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Clarke Griffin é uma jovem problemática e egoísta. Ao descobrir que seu pai Kane está
noivo de Abby, decide abusar de suas artimanhas para separá-los durante as férias de
verão na Itália, onde dividirá um teto com seus futuros irmãos. O que ela não sabe é que
Lexa Woods, filha adotiva de Abby, se colocará em seu caminho, disposta a enfrentá-la
para garantir a felicidade de seu pai. Clarke passará por um período conturbado e
cômico de muitas mudanças e escolhas. Perceberá que a vida é bem mais complexa do
que imaginava. Reviravoltas na Itália a levarão a depender de seus inimigos, fazendo-a
se abrir como nunca antes.
Clarke PDV
Falei “encantar”? Espera! Estou começando a falar como a Octávia, saco! Isso é o que
dá ficar tempo demais perto daquela fofolete. Não consegui conter o riso lembrando da
cara da minha prima Octávia quando comecei a lhe chamar de fofolete.
Meu momento de quase alegria foi interrompido pelo barulho de passos firmes e largos
em direção a minha digna pessoa. Virei-me e pude ver a imagem de minha inimiga,
minha perseguidora e desafeto. A garota mais imbecil da face da Terra vindo em minha
direção com um balde de água em suas mãos. Que estranho!
Por um segundo pensei em como poderia descrever aquela criatura sem usar palavras de
baixo calão, deixe-me tentar...
Alta, pernas e braços definidos, cabelos em uma tonalidade estranha de castanho tão
naturais e soltos ao vento, olhos verdes, sorriso irônico, e uma cara de panaca
convencida. Sim, essa é Alexandra Woods em pessoa. Gostou? Fica pra você, esse
tipinho é chave de cadeia.
- Clarke Griffin, sua pirralha mimada, você não sabe com quem se meteu. Só porque
você é filha de Kane, eu não vou permitir que você apronte por aí com todo mundo, se é
guerra que você quer, é guerra que você vai ter! – Lexa falou furiosa, me fitando como
se fosse me estrangular. Ui! Até parece que tenho medo.
- Ah, ah, ah! Que foi LEXAZINHA? Tá com raivinha, é? – Enfatizei bem no
LEXAZINHA, pois eu sei que ela odeia. - Você é forte, mas não é duas, eu encaro!
- Encara isso!
Ela jogou toda a água que havia no balde na minha cara, senti a água entrando pela
minha boca, pelo meu nariz e engasguei sem poder revidar. Estava encharcada, a água
escorria pelos meus longos cabelos loiros bagunçados e minha blusa preta do Bon Jovi
estava colada a minha pele alva. Queria usar toda a minha força para estraçalhar Lexa
Woods, ou melhor, a LEXAZINHA filha da p…
Não, não posso ser burra agora, não depois de tudo que eu fiz. Eu preciso pensar com
cautela, preciso colocar as ideias no lugar, pois se a guerra entre mim e os Woods está
declarada eu preciso de boas estratégias e muita perspicácia.
Subi as escadas que levam ao meu quarto eufórica jogando minha mochila velha para
um canto qualquer do meu quarto, mal consigo acreditar que as aulas finalmente
acabaram e por um milagre, saí do ensino médio. O ensino médio foi um inferno,
porque pra mim…
Entenderam?
Passei quase todo ano vegetando na detenção, e juro que se meu pai Kane não fosse um
bem sucedido médico, dona de uma clínica respeitadíssima em Seattle, eu já teria sido
expulsa do colégio simplório dessa pacata Polis.
Eu não acho que mereci ir para a detenção tantas vezes. Ok, talvez uma ou duas vezes.
Eu não sou uma garota comum. Na verdade, a palavra comum para mim é um insulto.
Eu acho que o fato de eu falar o que eu penso foi a causa de eu ir para a detenção a
maior parte das vezes, é que, simplesmente, não suporto perguntas idiotas, ou não
consigo conter minha personalidade… hum, forte. É, acho que posso definir assim.
Quer um exemplo?
- Merda, Jaha! Justo agora? - Resmunguei e ele me fitou incrédulo, já ficando vermelho.
#Exemplo 2#
Estava na fila do almoço, pronta para passar pra dentro mais uma gororoba gordurosa
qualquer. Estava entediada, daria qualquer coisa por uma cerveja naquele momento, só
para relaxar, vocês sabem.
Atrás de mim estava Mike Newton, o típico colegial sem cérebro que só quer saber de
conquistar menininhas fúteis e sem amor próprio que precisam de alguém como ele para
se sentirem completas acreditando na tolice de amor adolescente. Saco!
- Continua andando, Griffin, eu quero sair dessa fila hoje. – Ele falou impaciente.
- Cara, essa sua calça xadrez é assustadora. – Mike riu baixinho. - Mas, eu acho que o
corpinho dentro dela talvez dê para aproveitar – Sussurrou ele ao pé do meu ouvido
roçando a mão na minha bunda.
De supetão, me virei, encarei aquele sorrisinho prepotente e não pensei duas vezes:
cerrei o punho e com toda a força do meu braço soquei aquela carinha de ninfomaníaco.
Quando percebi, Mike já estava cambaleando com o nariz sangrando.
Rapidamente, peguei o prato de uma menina qualquer que estava próximo a mim e
joguei em direção a Mike. Infelizmente, o pedaço de pizza que estava no prato voou em
direção a Lauren, uma fútil líder de torcida que ficou horrorizada ao ver sua camisa
branca manchada com molho de tomate e queijo. Mesmo conhecendo ela pouco, eu
sabia que ela iria revidar, e foi justamente o que ela fez. Pegou um pedaço de bolo de
chocolate de um rapaz sentado à mesa próximo a nós e veio em minha direção.
Felizmente, ela escorregou no resto de pizza no chão e o bolo voou atingindo uma loira
da equipe de natação que simplesmente odeia as líderes de torcida. Juro que não sei
como, mas em questão de segundos, pedaços de comida voavam por todo o lado no
refeitório, algum palhaço gritou: BRIGA!
Ok, eu sou uma besta. Saí do meu esconderijo justamente nessa hora. Umas 10 pessoas
apontaram para mim ao mesmo tempo, que sacanagem!
- Srta. Griffin. Detenção! – Gritou ele com uma veia nítida pulsando em sua fronte.
- Merda! – Resmunguei.
(...)
É, chega de exemplos! Acho que vocês já entenderam como minha vida estudantil foi
um fiasco. Voltando ao meu quarto, meu refúgio e meu santuário, alguém bate a porta.
Saco!
- Clarke, preciso falar com você. – Foi agradável ouvir a voz do meu pai Kane, mas algo
no tom que usou quando proferiu as palavras “preciso falar com você”, me fez sentir
que algo estava para acontecer, algo nada bom.
Abri a porta do quarto me rendendo à vontade do meu amado pai. Kane não é o tipo de
pai convencional, a menos que seu pai pareça um coroa bonitão.
Kane conheceu minha mãe Rose quando tinha apenas 16 anos. Ela era mais velha do
que ele. Já havia gerado minha irmã Raven, mas isso não evitou que eles se
apaixonassem perdidamente e eu sou fruto dessa paixão, digna de uma obra literária.
- Pode falar, Kane. – Eu não o chamava de pai desde os 12 anos, era estranho os olhares
em minha volta quando o chamava de pai em público. De qualquer forma, eu também
me sentia muito infantil chamando-o de papai.
- Pode falar, PAI. – Ele tentou me corrigir deixando transparecer em sua expressão
facial o seu desagrado pelo fato de não lhe chamar de pai, mas tudo bem, eu já estava
acostumada, ele sempre reagia assim.
- Quero que desça para jantar hoje descentemente. Por favor, não se vista como uma
desleixada. Meus convidados são importantes.
Kane, Rav e minha prima fofolete Octávia, sempre me enchiam o saco criticando o meu
visual descontraído, original e que se falasse provavelmente gritaria `Rock n´Roll´.
Sempre que Octávia me dava um vestido, eu jogava no fundo do closet sem nem mesmo
olhar o presente. Pois tudo que passava em minha mente era a necessidade ridícula que
as mulheres sentem de se produzirem para chamar atenção dos machos da espécie. Pra
mim, parece um costume bárbaro de uma sociedade machista tentando induzir as
mulheres a serem apenas objetos de desejo medíocre de rapazes ignorantes. Eu sei, isso
tudo soa feminista, talvez eu seja, não parei para pensar nisso ainda.
- Eu vou recusar seu convite. – Eu realmente não estava interessada em jantar com os
amigos da alta sociedade de Kane.
- Isso não é um convite mocinha, é uma ordem. - Kane cruzou os braços contra seu
peito. Odiava quando ele fazia aquilo, significava que ele não iria ceder.
Uma das coisas que realmente me tiram do sério é esse namoro de Kane com Abby
Woods. Não sei o que ele viu nessa mulher, ela é tão simples, meu pai merecia algo
melhor. Sempre que eu via Abby e Kane, eu sentia uma ponta de dor que não conseguia
saber de onde vinha. As lembranças de minha mãe sempre se misturavam em minha
mente, algumas poucas memórias dos dois juntos, agarradinhos como um casal feliz
antes da leucemia sugar toda a vida do corpo da minha mãe. Mesmo já tendo passado 7
anos desde sua morte, eu não havia superado por completo essa grande perda. Minha
maior perda… Acho que parte de mim morreu com minha mãe e a parte que ficou se
tornou essa Clarke que todos julgam problemática.
Antes de Abby aparecer na vida de Kane eu o sentia próximo de mim, ele era meu
amigo, meu pai, meu confidente, meu porto seguro. Agora com essa Woods na vida
dele eu sentia que estava sendo colocada em segundo plano, um segundo lugar que é
impossível de aceitar. Eu não sei o que Abby fez com a cabeça de meu Kane, mas agora
ele agia de forma rígida comigo, me colocando limites desnecessários.
- Eu não vou jantar com essa mulher e seus convidados nem morta!
- Clarke Griffin, você descerá para jantar essa noite e irá se comportar como uma dama.
Não vou discutir novamente com você por causa do meu relacionamento. Você jantará
conosco ou pode esquecer seus cartões de crédito.
Golpe baixo.
Bufei, tinha vontade de sair quebrando tudo que via à minha frente. Era insuportável
quando Kane agia como um pai mandão, e eu simplesmente tinha que obedecer como
uma filha submissa.
- O que fazer agora? – Perguntei para mim mesma olhando para o teto tentando conter
minha raiva.
- Tudo bem, chefe, você que manda. Eu vou jantar com vocês. – Kane percebeu algo no
meu sorriso, mas acho que ele preferiu nem perguntar o motivo do meu sorriso.
Passei a tarde inteira me arrumando para esse jantar. Vestia uma calça vermelha larga e
detonada, os meus joelhos eram visíveis através dos rasgos propositais feitos na calça. A
camiseta preta que vestia exibia em letras garrafais pintadas de laranja a palavra
`DANE-SE´. Botas de soldado desgastadas incrementavam a minha fantasia. Algumas
tatuagens falsas que saem facilmente com um pouco de água, adornavam meus braços e,
por fim, meus cabelos soltos, bagunçados e com várias mechas coloridas, me deixavam
exatamente com a imagem que eu queria passar: INSANA.
- Meu Deus, aquele pessoal careta vai enfartar só de me ver! Kane vai morrer de
vergonha e nunca mais vai me forçar a participar desses jantares bregas.
Eu bem sabia como os jantares que Kane promovia eram formais e, o meu visual
somado às minhas atitudes, iam tornar tudo muito divertido, ao menos para mim.
Deitei-me em minha cama dando gargalhadas espalhafatosas e incontroláveis.
- Hora do show. – Falei para mim mesma me obrigando a descer as escadas enquanto
ouvia vozes animadas conversando na sala.
- Oh, vai ter palhaços? - A voz curiosa vinha de um homem grande de porte atlético que
me lembrava a imagem de um grande urso. Ele estava obviamente confuso com minha
aparência.
Para o meu total azar, não havia ninguém da alta sociedade na sala, nenhum amigo
chato do meu pai. Apenas Kane (que a essa altura esfregava o rosto de tanto rir.), Abby,
sua namorada mosca morta, minha irmã Rae, Octávia-fofolete e três jovens (um rapaz e
duas garotas) totalmente desconhecidos que riam abertamente.
- Querida, esses rapazes são os filhos de Abby. – Kane falou colocando um braço em
volta do meu ombro, ainda tentando controlar a risada. – Deixem-me apresentar-lhes a
minha filha. Essa adorável moça de aparência peculiar é Clarke Griffin.
- Oi, sou Alexandra Woods, mas pode me chamar de Lexa. – A garota de cabelos
ondulados e soltos estendeu a mão em minha direção com um sorriso torto,
provavelmente fingindo simpatia.
Não apertei sua mão, virei o rosto para o meu pai, lançando um olhar do tipo “o que está
acontecendo”?
- Aquele é o meu filho mais velho, Lincoln. – Abby sorriu com um estranho orgulho.
Fitei o homem chamado Lincoln que ainda ria por algum motivo. Babaca.
Eu simplesmente não sabia o que falar, não havia me preparado para aquela situação. Eu
nem mesmo sabia que Abby tinha três filhos.
Fitei Rae que estava confortavelmente sentada no sofá com suas pernas cruzadas
sorrindo. Estranho, ela não sorria facilmente.
Apenas três coisas faziam Raven sorrir: Compras, elogios à sua beleza e mulheres
bonitas.
- Muito bem, porque não vamos para a sala de jantar? – Octávia parecia animada ao
falar aquilo, mas porque? Ela exibia seu sorriso infantil e sapeca.
Kane praticamente me arrastou até a sala de jantar, formalmente decorada com a melhor
louça de jantar que tínhamos.
À mesa, todos pareciam relaxados, conversavam entre si como bons amigos. Poxa, eu
acho que perdi algo, pois Octávia e Rae pareciam íntimas dos Woods. Será que demorei
tanto tempo assim para descer aquelas escadas? Eles já haviam se familiarizado
enquanto eu estive ausente? Eu nem tinha certeza se queria saber essas respostas.
Permaneci sentada no meu canto apenas observando, coloquei a minha melhor cara de
poucos amigos e analisei os Woods com cuidado. Ninguém pareceu se incomodar com
meu silêncio ou meus olhares suspeitos. Apenas a garota de cabelos castanhos, me
fitava séria entre um sorriso e outro que lançava para a estúpida Raven que parecia
abobalhada perto daquela estranha.
Octávia –fofolete, que estava sentada próxima a mim, chutou-me por debaixo da mesa.
Clarke PDV
- Aiii… Que fome! – Tentei disfarçar, encarei O. que ria baixinho, o que aquela fofolete
estava pensando?
- Eu vou pedir para os empregados servirem o jantar. – Kane chamou uma de nossas
empregadas que a atendeu prontamente.
Eu só conseguia pensar no chute que O. me deu. O que ela queria afinal? Aproximei
minha cadeira da dela e, sem nenhuma cerimônia, perguntei em um fio de voz que eu
mesma quase não ouvi.
- O que foi?
- O que você pensa que está fazendo, sua terrorista da moda? – Ela sussurrou
contrariada.
-Que?
- Que porra de roupa é essa? Tá querendo assustar os convidados? Se for isso, está
conseguindo. Tenho certeza que vi aquela loira, a Anya, tremer um pouquinho quando
você apareceu na escada.
Eu ri.
- Oh, que ótimo! Você já pode idolatrá-la. – Não resisti, falei sem pensar.
- Eu curso Filosofia, mas estou lá mesmo para jogar Rugby – Disse Anya com um largo
sorriso sem ninguém perguntar… Babaca.
- Você deve ser boa jogando. – Puxou o saco Kane enquanto segurava a mão da sua
namoradinha.
Abby além de ser médica é dona de uma loja sofisticada de lingerie, isso é motivo
suficiente para ela e Raa serem grandes amigas, mas eu acho que é tudo falsidade das
duas. Ri com meu pensamento.
- Vou sim, quero que você me dê umas dicas, estou pensando em abrir uma boutique de
luxo com roupas desenhadas por mim. – Ela sorriu e fitou Lexa.
- E você, Clarke, o que pretende fazer? – Perguntou Abby em uma tentativa estranha de
me incluir na conversa chata.
- Resumindo… Não estudo mais, não trabalho, não faço nada que interesse a vocês e só
vivo para gastar a grana do “papai”. – Respondi irônica.
Juro que ouvi alguém sussurrar “que mala”, mas não consegui identificar a voz.
O jantar finalmente foi servido, eu não estava com fome, mas me forcei a provar um
pouco da sopa. Não tirei os olhos de Abby e Kane que conversavam baixinho. Eu
conhecia meu pai e, pela sua expressão, ele parecia preocupado.
- Espera! Que palhaçada poderia ser pior que esse jantar? Só se você me disser que vai
casar. – Brinquei colocando uma colherada de sopa na boca.
- Isso mesmo!
A sopa não desceu, coloquei tudo para fora em um engasgo. Mesmo atônita, vi Lexa
limpar o olho esquerdo com um guardanapo. Poxa, não tive culpa! Quem mandou ela
sentar de frente pra mim?
Paralisei totalmente olhando para Abby e Kane, enquanto observava todos à minha
volta os parabenizar com abraços calorosos e sorrisos. Minha respiração estava ficando
cada vez mais escassa, por dentro, eu estava aos berros, mas por fora, eu parecia uma
perfeita estátua de museu.
- Por favor, tentem ser flexíveis. – Suspirou Kane antes de continuar: – Abby e eu
planejamos viajar para a Itália e provavelmente passar uns dias na Espanha também,
- Em breve seremos uma grande família, mas não é fácil, já que vocês mal se conhecem,
essa viagem seria um teste, uma tentativa de transição suave de duas famílias distintas
para um só. – Abby parecia confiante em seu discurso.
Será que eu estava tendo um pesadelo? Será que eu morri e fui para o inferno? Então,
cadê o capeta? Porque eu ainda não tinha saído correndo com as mãos na cabeça? Eu
estava entorpecida, talvez em choque.
- Parece uma ideia muito boa, hum, viagem, hum, quem resistiria? – Octávia ia me
pagar caro por aquele comentário. De que lado ela estava?
- Achamos que três meses são o suficiente. – Respondeu Kane relaxando ao ver que a
ideia estava agradando a alguns.
- Não sei se vou poder ir, agradeço desde já o convite. Tenho muitas coisas para
resolver nestas férias, e três meses é tempo demais. – Lexa parecia relutante.
- Não quero nem saber, viagem? Tô dentro! – Esse tipo de afirmação só podia vir de
alguém tão idiota quanto aquela Anya.
Essa seria um boa hora para Octávia me chutar. Eu precisava acordar! Eu precisava
reagir.
SOCORRO!!! MEU PAI NÃO PODE CASAR COM ESSA MOSCA MORTA, EU
NÃO QUERO UMA FAMÍLIA NOVA!!!
- Clarke? Você está bem? – Finalmente Octávia notou meu estado de letargia. Ela pôs a
mão em meu ombro e eu consegui reagir.
Saí correndo da sala de jantar, ouvi meu pai me chamar, mas não dei atenção. Tudo que
eu queria era sair daquele lugar, senti que ia explodir e matar Abby. O meu mundo
estava mudando e isso me deixava aterrorizada. De maneira alguma podia aceitar Abby
Woods como madrasta.
Quatro dias se passaram desde aquele maldito jantar. Foram quatro dias sufocantes em
que discuti várias vezes com Kane. Bem, não sei se discutir é a palavra adequada para
definir isso.
- Por favor, por favor, Kane, não case com aquela mosca morta.
- Já está decidido, Clarke, você vai ter que aceitar. Acho melhor você ir arrumar suas
malas. – Respondeu ele calmo enquanto lia o jornal sentado na cama.
- Não vou nessa viagem com os Woods, eles são muito idiotas e estranhos. Juro que
aquele esquisito, Lincoln (acho que é esse o nome) fuma maconha. Só pode ser,
ninguém pode ser tão lesado assim. E aquela loira aguada? Kane, ela pode ser uma
assassina em série! Ela sorrindo me dá calafrios na espinha. Já a tal da Lexa nem deve
tomar banho, já viu aquele cabelo? Deve ser todo ensebado, meu Deus! – Eu gesticulava
tentando ser persuasiva.
- Aposto que eles tiverem uma boa impressão de você também. – Kane riu baixinho. –
Eu já comprei sua passagem, Clarke, é melhor aceitar e aproveitar a viagem, é uma
ótima oportunidade de aprender italiano.
- SEM CHANCE!
- Você agora só faz o que Abby quer, esqueceu que sou sua filha.
- Boa tentativa, Clarke, eu não caio em chantagem emocional e eu sei que você não
chora. – Falou meu pai jogando o jornal na cama tranquilamente. – Octávia vai sentar
ao seu lado no avião.
(...)
Era noite e Kane oferecia seu último jantar antes da viagem, eu não havia feito mala
alguma, ainda esperava por um milagre ou um plano melhor, pois o meu único plano no
momento era ficar aqui escondida, na escada, ouvindo os murmúrios da conversa entre
minha família e os Woods na sala de jantar.
- Me desculpe pela ausência de Clarke, ela está indisposta hoje. Tenho certeza que
amanhã mesmo antes de embarcamos ela já estará totalmente recuperada. - Explicou
Kane.
Não é fácil fingir que está doente quando seu pai é um médico, mas consegui driblar
Kane e evitar aquele jantar horroroso com os Woods.
Mesmo com vontade de chamar Anya de “babaca” eu só consegui rir, pois foi
exatamente isso que disse ao meu pai para fugir do jantar.
- Fico feliz que tenha aceitado o meu convite, Lexa, sua mãe ficou bastante triste
quando você confessou que não iria. – Kane tinha que puxar tanto o saco dos filhos de
Abby?
- Não se ofenda, Kane, eu apenas não estava muito empolgada com essa ideia de passar
três meses morando com vocês, realmente não fazia parte dos meus planos.
- Ela não quer deixar a nossa a mamãe sem a supervisão dela perto da Clarke. – Falou
Anya em um tom alto demais.
Por alguns segundos a sala de jantar estava mergulhada em um silêncio que atiçou
minha curiosidade.
- Não se preocupem, Clarke não fará nada contra Abby. – Assegurou Kane.
- Desculpe, Kane, Anya só quis dizer que sua filha é um pouco imprevisível.
Hum, é bom saber que eles estão receosos quanto as minhas atitudes, provavelmente
eles acham que eu vou destruir essa tentativazinha ridícula de unir as famílias. Que eles
acham? Que vou enlouquecer Abby? Que vou infernizar tanto a vida deles nessa viagem
que eles simplesmente não vão mais suportar ficar juntos?
ESPERA!
OH,MEU DEUS!
É ISSO!
Quase saí pulando de alegria. Finalmente uma ideia, finalmente um plano, algo que eu
realmente adoraria fazer. Era como abrir a caixa de pandora, eu não iria parar, eu não
iria me importar com as consequências. Apenas iria impedir aquele casamento a
qualquer custo.
Estava distraída demais com o meu plano genial. Quando dei por mim, já ouvia passos
vindo na direção da escada. Droga!
- Não se esqueça, Lexa, o banheiro fica na segunda porta à direita! – Gritou Octávia-
fofolete.
Droga, droga!
Olhei de um lado para o outro procurando um lugar para me esconder. Aquela maldita
Woods não poderia ter escolhido hora pior para usar o banheiro.
QUE SACANAGEM!
- Ai, meu Deus, por favor, não faça isso comigo. Eu prometo que vou ser boazinha,
nunca mais vou mandar vírus por e-mail pra ninguém, nunca mais vou fazer montagem
colocando o rosto da Raven no corpo do Michael Jackson. Eu prometo. – Fazia minhas
orações em pensamento esperando evitar aquela situação, no mínimo, bizarra.
Ela apertou o botão de descarga e abriu a torneira da pia. O som da água só me fazia
relembrar do som de Lexa fazendo xixi. Saco!
Lexa bufou.
- Não acredito que vou nessa viagem. Não acredito que deixei Lincoln me convencer!
- Vai ser um inferno aturar aquela garota mimada. Tudo bem, Lexa Woods você
consegue, sua mãe é mais importante. Você tem obrigação de cuidar de sua mãe e de
seus irmãos. Se aquela pirralha fizer qualquer coisa contra Abby, eu não vou engolir
fácil. – Ela bufou mais uma vez.
Ela enxugou o rosto em uma toalha pendurada próxima a pia e sussurrou para si mesma,
sorrindo.
Revirei os olhos.
Para o meu total alívio, ela saiu do banheiro. Abri a cortina e fui em direção ao espelho
que a pouco ela havia encarado.
- Então, prepare-se, Lexa Woods, você vai ter que engolir muita coisa nessa viagem.
***
Lexa PDV
Eu tentava relaxar na poltrona do avião enquanto Anya tagarelava ao meu lado sobre
umas moças à nossa frente. Sinceramente, não estava nada empolgada com essa viagem,
e olha que adoro viajar, pegar minha mochila, sair por aí sem um destino.
Kane estava bancando todos os custos da viagem, ainda assim, me sentia desconfortável
sempre que lembrava que passaria três longos meses morando com os Griffin.
Eu sabia que minha mãe, Abby, precisava do meu apoio e ajuda e eu não a desapontaria.
Abby sempre foi uma excelente mãe, muito mais do que eu e meus irmãos merecíamos.
Ela nos tirou de um orfanato na Inglaterra e cuidou de nós como se fôssemos seus filhos
biológicos, mesmo sendo tão jovem. Ela nunca nos separou, nunca nos fez sentir
rejeitados pela sociedade. Nós éramos apenas os Woods. Bem, agora seremos os Woods
e os Griffin.
Não me entenda mal, eu gosto do Kane mesmo o conhecendo pouco, mas pelo que pude
perceber, ele é um homem íntegro e disposto a manter um relacionamento sério com
minha mãe. Nunca fui contra qualquer relacionamento de Abby, na verdade, nunca fui
contra nada que ela decidisse.
Mesmo Anya sendo a mais velha entre nós, Abby sempre me considerou a mais
madura. E olha que eu só tenho 21 anos. Ela não era a única a ter essa opinião, os meus
professores da Universidade também.
Confesso que isso chega a ser engraçado, pois os professores acham que eu tenho mais
de 21 e as mulheres pensam que tenho uns 17.
Mulheres. Eu descobri que gostava delas aos 15 anos. São criaturas divinas e fáceis de
agradar. Basta usar as palavras certas, acompanhadas por um tom de voz adequado.
Exemplo:
Desculpe minha falta de modéstia, mas não preciso me esforçar muito para prender a
atenção de uma garota e nem preciso fingir que vou ligar no dia seguinte, já que
geralmente deixo claro que não estou interessada em relacionamentos.
Você pode pensar que eu sempre fui assim, mas está enganado. Extremamente
enganado.
Com 15 anos eu era uma nerd, usava aparelho dental que me impedia de pronunciar as
palavras corretamente, óculos de grau desconfortáveis e minha melhor amiga era Anya,
aliás, ainda é.
Anya nessa época já desconfiava que eu não tivesse interesses em sair com os garotos
da minha idade, então ela queria que eu conhecesse garotas, alegando que eu precisava
experimentar para ter certeza.
Porque isso?
#LEXAZINHA em Polis#
- Entra logo nesse quarto, sua medrosa! – Resmungou Anya me empurrando para dentro
do quarto de Alice McFly, uma loira oxigenada popular no colégio. Ela tinha 18 anos e
me assediou durante toda a festa, obviamente bêbada. Certamente não iria lembrar que
estava dando em cima de uma garota.
O som da música alta no andar inferior estava me deixando ainda mais nervosa, minhas
mãos suavam e meu corpo tremia levemente.
O que eu faria?
Minha garganta queimou, meus olhos quase saltaram para fora e me faltou ar. A garota
bêbada gargalhou.
- Vem cá, LEXAZINHA! – Alice me puxou pelo colarinho da jaqueta jeans e me jogou
contra a parede. Aquilo realmente doeu. O que me apavorava naquele momento era
pensar que perderia a virgindade com uma bêbada que provavelmente tinha algum
distúrbio sexual. Poxa, eu tinha apenas 15 anos.
- Escuta, Alice, você não está muito bem, vamos deixar isso pra depois. – Falei já me
dirigindo a porta, louca pra fugir.
Pois é. Eu fui praticamente estuprada. Não fiz nada direito e não consegui aproveitar
muito minha primeira vez, já que ela gritava ao meu ouvido que eu era uma nerd bicha.
- O que?
- ME BATA, DROGA!
- Então eu bato! – Ela me deu um tapão no meio da cara que ardeu como fogo. É, foi
totalmente brochante.
#----------#
Bem, é melhor pararmos por aqui, acho que já deu pra ter uma vaga noção de porque eu
realmente odeio ter sido a LEXAZINHA.
Após os 17, as coisas melhoraram muito. Passei a sair com garotas sóbrias e
principalmente adotar um visual despojado que eu realmente aprecio. Com o tempo,
ficou fácil me tornar uma mulher sedutora.
- Droga, Anya, sua idiota! O que você está fazendo? – Resmunguei esfregando o rosto.
- Sério, se você tentar me cegar novamente com essa máquina idiota, vou lhe enfiá-la lá
onde o sol não bate.
Ela riu e rapidamente tirou duas camisetas vermelhas com uma bandeira dos EUA
estampada no peito.
- Anya, você sabe que a Europa não fica dentro do EUA, certo? – Não era a primeira
vez que eu me questionava se Anya era burra ou apenas tinha batido a cabeça demais
quando criança.
- Deixa de ser tapada, Lexa, a gente não vai pra Europa, a gente vai para a Itália. – Ela
gargalhou tão alto que todos à nossa volta nos fitaram aborrecidos.
Meu Deus, preferi nem corrigir Anya, seria difícil lhe explicar que Europa é um
continente, quando ela pensa que continente é apenas o nome de um supermercado.
- Com certeza! – Respondi ironizando. – Já que é para chamar a atenção, porque você
não comprou logo uma daquelas cartolas do Tio Sam com muitas estrelas e listras?
- Tipo essas daqui? – Perguntou ela, tirando duas cartolas de dentro da sacola.
Mal consegui acreditar no que meus olhos viam. Cara, o que Anya tem na cabeça?
- Anda, veste logo sua camiseta, Lexa. – Riu Anya, enquanto passava seus braços
grandes para dentro da camiseta.
Pensei em asfixiar Anya com a camiseta, mas como diz aquele ditado...
Anya e eu nos encaramos sérias por um segundo, aquela visão certamente não iria sair
de nossas mentes tão cedo.
- É ITÁLIA, BABY – Nossas vozes saíram como uma só e nossas gargalhadas foram
altíssimas.
- Bebe uma cerveja, ajuda. – Disse Anya, estendendo seu copo. Octávia, para minha
surpresa, aceitou.
- Me responde uma coisa: o irmão de vocês, Lincoln, é assim, sempre tão quietinho? –
Octávia olhou, disfarçadamente, em direção ao meu irmão que estava sentado ao lado
de Raven, próximo ao corredor. SORTUDO.
- Ele é um pouco tímido, ele geralmente só fala se você iniciar a conversa. – Lincoln
sempre foi assim, preso no seu próprio mundinho. Anya e eu por várias vezes tentamos
ajudá-lo a se soltar, mas Lincoln tem muita convicção de sua personalidade, não se
deixa ser influenciado.
- Hum, porque todo esse interesse, hein, mocinha? – Brincou Anya. Octávia
instantaneamente ficou rubra, estava tão constrangida que nem mesmo nos encarou.
Tive que cotovelar Anya. Do contrário, ela prolongaria aquele assunto.
- Não me entenda mal, mas o que podemos esperar dos Griffin? – Não consegui
disfarçar minha curiosidade.
- Bem, o Kane é um amor de pessoa, sempre calmo, sempre prestativo. Logo vocês vão
adorá-lo. Raven é um pouco mimada e bastante vaidosa. Às vezes ela acha que é dona
do mundo. Mesmo assim, ela consegue ser agradável quando quer. Quanto a Clarke... –
Octávia suspirou antes de continuar. – Pode não parecer, mas somos melhores amigas,
aliás, acho que sou a única amiga dela. A loirinha tem todo aquele jeitão antipático,
rebelde, irritante e desbocada, mas no fundo, bem no fundo mesmo, ela é só uma garota
gentil e doce.
Todos nós esticamos o pescoço para conseguir observar Clarke, algumas poltronas à
nossa frente. A descrição que Octávia fez da garota não se encaixava em nada com a
descrição que eu mentalmente já havia formulado. Mesmo assim fiquei curiosa, poderia
Octávia estar certa?
Por incrível que pareça, a garota jogava amendoim em um menino de apenas 6 anos
que, furioso, revidava jogando-lhe também, amendoins.
Exclamei mentalmente.
O casarão tinha dois andares, várias suítes, sala de visitas, sala de jantar, cozinha, salão
de jogos, deck, uma garagem enorme, um jardim florido, piscina gigante, e por fim,
uma sala com vários instrumentos musicais. Quem daquela família poderia ser músico?
A resposta não me importou muito, afinal, eu poderia voltar a tocar nessas férias meus
instrumentos favoritos: piano, bateria e violão.
Finalmente havia desfeito as malas. Organizar minhas coisas no meu novo quarto não
foi tão fácil quanto imaginei.
Deitada com os olhos bem fechados, ouvi o ruído ensurdecedor de aço sendo arrastado
no chão. Rapidamente, levantei-me e me deparei com Clarke tentando arrastar uma
mala tão grande que, seria possível ela caber inteira ali dentro.
- Quer ajuda?
- Sua? AHAHAH. NÃO! – Respondeu ela, ainda tentando sem sucesso, mover a mala.
Revirei os olhos e cruzei os braços para observar até onde ela iria com aquele orgulho.
Clarke suava enquanto empurrava a mala em direção o quarto ao lado do meu. Para a
minha diversão, a mala não moveu um só centímetro. Eu sabia que uma hora ela ia
ceder.
- Nem morta! Quem precisa de roupas, afinal? – Clarke chutou a mala, furiosa. Segurei
o riso.
Naquele momento, ela não pareceu uma grande ameaça à minha mãe. Afinal, ela era só
uma garota de 17 anos que não conseguia carregar a própria bagagem.
- Você é muito fracote, garota, desista. Eu aposto 50 dólares que você nunca vai
conseguir levar essa mala para o quarto sozinha.
Clarke me encarou com olhos semicerrados, seu queixo tremeu um pouco, com nítida
fúria e revolta.
Eu ri.
Achei que ela fosse chutar a mala mais uma vez, ou chutar a mim. Para minha surpresa,
Clarke abriu a mala e rapidamente começou a jogar toda a roupa pelo corredor,
espalhando-as sem se importar. Inclusive, uma de suas camisetas horrorosas, veio parar
na minha cabeça. Em menos de dois minutos, a mala já estava vazia e Clarke a puxava
tranquilamente para o quarto.
DROGA!
- Você me deve 100 pratas, sua Woods burra. – Disse ela rindo, ao entrar no quarto. Em
seguida, bateu a porta com força.
Clarke PDV
O meu primeiro dia na Itália resume-se a roncos, sonhos bizarros de Kane e Abby
casando-se e um pouco de baba no travesseiro. Ainda não havia me acostumado com o
fuso horário e dormi o dia inteiro. No dia seguinte, no entanto, estava bem descansada e
pronta para começar a operação “TERREMOTO”, esse foi o nome que dei ao meu plano
de tornar a estadia dos Woods na Itália um verdadeiro inferno.
Eu observava Octávia decorar seu quarto com cortinas, vasos de flores e um monte de
frescurinhas cor de rosa. A lembrança de Lexa Woods me provocando ao me chamar de
“fracote e pirralha”, só aumentava a minha certeza de que eu precisava afastar os
Woods da vida de Kane, pois jamais poderia aceitar uma sujeitinha daquela como irmã.
Quando sentei-me na cama de Otávia-fofolete, sabia que seria difícil colocar em prática
todos os meus planos e eu precisaria de ajuda, alguém em quem pudesse confiar e
Octávia era a minha única amiga, porém, eu teria que ser muito persuasiva para
convencê-la.
Octávia, que arrastava um puff rosa pelo quarto, parou e me encarou confusa. Ela se
aproximou, sentou-se ao meu lado e segurou minhas mãos carinhosamente.
- Olha, Clarke, eu não sou preconceituosa, mas eu não levo jeito para ser lésbica. Além
disso, somos primas.
Arregalei os olhos.
- Não estou falando desse tipo de amor, sua Fofolete! Estou perguntando se me ama
como amiga! – Disse irritada.
Não era a primeira vez que alguém insinuava que eu era lésbica, e isso me chateava
bastante. Só porque eu não fico por aí de amassos com um monte de caras babacas, não
significa que sou lésbica.
- Ufa, que alívio! – Falou ela sorrindo. – Você sabe que é minha priminha favorita, te
amo de montãaaaaaaaoooo.
- Eu preciso da sua ajuda. É importante! Por favor, me diga sim, me diga sim! Você
promete?
- Preciso da sua ajuda pra tornar a vida dos Woods impossível, quero enlouquecê-los até
eles perceberem que nunca seremos uma droga de família. Então, Kane não casará com
a mosca morta da Abby e o meu pesadelo acaba. Topa? – Coloquei tudo de uma vez pra
fora, já temendo sua reação.
O sorriso de Octávia sumiu dando lugar a uma carranca de mandona que eu já bem
conhecia.
- Clarke, isso é muito egoísta... – Nesse momento tapei os ouvidos, mesmo assim
Octávia continuou com seu discurso que, graças a Deus, não estava entendendo nada
além de um som confuso e sem nexo. -
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///&&%%$%$#$#$# – Tirei as mãos do ouvido para verificar se ela já havia encerrado
seu discurso moralista. – Eles não podem ser tão ruins quanto você imagina, tem que
dar uma chance as pessoas de… – Tapei os ouvidos novamente. Mas ela não cedeu e
continuou:
- IA&%$%A9999898a69696969#2”””"&&%A%A €€®€®®€...
Ela me encarou e seu lábio inferior começou a tremer, ela fez uma cara de quem ia
começar chorar. Fala sério!
- Desculpa, Octávia, é que eu não estou mesmo a fim de ouvir seu discurso agora, eu
preciso de sua ajuda e não de sua aprovação. Você sabe que mesmo que você não tope
ser minha parceira nessa operação, eu não vou desistir. – Eu estava falando sério.
- Não, Clarke! Eu nem conheço direito os Woods. – Ela respondeu cruzando os braços
emburrada.
- Você é minha melhor amiga, precisa ficar do meu lado incondicionalmente, além
disso, eu assumo toda a responsabilidade. E te dou o que você quiser em troca.
- O que eu quiser?
Dá a sua palavra?
Foi fácil para nós conseguirmos as cópias das chaves dos quartos em uma gaveta de
escrivania, no escritório de Kane. Precisávamos saber onde os Woods estavam para ter
certeza de que poderíamos invadir os quartos sem sermos flagradas.
Kane e Abby estavam trancados no quarto, e, Minha Nossa! Nem quero imaginar o que
eles estariam fazendo. ECA! Quando descemos para o andar inferior, notamos que a
casa estava vazia, Octávia me puxou em direção ao jardim e avistamos os garotos
Woods na piscina, acompanhados por Raven, que usava um biquíni desnecessariamente
ousado.
Lexa saía da piscina, usando um biquíni preto. Ela sacudiu o cabelo sorrindo. Seu corpo
era bem diferente do que eu havia imaginado. Não que eu tenha imaginado o corpo
daquela idiota… é… bem… vocês entenderam!
- Sim. Quer dizer, não… é … – Realmente não soube o que responder e isso provocou
risos histéricos em minha prima.
Nós fitamos o rapaz moreno de bermuda e camiseta sentado em uma cadeira de praia,
com os olhos fechados e um livro na mão. TÁ CHAPADO. Pensei.
Anya conversava com Raven e, por um momento, me perguntei que tipo de conversa
aquelas duas poderiam ter, mas a única coisa que pude ouvir foram as gargalhadas
altíssimas de Anya. Aquilo me causou arrepios na espinha, ainda acreditava na
possibilidade de ela ser uma maníaca assassina.
- Acho que é uma boa hora para colocar meu plano em prática – Disse, arrastando
Octávia para dentro da casa.
O primeiro quarto que invadimos, graças às cópias das chaves de Kane, foi o de Anya.
Era uma bagunça, roupas espalhadas pelo chão, revistas diversas jogadas na cama, latas
de cerveja no criado mudo e pesos de musculação encostados em um canto de parede.
Eu ri. Tirei de dentro da sacola plástica que carregava um pote com rótulo impresso com
letras garrafais “PÓ DE MICO”.
- Ai.Meu.Deus! Esse pó vai causar coceiras terríveis neles, eu não vou nem querer ver.
– Disse Octávia com olhos quase saltando pra fora.
- Olha só isso! – Quase gritou Octávia ao tirar de dentro de uma gaveta uma calcinha
com estampa de princesinha. – Aquela Anya, hein?! – Ela girou a calcinha no dedo
indicador e caímos na gargalhada.
A próxima vítima foi Lincoln. Dessa vez, Octávia pareceu empolgada pra invadir o
quarto. Quando entrei, tive que controlar um estranho impulso de sair bagunçando tudo.
O quarto era extremamente organizado, os travesseiros milimetricamente alinhados, a
coxa branca sem nenhuma ruga e livros empilhados cuidadosamente no criado mudo.
Invadi logo o closet, enquanto Octávia lia os títulos dos livros de Lincoln. Por um
momento, me perguntei onde ele escondia a maconha, mas esse pensamento foi
interrompido pela visão de um closet organizado, limpo e com gavetas personalizadas
com etiquetas coloridas, assinalando para quais tipos de roupas eram usadas. As roupas
eram divididas por cores, marcas e até tamanho. Ele deveria ter algum distúrbio
obsessivo por limpeza e organização.
- Temos mesmo que fazer isso? Lincoln não fez mal nenhum a você. – Falou a Fofolete
atrás de mim.
- Não interessa, ele é um Woods, não vou deixar passar! – Falei, já colocando pó de
mico cuidadosamente nas roupas de Lincoln para que ele não percebesse a invasão.
Por último, adentramos no quarto de Lexa, agora, a Woods que eu mais odiava devido à
provocação idiota no corredor, enquanto eu tentava carregar minha bagagem. Ah, ela
pagaria.
Droga, e agora?
Para minha sorte, eu havia trancado a porta quando invadimos, e o tempo que Lexa
levou pra girar sua chave na fechadura, foi o tempo exato para empurrar Octávia
debaixo da cama e me socar lá também. Ouvimos Lexa entrar no quarto. Octávia
parecia que ia ter um troço a qualquer momento, e não era a única. Conseguimos ver
parte das pernas da Woods, ela devia ter vindo direto da piscina. Fiquei chocada quando
vi o biquíni preto cair para seus pés, em seguida, chutou-o para o lado. Octávia soltou
uma risadinha irritante.
TÁ LOUCA?
Que sacanagem! Era a segunda vez que ficava em uma situação constrangedora com
Lexa. Por que isso sempre acontece comigo?
- Vamos, dê só uma espiada. – Mais uma vez sussurrou Octávia me empurrando para
fora, quase me tirando do nosso esconderijo. Eu a puxei com violência para perto de
mim. Nesse momento, o celular de Lexa tocou e ela sentou-se na cama e começou a
papear. Nós ainda podíamos ver sua panturrilha.
- Oi, Finn, valeu por retornar a minha ligação. Sim, cara, eu estou em Verona.
Octávia, que me pareceu muito tarada, começou a cantarolar baixinho no meu ouvido...
- Finn, você ainda esta promovendo aqueles rachas? – Lexa fez uma pausa para ouvir a
pessoa do outro lado da linha. Eu queria sair correndo daquele quarto, e ela conversava
tranquilamente?
- Corre, Octávia!
Eu saí pelo lado direito da cama e Octávia pelo esquerdo, a porta não estava trancada e
isso facilitou nossa fuga. Já fora do quarto, vi a fofolete levar a frase “Corre, Octávia” a
sério demais, pois continuou correndo em direção ao andar inferior. Eu ia segui-la, mas
notei o vazio em minhas mãos.
Retornei o mais rápido que pude para o quarto de Lexa, me joguei no chão e alcancei o
pote embaixo da cama. Já estava saindo pela porta quando ...
- Clarke?
O susto me fez virar e encarar Lexa. Meus olhos arregalaram e o pote em minhas mãos
deslizou para o chão no momento que a vi pelada. Nunca fiquei constrangida vendo
uma mulher pelada, até porque já vi minha prima e minha irmã peladas antes. Mas
agora não sei o que me deu para que eu ficasse incomodada com aquilo.
- O que está fazendo aqui? – Perguntou ela sem o menor vestígio de constrangimento.
Eu sabia, que nunca, nunca, nunca mais aquela imagem da Woods pelada ia sair da
minha mente. Agora, a sessão do descarrego me pareceu ainda mais atraente.
- Aiiiiiii – Gritei quando senti que a porta atrás de mim havia sumido e meu corpo ia de
encontro ao chão. Doeu quando minha cabeça bateu no chão. Pisquei os olhos tentando
me recuperar, Lexa, graças a Deus, já estava coberta com uma toalha. Para meu azar,
suas coxas estavam descobertas. Ela ainda segurava a maçaneta da porta e prendia o riso
com aquela cara de panaca.
- Eu.. eu... tava... eu... – Merda! De onde veio essa gagueira? Queria me chutar, mas
tudo que consegui foi inventar a mentira mais deslavada que já contei. – Eu vim
perguntar se vocês vão sair essa noite... É isso! Entrei sem bater e vi que você não
estava. Aí... aí... hum...
Gagueira de novo, não! Ver as coxas de Lexa desnudas só fixava ainda mais na minha
mente a imagem dela pelada... Vou ter pesadelos... Ou não. Não importa!
Disfarçadamente, encobri o rótulo com a mão e, com o sorriso mais amarelo que dei na
minha vida, respondi.
- Ah... ah... E pra que você quer isso? – Perguntou ela mais uma vez me imitando.
Cara, porque eu ainda estou deitada e servindo de piada pra essa jumenta?
***
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH
Fofolete e eu nos encaramos já sabendo o motivo do grito que vinha de um dos quartos.
Lexa PDV
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH – Gritei em
desespero sentindo todo o meu corpo pinicar como se estivesse sendo perfurado por
agulhas minúsculas, fazendo-me ter uma correria que jamais senti em toda a minha
vida! Saí do quarto ao ouvir mais gritos e corri em direção a sala, em busca de ajuda.
Pude, então, perceber que mais duas pessoas corriam atrás de mim com gemidos sem
nexo!
Só quando cheguei na sala, foi que percebi o que se passava atrás de mim.
- EU SEI, CARA, NÃO ESTÁ VENDO QUE EU TAMBÉM ESTOU SENTIDO ESSA
MALDITA COCEIRA? – Berrei atordoada por sentir minhas partes íntimas pinicarem.
Foi uma sensação horrível. Eu não estava suportando, ia coçar ali mesmo na frente dos
meus irmãos, mas meu plano foi por água abaixo quando chegaram Clarke e Octávia,
que vinham da sala de jantar. Abby, Kane e Raven desciam as escadas assustados com
os gritos.
Ferrou! Ia ter que suportar a coceira nas minhas partes íntimas. Me contorci o máximo
que pude, tentando aliviar minha situação.
Octávia estava com uma cara estranha, como se fosse chorar a qualquer momento.
Estávamos em um estado tão deplorável assim a ponto de fazer alguém chorar? Ou rir?
Porque Clarke estava quase ficando roxa, por estar prendendo uma gargalhada, que seus
olhos arregalados não disfarçavam. Eu me contorcia, Lincoln pulava e Anya se coçava
nas paredes. Parece que sentimos a coceira se intensificar ao mesmo tempo, tornando-se
insuportável.
Era isso, só podiam ser as roupas! Porque só comecei a sentir a coceira dos infernos
após ter me vestido.
Ele tinha razão, a coceira não diminuiu. Anya, em puro desespero, saiu correndo em
direção ao jardim. Todos nós a seguimos, só para vê-la pulando na piscina. Minha mãe
colocou a mão em seu peito, achei que ela fosse ter um infarto. Felizmente, Anya
gritou...
Lincoln e eu não perdemos tempo e também nos jogamos na piscina. Pareceu um sonho
quando a coceira sumiu, nunca me senti tão aliviada.
***
Eu estava pronta para descer pro jantar, quando esbarrei com meus irmãos no corredor.
Nós chegamos à conclusão que algo nas roupas provocou o ataque de coceira e, por
isso, todos nós agora vestíamos roupas emprestadas de Raven e Kane. Elas couberam
perfeitamente em mim, mas não podia dizer o mesmo dos meus irmãos. As roupas de
Kane ficaram um pouco largas em Lincoln e as de Raven ficaram justas em Anya.
Tenho que confessar, Anya ficou muito engraçada com roupas tão apertadas.
Quando chegamos à sala, avistei Clarke jogada no sofá, olhos fechados e Octávia ao seu
lado, lhe abanando com uma revista.
Passei o jantar inteiro com uma pergunta martelando em minha cabeça: o que causou a
coceira? Eu não sabia, mas podia apostar que havia um dedo de Clarke nisso, pois ela
me encarava satisfeita. Bem, a palavra satisfeita não faz jus à expressão em seu rosto.
Ela mais parecia delirando de felicidade. Todos esses pensamentos se esvaíram quando
Nos dividimos em dois táxis. Os nossos veículos ainda não haviam chegado dos EUA.
No primeiro táxi, fomos eu, Raven e Anya. No outro, foram Clarke, Octávia e Lincoln.
O Pazzo Club era muito popular em Verona. Estava lotado e quase não conseguimos
entrar. Eu estava animada, a noite prometia surpresas agradáveis e não via a hora de
tomar uma boa dose de vodka com soda. Raven com sua simpatia nos conseguiu uma
mesa perto da pista de dança. Eu já havia percebido que ela era do tipo que sempre
conseguia o que queria.
O DJ era muito bom, o som era contagiante e eu já estava louca para cair na pista de
dança para liberar todo o estresse.
- Vai com calma, Anya, não vamos exagerar. Kane deixou bem claro que somos
responsáveis hoje por toda essa pirralhada. – Sussurrei no ouvido da minha irmã.
- Relaxa, Lexa! Tudo sob controle. – Respondeu ela, sinalizando com o polegar para
cima.
- Vê se sorri um pouco, Clarke! Essa sua cara de pitbull está espantando os gatinhos. –
Pediu Octávia. Eu quase ri, presa no pensamento de que Clarke espantava os homens
com qualquer cara que ela fizesse.
Clarke estava carrancuda novamente. Ao que parece, sua crise de riso havia ido embora
completamente. Afinal, ela deveria estar mesmo odiando a nossa companhia. E pra falar
a verdade, eu pouco me importava.
- VAMOS DANÇAR! – Gritou Raven para que todos entendessem, pois a música
estava muito alta.
Nós, os Woods, e as garotas Griffin entornamos toda a bebida que havia nos copos, com
exceção, lógico, da garota mais antipática do mundo: Clarke Griffin. Nos levantamos
animados para nos esbaldar na pista de dança. Não sei por que dei atenção a isso, mas,
pela minha visão periférica, vi Octávia tentando arrastar Clarke para nos acompanhar.
Felizmente, a garota anormal se recusou e ficou lá, sozinha na mesa.
Pulamos, agitamos e curtimos por cerca de 40 minutos. Então, percebi que minha sorte
começava a voltar quando uma música romântica começou a tocar, “Black Balloon, The
Minha mão estava na cintura esbelta dela, seus braços em volta do meu pescoço. Não
precisei aproximar meu corpo, ela mesma colou seu atraente corpo contra o meu. O
clima estava aumentando, nossos corpos mexiam-se no mesmo ritmo. Raven me fitou
com seus olhos castanhos em expectativa.
É agora! Pensei, aproximando meu rosto da minha nova “rainha da beleza”. Seus lábios
vermelhos já esperavam os meus, entreabertos, então...
- É Anya, ela não quer sair daquele cubículo. – Respondeu meu irmão, apontando para o
único cubículo fechado.
- Eu fui paquerar uma garota no bar. Quando me sentei… a costura da calça apertada de
Raven cedeu e minha bunda está quase toda à mostra.
- Cara, sai daí pra nós vermos. Talvez não esteja tão ruim assim. – Interviu Lincoln.
- Deixa de ser idiota, Anya, você não vai poder ficar aí para sempre. – Falei batendo
novamente na porta.
- CARA, SAI LOGO DAÍ! SE NÃO SAIR, NÓS VAMOS ARROMBAR ESSA
PORTA. DEIXA A GENTE VER SUA BUNDA! – Gritei.
- Oh, não, não… Não é nada disso que a senhora está pensando! – Disse constrangida.
- Ela é nossa irmã, a gente só quer dar uma espiadinha! – Completou Lincoln. Isso fez a
senhora arregalar os olhos e sair quase correndo, certamente o Lincoln sendo homem
dentro do banheiro assediando uma mulher agravou ainda mais a situação.
- Sai logo, não vou passar a noite toda aqui! – Reclamou Lincoln.
- Prometemos.
Anya saiu cabisbaixa do cubículo e, lentamente, virou-se para nos mostrar seu “pequeno
acidente”. O que posso dizer? Não era nada pequeno, era um rasgo enorme na bunda,
deixando à mostra uma calcinha com estampa de princesinha. Lincoln e eu nos
encaramos. Sabíamos que iríamos apanhar de Anya, mas a gargalhada foi impossível de
controlar. Demoramos cerca de um minuto para nos recuperar. Anya continuava
cabisbaixa.
- Tudo bem, tudo bem. Não é o fim do mundo. Eu tenho um plano. – Falei calma,
tentando contornar a situação.
- Que plano? Tirar toda a roupa dela e dizer que ela é um stripper com essa calcinha de
princesinha? – Brincou Lincoln.
- Não. É o seguinte, Lincoln, você vai ao bar e traz uma garrafa de tequila e uns copos,
Anya bebe algumas doses, o suficiente pra ela ficar desinibida, daí podemos sair daqui.
Afinal, já vi Anya bêbada fazer coisas piores do que sair por aí com a calça rasgada. –
Respondi, me sentindo um gênio.
Não demorou até que Lincoln voltasse. E para a sorte de Anya, o banheiro permaneceu
vazio. Anya esvaziava os copos de tequila que nós os servíamos.
- Ei, já que estou aqui enchendo a cara, vamos fazer um brinde? – Perguntou a bizonha
da minha irmã.
Dei de ombros. Afinal, a noite não podia piorar. Nós enchemos três copinhos e os
erguemos no ar.
***
Clarke PDV
Eu estava muito P... da vida. Não havia me conformado com o fato de Kane ter
colocado a idiota da Lexa como responsável por nós, como se eu precisasse de um
responsável. Como se eu precisasse de proteção. Ridículo.
Todos haviam sumido na pista de dança. Eu estava entediada na mesa, bebendo minha
cerveja como se fosse água, na tentativa de me anestesiar. Era um saco ficar vendo
casais se esfregando na pista de dança. Qual era a graça afinal, ficar com caras que nem
lembrariam seu nome no dia seguinte?
- Tudo bem, percebi o lance entre você e a moreninha baixinha. Eu não me importo,
curto uma lésbica. – Disse ele, tocando meu cabelo.
- Cai fora, King Kong! – Falei, levantando-me para dar o fora, já perdendo a paciência.
O palhaço segurou meu braço com força. Avistei Octávia e Raven a poucos metros de
mim, pálidas, achando talvez, que eu não dava conta do grandalhão. Elas estavam
enganadas.
O King Kong gemeu, colocando as mãos no nariz. Só aí, vi mais quatro grandalhões
mal encarados aproximando-se de nós.
Oops!
***
Lexa PDV
Anya já estava bem zuada, e nós já podíamos sair do banheiro. Eu estava louca para
retornar a minha dança com Raven, não queria mais momentos constrangedores naquela
noite.
Corremos para fora do banheiro e, ao longe, já podíamos avistar Clarke, cercada por
cinco homens grandalhões.
Ela parecia os xingar, peitando-os como se fosse páreo para eles. Quem essa pirralha
pensa que é? Um leão?
- Tudo bem, eu vou resolver isso, fique aqui com Raven. Eu mesma vou matar Clarke. –
Resmunguei para Octávia indignada por saber que Clarke havia aprontado.
- É, sai fora, Woods, eu dou conta desses King Kongs! – Gritou Clarke. A encarei
furiosa. Que garota mal agradecida! Mas eu não podia deixar ela ali, Kane me
responsabilizaria.
- Vamos embora! – Falei, puxando-a pelo braço, mas foi inútil, já que o grandalhão
mantinha suas mãos no outro braço dela.
- Aí, cara! Solta a menina! – Disse Anya, e eu sabia que ela ia avançar no homem a
qualquer momento.
- Ela vai ficar comigo, vocês são burros ou o que, seus americanos frangotes?
A confusão estava armada. Tudo aconteceu tão rápido que eu não conseguia assimilar
todos os fatos. Socos e chutes foram trocados entre nós e eles, que estavam em
vantagem numérica. Garrafas voaram e uma delas acertou minha cabeça, abrindo um
pequeno corte. Anya jogava um dos italianos contra uma mesa, Lincoln se esquivava de
um soco e eu juro que vi Clarke pendurada nas costas de um cara, lhe batendo com uma
garrafa. Peguei uma cadeira e acertei o sujeito careca prepotente que revidou, me dando
um soco no estômago. Não sei de onde Anya surgiu, mas o chutou entre as pernas. Dois
idiotas agrediam Lincoln. Me joguei em um deles e o espanquei com força. Sem querer
me gamar, mas eu realmente era boa de luta. Ouvia ao longe os Gritos de Raven e
Octávia que imploravam pra que parássemos. Ainda bem que elas não se meteram na
confusão, ao contrário da insana da Clarke que, mesmo pequenina, engatinhava no chão,
fugindo das garrafas. Então, mordeu a perna de um cara que estava preste a me atirar
uma cadeira.
Resultado da briga: Eu, com corte na cabeça e vários hematomas. Lincoln, com um olho
roxo e a camisa rasgada. Anya, despenteada, com a calça rasgada e com o lábio cortado.
Clarke, com um corte no braço e o supercílio ferido. Raven e Octávia, com a
maquiagem borrada de tanto que choraram, e todos nós jogados no chão da cela de uma
- Porque estão aqui, hermanos? – Perguntou o homem que aparentava ser latino ao meu
lado, em uma mistura de nossa língua com espanhol. Ele vestia uma jaqueta velha de
couro, uma calça frouxa e um lenço vermelho amarrado na cabeça. O cara ao lado dele,
que usava um chapéu de cowboy sorriu simpático para mim. Ele também tinha um
fisionomia latina.
- Entramos numa briga! – Respondeu Anya, sorrindo. Ela era a única pessoa que eu
conhecia que conseguia ficar feliz com uma briga.
- Acho que sim, pois os caras em quem nós batemos, ficaram bem piores que nós. –
Respondeu Clarke, se intrometendo na conversa.
- Foi la danadita que nos colocou aqui. – Respondeu um deles, alisando o bigode.
- La danadita? Será que posso conhecê-la? – Perguntou Anya sorrindo. Deveria estar
ainda sob o efeito da tequila.
NARCOTRAFICANTES. Constatei.
- Como ela coube dentro da mala? - Perguntou Anya. O que eu podia fazer? Baixei a
cabeça, lastimando por ter a irmã mais burra do mundo.
- Woods e Griffins, já podem sair, seus pais estão aqui. – Avisou o policial, abrindo a
cela.
- Nós vamos nessa! – Falei, apertando as mãos dos colombianos, enquanto via as
garotas Griffin e Lincoln saírem rapidamente.
- Poxa, vocês são tão gente fina, meus hermanos! - Disse Anya, ainda bêbada,
abraçando os narcotraficantes. Eu a puxei, enquanto ela gritava melancólica. – Eu
encontro vocês, compadres, quero conhecer la danadita.
EU MEREÇO?!
- Fazem apenas alguns dias que estamos na Itália. Alguém pode me explicar como
vocês já conseguiram ser presos? – Perguntou Kane, altivo, com uma expressão
incrédula.
***
Clarke PDV
Percebi que eles estavam me culpando pela briga. Tudo bem que eu havia enfiado a mão
no King Kong, mas foi altamente necessário. O rosto de Kane estava rígido, eu sabia
que levaria uma tremenda bronca, mesmo sendo uma bronca injusta.
- Gente, calma aí, sempre existe um motivo para esse tipo de coisa acontecer. – Sorri
amarelo.
- Espera! – Gritei, levantando-me. – A LEXAZINHA ali não vai levar culpa alguma?
Afinal, ela também socou o King Kong, toda sensivelzinha por ter sido chamada de
frangote!
Anya parou de falar colocando as duas mãos na boca, tampando-a quando recebeu um
olhar assassino da irmã.
Hum, havia alguma coisa de bom ali. Lexa deveria odiar ser chamada de LEXAZINHA.
Mesmo eu não sabendo o motivo, ia usar aquilo ao meu favor.
- Ela tem razão, Kane. A culpa de tudo foi absolutamente minha, pois você me deixou
responsável pelas garotas menores de idade, e eu falhei. Me desculpe.
HEIN?
É AGORA, KANE VAI BRIGAR COM ELA, ABBY VAI BRIGAR COM KANE E EU
VOU VIVER FELIZ PARA SEMPRE.
- Tudo bem, Lexa, não se preocupe. O importante é que estão todos bem, e os
ferimentos não são graves. – Falou meu pai, colocando uma mão no ombro da Woods.
Eu ia explodir, não era possível que Kane fosse bancar o paizinho compreensivo para
aquela retardada.
Eu fiquei tão sem ação que me sentei, olhando os dois que pareciam muito amigos.
Como isso foi acontecer?
-Só houve uma coisa que me preocupou mais do que o fato de vocês terem sido presos.
– Afirmou Kane.
Eu não agüento!
(...)
- Tão gostosa... – Lexa sussurrou no meu ouvido, grunhindo enquanto deu um impulso
com seus dedos dentro de mim.
Me agarrei a ela com os dois braços e as pernas, joguei a cabeça para trás em prazer
contra o travesseiro. Uma das suas mãos que não estava sendo usada na minha parte
íntima afagou levemente meus cabelos. A sua outra mão saiu da minha intimidade e
deslizou entre nossos corpos suados ao puxar meu clitóris já inchado.
- Lexa... – Gemi novamente, esticando meu pescoço para pressionar nossos lábios. A
estocada que ela deu nos fez gemer mais alto.
- Cruzes! Que sonho mais bizarro foi esse? – Sussurrei, colocando a mão no peito e
implorando para minhas pernas pararem de tremer. Então, me dei conta de que tudo não
passava de um sonho sinistro.
Só o que me faltava agora era ter sonhos eróticos com Lexa Woods! Ainda mais ela
sendo uma mulher e eu nem sou lésbica!
“Near, far, wherever you are (Perto, longe, onde quer que você esteja)
Coloquei rapidamente um travesseiro nos meus ouvidos numa tentativa de fugir daquela
cantoria horrível. Infelizmente, a cantoria continuou.
Once more, you open the door (Uma vez mais, você abre a porta)
- Ah, meu Pai! Quem é essa mala cantando a essa hora? E que Droga, logo essa música
tenebrosa do Titanic que eu ODEIO! – Falei, me debatendo na cama e pegando o
relógio no criado mudo que marcava 7:00hs.
Levantei furiosa e escancarei a janela do meu quarto, me inclinando para fora, só para
me deparar com Anya, ao pé de sua janela que fica vizinha à minha, ao meu lado
esquerdo, movimentando os braços, com olhos fechados e grunhindo feito um porco.
Eu não mereço, cara, eu devo ter jogado pedra na cruz com um estilingue.
- Once more, you open the door (Uma vez mais, você abre a porta)
Breve ela não terá coração algum se não parar de cantar essa porcaria.
Virei a cabeça para o lado direito, onde a janela do quarto de Lexa estava aberta.
- Droga, Clarke, são 7:00hs da manhã, para de gritar! – Respondeu ela colocando a
cabeça para fora, sonolenta e com cabelo bagunçadíssimo.
- Diz isso pra bizonhenta da sua irmã. Faz ela parar de berrar!
- O que foi, Griffin, não gosta de música? – Perguntou ela com aquele sorriso torto,
filha da mãe.
- Chama isso de música? Parece o som de alguém sendo esquartejado! Faz esse animal
parar! – Reclamei.
- Ei, não chame ela assim! Só eu posso fazer isso! – Falou ela chateada, colocando ainda
mais o tronco para fora da janela. Vestia uma blusinha de seda com um decote muito
sugestivo. Por um momento, lembrei do sonho que acabei de ter com a Lexa. Senti
calafrios, tentei tirar aquilo da minha cabeça, mas o corpo dela só incentivava a minha
memória.
- O que?
- Tem alguma chance de você… bem… de você ser… – Não consegui terminar a frase.
Ela iria rir de mim pelo resto da minha vida.
- Nada não!
Juro que ao ouvir a palavra LEXAZINHA, o olho esquerdo dela tremeu em nítido ódio
e eu adorei.
- Não me chame assim, por favor. – Pediu ela uma com voz rouca.
- Você que pediu, pirralha... – Ela bufou e, para o fim da minha sanidade mental,
começou em alta voz.
- Near, far, wherever you are.I believe that the heart does go on...
SACANAGEM!
Rosnei querendo esganá-la, voltando para a cama, enquanto podia ouvir as duas garotas
mais antas da história humana cantando...
- Once more, you open the door (Uma vez mais, você abre a porta)
Por fim, desisti de ser racional e saí do quarto, marchando em direção ao quarto de
Lexa. Bati na porta com as duas mãos, com toda a minha força e por várias vezes.
- O que está havendo? – Perguntou meu pai, saindo de seu quarto com Abby ao seu
lado, provavelmente verificando o barulho que eu produzia e que, ainda não havia
parado de produzir. Finalmente, Lexa abriu a porta risonha.
- Essa retardada não me deixa dormir! – Afirmei, apontando para o motivo do meu ódio.
- Vocês não percebem que estão agindo como crianças no jardim de infância? – Sua
expressão parecia preocupada, mas não dei importância.
- Criança é ela, que fica cantando na janela só pra passar atestado de débil mental. –
Respondi cruzando os braços.
Kane alisou seus cabelos castanhos e com uma voz pacífica, perguntou:
- Eu não entendo todo esse desafeto, os outros estão se dando muito bem, se
familiarizando, exceto vocês. Tem que haver uma solução, uma terapia ou coisa assim.
– Kane colocou uma mão no meu ombro e outra no de Lexa.
- Espera, eu acho que tem algo que pode ajudá-las, Kane. – Disse a mosca morta, se
achando esperta. – O problema aqui, é que vocês não estão vendo o lado da outra,
precisam se colocar na posição da outra. Assim, poderão ser flexíveis e a convivência
poderá ser tolerável.
- Vou explicar da forma mais simples possível. Clarke, você será Lexa por 24 horas. E,
Lexa, você será Clarke. (N/A: vai dar merda!)
O QUÊ?
Abby passou cerca de 30 minutos tentando nos convencer a aceitar seu plano bizarro.
Pensei que Lexa não fosse ceder, mas o que aparentou foi que ela simplesmente não
conseguia dizer não para a mosca morta. Comigo foi diferente, me mantive em posição
de defesa, nunca iria ficar 24 horas fingindo ser uma tapada como Lexa, mas no final,
Kane fez sua tão famosa chantagem “sem cartões de crédito” e eu acabei aqui. Na frente
do espelho do meu quarto, analisando a visão apavorante de mim vestida com roupas
formais, emprestadas de Raven (bem estilo que Lexa usaria), fingindo ser a própria
Woods.
Já que eu estava sendo obrigada a fazer aquilo, ia fazer bem feito, expondo para Lexa,
todos os seus defeitos irritantes. Ia ser moleza. A calça preta ficou frouxa e horripilante
em mim, camisa social azul de gola com as mangas dobradas até os cotovelos, sapatos
pretos de uma grife qualquer e, por fim, a característica principal de Lexa. Seu cabelo
solto e bagunçado.
Lexa PDV
Eu tinha medo de ser assaltada pela garota refletida no espelho. Eu mais parecia uma
delinquente. Tive que cortar uma das minhas calças jeans, deixando as panturrilhas à
mostra. Detonei a calça o máximo que pude, bem estilo Clarke. Achei uma camiseta
velha larga do Guns’n Roses, puxei para cima as meias brancas até a altura do
tornozelo, calcei um tênis preto e enfiei um boné vermelho na cabeça. Sim, eu era uma
versão masculina de Clarke.
Por um segundo, imaginei como seria engraçado expor os defeitos irritantes de Clarke.
Isso sim iria ser divertido. Saí do quarto, me preparando para um dia sinistro, graças a
péssima ideia da minha mãe. Infelizmente, não consegui lhe dizer “não”, ela me lançou
um de seus olhares de cortar o coração. Abby é uma pessoa muito generosa, e eu faria
tudo para vê-la feliz, inclusive ser Clarke Griffin por um dia. Quando coloquei um pé no
corredor, percebi que Clarke também estava saindo do seu quarto. Ela estava muito
engraçada e com a cara vermelha de raiva. Mas o que era aquilo na cabeça dela? Minha
nossa!
Prendi o riso. O cabelo da Clarke mais parecia um ninho e nunca a vi tão engraçada.
- Olha só a sua roupa, você nem parece mais uma almofadinha. – A coisinha irritante
gargalhou.
- Isso era pra ser um elogio? – Perguntei já caminhando pelo corredor, mas não do meu
jeito, e sim do jeito que Clarke anda.
Ela passou por mim batendo no meu ombro com violência, descemos as escadas quase
juntas e estaguinamos ao sentir que éramos o centro das atenções.
- Nós já sabemos da ideia da mamãe, Lexa. Como se sente sendo uma garota de 17 anos
novamente? – Perguntou Lincoln prendendo o riso.
- Está vindo muitas piadas ao mesmo tempo... – Berrou Anya, com as mãos na cabeça
revezando olhares entre mim e a pirralha ao meu lado. – Está vindo muitas piadas ao
mesmo tempo, minha cabeça vai explodir!
- Pode fazer suas piadinhas sem graça, Anya. - Clarke Falou imitando uma voz rouca
que com certeza não parecia a minha. – Faça piadas, que vou fingir rir porque não tenho
coragem de dizer na sua cara o quanto você é burra!
Fiquei pasma.
- Se rirem de mim, eu vou bater em todo mundo até a morte. Porque eu realmente acho
que tenho força pra isso no meu mundinho egoísta chamado Clarkolândia. – Contive a
risada.
- Eu adoraria ter entendido sua piada, Clarke, infelizmente eu não tenho cérebro
suficiente para isso. Porque eu uso o meu único neurônio tentando “pegar” sua irmã só
para depois jogá-la fora. – Provocou a pirralha, dando um tapa na bunda de Raven que
arregalou os olhos.
- Eu tenho uma confissão a fazer. – Todos pararam pra ouvir, inclusive Clarke. – Esse
meu jeito implicante, infantil e violento é porque eu tenho uma enorme carência sexual.
Lincoln, por favor, pode me ajudar com isso?
Vi Lincoln corar envergonhado. Já, Clarke, não estava corada, ela estava era ficando
roxa de ódio e eu temi que ela revidasse. Kane e Abby aproximaram-se rindo de nossas
aparências, e percebi que algo de ruim ia acontecer, quando Clarke segurou a mão de
minha mãe.
- Mãe, preciso lhe contar um segredo. – Falou Griffin imitando minha voz.
O QUÊ?
- Caraca, Lexa, você me enganou direitinho com essa sua cara de ativona.
À noite, todos saíram para jantar fora, Clarke e eu recusamos por motivos óbvios:
nossas aparências bizarras. Ela estava sentada no sofá da sala vendo TV e eu já sabia o
que ia aprontar para provocá-la.
Clarke PDV
Eu tentava assistir TV, mas estava chateada demais para conseguir me concentrar em
qualquer coisa. Tudo que eu queria era que o restante das 24hs acabasse logo, já não
suportava meu cabelo e, principalmente, as piadinhas bobas de Lexa sobre mim. No
entanto, o que foi mais engraçado foi ver a cara dela quando disse à sua mãe que “eu”
tinha um caso com um cara casado, ou melhor, a LEXAZINHA disse. IMPAGÁVEL!
Sobressaltei ao sentir um corpo se jogar contra o meu, em um abraço violento, que nos
fez cair no chão. Só aí percebi que era a retardada da Woods.
Fiquei tão chocada que não movi um só músculo, apenas fiquei observando-a gargalhar.
Nunca fiquei tão próxima a Lexa o suficiente para notar o quanto seu corpo era quente,
ou quanto ela era forte e, muito menos, que seu hálito tinha cheiro de menta.
- Você deveria perguntar o que a Clarke está fazendo. – Respondeu ela com o sorriso
torto de filha da mãe.
- Sai de cima de mim, imbecil! – Falei, tentando tirá-la de cima do meu corpo, mas era
difícil, já que ela era maior que eu.
- Lexa, estou fazendo exatamente o que eu sempre quis fazer, mas nunca tive coragem.
Você é tão irresistível, linda e sexy. – A retardada falou, se sentido muito esperta.
- Ei! Eu nunca faria isso, você está quebrando as regras, eu não sou assim, e nunca
falaria isso! – Bufei contorcendo meu corpo, quase totalmente imobilizado pelo abraço
prisioneiro de Lexa.
- Lex, por favor, acabe com minha carência sexual. Quem sabe eu finalmente viro uma
garota normal. – Disse Lexa, piscando para mim.
- Eu não posso, Clarke, eu sou hétero, estou tendo um caso com um homem, se
esqueceu? – Respondi, sorrindo satisfeita ao ver o sorriso da Woods desaparecer
totalmente, dando lugar a uma carranca.
- Eu não estou tendo um caso! – Lexa falou parecendo ofendida. – Para o seu azar, você
não faz nem um pouco meu tipo, porque se fizesse, eu te mostraria quem é a hétero aqui
e agora, de um jeito que você jamais esqueceria.
Por algum motivo, engoli seco e pisquei os olhos, tentando me concentrar. Então, a
gargalhada de Lexa voltou com força total e eu realmente não entendi o motivo. Ela
parecia está rindo da piada mais engraçada do mundo.
- Eu não transaria com você nem que você fosse a última mulher do mundo. – Disse ela,
rindo descontroladamente, soltando-me e sentando no chão com uma mão no rosto
como se enxugasse lágrimas de riso. (N/A: quem desdenha quer comprar! Não é assim
que diz o ditado?)
- Lógico que eu não faço seu tipo, não sou nenhuma loira promíscua sem personalidade
e sem cérebro. Eu é que jamais transaria com você! – Respondi agressiva, me
direcionando às escadas que levam ao andar superior.
Ela continuou lá, rindo e rindo. Subi as escadas correndo e me tranquei dentro do
quarto. Não entendia o motivo de me sentir ofendida, mas eu simplesmente não gostei
das palavras de Lexa, nem de ser menosprezada. Cerca de uma hora depois, eu já podia
ouvir as vozes no andar inferior, mas não tinha a menor vontade de descer para interagir
com minha “futura nova família”. Me revirei na cama alguma vezes tentado dormir,
mas o cabelo bagunçado estava me deixando impaciente.
- Ei, Clarke, o que está fazendo aí sozinha? – Perguntou Octávia adentrando no quarto
sem bater.
Mesmo querendo fazer piada com Octávia, eu não estava no clima para isso, só queria
ficar sozinha.
Octávia continuava puxando meu braço e eu sabia que ela não iria parar, até que
déssemos um ponto final naquela conversa.
- Me dá apenas um motivo para descer. – Pedi, sabendo que ela não poderia falar nada
que me fizesse levantar da cama. Octávia me lançou seu sorriso de fadinha encapetada e
disse...
- Ok, eu vou! – Pulei da cama e marchei em direção à sala, pronta para enfrentar mais
uma vez a Lexa palhaçona Woods.
Octávia tinha razão, quando cheguei lá, todos estavam sentados, uns no chão, outros no
sofá, e todos rindo de Lexa, que imitava o meu jeito de andar.
A ira estava subindo como fogo pelo meu corpo, ninguém nunca me irritou tanto como
aquela garota de cabelos castanhos. Octávia saltitou para o meio da sala e eu fiquei ali,
parada próximo a escada, decidindo se me jogava em cima da infeliz para espancá-la ou
se ia para o jardim começar a cavar sua cova. De repente, tudo ficou escuro, tão escuro
que não consegui ver absolutamente nada.
- Deve ter sido uma queda de energia, não se preocupem. – Respondeu Kane.
- Ah, não! Justo agora que Lexa ia imitar o jeito da Clarke brigar. – Falou a anta da
minha irmã Rae.
- Fiquem todos aqui. Eu vou com Abby até a garagem tentar achar uma lanterna ou
coisa do tipo. Deve haver algo lá. Comportem-se. – Disse Kane, saindo lentamente,
arrastando a mosca morta com ele.
Eu fiquei imóvel, não sabia o que fazer. Tinha medo de me mexer e esbarrar em alguma
coisa naquele escuro assustador.
Clarke PDV
Houveram risinhos, mas ninguém se acusou. Depois, dizem que eu é que sou infantil.
- Não faz isso! Eu tenho medo de escuro. – Reclamou Octávia com a voz trêmula.
Bem, eu não ia ficar parada ali a noite inteira. Dei alguns passos lentamente para frente,
sem enxergar nada, tentando apalpar alguma coisa.
Lexa PDV
Eu ainda continha a risada por ter passado a mão na bunda de Raven. Lógico que eu não
ia perder aquela oportunidade, além disso, foi muito engraçado vê-la gritar. Mas, eu não
estava satisfeita. Eu queria beijá-la e, aquele momento seria perfeito para isso. No
escuro, eu a agarrarei com força, ela não irá resistir, e ninguém ficará sabendo. Me
aproximei de onde ela estava a poucos segundos atrás, quando lhe toquei a bunda.
Anya PDV
Eu tinha certeza que a safada da Lexa tinha passado a mão na bunda de Raven, só podia
ser ela, pois eu nem me mexi e Lincoln jamais faria isso. Ah, caraca, ela pode se divertir
e eu não? Eu quero dar uma dedada em alguém, e minha vítima vai ser a Raven, ela é
mesmo gostosa.
Temi que a mão que passaram na minha bunda, a poucos segundos atrás, fosse a de
Anya, porque eu desejava com todas as forças que ela fosse da gostosona da Lexa. Eu
estou no maior atraso e, vê-la todos os dias, tem me deixado louca. Eu a queria para
mim, mas as coisas entre nós estavam indo muito devagar. Tudo bem que ela seria
minha futura irmã, mas eu estou realmente caidinha por ela. A palavra “namorar” não
faz parte do meu dicionário, mas se ela viesse da boca de Lexa seria perfeito. Já que ela
não havia tomado a iniciativa de me beijar desde o episódio no Pazzo Club, eu iria. Eu
vou beijá-la agora, enquanto todos estão distraídos, e ela não resistirá. Então, me
aproximei do local onde ela estava, antes do apagão.
Octávia PDV
Ai, como eu odeio escuro! É tão estranho, eu tenho certeza que tem um fantasma aqui.
Se eu ver um vulto branco, vou enfartar e ninguém vai perceber nessa escuridão. Mas, e
se eu abraçasse Lincoln? Será que ele me abraçaria de volta? Será que ele me
protegeria? Só vou saber tentando, afinal, está escuro, ele não poderá ver minha cara
ruborizada. Caminhei, trêmula, em direção ao local onde Lincoln estava antes da luz
sumir.
Lincoln PDV
Estou com pena da Octávia, ela realmente parecia assustada com as gargalhadas das
minhas irmãs. Por que elas são tão idiotas? Quando elas vão crescer? Ainda estou com o
copo de cerveja que Lexa me pediu para segurar antes dela começar a imitar Clarke.
Estou morrendo de sede, mas não vou beber no mesmo copo que ela. Sabe quantas
bactérias tem aqui, se proliferando tão perto das minhas mãos? Nojo! Foco, Lincoln,
foco! Eu preciso me aproximar de Octávia e lhe dizer para não temer, que logo a luz
retornará. Dei um passo para frente, tentando achá-la.
(N/A: vocês acham mesmo que isso tudo vai dar certo? Prevejo altas confusões!)
Abby e eu já estávamos voltando para a sala. Encontrei apenas uma lanterna, mas ela
estava falhando, talvez bateria fraca, não sei. Quando chegamos na sala, ela apagou
novamente. Tinha sido a quarta vez que ela apagava desde que a encontrei. Ouvi risos e
gemidos na sala. Logo me apressei, chacoalhando a lanterna pra ela voltar a funcionar.
Queria poder ver o motivo da barulheira. A lanterna finalmente acendeu, e apontei para
o meio da sala.
Meus olhos quase saltaram para fora ao ver Anya dando uma dedada no traseiro de
Octávia, que gritou assustada e lhe deu um tapa. Lincoln parecia horrorizado, enquanto
Raven prendia as mãos dele contra seus seios lhe tentando beijar, e, para completar,
Lexa estava... Estava... Beijando Clarke? A luz voltou de repente, e tudo ficou mais
claro.
Clarke PDV
Tudo agora ficou claro. Só aí eu vi que a tarada que me segurava, quase quebrando
meus ossos, era Lexa Babaca Woods, que ainda mantinha os olhos fechados.
Ela tentava invadir a minha boca com aquela língua nojenta, e eu não permiti, cerrando
os lábios fortemente. Eu queria gritar, mas só saía um gemido abafado, já que minha
boca estava tapada com os lábios imundos dela, com tanta força, que chegava a doer.
As risadas altas à nossa volta, fizeram a maluca da Woods abrir os olhos e, ao me ver,
pulou para trás com o rosto pálido, como se tivesse visto um fantasma.
Lexa PDV
Eu ia ter um AVC a qualquer momento, ainda não podia acreditar no que os meus olhos
viam. Eu estava beijando a pirralha da Clarke?
Pulei para trás, ofegando e querendo que o chão se abrisse embaixo de mim.
Todos a seguiram, ainda rindo de sua reação. Eu não fiquei para trás. Me arrastei,
acompanhado-os. Estava imensamente constrangida e não sabia como iria explicar
Quando cheguei à cozinha, ela já lavava a boca na pia com muita água e detergente de
louça. Que exagerada! Certo que eu também não havia gostado de beijar a pirralha, mas
também não era motivo para tanto escândalo. Senti-me um pouco ofendida, não entendi
aquilo. Afinal, eu não tinha nenhuma doença. Clarke virou-se para nós com a camisa
molhada, e seu rosto estava mais vermelho do que de costume. Só aí percebi que não era
raiva, e sim, vergonha. Nos encaramos por um segundo, então ela começou...
- Kane, bate nela! Ela me agarrou a força! – Esbravejou a Griffin apontando para mim.
- Foi um acidente e tecnicamente, foi você quem me agarrou, pois ainda sou você,
lembra? – Me defendi zombando.
Clarke bufou inconformada com a resposta de seu pai. Sinceramente, fiquei confusa
quando a vi enchendo um copo com água da torneira, mas me mantive apenas
observando.
- Já que é assim, nunca mais faça aquilo, Clarke! – Falou ela, jogando a água na minha
cara.
PERFEITO.
Agora eu também estava encharcada e pronta para outra discussão, quando Kane
interrompeu, com a pergunta mais constrangedora da noite.
Eu, meus irmãos e as garotas Griffin começamos a berrar, todos ao mesmo tempo, nem
mesmo eu conseguia me ouvir, quem dirá Kane, que ficou impaciente.
- Parem!
Todos se calaram, mas a última frase ecoou no ar: “...porque eu só queria dar uma
dedada!” – Aquilo só poderia ter saído da boca de Anya.
- Minha filha, que coisa feia de se dizer na frente das pessoas! Eu não lhe eduquei
assim! – Disse nossa mãe séria.
- Sinceramente, se as explicações vão ser desse tipo, eu prefiro nem ouvir, ou não vou
conseguir dormir. Só, por favor, não aprontem mais. – Pediu Kane, com uma mão na
testa. Coitado, acho que ele estava pensando que havíamos iniciado uma suruba no
escuro.
Quase todos nós já estávamos à mesa esperando o almoço ser servido; o sorriso
estampado no rosto de Kane era de pura paixão. Ao poucos, eu estava percebendo o
quanto aquele casal se amava. Minha mãe ainda se arrumava em seu quarto. Ela deveria
estar muito nervosa, pois nunca demorou tanto para se produzir.
- Muito bem, quem está com fome? – Perguntou Abby, adentrando o cômodo, contente.
Hum, que estranho. Abby fitou Clarke com um enorme sorriso. Quase gritei: “mãe, não
se iluda”, porém me mantive apenas analisando.
Minha mãe adotiva logo voltou da cozinha com uma enorme travessa de macarronada.
O sorriso de orelha a orelha iluminou a sala de jantar. Ela fez questão de servir cada um
de nós. Anya praticamente salivava em frente ao prato.
- Hum, delicioso!
Assim como os outros, logo coloquei um garfo cheio na boca. A sensação foi horrível!
Todos nós praticamente cuspimos a comida ao mesmo tempo. Não dava para engolir; o
molho do espaguete tinha gosto de esgoto. Mesmo bebendo muita água, o gosto terrível
não saía da boca. Podia jurar que ali havia boldo, leite estragado, pimenta e creme
dental. Como consegui sentir? Não sei, apenas senti e fiquei enjoada.
- Espera! Deixa eu provar! – Falou Clarke risonha. Ela colocou uma quantidade
minúscula na boca e, logo depois, também cuspiu o espaguete, dizendo:
Abby nos olhou já com lágrimas nos olhos, saiu correndo e Kane a seguiu. A maldita
Clarke sorriu satisfeita para mim. Eu realmente tive vontade de socar Clarke. Era claro
como o dia que Clarke havia estragado o almoço de minha mãe, pois Abby nunca errou
ao fazer aquela receita. Octávia e Lincoln olhavam para a garota, chocados. Raven,
indiferente, saiu da sala de jantar e Anya,... Continuou comendo!! Não sei como!!
Lancei para a filha do capeta, meu olhar mais raivoso, a ponto do meu olho esquerdo
tremer. Ela ignorou e saiu saltitando para fora da sala de jantar.
- Fica fria, Lexa, não vale a pena se estressar. – Interviu Lincoln, colocando uma mão
no meu ombro, na tentativa de me acalmar. Mas não ia adiantar; a garota Griffin havia
passado dos limites. Uma coisa era aprontar comigo e meus irmãos, outra era fazer
Abby chorar.
Levantei-me, quase virando a mesa, e subi para o meu quarto. Bati a porta com força e
soquei uma parede. Eu já sabia o que fazer, sabia que não ia ter como fugir. Eu iria ser
tão insensível e estúpida quanto Clarke. Se ela queria alguém para confrontar, esse
alguém seria eu, e não Abby.
Desci as escadas em uma velocidade que não sabia ser possível, fui até um dos armários
de limpeza, peguei um balde e fui para o jardim. Enchi o balde com água da piscina e
marchei em direção à varanda onde Clarke estava sentada, de costas para mim, com sua
estúpida guitarra. Provavelmente, saboreando seu recente feito.
Clarke virou-se para me encarar, confusa. Não podia esperar nem mais um segundo, eu
tinha que por a raiva que eu sentia para fora.
- Clarke Griffin, sua pirralha mimada! Você não sabe com quem se meteu. Só porque
você é filha do Kane, eu não vou permitir que você apronte por aí com todo mundo, se é
guerra que você quer, é guerra que você vai ter! – Minha voz saiu grave e em um tom de
fúria que eu raramente usava.
- Ah, ah, ah! Que foi, LEXAZINHA? Tá com raivinha, é? Você é forte, mas não é duas,
eu encaro!
- Encara isso! – Falei, jogando toda a água na pirralha dos infernos. Ela ficou chocada e
engasgando, enquanto eu me afastava.
Aquilo havia sido apenas um aviso de que eu estava PRONTA PARA A GUERRA.
Clarke Griffin havia comprado uma briga que nunca iria vencer.
- Lexa, tem certeza que ela não está ai? – Perguntou Anya, segurando a escada enquanto
eu subia alguns degraus.
- Sim, ela está implicando com Octávia na cozinha. Não se preocupe, vai dar certo. -
Afirmei sorrindo.
Adentrei o quarto pela janela que estava aberta. Quando coloquei os pés no cômodo, me
perguntei se havia entrado no quarto certo. O quarto de Clarke mais parecia o quarto de
um garoto rebelde. Pôsteres de bandas de rock na parede, revistas de motociclismo
espalhadas pelo chão e uma cama bagunçada. Me surpreendi por não ver nenhum
revista de mulher pelada, afinal, a garota tinha tudo para ser uma lésbica.
- Era? Você não falou nada! – Falou ela com cara de paspalhona.
- Hu, hu... Tive uma ideia, vamos roubar todas as calcinhas dela! – Disse a animada
Anya, sentindo-se inteligente enquanto sorria.
- Aquela coisa provavelmente usa cueca. Vamos pegar logo a guitarra e dar o fora
daqui. – Caminhei em direção ao instrumento. Peguei a Fender pronta para sair dali
rapidinho. – Anda, Anya, vamos sair daqui!
- Que escada?
- Ah, essa escada? Eu a empurrei com o pé quando subi na janela. Você sabe, para não
deixar rastro. – Ela piscou sorridente.
- VOCÊ... O QUE?
Lexa PDV
Corri para a janela, coloquei a cabeça para fora e lá estava a escada no chão do jardim.
Precisei contar de 1 até 10 para não jogar Anya janela afora.
- Muito bem, sua bizonha! E agora, o que a gente vai fazer? – Quase gritei.
- Como eu ia saber que ainda íamos precisar dela? – Murmurou, cruzando os braços.
Arregalei os olhos na mais pura descrença. Como ela podia fazer uma pergunta
daquelas?
- Você tem razão, Anya, não precisamos da escada. AFINAL, A GENTE VOA! –
Aumentei a voz nas últimas palavras, chegando ao meu limite.
Minha irmã burra deu de ombros e jogou-se na cama de Clarke, enquanto eu me forçava
a pensar em um jeito de sairmos dali, já que a janela era muito alta para pular.
Mesmo amando minha irmã, tinha horas que eu queria simplesmente matá-la
lentamente. Eu estava uma pilha. O dia tinha sido estressante e agora, estávamos presas
no quarto da pior garota do mundo. O que mais poderia acontecer de desastroso na
minha noite?
Passaram-se 33 minutos contados no relógio, e eu não havia tido nenhuma ideia para
nos tirar daquele quarto. Eu temia que Clarke entrasse no quarto a qualquer momento,
fizesse um escândalo e Kane pensasse ainda mais que éramos pervertidas, pois ficamos
em maus lençóis com a história do apagão.
- Ah, cara, estou ficando com fome, será que Clarke não guarda nem um chocolatinho
aqui? – Perguntou Anya, entediada, abrindo a gaveta do criado mudo.
Mesmo estando distante, notei uma caixinha rosa dentro da gaveta. Aquilo me chamou a
atenção, pois não havia nada no quarto de Clarke que não fosse preto ou azul escuro.
Tomei a frente de Anya, ignorando seus protestos e peguei a caixinha rosa. Era
incomum, do tamanho de uma caixa de sapatos e o nome de Clarke estava escrito na
tampa com purpurina. Tive vontade de rir, aquilo não era nada a cara dela, era feminino
demais para alguém como a Griffin. Não resisti e abri, sentando-me na cama.
Surpreendi-me ao ver fotos antigas, um cordão de prata com pingente, em formato de
estrela, mas o fecho estava quebrado, como se houvesse sido rompido. E, no fundo da
caixa, uma carta. Ergui uma sobrancelha, ao ver uma foto de Clarke bem mais jovem,
deveria ter uns 12 anos. Ao seu lado, uma mulher muito bonita que logo deduzi ser sua
falecida mãe. Abby havia me dito, semanas atrás, que a mãe de Clarke morreu muito
cedo, mas ela não me contou o motivo de sua morte. Clarke tinha um sorriso estampado
em seu rosto tão verdadeiro, diferente dos sorrisos sarcásticos que eu estava acostumado
Logo nas primeiras palavras, notei que era uma carta de sua mãe.
Eu prometi que estaria com você no seu 13º aniversário, mas os dias têm sido tirados
de mim como grãos de areia levados pelo vento, por isso, não poderei cumprir minha
promessa. Eu sei que ainda é uma menina e tem muitas coisas para aprender, mas te
peço que seja forte todos os dias de sua vida. Não permita que nada te abale, que nada
te faça perder o rumo e principalmente, não derrame suas preciosas lágrimas. As
coisas sempre irão melhorar de um jeito ou de outro. Gostaria de ter mais tempo para
te dar vários conselhos, para lhe ajudar em todas as suas fases da vida, mas só posso
me dar o luxo de lhe dizer que o mundo real, o mundo que não espera, é duro e difícil.
Nem sempre a coisas acontecem como queremos e nem sempre o final é feliz. Por isso
mesmo, precisa ser uma guerreira pronta para enfrentar um leão por dia, pronta para
resistir a tudo, principalmente a esta fase que está prestes a iniciar em sua vida. A fase
em que serão somente você Kane e sua irmã Rae. Minha leãozinho, não se preocupe
comigo, não se preocupe com os problemas. Apenas guarde em seu coração essa frase:
Para todo o problema existe uma solução.
Te amo profundamente.
Rose Griffin.”
Fiquei alguns segundos apenas segurando a carta, tentando encaixar a vida de Clarke
naquelas frases escritas por alguém à beira da morte. Por mais que ela tivesse sofrido
com a morte prematura de sua mãe, não justificava as atitudes imaturas e egoístas dela.
Clarke, com certeza, sentia falta de Rose, mas isso não era motivo para infernizar a vida
das outras pessoas. Anya, Lincoln e eu vivemos grande parte da nossa infância em um
orfanato, rejeitados, como as outras crianças que lá estavam, e não usávamos isso como
desculpa para sermos rebeldes. Por mais que eu tivesse ficado sensibilizada pela carta,
sabia que não poderia ceder na minha guerra contra Griffin, afinal, ela nunca cederia,
nunca pararia, nunca desistiria de tentar acabar com a felicidade de Abby. Eu tinha que
continuar minha guerra, que só havia começado e aquela carta, em nada mudou minha
opinião sobre Clarke, ou meus planos.
Clarke PDV
Eu até queria lhe dar atenção, mas não estava com saco. Essa noite era uma daquelas
noites que eu me sentia absolutamente sozinha. Eu até poderia estar no meio de um
estádio lotado, ainda assim, me sentiria sozinha. Suspirei, lembrando-me de Rose, do
seu sorriso, dos seus olhos, mas a lembrança do calor de seus abraços era algo que
parecia ter se dissipado com o tempo.
Eu não sei por que me lembrei do meu 13º aniversário, o dia mais triste da minha droga
de vida. Eu até poderia ver a cena, Raven, Kane e eu em volta de um pequeno bolo, à
luz das poucas velas, iluminando a sala de nossa casa em Polis e o som de um telefone
tocando. Quando o telefone tocou, eu já sabia o que era, eu já sabia que minha vida
nunca mais seria a mesma. Observei em silêncio, Kane, agarrado ao telefone, enquanto
suas lágrimas caíam por seu rosto perfeito.
A sensação de algo quebrando-se dentro de mim era quase audível, e tudo se apagou à
minha volta, como se o mundo tivesse perdido seu brilho. Saí correndo da sala, corri
sem direção. Apenas corri e corri, minhas pernas, após algum tempo, foram perdendo a
força e eu me encontrava em uma rua deserta da pacata Polis. Finalmente, parei sem
fôlego, sem vida e caí sobre minhas pernas exaustas. Só aí, as lágrimas finalmente
vieram e não vieram sozinhas. Os gemidos cortavam-me o peito ao saírem. Chorei
como nunca havia chorado antes, chorei a morte da minha mãe, chorei o fim da vida
perfeita que tínhamos. Chorei até meus olhos arderem e minha boca ficar totalmente
seca. Por um impulso, puxei do meu pescoço, o cordão de prata que era de Rose, o
cordão que eu tanto amava. Eu não poderia usá-lo por mais nem um segundo, pois isso,
só me fazia lembrar que ela não estava mais comigo. Eu não sei quanto tempo passei ali,
pois não conseguia enxergar nada além da minha própria dor.
Senti braços frios, em minha volta. Braços que eu conhecia, os braços do meu pai. Ele
me segurou firme e me ergueu do chão. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço
e ele começou a caminhar. Eu não queria olhar em seus olhos, temendo que, se o
fizesse, o veria sofrer pela morte do amor de sua vida. A outra parte de mim não
resistiria e também sucumbiria. Ainda assim, eu podia ouvir os soluços vindo dele,
soluços que eu jamais esquecerei.
Aquela noite eu chorei. E, no dia seguinte também, só parei quando li uma carta que
minha mãe havia me escrito, uma carta de despedida, uma carta de força. Eu li aquela
carta como se minha vida dependesse dela, e a força que ela me passou através daquelas
linhas trêmulas, me fizeram resistir a dor daquele momento. Eu reli a carta várias e
várias vezes seguidas, tentando gravar cada conselho no meu partido coração. Então,
desde aquele dia, eu nunca mais chorei, nunca mais mostrei fraqueza, nunca mais fui a
mesma. Se minha mãe queria que eu fosse uma guerreira, eu seria. Se ela desejava que
eu enfrentasse um leão por dia, eu enfrentaria. Do contrário, eu me perderia em tanta
dor, que morreria lentamente de tristeza. Eu estava pronta para me transformar em uma
Clarke forte, uma Clarke que sobreviveria.
Engoli seco, ouvindo Octávia murmurar meu nome, mas não dei importância. Saí da
cozinha e fui, quase que correndo, até o quarto de Kane. Queria abraçá-lo, queria sentir
Saí correndo, enquanto Kane chamava-me e fui para a sala de música. Lá ninguém me
encontraria, lá ficaria sozinha.
Lexa PDV
Peguei outra foto, e nessa, Clarke estava mesmo engraçada. Usava um vestido
estampado, trancinhas no cabelo e um sorriso abobalhado. Eu gargalhei e isso chamou a
atenção de Anya, que ainda procurava alguma comida no quarto.
- Bem que podíamos fazer alguma coisa com essa foto aí. – Falei, enquanto colocava a
caixa rosa de volta no seu lugar.
- Hu-Hu... Sabe o que a gente podia fazer? Fundar um clube chamado Eu odeio Clarke
Griffin.
- Por que?
- Porque é demais! Toca aqui! – Disse, enquanto sentia a mão de Anya bater contra a
minha.
Nunca pensei que agiria como uma pirralha, mas parecia que a situação exigia isso, pois
eu estava travando uma guerra com a criatura mais infantil da face da Terra.
- Cara, eu vou dar um cochilo. Me acorda quando você tiver uma ideia, o que pode
demorar meses. – Falou Anya, deitando-se na cama e envolvendo-se com os cobertores.
Quando eu vi um dos lençóis, finalmente tive a ideia que nos tiraria dali.
Dez minutos depois, a corda que fizemos com os lençóis de Clarke já estava bem presa
e eu já podia descer por ela. Verifiquei mais uma vez se todos os nós ao longo da corda
estavam firmes e joguei o lençol pela janela. Posicionei-me, passando para fora da
janela, agarrada à corda improvisada.
Olhei para o chão, verificando a distância que ainda faltava para chegar ao solo. Foi aí
que senti um tremor na corda e, quando percebi o que era, entrei em pânico.
- SAI DE CIMA DE MIM! – A idiota riu enquanto levantava-se, coisa que eu não
consegui fazer. Sentia como se um trator tivesse passado por cima de mim. Anya me
ajudou a levantar, só então, minha respiração voltou ao normal.
- Deixa de ser frangote, Lexa, não foi uma queda tão grande assim, eu não senti quase
nada.
- ÓBVIO! MEU CORPO AMORTECEU SUA QUEDA, SUA IMBECIL! – Todo meu
corpo queria voar em cima de Anya, e socá-la até não me restar forças.
- Poxa, Lexa, você tem razão. Valeuzão por isso, mana! – Disse a futura defunta, dando
um tapinha no meu ombro.
Olhei em minha volta e senti falta do objeto que fora motivo de tanto desastre.
- Que guitarra?
- PUTA QUE PARIUUUUU!!!!! – Anya tinha razão, eu ia ser o primeiro ser humano a
ter um derrame do coração.
- Anya, se você subir novamente nessa escada, considere-se uma mulher morta! - Falei,
lhe lançando um olhar negro, a bizonha apenas sorriu.
Dessa vez, sem Anya para atrapalhar, peguei a guitarra rapidamente e desci com ela
pela escada, ainda sentido dores no corpo.
Ouvi um barulho ao longe. Eu não queria abrir os olhos, era muito cedo para alguém
levantar da cama. Tudo o que eu queria era dormir mais umas 4 ou 5 horas. Agora, além
do barulho, ouvia também uma voz, uma voz bem conhecida e chatinha.
- TUDO BEM, ENTÃO VOCÊ NÃO VAI QUERER SABER QUE SUA MOTO
CHEGOU!
Pulei da cama tão rápido que fiquei tonta, arfei tentando me equilibrar e abri a porta.
Nem olhei para a cara de Octávia, saí correndo pela casa, só de pijama xadrez e cabelos
bagunçadíssimos. Quando adentrei a garagem, avistei minha moto imediatamente, mas
uma outra moto ao lado dela ofuscou totalmente a minha. Fiquei deslumbrada, era uma
Suzuki Hayabusa 1300 prateada. Eu praticamente babei em cima dela. Alisei a lateral,
perguntando-me se Kane havia comprado para mim numa tentativa de suborno, então...
- Não rala a mão na minha moto! – A voz atrás de mim era conhecida e irritante. Lexa
passou por mim e subiu na moto.
- Ah, pena, porque se tivesse gostado, eu até te deixaria dar uma voltinha! – Falou Lexa,
sorrindo.
Estreitei os olhos, bufando. Ela havia percebido meu fascínio pela moto e agora
zombava de mim.
- Eu não preciso. Tenho a minha! – Dei de ombros, indo em direção à minha amada
moto.
O ronco do motor da Suzuki de Lexa me fez sobressaltar. Até parecia música para os
meus ouvidos. Eu estava louca para tocar naquela moto novamente, mas nunca iria
admitir isso para Woods.
- Como é?
- Você logo saberá. – Respondeu ela, saindo da garagem. Fiquei intrigada, mas tentei
ignorar.
Olhei à minha volta e nem sinal da minha Fender, só a caixa amplificadora estava
jogada no canto da parede. Vasculhei o quarto inteiro, até mesmo embaixo da cama, e
nem sinal da minha preciosa Fender. Foi aí que vi um DVD no criado mudo escrito com
letras vermelhas “CLARKE”. Fiquei segurando o DVD, mergulhada em um misto de
dúvida e curiosidade. Finalmente, coloquei o DVD dentro do meu notbook e logo, um
vídeo começou a ser exibido. A imagem estava fora de foco, mas podia ver que tinha
alguém sentado em uma cadeira. O som que vinha do vídeo era nítido. Revirei os olhos,
quando percebi de quem eram as vozes.
- Anya, tem certeza que isso está gravando agora? Estou de saco cheio, já fizemos isso
6 vezes! – Reclamou Lexa, mas eu só podia ver parte do seu corpo.
- Agora vai dar certo. Não se mova que vou colocar a câmera no tripé. – Falou Anya,
enquanto a imagem chacoalhava um pouco, provavelmente ela estava largando a câmera
no tripé.
Agora eu conseguia ver as duas retardadas claramente. Lexa sentada e Anya atrás dela
com os braços cruzados para trás e, por incrível que pareça, um gorro preto estava
enfiado em sua cabeça com buracos mal feitos na boca e olhos.
- É para dar mais veracidade, toma usa a sua. – Disse a anta da Anya, entregando um
gorro preto para Lexa, que, imediatamente, o pegou.
- Sua imbecil, ela já sabe que somos nós! – Afirmou Lexa, jogando o gorro na cara da
irmã. - Por favor, não atrapalhe que eu não quero passar a madrugada toda fazendo
isso! – Lexa virou-se de frente para a câmera e pude ver ela revirando os olhos.
O que aquelas babacas estavam fazendo, afinal? Minha pergunta mental foi respondida
quando Lexa começou a falar:
Fiquei totalmente paralisada, eu não podia acreditar no que havia acabado de ver.
- Se você quiser ver sua guitarra novamente, é melhor vir até o meu quarto negociar...
- POSITIVO!
- POSITIVO!
- POSITIVO!
- POSITIVO!
- Que foda, Anya, não dá pra fazer nem a droga de um vídeo sem você estragar tudo?!
– Esbravejou mais uma vez Lexa.
- POSITIVO!
Saí do quarto, ardendo na mais pura fúria, marchei até o quarto de Lexa e chutei a porta.
O barulho que ela fez ao bater contra a parede, não pareceu assustar Lexa, que sorria
sentada, tranquilamente na cama.
- Nada de ameaças, por favor, não vai adiantar. A sua guitarra já está em uma loja de
instrumentos musicais usados, prontinha pra ser vendida. – Lexa me lançou seu típico
sorriso torto de débil mental e eu queria esfaqueá-la, e jogar álcool por cima.
- Você não fez isso! – Falei, duvidando, enquanto minhas pernas tremiam levemente.
- Fiz sim! Mas, você pode tê-la novamente, se aceitar um simples acordinho comigo.
- Feche a porta e venha aqui, vamos negociar. – Eu bem sabia que a Woods do cabelo
bagunçado era capaz de tal ato, e acatei, querendo acabar logo com aquele pesadelo.
Após fechar a porta, me posicionei à frente dela com as mãos na cintura, para não correr
o risco de me jogar em cima dela, estrangulá-la até a morte e nunca mais saber onde
minha Fender foi parar.
- Me deixe terminar, sim? Eu estava dizendo que tudo que precisa fazer é ser minha
escrava por umas duas ou três semanas. Ainda não decidi. – Lexa falou aquilo com tanta
naturalidade, que eu me questionei se estava realmente acordada ou em um pesadelo
daqueles, de fazer você se borrar nas calças.
- Tudo bem, eu vou rir agora, digo que foi uma ótima piada e volto para o meu quarto
com minha guitarra, ok? – Perguntei, já sorrindo.
- Não é piada não, Griffin, eu estou falando sério, você vai ter que ser minha escrava.
Estaquei.
- Eu já tenho minhas primeiras ordens, mas não quero que você enfarte agora e acabe
com minha diversão. Então, vou pegar leve e te pedir apenas que me dê uma massagem
nos pés, porque, cara, eu estou um caco. – Lexa disse, já tirando seus sapatos. Arregalei
os olhos, com um misto de descrença e ódio fumegante.
- SEM CHANCE! Eu não vou tocar nesse seu pé nojento! – Fiz uma careta.
- Vai sim, e vai fazer a melhor massagem da sua vida. – Falou a escrota, deitando-se,
colocando as mãos atrás da cabeça e balançando os malditos pés.
- Lexa, vai se danar! – Xinguei, enquanto me direcionava à porta para dar o fora daquela
situação insana.
- Tudo bem, vou ligar agora para o vendedor. Eu estou mesmo precisando de dinheiro
para comprar uns pneus novos para minha moto. – Lexa já pegava o celular, quando eu
percebi que estava totalmente ferrada.
- Espera... – Disse o mais baixo possível, mas ela ouviu e sorriu torto. – Eu aceito o
acordo, mas apenas uma semana, nem duas, nem três, apenas uma e não abuse da sua
sorte, Lexa. – Eu queria morrer no momento em que proferi aquelas palavras. Tive uma
enorme vontade de chorar de raiva, mas nunca cederia a esse tipo de fraqueza, ainda
mais na frente da LEXAZINHA.
