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Título original: To Experiment with Desire Girls Who Dare Livro 8

Copyright © Emma V. Leech, 2020


Copyright da tradução©2022 Leabhar Books Editora Ltda.

Tradução: Hamireths Costa


Revisão: D. Marquezi
Revisão: Isabel Vasconcellos Diagramação e Capa: Labellaluna Web®

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Lady Prunella Adolphus, Duquesa de Bedwin – membro fundador
das Senhoritas Peculiares e, secretamente, Miss Terry, autora de “A
História Sombria de um Duque Maldito”.
Sra. Alice Hunt (nascida Dowding) – não mais tão tímida como
antes; casada recentemente com o notório Nathanial Hunt, proprietário do
exclusivo clube de apostas Hunters, e irmão de Matilda.
Lady Aashini Cavendish (Lucia de Feria) – uma beldade estrangeira;
recentemente, e escandalosamente, casada e feliz com Silas Anson,
visconde Cavendish.
Sra. Kitty Baxter (nascida Connolly) – quieta e vigilante, até que
não esteja. Recentemente fugiu com seu amor de infância, Sr. Luke Baxter.
Lady Harriet St. Clair (nascida Stanhope) -Condessa St. Clair –
séria, estudiosa, inteligente, puritana e usa óculos. Finalmente casada com o
Conde St. Clair.
Bonnie Cardogan – (nascida Campbell) ainda muito franca e sempre
em apuros ao lado de seu marido, Jerome Cadogan.
Ruth Anderson – (nascida Stone) herdeira, filha de um rico
comerciante, vivendo pacificamente na Escócia, depois de ter domado um
selvagem Highlander.
Minerva Butler – prima de Prue; não é tão inútil e vazia quanto
parece; sonha com o amor.
Jemima Fernside – bonita e sem um tostão.
Lady Helena Adolphus – vivaz, controladora, surpreendente.
Matilda Hunt – loira, linda, e arruinada por um escândalo, do qual não
teve culpa.
1
Prometi a mim mesma que não escreveria novamente,
mas parece que não tenho autocontrole, no que diz respeito
ao senhor. Por que não respondeu à minha última carta? O
senhor tem alguma ideia de como é enfadonho ficar
esperando por uma resposta que nunca vem?
Estive em bailes, jantares e festas, fiz intermináveis
visitas sociais e estou entediada. Usei o mais glorioso vestido
amarelo na outra noite e todos me disseram que eu estava
muito bonita, não me importei nem um pouco, porque o
senhor não estava lá. Seus elogios não significaram nada
para mim. Prefiro ouvi-lo repreender minha maldade por
beijá-lo, do que suportar outro poema dedicado aos meus
olhos. O senhor não irá, ao menos, responder e me dizer que
aborrecimento miserável sou?
— Trecho de uma carta da Srta. Minerva Butler ao Sr.
Inigo de Beauvoir.

20 de dezembro de 1814. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo olhou para a carta em sua mão e lembrou-se da promessa que
havia feito.
Não responderia.
Seu coração deu um baque inconstante e ele amaldiçoou a Srta. Minerva
Butler. Desejar nunca ter colocado os olhos na criatura provocadora tudo
bem, mas não resolvia o problema, e ela era um problema.
A ameaça que ela havia escrito, com sua bela e extravagante caligrafia,
na carta anterior a esta, fez seu sangue esfriar.
Confesso que suspirei muito, desesperadamente, por suas
garantias de que não acha nada romântico no convite, mas é
claro que um homem como o senhor, tem coisas mais
importantes para pensar, do que beijos roubados. Roubei
aquele, afinal de contas, não roubei? Não posso fingir o
contrário. Sou uma ladra e caí tão longe na minha vida de
crime, que não posso ser redimida. Então, é melhor o senhor
estar em guarda e preparado, para manter seus bens
trancados. Haverá uma vilã à solta na Praça Soho, e ela
pretende fazer um roubo maior.
Seu coração.
Nunca deveria tê-la convidado para participar de uma de suas palestras;
só o fez porque ela ameaçou aparecer, sem ser convidada e encenar algum
tipo de escândalo. Suas palmas ficaram úmidas, só de pensar nisso. Tinha
trinta anos, era um homem da ciência, respeitado e admirado por seu
trabalho, não devia ficar nesse desarranjo, por uma garota loira e muito
pequena. Sabia disso. Saber disso e ainda assim não nada mudasse, apenas
o deixava furioso.
Se Harriet Stanhope - agora a condessa St. Clair - não tivesse sido
vítima da luxúria e se casado com outro homem, ele poderia estar a salvo de
ataques como esses. Teriam tido um casamento, perfeitamente, satisfatório,
baseado na admiração mútua da inteligência e das capacidades um do outro.
Claro, Harriet gostaria de se apaixonar. Inigo bufou de desgosto. Como uma
mulher tão inteligente poderia cair naquela velha armadilha, estava além
dele. O amor não era nada além de uma série de reações químicas e uma
profunda necessidade biológica de procriar, com o único fim de manter a
humanidade progredindo. O desejo de acasalar era tão instintivo para
homens e mulheres quanto para cães, pássaros, insetos e qualquer outra
criatura do reino animal. Atribuir algo mais significativo a isso era tão
ridículo, quanto sugerir que as galinhas sentiam qualquer apego romântico
por um galo.
Inigo admitia que os seres humanos eram criaturas muito mais
complexas, que sentiam a necessidade de explicar todos os aspectos de suas
vidas, seja inventando deuses que exigiam sacrifícios, ou usando a
abordagem racional da qual Inigo era escravo. Entendia o desejo de
explicação, podia aceitar totalmente a necessidade de saber por que as
coisas funcionavam, mas tal compreensão exigia pensamento e julgamento
frio e, claro, nenhuma emoção. Infelizmente, sua capacidade de
permanecer, friamente, crítico e objetivo parecia murchar e morrer, sempre
que a maldita jovem se aproximava dele.
Não, era pior que isso. Ela nem precisava estar perto dele. Essas
malditas cartas eram suficientes, cheias de flertes, admiração e um desejo
óbvio de provocá-lo e fazê-lo perder a maldita cabeça. Deveria estar presa,
para sua própria segurança, se não pela sanidade dele. A criatura tola estava
brincando com fogo. Era um homem, afinal das contas, de carne e osso e
uma provável vítima da luxúria. Se esquecesse as regras da sociedade,
regras que nem mesmo acreditava, poderia, simplesmente, agir de acordo
com seus desejos e aceitar tudo o que ela estava oferecendo. Estava pedindo
para ser arruinada e, não importava quantas vezes a alertasse, não lhe daria
ouvidos. A única coisa que o controlava era sua crença idiota de que havia
sentimentos românticos envolvidos. Seria perverso tirar vantagem de uma
garota, tão obviamente iludida quanto às realidades da vida. Se ela
continuasse, no entanto, teria que abrir os olhos dela para a verdade.
Ele tinha que encarar isso, então parecia justo. Por que deveria ser o
único sofrendo tal tormento? Não conseguia dormir, pois pensamentos
sobre ela invadiam seus sonhos. Não conseguia se concentrar em seu
trabalho, pois a memória do beijo que ela havia roubado permanecia lá. Sua
mente, tão hábil em se concentrar em detalhes, agora estava obcecada com
a suavidade de seus lábios, o azul impossível de seus olhos e o cheiro de
jasmim e baunilha, que o intoxicavam mais, potentemente, do que qualquer
bebida.
Ai Deus! Estava condenado.
Murmurando uma maldição, amassou a carta e caminhou até o fogo, e
então praguejou, por mais tempo e com profanidade crescente, quando
percebeu que não poderia queimá-la. Em vez disso, cerrou os dentes e
pegou uma folha de papel limpa. Inigo mergulhou bem a pena na tinta e
escreveu com determinação quase febril, apesar de sua promessa de não
responder. Ela receberia uma resposta. Também teria o choque de sua vida,
quando lhe explicasse as coisas. Sem dúvida, ela desmaiaria ou choraria, ou
teria um ataque histérico ou o que quer que essas damas da sociedade eram
propensas. De qualquer forma, perceberia o quão errada estava sobre ele e o
deixaria em paz. Depois do primeiro parágrafo, sua pena pairou sobre a
página, perturbadoramente, algo como arrependimento fazendo seu peito
parecer estranho e vazio.
Não.
Tinha que se livrar dela. Estava afetando seu trabalho, e isso era
intolerável. Com sua determinação renovada, terminou a carta e a leu, um
sorriso amargo curvando seus lábios. Deixe-a encontrar o romance nisso, se
puder.
Senhorita Butler,
A senhorita tem o convite que procurou. Se a senhorita
tem um pingo de preocupação com a sua reputação ou sua
felicidade futura, imploro que deixe por isso mesmo. Estou
certo de que sua amiga, a Condessa St. Clair, é capaz de
guiá-la, se a senhorita tiver qualquer necessidade adicional
de material de leitura ou se deseja continuar seus estudos.
Resumindo, Srta. Butler, deixe-me em paz. Se a senhorita
não fizer isso, descobrirá que as coisas podem tomar um
rumo, para o qual não está preparada. Meu coração não está
em perigo, lhe garanto. Não acredito no amor. Não acredito
em casamento ou mesmo monogamia. Acredito que homens e
mulheres são iguais e devem ter seu prazer, como e quando
quiserem, sem a necessidade de se amarrarem para a vida
inteira. Como homem, posso ter tais opiniões. A senhorita
não pode. Por favor, não continue a enganar-se, persistindo
com essas ilusões românticas. Se quiser acreditar em algo,
acredite nisso: estou perfeitamente disposto a lidar com meu
próprio prazer e seguir em frente, sem olhar para trás, sem
qualquer pingo de culpa.
Espero que mantenha isso em mente.
De Beauvoir.

Minerva olhou para a carta, sua boca curvou em um pequeno ‘o’ de


choque. Bem, certamente o agitou desta vez. Não era surpreendente. Estava
provocando, deliberadamente, o pobre homem há algumas semanas. Se
fosse honesta, ficaria surpresa por ele ter durado tanto tempo. As palavras
da carta eram, certamente, contundentes e diretas, mas pareciam revelar
muita coisa que ele, talvez, não quisesse que ela soubesse. Em primeiro
lugar, ficou encantada e intrigada com a afirmação dele de que homens e
mulheres eram iguais. Embora Minerva não tivesse uma grande opinião
sobre sua própria inteligência, surpreendeu-se, ultimamente, ao descobrir
que não era a tola que acreditava ser, e conhecia algumas mulheres
brilhantes. Aquelas mulheres eram muito mais inteligentes e capazes do que
a maioria dos homens que conhecia. Parecia razoável supor que havia
mulheres inteligentes e estúpidas e homens inteligentes e estúpidos
também. Porém, os homens tinham todo o poder e mantinham as coisas de
modo que, mesmo as mulheres mais inteligentes, tinham pouco ou nenhum
controle sobre suas vidas. Descobrir um homem que acreditava que isso era
errado era… fascinante.
Releu a carta novamente, parando sobre a parte em que ele disse que
não acreditava no amor, casamento ou monogamia. Bem, aquilo era… na
verdade, aquilo era bastante trágico. A vida era difícil o bastante, mas
passar por ela sem esperança de se apaixonar e encontrar alguém para te
amar em troca… seu coração se encheu de compaixão por ele. Quão
solitário deve ser, e como poderia um homem tão inteligente ser tão
estúpido? Minerva balançou a cabeça, maravilhada. Embora tivesse se
elevado acima de uma tola, sabia que a mente do Sr. de Beauvoir era muito
superior. Alguns diziam que era a mente mais brilhante da geração deles.
Então, como poderia ser tão cego, tão, intencionalmente, ignorante, com
relação a tudo sobre ele?
Minerva parou, quando um movimento do lado de fora da janela
chamou sua atenção, viu sua prima Prue e seu marido andando no jardim. O
inchaço do estômago de Prue era visível agora, e Minerva não conseguiu
manter o sorriso em seus lábios, quando Robert colocou a mão ali, um olhar
tal, que Minerva sentiu sua garganta apertar. Ele se inclinou para beijar sua
esposa e Minerva se virou, não querendo interpretar a voyeur, mas incapaz
de negar a dor em seu coração. Como queria isso. Queria ser amada com
tanta devoção e amar com paixão. Mais do que tudo, queria ensinar ao Sr.
de Beauvoir que ele poderia ser um brilhante filósofo, mas que havia uma
coisa ou duas que poderia aprender com ela, se, ao menos, a escutasse. Sua
carta sugeria que tentar tal coisa era convidar ao desastre, mas, assim como
sua ciência poderia obcecá-lo, ficou obcecada com a ideia de que ele
precisava de alguém. Cada vez que o via, parecia mais assustado. Perdeu
peso, isso era óbvio. Era um homem grande, mas suas roupas pendiam
sobre seu corpo, e, muitas vezes, os botões estavam pendurados por um fio.
A última vez que ela o viu, parecia ter dormido nelas. Seu cabelo estava
muito grande, e ele estava pálido e tinha olheiras sob os olhos. Estremeceu
quando se lembrou dos olhos dele. Verde acinzentado e tão convincentes,
como se houvesse uma faísca brilhando em algum lugar dentro dele,
procurando algo para acender. Era óbvio que ele não se incomodou em
substituir a governanta que assustara, a pobre mulher ficara aterrorizada por
um de seus experimentos. Bem, Minerva deveria lembrá-lo do que
precisava ser feito, caso contrário, morreria de fome, ou ficaria doente.
Com um suspiro, dobrou a carta e a escondeu, com a outra
correspondência dele, no fundo falso de sua caixa de joias. Se sua mãe
descobrisse que ela se correspondia com um homem solteiro, teria uma
apoplexia. Se ela visse a última carta, provavelmente, desfaleceria
imediatamente. Sua querida mãe ainda era da opinião de que Minerva
poderia conseguir um título, se ao menos se concentrasse nisso. Minerva
não teve coragem de dizer a ela que havia decidido que não queria um
título, então, certamente, não estava prestes a admitir uma paixão por um
filósofo, sem um tostão no bolso. Pobre mamãe, ficaria tão desapontada.
Falando nisso, Minerva tinha que ir para casa. Sua prima Prue era muito
querida e a convidava para ficar com ela, com frequência, sabendo que
Minerva precisava de uma pausa do casamento e dos falatórios de sua mãe,
de vez em quando, ou enlouqueceria. Então ficou por alguns dias, mas,
agora, suas coisas estavam arrumadas e ela estava pronta para voltar para
casa. Suspirou. Ainda assim, tomaria chá com Matilda aquela tarde. Isso,
pelo menos, era algo que esperava ansiosamente.

— Minerva, querida, que adorável vê-la, e que vestido elegante.


Decerto, está mais encantadora toda vez que a vejo.
Minerva riu e girou um pouco para Matilda — Obrigada, Tilda. Vindo
de sua parte, tomo isso como o maior elogio, pois estamos todas lhe
copiando, sem vergonha, como tenho certeza de que bem sabe.
— Lisonja não vai levá-la a lugar nenhum, querida. — disse Matilda,
pegando o braço de Minerva, depois de dispensar seu chapéu e casaco —
Na verdade, isso é mentira. Não pare.
Minerva sorriu para ela — Jemima ainda está ficando contigo?
Por um momento, o sorriso de Matilda vacilou — Ela está, — disse,
suas sobrancelhas loiras se juntando — mas não está aqui no momento.
Parece que foi deixada uma herança generosa por sua tia e ela está sempre
fazendo coisas. Acredito que foi para o campo, por alguns dias, para
encontrar um lugar para morar.
— Sozinha? — Minerva perguntou, um pouco chocada, agora
entendendo por que Matilda parecia perturbada.
— Não exatamente. Contratou uma acompanhante, e acredito que terá
uma criada.
— Oh, bem, está tudo bem, então. — Minerva soltou um suspiro.
Embora considerasse fascinante a afirmação do Sr. de Beauvoir, de que
homens e mulheres eram igualmente fascinantes, e concordasse
inteiramente, ele também estava certo de que havia uma regra para os
homens e outra para as mulheres. Uma mulher que vivesse sozinha, estaria
aberta a todo tipo de especulação e boato, nada disso era agradável.
— Sim. — disse Matilda, acenando, embora ainda houvesse um
vislumbre de ansiedade em seus olhos — Sim, está tudo bem, então. Agora,
eu tenho a mais decadente seleção de bolos de creme aqui, e espero que
esteja com muita fome, para que eu possa acompanhá-la. Não me
decepcione.
— Pode confiar em mim. — disse Minerva com firmeza, seguindo sua
amiga até a sala de visita.
Uma vez que uma quantidade impressionante de bolos de creme foi
descartada, e três xícaras de chá cada, Minerva conduziu a conversa até o
ponto de sua visita, pois a carta de Inigo não era a única que recebera
ultimamente.
— Sinto muito por não ter podido vir antes. — começou, pousando a
xícara de chá — Tenho ficado com Prue e Robert, mas, em sua carta, disse
que precisava urgentemente de uma confidente e que tinha feito… tinha
feito algo…
— …notavelmente estúpido. — Matilda a abasteceu com um sorriso
irônico — Sim. Lembro-me.
— Minha nossa! — Minerva torceu os dedos, tendo uma ideia justa do
que, ou melhor, com quem sua amiga tinha sido estúpida — Montagu?
O rubor de Matilda era surpreendente e vívido, mas ela segurou o olhar
de Minerva e deu um aceno tenso.
— Oh, meu Deus! — disse Minerva novamente, sabendo que isso não
foi nem um pouco útil. Respirou fundo e endireitou a coluna, mantendo o
tom vivo — Bem, parece que o que quer que tenha acontecido, ninguém
sabe sobre isso, então não há mal nenhum.
Matilda gemeu e levou as mãos à cabeça.
— Oh meu Deus, alguém viu…?
— Não! — Matilda balançou a cabeça e olhou para Minerva entre os
dedos — Ninguém viu, mas não posso admitir que nenhum dano foi feito.
Minerva se eriçou de fúria — Ele…? Por Deus, Matilda, aquele homem
miserável…?
— Não! — Matilda exclamou, ficando ainda mais ruborizada, mas
balançando a cabeça com vigor — Não, ele não fez nada de errado. Bem,
ele me guiou até um lugar onde poderíamos ficar sozinhos, o que nunca
deveria ter feito, mas estávamos prestes a sair - a meu pedido - quando
alguém entrou e não tivemos escolha a não ser nos esconder.
— Entendo.
— Não, — respondeu Matilda, miseravelmente agora — não entende!
As circunstâncias eram um pouco perigosas, e nosso esconderijo era
minúsculo. Fomos forçados a nos aproximar muito e… e…
— E ele se aproveitou desse fato, suponho?
As sobrancelhas de Minerva se ergueram, quando Matilda balançou a
cabeça mais uma vez — Não, não exatamente. — disse, claramente
mortificada — Bem, talvez um pouco, mas…, mas quando eu pedi para que
parasse, ele parou. Não… o problema foi… foi eu.
— Matilda! — Minerva exclamou, embora mais com prazer do que com
choque — O que fez? O que aconteceu?
Com bochechas ardentes e gaguejando, Matilda descreveu o que havia
acontecido com Montagu. Quando terminou, a pobre mulher parecia pronta
para chorar de vergonha.
— Oh, Matilda, — Minerva se levantou e se sentou ao lado dela,
pegando suas mãos — Montagu é um homem muito bonito, não há como
negar, e a persegue há meses. Não é surpresa que o tenha desejado, afinal, é
apenas um ser humano.
— Sim, mas ele não é. — Matilda se opôs, enxugando uma lágrima —
Ele é… ele é frio e manipulador e eu devo ser a maior tola que existe. É
como se apaixonar por uma serpente.
Minerva suspirou e se inclinou para ela — Se é uma tola, não sou
melhor. Voltei a escrever ao Sr. de Beauvoir, que respondeu esta manhã. Foi
bem direto ao ponto.
Descobrindo que era sua vez de corar, Minerva deu a Matilda um breve
resumo da carta.
— O que é que se passa conosco? — Matilda exigiu, levantando as
mãos — Por que não podemos nos apaixonar por homens bons e comuns?
Minerva deu de ombros — Qual a graça disso?
Matilda deu uma gargalhada, embora parecesse um pouco histérica.
— O que vai fazer com Montagu?
— Não sei. Tentar evitá-lo? — Matilda respondeu, embora parecesse
indiferente à ideia — E você? Vai ter cuidado, Min, querida? Parece que ele
está muito disposto a seduzi-la e deixá-la de lado, se o perseguir.
Minerva assentiu — Eu sei, é por isso que tenho que ser a responsável
pela sedução.
— O que? — Matilda exclamou horrorizada.
— Oh, não assim! — disse Minerva, rindo um pouco — Não
exatamente assim, de qualquer maneira. Vou seduzi-lo, para que se
apaixone por mim.
2
Esta noite vou falar na conversazioni de Joseph Banks. É
apenas mais uma palestra, igual a qualquer outra. Não estou
nem um pouco incomodado com isso e nem vou notar uma
mulher a mais entre os reunidos. Vai terminar rápido, e isso
tudo terá acabado.
— Excerto de uma entrada do Sr. Inigo de Beauvoir no
seu diário.

22 de dezembro de 1814. Joseph Banks Conversazioni, Soho Square,


Londres.
— Graças a Deus por isso.
Minerva se virou ao som da voz de Helena, sentindo-se como se ela
fosse uma sonâmbula, acordada em um lugar estranho, quando o som de
conversas aumentou ao seu redor e as pessoas se levantaram. Ela sorriu
simpaticamente para Helena.
— Não gostou?
Helena devolveu uma expressão perplexa. — Por acaso gostou? Por
Deus, ele poderia estar falando russo, não entendi nada. Quando ele
começou a falar sobre diamantes, minhas esperanças aumentaram, mas,
rapidamente, despencaram. Como ele poderia dizer que diamantes são
iguais a um pedaço de carvão? Certamente isso é heresia, e quando falou
em queimar um diamante, minha querida, quase desmaiei.
Minerva riu e balançou a cabeça — A parte sobre diamantes foi
fascinante, embora bastante deprimente. Isso tira o romance das pedras, não
acha, sabendo do que são feitas?
— Acredito que sim. — resmungou Helena, olhando para o bracelete de
diamante que usava e franziu o nariz. Virou o pulso para frente e para trás e
deu um suspiro, enquanto as pedras brilhavam como pequenos arco-íris —
Um sujeito como esse pode, simplesmente, dar-lhe um saco de carvão, e
pronto.
Minerva riu, enquanto imaginava o olhar no rosto de Helena, se algum
de seus pretendentes tentasse uma coisa do tipo, e os olhos de Helena
brilharam com diversão.
— Não entendo, sabe, — disse, baixando a voz — o fascínio que tem
por esse sujeito.
— Eu também não. — admitiu Minerva — Simplesmente adoro ouvi-lo
falar, saber que ele tem todo esse conhecimento armazenado na cabeça.
Como é incrível entender essas coisas, provar como funcionam ou do que
são feitas. — balançou a cabeça maravilhada — Eu acho que ele é
fascinante.
Helena revirou os olhos, exasperada.
— Bem, tem o seu Sr. Knight. — Minerva contrapôs, indignada, por
conta de Beauvoir — Eu também não entendo minha atração por ele. Parece
terrivelmente temível e mal-humorado.
— Seu Sr. de Beauvoir não é exatamente um sujeito muito bem-
humorado. — retrucou Helena — Eu podia sentir seus olhos queimando
quando nos olhava, o que era muito frequente. Fiquei feliz que você era o
real foco da atenção dele e não eu. Ele é terrivelmente intenso.
— Eu sei. — Minerva suspirou melancolicamente e Helena levantou as
mãos — Acredita que entendi um pouco da sua palestra? — Minerva
acrescentou, um pouco na defensiva.
— Por Deus! — Helena pressionou os dedos enluvados no peito e
adotou um olhar de horror escandalizado — Min, querida, certamente não
é… não é uma intelectual?
Tentando - e falhando - em subjugar um bufo de riso, Minerva corou e
se levantou, quando o cavalheiro idoso ao seu lado lançou um olhar de
reprovação em sua direção.
— Venha! — insistiu, pegando a mão de Helena e a guiando para longe
das cadeiras, para a multidão de pessoas que, agora, se aglomerava ao redor
de Beauvoir. Ela olhou para todos com consternação — Nunca vou
conseguir falar com ele nesse ritmo.
Helena a afastou — Nunca é uma boa ideia parecer muito entusiasmada.
Venha, vamos comer. Olha, tem uns petiscos deliciosos aqui. Ah, e
champanhe! — acrescentou, batendo palmas de prazer — Quase valeu a
pena vir.
Minerva suspirou, mas permitiu que sua amiga a guiasse em direção à
mesa de refrescos. Helena parecia distraída com a comida e o champanhe,
embora Minerva estivesse nervosa demais para comer. O pequeno grupo de
pessoas, ao redor do Sr. de Beauvoir, diminuiu um pouco, mas não se
dissipou completamente; mas Minerva se perguntou se conseguiria falar
com ele. Respirou fundo, estava desanimada e sem forças para atravessar
uma parede intimidadora de homens intelectuais e com mente científica.
Helena avistou alguns conhecidos e foi até eles para cumprimentá-los,
então Minerva voltou para a mesa de bebidas, se perguntando se, talvez,
devesse comer algo. Apesar de ter se vestido com mais sobriedade do que o
normal, em um vestido de veludo de cor ameixa escura, e apesar de haver
várias mulheres presentes, sentiu-se um pouco deslocada. Pelo menos,
poderia parecer menos com um item perdido, se estivesse ocupada com a
comida. Pegou um pequeno folhado e o colocou no prato, mais por algo a
fazer do que por qualquer desejo de comê-lo. Com uma expressão
resignada, pegou-o, e estava prestes a dar uma mordida, quando sentiu uma
sombra sobre ela.
Minerva se virou e olhou para cima, e sua respiração prendeu.
Aqueles olhos cinza-esverdeados incomuns a encaravam, enigmáticos e
tão intensos quanto Helena havia afirmado, e Minerva não podia fazer nada,
além de devolver o olhar. Era irritante perceber que todas as pequenas
coisas inteligentes que pensou em dizer, ao vê-lo novamente, haviam
desaparecido de sua mente, não conseguiu fazer nada, dizer nada, apenas
olhar para ele. Em sua defesa, ele parecia estar igualmente perdido, e o
momento se estendeu entre eles.
Minerva sentiu a cor subir até suas bochechas e se amaldiçoou, lutando
por algo - qualquer coisa - para dizer.
— O senhor deveria comer alguma coisa. — começou, revirando os
olhos por dentro, mas, pelo menos, era melhor do que silêncio — Aqui,
deixe-me preparar um prato para o senhor.
Aliviada por ter algo para fazer por um momento, começou a organizar
uma tentadora variedade de finger-food em um prato, antes de se virar para
ele.
— Aqui — disse, sorrindo quando suas sobrancelhas escuras se
juntaram um pouco e ele olhou para a oferta, como se fosse uma bandeja de
besouros — É alimento. Coma. Sei que um homem brilhante como o senhor
deve ter pouco tempo para necessidades corporais tão inconsequentes, mas
deveria cuidar melhor de si mesmo. Acho que o senhor emagreceu de novo.
A carranca se tornou uma careta — Não preciso ser tratado como uma
criança.
Minerva ergueu as sobrancelhas — Não, mas, ao menos, o senhor
precisa de uma governanta para alimentá-lo e prender seus botões. Ter suas
roupas bem passadas também seria uma boa ideia. O senhor dormiu com
esse casaco? Parece que dormiu.
Ele enrijeceu e Minerva suspirou — Por favor, perdoe-me. Começamos
com o pé errado, esperava que não. Mas, por favor, coma alguma coisa.
Não suporto a ideia de o senhor trabalhar o tempo todo de estômago vazio.
Minerva recebeu o tipo de olhar que ele, provavelmente, reservava para
os resíduos intrigantes, deixados no fundo de um tubo fervente, após um de
seus experimentos, mas então não deu um pio e pegou o prato. Ela
observou, satisfeita, enquanto ele devorava tudo em pouco tempo. Ele até
pareceu surpreso, ao descobrir que tudo tinha desaparecido. Sorrindo, ela
pegou o prato e o recarregou, antes de lhe devolver.
— Quando foi a última vez que o senhor fez uma refeição adequada?
Ele bufou, evidentemente impaciente, e ela teve que esperar até que ele
terminasse de mastigar para ouvir a resposta — Eu como.
— Sim, — disse ela, impassível — tanto quanto o senhor dorme,
imagino.
— E a senhorita passa um bom tempo me imaginando dormindo, Srta.
Butler?
Havia um desafio em seus olhos e ela segurou seu olhar, embora com
dificuldade, mas estava determinada a não se assustar.
— Não apenas dormindo.
Para seu espanto, foram as bochechas dele que coraram, em resposta às
palavras dela, os olhos dele, de repente, escureceram.
— A senhorita não recebeu minha última carta? — exigiu, sacudindo o
que quer que tivesse enviado cor ao rosto e voltando para a carranca
beligerante — A senhorita ainda não entendeu o que está fazendo?
Minerva assentiu — Recebi, e sim, creio que entendi. Eu corro o risco
de ser arruinada, e o senhor corre o risco de se apaixonar. Parece uma
aposta justa.
Sua expressão indignada e espantada era tão feroz que ela quase riu.
— Eu não corro o risco de nada, menina tola. — murmurou, olhando
para ela.
Estava com raiva dela, por se colocar em risco. Ela entendeu isso e
apreciou, depois sorriu para ele.
— Então o senhor não tem nada a perder, aceitando minha aposta. Ou,
talvez, eu deva apelar para o filósofo natural no senhor e, de fato, sugerir
um experimento? — Minerva inclinou a cabeça, interessada em ver como
ele reagia a isso.
— Um experimento? — ele repetiu, um vislumbre de interesse em seus
olhos. — O que a senhorita quer dizer, que tipo de experimento?
— Para provar a existência do amor.
Ele fez um som exasperado. — Para provar o absurdo da noção, talvez.
— Muito bem. — disse Minerva, acenando para aprovar — Que seja,
prove que não existe se isso lhe convir. Tenho toda a intenção de provar o
contrário. O senhor está condenado ao fracasso.
Ele olhou para ela, que se aqueceu sob seu escrutínio, lembrando-se de
como se perguntava como seria ser o foco de sua atenção indivisa.
Maravilhoso, decidiu. Não conseguia ler a expressão dele com certeza,
embora houvesse curiosidade.
— A senhorita não vai me prender em um casamento, Srta. Butler.
Ela deu uma risadinha nervosa — Não gostaria, Sr. de Beauvoir. Ou o
senhor quer se casar comigo porque me ama e ficar sem mim lhe causaria
dor e sofrimento, ou eu não gostaria de ser sua esposa. Não tenho nenhum
desejo de prender um marido relutante.
Ele soltou um suspiro, parecendo tão exasperado com ela quanto Helena
havia ficado antes — Senhorita Butler, o que a senhorita está sugerindo…
— É um experimento. — disse, antes que ele pudesse fazer parecer
indecente.
— É um caso. — ele emendou, sua expressão difícil.
Seu coração deu um pequeno chute incerto em seu peito, fazendo o
desconforto atravessar o seu corpo. Ele estava certo, é claro, e ela sabia o
que estava arriscando — Não. — disse, com cuidado — Estou sugerindo
uma série de…testes. Vamos passar algum tempo juntos, nos conhecendo,
e… e eu vou permitir que o senhor me dê um beijo após cada encontro,
depois podemos avaliar o que o senhor sente por mim.
Pensou que isso parecia razoável - razoavelmente louco, possivelmente
- mas não lhe daria a ideia de que estava prestes a entregar sua virgindade,
pois ela não estava. Estava preparada para correr riscos, mas não para ser
uma completa idiota.
Ele ficou muito quieto, e ela podia ouvir seu coração batendo em seus
ouvidos.
— A senhorita está falando sério? — parecia duvidar de sua sanidade,
muito mais ainda da sua sinceridade.
— Bem sério.
— Minerva, querida, me apresente ao seu amigo.
Minerva sacudiu de surpresa, quando Helena apareceu, avaliando o Sr.
de Beauvoir. Ela se recompôs da melhor maneira possível, esperando que
sua amiga não tivesse ouvido a conversa — Sr. de Beauvoir, permita-me
apresentar Lady Helena Adolphus.
De Beauvoir fez uma reverência rígida — Lady Helena. Acredito que
me correspondi com seu irmão.
Helena concordou — Bedwin tem interesse nas ciências. Na verdade,
ele me pediu para convidá-lo para jantar conosco, se eu tivesse a
oportunidade de falar com o senhor, algo sobre elementos. — acrescentou,
com um aceno desdenhoso — Eu acredito que seu trabalho lhe interessa.
— Eu deveria estar honrado. — respondeu, parecendo um pouco
surpreso.
Houve um silêncio e Minerva apertou o braço de Helena, desejando que
ela os deixasse sozinhos.
— Bem, devemos seguir nosso caminho, Minerva. — disse Helena,
ignorando-a — Está ficando tarde.
Minerva olhou e os lábios de Helena se contraíram.
— Boa noite, Sr. de Beauvoir. Enviarei um convite para o jantar, logo
após o Natal.
— Lady Helena, Srta. Butler, boa noite para as senhoritas. — disse de
Beauvoir educadamente, antes de se despedir e ir embora.
— Helena! — Minerva a encarou com indignação, quando ficaram
sozinhas — Por que fez isso? Eu estava conseguindo alguma coisa com ele.
— Isso era óbvio. — retrucou Helena, sua expressão sombria, enquanto
escoltava Minerva até o vestíbulo, para pegarem as suas peliças — E não só
para mim. Pelo amor de Deus, Min, tome cuidado. Do que estavam
falando? Ele a estava olhando como se fosse um dos gelados da Gunter’s,
em um dia quente.
Minerva corou, surpresa com as palavras de Helena e as imagens
subsequentes que elas produziram.
— N-não importa. — respondeu, arrebitando o nariz.
— Bem, eu me importo. — retrucou Helena — E se quer um convite
para jantar na mesma noite que ele, é melhor me contar tudo.
— Oh, Helena! — Minerva gritou e agarrou sua mão — Mesmo?
— Sim, mesmo. — disse, dando explicações — Embora eu não tenha
certeza de que esteja lhe fazendo nenhum favor. Vai ter cuidado, não vai,
Min?
Minerva viu a ansiedade em seus olhos e assentiu, dando um tapinha em
sua mão — Prometo. Não tenho pressa para ser arruinada e devo tomar
todas as precauções, no entanto, posso precisar de ajuda.
Helena bufou — Ah, eu sabia que isso ia acontecer. Bem, suponho que
é melhor pedir ao Robert para convidá-la para ficar conosco de novo, mas,
se disser à Prue que tive alguma coisa a ver com isto, nunca mais falarei
contigo. Ela é bastante aterrorizante, quando está de mau humor.
— Juro que não vou, e prometo ajudá-la com seu Sr. Knight. —
Minerva concordou imediatamente.
Elas tiveram que segurar suas línguas, enquanto vestiam suas peliças e
se despediam, mas, uma vez na segurança da carruagem, estavam livres
para falarem abertamente de novo.
— Bem, como você e sua mãe estão conosco no Natal, será fácil pedir
que fique mais alguns dias. Ah, isso significa que sua mãe também vai
querer ficar? — Helena disse, horrorizada com a ideia — Isso estragaria os
planos.
Minerva balançou a cabeça — Não, ela vai voltar para Bath no ano
novo. Na verdade, ela queria me arrastar com ela, e sabe que eu não quero
ir. Isso será perfeito.
— Hmmm! — Helena respondeu duvidosamente — Precisamos ver.
Então, Srta. Butler, fale logo. Que plano nefasto preparou? Sou toda
ouvidos.
— Ah! — disse Minerva, mordendo o lábio ansiosamente, e se
perguntando como fazer com que os experimentos planejados soassem tudo,
menos loucos e escandalosos.
3
Lamento que não tenhamos conseguido concluir a nossa
fascinante conversa de ontem à noite, no entanto, tenho a
certeza de que irá animá-lo saber que vou ficar com Lady
Helena no Natal e durante algum tempo, no ano novo.
Estarei presente no jantar para o qual foi convidado. Talvez
possamos falar em particular?
Espero que desfrute de um Feliz Natal, Sr. de Beauvoir,
embora não possa deixar de pensar no fato de que o senhor
não se importa com esse feriado. Pelo menos tente comer
alguma coisa, pelo meu bem. Eu me preocupo com a sua
saúde.
Espero que goste do pequeno presente. Eu mesma bordei.
— Trecho de uma carta da Srta. Minerva Butler para o
Sr. Inigo de Beauvoir.

25 de dezembro de 1814. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo jogou seus papéis de lado, praguejando, frustrado.
— Concentre-se, maldito seja! — explodiu, batendo a palma da mão
contra a cabeça, como se pudesse acertar o seu cérebro, para fazer o que
quisesse. A maldita coisa parecia resistir em qualquer outro método, então
valia a pena tentar. Ele resmungou e começou a bater a cabeça contra o
banco, batendo a testa sobre a madeira, várias vezes, para ver se isso
ajudava. — Pare de pensar nela. Pare, pare, pare.
Seu cérebro não estava ouvindo. Seu cérebro era um idiota.
Ele ficou sentado por um bom momento, a cabeça pressionada na
madeira, olhando para o borrão de madeira escura. Um suspiro escapou, e
seu estômago rosnou.
— Ugh.
Era melhor comer alguma coisa. Não, não porque a Srta. Minerva
Butler lhe disse. Não porque ela se preocupava com a saúde dele e tinha
aquela expressão ansiosa, que fazia suas sobrancelhas loiras franzirem,
fazendo-a parecer uma gatinha perturbada.
— Argh!
Completamente enojado consigo mesmo, Inigo caminhou até a despensa
e vasculhou as prateleiras e armários, apenas para descobrir que não havia
nada para comer. Droga. Talvez ele devesse pensar em contratar outra
governanta. Só que elas eram uns incômodos. Mexiam e interferiam,
arrumavam seu laboratório e seu escritório e bagunçavam seus papéis, se
assustavam com ruídos inesperados e cheiros duvidosos, e reclamavam se
não tocasse na refeição que faziam para ele. Não, ele estava melhor sem
ninguém, principalmente se a Srta. Butler queria se arruinar. A última coisa
que ele precisava era de uma governanta metendo o nariz e fofocando sobre
eles.
Não que a Srta. Butler fosse seguir com isso, garantiu a si mesmo. Ela
acabaria recuperando o juízo. Nenhuma jovem, gentilmente educada, estava
tão perdida no decoro, para sugerir… sequer considerar…
Um outro tipo de fome o atormentou.
Ela permitiria que ele a beijasse.
Ela o visitaria, sozinha, e passaria um tempo com ele, e ela permitiria
que ele a tocasse e…
— Já chega.
As palavras ressoaram no silêncio de sua casa. Ele não faria isso. Ela
era uma jovem tola, sonhando com romance onde não havia nada além de
sexo e escândalo. Embora ele não acreditasse na noção de pecado, a
sociedade, em geral, não concordava. Ele poderia acreditar que era seu
direito compartilhar seu corpo, quando e com quem ela quisesse, porque
isso a agradava, mas isso não significava que estaria menos arruinada por
isso.
Não fazia diferença se ela apresentasse a situação como um
experimento. Se alguém os descobrisse, isso não a salvaria das más línguas
e das condenações. Ele imaginou enviar um artigo sobre o assunto, para o
Royal Society Journal e deu uma gargalhada.
Ela permitiria que ele a beijasse.
Não importa o quanto ele tentasse manter aquelas imagens fora da
cabeça, lembrou-se do dia na Holbrooke House, quando ela o beijou. Nunca
ficou tão chocado em sua vida. Isso o irritou, o deixou furioso. Que essa
bela dama da sociedade acreditasse que ele poderia tão facilmente comer na
palma da sua mão, que poderia estalar os dedos e ele cairia de joelhos, em
gratidão por sua condescendência em notar um ser tão humilde…
Ele estava pensando sobre isso há várias semanas.
Só que percebeu que essa não era a intenção dela. Era ainda pior do que
isso. Ela não queria apenas que ele a amasse, queria amá-lo em troca. Não
seria amor, claro, seria obsessão. Inigo estava familiarizado com a obsessão.
Foi o que lhe deu o foco de trabalhar por horas, dias e semanas, com apenas
um pequeno momento para comer ou dormir. Foi o que o levou, de órfão
empobrecido a um homem da ciência, respeitado e procurado por sua
opinião. A suspeita de que a Srta. Butler pudesse inspirar uma obsessão,
como nunca antes havia encontrado, o fazia ficar excitado e ansioso. Uma
voz desconfortável em sua cabeça sugeriu que já havia começado, mas ele a
silenciou.
Mulher nenhuma destruiria sua vida, seus planos, seu trabalho. Ela fazia
seu joguinho e ele achava divertido. Ele desfrutaria das liberdades que ela
oferecia, e depois se despediriam e ela iria embora, um pouco machucada e
bem esperta para a realidade. Nenhuma garota tola o fisgaria e o levaria
para o altar. Ele riu, balançando a cabeça, imaginando a expressão dela
quando percebesse que o amor era uma ilusão, e então sentiu uma sensação
estranha e desconfortável em seu peito, quando percebeu que aquela
imagem não o agradava nenhum pouco.
Enfiou a mão no bolso do colete e retirou o presente que ela lhe enviara.
Era um lenço e a estranha criatura havia, meticulosamente, bordado a
borda, com os símbolos dos elementos e seus compostos. O aroma dela
permaneceu no tecido, baunilha e jasmim, ele o levou ao nariz e inalou.
Deus, ela era intoxicante. Se ele não soubesse melhor, pensaria que era uma
bruxa maldita. Olhou para o bordado delicado. No canto, estavam suas
iniciais, IdB, em azul escuro, a cor de seus olhos. Inigo traçou um dedo
sobre os fios de seda, imaginando quanto tempo ela passou, fazendo os
pequenos pontos, quanto tempo passou pensando nele. Inferno. Com um
xingamento, tentou novamente não pensar nela.
— Ora, maldito seja, seu tolo miserável. Volte ao trabalho. —
murmurou, antes de sair da cozinha e fazer o possível para ignorar a fome
que roía seu estômago e a estranha sensação de dor em seu peito.

29 de dezembro de 1814. Beverwyck, Londres.


— Não está falando sério, está? — Helena olhou para o livro que
Minerva havia colocado sobre seu colo, com tanto entusiasmo, como se
fosse um rato morto — Você sabe, quando é dada a oportunidade de jantar
com o homem que capturou seu interesse, a maioria das mulheres coloca
seu melhor vestido, passa horas arrumando o cabelo e se banha de perfume.
— Eu não sou a maioria das mulheres. — respondeu Minerva, cruzando
os braços.
Helena bufou — Não, quer desperdiçar uma manhã perfeitamente
agradável lendo… — olhou para o livro, como se realmente fosse um rato
morto — Escala Sinótica de Equivalentes Químicos de Wollaston? Sério,
Minerva! —
— O que foi? É interessante.
— Você deveria ter ficado com Harriet. — Helena murmurou, deixando
seu próprio romance de lado, com um bufo — O que há de errado com
Child Harold?
— Nada. — disse Minerva, com um encolher de ombros — E se Harriet
não tivesse se enterrado em Holbrooke, com seu lindo esposo, eu ficaria
com ela.
— Ha! Entendo, isso é apenas amor de interesse. — exclamou Helena,
dramaticamente — Você só quer minha amizade por minha proximidade
com seu estranho filósofo naturalista.
— Bem, naturalmente. — respondeu Minerva, com um sorriso plácido.
— Miserável!
Ela se abaixou, rindo, enquanto Helena jogava uma almofada sobre sua
cabeça.
— Você é uma pessoa desprezível. — lamentou Helena, olhando para a
Escala Sinóptica de Wollaston, com resignação.
— Claro que sou, e você também. É por isso que nos damos tão bem.
Helena mostrou a língua e as duas caíram em gargalhadas.
— Ora, muito bem, então, Min, mas você me deve muito.
Minerva sorriu para ela e se acomodou, para testar seu conhecimento.

Minerva virou, de um lado para o outro, na frente do espelho de Helena.


Ela estava usando um vestido novo, que havia guardado para a ocasião. Era
um azul rico e o decote, embora nada escandaloso, era profundo e mostrava
uma agradável ondulação de seus seios. Helena havia emprestado um
pingente de safira, que se aninhava convidativamente em seu decote, e
atraía os olhos. Seu cabelo estava arranjado no topo de sua cabeça, em uma
queda negligente de cachos loiros, um dos quais seguiu sugestivamente por
cima de um ombro.
— E então? — ela perguntou, franzindo a testa para sua imagem.
Helena bufou — O pobre homem não tem chance. Você se parece com
Atena, deusa da sabedoria, sem a coruja.
— Oh! Obrigada, Helena, é um belo elogio.
Helena riu e foi em sua direção, seu próprio vestido verde-esmeralda
balançando, enquanto ela pegava as mãos de Minerva — Querida, você já
pensou sobre isso? Ele nem ao menos é cavalheiro. Quero dizer, o que você
sabe sobre ele, realmente? Ele não parece ser capaz de se sustentar, muito
menos uma esposa.
Minerva revirou os olhos, mas Helena a interrompeu, antes que ela
pudesse falar.
— Não me venha com bobagens sobre não se importar com dinheiro,
pois nós duas sabemos que isso não é verdade. Você odiava ser pobre, e não
negue. Sua vida mudou quando Prue se casou com meu irmão e eu, por
exemplo, não a culpo por aproveitar sua mudança de sorte. Certamente você
não deseja voltar àqueles dias?
— Claro que não. — Minerva retrucou, um pouco irritada. Ela amava
muito Helena, mas, às vezes, era difícil de lidar com sua natureza direta —
Não tenho desejo de voltar a ser pobre, mas me casarei por amor, não por
dinheiro. Eu não preciso de uma fortuna ou um título para me fazer feliz.
Além disso, um homem brilhante como o Sr. de Beauvoir há de ser muito
mais bem sucedido do que ele aparenta. O problema é que não acho que ele
se importe com essas coisas, ou, pelo menos, não pode ser incomodado a
lidar com elas. Ele está tão absorto em seu trabalho, que mal se lembra de
comer, muito menos se preocupar com problemas financeiros. É por isso
que ele precisa de uma mulher como eu para cuidar dele. Ele é um membro
da Royal Society, já é um enorme sucesso, só precisa de alguém para
gerenciar detalhes tediosos, como recompensas financeiras por seu trabalho.
Helena olhou para ela, claramente surpresa, e Minerva bufou.
— Posso estar apaixonada, Helena, mas não sou, totalmente, tola. No
entanto, admito que demorei a maior parte da minha vida para perceber
isso, então vou perdoá-la por não se dar conta.
— Bem — disse Helena — Isso me diz tudo.
Minerva riu e pegou seu braço — Ótimo, então pare de se preocupar.
Matilda assumiu o papel de uma mãe coruja, não preciso de você me
protegendo excessivamente e se despenando também, muito obrigada.
— Tudo bem. — disse Helena, dando um aceno desleixado com a mão
— Vá e divirta-se com de Beauvoir, arruíne-se, veja se me importo.
Minerva bufou, sabendo que Helena não era tão frágil quanto
imaginava. Embora fosse tão imprudente quanto Minerva, ela se
preocupava, porque Minerva não era uma herdeira e filha de um duque, e
era muito mais provável que se metesse em um problema, do qual não havia
como sair.
— Serei discreta, prometo. Não tenho pressa em criar um escândalo.
— Hmph! — disse Helena, claramente não convencida.
— Ah, finalmente, — disse Robert, sorrindo para elas quando as viu
adentrar na sala — Senhor de Beauvoir, o senhor já conhece minha irmã,
Lady Helena, e acredito que já foi apresentado à prima da minha esposa,
Srta. Butler.
As costas do Sr. de Beauvoir estavam voltadas para elas, e Minerva viu
seus ombros enrijecerem, quando o duque falou seu nome. Ela observou
enquanto ele se virava e sentiu uma pequena onda de triunfo ao ver seu
olhar quando a viu. Pensou tê-lo visto respirando fundo, embora fosse
difícil dizer, e ele logo se controlou, a máscara fria e ilegível de volta no
lugar, enquanto se curvava para elas, rígido e educado.
— Um prazer, como sempre, Lady Helena, Srta. Butler.
Ela olhou para ele, satisfeita em ver que ele havia feito um grande
esforço. Seus trajes noturnos estavam bem prensados, fez uma tentativa
digna com sua gravata e — maravilha das maravilhas! — ele havia cortado
o cabelo. Um calor cresceu dentro dela. Fez isso por ela, tinha certeza.
Embora ele estivesse jantando com um duque, o que daria à maioria das
pessoas a oportunidade de aparecer no seu melhor, mas… Não, ela decidiu,
determinada a levar o crédito. Era por causa dela.
— Ah, nosso último convidado. — disse Robert, movendo-se para
cumprimentar o irmão de Harriet, Henry Stanhope, quando ele chegou.
— Vossa Graça. Boa noite a todos. — cumprimentou Henry, sorrindo
para as pessoas reunidas — Devo dizer, foi muito gentil da sua parte me
convidar. Eu estava enfrentando uma noite de whist, com minha tia e suas
comparsas. Não é uma perspectiva atraente, acrescentou com um arrepio.
— Não há de quê. Fico feliz que pudemos salvá-lo de tal destino. —
Robert disse, sorrindo e dando um tapa nas costas dele — De Beauvoir, este
é Henry Stanhope.
— Nós nos conhecemos. — disse o Sr. de Beauvoir, seu tom bastante
seco, quando os convidados todos se lembraram de que ele esteve,
remotamente, noivo da irmã de Henry, Harriet. — Como está sua irmã, Sr.
Stanhope? Espero que ela esteja bem?
— Mais feliz, impossível. — respondeu Henry, com um sorriso triste —
Não aguentava passar mais nenhum dia em Holbrooke. Surpreendente
como em uma propriedade daquele tamanho você ainda, constantemente,
tropeça nos pombinhos. Era nauseante. Eu tinha que fugir. — virou-se para
cumprimentar Lady Helena, antes de sorrir para Minerva — Olá, Minerva,
como está a senhorita?
— Melhor ainda por vê-lo. — respondeu Minerva, falando sério. Henry
era muito divertido e sempre parecia estar de bom humor.
— Vamos entrar. — disse Prue, levantando-se — Estou faminta.
Robert riu e pegou o braço dela, sua expressão era de uma diversão
afetuosa — Você está sempre faminta, amor.
Prue bufou — Culpe seu filho. Estarei do tamanho de um elefante em
breve, se ele tiver alguma coisa a dizer sobre o assunto.
— Minha filha. — Robert corrigiu, levantando suas mãos até os lábios e
beijando os nós dos dedos ternamente.
Minerva olhou para de Beauvoir, estava curiosa para ver sua reação a
essa demonstração aberta de afeto, que falava muito sobre o relacionamento
de Robert e Prue. Ela prendeu a respiração quando descobriu que ele não
estava olhando para eles, mas para ela. Minerva não desviou, mas manteve
o olhar e sorriu, aproximando-se.
— Acredito que devo pedir que me acompanhe na mesa do jantar, Sr. de
Beauvoir. — disse, olhando para o rosto dele.
Sua expressão não mudou, mas ele estendeu o braço para ela. Minerva
demorou, recuando, para permitir que os outros se adiantassem.
— O senhor mora na Church Street, estou certa? — perguntou,
baixando a voz.
Sua cabeça estalou e seus olhos sobre ela eram intensos, o músculo sob
sua mão enluvada ficou tenso. Ele era surpreendentemente forte, levando
em consideração o que estava sob seus dedos, e ela se perguntou quanto
tempo levaria para alimentá-lo, para que suas roupas servissem
perfeitamente como antes.
— Não me diga que a senhorita ainda está interessada nessa ideia
ridícula? — murmurou, embora houvesse algo na maneira como disse
aquilo, que sugeria que ele não era tão indiferente à ideia quanto ele
imaginava.
— Experimento. — ela corrigiu — E sim, eu estou. Amanhã de tarde?
Ele parou e olhou para ela — A senhorita viria para minha casa,
sozinha? Sua menina tola. Não faz ideia do tipo de homem que sou, Srta.
Butler. Pelo que sabe, eu poderia forçar minhas atenções sobre a senhorita,
e não haveria nada que pudesse fazer para me impedir.
Minerva olhou para ele, impressionada com o calor das palavras — O
senhor faria isso? O senhor me machucaria deliberadamente?
Quando ele a olhou, quase pôde ver a batalha por trás de seus olhos, o
desejo de chocá-la e assustá-la, mas ele apenas soltou um suspiro
exasperado.
— Não. — ele admitiu, embora ressentido — Mas se alguém descobrir,
a senhorita…
— Eu sei. — disse ela, alisando a mão sobre a lapela dele, acalmando-o,
como um cavalo inquieto — Vou tomar cuidado, não se preocupe comigo.
— Não estou preocupado com a senhorita. — ele disse — A última
coisa que preciso é de um escândalo sórdido ligado ao meu nome. Eu moro
perto de Spring Grove e, se a senhorita acha que eu quero que o Presidente
da Royal Society tome conhecimento de um namoro com uma senhorita
tola, que não é melhor do que deveria, é melhor pensar novamente.
Minerva olhou para ele, imaginando se, talvez, ela tivesse julgado mal.
Esperou que o olhar dele voltasse para o dela, e depois o estudou.
— O senhor não quer que eu vá? — perguntou delicadamente.
Ele apertou a mandíbula e, mais uma vez, ela pôde sentir uma batalha
acontecendo dentro dele. Ele desviou os olhos dela, certificando-se de que o
ambiente estava vazio e depois se virou, segurando o queixo dela com a
mão e inclinando-o um pouco. O beijo foi breve, pouco mais de um
segundo, mas a queimou e deixou seus lábios formigando, o sangue
borbulhando em suas veias, como champanhe.
Ele não disse mais nada, simplesmente saiu com ela pelo braço,
apressando-se para alcançar os outros, antes que sentissem a falta dos dois.
Minerva mordeu o lábio e lutou para conter um pequeno grito de triunfo.
O jantar foi um encontro animado, embora Robert e o Sr. de Beauvoir
tivessem desempenhado pouco papel na conversa geral, pois ambos
pareciam absortos em falar de algum experimento que Humphry Davy
havia publicado recentemente. Minerva não tentou chamar sua atenção
novamente. Robert poderia ser crucial em seu sucesso futuro se ele tivesse
interesse suficiente em seu trabalho. Em vez disso, ela fervia de prazer, ao
lembrar do beijo, e gostava da companhia de sua prima Prue, Helena e
Henry.
Henry estava em boa forma esta noite e manteve todos rindo e
entretidos com anedotas, muitas das quais eram inteiramente às suas custas.
— Eu acredito que ela disse que o senhor era incapaz de fazer
companhia a um bolo esponja. — disse Minerva, lembrando-se de algo que
Harriet repetiu mais de uma vez.
— Oh! — exclamou Henry, achatando a mão sobre o coração, como se
tivesse sido acertado por uma flecha — A senhorita me feriu, Srta. Butler.
Como alguém tão adorável pode ser tão insensível, a ponto de levar a sério
qualquer coisa que minha miserável irmã diz de mim?
— Ah, mas beleza nem sempre é igual à bondade, Sr. Stanhope. —
Helena defendeu-se — Ela pode ter o rosto e a forma de Atena, mas há um
coração calculista batendo em seu peito, eu lhe asseguro.
Minerva estreitou os olhos para Helena, cujos olhos brilharam
maliciosamente.
— Não. — disse Henry, galante como sempre — Isso eu não posso
acreditar. Ela é tão adorável quanto gentil, e foi desviada pela minha irmã
perversa.

Inigo permitiu que sua mente vagasse, uma coisa bastante fácil,
enquanto o duque tentava envolver seu cérebro na explicação que acabara
de receber, sobre os experimentos de Humphry Davy com compostos
fluorados. O Sr. Stanhope, irmão de Harriet, estava radiante para a Srta.
Butler, com o entusiasmo de um estudante, ou possivelmente um filhote.
Charmoso e exuberante, o jovem estava cheio de bonomia e, obviamente,
gostava dela. Inigo sentiu uma pontada repentina e indesejável de algo
desagradável, que ele se recusava a dignificar por nome. O garoto o irritava,
isso era tudo, uma pessoa frívola, com nada entre as orelhas, a não ser
penugem. Como se a Srta. Butler fosse gostar de uma criatura como ele. No
entanto, ela estava rindo alegremente, seus belos olhos brilhavam e suas
bochechas estavam coradas, e ele não podia arrastar seu olhar relutante para
longe dela. Lembrou-se dos momentos a sós, com ela, na sala de estar, mais
especificamente do momento em que pressionou a boca na dela. Quando ele
se afastou, a pele dela ficou corada, sua boca rosada e macia, e seus olhos,
aqueles olhos impossivelmente azuis ficaram mais escuros.
Azul da prússia. Tão perigoso quanto aquela cor tentadora que ele
suspeitava. Havia cianeto no azul prussiano, assim como havia algo
destrutivo na tentação que ela lhe oferecia. Embora ele se assegurasse de
que era ela, sozinha, quem corria o risco, havia uma voz mais sombria que
sussurrava que era uma mentira, e uma que ele faria bem em não ignorar.
A sensação dos olhos de alguém sobre ele o fez desviar o olhar dela e
descobriu Lady Helena observando-o, sua expressão impassível. Ela sabia?
Ele se perguntou. Se ela o sabia e não estava fazendo nada ao seu alcance,
para impedir que sua amiga não andasse em caminhos perigosos que estava
contemplando, não estava prestando nenhuma gentileza à Srta. Butler.
Após o jantar, e para surpresa de Inigo, os homens não ficaram sozinhos
para tomar vinho do Porto, mas se juntaram às damas na sala de estar, onde
ele continuou sua conversa com o duque e se esforçou por ignorar a Srta.
Butler.
— Robert.
Todos se viraram, quando a Duquesa de Bedwin chamou seu marido.
Ela parecia pálida e bastante indisposta.
— Prue, querida, o que foi?
— Estou um pouco cansada, é só isso. — ela assegurou a todos com um
sorriso, que parecia bastante forçado — Acredito que vou me retirar para o
meu quarto, mas por favor, continuem na minha ausência.
Em meio a vários desejos de boa noite, a duquesa deixou a sala, e Inigo
e Henry se levantaram, enquanto o duque insistia em escoltar sua esposa até
o quarto. Lady Helena, imediatamente, assumiu o papel de anfitriã e contou
com a ajuda de Henry, na seleção de algumas partituras para tocar no piano,
deixando Inigo sozinho com a Srta. Butler.
— Digamos meio-dia? — deu-lhe um olhar inquietante, continuando a
mesma conversa enlouquecedora, como se não tivesse havido intervalo. —
Vou levar o almoço. Pelo menos assim saberei que o senhor comeu alguma
coisa.
Inigo olhou para ela, perplexo. Por que ela se importava? Por que ele?
Com sua beleza surpreendente e sua conexão com o duque, sem mencionar
o belo dote que o homem lhe dera, ela poderia ter quem quisesse. Por que
ela não estava procurando um título, ou um marido rico? O vestido que ela
usou esta noite, provavelmente, custava o mesmo tanto que ele conseguia
ganhar em um mês, certamente ainda mais do que isso, já que não tinha
ideia sobre a moda feminina. Ele sabia apenas que ela estava gloriosa, que a
cor que usou apenas destacava seus lindos olhos e seu olhar continuava
voltando para o pingente azul safira, que estava aninhado entre seus seios.
Um desejo subiu por seu sangue, quando imaginou pressionar a boca
naquela pele de cetim, arrastando a língua ao longo daquele vale tentador.
Cristo.
— Que jogo está jogando, Srta. Butler? — ele exigiu, enervado ao ouvir
a qualidade rouca de sua voz.
— Não é nenhum jogo, é…
— Um experimento. — completou com um bufo — Sim, eu sei. Mas
por quê? Por que eu?
Ela lançou um olhar estranho para ele, a cabeça inclinada para um lado,
intrigada.
— Por que não o senhor?
— Eu nasci nas favelas de St Giles.
Ele disse isso da mesma forma que poderia dizer que colocava açúcar
em seu chá, sem inflexão, sem emoção, e esperou que ela recuasse
horrorizada, que seu lábio se enrolasse de desgosto, quando percebesse o
que isso significava. Ele tinha nascido numa pobreza miserável. Ela
empalideceu e seus olhos se arregalaram, mas ele não contou com a
estranha criatura que ela era. Ao contrário da maioria das damas da sua
estirpe, não desmaiou ou se afastou dele. A Srta. Butler se aproximou.
Ela se levantou e sentou-se ao lado dele e colocou a mão sobre sua
manga, um gesto tão instintivo de conforto, que ele congelou, sem saber o
que fazer.
— O senhor, certamente, não acha que isso pode fazer algo, além de
aumentar minha admiração por tudo o que o senhor conquistou? — ela
perguntou, mantendo sua voz suave.
Ele murmurou um xingamento e desviou o olhar dela. Pensando que,
talvez, ela não tivesse entendido o que ele queria dizer, pensou que seria
melhor pressionar o ponto sobre sua casa.
— Meus pais morreram quando eu tinha dois anos e fui criado no
hospital dos enjeitados. Não sou um cavalheiro, Srta. Butler. Seria bom a
senhorita se lembrar disso. Então vou perguntar de novo, por que eu?
Ela deu uma risadinha e balançou a cabeça — Oh, conheci muitos
cavalheiros, que são muito menos merecedores do título, lhe asseguro, Sr.
de Beauvoir.
Ele franziu a testa, perturbado pela onda de raiva que suas palavras
provocaram, que qualquer homem possa tê-la tratado com desrespeito.
Continuou, talvez interpretando mal a carranca dele — Quando se está à
margem da sociedade, se segurando pelas pontas dos dedos, alguns
cavalheiros parecem acreditar que o desespero substitui o orgulho ou o bom
senso. Felizmente, nunca estive, suficientemente, desesperada para provar
que estavam corretos.
— Diga um nome? — ele exigiu, seu coração batendo forte, com o
desejo de buscar retribuição de qualquer um que a desonrasse, com
sugestões tão indecentes.
Ela sorriu para ele, e o efeito foi tão avassalador para os sentidos dele,
que foi como ser atingido na cabeça. Havia uma estranha sensação de
agitação em seu peito, e ele se sentiu atordoado e estúpido. Viu tanto calor e
admiração em seus olhos, gratidão também e isso o fez inexplicavelmente
feliz.
— Pronto, eu estava certa. O senhor é mais cavalheiro do que imaginou,
Sr. de Beauvoir. Mas, para responder à sua pergunta, não entendo por quê o
senhor. Eu só sei que, a partir do momento em que nos encontramos na
livraria, tinha que vê-lo novamente, e, cada vez que nos encontramos,
minha certeza sobre o senhor apenas cresce.
— A senhorita poderia se casar com qualquer um. — disse, ainda sob o
feitiço daquele sorriso, incapaz de desviar os olhos daquele azul impossível.
Ela riu, enviando uma emoção de prazer através do seu corpo, que o fez
querer ouvir novamente, para dizer outra coisa que a fizesse rir.
— O senhor fala como minha mãe. — disse, seu tom triste — Mas temo
que ambos estejam errados e, além disso, os dois se recusam a reconhecer a
verdade. Eu não quero um duque ou um conde, ou mesmo um humilde
barão. — Eu quero o senhor.
Ela sussurrou essas últimas palavras, mas elas pareciam tocar em seus
ouvidos tão alto, que ele se sentiu tonto. O desejo que ele tentou reprimir
momentos antes voltou com força, e ele se viu segurando a sanidade por
uma linha mais tênue. Seria tão fácil puxá-la para seus braços e beijá-la,
colocar suas mãos nela, sua boca em sua pele. Seu olhar viajou para o outro
lado da sala, para onde Lady Helena estava brincando com o Sr. Stanhope,
sobre a escolha da música. Inigo respirou fundo, embora um pouco
irregular.
— Amanhã. — disse ele, sabendo que estava sendo um tolo, que estava
convidando problemas para sua vida e, provavelmente, condenando essa
menina tola a um destino que ela não entendia.
— Amanhã. — ela concordou, parecendo tão sem fôlego quanto ele.
Que Deus os ajude.
4

Querida Bonnie,
Espero que tenha passado um lindo Natal e envio-lhe
bons votos para o ano novo. Gordy também manda
lembranças e espera que você não esteja causando muita
angústia ao seu pobre marido - palavras dele, não minhas.
O Natal em Wildsyde foi adorável. Embora me sinta
bastante culpada por admitir, já que é a primeira vez que
passo longe dos meus pais, esse foi, sem dúvida, o mais feliz
que passei. Tivemos uma excelente refeição, graças à Sra.
MacLeod, que fez um trabalho maravilhoso, e tivemos
música, dança e muita risada. Espero que você e o Sr.
Cadogan venham nos visitar em breve. Gordy prometeu se
comportar.
— Trecho de uma carta da Sra. Ruth Anderson para a
Sra. Bonnie Cadogan.

