reputação não tem lugar na sociedade,
especialmente se certas histórias vierem à tona...
Charlotte sentiu-se enojada, desviando o rosto para evitar encará-lo.
— Agora, eu posso sustentá-la. O que prefere? Uma generosa mesada mensal, ou
uma quantia em dinheiro a cada vez que nos encontrarmos?
Ela permaneceu imóvel, como se seus músculos estivessem petrificados. Como se
livrar da ameaça do que ele prometia difundir?, pensou em agonia. Podia antever os
boatos sobre supostas orgias que Hyde-Jones espalharia como o vento. Já era cruel o
suficiente ser condenada pelos erros do passado, mas era injusto sofrer por pecados que
não tinha cometido.
Seus joelhos fraquejaram ao imaginar o que Stuart pensaria quando ouvisse.
Terrance ficaria enfurecido por ele ter levado tal mulher a sua casa, e seria banido mais

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uma vez. Nunca mais poderia ousar ser visto em sua companhia, se quisesse ter
qualquer chance de respeitabilidade.
Sim, Stuart tinha de se casar o mais depressa possível com uma jovem imaculada,
doce e gentil, que o resgatasse com bondade e retidão. Tal mulher daria a ele a vida que
merecia.
O curso dos pensamentos a mortificou. Sabia que eventualmente o perderia, mas
não imaginara que a separação seria tão abrupta. Nem sonhava em se afastar do único
homem que a tratara com dignidade, e também não conseguia imaginar como seria
possível viver sem ele.
No entanto, seu sacrifício valeria a pena. Stuart teria oportunidade de ter uma vida
decente na Inglaterra. Além disso, tinha de pensar em Susan. Jamais permitiria que o
próprio nome denegrisse a imagem da sobrinha.
A única saída seria se afastar de todos aqueles a quem amava. Restaria-lhe
apenas voltar a viver no exílio, tendo como companhia constante nada além da solidão.
A tristeza deu lugar ao ódio. O homem parado a sua frente arruinara sua vida uma
vez, e estava prestes a fazer o mesmo novamente.
— Diga-me — ela começou, mantendo voz firme. — Como pode acreditar que eu o
aceitarei de volta, depois da forma ignóbil como agiu? Por acaso acha que a criança tola
que seduziu não se tornaria mais sábia depois de doze anos? O que o faz pensar que
uma mulher com minha experiência iria querer um homem como você? — Charlotte riu
em desprezo. — Fui tola por não perceber que não passava de uma diversão temporária,
ou um caminho rápido para o enriquecimento.
— Não me culpe — Hyde-Jones replicou. — Você me desejava tanto quanto eu.
Sua fortuna era atraente, admito, mas você era uma bela jovem, e não uma criança
indefesa.
— Eu tinha apenas dezessete anos!
— Sim, mas isso foi há doze anos. Agora, é uma mulher, e eu tenho fortuna
própria. Nós poderíamos explorar todas as possibilidades que perdemos se tudo tivesse
terminado de forma diferente, se seu pai não...
— ...não me salvasse das suas garras — ela o cortou. — Da próxima vez que o vir,
terei minha própria pistola e não hesitarei como meu pai. E então, providenciarei para que
queime no inferno.
Num impulso, atirou o conteúdo quase intocado da taça no rosto de Hyde-Jones,
antes de atirá-la no chão com violência. Girou nos saltos dos sapatos e se afastou,
fazendo estalar os estilhaços de cristal espalhados pelo piso.
Com os olhos anuviados pela ira, ela não viu Stuart no salão de baile, tampouco
lorde Robert, a duquesa de Ware ou qualquer outro convidado. Saiu da mansão e entrou
na carruagem sem perceber nada a sua volta. Quando deu por si, encontrava-se na casa
de Stuart.
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O criado abriu a porta ao primeiro toque do sinete. Ela sequer percebeu que
esbarrou nele na pressa de entrar, e subir a escada para o quarto sem se desculpar.
Entorpecida pelo choque, tudo que queria era alcançar a privacidade do quarto antes
perdesse os sentidos.
Charlotte tropeçou nos degraus e a respiração ofegante se transformou em
suspiros dolorosos. A garganta se contraiu como se estivesse sufocando, e arrancou o
colar com gesto abrupto. Ao entrar no aposento, fechou a porta e se encostou à madeira.
Tudo que desejava, todos os sonhos e esperanças, desabaram bem diante de seus olhos.
Quando saíra da Inglaterra, era muito jovem e estúpida para considerar as
conseqüências e o alcance das ações. O choque de ter sido banida pelo próprio pai a
levara a jurar que viveria o presente, desfrutando todos os prazeres que se
apresentassem. Nunca pretendera ser imoral. Tudo acontecera sem que notasse os
rumos que sua vida seguia e que, uma vez trilhados, não havia como voltar.
As notícias da morte de George, a tutela de Susan e a morte de Piero a fizeram
reconsiderar antigos valores, além de ganhar uma chance de recomeçar. Teria uma
família de novo ao lado da sobrinha, e, com ela, uma grande responsabilidade.
Charlotte se arrastou até a cama e caiu pesadamente sobre o colchão. Pretendera
ser a guardiã perfeita para a filha de seu único irmão. Desejara voltar a ser respeitável,
com uma existência tranqüila, irrepreensível. E então, Jeremy Hyde-Jones reaparecia
para atirar seu nome na lama de novo.
A aia bateu à porta para oferecer seus préstimos, e Charlotte a dispensou. O que
importava se o vestido ficasse amarrotado, quando a vida estava se desprendendo de
seus dedos?
Quando a empregada se foi e o silêncio voltou a reinar no quarto, ela se sentou e
respirou fundo, considerando o que faria a seguir.
Não poderia partir sem se assegurar de que Susan estivesse bem. No entanto, não
poderia permitir que Stuart continuasse ajudando-a. Quanto mais cedo se separasse dele,
melhor seria; com sorte, ele poderia reivindicar que fora enganado. As pessoas
acreditariam, uma vez que Hyde-Jones tivesse espalhado os boatos da suposta
depravação da hóspede que fora recebida com reverência na Mansão Ware.
Era improvável que Stuart aceitasse a necessidade de usar aquele artifício para
preservá-lo, entretanto, ela teria de persuadi-lo. E tentaria até a última fibra de seu ser
para que o único homem, a quem realmente amara, saísse ileso das conseqüências,
impostas pelos seus próprios erros.
Stuart se esgueirou pelos convidados e seguiu para onde ele tinha visto Charlotte e
Fairfield momentos antes. Não os encontrou. Aflito, olhou ao redor e viu o amigo entre os
dançarinos. Porém, não havia o menor sinal de Charlotte.
Avistou Jeremy Hyde-Jones no terraço, com o rosto lívido de fúria. Um criado
segurava uma toalha e parecia limpar algo de sua camisa, enquanto outro varria o chão.

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Stuart sentiu o sangue esvair de seu rosto, intuindo no mesmo instante que, o que
quer que tivesse acontecido, Charlotte estava envolvida.
— Drake, aí está você! — Robert se aproximou. — Onde está Charlotte? ?
— Eu estava me perguntando o mesmo.
— Eu a deixei aqui... — o rapaz disse em tom de desculpa. — Ela quis esperá-lo
sozinha.
— Não importa — Stuart murmurou. — Vou procurá-la. Veja se você a encontra e
traga-a para o terraço.
Robert assentiu e desapareceu na multidão. Quando Stuart fez menção de sair,
Hyde-Jones o tocou no ombro.
— Ah, Sr. Drake... A condessa mostrou sua verdadeira cor: escarlate. — Ele
indicou o colete manchado de vinho.
— Do que está falando? — As sobrancelhas de Stuart se curvaram.
— Hum... Pelo que vejo, o senhor não conhece a história sórdida.
— Sórdida? Não entendo... Hyde-Jones riu.
— O senhor achou que tinha encontrado uma viúva rica, não é? Sim, de fato, ela
herdou os bens do marido italiano... Mas, acredite, lorde Drake não aceitaria uma
prostituta na família.
— Senhor, não é apropriado dizer tais coisas de uma dama.
Hyde-Jones lhe enviou um olhar afiado.
— Prostituta — repetiu com prazer. — Posso afirmar o que estou dizendo. Eu
mesmo desfrutei os encantos dela uma vez.
Stuart apertou os punhos de ódio, fuzilando- o com o olhar. Hyde-Jones se
aproximou, ostentando um irritante sorriso malicioso.
— Fomos noivos há doze anos. Ela me seduziu e eu descobri com que tipo de
mulher estava lidando. O pai descobriu e a baniu da Inglaterra.
— E o senhor, sem nenhuma dúvida, ficou devastado por perder a noiva. — Stuart
desejou esmurrá-lo. — Considero humilhante que um homem feito tenha se deixado
seduzir por uma menina de dezessete anos. Que tipo de tolo é o senhor? — Ele se
aproximou e disse em tom de confidência: — Eu suponho que sua primeira esposa
tropeçou no tapete e caiu da escada, e a segunda pulou da carruagem em alta velocidade
por vontade própria, não é?
— Como ousa? — Hyde-Jones sibilou por entre os dentes cerrados.
Ele tremia, e Stuart não soube discernir se de fúria ou temor. No entanto, percebeu
de imediato que encontrara o ponto fraco de seu oponente e decidiu usar as mesmas
armas. — Como o senhor deve saber, mantenho relações estreitas com a família Ware.
Sou o melhor amigo do filho de lorde Ware — ele prosseguiu no mesmo tom confidencial.
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— O lorde é um homem de caráter irrepreensível. Ele ficaria indignado se soubesse que
recebeu um assassino em sua casa. E, é claro, algum dos amigos dele da Agência Real
da Coroa, teria de tomar providências para corrigir tamanha afronta.
Eu, na condição de amigo da família, seria o primeiro a dar meu testemunho.
Stuart fez uma pausa, desfrutando o efeito de suas palavras. A expressão de
Hyde-Jones transmutara da fúria para o pânico num piscar de olhos.
— Sim, eu sei de detalhes que o senhor não gostaria que fossem revelados —
mentiu, satisfeito com o resultado de sua tática. — Os nobres esquecem que há criadas
curiosas pela casa, espiando pelos buracos de fechadura... E que nós, homens, gostamos
de mulheres bonitas, não importa sua classe social.
Ante a sugestão de que Stuart ouvira algo de alguma de suas criadas, Hyde-Jones
enrijeceu.
— Sugiro que o senhor desfrute o Continente por um longo tempo — propôs com
falsa amabilidade. — Talvez, se eu não o vir mais, possa esquecer os detalhes sórdidos
das mortes trágicas de duas mulheres inocentes e indefesas.
Stuart ajeitou os punhos da camisa, reprimindo o sorriso de triunfo. A reação de
Hyde-Jones era uma autêntica confissão de culpa.
— Farei o que sugeriu—ele rosnou, dando-se por vencido. — Partirei amanhã
mesmo, Sr. Drake, e espero que este assunto fique entre nós.
Stuart acenou com a cabeça, num acordo tácito de cavalheiros.