- Ótimo, uma semana então, mas vai ser uma semana do meu jeito. E você pode
começar a me chamar de querida ama.
Esfreguei as mãos no rosto, transpirando. Eu realmente queria saber como foi que morri
e fui parar no inferno, cujo o capeta era Lexa Woods.
FILHA DA P****
- Tudo bem... Querida ama. – Falei entre os dentes, querendo socar a mim mesma.
Sentei-me na cama como quem vai para a forca. Fiz a maior cara de nojo quando
minhas mãos tocaram os pés de Lexa, ela sorria como se tivesse ganhado na loteria.
- Clarke, você não está massageando, está só tocando com a ponta dos dedos. Eu quero
uma massagem de verdade.
Respirei fundo e apertei o pé de Lexa com toda a minha força, cravando as unhas.
- Aiiii, sua bruta, não faça mais isso ou eu vou vender sua guitarra agora mesmo. –
Reclamou, erguendo parte do corpo e me encarando com olhos raivosos, mas logo, sua
expressão voltou a ser divertida. – Eu tenho certeza que você sabe fazer massagem
direitinho, então capriche, Griffin.
Eu mordi o lábio com força, queria gritar, queria sair correndo, mas fiquei lá
massageando o pé da minha inimiga.
- Hum... é isso aí, pirralha, eu sabia que você conseguiria, nada mal. – Lexa falou em
um tom de mais pura zombaria, enquanto eu continuava a lhe massagear os pés,
enojada.
Anya PDV
Saí do quarto animada, estava louca para curtir o dia. Meu Jipe havia chegado junto
com os automóveis dos Griffin e não via a hora de sair por aí e pegar umas totosas
italianas. Quando passei em frente ao quarto de Lexa, um gemido vindo de lá me
chamou a atenção.
Que porcaria é essa? A Lexa já está batendo umazinha uma hora dessas?
Me aproximei da porta sorrindo, com certeza eu iria zoar ela, mas me surpreendi quando
ouvi vozes.
- Posso parar agora, Lexa? Eu não quero mais fazer isso, é estranho!
- Nem pense em parar, agora que está ficando gostoso, continue Clarke... hum...
Coloquei as duas mãos na boca o mais rápido que pude, ou todos poderiam ouvir minha
risada.
Vi Lincoln entrar no corredor e logo fiz sinal para ele com os braços. O maluco veio
correndo.
- Anya, tem gente que gosta de privacidade nessas horas. – Respondeu ele, fazendo
pouco caso.
- Não é isso, ela está de promiscuidade com a Clarke! – Falei, sacudindo Lincoln pelos
ombros. Vi o choque passar pelo rosto do meu irmão.
- Mentira!
- Há.. .hum... Clarke, eu poderia ficar aqui o dia inteiro, tava mesmo precisando disso.
Mais pra baixo e com mais força.
- Cara, se o Kane descobrir isso, vai nos expulsar daqui. – Sussurrou meu mano.
Nos viramos assustados em direção à voz, só para nos deparar com a anã da Octávia.
- Droga, Octávia, fala baixo! – Falei, tapando a boca da anã que me olhou assustada.
- Lexa, chega, você ainda não está satisfeita? Já fiz tudo que você queria, poxa.
- Minha querida ama, eu estou cansada, não quero ficar nessa tortura.
- Só mais um pouquinho, Clarke, estou quase satisfeita... hum... aí que bom.. .acho que
vou querer isso todo dia. Mais rápido!
- Que coisa mais masoquista. - Disse Octávia, entre risadas abafadas. – Eu sabia que
aquelas brigas todas eram tesão reprimido.
Clarke PDV
Se Lexa me provocasse mais uma vez, eu iria chutá-la na canela. A imbecil estava se
divertindo enquanto me humilhava. Mas aquilo não ia ficar assim, quando eu
recuperasse minha guitarra, ela iria se arrepender de ter nascido.
Clarke PDV
- Anya! Não seja inconveniente! – Octávia sorriu, piscando um olho para mim.
- Espera, vocês não acham mesmo que eu e Clarke estávamos transando, acham? –
Perguntou Lexa, me puxando do chão pelo braço, fitando a irmã mais velha, que
mantinha um sorriso de safada.
- Tudo bem, Lexa, não é da nossa conta, mana. – Lincoln, o suposto maconheiro,
mantinha uma mão na boca, escondendo o sorriso idiota.
- Cara, você falou a mesma coisa quando seduziu a professora Gonzales, aquela corôa
feiosa. – Acusou Anya, divertindo-se.
Lexa chacoalhou a cabeça e lançou um olhar incrédulo para a irmã mais velha.
- Ah, é verdade!
Eu não sabia o que era pior, ser acusada de fazer sexo com Lexa, ou ouvir as duas antas
dialogando. Tratei logo de me defender, pois Octávia me olhava como se fosse me
obrigar a contar todos os detalhes de algo que nem aconteceu.
- Eca! Eu nunca aceitaria fazer isso com ela! – Resmunguei, chocada com os
pensamentos asquerosos vindo das mentes daqueles três.
Lexa virou a cabeça para me encarar, carrancuda e com olhar cheio de dúvidas.
- Vamos embora, vai começar o lance masoquista mais uma vez. – Disse Octávia,
empurrando os dois Woods para fora do quarto e fechando a porta.
Eu não sei o que houve comigo, simplesmente não consegui responder à pergunta de
Lexa, até porque eu nem sei como proferi aquelas malditas palavras.
Nossa atenção voltou-se para Anya, que enfiou a cabeça na frecha da porta, rindo com
aquela cara de tapadona maníaca assassina.
- Ei, não vou massagear mais nenhuma parte do seu corpo! – Falei dando um passo para
trás, o que fez Lexa abrir um largo sorriso.
- Não se preocupe, o servicinho dessa vez não vai ser tão prazeroso pra você, lógico. É
simples, eu quero que você limpe o meu quarto e o de Anya, menos o de Lincoln, pois
se você tocar nas coisas dele, vai fazê-lo esterilizar pela quinta vez essa semana. Depois,
vai lavar a minha moto e, por fim, cozinhar para todos. Acho que isso vai te ensinar
humildade, coisa que Kane deveria ter feito você aprender a qualquer custo.
Lexa não estava brincando, e eu estava totalmente ferrada. A primeira coisa que fiz foi
pegar meu Ipod com músicas da Avril Lavigne e The 1975 e pôr no último volume. Em
seguida, peguei umas cervejas na geladeira. Fazer aquilo sóbria seria a morte, então
resolvi encher a cara para facilitar.
Quando literalmente “acabei” com a moto, fui para o quarto de Anya. Precisei tomar
outra cerveja para criar coragem de ficar apanhando as roupas do chão, com um pegador
de macarrão. Joguei todas em um grande saco plástico. Sinceramente, nem a melhor
máquina de lavar roupas do mundo, daria jeito naquilo. Então, fui prática e joguei tudo
no lixo. Passei o aspirador no quarto imundo e, quanto fui passar embaixo da cama,
encontrei resto de comida e muitas revistas de mulher pelada. Porque será que não
fiquei surpresa? Coloquei luvas grossas de limpeza e, só assim, consegui trocar a roupa
de cama. O banheiro dela, eu ia deixar por último, quando estivesse bem bêbada, a beira
de um coma alcoólico.
No momento em que cheguei no quarto de Lexa, no Ipod já tocava Rock show do Blink
182. Bufei e chutei um tênis que estava largado no chão. Fui direto para a tortura do
banheiro e, lá, abri as torneiras da banheira no máximo. Nunca havia feito limpeza
antes, não sabia o que colocar dentro da água. Então, coloquei todo o material de
limpeza que eu carregava. Não tive muita paciência ao fazer isso, rasguei a caixa de
sabão em pó e joguei tudo dentro da banheira. Derramei todos os produtos o mais
rápido que pude e decidi que deixaria a banheira enchendo enquanto adiantaria o
almoço.
Peguei um grande pedaço de carne que estava no refrigerador, joguei dentro de uma
forma de vidro, esfreguei uma porção de manteiga com as mãos e catchup (eu adoro
catchup), enfeitei com cebolas interas, beterraba, pepino, tomates e laranjas. Nesse
momento, eu tive certeza que ia ficar uma delícia. Enfiei dentro do forno no último
grau, sentei-me na mesa e abri outra cerveja. Eu já estava cansada, mas tinha uma
estranha impressão de que havia esquecido alguma coisa.
Eu estava feliz, feliz demais por conta da cerveja, quando começou a tocar no Ipod
Underclass Hero do Sum 41. Sobressaltei quando senti alguém puxando os fones de
ouvido.
A FICHA CAIU.
Percebi que Lexa corria atrás de mim. Adentrei o quarto, feito uma bala. Ao entrar no
banheiro, escorreguei no chão molhado, mergulhando na espuma. A dor que senti
quando minha cabeça bateu no chão, foi indescritível. Ouvi um estrondo ao meu lado.
Lexa, que também entrou correndo, havia acabado de cair.
Mesmo eu ainda sentindo dor, ri. Naquele momento, eu riria de qualquer coisa. Que
Heineken boa!!
O banheiro estava cheio de espuma, não conseguia ver nada além das densas brumas
produzidas pelo sabão e produtos de limpeza. Engatinhei tentando achar a banheira,
para fechar as torneiras. Conseguia ouvir o barulho da água, mas estava meio zonza, não
sei se pela cerveja ou se pela pancada na cabeça.
Gargalhei.
- Eu juro que não foi de propósito, deve ser um tipo de justiça divina pelo que você está
fazendo comigo. – Provoquei.
- Só vejo espuma!
- O que foi?
Não sei como, mas a Woods me achou, em meio a toda aquela espuma.
- Onde dói?
Lexa passou os dedos pelos meus cabelos, massageando levemente o couro cabeludo.
Senti um súbito arrepio, que fiz questão de ignorar.
- Procurando um ferimento, mas parece que você não tem nem mesmo um galo. Eu
sempre soube que você é cabeça dura. – Respondeu divertida, mas dessa vez não senti
seu típico humor zombeteiro.
- Ou pela cerveja. – Completou Lexa, ainda com os dedos envolvidos nos meus cabelos.
Me perguntei se era tão visível assim que eu havia bebido muitas cervejas, mas não
importava. Afinal, eu não estava bêbada. Eu sei, todo bêbado diz isso. Por algum
motivo, a Woods continuava a massagear minha cabeça, e isso estava me fazendo
relaxar de um jeito que nem imaginei ser possível. Era simplesmente prazeroso.
-Hum... – Eu juro que não sei de onde veio esse gemido, fiquei corada imediatamente.
Lexa parou e me fitou cerrando os lábios, mas seu corpo inteiro tremia em uma risada
silenciosa.
- Minha cabeça doeu um pouco, foi só. – Menti, baixando a cabeça, cheia de vergonha.
Por um segundo, me perguntei o que ela pensaria se soubesse que, mesmo contra minha
vontade, eu gostei da carícia.
- É melhor pedirmos Kane ou minha mãe para darem uma olhada. – Respondeu ela,
obviamente acreditando na minha mentira.
Lexa também saiu do banheiro em silêncio. Nesse momento, era para estarmos tendo
uma daquelas discussões, mas pareceu que ambas preferíamos ficar caladas.
- Clarke...
- Eu vou te liberar desse lance de escravidão. Você só tem que fazer uma coisa. – Lexa
estava com uma voz tão amistosa que até estranhei.
- Fala! – Pedi. No meu íntimo, eu estava eufórica por estar prestes a me livrar das
torturas.
- Você tem que pedir desculpas a Abby por ter estragado o almoço dela.
- Quanta maturidade! Você me faz massagem, limpa os quartos, cozinha e não quer
fazer um simples pedido de desculpas?
- Isso é diferente, eu não pediria desculpas nem se ela estivesse morrendo! – Eu falei
sério, eu odiava profundamente Abby e, por nada no mundo, me humilharia para ela.
Lexa começava a mudar sua expressão serena para uma de pura raiva e eu soube que
brigaríamos mais uma vez.
- Pois você vai pedir desculpas para a minha mãe, sim! Vai agora, Clarke! – Ordenou
ela, apontando para a porta como se estivesse falando com uma criança. Aquilo mexeu
com os meus sensíveis nervos.
- Eu não pediria desculpas àquela interesseira e usurpadora fajuta nem se você estivesse
vendendo todas as minhas coisas, nem se estivesse vendendo a minha alma!
Observei satisfeita o olho esquerdo de Lexa tremer, isso era sinal de que ela estava
quase perdendo o controle.
- Paolo, aqui é Lexa Woods, eu autorizo a venda da Fender. Pode fechar negócio agora!
Ela nos rolou no chão, numa tentativa de ficar em cima de mim para imobilizar-me.
Evitei, impulsionando meu corpo e nos fazendo rolar mais uma vez.
Infelizmente, a sensação durou apenas alguns segundos, pois Lexa conseguiu tirar
minhas mãos do seu pescoço, rolou nossos corpos outra vez, mas agora não consegui
evitar que ela imobilizasse meus braços, apertando-os com força contra o chão.
- Suas pervertidas, se vão fazer sexo selvagem, pelo menos, fechem a porta! Tem gente
inocente aqui! – Falou Anya, que apareceu do nada. Então, fechou a porta
violentamente. Aquela seria mais uma, na minha “lista da morte”.
- Dá para parar agora, sua pirralha? – Perguntou ela, pressionando seu corpo ainda mais
contra o meu.
Nem me dei o trabalho de responder. Em um ato de insanidade, lhe dei uma cabeçada
violenta. O quarto começou a girar rápido demais, e meus sentidos pareciam falhar.
Ainda assim, ouvi um gemido vindo de Lexa e senti-a sair de cima de mim. Minha
cabeça que antes doía, agora parecia que ia explodir. Coloquei as duas mãos na testa,
tendo certeza que dessa vez se formaria um galo.
- Que droga, Clarke! Minha cabeça está doendo muito. – Reclamou ela, também sentada
no chão, com as mãos na cabeça.
Eu queria responder, mas não achei forças. Parece que as tinha esgotado, brigando com
a calhorda.
Eu queria fazer o mesmo, mas minhas pernas tremiam. Confesso que foi um alívio
imensurável quando Lexa falou que ia ligar, cancelando a venda. Eu só queria que o
pesadelo acabasse. Acho que a Woods percebeu que eu estava zonza demais para
levantar, e me ajudou. Naquele momento, eu não pude recusar.
- Eu vou lhe dar 5 minutos para trazer minha guitarra de volta, do contrário, você verá a
homenagem ao exorcista mais uma vez. – Falei, cambaleando para fora do quarto,
planejando ir à cozinha e tomar um analgésico, ou minha cabeça explodiria.
Eu estava sentada à mesa da cozinha, quando Lexa se aproximou, pálida. Será que eu
bati nela com tanta força assim? Eu ia perguntar pela minha guitarra, mas minha
atenção estava voltada para a babaca que enchia um copo com água e colocava bastante
açúcar dentro.
- Porque?
- Você quer ouvir primeiro a notícia boa ou a ruim? – Falou, receosa. Isso me fez
engolir seco. Eu sabia que algo de ruim tinha acontecido.
- Sua guitarra foi vendida por 4 mil euros. – Petrifiquei. – A noticia boa é que já
consegui entrar em contato com o cara que a comprou, o problema é que ele só aceitará
devolvê-la se lhe dermos mais 5 mil. Você vai arrancar meus cabelos novamente, não é?
Nem me preocupei em olhar para a cara da infeliz. Eu, simplesmente, não conseguia
acreditar no que estava ouvindo.
- Antes que você coloque a casa abaixo, quero dizer que dei outro telefonema e arranjei
um jeito de conseguir esses 5 mil. Clarke, você está me ouvindo?
- Clarke? Clarke? Você está tendo uma AVC? – Ouvi Lexa dizer isso, enquanto me
chacoalhava os ombros.
- Como a futura defunta acha que vai conseguir esse dinheiro? – Perguntei, lhe lançando
um olhar assassino. Lexa deu um passo atrás.
- Eu tenho um amigo, o Finn, que organiza rachas, ele vai me encaixar no racha desta
noite. O prêmio é 6 mil euros, eu vou ganhar e comprar sua guitarra de volta. – Lexa
falou aquelas palavras, totalmente segura.
Bufei, esfregando o rosto, não via a hora do relógio marcar 22:00hs para poder ir a esse
racha, conseguir a grana e recuperar a guitarra estúpida. Para sorte de Clarke, eu sou
muito boa piloto, a melhor, eu diria, mesmo eu sendo mulher. Eu sempre participava de
rachas em Massachusetts, era assim que eu pagava a faculdade de medicina, mas isso
era um segredo meu e de Anya, minha companheira de quarto. Abby nem sonhava com
isso, era fácil de esconder, já que ela continuava a morar em Polis. Eu tinha certeza que
somente uma pessoa poderia me vencer, meu grande amigo Finn Collins. Nós
começamos a correr juntos quando ainda éramos adolescentes, disputávamos sempre
quando morávamos em Los Angeles, aliás, disputávamos tudo, desde uma partida de
vídeo game até mesmo mulheres. Ainda assim, eu adorava o cara. Quando ele
completou 18 anos, sumiu pelo mundo após mais uma briga violenta com seu pai. Finn
sempre foi rebelde, explosivo e odiava autoritarismo. Passei anos sem ter noticias dele,
agora ele deveria estar com uns 22 anos. Quando cheguei na Itália consegui seu telefone
com um antigo colega, o Wells. Pelo que soube, agora os dois estão promovendo rachas
pela Europa. Ele deve estar montado na grana. As habilidades de Finn como piloto são
indiscutíveis.
Ouvi passos e quis me jogar na piscina quando vi quem era. Ah, não, lá vem a Anya,
segurando seu notbook pré-histórico!
- Ah, mana eu estou deprimida! – Falou ela, sentando-se ao meu lado e entupindo a
boca com jujubas.
- Você conseguiu tirar o atraso duas vezes e eu nenhuma! POR QUE, DEUS? POR
QUE? – Ela gritou nas últimas palavras. Dramática!
- Anya, eu não fiz nada com Clarke, cara! Põe isso dentro da sua cabeça, garanto que
vai caber e ainda sobrar muito espaço. – Ironizei, tentando recuperar o meu bom humor.
- Tudo bem, cara, eu não vou contar pra ninguém que você pegou uma emo! – Disse a
idiota, dando um tapinha nas minhas costas.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!
- Cozinhei como você queria, bom apetite! – Disse ela antes de sair caminhando, como
se nada tivesse acontecido.
- Você pode ter se dado bem primeiro, mas logo, logo, vou pegar minha totosa Italiana
que conheci no Skype. - Anya abriu o notbook, orgulhosa por sua conquista.
- Deixa eu ver quem é. – Pedi, aproximando-me para ver, no Skype, a foto da garota.
- Ela é linda!
Quando vi a foto, me questionei se Anya sabia com que tipo de gente ela estava lidando.
- Anya, esse perfil é fake, de longe da para se notar. A foto do perfil é até a de uma atriz
famosa – Falei, segurando o riso.
Fiquei por uns 10 segundos encarando a pobre coitada, na esperança de que ela se
tocasse do que eu estava falando. Não adiantou, eu ia ter que dizer para Anya que
provavelmente era algum pervertido se aproveitando da “inocência” dela.
- Anya, pelo amor de Deus, acorda! Tá na cara que é algum pervertido querendo te levar
para a cama, abusar do seu “corpinho”! – Perdi a paciência.
- Não é não, cara! Eu teclei com ela a noite inteira! – Respondeu ela, ofendida.
Eu gargalhei.
A burrice em pessoa ficou me encarando assustado. Como ela não notou que era um
fake?
- Anya, você não fez sexo virtual com sua namorada, fez? – Perguntei séria.
- CARA, VOCÊ TRANSOU COM UM HOMEM! - Gritei alto suficiente para ela ouvir.
Não podia deixar aquela passar.
Para o meu alívio, e, provavelmente, o de Clarke, a noite logo chegou. Fui direto para a
garagem, vestindo minhas típicas roupas de corrida: calça jeans, camisa branca de
mangas compridas, jaqueta de couro e botas até o joelho. Para o meu desgosto, Clarke
já estava a minha espera. Anya e Octávia também estavam lá.
- Quem disse para vocês que eu vou a um racha? – Perguntei de idiota, pois Octávia e
Anya apontaram para Clarke.
Revirei os olhos. Já sabia que, com aqueles três, minha noite ia ser uma verdadeira
loucura!
Clarke PDV
Demorou um pouco até chegarmos a uma estrada já quase fora de Verona. Ao longe,
avistamos faróis de carros e muitas motos. O lugar estava repleto de motoqueiros mal
encarados, orientais com suas máquinas top de linha, ingleses e muitas garotas vestindo
pouquíssima roupa. Desavergonhadas!
Alguns caras faziam acrobacias com suas motos em pura exibição. Eu estava
empolgada, nunca havia ido a um racha antes, mas temia intensamente que Lexa não
conseguisse o dinheiro para comprar minha guitarra de volta. Logo estacionamos as
motos.
- Vamos, preciso falar com o banqueiro! – Apontou Lexa para um grupo de homens a
uns 10 metros de nós.
Quando dei os primeiros passos, Octávia agarrou-se ao meu braço, estava com uma
expressão chocada. Penso eu, que ela não imaginava que um racha de motos fosse ser
algo tão “barra pesada”.
- Não toque em nada, você pode pegar uma doença. – Falou ela com a maior cara de
medo.
- Você anda conversando demais com o maníaco por limpeza! - Afirmei, balançando a
cabeça.
Ainda faltavam alguns metros para chegarmos ao nosso destino. Então, Lexa gritou:
- Finn, acho que se lembra da minha irmã Anya, e essas são Octávia e Clarke. Meninas,
esse é Finn Collins – Falou Lexa, sorrindo.
- Prazer! – Falou ele, sorrindo e estendendo a mão para Octávia, que o cumprimentou
cordialmente. Em seguida, estendeu a mão para mim.
DROGA! Não consigo me mexer, alguém pelo amor de Deus, erga meu braço! Eu
quero apertar essa mão! Como ninguém leu meu pensamento, Finn retirou sua mão,
confuso. PUTA QUE MERDA!
- Lexa, é muito bom te ver, cara, você é como uma irmã para mim. – Finn disse,
colocando uma mão no ombro da LEXAZINHA.
- Isso é porque eu sou a única que consegue te aturar. – Respondeu a Woods rindo.
Eu estava me fazendo a mesma pergunta. Que droga afinal estava acontecendo comigo?
Eu nunca agi daquela forma. Garotos nunca me fizeram ficar sem ar, geralmente eu os
achava um bando de fracassados. O que havia naquele homem misterioso para me
deixar embasbacada?
- Anya! Cara, tu está mais bonita que a última vez que eu te vi! – Exclamou Finn.
- Eu sei, Finn, eu falo a mesma coisa para mim todo dia em frente ao espelho.
Eu ouvi a gargalhada dos demais, porém minha atenção estava toda voltada para os
dentes brancos, grandes e perfeitos de Finn Collins. Outro suspiro alto e constrangedor
saiu de mim.
- Então, você deve ser a namorada da Lexa?! – Perguntou o homem de dentes perfeitos
para Octávia, que sorriu, negando com a cabeça.
EI! Porque a Octávia? E eu? Ele devia achar que eu não faço o tipo da sua amiguinha
babaca.
- Abby vai casar? Poxa, achei que isso nunca fosse acontecer!
- A pentelha da Clarke é nossa futura irmãzinha caçula. – Falou Anya, com aquela voz
de maníaca assassina, apontando para mim. Eu quis matá-la. Não acredito que ela me
chamou de pentelha na frente de Finn, e ele ainda por cima riu.
- Como é ter esses duas loucas como irmãs? – Finalmente Finn me deu atenção.
Ótimo, Clarke, fala alguma coisa inteligente e divertida, ele vai adorar. Finn ficou
esperando a resposta assim como as outras. O silêncio prevaleceu. MALDIÇÃO!
Porque eu ainda estou calada?
Octávia, Lexa e Anya me encaravam incrédulas. Finn apenas confuso. Não sei porque
tanto espanto, afinal eu só fiquei muda de uma hora para outra, normal, eu não sou
tagarela....ou sou? Nuca parei para pensar nisso...
NADA.
Não precisa ser algo inteligente, apenas algumas palavras. Eu devo estar com a cara
mais idiota do mundo. Ok, nada que você fale vai fazer você parecer ainda mais
esquisita do que está sendo agora. Então, faça alguma coisa, sua burra. FALA!
EU QUERO MORRER!!
- Ela é uma daquelas pessoas com deficiência mental? Você sabe,... é,... excepcional? –
Perguntou ele para Lexa, com seriedade.
Lexa PDV
Gargalhei, pois fiquei feliz por não ser a única a achar que Clarke tinha sérios
problemas mentais. Eu não sei o que estava acontecendo com a Griffin, ela estava
estranha demais. Nem se ela estivesse morta, poderia estar tão silenciosa.
- Tudo, Wells!
- Sim!
Retirei do bolso parte do dinheiro que estava guardando para pagar o próximo semestre
da faculdade e o entreguei a Finn, que não contou, apenas repassou para Wells.
- Para sorte da Lexa, não. Estou me guardando para um racha em Barcelona. É, Woods,
você terá uma chance hoje. – Zombou Finn.
- Eu acho que você está é com medo de correr comigo! – Respondi à provocação
divertindo-me. Finn gargalhou sarcástico.
- Muito bem! Hora de queimar pneu no asfalto! – Disse ele, dando um tapa nas minhas
costas.
Olhei para Clarke, que continuava petrificada. Estranhei, pensei que nesse momento ela
ia começar a tagarelar, me ameaçando de morte, caso eu não ganhasse o racha, mas, lá
ficou ela, como uma perfeita estátua. Octávia parecia tão confusa quanto eu. Anya,
bem,... o que posso dizer? Já estava paquerando alguém.
- Ei, Lexa, você sabe minhas regras! Sem capacete, mana! - A voz atrás de mim, vinha
de Finn. Virei-me e lhe joguei meu capacete.
- Tudo bem, põe o meu dinheiro aí dentro, eu não vou demorar! – Respondi.
Enfileirei minha Suzuki na linha de partida junto com mais 4 pilotos, dois orientais
gêmeos, um homem branco de barba comprida que me olhou com desdém, e um nativo
americano, um dos homens de Finn, deduzi.
O fato de não conhecer meus adversários, me deixou um pouco nervosa, seria mais fácil
correr conhecendo o tipo de estratégia que eles usam. Fechei o zíper da jaqueta de
couro, sabendo que, no final das contas, não importava quem eram meus adversários, eu
só tinha que dar o melhor de mim.
Finn se posicionou à nossa frente, segurando uma pistola prateada. Ele a ergueu acima
da cabeça e me lançou um olhar divertido. Todos se calaram, só podíamos ouvir o
barulho estridente dos motores. Engoli seco. Então, meu amigo apertou o gatilho da
arma e o estampido do tiro deu início ao racha.
Ganhei uma posição com isso. Agora eu estava entre os dois orientais, que provocaram,
aumentando a velocidade. Eu aceitei o desafio. À frente, havia uma encruzilhada e
cones indicando o retorno. Diminuí a velocidade e coloquei um pé no chão, a fim de dar
apoio suficiente para uma guinada. Um dos orientais não diminuiu o suficiente e sua
moto derrapou, fazendo-o ir ao chão.
Agora, éramos 4. Eu estava atrás apenas do nativo americano, que cresceu durante a
corrida, mostrando que estava guardando seus truques para o final. Vi pelo retrovisor
que o homem barbudo e o gêmeo oriental que restou, brigavam por uma posição. Minha
única preocupação agora, era o cara à minha frente. A distância que restava até a linha
de chegada, era uma estrada reta, ideal para usar toda a potência da Suzuki. Eu estava
apenas esperando por isso, pelo momento de me deixar levar pela velocidade.
Acelerei e logo atingi os 300 km/h. Como é andar de moto a 300 km/h? É mais ou
menos como ser sugado por um gigantesco aspirador de pó. A visão periférica fica tão
apertada quanto num canudo, a respiração quase para, o som do vento fica tão alto que o
ronco do motor vai sumindo e é preciso controlar as rotações pelo conta-giros. O medo
deixa de ser uma sensação imaginária e torna-se bem real e presente. Não dá para evitar
pensamentos como "e se quebrar esta roda?" Para evitar esse tipo de temor, me
concentro no adversário e na maravilhosa sensação de liberdade. O nativo americano
ficou para atrás, a adrenalina queimava pelo meu corpo quando ultrapassei a linha de
chegada. Soltei o guidon e abri os braços, deixando o vento passar por mim. A sensação
de euforia da vitória é indescritível!
Parei a moto em frente a Finn, em provocação. Ele era muito competitivo, na certa já
estava planejando uma corrida entre nós dois. Quando desci da Suzuki, senti alguém me
abraçar forte por trás. Virei-me, confusa, só para constatar que se tratava de Clarke. Eu
a encarei com uma expressão do tipo “o que você está fazendo?”. Ela recuou,
carrancuda e constrangida. Não foi minha intenção constrangê-la, não dessa vez.
- Minha guitarra! – Afirmou ela. Aí eu percebi que ela me abraçou em um ímpeto, não
porque eu havia ganhado, e sim, porque recuperaria sua guitarra.
Clarke PDV
Uma porção de gente voou pra cima da Woods, nem sei de onde saíram aquelas
pessoas. Praticamente, fui jogada para longe. Quanta babaquice! A idiota nem ganhou
um milhão.
- Vamos tomar umas bebidas em um bar cubano aqui próximo. Lá toca uma banda
legal. – Sugeriu Finn.
Eu fiquei logo empolgada, não estava preparada para me despedir dele. Os outros
assentiram de imediato. Precisávamos mesmo de umas bebidas.
Quando chegamos lá, achei que Octávia fosse ter um ataque ou começaria a chorar. Era
um lugar bem louco. Reggaeton tocava alto, muitos rastafáris e latinos se esfregando na
pista de dança. Eu não me importava em que lugar estava, contanto que Finn estivesse
lá. Ele parecia conhecido por lá e nos arranjou logo uma mesa. Nos sentamos. Eu ainda
estava embasbacada com o homem de dentes perfeitos. Ele também sentou-se, colocou
um pé em cima de uma cadeira próxima e acendeu um cigarro. Tossi ao sentir a fumaça
adentrando minhas narinas. Alguém acha que eu me importei? Uma garçonete com
tranças rastafári trouxe-nos cervejas e um garrafa de tequila.
Muito bem, Clarke, essa é a sua chance de tirar a má impressão que você deixou.
Precisa concertar as coisas. Fale algo que o faça pensar que você não tem problemas
mentais.
Ele deu outro trago no cigarro e, com sua voz grossa, falou:
- Em lugar nenhum e em todos os lugares, mas estou passando uns dias aqui na Itália.
- Finn, seu pai está morando em um pequeno vilarejo em Polis, porque não vai passar
uns tempos por lá? – A maldita Woods me interrompeu, filha da mãe.
Finn pareceu incomodado com as palavras da Lexa, virou uma dose de tequila e sorriu.
- Não vamos falar sobre isso esta noite, certo? Vamos comemorar!
Vamos, mude de assunto. Ele ainda não parece convencido da sua sanidade. Estava me
preparando para falar novamente, quando Octávia me puxou pelo braço, levantando-se.
- Vamos ao banheiro!
- Nada!
- Nada? Você não para de olhar para o bad boy, tem horas que sua baba quase escorre.
Você está caidinha por ele, caidinha pelo Finn! – Disse ela rindo.
Octávia estava certa, pela primeira vez na vida, eu estava interessada em um homem.
Foi tudo muito rápido, o que posso dizer? Se existe cupido, ele me atropelou com um
caminhão.
- Tudo bem, Clarke, é assim mesmo, é meio que um choque descobrir que gosta de
alguém. – Octávia falou, enquanto colocava uma mão em volta do meu ombro. – Fica
calminha, vamos voltar para a mesa, você relaxa, lança uns olhares sexy para o bad boy,
e deixa o clima rolar.
Finn e Lexa bebiam animados na mesa, eu não fazia ideia de onde estava Anya. Quando
nos aproximamos, Lexa sorriu torto e eu nem entendi porque.
Era uma boa ideia, fala alguma coisa legal, Clarke! Ordenei para mim mesma.
E ainda por cima sem graça, pois ninguém riu. Octávia fez uma careta e eu soube que
não deveria falar mais nada.
- Olha só, galera, eu ganhei dois bolos de chocolate de uma rastafári legal, alguém quer?
– Perguntou Anya, que apareceu atrás de mim com a boca suja de bolo.
Lexa PDV
- AAAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
Nunca vi Clarke rir tão alto, o pior é que Anya e Octávia também gargalhavam como se
estivessem vendo a coisa mais engraçada do mundo. Não havíamos bebido muito, Finn
e eu estávamos sóbrios.
- Eu preciso contar outra piada, escuta essa. O que o tomate foi fazer no banco? Foi tirar
extrato! Entenderam? Extrato? – Clarke gargalhava tão alto, que seu corpo inteiro
tremia e seus olhos lacrimejavam.
- Eu não entendi, mas achei super engraçado. – Falou a anta da Anya, rindo que nem
uma porca. Octávia já estava quase caindo da cadeira de tanto rir. Eu não achei a menor
graça, será que o problema era comigo?
- Cara! Essa sua família é muito estranha! – Disse Finn, encarando sério as três.
- Eu não sei o que está acontecendo com eles. Nunca os vi assim. – Falei, bebendo uma
gole de cerveja.
- Como não sabe? Eles aqui só servem bolo espacial, aquilo tem haxixe e maconha
dentro. E eles comeram com vontade. – Disse Finn, divertindo-se.
O QUE?
Agora fazia todo sentido, os três estavam doidões, e eu sabia que eu estava fodida.
Eu não sabia o que fazer, as três estavam doidonas demais. Fiquei observando elas irem
para o meio da pista de dança, empurrando todos à volta para terem mais espaço, então
começou a tocar...
Hey Macarena.”
Eu achei que ia explodir de rir. Eu podia esperar aquele tipo de atitude de Anya e até de
Octávia, mas nunca de Clarke. Elas dançavam, fazendo a típica coreografia da
Macarena. Clarke Griffin chacoalhava-se como se estivesse tento um ataque de
epilepsia, definitivamente ela não sabia dançar. Eu não podia perder mais tempo, tirei o
celular do bolso e comecei a gravar, podia ser minha única chance na vida.
Hey Macarena.”
Pela minha visão periférica, pude ver Finn gargalhando. Pela expressão das três, eu
podia jurar que elas achavam que estavam arrasando na coreografia. Quando cansaram-
se, saíram em trenzinho pela pista de dança. Os latinos animaram-se e entraram na
brincadeira do trenzinho que começou com três e terminou com umas 50 pessoas. Eu
tinha certeza que jamais esqueceria aquela noite.
Quando voltei, percebi que Finn não estava na mesa. Olhei em minha volta e o vi perto
do bar, mas o que vi a seguir, me chocou.
Ela estava dançando em cima do balcão do bar e cantando num karaokê ...
Tinha um monte de gente à volta dela. Finn parecia tentar convencê-la a descer.
Rapidamente fui ao encontro deles. Precisei empurrar algumas pessoas para conseguir
me aproximar do bar.
(E eu me fortaleci..)”
- Tudo bem, Finn, deixa que eu cuido disso! – Falei, colocando uma mão no ombro
dele, que se afastou, relutante. – Vamos, desce daí, Clarke, acabou o show! – Gritei alto
suficiente para ela me ouvir, em meio ao som alto. Ela me ignorou.
- Vem, Clarke, é melhor você ouvir sua irmã. – Falou Finn, estendendo uma mão para
ela, que, imediatamente, pegou, descendo do balcão.
Pisquei os olhos, tentando entender aquilo, ela só podia estar querendo me irritar.
Finn arrastou Clarke de volta para a mesa, olhei à minha volta e, nem sinal de Anya e
Octávia. Onde aquelas duas se meteram? Ao me aproximar da mesa, vi Clarke sentada,
rindo descontroladamente e pegando nos cabelos de Finn.
- Ela já não batia bem da cabeça antes. – Falei, puxando Clarke para junto de mim, que
protestou com uma careta.
- Me solta, sua babaca, não está vendo que estou ocupada? – Respondeu, parecendo
zonza.
- Nós vamos embora agora, você não está legal. Fica aqui que vou procurar Anya e
Octávia. – Falei, deixando-a, contra minha vontade, com Finn.
Eu precisava achar minha irmã burra e a anã da Octávia, elas estavam ligadonas,
podiam aprontar qualquer coisa.
Andei pelo bar e nem sinal delas. Me aproximei de um corredor escuro, que levava ao
banheiro feminino e as avistei. Precisei me aproximar para ter certeza do que os meus
olhos viam. Ainda assim, mal consegui acreditar.
Lexa PDV
Anya e Octávia me olharam com desdém, soltaram mais uma sonora gargalhada, e
voltaram a se agarrar. Anya jogou a pobre Octávia contra a parede e eu até tive um
pouco de pena dela.
- Anya, vai matar a pobre coitada assim! – Murmurei, puxando Octávia pelo braço.
Para o meu azar, ou pura coincidência, a música parou nesse exato momento.
Lógico que aquelas palavras chamaram a atenção de todos e, devo ressaltar que lá, a
maioria eram homens, ou quase. Revirei os olhos, larguei o braço de Octávia e saí
arrastando Anya o mais rápido que pude, ou poderia acontecer uma catástrofe.
Quando eu já estava próxima a mesa, apareceu uma mulher loira, alta, forte e me jogou
um copo de cerveja na cara. Era só o que faltava.
- Aquela moça me pagou 50 euros para fazer isso. – Respondeu a mulher, apontando
para Clarke, sentada à mesa, que acenava contente, enquanto Finn, ao seu lado, ria.
- Muito engraçado, agora vamos embora! – Falei, puxando Clarke pela camisa. Ela me
xingou de algo que eu nem consegui entender.
Se eu soubesse que ia ser a única a não se divertir, também teria comido o maldito bolo.
Quando estávamos bem próximos da saída, uma voz familiar ecoou de um lugar
qualquer:
- COMPADRES!
Finn pareceu indiferente, ele devia estar acostumado àquele tipo de gente.
- Não, não! Nós já estamos indo embora, obrigada mesmo assim, nos vemos por aí. –
Falei, empurrando Anya, Octávia e Clarke para fora do bar. Eu não estava nem um
pouco a fim de outra noite na cadeia.
Parei, esperando que ele desse um papel com o número para Anya, e nem acreditei
quando o vi entregando um aparelho celular.
Deu um pouco de trabalho, enfiar Clarke, Anya e Octávia dentro de um táxi, mas
consegui, aturando protestos e xingamentos. Peguei minha Suzuki e Finn me seguiu na
moto de Clarke.
Quando chegamos em frente à casa, Finn estacionou a moto de Clarke e foi embora no
táxi. Clarke, que passou a noite inteira estranha, ficou meio tristonha quando o meu
amigo foi embora sem se despedir. Eu também teria ido embora correndo, se pudesse.
Eu ainda não estava entendendo qual era a da Clarke, e o que Finn tinha a ver com isso?
Afinal, ela era lésbica, certo? Não ia me importar, só tinha que colocar aquelas três
malucas para dentro de casa.
Agora, somente Anya e Octávia continuavam com a crise de risos. Estávamos passando
pelo jardim, quando percebi que não as podia levar para dentro de casa naquele estado.
Avistei a piscina e soube o que deveria fazer.
Joguei a anãzinha dentro da piscina, na esperança de que a água fria a fizesse recuperar
a sanidade. Anya ria da sua “ficante”, mal sabia ela que logo chegaria sua vez.
- Agora é você, Griffin, venha! – Falei, fazendo sinal com a mão. Ela arregalou os olhos
e deu um passo atrás.
Bufei e fui em direção à ela. Eu não queria bancar a babá, mas sabia que Kane ia ficar
furioso ao notar que elas estavam drogadas. Clarke pareceu perceber minhas intenções e
saiu correndo para o outro lado da piscina. A segui e ficamos lá, feitos gato e rato. Ela
corria em volta da piscina, comigo perseguindo-a.
Como uma criatura tão pequena podia ser tão irritante? Foram mais voltas na piscina do
que eu poderia contar, aquilo já estava virando infantilidade.
- Tudo bem, Clarke, você que sabe, você que vai explicar a Kane que está doidona!
Meus braços ainda estavam em volta dela, quando tocamos o fundo da piscina. Clarke
chacoalhava-se, tentando sair da prisão feita por mim, mas era inútil, eu não ia largá-la,
até ter certeza que ela não me arrancaria mais cabelos. Submergimos quando a falta de
ar ficou insuportável. Puxamos o ar, ofegantes. Anya tomou distância e correu, pegando
impulso para se jogar com tudo na piscina, fazendo espirrar água para todos os lados.
Clarke relaxou nos meus braços, bocejando e respirando forte. Ela devia estar muito
cansada depois de uma noite muito louca. Decidi então, soltá-la. Não entendi a
relutância de meus braços ao fazer isso, mas fiz.
Clarke PDV
O sol que adentrava a janela, incomodou meus olhos. Minha cabeça parecia que ia
explodir. Me virei e cobri meu rosto com o edredom. Eu acho que tive um sonho muito
louco, as imagens borradas e confusas misturavam-se na minha cabeça. No sonho, eu ria
como louca, dançava macarena e cantava em cima de um balcão de bar. NOSSA! Que
sonho sinistro! Rolei na cama, exausta. Meu rosto ficou descoberto e abri um olho.
Então, eu vi minha guitarra em cima de uma cadeira. Como ela foi parar ali?
Sentei-me tão rápido, que o quarto pareceu girar, meus olhos saltaram para fora e minha
respiração sumiu. As lembranças da noite passada, vieram como flashs.
Finn, racha, vergonha, bar, banheiro feminino, piada, bolo, euforia, gargalhadas,
macarena, karaokê...
Era demais para minha cabeça, não podia acreditar que fiz tudo aquilo. Deitei-me,
peguei um travesseiro, enfiei na cara e ...
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHH...
Quando resolvi sair do quarto, já era quase hora do almoço. Eu nem queria comer, tudo
o que eu queria era muita aspirina. As vozes que eu ouvia, vinham da minha cabeça, ou
alguém discutia na sala? Apressei o passo e logo desci as escadas. Na sala, Octávia
estava vermelha que nem um pimentão e Anya ria, largada no sofá.
Fiquei confusa, do que ela estava falando? E se não queria que ninguém soubesse, por
que estava gritando? Cocei a cabeça, tentando entender.
- Eu não tenho culpa, foi você que começou, lembra? – A maníaca assassina falou entre
risadas.
Lexa descia a escada, com seu típico sorriso torto, e parou ao meu lado.
- O que está acontecendo, Octávia? – Perguntei, ainda confusa. Octávia não respondeu,
apenas colocou as duas mãos no rosto.
- Octávia e Anya deram uns amassos ontem à noite! – Respondeu Lexa, rindo.
Meu queixo caiu. Como eu não lembrava disso? Ah... o Finn! Eu não conseguia prestar
atenção em nada além dele.
- Bico calado, Lexa, ninguém deve saber disso! – Falou ela, alterada.
- Por que não? Você adorou, olha o que você fez em mim, sua anã tarada. – Disse Anya,
mostrando um chupão no pescoço. Octávia arregalou os olhos, sua expressão de susto e
incredulidade era tão cômica, que Lexa e eu rimos.
- Eu não quero colocar mais lenha na fogueira, mas eu acho que vocês fizeram bem
mais do que isso. – Proferiu Lexa, divertindo-se.
- Eu não preciso me preocupar com isso... - Octávia passou a mão pelo vestido
ajeitando-o, com uma expressão irônica. – Sua irmã, você sabe... não conseguiu.
- EU NÃO BROXEI! – Berrou Anya e nós rimos. – Eu só bebi demais... e a luz não era
favorável – Terminou ela a frase, em um fio de voz, com as mãos no bolso e cabeça
baixa.
- Ufa! De qualquer forma é um alivio não ter transado com a Anya, vocês não tem ideia.
– Explicou Octávia.
- Ei, eu sou uma gostosona, mas ainda tenho sentimentos. – Respondeu ela chateada.
- Você quase transou com Anya? – Para a nossa surpresa, a voz de Lincoln veio da
entrada da sala de jantar. Kane, Abby e Raven estavam com ele.
Octávia olhou para mim pálida e desabou no chão, inconsciente. Todos correram para
cima dela.
Os olhos de Octávia, fechados, tremiam e uma de suas mãos fechou-se. Aí, percebi que
ela estava apenas fingindo. Prendi o riso. Eu sabia que ela, mentalmente, estava
implorando por ajuda.
- Kane, é melhor levá-la para o quarto. Muita gente em volta não é bom. – Falei,
tentando ajudá-la.
- Você tem razão. Fiquem aqui, vou levar Octávia para o quarto. – Assentiu Kane.
Octávia devia estar agradecendo a Deus nesse momento.
Quando entramos no quarto, ela logo fingiu recuperar a consciência. Senti que Kane
percebeu a farsa, mas ignorou. Ainda assim, ele examinou-a. Octávia ficou deitada na
cama e Kane veio falar comigo.
- Clarke, eu andei pensando, o que você acha de sairmos juntos? Só eu, você e Rae?
Kane bufou.
- Por favor, não a chame assim, você precisa dar uma chance a Abby. Ela é uma pessoa
maravilhosa.
A dor e a raiva quase me fizeram sair dali correndo, mas fiquei e enfrentei.
- Ela é uma idiota, Kane, uma interesseira! Quando vai perceber isso?
- Será que você não pode ser como a Raven, ver as coisas com bons olhos?
- Ah, então é isso? Você quer que eu seja como sua filha perfeita Raven, não é? Eu sou
só o motivo da sua eterna vergonha.
- Você sabe que não foi isso que eu quis dizer, não distorça minhas palavras, eu...
Não fiquei para ouvir o resto. Saí do quarto batendo a porta. Nada do que ele falasse, me
convenceria do contrário.
Lexa PDV
- Você,... e eu! Lá fora,... agora. – O tom era ameaçador. Anya a olhou, com os olhos
arregalados, e até abriu a boca, mas nada disse. Levantou-se e seguiu a direção que
Lincoln indicava. Resolvi acompanhar os dois, curiosa para saber qual a intenção de
Lincoln, já que sua expressão era inédita para mim.
Anya, com certeza, não esperava aquela pergunta. Antes de responder, me olhou,
confusa e eu retribuí com outro olhar, como se dissesse: “não sei de nada!”
A cara de boba, que já era conhecida, deu um sorriso amarelo, antes de soltar:
- Ah, cara,... tá bom. Olha só, a gatinha aqui deu uns amassos pesados na baixinha!
Você tinha que ter visto!
Lincoln baixou a cabeça, em silêncio. Pude perceber ele engolindo seco. Me perguntei o
que estava havendo com o meu irmão, pois era a primeira vez que eu o via daquela
maneira. Anya, preocupada, falou baixo:
- Lincoln?
Então, ficamos esperando por cerca de três minutos, quando, de repente, a imagem
bizarra surgiu à nossa frente! Lincoln, com a cara mais assassina que já tinha visto nele,
apontava um taco de beisebol para Anya!
- Agora você vai ver o que são uns AMASSOS PESADOS!! – Falou meu irmão mais
novo, correndo em nossa direção.
Anya, desajeitada, começou a correr feito louca pelo jardim, berrando com a voz
gasguita:
Não pude fazer mais nada além de correr atrás dos dois, na esperança de alcançá-los e
evitar o assassinato. O barulho produzido por eles, chamou a atenção das garotas
Griffin, que chegaram ao jardim ofegantes e confusas.
Lincoln ficou vermelho e veio em minha direção, tremendo de raiva. O que eu podia
fazer? Não ia brigar com ele, saí correndo pelo jardim com o Lincoln no meu encalço.
Agora, era Anya que corria atrás dele, tentando livrar-me da fúria assassina de nosso
irmão, que um dia consideramos “calminho”. Foi estranho como as posições se
inverteram!
Pela minha visão periférica, vi Raven abanando, com as mãos, uma Octávia mais branca
que papel.
Lincoln, para nosso alívio, parou de me perseguir. Ele arfava, enquanto cerrava seus
punhos. Anya aproximou-se lentamente, temendo ser atacada.
O meu temor se tornou realidade, quando Lincoln agarrou Anya pela blusa e então,
explodiu.
- Qual a minha? Qual a minha? De todas as garotas do mundo, você tinha que ficar logo
com aquela... por quem me apaixonei?!
Então, ouvi um estrondo e logo percebi que se tratava de Octávia, que acabara de ir ao
chão.
Lexa PDV
Kane levou Octávia para o quarto mais uma vez, Lincoln estava inquieto e preocupado
enquanto estávamos no escritório do meu futuro padrasto, ouvindo um sermão de Abby.
Lincoln nem sequer olhava para Anya, isso jamais havia acontecido. Eu entendi poucas
palavras das queixas vindo de minha mãe, minha atenção estava voltada ao fato de que
meu irmão mais novo, “o certinho” da família estava apaixonado. Eu nunca vi Lincoln
apaixonado, aliás, eu nunca vi Lincoln com garota alguma. Anya e eu já estávamos
aceitando a possibilidade de ele ser gay.
- Vocês nunca brigaram antes, nem quando eram crianças, o que deu em vocês agora? –
Perguntou minha mãe com expressão de incredulidade.
Começamos a falar todos ao mesmo tempo, cada um querendo explicar sua versão dos
fatos. Eu mal podia me ouvir.
- UM DE CADA VEZ!
Nos calamos, mas a última frase ecoou no escritório: “... Cara, ainda bem que eu
broxei!” – Revirei os olhos. Lógico que aquilo saiu da boca de Anya. A fitei só para vê-
la esconder o rosto envergonhado entre as mãos. Lincoln bufou, temi que ele tivesse
outro acesso de “leão selvagem”.
Nossa mãe fechou os olhos e pôs uma mão na testa. Mesmo ela sendo uma mãe liberal
de três jovens, com certeza, a frase da minha irmã bisonha não era o tipo de coisa que
ela queria ouvir.
- Vocês já são adultos, por favor, resolvam esse problema conversando, não me
envergonhem. Eu vou ver como Octávia está, quando eu voltar é bom terem feito as
pazes. – Ordenou Abby, abrindo a porta. Ficamos lá, sentados em um sofá, cabisbaixos.
Quando ouvimos a porta se fechar, Lincoln voou para cima Anya. Tive que puxá-lo com
toda a minha força, obrigando-o a soltá-la que já estava ficando vermelha com o peso
dele.
- Lincoln, eu... – Imediatamente, tapei a boca de Anya. Tudo que ela falava só piorava a
situação.
- Linc, é o seguinte. O bar que fomos estava uma loucura. Octávia estava doidona, só
notou que estava beijando Anya, quando as flagrei. A Anya não fazia ideia de que você
estava apaixonado pela anãzinha, além disso, você sabe como ela é. Beija qualquer
coisa que tenha seios! – Pela minha visão periférica, vi que Anya me lançava um olhar
reprovador. Fiz ainda mais pressão com a mão para evitar que qualquer babaquice saísse
daquela boca, pois Lincoln estava começando a se acalmar.
Meu irmão mais novo bufou, sentou-se e percebi que finalmente ele voltou ao normal.
Parecia que seu lado leonino havia adormecido.
- Lexa, eu reprimi o meu sentimento por Octávia no início, mas depois de saber que ela
ficou com Anya, eu simplesmente explodi. É como se algo tivesse sido tirado de mim...
– Ele passou a mão pela cabeça, ajeitou o colarinho da camisa e continuou. – Talvez a
chance de namorá-la tenha se perdido, pra ela ter beijado a Anya é porque ela deve
gostar de garotas e vai querer ficar com ela. E eu não tenho experiência nesse lance de
garotas.
- Mano, a Octávia não é nenhuma puritana, já namorou outros caras ou pode ter ficado
com mulheres, ela não vai se prender a uns beijos bobos trocados em uma noite, em que
ela estava drogada. Que se dane o lance de experiência. Se você chegar junto dela com a
mesma ferocidade com que quase matou a Anya, ela gama, acredite em mim. Lexa vê,
Lexa sabe! – Sorri.
Anya sentou-se do outro lado e eu lancei um olhar do tipo “se falar, morre”. Para a
minha surpresa, ela abraçou nosso irmão. Ergui a sobrancelha quando vi Linc
corresponder o abraço. Havia sido mais fácil do que imaginei convencê-los a fazer as
pazes. Em seguida, Lincoln veio me abraçar sorrindo.
- E agora, meninas, o que eu faço? Octávia já sabe que estou apaixonado. E se ela me
der um fora? – Perguntou Linc, visivelmente aflito.
- Eu tenho um plano, Octávia é do tipo romântica, do tipo que chora por tudo, certo? Eu
sei exatamente o que vamos fazer para você ganhar a garota! – Afirmei, sorrindo.
- Por favor, não responda! – Pedi, assim que Anya calou a matraca.
Clarke PDV
Já fazia mais de uma hora que Octávia tinha se recuperado do choque de saber que
Lincoln era apaixonado por ela. Ainda assim, não saímos do quarto, quero dizer, ela não
me deixava sair do quarto. Estava totalmente obcecada com a aparência, e mudou de
- O que você tem, sua rabugenta? – Perguntou ela, vendo que eu estava prestes a morrer
de tédio.
- Nada. – Menti.
- Quando você responde assim, eu sei que está mentindo. Conta logo tudo! – Ordenou,
me chacoalhando.
- Deixa eu adivinhar... – Falou ela, fingindo concentração. – Seu mau humor tem um
nome: Finn Collins. E também tem um corpitchu sarado. Adivinhei?
Eu não consegui conter o sorriso quando ela pronunciou o nome do meu Finn.
- Oh, Octávia é mesmo? Eu vou fazer isso agora... – Peguei uma escova de cabelo, fingi
discar o número e comecei a falar. – Oi, Finn, sou eu a garota débil mental,
blá,blá,blá,bláaaaaghr.
- Até parece que tenho o número de telefone dele. – Resmunguei, esfregando o rosto.
Me perguntei se minha prima tinha batido a cabeça com força, quando desmaiou no
jardim.
Achei, no mínimo, estranho aquele pedido, mas tirei o celular do bolso da calça e
entreguei. Octávia começou a cantarolar uma porcaria de música qualquer, enquanto
mexia nas teclas. Sério, eu estava pra dar um tapa nela, só para testar, quem sabe eu me
sentiria melhor.
- Simples, fui até a Lexa e pedi o celular dela emprestado para mandar uma mensagem
de texto, alegando que o meu ficou sem bateria. Ela nem pensou duas vezes e me
entregou o aparelho. Aí foi só procurar o número do badboy e decorar! Não agradeça,
eu sei que sou um gênio maquiavélico do amor. – Disse rindo, vaidosa.
#Imaginação#
Peguei o celular confiante, apertei a tecla verde e a ligação foi iniciada. No segundo
toque, Finn atendeu.
- Alô?
- Olá, Finn, aqui é Clarke Griffin. Nos conhecemos noite passada, lembra? Nos
divertimos bastante em um bar...
- Vai ficar aí, sonhando acordada babando, ou vai ligar? – Perguntou, estendendo a mão
com o celular. O peguei, olhei para o visor e minhas pernas tremeram.
- Não mesmo! Você que tem que ligar! – Disse ela, jogando o celular.
Eu não tinha a menor condição de ligar para Finn. Tinha certeza que minha voz sumiria.
- Por favor, você tem que fazer isso! – Pedi, entregando o aparelho.
Octávia bufou.
- Tudo bem, eu ligo... – Decidiu ela, pegando o telefone e apertando o botão verde. –
Mas você fala! – Disse a descarada, colocando o celular no viva voz. Eu podia ouvir o
toque de chamada e congelei.
- Alô? – A voz masculina perguntou, e eu bem sabia que aquela linda voz pertencia ao
meu Finn.
Minhas mãos tremeram, abri a boca para falar, mas nenhum som saiu de mim. Fechei os
olhos e desliguei o telefone.
- Eu não sabia o que falar, ok? Me dá um tempo, eu tenho que pensar! – Respondi,
alterada.
Nos encaramos em silêncio. Por mais que Octávia estivesse querendo ajudar, me
pressionar só estava piorando a situação. Foi aí, que meu pior pesadelo se tornou
realidade: o telefone tocou!
- NÃO ATENDE! – Berrei quase tendo um AVC e também pulando. Por que? É um
mistério!
- Ai, meu Deus, Ai, meu Deus... e agora? – Nervosa, ela falou. Muito lindo da parte
dela, liga para o cara e na hora que ele retorna a ligação, ela entra em pânico.
Não quis nem saber, peguei o celular, coloquei na cama enquanto ainda tocava, joguei
um travesseiro em cima e, só para garantir, sentei-me no travesseiro.
- Reza, Octávia, reza para ele nunca descobrir que o número que apareceu lá é o meu,
ou você vai... – Não acreditei quando Octávia me puxou com força pelo braço, me
jogando no chão. Pegou, então, o celular e o atendeu.
- Finn, aqui é a Octávia, amiga da Lexa. Nos conhecemos ontem, lembra? – Falou ela,
com uma naturalidade assustadora. De onde ela tirou tanta coragem, de repente?
- Tudo. Finn, eu liguei porque tem uma pessoa aqui que lhe deseja falar. – Octávia
esticou o braço para me entregar o celular. Meu estômago embrulhou.
- Quem fala?
Foi uma facada no peito, eu pensei em gritar todos os palavrões que conhecia, e até
inventar alguns, mas tudo que fiz foi esticar o braço para Octávia pegar o celular. Eu
estava condenada. Ele lembrava de mim como a “garota da macarena”. Octávia me
encarou furiosa, com um olhar do tipo “agora fala, você já tá fodida”.
- Finn, ah... bem... você não gostaria, não quer... – Meu Pai do Céu, que frase mais
difícil de sair.
- Sim?
Finn fiou em silêncio e eu já estava dando adeus ao meu juízo. Octávia aproximou-se
apreensiva, esperando, assim como eu, a resposta.
- Claro! – Menti. Não fazia ideia de onde ficava, mas eu que não iria passar atestado de
mal informada.
Quando desliguei o celular, quase saí flutuando pelo quarto. Octávia me ajudou a
levantar.
- Clarke vai ter um encontro, Clarke vai ter um encontro... – Cantarolou ela, mas eu nem
liguei. Estava nas nuvens.
***
Já passavam da 00:00hs e não conseguia dormir, estava ansiosa demais. Queria que o
horário de me encontrar com Finn chegasse logo, eu ficava nervosa só de imaginar.
Rolei na cama pela vigésima vez na esperança de dormir. Foi aí que ouvi um som
anormal. Na verdade, não era um som e sim, um berro já conhecido.
- Anya, que porra de música é essa? O que foi que ensaiamos? – Reconheci a voz de
Lexa.
Corri para a janela e lá estavam no jardim as três criaturas mais ridículas que já conheci,
os irmãos Woods. Eles usavam roupas formais, Lincoln de terno preto, Lexa e Anya
seguravam violões e Lincoln, um buquê de flores. Que aqueles retardados achavam que
estavam fazendo?
Lexa PDV
- Anya, você não disse que essa era a janela do quarto da Octávia? – Perguntei chateada.
- Vamos chamar por ela, é o jeito! – Afirmei, não encontrando outra saída.
- Oh, meu Deus, que ridículo! Não me digam que isso era para ser uma serenata. -
Zombou Clarke, rindo.
- OCTÁVIA, PELO AMOR DE DEUS, APAREÇA! – Agora, quem gritou fui eu,
impaciente.
Para a nossa felicidade, Octávia apareceu em uma janela a poucos metros de distância e
fomos correndo até lá. Ela estava engraçada, com a cara toda verde de algum creme
facial qualquer.
Eu podia ouvir as gargalhadas de Clarke, que ainda espiava e me perguntei como minha
ideia romântica poderia dar mais errado.
- Calma, mano. Olha, pior do que já está não pode ficar. Vamos cantar o que ensaiamos,
só para ver o que acontece, ok? – Falei, tentando transmitir confiança.
- Mas…
- Lexa tem razão, vamos cantar. Quem sabe ela apareça. – Disse Anya animada.
- Anya, canta o que nós ensaiamos, ou eu mesma vou te espancar com esse violão. –
Ameacei, lhe apontando o instrumento.
Clarke PDV
Eu não podia perder aquela! Fui correndo para o quarto de Octávia. Abri a porta
violentamente, mais parecendo uma louca.
Os três cantando me dava vontade de dar um tiro na minha própria cabeça. Aquilo não
era música e sim, um grunhido de um porco sendo sacrificado. O pior é que cantavam a
música mais brega que o mundo já viu. Still Loving You do Scorpions, nem meu pai
ouvia isso.
- É para você, madame. – Afirmei, enquanto minha prima se jogava debaixo das
cobertas.
All the way from the start (Todo o caminho, desde o início)”
Fui até a janela e avistei os três tenores de araque. Lexa até parecia saber tocar a música.
Já Anya, só zoava, sem tocar porcaria nenhuma e Lincoln, erguia as flores no ar,
parecendo emocionado. Meu Pai, que cena.
The things that killed our love(As coisas que mataram o nosso amor)”
- Ela disse para virem aqui! – Eu sei, sacaneei. Não deu para evitar, era palhaçada
demais. Os Woods saíram correndo em direção à entrada da casa.
- Vocês não poderiam fazer isso em um ringue com lama usando só biquine? –
Perguntou a bizonhenta maníaca assassina.
Octávia se deu conta do que estava acontecendo e pulou na cama, cobrindo-se com o
edredom, totalmente envergonhada.
Os Woods se olharam. Acho que eles não sabiam o que deveriam fazer.
I'm still loving you, I need your love(Eu ainda te amo, eu preciso do teu amor)”
Lincoln percebeu que aquilo não estava resultando em nada, e o romantismo tinha
passado no outro lado da rua. Ele parou de cantar, mas as antas de suas irmãs, não.
- Por quê?
- Porque eu estou horrível, não quero que me veja assim. – Respondeu ela, em um fio de
voz.
- Octávia, você é linda. Não importa o que você coloque no rosto. A sua beleza vai além
de um rostinho angelical. Eu me… apaixonei pela forma como você sorri, pelo jeito que
você se preocupa com todos, pelo seu bom humor, o jeitinho que fica saltitando quando
está feliz...
- Octávia, não importa como você esteja, não importa o que aconteceu entre você e
Anya antes. Tudo o que eu quero é a chance de mostrar meus sentimentos por você. Por
favor, me dê uma chance… Octávia, quer namorar comigo?
Octávia sentou-se, jogando a coberta para o lado, totalmente surpresa. Seus olhos
estavam repletos de lágrimas, mas o sorriso em seus lábios denunciava o que se passava
dentro do seu coração.
- Eu quero. Sim, eu quero namorar com você! – Respondeu ela, finalmente se jogando
nos braços do maconheiro.
Eles se beijaram bem ali, na nossa frente. Por um momento, me senti em uma sala de
cinema, enquanto observava aquela cena extremamente romântica. Fiquei feliz pelos
dois, não entendi esse súbito romantismo, eu não sou romântica, mas foi inevitável.
Fitei as duas Woods ao meu lado. Elas também sorriam, Raven enxugava uma lágrima,
me perguntei se era puro fingimento. Lexa colocou uma mão no ombro de Anya e
falou…
Revirei os olhos, quanta infantilidade. Mas lá estavam elas dançando de forma ridícula,
em uma coreografia ainda pior.
FALA SÉRIO!
Lexa PDV
Já passavam das 01:30hs, e eu não tinha saco para dormir. Pensei em chamar Anya e
sair por aí para dar uma volta. Mas eu não estava muito animada e rolei na cama. Então,
ouvi batidas na minha porta. Levantei-me contra minha vontade. Eu já podia adivinhar
quem era. Anya, provavelmente querendo sair para “pegar” umas italianas. Quando abri
Me afastei para que ela pudesse entrar no quarto. Rae estava linda, seu vestido vermelho
provocante valorizava as melhores partes de seu corpo latino perfeito. Ela não era o tipo
de garota inocente. Rae quer, Rae pega. A garota bem sabia que eu estava a fim dela, já
fazia algum tempo e, se resolveu aparecer no meu quarto as 01:30 da manhã com uma
garrafa de vinho, ela só podia estar atrás de uma coisa: SEXO.
- Nossa, Lexa, você está com sede, hein? – Riu ela, provocando. Retribuí o sorriso meio
sem vontade.
Rav aproximou-se e tocou meu rosto. Agarrei-a pela cintura e lhe joguei na cama. Para
que deveríamos fazer joguinhos de sedução? Nós duas éramos adultas e queríamos
apenas sexo. Com o meu corpo em cima do dela, finalmente a beijei. Os lábios dela
eram macios e carnudos, mas, o beijo não foi explosivo como eu imaginei que seria.
A garota puxou minha camiseta e cedi a sua vontade. Raven estava ofegando, quando
cravou as unhas nas minhas costas. A beijei com fúria, porém, sem desejo. Me forcei a
entrar no clima, rasgando-lhe o vestido. Seu corpo era ainda mais bonito do que eu
imaginava. Eu não estava queimando de desejo, apenas, um pouquinho empolgada.
Bem, empolgada o suficiente para dar a ela o que ela queria. A questão era, eu queria?
Eu quis desde o primeiro momento que a vi, mas porque eu não estava feliz agora? O
que estava acontecendo comigo?
Nós rolamos na cama e Raven ficou por cima de mim. Ela sorria e eu fingi empolgação,
quando ela enfiou a mão dentro do meu short.
***
No dia seguinte, por volta das 14:00hs eu estava sentada na sala, jogando playstation
com Anya. Foi aí que minha atenção voltou-se para Clarke, que ficou parada na porta de
entrada como se fosse uma estátua.
- Que foi pirralha, congelou? – Provoquei. Para a minha surpresa, ela nem se moveu.
Muito menos revidou a provocação. Continuou lá, de costas pra mim como se tivesse
petrificado.
Soltei o controle do playstation e fiquei apenas observando-a. Até que hoje, ela não
estava parecendo um trombadinha. Vestia apenas uma calça jeans sem rasgos e uma
camisa de mangas compridas vermelha. Tinha algo acontecendo, eu podia sentir, só não
sabia o que. Clarke suspirou alto, então saiu. Tentei ignorar e voltar a minha atenção
para o jogo na tela, mas não consegui. Principalmente quando ouvi o ronco do motor da
Ducati de Clarke. Não deu para evitar, saí correndo em direção a garagem. Quando
ainda passava pelo jardim, avistei a Griffin atravessar os portões do casarão. Eu estava
curiosa demais para ficar em casa. Então, montei em minha Suzuki decidida a segui-la.
Clarke PDV
Minhas pernas doíam, eu queria descansar, mas não conseguia me dar ao luxo de ficar
sentada no saguão do hotel. Eu já havia roído todas as minhas unhas e ainda queria
poder roer mais. No início, eu achei tudo normal. Fui até a recepção do Maxim e me
informaram que Finn havia saído. Eu decidi esperar, afinal, ele havia marcado comigo
as 15:00hs e, ansiosa, eu havia chegado as 14:30hs. Eu sabia que agora já eram bem
mais de 15:00hs. Podia ver que logo a noite iria cair, mas não queria olhar para o
relógio. Não queria aceitar o óbvio. Parei de andar e me encostei em uma parede
exausta. Fechei meus olhos cansados e então, decidi aceitar a realidade, por mais
dolorosa que fosse. Finn havia me dado um bolo. Um nó se formou na minha garganta e
respirar se tornou difícil. A dor da angústia era quase física e eu queria alívio, queria
amenizar a dor, mas não havia como. Era somente eu e a dor da decepção.
Meu Deus, Clarke, o que você ainda está fazendo aqui? Ele não virá. Pensei em ligar
para Finn mais uma vez, mas sabia que era inútil, já havia feito isso várias vezes no
decorrer das horas que ali passei. Será que ele não queria atender ou não podia atender?
Queria me chutar por ainda estar ali esperando, mas o que eu podia fazer? A esperança
de vê-lo me manteve ali como prisioneira. Era chegado o momento de me libertar, de
deixar a esperança ir embora. Me forcei a caminhar em direção a minha moto, subi nela
lentamente e coloquei o capacete. Dar a partida, no entanto, foi impossível.
Encolhi minhas mãos tentando aquecê-las, então, um Austin Martin preto estacionou em
frente ao hotel. Só dei atenção, porque achava aquele modelo de carro sensacional. Para
minha surpresa, Finn saiu do carro, deu a volta e subiu a calçada. Em um súbito, saí da
moto e fui em sua direção, não pensei, não falei, só me aproximei.
- Finn, você vai demorar? Eu estou com fome. – A voz feminina veio de uma mulher
alta, ruiva e incrivelmente linda, talvez uma modelo. Ela saiu do carro, segurou o braço
do meu Finn e me lançou um olhar de desprezo.
- Susan, essa é Clarke, irmã da Lexa, aquela minha amiga que lhe falei. – Disse ele,
apontando para mim. Eu não sabia o que fazer, não consegui tirar os olhos dos dois, e
desejava com todas as forças que eles fossem apenas amigos. Então, Finn continuou. –
Clarke, essa é Susan Paisley, minha namorada.
- Tudo bem, ela fez o mesmo comigo. – Falou Finn, percebendo que eu não iria
cumprimentá-la.
Meu estômago começou a embrulhar, tive vontade de chorar ali mesmo, mas, as
lágrimas não vieram.
Depois de tantas horas esperando, ouvir que ele esperava me ver com a idiota da Lexa
foi um soco no estômago. Corri para a minha moto, dei a partida, enquanto eles ainda
olhavam para mim, provavelmente me achando insana. Não dei importância, saí
cantando pneu.
Eu queria fugir, queria correr, queria gritar, queria desaparecer. Mas tudo que eu podia
fazer era acelerar a moto até que eu não ouvisse nada além do som do vento batendo no
capacete.
Lexa PDV
Joguei algum dinheiro na mesa e saí correndo em direção à minha Suzuki, que estava
estacionada perto do bar. Clarke estava estranha demais, e saiu em uma velocidade fora
do comum. Era melhor eu verificar se ela estava bem. Era o mínimo que eu podia fazer
por Kane.
Enquanto eu a seguia, me perguntava como eu não havia percebido que ela estava
gostando do Finn. Quer dizer, eu nem imaginava que a Griffin tinha sentimentos, ela
simplesmente odiava a tudo e a todos. Porém, vê-la com Finn, abriu meus olhos.
Chegava a ser irônico que ela gostasse, justamente, do meu melhor amigo.
Confesso que achei humilhante a cena na calçada, mas, ela se acha tão esperta, deveria
saber que Finn não daria importância a uma pirralha como ela.
Depois de um tempo rodando pela cidade, Clarke estacionou próximo ao rio Adige, que
corta a cidade. Ela foi em direção à ponte Pietra, e eu fiquei apenas observando de
longe. Mil coisas começaram a passar por minha cabeça, ideias simplesmente surgiam
inexplicavelmente.
Clarke PVD
Caminhei até o meio da ponte, parei e me encostei, olhando para a superfície da água
abaixo de mim. O lugar estava meio vazio, ideal para eu respirar e digerir os
acontecimentos. Como eu pude ser idiota o suficiente para imaginar que Finn poderia
querer algo comigo? Eu já deveria saber que ele tinha uma namorada, ou mais de uma.
Mas acho que eu quis enganar a mim mesma, só para ter um pouco de esperança. O que
O choque percorreu meu corpo, como ela sabia o que tinha acontecido? Eu queria
perguntar, mas estava surpresa demais.
- Eu segui você, vi tudo. Eu já sei que você tem uma quedinha pelo meu amigo. – Falou
ela com o sorriso torto que eu tanto odiava.
- O que? Ah... não... é... não! – Eu queria negar com todas as minhas forças, mas as
palavras não estavam saindo corretamente, devido ao choque. Parecia um pesadelo.
Lexa, justo Lexa, saber dos meus sentimentos. Parecia até um castigo.
- É o seguinte, eu conheço o Finn, ele nunca vai gostar de uma garota que mais parece
um trombadinha e fala um palavrão a cada 10 segundos. Aliás, acho que nenhum cara
no mundo ficaria com você.
- Ei! – Falei, metendo o dedo na cara dela. – Você só pode estar com saudade de
apanhar, Woods! Me deixa em paz, não estou com saco pra você agora! – Eu já estava
enfurecida.
- Calminha... – Disse ela, erguendo as mãos no ar. – Eu vim em paz. Quero te fazer uma
proposta irrecusável.
Confesso que fiquei curiosa. Cruzei os braços, fingindo indiferença, e permiti que ela
continuasse.
- Vou explicar direitinho, porque você é meio lerda. Eu posso fazer o Finn se apaixonar
por você em poucas semanas. Posso fazer seu sonho adolescente bobo se tornar
realidade.
- Como?
- Simples, eu transformaria você em uma mulher de verdade. Mas não só uma mulher, a
MULHER que todos os homens desejam. Te ensinaria a se vestir, a andar, a falar,
dançar, a seduzir, até mesmo respirar. – Ela falou aquilo de forma tão segura que me
perguntei se ela estava só curtindo com a minha cara.
Abri a boca, deveria ter saído alguma resposta, mas meu cérebro não formulou
nenhuma.
- Pensa só, Clarke. Finn lamberia o chão que você pisa. Quando eu terminar com você,
nunca mais homem nenhum vai te dar um fora, nunca mais você vai sentir essa sensação
de rejeição que eu sei que você está sentindo agora. – Lexa sorriu como se estivesse
falando a coisa mais simples do mundo.
- Eu não preciso da sua ajuda, Octávia pode me ajudar com isso. – Respondi em um tom
de rejeição, achando que eu tinha tudo sob controle.
- Mesmo? Eu acho que não! Octávia não tem a metade da experiência que eu tenho,
Octávia não conhece a mente dos homens. Além disso, eu e Finn temos os mesmos
gostos. Ninguém conhece ele tão bem quanto eu. – Lexa colocou as mãos no bolso do
casaco cinza, sabendo que tinha toda a razão, e eu odiava isso.
Por um momento, fiquei tentada em aceitar. Ela fez tudo parecer tão fácil. Espera, tinha
alguma coisa errada nisso. Porque a Woods me ajudaria?
- Simples, você só tem que deixar minha mãe e meus irmãos em paz. Não interferir no
relacionamento de nossos pais.
- NÃO! – Gritei de imediato. – Isso nunca vai acontecer, nunca! – Só a ideia de Abby
conseguir o que quer, casar com meu Kane me deixava irada.
- Que tal uma amostra grátis do que você poderá aprender comigo? Talvez isso te ajude
a decidir o que é mais importante. Seu sentimento por Finn ou sua implicância boba
com minha mãe.
HEIN?
- Não é da sua conta! – Respondi, tentando não demonstrar o meu desconforto com
aquele assunto.
- Espera! Oh, meu Deus, você já beijou na vida, né? – Perguntou sarcástica.
A imbecil gargalhou.
- Clarke, o beijo é uma das coisas mais importantes para se conquistar alguém. Se a
outra pessoa beija mal, ou simplesmente não sabe beijar, dificilmente damos uma
segunda chance. O primeiro beijo é decisivo... – Eu ainda estava tentando absorver
aquela informação, eu não fazia ideia de que beijar era assim tão importante. – Tudo
antes, durante e depois, influencia para um bom beijo. Não são só duas bocas se
encontrando. É todo o clima, a respiração, o modo de mover a boca e quando mover,
como usar os dentes, até os menores detalhes se tornam importantes.
Por incrível que pareça, eu estava fascinada por aquela explicação, era como se ela
estivesse me falando de uma fórmula matemática dificílima.
Só quando vi Lexa se aproximar de mim, entendi. Dei um pulo para trás, assustada.
- Como você é criança! Também não vai ser divertido para mim. Considere um beijo
técnico. – Disse ela, demonstrando pouca paciência.
Parei por um segundo. Ai, meu Pai do céu. Eu estava mesmo inclinada a beijar a nojenta
da Lexa? Uma mulher? Mas eu queria beijar Finn, só não queria beijar mal, e se a
Woods estivesse certa?
- Ok!
Ela ficou a poucos centímetros de mim, eu podia sentir sua respiração uniforme. O rosto
de Lexa nunca ficou tão próximo ao meu, era uma sensação estranha. Com seu braço
esquerdo, ela enlaçou delicadamente minha cintura e meus olhos fixaram-se em seus
lábios entreabertos. Ela suspirou levemente e seu hálito de menta invadiu minhas
narinas e boca, que a essa altura, se abriu inesperadamente. Com a ponta dos dedos, ela
acariciou minhas costas e um súbito arrepio percorreu meu corpo. Lexa aproximou
ainda mais seu rosto do meu, seus lábios roçaram nos meus, em um toque sutil
despertando sensações em mim que jamais sentira. Sua mão direita percorreu
vagarosamente meu braço até chegar à minha nuca, e seus dedos entrelaçaram-se em
meus cabelos me fazendo estremecer. Pude sentir a ponta da língua dela em meu lábio
inferior. Em seguida, ela sugou levemente meu lábio, meus olhos fecharam-se, quando
me entreguei à aquela sensação. Meu coração começou a palpitar em um ritmo fora do
normal. Lexa gemeu baixinho contra a minha boca. Então, finalmente me beijou. A
língua dela invadiu a minha boca que, despreparada e desajeita, a sugou.
Instintivamente, meus braços enlaçaram seu pescoço e ficamos tão coladas, que eu
podia sentir o calor que ela exalava. O beijo que tinha iniciado suave e gentil, se tornou
intenso quando ela começou a sugar minha língua com urgência e morder levemente
meus lábios. Ela me segurava com firmeza e segurança, como se eu fosse sua
propriedade. Tudo ficou meio confuso naquele momento, eu sabia que deveria prestar
atenção em cada movimento, mas eu não consegui pensar em nada. Estava entorpecida
pelo calor, sabor, textura e cheiro. À essa altura, meu coração ameaçava explodir, e meu
corpo incendiar. Aos poucos, o beijo voltou a ser gentil e Lexa mordiscou meu lábio
inferior pela última vez. Quando ela afastou lentamente o rosto, ambas estávamos
ofegantes, minhas pernas cederam e eu só não fui ao chão porque ela me segurou. Eu
estava tão envergonhada, que não tive a coragem de encará-la. Mas ouvi uma risadinha
vindo dela.
- Eu vou deixar você pensando um pouco sobre a minha proposta, volto em 1 hora. É
bom você levar em consideração o fato de que eu não vou fazê-la uma segunda vez. É
pegar ou largar. Ou você aceita e fica com o Finn, ou passará o resto dos seus dias se
perguntando o que teria acontecido se você tivesse tido a coragem para fazer a coisa
certa.
Senti a Woods se afastar, não a olhei. Ao invés disso, fiquei olhando para o céu,
esperando minha respiração voltar ao normal.
Refleti sobre os prós e os contras por longos e intermináveis minutos. Eu não podia,
simplesmente, abandonar meu plano de afastar Abby da vida de Kane. Não podia deixar
que eles se casassem, seria uma estrada sem fim para um mundo do qual eu não
pertencia, e nem queria viver. Pensei na minha mãe, pensei nos dias desastrosos que
passei ao lado dos Woods, pensei em quanto eu queria que a minha vida voltasse ao
normal, quando éramos somente eu, Kane e Raven. Eu queria Finn, isso era fato, se o
beijo com a Lexa foi uma sensação surreal, imagina como seria com Finn? Eu não
queria mudar, mas eu sabia que precisava. Eu não queria fazer joguinhos com Finn, mas
De repente, meu celular vibrou no bolso da calça. Peguei o aparelho e havia uma
mensagem.
[Mensagem - 18:30hs]
Finn Collins: Desculpe por não ter ido ao encontro. Tive contratempos. Abraço.
Era isso. Só podia ser o sinal que eu esperava. Não ia pensar mais, estava decidido. Eu
queria Finn Collins, e ele seria meu, não importava o preço.
Poucos minutos depois, avistei Lexa vindo em minha direção. Fui ao seu encontro.
- Que seja! – Respondi, já pronta para enfrentar o que estava por vir.
Apertei a mão de minha inimiga, agora, minha cúmplice, fechando um acordo que eu
não fazia ideia de quais seriam as consequências.
- É, Griffin, agora eu vou ser sua professora, e... Anya vai ser minha assistente!
Arregalei os olhos.
Lexa gargalhou.
Clarke PDV
Bocejei e então fechei a porta com força na cara dela. Verifiquei se a porta estava bem
trancada, então voltei para a cama, me cobrindo com o edredom, satisfeita.
Ignorei.
Tapei os ouvidos com o travesseiro. Estava mesmo disposta a voltar para meu soninho a
qualquer custo.
- TUDO BEM, NÃO SE ESQUEÇA QUE EU PEDI COM EDUCAÇÃO! – Berrou ela
mais uma vez. O que eu fiz? Nada!
O silêncio foi um alívio. Meu corpo relaxou e, aos poucos, fui sendo embalada pelo
sono.
- Você não abriu a porta, eu avisei. Pense pelo lado bom, não vai mais precisar tomar
banho. – Zombou a anta.
- Escada!
- Não!
- De quem?
- Ah, meu Deus! Exercícios, Clarke, você precisa manter a forma. É muito sedentária. –
Falou visivelmente impaciente.
A princípio, achei que ela estava brincando, mas aí, notei que ela usava uma calça de
moletom azul, camiseta regata branca e tênis. (N/A: GOSTOSA!!!)
- Eu não vou correr coisa nenhuma! Além disso, às 7 da manhã! Me economize, Lexa.
Vai arrumar o que fazer! – Falei, me jogando na cama e agarrando o travesseiro.
- Tenho quatro palavras para você: acordo, Finn, me, obedecer! – Ela cruzou os braços.
Achei que ela ia se dar por vencida, mas parecia que ela estava mesmo levando aquele
acordo a sério.
- Tenho duas palavras para você: quero, dormir! – Falei, me enrolando com o edredom.
Porque ela tinha que lembrar daquilo? A vergonha me dominou. Agora que eu não ia
mesmo levantar da cama! Preferi esconder o rosto nas cobertas, para evitar que ela visse
meu rubor.
- Te espero lá na calçada. Não demore, senão, venho aqui com outro balde de água! –
Ameaçou ela, antes de sair.
Coloquei uma calça de moletom qualquer, que estava jogada no closet, minha camiseta
favorita do Bon Jovi, um tênis e, por fim, prendi o cabelo em um rabo de cavalo.
Quando fui para fora da casa, avistei Lexa se aquecendo. Eu amaldiçoei o sol aquela
manhã, bem que poderia estar chovendo, assim eu não teria que correr.
- Vamos, pirralha, está uma ótima manhã para correr! – Falou ela, dando início ao
exercício.
Fiquei parada no meio da rua, só observando ela se distanciar. Lexa logo percebeu que
eu não a segui. Então, voltou.
- O que foi?
- Isso é tão idiota, correr não vai me ajudar a conquistar o Finn. – Reclamei mal
humorada.
- Eu já expliquei porque vamos correr, agora me obedeça e vamos logo! – Ordenou ela,
prepotente.
Meu xingamento foi interrompido pela surpresa de sentir Lexa, dando um puxão no
meu rabo de cavalo. Tudo bem que quase não doeu, mas foi muita ousadia dela. Eu
estava pronta para descontar toda o meu mal humor nela.
Lexa saiu correndo imediatamente, e eu a segui, correndo com todas as minhas forças.
Eu não sei por quanto tempo fiquei correndo atrás da Woods pelo bairro. Uma hora,
talvez. Minhas pernas já não tinham forças e eu estava sedenta. Parei, colocando as
mãos no joelho, exausta. Lexa percebeu que eu já não a perseguia e veio ao meu
encontro.
- O que foi? Já vai desistir? – Perguntou ela, suada, mas não parecia exausta como eu.
Como ela ainda tinha pique para fazer uma perguntinha idiota? Eu mal conseguia
respirar.
Já que ela estava bem próxima, ainda estendi o braço, tentando alcançá-la, em vão. Eu
não tinha forças nem para chutar uma latinha. O jeito foi desistir mesmo.
- Amanhã? – Se eu tivesse forças, teria gritado aquela palavra, devido à minha surpresa.
Balancei a cabeça. De jeito nenhum que eu ia colocar os bofes para fora todo dia.
Caí sentada no asfalto. Ia ser preciso um guincho para me levantar. Correr de volta para
casa estava fora de cogitação.
- Não é possível que você esteja tão cansada assim. – Questionou Lexa, analisando-me.
Deitei no chão ainda ofegante, só para ela ter uma noção de quão cansada eu estava.
Lexa me olhou impaciente e, para minha surpresa, ela me puxou pelos braços,
levantando-me. Mal consegui ficar de pé.
Bem, eu que não ia voltar correndo. Então, dei um pulinho para pegar impulso e subi
nas costas da Woods, enlaçando minhas pernas em seu quadril e os braços em volta do
seu pescoço.
Lexa começou a andar. Aquilo era, no mínimo, sinistro, mas não liguei. Cansada do
jeito que eu estava, qualquer coisa servia.
- Upa, upa! Anda, pangaré! – Não aguentei, eu tinha que zoar ela.
Lexa bufou, mas não parou de andar, aquilo era muito engraçado, ao menos para mim.
Eu não quis gargalhar para ela não me fazer correr até em casa, mas ria silenciosamente.
Isso fazia meu corpo inteiro tremer. Com certeza, ela notou. Eu queria ver a cara que ela
estava fazendo, mas, infelizmente, não foi possível.
Lexa PDV
Olhei meu relógio de pulso e já marcavam 15:25hs. Me perguntei onde estava Clarke,
eu avisei pra ela não se atrasar para a primeira aula. Andei pelo quarto, tentando me
conter. Eu estava prestes a ir buscá-la. Então, finalmente, ela adentrou o quarto.
- Por quê?
- Dãããããaaa, sua imbecil, não é óbvio? Não quero gozações, não quero ninguém
achando que sou sua amiguinha, não quero...
Se Clarke queria que nosso acordo fosse segredo, eu concordaria. Afinal, eu realmente
não queria que minha mãe soubesse que a Griffin só parou com a implicância por causa
de uma interferência minha. Eu tinha certeza que Abby não aprovaria.
- Quero que você entenda uma coisa. Não é exatamente sua aparência que repele os
homens, pirralha, e sim, o seu jeito. Você é completamente insana.
- Viu só? É disso que eu estou falando! Você fala palavrão demais, vamos mudar isso.
A partir de agora, você será uma moça educada, ou o que chegar mais próximo disso.
Ou seja, nada de xingar, mostrar o dedo, ou bater nas pessoas. – Quando proferi aquelas
palavras, me perguntei se aquilo era possível, mas, eu tinha que fazer parecer que era.
Levantei-me, fui até o criado mudo, peguei um pote médio com uma tampa branca, que
havia reservado, e joguei em direção a Griffin, que o pegou, desajeitada.
- Considere-o seu melhor amigo a partir de agora. Leve-o para todos os lugares que
você for. Sempre que você falar um palavrão, vai ter que colocar aí, uma moeda de 1
Euro.
- Não mesmo! – Afirmei, altiva, para ela perceber que aquilo não era nenhuma piada.
- Não queremos que Finn considere você uma conquista fácil, certo? Uma garota de
apenas uma noite. Então, você vai ter que bancar a difícil. Apesar de muitos negarem,
eles gostam de mulheres difíceis, afinal, tudo que é difícil acaba sendo mais gostoso.
Esse lance de ficar esperando ele por horas, ou ligar a cada meia hora, nunca mais!
Estamos entendidas? – Clarke deu de ombros, acho que ela ficou meio constrangida de
- Não vou transformar você em uma patricinha, uma garota vulgar ou uma intelectual.
Você será uma mistura de todas elas. O tipo de garota que sempre está antenada, sabe de
tudo um pouco, sensual, provocante, mas que nunca cede às investidas dos homens, que
se veste bem, usa salto, um visual levemente rebelde, mas não usa roupas de grife só
para mostrar que tem dinheiro. Essa parte você entenderá melhor quando chegarmos à
aula de como se vestir. Estou me fazendo entender até agora?
Clarke coçou a cabeça. Eu notei que ela não havia entendido patavinas.
- É... entendi! – Mentiu ela, sorrindo amarelo. Não dei importância, ela ia entender no
momento certo.
- Ei! Eu já corri, não vou ficar andando também! – Resmungou Clarke, cruzando os
braços.
- De você, lógico, do que mais seria? – Quando falei aquilo, Clarke cerrou os olhos e
fechou o punho. – Ok, ok, sem estresse, pirralha. Nós mulheres não andamos, nós
desfilammos. Então, deixe sempre a cabeça erguida, tente andar em linha reta E PELO
AMOR DE DEUS, REBOLE! – Ordenei, enfatizando nas últimas palavras.
- Eu sei fazer isso, babaca! Olha só! – Respondeu ela, se achando muito esperta.
- Para, para, para! – Pedi, lhe segurando pelos ombros. – Se andar assim, vão achar que
você fumou crack. Eu vou te mostrar como deve ser.
O que eu podia fazer? Tinha que mostrar a ela o jeito certo. Incorporei meu lado mais
sensual possível e caminhei mostrando a ela como deveria caminhar. Não demorou para
Ainda assim, a fiz caminhar umas 35 vezes. No início, foi um caos, mas após a
vigésima quinta vez, ela estava, finalmente, entendendo o que eu quis dizer com
“desfilar”. Clarke ia ter que praticar muito. Não estávamos tendo muito progresso e eu
resolvi mudar de lição, antes que eu abandonasse o plano.
- Tudo bem, chega de caminhar. É melhor partimos para outra lição, que não precise
usar suas desastrosas pernas.
- Eu estava desfilando bem, viu? Você que fica com essa sua exigência de merda! –
Respondeu ela, parecendo ofendida.
Nem respondi, apenas estendi o “pote do palavrão” para ela e Clarke logo soube o que
eu queria. Ela bateu o pé no chão algumas vezes, mas cedeu, colocando lá, uma moeda.
- Nós precisamos revisar a aula do beijo, além de praticar, você precisa saber de alguns
detalhes que não lhe expliquei. Mas, em outra aula veremos isso. Hoje, você irá
aprender sobre algo que costumo chamar de pontos fracos.
- Quase todo mundo tem uma área no corpo sensível, algo que é explorado durante o
beijo, geralmente é pescoço e orelha. – Respondi, achando que aquilo era o suficiente
para me fazer entender.
Clarke PDV
Porque Lexa continuava a falar grego? Eu demorava uma eternidade para entender onde
ela queria chegar. Mas eu também não ia dar o braço a torcer e admitir que estava
completamente perdida.
- Vem cá! – Pediu ela, sinalizando com o dedo. Não pensei muito e fui. – Vou ensiná-la
como se deve beijar a orelha e o pescoço.
Arregalei os olhos. Lexa sorriu, eu simplesmente odiava quando ela sorria torto daquele
jeito.
- Não! – Menti. Eu estava sim, aquele lance de intimidade com a Woods era bizarro
demais.
- É simples, tudo que você tem que fazer é beijar levemente minha orelha. Sugar
levemente o lóbulo funciona bem, mas quando a pessoa exagera é meio nojento, porque
tem gente que acaba babando na nossa orelha, então, tem que ficar ligada nisso.
Eu estava tentando prestar atenção, mas confesso que me perdi no meio do caminho. Eu
estava mais era preocupada em colocar minha boca na orelha da pangaré da Lexa.
- O que foi isso? Que desastroso! Você deu um beijo estalado que quase me deixou
surda. – Reclamou Lexa, massageando a orelha.
- A culpa é sua, quem mandou ter uma orelha nojenta? – Lógico que eu ia revidar.
Eu não soube ao certo o que fazer quando Lexa aproximou-se, colocando as duas mãos
na minha cintura e puxando-me para junto de si. Ela subiu a mão esquerda pelas minhas
costas até a minha nuca, forçando-me a inclinar um pouco a cabeça até que minha
orelha ficasse totalmente exposta, próximo aos seus lábios. Ela hesitou por um segundo
e eu pude sentir seu hálito aquecendo minha pele. Lexa, então me deu um beijo delicado
na orelha e minha respiração sumiu completamente, contornou toda a extensão da
minha orelha com a ponta da língua e todos os pelos do meu corpo eriçaram-se, em
resposta. Estremeci, ao senti-la mordiscar a cartilagem. Em seguida, chupou suavemente
meu lóbulo. Eu nunca havia sentido uma sensação parecida, uma mistura de choques,
arrepios e cócegas. Era estranhamente agradável, meus olhos fecharam-se e todo o ar
que antes havia sumido abruptamente, apareceu me fazendo arfar pesadamente. Para
minha surpresa, Lexa apertou-me ainda mais contra seu corpo, e sua boca foi descendo
lentamente para o meu pescoço. Eu não sei como foi possível minha pele arrepiar-se
ainda mais. Sentia como se uma descarga elétrica percorresse todo meu corpo, me
proporcionando um, até então, desconhecido prazer. Era como se uma chama subisse
vagarosamente dos meus pés até a cabeça, ela consumia minha carne. Enquanto sentia a
língua da Woods em meu pescoço, lambendo-me. Ela sugou minha pele, e provocou
dando-me sutis mordidas. Eu já não estava suportando, meu corpo estava ardendo em
labaredas desconhecidas.
- Hum... – Eu ouvi o gemido, e rezei para ele não ter saído de mim. Lexa afastou-se, me
encarando. Aí, meu medo se confirmou. Sim, fui eu que gemi. Cara, que vergonha!
Eu baixei a cabeça totalmente constrangida. Deveria estar mais vermelha que uma
pimenta malagueta. Para o meu azar, Lexa percebeu que eu estava quase explodindo de
vergonha.
-Tudo bem, eu sei que eu sou boa! – Riu ela, prepotente. – Além disso, o objetivo é
esse, tornar o ato prazeroso. Entende agora porque tem que aprender?
- Está falando de beijar o seu pescoço fedorento também? – Perguntei, fazendo cara de
nojo. Confesso que ela não fedia, mas eu não sabia o que falar naquele momento.
Respirei fundo, tomei coragem e então fui aproximando meus lábios de sua orelha com
o objetivo de provar à Lexa que eu não era uma lesada, que eu podia ser tão boa quanto
ela, ao menos eu daria tudo de mim para provar isso. Então...
Lexa bufou. Eu jamais ouvi ela bufar daquele jeito, alto e contrariada.
Eu não sabia o que fazer, ela não podia me ver ali. Olhei à minha volta e corri para o
banheiro. Deixei a porta entreaberta, pois fiquei curiosa. O que Raven queria, afinal?
- Oi, Rae. – Cumprimentou Lexa e eu deduzi que, à essa altura, a porta já estava aberta.
- Lexa, vamos dar uma volta, tem um lugarzinho que quero te mostrar, você vai adorar,
meu bem.
QUE OFERECIDA!
Não que eu me importasse com aquelas duas, mas eu não fazia ideia do quanto minha
irmã era direta.
- Sabe, Rae, eu estou meio cansada. Acho que vou ficar aqui pelo quarto mesmo. Quem
sabe mais tarde? – Respondeu Lexa, em um tom engraçado. Por um segundo, me
perguntei o que estava passando pela cabeça dela.
- Oh, meu bem, tadinha de você. Eu vou ficar aqui e te dar um pouco de mimos, acho
que você vai se sentir melhor! – Falou ela, com voz manhosa.
- Eerrr... sabe que dar um volta seria legal? Pois você ainda não andou na minha Suzuki.
– Falou Lexa, parecendo empolgada.
Ouvi o barulho da porta fechando-se e, então, saí do meu esconderijo, aliviada por Rav
não ter me visto ali com a Woods. Como eu iria me explicar?
Lexa PDV
- Lexa, você não sabe da maior, cara! – Falou minha irmã animada.
- Um antigo amigo italiano está promovendo uma festa à fantasia em sua mansão, ele
faz questão da presença de todos nós. Eu aceitei o convite, achei que vocês iriam gostar.
– Falou Kane, com seu sorriso amistoso.
- Amanhã à noite, querida, então, significa que vocês tem pouco tempo para comprar as
fantasias. – Respondeu ele, animado.
Minha mente logo começou a trabalhar. Aquela era uma boa oportunidade para Clarke e
Finn.
- Obrigada, Kane! – Eu sabia que Clarke não estava pronta, nem perto disso, mas não
queria perder aquela oportunidade. Precisaria dar um jeito qualquer para ela tirar a
impressão de louca que deixou no meu amigo. Eu sabia que Finn aceitaria o contive, a
palavra “festa” sempre lhe chamava a atenção, assim como sempre chamou a minha.
- Eu estou indo contar para elas agora mesmo! – Afirmou Kane, preparando-se para
subir as escadas.
- Espera, pai, eu vou com você, Octávia vai pirar! – Disse Raven, animadíssima.
Assim que eles saíram, puxei Anya para o jardim, ela me acompanhou, resmungando.
- Teve uma noite aí, que Raven foi até meu quarto, eu estava até gostando, queria tirar o
atraso, mas, no final eu bem... eu... eu...
- LEXA, VOCÊ BROX... – Tapei a boca da idiota rapidamente, eu não queria que toda
a casa ouvisse meu problema. Mesmo com a boca bem tapada, Anya gargalhava
descontroladamente. Eu realmente quis dar um soco nela.
E deu certo. Anya ficou carrancuda imediatamente, então pude tirar a mão da boca dela.
- Cara, o que está acontecendo com a gente? Será que não está mais funcionand...
- Ei, ei, será que o problema são as garotas Griffin? Quem sabe elas tem uma maldição
bizarra do sexo que nos fizeram broxar. – Falou ela, esfregando o queixo e parecendo
intrigada.
Revirei os olhos. Certo que a teoria da Anya era uma furada, mas eu estava seriamente
inclinada a acreditar nela. Isso era melhor do que admitir que eu estava falhando.
- Sabe de uma coisa? Agora o Lincoln está namorando a Octávia, deveríamos perguntar
se ele também anda falhando.
Anya se empolgou com a minha ideia, e ambas fomos correndo até o quarto do nosso
irmão mais novo. Adentramos sem bater, e flagramos nosso irmão limpando o quarto.
Meu Deus, quantas vezes ele faz isso por dia?
Não era a primeira vez que ele nos fazia fazer aquilo. Anya e eu, tiramos os sapatos e,
então, finalmente entramos.
- Linc, tem um lance sinistro acontecendo com a gente, uma maldição. Queremos saber
se você também está amaldiçoado! – Disse minha irmã mais velha, segurando Linc
fortemente pelos ombros.
Quando foi que a teoria da Anya virou fato? Lincoln me fitou como se pedisse ajuda
para entender.
Resolvi falar de uma vez, para tornar aquele momento o menos constrangedor possível.
- Assim como Anya, eu também falhei na hora H. Estamos aqui para saber se algo
parecido está acontecendo com você.
Anya colocou a mão na boca, chocada, seus olhos pareciam que iam saltar para fora.
Confesso que também fiquei surpresa.
- Ontem à noite, eu e Octávia estávamos no quarto dela, é... como devo dizer,
estávamos... bem... estávamos....
- Estávamos namorando, algumas carícias foram trocadas. Mas eu não fui além disso,
pelo motivo que vocês já sabem. – Linc estava muito envergonhado. Me perguntei
como ele conseguia ser tão tímido.
- Lincoln, até onde eu sei, você ainda é virgem, certo? Talvez seu problema seja algo
relacionado a isso. – Falei, tentando manter a conversa em um nível realista.
- Tudo bem, Linc, não precisa entrar em detalhes, isso é tudo muito novo para você.
- Droga, Lexa, deixa ele contar! – Falou Anya, imitando as palavras que a pouco
pronunciei.
- Vamos ter um pouco de foco nessa conversa. Precisamos saber o que está havendo de
errado conosco, não somos assim, nós mandamos ver, certo?! – Eu falei tentando
animá-los, mas não consegui animar nem a mim mesma.
- Anya, isso é bobagem. Deve existir outra explicação como disse Lexa. – Respondeu
Linc, mas não senti segurança em sua voz.
- Caras, eu tenho um plano! – Informou a irmã mais burra do mundo, com um largo
sorriso. (N/A: por que eles ainda dão ouvidos para a Anya?)
***
- Vocês vão adorar esse filme, eu baixei da internet, se chama bundas frenéticas. – Falou
Anya, colocando o DVD no aparelho, enquanto meu irmão e eu sentávamos no sofá.
- E lá vamos nós! – Exclamou ela apertando o botão play do controle remoto. E nada de
filme. – Ué, o que aconteceu? – Perguntou ela, pressionando algumas vezes o botão
play.
- Está sim, deve ser algum defeito nesse aparelho de DVD idiota. – Respondeu ela,
chacoalhando o controle remoto.
- Eu vou dar uma olhada no DVD. – Falei, levantando-me contra a minha vontade.
Foi aí que ouvimos vozes vindo da escada. Virei-me, surpresa, quando percebi que
Clarke e Octávia já se aproximavam de nós. Por puro azar, ou uma tremenda sacanagem
do destino, o filme começou a ser exibido.
- OLHA, ESTÁ FUNCIONANDO! – Gritou ela animada, mas logo se deu conta que as
meninas já estavam próximas demais. – ESTÁ FUNCIONANDO, OH NÃO, ESTÁ
FUNCIONANDO!
- Qual o filme? – Perguntou Clarke, bebendo um pouco da água que continha no copo
em suas mãos.
Abri a boca para responder, mas meu cérebro não acompanhou. Meus irmãos me
fitaram, esperando que eu respondesse. Só para piorar, o gemido altíssimo de uma das
mulheres, veio da TV atrás de mim. Eu queria matar a pessoa que deixou a TV no
último volume.
- É, um... filme de terror! – Respondi, engolindo seco. Foi a única resposta que eu
consegui pensar, para explicar o gemido.
- Ah, que legal, vamos assistir, Clarke. Nós não estávamos mesmo conseguindo dormir.
– Falou Octávia, para o nosso pesadelo, jogando-se no sofá.
Meu Deus, me tira desse pesadelo. Isso não pode ficar pior!
Será possível que estávamos tão aflitos com a situação que não percebemos nossa mãe
descendo as escadas? Ela sorria inocente.
- Lexa, Lincoln, não sejam mal educados, deixem as garotas assistirem ao filme
também. – Murmurou Abby.
Lexa PDV
- Eu estou falando com vocês, garotos, saiam da frente da TV! – Ordenou minha mãe
altiva.
Eu podia jurar que Lincoln estava tremendo ao meu lado. Quando vozes vindo da TV
começaram a gemer obscenidades, eu soube que estava ferrada. Baixei a cabeça, aceitei
a humilhação e dei um passo para longe do televisor.
- SANTO DEUS DO CÉU! – Falou nossa pobre mãe com a mão sobre o peito, surpresa
ao ver a cena inapropriada no televisor.
Clarke parecia chocada quando deixou o copo que segurava cair no chão. Eu até teria
rido dos seus olhos arregalados e sua boca entreaberta, se eu não estivesse tão
preocupada.
Lincoln ficou carrancudo e puxou a tomada do aparelho de DVD. Ele fica esperto e
corajoso segundos após uma emergência? Me perguntei se sua atitude tinha a ver com o
fato de Octávia estar hipnotizada pelo filme.
- Espera! Eu não vou levar uma bronca! A CULPA É DAS GAROTAS GRIFFIN, QUE
NOS FIZERAM BROXAR! – Exclamou Anya, pondo-se de pé e berrando nas últimas
palavras.
- AAAAAAAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!! – A risada
espalhafatosa e altíssima veio de Clarke, que já apontava o dedo para mim.
Eu ainda tentava controlar minha crise de riso, quando vi Lexa, alterada, voar no
pescoço da irmã bisonhenta. Quando os corpos se chocaram, logo foram ao chão. Abby
e Octávia começaram a berrar desesperadas. Lincoln lançou-se sobre elas. Eu fiquei na
dúvida se ele estava tentando separá-las ou se também tinha a intenção de assassinar
Anya. Era bom demais para ser verdade, eu queria que os três se matassem e Abby,
como consequência, enfartasse.
Eu não sei ao certo como isso aconteceu, mas agora, Anya que tentava estrangular Lexa
e Lincoln parecia esforçar-se para conter a maníaca assassina. Quase discuti com Kane,
como ele me inventa de interferir justo agora?
- PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAREEEEEEEEEEEEEEEEEMMMM!! – Abby
esbravejou tão alto que provavelmente acordou os vizinhos. Nossa, mosca morta se
revelando! Até eu parei de rir, de tão surpresa que fiquei.
- Não se preocupe, querida, eu vou conversar com eles. – Sussurrou meu pai, para
Abby.
Lincoln PDV
Lá estávamos nós, mais uma vez, no escritório de Kane. Aquele lugar já estava virando
nosso consultório psiquiátrico. No enorme sofá cinza, sentei-me. Minhas irmãs me
acompanharam, cada uma sentada de um lado. Lexa parecia realmente chateada,
mantinha um olhar distante e Anya, emburrada, encarava o teto.
Nunca as vi brigando, não somos irmãos de sangue, mas Lexa e Anya sempre tiveram
uma ligação especial, um companheirismo desastrosamente exemplar. Quando
morávamos no orfanato, Anya defendia Lexa das outras crianças que, por vezes,
queriam lhe bater. Quanto à Lexa, sempre fazia as lições de casa e trabalhos escolares
de Anya. Essas semanas na Itália estavam mesmo mexendo com nossas cabeças e nem
sequer percebemos. Passamos a agir como adolescentes de 13 ou 14 anos. Isso é, no
- Me contem o que está havendo com vocês, prometo que não vou julgá-los. – Pediu
Kane, sereno.
Olhei para minhas irmãs e elas continuavam caladas, me pareceu que elas continuariam
assim. Bufei, criando coragem para falar. Afinal, todos logo saberão, pois Clarke, com
certeza, faria questão de sair espalhando.
- Autoestima? Por favor, Lincoln, esclareça. – Meu futuro padrasto parecia interessado.
- Nós broxamos, é isso! – Falou Anya, inesperadamente, ao colocar suas mãos no rosto.
Lexa apenas bufou.
- Fala assim porque não é com você. – Murmurou Lexa, ainda fitando o vazio.
- Isso é normal, pode acontecer com qualquer pessoa, de qualquer idade. – Respondeu
ele relaxado.
- Nós estamos amaldiçoados, pois todos nós broxamos na mesma época. – Falou Anya,
em um fio de voz.
- Acalme-se, Anya, dever ter uma explicação racional para o problema de vocês. – Kane
ajeitou-se na cadeira e continuou. – Me contem como aconteceu.
- Kane, eu… bem eu sou… virgem. E quando tive oportunidade de mudar esse fato,
simplesmente… não consegui. – Falei, rezando para que o interrogatório acabasse logo.
- Eu estava em uma festa, comi um bolo espacial… depois disso, nada! Nada de Anya
se dar bem. – Disse Anya, parecendo curiosa pra saber o que Kane falaria, afinal, ele é
médico.
- Eu realmente queria dormir com essa garota, eu quis durante muito tempo, mas
quando tive oportunidade, minha cabeça parecia estar em todos os lugares ao mesmo
tempo, não conseguia me concentrar, não conseguia pensar nas coisas certas. Foi
frustrante. – Desabafou Lexa.
- A resposta para o problema de vocês está justamente nas explicações que acabaram de
me dar. Ao me explicarem o que aconteceu, vocês mataram a charada. Não estão
vendo? Lincoln, você queria consumar o ato, mas não conseguiu, porque provavelmente
estava nervoso demais por ser sua primeira vez. Deve ter se sentido pressionado a
parecer um excelente amante logo de primeira, e acabou por não dar atenção ao que era
mais importante, o ato de amor em si. Anya, você estava drogada, o que você esperava?