30 de dezembro de 1814. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo respirou fundo e olhou para a folha de papel com seus últimos
cálculos em vão. Apesar de prometer a si mesmo que não olharia, seus
dedos procuraram e encontraram seu relógio de bolso, apenas para
descobrir que fazia precisamente seis minutos, desde a última vez que
verificou a hora. Isso era inútil. Ele poderia muito bem descartar o dia
inteiro como um desastre. Dificilmente profissional, à luz do trabalho que
ele foi contratado para fazer. Trabalho remunerado. O tipo que o sustentava
e que permitia que ele pagasse suas contas e comesse, quando se lembrava
disso.
O governo o contratou para inspecionar algumas apotecárias em
Londres, mais precisamente em West End. Vários clientes de posses
adoeceram e o denominador comum provou ser uma marca de creme para a
pele. Alegações de que o creme estava contaminado por arsênico causaram
um alvoroço e, como as vítimas eram membros importantes da sociedade, o
governo agiu rapidamente e pediu a Inigo que fizesse uma investigação. Era
um assunto fascinante e Inigo estava imerso em seu trabalho, até que a Srta.
Butler sugeriu seu experimento e o privou do sono, do senso e de qualquer
possibilidade de pensamento racional.
Pior ainda era o desejo ridículo de arrumar sua casa, que não estava no
seu melhor desde que sua governanta havia fugido. Era uma bela
construção, em sua opinião, e tinha sido uma fonte de grande orgulho, para
um homem que tinha crescido incapaz de reivindicar até mesmo as roupas
em suas costas. Espalhada por três andares, era uma bela casa de tijolos
vermelhos, ostentando uma porta de entrada verde escuro, com uma
claraboia em cima. Não era grande nem grandiosa, mas tinha excelente luz,
especialmente no cômodo maior, na parte de trás, que Inigo havia
transformado em seu laboratório. Ele tinha feito pouca coisa, exceto colocar
uma cama no quarto, móveis esquisitos aqui e ali. Eram espartanos e viviam
empoeirados, além de velhos. Tinha acendido o fogo, o que nem sempre
fazia, então isso já dizia alguma coisa.
Olhou para seus papéis mais uma vez, até que a escrita embaçou diante
de seus olhos e ele respirou fundo, frustrado. Assim que os colocou de volta
em uma pilha limpa, procurou algo mais para ocupar sua mente e quase
pulou de susto quando ouviu uma batida na porta. De repente, seu coração
começou a bater forte no peito, enquanto a antecipação fazia sua respiração
acelerar.
— Controle-se, seu imbecil. — repreendeu a si mesmo, limpando as
palmas das mãos suadas em suas roupas, enquanto se apressava para abrir a
porta.
E lá estava ela, ousada, na porta dele. Ele a olhou hipnotizado, enquanto
a luz pálida do sol da tarde brilhava em torno dos seus cabelos dourados. O
tempo frio fez suas bochechas ficarem rosadas e ele, de repente, ficou
amarrado à face de uma beleza tão surpreendente.
— Deixem-me entrar! — ela disse, em um sussurro ríspido, enquanto
ele se lembrava, tarde demais, de que ela não deveria ser vista ali, e ele
estava apenas olhando para ela, como um bobo apaixonado.
— Oh! — exclamou e se afastou, permitindo que ela entrasse e fechasse
a porta atrás dela.
— Perdoe-me. — desculpou-se timidamente, olhando para ele por baixo
dos cílios — Receio que cheguei um pouco cedo, mas estava muito ansiosa
para vê-lo.
Inigo piscou para ela, perplexo demais para dizer qualquer coisa. Sua
língua parecia ter sido pregada e seu cérebro havia se amarrado em algum
tipo de nó górdio. Tardiamente, ele notou que ela estava carregando uma
cesta.
— Aqui, deixe-me pegar isso. — disse, soando ríspido e não muito
satisfeito em vê-la, exagerado demais para administrar mais do que isso.
Ele estava com medo de começar a recitar poesia ou cair aos pés dela e
implorar para que ela o beijasse. Para seu profundo alívio, ela não pareceu
notar seu tormento interno, enquanto examinava a casa dele com interesse.
— É uma casa adorável — comentou, enquanto ele a conduzia pelo
corredor deprimente.
Inigo grunhiu, lutando para não se sentir envergonhado pelo quão pobre
e maltrapilho tudo parecia em sua presença. Como de costume, ela parecia
ter saído de alguma gravura de moda da alta sociedade. Irritado, disse a si
mesmo que estava sendo tolo. Sempre teve orgulho de sua casa. Era uma
bela casa e a melhor coisa que ele já adquiriu. Um lugar seu, era tudo com
que sonhara, enquanto trabalhava horas a fio, economizando e poupando.
Seu próprio espaço, seu próprio laboratório. Ninguém para incomodá-lo e
interferir. Trabalhou muito para isso. O problema era que nunca teve tempo
de mobiliar o lugar adequadamente, pelo menos nada além do essencial
absoluto. Ah, bem, não era como se ela fosse voltar novamente. Foi até a
cozinha, aliviado ao descobrir que estava pelo menos quente, depois seu
rosto transformou-se em uma carranca, enquanto colocava a cesta sobre a
mesa, notando que os punhos de suas mangas estavam desgastados. Inigo
escondeu as mãos atrás das costas, sentindo-se ridículo, nada à vontade e
muito desconfortável. Por que ela veio? Isso era um absurdo.
— Eu trouxe o almoço. — disse ela, tão brilhante como sempre e não
prestando atenção ao comportamento indesejável dele, enquanto ia até a
cesta — Há uma torta de frango e presunto maravilhosa, salada de batata,
pão, queijo e frutas, oh, e bolo também, e… — remexeu, tirando os itens
enquanto falava, e depois retirou uma garrafa com um pequeno sorriso
triunfante — E vinho! — disse sorrindo para ele. O estômago de Inigo
rosnou. Minerva fez um som de desaprovação. — Foi o que imaginei.
Venha e sente-se.
Ela puxou uma cadeira e deu tapinhas convidativos no assento. Inigo
suspirou e revirou os olhos, mas decidiu que poderia muito bem agradá-la;
afinal, ele estava com fome. Pelo menos se comesse, não teria que falar
com ela e se arriscar a se humilhar ainda mais.
— Pronto, o senhor abra o vinho e eu vou pegar um… — olhou para a
cozinha e seu nariz enrugou quando viu uma pilha de pratos sujos — prato.
— terminou de dizer, depois se moveu. Foi até a copa, em direção a
despensa e voltou — Sr. de Beauvoir, — começou, balançando a cabeça
impacientemente — mal há comida suficiente nesta casa para alimentar um
rato. Na verdade, — acrescentou, agachando-se para inspecionar algo no
chão — acho que o senhor está alimentando os ratos. O senhor precisa de
uma governanta, e um gato. Imediatamente.
— O que eu preciso é ser deixado em paz por mulheres mexeriqueiras.
— murmurou, cruzando os braços e parecendo amotinado.
A Srta. Butler riu, procurado por uma taça, virando-a para um lado e
para o outro, antes de considerá-la limpa o suficiente e colocá-la sobre a
mesa. Pratos, facas e garfos foram devidamente postos para dois.
— Sim, eu não duvido. — disse — Mas sua vida e seu trabalho seriam
mais fáceis se sua casa estivesse devidamente organizada. Basta pensar
como seria bom encontrar uma refeição quente o aguardando, quando o
senhor terminar o trabalho, em vez de ter que ir à caça e encontrar nada
além de pão velho e queijo mofado.
Ela estremeceu, delicadamente, de repulsa.
— Eu me viro perfeitamente bem.
Neste momento, seu estômago fez um protesto alto e volúvel, e a Srta.
Butler bufou. Inigo também bufou, mas não podia negar que a torta que ela
trouxera parecia deliciosa. Ela cortou uma fatia grande e a colocou em seu
prato, com uma variedade de outros itens, de aparência deliciosa, e o
colocou diante dele.
— Coma. — disse ela alegremente, antes de se servir.
Eles comeram em silêncio por um tempo e Inigo sentiu seu estômago
clamoroso relaxar. A comida estava maravilhosa. À medida que sua fome
diminuiu, no entanto, sua atenção, mais uma vez, voltou-se para a jovem
sentada ao seu lado, na inclinação delicada de seu nariz e seu pescoço
elegante, nos lábios suaves e rosados, dos quais ele apenas experimentara o
gosto mais raro e, no entanto, nunca estava longe de seus pensamentos.
Ela se virou para olhá-lo e ele, rapidamente, redirecionou o olhar para a
comida.
— Eu não sei como o senhor consegue trabalhar de barriga vazia. —
disse, cortando outra fatia de torta e colocando-a em seu prato — Eu fico
intolerável quando estou com fome. Fico mal-humorada e irritante. —
declarou balançando a cabeça — Eu não posso tolerar isso.
Inigo fez um som divertido e ela olhou para ele.
— O que?
Ele hesitou antes de responder — Não consigo imaginá-la de mau
humor. Deve ser como assistir uma gatinha fazendo birra. — acrescentou,
os lábios se curvando para cima.
Ela deu uma fungada enojada — Espere e verá. — disse, sombriamente,
colocando pão e queijo em um prato lateral para ele — Frustre-me e o
senhor descobrirá que essa gatinha tem garras.
— Isso não parece ser algo tão ruim. — ele murmurou, olhando para
ela.
A Srta. Butler corou, reconhecendo o tom de sua voz e Inigo sabia que
deveria se comportar, mas… droga, ela veio até a casa dele e sabia muito
bem o que estava fazendo. Ela se ofereceu para deixar que a beijasse, não
foi?
— Termine seu almoço. — disse ela, colocando o prato menor na altura
de seu cotovelo e levantando o queixo — Ainda tem bolo e frutas.
Inigo fez o que lhe foi dito, comendo tudo o que ela colocava na frente
dele e apreciando o excelente vinho, que sem dúvida, roubara do duque. Ela
tagarelou enquanto ele comia, não parecendo precisar de qualquer ajuda
dele com a conversa e foi estranhamente relaxante.
Era muito incomum ter companhia, muito menos companhia como a
Srta. Butler, e estava sendo revitalizante e surpreendentemente fácil. Havia
algo de doméstico e caseiro naquilo, os dois compartilhando uma refeição
juntos, no calor da cozinha. Apesar dos armários vazios e da possibilidade
distinta de invasores peludos, era aconchegante e íntimo.
A Srta. Butler sorriu, enquanto ele pegava uma segunda fatia de bolo,
apesar de se sentir prestes a estourar, mas ela estava tão satisfeita, toda vez
que ele aceitava sua hospitalidade, que achava difícil negá-la. Os sorrisos,
que ela deu com tanta facilidade, pareciam iluminar o ambiente e faziam
tudo parecer muito mais alegre. Inigo gemeu por dentro, nauseado pelo
pensamento. Ela estava transformando-o em um otário. Bem, era hora de
fazer algo sobre isso.
Ele a observou enquanto guardava a comida, colocando-a na despensa,
extraindo uma promessa dele de que a comeria. Uma vez que tudo estava
arrumado, ela se virou para ele e seu sorriso tremeu, a cor subindo até suas
bochechas, quando notou seu olhar. Inigo moveu a cadeira, deixando-a de
lado para a mesa, e permitiu que um sorriso se curvasse sobre sua boca,
com a rápida subida e descida de seu peito.
— Arrependida, Srta. Butler?
— De jeito nenhum, Sr. de Beauvoir. — disse, levantando o queixo, no
que ele suspeitava que se tornaria um gesto familiar — Eu estou apenas um
pouco… um pouco nervosa. Tenho certeza de que isso é esperado.
Ele riu — Última chance, Srta. Butler. Saia agora, enquanto a senhorita
ainda tem sua reputação e todo o resto, intacto.
Ela olhou para ele por um longo momento e Inigo esteve ciente de seu
coração, de uma maneira que nunca tinha estado, antes dela entrar em sua
vida. Estava batendo tão forte, que reverberou através de seu corpo e se
perguntou se, talvez, ela pudesse ouvir também.
— Não.
Graças a Deus. Graças a Deus. Por Deus, ele estava em apuros.
Inigo observou, ciente de seu próprio batimento cardíaco, da aceleração
de sua respiração e do farfalhar das saias dela, enquanto se aproximava
dele.
— Aqui? — ela perguntou com a voz um pouco mais alta do que o
normal.
Ela parecia sem fôlego, e suas bochechas brilhavam enrubescidas. Pelo
menos ele não era o único ansioso, por conta daquele arranjo ridículo.
— Aqui. — respondeu, a palavra quase não saindo e depois olhou para
ela, desafiando-a a cumprir sua promessa.
Ele ainda não acreditava que ela ficaria. Observando-a agora, ela
parecia estar prestes a fugir, o que, provavelmente, era o melhor. Ela
levantou uma mão trêmula para colocar um cacho loiro atrás da orelha, e o
desejo o perfurou. Era um gesto tão íntimo e ele imaginou vê-la em sua
cama, com o cabelo desfeito, colocando uma mecha de cachos atrás da
orelha dela, assim.
Oh, por favor, por favor!
Sim. Ela fugiria, ele estava certo disso. Ela queria amor, ele queria sexo,
mais cedo ou mais tarde reconheceria a diferença. Não era tão sortudo, nem
uma perspectiva, atraente o suficiente, para ela se jogar sobre ele, não
quando podia ter alguém que quisesse se casar na barganha. Uma mulher
como ela poderia conseguir o homem que quisesse, apenas com um erguer
do dedo. Ele sentiu a indignação queimar quando se lembrou de que havia
dito que nunca faria isso, nunca cairia aos pés dela, como os poderosos
caíam. Ele estava tão desesperado para tocá-la, que implorar parecia não
apenas provável, mas inevitável. Saia, rezou, esperando manter sua
dignidade intacta. Fique, implorou, ansioso para colocar as mãos nela. No
entanto, era apenas desejo, uma resposta masculina normal a uma mulher
atraente. Se ela quisesse se arruinar, por que ele se importaria? Por que se
preocuparia com a reputação dela? Ele queria beijá-la, colocar as mãos nela
e fazer muito mais do que ela, provavelmente, tivesse a menor ideia de que
era possível. Observou, intensamente, enquanto ela mordia os lábios, ainda
hesitando. Ela hesitaria a qualquer momento e correria para a porta e…
Sua respiração prendeu quando ela se moveu e sentou-se sobre seu colo,
com um farfalhar feminino de tecido caro. O aroma de baunilha e jasmim
provocou seus sentidos, dissipando o que restava de sua sanidade.
— Pronto. — disse, olhando-o desafiadoramente, e Inigo estava
atordoado demais para apreciar.
Ela se contorceu um pouco, movendo seu traseiro, até ficar confortável,
enviando choques de desejo, como choques elétricos, por todo o seu corpo.
Ele reprimiu um gemido, ficando, instantaneamente, duro e dolorido,
quando o desejo de fazer coisas indescritíveis o queimou, como se ela
tivesse acendido um fósforo na pólvora. Oh. Ótimo. Meu Deus.
— Como devemos fazer isso? — ela perguntou, fazendo-o se perguntar
o quão inocente ela era. Antes que ele pudesse formar uma resposta,
acrescentou: — Quero dizer, devemos usar uma escala, como de um a dez?
— O que? — soltou com a voz rouca.
Ele parecia atordoado, até mesmo para seu próprio ouvido, embora não
fosse surpreendente. Ele não conseguia pensar em nada além do fato de que
ela estava sentada em seu colo, que seu traseiro exuberante estava muito
perto de seu membro excitado e, no entanto, a um milhão de quilômetros de
distância. Ele só precisa deslocá-la um pouco, para poder pressionar seu
membro dolorido contra sua suavidade e encontrar alguma medida de
alívio. Seu perfume sutil se enrolou em torno dele, invadindo seus sentidos:
doce e tentador, quente e inteiramente feminino.
— Bem, em uma escala de um a dez, — começou, sua expressão séria
— quanto o senhor me ama?
— Eu não a amo — ele respondeu, imediatamente, desejando que seu
coração diminuísse, enquanto ele estava se sentindo tão atordoado.
Ela suspirou e deu de ombros — Bem, não custava tentar. Por meus
próprios sentimentos, hmmm, deixe-me ver… Vou dar-lhe um cinco.
— Um cinco? — repetiu surpreso e um pouco sentido.
A maldita mulher o perseguia há semanas e ele só merecia um cinco?
Ele prendeu a respiração, enquanto ela tocava seu rosto com os dedos
delicados percorrendo sua bochecha e fazendo arrepios correrem sobre sua
pele — Não fique zangado. Não tenho a menor dúvida de que estarei
apaixonada pelo senhor e será dez em breve, mas não posso dizer que o
amo, até o conhecer melhor. O senhor pode ter algum hábito terrível, que
me fará mudar de ideia.
Como ele era absurdo. Não queria que ela o amasse, mas suas palavras
o perturbaram e o deixaram ansioso — Como a senhorita é razoável, Srta.
Butler.
Ela sorriu para ele, os cantos de sua linda boca se contorcendo em algo
que parecia um pouco presunçoso — O senhor está zangado.
Inigo bufou impaciente — Não, não estou. A senhorita não me ama,
Srta. Butler, nem mesmo um lamentável cinco. A senhorita não me conhece
mesmo.
— Hmmm, eu acho que conheço sim. — murmurou, e sua voz era como
uma carícia, fazendo o desejo subir pelo sangue dele. Foi a coisa mais
difícil não colocar as mãos nela e acabar com essa bobagem ridícula. Ele
agarrou os lados da cadeira com as juntas brancas, apenas para ter certeza
— De qualquer forma, seguindo em frente, se usarmos o mesmo método,
em uma escala de um a dez, quanto o senhor me deseja?
Ela se virou para encará-lo, e foi demais. Os olhos dele caíram em sua
boca e não aguentou mais.
— Dez. — resmungou e a puxou para ele, uma mão deslizando por
entre seus cabelos sedosos e quentes, puxando sua cabeça para baixo e
pressionando os lábios contra os dela.
Não houve a menor resistência, apenas um suspiro ofegante. Deus, ela
era doce, tão macia, suas curvas exuberantes dispostas e flexíveis em seus
braços. Linda e ansiosa também, era uma combinação inebriante. Embora
seu corpo estivesse duro e desesperado, ele descobriu que não queria se
apressar. Seria um sacrilégio, como engolir um bom vinho, em vez de
apreciar o sabor. Então ele demorou, roçando os lábios dela, provocando a
linha da sua boca com a língua e experimentando um choque de pura
luxúria, enquanto ela tentava o mesmo, usando sua própria língua.
Inigo gemeu, puxando-a para mais perto, até que seu corpo pressionou
com força contra ele. Ela era quente e feminina. Dele. O pensamento
atravessou sua mente e ele o afastou. Bobagem. Isso era ridículo. Ela
pertencia a si mesma. Não havia como uma pessoa possuir outra. Era
moralmente errado, antinatural, como o casamento. Era um retrocesso viver
em cavernas e arrastar sua esposa pelos cabelos. No entanto, quando o
beijou e sua boca se firmou contra a dele, mais segura quando aprendeu o
que fazer, ele experimentou aquele calor possessivo queimando dentro dele
queria aquilo. Queria tanto, que sentiu se desenrolando, as bordas de sua
mente se desfazendo e ameaçando retribuição, se ele não a tornasse sua.
Queria saber se ele era o único, que ela era a única. A mão, que ele colocou
na cintura minúscula dela, subiu, até que seu polegar estivesse perto o
suficiente para acariciar a parte de baixo de seu seio. A respiração dela
prendeu em um suspiro, com o toque dele e Inigo aprofundou o beijo, a
mão emaranhando em seu cabelo, inclinando a cabeça para que ele pudesse
tomar mais e mais e ela nem sequer protestou.
Em transe, ele percebeu que ela havia deslizado os braços em volta de
seu pescoço, foi a vez dele ofegar, quando uma mão puxou sua gravata. Ela
a deixou de lado, e Inigo tremeu de prazer, quando seus dedos finos se
insinuaram sob sua camisa, seus dedos seguindo padrões provocadores em
sua pele. Ele observou, enquanto ela se afastava, os olhos escuros de desejo,
os lábios inchados e vermelhos de seus beijos. Ela era tão bonita, tão
excitante, vibrante e viva, queria levá-la para a cama e mostrar a ela
exatamente onde isso estava levando.
— Bem. — disse, soando bastante instável — I-isso parece um bom
começo, mas eu… eu acho que, talvez, devêssemos parar por aqui.
Não. A palavra estava em seus lábios, mas ele não falou. Isso era
loucura. Isso acabaria em desastre. Seu corpo doía, a dor do desejo
insatisfeito o deixava frágil e irracional. Uma súbita onda de raiva queimou-
o, quando ele percebeu que nunca lhe seria permitido isso. Não de verdade.
Por que ela veio aqui para atormentá-lo? Ela o estava provocando desde o
início, acreditando que só precisaria piscar que ele cairia de joelhos, em
gratidão por ser notado. Foi tomado por um medo, enquanto se perguntava
o quão perto ela estava da verdade. Tirar as mãos dela era como tentar
separar ímãs opostos, as duas forças lutando para permanecer unidas.
Ele a observou, em silêncio, enquanto se levantava, alisando as saias e
habilmente reorganizando o cabelo. Isso o irritou, vendo-a voltar ao normal,
enquanto ele estava sendo arrastado por um furacão e deixado em uma
desordem desconcertante.
— Suponho que seja melhor eu ir embora. — disse ela, virando-se para
sorrir para ele e parecendo um pouco incerta.
— Sim, agora que a senhorita conseguiu o que veio buscar. — zombou,
desejando não estar tão zangado.
Ele cruzou os braços, lutando para parecer indiferente. Deixe-a ir, por
que ele se importava? Ela riria com as amigas, sobre o quão ousada tinha
sido, sem dúvida, e ele nunca mais a veria. Bom, assim é ainda melhor.
Olhou para ela, apesar de suas melhores intenções, e viu que sua
expressão havia suavizado.
— Sinto muito. — disse ela, voltando-se para ele. — Não quero ir, eu
juro. Seria muito melhor ficar com o senhor, mas…, mas sentirão a minha
falta, e, provavelmente, não é sábio. Posso voltar novamente, se… se eu
puder?
Ela estendeu a mão hesitante e a colocou sobre a bochecha dele. Antes
que Inigo pudesse pensar melhor, pudesse, de fato, pensar em alguma coisa,
ele se virou para a mão, como um gato, procurando uma carícia.
Se ele tivesse algum juízo, a advertiria a fugir enquanto ainda pudesse e
nunca mais voltar, pois aquilo só poderia ir em uma direção e ele não
impediria que isso acontecesse. Fechou os olhos, determinado a parecer
despreocupado, embora contasse os minutos, até que ela voltasse.
— Faça o que quiser, Srta. Butler. — disse — Acho que ambos sabemos
onde isso vai acabar. Deixei clara a minha opinião sobre o amor e o
casamento. Eu não acredito em nenhum dos dois, eu não tenho espaço na
minha vida para nenhum dos dois. Se a senhorita encontrar prazer comigo,
no entanto, estou mais do que disposto a continuar.
Ela baixou a mão, algo em seus olhos que parecia, notavelmente, com
pena.
— Até mais, Inigo. — sussurrou, e se inclinou para beijar sua
bochecha.
Foi apenas alguns segundos depois que percebeu que não a tinha
acompanhado até a porta, e que ela havia usado seu nome de batismo.
5
Querida Matilda,
Espero que você e as Senhoritas Peculiares estejam bem.
Tive uma visita muito bem-vinda de Bonnie, semana passada,
com seu novo marido. Como eles são cansativos! A ton deve
estar tremendo em suas sapatilhas de cetim, se perguntando o
que aquelas criaturas terríveis farão a seguir. Era adorável
ver os dois tão felizes.
Eu, por minha vez, sinto que estou pronta para ficar de
resguardo. Já faz quase seis meses e eu estou do tamanho de
um elefante. Estou sempre com fome e cochilo mais do que a
gata que Nate adotou recentemente. Ela pariu seis filhotes
esta manhã e está terrivelmente presunçosa. Não que eu
possa culpá-la. Escreva e me diga o que todo mundo está
fazendo. A vida é bastante idílica, mas ainda sinto falta de
todas vocês e desejo notícias de todas as suas aventuras.
Como Minerva se saiu com o desafio dela, e quando você
vai pegar o seu?
—Trecho de uma carta da Sra. Alice Hunt para a Srta.
Matilda Hunt.

30 de dezembro de 1814. Beverwyck, Londres.


— E então?
Minerva corou ao encontrar Helena à espera dela, quando voltou para
Beverwyck. Estava basicamente dando pulos, o lindo vestido castanho-
avermelhado que usava pegando o que restava da luz cinza de dezembro,
enquanto se movia.
— Silêncio! — disse Minerva, olhando para ela, enquanto entregava seu
chapéu e casaco a um lacaio. Helena a agarrou pela mão e a arrastou escada
acima, não parando até que estivessem na privacidade de seu quarto, onde
bateu a porta e saltou para a cama, com um grito nada feminino.
– Conte-me tudo! — ordenou — Não acredito que você completou seu
desafio e não é a coisa mais escandalosa que você fez hoje! Conte-me. Não
deixe de fora um único detalhe.
Minerva mordeu o lábio e depois riu, cobrindo a boca com a mão.
— Oh, Helena. — disse ela, olhando para a amiga sem saber por onde
começar — Minha nossa.
— Meu Deus, você conseguiu. — disse Helena, os olhos arregalados,
com uma mistura de indignação e admiração — Você o beijou.
Minerva assentiu, embora dizer que o beijou dificilmente parecesse uma
descrição adequada. Era como dizer que o sol estava bastante quente,
quando confrontado com a bola de fogo da chama.
— Beijei.
— E como foi?
Minerva soltou um suspiro trêmulo e sentou-se ao lado da amiga, na
cama. Caiu sobre as almofadas, com um suspiro — Foi…
— Sim? — Helena exigiu, impacientemente, quando a resposta não
vinha.
Ela riu, balançando a cabeça — Bem, posso entender, agora, como uma
mulher pode facilmente perder sua virtude. Oh, meu Deus, Helena.
Helena estava deitada de lado, a cabeça apoiada na mão, olhando para
Minerva, com olhos verdes perturbados — Isso é perigoso, Min, sabe disso,
não sabe?
— Eu sei. — disse ela, encontrando o olhar de Helena — Se eu tivesse
alguma dúvida sobre esse fato, hoje, baniria quaisquer equívocos, eu
garanto. Eu não queria ir embora. Não consigo pensar em nada além de vê-
lo novamente.
— E ele? — Helena perguntou — O que ele disse?
Minerva sorriu, lembrando-se de sua indignação, por receber um cinco
em vez de dez, da maneira zombeteira que falou quando ela terminou o
beijo e como fechou os olhos e se virou na mão dela, quando acariciou sua
bochecha. Ele pode não acreditar no amor, mas precisava dele, mais do que
qualquer pessoa que já conhecera antes.
— Ele acha que sou louca. — disse ela alegremente.
Helena bufou — Não tenho certeza se posso discordar disso. Você está
arriscando a ruína por um filósofo naturalista sem um tostão, que não é nem
ao menos um cavalheiro. Sua mãe nunca permitirá que se case com ele,
mesmo supondo que você possa persuadi-lo ao altar. Presumindo que é isso
que você quer. — Helena olhou para ela, estreitando o olhar — É isso que
você quer?
Minerva ponderou sobre a pergunta. — Eu não sei. O Sr. de Beauvoir
não acredita em amor ou casamento. Ele acredita que homens e mulheres
são iguais e devem ter seu prazer como e quando quiserem.
— Céus! — disse Helena em alarme, uma mão esguia pressionada em
seu coração — Ele é um radical.
— Não, eu acho que não. — respondeu — Ou, pelo menos, é uma
revolução muito pessoal. Não acredito que ele tenha o menor interesse em
política. Seu trabalho é sua paixão.
Não era a única paixão dele, pensou, sorrindo, enquanto se lembrava da
sensação de sua boca na dela, da urgência de seus beijos. Ele a queria. Ele a
queria muito. Ela podia não saber muito sobre homens ou paixão, mas não
era tola. Se ele não fosse um cavalheiro, as coisas poderiam ter ido mais
longe do que tinham ido.
— Não tenho certeza se devo ajudá-la novamente.
Minerva endureceu com as palavras de Helena, vendo a preocupação
nos olhos da amiga — Oh, Helena, me prometeu!
Helena sentou-se, as saias ricas de seu vestido farfalhando enquanto se
movia. Ela estava estranhamente séria, arranhando o contra painel da cama,
com mãos nervosas — Eu sei que sim, mas estou com medo, Min. E se
você for descoberta? E se ele a arruinar e não se casar?
Minerva ponderou sobre aquilo. Sabia que era um risco muito real, mas
também sabia que não mudava nada. Queria vê-lo. O desejo de estar perto
dele era muito pior agora. Antes havia sido uma dor melancólica, mas
agora… agora precisava vê-lo ou sentia que poderia enlouquecer. Ela não
podia considerar esquecê-lo, fingindo que nunca tinha acontecido, o
pensamento de nunca mais estar em seus braços novamente, de nunca mais
beijá-lo, fez o pânico subir em seu peito.
— Vou voltar para ele, Helena. Seja com a sua ajuda, ou não. — disse,
dando um encolher de ombros apologético — Sinto muito, mas devo.
Helena expirou, cruzando os braços sobre o peito — De alguma forma,
eu sabia que você diria isso. — murmurou, obviamente frustrada.
— Perdoe-me.
Helena riu, um som um pouco desesperado, enquanto balançava a
cabeça — Estou me perguntando se devo me afastar do Sr. Knight. Se este é
o estado em que vou acabar, é melhor evitá-lo.
Minerva sorriu e caiu de volta nos travesseiros — Vou lembrá-la disso,
depois da primeira vez que ele a beijar. — Hmmf! O mundo ficou branco e
embaçado, quando Helena a atingiu com um travesseiro — Ah, você vai
pagar por isso. — disse ela, pegando sua própria arma e acertando a cabeça
de Helena com ela.
O elegante penteado de Helena caiu para um lado e Minerva deu uma
gargalhada, até que Helena retaliou. Um momento depois, elas estavam
gritando, e o ar estava cheio de penas.
— O que diabos está acontecendo lá dentro?
Helena cobriu a boca com a mão, quando ouviu a voz do irmão, do
outro lado da porta.
— Nada. — respondeu Helena, sua voz trêmula.
A porta abriu uma fresta e Robert espiou — Vocês não estão um pouco
velhas para brigas de travesseiros? — perguntou, sua expressão suave.
Helena mostrou a língua para ele. Robert respirou fundo.
— Impetuosas. — comentou tristemente, balançando a cabeça — Estou
cercado por impetuosas.
— Bem, se casou com uma, Vossa Graça. — Helena revidou.
O duque sorriu para elas.
— Sim, isso eu fiz. — disse ele — Prossigam.
As duas observaram quando a porta se fechou e depois desabaram na
cama, se atacando.

7 de janeiro de 1815. Livraria Hatchard, Piccadilly, Londres.


Jemima olhou para as fileiras de livros à sua frente e desejou poder se
concentrar em qualquer coisa, exceto no fato de que ela estava muito
quente, extremamente nervosa e um pouco enjoada. Desistiu de tentar ler os
títulos e se concentrou em contá-los. Talvez se ela fizesse isso, se
acalmasse, talvez acordasse e descobrisse que tudo aquilo era um sonho
terrível. Que sua tia não estava morta, que ela não estava sem um tostão,
não estava tão desesperada, a ponto de concordar em encontrar um homem
aqui; um homem que ela não conhecia, um homem que…
— Senhorita Fernside?
Jemima estremeceu alarmada e cambaleou para trás em choque,
tropeçando no braço de um homem idoso. O livro que ele segurava caiu e
ela observou, impotente, entorpecida de vergonha, até que uma mão
enluvada pegou o livro, antes que ele pudesse acertar o chão.
— Peço perdão, senhor. — o homem diante dela disse ao cliente
descontente — A culpa é toda minha.
O velho bufou, mas pegou o livro e se afastou, olhando um pouco para
Jemima enquanto se afastava.
— Oh, minha nossa, sinto muito. — disse Jemima, com as bochechas
ardendo. Estava superaquecida para começar; agora se sentia pronta para
botar fogo no seu chapéu — Normalmente não sou tão desajeitada.
— Bobagem. Eu a assustei, bastante compreensível.
Jemima olhou para o homem diante dela, surpresa com as palavras
vivas e imperturbáveis. Ele era alto e largo, tinha os cabelos castanhos,
embora o marrom não parecesse descrever adequadamente os tons que
variavam de ouro a mogno. Seus olhos eram mais escuros do que a sombra
mais escura e bastante intensos e a examinavam com uma leve carranca
unindo suas sobrancelhas.
— É a Srta. Fernside?
Jemima assentiu.
— Certo. — disse ele, acenando em troca. Bateu a bengala que segurava
no chão, embora, por impaciência ou incerteza, ela não sabia dizer. Ele
olhou ao redor da livraria, que estava misericordiosamente vazia, exceto
pelo senhor a quem Jemima quase havia ofendido. Típico, apenas uma outra
pessoa no maldito lugar, e ela conseguiu esbarrar nela.
— A senhorita escolheu um livro? — ele perguntou, franzindo a testa,
suspeitosamente, para suas mãos vazias.
Jemima balançou a cabeça, incapaz de formar palavras, embora
soubesse que deveria parecer uma completa tola. No entanto, tudo o que ela
podia fazer era olhar para ele e pensar que iria para a cama com esse
homem. A vontade de rir, histericamente, era tão forte, que não podia fazer
nada além de fechar a boca. Pelo menos ele era bem apessoado. Ora, dane-
se, ele era muito bonito. Parecia ter sido esculpido em granito. Sabia que ele
era um soldado, mas ela não estava preparada para a força de sua presença,
o óbvio porte militar. Não havia nada de suave nele, cada centímetro dele
era rígido, em ângulos intransigentes.
— A senhorita irá escolher? — ele pressionou, e havia um toque de
impaciência dessa vez.
Jemima vasculhou o cérebro, tentando se lembrar da pergunta. Oh, um
livro. Estava comprando um livro? Balançou a cabeça novamente, ciente de
que estava à beira do pânico e fez o possível para parar de respirar, como se
estivesse acabado de correr uma ladeira. Ele a olhou, interrogativamente,
seus olhos se estreitaram com suspeita.
— Eu pensei que o Sr. Briggs tinha acertado tudo com a senhorita. Se
está tendo dúvidas…
— Não! — Jemima exclamou, forçando a palavra e balançando a
cabeça, para garantir que ele entendesse claramente sua resposta — Não,
Lorde Rothborn. Eu não mudei de ideia.
Ele assentiu, ainda franzindo um pouco a testa.
— Bom. — disse ele, como se tivessem descoberto que faria sol
naquela tarde, e não como se ela tivesse concordado em ser sua amante —
Isso é bom. — disse ele novamente, sua voz dominante muito alta, na
livraria silenciosa.
Jemima engoliu uma bolha de risadas histéricas.
Toc, toc, toc, era a bengala no chão.
Silêncio.
Jemima desejou que o homem dissesse algo, qualquer coisa, pois
parecia ter usado toda a sua fonte de palavras. Aparentemente, elas estavam
sendo racionadas naquele dia.
— Bem, eu… er… gostaria de dar uma volta, a tarde está agradável,
embora fria. A senhorita…?
Ele olhou por cima de sua peliça e botas, com atenção demais, e um
pouco desconfiado.
— Estou bastante aquecida, obrigada. — disse, pensando que era um
eufemismo notável, enquanto se sentia pronta para entrar em combustão,
com uma combinação de mortificação e desconforto — Ficaria grata por
um pouco de ar fresco.
— Certo. Ótimo.
Ele estendeu o braço para ela e Jemima hesitou em provocar outra
carranca.
— Eu encontrei a mulher para a senhorita, a er… acompanhante?
Jemima reprimiu um comentário azedo e apenas assentiu — Ela está
esperando ali. — disse, apontando para próximo da porta.
Sua acompanhante, a Sra. Attwood, não era nada disso. Uma mulher de
uma certa idade, que havia sido empregada pelo barão, para dar a Jemima a
aparência externa de respeitabilidade, embora soubesse, exatamente, o que
Jemima estava fazendo. Elas se conheceram, se viram, pela primeira vez,
naquele mesmo dia, cedo e foi o momento mais doloroso da vida de
Jemima. Bem, desde o dia em que ela concordou com esse acordo
vergonhoso com o Sr. Briggs, o advogado que trabalhava em nome do
barão.
Até agora.
— Excelente. — deu-lhe um olhar que parecia esperar ação e então ela
se forçou a estender a mão e colocá-la sobre sua manga. O barão a
acompanhou até a porta, e ela percebeu que o andar dele era um pouco
irregular, quando atravessaram a loja. Então a bengala não era meramente
para se mostrar.
A Sra. Attwood correu para frente e fez uma reverência ao barão, antes
de segui-los, enquanto deixavam a livraria. O ar estava, abençoadamente,
frio, e Jemima respirou fundo, saboreando o frio contra sua pele
superaquecida.
Eles caminharam, sem pressa, em direção ao Green Park e Jemima
perguntou-se se ele havia diminuído a velocidade para acompanhá-la ou se
alguma lesão que sofrera na perna o incomodava. O Sr. Briggs mencionou
uma guerra. Ela presumiu que isso era uma ferida de guerra, mas não estava
prestes a perguntar, pois ainda o conhecia pouco, embora supusesse que o
conheceria intimamente em breve. Empurrando esse pensamento enervante
para o lado, olhou para ele, para a linha intransigente de sua mandíbula e o
corte quadrado de seu queixo. Havia uma ponta dura e implacável nele que
era extremamente assustadora.
Oh, Jemima, o que você fez?
O dia estava claro, o céu, um azul vívido, acima e manchas de geada
ainda visíveis, nos lugares que o sol ainda não havia tocado. Um vento frio
soprou, levantando os cachos que emolduravam seu rosto sob o chapéu e
Jemima estremeceu.
— A senhorita está com frio, Srta. Fernside. Esse casaco não é quente o
suficiente para um tempo tão frio.
As palavras foram faladas brutamente e Jemima pulou assustada. Ela
não tinha nenhum problema em imaginar esse homem gritando ordens,
enquanto os soldados saltavam para obedecê-lo.
— Estou bem, milorde. O vento está um pouco frio, só isso. O casaco é
bastante confortável, eu lhe asseguro.
— Hmmm. — olhou com fogo nos olhos para ela, parecendo nada
convencido.
Caminharam em silêncio, até chegarem ao grande lago ornamental. Em
um tempo bom, havia uma bela fonte, mas hoje a água estava imóvel,
brilhando sob o céu azul. Jemima se perguntou se eles iriam apenas
caminhar em círculo e depois ele a deixaria em casa, em Hatchard, sem
dizer mais uma palavra. Era para ser uma reunião inicial, para quebrar o
gelo e ver se combinavam um com o outro. E se ele não gostasse dela? A
ideia fez o pânico subir em seu peito. Imagens de albergues pularam na sua
mente, e ela reprimiu um arrepio, para que ele não sentisse a necessidade de
repreendê-la por estar com frio, novamente. Lutando para encontrar uma
pequena migalha de coragem, se fez falar com ele.
— Eu entendo que o priorado Mitcham, em Sussex, é sua casa, milorde.
— É sim — ele respondeu, virando-se para olhar para ela — A
senhorita conhece?
— Ah, não, mas minhas amigas visitaram, enquanto estavam com Lorde
St. Clair, durante o verão. Ouvi dizer que é muito bonita.
— Eu lembro. Eu não estava lá. Acredito que minha governanta lhes
guiou em uma visita. A senhorita conhece St. Clair? — ele perguntou,
franzindo a testa.
Jemima balançou a cabeça — Não posso reivindicá-lo como um
conhecido, não. Embora ele tenha se casado, recentemente, com uma amiga
minha, então eu espero…
Ela parou, quando percebeu que havia pouca probabilidade de o conde
querer fazer amizade com ela, ou de querer que sua esposa a conhecesse,
uma vez que esse acordo se tornasse público. Havia apenas um tempo em
que um segredo desse tipo poderia ser mantido.
— A senhoria espera? — ele pressionou.
— Então, espero ouvir muito dele. — terminou, sorrindo, o mais
convincente que pôde. A expressão parecia rígida e antinatural em suas
bochechas geladas — Minhas amigas acharam o priorado um lugar
maravilhoso, no entanto. Encantador e romântico, acredito que elas
disseram.
Ele riu disso — Está mais para frio e sujo, e perversamente caro de se
manter.
Jemima suspirou interiormente e tentou novamente.
— É muito velho?
— Século XIII.
— Bom Deus! Existem fantasmas? — ela exclamou, muito surpresa
com o quão antiga a casa era, para não falar besteira.
— Eu não acredito em fantasmas.
Claro que não.
— Suponho que não. — disse Jemima, seu tom triste — Imagino que
haja histórias, no entanto, em um lugar tão antigo.
Ele suspirou e pareceu estar se resignando ao inevitável — Deveria
haver oito fantasmas ao todo.
— Oito! — ela gritou, inconscientemente apertando o braço dele com
mais força.
Suas sobrancelhas escuras se uniram e ele cobriu a mão dela com a dele
— Minha bela jovem. Não existem fantasmas, pelo menos não do tipo que
chacoalham correntes e choram. Vivi lá toda a minha vida e nunca vi
nenhum.
— Mas outros sim. — insistiu — Como o senhor pode descartar a ideia,
se as pessoas veem a mesma coisa que as outras? Elas viram, não viram?
Ele soltou um suspiro trêmulo — Histeria. A história se espalha, e os
mais medrosos podem se convencer de qualquer coisa.
— Oh, não. Como o senhor não é nada romântico. — disse ela com um
suspiro desanimado.
Ele parou, virando-se para dar a ela um olhar severo — Senhorita
Fernside. Espero que o Sr. Briggs não lhe tenha dado nenhuma…
expectativa irrealista do que estou procurando em nosso acordo.
Jemima sentiu o rubor escaldar suas bochechas e afastar qualquer
calafrio persistente, que o feroz vento norte lhe dera — Não. Na verdade,
ele não deu.
— Bom. — disse ele, ainda olhando para ela — Estou apenas
procurando alguém para compartilhar uma refeição ocasional, conversar
e… e…
— Sim. — disse Jemima apressadamente, não querendo aprofundar
mais em suas exigências, no momento — O Sr. Briggs explicou tudo, e eu
entendo, lhe garanto. Não tenho nenhuma expectativa romântica, prometo.
Aqueles olhos escuros penetraram nos dela por mais um momento,
antes que ele assentisse e desviasse o olhar. Caminharam novamente e
Jemima olhou por cima do ombro, notando, com alívio, que a Sra. Atwood
havia mantido uma distância discreta.
— A senhorita visitou o chalé?
— Eu visitei. — respondeu Jemima, sorrindo de verdade agora. Era o
único ponto, verdadeiramente, brilhante em tudo aquilo, era perfeito,
charmoso e todo seu, desde que ela mantivesse o acordo entre eles. Ainda
assim, se pudesse lidar com isso, pelos cinco anos completos, ficaria
financeiramente independente — É maravilhoso, obrigada.
— Dificilmente é isso. — disse ele, brusco como sempre — Mas estou
cuidando do trabalho. Deve ficar pronto até o final do mês. Vou
providenciar uma carruagem para pegar suas coisas, e a senhorita, assim
que for possível.
Era a vez de Jemima parar agora, o coração batendo forte, enquanto ela
olhava para ele — O senhor decidiu, então? O senhor acha que nós… que
eu… me adequo ao senhor?
Ele olhou intrigado para ela, como se tivesse dito algo extraordinário.
— Por que não? — ele perguntou — A senhorita é mais do que eu
poderia esperar.
— Oh. — estupidamente, Jemima se sentiu totalmente desarmada com
isso, e um pouco da tensão nela relaxou — Obrigada.
Ele encolheu os ombros — Não tenho ilusões, Srta. Fernside. Sei que
não estaria aqui se não estivesse desesperada. Se eu fosse um homem
melhor, não me aproveitaria desse fato, mas estou muito cansado da minha
própria companhia. Começo a temer que possa enlouquecer, se passar muito
mais tempo sozinho, mas detesto jantares e festas e a interação social que a
maioria das pessoas gostam. Não tenho paciência para as pessoas e
conversa fiada. Receio que a senhorita encontrará pouca alegria em minha
companhia, mas, pelo menos, não terá nada a temer, seja de mim ou de suas
circunstâncias.
— Isso não é pouca coisa, milorde.
— Acredite em mim, eu sei disso. — disse ele com a expressão
sombria. Olhou para ela novamente — A senhorita não precisa ter medo de
mim.
As palavras foram mais suaves desta vez, menos abruptas, e Jemima
acreditou nele.
— Eu sei o que as mulheres querem e temo que não posso mais fornecer
tais… sentimentos calorosos, como a senhorita pode preferir, mas eu nunca
a machucaria, certamente não fisicamente. Sei que meus modos podem ser
abruptos, mas terá que se acostumar com isso.
Jemima sabia que deveria ficar chocada, por falar tão abertamente, mas
ficou estranhamente tocada. À sua maneira, esse homem estava tão
desesperado quanto ela, não financeiramente, mas desesperado por algum
contato humano e incapaz de alcançá-lo da maneira usual.
— Eu irei. — prometeu — E tenho certeza de que lidaremos
admiravelmente bem, juntos.
6

Querida Alice,
Espero que não esteja pensando em presentear seu
marido com seis bebês! A gata pode parecer presunçosa, mas
não recomendo copiá-la. Um embrulhinho roseado de
qualquer sexo será bastante perfeito.
Eu vou continuar a atualizá-la sobre todos os últimos
fuxicos, mas eu gostaria de clarear uma coisa. Em nenhum
momento concordei em aceitar um desafio e não o farei. Foi
minha alegria e privilégio ver todas as Senhoritas Peculiares
passarem por esse rito, apropriadamente peculiar, mas estou
perigosamente perto de um escândalo, para arriscar mais
alguma coisa. Como autonominada mãe coruja l, cuido e
continuarei a cuidar de todas vocês, e a ter prazer vicário em
todas as suas aventuras. Espero que me perdoe por
desapontá-la.
— Trecho de uma carta da Srta. Matilda Hunt para a
Sra. Alice Hunt.