Capítulo IV

— Sr. Drake! Há algo errado? O mordomo escandalizado assistiu Stuart entrar com
estrépito na mansão e subir a escadaria de dois em dois degraus.
— Charlotte? — Bateu à porta do quarto de hóspedes e empurrou a porta antes de
ouvir a resposta.
Ela estava à janela e relanceou o olhar por cima do ombro.
— Stuart! O que pensarão ao vê-lo entrar dessa forma em meus aposentos?
O escárnio o fez recuar.
— Eu tinha de vê-la —justificou, parado à porta.
— É mesmo? — Ela deu uma risada curta. — Volte quando puder pagar meu
preço, Sr. Drake.
Stuart pestanejou. Aquela mulher com coração de pedra não podia ser Charlotte!
— Eu não estou aqui para tê-la. Quero apenas...
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— Eu sei o que os homens querem — foi a resposta glacial. — Não finja que não
quer o mesmo.
— Pare! — Stuart exigiu em voz baixa. — Eu me preocupo com você, muito mais
do que imagina.
Ela voltou a olhar pela janela.
— Sei que você encontrou com Hyde-Jones essa noite — prosseguiu, fazendo
uma última tentativa de chamá-la para a razão. — Sei que você o conheceu anos atrás.
— Eu não tenho nada a dizer sobre isso.
— O que espera que eu faça? — Stuart clamou, aflito. — Espera que eu vá embora
e a deixe mergulhada num poço de miséria e auto piedade? Acha que posso fazer isso,
depois de tudo que houve entre nós?
— Não houve nada entre nós. Nada! Stuart a encarou, perplexo.
— Como ousa dizer tamanho disparate?
— Sr. Drake, tenho desejos como qualquer mulher, mas não sou o tipo fiel.
Stuart diminuiu a distância entre eles e pousou a mão no ombro delicado.
— Não diga que não signifiquei nada para você!
— Deixe-me! — Charlotte reagiu ao se ver presa pela cintura.
— Não sem antes lutar.
Stuart puxou-a com firmeza e a depositou com um baque sobre a escrivaninha.
Charlotte exalou com força ao impacto, incapaz de se mover quando se viu presa pela
barreira maciça do corpo vigoroso sobre si.
— Eu admito — Stuart murmurou com voz grave, com o rosto tão próximo que as
respirações se confundiam. — Eu a desejei desde que a vi. Você feriu meu orgulho e me
humilhou publicamente, e eu quis vingança. Não sou santo, contudo, não sou um
grosseirão imoral sem senso de honra. Nunca tirei vantagem de você, nunca exigi mais
do que estava disposta a dar. Fiz o que pude para lhe ajudar a achar sua sobrinha. —
Charlotte virou a face, tentando permanecer indiferente, ou pelo menos fazê-lo acreditar
nisso. — Por que me coloca na mesma condição que os outros homens da sua vida?
Carlos, que a usou para escapar dos franceses e a deixou sem dinheiro na Itália. Piero,
que a usou para satisfazer os desejos libidinosos.
— Estou surpresa que um homem honrado como você ainda me queira — ela
retrucou com acidez, guardando a verdade a sete chaves. Stuart era um dos poucos
homens decentes que conhecera, um dos únicos que a desejara para mais de uma noite.
— Eu não tenho nenhuma vergonha, tampouco faço juízo crítico do meu comportamento.
Minha natureza básica sobrepuja os valores morais e me conduz ao caminho do pecado.
Você deveria me agradecer por recusá-lo agora, em vez de fazê-lo mais tarde, quando
estiver acostumado às minhas carícias. Normalmente, gosto de atormentar minha vítima

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antes de rejeitá-la. No entanto, em nome da admiração que tenho por você, vou deixá-lo ir
embora.
— Certo. Se prefere assim, será da forma mais difícil. Stuart segurou-a no queixo e
Charlotte apertou os lábios, antecipando o beijo brutal, mas ele não o fez. A respiração
cálida acariciava seus cabelos, provocando-lhe arrepios. Estava preparada para lutar,
mas como, quando não havia nada além da doce persuasão? Conteve o gemido gutural
quando ele a beijou no canto da sobrancelha, na ponta do nariz e na curva do queixo
arredondado. Tentou se virar, mas ele segurou-a com firmeza.
— Deixe-me ir! — pediu mais uma vez, receando não soar convincente. — Faça
com que seja mais fácil para nós dois.
— Mais fácil para você, talvez, mas não para mim. — Stuart continuou a beijá-la
com suavidade, e ela estremeceu quando a língua úmida encontrou um ponto mais
sensível atrás da orelha.
— Stuart... Desejarmos um ao outro não significa que... — Ele deslizou os lábios
para a curva sinuosa do pescoço, fazendo-a reprimir o gemido de prazer antes de
murmurar com um suspiro: — Pare!
— Somente se os criados me arrastarem porta afora — foi a resposta em voz
rouca. — E então, você nunca me verá novamente.
Charlotte não conseguia pensar com as mãos experientes explorando seu corpo.
Ele tateou os ombros sobre a seda do vestido com o mesmo toque cuidadoso, insinuante.
— Eu não vou me entregar a você novamente!
— Tente me deter — ele provocou, erguendo a cabeça para encará-la.
— Stuart, se não parar agora, juro que vou gritar!
— Sim, você vai gritar, mas somente quando eu a deixar. Só quando eu a fizer
gritar de prazer. — Os dedos ágeis deslizaram o vestido pelo ombro. — Mas não o farei
até que você admita haver mais que desejo entre nós.
— Eu o considero um amigo — ela disse, abafando um gemido selvagem ao sentir
o contato dos lábios na pele nua.
A seda fria roçou os braços quando ele baixou as mangas do vestido, excitando-a
ainda mais.
— E... e um confidente — ela prosseguiu, incapaz de raciocinar.
Ele a prendia com a pressão do corpo forte, mantendo suas mãos às costas. Num
esforço débil para se libertar, Charlotte soube que seria inútil lutar. Seu corpo respondia
às carícias como uma flor que se abre com o calor do sol.
— Muito bom... — ele sussurrou em tom divertido. — Gosto de ser seu confidente.
E um bom começo.

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— E... e... e um amigo leal e digno — ela balbuciou, forçando-se a se manter
imune aos beijos, cada vez mais íntimos.
Contudo, àquela altura, já não era mais possível lutar contra o magnetismo intenso
que os atraía, amoldando os corpos ansiosos. Uma vez tomados pelo desejo, os
recônditos das almas se confundiram com as reentrâncias do corpo. Cada sussurro ou
gemido, contrariava as palavras frias. Mesmo assim, Charlotte estava surda para os
brados de seu corpo e coração, insistindo em manter o tom gélido de voz:
—Você foi muito solidário ao oferecer ajuda para procurar Susan, embora eu o
tratasse de forma abominável. Portanto, está perdoado por seu comportamento abusivo
e...
— Charlotte... — Stuart elevou a cabeça, procurando o brilho daqueles olhos
vívidos e apaixonados. —Pare de falar. Nada do que diz me fará desistir.
— Mas você precisa entender que não posso falar apenas o que quer ouvir.
— Não pode, ou não quer? Convença-me de que não se importa, e saio daqui
agora mesmo. Não sou um joguete em suas mãos. — Stuart assumiu uma postura forte,
surpreendendo-a. — Sou um homem com anseios e sentimentos. E você não é uma
prostituta. É uma mulher com necessidades e desejos como qualquer outra. Acredito que
como eu, você também quer ser amada e não apenas possuída. Isso foi o que sempre a
motivou. Deixou Susan se comportar como uma criança mimada porque queria que ela a
amasse tanto quanto a ama.
Charlotte esboçou um protesto. Stuart estava sendo implacável. Não havia o menor
traço de sarcasmo naqueles olhos azuis.
— Foi isso que a motivou a levar outros homens para a cama, não foi? Você
sempre fez amor, esperando que eles se apaixonassem. Carlos, o romântico, e todos os
homens que poderiam ter lhe trazido felicidade nos matrimônios estéreis.
— Solte-me já! — ela gritou, obrigando-se a odiá-lo. — Você não sabe nada a meu
respeito!
— Sim eu sei. Encontrei Hyde-Jones no baile. Ela congelou quando ouviu o nome.
— Sei também que você foi usada por homens que não mereciam sequer um olhar
seu.
— Como ousa recontar minha vida como se fosse uma série de infortúnios
patéticos? — ela vociferou, engolindo o pranto. — Minhas ações não lhe dizem respeito.
Mesmo porquê, quem é você para falar de mim? Seu próprio pai o baniu, e mesmo sua
mãe, que o adora, pensa o pior a seu respeito. Não aceito conselhos de alguém que vive
às custas do dinheiro emprestado em casas de penhora.
Stuart a silenciou com o beijo exigente e selvagem que ela temera momentos
antes. Porém, foi receptiva, refugiando-se das palavras e da própria resposta cruel na
carícia plena.

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Lágrimas molharam seu rosto, numa explosão incontida de remorso. Por que
ousara magoá-lo, trazendo a lembrança do desamor de seu pai? Que tipo de pessoa feria
e humilhava para se defender? Como supunha que repelir quem ela desejava
desesperadamente, pudesse resolver a situação?
Stuart se afastou abruptamente, correndo os dedos pelo queixo arredondado para
forçá-la a confrontá-lo.
— Não sou como os outros homens — ele disse em tom emocionado. — Não
estou tentando seduzi-la por uma noite. Eu não estou usando você, Charlotte. Quero que
seja feliz, mesmo que com outro homem. Partirei, se você assim quiser, mas não posso
acreditar que realmente pensa que o que sentimos não tenha valor algum. Pelo amor de
Deus, ainda não percebeu o quanto eu a amo?
Charlotte o encarou com a respiração suspensa.
Stuart a amava?
De súbito, ele relaxou a pressão e deu um passo para trás, como se somente
então percebesse o significado do que acabara de dizer.
— Ah, Deus... Eu te amo, Charlotte! Eu te amo mais do que tudo...
Cabisbaixo, ele apanhou o casaco e inclinou-se para apanhar o chapéu e luvas.
Charlotte percebeu, paralisada, que se não tomasse uma atitude, perderia o homem mais
importante de sua vida.
Se admitisse, para ele e para si mesma, que o amava, arriscava-se a mais uma
desilusão. Durante doze anos, recusara-se a ser vulnerável.
Por outro lado, se não dissesse nada, ele partiria, deixando-a cheia de dúvidas,
imaginando como seria o sonho de viver ao lado de um grande amor.
— Stuart, espere! — Ela subiu o corpete e correu para alcançá-lo. — Não me deixe
agora! Eu te amo!
Ele parou, como se um raio o imobilizasse. Charlotte esperou, pelo que pareceu
uma eternidade, até estremecer quando ele acolheu-a num abraço terno.
Ela mergulhou o rosto naquele peito largo, sufocando as lágrimas que brotavam-
lhe dos olhos, alheias à sua vontade.
— Chego a ficar assustada com a intensidade dos meus sentimentos...
Um riso abafado escapou dos lábios de Stuart.
— Então, estamos em iguais condições. Eu nunca senti nada parecido com mulher
alguma.
— Sinto muito pelo que eu disse há pouco. Foi cruel dizer que...
— Shh... Não diga nada. Eu entendo. Você estava apenas lutando com as armas
que tinha disponíveis.

Projeto Revisoras 84
Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Ele sorveu o sal das lágrimas antes de procurar a boca sequiosa do seu beijo. O
vestido deslizou, desnudando a pele acetinada, e as mãos habilidosas se ocuparam em
cobrir cada centímetro de pele com afagos e beijos.
Charlotte espalmou as mãos sobre o tórax largo, correndo até os ombros para
empurrar o casaco. Stuart puxou um braço, ao mesmo tempo em que soltava o espartilho
com a mão livre. As peças de roupa se amontoavam no chão.
— Empreste-me seu corpo, deixe-me amar você — ele sussurrou, traçando a linha
da coluna com as pontas dos dedos.
Charlotte fechou os olhos quando ele a suspendeu nos braços e a carregou para a
cama. A ternura do sorriso deu lugar à mais pura malícia quando ele se inclinou para
beijá-la.
— Veja como você é linda...
Stuart indicou com o queixo o espelho de corpo inteiro defronte a cama. Ela
assistiu, extasiada, a própria face queimar de desejo enquanto ele despia sua anágua e
se abaixava para provocar um mamilo com a ponta da língua. As mãos fortes se moviam
ao longo das coxas, detendo-se nos joelhos para separá-los com delicadeza.
Charlotte ofegou ao tato das mãos em sua intimidade, intensificando a sensação
física. Havia assistido a outras pessoas fazendo amor, mas nunca ela própria. Com os
olhos colados ao reflexo do espelho, enfiou as mãos sob o cós da calça de Stuart e
puxou-a, ansiosa para sentir a masculinidade sólida.
Com um gemido rouco, ele ajudou-a, expondo a nudez esfuziante. Porém, antes de
se deixar abocanhar, ele deslizou, enroscando o tronco por entre as pernas bem feitas.
Charlotte soltou o ar, num sussurro de antecipação. As mãos fortes se insinuaram sob
quadris esculpidos, suspendendo-a, ao mesmo tempo em que a língua cálida tocava sua
intimidade. Ao primeiro toque macio, um gemido incontido escapou dos lábios dela.
— Shh... — Stuart sussurrou. — Terei de parar se você não ficar quieta.
Ela cravou as unhas nos músculos rijos das costas, puxando-o quando ele baixou
a cabeça novamente.
Charlotte sufocou os gritos delirantes ao sentir o contato da língua que estimulava
suavemente seu ponto mais sensível.
Ergueu o quadril, desesperada por mais. Com um gemido, implorou para que ele
prosseguisse com aquele jogo erótico.
Stuart respondeu com paixão redobrada. A língua ágil circulou com delicadeza
torturante o pequeno botão rosado da feminilidade, fazendo-o se abrir em pétalas do mais
profundo êxtase, umedecidas pelo mel que aos poucos seria sorvido por aquela boca
sedenta.
Ao sentir a proximidade do clímax, Charlotte fechou os olhos por um momento,
voltando a abri-los no instante seguinte, para assistir no espelho a expressão do mais