Você pensa que toda droga é estimulante sexual? Já você, Lexa, deve perguntar pra si
mesma o que mudou em você ou na garota, para você perder o interesse nela. Você
achava que a queria. Muitas vezes achamos que queremos uma coisa, mas, na verdade,
queremos outra.”
- Agora, me digam, o que tudo isso tem a ver com a briga na sala? – Perguntou ele.
Lexa e Anya começaram a rir. Como elas ainda conseguiam rir depois de tudo que
passamos?
Clarke PDV
Meu nariz estava coçando, mas eu estava com sono demais para abrir os olhos. Fiz
careta e tentei voltar a dormir. Novamente meu nariz coçou, algo estava passando pelo
meu rosto? Dessa vez, não aguentei. Ergui, cheia de preguiça, a minha mão para coçar.
Foi aí que senti o cheiro forte da espuma de barbear que eu acabara de passar no rosto,...
Mas como? Assustada, abri os olhos, e sentei-me rapidamente. Lá estava o capeta em
forma de Woods. Lexa ria segurando uma pena branca em uma mão e um frasco de
espuma de barbear em outra. Só aí, percebi o que a maldita havia feito. Ela encheu
minha mão com espuma e usou uma pena para me causar cócegas, só para eu mesma
enfiar a espuma na cara. Cerrei os olhos e me preparei para a briga. Mas pensei em
outra tática.
- Ai, meus olhos, meus olhos estão ardendo, entrou espuma nos meus olhos! – Fingi,
colocando as mãos no rosto.
- Calma, não entra em pânico. – Lexa sentou-se ao meu lado e passou o lençol no meu
rosto, tirando a espuma. Aproveitei que ela largou a lata de espuma na cama, peguei-a e
borrifei na cara da otária.
Ela levantou-se tossindo. Ao que pareceu, entrou um pouco de espuma na boca dela.
Por mim, ela poderia até engolir tudo e fingir que era chantilly.
Dei de ombros, mas ela logo avistou o pote no chão, próximo à cama. Lexa o apanhou,
olhou para os lados, sorriu, pegou uma caneta pilot que havia em cima da minha mesa
de cabeceira e começou a desenhar algo no pote. Revirei os olhos. Até quando eu teria
que aturar aquela babaca?
Minha resposta foi respondida quando ela me mostrou o pote. A imbecil havia
desenhado uma enorme cara zangada no meu pote. Embaixo havia escrito “namorado
de Clarke”.
- Quanta babaquice. – Afirmei, tomando o pote de suas mãos e jogando para longe.
Infelizmente o pote não quebrou quando caiu no chão.
- Eu avisei para estar sempre com ele, é o seu namorado agora, durma com ele todas as
noites!
- Você está mesmo falando sério quando diz essas coisas? – Questionei, intrigada.
Bufei.
- Todo dia! – Respondeu, sentando-se na cama. – Eu não estou aqui para te convencer a
correr. Como você já sabe, nós vamos ao tal baile à fantasia do amigo do seu pai, e vim
lhe informar que já convidei o Finn.
Quando ela falou o nome de Finn, meu estômago embrulhou, eu ficava nervosa só de
pensar na possibilidade de revê-lo.
- Vamos pular o papo furado, eu preciso lhe dar uma aula pré-baile.
- Mas... mas... o baile é hoje à noite... eu não saberei o que fazer, não vai dar tempo! –
Disse-lhe, me jogando na cama. Eu não fazia ideia de como encararia Finn, depois do
incidente na calçada do hotel.
- Deixa de ser lerda, Clarke, o que você acha que eu estou fazendo aqui? Anda, não
podemos perder mais tempo. – Lexa resmungou, puxando-me pelo braço para fora da
cama.
Franzi a testa, encarando-a, ainda assim, não parti para cima dela. Fui para o banheiro,
tentando não ter uma crise de ansiedade.
Lexa PDV
Sentei-me na cama para esperar a Griffin, torci para que ela não demorasse. Ela não
estava nem um pouco preparada para reencontrar Finn, disso eu tinha certeza. Ia ser
preciso um milagre para ensiná-la a se comportar como uma garota agradável nessa
festa. Tudo bem que eu não esperava que ela mudasse do dia para noite, mas ela poderia
ao menos se esforçar e não ficar me importunando.
Eu estava meio na dúvida do que deveria lhe ensinar, haviam tantas coisas, mas o tempo
era curto e ainda nem havíamos escolhido as fantasias. Esfreguei o rosto, tentando me
concentrar nos detalhes mais importantes.
Será que Clarke estaria pronta para um primeiro beijo com Finn? Inesperadamente,
lembranças inundaram meus pensamentos.
O Beijo com Clarke. Beijar a garota não havia sido como eu esperava.
#Flashback#
Nossos rostos nunca ficaram tão próximos, era estranho. Com meu braço esquerdo
enlacei delicadamente a cintura dela, não queria assustá-la. Meus lábios abriram-se
em expectativa. Suspirei e, nesse momento, algo inesperado aconteceu. Fui atingida por
um súbito nervosismo, foi como se um raio tivesse me atingido. Eu não sei de onde ele
veio, apenas sentia-o percorrer meu corpo. Me forcei a continuar, acariciei as costas
de Clarke delicadamente com a ponta dos dedos, até pude sentir ela arrepiar-se. Me
Com minha mão direita, percorri cuidadosamente o seu braço até chegar em sua nuca,
onde meus dedos estrelaçaram-se em seus sedosos cabelos. Meus olhos fixaram-se nos
lábios trêmulos de Clarke, quando ela não estava tagarelando, até que sua boca era
bonita, linhas perfeitas e uma tonalidade graciosa de rosa. Tinha um sinal um pouco
acima dos lábios que a deixava mais adorável. Não resisti e toquei seu lábio inferior
com a ponta da minha língua. Daí foi impossível não sugá-lo. Meu plano era
permanecer de olhos abertos durante todo o beijo, mas contra a minha vontade, meus
olhos fecharam-se. Meu coração palpitou, me alertando que a adrenalina pulsava em
minhas veias, e um súbito gemido escapou de mim. Ignorei o fato de que talvez a Griffin
tivesse me ouvido. Tentei me conter, mas já não era possível. Enfiei gentilmente minha
língua dentro da boca dela, Clarke sugou-a meio desajeitada. O estranho é que, ainda
assim, foi gostoso. Senti os braços dela em volta do meu pescoço, isso nos fez ficar tão
coladas que eu podia senti-la quente e trêmula contra mim. O objetivo era ensinar
Clarke a beijar, a lhe mostrar o que fazer e como fazer. Porém, meus instintos estavam
quase me dominando. O beijo que antes era suave, se tornou intenso quando comecei a
lhe sugar a língua. A boca de Clarke era adocicada, virginal, e isso quase me fez gemer
outra vez. Mordisquei algumas vezes seus lábios, isso era algo que, definitivamente,
queria que ela aprendesse. Segurei-a firme, forte em meus braços, não querendo que,
após beijar Finn, ela achasse que eu era uma amadora. Então, tudo ficou meio confuso,
eu estava tentando me concentrar em ensiná-la da melhor forma, mas era como se algo
tivesse explodido dentro de mim. Fui entregue às sensações, fui jogada em um turbilhão
de sentimentos incompreensíveis. Todo meu corpo estava reagindo de forma
inesperada, era como se tivessem ejetado alguma droga em minha veia. Decidi tomar o
controle da situação e impedir que meu corpo reagisse de forma inapropriada e
constrangedora. O beijo voltou a ser suave e então, para me despedir das estranhas
sensações, mordisquei pela última vez, o lábio inferior de Griffin.
Quando nos afastamos, ambas estávamos ofegantes. Clarke fraquejou, mas felizmente,
segurei-a antes dela ir ao chão. Não consegui evitar de rir, ela estava mesmo
envergonhada. Será que beijei tão bem assim?
#Fim do Flashback#
- Estou aqui faz um tempão te chamando, você surtou, sua tapada? Você, por acaso,
dorme de olhos abertos?
- Vamos logo iniciar essa droga de aula, que eu já estou de saco cheio! – Respondi
pondo-me de pé.
Clarke PDV
- Sim?
- Bem, seria muito fácil. Eu já lhe falei que você precisa bancar a difícil, queremos que
Finn se apaixone por você, e não que fique com você uma noite e no outro dia, nem se
lembre. Precisamos fazer ele correr atrás de você. – Lexa riu. – Acho que nunca vi Finn
correr atrás de mulher alguma, isso vai ser engraçado de se ver.
Sorri também, a única coisa que gostava nas aulas da Woods, era que ela sempre fazia
as coisas parecerem muito fáceis.
- Então, o que vou aprender? – Perguntei, rezando para não ser a aula de como
“desfilar” novamente.
- É uma festa, certo? Nem em um milhão de anos eu vou conseguir fazê-la dançar bem.
Porém, acho que podemos treinar um pouco, para que você não pague um mico
gigantesco. – Falou Lexa, direcionando-se para o meu aparelho de som.
- Você chama isso de dançar? – Perguntou ela mostrando-me um vídeo que nem
acreditei.
Engoli seco, que porra eu achava que estava fazendo ali, me chacoalhando com Anya e
Octávia? Lexa ria da minha cara atônita.
- Não! Não ficou ruim! – Mentira, estava pavoroso. Até minha falecida vozinha
dançaria a macarena melhor que eu.
- Lexa, apaga essa porcaria de vídeo! – Ordenei, tentando pegar o aparelho, mas ela se
esquivou.
Arregalei os olhos.
- Brincadeirinha. – Falou ela, antes que eu enfartasse. – Mas não vou apagar, é uma
doce lembrança, esse vídeo. Cura qualquer depressão!
Após minutos revirando meus CDs, ela, finalmente colocou um no aparelho de som.
Não demorou para que começasse a tocar “One Step At A Time de Jordin Sparks”.
Engoli seco. Se já era constrangedor dançar, com Lexa analisando era ainda pior. Me
lembrei que as horas estavam passando e logo eu estaria em um baile com Finn. Então,
me agarrei à coragem e comecei a dançar timidamente. Mexi os pés para lá e para cá,
movimentando meu corpo, o mínimo possível.
- Para tudo! É para dançar e não ficar de um lado para o outro, feito um zumbi. –
resmungou LEXAZINHA.
- Vem cá! – Pediu ela, me sinalizando com o dedo. E eu, anta, fui.
A Woods me segurou pelos ombros, me obrigando a ficar com a coluna ereta. Eu revirei
os olhos. O que ela pensava que estava fazendo?
- Abre as pernas.
- Hein?
Afastei. Lexa pôs as mãos na minha cintura e me obrigou a mexer um pouco. Foi um
saco!
- Sinta o ritmo, sinta a batida! – Ordenou ela quando começamos a nos mover de um
lado para outro, um pouco mais rápido.
Sorrimos quando percebemos que estávamos tendo algum progresso. Lexa soltou minha
cintura e começou a movimentar os braços. Eu a acompanhei, realmente me esforçando.
Era incrível, acompanhar a batida realmente ajudava. Por incrível que pareça, eu estava
me divertindo.
Eu não sabia ao certo como fazer, mas me lembrar dos vídeos musicais e filmes, me
ajudou. Passei as mãos pelos cabelos e, lentamente, fui descendo pelos ombros até a
cintura e, por fim, quadril, o qual aprendi a mexer um pouco.
Para minha surpresa, Lexa sorriu e balançou a cabeça, sinalizando um “muito bem”.
Não era tão difícil quanto eu imaginei. Certo que eu não estava dançando como uma
profissional, mas, dava para enrolar. Continuei mexendo um pouco os pés e o corpo,
movimentando os braços e, por vezes, passando a mão pelo corpo.
- Se tivermos sucesso hoje, Finn te convidará para dançar. Então, vamos ensaiar como
você deve dançar a música lenta. – Disse Lexa, posicionando-se à minha frente.
Lexa pegou meus braços e colocou-os em volta do seu pescoço. Suas mãos logo foram
para minha cintura. Fiquei um pouco nervosa, acho que pelo fato de não querer pagar
mico outra vez. O ar que me faz respirar, perdeu-se em algum lugar entre meus pulmões
e garganta. A Woods me encarou por um segundo e, surpreendentemente, ela não estava
com seu típico sorriso zombador nos lábios.
Abruptamente, suspirei alto, o ar que saiu forte da minha boca foi de encontro ao rosto
de Lexa, que piscou os olhos algumas vezes.
- Ainda bem que você escovou os dentes. – Disse ela, rindo. Não resisti, a minha risada
saiu naturalmente.
Ficamos dançando suavemente por cerca de um minuto, então, Lexa afastou-se, pegou
minha mão direita e me girou. Quando nossos rostos se encontraram mais uma vez, ela
sorriu satisfeita. Provavelmente, se achando a melhor professora de dança do mundo.
Lexa, sutilmente, juntou seu corpo ao meu e, dessa vez, suas mãos ficaram em minhas
costas.
Saltei para trás, embasbacada, e, para o meu azar, pisei na droga do pote de palavrão e
meu corpo foi ao chão, me fazendo cair sentada.
Clarke PDV
- Eu não apertei com tanta força assim, não seja infantil. – Respondeu Lexa, dando de
ombros, como se tivesse feito a coisa mais normal do mundo.
- Do que você está falando? Você pegou na minha bunda, eca! Sua maníaca pervertida!
– Esbravejei, esperando que ela caísse na real.
- Eu estou ensinando você a como se portar. Isso faz parte da aula. Queria saber como
você iria reagir se alguém lhe apalpasse.
- Eu sei bem o que fazer. Enfiar a mão na cara do sujeito, como vou fazer com você
agora. - Levantei-me.
- Relaxa aí, não precisa partir pra agressão. Você só precisa, lentamente, retirar a mão
do Finn, ou seja lá quem for o maluco que tiver coragem de pegar na sua bunda. Isso
funciona bem, é como se você falasse: calminha, eu não quero, AINDA.
Esfreguei o rosto com as mãos, tentando entender porque eu ainda não havia matado a
Lexazinha, afinal, ela estava praticamente pedindo.
De repente, ouvimos batidas na porta do quarto. Lexa não se estressou, logo foi para o
meu banheiro e escondeu-se lá.
- Vamos alugar nossas fantasias! – Octávia disse sem cerimônias, quando abri a porta.
- Lógico, muitas pessoas de Verona irão a esse baile, não vai sobrar boas fantasias.
Vamos, vamos, vamos! – Pediu minha prima saltitando.
- Octávia, vamos outra hora. Agora eu estou com muita dor de cabeça. Me deixa em
paz, valeu?
Ela bufou e pensei que a maluca fosse me esfaquear pelo jeito que me olhou.
- Tudo bem, volto em 5 horas. Se você não melhorar até lá, te trago uma fantasia de
princesa. – O sorriso voltou ao rosto da Fofolete.
- Nem morta que uso uma porcaria daquelas, não vou nem animar festa infantil! Além
do mais, eu já sei qual fantasia vou usar. – Afirmei segura.
- E qual será?
Octávia gargalhou por alguns segundos e fiquei parada apenas observando. Então,
abruptamente, ficou séria.
- É lógico que não! – Fechei a porta na cara dela. Não estava a fim de ouvir outro típico
sermão de Octávia sobre moda, preferia o suicídio. Tranquei bem a porta e Lexa logo
veio ao meu encontro.
- Você só pode fazer isso para me irritar. Eu tenho o maior trabalho em te ensinar a
como ser gente e você fala que vai fantasiada de Shrek! – A Woods parecia mesmo
chateada enquanto gesticulava.
- Você pode ir alugar a fantasia com Octávia, mas se vier com uma fantasia de Shrek ou
coisa parecida, considere nosso acordo desfeito!
- Calma, LEXAZINHA, eu penso no que vestir depois. Mas, cá entre nós, você deveria
ir de palhaça, ficaria perfeita. – Zombei, não dando importância às ameaças dela.
Nós passamos a maior parte do dia trancadas no meu quarto. Algumas vezes, fomos
interrompidas por Kane, mas a Woods escondeu-se bem. Havia sido um dia produtivo,
segundo ela. Eu achei uma verdadeira palhaçada. Tive que dançar mais algumas vezes,
colocar inúmeras moedas no pote de palavrão, devido minha tendência a xingá-la e
praticar meu novo jeito de andar, que ela define como “desfilar”. Lexa me ensinou
alguns truques de como chamar a atenção dos homens. Como, por exemplo, deixar
escorrer um gota de bebida da boca, destacando-a em meio a uma conversa. Aturei
críticas absurdas da minha patética professora e, por fim, Lexa me deu algumas dicas de
como me portar perto de Finn, que eu resolvi resumir, para facilitar a lembrança, em
apenas: não falar palavrão, não ficar muda, não contar piadas, não perguntar sobre a
família dele, não babar (o que acho difícil), nunca pegar nos cabelos dele, e,
principalmente, não demonstrar que estou apaixonada.
Lexa PDV
Já eram quase 20:00hs e eu estava no meu quarto, puta comigo mesma. Como eu pude
esquecer de alugar minha fantasia? Caramba, eu fiquei tão distraída com as aulas de
Clarke que havia esquecido até de comer. Sentei-me, frustrada, na minha cama, já
considerando a possibilidade de ser a única a não ir ao tal baile.
- Você ainda não está pronta para o baile? Quase todo mundo já está esperando na sala.
Eu pensei que tinha sido a única a se atrasar.
- Eu não vou, esqueci de alugar a porcaria da fantasia. Vou avisar ao Kane. - Levantei-
me.
- Espera, como não vai? Não vai ter graça se você não for. Quem vai zoar a mulherada
comigo? – Anya pareceu-me decepcionada.
Anya coçou a cabeça por alguns segundos, provavelmente pensando, se é que isso é
possível.
- Se você não for ao baile, eu também não vou! – Afirmou ela, me deixando surpresa.
Ela nunca havia rejeitado uma festa antes, será que Anya estava drogada outra vez?
- Pode ir, Anya, está tudo bem. – Sorri. Minha mágoa havia sumido quase que
totalmente. Eu nunca imaginei que ela deixaria de “pegar umas garotas” por minha
causa.
- Quer saber? Nós vamos a essa festa sim! - Ela, empolgada, levantou-se.
- Você irá com a fantasia que eu aluguei, e eu vou improvisar uma. Já tenho até uma
ideia. – Lá estava um largo sorriso no rosto da bisonhenta. – Vou buscar a fantasia. Não
saia daqui.
- Absoluta! – Respondeu, toda orgulhosa. Sim, eu tinha que admitir, minha irmã havia
salvado a minha pele.
- Obrigada, mana.
- Anya, desculpa, cara, mas não vai rolar. Eu sou muita areia pro seu caminhão. –
Respondi rindo.
- Foi mal, eu sei que tenho a boca grande. Eu não sou burra como todo mundo diz. É
que eu faço as coisas sem pensar. Pensar me dá dor de cabeça. – Falou timidamente,
ainda me abraçando.
- Tudo bem, mana. Você é gente boa! – Consolei-a. – Anya, pode me soltar agora. –
Pedi, sentindo minhas costelas doerem.
Anya caminhou em direção à porta e, antes que ela saísse, falei baixinho.
- Lexa, você não faz meu tipo, tenta o Lincoln! – Respondeu ela rindo.
- Que porcaria é essa? Você é uma peixeira? - Perguntei, erguendo uma sobrancelha.
- Não, sou o Chuck, o brinquedo assassino! - Ela ergueu a faca e rosnou. - Dê-me o
podeeeerrr, eu imploro!!!
Revirei os olhos e arrastei Anya para a sala. Não queria atrasar o resto da família.
- MEU DEUS! – Falei, ao avistar Lincoln, com uma bermuda vermelha, suspensório,
camisa amarela, gravata borboleta e um chapeuzinho bem gay. Balancei a cabeça,
constatando que ele era o Pinóquio.
Lincoln não respondeu, apenas sinalizou com a cabeça em direção à Octávia, que sorria
alegremente, fantasiada de Power Ranger rosa. Eu confesso que achei bem a cara dela.
- Lincoln, você agora é um menino de verdade, fique feliz! – Zombei satisfeita, por
minha fantasia não ser tão ridícula quanto à dos meus irmãos.
- Oh, não fale isso, eu achei que ficou mega fofuxo. – Octávia alisou o braço do meu
irmão, que não parecia nada contente.
- Eles já vão descer. – Respondeu a anãzinha, segurando o típico capacete rosa dos
Power Rangers.
- Eu vou na cozinha pegar umas bebidas pra nos deixar no pique. – Informou Anya,
antes de sair.
Eu sabia que Finn me esperava fora da casa e me perguntei onde estaria Clarke,
precisávamos colocar nosso plano em prática.
Suspirei impaciente, prevendo que ela havia escolhido uma fantasia horrorosa só para
fazer todo o meu trabalho ser em vão.
Levantei-me e dei alguns passos, procurando um ângulo melhor. Queria avistar Clarke
antes de todos, na tentativa de barrar sua provável fantasia de Shrek.
Foi aí que o inesperado aconteceu. Clarke desceu as escadas. Meus olhos não creram.
Aquela era mesmo a pirralha? Instintivamente, abri o Red Bull e senti ele espirrar contra
minha face. Não consegui reagir diante da visão à minha frente.
Clarke usava um vestido preto, um pouco acima dos joelhos, levemente decotado, com
alguns babados brancos, corpete vermelho, meia calça preta, botas cano longo, e, por
fim, uma longa capa vermelha com capuz. O que era aquilo em sua mão direita? Um
cestinho? Ela estava usando maquiagem? Eu estou em outra dimensão?
- Minha ideia... – Pude ouvir a voz de Octávia, mas não consegui fitá-la. -
...CHAPEUZINHO VERMELHO DO MAU!
Ordenei para mim mesma, em vão. Meu olhar estava fixado na imagem
inacreditavelmente sexy. De onde a pirralha tirou aquelas coxas e aquele busto?
- WOW! – Gritei ao sentir que não havia sofá algum abaixo de mim. Meu corpo
desabou, me fazendo cair sentada.
- Clarke, você está...gostosa? Como isso é possível? – Anya me puxou do chão, já que
tive dificuldades para levantar.
Todos gargalharam e eu fingi gargalhar também, mas, na verdade, estava confusa pela
minha estranha reação à fantasia da Griffin.
Clarke PDV
Eu não conseguia acreditar que estava vestindo a estúpida fantasia escolhida por
Octávia. Eu deveria estar horrorosa, já que Lexa, quase desmaiou de susto ao me ver.
Ainda assim, o comentário da maníaca assassina me deixou extremamente
envergonhada. Como alguém podia achar que eu estava gostosa com essa maquiagem
preta de emo nos olhos, vestido pavoroso e um cestinho medíocre? Tudo bem que o
cestinho serviu pra eu guardar o maldito pote do palavrão, mas, ainda assim, eu devia
estar longe da definição de bonita. Oh, Deus, espero que o Finn também não se assuste!
Não deu pra controlar, meu pai estava ridículo. Eu achei que meu corpo ia explodir de
tanto que eu ri.
- Pai, você vai fazer a alegria da criançada? – Questionou Raven, vindo da sala de
jantar, vestida de coelhinha da Playboy. Revirei os olhos, aquilo parecia ter sido mesmo
feito para ela.
- Kane, acredite, está patético! – Interferi, me perguntando o que havia feito meu pai
pensar que se vestir de Teletubbie seria legal.
- Eu achei que ia ser divertido, já que Kane é sempre tão formal. – Tagarelou a mosca
morta.
Confesso que até eu fiquei meio chocada ao perceber que a mosca morta não estava tão
morta assim. Seu vestido de enfermeira era mais curto que o meu e a meia calça
vermelha chamava mesmo a atenção. Foi hilário ver a cara dos tapados dos Woods,
provavelmente nunca imaginaram que veriam sua mãe daquele jeito.
- Nunca mais vou conseguir fantasiar com uma enfermeira safada. – Eu pude ouvir
Anya sussurrar pelo canto da boca para Lincoln, que mantinha os olhos arregalados em
direção a Abby.
- O que foi? Por que o espanto? Só porque eu sou mãe de vocês não significa que eu não
posso ser um pouco mulher? – Defendeu-se a mosca não tão morta.
- Mas você não podia ser um pouco mulher com um vestido menos curto? – Gesticulou
Lexa nervosa.
ECA! Se ele estava vestido de Teletubbie e ela de enfermeira, eu nem queria imaginar o
que aqueles dois fantasiavam entre quatro paredes.
Para o meu alívio, todos fomos para fora da casa e quando avistei Finn no jardim,
encostado em seu Austin Martin, meu coração acelerou, minhas pernas fraquejaram e
um misto de entusiasmo e vergonha me dominou.
Petrifiquei na entrada da casa. Pela minha visão periférica, vi que Lexa também estava
rígida ao meu lado. Virei-me para encará-la e, por coincidência, ela fez o mesmo.
Ao longe, pude ouvir a gargalhada do lindo homem, mas não tive coragem de encará-lo.
A essa altura, ele já havia notado a ridícula coincidência de nossas fantasias. Me forcei a
erguer a cabeça e dar uma checada rapidinha na fantasia do meu amado, na esperança de
que ele não estivesse fantasiado de lobo e sim, de algo parecido, algo que pudesse ser
confundido com um lobo.
Eu ia responder que estava pronta, mas aí, todos os meus planos foram por água abaixo,
quando vi a nojenta da namorada do Finn sair do carro, fantasiada de mulher gato. Eu ia
desistir ali mesmo, não ia dar pra mim. Enfrentar meu lobo já era difícil, com a
namorada filha da mãe do lado, era impossível. Dei um passo para trás, me preparando
para voltar pra dentro, mas Lexa me deteve, segurando-me pelo braço.
- Sim! Você não me falou que a cabelo de fogo ia ao baile também! – Esbravejei,
derrotada.
- Eu não sabia, ok? Preocupe-se apenas com Finn, nós daremos um jeito na ruiva.
Não pude dizer “sim ou não”. A Woods guaxinim me puxou em direção ao carro do
homem de sorriso perfeito, enquanto os outros dividiam-se entre o carro do meu pai e o
jipe de Anya.
Não demorou para que todos nós nos reuníssemos quando adentramos o salão de festas.
Minhas especulações estavam corretas, o baile estava lotado, música animada tocando,
diversas fantasias e muito luxo sendo ostentado.
- HU!... OHOHOHOHOH! – Bastou ele rir pra eu notar o porque da fantasia de pavão.
Bellamy era uma bichona! – Meus amores, que honra obscena recebê-los aqui. Por
favor, Kane, me apresente sua família. – Pediu o anfitrião, enquanto soprava uma pena
de pavão em suas mãos.
Meu Deus, que figura era aquela? A fantasia de pavão não fazia jus ao seu jeito
escandaloso de rir e falar. Kane nos apresentou formalmente, mas eu duvidava que ele
lembrasse todos os nomes. Ele mais parecia interessado em nossas fantasias.
- Estão todos explodindo de lindos, inclusive você, Dr. Kane, amei de paixão sua
fantasia de Teletubbie, isso foi para me agradar? Eu realmente adoro o Tinky Winky,
durmo com ele toda noite. Nossa, sua noiva de enfermeira safada, hein? Que fantasia
absurdamente absurda! Kane, seu danadinho!
Eu tive vontade de rir da cara do Kane, constrangido, mas me contive, na esperança que
Bellamy não viesse falar comigo. Porém, ele continuou a analisar nossas fantasias.
- Nossa, Dr., seus filhos são lindos! – O pavão nos fitou com um largo sorriso, até que
ele estagnou em frente à Anya. – Que fantasia é essa?
Que sacanagem! Agora todos riram, menos eu. Bellamy passou a pena no meu rosto e
fiz uma careta. Quando o anfitrião avistou Lincoln ao meu lado, pude perceber que meu
mano estremeceu.
- Eu não tenho, eu não minto! – Afirmou Lincoln, em um fio de voz. E ele não escapou
da pena de pavão passada pelo corpo.
Esquivei-me para poder ver a cara de Finn, quando a bichona fosse fazer piada da
fantasia dele.
- Que homem é esse?! Olha só, gente, ele é um lobinho. - Bellamy também passou a
pena pelo meu amigo, que a deteve com uma mão. Finn o encarou carrancudo e
Bellamy sobressaltou. – AAAHHHHH, minha santíssima Madonna! O bofe é
literalmente uma fera, morri. AAAAAAUUUUUUUUUUU!! – Sim, o pavão aviadado
uivou, e Finn não gostou nadinha. Anya e eu até tentamos segurar a gargalhada por
educação, mas foi impossível.
- Você tem toda razão, Dr. Kane, eu adorooo uma brincadeirinha.Ui! – Ele estremeceu.
- É, combina com você, meu amor. Mas, eu sempre quis saber quem ganharia a luta,
mulher gato ou Power Ranger rosa. – Respondeu ele, com descaso. Foi então, que
encarou Clarke, sorridente e feliz pelas piadas destinadas a nós. – Capuz vermelho,
cestinho, vestidinho preto? Não me diga que você é uma chapeuzinho vermelho
masoquista.
- Meu bem, desculpe decepcioná-la, mas você está mais pra uma chapeuzinho vermelho
masoquista, aceite!
Clarke encarou, furiosa, Octávia, que deu de ombros como se falasse “é, parece
mesmo”.
Olhei à minha volta e notei que a maior parte das pessoas não estavam fantasiadas, elas
eram mesmo travestis e drag queens! Tive vontade de falar mais palavrões que Clarke.
Cara, como eu ia tirar o atraso se o universo conspirava contra mim?!
Clarke PDV
Eu estava largadona em uma cadeira com uma cerveja na mão. Na mesa comigo,
estavam Lexa, Octávia, Lincoln, Finn e a tal Susan. Anya e Rav dançavam. A festa,
para mim, estava um droga! Já havia passado metade da noite e eu mal consegui falar
com Finn, nos limitamos apenas a alguns cumprimentos formais.
Era impossível me aproximar com a porcaria da ruiva no pé dele. Porém, o que mais me
preocupava era o fato do meu pai estar sempre com um copo de champanhe nas mãos.
Kane não era de beber, no entanto, eu já havia perdido as contas de quantas taças ele
havia tomado. Ele dançava animado na pista com a não tão mosca morta. Caramba, eu
nem sabia que Kane dançava! Se meu pai estava se divertindo mais que eu, só podia
indicar uma coisa. Meu acordo com Lexa estava sendo um fracasso total!
Encarei a Woods, que conversava animada com seu amigo algo sobre rachas. Em
seguida, desviei o olhar para a tal da Susan, que parecia tão entediada quanto eu. Eu não
podia mais perder tempo, Finn estava bem ali na minha frente, lindo, e tudo que eu
estava fazendo era observá-lo conversar com a imbecil da Lexa? Hora de fazer algo por
mim mesma.
- Calma, Clarke, o Finn não parece dar tanta importância para ela. – Respondeu a
Fofolete, virando um como de champanhe.
- Ainda assim, ela está me atrapalhando, não para de abraçar meu Finn, eu tenho
vontade de enfiar essa taça no nariz dela só pra ver o que acontece! – Disse irritada.
Eu ia explodir em ciúmes.
- Susan, eu vou até o banheiro, você não quer ir comigo? - Octávia fez sua típica cara de
pidona. Quando ela queria, era mesmo persuasiva.
Eu não acreditei que Octávia havia conseguido tirar Susan da mesa. Logo, meu
entusiasmo voltou. Encarei Lexa com um olhar do tipo “pelo amor de Deus, me inclui
na conversa!”. Para minha felicidade, ela entendeu a mensagem.
- Finn, Clarke nunca participou de um racha. – Afirmou ela, vendo-me sentar na cadeira
que, antes, Susan havia ocupado.
- Sério? Você não corre? Quero dizer, não tem coragem de participar de um racha? –
Perguntou ele, com aquele sorriso maravilhoso. Suspirei, perdendo-me em sua beleza.
Quase babei, mas fui abruptamente alertada pela Woods, que me chutou, por debaixo da
mesa.
- Lincoln, vamos pegar umas bebidas. – Lexa puxou o irmão pinóquio pelo suspensório.
Eu quase gritei de felicidade. Eu estava, finalmente, a sós com meu sonho de consumo.
- Eu posso te convidar. Se você quiser participar é fácil, difícil mesmo é ganhar de mim.
- Não duvido disso, você deve ser bom em muitas coisas. – Respondi, tirando o capuz
da minha cabeça e passando as mãos pelos cabelos, suavemente. Tive o prazer de
observar Finn engolir seco. Minha nossa, ele estava mesmo prestando atenção em mim?
- Eu não estou diferente, é que, bem... quando você me conheceu eu não estava sendo eu
mesma. – Nossa, de onde eu tirei essa?
- Entendo, mas devo confessar que você ficou muito bonita vestida de chapeuzinho
vermelho. – Falou ele, meigo, tocando o capuz da minha capa. Eu quase desmaiei de
contentamento. Pude sentir meu rosto corar.
Eu estava no céu, até me sentia flutuar. Finn estava mesmo me elogiando? Santo Deus,
e isso só por causa de uma fantasia boba? Caramba!
Nota mental: roubar a taça em que ele bebeu para guardar de lembrança.
- Me desculpe por não ter aparecido aquele dia, quando marcamos de tomar café. – De
repente, Finn ficou sério. Fiquei meio desconcertada, mas decidi agir como se aquilo
não tivesse sido tão importante.
- Ah, não liguei, aquilo não foi nada. - Gesticulei fingindo descaso. – Eu também havia
me atrasado, fui lá só me desculpar, daí, me lembrei que havia deixado o chuveiro em
casa ligado e tive que sair correndo.
- Mesmo assim, preciso me desculpar, aquele foi um dia difícil para mim. – Ele fez uma
pausa olhando para o nada. – Meu pai veio dos EUA me ver. Apareceu de surpresa. Eu
meio que quis sumir do mapa, não queria falar com ninguém. Mas Susan acabou por me
encontrar.
O Finn pareceu melancólico. Me perguntei que tipo de relação ele tinha com o pai. O
olhar que antes era um pouco intimidador, agora estava triste e vazio, isso quase me
partiu o coração.
- Fiquei feliz por Lexa me convidar para esse baile. Não conheço muitas pessoas... – Ele
sorriu sem humor. – Minhas noites são um pouco solitárias.
- E sua namorada, como pode se sentir sozinho? – Perguntei serena e, ao mesmo tempo,
triste.
- Eu tenho uma relação complicada com Susan. Ela é uma garota legal, mas, não
consigo conversar com ela. Digamos que ela é um pouco, err... superficial. Nossa
relação é mais física do que sentimental. – Meu homem de sorriso brilhante tirou a
máscara que estava sobre sua cabeça e jogou-a na mesa. – É mesmo irônico eu ter vindo
fantasiado assim, eu realmente sou um lobo solitário.
Eu estava incrivelmente surpresa. Percebi que não fazia ideia de quem Finn Collins
realmente era. Fiquei sem palavras, Lexa não havia me preparado para um momento
como aquele. Fomos absorvidos por um súbito silêncio. Provavelmente, Finn também
não sabia mais o que dizer.
Então, começou a tocar uma suave e linda música. Eu não sabia o nome, mas algo
dentro de mim avisava-me que não esqueceria dela jamais.
- Bem... você não gostaria de dançar comigo? – Perguntou meu lobo ao levantar,
estendendo a mão para mim.
Eu até quis responder, mas as palavras não saíram, eu estava hipnotizada por aqueles
profundos olhos negros. Segurei fortemente sua mão e ele me conduziu até a pista de
dança. Finn pôs suas mãos firmes em minha cintura, meu corpo estremeceu com o
contato. Logo meus braços enlaçaram seu pescoço. Então, suavemente começamos a
nos mover.
Foi como se tudo à minha volta desaparecesse, eu estava realizada. Quando ele me
girou, desejei que aquele momento nunca acabasse. O corpo dele exalava um calor que
jamais senti, seu sorriso brilhante, mais uma vez, fez meu coração palpitar. Desde que
Finn surgiu em minha vida, tudo era intenso. Era medo, paixão, vergonha, coragem, eu
tinha tudo e ao mesmo tempo, nada. Ergui uma mão e, sutilmente, toquei a maçã de seu
rosto. Ele correspondeu, tocando a minha. Eu senti que não podia existir nada mais
perfeito do que aquele momento.
Lexa PDV
Voltei à mesa, mas não consegui sentar-me. Fiquei observando Clarke e Finn dançando.
A pirralha finalmente havia conseguido chamar a atenção do meu amigo. Eu podia
perceber isso pelo jeito que ele a encarava.
Clarke PDV
- Um, dois, três... testando. – A voz irritante no microfone veio de Bellamy, que estava
em cima de um palco, onde já haviam tido algumas apresentações transformistas.
Amaldiçoei a bichona por atrapalhar meu momento perfeito com Finn. – Desculpe os
casaizinhos, mas preciso interromper. Peço, por obséquio, que todos venham para a
pista de dança. ANDEM, MEUS AMORES, NÃO DEMOREM! AFF...
Octávia pôs uma mão no meu ombro e outra no de Finn. A fofolete sorria de forma
maquiavélica.
- Ela continua no banheiro, acho que a pobre coitada está com uma tremenda diarréia. –
Rapidamente, coloquei a mão na boca para não rir na frente de Finn.
Fiquei mesmo confusa. Puxei rapidamente Octávia para longe de Finn e interroguei-a.
Ela gargalhou.
- Eu tranquei ela no banheiro. – Respondeu a Fofolete, jogando uma chave para o alto. –
Eu não lhe falei que era um gênio maquiavélico do amor?
Não resisti e agarrei minha prima Fofolete, lhe dando um forte abraço.
Octávia e eu fomos para junto dos outros que se reuniram em um pequeno círculo no
meio do salão, à espera do anúncio de Bellamy. Os garotos Woods demonstravam se
divertir com a festa, com exceção de Lexa, que me pareceu distraída. Finn sorriu para
mim e eu simplesmente amei. Kane continuava a beber, e me perguntei se ele já estava
alcoolicamente bem disposto. Quanto a Rav, parecia muito entediada. Finalmente,
Bellamy continuou seu comunicado.
- Meus queridos amigos do peitinho de mami. A festa está um escândalo, não está a
baderna que acontece em algumas festas da concorrência. Porque nós somos todos
bichas agulha, damos o furo mas não perdemos a linha! HU!...OHOHOHOHOH! Agora
que estão todos presentes,quero anunciar o ponto alto do nosso baile. O BLACKOUT
DA PEGAÇÃO, QUANDO AS LUZES SE APAGAREM, NIGUÉM É DE NIGUÉM,
VALE TUDO! HU!...OHOHOHOHOH.
Tudo ficou impossivelmente escuro e a música “It's Raining Men” começou a tocar tão
alto, que quase fiquei surda. Juro que ouvi alguém gritar: “Está chovendo
homens!Aleluia!”
Quando coloquei as mãos na cabeça, tentando não ser esmagada pelos viados
enlouquecidos, ouvi alguém gritar desesperado por socorro, eu tenho quase certeza que
aquela voz pertencia a Lincoln.
Alguém me empurrou e senti que iria cair no chão, mas braços fortes me seguraram, me
puxando para longe do tumulto. Não consegui ver nada, nem se quer apalpar algo, pois
meu braços estavam imobilizados por mãos firmes e quentes.
No início, paralisei devido ao susto, mas, então as batidas do meu coração aceleraram,
de tal forma, que respirar se tornou uma vaga lembrança. Meu coração só reagia assim
próximo a Finn. Logo deduzi que era ele, pela forma selvagem que me agarrou. Tentei
abraçá-lo, mas fui impedida. Resolvi ceder, entregando-me ao beijo quente e intenso. A
língua dele invadiu minha boca com urgência, como se implorasse para ser sugada. E eu
o fiz. Cada milímetro de mim estremecia, desejando cada vez mais aqueles lábios
suculentos. A boca do meu salvador derrapou para minha mandíbula, a qual foi mordida
e lambida. Mais uma vez, tentei agarrá-lo e, outra vez, fui impedida. Eu queria muito
tocá-lo, sentir seu corpo contra o meu, mas tudo que sentia era sua boca feroz e faminta.
Ele voltou a me beijar, sedento e eu estava da mesma forma. Eu queria que aquele beijo
durasse para sempre, queria ser consumida por ele, queria queimar nas chamas daquela
paixão até que nada mais importasse. Então, cedo demais ele afastou-se de mim. Deu-
me um beijo singelo na testa e partiu. Queria segui-lo, queria procurá-lo, mas estava
zonza, trêmula e ofegante.
Fiquei, por mais alguns minutos, estagnada, tentando me recuperar daquele feroz beijo.
Então, abruptamente, as luzes acenderam-se.
Anya estava sentada com Bellamy em seu colo, que sorria, mas ou perceber onde estava
sentado soltou um pulo se sentindo ofendido. Meu pai estava com a mão na bunda da
mosca morta, enquanto lhe beijava. Raven provavelmente ainda não tinha se dado conta
que estava dando uns amassos em uma viado fantasiado de moranguinho. Octávia
choramingava, segurando seu pé, sentada no chão e, por fim, fiquei chocada em ver
Lincoln, pálido no meio do salão, só de cueca. Não demorou para que eu avistasse um
travesti de quase dois metros de altura fantasiado de Madonna, girando a bermuda
vermelha de pinóquio em seu dedo. Esfreguei os olhos, não estava acreditando na
insanidade diante de mim. Foi então, que percebi que nem Finn, nem Lexa estavam no
salão. Me perguntei onde foram parar os dois. Será que eles haviam sido sequestrados
pelas bichonas enlouquecidas?
Para minha felicidade, avistei Finn adentrando o salão pelo lado esquerdo, o estranho
foi ver Lexa fazer o mesmo, só que pelo lado direito.
Meia hora depois, o alvoroço havia passado. Raven queria ir para casa, envergonhada
por ter dados uns “pegas” em um viado; Octávia reclamava o tempo todo que quase
esmagaram seu pé; Lincoln já estava vestido, mas não tinha coragem de encarar
ninguém; Anya enchia a cara, provavelmente de chateada por ter tentado agarrar
Bellamy, que ainda estava indignado por ter agarrado uma mulher. Kane estava
completamente bêbado, se acabando na pista de dança com Abby. Quanto a Lexa e
Finn, discutiam infantilmente sobre quem era mais resistente à bebida.
- Qual é, Lexa? Não se irrite, eu só sou melhor que você nisso, cara, sempre fui. Não
custa admitir.
- É sempre assim, Finn, você acha que pode ganhar tudo, mas não pode, não vou deixar!
- Tudo bem, vamos resolver essa parada agora. – Lexa levantou-se da mesa.
- Vamos fazer uma competição. Quem aguentar beber mais, vence. – Lexa sorriu
presunçosa.
- É ISSO AÍ! – Gritou meu pai, em apoio, erguendo uma taça de champanhe e
chacoalhando a pança de Teletubbie. O mundo havia ficado de cabeça para baixo ou era
só eu que estava vendo aquilo?
A pedido do anfitrião, Lexa e Finn sentaram-se em uma mesa no meio do salão. Todos
pararam para ver a infantil competição. Bellamy encheu vários pequenos copos com
tequila e eles logo começaram a beber.
- Manda ver, Lexa, bota tudo pra dentro. – Falou Anya, segurando os ombros da irmã
que virou a primeira dose.
- Finn, você tem certeza que quer fazer isso? – Perguntei em um sussurro.
- Relaxa, Clarke, eu sei o que estou fazendo. – Respondeu ele, bebendo sua dose.
Os copos estavam sendo facilmente esvaziados pela Lexa e Collins. Anya narrava,
empolgada, cada dose consumida por eles. As bichas todas torciam pelo Finn,
obviamente. A essa altura, as purpurinadas já tinham até inventado musiquinhas de
incentivo.
Óbvio que eu estava torcendo para Finn, mas ao mesmo tempo, estava preocupada por
Lexa estar levando aquela competição muito a sério.
Meus olhos buscaram por Kane e Abby que haviam sumido inexplicavelmente. Fiquei
enjoada, ao considerar a possibilidade de que eles estivessem fazendo coisas
inapropriadas.
- Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe! – Gritavam todos, a cada dose.
- Lexa e Finn são muito competitivos, ficam em disputas bobas desde que eram
crianças. – Sussurrou Lincoln para Octávia.
- Tudo bem, acabou a baderna. Chega de bebida. – Falei, tomando os copos das mãos
dos dois e fui fortemente vaiada.
- Tudo bem, Clarke, eu já estou quase ganhando. – Disse Finn, pegando outro copo.
Finn rapidamente pegou sua garrafa, levantou-se alterado e ambos começaram a beber
na boca da garrafa. Eu estava enjoada só de olhar. Meu Deus, eles iam ficar sem fígado!
- Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe, Bebe! – A galera começou a
gritar, entusiasmada.
Por mais absurdo que pareça, eles esvaziaram as garrafas ao mesmo tempo. Encararam-
se por um segundo, sorriram e cada um caiu para o lado, inconsciente.
Clarke PDV
Já passavam das 07:00hs quando adentrei, vagarosamente, o quarto de Lexa. Ela estava
largadona na cama, ainda vestida com a fantasia de guaxinim. Coloquei um copo de
água no criado mudo, então lhe observei por alguns segundos. Ela dormia
profundamente, mais parecia uma pedra. Sorri lembrando-me do estado alcoólico dela
na noite passada. Nunca imaginei que ela precisaria ser carregada inconsciente para
casa. Pior é que o meu lobo também precisou ser levado para seu hotel, em um estado
lastimável. Ri tentando imaginar se a vaca ruiva ainda estaria trancada no banheiro de
Bellamy. Por mim, poderiam lacrar a porta com uma parede de tijolos, mas à essa
altura, alguém já devia tê-la encontrado. Susan deve estar querendo matar minha prima
lentamente. Bem, se ela quiser tirar satisfação, eu encaro a perua de cabelo cor de fogo
sem problemas.
Decidi, então, parar de relembrar o baile e me preparei para dar o troco em Lexa. Queria
que ela sentisse, na pele, o que é ser acordada com um balde de água fria.
- O que foi? Não foi você que disse que eu precisava me exercitar? – Foi divertido vê-la
embasbacada.
- Digamos que uma noite maravilhosa pode fazer uma garota mudar de ideia.
- Eu não vou correr, pirralha, não vê que eu estou de ressaca?! – Lexa jogou-se na cama
sonolenta.
Como eu já esperava por isso, lhe entreguei o copo com água, que havia lhe trazido e
tirei do bolso dois analgésicos.
- Pode tomar, eu não cuspi dentro, nem lhe trouxe laxante. Preciso de você inteira hoje.
- Não interessa, Clarke, eu não vou sair da cama hoje. – Ela afundou o rosto no
travesseiro.
- Finn me beijou.
Olhei para o teto, me questionando se deveria revelar aquele meu segredo para a idiota.
Por fim, resolvi contar, eu queria era gritar pra todo mundo que Finn tinha me beijado.
- Eu não estou rindo, só estou com sono. – Ela enfiou um travesseiro no rosto. Eu já não
podia ouvir as gargalhadas, mas via o corpo dela, inteiro, tremer em risadas silenciosas.
- Pode rir à vontade, não estou nem aí, o que importa é que Finn me beijou.
- Sabe, eu acho que você está sendo fácil demais. Nós já havíamos falado sobre isso
antes. – Disse Lexa, tirando o travesseiro do rosto.
- Aposto que agora, já perdeu a graça para ele. Duvido que ele te dê atenção agora. –
Falou ela com descaso.
A Woods mal acabou de falar, e meu celular vibrou no bolso da calça, assustando-me.
Rapidamente, olhei para o visor e havia uma mensagem.
[Mensagem] 07:25 hs
Mostrei-lhe a mensagem, toda orgulhosa. Não podia ser mais perfeito que aquilo, meu
lobo solitário não só queria jantar comigo, mas também fez Lexa parecer ainda mais
idiota.
- Levante-se, Woods. Eu tenho um jantar essa noite. Você falou que ia me dar as tais
aulas de como me vestir. É uma boa hora para isso, Finn, estranhamente, ficou
impressionado com minha mudança de visual no baile. – Tagarelei tudo de uma vez,
para não perder a coragem.
- Não enche, Clarke, vai vestida do seu jeito trombadinha mesmo. - Lexa fechou os
olhos, acomodando-se na cama.
- Você está quebrando o acordo. Isso significa que eu posso infernizar a vida da mosca
morta novamente. – Minhas palavras tiveram exatamente o efeito desejado. Lexa
levantou-se da cama, contrariada e bufando.
Lexa PDV
Eu bem queria sacanear Clarke e fazê-la ir vestida com uma fantasia de banana, só para
chamá-la de bananinha louca. Mas, eu havia dado minha palavra e não iria voltar atrás,
além do que, ela, provavelmente, descontaria sua raiva em minha inocente mãe.
- Como eu já disse antes, todos tem alguma parte no corpo que se destaca das demais. É
preciso saber valorizá-las corretamente. – Clarke até pareceu ter entendido, mas não
estava disposta a colaborar. – Não seja criança, puxe as pernas da calça, deixe-me ver
suas varetinhas.
Clarke me encarou, como se estivesse prestes a me socar, engoliu seco e fez o que pedi.
Ela levantou as pernas da calça até um pouco acima dos joelhos, e eu logo gargalhei.
- Eu tenho mesmo cara de quem pensa nesse tipo de coisa? – Falou, carrancuda.
- Pois agora vai pensar. A primeira coisa que faremos é te levar em um salão para
transformar suas pernas de homem em pernas de mulher e arrumar essa palha que é o
seu cabelo. – Tudo bem que eu estava exagerando, mas ver a cara dela chocada era
impagável. - Cara, se você não depila as pernas, quem dirá...
- Lexa Woods, se você terminar essa frase, considere-se uma mulher morta! –
interrompeu furiosa.
- Tudo bem, eu percebi que você tem... é... um busto... – Eu queria falar bonito, mas não
queria ser ameaçada de morte outra vez. Então, apenas me expressei com as mãos,
erguendo os polegares e a Griffin logo me entendeu. – Vamos tentar valorizar o busto
com decotes. Eu acho que vai ficar bom.
Esfreguei o queixo, sabendo que precisaria de ajuda, de uma outra opinião, e já tinha a
pessoa certa em mente. Mas será que ela ia conseguir entender meu acordo com Clarke?
Dei de ombros, mesmo se ela não entendesse, eu sabia que ela iria só pra zoar.
- Oi, meu nome é Marcella, que posso fazer pelas senhoritas? – Perguntou ela,
sorridente.
- Um milagre!
A meu pedido, Marcella levou Clarke para o setor de depilação. Anya e eu ficamos
sentadas em uma pequena sala de espera, olhando para uma porta branca, imaginando o
que se passava dentro do cômodo, pois ouvíamos os gritos e incríveis palavrões saídos
da boca dela, que assustavam todos os clientes do salão. Eu já havia perdido a conta de
quantas moedas ela teria que colocar no pote de palavrão.
- Claro que eu já me depilei, só não é pra tanto. – Zombei. Acenei para Marcella se
aproximar. – Por favor, Marcella, pode ir ver se Clarke ainda esta viva? – Pedi, em um
murmúrio. Fiquei seriamente preocupada, já que a sala de depilação estava silenciosa.
A garota fez o que eu pedi e não demorou para que ela estivesse de volta, com um olhar
sombrio. Era a primeira vez, desde que chegamos, que ela não mantinha um sorriso.
Algum tempo depois, um gay cuidava do cabelo de Clarke. Foi quase uma hora de
discussão entre ela e o cabeleireiro, que queria deixá-la morena. Por fim, chegamos à
conclusão de que seria melhor a Griffin só tonalizar a cor loira de seus cabelos. Após
- Eu vou ter que provar tudo isso? – Esbravejou ela, quando lhe joguei as roupas. Foi
engraçado vê-la tentando segurar os vestidos, que lhe caiam dos braços.
- É, Clarke, vai ser divertido. Você prova um por um, e nós falamos como ficou. – Fingi
entusiasmo para convencê-la.
- Lexa, me fala, outra vez, porque estamos aqui brincando de clube da Luluzinha. –
Disse minha irmã impaciente.
- Eu já expliquei, Anya. - Bufei. - Faz parte do meu acordo com a pentelha, foi o único
jeito de fazê-la largar do pé da nossa mãe.
- Vamos dar um susto nela no provador! Vamos, vamos, por favor. – Pediu ela,
animando-se.
Refleti por um segundo, acho que nem isso. Eu queria também sacanear a pirralha.
- Ok, o plano é o seguinte, chegamos lá de mansinho. Sem fazer o menor barulho, então
puxamos a cortina de uma vez. Clarke vai estar provavelmente seminua e eu tiro uma
foto com o celular. – Nós gargalhamos, só de imaginar a cena.
Olhei rapidamente para o meu lado e avistei Clarke, saindo do último provador, no final
do corredor, gargalhando.
A velhinha devia carregar pedras dentro daquela bolsa, porque a cada bolsada que
levávamos, doía mais que um soco.
- SENHORA, ACALME-SE, NOS DEIX... – Ela não queria me ouvir. Não tinha jeito.
Anya saiu correndo pela loja e a velhinha a seguiu, com a maldita bolsa verde. Poxa,
aquela senhora deveria malhar, não estava se cansando de correr atrás da minha irmã,
que pedia por ajuda, desesperada. Alguns clientes da loja ficaram chocados com a cena.
Até mesmo eu fiquei. Não é todo dia que se vê uma velhinha seminua correndo atrás de
uma mulher choramingando.
Corri atrás delas, para tentar tirar minha irmã daquela fria.
Ela parou, virou-se e me encarou com um olhar assassino. Cara, nunca tive tanto medo
de uma velhinha antes.
Olhei para os lados, não havia nada que eu pudesse fazer. Engoli seco e, então, saí
correndo pela loja também.
Corri o mais rápido que pude, mas a vozinha era uma fera. Então, ouvimos o som
estridente de um apito. A velhinha parou e eu também, tentando recuperar o fôlego.
- Segurança, não é nada disso que o senhor está pensando. – Falei em minha defesa,
aproximando-me do barrigudo pelo outro lado da loja, evitando o máximo possível a
velhinha possessa, que me encarava raivosa.
A velhinha e Anya, aproximaram-se do barrigudo, a fim de, cada uma, lhe explicar sua
versão dos fatos.
- Essas duas pervertidas estavam me espiando no provador. Elas querem o meu corpo!
- Olha, não foi nada disso, foi um acidente, não tínhamos intenção de espiá-la. Nós
tentamos explicar isso a essa senhora, mas ela começou a nos bater com a bolsa. –
Gesticulei nervosa.
- Minha senhora, você está velha demais para sair correndo por aí, vamos resolver isso
com calma. – Pediu o segurança amistoso.
- VELHA DEMAIS?! – Berrou ela, ofendida, dando uma bolsada na cara do segurança.
- VOU LHES MOSTRAR QUEM É VELHA DEMAIS! – Ela girou a temível bolsa no
ar, preparando-se para bater em quem se pusesse à sua frente.
Não teve jeito, nós três saímos correndo em uma fuga desesperada.
Demorou um pouco para que conseguissem conter a estranha senhora. Por fim, as
vendedoras colocaram minha irmã e eu de castigo, sentadas em frente ao provador onde
Clarke trocava-se. Estávamos acabadas, vários locais do meu corpo doíam, e a bisonha
ao meu lado, massageava o rosto constantemente.
- Lexa e Anya Woods, o terror das velhinhas! – Zombou Griffin, de dentro do provador.
Ignorei, eu já estava estressada o suficiente para dar atenção a ela.
- Eu estou muito a fim de ir para casa, então, vamos acabar logo com isso. – Pedi
ranzinza.
- Sabe, pensando bem... eu acho que mudei de ideia, não quero fazer isso. – Falou ela,
em um fio de voz.
- Você só pode estar brincando. Depois de tudo que passamos? Sai logo daí, deixa a
gente te ver! – Ordenei.
- Anda, Clarke, não vamos te zoar. – Respondeu Anya. Me perguntei se ela já estava
zoando com aquela afirmação.
Quando Clarke saiu do provador, eu fiquei meio chocada. O vestido vermelho havia
ficado extremamente apertado, curto e exibindo atributos que a pirralha, provavelmente,
nem sabia que tinha.
- É, Clarke, agora você já pode ir para uma esquina e conseguir uma graninha pra nós. –
Falou Anya rindo.
Minutos depois, ela saiu com um vestido rosa muito chamativo, cheio de babados
brancos e detalhes em pedrinhas.
Ela girou sorridente, provavelmente, não se dando conta de o quão ridícula estava.
- Põe o vestido verde! – Falou Anya. Ergui uma sobrancelha, ela nem sabia que havia
um verde.
Não tivemos que esperar muito, lá estava a filha do capeta de verde. O vestido era feio,
fazia Clarke parecer uma bibliotecária solteirona. Golas, botões, pregas, mangas, tudo
muito cumprido e formal.
- Ei, Clarke, ficou parecendo uma tiazona. Aquelas tias feias que ninguém come. –
Anya riu muito, ela estava se divertindo mais que qualquer um ali.
Tentei pensar em uma palavra para defini-la, mas minha mente não trabalhou
racionalmente.
- Lexa, se eu soubesse que Clarke tinha potencial para gostosa, eu tinha dado em cima
dela. – Sussurrou a bisonha. Achei aquilo engraçado, e lhe dei um tapinha amigável nas
costas.
Esfreguei meu rosto, tentando pôr meus pensamentos em ordem. Fitei minha irmã
experiente e decidi lhe perguntar sobre algo que estava me incomodando.
- Fala!
- Você já quis uma coisa, só porque outra pessoa também queria? – Perguntei baixinho.
- Bem... vou tentar exemplificar. Digamos que você está em um restaurante, certo?
Você olha no cardápio e tem frango e carne. Você pensa consigo mesmo, eu não quero
frango, eu odeio frango. Daí, você pede carne. Carne é mais gostoso, é mais a sua cara...
está entendendo até aqui? - Verifiquei e Anya sinalizou que sim, com a cabeça.
Continuei. – Então, o cara da mesa ao lado pede o frango. Você olha o frango no prato
dele e parece delicioso, muito mais bonito que a carne. Só aí, você percebe que a carne
no seu prato não é o que você quer. Você quer frango. O que você faz? – Fiquei à espera
da resposta ansiosa.
- Você não pode pedir frango também? Não pode comer os dois?
Ri sem humor.
- Não, Anya, eu não conseguiria comer o frango e a carne ao mesmo tempo, eu não sou
desse tipo, você sim é do tipo que conseguiria comer os dois. Além do que, só existe um
frango, e já é do cara da mesa ao lado. – Falei, me sentindo levemente derrotada.
- Minha irmã, vou ser sincera com você! - Ela pôs a mão no meu ombro. - Esse seu
restaurante é uma pobreza, vai no McDonalds, lá tem de tudo!
- Espera, sei que parece, no mínimo, estranho, mas preciso muito ir nesse jantar da
Clarke, porém, não quero que ninguém saiba e também não quero ir sozinha. – Passei as
mãos pelos cabelos, buscando coragem para terminar meu pedido. - Nos arranja uns
- Tudo bem, Lexa, eu vou arranjar algo legal. Confia em mim! Eu vou te ajudar! – Ela
sorriu e eu me perguntei se havia pedido aquilo para a pessoa certa.
Quase meia hora depois, Clarke estava sentada, provando sapatos e sandálias. Griffin
usava uma saia de pregas cinza, um pouco acima dos joelhos e uma blusa baby look
preta com o desenho de uma guitarra no peito. Foi difícil convencê-la a comprar aquela
roupa, mas eu não podia deixar passar. Eu havia achado ideal para ela, ficou feminina,
sem deixar de lado seu próprio estilo de roqueira.
A garota pareceu-me meio enrolada com uma das sandálias, haviam muitas tiras. Sorri,
enquanto observava a pirralha quebrar a cabeça, tentando adivinhar como se calçava a
estranha sandália. Por fim, decidi ajudá-la.
Ajoelhei-me diante dela, segurei seu pé esquerdo, aproximando-o do meu peito. Clarke
arregalou os olhos, embasbacada, mas não pronunciou uma só palavra. Com a outra
mão, peguei a sandália, analisei-a por um segundo e joguei-a para longe. Era muito
complicada, tiras demais. Peguei um sapato preto de salto agulha e coloquei
delicadamente em seu pé. Ela ergueu uma sobrancelha, tive vontade de rir da cara dela,
mas me contive, ela estava mesmo chocada com minha atitude.
Tentei manter meus olhos no sapato que Clarke usava, mas era incrivelmente difícil.
Não estava conseguindo parar de olhar para as pernas da garota, se alguém me falasse
algumas semanas atrás que eu iria ficar quase babando pelas pernas da encapetada, eu
teria rido até morrer. Suspirei desconcertada e, em uma atitude impensada, passei a mão
em sua perna, do tornozelo até a coxa. Clarke levantou-se abruptamente.
Quis chutar a mim mesma. O que estava acontecendo comigo? Ok, pensa, rápido, pensa
rápido! Me pus de pé.
- Sem escândalo, pirralha, eu só queria ver como ficou a depilação. Credo, eu não estava
acariciando você! – Sorri amarelo, eu tinha acariciado sim. O pior é que eu tinha
gostado.
Ela sentou-se bufando e eu voltei a me ajoelhar. Peguei outro sapato e ela me lançou um
olhar mortal.
- Se você inventar novamente de ver como ficou a depilação, vai ficar sem mão, eu juro!
- Clarke parecia um leãozinho raivoso.
Eu gargalhei, não sei se dela ou se de mim, que havia perdido a sanidade mental. Peguei
o pé dela e coloquei um sapato preto-e-branco, não havia ficado bom. Imediatamente, o
As gargalhadas da Griffin eram tão altas que, mais uma vez, chamamos a atenção.
Então, decidi parar antes que fôssemos expulsas da loja.
- Lexazinha, eu deveria chamar aquela velhinha para lhe dar outra surra! – Esbravejou
ela.
***
Já passavam da 19:30hs. Eu andava pelo meu quarto, impaciente. Nem sinal da bisonha
da Anya. Clarke já havia ido ao encontro com Finn e eu não queria perder mais tempo.
Esfreguei o rosto, tentando ficar calma para não voar no pescoço dela.
- Anya, estamos atrasadas. Não podemos perder mais um minuto. Cadê os disfarces?
Ela ergueu a enorme sacola preta e jogou todo o seu conteúdo em cima da minha cama.
Perucas, vestidos, maquiagens, acessórios e sandálias...
Usava uma peruca loira bem longa, vestido amarelo que mal tampava minha bunda,
uma maquiagem muito exagerada e óculos de grau. Um sapato de salto alto. Olhei para
minha irmã bisonhenta e ela estava igual, a diferença é que usava uma peruca morena e
vestido vermelho.
- Lexa, desculpa dizer, mas se você está ridícula! – Zombou Anya risonha.
- Oh não me diga, Anya, você também não está nenhum pouco apresentável. – Ironizei.
Anya ficou ao meu lado, nos encaramos sérias. Respiramos fundo e adentramos o
restaurante.
Lexa PDV
O lugar estava cheio, fiquei extremamente nervosa, não querendo chamar nenhuma
atenção.
- PUTA MERDA! – Xingou Anya ao meu lado, quando o salto do sapato entortou
quase a fazendo cair. Todos no restaurante pararam para nos olhar, espantados.
- Vê se dessa vez pede logo a droga do seu frango! – Esbravejou Anya. O magrelo
arregalou os olhos, deixando-os ainda mais assustadores. A bisonhenta sorriu, amarelo,
quase estragando nossos disfarces. - É, que ela adora frango. – Falou ela, com uma voz
mas calma.
- Traz frango mesmo e uma cerveja. – Pedi rapidamente, tentando sair logo daquela
situação.
O garçom olhou para Anya esperando que ela fizesse seu pedido. Para o meu ódio, ela
ficou lendo todas as opções do cardápio lentamente. Fala sério, ela estava querendo que
eu a fizesse engolir aquele menu?
- Tudo bem, eu vou querer duas poções de batata frita, dois hambúrgueres com bastante
cebola, sem picles e aquelas maionesesinhas de sachê extra. Eu adoro levar algumas pra
casa.
- Desculpe, senhora, não servimos esse tipo de comida aqui. – Respondeu o magrelo,
com nariz empinado.
Mal o garçom me ouviu, já saiu sussurrando alguma coisa que, com certeza, não eram
elogios à nossa pessoa. Só consegui entender duas palavras: “malucos pobres!...”
Olhei mais uma vez para Clarke e ela continuava lá, imóvel, com seu belo vestido preto,
maquiada, elegante, enfim, absolutamente linda. Me perguntei o que estava se passando
na cabeça dela e por qual motivo Finn se daria o trabalho de convidá-la para sair, se não
pretendia aparecer. Foi aí que Anya pigarreou e já lhe encarei mal humorada.
Olhei para o lado e avistei dois adolescentes orientais, bem o tipo CDF, óculos de grau,
aparelho dental, roupas sociais, cabelos lambidos e muitas espinhas. Era só o que me
faltava, ser paquerada pelos dois garotos mais feiosos do mundo. Eles sorriam para nós
e um deles até acenou. Credo!
- Eles devem achar que têm chances com a gente. - Anya passou a mão pelos cabelos da
peruca.
- É lógico que pensam, olha pra eles. A última vez que tocaram uma mulher foi quanto
abraçaram a própria mãe. Ignore-os.
Tentei novamente me concentrar na Griffin. Ela parecia alheia a tudo à sua volta, acho
que nem se gritássemos o nome dela, ela nos notaria ali. Tive vontade de ir até lá, mas
eu estava disfarçada. Caramba! No mínimo, Clarke iria me zoar até o final dos tempos,
não me deixando jamais esquecer aquele triste e humilhante episódio.
- A Clarke levou um tremendo fora. – Afirmou minha irmã, notando o que estava se
passando.
- Eu não entendo qual é a dela. Porque ela ainda gosta do Finn se ele faz esse tipo de
coisa? As mulheres gostam mesmo de sofrer.
- As paixões cegam. O verdadeiro amor é que nos torna lúcidos. – Suspirou Anya.
- Cara, isso foi profundo! – Disse-lhe, extremamente surpresa. Desde quando a minha
irmã recita versos?
- Está pensando o que? Anya também é cultura. É que quando a embalagem é bonita,
ninguém presta atenção no conteúdo. – Toda vaidosa sorriu.
Não deu para deixar de gargalhar. Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas
observando a pirralha.
- Já que vocês estão sozinhas, e nós também, decidimos vir aqui nos apresentar.
- É verdade, afinal, não conseguimos tirar os olhos de vocês, já que são tão lindas. –
Disse o outro espinhento, com o nariz escorrendo e olhos fixados em Anya, que estava
totalmente sem ação.
Mil nomes passaram na minha mente. Por fim, acabei escolhendo o mais improvável.
- Err... – No início ela travou pensando qual nme falar, tocia pra não estragar nosso
disfarce. – Se ela é a Raven, eu sou Octavia.
- Que nomes lindos, mas não tão belos quanto vocês, eu garanto.
- Loirinha, você pode me chamar de Dr. Love. – O espinhento alisou a minha mão.
Ergui uma sobrancelha. Esse cara está querendo morrer?
- Vocês não podem nos deixar a sós? – Pedi fazendo a cara mais fechada possível na
tentativa deles se tocarem e saírem da nossa mesa.
- Não ouviu, idiota? Ela quer ficar a sós comigo. - Falou Dr. Love para o amigo. Quase
tive o tal derrame do coração.
- NÃO. NÃO, NÃO! - Interferi aflita. – Eu estou me referindo a mim e à minha irmã,
peço que nos deixe sozinhas. – Eu já não estava suportando aquela situação, mas
precisava manter os disfarces, não desejava chamar ainda mais a atenção.
De relance, vi Anya puxar uma das canetas de dentro do bolso do melequento e começar
a rabiscar um guardanapo.
- Você é tão fortinha, morena tentação, eu nunca conheci uma mulher assim. - O
adolescente nojento falou,limpando o nariz na manga da camisa.
[Eu vou descer o cacete, Lexa, vou descer o cacete se esse trambolho alisar meu braço
com aquela mão cheia de catarro mais uma vez.]
[Fica fria, não vai demorar, logo vamos embora. Não quero escândalo, já passamos
por situações constrangedoras demais por um dia.]
- Ah, vejo que agora estão acompanhadas. – Disse ele, visivelmente zombando da nossa
cara, ao colocar os pratos na mesa. Os retardados orientais riram satisfeitos.
- Vou pedi-la em namoro, acho que estou apaixonada. - Dr. Love sorriu sacana.
- Sendo assim, posso fazer o mesmo pedido para você, Octavia? - O catarrento acariciou
o rosto da minha irmã e eu vi os olhos dela queimarem em ódio. A chutei por debaixo
da mesa e lhe lancei um olhar do tipo “sem escândalo”.
- Já que vamos namorar, podemos dividir tudo, come o frango, querido. – Peguei o
frango com a mão e esfreguei na cara do espinhento.
- Como você é violenta, loirinha, eu gosto disso. – Dr. Love apertou minha coxa e foi a
gota d´água.
Levantei, bruscamente, erguendo o espinhento pelo colarinho. Ele era tão baixo que eu
ultrapassava a sua altura graças aos saltos.
- ESTÁ QUERENDO APANHAR, IDIOTA? - Esbravejei com minha voz mais grossa e
séria que consegui produzir. Pareceu funcionar, pois ele arregalou os olhos assustado.
Anya pigarreou.
Só aí, eu percebi que todo o restaurante nos fitava, em uma mistura de incredulidade e
confusão. Uma senhora da mesa ao lado com cara de granfina, pôs a mão no peito
chocada.
Fiquei extremamente constrangida. Lentamente soltei Dr. Love e sorri sem graça,
retomando meu disfarce.
- É a nossa deixa, Anya! Vamos dar no pé. – Levantei-me do chão o mais rápido que
pude.
Virei-me, encarei o Dr. Love, que estava com a maior cara de paspalho e lhe disse com
minha voz normal, já não me importando com o disfarce:
Finn PDV
Mais uma vez, tentava telefonar para Clarke, mas ela não atendia. Me perguntei se ela
estaria furiosa comigo. Até eu estava furioso comigo mesmo. Bufei, largando-me no
sofá do apartamento de Susan. Ela me trancou e fugiu com um falso choro. Aquela
mulher não é do tipo que chora, eu bem sei. Terminar com Susan foi fácil, bem mais
fácil do que eu imaginei, infelizmente, ela não aceitou bem o término do
relacionamento. É extremamente possessiva, apesar de não demonstrar nenhum
sentimento profundo por mim.
Eu estava impaciente, parecia que Wells não ia chegar nunca com o bendito chaveiro.
Queria poder explicar para Clarke o que tinha acontecido comigo, antes que ela
pensasse que eu tinha lhe dado outro bolo. Era estranho como, no início, cheguei a
cogitar a sanidade mental da garota, mas, quando ela ficou horas esperando por mim no
hotel, eu, simplesmente, percebi que ela era diferente. Clarke realmente se importava
comigo.
Eu sempre fui solitário. O amigo mais chegado que eu tinha era Lexa. Somente ela me
entendia, mas depois que saí pelo mundo com uma mochila nas costas, nos
distanciamos. Família é uma palavra incompreensível para mim, meu único parente é
Pike, nem sei se o posso chamar de pai. Ele é um homem rude, cheio de dogmas e
crenças bobas. Insiste em tentar me colocar rédeas, quer me fazer ficar em uma ridícula
aldeia em Polis e liderar o que restou de nosso povo. Nunca foi o que eu quis para mim,
meu espírito nômade não permite. Meu mundo se resume a rachas perigosos, dinheiro
ilegal, mulheres fúteis e noites vazias.
Clarke PDV
Dei várias voltas pela cidade, tentando esquecer minha desastrosa noite. Infelizmente,
quanto mais tempo eu ficava sozinha, mais lembrava-me que havia sido novamente
rejeitada. Subi as escadas da minha casa, desolada. A dor da decepção queimava em
minhas entranhas. Para quem não sabe, angústia é mais que um sentimento, é uma
tormenta constante. Ela dilacera a alma de quem a carrega consigo.
Vaguei pelo corredor vazio até chegar à porta do meu quarto. Eu não queria ficar
sozinha ali, não queria mergulhar na depressão que me rodeava como um leão prestes a
me devorar.
Fechei os olhos, lembrando-me de horas atrás, quando delirava em uma tola felicidade,
dos momentos que passei rindo sozinha, fazendo planos ou, simplesmente, suspirando
por achar que finalmente eu era “alguém” aos olhos de Finn Collins. Me senti
extremamente ridícula por gastar tanto tempo em aulas absurdas com a Woods, para
conquistar um homem que, constantemente, me pisava. Senti uma forte pontada no
peito, e todo o meu corpo enrijeceu, em resposta. Era como se eu fosse cair em prantos,
mas não haviam lágrimas, não havia nada, além de um sutil soluço. Talvez se eu
conseguisse chorar, colocar minha dor para fora, me sentiria melhor, aliviaria parte do
peso que carrego. Infelizmente, as lágrimas se recusavam a jorrar.
Após um logo suspiro, girei a maçaneta da porta e adentrei o quarto escuro. Sobressaltei
ao me deparar com Lexa, sentada em minha cama.
Eu não esperei ela terminar de falar, corri para a cama e me joguei em seus braços.
Naquele momento, pouco me importava estar abraçando a LEXAZINHA, não fazia
diferença se eu a odiava, eu só queria ser confortada, só queria um abraço. Ela me
pareceu estupefata. Então, após alguns segundos, finalmente me envolveu em seus
braços firmes e quentes. Lexa afagou meus cabelos e foi como se a angústia lentamente
me abandonasse. Ficamos por alguns minutos abraçadas, nenhum de nós ousou falar, e
eu tentei me agarrar com todas as forças àquela estranha paz.
Perguntei para mim mesma, confusa. Aos poucos, fui recuperando o controle e afastei-
me dela.
- Eu tentei te ligar para saber como estava sendo seu encontro, mas você esqueceu o
celular aqui. – Falou apontando para meu telefone em cima do criado mudo.
Eu nem tinha me dado conta que estava sem celular até aquele momento. Rapidamente,
o peguei e vi que tinham 7 chamadas não atendidas de Finn. Meu coração palpitou, mas
me contive, sentando-me ao lado de Lexa.
- Calma! – Interrompeu Lexa, colocando as mãos nos meus ombros. - Parte disso é
culpa minha. Incentivei, fiz parecer fácil conquistar Finn, me desculpe.
Dei de ombros e me joguei na cama. Outra vez ficamos em silêncio, talvez não
houvessem palavras para serem trocadas.
- Espera! Você tem toda razão, pirralha. Se arrumou toda, está linda!
- Não pode desperdiçar todo o trabalho que tivemos, eu até apanhei de uma velhinha
para que você estivesse usando esse vestido. Nós vamos sair e você vai se divertir
muito, eu prometo! – Lexa pareceu empolgada.
- Eu não sei... não estou a fim de sair, prefiro ficar em casa, afundar o rosto no
travesseiro e tentar esquecer minha humilhação. – Eu estava mesmo à beira da
depressão.
Ainda abri a boca para falar, mas era tarde, a idiota já havia saído.
Exatamente 10 minutos depois, Lexa adentrou meu quarto sorrindo. Pisquei os olhos
algumas vezes, só para ter certeza de que era ela mesmo. A Woods usava calça preta,
blusa branca de manga longa, uma jaqueta de couro preta e uma bota preta. NOSSA! De
onde ela saiu? De uma capa de revista?
- Err... ah... hum... horrorosa? – Gaguejei um pouco, ao mentir na cara dura. Dizer que
ela estava linda não fazia jus à imagem à minha frente e nem eu seria capaz de dar o
braço a torcer.
Lexa insistiu para que fôssemos de táxi, alegando que encheríamos a cara para afogar as
mágoas, e meia hora depois, o carro estacionou em frente a um clube.
Fui a primeira a sair do táxi e, logo li a placa com letras em néon, “CLUBE DE SALSA
LA LUNA”. Tive vontade de voltar para o carro imediatamente, mas a babaca da
LEXAZINHA me arrastou para dentro do clube, que estava lotado.
Confesso que o lugar era aconchegante, meia luz, música animada, bem decorado com
bandeiras cubanas, pessoas simpáticas e muitos casais dançando salsa na pista de dança.
- Está louca? Eu não sei dançar isso, eu não vou de jeito algum, esqueça! – Respondi
alto o suficiente para que ela ouvisse.
Ela bufou contrariada e nos direcionamos até uma pequena mesa. Uma garçonete nos
atendeu e trouxe-nos dois cuba-libres.
Outra música começou a tocar, Lexa parecia mesmo a fim de dançar aquilo, mexia-se de
um lado para o outro, curtindo o ritmo.
- Abby, ela adora dançar todo os tipos de música, você não a conhece bem. Minha mãe
praticamente obrigava a mim e meus irmãos a dançar com ela desde que éramos
pirralhos. Acabei por gostar, é relaxante e divertido. Você não sabe o que está perdendo.
- Já que você não quer se divertir, eu vou convidar outra garota. Fica aqui. – Lexa
levantou-se e foi para a pista de dança, onde chamou uma morena muito bonita para
dançar.
Arregalei os olhos, quando o casalzinho começou a se exibir no salão. Ela usava uma
saia azul tão curta que, quando girava pela pista, dava até para ver sua calcinha preta.
Tudo bem que a maioria dos casais se envolviam na salsa, exalando sensualidade e
swing, mas Lexa e a morena parecia que iam fazer sexo ali mesmo! Fala sério! Ela
precisava mesmo passar a perna em volta do quadril dela? E ainda por cima, a idiota
pareceu gostar. Quanta babaquice. Desviei o olhar, fingindo nem ver as duas, quase se
comendo. Infelizmente, não consegui manter meus olhos em outra direção por muito
tempo. Disfarçadamente, voltei a observar e meu queixo caiu, quando vi a retardada da
Woods guiando os passos complicadíssimos com a garota. Um movimento fez a saia
dela levantar totalmente. (N/A: é ciúme que fala?)
QUE VADIA!
Bufei.
QUE EXIBIDAS!
Fiz sinal para a garçonete e ela me trouxe outro cuba-libre. O Meu copo devia estar
furado, a bebida sumia muito rápido.
Não estou nem aí, não estou nem prestando atenção! Coloquei para dentro quase todo o
drink e engasguei, quando Lexa passou as mãos na garota, das coxas até os cabelos.
Por impulso, marchei até a pista de dança e, sem pensar, puxei a saia azul da vadia,
rasgando-a. Ela gritou só de calcinha, tentando cobrir-se.
- O que foi? Só estou te ajudando, assim você não precisará rodar para mostrar a
calcinha. – Ironizei, exibindo a saia em minhas mãos.
- Que foi, gente? Ela queria mesmo mostrar-se, eu só colaborei. – Resmunguei em voz
alta.
- É ISSO AÍ, GAROTA! – Gritou uma loira do outro lado do clube. Eu ri e Lexa
também.
A vadia saiu correndo só de calcinha, despertando várias gargalhadas pelo clube. Não
demorou para que as pessoas voltassem a dançar e o acontecimento nem tivesse mais
importância.
Ela puxou-me com violência para junto de si. Nossos corpos ficaram muito colados,
ambas ofegamos.
- Preciso de uma parceira, e, dessa vez, você não vai fugir, pirralha. – Disse a Woods,
encaixando sua perna entre as minhas. O movimento que ela fez a seguir, foi tão sensual
que corei terrivelmente.
- Eu não vou dançar como aquela lá! – Adverti ranzinza, até porque eu não sabia.
- Divirta-se.
Lexa começou a me girar sem parar pela pista. Não fiquei enjoada, muito pelo contrário,
gargalhava descontroladamente, estava sendo incrivelmente divertido. Então, me soltei,
deixando o ritmo contagiante me conduzir.
Não éramos mais Lexa e Clarke, éramos apenas duas pessoas dançando animadamente,
salsa. Cada passo, cada movimento era descontraído, não parávamos de rir uma da
outra. Me sentia leve, relaxada, como se não houvessem problemas, como se a música
fizesse tudo sumir. Hora eu pulava, hora rebolava, algumas vezes batia palmas. Não
importava se eu dançava bem ou mal, tudo que importava era a diversão.
Paramos de dançar, nos encarando suadas e arfando, mas o sorriso ainda estava
estampado em nossos rostos.
Lexa aproximou-se lentamente de mim, pôs as duas mãos em minha cintura. Notei que
ela engoliu em seco. Outra vez, encaixou a perna entre as minhas e, como da primeira
vez, corei absurdamente. Ela nos fez descer até embaixo, em um rebolado quase
obsceno. O estranho é que não me importei, era só uma dança. Ficamos por alguns
minutos apenas nos movendo lentamente ao som da música. Relaxei totalmente,
deixando-me ser guiada pela Woods em todos os sentidos. Eu não sei o que havia
naquela canção, mas sentia-me embriagada, fora de mim e, com certeza, a culpa não era
do cuba-libre.
- Foi.
Ela não me deixou terminar a frase, tapou-me a boca com um beijo avassalador. Tentei
reagir, tentei afastar-me, mas seus braços me aprisionaram. Eu estava indefesa contra
aqueles lábios ferozes e língua sedenta. Meu coração reagiu do mesmo modo que no
- Me... desculpe... eu... agi por impulso, eu só queria... é... lhe divertir... acho... – Coçou
a nunca, muito confusa.
- Que se dane, Lexa, depois nós enchemos a cara e nem vamos lembrar.
Me joguei nos braços dela, beijando-a com a mesma intensidade que ela, segundos
atrás.
Para minha felicidade, Lexa correspondeu o beijo com entusiasmo. Meu corpo sentiu-se
em glória. Era simplesmente delicioso sentir os lábios quentes, a língua macia, o hálito
de menta, as mãos acariciando minha nuca, seus dentes mordiscando-me. Eu não
conseguia entender como ela conseguia ser selvagem e ao mesmo tempo, doce. Agarrei
seus cabelos com força, eu não queria que ela escapasse. Para falar a verdade, eu a
mataria se ela parasse novamente. A essa altura, eu já nem lembrava o que era respirar.
Woods abraçava-me com tanta força, vontade, possessão. A cada segundo, o beijo se
tornava mais inflamado, já beirávamos o desespero, a loucura. Senti o desejo explodir
dentro de mim, como nunca acontecera antes e, inesperadamente, gemi. Em resposta,
Lexa gemeu também. Nesse momento, senti meu sexo pulsar e eu bem sabia o que era.
Dei um passo para trás, me desvencilhando daquele beijo desesperado.
- É uma boa hora para enchermos a cara. – A voz dela saiu trêmula.
- Concordo! – Respondi.
Saímos da pista de dança direto para o bar, eu estava disposta a beber tudo que visse à
minha frente.
Octávia PDV
Um táxi estacionou em frente à casa. Meu coração quase parou em expectativa. Tinha
que ser minha prima.
Quando Lexa saiu do táxi também, mergulhei em confusão. O que elas estavam fazendo
juntas? Bem, a pergunta que eu deveria fazer, na verdade, nem era essa, e sim, porque
as duas estavam agarradas cambaleando de tão bêbadas. O que tinha acontecido?
- O que houve? Estão bêbadas? – Perguntei aflita, vendo Clarke tropeçar e levar Lexa
para o chão consigo. Elas não pareciam se importar, pois gargalhavam
descontroladamente.
- Está tudo bem, Octávia. – Respondeu Lexa, com uma voz estranha.
- ISSO! foi tão divertido... eu dancei pra caramba. Cara, eu dancei melhor que
todoooooooo mundo! – A voz dela estava tão engraçada, mas ainda assim, só conseguia
observar, embasbacada.
- É, FINN QUE SE FODA! – Clarke repetiu, imitando até os movimentos com as mãos.
- Ela é o cara? Vocês não se odeiam? – Questionei, já quase ficando embriagada com o
bafo delas.
Ela levantou o cabelo e, em sua nunca, havia o nome “LEXAZINHA” também tatuado.
Coloquei as duas mãos na boca, totalmente chocada, enquanto elas gargalhavam quase
indo ao chão novamente.
- Espera aí, não foi sua, foi minha! – Interferiu Lexa chateada.
- Lógico que foi, nem vem, LEXAZINHA! Eu quem disse, vamos fazer tatuagem.
- Uma ova! Você é muito burra para ter um ideia assim! Se manca, cara!
- Você é uma pirralha muito idiota, não aceita a verdade, e, adivinha, a ideia foi minha,
minha, minha, minha mil vez.
E agora, meu Pai do Céu? Conto para elas a loucura que fizeram ou guardo segredo,
esperando que um dia elas descubram as tais tatuagens sozinhas?
Lexa PDV
Desci as escadas, zonza. Vi muitos arranjos de flores e balões por toda a sala, pisquei os
olhos, averiguando se estava dormindo. Raven estava sentada, emburrada. Então, decidi
perguntar a ela o que estava havendo.
Ela já ia abrir a boca para me responder, quando vi Clarke descer as escadas correndo,
só de pijama. Octávia estava em seu encalço.
- É PARA MIM! É PARA MIM! – Pulou a pirralha feliz, pegando um dos cartões.
Haviam cartões por toda a parte. Peguei um que estava próximo a mim.
[Eu posso explicar o motivo da minha falta, espero que possa me perdoar. Liga para
mim. Com amor para a garota que me faz sorrir... Finn Collins.]
- O que Kane quer falar conosco? Você sabe? – Perguntei para a morena.
- Parece que ele quer nos convencer a ir no velório de um parente do Bellamy. Lembra,
Bellamy, o pavão do baile?
- Como eu poderia esquecer? – Perguntei ranziza. - Mas, poxa, um velório justo hoje?
Eu não acredito!
- Eu também não quero ir, mas ele fica falando o tempo todo que devemos prestar
solidariedade nesse momento, você sabe, aquele blá, blá, blá sentimental.
Esfreguei a mão no rosto. Cara, com a ressaca que eu estava, aliás, uma ressaca dupla, ir
a um velório, parecia uma cruel tortura.
***
Estávamos todos adentrando a mansão de Bellamy. Kane, praticamente, nos forçou a ir.
Quis me opor, mas, no fundo, eu sabia que ele apenas queria dar uma força para o
amigo. Perder um ente querido é muito doloroso, não nos custava nada dar uma rápida
passada no velório, pelo menos para mostrar que nos importávamos.
Ele nos encarou por um segundo, então, para minha surpresa, gritou...
- Meu Deus, quanta honra, estava com saudades de vocês. Teletubbie, Enfermeira
Safada, Coelhinha da Playboy, Power Ranger, Pinóquio, Chapeuzinho Vermelho
Masoquista, hum... Guaxinim, – Não é que a bichona me olhou com desdém? - Mas, de
quem tive mais saudades foi de você, Pinóquio. – Ele completou a lista, tentando alisar
Lincoln, que se esquivou, enojado.
- Bellamy, viemos assim que me informou da sua trágica perda. Estamos aqui para
ajudar no que puder. – Falou Kane.
- O QUE? EU NÃO ACREDITO! MORREU! – Meu queixo caiu ao ver Anya pular,
entusiasmada, em volta do caixão. - MORREU! UH-HUUUUU! MORREUUUUUU!!!!
É ISSO AÍ! É ISSO AÍ! BATEU AS BOTAS! – Meu Deus, agora ela estava até fazendo
a nossa dancinha da vitória!!
Corri para junto da minha irmã, na tentativa de impedir aquela insanidade, antes que
fôssemos linchadas.
- PARA COM ISSO, ANYA, FICOU LOUCA? – Gritei, lhe dando um tapa, na
tentativa de fazê-la voltar a si.
E eu olhei.
- Enfartou horas depois de ter sido atacada por duas taradas em uma loja. Coitadinha da
minha vozinha.
Lexa PDV
- SIM! – NÃO! – Agora nossas respostas haviam se invertido. Porque a idiota da minha
irmã não podia simplesmente confirmar o que eu dizia? SACO!
Bellamy nos encarou cheio de dúvidas, percebi que ele não iria nos deixar sair daquela
situação facilmente, já que a animal da Anya comemorou com estardalhaço, em volta do
caixão.
- Tudo bem, a resposta é sim e não. Nós tivemos apenas um infeliz encontro com a
senhora sua vó, que Deus a tenha. – Respondi sem saída, fingindo algum respeito.
Tentei pensar rápido, mas não conseguia imaginar nenhum lugar onde eu poderia
conhecer uma velhinha demoníaca daquelas.
- Isso vai ser divertido de se assistir. – Falou Clarke, sorridente indo sentar-se em uma
poltrona.
- Minha filha, o que esta acontecendo? – Indagou minha mãe, colocando uma mão no
ombro de Anya.
- Nós não tivemos culpa, mamãe, não sabíamos que ela estava dentro do provador. – A
maldita respondeu, aninhando-se chorosa nos braços de Abby.
- Não foi nada disso, foi um acidente! Erramos de cabine, então, ela começou a nos
atacar com aquela bolsa pesada. – Respondi aflita, apontando para a bolsa nas mãos da
defunta, dentro do caixão.
Bellamy estava aos berros, quase arrancando os cabelos. Dessa vez, o choro dele parecia
mais real.
- Eu sinto muito, querido, pelo que as minha filhas fizeram. Tem alguma coisa que
possamos fazer por você? – Minha mãe, sempre solidária, interveio.
O escandaloso parou de soluçar imediatamente e nos fitou cheio de malícia. Juro que
me deu um calafrio na espinha.
- Porque precisaria de dois homens bonitos, musculosos, sexys, selvagens para serem os
dançarinos, mas como só tem elas, podem fazer esse sacrifício por minha vozinha. – O
viado olhou pra Anya e nós sacamos na hora o que ele queria.
- Por quê? Eu não vou bancar a dançarina pra esse doido digno de hospício! – Respondi
ranzinza.
- Nem eu! Ele me assusta! – A minha irmã praguejou, escondendo-se atrás de mim.
- O OUE?? – Perguntou ela, com os olhos arregalados. Dei um passo atrás, só para
garantir que a pirralha não me socaria.
- Por mim, pode chorar até morrer, que eu não vou pagar esse mico. - Clarke deu de
ombros.
- Vocês mataram a avó dele, façam alguma coisa! – Abby bateu o pé no chão, com
aquele típico olhar de mãe que está prestes a explodir.
Anya PDV
Estávamos dentro de um dos quartos do “sem pregas”, lógico, o Bellamy. Olhei para a
minha irmã guaxinim, ela estava extremamente furiosa, vestia um shortinho preto,
camiseta branca com suspensórios e, para finalizar, uma ridícula gravatinha borboleta.
Gargalhei com vontade.
- Do que você está rindo? Está vestida igual a mim! – Esbravejou, esfregando o rosto.
Minha gargalhada cessou, quando tive que admitir para mim mesma que era verdade.
Sim, éramos realmente as bonequinhas do boiolão.
- PODEM IR, EU NÃO VOU SAIR DAQUI NEM QUE O TETO DESABE SOBRE
MINHA CABEÇA! – Gritou a estressadinha da Clarke, de dentro do banheiro.
- COMO ESTOU? – Grunhiu, nos assustando, o “sem pregas” que entrou no quarto de
surpresa.
Não é que a bicha louca estava mesmo fantasiado de Madonna? Vestido de seda rosa,
peruca loira, jóias, tudo que um baitolão tem direito.
- Como vocês estão gostosas, estão fashion... fashion-os-olhos e se joga em cima. HU!...
HOHOHOHOHOH... Dá até vontade de morder.
- Morde ela! – Empurrei minha mana em direção à biba. Ela me encarou, com seu típico
olhar de Zé Ruela, tremendo o olho esquerdo. O que será que isso significa? Nunca
entendi.
- Oh, que tímida. Venha, minha purpurinada, ninguém aqui vai lhe fazer mal... eu acho.
Como eu não entendi, resolvi tudo, lhe dando um tapa atrás da cabeça. Isso parece ter
despertado a babona. Já Clarke, estava vermelha que nem um tomate.
- Vocês são as dançarinos mais lindas que já vi. HU!... HOHOHOHOHOH. – Pulou,
batendo palmas, a versão da Madonna, depois de ter sido atropelada por um caminhão.
- Perguntinha... - Loira sexy levantou o braço. - Onde você arranja essas roupas?
- Sex shop, baby. – A biba deu uma palmada na bunda da Clarke, que arregalou os
olhos assustada. - Eu dou umas festinhas particulares aqui em casa às vezes, vocês não
gostariam de participar?
Eu já tava até vendo as “festinhas particulares” que ele dava. Pense em uma pessoa que
adora “dar” as coisas!
- HU!... HOHOHOHOHOHO.
Aquele “sem prega” me causava mesmo pesadelos, e dos grandes! Ainda bem que a
mamãe deixa eu dormir com ela e o Kane, às vezes.
- Vamos acabar logo com essa loucura. – Pediu a pentelha, tentando puxar o short para
baixo, em uma tentativa sem sucesso de cobrir suas pernocas.
- Tudo bem. Como se diz no teatro, vamos quebrar a perna. - Bellamy animou-se.
Chutei com força a perna da bichona, que caiu no chão aos berros.
- Que foi? Ele falou pra quebrarmos a perna, eu só estou ajudando. Aliás, agora é a vez
de vocês!
Cocei a cabeça, tentando entender porque as duas tinham saído do quarto às pressas.
Olhei rapidamente para o caixão onde estava a vozinha mortona, notei que vários viados
maquiavam e enfeitavam a velha. O que eles estavam fazendo? Preparando ela para uma
festa no inferno?
- Meninas e meninos, chegou meu grande momento: minha ascensão como cover da
poderosíssima Madonna. Deliciem-se com a minha maravilhosa performance e minhas
dançarinas gostosas. – Bellamy tagarelou em um microfone. - Dj, SOLTA O SOM! –
Gritou o “sem pregas”. Olhei para a minha irmã babona e a Loira, elas estavam
paralisadas, logo atrás da Madonna.
Uma das bichas saiu correndo para ligar o maldito som. A gaiola das loucas estava
aberta.
Clarke PDV
Eu não sabia o que fazer, estava constrangida demais por contra da roupa estranha que o
pavão nos fez vestir. Olhei para o lado direito e constatei que Lexa não estava disposta a
dançar para os amigos do lunático, principalmente, porque eles lhe mandavam beijos e
um, até jogou uma cuequinha rosa no palco.
Fitei meu lado esquerdo e observei Anya, dançando empolgada. Fiquei na dúvida se
aquilo era por causa da música, ou se pelo fato das bichonas estarem enfiando notas de
Euro no cós do short dela. Já o netinho sofredor, estava mesmo se divertindo, dublando
a Madonna. Girava, pulava, fazia caras e bocas, até que notou que nem eu, nem a
Woods nos movíamos.
É, aquilo foi um baita estímulo. Lexa e eu dançamos, tentando não nos envolver muito
na loucura à nossa volta.
Ao longe, distante da multidão que estava em volta do palco, avistei minha família e o
restante dos Woods gargalhando descontroladamente. Fiquei chocada em ver meu pai
vermelho de tanto rir. Eles riam porque não sabiam como era difícil estar dançando
“Material Girl”. Percebi que Octávia não estava no meio dos meus familiares e que
Lincoln olhava à sua volta, provavelmente procurando-a. Não demorou para eu avistá-la
próximo ao palco, pulando, chacoalhando as mãos para o alto e cantando a música,
rodeada de viados em êxtase. Só Octávia mesmo pra se divertir em um velório. Se é que
dá pra chamar essa zorra surreal de velório.
O pavão rebolou bem à minha frente, sorriu e foi em direção à Lexa, alisando-a,
provocando-a, fazendo carinha sexy enquanto continuava a dublar. A Woods idiota
dançava contrariada, suava e seu olho esquerdo tremia constantemente. Me perguntei o
A Material Girl finalmente alcançou Anya que teve que aturar ele se insinuar para ela. A
maníaca assassina não aguentou, empurrou Bellamy, derrubando-o em cima da
multidão, que lhe ergueu no ar, como um astro de rock. Ele devia estar no céu, pois
abriu os braços e gritou...
Logo que colocaram ele de volta ao palco, o pavão começou a berrar no microfone.
- EU ESTOU FELIZ! Não poderia estar mais feliz nesse momento, meu povo. AGORA
SOU UMA MENINA RICA! Isso mesmo, RICA! – Enfatizou bem o “rica”,
chacoalhando-se. - Aquela velha louca finalmente morreu, me deixando toda a herança
que sempre me foi negada por ser gay. Ela me maltratou a vida inteira, me batendo com
aquela bolsa infernal, me mandando virar homem, mas agora, graças às minhas novas
melhores amigas dançarinas, aquela mocréia bateu as botas. Já era hora. – Meu queixo
caiu com a revelação. Não só o meu, mas de toda a minha família. Ficamos chocados,
fitando um Bellamy fora de controle, berrando com todas as forças. - QUEIME NO
INFERNO, VELHA SAFADA! QUEIME NO INFERNO! Agora sou uma bicha
LIVRE E RICA! LIVRE E RICA!
- AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!! – O
grito de susto veio de várias pessoas ao mesmo tempo, inclusive de mim. A maioria saiu
correndo imediatamente e o salão ficou quase vazio.
Meus olhos não acreditavam no que viam. Era uma velhinha morta-viva? Por instinto e
puro pavor, me agarrei a Lexa, que estava atônita ao meu lado. Ela me abraçou com
força. De relance,vi Anya tremer igual vara verde, com o short todo molhado.
Já, a Madonna, mais parecia uma estátua do museu de cera, completamente rígido e
pálido.
- Forjei minha própria morte, Bellamy, com a ajuda do Dr. Arturo.... – Todos olhamos
para a direção que a morta-viva apontava e, em um canto do salão, havia um velhote,
careca com olheiras profundas e uma fisionomia tenebrosa. Ele sorria maquiavélico. -
Precisava saber se todos esse anos você cuidou de mim apenas por interesse, visando
minha fortuna. Hoje, tive a confirmação, VOCÊ É UM APROVEITADOR!
- Não é isso, vovó... não é isso... eu só quero ser aceito, eu só quero ser eu mesmo! Uma
menina alegre e realizada.
- Se acalme minha, senhora, deixe eu lhe receitar um calmante. Você está velha demais
para ficar correndo por aí.
- Ele não deveria ter falado isso. – Sussurrou Lexa, ainda abraçada a mim.
A maldita vozinha bufou que nem um touro em uma arena e partiu com tudo pra cima
delas.
(...)
Já passavam das 20:00hs, quando deitei na minha cama exausta, após um longo banho.
Tinha sido um dia daqueles que a gente nunca esquece. Meu rosto ainda estava dolorido
devido as bolsadas que levei. Foi difícil conter aquela senhora enraivecida, mas, após
muita correria e gritos histéricos, a mosca morta da Abby conseguiu convencê-la a não
nos matar. Felizmente, ela bateu nas Woods o suficiente para eu não ter que perturbá-las
por alguns dias. Abracei o travesseiro, feliz por estar indo dormir cedo.
- Preciso falar com você! – Disse Octávia, adentrando o quarto sem bater.
- Ah, eu não sei, Octávia. Levei um fora, bebi demais, ri muito... e sei lá... o resto não
passa de imagens sem foco e algumas coisas, tenho certeza que foram alucinações. – Ao
menos, eu rezava para que fossem.
Minha prima foi interrompida pelo som de uma buzina de carro. No início, não dei
importância, mas, então, o barulho continuou. Fomos até a janela do quarto espiar e
quase caí para trás, quando percebi que era Finn, encostado em seu Aston Martin, em
frente à minha casa.
O nervosismo me atingiu. Coração acelerado, falta de ar, euforia, pernas bambas. Isso
tudo já estava virando rotina, eram consequências da presença de Finn Collins.
Meu lobo mau me viu na janela e gesticulou, para que eu fosse ao seu encontro.
- Tira esse pijama horrível primeiro, né? – Octávia olhou para minha roupa com cara de
nojo.
- Venha, entre no carro, quero falar com você. – Pediu ele, abrindo a porta do seu Aston
Martin.
Finn fechou a porta do veículo e suspirou, fitando o para-brisa. Esperei que ele
começasse a falar, porque eu não sabia o que dizer. Eu havia ficado arrasada quando ele
me rejeitou na noite anterior, mas o seu gesto romântico de enviar dezenas de arranjos
- Eu queria muito ter ido ao jantar, mas fui impedido pela Susan, que me trancou em seu
apartamento. – Disse, virando-se para me encarar.
Baixei a cabeça e engoli seco brincando com uma mexa do meu cabelo. Então era isso?
Ele não tinha ido por causa da namorada? Estava se divertindo com ela enquanto eu
bancava a palhaça?
- Ah... não é isso que você deve estar imaginando. Eu fui até lá para terminar com ela.
- Você... você.. é... – Ótimo, Clarke, boa hora pra começar a gaguejar.
- Terminei mesmo com ela. – Foi inacreditável quando ele pegou minha mão e
acariciou-a. Fiquei com medo de estar sonhando. - Clarke, você é diferente das garotas
que conheci nesses últimos anos. É engraçada, e espontânea... – Ele riu. - Realmente
gostaria de te conhecer melhor, ter a chance de lhe mostrar que eu não sou um cara tão
mau assim.
- Não sei o que você sente por mim, mas sei que eu sinto é suficiente para querer
conhecer sua família, seu mundo, você acha que seria possível?
Eu estava ouvindo bem? Oh, Oh, Oh! Alguém me abane, que vou desmaiar.
- Err... sim... – Respondi trêmula que nem uma tapadona. - Você quer jantar amanhã
aqui em casa? Eu posso te apresentar meu pai.
- Pode ter certeza que, dessa vez, eu não vou deixá-la esperando.
- Se deixar, eu vou ter que te bater. – Respondi do nada. Aquilo era uma coisa que eu
não deveria ter dito.
Ainda assim, ele gargalhou. Me senti no céu, com anjinhos e trombetas tocando.
- Como você irá me apresentar a sua família? Porque eles acham que sou apenas o
amigo da Lexa.
Collins deve ter notado meu dilema interior, pois mais uma vez, riu.
- Clarke, você está bem? – Perguntou receoso. - Você parece meio... estranha. Como
quando nos conhecemos.
OH, não, não, não! Reaja, droga, reaja! Não deixe ele pensar outra vez que você é
excepcional.
- Só fiquei meio surpresa com o que disse, eu não esperava. – Consegui pôr pra fora,
ofegante.
- Está louco? Puta merda, é o que eu mais quero. – Só quando calei a boca, percebi a
porcaria do palavrão que eu tinha dito. Onde estaria o maldito pote de palavrão? Por que
eu tinha que estragar aquele momento com uma diarréia verbal?
O rosto de Finn estava cada vez mais próximo ao meu, eu podia sentir sua respiração,
seu calor. OH, MEU DEUS! VOU MORRER, MORRER DE FELICIDADE.
Fiquei hipnotizada por aqueles lábios sensuais, meu estômago embrulhou, minha visão
ficou turva. A mão dele agarrou a minha cintura, enquanto a outra tocava levemente a
maçã do meu rosto. Minha respiração havia ido pro espaço, quando senti sua boca a
milímetros da minha. Era o momento, era a hora, era tudo que eu havia esperado e
lutado para conseguir. Fechei os olhos, pronta pra me entregar àquele beijo com sabor
de vitória.
Clarke PDV
A força que foi usada para me tirar do veículo foi tão grande, que meu corpo foi ao
chão, fazendo-me bater a cabeça.
- Sua oferecida! Pensa que vai ser fácil assim roubar o que é meu? – Fiquei
extremamente surpresa em ver Susan me encarando, furiosa.
- Susan, o que acha que está fazendo? – Perguntou Finn, vindo preocupado ao meu
encontro.
- Estou tirando essa feiosa dos braços do MEU NAMORADO! – Ela enfatizou bem o
“meu namorado”. Fiquei paralisada no chão, na dúvida se Finn tinha falado sério
quando me disse que havia encerrado o relacionamento.
Lexa PDV
Anya e eu saímos para o jardim, estávamos doloridas por conta das bolsadas que
levamos. Queria relaxar e tomar uma cerveja. Era bom saber que nada mais de ruim
poderia me acontecer aquela noite.
- O que foi?
- Por que a Clarke está ali sentada no chão, enquanto Finn e a namorada discutem?
Olhei para a direção que minha irmã apontava e vi exatamente a cena que ela acabara de
descrever. Imediatamente, corri para a rua, a fim de saber o que estava acontecendo.
Anya veio comigo, já todo animada.
- Por que fez isso comigo, Finn? Por que? Nós tínhamos algo especial e você me troca
por isso... – Susan indicou uma Griffin embasbacada no chão. Aquelas palavras foram o
suficiente para eu entender o que estava se passando. - OLHA PRA MIM E OLHA
PRA ELA! ECA, A FEIOSA É RIDÍCULA, NÃO É METADE DA MULHER QUE
EU SOU! SE TIVESSE ME TROCADO POR UMA MULHER MAIS BONITA, EU
ATÉ ENTENDERIA, MAS ISSO CHEGA A SER PIADA.
- Para de falar besteira, vamos embora agora! - Collins segurou-a pelo braço, puxando-a
para o carro, mas ela estagnou.
- Se ele te deixou, aceite, não vem descontar em mim, sua maluca! – Respondi brava
por ter sido chamada de estúpida.
A palavra “maluca” deve ter despertado uma espécie de fúria feminina bizarra na ruiva,
pois ela me deu um tremendo tapa na cara. Aquilo realmente doeu, a maçã do meu rosto
pareceu queimar. Me contive, não ia bater nela, mas vontade não faltou.
- Lexa...
- Sim?
- Aquele acordo de não falar palavrão e não bater nas pessoas ainda está valendo? Posso
ser eu mesma agora?
- Nesse caso, vamos abrir uma exceção. Está liberada! – Respondi satisfeita.
Ela levantou-se lentamente do chão, estalando o punho. Anya abriu um largo sorriso.
Assim como eu, ela sabia que ela ia descer o cacete, bem do jeitinho que gosta.
Rapidamente, passei um braço em volta da cintura dele, o mantendo junto de mim, para
que não interferisse na briga. Collins revirou-se, tentando se desvencilhar, mas o
imobilizei usando toda minha força.
- Só quem vai se machucar é a sua vaca ruiva, como diz a Clarke. Quem mandou ela
provocar? – Ri das minhas próprias palavras. Parecia estranho estar fazendo aquilo, mas
não queria acabar com a alegria do meu frango, afinal, ela adora bater.
Ainda bem que a guaxinim não deixou Finn separar as garotas. Era divertido ver a filha
do Kane socar várias vezes a ruivona gostosa. Observar duas garotas rolando no meio
da rua era mesmo excitante.
Eu nunca gostei do Collins. Ele se acha muita coisa, o bonzão, o melhor amigo da
minha irmã, etc.. etc...
A guaxinim caiu pra trás, fazendo uma expressão engraçada de dor. Ficou vermelha de
raiva, seu olho esquerdo tremeu e trincou os dentes. Eu soube na hora que Finn estava
ferrado.
Lexa jogou-se em cima do Collins e os dois tombaram no asfalto. Minha irmã meteu o
punho com força na cara dele, pude até ouvir o estalo. Poucas vezes a vi tão zangada e
me perguntei o que teria despertado o Jean Cloud Van Damme adormecido dentro dela.
Dei de ombros, isso não importava, afinal, ERA BRIGA!
Agora eram duas brigas acontecendo à minha volta. Pulei contente. Era bom demais pra
ser verdade, melhor que assistir luta livre na TV.