7 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Minerva alisou a mão enluvada sobre o veludo grosso de seu casaco e
respirou fundo, tentando, ao máximo, se acalmar, acalmar seu coração
palpitante e parar de respirar como se tivesse acabado de fugir de monstros.
Passara mais de uma semana desde a sua primeira visita ao Sr. de
Beauvoir - Inigo - e não houve outra oportunidade de visitá-lo. Hoje ela
agarrou uma oportunidade inesperada e tomou o destino em suas próprias
mãos. O único problema é que ele não a esperava.
Ficará tudo bem. Ficará tudo bem.
Ela repetiu as palavras como um mantra, embora não parecessem ajudar
muito. E se ele tiver companhia? Essa ideia a atingiu, tarde demais, quando
a carruagem entrou na sua rua. E se ele estiver com uma mulher? Embora
isso parecesse improvável, a onda de ciúmes que subiu em seu peito a
perturbou tanto, que sua respiração ficou presa. Lá se vai a tentativa de
manter a calma. Bem, ela logo descobriria.
Levantando a cesta pesada, que ela havia enchido de comida para ele, e
garantindo que seu capuz cobrisse toda a sua cabeça, para esconder seus
cachos loiros, olhou furtivamente para cima e para baixo da rua, antes de
descer da carruagem.
— Espere até eu entrar e depois volte para me buscar às quatro horas,
por favor. — instruiu o cocheiro.
Seria muito mais tempo do que da última vez, mas ela não sabia quando
seria capaz de voltar, e pretendia aproveitar ao máximo. Caminhou até a
porta e levantou o batente, batendo uma vez e esperando, sabendo que
estava prendendo a respiração, mas incapaz de se conter.
Um momento depois, a porta foi aberta, e ela estremeceu, um pouco
chocada ao vê-lo, mesmo que estivesse antecipando esse momento a
semana toda. Ele estava usando apenas uma camisa, a barba por fazer, e
olheiras espreitavam sob seus olhos. Aqueles olhos se arregalaram
alarmados ao vê-la.
— Cristo! — ele exclamou, antes de agarrá-la pelo braço e puxá-la para
dentro, batendo a porta atrás dela — A senhoria perdeu suas faculdades?
— É muito bom vê-lo também. — disse, sentindo toda a ansiedade
deslizar, agora que estava com ele.
Isso provavelmente era estranho, já que ele não parecia muito satisfeito,
mas ela não estava disposta a analisá-lo.
Ele passou a mão por seus cabelos, grossos e escuros, que já pareciam
emaranhados e bagunçados, e agora estavam espetados, por todos os lados.
Ele parecia selvagem e desgrenhado e tudo dentro dela se enrolou em um
nó apertado de antecipação.
— Estou trabalhando. — disse ele, cruzando os braços sobre o peito,
com tanta força, que seus olhos foram atraídos para onde as mangas se
esticaram, sobre seus bíceps.
Ele não era tão magro quanto ela imaginava.
— Bem, o senhor ainda precisa comer. — disse ela, dando-lhe um
sorriso animado e levantando a cesta — Além disso, a carruagem não
voltará para me buscar até as quatro, então o senhor está preso a mim.
Ele soltou um gemido e Minerva lhe deu um beijo — Não seja mal-
humorado. — ela persuadiu, olhando para ele por baixo dos cílios — Eu
trouxe frango frio e salada de batata, picles e um pouco de pão e queijo, oh,
e vinho, é claro.
Ele a encarou um pouco, suas sobrancelhas escuras puxadas para baixo
— Bolo? — perguntou, e ela reprimiu um sorriso triunfal, com a nota
esperançosa na pergunta.
— Bem, obviamente eu trouxe bolo. — disse ela, balançando a cabeça
para ele — Por quem o senhor me toma?
Feliz em descobrir que ele tinha uma paixão por doce, Minerva
arquivou a novidade sob informações úteis e foi para a cozinha.
O cômodo estava gelado e em pior estado do que da última vez que ela
esteve ali. Inclinando-se, colocou a cesta sobre a mesa.
— Eu não estava esperando companhia. — disse ele perto da porta, os
braços cruzados novamente, um ar defensivo vibrando dele, enquanto
olhava fixamente para o cômodo escuro.
— Tudo bem. — disse Minerva, nem um pouco surpresa.
Ela sabia que ele não estava acostumado a visitas, a ser cuidado, e era
natural que fosse indelicado, quando não sabia o que fazer. Além do mais,
ela apareceu na porta dele sem, ao menos, ser convidada. Tinha o direito de
estar irritado, embora ela não pudesse deixar de sentir que, por debaixo
daquela explosão, estava satisfeito por ela ter vindo.
— Agora, vá lavar-se enquanto eu preparo o almoço. Volte quando
estiver pronto.
Ele bufou e a deixou sozinha.
Minerva avançou para a copa, onde encontrou o que deve ter sido o
último avental de sua governanta. Provavelmente fugiu gritando e esqueceu
de levá-lo com a pressa. Minerva pendurou a peliça e o chapéu, colocou o
avental, amarrando-o na cintura antes de entrar na cozinha. Acendeu as
lamparinas primeiro e depois o fogo, satisfeita com o quão melhor o lugar
parecia, apenas com uma luz mais forte para iluminar… bem, talvez não as
partes sujas, mas ainda assim. Destemida, ela limpou as superfícies, varreu
o chão, lavou a louça suja e depois colocou a mesa para dois. Com
desgosto, percebeu que sua mãe teria um ataque dos nervos, se a visse
fazendo um trabalho tão servil.
Estava tirando a comida, quando Inigo reapareceu. Ainda estava usando
uma camisa com as mangas arregaçadas, mas seu cabelo estava arrumado e
ele havia se barbeado. Seu coração parecia engraçado e dava uma sensação
peculiar de saltos em seu peito.
— Sincronia perfeita. — disse, puxando uma cadeira para ele.
Ele fez uma careta para ela, olhando ao redor da cozinha — A senhorita
não é minha empregada, Srta. Butler, não havia necessidade…
— Ora, que bobagem. — Minerva revirou os olhos para ele — Eu sei, e
prometo que não vou fazer disso um hábito, mas amigos podem ajudar um
ao outro, quando for necessário, o senhor não acha? Fiquei feliz em fazer
isso, lhe garanto.
— Amigos? — ele repetiu, olhando-a estranhamente.
— Sim, é claro que somos amigos. — sorriu e balançou a cabeça mais
uma vez — Venha e sente-se. Suponho que o senhor não comeu nada o dia
todo, não é mesmo?
Ele franziu a testa e foi até a mesa — Eu comi.
— O que o senhor comeu?
— Pão e geleia. — revidou, tão defensivo que ela quase riu.
Em vez disso, ela estalou a língua para ele.
— Se o senhor está se referindo à pedra que encontrei, esse pão estava
velho, dois dias atrás, além disso, pão e geleia não são suficientes para um
homem da sua estatura passar o dia, e não finja que estava comendo outra
coisa no almoço. Não tem nada aqui. Pão e geleia. —murmurou baixinho
— Essa não é uma boa refeição para um homem adulto. Agora venha e
coma comida de verdade. Como o senhor espera pensar direito quando está
passando fome, está além de mim.
Ele permitiu que ela o guiasse até a cadeira. Minerva o ajudou a encher
o prato e depois sentou-se para comer o seu próprio prato, contente em vê-
lo comendo corretamente. Embora ela fizesse o possível para não olhar,
observou-o secretamente, anotando todos os detalhes para se lembrar mais
tarde, quando ela estivesse sozinha. Ele tinha os cílios extraordinariamente
longos, grossos, pretos e retos, o que a fez sorrir. Ele desenrolou as mangas
e as prendeu, o que era uma pena, pois tinha braços maravilhosos, mas ela
percebeu, agora, que os punhos das mangas estavam desgastados, e seu
coração fez aquele pequeno movimento engraçado em seu peito,
novamente. Porque esse homem lhe trazia todos os instintos maternais, não
sabia, mas ela tinha o desejo mais forte do mundo de protegê-lo, de cuidar
dele e garantir que fosse alimentado, aquecido e descansasse o suficiente.
Apesar de todo o seu exterior espinhoso, parecia, desesperadamente,
necessitado de alguém para cuidar dele, para protegê-lo. O que era ridículo,
refletiu. Ele começou do nada e se tornou um dos homens mais respeitados
da ciência no mundo. Seu sucesso era surpreendente, pelos padrões de
qualquer um, e, ainda assim, sentia que era solitário e infeliz, queria fazer o
melhor para ele. Meu Deus, como ficaria chocado se tivesse a menor ideia
de como ela se sentia.
— Como está indo o seu trabalho? — perguntou, curiosa para saber o
que ele estava estudando — É interessante?
Ele pegou seu vinho e tomou um gole, lançando um olhar para ela
enquanto pousava a taça, como se não tivesse certeza de que ela estava
realmente interessada.
— Perplexo. — disse ele, pegando sua faca e garfo novamente.
— Como?
Ele cortou um pedaço de frango e o espetou com o garfo, mas não o
comeu, apenas ficou sentado, olhando para ele. Minerva esperou,
percebendo que ele estava pensando.
— Normalmente, se você aquecer carbonato de zinco até ficar
vermelho, ele se converterá em óxido, que é branco. — começou, soando
como se ainda estivesse trabalhando no problema enquanto falava — Esta
porção está amarela, quase laranja. Isso sugere que foi contaminado com
chumbo ou ferro, mas não consigo encontrar nenhuma evidência de nenhum
dos dois.
— Que curioso. — disse, feliz por ele estar discutindo seu trabalho com
ela. — Então o que o senhor vai fazer?
— Continuar estudando, até que eu entenda qual é a causa. Estive
analisando o óxido amarelo, para descobrir por que é diferente. Acredito
que encontrei algo novo, um óxido metálico.
— Uma descoberta? — ela exigiu, sorrindo para ele — Que
emocionante.
Ele olhou para ela bruscamente, talvez suspeitando que o estivesse
provocando, mas relaxou, quando percebeu que estava falando sério. Ele
sorriu para ela então, um sorriso genuíno e adequado, que a fez perder o
fôlego.
— É emocionante — admitiu, parecendo, adoravelmente, satisfeito
consigo mesmo — Posso ter descoberto um novo elemento.
— Isso é muito importante. — disse ela, abaixando a faca e o garfo.
Ela não pretendia fingir que tinha algo além de uma compreensão muito
básica de seu trabalho, mas um avanço como esse seria extremamente
importante para o mundo científico. Minerva o olhou com admiração,
bastante impressionada por estar com ele agora, um pouco impressionada
com o quão, assustadoramente, inteligente era.
— Quero dizer… é uma grande descoberta, não é?
Deu-lhe uma expressão desarmante, antes de voltar para o jantar.
— Não se deve contar os ovos ainda, Srta. Butler. Preciso fazer mais
testes antes de ter certeza, mas… sim. — admitiu — Ter descoberto tal
coisa, me daria um lugar na história .
— Oh, Inigo! — incapaz de se conter, ela se levantou e jogou os braços
em volta do pescoço dele, beijando sua bochecha — Estou tão orgulhosa de
você.
Para sua surpresa, ele corou, e ela pensou ter visto prazer em seus olhos,
mas, de repente, eles escureceram e as pupilas se arregalaram. Sua cadeira
recuou com um grunhido, contra o chão de azulejos e suas mãos agarraram
sua cintura, puxando-a para o seu colo. Minerva nem sequer gritou em
protesto, estava muito feliz em obedecer. Ela colocou os braços em volta
dele, enquanto a boca dele procurava a dela, beijando-a com força. Uma
grande mão segurou seu rosto, enquanto a outra deslizava para o lado,
descansando sob seu seio. Uma antecipação excitou-se sob sua pele, uma
mistura de medo e desejo, desejando que ele fosse mais longe, e com medo
de que fosse.
Ele recuou, olhando-a, enquanto ela olhava em seus olhos. Tão perto
assim, ela podia ver o padrão de cores claramente, o verde, uma chama
viva, circulando a pupila, como raios ao redor do sol, contra um fundo cinza
escuro.
— Tem os olhos mais extraordinários. — disse, estendendo a mão para
acariciar sua bochecha, a pele macia, agora que ele havia se barbeado. Ela
sentia muito por isso. Queria tocar os pequenos pelos que pinicavam da
barba dele, para sentir como era a sensação — Foi uma das primeiras coisas
que me impressionaram em você. Eles são lindos.
Ele soltou um suspiro, em algum lugar entre irritação e desespero — A
senhorita não deveria ter vindo, Srta. Butler.
— Minerva. — corrigiu, arrastando os dedos sobre a mandíbula dele,
até a boca — Acho que já passamos dessa formalidade, não acha?
Houve um bufo divertido, mas ele não discordou.
Ela se levantou e retornou ao seu assento, sorrindo, enquanto ele
respirava fundo e voltava sua atenção para a comida.
Assim que terminaram de comer, Minerva colocou as sobras na
despensa, tirou o avental e descobriu que ele havia saído da cozinha.
Contente por ter a chance de ver mais da casa, foi em busca dele.
— Inigo? — chamou, uma vez de volta ao corredor.
— Aqui.
Ela seguiu a direção da voz dele e abriu uma porta, para uma sala
grande e brilhante. Tinha janelas em três lados e um teto alto, e era como
nenhuma outra que já tenha visto antes. Havia uma mesa enorme no meio,
com balanças de vários tamanhos, havia frascos de vidro e livros, dezenas
de instrumentos de latão peculiares, para os quais ela não tinha nome, e
grandes potes de cobre. Em toda a sala, onde quer que houvesse espaço na
parede, ele a abarrotou com prateleiras, cheias de frascos de vidro de todos
os tamanhos, desde o tamanho de um dedo mindinho até outros que ela
duvidava que pudesse levantar. Alguns estavam vazios, outros cheios de
pós ou líquidos, a maioria com rótulos, que ela mal conseguia pronunciar,
muito menos reconhecer. Havia enormes cubas de cobre e frascos de vidro,
de formatos estranhos, pilares e argamassas e cadinhos, e um cheiro
estranho permanecia no ar. Era esfumaçado e adstringente, um pouco
metálico e, presumiu, causado pela combinação de produtos químicos e
quaisquer experimentos em que ele estivesse trabalhando.
Minerva entrou cautelosamente na sala, com medo de esbarrar em
qualquer coisa, por medo de arruinar alguma parte crucial do procedimento.
Ela descobriu Inigo observando-a, como se alguma criatura selvagem
tivesse entrado em seu laboratório e ele não tivesse certeza do que fazer
sobre isso.
— Fascinante. — disse ela, ciente de que ele devia estar vendo a
emoção em seus olhos. Se sentiu corar por isso, com a honra que sabia que
estava sendo estendida a ela, por ele permitir que estivesse aqui, de todos os
lugares.
Ele passou a mão pelo cabelo, deixando-o tão bagunçado quanto quando
chegou e ela sorriu, achando-o mais charmoso do que nunca, quando
estava, assim, desgrenhado.
— Então, é aqui que o grande homem trabalha.
— Hmmm. — disse ele, lançando um olhar para ela, antes de voltar sua
atenção, para colocar uma rolha de volta, em uma garrafa de pó branco.
— Você vai me mostrar o experimento em que está trabalhando?
— Não.
Minerva suspirou — Você acha que eu não vou entender, suponho?
— Não. Acho que a senhorita é insuportável, e quero que vá para casa.
— Eu poderia ajudá-lo, agir como sua assistente. Sou boa em seguir
instruções.
Ele se virou e olhou para ela — Como quando eu lhe disse para ir
embora e me deixar em paz?
— Instruções que eu queira seguir. — ela esclareceu com um sorriso.
— Hmph.
Minerva suspirou, sentindo que não chegaria a lugar algum, hoje. Ela
queria entendê-lo, entender seu trabalho, até mesmo para ajudar, se ele
permitisse. Claramente, ela estava pressionando demais para esperar isso.
— Você sempre trabalha sozinho, não tem assistentes?
— Às vezes. — disse ele, colocando o frasco de volta na prateleira —
Quando eu posso pagá-los.
— Você deveria receber mais pelo seu trabalho. — disse ela, franzindo a
testa. Era errado que este homem brilhante lutasse para fazer face às
despesas, quando estava fazendo descobertas, que ajudariam a moldar a
história da ciência — Você precisa de um patrocinador. Artistas os têm,
então, não vejo por que não deveria. Tenho certeza de que Bedwin estaria
interessado, se você se aproximasse dele.
Ele franziu a testa, virando-se para olhar para ela. — É improvável que
eu tenha outra chance de falar com ele e… — sua testa franziu, um brilho
perturbado em seus olhos — Não. — disse, balançando a cabeça — Eu não
poderia…
— Não, mas eu sim. — disse ela, rindo da expressão chocada dele —
Oh, não pareça tão escandalizado. Eu posso fazer isso, discretamente. Não é
como se eu fosse perguntar abertamente, apenas… colocarei a ideia na
cabeça dele.
Os olhos de Inigo se estreitaram — Começo a temer que a senhorita seja
mais calculista do que eu imaginava.
— Calculista? — Minerva disse, colocando a mão no coração — Moi?
Decerto que não. Essa é uma acusação muito cruel.
— A senhorita nega isso? — ele perguntou, divertido agora,
observando-a, enquanto ela manobrava ao redor da sala, em direção a ele —
A senhorita me enganou, para que eu lhe desse meu cartão, fingindo que
estava com medo de não ser inteligente o suficiente, para entender o livro
que tinha, e depois a senhorita me atormentou até a morte, com perguntas e
flertes, até que fui intimidado a convidá-la para minha palestra, para evitar a
perspectiva de vê-la causar um escândalo terrível.
— Não se esqueça do beijo. — disse, aproximando-se dele, olhando-o
por baixo dos cílios. — Eu o beijei quando estava ferido e incapaz de se
defender.
— Decerto! Beijou. — murmurou, sua voz baixa, íntima — A senhorita
é uma criatura perversa e terrível.
Minerva inclinou a cabeça para um lado — Mas você disse que
mulheres e homens eram iguais, que você não acredita em amor ou
casamento. Por que é terrível da minha parte persegui-lo, se eu o quero? É o
que um homem faria, não é?
Sua respiração ficou presa, seus olhos escurecendo.
— A senhorita, realmente, me quer tanto assim? — perguntou,
parecendo tão perplexo com a ideia, que ela riu um pouco.
— Eu realmente quero.
Ele se moveu em direção a ela e colocou as mãos em sua cintura,
levantando-a e colocando-a na beirada da mesa. Minerva guinchou e olhou
para trás.
— Não quero derrubar nada. — disse, alarmada, agarrada aos braços
dele, em pânico por todo o equipamento científico ao seu redor.
— Deixe que eu me preocupe com isso.
Ela soltou um suspiro e olhou para ele, encontrando-o olhando de volta,
tão perto, tanto calor e desejo em seus olhos. Minerva lambeu os lábios,
estava um pouco nervosa agora, e seu coração bateu com mais força,
quando o olhar dele caiu sobre sua boca, acompanhando o movimento.
— A senhorita quer voltar para casa? — ele perguntou.
Minerva balançou a cabeça negativamente.
— Vou aceitar o que a senhorita me oferecer. — frisou, e ela entendeu
que aquilo era um aviso.
— Eu sei. — sussurrou, estendendo a mão para pressionar os lábios no
canto da boca dele.
Ela moveu a boca sobre a dele, em pequenos e lentos movimentos, até
que ele perdeu a paciência e inclinou a cabeça dela para trás, com uma mão
grande, pegando o beijo que ele queria. Dedos fortes se emaranharam em
seu cabelo, puxando um pouco, embora não fosse desagradável. A outra
mão agarrou a cintura dela, a palma da mão queimando em seu vestido,
enquanto deslizava por sua lateral, permanecendo, mais uma vez, sob seu
seio. Minerva se derreteu nele, rendendo-se à sua vontade, seduzida pelo
deslizamento escorregadio de sua língua contra a dela, até que estivesse
sem fôlego, quase ofegante. Ele a soltou, arrastando os lábios sobre a
mandíbula dela, descendo pelo pescoço, enquanto a mão que estava sob seu
seio se movia mais para cima, segurando e apertando, ao mesmo tempo que
Minerva dava pequenos gritos chocados. Seu polegar esfregou contra o
material, através do pico da pele e ela estremeceu, surpresa com o choque
prazeroso e implorando por mais, enquanto via o olhar animal nos olhos
dele.
— Ainda deseja ficar?
— Sim.
Inigo a beijou novamente, cada vez mais forte, e ela se inclinou em seu
toque, procurando mais. E ele deu, junto com uma leve beliscada no seu
mamilo, que a fez ofegar. Inigo deu um grunhido suave de satisfação,
soltando sua boca mais uma vez. Desta vez, suas mãos subiram para os
botões de pérola, que prendiam o corpete e Minerva não podia fazer nada,
imóvel e obediente, esperando pelo que viria a seguir. Ela estava atordoada,
o sangue borbulhando em suas veias como champanhe, mais viva do que
nunca, enquanto o observava, seus olhos fixos em seu rosto, enquanto ele se
concentrava nos botões. Ela se perguntou se era assim que ele ficava
quando estava trabalhando, tão concentrado, como se nada mais no mundo
importasse. Sua respiração prendeu quando ele abriu o topo de seu vestido,
puxando-o para baixo sobre seus ombros.
Tardiamente, ela olhou para as janelas ao redor, aliviada ao ver que não
eram negligenciadas, pois uma parede alta margeava o jardim e as árvores o
tornavam isolado e privado. Ela se virou para ele, impressionada com seu
olhar. Ele parecia tão atordoado quanto ela se sentia.
— Em uma escala de um a dez, quanto você me ama? — ela exigiu,
embora soubesse a resposta.
— Eu não a amo, Srta. Butler.
— Minerva.
— Minerva. — murmurou, sem fôlego agora, seu olhar fixo em seus
seios, cobertos apenas por sua fina chemise e o espartilho curto, que os
empurravam para cima, como se oferecessem a ele.
— Ora, vamos lá. — persuadiu, determinada a fazê-lo dar algo, ou ele
continuaria retornando à mesma resposta, não importando se fosse verdade
ou não — Você não pode me dizer que não tem sentimentos. Digamos que
zero é indiferença, o que eu não acredito. Um é uma apreciação das
melhores qualidades de alguém, como o que você sente por alguém que
acabou de conhecer e acha que podem ser amigos. Dois é um amigo, três
um amigo muito bom, e assim por diante…
— Tudo bem. Um. — disse ele, traçando um dedo por sobre a curva de
seu seio, flertando com a borda do chemise, provocando-a. Seu toque a
distraía, fazendo-a estremecer, mas ela lutou para se concentrar.
— Eu pensei que já éramos amigos.
— A senhorita disse isso, não eu. — sua voz estava áspera agora, seu
olhar fixo no lugar onde seus dedos se arrastavam, para frente e para trás,
sobre sua pele. — Sua pele é tão suave. — ele murmurou, e ela se
perguntou se havia percebido que falara em voz alta. As palavras eram tão
reverentes.
Ela olhou para ele, cativada pelo seu olhar. Ele estava respirando com
dificuldade — Quanto você me deseja? — perguntou, mantendo sua voz
suave.
Ele fez um som, que poderia ter sido uma risada, mas parecia um pouco
desesperado demais, um pouco irregular demais para ser diversão — É
muita coisa.
Ele segurou os seios dela com as duas mãos, amassando-os suavemente,
antes de abaixar a cabeça e beijar um monte arredondado. Minerva soltou
um suspiro trêmulo e afundou os dedos em seus cabelos escuros, enquanto
queimava uma trilha ardente de beijos úmidos sobre sua pele, mergulhando
a língua em seu decote. Isso a fez tremer tanto, que riu e repetiu o
movimento. Recuou e deu um puxão forte no espartilho dela, antes de puxar
o laço da chemise, afrouxando-a.
Minerva mal conseguia respirar agora. Helena a alertou que isso era
perigoso, não que precisasse de mais alguém para avisá-la sobre isso. Inigo
havia lhe dito o que aconteceria. Ela havia perdido o juízo por causa desse
homem, sabia disso, mas não conseguia se importar. Ela queria as mãos
dele no seu corpo, queria tocá-lo em troca.
O ar frio flutuava sobre sua pele, ofegou quando ele expôs seus seios
nus ao seu olhar faminto, muito faminto: faminto, como se fosse comê-la
viva. Ele não se moveu por um longo momento, apenas olhou para ela,
paralisado.
— Por que está aqui? — ele perguntou, a voz rouca e irregular — Deus,
é tão bonita. Por que está aqui comigo, se arruinando?
— Porque eu o quero, — disse ela seriamente — porque eu quero
conhecê-lo, entendê-lo. Porque não posso deixar de vir até você. — ela se
inclinou em direção a ele e o beijou — Sete. — ela sussurrou contra a boca
dele e este deu uma suave gargalhada.
— Você está louca. — ele murmurou contra os lábios dela — Bela,
insana e mortal. Você vai me distrair, Minerva. Deusa da sabedoria e uma
tola insana.
Ele pressionou a boca no ponto tenro, abaixo da orelha dela, lambendo e
mordiscando o caminho para baixo, e desceu até que seus lábios se
fecharam sobre o seio dela e Minerva soltou um grito, agarrando-o,
segurando a cabeça contra ela, enquanto ele chupava e beliscava o duro
broto de carne sob a língua. A sensação era inebriante, fazendo-a doer,
gemer e querer mais, muito mais.
— Inigo. — ela ofegou quando sua cabeça caiu para trás. Ela estava em
chamas, derretida, além de saber, exatamente, o que queria, sabia que tinha
que tê-lo — Oh, por favor.
Ele levantou a cabeça, deixando uma trilha de beijos em volta do seu
pescoço até a boca, beijando-a, devorando-a, enquanto enchia as mãos com
seus seios. Gemeu, o som tão excitante que Minerva queria rir de alegria,
mas depois, ele se afastou. Foi um movimento estranhamente feroz,
arrancando as mãos dele de seu corpo, como se ela o tivesse escaldado.
Minerva o observou, perplexa, enquanto colocava distância entre eles,
suas mãos subindo para agarrar seus cabelos.
— Cristo. — ele murmurou, seu peitoral subindo e descendo, como se
ele também tivesse fugido de monstros — Não posso… — ele respirou
fundo e soltou novamente, lentamente — A senhorita precisa ir embora,
Srta. Butler.
Oh! De volta ao "Srta. Butler".
— Por quê?
Ele deu uma risada, que soou um pouco histérica — Quer um
escândalo? É isso? Acha que a atenção vai ser excitante? Prometo, não será.
Você se sentirá envergonhada, suas amigas irão evitá-la e os cavalheiros vão
propor-lhe porque acharão que é uma meretriz.
As palavras foram duras e inflamadas, Minerva corou, puxando sua
chemise de volta sobre seus seios.
— É isto que pensa? — perguntou com delicadeza — Acha que sou
uma meretriz?
A linha rígida de sua mandíbula se suavizou e ele balançou a cabeça —
Sabe que não. As mulheres sentem o desejo, da mesma forma que os
homens. Acreditar no contrário é ignorância. Se o mundo fosse outro lugar,
poderíamos ter o nosso prazer, apreciá-lo e seguir em frente, mas o mundo é
cruel, crítico, cheio de consequências, e é você quem vai suportá-las, não
eu.
Minerva olhou para ele, desejando conhecê-lo bem o suficiente para lê-
lo, para saber o que estava acontecendo naquela mente brilhante — E isso é
tudo o que quer, Inigo? Aproveitar-se de mim, de meu corpo, depois seguir
em frente e esquecer-me?
— É claro. — disse ele imediatamente, e Minerva se perguntou se,
talvez, ele já não estivesse com a resposta feita. Ele desviou o olhar, então
não tinha como extrair nada de sua expressão — Eu não fiz segredo disso,
Srta. Butler.
— Minerva — disse novamente, embora suas palavras tivessem feito
sua confiança tremer. O motivo, não sabia. Disse a si mesma que não tinha
ilusões. Ele tinha sido explícito em seus desejos e o que ele daria ou não,
desde o início, e isso não mudou nada — Então, você não quer que eu volte
aqui novamente?
— Seria… seria melhor se a senhorita não viesse.
— Não foi o que perguntei.
Ele fez um som de frustração, depois virou-se para encará-la — Eu
quero que a senhorita volte para que eu possa levá-la para a cama. A
senhorita é uma mulher maravilhosa, com um corpo quente e disposto e eu
sou um homem. Dois mais dois serão sempre iguais a quatro, sua tola.
Minerva engoliu em seco — E isto é tudo. Não… Não gosta mesmo de
mim. Não vai sentir falta da minha companhia ou… ou desejar me ver por
qualquer outro motivo?
Houve um silêncio tenso, antes que ele respondesse — Não.
Não acreditava nele, não podia acreditar nele, mas seu coração estúpido
doía, o que era ridículo. Mesmo que fosse verdade, ela se esforçou contra a
indiferença dele, ou, pelo menos, pensou que sim. Ele se afastou dela,
olhando pela janela, para além do jardim. O sol, que tinha sido tão brilhante
e alegre durante toda a manhã, havia se perdido atrás de um banco de
espessas nuvens cinzentas e ela sentiu frio de repente. Com os dedos que
não estavam totalmente firmes, apertou a fita sobre a chemise, puxou o
espartilho de volta ao lugar e fechou os botões.
Ele não se virou.
— Minha carruagem não chegará antes das 16 horas, mas esperarei na
cozinha. Não precisa me acompanhar até a saída.
Silêncio.
Minerva engoliu a dor em sua garganta.
— Vou ficar com Bedwin pelas próximas semanas se…se você quiser
escrever para mim, caso mude de ideia. Também não esquecerei de falar
com ele por você. — ele ainda não disse nada e manteve as costas para ela,
os braços cruzados — Eu gostaria de vê-lo novamente e… e eu virei, se
você me pedir, mas não voltarei assim, novamente, sem um convite, então,
não precisa se preocupar. Desculpe se atrapalhei seu trabalho. Eu espero…
Espero que encontre o que está procurando.
Ela olhou para ele por mais um momento, desejando que, pelo menos,
se despedisse dela, mas estava se sentindo tola agora, então se virou e saiu
da sala, fechando a porta silenciosamente atrás dela.
7
Querida Prue,
Como está se sentindo? Espero que o terrível enjoo já
tenha passado. Sei como você se sente. Se a faz sentir-se
melhor, estou andando como um pato e mal posso ver meus
dedos dos pés. No entanto, será adorável ver nossos filhos
brincando juntos, mal posso esperar.
Queria perguntar se viu Matilda ultimamente. Sabia que
ela está determinada a não pegar um desafio? Ela diz que
sua reputação já está muito danificada para correr riscos e
eu entendo isso, mas Prue, todos os nossos desafios nos
mudaram para melhor. Você não acha que ela precisa de um?
Sinto que ela está à beira de algo, como se estivesse
assustada demais para decidir para onde ir, mas se ela não
fizer nada, acabará sem nada. Sinto muito, não sei se isso faz
o mínimo sentido e é provável que eu esteja agindo
emocionalmente. Você sabe que eu caí em lágrimas ao ver
Nate segurando um gatinho ontem? Quero dizer, era uma
visão adorável, mas ainda assim, dificilmente algo para
chorar.
Bebês têm muito o que responder.
—Trecho de uma carta da Sra. Alice Hunt a Sua Graça,
Prunella Adolphus, Duquesa de Bedwin.

7 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo não se atreveu a se mover, até ouvir a porta da frente se fechar.
Soltou um suspiro que não era nada estável. Suas mãos estavam cerradas
em punhos e seus dedos doíam por terem sido segurados com tanta força
por tanto tempo. Não era a única parte dele que doía.
Por Deus.
Oh, Deus, oh, Deus, oh, Deus.
Ele passou a mão pelos cabelos, tentando se livrar da visão de Minerva,
sentada na banqueta de trabalho, em seu laboratório, os lábios inchados de
seus beijos, os belos seios expostos a ele. Algo proprietário e possessivo
queimou dentro dele, e se amaldiçoou como um tolo. Ela não lhe pertencia,
ele nem acreditava nesse tipo de propriedade, e estava muito além do seu
toque. Uma dama. Não era para ele. Oh, mas o gosto dela, a sensação dela
sob suas mãos, sua boca. Ela era tão, incrivelmente, macia, tão doce, e a
queria muito.
Sabia que ela era problema, desde o início. Não porque era bonita, não
porque pertencia àquela classe de mulheres que geralmente o ignoravam,
como se fosse um móvel, porque estava abaixo do seu conhecimento. Não,
foi por causa da curiosidade em seus olhos, o desejo de conhecê-lo, de
decifrá-lo como um quebra-cabeça. Ela queria saber como ele trabalhava, o
que sentia e por que e, de alguma forma estranha, ele entendia isso. O
problema era que tinha medo que ela pudesse fazer isso, que pudesse
desvendá-lo e decifrá-lo e, em breve, veria que não tinha sido complexo,
tinha sido mais fácil do que ela poderia ter imaginado. Então ficaria
entediada e procuraria alguém mais interessante.
Não seria assim para ele.
Inigo se conhecia. Sabia como sua mente funcionava, conhecia a
devoção e a paixão obstinadas, que o levavam e o mantinham cativo. Tudo
bem, quando sua paixão era seu trabalho. Não era assim quando se tratava
de uma mulher. Estava muito ocupado com seu trabalho, para deixar
alguém se aproximar, mas sabia que arriscaria sua sanidade se se permitisse
ser cativado por ela. Queria dizer tudo o que tinha dito. Não acreditava no
amor, mas entendia a obsessão, conhecia os sinais de sua mente agarrando
uma ideia, um desejo de saber alguma coisa, tudo. No entanto, nunca tais
sentimentos foram provocados por uma mulher. Não que ele tivesse
conhecido uma tão provocante quanto Minerva. Já podia sentir isso, o
querer, a necessidade de tê-la perto, de saber tudo sobre ela. O sono o
iludia, desde a última vez que esteve aqui. Se permitisse que seu cérebro
fizesse qualquer coisa, além de trabalhar, imediatamente, retornaria para
ela, e manter sua atenção em seu trabalho não tinha sido uma tarefa fácil.
Estava enlouquecendo, e hoje sabia que ela havia tirado uma fatia ainda
maior de sua sanidade, ao lado de uma generosa ajuda de sua paz de
espírito. Trabalho, voltar ao trabalho, repreendeu-se, movendo-se dentro
do laboratório, tentando encontrar algo com o qual pudesse se concentrar.
Exceto que se viu parado em frente a banqueta onde ela havia sentado, e
tinha certeza de que ainda podia detectar o aroma dela. Fechou os olhos e
inalou fundo, querendo chorar de frustração. Por que ela entrou em sua
vida? Destruiria tudo, o destruiria. Se não terminasse com isso agora,
acabaria fazendo algo estúpido e destrutivo. Teria que tê-la perto dele, com
ele, apenas para se manter são, e não seria capaz de fazer isso. Isso a
arruinaria. Então, seria forçado a casar com ela, e seria selado com uma
esposa.
Inigo deu uma risada amarga. Uma vez, disse a Harriet que não poderia
ter um casamento comum, porque não seria justo para sua esposa ser
constantemente ignorada por seu trabalho. Tinha sido bastante honesto
sobre isso. O casamento com Harriet teria sido simples. Ela teria mantido a
vida dele em ordem, e ele poderia ter lhe oferecido segurança e apoio, para
prosseguir com seu próprio trabalho, em um mundo onde as mulheres não
poderiam fazer essas coisas com facilidade. Também se gostavam o
suficiente, respeitavam o trabalho e o intelecto um do outro, mas, o mais
importante, era que ele não a desejava além da razão, não queria descobrir
cada parte escondida dela, conhecer seus pensamentos, saber tudo sobre ela.
Então conheceu Minerva.
Por que, em nome de Deus, lhe deu seu cartão naquele dia? Nunca fazia
isso. Mal dava seu cartão aos colegas, pois não queria ser interrompido por
visitas sociais, quando estava trabalhando. Não gostava da sociedade, e,
certamente, não queria um casamento convencional. Também não queria
um casamento baseado em obsessão. Como trabalharia com Minerva em
casa, quando ele podia tocá-la, prová-la, sempre que quisesse? A ideia era
tentadora. É físico, ele se lembrou, nada mais. Talvez devesse se casar com
ela, tirá-la de seu sistema e conseguir alguém para manter sua vida em
ordem ao mesmo tempo. Mas isso não era justo para ela, e se nunca a
tivesse tirado do seu sistema? E se ele se casasse com ela e a obsessão
apenas crescesse? Não, garantiu a si mesmo, com uma risada amarga, uma
vez que Bedwin descobrisse, acabaria com qualquer plano de casamento.
Até Minerva admitiu que sua mãe queria que ela caçasse um título, então
Inigo não podia acreditar que o duque quisesse menos do que isso para a
prima de sua esposa.
Não, não os deixariam se casarem. Seria mandada para longe, e ele
enlouqueceria em silêncio.
Bobagem. Recomponha-se, de Beauvoir. Está pronto para ir para cama,
só isso. Fácil de consertar.
Em circunstâncias usuais, não tinha escrúpulos em fazer uso das muitas
casas convenientes, onde um homem poderia satisfazer seus desejos, por
algumas moedas. Conhecia lugares onde as mulheres eram limpas, e havia
um que ele visitava de vez em quando, enquanto a fantasia tomava conta
dele. As meninas, e especialmente Rachel, eram diretas, e ele respeitava sua
boa natureza grosseira quanto ao que ele queria e o que era esperado de
cada uma delas. Não havia nada de complicado nisso. Também não havia
nada particularmente satisfatório nisso. Preenchia um desejo físico, que ele
precisava saciar, nada mais do que isso. Sabia que não seria o mesmo com
Minerva. Até mesmo pensar em levá-la para a cama o fazia tremer de
desejo. Agarrou a borda da bancada de trabalho e inclinou-se sobre ela,
tentando estabilizar a respiração, tentando e tentando não se lembrar da
sensação dela, no momento em que levou seu seio à boca e o chupou, o
pequeno grito de prazer que ela havia dado.
Ai Deus!
Pare, pare, pare.
Não, ele fez a coisa certa. Mandou-a embora e isso foi para o melhor. A
estava protegendo, protegendo ambos. Seu estômago se contorceu de
remorso, ao se lembrar da dor na voz dela, quando disse que dormiria com
ela se voltasse, mas que não tinha outro interesse.
E isto é tudo. Não… não gosta mesmo de mim. Não vai sentir falta da
minha companhia ou… ou desejar me ver por qualquer outro motivo?
Inigo esfregou as mãos no rosto, disposto a esquecer, mas havia uma
dor estranha em seu peito, e era difícil respirar. Desejo insatisfeito,
assegurou-se. Não era a única parte dele que doía. Isso passaria. Voltaria ao
trabalho e passaria.

21 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Não passou.
Duas semanas se passaram - rastejando - e todos os dias eram piores do
que o anterior. Três vezes cedeu, sentando-se e escrevendo cartas,
convidando-a para visitá-lo, cartas que variavam de comandos concisos a
imploração. E, todas as vezes, as amassou e jogou no fogo, antes de fazer
algo estúpido, como, por exemplo, postá-las.
O único ponto brilhante em sua existência miserável era que tinha
certeza de que havia descoberto um novo elemento. No entanto, mesmo
esse triunfo parecia diminuído de alguma forma, pois não podia
compartilhá-lo com ela. Continuou se lembrando do orgulho em seus olhos,
quando contou a ela sobre sua descoberta. Ela parecia tão satisfeita, tão
orgulhosa dele. Ninguém, jamais, se orgulhara dele antes. Inigo nunca tinha
sido sentimental sobre seu passado. Crescer em um orfanato não era uma
receita para uma infância idílica, mas ele tinha sido um dos sortudos. O
hospital dos enjeitados, em Bloomsbury, tinha sido bom para ele.
Alimentaram-no e vestiram e lhe deram uma boa educação. Quando
descobriram que ele estava acima da inteligência média, encontraram um
trabalho de aprendiz, como assistente em uma botica. As garrafas e frascos
e a ordem exata de tudo, o fascinaram. Adorava pesar as medidas exatas e
misturar as várias tinturas e elixires; até melhorou muitas delas, depois de
aprender os usos potenciais de cada ingrediente. Em todo momento livre, lia
qualquer coisa que pudesse colocar nas mãos, mas, especialmente, qualquer
texto científico. Eram difíceis de conseguir, mas, para um garoto disposto a
vender sua alma, para obter mais informações sobre um mundo do qual ele
queria fazer parte, sempre encontrava algo.
Permitiram que ele dormisse na loja, em um colchão duro, tomado por
carrapatos, em uma despensa. Ficou feliz com isso, emocionado por ter um
espaço próprio, onde não tivesse que aturar os outros meninos e suas
habituais provocações, brincando, zombando uns dos outros e brigando.
Inigo nunca se encaixou, nunca foi um lutador e nunca entendia as
brincadeiras. Os outros garotos o achavam indiferente e, portanto,
implicavam com ele, por não ser um deles e por sua esperteza. Graças a
Deus, era grande o suficiente, para não ser intimidado por ninguém além
dos meninos mais velhos, embora isso tivesse sido ruim o suficiente. Ficava
muito feliz em escapar.
Trabalhou muito, e duro, para chegar onde estava. O dia em que
comprou esta casa foi um dos mais orgulhosos de sua vida. Aquele lugar era
seu, sua casa, seu lar, seu laboratório, todas as coisas que sempre quis,
encerradas atrás de paredes de tijolo e argamassa. A salvo do mundo,
alojado em seu laboratório, com sua ciência e um desejo insaciável de
aprender tudo. Estava em paz, contente, e, então, Minerva Butler o beijou, e
seu mundo desmoronou. Agora, a casa pela qual ele havia trabalhado tanto,
o laboratório que tinha sido o auge de todos os seus desejos - mesmo a
enormidade dessa nova descoberta - pareciam vazios, vazio e sem sentido,
porque não podia ver o orgulho em seus olhos por sua conquista.
Deus, como era patético.

Minerva olhou para o livro diante dela, frustrada, antes de jogá-lo de


lado. Um Ensaio sobre Calor, Luz e as Combinações de Luz, de Humphry
Davy, esticou seu cérebro, mais do que estava disposto a ir. Não estava
entendendo aquela coisa miserável. Poderia, muito bem, ter sido escrito em
russo ou hieróglifos. Era estupidez continuar tentando. Qual era o objetivo?
De que adiantaria, mesmo que ela entendesse? Se algum dia ela se casasse,
provavelmente, só teria que esconder o fato de que ela tinha algo se
aproximando de um cérebro. Deus, proíba o marido dela de descobrir que
ela tinha um pensamento original em sua cabeça. Os homens não gostam de
mulheres inteligentes, Minerva, era uma queixa comum, que sua mãe
jogava nela. Para começar, Minerva foi obrigada a apontar que sua prima,
Prue, era muito mais esperta do que ela, e Prue havia fisgado um duque.
Sua mãe parecia voluntariamente ignorar essa evidência, no entanto,
descartando-a, como um acaso. Prue tinha tido sorte e estava no lugar certo,
na hora certa, e poderia ter sido Minerva, se ela tivesse se esforçado mais.
Ugh.
Olhou para cima, ouvindo vozes, do lado de fora da porta. Um momento
depois, Helena entrou com as correspondências.
— Duas para você. — disse, com um sorriso brilhante, entregando duas
cartas a Minerva.
Minerva sorriu para os laços extravagantes e familiares, na primeira
carta. Kitty. Colocou-a de lado para ler mais tarde, pegou o segundo e seu
coração disparou. A escrita era um rabisco quase ilegível e, de repente, seu
coração estava batendo em seu peito. Ela virou, deslizando um dedo
trêmulo sob o selo para quebrá-lo.
Museu Britânico. 21 de janeiro. 11:00
IdB
Minerva soltou um suspiro trêmulo e permitiu que um sorriso se
formasse em sua boca. Maldito arrogante. Pelo que ele sabia, ela tinha
planos. Confiança própria, para organizar algo no último minuto, e esperar
que ela largasse tudo. Se perguntou se era isso que ele esperava. Talvez
acreditasse que ela não iria, e isso seria a prova de que estava certo, de que
ela não estava falando sério. Franziu a testa, desejando saber qual era. O
medo que sentia nele era real, aquela vulnerabilidade dolorida, ou era por
ser uma tola, sentimental, por querer acreditar nisso? Era tão frio, duro e
sem emoção, quanto queria que ela acreditasse?
Traçou a mão para frente e para trás, com as palavras rabiscadas. Não a
convidou de volta para sua casa. Se tivesse feito isso, ficaria mais segura
sobre o que ele queria. Teria sido inequívoco. Um lugar público, no
entanto? Se tivesse uma acompanhante, isso lhe daria segurança, e ele não
teria a chance de ter seu jeito perverso com ela. Se tudo o que queria dela
era físico, por que sugeriria tal coisa? O sorriso dela ampliou.
— Por que parece que viu um passarinho verde? — Helena exigiu, os
olhos verdes frios e desconfiados.
Minerva mordeu o lábio — Helena, o que acha de uma visita ao Museu
Britânico, esta tarde?
8
Querida Bonnie,
Não sei se estou fazendo a coisa certa. Minerva começou
um caso com o Sr. de Beauvoir e não há como convencê-la a
desistir. Estava lá quando Minerva o conheceu, o que acha?
O que devo fazer? Ela é uma mulher adulta e estou tão
cansada das restrições sobre nós, que deveria ser a última
pessoa a se opor. No entanto, temo que ela se meta em sérios
problemas. Não sei quais são as intenções dele em relação a
ela, mas sei que sua mãe fará tudo ao seu alcance para
impedir, se ele tentar desposá-la.
Oh, mas Bonnie, e se ele não quiser?
—Trecho de uma carta de Lady Helena Adolphus para
a Sra. Bonnie Cadogan.

21 de janeiro de 1815. Museu Britânico. Londres.


— Meu irmão vai me trancar no quarto e jogar a chave fora. —
murmurou Helena — E depois sua mãe vai atear fogo nele.
— Ora, pare com isso. Ninguém vai saber. — Minerva olhou para trás,
em direção à criada de Helena — Pelo menos, não se Tilly for tão leal
quanto diz que ela é.
— Oh, ela é. — respondeu Helena, sorrindo, carinhosamente, para a
jovem que as acompanhava — Ela é uma querida. Atravessaria o fogo se eu
pedisse. Não se depara com tamanha lealdade com frequência. Eu não me
separaria dela por nada no mundo.
Minerva assentiu, feliz em ver que Helena retribuiu a lealdade. Era fácil
acreditar que a bela herdeira era exatamente o que parecia: mimada,
obstinada e exigente. Demorou para ver por baixo da aparência firme, e ela
não deixava muitas pessoas terem um vislumbre.
— Oh — disse Minerva. Nesse momento sua respiração acelerou,
quando viu a figura alta e severa que permanecia nas sombras da sala — Ali
está ele.
Naquele momento, Inigo se virou e a viu também, e ela o viu endurecer,
como um predador sentindo o cheiro da presa. Porque pensou nisso, não
sabia, mas a expressão parecia adequada, mesmo que o predador estivesse
relutante em perseguir e a presa estivesse obcecada com a destruição.
Minerva levantou a mão até o cabelo, inexplicavelmente, nervosa
naquela circunstância. Ele tinha visto seus seios nus, pelo amor de Deus!
Tocou-os, beijou-os. Esse pensamento fez um desejo se acumular em sua
barriga e o calor correr para suas bochechas.
Helena deu a Minerva um longo olhar firme, depois fez o mesmo com
Inigo e de volta para a amiga.
— É melhor vocês dois ficarem longe dos alcoviteiros. — disse ela,
balançando a cabeça — Ele é muito intenso, não acha? Parece que está
pronto para devorá-la, em duas abocanhadas.
Isso não ajudou Minerva a diminuir o vermelho de suas bochechas, e
Helena parecia cada vez mais preocupada.
— E, aparentemente, você permitiria. Honestamente, Min, tome
cuidado.
— Eu tomarei. — disse Minerva, acenando, sem querer.
Ela queria ser a chama que o acendia, o foco de sua atenção.
— Senhorita Butler, Lady Helena. — sua gravata borboleta formal, e
Minerva podia dizer que ele estava no limite. Sem dúvida, já estava se
arrependendo de estar ali.
— Eu tomei a liberdade de reservar um passeio. — disse ele, acenando
para um homem alto e erudito, de trinta e poucos anos, que vinha correndo
em sua direção. Usava óculos pequenos e seu rosto era estreito e sério — O
Sr. Crick é o bibliotecário do museu. As senhoritas o acharão muito bem-
informado sobre a coleção.
O Sr. Crick sorriu para Inigo — Senhor de Beauvoir, é uma honra
conhecê-lo. Eu assisti a uma de suas palestras, na primavera do ano
passado. Não havia lugar para sentar-se, mas valeu a pena. Fascinante,
fascinante.
Inigo parecia pouco à vontade sob tal elogio, mas acenou em
agradecimento — Lady Helena, Srta. Butler, permita-me apresentar nosso
guia, Sr. Crick.
Os olhos do Sr. Crick se arregalaram e uma cor manchou seu rosto,
enquanto absorvia a imagem de Lady Helena Adolphus — Mi-milady. —
gaguejou, curvando-se como se ela fosse uma duquesa, e não apenas a filha
de um.
— É um prazer conhecê-lo, Sr. Crick. Estamos deveras ansiosas pelo
passeio.
O Sr. Crick mal olhou para Minerva, mas ela não se importou. Helena,
Deus a abençoe, deu a Minerva um sorriso irônico e ocupou-se com o Sr.
Crick à frente deles, com Tilly se arrastando atrás, deixando-a com Inigo
para seguirem em seus próprios ritmos.
Inigo ofereceu-lhe o braço — Senhorita Butler.
Minerva olhou para ele — Minerva. — corrigiu-o.
Ele respirou fundo, olhando ao redor da enorme sala e depois de volta
para ela, seus olhos escuros estavam cautelosos.
— Minerva. — repetiu ele suavemente.
Minerva sorriu para ele, e ele grunhiu divertido.
— Por que você me convidou?
Estava ansiosa para fazer aquela pergunta, desde que recebera o seu
bilhete. Pretendia esperar, não para provocá-lo com tanta rapidez, mas não
podia. De todas as curiosidades que poderiam estar em exibição ali, ele era
o único que achava realmente fascinante.
Ele não respondeu, examinando uma bandeja de espécimes, cheia de
diferentes rochas e minerais.
— Inigo.
Ele ergueu o olhar da bandeja e concentrou-se nela. Ela estremeceu,
querendo tanto a atenção dele, que poderia ter ronronado se pudesse.
— Não sei. — disse.
— Mentiroso.
Ele olhou furioso e aprumou-se, seguindo o guia e ignorando o resto das
exposições naquele ambiente.
— Inigo. Por quê?
Nenhuma resposta.
Ela deixou o assunto por um momento, passando por ossos e pedras
antigas, o murmúrio silencioso da voz do Sr. Crick à frente, parecendo
atordoado na presença de Helena, tentando impressionar sua duquesa.
— É muito bom vê-lo. — disse, pressionando contra o braço dele,
apertando um pouco mais.
Os músculos sob a palma da sua mão ficaram tensos quando o corpo
dela roçou o dele e ele olhou para ela, depois para frente e para trás, ao
redor da sala. Estava com pouco movimento aquele dia. Se houvesse outros
passeios, estavam muito à frente deles.
Inigo se virou e a apoiou em um canto isolado, feito por armários altos,
com frente de vidro. O Sr. Crick ainda estava falando, era possível ouvir
uma pequena onda de som, não muito longe, mas estavam fora de vista.
Minerva levantou as mãos para o peito dele, no mesmo momento em que
ele a alcançou, puxando-a para mais perto, encontrando a boca dela com a
dele, como se fosse o verdadeiro norte. Beijou-a com força, quase com
raiva, derrubando seu chapéu, depois puxou as fitas que estavam amarradas
no seu pescoço, enquanto a segurava em uma pegada firme. Durou
segundos, feroz e ofuscante, um brilho vivo de magnésio aceso, e então ele
suspirou, toda a tensão deixando seu corpo com pressa. Descansou a testa
contra a dela, que ficou parada, não querendo perturbar qualquer batalha
contra a qual ele estivesse lutando internamente, ou tentá-lo de volta àquele
desespero. A mão dele subiu, acariciando o seu rosto e levantando seu
queixo, beijando-a novamente, mas com ternura dessa vez, beijos suaves de
borboleta, a boca dele acariciando a dela, como se tivessem todo o tempo
do mundo.
Infelizmente, não tinham, e ela lamentou o momento em que ele
percebeu isso também.
Ele se endireitou, olhando para ela criticamente e ajeitando o seu
chapéu, amarrando as fitas com dedos hábeis.
— O quanto você me ama? — ela perguntou.
Ele lhe lançou um olhar impaciente e ela sorriu, pressionando um dedo
enluvado em seus lábios.
— Mais de um, ou então não estaria aqui. — não removeu o dedo,
fechando a boca dele — Também não é dois, não conte mentiras.
— Por que a senhorita não responde por mim, então? — ele perguntou,
levantando uma sobrancelha escura.
— Hmmm, digamos três, por enquanto. Eu não quero assustá-lo.
Ele bufou com aquilo — Eu tentei fugir. A senhorita me perseguiu.
Minerva sorriu para ele — Perdoe-me. O senhor está terrivelmente
irritado?
— A senhorita não está nem um pouco arrependida, e sim, eu estou.
Extremamente irritado.
Ela suspirou e inclinou a cabeça contra o ombro dele.
— Pobre Inigo. — acalmou — Mas o senhor está certo, não estou nem
um pouco arrependida. Então, três. É um bom amigo.
Ele bufou e ela o olhou.
— O que, o senhor tem amigos, não tem?
Ele não olhou para ela, Minerva sentiu uma ansiedade agitar sua
barriga.
— O senhor tem amigos? — observou, enquanto ele examinava um dos
armários: pedaços de cerâmica, formas estranhas, pedaços da vida de outras
pessoas, deixados para trás, há muito tempo. Ele não estava tão interessado
neles, tinha certeza. Só estava evitando a pergunta — Inigo?
— Sim. — respondeu mais rápido desta vez. — Tenho amigos.
Ela franziu a testa para ele, que a olhou exasperado.
— Por que a senhorita se importa?
— Eu me importo, Inigo. — disse, esperando que ele pudesse ouvir a
verdade — Todo mundo precisa de amigos. O senhor não pode ser amigo
apenas de potes e elementos.
Ele não disse nada.
— Nomeie um. Cite um amigo.
— Ora, honestamente. — protestou.
— Um amigo, e não vale eu. — acrescentou, antes que ele pudesse
responder.
— Solo Rothborn.
— Barão Rothborn? — perguntou, franzindo um pouco a testa — Eu
pensei que ele era um recluso.
Inigo deu uma risada baixa, e seu sorriso era torto — Ele é. Sou uma
das poucas pessoas que ele pode tolerar… em pequenas doses.
Minerva não pôde deixar de rir daquilo — Um par ideal.
— Sim. — ele concordou.
Ela suspirou. Queria fazê-lo sorrir, ter certeza de que ele comia,
corretamente, que não trabalhava em demasia, que seu trabalho era
apreciado, que não precisava se preocupar em pagar contas, que a rotina da
vida tirava o brilho da sua genialidade e entorpecia sua paixão. Nada
deveria abafar sua paixão, aquela faísca dentro dele que parecia queimá-lo,
consumindo-o muito rápido, sem ninguém lá para manter o fogo sob
controle.
Olhou para ela, seu rosto inescrutável, e então se inclinou e a beijou
novamente, com força, antes de puxá-la de volta para a sala. Correram para
alcançar o guia, ignorando as exposições. Assim que viram o Sr. Crick e
Helena, novamente, Inigo diminuiu a velocidade. Helena se virou e lançou
um olhar estreito para Minerva, que retornou com um sorriso sem graça e
um encolher de ombros.
— Quantos anos a senhorita tem?
Olhou para ele, um pouco chocada com a pergunta. Não que ele não
devesse perguntar ou que os homens nunca deveriam fazer isso; nunca
supôs que Inigo seguiria as regras da alta sociedade, se as conhecesse,
provavelmente não se importaria. Isso a chocou porque era pessoal, porque
ele queria saber.
— Vinte e um. Meu aniversário é em julho.
Sua boca se firmou em uma linha dura e ela não pôde deixar de rir,
adivinhando a rota que sua mente havia tomado.
— Tsc, tsc, Sr. de Beauvoir, o que o senhor está fazendo, corrompendo
uma dama, dez anos mais jovem, em um lugar público?
Ele passou a mão pelo cabelo que ficou espetado para todos os lados,
fazendo-o parecer cada vez mais ansioso — Não é engraçado. Cristo, eu…
eu deveria ser chicoteado.
Minerva deslizou a mão pelo braço dele e entrelaçou seus dedos — Foi
apenas um beijo, e o senhor, dificilmente, é um velho perverso, inclinado à
sedução. Sou eu quem o estou perseguindo, lembre-se.
Seu coração doeu ao ver o olhar infeliz em seu rosto. Ela queria
suavizar as rugas de sua testa e fazê-lo sorrir. Era estranho como tinha essa
sensação de ser muito mais velha do que ele, quando, na verdade, era o
contrário. Não podia explicar a vontade que sentia de protegê-lo.
— Eu deveria saber melhor, do que permitir que a senhorita faça isso.
— disse, sua frustração evidente — E não foi apenas um maldito beijo, e
agora me fez praguejar na sua presença, droga… a senhorita me faz agir
como um louco.
— Meu filósofo naturalista louco, completamente genial e todo irritado.
Devo tê-lo provocado muito, para que o senhor deixasse o seu laboratório.
— Certamente que sim. — disse com a voz baixa — Eu não queria vir
aqui, mas não sabia onde mais sugerir.
— Eu teria ido até o senhor.
Ele fechou os olhos, uma expressão perto da dor pairando sobre suas
feições sérias — Não se atreva.
— Por que não? O senhor sabe que basta…
— Não! — ele disse novamente, sua voz um sussurro áspero — A
senhorita não sabe.
Havia algo selvagem e obscuro em seus olhos, agora, e Minerva
respondeu a isso de uma vez, querendo pressioná-lo, até que ele cedesse, o
que quer que fosse, que estivesse com medo de fazer.
— Então me diga.
Ela olhou para ele, estava calma por fora, embora seu pulso estivesse
trovejando sob sua pele.
— Talvez eu deva dizer-lhe. — disse, aquela nota de raiva de volta em
sua voz, agora, a mesma raiva que ela provou quando ele a beijou —
Talvez, se eu lhe dissesse todas as coisas depravadas que quero fazer com a
senhorita, teria o bom senso de fugir.
Uma excitação ferveu em sua barriga. Minerva sabia que ele estava
fazendo isso para se salvar, para forçá-la a fugir dele, para chocá-la, mas
sabia que, também, não estava mentindo. Tinha visto homens suficientes,
para entender o calor em seus olhos, mesmo que tivesse pouca experiência
para o que isso queria dizer.
— Talvez. — disse, apertando os lábios. — Mas duvido.
Inigo fez um som baixo de desespero e se afastou dela.
— O senhor gosta de castanhas?
— O que? — parecia irritado e conciso agora, a mudança de assunto o
fez olhar para ela desconfiadamente.
— Eu gosto, principalmente assadas. Sempre me queimo, no entanto,
todo inverno. Não importa quantas vezes todos me digam para deixá-las
esfriar, eu não posso esperar. Eu queimo meus dedos e minha língua, fico
ansiosa demais para provar a doçura da castanha. — disse olhando para ele,
segurando seu olhar — Sou precipitada e teimosa e, às vezes, me queimo, o
que é culpa minha. Eu simplesmente não aprendo a lição.
Ele engoliu em seco e a tensão pareceu formigar entre eles. É ele,
pensou, sou tudo em que ela está pensando neste momento e é como ser
atingido por um raio, estar no centro da sua atenção.
— Então talvez alguém deva ensiná-la mais detalhadamente, para que a
senhorita não se esqueça.
— Talvez. — disse, com um encolher de ombros, que duvidava que
parecesse um pouco indiferente, estava viva demais, ciente demais dele,
para parecer indiferente — Mas ninguém conseguiu ainda.
Ele se afastou dela, deixando-a de lado, para olhar para uma vasta
coleção de moedas romanas. Minerva olhou para onde a cabeça escura de
Helena estava inclinada, sobre um armário, o Sr. Crick ao lado dela corou e
animou, enquanto lhe explicava algo. Minerva seguiu Inigo, de pé ao lado
dele, sem tocá-lo. Esperando.
— Eu a quero.
Era puro e honesto, e ela ainda podia ouvir a raiva por trás daquela
declaração, a evidência de que ele não queria querê-la. Havia resignação,
também. Sua batalha havia terminado, pelo menos por enquanto, estava lhe
dando um aviso justo. Aviso entendido. Por todo o bem que faria.
— Eu também o quero. — disse ela, parecendo notavelmente calma,
mas, então, ambos não poderiam ter um ataque dos nervos, e ele parecia
viver com os nervos à flor da pele e sua sensibilidade muito mais aflorada
do que de Minerva.
Ele respirou fundo e olhou para ela, seus olhos brilhando, furiosamente.
— Bem, não há muito sentido em fingir o contrário agora, não acha? —
ela perguntou, achando aquilo óbvio e razoável.
— A senhorita não tem senso de autopreservação? — exigiu saber.
— Aparentemente não, no que diz respeito ao senhor, não.
Ele encostou a testa no armário, com os olhos fechados. Ela pensou que,
talvez, ele estivesse contando até dez, ou até mil. Era difícil dizer.
— O que fazemos agora? — perguntou.
Um olho se abriu, olhando para ela com indignação — A senhorita está
ansiosa para ser arruinada?
— Ora, realmente, não seja tão dramático. Eu quero vê-lo de novo. —
Minerva balançou a cabeça e saiu, mas ele agarrou seu braço.
— A senhorita não escutou o que eu disse? — exigiu saber — É a
mesma coisa.
Oh.
— Bem, um lugar público, então, se o senhor é tão indigno de
confiança. — ela jogou as palavras de volta para ele, sua própria paciência
se esgotando naquele momento.
— Eu nunca fui antes, mas a senhorita me deixa louco! — levantou as
mãos e depois as afundou no cabelo, desarranjando tudo. Ela podia ver que
ele estava com raiva agora, ou talvez isso fosse apenas frustração, por não
querer ser responsável por sua ruína — A senhorita nunca diz não quando
deveria, e não posso confiá-la a si mesma, para tomar conta de si. Eu sou
um homem de carne e osso e quero dormir com a senhorita. Só não quero
lidar com as lágrimas e histeria que virão, quando se arrepender. Eu não
gostaria que Bedwin me desafiasse para um duelo por isso também.
Minerva bateu o pé dela, tão frustrada quanto ele. Não era justo. Ela
queria ficar sozinha com ele.
— Eu não a estou cortejando. — disse ele, apontando um dedo para ela
para enfatizar o ponto, como se ele não tivesse deixado isso muito claro —
Então, não podemos continuar sendo vistos na companhia um do outro, sem
que as línguas se afiem.
— Tudo bem, então eu irei até o senhor. Sexta-feira. Vou levar o
almoço.
Pronto, decisão tomada. Seu estômago se contorceu em um grande nó.
Ela se virou para encará-lo, desafiando-o a discutir.
— É o seu funeral. — soltou as palavras, os punhos cerrados.
Minerva suspirou.
— Inigo, — disse, sua voz suave, colocando a mão em um braço rígido
— você me machucaria?
Uma expressão horrorizada fez seu lábio se enrolar de repulsa — Bom
Deus, o que a senhorita acha que eu sou?
— Não sou eu que estou pensando o pior, é você. — disse ela,
balançando a cabeça — Não é um homem mau, Inigo, nós dois sabemos
disso. Então, se eu disser que não, vai parar. Não é?
— Sim, decerto que vou. — disse, franzindo a testa.
— Bem, então, eu prometo dizer, se você for longe demais. — sorriu
para ele — Sexta-feira, então.
Ela se afastou para se juntar a Helena, quebrando a cabeça ao pensar em
qualquer coisa que, provavelmente, diria não.
9
Ela é uma mulher adulta. Todas nós devemos nos arriscar
em busca da nossa própria felicidade, para viver e amar
como acharmos melhor. Pode ser sua única chance de estar
com o homem que ama, ou pode ser o pior erro de sua vida.
Tudo o que podemos fazer é tentar mantê-la segura e juntar
os pedaços, se as coisas derem errado. Se interferir e ela
decidir fazer alguma coisa porque a persuadiu e depois se
arrepender, nunca a perdoará. Se for decisão dela e você
apoiá-la, não importa o que aconteça, é uma boa amiga.
—Trecho de uma carta da Sra. Bonnie Cadogan para
Lady Helena Adolphus.

22 de janeiro de 1815. Encontro das Senhoritas Peculiares. South


Audley Street, Londres.
— Bem, Ruth certamente parece feliz. — disse Matilda com um sorriso
satisfeito, enquanto dobrava a carta que acabara de ler.
Minerva olhou para Helena, que suspirou, melancolicamente.
— Hmmm, um castelo remoto, com um enorme Highlander para mantê-
la aquecida. Atrevo-me a dizer que ela está feliz.
Minerva soltou um bufo abafado, e Bonnie deu uma gargalhada, antes
de pegar seu segundo pedaço de bolo, enquanto Jemima passava o prato. —
Mal posso esperar para visitá-la e ver Gordon Anderson comendo na mão
dela, como um cordeirinho. — disse Bonnie sorrindo — Oh, aquele homem
vai acabar amarrado em um nó por ter que tentar manter a língua civilizada
na cabeça, quando quiser falar comigo.
Ela bufou e balançou a cabeça — Você é completamente perversa,
Bonnie. Quando está pensando em ir?
— Durante o verão. Se acha que eu vou para as Highlands em fevereiro,
é melhor pensar direito. Aquele maldito castelo deve ser congelante, mesmo
em agosto. Não duvido que seja uma visão melhor do que era, mas ainda
vou esperar até agosto. Então eu sei que só terei que levar minhas roupas de
inverno, para sobreviver.
— E aqui estávamos nós, pensando que você também era uma
Highlander resistente. — disse Matilda com os lábios curvando.
Bonnie levantou o nariz — Quero que saiba que sou tão delicada quanto
uma pétala de rosa.
Helena se engasgou com o chá, Prue teve que tirar a xícara e o pires
dela, antes de derramá-lo no colo.
— Eu recebi uma carta de Kitty. — disse Minerva, enquanto Jemima
acenava com a deliciosa seleção de bolos para ela — Criatura perversa. —
murmurou para Jemima, antes de suspirar e aceitar um — Ela providenciou
para Harriet me enviar o chapéu e os desafios restantes, que chegaram esta
manhã. Harriet se enterrou em Holbrooke.
— Acho que não podemos culpá-la. — disse Helena, abanando-se com
o guardanapo — Se eu fosse casada com St. Clair, também nunca deixaria a
propriedade.
— Eu pensei que você queria um Highlander? — Matilda provocou.
— Eu pensei que você queria um Knight. — murmurou Minerva,
ganhando um olhar de advertência de Helena.
— O chapéu, Minerva. — disse Helena, sotto voce.
— Ah, sim, o chapéu. — disse Minerva, sorrindo, enquanto Jemima se
remexia nervosa e Matilda ficava imóvel.
— Mas você e Helena ainda não completaram seus desafios. — Matilda
se opôs.
— Eu completei! — Minerva disse, e então sentiu um rubor manchar
suas bochechas, enquanto se perguntava o que as outras pensariam dela, por
ter feito isso.
Achariam que ela não é melhor do que deveria ser?
— Oh? — todas, exceto Helena e Bonnie, olharam para ela.
De repente, Minerva percebeu que Helena deve ter falado com Bonnie
sobre ela. Demorou um momento para ela decidir se estava ou não irritada,
mas apenas um momento. Helena e Bonnie eram muito próximas, e ela
sabia que Helena estava preocupada com sua parte em ajudar Minerva a
encobrir suas visitas a Inigo. Dificilmente poderia culpá-la por confiar em
sua melhor amiga.
— Sim, eu… visitei o Sr. de Beauvoir.
— Sozinha? — Matilda perguntou com os olhos arregalados de horror
— Oh, Minerva.
— Ninguém me viu. — disse Minerva apressadamente, vendo, de uma
vez, todos os instintos protetores de Matilda correrem para a superfície — e
o Sr. de Beauvoir me tratou muito bem… assim que superou o choque. —
acrescentou, com um sorriso malicioso.
— Aposto que sim. — murmurou Helena.
Era a vez de Minerva fitá-la — Então, Helena é a próxima. — disse,
alto o suficiente para esperar que a atenção se desviasse dela.
— Eu não posso completar o meu, até que Robert saia da cidade, e ele
atrasou sua viagem, porque Prue não estava se sentindo bem. — Helena
retrucou, demônia presunçosa.
— Estou bem agora. — disse Prue, levantando uma mão, enquanto a
outra cobria o leve inchaço por sob o seu vestido. Parecia uma bela
Madonna, toda rosada e serena — Ele está se preocupando à toa. Estou
tentando fazer com que reagende a viagem, eu prometo. — desculpou-se
com Helena, antes que seu olhar se fixasse em Minerva, fazendo-a corar.
— Eu sei, está tudo bem. — Helena sorriu e deu um tapinha na mão de
Prue — Minha nova sobrinha ou sobrinho é muito mais importante do que
um desafio bobo.
— Mas o que aconteceu com o Sr. de Beauvoir? — Matilda pressionou,
enquanto Minerva gemia por dentro.
Tanto para distrair sua atenção, e agora Prue ia estar atrás de sua cabeça
também.
Minerva deu de ombros — Eu levei o almoço para ele. O pobre homem
nunca come. Não tem uma governanta, desde que fez um experimento que
explodiu em seu laboratório - de propósito - mas ela o acusou de ser um
adorador do diabo ou algo ridículo e fugiu.
Bonnie bufou — Tem certeza de que ela não estava no caminho certo?
— Bastante certa. — respondeu Minerva — Ele é um filósofo
naturalista genial. Apenas parte meu coração vê-lo se coçando naquela casa
vazia, porque é muito dedicado ao seu trabalho, para acender a lareira ou
encontrar alguém que possa alimentá-lo.
— Bem, então, devemos arrumar uma governanta para ele. — disse
Matilda com firmeza — Então você pode parar de se preocupar e colocar
sua reputação em risco. Eu não vou permitir que arruíne a sua vida por…
pena.
Minerva olhou para Matilda surpresa. Ela sempre se preocupou com
todas elas, mas nunca foi tão… estridente. Foi apenas a trepidação em sua
voz que revelou o quão assustada estava. Minerva olhou para ela, segurando
seu olhar com firmeza.
— Eu pensei em fazer exatamente isso, Matilda, e vou fazer, mas não
quero ninguém nos espionando, quando visitá-lo. Então, até que eu saiba
como estou com ele, deixarei as coisas como estão.
— Você vai voltar lá? — Matilda exigiu, parecendo que poderia prestar
as contas ali mesmo, estava muito pálida — Você não está falando sério,
está? Não deve, Minerva, é…
— Estou falando sério. — disse Minerva, interrompendo, mas
mantendo a voz calma — E não cabe a você me dizer quem eu posso ou
não ver, mas agradeço sua preocupação. Eu realmente agradeço, juro que
terei cuidado.
Matilda fez um som depreciativo, seus olhos brilhando demais — Não,
não vai. Agirá tolamente e colocará seu coração em risco, e ele pegará tudo
o que oferecer e depois, quando tiver tudo o que quiser, será deixada de
lado, ficará em pedaços e sem outras opções.
Minerva sentiu as palavras como uma facada no coração. Sabia que era
um possível resultado de suas ações - não adiantava não abrir os olhos para
o risco que estava correndo - mas ouvir Matilda soletrar com tanta
franqueza, seu tom tão forte que era quase cruel, ainda machucava.
— Ele não é Montagu. — respondeu, antes que pudesse pensar, vendo
as palavras atingirem Matilda com a mesma força.
A sala ficou em absoluto silêncio, ninguém se atreveu a respirar.
— Para o inferno o Montagu! — disse Matilda, levantando o queixo —
Não posso impedi-la de agir, tolamente, mas não vou acabar em pedaços.
Me casarei com o Sr. Burton.
Houve um suspiro coletivo ao redor dela, embora Minerva estivesse
chocada demais para respirar. Estava certa de que Matilda acabara de
decidir, naquele exato momento, talvez dando um exemplo do que uma
mulher sensata faria em uma situação difícil.
— Não o ama. — disse, observando Matilda, que estava tão pálida, que
sua pele parecia translúcida, suas veias azuis visíveis sob a pele de
porcelana — Não estou convencida de que você goste dele.
— Não estou convencida de que ele goste de mim. — retrucou Matilda
— Ele me quer da mesma forma que quer uma bela pintura ou uma bela
residência, na parte certa da cidade. E para que? Para que me tenha nas
mãos, e para que eu tenha uma casa, segurança, uma família. Tenho certeza
de que nos contentaremos o suficiente um com o outro, e essas não são
coisas que eu possa ignorar. Se tivesse um pingo de bom senso nessa sua
cabeça boba, também veria.
A raiva acendeu no coração de Minerva, por ser chamada de boba.
Matilda, de todas as pessoas, sabia o quanto estava tentando ser qualquer
coisa, menos boba, e a acusação a irritou.
— E quanto a Montagu? — Minerva pressionou, sabendo que estava
passando dos limites, mas estava irritada demais para considerar isso — E o
fato de você estar apaixonada por ele?
O silêncio era tão ensurdecedor, que os ouvidos de Minerva ecoaram
aquilo. Matilda parecia ter sido esbofeteada, dois pontos altos de cor
queimando contra a palidez branca de suas bochechas. Ela se levantou.
— Bem, se vocês me dão licença, meninas. Estou certa de que podem
sair sozinhas.
Minerva observou, o coração batendo forte e o estômago apertando com
arrependimento, quando Matilda se virou em direção a porta.
— Mat… — Minerva começou, mas Helena levantou a mão e apertou
seu braço, segurando firme e balançando a cabeça.
Todas a observaram partir, e Minerva colocou a cabeça entre as mãos —
Eu não deveria ter dito aquilo.
— Estou feliz que uma de nós, finalmente, tenha tido a coragem e,
egoisticamente, estou feliz que tenha sido você e não eu. — disse Prue com
um suspiro.
Minerva olhou para ela em choque. Ela esperava que Prue ficasse
furiosa com ela. A dar-se pelo brilho em seus olhos, não estava totalmente
errada.
— Vamos conversar sobre suas visitas ao Sr. de Beauvoir, Min. — disse
severamente. Prue sempre a via como sua priminha boba, embora fosse
apenas cinco anos mais velha que Minerva.
Minerva acreditava que isso havia mudado, mas o tom da voz de Prue a
fez duvidar.
— Promete que não contará para mamãe? — Minerva disse
apressadamente, sentindo como se fosse chorar, pois seus olhos estavam
ardendo. Se sua mãe descobrisse, seria mandada para longe e nunca mais
veria Inigo.
— Minerva Butler! — sua prima disse indignada — O que acha que eu
sou? Não direi nada a ela, nem a Robert, por nada que lhes diga respeito,
mas, pelo amor de Deus, Matilda está certa. Você está brincando com fogo.
Minerva assentiu, incapaz de negar — Eu sei. — disse, sua voz
falhando — Mas estou apaixonada por ele.
Um murmúrio coletivo sussurrou ao redor do grupo, uma mistura de
ansiedade e resignação.
— Ele a ama? — Prue perguntou gentilmente.
— Não sei ainda. Ele não quer me amar, sei disso. Acho que tem medo,
mas…, mas acho que poderia, se se permitisse. — enxugou os olhos,
olhando em volta para as amigas que a rodeavam, suas amigas mais
queridas, as pessoas em quem mais confiava no mundo — Ele diz que não
acredita no amor.
— Tolo. — disse Bonnie com sua franqueza habitual.
Minerva sufocou uma risada — Eu sei. Ele é o gênio mais tolo que já
conheci. — olhou em volta, quando a mão de Helena deslizou para a dela,
segurando firme.
— Você está realmente apaixonada por ele? — os olhos de Helena
estavam sérios, mais sérios do que Minerva já os tinha visto antes.
— Eu estou.
— Muito bem, então. Temos que descobrir como podem ficar juntos,
sem que ninguém descubra. — isso vindo de Bonnie, que nunca se
esquivou de um escândalo, em toda a sua vida.
Minerva poderia tê-la beijado. Em vez disso, apenas enviou um sorriso
grato em sua direção.
— Eu fiz coisas muito mais estúpidas por amor, Min. — disse — Eu lhe
prometo, vocês têm muito o que conversar.
— Sim, e não há absolutamente nenhuma exigência para fazer isso. —
Prue contribuiu, dando a Bonnie um olhar impaciente — Você está feliz no
casamento agora. Minerva tem um caminho a percorrer, antes que todas
possamos respirar com calma.
— Eu devo me desculpar com Matilda. — disse Minerva, olhando para
a porta, com uma sensação doentia agitando seu estômago.
— Há tempo de sobra para isso. Matilda não guardará rancor, e não é
como se fosse algo que não quiséssemos dizer. Ela está brincando com fogo
há muito mais tempo do que você e, por mais que eu deseje que se casar
com o Sr. Burton fosse a resposta, não estou certa de que seja. — Prue
suspirou e sentou-se, alisando a palma da mão sobre a barriga — Ela tem
tanto medo de ficar sozinha, e está certa, ele lhe oferece segurança.
— Ao contrário de Montagu, que vai mastigá-la e depois cuspi-la. —
disse Jemima, com a expressão sombria — E ele é o homem por quem ela
se apaixonou. A vida é tão, malditamente, injusta.
Todas ficaram surpresas. Jemima raramente falava, então, ouvi-la
praguejar, era nada menos que extraordinário.
— Bem, não é? — exigiu, enquanto todas olhavam para ela, em choque.
— Não, não é. — respondeu Helena, sucinta e com tanta força que
todas riram. A risada aumentou, até que havia lágrimas em seus olhos, e
elas estavam se inclinando uma para a outra, aliviadas por deixar de lado a
tensão, que estava segurando a todas.
Amigas, pensou Minerva, olhando ao redor da sala e sentindo seu
coração inchar de carinho e orgulho. As melhores amigas do mundo.