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puro prazer em seu rosto, no momento em que seu ventre se contorceu num espasmo
delicioso e incontrolável.
— Assista e admire... — ele murmurou, girando-a para que ficasse de joelhos na
borda da cama.
Charlotte apoiou a cabeça em uma almofada e girou os ombros de modo que
pudesse admirar a pujante masculinidade de Stuart, pronta para se apossar de seus
domínios mais obscuros. Gemeu baixinho ao sentir o membro rígido e provocante roçar-
lhe quadril, impondo sua passagem pelos caminhos escuros, na intenção explícita de, se
possível, possuí-la até a alma.
A força viril seguiu impávida em sua jornada, ao mesmo tempo em que Stuart a
segurava pelas mãos, penetrando-a com investidas longas, precisas, deixando-a
alucinada, sem fôlego.
— Ah, meu amor... — ele arquejou, contendo-se para não inundá-la com seu
prazer.
Charlotte se encolheu e girou para o lado, puxando-o sobre si.
— Eu te amo... — murmurou ela, fechando os olhos ao inalar o cheiro inebriante,
que se desprendia da pele umedecida de suor. Os olhos pareciam mudar de cor,
fulgurando a intensidade da volúpia que a consumia.
— Meu Deus, eu nunca soube... nunca sonhei...
—Eu te amo... — ela repetiu, friccionando o quadril contra o dele. — Só você.
O corpo de Charlotte se contraiu e ela afundou a cabeça no travesseiro com um
grito mudo. Um momento depois, sentiu o peso de Stuart sobre ela, e soube que ele a
acompanhara na mesma viagem ao paraíso.
Stuart girou o corpo para o lado e afastou os cachos que encobriam o pescoço
delgado, pousando os lábios em seu lugar.
— Eu não queira sentir novamente... — Charlotte suspirou, virando o rosto para
fitá-lo.
Stuart ficou imóvel. Os olhos antes luminosos, ficaram sombrios, como se ela
estivesse enxergando algo que ninguém mais fosse capaz.
— Quando eu era mais nova, apaixonava-me facilmente — prosseguiu, pensando
alto. — Havia um cavalheiro da cidade visitando o campo. Nós nos encontramos num
piquenique, e na noite seguinte, na casa de uma amiga, ele disse que me amava. Disse
que queria se casar comigo. Depois que meu pai o proibiu de me visitar, eu escalei a
janela do quarto à noite para vê-lo. Oh, como era tola! — Ela riu com amargura. —
Quando me disse que estava de partida e me pediu que o acompanhasse, não hesitei em
aceitar. — A voz se tornou um débil sussurro. — Paramos numa hospedaria cerca de dez
milhas distante. Eu não sei se meu pai nos seguiu ou se nos localizou por acaso, mas nos
descobriu lá, agindo como se fossemos marido e mulher.

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— Está falando de Hyde-Jones, não é? Foi ele quem tirou sua virgindade — Stuart
gemeu intimamente.
— Sim. Nós ainda estávamos na cama quando papai entrou no quarto e lhe
ofereceu cinco mil libras para partir. Ele riu e disse que não sairia dali por menos de dez
mil. Meu pai sacou uma pistola e avisou-o de que se não aceitasse a oferta e saísse
depressa dali, nunca mais iria a lugar algum. Então, ele se levantou e se vestiu
calmamente. Guardou o saco de moedas no bolso da jaqueta e se retirou sem sequer
olhar para mim.
Stuart entendeu então por que ela o odiara. O que teria se passado em sua cabeça
quando viu a história se repetir com a sobrinha?
— Meu pai me arrastou para casa em silêncio absoluto. Eu estava devastada.
Quando chegamos, mandou-me para o quarto fazer as malas. Eu estava muito
assustada, mas fiz exatamente o que pediu. Ele me chamou uma hora depois, e... — Ela
fechou os olhos. — E me falou que eu era ingrata, incontrolável e imoral, e não podia
mais agüentar a visão do pecado que minha presença representava. Mandou-me para
Paris, e fiquei sob os cuidados de um primo distante de minha mãe.
— Ele nunca a perdoou?
— Não. Papai morreu quatro anos atrás. Nunca recebi uma só palavra dele. Meu
irmão George se correspondia comigo e me dava notícias de casa. — Charlotte suspirou
e tentou sorrir. Um imenso alívio tirou o peso de seus ombros, sabendo que revelar toda a
verdade da sua história escandalosa, era a maior prova de amor que poderia dar a Stuart.
— Desde então, tenho sido tudo o que ele me nomeou: imoral, desenfreada, selvagem.
As fofocas que circulam a meu respeito provavelmente são todas verdadeiras.
— Não... — Stuart disse suavemente. — Não são.
— Eu esperava que ao voltar para a Inglaterra com um novo nome, poderia
superar o passado. Achei que não me conectariam ao escândalo. Nunca contei para
ninguém, nem mesmo para Lúcia. Meu pai seguramente manteve segredo, e George
nunca teria deixado escapar nada. A única pessoa que poderia contar...
— Hyde-Jones — Stuart terminou quando ela hesitou. — Maldição!
Ela suspirou.
— Eu não esperava encontrá-lo novamente. Faz tanto tempo! Achei que ele não
me reconheceria. Mas agora, mesmo que eu encontre Susan, ela estará arruinada,
também, através da associação comigo. — Charlotte cobriu a face com as mãos. — Oh, o
que eu fiz? Por que tudo tem de dar errado?
— Você não teve culpa de nada. — Stuart puxou-a e a acomodou na curva do
braço, onde ela se ajustou perfeitamente. — Impossível alguém que não carregue algum
fardo passado. — Beijou-a na testa, num gesto protetor. — Você deve ter notado que
Terrance me odeia. Não tem curiosidade de saber por quê?

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— Você não tem de me dizer — Charlotte murmurou, fazendo uma pausa antes de
admitir: — Mas, sim, eu tenho curiosidade.
— Não sei com certeza, mas eu tenho uma idéia. Quando eu era criança, nós
moramos em Barrowfield, na propriedade de meu avô. Minha mãe ainda vive lá, com
exceção dos dois meses anuais em que vem para Londres. Certo verão, Terrance me
convidou para um passeio a cavalo. — Stuart deitou-se de costas e fixou o olhar no teto.
— Eu me lembro que ele não disse muito até alcançarmos uma passagem estreita, que
desembocava num precipício. Desmontou e pediu que eu fizesse o mesmo. — Charlotte
assentiu, ouvindo com atenção. — Então, ele pediu que, a partir daquele momento, eu o
chamasse por Terrance, em vez de pai. Estranhei o pedido e perguntei-lhe o porquê.
Porém, ele disse apenas que eu tinha crescido desde sua última visita, e que não podia
ter um filho tão alto.
Ela franziu o cenho, intrigada.
— Você nunca descobriu por quê? O que disseram sua mãe e avô?
Stuart encolheu os ombros.
— Eu nunca soube. Minha mãe se esquivava toda vez que eu perguntava, e meu
avô dizia simplesmente: Terrance é inflexível. — Stuart suspirou e um sorriso triste curvou
seus lábios. — Por fim, acostumei-me com a condição que ele impôs. Então, um dia,
pouco antes de eu ir para o colégio, escutei as empregadas conversando e rindo. Elas
comentavam sobre a exigência de vovô para que colhessem flores diariamente para o
quarto de mamãe, além dos presentes extravagantes que costumava dar a ela. Uma
empregada declarou que Belmaine, meu avô, a amava mais que Terrance, e as demais
gargalharam. Outra sugeriu que ele sempre a amara, e era por isso que Terrance se
ressentia do filho.
—Seguramente, elas não quiseram dizer que... — Charlotte interrompeu, incapaz
de saber como confortá-lo.
— O que faria um homem repugnar o próprio filho a ponto de não deixar que o
chame de pai? E se não fosse filho dele, e sim, de seu pai?
— Sendo assim, você seria irmão de Terrance... Stuart encolheu os ombros.
— Não sei ao certo, mas explica por que mamãe só coabita com Terrance dois
meses por ano, para manter as aparências, e por que vovô a adora. Se ele a seduziu
antes ou depois do casamento, não sei dizer. Nasci exatamente nove meses depois das
núpcias.
Centenas de perguntas e dúvidas giravam na cabeça de Charlotte. Sim, era uma
explicação plausível, embora fosse horrenda.
— Oh, Stuart...
— Não tenha pena de mim. Ao menos, fui gerado por pais que me amaram.

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— Mas saber que todos suspeitam que você seja um... Ele colocou o indicador
sobre os lábios delicados, silenciando-a.
— De qualquer modo, sou herdeiro de Belmaine. Ele nunca deixaria que Terrance
interferisse nisso. — Retirou a mão e lhe deu um beijo suave. — O passado não
transforma ninguém. Pode moldar o caráter, mas não dita o futuro.
Stuart puxou-a para perto, aconchegando-a no ninho de seus braços.
Por um momento, ambos ficaram calados, usufruindo o calor do contato e a
intimidade nova e profunda decorrente das confidências que tinham compartilhado. A dor
das feridas antigas se amenizou, como se a verdade crua de um tivesse se unido à do
outro, aplacando o pesar.
— Stuart? — Charlotte chamou com voz branda. — Conte-me sobre Oakwood
Park.
A mão viril pousou no ventre liso, acariciando o umbigo com movimentos suaves e
circulares.
— Localiza-se em Somerset. — Os dedos repousaram, se aquietando. — E uma
fazenda de cerca de vinte acres. Comprei-a de um escocês que recebeu a terra de
herança e nunca teve tempo para visitá-la. Ninguém esteve lá durante décadas.
E ele passou a falar da propriedade, contando com entusiasmo sobre os campos
de trigo e cevada que planejava cultivar. Charlotte sorriu ao ouvi-lo dar voz à imaginação,
quando falou sobre as melhorias que pretendia fazer na casa em ruínas. Naquele
momento, fez uma prece silenciosa para que o sonho de Stuart se realizasse.
Fascinada, ela se deixou envolver pelo relato. Quase pôde ver os pendões
dourados do trigal ondulando à mercê do vento e a fumaça espiralada escapando da
chaminé do casarão restaurado, segura de que Stuart poderia administrar uma
propriedade e prover o próprio sustento.
De súbito, ele se lembrou de algo e interrompeu o discurso.
— Charlotte, recebi novas informações de Pitney.
Ela prendeu a respiração, empalidecendo ante a expectativa.
— São boas notícias. — Ele se apressou em tranqüilizá-la, contando o que o
investigador tinha descoberto. — Em breve, Susan estará em casa.
Charlotte o beijou com lágrimas nos olhos. Ele pensou em dizer que não poderia
ter Oakwood Park, mas as palavras morreram antes de serem pronunciadas. Precisava
de um plano, algo definido que pudesse prometer.
Manteve-a cativa em seus braços até que a respiração serena indicasse que ela
havia adormecido. Relutante, deslizou para fora da cama e apanhou as roupas
espalhadas pelo chão. Antes de sair do quarto, parou ao lado da cama e a estudou
demoradamente, guardando na memória as curvas suaves do corpo nu, antes de sair
com cuidado para não acordá-la.
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— Que diabos você está fazendo na minha cama, Drake? Sobressaltado, Stuart se
ergueu e pestanejou, subitamente desperto.
— Phil! — murmurou com voz sonolenta. — Bem-vindo a casa.
— Ouvi rumores de que você foi banido de Londres pelo seu pai.
Stuart se sentou na cama, esfregando os olhos para afastar o sono.
— Não foi exatamente assim. — Ele fez um gesto de descaso com a mão. — Seu
pai me deu a chave.
—Você é bem-vindo. — Phillip sentou-se em uma cadeira. — Então, quem é ela?
— Quem?
— Sim, a mulher que o trouxe de volta à cidade...—Phillip ergueu a delicada
sombrinha ornamentada com rendas. — ...e esqueceu isso debaixo do cabide de
chapéus. Cheira divinamente bem.
Stuart agarrou a sombrinha, resistindo ao desejo de inalar o perfume impregnado
no tecido. Na certa, Charlotte esquecera no dia que o acompanhara até lá.
— Não importa — resmungou, colocando a sombrinha sobre o criado-mudo.
— Bem, seja como for, você está de volta. Não sabia que ia se mudar. Benton está
lá em baixo com quatro carroças de engradados, e duvido que tudo aquilo caiba no
quarto.
— Benton está aqui? — Stuart se levantou e apanhou roupas limpas.
— Sim. — Para ajudá-lo, Phillip chutou uma bota perdida em sua direção.
— Quatro carroças — murmurou ele. O que, em nome de Deus, Charlotte trouxera
da Itália? — Enviarei Benton para a mansão de meu pai com os vagões. Temos de
desempacotar o mais cedo possível.
— Na casa de seu pai? Perdeu o juízo? Você não pode entrar lá.
— Minha mãe me recebe. — Stuart ajeitou a gola e alisou a barra do casaco. —
Muito obrigado.
Phillip o encarou em assombro.
— O que tem nos engradados?
Stuart abriu a boca para explicar, mas mudou de idéia.
— Algum dia, prometo contar tudo. É uma história muito longa.
— Repleta de belezas exóticas e muitas mulheres, espero.
— Não poderia ser diferente — Stuart assegurou, com uma piscadela de
cumplicidade.
— Lúcia!