Observei Susan jogar areia nos olhos da Clarke, que caiu, esfregando o rosto. Então, ela
aproveitou para bater nela.
Finn, deu uma chave de braço em Lexa que, para minha surpresa, conseguiu sair dela e
lhe socou o estômago. Nem parecia que a Lexa estava em desvantagem porser mulher.
Risin' up to the challenge of our rival (Junto com o desafio do nosso rival)
And he's watchin' us all in the eye of the tiger (E sua sorte deve ser sempre o olho do
tigre)”
Eu precisava narrar aquela luta, podia ser minha única chance na vida.
20 Minutos depois, Clarke e Lexa estavam sentadas no sofá da sala, ouvindo o comedor
de mães, Kane, passar o maior sermão. Ri baixinho quando minha mãe colocou bife nos
olhos delas, que estavam realmente ficando pretos.
Clarke PDV
Uma tempestade de proporções bíblicas caía sobe a Itália. Tentava, a todo custo, dormir
e sonhar com o beijo que deveria ter acontecido entre mim e meu lobo, mas os trovões e
relâmpagos tiravam a minha paz. A única coisa no mundo que me causava pavor, além,
claro, de ver Kane casar com Abby, eram trovões. Sempre tive medo deles, desde
pequena. Um medo inexplicável e incompreensível, não tinha terapia que desse jeito
naquilo. O som ensurdecedor de um trovão me fez saltar da cama.
- Clarke?
Ela acendeu a luz e pude respirar ao verificar que não tinha me molhado toda, ou pior.
- O que você está fazendo? – Perguntou ela, com a maior cara de tapada.
- Ah, entendi. Estava planejando me assassinar essa noite? Desculpe estragar seus
planos.
- Não! – Esbravejei.
Outro trovão explodiu nos céus, me fazendo sobressaltar e bater com a cabeça na mesa.
Foi uma dor filha da mãe. Ainda assim não iria sair dali.
QUE ÓDIO!
- Vem! – Ela me puxou para fora do meu esconderijo. - Estou vendo que você está com
medo de dormir sozinha. Você é mesmo uma criança.
- Por nada desse mundo! Sua cara é mais assustadora que os trovões!
Uma merda de trovão assustou-me. Como uma louca, me agarrei à otária. Quando
percebi minha sandice, a larguei nervosa.
- Acho que ouvi Linc me dizer que ela iria dormir com ele essa noite.
- E a gostosona da Lexa? - A anormal fez piadinha e só ela achou graça. - Vamos logo
para o quarto, medrosa.
Um trovão alto decidiu por mim. Subi as escadas correndo, enquanto A Woods ria de
mim.
- Como pode estar calor? Está chovendo canivete! – Retruquei, apontando para a janela,
onde o vento forte a fazia chacoalhar, mesmo fechada.
- Clarke... – Ela alisou o colchão. - Vem deitar! – Deu dois tapinhas na cama.
- Nem morta! – Ela deitou-se, agarrando um travesseiro. - Vai para o chão você!
- Você que teve a ideia, então, vai ter que me ceder a cama.
A imbecil rinchou.
- Se é assim que você quer... – Ela apagou a luz do abajur e tudo ficou completamente e
sinistramente escuro.
Engoli em seco, ouvindo a tempestade rugir na noite. Foi aí que um trovão ecoou mais
alto do que qualquer coisa que já ouvi na vida. Em um súbito, me joguei na cama,
agarrando Lexa, enquanto tremia incontrolavelmente. Ela ligou o abajur só para me
olhar, surpresa. Desconcertada me dei conta do que fiz. A larguei, querendo enfiar
minha cabeça em um buraco. Amaldiçoei a mim mesma por estar sendo tão covarde. De
mansinho, fui saindo da cama para voltar ao chão.
- Tem certeza que quer fazer isso? Vai ter mais trovões, não quer ficar logo?
Tentei pensar nas minhas alternativas, mas o medo ridículo que eu sentia limitava meus
pensamentos. Calada, deitei-me no cantinho da cama, quase caindo.
Ela rosnou impaciente e me puxou para o meio da cama. Isso nos fez ficar quase
coladas. Quanto a vi erguer a mão para fechar o abajur, tive vontade de gritar.
- Deixa ligado. – Pedi em um fio de voz. A filha da mãe riu das minhas fraquezas.
- Tudo bem.
- O que estava acontecendo dentro do carro para Susan ficar tão irritada? – A voz dela
estava serena e ao mesmo tempo curiosa.
Só a pronúncia do nome da vaca ruiva já me enfurecia, jamais iria esquecer que ela
atrapalhou o melhor momento da minha vida. Ao menos o que era para ter sido o
melhor momento. O beijo com o Collins. Tentei afastar os pensamentos frustrados da
minha mente e me restringi respondendo a pergunta de Lexa.
O que eu deveria responder? Pensei por poucos segundos e resolvi responder o que
pretendia considerar a versão oficial daquele acontecimento, só para não dar o gostinho
a vaca ruiva de estragar a minha felicidade.
- Sim, nos beijamos! – Manteria aquela resposta para sempre, mesmo que não fosse
verdade. Eu não deixaria aquele momento me ser roubado, depois eu e meu lobo
tornaríamos a minha versão mais real.
Coloquei a cabeça para fora do cobertor verificando se a otária estava rindo da minha
cara. Fiquei surpresa ao vê-la séria, encarando o teto.
- Que foi? Eu não fui fácil! Fiz tudo direito, do jeito que você ensinou, não vai se gabar
de ter cumprido sua parte do acordo? – Fiquei mesmo curiosa, o que será que estava
passando pela cabeça daquela anormal?
- Pois é, você conseguiu! Nós conseguimos, afinal. – Falou ela, com um certo descaso.
- Sim, eu sou demais! – Sorri, olhando também para o teto. - Consegui fisgar Finn
Collins.
Ficamos em silêncio por cerca de 10 segundos. Me dei o luxo de absorver a ideia de que
tinha alcançado meu objetivo.
- Preparada para a última aula? – Perguntou ela, deitando-se de lado. Fiz o mesmo,
confusa.
- Ela se resumiria em nós duas sem roupas e ofegantes, mas não virei suicida ainda. Não
quero que me mate com aquela faca. Então, vamos fazer algo mais simples. – Sorriu.
Precisei de um tempo para entender aquelas palavras. Quando entendi, meus olhos
arregalaram-se e gaguejei. Infelizmente, isso despertou mais risadinhas sarcásticas na
idiota.
- Meu namorado bateu demais na sua cabeça, é isso? Ficou maluca, LEXAZINHA? –
Esbravejei incrédula.
- Calma, pirralha, não vou fazer nada, até porque percebi agora que você é muito
criança para isso. Susan tem razão, você não é metade da mulher que ela é, não adianta
eu tentar ensiná-la, eu não faço milagres.
- O que? – Questionei, enquanto ela soltava-me e voltava a deitar ao meu lado. - Eu sou
mais mulher que aquela nojenta, sou muito melhor! – Sentei-me, irritada. Quase explodi
em ira quando vi a anormal virar-se, me dando as costas, totalmente indiferente.
Como ela podia achar que Susan era melhor que eu? Certo que eu não tinha nenhuma
experiência sexual e que Finn devia ter dormido com muitas mulheres e quando ele
fosse me comparar a elas, iria... Meu raciocínio parou aí, eu havia até esquecido o que
estava tentando formular antes.
Lexa tinha razão, eu não sabia de nada. E agora? E se meu lobo começar a achar
também que não sou metade da mulher que Susan é?
Meu queixo caiu. Com não queria? Mais essa agora, vou ter que insistir?
Revirei os olhos.
- Você perdeu sua chance, pirralha, agora me deixa em paz. Já falei que não vou te
tocar.
Esfreguei o rosto chateada. Por que ela estava tornado aquilo tão difícil? Era estranho
querer tanto aquela aula pervertida, mas eu sabia que ela era a pessoa certa para me
ensinar, pois nenhuma dica da Woods tinha falhado até aquele momento.
- Me toca! – Pedi, por fim, me segurando ao resto de paciência que ainda possuía.
- OK! – Ela sentou-se de frente para mim tão rápido, que me assustou. - Já que você está
pedindo com tanto jeitinho, eu toco. – Ela sorriu tão descarada que me senti uma anta
por ter implorado por aquilo. - O que você sabe sobre sexo?
- Eu sei o que todo mundo sabe, né? Só não sei como agir quando chegar o momento
de... de... – Estava procurando uma palavra qualquer para definir aquilo.
A Woods colocou um CD com uma música agradável e voltou para a cama, sentando-
se, de frente para mim.
- Quando te beijei aquele dia no pescoço, você reagiu meio engraçado. Eu percebi que
você não conhece seu próprio corpo. Acho difícil você saber o significado da palavra
prazer. – Me senti corar, engoli em seco e fitá-la, se tornou extremamente difícil.
Porém, ela, parecia muito calma, nada constrangida, como se estivesse me explicando
como se joga ping-pong. Quando a otária ajoelhou-se e me puxou para junto de si, eu
achei que sairia correndo, mas, ao invés disso, estremeci ao toque de suas mãos. - Não
se preocupe, eu vou apenas ajudá-la a fazer algumas descobertas. Se você quiser desistir
em qualquer momento, é só falar, mas por favor, nada de agressão física. Entendido?
Lexa foi puxando lentamente a blusa do meu pijama para cima. O nervosismo me
atingiu, me paralisando e isso a impediu de continuar, já que não levantei os braços para
ajudá-la a me despir. Ela aproximou-se ainda mais e pude sentir sua respiração quente e
uniforme junto a minha orelha.
Por alguma razão, aquela frase destravou algo dentro de mim, fazendo meu corpo reagir
e o nervosismo chegar a um nível tolerável. Fechei os olhos quando ela começou a
beijar minha orelha, lambendo-a e mordiscando-a de um jeito que me causava arrepios.
Sua boca escorregou para o meu pescoço onde depositou beijos calmos e
tranquilizadores. Aquilo me encheu de uma estranha confiança na Woods. Em resposta,
meus braços ergueram-se, então, ela pode puxar gentilmente minha blusa para cima,
tirando-a.
Me abraçou carinhosamente, nossas peles tocaram-se. Foi agradável sentir as mãos dela
acariciando minhas costas, aumentando meus arrepios. Fiquei na expectativa quando
Lexa alcançou e fecho do meu sutiã branco e, logo o abriu. Minha respiração ficou
suspensa no momento em que ela afastou-se, puxando as alças consigo. Elas deslizaram
pelos meus braços e a peça caiu sobe a cama.
Lexa suspirou ao ver meus seios, ficou parada por alguns segundos analisando-me.
Imaginei que morreria de vergonha nessa hora, mas, eu só conseguia encará-la, mal
estava prestando atenção em mim mesma. Foi incrivelmente fácil admitir para mim o
quanto ela estava linda, boca entreaberta, olhos semicerrados brilhando em um
intensidade diferente, ofegante.
Foi aí que ela tocou um dos meus seios. Uma descarga elétrica passou por mim, me
causando ondas de prazer. No início, sua caricia foi tímida, receosa, mas logo tornou-se
intensa e ousada. Seus dedos brincavam com meu mamilo, o deixando extremamente
eriçado. Me contive severamente, aquela carícia era enlouquecedora.
Ela deitou-me na cama, me olhando de um jeito que nunca ninguém me olhou antes.
Ainda não sabia definir que tipo de olhar era aquele. Outra vez, beijou meu pescoço,
agora mais ousada, mordendo-o levemente, lambendo, enquanto acariciava meus seios.
Meu corpo estava reagindo de formas que nunca imaginei. Sentia-me queimar em um
desejo quase que incontrolável. Os lábios e as mãos da Woods estavam agravando meu
estado como um doce vinho sendo jogado em labaredas vorazes. As sensações
desconhecidas me embriagavam.
Lexa PDV
Eu estava louca para beijar Clarke, queria sentir seus lábios macios, sua língua quente.
Mas me contive, os lábios haviam sido de Finn, eu não os provaria naquela noite. Iria
ocupar minha boca com outras partes do corpo da Griffin, partes que eu teria a
agradável honra de saborear antes dele. Beijei, deliciando-me, a jugular da pirralha, o
NOSSA! Será que eu estive todo esse tempo cega? Como não percebia a beleza
extraordinária daquela pirralha? Ela era um mulher estonteante, rosto de linhas
delicadas, seios de tamanho perfeito e tentadores, coxas roliças, curvas que mais
pareciam miragem aos meus olhos. Foi preciso usar todo o meu alto controle para não
avançar em cima dela e saciar todos os meus desejos mais ferozes e impuros. Quanto
mais eu tentava me controlar para não demonstrar o quanto meu corpo reagia ao dela,
mais meu sexo pulsava, mostrando justamente o contrário.
Não suportando, delirando de vontade, puxei a calcinha de Clarke, mesmo sabendo que
resistir a ela depois daquilo chegaria a me causar dor física. Assim como eu imaginei,
me conter foi doloroso ao extremo. A garota completamente nua me deixou
deslumbrada, precisava tirar os meus olhos dela antes que eu cometesse uma loucura
ainda maior do que já estava cometendo.
Arriscando ser impedida por ela, decidi beijar-lhe os seios. Poderia ser minha única
chance e eu não iria desperdiçá-la me perguntando se era certo ou errado. No início, os
beijei com cautela e ela suspirou alto, isso me incentivou a, finalmente, saciar-me, me
fazendo perder-me no sabor de sua pele quente e sedosa. Nunca havia sentido tanto
prazer na minha vida, minha calcinha a essa altura já estava toda ensopada e o mais
absurdo era que ela nem precisou me tocar para isso. Eu devia estar perdendo a
sanidade, já que estava mesmo louca, apertei a coxa dela, mostrando-lhe o quanto eu a
queria. Pude senti-la estremecer e cortar a respiração, isso me encheu de vaidade.
Confiante, derrapei a mão para a parte interior da sua coxa, revirei os olhos perdendo-
me em luxuria, quando ela finalmente gemeu baixinho. Fiquei surpresa por, ela não
perceber o barulho dos trovões que ecoavam constantemente pelo quarto. Clarke estaria
curada de sua fobia? O motivo era eu ou as novas sensações que eu estava lhe
proporcionando? Não importava. Afinal, ela estava ali, embaixo do meu corpo, entregue
a mim como jamais esteve entregue a ninguém, era o que importava para mim.
Parei de beijar seu busto para encará-la. Seus olhos estavam fechados apreciando
minhas habilidosas caricias, ruborizada mordia os lábios. A desejei de forma indecente.
Como eu queria fazer mil coisas com ela. Não liguei paro o fato de Finn tê-la como
namorada, aquela noite de tempestade, ela era apenas minha e eu degustaria meu frango
com prazer. Sorri mentalmente ao perceber que o meu ex-amigo estava sendo corno
logo no seu primeiro dia de namoro.
Suspirei cheia de tesão por Clarke, finalmente, toquei seu lugar na sua carne molhada e
quente. Ela gemeu e eu também, ambas ao mesmo tempo. Percebi que nós duas
queríamos muito aquilo. Estimulei-a como nunca fiz em nenhuma outra mulher, com
carinho, dedicação, paciência. Em troca, fui recompensada com gemidos que quase me
fizeram chegar ao ápice do prazer. De repente minha boca salivou para provar o gosto
dela. Então em uma atitude espontânea me coloquei entre suas pernas e levei minha
língua até seu sexo e me deliciei com seu gosto, provei da sua essência. Não demorou
para que eu fizesse a minha pirralha ter o primeiro orgasmo de sua vida, não consegui
Clarke PDV
Abri meus olhos sonolenta, estava cansada, queria dormir por horas, mas eu tinha muita
coisa para fazer, tratar do jantar em que Finn seria apresentado formalmente. Rolei na
cama e meu corpo chocou-se com outro, mas não era um corpo qualquer, era o corpo de
Lexa Woods.
Olhei por debaixo do edredom, na esperança de estar vestida e isso provar que os
acontecimentos da madrugada não passavam de um sono ou alucinação. Ao constatar
que estava nua, todas as minhas esperanças foram por água abaixo.
Meu sutiã estava debaixo do corpo do dela, pude avistar somente parte. Me aproximei
de olhos fixados na peça, estava me perguntando se deveria puxar ou deixar ali mesmo.
Foi aí que olhei para Lexa e notei algo inacreditável em sua nuca.
Clarke PDV
Congelei. Normalmente, estaria aos berros, mas não sabia o que fazer.
- Leãozinho na minha nuca? – Perguntou atônita, passando a mão atrás do seu pescoço.
Quando ouviu a palavra tatuagem, a babaca correu para o espelho. Não adiantava tentar
ver, ela não tinha olhos atrás da cabeça.
- Você tem certeza? Quer dizer, viu direito? Não pode ser! – Lexa virou-se para mim e
voltou a me olhar estranho, pendeu a cabeça para um lado, analisando-me. Só aí, me dei
conta que ainda estava nua. (N/A: Finn, você está perdendo e feio, amigo! Kkkk)
PUTA MERDA!
- Espera, tem uma coisa na sua nuca também. Quando baixou-se, vi algo entre seus
cabelos.
- Você só pode ter feito isso para me irritar, só pode ser! – Ela murmurou entre os
dentes, fiquei ainda mais confusa.
Lexa permaneceu em silêncio. Foi nesse momento que entendi a merda que tava
acontecendo.
- Oh, não! Por favor, me diga que não tem uma tatuagem aí também. – Pedi, fechando
os olhos e trincando os dentes. - Tem? Fala logo!
Rapidamente a encarei, totalmente chocada. Nesse momento, eu devia estar mais branca
que papel. Meu estômago embrulhou e o quarto pareceu girar.
- AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!
Lexa PDV
Tapei a boca da pirralha o mais rápido que pude. Não queria que ninguém ouvisse a
gritaria e adentrasse meu quarto, achando que eu estava estuprando-a. Do jeito que ela
me odeia, seria bem capaz de confirmar, só para assistir Kane me matar.
- Shhh! Ficou maluca? Quer que todos venham para cá? – Chateada, aturei os olhares
mortais que ela lançava-me.
A doida saiu correndo pelo quarto com as mãos na cabeça em um escândalo silencioso.
Chacoalhava-se como se estivesse querendo espancar a si mesma. Me perguntei se as
coisas que eu tinha feito nela na noite passada, teriam deixado-a ainda mais insana.
Então, parou e me encarou raivosa.
- Eu nunca tatuaria seu nome em mim! Você deve ter feito alguma coisa, Lexa, eu vou
te matar! – Ameaçou, já vindo em minha direção.
A imagem estava trêmula no visor, mas percebemos que era Clarke que ria
descontroladamente no vídeo.
Pressionei os lábios, numa tentativa de conter o riso, pois a cara que a Griffin fez ao
meu lado era hilária.
- SIM! VAMOS TATUAR NOSSOS NOMES! – Fiz careta quando percebi que a voz
de embriagada no vídeo era a minha.
Memórias vagas me fizeram perceber que havia gravado imagens do local, e era
exatamente isso que assistíamos naquele momento. Era um bar de motoqueiros barra
- Filma a gente! – Pedi. Outra vez, a imagem ficou trêmula. Devia estar lhe entregando
o celular.
Clarke, com olhos fixos no vídeo, gargalhou quando eu apareci. Eu realmente estava um
bagaço. Muitos botões da camisa abertos, cabelos mais bagunçados que nunca e uma
tremenda cara de manguaceira.
- Vamos tatuar o nome uma da outra para mostrar que não existe mais
ressentimentos. – Ela deu um grande gole na bebida em suas mãos.
- É, tatua meu nome na sua bunda! – Disse soluçando. – Espera, vou tatuar
Leãozinho por que você parece um leãozinho raivoso.
- Não sei, me mostra? – Zombei risonha, ela tremeu em raiva. - Calma, é brincadeira,
você não tem nada lá, acredite, eu verifiquei ontem. – Griffin ficou inacreditavelmente
vermelha.
Clarke e eu assistimos a nós mesmas tendo uma crise de riso no bar. Era estranho nos
ver em um estado tão deplorável.
Ficamos tão sem ação assistindo aquela cena, que mal percebi minha boca abrir em
espanto.
- NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! – Histérica, subiu na cama, esfregando
o rosto e pulando. - NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO!
- Eu estou tendo um AVC, estou sentindo, vou morrer a qualquer momento. ESTOU
VENDO A LUZ, ESTOU VENDO A LUZ! – Ela mais parecia uma lunática com as
mãos para o ar.
- Calma? Como você me pede para ter calma com essa porcaria de tatuagem em mim?
Me sinto como uma daquelas vacas de rebanho marcada a ferro quente. – Respondeu
alterada.
- Ria o quanto quiser, você também está marcada como uma bezerrinha! – Falou,
colocando as mãos na cintura.
- EI! - Esbravejei, tateando a testa. - Bezerrinha? Não gostei da comparação. Não posso
ser uma vaca também?
- Ah, Meu Deus, sua Woods burra... VAMOS TER FOCO? O que vamos fazer com a
droga das tatuagens?
- Não sei, mandamos tirar quando voltarmos aos EUA. – Dei de ombros. Estava
surpresa em ter marcado meu corpo com o apelido da Griffin, mas não achava que
aquilo era motivo para morrer, embora não gostasse do fato de ter o apelido que tanto
odeio na pele dela.
- Não posso me dar o luxo de esperar, como vou explicar isso para as pessoas, e Finn? –
Lá estava ela agindo como se o mundo estivesse prestes a acabar.
- Clarke, sei lá, diz que você é mesmo uma vaquinha! – Pra que eu fui falar isso? Ela me
lançou uma olhar negro e me socou o ombro esquerdo.
- Ei, namorada, não está esquecendo de nada não? – Ironizei, sorrindo enquanto girava
na ponta do meu dedo, sua peça íntima. Foi divertido vê-la ruborizar.
Ela aproximou-se e, sem me encarar, arrancou a peça de minhas mãos. Antes dela abrir
a porta para fugir do constrangimento, provoquei uma última vez.
- Lexa Woods proporciona serviço completo e garantia de satisfação. Vai virar cliente
fixa? – Pisquei o olho, passando a mão no peito.
Clarke já estava ficando roxa de vergonha. Abriu a boca para responder, mas estava
nítido que ela, simplesmente, não sabia o que responder. Por fim, saiu, batendo a porta.
Me joguei na cama, e achava muita graça. Eu estava agindo como a Anya, como isso foi
acontecer comigo?
- É, não tem jeito. Ela vai ser minha! – Falei para mim mesma, encarando o teto.
Clarke PDV
Olhei para o relógio na parede da cozinha, marcava 16:30hs. Octávia e eu não sabíamos
o que preparar para o jantar. Começava a me arrepender de ter dispensado a cozinheira,
ela estava me deixando louca, tagarelando palavras em italiano que mais pareciam
xingamentos à minha pessoa. Desejava fazer algo especial para o meu namorado queria
que ele sentisse o quanto é importante.
- Calma, vai dar tudo certo. É só comida, não é um monstro de 7 cabeças. – Respondeu,
pondo a mão no meu ombro.
Revirei os olhos.
- Clarke, vamos pedir ajuda a Abby, ela cozinha muito bem. – A Fofolete só podia estar
tirando onda com a minha cara. Nem morta que eu ia pedir ajuda a mosca morta.
- Ela acabou de sair com Kane. – Afirmou a Woods. - Mas... se a pirralha pedir com
jeitinho, eu ajudo.
Octávia me lançou aquele olhar de criança pidona, o qual fiz questão de ignorar.
- Anda, Clarke, deixa de ser orgulhosa, temos que terminar logo isso. Ainda tenho que
dar um trato no seu visual, lembra? – Tive vontade de bater na cabeça tagarela com
aquela travessa. Como ela podia falar as palavras “trato no visual” na frente da idiota da
LEXAZINHA? Foi horrível ter que suportar o olhar do tipo “é, minhas aulas mudaram
você”.
- Tudo bem, pode ajudar? O que ponho ali dentro? – Perguntei, apontando para a
travessa.
- Qual a palavrinha mágica que se usa nessas ocasiões? - A idiota desceu do balcão e se
aproximou.
- ESSA EU SEI, ESSA EU SEI! – Berrou Octávia, saltitando com a mão para cima.
Olhei de forma assassina para ela, então, a criatura baixou a mão fazendo beicinho.
- Não!
Minha prima já estava angustiada com a demora. Foi nesse momento que dei o braço a
torcer.
- Muito bem, temos que escolher o prato principal. – A tonta nos encarou.
- Finn comendo frango? Hum, isso não me soa bem. Podíamos fazer peixe. Tem peixe?
– Lexa fez uma cara engraçada.
- Eu posso fazer a sobremesa? Eu sei uma receita de pudim! Onde será que está a
farinha? – A doida dos olhos claros sabe fazer pudim?
- Olha, Clarke, parece com você. – Disse ela, mostrando-me a cara do peixe morto. O
mais ridículo veio a seguir, a imbecil tentou imitar minha voz enquanto fazia o pobre
peixe de fantoche. - Não me coma, não me coma!
Revirei os olhos e dei um tapa atrás de sua cabeça. Ela estava mesmo merecendo.
- Ok. Me responde uma coisa, você falou pro seu pai que vai apresentar seu segundo
namorado hoje?
- Falar... falar... assim... Não falei. Apenas avisei que teríamos outra pessoa para o
jantar. Por que? Você acha que ele não vai gostar do Finn? – Perguntei curiosa.
Infelizmente, Lexa não respondeu. Foi para a pia tratar do peixe. Seu silêncio me
encheu de dúvidas quanto à reação de Kane ao meu namoro.
Ela tropeçou no tapete da cozinha e meus olhos arregalaram-se, quando vi a farinha para
bolo vir em direção à minha cara.
Cuspia a farinha que adentrou a minha boca, enquanto a Woods e a desastrada riam.
Eu parecia mesmo um fantasma, estava toda branca devido a maldita farinha. Tentando
manter o controle, baixei-me, peguei o saco com a farinha, enfiei a mão dentro do
pacote e joguei um punhado do ingrediente na cara da desastrada. Ela ficou parada, com
o rosto todo branco já fazendo beicinho. Isso despertou ainda mais gargalhadas em
Lexa.
Enfiei a mão dentro do pacote e ela correu. O ridículo foi nós duas correndo em volta da
mesa. Eu não estava conseguindo acertar a maldita.
- VOLTA AQUI, LEXA! VOLTA! – Gritei irritada, mas não conseguia conter o riso.
Tanto a minha futura vítima quanto eu, paramos de correr, confusas em ver a
bisonhenta, segurando uma enorme caixa. Algo dentro dela fez um barulho estranho.
Ambas demos um passo atrás. Vindo de Anya, podia ser qualquer coisa.
- Anya, seja lá o que for, me diga que não está vivo. – Lexa fez uma careta.
- Toma seu presente mana! – A maníaca assassina tentou entregar o porco, que já se
estrebuchava.
- Ei! Não chama ele assim, o nome dele é Toicinho! Não fira os sentimentos do
pobrezinho, ok? – Quase morri de nojo vendo um animal acariciar outro. - É o seguinte,
o Toicinho é seu. Você fala para a mamãe que ele vai morar aqui. Então, depois,...
assim como quem não quer nada, você me presenteia ele de volta.
A burra sorriu enquanto sua irmã passava as mãos na cabeça, ameaçando explodir.
O grito do maluco assustou o porco que estrebuchou até cair no chão. O animal saiu
correndo e Lincoln também. Sinceramente, eu não sabia se o filhote corria atrás dele ou
com medo dele.
- Não corre, cara, o Toicinho não tem bactérias, aliás, bactérias nem existem! É só
lenda, burro! – Anya foi para a sala e todos nós a seguimos.
Lexa e Octávia começaram a perseguir o porco pela sala, tentando agarrá-lo, mas ele
parecia bem mais inteligente que todos ali. Fiquei apenas observando. Assim como o
chapadão, eu estava com o maior nojo do animal de bonezinho.
Eu já ia começar a rir, quando vi o Toicinho correr em minha direção que nem uma
bala.
- AI, NÃO!!! – Subindo no sofá onde já estava Lincoln, tremendo que nem uma
mulherzinha.
Octávia abanava seu namorado, enquanto a maníaca assassina agarrava seu mascote.
- Ei, gente, e o meu jantar? – Perguntei, me dando conta do quanto tínhamos nos
distraído.
- Olha, ele peidou! Que legal! – Só Anya mesmo pra achar aquilo legal.
Já passavam das 19:00hs e eu ainda encarava meu reflexo no espelho. Estava tão
diferente, quase não me reconheci. A blusa vermelha de gola e botões havia sido a
escolha de minha prima. Já a saia preta era bem parecida com a que Lexa escolhera para
mim em outra ocasião. Botas cano longo agora faziam parte do meu dia-dia e,
maquiagem era algo que eu estava aos poucos aprendendo a usar.
Queria me concentrar em como agir perto do meu lobo, mas só conseguia pensar na
noite que passei ao lado da maldita Woods. Cada momento estava inacreditavelmente
gravado na minha memória. Quando fechava os olhos, podia ver o rosto dela, os olhos
brilhantes, suas atitudes, seu sorriso torto.
O ponto em que meus olhos deveriam estar fixados era Finn. Precisava pensar apenas
nele, ao menos até o final da noite. Levantei-me e me forcei a sair do quarto. Quando
abri a porta, fiquei surpresa em ver Abby à minha frente.
- Lexa me falou sobre você e Finn. Não se preocupe, eu não disse nada para Kane,
entendo que você mesma queira contar-lhe. Eu vim apenas... bem... lhe desejar boa
sorte.
Ergui a sobrancelha, procurando entender por que a mosca morta estava tentando bancar
a boazinha pro meu lado. Ela tocou minha orelha e dei um passo atrás, assustada. A
idiota sorriu.
- Sim, use-os.
- Prometo que não conto para ninguém que os brincos são meus. Pode usar
tranquilamente. – Ela aproximou-se, colocando-os em minhas orelhas. Permiti, já me
odiando. Ela, provavelmente achava que eu estava cedendo à sua tentativa de amizade.
Passei a mão em uma das orelhas. Eu realmente estava querendo usar aqueles brincos.
Não por causa da mosca morta, mas porque a joia era linda.
Saí, deixando-a para trás. Quando me preparava para descer as escadas, virei-me para
verificar se ela ainda estava no corredor. O pior é que estava exatamente no mesmo
lugar.
Desci rapidamente a escada, querendo me socar por ter tido aquele momentozinho com
a filha da mãe.
Eu estava feliz ao ver todos à mesa. Finn estava lindo de terno. Me perguntei se ele
estava querendo impressionar meu pai.
- Então, Finn? Você e minha filha são amigos a muito tempo? – Interrogou meu pai.
- Não, fazem apenas algumas semanas. Está sendo muito bom conhecê-la e... nós somos
agora mais que amigos. – Meu lobo respondeu com seu sorriso perfeito. Fiquei apenas
admirando-o.
- Mais que amigos? Mesmo? – Kane me fitou, parecendo chateado por eu não ter lhe
contado. - Achei que você era apenas o amigo da Lexa. E estávamos tendo esse jantar
para que vocês se reconciliassem após aquele lastimável episódio de ontem.
A Woods pigarreou.
- A verdade é que Finn e eu somos namorados agora. – Resolvi contar, antes que
Collins achasse que eu tinha desistido do relacionamento.
Meu pai encarou Abby e Raven, que sorria constantemente para o meu namorado.
FALA SÉRIO!
- Vamos saber mais sobre você então, Finn. De onde você é? Quem são seus pais?
Fiz sinal pro meu pai para que ele não tocasse naquele assunto. Não adiantou muito,
meu namorado já estava cabisbaixo.
- Er... eu sou de Los Angeles, e... meus pais... é... – Quase me partiu o coração vê-lo se
esforçar para responder. - Minha mãe fugiu de casa com o vizinho quando eu tinha 6
anos, e meu pai, hoje mora em um pequeno vilarejo em Polis. Nós não nos falamos.
Fiquei chocada com aquela informação. Tive uma súbita vontade de consolá-lo.
- Sinto muito. – Disse educadamente meu pai. - E o que você faz da vida? Está sozinho
na Itália?
Fazer sinas para Kane não estava resultando em nada. O nervosismo me atingiu. Se
Finn confessasse que organizava e participava de rachas, meu pai moralista iria surtar.
- Não, não, se você vai namorá-lo, eu preciso saber o que ele faz da vida. - Kane
alterou-se levemente.
- Eu não fiz nada, só perguntei o que todo pai perguntaria, se ele não quis responder é
porque tem algo de errado. Eu não creio que esse seja o melhor momento para você
namorar!
Eu ia explodir, quebrar toda a louça exposta na mesa, mas engoli a raiva e saí correndo
para fora da casa, na tentativa de alcançar Finn, antes que ele partisse.
Lexa PDV
Não dava mais para suportar, me direcionei para fora da casa, muitíssimo preocupada
com meu amigo e a pirralha. Eu sabia que Kane iria fazer perguntas das quais Finn se
recusaria a responder, mas eu nada podia fazer. Engoli o orgulho e me aproximei para
perguntar se ele estava bem.
Clarke encostou-se no carro, enquanto ele atravessava a rua para vir ao meu encontro.
O puxei para um canto do jardim. A conversa que eu teria com ele não poderia ser
ouvida por ninguém.
Ele ficou procurando as chaves no bolso e eu quase o espanquei, de tão nervosa que eu
estava.
Olhamos para a rua, agora deserta e sabíamos que era tarde demais para tentar segui-los.
Já não havia rastro.
Lexa PDV
Corri para dentro da casa no intuito de relatar a família o acontecimento e meu amigo
me seguiu, igualmente tenso.
Quando encarei Kane, as palavras quase não saíram da minha boca. Todos ficaram
chocados com as informações que eu lhes passava. Compreendia a histeria que tomou
conta do recinto.
- Temos que ligar para a polícia agora. Isso tudo só pode ser um mal entendido! – Meu
futuro sogro... Espera, quis dizer padrasto, agarrou o telefone já discando os primeiros
números.
Eu bem sabia que Finn tinha problemas com a polícia, mas não me pareceu esse o
motivo de sua intervenção.
- Confiem em mim, peço para me darem apenas algumas horas para resolver essa
situação, pois eu sei que a culpa é minha. – Collins estava falando sério.
- Eu acho que nesse momento só existe uma pessoa com interesse em prejudicar Clarke
e condições financeiras pra isso. – Ele me encarou e eu entendi na hora o que ele estava
falando.
- A garota que estava aos tapas com minha filha? – Questionou Kane e eu apenas
confirmei com a cabeça. - Não interessa, vou chamar a polícia agora mesmo!
- Finn tem razão, não devemos chamar ninguém agora. Nesse tipo de rapto, eles sempre
ameaçam a vida do refém, caso a família avise as autoridades. Não queremos correr esse
risco, certo? Eu tenho quase certeza que foi mesmo a ruivona. Nós vamos atrás dela, se
em 3 horas não conseguirmos nada, aí sim, ligamos pra polícia, consulado, o que você
quiser. – Aquilo me pareceu a melhor solução.
- Lexa, você tem certeza disso? Não sei o que fazer! – O meu sogro,... ESPERA!
DROGA!... o pai da Griffin me encarou, cheio de dúvidas.
- Nós vamos trazê-la de volta, não se preocupe. – Falei, pondo uma mão em seu ombro.
Ele saiu para um canto da sala, já com o celular no ouvido. Eu nem queria ouvi-lo
discutir com a ruivona, só queria meu leãozinho de volta. Kane também pegou o
telefone e foi para o escritório, tristonho, provavelmente, estava planejando informar o
lastimável acontecimento a amigos e parentes. Os demais tagarelavam à minha volta,
inventando mil e uma teorias para o sequestro de Clarke. Sentei-me no sofá, ignorando
as vozes. Era perturbador saber que, provavelmente, Susan tinha raptado Griffin, pois eu
não sabia o que uma ex-namorada enfurecida era capaz de fazer. Estava surpresa com
meus próprios sentimentos e atitudes. Imaginar que a pirralha estivesse sofrendo, era
uma tortura. Alguns tempos atrás, eu mesmo seria a primeira a pular de felicidade por
terem levado-a, mas agora era diferente, eu temia por ela, a queria segura ao meu lado.
Fiquei, por minutos, largada naquele sofá, sentindo-me impotente e perdida.
- Só isso? – Octávia bateu o pé no chão. - Não podemos fazer nada? Vamos ficar aqui
todos parados esperando que Wells retorne a ligação?
Foi aí que ouvimos a porta da frente ser aberta com violência, produzindo um barulho
que me fez sobressaltar. Arregalei os olhos, não crendo na criatura que acabara de
adentrar a sala, esbaforido e agitado.
- Er... fui eu... achei que quanto mais gente procurando Clarke melhor. – Kane
respondeu, tímido, saindo do escritório.
Passei a mão na cabeça, tentando manter a calma. Aquele momento não era o melhor
para ter uma bichona nos enlouquecendo.
Ele ignorou.
Olhei para os lados e nem sinal da minha irmã. Poxa, ela estava próxima a mim. Onde
será que aquela besta se meteu? Foi aí que ouvi o guinchar do porco e decidi seguir o
barulho. Não demorei para encontrar Anya, abaixada, escondida atrás do sofá.
Voltamos nossa atenção, apreensivos. Ele escutou mais do que falou ao telefone e eu
quase morri de ansiedade. Após alguns segundos, finalmente se pronunciou.
- Wells conseguiu o endereço da casa dos pais de Susan, eu sei onde fica esse local.
Vamos lá. Pode ser que ela esteja escondida na mansão. – O cara já caminhava em
direção à porta.
- Kane e Lincoln vão ao prédio onde a ruivona morava. Alguém lá deve saber do
paradeiro dela, um funcionário, vizinho... tentem. É necessário um plano B, caso não
tenhamos nenhum sucesso indo à casa dos pais da louca.
- Vamos tentar subornar alguém por lá, em troca de qualquer informação. – Disse MEU
FUTURO PADRASTO, determinado. (Agora eu acertei!)
- Eu e Finn vamos atrás da ex-namorada dele, o restante de vocês, fiquem aqui, caso
Clarke retorne. Quem sabe, não acontece um milagre? – Afirmei tensa.
- Espera! Eu não vou ficar aqui, vou com vocês! – Anya acariciou o Toicinho.
- Eu também vou. Nem morta que vou ficar aqui parada! - Octávia pareceu-me decidida.
Revirei os olhos.
- Não! Vamos apenas eu e Finn! Eu ligo se tiver alguma novidade. – Tomei as chaves
do carro, que estavam em sua mão e marchei para fora da casa, em direção ao Aston
Martin.
- É isso aí, você está olhando para o grupo de resgate F.O.D.A! - Bellamy fez biquinho.
Eu só podia estar tendo um pesadelo daqueles. Quando achei que não podia piorar, vi
que minha irmã bisonhenta encobria algo com a jaqueta.
- Eu preciso, cara, ele vai farejar a Clarke, ele tem um faro incrível. Olha só, fareja a
Lexa, Toicinho! – A idiota colocou o animal perto do meu rosto e me segurei para não
jogar aquela bola de gordura fedorenta para fora do carro.
- Gente, a Clarke está em perigo! Vamos logo! – Octávia tinha toda razão. - ACELERA,
LEXA! VAMOS AO RESGATE, GRUPO F.O.D.A!
FALA SÉRIO!
- Quando cheguei lá, perguntei através do interfone a uma das empregadas, se Susan
estava. Ela disse que sim, falei que precisava entrar e conversar com ela. A empregada
pediu para que eu esperasse que ia me anunciar, depois voltou com uma desculpa
esfarrapada afirmando que tinha se enganado, que Susan não está em casa, que viajou.
Tentei lhe explicar a situação, convencê-la de que sou o namorado da sua patroa. E não
deu em nada, devido a minha insistência, enviaram dois seguranças, que agora estão de
plantão naquele maldito portão.
Octávia PDV
- O que a senhora tem? Não podemos ficar aqui fora, é melhor ir embora. – O loiro fez
uma carranca.
- Moço, eu estou perdida, meu namorado me abandonou. Como eu sofro! Agora eu nem
sei mais onde estou! Me ajuda, pelo amor de Deus, estou tão carente! – Me joguei nos
braços do barrigudo com a minha melhor cara de pobre coitada.
Enquanto abraçava o homem, sinalizava com uma das mãos para que os malucos
entrassem logo. Eles entenderam o recado e voltaram a andar em direção à mansão. O
gordo percebeu meus movimentos de braço e tentou virar o rosto quase flagrando os
rapazes. Impedi, pondo minhas duas mãos em seu rosto e beijando-lhe violentamente,
mas cheia de nojo, mantendo um dos olhos abertos. O loiro caiu na gargalhada. Foi aí
que o F.O.D.A aproveitou o meu sacrifício e correu para dentro do jardim.
- FANTÁSTICO! – Falei feliz, vendo que meu plano tinha dado certo.
Fiquei contente por termos conseguido atravessar os portões. Agora, tentávamos passar
pelo jardim, o mais discretamente possível. Fomos rastejando pelo gramado como
soldados em uma guerra, com exceção do Pavão, que insistia em progredir de “quatro”!
Como eu era a último da fila, podia visualizar a ordem dos integrantes: Finn era o
primeiro, depois, Bellamy, Anya e eu. Minha irmã, já fula da vida, fazia cara de
assassina de filme de terror quando olhava para a frente, pois dava de cara com a bunda
magra da bichona. Furiosa, ela murmurou, com medo de ser ouvido:
- Bellamy, Bellamy, Bellamy! Seu boiolão, quer baixar essa droga de rabo?!!
- Ei, vocês! Façam silêncio aí atrás! - Finn teve que se esforçar pra que esse sermão
fosse transmitido em cochichos.
Pulamos uma das janelas da mansão que estava aberta e, já dentro da casa, gesticulei
para que fizessem silêncio. Meu amigo apontou para o andar superior e todos subimos
as escadas. Chegamos a um longo corredor com várias portas. Suspirei derrotada, já me
perguntando se estávamos mesmo fazendo a coisa certa. De repente, a ruivona saiu de
um dos quartos e, ao nos avistar, assustou-se, trancando-se no cômodo. Corremos até lá
e Collins começou a bater na porta.
- ANDA, SUA MALUCA! NÓS JÁ SABEMOS QUE FOI VOCÊ QUE RAPTOU
CLARKE! - Impaciente, bati violentamente na madeira.
Todos fomos até a janela, na expectativa de ver uma Anya machucada no chão do
jardim.
A vaca ruiva, como diz Clarke, começou a rir e só aí lembramos o motivo de estarmos
ali.
- MÃOS PRO ALTO! – Gritou Bellamy, sacando uma pistola. Arregalei os olhos. O
que aquele lunático achava que estava fazendo?
- É lógico que sabe, você a sequestrou. – Disse a bisonhenta, pegando o Toicinho, que
fuçava o chão.
- Chega, Susan, chega, isso é loucura! Me diga onde esta minha namorada. Não
complique mais as coisas. - Collins pegou-a pelos ombros.
- Sua namorada sou eu e não aquela horrorosa, não se esqueça disso. - Provocou, já não
demonstrando medo.
- Aceite, droga! Não estamos mais juntos e raptar Clarke não vai fazer com que eu volte
pra você. – Ele rangeu os dentes, enquanto sua ex-namorada dava de ombros.
- Vocês podem discutir isso depois, eu quero saber onde esta a Griffin! – Pedi irritada.
Para minha surpresa, o boiola deu um tapa tão grande na garota que a fez girar.
- Chega, né, seu doido? – Pedi, percebendo que estávamos novamente perdendo o foco.
- Não mesmo! Agora que eu comecei com a catiroba azeda. IIIÁÁÁ! – Ele fez uma
posição de kung fu qualquer. - Vamos torturá-la até que diga o paradeiro da Clarke.
Susan preparou-se para gritar, mas, antes, Finn tapou-lhe a boca. Rapidamente, ele,
junto com Bellamy, seguraram os dois braços da garota, impedindo que ela fugisse.
- Me passa o porco.
- Cuidado com o bichinho, hoje ele está sensível. – A anta me entregou o leitão.
- Vai falar onde Clarke está ou vai querer beijar o suíno? – O peguei, aproximando-o do
rosto da vaca ruiva. Ela arregalou os olhos.
- Eu não sei onde ela está, eu não sei onde ela está! – Respondeu, à beira da histeria.
Então, passei lentamente o focinho do bicho em seu pescoço. A ruiva começou logo a
chorar, pedindo para que eu parasse, enojada.
- Aahh, Toicinho, não foi dessa vez. Mas saiba que você tem o maior jeitão com as
mulheres. – Anya consolou seu mascote.
- Eu não a sequestrei, só contratei dois homens pra darem uma boa surra nela.
Eu, particularmente, fiquei apavorada. O menor pensamento que Clarke poderia estar
machucada era agonizante.
- Vamos logo, não podemos perder mais tempo! – Anya já estava ao pé da porta.
- Eu volto depois para ter uma séria conversa com você. – Finn lançou um olhar furioso
para a ex-namorada.
Fechei os olhos e ergui as mãos. Pelos murmúrios, notei que meus companheiros faziam
o mesmo.
Não podíamos ser presos por invasão, não nesse momento. Eu precisava
desesperadamente encontrar meu leãozinho. Olhei à minha volta e notei que minha
mana havia largado seu mascote no chão. Agora, o leitão estava próximo a mim. Em um
súbito, peguei-o e o apontei em direção aos seguranças.
Ergui o Toicinho no ar, ele me pareceu muito tranquilo, até chacoalhou as patinhas. Já
os seguranças ficaram amedrontados.
- CORRE, PESSOAL!
- Corremos mesmo o risco de pegar gripe suína? – Isso era hora da mulherzinha
perguntar aquilo?
Não acreditei quando ouvi o som de latidos. Virei-me para verificar e, lá vinham os
pastores alemães espumando pela boca. Os outros perceberam finalmente o risco que
estávamos correndo.
Eu acho que nunca corri tanto na minha vida. Os caras saíram desembestados em
direção ao grande portão de ferro. Eu fui uma das primeiras a escalá-lo, na tentativa de
escapar da morte certa, porque aqueles cães pareciam ter saído do inferno. Finn e minha
irmã me seguiram. Com muito esforço, conseguimos sair da mansão. Por último, ficou o
pavão dentro do jardim. Ele conseguiu passar para o nosso lado, mas antes, quase foi
mordido. Um dos cães chegou a rasgar um pedaço da sua calça de couro roxa em um
local nada apropriado: na bunda.
Ele caiu aos meus pés, arfando e pálido. Os cães ainda latiam como loucos, mas já não
nos podiam fazer mal algum.
Revirei os olhos, não acreditando que estava pegando o boiolão no colo e enfiando-o
dentro do Aston Martin. Com todos a salvo dentro do veiculo, a anãzinha pisou no
acelerador e, praticamente, voamos pelas ruas de Verona.
- Finn, tem certeza que é aqui mesmo? – Perguntei, constatando que estava havendo um
festa na residência. Pessoas entravam e saíam e a música estava altíssima.
- Eu acho que é uma boa hora para chamar a polícia. - Octávia realmente parecia
amedrontada.
Talvez ela estivesse certa, nós não sabíamos que tipo de pessoas encontraríamos ali,
mas eu simplesmente não conseguia esperar. Clarke poderia está até morta naquele
momento. Um calafrio percorreu minha espinha.
Nos encaramos por alguns segundos e todos adentramos a residência. Haviam muitas
pessoas, bebendo, fumando, rindo. Fui driblando os convidados, enquanto analisava a
casa, até que, ao chegar à um canto da sala, um tumulto me chamou a atenção. O
nervosismo me atingiu. Eu não conseguia ver o que estava se passando, por causa da
quantidade de curiosos que rodeavam o local.
- CLARKE!
- LEXA! – Gargalhou. - Vem cá, eu vou tocar com a banda, você precisa ver. – Ela
apontou pro baterista e pro baixista e meus olhos arregalaram-se. Eu devia estar vendo
coisas.
Lexa PDV
- Ariba, ariba! Agora la fiesta está completa! – O narco de lenço na cabeça comemorou.
Tentei dissipar a imagem dos sujeitos, que pulavam felizes com minha irmã bisonha.
Me concentrei na Griffin que parecia alheia ao que estava acontecendo. A puxei para a
cozinha, onde estava menos movimentado, enquanto ela murmurava reclamações.
- O que deu em você? Porque não me ligou? Porque não nos avisou que estava bem? –
Bufei chateada. - Não faz ideia do que passamos por sua causa. Seu pai quase faz toda a
polícia italiana te procurar, Octávia se sacrificou beijando um segurança gordão,
infringimos a lei invadindo a casa da ruivona, Anya atravessou uma janela, torturamos o
pobre Toicinho obrigando-o a quase beijar a psicopata e, por pouco, a galera não vira
comida de cachorro. E tudo isso pra que? Pra te encontrar aqui tocando guitarra com
aqueles dementes! – Por um segundo, me perguntei onde estariam Finn, Octávia e
Bellamy. Será que estão dispersos na multidão e, por isso, não nos encontram?
- Eu não sabia que vocês estavam me procurando. – Clarke puxou meu braço para
verificar as horas no relógio de pulso. - Só fazem cinco horas que fui raptada. Quando
cheguei aqui, os hermanos me reconheceram ao tirar o capuz da minha cabeça, então,
começamos a conversar, eles me contaram como foram contratados pela vaca ruiva para
me darem um surra, bebi uma dose de tequila pra me acalmar, uma dose levou a outra e,
quando dei por mim, já estava rolando a festa. Fiquei empolgada de tocar pra toda essa
gente porque eu nunca toquei pra ninguém, acabei por me distrair, foi só.
Como ela podia falar aquilo? Eu já não conseguia esconder minha raiva. Quase
enlouqueci de preocupação e ela sorria contente?
- Eu vou ligar pro seu pai avisando que te encontramos e logo vamos para casa. – Falei
altiva.
- Nada. – Desconversou.
- Lógico que Kane se preocupou, todos se preocuparam! O que te faz achar que não é
importante para sua própria família? – Consegui ficar ainda mais irritada. Não entendia
o tom agressivo em minha voz.
- Pensei que você estaria lá soltando fogos junto com sua mãe e irmãos! Afinal, a vida
de vocês seria bem mais fácil sem mim por perto. Até a vida de Kane seria mais fácil. –
A garota alterou também seu tom de voz, enfrentando-me.
Cruzei os braços decidida a não comprar aquela briga. Tudo que eu queria era levá-la
segura para casa e encerrar aquela maldita noite.
- Não mesmo! – Sorri irônica. - Você vai comigo agora! – Cerrei o punho com vontade
de socar uma parede.
- Como se eu já não tivesse ouvido isso antes. – Murmurei, dando-lhe um leve tapa da
bunda. Prendi o riso enquanto imaginava a expressão assassina que ela deveria estar
fazendo.
Iniciou o pior alvoroço que já presenciei. Parecia que eu estava andando em círculos,
enquanto me puxavam, empurravam, pisavam em meu pé. Era o inferno!
Eu até podia ouvir os gritos de Octávia e Bellamy, mas não os conseguia ver. Estariam
na sala?
Enquanto colocava Clarke no chão senti mãos invadindo os bolsos traseiros da minha
calça. Que merda era aquela? Foi nesse momento que alguém empurrou fortemente a
pirralha e isso nos fez ir ao chão. O meu corpo amorteceu a queda dela, mas nossas
testas chocaram-se, causando uma forte dor.
À nossa volta, o pandemônio dispersava-se, mas ainda assim, a abracei com força,
temendo que fôssemos pisoteadas.
Griffin me encarou, surpresa com minha atitude protetora. Piscou os olhos rapidamente,
do jeitinho que faz quando está atônita.
Eu não soube como agir quando a ponta de seus dedos delicados tocaram minha testa,
não conseguia tirar os olhos de seu rosto, enquanto ela me examinava com cautela.
- Vou sobreviver. – Respondi, deliciando-me com o suspiro que ela deixou escapar.
Nossos rostos estavam tão próximos, nossos corpos tão colados que me deixei envolver
pelo momento e, por alguns segundos, esqueci totalmente de onde estávamos. Só tinha
olhos para a garota deitada em cima de mim. Os dedos de Clarke que, antes tocavam
minha testa, agora aproximavam-se cautelosamente de meus lábios, decidi não me
mover. Deixei-a decidir o que fazer, mas, intimamente, torcia para que ela saciasse
minha vontade de beijá-la. Quando aproximou ainda mais o rosto do meu, notei que ela
não respirava. Não a julguei, pois não era a única. Quando Clarke fechou os olhos,
soube que seus lábios tão desejáveis seriam mais uma vez meus.
Nesse exato momento, ouvimos alguém pigarrear. Griffin levantou-se tão rápido, que
nem me deu chance de protestar. Olhei para o lado e lá estava Finn, de braços cruzados,
carrancudo. O amaldiçoei por atrapalhar nosso quase beijo. Levantei-me frustrada e
pouco me importando com o que ele pensaria sobre a cena que acabara de ver.
- Ah... é... estou, os narcotraficantes não me fizeram mal algum. – A idiota estava
nervosa?
Olhei à minha volta, me dando conta de que não havia mais ninguém na cozinha além
de nós. A casa estava incrivelmente silenciosa.
- CLARKE! - Octávia berrou, adentrando o cômodo, feliz por ver a prima a salvo.
Bellamy a seguiu, com um sorriso safado. Não queria nem imaginar o que aquela
bichona tinha aprontado durante o tumulto.
Os hermanos, que pareciam bêbados ou drogados demais pra entenderem o que estava
acontecendo, riram.
- Que bichinho? – Perguntou o que usava chapéu de cowboy em uma mistura estranha
de nossa língua e espanhol. - Aquele? – Ele apontou para Bellamy.
- Espera, vamos nos concentrar no animal! Quem estava com ele antes da confusão? –
Tentei pôr ordem naquela zorra.
- O Bellamy! Ele soltou o Toicinho no meio da sala, mandando ele ir dançar! - Octávia
se pronunciou, também com voz de choro.
Anya, irada, partiu pra cima do viadão, na intenção de vingar seu porco:
EU MEREÇO!
Tentei acalmar minha irmã, mas ela estava incontrolada! A briga chegou a tal ponto,
que eu girava no meio dos dois, já ficando tonta, enquanto eles corriam à minha volta.
Bem próximo a nós, ouvia as risadas dos colombianos, que sentaram para assistir o
espetáculo e ainda acenderam “unzinho”.
- Ei, chega! Parem com isso! Por que não agem como adultos e vão procurar esse porco,
ao invés de ficarem com nesse joguinho infantil?
Aproximamos-nos para examinar. Afinal, estávamos curiosos, pois o som parecia cada
vez mais forte. Se eram ratos, deveriam ser gigantes! Paramos ao notar que uma enorme
panela de pressão agitava-se, enquanto outro som podia ser ouvido vindo de dentro dela,
mas estava muito abafado para ser entendido.
A tensão foi crescendo e ninguém tinha coragem de abrir a panela. Foi aí que Anya
reconheceu os grunhidos.
- Toicinho! – Ela destampou o recipiente e, logo, pudemos ver a cara aliviada do leitão,
que saiu, apavorado e foi consolado pelo abraço forte (talvez quase mortal) de sua dona.
- Toicinho, você quase me matou de susto! E olha só pra você, ia virando torresmo
naquela panela! - A burra falava isso como se o porco fosse lhe dar alguma explicação!
Bellamy, vendo que minha irmã não parava de abraçar e beijar seu mascote, não perdeu
a oportunidade e provocou:
- Olha aqui, seu viado pervertido, a culpa de tudo isso é sua! Você devia ter segurado
ele o tempo todo!
- Cara, não escuta ele, você já achou seu porco. Não era isso que queria? – Falei no
ouvido dela. Ela continuava com aquela cara de assassina em série, podia jurar que
Clarke sussurrou algo que não consegui entender. Foi aí que a própria pronunciou-se.
- Para tudo! Quem colocou o suíno dentro de uma panela? Essa eu quero saber!
- HU!... OHOHOHOHOH!
Apalpei os bolsos da minha calça em busca do celular para contatar Kane, e, para minha
surpresa, eu já nem tinha carteira. Não consegui disfarçar minha expressão de choque.
- Na hora do empurra-empurra, eu senti mesmo que enfiavam as mãos nos meus bolsos.
Como eu estava preocupada em não ser pisoteada, nem dei importância. Poxa, levaram
tudo! – Octávia fez biquinho, choramingando.
- Como eu estava na gandaia, nem liguei, podia me levar até a roupa que nem ia
perceber. – A gazela sarcástica continuava a sorrir.
- Quer saber? Vamos embora. – Collins foi o primeiro a sair da casa chateado.
- NÃO! DROGA! NÃO! – O grito do meu amigo fez todos nós sairmos da casa,
correndo ao seu encontro. - FILHOS DA MÃE, LEVARAM ATÉ MEU CARRO! – O
otário, socava o ar, irado.
Clarke PDV
Tive vontade de chutar a LEXAZINHA por estar rindo. Será que ela não percebia que,
sem o carro, nós dificilmente sairíamos do bairro? Meu lobo estava mesmo revoltado,
queria consolá-lo, mas não sabia como. Perder um Aston Martin devia ser mesmo
horrível.
- Ok, ok! – Ela pareceu esforçar-se para manter a cabeça no lugar. Então, virou-se para
encarar os meus sequestradores. - Vocês tem telefone aí na casa?
- En ese momento? Yo no faria isso. Sabem como se chama este bairro? – O narco de
chapéu, alisou o bigode, sorridente. - Beco de la bala perdida.
Minha pergunta foi interrompida pelo estampido de tiros, que pareciam vir de todos os
lados.
Podia ver todos jogando-se ao solo, enquanto o tiroteio continuava. Eu não sabia o que
fazer, até a LEXAZINHA me puxar para junto de si.
Eu iria repreender minha prima, mas estava tão apavorada quanto ela.
Minutos depois, o tiroteio cessou e agora, todos discutiam na sala um modo de sairmos
daquela situação.
Ele me abraçou e eu quase não consegui reagir, de tão surpresa. Com muito esforço,
retribuí o ato.
- Eu que deveria te fazer essa pergunta. – Lá estava seu sorriso perfeito de volta ao seu
rosto.
- Estou bem, quer dizer, tudo parece tão louco e surreal. Mas, acho que tudo vai voltar
ao normal. – Respondi calma.
- Fiquei com medo de ter acontecido algo com você. – Ele retirou uma mecha de cabelo
que estava à frente do meu rosto. - Sinto muito por tudo isso, eu sei que a culpa é
minha.
- Nunca imaginei que namorar você fosse tão difícil. – Ele aproximou-se, colando seu
corpo ao meu. Fiquei nervosa só de imaginar que ele pudesse me beijar. - Sabe, estou
cansado de Verona, as coisas não dão muito certo pra mim aqui.
- Eu ia contar algo a você após o jantar, mas tudo começou a sair do controle desde o
incidente com seu pai. – Finn riu irônico. - Na verdade, é mais um convite. Todo ano
passo três semanas em Paris, disputando um campeonato amador. Adoraria que você
fosse comigo. Gostaria muito de ficar com você longe de Verona, seu pai, das
confusões, até mesmo da Lexa. Só você e eu. O que você me diz?
Fiquei procurando o chão embaixo dos meus pés. Aquele convite era totalmente
inesperado. Pisquei os olhos algumas vezes, tentando encontrar palavras para responder
satisfatoriamente, mas não as achava em minha mente.
Eu não tinha dúvidas de que Kane me proibiria até mesmo de pensar na possibilidade de
aceitar o convite. Mas, pouco me lixava para a opinião dele, afinal, ele não pediu a
minha, quando propôs casamento à mosca morta. Iria fazer das tripas coração pra
embarcar com meu lobo na tal viagem, só precisava saber como. Finn me fitava
- E seus pais?
- Pais no plural? Não, é singular, pai. Quanto à ele, não se preocupe, eu dou um jeito.
Quando partiremos? – Sorri animada.
- Como já passa, e muito, da meia-noite, hoje à tarde. Eu sei que falta pouco tempo, eu
devia tê-la avisado antes. É que fiquei esperando o momento certo para convidá-la, e
acabou que o momento nunca surgiu. Por isso, estou te propondo isso assim, em cima
da hora.
Cocei a cabeça, confusa. Tudo bem, queria viajar com meu lobo, mas faltavam apenas
algumas horas, era pouco tempo para enfrentar Kane, arrumar as malas e me despedir da
família. Até senti uma repentina tontura, de tão pressionada que fiquei.
- Clarke? Tudo bem? Você ainda vai comigo? – Perguntou ele, acariciando meu rosto.
- 15:30hs. Posso comprar sua passagem pela manhã e te buscar em sua casa.
Finn roçou os lábios no meu pescoço e isso me fez perder a linha de raciocínio. Era a
primeira vez que ele fazia aquilo, quase gritei de contentamento.
Seus lábios estavam subindo pelo meu maxilar e a expectativa do beijo estava tornado-
se quase insuportável. Foi aí que ouvimos alguém pigarrear.
Virei-me abruptamente só para dar de cara com a mal educada da Lexa. Pensei que a
xingaria, mas a reação que eu tive, surpreendeu a mim mesma. Fiquei extremamente
constrangida, como se estivesse fazendo algo errado. Mas, por que isso agora?
Ok, Clarke! Você não deve explicações a essa babaca só porque quase a beijou na sala.
Seu namorado é Finn Collins, não essa... essa... ai, Deus, eu preciso de terapia!
Bufei, na tentativa de me convencer, mas não estava dando certo. Engoli em seco,
tentando disfarçar o nervosismo.
- Decidimos por ficar aqui até o dia amanhecer, é a única opção. Não falta muito, já que
são quase 02:00hs. – Ela pôs as mãos nos bolso da calça, parecendo chateada. - Podem
continuar o que estavam fazendo. – Falou, antes de sair.
- Er... Será que Kane já chamou a SWAT? – Brinquei totalmente sem jeito.
Por alguma razão, queria dizer a ela que nada tinha acontecido entre mim e seu amigo.
Mas não encontrava palavras, muito menos coragem. Ajeitei minha roupa, já quase
desistindo da conversa.
Arregalei os olhos, espantada. Abri a boca para responder, mas minha voz simplesmente
não saiu.
- Kane não vai mesmo permitir que você viaje com Finn.
- Ele não manda em mim. Vou enfrentá-lo! – Consegui responder com muito esforço.
Lexa deu de ombros como se não quisesse saber sobre o assunto. Aquilo me irritou
profundamente.
Tive vontade de socá-la até não ter mais forças. Ela não podia simplesmente me virar as
costas e ignorar, eu não havia acabado de falar. Me preparei pra descer o braço na
maldita, quando a ouvi perguntar.
- Não sei, sempre que tentamos dar o primeiro beijo, alguém aparece pra atrapalhar! –
Disse-lhe, meio sem pensar, com a intenção de provocá-la, mostrando-lhe o quanto ela
foi inconveniente na cozinha.
- Espera aí! – Lexa virou-se e me encarou confusa. - Você não disse que já tinha beijado
o otário?
ME FERREI!
- Obrigada por ser burra e entregar a si mesma, o que disse faz toda diferença! – Lexa
ajeitou o cabelo, bem humorada.
- Do que você está falando, sua maluca? – Eu estava mesmo perdida no assunto.
- Você é muito lerda. – Ela colocou uma mão no meu ombro. - Mas ainda é o meu
frango, e não vou desistir dele. – A Woods afastou-se contente.
Poxa, porque ela continua me xingando de frango? Não achei graça da piadinha. O que
ela quis dizer? Que vai continuar me atormentando a vida e inventando apelidos
ridículos pra me humilhar? Ai, saco, essa garota deveria vir com um manual. Talvez
assim eu entendesse qual é a dela.
Lexa PDV
Passamos meia hora bebendo tequila para fugir do tédio. Se eu escutasse mais outra dica
de como fugir da cadeia, me mataria! Pois os amigos de Anya só falavam sobre isso.
- Por favor, vamos jogar alguma coisa. Isso aqui está ficando chato. - Octávia se
manifestou.
- Vamos jogar Strip Poker! – O Pavão levantou-se, com um sorriso de orelha a orelha.
- Vocês são umas fracas. Já sabem que vão perder e, por isso, tiram o corpo fora. Eu
sabia que vocês iriam arrumar alguma desculpa esfarrapada.
Um segundo depois, desatou a gargalhar com seu conterrâneo. Nós nos limitamos a
olhar para eles, sem entender nada! O que tinha a ver aquele ditado colombiano com
nossa situação? Só Anya que, mesmo sem entender, passava mal de tanto rir.
Revirei os olhos, sabendo que ela aceitaria o desafio, só para não ficar pra trás.
Tipicamente orgulhosa.
- Eu só topo jogar se prometerem que não vão contar para o Lincoln. Ele é certinho, não
vai entender. – Octávia até fez cara de inocente, mas não colava. Do jeito que ela era
assanhada, devia estar louca pra ver todo mundo nu.
Por fim, Anya concordou em participar. Afinal, bagunça era com ela mesmo.
- “Eu posso dar as cartas, ser o Crupiê da rodada – A bichona frisou bem a palavra
“dar”, enquanto piscava para meu amigo, que engoliu em seco.
- Nada disso! Quem tirar a maior carta vai ser o Crupiê. - Finn interpôs rapidamente,
com a cara fechada.
Clarke correu para sentar-se do lado do Finn. Bellamy... bem, o Bellamy sentou ao lado
da bisonhenta, que, por sua vez, colocou o Toicinho no meio, em uma tentativa de
manter distância. Octávia ficou entre o boiola lunático e Finn. Quanto a mim, sentei
entre os dois colombianos. De frente para a pirralha.
- Certo! – Começou Finn. - As fichas serão as nossas peças de roupas, e vamos apostar
uma peça por vez. - Bellamy fez uma careta, desgostoso. - Quem ganhar a rodada
manterá a sua peça de roupa. Todo mundo sabe que Strip Poker não tem regras nas
jogadas. - Finn deu uma risadinha sacana.
- Mas tem uma regra fundamental, que você esqueceu, Finn. – Adverti. - Independente
de quem estiver ganhando ou perdendo, quem conseguir a Royal Straight Flush
(Sequência Real), escolherá alguém do jogo e, então, esse ou essa ficará do jeito que
veio ao mundo. – Pude ver Clarke arregalar os olhos e o Bellamy em júbilo.
Fato. A bichona conhecia muito bem o jogo. Era melhor o meu amigo começar a rezar.
Pela minha visão periférica, vi Bellamy xingar baixinho. Já Anya, mantinha aquela
expressão de que nem sabe onde está. Octávia parecia pensando, Clarke estava com os
olhos semi-cerrados, a criatura achava que podia blefar! Decidi acabar logo com a
palhaçada.
- Tenho um Full House e vocês me devem umas pecinhas de roupa! – Lancei meu
melhor sorriso malicioso pra os derrotados. Pelo canto dos olhos, percebi que Anya
cerrava o punho.
- Eu não cantaria vitória antes da hora! - Collins disse com a maior cara de alegria do
mundo. - Tenho um Full House de 9 e, pelo visto, o teu Full House de 7 não é páreo
para o meu! HAHAHAHA! – O maldito estava levando para o lado pessoal. - Agora eu
que digo: Vocês me devem umas pecinhas!
FILHO DA MÃE!
- Compadres e muchachas, não tirem las roupas ainda. Antes, quero colocar una
canción para este momento especial. Nuestra homenaje para mi padre. – O esquisitão
latino, colocou a mão no peito, expressando emoção, mas, para mim, ele estava era
muito chapado. - Amigo, vá buscar mi padre.
- Ótimo, era tudo que eu queria da vida! Jogar Strip Poker com narcotraficantes, um
porco e cinzas de um colombiano. - Clarke resmungou, pondo as mãos no rosto.
Foi então que eu percebi que a animal estava tirando o bonezinho do Toicinho, como
forma de pagamento.
- Eu não vou ficar pelada diante de vocês. – A maluca apontou para nós.
- Tá. Que seja, vamos logo jogar essa porcaria. - Griffin falou impaciente.
Desta vez, o Crupiê foi o hermano de bigodinho, e, agora, eu não ia vacilar. Se o Finn
achava que ia levar todas, estava muito enganado! Só eu podia tirar a roupa do meu
leãozinho! Se bem que fui a primeira a tirar!
A mesa estava silenciosa, notei que Bellamy mantinha um sorriso sacana na cara e,
pelas cartas que ele pegou, provavelmente devia estar com um Full House. Os
colombianos biriteiros estavam com uma cara engraçada, nem queria saber o que
tinham na mão. Collins pretendia blefar, mas, pelas minhas combinações, no máximo
ele tinha uma High Card. Peguei a última carta.
- Creio que ninguém tem a competência de ter um Four of Kind nas mãos! – Falei
satisfeita enquanto via a raiva transpassar no rosto do meu amigo idiota.
Eu tinha uma jogada de quatro 9 de cada naipe. Finn e o outro malandro de lencinho na
cabeça, tinham uma High Card, como havia previsto. Bellamy, porém, tinha uma Full
House, a Octávia só tinha fogo pra jogar, porque ela era tão competente quanto a
pirralha e a bisonha. Esta já tinha tirado a camisetinha camuflada do seu porco e me
dado.
No momento em que Finn tirou a camisa, Clarke quase babou, literalmente, em cima
dele. Deixei passar, eu sabia que era mais bonita mesmo.
Uma coisa me chamou a atenção. Se eu tinha quatro 9, de onde o narco tirou aquele
outro 9?
Para a alegria geral, o jogo transcorreu regado a muita tequila e performances em cima
da mesa. Preciso mesmo citar o nome do cidadão que estava na mesa rebolando em
direção ao meu amigo numa interpretação grotesca de Cher, “Deusa dos gays.”?
A Anya, para minha surpresa, provou ser uma assídua jogadora de Strip Poker. Ganhou
mais 3 partidas, embora fosse duvidoso, porque juro que o jogo começou com 52 cartas,
agora deveria ter umas 60 ou mais. Eu já tinha bebido muitas, mas não era cega.
Além do estado deplorável em que nos encontrávamos, eu, Finn e a meninas estávamos
apenas com as roupas de íntimas. Por sorte, Clarke tentava cobrir-se com almofadas, era
menos mal. Pois, se Collins a olhasse com aquela cara de lobo mau querendo comer a
chapeuzinho, eu iria furar os olhos do sujeito. A convivência forçada com os “foras da
lei” latinos, estava me deixando mais violenta.
Fomos para a última rodada quase sem roupas e, totalmente sem vergonha, pois a
bebida tinha nos pegado de jeito. A essa altura, já não importava de ficar pelada e
dançar, ou fazer outra tatuagem maluca com meu leãozinho.
Quando eu peguei a última carta, todos ao mesmo tempo, saltaram de suas cadeiras. O
Pavão berrou de forma ensurdecedora, já fazendo uma dancinha esquisita.
Sim, o lunático de fio dental tinha uma Royal Straight Flush (Sequência Real). Ele
podia exigir que qualquer um ficasse totalmente pelado!
Anya entrou em pânico. Agarrou o Toicinho e implorou ajuda aos seus amigos
mafiosos.
- Nem vem que não tem, não vou ficar pelada! – Anya afastou-se da mesa.
- Se você não tirar a roupa, eu mesmo arranco ela de você! – Bellamy ameaçou, batendo
o pé no chão, decidido.
- Eu vou é descer o cacete nesse fresco, vou descer o cacete em todo mundo! – Minha
mana pareceu falar sério.
- Não é justo, todo mundo tirou a roupa e a bonzona aí vai ficar imune? – Clarke
reclamou. - Eu voto por tirarmos a roupa dela à força!
- Vocês não fariam isso... – A pobre estava era cavando a própria cova.
Os jogadores à mesa, indignados por minha irmã ter enrolado o jogo inteiro tirando a
roupa do porco ao invés da sua, queriam vingança. E, pela troca de olhares entre si,
conseguiriam.
Eu nem queria ver o estrago. Peguei a garrafa de tequila e coloquei uma dose pra mim
tranquila, enquanto ouvia os gritos de “socorro” vindo de Anya. Quando terminei de
- Mamãe vai ficar sabendo disso! – Melancólica, ela correu para a cozinha, com seu
porco em seu encalço, roncando feliz. Logo, tratei de pegar minhas roupas e vesti-las, os
demais fizeram o mesmo.
Clarke PDV
Minha cabeça doía muito, a sonolência não me largava. O enjoo típico de ressaca
dominava meu corpo. Me forcei a abrir os olhos, cansada. A primeira imagem que vi foi
de Octávia jogada em um pequeno sofá, segurando uma garrafa vazia de tequila. A
Fofolete até babava, enquanto dormia profundamente. Não queria acreditar que ainda
estávamos na casa dos narcotraficantes. Esfreguei o rosto para ter certeza de que estava
acordada, afinal, via Bellamy aninhado nos braços de um dos hermanos e, pior, eles
estavam deitados em cima da mesa de poker. CRUZES! Anya, estirada no chão,
roncava mais que o porco deitado em sua barriga. Ri baixinho, e foi nesse momento que
percebi o braço em volta da minha cintura. Tive medo de verificar quem era, afinal,
podia ser o outro colombiano.
Nota mental: Tequila + la bamba = MERDA. Nunca mais beber esse troço.
A pessoa atrás de mim fungou no meu pescoço e murmurou algo que não entendi. Era
isso, só podia ser o chapadão colombiano.
EU QUERO MORRER!
Clarke PDV
Coloquei uma mão no rosto, não acreditando na situação que estava. Me preparei para
desvencilhar-me daquele braço forte, mas minha coragem foi roubada por um sussurro
junto ao meu ouvido.
- Clarke...
Revirei os olhos, dando-me conta de que se tratava de Lexa. Eu não precisava olhar para
trás pra saber disso. Considerei a possibilidade de dormir mais um pouco, pois minha
cabeça doía muito. Relaxei, me aconchegando ainda mais nos braços da mulher atrás de
mim. Fechei os olhos e cedi ao sono.
- Vamos embora, seu pai deve estar em desespero. Ou vai ficar aí deitada o dia todo
com seu novo namorado? – Lexa falou séria, de pé à minha frente.
Ainda sentia o braço em volta da minha cintura. Espera aí, se não era a Woods que
estava dormindo comigo, quem era?
Levantei-me do sofá velho tão rápido que quase fui ao chão. A idiota da LEXAZINHA
riu, divertindo-se.
Coloquei as mãos na cabeça, determinada a não surtar, não àquela hora da manhã, de
ressaca.
- Foi embora há alguns minutos atrás, disse que ia tentar resolver o assunto do roubo do
Aston Martin. Collins quem dormiu aí no sofá com você. – Ela revirou os olhos. -
Quando saiu, pedi o chapadão pra deitar com você. Só queria mesmo, só para sacanear.
Quando voltamos para casa, um verdadeiro cerco de policias estava armado no local.
Perdi um tempo precioso explicando a eles o que havia acontecido, juntamente com os
demais. Todo mundo queria contar sua versão dos acontecimentos ao mesmo tempo e a
bagunça foi grande. Anya falou do porco, que usaram como arma, Bellamy do Strip
poker, Octávia não esqueceu os seguranças e Lexa ficou perdida entre o arrastão e os
narcotraficantes, que ninguém lembrou de perguntar o nome. Por fim, os policias foram
embora zangados achando que nossa história era algum tipo de piada de mal gosto. O
delegado prometeu que tomaria as devidas providências, mas não conseguiu ser
convincente. Notei que até mesmo meu pai teve dificuldades de acreditar na nossa
versão da noite passada. Ele não insistiu com as autoridades, mas jurou que ficaria de
olho em mim o tempo todo para que eu não me envolvesse em mais problemas. Lógico
que eu não gostei nadinha.
Fui para o meu quarto, tomei um banho demorado, vesti um jeans e uma camiseta e
comecei a pensar em como contaria a Kane que eu iria viajar. Olhei para o relógio
ansiosa, dando-me conta de que eu não poderia perder mais um segundo. No closet,
peguei um punhado de roupas e as joguei em cima da cama. Quando vi as peças lá,
jogadas, me perguntei se estava fazendo a coisa certa. Realmente queria passar um
tempo com meu lobo, mas parecia-me, de certa forma, precipitado, com pouco tempo
para organizar as coisas na minha vida e na minha cabeça. Suspirei, sentando-me na
cama, já considerando a possibilidade de pedir a Finn que não fôssemos ainda.
Foi aí que Kane entrou no quarto sem bater, com uma expressão de insatisfação que,
raramente, via nele.
Nossa, quando ele me chama pelo nome completo, coisa boa não pode ser!
Arregalei os olhos, surpresa. Como ele sabia dos meus planos? Ninguém sabia.
- Tudo bem, eu vou para Paris com Finn, volto em algumas semanas. É só. Pode me
deixar sozinha agora? – Respondi dando de ombros.
- Não vai a lugar algum, eu te proíbo, Clarke. Aliás, te proíbo até mesmo de ver esse tal
rapaz. Fazem apenas algumas horas que foi raptada por causa dele, nem quero imaginar
- O Finn não tem culpa do que a louca da Susan fez! E você não tem nenhum direito de
me proibir de nada, já sou grandinha não tenho mais doze anos, Kane. Sei me virar em
qualquer lugar. – A raiva começava a me dominar lentamente.
- Isso é um disparate, seu lugar é aqui com sua família e não solta pelo mundo com um
garoto que mal conhecemos! – Agora ele estava realmente alterado.
- Família? – O encarei, cerrando o punho. - Que família? Pelo que eu saiba, não tenho
família desde que resolveu noivar com a mosca morta! Está completamente cego por
ela. Rae e eu simplesmente não existimos mais para você! – A muito tempo eu queria
por aquelas palavras para fora. Foi uma sensação boa e ao mesmo tempo ruim.
- Não fale asneiras! Você e Rae são tudo pra mim. Eu sei que as coisas estão um pouco
diferentes agora porque tenho me dado ao luxo de ter um momento só meu, depois de
anos sendo o pai e a mãe de vocês. Me desculpe se estive muito ausente, eu só... só...
queria me sentir vivo novamente. – As últimas palavras saíram em um fio de voz.
- Você precisa de uma mulher ridícula para se sentir vivo? Ok, eu que falo asneiras, não
é? Eu não sabia que nós fazíamos você se sentir morto. – Ironizei engolindo seco.
- Não é isso, está deturpando minhas palavras. Não entende, Clarke. Mesmo amando
muitíssimo você e sua irmã, desde que sua mãe se foi... – Nesse momento, eu achei que
ele não conseguiria completar a frase, mas, para minha angústia, continuou. - Desde que
Rose se foi, não amei mais ninguém, passei muitos anos sozinho, convivendo apenas
com as lembranças do passado. Finalmente, encontrei Abby, que é uma mulher
maravilhosa, uma mulher que amo muito e esse amor me fez rejuvenescer. Agora, não
sou mais só o pai ou o médico, sou Kane, o homem. Porque é tão difícil para você
entender? Tão difícil aceitar?
Fiquei por alguns segundos apenas fitando-o. Por mais que eu quisesse entendê-lo, não
conseguia. Será que meu pai não percebia que eu precisava dele tanto quanto ele
precisava de Abby?
- Clarke, vou ter que me impor como pai, por mais que você se chateie, não posso
autorizar essa viagem! Não vou mais fazer vista grossa, mocinha! Já está mais que na
hora de você ter limites! Então, essa é a minha última palavra, esqueça Paris e Finn. –
Não precisava ver o rosto dele para saber o quão sério falava, a determinação em sua
- Não vou discutir mais, isso não está nós levando a lugar algum. – Meu pai cruzou os
braços, voltando a sua calma habitual. - Quando seu momento de adolescente rebelde
passar, voltamos a conversar. Por enquanto, fique aqui e repense as bobagens que falou.
Minha filha, estou fazendo isso para o seu próprio bem.
Quando ele saiu do quarto, comecei a socar uma parede, gritando enraivecida. Queria
pôr toda a raiva para fora, mas não estava conseguindo.
Estava decidido, eu iria para Paris de qualquer jeito. As dúvidas já não importavam.
Faltavam algumas horas para o voo, mas eu queria sair imediatamente dali, pretendia
correr para os braços de Finn. Um abraço era tudo o que eu necessitava, após a dolorosa
discussão com meu pai.
Joguei a mochila pela janela e saí do quarto fingindo tranquilidade para passar
despercebida. Na sala, avistei somente Raven e Abby conversando. Elas não se deram
conta de que eu estava fugindo. Logo que me afastei da entrada da casa, corri para o
jardim, em direção à minha janela, onde, no chão próximo a ela, a mochila estava.
Fiquei parada por um segundo encarando-a. Então, após um longo suspiro a peguei. Era
melhor eu sair dali rapidinho e pegar um táxi antes que Kane notasse minha ausência.
- Onde vai?
Virei-me assustada só para dar de cara com a maldita Lexa. Ao encará-la, a ficha caiu.
- Foi você, sua desgraçada! – Irada, tentei socá-la, mas ela deteve meu punho. Queria
esmagar o crânio da infeliz. - Não acredito que foi tão covarde a ponto de me apunhalar
pelas costas. Isso foi baixo até mesmo para alguém como você! – A imbecil segurou
minhas mãos, deixando-me sem ação e totalmente zangada.
- Clarke? – Ao longe, ouvimos a voz de meu pai. Quando olhei para cima, percebi que
vinha de dentro do quarto.
- Não vá, preciso falar com você! – Pediu Lexa, correndo atrás de mim.
Lexa PDV
Clarke parou de correr, mas não virou-se para mim. Pus uma mão em seu ombro,
obrigando-a a me fitar. Seu olhar acusatório e amargo fez-me sentir realmente uma
traidora.
- Precisei contar para Kane sobre a viagem, isso foi para o seu próprio bem, acredite. –
Minhas primeiras palavras foram calmas, embora não me sentisse da mesma forma.
- Todo mundo resolveu agora interferir na minha vida? Para o meu próprio bem? A
única pessoa que sabe o que é melhor para mim sou eu mesma. – Bateu no próprio
peito. - Não um pai ausente ou uma Woods traidora. Vou para Paris e talvez nunca mais
volte, provavelmente caia na estrada com meu namorado. – Era notório seu nervosismo
e a raiva contida em suas palavras. - Não acredito que confiei em você. Como sou tola
de confiar no inimigo! Lógico que você só estava esperando a oportunidade de me
ferrar! Parabéns, Lexa, conseguiu! Espero que tenha se divertido com a troca de farpas
entre mim e meu pai.
Passei a mão pelo rosto, chateada por não conseguir encontrar as palavras certas que a
fizessem entender o porquê da minha atitude egoísta.
- Clarke... Não sou sua inimiga, não foi minha intenção provocar um conflito entre você
e Kane. Não sabe o que está fazendo. – Com cautela, aproximei meus dedos de seu
rosto quente. - Não gosto de imaginar como ficaria na França sem mim, ou o que Finn
faria a você.
Por um segundo, a pirralha pareceu acalmar-se, ao meu toque. Foi uma sensação
agradável.
- Antes... – Ela fez uma longa pausa. - ... Antes até pensei na possibilidade de não ir,
mas agora as coisas são diferentes, virou questão de honra embarcar naquele avião. –
Clarke retirou minha mão do seu rosto.
- Não é só por orgulho, também quero ficar com Finn. – Sua voz tremia levemente,
como se não tivesse certeza das próprias palavras.
- Como pode seguir um cara que mal te conhece? Será que ele está mesmo apaixonado
por você? – Questionei.
- Do que está falando? É lógico que está, ele gosta de mim, me conhece o suficiente... –
Balançou a cabeça revoltada com minha insinuação. - Não quero ter essa conversa agora
ou vou me atrasar. – A garota deu alguns passos. Insatisfeita, me antecipei, ficando à
sua frente e a impedindo de prosseguir.
- Eu digo que ele não te conhece o suficiente pra gostar realmente de você, mal sabe seu
nome! – Afirmei segura. Peguei a mão da minha pirralha e coloquei-a no meu peito.
Clarke PDV
Queria ir embora, mas minhas pernas não obedeciam, meu corpo inteiro estava
subjugado à vontade da mulher à minha frente.
- Eu conheço! - Lexa cerrou os olhos, apertando minha mão com força. - Não sei
explicar como isso aconteceu, mas conheço! Sei que por trás de toda essa armadura
rebelde que se obrigou a usar, existe uma garota solitária, que não sabe como superar os
traumas do passado. – Sua voz era suave e reconfortante.
Virei o rosto, não querendo que ela visse em meus olhos o quão certa estava. Passei
uma mão na cabeça, atordoada.
Lexa PDV
- Eu sei que está confusa, eu também estou, mas não sei como lutar contra o que estou
sentindo. Pra falar a verdade, não quero lutar contra.
Engoli em seco, armando-me de coragem para confessar o que ela não conseguia
perguntar.
- Quero dizer que... Estou apaixonada por você! – Até eu fiquei surpresa com minhas
palavras. Senti um misto de prazer e dor ao pronunciá-las. Prazer por finalmente
confessar a ela o que evitava admitir para mim mesma, e dor, pelo medo inevitável da
rejeição.
Clarke encarava-me em choque. Deu mais alguns passos para trás até tropeçar em um
pedra e cair sentada. Tentei ajudá-la, mas ela gesticulou para que eu permanecesse onde
estava. Obedeci. A garota parecia mesmo assustada.
- Isso... é... algum tipo de brincadeira, Lexa?... Porque eu juro que... – Nervosa, se
levantou.
- Não é brincadeira! – Interrompi. - Estou mesmo apaixonada. E você? Sente algo por
mim? – Precisava saber, mesmo que a resposta fosse “não”.
Griffin abriu a boca para falar e minha expectativa aumentou. Depois de tudo que
passamos não era possível que ela fosse negar que tínhamos algo. Uma conexão, um elo
que eu não conseguia descrever.
Foi aí que seu celular tocou. Bufei chateada, ela ficou alguns segundos estagnada, como
se estivesse alheia ao toque irritante.
Era bem o que eu precisava! Collins, o imbecil atrapalhando mais um momento nosso.
Revirei os olhos. A vontade de estraçalhar o celular não era pouca.
- Clarke, não vá! – Pedi, segurando-a pelos ombros. Eu não conseguia disfarçar a dor
que me causava, vê-la tão manipulada por seu namorado.
- Lexa... preciso ir, não posso lidar com isso agora, não quero voltar pra casa. – Ela
afastou-se de mim, sinalizando para um táxi que se aproximava.
Quando o carro parou à nossa frente, me desesperei. Sabia que iria perdê-la, me odiava
por ter lutado pouco no tempo que tive e, ao mesmo tempo, sentia-me uma idiota de
insistir em conquistar uma garota que sempre me odiou.
- Não vejo como isso pode dar certo. É loucura, loucura! – Ela colocou as mãos na
cabeça como se tentasse convencer a si mesma. - Você é filha da Abby, preciso odiá-la
tanto quanto a odeio. Não posso ceder, Lexa, não vou! – Sua voz estava embargada,
como se lágrimas estivessem prestes a escorrer por seu lindo rosto, mas isso não
aconteceu.
A pirralha, com toda sua força, me empurrou para longe e adentrou o táxi.
Fiquei parada, olhando a única garota por quem já senti algo realmente intenso, ir
embora.
Cada célula do meu corpo a desejava, a queria como nunca antes. Sem Clarke por perto
era como se faltasse um parte insubstituível de mim. Um nó se formou em minha
garganta, meus olhos arderam, anunciando a lágrima que acabara de contornar minha
face. Me dei conta, naquele momento, que sempre foi uma luta injusta, eu não tinha
como competir com Finn e, muito menos, contra o ódio incompreensível que ela sentia
pela minha família.
Clarke PDV
Meu peito pareceu que ia explodir quando, dentro do carro, olhei para trás e avistei
Lexa, imóvel, como se esperasse a minha volta. Voltei a olhar para frente, não
suportando ver aquela cena.
Não consegui respirar devido os espasmos em meu tórax. Nada na minha vida havia me
preparado para aquele momento, eu não sabia o que fazer. Era quase impossível
acreditar que a Woods gostava de mim. Ela era minha inimiga declarada, sempre foi, e,
agora, quando estava decidida a seguir os passos do meu lobo, tudo explodia diante de
mim, jogando-me em um mar de dúvidas.
Durante o trajeto até o hotel de Collins, um milhão de coisas passou pela minha cabeça.
Não consegui fugir das lembranças que me cercavam, intensificando meu sofrimento.
Momentos entre mim e Lexa vagavam pela minha mente como um filme antigo, nossas
brigas, implicâncias, gargalhadas, brincadeiras, as aulas para conquistar Finn, as vezes
que dançamos, a noite de tempestade que ela me proporcionou sensações incríveis e,
por fim, os beijos. Beijos inflamados, ousados e carinhosos.
Quando o motorista estacionou em frente ao hotel, saltei para fora, quase esquecendo-
me de pagar a corrida. Já dentro do requintado Maxim, corri para o elevador sem passar
pela recepção. Precisava ver o homem com quem estava fugindo. Talvez, junto dele,
minha cabeça parasse de girar, precisava me concentrar nas coisas certas.
Olhei para o espelho ao meu lado e notei que estava um caco, olheiras, descabelada, a
roupa, uma bagunça. Tentei melhorar minha aparência penteando os cabelos com os
dedos, mas não estava adiantando.
Naquele momento, percebi a garota ao meu lado. Entrei tão desorientada no elevador,
que nem me dei conta de que não era a única ali.
A menina aparentava ter uns 14 anos, óculos de grau, cabelo solto, uma típica estudante.
Ela segurava um caderno e o rabisco na capa me chamou atenção.
[Temer o amor é temer a vida e os que temem a vida já estão meio mortos.]
Não consegui tirar meus olhos daquele rabisco até que a porta do elevador se abriu. A
garota se foi, mas a frase permaneceu em minha cabeça durante todo o tempo que fiquei
procurando o quarto de Finn. Depois de alguns minutos, o achei. Havia passado por ele
3 vezes, mas, distraída, não percebi o quarto 215.
- Oi, entra. Estou fazendo as malas. – Sorridente, gesticulou para dentro do cômodo.
- Posso sentar ali? – Perguntei, indicando um canto da cama onde não tinham roupas
espalhadas.
Acomodei-me timidamente.
- Só vai levar isso? – Perguntou, trocando olhares entre mim e a mochila que eu acabara
de jogar no chão.
- Sim. – Sussurrei.
- Você vai adorar Paris, é linda, a noite sempre agitada com muitos rachas, vinho... –
Ele pausou, aproximando a mão do meu rosto, a qual deslizou até o decote discreto que
eu exibia. - Vamos nos divertir muito. – Sorriu malicioso. Em outra ocasião, eu teria
ficado contente, mas não estava no clima. Minha mente maltratava-me com lembranças
e questionamentos incessantes.
A brisa que adentrou a janela me fez, finalmente, respirar sem dificuldade. Fiquei por
alguns segundos de olhos fechados, apreciando o vento em meu rosto, aliviada por
sentir que meu corpo já não tremia tanto. Tentei pensar em como seria maravilhoso
estar na França com meu lobo, mas a dúvida que Lexa plantou em mim se recusava a ir
embora.
Será que ela estava certa? Será que Collins me conhecia? Ele era apaixonado por mim?
Tentei convencer a mim mesma, mas minha mente insistia em se manter irracional. Foi
aí que falei, de supetão.
Baixei a cabeça, sem acreditar no que ele acabara de falar. Então, fiz outra pergunta.
- O que eu faço quando fico confusa? – Cruzei os braços enquanto ele sorria perdido.
Coloquei as mãos no rosto, dando-me conta que a Woods estava certa. Finn não me
conhecia.
- O que você tem? Está tão estranha hoje. – Quando passou a mão pelos meus cabelos,
me fiz a mesma pergunta.
- Ok, respondo! Estava cansado de mulheres fúteis, você é diferente, me faz sentir
melhor, tem todo esse jeitinho de moleca encrenqueira. Isso é novo para mim. –
Respondeu, beijando-me o pescoço.
Confesso que aquilo não foi o que eu esperava ouvir. Mesmo não sendo uma romântica
incurável, imaginei que ele diria algo mais sentimental.
- Vem cá! – Ele me puxou para a cama, deitando-me nela e posicionando-se em cima de
mim.
- Nada... – Beijou meu maxilar. - Como já disse antes, só estou com saudades.
Collins apertou minha coxa e isso me fez reagir de forma inesperada, o empurrei com
violência e me afastei, nervosa.
- O que foi? – Chateado, levantou-se também. - Não fiz nada, mesmo assim, me
desculpe. Nossa!
O silêncio foi constrangedor, nos segundos seguintes. Então, ele me puxou para si e
sussurrou em meu ouvido.
Queria me concentrar e ficar feliz, mas, as insanidades que Lexa me falou ficavam
rodeando minha mente como uma abelha zumbindo.
Podia sentir a respiração quente de Finn próximo ao meu rosto, suas mãos apertavam
minha cintura com firmeza, apossando-se de mim. Suspirei pela última vez, preparando-
me para me entregar ao beijo que tanto sonhei. O beijo que me faria esquecer todos os
outros que troquei com LEXAZINHA, que me livraria de meus dilemas.
Senti, pela primeira vez, seus lábios carnudos, movimentando-se junto aos meus, sua
língua explorando minha boca e retribuí da melhor forma possível. Porém, foi só. Nada
de arrepios, tremores, tontura, nem mesmo pulsação acelerada.
Afastei-me, embasbacada.
- Como?
- Desculpe, é que pensei que seria diferente nosso primeiro beijo! – Passei a mão na
testa, lembrando-me de todas as sensações maravilhosas que sentia quando era beijada
por Lexa.
- Não, não, é melhor! Nós só ficamos nervosos, acho. Vou beijá-la outra vez. – Finn
parecia ofendido quando agarrou-me com violência e me beijou com empolgação e
determinação. Esforcei-me ao máximo, para me entregar àquele momento. O lobo até
Outra vez, afastei-me percebendo que não adiantava insistir, Finn não era quem eu
desejava beijar.
- Não é você, sou eu... – Não sabia como explicar, mal entendia.
Fechei os olhos, balançando a cabeça enquanto ria da minha tolice. Finalmente, me dava
conta de que havia passado tempo demais encantada com o jeito bad boy do Collins.
Determinada a conquistá-lo, não vi que minha paixonite por ele não passava de
empolgação, fogo de palha, atração física.
Era Lexa e não Finn que me tirava o fôlego, que fazia-me estremecer a cada toque. A
maluca conseguia arrancar risos de mim e, ao mesmo tempo, enlouquecia-me de raiva.
Me envolvi com minha inimiga e desafeto, era como cair em uma armadilha do destino.
Agora estava ali parada diante do bad boy, sorrindo feito uma demente, enquanto todas
as peças do quebra cabeça encaixavam-se.
- Espera, você está terminando comigo? – Ele não estava nada feliz.
- Sim, parece loucura, mas é pelos motivos certos, acredite. – Tagarelei nervosa.
- Que motivos?
PUTA MERDA!
O remorso me atingiu como um raio, quase me partindo ao meio. Foi nesse momento
que pirei. Chutei e soquei o ar chacoalhando-me, com vontade de espancar a mim
mesma. Finn deu um passo atrás, com as sobrancelhas erguidas, não entendendo nada e,
provavelmente, achando que eu estava recendo algum espírito maligno.
- Desculpe, mas não! Logo te explico melhor, agora preciso correr porque cometi uma
enorme injustiça. – Voltei para lhe dar um beijo no rosto. - Boa sorte no racha, e divirta-
se na França!
Não esperei para ver a reação de Collins às minhas palavras, saí correndo pelos
corredores. Quando cheguei na recepção do hotel, convenci a recepcionista antipática a
me deixar usar o telefone. Por sorte, Octávia atendeu em casa. Disfarçadamente,
perguntei por Lexa e a Fofolete não sabia do paradeiro dela, até que perguntou a Anya.
A bisonha nos disse que ela havia pegado a moto para dar uma volta próximo ao rio
Adige. Desliguei o telefone na cara da curiosa e corri para a calçada do hotel, em busca
de um táxi. Assobiei e logo apareceram três de uma vez.
ERA SORTE?
Já dentro do carro, pedi para o motorista me levar ao parque que fica próximo ao rio
Adige. Quando Octávia falou o nome do local, logo percebi que se tratava do lugar onde
Lexa e eu trocamos nosso primeiro beijo.
A dor que antes sentia era substituída por remorso, euforia e nervosismo. Estava agindo
por impulso, como nunca agi antes, tentava não pensar no fato de que ia ao encontro da
filha de Abby, pois isso, provavelmente, me faria desistir.
Minhas mãos estavam incrivelmente frias, eu não sabia o que faria ou falaria quando a
encontrasse, só sabia que lhe devia desculpas, principalmente por ter sido covarde em
não admitir que eu também a queria. Os minutos nunca foram tão lentos para mim.
- Infelizmente não, a avenida está engarrafada. Deve ter acontecido alguma batida. –
Respondeu indiferente.
Chutei o banco do motorista, não queria passar horas presa no trânsito. Tinha medo que
quanto mais a Woods ficasse pensando nas palavras duras que lhe lancei, mais difícil
seria ficarmos juntas, devido a nossa tendência a nos desentender.
Pensar em nós duas juntas ainda era estranho para mim, quase surreal. Mas não podia
conter a vontade dentro de mim de abraçá-la, de confessar o quanto fui burra de não
perceber que estávamos envolvidas a muito tempo.
- Falta muito para chegar ao rio Adige? – Mal conseguia ficar sentada.
Nem respondi, joguei algum dinheiro para o taxista e saí do carro, enquanto ele ainda
me chamava de louca.
Olhei para o engarrafamento gigantesco, jamais chegaria ao meu destino pelos meios
convencionais. Então, corri.
Quando passei por uma esquina, quase atropelei uma senhora que deixou suas compras
caírem no chão. Ela gritou algum xingamento em italiano que não entendi. Não queria
nem olhar para trás. Se eu parasse, podia pensar demais e estragar tudo.
Corria como nunca havia corrido antes, já não estava sentindo minhas pernas quando vi
o rio Adige. Infelizmente, ainda faltava muito para chegar lá, eu estava no parque que
fora construído próximo a ele.
Podia ver a cara das pessoas assustadas com meu jeito estabanado de correr. Me distraí
por um segundo, rindo dos olhares estranhos que me lançavam.
- CUIDADO!
Só fui entender o alerta quando me choquei contra um poste. A dor que veio a seguir foi
intensa. Eu teria xingado as pessoas que gargalhavam à minha volta se minha cabeça
não estivesse doendo tanto. Eu juro que vi estrelinhas. Zonza, levantei-me, sacudi a
poeira e voltei a correr, mancando. A ponte Pietra que corta o rio parecia cada vez mais
distante.
Após alguns minutos de corrida dolorosa, finalmente cheguei à ponte. A uns 15 metros
de distância, avistei a mulher que me tirava o fôlego no meio da ponte, encostada,
sozinha fitando a água abaixo de si.
Parei, pondo as mãos nos joelhos exausta, sedenta e totalmente sem forças. Era irônico
como eu havia corrido tanto para chegar ali, e agora que faltavam poucos metros, eu já
não conseguia dar um passo.
Depois de respirar fundo algumas vezes, joguei minha mochila no chão. Então, peguei
toda a coragem que havia em mim, e, antes que a vergonha me dominasse, gritei:
- LEXA!
Ela virou-se para me olhar, confusa. Antes que me ignorasse por rancor, coloquei para
fora.
- ME DESCULPE! – Berrei.
- O QUE? – Perguntou como se não tivesse ouvido direito. Revirei os olhos, não crendo
que ela me faria repetir.
- ME DESCULPA, VOCÊ TINHA RAZÃO SOBRE TUDO! – Não podia estar mais
corada como naquele momento. - EU TAMBÉM ESTOU APAIXONADA POR
VOCÊ!
Meu coração quase parou de bater quando a Woods baixou a cabeça. Ela estaria me
odiando mais do que um dia eu já a odiei? E agora quem iria ser rejeitada era eu? Olhei
Com aquelas palavras e sorriso, ignorei minhas pernas cansadas e corri ao encontro
dela, tirando forças da louca paixão que sentia. Foi a melhor corridinha da minha vida.
Quando faltaram uns dois metros para chegar, diminuí o ritmo e, literalmente, pulei
nela, envolvendo minhas pernas em seu quadril. Graças ao equilíbrio de LEXAZINHA,
não caímos. O beijo que lhe dei foi libertador e arrebatador.
Lexa segurava-me com força, enquanto saboreávamos os lábios uma da outra. Meu
coração parecia que ia explodir dentro do peito. Nunca havia sentido uma emoção igual.
Agarrei seus cabelos, a impedindo de descolar a boca da minha. Cada pedacinho de
mim ardia em paixão por aquela mulher, eu poderia morrer sem fôlego ali mesmo que
nem me importaria. A textura e maciez de sua língua simplesmente me enlouqueciam.
Então, sem mais nem menos, começamos a rir no meio do beijo. Era estranho tentar
aprofundar o ato e, ao mesmo tempo, prender a gargalhada. Por fim, afastamos os rostos
arfando.
Seu sorriso iluminado era capaz ofuscar os suaves raios solares do crepúsculo.
Clarke PDV
Já era noite quando Lexa e eu chegamos em casa, ela estacionou sua Suzuki na
garagem. Desci da moto, sentindo ainda meu estômago embrulhar devido ao
nervosismo de ter confessado a ela que estava apaixonada.
- Eu vinha pensando no caminho... – Ela fez uma pausa descendo também da moto. -
Vamos contar para todos sobre nós?
AI, CACETETE!
Coloquei as mãos no rosto, dando-me conta do problema diante de mim. Quando corri
para os braços da Woods, evitei ao máximo pensar nas consequências. Mas agora, era
inevitável.
- Não?
Suspirei. Não sabia como explicar a ela que o meu ódio por sua mãe havia se
intensificado após meu desentendimento com Kane. De maneira alguma poderia
permitir que o casalzinho declarasse vitória por achar que a paixão que sentia pela filha
da mosca morta mudaria minha opinião ou meu jeito de agir. Precisava de um tempo
para saber o que fazer, afinal, gostar justamente da filha da minha inimiga era algo com
o qual ainda não sabia lidar.
- Érr... as coisas são estranhas para nós... pra eles vai ser ainda mais difícil entender.
Vamos esperar um pouco, ok? – Tentei não ser rude.
- Eu não queria, mas tenho que concordar com você. Kane ficou todo nervoso quando
anunciou seu namoro com Finn, não sei como ele agiria sabendo que agora está
namorando comigo. Acho que a intenção dele quando nos trouxe para a Itália era nos
aproximar de um jeito fraternal, o que é bem diferente do que estamos fazendo. É
melhor mesmo mantermos segredo por enquanto, vou pensar em um jeito de contornar a
situação.
- Você falou namorando? – Sussurrei, prendendo o riso. Era estranho ouvir aquela
palavra.
- Lógico, ou você esqueceu que me pediu em namoro no dia que fizemos as tatuagens?
Eu tenho um vídeo para provar, viu? Transferi ele pro meu notbook antes de roubarem
meu celular. – Presunçosa, puxou-me para si.
- Nunca!
- Não! Então posso continuar te chamando de Lexazinha, babaca, imbecil e coisas desse
tipo? – Fiz carinha de pidona.
- Hum... Acho que sim. E por acaso tem outra coisa no mundo que te divirta tanto
quanto me xingar? – Sorriu amigável.
- Ok, é melhor você entrar antes que Kane enfarte achando que você já está em Paris. –
Sinalizou para fora com a cabeça.
Joguei minha mochila atrás de umas caixas velhas, na tentativa de sumir com as pistas
da minha quase fuga. Antes de sair, fitei Lexa que, de braços cruzados, analisava-me.
- Nada. – Murmurou.
- Ok... – Dei alguns passos em direção à saída e foi nesse momento que ouvi um som
diferente, parecia que alguém estava cantarolando. Seria a doida da Woods? Virei-me
rapidamente para checar e a peguei olhando para o teto, enquanto assobiava. Podia jurar
que ela estava fazendo a tal dancinha da vitória patenteada por ela e a irmã bisonha.
Ignorei.
Logo que entrei em casa, dei de cara com Kane e os outros, apreensivos. Estavam
sérios, será que alguém tinha morrido?
Meu pai veio ao meu encontro e abraçou-me fortemente. Me perguntei logo o que havia
acontecido com ele.
- Pensei que tinha fugido. – Cochichou com os braços ainda à minha volta.
- Viu só? Tudo está bem, Kane. – Falou a mosca morta sorridente.
- Ah, que pena! Já estava animada imaginando que o F.O.D.A entraria em ação mais
uma vez. – Anya chutou o ar.
“Calma aí, não fiz nada de errado! Então, nem vem me dar uma bronca!” – Não
suportaria outra discussão.
- Sei que Verona está se tornando chata para vocês jovens, então, Abby e eu decidimos
levá-los para visitar Veneza por uma semana. Não é maravilhoso? – Era óbvio que Kane
estava tentando me tirar de Verona com medo de que Finn me convencesse a fugir, ou
até mesmo sequestrar-me.
Não dei importância, se todos estavam animados com a viagem, eu não seria empecilho,
desde que meu pai não ficasse me regulando.
Dei de ombros.
- Está decidido, partiremos amanhã por volta das 14:00hs. - Kane pôs um braço em
volta da mosca morta e a careta que fiz foi inevitável.
- Ah, não, ela vai começar com isso. - Lexa passou uma mão no rosto.
Octávia PDV
Kane havia acabado de nos informar que iríamos para Veneza, a cidade de la amore.
Ohhh! É claro que eu já estava arrumando minhas malas, visto que iríamos no dia
seguinte e não poderia faltar absolutamente nada na minha mala. Enquanto eu me
divertia escolhendo minhas roupas, ouvi a porta de meu quarto sendo fechada. Será que
foi o vento? Mas a janela nem estava aberta! Aiii, Octávia, só você mesmo, deve estar
ouvindo coisas. Só pode! Mas, então, mãos frias tamparam meus olhos...
- Clarke? – Perguntei. Ela estava tão animada nos últimos dias, que pensei que fosse ela.
- Está me chamando de rebelde sem causa, pirralha, briguenta e, ainda por cima, de
mulher?
A voz mais fofa deste mundo falou, como se estivesse com raiva. Só poderia ser...
- Lincoln!
Ele riu, retirando as mãos de meus olhos e me abraçou por trás. Seu perfume me deixou
louca. Como um simples abraço me fazia ficar daquela maneira? Lincoln conseguia me
deixar nas nuvens com o simples toque em minha pele...
De súbito, começou a beijar meu pescoço. Pequenos beijos, fazendo com que eu me
arrepiasse. Suas mãos foram para minha cintura e ele se posicionava mais perto de mim.
Eu já estava começando a gostar daquilo...
Já não aguentando, me virei de frente para ele, à procura de seus lábios. Percebendo o
que eu queria, sorriu, foi se aproximando aos poucos e me beijou.
O beijo que começou calmo e doce estava se tornando agitado, intenso. Eu estava
ficando maluca!
Senti sua mão percorrer desde minhas pernas, vagarosa e calorosamente, até o meu
pescoço em um beijo que já não era APENAS um beijo. Eu, por minha vez, coloquei as
mãos em suas costas e fui descendo-as. Estava ficando cada vez mais agitada, quando,
de repente, Lincoln para. Como uma estátua, me dá um beijo doce e diz, meio
constrangido:
- Octávia... – Disse ele, se aproximando de mim. - Claro que não, meu amor.
- Então o que?
- Octávia... É melhor que você arrume suas malas... - Disse ele, me dando um beijo e
saindo do quarto.
Porque Lincoln nunca queria? Será que eu sou tão ruim assim? Eu realmente não sabia.