24 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo sentou-se na banqueta de trabalho, no laboratório, apoiado nos
cotovelos e ignorando a placa que acabara de colocar sob o microscópio,
preferindo olhar pela janela. Era um dia escuro, cinza e frio, uma chuva
constante se espalhava sobre as janelas, enquanto o vento soprava em
direção à parte de trás da casa. Uma corrente de ar frio serpenteava em
torno do vidro mal ajustado, fazendo-o tremer e lembrando-o de que não
havia acendido o fogo. Normalmente, estava muito envolvido em seu
trabalho para notar tais coisas, até que ficasse congelado, mas hoje sua casa
parecia escura e vazia. A solidão se enrolou no poço de sua barriga como
um cão velho, um companheiro familiar se acomodando para uma longa
soneca.
Ela o visitaria hoje, lembrou a si mesmo, e ele odiava a vibração de
antecipação em seu peito, a maneira como a esperança afugentava as
nuvens cinzentas e tornava tudo mais leve. Pare. Pare, disse a si mesmo.
Esperança era uma coisa perigosa, e ele aprendeu a desconfiar dela há
muito tempo. Teve um amigo no hospital dos enjeitados. Timothy Brown
havia chegado no verão em que Inigo completou oito anos, se tornaram
amigos rapidamente. Inigo, acostumado com a vida dura de um órfão,
protegeu Tim, que estava perdido e vulnerável, suscetível a intimidações.
Ele era o menino mais doce, com cachos loiros e grandes olhos azuis, o
rosto de um anjo. Também era robustamente constituído e saudável. Então,
quando um respeitável casal sem filhos veio ao hospital, procurando adotar
um menino para ajudá-los em sua fazenda, com certeza, foi Timothy que
eles levaram.
— Não se preocupe. — disse Tim, abraçando-o com força antes de sair
— Quando eu me acomodar, farei com que voltem por você. Duas mãos são
melhores do que uma.
Inigo acreditou nele. Esperou dias, semanas, imaginando quanto tempo
Tim levaria para se acomodar. Quando um dos guardas o pegou olhando
pela janela, pela quinquagésima vez, perguntou o que Inigo estava fazendo.
— Esperando por Tim, senhor. — respondeu — Foi adotado e disse que
pedirá à família que me leve também. Prometeu voltar por mim.
Inigo ainda podia ver o rosto preocupado do diretor. Ele era um dos
decentes, não tão habilidoso com os punhos quanto alguns dos outros —
Desista, rapaz. — disse ele, áspero, embora não rude — Eles não querem
meninos como você. Só querem os bonitos e os fortes e você não é nenhum
dos dois, então não cabe a Tim decidir quem pode ser adotado. Nunca mais
vão voltar. É melhor você se acostumar com a ideia.
— Não! — Inigo gritou, balançando a cabeça, lágrimas quentes
escorrendo por seu rosto — Não, não é verdade. Ele prometeu. Ele me
prometeu…
Bateu no diretor em sua fúria e foi enviado para a cama sem jantar, mas,
com o passar dos dias, ficou claro que o homem havia falado a verdade.
Essa verdade machucou mais do que qualquer coisa que Inigo já tivesse
conhecido, o que parecia ridículo, pois ele não havia perdido nada. Nada
havia mudado, pois não tinha nada a perder, mas tinha esperança, e perder a
esperança havia matado algo dentro dele, para sempre. Ou pelo menos era
isso que pensava. No entanto, aqui estava novamente, com aquela emoção
perigosa espreitando em sua cabeça, distraindo-o de seu trabalho, do que
importava, para olhar pela janela e sonhar com coisas que nunca poderia ter.
Só os bonitos e os fortes, disse o diretor. Bem, isso tinha mudado, pelo
menos. Agora eram cavalheiros ricos e bem educados da alta sociedade que
tinham o direito de tomar o que ele queria. Não queria, lembrou a si mesmo.
Sim, queria uma esposa, alguém para organizar sua vida, então não passaria
todos os seus dias em uma casa sem fogo aceso e sem comida nos armários.
Mentiroso. Não era só por isso. Foi porque ele estava cansado de ficar
sozinho. Harriet tinha sido sua amiga e ele pensou que seria bom ter uma
amiga com ele. Seria bom ter alguém com quem conversar sobre seu
trabalho, compartilhar uma refeição, pedir que alguém lhe trouxesse uma
xícara de chá e perguntasse como ele estava se saindo e, se ele se lembrasse
de almoçar, alguém que pudesse se lembrar de que ele existia e se
preocupasse com ele.
Inigo pressionou as mãos contra os olhos e respirou fundo. Teria sido
suficiente, teria sido, se ele não tivesse conhecido Minerva. Nunca pensou
que se sentiria possessivo com uma mulher, jamais desejaria uma mulher
sobre todas as outras. Nunca entendeu esses sentimentos. Sempre acreditou
que lhe conviria uma mulher que gostasse dele fisicamente, mas não
quisesse nenhum compromisso, nenhum casamento. No entanto, quando a
escandalosa Sra. Tate ofereceu isso, há alguns meses, ele correu
quilômetros. Por quê? Por que Minerva Butler de todas as pessoas? Por que,
diabos, essa mulher o estava irritando tanto e fazendo-o questionar tudo o
que acreditava sobre si mesmo, sobre o que queria? Maldita seja! Agora
suas entranhas estavam em um nó e ele não conseguia dormir, e muitas
vezes, podia jurar, sentia o aroma delicado dela, como um fantasma
assombrando sua casa, seu coração. Soltou a respiração, estabilizando-se,
recusando-se a olhar para o relógio. Ela não faria isso. Avisou-o que poderia
ser difícil dar uma escapada, mas que faria o possível. Mas, agora, ela não
faria isso. Agora ela sabia o que aconteceria se fizesse, e ela tinha voltado a
si, e…
Uma batida soou na porta de entrada e Inigo se levantou, quase
derrubando o banquinho com a pressa. Praguejando, olhou para sua camisa
amassada e lamentou não ter se vestido adequadamente. Abaixou as
mangas, pelo menos, embora não tivesse ideia de onde havia deixado as
abotoaduras. Passou a mão pelo cabelo, tentando alisá-lo, aliviado por ter
feito a barba, enquanto se apressava para abrir a porta.
Inigo olhou em choque, dando um passo para trás, enquanto era
confrontado por uma verdadeira parede de feminilidade.
— Bom dia, Sr. de Beauvoir. — cumprimentou a Duquesa de Bedwin,
dando-lhe um sorriso tenso quando o olhou e o fez sentir cada pedaço do
menino órfão esfarrapado que fora, enquanto ela encarava a camisa
amassada e o fato de não usar colete ou gravata.
Que deviam saber que ele estava esperando por Minerva e não tinha, ao
menos, tido a decência de se vestir corretamente, fez um calor subir pela
sua nuca. Procurou, no que parecia ser uma multidão de mulheres, e
encontrou Minerva olhando para ele, parecendo igualmente mortificada.
— Perdoe-me. — ela murmurou, os olhos arregalados de ansiedade.
— Viemos ver seu laboratório. — disse uma das damas, uma garota de
cabelos escuros e curvilínea com um leve sotaque escocês. Ele achou que
ela parecia vagamente familiar — Não se preocupe, não vamos ficar muito
tempo.
Deu-lhe um olhar travesso, analisando-o dos pés à cabeça, sorrindo.
Agora suas orelhas estavam queimando, assim como seu pescoço.
— Podemos entrar, então, Sr. de Beauvoir, ou devemos ficar na porta,
na chuva, pelos próximos vinte minutos? — a duquesa exigiu friamente.
Inigo deu mais um passo para trás, surpreso demais para fazer qualquer
outra coisa.
As mulheres entraram, uma após a outra. Parecia que havia dezenas
delas, saias farfalhando, fragrâncias cheirosas e delicadas perfumando o ar.
De repente, o corredor escuro estava cheio de cores e babados,
incrivelmente vivos, como se um bando de pássaros exóticos tivesse voado
pela janela, para escapar da chuva. Ele estava em menor número e não tinha
ideia do que fazer a seguir.
— O laboratório é por ali. — instruiu Minerva.
A duquesa assentiu e as mulheres a seguiram, deixando Inigo sozinho
com Minerva.
— Sinto muito. — disse, torcendo as mãos — Quando descobriram que
o estava visitando, começaram a agir protetoramente. Irão embora em
alguns minutos e eu vou ficar, e depois voltam quando Prue fingir ter
esquecido seu guarda-chuva. Dessa forma, ninguém notará que estive aqui.
Inigo lutou para encontrar palavras para reagir a esse esquema absurdo,
mas descobriu que não podia fazer nada além de encará-la.
— O senhor está bravo? — perguntou, seu rosto adorável obscurecendo,
enquanto ele apenas olhava para ela com indignação — Por favor, não fique
bravo. Sei que é ridículo e não faço ideia do que farão da próxima vez.
Terei que escapar sem que elas saibam, mas estão apenas cuidando de mim.
Inigo engoliu em seco — Eu… eu não estou bravo. — disse,
percebendo que estava falando sério.
— Essas mulheres eram suas amigas; estavam tentando proteger a
criatura tola, de si mesma. Admito que teria sido melhor se a tivessem
trancado no quarto, mas mesmo assim.
Minerva soltou um suspiro, seu alívio palpável — Oh, estou feliz. Eu
estava muito ansiosa para vê-lo.
Ela colocou uma mão no ombro dele e se levantou nas pontas dos pés,
pressionando um beijo suave no canto da sua boca. Inigo fechou os olhos
quando os lábios dela tocaram os dele, lembrando-se severamente de
respirar.
— Venha. — disse ela, pegando a mão dele — Estive trabalhando com
Prue para pedir a Bedwin que patrocinasse o seu trabalho.
Totalmente atordoado, Inigo a seguiu até seu laboratório, parando no
caminho para colocar um casaco e amarrar uma gravata, casualmente,
tentando não ficar histérico, ao ver seu santuário cheio de mulheres. Na
verdade, havia apenas cinco delas, incluindo Minerva. Mas parecia uma
invasão.
— Nós prometemos que não tocaremos em nada. — observou a
duquesa, uma diversão brilhando em seu olhar penetrante quando ela notou
sua expressão de pânico — Minerva nos diz que o senhor acredita que fez
uma descoberta significativa. Um novo elemento?
Inigo assentiu — Estou escrevendo um artigo no momento. — disse,
reconhecendo, ironicamente, para si mesmo pelo menos, que o artigo,
atualmente, consistia em cerca de cinco linhas, pois sua mente tinha estado
em outro lugar.
— Bedwin é fascinado por essas coisas. — disse a duquesa, lançando
um olhar curioso sobre as prateleiras e superfícies de trabalho — O senhor
deve vir para o jantar, assim que seu artigo estiver escrito, antes de publicá-
lo. Tenho certeza de que ele acharia interessante. É um grande patrocinador
das artes e das ciências.
Inigo piscou, atordoado, apenas voltando a si enquanto os dedos
enluvados de Minerva se enrolavam em torno dele.
— Seria… Seria uma honra, Vossa Graça. Obrigado. — conseguiu
dizer.
A duquesa assentiu, antes de encaminhar o resto das mulheres de volta
para a porta. Seus olhos castanhos se fixaram nele por um momento,
considerando — Eu admiro qualquer um que faz um sucesso de sua vida,
especialmente aqueles que lutaram contra a adversidade. Eu, por exemplo,
não acredito que o ato de ser um cavalheiro é algo a que se chega por
nascimento. Espero que seja um cavalheiro, Sr. de Beauvoir. Estou sendo
clara?
— Prue! — Minerva exclamou, olhando para a prima, exasperada.
— Precisa ser dito, Min. — respondeu Prue, perfeitamente calma e
nunca tirando sua atenção de Inigo.
Por sua vez, ele se sentia como uma criança repreendida. Ela era,
notavelmente, intimidante, para uma jovem tão magra. Inigo ergueu os
ombros, franzindo um pouco a testa.
— Eu a alertei para que não viesse, que não deveria ficar aqui comigo.
— disse, tão beligerante e irritado quanto parecia.
— E como isso está funcionando para o senhor? — Prue perguntou,
com o leve erguer de uma sobrancelha.
Inigo bufou e cruzou os braços.
— Precisamente. — respondeu, cortada e fria, embora seus lábios se
curvassem um pouco. Aquele fantasma de sorriso desapareceu, e ela deu
um passo mais perto, baixando a voz — Ser casada com um duque tem
certas vantagens, Sr. de Beauvoir. Isso me dá o poder de fazer uma boa
jogada, mas machuque minha prima e eu vou machucá-lo onde o senhor
sentirá mais.
Inigo não se sentia ameaçado, desde que era menino, nas mãos dos
maiores e mais fortes do que ele. Ainda parecia a mesma coisa. Estava,
vagamente, ciente de Minerva gemendo e colocando as mãos na cabeça. A
duquesa deu um passo para trás e deu um largo sorriso.
— Tenha uma tarde adorável, Min. Viremos buscá-la às quatro, como
combinado. Até mais, querida.
A duquesa saiu com um farfalhar de tecido caro, deixando-os sozinhos.
Eles ouviram a porta da frente se fechar. Inigo sentou-se na beira da
bancada, incerto sobre o que acabara de acontecer.
10
Eu acho que é a coisa certa a fazer. Quero dizer, você se
casou com um homem que não conhecia, que nem era muito
agradável com você, e olha como isso acabou. Eu sei que o
Sr. Burton não é o que eu sonhei, mas quantas de nós
conseguem viver nossos sonhos? Não acredito que ele me
machucaria, e eu teria uma casa adorável, uma família. O
mais sensato é aceitar a oferta dele quando chegar e ficar
grata por ele ter feito o pedido, e é isso que vou fazer.
Não acha que é melhor assim?
— Trecho de uma carta da Srta. Matilda Hunt para a
Sra. Ruth Anderson.

Ainda em 21 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


— Inigo?
Minerva colocou a cesta que carregava no chão e se moveu em direção
a ele. Inigo não se mexeu, recostando o peso na bancada e observando-a
com cautela, enquanto se aproximava. Ela deu um passo entre as coxas
abertas dele, deslizando as mãos em volta do pescoço dele.
— Está tudo bem — falou suavemente.
Inigo olhou para ela, indignado com sua certeza, quando claramente não
era nada disso.
— De que maneira está tudo bem? Estou sendo chantageado pela
Duquesa de Bedwin. Só não tenho certeza do que devo fazer. Devo fazer o
pedido agora?
Havia uma nota amarga em suas palavras, que ele não sentia
inteiramente, e lamentou, de imediato, quando Minerva retirou as mãos de
seu pescoço e se afastou.
— Claro que não. — disse ela, e havia algo melancólico em seus olhos,
que o fazia querer cortar a língua — Sinto muito, Inigo, de verdade. Eu…
Eu não pude detê-las, detê-la. Prue é muito teimosa e… e me protege. Já é
de grande valia não ter me trancado ou me mandado embora. Ela não é
sorrateira, não vai lhe enganar para que se case comigo. Sabe que o estou
perseguindo e que você não tem culpa. Contei a ela tudo o que fiz. É uma
marca de sua confiança o fato de ter me deixado ficar aqui com você.
Inigo olhou para ela, incerto sobre o que sentia e sem ideia do que dizer.
Ela estava aqui e, não importava o que acontecesse, ele não conseguia
encontrar nada de que se arrependesse.
Seu rosto caiu, enquanto continuava a observá-la, em silêncio. — Vou
colocar as coisas do almoço na mesa.
Pegou a cesta e o deixou se sentindo tão desconfortável e mal, como
suas visitas sempre faziam. Depois de um momento, ele se mexeu. Havia
pouco sentido em fingir que não queria vê-la, que não queria este tempo
com ela, então, era melhor aproveitar ao máximo. Foi para a sala de estar,
vendo-a através dos olhos de Minerva e fazendo uma careta. Havia um
tapete desgastado na frente do fogo, duas cadeiras que não combinavam -
uma das quais estava perdendo o estofamento por um rasgo na almofada - e
não muito mais. Bem, não era como se ele tivesse fingido ser um homem
rico. Disse-lhe que havia nascido nas favelas, era órfão e andou no meio dos
desesperados. Esta casa sempre pareceu um palácio para ele, uma marca de
seu sucesso; estaria condenado se se sentisse envergonhado disso agora. No
entanto, uma sensação desconfortável de inadequação o deixou no limite.
Inigo foi até a lareira e acendeu o fogo, varrendo as cinzas e
certificando-se de que estava queimando. Não adiantava fingir que
ignoraria a presença dela e voltaria ao trabalho depois do almoço. Poderiam
se sentar aqui e… e o quê? Conversar educadamente? Beber chá? Sabia o
que queria fazer, e sabia que o aviso de Prue não tinha sido uma ameaça
ociosa. Cortaria as bolas dele se ultrapassasse a marca. O problema era que
ele não sabia onde a marca estava. O que elas esperavam dele? Certamente
a duquesa não toleraria um casamento entre os dois. Então, ela estava
apenas permitindo que Minerva desfrutasse de um caso de amor, antes de se
casar com uma escolha mais adequada? Algum nobre, desprovido de
queixo, com potes de dinheiro, sem dúvida.
Disse a si mesmo que estava tudo bem, que era o arranjo perfeito.
Conseguiu o que queria, sem compromisso, sem culpa. No entanto, o ciúme
fervia sob sua pele, por mais que tentasse fingir que não era nada disso. Não
se poderia possuir outro ser humano; não se poderia ter esse poder sobre
outra pessoa ou mantê-la para si mesmo. Todo mundo era dono de seus
próprios narizes e deveriam viver suas vidas como achavam adequado, com
o mínimo de interferência de qualquer outra pessoa. O que as pessoas
faziam, na privacidade de seus quartos, com quem, quantas vezes ou com
quantos amantes, eram problemas seus. Disse isso a si mesmo, disse a si
mesmo que não tinha direito a Minerva, e ela não tinha nada contra ele, mas
a sensação doentia em seu estômago discordava fortemente.
— Aqui está você.
Sua cabeça se levantou, quando descobriu que estava ajoelhado na
poeira, ainda olhando para as chamas.
Minerva entrou, sorrindo para ele — Que sala encantadora. — disse ela,
olhando em volta.
Inigo franziu a testa, imaginando se ela estava sendo educada ou
zombeteira, mas parecia que estava falando a verdade.
— Deve ser aconchegante aqui, quando acender a lareira.
— Eu gosto. — admitiu, um pouco relutante, mas percebendo que era
verdade.
Apesar de suas dúvidas sobre o que ela poderia pensar disso, além do
seu laboratório, era seu cômodo favorito na casa.
— Vai vir e comer agora? — ela perguntou, estendendo as mãos para
ele. Havia um vislumbre de incerteza em seus olhos, que ele percebeu que
não gostava.
— Trouxe bolo? — perguntou, sabendo que ela certamente trouxera.
— Claro que sim. — disse. Estendeu a mão e acariciou o cabelo dele,
cardando-o entre os dedos, como se estivesse acariciando um gato.
Inigo fechou os olhos e conteve o desejo de ronronar.
— Você parece cansado. — disse, enquanto sua mão se movia para
baixo, segurando sua bochecha.
Inigo a cobriu com a própria mão, virando-a para ele e beijando a
palma, enquanto respirava aliviado. Oh, Deus, sim. Suas mãos nele, seu
toque… estava ansioso por isso, doía por isso, e, ainda assim, não sabia o
quanto, até aquele momento.
Ele ouviu a respiração dela travar, e perseguiu o som, traçando um
círculo na palma da mão dela com a língua, querendo-a novamente. Ela
condescendeu, o pequeno suspiro cada vez mais ofegante, enquanto seus
lábios se moviam para o pulso dela. Podia sentir o pulso dela contra sua
boca, batendo loucamente, como um pequeno pássaro preso sob sua pele.
Era estimulante.
— Venha comer primeiro. — disse ela.
Olhou para ela, sabendo que seus olhos deveriam estar escuros de
desejo, mas segurando a parte mais importante da frase… primeiro. Antes.
A antecipação não o mataria, ele supôs, embora, neste momento, isso não
parecesse uma certeza.
Inigo ficou de pé, olhando para Minerva, enquanto ela devolvia seu
olhar, muito confiante, muito certa de sua capacidade de se comportar como
deveria. Garota tola. Estava meio louco por querê-la. No entanto, a seguiu
de volta até a cozinha, manso como um cordeiro. Ela acendeu o fogão e
uma lamparina queimava sobre a mesa, brilhando confortavelmente,
iluminando a cozinha contra o céu cinzento e pesado do lado de fora.
Estranho como o lugar parecia tão enfadonho quando fora buscar o café
naquela manhã. Tomou chá, pelo menos, e encontrou alguns biscoitos.
Ocorreu-lhe, então, que não era o fogão aceso ou a lâmpada que
transformavam sua casa, era ela. Deveria estar enojado com essa ideia, mas
aquele sentimento, imprudente e perigoso, surgiu dentro dele, novamente.
Esperança.
Tolo.
— Sente-se. — comandou ela, sorrindo para ele e puxando uma cadeira.
— Esse não é o meu trabalho? — ignorou-a, pegando a cadeira em vez
disso, desejando que seu peito não reagisse tão estranhamente, toda vez que
ela sorria para ele, arrancando a armadura que tão bem havia construído
para se proteger de querer coisas que não poderia ter.
Ela se sentou e Inigo lutou contra a sensação proprietária que lhe dava
vê-la sentada em sua mesa.
— Eu aqueci um pouco de sopa. — disse ela, levantando a tampa de
uma panela, enquanto Inigo apreciava o delicioso aroma. Não é à toa que
aquela cesta parecia tão pesada. — E há pãezinhos frescos e manteiga, pedi,
também, à cozinheira, para colocar um pedaço da torta que fez, já que você
gostou tanto da de presunto e frango.
— Obrigado. — disse, observando-a colocar a sopa em uma tigela.
Entregou-lhe a tigela, antes de servir a si mesma, estava ciente da
maneira como o observava, o peso de seu olhar sobre ele, como uma
carícia. Isso fez seu corpo ficar apertado, o desejo fervendo sob sua pele.
— Está bom?
Ele assentiu, muito perturbado para falar, preocupado em dizer algo que
não deveria. Comeram em silêncio, como se ela também sentisse essa
incerteza, essa antecipação, esse terror de querer algo que sabia que não
seria permitido manter. O tempo todo lembrando a si mesmo que não queria
nada. Temporário, era apenas temporário. Ela estava brincando com ele, se
divertindo e satisfazendo seus próprios desejos, antes de se casar para
agradar sua família.
Não.
A força com que suas emoções se rebelaram com a ideia o chocou. Não.
Não é temporário.
Sua.
Não pode possuí-la. Não pode ficar com ela. Ela não é sua.
Inigo comeu porque lhe agradava, embora perdesse tempo, privando-o
dos minutos em que poderia estar com as mãos sobre ela, tocá-la, beijá-la.
Ele não podia negar, por causa da maneira como seus olhos se iluminavam
de prazer. Ela parecia gostar de cuidar dele e essa era uma experiência nova.
— Fico feliz que você tenha gostado. — disse ela, parecendo muito
satisfeita consigo mesma.
— Eu me sinto como um peru de Natal. — ele resmungou, sem querer.
— Bem, você tem um longo caminho a percorrer. — disse ela, rindo,
enquanto se levantava e, em seguida, fazendo-lhe uma crítica. — Embora
eu ache que talvez você já tenha engordado um pouco. — o olhar dela
percorreu seus ombros, o peito, deixando-o quente e inquieto — Eu
continuo pensando que devo arranjar uma governanta para você, mas sou
muito egoísta.
Suas palavras desapareceram quando ela se afastou e levou as sobras
para a despensa, armazenando-as.
— Egoísta? — perguntou assim que ela voltou.
— Sim. — disse, dando-lhe um olhar interrogativo, enquanto recolhia
os pratos e utensílios sujos — Eu não quero mais ninguém aqui. Quero tê-lo
só para mim.
Ai Deus!
— Deixe isso — ele ordenou, levantando-se e segurando o pulso dela.
As facas e garfos que ela estava segurando caíram sobre a mesa e ele a
puxou, forçando-a a segui-lo de volta para a sala. Fechou a porta com força
e a puxou para os braços, beijando-a como se estivesse faminto e fosse
devorá-la. As ameaças de sua prima soaram em seus ouvidos, mas não as
escutou, estava fora de controle, e não fez nada para dissuadi-lo, nada para
dizer não, para parar o ataque à sua boca, embora ela devesse.
De alguma forma, ele se forçou a quebrar o beijo, ciente de que estava
tremendo. Os dois estavam. Minerva olhou para ele, em seus olhos escuros,
os lábios vermelhos e inchados e, Deus, ele a queria.
— Não deveria me permitir fazer isso. — disse, sua voz toda riscada e
estranha — Você deveria dizer não, lembra?
Ela deu uma risada trêmula — Eu vou, se quiser que você pare.
Inigo gemeu. Ambos estavam condenados. A duquesa o cortaria em
pedaços e o jogaria no Tâmisa, e Minerva seria arruinada. Era inevitável.
— Pare de parecer tão angustiado.
Olhou de volta para Minerva e viu uma expressão de afeto confuso em
seus olhos, sua garganta ficou, inexplicavelmente, apertada. Suspirando, se
afastou dela e sentou-se na cadeira perto do fogo. Ela caiu em seu colo um
momento depois, como um pêssego maduro, como se fosse a coisa mais
natural do mundo, como se pertencesse ali. Oh, sim, ela pertencia.
— Sua prima vai me castrar se você não for para casa no mesmo estado
em que chegou. — afirmou, muito ciente de seu traseiro macio pressionado
contra seu membro.
Ela se mexeu um pouco em seu colo e ele segurou um gemido.
— Prue não é tola. Ela sabe que vou beijá-lo, que quero ficar com você
por um motivo.
Ele gemeu desta vez, fechando os olhos e descansando a cabeça contra
o encosto da cadeira. Ele paralisou, mal se atrevendo a respirar, quando
dedos ágeis desabotoaram sua gravata e a soltaram. Uma mão quente
deslizou dentro de sua camisa e ele ofegou junto com Minerva, enquanto a
mão dela se movia sobre seu peito nu.
— Você é tão quente. — ela se maravilhou — Sedoso, também. Acho
que sua pele é mais macia que a minha.
Ela sorriu quando Inigo grunhiu, muito excitado para fazer qualquer
coisa, apenas deixá-la explorar. Encontrou os cabelos grossos no peito dele
e passou os dedos para frente e para trás, fazendo-o estremecer.
— Tire sua camisa. — ela sussurrou — Quero vê-lo.
Inigo olhou para ela, perguntando-se se havia imaginado suas palavras,
mas ela puxou o item ofensivo com impaciência, fazendo seus desejos
claros o suficiente.
— Permita-me tirá-la. — sua voz era áspera, traindo sua urgência,
enquanto ela se levantava e depois roubava seu lugar no assento,
observando-o atentamente, enquanto tirava o casaco e puxava a camisa
sobre a cabeça.
A maneira como sua respiração prendeu, o olhar aquecido em seus
olhos, o fez se sentir desequilibrado, oscilando à beira do que ele sabia ser
aceitável. Embora, como poderia saber o que era aceitável nessa situação,
não conseguia entender. Ela não era uma mulher de comportamento
duvidoso, que ele pudesse pagar por uma deitada rápida. Ela não tinha
nenhuma experiência, e ele não deveria ser o primeiro a dar isso a ela, era
algo para seu marido fazer. Esse pensamento foi afastado rapidamente. Ela
o queria, queria isso, e ele iria atender a esse desejo. Não achava que havia
regras para isso, como para escolher os talheres certos.
Inigo se ajoelhou diante dela, lutando para manter sua respiração sob
controle, enquanto ela tentava tocá-lo. Suas bochechas estavam coradas,
seus olhos brilhavam quando colocou as mãos na pele dele. Ele fez o seu
melhor para não reagir, mas ainda se assustou, como se tivesse ficado
chocado, quando suas palmas macias realizaram por seu peito. Seus dedos
traçaram as linhas de músculos e tendões e ele estremeceu de prazer, e foi
tão forte, estava ciente de seu membro pressionando, como se estivesse
contra os limites de suas roupas, desesperado para que seu toque se
movesse mais para baixo. Ele segurou o olhar de Minerva enquanto pegava
seus tornozelos, observando os lábios dela se separarem, ouvindo sua
respiração engatar, quando as mãos dele deslizaram, permanecendo sobre as
panturrilhas, empurrando a espuma das saias e anáguas enquanto avançava.
— Aproxime-se. — disse ele, sua voz obscura de desejo.
Ela avançou em direção à borda da cadeira e ele se inclinou, beijando-a
suavemente. Suas mãos encontraram a carne macia no topo de suas meias,
acariciando para frente e para trás, com as pontas dos dedos, apreciando a
maneira como ela tremia contra ele.
— Você, definitivamente, tem a pele mais macia do que eu. —
murmurou contra a boca dela. — E eu nem encontrei os lugares mais
suaves de todos, ainda. Devo encontrá-los?
Estava respirando fundo, enquanto ele se afastava para estudá-la, mas
ela assentiu, permitindo que ele deslizasse as palmas das mãos mais alto, os
polegares mergulhando no vinco sedoso, na junção de cada coxa.
— Como cetim. — murmurou, imaginando como ele encontraria seu
caminho de volta à sanidade, de volta a um lugar onde sua mente poderia se
concentrar em qualquer coisa, exceto isso, a sensação dela sob suas mãos, o
cheiro quente e feminino de sua excitação o intoxicando.
Estava desesperado, aguentando por um fio, para não assustá-la quando
queria prová-la, devorá-la, torná-la sua em todos os sentidos. Era um desejo
ridículo, primitivo e possessivo, mas, por mais que dissesse a si mesmo que
não era um maldito homem das cavernas, não conseguia afastar a
necessidade de torná-la sua, marcá-la, de alguma forma que mostrasse ao
mundo que Minerva pertencia a ele e só a ele. Loucura. Era loucura, mas
não podia fingir que queria sanidade novamente, quando isso era tão doce.
Ele se inclinou para ela, beijando-a novamente, enquanto seus polegares
acariciavam o caminho acetinado, tentadoramente, perto de onde queria
estar, enquanto aprofundava o beijo, empurrando-a para se deitar na cadeira.
— Mostre-me. — ele exigiu, olhando para os botões que fechavam o
decote recatado de seu vestido.
Seus dedos tremiam quando ela os alcançou, se atrapalhando e
demorando uma quantidade agonizante de tempo, enquanto abria cada um
deles, para expor seu chemise e o espartilho, que mantinha seus seios altos e
carnudos.
Inigo prendeu a respiração, enquanto puxava a fita que segurava a
chemise.
— Mostre-me. — pediu novamente, com mais força, soando demente e
fora de controle, o que era verdade demais.
Ela puxou o espartilho, forçando-o a descer, antes de retirar a chemise,
para expor seus seios a ele. Ele gemeu, o som arrancado dele, enquanto
abaixava a boca nela, cobrindo as amplas curvas com beijos, enquanto as
mãos dela afundavam em seus cabelos, segurando-o contra ela.
— Minerva. — disse ele, falando o nome dela como uma promessa de
devoção. — Oh, Deus, Minerva.
Ela emitiu um som suave, um suspiro de prazer e isso o fez querer
chorar com gratidão, adorá-la por tudo o que lhe deu. Uma mão deslizou do
caminho persuasivo que ele provocou em sua coxa, seus dedos peneirando
os cachos de veludo entre suas pernas, enquanto ela paralisava e ofegava,
um pouco ansiosa agora.
— Eu quero tocá-la. — disse ele, ciente de que parecia implorar, mas
incapaz de se conter — Por favor, amor, deixe-me tocá-la.
Ela assentiu, seus olhos vítreos de desejo. Que Minerva o quisesse
assim, era impossível compreender, mas ela veio até ele, escolheu-o,
quando poderia ter tido qualquer outro homem.
— Não a machucarei. — prometeu — Eu nunca a machucaria.
— Eu sei. — disse ela, seu sorriso tão doce, tão confiante, que seu peito
doía com a enormidade disso.
Enterrou o rosto no pescoço dela, respirando seu cheiro, tão familiar
agora, e ainda mais encantador, quando seus dedos deslizaram entre as
coxas dela. Um som foi arrancado dele, quando procurou e encontrou o
lugar onde Minerva queimava por ele, a encontrou molhada e tão quente.
Seu corpo latejava tão insistentemente, que teve que cerrar os dentes para
não se despedaçar. Inigo a acariciou com golpes lentos e suaves,
lembrando-se de que era a ela que queria agradar. Queria dar-lhe uma
amostra do que poderia haver entre eles. Apenas um gostinho, prometeu a si
mesmo. Não tomaria tudo, não a arruinaria totalmente, e não apenas porque
sua prima o arruinaria se o fizesse.
Minerva suspirou, inquieta sob seu toque, guiando sua boca de volta
para seus seios. Inigo ficou muito feliz em agradá-la. Estava escravizado,
um prisioneiro da vontade dela, mas, então, tinha sido assim desde o início,
não importava o quanto isso o aterrorizasse. Não importava o quanto
lutasse, não tinha força para resistir. Quando ela abriu as pernas,
permitindo-lhe mais acesso, ele quase soluçou, seu desejo de estar dentro
dela era muito grande. Em vez disso, moveu-se para trás, levantando as
saias dela até os quadris, a respiração dele prendendo, com a visão dos
cachos loiros e macios entre suas coxas.
— Inigo. — disse ela, sua expressão incerta, quando ele desviou o olhar
para encontrar seus olhos.
— Eu… Eu preciso…— começou, tentando encontrar as palavras,
quando qualquer coisa coerente havia sido queimada de seu cérebro —
prová-la… Eu quero prová-la…
A boca de Minerva se abriu em choque e ele temia que tivesse ido longe
demais, temia que ela o negasse.
— Você… você quer…?
Ela parecia tão intrigada com a ideia, que poderia ter sido divertido, se
ele não estivesse tão desesperado.
— Sim. — disse ele, a palavra áspera de desejo — Sim, por favor. Por
Deus, Minerva.
— Isso… isso vai ser… bom? — ela perguntou, as bochechas
escarlates.
Inigo não pôde evitar o sorriso libidinoso que se curvou sobre sua boca.
— Oh, sim, será. — disse, sua voz grave, apesar de seu triunfo —
Prometo que será muito mais do que apenas bom. Deixe-me mostrar.
Prometo que vou parar se você quiser. — acrescentou.
Por favor, não me peça para parar. Por favor, não me peça para parar.
Minerva engoliu em seco e depois assentiu — Então, está bem.
Ele fez um som de satisfação, inclinando-se para a frente, para beijar
sua boca mais uma vez, com força, antes de puxar os quadris para mais
perto da borda do assento e manter as coxas abertas.
— Acredito que você não tem a menor ideia de como é linda. — disse,
ciente da maneira reverente como falava — ou do que faz comigo. Eu quero
conhecê-la, cada parte sua, cada pinta. — disse sorrindo, dando um beijo na
parte interna da coxa dela, onde havia uma pequena mancha, decorando sua
pele perfeita.
Minerva ofegou com a respiração vindo mais rápido, quando os lábios
de Inigo se moveram, inexoravelmente, para mais perto, beijos suaves, de
boca aberta, o toque de sua língua avançando em direção ao objetivo. Por
fim, ele estava lá, a boca aguando enquanto a provava.
Minerva gritou, embora não parecesse uma reclamação, então ele fez
isso novamente, e novamente, sua língua procurando e encontrando todos
os lugares mais suaves e secretos. As mãos dela afundaram em seus
cabelos, segurando-o no lugar, e ele grunhiu de satisfação, querendo que o
guiasse, para mostrar como agradá-la melhor. Ele faria qualquer coisa para
manter aqueles sons delicados e devassos zumbindo em seus ouvidos,
fazendo-o arder. Seu único desejo era fazer tudo o que ela queria. Era tão
perfeita, tão deliciosa, e ele demorou, nunca querendo que o momento
parasse, saboreando-a e aos pequenos sons eróticos que fazia, enquanto se
contorcia sob ele. Sorriu, satisfeito além da razão, segurando suas coxas
abertas, mantendo-a imóvel, para que pudesse explorar cada centímetro
dela, em seu tempo. Isso não era algo para ser apressado e ele manteve o
toque lento e carinhoso, persuadindo-a suavemente para o auge do prazer,
aceso de alegria, com a honra que ela lhe dera. Confiou nele, com seu
corpo, e isso fez algo em seu peito doer de necessidade. Seu coração bateu
forte, quando notou a respiração dela se tornando errática, percebendo que o
clímax se aproximava.
Sim. Sim, por favor.
As mãos de Minerva se apertaram em seu cabelo, tão forte que doeu,
desejou que ela não parasse, para tomar tudo o que quisesse, enquanto seu
corpo se apertava sob ele.
— Inigo. — gritou, atordoada e chocada, curvando-se enquanto o
clímax a tomava.
Era demais, seu triunfo em seu prazer era muito grande, agarrou os
botões de suas calças, libertando seu membro e tomando-o na mão. Mal se
tocou, desmoronando quando ela também desmoronou, entorpecido com o
som do nome dele em seus lábios, quando gozou para ele. Oh Deus, oh
Deus. Nunca, jamais se sentira assim, e ele nem sequer estivera dentro dela.
Aliviou-a através de seu clímax, suavizando seu toque, para não
sobrecarregar sua carne sensível, mas tirando cada onda estremecedora de
seu corpo, até que ela se sentisse impotente e maleável.
Inigo recostou-se nos calcanhares, abalado pela força de tudo o que
sentia, desfeito pela onda de ternura que o dominava, enquanto considerava
os resultados de suas atenções. Minerva se esparramou na cadeira, sem
vergonha e exposta a ele, os olhos fechados e a pele corada, um leve sorriso
curvando sua boca exuberante. Com as mãos, que estavam longe de estar
firmes, encontrou um lenço e se limpou, abotoando as calças mais uma vez,
não querendo chocá-la muito. Olhou para ela, aterrorizado com a
enormidade de suas emoções, sabendo que não poderia deixá-la sair de sua
vida. Não depois de hoje.
No entanto, ele não sabia como, não sabia… nada. Seu coração estava
batendo forte em seu peito, queria abraçá-la, então o fez, enterrando o rosto
contra seus seios, os braços em volta de sua cintura, segurando-a forte
contra ele. Se sentia como um tolo. Ela era virgem, este seu primeiro
encontro sexual, de verdade; era Minerva quem deveria estar buscando
conforto, não ele, mas seu mundo havia se inclinado em seu eixo e sentiu
como se tudo estivesse suspenso, à beira de um penhasco.
Não me deixe cair.
— Oh, meu Deus. — disse ela, suspirando feliz, inconsciente do
tumulto que havia causado.
Ela acariciou o cabelo dele que fechou os olhos, nunca querendo que
parasse, nunca querendo que fosse embora.
— Isso foi… — deu uma leve gargalhada — Você estava certo, é muito
mais do que bom. Que palavra inadequada.
Era inadequado para algo que havia quebrado suas defesas e o
deixado exposto. Como foi que ela deu tanto e ele foi quem ficou
vulnerável. Tinha tanta certeza de que era apenas desejo por frutos
proibidos, então rezou para que fosse apenas seu desejo que o levasse a
desejá-la… agora, no entanto. Quando contou a Solo sobre a primeira vez
que Minerva o beijou, seu amigo perguntou se tinha sido um beijo
agradável. As únicas palavras que Inigo conseguiu pensar foram
apocalípticas, cataclísmicas, e estava certo. Abandone toda a esperança de
entrar aqui, mas, estupidamente, esperança era algo que ela lhe presenteou.
Ela mudou suas crenças sobre tudo o que ele queria. Começou a questionar
seus motivos, sua moral, toda a sua visão da vida, o que era terrível o
suficiente, mas sonhar com mais, acreditar nos contos de fadas que ele
sabia serem uma mentira - ter esperança… Era o pior e mais terrível destino
que poderia imaginar, ter a chance de esperar mais uma vez, sem garantia
de que não seria arrancado de seu alcance novamente e deixá-lo quebrado
além do reparo.
Fechou a mente para o futuro, para seus medos, querendo apenas se
divertir neste momento, caso fosse tudo o que ele teria. A pele dela era
como seda sob sua cabeça e se aconchegou em seus seios, beijando-os,
querendo ficar assim para sempre. Sua boca procurou seu mamilo e o
chupou, provocando-o de volta a um pico, quando Minerva arfou. Ele criou
trilhas de beijos por cima da clavícula, no pescoço dela, desejando ter
tempo de levá-la para a cama e mandar as amigas aos diabos. Voltariam
para buscá-la em breve e ele não tinha ideia de como as olharia nos olhos,
mas não pensaria nisso, ainda não. Inigo encontrou sua boca e a beijou,
beijos ternos, que revelaram muito do que ele precisava manter escondido,
para guardar algo de si mesmo, não importando quão pequeno e lamentável.
Ela recuou, segurando o rosto dele, para que pudesse olhar em seus
olhos e ele quase se virou, não querendo que visse o que havia feito.
— Em uma escala de um a dez, quanto você me ama? — perguntou,
uma nota provocadora em sua voz, enquanto sorria para ele.
Ai Deus.
Inigo sentiu seu coração chutar em seu peito, o pânico fazendo seu
pulso dançar, erraticamente. Quase podia sentir a cor deixar seu rosto.
Balançou a cabeça, incapaz de responder, rezando para que ela não
insistisse que colocasse um número em algo que ele não podia, não ousava
quantificar de tal maneira.
Por um momento, ela o estudou, muito atentamente, como se estivesse
descascando as camadas blindadas que ele escondia atrás, como papel de
seda. Então ela sorriu, tão gentil e compreensiva, que sua garganta se
apertou e o sangue que o deixara voltou com pressa, fazendo-o corar como
um menino repreendido.
— Tudo bem. — disse ela, dando um beijo nos lábios dele — Mas você
terá que me contar, eventualmente.
Mais tarde, ele rezou. Muito, muito mais tarde. Ele a distraiu com beijos
e as mãos sobre ela, até que expulsou tais perguntas de sua mente.
11
Sinto muito, Tilda, querida, mas acho que talvez tenha
interpretado mal minhas razões para me casar com Gordy.
Sei que eu disse que era a coisa mais sensata a fazer na
época. Eu fiz parecer que, depois de seis temporadas, estava
desesperada. Bem, isso era parcialmente verdade, mas não
foi por isso que eu o fiz.
Eu o queria, Matilda. Não queria nada mais do que ele,
desde o primeiro momento em que o vi. Estava motivada pelo
desejo, não pelo bom senso, então, pelo amor de Deus, não
tome minhas ações como uma razão para fazer a coisa
sensata, porque a última coisa que eu estava, quando sugeri
a Gordon que se casasse comigo em vez de Bonnie, era
sensata.
—Trecho de uma carta da Sra. Ruth Anderson para a
Srta. Matilda Hunt.

Ainda em 21 de janeiro de 1815. Beverwyck. Londres.


— Prue, realmente, pare de puxar com tanta força. Vai arrancar meu
braço. — Minerva resmungou enquanto sua prima a rebocava escada acima.
Ela sabia que esse momento chegaria. Não havia como escapar. O pobre
Inigo parecia tão culpado, que mal conseguiu olhar nos olhos de Prue.
Surpreendentemente, Minerva não se sentia nem um pouco culpada. Na
verdade, a emoção dominante era de felicidade borbulhando dentro dela, e
um sorriso, terrivelmente, presunçoso continuava tentando escapar,
curvando os cantos dos lábios.
Finalmente, chegaram ao quarto de Prue, onde Minerva foi empurrada
para dentro, e a porta se fechou atrás delas.
— O que aconteceu? — Prue exigiu, os braços cruzados.
As sobrancelhas de Minerva se ergueram — Não é da sua conta. —
respondeu.
Prue olhou para ela — Não é da minha… Minerva, eu permiti que você
visitasse o maldito homem, com o entendimento de que não faria nenhuma
besteira.
— Oh, não foi besteira. — disse Minerva, dando um suspiro feliz e
sentando-se na beira da cama de Prue — Foi… foi maravilhoso.
— Oh, meu Deus! — levantou as mãos — Vou cortá-lo em pedacinhos.
— ameaçou, repentinamente, selvagem, considerando que Prue geralmente
era tão equilibrada.
— Pelo amor de Deus, Prue. — Minerva balançou a cabeça — Ele não
me arruinou. Eu ainda… ainda sou…
— Se você não pode dizer, como pode ter certeza de que você é? —
Prue perguntou, contundente agora. Cruzou os braços com mais força, as
bochechas brilhando um pouco mais intensamente — Você ao menos…
Você ao menos sabe o que…? A tia Phyllis já explicou…
— Por Deus, não! — Minerva disse, sua mente se rebelando contra a
ideia de sua mãe instigar tal conversa — Não, Harriet me deu este livro
fascinante…
Prue gemeu.
— E Bonnie preencheu as lacunas, então…
— Oh, Deus me ajude.
Sua pobre prima parecia tão indignada, que Minerva só podia rir — Está
tentando me dizer que você e Robert não… bem, você sabe, antes de se
casar.
As bochechas de Prue ficaram vermelhas — Eu quero que você saiba
que eu era virgem na minha noite de núpcias.
Ela ergueu o queixo, cheia de indignação justificada.
Minerva apenas franziu a sobrancelha para ela e Prue bufou.
— O que eu fiz ou não fiz não está em discussão aqui. Robert queria se
casar comigo e ele é um duque. Além do mais, eu não precisava da
permissão de ninguém ou de uma boa opinião. Mesmo que este homem se
sinta forte o suficiente para querer se casar com você, o que, exatamente,
você vai fazer com sua mãe? Ainda não tem vinte e um anos, devo lembrá-
la. Ela ainda pode proibir a união.
— Somente até julho. — murmurou Minerva, traçando o padrão de hera
no contra painel com a ponta do dedo, ciente de que Prue estava certa.
Inigo havia dito a ela, desde o início, que não tinha intenção de se casar.
Ele não acreditava em amor ou casamento, ou mesmo monogamia. Estava
arriscando tudo por um homem que a avisara, repetidamente, de que nunca
seria o que ela queria que ele fosse. A percepção estourou a pequena bolha
feliz em que estava flutuando, e caiu de volta ao chão, com muita força.
Minerva piscou, os olhos ardendo, e então se lembrou dos momentos
após, ele a ter feito se sentir… sentir que estava voando. Nunca soube que
tal prazer era possível, mesmo que Bonnie tivesse sido bastante franca
sobre o assunto. Melhor do que até mesmo as alturas em que ele a levou, no
entanto, foi a maneira como a segurou depois. Significava algo para ele
também, ela sabia. Também não queria responder à pergunta dela, embora
soubesse que era provável porque não queria machucá-la em tal momento,
dizendo-lhe que nada havia mudado. O coração dela afundou. Naquele
momento, pensou… ela tinha esperança…, mas agora, agora que o calor de
sua paixão havia desaparecido e não estava mais com Inigo, parecia muito
menos certa de que ele realmente se importava com ela.
Ergueu os olhos, para descobrir que Prue havia se agachado diante dela
e estava segurando suas mãos.
— Min, eu só quero sua felicidade. Sabe disso, não sabe?
Minerva assentiu.
— Você já pensou sobre isso? Quero dizer, presumindo por um
momento que ele se ofereça para se casar com você. Já pensou em como
será sua vida? Não muito tempo atrás, estava decidida a se casar com um
duque e…
Prue levantou a mão para detê-la, enquanto abria a boca para se opor.
— E embora eu saiba que era para agradar a tia Phyllis, você tem que
admitir que tem gostos refinados. Gosta de vestidos bonitos, joias, bailes, e
todas as coisas que tem agora. Essas coisas custam muito dinheiro, minha
querida. Não se lembra de como odiava economizar, antes de eu me casar
com Robert? Do jeito que você ansiava por todas as coisas que não podia
pagar? Se você se casar com este homem, pode muito bem ser a maneira
que viverá para o resto de sua vida. Ele nem ao menos é um cavalheiro. Ele
não será convidado para todos os bailes que você atende agora, e não
poderá comprar-lhe as coisas que quer. Sei que parece mercenário apontar
isso, mas deve ter os olhos bem abertos, Min. Depois que a lua de mel
acabar, seu amor precisará ser forte o suficiente, para que essas coisas não
signifiquem nada.
Minerva piscou com força, incapaz de impedir que as lágrimas caíssem,
enquanto fazia um pequeno som, em algum lugar entre uma risada e um
soluço — Mas é, Prue. Eu o amo. Eu o amo tanto e eu… Tenho medo de
que ele não me peça em casamento. Estou com medo de que ele não sinta o
mesmo.
— Oh, minha querida.
Prue sentou-se na cama ao lado dela e a abraçou com força, enquanto
Minerva se segurava e rezava para não ter colocado sua fé em um homem,
que nunca retribuiria seus sentimentos.

22 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo deu um pulo. Algo estava batendo dentro de sua cabeça. Ele
gemeu e levou a mão trêmula até a sua têmpora. Parecia uma maldita banda
de soldado marchando de um lado para o outro em seu cérebro. As batidas
voltaram, e, desta vez, abriu os olhos, encontrando-os se acomodando em
uma prateleira de madeira, cheia de tubos ferventes. Hã? Ele piscou,
tentando se concentrar, totalmente desorientado.
Seu estômago revirou e sua cabeça latejou quando levantou o rosto da
baqueta de trabalho. Maldição dos infernos. Bebeu até ficar embriagado no
laboratório e nem sequer foi para a cama. A batida veio novamente, desta
vez acompanhada por alguém amaldiçoando seu nome.
— Inigo, maldito seja. Deixe-me entrar, estou ficando encharcado aqui.
Inigo gemeu ao perceber que era a porta da frente que estava sendo
atacada, e Solo era bastante capaz de quebrar a maldita porta, se ficasse
bravo o suficiente.
— Estou indo. — murmurou, cambaleando em direção à porta.
De alguma forma, ele girou a chave e a abriu, quase cambaleando para
trás, quando a luz do dia queimou seus olhos e seu cérebro.
— Cristo! — disse Solo, curvando um lábio ao vê-lo — O que
aconteceu, explodiu alguma coisa?
— Só o meu cérebro. — disse Inigo com um gemido, tentando e
falhando em fechar a porta sem fazer barulho.
Solo bufou e tirou o sobretudo, que pingava riachos de água, no chão de
madeira.
— Inferno, homem. Está muito frio aqui. Você não pode, pelo menos,
domesticar-se o suficiente, para acender a lareira? Suponho que seja pedir
demais que me ofereça um café?
— É pedir demais — Inigo concordou, seguindo Solo até a cozinha —
Mas sinta-se à vontade para fazer, se puder encontrar os apetrechos.
Inigo ignorou os murmúrios e xingamentos e só estremecia, enquanto
Solo se movia pela cozinha. Seu amigo acendeu o fogão e fez café em
pouco tempo. Para um homem com dinheiro e um título, era notavelmente
autossuficiente, mas Inigo supunha que a vida no exército fazia isso.
Também lhe dera uma bala, que quase lhe custou a perna, e Inigo percebeu
que o tempo frio e úmido o incomodava, pois seu coxear era mais
pronunciado do que o normal.
A coisa boa sobre Solo era que ele não sentia a necessidade de conversa
fiada, e, assim, o silêncio reinou, até que se sentou à mesa, com uma xícara
de café e os restos de um pedaço de açúcar. Inigo fez uma careta, enquanto
Solo quebrava o doce em vários pedaços generosos, jogando um par em
cada xícara, antes de despejar o café por cima. Mexeu o café e deslizou uma
xícara pela mesa para ele. Estava quente e muito forte, e Inigo bebeu,
enquanto seu estômago protestava. Solo serviu-lhe outra xícara em silêncio,
adicionou mais açúcar e a devolveu.
— Então, — começou ele, estudando Inigo com atenção — afogou suas
tristezas, tão, profundamente, que está lutando para voltar à superfície?
Inigo deu-lhe um olhar preto sobre a borda de sua caneca — Talvez eu
estivesse comemorando.
Houve um bufo com essa ideia — Você não comemora nada, pelo que
sei. Muito frívolo, nunca o vi mais do que levemente entorpecido, muito
menos bastante bêbado, como deve ter estado, para parecer tão miserável
como agora. Então, vamos lá. Qual é o problema?
Inigo gemeu e largou a xícara, colocando a cabeça nas mãos.
— É tão ruim assim?
— Pior. — resmungou — Muito pior.
Quando ele falou, as palavras de Solo pareceram pairar em algum lugar
entre diversão e preocupação real — Ah, esse é o problema, não é?
Inigo olhou para cima, enervado pela compreensão repentina na voz de
seu amigo.
— O que? — exigiu, em pânico com a ideia de que seu tumulto interno
era tão fácil de ler.
— Eu não disse que você estava em apuros? — Solo respondeu, seus
lábios se contraindo — Então, sua admiradora recebeu mais do que um
beijo desta vez, não é?
Inigo lutou para manter sua expressão neutra, mas não conseguiu
combater o calor que subia pela nuca.
— Oh, não, seu pobre bastardo. Ela o amarrou em um belo nó, não foi?
Inigo engoliu em seco, dividido entre confessar tudo e dizer ao filho da
mãe irritante para ir para o diabo.
— Como ela é?
Era tentador apenas dizer a ele para se calar, mas havia algo nos olhos
de Solo, que lhe dizia que poderia confiar no homem, para não se divertir às
custas de Inigo. Bem, pelo menos não mais do que o normal. Para seu
desgosto, Inigo descobriu que queria falar sobre ela, contar a outra pessoa
sobre Minerva Butler e a devastação que causou em sua vida.
— Linda. — admitiu, desejando não ter soado tão melancólico —
Ridiculamente bonita, para não mencionar tola, inocente, muito jovem e
muito fora do meu alcance.
— Ah! — disse Solo, entendendo — Os pais dela não vão aceitar a
união.
Inigo fez uma careta, cruzando os braços — Quem disse alguma coisa
sobre união?
Solo apenas bufou e balançou a cabeça, seu olhar inabalável. Inigo
bufou.
— Eu não posso me casar com uma garota assim. Mesmo que eu
quisesse. — ele acrescentou, com mais desafio do que verdade, mas Solo o
estava irritando.
— Oh, você quer, caso contrário, não teria bebido, até ficar entorpecido,
ontem à noite.
— Ela está iludida. — retrucou Inigo — Teceu alguma fantasia
romântica ridícula sobre mim e vem aqui para… cuidar de mim, como se
tivesse se apegado a um cachorro abandonado. Eu não quero sua pena, e
não quero me casar com alguém que vai acordar para a realidade tarde
demais e me desprezar pelo que se recusou a ver desde o início.
Solo olhou para ele antes de se sentar, uma mão ainda enrolada em sua
caneca. — Há quanto tempo você está apaixonado por ela?
Inigo começou, algo que parecia muito com o medo se enrolando em
seu coração.
— Eu não estou… Eu nunca disse…
O olhar piedoso que Solo lhe deu, fez o estômago de Inigo se contorcer
em um nó.
— Não precisou dizer.
— Não. — Inigo balançou a cabeça — É luxúria. É só que eu nunca
quis tanto alguém antes. Sabe como fico se algo me chama a atenção. Eu
fico obcecado. Preciso saber tudo, descobrir tudo. É a mesma coisa, querer
estar com ela a cada momento, precisando dela comigo. É só isso, uma
nova obsessão. Não é…
O olhar de Solo era inabalável, e Inigo fechou a boca.
— Quem é ela?
Inigo balançou a cabeça. — Posso não ser um maldito cavalheiro, mas
não sou tão canalha assim.
— Ora, vamos lá. Não vou arruinar a garota, tagarelando sobre ela.
Certamente pode confiar em mim?
Houve silêncio, quando Solo encheu sua xícara.
— E quanto a você? — Inigo rebateu — Encontrou alguém disposta e
capaz de preencher a posição que você precisava? — perguntou, um tom
zombeteiro em sua voz.
Solo franziu a testa para ele — Não fale assim. Eu encontrei, sim, e…
— E?
A carranca dele se aprofundou — E ela é muito adorável. Uma dama.
Não… não fale sobre ela como se fosse…
— Perdoe-me. — disse Inigo imediatamente, a culpa emaranhada em
suas entranhas.
Que ele, de todas as pessoas, zombasse de Solo ou de qualquer mulher
que tivesse concordado com seu arranjo, era um testemunho de quanto
Minerva havia perturbado seus sentidos. Se ambos fossem adultos
consentidos, não era da conta de ninguém, mas da sua própria, e Inigo
deveria ser a última pessoa a zombar de Solo por isso.
— Perdoe-me.
Houve uma gargalhada. — Não é necessário. Você está em mau
caminho, meu amigo. Acho que deve se concentrar em seus próprios
problemas.
— O que você acha que tenho feito ultimamente? — perguntou Inigo,
torturado. — Não consigo trabalhar, não consigo dormir. Eu passo dia a dia
contando os minutos, até que possa vê-la, novamente, — aquela admissão o
chocou, tanto quanto, evidentemente, chocou Solo — Bem, diga alguma
coisa! — exigiu, irritado agora. — Você não tem algum conselho para mim,
pelo menos?
Solo assentiu. — Vá e compre um anel e faça-o rapidamente.
12
Prezada Srta. Fernside,
Estou escrevendo para lhe confirmar que o trabalho no
chalé está indo bem. Acredito que tudo estará pronto até o
final de janeiro, como combinamos. Sendo assim, gostaria de
saber se a senhorita deseja organizar qualquer mobiliário,
cortinas etc., que seja da sua preferência? Eu providenciei
crédito para a senhorita, nos lugares indicados abaixo, para
que possa escolher o que achar melhor. Gostaria que ficasse
confortável em sua nova casa. Por favor, fique tranquila, pois
o crédito está em seu próprio nome e organizado pelo Sr.
Briggs. Não há nenhum escândalo ligado a ele, pois sempre
foi um homem de negócios.
Também queria dizer que gostei do nosso encontro. Estou
ansioso para aprofundar nosso conhecimento e espero que a
senhorita não se sinta muito desconfortável ou tenha muitas
dúvidas sobre o futuro. Eu imploro, se houver algo que a
incomode, por favor, avise-me.
—Trecho de uma carta de Solomon Weston, Barão
Rothborn para a Srta. Jemima Fernside.

22 de janeiro de 1815. Beverwyck. Londres.