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— Cara mia, como é bom vê-la novamente. — As duas mulheres se abraçaram
com saudade. — Dio mio, você está pálida!
Charlotte sorriu, atenta a presença discreta da Sra. Drake às suas costas. Quatro
carroças repletas de caixotes estavam estacionadas no jardim, e a sala imaculada da
anfitriã se transformaria num verdadeiro caos quando tudo aquilo fosse despejado sobre
os finos tapetes orientais.
— Estou com sono — justificou com falsa convicção. — Ainda é cedo para os
padrões da cidade.
Ignorando o olhar duvidoso de Lúcia, apressou-se em apresentá-la à anfitriã, que
lhe deu boas-vindas em tom polido antes de se retirar.
— E então, o que aconteceu? — Lúcia se sentou no sofá em meio a um
redemoinho de saias.
— O investigador descobriu o paradeiro de Susan, embora não saiba onde ela
esteja nesse momento.
— Então, não precisará da coleção de Piero? — A amiga gemeu, desolada. —
Passei três dias embalando tudo para viajar até aqui, e você me diz que não terá
serventia.
— Ainda preciso dos engradados — Charlotte assegurou.
— O seqüestrador quer algo que pode estar nos caixotes. Stuart acredita que ele
esteja vigiando a casa. Com a chegada das carroças, saberá que o que procura está aqui.
— Oh? — Lucia sorriu com malícia. — Stuart? Charlotte corou e baixou as
pálpebras.
— Ele tem sido de grande ajuda para mim.
—Buono. Aquele homem conhece as necessidades de uma mulher.
— Não esperava que você viesse. — Charlotte mudou de assunto. — Achei que
estivesse desfrutando sua estada em Kent.
Lucia riu, apanhando um cigarro na bolsa.
— Kent ficou monótona demais. Whitley quis voltar para Londres e decidi vir com
ele. Eu o despachei com pretexto de encontrar um hotel satisfatório. Que eloqüência tem
aquele homem! — Lucia fez um muxoxo de desagrado. — Espero que, até o final da
tarde, ele esteja rouco de tanto falar.
— Oh, querida... — Charlotte mordeu o lábio para reprimir o riso quando a amiga
soltou o ar com enfado.
Ouviu-se um burburinho no jardim e Stuart abriu a porta, saudando-as com um
sorriso.
— Bom dia. — Charlotte se adiantou, sentindo o coração bater mais rápido. —
Conhece minha amiga, Lucia Ponte? Lucia, este é Stuart Drake.
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— Encantado, signora. — Ele se inclinou numa mesura galante.
— E um prazer conhecê-lo — Lucia murmurou.
— Desculpem pela urgência, mas temos de começar a descarregar os engradados.
Há algum inventário completo da coleção?
Ambas negaram com um gesto da cabeça.
— Nesse caso, alguém pode se incumbir disso enquanto as obras são
desembaladas.
— Eu farei o inventário — prontificou-se Lucia. — Será um alívio. Não tenho
intenção de tocar numa só palha novamente.
Charlotte riu e seguiu Stuart para o hall, onde dois criados estavam arrastando o
primeiro engradado.
— Eu deveria me desculpar com sua mãe pela inconveniência — ela sussurrou,
incomodada ao ver Amélia torcer as mãos na sala de estar.
— Não se preocupe com minha mãe. Há bastante espaço na casa e ela entende
que o mais importante é achar sua sobrinha — ele assegurou. — Tente apenas se
concentrar em algum objeto pequeno e valioso que possa passar despercebido no meio
dos demais.
— Receio não encontrar nada útil. — Charlotte mordeu os lábios ao ver as caixas
se amontoarem na sala.
— Há algo nesses caixotes que devolverá sua sobrinha a você. Vamos começar a
procurar.
Stuart puxou-a pela mão e trabalharam sem cansar durante horas. Vasos,
estátuas, esculturas e pinturas emergiram da palha. O legado de Piero tinha sido
rigorosamente preservado. Charlotte examinou cada peça com atenção, mas nada
parecia diferente do que conhecera na Itália.
Após o almoço, haviam vistoriado todo o conteúdo da primeira carroça e a sala
ficava cada vez mais abarrotada. Ao entardecer, quando o terceiro vagão foi esvaziado,
Lúcia reclamava dos dedos doloridos, Charlotte estava pronta para lançar o lote na rua e
o bom humor de Stuart tinha enfraquecido.
Ao abrir uma das caixas, Lúcia praguejou quando percebeu mais um tufo de palha
caindo no chão imundo, apesar dos melhores esforços das empregadas que o varriam
constantemente.
Ao percebê-la tão extenuada Amélia começou a ajudar também, e Charlotte
suspeitou que sua verdadeira intenção era acelerar o processo e proteger o valioso tapete
da sala. E ao contrário do que se esperava, ela passou a admirar as peças com
entusiasmo crescente.
— As peças são realmente lindas... — comentou Amélia.

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— Argh! — Lúcia bufou, registrando no inventário mais uma escultura.
A pesada estatueta quase caiu quando foi colocá-la no chão, e Lúcia deu um grito
horrorizado.
Charlotte olhou para a estátua de Mercúrio sorrindo maliciosamente, mesmo caída
no chão. Parecia encará-la, como se zombasse da sua infelicidade.
De súbito, sentiu que não podia mais levar avante o segredo que guardara durante
muitos anos.
— Isso não é nenhum tesouro. E uma falsificação.
— O quê?! — Lúcia e Amélia gritaram em uníssono. Até mesmo Benton a encarou,
espantado.
— Piero era um falsificador — confessou, fazendo um gesto amplo que abrangia a
coleção espalhada pelo piso. — Tudo isso não passa de uma fraude.
— Você tem certeza? — Stuart balbuciou, chocado. — Como sabe?
-— Piero me contou. — Charlotte se apoiou contra o braço do sofá, desfrutando
prazer secreto em revelar o segredo. — Ele tratava esses bibelôs como se fossem obras-
primas inestimáveis.
Assim como a usara, pensou, lembrando-se do que Stuart havia dito na noite
anterior. Não mais protegeria o nome dele. Piero a fizera jurar segredo. Ela cumpriu o
juramento por medo e respeito pelo pedido de um homem morto que enganara muitas
pessoas, mas estava farta de mentir.
— Mas que diabos! — Stuart, posicionado de joelhos diante de um dos caixotes,
deixou os braços penderem ao longo do corpo. — Então, isso tudo não passa de uma
pilha de trastes inúteis?
—Nem tudo — Amélia protestou, admirando uma estátua de Cupido entalhada em
mármore. — Essa escultura é primorosa.
— Pode ficar com ela, mas não se iluda. — Charlotte riu com amargura. —
Aprendizes se especializam em cópias perfeitas e Piero se especializou em adquiri-las.
— Aquele velhaco! — Lúcia disse por entre os dentes. — Ele me deu muitos
presentes supostamente valiosos, e não passavam de falsificações.
Charlotte encolheu os ombros com indiferença.
— Pelo menos ele não tentou lhe vender nada.
— Se é assim, o seqüestrador de Susan nunca terá algo valioso — Stuart
comentou com desânimo.
— A menos que haja algo de valor no meio da... Inadvertidamente, Amélia deixou a
escultura de Cupido
cair. Todos assistiram, paralisados, quando a cabeça da estatueta separou-se do
corpo, rolando em meio à palha do chão.
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— Um item a menos no inventário — Lucia comentou com uma risada.
— Charlotte, veja! — Stuart se levantou e apanhou o corpo da figura. — A
escultura é oca.
— O que você esperava? — Ela riu com desprezo. — Por que desperdiçar tanto
mármore numa falsificação?
Charlotte estendeu o braço para apanhar outra peça quando seus olhos pousaram
no deus Mercúrio. E foi então que notou algo que nunca havia reparado antes.
Num ímpeto, levantou-se e estudou a sutil rachadura na altura do pescoço. Sem
hesitar, empurrou a estátua e riu com satisfação quando se fragmentou no impacto com o
piso.
— Charlotte, o que você...? — Stuart se interrompeu ao vê-la extrair um tubo da
cavidade do corpo. — O que é isso?
— Vamos, abra logo! — Amélia apressou-a, com a face corada pela excitação.
Os papéis amarelados estavam intactos, e Charlotte estendeu-os sobre a mesa de
jantar.
— Parecem ser um estudo — comentou, segurando as extremidades de um deles
para que não dobrassem. — Do tipo que os pintores fazem antes de executarem uma
grande obra.
Ali estavam estampados cavalos selvagens que se empinavam no campo de
batalha, e os cavaleiros travavam combate mortal, empunhando lanças e espadas.
Figuras acéfalas se contorciam na agonia de morte.
— Estudos brutais — Lucia observou. — Mas por que Piero os escondeu?
— Talvez essa seja a obra-prima que o seqüestrador quer se apossar — Stuart
ponderou.
— Pode ser. — Lúcia se inclinou para estudar o desenho com atenção. — O
padrão heráldico é típico de Anghiari.
— Quem, ou o que é Anghiari?
Lúcia contemplou a amiga com desdém pela ignorância.
— Como qualquer florentino saberia, Anghiari foi a famosa batalha na qual a
República derrotou o exército de Milanese. Piero, assim como eu, tinha orgulho de ser flo-
rentino. — Lúcia passeou o olhar para sua pequena e atenta platéia. — Leonardo da
Vinci, também florentino, a retratou, mas o trabalho foi perdido.
— Perdido? — Charlotte ecoou. — O que você quer dizer?
— A pintura foi danificada pela má conservação e umidade do ambiente em que
estava exposta, e os esboços originais nunca foram encontrados para o trabalho de
restauração.

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Os quatro se voltaram ao mesmo tempo para o desenho. Até Benton, que se
mantinha atrás do grupo, espichou o pescoço para espiar.
— Vejam os detalhes. — Lúcia apontou os cavalos. — Reparem nas narinas
dilatadas. É perfeito!
— Você acha que esse projeto é de Leonardo da Vinci? — Charlotte perguntou,
estremecendo de antecipação.
— Não posso afirmar, mas tudo indica que sim.
— Então, esse é o tesouro? — Amélia apertou o braço de Stuart, contemplando o
desenho com reverência. — Por Deus! Qual será seu valor?
— Se for um da Vinci, é inestimável — Lúcia sentenciou com superioridade.
— Sim, faz sentido... — Charlotte murmurou como se pensasse em voz alta. —
Piero poderia tê-lo escondido para preservá-lo, e o deus Mercúrio era o esconderijo ideal.
— Acho que pode ser autêntico — Stuart opinou, enrolando as folhas com cuidado.
— Continuem desempacotando e vejam se descobrem mais alguma coisa interessante.
— O que vai fazer? — Charlotte quis saber, curiosa.
— Vou tentar reconhecer a autenticidade dos esboços. Mesmo que sejam falsos,
podemos entregá-los ao seqüestrador como se fossem originais. Parece que nem ele
sabe exatamente do que se trata o tal tesouro, já que viu a maioria das peças quando
procurou em sua casa.
— Então, por que não os entregamos agora? — Charlotte sugeriu com
impaciência.
— Porque se forem autênticos, trata-se de uma obra de grande valor artístico, e
ninguém, especialmente um ladrão, tem o direito de posse. Afora isso, devemos saber
com quem estamos lidando antes de nos arriscarmos.
— Quanto tempo levará para autenticá-los?
— Conheço alguém que pode reconhecer uma obra original. — Stuart limpou os
vestígios de palha do casaco ao seguir para o hall. — Ele mora em Cambridge.
— Vou com você. — Charlotte decidiu, apanhando o gorro e as luvas.
Stuart abriu a boca para detê-la, mas a conhecia suficientemente bem para tentar
dissuadi-la. Assentiu e esperou que vestisse o casaco antes de saírem, rezando
secretamente para que o seqüestro de Susan terminasse da melhor forma possível.
— E então? O que descobriram?
Amélia correu ao encontro de Charlotte assim que ela abriu a porta, duas horas
mais tarde.
— Nada. Ele não estava em casa. — Ela retirou o gorro e as luvas com um suspiro
desolado. — Stuart foi tentar encontrá-lo no clube.