Olhei para minha cama, onde minhas muitas e muitas roupas se encontravam. Lincoln
estava certo. Era melhor que eu terminasse de arrumar mesmo.
Peguei meu vestido branco, com detalhes em rosa bebê, minha sandália rosa bebê e os
coloquei em cima da penteadeira, para poder usá-los no dia seguinte durante a viagem.
Clarke PDV
O jantar correu tranquilamente, todos estavam tão animados fazendo planos para a
viagem que nem notaram a troca de olhares entre mim e a maluca à minha frente.
Mesmo que percebessem, duvido que acreditassem, nem mesmo eu acreditava. Fui me
deitar cedo, o meu dia tinha sido cansativo e surreal, tudo que eu precisava era de
algumas boas horas de sono. No entanto, o sono passou longe. Por mais que me
Cansada de tentar dormir, fui para a cozinha arrastando os pés, morrendo de preguiça.
Passei a mão pela parede em busca do interruptor e nada de achá-lo, não era muito fã de
escuro, por isso, insisti em minha busca. Nesse momento, braços fortes agarraram-me
por trás, tapando minha boca. Gritei contra a mão forte, mas foi inútil.
Sim, foi a primeira coisa que pensei. Não perdi tempo, com toda a minha força, deu um
pisão no pé do estranho, que me soltou imediatamente.
- Foda, Clarke! – Virei-me e, lá estava Lexa, resmungando com a maior cara de dor.
- Vou te mostrar!
Fui até a geladeira, peguei um pote médio de sorvete de chocolate e sentei-me no chão,
próximo à porta da geladeira, aberta para iluminar a cozinha. A Woods sentou de frente
para mim.
- Poderia ao menos dividir, já que me deve desculpas por quase esmagar meu pé. –
Pediu carrancuda.
- Divide sim! – Respondeu ela, tentando me tomar o soverte, mas o segurei com força.
- Não divido não! – Retruquei, puxando o pote para junto de mim. Pois não é que a
babaca continuou tentando me roubar o sorvete?
- Também não quero mais, sua egoísta! – Quando ela soltou o pote, o sorvete veio quase
todo pra cima de mim, deixando-me com o rosto todo melado.
Respirei fundo para manter a calma. As risadinhas zombeteiras vindas de Lexa quase
me fizeram espancá-la, ao invés disso, peguei o resto de sorvete que havia no pote e
esfreguei na cara dela. As risadas cessaram.
- Uma garota toda metida a durona como você, envergonhada, é hilário. – Gargalhou.
- Ei, não fico envergonhada, não sou disso! – Cruzei os braços feito uma criança
contrariada. Nossa, porque eu estava agindo daquele jeito?
- Chega! – Me alterei. - Você já sabe que fico ruborizada, não precisa ficar aí tirando a
camiseta, toda se achando gostosa, se exibindo desse jeito... – Passei uma mão no
abdômen dela. Por que? É um mistério! - Provocando, atiçando e todas essas outras
coisas aí que não entendo bem. É desnecessário! – Chateada, virei o rosto, evitando
olhá-la.
- Do que está falando? Tirei a camisa para limpar o rosto. – Disse confusa.
- Ah... – Sorri totalmente sem graça, ao vê-la realmente limpar o rosto com a peça. Era
uma boa hora para enfiar a cabeça em algum buraco.
- O QUE É ISSO?
Lexa e eu olhamos ao mesmo tempo surpresas para a entrada da cozinha. Anya veio
caminhando em nossa direção, séria. Sentou-se entre nós, tirou uma pequena colher do
bolso da calça do pijama de bolinhas e começou a comer o resto de sorvete que havia no
pote.
Lancei um olhar para a Woods do tipo: “que diabo é isso?”. Ela apenas deu de ombros
enquanto vestia a camiseta.
Lexa PDV
Já passavam das 11:00hs quando cheguei em casa. Fui direto para o meu quarto arrumar
as malas para a tal viagem. Joguei a sacola com os dois celulares que acabara de
comprar em cima da cama. Arrastei uma mala do closet e a posicionei na cama. Quando
- Não conte! – Pedi, não querendo me meter nos problemas daqueles dois.
- Isso é possível? Quero dizer, você dorme com a Octávia quase todas as noites. O que
vocês ficam fazendo? – Agora, eu é que estava seríssima.
- Mano, me diz qual o problema. Octávia não quer? – A vida sexual de Lincoln não era
da minha conta, mas precisava intervir, pois, se deixasse tudo nas mãos de Anya, seria
desastroso.
- Não é isso. – Estava tímido. - Ainda é aquele lance que Kane falou quando ficamos
impotentes.
- Ah, sim, você é inseguro. – Coloquei uma mão no ombro do pobre voador.
- Ei, guaxinim, podíamos ensinar algumas coisas sobre sexo ao Linc, assim ele ficaria
mais confiante e dava uma pimbada segura. – A ideia da bisonha era estranha, mas
poderia dar certo.
- O que você acha? – Encarei o virgem que sinalizou um “sim” com a cabeça. Ia ser tão
difícil pra ele ouvir quanto seria pra eu explicar, já Anya estava toda animada. Grande
novidade!
- Presta bem atenção, voador, as palavras que disser antes, durante e depois são
importantes. É através delas que você passará confiança à parceira, ela te achará o cara
e sua insegurança desaparecerá. – Até parecia fazer um pouco de sentido. Infelizmente,
o pior veio a seguir. - Meu bem... - Anya fez cara de atriz de novela mexicana. - Você
me deixa sem eira nem beira. Quero te morder todinha e pimbar até o dia amanhecer.
- Ainda bem que vocês não são irmãos de sangue. - Kane nos olhava estranho, na
entrada do quarto. Obviamente, só tinha ouvido as últimas frases pronunciadas pela
minha irmã. - É melhor a mãe de vocês nem saber. – Nosso futuro padrasto saiu
fechando a porta.
Ficamos tão surpresos que não fomos capazes de dizer uma só palavra.
- Isso não vai dar certo, não vou dizer uma porcaria dessas para Octávia. – Reclamou
Linc, quebrando o silêncio.
- Cara, diz sim. Mulher é igual a espaguete, a gente enrola e come! – Com aquela, tive
que empurrar minha mana burra para fora do quarto. Ela tentou resistir, mas fechei a
porta em sua cara. E, só por garantia, tranquei-a bem.
- Muito bem, agora somos apenas nós. Senta aí. – Indiquei a cama. Ele obedeceu e
fiquei ao seu lado. - Não deve ficar assim tão preocupado ou inseguro e, muito menos,
ligar para o que Anya fala.
- Acho! – Admiti rindo. - Mas não deve se ater à nossa opinião. Me diz apenas uma
coisa, você quer fazer amor com Octávia?
- Sim.
- Então, não tem grilo. Ninguém se sai bem mesmo na primeira vez, geralmente ficamos
desajeitados e acabamos rápido. Mas sabe o que é legal? Vocês não vão se importar,
porque estarão conectados, partilhando um momento único que jamais esquecerão.
Todos os sentimentos que não conseguem expressar em palavras vão expressar com o
corpo e o amor que sentem um pelo outro irá guiá-los.
- Poxa, Lexa, isso foi profundo. Fez tudo parecer muito simples.
***
Após arrumar as malas, fui até o quarto da minha namorada. A porta estava entreaberta
e eu pude observar ela arrumar as malas. Pra falar a verdade, só jogava as roupas dentro,
totalmente desorganizada. Bem devagar, fechei a porta e me aproximei dela, não
querendo que notasse minha presença.
Meu corpo ficou a centímetros do meu leãozinho, então, aproximei meus lábios do seu
ouvido e gritei:
- BOO!
- Já que me xingou, não vou mais lhe dar presentinho! – Mostrei-lhe a sacola em minhas
mãos.
- O que tem aí? – Toda curiosa, tentou espiar, mas não permiti.
- Nada...
- Só te dou se você usar aquela palavrinha mágica, aquela que te dói falar.
- Um celular?
- Sim! Esqueceu que quebrei o seu ontem? Poxa, esqueceu? Droga, se eu soubesse, nem
tinha gastado meu dinheiro. – Zombei.
- Já que vamos namorar escondido, deveríamos nos comunicar por mensagem de texto.
O que acha? – Perguntei, pegando meu telefone novo e começando a digitar uma
pequena mensagem.
Guaxini Gostosona:
A pirralha não falou nada, apenas veio ao meu encontro, subindo na cama. Minhas mãos
deslizaram por sua silhueta, da cintura até a nuca. Beijei-lhe primeiramente o queixo e
isso intensificou minha vontade louca de ter seus lábios trêmulos junto aos meus. Era
incrível como meu coração reagia à Clarke. O ritmo que antes era compassado,
simplesmente disparava. Rocei levemente minha boca na sua, isso a fez suspirar, não
tirando os olhos dos meus. Então, pra nossa infelicidade, gritos histéricos quebraram o
clima.
Anya PDV
- PORRA! PORRA! – Gritei vendo o “sem pregas” com a bunda pra cima, encurvado e
caminhando para trás enquanto arrastava uma grande mala rosa pra dentro da sala.
- E quem te convidou? – Dessa vez, quem interferiu foi a Clarke-Loira do Banheiro que
acabara de chegar na sala.
Que ódio eu estava sentindo. Queria bater naquele viado até ele chorar.
- Cadê o Toicinho? Eu trouxe um presentinho para ele. – O maldito tirou de uma bolsa
amarela um vestidinho rosa e uma peruca loira.
- EU VOU MATAR! EU VOU MATAR! – Gritei partindo para cima dele. A porcaria
da minha irmã me deteve, enquanto a bicha escondia-se atrás de Clarke.
- Fica fria, Anya, é só ignorar. – A guaxinim tentou me acalmar, mas não estava dando
certo.
Clarke PDV
Tentei disfarçar minha vontade de arrancar Rae de perto da Woods. Não entendia como
havia sido tapada ao ponto de não lembrar que minha irmã era arriada os quatro pneus
por ela.
Será que a babaca não estava notando a oferecida alisando seu braço? Ou ela estava
distraída demais com Anya?
- Estou de mau! - Bellamy saiu do seu esconderijo, atrás de mim. - Não estou mais nem
aí para você, tá bom, carniça!? Pode ficar aí com suas ameaças de gentalha, porque se
encostar um dedo em mim, eu dou na sua cara. – A bichona estava mesmo pedindo a
morte.
Clarke PDV
- Eu vou é fugir! – Anya tentou sair correndo pela porta da frente. Lógico que eu e
minha irmã impedimos.
- Não vai a lugar nenhum, vamos levar seu admirador pro hospital. – Raven, séria, se
pôs à frente da porta, bloqueando a passagem.
- Ou pro necrotério. – Mais uma vez, ressaltei, pondo uma mão no ombro da bisonha,
que me olhou assustadíssima.
- Já era para termos chamado Kane ou minha mãe. - Lexa aproximou-se, deixando o
defunto abandonado no meio da sala. Agora, éramos quatro em um círculo, tentando
resolver a situação.
- Se você fizer isso... eu... eu... mato você também! – Definitivamente, era o dia da
maníaca assassina atacar.
- Não permito! – Raven riu. - Ei, será que depois do assassinato, ainda vamos para
Veneza?
- É, fedeu mesmo! – Falei com os olhos arregalados. Pela minha visão periférica, notei
minha namorada engolir seco.
Após alguns segundos de um silêncio desconcertante, a pior gargalhada ecoou pela sala.
- Contatando meu advogado. Vocês vão saber o que é um processo por agressão,
judiação e maltratação! – O pavão parecia enraivecido.
- Vai passar a existir assim que eu enquadrar todos vocês nele! – Respondeu, virando a
cara.
- Foi um acidente. - Lexa tomou o telefone das mãos da biba. - Anya, vai se desculpar. –
Encarou, carrancuda, a irmã.
- Não vou não! – A maníaca assassina cruzou os braços, brava. - Essa coisa mereceu.
- Vou te processar, bonequinha do mal! Irei arrancar todo o dinheiro que tem e que um
dia vai ter. - Bellamy sorriu, achando-se muito esperto.
- Isso mesmo! Tudo será esquecido se você me der apenas um beijinho. – Falou
provocando a bisonha.
- Vou dar uma colher de chá. Pode ser na minha linda bochechinha. – Ele apontou para
o próprio rosto.
- Ok...- - Anya bufou, dando-se por vencida. - Só um e, se alguém falar sobre o assunto,
JURO QUE VAI VIRAR COMIDA DE MINHOCA! – Enfatizou as últimas palavras.
Cerca de duas horas depois, toda a minha família eu estávamos na estação de Verona,
vendo, com cara de panacas, o trem, em que deveríamos ter embarcado, partir sem nós.
Mesmo com toda a correria para tentar chegar a tempo, o melhor que conseguimos foi
alcançar a rampa com as passagens nas mãos.
A viagem estava toda cronometrada por meu pai. Infelizmente, a garota mais burra do
mundo, passou cerca de uma hora discutindo dentro de um táxi com Lincoln, que
recusava-se a viajar se o Toicinho fosse também. Foi um pandemônio absurdo. Pois
todos tivemos que intervir. O porco roncava de uma lado, Bellamy dava pití do outro,
Abby choramingava, e, por fim, o suíno teve que ser escondido em uma caixa
fortemente protegida pela bisonha.
- Esse foi o último para Veneza hoje. Parece que vamos ter de esperar até amanhã. –
Respondeu meu pai, desanimado.
- O ideal seria trem, afinal, são apenas 3 horas de viagem. Se formos de avião, o porco
vai ter que ficar. – Kane olhou pra Anya, que logo fez cara feia.
- Com licença. – Nos viramos para dar atenção à voz grossa. - Meu nome é Roberta, não
pude deixar de ouvir a conversa. – Ergui uma sobrancelha ao perceber que a dona da
voz era uma mulher gorducha, alta e de macacão jeans. - Posso ajudar vocês!
- Eu não sei. – Meu pai fitou Abby. - De ônibus, a viajem será mais longa.
- Octávia tem razão, meu amor, estamos na Itália para nos divertir. Algumas horas a
mais não vão fazer diferença. – A nojenta da mosca morta fez um carinho em meu pai e
eu notei que ele concordaria com tudo que ela decidisse.
Todos concordaram, exceto Lincoln e eu. Por sermos minoria, fomos totalmente
ignorados.
- Minha senhora, não há a menor condição de viajarmos nesse veículo. – A mosca morta
tentou intervir.
- Abre a porta que eu quero descer, eu não estou aguentando, é muita sujeira. PELO
AMOR DE DEUS, ME TIREM DAQUI! - Lincoln surtou com a imundice e chutou a
porta do ônibus, que não abriu.
- NÃO VAI SAIR NINGUÉM DESSA PORRA, SENTEM AÍ. QUERIAM IR PARA
VENEZA E VÃO PARA VENEZA OU NÃO ME CHAMO ROBERTA TRÊS
OITÃO!! – Minhas suspeitas estavam confirmadas. Estávamos nas mãos de uma
motorista sapatão bipolar.
Os protestos vieram de todos os lados. Confesso que fiquei confusa com a gritaria. Foi
aí que a truculenta enganadora sentou-se à frente do volante e acelerou o ônibus, mesmo
contra a nossa vontade. O solavanco foi tão grande que caí para trás. Lexa,
inevitavelmente, desabou sobre mim e, por último, Anya nos esmagou. Juro que nessa
hora vi estrelas.
- SAI DE CIMA, SUA BRUTA! – Gritou minha Woods para sua irmã retardada, que
ria, divertindo-se.
Nem acreditei que estava inteira, quando as duas saíram de cima de mim.
- Acomodem-se, a próxima parada será em três horas. Vou colocar uma musiquinha
para descontrair o ambiente. – Roberta respondeu tranquilamente, sorrindo.
- Eu vou quebrar a cara dessa maluca! Ah, vou! – Tentei alcançar a motorista, mas fui
impedida por Lexa, que segurou-me pela cintura.
- Clarke, acalme-se. – Meu pai aproximou-se. - Essa mulher deve ter algum desvio de
personalidade. Hora ela é tranquila e amigável, hora é bruta e mandona. Nesse caso, é
melhor não contrariar. – Murmurou.
- Já estamos saindo de Verona. Vamos fazer o que seu pai disse. – Minha namorada
falou.
Me desvencilhei chateada e fui para o fundo do ônibus. Sentei em uma poltrona fétida
próxima a janela, bem atrás do velhote que permanecia feito uma estátua de cera,
indiferente ao tumulto. A maldita lata velha disfarçada de buzão, produzia um barulho
ensurdecedor, enquanto chacoalhava incessantemente.
Kane acalmou a todos e não demorou para que eles se acomodassem nos poucos
assentos. Acho que os covardes estavam era com medo da maluca bipolar.
Mais insatisfeito que eu, só o suposto maconheiro, que precisou ser abanado por
Octávia enquanto dava chilique de mulherzinha por causa da sujeira. Meu pai e Abby
ficaram abraçadinhos, rindo por algum motivo que eu, com certeza, não queria saber.
Anya sentou-se sozinha com seu porco nojento, mantendo o máximo de distância
possível de Bellamy, que a cada minuto lhe provocava. Lexa sentou-se metros à minha
frente. Raven, vendo que havia uma poltrona vazia ao lado dela, não perdeu tempo e
acomodou-se lá. Eu bem queria ter ficado junto dela, mas isso daria muita bandeira. A
vi esquivar-se um pouco da morena sebosa (como disse a bichona), enquanto mexia no
celular. Segundos depois, meu telefone vibrou no bolso da calça. Disfarçadamente, li a
mensagem.
Guaxinim Gostosona:
Não pude deixar de rir ao ler aquela frase. Logo tratei de responder.
Guaxinim Gostosona:
Gargalhei escrevendo.
Meu Leãozinho:
Guaxinim Gostosona:
Meu Leãozinho:
Guaxinim Gostosona:
Não entendi a última pergunta até olhar para o lado. Sobressaltei com a mão no peito,
assustada ao ver o velhote de óculos escuros sentado ao meu lado.
- Há quinze anos que eu moro nesse ônibus. – O homem falou entre os dentes, imóvel.
Não consegui dizer nada. Com os olhos arregalados e trêmula, ergui um braço, pedindo
por ajuda. Lexa e Anya logo vieram curiosas.
- Há quinze anos que eu moro nesse ônibus. – O velho repetiu com a voz sombria.
- Um dia peguei esse ônibus por engano e nunca mais consegui sair dele. – As Woods e
eu trocamos olhares. Um calafrio percorreu minha espinha. - O mesmo vai acontecer
com vocês. – O passageiro estranho balbuciou sinistro.
- Já chega! Eu quero dar o fora daqui! – Arrepiada, levantei-me e passei para o corredor.
Lexa PDV
Anya e eu, boquiabertas, não conseguíamos tirar os olhos do senhor bizarro. Minha
irmã se colocou em frente à ele e, lentamente, passava a mão espalmada rente ao rosto
cadavérico para se certificar de que estava consciente, pois seus óculos grandes e
escuros escondiam a expressão de seus olhos.
- Eu sou cego, não idiota. – Falou o homem, desferindo um golpe certeiro de bengala na
cabeça da bisonha. Esta, depois de acariciar tristemente a parte machucada, voltou o
olhar pasmo para o velhote.
- Ei, vamos voltar para nossos lugares. Não vê que o homem está caducando? – Tinha
certeza que a figura não havia escutado, mas logo em seguida...
- Acostumem-se, vão ficar aqui comigo para sempre. – Disse ele, parecendo um
fantasma.
Todos saíram de seus lugares apavorados, tentando conter a Griffin possessa. Nem
mesmo eu consegui chegar perto dela, devido o excesso de pessoas na parte frontal da
lata velha.
- SE ESSA PÔRRA NÃO VIRAR, OLÊ, OLÊ, OLÁ,... EU CHEGO LÁ! – Cantarolou
Bellamy, sendo jogado para um dos bancos devido o balançar violento. (N/A: cês
acreditam que passei meia hora gargalhando depois que escrevi a frase do Bellamy)
Aquelas palavras do pavão só contribuíram para aumentar o drama. Minha mãe parecia
que ia enfartar; Kane a socorreu; Lincoln estava mais pálido que papel; Octávia
chorava; Rae segurava-se em uma poltrona e Anya corria atrás do porco, que aproveitou
a baderna pra fugir da caixa. Quanto a mim,... bem, já sentia cheiro de desastre. E ele
não demorou a chegar!
Quase todos respondemos “não”, com exceção de Roberta, que mancava com o
tornozelo machucado.
Meia hora depois, minha família e eu estávamos sentados à beira da estrada, sem ânimo.
Esperávamos a sapatão maluca consertar o motor do ônibus que havia pifado, causando
a tal explosão, que, minutos atrás, nos assustou. Kane tentou ligar para um reboque, mas
nossos celulares estavam sem sinal.
- No fim do mundo, já que não passa uma alma penada nessa estrada. – A anãzinha
respondeu melancólica.
- Não é uma boa ideia. É melhor não nos separarmos. – Meu futuro padrasto mostrou-se
preocupado.
- Desculpem minha reação dentro do ônibus, ando muito estressada. Não queria assustá-
los, é que, às vezes, fico alterada com a frescura de vocês gringos. Só pensam em luxo.
– A maluca até parecia outra pessoa. - Só estou querendo ganhar o meu dinheirinho.
- Er... foi muito estranho, mas tudo bem... acho. – Kane sorriu amigável.
- Já que vamos ficar aqui sem fazer nada, quero lhes oferecer um bom e legítimo vinho
italiano que guardo no ônibus, só para mostrar que não há ressentimentos. – A louca
animou-se.
Roberta trouxe duas garrafas de vinho e algumas taças. Nos serviu gentilmente e sentou-
se. Alguns minutos de conversa foram suficientes para percebermos que a mulher não
era tão demente quanto imaginávamos. Nos contou sobre suas viagens, passageiros
americanos que sempre caem no truque do ônibus que, por fora é um luxo e, por dentro
é uma lata velha. Ouvindo a versão contada por ela, até pareceu cômico.
- Eu tenho uma dúvida, aquele senhor cego... – Apontei para o velhote que estava
sentado próximo a Anya, a qual ainda o fitava hipnotizada. ... está realmente trancado
no ônibus a 15 anos?
- É o meu avô, ele gosta de contar essa história para assustar os passageiros, ou se finge
de cego para ganhar algum trocado. – Respondeu, divertindo-se.
Clarke, Anya e eu rimos, envergonhadas por termos caído na lábia do velhote safado,
que tirou os óculos e se serviu de um pouco de vinho.
- O incrível é que as pessoas sempre acreditam. – Disse ele, com uma expressão
divertida, diferente da estátua que antes parecia.
- Eu já volto, vou só procurar meu anel que deve ter caído dentro do ônibus. – Antes
dela se afastar, piscou o olho para mim.
- Vou procurar um lugar pra eu usar como banheiro. – Informei, antes que alguém
perguntasse. Felizmente, todos estavam distraídos com o vinho e as histórias hilárias da
maluca.
Escondida atrás do ônibus, esperei por Lexa, que estava demorando. Isso me deixou
impaciente. Me perguntei se ela teria entendido os sinais que havia lhe mandado. Foi aí
que senti braços fortes me agarrarem por trás. Sorri, já sabendo quem era. Minha
Woods, gentilmente, me girou, pondo-me de frente para si, pressionou meu corpo
contra a lataria do ônibus e, sem dizer uma palavra, beijou-me.
Imediatamente, meu coração acelerou ao toque daquela boca tão desejável. Coloquei
meus braços em volta do pescoço dela, abraçando-a fortemente. Podia sentir as suas
mãos deslizando por minhas costas, o que fez minha pele reagir arrepiando-se por
completo. Nossas línguas tocavam-se em dança sensual, os lábios ardiam dominados
pela paixão. Mais uma vez Lexa estava me tirando o fôlego, ela era a única que
conseguia tal proeza. Era tão bom tê-la em meus braços, que o risco de sermos pegas
nem importava.
- Senti falta da sua boca. – Sussurrei ofegante, com minha testa colada à dela.
- Também senti falta da sua. – Respondeu sorrindo. - Está sendo mais difícil ficar sem
tocar você do que eu imaginei.
- Será que vamos enlouquecer em Veneza? – Questionei, antes de lhe mordiscar o lábio
inferior.
- E já não estamos loucas? – A boca dela deslizou do meu rosto até a orelha, onde sugou
o lóbulo, fazendo-me gemer baixinho. - O seu cheiro é tão bom. – Falou com a voz
rouca.
Lexa riu, achando que era brincadeira. O pior é que eu estava falando sério. Queria ficar
a sós com ela, bem longe da família. Se possível, da humanidade! Já não suportando
ficar sem o sabor dos lábios dela, a beijei, sedenta, trêmula, querendo prolongar aquilo
ao máximo.
- Ah, queridinha, vão tem que parar, nem que eu me jogue na frente. – Bellamy colocou
as mãos na cintura decidido.
Lexa juntou-se a nós, disfarçando o rubor dos lábios com o vinho tinto.
Eu até ia fazer isso, mas me distraí vendo o pavão correr para o meio da estrada. Ele
ficou pulando e chacoalhando os braços, não querendo deixar, de maneira alguma, a
nossa salvação escapar.
Ouvi o barulho dos pneus arrastando no asfalto. Então, o grito a seguir diminuiu a
tensão. Abri os olhos alarmada.
Para a nossa sorte, o ônibus que a bichona forçou a parar, estava cheio de turistas indo
para Veneza. Kane convenceu o motorista a nos levar junto. Foi um alívio entrar em um
ônibus normal. Roberta e seu avô foram conosco, o velhote começou a contar suas
histórias bizarras e ganhou alguns Euros, fingindo-se de cego. Acabei dormindo o resto
da viagem. Quando acordei, já havíamos chegado ao nosso destino.
Meu pai pagou a sapatão como combinado, mesmo ela tendo nos feito passar por toda
aquela confusão. Nos despedimos e os dois trambiqueiros desapareceram de nossa vista
(espero que para sempre).
Hospedamos-nos no hotel Holiday Inn. Não haviam muitas vagas, pois, segundo o
recepcionista, uma banda de rock famosa e sua equipe estavam hospedados lá para um
show na cidade. Meu pai conseguiu com o gerente algumas acomodações. Ele e a mosca
morta ficaram em uma suíte de luxo. Bellamy ficou sozinho em uma suíte. Lincoln e
Octávia enrolaram um pouco, mas acabaram decidindo ficar juntos em uma suíte. Lexa
teve que dividir um quarto com a irmã bisonhenta e, por fim, sobrou pra mim, aturar
com Rae.
Estávamos tão cansados por conta da viagem, que nem fomos ao restaurante do hotel
para jantar. Assim como os outros, comi no quarto e, logo que acabei, joguei-me na
cama. Eu não dormi, praticamente desmaiei de cansaço.
Meus olhos estavam pesados, mal os consegui abrir. A luz do sol que entrava pela
janela parecia ferir-me a íris.
- O que foi? – Perguntei sonolenta. Rae saltitava pelo quarto com um buquê de rosas
vermelhas nas mãos.
- Essas flores não são maravilhosas? – Ela exibiu-as como se fosse um prêmio.
Levantei-me abruptamente.
- Lógico, e um cartão. Escuta, vou ler pra você... – Ela pegou o pequeno envelope
branco e o abriu feliz. - ... espero que essas flores te deixem mais animada essa manhã.
Te espero na piscina. Beijos molhados para a garota que me faz enlouquecer. Assinado,
Lexa Woods.
Após o banho, troquei-me rápido e marchei até a piscina, onde a futura defunta deveria
estar à espera de minha irmã. Não consegui raciocinar, estava tomada pela raiva e dor.
Na parte de lazer do grande Holiday Inn, avistei Lexa de biquíni preto, próximo à água
olhando para o relógio. Aquilo só aumentou a minha ira. Os passos que dei até chegar a
ela, pareceram-me longos e demorados, embora eu não tivesse certeza.
Sem responder, a empurrei com força para dentro da piscina. A imbecil demorou alguns
segundos para voltar a superfície, mas quando voltou, de forma inesperada, me puxou
pela perna, derrubando-me também dentro da água.
Clarke PDV
Tudo ficou embaçado, engoli um bocado de água. Com algum esforço, consegui
impulsionar meu corpo até a superfície. Enraivecida, tentei socar Lexa que antecipou-se
e abraçou-me com força, me imobilizando totalmente.
Ela soltou imediatamente. Saí da piscina mais parecendo um pinto molhado, a brisa fria
me fez estremecer. Chacoalhei-me feito um cachorro, respigando água por todos os
lados.
- Posso saber por que tamanha demonstração de afeto logo pela manhã? – A Woods
insistiu, pingando ao meu lado com um sorriso cretino nos lábios.
- Isso é o que?... Um... tipo de piada pra me tirar do sério? Está se divertindo? –
Coloquei as mãos na cintura, não dando importância aos hóspedes, que nos olhavam
estranho.
Foi nesse momento que Lexa começou a gargalhar intensamente. Fiquei totalmente sem
ação, em um misto de ira e curiosidade, enquanto assistia ela colocar as mãos na
barriga, praticamente passando mal.
- Você... – Ela enxugou a lágrima que ameaçava escorrer de seu olho, enquanto
esforçava-se para falar. - É tão burra!
- Cansou de viver? Quer que eu te mate agora? – Certo que eu não estava entendendo
nada, mas não contive minha revolta.
- É lógico que eram, sua tonta! Mandei entregar no quarto 201 e Raven deve ter se
apossado delas.
- Eu sei que você acha ela gostosona! Além do mais, deu pra perceber as vezes que
tentou ficar com ela. – Coloquei tudo para fora, enquanto tinha coragem. - Quando ela
leu o cartão, não tive dúvidas. Dá um desconto, ok? Como ia imaginar que, justo você,
me mandaria flores?
- Clarke, é verdade que me interessei por Rav no início, mas acabei percebendo que eu
queria frango e não carne, entende?
- Ok, vou explicar de outro jeito. Meu interesse por sua irmã foi passageiro, apenas
empolgação porque... – Ela revirou os olhos. - Não acredito que vou falar isso, mas a
verdade é que só você... tem a chave do meu coração.
- Eu sei! Aliás, ser romântica com você é perigoso, te enviei flores e quase me matou. –
Gargalhou.
- Nossa! Tem razão, nem me dei conta de que outra pessoa leria o cartão. – A Woods
coçou a cabeça, abobalhada.
- Com a nossa inteligência, esse namoro ainda acaba em... MERDA! – Quase gritei
vendo Lincoln e Octávia indo para o bar próximo a piscina. Eles pareciam distraídos,
mas o medo me atingiu em cheio.
Guaxinim Gostosona:
[O lance da piscina vai ter troco, pirralha. Vamos sair hoje pra explorar a cidade?]
Rapidamente respondi.
Guaxinim Gostosona:
Meu Leãozinho:
Zombei, louca pra ver a cara dela ao ler o torpedo. A resposta logo chegou.
Guaxinim Gostosona:
[Engraçadinha! O único problema é que seu pai planejou uma excursão por Veneza.
Arruma uma desculpa para não ir, que dou um jeito de passar aí assim que todos
saírem.]
A ideia da Woods me agradou muito. Também estava muito a fim de namorar. Sem
pensar duas vezes, digitei sorrindo.
Meu Leãozinho:
Guaxinim Gostosona:
Fala sério!
Olhei para um lado e para outro e fiz a primeira coisa que me veia a cabeça.
- Minha barriga... – Como eu era uma péssima mentirosa, achei melhor enfiar a cabeça
no travesseiro.
- Me deixe examiná-la.
Tive vontade de rir quando Kane tocou minha barriga, dando leves batidas com a ponta
dos dedos.
- É melhor levá-la para fazer alguns exames, pois não noto nada de anormal.
- É só uma dor de barriga, Kane. Acho que comi algo estragado. – Me contorci.
- Comi umas besteiras que haviam ali. – Apontei, fazendo cara de santa.
Lexa PDV
- Porra! – Murmurou ela. - Eu não gostei dessa cidade idiota! E o Kane ainda quer fazer
a gente conhecer ela todinha! Você já viu que Veneza está quase toda alagada? É óbvio
que foi uma enchente! O que vamos fazer por aí no meio de uma enchente?
- Cara, promete pra mim que no próximo semestre você vai estudar de verdade.
- O que está insinuando? – Carrancuda, alisou o porco dorminhoco, que estava com uma
roupinha de marinheiro. Tinha até o chapeuzinho! Era a coisa mais ridícula do mundo!
- Bebi demais, avisa o Kane que não vou poder ir à excursão, estou de ressaca! –
Coloquei as mãos na cabeça, dando maior veracidade.
- Ah cara, poxa! Ia ser legal se você fosse. – Ele tirou uma câmera fotográfica do bolso.
- Ia tirar altas fotos! – A animal apertou o botão da máquina e quase me cegou com o
flash.
Bufei aborrecida.
- PUTA QUE PARIU! TIRA ESSE BICHO DAQUI! – Mesmo me esforçando, não
tinha como não explodir.
- Tá bom, tá bom. Não somos bem vindos aqui, amigão. – Anya saiu chateada,
consolando o porco.
Fui para o banheiro no intuito de tomar banho, pois fedia igual a um bebum de rua e o
cheiro de vodka já estava me deixando grog.
Clarke PDV
- Tenho mesmo que tomar isso? – Fiz careta, olhando para o líquido verde na colher à
minha frente.
- Hum... – Fingi cara de satisfeita. Assim que Kane virou o rosto pra guardar o frasco do
remédio em sua maleta, cuspi o líquido amargo no jarrinho de flores que enfeitava o
criado-mudo.
- Vou avisar os outros que o passeio está cancelado. Vou ficar aqui com você.
CACETETE!
- Não, pai – Apelei. - Pode ir, vou ficar bem. É uma dorzinha de barriga de nada. Além
disso, se eu piorar, te ligo. Por favor, vá. – Sorri.
- Sim. – Eu podia jurar que tinha uma auréola acima da minha cabeça.
Vinte minutos depois, caminhei impaciente pelo quarto à espera da minha Woods. Dei
mais uma olhada no espelho e constatei que estava ridícula. Queria ficar bonita, mas a
única peça em minha mala que eu tinha certeza que ela gostava, era o vestido que a
Peguei o celular, me preparando para mandar uma mensagem pra atrasadinha, quando a
mesma invadiu o quarto sem bater.
A mulher à minha frente me surpreendeu. Vestia uma camiseta branca de algodão, calça
preta bem colada ao corpo, que por sinal valorizava suas curvas, e óculos escuros. No
geral, Lexa estava absolutamente linda.
Minutos depois, já estávamos na calçada do Holiday Inn. LEXAZINHA fez sinal para
um táxi e logo ele veio ao nosso encontro. Porém, um ônibus estacionado ali perto me
chamou a atenção. Vários casais adentravam o veículo, contentes. Uma moça, próximo
ao transporte, segurava uma prancheta e, em sua camisa, estava escrito “excursão para
casais”.
- Você já não andou de ônibus o suficiente? – Perguntou ela incrédula. - Além do mais,
é excursão para pessoas casadas.
Olhei novamente para a movimentação em volta do ônibus e notei que ela tinha razão.
Remexi a boca por alguns segundos refletindo.
Então de forma espontânea, girei meu anel, escondendo o símbolo de guitarra, peguei a
mão da Lexa, tirei o anel que estava em seu polegar e coloquei no dedo anelar.
- Estamos casadas? Só isso? Não vai ter nem um pedido formal ou cerimônia? Olha, eu
sou uma moça de família, não é só pegar e levar. – A idiota fingiu-se de ofendida.
Lexa e eu ríamos sendo as últimas da fila, a qual esperava para adentrar o veículo.
Então, nossa vez finalmente chegou.
- Vossos nomes estão na lista? Não lembro de ter um casal lésbico na lista. – Perguntou
a moça de óculos, suspeitando.
LEXAZINHA me encarou como se dissesse “eu sabia que isso não ia dar certo”. Lógico
que eu não ia deixar ela passar aquilo na minha cara. Sorri, me preparando para mais
uma grande atuação.
- É lógico que está! – Puxei a prancheta das mãos da moça. Todos os nomes da lista
estavam sublinhados, exceto o último: PERRY - Aqui minha filha! - Apontei para o
papel. - Sr. e Sra. PERRY!
- Deve ter havido algum problema na hora da reserva. Ou vocês têm algum problema
em sermos um casal lésbico? – Perguntei fingindo ofensa com a desconfiança dela,
estava dando o meu melhor na atuação.
- Vamos logo, Mary, temos horário a cumprir. – Reclamou, mal humorado, o motorista.
- Tudo bem, entrem. – Por fim ela nos deixou entrar no ônibus.
Fomos direto para o fundo do veículo. Não era de se admirar a desconfiança dela. Os
casais que lá estavam eram casais héteros.
- Não acredito que estamos fazendo isso. – Sussurrou Lexa ao meu ouvido.
- Vamos passear de graça! Quer mais o quê da vida, Sra. Perry? – Respondi, feliz por
meu plano ter dado certo.
- Mary é uma ótima guia. – O homem de cavanhaque sentado próximo a nós falou,
sorrindo. - Me chamo Cris e essa é minha esposa Nancy. – Ele abraçou a mulher
grávida. - Somos dos EUA, e vocês?
Cris e Nancy aparentavam ter trinta e poucos anos. Típicos turistas, carregavam
máquinas fotográficas e folhetos.
- Sras. Perry. – Minha pangaré... ai..., quero dizer, namorada, respondeu, divertindo-se.
- É legal ver um casal tão jovem casado. Hoje em dia, as pessoas fogem de
relacionamentos sérios. – Disse a mulher. - Como se conheceram?
Tapei a boca da LEXAZINHA antes que ela viesse novamente com a história absurda.
- Ufa, já estava começando achar que eram malucas. – Cris brincou aliviado.
- Malucas? – Minha Woods perguntou, quando tirei a mão de sua boca. - Imagina... não
existem pessoas mais sãs no mundo que nós. – Achei as palavras dela meio irônicas.
- Foi amor à primeira vista, então. Adoro essas histórias românticas. – Nancy suspirou.
- Sim, foi. – Gargalhei. - Assim que nos conhecemos, viramos amigas inseparáveis. –
Agora quem estava sendo irônica era eu.
- Está grávida de quantos meses? – Por algum motivo, aquilo me pareceu interessante.
- A Sra. Perry também espera um bebê. - Lexa riu, colocando a mão na minha barriga.
Quase tive um AVC ao ouvir aquelas palavras. Eu devia estar mais branca que papel.
Nada podia me deixar mais sem jeito.
- Ah, que maravilha, nem percebi. Sua barriga ainda não cresceu. – Cris pareceu
interessado.
- Dá pra mentir de forma menos absurda? – Quase gritei, vendo-a subir no balanço.
- Pra quem disse que nos conhecemos em um hospício, está dando pití à toa, Sra. Perry.
Gargalhei.
- Estive pensando. – Subi no balanço, ficando de pé, junto com a tonta. - Como vamos
fazer para nos falar quando meu pai e os outros estiverem por perto?
- Podíamos enviar alguns sinais, gestos, não sei... – Ela me deu um selinho.
- Tipo, estamos jantando, não podemos enviar mensagem pelo celular que todos
desconfiariam. Então, eu mordo o polegar. Isso significaria que estou com vontade de te
beijar. Precisam ser gestos fáceis de lembrar e que passem despercebidos. – Ela mostrou
o gesto, o que me fez rir.
- Legal! Então se eu precisar falar com você, vou passar o dedo indicador na
sobrancelha direita, o que acha?
- Lembra disso, puxar a orelha direita significa SIM e coçar o cotovelo significa NÃO.
- Como faço pra falar por código que está uma gata?
- É só passar os três primeiros dedos no queixo. Isso vale para nós duas, esteja de
sobreaviso! – Ela mordeu meu ombro desnudo.
Lexa empurrou e literalmente voei para longe, dando com a cara no chão. Pude até
sentir o gosto da grama seca.
Sem paciência, dei uma rasteira na tonta, que caiu ao meu lado. Foi hilário vê-la gemer.
Pisquei os olhos rapidamente, tentando pensar nas palavras certas para confessar.
- Como assim?
- Er... ao beijá-lo, não senti absolutamente nada. Muito menos as sensações especiais,
que sinto quando me beija. – Virei o rosto constrangida.
- É mesmo estranho estarmos aqui hoje, juntas. Parece até que estamos desafiando o
destino.
Lexa PDV
Beijei minha pirralha delicadamente, sem pressa de aprofundar o ato. Queria apreciar o
momento, pois não sabia até quando estaríamos dispostas a lutar contra a maré de
incertezas e dificuldades. Não tinha dúvidas que a queria junto de mim, mesmo depois
do verão, mas bem sabia que Clarke era imprevisível, poderia acordar um dia,
simplesmente achando que não valia mais a pena manter o relacionamento. Com a
proximidade do casamento de minha mãe com Kane, a garota podia surtar e voltar a
odiar os Woods, e principalmente, a mim.
Podia sentir as mãos de Clarke em minhas costas, por dentro da camiseta. Minha pele
reagiu imediatamente, lembrando-me do quanto desejava o corpo macio abaixo do meu.
Foi preciso um grande esforço pra não tocá-la mais intimamente, não só porque
estávamos em público, mas, também, porque não sabia qual seria a reação dela.
Ri ouvindo a história que Cris contava sobre uma loucura de amor que fez no 5ª
aniversario de casamento.
- Essa aqui? – A pirralha apontou para mim zombando. - Ela é metida a responsável,
jamais faria algo ridículo em público propositalmente.
SE ELA SOUBESSE QUE VESTI UM DISFARCE UMA VEZ PARA VIGIÁ-LA, NÃO
FALARIA ISSO!
- Não sou irresponsável, só não me preocupo com o que vão pensar de mim. Nunca me
preocupei, sou o que sou! – Orgulhosa, encarou-me. - Já você, se preocupa demais,
sempre querendo manter a pose de boazona!
- Mentira, não estou nem aí pro que pensam de mim. Só não gosto de ficar agindo como
uma débil mental! Acha que banco a boazona só porque não saio por aí batendo e
xingando as pessoas? – Retruquei.
- Agir por impulso não é ser débil mental, é ter coragem de assumir os pensamentos e
vontades. Isso não é pra qualquer um, é preciso ter fibra. Covardes não encaram a
parada. Confesse, Sra. Perry, a opinião alheia é importante pra você! – Definitivamente,
a garota estava querendo me tirar do sério.
- Ao banheiro. – Saí chateada por ela pensar tais coisas de mim. Ser chamada de
covarde não me agradava em nada.
Clarke PDV
Assim que Lexa saiu da mesa, me arrependi de ter falado que ela se preocupava demais
com a opinião alheia e, principalmente, insinuado que era covarde. Eu nem estava
falando tão sério assim. Esperei alguns minutos impaciente, já começando a considerar
a possibilidade dela ter me abandonado ali. O espasmo em meu peito me tirou o ar.
- PEÇO A ATENÇÃO DE TODOS, POR FAVOR – Meu queixo caiu ao ver Lexa
próxima ao karaokê, segurando o microfone. - ESSA MÚSICA QUE VOU CANTAR
AGORA VAI PARA AQUELA GAROTA... – Apontou e todos olharam para mim,
atônitos. - ... QUE ACHA QUE NÃO CONSIGO AGIR POR IMPULSO. NÃO SOU
COVARDE! PIRRALHA, VOCÊ ESTÁ ENGANADA!
Quase não acreditei quando a Woods começou a cantar Do You Love Me. Coloquei as
mãos na boca, bestificada ao vê-la, até mesmo, dançar. O grupo em que estávamos de
Lexa estava cantando muito bem, não fazia ideia de que ela era tão afinada. Quando
subiu na ponta da mesa em que nosso grupo estava, gargalhei alto. A essa altura
ninguém mais estava sentado, ou dançavam ou agitavam com as mãos para o ar. A
louca andava lentamente pela mesa, desviando da comida e disponibilizando o
microfone para que outros cantassem parte da música.
Nem sei como, mas Cris, nosso novo amigo, já estava em cima da mesa, chacoalhando
o corpo. Parecia que eu era a única em todo o restaurante que não estava me esgoelando
e dançando. Pra falar a verdade, eu estava era chocada.
A cantora continuou andando pela mesa, aproximando-se de onde eu estava. Olhei para
cima com cara de taxo, ao vê-la rebolar bem ali à minha frente. Eu tinha que admitir, a
garota não era covarde.
Ri feito uma boba no momento em que ela cantou segurando meu queixo, como se as
palavras fossem somente para mim. Então, em um súbito, puxou-me pela mão. Nancy
parecia se divertir ao me ver em cima da mesa, totalmente sem jeito.
Lexa pegou a minha mão e me girou. Em seguida, me puxou pra junto de si.
- Quem está se preocupando demais com os outros agora? – Sussurrou ao meu ouvido.
A maldita tinha razão, eu estava sendo otária de ficar envergonhada. Mandei tudo às
favas e passei a cantar como todo mundo. Sério, estava pulando em cima da mesa, não
dava pra resistir ao ritmo, muito menos à mulher diante de mim, totalmente sedutora!
Era demais ver todas aquelas pessoas berrando, com as mãos para o ar! Juro que me
senti em um musical.
Anya PDV
- Porque temos que comer aqui nesse lugar chato? Deveríamos ter ido para o restaurante
do outro lado da rua. Parece super animado, dá pra ouvir a música daqui! – Murmurei
chateada.
- Será que Clarke está bem? – O comedor de mães perguntou, preocupado com a
pentelha.
- Ela deve estar dormindo essa hora. - Octávia, atolada em um prato de macarrão,
respondeu.
- Engraçado, o vocal dessa música me lembra muito a voz da Lexa. – Falou minha mãe,
navegando na maionese.
Lexa PDV
A tarde que partilhei com Clarke e nossos novos amigos foi sensacional. Eu nunca me
diverti tanto, até jogamos uma partida de futebol. Homens x Mulheres, o que resultou
em Griffin, competitiva, liderando as mulheres. Quando a noite ameaçou cair, nos
despedimos de Cris e Nancy, ficando com o número de telefone dos dois. Então,
voltamos para o hotel.
Fingir que estávamos bem dispostas durante o jantar no restaurante do Holiday Inn com
a família, foi um tanto difícil, já que estávamos exaustas. Felizmente, ninguém pareceu
notar nossa situação. Após o jantar, tentamos voltar para os quartos, mas os
funcionários alegaram que estavam tendo problemas com as portas dos elevadores,
garantiram que o contratempo logo seria resolvido. O jeito foi subir escadas.
- Tudo bem. – Tentei ser educada. Precisava arrumar um jeito de explicar a garota que
não estava a fim dela, como aparentava.
- Não tive oportunidade de lhe agradecer pelas rosas. – Tocou meu ombro.
Eu não tinha como negar que havia lhe enviado o buquê, afinal, o que eu diria? O
maldito cartão era demasiadamente comprometedor. Eu queria me chutar por ter
enviado a droga das flores.
- Você também me enlouquece. – Sussurrou ao meu ouvido, enquanto sua mão descia
pela minha barriga.
Fiquei tão surpresa e atrapalhada, que empurrei Raven para longe de mim com força
demais.
Lexa PDV
Fitei Clarke, sentada em uma poltrona, ela me enviava olhares mortais, estalando o dedo
mindinho frequentemente. Engoli seco, pois sabia que isso significava: Quero bater em
você!
Confesso que não sei se ela queria me bater por ter flagrado Rae me agarrando ou se
pelo fato de eu ter empurrado sua irmã escada abaixo. Talvez fossem os dois motivos
juntos.
Mordi o polegar sinalizando que queria beijá-la. O que ganhei foi uma revista jogada na
cara.
Sentia-me extremamente culpada pelo acidente. Temia que minha cunhada atirada
estivesse mal, pois, quando adentramos o hospital, ela gritava mais que uma cantora de
ópera.
Será que Rae me perdoará? Kane contratará alguém para me matar? Clarke voltará a
falar comigo? Essas perguntas estavam me deixando louca.
Como se não bastasse, todos na sala de espera me olhavam estranho, até mesmo meus
irmãos. Eles estariam pensando que eu tinha feito aquilo de propósito?
Anya PDV
Meu Deus! Ela é uma assassina sanguinária? Como eu não desconfiei? A Zé Ruela
andava mesmo muito estranha ultimamente! E se Lexa a estripadora estivesse
procurando novas vítimas?
O jeito é eu revezar com o Toicinho. Cada um fica de vigia uma parte da noite,
enquanto o outro dorme.
Mesmo sabendo que Lexa não era má pessoa, não conseguia engolir a história de
“acidente”. Fala sério! Quais as probabilidades de alguém empurrar outro pela escada
acidentalmente?
Podia farejar algo estranho no pedaço, mas não conseguia saber o que. Minha intuição
apitava mais que trem na estação. Era preciso investigar o incidente a fundo, juntar as
peças do quebra cabeça e, principalmente, ouvir a versão de Rae do suposto “acidente”.
Afinal, a garota estava começando a me dar medo.
Lexa PDV
A espera estava me deixando ansiosa. Começava a acreditar que minha cunhada estava
gravemente ferida.
Foi então que o meu celular, o qual havia deixado em cima da mesinha de centro, tocou.
Sobressaltamos ao toque. Tentei atendê-lo, mas Anya foi mais rápida.
- Fala, comedor..., quero dizer, Kane! – Disse, deixando-nos tensos. - Tudo bem,
entendi! Já estamos indo.
- Não sei, nosso futuro papi disse para irmos ao apartamento 16!
- Vamos todos? – Clarke abriu a boca pela primeira vez desde o incidente trágico.
- Espera, gente, não vamos de mãos vazias, é falta de educação. Tem uma banquinha
fora do hospital onde vende flores e balões. Levaremos algo pra animar Rae. – A
anãzinha pronunciou-se.
Apertei o botão para o quinto andar, como havia indicado Anya. Quando as portas se
fecharam, a idiota começou a pular e gritar:
- QUE PORRA É ESSA? – Gritou meu leãozinho, ranzinza enquanto todos nós a
fitávamos, incrédulos.
- Gente, estou só tentando aliviar a tensão. Olha a cara de enterro de vocês! Isso não é
bom! Vamos, tentem, vão se sentir mais relaxados depois. Garanto!
- SOBE! SOBE! SOBE! SOBE!... – Arregalei os olhos. Eles estavam mesmo seguindo
o conselho da bisonha!
Clarke pareceu curiosa e disposta a testar a teoria. Como eu não ser a única a ficar
paradona, resolvi arriscar também.
- SOBE! SOBE! SOBE! SOBE! SOBE! SOBE! SOBE! SOBE!... – Sim, éramos um
bando de retardados pulando dentro do elevador em meio a gritos.
- Afaste-se, marido. Esses devem ter vindo do andar da psiquiatria. – Sussurrou uma
senhora séria para o homem ao seu lado.
Constrangidos, saímos do elevador sem dizer uma palavra. Griffin até escondeu seu
rosto atrás de um buquê de flores. O mais absurdo é que, agora, eu realmente me sentia
mais relaxada.
Procuramos até achar o quarto com o número 16, cravado em letras douradas. Ergui o
braço para bater a porta, quando...
- O objetivo das flores e balões é animá-la, certo? Então, vamos entrar passando
energias positivas. – Aquele gay tava achando o que? Estávamos em um hospital, não
em um parque de diversões.
- Concordo! Vamos entrar gritando SURPRESA! – Lógico que essas palavras saíram da
boca de Octávia.
Ouvi um estrondo. Quando olhei para o lado, percebi que Octávia acabara de desmaiar.
- Fica calma, a cadeia não é um lugar tão ruim, lá você vai fazer muitas amizades
coloridas. - Bellamy pôs uma mão no meu ombro, tentando consolar-me. O resultado
foi justamente o contrário, comecei a me imaginar atrás das grades.
Clarke mais parecia uma estátua. Acho que nunca a vi tão pálida.
- NÃO É ELA! FOI OUTRA PESSOA QUE MORREU! – Gritei, feliz ao ver o cadáver
de uma velhinha toda enrugada. Griffin e a bisonha vieram correndo checar, e, como eu,
ficaram felizes em não ver o corpo de Raven ali.
- Levanta do chão, Fofolete, Rae não morreu! – A pirralha, contente, puxou a prima que
ainda recuperava a consciência.
- Tudo culpa sua, sua imbecil! – Dei um tapa atrás da cabeça da irmã mais burra do
mundo. - Quer enfartar todo mundo?
- Liga para teu pai e pergunta onde ele está! – Ordenei para minha namorada.
- Tudo bem, estamos perto! – Ela fulminou minha irmã burra com os olhos.. -
Apartamento 26 e não 16! Ok, ok, até já!
- Opa! Nunca fui boa com números! – Anya riu, colocando as mão no rosto.
- Me desculpe, foi sem querer. – Murmurei, sabendo que era o centro das atenções.
- Tudo bem. – O sorriso da morena aliviou parte do meu remorso. - Mas, agora, quem
vai ter que cuidar de mim é você. – As pessoas na sala riram, com exceção de Clarke e
Anya, que, distraída, jogava charme para uma enfermeira.
- Vamos para casa! – Minha mãe, tranquila, ordenou. - É tarde e amanhã será um dia
agitado.
Clarke PDV
Estava trocando de roupa para descer pro café da manhã quando batidas na porta do
meu quarto me surpreenderam. Fechei a calça bem rápido e me meti dentro de uma
blusinha azul. Ao abrir a porta, me deparei com um funcionário do hotel.
- Ah... er... – Realmente, eu não sabia o que dizer. Deveria responder que não? Por fim,
decidi enrolar. - Do que se trata?
- A Sra. Perry me mandou entregar, em mãos, à Sra. Perry. É você? – Ele ergueu uma
caixa média em minha direção.
- Sim! – Tomei-lhe a caixa, já me perguntando o que Lexa estaria aprontando dessa vez.
- Cobra a gorjeta da grande Sra. Perry. – Ironizei, fechando a porta.
Como meu pai já havia buscado Raven para o café, pude, tranquilamente, analisar a
encomenda. Era quadriculada, prateada e com uma fita vermelha enfeitando. Curiosa,
tirei a tampa, já considerando a possibilidade de ser uma pegadinha.
Meu queixo caiu ao ver a caixa cheia de pétalas. A única rosa vermelha no meio, me
chamou a atenção, próximo a um cartão. Estava brava com a Woods, não só por ter
pego ela de intimidade com Rae, mas também, por tê-la empurrado escada abaixo.
Afinal, eu é que queria ter feito aquilo. Tudo bem, exagero, eu sei. Mas, o fato da
Sebosa estar bem o suficiente pra dar em cima da minha namorada na minha frente, só
piorava as coisas pro lado dela.
“Meu leãzinho,
Peguei, sorridente, a rosa, senti seu doce perfume adentrar minhas narinas, e foi nesse
exato momento, que me perguntei se LEXAZINHA estava tentando me passar a perna,
distraindo-me com um jantar para não lhe dar um surra merecida.
- Dia dos namorados? Dia dos namorados? Oh, meu Deus! – Quase caí para trás com a
surpresa. Eu não tinha dúvidas, ia pirar!
O ar parecia ter ficado rarefeito, minhas mãos trêmulas suavam e eu queria gritar por
socorro.
- Calma, Clarke, não entre em pânico! – Dei um tapa em mim mesma. - Vou ligar para
Octávia. Quem sabe, ela me ajude.
Quando estava prestes a discar o número, me lembrei do quanto a Fofolete era curiosa,
iria me afogar em perguntas das quais eu não poderia responder.
- Pensa, Clarke, pensa! Você precisa comprar um presente pra Lexazinha e arranjar uma
roupa legal pro jantar. – Chacoalhei a cabeça pra misturar bem os neurônios. Quem
sabe, não saía dali uma genialidade. - Quem eu conheço que não é da minha família, e
estaria disposto a me ajudar sem questionar?
- HU!... OHOHOHOHOHOHOH!
- Tem certeza que eu devo usar isso? – Perguntei, fazendo careta para o espelho à minha
frente. O vestido rosa-choque de lycra não combinava nada comigo.
- Você está um luxo! – A bichona bateu palminhas. - Se você não estava dando pra
ninguém, agora, com esse vestido, vai dar pra todo mundo!
Corri para o provador, na intenção de tirar o vestido ridículo o mais rápido possível.
- Er... Você não conhece, ele é novo. – Respondi, fechando a cortina do cubículo na cara
dele.
- Hum... Então, diz como ele é? Loiro, moreno, oriental...já sei! É um negão daqueles
bem parrudos... ui! – Disse o tarado empolgado.
Revirei os olhos.
Minutos depois, várias roupas caíram sobe a minha cabeça. Bufei, notando que a
maldita bicha tinha jogado todas por cima do provador. Peguei uma e comecei a vesti-
la.
- Anya vai ter um encontro? – Surpresa, coloquei a cabeça para fora do provador.
Lexa PDV
Já passavam das 18:00hs quando Anya, finalmente, saiu do banheiro, enrolada em uma
toalha, cantarolando:
- Hoje vou ao cinema, depois jantar e, por fim, o mais importante, dar uma pimbada!
- A enfermeira gostosa que conheci no hospital. – Ela aproximou-se e colocou uma mão
no meu ombro. - É, guaxinim, você vai ser a única Woods a ficar sozinha, chupando o
dedo.
- Tá louca? Do jeito que estou matando cachorro a grito, vou ficar sumida uns três dias.
Porque? – Perguntou, enquanto arrumava a gravatinha borboleta do Toicinho.
- Fala, Zé Ruela!
- Cara, não leva esse teu porco pro encontro! – Eu estava realmente querendo ajudar.
Passei a mão no rosto, impaciente. Era melhor tentar falar a mesma língua absurda da
bisonhenta ou ela iria acabar se dando mal no encontro e estragar meus planos.
- Você não falou que o suíno tem jeito com as mulheres? Então, vai que a garota fica
encantada com ele e esquece você? – Eu sei, perdi muitos pontos do meu Q.I. com essa
frase.
- Nossa! É mesmo. Desculpa, amigão, você vai ter que ficar com Lexa, a estripadora. –
A anta ergueu seu mascote no ar. - Hoje não é um bom dia pra ter concorrência. Não
fica triste, que te conto uns detalhes cabeludos quando voltar!
- Anya, o bicho não quer saber da sua vida sexual! – Revirei os olhos
- Alguém tem que saber! – Riu, o gênio. - Lexa, posso te pedir um favor?
- O que?
- Quando estiver se sentindo solitária essa noite, por favor, não agarre o Toicinho! –
Zombou.
Fiquei animada em saber que minha irmã gênio iria passar a noite fora, assim eu poderia
oferecer o jantar à minha pirralha no quarto, onde teríamos mais privacidade. Estava
ansiosa feito uma adolescente, nunca havia comemorado a data dos namorados com
ninguém, pois nunca tive um relacionamento sério, só pequeno casos. Torcia para fazer
tudo certo e, com isso, contornar o mal entendido da escada.
- Não fique assim, Rae está bem! – Murmurou Abby, percebendo minha preocupação. -
Todos estão. Se houver algum problema, nossos filhos telefonam.
- Octávia me falou que ela e Lincoln iriam ao teatro, depois passeariam de gôndola.
Anya, pelo que eu soube, vai encontrar-se com uma moça. Lexa, infelizmente, não quer
sair do quarto. Acho que está mergulhada em remorso pelo que aconteceu com Rae. Já
Clarke, me ignorou quando lhe perguntei sobre seu programa para essa noite, mas
Bellamy não resistiu e me contou que ela sairá com um rapaz. Na verdade, ele usou as
palavras um negão.
Não gostei nadinha de ouvir a últimas frases, as mudanças na vida de Clarke estavam
me deixando receoso, não sabia como lidar com o recente interesse dela em garotos.
Achava muito cedo para ela se envolver com alguém, poderia se decepcionar, se
machucar e muitas outras coisas. De alguma forma, sentia-me de mãos atadas, já que ela
rejeitava meus conselhos.
- Meu amor, evitei por anos uma conversa com Clarke sobre relacionamentos físicos,
mas, agora, com ela ficando cada vez mais independente e conhecendo rapazes como
aquele tal de Finn, não há como fugir. Preciso ter uma conversa séria com ela. Não
quero minha filha por aí agarrando-se com um vagabundo ou engravidando de um
moleque qualquer. Aliás, pelo que depender de mim, Clarke não irá namorar até criar
um pouco de juízo naquela cabecinha.
- Meu querido, imagino como deve ser constrangedor para você e para ela ter esse tipo
de conversa. Por que não me deixa tentar primeiro? Talvez, por eu ser mulher, ela me
escute. Se não der resultado, você tenta do seu jeitinho, ok?
- Obrigado! Não sei o que faria sem você! – Beijei-lhe levemente os lábios.
- Já que estamos nesse clima de romance, deixe-me lhe dar seu presente. – Abby
colocou um grande embrulho em cima da mesa.
- Algumas fotografias consegui com Anya, ela fotografou vários momentos nossos na
Itália. Veja que, na maioria delas, estávamos distraídos sem perceber que a espertinha
- Meu amor, adorei o presente. – Fiquei emocionado em tocar aquele álbum, era como
se fosse a esperança palpável de que tudo no fim acabaria bem.
- Olha essa! – Riu ela, apontando para uma foto de Lexa e Clarke discutindo na sala de
nossa casa. - Será que essas duas um dia vão se entender?
- Eu não sei, brigam mais que cão e gato! – Sorri. - Mas, talvez no final de nossa
jornada pela Itália elas acabem entendendo o sentido de amor entre irmãs.
Tirei do bolso a pequena caixinha preta coberta com veludo e, assim como ela, pus em
cima da mesa.
Abre! – Incentivei.
- Te amo, Abby!
Lincoln PDV
Octávia e eu caminhávamos pelas estreitas ruas de Veneza, tendo como objetivo chegar
ao local onde as gôndolas atracavam. Minha namorada estava incrivelmente contente,
seu sorriso iluminado encantava-me.
- Quero te dar o meu presente do dia dos namorados. – Acariciei seus cabelos.
- Ah, eu não ligo pra esse tipo de coisa. Só de você estar aqui comigo já é um presentão.
- Sim!
Ela chacoalhou um pouco a caixa e depois, desembrulhou, como se fosse uma criança.
- Oh, meu Deus! Chanel nº 5! – Pulou surpresa. - Esse perfume é tão glamouroso,
AMEI, AMEI!
- Ai.. tenho que te entregar o seu presentinho. – Minha namorada tirou de dentro da
bolsa um embrulho com formato retangular. Ao pegá-lo, logo notei que se tratava de um
livro, então, sorri.
- Vamos ver... Vamos ver... – Desembrulhei, revezando olhares entre ela e o embrulho.
Por fim, consegui ver o título. - Kama Sutra? – Sussurrei sem ação.
- Er... É só um livro, dizem que é bom. – Baixou a cabeça rindo. - Não estou
pressionando. Que isso fique claro!
Bellamy PDV
- Ah, meu amor... – Parei quando notei que minha voz estava saindo afeminada. Dei
uma tossidinha básica e continuei com voz grossa. - Whisky. – Soquei a mesa, feito
macho, mas a voz afinou a seguir, quando senti o punho machucado. - E muito gelo.
- Sim, senhor.
- Senhor, aqui está sua bebida. – O garçom disse, colocando o copo sobe a mesa.
Sem tirar os olhos das minhas vítimas, dei um gole sinistro no whisky e me engasguei
logo em seguida, cuspindo quase tudo no pobre rapazinho. Definitivamente, aquilo era
bebida de macho, queimava mais que fogo.
- Tira isso daqui, antes que eu morra, pelo amor de Deus! – Quase gritei. - Me trás um
drink de morango com vários guarda-chuvinhas pendurados. – Fui logo dispensando o
bofe para não perder nenhum momento da conversa dos dois a minha frente.
- Gata, você me deixa sem eira nem beira. – Anya cantou a chucrute que riu feito uma
hiena.
Nesse momento, um homem com seus 30 anos, alto e parrudão entrou marchando no
restaurante.
Não aguentei.
- HU!.... OHOHOHOHOHOHOHOH.
- Sim, Anya Woods, sua vagabunda. Vai negar que temos um filho e que somos
casados? – Gente, o homem que eu contratei era um espetáculo e um bofe escândalo.
Contente que nem um viado queimando a rosca, fiquei assistindo o show, chupando o
canudinho do meu drink que acabara de chegar.
- Deveria ter vergonha na cara, vai cuidar do seu filho, irresponsável! Nunca mais me
procure! – A chucrute, se achando gente, saiu do restaurante quase correndo.
- VOCÊ! – Berrou a bonequinha, vendo-me passar mal. - Foi você que armou tudo isso,
não é, seu viado sem vergonha?
Clarke PDV
A porta abriu-se sozinha. Rapidamente, entrei, fechando-a atrás de mim, pois não queria
ser vista ali por ninguém. Fiquei parada, observando a escuridão. Tentei tatear algo, mas
foi inútil.
- Lexa? – Sussurrei.
Foi aí que vi a chama de uma vela iluminar parcialmente o quarto. Quando a Woods
acendeu a outra, consegui ver mais nitidamente ela e o ambiente à minha volta.
Minha namorada sorria absolutamente perfeita em uma saia caqui com alguns detalhes
em preto, uma blusa de botões branca e um salto. Usava uma maquiagem que realçava
o verde dos seus olhos. Foi preciso muito esforço para tirar meus olhos dela e fitar o
chão, que estava todo coberto com pétalas de rosas vermelhas, idênticas as que recebi
pela manhã. As velas eram sustentadas por um castiçal dourado, bem posicionado em
- Foi você quem comprou esse vestido? – Pude notar que ela prendia o riso.
Ri pra não chorar, não acreditando que a maldita bicha tinha me convencido a usar
aquilo.
Nota mental: Esganar Bellamy até ele virar hétero! O que pode nunca acontecer.
Lexa passou os dedos em minhas costas, próximo ao zíper. Tive duas reações
instantâneas. Primeiro, minha pele arrepiou-se; segundo, meu estômago embrulhou. O
que ela estava querendo?
Boa, Clarke, se superou! Saiu com um vestido de oncinha e nem sequer tirou a etiqueta.
Cara, será que estou sendo contaminada pela burrice de Anya?
- Pode! – Mordi o polegar, e, no mesmo momento, ela entendeu que queria beijá-la.
- De todos os sinais que inventamos, esse de morder o polegar é o que eu mais gosto. –
Minha Woods me puxou para si.
- O que temos para o jantar, Sra. Perry? – Brinquei antes de morder-lhe o lábio.
- Advinha.
- Meu Deus, LEXAZINHA, você é obcecada por frango! Tenho até medo! –
Gargalhamos.
O jantar foi incrível. Para minha surpresa, minha namorada se comportou muito bem,
juro que não sabia que ela era tão educada. Me serviu em tudo e até me deixou ficar
com o último chocolate da sobremesa.
- Essa eu quero saber. Primeiro beijo, quando, onde e com quem? – Interessadíssima,
interroguei.
- Acho que eu tinha uns 13 anos, estava no colégio. Nem me lembro o nome da garota.
Mas sei que ela odiou, pois nunca mais falou comigo. Nessa época já desconfiava que
gostava de garotas. – Riu, se acomodando melhor na cama.
- Eu já fui uma nerd tímida, Clarke. Nenhum garoto ou garota chegava perto de mim no
colégio. Anya até hoje me sacaneia por causa disso.
- Não brinca!
- Sério! Mas aos 17 anos mudei e, aos poucos, me transformei na gostosona que hoje
conhece. – A babaca piscou o olho.
Dei-lhe um tapa atrás da cabeça para que ela controlasse o próprio ego. Um barulho
vindo do banheiro me fez sobressaltar.
- Deveríamos deixá-lo na cozinha do hotel. Quem sabe ele não vira um delicioso leitão?
– Não achei uma má ideia.
- Eu o que?
- Eu não sei... Já foram tantos que nem me lembro! – Gargalhei, bebendo um gole de
champanhe.
- Mas você não colabora nem hoje, hein? Que garota difícil! Vai lá, eu quero ouvir que
eu fui a sua primeira.
- Por que?
Fechei.
A senti erguer um pouco meu braço direito, minha mão ficou apoiada em seu ombro.
Sorria ao tentar imaginar o que a maluca estava fazendo. Dava pra perceber algo em
volta do meu pulso, isso atiçou minha curiosidade.
Os abri lentamente, bestifiquei ao ver a pulseira prateada em meu pulso, mas o que me
chocou mesmo foi o pequeno pingente em forma de frango.
- Um dia vai entender! – Minha Woods beijou a palma da minha mão e acabei
suspirando sem querer.
Alcancei a bolsa de tigresa que Bellamy havia escolhido para combinar com o vestido.
E de lá, tirei uma caixinha quadrada menor que um palmo.
- Feliz dia dos namorados! – Pronunciei a frase estranha pela primeira vez na vida,
estendendo o presente.
- Sim, não é legal? É para você passar no rosto e ficar mais parecida com um guaxinim.
– Sorri amarelo, passando as mãos no seu rosto.
- Tudo bem! Eu confesso! – Coloquei as mãos no rosto. - Passei o dia procurando algo
pra te dar, mas não achei nada que fosse a sua cara. Só essa tinta aí. Foi mal, eu não sou
boa nisso, nunca comemorei essa data. – Realmente estava com a cara no chão. Parecia
uma boa ideia dar a ela a tinta, mas depois que vi a pulseira, me senti a pior namorada
do mundo.
- O que você quer? Me pede, qualquer coisa eu compro amanhã, sério! Eu acho o que
você quiser, daí eu embrulho e você finge surpresa. – Nervosa pedi.
Lexa juntou seu corpo ao meu. Seus lábios quentes fizeram um percurso delicioso do
meu pescoço até a orelha, então, sussurrou:
- Eu quero você!
Minha respiração parou de fluir ao som daquelas palavras. As mãos dela percorriam
minhas costas, mãos ansiosas e firmes.
Ofegante, me encarou ao passar a mão pela minha coxa. Totalmente seduzida, gemi
baixinho. Algo explodiu dentro de mim, eu não sabia se era a vontade de tê-la, ou o
medo de perdê-la. Trocamos outro beijo selvagem, então, rolamos na cama. Tentei abrir
os botões da camisa da Woods, mas não tive sucesso por estar trêmula.
Desistindo, me ergui, ficando sentada em cima dela com uma perna em cada lado do seu
corpo. Timidamente, coloquei as mãos para trás, na tentativa de achar o zíper do
vestido.
Lexa limitou-se a acariciar minhas pernas, enquanto fitava-me com os olhos brilhantes e
mordia o lábio inferir à espera de que eu me despisse. Já estava pronta para fazer tal
coisa, quando...
Assustada, tentei sair da cama rápido, perdi o equilíbrio e fui ao chão com tudo.
Anya PDV
Estendi os braços em direção ao pescoço do maricas, mas, para o meu azar, a porta do
quarto abriu-se e ele adentrou, gritando:
- GUAXINIM, ME SALVAAAAAAAAA!
- NUM SALVA PORRA NENHUMA! – Berrei antes do meu queixo cair. - O que é
isso? – Perguntei de olhos arregalados, já dentro do cômodo.
- Er... Isso que você está vendo! - Minha irmã Zé Ruela respondeu, coçando a cabeça.
Toicinho estava sentado em cima da mesa, curtindo um jantar à luz de velas. As pétalas
de rosas no chão e o clima romântico me fizeram perceber que minha irmã era uma
doente mental que curtia animais! Oh, meu Deus, era demais para mim!
Lexa PDV
Não consegui deixar de rir da cena embaraçosa. Clarke provavelmente estava tendo uma
crise de riso, escondida embaixo da cama.
- Deixa eu explicar,... – Tentei contornar a situação - ... Bem,... Eu,... Eu estava aqui
sozinha com o Toicinho e... Percebi que passávamos pela mesma tristeza: o dia dos
namorados mais solitário de nossas vidas. Então,.... Resolvemos.... Pedir um jantar...
Meio que,... Que no clima da ocasião. Só para quebrar a rotina e sair da depressão. Não
é nada do que você pensou, Anya. – Ao olhar a cara de espanto dos dois anormais, que
ainda esperavam que eu dissesse alguma coisa, temi que eles não engolissem o conto da
carochinha, mas logo fui confortado pelo comentário de Bellamy:
- Ai, amiga! Por que não me chamou? Eu estava tão,... BUÀ! – Olhou para Anya. - ...
Solitária. – Ele fez um beicinho horrível e minha irmã fez cara feia.
- Afinal, por que o escândalo? – Fiquei chateada ao me lembrar que Clarke quase fez
amor comigo.
- Não vai furar ninguém, cara, larga isso. – Intervi contrariada, pondo-me à frente dela.
Odiava ficar me metendo nas briguinhas de amor dos dois.
- Não sabe o que esse sem pregas me fez passar! – Anya estava hilária. Parecia uma
menininha chorona. - Acabou com minhas chances de dar uma pimbada. Joga ele
escada abaixo, pode jogar que eu ainda piso em cima!
Um súbito ódio percorreu meu corpo. Bellamy tinha o dom de matar qualquer um de
raiva! Juro que tive vontade de fazê-lo em pedacinhos!
- Você o pega pelo braço direito que eu pego pelo esquerdo! – Murmurei pelo canto da
boca para Anya, que logo moveu-se. Já nossa vítima, pôs a mão no peito, horrorizado.
Clarke PDV
Coloquei a cabeça para fora do meu esconderijo e, como não avistei as garotas, saí
cuidadosamente de debaixo da cama, enquanto ouvia o pavão gasguito se esgoelar. Na
ponta dos pés, me aproximei da varanda. Ao ver a cena diante de mim, bestifiquei.
- FICARAM LOUCAS? SOLTEM ELE! – Gritei assustada para Lexa e Anya, que
gargalhavam.
- Para com isso! Ele pode cair! – Não conseguia disfarçar o meu medo.
- A bichona vai virar chiclete, a bichona vai virar chiclete... – Cantarolou a bisonhenta,
balançando o corpo do infeliz no ar. O pavão até chacoalhou os braços.
Lexa PDV
- Suas brutas, quase me fizeram sujar a calcinha. – Indignado o empata f*** ajeitou-se.
- Merda! – Minha irmã chutou o ar. - Aliás, o que está fazendo aqui?
Clarke empalideceu.
- Ah... – Ela olhou em volta, procurando uma desculpa, então, sussurrou. - Os gritos me
trouxeram até aqui. – Sorriu amarelo. - Além disso, a porta estava escancarada.
Cerca de quarenta minutos depois, estava com Bellamy em uma mesa no bar do hotel.
Foi mais fácil do que imaginei driblar Anya e os demais, pois ninguém poderia saber da
conversa que estávamos prestes a ter.
Quando minha cerveja e o drink cheio de frescurinha dela foram postos à mesa, iniciei
minha tentativa de silenciá-lo.
- Você sabe por que te chamei aqui, não é? – Séria, dei um gole na bebida.
- Claro! Você quer se dar bem nessa data especial. HU!... OHOHOHOHOHOH!
- Bem... Antes não era tanto, mas depois que você empurrou a morena Sebosa pela
escada, se entregou geral.
- Na sua situação? Obviamente! A propósito, até teria esperado subir mais alguns
degraus, só para a queda ser maior. Morte as rachadas sem semancol!
- Mas eu não estou aqui por causa disso. – Respirei fundo, antes de continuar. - Quero te
pedir, bem... Que não conte para ninguém... O meu segredo. Não até eu estar preparada
para revelá-lo.
- Tudo bem, eu não conto, mas,... Até quando acha que vai conseguir esconder?
Querida, você precisa se soltar. – Estalou o dedo, desmunhecando perigosamente.
- Não é o momento, ainda estou muito confusa. – Passei as mãos pela cabeça. - Estou
me acostumando com a ideia, apesar de gostar muito, é algo totalmente novo pra mim,
nunca me senti assim antes. É louco e surreal, mas também arriscado, como se pudesse
acabar a qualquer momento. – Desabafei, sem me importar com os olhares estranhos do
encrenqueiro.
- Eu sei exatamente como é. Já passei por isso! - Bellamy colocou as mãos no queixo e
sorriu, achando-se um especialista.
Sentia uma leve impressão de que não estávamos falando sobre o mesmo assunto.
Ignorei, focando o propósito de garantir o silêncio do indivíduo.
- Pode deixar, eu sei que é difícil assumir que gosta de homens e não de mulheres para
sua família. Eu entendo, é difícil resistir aos charmes dos bofes escândalos. Minha boca
é um túmulo!
Clarke PDV
Acordei tarde, por isso, tomei café da manhã apenas com Octávia. Confesso que não
consegui prestar a mínima atenção nas coisas que ela tagarelou. Estava preocupada com
o fato de Bellamy ter descoberto meu namoro secreto com a Woods. Aquilo poderia me
acarretar inúmeras dores de cabeça. Perdida em pensamentos, fui para a área de lazer do
Holiday Inn. À metros de distância, avistei Raven em sua cadeira de rodas com Lexa ao
seu lado, escrevendo algo no gesso colocado na perna dela. Pareciam alegres, já que
gargalhavam como bobas. Puxei do bolso meus óculos escuros e marchei até lá, me
remoendo de curiosidade.
- Olha isso, Lexa fez uma caricatura de toda a família. – Ela apontou para a perna
quebrada.
Com o dedo esquerdo, puxei um pouco os óculos, olhando de forma esnobe o desenho.
Em seguida, encarei a Woods, que estava abaixada como uma cachorrinha, junto à
minha irmã.
- Aquela sou eu? – Ergui uma sobrancelha, observando a figura de uma menina gritando
com as mãos para cima, toda descabelada.
Estalei o dedo mindinho, sinalizando minha vontade de chutá-la. A otária apenas deu
uma piscadinha de olho. Percebi ali mesmo que meu dia ia ser conturbado.
- Como você se sente, Rae? – Nem sei porque perguntei, ela me parecia melhor que eu.
- Não sinto dor, mas é incômodo ficar andando de um lado para outro de muleta, por
isso, ficarei nessa cadeira de rodas por uns dias. Lexa concordou em me ajudar. –
Passou a mão nos cabelos da minha namorada, divertindo-se. - Ela praticamente será a
piloto. – Ironizou.
- Nada, saí só pra beber uma cerveja. Não viu quando eu cheguei no quarto?
- Não, papai me entupiu de remédio pra dor, então, apaguei completamente. O que é
uma pena, porque só hoje pude presentear Lexa. – Ela a cutucou. - Mostra pra ela o
relógio, meu bem.
Dessa vez, eu arranquei os óculos escuros do rosto, embasbacada. Sem me fitar, a futura
ex-namorada ergueu o punho, exibindo o presente sofisticado.
- Ah, vocês estão namorando então? – Fuzilei ambas com meu olhar.
- Só achei que minha piloto merecia um pequeno presente, afinal, todos os solteiros
ficam deprimidos no dia dos namorados. É só uma pequena lembrança. – Ela acariciou
o braço dela.
Não entendi o sentimento que ameaçava explodir dentro de mim, um misto de raiva,
tristeza, possessão e dor.
A Woods passou o dedo indicador na sobrancelha, sinalizando que queria falar comigo.
Chateada, cocei o cotovelo fortemente, sabendo que ela entenderia que isso significava
NÃO.
- Está com coceira, Clarke? Cuidado que isso pode se espalhar pelo corpo. – A bobona
falou.
- Lexa, me leva pra dentro. Quero tomar banho. – Pois não é que a imbecil se
posicionou para obedecer? - Aliás, vou precisar de ajuda nisso. – Completou
gargalhando.
- Não, deixa que eu te ajudo a tomar banho! – Sem pensar, peguei a cadeira de rodas e,
com toda minha força, empurrei para dentro da piscina.
- Clarke, estou falando com você! – Ela estava agindo como meu pai. A infeliz puxou o
travesseiro de minhas mãos, obrigando-me a enfrentá-la.
- Quer saber qual o meu problema? – Levantei-me ranzinza, ficando a centímetros dela.
- Meu problema é você e a sebosa! Gostou de ouvir?
- Já percebi que resolve seus problemas jogando as pessoas na piscina. Não deveria ter
feito aquilo, foi idiotice! – Respondeu irritadíssima.
- Essas palavras vindo de quem empurrou ela escada abaixo, chega a ser irônico. –
Coloquei as mãos na cintura, aumentando o tom de voz.
- É completamente diferente, foi um acidente. Não sou como você, que quer resolver
tudo na base da violência e grito. O mundo não é o seu playground!
- Eu não precisaria agir com violência se você não ficasse... Ficasse... De rolo com
minha irmã.
- Não estou de rolo com Rae, só estou ajudando-a a se locomover por uns dias. Não é
nada demais! – Respondeu rude.
- O que você queria que eu fizesse? Que contasse pra ela que não posso aceitar por ser
sua namorada? Se quiser, conto agora! Raven e eu somos apenas amigas, não precisa ter
ciúmes.
- É isso que você acha que sou? Infantil? – Engoli em seco. - Tenho quase 18 anos, e
você tem 21! Grande coisa! Não é mais madura que eu. – Nervosa, já não queria fitá-la.
- Não é isso que estou dizendo! – Ela passou as mãos na cabeça brava.
- Quer saber? Não sei porque estou tendo essa conversa com você, é burra demais pra
entender! Pode ir correndo ficar com a Sebosa, ela deve estar precisando da piloto
dela,... LEXAZINHA! – Provoquei cheia de dor no peito.
- Espera, fica aqui no quarto, eu vou chamá-la. Assim, terão mais privacidade! – Falei,
já pegando na maçaneta da porta.
Lexa PDV
Coloquei as mãos no rosto, não crendo que havíamos brigado por algo tão bobo e
superficial. Me perguntei o porquê da desconfiança dela. Griffin não percebia que eu era
completamente louca por ela?
Tudo bem que Raven era direta e sempre lutava pelo que queria, mas ela não
conseguiria nada de mim, além de amizade. Passei bastante tempo próxima à garota no
início da viagem, trocamos flertes e alguns beijos. Isso gerou uma certa intimidade entre
nós, intimidade da qual Clarke parecia não querer entender e muito menos, aceitar.
Porém, eu sabia que precisava acabar com as esperanças de Rae a meu respeito, só não
sabia como fazer isso, já que meu leãozinho resmungão nunca aceitaria que eu revelasse
a verdade para a irmã.
Queria a pirralha em meus braços sem obstáculos, sem preocupações. Mas, como ter
isso, sem sorte e sem ajuda?
Clarke PDV
Bati a cabeça na parede, achando-me tola. Sabia que discutir com minha Woods não
resolveria nada. O problema é que eu não sabia como explicar a ela que minhas atitudes
infantis eram reflexos do medo de perdê-la. Lexa e eu nunca fomos compatíveis, ela
parecia uma atriz das séries de TV, enquanto eu era uma louca qualquer sem nenhuma
beleza extraordinária. Quando nos beijávamos, nada disso importava, éramos apenas eu
e ela, não existia mundo à nossa volta. Porém, quando via Raven, absolutamente linda,
tentar envolvê-la em sua sedução, meu coração apertava-se, lembrando-me que a
qualquer momento, ela podia olhar pra mim e dizer: você não vale a pena.
Mesmo assim, era melhor ficar com ela insegura, do que sem ela.
Quase gritei para mim mesma. Poderia eu ganhar uma batalha contra as dificuldades do
nosso relacionamento? Contra a possibilidade de, no final do verão, nos separar
definitivamente? Poderia minha beleza comum ofuscar a perfeição de minha irmã?
- Clarke...
Fechei a porta com o pé e, então, fui ao encontro de Lexa que me alcançou primeiro.
Nossos corpos chocaram-se, mas a dor física não me incomodou, nem mesmo as roupas
úmidas dela. A única coisa que me incomodava, eram nossas bocas distantes.
Agarrei firmemente seus cabelos, enquanto ela abraçava-me com extrema força. No
momento que nossos lábios tocaram-se, a sensação de dor, frustração, desespero,
incerteza e insegurança, simplesmente desapareceram, dando lugar a um êxtase
inigualável. A ira que ambas sentimos durante a discussão minutos atrás, não
comparava-se a fúria do beijo que partilhávamos. As mãos da mulher que tira o meu
fôlego, percorria toda a extensão do meu corpo como se fossem sua propriedade. O
mesmo acontecia comigo, a tateava por inteiro para sentir que ela estava ali comigo, que
não era uma miragem, ou delírio do meu coração sofrido. Tentávamos respirar em meio
ao beijo, não querendo nunca desgrudar os lábios. Gemidos entrecortados eram apenas
pano de fundo para a dança sensual de nossas línguas.
- Eu... Também... Não! – Riu, acariciando minhas costas por dentro da blusa. Minha
pele reagiu, reconhecendo o toque único dela.
Lexa encostou-me contra a parede, pressionando seu corpo encharcado contra o meu.
Eu não consegui parar de beijá-la, delirava com o sabor delicioso de sua boca, então...
- NÃO ENTRE! EU JÁ ABRO! – Gritei nervosa. - Rápido, vai pro banheiro! – Ordenei.
Pálida, impedi, a empurrando até o banheiro. A sem noção não estava se importando
com o perigo.
Passei as mãos no cabelo e no rosto rapidamente. Então, abri a porta, sem jeito.
- Qual a parada?
A mosca morta puxou uma cadeira e sentou-se à minha frente, de costas para o
banheiro, o que aliviou um pouco o medo de ser flagrada ali com Lexa.
- Fala logo, eu não tenho o dia todo! – Confesso, estava muito curiosa.
- Ok, eu vou pular todo o blá, blá, blá e ir direto ao ponto, já que você não é uma garota
paciente.
- Acho bom.
- Não. Sabe, eu já fui da sua idade, entendo as coisas pelas quais está passando. É uma
fase mesmo conturbada, cheia de novidades e dúvidas. Precisa ser uma moça bem
informada e preparada. – Disse ela, tranquilamente.
Eu ia mandá-la dar o fora do quarto, mas não conseguia abrir a boca, devido o meu
espanto.
- Não precisa ter vergonha ou medo de se abrir comigo, não vou te julgar. Estou aqui
pra tirar suas dúvidas e te deixar por dentro do assunto, confie em mim. – Ela pôs uma
mão no meu joelho.
- Eu... Eu... – Ia soltar os cachorros em cima dela por tentar bancar a mãezinha pra cima
de mim, mas fui distraída pela visão de Lexa sem camisa, só de sutiã, encostada na
porta do banheiro, enxugando-se com uma toalha.
Disfarçadamente, sinalizei para ela voltar a se esconder, mas a babaca fingiu não
entender.
- Deve ter alguma dúvida, todo mundo tem. Tudo bem, vamos tentar de outra forma.
Está envolvida com um rapaz, certo?
- Vamos fingir que está, a questão é que nem sempre se deve ceder as vontades dos
garotos. Eles são impulsivos, muitos deles banalizam o sexo, agindo como se fosse só
diversão.
- Não brinca... – Prendi o riso, enquanto via minha namorada fazer uma careta hilária.
- Sim, homens conseguem ser bem estúpidos e cafajestes. Porém, existem algumas
exceções e são a esses que vale a pena se entregar. Está me entendendo?
- Ér... Está dizendo que... Não devo... Transar com um idiota? – Enruguei a testa.
- Exatamente! Viu só? Estamos chegando a algum lugar. – A mosca não tão morta
animou-se. - Você é virgem?
- Ótimo, porque assim posso te aconselhar antes que decida mudar esse fato.
- Claro. Escuta, sua maior preocupação deve ser a segurança, se recuse a ter qualquer
tipo de relação sem preservativo, deve ditar as regras. Sempre falei isso pros meus
filhos.
- Eles ficaram tão constrangidos quanto você está agora. Com exceção de Anya, que fez
umas perguntas descabidas, as quais deixaram Lexa e Lincoln corados.
- Que ela nunca me escute falando isso, mas minha filha era uma bobona quando
adolescente! Ela realmente acreditava que as cegonhas traziam os bebês!
- Mas desde quando ela me contou que era lésbica, então minha preocupação com
proteção e gravidez indesejada diminuíram.
Daria tudo pra ver a expressão de vergonha da minha namorada. Infelizmente, ela
cobriu o rosto com a toalha.
Minha sogra... DROGA! Quero dizer, Abby e eu levantamos ao mesmo tempo, ao som
das batidas na porta. Minha Woods voltou a se esconder no banheiro, então, falei tensa.
- Pode entrar.
- Oi. – Meu pai entrou tímido. - Não consegui ficar esperando, precisava saber como
está inda a conversa. – Ele dirigiu a palavra apenas à nojenta ao meu lado.
- Quer conversar sobre sexo comigo, Clarke? – Perguntou Kane, destampando uma
garrafa pequena de água, sem conseguir me encarar.
- NÃO! – Gritei. Pior que ter aquela conversa com minha sogra... MERDA! Quis dizer,
com a mosca morta, era tê-la com meu pai. - Não precisa, eu já sei de tudo. – Tentei
encerrar o assunto.
- Xi... Há muitoooo tempo! – Banalizei sincera. Lógico que eu já tinha aprendido sobre
sexo no colégio.- Você está atrasado alguns anos.
O resto da manhã foi tranquilo. Todos nós visitamos alguns pontos turísticos de Veneza,
e, logo após o almoço, voltamos para o hotel, no intuito de descansar.
Lexa e eu trocamos várias mensagens de texto, a maioria delas eram sobre nossa
vontade reprimida de ficar juntas. Já passavam das 15:00hs quando Octávia invadiu
meu quarto, melancólica.
- O que foi, mulher, porque essa cara de enterro? – Perguntou Rae, deitada em sua
cama. Ela ainda estava chateada pelo incidente na piscina, nem sequer me dirigia a
palavra.
- Fofolete, se veio aqui só para receber elogios, pode dar o fora. – Zombei.
- Qual o problema, por que a tristeza? – Minha irmã estava mais interessada que eu.
- Lincoln não me quer! – A exagerada jogou-se na minha cama. - Sempre que estamos
perto de consumar nosso amor, o moreno foge. É frustrante.
- Talvez ele tenha medo de pegar alguma bactéria no... – Parei de falar quando minha
prima me fuzilou com os olhos.
- Mais do que já tomei? Eu não sei o que fazer. – Octávia resmungou, fazendo beicinho.
- Eu no seu lugar, armava o cerco e devorava a presa. – Não estava surpresa com a frase
de Rae, era bem a cara dela.
- Tem certeza? Porque eu já tenho um plano! – Enruguei a testa, com medo de ouvir o
plano nada sutil da minha irmã safada.
Lexa PDV
- Olha isso, Kama sutra! – Linc jogou o livro em cima da minha cama tristonho.
- Até quando você vai conseguir enrolar essa situação, cara? – Sério, eu estava com
pena do pobre coitado. Octávia devia atacá-lo constantemente.
- Mano, você já está virando piada. Acaba logo com isso. – Incentivei.
Linc e eu a encaramos.
- Está desesperado o suficiente pra ouvir a ideia dela? – Questionei o virgem ao meu
lado.
Horas depois...
Lincoln PDV
Andei nervoso de um lado para o outro no quarto das minhas irmãs. As velas aromáticas
davam ao ambiente um clima sexy e romântico. Sentindo-me pressionado e mergulhado
em desespero, aceitei a ideia de Anya de surpreender minha pequena, convidando-a para
uma noite de amor. Sugeri que decorássemos o meu quarto e não o delas, mas as
malucas afirmaram que Octávia desconfiaria do plano, acabando com a surpresa e
deixando-me ainda mais nervoso. Ri sem humor, me perguntando se eu poderia existir
nervosismo maior que o meu.
- Calma, cara, fiz como combinado. Deixei o cartão junto com a rosa em cima do criado
mudo. Ela vai vir, não preocupe-se.
- Ei! – Resmunguei.
Anya PDV
Avistei Clarke enchendo o bucho de bolo na cafeteria do hotel. Corri até lá, levando em
meus braços, o Toicinho, que estava em um cestinho disfarçado de bebê, para evitar que
a gerência do Holiday Inn barrasse a livre circulação dele. Sentei-me ao lado da Loira
do Banheiro, sem cerimônias.
- Vai entrar na aposta? – Retirei do bolso uma caneta e a caderneta onde estava o nome
dos participantes.
- Anya...
Ouvi os murmúrios chocados dos clientes, mas ignorei. Já Clarke, escondeu o rosto
atrás do cardápio.
- Todo mundo. Passei a tarde investindo nisso, até os funcionários do hotel estão dentro.
Então, quanto vai apostar?
- 50 Euros que ele vai amarelar na hora H. – Sussurrou ela, passando-me a nota por
debaixo da mesa.
Octávia PDV
Minhas primas e eu passamos a tarde decorando, escondidas, o quarto delas, para uma
noite perfeita de amor. Flores, champanhe, velas, nada faltou. Coloquei todo o meu
romantismo e esperanças naquele quarto, torcendo para, finalmente, me sentir completa
ao lado do meu Lincoln. Animada, peguei o telefone e enviei uma mensagem de texto
avisando-o onde me encontrar. Assim, ele seria totalmente pego de surpresa.
15 minutos depois...
Lexa PDV
Após empurrar a cadeira de rodas da Rae até o salão de beleza no primeiro andar, fui em
direção ao quarto da minha pirralha. Queria surpreendê-la lá e, lógico, dar uns amassos.
Sem bater, adentrei o local, torcendo para encontrá-la em uma situação constrangedora,
só para lhe zoar. Minhas esperanças foram por água abaixo quando vi ela deitada na
cama, enrolada dos pés a cabeça, provavelmente, tirando um cochilo. Que hora minha
Woods resolveu cair no sono!
Encostei a porta devagar e fui em direção às muitas velas espalhadas pelo cômodo.
Ela não via os noticiários? Não sabia dos muitos casos de incêndios trágicos que
começaram com uma simples vela acesa?
Confesso que o escurinho me inspirou. Na ponta dos pés, me aproximei da cama onde
minha namorada estava. Devagarzinho, levantei o edredom e me meti debaixo dele.
Lexa PDV
Tive vontade de gargalhar, imaginando se o papo sobre sexo mais cedo tinha inspirado
meu leãozinho. Só eu sabia como a queria e, notar que ela estava tomando a iniciativa
de se entregar pra mim, acendeu meu fogo mais do que qualquer outra coisa.
- Ouvi você entrar... Está preparado para mim? – A voz de Clarke veio de dentro do
banheiro, o timbre estava estranho, mas devia estar tentando soar sexy.
Octávia PDV
Não acreditava que meu moreno estava realmente ali. Dei um pulinho, contente, ajeitei
o decote da camisola e saí do banheiro, pronta para seduzi-lo.
EU QUERO MORRER!!!!!
Lexa PDV
Clarke PDV
Levantei a barra da camisa de LEXAZINHA e fui subindo a mão pela sua cintura,
enquanto ela continuava de costas para mim. A pela quente dela me deixou
entusiasmada.
Lexa virou-se para mim, não via, mas sentia sua mão tocar o meu rosto, deslizando até o
braço. O estranho é que minha pele não queimou de paixão. Sinceramente, não entendi.
Pois, bastava a ponta do dedo dela tocar meu corpo para me fazer entrar em combustão.
Verifiquei mais uma vez só para ter certeza de que não estava imaginando coisas.
Arregalei os olhos assustada.
A porta abriu-se abruptamente e a luz do corredor iluminou o quarto. Então, pude ver o
suposto maconheiro em cima de mim, com cara de espanto.
- O que está fazendo, Lincoln? – Reconheci a voz de Octávia, mas não tive coragem de
encará-la, preferi esconder-me embaixo do edredom.
- O QUE FOI? O QUE FOI? – Revirei os olhos vendo Anya chegar, largando o porco
vestido de bebê no chão.
- Estava tentando fazer uma surpresa pra você, minha pequena, queria... Te dar uma
noite... Especial, até decoramos o quarto. Nervoso me deitei ali... – Apontou ele para a
cama onde eu ainda estava. - ... Pra me acalmar e acabei cochilando. Foi um mal
entendido. Agarrei Clarke achando que era você.
- Oh, Linc, eu fiz o mesmo, meu amor... Ou quase. – Ela o abraçou e quase vomitei
devido o excesso de doçura.
- Como assim?
- A propósito, Clarke, o que você está fazendo no quarto das meninas? Quem você
pensou que estava agarrando? – Fofolete me lançou um olhar de cobrança.
Engoli em seco, enquanto todos me encaravam, aguardando a resposta. Ri, sem graça.
- Ela é o seu negão parrudo? Sua mocréia falsa, eu vou dar é na sua cara! Vou te quebrar
todinha, catiroba azeda! – A bicha veio pra cima de mim, enlouquecida.
- Desiste, voador, você não consegue mesmo. Até o Toicinho apostou que tu não dá
uma pimbada! – Anya alisou o animal imundo.
- Ele não dá mesmo, passa minha grana pra cá! – Pedi, estendendo a mão em direção à
bisonhenta.
- Tudo bem, Lincoln, não dê bola para esses aí. - Octávia, calma, tentou contornar a
situação, mas o suposto maconheiro estava vermelho de raiva.
- CHEGA! – O cara estava zangado. - Não vou mais ser motivo de piada e nem de
aposta. Vão se ferrar! – Terminou, apontando o dedo para nós.
Ele arrastou minha prima para meu quarto. Ficamos todos observando o doidão bater a
porta com força.
Octávia PDV
Quando meu moreno bateu a porta do quarto, estremeci. Ele estava fora de controle.
Joguei o lençol que me cobria para longe, exibindo a camisola sexy. Ele fez uma
expressão que jamais vi antes, um misto de espanto e emoção.
- Cai dentro! Cai dentro! – Deu uns pulinhos como se fosse entrar em uma briga.
- Ok, agora eu vou tirar as calças. – Alguém avisa a ele que não precisa narrar!
O nervosinho caminhou até mim, baixando as calças. Quando elas chegaram na altura
do joelho, se tornaram um obstáculo para continuar andando e meu namorado foi ao
chão, bruscamente.
Ia me mover para ajudá-lo, mas levantou-se rapidamente, corado e fingindo que nada
tinha acontecido.
- É só puxar. – Intervi.
Para minha surpresa, ele puxou, mas não o fecho e sim, o sutiã inteiro. Quando soltou, o
elástico veio com tudo contra minhas costas.
Anya PDV
Estávamos todos sentados no chão do corredor, olhando fixamente para o quarto onde
meu irmão voador e sua namorada divertiam-se, no maior enrosca-enrosca.
- Epa! Ninguém vai invadir! – Abri os braços, me pondo na frente da porta. - Preciso
garantir os investimentos!
Lincoln PDV
- Não fique assim, está dando muito importância para o que os outros pensam. Não
vamos fazer nada hoje, ok? - Octávia baixou-se para pegar a camisola.
Como que do nada, um calor invadiu meu corpo, como nunca antes. Meu coração
acelerado ameaçou explodir diante da cena sensual.
Sem que ela percebesse, me aproximei abraçando-a por trás. Beijei-lhe a nuca, sedento
por suas carícias.
A girei para que ficasse de frente pra mim. O sorriso meigo que escapou de seus lábios
rosados fez o meu corpo parar de tremer. Acariciei o seu rosto de porcelana,
gentilmente, tendo o prazer de vê-la fechar os olhos, serena.
Sem esperar uma resposta, passei o sutiã dela pela cabeça, deixando-a quase nua. Sorri,
vitorioso, ao colocá-la sobre a cama.
- Não precisamos fazer isso agora. – Falou minha amada, em um fio de voz.
- Tarde demais pra você desistir, Octávia. Eu te quero aqui e agora, meu amor. –
Sussurrei.
Nossas bocas encontraram-se. O beijo a seguir foi libertador. Naquele momento, nada
importava, nem as críticas, brincadeiras, medo ou timidez. Éramos apenas dois amantes
desejosos, prontos para nos entregar a um amor que construíamos com delicadeza.
Clarke PDV
- Pelo amor de Deus, estamos aqui a quatro horas! – Minha reclamação chamou a
atenção de todos. - Eles não fizeram nada, estão é dormindo.
- Nada disso, tem que pagar a quem apostou que eles não conseguiriam! Cadê minha
grana? – Levantei-me abruptamente. Isso fez o pavão cair com a cara no chão.
- Calma, gente, vamos esperar mais um pouco. – Era óbvio que a bisonhenta estava
querendo passar a perna em todo mundo.
- Devolve nossa grana, isso tudo está me cheirando a armação. – Disse um segurança
parrudo.
- Não vou devolver nada! - Anya falou encarando, mas quando ouviu o estalo do punho
dos rapazes, escondeu-se covardemente atrás da minha namorada.
- Deixa comigo! – Puxei o dinheiro das mãos da bisonha, enquanto passava por ela. -
Quanto a meliante deve a vocês? – Perguntei, contando as notas.
Infelizmente, eles começaram a tagarelar ao mesmo tempo. Não consegui entender uma
palavra.
- Vão limpar a bunda com esse dinheiro! – Óbvio que a asneira saiu da boca de Anya.
Lexa a encarou com os olhos arregalados. Assim como eu, ela devia achar que a animal
estava querendo perder a vida nas mãos dos apostadores.
Foi nesse exato momento que a porta do quarto abriu-se e Lincoln, de roupão, apareceu.
O silêncio tomou conta do local. Em expectativa, o encaramos.
Olhei para minha mão vazia e em seguida, pros italianos nada contentes, que dobravam
as mangas das camisas, prontos pra nos dar uma surra.
Os homens atrás de nós, esbravejavam coisas que não entendíamos. Pela entoação, só
podiam ser xingamentos.
Lexa foi a última a entrar e, ela mesmo, apertou o botão para que descêssemos.
Escapamos por pouco. A maníaca assassina aproximou-se da irmã, colocou uma mão
em seu ombro e disse...
- Ufa! Quase viramos espaguete de italiano. E agora, mana? O que você vai fazer pra
nos tirar dessa?
Precisei tapar a boca pra não rir da cara assassina que Lexa fez, tremendo o olho
esquerdo.
- Eu aposto toda a minha fortuna que aqueles bofes vão estar nos esperando lá embaixo.
- Bellamy jogou-se nos braços de sua bonequinha e foi prontamente jogado longe. -
Isso! Me joga na parede e me chama de lagartixa!
- Opa, ouvi a palavra fortuna? Acho que não me apresentei. – Olhamos todos para o
negão de olhos esbugalhados no fundo do elevador, que ajeitava o terno. - Sou Toddy,
toma aqui o meu cartão.
***
Não eram nem 09:00hs quando minha prima adentrou o quarto, saltitando. A Sebosa e
eu dividimos o quarto de Lincoln e Octávia na noite anterior, enquanto eles se
esbaldavam no nosso.
- Bom dia, Sol... – Ela escancarou as janelas. - ... Bom dia, primas lindas do meu core...
– Juro que não sabia que uma simples pimbada era capaz de causar tanta euforia em um
ser humano.
- A vida é bela, o Sol está raiando e todas nós vamos para a piscina. – Contente, a
Fofolete lançou-me um olhar maquiavélico. - Toma seu biquíni. – Jogou-me a peça na
cara.
- Diz pra mim que o suposto maconheiro bateu muito sua cabeça na parede, porque essa
é a única explicação pra você achar que eu, Clarke Griffin, vou usar biquíni. – Joguei os
trapinhos longe.
Eu, realmente, não sou o tipo de garota que fica assando no Sol, perto de uma piscina,
usando uns pedacinhos de tecido.
- Clarke, eu sei que você adora ser uma adolescente problemática, mas será que não dá
pra abrir uma exceção hoje e ser um pouquinho menos...
Aquelas palavras, vindo justamente de Rae, fizeram o meu sangue ferver. Era bem
típico dela, me inferiorizar só pra sentir-se uma Miss Universo.
- Quer saber? Me deu uma vontade louca de ser superficial de repente. – Sorri, indo
pegar o biquíni no chão.
Não pude ver a cara das otárias, mas ouvi o som de espanto que saiu de suas bocas.
Lexa PDV
Lincoln e eu estávamos na cafeteria do Holiday Inn. Meu irmão radiava felicidade, era
contagiante.
- Lexa, minha cara... – Ele colocou uma mão em meu ombro. - Não existe coisa melhor.
- O que?
- Por que Octávia está conversando com esses caras? – O ciumento lamentou.
- Fica frio, mano, ela não está fazendo nada demais. Não seja possessivo, as garotas não
gostam disso. Além do mais, não vejo nada inapropriado nessas fotos. Ciúme é coisa de
babaca! – Sorri em descaso.
- QUÊ? – Sem me conter, puxei a câmera das mãos deles. Perplexa, pude ver meu
frango se exibindo de biquíni, cercada de gaviões.
Não entendi o ciúme louco que tomou conta de mim. Tentava, a todo instante, ignorar a
sensação de que estava agindo feito uma otária. Larguei a câmera em cima da mesa e
saí, percebendo que estava sendo acompanhada por meus irmãos.
- Viu só? – Meu mano mais velho apontou para a cena que estava me enchendo de
revolta. - Agora sentem o cheiro de chifre queimado?
- Anya, vai buscar o seu porco! – Murmurei, concentrando-me em meu plano, cansada
de ver um mané alisar minha pirralha.
Clarke PDV
- O que você faz da vida? – Perguntou um moleque de nome engraçado, que fiz questão
de esquecer.
- Resumindo… Não estudo mais, não trabalho, não faço nada que interesse a você e só
vivo para gastar a grana do papai! – Ri ao me lembrar que havia proferido as mesmas
palavras quando conheci os Woods.
Ouvi um espirro. Virei-me, rapidamente, só para dar de cara com os próprios. Juro que
me perguntei se a pronúncia mental do sobrenome deles foi a causa do repentino
aparecimento.
Eles não responderam. Lexa, espirrando muito, cambaleou de um lado para o outro e,
por fim, caiu desmaiada por cima do moleque diante de mim.
De forma absurda, o mesmo aconteceu com Lincoln. Agora, eram dois desmaiados.
Lexa PDV
O mané que estava dando em cima da minha namorada, saiu de debaixo de mim, o mais
rápido que pôde. Abri o olho esquerdo disfarçadamente, então, pude ver a pirralha vindo
ao meu encontro, visivelmente assustada.
Fechei o olho para dar ênfase à minha atuação. Quando voltei a abri-lo, constatei que
não ficou um gavião pra contar a história.
Submergimos até o fundo. Lá, agarrei meu leãozinho com força. Ela não conseguiu
esconder a surpresa. Sem pensar, a beijei, enquanto podia. Foi rápido, porém, delicioso,
molhado e muito excitante, pois podíamos ser flagradas a qualquer momento.
Clarke e eu saímos da piscina, ela vestiu uma camiseta branca e um short rapidamente.
Ergui as sobrancelhas quando ela me puxou pela mão, rindo. Deixamos todos para trás,
envolvidos nos típico tumulto gerado por minha irmã mais burra.
Clarke PDV
Tentei não rir da provocação da idiota. Mas algo me dizia que meu rubor havia dado a
ela exatamente o que queria.
- Sim, a questão é o porquê de você estar lá fora coberta apenas com uns pedacinhos de
pano, disfarçados de biquíni!
Desviei meu olhar, não podendo encarar Lexa. Precisei travar uma luta comigo mesma
pra vestir aquelas peças, não precisava de mais comentários além dos de Octávia e dos
playboys.
- É porque eu não fico tão bem em trajes de banho quanto à Sebosa. – Minha voz saiu
mais baixa que um sussurro.
- O que? Não falei nada. – Menti tentando disfarçar meu desgosto e tristeza.
Ela me puxou para dentro de seu quarto, pensei em resistir, tive vontade de evitá-la, mas
acabei lá dentro, molhada e espirrando de verdade.
- Parece que é você quem vai pegar uma gripe. – Ironizou. - É melhor nos enxugarmos,
no banheiro tem toalhas.