Matilda desviou de uma poça, indo em direção às outras mulheres, que
estavam amontoadas diante de uma vitrine, examinando uma nova exibição
de chapéus de primavera. Pelo menos a chuva havia parado, para sua
pequena viagem de compras, embora as ruas estivessem molhadas e sujas.
Quando olhou para cima, encontrou Minerva ao seu lado, sua expressão
cheia de remorso e ansiedade. Matilda suspirou quando Minerva se
aproximou.
— Sinto muito, Tilda, eu nunca deveria…
— Não. — disse, interrompendo suas desculpas. — Não deveria, mas
eu também não. Não sou sua mãe, nem mesmo sua prima. Não tinha o
direito de falar daquela maneira.
Minerva sorriu e pegou seu braço — Mas é minha amiga querida, e está
com medo de que eu me machuque.
Matilda assentiu e cobriu a mão de Minerva com a sua — Estou
apavorada.
Assim era, embora a verdade fosse muito mais profunda. Estava com
medo pelas duas, e, talvez, um pouco mais que enciumada. Minerva estava
arriscando tudo pela chance de estar com o homem que queria, desejava,
talvez até amasse. Estava correndo um grande risco e nem ao menos
hesitava, Matilda invejava sua coragem, sua determinação em entender o
que queria, mesmo sabendo que não era o mesmo para ela.
O Sr. de Beauvoir teria sorte em ter Minerva. Era de uma boa família e
tinha um belo dote. Uma mulher como aquela poderia abrir portas para um
homem que as encontraria firmemente fechadas agora. O homem que
assombrava os sonhos de Matilda não ganharia nada por associação com
ela. Já havia diminuído qualquer valor que ela pudesse ter e, mesmo assim,
esse valor nunca teria sido grande o suficiente, para ele considerar um
casamento.
Homens como ele não se casavam simplesmente, e por certo não para
agradar a si mesmos, muito menos por amor, ou, raramente, talvez. Era um
empreendimento de negócios, a união de duas grandes famílias, para
produzir uma entidade mais rica e poderosa do que antes.
Homens como ele.
Zombou de si mesma, por nem mesmo ser capaz de se referir a ele pelo
nome, quando pensou em seus sonhos, em todas as coisas impossíveis que
queria.
O Mais Honorável Lucian Barrington, Marquês de Montagu.
Lucian.
Perguntou-se se alguém já o chamara assim. Parecia impossível. Ele era
Montagu. Era o título, e ninguém, jamais, poderia esquecer. Exceto, talvez,
a sobrinha dele. A Srta. Phoebe Barrington o chamava de tio Monty. Sorriu
quando se lembrou de como aqueles traços frios haviam amolecido quando
olhou para a garotinha. Parecia quase humano.
— Uma moeda por seus pensamentos?
Matilda riu um pouco, quando Minerva chamou sua atenção de volta
para ela — Eu não tenho certeza se eles valem tanto assim.
— Estava pensando nele.
Matilda olhou para Minerva e desejou poder negar. — Bem, não é uma
coisa difícil de adivinhar. Penso nele mais do que deveria. Pensar nele não é
nada bom para mim! — acrescentou, com um pouco de calor.
— Não importa, não é?
Matilda balançou a cabeça. Ficaram um pouco para trás de suas amigas,
Prue, Bonnie e as outras conversando, alegremente, um pouco mais à frente,
enquanto desciam a Bond Street.
— Voltou à casa dele? Do Sr. de Beauvoir?
Minerva assentiu — Sim.
— Irá vê-lo novamente. Não importa o que aconteça. — não era uma
pergunta. Minerva apenas sorriu, que era toda a resposta que Matilda
precisava. — E como é quando estão juntos?
Seu coração apertou com o olhar sonhador que se estabeleceu sobre a
expressão de Minerva.
— Êxtase. — disse, rindo um pouco, enquanto se voltava para Matilda
— Vale muito mais do que tudo.
— De verdade? — Matilda se virou então, pegando as mãos de Minerva
— Você realmente acha isso tudo?
Os olhos de Minerva ficaram mais animados — Decerto que sim. Eu o
amo e, não importa o que aconteça, eu… eu não me arrependo de nada.
Talvez nunca tenha tudo o que quero, mas se for forçada a me casar com
outro homem ou nunca me casar, saberei como é ter tudo o que sempre
sonhei, nem que seja por pouco tempo.
Matilda engoliu em seco — Você é muito corajosa.
— Ou muito tola. — Minerva permitiu, a maneira como seu sorriso
vacilou dizia a Matilda que a garota não ignorava o quão ruim as coisas
poderiam ser para ela se fossem descobertas, ou se seu amante não fizesse a
coisa decente.
Matilda sorriu, rezando para que Minerva tivesse tudo o que sonhava.
Afinal, sempre foi seu objetivo ver todas as suas amigas casadas, todas as
suas dez filhotas com seus próprios ninhos. Ela disse a si mesma que seria o
suficiente, que encontraria sua felicidade através delas. Seria uma tia para
todos os bebês, a adorável tia solteirona, que sempre teria um docinho
escondido no bolso e cheiraria, vagamente, a hortelã-pimenta. Sua garganta
doía com o esforço de não gritar.
Não era justo.
Por que não poderia ter o que queria, pelo menos por um tempo?
Montagu a queria, muito e ela da mesma forma, o desejava. Poderia ser a
sua amante. Talvez pudesse manter isso em segredo, como Minerva estava
fazendo, e isso não a arruinaria completamente. Talvez depois de…
Talvez depois do quê? Fingiria que nunca aconteceu e se casaria com o
Sr. Burton? Seu estômago revirou com a ideia. Isso era algo que nunca
poderia fazer. Uma coisa era se casar com o Sr. Burton, porque sentia que
não tinha outra escolha, fingir prazer em sua companhia, que realmente não
sentia, mas vir da cama do amante para a dele… Não. Tinha que escolher, e
estava fazendo a escolha certa. A escolha sensata.
Minerva pode ter uma chance de felicidade. Uma chance pequena, mas
a possibilidade estava lá. Não havia essa chance para Matilda, sabia disso.
Montagu nunca se casaria com ela. Mesmo que, por algum milagre, ele
quisesse, não poderia, e ela não tinha ilusões a esse respeito. A
possibilidade de o marquês se casar com mercadoria estragada era ridícula.
Haveria um escândalo muito grande, sua linhagem intocada contaminada, e
toda a ton não sabia o quão sério sua família sempre levou isso? O mundo
sabia que a família Barrington havia sido implacável por gerações, e o
marquês atual era o culminar daquela escalada implacável pelo poder. Uma
linhagem, riqueza e poder impecáveis. Eles disseram que até Prinny o
temia, por causa dos segredos que conhecia, o poder que tinha sobre
algumas das maiores famílias da ton.
Matilda sabia, mais do que sua parcela justa de tragédia que havia
passado a sua família, deixando-lhe o último de sua linhagem. Ele teria que
se casar em breve e garantir essa linhagem ilustre, produzindo um herdeiro.
Quando considerasse suas futuras noivas, Matilda não estaria entre elas. Já
estava muito velha, os seus melhores anos férteis estavam passando, sem
mencionar que não era adequada. Só serviria para aquecer a cama dele.
Nada mais.
Faria bem em manter isso na vanguarda de sua mente. O problema era
que sempre estava lá. Lembrava-se disso diariamente, e isso não mudava
nada.
Forçando-se a abandonar o assunto, Matilda devolveu sua atenção às
amigas. Jemima estava de bom humor hoje. Aparentemente, as dificuldades
financeiras que ela estava experimentando haviam acabado e o legado de
sua tia era generoso o suficiente, para que mobiliasse sua nova casa com
conforto. Então, foram com ela, de uma loja para a outra, comprando
cortinas, lençóis e tapetes, e uma variedade de itens diversos, que ela
precisaria para começar sua nova vida no campo. Havia algo em tudo aquilo
que deixava Matilda desconfortável, embora não soubesse exatamente o
que. Exceto, talvez, que Jemima parecia nervosa, cautelosa quase, quando
falava sobre o chalé. Matilda havia sugerido ficar com ela, por uma ou duas
semanas, para ajudá-la a se acomodar, e estava um pouco magoada por ser,
de forma gentil, porém firmemente, rejeitada.
Como Jemima estava ficando atualmente com ela, parecia estranho que
não desejasse sua companhia, mas talvez Matilda estivesse exagerando um
pouco a situação. Estava tão envolvida em sua própria mente, que
conseguia ver apenas perigo, à espreita em cada esquina, para o resto das
amigas ainda solteiras. Sem dúvida, Jemima estava ansiosa para ter um
lugar seu. Era apenas Matilda que estava com medo de ser deixada sozinha,
criatura tola que era.
Parou em frente a uma vitrine para admirar um tecido de escumilha,
branco e transparente. Uma amostra bordada com lantejoulas e fios
dourados estava lindamente exibida ao lado, e Matilda imaginou como um
vestido de baile ficaria, puro e etéreo com aquele bordado brilhante sobre a
bainha e o corpete.
Foi coberta por uma sombra que bloqueou o pouco sol, que havia lutado
por entre as nuvens cinzentas, e Matilda olhou para cima, nada surpresa ao
ver Montagu refletido no vidro da vitrine. Por um momento, se perguntou
se, finalmente, havia perdido a cabeça e o estava imaginando, mas não.
Como um agouro, costumava aparecer sempre que seus pensamentos
estavam nele. Para ser justa, supôs que ele teria tido dificuldade em
aparecer quando seus pensamentos não estavam nele. Como isso era
deprimente.
Estava parado atrás dela, não muito perto, mas, qualquer lugar no
mesmo ambiente, era perto demais para sua sanidade e bom senso com esse
homem.
— É bem requintado. Adoraria vê-la usando. — disse ele — Eu
compraria para a senhorita, se me permitisse.— sua voz era baixa, íntima e,
embora estivesse olhando para o reflexo dele, era possível ver o desejo de
fazê-lo refletido em seus olhos. Devia irritá-lo, imensamente, que ela não
fosse algo que pudesse, simplesmente, comprar da mesma maneira.
— Eu posso comprá-lo para mim, agradeço. Dinheiro não é algo que me
falte, como tenho certeza de que o senhor bem sabe.
Disse aquilo para chocá-lo, mas ele não pareceu remotamente enojado
por um comportamento nada feminino. Era chocante falar de dinheiro na
frente dele, mas Montagu parecia estar se divertindo.
— Como estamos vulgares hoje. — ele observou, os lábios se
contraindo um pouco, o que só a irritava mais.
Por quê? Por que ela o queria tanto? Por que só quando estava lutando
com ele assim é que se sentia viva?
— Bem, não há dúvida de que é isso que o senhor deveria esperar de
uma mulher, que serve apenas para ser sua amante. A vulgaridade não vem
com a posição?
A frustração com sua própria idiotice tornou as palavras mais difíceis e
feias do que ela pretendia, mas era tarde demais para se arrepender.
Ele franziu a testa e ela se afastou da frente da loja, para olhá-lo,
encontrando uma expressão perturbada em seus olhos — É a senhorita
quem vê vulgaridade onde não há nenhuma. Eu trato minhas amantes com o
maior respeito. Isso não faz da senhorita menos que uma dama para mim.
— Menos que uma dama? — ficou boquiaberta, espantada. Tendo em
mente a maneira como ele a arruinou, ao ficar sozinho no mesmo ambiente
que ela, aquilo parecia uma declaração ultrajante — O senhor é
inacreditável. — disse, perdida por qualquer coisa mais abrangente. Seus
nervos estavam à flor da pele, suas emoções muito comprometidas — E,
pelo que entendi, todas as suas amantes são damas casadas. A sociedade dá
a essas mulheres uma margem de manobra maior. Eu lhe asseguro, uma vez
que o senhor se canse de mim e me deixe de lado, e o seu nome não me
proteger mais, as pessoas me considerarão vulgar ao extremo. A menos que
encontre outro protetor adequado. Suponho que isso seja uma opção,
durante os anos em que a natureza for gentil com meu rosto, mantendo-me
segura.
Sua expressão escureceu — Eu já lhe disse, a senhorita não precisa
temer o futuro. Será mais rica do que qualquer coisa que tenha agora. Eu
garantiria seu conforto.
— Por que o senhor não está se esforçando tanto para encontrar uma
esposa? — exigiu, o coração batendo forte agora, enquanto lutava para se
manter calma, sua voz suave, com medo de fazer um espetáculo público de
si mesma.
— Esse é o meu dever com o título. Não tenho muito o que fazer sobre
o assunto. Suas palavras eram frias e duras, ela não conseguia ler nada em
seu rosto, mas cada centímetro dele era rígido de tensão. Sem dúvida,
Matilda não tinha o direito de falar de sua futura esposa e ele estava
enojado de que fizesse tal referência, a quem quer que fosse.
Matilda fez um som de desgosto, esperando que fosse feroz o suficiente
para encobrir o fato de que estava perto de chorar, quando se afastou dele.
Para seu horror, Montagu agarrou seu braço. Ela ofegou, olhando ao redor,
para ver se alguém tinha visto. Soltou-a, imediatamente, parecendo um
pouco chocado por ter feito tal coisa em público.
— Me casarei apenas pelo título. Não por escolha, mas há algumas
coisas que eu posso escolher para mim, e não estaria tão certo de que me
entediaria de sua pessoa, Srta. Hunt. Ninguém nunca… — Sua mandíbula
cerrou e as palavras foram cortadas — A senhorita não é como as outras.
Ela riu disso, ouvindo a ruptura no som e cerrando os punhos, desejando
manter a calma — Sim, porque nenhuma outra lhe disse não. No momento
em que eu ceder, me torno o mesmo que elas.
Ele abriu a boca, mas não conseguiu responder.
— Lorde Montagu.
Ambos se viraram, quando Minerva se dirigiu a ele e Matilda, só podia
agradecer a coragem da jovem, enquanto o descontentamento de Montagu
com a interrupção o queimava, seus olhos prateados glaciais de
aborrecimento.
— Que bom vê-lo. — continuou Minerva, ignorando sua recepção
frígida — O senhor estava praticando esgrima no Angelo’s? — Minerva
pegou o braço de Matilda, puxando um pouco, gesticulando sutilmente para
o grupo elegante de mulheres que estava vindo em sua direção, seus olhares
ávidos fixos em Lorde Montagu e Matilda.
Montagu seguiu o olhar de Minerva e encarou um pouco, mas sua
atitude para com Minerva estava muito mais calma quando ele falou
novamente.
— Eu estava, Srta. Butler. Eu visito duas vezes por semana, pelo menos.
— E o Jackson’s?
Matilda olhou para Minerva divertida, imaginando sua coragem em
interrogar o homem tão de perto. Com pesar, ela percebeu que queria saber
a resposta. Homens despojavam-se para praticar boxe, não era?
— Acho o boxe deselegante e brutal. — respondeu o marquês, e
Matilda ficou surpresa, ao descobrir um leve sorriso naquela boca perversa
— Não é meu passatempo preferido. Posso ter a honra de acompanhá-las ao
seu próximo compromisso?
Ofereceu seu braço, primeiramente, à Minerva. Ela assentiu e colocou a
mão na manga dele.
— Senhorita Hunt?
Matilda suspirou, não querendo tocá-lo, ou querendo demais, mas tinha
pouca escolha, pois todas estavam sob escrutínio.
— Obrigada, milorde. O senhor é muito gentil. — respondeu, incapaz
de manter o sarcasmo longe de sua voz.
Apreensivamente, pegou o braço dele, desejando que as luvas não
fossem tão finas, e o casaco dele não fosse tão bem ajustado. O músculo
sob seus dedos era duro e bem definido e, querendo ou não, o marquês não
parecia ser um homem que evitava o esforço físico. A consciência daquilo
queimou através dela que manteve o rosto afastado do dele.
Caminharam até onde as outras amigas estavam paradas, diante de uma
alfaiataria, e seus rostos eram inestimáveis quando viram Montagu,
escoltando-as pela Bond Street.
— Eu acredito que é aqui que eu me retiro. — disse, depois de acenar
educadamente as outras, em resposta às suas reverências.
Todas, exceto Prue, é claro, que o superava em posição e o olhava com
aversão aparente.
— Vossa Graça. — disse, como demonstração de cortesia, antes de se
virar e deixá-las sozinhas.
Prue olhou para as costas dele, antes de pegar os braços de Matilda.
— Aquele homem. — murmurou, dando a Matilda um olhar de soslaio.
Apesar de tudo, Matilda não pôde deixar de rir.
— Sim. — disse, com um suspiro pesado — Aquele homem.
13
Milorde Duque,
Seu tio, o Barão Fitzwalter, me deu permissão para me
aproximar do senhor. Ele me garantiu seu interesse no
assunto da locomoção a vapor. Estou indagando quanto ao
seu interesse e apoio à minha empresa e investimento em
locomoção de passageiros. Depois de ter visto a
manifestação do Sr. Trevithick, em Bloomsbury, há alguns
anos, continuo convencido da necessidade de investir nesta
surpreendente invenção, na primeira oportunidade. A nossa
intenção a longo prazo seria pressionar o Parlamento, para
que a autorização para a exploração de uma estrada-de-ferro
seja utilizada, tanto para o transporte de mercadorias como
de passageiros.
Se o senhor acredita que este pode ser um assunto que lhe
interessa, eu ficaria feliz em discuti-lo em mais detalhes.
—Trecho de uma carta do Sr. Gabriel Knight a Sua
Graça, o Duque de Bedwin.

23 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo olhou para o teto do quarto e respirou fundo. Normalmente ele já
estaria acordado há horas. Dormiu pouco, seu cérebro relutante em deixar o
que quer que fosse que estivesse trabalhando sozinho, por mais tempo do
que o necessário. Pelo menos, havia escrito seu relatório para a
investigação, embora seu artigo, sobre o novo elemento que descobrira,
estivesse apenas com um terço do caminho. Que não estivesse desesperado
para escrever todos os aspectos de sua descoberta mais significativa até o
momento, não passou despercebido. Estava mal: perdido, afogado em uma
obsessão tão avassaladora, tão consumidora, que nem se incomodou em
tentar trabalhar aquela manhã. Não conseguia se concentrar. Hoje,
simplesmente cedeu, sem se preocupar em sair da cama e se permitir
lembrar da tarde extraordinária que passara com Minerva. Dizer que
desejava vê-la de novo era um eufemismo tão grande, que soava ridículo.
Ocupava a sua mente e, toda vez que respirava, parecia que ela havia
machucado seu peito, a dor que se instalara ali era muito profunda.
Uma obsessão, disse a si mesmo novamente. Sabe como você fica. Não
era diferente de quando desmaiou, no ano passado, porque não havia
comido ou dormido por três dias. Isso foi durante seus experimentos,
queimando diamantes e carvão, que era tão caro que quase o arruinou, e o
teria feito, se as descobertas não tivessem sido tão incontroversas. Isso não
era diferente - não era diferente em nada, na verdade - quando pensava no
diamante de muitas facetas e na bela Minerva. Não conseguia parar de se
lembrar de como ela estava gloriosa nos momentos após atingir seu pico,
ainda podia sentir o sabor dela em sua boca.
Ai Deus!
Gemeu quando seu corpo ganhou vida. A necessidade de vê-la
novamente, de estar com ela, tocá-la, consumiu todos os seus pensamentos,
até acreditar que havia enlouquecido. Tornou-se tão ruim, que estava
considerando seriamente o conselho de Solo.
Vá e compre um anel e peça-a em casamento rapidamente. O sujeito
provavelmente só estava brincando. Se Solo soubesse que a jovem de quem
Inigo falava era prima da Duquesa de Bedwin, teria ficado horrorizado.
Solo era um bom companheiro, não um esnobe, como muitos de sua estirpe,
mas, mesmo assim… um cavalheiro com título, aprovando tal união com
uma dama gentilmente educada, parecia não apenas improvável, mas
ridículo. Sem mencionar o fato de que Inigo estaria se aproveitando dela.
Era muito jovem, muito inexperiente sobre a vida e os homens. Meu Deus,
tinha apenas vinte anos, isso fazia dele dez anos mais velho. Não que
sentisse isso na presença dela. Sempre pareceu que ela era a responsável, a
que assumia o controle, com a intenção de cuidar dele, protegê-lo. O
porquê, não conseguia entender, e, por alguma razão insana, nem se
opunha. Gostava disso.
Murmurando, colocou as pernas para o lado da cama e se forçou a se
lavar e se barbear. Ao menos conseguira uma pessoa para lavar suas roupas
agora, determinado que Minerva não deveria encontrá-lo parecendo um
desastre completo, sempre que se encarregasse de aparecer. A camisa limpa
estava passada e cheirava fresca, e ele tinha acabado de puxá-la por sobre a
cabeça, quando houve uma batida na porta. Amaldiçoando, pegou um par
de calças e desceu correndo as escadas descalço, apertando os botões
enquanto caminhava. Se fosse Solo de volta…
Abriu a porta, e seu coração saltou com prazer e com tanta força que
não conseguiu controlar o sorriso que transformou o seu rosto.
— Minerva!
Ela voou para dentro, derrubando a cesta que carregava aos pés dele,
mal teve tempo de fechar a porta antes que estivesse em seus braços.
— Querido! — pendurou-se em seu pescoço, puxando-o para um beijo.
Inigo não precisava de um segundo convite. Ele a envolveu com os
braços e a segurou o mais forte que pôde enquanto a beijava, afastando os
lábios dela para que a saboreasse adequadamente e puxasse as fitas de seu
chapéu. Jogou aquela coisa irritante no chão sem um segundo olhar.
— Por que você tem gosto de morango? — ele perguntou, sua voz
rouca, enquanto enterrava o rosto no pescoço dela.
Ela riu, e o som atravessou o seu corpo, fazendo-o se sentir tonto e tolo.
— Porque comi geleia de morango no café da manhã. Trouxe um pouco
para você também, já que é um guloso.
— Eu prefiro provar apenas você. — murmurou, beliscando a orelha
dela.
— Isso pode ser arranjado. — disse ela, olhando-o com um desejo tão
indisfarçado que a necessidade de tê-la, de fazê-la sua, ofuscou todo o resto.
Vá e compre um anel e peça-a em casamento rapidamente.
Era ridículo, ultrajante. Havia tantas razões pelas quais era uma ideia
terrível, que nem conseguia começar a listá-las. No entanto, o desejo de
mantê-la com ele sempre, ou, pelo menos, até que sua obsessão diminuísse,
era inegável. Tinha-lhe dado um aviso justo. Disse-lhe, várias vezes, para
não continuar voltando para ele, para não persegui-lo tão implacavelmente,
mas ela não o ouvira. Agora era tarde demais. Estava nas garras de uma
obsessão tão forte, que não podia lutar contra ela, não podia resistir.
Precisava tê-la.
— Venha para a cama comigo.
Ele não conseguiu retirar as palavras, uma vez faladas. Se ela tivesse
hesitado, ou mostrado um pouco de relutância, poderia ter sido capaz de
parar as coisas, pelo menos por enquanto, mas o suspiro de prazer e seu
olhar eram explícitos o suficiente.
— Sim.
Olhou para ela, para seus olhos de um azul impossível, para seu rosto
que o atraía a querer o que sempre acreditou, não ser mais do que uma
miragem. Quando estava com ela, não parecia uma ilusão, porém, não podia
ver a mentira que ele sempre teve certeza de que estava lá, quando as
pessoas professavam estar apaixonadas. Parecia natural, perfeito e
exatamente como deveria ser. Era apenas quando ela ia embora que sua
mente cínica começava a trabalhar e a fazê-lo duvidar, e então o resto do
mundo parecia se juntar contra ele, para ficar contra eles, contra tudo o que
queria e esperava. Esperava. Deus, era um idiota.
— Sim, Inigo. — disse novamente, levantando a mão para a bochecha
dele.
Ele percebeu que não havia se movido, estava parado no corredor
escuro, extasiado pelo rosto dela. Soltou um suspiro.
— Deveria ir embora agora, antes que seja tarde demais, antes que eu…
Ela ficou na ponta dos pés, segurando a camisa dele e elevando a boca
até a dele. Quando o soltou, suas palavras foram um suspiro suave contra
seus lábios.
— Eu não deveria tê-lo beijado, todas aquelas semanas atrás. Não
deveria ter insistido em lhe escrever, quando continuou me dizendo que
não. Nunca deveria ter vindo aqui. No entanto, eu o beijei, continuei
escrevendo, e aqui estou. Não vou embora agora, meu amor.
Meu amor.
Ele nunca foi o amor de ninguém. Nunca ninguém o amou, ou, pelo
menos, foi obrigado a se importar, pois o amor era um mito que as pessoas
insistiam em acreditar, não era? Disse isso a si mesmo por tanto tempo, que
o amor era uma bela mentira, que não existia. Estava satisfeito o suficiente
com seu trabalho, que preenchia todos os cantos de sua vida. Estava
contente. Não estava?
As palavras dela o acertaram como uma carícia, deslizando sob sua pele
e entrando em sua corrente sanguínea, potente como o licor mais fino,
incendiando seu coração. Não era amor, lembrou-se, precisando manter isso
claro em sua mente, já que nada mais estava. Estava perdido demais para
acreditar em tal tolice. Para ela, era desejo, por mais improvável que
parecesse, para ele, desejo que se tornara obsessão. Continuou se lembrando
disso também, mas as linhas estavam borradas, e ele se sentiu querendo o
mito.
Havia muitas coisas que queria dizer, mas não tinha palavras. Era muito
difícil até mesmo entender a si mesmo, muito menos explicar esse anseio
por ela, essa necessidade aterrorizante de tê-la com ele, quando nunca teve
ninguém. Em vez disso, pegou a mão dela e a levou para cima, para seu
quarto, sabendo que era um desgraçado perverso, do pior tipo. Faria as
coisas certas, prometeu a si mesmo. O casamento era luxúria com um anel
no dedo, estava certo sobre isso, mas agora entendia a necessidade de se
conformar.
Uma coisa era olhar para o mundo e zombar de seus rituais e de ideias
tolas sobre a moral, e a ideia de que outras pessoas tinham o direito de ditar
quem poderiam levar para a cama com eles. Outra coisa era forçar uma
inocente como Minerva a desafiar a convenção e deixá-los despedaçá-la por
suas crenças. Então, tomaria a inocência dela, pois se ele a arruinasse,
Bedwin, sua prima e sua maldita mãe teriam que permitir que o casamento
prosseguisse. Era uma coisa vil de se fazer e o desprezariam por isso, mas
sempre seria assim. Poderia viver com isso. Embora a admissão deixasse
seu peito apertado de ansiedade, não achava que poderia viver sem Minerva
em sua vida, e manter sua sanidade intacta.
Ela entrou no quarto dele, observando tudo com interesse, não que
houvesse muito para ver. Estava na parte de trás da casa, com vista para o
jardim, que era um deserto desde que Inigo se mudou, há cinco anos. Não
tinha ideia do que fazer com o jardim, embora gostasse de ver a vegetação
do lado de fora, especialmente, depois de tantos anos de quartos sujos, de
frente para paredes de tijolos e ruas sujas.
— Você não passa muito tempo aqui. — disse ela, sorrindo para ele.
Não foi uma coisa difícil de supor. Além da cama e uma cômoda, o
quarto estava vazio. Sem tapetes ou pinturas nas paredes, nada que o
tornasse uma parte confortável de sua casa. Era, simplesmente, um lugar
para dormir, quando ele não conseguia mais ficar acordado. Nunca trouxe
uma mulher aqui. As únicas mulheres na vida dele foram as que pagou por
elas. Nunca lhe ocorreu cortejar uma mulher, nunca tinha tempo ou
inclinação. Seu acordo com Harriet tinha sido prático, não romântico. Não
tinha a menor ideia sobre romance, o que o fazia se sentir em desvantagem.
Talvez devesse ter perguntado a Solo, mas…
Estava sendo ridículo.
Pelo menos os lençóis estavam limpos.
— Não. — admitiu, colocando a mão na parte de trás do pescoço,
sentindo-se estranho agora. — Eu… não durmo muito, e… não, — ele disse
novamente, franzindo a testa.
Ela sorriu para ele, e a beleza daquilo, dela, perfurou seu coração. Era
como o diamante. Machucou seu coração, destruir a linda pedrinha,
minúscula e perfeita como era, mas para provar sua teoria, era necessário.
Quando se fosse, sentiria remorso, mas também triunfo, provando que era
outra forma de carbono. Ele destruiria Minerva com essa obsessão, essa
necessidade de tirar tudo dela?
A ideia o assustou, ainda mais quando ele percebeu que não podia
impedir que isso acontecesse.
— Está mudando de ideia? — ela perguntou, movendo-se em direção a
ele e colocando as mãos sobre seu peito.
Como fazia isso? Como ela o lia tão facilmente, e por que não era ela
quem estava nervosa? Deveria estar tremendo e ruborizando, sem saber o
que fazer, mas era ele, agindo como uma virgem nervosa. Cruzado com sua
própria tolice, Inigo disse a si mesmo para se controlar e segurou o rosto de
Minerva em ambas as mãos, recusando-se a notar que estavam trêmulas.
Baixou a boca para a dela e, no momento em que seus lábios se tocaram,
toda a incerteza - e qualquer possibilidade de fazer a coisa certa ou honrosa
- evaporou.
Bastou Minerva suspirar contra sua boca e ele desmoronou, puxando-a
para mais perto, aprofundando o beijo, mesmo quando suas mãos soltaram
os botões em sua peliça. Ele recuou com dificuldade, mas estava
desesperado demais para tirar as roupas dela, para não dar toda a atenção ao
trabalho. Ela ficou parada, observando-o, tão intencional, que permitiu que
ele a movesse e que puxasse cada peça de roupa de seu corpo. No momento
em que ela estava em nada além de sua chemise e meias, Inigo estava
respirando com dificuldade, e suas bochechas estavam coradas com um tom
dramático de rosa.
Ele se afastou, querendo saborear o momento, extraindo a antecipação,
embora seu corpo estivesse clamando por mais, para tocar e provar e se
perder nela.
— Bem, não pare agora. — ela murmurou, sem fôlego, enquanto olhava
para ele, com um vislumbre de malícia nos olhos.
Oh, Deus, o azul dos olhos dela. Sempre que estavam separados, dizia a
si mesmo que não poderiam ser a sombra da qual se lembrava, e toda vez
que a via novamente, percebia que realmente eram aquela sombra ridícula,
ainda mais vívida do que ousava acreditar.
— Está ansiosa para que eu a arruíne? — perguntou suavemente,
estendendo a mão e tocando sua bochecha, com as costas de seus dedos.
— Sim. — ela admitiu com uma pequena risada — Suponho que sim.
Inigo respirou fundo, tão surpreso e satisfeito com sua franqueza, como
sempre.
— Você não está nem um pouco nervosa? — perguntou, perplexo com
sua segurança, sua certeza de que o que estava fazendo era certo. Já teve
tanta certeza de alguma coisa, de alguém? Sim, percebeu. Ele sabia, desde o
início, que ela era perigosa para ele, tinha certeza de que mudaria seu
mundo e isso o aterrorizava. Por uma boa razão. Também estava certo,
agora, de que deveria mantê-la com ele, torná-la sua, para sempre, de
qualquer maneira que isso precisasse acontecer.
— Por que eu estaria nervosa? — perguntou, deslizando os braços em
volta do pescoço dele — Sei que não vai me machucar. Confio em você.
A culpa apunhalou seu peito e ele balançou a cabeça — Você não
deveria, eu não deveria…
Ela pressionou um dedo nos lábios dele, franzindo a testa — Não foi
isso o que eu quis dizer. Sei que você não acredita em amor, ou casamento.
Aceito isso. Quero dizer… gostaria muito de mudar sua opinião, mas
sempre foi honesto comigo, então, sei que posso confiar em você.
Inigo gemeu. Era tarde demais. Não podia lutar contra essa obsessão,
não podia lutar contra seu desejo por ela, mas faria o certo. Faria tudo certo
para ela. Depois. Incapaz de esperar mais um momento, estendeu a mão
para a bainha do chemise e levantou-a, puxando-a sobre a cabeça. Caiu de
seus dedos, sem que ele tivesse notado, pois ela estava exposta a ele.
Ainda usava as meias, amarradas com lindas fitas azuis. Quando ela
moveu a mão para puxar um arco bem feito na frente de uma coxa, Inigo
parou o movimento.
— Não. — disse com a voz trêmula — Fique com elas, gosto delas.
— Oh! — ela parecia surpresa com isso, mas a atenção dele estava
muito presa para dizer mais.
Ele não conseguia respirar. Ele queria… tanto, tudo, embora não
soubesse como contar a ela. Não tinha ideia de como explicar o quão bonita
era, ou como expressar tudo o que estava sentindo naquele momento.
Estendeu uma mão hesitante, sentindo-se como o garoto órfão e sujo
que era, que invadiu uma galeria exclusiva, prestes a colocar os dedos sujos
em alguma obra de arte inestimável. Sua pele estava tão quente, tão macia,
não conseguiu segurar a exclamação suave que o deixou, traindo sua
admiração com a liberdade que ela estava lhe permitindo. Traçou a curva do
quadril de Minerva com a ponta do dedo, intrigado, enquanto ela tremia sob
o seu toque. Retraindo o mesmo caminho, se moveu em direção ao seio
dela, delineando toda a curva, antes de circundar o botão rosa de seu
mamilo, beliscando forte agora, enquanto ela tremia novamente.
— Solte seus cabelos. — pediu, observando enquanto se movia para
obedecê-lo, seus dedos esguios procurando cada pino, até que seu cabelo
loiro caísse sobre seus ombros, em uma queda de cachos brilhantes.
— Tão bonito. — disse, estendendo a mão para tocar um caracol
sedoso, puxando-o e observando-o saltar de volta, com atenção arrebatada.
— O que foi? — ela perguntou, podia ouvir o sorriso em sua voz,
indagando-se sobre isso, sobre sua felicidade simples, quando não parecia
nem um pouco simples para ele.
— Dói te olhar — admitiu, perguntando-se, tarde demais, se ele deveria
ter dito isso a ela, se isso o expunha muito, mas estava perplexo demais
para refletir sobre o tema.
Olhou para ela e viu que seus olhos estavam brilhando, como se pudesse
chorar. Fez uma careta, não querendo que chorasse, mas percebeu que não
estava nem um pouco infeliz enquanto piscava, e um sorriso curvou sua
linda boca.
— Onde dói? — ela perguntou.
Levantou a mão dela e a colocou sobre seu peito, sobre o coração.
— Aqui? — ela perguntou.
Inigo assentiu, sorrindo em troca, porque era impossível não fazer.
— O meu também. — ela sussurrou, rindo um pouco, quando uma
lágrima deslizou por sua bochecha.
— Não chore — disse ele, a dor se intensificando apesar de seu sorriso,
apesar do prazer em sua risada.
— Não posso evitar. — disse ela, as palavras cheias de diversão —
Estou tão feliz, que sinto que posso explodir.
Inigo respirou fundo, testando a forma como a dor se intensificava
enquanto inalava, como se fosse uma reação física, não apenas emoção.
Colocou as mãos no rosto dela novamente, limpando a lágrima com o
polegar e depois inclinando-se para beijá-la, uma vez, suavemente, antes de
recuar, observando, enquanto suas mãos deslizavam sobre ela, pelo
comprimento elegante de seu pescoço, sobre seus ombros, alisando a curva
terna de seus seios, sua cintura minúscula, até seus quadris. Caiu de joelhos,
então, sentindo que aquilo era o certo, devia-se adorar uma deusa de
joelhos. Minerva, deusa da sabedoria. O inchaço suave de seu estômago o
atraiu e ele pressionou um beijo sobre ele, fechando os olhos, enquanto as
palmas das mãos desciam pelos quadris dela. A respiração dela ficou presa,
e ele continuou a dar beijos na sua pele, enquanto explorava, estendendo a
mão para segurá-la por trás.
— Tão perfeita. — murmurou contra a barriga dela — Tão bonita.
Minerva acariciou seu cabelo, enquanto Inigo respirava fundo, perdido
no prazer de estar com ela. Tudo parecia tão difícil, tão complicado se ele
parasse para pensar sobre isso, mas se não pensasse, se apenas deixasse as
coisas acontecerem… Era tão fácil.
Olhou para ela, preso em seus olhos de novo, a sensação mais estranha
tomando conta dele, como se estivesse se afogando em um oceano azul
prussiano, e fizesse isso de propósito, de bom grado. Voltando sua atenção
para o corpo exuberante diante dele, arrastou um dedo através dos cachos
de ouro, escuros e sedosos, no ápice de suas coxas.
— Acredito que gostou quando a beijei aqui. — disse ele.
Ela deu uma risadinha.
— Só acredita? — perguntou, sua diversão óbvia — Céus. O que eu
preciso fazer para convencê-lo?
— Peça-me para beijar de novo. — sugeriu, sorrindo agora, enquanto
ela corava, a cor manchando sua linda pele, das bochechas aos seios.
— Homem mau. — murmurou, puxando seu cabelo — Só está tentando
me fazer corar.
— Não apenas tentando. — ele riu enquanto ela pressionava as mãos
nas bochechas.
Inigo se aproximou do doce ninho de cachos, nunca tirando os olhos
dela, enquanto dava um beijo em sua pele mais delicada. Recuou
novamente, levantando uma sobrancelha.
— Oh! — ela suspirou.
Mordendo um sorriso, ele se moveu novamente, desta vez tocando-a
com a língua, uma carícia fraquinha, que a fez agarrar seu cabelo, mais uma
vez.
— Oh, sim, faça de novo. — implorou, sem fôlego, e exigindo tudo de
uma vez.
Uma emoção de desejo o atravessou e fez o que ela pediu, provocando-a
suavemente, enquanto sua respiração aumentava a velocidade. Com um
brilho diabólico nos olhos, ele parou, novamente, amando a indignação em
sua expressão.
— O que? — perguntou, todo inocente.
— Inigo! — havia uma característica de choramingo em seu nome, e ele
riu.
— O que, amor? O que quer que eu faça?
— Faça de novo. — ela murmurou, olhando-o.
— Fazer o quê de novo?
— Oh, seu perverso! — exclamou, enterrando o rosto nas mãos.
— Fazer o quê de novo, Minerva?
— Beije-me. — exigiu, ainda se escondendo atrás das mãos, as palavras
abafadas.
— Onde?
Olhou através dos dedos para ele, seus olhos se estreitaram — Sabe
onde. — disse, e então bufou, enquanto ele não se movia.
Ela deslizou uma mão para baixo, entre as pernas e Inigo observou seu
progresso, com os pulmões bem fechados, não conseguia respirar, o desejo
queimando sob sua pele.
— Aqui. — disse, abrindo os cachos para ele.
— Oh, Deus. — ele gemeu, inclinando-se, novamente, provando o céu,
enquanto ela suspirava de alívio.
Afastou ainda mais suas pernas, a mão dela afundando em seus cabelos,
sua língua deslizando entre as dobras macias, para encontrar o broto
sensível que escondia ali dentro.
— Inigo! — exclamou, agarrando seus cabelos com força, enquanto ele
dava uma risada vil e continuava a atormentá-la, deliciando-se com os sons
eróticos que fazia e com o gosto decadente dela.
— Isso. — ele murmurou, apertando a parte interna da coxa dela — é a
coisa mais doce que eu já provei.
— Melhor do que bolo? — perguntou, uma nota sonhadora em sua voz,
que o agradou imensamente.
— Melhor do que bolo. — concordou, incapaz de manter o sorriso
longe do rosto — Melhor do que geleia de morango ou qualquer outra coisa
que você possa ter embalado naquela cesta, que continua trazendo para
mim. Este é o meu banquete, a coisa que eu mais anseio.
Voltou à doce tarefa de atormentá-la, deslizando os dedos sobre sua pele
lisa e empurrando dentro dela.
— Inigo! — gritou, balançando para que ele tivesse que colocar o braço
sobre ela, estabilizando-a. — Eu… não aguento… eu não posso… assim.
Inigo se levantou, imediatamente, pegando-a em um movimento rápido
e carregando-a para a cama. Deitou-a, tirando um momento para apreciá-la
ali, em sua cama, e permitindo que a sensação primitiva e possessiva que
subia em seu peito apreciasse o momento.
— Está vestindo muitas roupas. — disse-lhe, arrancando sua camisa. —
Tire-as.
— É muito autocrática. — ele observou, ainda sorrindo como um tolo,
enquanto puxava a camisa sobre a cabeça.
Sentiu-se, ridiculamente, feliz, como se houvesse champanhe fluindo
em suas veias, borbulhando dentro dele, ópio enchendo sua cabeça e
pulmões, intoxicando-o, até que tudo isso parecesse um sonho maravilhoso
e louco. Perfeito demais para ser real, para ser qualquer coisa que fosse
possível esperar.
— Acho que gosta disso. — ela observou, fazendo-o perceber que era
bem mais perceptiva do que, talvez, ele tivesse dado crédito.
— Eu sei. — ele admitiu — Gosto quando me diz o que quer de mim,
quando me instrui como lhe dar prazer. Gosto ainda mais de lhe dar prazer.
Ela se engasgou com isso, cobrindo a boca com a mão — As coisas que
diz.
— Estou dizendo a verdade. — disse, desfazendo os botões de suas
calças. O olhar dela caiu para onde as mãos dele trabalhavam e seu membro
se contraiu em antecipação, o calor em seus olhos o fazendo querer tudo de
uma vez e, ainda assim, tomar seu tempo também, para saborear cada
momento.
— Quanto tempo a gente tem? — perguntou, sabendo que não seria
tempo suficiente, não importa quanto tempo fosse.
— O dia todo, até as seis. — disse, olhando para ele, antes de retornar
seu olhar para onde suas mãos permaneciam, nos botões de suas calças.
— Graças a Deus. — ele suspirou e empurrou as calças pelos quadris,
deixando-as onde caíram e indo em direção à cama, em direção ao olhar
aquecido em seus olhos.
Minerva se virou de lado e estava olhando para ele, maravilhada.
— Você é muito maior do que eu imaginava.
Inigo deu um bufo deselegante e Minerva corou escarlate.
— Não, eu… eu não quis dizer isso. — disse, um pouco indignada —
Eu quis dizer… tudo. Suas roupas sempre parecem um pouco grandes
demais, como se tivesse emagrecido, e então eu nunca… eu nunca percebi.
Nossa… que ombros largos você tem.
— Não posso deixar de sentir que essa frase deve terminar com o Sr.
Lobo. — disse, sentindo-se tão perverso quanto o vilão faminto, do conto de
Chapeuzinho Vermelho.
Minerva riu, e o som o agradou tanto que queria ouvi-la fazer,
novamente. Subiu na cama e engatinhou até ela.
— Nossa, que olhos grandes tem. — disse Minerva, enquanto Inigo
pairava sobre ela.
— Tudo para vê-la melhor. — rosnou, varrendo-a com um olhar lascivo,
enquanto seu corpo se apertava de necessidade.
Ela riu mais uma vez, assim como Inigo queria, e este se deleitou com
isso, em sua atenção, seu prazer nele.
— Nossa, que mãos grandes tem. — murmurou, enquanto ele palmeava
seus seios, apertando-os, acariciando-os, ajustando os picos sensíveis de
seus mamilos, enquanto ela gemia e se movia sob ele.
— Tudo para abraçá-la melhor. — respondeu, mantendo seu papel,
embora mal pudesse dizer uma palavra coerente, quando queria tanto prová-
la, uma vez mais.
— Nossa. — ela ofegou, enquanto as mãos dele deslizavam para baixo,
separando suas coxas — Que boca grande tem.
Inigo retribuiu um sorriso libidinoso — Tudo para comê-la melhor.
Ela soltou um pequeno grito, quando Inigo voltou a boca para onde
Minerva, obviamente, queria e se gloriou da maneira como se contorceu sob
ele.
— Eu poderia fazer isso o dia todo. — disse ele, beliscando sua coxa,
enquanto ela tremia sob ele.
— Oh… oh, eu vou morrer. — ofegou, balançando a cabeça de um lado
para o outro, rindo e implorando para ele de uma vez — Por favor, Inigo,
não pare, não pare, não pare.
— Como se eu fosse fazer uma coisa tão sem coração. — disse, mais do
que satisfeito em retornar à sua tarefa, mantendo-se em cheque com
dificuldade, enquanto Minerva suspirava e gemia, com fervor crescente.
Quando ela atingiu seu clímax, ele estava fora de si, com impaciência.
A necessidade de ter seu próprio prazer dentro dela o deixou meio louco, de
tanto desejo. Seu corpo ainda tremia, flexível e macio, quando se moveu
sobre ela, encontrando seu lugar entre suas coxas. Olhou para ela
maravilhado, para a luz turva em seus olhos, enquanto sorria para ele.
— Eu preciso de você, — disse, sua voz áspera, a capacidade de falar
perdida, enquanto entrava um pouco dentro dela. Por Deus. — Sinto
muito… não consigo… eu preciso…
Ela não recebeu mais nenhum aviso, enquanto afundava nela, com um
impulso profundo, seu próprio gemido gutural de prazer abafando seu
pequeno grito de dor. Imediatamente contrito, a puxou contra ele.
— Perdoe-me. — implorou, beijando sua garganta, sua linha do queixo,
acariciando seu cabelo — Sinto muito.
Minerva soltou um suspiro instável, olhando para ele.
— Não se desculpe. — disse, aquele sorriso doce, que tinha o poder de
virar seu mundo de cabeça para baixo, tornando sua garganta apertada de
emoção, com a enormidade de tudo o que estava lhe dando, confiando nele
— Inigo?
— Sim? — disse, rezando para que ela não pedisse para parar, para
dizer que havia mudado de ideia, forçando a palavra, embora estivesse
além da conversa, além da necessidade de fazer qualquer coisa, além de se
mover dentro dela.
— Dez! — disse ela, acariciando seu rosto com tanta ternura, que Inigo
não poderia formar uma resposta.
Em vez disso, enterrou o rosto na curva do pescoço dela e se moveu. O
prazer era tão intenso quep não conseguia respirar. Entregou-se à sensação,
à justiça de estar com ela, sabendo que nunca seria assim com mais
ninguém.
— Oh, Deus, Minerva, Minerva, meu amor…
Ele não tinha ideia do que estava dizendo, mas não conseguia impedir
que as palavras viessem, enquanto a intensidade do sentimento o
sobrecarregasse. Estava ciente de seus lábios nos dele, de suas próprias
promessas e declarações murmuradas, e de suas mãos acariciando sua pele,
segurando-o com força.
— Não me deixe. — disse ele, as palavras cruas e muito honestas, no
calor da paixão, enquanto tudo nublava, substituídas por um clímax tão
intenso, que não podia fazer nada além de tomá-lo, gritando enquanto
gozava, derramando-se dentro dela com tanta força, que se sentiu exposto,
acabado e indefeso, até que ousou abrir os olhos e olhá-la.
Minerva o olhava, respirando com dificuldade, em seguida, enterrou o
rosto contra o peito dele e começou a chorar.
14
Sr. Knight,
Eu estou interessado em ouvir mais de seus planos.
—Trecho de uma carta de Sua Graça, o Duque de
Bedwin para o Sr. Gabriel Knight.

23 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


— Minerva! — Inigo a segurou junto a ele, acariciando seu cabelo e
beijando sua testa, suas bochechas — Sinto muito. — disse, parecendo
miserável — Sinto muito. Eu… eu a machuquei? Está arrependida? Sinto
muito, amor, diga-me o que posso fazer…
Minerva balançou a cabeça, tentando se controlar e encontrando seu
coração transbordando, enquanto olhava para o rosto chocado de Inigo.
Soltou um som trêmulo, entre uma risada e um soluço.
— Eu não estou chorando. — conseguiu dizer, como havia lágrimas
escorrendo por seu rosto, poderia ser perdoado por parecer perplexo —
Quero dizer, eu estou chorando, mas só porque estou tão… tão… feliz. —
disse, e enterrou o rosto contra o peito dele, rindo, soluçando, chorando,
desesperadamente, e céus, se isso não o afastasse para sempre, ela não sabia
o que faria.
Com um esforço supremo, ela se controlou, respirou fundo várias vezes
e enxugou o rosto no lençol.
— Está tudo bem. — disse, parecendo um pouco menos histérica,
embora Inigo ainda parecesse chocado e desconfortável.
Respirou fundo outra vez, antes de morder o lábio e tentar não rir.
Inigo a olhava tão perplexo, que era adorável.
— Não fez nada de errado. — assegurou-lhe novamente, mais calma
agora, enquanto acariciava seu rosto.
— Tem certeza? — perguntou, nada convencido — Não a machuquei?
Eu sei que sou um egoísta miserável, nunca deveria…
Silenciou-o, antes que ele pudesse terminar aquela frase, com um
simples pressionar de suas bocas. Assim como esperava, ele retribuiu o
beijo, e Minerva suspirou, feliz em descobrir o quão terno Inigo poderia ser.
— Foi maravilhoso. — disse, soltando um suspiro satisfeito quando
Inigo deitou-se de costas e a puxou para ele. Minerva se aconchegou ao seu
lado, perfeitamente, contente. Segurou-a e esta apoiou a cabeça em seu
ombro. — Foi tão maravilhoso, que chegou a ser avassalador. Sinto muito
se o assustei.
Ele ficou em silêncio por um longo momento antes de falar.
— Foi maravilhoso, — disse — e avassalador.
Havia algo em sua voz que lhe dizia que ele estava falando de verdade,
e Minerva fechou os olhos, mais feliz do que acreditava ser possível.
— Estou com tanto sono. — disse ela sorrindo, ainda um pouco
atordoada por tudo o que aconteceu.
— Durma um pouco, então. — disse ele, virando-se para beijar sua
testa.
— Mas eu não quero perder um minuto sem você. — reclamou, embora
o esforço de manter os olhos abertos estivesse se tornando mais difícil.
— Estarei aqui quando você acordar. — ele insistiu, a mão acariciando
as costas dela, num movimento calmante, que era maravilhoso — Não vou
deixá-la dormir a tarde toda, prometo.
— Muito bem, então. — murmurou, e adormeceu prontamente.
Minerva acordou com o barulho da chuva batendo no vidro, o quarto
estava banhado em cinza quando o tempo se fechou, roubando qualquer
relance de luz da tarde. Olhou para cima e encontrou Inigo observando-a, e
sorriu.
— Boa tarde, Sr. de Beauvoir. — cumprimentou, sentindo-se boba, feliz
e bastante maravilhosa.
— Senhor de Beauvoir? — ele repetiu, com uma sobrancelha levantada
— Isso não é um pouco formal demais, dadas as circunstâncias, Srta.
Butler?
Ela riu, estendendo a mão para traçar a forma de seus lábios — Beije-
me.
Ele obedeceu, imediatamente, um beijo profundo e lânguido que ela
sentiu até os dedos dos pés. Suspirou quando ele levantou a cabeça, seus
olhos mais escuros do que nunca, enquanto a observava.
— Estava me olhando dormir? — perguntou, sua boca se curvando com
a ideia.
— Sim. — ele admitiu. — É fascinante.
Minerva corou, imaginando se tal escrutínio era uma boa ideia — Céus,
fiz algo embaraçoso? Oh, por favor, não me diga que eu ronco! —
exclamou, horrorizada com a hipótese.
Ele riu e balançou a cabeça — Nada parecido com isso. Dorme muito
bem, com pequenos suspiros meigos e um sorriso enigmático nos lábios.
Estou ansioso para saber com o que estava sonhando.
Ela sorriu com isso, passando a mão sobre o peito dele e enroscando os
dedos nos cabelos grossos, seguindo a trilha um pouco abaixo, enquanto o
estômago dele se contraía e pulava sob seu toque.
— Cócegas? — perguntou, feliz com sua descoberta.
Inigo puxou a mão dela do caminho — Responda minha pergunta e eu
responderei a sua.
— Ah, mas eu já tenho a minha resposta. — provocou-o.
— Conte-me. — ele murmurou, acariciando seu pescoço e beliscando
sua pele.
— Ora, estava sonhando com você, é claro. — disse, suspirando,
enquanto ele beijava um caminho até a boca de Minerva.
— É por isso que parecia tão feliz?
Havia algo na pergunta que não conseguia ler, mas respondeu,
honestamente, observando o rosto de Inigo enquanto a olhava.
— Sim.
Inigo fechou os olhos e soltou um suspiro — Vai voltar amanhã?
— Sim.
— E no dia seguinte?
— Sim.
— E…?
— E todos os dias que quiser, Inigo.
Olhou para ela, com alguma emoção em seus olhos, que queria,
desesperadamente, entender, mas não se sentia capaz de pressionar. Se lhe
perguntasse, pedisse a resposta para sua pergunta - o quanto me ama - temia
assustá-lo ou obter uma resposta honesta, que não estivesse pronta para
ouvir. Acreditava ter sentido a emoção dentro dele hoje, sabia em seu
próprio coração que a amava, pelo menos um pouco, e isso era suficiente,
por enquanto. Então, em vez disso, deu a resposta novamente.
— Eu o amo.
Ele se acalmou, e Minerva se perguntou se, talvez, não devesse ter dito
aquilo tão abruptamente. Já havia dito a ele que, na escala de um a dez,
havia chegado no dez. Se não soubesse que o filósofo naturalista nele se
oporia fortemente, teria admitido que havia passado dos dez há algum
tempo e teria atingido um número insondável, que ela nem conseguia
contemplar. Havia ternura em seus olhos quando estendeu a mão para tocar
seu rosto, no entanto. Quando segurou sua bochecha e se curvou para beijá-
la, foi com toda a expressão de gentileza, de amor, que poderia querer. O
beijo foi lento, demorado, fazendo o prazer correr sobre sua pele, em uma
série de pequenos arrepios extraordinários, enquanto ele puxava a mão de
Minerva para baixo, para tocar seu membro. Minerva curvou a mão ao
redor dele, intrigada, enquanto ele ofegava e descansava a testa contra a
dela, aparentemente, satisfeito com seu toque.
— Assim? — perguntou, enquanto ele assentia com os olhos fechados,
a respiração engatando, enquanto ela movia a mão sobre a pele sedosa,
extasiada por sua expressão, a concentração feroz. Minerva suspirou, seu
próprio corpo se mexendo em resposta ao óbvio prazer dele. — Gostaria de
poder estar sempre aqui.
— Aqui? — ele perguntou, cobrindo a mão que o acariciava com a sua.
Minerva riu — Não estava pensando em nada tão específico, mas, sim.
Quero tocá-lo sempre que eu quiser, que é o tempo todo, se ainda não
percebeu.
Ele fez um som baixo que a excitou, enquanto ressoava em seu peito —
Se você estivesse aqui o tempo todo…
— Sim?
Houve uma exclamação desesperada, não exatamente uma risada — Por
Deus. Nunca mais trabalharia, nunca mais comeria nem dormiria. Nunca
seria capaz de fazer nada, além de tocá-la e beijá-la. Eu me tornaria o maior
especialista do mundo em Minerva Butler. — beijou seu ombro, tocando
uma ponta do dedo em sua pele e depois traçou em sua clavícula — Quero
mapear todas as suas sardas, saber o que a faz diferente de todas as outras,
saber por que a acho tão intrigante… tudo sobre você.
— Tudo?
— Tudo.
— Eu não tenho certeza se sei de tudo sobre mim. — disse ela,
observando o rosto dele com interesse, imaginando o quanto do que ele
disse era verdade, o quanto disse apenas para diverti-la — Ainda estou
descobrindo coisas sobre mim mesma.
— Então vamos descobrir juntos. — disse ele, antes de respirar fundo,
enquanto ela intensificava seu aperto nele. — Não apenas um rosto bonito.
— murmurou.
Sorriu, amando o poder que tinha sobre ele neste momento. Inigo
fechou os olhos e deu um gemido suave, então Minerva lhe deu um
pequeno empurrão, o fazendo virar de costas e puxando os lençóis de cima
dele.
— Cristo, está frio aqui. — reclamou, mas ela apenas sorriu para ele.
— Silêncio, quero olhar para você.
Ele resmungou, mas não disse mais nada, embora ela pudesse ver sua
pele arrepiar de frio.
— Talvez eu deva aquecê-lo? — disse baixinho, considerando para si
mesma o quão maravilhoso a fez se sentir mais cedo, enquanto descia pela
cama e lhe dava um beijo em sua ereção.
Ele tremeu, praguejando, em choque, o que ela supôs ser uma boa
reação, então repetiu o gesto, e de novo, e provocou a cabeça inchada de
seu membro com a língua, o que o fez agarrar os lençóis e respirar forte.
Fascinante. Repetiu, passando a língua para cima e para baixo, ao longo do
seu membro, antes de levá-lo à boca e chupar, suavemente. O que arrancou
um grito de prazer dele e assustou os dois.
— Eu já o aqueci? — perguntou docemente, olhando para ele.
— Santo Deus, vai me matar. — ele rosnou, antes de puxá-la para cima
e virá-la de costas. — Quero estar dentro de você. Consegue? Não está
muito dolorida?
Minerva balançou a cabeça em negativa, ansiosa demais para se
importar com qualquer pequeno desconforto.
— Por favor. — implorou, levantando os quadris em convite — Por
favor.
— Oh, meu Deus — ele gemeu, enquanto penetrava novamente — Ah,
sim.

— Sua cama vai ficar cheia de farelos.