Projeto Revisoras 95
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— Oh, querida... — Amélia tocou-a no braço. — Estou certa de que ele estará lá.
Cavalheiros sempre estão nos clubes.
— Espero que sim. De qualquer forma, temos de esperar. — Charlotte suspirou,
desanimada. — Lúcia foi embora?
— Ela voltou ao hotel para descansar, já que é inútil continuar desempacotando a
coleção.
Somente então Charlotte percebeu a presença de Benton. Ele recolocava as peças
de volta nos caixotes, com menos cuidado e mais velocidade que antes.
Ela deteve o olhar na estátua decapitada de Mercúrio. O que Piero pretendia ao
deixar-lhe aquele legado inútil? Teria esperanças de que ela achasse o tesouro
eventualmente? Não havia qualquer outra coisa de valor a não ser as jóias, mantidas
como uma reserva que poderia ser útil. A herança que recebera da mãe estava se
esgotando com os gastos para procurar Susan. Na realidade, logo estaria tão sem
dinheiro quanto Stuart.
Um sorriso triste comprimiu seus lábios. Desde o momento em que Stuart declarou
seu amor, uma nova esperança nasceu no coração de Charlotte. Além disso, o fato de ter
revelado a verdade sobre seu passado, aliviou o peso que a oprimia. Desde então,
passou a acreditar e a sonhar com um futuro de paz e felicidade. Infelizmente, o curso
dos acontecimentos provou que isso não seria possível.
Stuart não conseguiria manter Oakwood Park ou qualquer outra chance de
prosperidade. Não importava o quanto se amassem, seria impraticável viverem na
miséria.
No entanto, lembrou-se de que ele nunca lhe oferecera nada. Sim, havia declarado
seu amor, mas a paixão não necessariamente traduzia uma proposta de casamento.
Ao menos, teria Susan de volta, pensou para se confortar.
Amélia, que havia saído da sala, voltou com uma criada carregando um carrinho de
chá. Ela voltou a atenção para a anfitriã, deixando os pensamentos de lado.
Sentaram-se na sala de estar, consideravelmente mais limpa depois do trabalho de
Benton. Charlotte serviu-se de chá, mas antes que pudesse tomar o primeiro gole, o
mordomo entrou com uma mensagem para ela.
— E de Stuart — ela murmurou, intrigada, relanceando o olhar para Amélia. — Ele
pede que eu vá encontrá-lo, mas não revela nada do que descobriu.
— Nada? — Amélia perguntou em surpresa.
— E estranho... — Charlotte franziu o cenho e releu a breve mensagem, assinada
apressadamente com um "S". — O endereço indicado na nota não é o mesmo que eu
esperava... Sra. Drake, esta letra não lhe parece diferente da de Stuart?
Amélia estudou a caligrafia com atenção.

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— Eu não sei dizer... Ele parecia estar com pressa, o que pode ter alterado a
caligrafia.
— Bem, para mim, não parece ser a mão de Stuart. E se essa mensagem for do
seqüestrador?
Com o coração aos pulos, ela se levantou e correu para escada.
— Charlotte! — Amélia a seguiu, apavorada. — Aonde você vai? Não está
pensando em...?
— Sim, estou. Vou me encontrar com ele.
Ela entrou no quarto de hóspedes e abriu o guarda-roupa à procura da pistola que
usara para forçar Stuart a levá-la para Londres.
— Oh! — Os olhos de Amélia se arregalaram quando viu a arma. — O que vai
fazer? De quem é essa arma?
— Pertenceu ao meu pai, e foi a mesma que ele usou numa certa circunstância
que mudou minha vida — ela respondeu, guardando para si o fato de que aquela era a
arma que deveria ter sido disparada contra Hyde-Jones. — O seqüestrador enviou a
mensagem para me atrair. Vou ao encontro dele.
— Mas, querida, você não pode... Não deve! — A face de Amélia ficou lívida. —
Não posso deixá-la ir sozinha ao encontro de um facínora. Está anoitecendo e Stuart
nunca me perdoaria se algo lhe acontecesse.
— Eu me responsabilizo pelos meus atos, Sra. Drake. — Ela releu a nota,
memorizando o endereço, e jogou-a sobre o toucador. — Não posso esperar. Esse
homem está com minha sobrinha.
— Não vá, Charlotte!
Sem dar ouvidos, ela saiu às pressas com a pistola nas mãos e quase trombou em
Terrance Drake, que saíra de seus aposentos ao ouvir o burburinho de vozes alarmadas.
— Não pude deixar de ouvir a discussão, e concordo com minha esposa — ele
opinou com gravidade. — A senhora não pode enfrentar o seqüestrador sozinha. E muito
perigoso.
— Não mais perigoso do que será para o seqüestrador — ela declarou, descendo
os degraus com passadas firmes sem lhe dar ouvidos.
— Ah! Meu caro Drake! — Os olhos de Jasper Sheridan iluminaram. Ele se
levantou e estendeu os braços para receber o amigo. — Veio se unir à nossa sociedade?
— Infelizmente, não estou aqui para isso. — Sentou-se numa das confortáveis
poltronas da sala de leitura e encarou o amigo.
Sheridan era um homem de compleição pequena e figura robusta, o que lhe
rendera o apelido de Ouriço entre os estudantes de Cambridge. Não o via com freqüência
desde os velhos tempos de universidade. Os cabelos, consideravelmente mais grisalhos,

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mantinham o mesmo penteado de anos atrás, assim como permanecia inalterado o brilho
perspicaz nos olhos claros. Possuía inteligência rara e fora um dos melhores alunos da
universidade. Especializara-se em história, com interesse especial em arte.
Stuart se lembrava com nitidez da noite em que ele e Sheridan saíram para tomar
alguns drinques e chegaram ao campus na manhã seguinte, para a última e conclusiva
avaliação do curso de história, ambos com profundas olheiras e uma dor de cabeça que
os impossibilitava de pensar. Sheridan ainda se esforçou para realizar o exame, mas
Stuart foi vencido pela exaustão.
Na ocasião, não se importou por não obter a graduação. Não esperava depender
dos estudos para sobreviver. Porém, anos mais tarde, desejou ter o poder de voltar no
tempo e mudar o curso dos acontecimentos.
— E então, o que o traz aqui? — Sheridan acendeu o charuto, recostando-se na
poltrona.
— Trouxe algo que pode ser do seu interesse. — Stuart estendeu o tubo com os
esboços que encontrara. — Um amigo descobriu alguns desenhos de natureza incomum,
e está curioso sobre a origem.
— Ah, bem! Se você se recorda das minhas conferências, às vezes é difícil julgar
um desenho, pois raramente são trabalhos concluídos.
— Eu não esqueci, Sherry. Mas estes são especiais.
— Bem, bem... Vejamos.
Intrigado, ele puxou a folha enrolada de dentro do tubo. Stuart esperou com
expectativa crescente enquanto o amigo avaliava o esboço.
— Hum... Podemos ter algo aqui... — Sheridan apontou para a figura de um
soldado. — Essa musculatura... a perspectiva... o detalhe dos cabelos... Onde você
conseguiu isso?
— Estavam escondidos dentro de uma estátua falsificada de Mercúrio. O dono da
escultura era um falsificador. Quando a estátua caiu, a cabeça se quebrou e notamos o
tubo na cavidade do corpo.
— Fascinante. — As sobrancelhas do perito se arquearam e ele olhou ao redor. —
Preciso de um espelho.
— Um espelho?
— Sim. — Ele alcançou o sinete sobre a mesa de centro e agitou-o para chamar
um servente. — Há algo escrito na borda, muito desbotado para ser visto com precisão.
Acredito que esteja escrito ao contrário. — Voltou-se para o criado que se prontificara a
atendê-lo. — Traga um espelho de mão pequeno e uma lupa. E peça a Bingley que venha
até aqui.
— Sherry, esse é um assunto particular — Stuart advertiu quando o criado se
afastou.
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— Tolice. Se estes desenhos realmente são o que eu suspeito, você tem uma
relíquia valiosa nas mãos. E Bingley se dedica à arte italiana. E a pessoa mais indicada
para avaliá-los.
Momentos depois, o criado retornou escoltando Bingley, colocando os itens
solicitados sobre a mesa.
— Aqui estou, meu caro. — O simpático senhor sorriu. — Do que se trata?
Sheridan indicou os desenhos e explicou rapidamente a razão por tê-lo chamado.
Os dois se debruçaram sobre o esboço com entusiasmo crescente, aumentando a
expectativa de Stuart.
— É simplesmente extraordinário! — Bingley exclamou, olhando para Stuart. — É
provável que seja um esboço de Leonardo da Vinci, mas não tenho certeza. Seria
aconselhável mostrá-lo para outros peritos.
— Não tenho tempo. Preciso saber imediatamente. A vida de uma jovem depende
disso.
— Uma mulher, desenhos misteriosos, a vida de alguém em perigo... — Sheridan
encarou o amigo com expressão curiosa. — Em que você se meteu?
Stuart recusou-se a responder.
— Então, os desenhos são bons o suficiente para fazer um especialista aventar a
possibilidade de que sejam de Da Vinci. Era o que eu precisava saber.—Enrolou os
papéis e guardou-os no tubo. — Obrigado, senhores.
— Ei, espere! — Sheridan chamou-o. — Deveríamos examiná-los melhor. O valor
desse tesouro é inestimável, se for legítimo.
— Tenha cuidado, Sr. Drake — Bingley advertiu com expressão preocupada.
Stuart sorriu, escondendo os próprios receios, e apertou calorosamente a mãos
dos dois homens.
— Obrigado, Sr. Bingley. Sua avaliação foi de grande ajuda. Sherry, entrarei em
contato. Até logo.
Saiu às pressas do clube e chegou à casa da mãe em tempo recorde, ansioso por
contar as novidades. Quando abriu a porta da frente, estranhou que, em vez de Charlotte,
foi a mãe quem correu para recebê-lo.
— Oh, Stuart! — Amélia gemeu entre lágrimas. — Ainda bem que você chegou.
— O que aconteceu? — Ele empalideceu. — Onde está Charlotte?
— Implorei para que ela o esperasse, mas não fui ouvida. Ela recebeu esta nota,
e...
Stuart empurrou o tubo com os desenhos para a mesa e leu a mensagem com
apreensão.

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— Mamãe, não me diga que...
— Sim, ela foi se encontrar com o seqüestrador.
— Maldição! — Ele amassou a nota, furioso.
— Você tem de ir procurá-la. Charlotte pode estar em perigo.
— E o que farei agora mesmo — avisou, apanhando o chapéu que acabara de
colocar no cabide.
Charlotte abriu a cortina da cabine e espiou para fora antes de descer da
carruagem. Avistou a casa referida na nota, uma moradia comum que passaria
despercebida no bairro respeitável da cidade. Admirou-se com a ousadia do seqüestrador
ao escolher um cativeiro bem à vista de qualquer transeunte.
Certa de que estava sendo vigiada, ela subiu os degraus da varanda e, em vez de
tocar a campainha, girou a maçaneta com cautela. A porta se abriu e ela deslizou para
dentro, com a mão na pistola, escondida sob o casaco.
As paredes nuas e a ausência de móveis denotavam que a casa era desabitada.
Uma densa camada de pó revestia o piso e ela notou pegadas indicando que mais de
uma pessoa transitara por ali. Com todo cuidado, perscrutou os cantos, atenta a alguma
emboscada. Com uma respiração profunda, ergueu a barra da saia e subiu os degraus
para o piso superior.
Então, ouviu um barulho abafado, como passos. Avançou lentamente e viu um
facho de luz escapando de uma porta aberta no final do corredor.
Protegendo-se de uma possível armadilha, moveu-se com vagar, elevando a
pistola. Sem ousar respirar, espiou para o interior do aposento e teve de se conter para
não gritar ao ver Susan andando tranqüilamente de um lado para outro. O aposento
amplo não possuía móveis com exceção de duas cadeiras e uma mesa de chá, sobre a
qual repousava uma bandeja com xícaras e um bule fumegante. Susan se virou de súbito
e levou a mão à boca, chocada ao ver a tia. Porém, Charlotte apertou um dedo aos lábios,
indicando silêncio antes de entrar.
— Tia Charlotte! — Susan sussurrou, perplexa. — O que está fazendo aqui?
— Querida, precisamos fugir daqui — ela disse com firmeza. — Venha. Eu explico
depois.
— Não!
O protesto veemente da sobrinha deixou-a aturdida. Charlotte estudou-a, aliviada
ao perceber que estava incólume.
— Eu não vou embora. Daniel vai ficar preocupado se não me encontrar. Eu não
esperava vê-la, mas já que está aqui, por que não fica para conhecê-lo? Ele é um rapaz
maravilhoso, tia Charlotte. Nós vamos nos casar, e há possibilidade de ficarmos com esta
casa. O que acha? Claro, não é tão luxuosa quanto...