Adentrei o banheiro, deixando minha namorada para trás. A primeira coisa que fiz foi
encarar o espelho. Me surpreendi com o bagaço refletido ali. Cabelo molhado e
bagunçado, rosto avermelhado. Ri sem humor, constatando que nunca estive tão feia.
- Você nunca esteve tão linda. – Sussurrou Lexa, junto ao meu ouvido.
- Fica realmente linda molhada, muito sensual! – Lançou-me seu sorriso torto.
- Deve ter sido a brisa de Veneza. É melhor tirar essa roupa molhada antes que piore. –
Falou ela, pegando uma toalha para mim.
A tomei em minhas mãos e passei pelo rosto, sentindo-me ainda confusa. Mesmo
evitando pensar, minha cabeça insistia em me lembrar que minha Woods detestou me
ver de biquíni porque eu não me comparava a Miss Universo Rae. Talvez ela também
achasse que eu era uma esquisitona. Uma pontada atravessou meu peito, fechei os olhos,
envolvida pela sensação horrível.
- Sua irmã não fica melhor em roupas de banho que você. Falei aquilo no elevador
porque... – Cruzou os braços e fitou o chão. Esperei impaciente que terminasse a
explicação. - ... É que... – Voltou a me fitar. - ... Não gostei daqueles caras te secando.
Não estou acostumada a agir como uma adolescente insegura, e essas variações de
sentimentos relacionados a você me deixam transtornada.
Coloquei a mão na boca para não rir. Foi agradável vê-la tão vulnerável e confusa
quanto eu. Era impressionante a habilidade recente de Lexa em entender o que eu
pensava, sem que eu proferisse uma palavra.
Minha voz ficou presa na garganta. Tentei responder, mas tudo que consegui foi
sinalizar um “sim” com a cabeça.
Suavemente, tomou a toalha de minhas mãos e a passou pelos meus cabelos. Ela sorria
como se estivesse cuidando de mim, isso era uma coisa da qual eu nunca imaginei que
alguém faria. Eu era independente demais para isso, sempre me julguei auto-suficiente,
mas ali, naquele momento, me deixei envolver pelos cuidados da mulher que me tira o
fôlego.
Quando Lexa soltou a toalha na pia, a peguei e retribuí o carinho, enxugando seus
cabelos. Pareceu divertir-se com minha atitude inusitada.
Passei a toalha pelo busto dela, enquanto sentia sua mão direita colocar uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha.
- Ainda está molhada. Preciso tirar suas roupas. – Disse minha Woods com a voz rouca.
Com aquelas palavras, minha mão vacilou e deixei a toalha deslizar pelos dedos.
Felizmente, ela a pegou antes que tocasse o chão e a pôs em volta do pescoço.
Lexa pegou na barra da minha camiseta e a ergueu, passando por minha cabeça. A peça
foi largada no chão. Em seguida, as mãos ansiosas dela desamarraram lentamente a
parte superior do biquíni. Minha respiração ficou suspensa no momento que me senti
parcialmente desnuda. Achei que ela me examinaria, mas seus olhos continuavam fixos
nos meus.
Com a ponta dos dedos tocou-me o rosto, fez um contorno da bochecha até os lábios,
onde se deteve e passou a acariciá-los gentilmente. Só para inflamar meu corpo, os
dedos foram deslizando pelo queixo, pescoço, até chegar aos seios, os quais foram
acariciados. LEXAZINHA mordeu o lábio inferior e, por um segundo, me perguntei o
que estaria passando pela cabeça dela. Já não suportando tê-la longe, a puxei para mim e
lhe beijei fervorosamente.
Em forma de recompensa, passei a lamber e mordiscar a orelha de Lexa, do jeito que ela
havia ensinado-me durante as aulas para conquistar Finn. Aquela aula especifica havia
sido de grande utilidade, já que minha namorada arfava pesadamente, demonstrando,
sem perceber, o quanto estava apreciando minha iniciativa.
Passei as mãos pelas costas dela aproveitando para desatar o laço da sua peça e a apertei
cada vez mais contra mim.
Foi nesse momento que me senti ser erguida novamente. Envolvi minhas pernas em
volta da cintura da Woods, enquanto ela me levava de volta para o quarto.
Lexa terminou de me despir. Achei que morreria de vergonha, mas estava encantada
com a cena diante de mim. Maravilhada com a mulher que mudava a cada dia minha
vida, despir-se sem constrangimento, revelando-se muito mais do que eu esperava.
Ela me lançou um olhar sexy e, ao mesmo tempo, terno, antes de começar a beijar-me o
corpo. Por onde seus lábios passavam, deixavam um rastro de fogo e desejo
inigualáveis. Suspiros começaram a brotar de mim, não os conseguia reprimir.
Seu corpo em contato com o meu me deixava mais excitada e pronta para recebê-la.
Enquanto ela beijava e dava leves chupadas em meu pescoço, sua mão estava em um
dos meus seios massageando-o de forma lenta e prazerosa. Eu só conseguia soltar
alguns gemidos abafados e arranhar levemente suas costas. Lexa começou a
movimentar seus lábios até os meus e eu a beijei com paixão e prazer, longo em seguida
ela começou a descê-los até um de meus seios, o abocanhando com vontade enquanto
continuava as carícias no outro.
E foi o que ela fez. Sua mão começou a se aproximar e com os dedos começou a
massagear meu clitóris lentamente enquanto meu corpo se acostumava com as
sensações. Depois de alguns instantes assim ela voltou seus lábios até os meus e
começou a me beijar e a aumentar a velocidade dos seus movimentos no meu sexo. Eu
comecei a massagear seus seios também e ela soltou um gemido entre os meus lábios.
Lexa separou nossos lábios e me olhou com receio, colou a testa na minha, então
sussurrou, nunca parando os movimentos de sua mão em meu clitóris:
- Está pronta? Vai ser meio desconfortável a primeira vez, mas irá se costumar.
Lexa posicionou um dedo na minha entrada e com delicadeza empurrou para dentro.
Senti um desconforto bem estranho e arfei sem perceber e ela preocupada parou o
movimento.
- Não, por favor, continue! – Pedi me acostumando com a sensação e desejando que
continuasse com o movimento.
Ela empurrou mais uma vez e em seguida começou a movimentar bem lentamente em
um vai e vem e quando meu corpo se acostumou com os movimentos soltei um gemido
prazeroso.
Ela colocou dois dedos me fazendo gemer mais alto dessa vez. Logo em seguida ela
começou a fazer uma trilha de beijos molhados pelo meu corpo até chegar ao meu sexo.
Abri meus olhos e olhei para ela, tenho certeza que pelo meu olhar ela soube o quanto
eu queria que ela me provasse e se ciência dos meus atos, abri ainda mais as pernas. No
segundo seguinte ela já estava me dando prazer com sua boca no meu clitóris e seus
dedos me penetrando com movimentos ordenados.
Lexa aumentou a velocidade dos seus movimentos, e quanto mais ela me chupava e
estocava seus dedos, mais eu sentia meu corpo estremecer e convulsionar indicando que
meu orgasmo estava prestes a vir. E não tardou para que eu sentisse as paredes do meus
sexo se contraírem e meu corpo todo se estremecer em espasmos sinalizando que meu
orgasmo tinha vindo.
Ela continuou os movimentos de estocadas enquanto meu corpo relaxava e lambeu todo
o líquido que saiu do meu sexo. Por fim retirou os dedos de mim e levou seus lábios até
os meus e eu pude sentir o meu próprio gosto. Mas parece que ela não estava cansada,
pois o beijo se tornou selvagem e ela voltou a massagear meus seios novamente. Em um
movimento rápido ela montou na minha sintura, posicionando um a perna de cada lado
e eu pude sentir o seu sexo molhado quando tocou na minha pele.
E quando o sexo dela tocou no meu, soube que eu já estava pronta para outra, minha
excitação já tinha voltado. Então ela começou a movimentar sua cintura contra fazendo
seu sexo grosar contra o meu. Não imaginava que essa sensação seria tão prazerosa, fez
meu corpo entrar em combustão.
A principio ela começou com movimentos lentos, enquanto intercalava beijos entre meu
pescoço, mandíbula e boca, soltando gemidos sexy e abafados e eu gemia ao ouvi-los
em meu ouvido. Lexa começou a rebolar mais rápido, a cabeceira da cama batia contra
a parede devido os movimentos que ela fazia. A fricção de nossos sexos encharcados
era de enlouquecer. Nossos gemidos começaram a sair mais altos e desesperados, podia
sentir que tanto ela como eu estávamos a um passo do orgasmo. E com mais alguns
movimentos senti meu orgasmo vindo mais avassalador que o primeiro e não tardou
para que eu sentisse o seu corpo estremecer e o líquido dela descer pelas minhas coxas.
Senti seu corpo relaxando sobre o meus, abri meus olhos para olhar nos dela e pude ver
um brilho de felicidade e êxtase misturados na sua íris.
Gargalhei.
- Lexa...
- O que?
- Óbvio que sim. Não percebeu que estou só esperando você respirar um pouquinho?
Rimos feito bobas, em seguida, voltamos a nos beijar sensualmente, prontas para
mergulhar mais uma vez na paixão arrebatadora que nos caçou desde que nos
conhecemos.
Lexa PDV
Clarke estava aconchegada em meus braços, após nossa terceira relação aquela manhã.
Sim, terceira, eu havia esperado muito tempo por aquele momento e me empolguei.
Esperava que a pirralha não ficasse assustada com meu apetite sexual, embora achasse
que ela havia gostado tanto quanto eu.
Sentia-me completa, e, por mais que me esforçasse, não conseguia parar de sorrir.
- Pirralha...
- Quero comer!
Gargalhei alto.
Olhei rapidamente o relógio no criado mudo e percebi que haviam passando-se quase
duas horas desde que largamos o pessoal na piscina.
- Nada... Er... Então... Vejo que deu tudo certo, que bom, seu porco está bem. – Tentei
distraí-la. E não deu certo.
Eu sabia que a Griffin ia me arrancar o couro por ter esquecido de trancar a porta.
- Só quero me apresentar, Zé Ruela, não custa nada! Tá com medo que ela goste mais de
mim do que de você? – Ela agora estava perigosamente perto. - Tudo bem, se não vai
apresentar, eu vou puxar o cobertor!
Clarke PDV
- Não é nada disso que você está pensando! – Enrolada nas cobertas, me pus de joelhos
na cama, pronta pra negar o que ela estava vendo até a morte.
- CLARKE... E... LEXA... – Balbuciou perplexa, como se tivesse olhando para dois
alienígenas.
Engoli seco, olhei de relance para a Woods, então, falei em pleno desespero.
Ela enrolou-se rapidamente no lençol e levantou-se, pronta para tomar das mãos da irmã
a câmera.
- Cara, você não pode contar o que viu aqui pra ninguém. – Pediu Lexa preocupada.
- Tudo bem, o lance é o seguinte. Clarke e eu estamos juntas, mas ninguém pode saber
porque... Porque... – Minha Woods me lançou um olhar como se tivesse esquecido os
verdadeiros motivos de nosso segredo.
Pelo amor de Deus, isso era hora dela agir daquela forma?
- PERA AÊ! – Anya ficou de pé em cima da cama. - Você está papando a Clarke e
ainda a fazendo acreditar que manter segredo é a coisa certa? – Gargalhou. - Guaxinim
bate aqui! Você é minha ídola!
Não deu pra aguentar. Envolvida nas cobertas, me pus de pé em cima da cama e dei
uma travesseirada violenta na cara da infeliz.
Ela revezou olhares entre mim e minha Woods, com um sorriso que chegava a me
causar calafrios.
Lexa PDV
- PARA, CARA! – Pedi, segurando o lençol que me cobria, enquanto perseguia minha
irmã anormal pelo corredor.
Ela passou próximo ao elevador, o qual não estava disponível. Então, correu em direção
às escadas. Eu sabia que quando colocasse as mãos nela, iria lhe bater até não ter mais
forças.
- Você não faria isso... – Cerrei o punho e saltei em cima do pescoço dela, que
desvencilhou-se e correu ainda mais. Não sei como ela conseguia ter tanto fôlego!
Anya PDV
Eu já pensava na alegria que eu ia dar ao povão quando espalhasse aquelas fotos na net!
Imagina quanta gente ia rir daquilo... Ou não!
Eu queria era causar P-O-L-Ê-M-I-C-A!E aí, sem querer, acabei atropelando a garota
que surgiu do nada! A mulher bateu a cabeça duas vezes e caiu desacordada. Eu nunca a
tinha visto antes, mas, sabe de uma coisa? Era uma totosa daquelas! Se a zuada da
minha irmã estivesse ouvindo esses pensamentos, com certeza iria me dar um sermão
do tipo... “Sua bisonha! A garota se machucou e você fica aí secando!” Ela é uma
mané mesmo! Mas, por falar nela, Lexa correu para socorrer a gatinha. Só que estava
seminua, tentando se cobrir com o lençol, então, não podia fazer muita coisa.
Foi hilário, cara! Duas velhinhas que tomavam café na recepção começaram a gritar,
mães cobriram os rostos das crianças, as pessoas em volta começavam a rir, foi trilouco!
Lexa, na velocidade da luz, tentou recuperar a dignidade, cobrindo-se novamente,
totalmente envergonhada, enquanto eu gargalhava. Baixei-me até a garota, que abriu só
um pouco os olhos.
- Eu... Eu... – Foi só isso que respondeu. Depois a mulher apagou legal.
- Tá esperando o que? – A Zé Ruela, vermelha, resmungou. - Leva ela até o Dr. Kane!
Luísa PDV
Nossa, como minha cabeça estava doendo! Gemi pondo a mão na testa e, lentamente,
abri os olhos. Precisei piscar algumas vezes pra ter certeza de que não estava sonhando.
- Não assuste ela com sua cara de monstro, Anya! – Zombou uma garota morena de
olhos verdes.
- Onde... – Tentei falar, mas o homem moreno sorridente me impediu, pondo o dedo
rente aos meus lábios.
- Não se esforce muito, espere alguns minutos até estar totalmente consciente.
- A menina parece assustada, Kane, é melhor nos apresentar antes que ela ache que foi
sequestrada. – A mulher de cabelos loiros disse, acenando para mim.
- Podíamos sequestrar mesmo! Será que ela vale alguns euros? – Falou rindo uma
garota loira, cujos trajes denunciavam seu estilo roqueira.
- Eu sou Dr. Kane e essa é minha família. – Apontou. - Abby, minha noiva, Clarke,
Raven, minhas filhas. Octávia, sobrinha, Lexa, Lincoln e Anya, meus futuros enteados.
Por algum motivo, os nomes logo ficaram gravados em minha memória. Sorri
educadamente.
- Eu acho que você está bem, a lesão em sua testa rapidamente desaparecerá com um
pouco de gelo. Mas podemos te levar a um hospital, se preferir. – O Dr. mostrou alguma
preocupação.
- Tudo bem! Não precisa. – Não queria mesmo passar o dia em um hospital.
A linda moça de olhos verdes pigarreou, empurrando a outra garota loira em minha
direção.
- O que? – Questionou Anya, que recebia olhares estranhos de seus familiares. - Ok...
Ok... Não me olhem assim! – Resmungou, revirando os olhos. - Eu estava correndo da
minha irmã guaxinim, então, você veio na direção contrária e BANG!... Caiu no chão,
durinha.
Arregalei os olhos.
Só quando olhei para os convites em minhas mãos, foi que me lembrei do porquê de
estar tão distraída.
- Oh, meu Deus, não vendi nenhum convite. – Sobressaltei da cama nervosa.
- Essa simpática moça se chama Luísa. – Abby passou o braço em volta do meu ombro.
- Nós iremos ao baile beneficente que ela ajudou a organizar.
“É, vai ser legal... Eu quero mesmo ir nesse negócio aí deficiente.” – Fingi não ouvir a
burrice saída da boca de Anya.
- Sendo assim, eu vou só pra dar... – Todos nós encaramos o afeminado. - ... Minha
colaboração gente, cruzes! HU... OHOHOHOHOHOHO!
Sentei-me largada na cama. Estava preocupada se Anya contaria sobre mim e Lexa para
todos. Felizmente, ela parecia bastante distraída com a garota de cabelo vermelho.
Sinalizei para Lexa com a cabeça, na tentativa de saber se ela havia convencido a irmã a
ficar de boca fechada. A tonta se limitou a coçar o cotovelo, que, em nossa linguagem,
significa NÃO.
- Sim... É a nossa forma de tentar ajudar e pedir desculpas. Não é, Anya? – Abby
cutucou a filha babacona.
- É sim, totosa! Manda isso pra cá! – A idiota puxou os convites das mãos da garota
bruscamente.
- Eu agradeço a ajuda, mas, se eu vender todos pra vocês, ninguém irá à festa. – A
descarada ainda reclamou.
- A Luísa tem razão, mas eu tive uma ideia para vender rapidinho esses convites. – A
Fofolete tinha que se meter.
Minutos depois, Octávia, Era, a garota nova, Luísa e eu, estávamos na calçada do
Holliday Inn onde a movimentação de pessoas era maior.
- Nem morta que eu vou segurar essa porra! – Joguei o cartaz pra cima da vermelhão.
- É por uma boa causa, Clarke, não reclama! – Minha prima estava precisando de uns
tapas.
- Desculpa, Octávia, mas eu também não acho uma boa ideia. – Luísa falou, lendo o
cartaz pela vigésima vez.
- Vocês são muito molengas! Me dá isso aqui! – Revoltada, Rae pegou o cartaz, toda se
achando a rainha da cocada preta.
Não demorou nem cinco minutos para se formar uma fila. Minha irmã era linda, óbvio
que aquilo chamou a atenção dos caras do hotel, principalmente os playboys, que
tentaram nos passar a lábia na piscina.
- E a fila?
- Luísa, os convites são seus! Vai ter que beijar todo mundo! – Esbravejei, com certa
pena dela.
- Eu quero beijo! Já paguei! Exijo o que prometeram! – Papai Noel estava muito
assanhado.
- Tome seu dinheiro de volta. – Vermelhão estendeu a mão com a grana, mas o cara se
negou a aceitar.
- NÃO VOU SER ENGANADO! VAI ME BEIJAR NEM QUE SEJA À FORÇA!
Juro que me apavorei quando vi o grandalhão partir pra cima da Luísa. Ele agarrou os
dois braços dela, a impedindo de se mover, enquanto ela virava o rosto, enojada,
resistindo bravamente às investidas do tarado.
Indignada, saltei nas costas do monstro, socando com toda força seu pescoço.
- SOLTA ELA, IDIOTA! – Berrei, me preparando pra arrancar a orelha dele com os
dentes. O sujeito chacoalhou o corpo e eu acabei caindo pra trás.
Luísa PDV
Abri os olhos e pude ver Anya, jogando o homem contra a parede. Lexa e Clarke logo
aproximaram-se de mim.
De olhos arregalados, assisti o sujeito asqueroso partir com tudo pra cima de Anya.
O efeito foi justamente o contrário. A garota me encarou distraída e levou um soco bem
no meio da cara.
- Faz alguma coisa! – Clarke, tão preocupada quanto eu, pediu a Lexa. – Isso é agressão
contra uma mulher!
- Tenham calma, a bisonha sabe lidar com esse tipo de situação. – Respondeu sorrindo,
totalmente relaxada.
Anya reagiu, desviando de outro soco destinado a si, aproveitando para agarrar o braço
do adversário e torcê-lo com força. Em seguida, deu uma joelhada merecida no
estômago do homem, que gemeu. E não foi só, a bonitona ainda deu um gancho de
esquerda no barrigudo, que foi ao chão, nocauteado.
- Quem é o próximo?
Os caras que assistiam a luta foram embora rapidinho. Inclusive, o homem mau educado
que me agarrou.
Dei um tapa no braço dela ao perceber que apenas zombava de mim. Inevitavelmente, ri
também.
Estaria ela querendo me beijar também? Confesso que me animei um pouquinho. Mas
logo percebi o quão boba estava sendo, já que ela não tirava os olhos de Clarke. Elas
eram um casal?
- Eu gostei da ideia, vou ter que quebrar meu cofrinho, mas vai valer a pena. – Anya
piscou pra mim, virei o rosto e ri baixinho.
- Sendo assim, acho que vou deixar a bisonha comprar todos os convites! – Lexa
gargalhou, percebendo o interesse da irmã em mim.
- Quero os meus quinze beijos. – A bonitona fez biquinho pra mim, o que me fez corar
absurdamente.
Aliás, eu nunca nem beijei. Tudo bem, eu sei que é estranho ter 21 anos e nunca ter
beijado na boca. Não sou anormal ou puritana, apenas... Excessivamente romântica e
responsável. A maioria das pessoas beija por beijar, uma troca de saliva inútil e de
pouco significado, não param pra pensar que estão desperdiçando uma linda
demonstração de afeto com pessoas que, na maioria das vezes, não retribuem
devidamente o sentimento. Ou banalizam, usando o ato para simples diversão. Não me
importo com o que as pessoas acham sobre mim. Não me importo em esperar o tempo
que for necessário pra encontrar a pessoa que me beije como sempre sonhei. Mesmo
querendo muito isso, sei ser paciente, o meu momento vai chegar. Afinal... Há tempo
pra tudo na terra. Até lá... Serei fiel às minhas convicções.
- Sim!
Beijei-lhe as maçãs do rosto, várias vezes. Pausei antes de dar o último beijo, me
perguntando se havia perdido a conta. Ignorei, afinal, só faltava um. Aproximei meus
Me afastei sem saber o que falar. Já a garota, abriu um largo sorriso. Não podia
reclamar, ela havia me salvado. Além disso,... Eu gostei mais do que esperava.
Anya PDV
Já estava quase na hora da tal festa, quando Lexa finalmente saiu do banheiro.
- Deixe de graça, é traje a rigor, é elegante, árvore é a sua cara! – Respondeu, toda
bravinha.
- Nada não, eu nem ligo pra hoje... Só pra totosinha da Luísa, tá ligada?!
- Anya... – Toda estranha, colocou a mão no meu ombro. – Preciso falar com você sobre
o que viu essa manhã.
Mas olha só! Fiquei tão distraída com a Lutosinha que até esqueci que a Lexa estava
traçando a discípula da Loira do Banheiro.
- Mana, o mundo tem que saber! Aceite! Já pensou na cara que vão fazer? Além de um
comedor de mães, nossa família agora tem uma comedora de irmãs.
- Você não pode fazer isso comigo, é minha irmã! – Lá se veio ela com a chantagem
emocional barata.
- Tudo bem... – Ela arregalou os olhos, animada. - ... Mas vai ter que me ajudar a pegar
a Lutosinha!
- Quem?
Revirei os olhos.
- E... Tem que me dar aquela sua camisa xadrez que você tem!
- Mas o Toicinho gosta. – Ambas olhamos pro meu amigão, dormindo na cama com as
patinha pro ar. Havia sido um dia exaustivo pra ele, nadou pra caramba.
Lexa PDV
Fala sério, Clarke ia ter que me pagar de uma forma bem gostosa por me fazer passar
por aquilo, em nome de um segredo que já beirava a infantilidade.
- Talvez devesse falar o mínimo possível. Quem sabe, com algumas trocas de olhares,
ela se interesse por você?
- Ela vai é ficar apaixonada por mim, quando eu sair dançando rap no meio do salão. –
Sorriu orgulhosa.
- Claro que sabe, nossa mãe nos obrigou a aprender, não lembra?
- Lembro... Lembro de ficar pensando qual o episódio do pato Donald estaria passando
na TV durante as aulas.
- Nem vem, guaxinim! – Soltou minha mão com violência. – Vai dançar valsinha com a
Clarke, ela faz mais o seu tipo!
- Porra, Anya, deixa de infantilidade. Acha que eu gosto disso? – Reclamei, perdendo a
paciência.
- Tudo bem... Tudo bem... Mas não fique de gracinha pra cima de mim não, vagabunda!
– Advertiu toda preocupada.
- Eu vou fazer o papel da Luísa, então, me conduza com gentileza. – Pedi, na esperança
de ser atendida.
- Ah, por favor, me diga que não perdi minha namorada pra Anya. - Clarke, de pé na
porta do quarto, nos encarou como se fôssemos anormais. O incrível foi que nem
notamos ela entrar.
- Chega! – Puxei meu frango pra junto de mim. Então, lhe analisei. - UAU! – Não
contive o suspiro. - Você está linda!
- E...?
Pus minhas mãos delicadamente em seu rosto e me aproximei para beijá-la, almejando
sentir os lábios rubros contra os meus.
- Como essa safadeza toda aconteceu? – Sério, eu estava perdendo a paciência com a
bisonha.
- Oh, por favor, vamos embora. – Empurrei a criadora de porco pra fora do quarto.
Para o azar dela, fechei rapidamente a porta, enquanto reclamava do lado de fora.
Luísa PDV
Por muita insistência de Abby e Anya, sentei-me à mesa com meus novos amigos.
Todos estavam sendo educados e simpáticos, exceto, o afeminado Bellamy, de quem eu
preferia manter distância. A festa estava sendo um verdadeiro sucesso. Fiquei feliz por
ter conseguido ajudar o projeto beneficente dos meus amigos e companheiros de
viagem. Infelizmente, eles foram os primeiros a se retirar do salão, deviam estar mesmo
exaustos após dias de organização. Eu podia apostar que a classe alta e média de Veneza
estava em peso naquele salão do Holliday Inn. Os trajes elegantes e a aparência
sofisticada dos convidados denunciavam isso.
- Bonequinha, eu não acredito que levou um soco por causa dessa olho-de-bola-de-gude.
– Esnobou em um ridículo smoking rosa.
Fingi nem ouvir, pois meus olhos verdes são o que mais gosto em mim.
- Está falando do que, viado? Seus olhos são maiores que o dela! – Clarke ria,
divertindo-se.
- Chapeuzinho...
- O que?
- EPAAAA! – Raven berrou, não deixando ele terminar a frase. – Gente, aqui não, né?
Estamos em um ambiente refinado, sem baixaria, por favor. Ainda quero sair na coluna
social hoje.
- Olha aqui... – Apontei o dedo pra cara dele. - Você nem me conhece pra falar mal de
mim assim. Já percebi que é um mal educado com sérios problemas de rejeição. Se está
chateado porque Anya dá atenção a mim e não a você, saiba que desisti de ir embora e
vou ficar aqui bem do ladinho dela. – Agarrei o braço do minha heroína, que riu.
Bellamy PDV
- Para quieto! – Lexa segurou-me pelos braços e arrancou da minha testa perfeita, o
maldito garfo. Ai, ainda bem que era de prata!
Percebi que uma multidão se formou em volta de mim. Me agarrei com todas as forças
na guaxinim.
- Para com isso, não vai morrer. – Lexa tentou se afastar, mas não permiti.
Caí no chão feito uma fruta madura. Mas levantei-me rapidinho, irada.
Sacudi a poeira, dei uma rodada recebendo o espírito da Madonna e saí, pronta pra
vingança.
Anya PDV
- Não liga, a bichona só quer chamar atenção. – Falei pra acalmar a Lutosinha.
- Resumindo, é um encosto!
Uma música bem chatinha começou a tocar, os vocalistas pareciam que estavam
morrendo, mas era ideal para convidar a Luísa pra dançar.
Ela corou.
Ela estava linda no vestido preto, queria abraçá-la ali mesmo. Infelizmente, precisei
manter a cabeça no lugar.
Pus uma mão em sua cintura e, com a outra, entrelaçamos os dedos. Esperei três
segundos, antes de começar a conduzi-la.
Por alguma razão, não consegui tirar meus olhos dos dela. Havia algo de diferente
naquela garota, a forma como ela reagiu diante da bichonha, me fez admirá-la. Giramos
pelo salão e, quando a brisa da noite atravessou as janelas, os cabelos avermelhados dela
tocaram meu rosto.
Eu dificilmente ficava caidinha por uma mulher. Elas são complicadas demais para
mim, não consigo entendê-las. Por isso passo toda a parte da conversa e pulo logo pro
essencial. Pimbada. Só que com Luísa era diferente, eu realmente queria conversar com
ela. Queria muito mesmo que ela gostasse de mim.
Esforcei-me pra pensar em algo legal para dizer, mas nada vinha à minha cabeça. Então,
me lembrei dela ter comentado que iria embora amanhã.
- Sim, estou aqui ha quase uma semana com um grupo de amigos. Tenho que voltar pra
faculdade antes que acabe me apegando a Veneza.
- Poxa, e eu só te conheci agora. Que azar o meu. – Murmurei, enquanto ela sorria.
- Talvez tenha que ser assim, Anya... Sei lá... Considere destino.
A girei, segurando-a pela mão esquerda. Quanto ela voltou a ficar de frente pra mim,
meu coração novamente palpitou. Me sentia atraída por ela de uma forma inexplicável.
- Oh... Mesmo? – Ela riu. - Todo cavalheiro tem seu fiel escudeiro, você precisa de um.
- Te conto melhor depois. Agora, queria saber o que devo fazer pra ganhar um beijo.
Eu realmente não queria tocar naquele assunto. Tive vontade de dar uma desculpa
qualquer e ir embora. Mas meu corpo se recusava a partir.
Arriscando ser motivo de piada para ela e a família, resolvi contar-lhe a verdade.
- Eu... Não beijo... Quer dizer, nunca beijei. – Preferi não encará-la.
- O que?
- Não é idiota... Garotas como você não existem. Quero dizer, não no meu mundo.
- Queria ter te conhecido melhor, aposto que tem muitas qualidades por trás de todas
asneiras que fala.
Ela não pareceu ofendida com meu comentário. Pelo contrário, gargalhou.
Ela era linda, engraçada e até mesmo gentil. Uma súbita vontade de beijá-la me atingiu.
Eu sabia que não deveria, não queria passar por cima das minhas convicções.
Foi nesse momento que olhei para cima e vi o enorme relógio de madeira que adornava
o salão. Faltava pouco pra meia noite, o “amanhã” já havia chegado. Dentro de algumas
horas, eu voltaria à minha rotina e as férias em Veneza se transformariam em vagas
lembranças.
Triste, notei que, se não beijasse a bonitona à minha frente, eu poderia ir embora, seguir
minha vida e me arrepender pra sempre de ter perdido aquele momento. Pois era, sim,
um momento perfeito. Não importava que eu a conhecesse pouco, não importava que
ela fosse boba. Éramos duas pessoas que não conseguiam tirar os olhos uma da outra.
Havia uma química estranha entre nós, dois opostos se atraindo... E lutar contra isso era
inútil.
- Sim!
Era visível que ela sabia do que eu estava me referindo, sem que eu precisasse falar.
Essas poucas palavras derrubaram todas as barreiras entre nós.
Ela pegou minha mão e, outra vez, me girou. Quando fiquei de frente para ela,
aproximou-se, até que minhas pernas tremessem em nervosismo.
Fechei os olhos, tentando me acalmar, e foi aí que senti a boca dela tocar a minha,
sutilmente. Já não suportando, me deixei levar pelo impulso e envolvi o pescoço dela
com meus braços. Ela reagiu, agarrando firmemente minha cintura. Foi como se tudo
sumisse de repente, nada importava além do beijo. Lábios, língua, doces carícias. Era
uma sensação muito além do que eu imaginava. Nem me importei se eu beijava bem ou
mal. Só queria aproveitar aquele momento o máximo possível, pois jamais esqueceria
ela.
Lexa PDV
- ISSO! – Quase gritei, empolgada com a cena da minha irmã beijando Luísa.
- Está vendo? – Apontei para o casal. - Aquela garota salvou a nossa pele e nem sabe.
Elas pararam de se beijar, riram e começaram a andar em nossa direção de mãos dadas.
Bellamy PDV
Não podia estar mais revoltada! Como a bonequinha podia estar de amassos com uma
tripinha como aquela?
Virei-me para a mesa onde estava o ponche, louca pra encher a cara até virar a perna.
Peguei um pouco da bebida e, quando dei o primeiro gole, cuspi tudo fora.
- Eca, que coisa horrível! Água pura! QUE POBREZA! – Berrei para todos ouvirem.
- UH!...
- Toddy, michê e gigolô para todos os propósitos. – Já foi logo me estendendo o cartão.
Peguei o cartão e guardei bem. Afinal, uma moça como eu pode precisar de algo assim a
qualquer momento.
- Repete – Pedi.
- Bell!
- UIIIIIII! – Me derreti.
- Você não teria aí uma bebidinha pra esquentar esse ponche não?
- Tenho algo melhor. – Ele tirou do bolso do paletó um saquinho com uns sete
comprimidos coloridos.
- Não entendi... Mas pela cara, não é bom! – Olhei pra mesa onde meus inimigos
estavam bebendo ponche adoidado, e foi nesse momento que tive uma ideia
mirabolante. - Esse memedinho faz as pessoas ficarem doidonas?
- Hum... Parece que nosso ponchinho vai ficar turbinado. Quero só ver o que a ladra de
bonequinhas vai achar da festinha que organizou.
Lexa PDV
- Fracotes! – Clarke pegou logo dois copos do ponche. - Pra aguentar essa festa chata,
só enchendo a cara!
Ela tomou das mãos da minha irmã o whisky e misturou com o ponche, bebendo quase
todo em seguida.
Eu estava dançando com Rae no salão, mas minha atenção estava voltada inteiramente
para Griffin, que não parecia nada bem, suando e bebendo muito ponche. O mais
engraçado era que os demais convidados pareciam igualmente estranhos. Havia algo de
errado acontecendo, eu só não sabia o que.
Olhei pra cabine do DJ de onde vinha o barulho e fiquei chocado com Bellamy,
segurando o microfone.
Nem acreditei quando começou a tocar a Open Your Heart, da Madonna. O que aquele
viado queria? Matar todos nós com seu extremo mal gosto?
Como se já não bastasse a música inapropriada pra um baile de gala, a maioria dos
convidados agia de forma bizarra. As senhoras com as pernas abertas sacudiam os
vestidos como se estivessem com um fogo sinistro em suas partes íntimas. Com os
homens não era diferente, os distintos senhores afrouxavam os nós das gravatas e
corriam pra pista de dança.
- VAMOS NO EMBALO, GENTE! – Octávia, que anima-se com tudo, arrastou o pobre
Linc pra pista de dança.
- Caramba, o que está acontecendo? – Luísa pôs a mão na boca, confusa. - Todos
parecem... Excitados. – Enrugou a testa.
Vi ela ir em direção aos banheiros. Confesso que não entendi muito sua atitude.
Já que todos estavam distraídos com a confusão no salão, segui a pirralha, querendo lhe
encher de perguntas.
A porta de uma delas abriu-se e fui violentamente puxada para dentro. A maluca me
empurrou contra a parede do cubículo, tive que ignorar a dor nas costas.
Nem sequer obtive resposta, ao invés disso, Griffin apertou com força minha bunda,
arfando pesadamente. Não consegui disfarçar minha expressão de surpresa. Nossa, meu
frango estava tarada!
Lexa PDV
Nem queria cortar o clima, mas foi inevitável gargalhar, pois nunca imaginei ver a
Clarke problemática tão assanhadinha. Ela agarrou meus cabelos, puxando-me para
perto de seus lábios rubros e afoitos. Os beijos trocados a seguir foram desesperados e
sensuais. A essa altura, já nem ligava pra ações incomuns da pirralha, a queria todinha
para mim. Foi a minha vez de a empurrar contra a parede do cubículo. A reação dela foi
a melhor possível, ou seja, desamarrou o laço do meu vestido que ficava no pescoço,
enquanto mordia meu lábio inferior. Minhas mãos impacientes e desejosas começaram a
lhe explorar o corpo incrivelmente quente, enquanto ela ria sem parar.
Octávia PDV
E foi justamente nesse momento que Bellamy colocou pra tocar Beat It, do Michael
Jackson. Devo admitir que não fui a única a ficar surpresa, pois a música mal tinha
começado a tocar e Anya, que antes estava quietinha com Luísa, levantou-se revoltada e
gritou:
Nunca imaginei que uma festa de coroas fosse tão legal. Estava todo mundo agitando no
salão, até mesmo as velhinhas caretas sacudiam os vestidos. Lincoln estranhava o
ambiente. O bichinho é tão tímido!
Ficou todo mundo no embalo de Beat It. Juro que aquilo já nem parecia um baile de
gala. O mais hilário era ver os coroas imitando os passinhos consagrados do Michael
Jackson. Divertia-me pra caramba!
Infelizmente, um babaca com o copo cheio de ponche, deu aquela rodadinha já bem
conhecida do rei do pop e o líquido veio todo pra cima de mim. Estagnei, ensopada.
- Não! – Meu lábio inferior tremeu num biquinho. - Eu vou ao banheiro, já volto.
Adentrei o WC, triste e desanimada. Do que adiantou ter passado horas me arrumando
pra, no final do baile, estar toda melequenta?
Encarei o espelho, analisando-me, antes de pegar muito papel toalha para passar pelo
rosto e vestido. O resultado não foi nada satisfatório. Então, do nada, ouvi:
Virei-me para as portas que, em sua maioria, estavam abertas. Rapidamente, encontrei o
cubículo suspeito. Olhei para baixo e avistei apenas os pés da pervertida.
- Eu não sou quem está procurando. – Dá pra acreditar que ela ainda tentou disfarçar a
voz?
- Pelo amor de Deus, eu sei que é você. Me economize! Agora, sai daí com sua
amiguinha, antes que outra mulher entre aqui e arme um escândalo. – Estava muitíssimo
curiosa pra saber quem minha cunhada malandra estava pegando.
- Óbvio!
A porta abriu-se e ela foi empurrada para fora abruptamente. Não pude ver a mulher que
estava lá dentro porque escondia-se. O máximo que vi foram as mãos, mesmo assim, foi
apenas por um segundo.
Fiquei surpresa com o estado que Lexa encontrava-se: o cabelo... Um caos, vestido
amassado e desamarrado, desalinhada e a região da boca toda borrada pelo batom.
- Gente, eu preciso conhecer a maluca que fez isso com você! – Provoquei, vendo-a
totalmente constrangida e nervosa.
- Por quê?
- Por que... Er... Ela é muito... Feia! Dá um desconto, eu estou meio bêbada e carente.
- FEIA É O CACETE!
A Clarke que saiu lá de dentro era bem diferente da que eu estava acostumada. O cabelo
despenteado, o vestido com um pequeno rasgo no decote e o batom todo borrado.
Lexa PDV
- Me abana, me abana que eu vou dar um pití! Estão namorando? – Perguntou a curiosa,
fitando-me.
- CALA A BOCA! – Griffin, muito doida, tapou a boca da prima, que continuou a
comemorar.
Foi nesse momento que começou a tocar no salão Bad Reputation da Joan Jett. Minha
pirralha pirou.
- Você está namorando! Está namorando! – Contente, ela veio em minha direção para
abraçar-me.
- OCTÁVIA!
Ambas olhamos pra entrada do banheiro, atônitas. Ela se afastou de mim rapidamente,
enquanto eu era fuzilada pelos olhares acusadores de Lincoln.
Fitei de relance minha cunhada. Em seguida, vi o meu reflexo no grande espelho. Minha
boca estava toda suja de batom, da mesma tonalidade do de Octávia.
- NÃO É NADA DISSO QUE ESTÁ PENSANDO, CARA! – Tentei me defender sem
saber como, pois eu estava um trapo, devido aos amassos com Griffin.
Era só o que me faltava mesmo, meu irmão achar que estou tendo um caso com a
namorada dele! Limpei o rosto com um pouco de papel e tratei de me recompor.
Quando voltei para o salão, logo avistei Clarke, descalça, dançando feito uma doida,
rodeada de gaviões. Cara, eu não posso tirar o olho dela um segundo? Não me lembrava
dela ser assediada assim quando nos conhecemos... Tudo bem, admito que antes ela se
vestia e agia feito uma trombadinha.
Bufei irritada e fui buscar meu frango, antes que algum engraçadinho a achasse com
cara de lanchinho. Como eu já estava sem paciência, cheguei abrindo espaço no meio
dos marmanjos. Bem no estilo “homem das cavernas”, peguei minha mulher, coloquei
no ombro e saí sem dar satisfação. Clarke limitou-se a cantar alto a tal música que, pra
falar a verdade, era bem a cara dela.
- “I don't give a damn 'bout my bad reputation (Eu não tô nem aí sobre minha má
reputação)
***
No dia seguinte, nos reunimos no restaurante para o café da manhã. Lincoln evitava
olhar-me e Octávia parecia-me desolada. Não precisava ser um gênio para notar que
meu irmão ainda acreditava na ridícula traição. Pretendia esclarecer o mal entendido
logo após o café. Anya remexia a comida, por incrível que pareça, calada. Devia estar
triste, talvez, por causa da partida da garota que ele atropelou na recepção. Rae,
indiferente, lia uma revista e minha namorada, nem acordada estava, com o cotovelo
sobre a mesa, mantinha a cabeça apoiada em uma mão, enquanto ressonava segurando
um garfo. Bellamy? Nem sinal dele.
- Sim, é daqui a dois dias. – Ele passou a sussurrar. - Nós não comemoramos essa data
há muitos anos. Minha filha odeia a palavra aniversário e sempre se recusou a participar
de um, já que foi nessa data que Rose faleceu. Perdi a conta das vezes que Rae, Octávia
e eu organizamos festas para ela. A cabeça dura some, ou resolve bancar a adolescente
revoltada. Acredita que uma vez ela levou uma caixa cheia de baratas e aranhas pra
festa? Isso, lógico, fez todos os convidados fugirem. – Balançou a cabeça reprovando,
mas sorrindo.
- E por que acha que esse ano seria diferente? – Lembrei-me da carta escrita pela mãe
da pirralha e consegui entender um pouco a repulsa dela pelo próprio aniversário.
- Tenho esperança que aqui na Itália ela se esqueça um pouco do que aconteceu em
Polis.
Engoli seco.
Para minha sorte, a mão de Clarke deslizou e a cabeça desabou, fazendo-a cair de cara
no prato de panquecas com mel.
- Detenção, não! – Despertou meio perdida, como se ainda estivesse sonhando. O seu
rosto sujo fez todos rirem.
Assim que a Loira do Banheiro entrou no quarto pra ver minha irmã guaxinim, invadi o
muquifo da Raven com o Toicinho disfarçado de poodle branco. Era uma nova
estratégia pra fugir do preconceito, pois, viajar com um porquinho maneiro como ele é
mais difícil do que se parece.
Meu chapa estrebuchou querendo ir pro chão. O soltei e ele correu pras roupas da totosa
jogadas no chão.
- Esquece o Tocinho. Vem cá que eu quero um repeteco! – Fui logo agarrando por trás.
- Sai de perto, sua burra! – Afastou-me com força. - Já falei pra esquecer o que
aconteceu.
- Agora, né, sua safada? Porque na hora, tu até pediu por mais.
- Eu tenho que arrumar minhas coisas, não vou perder meu tempo com você, cabeça
ôca.
- Um dia você ainda vai me implorar por um repeteco. – Ironizei, passando a mão pelo
peito.
Quando ela ameaçou fechar a porta na minha cara, assobiei e meu porco veio correndo,
passando por entre as pernas dela e deixando o rastro de peido no ar.
- Essa bandida ainda nos paga, amigão. – Peguei o leitão nos braços e minha mente
viajou nas lembranças.
Depois que Lexa e eu torturamos o “sem pregas” na varanda do quarto, fui pra
cafeteria, puta da vida, descolar um sanduba, pois estava morrendo de fome.
O dia dos namorados havia sido um inferno, eu não comi nada, nem ninguém. Sentei na
mesinha pronta pra detonar. Ia comer metade do cardápio, e a outra metade pediria
pra viagem.
- EITAAAAAA! – Interrompi, pondo a mão na testa dela. - Volta pro banheiro Loira,
volta pro banheiro. – Iniciei o exorcismo.
A miss simpatia rosnou, enquanto levantava-se. Foi pra outra mesa bem distante de
mim. Pensei em segui-la e continuar o ritual sinistro, mas minha pança reclamava.
Comi tudo que vi pela frente, e quando não aguentei mais, enrolei o resto do sanduíche
num papel e resolvi levar pra Rav, que devia estar no quarto sozinha matando mosca.
Fui logo adentrando o quarto sem bater. Afinal, quem precisa de privacidade?
Tirei do bolso o resto do sanduíche e, educadamente, depositei em suas mãos. Não sei
porque ela fez cara de nojo, estava tão gostoso.
- Vou mudar de assunto antes que esfregue esse resto de comida na sua cara. Não está
por aí comemorando a noite dos namorados?
- Prefiro não comentar! – Virei o rosto para a televisão onde passava uma propaganda
de uma loja, falando sobre o maldito dia.
- Juro que se eu ver mais um comercial sobre essa data infeliz, me jogo da janela. – A
engessada murmurou.
- Eu também odeio, é sempre assim. Ficam colocando esse povo sorrindo, com cara de
diarréia só pra vender um chocolatinho ou uma roupa de loja do povão. – Detalhe:
compro minhas roupas na loja do povão.
Nos encaramos espantadas. Sabe quando seu olhar encontra com o da outra pessoa e
rola aquele climinha romântico? Bem, não foi isso que aconteceu.
- Sim.
- Discordo totalmente.
EITA!
- É hoje! – Feliz, beijei a totosa que retribuiu, tão animada quanto eu.
Eu é que não ia perder a chance de traçar Rae, tratei de revelar meu lado romântico.
- Se abrir a boca pra falar novamente, te coloco pra fora. – Ela definitivamente estava
na minha.
- Viu como eu sou boa? Nem comecei e você já está gritando. – Gargalhei.
- Quieta? Jamais! Anda, minha filha! É pra hoje, está enrolando demais! Você é uma
tremenda propaganda enganosa, Anya.
Foi uma pimbada muito louca. Nunca havia feito aquilo com uma garota engessada ou
tão exigente. A cama ficou pequena pra nós, então, fomos parar no chão. Como eu
estava no atraso faz tempo, pirei total. Achei até que ia matar a mulher, mas a bandida
era uma verdadeira devassa.
Cerca de uma hora depois, estávamos lá, largadas no chão, olhando pro teto, sorrindo
satisfeitas.
- Sim!
- Anya, não pode contar... Bem... Sobre isso que aconteceu pra ninguém.
- Por quê?
- Calma, eu vou... – Terminei de vestir a blusa. - O que vai dizer pra galera?
- Direi que papai me entupiu de remédio e dormi a noite inteira. Arrume uma desculpa,
mas não diga a ninguém que...
- Sai daqui antes que meus ouvidos comecem a sangrar, porque não consigo mais ouvir
suas asneiras!
- BANDIDA!
Bati a porta antes que ela me jogasse o sanduíche que já estava em suas mãos.
Suspirei voltando à realidade. Confesso que bateu uma saudade daquela noite mais do
que eu esperava. Rae dava sempre em cima da minha irmã Guaxinim. Não era cega, via
isso. Ela não valia nada, mas eu gostava. Por quê?
Clarke PDV
Estava deitada na cama, observando Lexa arrumar as malas. Ela era organizada,
diferente de mim que joguei todas as roupas na mala e sentei em cima pra poder fechar.
Ela estava linda aquela manhã. Calça jeans, camisa cinza, porém, mantinha uma
expressão de preocupação. Me perguntei o que a estaria preocupando. Infelizmente, não
tive coragem de perguntar, temia a resposta.
- Clarke...
- Sim?
Puxei a perna da minha calça e balancei o tornozelo exibindo-o. Ela sorriu, vendo a
pulseira presa ali.
Não aguentei, sobre a cama, engatinhei até ela. LEXAZINHA ficou de joelhos no chão.
- Não, anda toda agitada, não consigo ficar a sós com ela.
Temia isso profundamente, mas tinha esperança que a Fofolete tivesse um pingo de
bom senso e me procurasse antes.
- Não. Acho que ela tem medo que eu desça o braço nela. – Fui sincera.
- Pouco, mas me lembro de rir muito! – Gargalhei, imaginando o quão patética devia ter
ficado.
- Lembra-se de me atacar?
- Mudando de assunto... Não acha que está na hora de contarmos para seu pai sobre
nós? – Sua expressão agora era séria.
- NÃO! – Saí da cama dando as costas para ela. - Ainda não. – Diminuí o tom de voz.
Por que a Woods tinha que tocar naquele assunto? Eu não estava preparada, não queria
deixar Kane e Abby delirando de felicidade achando que eu mudaria minha opinião
sobre eles por causa do meu namoro. São coisas diferentes, continuo odiando Abby.
- Quanto tempo mais acha que vamos conseguir manter essa farsa? Está esperando
todos descobrirem? Por acaso isso é uma tentativa de fugir da responsabilidade de
contar? – Não gostei da forma que ela impôs aquelas palavras.
- Não estou fugindo. – Virei-me. - Vou contar! – Era difícil dizer aquilo.
- Quando?
- Espere mais uns dias. – Tentei lhe passar segurança, mas já me via fugindo só pra não
encarar o cerco que se fechava à minha volta.
- Quando voltarmos à Verona, as coisas vão ter que ser do meu jeito. – Exigiu e eu não
gostei.
- Como?
- Vai à merda, LEXAZINHA! Está achando o que? Que vai se impor e vou
simplesmente obedecer?
- Ah, e lá vamos nós de novo. – Murmurou, jogando-se na cama com as mãos no rosto.
Eu também não queria brigar, mas às vezes era inevitável. Discordávamos de muitas
coisas, tinha horas que desejava, intensamente, matá-la.
O silêncio tomou conta do ambiente. O tipo de silêncio que deixa qualquer um sem
jeito. Me aproximei lentamente dela, procurando palavras em minha cabeça para
contornar a situação.
Minha resposta não a agradou e fui novamente vítima das terríveis cócegas. Era demais
pra mim, eu ia morrer gargalhando.
- Fala, Clarke!
- NÃO! – Insisti com medo de fazer xixi nas calças de tanto rir. - PARA! – Fui
ignorada.
Meu dedos acariciaram os macios cabelos cor de bronze dela. Era uma sensação muito
agradável.
- Por que está pegando nos meus cabelos? Eles não são ensebados? – Provocou.
- Não sei do que está falando. – Me fingi de desentendida, já sabendo o que ela queria.
- Ah, é?
Não é que a maluca pendeu a cabeça e passou a esfregar os cabelos no meu rosto,
obrigando-me a cheira-los?
Minha namorada olhou pra mim e em seguida pro irmão. Após um longo suspiro, foi até
ele.
- Não é nada disso! – Deu um passo atrás. - Griffin, você sabe com quem eu estava no
banheiro do salão ontem. – Fez uma careta super estranha.
É, lembrei!
- Ahhhh... – Sorri amarelo. Virei-me para o suposto maconheiro. - Por que acha que a
LEXAZINHA estava pegando Octávia?
- Octávia, feliz, veio me dar os parabéns, tropeçou no vestido e caiu em cima de mim.
Foi só! – Ela estava nervosa.
- E como explica seu estado e o batom nas bocas? – Lincoln não estava engolindo a
desculpa. Na boa, se eu fosse ele diante de tais evidências, também não acreditaria.
- O que? – Revezei olhares entre eles. - Que eu tenho com isso, minha gente? – Tentei
não rir.
- Conta pra ele a verdade, Clarke. – Lexa não parecia estar feliz.
- Vocês não sabem da maior. O sem pregas está lá no quarto do Kane querendo contar
uma novidade.
- Gente, vamos lá saber. Quem sabe ele não diz que está grávido? – Zombei, e fui a
única a rir. Realmente, achava que a bichona era capaz de tudo, até mesmo desafiar as
leis da natureza.
Respirei fundo, coloquei uma mão no ombro do maníaco por limpeza, que me olhou
enojado, então, disse-lhe:
- Tudo bem, eu falo. Ele precisa saber... Maconheiro, você tem que serrar o chifre!
Minha Woods resmungou algo que não entendi devido as gargalhadas altíssimas da
bisonhenta.
Ela fez uma cara de morte tão horripilante que todos nós fomos correndo pro quarto de
Kane.
A Fofolete estava certa, o viado tinha enlouquecido! Como é que se casa com alguém
que se conhece há dois dias?
Lexa PDV
- Você sabe o que está fazendo, Bellamy? – Meu futuro padrasto questionou.
- Lógico, Dr., contra esse remédio... – Alisou o negão. - ... não tem contraindicação.
Me esforcei pra não rir da mais nova insanidade do viado. Clarke, que não é nem um
pouco discreta, caiu na gargalhada.
- Esse tipo de casório é permitido aqui na Itália? – Minha mãe ficou na dúvida.
- Mas eu vou casar assim mesmo, vai ser uma festa de arromba, convidarei uma de
minhas amigas escândalo para fazer a cerimônia. – Bellamy estava animado.
- Se eu fosse você, não cantava vitória antes da hora. – A Griffin pôs uma mão no
ombro da bisonha, rindo.
Clarke PDV
A viagem de trem, de volta à Verona, graças a Deus, foi tranquila. Adentrei meu quarto,
puxando a mala pesadíssima. Era bom estar em casa, o hotel já havia me cansado. Usei
toda minha força para jogar a bagagem em cima da cama. Olhei em volta e tudo estava
exatamente como eu tinha deixado. Sorri, sentindo-me confortável naquele local. Era
melhor ali do que em minha casa, em Polis.
- Precisa contar a verdade pro Lincoln. – Virei-me em direção à porta, só para dar de
cara com a Fofolete.
- Droga! – Ela bateu a porta e, em seguida, veio em minha direção. – Estamos brigados
por sua causa, vai ter que consertar as coisas!
- Se contasse à ele que era você que estava se agarrando com Lexa, com certeza,
acreditaria.
- Olha, Octávia, vou te mandar a real. Não sei por que está me culpando desse jeito. A
Woods já explicou a ele que foi um mal entendido. O problema aqui não é o que eu
conto ou deixo de contar, e sim, a falta de confiança dele em você. – Precisei expor
minha opinião.
Percebi que ela ia revidar, mas seu lábio inferior tremeu e, brava, saiu do quarto,
melancólica. Esfreguei o rosto, confusa. Realmente não queria contar sobre meu
relacionamento pra ninguém, nem mesmo pro suposto maconheiro.
Cada dia que passava, mais difícil era conviver com aquele segredo. Não ia saber como
contar tal coisa. Desejava ter apenas uma Woods em minha vida, pois assumi-la como
namorada, era o mesmo que assumir a mosca morta como sogra. Já não bastava ela
querer roubar o lugar da minha mãe?
Passei a mão na testa, sentindo que ia ter dores de cabeça terríveis. Se Lexa continuasse
me pressionando para revelarmos nosso segredo, iria acabar enlouquecendo.
Odiei a mim mesma por me importar que Lincoln estava acusando Octávia de algo que
ela não fez. Nunca dei importância a bobagens desse tipo. Meses atrás, teria mandado
todos à merda. Porém, naquele momento, o remorso e culpa se faziam presentes dentro
de mim. Chutei a cama, chateada por estar agindo feito uma sentimental patética.
Após respirar fundo, decidi contar tudo ao maconheiro e tirar minha prima da
enrascada.
Lexa PDV
Invadi o quarto de Linc com o Toicinho nas mãos, na esperança de ser ouvido.
- Sai daqui, eu já disse que não quero falar com você! – Esbravejou, antes mesmo de eu
falar qualquer coisa.
Durante o trajeto Veneza-Verona, por várias vezes tentei convencê-lo a me ouvir, mas
sempre fugiu. Dessa vez, eu não ia deixar passar. Aquela situação já beirava a
palhaçada.
- Vai me ouvir sim... – Corri para a entrada do closet dele, que, por sinal, é muito limpo
e organizado. - ... Se não me deixar explicar, juro que solto o porco aqui dentro, ele vai
fazer a festa!
- Tudo bem... Vou! – Ele não tirava os olhos das minhas mãos, provavelmente, temendo
que eu deixasse o animal cair.
- Octávia e eu não temos nada, como eu disse antes, ela veio me dar os parabéns,
tropeçou no vestido e caiu sobre mim.
- Sei... – Ergueu uma sobrancelha, incrédulo. - ... Porque ela te daria os parabéns?
- A garota tinha acabado de descobrir que... Clarke... e eu estamos namorando. Era nela
que estava dando uns amassos no banheiro.
- Como? – Os olhos dele conseguiram ficar ainda maiores. – Clarke? A filha do Kane?
A valentona?
- Essa mesma! – Ofeguei, imaginando a cara que ela faria quando descobrisse que Linc
também sabia do nosso segredo.
- Lógico!
- Antes me diga: já tirou da cabeça aquele lance sobre mim e a anãzinha? – Enruguei a
testa.
- Diante da revelação que me fez, sim. Afinal, você sempre odiou Clarke, e, agora me
fala que está namorando-a! Com isso, esqueci até o que estava pensando antes. Sei que
é safada, mas não mentirosa.
- Fala!
- Se você tivesse prestado o mínimo de atenção na pirralha, teria notado que ela usava o
mesmo batom que sua namorada, já que foi ela quem a produziu para o baile.
Gargalhei.
- Dá cá um abraço!
O grito assustou o porco, que estrebuchou em minhas mãos. Não conseguindo contê-lo,
o deixei ir ao chão. Felizmente, caiu de pé, o problema é que correu desembestado pro
closet do Linc.
Tentei agarrar o suíno, mas o bicho era muito rápido, seria mais fácil caçar galinhas.
Olhei de relance e notei que Lincoln já mudava de cor.
Clarke PDV
- “Er. . Estou indo... Contar pro seu irmão, ... Aquilo. – Gaguejei. Puta merda!
Podia ouvir gritos afeminados vindos do quarto do maluco por limpeza. Curiosa, abri a
porta e a cena que vi me fez gargalhar. Ele estava armado com duas garrafas de álcool,
borrifando por todos os lugares, principalmente na cama. Teria o Toicinho passado por
ali? Fechei a porta rindo, deixando Lincoln sozinho com suas paranoias.
Mantive distância quando Lexa soltou o bicho da Anya no chão. Achei que ela olharia
para trás, talvez para verificar se eu ainda estava ali, mas, nem isso fez. Ao contrário,
adentrou seu quarto, batendo a porta.
Suspirei antes de ir até lá. Dei duas batidinhas na madeira e nenhuma resposta veio de
dentro do cômodo. Poxa, ela devia estar mesmo brava! Insisti, batendo novamente.
Como não respondeu, passei a chutar a porcaria da porta.
- Nada. Por que não vai pedir desculpas a Octávia e me deixa um pouco sozinha? –
Fingi que aquelas palavras não haviam me machucado, mas machucaram.
- Qual é, LEXAZINHA? Tudo isso porque eu zoei seu irmão? Ele supera! – Ri, sem
humor.
- Sempre soube que você era egoísta, afinal, odeia minha mãe só porque ela está com
Kane. Porém, ultimamente, cheguei a achar que tinha mudado, que havia se tornado
uma pessoa melhor. Não precisei esperar muito tempo pra notar que estava enganada,
pois permitiu que Lincoln e sua prima ficassem separados só pra não revelar que
estamos juntas. Cara, você só pensa em si mesma!
- Ei! – Esbravejei sem saber o que responder. A Woods cruzou os braços à espera de
uma explicação. Como não consegui pensar em nada além de xingamentos, ela bateu a
porta na minha cara. - VAI À MERDA! – Berrei furiosa.
Marchei até meu quarto e me tranquei lá. Sentia ira e dor ao mesmo tempo. Odiava
quando as pessoas julgavam-me. Era fácil, pois ninguém estava em minha pele. Poxa,
será que a imbecil não percebia que era importante para mim o segredo sobre nós? Que
se dane! Se ela não quer falar comigo, também não falarei com ela. Joguei a mala que
estava na cama pra longe e me deitei, preparando-me para esquecer qualquer coisa
relacionada à Lexazinha.
Já passava das 1:23h da madruga. Rolei na cama, impaciente. O meu plano de esquecer
Lexa havia se tornado um pesadelo, pois eu nunca pensei tanto nela como nas últimas
horas. Enfiei a cabeça no travesseiro, com vontade de gritar. É enlouquecedor desejar
não pensar em alguém e sua mente agir de forma irracional, obrigando-te a rever o rosto
da pessoa o tempo todo.
Já não suportando, caminhei até a janela e a escancarei. A brisa fria da noite tocou meu
rosto, intensificando a saudade que sentia da maldita metida. Nós havíamos terminado?
A questão estava me torturando. Decidi acabar com minha dor e perguntar.
- Porra, Clarke! – Xinguei a mim mesma pegando o celular. Digitei rapidamente uma
mensagem.
Meu Leãozinho:
[Terminamos?]
Não consegui, de forma alguma, dormir. Sentia falta do cheiro dela, da pele, do sorriso.
Era como se meu coração desafiasse minha mente. No fundo, sabia que éramos
incompatíveis, mas todo meu corpo a queria mesmo assim.
Encarei o teto, na dúvida: quem ganhará a disputa? Minha mente ou meu coração?
Clarke PDV
Fiquei frustrada pela falta de resposta da Woods. O silêncio dela era um sim?
Perambulei pelo quarto, morrendo de vontade de gritar na cara dela que eu não era a
figura que estava pintando. Tudo bem que não revelei a verdade a Lincoln quando ela
pediu, mas isso não era motivo pra tanto drama.
Bufei, ansiosa e já com pontadas no peito. Pontadas bem conhecidas por mim. Elas
sempre vinham quando eu queria chorar.
Olhei pro canto do quarto e avistei meu violão preto. Foi como se acendesse uma
lâmpada acima da minha cabeça.
Peguei meu celular e o posicionei em cima do criado mudo, prontinho para produzir um
vídeo. Em seguida, tomei em minhas mãos o instrumento, sentei-me no chão e comecei
a tocar e cantar a música que mais se encaixava com aquele momento.
Eu posso sentir, eu posso sentir você perto de mim, mesmo que você esteja muito longe
Eu posso sentir, eu posso sentir você, porque?
A canção simplesmente fluiu, não precisei lembrar da letra, muito menos dos acordes,
era como se cada palavra fizesse parte de mim. Sabia que precisava tentar a
reconciliação, pois permanecer juntas era um desafio diário. Não fomos feitos uma para
a outra como muitos casais, qualquer escorregão poderia nos levar a um rompimento
definitivo. Logo, enviei o vídeo, pedindo a Deus que Lexa o visse.
Encostei o violão na parede, deitei-me na cama de lado e me cobri, dos pés à cabeça.
Fiquei com os olhos fixos no visor do telefone à espera de uma resposta, qualquer que
fosse.
Com um braço, segurei o edredom, formando uma tenda para poder encarar a mulher
diante de mim.
- Janela? – Perguntei em um fio de voz, já que não era a primeira vez que ela entrava no
quarto daquele jeito.
- Sim.
Ficamos alguns segundos, apenas olhando uma para a outra. Então, minha Woods tocou
a ponta do meu nariz com dedo.
- Não. – Murmurei.
- Vou pedir carne, porque é mais a minha cara. Daí, o sujeito da mesa ao lado pede
frango. Quando o pedido dele chega, percebo o quão lindo e tentador é aquele frango.
No início, podia ser um pouco de inveja ou algo parecido. Mas depois que roubei e
Fiquei emocionada. Por mais casca grossa que eu fosse, diante da mulher que me tirava
o fôlego, me transformava em uma boba apaixonada.
- Não, é quem me faz esquecer que existe outros tipos de comida no mundo, porque eu
só quero frango todos os dias.
- Só ganha beijo se falar algo pra mim. – Sorriu maliciosa, acariciando minhas costas.
- O que?
Revirei os olhos.
- Tudo bem, vou voltar pro meu quarto... – A cretina estava fazendo chantagem barata,
enquanto tentava levantar da cama.
Nós rolamos na cama e, dessa vez, minha Woods ficou por cima.
Outra vez gargalhou. Ao menos, agora, eu sabia o que dizer pra fazê-la rir.
Ela parou de rir e passou a língua sensualmente em meus lábios. Minha pulsação
acelerou. Qualquer dia essa mulher me mata!
Para minha felicidade, Lexa, finalmente, me beijou. Sua boca quente contra a minha, me
fez arrepiar. Levei as mãos até seu cabelo. A língua dela passou a roçar docemente na
minha, lembrando-me de quão maravilhosos eram seus beijos. Estávamos ofegantes,
mas nenhuma de nós ousava parar aquilo. Era como mergulhar no mar e não querer
emergir. Tudo na Woods me enlouquecia, seu cheiro, hálito, mãos (que já apalpavam
minhas coxas), boca, olhos, voz, uma armadilha perfeita. Envolvida pelo beijo
abrasador, gemi involuntariamente.
- Acho que vou pedir pra você dizer que é meu frango mais algumas vezes. – Sussurrou
rouca no meu ouvido.
Lambi o pescoço dela percebendo que Lexazinha não estava com intenções nada
decentes. Um bom momento para mostrar-lhe como eu era uma boa aluna e tinha
aprendido direitinho “a última aula”.
- Você é tão gostosa. – Lexa sussurrou. Sua voz estava diferente, mais rouca e
aveludada.
Me livrei logo do pijama. Puxou meus cabelos de leve, e gemeu, se afastando um pouco
para deslizar a língua pelo meu umbigo, avançando por meu quadril e mordendo-o.
- AH! – Gemi.
Lexa estava de joelhos, por cima de mim, percorrendo com a língua todo o meu corpo
que fervia com seus toques. Eu puxava seu cabelo ainda mais, tentando acalmar minha
respiração acelerada. Ela levantou o rosto rapidamente e seus olhos verdes ardiam.
Subiu as mão até minha calcinha mantendo-as na barra, enquanto passava o nariz por
minha intimidade.
E eu a obedeci, chegando ao ápice novamente, junto a ela que gritou por meu nome,
empurrando o corpo uma última vez enquanto nossos gozos se uniam como rios. Lexa
se deitou ao meu lado, ofegando e sorrindo ao mesmo tempo. Sentia meu corpo leve,
quase drogada.
- De novo? – Sussurei.
- Agora? – Lexa perguntou com um sorriso malicioso que correspondi mordendo o lábio
de forma sensual.
***
Acordei um pouco mais cedo que o de costume com o corpo meio dolorido por conta da
noite passada, deixei minha namorada dormindo e fui em busca de Octávia que, à essa
altura, já devia me odiar. Passei pelo quarto dela e nem sinal da maluquete. Desci para
tomar café da manhã e logo a avistei, sentada sozinha na mesa, remexendo a comida.
- Bom dia, Fofolete. – Cumprimentei amistosa e fui ignorada. Puxei uma cadeira e
sentei-me próximo a ela. – Eu sei que está brava comigo, tentei falar ontem com
Lincoln, mas Lexa tomou a minha frente. Sinto muito. – Era difícil pedir desculpas, pois
não estava acostumada com aquele tipo de atitude. Ficamos caladas por alguns
segundos, até que não aguentei mais e implorei. – Ai, poxa, fala comigo, não aguento
esse clima entre nós. Vamos lá, eu conto o que quiser pro maconheiro, digo até que eu
puxo unzinho só pra ele não se sentir deslocado! – Minhas últimas palavras despertaram
uma risadinha nela. Fiquei aliviada por vê-la sorrir. – Estou desculpada? – Não quis
perder a chance.
- Então, se reconciliaram?
- Não.
- Lincoln veio me pedir desculpas, e eu o desculpei assim como acabei de fazer com
você, porém, não reatamos. Você tinha razão, ele não confia em mim!
- Xi... Vou levar culpa por isso também, né? – Cocei a cabeça, fazendo careta.
-Absoluta! Amo o meu morenão, mas não vou ficar pisando em ovos, sempre com
medo de ele entender algo errado e já sair achando-se corno. Digo e repito: sem
confiança, sem namoro.
- Agora você, Sra. Clarke, não vai escapar de mim. – Fofolete me lançou um olhar pra
lá de bizarro. – Lembra-se no início da viagem, quando pediu minha ajuda para encher
as roupas dos Woods de pó de mico?
- Naquele dia, concordei em participar do seu plano, tomando sua palavra como garantia
de que me retribuiria o favor, até me disse que eu poderia pedir o que eu quisesse.
- O que quer?
- Maquinei isso por muito tempo, não quero desculpas. Irá se comportar como a melhor
aniversariante do mundo na festa de amanhã.
Não havia nada que me magoasse mais do que meu aniversário. Não existia tortura pior
para mim, pois cada segundo do dia, lembrava-me de Rose. Por anos, fugi daquilo como
alguém foge do inferno. Era inconcebível ficar diante de um bolo, sorrir para uma foto
em família ou fingir alegria se eu revivia em minha memória cada segundo do fatídico
dia, o qual eu fechava os olhos e conseguia ouvir a voz da minha mãe, suas poucas
palavras envolvidas em melancolia e dor. Minha vida havia virado de cabeça para baixo
após a morte dela e, comemorar aquilo era como tirar todas as defesas que fui obrigada
a criar durantes anos, deixando-me totalmente indefesa para ser consumida pela tristeza
que eu nunca superei.
- O que ela tem? – Perguntou a Woods que acabara de chegar. – Está tão pálida.
- Estou bem! – Assegurei, soltando a cadeira para não demonstrar mais nenhuma
fraqueza.
- Contei a ela sobre a festa de aniversário. – Octávia fez uma caretinha, como se eu
estivesse fingindo passar mal.
- Vai ter sim, primeiro, porque prometeu que eu podia pedir o que quisesse, segundo,
posso contar para seu pai que Lexa está lhe traçando e terceiro... Terceiro... Porque eu
acabei de lhe perdoar. Posso muito bem voltar com a palavra como está fazendo agora.
- Não é justo! – Esbravejei. – Garanto que saio na rua fantasiada de Barbie, deixo pintar
minhas unhas com aqueles esmaltes ridículos com purpurina, mas nada de aniversário,
por favor.
- Vou fingir que não ouvi! – Colocou a mão à frente do meu rosto, me ignorando.
- Eu sei, chapeuzinho, a lista está pequenina, mas eu não faço milagre, o babado já é
amanhã.
- Pense numa raxa uÓ, gente, tive o maior trabalho e a mocréia ainda rasga! – A
bichona revoltou-se. Colocou o dedo indicador na boca, em seguida, apontou pra mim,
cheio de saliva. – Eu te afogo aqui, carniça! Mal agradecida, eu ia até convidar a Gisele
Buchun... bichê... bitchu...
- Não vai ter modelo de nome estranho, não vai ter nada! – Quantas vezes eu ia ter que
repetir?
- Ainda bem que esse não é o único evento que estou promovendo, minha festa de
noivado vai sair rapidinho. Botei todas as bibas para trabalhar. Quero estourar até virar
purpurina no céu. – Ergueu as mãos para o ar.
- Já comecei a procurar um barman. – Virei-me para a Woods, não crendo que ela
estava envolvida no complô contra o meu direito de escolha.
- Eu conheço um que ainda faz um striper básico. Minha flor do campo, tu vai gamar!
UH!... OHOHOHOH! – O viado animou-se, piscando para ela.
- Eu tive uma ideia super fashion para o evento. – Raven apareceu, andando
normalmente sem gesso. Anya veio logo atrás.
- Ei, posso produzir um vídeo bacana da Loira do Banheiro, com efeitos especiais e
tudo, bem dark? – Falou Anya.
- Octávia, minha nossa, que noite, hein? As paredes da casa tremeram. – A Sebosa
zombou.
- Como assim? Eu não fiz nada, Lincoln e eu estamos dando um tempo. – Respondeu
inocente.
Anya, Octávia e Lexa fitaram-me. Foi nesse momento que o pão ficou preso em minha
garganta, me fazendo engasgar. Tossi, nervosa, já ficando sem ar. Chacoalhei os braços,
em um pedido de socorro silencioso. Anya foi a primeira a chegar até mim. Rindo, me
deu um grande tapa nas costas. Em vez do pão voar, quem voou foi eu. Caí no chão,
provavelmente, ficando roxa.
Lexa me levantou rapidamente, abraçou-me por trás e, com os braços, forçou a parte
superior do meu abdômen.
Revirei os olhos, totalmente sem fôlego. Então, depois de mais uma tentativa da Woods
de me tirar do sufoco, simplesmente expeli o pão semi-mastigado, o qual voou direto
para a cara do Bellamy.
Ele fechou os olhos e, lentamente, tirou a melequinha do rosto, respirou fundo e disse,
alterado:
- Desde que conheci vocês, fui ameaçado de morte várias vezes, mordido por um
cachorro na bunda, assaltado no bairro da bala perdida, atingido por um tênis do mal,
quase fui jogado de uma varanda, tentaram enfiar um garfo no meu cérebro e agora,
isso? CHEGA, NÃO TEM BICHA QUE AGUENTE!
Anya PDV
- Gente, espera. Eu estou dizendo, o filme é bom. – Corri pelas escadas, deixando
minha família na sala. Depois do jantar, eles queriam ver um filme, lógico que sugeri
um bem massa que baixei da internet. Porque comigo é assim, tá na net? Eu baixo! É
bom? Eu baixo! É ruim? Eu baixo! É CRIME? EU BAIXO MESMO ASSIM! Faço isso
só pra rir da cara dos otários que pagam TV à cabo por uma fortuna. E daí que o vídeo
fica sem áudio? E daí que vem pela metade ou trêmulo? Como eu já disse... EU
BAIXO!
Entrei no quarto da minha irmã guaxinim, doida para pegar ela no flagra com a Loira do
Banheiro. Infelizmente, ela não estava lá. Devia estar arrochando ela em algum outro
lugar da casa, pois as duas nem foram para o jantar. Comecei a procurar nas coisas da
minha mana, minha bolsa de DVDs. Ela havia guardado pra mim, já que na minha mala
não cabia mais nada, pois roubei do hotel as toalhas, sabonetinhos e até um travesseiro.
Voltei o mais rápido que pude para a sala, antes que a galera desistisse de ver As
Criaturas parte 2.
- Espero que não seja nem um filme indecente, Anya Woods. – Minha mãe achava
mesmo que eu ia pôr um vídeo pornô na sala? Lógico que não. Ia esperar ela sair
primeiro!
Abri o porta-DVDs e peguei o primeiro, devia ser aquele. Se não fosse, ia colocar um
por um no aparelho até achar.
- Sai da frente da TV, carne de burro não é transparente. – Encarei a bandida da Rae
com vontade de afogá-la no balde de pipoca em suas mãos.
Lexa PDV
- Você nunca me deixou andar nessa belezinha. – Sorriu, alisando o painel da moto.
- Nunca pediu.
Gargalhei.
- Muito.
- Irônico dizer isso, pois morre se alguém tocar na sua guitarra. – Precisei lembrá-la.
- É diferente.
- Na faculdade, sim. É como pago a mensalidade. – Não haviam motivos para esconder
aquilo dela. – Falando nisso, o que vai fazer depois do verão? – Há tempos, queria lhe
perguntar aquilo, porém sempre adiava.
- Eu...
- LEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEXA!
Meus olhos quase saltaram para fora ao ver o vídeo de Clarke e eu tatuadas, nos
beijando loucamente. Nossa família, embasbacada, não tirava os olhos da tela. Me
arrependi profundamente de ter passado o vídeo para um DVD antes do meu celular ser
roubado. Logo, eles assistiriam também Griffin, drogada, dançando macarena. Me
preocupei logo com meu frango, que parecia ter visto um fantasma.
Clarke PDV
Minha voz tirou todos do transe. Enfileirados, revezaram olhares entre mim e
LEXAZINHA. Os que já sabiam sobre nós, ficaram surpresos com as tatuagens e com a
cena da Woods me agarrando, já que isso era algo que nenhum deles havia presenciado.
Quanto à Kane, Abby e Raven, pareciam chocados o suficiente para duvidarem da
própria sanidade.
- Isso... É... Algum... Tipo de... Brincadeira? NAMORADAS? – Meu pai gaguejou. Isso
nunca aconteceu antes, não que me lembre. Engoli seco.
A Sebosa agarrou meus cabelos e puxou com força. Rapidamente, reagi, envolvendo
minhas mãos nas mechas.
Empurrei Linc pro lado, para ter uma melhor visão da bandida e Clarke se atracando.
- BRIGA! – Gritei empolgada e fui reprovada pelos olhares de Octávia e minha mãe.
As duas sacudiam os cabelos uma da outra em meio a gritos de dor, girando pela sala.
AINDA BEM!
A bandida deu um tapão na cara da Loira, que devolveu a afronta, chutando-a. Rae caiu
no chão e sua irmã lhe arrastou pelo piso, puxando-a pela perna. Kane deteve a filha.
Nesse meio tempo, a totosa levantou-se e esbofeteou outra vez a Clarke.
- Sua esquisitona nojenta, eu vi ela primeiro, não vai levar a melhor. Agora entendo
porque me jogou na piscina!
Rae arregalou os olhos, notando que a tal estava totalmente fora de si.
Agora as três corriam em volta da mesa sem parar. Eu tava ficando tonta.
- Deixa elas. Vamos ver quanto tempo aguentam? – Respondi, já tirando algumas fotos.
Lexa PDV
Minha irmã burra não servia de nada. Lincoln também não ajudou, ficou só assistindo,
confuso. Droga, por que ninguém estava colaborando?
Kane tentou intervir, mas foi impedido pelo vaso de flores arremessado, em direção à
minha namorada.
Clarke, possuída pelo ciúme, jogou-se em cima da mesa, diminuindo a distância entre
elas, agarrou-lhe o braço e mordeu com força.
O mais rápido que pude, puxei a pirralha, tirando-a da mesa e prendendo-a em meus
braços. Precisei de toda a minha força para contê-la. Ela chacoalhava muito, nunca
imaginei que pudesse ser tão forte assim.
Raven, não aceitando perder, veio em nossa direção, pronta para o ataque. Felizmente,
Kane a impediu, empurrando-a para a sala.
Segundos depois, a porta da frente foi fechada com força. Respirei aliviada. A confusão
havia cessado, aos menos, por enquanto.
Me virei e lhe mostrei minha nuca, enquanto soltava a pirralha, que tremia rosnando
feito um cão de briga.
- Você não, ela! – Apontou para mim. Depois, foi para o escritório.
- Cara, tu mexeu com as duas filhas dele. Me responde uma coisa: deixou algo pra mim
no seu testamento? – A bisonha não calou a boca. Isso serviu pra me deixar mais
nervosa.
Lexa PDV
Em silêncio, segui Kane até seu escritório. O cara bufava e resmungava o tempo todo,
tantas coisas que eu não conseguia entender. Bem, eu até preferia não entender mesmo,
pois, com certeza, estava sendo o alvo daquelas lamentações.
Quando chegamos, meu sogro trancou a porta e me olhou de forma assassina! Pensei:
“Vai me matar!” Era óbvio que minha hora havia chegado. Afinal, por qual outro
motivo ele precisaria nos trancar ali? Sem falar que os outros jamais ouviriam meus
gritos de agonia, a julgar pela espessura das paredes e da porta.
Kane, mudo, caminhou em direção à sua velha estante. Que clima horrível! Queria
sumir, juro. De dentro de uma gaveta, o médico zangado tirou uma maletinha, fechada
com um cadeadinho. Espera, eu acho que sei o tipo de coisa que se guardam em cases
desse tamanho. Pensa, pensa...
- Kane, eu... – É isso aí. Eu nada! Não tinha o que falar. Ia morrer ali e nem daria uma
explicação ao meu assassino.
- Você não precisa falar. Não há nada que mude as coisas agora, pois eu mesmo vi suas
atitudes. Achei que fosse uma garota séria, mas parece que me enganei. – O que ele
tirou da mala, para a minha alegria momentânea, foi um calmante. Parece que ele só
usava aquilo quando realmente sentia vontade de matar as pessoas, pois estava tão bem
trancado! Nossa!
- Lexa, não gostei nada de ver minhas filhas brigando por você. Eu trouxe todos para cá
pra tentarmos ser uma família, não para você brincar com os sentimentos delas.
- Mas, Kane...
Ele sentou-se em uma larga cadeira e pôs os cotovelos em cima da mesa de escritório,
fulminando-me com os olhos. Já que ele não iria me matar (eu acho), decidi me
explicar.
- Está certo, eu errei em não falar com você antes de iniciar o namoro com a pirralha,
mas é complicado. Ela tem dificuldades em assumir o que temos. Já Raven, nunca
tivemos nada... Quero dizer... Tivemos sim... Mas não foi nada sério, e foi antes de
sentir o que sinto hoje por sua filha mais nova. – Ok, eu estava suando pra caramba.
- Quer dizer que teve um caso com minha filha mais velha, enjoou dela e partiu pra
minha caçula?
- Não, Kane! – Eu ia precisar ser clara e direta. – Raven sabia no que estava se metendo
quando ficamos juntas. Ambas só queríamos nos divertir um pouco. Não aconteceu
nada demais entre nós.
- Vocês jovens mudam de sentimento muito rápido. Pouco tempo atrás, Clarke estava
querendo namorar aquele seu amigo Finn, e agora, já está com você? É demais para
minha cabeça! Nem sabia que minha filha gostava de mulheres – Ele pôs as mãos na
fronte.
Realmente era confuso. Meu frango e eu aprontamos muito antes de decidirmos ficar
juntas. Era chegado o momento de eu me impor e mostrar que minhas intenções eram as
melhores. Me aproximei do meu futuro padrasto, fitando-o firmemente.
- Posso te garantir que não tenho nada com Raven. Me desculpe pelos erros cometidos.
Ainda assim, peço que permita meu namoro com Clarke.
- Clarke namorando? Isso não dará certo. Escute uma coisa, Lexa, sei que muitas
garotas da idade dela conseguem lidar com esse tipo de coisa facilmente, mas minha
filha é diferente, ela tem sérios problemas com perdas. Isso aconteceu desde a morte de
Rose. Ela afasta as pessoas com seu jeito rebelde para não criar vínculos ou amizades e
é apenas uma forma inconsciente de evitar que se magoe. Ao que me parece, ela abriu a
guarda para você, porém, não posso deixar isso seguir adiante, já que logo esse pequeno
- Mesmo? Então, quais são seus planos para esse relacionamento? – Indagou,
acalmando-se.
Desviei o olhar sem saber o que responder, afinal, não havia refletido sobre isso ainda.
Minha pirralha e eu mal conseguimos passar um dia sem brigar. Como poderia eu fazer
planos para algo que ameaçava acabar a qualquer momento?
- Foi o que eu pensei. – Suspirou. – Não me entenda mal, gosto de você. De todos, a
considero a mais responsável e madura, porém, não é a pessoa certa pra namorar Clarke.
Logo que voltar para a faculdade, irá esquecê-la. De alguma forma, tudo acabará bem.
Clarke PDV
Faziam alguns minutos que meu pai e a Woods estavam trancados no escritório. Decidi
esperar do lado de fora tempo suficiente para que Kane despejasse sobre ela toda sua
ira. A cretina merecia, já que escondeu de mim que havia ficado com Raven. Nada
poderia me deixar mais enfurecida. Agora entendia o porque da intimidade das duas.
Era melhor pra ela enfrentar meu pai do que a mim, pois queria espancá-la até a morte
por ter se envolvido com a Sebosa. Tudo bem que foi antes de mim, mas a idiota não
tinha o direito de me esconder isso, agora, eu sempre iria ficar com a pulga atrás da
orelha, imaginando o que mais ela poderia estar ocultando. Assim que Lexa levasse uma
boa bronca, eu iria invadir o escritório e anunciaria a meu pai que pouco me importava a
opinião dele, deixar de namorar LEXAZINHA estava fora de cogitação. Minhas mãos
- OLHA SÓ...
- Shhh! – Meu pai sinalizou para que eu me calasse. Porra, justo agora que eu ia iniciar
a batalha? – Vou consentir esse namoro...
- Como eu estava dizendo, vou consentir desde que sigam as regras estipuladas por
mim.
- Sim, se forem sair juntas vão ter de estar em casa antes das 11h, e nada de namorar
dentro dos quartos. Terão que ficar aqui na sala, onde todos possam ver. – É, pelo visto,
ele vive no século passado.
Lexa fez uma carranca, reprovando-me. Dava para perceber que queria que eu cedesse.
- Ótimo! – Kane passou a mão na testa, exausto. – Não quero mais confusão por hoje.
Vou me recolher. Boa noite. – Ele subiu as escadas e a mosca morta o seguiu.
- Esta noite minha cabeça está cheia, mas amanhã precisamos conversar!
Não gostei da frase. Ela me deu um suave beijo na testa e saiu, deixando-me confusa.
Eu estava no meu quarto, sentada na cama com notebook, zoando pra valer em um chat
e passando-me por Dra. A mulherada adorava o negócio de doutora, principalmente
quando falava que tinha grana a dar de pau. Estava passando a lábia em uma totosa que
não parava de me corrigir, quando alguém bateu à porta.
Abri a porta, imaginando ser meu irmão voador com dor de cotovelo. Ia mandar o
carente atravessar a rua de olhos vendados.
- Oi, Anya. – Contraí os músculos dos braços, logo que percebi se tratar da bandida
gostosa.
- O quê, mulher?
E É BOM!
A cachorra merecia, depois de ter me rejeitado da última vez que a procurei. Contei de1
até 40. Era pra ser até 60, mas me perdi no meio do caminho. Reabri a porta e a totosa já
não estava lá. Coloquei a cabeça pra fora e a vi andando no corredor.
- Ei, bandida! Vem aqui que vou te dar umas palmadas! Você está precisando,
pistoleira!
Virei-me na cama e cobri ainda mais meu rosto com o edredom, ao ouvir batidas na
porta. Sabia que já passavam das 16h. Fiquei o dia inteiro deitada, tentando fugir do
maldito dia. Mergulhada em melancolia, revivi, de forma descontrolada, a fatídica data
em que minha mãe se foi.
Logo que a insistente pessoa parou de bater, coloquei a cabeça para fora das cobertas,
com olhos inchados e lábios secos. Tudo que eu queria era que as horas corressem.
Cobri a face com as mãos, enquanto sentia os conhecidos espasmos no peito.
Um barulho próximo à janela me fez ficar alerta. Achei que era Lexa e quase
resmunguei, quando notei se tratar de Raven, que acabara de cair no chão.
- Podemos nos estapear mais tarde? – Fiz careta, sem ânimo nem para brigar.
- O que quer?
- Por favor, não me diga que essa é a cabeça da Lexa. – Apontei pro pacote, temerosa,
enquanto ela ria.
- Por que está aqui, Sebosa? – Confesso que a súbita gentileza dela me causava arrepios.
- Vocês são tão distintas... – Fez uma longa pausa. – Mas de alguma forma, até que
combinam.
- Estou aqui pra insistir que desça para comemorar seu aniversário.
- Lógico, sua burra. Papai também, mas você faz questão de ignorar isso, bancando a
emo mal entendida. Poxa, ele está lá fora super preocupado, torcendo para que participe
da festa. Todo mundo ralou por sua causa.
- Escuta só. – Ela pôs uma mão no meu ombro. – Lembra quando éramos pequenas? Eu
tinha as melhores bonecas, as roupas mais bonitas. Já você, não ligava pra nenhuma
dessas coisas e, ainda assim, parecia mais feliz que eu. E sabe por quê?
- Não. – Murmurei.
- Porque sempre foi a filha favorita dos nossos pais. Por muito tempo, a invejei. Eu era a
mais bonita. Mesmo assim, os holofotes estavam sempre voltados para você. Agora que
sou adulta, aprendi a conviver com isso, aceito a vida como ela é... – Sorriu,
constrangida. - ... Embora eu tenha revivido os velhos tempos, quando soube que estava
namorando Lexa. Mesmo sem ser estonteante, você conseguiu fisgá-la. – Ri, mal
conseguindo acreditar naquela conversa. – Mas não importa também. Eu não gosto
tanto dela quanto imaginava, ela é meio brocha. – Agora nós duas ríamos. – Só quero te
dizer que não vou mais me meter no caminho de vocês, já tenho admiradores
suficientes.
- Eu sei. – Falei, lembrando da infinidade de homens e mulheres que andavam atrás dela
em Polis. – Eu também já tive muita inveja de você! – Admiti, fazendo careta.
- Por quê?
- Ah, qual é? Estala os dedos e todos fazem o que você quer. Onde quer que vá, homens
e mulheres ficam com cara de bobos, admirados com sua beleza.
- Para todo o problema existe uma solução. – Repetimos a conhecida frase juntas.
Abri a caixa retangular prateada e logo avistei uma peça de roupa azul. Rae, vendo que
eu estava atônita, tirou de lá meu presente e exibiu o vestido. Decote em V,
comprimento até a panturrilha. Era realmente lindo.
- Tenho que ir agora. Não se empolgue muito pelo que eu falei. Vou continuar sendo a
irmã mais velha e nós sempre implicamos com as caçulas. – Ironizou, já com a mão na
maçaneta.
- O que?
- Você tem razão. Rose adorava festas. Diga a todos que eu descerei em breve. –
Suspirei, trêmula. – Farei isso em memória dela.
- Tudo bem. – Ela me abraçou de volta. Eu devia estar mesmo com a sensibilidade à flor
da pele.
Já era noite quando desci o último degrau da escada, alisando o vestido novo. Engoli
seco, pedindo a Deus para me acordar, caso eu estivesse no meio de um pesadelo. Foi
nesse momento que notei as luzes apagadas. A iluminação era mantida por algumas
velas, ainda assim, não pude deixar de notar um pequeno palanque no meio da sala, com
cortinas improvisadas de lençóis. Que merda era aquela?
- Não sei, mas Octávia pediu para que nos acomodássemos no sofá. – A mosca
aproveitou meu estado de perplexidade e me empurrou em direção ao assento branco.
Sentamos, os três, curiosos.
- Boa noite, queridíssimo público. HU! ... OHOHOHOHOHO! – Olhei para trás, em
busca do público ao qual ele se referiu. Constatando que a bichona estava louca, voltei a
minha atenção para ele. – Tenho o prazer de lhes apresentar a peça mais
escandalosamente bombástica desde... Desde... – Ele ficou olhando para as cortinas
atrás de si, como se esperasse que alguém lhe desse uma mãozinha. Como isso não
aconteceu, continuou. – Desde a morte de Michael Jackson! Por favor, aplaudam a
grande peça CLARKE PROBLEMA X LEXA SOLUÇÃO, das autoras Lexa e
Octávia. Com figurino dessa bela moça que lhes fala.
- Shhh... – Kane me puxou pelo braço, obrigando-me a sentar. – Eu quero ver isso.
- Posso continuar? Que mundiça mais mal educada! Credo! – O viado provocou,
fazendo careta.
Dei de ombros.
- Era uma vez, em um reino muito, muito distante, um casal apaixonado, cheio de
planos para o futuro. – Bellamy correu para o canto e precisei abrir bem os olhos para
acreditar que Octávia e Lincoln entraram em cena, vestidos de forma estranha.
- Meu amor! – A fofolete suspirou, pegando a mão do ex-namorado. – Kane, estou feliz
por ter me pedido em casamento. Mal consigo acreditar que viajaremos para a Itália. –
É, agora eu entendia porque ela usava uma peruca longa e loira.
- Sim, Abby, vai ser maravilhoso. Lá seremos uma família e tudo pode acontecer.
- O que esse casal feliz e gostoso não sabia é que a maquiavélica Clarke, a filha
perturbada de Kane, tinha planos para dar um fim nesse meloso relacionamento. –
Peguei uma almofada e joguei contra a criatura sem noção, que insistia em narrar aquela
palhaçada. – Que raxa uÓ, gente, eu desisto! – Ele cruzou os braços, em protesto.
- PORRA, SEM PREGAS! CONTINUA LOGO! – Ouvi o berro de Anya, mesmo sem
saber ao certo de onde vinha.
Bufei, não crendo que estava sendo obrigada a passar por aquilo.
- Como eu ia dizendo... Clarke, a filha perturbada de Kane, tinha planos para dar
um fim nesse meloso relacionamento.
- Oh, não! Clarke, a megera, não! Ela é pior que todos os vilões juntos dos Power
Rangers! – Minha prima, uma atriz dramática, fingiu que ia desmaiar e Lincoln a
arrastou para fora de cena.
- Clarke estava pronta para agir assim que a cambada chegou na Europa... – O
narrador apontou para as cortinas e nada saiu de lá. Pigarreou, zangado. – CLARKE,
ESTAMOS ESPERANDO!
Juro que esfreguei os olhos, embasbacada, quando vi Lexa aparecer, andando como se
tivesse uma perna maior que a outra. O pior não era isso e sim, a peruca loira e as
roupas detonadas.
- RÁ, RÁ! O QUE FOI, LEXAZINHA, ESTÁ COM RAIV... – Minha Woods foi calada
quando a maníaca assassina jogou a água na cara dela.
Minha namorada deu uma rápida olhada no papel em suas mãos e disse:
- O QUE? – O som de surpresa saiu da boca de todos, inclusive da minha, pois me senti
ofendida.
- AH... FOI MAL... SABE COMO É, SEMPRE TROCO O L PELO N! – A anta deu
uma risadinha. Então, continuou de onde parou. – CALA A BOCA, PIRRALHA!
- E esse foi o ódio à primeira vista de Clarke e Lexa. Porém, o que será que o
destino as reserva? – O pavão fez um passinho de balé: rodopiou e jogou um punhado
de purpurina no ar.
- Que coisa mais ridícula! – Zombou Raven, assistindo tudo de pé, atrás de mim. – Os
piores atores encenando uma palhaçada narrada pela bicha mais estranha do mundo!
- BEM DOIDA! Cheirou cola? Fica calada porque eu bem sei o que uma bandida da tua
laia quer, Sebosa! – Bellamy não deixou por menos e eu ri alto.
- Elas se odiaram até não poderem mais, infernizaram a vida uma da outra. Então,
um belo dia, Clarke se interessa por Finn!
Lexa entrou em seguida e tentou pegar o animal, que o fez, literalmente, suar a camisa
para conseguir agarrá-lo.
- OH, FINN, EU SOU LOUCA POR VOCÊ! – Disse, segurando o porco que grunhiu.
Isso seria uma resposta? Ou protesto por estar sendo apertado? – MESMO, MEU
LOBO? VOCÊ GOSTA TANTO ASSIM DE MIM? – tentou imitar minha voz. Toicinho-
Finn se contorceu.
- VOCÊ NÃO PODE FICAR COM ELE, LOIRA DO BANHEIRO! – A dona do leitão
marchou pro meio do palco.
Assim que o casal ou ex-casal (eu estou na dúvida) percebeu que estavam sendo
observados, se mandaram, ruborizados.
- NÃO PODE SER! – Clarke (a outra de olhos verdes) enfiou o dedo na cara da Lexa (a
outra sem cérebro, apenas músculos.) – EU NÃO POSSO, NÃO QUERO! – Ajoelhou-se
no chão em puro drama.
- Mas eu sim! – Respondeu a gênio, exibindo um rabisco grande para ela. Após um
longo suspiro, Lexa (Clarke) seguiu com a péssima interpretação. – ESTOU COM
FINN, VOU EMBORA COM ELE! – Apontou para o vazio, de olhos fechados.
- VOLTE, FINN! – Anya Assobiou e o Toicinho voltou pro palanque. – ELE NEM
SEQUER TE CONHECE! – Chacoalhou os ombros freneticamente da pobre Clarke. –
EU ESTOU APAIXONADA POR VOCÊ!
Me lembrava muito bem daquele momento. Olhei para os lados, procurando saber de
onde vinha a música de fundo dramática e tensa. Não demorou para eu avistar Lincoln,
próximo ao aparelho de som, risonho.
- POR QUE, DEUS? POR QUÊ? – Anya caiu de joelhos, lacrimejando. Não sei se pela
música ou se pelas lágrimas, mas me comovi com aquele breve momento, em que
apenas podíamos ver a expressão desolada da bisonha. Me perguntei se minha Woods
havia passado realmente por aquilo. Abby e Kane pareciam estar tão envolvidos quanto
eu, já que estávamos ardendo em expectativa, à espera das próximas palavras da fajuto
Lexa. Ela ergueu a mão para o alto e recitou: - SER HETERO OU NÃO SER, EIS A
QUESTÃO.
Um tênis voador a atingiu. Óbvio que aquilo era obra da minha namorada.
Lexa ou eu... (à essa altura, estou confusa) correu para Anya (Lexa) e se jogou em seus
braços. Era uma cena bem bizarra que me fez gargalhar como louca.
Quando dei por mim, estava aplaudindo de pé. E não era a única, Kane e Abby também.
Lexa, Anya, Lincoln Octávia e Bellamy, enfileirados, em cima do palco, deram as mãos
e inclinaram-se em um cumprimento.
Meus pés, por vontade própria, foram ao encontro dela. Minha Woods, ensopada, pôs as
mãos na minha cintura, puxando-me para si. Meu coração acelerou de felicidade quando
ela me beijou bem ali, na frente de todos.
Quando abri os olhos, meu pai nos encarava totalmente pálido. Foi aí que entendi a
intervenção da minha prima. Ele estava chocado por me ver beijar.
Arrastei Lexa pra fora dali antes que ela fosse fuzilada pelo olhar ciumento do meu
Kane. A sala de jantar estava decorada com flores, velas e vários presentes empilhados
em um canto. Como eu não poderia me empolgar com aquilo? Porém, minutos depois.
- Oh, não! Isso, não. – Pedi, acuada com todos à minha volta, prontos para cantar os
parabéns.
- Te transformo em abóbora, raxa! – Bellamy sorriu, tocando minha cabeça com sua
varinha de condão.
- Trabalhando, tá, meu amor? – Ele não gostou da pergunta. – Fique na sua, gobira!
- Tudo bem. Então, vamos abrir o champanhe! – Meu pai já estava segurando a enorme
garrafa. – Podemos, ao menos, dizer parabéns?
- PARABÉNS!
Gargalhei feliz.
- Champanhe francês? É por isso que eu adoro vocês. – Bellamy se agarrou a uma taça
de cristal.
Fomos rapidamente servidos. Dei um breve gole na bebida gelada, então, a Fofolete
berrou:
- VAMOS BRINDAR!
Típico dela.
- Anda, Clarke! – Insistiu Lincoln, feliz por ter dado uns amassos.
As taças tocaram-se e o som do cristal ecoou pelo local. Logo em seguida, vieram as
palmas.
Não precisei fingir felicidade, eu estava trasbordando dela. Lexa me abraçou e senti que
nada poderia ser mais perfeito.
- Formem uma fila. Ao invés de eu iniciar dando o bolo para os mais queridos, vou dar
aos que menos tenho afinidades... – Abby foi a primeira a se posicionar, sorridente, sem
eu pedir. Ri alto. – Bisonhenta, fique atrás da sua mãe... – Ela foi pulando, animada. –
Anda, Bellamy, fique literalmente atrás da sua bonequinha. – Zombei.
- Que aniversário de pobre! Nunca me senti tão ralé na minha vida. – Ele empinou o
nariz. – Fila pra pegar o bolo? Só o que falta aparecer é uma velha gorda gritando: AS
CRIANÇAS PRIMEIRO! É uÓ, pobreza total! Se forem servir típica comida de
mundiça, strogonoff de frango, me avisem, que eu vou embora.
- Lincoln, Octávia, Raven, Lexa e Kane pra fila nessa ordem. – Ordenei, e eles assim
fizeram. Não pareciam ter se importado com a brincadeira, pois o que eu queria era dar
o primeiro pedaço de bolo a Abby, só por ter trazido Lexa à minha vida. E a fila foi
preciso, já que eu não conseguia admitir minha verdadeira intenção.
Comecei a distribuição. Anya ficou insatisfeita com seu pedaço e roubou o do suposto
maconheiro. Por último, coloquei dois pedaços de bolo em pratos e servi minha Woods
e meu pai.
Caminhamos até o jardim. Me lembrei imediatamente de ela ter citado na noite anterior
que precisávamos conversar.
- Vamos ter aquela tal conversinha? É sobre nosso namoro? – Fiz careta, desanimada.
-Não, esperaremos até amanhã. Não quero estragar essa sua alegria.
Quem nessas horas quer presente? Eu queria era enchê-la de beijos. Mas, me contive pra
não deixar transparecer o desespero.
ADOREI!
A babaca gargalhou.
Colei meu corpo ao dela e minhas mãos invadiram sua jaqueta escura. Procurei nos
bolsos e nada achei. Queria me concentrar, pois ela estava tão cheirosa que quase caí
pra trás. Busquei também nos bolsos dianteiros da calça. Nesse momento, ela soltou
uma risadinha maliciosa. Ignorei, partindo pra vasculhar os bolsos traseiros. E foi no
esquerdo que achei uma pequena bolsinha de veludo.
- O que é isso? – Como Lexa não respondeu, desatei o nó e despejei na palma da minha
mão o objeto prateado. – MEU DEUS! – As palavras saíram involuntariamente, quase
deixei o cordão cair no chão.
Atônita, acariciei o cordão com o pingente de estrela que fora da minha mãe. Toda a
alegria que antes sentia, deu lugar a estranha sensação de deslocamento. Paralisei, sem
conseguir pronunciar uma palavra. Era como se tudo tivesse ficado nublado. Ainda
- CLARKE, ESPERA! – Podia ouvir a voz dela, clamando por mim. Infelizmente,
explodi em reações desanexadas.
Olhei rapidamente para trás e vi uma Lexa confusa. Foi nesse momento que meu corpo
se chocou contra algo, violentamente. Caí sentada. Assim que a breve tontura passou,
olhei pra cima e embasbaquei.
Clarke PDV
Pisquei os olhos, confusa, tentando descobrir de onde aquele homem havia saído. Ouvi
os passos da Woods atrás de mim. Até que ela estacou ao meu lado. Finn me estendeu a
mão cordialmente, oferecendo ajuda. Em um impulso, aceitei, ainda encarando-o.
- O-o que está fazendo aqui? – Estaria eu tão distraída com meus conflitos a ponto de
não notar a chegada dele? – Olha, não é um bom momento para conversarmos. – Soltei-
lhe a mão, recebendo um olhar indiferente.
- Não vim atrás de você. – Respondeu firme. – E sim, dela! – Apontou para minha
namorada.
- Agora não, Finn! – Aquilo mais parecia uma ordem do que um pedido. Seu amigo se
limitou a esboçar um sorriso desafiador.
- Calma, vim em paz. Quero discutir aquelas ideias sobre pegas nas proximidades de
Arkadia, sabe como é, a polícia está começando a ficar no meu pé aqui na Europa.
Ainda está procurando parceria?
- Estou namorando! – Apontei pra Woods, em uma reação totalmente idiota e sem
necessidade. Definitivamente, estava fora de mim.
- Sei... – Ele coçou o queixo e notei um rastro de rancor atravessar seu olhar negro. –
Tipo, juntos de verdade? – Riu de uma piada que eu desconhecia. Então, encarou Lexa.
– Mas você já não tinha uma namorada na faculdade? Não foi o que me disse quando
nos reencontramos aqui em Verona?
- Opa... Desculpa aí! – Zombou, irônico. – Er... É melhor eu ir, te ligo amanhã, cara,
para combinarmos tudo. – Finn, percebendo que o tempo estava se fechando, saiu de
Nem eu, nem Lexa nos despedimos dele. Nos limitamos a encarar uma à outra.
Aquela frase foi o suficiente para eu entender que Collins estava falando a verdade. Me
afastei, sentindo um espasmo violento no peito.
- Não é bem assim... Eu... Quero dizer... – Franziu o cenho, engolindo seco.
Não tinha que ficar ali ouvindo ela gaguejar. Nada que conseguisse dizer mudaria o fato
de que me enganou todo esse tempo. Quem era Lexa Woods? Eu realmente a conhecia?
- Precisamos conversar.
Não deu mais pra suportar, a raiva explodiu dentro de mim. Fechei o punho e, com toda
a minha força, tentei socar o rosto da imbecil. Infelizmente, ela me deteve, aprisionando
meu braço.
- Ótimo, me socar agora vai resolver tudo! – Reclamou, enquanto eu tentava puxar o
braço de volta. Socar era pouco, queria matá-la.
- Ouvir o que? – O choro ficou preso na garganta. – Uma desculpa qualquer? O que
espera que eu diga? Que estou feliz por ter sido enganada? – Pressionei as pálpebras,
sem querer encará-la. – Quer saber? Acho que, no fundo, esperava algo assim, sabia que
ia ser decepcionada. – Coloquei minha melhor máscara de indiferença. – Isso de
namorar e se apaixonar é pra tolos. Pessoas carentes e dependentes demais pra viverem
No momento em que a Woods agarrou meus ombros com força, abri os olhos,
assustada.
- Para com isso! Quando Finn me perguntou no bar após o racha se eu não tinha
alguém, mencionei o nome dessa garota. O que temos não é bem um namoro... Apenas
ficamos juntas com frequência.
- Então me diz como isso não pode ser um namoro? Quem está querendo enganar? A
mim ou a você? – Empurrei as mãos dela para longe de mim. Sentia minha cabeça girar
como se estivesse no centro de um tornado. – Você é uma estúpida, me arrependo
muitíssimo de ter confiado em uma... – O olhei dos pés à cabeça, com falso desprezo. -
... Uma Woods.
- Como?
- Está jogando toda a culpa pra cima de mim, porque é uma medrosa! – Sua expressão
agora era acusatória. E o tom de sua voz estava altíssimo.
- Eu... – Murmurou, soltando-me. – Não dificulte ainda mais! Seja uma adulta!
Coloquei o dedo rente a face dela, pronta pra lhe responder à altura, mas meus
argumentos pareciam ter evaporado no ar. Lentamente, baixei a mão e só aí percebi que
toda a família assistia nossa briga, perplexos, próximo à porta.
Direcionei-me para dentro da casa com passos firmes, enquanto todos abriram caminho,
lançando-me olhares curiosos e cheios de pena. Já não suportando a dor aguda no peito,
corri para o quarto e lá me tranquei.
Lexa PDV
Kane me encarava friamente. Não sabia o quanto da discussão ele presenciara. Mas,
pelo visto, fora suficiente para ele tirar suas conclusões nada favoráveis a meu respeito.
A cobrança em seu olhar me lembrou de minha promessa. Fechei os olhos e suspirei,
sentindo o peso das minhas palavras. Todo o meu discurso do dia anterior, pedindo
permissão para namorar sua filha, foi em vão, diante da lastimável cena de
incompatibilidade.
Sem falar nada, fui até a garagem, dei a partida em minha Suzuki e saí daquele lugar o
mais rápido que pude. Enquanto dirigia pelas ruas de Verona, o rosto da pirralha seguia-
me como um fantasma, como o meu objeto de afeto e desejo. Tudo o que queria era que,
no dia seguinte, Clarke e eu, pudéssemos voltar ao que éramos antes, mas, após tantas
alfinetadas e palavras duras, duvidava que isso acontecesse facilmente.
Clarke PDV
Já passavam das 10h da manhã. Fiquei sentada ao pé da cama, olhando para o rádio-
relógio, toda a madrugada. A aflição me corroia por dentro. Por várias horas, não soube
o que fazer, mas, conforme o dia ia chegando, minha mente começava a trabalhar,
fazendo-me refletir sobre os acontecimentos. Por que não podíamos ficar juntas sem
maiores complicações? Por que o verão tinha que acabar?
Caminhei até o espelho e desarrumei o cabelo. Ainda estava com o vestido azul que Rae
me dera e o colar de minha mãe pendurado no pescoço. Pra ser sincera, eu não
reconhecia a pessoa refletida ali. Não sabia quem eu era. Seria a garota que a Woods
descrevera ou a casca grossa que não ligava pra sua má reputação? Talvez fossem as
duas, ou nenhuma.
Não queria me separar de Lexa, necessitava do seu cheiro, do seu abraço. A atitude dela
no meu aniversário me machucou muitíssimo, porém, ficar longe dela, machucava
muito mais. Fui até a porta e abri, disposta a conversar. Eu não era boa em me
expressar, mas a ponta de esperança dentro de mim, me motivou a tentar. Quem sabe,
tudo não se resolveria como em nossas outras brigas? Eu podia dizer que era o frango
dela, ela riria e seria um grande passo para a reconciliação. No corredor, avistei Octávia
saindo do quarto de Lincoln. Ela estava com olheiras tão tenebrosas quanto as minhas.