— Não me importo. — Inigo murmurou, após uma grande mordida na
torta salgada.
Minerva não queria sair da cama, mas o estômago de Inigo estava
rosnando tão ferozmente, que foi impossível ignorar, embora ele estivesse
bastante disposto a fazê-lo. Ela teve que recorrer às cócegas nele, para fazê-
lo soltá-la por tempo suficiente, para correr escada abaixo e pegar a cesta.
Agora, estavam sentados em sua cama, em um emaranhado de lençóis,
abrindo caminho através da cesta bem abastecida. Fazer amor dava um
apetite tremendo.
Inigo continuou a surpreendê-la. Desde a última vez que esteve aqui, era
como se tivesse parado de lutar contra ela e o que quer que estivesse
acontecendo entre ambos. Um caso de amor, supôs, ou, pelo menos, é o que
ela chamaria. Amava-o. Prue ficaria furiosa quando percebesse que
Minerva havia estado aqui novamente, mas não importava. Sua pobre mãe
nunca superaria o choque se descobrisse. Ociosamente, Minerva sonhava
acordada sobre como seria sua vida, se Inigo quisesse se casar com ela.
Afastou o pensamento. Não havia sentido em sonhar com coisas que
provavelmente nunca teria, não importa o quanto as desejasse.
Inigo havia lhe dito desde o início que não se casaria, e ela não queria
isso, a menos que fosse o que ele também desejasse. Não conseguia pensar
em nada pior do que ter um homem forçado a se casar. Qualquer carinho,
consideração, ou as esperanças tentadoras que tinha de que ele talvez a
amasse um pouco, morreriam sob tais circunstâncias. Iria ressentir-se dela
pela perda de sua liberdade, e não podia suportar isso, não podia suportar
que a olhasse com nada menos do que o calor que via em seus olhos agora.
Isso partiria seu coração.
— Onde nasceu?
A pergunta a pegou de surpresa, e ele sorriu, quando Minerva parou
com um pedaço de bolo a caminho da boca.
— Eu quero saber sobre você, sobre sua família. De onde vem? Tem
irmãos ou irmãs? O que gosta de fazer? — os lábios dele se curvaram —
Além de correr atrás de filósofos naturalistas pobres e indefesos e
enlouquecê-los?
— Foi isso o que fiz? — perguntou, as sobrancelhas erguendo-se.
Inigo bufou — Nega isso?
Minerva sorriu — Minha amiga Ruth me acusou de correr atrás de você
também. — admitiu — Mas sim, neguei. Disse que não estava correndo
atrás, mas sim o estava cercando. Eu disse que queria seu coração, não
disse? Então o tomei como refém e não vou devolvê-lo, até que admita que
ele pertence a mim.
Ele franziu a testa, evitando o olhar dela e fitando as próprias mãos —
Mas se pertence a você, vai guardá-lo de qualquer maneira. E o que eu vou
ganhar?
Minerva estendeu a mão e colocou um pedaço de bolo em sua boca —
Meu amor e devoção eternos, que tem de qualquer maneira, então nada,
suponho. — beijou a bochecha dele, remexendo na cesta em busca dos
doces que havia embalado para ele — Mas não tenho irmãos e irmãs, nasci
em Kent, e era apenas minha mãe e eu, até que Prue veio morar conosco.
Meu pai morreu quando eu tinha um mês de idade, então, não me lembro
dele.
— Sinto muito.
Minerva deu de ombros — Disseram-me que ele foi um herói em uma
campanha nas Flanders, mas foi ferido e acabou morrendo.
— Vem de uma família com títulos, certo?
Minerva quase se engasgou com o bolo — Se ouvisse minha mãe falar,
talvez. Ela é uma parente distante do visconde Trent, embora tenha usado
essa vaga conexão, com mais tenacidade do que possa imaginar ser
possível. Ela é obstinada, admito.
Minerva observou as sobrancelhas escuras de Inigo se unirem — Ela
quer o melhor para você.
— Ela quer o melhor para ela. — respondeu Minerva, e depois se
arrependeu. — Não, eu não deveria dizer isso. Ela é uma criatura bastante
boba, que dá muita importância a coisas como títulos e riqueza, e, por muito
tempo, eu também, porque ela sempre me disse o quão vital era, mas não é.
Sei disso agora. De que adianta ser uma duquesa, ou rica além de seus
sonhos, se é infeliz, se não pode compartilhá-la com alguém que ama?
— Sua prima parece feliz o suficiente como duquesa.
Minerva deu um pequeno grito triunfal, ao encontrar a caixa de doces
— Isso porque ela está apaixonada pelo duque dela. — disse rindo,
enquanto lhe entregava uma guloseima doce, cravejada de frutas e nozes —
Teria se casado mesmo se ele não tivesse um tostão, muito menos um título.
Na verdade, acho que foi o título o que mais a assustou, de qualquer
maneira. Foi ela quem me ensinou que as coisas importantes na vida são
aquelas pelas quais não podemos pagar.
Inigo estava olhando para ela com um olhar perturbado, Minerva então
estendeu a mão para pegar a mão dele e pressionou-a contra o peito, sobre o
coração.
— É o que está aqui que é importante, Inigo. Não me importo com
dinheiro e títulos. Estou apaixonada por você porque… porque admiro sua
inteligência, porque me fascina, me faz rir, me desafia, nunca conheci
ninguém como você em toda a minha vida. Suas opiniões sobre homens e
mulheres serem iguais, a maneira como acredita que o mundo deveria ser e
sua crença em mim - que eu poderia entender as mesmas coisas que você,
se tivesse os mesmos estudos - essas coisas fizeram com que me
apaixonasse por você. Não preciso de mais nada.
Ele ficou quieto por um longo tempo, enquanto ela segurava sua mão.
Vestiu sua camisa, para uma incursão pelas escadas, e havia um brilho
possessivo em seus olhos, que sugeria que Inigo gostava de vê-la usando-a.
Agora, ela se perguntou se tinha falado demais.
— Gosto de ter você aqui comigo. — disse — Nunca trouxe ninguém
aqui antes… uma mulher, eu nunca…
Ele mordeu o lábio, claramente incerto de como dizer o que queria,
talvez com medo de ofendê-la.
— Fale comigo, Inigo. Não me importo com o que me diz, apenas que
seja a verdade.
Ele soltou um suspiro e assentiu — Eu nunca tive uma amante, alguém
com quem me importasse, ou… ou que se importasse comigo. Ninguém
nunca… — limpou a garganta e tirou a mão de onde ela a pressionava, mas
manteve as mãos unidas — Não sou bom com amigos, em estar perto das
pessoas. No hospital dos enjeitados foi… difícil. Os outros garotos não
gostavam muito de mim e eu não gostava deles. Tive um amigo, uma vez,
por um tempo, mas ele foi embora e depois…
Deu de ombros, e havia tanta eloquência naquele gesto sem esperança,
que os olhos de Minerva se encheram quando ela percebeu o quão sozinho
ele sempre foi.
— Isso, — disse ele, gesticulando para o quarto — esta casa custou
cada centavo que economizei, desde o momento em que comecei a ganhar
dinheiro. Eu nunca saía, não fazia nada além de trabalhar, embora amasse
meu trabalho, mais do que qualquer coisa, então nunca me importei, mas
este lugar…
Minerva esperou, ciente de que ele estava tentando dizer algo
importante.
— Isso me fez sentir real. — riu, balançando a cabeça — Isso soa
estúpido?
Ela balançou a cabeça, incapaz de falar, pois sua garganta estava muito
apertada, e não queria envergonhá-lo, chorando.
— Para mim, sim, mas é verdade mesmo assim. Era como se eu,
finalmente, existisse, quando comprei essa casa, como se tivesse alcançado
algo que me tornasse uma pessoa real. — soltou um suspiro frustrado —
Não posso explicar melhor do que isso, mas a questão é essa. Levei anos
para realizar. Esta pequena casa, mal mobiliada, é o auge da minha
conquista.
Largou a mão dela e fez uma careta, desviando o olhar, e Minerva se
mexeu na cama, abraçando-o por trás e apoiando a cabeça sobre seu ombro.
— Inigo, começou com nada e ninguém, e esta casa é apenas uma
pequena parte disso. Seu nome é famoso, é um dos homens mais
respeitados da ciência no mundo. Não nasceu com um título e uma fortuna
pronta, então, tudo o que alcançou, só o torna muito mais notável. Seu valor
financeiro é a parte menos importante de tudo o que fez.
— Eu sei disso. — disse com desgosto — Mas minha ciência não vai
impedir as pessoas de evitá-la na rua ou colocar esta casa numa parte
melhor da cidade, ou dinheiro suficiente no banco, para comprar as coisas
que está acostumada. Quanto custou esse vestido? — exigiu, apontando
para a peliça e o vestido caros que tirou dela, uma nota irritada em sua voz
— Ao menos sabe?
Minerva empalideceu, quando percebeu que não tinha ideia.
— Inigo… — começou, mas ele se levantou da cama.
Atravessou o quarto, vestiu as calças e tirou uma camisa limpa de uma
gaveta.
— Vá para casa, Minerva. Vá e se case com um homem rico e me deixe
em paz.
— Inigo, por favor…
Ele saiu pela porta, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa e seu
coração se partiu, sabendo que era o orgulho dele que estava falando e não
sabia como consertá-lo. Soltou um suspiro instável, mais do que qualquer
coisa, ela queria ir atrás dele, mas suspeitava que seria melhor deixá-lo
sozinho para se acalmar. Já pressionou o suficiente por um dia, e o dia
estava perfeito, até os últimos minutos. Com pesar, percebeu que estava
ficando tarde e sua carruagem voltaria para ela muito cedo. Fez a cama e
verificou se havia migalhas, reembalando a cesta, antes de se vestir e
arrumar o cabelo, da melhor maneira possível. Uma vez que, estava
respeitável novamente, pelo menos do lado de fora, desceu as escadas e foi
até a cozinha, nada surpresa ao encontrá-la vazia. Ele estaria em seu
laboratório agora.
Era difícil lutar contra a tentação de ir até ele, mas o fez e acendeu o
fogo, para que ficasse quente para Inigo, mais tarde, e colocou o resto da
comida na despensa. Esperava que ele se lembrasse de comer pelo menos
um pouco. Assim que fez tudo, Minerva vestiu a peliça e pegou o chapéu,
que havia sido abandonado no final da escada. Ainda havia alguns minutos
para esperar, mas ela supôs que seria melhor estar pronta, na porta da frente.
Estava no meio do corredor quando ele a chamou.
— Minerva?
Ela se virou e foi, imediatamente, envolvida em um abraço feroz.
Minerva não disse nada, apenas acariciou seu cabelo, ciente da tensão que
exalava seu corpo.
— Não quero que vá.
— Eu também não quero ir. — admitiu, sentindo seu coração disparar
com sua admissão zangada, quase relutante.
— Vai voltar? — ele exigiu saber.
Ela recuou um pouco para olhar para ele, para ver a intensidade de sua
expressão e colocou a mão em sua na bochecha. Ele a cobriu com a própria
mão, dando um beijo na palma de sua mão.
— Claro que voltarei. Sempre voltarei se você quiser, Inigo.
— Está louca. — murmurou, e então soltou um suspiro áspero —
Amanhã?
— Amanhã. — ela concordou. — Mas de tarde. Provavelmente, estarei
em apuros com Prue, devido a aventura de hoje, e será difícil escapar, mas
tentarei o meu melhor, e o mais cedo que puder.
Olhou para ela, sua expressão escura e perturbada — Isso é loucura. —
murmurou, balançando a cabeça — Nós dois, estamos loucos.
Minerva riu — Fale por si. — disse, dando-lhe um beijo — Estou,
perfeitamente, sã e muito apaixonada.
Ela sentiu um choque de ansiedade com o som infeliz que ele fez.
— Está errada — parecia atormentado e furioso agora, e Minerva não
pôde deixar de se preocupar com ele — É… é luxúria e obsessão e… e…
diabos! Sinto que vou enlouquecer se tiver que esperar até amanhã para vê-
la de novo. Isso não pode ser verdade. Não pode ser normal! — exclamou,
passando a mão pelos cabelos, fazendo com que ficassem em todas as
direções.
Minerva se absteve de lhe dizer que era normal, se estivesse apaixonado
por alguém. Ele parecia lutar contra as mudanças que ela havia feito em sua
vida, e era o suficiente para que tivesse algo para esperar. Não forçaria a
ideia sobre ele. O som de uma carruagem parando significava que o tempo
deles havia acabado e ela se virou para beijá-lo, confortada por seu gemido
angustiado, enquanto a deixava ir.
— Tentarei o meu melhor para vir amanhã, Inigo. Não se esqueça de
jantar. Coloquei tudo na despensa e acendi o fogo na cozinha. Eu o amo.
Inigo cruzou os braços e fez uma careta, e ela apenas sorriu, feliz por
ele estar triste com a partida dela.
— Obrigado. — disse, ainda ressentido, enquanto ela abria a porta —
Eu não vou esquecer.
15
Senhorita Hunt,
Acredite quando digo que não há necessidade de me
punir por esta carta. Sei muito bem que não deveria escrevê-
la. Sei que se deliciará em me dizer o quanto ficou furiosa em
recebê-la, mas ainda espero que haja uma pequena parte da
senhorita que a acolha.
Ainda estou enfeitiçado. A senhorita não aceita meus
presentes nem meus avanços e, no entanto, sei que meu toque
não a repulsou, no momento em que nos encontramos presos,
atrás daquela cortina. De todas as situações ridículas para
encontrar-nos, essa foi digna de ser reproduzida nos palcos,
e teria sido, se tivéssemos sido descobertos, Deus nos livre!
Ainda não consigo pensar naquela noite, sem uma mistura de
diversão, indignação e tanto desejo, que temo enlouquecer.
Preciso vê-la.
Estarei na Instituição Britânica amanhã à tarde. Talvez a
senhorita possa fazer a gentileza de me satisfazer. Não espero
que mude de ideia. Eu apenas quero estar na sua companhia,
nem que seja por um curto período de tempo.
M.
— Carta do Muito Honorável, Lucian Barrington, o
Marquês de Montagu para a Srta. Matilda Hunt.

24 de janeiro de 1815. South Audley Street, Londres.


— Uma carta? Alguma boa novidade?
Matilda deu um pulo, amassando a carta atrás das costas e desejando
poder conter o rubor que subia às bochechas. Virou-se para encarar o fogo,
enquanto Jemima entrava na sala, com Helena a reboque.
— Não, na verdade não. — disse, deslizando-a no bolso do vestido —
A que devemos o prazer, Helena?
Helena fez uma careta e balançou a cabeça — Estou me escondendo de
Robert e Prue.
— Oh, não. O que você aprontou?
Houve um bufo indignado quando Helena se sentou — Porque imagina
que eu fiz alguma coisa?
— Porque nós a conhecemos. — disse Jemima com um sorriso plácido.
Helena olhou para ela e depois deu de ombros — Eu não posso
argumentar contra isso, suponho, e em parte é minha culpa. Mas, lhe
pergunto, como se sairia contra a determinação de Minerva Butler de se
arruinar por aquele homem miserável?
— O que aconteceu? — Matilda e Jemima perguntaram em uníssono,
sentando-se uma de cada lado dela.
— Prue descobriu que Min passou o dia inteiro com o Sr. de Beauvoir,
ontem, e está furiosa. Não só porque a idiota foi lá sozinha, em plena luz do
dia, de novo, mas porque eu a ajudei a ir, sem ninguém notar. Robert não
sabe por que Prue está furiosa, só que está e que a culpa é minha e de
Minerva, então está bravo conosco, por perturbá-la em sua condição
delicada. Honestamente, já vi militares menos delicados que Prue de mau
humor. Ela é assustadora.
— O que Prue vai fazer? Vai contar ao seu irmão? — Matilda
perguntou, preocupada com Minerva e o que poderia acontecer, se o duque
descobrisse.
— Acredito que não, pelo menos não ainda, mas Prue não sabe que a
louca está com a intenção de voltar à casa dele esta tarde. Disse-lhe que não
posso continuar ajudando-a a se arruinar, assumindo que o dano ainda não
esteja feito. — Helena murmurou, parecendo zangada, embora seus olhos
tenham revelado sua verdadeira preocupação — Mas queria sair de casa,
para não ser coagida a ajudá-la, novamente, e, em seguida, ser culpada por
isso.
Jemima assentiu e cobriu a mão de Helena com a sua, enquanto esta
voltava seu olhar para Matilda.
— Eu sou uma pessoa má? Sou uma má amiga?
— Não. — disse Matilda sorrindo para ela — Quer ajudá-la e protegê-la
também, mas não pode fazer as duas coisas. Minerva é uma mulher adulta,
e todas nós fazemos nossas próprias escolhas. Ela conhece os riscos.
— Você aprova? — Helena perguntou indignada.
Matilda sentiu seu rubor voltar e se perguntou se era isso que ela queria
dizer. Não, não aprovava; estava aterrorizada por Minerva e o que poderia
ser dela, se fosse descoberta, tendo um caso com de Beauvoir. No entanto, a
admirava. Tinha a coragem de suas convicções. Quando sabia o que queria,
fazia tudo ao seu alcance para conseguir e dane-se as consequências… e as
consequências, sem dúvida, a condenariam.
— Não aprovo, exatamente. — disse Matilda, escolhendo suas palavras
com cuidado — Mas eu entendo, e… e, para ser honesta, eu a invejo.
Helena olhou para ela em choque.
— Ela o ama, Helena. — disse Matilda gentilmente — Mais do que
tema o que lhe possa acontecer. Eu gostaria de saber como é se sentir assim.
Helena franziu a testa, mas foi o brilho nítido nos olhos de Jemima que
fez Matilda desviar o olhar.
— Muito bem, então. — disse Jemima depois de um silêncio bastante
tenso — O que devemos fazer para nos ocupar esta tarde?
Matilda mordeu o lábio, sabendo que era loucura, tão bem quanto
Minerva, e por uma vez se permitindo agir sem pensar — Bem, eu estava
considerando um passeio à Instituição Britânica.

Inigo olhou para a bandeja de anéis brilhantes e caros diante dele e fez
uma careta. Não tinha ideia do que escolher. Queria comprar algo com
diamantes e safiras, algo que brilhasse como os olhos de Minerva, mas se
tivesse alguma chance de sustentar uma esposa, não poderia gastar quase
tudo o que tinha em um único anel.
— Eu só quero uma aliança. — disse, olhando para o homem atrás do
balcão, que, claramente, não estava interessado nele agora, pois outro
cliente havia entrado na loja.
O novo cliente era um dândi, adornado dos pés à cabeça, e, obviamente,
muito mais rico do que Inigo.
— Uma aliança de casamento. — disse o joalheiro impaciente,
acenando enquanto observava o recém-chegado tirar um saquinho de joias e
abri-lo com um suspiro aguçado.
Uma nova bandeja de anéis apareceu, ouro puro ou prata desta vez.
— Aquela. — disse Inigo com pressa, o pânico subindo pela nuca.
— Uma excelente escolha, senhor. — disse o joalheiro com um sorriso
insincero, que fez Inigo querer levantar a bandeja e jogá-la nele.
Por que estava fazendo isso? O que aconteceu com a vida dele? Não
queria se casar. Não queria uma esposa e uma família e, de repente, estava
pensando em Minerva carregando seu filho, e suas mãos tremeram. O suor
formigou em sua espinha quando muitas emoções conflitantes surgiram em
seu peito. Desejo, terror e culpa. Não importa o que ele quisesse, tinha que
proteger Minerva. Graças a sua total falta de juízo, ontem, ela poderia já
estar esperando um filho seu. Deviam se casar, não importando o que ele
queria. Que não pudesse suportar a ideia de passar um dia inteiro sem vê-la
era irrelevante. Sua obsessão não era razão para o casamento; mantê-la
segura era a única razão que importava.
O joalheiro voltou com o anel em uma pequena caixa de veludo azul e
Inigo entregou o dinheiro. Pegou o anel e o enfiou no bolso, antes de sair
correndo pela porta. Uma vez fora, respirou fundo, desejando que o ar frio
acalmasse seus nervos.
— Inigo?
Ele se virou, amaldiçoando quem quer que fosse, antes de ver Solo
saudá-lo do outro lado da rua. Sabendo que não escaparia agora, Inigo
atravessou a rua, evitando, meticulosamente, os respingos de sujeira que a
chuva de ontem havia deixado, e as poças sujas, acenando em saudação a
Solo.
— Eu não posso acreditar. — disse Solo, com um sorriso torto nos
lábios, enquanto olhava para a joalheria, do outro lado da rua — Vejo que
seguiu meu conselho.
Inigo soltou um suspiro — Não tive muita escolha.
Solo franziu a testa com isso, acenando em direção a um restaurante,
algumas portas abaixo — Estou faminto. — disse — Venha comer comigo,
assim pode me contar tudo.
Ele hesitou, considerando quanto tempo levaria para chegar em casa.
Eram apenas dez e meia, mas precisava voltar a tempo, caso Minerva
aparecesse mais cedo do que havia sugerido.
— Tomou café da manhã? — Solo exigiu com um suspiro.
Inigo revirou os olhos — O que é essa necessidade esmagadora que
todo mundo tem de me fazer comer? Você não é minha maldita mãe.
— É por isso, seu tolo. — retrucou Solo — Nunca teve ninguém para
cuidar de você, e também não é capaz de fazer isso sozinho.
— Eu tenho trinta anos de idade! — Inigo protestou — Eu consegui até
agora.
Solo deu-lhe um longo olhar, considerando que Inigo não duvidava ter
uma gravata e um casaco amassados. Para sua mortificação, seu estômago
decidiu que seria um bom momento para se juntar e dar um grunhido alto.
Solo ergueu uma sobrancelha.
— Tudo bem. — murmurou Inigo, zangado.
Estava zangado porque Minerva não estava ao seu lado, porque sentia
tanto sua falta, porque não pôde visitá-lo naquela manhã, zangado com sua
família, por mantê-la longe dele e ainda mais zangado, por suas amigas
permitirem que fosse atrás dele, em primeiro lugar. Todo mundo estava
causando-lhe irritação, e ansiava pelo tempo em que esteve sozinho, com
apenas seus experimentos para fazer-lhe companhia. A vida era muito
simples. Vazia e solitária, talvez, mas bem mais simples.
Encontraram uma mesa em um canto, relativamente, tranquilo da casa
de costeletas, movimentada, pedindo costeletas de cordeiro, batatas, pudim
de ervilhas e dois copos de cerveja preta. O pedido foi entregue com uma
velocidade notável e comeram em silêncio por um tempo, pelo qual Inigo
ficou grato. Sabia que não duraria.
— Então, comprou um anel?
Inigo esfaqueou uma batata e fez uma careta para ela — Sim.
— Quando você vai lhe propor?
Ele encolheu os ombros — Hoje, amanhã, o que isso importa?
Solo revirou os olhos — Tem alguma ideia do que vai dizer?
Inigo mastigou a batata, olhando fixamente para Solo e desejando que
ele cuidasse de sua própria vida — Porque se importa?
Solo suspirou e voltou sua atenção para o almoço — Porque tenho
medo de que estrague tudo, e então vou ficar assistindo-o cair em um
grande buraco escuro, quando perceber o quão idiota foi.
Inigo esfaqueou outra batata, franzindo a testa — Eu a arruinei. Ela não
tem escolha.
Solo olhou para ele incrédulo e depois esfregou uma mão cansada nos
olhos — Você realmente não entende as mulheres, não é?
— O que? — Inigo exigiu — Ela pode estar grávida, e não importa mais
o que, ela é uma mulher inteligente. A resposta é óbvia.
Inigo sentiu-se desconfortável, quando Solo apenas balançou a cabeça e
retornou uma expressão de pena.
— Disse-lhe que a ama?
Inigo abriu a boca para se opor, mas Solo o impediu.
— Nem se dê ao trabalho de negar. Ouvi todo o seu argumento sobre
desejo com um anel no dedo e não estou fingindo que não há verdade nisso.
Você a ama, e se não lhe contar, quando pedi-la em casamento, realmente é
um idiota.
Inigo balançou a cabeça, teimoso demais para considerar aquilo — Não
sei o que é o amor, o que parece, mas entendo sobre luxúria e desejo. Isso
eu reconheço.
— E isso é tudo? — Solo comentou, pousando a faca e o garfo no prato
vazio — Não sente mais nada por ela?
A confusão de sentimentos contra a qual estava lutando, quando Solo o
saudou, voltou, ameaçando sufocá-lo, e Inigo empurrou seu prato para
longe, de repente sentindo-se enjoado.
— Olha, não precisa admitir nada para mim, Inigo. — disse Solo. —
Deus sabe que não sou um entusiasta do felizes para sempre, mas não sou
tão tolo a ponto de não reconhecer que essa mulher é importante para você.
É uma das poucas pessoas com quem me importo neste mundo, por mais
deprimente que seja admitir isso. Gosto de pensar que pode ter sucesso
onde falhei.
Inigo pensou nisso por um tempo, antes de voltar seu olhar para Solo —
Você não falhou.
Houve uma risada amarga, como Inigo já antevia.
— Ah, falhei com tantas pessoas, de tantas maneiras, que é difícil
acreditar, mas isso não vem ao caso no momento. Não vou falhar com você,
mantendo minha boca fechada, mesmo que prefira que eu falhe.
Ele se levantou, jogou algumas moedas sobre a mesa e colocou uma
mão pesada no ombro de Inigo.
— Boa sorte. — disse Solo, antes de se dirigir para a porta.
Inigo o observou partir, seu andar desnivelado, como muitas vezes
acontecia, em um clima tão frio e úmido. Enfiou a mão no bolso e tirou a
caixinha de veludo. Abriu-a e olhou para o anel de ouro simples, aninhado
em sua cama de seda azul. Uma onda de medo estremeceu seu corpo,
enquanto considerava pedir Minerva em casamento. Além do fato de que a
arruinou, Inigo não conseguia pensar em nenhuma razão terrena para que
ela aceitasse.
Ela o ama, disse uma vozinha em sua cabeça.
— O amor não existe. — murmurou, fechando a caixa e guardando-a.
Minerva foi pega nessa obsessão destrutiva, assim como ele. Isso era
tudo. Eventualmente, esses sentimentos se esgotariam e desapareceriam,
como aquele maldito diamante que ele destruiu. Quando isso acontecesse,
se encontraria casada com um homem muito abaixo dela, alguém que não
podia lhe dar todas as coisas que queria e merecia, e, quando percebesse –
isso, o crucificaria. A ideia de Minerva olhando para ele, com qualquer
coisa menos do que a adoração que viu em seus olhos, deixava seu peito
apertado de tristeza.
Disse a si mesmo que seria melhor perdê-la agora do que enfrentar a
morte lenta e agonizante, que era inevitável, enquanto a observava aceitar
que seus sentimentos haviam sido uma ilusão. Como suportaria, quando
visse o véu cair de seus olhos e seu afeto por ele diminuir a cada dia? O
problema era que não podia deixá-la ir. Embora cada argumento lhe
dissesse que seria melhor para ele, não poderia fazê-lo.
Deixá-la ir era tão aterrorizante, que não conseguia nem considerar,
embora mantê-la com ele o assustasse ainda mais. No entanto, houve um
fato empírico que influenciou a escala firmemente em direção ao
casamento. Arruinou-a, ela já poderia estar carregando seu filho, estaria
condenado, se fosse responsável por outro bastardo sem pai no mundo.

Matilda olhou ao redor da grande construção, que era a Galeria de


Pintura do Pall Mall, ou Instituição Britânica, e tentou manter sua atenção
nas pinturas. Jemima e Helena vagaram à sua frente, conversando baixinho,
mas animadas, enquanto examinavam as pinturas. Matilda olhou para a
variedade de pinturas, penduradas no alto, lado a lado e em cima uma da
outra, até que seu olhar pousou em um de Thomas Lawrence, a quem muito
admirava. Ela considerou encomendar um retrato de seu irmão e Alice com
o primeiro filho, quando ele ou ela chegasse, pois achou que seria um
presente adorável para eles. Este retrato era de um hussardo bastante
arrojado, sua espada pendurada sobre o ombro direito, em uma pose
indiferente, toda a trança dourada em seu uniforme brilhando e o pelo em
sua capa tão real, que ela imaginou que poderia estender a mão e senti-la
macia ao toque.
Matilda levou um susto quando algo igualmente macio roçou sua mão e
olhou para baixo, surpresa, ao descobrir que havia sido agarrada por uma
garotinha, que a olhava radiante.
— Ora, Srta. Barrington, que bom vê-la. — exclamou Matilda, tão
encantada em ver a adorável criança, que percebeu como estava arrasada
pela maneira como seu coração saltou em seu peito, como um coelho
enlouquecido.
Se a Srta. Barrington estava aqui, o tio Monty também estava.
A criança sorriu para ela, seus cachos loiros emoldurando o rosto
angelical e os olhos azuis, que lembravam Matilda, com tanta força, de seu
parente mais próximo. Perguntou-se o quão bonito Montagu tinha sido
quando criança.
— Boa tarde, Srta. Hunt.
Matilda se forçou a permanecer calma quando se virou para olhar para
Lorde Montagu, fazendo-lhe uma reverência. Como sempre, estava
impecavelmente vestido, com um casaco azul escuro e uma gravata branca
nevada, o pino de diamante grande e único de sempre, brilhando entre as
dobras imaculadas. Segurava uma bengala prateada em uma mão enluvada.
Não havia nenhuma indicação em seus olhos da necessidade desesperada de
vê-la, da qual havia escrito, ou do desejo, que o fazia temer que tivesse
enlouquecido. Estava tão composto quanto preciso, como sempre estava.
Sem dúvida, era tudo um jogo para ele, não sentia nada. Era certamente
fácil de acreditar.
— A senhorita gostou das pinturas, Srta. Hunt? — Phoebe perguntou,
olhando para ela — Eu gostei mais do cavalo, venha ver.
Puxou a mão de Matilda, e esta não conseguiu recusar.
— É um Stubbs — disse Montagu, dando-lhe um olhar de soslaio —
Whistlejacket. Está bastante impressionada com isso.
Matilda sorriu e assentiu, imaginando o que, diabos, estava fazendo. —
As crianças, geralmente, são permitidas nas galerias? — perguntou com a
voz baixa.
— Algumas crianças. — respondeu Montagu, com uma peculiaridade
de seus lábios.
Matilda riu. Claro.
— Obrigado por vir.
Olhou para ele, surpresa com seu tom suave, a sinceridade em sua voz.
— Dificilmente, preciso lhe dizer que foi contra meu melhor
julgamento.
— Dificilmente. — ele concordou.
— Olha, não é lindo? — Phoebe perguntou, apontando para a enorme
pintura do garanhão castanho.
— Muito bonito, de fato. — Matilda concordou, enquanto a criança
olhava para ele, um momento mais antes de se mover ao longo da galeria,
para olhar para outra pintura, desta vez de um macaco.
— Phoebe parece bem feliz. — estudou o rosto de Montagu, antes que
ele respondesse, paralisada pela mudança em sua expressão austera,
enquanto olhava para a menina.
Ele poderia amar, então. Pelo menos, poderia amar essa garotinha.
— A senhorita acha?
Parecia ser uma pergunta genuína, com algo que soava como
preocupação, e Matilda continuou a examiná-lo.
— Sim, eu acho. Por quê?
Ele ficou em silêncio por um momento, suas sobrancelhas loiras unidas
— Muitas vezes é solitário para uma criança assim e eu… — deu uma
risada, surpreendentemente, autodepreciativa — Eu não sou um especialista
em pais.
Matilda tentou imaginar Montagu brincando com uma casa de boneca
ou lendo histórias para dormir, e falhou, completamente, embora a ideia
tenha feito algo dentro dela doer, com uma súbita sensação de vazio.
— Ela tem amigos para brincar?
Montagu hesitou antes de assentir e ela ficou impressionada com o quão
diferente parecia hoje. Geralmente se esforçava para controlar a si mesmo e
a conversa.
— Sim, mas…
Ele parou, e Matilda sentiu que não diria mais nada sobre o assunto,
mas não conseguiu resistir em pressionar um pouco mais.
— Mas?
Olhou-a, franzindo a testa — Sou superprotetor demais. As crianças
podem ser cruéis e, da última vez que tivemos alguns convidados mais
jovens, houve uma briga. Ela ficou chateada. Estive bastante preocupado
que o incidente se repetisse.
— Isso é natural, suponho. — disse Matilda com cuidado, ciente da
exclusividade deste momento de franqueza e de não querer fazer ou dizer
nada para terminar com isso. Sabia que Phoebe era sua única parente viva,
sua família tendo sido tocada por muitas tragédias — Mas as crianças
brigam o tempo todo e são melhores amigos em outros momentos.
Ele assentiu, parecendo não convencido.
— Eu me preocupo com ela. — disse, um olhar sombrio, que Matilda
não entendeu, nublando seus olhos.
— Phoebe é sua única família. É claro que se preocupa com ela. O
senhor é um tio dedicado e quer fazer o que é melhor para ela, isso lhe dá
crédito.
Ele olhou para ela e balançou a cabeça, um sorriso sem humor curvou o
lábio. — Como a senhorita pode dizer uma coisa dessas?
— O que? — Matilda perguntou, perplexa com a amargura de seu tom.
— Nem sempre lhe fui gentil, Srta. Hunt, e sei que, o que quer que seja
isso entre nós, acontece contra sua vontade, seu julgamento, suas
esperanças para o futuro. No entanto, a senhorita é sempre gentil. Justa.
Tem um coração generoso. Não mereço sua compreensão, e ainda assim eu
a quero, muito.
Matilda olhou para ele, espantada, e sabia que estava em grave perigo.
O pânico aumentou em uma varredura de cores, quando reconheceu o
sentimento em seu coração, pelo que era. Precisava escapar.
— Vou me casar com o Sr. Burton — as palavras escaparam, antes
mesmo que as registrasse, forçadas a sair, em confusão, enquanto a
intensidade de suas emoções a impelia a fazer ou dizer algo muito, muito
tolo, de fato.
Montagu paralisou. Era apenas sua imaginação que a fez acreditar que
ele empalideceu? A cor deixou seu rosto tão rapidamente, que não tinha
certeza de não ser um truque de luz. O dia estava escuro e cinzento, a luz do
dia na galeria não era tão brilhante quanto se esperaria para ver pinturas,
mas, certamente, Montagu parecia pálido, não parecia? Isso realmente
importava para ele? Se afastou dela e de seu escrutínio.
— A senhorita não dá a mínima para o Sr. Burton. — disse e, embora as
palavras fossem ditas muito baixo, ela podia ouvir sua raiva.
— Ele é um homem decente. — retrucou, descobrindo que mal
conseguia respirar.
Montagu soltou um som áspero — Ele irá sufocá-la e acabar com tudo o
que a faz ser vibrante e viva. A senhorita deve ser a esposa modelo para um
homem assim, perfeita em todos os sentidos, e que os céus a ajudem, se
disser ou fizer qualquer coisa com a qual ele não concorde.
Matilda lutou contra um pouco de desconforto, lembrando-se da
desaprovação óbvia do Sr. Burton, quando ajudou Harriet e Bonnie.
Provaram que Lady Frances havia tentado fisgar o noivo de Kitty para se
casar com ela, e o Sr. Burton não ficou feliz com isso. Pensou em todas as
vezes que ele deixou claro seu desagrado, quando dançava com qualquer
homem além dele. Era natural, disse a si mesma; estava protegendo-a. No
entanto, havia vislumbres de algo possessivo, que a deixara desconfortável.
— Obviamente que o senhor diria isso. — retrucou mesmo assim,
irritada por ele minar sua decisão com tanta facilidade — E suponho que
com o senhor seria diferente, ah, mas eu esqueci, eu nunca seria sua esposa,
então, não é a mesma coisa.
— Comigo a senhorita seria livre! — Montagu se virou, os olhos
cinzentos brilhando com tanta fúria, que Matilda respirou fundo, mas
Phoebe veio correndo e ele fechou a boca, forçando um sorriso no rosto
para sua sobrinha.
— Já decidiu se o macaco está comendo laranjas ou pêssegos? —
perguntou, parecendo bastante calmo e no controle de si mesmo.
— Sim, definitivamente, pêssegos. — disse, sorrindo para ele e
mostrando um conjunto perfeito de covinhas.
Ridiculamente, Matilda se perguntou se os herdara de seu tio. Se ele
tivesse, Montagu nunca sorrira com um prazer tão desenfreado, a ponto de
torná-las visíveis.
— Estou feliz por termos esclarecido esse mistério, Bee.
Matilda sentiu sua garganta apertar com a ternura em sua voz, quando
Montagu tocou uma mão na bochecha da garota. Ele se virou abruptamente,
caminhando para o outro lado da galeria, deixando-as sozinhas.
Phoebe o observou, uma pequena carranca entre as sobrancelhas
pálidas, a expressão tal eco de Montagu, que a respiração de Matilda ficou
presa.
— Qual é o problema? — Phoebe perguntou, olhando para ela.
O coração de Matilda apertou, surpresa que a criança tenha percebido o
humor de seu tio com tanta facilidade.
— Não há nada de errado, minha querida. — disse Matilda, agachando-
se para a garotinha, que ainda estava observando seu tio.
Ele estava olhando para uma pintura, embora ela duvidasse que a
estivesse realmente vendo. Cada centímetro nobre, frio e intocável,
lembrou-se. Estava longe do alcance dela. Phoebe olhou incerta para
Matilda e depois de volta para Montagu.
— Tem certeza? — perguntou, pegando a mão de Matilda e olhando de
volta para o tio — Ele… — a garotinha baixou a voz e olhou em volta, para
verificar que ninguém estava perto, antes de falar, novamente — Ele fica
triste às vezes, embora eu não deva contar a ninguém. Mas a senhorita não
vai dizer nada, não é? A senhorita é amiga dele. — hesitou, dando a Matilda
um olhar estranhamente penetrante — Ele não tem outros amigos, vê. Não
fica à vontade com a maioria das pessoas, mas acho que gosta da senhorita.
É amiga dele, não é, Srta. Hunt?
Matilda engoliu em seco — Eu… bem… sim. Sim, suponho que somos
amigos, e é claro que não vou contar a ninguém, nunca, mas…, mas o que
você quer dizer? Todos ficam tristes às vezes, Phoebe.
Phoebe balançou a cabeça — Não como ele. Não gosto quando está
triste. Ele se esforça muito para fingir que não está, mas eu sempre posso
dizer porque se esforça demais. Seus olhos não parecem os mesmos. É
como se não estivesse realmente lá, como se tivesse ido para outro lugar.
Matilda olhou para Montagu, querendo afastar o desejo de ir até ele,
tentando esmagar os sentimentos que dissera a Helena que queria
experimentar e agora desejava nunca ter esperado.
"Se sente sozinho?"
"Não me falta companhia."
Sentiu isso nele antes, algo intocável e desolado, mas não respondeu à
pergunta e, quando ela pressionava, evitava completamente.
"Há algumas coisas que eu posso escolher para mim."
Ele a escolheu.
"A senhorita não é como as outras."
Matilda ergueu os olhos quando Montagu voltou até elas. Seu rosto,
uma máscara de indiferença, fechado.
— Phoebe, vá e verifique o macaco novamente. Acho que talvez
possam ser laranjas, afinal.
— Mas tio…
Montagu ergueu uma sobrancelha apenas uma fração e Phoebe respirou
fundo.
— Sim, tio. — afastou-se, retornando, obedientemente, à pintura.
Matilda esperou enquanto Montagu a observava partir.
— A senhorita já aceitou a oferta dele? — não havia emoção na
pergunta, poderia muito bem ter perguntado se ela achava que choveria
novamente.
Matilda olhou para ele, tentando encontrar uma rachadura na máscara,
alguma pista do que Phoebe queria dizer, sobre ele estar triste.
— Não. — disse, quando sua expressão permaneceu indiferente — Ele
ainda não me pediu, mas vai pedir.
Montagu assentiu.
— Obrigado por ter vindo hoje — disse, bem-educado. — Espero que a
senhorita aproveite o resto da exposição.
Matilda observou, um pouco surpresa, enquanto lhe dava um aceno
educado e se afastava, recolhendo Phoebe, antes de deixar a galeria. Ela
soltou um suspiro instável, seus pensamentos estavam todos confusos, sua
garganta apertada de ansiedade e arrependimento. Bem, era isso, então.
Estava a salvo de Montagu, exatamente como esperava. Ele a deixaria
agora, certamente?
Ela caminhou para ficar perto da janela, descobrindo que dava para a
frente da galeria. Olhando para baixo, viu Montagu emergir, alguns minutos
depois, segurando a mão de Phoebe, enquanto sua carruagem se
aproximava. Pararam, esperando, enquanto um lacaio abria a porta e
abaixava o degrau. Phoebe olhou para o tio, em silêncio, e então cobriu a
mão que segurava a dela. Ambas as minúsculas mãos de luvas brancas
seguraram a maior de Montagu, em um gesto tão terno de conforto, que os
olhos de Matilda arderam.
16
Sr. Glover,
Li com grande interesse o relatório. Quero comparações
com outras fábricas do país, para descobrir se os padrões de
segurança são tão ruins quanto parecem ser, nas duas que
investigou. Também quero os nomes de todos os feridos.
Peço-lhe que continue suas investigações nas fábricas
localizadas em Derbyshire, com toda pressa, e me devolva
suas descobertas sem demora. Suspeito que descobrirá mais
do mesmo. Disponibilizei fundos, caso precise empregar mais
homens e cobrir mais despesas. A velocidade é essencial,
independentemente dos custos envolvidos. As informações
pessoais que solicitei também continuam a ser uma
prioridade.
Espero ter notícias suas, em menos de uma semana.
—Trecho de uma carta do Muito Honorável Lucian
Barrington, Marquês de Montagu para o Sr. Richard
Glover.

24 de janeiro de 1815. Church Street, Isleworth, Londres.


Inigo sentou-se, tamborilando os dedos na mesa da cozinha. Acendeu o
fogo, em seu quarto e na cozinha, deixou a mesa pronta para o almoço e
tentou trabalhar em seu artigo, por uma hora inteira, antes de admitir a
derrota. Pegou o relógio, olhou para ele, quando ainda insistia que tinham-
se passado três horas, e murmurou uma maldição baixinho. Onde, diabos,
ela estava?
Uma batida na porta fez sua cadeira guinchar pelos azulejos da cozinha,
enquanto se levantava e corria para a porta. Abrindo-a, Inigo franziu a testa,
ao ver um mensageiro, no uniforme do duque de Bedwin.
— Para o senhor, Sr. de Beauvoir. — disse o menino, entregando uma
carta com o selo do duque.
O estômago de Inigo deu cambalhotas. Bedwin descobriu seu caso com
a prima de sua esposa? Talvez isso fosse para informá-lo que ele estava
sendo desafiado a um duelo. Antes que pudesse abrir a carta, o menino se
inclinou para frente e retirou outra carta de dentro de sua jaqueta.
— E esta é da Srta. Butler — o rapaz sussurrou, com uma piscadela em
seguida, que só fez Inigo franzir a testa.
Meu Deus, que tola imprudente! Agora estava subornando os criados de
Bedwin para enviar mensagens? Corou e ficou quente e frio em rápida
sucessão.
— Espere. — disse ele, cautelosamente, fechando a porta e abrindo a
carta de Minerva primeiro.

Meu querido Inigo,


Eu sinto muito mesmo. Prue está de guarda e eu,
simplesmente, não posso sair de casa hoje. Amanhã será
mais fácil, pois ela vai com Bedwin visitar amigos. Bedwin
está organizando um jantar informal e improvisado, esta
noite, e lhe enviou um convite. Por favor, aceite, meu amor.
Haverá alguns homens importantes aqui, esta noite, e poderá
ter outra oportunidade de falar com ele, sobre o seu trabalho.
Será uma tortura vê-lo e não poder tocá-lo, mas é melhor do
que não o ver. Venha.
Com todo o meu amor,
Minerva.

Inigo soltou um suspiro trêmulo, antes de abrir a carta de Bedwin e


encontrar um convite para aquela noite. Rabiscou uma resposta e abriu a
porta novamente, pressionando uma moeda, e sua aceitação, na mão do
menino, antes de agarrar seu outro pulso.
— E se disser uma palavra sobre essa outra carta para outra alma viva,
não haverá um lugar em todo o país seguro o suficiente para se esconder.
O menino sorriu para ele, balançando a cabeça — Não se preocupe,
senhor. A Srta. Butler é uma boa moça, nunca vou comentar. Ela foi gentil
comigo uma vez e nunca vou esquecer.
Inigo assentiu e soltou o menino, vendo sinceridade em seus olhos —
Obrigado.
O menino assentiu e depois hesitou, estreitando os olhos — O senhor
vai fazer a coisa certa por ela?
— Sim! Não que seja da sua conta, moleque. — respondeu Inigo,
lutando contra uma onda de culpa, sob o olhar julgador do menino.
— Bem, está tudo certo, então. — o malandro atrevido tirou o chapéu e
enfiou as mãos no bolso, assobiando enquanto se afastava.

Noite de 24 de janeiro de 1815. Beverwyck, Londres.


Inigo puxava seu casaco e lutava contra o desejo de arrancar a gravata,
que lhe estava estrangulando, enquanto um lacaio anunciava seu nome.
Havia mais convidados do que ele esperava, talvez uma dúzia, embora
houvesse apenas uma que estava interessado em ver. Vislumbrou um
vestido amarelo vivo e sua respiração ficou presa, mas antes que pudesse
se mexer, uma mão agarrou seu braço.
— Inigo?
Ele se virou e encontrou olhos azuis escuros penetrantes e um rosto
esculpido e bonito, com uma expressão cínica familiar.
— Gabe?
— Não se explodiu ainda, professor?
Inigo ficou boquiaberto, olhando o homem, impecavelmente, vestido de
cima a baixo, espantado — Eu ouvi os rumores sobre o notório Sr. Knight.
— disse, balançando a cabeça admirado — Sabia que era você, apenas
sabia.
— Eu disse que seria um sucesso, não importa o que acontecesse.
— Cristo, até fala como uma maldita pessoa importante. — disse Inigo,
rindo um pouco.
Gabriel bufou — Não exatamente, mas o mais próximo que posso
chegar, sem me sentir um completo idiota. — olhou para Inigo de cima a
baixo, sorrindo agora. — Você também não está mal, professor. É famoso.
— Não tão famoso quanto você. — comentou Inigo, aceitando uma
bebida de um lacaio que passava.
Gabriel soltou um sorriso irônico — Meu saldo bancário é famoso.
Estou feliz que esteja aqui, no entanto. Estava querendo falar com você.
Acho que podemos ajudar um ao outro. Preciso de um alquimista.
Inigo revirou os olhos — Tivemos essa conversa quando éramos
meninos. Eu não posso transformar chumbo em ouro, seu idiota, então não
me pergunte, e sou um filósofo naturalista, não um maldito alquimista.
— Vejo que continua tão charmoso e pedante como sempre. — disse
Gabriel, sorrindo — Não consigo imaginar porque todos os meninos
queriam bater em você. Só para constar, eu não ia perguntar. No entanto,
preciso de um filósofo naturalista.
— Mas para que, diabos? — Inigo perguntou, com as sobrancelhas
levantadas.
Ele revirou os olhos quando Gabe tocou seu nariz com um dedo.
Gabriel Knight já tinha sido assim. No hospital dos enjeitados, era Gabe
quem conseguia as coisas… por um preço. Trocava informações por
mercadorias e, mesmo quando tinha apenas doze anos, era grande o
suficiente e quase louco para derrubar um guarda sozinho. Principalmente,
era muito esperto para usar os punhos, a menos que fosse inevitável ou
trabalhasse a seu favor. Conhecimento era poder e Gabe aprendera a usar o
suborno, sua inteligência e um instinto inato para ganhar dinheiro. Inigo
sabia que Gabe era uma das principais razões pelas quais ele havia
sobrevivido ao orfanato, com todos os seus membros intactos. Não eram
exatamente amigos, mas Gabe cuidou dele, protegendo-o de muitas surras,
e Inigo não se esqueceria disso. Admitidamente, foi porque Gabe descobriu
que Inigo lhe era útil, sendo mais esperto do que os adultos que
administravam o lugar quando ele tinha dez anos, mas ainda assim...
— Conversaremos outra hora. — disse Gabe, dando lhe um tapinha no
ombro — Mas farei com que valha a pena.
Ele piscou para Inigo e saiu.
— Amigo seu?
A voz familiar fez seu coração bater o dobro, enquanto se virava para
ela. Sua respiração prendeu quando viu Minerva, e todas as razões pelas
quais estaria louca para se contentar com Inigo, caíram sobre ele com força.
Estava deslumbrante. O vestido amarelo realçava o ouro em seu cabelo e,
com aqueles olhos, era a personificação de um dia de verão. Ele não podia
falar, não podia pensar, não podia fazer nada além de olhar para ela e se
desesperar com o quão inútil era se sentir assim. Era como desejar abraçar o
sol, embora soubesse que seria queimado, até se transformar em cinzas,
antes mesmo de se aproximar.
Minerva olhou para ele e corou, olhando em volta para ver se eles
estavam sendo observados.
— Inigo. — sussurrou, sua voz implorando — Para de me olhar assim.
Com um esforço hercúleo, ele desviou o olhar dela.
— Perdoe-me. — conseguiu dizer, sua voz soando estranha e rouca.
— Eu não me importo. — disse ela, uma nota suave de diversão em sua
voz — Todos saberão o que aconteceu entre nós, se o senhor não parar.
Inigo se amaldiçoou, sabendo que ela estava certa e tentando,
desesperadamente, se controlar.
— Perdoe-me, Srta. Butler. — falou, assim que pôde dizer algo meio
inteligente — Posso dizer o quão… quão extraordinária a senhorita está
essa noite.
— O senhor pode dizer.
O olhar de prazer em seus olhos pelo elogio dele quase o desfez de
novo, mas deu um gole na bebida que segurava e gesticulou para que um
lacaio lhe desse outra.
— Devo presumir que o senhor conhece o Sr. Knight? — Minerva
perguntou.
Inigo estreitou os olhos — Sim. A senhorita o conhece?
Minerva parecia muito satisfeita com a nota em sua voz, que não era
ciúme, mas, por engano, parecia acreditar que era.
— Fomos apresentados esta noite. — disse, tomando um gole de sua
bebida e olhando ao redor da sala — Eu tenho uma amiga que o acha
bastante fascinante, no entanto. — acrescentou, dando-lhe um olhar
especulativo.
— Diga a ela para correr para muito, muito longe. — disse Inigo,
suavemente.
— Por quê?
— Porque as mulheres se apaixonam por ele, mas nunca houve uma que
tenha mantido seu interesse por mais de uma hora, pelo que sei. Ele é
perigoso para qualquer dama gentilmente educada. Despreza aristocratas,
mas os usará, de qualquer maneira que puder, para conseguir o que quer.
— E o que é que ele quer?
— Dinheiro. Poder.
Minerva parecia preocupada com isso e ele esperava que sua amiga não
fosse tão imprudente quanto ela. Pode ser um bastardo, mas Gabriel era
implacável.
— O senhor o conhece bem?
Inigo deu de ombros — Nós crescemos juntos.
— No hospital dos enjeitados. — Minerva completou, surpresa.
— Sim — concordou Inigo, fazendo o possível para não olhar para ela
enquanto falava, pois suas mãos estavam ansiosas para tocá-la, deslizar
sobre o cetim macio que envolvia seus seios, e puxá-la contra ele. Soltou
um suspiro, tentando se concentrar na conversa — Perdemos contato ao
longo dos anos, mas duvido muito que ele tenha mudado.
O olhar de Minerva se moveu pela sala até onde Lady Helena estava
parada, conversando com Lorde St. Clair. Inigo praguejou, percebendo que
Harriet devia estar ali também. Não que lhe desse qualquer mal
pressentimento, nada disso, mas Harriet o conhecia melhor do que a maioria
e ele não duvidava que o círculo das Senhoritas Peculiares compartilhasse
todas as últimas fofocas. Isso significava que ela sabia sobre ele e Minerva?
Enquanto observava, Harriet apareceu, movendo-se para pegar o braço de
St. Clair. O conde se virou, cobrindo a mão dela com a dele e enviando-lhe
um olhar tal, que Inigo sentiu uma sensação estranha em seu peito. St. Clair
amava sua esposa. Era uma percepção estranha, ver a diferença entre algo
que era pura luxúria e a inusitada mistura de adoração, desejo e… e outra
coisa. Familiaridade?
Ele se perguntou como seria participar de uma noite como esta, com
Minerva como sua esposa, e sentiu como se tivesse tido o ar tirado de seus
pulmões, seu desejo por isso era tão feroz. Era isso que era amor?
Enquanto a atenção de St. Clair vagava, a de Lady Helena também, e
Inigo viu seu olhar através da sala, que se fixou, intensamente, em Gabe.
Oh, santo Deus. Aquilo era um desastre, esperando o momento certo para
acontecer. Aliviado por ter o destino de outra pessoa para pensar por um
momento, ele se concentrou nisso.
— É Lady Helena.
Minerva olhou para ele, com os olhos indagantes.
— A amiga que é fascinada por Gabe, o Sr. Knight, quero dizer. É Lady
Helena.
Minerva mordeu o lábio e depois assentiu.
— Diga-lhe para ficar longe dele. — Inigo a alertou — Ele não tem
escrúpulos. É muito rico e não teme ninguém por isso, e arruinar a irmã de
um duque não é algo pelo qual teria correção.
Minerva empalideceu, mas deu um aceno tenso — Obrigada pelo aviso.
Vou dizer a ela, mas…
— Mas ela é tão teimosa e autodestrutiva quanto a senhorita. — Inigo
terminou, com um suspiro cansado.
Minerva lhe deu um sorriso malicioso — O senhor ainda não me
destruiu, Sr. de Beauvoir. — disse ela, com um brilho perverso nos olhos,
enquanto se afastava dele para se misturar com os outros convidados.
Inigo se perguntou se tinha sido a intervenção de Minerva que o fez
sentar-se ao lado do duque, pois estava longe de ser o convidado mais
ilustre, mas ficou grato. Bedwin já havia insinuado que tinha interesse nas
suas descobertas e estaria aberto a patrociná-lo, para promover seu trabalho.
O duque também disse que entraria em contato para discutir mais sobre isso
nas próximas semanas. Essa feliz reviravolta não compensou inteiramente a
maneira como Harriet o estudou durante a refeição. Sentiu-se como uma
das amostras que examinava no microscópio, mal se atrevendo a olhar na
direção de Minerva, com medo de confirmar tudo o que Harriet estava
ponderando atrás daqueles óculos delicados.
— Gostaria de ter assistido à sua palestra no ano passado, Sr. de
Beauvoir. — disse Harriet, chamando sua atenção para ela, agora que o
duque estava se concentrando em seu jantar — Tinha lido os experimentos
de Lavoisier com diamantes e suas conclusões, mas descobrir que o grafite
também queima para formar dióxido de carbono foi um grande golpe. Então
descobriu outra forma de carbono. Fascinante.
Inigo abriu a boca para responder ao que sabia, com Harriet, se tornaria
uma conversa fascinante, quando a viu endurecer, seus lábios se
acomodando em uma linha fina e branca. Seguiu seu olhar para ver um dos
convidados, um Dr. Murphy, olhando para ela com desgosto.
O médico virou-se para falar com um Sr. Hammond, sua voz estridente
tentando um tom baixo, mas ainda alto o suficiente para alcançar o outro
lado da mesa — Muitas vezes observei os perigos de educar as mulheres,
além do que é natural. O estudo danifica os ovários e leva à infertilidade e,
às vezes, histeria. Uma aflição perigosa, especialmente, para alguém que
ainda não produziu uma família.
— Tenho certeza de que Sua Graça estaria interessada nesse argumento,
Dr. Murphy. — disse Inigo, certificando-se de que a Duquesa de Bedwin
pudesse ouvi-lo do outro lado da mesa — Acredito que, como uma escritora
de sucesso, ela pode ser tomada como um modelo para a mulher educada.
Como Sua Graça também estava claramente grávida, era um argumento
forte o suficiente em qualquer circunstância. Enquanto ela, agora, estava
olhando para o Dr. Murphy, Inigo teve uma satisfação maliciosa em seu
desconforto.
— Ah, sim. — disse o Dr. Murphy — Bem, às vezes há exceções
notáveis, que provam a regra. — deu à duquesa Bedwin um sorriso
condescendente e Inigo viu seus dedos embranquecerem em torno de seu
copo de água — Acredito que o senhor é um defensor da educação para as
mulheres, Sr. de Beauvoir? — perguntou o médico, sua expressão
transmitindo tudo o que pensava daquela opinião.
— Eu sou. — concordou, acomodando-se para o argumento inevitável.
— No entanto, deve observar que as fêmeas são uma espécie muito
mais tenra do que o macho. Elas ficam irritadas facilmente, suas mentes
desordenadas, quando excessivamente estimuladas e, como portadoras da
próxima geração, essa fragilidade deve ser protegida.
— Se as mulheres são bobas e propensas a ataques de histeria, é por
causa da falta de educação ou foco adequado. — disse Inigo, sua
indignação com a atitude do homem fazendo seu temperamento explodir,
apesar de saber melhor — Quase todas as tolices exibidas por algumas
mulheres podem ser atribuídas ao fato de que todos ao seu redor insistem
em tratá-las como crianças, o que, combinado com o tédio de não ter
nenhum propósito útil além de ter filhos, é levada a causar histeria.
Qualquer ser senciente ficaria histérico diante de tal tédio. Posso
acrescentar que, se as mulheres são tão frágeis e delicadas como o senhor
sugere, é uma maravilha que a humanidade tenha durado tanto tempo.
Todos ficaram em silêncio.
— Isso é o que acontece ao permitir que um sujeito humilde como ele
passe entre seus superiores. — disse o Dr. Murphy em voz baixa, olhando
para Inigo.
— Bedwin, — Sua Graça chamou do outro lado da mesa — gosto muito
do Sr. de Beauvoir. Ele fala com muito sentido. Patrocine o trabalho dele.
Harriet o admira tremendamente, e você sabe com que frequência observou
o quão inteligente a condessa é. — mostrou ao Dr. Murphy um sorriso
brilhante — Conte-me mais sobre porque as mulheres estão histéricas,
Doutor. Devo compartilhar com minhas amigas, quando nos encontrarmos,
na próxima semana. Mal posso esperar pela conversa fascinante que se
seguirá.
Dr. Murphy virou uma cor vívida, que lembrou Inigo de sais de
estrôncio queimados em uma chama. Não tinha certeza de que aquele tom
particular de vermelho era saudável, mas não podia negar sua satisfação em
vê-lo.
— Querida, — todos olharam para ver St. Clair se dirigindo à esposa —
devo me juntar a Bedwin no patrocínio do Sr. de Beauvoir? Sei o quanto
admira o trabalho dele, e sabe que vivo para agradá-la. Talvez ele esteja
disposto a ajudá-la com o livro do qual estava falando, em troca?
Harriet sorriu para o marido — Que ideia maravilhosa. — disse,
obviamente encantada — Fiquei tão impressionada com o livro que me
emprestou, Sr. de Beauvoir. Acredito que a Srta. Butler também leu.
Conversas sobre Química, da Sra. Jane Marcet. Era tão eficaz em explicar
os princípios científicos em linguagem direta, que eu estava brincando com
a ideia de escrever algo semelhante, mas abordando assuntos diferentes.
Talvez pudéssemos explicar um pouco do seu trabalho, em termos que o
público em geral, e especialmente as mulheres — acrescentou, enviando um
olhar firme para o Dr. Murphy — sintam -se confortáveis ao ler e entender.
— Eu ficaria honrado em participar de tal projeto, Lady St Clair. —
respondeu Inigo, enquanto Harriet sorria para ele.
Olhou em seguida para Minerva, o que foi um erro. A expressão de
orgulho em seus olhos fez seu coração se sentir muito peculiar, como se
estivesse se expandindo em seu peito. Desviou o olhar e voltou sua atenção
para o jantar, resolvendo tentar manter a boca fechada pelo resto da noite.
Inigo sabia que estava prestes a arruinar suas próprias perspectivas. As
ofertas de Bedwin e St. Clair seriam rapidamente retiradas, quando
propusesse casamento à Minerva e eles descobrissem seu caso.
Provavelmente tentariam tirar Minerva dele e de qualquer possível
escândalo, pelo menos até que tivessem certeza de que não carregava seu
filho. Eles a casariam de maneira rápida e discretamente, com alguém mais
digno dela. Não ficaria sentado esperando que isso acontecesse, mas sabia
que homens tão poderosos poderiam arruiná-lo com facilidade, e então o
que poderia lhe oferecer? Apesar de tudo o que tinha a perder, não podia se
arrepender.
Uma vez, teria vendido sua alma pelo tipo de apoio financeiro que o
duque e o conde lhe dariam, mas agora, por mais que ainda quisesse,
empalideceu em comparação com Minerva. Sem ela, o resto tinha pouco
valor para ele, e se esse não fosse o pensamento mais aterrorizante que já
teve, não sabia o que seria.

— Meu Deus, estou exausta. — Helena reclamou enquanto subia as


escadas — As conversas, nesses jantares de Robert, são sempre tão
enfadonhas.
Minerva sufocou um bocejo. Foi uma longa noite, com a maioria dos
homens dominando a conversa, com assuntos de negócios. Também não
conseguiu compartilhar mais do que algumas palavras com Inigo, o que,
provavelmente, foi o melhor.
— Está apenas irritada, porque estava do outro lado da mesa do Sr.
Knight.
— Bem, você é apenas presunçosa, porque está explodindo de orgulho
do Sr. de Beauvoir. — Helena rebateu, colocando a língua para fora.
Minerva riu, incapaz de negar — Oh, mas deve admitir que ele foi
maravilhoso.
Helena riu e soltou um suspiro — Devo. — admitiu — Sempre odiei
esse Dr. Murphy, mas ele é muito influente, infelizmente, e meu irmão
gosta de se manter atualizado com tudo o que está acontecendo no mundo.
Essa é a única razão pela qual o Sr. Knight estava aqui também, é claro,
pois sabe que meu irmão não gosta dele. Felizmente, acho que Robert viu
hoje o que tenho lhe dito, há séculos, sobre o repugnante Dr. Murphy. Se
não o fez, suspeito que Prue explicará com detalhes excruciantes. —
acrescentou, fazendo Minerva sorrir.
— Bem, eu não consigo vê-lo sendo convidado de volta tão cedo.
— Graças aos céus! Deve estar entusiasmada com o sucesso do Sr. de
Beauvoir esta noite. Com St. Clair e Bedwin o patrocinando, será uma força
a ser reconhecida.
Minerva assentiu, embora também estivesse perturbada. Sabia que era
provável que Bedwin retirasse seu apoio, quando descobrisse que ela era
amante de Inigo. St. Clair nunca foi fã dele, em primeiro lugar, e seu apoio
foi dado para agradar sua esposa, mais do que qualquer coisa, então, havia
todas as chances de ele seguir o exemplo. Antes, era apenas Minerva
arriscando seu futuro para estar com ele, mas agora… agora poderia colocar
em risco toda a carreira dele, se fossem descobertos.
— Bem, estou indo para a cama. Boa noite, Min.
Minerva olhou para cima, seus pensamentos inquietantes empurrados
para um lado, por um momento, enquanto olhava para Helena.
— Você se lembrará do que eu disse sobre o Sr. Knight, não é, Helena?
Helena revirou os olhos — Sujo. Mal lavado. — disse, sucintamente.
— Não é a mesma coisa. — disse Minerva, aproximando-se e baixando
a voz. — Inigo tentou me manter à distância, para me proteger. Pelo que ele
disse do Sr. Knight, ficaria muito feliz em arruiná-la. Odeia a aristocracia, e
você é a pessoa mais aristocrática da qual ele vai se aproximar. Inigo o
conhece desde que eram garotos, Helena, e ele diz que o homem é perigoso.
Pelo amor de Deus, sei que estou sendo imprudente, mas isso é loucura.
Helena olhou para ela e levantou uma sobrancelha perfeitamente
arqueada — Não, querida. Isso é um desafio.
17
Querida Srta. Hunt,
É com o maior pesar que devo informá-la que não estarei
em Londres na próxima semana, como esperava. Tenho
negócios inesperados em Derbyshire, que precisam da minha
atenção imediata. Isso significa que devo cancelar meu
compromisso de visitá-la.
Espero não precisar explicar mais como estou
extremamente desapontado.
Rezo para que me perdoe, mas tenha certeza da minha
consideração e admiração. Voltarei para Londres na minha
primeira oportunidade.
—Trecho de uma carta do Sr. David Burton para a Srta.
Matilda Hunt.

25 de janeiro de 1815. South Audley Street, Londres.