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— Querida, podemos conversar sobre tudo isso depois — Charlotte interrompeu o
tagarelar entusiasmado da sobrinha. — Antes de qualquer coisa, tenho de avisar a todos
que a encontramos. Oh, estávamos tão preocupados com você! Como pôde partir sem
me avisar? Daniel não é o homem que você gostaria que fosse.
O queixo de Susan tremeu discretamente.
— Sim, ele é. Espere até conhecê-lo. Ele é maravilhoso. Veja o que ele preparou
para mim. — Ela apontou para a bandeja com o chá. — Daniel saiu para comprar
biscoitos. Podemos tomar chá enquanto o esperamos... —As bochechas ficaram rubras.
— Este será nosso quarto. Não é romântico?
Charlotte já ouvira o bastante. O homem estava ausente, e era o que importava.
— Querida, nós voltaremos logo. — Tentou persuadi-la com uma mentira. — Estou
ansiosa para conhecer Daniel, mas antes, quero dizer a todos que a encontrei. Temos de
contar também que vocês planejam se casar em breve, não é? Afinal, depois do susto
que você nos deu, merecemos compartilhar a boa notícia.
— A senhora não está zangada? — Susan indagou, admirada.
— Por que estaria? — Charlotte alargou os olhos com falsa inocência. — Você me
ensinou uma lição, meu bem. Quem sou eu para interferir numa paixão da juventude?
Fiquei muito infeliz desde que você partiu. Por favor, venha comigo. De agora em diante,
prometo que serei mais compreensiva. Você me perdoará?
— Oh. — Susan baixou as pálpebras, reflexiva. — Acho que sim.
— Querida, você tem de vir comigo. Afinal, vai precisar de um vestido de noiva...
Na realidade, temos de comprar um enxoval completo. Essas coisas levam tempo. É
preciso ir à modista imediatamente, ou o traje não ficará pronto antes do final da estação.
— Bem... — Susan hesitou. — Talvez eu deixe uma nota para Daniel...
— Ótima idéia — Charlotte aprovou com entusiasmo. — Prometo que mandarei um
carro trazê-la de volta.
— Oh, tia... — Susan a encarou, constrangida. — Eu me sinto mal por ter fugido de
casa, mas tive medo de que a senhora não aprovasse... Eu tinha de fazer algo para
assumir o controle da minha própria vida.
— Está tudo bem agora, querida. Por favor, vamos... Susan deu alguns passos
hesitantes em direção à porta e parou abruptamente.
— Oh! Daniel! — exclamou, com um sorriso iluminando a face. — Que bom que
você chegou. Imagine só, tia Charlotte está aqui. Não é maravilhoso? E você ficará feliz
em saber que ela não está aborrecida conosco.
— Duvido que estivesse.
Charlotte prendeu a respiração ao olhar para o rapaz esbelto, de cabelos escuros e
pele morena-oliva, nariz proeminente e ar arrogante. Era exatamente como Charlotte teria
imaginado seu falecido marido quarenta anos atrás.
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Respirou fundo para recuperar a calma e o encarou. O mistério se clareou no
mesmo instante.
O rapaz entrou e fechou ao passar.
— Entregue a pistola, condessa.
Lentamente, Charlotte retirou a arma do bolso e a entregou.
— Meu Deus, Daniel! — Susan censurou, aflita. — Você não vai precisar da
pistola, agora que tia Charlotte nos dará o consentimento. Podemos nos casar logo...
Ele a ignorou, voltando-se para Charlotte.
— Onde está?
Ambos sabiam a que ele se referia, mas Charlotte se recusou a se dar por vencida.
— Não tenho idéia, Dante — enfatizou o nome, fixando-o nos olhos.
— O nome dele é Daniel Albright, tia Charlotte — Susan corrigiu, confusa.
—Não, querida. O nome dele é Dante d'Alabrini, sobrinho de Piero Griffolino. Ele
nos visitou em nossa villa, há cerca de um ano.
— Prostituta inglesa! — Dante sibilou, avançando um passo. — Meu tio deu tudo
para você e não deixou nada para mim. Onde está meu tesouro?
— Não sei de tesouro algum. Piero me deixou a inútil coleção de arte... E você
deveria saber disso, já que invadiu minha casa para procurá-lo.
— Do que está falando, tia Charlotte? — Susan pestanejou, cada vez mais
atordoada.
— Como ousa seqüestrar minha sobrinha para me forçar a entregar-lhe um tesouro
que não tenho? — Charlotte vociferou por entre os dentes, fuzilando-o com o olhar. —
Como ousa dizer a Susan que a ama e quer se casar, quando está apenas usando-a para
chegar até mim?
— T... tia Charlotte? Por favor... — Sem esperar pela resposta, Susan virou-se
para Dante. — De que tesouro você está falando, Daniel?
Ele a fitou sem emoção.
— Você deveria ter tomado seu chá, querida.
— Não tome o chá, meu bem—Charlotte avisou, tentando manter tom calmo. —
Provavelmente, está envenenado.
Dante praguejou em voz baixa e ergueu a pistola.
— Por favor, abaixe a arma, Daniel — Susan suplicou com lágrimas nos olhos.
— Sua tia vai buscar meu tesouro e você ficará aqui e tomará seu chá como uma
boa menina. — Ele sorriu, sedutor, e Susan vacilou. — Quanto a você — dirigiu-se a
Charlotte. — Sugiro que traga o tesouro para esta casa dentro de duas horas, ou não
encontrará mais ninguém aqui.
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— Não sairei sem Susan — Charlotte determinou. — E se você atirar, nunca
saberá onde está sua almejada relíquia... se é que se trata de uma relíquia. Tudo que seu
tio me deixou é inútil. Nós dois fomos enganados. Piero era um falsificador.
— E mentira! — Dante rugiu, bramindo a arma. — Você está com o tesouro! Ele
me disse que lhe daria, e eu vi as carroças chegando de Kent. Não me importo com
diamantes ou esmeraldas, mas quero o esboço que ele roubou de um colecionador em
Salzburg.
— O... O quê? — Susan balbuciou, olhando de um para outro. Porém, nenhum dos
dois prestou atenção na perplexidade dela.
— Como sabe disso? — Charlotte indagou, começando a acreditar que tinha em
mãos uma autêntica preciosidade.
— O colecionador descobriu que foi roubado e exigiu que Piero lhe devolvesse os
desenhos. Meu tio contratou um artista para copiá-los e devolveu o esboço falso. Aquela
raposa velha, além de farsante, era ladrão! — Dante riu com desprezo, voltando a
assumir expressão ameaçadora. — Se os desenhos não estiverem aqui antes da meia-
noite, Susan vai comigo.
Susan estremeceu e apertou o braço da tia, começando a compreender o sentido
do que estava acontecendo.
— Minha sobrinha vai comigo, e se você atirar em mim, jamais terá os esboços! —
Charlotte pousou a mão sobre a de Susan num gesto protetor.
— Não vou atirar em você, condessa. — Dante apontou a arma para Susan. —
Atirarei nela.
— Se você a ferir, vou arrancar seus testículos! — ela replicou em italiano para que
somente Dante entendesse.
— Oh! Que mãe zelosa de sua pequena criança — ele zombou. — Susan correu
para meus braços depois de duas ou três linhas de poesia barata. Que criaturas fracas e
insípidas são as inglesas.
— Por que está agindo dessa forma? — Susan perscrutou Dante com olhar
desnorteado.
— Oh, ela a odiava! — O rapaz murmurou, ignorando-a.
— E só tenho a agradecê-la, condessa. A ânsia para escapar de sua tirania tornou
tudo mais fácil.
Charlotte forçou-se a não retrucar, embora se visse inundada pela culpa.
— Eu terei meu tesouro, minha dama — ele sentenciou por fim, aproximando-se de
Susan. — E o seu tesouro será minha garantia de que você fará exatamente o que quero.
Stuart fez os cavalos praticamente voarem, com a sensação de que levou uma
eternidade antes de encontrar a rua erma onde, a mãe dissera que Charlotte havia ido.
Parou para respirar quando chegou à casa e encontrou a porta entreaberta. Entrou
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devagar, com os nervos à flor da pele. Prendeu o ar ao ouvir um murmúrio de vozes
escada acima e subiu rapidamente os degraus, com tanta discrição quanto pôde.
Avistou uma das portas abertas e avançou com vagar. Espichou o pescoço e, ao
ver a figura silenciosa escondida nas sombras, teve de conter o ímpeto de gritar.
— Terrance?
O pai colocou o indicador sobre os lábios. Obedecendo, Stuart caminhou até ele e
ouviu, e, vindos do quarto defronte a eles, a voz de Charlotte e o timbre masculino com
forte sotaque.
— Ele é italiano — Terrance sussurrou, aproximando-se.
— Está ameaçando a condessa, mas não entendo o que quer.
— Há quanto tempo o senhor está aqui? Mamãe sabe disso?
— Segui Charlotte quando ela saiu de casa. Sua mãe estava tão aflita que não
notou minha ausência — ele cochichou, indicando o quarto. — O rapaz está armado.
Temos de tirá-las de lá.
Stuart assentiu com um aceno e deu um passo à frente para observar melhor.
— O senhor trouxe alguma arma? — Ele mordeu os lábios em decepção quando
Terrance balançou a cabeça em negativa. — O que faremos?
Terrance indicou o corredor com o queixo.
— Há um velho relógio perto do topo da escada. Vou empurrá-lo e causar alarde
para atrair a atenção do seqüestrador. Antes de Charlotte sair, ela pegou uma pistola. Se
o plano der certo, podemos usá-la para intimidá-lo.
Terrance o encarou por um momento, e Stuart percebeu que era a primeira vez
que ele e o pai realizavam algo juntos.
Com um gesto de afirmativa, moveu-se para o corredor e parou ao lado da porta,
enquanto Terrance caminhava com cautela na direção do relógio. O móvel antigo rangeu
quando foi inclinado para trás antes de ser projetado escada abaixo.
Do lado de fora do quarto, Stuart assistiu com um sorriso vitorioso quando o
seqüestrador deu um pulo ao ouvir o estrondo do móvel, rolando pelos degraus para se
quebrar no chão.
— O que foi isso? — Alarmado, o rapaz se virou, momentaneamente esquecido de
suas reféns.
Foi o que bastou para Stuart agir. Pulou para o interior do aposento e, para o
choque de Charlotte, Terrance entrou logo atrás dele com uma expressão selvagem no
rosto.
— Como ousa ameaçar essas mulheres? — bradou, passando pelo filho como um
raio.

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Escandalosa Sedução – Caroline Linden Julia H n.
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Dante levou alguns segundos para reagir, foi tempo suficiente para puxar o gatilho.
O estampido abafou o grito de Susan, que desmaiou e arrastou Charlotte para o chão
também. Dante baixou a pistola e sorriu com malícia.
— Velho tolo!
Hesitante entre socorrer o pai e atacar o seqüestrador, Stuart perdeu alguns
segundos antes de se projetar na direção de Dante, agarrando-o pela cintura. Os dois
homens rolaram pelo chão e esbarraram na mesa de chá. O ruído da porcelana se
estilhaçando confundiu-se com o baque dos dois corpos, engalfinhados numa luta
ferrenha. Outro estampido cortou o ar, e as duas mulheres gritaram ao ver Stuart tombar
o braço que segurava a mão de Dante.
Charlotte se virou para Susan, semi-escondida pela nuvem de fumaça provocada
pelo disparo. A sobrinha estava encolhida a um canto com as mãos cobrindo os ouvidos.
— Você está ferida? — perguntou, e o tremor em suas mãos persistiu mesmo
depois que ela esboçou um movimento débil para indicar que estava bem.
Charlotte atravessou o aposento, pisando nos cacos de porcelana para alcançar
Stuart. Ele permanecia imóvel, com Dante deitado sobre ele. A mancha vermelha que
crescia no piso a apavorou, e seu sangue congelou quando Dante se ergueu.
Horrorizada, viu o rapaz se arrastar pelo assoalho. A mão direita apertava o ventre e um
filete de sangue escorria entre seus dedos.
— Stuart! — ofegou, inclinando-se para se certificar de que ele respirava. — Oh,
não!
Ela pousou a cabeça sobre o peito imóvel, inundando-o de lágrimas. Por que tinha
de terminar assim?, lamentou em segredo, receando não ter forças para enfrentar a
realidade.
— Você é a mulher mais corajosa que já conheci...
O murmúrio quase inaudível fez reviver as esperanças. Com um soluço, ela o
beijou e, embora debilitado, ele correspondeu com paixão.
— Oh, Deus! Tive tanto medo de perdê-lo...
— Não, meu amor. — Stuart se sentou, esfregando a parte de trás da cabeça.
— Oh, Stuart... — Ela chorava e ria ao mesmo tempo. — Eu não poderia viver sem
se você...
— Shh... — Ele a puxou, segurando-a com firmeza de encontro ao peito. — Está
tudo bem agora.
— E seu pai? Ele foi atingido.
— Eu estou bem. — A voz grave de Terrance ribombou das sombras. — O tiro
passou de raspão, mas fiquei atordoado com o ruído.