- Bati na sua porta várias vezes ontem. Por que não abriu?
- Estava querendo ficar só. – Respondi, sem lhe dar detalhes. – Então, cadê a babaca?
- O que aconteceu?
- Vamos lá pra baixo, vamos comer alguma coisa. – Tentou me puxar pelo braço, mas
me desvencilhei.
- Fala! O que aconteceu? – Minha respiração ficou suspensa, sentia que algo havia
acontecido. - FALA, PELO AMOR DE DEUS!
Ouvi Octávia gritar o nome do meu pai. Ignorei, adentrando o quarto da minha
namorada, com as mãos geladas.
A cama estava arrumada e todos os objetos pessoais dela que costumava ver ali, haviam
sumido. Corri para o closet e me deparei com ele vazio. Haviam apenas cabides jogados
e caixas vazias.
- O que aconteceu?
- Lexa achou melhor partir alguns dias antes de nós, voltou pra casa. Abby foi junto,
mas logo ela nos encontrará em Polis. – Ele puxou do bolso um pedaço de papel e o
estendeu para mim.
Lamento. Você sabe aquilo que eu não consigo escrever e que você não suportaria ler.
Felicidades...
LEXA.”
A folha deslizou de minhas mãos e caiu no chão. Minha Woods havia me deixado. Era
o fim.
Os soluços eram tão altos que não se podia ouvir nada além deles naquele quarto. Era a
primeira vez que isso acontecia desde a morte da minha mãe. Coloquei as duas mãos no
peito, sentindo a dor terrível e dilacerante da angústia. Kane baixou-se para ficar junto à
mim, mas, querendo poupá-lo daquilo, me arrastei debilmente até um canto de parede,
numa tentativa frustrada de esconder minha dor. Por mais que eu quisesse chorar
baixinho, não conseguia. Com as mãos cobrindo a face, gemi, por Lexa e pela perda tão
difícil de aceitar. De repente, já estava chorando por vários acontecimentos que me
causaram sofrimento. Algo rompeu dentro de mim, como um ciclo que chega ao fim.
Sentia-me como a menina de anos atrás, com sentimentos fluindo livremente. Braços
conhecidos envolveram-me. Sabia que era meu pai, e seu carinho apenas intensificou a
crise de choro. Por mais que ele quisesse me consolar, nada no mundo poderia. Pois
nada, nem ninguém havia me preparado para aquele momento. Me apeguei a ele,
agarrando a camisa alinhada e molhando-a com minhas lágrimas.
Lexa PDV
Não conseguia ficar sentada na poltrona do avião. Sentia-me sufocada. Olhei para o
lado e notei que minha mãe havia adormecido. Sutilmente, levantei-me e fui até o
banheiro. Lá, me tranquei. Abri a torneira e lavei, rapidamente, o rosto tenso. Encostei-
me na parede, onde bati a cabeça com força, fitando o teto.
Ainda não acreditava que eu havia deixado a pirralha. Fechei os olhos e pude visualizá-
la perfeitamente. A garota problemática e absurda que eu amava. Pressionei as
pálpebras e uma lágrima desceu pelo meu rosto. Estava pra invadir a cabine do piloto e
obrigá-lo a voltar pra Itália. Para não fazer isso, me forcei a lembrar dos motivos pelos
quais eu havia deixado Griffin.
Rodei quase toda Verona em minha moto. Quando voltei pra casa, já passavam das 2h.
Me sentia bem melhor, o vento no rosto e a velocidade me ajudaram a raciocinar. Tudo
o que eu queria naquele momento, era invadir o quarto do meu leãozinho pela janela e
beijá-la até que nossas bocas ficassem dormentes. Tinha a esperança de que, na cama,
abandonássemos as implicâncias e acusações. Estava louca para lhe confessar o
quanto era importante e única para mim. Costia ou qualquer outra mulher de Arkadia,
não era, sequer, empecilho para nós.
Ao adentrar a garagem pra guardar a Suzuki, dei de cara com minha mãe, sentada no
capô do carro de Kane.
- Eu é que pergunto.
- Eu não sei... – Confessei. – Clarke e eu estamos sempre brigando. Não sei onde isso
vai parar.
- Mas eu sei. Irão discutir e se reconciliar várias e várias vezes até que, um dia, uma de
vocês ou ambas irão desistir. Não tem amor que resista a tanto conflito. Já vi isso
acontecer antes. – Abby pôs a mão no meu ombro.
Suspirei alto.
- Não... Acho que não somos esse tipo de casal. – Cruzei os braços, cerrando os lábios.
Eu não tinha muita certeza de que tipo éramos.
- Sou uma ótima observadora, sabe disso. Já percebi, faz tempo, que Clarke é
muitíssimo apaixonada por você, ela não consegue disfarçar, apesar de parecer lutar
contra. Ouvi o que disse durante a discussão com ela, concordo totalmente. A menina
está travada, por causa dos traumas e medos. Ela precisa quebrar essas correntes que
a envolvem ou nunca conseguirá ser feliz. Clarke precisa se confrontar e decidir o que
é mais importante, a redoma que criou em volta de si ou os sentimentos por você. Pensa
comigo, e se a garota tivesse que lutar por algo que é realmente importante? Focada
em um único e árduo objetivo, acabaria por considerar banais todas as outras coisas,
como meu noivado com Kane e a rebeldia desnecessária. – Minha mãe lançou um olhar
cúmplice. – Nós sabemos que tudo o que é conquistado com dificuldade é mais
valorizado.
- Talvez não tanta. Se a deixar, Clarke sofrerá a princípio, mas ela te ama, é
determinada, não irá desistir facilmente. Quando precisar te reconquistar, vai aprender
a priorizar as coisas certas. Depois de tudo que fizer pra, finalmente, te ter de volta,
estará amadurecida o suficiente para valorizar o namoro. As dificuldades que
- Lexa, você pode arriscar tudo nesse plano ou esperar que seu namoro definhe
lentamente. Considere uma estranha terapia. – Abby sempre lia livros a respeito. Não
me admirava esse tipo de opinião.
Até parecia um bom plano, pois, assim, estaria cumprindo minha palavra diante de
Kane e apostando minhas fichas no amadurecimento do meu frango. Porém, temia que
a pirralha não gostasse de mim tanto assim para fazer todas as coisas descritas por
minha mãe.
- Digamos que eu fizesse isso. Quando saberia o momento de parar de resistir à ela?
Suspirei dividida.
- Você sabia que estávamos juntas antes de todos os outros, não é? – Sorri.
- Claro, dá pra notar como se gostam. É como se existisse um imã atraindo uma para a
outra. Confesso que eu não fazia ideia das tatuagens. – Riu. – Querida, se decidir
seguir meu conselho, a apoiarei, pois sei que será algo extremamente difícil pra você.
Em poucos dias, as férias teriam um fim. Já não podia fingir que nosso namoro não
andava sobre a corda bamba. Talvez fosse chegado o momento de arriscar tudo.
Octávia PDV
Após assistir o que aconteceu com minha prima, de certa forma, me senti grata por Linc
e eu ainda estarmos juntos, mesmo com nossos problemas. Se o mesmo tivesse
acontecido comigo, talvez não suportasse. Queria fazer algo para confortar Clarke, mas,
infelizmente, não sabia o que. Droga! Sou inútil!
Anya PDV
Parecia que o viado escolhia as piores horas pra aparecer! O meu susto foi grande ao ver
aquela coisa esguia se esticando no chão, parecendo uma sucuri, e gritando sem parar.
Como todo mundo tava pasmo, eu resolvi quebrar o silêncio:
- Quê que foi isso, desgraça? Ô, pelo menos, avisa quando resolver assombrar! Que
saco!
Gargalhei alto.
- Como pôde deixar ele administrar sua conta? – Disse Octávia incrédula.
- Como você foi burro! – Meu mano não conseguiu segurar a língua e eu caí na risada. –
Fica quieta, Anya, você não é mais inteligente! – Fechei a cara.
- E agora? ...Quero dizer... Não tem mais nada? – Rae se aproximou da vítima do michê.
- Eu sou uÓ, estou pobre, não tenho nem um Euro pra pagar o táxi... – Ergueu a cabeça,
com olhar pidão, pras meninas. - ... Que, aliás, está esperando lá fora.
Não dá vontade de mandar um desses ir tomar naquele lugar? Se bem que, se fizesse
isso, era capaz de ele gostar!
A anãzinha, cheia de pena, correu para fora da casa pra pagar o táxi da desgraça.
Por que ele não veio a pé? O maldito já estava dando prejuízo.
- Por que não vai passar a lábia na sua vozinha morta-viva? Ela não é montada na
grana? – Perguntei.
- Gente, a velha me detesta, não me daria um centavo. Nem sequer colocou meu nome
no testamento. E sou o único parente vivo.
- Aquela lá deve detestar o mundo inteiro. – Murmurou pelo canto da boca, Lincoln.
- EU NÃO SEI O QUE EU VOU FAZER! – Lá se foi ele berrar novamente. – COMO
VOU VIVER SEM GLAMOUR, ROUPAS DE GRIFE E JÓIAS? – Fiz careta pra
tamanha frescura. – SER POBRE É O FIM, É O uÓ! NÃO QUERO SER MUNDIÇA!
- Calma... – Octávia, que acabara de voltar, o puxou pela mão, levantando-o do chão. –
Tudo irá se resolver. Só tem que trabalhar.
- Isso mesmo, Bellamy, precisa viver por conta própria, agora. – O voador incentivou.
- O seu negão não deixou pistas? Talvez, você consiga recuperar sua grana e nos deixe
em paz. – Questionei, só pra ele parar de gritar.
- À essa altura, ele deve estar tomando tequila no México! – Disse a biba, aborrecida.
- Sério, Bellamy! Não tem nada que você saiba fazer? Realmente, vai precisar trabalhar
ou acabará como traveco de esquina. – Raven insistiu.
- Octávia, você não vai cursar estilismo e moda em Arkadia? – Interrompeu Lincoln. –
Será que você não conhece ninguém lá que consiga um emprego pra esse doido aí?
A namorada estranha do meu irmão remexeu a boca, olhando pro teto. Então...
- Tenho planos de criar uma grife. Pode me ajudar, Bellamy, você tem muita influência
aqui na Europa, conhece os gays mais chiques. Toda grife que se preze tem que ter um
gay fashion como estilista.
- Espera, eu é que tive a ideia de abrir uma boutique primeiro. Tenho esse projeto, faz
tempo. – A bandida ficou chateada.
- Não se preocupe, prima, não vou roubar sua clientela. – Octávia provocou, sorridente.
- E com que dinheiro tu vai abrir essa negócio gay aí, maluca? – Perguntei na lata.
- Por que não juntam as ideias da Octávia com a verba da Rae e a influência e
experiência do Bellamy? – Arregalei os olhos pro voador.
- Não! – Octávia fez carinha do gato de botas do Shreek. Pequena, mas letal. – Tem que
ser em Arkadia, é lá que vou estudar.
Clarke PDV
Assim como prometido por Kane, partimos de volta para os EUA, o mais cedo possível.
Me encolhi em uma poltrona afastada dos demais, olhando através da janela do avião.
Silenciosamente, me despedi da Itália. Passei a amar e, ao mesmo tempo, odiar aquela
terra. Quando a aeronave levantou voo, senti um aperto forte no coração, era como se
estivesse deixando uma parte da Clarke ali. Os raios solares iluminavam meu rosto e,
mesmo sem sentir o seu calor, fiquei um pouco mais confortada. Cheguei naquele país,
forte e determinada e agora, o estava deixando, totalmente despedaçada. Quanta ironia!
Pedi, mentalmente, a Deus, que me ajudasse, pois era difícil até mesmo respirar.
Verona, abaixo de mim, se tornava pequena e as poucas nuvens me lembravam Polis,
em seus dias mais chuvosos. Me esforcei ao máximo para não chorar, não queria ficar
exibindo minhas fraquezas. Já estava cheia dos olhares de pena, vindos de Octávia e
meu pai. Se eles me perguntassem como eu estava me sentindo mais uma vez, com
certeza, daria um jeito de saltar daquele avião. Porém, eu sabia que, por mais que
mentisse e escondesse a dor da angústia, eles podiam perceber a verdade, através dos
meus olhos, mãos trêmulas e da quantidade de calmantes que tomei para tentar relaxar.
Não tinha a menor noção do que faria quando chegasse em Polis. Tudo o que eu queria
era ir para casa, abrir a porta do quarto e me jogar, ali mesmo, no chão, sozinha, até que
minhas lembranças da Itália se dissipassem, a tal ponto de serem confundidas com um
sonho.
Durante as várias horas de voo, não comi, não bebi. Apenas, me limitei a segurar o
choro. Algumas lágrimas escorreram em minha face e foram prontamente enxugadas.
Por mais que eu tentasse fugir das lembranças, elas me cercavam covardemente. Revivi,
mentalmente, vários momentos com Lexa. Alguns bons outros, nem tanto. E, quando
isso se tornava insuportável, afundava o rosto no travesseiro.
Após uma longa e torturante viagem, chegamos à fria e nebulosa Polis. Arrastei a mala
até meu quarto, alegando que estava perfeitamente bem. Meu pai não pareceu acreditar.
Mesmo assim, me deu espaço.
Quando entrei no quarto, tudo estava exatamente igual. Os móveis e meus objetos
pessoais, intocados. Tranquei a porta atrás de mim, então, fiquei parada no meio do
cômodo, esperando voltar a me sentir a mesma Clarke que saíra dali, cheia de planos
para destruir o noivado de Kane. Infelizmente, a desejada sensação não veio à tona. Eu
não era a mesma pessoa e, foi nesse momento, que percebi: minha vida nunca mais seria
a mesma. As coisas que passei na Europa foram intensas e significantes. Seriam
lembradas para sempre.
3 SEMANAS DEPOIS...
Desci as escadas em direção à sala, segurando minha agenda vermelha, minha única
companheira durante o tempo que passo enclausurada em casa. Ali, estavam as diversas
composições que fiz, no auge de minhas noites melancólicas.
Ouvi vozes vindas da sala que, geralmente, era extremamente silenciosa. Rapidamente,
me escondi embaixo da escada, um local com pouca iluminação, mas com uma boa
vista para a sala.
Reconheci, de imediato, a voz de Abby. Ela deveria ter acabado de chegar. Não tive
notícias suas por muito tempo. Ela e meu pai estavam sentados no sofá, de costas para
mim.
- Estão muito bem. Octávia não encontrou dificuldade nenhuma em cancelar sua
inscrição em Yale e se matricular na Universidade de Arkadia. Está animadíssima em
fazer parte da equipe de estilistas de Bellamy. – Ela riu ao pronunciar o nome do pavão.
- Acha que esse projeto da grife dará certo? – Meu pai não escondeu o tom de
desconfiança.
- Olha, no início, achei tudo meio bagunçado. Os três não paravam de discutir, cada um
queria seguir uma linha diferente, mas parece que, agora, chegaram a um consenso.
Estão reformando um local para a inauguração da boutique.
- E os outros? – Kane disse, interessado. Dei um passo à frente, a fim de ouvir melhor.
- Voltaram às suas rotinas. Afinal, eles não são mais calouros, né, meu amor? Lincoln,
como eu lhe falei outro dia no telefone, conseguiu entrar em contato com o proprietário
Estava meio chocada. Me distanciei tanto das pessoas nas últimas semanas, até mesmo
de Octávia, que as palavras ditas pela mosca morta pareciam até surreais. Eu deveria ter
conversado mais com a Fofolete, achei que as ligações telefônicas dela eram apenas pra
ficar tentando me consolar. Por isso, raramente as atendia. Me fechei em meu
sofrimento, esquecendo-me de todos, exceto de Lexa. Até a pronúncia mental desse
nome, machucava. Me obriguei a voltar a atenção para a conversa na sala.
- Anya está lidando bem com o fato de ser vizinha do Bellamy? – Meu pai riu.
Tapei a boca rápido, prendendo a risada. A bichona deveria estar tocando o terror na
pequena Arkadia.
- Bem... Daquele jeito que te falei no outro dia... – A voz dela tinha uma certa tristeza. –
Queria poder fazer mais... Porém, me sinto de mãos atadas.
- Eu sei, meu amor. – Meu pai beijou-lhe a testa. - Tudo se resolverá, vai ver.
Visitaremos eles com frequência assim que Clarke melhorar. Agora, precisa descansar
da viagem.
Percebendo que a conversa não se estenderia, sutilmente, voltei ao meu quarto com a
ponta dos pés.
A noite não demorou a chegar e, era durante ela, que caminhava pela casa vazia,
mergulhada em pensamentos e melodias fracas soando em minha mente. Canções à
espera de letras. Fui até a cozinha, de pijama. Acendi as luzes e me direcionei à
geladeira. Tirei de lá uma travessa com um resto de torta de chocolate. Era uma das
poucas coisas que eu comia. Fiquei triste por só haver um pedaço. Depositei a travessa
na mesa e fui até o armário, buscar um garfo.
- Isso é meu!
- Você não o quer o suficiente. – Sorriu sarcástica, pegando uma lasca da torta com o
dedo e depois, colocando na boca.
Fiz careta, confusa. Aquela mulher queria ser estapeada por causa de uma torta?
- E pensar que cheguei a ter medo de você... – Deu de ombros, fitando a travessa.
- Antes, você era determinada, cheia de fibra. Fazia o que queria sem se importar com
as consequências. Mas, agora... – Analisou-me.
Pensei em ficar ali e discutir, só que não tinha ânimo nem pra isso. Caminhei para fora
da cozinha.
- Lógico que sim. Não quero que minha filha fique com alguém que não a ame.
- Não conhece meus sentimentos. Não sabe nada a meu respeito! Como ousa...
- Então, o que ainda está fazendo aqui, Clarke? – Interrompeu, com voz levemente
alterada.
- Caso não saiba, ela que me deixou! – Carrancuda, a encarei, sem conseguir disfarçar a
mágoa.
- Bem... Até onde sei, quem desistiu foi você. Não lembra-se? Eu estava lá, na noite em
que discutiram, te ouvi dizer: Eu vou ficar muito bem sozinha. É isso, é assim que vai
ser. Que se foda o resto. Me deixe em paz!
Lembrei-me das palavras ditas no momento da ira e, agora, conseguia perceber o quanto
elas foram duras e desnecessárias.
- Mas... – Confusa demais, me esforcei a raciocinar. – ... Mas ela me deixou um bilhete.
– Murmurei.
- Kane e eu vimos o bilhete. Ali era só uma despedida. Repito, foi você que a afastou,
ela apenas acatou seu pedido. – Abby franziu os lábios, parecendo lastimar.
- Uma coisa te posso garantir, ela ainda está magoada com você. Pois se esforçou para
convencer Kane a permitir o namoro e... O que você fez pra ajudar? Nada! Pelo
contrário, mostrou a todos que não estavam preparadas para a relação.
- Não seja tola! Estive lá todo esse tempo e não vi namorada alguma. Lexa só estuda e
sai, às vezes, com Finn.
Finn? Estranhei. Preferi não pensar nele, afinal, minha cabeça já estava suficientemente
cheia. Sentei-me na ponta da mesa.
- Acha que, se eu ligar para a Lexa, talvez ela... ? – A frase saiu sem querer.
- Não vai adiantar, como eu falei, existe a mágoa. Vocês duas são bastante orgulhosas. –
A mosca morta me olhou intensamente nos olhos. – Escuta, Clarke, vai deixá-la ficar
com a razão? Vai deixar todos acharem que é fraca e medrosa? Olha pra você, aqui,
escondendo-se. – Tentei responder, porém, não sabia como. – Pare de sentir pena de si
mesma e lute, guerreie por sua felicidade!
- Como? – Pisquei os olhos, tentando assimilar. – Pelo que disse, ela não vai querer me
ver! – Já havia me arrependido antes da maldita discussão, mas não tanto quanto
naquele momento.
- Sabe de uma coisa... – Sorri, rendendo-me. – Você tem razão, não vou deixá-la ficar
com a última palavra. Eu posso ser melhor do que ela imagina. – Me pus de pé. – Não
vou permitir que ela saia tão facilmente da minha vida, esperei tempo demais pra
encontrar alguém como Lexa. – Cerrei o punho, vendo os olhos de Abby brilharem. –
Vou ser tão maravilhosa, que ofuscarei o brilho de qualquer outra garota de Arkadia. –
Prometi a mim mesma em voz alta.
- Juro, não contarei absolutamente nada. – Havia mais sinceridade em seu olhar do que
eu imaginava.
- Tem outra coisa... – Fiz uma pequena pausa. – Quero que me conte umas coisas. –
Fiquei chocada comigo mesma. Mas, deixei aquilo passar, afinal, era por uma boa
causa.
- Tenho que saber mais sobre a Lexa, não a conheço tanto quanto imaginava. Quero
saber da infância, as coisas que odeia, medos, preferências... Enfim... Tudo que puder
me ajudar na minha caçada.
- Força de expressão... Quero dizer que vou atraí-la sutilmente para mim e, quando ela
perceber, já não terá mais volta. – Sorri, presunçosa.
- Gostei da ideia. – Abby riu. - Ok, vamos sentar, te contarei tudo que quiser saber.
Sentei-me, animada com o meu novo objetivo. Quando a mosca morta colocou a
travessa no meio da mesa, com o garfo, peguei um pedaço da torta e o pus na boca. Em
seguida, larguei o talher próximo a Abby para que ela pudesse desfrutar do mesmo. Eu
estava absorvida pelas explicações dela sobre a personalidade da LEXAZINHA.
- Espera, por que está me ajudando? Qual seu interesse? – Franzi o cenho. – O que quer
em troca?
- Já sei... – Virei o rosto, meio chateada. – Quer que eu pare de me impor contra seu
noivado. – Murmurei, sem vontade.
- Não! – Balançou a cabeça como se aquilo fosse absurdo. Então, voltou a sorrir. –
Quero que prove para Lexa que ela está errada a seu respeito. Ela se acha muito dona da
verdade, não sabe como isso, às vezes, é irritante, mesmo quando tem razão.
Quando terminei a conversa, fui até meu quarto e vasculhei minha escrivaninha, em
busca das cartas de aceitação das universidades. Tinha me inscrito em várias, inclusive
na Universidade de Arkadia, porém, não me matriculei em nenhuma. Desejava cursar
música, só que, antes, almejava viajar por vários países com grande influência musical,
para me aperfeiçoar, aprender. Mas meus planos haviam mudado e, agora, a
Universidade de Arkadia me parecia o melhor lugar para estudar música.
Peguei minha mochila velha e, lá, coloquei alguns objetos pessoais e roupas. Não
pretendia levar muita coisa, pois a maioria das minhas roupas já tinham me cansado.
Fui até o closet de Raven, o maior da casa. Aquele lugar mais parecia uma loja
abarrotada de roupas. Mesmo que ela quisesse levá-las para seu novo endereço,
certamente, não teria onde guardá-las. A maioria das peças não me agradava.
Felizmente, achei uma bela jaqueta de couro preta e botas da mesma cor, cano longo,
que combinavam perfeitamente. Corri para o banheiro da Sebosa (agora, a chamava
assim por puro hábito). Lá, troquei de roupa. Coloquei calça jeans, regata branca e as
peças roubadas do closet de minha irmã. No banheiro, achei um conjunto de maquiagem
largado. Ria sozinha, enquanto abusava do lápis de olho preto, rímel e um brilho labial
tão suave que confundia-se com a cor natural de meus lábios. Confesso que adorei o
efeito. Fiquei realmente bonita. Joguei a maquiagem dentro da mochila e encarei o
espelho.
O dia estava quase nascendo quando deixei uma carta para meu pai em cima da
escrivaninha de seu escritório, garantindo-lhe que estava bem, que, assim que chegasse
em Arkadia, o telefonaria, e, lógico, pedindo que enviasse um cheque para a reitoria de
da Universidade. Desejava me despedir adequadamente, mas teria que abrir mão
daquilo, pois, se Kane soubesse que eu estava prestes a viajar sozinha de moto,
certamente enlouqueceria.
Seriam horas na estrada até meu destino, Arkadia, New Hampshire. Eu não me
importava, estava louca para pegar a autoestrada, acelerar na potência máxima minha
coleguinha, sentir a velocidade e a liberdade.
Em pouco tempo, já estava fora dos limites de Polis. O vento passando pelo capacete
negro, a estrada me convidando para uma aventura solitária... sim, eu estava adorando
pegar as rédeas da minha vida! Agora, tinha 18 anos, universitária e ninguém ia me
deter!
Alexandra Woods me deu aulas de como conquistar Finn, alegando que ambos tinham
preferências similares. Nada poderia ser mais perfeito. O feitiço iria se virar contra o
feiticeiro! Pois, eu iria usar tudo que ela me ensinou e muito mais! Afinal, no amor e na
guerra vale tudo, não é?
- Me solta, já falei que não vou! – Esbravejei para Anya e Lincoln, que me puxavam
pelos braços para fora de nosso prédio, tarde da noite.
- É, cara, a gente não te aguenta mais. Você nunca esteve tão chata! – Não culpava Linc
por aquilo. Eu estava realmente chata.
Tentei, por semanas, disfarçar minha tristeza, passando horas na biblioteca e correndo,
imprudentemente, nos rachas organizados por mim e Finn. Cada dia que passava longe
da pirralha, mais sentia-me deprimida e solitária. Nunca havia me sentido daquela forma
antes, já estava quase perdendo as esperanças de tê-la de volta. Infelizmente, o plano de
minha mãe dava sinais de falha. Apostei todas as minhas fichas e perdi. Conforme os
dias iam passando, duas teorias dominavam meus pensamentos. A primeira era que
Clarke não me amava e a segunda era que amava, porém, seu orgulho e teimosia eram
maiores. De qualquer forma, as duas deixavam-me distante dela.
Meus irmãos sabiam a causa do meu desânimo, eles até sabiam sobre o plano de Abby,
mas ninguém ousava tocar no assunto. Os fiz jurar que não contariam a ninguém, pois
me sentia uma idiota sempre que lembrava de ter topado aquela loucura. Às vezes, tinha
vontade de procurar meu frango, mas sabia que ela estava me odiando.
- Podemos ir pro clube de stripper agora? – Minha irmã falou, e eu já estava cheia
daquela maldita pergunta, pois tinha que ouvi-la todos os dias. Ignorei, revirando os
olhos.
Ouvi o ronco de um motor atrás de mim, a luz dos faróis iluminou os rostos dos meus
irmãos. Não dei importância. Se fosse Finn, lhe diria que, hoje eu não estava a fim de
correr.
- O que?
Virei-me rapidamente e dei de cara com Clarke em sua Ducati, com o capacete nas
mãos. Engoli seco e pisquei os olhos só pra ter certeza de que não estava tendo uma
alucinação. Ela sorriu e percebi que era real. A felicidade e confusão deviam estar
estampados em meu semblante.
A pirralha desceu da moto, pegou uma mochila e, com a guitarra nas costas, passou por
nós, dando uma piscadela. Eu não era a única com cara de boba, meus manos também
estavam embasbacados. Meu leãozinho estava ainda mais linda do que da última vez
que a vi. Existia um brilho diferente nela que eu não conseguia saber o que era.
- É HORA DA...
Nós fizemos nossa típica e boba dancinha, ali na calçada! Até o voador entrou no
embalo!
Clarke PDV
Com o endereço de Octávia e Rae nas mãos, andei pelo corredor em busca do
apartamento 23. Não foi difícil achá-lo. Apertei a campainha e esperei, sentindo meus
punhos doloridos, devido o excesso de tempo que passei pilotando a Ducati até Arkadia.
A porta abriu-se lentamente e, então...
Raven estava sentada em um grande sofá roxo com um punhado de retalho nas mãos.
Havia tecidos de diversas cores espalhados pela sala e uma garrafa de vinho em cima da
mesinha de centro branca. Abby tinha razão, o lugar era aconchegante, porém, muito
simples. Janelas de vidro grandes, paredes, curiosamente, cor-de-rosa, flores e enfeites,
tipicamente, femininos. Perguntei-me se não tinha encontrado, acidentalmente, a casa da
Barbie.
- Faculdade! – Sorri. – Tem lugar pra mais uma aqui na casa da Barbie? – Me joguei no
sofá, exausta.
- Mesmo? Quer... Dizer... e a Lexa? – Octávia enrugou a testa. – Achei que não gostaria
de ficar tão próxima dela.
- Fala sério? – Não entendi porque minha irmã fez aquela cara de espanto. O que ela
achou? Que eu realmente desistiria da LEXAZINHA?
- Eu explico isso depois, com calma. Hoje, estou muito cansada. Então? Posso ou não
ficar?
- Vai ser legal! Papai sabe que você veio? – Raven falou, demonstrando conforto com
minha presença, porém, alguma curiosidade.
- Sim. Ele não ligou? – O tom da minha voz não disfarçou meu espanto. Durante a
longa conversa com a mosca morta, a fiz prometer que impediria Kane de avisar os
outros da minha decisão. Pretendia surpreendê-los. Realmente, não cheguei a acreditar
por completo que ela iria manter a palavra.
- O que?
- Espera, e o sótão lá em cima? É bem grande, quem sabe, com uma limpeza e uma
ajeitadinha...
- Isso mesmo! – Octávia não deixou Rae terminar de falar. – O sótão é meio sinistro,
mas você já é sinistra, então... Vai dar certo.
Foi nesse momento que olhei em volta e senti falta de algo. Aliás, de alguém.
- Cadê a bichona?
- Vem, ele tem que te ver! – Minha prima puxou-me, sem me dar escolha e a Sebosa nos
seguiu.
O quarto ficava ali perto da sala e, em segundos, já estávamos diante da porta. Octávia
deu duas batidinhas.
Sem paciência, empurrei a porta e invadi, querendo ver a criatura e saber o porquê da
depressão.
- Bellamy? – Ergui uma sobrancelha ao vê-lo estendido na cama, vestido num pijama
das Meninas Super-Poderosas, pantufas de gatinhos felpudos e as mechas de seus
cabelos envolvidos em bobs vermelhos. – Entrou em estado de decomposição, viado? –
Perguntei, com nojo de seu rosto, empapado de uma meleca verde.
O maldito me empurrou pra longe, violentamente! Cadê toda aquela felicidade e carinho
por mim?
Em puro desespero, dei mais um tapa nas costas do suicida com toda a minha força. Os
comprimidos voaram de sua boca e espalharam-se na cama e no chão. Sorri satisfeita
por ter salvo uma vida.
Gargalhei, involuntariamente.
- ESSA PORRA DE ARKADIA NÃO TEM NADA! NADA! – Ergueu as mãos para o
ar. – NÃO TEM BOATE GAY, NÃO TEM SHOPPING, NEM GLAMOUR, OU
RESTAURANTES CHIQUES! ESTAMOS NO FIM DO MUNDOOOOOOO! – Os
vizinhos, com certeza, ouviram aquilo.
Parei para pensar por alguns segundos e constatei que o viado estava certo. Arkadia era
pequena e chata. Mesmo assim, não consegui deixar de rir.
- Já falei que, quando abrirmos nossa boutique, as coisas irão ficar animadas, Bellamy,
não seja criança. – Octávia o interrompeu. – E você falou que gostou dos rapazes lá da
Universidade de Arkadia.
- Ah, minha filha, homem é bom em qualquer lugar do mundo! Isso não conta, tá?!
HU!... OHOHOHOHOHO! – Desabou na cama.
- Onde é o sótão? Quero resolver logo isso. – Lembrei das minhas prioridades.
O sótão ficava logo após a modesta cozinha. Octávia puxou uma portinha de madeira
antiga no teto. Subimos alguns degraus e, em pouco tempo, já estávamos dentro do
cômodo escuro e empoeirado. Raven tateou o nada até achar uma cordinha. Isso fez a
lâmpada iluminar fracamente o ambiente. Caixas largadas, latas de tinta, uma cômoda
super velha em um canto, precisando de uma boa pintura e jornais amarelados
espalhados pelo chão.
- Muito bom, hein? – Resmunguei, cruzando os braços. - Acho que vou ficar com o
sofá.
- O que é aquilo? – Apontei para outro lance de escadas que levavam ao teto.
Minha prima respondeu algo que não dei importância, pois eu já havia subido os
degraus, empurrando, com força, a porta média feita de aço. O local para onde ela
levava me surpreendeu.
Saí correndo, maravilhada com o terraço solitário e a vista magnífica. Dava para ver boa
parte de Arkadia, suas ruas pouco movimentadas e a vasta vegetação.
- Não vejo nada demais aqui. – Disse minha irmã tapada, não conseguindo visualizar o
mesmo que eu.
Aquele lugar era perfeito para compor, tocar minha guitarra e violão e, com certeza, dar
umas festinhas.
- Como pode haver uma entrada particular para o terraço? – Bestificada, analisei o
local.
- Vou ficar com o sótão! Lógico que vou precisar comprar alguns móveis, mas vou dar
um jeito punk em tudo! – Afirmei, satisfeita. – Hoje vou dormir no sofá mesmo.
Lexa PDV
Chegávamos ao nosso apartamento quando a bisonha, depois de ter ouvido o meu longo
pedido de ajuda para resistir ao meu frango e não abandonar o plano antes da hora,
perguntou:
- Deixa eu ver se entendi... – Sentou-se no sofá preto de couro, coçando o queixo. – Não
podemos deixar você ficar com sua ex-namorada que mora no banheiro?
Irritada, bati a porta da frente com força e, bufando, me joguei em uma poltrona.
- Porra, Anya, eu tenho falado isso há semanas! Se você não entendeu até agora, não vai
entender nunca! – Praguejei.
Seu maldito porco ouviu voz dela e saiu do quarto correndo, juntando-se a nós, usando
uma ridícula camiseta do UMass, time de rugby da UA e seu típico bonezinho.
- Vem cá, Toicinho. – Pegou o suíno no colo. – A Guaxinim está com TPM. Não fique
perto dela, está me ouvindo?
Revirei os olhos.
- Relaxa, cara. – Linc pôs uma mão no ombro da idiota. – Lexa está com SAD!
- NOSSA! – Minha irmã pegou o celular do bolso. – É melhor eu cancelar logo a pizza
de frango com catupiry.
- Precisa ter calma. Infelizmente, vamos ter que lhe tratar como uma viciada em
recuperação. Sabe como é... Qualquer recaída pode pôr fim em todo o plano pelo qual
você pagou um alto preço.
- Tem toda razão. – Concordei. – Depois de todo o sofrimento que passamos, seria
burrice se eu, simplesmente, corresse para lá e a agarrasse. Apesar de querer muito fazer
isso. – Cobri o rosto com as mãos. – Precisa ir lá sondar, tem que descobrir os motivos
que a trouxeram até aqui. – Empurrei o cara em direção à porta, mas ele desvencilhou-
se.
- NÃO! – Quase gritei, sinalizando com a mão. Imaginei, rapidamente, o desastre que
seria se a animal fosse até ela. – Essa é uma missão para o ex-virgem. – Pedi, receosa,
enquanto ele engolia em seco.
- Para falar a verdade, morde sim. – Falei, meio sem querer, relembrando as vezes em
que a maluca me mordeu, em nossas brigas ou em momentos íntimos. Sorri.
- Coragem, soldado! – Anya veio até nós. – Toca na barriga do Tocinho pra dar sorte.
No primeiro jogo da temporada, fiz isso e marquei 4 Touchdowns! Vai fundo! – Ela
ergueu o leitão, exibindo sua barriguinha rosada. O animal não pareceu gostar muito,
pois roncou.
- Sua idiota, o único jeito de eu tocar nessa criação de bactérias é se ele estiver bem
assado em um prato!
- Voador preconceituoso! Guaxinim... – Virou-se para mim. – Fala para ele que
bactérias não existem!
Mal havíamos voltado para a sala, quando o suposto maconheiro entrou no apartamento.
- Amor... – Octávia correu até ele. – Clarke estava mesmo querendo falar com você.
- Então... Clarke? Por que está aqui? – Questionou, com a Fofolete ao seu lado, feliz.
- Sim.
- Ah... Eu não sei bem, deve ter sido feito pelos antigos inquilinos.
- Viu só? – Minha prima meteu o nariz onde não foi chamada. – Foi exatamente o que
eu disse.
- Já percebi isso! – Fala sério! Que povo mais lerdo! – Quem eram os antigos
moradores?
- Não sei. Na verdade, esse apartamento é um tanto peculiar. Ficou abandonado por
muito tempo, nem sei ao certo quanto. Precisei conversar com os vizinhos para
conseguir o número de telefone do proprietário. Eles me contaram algumas histórias
fantasiosas sobre esse lugar.
- Não queria te assustar à toa. Óbvio que é só fofoca da vizinhança, esse prédio inteiro é
antigo. Alguém ia acabar inventando uma história boba qualquer. Como esse local era o
único desocupado, foi a vítima. No entanto, como estão vendo, é um bom apartamento.
- Dizem que acontece coisas estranhas e anormais. – Respondeu ele, com uma
expressão zombeteira.
- 4 dias? – Indaguei.
- Sim, ficamos em um pequeno hotel até Linc arranjar essa casa mal assombrada para
nós.
- Meu amor, são só histórias! – Afagou o rosto da namorada. Desviei o olhar, tentando
imaginar os motivos pelos quais considerariam aquele apartamento mal assombrado.
- Eu concordo! – Ri. – São só histórias, esse povo de cidade pequena é muito medroso!
- Claro que não! Que venham! – Ironizei, presunçosa. – Não existem fantasmas! –
Enfatizei.
Congelei, devido o grande susto. O barulho estrondoso que veio a seguir me fez
sobressaltar. A porta da frente bateu contra a parede, abrindo-se e dois vultos entraram.
A luz suave do luar que adentrava as janelas de vidro foi o suficiente para que eu
reconhecesse, ao menos, as duas figuras paradas diante de mim.
- VOCÊS ESTÃO BEM? – Anya, armada com um bastão de baseball, verificou a sala,
aparentando mais medo que as covardes garotas.
- Óbvio que estão bem! Larga esse taco, sua maníaca assassina, é de dar arrepios! –
Confessei, séria.
- Vou procurar uma lanterna. – A Sebosa, finalmente, foi fazer algo útil.
- Por favor... – Dei as costas pros babacas, com a intenção de voltar ao sofá. – Não
existem fantasmas!
- CLARKE!
- Sai daí! – Me puxaram para cima, contra a minha vontade. Abri os olhos só para me
deparar com Lexa. – É só o Bellamy! – Apontou.
PUTA MERDA!
Tentando fazer o meu corpo parar de tremer, dei um passo atrás, distanciando-me da
Woods.
- BEM DOIDA! Tinha que ser a gobira pra armar um barraco desses! – Irritado, o viado
empinou o nariz.
O ódio fervilhou em minhas veias, queria depenar aquele pavão. Quando todos riram do
meu patético momento de fraqueza, me dei conta de que não poderia descer o braço no
infeliz como eu queria. Afinal, estava ali para mostrar que era uma nova Clarke.
- Não encontrei uma lanterna, mas achei velas. – Disse Rae, iluminando o local.
Cerca de vinte minutos depois, estávamos amontoados na sala, bebendo vinho sob a luz
de algumas velas, à espera de Lexa e Lincoln, que haviam ido em busca do zelador do
prédio para saber o que havia acontecido, já que nosso prédio era o único sem energia
elétrica na rua.
- Deu um curto na rede elétrica do prédio e só vão poder consertar amanhã. – Explicou
ela.
Não consegui tirar os olhos da futura vítima de meus sedutores planos. Ela estava mais
magra, porém, igualmente linda. Notei que estalava os dedos das mãos, parecendo
nervosa.
Octávia, Lincoln, Rae e, por incrível que pareça, Lexa, levantaram os braços. O que
tinha dado nela? Achei que ela seria a primeira a ridicularizar a ideia.
- Que fique claro que só estou topando isso porque o vinho começou a fazer efeito. Se
alguém me perguntar se participei dessa brincadeira, vou negar até a morte! – Minha
irmã deu uma risadinha.
- Já que Anya não levantou o braço, ela que deveria nos procurar. – Sugeri.
- Ah, não! – Reclamou o maníaco por limpeza. – Assim vai ser muito fácil!
- O que você está querendo dizer com isso? – A burra ergueu uma sobrancelha.
- Vamos logo começar, ou vai acabar todo mundo desistindo? – Octávia já estava de pé,
empolgada.
- Tudo bem, eu vou procurar! Sou boa nesse jogo, vai ser um massacre!
MUUUUAAAAHAHAHAHAHA! – Esfregou as mãos, maquiavélica. – Esperem só
um segundo, vou acordar o Toicinho pra me ajudar! – Saiu correndo, antes que alguém
falasse pra deixar o porco em paz.
Anya PDV
Fingi que contei até 100. O meu amigão, Toicinho, ficou próximo a mim, meio elétrico.
Perguntei-me por um momento se devia ter dado energético a ele. O carinha ficou
fuçando a lata, então, deixei ele tomar o restinho.
Peguei meu amigão nos braços e dei uma esfregadinha na barriga dele para dar sorte,
depois o coloquei de volta no chão.
- PRONTOS OU NÃO... AÍ VOU EU! AGORA O BICHO VAI PEGAR! – Falei com
voz de monstro.
Saí correndo pelo apartamento com o meu fiel escudeiro atrás, dando cobertura. Olhei
atrás das cortinas da sala, atrás dos sofás e nem sinal dos manés.
Meu camarada mais pareceu interessado em fuçar o sapato largado no chão do que caçar
os manés. Dei uma chance a ele, o cara devia estar farejando.
Nesse momento, ouvi um barulho vindo de debaixo da cama. Engatinhei até lá, levantei
a colcha da cama e, então:
Fui para a cozinha, mas não me desliguei da sala, precisava proteger aquele local.
Atrás do balcão de mármore, próximo ao fogão, era um bom lugar para se esconder.
Com certeza, tinha alguém ali. Rolei no chão, feito soldado na guerra e, de mansinho,
me aproximei. O super porco saiu em disparada, tomando à frente, corajoso e da
pesada!
- É!... – Soquei o ar. – Voador foi pego! Mandou bem, soldado! – Apontei pro meu
mascote maluquinho, rodando no mesmo lugar, cheio dos energéticos.
Como ainda não tinha ido ao banheiro, corri até lá. A porta estava aberta. Entrei de
mansinho na ponta do pé. Cerrei os olhos, encarando a cortina branca de peixinhos
rosados. Teria alguém ali atrás?
- PEEEEEIIIIII!
Saí em disparada.
- Oh, não! – Gemi, vendo que a bandida havia batido na parede onde eu deveria estar
vigiando.
Clarke PDV
Fiquei alerta assim que ouvi o ranger da porta de ferro abrindo-se, alguém estava
subindo o terraço. Poderia eu estar enganada a respeito de Anya?
- Acho que sim. Ouvi gritos vindos da sala, quando estava escondida na área de serviço.
Não tenho certeza se alguém conseguiu ganhar da Anya. Quando éramos crianças, ela
sempre nos enrolava, fingindo que o jogo tinha acabado, então... – Deu de ombros. –
Vou ficar aqui, ok?
Pela minha visão periférica, vi Lexa encostar-se no gradeado que circundava o local.
Dei um grande gole no vinho. Respirei fundo e parti pro ataque.
- Então... Verdade que Finn está por aqui? – Coloquei a taça em cima do muro atrás de
mim e puxei o zíper da minha jaqueta de couro, abrindo-a lentamente, com os olhos
focados na presa.
- Sim... – Respirou fundo. – Estamos promovendo uns rachas, mas o local não é muito
bom. Collins quer mudar nossa localização para perto da Universidade. – Ela desviou o
olhar quando tirei a jaqueta por completo e a encostei em um canto, exibindo a regata
colada branca.
Estava fazendo um frio filho da mãe, me arrependi de ter me livrado da jaqueta. Agora
era tarde, eu ia ter que aguentar. A brisa fria fez os pelos dos meus braços eriçarem. Ser
sexy era mais difícil do que imaginava.
Lexa enrugou a testa, parecendo meio confusa e relutante. Estaria enciumada? Preferi
não tirar conclusões precipitadas.
- Hã... ok! – Estalou os dedos antes de pegar o telefone no bolso da calça. Ficou de olho
no visor por alguns segundos, então, me estendeu o aparelho.
Dei quatro passos na direção dela. Peguei o celular, roçando levemente minha mão na
sua. Minha respiração sumiu sem deixar rastros.
Forcei-me a copiar o número do telefone dela para o meu, implorando para que minha
concentração voltasse. Não queria que ela notasse minhas reações involuntárias à sua
presença.
Para minha surpresa, ela deu um passo à frente, respirando forte, seu corpo ficando mais
pertinho do meu. Mordi o lábio, temerosa. Se ela chegasse perto demais, talvez não o
resistisse. Quando nossos rostos ficaram a centímetros, foi que eu percebi que Lexa
estava inclinando-se para pegar a taça de vinho atrás de mim. Com ela em sua mão,
afastou-se.
Tive vontade de chutar a mim mesma. Que merda era aquela? Estava ali para envolvê-
la, e não para agir feito pateta.
CORAGEM, MULHER!
Incentivei-me.
- Vai dormir onde? – Deu sinais de interesse. – Porque aqui só tem três quartos.
- No sofá. – Sorri torto. – Ainda quer? – Delineei o lábio inferior com o dedo indicador.
A levei à boca e, como um dia ela me ensinou, deixei uma gota escapar. Ela escorreu
lentamente até o queixo. Fingi estar distraída, porém, tinha certeza que ela me
observava.
Quando os dois saíram, chutei o ar, frustrada. Foi aí que percebi que as coisas seriam
mais difíceis do que eu imaginava. Precisava de ajuda, mas de quem?
No dia seguinte, logo cedo, Octávia, Raven e Bellamy foram a Manchester, uma cidade
vizinha muito mais agitada e populosa. Os ouvi tagarelar sobre costureiras, enquanto
tentava dormir no desconfortável sofá. Sozinha em casa, pude refletir sobre meu estado
financeiro.
Queria “dar uma geral” no sótão, comprar alguns móveis, principalmente uma cama.
Sentada, brinquei com o cartão de crédito pago por Kane. Havia falado com ele minutos
atrás, lhe explicado que estava maravilhosamente bem. Ele pareceu contente com minha
atitude, embora tivesse me passado um sermão sobre ter saído às escondidas. A boa
notícia era que, em dois dias, eu já poderia frequentar as aulas na UA.
Dei uma última olhada no cartão e, por um impulso que certamente me arrependeria, o
parti ao meio. Estava recomeçando minha vida em Arkadia, não queria ser a mesma
Clarke que dependia do papai. Senti a necessidade de mais independência,
principalmente financeira.
Esfreguei o rosto, sem saber onde arrumaria grana para me manter. Trabalhar me
pareceu uma boa opção, só que o salário ia demorar a sair e eu estava necessitada. Além
disso, não queria um emprego do qual não gostasse. Não ia aguentar um dia.
Roí a unha, lembrando-me de que Lexa havia citado que Finn e ela estavam
organizando rachas. Foi como se uma luz se acendesse no fim do túnel.
Peguei meu celular e liguei para Collins. Após alguns toques, ele atendeu.
- Estou legal. Escuta, fiquei sabendo que está promovendo rachas... Por acaso, daria
para me encaixar em um? – Precisei ser direta ou ele pensaria que eu estava querendo
reviver os velhos tempos.
- Tem um hoje por volta da 23h. Vai encarar? É um local novo, uma autoestrada
próximo a UA.
- Lógico que encaro! – Respondi, confiante. – Me diz uma coisa... Quanto tenho que
pagar para participar?
- Trezentos dólares. – Fui sincera. Duas notas de 100 e duas de 50 eram tudo que eu
tinha na mochila.
- Serve. – Riu baixinho. - Vou te abrir uma exceção, mas tem que manter segredo. Lexa
tem administrado tudo com mão de ferro. Ela é uma chata!
Gargalhamos.
- Lógico!
- O que Lexazinha vai pensar quando me ver chegando lá para competir com ela? –
Perguntei a mim mesma em voz alta. Mal podia esperar para ver a reação dela.
Clarke PDV
Andei em volta da mesinha de centro branca, na tentativa de fazer meu estômago vazio
parar de embrulhar. E se eu não ganhasse a corrida? E se fosse lá apenas pagar um mico
gigantesco, o qual a zombadora LEXAZINHA não me deixaria esquecer nunca? Pior! E
se eu perdesse toda a grana e ficasse no zero? Fitei os pedaços do cartão de crédito no
chão e o arrependimento veio com tudo.
NÃO! Esse não era o momento para ser covarde. Eu havia decidido que seguiria com
meu plano original até o fim. Com as mãos suadas, avistei um bilhete largado na
mesinha. Em cima dele, havia um chaveiro com o nome Lincoln, cravado em uma placa
de metal. Sem precisar mover o chaveiro, li o bilhete.
[Octávia, amor, seus livros estão no meu quarto. Te ligo no meu intervalo. Beijos.
Lincoln.]
Quase dei um pulo vendo a sorte me sorrir. Os Woods tinham ido para UA e o
apartamento estava livre para ser espionado. Com as chaves de Lincoln, planejei sondar
o terreno da presa e sair de lá sem ser notada. Antes de pôr o plano em prática, vasculhei
minha bolsa até achar o frasco de perfume.
Finalmente, fui para o corredor e as três portas dos quartos estavam diante de mim.
Resolvi tentar uma por uma. O primeiro quarto era tão limpo e branco que, na hora,
constatei ser do maníaco por limpeza. Depois, segui para a segunda porta. Tomei um
grande susto quando o Toicinho saiu de lá correndo. Passou por mim feito uma bala em
direção à cozinha. Ouvi o barulho de panelas caindo no chão e ri baixinho disso. A
terceira porta só podia ser o quarto de Lexa. Devagar, girei a maçaneta. O local estava
mal iluminado e silencioso. Logo de cara, reparei no corpo deitado sobre a cama,
coberto por um edredom azul. Congelei. A garota não deveria estar na Universidade?
Por que a Woods ainda estava dormindo?
Dei um tapa em minha testa, obrigando-me a focar o objetivo. Com o frasco de perfume
nas mãos, borrifei, cuidadosamente, pelo ambiente. Aquela era uma ideia estranha, mas,
de certa forma, bem eficaz. Queria fazê-la sentir meu cheiro no ambiente, produzindo
um falso delírio. Lexa se perguntaria o porquê de estar sentindo meu cheiro, minha
marca e, se tivesse sucesso, ela passaria o resto do dia pensando em mim,
involuntariamente, incapaz de se desligar totalmente da fragrância. Sem falar que era
um repelente feminino, se ela ousasse levar alguma garota para aquele quarto,
certamente, meu cheiro a incomodaria. Perversa? Não... Determinada! Ri da minha
própria loucura.
Borrifei mais um pouco de perfume perto da cama e a Woods outra vez, totalmente
alheia à minha presença. Ela estaria sonhando com o que? Dei uma última analisada no
quarto. Aquele local sim, era como eu imaginava. Muitos CDs, livros, escrivaninha
cheia de projetos e alguns objetos que eu já vira em Verona. Sai sorrateira, antes que ela
ameaçasse acordar.
Assim que cheguei ao apartamento da Barbie, pus de volta a chave de Lincoln perto do
bilhete destinado à Octávia.
Bastou eu olhar pro meu capacete em cima do sofá pequeno para o nervosismo voltar a
me perturbar. Precisava de um plano B, caso perdesse minha grana no racha.
Tomei banho e troquei de roupa, estudando as escassas possibilidades. Por fim, cheguei
à conclusão de que era hora de arrumar um emprego. Lembrei-me de ter visto um jornal
ao pé da porta quando fui atormentar minha namorada. Então, fui buscá-lo. Era um
jornal local com matérias chatas e pacatas. Folheei as páginas até chegar à sessão de
anúncios. Continuava a me sentir com sorte. Havia ali, três ofertas de emprego. Alguma
coisa tinha que me servir. Fui para a cozinha comer algo, antes de sair.
- Clarke!
Sobressaltei assustada, incapaz de gritar. O medo foi substituído pelo alívio, assim que
percebi que a voz era de Octávia, que acabara de chegar, acompanhada por Raven e
Bellamy.
- Não! – Afirmei.
Pela reação deles, pude notar que pensaram a mesma coisa que eu. Porém, só a bichona
teve coragem de verbalizar.
- Foi um fantasma! Eu vi isso acontecer no filme o sexto sentido! – Ele tremia, com os
olhos saltando para fora.
- Não tem fantasma, sua idiota! – Sussurrei, já não conseguindo acreditar nas minhas
próprias palavras. – Deve ter uma explicação lógica para isso.
Ela murmurou algo contra minha mão, o que fiz questão de ignorar.
- Gente, calma. Deve ter sido só um vento. – Falei quando chegamos à sala.
- O que é isso? – Indaguei, apontando para as sacolas nas mãos dos babacas.
Fiz careta, sem interesse. Mesmo assim, eles já estavam desempacotando tudo.
- Olha esse! – Minha irmã jogou uma roupa qualquer pra cima de mim.
- Não, não! Tem que ver esse vestido! - Octávia quase esfregou a peça no meu rosto,
mal consegui ver.
E foi nesse momento que Bellamy empurrou as duas, jogou tudo que eu tava segurando
pro lado e disse, orgulhoso:
Fiz cara de nojo para a horrível saia, feita com penas de pavão.
- Por que você não prova? Queremos ver como essas roupas vão ficar em alguém de
carne e osso. – Fofolete pediu, animada.
- Mais carne que osso. – Murmurou Bellamy, pelo canto da boca, afastando-se.
Peguei o capacete da minha moto, coloquei o jornal embaixo do braço e me preparei pra
ir atrás da droga do emprego.
As gargalhadas ecoaram pela sala. Bellamy abanou-se com uma revista, passando mal.
- Sério! O que vai fazer, raxa? – O pavão enxugou uma lágrima no canto do olho, ainda
rindo.
O local ficou ridiculamente silencioso. Até que Bellamy bateu três vezes na madeira da
mesinha.
- Por favor, Clarke, vai trabalhar em que? – Rae desacreditou sarcástica. – Luta livre?
Respondi da forma que eles mereciam, mostrei o dedo do meio. Em seguida, saí,
batendo a porta.
Anya PDV
- Cala a boca, bisonhenta! Preciso achar o Lincoln, estou tendo uma crise violenta de
SAD.
- Cara, é sério! Acho que estou delirando. Juro que posso sentir o cheiro da Clarke. Até
mesmo em minhas roupas. É verdade, cheira aqui! – Pediu aproximando-se.
- Lexa, se você me pedir para eu te cheirar mais uma vez, vou te dar uma sabugada! –
Murmurei pelo canto da boca, disfarçando.
- Droga, Anya! Não estou brincando, estou tendo alucinações! – Rosnou, sentando-se
num banco. – Olha aquilo. Acho até que estou vendo um pôster com a foto do seu porco
naquele poste! Além de sentir coisas estranhas, agora também estou vendo? – Apontou.
- Tem certeza que não viu o Lincoln por aí? O celular dele está sempre ocupado.
- Eu tenho uma solução para o seu problema. – Coloquei uma mão no ombro da pobre
viciada. - Vai para casa, já te encontro lá.
- Absoluta! – Sorri.
Lexa PDV
- Cara! – Anya empurrou a porta da frente e colocou a cabeça para dentro. – Tenho uma
surpresa para você.
Levantei-me e dei um passo atrás. Da última vez que ela falou aquilo, havia trazido um
porco para nossas vidas.
Não resisti e olhei. Me arrependi de imediato. Juro que meu queixo caiu de espanto
quando o vi, segurando uma boneca inflável de cabelos loiros.
Ela ficou atrás da boneca bizarra, mexendo os braços dela como se a própria estivesse
viva e, o pior não era nem isso e, sim, a imitação patética da voz do meu leãozinho.
Minha paciência estava esgotando. Ela correu, ainda usando o maldito brinquedo sexual
como fantoche e fez a mão de plástico roçar em meu rosto.
- Mana, isso tudo é falta de sexo, então... Quer eu explique ou faça um desenho?
- Oh, meu Deus! – Surpresas, viramos os rostos em direção à voz. Octávia, que estava
na porta, passou por nós, fazendo careta. – Não quero atrapalhar a festinha, só vim
pegar umas cervejas emprestado. – Foi pra cozinha. Empurrei a bisonha e sua boneca
para longe.
- Prefiro não saber. – Ela me interrompeu, voltando da cozinha com as mãos cheias. –
Aconteceu algo de diferente aqui no apartamento de vocês? – Perguntou baixinho.
- Não! – Menti.
- Fantasma? - Anya ficou branca. Então, me encarou. – Posso dormir com você essa
noite? Mamãe não está aqui! – Agarrou-se à boneca feia.
Bufei.
- Não deve ter sido um fantasma. Quem sabe, um rato? – Tentei acalmá-la.
Minha mana burra abriu um sorriso grande para mim, achando-se uma gênio.
- DROGA! – Xinguei, empurrando, com força, minha moto rua acima, com a roupa
toda molhada por causa da garoa.
Estava andando há mais de uma hora, tentando chegar em casa. A porcaria da bateria da
Ducati tinha ido pro espaço. Me arrependi profundamente de não ter feito uma revisão
quando cheguei na cidade. A longa viagem de Polis até Arkadia, certamente tinha
provocado o defeito. Tentei ligar para o único mecânico da cidade, mas sua esposa me
informou que ele estava em Manchester. Nenhum dos caipiras inúteis me ajudou,
deviam achar que eu era algum tipo de arruaceira da cidade grande e me ignoraram.
MALDITOS! Típico, as pessoas me julgavam pela aparência. Confesso que minha
expressão assassina não colaborou.
Quando estacionei a moto na calçada do meu novo lar, achei que desmaiaria ali mesmo.
O pior é que nem sequer tinha conseguido chegar ao restaurante, nos limites da cidade,
para me oferecer à vaga de emprego disponível.
- PORRA!
Só podia ser brincadeira. Ali havia uma placa de alerta escrito: fora de uso.
Olhei para os lados, na esperança de alguém surgir e me socorrer, pois teria uma
síncope a qualquer momento.
Cinco minutos depois, eu já não conseguia subir mais nenhum degrau. Toda a minha
energia tinha sido consumida pela caminhada, empurrando a pesada Ducati.
O universo estava contra mim? Que puta falta de sorte era aquela? Como eu ia correr à
noite sem moto?
Puxei o celular do bolso e liguei para o Finn. Ele, dessa vez, não demorou a atender.
- Qual o problema?
- Minha moto quer me matar de raiva. Não vai dar para correr hoje!
- Vai desistir?
- Posso providenciar isso! Não vou correr hoje, pode usar minha Yamaha. – Fez uma
longa pausa.
- Obrigada, Finn!
- Te pego aí as 22:30hs.
- Valeu!
Encostei a cabeça na parede, exausta. Fechei os olhos por alguns segundos, só para
recuperar as forças. Ia precisar muito delas em algumas horas.
Lexa PDV
Saí de casa com a cabeça cheia, precisava passar no dormitório onde morava um colega
e tentar saber o conteúdo das aulas que perdi durante o dia. Aborreci-me quando li o
aviso: “fora de uso” no único elevador. Frustrada e sem alternativas, me direcionei às
escadas.
Caraca! Agora, eu pirei de vez! Espere,... Mas acho que, dessa vez, é real! O que ela
fazia ali?
Ao me aproximar, notei que estava dormindo. Abaixei-me, curiosa e passei a mão rente
ao seu rosto, só para checar se ela estava consciente.
- Clarke... Acorda.
A garota nem se mexeu. Suspirei, tentando imaginar o que tinha lhe acontecido. As
roupas estavam úmidas e, seu semblante, apesar de sereno, denunciava certa exaustão.
Cuidadosamente, a tomei nos braços. Griffin aninhou-se em meu peito como uma
criança sonolenta. Subi os degraus lentamente, tentando não acordá-la.
Passei pela porta e a empurrei com o pé, para que fechasse. O estalo não acordou
Clarke, que dormia feito uma pedra. A depositei suavemente em minha cama. Ela rolou,
deitando-se de lado. Larguei as coisas dela em cima da cadeira da escrivaninha.
Lentamente, fui até ela e tirei seus sapatos, deixando-os cair ao pé da cama. A pirralha
ainda usava a pulseira com pingente de frango no tornozelo. Toquei o presente que lhe
dei no dia dos namorados. Senti uma saudade dolorosa daquele dia. Outra vez, suas
roupas úmidas e amarrotadas me chamaram a atenção. Deveria despi-la? Cocei a
cabeça, na dúvida.
- Clarke... – Sussurrei. – Tudo bem se eu tirar a suas roupas molhada? – Ela continuou
em silêncio, ressonando. – Vou considerar isso um sim. – Balancei a cabeça
negativamente, não crendo no tamanho da minha ousadia.
Passei, cuidadosamente, o braço por suas costas, fazendo-a sentar, enquanto eu lutava
para lhe arrancar a camiseta branca. Griffin balbuciou palavras que não entendi e
pendeu sobre o colchão, sem abrir os olhos. A primeira etapa foi concluída, faltava a
calça. Abri o zíper e o botão, em seguida, puxei com força a peça até que,
inconscientemente, ela me ajudou a livrar-me do jeans.
Passei as mãos pelo corpo dela para checar se as peças íntimas também estavam
molhadas. Para o bem do meu juízo, não estavam. Não consegui tirar meus olhos de
Clarke, e, realmente, tentei. A visão daquela mulher era o suficiente para aquecer o meu
corpo e intensificar a saudade de seu toque, de sua pele, seus beijos...
Fechei os olhos, com força, para que a voizinha dentro da minha cabeça parasse de me
chamar de tarada.
Sentei-me junto dela e fiquei analisando-a. Cada traço de sua face era exatamente como
eu me lembrava. A tonalidade do seu cabelo, a cor dos lábios, as partes lindas de seu
corpo. Nada fisicamente nela tinha mudado desde a última vez que a vi. Porém, no
momento em que coloquei meus olhos nela, quando chegou em Arkadia, notei algo
diferente, uma mudança além da minha compreensão, além do que os olhos podiam ver.
Sempre ficava me perguntando o que lhe teria acontecido desde que fui embora de
Verona. Teria ela sofrido tanto quanto eu? Mais? Eu não sabia, a culpa me atingiu
cruelmente. Balancei a cabeça para dissipar os pensamentos. Eu tinha feito a escolha
arriscada, era necessário conviver com isso. O importante era que ela estava ali, perto de
mim, me dando esperança de que a ideia incomum de Abby tivesse o resultado
desejado.
Imprudente, fechei os olhos e, então, meus lábios tocaram os dela suavemente. Não me
movi, apenas desfrutei da sensação dos lábios quentes contra os meus. Uma onda de
emoções chocou-se contra mim. Lampejos de lembranças da nossa primeira vez
passaram pela minha mente, me submergindo em um passado recente e inesquecível.
Nossos corpos unidos, conectados, a profundeza dos olhares, o prazer...
DROGA, LEXA!
Nervosa, passei as mãos pelo cabelo. Em seguida, saí do quarto rapidamente, antes que
colocasse novamente tudo a perder. Eu havia ido longe demais com meu plano,
retroceder depois de tanto sacrifício seria o pior erro da minha vida. Resistir era
necessário, ir até o fim, era preciso. Tudo ou nada. Obriguei-me a recordar o discurso de
minha mãe, como incentivo para continuar com a “estranha terapia”.
Clarke PDV
Olhei à minha volta, em pânico. Nem sinal dela. O rádio relógio, no criado mudo, me
fez saltar, ao notar que já eram 22:00hs.
Ok, Ok... Calma... Calma... Você só transou com Lexa e não se lembra! Só isso!
Colocar as coisas sobre esse ângulo não ajudou em nada. Não tinha tempo para pensar
em uma explicação razoável, então, me cobri com um lençol, peguei minhas roupas e
objetos e saí correndo, aflita.
Empurrei a porta do apartamento das meninas com força. Elas e o viado, que assistiam
TV na sala, olharam para trás, espantados.
- Vou participar de um racha, não tenho tempo, nem nada para vestir! Preciso de ajuda.
– Falei tudo de uma vez, antes que perdesse a coragem. Os olhos deles brilharam de
uma forma estranha e eu me arrepiei.
- Não se preocupe, raxa, vamos te deixar poderosa, uma J-Lo da vida... – A biba
analisou meu corpo, fazendo careta. – Uma J-Lo sem bunda! Lógico!
HU!...OHOHOHOHOHOHOH!
Eu estava acompanhada dos estilistas malucos quando Finn estacionou uma Yamaha
preta em frente ao prédio.
A opinião do lunático era duvidosa. Pois eu estava me sentindo uma super heroína.
Calça de couro preta, extremamente colada ao corpo, botas da mesma cor e jaqueta
aberta para poder exibir o corselet vermelho que moldava minha silhueta. Foi um pouco
difícil, no início, respirar com aquilo tão apertado, mas eu começava a me acostumar,
valorizava meu busto, por isso valia muito a pena. Raven quase saiu no tapa com
Octávia, para decidir quem me maquiaria. Por fim, Bellamy fez algo de útil e me
maquiou, usando sobras de tonalidades escuras, muito lápis de olho preto e bastante
rímel.
Dei de ombros. Era só uma carona, ele estava sendo bacana me emprestando a Yamaha,
não ia lhe fazer uma desfeita.
Lá estava eu, colocando meu capacete e passando um braço em volta da cintura de Finn.
Quem diria que isso um dia iria acontecer?
Não demorou para chegarmos no local do racha. Havia muitos carros e motos espalhas
pelo local, iluminado por faróis. Ficava nas proximidades da UA, por isso, a maioria das
pessoas ali eram estudantes querendo diversão, já que a cidade era minúscula e chata.
Foi nesse momento que tirei o capacete, chacoalhando a cabeça para que meus cabelos
caíssem sobre os ombros.
Tive o prazer de ver a expressão atônita da Woods. Desci da moto, sem falar nada.
- Já volto. - Finn arrancou com o veículo, deixando-me a sós com minha namorada.
Gargalhei alto.
- Er... – Ela pareceu lutar para conseguir falar. – Por que veio com o Finn?
- Carona.
Um rapaz passou por mim e assobiou, em uma tentativa nojenta de paquera. No entanto,
gostei de ver Lexa fazer uma careta revoltada.
- Sou quase sua meia irmã, mesmo assim, não vou ficar te defendendo dos
engraçadinhos. – Desviou o olhar, estalando os dedos.
- Mandei darem uma olhada rápida na moto, logo vão liberar ela para a corrida. Está
pronta?
- Você não disse que não ia me defender? – Contraí os lábios. Estava prestes a cair na
gargalhada.
Caminhei o mais graciosamente possível, como, um dia, ela me ensinou na Itália. Notei
que muitas cabeças viraram para me analisar. E podia jurar que, tanto Lexa como Finn
trás de mim, fitavam-me.
E foi justamente nesse momento que o salto da bota entortou, ficando preso num
buraco. Meu corpo foi ao chão. Caí de joelhos e tive vontade de morrer, quando ouvi as
risadas irritantes. Levantei-me o mais rápido possível, tirei o cabelo do rosto e continuei
o trajeto, mais vermelha que um tomate.
Cerca de quinze minutos depois, enfileirei a Yamaha de Finn na linha de partida onde
Lexa e mais dois caras já estavam posicionados. Não fiquei nem um pouco preocupada
com o motoqueiro do meu lado esquerdo ou o sujeito ao lado da Woods. Minha única
adversária ali era Lexa. Vi o que ela fez em Verona, e sabia que seria difícil ultrapassá-
la, quando ela decidisse usar toda a potência da Suzuki. A Yamaha era páreo pra ela,
porem, eu não tinha experiência em rachas. Qualquer deslize poderia ser fatal. Talvez
por isso, LEXAZINHA, com o visor do capacete levantado, encarava-me com os olhos
Lancei um rápido olhar para Octávia, Rae, Bellamy e os irmãos Woods, que
incentivavam ao longe, com gritos e palavras que eu não consegui entender, por causa
do barulho ensurdecedor à minha volta.
Acenei para eles, tentando passar confiança, e isso era algo totalmente inexistente em
mim naquele momento. Minhas mãos frias e suadas delatavam isso. Tirei do bolso da
calça um par de luvas de couro, para que o suor não me distraísse. As coloquei
rapidamente e agarrei o guidom, com força.
Collins, finalmente, se colocou diante de nós, no meio da pista. Ele fez uma linha no
asfalto com óleo de motor e um de seus colegas jogou um palito de fósforo aceso. O
fogo alastrou-se em um piscar de olhos pela marca improvisada no chão, criando uma
linha de partida literalmente quente.
O ronco, já conhecido da Suzuki, sobressaiu em meio aos outros. Encarei séria, Lexa.
Percebi que ela estava chamando minha atenção em uma última tentativa de me fazer
desistir. Balancei a cabeça negativamente. Eu não estava disposta a desistir, por mais
nervosa ou temerosa que estivesse.
Voltei a olhar para Finn que, no meio da pista, ergueu um braço, segurando a mesma
pistola prateada que vira em sua mão, em Verona.
Fechei, com força, o visor do meu capacete, sentindo meu coração disparar em batidas
frenéticas e descompassadas. Dependia somente de mim, ninguém mais podia me fazer
vencer aquele racha. Minha vida, meus objetivos, tudo estava em minhas mãos. Eu só
precisava dominar aquela moto, fazer com que fôssemos uma só.
Flashes dos dias sofridos que passei em Polis, quando Lexa me deixou, atravessaram
meus pensamentos. Centenas de imagens lampejando como raios em questão de
segundos. Uma fúria inexplicável explodiu dentro de mim, fazendo a adrenalina
queimar minhas veias.
Assim que meus olhos abriram-se, ouvi o estampido do tiro. Quando dei por mim, já
estava atravessando a linha de chamas. Acelerei sem olhar para o painel da moto. Meu
corpo estava projetado para frente, usei toda a minha força muscular para manter o
guidom estável. O som do vento passando pelo capacete era tão alto que mal podia
ouvir o ronco da Yamaha. Olhei pelo retrovisor e sorri ao ver os dois motoqueiros que
decidi ignorar, ficarem para trás. Mas... Onde estaria a Woods?
Fitei o meu lado direito e lá estava ela, dominando a pista do jeito dela. Estratégica e
meticulosa.
Ela já me encarava através do capacete. Nenhuma das duas ousou olhar para a frente,
em uma arriscada disputa de coragem. Se surgisse algo inesperado na pista, como um
animal, certamente nos acidentaríamos. Ainda assim, mantive minha cabeça virada na
direção dela, mostrando-lhe que ela não era a única com sangue frio ali.
Só quando ela voltou a focar os cones, tirei meus olhos dela. Diminuíamos a velocidade
e, em uma sincronia inacreditável, freamos. Giramos a moto, usando o pé para mantê-la
estável. Os pneus traseiros queimaram no asfalto, levantando fumaça.
Irritei-me quando arrancamos juntas. Iria conseguir deixar Lexa para trás? Foi nesse
momento que ela acelerou a Suzuki. O som produzido era semelhante a um trovão e
isso tirou parte da minha concentração.
Guiada somente por instintos, usei toda a força do meu braço, acelerando. A Yamaha
liberou sua potência. Como um projétil, voei em duas rodas. Não precisei olhar para o
painel para saber que estava atingindo os 300 km/h. Pois via apenas borrões dos dois
lados da pista. A única coisa que enxergava claramente era a linha de chegada e
somente ela me interessava.
Diminuí a velocidade até a moto parar por completo a poucos metros da linha que
ultrapassei. Desci da moto, retirei o capacete e liberei todo o ar dos meus pulmões.
- Ei! – A voz rouca foi ouvida. Algumas pessoas afastaram-se, abrindo um buraco em
meio à multidão. Então vi Finn parado, fitando-me a uns dois metros de distância. –
Hoje você é o cara! – Sorriu.
Ele obedeceu.
Ela apenas apontou para a figura afastada do alvoroço, de braços cruzados e carrancuda.
Não fui até ela, esperei que viesse até mim.
Entreguei o capacete com o dinheiro à Octávia e aceitei seu aperto de mão. Dei um
curto passo em sua direção, ainda apertando-lhe a mão. Então, falei:
Uma brisa forte fez as pontas dos meus cabelos ondularem sobre a face alva dela. A
senti estremecer sutilmente. Lexa pôs a boca perto do meu ouvido e, sussurrou:
- Eu sei.
Nossos olhares se encontraram, meu corpo implorou pelo dela, mas resisti.
Ouvi o som trovejante de muitos motores. Isso me tirou do quase transe, Lexa enrugou a
testa, encarando algo por sobre meu ombro. Largou minha mão de imediato. Confusa,
virei-me para checar o que estava havendo.
Três homens e duas mulheres caminharam até nós, com os capacetes em mãos. Olhei
para os lados, sentindo que aquilo não era uma visitinha amigável.
- Quem é responsável por isso? – Indagou a mulher um pouco alta, olhos azuis, cabelos
loiros e traços faciais perfeitos. Percebi que ela era a líder dos motoqueiros.
Ela nos estudou e eu não gostei daquilo. A outra mulher do grupo sorriu para a Woods,
como se já a conhecesse. Sua beleza era um soco na autoestima da maioria das garotas,
inclusive na minha. Pele morena, cabelos ondulados e sorriso brilhante.
Se alguém me desse um tapa na cara, eu nem ia perceber, de tão bestificada que estava.
Aquela era a tal “ficante”? Tentei não parecer incomodada, embora estivesse
explodindo de ciúmes.
Ela riu como se eu tivesse contado alguma piada. Seus companheiros agiram da mesma
forma.
- Vejo que é nova por aqui. – Me olhou dos pés à cabeça. – Meu nome é Niylah. E o
seu? – Tentou ser gentil, mas sua expressão era estranha.
- Clarke.
- Muito bem, Clarke, parece que seus amigos ignoraram o fato de que todas as pistas
dentro de Arkadia são minhas.
- Woods, se queria tanto correr, por que não aceitou minha oferta no ano passado? –
Sorriu ela zombeteira.
- Vou fingir que o evento de hoje não existiu, já que são novatos nesse ramo. Se
voltarem a pôr seus pneus por aqui, vou considerar uma afronta pessoal. – A líder
metida deu as costas e foi em direção à sua moto.
- Quem está chamando de novato? – Finn perguntou alto, dando um passo à frente.
- Quem é você?
- Finn Collins.
A gangue de motoqueiros, que antes ria baixo, silenciou-se. A líder virou-se para nós,
surpresa.
Não entendia porquê eles estavam reagindo assim ao Collins. Era como se ele fosse uma
celebridade.
- Finn Collins? O cara que ganhou a corrida do deserto em 2008? – Questionou um dos
motoqueiros.
- Vou repetir. Se houver mais um racha aqui, vou considerar uma afronta.
Aquela garota era muito metida, não gostava do jeito que ela achava-se dona de tudo.
Anya estalou o punho como se avisasse pra irmã que estava disposta a apoiá-la. Até
mesmo o suposto maconheiro manifestou-se, pondo uma mão no ombro da
LEXAZINHA. Os garotos juntaram-se a Finn, imitando o alinhamento da gangue.
- Vem pra cá, sua raxa maluca! - Bellamy murmurou de olhos arregalados.
Clarke PDV
Nesse momento, o som alarmante de sirenes nos fez olhar, todos, para a mesma direção.
- POLÍCIA! – Algum covarde gritou e isso foi o suficiente para a histeria se manifestar
entre os estudantes.
Não me admirou, a polícia local já saber do racha. A cidade era um ovo, ora bolas!
- Ainda não terminei com vocês! – Niylah apontou o dedo para nós, antes de sair
correndo com sua gangue.
Olhei em volta e nem sinal dos babacas que estavam comigo. Podia jurar que ouvia o
grito de Octávia me chamando, mas não consegui vê-la em meio ao tumulto. O som das
sirenes aproximando-se, me fez despertar.
MERDA!
Comecei a correr como todo mundo e, nesse momento, o ronco de um motor conhecido
me fez estagnar.
Não havia o que pensar. Fui até ela, subi na moto e a Woods arrancou.
Enquanto ela desviava de carros e motos, em manobras arriscadas, tentei olhar para os
lados, na expectativa de achar as garotas.
Lexa subiu uma calçada para ganhar tempo, pois a via principal estava praticamente
engarrafada. Todos estavam fugindo por ela. Temi que batêssemos em algo. No
cruzamento, o aglomerado de veículos se desfez. Ela pegou a via esquerda, deixando
para trás o alvoroço e já não podíamos ouvir o som das sirenes.
LEXAZINHA deu algumas voltas nas proximidades do nosso bairro, só para garantir
que era seguro voltar para casa.
- Nós acabamos de chegar e encontramos a casa inteira revirada. Ninguém pode ter
entrado aqui. A porta estava fechada. – Octávia balançou a cabeça, atônita. A única
coisa que me consolava era vê-la segurando o capacete com a minha grana. Entre
mortos e feridos, salvaram-se todos.
# 08:00hs am #
Meu primeiro dia na Universidade de Arkadia. Estava animada. Tive uma rápida
entrevista com o reitor e falei exatamente o que ele queria ouvir. Até me fingi de boa
moça. Minha primeira aula era de História da Música.
Demorei um pouco para achar o prédio e a sala certa. Aquele campus era muito maior
do que eu imaginava. Ainda não havia iniciado a aula quando adentrei à sala. Subi os
degraus para me sentar em uma das últimas carteiras.
Larguei os livros e tratei de analisar o ambiente. Havia muitos manés com cara de nerds.
Não esperava encontrar roqueiros ali, afinal, o Curso de Música é quase todo teórico, e
estudaríamos muito sobre música erudita. Ainda assim, tinha esperança de encontrar
alguém legal para me socializar.
Uma garota de sorriso metálico começou a distribuir panfletos pela sala. Um deles
chegou até mim. O peguei e li.
Desinteressada, amassei o papel e o coloquei no bolso do casaco para jogar fora, assim
que possível.
Uma garota de boné, sentada à minha frente, sem olhar para trás, me estendeu um
panfleto.
OTÁRIA!
QUALÉ!
- Ah... Não! – Revirei os olhos ao constatar que a desavisada era Niylah. – O que está
fazendo aqui? – Tudo bem, sei que a pergunta não foi muito inteligente.
- É minha sala... Vou estar aqui o ano todo. – Deu um largo sorriso.
- Que parte do ‘NÃO POSSO IR, OBRIGADA!’ você não entendeu? – Usei meu
melhor tom rude.
# 09:30 am #
Fui até o banheiro feminino, com o intuito de fugir um pouco dos alunos que me
encaravam de forma estranha. Não entendia o porquê dos cochichos. Era o meu
primeiro dia ali, caramba! Sentia-me acuada, como se estivesse no colégio de Polis,
onde minha má reputação repelia quase todos.
Uma garota entrou no banheiro e ficou do meu lado, com olhos vidrados no espelho,
retocando a maquiagem.
- Tudo bem. – Ela pôs a mão no meu ombro. – Relaxe, meu irmão tem o mesmo
problema. Além do mais, olha que coisa boa: o aviso te colocou no mapa, agora todos
sabem quem é. Até Niylah Carter está interessada em você. Querida, boa sorte. – Ela
saiu antes que eu pudesse reagir.
Chocada, me arrastei para fora. Fui ao bloco 9, a fim de encarar outra aula. No corredor,
passei por um grupinho que ria em frente a um quadro de avisos. Minha curiosidade foi
atiçada.
Sem entender, olhei o quadro e quase tive uma síncope. Ali tinha um folheto com uma
foto minha fazendo careta e, embaixo, um aviso.
Síndrome de Tourette? Não é aquele troço que faz as pessoas terem tiques nervosos e
falarem palavrões compulsiva e involuntariamente?
- CACETE! – Suspirei.
Arranquei o folheto em vão. Pelo que a moça no banheiro me falara, minha nova
reputação já tinha se alastrado pela UA. Que imbecil faria um trote ridículo desses?
# 10:30 am #
[Já sei sobre você e a Lexa. Não sou ciumenta. Vamos sair?]
Amassei o papel e, sem olhar para trás, ergui a mão esquerda, exibindo o dedo médio.
Tinha certeza que ela entenderia o recado através do gesto obsceno.
# 11: 45 am #
- BOO! – Sobressaltei com o grito ao pé do meu ouvido. Virei-me, pronta para descer o
braço na futura vítima e me surpreendi ao dar de cara... Com quem? Niylah!
- Vai começar a xingar agora? – Riu prepotente. – Clarke Griffin Síndrome de Tourette.
- O tique está vindo, posso sentir! Vai ficar para ouvir a rajada de palavras de baixo
calão? – Me senti inteligente, usando o boato para me livrar da babaca.
- Ela não vai! – Outra pessoa puxou meu braço esquerdo e... Adivinha quem era! Lexa!
Fiquei cambaleando de um lado para o outro, até que não suportei mais.
O palavrão chamou a atenção dos alunos que riram, confirmando o boato de que eu era
anormal. PERFEITO!
# 12:46 pm #
Bocejei, tentando concentrar-me na aula chata. Quase gritei de raiva quando Niylah,
atrás de mim, chutou minha carteira.
A badgirl era uma típica pegadora, minha recusa em sair com ela devia estar divertindo-
a muito. Sem perceber, tornei aquilo, para ela, um jogo interessante, pois, as mulheres,
assim como a vida, eram muito fáceis para aquele tipinho.
A maldita chutou a carteira outra vez. Irada, voltei-me para ela e falei:
Não gostei do duplo sentido! Guardei o número e voltei meus olhos para o professor.
Niylah Carter não sabia onde estava se metendo, não tinha ideia do que eu era capaz.
Faria ela ter o pior encontro de toda a sua vida. A estúpida ia terminar a noite chorando
num canto de parede, feito uma criança pequena. Após sexta à noite, ela fugiria de mim
e me deixaria em paz o resto da vida.
Sorri, satisfeita.
[Emergência/ Delegacia]
Meus olhos saltaram pra fora e, por pouco, não gritei um “WOW”.
Como Octávia conseguiu ser presa? O incidente do racha logo passou pela minha
cabeça. Precisava ir ao encontro dela.
- Tipo assim... Família Addams? Porque eu realmente te achei a cara do tio Chico. –
Sorri, querendo agradar.
O tio Chico se limitou a rabiscar algo em uma prancheta e eu tinha certeza que ia me
ferrar.
Revirei os olhos.
- Prof... Quero dizer, tio Chico Addams – Coloquei a mão na testa. – Preciso sair, é uma
emergência.”
Seria uma boa ideia dizer que minha prima estava na cadeia?
- Oh, claro, Srta. Griffin, não quero te atrapalhar, afinal, não estou dando uma aula
importante e nem você está atrasada comparada ao resto da turma. Por favor, não se
sinta obrigada a ficar... – Virou-se para o quadro, resmungando algo que não entendi.
- Valeu, tio Chico, eu sabia que tu ia entender, cara. – Dei um tapinha amigável nas
costas dele, antes de sair.
- BISONHENTA! - Ela parou, arregalou os olhos e voltou a correr, só que agora, bem
mais rápido.
A imbecil pulou para dentro do seu jipe. Direcionei-me para a pista onde ela passaria.
Ali, a infeliz seria obrigada a parar.
Estaquei ofegante no meio da rua. O carro vinha em minha direção com tudo e, por um
segundo, temi que a anta me atropelasse. Fechei os olhos quando ouvi o som do carro
freando.
- Cala a boca... – Foquei o que era importante. – Octávia está na delegacia. Me leva até
lá! – Ordenei, pulando pra dentro do Jipe.
- Ah... – Sorriu paspalha. – Estava mesmo indo para lá. Recebi uma mensagem.
Minutos depois...
- O que estão fazendo aqui? - Perguntei enquanto todos os Woods e Raven adentravam,
comigo, à pequena delegacia.
- Octávia deve ter mandado mensagem para todos. - Lincoln respondeu aflito.
- Octávia! - Raven quase berrou, dissipando o nervosismo, quando a viu sentada na sala
de espera.
O seguimos. Ficamos todos de pé dentro da sala do delegado. Fitei Lexa, que já devia
estar planejando nos tirar dali. Foda! Eu não sabia que o racha ia nos encrencar tanto.
- Muito bem... Meu nome é Thelonius Jaha. Sou o chefe de polícia da cidade. – O
homem negro de meia idade e bigode engraçado, virou-se para nós, após desligar o
telefone.
- Qual de vocês vai ser responsável pelo... – Olhou rapidamente uma ficha em cima da
mesa. - ... Bellamy Pintolar?
Lexa cutucou as minhas costas para eu me conter. Tentei, juro que tentei, mas, saber
que a bichona tinha entrado pro mundo do crime era algo engraçado demais.
- Meu Deus, como isso aconteceu? – Perguntou Lincoln, no momento em que consegui
recuperar o fôlego.
- Ah... – Lamentou.
- Podemos vê-lo?
- Sim, só que um de vocês vai ter que assinar a papelada. – Ele a jogou sobre a mesa. –
E pagar a fiança.
- Ah, não! - Anya esbravejou. – Vamos deixar ele aí. O sem pregas é perigoso. Um dia
ainda vamos acordar já mortos e esquadrejados.
Minutos depois, o chefe de polícia nos levou até a cela onde Bellamy estava trancafiado,
alegando que o mesmo estava fora de si e que, talvez, nossa presença o acalmasse.
Pois estava sentado no chão, fitando o vazio, enquanto passava uma caneca de alumínio
nas grades e aquilo fazia um barulho irritante. Um pinguço no fundo da cela, tocava
uma canção em uma gaita, intensificando o clima triste e solitário da prisão.
Lexa bufou, entrou na cela, passou o braço do viado por seu ombro e o ergueu, servindo
de apoio para o pobre coitado, que continuava a passar a caneca por grades imaginárias.
Fomos para o apartamento da Barbie, a fim de ouvir a versão dos fatos pela boca do
próprio Bellamy. Ele tomou um banho demorado e, finalmente, apareceu enrolado em
uma toalha, igual a uma mulherzinha.
- Vou voltar para UA. – Lexa levantou-se do sofá, visivelmente desconfortável com os
trajes do pavão.
Pensei em pedir uma carona. Olhei pro relógio, dando-me conta de que ainda tinha uma
hora antes da última aula, então, resolvi ficar por lá e me divertir mais um pouco às
custas da miséria alheia.
- Fui na boutique ralé e, na vitrine, vi minha saia. MINHA! Não tive escolha, saí
correndo de lá com ela. Nem morta que ia deixar minha obra prima na mão da mundiça.
– Enrolou uma mecha de cabelo com o dedo.
- Ah, não... Ralamos para criar essas peças! – A Sebosa começou a andar de um lado
para outro.
- É uÓ! Gente uÓ total! Isso é espionagem de alta costura. Precisamos fazer algo! – O
viado botou mais lenha na fogueira. – Em menos de uma semana, nossa loja estará
pronta para a inauguração e não temos nenhum lencinho exclusivo pra vender. Eu quero
morrer! – Se jogou no meu colo.
- Precisamos agir, não vamos deixar isso barato! - Raven mantinha uma expressão
determinada.
- Vamos nessa loja, eu preciso ver com os meus próprios olhos. – Minha irmã estava
furiosa.
- Eu vou também. – Falei sem crer no que acabara de sair da minha boca. – Afinal,
quem vai chamar os Woods para pagar uma nova fiança? – Enruguei a testa.
Pouco tempo depois, Raven estacionou seu carro em frente à loja. Fui uma das
primeiras a sair, louca para ver um barraco.
Atravessamos as portas de vidro e, assim que colocamos os pés dentro da Lux, minha
prima saiu correndo em direção a um manequim. Não precisava entender de moda para
sacar que aquela peça havia sido desenhada por ela.
Bellamy, que mantinha-se atrás de mim, escondendo o rosto safado com grandes óculos
escuros, cutucou minha irmã, que disse:
- Eu, gata. Tudo isso é meu! – Abriu os braços, girando. – Vai comprar?
- Que é isso? – Max colocou a mão no peito, pasma. – Quem soltou a cachorra raivosa?
- Não sei do que estão falando! – Ele jogou o cabelo pro lado. – Saiam da minha loja!
- PARA! PARA! PARA! – O pavão colocou as mãos na cintura. – Que viado uÓ! Pense
numa mequetrefe! Tu quer que eu arranque esse teu megahair todinho, desgraça? Se tu
pensa que eu vou deixar barato, está é muito E-N-G-A-N-A-D-A!
Bellamy, para a surpresa de todos, puxou a bolsa das mãos de Rae e deu uma bolsada
firme na cara da bicha loira.
A dona da loja cambaleou tonta com a porrada. Os seguranças vieram para cima de nós.
Foi exatamente o que nós fizemos. Bellamy começou a distribuir bolsadas. Isso foi o
suficiente para distrair os seguranças, e nós fugimos.
As garotas e eu nos metemos dentro do carro num piscar de olhos, temendo que
fôssemos dar outro passeio na delegacia.
Minha irmã freou para que o lunático pudesse nos alcançar. Abri a janela do carro e,
colocando a cabeça para fora, gritei:
Com as mãos balançando no ar e ainda segurando a bolsa, o esquisito chegou até nós.
Não esperou que eu abrisse a porta. Lançou o corpo magro pela janela, caindo por cima
de mim. Da cintura para cima, ficou dentro da BMW e suas pernas chacoalhavam do
lado de fora.
Partimos com metade do Bellamy do lado de fora. Ele berrava, assustado, pedindo
socorro.
# 02:50 am #
Revirei-me no sofá, impaciente. Fechei os olhos com toda força, tentando me obrigar a
dormir. Ainda assim, isso não foi suficiente. Sentei-me, me dando por vencida. Aquela
ia ser uma noite de cão.
Fui até a cozinha, bebi um copo de água e só conseguia imaginar se Lexa estaria
dormindo.
Burra! Burra!
Gritei mentalmente.
É lógico que estava! Voltei pra sala, desanimada. A brisa fria que adentrou às janelas,
fez o resto das cortinas dançarem, levando minha memória à Verona, onde a Woods e
eu nos apaixonamos, embora não tivesse certeza de seus sentimentos por mim. Estava
ali pra fazê-la enlouquecer de paixão, porém, talvez isso nunca acontecesse.
O pensamento foi o suficiente para mexer com as feridas do meu coração, causando
uma dor que eu evitei à todo custo.
Encarei a porta da frente, tensa. E se eu fosse até lá? E se, por algum milagre, ela
estivesse assim como eu, necessitada de braços calorosos e beijos ardentes?
Pus as mãos no rosto, buscando encontrar coerência entre meus objetivos e os desejos
da minha alma.
Desliguei a TV, cansado de tentar distrair-me. Fiquei de pé, largando o controle remoto
no sofá. Alonguei os braços, estalando as juntas. Odiava ficar feito uma zumbi pela
madrugada. Tudo o que eu queria era que minha mente tivesse um botão de “pausa”.
Ela conspirava contra mim, fazendo-me lembrar de Clarke a todo minuto.
Passei as mãos pelos cabelos, imaginando o que ela estaria fazendo. Provavelmente,
dormindo tranquila e, não, perambulando pelo apartamento como eu.
Liguei para minha mãe mais cedo e tentei lhe interrogar sobre a pirralha. Infelizmente,
ela não tinha nenhuma informação. Abby limitou-se a dizer que tudo daria certo no
tempo propício. Praticamente, desligou o telefone na minha cara. Sentia que havia algo
estranho em sua voz. Típico de quando ela me esconde coisas.
Estava ficando cada vez mais preocupada com o futuro do meu relacionamento com
meu frango. Ver ela com Finn me fez odiar momentaneamente os dois. Ela precisava
mesmo aceitar carona dele? Pior! Tinha que ir vestida daquele jeito, toda se exibindo? A
imagem gravada na minha mente fez meu punho cerrar de ciúme. Eu não era do tipo
ciumenta, mas ver os babacas da UA secando-a, em especial, Niylah, me deu vontade de
esmurrar cada um deles.
Mentira!
A quem eu estava enganando? Se eu fosse ameaçá-la, ela iria repetir o ato de exibição
só para me contrariar. Isso fazia parte de sua personalidade, adorava tirar todos do sério.
Além disso... Eu estava apenas seguindo meus instintos comandados pelo SAD. Todo
meu argumento era uma desculpa patética de vê-la. Coloquei a mão na madeira,
desejando tocar minha Clarke.
Clarke PDV
Coloquei a mão na maçaneta, pronta para girá-la e acabar com meu tormento e
necessidade de estar próxima à Lexa. Infelizmente, não tive coragem para tal.
Uma batalha interior era travada, enquanto colocava a mão esquerda na madeira.
Lexa PDV
Por alguma razão, continuava a acariciar a porta. Devia estar ficando mais louca a cada
minuto. Tentei afastar todos os desejos de beijar a pirralha. Em vão, porque quanto mais
me esforçava, mais almejava seus lábios trêmulos contra os meus.
Clarke PDV
Gritei mentalmente.
Meus dedos deslizavam pela madeira por vontade própria, como se um imã os atraísse.
Até podia sentir a intensidade da atração, todo meu corpo era impelido por uma força
desconhecida.
Lexa PDV
Eu já não conseguia puxar minha mão de volta. E o meu corpo queria se colar àquela
porta. Por que, Deus?
Engoli em seco, tentando me afastar dali, mas o meu íntimo não queria. Por mais insano
que aquele momento estivesse sendo, ali, no corredor, estava sentindo a angústia e
saudade finalmente serem aplacadas, após tantas semanas.
Clarke PDV
Lexa PDV
A sensação de paz, apesar dos conflitos em minha mente, subitamente, desapareceu. Dei
um passo atrás, puxando a mão.
Clarke PDV
EU PRECISO DE AJUDA!
Choraminguei.
Tudo bem... Tudo bem! No momento que você abrir essa porta, vai ver que o
apartamento de Lexa está fechado, assim como todas as possibilidades de ficar com ela
no momento. A frustração vai trazer sua sanidade de volta.
Lexa PDV
Ok, Lexa. Quando abrir novamente essa porta, vai se sentir uma idiota ao encarar o
corredor vazio e silencioso, talvez isso te faça lembrar que deveria estar dormindo como
todo mundo. Perceberá que o que aconteceu há pouco foi uma mera alucinação.
Clarke PDV
1...
Lexa PDV
2...
Clarke PDV
3.
Abri a porta com força e arregalei os olhos ao ver Clarke de pé, a poucos metros de
mim.
Bati a porta, dando-me conta de que estava ferrada. Iria procurar um psiquiatra,
precisava de medicação da pesada!
Clarke PDV
Bati a porta sem crer que acabara de ver a Woods. Aquele apartamento mal assombrado
devia provocar miragens. Afinal, quais as chances de, às três da manhã, ambas
tentarmos sair de casa ao mesmo tempo?
Mas... E se ela realmente estivesse lá? Olhando para mim? Meu estômago embrulhou
com a ideia. Só havia um modo de solucionar a questão.
Lexa PDV
Eu não posso estar louca. Não pode ser! E se Clarke realmente estivesse saindo de casa?
DROGA, IMBECIL! Você não vai ter paz se não souber se é uma alucinação ou não.
Clarke PDV
Lá estava ela. Lexa Woods, parada feito uma estátua, segurando a maçaneta.
Ela parecia agitada demais para uma ilusão, dava para ouvir o som frenético de sua
respiração... Embora, começasse a acreditar que o som vinha de mim.
Lexa PDV
A pirralha piscava os olhos, confusa. Quase sorri ao perceber que eu não estava tão
louca quanto imaginava. A garota à minha frente era real.
Sentia-me dominada pela visão da mulher à minha frente, eu queria cada minúsculo
pedaço dela junto a mim. Se eu não a tocasse, morreria de desgosto. Estava 100%
dependente.
É, estou ferrada!
- Não vamos falar sobre isso. – Murmurei, projetando-me para o meio do corredor.
- Nunca! – Respondeu, com seu corpo chocando-se contra o meu, em um abraço forte e
incandescente.
Clarke PDV
Sentia o corpo quente de Lexa aquecer minha pele e, por mais que minha mente lutasse
para dominar a matéria, cada fragmento de mim desejava incessantemente aquele
abraço. Meu coração tripudiava dentro do peito, declarando-se vivo e feliz.
Lexa PDV
Como uma viciada prestes a se deixar dominar pelo vício que o torna frágil e incapaz,
deslizei minhas mãos, das costas da Griffin até seu cabelo. Contra toda a racionalidade,
permiti que meu corpo desfrutasse do êxtase de tocá-la, consciente que, depois, me
arrependeria mil vezes e, ainda assim, não seria o suficiente para deixar de desejá-la por
mais mil vezes diariamente.
Meus dedos subiram por sua nuca, envolvendo-se nas mechas de cabelo. Ela ergueu a
cabeça em resposta, encarando-me com seus olhos ilegíveis.
No momento em que suas mãos tocaram minhas têmporas, minha respiração ficou
contida na garganta. Quando consegui voltar a respirar, o ar, ao menos para mim,
parecia rarefeito, como se estivéssemos em uma altitude muito além do normal.
Clarke PDV
Acariciei o rosto da Woods, desejando que o meu tato pudesse guardar a sensação de
tocar aquela pele pálida. O verde nos olhos dela distraía-me totalmente.
Incapaz de deter minhas mãos, deixei-as livres para derraparem da face de Lexa até sua
cintura, onde, incontroláveis, entraram por sua camiseta, deslizando pelas costas
quentes. Gélidas, procuraram aquecer-se.
E foi nesse momento que as pernas de LEXAZINHA cederam. Ela ficou de joelhos. Em
uma sincronia impossível de se compreender, meu corpo obedeceu ao dela, repetindo o
ato. Ambas estávamos, agora, de joelhos no meio do corredor. Não havia nenhum som,
nenhum vestígio de que, lá fora, o mundo continuava a girar. Estava tão envolvida
assim?
Para o meu total desespero, ela deslizou um pouco a alça da regata, deixando meu
ombro a mercê de seus lábios.
Lexa PDV
Minha boca, por vontade própria, beijou o ombro de Clarke. Foi apenas um único,
singelo e satisfatório beijo. Mantive meu rosto à centímetros de seu ombro. Pensei em
me afastar, porém, o ímã que sentira antes, próximo à porta do apartamento, dominava-
me agora e resistir era impossível. Fascinada, assisti a pele dela arrepiar-se, quando o ar
que saía da minha boca tocava-lhe.
Minha cabeça inclinou-se lentamente e minha boca ficou rente à orelha do meu frango.
Não foi preciso beijar aquele local para ambas suspirarmos. Fechei os olhos ao sentir
uma das mãos dela arranhar minhas costas.
Existia algo nos dominando além do desejo físico, estávamos envoltas em uma espécie
de aura, de casulo só nosso, onde nada fazia muito sentido. Infelizmente, esse casulo era
extremamente frágil, como se qualquer movimento brusco o pudesse romper e o menor
dos sons, o dissipar.
Clarke PDV
O magnetismo entre nós era quase gritante, porém, aquele momento, após tudo que
passei longe de Lexa, mais parecia um sonho e eu tinha quase certeza de que acordaria a
qualquer momento. Mas, se fosse realmente um sonho, porque não aproveitá-lo? Sem a
menor pressa, retirei minha mão esquerda das costas da Woods e a coloquei em seu
peito. Ela afastou-se suavemente e baixou a cabeça para fitar meus dedos, no meio do
seu tórax, que se mexia com o respirar pesado.
Inesperada e delicadamente, ela tomou minha mão, afastando-a para longe de si. Nossos
braços penderam, até que ela voltou a erguer vagarosamente nossas mãos, levando-as a
altura de nossos ombros. Em um movimento, abriu minha palma com a sua. Elas mal se
tocavam. Aquela posição lembrou-me de minutos atrás, quando acariciava a porta.
Quietas, ficamos observando a cena. Uma mão rente à outra, perfeitamente alinhadas,
mesmo a dela sendo um pouco maior que a minha.
Fluía algo ali. Busquei uma palavra para definir aquilo e a única que encontrei, temi
usá-la, pois, ela era, para mim, feita de alegria e dor. E, provavelmente, Lexa não sentia
por mim algo assim tão grande, ou ela nunca teria me deixado.
Lexa PDV
Segurava Clarke com tanta força que, certamente, a estava machucando e, mesmo tendo
consciência disso, fui incapaz de parar, totalmente entregue ao vício. Não me socorram!
Amaldiçoei meu cérebro, limitado por não ter guardado na memória, com exatidão, o
sabor da boca da pirralha. Era incrível sentir aquele beijo novamente. Não me permitira
cometer o mesmo erro. Desta vez, me forçaria a guardar cada sensação.
Minhas mãos se recusavam a ficar em um só lugar. Percorri o trajeto da cintura dela até
a nuca, apertando-a ainda mais contra mim. O roçar de nossas línguas deixava-me
louca, como se eu já não me julgasse assim nos últimos tempos.
Clarke PDV
Estava em êxtase, meu peito começou a doer por falta de oxigênio. Que doa! Quem liga
pra oxigênio? Agarrei os cabelos de Lexa, enquanto a sentia morder meus lábios.
Lexa PDV
Clarke expirou e isso me fez abrir os olhos. Com as bocas ainda coladas, senti o casulo
romper-se. Minha mente foi bombardeada de pensamentos. E todos eles gritavam: Você
está estragando tudo!
Clarke PDV
- AI! – Gemi com a mão na testa. O local latejava e precisei piscar os olhos algumas
vezes para absorver a dor.
Pensa rápido!
Ordenar isso para mim mesma não ajudou em nada. O que diria para LEXAZINHA?
Como explicaria o que acabara de acontecer? Meu estômago embrulhou e temi vomitar
de nervosismo ali mesmo. NOSSA! IA SER ROMÂNTICO!
Lexa PDV
Boa, Lexa! Você conseguiu complicar ainda mais uma situação já complicada!
- Isso que... Aconteceu... Er... – Meu leãozinho estava gaguejando? E por que ela
mantinha os braços em volta da barriga?
Sabia que íamos falar do beijo e tudo mais, então, tratei de bolar um jeito de sair
daquela situação constrangedora.
- Isso! – Sorriu, sem jeito. – Foi só uma recaída! Acontece, certo? Tipo, com ex-
namorados?
- Concordo.
- Concordo. – Repeti
- Ainda está falando do assunto! – Precisei ser direta. E discordava totalmente, havia
sido um beijo abrasador.
- Não estou falando nada... – Clarke fitou o chão. – Ok, estou falando! Só que não mais
no assunto que não deveríamos falar, e, só para deixar claro, o assunto que não
deveríamos falar é sobre o beijo, mas só falar está liberado é, porque só falar...
- Cala a boca! – Implorei. Clarke tinha que tagarelar nesse momento? Estava deixando-
me com um frio na barriga, eu não tinha mais argumentos para continuar aquele diálogo
sem assumir que eu não me arrependia do beijo. Pelo contrário, estava querendo mais.
Fiz o mesmo.
Clarke PDV
Após o estranho episódio com minha Woods no corredor, dormi perfeitamente bem. Se
não fosse o despertador do meu celular tocando, provavelmente, teria dormido o dia
todo. Cedinho, busquei minha moto na oficina e, com ela 100%, fui às lojas limitadas de
Arkadia comprar alguns móveis para meu novo quarto com o dinheiro do racha. Estava
# RESTAURANTE #
Minha primeira tentativa foi o restaurante simples nos limites da cidade chamado
Mary´s kitchen. A dona foi simpática, precisava de uma garçonete e resolveu me testar
em um dos horários de mais movimento, quando os caipiras da cidade e estudantes
lotavam o local para o café da manhã. Não me importei em cabular 1 dia de aula. Logo
teria um emprego na parte da tarde e tudo se resolveria.
Uma garçonete veterana me instruiu cuidadosamente. Bobagem! Era só servir mesa, não
tinha nenhum mistério. Eu podia fazer isso... Acho.
Fui até lá, amontoei os pedidos e, me achando a melhor garçonete do mundo, saí
equilibrando a grande bandeja pelo local. Fui em cada mesa e deixei rapidamente a
comida, pois o cozinheiro já berrava novamente por mim.
- Moça! – Gritou um homem barbudo. – Isso não foi o que eu pedi! – Virei-me para ele,
surpresa.
Contra gosto, retirei o prato de sopa dele e fui atrás do maldito café. Na mesa 8, uma
senhora já estava comendo os bolinhos do caipira.
- Eu sei. Essa sopa aí fui eu que pedi, mas estava com muita fome, então, os bolinhos
caíram bem.
Desisti do café.
- Sopa? – Sorri.
- Ei, esse prato está trasbordando! Assim não dá para molhar o pãozinho.
FALA SÉRIO!
- Prontinho. – Recoloquei o prato sobre a mesa. – Vou querer gorjeta por isso.
- AH, PELO AMOR DE DEUS, JUNTA ÁGUA, SAL E CORANTE, QUE NINGUÉM
VAI NEM PERCEBER! EU VOU CUSPIR DENTRO MESMO! – Esbravejei chateada.
- Clarke, eu preciso ir ao banco antes que o expediente encerre. Você ficará bem
sozinha? – Indagou o Sr. Phill.
Ele verificou o ambiente por alguns segundos. Como não havia nada para fazer, ele
decidiu confiar em mim. Esse povinho de cidade pequena é muito preocupado.
Fiquei brincando com uma bolinha pra cachorro, totalmente entediada, vagando pela
loja. Estaquei diante da vitrine, olhando, incrédula, para as roupinhas para animais.
- Que tipo de gente compra essas roupinhas escrotas? – Perguntei em voz alta,
segurando uma mini fantasia de bombeiro.
Lexa PDV
- Por que essa pressa toda? – Indaguei, curiosa. Estávamos chegando em casa após
horas de aulas. Era para relaxarmos!
- Comprei uma fantasia maneira pro Toicinho essa manhã. Quero fazê-lo provar para
ver como fica. Ele vai arrasar na calourada hoje! – Respondeu, enquanto saíamos do
elevador e nos direcionávamos para o apartamento.
- Você não vai levar aquele chiqueiro ambulante conosco, né? – Meu irmão abriu a
porta, levemente irritado.
Assim que adentramos o local, o suíno rosado disparou em nossa direção. Lincoln e eu
nos afastamos e somente Anya sorriu, agarrando seu animal esquisito.
O ex-virgem balançou a cabeça, reprovando-me. Dei de ombros. Por que eu não podia
me divertir, observando dois animais irracionais interagindo?
- Ficou muito louco! Toicinho, tu é o bicho! – Anya estava eufórica e o suíno também,
correndo em volta dela.
- Mana, o que você dá para esse leitão? Ele é tão... – Procurei a palavra correta para
descrevê-lo.
- Acho que é o energético que o doidinho toma, ele está sempre querendo mais. – A
bisonha sentou-se no chão para ajustar o capacete do seu mascote, que pendia para o
lado.
- Deixa de ser ridícula! Só você pode ser viciada? Ao menos, meu chapinha aqui não
fica por aí cheirando galinha.
Ignorei.
- Anya, se levar seu porco para a calourada, vai arrumar confusão. Ninguém vai querer
chegar perto de você por causa desse bicho! – Lincoln falou, cheio de nojo.
- Mentira! Ele vai fazer o maior sucesso com a mulherada. Estou contando com isso,
Toicinho precisa circular, caramba! É época de eleição, como você acha que ele vai
ganhar o título de mascote da UA?
- Como? – O maluco bestificou, sendo o último a saber da mais nova peripécia de Anya
e seu porco. A bisonha gargalhou.