Matilda olhou para a carta daquela manhã com desgosto. Não ficou
aliviada, disse a si mesma, severamente. Tirou um momento para se lembrar
do rosto do Sr. Burton e de todas as coisas que a fizeram gostar dele.
Quando se conheceram, o achou charmoso, atencioso, educado, e com
olhos gentis. Ele havia mudado a primeira impressão, uma ou duas vezes,
mas não havia realmente nada em que ela pudesse colocar o dedo. Muitos
homens eram mais arrogantes do que ele. Só estava sendo tola, procurando
desculpas, e isso tinha que parar. Precisava mesmo. Mas Jemima tinha ido
embora aquela manhã e ela estava se sentindo deprimida. Nada mais.
Jemima tinha sua nova casa de campo e uma nova vida esperando por
ela, e estava tudo bem que quisesse viver sozinha. O futuro de Jemima
como solteirona parecia não a amedrontar, e Matilda a admirava por isso,
por não entrar em pânico e ficar desesperada para se casar o mais rápido
possível. Reconhecidamente, era mais jovem que Matilda e não tinha sua
reputação como adversária, mas se Jemima podia enfrentar o futuro com
tanta equanimidade, certamente Matilda deveria ter vergonha de sentir um
terror tão avassalador, com a perspectiva de ficar sozinha.
Além disso, não havia razão no mundo para que ficasse magoada por
Jemima não querer sua companhia. Ela seria convidada para uma visita em
breve.
Deixando a carta de lado, terminou o café da manhã e se preparou para
sair. Estava terminando de prender o chapéu quando o mordomo abriu a
porta para Minerva. Sua amiga estava linda, em um vestido azul radiante e
Spencer, além de um pequeno chapéu encantador, com flores de seda azuis
e amarelas, em um dos lados.
— Bom dia, Min, chegou na hora certa. — disse Matilda, gesticulando
para que se dirigissem à carruagem que esperava Matilda.
— Muito obrigada por fazer isso. — disse Minerva, pegando seu braço,
enquanto desciam os degraus da frente — Você é, realmente, muito boa.
Matilda bufou e balançou a cabeça — Estou chegando rapidamente à
conclusão de que não sou nada disso. — disse ela com um suspiro.
— O que quer dizer?
Minerva aceitou a mão do lacaio, enquanto subia na carruagem e
Matilda em seguida, esperando até que as portas fossem fechadas para falar,
novamente. Não sabia o que dizer, mas devia honestidade a Minerva.
— Estou com um ciúme terrível. — disse a Minerva, com um sorriso
fraco — E admirada com a sua coragem.
Minerva riu disso — Coragem? Não estou certa de que as pessoas
veriam minhas ações como corajosas, e a verdade, Matilda, é que não posso
fazer o contrário. Eu o amo e… e ficar sem ele é insuportável. Apenas
chega um ponto em que parece não haver mais uma escolha a ser feita.
Matilda assentiu, mas não queria continuar com o assunto. A ideia de se
sentir tão certa pelo Sr. Burton estava tão longe de ser possível, que sentiu
uma onda de culpa. O pobre homem merecia mais do que uma esposa sem
coração, não merecia? Na esperança de mudar de assunto, enfiou a mão na
retícula e pegou um dos pequenos cartões que Jemima lhe dera, com seu
novo endereço.
— Jemima foi embora para o campo esta manhã. Ela me pediu que lhe
desse isso e implorasse que escrevesse para ela. Sei que vai se acomodar e
fazer amizades rapidamente, mas, enquanto isso, pediu que todas
mantivessem contato.
— Oh, certamente que vou. — disse Minerva, sorrindo e guardando o
cartão — Estou morrendo de vontade de ver sua nova casa de campo.
Parece idílica.
— Sim. — disse Matilda, virando-se para olhar pela janela, até
chegarem à Church Street.
— Venho buscá-la mais tarde, como combinado. — disse, sorrindo para
Minerva e rezando para que tudo desse certo entre ela e o Sr. de Beauvoir.
— Eu não vou esquecer isso, Tilda. — disse Minerva, apertando sua
mão, antes de sair da carruagem.
Matilda observou enquanto corria para a porta da frente e desaparecia.
A carruagem seguiu em frente e ela respirou fundo, tentando manter sua
mente nas compras que iria fazer, e não se lembrar da preocupação da Srta.
Barrington com o tio, e das pequenas mãos de luvas brancas segurando a
dele.
Minerva virou-se de lado, seus dedos se arrastando para frente e para
trás, nos pelos do peito de Inigo. Lamentou não ter sido capaz de trazer
almoço para ele, mas chegar aqui já tinha sido difícil o suficiente. Prue
estava se sentindo mal e cancelou a viagem para visitar as amigas, indo para
a cama, à tarde. Quando Bedwin viu Minerva saindo, teve que mentir e
dizer que estava indo para a casa de Matilda. Era parcialmente verdade,
pois Matilda concordou em levá-la para Inigo, mas mentir para ele tinha
sido horrível e também colocaria Matilda em apuros com Prue, se ela
descobrisse, o que era pior.
Olhou para Inigo, que estava cochilando, com um braço dobrado atrás
da cabeça. Parecia preocupado hoje, um pouco tenso, e ela não conseguia
entender o porquê. Por duas vezes, teve certeza de que queria perguntar-lhe
algo, mas, toda vez que parecia estar prestes a fazer isso, mudava de ideia.
Temia que ele estivesse pensando em suas perspectivas. As ofertas da noite
passada, de Bedwin e St. Clair, poderiam mudar a vida dele para sempre.
Nunca mais teria dificuldades com seu trabalho, devido à falta de fundos.
Iria ser-lhe possível montar um novo laboratório se quisesse, com todos os
equipamentos mais novos e usando assistentes para trabalhar com ele, sabia
que não poderia se dar ao luxo de fazer isto agora. O trabalho era sua vida,
e se ela tirasse isso dele, nunca se perdoaria. Ele chegou à mesma
conclusão? Estava tentando acabar com seu caso?
— O que foi?
Minerva ergueu os olhos para encontrar Inigo estudando-a.
— Nada. — disse ela, um pouco animada demais — Foi um dia
adorável.
Ele bufou com isso, virando-a de costas e olhando para ela — Tem
expectativas muito baixas, Srta. Butler. Pão e manteiga no almoço e uma
tarde na minha cama. Algumas mulheres diriam que não foi um dia
adorável, a menos que houvesse um passeio em algum lugar caro, e flores,
no mínimo. Joias, talvez. Elas iriam querer um cortejo sério, antes de ceder
até mesmo um beijo.
— Ah, mas essas mulheres não sabem que o prazer que encontramos em
sua cama é maior do que joias caras.
Inigo riu, e o som a fez se sentir viva, e tão feliz, que mal conseguia se
conter. Queria fazê-lo rir com frequência e, à luz de seus pensamentos, isso
a deixava melancólica.
— Está acariciando o meu ego?
Os lábios de Minerva se contorceram em um sorriso quando a mão dela
deslizou pelo peito dele, pela barriga e depois desceu — Não estava. —
murmurou — Mas posso, se você quiser.
Ele respirou fundo, enquanto os dedos dela se enrolavam em torno dele
e acariciavam seu membro crescente. Observou os olhos dele escurecerem,
quando seu próprio desejo queimou em segundos.
— E o que quer de mim? — sussurrou, olhando para ela. — Estou aqui
para servi-la. Temo o que poderia fazer por você, se me pedisse, ou talvez
esteja se perguntando se há algo que eu não faria, o que é ainda mais
aterrorizante.
O coração de Minerva apertou, desejando que fosse tão simples —
Quero o que sempre quis de você, Inigo.
Mas ela sabia, enquanto se inclinava para beijá-la, que, para ele, essa
era a coisa mais aterrorizante que poderia lhe pedir.
O dia passou muito rápido e a sensação de que Inigo não estava à
vontade só cresceu quando ela se preparava para sair. Quase lhe perguntou,
vendo o lampejo infeliz em seus olhos, enquanto prendia seu Spencer, mas
era uma covarde. Como Matilda podia pensar que era corajosa, não
conseguia entender. Estava muito assustada para perguntar a Inigo o que
estava errado, por medo de que lhe dissesse que o caso deles tinha que
terminar. Era egoísta e covarde, quando sabia o que o trabalho dele
significava. Sabia, desde o início, que sempre ficaria em segundo lugar, e
aceitou isso, mas pensou que, talvez, pudesse ficar com uma parte dele para
si mesma.
Em vez disso, sua própria insistência para que Bedwin apoiasse seu
trabalho havia se tornado o meio de destruir suas próprias esperanças. Podia
dizer que estava ansioso e sabia que não queria machucá-la. A certeza de
que estava tentando desapontá-la gentilmente crescia a cada momento, mas
era muito cedo, não estava pronta para dizer adeus. Ainda não.
Então não perguntou, e toda vez que ele parecia se recompor, ela falava
sobre bobagens inconsequentes, não permitindo que lhe dissesse as palavras
que quebrariam seu coração e triturariam seus sonhos, transformando-os em
escombros e poeira.
— Minerva. — disse, pegando seu braço, assim que ouviu o som de
uma carruagem parando do lado de fora.
Graças a Deus, Matilda chegou cedo.
— Preciso correr, querido. Foi muito ruim da minha parte, fazer Matilda
me trazer aqui. Não posso agravar a situação, fazendo-a esperar muito
tempo. — beijou-o, um rápido aperto de lábios, que silenciou seu protesto,
abriu a porta e congelou.
Havia uma mulher na porta que ela reconhecia. Só se encontraram uma
vez, em Tunbridge Wells, na segunda vez que se encontrou com Inigo. Ele
pediu a Minerva para lembrá-lo de um compromisso, para escapar da
companhia daquela senhora. Minerva agora sabia que a Sra. Tate era notória
e já fora amante do conde de St. Clair. O que, diabos, fazia aqui era curioso,
mas que a Sra. Tate a estivesse vendo sozinha com Inigo, seria a ruína de
Minerva.
— Sra. Tate. — a voz de Inigo perfurou o som de tambor em seus
ouvidos, que percebeu era seu coração batendo forte demais, rápido demais
— A que devemos o prazer? A senhora conhece a minha noiva? Srta.
Butler, esta é a Sra. Tate.
Minerva olhou para Inigo em choque, mas ele parecia estar,
perfeitamente, calmo. A Sra. Tate olhou entre os dois, uma curiosidade
comprazendo-se em seus olhos.
— Nós nos conhecemos. — concordou a Sra. Tate, seus lábios
arqueando — Eu estou aqui para emitir um convite. Parece que será a
admiração de Londres, se os rumores estiverem corretos. Inigo, estou aqui,
em nome de Lorde Havisham. O nobre está determinado a que dê uma
palestra, para ele e seus amigos, pois não puderam participar da sua última.
Minerva se irritou com a maneira informal como falou com Inigo,
embora soubesse o suficiente, para que a Sra. Tate se dirigisse a ele dessa
forma antes, e que Inigo não gostava da mulher. Da última vez, Inigo se
recusou, à queima-roupa, a dar uma palestra para Lorde Havisham, a quem
ele, claramente, desprezara, e então Minerva esperou que ele recusasse.
— Fico feliz em aceitar. — disse, e Minerva se virou mais uma vez para
encará-lo, vendo um brilho feroz em seus olhos, enquanto olhava para a
Sra. Tate — Se eu puder me certificar de que ninguém ouvirá falar da visita
da Srta. Butler aqui, pelo menos até depois de nos casarmos.
A Sra. Tate franziu os lábios, considerando e depois riu.
– Ora, muito bem. Quem sou eu para ficar no caminho de um caso de
amor? Minha boca é um túmulo. — entregou o convite a Inigo e se virou
para piscar para Minerva — Boa tarde, Srta. Butler. — disse, com um
sorriso consciente, antes de voltar para sua carruagem, assim que Matilda se
aproximou por trás dela.
— Inigo. — disse, tão surpresa que mal sabia o que dizer — Inigo, não
estou pedindo por isso.
Que qualquer escolha no assunto havia sido arrancada dele, fez uma
culpa cair sobre ela. Fez isso, o perseguiu, até que essa fosse a conclusão
inevitável, e agora estava preso.
— Não precisa se casar comigo.
— Certamente que preciso. — disse ele, parecendo bastante impaciente
— Não diga uma palavra sobre isso a ninguém. Visitarei Bedwin esta noite.
Agora se apresse e entre na carruagem, antes que mais alguém a veja.
— Mas Inigo… — protestou, enquanto ele, praticamente, a empacotava
na carruagem.
— Não se preocupe. — disse — Vou consertar as coisas.
Depois fechou a porta e disse ao cocheiro para ir.
Minerva olhou para ele pela janela, apenas vagamente ciente de Matilda
se mexendo para se sentar ao lado dela e pegar sua mão.
— Min, qual é o problema? Está branca como um lençol. O que ele quis
dizer com consertar as coisas?
Minerva se virou para olhar para Matilda, mal sabendo o que dizer, e
começou a chorar.

25 de janeiro de 1815. Beverwyck, Londres.


O estômago de Inigo balançou e agradeceu a providência divina que
Minerva não havia trazido uma cesta cheia com o almoço, de hoje. Se ela
tivesse, tinha certeza de que já teria prestado suas contas no chão de
mármore reluzente do imponente salão de entrada de Beverwyck. Suas
palmas estavam úmidas, sua maldita gravata parecia uma corda, assim
como parecia haver água gelada escorrendo por suas costas. Confie nele
para se encontrar cativado por uma mulher, cujas relações mais próximas
incluíam um maldito duque.
Cativado.
Essa era uma palavra segura o suficiente.
Não parecia abranger o que ele sentia, mas decidiu que preferia não
insistir nisso. Estava se sentindo sobrecarregado o suficiente, sem estudar
porque se sentia como se estivesse de pé, na beira de um penhasco. O que
faria, se Bedwin recusasse seu pedido?
Não tinha mais tempo para considerar a perspectiva, pois o mordomo
reapareceu e lhe disse que Bedwin o veria naquele momento.
Provavelmente era o melhor, pois a maneira como seu estômago contorceu
com a perspectiva da recusa do homem indicou o quão devastadora essa
notícia seria. Presumiu, seguindo o fato de Bedwin não o ter encontrado na
porta com as pistolas na mão, que Minerva não havia dito nada, como lhe
havia pedido. Pelo menos não ficou esperando por muito tempo e parecia
que Minerva não o tinha ouvido chegar, pois também não a viu.
Dificilmente inesperado, num lugar do tamanho de Beverwyck. Um
meteorito poderia pousar na frente da casa e Inigo não teria ficado nem um
pouco surpreso, se não notassem nos fundos da propriedade.
Seguiu o mordomo pela casa, passando por cada armadilha de riqueza e
privilégio e pela história da ilustre família de Bedwin. Ignorou as pinturas
de aristocratas ranhosos, que o encaravam com os narizes arrebitados. Era
um lembrete de sua posição que não precisava de ilustração. O mordomo o
levou a uma biblioteca impressionante, onde Bedwin o estava esperando.
— De Beauvoir. — cumprimentou o duque, dando-lhe as boas-vindas,
com mais calor do que Inigo poderia esperar.
A biblioteca era do chão ao teto com livros, toda de madeira escura e
cadeiras confortáveis. Em circunstâncias normais, Inigo teria achado
aconchegante e convidativo.
— Isso é inesperado. Aceita beber alguma coisa? — Bedwin perguntou,
oferecendo um decantador do que parecia ser conhaque.
Inigo assentiu. Precisava de algo para fortalecer seus nervos, com
certeza.
Bedwin se virou para servir as bebidas — Se está aqui para se certificar
do que eu disse sobre patrociná-lo, não precisa se preocupar. Sou um
homem de palavra.
— Não, não é… não é nada disso. Nunca duvidei da sua palavra. —
disse Inigo, aceitando a bebida da mão de Bedwin e tomando um grande
gole — No entanto, quando eu disser o que vim dizer, temo que o senhor
possa querer retirar sua oferta. E não vou culpá-lo por isso.
Bedwin franziu a testa para ele — Espero que isso não tenha nada a ver
com o desacordo que teve com o Dr. Murphy. Eu lhe asseguro que a
duquesa estava fora de si de felicidade, ao ver a velha cabra colocada em
seu lugar. Ela, há muito tempo, o detestava, mas devo confessar que não
tinha visto o quão odioso ele era, até à noite passada.
Inigo fez uma careta — Não, Murphy é um velho tolo, que não deveria
estar praticando medicina, na minha opinião, mas isso não vem ao caso
agora.
As sobrancelhas do duque se ergueram um pouco, mas não disse nada
sobre essa observação bastante franca. Gesticulou para que os dois se
sentassem, mas Inigo balançou a cabeça.
— Não, obrigado. — disse, sentindo que poderia precisar se mover
rápido, se Bedwin decidisse matá-lo.
Não que Inigo não fosse revidar. Os momentos em que ele permitia que
outros o intimidassem já haviam passado há muito tempo. Aprendeu a jogar
sujo e duro antes de deixar o hospital, mas isso não significava que
gostasse, e, certamente, não sentia que poderia se defender, se Bedwin
quisesse seu sangue. Merecia tudo, por se aproveitar de Minerva, sabia
disso.
— Chegarei ao ponto. — disse, vendo a curiosidade nos olhos do duque
se aprofundar em preocupação — Estou aqui para pedir sua permissão para
desposar a Srta. Butler.
Bedwin apenas o encarou.
— Minerva? — disse depois de um momento — Deseja se casar com
Minerva?
Inigo assentiu — Desejo.
Bedwin continuou a encará-lo — Não sabia que estavam em termos tão
íntimos.
Havia uma vantagem inconfundível em suas palavras agora, o que não
era surpreendente.
Inigo pigarreou — Nos conhecemos no verão passado. A Srta. Butler
expressou interesse no meu trabalho e… e temos nos correspondido desde
então.
— Entendi.
A partir da crescente tensão na sala, Inigo suspeitou que ele entendia
tudo, muito claramente.
— Então, esse desejo de se casar com a Srta. Butler decorre puramente
de uma correspondência formal? Que romântico.
— Eu… nós… — Inigo hesitou, mas sabia que não havia motivo para
rodeios — Nós também nos encontramos, quando… quando possível. Devo
dizer que tenho a Srta. Butler na mais alta estima e farei tudo ao meu
alcance para fazê-la feliz.
Um músculo estava se mexendo na mandíbula de Bedwin, o que Inigo
não tomou como um sinal positivo.
— Que estranho. — meditou — Veja, St. Clair é um bom amigo meu, e
pelo que disse, sobre seu noivado anterior com a esposa dele, tenho razões
para acreditar que suas ideias sobre amor e casamento não eram de todo o
que se escolheria, ao considerar uma união com uma jovem romântica
como a Srta. Butler. Desejo com um anel no dedo foi a declaração mais
positiva que teve que dar, não foi?
Maldição. Maldição. Maldição.
Inigo engoliu em seco — Minhas opiniões sobre o casamento estão em
questionamento, desde que conheci a Srta. Butler.
O pânico cresceu em seu peito. Sabia que esse homem tinha o poder de
destruir seu futuro, em todos os sentidos, se quisesse. Quanto mais rápido a
tensão entre eles subia, mais a ansiedade dentro dele aumentava,
aniquilando qualquer chance que tivesse, de oferecer um argumento
coerente. Colocar o que sentia por Minerva em palavras, era algo que nunca
alcançaria. Já tinha sido difícil admitir para si mesmo, mas aqui, agora, com
Bedwin olhando para ele… era impossível. Descansou o copo vazio e
respirou fundo.
— Ela deve se casar comigo. — afirmou, o desespero forçando-o a
confiar no único argumento que esperava pudesse prevalecer, mesmo que
isso lhe valesse uma surra. Dificilmente poderia protestar nas
circunstâncias.
— Seu desgraçado maldito!
O duque avançou, agarrando Inigo pela gravata e empurrando-o contra a
parede, com tanta força, que o ar foi retirado de seus pulmões.
Inigo ficou parado, olhando para ele, rezando para que o homem o
deixasse consertar as coisas, não importava como o punisse por suas ações.
— Vou fazer duas perguntas, antes de exigir que nomeie os seus
padrinhos para um duelo. — Bedwin rosnou, apertando sua gravata, até que
Inigo mal pudesse respirar — Ela está apaixonada por você?
Inigo soltou um suspiro com meio riso, pois, pelo menos, poderia
responder honestamente — Deus sabe o porquê, pois não tenho a menor
ideia, mas sim… sim, ela me ama.
Bedwin apertou o tecido sobre o pescoço de Inigo, e ele ofegou.
— E você? — o duque exigiu — Você a ama?
A pergunta fez o coração de Inigo bater em seu peito com muito mais
força do que qualquer preocupação de que ele poderia enfrentar, por uma
surra ou um duelo, e Inigo tentou não entrar em pânico. Pensou em sua
vida, antes que Minerva entrasse, trazendo todo o caos, cor e felicidade que
vieram com ela. Era como viver em tons mudos, antes que ela chegasse,
como se tivesse visto o mundo através de uma janela suja. Minerva havia
tirado toda a sujeira da imagem distorcida que ele tinha do que a vida
poderia ser, e ter essa vibração tirada dele era um terror maior do que dizer
as palavras que apertavam seu peito de ansiedade.
— Sim. — disse, segurando o olhar de Bedwin — E é intolerável. —
acrescentou, talvez com mais franqueza do que deveria — Sabia como
seria, desde o início, e fiz tudo o que pude para afastá-la, juro. Sabia que
estaria perdido se a deixasse entrar, e estou. Não posso ficar sem ela.
Simplesmente… não posso. Sei que não sou digno dela. — respirou fundo,
sentindo o aperto em sua gravata afrouxar uma fração — Sei que ela
deveria se casar com alguém melhor do que eu. Sei que ela poderia ter
fisgado um duque ou algum título de renome, como sua mãe quer, mas não
é isso que ela quer. É obstinada e tola, e, possivelmente, um pouco louca,
mas ela me ama, e vou passar o resto dos meus dias tentando me certificar
de que nunca se arrependa por ter me escolhido.
Bedwin soltou um suspiro instável e soltou seu aperto em Inigo.
— Resposta certa. — rosnou — E se não fosse pelo fato de saber
exatamente como se sente, ainda o faria pagar pelo que fez.
Inigo olhou de volta para o duque, mal se atrevendo a esperar que ele
tivesse entendido corretamente — Então… então o senhor vai permitir que
nos casemos?
— Permitir? — Bedwin repetiu e depois deu uma gargalhada — Tenho
pouca escolha no assunto, se existe a chance de tê-la engravidado, seu
miserável estúpido. No entanto, se Minerva confirmar tudo o que me disse,
não. Não, não vou contestar a união, embora possa encontrar outras
maneiras de fazê-lo pagar. — acrescentou ele sombriamente.
Inigo assentiu, sabendo que isso era inevitável. Não era uma surpresa,
se preparou para isso. Só teria que trabalhar mais e aceitar empregos que
tivessem pouco interesse para ele, mas que lhe pagassem bem.
— Presumi que não gostaria mais de patrocinar meu trabalho.
Bedwin bufou e revirou os olhos, parecendo terrivelmente nada ducal
— E como propõe manter uma dama como Minerva, no estilo ao qual se
acostumou se eu não o patrocinar?
Inigo sentiu seu pescoço ficar vermelho e aprumou-se um pouco quando
sentiu ser tomado por indignação. Sabia que nunca seria capaz de comprar
tudo o que Minerva merecia, mas a alertou, e ela disse…
— Ora, não pareça tão abalado. — disse o duque, um pouco mais gentil
agora — É um homem brilhante, Sr. de Beauvoir, e eu ficaria honrado em
patrociná-lo. Acho uma perspectiva fascinante, se quer saber, deve me
aturar exigindo que explique e mostre suas descobertas, em intervalos
regulares. Isso, juntamente com a participação em quaisquer eventos de
caridade que eu achar conveniente enviá-lo, e uma abertura para trabalhar
em certos projetos que tenho interesse, será a sua penitência. Sei que um
homem com seus talentos descobrirá que há muitas maneiras de aumentar
sua renda. O dote de Minerva também não é irrelevante. — acrescentou.
Inigo fez uma careta e desprezou essa informação — Isso é de Minerva,
para fazer o que achar melhor.
Bedwin assentiu e sorriu para ele, o que era tão além de qualquer coisa
que esperava, que, finalmente, se permitiu respirar com facilidade. Parecia
que o pior tinha acabado.
— Muito bem, então. Suponho que é melhor chamar Minerva e permitir
que ela opine sobre o assunto, antes de arranjarmos as coisas à nossa
própria satisfação.
Inigo o observou enquanto tocava a campainha, e foi tomado por
pânico, que ia aumentando em seu peito. Não tinha considerado isso.
Presumiu que, uma vez que tivesse combinado tudo com o duque, seria
isso, mas não.
— O senhor permitiria que ela me recusasse? — Inigo perguntou, sua
voz um pouco instável, lançando um olhar ansioso para o copo vazio, que
havia colocado sobre a mesa.
Bedwin devolveu um olhar de pena e levou seu copo vazio para
recarregá-lo — Eu não recomendaria, mas permitiria, se ela achar que não
pode fazê-la feliz.
Inigo considerou esse horror em silêncio, até que o duque lhe entregou
sua bebida. Inigo engoliu um grande gole.
Aparentemente, o pior estava longe de acabar.
O mordomo que o havia acompanhado apareceu novamente.
— Jenkins, por favor, peça à Srta. Butler para se juntar a nós. — disse
Bedwin ao homem, que se curvou e os deixou.
A mão de Inigo procurou e encontrou a caixinha azul no bolso, a
segurou na palma da mão, como um talismã. Ela diria que sim, não diria?
Disse que o amava. Queria estar com ele, certamente era o suficiente. Ele se
amaldiçoou quando percebeu que estava longe de ser suficiente. E se
tivesse pensado melhor e percebesse o que significaria se casar com ele? E
se tivesse percebido que era apenas um monte de bobagem romântica,
assim como ele percebeu que não era nada disso? Por Deus! Estava ficando
enjoado, quente e desconfortável e queria vê-la, ansiava por isso,
surpreendentemente, ainda mais do que queria se virar e fugir na direção
oposta.
O mordomo reapareceu sozinho e Bedwin deu-lhe um olhar
interrogativo.
— E então? — perguntou.
— Parece que a Srta. Butler não está em seu quarto, Vossa Graça, e não
foi vista desde o início desta tarde.
O coração de Inigo disparou.
— Do que está falando? — exigiu, de repente ansioso — Onde ela está?
Jenkins, ou seja lá qual for o nome dele, nem piscou — Estamos
fazendo o nosso melhor para averiguar essa informação. — respondeu, com
perfeita calma.
Parecia que ele diria mais quando ouviu uma batida na porta.
— Entre. — chamou Bedwin.
Uma jovem se apressou e fez uma reverência — Perdão, Vossa Graça,
mas acabamos de encontrar isso no quarto da Srta. Butler. Está endereçada
ao senhor.
A garota entregou ao duque, que a dispensou, mas Inigo percebeu a
expressão sombria em seu rosto, quando quebrou o selo e o abriu.
Inigo esperou, fora de si, com trepidação, o máximo que pôde suportar.
— E então? — exigiu, perguntando-se por quanto tempo um coração
poderia continuar batendo, no ritmo atual em que o seu estava, antes de
ceder.
Bedwin praguejou, passando a mão pelos cabelos antes de empurrar a
carta em direção a Inigo.
— É melhor você ler.
O tom azedo do duque não lhe fez se sentir melhor. Inigo estava
vagamente ciente do duque falando com o mordomo e pedindo aos criados
para descobrir quando e para onde Minerva poderia ter ido, mas, assim que
viu a caligrafia encaracolada e familiar, seu estômago se apertou de medo e
arrependimento, não podia ouvir nada além da voz de Minerva enquanto lia.
Caro Robert,
Por favor, perdoe-me por todos os problemas que lhe
causei. Devo salientar, no entanto, que fui eu a única pessoa
culpada por esse problema. Prue não sabia nada dos meus
planos, além do fato de que eu estava apaixonada pelo Sr. de
Beauvoir, e o pobre Inigo – Sr. de Beauvoir - fez o seu melhor
para que me comportasse, mas não adiantou.
Acho que me apaixonei por ele na primeira vez que nos
vimos, no verão passado, pelo menos um pouco, e tem
aumentado a cada semana que passa. Eu o amo
terrivelmente, entende, mas temo que me comportei muito
mal e o persegui, apesar de seus melhores esforços para me
dissuadir. Sendo assim, não posso permitir que o
responsabilize pelo que aconteceu.
Uma mulher chamada Sra. Tate me viu saindo de sua
casa, esta tarde, e, para proteger minha reputação, Inigo me
apresentou como sua noiva. Sei que ele planeja visitá-lo, com
a intenção de oferecer matrimônio para mim, mas não posso
aceitar. Ele não me ama, ou, pelo menos, se me ama, não está
disposto. Seu trabalho é a coisa mais importante para ele, o
que entendo muito bem, pois é um homem brilhante e seria
cruel e injusto puni-lo por algo que não foi obra dele. Não
vou prendê-lo em um casamento em que ambos nos
arrependeríamos, e não o verei sofrer pelos meus erros.
Querido Robert. Voltarei para casa imediatamente se, por
algum milagre, ainda quiser, mas só se prometer que não
retirará sua oferta para patrociná-lo. Não vá arriscar perder
uma descoberta que pode mudar o mundo, por causa do meu
egoísmo estúpido. Castigue-me por todos os meios, mas não
o castigue, suprimindo tudo o que ele possa conseguir com o
seu apoio. Encaminharei meu endereço em alguns dias, assim
que tiver tempo para pensar sobre o assunto.
Sinto muito por ser uma provação, depois de tudo que fez
por mim e espero que possa encontrar em seu coração a
vontade para me perdoar. Por favor, diga a Prue para não
ficar chateada, e que sinto muito por ter sido tão tola.
Minerva.
— Oh, Deus! — disse Inigo, o remorso varrendo-o com a força gelada
do mar do norte — Solo me alertou que eu estragaria tudo, e ele estava
certo.
— Rothborn? — Bedwin perguntou — O que ele tem a ver com isso?
Inigo engoliu a emoção emaranhada em sua garganta — Eu ia pedi-la
em casamento, antes que a Sra. Tate a descobrisse em minha casa. — disse
ele. Estendeu a caixinha azul a que se agarrava como prova — Comprei a
aliança, mas…, mas eu estava com muito medo. Solo me alertou que
deveria contar-lhe porque queria me casar com ela, mas eu… quando a Sra.
Tate foi embora, apenas disse a ela que consertaria as coisas, eu nunca
disse… eu nunca disse que a queria… — sua voz tremeu um pouco e ele
fechou a boca.
Foi uma surpresa sentir uma mão reconfortante pousar em seu ombro.
— Ela não pode ter ido longe. — disse Bedwin — Vamos encontrá-la,
ela prometeu entrar em contato em alguns dias, então, acho que podemos
assumir que está segura.
Inigo assentiu, mas não estava nem um pouco tranquilo — Rezo para
que o senhor esteja certo, pois, se algo lhe acontecer, nunca vou me perdoar.
— Eu entendo exatamente como se sente. — disse Bedwin, com um
sorriso irônico — Prue me causou muitos problemas antes que a
convencesse a se casar comigo. Um passeio de carruagem na escuridão da
noite, em busca de uma dama desaparecida, não é uma experiência nova
para mim.
— Então só posso esperar que sua boa sorte passe para mim. — disse
Inigo, desejando ter ouvido Solo quando ele teve a maldita chance, em vez
de ser tão teimoso.
— Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que isso aconteça.
Inigo acenou, agradecido, sobrecarregado demais para falar por um
momento.
— A duquesa saberia para onde ela poderia ter ido, o senhor acha?
O duque balançou a cabeça — Minha esposa não está se sentindo bem
esta tarde e não deve saber da partida de sua prima, pretendo mantê-la
assim, até que Minerva seja encontrada. Não quero que ela se aflija, não faz
bem para o bebê. Podemos, no entanto, falar com suas amigas.
— Senhorita Hunt. — disse Inigo, lembrando-se. — A Srta. Hunt a
pegou em sua carruagem esta tarde. Ela pode ter ido para a casa dela.
Bedwin assentiu — Então, é por aí que vamos começar. Venha, não
temos tempo a perder.
18
Minha querida Aashini,
Planeja voltar para Londres em breve? Sinto
terrivelmente a sua falta. Parece que todos os meus filhotes
voaram do ninho, exceto Helena, e nós nunca fomos
especialmente próximas. Assim como é, acredito que a filha
de um duque tem pouca necessidade para o meu tipo
particular de companhia. Jemima parece ter abraçado a vida
de reclusa, sem constrangimento, e sem necessidade de
companhia, só posso admirá-la e desejar ser forte o
suficiente para seguir seu exemplo.
Se ainda não soube, creio que haverá um anúncio em
breve, entre Minerva e o seu Sr. de Beauvoir. Afinal, ela o
fisgou, parece, ou irá fisgá-lo, uma vez que ele a tenha
rastreado. O pobre homem esteve aqui com Bedwin, noite
passada, em uma ansiedade eufórica. Não acredito que
Minerva esteja em apuros, então, não se preocupe com ela.
Querendo ou não, fez sua jogada extraordinariamente e o Sr.
de Beauvoir está obviamente tão obcecado, que foi doloroso
ver sua preocupação. Eu lhe contarei a história completa se
vier me visitar. Veja quão cruel e miserável eu me tornei na
sua ausência, a ponto de chantageá-la para vir até mim.
Querido Nate me convidou para visitá-lo e eu irei quando
o bebê nascer, se eu puder ser um conforto ou ajuda para
Alice, mas não ouso ir muito cedo. Estão tão felizes, e me
odiaria se eles suspeitarem do quão, terrivelmente, invejosa
estou. Quão simples parece, para eles, ter tudo.
Um lar. Amor. Uma família.
Agora que Jemima se foi, estou sozinha e a verdade é que
estou assustada. Estou com medo de fazer a coisa sensata, e
com medo de não fazer, mas mais do que qualquer um desses
medos, odeio ficar sozinha.
―Trecho de uma carta da Srta. Matilda Hunt para Lady
Aashini Cavendish

26 de janeiro de 1815. Mitcham Priory, Sussex.


Inigo bateu na porta da frente do antigo priorado. Era um
impressionante edifício de pedra, na forma de um T, cercado por um fosso.
O peso da história parecia se agarrar às paredes, dando uma sensação de
solidez. Inigo sempre gostou do lugar, o que era estranho. Preferia que as
coisas fossem novas e modernas, mas havia uma desconfortável decadência
no priorado, que parecia acolher os visitantes, o que era estranho, pois seu
dono era tão espinhoso quanto a árvore de teixo torcida, que dominava a
frente do prédio.
Inigo esperou e bateu novamente, sabendo que Solo mantinha poucos
criados na vasta propriedade, embora precisasse de um verdadeiro exército
para mantê-lo em ordem. O homem preferia a solidão à ordem e sabia o
quanto prezava a ordem em todas as coisas importante, representava algo.
Por fim, a governanta encontrou o caminho para a porta e o levou para
dentro, encaminhando-o ao escritório de Solo, com a promessa de rastrear
seu mestre excêntrico, o mais rápido que pudesse.
Inigo se serviu de uma bebida, embora mal fosse meio-dia, e se
acomodou para esperar, sem expectativa de ver o homem em breve. Se Solo
tivesse saído com um livro, teria encontrado um lugar onde não seria
perturbado, o que - em um labirinto como o priorado de Mitcham - poderia
significar que ele não seria descoberto até que ficasse com fome e se
dignasse a aparecer, novamente. Não que isso importasse. Inigo poderia
esperar para ouvir eu lhe disse.
Mais uma vez, amaldiçoou-se por ser um tolo. Se ao menos tivesse
contado à Minerva seus sentimentos, poderiam ter poupado todo esse
desgosto absurdo e a dor no coração. Era a coisa mais estranha, e, pela
primeira vez em sua vida, entendia a ideia de desgosto. Sempre acreditou
ser uma reação histérica a algo inevitável, porque o fim de um caso de
amor, seja por escolha ou circunstância, tinha que ser inevitável, ou assim
acreditava. Que um órgão grande e carnudo como o coração poderia
quebrar ou partir como vidro, era incompreensível.
Era tão estranho descobrir que estava completamente errado. Se
acostumou a ser o homem com a mente superior, a ser capaz de entender
com facilidade conceitos que uma pessoa comum não conseguia entender.
No entanto, o tempo todo estavam olhando-o com uma mistura de diversão
e pena, por não entender o que sabiam ser verdade. Mesmo Harriet, cujo
intelecto admirava, não conseguiu convencê-lo de que o amor existia. No
entanto, como poderia saber quando nunca tinha experimentado? Não era
algo que fosse quantificável, não podia medi-lo, pesá-lo ou testá-lo sobre
uma chama; quando as pessoas falavam sobre isso, não reconhecia nada do
que lhe diziam. Parecia apenas desejo, criado pela natureza para garantir a
continuação da espécie.
Não havia amor em evidência no hospital dos enjeitados, uma certa
quantidade de cuidado, talvez, de alguns dos adultos, e amizades entre os
meninos, mas amor? Nunca tinha visto isso. Não o tinha encontrado como
um aprendiz, nem no trabalho duro para se educar, trabalhando todas as
horas para ganhar dinheiro para livros, equipamentos, para algo que era seu.
Havia apenas ele mesmo e sua própria determinação para ter sucesso.
Nunca lhe ocorreu o quão solitário estava, até Minerva colidir com sua
vida, o afastando da parede que construiu para se esconder.
Bem, agora aquela parede tinha sido derrubada, deixando seu coração
exposto e vulnerável, e pronto demais para se despedaçar ao menor
impacto. O duque tinha sido tão bom quanto sua palavra. Visitaram todo o
círculo de Senhoritas Peculiares de Minerva, todas as que estavam na
cidade, pelo menos, mas ninguém sabia onde estava. Havia sugestões de
que ela poderia ter ido visitar a Sra. Kitty Baxter na Irlanda, ou talvez à
Escócia, com Ruth Anderson. Inigo sabia que não poderia fazer nada, além
de esperar e rezar para que ela desse a Bedwin seu endereço, como
prometido.
Assim que ele descobrisse o endereço, iria até ela e se jogaria aos seus
pés. Havia dito que estava terrivelmente apaixonada por ele naquela carta,
só podia rezar para que fosse suficiente para ignorar sua estupidez. Que
estivesse disposta a sacrificar sua reputação e seu futuro por ele, fez todas
as emoções, que se recusou a experimentar no passado, surgirem dentro
dele, em um emaranhado tão vasto, que sentiu que estava se afogando.
Ninguém nunca se importou com ele antes, e agora isso. Era humilhante e
extraordinário ao mesmo tempo, não se sentia à altura, mas iria tentar. Veio
do nada e de lugar nenhum e não havia ninguém para ajudá-lo. Agora faria
o mesmo esforço, para garantir que Minerva fosse feliz e amada, e tivesse
tudo o que pudesse lhe dar.

Estava escurecendo quando Solo, finalmente, apareceu. Inigo estava


parado perto da janela quando o viu emergir de um caminho estreito, que
parecia desaparecer atrás de uma sebe. Para sua surpresa, Solo parecia estar
de bom humor, um leve sorriso em seus lábios, tão fora do caráter, que
Inigo não pôde deixar de se perguntar o que causara isso. A luz estava
desaparecendo do céu e nuvens escuras estavam entrando, prometendo uma
forte chuva e, talvez, uma tempestade.
Virou-se e caminhou para o fogo, olhando para as chamas, enquanto
esperava que seu amigo aparecesse.
— Pensei que poderia encontrá-lo aqui, seu burro estúpido. — disse
Solo, parecendo irracionalmente alegre quando finalmente entrou na sala.
Inigo franziu a testa — Por que diabos esperaria por mim?
— Porque estragou as coisas, como eu sabia que faria.
Inigo olhou furioso e bufou, mas mal podia negar — Se essa é a
extensão da sua ajuda…
Solo acenou com uma mão irritada para silenciá-lo — Ah, não é,
acredite em mim. Vamos resolver isso, corretamente, e você me deve um
grande favor.
— Qualquer coisa. — disse Inigo imediatamente e depois parou —
Espere, como sabe que estraguei tudo? Aconteceu apenas ontem e… —
olhou para Solo e soltou um suspiro — Você a viu.
Solo assentiu — Sim.
Inigo atravessou a sala, querendo sacudir o maldito homem para que lhe
contasse tudo — Onde ela está? Está bem? Está com raiva de mim? Ela vai
me ver?
Houve um som de exasperação e Solo revirou os olhos — Calma, meu
camarada. Ela está perfeitamente bem, e sim, não tenho dúvidas de que o
verá, e sim, vou enviá-lo até ela em breve.
—Agora! — Inigo exigiu, dirigindo-se para a porta — Vamos. Eu tenho
que vê-la, imediatamente.
— Não tão rápido.
Inigo se virou, irritado com o atraso — Solo, por favor, pelo amor de
Deus, estou morrendo aqui. Leve-me até ela.
A expressão de Solo suavizou um pouco — Pensei que não acreditasse
no amor?
— Não. — disse Inigo, balançando a cabeça.
Ambos sabiam que tinha sido um tolo, suportaria toda a zombaria de
Solo, mas não agora, não esta noite, quando tudo parecia estar em jogo.
Estava muito sensível, muito frágil, para aguentar sem se despedaçar.
— Muito bem, vejo que reconsiderou. — o sorriso irônico de Solo
estava provocativo em vez de ser zombeteiro, mas Inigo ainda desviou o
olhar — Antes de lhe dizer onde encontrá-la, devo ter sua palavra, como um
cavalheiro, de que não dirá a ninguém que eu o levei até ela.
— Não sou um cavalheiro. — retrucou Inigo perplexo antes de perceber
que havia tomado isso muito literalmente, como sempre, quando Solo
soltou um suspiro impaciente — Mas tem minha palavra de amigo, de que
tudo o que me disser permanecerá em sigilo, se desejar.
— Eu sei. — respondeu Solo, dando a Inigo um olhar duro — A
senhorita de quem lhe falei, aquela com quem tenho um… um acordo
privado.
— Sim?
— Parece que ela é uma das… Senhoritas Estranhas? — disse,
franzindo a testa.
— Peculiares. — corrigiu Inigo — Elas são as Senhoritas Peculiares.
Solo bufou e balançou a cabeça — Sim, essas. Enfim, sua Srta. Butler é
amiga da jovem com quem tenho um acordo. A Srta. Butler apareceu na
porta dela, ontem à noite. Sua amada agora está consciente do meu
envolvimento, mas jurou segredo, e espero que faça o mesmo. Nenhuma
das outras senhoritas está ciente do nosso acordo e minha… amiga… deseja
que permaneça assim. Respeitará os desejos dela ou não lhe darei seu
endereço.
— Maldito seja, é claro que vou! — Inigo exclamou, tendo sido
pressionado além dos limites de sua paciência — Nunca vou falar seu o
nome, e negarei todo o conhecimento sobre ela sob pena de morte, se
quiser, mas, pelo amor de Deus, me diga onde Minerva está!
Solo deu uma pequena gargalhada, mas seus olhos estavam amigáveis
quando falou, em seguida — Será mais fácil se eu desenhar um mapa. Deve
pegar uma lamparina e, pelo amor de Deus, não vá derrubar a porta. Elas
não o esperam, pois não sabia que viria aqui e não as preparei para essa
possibilidade.
Inigo assentiu, ansioso demais para ver Minerva, para contestar
qualquer coisa. Enquanto Solo se sentava em sua mesa e desenhava um
mapa simples, um estrondo de trovão ressoou acima.
— Receio que um temporal esteja se aproximando. — disse Solo,
olhando para os desenhos escuros das árvores se mexendo para frente e para
trás, na luz fraca do lado de fora da janela — Talvez seja melhor esperar até
de manhã em vez de…
— Me dê o maldito mapa! — Inigo explodiu, imaginando o quanto mais
teria que tolerar, antes que pudesse ver Minerva.
Solo suspirou e voltou ao trabalho.

Inigo praguejou o máximo de palavras imundas que pôde desenterrar, o


que era um número considerável. Nascer na sarjeta tinha um efeito no
vocabulário das pessoas, pensou, enquanto apertava os olhos para o pedaço
de papel, cada vez mais encharcado, em que Solo desenhara seu mapa. Sua
amiga chamava-se Srta. Jemima Fernside, e Solo havia comprado e
reformado um chalé em ruínas para ela. Havia outras propriedades no
priorado, mas esta tinha certas vantagens, pois embora não estivesse dentro
das fronteiras do priorado, mas nos arredores da aldeia mais próxima,
poderia ser, facilmente, alcançado com discrição, através de um caminho
pelos jardins do priorado e uma entrada escondida no jardim dos fundos. A
Srta. Fernside poderia, portanto, com cuidado e alguma sorte, manter sua
reputação intacta, e ninguém saberia sobre seu cavalheiro. Isso em plena luz
do dia. No escuro, com o diabo de uma tempestade furiosa, e a chuva
atacando com tanta força, era um pouco mais desafiador.
Levantando a lanterna, Inigo viu, finalmente, a grande árvore de
carvalho que estava procurando e sabia que estava perto. Levantando o saco
que carregava de volta ao ombro, perguntou-se se tinha perdido
completamente a cabeça. Solo, certamente, parecia pensar assim, quando
Inigo explicou o que queria. Não que ele se importasse. Tudo o que
importava era fazer Minerva concordar em se casar com ele e, se tivesse
que fazer papel de idiota para isso, estava mais do que disposto. Então,
abaixou a cabeça e lutou contra o vento uivante e a chuva, até que o
pequeno brilho de luz diante dele confirmou que havia chegado à entrada
do jardim do chalé.
Tentando o seu melhor para não tremer, embora estivesse congelando,
conseguiu chegar à frente da casa. Consciente do que Solo havia avisado,
bateu suavemente, embora quisesse derrubar a maldita porta. Agir como um
homem das cavernas provavelmente não ajudaria sua causa, então se
endireitou e tentou o seu melhor para parecer civilizado e não ameaçador.
Baseado no suspiro alarmado dado pela jovem que abriu a porta, falhou
miseravelmente.
— A Srta. Butler está aqui? — perguntou, ciente de que tinha saído
sem um chapéu e a chuva havia grudado seus cabelos ao redor da cabeça.
Água da chuva escorria de seus ombros em riachos — Por favor, —
acrescentou, enquanto os olhos da mulher ficavam arregalados e redondos
— meu nome é Inigo de Beauvoir. E eu preciso vê-la.
— Inigo?
Houve uma exclamação abafada por trás da Srta. Fernside, e, de
repente, lá estava ela. Algo apertado e desconfortável que estava crescendo
constantemente desde aquela terrível entrevista com Bedwin, desatou um
pouco ao vê-la.
— Inigo! — seu nome foi dito com um gritinho de surpresa — De onde
veio? Como sabia…? Minha nossa, está encharcado! Entre, antes que pegue
uma pneumonia.
Inigo balançou a cabeça e jogou o saco que carregava no chão, na frente
dele.
— Céus. — disse Minerva, olhando para o saco preto e depois para ele,
que sem dúvida, estava coberto de fuligem.
Para seu alívio, a Srta. Fernside desapareceu, para dar privacidade aos
dois.
— Sinto muito. — disse Inigo — Sinto muito pela bagunça que fiz com
toda essa situação, mas nunca acreditei em romance, portanto, a
necessidade de ser romântico nunca foi algo que tenha tido a oportunidade
de praticar.
— Romântico? — Minerva disse duvidosamente, piscando e segurando
o xale um pouco mais apertado sobre os ombros.
— Sim. — disse, com um aceno enfático — Romântico. Merece isso
depois de… Oh, Deus, Minerva, eu gostaria de ter lhe contado a verdade,
mas toda vez que tentava…
Fez uma pausa quando ela estendeu a mão, colocando-a em seu ombro.
Apesar de estar sob o toldo da porta da frente, ainda pingava, da cabeça aos
pés, como se uma nuvem particular de chuva estivesse caindo sobre ele.
Sombriamente, refletiu que era uma descrição adequada.
— Inigo. — disse, seu tom suave. — Expliquei tudo para Bedwin. Não
há necessidade de se casar comigo… de verdade.
— Sim, tem sim! — ele gritou, fazendo-a pular, mas não podia se conter
agora — Há uma necessidade desesperada. É vida ou morte, está me
ouvindo?
Agarrou seus braços, rezando para que ela pudesse ver a angústia em
seus olhos.
— O-o que quer dizer? — perguntou, empalidecendo com o lampejo
dos relâmpagos.
— Quero dizer que vou morrer se não se casar comigo — disse,
sabendo que este era o momento de despir sua alma. Era horrível e
aterrorizante, mas perdê-la era muito, muito pior — Estou apaixonado por
você, Minerva. Não percebi no início porque… porque não reconheci.
Pensei que fosse obsessão, o tipo de obsessão que me agarra quando
trabalho, e não posso parar, até ter uma resposta.
— Mas você ama seu trabalho, Inigo. — disse, sua voz suave e seu
sorriso tão cheio de ternura, que o coração dele se apertou.
— Sim — admitiu — Mas eu a amo mais, muito mais. É aterrorizante o
quanto mais. Eu a amo mais do que tudo na minha vida. Meu Deus,
Minerva, não há nada além de você. Nunca mais poderei trabalhar, se você
não acabar com o meu sofrimento e concordar em se casar comigo.
Olhou para ela, observando sua garganta mexer, enquanto engolia em
seco. Seus olhos pareciam muito animados, suas bochechas coradas e Inigo
pensou que não tinha visto nada tão adorável em toda sua vida.
— O que tem no saco? — perguntou.
Inigo franziu a testa — Não… não é um gesto romântico.
Minerva olhou para ele e mordeu o lábio — É um saco de carvão, não
é?
Ele assentiu — Ainda não posso pagar por diamantes. — disse,
esfregando a nuca e se sentindo mais idiota do que poderia acreditar, mas
seguiu em frente mesmo assim — Mas farei o meu melhor por você,
Minerva. Vou dar-lhe tudo o que tenho, tudo o que posso, e talvez haja
momentos em que não seja mais do que uma fogueira de carvão, para
mantê-la aquecida quando estiver frio, mas, no momento em que puder
comprar diamantes, prometo que vou.
— Oh, Inigo.
Cambaleou quando ela se lançou em seus braços e o beijou. Seus lábios
estavam tão quentes contra sua pele gelada, seu corpo macio e flexível
contra seu corpo congelado, se agarrou a ela, beijando-a com tudo o que
tinha, sem conter nada.
— Eu a amo. — disse novamente, uma vez que pode suportar levantar
os lábios dos dela — No caso de eu não ter deixado isso claro. Eu a amo
tanto, com todo o meu coração.
— Eu sei. — disse ela, com uma risadinha, tossindo, enquanto
enxugava uma lágrima perdida da bochecha — Helena me avisou que você
poderia me dar um saco de carvão. Ela estava certa, mas é melhor que
diamantes, Inigo, de verdade, porque é seu primeiro gesto romântico, e foi
para mim. Eu amei isso. Eu o amo.
— Eu vou praticar. — prometeu solenemente — Mas pode ter que me
ensinar o que é ser romântico, porque acho que posso demorar um pouco
para pegar o jeito.
— Acho que já tem uma boa ideia, meu amor. — disse Minerva, sua
voz trêmula.
Inigo não tinha certeza se ela estava rindo ou chorando, mas parecia
feliz, então esqueceu.
— Então vai se casar comigo? Porque ainda não respondeu à minha
pergunta. — disse, incapaz de parar de se preocupar, até que tivesse uma
resposta inequívoca.
— É claro que vou. — respondeu, balançando a cabeça. — Mas, pelo
amor de Deus, entre, antes que morra congelado!
Inigo se abaixou sob a verga e entrou no chalé. Minerva o levou a uma
pequena sala de estar, onde um fogo estava aceso na grade. Era
aconchegante e alegre, e a jovem que havia aberto a porta para ele estava
sentada ao lado do fogo. Olhou para cima e sorriu, sua expressão carinhosa.
— Sr. de Beauvoir, estou muito feliz que tenha vindo.
— Receio que a senhorita possa ficar menos feliz, quando eu fizer uma
poça de água em seu tapete. — disse Inigo com tristeza.
— Não tem problema. — respondeu a Srta. Fernside, balançando a
cabeça — Está tudo bem, Minerva?
— Tudo está perfeitamente maravilhoso. — respondeu Minerva — Oh,
Jem, vamos nos casar!
A jovem saltou de sua cadeira, com um pequeno grito de prazer, e
abraçou Minerva.
— Oh! Oh, isso é uma ótima notícia. — disse, tirando um lenço da
manga e enxugando os olhos com ele — Estou tão… tão feliz pelos dois.
Inigo sorriu, bastante tocado pela sinceridade, o prazer da mulher com a
notícia. Não esperava ser recebido com tanto entusiasmo, tendo em mente
que Minerva se rebaixaria na sociedade, casando-se com ele.
— Só espero que minha mãe não cause nenhum rebuliço. — disse
Minerva, pegando sua mão — Só faço vinte e um anos em julho, e
precisaremos da permissão dela.
— Bedwin prometeu falar com ela. — disse Inigo, rezando para que o
duque tivesse tanta influência quanto parecesse acreditar.
— Bedwin? — Minerva ecoou — Então… ele aprova?
Inigo não podia culpá-la pela dúvida em seus olhos.
— Aprovar pode ser um pouco exagerado. — admitiu — Mas ele nos
apoiará.
— Oh, mas Inigo…
— E, — interrompeu, levantando a mão para detê-la — não vai mudar
de ideia sobre me patrocinar, embora pareça ter alguma forma diabólica de
punição em mente por ter…
Ele sentiu suas bochechas queimarem quando se lembrou de que eles
não estavam sozinhos.
— Por ter me comprometido? — Minerva terminou para ele, sorrindo
com seu óbvio desconforto.
— Hmmm. — respondeu Inigo, com um aceno de cabeça, aliviado por a
Srta. Fernside ter se ocupado em cuidar do fogo, tentando lhes dar
privacidade.
— Bem, essa é uma notícia maravilhosa! Estou tão aliviada, mas ainda
não entendo como soube que eu estava aqui. — disse Minerva, olhando
para ele, maravilhada.
— Eu não sabia. — admitiu e soltou um suspiro — É uma longa
história, mas, em suma, eu sempre planejei pedi-la em casamento, Minerva,
mesmo antes da Sra. Tate chegar.
Ele pegou a caixinha com a aliança e mostrou a ela.
— Oh! — Minerva disse, pressionando as mãos contra o coração —
Oh! — disse novamente, e depois fungou e enxugou os olhos, o que Inigo
considerou ser um bom sinal.
Parecia que ela chorava quando estava feliz, o que era algo que ele teria
que se acostumar.
— Solo - Lorde Rothborn - é um amigo. Sabia o que sentia por você, e
me alertou para esclarecer meus sentimentos antes de propor, mas…, mas
então aquela mulher apareceu e… — Inigo suspirou — Baguncei tudo e,
quando não consegui encontrá-la, vim aqui para buscar o conselho dele,
enquanto esperava que enviasse seu endereço para Bedwin. Não pode
imaginar minha felicidade quando ele me disse que você estava aqui.
— Oh! — disse Minerva, parecendo um pouco tímida — Acho que
posso. Acho que, talvez, tenha sido como me senti, ao vê-lo na porta.
Inigo olhou para ela, desejando que estivessem sozinhos para que
pudesse abraçá-la.
— Bem, — a Srta. Fernside disse rapidamente, enquanto se levantava e
recolocava o atiçador de bronze em seu suporte — isso tudo é maravilhoso,
mas o senhor deve ir embora agora, Sr. de Beauvoir. Minha reputação está
pendurada por um fio, sem ter homens estranhos visitando minha casa,
essas horas da noite.
Minerva lamentou, mas concordou.
— Ela está certa, embora preferisse que fosse de outra forma.
Realmente, deve ir, mas odeio mandá-lo com essa chuva. — agarrou a
manga úmida dele, olhando-o com olhos suplicantes — Prometa-me que vai
tomar um banho quente e se aquecer. Talvez a governanta possa fazer-lhe
um ponche quente ou algo para espantar o frio? Ficaria muito triste se você
adoecesse por minha causa.
Inigo sentiu uma onda de prazer quando lhe ocorreu que havia alguém
no mundo que se importava com ele, que se preocupava e queria cuidar
dele, se estivesse doente. Minerva estaria lá para ele, não importando o que
acontecesse, e essa era uma percepção estranha e maravilhosa, depois de
uma vida inteira sozinho.
— Prometa-me, Inigo. — disse severamente.
Inigo não lhe respondeu, mas estava parado olhando para ela como um
tolo.
— Eu prometo. — disse, sentindo o sorriso se curvar sobre a boca
quando uma felicidade se espalhou por ele.
19

Meu Lorde Marquês,


Confirmam-se os nossos receios. Só em um moinho, seis
mortos, nos últimos quatro anos, e mais de sessenta
mutilados no mesmo período. Os supervisores são brutais e
os acidentes resultam de cintos, eixos e volantes descobertos.
A atmosfera é pungente, uma mistura de óleo de máquina e
poeira espessa, que está sempre irritando a garganta, nariz e
olhos. Os adultos suportam essa situação lamentável, mas as
crianças neste lugar são as mais lamentáveis que eu já vi.
Pálidas, nervosas e lentas, seus sofrimentos estão escritos em
seus rostos. O pior de todos são os catadores de mulas. Essas
criaturinhas miseráveis são enviadas para recuperar o
algodão desperdiçado no chão, sob uma mula giratória. A
criança mais nova que vi tinha quatro anos de idade, na
verdade, nenhuma tinha mais de oito anos, pois seriam
grandes demais para caber no espaço pequeno. Eles estão
trabalhando até dezesseis horas por dia e são espancadas se
adormecerem.
Milorde, se há inferno na terra, então, acredito que o
encontramos. Algo precisa ser feito.
—Trecho de uma carta do Sr. Richard Glover para o
Mais Honorável Lucian Barrington, Marquês de Montagu.

29 de janeiro de 1815. Beverwyck, Londres.