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— Oh, graças a Deus! — Charlotte olhou ao redor a procura da sobrinha. — E
Susan? Susan! Onde você está?
— Estou aqui, tia.
Aflita, Charlotte correu na direção da voz. Susan se ergueu, ainda pálida, e evitou
olhar na direção de Dante. O rapaz se encostara à parede e abraçara os joelhos,
chorando como criança.
— Eu sinto muito. — A voz não passava de um sussurro entrecortado de soluços.
— Não posso acreditar que eu tenha sido estúpida a ponto de acreditar nas mentiras de
Dante... Digo, Daniel.
— Está tudo bem, querida. — Charlotte a abraçou. — Tudo acabou agora.
— Charlotte, dê-me sua echarpe!
A voz de Stuart a tirou do estado de letargia. Ela obedeceu com movimentos
automáticos e percebeu vagamente ele e Terrance usarem a peça para amarrar os
braços de Dante atrás das costas.
Passos soaram nos degraus, e no momento seguinte, diversas pessoas entraram
no quarto. Os vizinhos, alarmados ao ouvirem os disparos, haviam chamado a polícia.
Quando Charlotte pisou na calçada de braços dados com Stuart e Susan, não se
importou com o aglomerado de curiosos que cercavam a casa para assistirem à prisão de
Dante, algemado e escoltado por dois oficiais. Na verdade, não pôde se recordar de
nenhum momento em que se sentisse tão feliz em toda sua vida.
Stuart colocou Charlotte e Susan em um carro de aluguel e seguiu com o pai para
o distrito policial.
Ela observou-o enquanto a carruagem se afastava, e um sorriso curvou seus
lábios. Esperava que Terrance Drake mudasse de opinião a respeito do filho, depois de
ser testemunha de sua bravura e coragem.
Quando a carruagem parou diante da mansão, Amélia correu ao encontro dela.
Antes de contar os detalhes do que ocorrera, Charlotte levou Susan para o quarto de
hóspedes. Tudo o que queria era paz e silêncio. O alvoroço provocado pela chegada foi
amortecido, quando fechou a porta e ficou a sós com a sobrinha.
— Tia Charlotte, esta é a casa de Drake?
— E a casa dos pais dele. Nós viemos para Londres assim que percebi que você
havia partido.
— Oh... — Susan a encarou, intrigada. — Eu achei que a senhora não gostasse
dele.
— Bem, eu o acusei de ter fugido com você. — Ela parou para firmar a voz. —
Culpei-o pelo seu desaparecimento e quando percebi meu erro, ele reagiu como um
verdadeiro cavalheiro. — E um homem muito melhor do que mereço, completou em
segredo.
Projeto Revisoras 106
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Susan sentou-se no divã e fitou a tia.
— Tia Charlotte? A senhora está furiosa comigo?
O tremor dos lábios rosados indicava que ela estava prestes a chorar.
— Não, querida — Charlotte respondeu com sinceridade. — Suas ações são fruto
da juventude e inexperiência. Eu sei como é ser jovem e sentir como se ninguém nos
entendesse ou respeitasse. — Ela fez uma pausa e suspirou profundamente. — Eu me
culpo mais do que a você. Nunca suspeitei que o ladrão pudesse usá-la para conseguir o
que queria. Sabia que queria algo que estava em meu poder, mas resisti em abrir aqueles
engradados e me confrontar com os fantasmas de uma vida que fiz de tudo para
esquecer. Jamais imaginei que ele pudesse tocá-la.
— Ele disse que você me mandaria para uma escola na Suíça — Susan murmurou
entre soluços. — Aquela noite, Daniel... ou melhor, Dante, estava escondido no jardim e
ouviu quando discutimos. Escalou a treliça e entrou no meu quarto. Contou-me que
nasceu na Itália e ouviu muitas histórias a seu respeito. Que a senhora era fria e cruel e
que nunca havia tolerado qualquer um que se opusesse a sua vontade.
— Oh, meu bem! — Charlotte sentou-se ao lado da sobrinha e estendeu-lhe um
lenço para que secasse as lágrimas.
— Fiquei amedrontada, pois tinha dito palavras cruéis e sabia que a senhora
estava aborrecida comigo. Ele parecia ser tão bondoso e compreensivo... Quando disse
que queria me ajudar, não hesitei. — Ela esfregou os olhos, inchados pelo pranto. — Eu
não sabia como poderia encará-la novamente, depois de tudo que eu disse. Foi por isso
que desci pela treliça com ele e...
— Oh, Susan... — Charlotte sussurrou, sensibilizada. — Eu jamais a mandaria
para um colégio interno. Não há nada mais aterrorizante do que estar só no mundo,
especialmente na sua idade. Eu nunca faria com você o mesmo que meu pai fez comigo.
— O quê? — Susan arregalou os olhos e encarou a tia.
— Sim, meu bem. Quando eu tinha sua idade, aconteceu algo parecido comigo —
ela confessou. — Um homem muito elegante e atraente me seduziu e propôs me levar
para Londres. Mas quando papai lhe ofereceu dinheiro, ele me deixou sem olhar para
trás. Papai ficou furioso que e me enviou para Paris com instruções de não retornar.
— Mas meu pai disse que... — A voz de Susan morreu na garganta. — Ele disse
que a senhora gostava de viajar.
Charlotte hesitou. Era óbvio que George não contara a verdade à filha, na certa
para poupá-la dos detalhes impróprios para sua idade.
— Suponho que me acostumei e desfrutei imensamente disso. Mas não era o que
eu teria escolhido. Nunca mais vi meu irmão ou meu pai.
— Oh... — Susan baixou o rosto e lágrimas quentes riscaram as bochechas. —
Então, não vai me mandar embora?

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— Nunca! — Charlotte declarou apaixonadamente, abraçando a sobrinha. — Até
mesmo se discutirmos novamente ou não tivermos a mesma opinião.
Susan riu entre lágrimas e olhou para a tia.
— Drake ficou muito bravo com a senhora? Charlotte respirou fundo. Como contar
sobre Stuart?
— Ele vai superar, querida — disse simplesmente, deixando para contar em outra
ocasião os detalhes do relacionamento que surgira entre eles.
Capítulo V

Stuart e Terrance chegaram à mansão duas horas mais tarde, depois do


depoimento no distrito de polícia que esclareceu os fatos e os eximiu de culpa pelo
ocorrido. A seguir, foram ao consultório do médico da família. Terrance, embora ainda
sentisse os ouvidos zumbindo, não sofrera maiores conseqüências ocasionadas pelo
disparo de Dante.
— Onde está Charlotte? — Stuart quis saber assim que entrou.
— Ela e a sobrinha estão no quarto — Amélia informou, voltando a atenção para o
marido. — Alguém pode, por favor, me contar o que aconteceu?
Stuart deixou-os na sala e subiu correndo a escada para o segundo piso.
Charlotte e a sobrinha estavam sentadas lado a lado no divã, e ele respirou
aliviado ao ver que estavam bem.
Bastava ver a alegria estampada no rosto de ambas para saber que haviam se
entendido. Uma incômoda sensação o inundou ao pensar que não precisavam mais dele.
Se Charlotte tivesse de escolher entre ele e Susan...
— Stuart! Entre — A saudação de Charlotte o distraiu do pensamento.
— Vim ver se vocês estão bem.
— Sim, graças a você.
Ele tossiu sem jeito, encabulado como um adolescente.
— Tia, eu poderia ter uma palavra com Drake? — Susan pediu, erguendo a cabeça
repousada no ombro de Charlotte.
— Sim, claro — ela murmurou, surpresa, fazendo menção de sair.
— Por favor, fique. O que tenho a dizer não é segredo. Drake... — começou,
ruborizando. — Serei eternamente grata por sua ajuda. Não sei como poderei retribuir a
você e a seu pai por terem nos salvado.
Stuart enrijeceu quando ela o fitou intensamente.
— Devo-lhe desculpas pelo modo que agi em Kent... Meu comportamento foi
infantil. Em parte, foi por ciúme. Tia Charlotte é linda, e achei que você se interessaria por
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ela... Desculpe-me, mas tenho de dizer que nunca estive apaixonada por você. Fui
impulsiva e tola.
Charlotte abriu a boca, surpresa, enquanto Stuart sorria compreensivo.
—Enfim, agradeço por ter nos ajudado Susan - terminou com um sorriso.
— Foi uma honra — ele respondeu com uma mesura. — Eu também lhe devo
desculpas por fazer uma proposta de casamento quando não era o que meu coração
queria. Você merece alguém que a ame. Isso é o que sua tia sempre quis para você.
— E eu que não acreditava, agora percebo o quanto estava enganada. Obrigada,
Drake. — Ela retirou um objeto guardado sob o decote do vestido. — Por favor, queira
aceitar o anel de noivado.
Stuart apanhou-o com um suspiro aliviado.
— Tia, posso ir para o jardim? Gostaria de respirar um pouco de ar puro.
— Está bem, querida. Estarei aqui, se precisar de mim. Susan acenou com a
cabeça e saiu.
— Creio que nos daremos bem a partir de agora — murmurou Charlotte, com um
sorriso.
— Estou certo de que sim — Stuart concordou e a viu sorrir, radiante de alegria.
— Eu nunca teria encontrado Susan sem a sua ajuda, Stuart. Jamais poderei lhe
agradecer.
— Sua felicidade é tudo de que preciso.
Eles estavam de pé, tão próximos que as respirações se confundiam.
— Eu... eu estava pensando em nós... — Stuart respirou fundo, reunindo coragem
para prosseguir. — Estaria errado continuarmos como amantes. Com Susan em sua
casa, não seria próprio. Não seria respeitável para uma jovem da idade dela, nem para
você.
— Sim... — Haveria arrependimento na voz dela? — Receio que sim.
— O problema é que não posso deixá-la, Charlotte... — Ele observou-a com olhar
cauteloso. — Não posso prometer muito, mas seria capaz de tudo para fazê-la feliz.
Charlotte pestanejou, com o coração disparado em expectativa.
— Você se apossou do meu coração e eu gostaria que ficasse também com meu
nome.
— Você... Você quer... se casar comigo? — ela gaguejou. Stuart sorriu, hesitante e
tímido.
— Sei que meu passado não é muito respeitável, mas asseguro-lhe de que estou
disposto a mudar.

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— Oh! Sua reputação... — Ela riu com amargura. — Temo pela minha própria
reputação.
—Sua reputação está protegida. — Stuart apertou as mãos macias entre as suas.
— Na última vez que vi Hyde-Jones, ele me prometeu que faria uma longa viagem pelo
continente.
— O que você fez? — Charlotte exigiu, procurando os olhos dele.
— Não tanto quanto gostaria. Em outra ocasião, prometo contar os detalhes de
minha conversa esclarecedora com ele. Basta dizer que ele não a aborrecerá novamente.
— Stuart sorriu. — Afora isso, você tem qualquer outra objeção?
— E quanto a Oakwood Park? — Charlotte perguntou, protelando para a resposta.
— Oh, Stuart, eu não quero que perca a propriedade! Não depois de todo trabalho que
teve, e muito menos por saber o quanto significa para você.
—Vou vender Oakwood Park. Queria aquela propriedade porque eu não tinha nada
meu de que pudesse me orgulhar. Mas não ficarei acordado à noite, lastimando por tê-la
vendido, se você estiver do meu lado.
— Stuart, eu também não tenho renda suficiente para nós dois. Podemos viver
com Susan até que ela se case. O que faremos depois?
— Bem, eu posso falar com o duque de Ware. Talvez ele precise de alguém para
administrar uma de suas propriedades menores. Não tenho medo de viver uma vida
modesta. — Puxou-a para mais perto, descansando o queixo sobre a cabeça dela. —
Além disso, podemos abrir um antiquário com a herança de Piero...
— O quê? Com aquelas falsificações? — Charlotte protestou.
— Bem, poderia ser uma loja destinada àqueles que não podem dispor de dinheiro
para comprar obras autênticas.
Charlotte riu, colocando de lado todos os medos. De alguma maneira, juntos, eles
pensariam em algo.
Uma batida à porta os interrompeu e Stuart resmungou em frustração.
— Sim?
— Desculpe, senhora... — Uma criada surgiu no vão entreaberto. — A Srta. Ponte
e o Sr. Whitley estão aqui, e seu pai pediu para vê-lo, Sr. Drake.
— Leve a Sra. de Ponte para a biblioteca. Vou descer imediatamente.
A criada assentiu e fechou a porta.
— Como está seu pai, Stuart?
— Não sofreu nada mais grave do que um incômodo zumbido nos tímpanos.
Mamãe está cuidando dele.
— Por favor, agradeça-o por mim. Ele nunca poderá imaginar meu alívio ao vê-lo
entrando naquele quarto!
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— Eu achei que ele ficaria do lado de fora, esperando que saíssemos...
— É mesmo? Pois eu vi muito bem quando ele se adiantou e colocou-se à sua
frente. Seu pai o protegeu, Stuart. O projétil de Dante era endereçado a você.
Stuart a encarou, surpreso. Seria possível que Terrance tivesse entrado naquele
quarto para impedi-lo de arriscar sua vida? Ele não tinha considerado isso na ocasião, e
tal possibilidade o deixou perplexo.
— Bem, é melhor você ir ter com Lúcia antes que ela comece a quebrar as
estátuas à procura de outros tesouros escondidos. — Ele fez uma pausa quando lhe
ocorreu que não tivera tempo de contar a novidade a Charlotte. — Há grandes chances
de que os desenhos sejam originais. Você tem um tesouro real nas mãos.
— Eu já suspeitava. Dante revelou que Piero os roubou de um colecionador. Mas
creio que o mais certo seria devolvê-los ao governo italiano.
— Eu concordo. — Stuart a libertou de seus braços. — No entanto, podemos
decidir mais tarde. Alguns dias a mais não significarão nada, depois de estarem
escondidos por tantos anos.
Stuart fez menção de seguir para a porta e mudou de idéia. Retirou o anel do bolso
e estendeu-o a ela.
— Essa jóia foi da minha mãe. Ela pediu que eu desse a minha noiva quando
deixei Londres.
O sorriso de Charlotte enfraqueceu.
— Eu o dei para Susan porque estava desesperado — ele confessou, abaixando o
rosto. — Mesmo antes de conhecer você, eu sabia que seria um erro me casar com uma
mulher a quem não amava. Mas, se não fosse por este anel, eu e você não estaríamos
aqui hoje.
Charlotte ergueu a sobrancelha em confusão, e ele começou a rir.
— Foi para recobrar este anel que invadi sua casa, fato que a levou a me
procurar... E foi então que descobrimos que fomos feitos um para o outro.
— Oh, realmente? — As sobrancelhas relaxaram, e Charlotte o encarou com
expressão divertida.
— Então, você decidiu que eu era o responsável pelo desaparecimento de Susan
porque queria me ver mais uma vez, e eu a ajudei porque não pude resistir a você... —
ele terminou, beijando-a de leve nos lábios. — E aqui estamos nós, completamente
apaixonados um pelo outro!
Charlotte se entregou ao beijo quente, sentindo um abismo se abrir em seu peito
quando ele se afastou.
Stuart parou defronte o apartamento do pai e bateu à porta.
— Entre. — Ouviu a voz grave de Terrance.