Casaram-se três dias depois, por licença especial, em Beverwyck.
Minerva passou por toda a cerimônia deslumbrada e suspeitou que Inigo
sentia o mesmo. Parecia sobrecarregado, quaisquer dúvidas que pudesse ter,
sobre se arrepender de seu casamento, foram derrubadas, sempre que
olhava para ela. Havia tanto amor em seus olhos, tanto calor, que sentiu um
brilho queimando dentro dela.
Não havia tempo para fazer um vestido para a ocasião, então, escolheu
o vestido amarelo, que Inigo tanto gostava. Era o seu favorito, também, e
combinava com o alegre senso de esperança que a contagiou nesta ocasião,
como se estivesse em um sonho.
Robert lhe entregou, ela e Inigo ficaram surpresos com o quão caloroso
havia recebido Inigo, ficando ao lado deles. De pé diante do curador, agora,
Minerva reprimiu um sorriso, enquanto Inigo gaguejava, falando a sua
parte. O pároco já havia falado duas vezes, pois Inigo parecia se afastar,
sempre que olhava para ela, perdendo o controle do que estava
acontecendo, e o clérigo, frustrado, foi forçado a repetir. Chegaram ao final
da cerimônia, o pároco parecendo quase tão aliviado quanto Inigo, e
Minerva não conseguiu conter sua risada. Não era apropriado rir em um
momento tão sério, supôs, mas quando Inigo sorriu para ela, não deu a
mínima para o que os outros pensavam. Ele sabia que estava rindo de
admiração e felicidade, sabia porque sentia o mesmo.
A risada dela morreu quando se inclinou e a beijou, um beijo casto, com
tantos olhando, mas a promessa em seus olhos fez a cor saltar para suas
bochechas em um intenso rubor, apesar do fato de que Minerva estava longe
de ser inocente.
Exceto aquelas que estavam muito longe, para fazer o serviço em tão
pouco tempo, muitas das Senhoritas Peculiares vieram comemorar a união.
— Estou tão feliz que tudo deu certo para você, Minerva. — disse
Matilda, dando-lhe um abraço, os olhos molhados de lágrimas.
Minerva a viu chorar durante a cerimônia e sentiu uma pontada de
angústia por sua amiga. Viu-a conversando em voz baixa com Aashini,
ficou feliz por ela e o visconde terem retornado a Londres. As duas
mulheres sempre foram próximas.
— Será para você também, Matilda. Deverá ser. — disse Minerva. —
Não há ninguém que mereça um feliz para sempre como você. Não acredito
que não haja alguém esperando por você.
Matilda riu — Bem, está muito bem escondido, é tudo o que posso
dizer, mas não importa. Este é o seu dia e eu não poderia estar mais feliz.
Diria que espero que seu marido saiba o quão sortudo é, mas acho que todos
aqui podem ver que ele sabe.
Minerva só podia concordar, enquanto cumprimentava todas as suas
amigas, transbordando de alegria. Sempre que se virava e chamava a
atenção de Inigo, a expressão terna que lançava a fazia ansiar pelo fim do
dia. Lorde Rothborn ficou como padrinho de Inigo, e Minerva observou
enquanto ele e Jemima, cuidadosamente, se evitavam. Ficou chocada ao
descobrir seu acordo com Jemima, mas tinha posses, era bem apessoado,
parecia ser um tipo decente, apesar de um pouco brusco. Minerva sabia que
não estava em posição de julgar. Embora se preocupasse com a reputação e
a felicidade de sua amiga, não tinha o direito de expressar suas
preocupações, depois de tudo o que fizera para ficar com Inigo. Além disso,
Jemima não era tola, sabia dos riscos que estava correndo e - tendo em
mente suas opções - havia pouca escolha para ela. Minerva só podia esperar
que Lorde Rothborn a visse como mais do que sua amante, uma vez que a
conhecesse melhor.
— Bem, o fisgou, sua criatura perversa. — disse Bonnie, desviando sua
atenção de Jemima.
Minerva riu, virou-se para a amiga e encontrou seus olhos brilhando
com travessuras.
— E lá estava eu pensando que você era uma criaturinha tão refinada.
Minerva bufou — É superestimado ser uma dama.
— Bem, não argumentarei sobre isso. — disse Bonnie com uma
piscadela — Mas, então, nunca fui uma, para começar. Como sua mãe
recebeu a notícia?
Minerva fez uma careta. Sua mãe era a única estraga prazer, embora,
depois que a histeria inicial passou e o médico a sedou, aceitou muito bem.
— Ela vai sobreviver. Enquanto Bedwin suavizar o golpe, permitindo
que todos acreditem que somos como carne e unha, seu orgulho se
recuperará, tenho certeza.
Bedwin foi um doce absoluto, na verdade, e Minerva sabia que nunca
poderia retribuir por tudo o que havia feito para suavizar as coisas. O Sr. e a
Sra. de Beauvoir nunca seriam bem-vindos entre os mais rigorosos
defensores da sociedade, mas descobriu que isso não era uma perda. O
apoio público de Bedwin, ao casamento e à carreira de seu marido, teria
uma enorme influência na forma como os outros os tratariam, e, por isso,
estavam em dívida com ele.
A recepção do casamento era luxuosa o suficiente, para satisfazer até
mesmo a lamentável mãe de Minerva, mas, quando olhou para o marido,
percebeu que estava ansioso para que todo o barulho acabasse.
— Poderemos sair em breve. — sussurrou-lhe, sorrindo quando ele se
virou para ela com uma carranca.
— Eu não quero estragar o seu dia. — disse, balançando a cabeça —
Podemos ficar o tempo que quiser.
Minerva soltou um suspiro feliz.
— Que homem adorável você é. — disse, satisfeita com o tom de cor
que corou suas bochechas — Mas gostaria de ir para casa, com você.
— Casa. — disse, seus olhos tão fascinados, que sua garganta ficou
apertada — Sim. — assentiu, pegando a mão dela e segurando-a com força
— Sim, quero ir para casa.
Passou mais uma hora e meia, antes que conseguissem fugir. Todos
queriam um momento com o casal feliz, e havia tantos brindes e bons
desejos, que teria sido grosseiro interrompê-los. A carruagem de Bedwin os
levou de volta a Isleworth e à bela casa de tijolos vermelhos, na Church
Street.
Inigo colocou o chapéu de um lado no assento de veludo e passou a mão
pelo cabelo, enquanto pequenos grãos de arroz caíam no chão.
— Por que jogaram arroz em nós? — perguntou, perplexo.
Minerva riu e retirou alguns grãos perdidos em seus ombros —
Supostamente representa chuva, o que é um sinal de prosperidade,
fertilidade e boa sorte.
— Mas já estava chovendo. — disse, ainda lutando com o conceito.
— É tradição, amor.
— Oh! — disse, assentindo, o que, aparentemente, era explicação
suficiente. Olhou para ela e estendeu a mão, acariciando sua bochecha com
tanta adoração, que Minerva pensou que seu coração poderia explodir de
felicidade.
— Sra. de Beauvoir. — murmurou.
— É um lindo nome.
— Francês. — disse, um toque de tristeza em sua voz — Meus pais
eram franceses. É a única coisa que sei sobre eles.
— Tenho certeza de que o amavam muito, Inigo. Não poderiam não
amá-lo. Sei que eu o amo.
— Eu nunca me senti assim antes. — disse ele com uma pequena
gargalhada — É… É um pouco avassalador.
Minerva se inclinou e o beijou, recuando para estudar seu rosto —
Como se sente?
— Feliz. — disse, simplesmente — Ridiculamente feliz.
— Eu também. — respondeu, e se aconchegou contra ele, até que a
carruagem parou em frente à sua casa.
— Bem-vinda de volta, Sra. de Beauvoir. — disse Inigo, parecendo tão
feliz consigo mesmo, que só podia rir, prazerosamente, quando a ajudou a
descer e depois a pegou em seus braços, carregando-a para dentro.
Beijou-a, colocando-a no chão com cuidado, mas segurando-a por um
bom momento. Quando, finalmente, quebrou o beijo, Minerva ficou sem
fôlego e atordoada, levou um momento para perceber que sua casa parecia
diferente.
— Está tão quente. — disse, surpresa.
Ele assentiu — Eu queria que o lugar fosse bom para você. Sei que vai
querer decorar e mobiliar da forma que quiser, mas, enquanto isso, sua
prima Prue e suas amigas… bem, me ajudaram a arrumar uma governanta e
alguns criados. Eles limparam o lugar e acenderam as lareiras, e compraram
linho novo para a cama…
— Oh! — disse Minerva, um pouco ansiosa — A governanta…
— Não está aqui agora. — disse Inigo com firmeza — Voltará em dois
dias, mas a despensa está abastecida para um exército e não sairemos do
quarto antes disso, não tema.
— Que perfeito. — disse com um suspiro, enquanto Inigo ria.
— Se bem me lembro, você que é perfeita, mas sinto a necessidade de
verificar, apenas para ter certeza.
Pegou a mão dela, puxando-a escada acima.
— E se eu não for perfeita? — Minerva perguntou, correndo atrás dele.
— Impossível. — disse, arrastando-a pelo corredor e entrando em seu
quarto.
— Que adorável! — Minerva olhou ao seu redor e descobriu que suas
amigas haviam colocado belas cobertas novas na cama, em um glorioso
amarelo ensolarado. Um fogo estava aceso na lareira, e velas foram acesas,
afastando a escuridão de uma tarde de janeiro — É a minha cor favorita. —
disse, movendo-se para a cama, para tocar o contra painel macio.
— A minha também. — admitiu Inigo — Desde que a vi naquele
vestido amarelo, na noite em que fui ao jantar. Não tinha visto nada tão
bonito na minha vida.
Minerva riu e correu para ele, jogando os braços em volta de seu
pescoço. — Nem eu, quando você colocou o odioso Dr. Murphy em seu
devido lugar. Eu estava pronta para explodir de orgulho.
Inigo a puxou para mais perto dele, com os braços firmes.
— Você é real? — perguntou baixinho — Tem certeza de que não a
inventei?
Minerva puxou as fitas em seu chapéu e as colocou sobre a cômoda,
antes de sair do abraço. Recuou, ciente dos olhos de Inigo sobre ela,
enquanto suas mãos caíam nos botões de sua peliça. Isso seguiu o mesmo
destino que o chapéu, assim como suas luvas.
— Acho que devia verificar, apenas para ter certeza. — disse, virando-
se para apresentar-lhe os botões na parte de trás do vestido, dando um
sorriso sedutor por cima do ombro.
— Que ideia sensata. Acho que farei uma série de experimentos para
determinar se você realmente existe, e se eu sou, o sujeito mais sortudo que
existe realmente, ou simplesmente delirante. — Inigo deslizou os braços em
volta de sua cintura e a puxou contra ele — Realmente sou, sabe, o sujeito
mais sortudo que existe, quero dizer.
— Estou muito feliz que pense assim, — disse ela — porque temo que
esteja preso a mim.
Houve uma risada baixa, antes que ele voltasse sua atenção para os
botões trabalhosos. Demorou algum tempo, e alguns poucos xingamentos,
mas logo o vestido amarelo caiu com um toque de cetim e Minerva saiu
dele. Virando-se, encarou Inigo e segurou o olhar dele, enquanto deslizava
as anáguas e desabotoava as fitas de seu espartilho. Finalmente, puxou a
chemise por sobre a cabeça.
— Devo deixar as meias-calças, Inigo? Lembro que gostava delas.
Inigo engoliu em seco, seu olhar caindo nas fitas amarelas
correspondentes, que mantinham as meias no lugar.
— Sim. — disse, a voz rouca — Gosto delas.
Minerva se moveu em direção a Inigo, pressionando-se contra ele e
tremendo quando a corrente do relógio e os botões frios de seu traje,
encontraram sua pele quente.
— Eu estava certo. — disse Inigo em um sussurro — Você é perfeita.
— Ah, mas eu sou real? — Minerva respondeu, sorrindo para ele e se
gloriando com a admiração em seus olhos.
A maneira como olhou para ela a fez se sentir bonita e poderosa, como
se fosse a única mulher no mundo. Pela vida dela, não conseguia entender
como alguém poderia escolher uma fortuna ou um título extravagante, em
vez de um homem que olhava para você de tal maneira. Quão sortuda era,
por Prue tê-la ajudado a ver o sentido e o quanto poderia ter perdido.
Ofegou quando os braços de Inigo a envolveram, esmagando-a contra
ele enquanto a beijava, sua boca, ao mesmo tempo, macia e exigente.
Soltou-a por um momento, respirando um pouco mais rápido do que ela.
— Parece ser real, mas acho que isso requer mais investigação. — disse,
com cada centímetro de seriedade.
— Oh? — Minerva disse, a excitação enrolando em sua barriga — Que
tipo de investigação?
— Hmmm. — disse Inigo, movendo-se em volta dela, seu olhar
aquecido, uma marca contra sua pele, enquanto a circulava, rondando,
como algo selvagem que pudesse atacar a qualquer momento.
Ela mal podia esperar.
Os dedos dele deslizaram sobre ela, em torno de sua cintura, sobre suas
costas e ombros, para baixo sobre seu peito, desviando para circular um
mamilo endurecido e depois para baixo, descendo em sua barriga, até os
cachos macios entre suas coxas.
— Eu acho que devo prová-la em seguida. — murmurou, as palavras
enviando arrepios loucos e um calor líquido florescendo dentro dela.
Antes que ela pudesse sequer considerar formar uma resposta coerente,
ele a levantou e a colocou sobre a cama, sentando-a na beirada.
Inigo se ajoelhou diante dela, abrindo as coxas e inclinando-se para dar
um beijo suave em seu estômago — Este é o meu lugar favorito. — disse,
com um olhar perverso brilhando naqueles olhos cinza-esverdeados
marcantes, que haviam capturado sua atenção, todos aqueles meses atrás.
— O meu também. — disse ela, sentindo-se devassa e terrivelmente
ousada para admitir tal coisa, mas sua expressão traiu seu prazer com suas
palavras. Observou enquanto ele abaixava a cabeça, para arrastar a língua
pela parte interna da coxa e suspirou, deitando-se no colchão e se
abandonando ao momento, sabendo que ele a amava e que o prazer dela
também era dele.
A primeira varredura de sua língua a fez ofegar e arquear da cama, tanto
que ele deslizou as mãos pelas coxas dela, afastando-as ainda mais, antes de
segurar seus quadris, para que não pudesse se contorcer. A partir de então,
foi um borrão nebuloso de intenso prazer, o comprimento macio e flexível
de sua língua, o leve arranhão de seu queixo raspado contra sua carne mais
privada e, em seguida, a carícia íntima de seus dedos, enquanto ele os
deslizava profundamente dentro dela. Era um cerco lento e íntimo contra
sua sanidade, desmantelando-a por completo, à medida que a tensão dentro
dela aumentava sem parar, até que estava tremendo, impotente, gritando,
implorando por sua liberação.
Sua respiração estava irregular, enquanto perseguia a sensação
crescente, que prometia que seu pico estava próximo, mas o toque de Inigo
permaneceu evasivo o suficiente, para negá-la. Ela se contorceu e se
encolheu, tentando forçar a boca dele a se aproximar, para dar a ela o
delicioso empurrão que a levaria ao limite, mas ele apenas riu baixinho, seu
hálito agitado, um tormento contra sua pele superaquecida.
— Por favor. — implorou, abaixando-se para agarrar seu cabelo,
enlouquecida, enquanto as sensações ficavam intensas demais — Por favor,
Inigo, por favor, por favor…
Por fim, ele teve pena, acomodando-se no terno broto de seu sexo e
lambendo suavemente, mas com velocidade crescente, até que ela
estremeceu sob seu toque, sua visão turvando, enquanto cavalgava em uma
onda exultante de prazer, que parecia correr sem parar, até que ela se
transformasse em um emaranhado flexível de membros, totalmente gasta,
fascinada e satisfeita.
À medida que o mundo voltava ao foco, ficou distante e consciente de si
mesma e, em seguida, de um farfalhar de tecido. Minerva abriu os olhos
sonolentos apenas o suficiente para ver Inigo jogando suas roupas em um
monte abandonado no chão. Uma risada baixa escapou dela, o que soou
desonesto e astuto e não como ela esperava, enquanto ele subia na cama,
um olhar inconfundível em seus olhos.
— Tarde demais. — murmurou, sonolenta, sentindo-se como uma gata
preguiçosa — Você acabou comigo, não sirvo para mais nada agora.
Ele bufou, balançando a cabeça — Eu me casei com você, então, não
pode estar acabada, vamos nos certificar disso.
Ela gritou quando ele a agarrou e a rolou em cima dele. Seu membro
estava quente e duro entre suas pernas, pressionando contra a carne macia e
ela ofegou surpresa, quando um choque de pura sensação disparou através
do seu corpo.
— Oh. — disse, movendo os quadris para repetir o movimento.
Inigo fechou os olhos e gemeu, e, de repente, não estava tão sonolenta
quanto pensava. Sua pele estava molhada e escorregadia e se movia
facilmente contra o comprimento sedoso dele, Minerva sentou-se,
apoiando-se contra seu peito, observando-o, deleitando-se com a fome que
podia ver em seus olhos de pálpebras pesadas. A respiração dele ficou
presa, as mãos indo até os quadris dela, guiando seus movimentos,
enquanto se movimentava em direção a ela, intensificando a sensação. Para
sua surpresa, o prazer se construiu dentro dela mais uma vez, mais rápido
desta vez, enquanto observava Inigo se desfazer por debaixo dela.
— Minerva. — murmurou, como se estivesse lutando pelas palavras,
lutando para falar, por cima da força do desejo — Dentro de você… por
favor… preciso disso…
Não era exatamente uma frase coerente, mas também não era difícil de
compreender, especialmente quando ele a virou de costas, se acomodando
entre suas coxas.
— Sim. — disse, quase sem fôlego, enquanto ele a olhava, em busca de
aprovação.
Aquele pequeno suspiro restante foi roubado, enquanto investia dentro
dela, fundo e poderoso, e enviava por suas terminações nervosas, pequenos
turbilhões resplandecentes de prazer, fazendo-a estremecer, suspirar e se
agarrar a ele, enquanto se movia dentro dela. Minerva fechou os olhos e se
gloriou nele, em seus ombros largos, o calor de sua pele ardendo contra ela,
e a sensação de completude, de retidão, de estar onde pertencia, a quem ela
pertencia.
Soltou um longo e indulgente suspiro de admiração, enquanto o limite
de seu pico se aproximava, espantando o resto do mundo para longe, até
que não houvesse nada além deles e a alegria que traziam um ao outro.
Inigo fez um som áspero, gritando, enquanto a segurava, antes de enterrar o
rosto contra os cabelos dela. Seu corpo tremeu, sacudindo, impotente com o
poder de sua liberação. A visão de seu rosto, tenso com concentração, sua
grande estrutura impotente, enquanto o prazer o controlava, foi suficiente
para enviar Minerva para o limite, segurando-se firmemente ao único
homem que ela sempre quis ou desejaria.
20

Querida Minerva,
Estou muito feliz por você. O casamento foi lindo, e eu
chorei muito. Seu marido parecia totalmente fascinado com
sua própria sorte, assim como deveria. Eu tenho todas as
expectativas de vê-los se acomodarem em um casamento,
maravilhosamente, feliz. Me escreva em breve e conte seus
planos. Como é a sua nova casa, e como é viver com um
sujeito tão inteligente?
Devo agradecer-lhe também pela sua discrição. Confesso
que foi como estar sentada sobre espinhos ficar no mesmo
ambiente que Lorde Rothborn. Eu tinha certeza de que todos
estavam me vendo corar e sabiam de tudo, sempre que sentia
seus olhares se voltarem para mim. Ele é um homem
estranho, capaz de ser tão gentil e, no entanto, tão distante
também, mas estou determinada a conhecê-lo melhor.
Embora ele faça o possível para frustrar meus esforços, não
serei dissuadida, pois ele aprenderá a seu custo.
—Trecho de uma carta da Srta. Jemima Fernside para a
Sra. Minerva de Beauvoir.

4 de fevereiro de 1815. Beverwyck, Londres.


Matilda deixou o livro de lado e respirou fundo. Era um dia monótono,
a chuva caindo forte e não havia sinal de parar. Era improvável que
recebesse qualquer visita hoje, para aliviar o tédio e manter sua mente
ocupada. Determinada a não se permitir cair em um ataque de desgosto, foi
para a escrivaninha. Recebeu uma carta de Aashini naquela manhã,
confirmando que viria e ficaria com Matilda durante o fim de semana, e
isso, certamente, era algo pelo qual esperar. Foi tão adorável conversar com
a amiga no casamento, ainda mais para ver como estava feliz. Enquanto
isso, iria se contentar em escrever uma resposta, antes de ler a edição de
janeiro da La Belle Assembly. Talvez uma roupa nova a animasse, e sempre
havia lindas ilustrações dos últimos estilos para suspirar. Isso, certamente, a
manteria ocupada.
Tinha acabado de se acomodar diante de uma folha de papel limpa,
quando houve uma batida na porta e seu mordomo, Baines, apareceu.
— O Marquês de Montagu para vê-la, Srta. Hunt.
Matilda deu um pulo, levantando-se tão rapidamente que quase virou a
cadeira.
— M-Montagu? — gaguejou com a voz fraca, uma mão indo para a
garganta, onde seu coração parecia ter se alojado e começado a bater em um
ritmo ridículo. Nunca sonhou que a visitaria em sua casa e vê-lo aqui, na
sua sala de visita, era tão extraordinário, que foi, imediatamente, banhada
por uma enxurrada de nervos.
Não havia engano, porém, quando ele entrou na sala, imaculado e
friamente lindo, como sempre. Fez uma reverência quando ele entrou, pelo
menos tendo presença de espírito suficiente para atender às formalidades.
Ele olhou em seu entorno e viu que estava sozinha e franziu a testa.
— A senhorita não tem uma criada que possa se sentar conosco, por
uma questão de decoro?
Matilda deu uma risada assustada. — É o dia de folga dela, e o senhor
me perguntar isso…
Ele se virou, falando ao mordomo, que acabara de sair da sala. —
Aguarde do lado de fora da porta. Não vou demorar muito.
Matilda ouviu o murmúrio de acordo de Baines e Montagu entrou,
deixando a porta entreaberta.
— Não vou prendê-la por muito tempo, Srta. Hunt, mas há algo que…
Tenho notícias que devo compartilhar com a senhorita, que temo que achará
angustiante, e por isso desejei contar, pessoalmente, antes que a senhorita
leia sobre isso amanhã nos periódicos.
— Notícias? Que notícias? — Matilda perguntou, perplexa e alarmada
com sua presença.
Levantou a mão e encontrou o encosto da cadeira, pois suas pernas
pareciam um pouco trêmulas, mas, realmente, que notícias Montagu
poderia ter para compartilhar com ela, que acharia angustiante?
— Senhorita Hunt, eu…
Ele hesitou e, pela primeira vez, Matilda sentiu que estava inseguro.
Isso estava tão, completamente, fora do caráter que não pôde deixar de
notar.
— Senhorita Hunt, — começou novamente, e depois respirou fundo. —
sei o que pensa de mim. A senhorita nunca hesitou em dar sua opinião, e
não posso fingir que nada do que disse tenha sido injusto. Não escondi
meus desejos sobre você, e nada mudou a esse respeito. No entanto, rezo
para que me ouça agora. Não importa se acredita em mim, prometo que não
fiz isso para promover meus próprios fins. Já lhe disse uma vez que não
minto, e não o farei agora. Não a culparia por pensar mal de mim, mas,
agindo como agi, tinha apenas seus melhores interesses em mente.
Matilda olhou para ele, sem piscar e totalmente perdida — Perdoe-me,
milorde, mas…, mas acredito que entendi mal, ou talvez esteja apenas
agindo, tolamente, hoje, mas não tenho a menor ideia do que o senhor está
falando.
Montagu assentiu e levantou a mão, que, ela agora via, carregava uma
folha de jornal dobrada.
— Uma edição antecipada da história de amanhã. — disse, dando-lhe.
Ela a pegou, olhando cegamente para a manchete Inferno na Terra.
Olhou para o texto, que falava sobre as terríveis condições em uma fábrica
têxtil, em Derbyshire. Algo se agitou em sua mente, mas a presença do
marquês a confundiu demais para pensar com clareza. Olhou para ele, ainda
sem entender e aliviada quando falou novamente.
— Admito que foi por sua causa que procurei investigar o Sr. Burton.
Tinha ouvido rumores, perturbadores o suficiente, para me preocupar com o
tipo de homem que ele era. Sei que era do meu melhor interesse descobrir
uma boa razão pela qual a senhorita não deveria se casar com ele, mas juro
que não… não percebi… — fez uma pausa e sua mandíbula ficou rígida —
Eu não poderia permitir que a senhorita se casasse com o homem, sem
saber a verdade de quem ele realmente é. Estou longe de ser um santo e sei
disso, mas isso… isso é perversidade. — disse, gesticulando para o papel
que ela segurava com a mão trêmula — Rezo para que a senhorita possa me
perdoar por expor isso e acreditar que fiz isso para protegê-la, e aqueles que
sofreram em condições tão vis.
Matilda olhou para ele e depois de volta para a manchete, examinando o
texto, que falava de condições de trabalho horríveis, de mortes e ferimentos
e dos maus-tratos infligidos às crianças.
— Oh, meu Deus! — disse, sentando-se, pesadamente, na cadeira,
olhando para a página, enquanto o texto borrava diante de seus olhos.
O jornal escorregou, de seus dedos para o chão, sem ao menos um
farfalhar.
— Matilda.
Ela levantou o rosto, atordoada ao encontrar o marquês agachado diante
dela, as mãos dele alcançando as dela e segurando-as forte. Foi notável ver
aqueles olhos cinzas prateados e frios se enchendo de preocupação, de
compaixão. Não tinha pensado que tal coisa fosse possível.
— Tem mais alguma coisa que eu possa fazer? Um copo de água?
Permita-me chamar uma de suas amigas para vir até a senhorita.
Matilda olhou para ele, horrorizada e abalada demais para absorver, mal
registrando que havia usado seu nome de batismo, e que ainda estava
segurando suas mãos.
— Não. — disse com a voz fraca. Sentia-se instável, doente e enojada,
queria que fosse embora, pois estava extremamente tentada a jogar os
braços em volta do seu pescoço e soluçar com a terrível situação. Retirou as
mãos das dele com dificuldade, cruzando os braços sobre o estômago, para
que o desejo de se jogar aos cuidados dele não a superasse — Não. Estou
perfeitamente bem. Obrigada… obrigada por…
Montagu pegou o jornal abandonado no chão e o colocou sobre a
escrivaninha, ao lado da folha de papel em branco que ela havia pego.
— Obrigada por expor… por aquelas pobres, pobres…
Sua voz quebrou e ela balançou a cabeça, pressionando a mão na boca e
respirando fundo. O esforço para se estabilizar era enorme, mas tinha que se
controlar. Não foi ela quem foi machucada. Sua pena deveria ser reservada
para as almas miseráveis, que morreram ou foram mutiladas pela ganância e
descuido de um homem rico. Foram eles que sofreram, que sofriam ainda.
Quando falou novamente, estava mais calma.
— Gostaria que o senhor fosse embora agora.
Montagu olhou para ela por um bom momento e depois assentiu.
Levantou-se e então pareceu incerto sobre o que fazer a seguir, relutando
em deixá-la sozinha, depois de ser o portador de tal notícia — Se houver
alguma coisa… alguma coisa que eu possa fazer?
— Acho que o senhor já fez o suficiente. — disse.
Não quis dizer aquilo como uma repreensão, longe disso, estava
pensando apenas nas famílias, nas crianças forçadas a suportar tal miséria
abjeta, mas ele se encolheu mesmo assim e seu pescoço estava rígido
quando saiu. Uma parte dela queria chamá-lo de volta, para explicar que
estava grata, que suas palavras não tinham sido a reprovação que pareciam,
mas estava muito chocada, abalada até o âmago, e uma vez que ouviu a
porta da frente se fechar, tudo o que podia fazer era chorar.

— Em que está pensando? — Minerva perguntou.


Inigo sorriu para a sua reflexão. Estava sentado na beira da cama,
observando-a prender o cabelo e parecia hipnotizado pelo processo. Sua
criada pessoal chegaria hoje, então, por enquanto, escolheu um estilo
simples. Lamentou que não ficariam mais sozinhos. A governanta havia
chegado cedo, naquela manhã, mas Minerva ainda não a tinha visto. O café
da manhã que tinha sido enviado em uma bandeja estava maravilhoso, no
entanto, então estava esperando grandes coisas.
— Nada. — disse, enquanto Minerva se virava no banco para olhar para
ele.
— Não conte mentiras. Honestidade, lembre-se. — repreendeu
gentilmente. — Posso ver que está preocupado, então me diga o que está
passando na sua cabeça.
Inigo soltou uma risada suave e se inclinou para ela. Estendeu-lhe a mão
e a puxou, do banquinho da penteadeira, para seu colo. Minerva foi sem
protesto e sentou-se em uma enxurrada de saias, deslizando os braços em
volta de seu pescoço. Era um lugar perfeito demais para não puxar sua
cabeça e exigir um beijo. Um bom tempo depois, suspirou alegremente,
olhando para ele com um sorriso sonhador.
— Agora bagunçou meu cabelo.
— Culpado. — murmurou, roubando outro beijo.
— Não, pare — disse, balançando a cabeça e pressionando um dedo nos
lábios dele — Pare de me distrair.
— Você começou. — ele protestou, enquanto uma mão deslizava para
segurar seu seio, apertando e acariciando de uma maneira mais entretida,
antes que a outra mão sumisse por debaixo de suas saias.
— Pare! Inigo, está fazendo isso de propósito. — protestou, segurando
sua mão errante e tentando mantê-la imóvel — Agora, me diga o que o está
preocupando, ou vou lhe fazer cócegas, em troca.
Ele olhou um pouco para ela — Você não joga limpo.
— Claro que jogo, só está chateado porque eu o fiz gritar como uma
garotinha.
— Eu não gritei!
Ele parecia tão indignado, que Minerva deu uma gargalhada nada
feminina.
— Gritou sim!
Para provar seu ponto de vista, ela contorceu os dedos em um ponto
sensível do lado dele. Inigo deu um grito agudo e se afastou, caindo de
volta na cama, enquanto Minerva olhava triunfante para ele.
— O que estava dizendo? — perguntou, satisfeita consigo mesma.
Inigo suspirou, derrotado — Tudo bem. Eu grito como uma garota.
— Concordo. Agora, por que está se preocupando?
Ele olhou para ela e, por um momento, estava perdida na profundidade
surpreendente de seus olhos, o verde que era quase esmeralda, salpicado de
tons mais claros, contra o cinza escuro de um céu tempestuoso.
— Estou preocupado de não poder mais trabalhar. — confessou, suas
sobrancelhas escuras juntas de preocupação — Preciso trabalhar, Minerva.
Tenho uma linda esposa para sustentar. — acrescentou, sorrindo para ela,
embora pudesse dizer que ele não estava brincando.
— Por que, diabos, não seria capaz? — perguntou, perplexa — Ama o
seu trabalho. É para isso que vive.
Ele balançou a cabeça — Era o que eu amava, para o que eu vivia, mas
agora… agora é você. — estendeu a mão e deslizou em seu cabelo, fazendo
mais uma bagunça no penteado simples que ela conseguira fazer — Não
posso… como posso trabalhar quando está aqui, quando… quando eu
quero…? — não terminou a frase, mas a puxou para baixo, beijando-a com
força e rolando-a de costas. A mão dele deslizou pela coxa dela, puxando
suas saias para cima, até encontrar os cachos macios e a pequena pérola de
carne escondida.
Passou um tempo considerável, até que Minerva pudesse se lembrar do
que eles estavam falando.
— Venha. — disse, uma vez que reorganizou suas roupas e arrumou o
cabelo novamente. Pegou a mão de Inigo e o levou até o laboratório.
— Pode me mostrar aquele experimento que você fez, por favor, aquele
em que descobriu algo novo?
— Quer ver? — Inigo perguntou, parecendo um pouco duvidoso.
— É claro que eu quero ver! — Minerva exclamou, revirando os olhos
para ele. — Você descobriu algo que ninguém mais no mundo sabe. E eu
quero ver.
— Tudo bem, então. — disse ele, parecendo satisfeito com o interesse
dela.
Minerva observou Inigo começar a fazer seus preparativos e, em
seguida, manteve a amostra do produto químico sobre uma chama.
— Isso é carbonato de zinco. — disse — O carbonato de zinco é um
sólido em pó, quase branco, como pode ver. Quando é aquecido a uma
temperatura elevada, torna-se amarelo e começa a decompor-se e o gás
dióxido de carbono é evoluído, que forma um precipitado branco na água de
cal. O sólido amarelo deixado para trás é óxido de zinco quente. À medida
que o óxido de zinco quente esfria, fica branco novamente.
— Fascinante. — disse Minerva, acenando para ele.
— Agora, olhe. — disse ele, e Minerva observou, enquanto a amostra
ficava amarelo luminoso, quase laranja — Desta vez, a cor é intensa e
permanecerá, mesmo quando esfriar. Isso deveria sugerir a presença de
ferro ou chumbo, mas não há nenhum. Há, no entanto, um óxido metálico
peculiar, e isso é algo novo.
Minerva sorriu e observou Inigo se sentar e começar a fazer anotações.
Ele pegou um livro rasgado e folheou-o, passando por uma série
mistificadora de cálculos e símbolos estranhos e depois começou a escrever
novamente. Sorrindo, Minerva saiu do laboratório e pegou um livro, depois
voltou e se acomodou em um canto do laboratório para ler.
Ela se levantou, uma hora depois, para pegar uma xícara de chá,
colocando outra ao lado de Inigo, com um prato de biscoitos. Duas horas
depois, voltou para falar com a nova governanta, que era uma mulher
maravilhosa, de quarenta e poucos anos. Minerva tinha certeza de que sua
cintura sofreria, já que a mulher enviara mais biscoitos do que uma jovem
deveria consumir de uma única vez.
Foi para Inigo com outra xícara de chá e uma fatia de torta, removendo
o prato vazio em que os biscoitos estavam. Ele ainda estava trabalhando,
alheio ao fato de que seu almoço havia chegado. Feito isso, deu uma olhada
na casa com a governanta, discutindo as mudanças que queria fazer, e qual
quarto deveria ser abordado primeiro, passando algumas horas agradáveis.
Agora, no entanto, o jantar estava pronto.
Havia instruído a governanta a colocá-lo na sala de jantar, uma sala que
ela duvidava que Inigo já tivesse posto os pés, uma vez que colocara uma
mesa e duas cadeiras que não combinavam. Ainda assim, fez parecer o mais
agradável possível, com a porcelana que Bedwin e Prue lhes deram, como
parte de seu presente de casamento. Com guardanapos bonitos e o fogo
ardendo na lareira, e dois candelabros elegantes lançando uma luz dourada
adorável, parecia quente e convidativo. Quando tudo foi feito, voltou para
Inigo, deslizando os braços em volta da cintura dele e abraçando-o por trás.
Ele olhou para cima, parecendo alguém acordando de um sonho. Seu
sorriso foi imediato e caloroso, se virou no banco alto, abrindo as pernas
para que ela se aproximasse.
Se moveu para o espaço criado pelo marido, deitando a cabeça sobre
seu ombro.
— Senti sua falta. — murmurou contra seu cabelo.
— Mentiroso. — disse, rindo. — Não tinha ideia de que eu estava aqui.
Sua expressão ficou séria ao mesmo tempo — Eu tinha. Juro que tinha.
Toda vez que olhava você estava lá, ou havia uma xícara de chá, um prato
de biscoitos, algo que mostrava que tinha pensado em mim. É tão… —
olhou para ela, balançando a cabeça e soltando um suspiro de riso — É tão
maravilhoso tê-la aqui, não posso dizer. É maravilhoso. Você é maravilhosa.
Minerva sorriu, abraçando-o com força.
— Talvez queira de me ajudar às vezes, com os experimentos?
Olhou para ele com os olhos arregalados — Eu poderia? — exclamou,
surpresa por oferecer-lhe tal coisa.
— Bem, apenas se quiser, mas parecia estar interessada e quis que eu
explicasse aquele artigo de Humphry Davy, mas realmente, seria muito
mais fácil lhe mostrar.
— Oh! — Minerva exclamou, abaixando a cabeça para um beijo — Oh,
você é o homem mais maravilhoso.
Ele riu, obviamente satisfeito com o entusiasmo dela — Poderíamos
pedir a Harriet que viesse também às vezes, se quisesse. Talvez possa ajudá-
la com o livro que quer escrever? Tenho certeza de que há muitas coisas que
acharia interessantes, depois de aprender algumas das habilidades básicas.
Minerva olhou para ele, piscando com força, bastante dominada.
— O que? — ele exigiu saber — Certamente não pensou que eu me
casaria com uma mulher tão maravilhosa e a relegaria a ser dona de casa e a
ter filhos? Quero dizer, não que seja um problema, se é isso que gostaria de
fazer, mas…
Não conseguiu dizer mais nada, porque Minerva o beijou, novamente, e
depois outra vez, e mais um pouco. Tinha certeza de que gostaria de decorar
a casa, e a ideia de ter bebês fez algo quente e maravilhoso florescer dentro
dela, mas havia tempo de sobra para tudo isso. Por enquanto, queria
desfrutar de seu marido, de sua nova vida e de todas as coisas que
ensinariam um ao outro, e isso era mais do que jamais sonhara.
O jantar estava, terrivelmente, atrasado.
Damas Ousadas, Livro 9

Uma jovem desesperada…


Jemima Fernside é o epítome de uma dama bem comportada, criada
para desposar a um cavalheiro e fazer o papel da esposa perfeita. Até se
encontrar sozinha no mundo, sem um centavo ligado ao seu nome. Com
poucas opções disponíveis, sua única escolha é aceitar uma proposta
escandalosa, para se tornar acompanhante de um homem que nunca
conheceu.
Um homem desesperadamente solitário…
Salomão ‘Solo’ Weston, o Barão Rothborn, está cansado da sociedade e
das pessoas em geral, que o deixam irritado e impaciente. Como Tenente-
Coronel do 15º Dragões do Rei, ficara inválido no exército após uma bala
tê-lo deixado coxo. Assombrado pela culpa, por companheiros mortos e um
amor perdido, está se tornando cada vez mais recluso, encontrando fuga
apenas nos seus livros amados.
E uma paixão que nenhum dos dois esperava encontrar…
Quando levado a buscar conforto para a sua existência sombria, Solo
acredita que tem pouco a oferecer, a não ser segurança financeira, em troca
da virtude de uma dama.
Mas Jemima não é o tipo de mulher que vai deixar fantasmas
adormecidos repousarem, e logo o passado e o futuro não se parecerão em
nada ao que Solo esperava.

Continue lendo para uma prévia!

1
Dragões do rei UK
Querida Bonnie,
Estou tão agitada que não consigo lhe dizer. Minerva
chegou em casa hoje, muito alvoroçada, e eu sou um poço de
preocupação. Foi vista na casa do Sr. de Beauvoir pela Sra.
Tate. De todas as mulheres! Jura que de Beauvoir a silenciou
por hora, e, louvado seja, ter lhe dito que verá meu irmão
esta noite, para pedir sua mão em casamento. O problema é
que ela não parece feliz com isso. Não quer falar comigo e
não há nada que eu possa fazer. Não posso implorar a Robert
que aceite a proposta até que ela aconteça, pois Min me
pediu segredo, e eu devo ir a um musical estúpido, e sabe
como eu detesto ficar parada, por qualquer período de
tempo. Passarei a noite inteira sentada sobre espinhos, em
uma ansiedade absoluta. Apenas rezo para que haja um final
feliz quando chegar em casa.
—Trecho de uma carta de Lady Helena Adolphus para
a Sra. Bonnie Cadogan.

25 de janeiro de 1815. Briar Cottage, Mitcham Village, Sussex.


O chalé era tudo o que Jemima sonhara e muito mais espaçoso do que
esperava. Quando o viu pela primeira vez, o telhado estava em um chocante
estado de ruína, as paredes caiadas estavam sujas e a madeira em um estado
lamentável. Esta manhã, havia deixado a confortável residência de Matilda,
tomada por apreensão, mas agora seu coração inchava ao ver sua bela casa
nova. Fazia anos que não morava em nada além de quartos alugados e
escassamente mobiliados. Ultimamente, aqueles quartos eram sujos e
úmidos e muito frios no inverno, era miraculoso que sua pobre tia não
tivesse sucumbido mais cedo do que deveria. Em comparação, este era um
sonho realizado. O novo colmo grosso assentava pesadamente como um
chapéu aconchegante, sobre paredes de tijolo e argamassa de cal recém-
pintada. O emaranhado de ervas daninhas e a roseira brava que havia sido o
jardim foram rejuvenescidos à ordem e os galhos bem podados dos arbustos
de rosas eram claramente visíveis, firmes e vulneráveis em uma tarde tão
gelada. As sebes margeavam a entrada, encontrando-se no portão do jardim
e podadas com precisão militar, a grama era como um lençol, dos dois lados
da entrada, perfeitamente aparados.
— Ele fez um bom trabalho com a casa. — observou a Sra. Attwood
com aprovação.
Jemima se virou para olhar para sua acompanhante. Ainda não sabia o
que fazer com a Sra. Attwood. Originalmente de Yorkshire, era uma mulher
de cinquenta e poucos anos, com uma boa figura. Estava elegantemente
vestida, com um vestido de de veludo rosa escuro com botões de ébano e
gorro combinando com fitas pretas e rosas. Era uma roupa incrivelmente
frívola para uma mulher que Jemima achava bastante intimidante. Seu
cabelo, que já deve ter sido um mogno rico, estava atravessado com branco,
mas ainda era grosso e brilhante. Uma mulher mais bela do que bonita, seus
olhos escuros não deixavam passar nada, mas não era uma pessoa rápida e
sem sentido, o que era intimidador para alguém que havia sido criada por
uma tia solteira e tímida. Embora Jemima não pudesse reclamar que a Sra.
Attwood tinha sido nada além de respeitosa com ela, era franca e já havia
deixado Jemima envergonhada várias vezes. No entanto, esta foi a primeira
vez que se referiu diretamente ao fato de que Lorde Rothborn estava
pagando a Jemima por sua companhia e que era responsável por sua nova
casa, todo o trabalho que havia sido feito e todo o conteúdo; sem mencionar
todas as roupas que Jemima estava usando. Embora todo o trabalho tivesse
sido supervisionado pelo homem de negócios de Jemima - o Sr. Briggs,
aparentemente usando o legado que lhe fora deixado por sua tia - a Sra.
Attwood sabia a verdade. A tia de Jemima havia morrido sem um centavo
em seu nome, e Jemima estava desesperada o suficiente para aceitar a
proposta escandalosa do barão.
A Sra. Attwood havia sido empregada pelo Barão Rothborn como
acompanhante de Jemima, estava lá para emprestar sua respeitabilidade
quando, na verdade, os dois sabiam que ela era tudo menos respeitável. Não
mais.
— Sim. — concordou Jemima, um pouco do prazer que sentia diminuiu
ao se lembrar de como pagaria pelo privilégio de viver nesta linda casa —
Um trabalho muito bom.
— Bem, vamos entrar e sair deste tempo ventoso, eu estou congelando e
preciso muito de uma xícara de chá. Bessie, deixe isso. — disse acenando
para a criada que estava lutando para levantar uma mala de tecido
abarrotada — Os homens trarão as malas. Vá e desempacote a chaleira e
faça-nos uma bebida quente.
A garota, originalmente empregada pelo barão no Priorado, lançou
olhos arregalados e ansiosos para a Sra. Attwood e correu para os fundos da
casa, até onde os homens estavam carregando a bagagem. Jemima
chacoalhou-se, lembrando-se de que era a dona da casa, e que deveria se
mexer para fazer as coisas.
— Venha então. — disse esforçando-se para soar calma e no controle,
enquanto pegava o braço da Sra. Attwood e subia pelo caminho
pavimentado até a porta da frente. Felizmente, o chalé não tinha vizinhos
próximos, sendo uma boa caminhada de cinco minutos da aldeia
propriamente dita. No entanto, não duvidava que as cortinas estivessem se
abrindo, quando sua carruagem passou, e era apenas uma questão de tempo
até que o primeiro dos aldeões descesse para visitá-la. Precisava estar
pronta para eles.
Não só para eles.
Isso fez seu coração pular sobre a perspectiva mais perturbadora e
Jemima se concentrou em procurar a pesada chave da porta dentro da sua
retícula. Entraram pela porta da frente, que fora pintada de preto, para
dentro de um corredor estreito de azulejos, que levava diretamente ao
jardim nos fundos da casa. Em ambos os lados do corredor havia uma sala
de bom tamanho. Uma sala de recepção formal à direita e um salão
confortável à esquerda. Além deles, havia a sala de jantar e a escada, e
depois a cozinha e a copa. Havia quatro quartos e dois pequenos sótãos.
Jemima foi primeiro para a sala de estar, achando impossível esconder sua
ansiedade.
— Oh! — apesar das circunstâncias, não conseguiu conter seu prazer,
quando viu a transformação. Embora ela mesma tivesse escolhido todos os
móveis e sonhado com a aparência de tudo, vê-los diante dela lhe dava um
pouco de prazer.
Um fogo ardia na grande lareira e a sala estava, abençoadamente,
quente, após o vento frio do lado de fora. As paredes estavam pintadas de
branco, as tábuas de carvalho limpas e o tapete extravagante que ela havia
comprado era grosso e luxuoso sob suas botinas. Uma coisa tinha que
admitir sobre o barão, não poupava recursos. Encorajou-a a mobiliar sua
nova casa com todo o conforto, insistindo que comprasse qualidade e nunca
se preocupasse com as despesas. Enquanto olhava ao seu redor, notou itens
que não havia comprado, no entanto, pequenos itens de decoração, que ela
acharia frívolos demais para gastar o dinheiro do homem. Estes incluíam
um par de castiçais de porcelana elegantes na lareira e duas estatuetas de
porcelana. A sua garganta deu um nó quando também notou várias lindas
aquarelas emolduradas e que os arcos recuados de ambos os lados da lareira
haviam sido equipados com prateleiras que estavam cheias de livros.
Jemima se aproximou, descobrindo uma maravilhosa seleção de romances e
poesia romântica. Deus do céu. Quão atencioso ele era. Uma onda de calor
surgiu através dela, que se repreendeu por isso. Dessa forma, estaria
correndo perigo.
Jemima conhecia suas próprias fraquezas, sabia que tinha um coração
muito suscetível ao romance, facilmente conduzido a sentimentos ternos.
Quando menina, muitas vezes se perdia em poesias românticas ou contos de
heróis que resgatavam suas amantes de vilões perversos. Há muito tempo
sonhava com seu próprio cavaleiro, em armadura brilhante, como aquele
que se apaixonaria instantaneamente por ela e a salvaria de todos os seus
problemas. A realidade havia esmagado seus sonhos e a trazido de volta à
terra com uma sacudida dolorosa, não podia se permitir cair em tais
fantasias novamente. O barão havia deixado sua posição muito clara. Não
podia oferecer isso a ela. Queria uma companheira inteligente para aliviar
sua solidão, e uma mulher para… para… um rubor tomou conta de Jemima,
que se aproximou mais do fogo, esperando que a Sra. Attwood atribuísse o
seu rubor à proximidade das chamas.
— Bem, isso está esplêndido. — disse a mulher, com aprovação óbvia.
Jemima se virou para encontrar sua acompanhante tirando as luvas e
desamarrando as fitas do seu gorro. Colocou as luvas dentro do chapéu e os
colocou sobre uma cadeira elegante, estofada em seda creme damasco — A
senhorita tem um excelente gosto, Srta. Fernside, embora pude perceber
isso desde a primeira vez que a vi. Acho que ficaremos muito confortáveis
aqui. A localidade é perfeita também. Privado o suficiente para ser ignorado
pelos alcoviteiros e, no entanto, conveniente para a aldeia.
As bochechas escaldantes de Jemima queimaram mais e a senhora fez
um som de desaprovação, balançando a cabeça. Avançou, tomando as mãos
de Jemima em suas próprias mãos. Era um gesto tão íntimo e amigável da
mulher que mal conhecia, que Jemima ficou assustada demais para reagir.
— Porque não chamamos as coisas pelo nome, minha querida. A
senhorita ficará mais confortável comigo se o fizer. A senhorita será a
amante do barão. Não há como fugir disso.
Jemima suspirou assustada e se mexeu para puxar as mãos, chocada
com essa maneira direta de falar. A Sra. Attwood segurou firme.
— Não. — disse, com os olhos escuros atentos — A senhorita vai me
ouvir. Não há vergonha em lutar para sobreviver, Srta. Fernside. Todos nós
fazemos o que devemos e aqueles que nos condenam podem ir para os
diabos, se a senhorita quiser saber. É melhor ser amante de um homem bom
do que servir um exército nas suas costas. A senhorita escolheu bem e não
encontrará nenhum julgamento de minha parte, nem daquela pobre criada.
Fala do seu barão como se ele fosse um Deus Todo-Poderoso e ele lhe disse
para manter sigilo. A senhorita está segura aqui conosco, não vou deixá-la
voltar para casa carregando uma cruz, uma vez que fizer o que tiver que
fazer e não terá como voltar atrás. A senhorita fez sua cama, então pode
aproveitar o conforto do colchão. Pelo menos ele é um homem bonito,
então não deverá ser difícil.
Jemima olhou para ela, e ficou sem palavras por um longo momento.
Depois respirou fundo e soltou algo parecido com um suspiro, depois um
pequeno riso. Deu um leve aceno de cabeça, o máximo que conseguiu, e as
mãos que seguraram a dela se apertaram por um momento e a Sra. Attwood
devolveu-lhe um sorriso caloroso e aprovador.
- Assim mesmo, moça. Agora, vamos dar uma olhada no resto da casa,
sim?

Solo Weston, o sexto Barão Rothborn, pegou seu relógio de bolso e o


comparou contra o relógio da lareira em seu escritório. Faltavam dez
minutos para as cinco horas. A Srta. Fernside deve ter chegado no meio da
manhã. Mancou até a janela, amaldiçoando o clima frio e úmido, que
deixava sua maldita perna dolorosa. Do lado de fora um dia cinzento o
cumprimentava. Nada além de garoa, uma nuvem baixa e enevoada, que se
agarrava às copas das árvores e oferecia uma visão encharcada dos antigos
e belos jardins que cercavam o Priorado. A vista de todas as janelas do
prédio era pitoresca no pior tempo e, embora Solo fosse tendencioso,
mesmo agora, em um dia tão miserável, ainda era o lugar mais lindo de toda
a Inglaterra. Também era inconveniente, tinha correntes de ar, terrivelmente
caro de se manter e mais exigente do que uma amante. Foi para a cadeira
atrás de sua mesa e sentou-se pesadamente, massageando os nós nos seus
músculos da coxa com uma mão e se perguntando se estaria fora do
comportamento aceitável prestar uma visita à Srta. Fernside, naquele
mesmo dia. Certamente, deveria dar-lhe um dia ou dois para se acomodar?
Sim. Dois dias seria prudente.
Exceto que, talvez, dois dias fosse muito tempo. Não queria insultar a
moça, ou que ela acreditasse que ele era indiferente à sua chegada. Então…
amanhã então.
Pegou o livro que estava lendo, com o marcador indicando onde havia
parado. Passaram menos de cinco minutos antes que desistisse, percebendo
que havia lido o mesmo parágrafo três vezes, sem compreender uma
palavra. Que o diabo o carregue. Ele a visitaria hoje, agora, antes que
escurecesse. Apenas brevemente, para se certificar de que tinha tudo o que
precisava. Não ficaria. Não tomaria muito o tempo dela. Simplesmente, se
asseguraria de que tudo estava como deveria estar e providenciaria um
tempo para visitá-la, novamente, quando estivesse acomodada. Após decidir
sobre esse plano de ação, dirigiu-se à porta da frente.
Os criados que permaneceram no priorado trabalharam lá toda a vida,
assim como seus pais antes deles. Não que houvesse muitos. Quando o
barão anterior, o pai de Solo, morreu, a casa foi fechada, enquanto o filho
estava na guerra. No seu retorno, meio enlouquecido de tristeza e dor, estar
rodeado de pessoas fora mais do que poderia suportar. Apenas aqueles que
eram mais próximos foram convidados a retornarem, aqueles que podiam
ser confiáveis, para não falarem sobre o desastre de um homem que voltara
para casa, para lamber suas feridas em privado. A mais importante delas era
a Sra. Norrell, a cozinheira e governanta. Anteriormente, o Priorado teria
tido um exército de criados, a cozinha a lotada de pessoas, mas Solo não
suportava o escrutínio de estranhos e, com apenas ele na residência, parecia
inútil. Então a Sra. Norrell governava o poleiro. Era uma mulher minúscula,
que mal chegava à altura do seu cotovelo, mas governava o priorado de
uma maneira que o Duque de Ferro teria aprovado.
Ela balançou a cabeça quando se deparou com Solo no grande salão,
vestindo seu casaco pesado e pegando seu chapéu.
— Essa sua perna não servirá de nada se sair neste frio, milorde. É
melhor se sentar perto da lareira. A moça ainda estará lá amanhã, quando a
chuva passar.
Solo fez uma expressão gelada para a mulher, que não teve o menor
efeito sobre ela, como ele sabia. Tendo sido uma vez sua babá, lembrava-se
bem de quando trocava as suas ceroulas e de tapas no seu traseiro, por ser
atrevido com ela. Era difícil agir como o alto e poderoso lorde do priorado,
diante de uma mulher que havia dado tapas no seu traseiro e cantado para
ele dormir, como um garotinho catarrento.
— Sra. Norrell, sei que a senhora acha isso difícil de lembrar, mas eu
sou um homem crescido e responsável por minha própria mente e pessoa.
— Sim, e com menos juízo do que quando o senhor nasceu. — disse
impacientemente — Ah, enfim. Faça o que quiser, o senhor sempre fez. Vou
mandar esquentar água para quando o senhor voltar e começar a reclamar
sobre sua pobre perna.
Solo abriu a boca para se opor, nunca reclamou, muito menos sobre a
perna, tentava enganar a mulher, mas a Sra. Norrell voltou para seu domínio
sagrado na cozinha.
— Velha mexeriqueira. — Solo murmurou, enquanto colocava o chapéu
e se dirigia para a porta.
— Eu ouvi isso. — gritou a Sra. Norrell, antes que a porta que levava à
cozinha se fechasse.
Diabo dos infernos, a maldita mulher tinha o ouvido de um morcego!
Havia algo sobrenatural nela, estava certo disso. Solo não era nem um
pouco fantasioso, não acreditava em fantasmas, apesar de algumas coisas
estranhas acontecerem no priorado. Sempre havia uma explicação razoável
para essas coisas, mesmo que ele não conseguisse pensar em uma. No
entanto, a Sra. Norrell tinha um talento incrível para saber coisas, de
conhecê-lo. Nunca conseguiu enganá-la quando menino, e era mais que
humilhante descobrir que nada havia mudado. Como Tenente-Coronel do
15º Dragões do Rei, era conhecido por sua brilhante estratégia militar e, no
entanto, sua maldita governanta o fazia comer na palma de sua mão.
Ainda resmungando, Solo vestiu as luvas, pegou a bengala de onde a
havia colocado e saiu para encarar o frio.
9786599019845

D amas O usadas - L ivro 1

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,


uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Desafiando um Duque
Sonhos de amor verdadeiro e felizes para sempre.
Sonhos de amor são todos muito bons, mas tudo o que Prunella
Chuffington-Smythe quer é publicar seu romance. O casamento a custo de
sua independência é algo que ela não considerará. Experimentou o sucesso
escrevendo sob um nome falso na revista semanal The Ladies, onde seu
álter ego está alcançando notoriedade e fama, a qual Prue gosta bastante.
Um dever que tem que ser suportado…
Robert Adolphus, o duque de Bedwin, não tem pressa em se casar, ele já
fez isso uma vez e repetir esse desastre é a última coisa que deseja. No
entanto, um herdeiro é um mal necessário para um duque e não pode se
esquivar disso. Uma reputação sombria o precede, visto que sua primeira
esposa pode ter morrido jovem, mas os escândalos que a bela, vivaz e
rancorosa criatura forneceu à sociedade não a acompanharam. Devia
encontrar uma esposa. Uma esposa que não seria nem bonita nem vivaz,
mas doce e sem graça, e que com certeza ficasse longe de problemas.
Desafia a fazer algo drástico
O súbito interesse de um certo duque desprezível é tão desconcertante
quanto indesejável. Ela não vai jogar suas ambições de lado para se casar
com um canalha assim como seus planos de autossuficiência e liberdade
estão se concretizando. Se mostrar claramente ao homem que ela não é a
florzinha que ele procura, será suficiente para dar fim às suas intenções?
Quando Prue é desafiada por suas amigas a fazer algo drástico, isso parece
ser a oportunidade perfeita para matar dois pássaros.
No entanto, Prue não pode deixar de ficar intrigada com o ladino que
inspirou muitos de seus romances. Normalmente, ele desempenhava o papel
de bonito libertino, destinado a destruir sua corajosa heroína. Mas será
realmente o vilão da trama desta vez, ou poderia ser o herói?
Descobrir será perigoso, mas poderá inspirar sua melhor história até o
hoje.
**** Atenção: Este livro contém uma seleção cuidadosa de
determinação silenciosa, boca firmemente fechada e níveis (quase)
intransponíveis de tensão. Embora acoplado à presença de encontros
sexuais ocasionalmente descritivos, temos o prazer de destacar que este
livro - e série - não está de modo algum próximo da erótica. ****
9786588382103
D amas O usadas - L ivro 2

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,


uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Roubando um Beijo
O desejo de arriscar e arrebatar a felicidade.
Ser ousada e beijar um homem ao luar é uma boa ideia, mas os homens
e o luar não caem do céu à vontade.
Até aconteça.
Sob instruções de uma amiga, a monótona Alice Dowding permanece
sozinha numa varanda iluminada pelo luar. Não é o curso de ação mais
sensato para uma jovem geralmente sensata. No entanto, sendo sensata,
Alice ganhou um lugar entre as isoladas e sua única chance provável de se
casar, é com um homem que acha repulsivo.
Tinha que fazer algo.
Uma consciência culpada e um homem mau.
Quando a irmã de Nathaniel Hunt implora por um favor, ele
dificilmente pode recusar. Nathaniel, coproprietário de uma das mais
escandalosas casas de apostas em Londres, é responsável pela reputação
destroçada de Matilda, e ela sabe que ele não está em posição de lhe negar
nada.
Ela implora para que ele beije sua amiga tímida em uma noite de luar.
No entanto, uma série de eventos aos quais nenhum deles poderia ter
previsto é desencadeada.
Quando um pequeno favor incendeia um inferno.
Incendiada por um beijo que lhe rouba a alma, a tímida, sensível e
enfadonha Alice, está soltando faíscas por onde quer que seus pés passem, e
tudo o que Nathaniel pode fazer é rezar para que ele não se queime.
9786588382295

D amas O usadas - L ivro 3

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,


uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Quebrando as regras
Um enigma irresistível…
A senhorita Lucia de Feria é possivelmente a mulher mais bonita do
mundo e, sem dúvida, a mais bonita que o visconde de Cavendish já viu.
No entanto, essa beleza misteriosa está tramando algo, algo que
convenceu Cavendish de que seus motivos são menos do que puros.
O visconde não precisa de mais motivação para passar seu tempo na
companhia adorável de Lucia, mas desejo e intriga criam tentações
profanas.
Um amante perigoso…
Lucia não é tudo o que parece ser. Ela tem segredos… segredos pelos
quais um homem a mataria.
Agora, com a vingança em seu coração e uma fortuna em jogo, ela está
perto de ter tudo ou perder a vida.
Mas, em cada curva, o Visconde Cavendish está lá, com o seu sorriso de
pirata e aqueles olhos azuis perversos.
Um círculo ousado de amigos…
Quando um incomum clube do livro traz para sua vida damas
peculiares, Lucia fica encantada e atraída por sentir, pela primeira vez, que
pertence a algo. Entre suas novas amigas e um homem pelo qual corre o
risco de se apaixonar, seus planos começam a dar errado.
Essa linda Senhorita passou a vida inteira desejando vingança, mas
nunca esperou encontrar ao longo do caminho, algo com o qual se
importaria mais.
Lucia não poderia se permitir distrações, amigos ou um nobre
desconfiado. No entanto, de repente, ela tinha os três.
Talvez fosse a hora de quebrar suas próprias regras.

9786588382486
D amas O usadas - L ivro 4

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,


uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Seguindo seu Coração
Um amor perdido …
Kitty Connolly passou toda a última temporada assegurando que seu tio
tem tentado encontrar um marido, mas há um problema que ele desconhece.
Ela já tem um.
É verdade que tinha apenas onze anos quando a cerimônia foi realizada
na presença do cão de sua família, e seu noivo tinha apenas treze anos. No
entanto, os votos foram trocados e, no que diz respeito a Kitty, uma
promessa é uma promessa. Luke Baxter prometeu amá-la até que a morte o
separasse e ele não vai escapar disso.
Os problemas não param por aí, no entanto, pois Luke desapareceu de
sua vida apenas semanas após seu casamento secreto, e Kitty nunca mais o
viu.
Até agora.
As esperanças reacenderam …
Quando Luke aparece do nada na festa na casa de verão do Conde de St.
Clair e anuncia seu noivado com a bela herdeira, Lady Francis Grantham,
Kitty fica atordoada …
… e a honra deve mencionar o problema.
Um coração determinado …
Todo caos se instala quando Kitty ameaça processar por quebra de
promessa e ela tem uma questão de dias para convencer Luke de que sua
namorada de infância vale mais do que a fortuna da Srta. Grantham.
Mas este Luke não é o menino despreocupado de sua infância, e lembrá-
lo do que significa viver por amor, pode significar arriscar mais do que
apenas seu coração.
9786588382776
D amas O usadas - L ivro 5

Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,


uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Apostando um Amor
Gato escaldado…
Harriet Stanhope é inteligente e séria, o tipo de moça que lê Platão e
gosta de longas caminhadas na chuva. Não é adequada para salões de baile
e flerte e acha a temporada uma horrível perda de tempo. No entanto, certa
vez se apaixonou, confiou seu coração a um homem que a beijou e
sussurrou doces palavras… e depois riu com um amigo sobre ter feito isso.
Com o coração partido e humilhada, Harriet jurou que usaria seu
cérebro no futuro e nunca mais confiaria em seu coração estúpido.

Uma paixão não correspondida…

Jasper Cadogan, O Conde de St Clare, está irremediavelmente


apaixonado, por uma mulher que o odeia.
O amável Jasper é bonito, charmoso, simpático e amado pela Ton, o
homem mais elegível no mercado de casamentos, mas não consegue
corrigir o problema com sua amiga de infância Harriet Stanhope. Embora já
tenham sido próximos, Jasper sabe que há alguns anos fez algo que
endureceu o coração de Harriet contra ele, mas, pela sua vida, não consegue
se lembrar do que foi.
Jasper sabe que Harriet acredita que é, na melhor das hipóteses, um
idiota frívolo, e, deslumbrado com seu cérebro superior, Jasper está lutando
para provar o contrário. Determinado a descobrir o que foi que afastou
Harriet dele, usará de meios honestos, ou desonestos, para chegar à verdade.
Uma aposta que arriscará seus corações.
A Dama peculiar Harriet ousa apostar algo que não quer perder e
quando sua amiga de boca grande, Kitty, conta a Jasper, ela reconhece que
está em apuros.
Teimosa demais para recuar, Harriet aceita a chocante aposta de Jasper e
mergulha ambos em um escândalo que arriscará tudo, inclusive a dois
corações.

9786580754267
D amas O usadas - L ivro 6
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,
uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Dez mulheres - dez desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?
Dançando com um Diabo
Uma jovem desesperada para escapar de seu destino.
O tempo de Bonnie Campbell está quase acabando. À luz de ofertas
melhores, seu tutor, o conde de Morven, a está forçando a se casar com seu
primo, Gordon Anderson. A vivaz Bonnie não terá outra opção a não ser
obedecer, condenando-se a passar o resto de sua vida na selva das
Highlands escocesas, longe de seus amigos e de qualquer possibilidade de
diversão. Durante suas últimas semanas de liberdade, no entanto, ela viverá
como se estes fossem seus últimos dias na terra e encontrará a coragem de
mostrar ao homem que ama de verdade, como se sente.
Um jovem determinado a provar que seu irmão mais velho estava
errado.
Jerome Cadogan, irmão mais novo do conde de St. Clair, é um canalha
jovial. Sua aparência, com belos cabelos loiros e olhos azuis, não é
minimamente prejudicada por seu nariz quebrado, sua reputação de
encrenqueiro, nem sua predileção por se apaixonar por mulheres
inadequadas. Recuperando-se de um sermão doloroso proferido por seu
irmão, o conde, Jerome corre o risco de ter sua mesada cortada se não ceder
e mudar seus modos. Determinado a provar que pode ser tão maduro e
sensato quanto St. Clair, Jerome promete parar de beber e se embriagar e
não se meter em mais em encrencas.
Um escândalo em busca de um lugar para acontecer.
Infelizmente, sua querida amiga Bonnie tinha outras ideias.
Cambaleando de um desastre para o próximo, Jerome estava arrancando
seus cabelos e sabia que devia terminar sua amizade, antes que seu irmão
acabasse com ela.
No entanto, a montanha de um homem aparece para reivindicar Bonnie,
e Jerome, que deveria respirar aliviado pelo livramento, acaba descobrindo
algo imperdoável: seu maldito coração se apaixonou pela mulher mais
inadequada de todas.

9786580754267
D amas O usadas , L ivro 7
Dentro de cada jovem tímida e isolada pulsa o coração de uma leoa,
uma pessoa apaixonada disposta a arriscar tudo pelo seu sonho, se puder
encontrar a coragem para começar. Quando essas jovens ignoradas fazem
um pacto para mudar suas vidas, tudo pode acontecer.
Onze mulheres - onze desafios inesperados. Quem se atreverá a arriscar
tudo?

Um desafio que mudaria a sua vida…


A senhorita Ruth Stone, uma herdeira rica, está lutando para realizar o
sonho de seu pai de se casar dentro da nobreza, apesar de seu grande dote.
Ousada, pelas Senhoritas Peculiares, a “dizer algo ultrajante a um homem
bonito”, Ruth se supera e propõe casamento ao herdeiro de um condado.
Uma decisão da qual ela poderia se arrepender.
Antes que pudesse pensar melhor e retirar a proposta, seu belo e
desajeitado futuro marido a empurrou para dentro de uma carruagem e a
carregou para seu castelo remoto e em ruínas, lugar onde ele pretendia dar
um bom uso ao dote dela.
Um casamento ou um negócio…
Ruth não tem ilusões. É uma mulher forte, sensata e não uma donzela
frágil e tem total conhecimento de que seu marido nunca se apaixonará
perdidamente por ela, pois seu casamento é de conveniência; seus filhos
herdarão o título e a legitimidade entre a ton, e ela terá sua própria
propriedade para cuidar, assim como sempre sonhou. No entanto, seu
marido, cabeça-dura e obstinado, desperta seu temperamento e suas paixões
como ninguém jamais antes.
Seu primeiro inverno em Wildsyde está prestes a incendiar o velho
castelo.
A L enda F rancesa dos V ampiros L ivro 1

9786580754854

A verdade pode te matar.


Tirada quando criança de uma vida onde vampiros, Faes e outras
criaturas míticas são reais e traiçoeiras, a bela jovem bruxa, Jéhenne
Corbeaux, fica totalmente despreparada, quando retorna à França rural, para
viver com sua excêntrica avó.
Jogada de cabeça em um mundo que ela não conhece, procura entender
a verdade sobre si mesma, descobrindo os segredos mais chocantes do que
qualquer coisa que ela poderia ter imaginado, além de, também, descobrir
que não é, de forma alguma, impotente para proteger aqueles que ama.
Apesar das terríveis advertências de sua avó, ela é inexoravelmente
atraída pela figura sombria e aterrorizante de Corvus, um antigo vampiro e
mestre da vasta família Albinus.
Jéhenne está prestes a encontrar suas respostas e descobrir que, não só
Corvus é muito mais perigoso do que ela poderia imaginar, mas que detém
muito mais do que a chave para o seu coração…

Confira a emocionante série de fantasia de Emma, elogiada por Kirkus


“Uma série de fantasia encantadora, com uma heroína agradável, intriga
romântica e uma narrativa inteligente que floresce.”
Obrigada, é claro, à minha maravilhosa editora Kezia Cole e a Alison
Wilson, nativa das Highlands, que proporcionou todas as informações
escocesas!
Para Victoria Cooper, por todo o seu trabalho duro, sua obra de arte
incrível e, acima de tudo, a sua paciência interminável!!! Muito obrigada.
Vocês são incríveis!
A minha melhor amiga, assistente pessoal, líder de torcida pessoal e
portadora de chocolate, Varsi Appel, pelo apoio moral, aumento da
confiança e pela leitura do meu trabalho, mais vezes do que eu. Eu te amo
muito!
Um enorme obrigada a todos os membros do Clube do Livro de Emma!
Vocês são os melhores!
Estou sempre muito feliz em ouvi-los; portanto, enviem-me e-mails ou
mensagens :)
Para meu marido Pat e minha família… Por sempre se orgulharem de
mim.
Pela autora:
Comecei essa incrível jornada em 2010 com A chave
para o Erebus, mas não tive coragem de publicá-lo até
outubro de 2012. Para quem já passou por isso sabe que
publicar seu primeiro trabalho é uma coisa assustadora.
Ainda fico nervosa quando um novo trabalho é lançado,
mas, agora esse terror diminuiu um pouco. Hoje o meu
pavor é quando minhas filhas tiverem idade o suficiente para lê-los.
Que horror! (para ambas as partes, suponho) 2017 marcou o ano em
que fiz minha primeira incursão em Romance Histórico e no mundo do
Romance da Era Regencial, e meu Deus, que ano! Fiquei encantada com a
resposta a esta série e mal posso esperar para adicionar mais títulos Sou
muito influenciada pelo belo interior da França onde vivo. Apesar de ser
nascida e criada na Inglaterra, moro no sudoeste francês há vinte anos.
Minhas três filhas lindas são todas bilíngues e a mais nova, de apenas seis
anos, está mostrando sinais de seguir os meus passos após produzir The
Lonely Princess totalmente sozinha.
Um passarinho me disse que o livro dois estará disponível em breve…
Nos acompanhe e fique por dentro das Novidades

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