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O pai estava reclinado em uma cadeira perto da lareira, olhando para o céu através
da janela.
— Mandou me chamar? — ele indagou ao entrar. Terrance assentiu e fez um gesto
para que se sentasse na poltrona ao lado da sua.
— Charlotte é filha de Henry Tratter?
— Sim — Stuart respondeu, surpreso. — E Susan é filha do irmão dela.
Terrance assentiu com um sorriso triste.
— Eu reconheci a pistola. Fui eu quem deu aquele jogo ao pai de Charlotte. Tratter
e eu éramos grandes amigos. Ele era um bom homem, mas inflexível nas suas
convicções. Mas ele morreu com um pesar. Despachou a filha num momento de raiva e
se arrependeu por isso pelo resto da vida.
Stuart cruzou as pernas, intrigado. Aquele assunto não era o que ele esperava
ouvir do pai.
— Ele nunca mais teve contato com ela, e Charlotte acredita que nunca a perdoou
— comentou, guardando a curiosidade para si.
— Tratter era orgulhoso demais para admitir que estava errado. Esperou por
muitos anos que ela lhe escrevesse pedindo para voltar. Então, quando perdeu a
esperança, tentou encontrá-la, mas ela tinha desaparecido.
— Infelizmente, Charlotte herdou o orgulho e a determinação do pai. — Stuart
comentou.
— Eu diria que sim. Foi extraordinária a determinação dessa moça em resgatar a
sobrinha. — Terrance suspirou. — Você está apaixonado por ela, não está?
Apanhado de surpresa, Stuart acenou em afirmativa.
— E ela o ama?
Novamente, ele assentiu cautelosamente.
— Então, aconselho-o a se casar com a condessa antes que mais alguém o faça.
Ela é uma mulher admirável.
Stuart sentiu o coração explodir dentro do peito largo.
— Eu a pedi em casamento e, felizmente, ela aceitou.
— Bom. Muito bom. — Terrance enrugou os lábios. —Vou restituir sua renda. Você
provou ser mais honrado e valoroso do que eu supus. Além disso, uma esposa é um
ótimo incentivo para um homem prosperar. Diga à condessa que tem minha admiração e
meu consentimento para freqüentar esta casa sempre que quiser.
Terrance voltou a olhar pela janela e Stuart julgou que a conversa chegara ao fim,
atônito com a mudança no comportamento do pai.
Fez menção de se levantar quando Terrance prosseguiu:

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— Sente-se, Stuart. Eu ainda não terminei. Ele obedeceu, receando o que estava
por vir.
— Você não é meu filho — sentenciou Terrance. Stuart sentiu o sangue congelar
nas veias. Seu maior receio se confirmara, e ele sentiu o chão se abrir sob seus pés.
— Eu já suspeitava disso. Vovô...
— Você é filho do meu irmão — Terrance o interrompeu. Chocado, ele inclinou o
corpo para frente, sem acreditar no que ouvia.
— Seu irmão? Ele morreu antes do meu nascimento.
— Oito meses antes, para ser preciso. Ele seduziu sua mãe, uma jovem inocente e
romântica. Quando ela soube que estava grávida, o pai exigiu que Nigel se casasse.
Porém, ele zombou da sugestão. Ela era filha de um fazendeiro, enquanto Nigel herdaria
a fortuna Belmaine. Furioso com sua conduta, nosso pai deu a ele um dia para que
reconsiderasse, ou seria deserdado.
— Por Deus! — Stuart murmurou, perplexo.
— Como você pode ver, Nigel era desprezível. Ele confrontou seu avô e disse que
partiria para Londres e procuraria os melhores advogados para reaver o direito à herança.
Mas, na manhã seguinte, foi encontrado morto no fundo de um desfiladeiro. Na pressa de
sair, não engatou corretamente a carruagem, que se soltou da parelha de cavalos e
desabou para o precipício. A aristocracia Belmaine foi devastada; o herdeiro estava
morto. Entretanto, meu pai queria o filho de Nigel, o verdadeiro sucessor do título. Se sua
mãe partisse, você também desapareceria.
— E o senhor se casou com ela — Stuart murmurou num sussurro quase inaudível.
Terrance sorriu, um dos primeiros sorrisos genuínos de que Stuart se recordava.
— Eu a amava desde que ela tinha quinze anos — disse com ar nostálgico. — Sua
mãe era linda, suave e alegre. Creio que amava Nigel, pois nunca mais foi a mesma
depois que ele morreu. Mas eu estava apaixonado e foi por isso que concordei em me
casar.
Stuart engoliu em seco, hesitante:
— Dadas as circunstâncias, não seria natural que odiasse a criança, prova do amor
da esposa por outro homem? Se fosse Charlotte...
Ele se calou. Seria capaz de amar o filho de Charlotte com outro amante? Não
soube responder, embora suspeitasse de que nunca poderia olhar para a criança sem se
lembrar da traição da mãe.
— Nós poderíamos ter sido felizes — Terrance continuou no mesmo tom distante.
— Uma vez que a criança tivesse nascido, nós teríamos nossos próprios filhos e ela se
esqueceria de meu irmão. Esperei em silêncio até que você nascesse para que sua mãe
afinal me aceitasse. Mas ela nunca o fez. Morreu no parto, deixando-me o filho do meu
irmão para que eu criasse.
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— O... O quê?
O mundo pareceu girar sem controle, e Stuart levou alguns segundos para
apreender o sentido do que Terrance dissera.
— Você era recém-nascido e precisava de uma mãe. — Terrance olhou para fora,
disfarçando a emoção. — Amélia era amiga de sua mãe. Belmaine aprovou a união e o
matrimônio foi mantido em segredo até que pudemos registrá-lo como nosso filho. —
Stuart deixou-se cair novamente na cadeira como uma pedra, incapaz de conceber a
verdade. — Você é a imagem de Nigel. Foi por isso que despejei todo meu ódio sobre
você. Ele roubou a mulher que eu amava, seduziu-a e a arruinou, e o filho dele a matou.
— Por que nunca me contaram a verdade? — Stuart exigiu, tentando se refazer do
choque.
— Amélia não pôde ter filhos. Mas, mesmo que ela tivesse gerado uma criança do
nosso sangue, não teríamos lhe contado em honra à mãe que o concebeu em pecado, e
à mulher que o amou como se fosse filho do próprio ventre.
Stuart tentou absorver as palavras. Faziam sentido, de certo modo. O afeto que o
avô nutria por Amélia, a distância entre os pais, a ausência de laços entre eles...
Entendeu por fim por que Terrance o levara ao desfiladeiro onde o pai natural havia
morrido e pediu que o tratasse pelo nome.
Um ruído abafado interrompeu os pensamentos de Stuart. Ele se voltou e viu
Amélia parada à porta. Segurava uma bandeja nas mãos trêmulas e a face estava pálida.
— Terrance, você realmente pensou que eu me dediquei a Stuart porque não pude
ter filhos? — Ela indagou, dando um passo na direção de Stuart. — Eu o amo como se
fosse meu. Você era uma criança inocente e não tinha nenhuma culpa pelo que Nigel ou
Aimée fizeram. Mas Terrance não poderia permitir que eu contasse, pois ainda amava
Aimée.
Stuart não disse nada, registrando o nome dos pais verdadeiros na mente: Nigel e
Aimée.
— Quando nos casamos, eu já havia me esquecido de Aimée — Terrance
declarou.
— Sim, você a amava — Amélia corrigiu em tom suave. — Tanto que nunca me
notou, pois não havia espaço em seu coração para mais ninguém. Eu me casei porque o
amava, Terrance, mas você nunca teria olhado para mim se não fosse por Stuart.
Stuart ficou de pé, consciente de que aquela conversa não lhe dizia respeito.
— Com licença — murmurou a caminho da porta. Parou ao lado da mãe e a beijou
com reverência na testa. — Eu te amo, mamãe. Obrigado por tudo que fez por mim.
— Eu sinto muito, Stuart — ela disse com lágrima nos olhos. — Tentei ser uma boa
mãe para você.

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— E foi a melhor que eu poderia ter — ele declarou com sincera gratidão,
apressando-se em sair antes que Amélia visse as lágrimas em seus olhos.
— Amélia, eu não tinha idéia... — Ainda pôde ouvir ao fechar a porta.
Contendo o turbilhão de emoções que o assaltavam, Stuart saiu do apartamento e
desceu a escada às pressas para ir ao encontro de Charlotte na biblioteca.
Quando passava pela sala, notou a presença de Whitley.
— Drake! Graças a Deus você está bem! Como está seu pai?
— Está bem — respondeu apressadamente. — Venha comigo à biblioteca. Tenho
de falar com Charlotte.
Enquanto caminhavam, Stuart contou resumidamente os últimos acontecimentos
ao amigo. A atenção do rapaz somente se desviou quando entraram no escritório e ele viu
Lucia, que conversava com Charlotte sem notar a entrada dos homens.
Ao pressentir a presença deles, Charlotte se virou com um sorriso.
— Se nos derem licença, temos um assunto importante a tratar. — Stuart tomou-a
pelo braço e a conduziu para o jardim.
Sentaram-se em um banco sob uma árvore frondosa e ele contou com detalhes a
conversa que acabara de ter com Terrance. Ao ouvir o eco das próprias palavras,
percebeu que ainda não conseguia absorver o sentido profundo das revelações.
— Terrance está disposto a restabelecer minha renda — concluiu o relato com um
suspiro. — Assim, você não terá de se preocupar em se casar com um mendigo.
— Oh, Stuart! — Ela sorriu e balançou a cabeça. — Não há nada mais justo, já que
você é o único herdeiro de Belmaine. Mas o melhor é que você poderá manter Oakwood
Park.
— Sim. Podemos viver em Kent até que Susan se case. Até lá, a propriedade será
novamente habitável.
Ela apertou a mão de Stuart e olhou ao redor do jardim.
Susan brincava com o terrier de Amélia, rindo ao ver o cãozinho correr para
apanhar a bolinha que ela arremessava. Whitley e Lúcia também haviam saído para o
jardim e conversavam e riam como dois amantes apaixonados. Amélia e Terrance, pela
primeira vez na vida, conversavam como um verdadeiro casal.
— Todos estão seguros e felizes... — Ela suspirou, dando voz aos pensamentos.
— E você? Também está feliz? Charlotte se virou para fitá-lo.
— Mais do que nunca. Susan está de volta, eu tenho um tesouro italiano nas
mãos...
— E não se esqueça de mim!

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— Nunca... — Charlotte aproximou o rosto e roçou os lábios na boca sensual. —
Você é meu maior tesouro, e estará para sempre no meu coração...

Caroline Linden se formou em Matemática pela Universidade de Harvard e trabalhou


como programadora de sistemas antes de descobrir que escrever romances era uma
atividade muito mais interessante e prazerosa. Desde que escreveu seu primeiro livro, ela
nunca mais pensou em fazer outra coisa da vida.

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