- Ei, Any, soletra eleição! – Pedi, bem humorada. Como poderia não estar, após o
episódio no corredor, durante a madrugada?
- Um porco numa eleição, nada poderia ser mais anticonstitucional. – Lincoln reclamou.
- FAZ ELE PARAR. EU VOU BATER NELE, HEIN?! – Anya levantou-se, irritada.
- Mas se eu vencer, você terá que se livrar dele. – Linc estava se aproveitando do
entusiasmo da nossa mana.
Ela, porém, torceu a boca, refletindo por alguns segundos. Por fim, estendeu a mão em
direção à Lincoln dizendo:
- Está combinado!
Desviei o olhar, me perguntando onde estaria meu frango, não consegui achá-la em
lugar algum do campus.
Clarke PDV
Atender o dono do animal foi fácil. Vê-lo ir embora é que foi difícil. Pois, o que eu ia
fazer sozinha com o au-au?
- Isso vai doer mais em mim do que em você... – O acalmei, armando-me de uma ducha.
PUTA MERDA!
- Volta, cãozinho mau! Volta! – Berrei, correndo atrás dele pela loja.
O barulho do aço chocando-se contra o chão fez o cão latir ainda mais. Arregalei os
olhos ao constatar que voou pintinho para todo lado, pois o baque fez a porta da gaiola
abrir-se.
PERFEITO!
O Labrador avistou ao longe a refeição e veio correndo, com tudo para cima de mim.
Pelando-me de medo dos dentes grandes, afastei-me abruptamente. Não tive tempo de
me equilibrar direito, então, caí sentada. Meus olhos quase saltaram para fora, no
momento em que senti algo embaixo de mim e, pelo tamanho, só podia ser um...
***
Meia hora depois, adentrei o apartamento da Barbie sem emprego e me sentindo uma
assassina. Paralisei na entrada, encontrando Octávia, Rae e Bellamy, socados dentro de
vestidos longos, brilhosos e com as bocas cheias de sorvete.
- Clarke, o que foi? Por que essa cara? – A fofolete percebeu minha melancolia.
- Tem lugar pra mais uma? – Torci a boca, sentando-me no sofá grande, entre eles.
- Experimente! – Respondeu.
- Ainda bem que hoje tem calourada. Do contrário, eu me afogaria nesse sorvete. –
Comentou a sebosa.
- O que foi?
- Rápido, aumenta o volume, eu babo por essa parte! – O pavão ficou de pé em um pulo.
Eu já conhecia aquela cena, apesar de não ser fã daquele tipo de filme. Nicole Kidman
descia de um balanço, cantando animadamente. Para meu terror, Octávia obedeceu o
comando do viado, deixando a música altíssima.
O gayzão começou a cantar alto Moulin Rouge Sparkling Diamonds, chegando ao nível
máximo da viadagem desorganizada:
- “A kiss on the hand Maybe quite continental. But diamonds are a girl's best friend
... (Um beijo na mão pode ser bonito e sofisticado. Mas os diamantes são os melhores
amigos da mulher...)”
- Pare! – Implorei.
Rae cantou:
- “A kiss may be grand. But it won't pay the rental On your humble flat or. Help you
feed your um pussy cat… (Um beijo pode ser elegante mas não paga o aluguel ou a
comida do gato...)”
- BEM DOIDA! – Respondi, levantando-me pronta para dar o fora dali. Logo, percebi
que Bellamy chocou-se. Mas, para minha surpresa, ele deu de ombros, pegou minha
mão e me fez girar ao som da música. Ri da idiotice.
Octávia cantarolou:
- Men grow cold as girls grow old. And we all lose our charms in the end... (Homens
ficam frios e garotas ficam velhas E todos perdemos o charme no final...)”
- “But square cut or pear shaped. These rocks don't lose their shape. Diamonds are a
girl's best friend... (Mas em forma de pêra ou quadrados. Essas pedras não perdem a
forma. Diamantes são os melhores amigos da mulher...)”
Os três patetas saíram dançando pela sala. Tudo bem que o ritmo da canção era legal,
mas eu que não ia pagar aquele mico. Tá bom, só um pouquinho. Já estou na merda
mesmo!
- “Diamonds are a girl's best… Diamonds are a girl's best... Diamonds are a girl's best
friend...”
Eu estava me divertindo e a culpa era toda do pintinho morto. Balançamos as mãos para
cima e eu ia negar que tinha feito aquilo até a morte.
- O final é meu! – Exigi, empurrando Bellamy com a mão direita e Raven com a
esquerda. Eles caíram sentados, levando Octávia junto. – “Cause that's when those
louses…Go back to their spouses…Diamonds are a girl's best friend!” – Praticamente
berrei e as gargalhadas vieram logo em seguida.
Virei-me em direção à porta e quase tive um AVC ao dar de cara com Lexa, Anya e
Lincoln morrendo de rir da nossa performance.
- Onde... Você... Estava? – Indagou a Woods entre arfadas, sem conseguir parar de rir.
Horas depois...
Ela não conseguiu disfarçar a decepção ao me fitar. Meu cabelo estava engraçado, com
duas tranças mal feitas e não foi só isso que pareceu não agradá-la. A calça xadrez
vermelha larga, a camiseta velha do Bon Jovi e o tênis detonado, também.
Lógico que a mochila em minhas costas, continha outra roupa mais bonita para que,
quando chegasse o momento de ir para calourada onde Lexa e os demais estavam, eu
arrasasse. Mal sabia Niylah que também estava levando ali, coisas que fariam da noite
dela, um inferno.
A idiota achava que eu era burra? Eu já havia sacado o porquê do carro. A babaca
estava planejando me pegar ali no final da noite.
FILHINHA DE PAPAI!
- Não tem graça sem pipoca, poxa. Deixa de ser pão dura! – Rebati.
- Compro depois.
O tempo que ela levou para voltar foi o suficiente pra que eu subornasse as três
adolescentes atrás de mim. Elas concordaram em ligar para o meu celular durante o
filme e jogar pipoca na cabeça da Niylah a cada 10 minutos.
E foi nesse momento que as meninas começaram a jogar pipoca na cabeça dela.
BATATA! Não deu cinco minutos e, em uma cena tristinha, Niylah aproximou-se,
roçando o nariz no meu pescoço.
- QUE MASSA! – Gritei, vendo a Bela cantar, rodeada pela xícara, candelabro e Cia.
Acompanhei com palmas, chamando a atenção de algumas pessoas próximas a nós. –
ELES SÃO TÃO LEGAIS! – Falei o mais alto que pude.
Quando eu achei que não podia me sair melhor em meu plano, o celular começou a
tocar alto em um dos momentos mais românticos e silenciosos do filme.
- Pelo amor de Deus, atende esse telefone! – Implorou, brava, minha acompanhante, já
que os murmúrios revoltados vinham de todos os lugares da sala.
EU SOU UM GÊNIO!
- Repete, porque eu acho que não entendi! – Pedi, revoltada, para Linc.
- É isso que você ouviu. Octávia me falou que Clarke e Niylah saíram juntas.
Virei a caneca de chopp de uma vez só. Nem todo o zumbido de conversas e risadas em
volta de mim ou a banda tocando um rock bacana na festa, foi capaz de me distrair da
visão de Niylah e meu frango juntas.
O bar Hippy Shake estava lotado. A maioria dos rostos já eram conhecidos por mim e
alguns calouros tentavam se enturmar. Bufei, encostando-me na parede.
- Fica fria, Lexa, logo ela deve aparecer por aqui. – Meu mano tentou consolar-me.
Me limitei a apontar para o círculo de garotas perto do palco. Anya estava certa, o porco
fantasiado de bombeiro fazia o maior sucesso com a mulherada.
- BEM DOIDA! – Berrou a bicha. – Que mundiça uÓ! Já está me traindo! Eu vou lá
discatitar legal em cima dessa catiroba! – O viado foi empurrando os estudantes para
chegar até sua vítima.
Bellamy PDV
- Aiiii! – Coloquei a mão no peito. - Meu coração está palpitando de dor. Pisa em mim,
pisa no chicletinho... – Respirei fundo vendo as raxas encara-la, pasmas. - ... Que te dá
todo o amor! – Completei.
- E nossa história na Itália? – Tirei forças do útero para continuar. – Foi tão lindo... –
Girei na ponta do pé para que ela lembrasse. – Sinto saudades dos velhos tempos, como
no blackout da pegação em que a gente brincou de cavalinho, ou quando corremos
juntos por todo o hotel no dia dos namorados... – Funguei dramática. – Só porque eu
estou pobre, você não me quer mais? Que injusto! (N/A: gente, nem eu entendo a
relação desses dois, só sei que é BEM DOIDA!)
Era hora de ir correndo pros braços da Guaxinim, antes que Anya me batesse. Disparei,
feliz por ter acabado com a alegria das gobiras.
Clarke PDV
Sentei no banco do motorista do Audi. Com meu novo visual, foi fácil convencer
Niylah a me deixar dirigir de volta a Arkadia. O corselet vermelho junto com a sainha
de pregas preta, praticamente, fizeram o trabalho sozinhos. Só precisei ficar falando
“por favor” da forma mais melosa possível.
Ela deu de ombros, mais interessada nas minhas coxas. Story My Life do One Direction
começou a tocar no volume máximo.
Niylah tapou os ouvidos, enojada. Eu sabia que a reação dela seria essa. Ela parecia ser
daquelas que reagem mal a bandinhas de rapazes bonitinhos que dançam.
- Vá devagar. – Pediu.
Foi hilário ver a expressão da badgirl, sempre que um foto-sensor nos flagrava. Ela
começava a perceber que o encontro estava saindo mais caro do que o esperado.
O baita carro derrapava nas curvas. Mas quando cheguei à autoestrada, quase atingi
os 220 km/h. Achei que Niylah fosse me matar a qualquer momento, ela estava furiosa.
Pouco me importava, estava louca pra chegar à festa. Algo me dizia que coisas boas
iriam acontecer.
Lexa PDV
O copo de whisky quase deslizou da minha mão no momento em que vi Clarke entrar
no local, acompanhada por Niylah. Ela sorria, cumprimentando sua gangue de puxa-
sacos. Clarke apenas analisava o local.
Deixei Anya falando sozinha com seu porco e fui até lá. Tentei parecer relaxada, ao
passar pela mesa onde estavam Lincoln, as garotas e Bellamy. Foi preciso convencer
minha irmã a ficar longe da bichona, ou teríamos um homicídio.
Meus olhos logo voltaram-se para a saia de pregas desnecessariamente curta da Griffin.
Não consegui me conter.
- Esqueceu o resto da saia em casa? – Cruzei os braços. – Por que não volta pra buscar?
Passei uma mão pelo cabelo, sendo forçado a ver Carter envolver o ombro dela com seu
braço.
- Sou sua irmã mais velha, esqueceu? Então, tecnicamente, é da minha conta sim. – Não
acreditava que estava apelando para aquilo.
Clarke piscou os olhos, confusa. Algo em minhas palavras fez seu rosto endurecer.
- Não sou sua irmã! – Suspirou. – Se manda! Sai da minha cola! – Ordenou, irritada.
A encarei irada.
Tomei o copo de vodka que estava em suas mãos e o virei de uma só vez. Em seguida,
joguei o copo, sem cuidado, em direção a Niylah, que precisou se esquivar para pegá-lo,
antes que chegasse ao chão.
- Olha pra você, com dor de cotovelo, na maior manguaça, enquanto a Loira do
Banheiro tá se divertindo. O que tu espera? Que ela fique com peninha? Nós mulheres
gostamos de provocar, acredite em mim! Anya vê, Anya sabe! Reaja, soldado! – Pôs
uma mão no meu ombro. – O amor é um campo de batalha!
Estava passando tempo demais com a bisonha, ou a filosofia brega dela estava
começando a fazer sentido?
- Vá lavar o rosto! Está um bagaço e cheio de olheiras! Só saia daí quando conseguir
honrar o sobrenome Woods!
Cambaleei para dentro e encarei o espelho, decepcionada comigo mesma. Estava agindo
feito uma imbecil viciada, uma mendiga de afeto.
Passei semanas deprimida e, nos últimos dias, até tive alucinações e recaídas. Como
minha mana disse, era hora de agir feito uma Woods. Não ia mais deixar uma pirralha
pisar em cima do meu orgulho e sanidade. Se Clarke me quisesse, ia ter que pagar caro.
Ela gostava de me provocar ciúmes? Vamos ver o que ela acha de ser vítima do mesmo!
Fechei os olhos, concentrando-me, focando na pessoa que era antes de ir para a Itália.
Precisava resgatar o meu outro “eu” que estava soterrado em sentimentos e dilemas.
Essa noite, me liberaria daquilo e me permitiria um pouco de diversão. Se a Griffin
conseguia, eu também poderia fingir que não tínhamos uma ligação tão forte. Além
disso, sabia que minhas próximas atitudes a deixariam louca. Ri baixinho. Era minha
vez de provocá-la.
Saí do banheiro, sentindo-me outra. Nem sinal de Anya. Olhei em direção à mesa do
pessoal e a vi sentando o suíno na cadeira próximo à Octávia. Assobiei alto e a maluca
veio correndo me encontrar.
Antes de responder, fitei Clarke ao longe, no bar, lendo um folheto e Niylah, perto dela,
papeando com os amigos, como se estivesse exibindo sua nova conquista.
- Eu sinto a necessidade...
Ela arregalou os olhos, entusiasmada, pois sabia exatamente o que eu ia falar. Era algo
que fazíamos antigamente, sempre que íamos para a balada.
Pobre Anya, deveria mesmo sentir falta daquilo. Como eu era o cérebro da parceria, a
garota sozinha só se dava mal. Mas, juntas, éramos imbatíveis.
Feito criança no playground, ela pulou com as mãos no rosto, sem saber quem
abordaríamos primeiro.
Não podia ser mais perfeito. Griffin, com certeza, nos veria em ação.
Clarke PDV
[Precisa-se de guitarrista para as noites de Country Music. Duas vezes por semana.]
Country? Nunca me imaginei tocando aquilo. Meu estilo era outro, rock. Mas eu podia
tocar qualquer coisa, desde que me pagassem... acho. Olhei para o palco do Hippy
Shake, não era grande. Uma banda de apenas três integrantes tocava pop rock e um DJ
esperava para assumir. Tinham vários instrumentos enfileirados atrás deles. Pelo que
notei, o bar oferecia apresentações de diferentes estilos musicais durante a semana. Isso
explicava o piano no canto direito do palco, que, certamente, era paras as noites de Jazz
e Blues. Deveria arriscar? Só de me imaginar tocando em público, meu estômago
embrulhou.
Guardei o folheto com o telefone para contato dentro da minha mochila e, foi nesse
momento que ouvi:
- Oi, sou Lexa Woods e essa é minha irmã Anya... – Girei no banco, confusa. Atrás de
mim, estavam as duas figuras sorridentes, junto a três biscas. Pasma, a ouvi continuar,
como se nem me conhecesse. – Já colocaram o nome dos veteranos escolhidos no pote?
- Vou fingir que nem sei quem é! – Anya exibiu ainda mais o sorriso. O que despertou a
risadinhas escrotas.
- Oi. – O dono da mão se pôs à minha frente e quase engasguei com a fumaça do
cigarro.
- Finn? – O nome saiu em um murmúrio de frustração. Ele estava tapando minha visão
da cena ridícula da LEXAZINHA há alguns metros de mim.
- Tudo bem? – Perguntou, analisando a bebida no balcão, quase não tocada por mim.
- Ajudando uma amiga. – Respondeu. – Trás uma cerveja, valeu?! – Pediu ao barman.
- Não. – Abriu a garrafa de Heineken. – Ela! – Apontou para Octávia que acenava para
mim, na mesa rodeada de colegas do suposto maconheiro. Um fato me chamou a
atenção. Não podia avistar em lugar algum, Rae e Bellamy. Onde estariam? Balancei a
cabeça, voltando à linha de raciocínio mais ou menos racional.
- Amiga? Octávia?
- Aquela ali não durou nem o primeiro tempo. – Disse-lhe, revirando os olhos. – O que
quis dizer com amigo da Octávia?
Inclinei o rosto, achando que, depois de ele cumprimentá-la, seria a minha vez. Bem,
essa é a regra de boas maneiras, certo? ERRADO! Ele me deu um tapinha no braço.
- Tudo bem. Suas mensagens de texto pagam o favor, já que são tão engraçadas.
- Deixa de ser débil, Clarke! Olha a loucura que tu ia fazer, atrapalhando o momento EU
ACHO QUE ESTOU NO COMANDO da Lexa. – Minha prima fechou a cara para mim.
– Eu sou cega? NÃO! Você saindo com a Niylah e Lexa de papinho com a mulherada?
Por favor, né? Acham que são as pioneiras? Ex-namorados sempre ficam nesse
joguinho bobo de EU TE SUPEREI. OLHA COMO EU ESTOU NUMA BOA! Minha
experiência diz que está jogando errado.
- Não sei do que está falando! – Joguei o cabelo pra trás. Ela e Finn caíram na
gargalhada. Senti-me ainda mais deslocada. Não aguentei. – Dá uma licencinha! – Sorri
amarelo pro Collins e arrastei Octávia para um canto menos barulhento.
- O que foi aquilo? – Gesticulei em direção a Finn que, quieto, estudava a garota e sua
gangue.
- Aquilo o que?
- Que história é essa de amizade? Vocês se falaram... O que?... Duas ou três vezes em
Verona?
Ela suspirou.
- A história é longa.
- Era nossa primeira semana em Arkadia. Você estava em Polis, fugindo da realidade.
Raven e Bellamy e eu estávamos famintos, só que a comida do hotel era um lixo. Então,
saí sozinha para comprar o jantar num restaurante próximo, e foi aí que tudo
aconteceu...
Já passavam das 20:00h. Na mão esquerda, carregava a pesada sacola com refeição
suficiente para alimentar um batalhão. Bellamy estava deprimido e me obrigou a
escolher metade do cardápio. Caminhei, despreocupada, pela avenida pouco
movimentada. Parei um minuto para trocar a música que tocava alto no Ipod. Ajustei a
bolsa, a qual insistia em deslizar pelo meu braço direito.
Olhei para os lados, antes de atravessar a avenida. Não havia nem sinal de veículos
nas proximidades. Curtindo a música, atravessei despreocupada. A porcaria da alça da
bolsa deslizou totalmente do braço, caindo no chão. Meu humor não mudou. Ri da
situação, baixando-me para apanhar a bolsa. O refrão da minha canção favorita soou
pelos fones de ouvido. Cantarolei e, exatamente nesse momento, quando me pus de pé,
ergui a cabeça e vi a grande figura vindo em minha direção, em uma velocidade que me
paralisou.
De boca aberta e trêmula, nem consegui respirar. Arranquei os fones do ouvido com
um grito preso na garganta.
Balancei a cabeça negativamente. Ele analisou meu rosto atônito. Então, disse
simplesmente:
- Vai sobreviver.
Finn levantou-se e me puxou junto facilmente. Demorei para conseguir juntar forças
em minhas pernas e sustentar o corpo.
- Deveria prestar mais atenção. – Arrancou o Ipod que eu segurava e o jogou longe.
Nem tive coragem de reclamar. O cara salvou minha vida! Dei dois tapinhas nas
bochechas para sair do choque, enquanto ele foi buscar o que restava da minha bolsa.
- Oh... – Sorri, sem jeito. – Muito obrigada, Finn. Isso poderia ser eu agora.
- Minha nossa! Só de pensar que poderia estar morta agora... Caramba... – Ofeguei. –
Mil vezes obrigada... Eu queria...
- Ei, espera! – Não havia acabado de agradecer, então, fui correndo atrás, com a bolsa
estragada no ombro e a sacola de comida chacoalhando.
O rapaz andava rápido e a passos longos, minhas perninhas precisaram ser rápidas.
- Falei algo de errado? – Questionei, ofegante. Não respondeu. – Que mal educado! –
Esbravejei e ele estacou, encarando-me, surpreso. – O que foi? Você está mesmo sendo
mal educado, Sr. Collins! Sua mãe não lhe ensinou boas maneiras?
- Já cansou!
Sabia que ele era o tipinho badboy, mas aquilo não me intimidava nem me incomodava.
Todas as pessoas têm seu lado bom e ruim, temos apenas que respeitar e apreciar as
personalidades como são.
- Estava caminhando, então vi você lá, distraída... Não pensei muito... Só agi. – enfiou
as mãos no casaco de couro.
- QUE DEMAIS! – Não me contive. - Estou feliz por estar viva! Obrigada! – Ri.
- Parando de agradecer!
- Você já comeu? – Perguntei, sabendo que ele estava morando sozinho. Ouvi Lincoln e
Lexa conversarem outro dia. Minha cunhada explicou que o Sr. Collins era um lobo
solitário e provavelmente não ficaria muito tempo em Arkadia, pois odiava permanecer
na mesma cidade por mais que 6 meses.
- Não!
- Não!
- Deve odiar comer sozinho todos os dias. – Murmurei, com pena. Achei que ele nem
ouviria, mas, para a minha surpresa, virou-se, me olhando como se eu tivesse acabado
de ler seus pensamentos.
- Acho que não estou autorizada a comentar sobre isso. – Imaginei que minha priminha
rabugenta me mataria se contasse pro lobo seus problemas pessoais.
Ele ficou fitando o vazio por alguns segundos, então, falou baixinho:
- Não estou a fim de jantar com aquela morena antipática e muito menos com o fresco.
- Fala como se fosse superior. – O reprovei alto e percebi algum choque em sua
expressão. Certamente, ele não era acostumado a ouvir a verdade nua e crua na cara.
– Vamos, até os lobos maus precisam comer. Nunca leu a historinha? – Puxei o gigante
pela mão, andamos um pouco até chegarmos ao hotel. Ele ficou em silêncio o tempo
todo e, como eu não curto silêncio, cantarolei minha canção favorita durante todo o
trajeto.
Suspirei, tentando entender o lado dele. Deveria ser difícil para Finn ficar à vontade
perto de nós. Se ao menos Lincoln e as garotas estivessem ali. Pensei em deixá-lo ir,
porém logo abandonei a ideia. O cara havia me salvado, o mínimo que podia fazer era
obrigá-lo a jantar. O homem era o tipo de pessoa carrancuda que tem escrito na testa
“preciso de ajuda. Sou infeliz”. Lógico, não podia ignorar aquilo. Nunca fui egoísta,
gosto de ajudar as pessoas, mesmo que elas, a princípio, não valorizem. Cada um
deveria dedicar ao menos uma hora de seu dia ao semelhante, há tantas maneiras de
ajudar o próximo. Às vezes, ser gentil com alguém mal humorado ou despertar o
sorriso das pessoas à sua volta, é suficiente para enriquecer sua própria alma. O
mundo seria bem melhor se parássemos de nos importar tanto com nós mesmos. Odeio
gente que se importa só com o próprio umbigo!
Não vejo a vida cor de rosa e sim, colorido, com tons claros e alegres, escuros e
sombrios, os dois lados da moeda. Mas, eu, por exemplo, pinto todos os meus dias com
o máximo de cores alegres possíveis. Isso ajuda a manter os tons escuros longe.
Depende de nós, mantermos o ânimo e a esperança para enfrentar a vida como ela é.
Essa é minha filosofia de vida e, acredite, vou ser sempre aquela que enxerga o copo
quase cheio e não, quase vazio.
Finn revezou olhares entre mim e o jantar improvisado. Então, pela primeira vez
naquela noite, riu.
- Bom! – Murmurei, de boca cheia. Riu outra vez e o clima ficou, subitamente, mais
leve. – Come! – Ordenei, empurrando a embalagem.
Achei que ele fosse enrolar, mas, contrariando minhas expectativas, pegou um garfo e
passou a comer da embalagem que estava na minha mão. Não me importei, desde que
comesse.
- Está nada! – Torci a boca, em desagrado. – Aposto que se sente muito sozinho. – Não
era difícil adivinhar.
Collins piscou os olhos para mim, aturdido. Depois, voltou a olhar pra frente.
- Seu promíscuo! – Fiz careta. Ok, era para eu ter filtrado aquilo!
Relaxei assim que ele começou a gargalhar. Isso me deu passagem para continuar.
- Comer sozinho é mesmo chato. Eu odeio porque não consigo ficar sem conversar. –
Comentei.
- Percebe-se! – Falou baixo. – Também não gosto, mas, nessa vida, é preciso se
acostumar com o desagradável.
- É aí que está seu erro! Deve ser sempre! Não pelo outros, mas por você mesmo.
Alegria atrai alegria, Sr. Collins.
- E seu eu for grosso, vai parar de ser assim tão... – Balançou a cabeça, procurando
uma palavra. - ... Meiga?
Quando já estávamos partindo para a torta de maçã que comprei de sobre mesa, disse-
lhe:
Virei-me para ele, analisando as mechas escuras. Estendi as mãos para tocá-las e Finn
se esquivou, fechando a cara.
- O que foi? – Ri. – Tem ciúmes desse cabelão? – Não o esperei responder, mexi pra lá
e pra cá nas madeixas, tentando visualizar um bom corte.
- Calma. – Mexi mais um pouco, então, larguei. – Corte, vai fazer o maior sucesso com
a mulherada!
- Então vai ter que nascer de novo, porque você é bonito, fato! – Meu Deus do Céu, por
favor, faça com que eu não tenha dito aquilo. Ruborizei. Na minha cabeça, aquela frase
não tinha sido formulada com tanto galanteio. – Quer mais torta? – Mudei de assunto.
- Estava cansado da Europa. Durante o tempo que passei na França, pensei em muitas
coisas. Queria sentir uma emoção diferente, além da adrenalina habitual dos rachas.
Então, me lembrei que Lexa queria promover uns rachas por aqui... Mesmo correndo o
risco dela achar que eu estava vindo por causa da Clarke, arrisquei. Apesar de tudo, a
garota é minha melhor amiga, achei que poderíamos nos divertir como nos velhos
tempos. – Finn parou de mastigar, fitando o vazio, como se estivesse surpreso com suas
próprias palavras. Talvez, ele não esperava ser tão sincero e direto.
- Uau! Subiu no meu conceito, Sr. Collins. – Ele estava se revelando melhor pessoa do
que eu esperava. Então, convidei, meio sem pensar. – Vamos almoçar amanhã, assim
você não terá que comer sozinho. – Era estranho, mas eu podia dedicar uma hora do
meu dia a um novo amigo. Principalmente a um tão necessitado.
Finn riu.
- É uma das criaturas mais estranhas que já conheci. Começo a ter medo de você.
Clarke PDV
- Desde então, passamos a nos ver quase todos os dias. É divertido. Principalmente, no
horário das refeições. Agora, somos muito bons amigos!
- Estou besta! – Meu queixo devia estar chegando ao chão. – Finn e você, melhores
amigos? Me dá um tapa para eu acordar! – Não é que a fofolete me bateu mesmo? –
Aiii, sua sádica! – Reclamei, esfregando a face.
- Ele, por trás daquele jeito intimidador, é um cara super bacana, engraçado, atencioso,
carente de família e amigos.
- Sim... – Desviou o olhar. – Ok, Não! Mas eu vou contar, é que Linc é tão ciumento!
Tem ciúmes das próprias irmãs! Estou esperando o momento certo.
Ambas voltamos nossa atenção para Lincoln, ainda na mesa, papeando com uns
skatistas estranhos.
- Não!
Bellamy PDV
Assim que retornamos ao Hippy Shake, bati a porta do carro da draga sebosa.
- Bellamy, tenho que admitir, sua ideia foi brilhante, não sei como não pensei nisso
antes. – Falou a gobira, ajeitando o decote do vestido vermelho do tipo vem-nim-mim-
que-sou-facim, que ela mesma desenhou.
Nós havíamos voltado em casa e vestido nossos modelitos mais luxuosos e incopiáveis
para exibi-los na festa da mundiça.
- Não existe propaganda mais eficiente do que usarmos nossos corpinhos sarados e
puros... – Fiz biquinho, ironizando o “puros” e a catiroba devassa riu. - ... Para desfilar,
trajando os modelitos luxupurinados da grife nessa festinha. Isso, minha amiga, se
chama marcar território. Com essa onda de clonagem fashion, o jeito é se jogar! HU...
OHOHOHOHOHO!
- Falou e disse!
- Como estou? – Rugi, fazendo garrinha, enquanto ela examinava minha calça colada
com estampa de onça e minha blusa prata, ou seja, LUXO AO CUBO!
- Na galáxia!
- É, raxa! Nas alturas! Explodindo, BOOM! – Bufei. – Deixa pra lá, não vamos cansar
sua cabecinha, né?!
Pronto, meu momento Gisele Sei Lá das Quantas acabou aí! Ô, meu pai! Me pipoquei
de raiva. VOU DISKATITAR!
Soltei o braço dela, andei elegantemente até o monstro, e, abusando da minha classe
européia, falei:
Olhei refinadamente para as minhas lindas unhas cor de rosa, e, sem que ele esperasse,
agarrei com força o saco da mundiça.
- Quem é a bicha mais escândalo, mais fashion, mais fecha-boteco do mundo? – Exigi.
- Isso é pra você deixar de ser esse homofóbico de merda que é, seu racha Uó!
Lexa PDV
As calouras riam da confusão armada por Bellamy. Anya, ao meu lado, encarava seu
admirador com os olhos semi-cerrados, como se arquitetasse algo.
- Se o despacharmos no mar, será que ele flutua? – Murmurou pelo canto da boca.
Revirei os olhos.
Meu raciocínio foi interrompido no momento em que mãos taparam meus olhos. A
pessoa atrás de mim pigarreou.
Sorri, virando-me para encará-la. Minha expressão modificou-se ao perceber que era
Costia.
- Sim.
Assim que voltei de férias, Costia veio ao meu encontro. A conversa que tivemos aquele
dia foi curta e sincera. Não havia muito o que explicar a ela. Então, me limitei a dizer
que estava envolvida com outra pessoa. Costia, com poucas palavras, conseguiu
arrancar de mim muitas outras coisas. Ela era boa nisso. Certamente, se tornaria a
melhor psicóloga do estado, talvez do país.
- Não deixo meus amigos na mão. Vem! Está tensa, vou te ajudar a relaxar! Deixa seu
ex-problema de lado uns minutos. – Disse, já me arrastando para a pequena pista de
dança.
Clarke PDV
Precisei segurar nos ombros de Octávia e Rae ou iria cair para trás.
TORTURA! TORTURA!
- Fedeu! Lexa está dançando com a ex. – Sussurrou a fofolete, percebendo meu choque.
- É AGORA, VOU LÁ! – Esbravejei, pulando num pé só, ao tentar arrancar minha bota
para jogá-la na cara da Woods.
- Vou pra casa, não vou ficar nessa tortura. – Dei as costas para a cena.
- O que você veio fazer aqui em Arkadia, Clarke? – Minha irmã me paralisou,
segurando meus braços.
- Então não seja amadora, pelo amor de Deus! Conquista é uma arte. Ou você aprende a
ser uma artista ou jogue a toalha e saia da luta!
- A aguada tem razão. – O viado se intrometeu. – Você tem que estar na galáxia! –
Ergui uma sobrancelha.
Lexa PDV
Fazia um tempo que eu não dançava e estava gostando. Costia havia proferido a palavra
“amigas” e isso foi suficiente para me fazer relaxar e não ficar preocupada com maus
entendidos. Éramos apenas duas colegas...
As batidinhas no meu ombro esquerdo desalinharam meu raciocínio. Olhei para trás
curiosa.
- O que aconteceu?
- Falei para ela ter cuidado com aquele salto, agora está lá no banheiro com o tornozelo
machucado. Por favor, você é quase uma médica, faz alguma coisa!
Corri até o banheiro feminino. Costia e Rae me seguiram. Ao chegar lá, quem encontro,
sentada na ponta da pia gigante de mármore?
- Foi tudo muito rápido, quando percebi, estava no chão. – Respondeu tão prontamente,
que estranhei.
- Não me parece nada. Vai ficar bem logo. – Costia aproximou-se, tentando tranquilizá-
la.
- AAAAAiiii! – Griffin gemeu muito alto. Devia estar com muita dor.
- NÃO! – Disse alto. – Está doendo muito, faz alguma coisa agora! – Implorou, aflita. –
O joelho dói!
- Ah, claro! – Ela foi até a porta e puxou a maçaneta. Pode nos fazer esse favor, Costia?
- É melhor eu ir com ela, né? – Raven suspirou preocupada. – Só para garantir que o
gelo venha logo.
E quando dei por mim, estava sozinha, no banheiro, com as mãos quase na coxa da
acidentada.
- Como está?
- Não exagere, não tem um arranhão. Talvez seja só uma luxação mínima.
- Hum... Bem melhor. – Fechou os olhos e me senti aliviada. A dor, afinal, devia estar
amenizando.
Em silêncio, tentei, a todo custo, ignorar as reações da minha pele em contato com a
dela.
TORTURA! TORTURA!
- O que aconteceu com sua saia? – A barra havia sumido, como se alguém tivesse
rasgado-a, diminuindo ainda mais o comprimento da peça. Lógico que isso me irritou.
- A bichona gostou do tecido, então, dei um pedaço para ele... Você sabe, pra ajudar no
lance da grife.
Meu olhar voltou-se para o rosto de Clarke. Sua expressão era um misto de ingenuidade
e simpatia. No momento em que encarei outra vez sua saia, podia jurar que ouvi um
risinho.
Griffin mexeu a perna e minha mão, súbita e inexplicavelmente, deslizou até a coxa.
- LEXA!
Não sei quem berrou, mas meus colegas de classe invadiram o banheiro.
- Cara, estão chamando você no palco. Seu nome foi escolhido! – Lucy, bêbada, falou
rindo, enquanto os outros me puxavam para longe do meu frango. Confusa pelo
barulho, fui arrastada para fora.
- Não, me solta! – Reclamei, tentando voltar para ajudar Clarke. Ainda estava
preocupada com o machucado dela.
Clarke PDV
Corri para fora com as botas na mão. Aturdida e me metendo no meio do alvoroço,
precisei dar uns pulinhos para enxergar a Woods no palco. Ao seu lado, estavam Anya e
Niylah com mais três cara.
- Olá, meus amores! – A voz fina e irritante veio da loira vestida como uma líder de
torcida, no palco, com microfone na mão. – Para quem não me conhece, sou Cindy, a
capitã da torcida do UMass!
- Sejam bem vindos, calouros! Essa noite vai ser quente! – Se abanou, toda oferecida,
fitando os seis que estavam perto dela. – Vou explicar o evento. É tradição
do UMass, disponibilizar nosso lendário pote... – Ergueu o objeto adornado. - ...
Durante a calourada. A galera coloca, dentro dele, os nomes de três alunos e três alunas
mais populares. Entre outras palavras, MAIS GOSTOSOS, para o leilão anual do beijo.
Quero enfatizar que todo o dinheiro arrecadado é doado para ajudar a torcida organizada
do UMass. – A garotada em peso se esgoelou. – Esse ano, temos três veteranas e três
veteranos de tirar o fôlego aqui. Então, pessoal, preparem suas carteiras!”
Ele apontou para as faixas vermelhas nas paredes, onde estava escrito.
Ok, eu sou anormal e desligada! Aflita, me foquei no que a líder de torcida galinha
estava dizendo.
- Primeiro vamos começar com as damas. – Apontou para as três garotas em cima do
palco. – Nossa primeira candidata é a já conhecida Niylah Carter. – A babaca riu
acenando e a gritaria descabida quase me deixou surda. – Ela é um excelente partido.
Estudante de Música, 22 anos, guitarrista e uma extraordinária piloto. O lance inicial é
de 100 dólares.
- 200!
Olhei para a badgirl. Uma garota mais velha subia no palco, desesperada, com o
dinheiro na mão. O que veio a seguir me chocou. Elas se agarraram na frente de todos,
em um beijo obsceno do tipo, desentupidor de pia. A galera da UA fazia um barulho
infernal, intensificando o clima de pura sacanagem.
Isso só serviu para me alertar de que logo seria a vez da LEXAZINHA e eu ia ter uma
síncope a qualquer momento.
Anya PDV
Clarke PDV
- 200!
- 290!
- 500! – O berro foi próximo à mim. Encarei, surpresa, Bellamy. – Quinhentinhos pela
bonequinha!
Há poucos metros de nós, um cara bem bombadão. Não fui a única a ficar bestificada.
- 600! – Uma moça ofereceu e, logo em seguida, para a sorte da bisonha, veio outro
lance.
- 700!
- 800! – O pavão enlouqueceu e Octávia pôs as mãos na cabeça, sem saber o que fazer.
- Compra, raxa, compra antes que eu caia mortinha aqui! – Pediu a o pavão.
- Só tenho uma folha de cheque! – Respondeu ela, nervosa. – Tudo que tenho no banco
são mil dólares para pagar o restante da obra na loja. Papai não vai liberar mais a grana,
porque disse que já gastamos demais.
- 1.050! – Pasmem, quem gritou foi Lincoln! – Anda, é tudo que eu tenho! – Tirou 50
da carteira e entregou a sebosa.
Com o cheque e o dinheiro nas mãos, Rae saiu correndo em direção ao palco.
- CORRA, RAXA, CORRA COMO O VENTO! – Berrou Bellamy, aliviado por não ter
sido cara sinistro a comprar a sua bonequinha.
Esfreguei os olhos para acreditar que a maníaca assassina e minha irmã estavam se
beijando. Aquilo era algo que eu nunca imaginei ver na vida.
- Nossa última candidata é praticamente uma musa. Lexa Woods, 21 anos, estudante de
medicina, dona de um dos mais lindos olhos... – A cachorra a fez girar no palco, como
se fosse um objeto. - ... Ótima pianista e uma dos partidos mais bem cotados da
UA. Lance inicial, como as outras, 100 dólares.
Clarke PDV
- 200! – Procurei a dona da voz e não foi surpresa nenhuma encontrar Costia, sorridente,
próxima ao palco.
Deixá–la beijar a Woods era pior do que apanhar. Minha cabeça girou em confusão e eu
não conseguia alinhar devidamente os prós e contras.
- 300!
- 350!
Puxei, o mais rápido que pude, minha prima para longe da multidão, enquanto os lances
ainda ecoavam no bar.
- Octávia, rápido, faz alguma coisa! – Tentei respirar, mas a recente ideia latejava na
minha cabeça, fazendo–me perder o foco de todas as outras coisas. - PARA O LEILÃO!
– Ofeguei.
- Para pelo tempo que conseguir, não vou demorar! Minha vida está em suas mãos! –
Arranquei-lhe a mochila e disparei em direção ao banheiro feminino.
- CONFIO EM VOCÊ! – Disse-lhe o mais alto que pude, antes de me jogar porta
adentro.
Octávia PDV
- 400!– A oferta me fez girar e fitar o palco onde minha cunhada ia ser leiloada.
CARAMBA!
Olhei à minha volta, à beira do desespero. Então, notei que, a dois passos de distância,
de costas para mim, estava o careca metido que ofendeu Bellamy, horas atrás. Ao lado
dele, uma moça com toda pinta de vagaba, beijava o namorado musculoso. Em um
impulso maluco, apertei, com força, a bunda da moça.
Olhou-me de relance e fiz minha melhor cara de ingênua. Logo em seguida, encarou o
careca, que entendeu erroneamente seu olhar e sorriu malicioso.
Clarke PDV
Abri a mochila em um único movimento. Depois, joguei tudo que lá havia em cima da
pia.
- Seguranças! – A voz nervosa no microfone era da tal Cindy. – Briga no meio do bar! –
Paralisei com o fato. – Acalmem-se, pessoal, o tumulto logo será contido! Por favor,
não entrem em pânico!
Minha prima tinha mesmo super poderes, isso eu tinha que admitir. Os minutos que
levariam para conter a arruaça, seriam o tempo necessário pra que eu mudasse da água
pro vinho.
Sem me importar com mais nada, tirei as roupas que estava usando e vesti as peças
escolhidas a dedo para o encontro com Niylah. A calça frouxa, a blusa larga com capuz
e o tênis me tornaram quase irreconhecível. Lexa nunca havia me visto com aqueles
trajes. Quando procurasse pela Clarke produzida, nada encontraria.
Mesmo com o cabelo preso e escondido por trás do grande capuz, meu rosto ainda se
mostrou um problema. Claro, meu plano não era perfeito. Ainda assim, peguei o
restante do dinheiro que ganhei no racha e enfiei em bolos dentro dos bolsos. Recolhi
- Tudo bem, gente, tudo bem. Ninguém está ferido, vamos manter a calma e continuar o
leilão. – Anunciou a líder de torcida. – Quem vai beijar Lexa Woods?
Esfreguei o rosto, ansiosa e trêmula, pois, se meu plano falhasse, a humilhação seria
maior do que se eu tivesse admitido à Woods que estava enciumada. Por um segundo,
pensei em desistir da insanidade.
- 800!
Estava pronta para encarar a parada. Saí do banheiro correndo, aflita, pelos valores
estarem aumentando tão rápido.
- 900! – Burra, fiquei na ponta do pé, procurando a futura defunta que falou aquilo.
Outra vez, dei de cara com o bagaço da Costia.
Filha da mãe!
Lá, estavam os amigos skatistas de Lincoln. Todos supostos maconheiros, risonhos até
demais. Tratei de me misturar entre os quatro malandros, que não se incomodaram com
a minha presença.
- 1.050!
- É muita grana, meu irmão! – Murmurou para mim, o malando que me servia de
escudo, em um tom preguiçoso.
- 1.300!
- 1.400!
- 1.450!
- 1.600! – Disse Costia, imitando meu ato, subindo em uma mesa há uns 4 metros de
mim. Foi aplaudida por suas amigas fuleragens. O sorriso cretino que sustentou, me fez
ferver. Eu era um vulcão prestes a entrar em erupção.
Bufei.
- 1.700! – Gritei, com a voz bem grossa, evitando olhar diretamente para a Woods.
- É isso aí, chapa! – O skatista soltou a fumaça de seu cigarrinho perto do meu rosto, me
fazendo tossir e ficar meio zonza.
- Espera! – Claro, só podia ser o bagaço da Costia. Revirei os olhos, ao ver as amigas
enchendo suas mãos de grana. - 1.800! – Anunciou alto, sacudindo o dinheiro.
Coloquei a mão no peito. Meu coração tripudiou revoltado. Os berros dos estudantes
retardados, só terminaram de cravar a faca em mim. Com a boca entreaberta, fitei Lexa
no palco, toda escrota, movendo a cabeça de um lado para outro, como se procurasse
um rosto em meio à multidão.
- PARA! – Gritei, explodindo de raiva. Retirei dos bolsos tudo que eu tinha, as notas
amassadas eram difíceis de contar. Mesmo sem ter certeza do valor, berrei: - 1.900!
Chutei os copos na mesa, para me dar mais espaço. Ajoelhei-me e passei a contar a
grana ali mesmo, enquanto era motivo de risada para quase todos. A fumaça que me
circundava, dificultou as coisas. Fiquei meio grogue.
- 2.000!
Cindy comemorou o sucesso do seu leilão e já estava pronta para encerrar a safadeza.
Engoli seco, encarando Lexa, que mantinha-se indiferente a mim, como se realmente
não me conhecesse. O bagaço da “EX” dela, batia palmas, saboreando a vitória. Foi
nesse momento que vi tudo vermelho e perdi o controle.
- 2.000 dólares! Dou– lhe uma.. – Cindy ainda tagarelou, mas ignorei, arrancando o
tênis do meu pé direito e, com toda a força, lançando-o contra Costia. O tênis atingiu,
milagrosamente, a cara dela e ricocheteou para o palco. A carniça cambaleou e, em
seguida, caiu no chão. Uma porção de gente foi socorrê-la. Gargalhei, sem remorso.
Olhei pro dinheiro na mesa, constatando que tinha exatamente 2.000 dólares. Me
arrependi de ter gasto 1.000 dólares comprando os móveis para o novo quarto.
- DOU MAIS! – O grito rouco e estranho, até me espantou. Dessa vez, a maldita
LEXAZINHA prestou alguma atenção em mim. Ergueu as sobrancelhas, confusa. De
repente, estavam todos encarando-me, bobos, como se eu fosse uma doente mental. Cá
entre nós, eu sou uma doente mental! Como eu entro nessas? Segurei firme, as notas,
quase desamassadas, no alto da cabeça e cavouquei os bolsos da calça com a outra mão,
pedindo por um milagre. – Dou 2.000 e... – Arfei. – E... –Xiii... Ferrou! Por sorte, achei
algo no fundo do bolso. Sabia o que era só pelo tamanho. – 25 centavos! – Exclamei,
exibindo a moeda para a galera, que caiu em uma estrondosa gargalhada. – MUITO
BEM, MEU LANCE É 2.000 DÓLARES, 25 CENTAVOS E... – Fitei o skatista ao
meu lado. - ... UM CIGARRINHO! – Puxei o bagulho da boca dele.
- 2.000 dólares, 25 centavos e unzinho! Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três!
VENDIDO PARA A... O... – Analisou-me com desdém, como se não tivesse certeza do
meu sexo. - PARA AQUELA PESSOA! – Apontou para mim.
ESPERA, EU VENCI?
Saltei da mesa. Corri para o palco, jogando o dinheiro nos pés de Cindy. Vibrei de
felicidade. Agora sim, os gritos e aplausos valiam a pena ouvir. Soquei o ar algumas
vezes, em puro êxtase.
BEIJAR?
- Vamos acabar logo com isso. – Sussurrou Lexa, desinteressada. Ela também estaria
achando que eu era um trombadinha? Que povo de mente limitada! Ninguém pode
simplesmente ter um jeito de vestir original?
Suei com as pernas tremendo. Pronto, eu ia ser descoberta. Trinquei os dentes. Será que
ainda dá pra ir naquela sessão de descarrego?
As mãos firmes da Woods seguraram meus ombros, virando-me de frente para ela.
Mantive a cabeça baixa e os punhos cerrados, sem conseguir respirar. Se a beijasse ali,
lógico que a mané notaria que era eu. Notaria? Distinguiria o sabor dos meus lábios? A
dúvida me incomodou mais do que deveria.
- BEIJA, BEIJA...
Ela tentou erguer meu rosto com os dedos, porém, resisti com dificuldade.
O jeito que me tocava era diferente do que estava acostumada. Faltava o fogo em suas
mãos que tendia a incendiar-me.
Como a mais covarde das criaturas, afastei-me abruptamente. Empurrei Cindy para o
lado e lhe tomei o microfone.
- Não posso beijar essa mulher! – Disfarcei a voz, obrigando-a a ser grossa e com algum
sotaque sulista. Expirei antes de continuar. – Sou apaixonado por aquela mulher! –
Apontei, severamente, para Costia.
- Nós temos um caso, não é, baby? – Prendi o riso, vendo-a arfar de constrangimento. O
bagaço passou a ser o centro das atenções e futuras fofocas em toda UA.
Não me deixei distrair pelo zumbido das insinuações. Ainda estava preocupada em ser
desmascarada. Lexa tocou meu ombro esquerdo e um choque percorreu meus membros.
Teria falado demais? Ela me reconhecera? Meu estômago fez um barulhão. Não tive
coragem de me virar. Então...
Poxa, roubaram todos? Graças a Deus, não vim com a minha Ducati. Me safei!
Lexa PDV
Empurrei, com força, dois sujeitos à minha frente. Ao passar por eles, meu olhar
vasculhou a rua tumultuada. Aliviada, avistei minha Suzuki estacionada, exatamente
onde havia deixado.
- DROGA! – Niylah socou o ar, gritando, furiosa. Sua gangue estava igualmente
irritada. Ninguém ousou chegar perto.
- Como assim?
- Não faço ideia. Deve ser pessoal. – Comentou. – Quem fez isso, arranjou um
problemão! – Observávamos a ira tóxica do grupo.
- Vamos embora. – Sussurrei. – Chega de confusão por hoje.”– Falei, sendo fuzilada
pelo olhar de Guns, um dos motoqueiros revoltados.
O peso do tênis na minha mão esquerda fez-me lembrar do garoto que quase beijei. O
skatista calouro devia ser muito louco pra dizer que tinha um caso com Costia. Podia
apostar que ela não deixaria barato. Algumas pessoas levam esse lance de reputação
muito a sério. Tentei esquecer o assunto, mas a sensação de que conhecia o skatista não
me abandonou. Saco, que diferença fazia? Deveria estar voltando minha atenção para as
prioridades, ou seja, meu futuro quase inexistente com Clarke Griffin. A sorte dava-me
as costas a cada dia corrido e eu já não tinha certeza do que estava fazendo.
Clarke PDV
Corria para casa só de meias, segurando o sapato que restou. Tentava controlar a crise
de riso, porém, era extremamente difícil. Às vezes, não acreditava nas maluquices em
que me metia.
Aumentei a velocidade, tentando chegar em casa antes dos outros. Podia ouvir apenas o
chacoalhar da mochila nas costas, o vento nos cabelos e as minhas risadas irregulares. A
rua, vazia e silenciosa, era um alívio. Ao dobrar a esquina, vi uma comitiva de motos
As motos passaram barulhentas por mim, fingi não vê-las. No entanto, uma delas ficou
para atrás, as outras sumiram de vista.
A moto fez uma manobra, levantando poeira do asfalto e parou à minha frente,
bloqueando o caminho. Ia abrindo a boca para reclamar, mas ela retirou o capacete.
- Carona?
- Lógico! – Respondi, subindo rápido na moto. – Ei, Finn, quem são os outros?
- Hmmm... Você sabe que agora está encrencado, certo? – Alisei a máquina abaixo de
nós. – Está mesmo disposto a iniciar uma guerra?
- Sempre estou. Não tenho nada a perder. Além disso, ninguém me afronta do jeito que
a sujeitinha fez. – Zombou, acelerando.
Graças a carona de Collins, cheguei à casa antes dos outros. Desesperada, me livrei das
roupas, colocando-as no fundo do cesto e vestindo algo confortável.
- E você, o que...
Todos, exceto a bisonha, fomos checar. Em círculo, ficamos em volta da pequena poça
vermelha. O espantoso é que havia um rastro que levava a cozinha e outro ao corredor.
- O cú... Cú... – A bichona começou a gaguejar, trêmulo. – O cú-lpado se... Se... Acuse!
– Mordeu o punho.
- Sendo assim, Tocinho, você vai sobreviver, você é tão puro! – Anya alisou o porco,
despedindo-se.
- Pelo amor de Deus, ninguém vai morrer. – O suposto maconheiro, com os dedos
lambuzados do líquido vermelho, nos acalmou. – Isso é catchup! – Garantiu, cheirando
o troço.
Ela passou a seguir o rastro de catchup e nós a acompanhamos. Uma fileira de covardes,
um se escondendo atrás do outro.
Ela não respondeu. Apenas abriu a porta e nós subimos as escadas, tentando enxergar
além da escuridão.
Fala Sério!
Lexa obedeceu e a fraca iluminação não foi o suficiente para Octávia parar de tremer,
atrás de mim.
- Queria tanto ter uma bonequinha... Sabe... Assim, forte para me defender... HU!...
OHOHOHOHOHO! – Comentou o pavão, acariciando o braço da bisonhenta.
- Fiquem quietos! – Ordenou Lexa, dando um passo à frente, como se tivesse percebido
algo.
Incapaz de soltar seu braço, a segui. Caminhou devagar até a cômoda velha, largada no
canto esquerdo. Inclinou-se para olhar atrás dela, então, aconteceu...
- SAIAM!
Esfreguei os olhos para ter certeza de que estava mesmo vendo aquilo.
Dava para entender a reação dela, afinal, estávamos diante de um garoto que devia ter
uns 7 ou 8 anos de idade. Maltrapilho, com roupas sujas, largas, e rasgadas. Um gorro
- O que está fazendo aqui? – Por fim, falou a Woods, agarrando o garoto pelo braço.
- Viram só? – Anya gargalhou. – Não é só eu que acho! – A panaca se achou o máximo.
- Que menininho mais bonitinho, gut– gut do titio Bellamy. – O intrometido disse, com
a voz melosa.
- Nossa! Como ele sabe tanto sobre nós? – Minha irmã falou, levantando Octávia com
ajuda de Lincoln.
- Quem quer matar ele primeiro? – A maníaca assassina levantou a mão e Bellamy
também.
O baixinho disparou para fora do sótão, e nós ficamos rindo da expressão dolorosa da
Woods.
- Vão... – Enxugou a testa suada. - ... Pegá-lo! – Murmurou, com a voz embargada e
quase sem fôlego.
- Quanto será que você vale agora? – Zombei, sem piedade. – O garoto é bacana, né?!
O baque de seu corpo caindo no chão foi audível. Ao vê-la estendida, esfregando a face,
quase consegui sentir culpa. Porém, estava com dor demais pra sentir qualquer coisa.
- Não! – Choramingou Anya. – Acho que ele quebrou a patinha. Guaxinim, faz
respiração boca-boca nele! – Pediu, lacrimejando. A fuzilei com o olhar.
- Boa ideia. – Animou-se a animal. Não o que estava machucado, e sim, a que eu tenho
que chamar de irmã. – Vamos logo!
Enquanto ela e Rae saíam apressadas, repeti a pergunta para minha Clarke, imóvel no
chão.
Bellamy ria descontrolado de alguma piada que, com certeza, eu havia perdido.
- Lexa... – Gemeu outra vez. As risadas do lunático tornaram-se mais escandalosas. - ...
Estou tão mal... Não consigo me mexer... Aiiii...
- NÃO! – O pavão se intrometeu. – Está maluca? Vai dizer o que? Que ela sofreu uma
tentativa de porcocídio?
- Digo qualquer coisa. – Respondi, erguendo-a do chão. Pressionei-a contra meu peito.
Não queria deixar transparecer meu lado super-protetor, por isso, obedeci minha
cunhada.
Coloquei meu frango deitada sobre a cama de casal, rindo do quarto, excessivamente
rosado.
- Vai conseguir dormir aqui? Não é alérgica a essas coisas de mulherzinha? – Ironizei,
forçando minhas mãos a se distanciarem do corpo dela.
- Hmmm... – Estudou o local. - ... Não é tão ruim quando você se esforça pra gostar. E
quando digo esforço, quero dizer muito, muitooooooo esforço mesmo! O quarto tem
personalidade. – Sorriu.
Essa era, sem dúvida, uma resposta a qual eu não esperava. Tinha notado que Clarke
mudara um pouco desde que a deixei, mas algumas coisas surpreendiam-me ao extremo.
Ela tentando ser compreensiva? Bem, isso era novo para mim.
- Está doendo?
Da primeira vez que avaliei o local, por estar extremamente preocupada, não dei por
falta da pulseira com pingente de frango, que lhe dei no dia dos namorados. Agora, no
entanto, o vazio ali parecia gritar pra mim. Não consegui desviar o olhar por um longo
tempo.
Por que aquilo me incomodava tanto? A ausência do presente era esperada. Afinal, não
éramos mais namoradas.
Clarke encolheu a perna, juntando-a ao corpo e passou os braços em volta dos joelhos.
Uma pergunta martelou em minha cabeça: ela ainda teria a tatuagem que fizemos em
Verona?
Porque eu ainda tinha a minha. Na verdade, gostava muito dela. A dúvida mostrou-se
dolorosamente persistente.
- Hmmm... É melhor ver se não tem nenhum machucado em sua cabeça, pode ter ferido
quando caiu. – Pronunciei lentamente, indo me acomodar atrás dela, numa tentativa
patética de satisfazer minha curiosidade. Clarke não se mexeu no momento em que me
pus de joelhos na cama.
Fui incapaz de conter o sorriso que escapou da máscara de indiferença, a qual sustento
com dificuldade.
- E você?
- Eu o que?
Fui pega de surpresa. É, parece que não sou tão discreta como imaginei. Forcei-me a
responder de forma vaga, mas não encontrei as palavras adequadas. Clarke virou-se para
me encarar e eu enrijeci, constrangida.
O silêncio foi absoluto. Ouvia apenas minha própria respiração descompassada. Era
impossível não tentar imaginar o que se passava pela cabeça da garota diante de mim.
Contradizendo minha atitude de minutos atrás, dei-lhe as costas e puxei o cabelo para o
lado e abaixei o colarinho da blusa para que ela visse minha tatuagem. Esperei um
pouco. Depois, girei, ficando de frente para ela.
- Dói pra tirar. – Sibilou muito séria, porém, seus olhos cintilavam.
Assenti.
- Quando?
- Hmmm... – Precisei de um segundo pra esconder a dor. - ... Quando quiser. – Fechei a
cara.
- Segunda! – Assenti.
- Sabe... – A voz dela tremeu um pouco. - ... Nós tivemos coragem de fazer essa
loucura porque estávamos bêbadas. Talvez... Só talvez, devêssemos repetir o ato, você
sabe, pra...
- Verdade... Mas... Quer saber? Não é má ideia. – Fui sincera. Já que era pra me livrar
da tatuagem, o melhor era estar mesmo bem bêbada.
- Segunda!
- À tarde? – Sugeri.
- À tarde!
- E ficar bêbadas?
Griffin acenou levemente. Saí, fechando a porta atrás de mim. Ofeguei, lutando
arduamente contra o SAD. Nesse momento, podia jurar que ouvi risadas vindas de
dentro do quarto.
Pus a mão na testa, feito boba, rindo também. Podiam existir criaturas mais complicadas
que nós?
A primeira coisa que fiz quando acordei, por volta das 9h, foi tentar resolver a
pendência do mini-delinqüente. Octávia, com sua paciência invejável, o convenceu de
que nós não lhe faríamos mal. Ele acabou por dormir no sofá. Já meu frango, se virou
no quarto com a prima.
Entrei no apartamento das garotas, imaginando que todos ainda estariam dormindo.
Fiquei estarrecida ao perceber que, tanto meus irmãos quanto as garotas Griffin,
estavam lá, em volta do moleque.
- Lexa, você não vai acreditar nessa história! – Lincoln, sentado ao lado da namorada,
disse, fascinado.
- Eu sou Geleia, Guaxinim! – Apontou pra si mesmo. – Vocês estão morando na minha
casa e têm que sair!
- Ele mora no sótão há cerca de três meses, mal acredito que tenha sobrevivido. –
Raven comentou.
Ele assentiu.
- Pela outra entrada. Aquela que tem no corredor, lá embaixo, bobona. Subi por ela até o
terraço, depois achei a porta que traz pra dentro da minha casa. – Revirou os olhos,
como se aquilo fosse óbvio.
- Isso explica o fato dele saber tanto sobre nós. – Raven esclareceu.
- Escuto tudo que acontece aqui. Vocês gritam mais que feirantes! – Mostrou a língua.
- NÃO! – Se pôs de pé irritado. – Não vou voltar pro orfanato! Não podem me obrigar!
– Tentou correr, mas Anya o impediu, segurando-o.
- Lexa está certa, o garoto não pode ficar por aí sozinho. – Meu irmão mais novo
mostrou algum bom senso. – Olha o estado da criança, é magro e mal-cheiroso.
Anya riu, roncando feito seu porco e acabou deixando o garoto escapar. Ele correu em
direção à porta da frente. Fui mais rápida e bloqueei a saída com o corpo.
O que eu não esperava era que o mini-delinquente desse um pisão no meu pé. Rosnei,
furiosa, agarrando o pé.
- Se o Geleia vai ficar conosco até segunda, precisamos dar um jeito nesse mal-cheiro!
Gemi pensativa.
Assim que abri a porta do meu apartamento, me deparei com Toicinho, correndo ao meu
encontro. Correndo é só força de expressão, porque ele mancava engraçado, com a pata
traseira engessada. O mais absurdo não era a pata engessada, nem os adesivos e fitinhas
coloridas pregados no gesso e sim, as pequenas asas de nylon nas costas.
- Como você está, amigão? – Minha mana apareceu, sorrindo para o filhote.
- Sabe como é... Agora com essas asas, ele está prevenido para possíveis novas
acrobacias aéreas. – Explicou a idiota animada.
Aproveitei que estava a sós com meus irmãos e o mini-delinquente e decidi ter uma
conversa séria com ele.
Meus manos, assim como eu, ficaram parados, observando o Geleia dar alguns passos
atrás, estudando o ambiente.
Da forma mais ridícula possível, ele separou as pernas e, de punhos erguidos, disse:
Nós suspiramos.
- Vou pela esquerda, Anya pela direita e você, pelo meio, Lexa. – Linc explicou, já
entrando em ação.
Como era de se esperar, o moleque nos fez correr atrás dele por todo o apartamento. O
carinha era escorregadio, não conseguíamos pôr as mãos nele. Chegou a passar por
debaixo de nossas pernas, umas duas ou três vezes. Era inacreditável que três adultos
grandes não conseguissem segurar um menino de 7 ou 8 anos. Duas coisas eu tinha que
admitir. Primeiro, ele era perigosamente inteligente; segundo, o garoto tinha raça.
Eu já estava pensando em desistir, quando a bisonho decidiu usar uma tática de rugby
para cercarmos o trombadinha. Quase funcionou. Cheguei a tocar nele, mas o
malandrinho escapou e tudo que me sobrou nas mãos, foi seu gorro fétido. Nesse
momento, meus irmãos cessaram a perseguição. Analisaram, cuidadosamente, o Geleia.
Embasbacado, comecei a perceber o mesmo que eles.
Clarke PDV
- O Bellamy não vai acordar? Que viado folgado! – Falei, bebendo um pouco de suco.
- Ele disse que está meditando. Nunca vi ninguém meditar, folheando revistas de moda
e bebendo margaritas. Garantiu que vai pensar em um jeito de arranjarmos dinheiro pra
pagar a última parte da reforma da loja. – Octávia, tristonha, mostrava-se preocupada.
- Nós somos fracas, burras e impulsivas. Nem acredito que desperdiçamos tudo que
tínhamos com a anta da Anya. – Raven revoltou-se.
- Por que ela está sendo mais inteligente que nós? – A Sebosa resmungou.
- Ô sebosa burra! – Deu um peteleco na testa dela. – Nós é que vamos fazer a
liquidação, raxa! Pegaremos os modelos que a boneca de vudu nos roubou e
venderemos pela metade do preço, bem em frente à loja dela. Vai ser da galáxia! HU!...
OHOHOHOHOHOHOHOHO!
Aplaudi, rindo.
- O tempo está curto. Precisamos criar uma nova coleção, não vou adiar a data de
inauguração. – Rae esfregou a testa.
- Eu sou gay. Mais respeito, por favor... – Bellamy bateu no peio. - ... Nasci com DNA
fashion! Vai se chamar... – Abriu os braços desmunhecando. – BEM DOIDA!
- O que? – Falamos juntas. Meu queixo despencou. Como não havíamos percebido?
A ligação caiu.
Só reconheci a voz da mosca morta quando ela pronunciou o nome do meu pai.
Coloquei a mão na testa, esperando raciocinar.
Vi vultos à minha volta, as vozes misturavam-se e a única que consegui ver claramente,
foi Lexa, mexendo no celular, apreensiva.
Com as duas mãos na cabeça, esperei que minha consciência percebesse o fato mais
importante. Ele sumira.
Clarke PDV
Os minutos que correram a seguir foram confusos para todos. Liguei diversas vezes para
o meu pai e, infelizmente, ele não atendeu nenhuma das chamadas. Lexa conversou com
a mosca morta e a convenceu de nos explicar o acontecido. Ela pôs o celular no viva-
voz e, tanto os irmãos Woods como as meninas, me rodearam.
- Mãe, é necessário, para sabermos por onde começar as buscas. – Insistiu fitando-me.
- O que você fez para ele? – Lá se foi a mulher chorar. Revirei os olhos, sendo fuzilada
pelos olhares de todos. Que criatura mais frouxa! Porém, não deixei de perceber que
aquilo não era típico de minha inimiga. – Anda, fala logo! – Pressionei, aflita.
- Não fiz nada. Só me recuso a me casar com ele, pois... – Fez uma breve e irritante
pausa. - ... Kane já é casado.
Lexa PDV
Ótimo! Era só o que faltava! Clarke virou uma estátua. Seu rosto empalideceu e nem
suas pálpebras se mexiam. O pessoal começou a tagarelar com a novidade,
enlouquecidos.
- Abby, tem certeza disso? – Estranhei, puxando o celular das mãos da Griffin, que
continuou com a mão erguida, como se ele ainda estivesse lá.
- Sempre desconfiei que o Doc-dilícia não era sonso. Existe, com certeza, um mistério
grande e latejante por debaixo daquele jaleco. Agora sim, ele é interessante! HU...
OHOHOHOHO! – A bixona comentou e logo recebeu um cutucão de Octávia.
Tentei evitar que Abby ouvisse aquilo, mas, foi inevitável. Sua reação foi
compreensível: desligou o telefone na nossa cara. Encaramos Bellamy, chateados.
Anya passou pelo pavão, chutando seus pés e veio até mim.
- Quer dizer que voltamos a ser pobres? Droga! Não quero ser pobre!
- EU? – Ele pôs a mão no peito, se fingindo de surpreso. – Não disse nada... Imagina se
eu ia ofender os TPMs! – Zipou a boca.
- E agora? Como vamos fazer para ajudar nossa mãe? – Perguntou Linc.
- Devíamos nos preocupar primeiro com a Clarke. – Interveio Octávia, cutucando a testa
da pirralha, a qual continuou, assustadoramente, imóvel. – Acho que ela entrou em
estado de choque.
- Tudo bem, hora de acordar, meu frango! – Bati palmas rente a seu rosto, esperando
que reagisse. E tudo que ganhei foram risadinhas sarcásticas dos demais, por eu ter
usado o termo meu frango. Pigarreei e fingi não ser comigo.
Anya rodeou Griffin. Depois, surpreendendo a todos, lhe abraçou forte. Foi aí que
entendi onde ela queria chegar. A pirralha nunca permitiria aquilo, se estivesse em seu
juízo normal. Quando ela lhe beijou o rosto, confesso que fiquei apavorada. O cérebro
dela teria parado?
- É... – Minha irmã desistiu. – Enterrem! Essa não tem mais jeito.
- Afasta todo mundo! – Bellamy ordenou, levantado-se. – Já sei o que fazer para trazê-la
de volta. Nunca falha! Ressuscita até defunto. – Dobrou as mangas da camisa.
- Sua draga mal agradecida! – Bellamy iniciou seu típico drama. – Doeu mais em mim
do que em você!
- Eu acabo com você depois... – Apontou ameaçadoramente para a bichona. - ... Seu
filho da...
- Ouvir o que? – Perguntou a menina encostada na soleira da porta, ainda fedida. – Que
ela ia falar filho da...
Apreensivos, esperamos.
Clarke PDV
- Onde está?
- O que? Não! Por favor, me diga onde está. – A angústia em minha voz tornou-se
indisfarçável.
- Quando chegar, te ligo! Cuide-se! – Eu bem sabia que, se eu fosse, mesmo contra a
vontade dele, Kane não me deixaria perambulando por N.Y. Acabaria cedendo e
indicando sua localização.
- Até mais! – Desliguei, sabendo que não tinha jeito, ia ter de buscá-lo. Se fosse preciso,
à força. Nem tentei persuadi-lo a me contar a história sobre o casamento. Qualquer coisa
que me falasse ia parecer surreal, se não pudesse ver, em seus olhos, a verdade.
- Isso não é brincadeira, é algo sério. Não vamos complicar o que já é complicado. Anya
e eu vamos buscar o Kane. O restante de vocês tem que ficar e cuidar da mini-Clarke!
- Precisa ficar ao telefone com Abby, para garantir que ela ficará bem. – Pediu
LEXAZINHA.
Sério, não é irritante? Quem A nomeou líder? Fingi que nem ouvi a parte em que me
excluiu de seu débil plano.
- Geleia, vou passar o dia fora. – Lexa virou-se para a garota. – Você vai tomar banho e
tirar essas roupas sujas. Quando eu voltar, vamos resolver seu problema.
- Eu odeio ela!
- Gente, precisamos arrumar um vestido para essa criança. – A sebosa já estava cheia de
frescurinha. Tanto eu como a Geleia, fizemos careta.
***
Preciso dizer que mandei a ideia da LEXAZINHA me tirar da viagem à merda? Não,
né?! No início, ela resmungou feito uma velha gagá. Depois, aceitou o fato.
Ela planejou a rota que seguiríamos. Segundo suas previsões, estaríamos de volta na
manhã seguinte. Ainda estávamos cansadas da calourada, por isso, decidimos que cada
uma dirigiria um pouco, a fim de não perdermos tempo. Anya dormiu no banco de trás
do jipe e eu me aconcheguei no banco do passageiro, enquanto Lexa dirigia.
Era uma linda manhã de domingo. O vento tocava de forma agradável meu rosto e
acariciava meus cabelos. Fiquei calada, apreciando a paisagem passar por nós,
totalmente calma, livre e despreocupada.
MENTIRA!
Pronto! Aquela ação foi o suficiente para os vestígios de minha compostura caírem por
terra. Arranquei sua mão da testa e a levei direto à boca, mordendo forte.
- Para o carro! – Falei, vendo um posto de gasolina passar por nós. A imbecil fingiu não
ouvir. – PARA O CARRO! – Gritei. Não compreendia bem meu estado de espírito.
LEXAZINHA assobiou uma canção, despreocupada. – Volte ao posto! – Disse, olhando
para trás e vendo o local se distanciar.
Em um impulso, avancei para cima do volante. Nossa briga por ele fez o carro andar em
ziguezague pela pista. A sorte é que estava vazia.
- VAMOS CAPOTAR, SUA LOUCA! – Lexa reclamou, em sintonia com meu humor
negro e mortal.
- Rá-rá! – Zombou.
- Preciso ir ao banheiro! – Menti descarada. Queria era comprar algo pra beber, porque,
encarar aquela situação, sóbria, não dava.
- Você quem pediu. – Abri o botão da calça, torcendo para ela acreditar no blefe.
- Me passa seu cartão de crédito. – Pedi, estendendo a mão. É claro que eu não tinha um
tostão furado. Tive uma vontade louca de passar na cara da desgraçada o motivo,
porém, me contive.
- Eu te pago! – Garanti. Lógico que não ia pagar porra nenhuma, ela já tinha me
causado bastante prejuízo. Cruzei os braços, esperando.
Lexa PDV
Bati a cabeça contra o volante, enquanto esperava. Eu fervia por dentro. Não parava de
pensar no sofrimento de Abby, no segredo de Kane, nas mudanças recentemente
trazidas à minha vida, que, aparentemente, não deveria estar ligada ao relacionamento
deles. Clake estava incrivelmente irritante. No entanto, eu sabia que também estava e
não conseguia evitar isso. Tinha vontade de xingar e socar algo, a cada cinco segundos.
Torcia para guardar o resto de paciência que ainda tinha. Quando discutimos, só
consegui lembrar de nossos dias em Verona. Tive a leve impressão de que essa viagem
desencadearia uma reprise bizarra de nossos piores momentos.
Fitei Anya e ela dormia feito uma pedra, roncando e balbuciando palavras inteligíveis.
A única palavra que consegui decifrar foi “Toicinho”. Ri baixinho, imaginando que, à
essa altura, Linc já teria dado fim ao animal. Meu único momento descontraído em
horas foi interrompido pela porta do jipe batendo, quando Griffin entrou com uma
sacola nas mãos.
Tentei ignorar e dei a partida, acelerando mais do que era conveniente. Revezei olhares
entre a estrada e a pirralha, que abria uma garrafa de vodca.
Puxei os óculos escuros, presos em minha camisa e os coloquei no rosto, numa tentativa
de ignorar as atitudes de Clarke.
Ela despejou as coisas que trazia na sacola em seu colo e não pude deixar de olhar.
Muitos chicletes, pirulitos, um saco grande de batata e... Cigarro?
- Desde agora. – Respondeu, enfiando alguns chicletes na boca. Ela estava, sem dúvida,
muito ansiosa, o que também me deixou.
Estendi a mão em direção ao seu colo, na intenção de pegar o maço, mantendo os olhos
na estrada. Sem querer, apalpei algo que não deveria. Griffin reagiu, me dando um tapa
na nuca.
- Como se eu já não tivesse feito isso antes. – Murmurei chateada e agarrei o maço de
cigarro.
- Não vai fumar essa porcaria perto de mim. – Ergui o cigarro acima de nossas cabeças,
mas a chata tentou tirá-lo de mim. Estiquei o braço ao máximo. Sem que eu esperasse,
Clarke fez cócegas em minhas costelas e, em reflexo, baixei o braço, soltando o maço,
que caiu no meu joelho e derrapou para o chão.
- PERFEITO! – Chateou-se.
A garota ficou vermelha de imediato. Sorri só para provocá-la mais. Então, ela inclinou-
se em minha direção. Como eu não podia me dar ao luxo de tirar a mãos do volante, me
esquivei um pouco, achando que me daria um soco ou algo assim. No entanto, Griffin
me surpreendeu. Passou parte do corpo por debaixo dos meus braços, pressionando o
peito em minhas coxas e provavelmente esticando o braço, à procura do maldito maço
de cigarro.
Clarke PDV
IMBECIL!
Não conseguia ver muito bem, as pernas de Lexa atrapalhavam a busca. Eu precisava
daquele cigarro ou de qualquer coisa que diminuísse meu estresse. Mesmo nunca tendo
A Woods pisou lentamente no freio, fazendo o carro parar. Fiquei feliz, talvez a babaca
estivesse disposta a sair do veículo e me ajudar. Infelizmente, não foi isso que
aconteceu. Ergueu um pouco o quadril, metendo a mão no bolso.
Como ela não respondeu, ergui a cabeça, apoiando as mãos em suas coxas.
- Não dificulte... – Pedi, fitando-a. - ... Lembre-se que falta pouco para eu acabar... – Era
para eu ter dito com sua raça, mas seu pigarro me impediu de continuar. Pisquei os
olhos confusa, até ela sinalizar com a cabeça. Olhei na direção indicada, à minha frente,
e podia jurar que meu rosto ficou branco como papel. Estávamos em pedágio e a
funcionária, dentro da cabine, nos encarava de boca aberta. Óbvio que a última coisa
que ela pensaria, era que eu estava procurando um maço de cigarro ali.
Lexa e eu sorrimos constrangidas, ela puxou o ticket das mãos dela, tentando sair logo
da situação embaraçosa. Sem muitas alternativas, dei uma risadinha e voltei a baixar a
cabeça, me esticando mais, sem querer desistir do meu objetivo.
- DIGAM X! – Reconheci a voz de Anya, abruptamente me ergui. Uma coisa era ser
flagrada por uma estranha, outra, pela bisonhenta, que nunca me deixaria esquecer
aquele momento.
Tirei os cabelos do rosto a tempo de ver Lexa dando um tapa na câmera digital da irmã.
Infelizmente, ela a pegou antes que caísse.
- Tem tudo lá, vídeos, fotos, seus momentos emo... TUDO! O vídeo mais assistido é
aquele em que vocês fizeram as tatuagens, virou até remix. Quer que eu cante uma
parte? – Gargalhou a maníaca. – A maioria lá é gente de Polis, o povo te odeia mesmo,
você é famosa!
Pulei para o banco de trás, com as mãos fincadas no pescoço da bisonha. A maldita
ficou mais preocupada em tirar fotos do meu rosto raivoso e descontrolado. Não havia
como negar. Lá estava a essência da antiga Clarke, com força total e eu mal entendia
por quê.
Bellamy PDV
As raxas atrás de mim tentavam me dar apoio, chacoalhando algumas peças da nossa
grife, estocadas no porta-malas do carro da Rae. A porcaria da rua era pouco
movimentada aos domingos, por isso, soltei o verbo para chamar a atenção.
- Bellamy... – A Sebosa murmurou pelo canto da boca. - ... Não grite tanto. Isso aqui já
é constrangedor o suficiente.
- Isso não está dando certo. – Comentou a draga irritante tamanho PP, Octávia.
- Vou brilhar, saltar e espalhar alegria na minha próxima vida quando eu nascer de
novo. – Resmungou a Sebosa.
- Não podemos deixar Max... – Cuspi no chão, em repulsa ao nome. - ... Vencer! Olhem
ele, ali, usando aquela blusa Gucci, todo se achando, com os seguranças gostosos ao
lado. Precisamos vencer! É questão de honra gay! – Choraminguei.
- Não podemos fazer nada, Bellamy. Ninguém sequer ousou chegar perto para olhar
nossas peças. – Raven devia estar querendo levar na cara.
- Argh! – Fiz careta. – Precisamos arrumar um jeito de chamar a atenção das raxas,
principalmente, as que estão dentro da boutique. – Apontei.
- Espera! – A tamanho PP paralisou, com as mãos nas têmporas. – Você disse chamar a
atenção da mulherada, certo? – Encarou a Sebosa, e nem era ela quem tinha falado
aquilo. Magoei. – O que mais chama a atenção da mulherada além de moda?
Ela me puxou e saiu em disparada. Atordoado, joguei uma mão pra cima gritando:
Ela ignorou. Pendi a cabeça para trás e choraminguei, sendo obrigada a segui-la.
Octávia PDV
- Nada suja mais que uma criança e um porco. Estou no meu inferno pessoal.
Prendi o riso. Fui até ele e lhe dei um beijo leve nos lábios. Logo em seguida, corri para
o quarto dele, rebocando Bellamy comigo.
Minutos depois...
- Entenda, Bellamy, se você estiver lá como um bofe sexy vai atrair o mulheril, o que,
traduzindo, vai nos dar a chance de vender as roupas.
- Alguém de juízo precisa ficar cuidando da Geleia. Não enrole, eu sei que vai
conseguir.
Ele encarou seu reflexo no espelho do guarda-roupa, com um semblante torturado. Não
me arrependia, o doidinho podia superar. Ri baixinho ao vê-lo analisar as roupas que lhe
obriguei a vestir. Uma calça jeans descolada, camisa de botões preta, tênis, o cabelo
impecavelmente penteado para trás, fixado com o gel e extremamente perfumado,
exalando masculinidade. Bellamy tentou mexer nos cabelos e o impedi.
Ele arregalou os olhos e não pude deixar de notar que tinha um olho maior que o outro.
Duas grandes bolas-de-gude negras.
Não corremos, voamos de volta à avenida onde Rae nos esperava. Assim que ela nos
avistou, sua boca se escancarou, pois percebeu a transformação radical do nosso sócio.
- Toma! – Lhe estendi o mega-fone. – Agora, chame suas raxas feito homem.
Ele fez uma enorme careta, colocando a língua para fora, enojado.
- É preciso! – Falei firme para que ele não desistisse. - Ande! Faça o que eu disse!
- Não! Levei muitos anos para adquirir dignidade gay, não vou me rebaixar. – Empinou
o nariz, metido.
- O que prefere? Ser pobre ou guardar sua quase inexistente dignidade gay? – Indagou
minha prima, o empurrando em direção ao capô do carro.
Nós o ajudamos a subir no capô e ele tremia, como se estivesse sendo eletrocutado.
- Está falando como minha avó! Pare com isso! Sou uma bicha sofrida, vão pagar minha
terapia. – Mordeu o dedo mindinho.
Perdi a paciência. Precisávamos agir antes que fosse tarde demais. O puxei pela manga
da camisa e ele se baixou, trêmulo.
- Bellamy, é a nossa chance. Não estrague tudo! Só precisamos vender essas roupas e
pagar a reforma da loja, depois disso... KABOOM! Entraremos para a indústria da
moda. Visualize comigo... – Estendi o braço teatralmente, como se lhe mostrasse o
futuro. – Imagina seu rosto nas capas das revistas, todas as roupas de oncinha que
poderá comprar, um bofe malhado só de sunguinha lhe trazendo champanhe... – Ele
suspirou sorrindo ao imaginar. O agarrei pela gola da camisa, tentando passar-lhe
confiança. – Agora vá lá e conquiste tudo isso para nós. SEJA UM BOFE
ESCÂNDALO! – Minhas palavras saíram firmes e fortes.
As palavras dele chamaram a atenção das garotas na boutique do Max. Elas ficaram
curiosas para saber quem estava se pondo como prêmio. Até eu ficaria. Aquilo, sem
dúvida, estava atraindo as pessoas. Bellamy continuou repetindo a oferta e o pessoal
começou a se aproximar timidamente, para analisá-lo. Ele estava mesmo lindão e as
moças da UA riam e cochichavam entre si. Devia estar sendo um esforço sobre-humano
para o coitado, não desmunhecar. No entanto, não desmunhecou. As peças e o preço
baixo causaram um impacto positivo nas futuras clientes. A quantidade de gente crescia,
tanto homens como mulheres, e Bellamy continuou a anunciar a promoção que
inventara. Percebi que algumas pessoas já estavam agarradas ao celular, avisando a
outras sobre aquele evento incomum.
Cerca de vinte minutos depois, o alvoroço em torno de nós era grande, estávamos
vendendo tudo. As roupas passavam por cima da minha cabeça, enquanto eu tentava
passar trocos e aceitar pagamentos. As peças que desenhamos eram bem recebidas, as
pessoas adoravam nosso estilo misturado e louco. As peças estavam acabando e
sabíamos que, se tivéssemos mais, teríamos vendido.
Clarke PDV
Anya e eu ficamos cerca de uma hora batendo boca. Lexa, “a fundadora” do meu clube,
não falou uma só palavra. Isso só me deixou mais brava.
- Na verdade, a resposta é um palito de fósforo, mas essa sua resposta aí também vale.
- Não tenho a cabeça grande. – LEXAZINHA me fitou, com seu olho esquerdo
tremendo.
- Esquenta não, Clarke, a Guaxinim hoje deve estar com aquele tal de SAD. – A
maníaca sorriu descontraída, já a Woods, fitou-a de olhos arregalados, como se a irmã
tivesse deixado escapar algo que não deveria. Logo me interessei.
- Relaxa! Você acha que eu sou burra, mana? Claro que não vou contar para ela aquela
viadagem que o voador inventou só pra explicar que você está com SADades!
A bisonha e eu rimos.
- Você! – Quase enfiou o dedo na cara da irmã. – É uma anta de boca grande! Desfaça a
porra do site! – Em seguida, virou o dedo na minha direção. – Clarke, você me tira do
sério desde o primeiro segundo que te vi. Então, faça o favor de manter essa boca
fechada. Fique quieta, pelo amor de Deus! Estou tentando pensar aqui, droga! – Havia
tanta autoridade e raiva em sua entoação que, por instinto, quase avancei sobre ela. No
entanto, engoli seco e trinquei os dentes, me prendendo à declaração hostil que cutucou
minhas feridas não cicatrizadas.
Lexa voltou para a estrada e, dessa vez, aumentou bastante a velocidade, como se
quisesse terminar logo com aquilo. Me perguntei se ela realmente já não suportava ficar
ao meu lado.
- Deus me livre... – Murmurou Anya melancólica. - ... Não precisa de tudo isso, imagina
se eu tivesse falado que você tem alucinações.
Bellamy PDV
- Tudo bem, Bellamy, pode cair na viadagem! – Relaxei os braços e pernas revirando os
olhos. Voltar a ser eu mesmo era como respirar.
- Vaaalaa! Que aparição é essa? – Pus a mão no peito. – Parou com tudo! É a espanta! –
Disse ao me deparar com a bicha uÓ, Max.
- Sim, espanta tudo! Bofe, cliente, moda... Mas o quê tu quer aqui hein, baitola?
- Mais respeito sua pistoleira. – Jogou o cabelo de palha de milho pro lado. – Vim dar a
vocês uma advertência. Se voltarem a vender suas roupas de brechó em frente a minha
loja chamarei a policia, ou melhor... – Virou-se para olhar os seguranças armários atrás
de si. - ... Meus empregados darão um jeito nas fracassadas.
- Aqui é via publica. Podemos fazer o que quisermos. – Sebosa nos defendeu.
- Isso não vai ficar assim... Vai lhe custar muito caro! – Ameaçou com olhos estufados
para fora. Girou com força e o cabelo falso chicoteou minha cara delicada. A bisca foi
embora andando toda empinada.
- Vai, vai embora espanta! Não volte mais cafuçú! HU!... OHOHOHOHOHO!
Vencemos! – Disse para as garotas. – Bate aqui! – Erguia as palmas.
Clarke PDV
Após algumas horas chegamos a New York. Já passavam das 20:00h, e minha
ansiedade atingia o nível mais alto enquanto procurávamos o endereço que meu pai
informou pelo telefone. Kane tentou me passar uma bronca quando lhe telefonei, porém,
ele não parecia ter ânimo nem para isso.
- Eita! O Doc está aproveitando a vida, hein?! Bar de stripers? – Comentou Anya
saltando para fora do jipe incrivelmente animada.
Eu nunca havia ido a um lugar como aquele. A iluminação era fraca em tons de
vermelho e amarelo. Alguns homens perambulavam, outros permaneciam em pequenas
mesas próximas ao palco e, lógico, tinham bastantes mulheres semi-nuas.
- Tragam minhas coisas, vou morar aqui! – Anunciou Anya em voz alta.
Uma loira peituda passou por nós e piscou. Argh! Fiquei enojada. Preferi nem prestar
atenção em Lexa. Fiquei repetindo mentalmente: EX-NAMORADAS! EX-
NAMORADAS! EX-NAMORADAS!
Estava na hora de começar a lidar com aquilo porque, depois de nossas brigas no carro,
passei a aceitar o fato de que talvez nosso relacionamento não tivesse mais volta.
Provavelmente, o tempo trouxe de volta nossas personalidades que foram distorcidas
pela paixão que partilhamos por um breve tempo.
- Ali está ele! – Disse a Woods apontando para um das mesas mais distantes, em um
canto pouco movimentado.
- Que droga, que fazendo aqui? ECA! Não tem vergonha? – Não pude deixar de
expressar minha revolta.
A princípio ele ficou calado, seu rosto estava meio abatido, olheiras denunciavam a
exaustão. Com o terno amarrotado e cabelos desgrenhados, segurava um copo de água.
Suspirei me arrependendo de ter chegado a ele de forma tão rude.
Só quando minha EX falou foi que me dei conta que a bisonha tinha sumido. Fixei meus
olhos em meu pai à espera de que ele respondesse, infelizmente só assentiu fracamente.
A Woods ficou calada alguns segundo como se também não soubesse o que dizer.
- Você é casado! Como pode fazer isso comigo? – Encarei Kane. Senti os olhos de
reprovação de Lexa em cima de mim. Continuei. – Como pode casar e não avisar sua
filha, ficou maluco? – Gesticulei aborrecida. – E como se o casório já não fosse loucura
suficiente, briga com a mosca morta e vem parar aqui? Está fugindo ou o quê? Eu não
acredito! – A última frase precisou ser pronunciada com mais vigor.
- Clarke, pare com isso, não é certo! – Falou a Lexa com ferocidade.
Me pus diante dela e respondi exatamente o que deveria ter respondido no carro:
- Você também me irrita desde a primeira vez que te vi! Não precisava dar um chilique
na estrada, eu sei que me odeia. Acredite que o sentimento é recíproco. Ficou toda
estressadinha como se fossemos um fardo que é obrigada a carregar, acha que me
divirto com isso? Claro que não! Estragamos seu domingo? Paciência! Também não
gostaria de estar aqui, e sim estar pintando e arrumando o sótão que chamarei de quarto.
Ou pensa mesmo que gosto de dormir no sofá? Ao contrario de você eu tenho motivos
verdadeiros para estar nesse bar! – Senti um espasmo violento em meu peito, um vacilo
do meu coração, mas continuei firme. – É você quem tem de ficar calada e quieta aqui,
essa é a minha vida e a do meu pai, então, não se meta onde não é chamada. Perdeu seu
direito de opinar quando deixou de ser minha namorada e me abandonou! – As palavras
saíram carregadas de rancor e veneno.
Ela me olhou sem piscar por cerca de três segundos, em seguida, inclinou a cabeça para
frente a fim de falar exclusivamente com meu pai. Permaneci a sua frente como uma
parede, engolindo o leve e imperceptível choro.
Lexa foi embora antes de receber qualquer resposta. Fechei os olhos para não ver
aquilo. Odiava vê-la se distanciar de mim, pois sempre me lembrava o momento em que
me deixou para trás como se eu não fosse nada.
- Tudo aconteceu há uns 3 anos. Carmen era a jovem mãe de um dos meus pacientes.
Um garotinho chamado Rodrigo, na época, ele tinha 6 anos. Eles eram mexicanos,
pessoas simples tentando ganhar a vida na América. A imigração começou a caçá-los,
pois estavam ilegais no país. Carmen tinha muito medo de interromper o tratamento do
filho, não pude deixar de me sensibilizar com a situação deles, pois os via todos os dias
no hospital. Passaram a fazer parte da minha rotina e circulo de amizade. Então, um dia
eles não tiveram mais como fugir da situação. Não tive muito tempo para pensar, algo
tinha que ser feito de imediato. Rodrigo dependia do tratamento que nosso hospital
oferecia. O jeito mais rápido de conseguirem o green card era através do casamento com
um cidadão americano. – Meu pai contava a história de forma automática, sem muito
sentimento, como se sua mente não estivesse ali. Mal conseguia acreditar no que me
falava. – Meses depois o garoto melhorou muito, já podia levar uma vida normal. Dei
andamento ao divorcio, e Carmen aceitou minha decisão muito grata, pois mesmo
divorciada podia ser considerada uma cidadã americana. Infelizmente, não sei por quais
motivos, ela sumiu. Tentei achá-la por um tempo e não consegui. Com o tempo foi fácil
deixar um pouco de lado. Só que conheci Abby, me apaixonei por ela e quando decidi
pedi-la em casamento contratei detetives para localizar Carmem. – Jogou os papéis
retirados do bolso do blazer em cima da mesa. Expirei absorta na história. – Dias atrás
os detetives localizaram a moça, desenterrei a certidão de casamento de uma pasta e a
coloquei sobre a escrivaninha. Foi assim que Abby achou o motivo de nossa separação.
Tentei lhe contar a verdade, mas ela mal me deixou falar. Ficou alterada como nunca vi
antes. – Ele passou as mãos no rosto, confuso. – Ela esta diferente, não é a mulher
racional e compreensiva que conheço... Não sei... É como se estivesse sensível a ponto
de se magoar com qualquer coisa que eu lhe faça ou diga.
- Entendi tudo até agora, acho, mas não entendi é porque está nesse bar.
Senti-me um pouco constrangida por chegar acusando-lhe sem saber seus motivos ou
escutar suas explicações. Me encolhi na cadeira, realinhando meus pensamentos.
- Talvez, depois que essa pendência estiver resolvida, Abby reconsidere e possamos
reatar.
Reatar?
Minha reação automática foi fazer uma careta em protesto a suas expectativas. Depois,
expirei, analisando meu tão solidário Kane.
Seu rosto era vazio, sem sentimentos ou entusiasmos. Lábios comprimidos, olhos
cansados, mas em um deles cintilava uma faísca de esperança. A testa enrugada de
Fiquei por um longo tempo o estudando, até que uma estranha sensação começou a
surgir. Era como estar olhando para o meu reflexo no espelho. Eu me vi ali, em cada
piscar de olhos, em cada respiração pesada. Foi como me assistir nas três semanas que
passei desolada em Polis.
Quis consolar Kane, mas não soube como. De repente a dor dele se misturou a minha, e
uma lágrima escorreu em minha face. Enxuguei antes que ele notasse e ficasse ainda
mais triste, se é que isso era possível.
Eu odiava Abby Woods. Isso era um fato irremediável. Porém, ver meu pai sofrendo
uma dor semelhante a minha me fez ver que eu passaria por cima de qualquer
preconceito, ódio ou repugnância só para tirá-lo de sua tortura pessoal. Aquela mulher
não o merecia, mas ainda assim ele a queria. Era difícil entender, mas quem disse que o
amor é racional?
Estendi a mão afagando-lhe o rosto. Ele fechou os olhos ao meu toque, sentindo que eu
estava disposta a fazer qualquer coisa para amenizar a chama que lhe queimava por
dentro.
- Pai... – Minha voz saiu em um murmúrio doloroso. - ... Vai ficar tudo bem. – As
lágrimas escorreram ignorando minhas tentativas de conte-las.
Pela primeira vez desde que o vira naquela noite, Kane reagiu com emoção. Olhou-me
com um brilho diferente. Talvez uma secreta satisfação por chamá-lo de pai.
Ele então, me abraçou. Me senti novamente uma criança. Envolvi meus braços em torno
dele e fechei os olhos. Meu pai me aninhou como se tentasse me proteger, tirar a minha
dor mesmo não conseguindo administrar a própria.
- Me desculpe... – Pedi mais uma vez. - ... Por tornar sua vida tão difícil. – Eu queria
pedir desculpas por tanta coisa que nem sabia por onde começar.
Dessa vez foi impossível conter o choro. Kane me conhecia tão bem que palavras eram
desnecessárias. Passei muitos anos me julgando incompreendida, e lá estava eu,
percebendo pela primeira vez que só porque ele não concordava com minhas loucuras
não significava que não as entendia. Pena que precisei passar por tanta coisa ruim para
entender aquilo.
Ficamos abraçados, consolando um ao outro até que a tal Carmen chegou. Ela ficou
surpresa com nossa presença, no entanto, mostrou uma gratidão, quase veneração por
Antes que saíssemos do bar encarei Kane e falei, sabendo que provavelmente nunca
mais repetiria aquelas palavras.
- Pai...
- Sim?
- Não há nada nesse mundo que eu ame mais do que você e sua irmã. Lembre-se disso!
Nenhum outro sentimento que eu tenha ou possa vir a ter anula esse fato.
Tive um dos momentos mais importantes e tocantes da minha vida em um dos locais
mais estranhos e improváveis. Como diria Bellamy: minha vida é BEM DOIDA!
Kane decidiu voltar a Polis em um vôo comercial. O coloquei em um táxi e pude tirar
um peso esmagador de preocupação dos meus ombros. Infelizmente existiam outros.
Lexa, com muito esforço, conseguiu convencer a irmã a sair do Clube. A danada já
estava amicíssima das biscates. O mais ridículo foi vê-la super triste, o biquinho que
fazia era semelhante ao de uma criança quando lhe tiram o doce da boca.
Não é que eu não quisesse lutar por ela, só não tinha certeza se ainda valia a pena. A
paisagem passava por mim distorcendo minhas visões de um futuro não muito distante
onde ele seguiria seu curso de vida e as lembranças de nossos momentos na Itália já não
lhe importariam. Lexa viveria outros romances, se apaixonaria outra vez. Se eu
continuasse em Arkadia, certamente assistiria sua vida se moldando como se eu nunca
tivesse de fato feito parte dela de forma significativa. Machucava muito me imaginar
como mais uma página na história de sua vida, e não parte importante e insubstituível
de quase todos os capítulos.
Busquei por um motivo forte suficiente que me mantivesse dentro do jogo. Enquanto
pensava, minhas pálpebras ficavam pesadas até que se fecharam por completo.
- Clarke... Clarke...
Abri os olhos, espantada, sentei-me tão rápido que a vertigem me atingiu. Ofegando,
olhei à minha volta e embasbaquei ao perceber que estava na cama da minha prima, em
nosso apartamento.
- Caramba, garota, como você dorme, hein?! – Riu sentando ao meu lado.
- 18:45h.
- Não acredito... – Pus a mão na testa. – Me deixou perder aula? – Não que eu me
importasse muito, mas estava bastante atrasada comparada ao resto da turma.
- Não?
- Bem... É melhor você ver. Não vou conseguir explicar. – Falou puxando-me pelo
braço, toda animadinha.
Cambaleei para fora do quarto, bocejei algumas vezes recuperando as forças nas minhas
pernas. A fofolete se irritou com minha demora e passou a literalmente me empurrar em
direção ao sótão. Confusa, subi os degraus e empurrei a porta de madeira.
- O que você quer, sua maluca? Aqui não tem fantasma! –Resmunguei.
Octávia percebeu que eu não tirava os olhos do teto e se adiantou nas explicações.
- Ah, esse teto é incrível! Olha só! – Ela apagou a luz e entendi seu comentário.
- Octávia... – Toquei nas paredes e nos móveis procurando palavras para agradecer o
presente. - ... Está tudo perfeito, não sei nem o que te dizer...
- Calma, calma! – Voltou uma risadinha maliciosa. - Ajudei só um pouco com algumas
pequenas coisas, roubando de suas coisas a nota fiscal dos móveis pra agilizar a entrega.
Ah! E também dei um jeito na roupa de cama. O resto, bem... O resto foi obra da Lexa.
- Sim, senhora! Ela trabalhou nesse sótão o dia todo. Fez tudo. Só teve ajuda dos caras
que entregaram e montaram os móveis, mas ela pintou, restaurou, envernizou, os
móveis. Tudo aqui tem o dedo dela, a garota não comeu nem descansou até terminar.
Pus a mão no peito, assimilando. Não conseguia acreditar que aquele quarto fantástico
era um presente dela para mim. Um presente suado, pelo que Octávia me contara.
- Por que ela fez isso? – Minha voz saiu trêmula enquanto eu tentava conter a euforia
dentro de mim.
- Não é difícil adivinhar. – Ela sorriu. – Mas, talvez o bilhete em cima do criado mudo
explique. – Apontou para o móvel.
Debrucei-me por cima da cama e peguei o bilhete. Engoli seco antes de abrir o papel
que estava dobrado ao meio.
[Clarke, não te odeio. Desculpe por ter sido uma idiota ontem, só estava com medo.
Nem você, nem sua família, que um dia espero chamar de minha, são um fardo.
Um abraço da sua...
Quase meia-irmã.]
Passei a mão pela folha sentindo-me a pior pessoa do mundo. A culpa pelas palavras
ásperas no bar veio com força total. Eu tinha feito um julgamento precipitado. Após o
remorso, fui atingida por um novo sentimento: felicidade.
Talvez eu não fosse descartável para Lexa como imaginara. Do contrário, ela não teria
se dado ao trabalho de me fazer aquela surpresa. Podia estar ficando louca, só que sentia
em seu bilhete frases com significados mais profundos do que aparentavam. Palavras
não ditas embutidas em um simples pedido de desculpas. Havia significados ocultos em
seus esforços para me dar aquele presente tão perfeito e em sua estranha mania de se
meter na minha vida. O que isso significava? Eu vou te dizer: EU AINDA ESTAVA
DENTRO DO JOGO!
Fiquei de pé em um pulo e disparei escada a baixo. Minha prima tagarelou algo que
ignorei e fui correndo em direção ao apartamento dos garotos a fim de também me
desculpar. Entrei abruptamente e logo avistei Lincoln e Anya na sala vendo um jogo.
Fingi que eles não estavam ali e fui direto para o quarto da Woods, mesmo sem saber se
ela estava lá.
Olhei para o criado mudo e vi em cima de uma pilha de livros uma caneta. Estiquei o
braço e a peguei de olho na Woods, temendo que acordasse. Sentei-me com cuidado
pertinho dela. Peguei sua mão e a depositei em meu colo com a palma virada para cima,
escrevi:
[Só te desculpo se me desculpar. Sou uma imbecil, você já sabe disso! Não sou boa
com palavras, por isso espero que entenda minha atitude de quase meia-irmã.]
Coloquei sua mão junto a seu corpo. Então, dei inicio a minha missão: limpa-la e deixá-
la a vontade para que dormisse mais confortável. Comecei tirando-lhe os sapatos, foi
difícil arrancar o tênis do pé esquerdo, forcei usando o peso do meu corpo puxando com
força. De repente o tênis deslizou do pé e eu cai sentada. Joguei o sapato para longe e
Sentei em cima do seu quadril, uma perna de cada lado, apoiando quase todo peso em
meus joelhos. Passei o braço por baixo dela e ergui o seu tronco fazendo com que ela
ficasse sentada. Agarrei a barra da camiseta e forcei para cima, lutando para que
passasse por seus braços. No início achei que não conseguiria, ficou presa nas costas, só
que para a felicidade geral da nação, inconscientemente, Lexa moveu-se facilitando meu
trabalho. Joguei a camisa suja contra a parede e a deitei novamente. Tudo bem, tenho
que confessar: alisei só um pouquinho o abdômem dela. Eu não sou de ferro, poxa!
Afastei-me um pouco, mas permaneci em cima dela. Estudei como lhe tiraria as calças.
Comecei pelo item mais fácil, abrindo o botão e o zíper do jeans. Quero deixar bem
claro que minhas mãos não tremeram!
No momento que eu vi a calcinha branca combinando com o sutiã que usava pensei:
Que esse comentário fique só entre nós! Adverti para meu corpo.
- Clarke?
Ela olhou para sua calça aberta, depois para mim e franziu a testa pensando Deus lá
sabe o que.
Clarke PDV
- O que? Você não... Está... – Enxuguei o suor da testa, saindo de cima dela. – Nunca!
Nunca! – Estremeci, querendo encontrar alguma coerência em minha declaração. – Era
só um favor. – Disse-lhe por fim. Depois, expirei, calando-me.
Evitei encará-la. Mesmo assim, notei os lábios dela cerrarem, como se prendesse o riso
enquanto sentava-se.
- Um favor? – Seu tom era zombeteira e isso me fez roer as unhas ali mesmo,
obrigando-me a ficar de boca fechada. Anta do jeito que eu sou, não seria uma grande
surpresa se falasse algo que intensificaria o momento constrangedor. – Um favor... –
Repetiu refletindo, enquanto coçava o queixo. Para o meu terror, LEXAZINHA olhou a
palma de sua mão e leu meu recado em voz alta: - Só te desculpo se me desculpar. Sou
uma imbecil, você já sabe disso! Não sou boa com palavras, por isso, espero que
entenda minha atitude de quase meia-irmã.
Arregalei os olhos, nervosa. Após ser pega tirando-lhe a roupa, minhas palavras
ganharam sentidos maliciosos e totalmente diferentes dos que eu havia planejado.
Aflita, tentei lhe explicar, mas, infelizmente, só meus lábios se mexeram. Minha voz foi
pro espaço. Sacudi as mãos, frenética, enquanto Lexa me olhava com uma expressão
indecifrável.
- Oi, está tudo bem? Queria mesmo falar com você. – Ela se levantou e caminhou até o
banheiro. Antes de passar pela porta, sussurrou para mim. – Fica aí, já volto. – Em
seguida, trancou-se.
Pisquei os olhos, confusa. Que merda era aquela? Lexa de segredinho no telefone?
Muito suspeito.
O que eu fiz? Bem, o que qualquer pessoa faria, eu acho... Fui colar meu ouvido na
porta, na esperança de ouvir algo. Não deu nem tempo de chegar ao banheiro, pois logo
ouvi vozes vindas da sala.
- Deixem de bobagem, garotos. Até parece que é a primeira vez que venho acordá-la. –
Retrucou a cretina.
Senti pontadas de ciúmes só de imaginar Lexa e Costia naquele quarto. Não pude deixar
de fazer careta. De repente, a maçaneta girou.
- Parem com isso, poxa! Estou ficando chateada. O que tenho pra falar com ela é
importante!
Ah, eu sim, vou dar um bom motivo pra você ficar chateada! Murmurei arquitetando.
- Dá pra falarem mais baixo? Estamos tentando dormir. – Pedi, bocejando outra vez.
Pela primeira vez na vida, senti que poderia ganhar um Oscar.
- É uma mistura de biscate com galinha. – Sussurrei para ele e lógico que Costia ouviu.
- Entregue isso a ela! – A retardada jogou uma folha de papel na minha cara e eu a
deixei cair. Depois, Costia saiu do apartamento, batendo a porta.
Ri alto, tanto da reação da biscalinha como dos otários na sala. Era tão bom colocar
Costia no lugar dela, ou seja, fora das nossas vidas! Sentia-me muito intimidada por
aquela perua, pois ela teve uma relação descomplicada com Lexa e eu a invejava um
pouco por isso. Porém, naquele momento, me sentia à frente no jogo. Não pude deixar
de dar uma dançadinha em comemoração.
A Woods pigarreando atrás de mim, fez-me estagnar. Fechei os olhos e respirei fundo.
Virei-me lentamente, com as mãos começando a suar. Lexa me olhou dos pés à cabeça e
pude ver a mais pura confusão em seu rosto. Também havia algo mais, só que eu não
conseguia decifrar.
- Eu tenho uma boa explicação para isso. – Minha voz saiu levemente trêmula. Não
ajudou em nada ela ter olhado para minhas roupas no chão.
- Lógico que não! – Me defendi da melhor forma possível. – Você deveria estar me
agradecendo agora e não fazendo piadinha!
- Deveria?
- Sim!
- Vim te agradecer pelo quarto e te encontrei dormindo, no entanto, você estava toda se
coçando. Era horrível!
- É verdade, se coçava assim. – Cocei os braços e pernas como louca. – Você deve ser
alérgica à tinta que usou. Só que estava muito cansada para sentir. Se debatia feito um
peixe fora d’água.
- Dããã! Sim! Por que eu mentiria? – Chacoalhei seus ombros. – Foi horrível, não
aguentava ver, estava ficando toda vermelha, não imagina o estado em que se
encontrava – Fui tão teatral que beirava o drama. – Por isso, eu totalmente solidária e
sem nenhuma intenção maliciosa, tirei suas roupas sujas de tinta para que não piorasse.
Você é muito mal agradecida. Há essa altura, podia estar cheia de bolhas.
- Você passou a coceira pra mim quando toquei em suas roupas... Ai... – Passei as unhas
fortemente por todos os lugares do meu corpo, fingindo-me de aflita. - ... Por isso, tive
que tirar as roupas, mas não está adiantando muito.
FALA SÉRIO!
Estreitei os olhos, desconfiada. Era impossível ela estar sentindo algo. Mesmo assim, a
garota continuou se coçando.
- É melhor tirarmos toda a roupa, ela deve estar contaminada. – A Woods não tirou o
olho da camisa que eu usava e desabotoou novamente a calça.
Cruzei os braços, sendo pega pela minha própria mentira. De duas uma: ou eu sou uma
excelente mentirosa a ponto de mexer com o cérebro dela, ou a safada estava se
aproveitando da situação.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, Lexa abaixou-se e pegou a folha dobrada
ao meio.
[Woods, é melhor devolver nossas motos em 48h ou você e sua gangue sofrerão as
conseqüências.
Niylah C. ]
- Desde que a Niylah meteu na cabeça que fomos nós que roubamos aquelas malditas
motos. – Respondeu, amassando o papel.
- Ah, droga! – Passou as mãos pelos cabelos. – Por favor, me diga que ele não fez isso!
Apenas dei de ombros, sorrindo. Não culpava Collins, a badgirl merecia aquilo. Lexa
pegou o celular e eu sabia que iria ligar para o amigo. Aproveitei sua distração, peguei
minhas roupas e escapei, antes que tivesse de dar mais explicações.
De repente, minha consciência se voltou contra mim e fui obrigada a confessar que
passei tempo demais me julgando sofredora e agora, estava ali, diante de mim, uma
pequena criatura que já sofrera mais que eu. Senti-me tola. Sabia que não era diferente
de todo mundo. Geralmente, temos a tendência à ver nosso sofrimento como se fosse o
maior, mas quando nos deparamos com pessoas realmente sofredoras, levamos um
grande tapa na cara, ao constatar que sempre existe alguém que sofre mais.
Outra vez esse pensamento me abordou. Imaginei que tipo de futuro ela teria. Ficaria
em um orfanato, dia após dia, esperando que algum casal se interessasse por ela. Não
sabia como funcionava aquele universo, mas quando tentava visualizar, sempre
associava a uma loja de animais. Pequenos seres em vitrines invisíveis esperando que
alguém os leve para casa. Os bonitos e saudáveis são os primeiros a serem escolhidos.
Já o feinhos e doentes ficam para trás, rejeitados e sem expectativa de futuro, sem saber
se um dia sairão das gaiolas.
Tive que engolir o nó em minha garganta. A visão mental era perturbadora. Talvez eu
nunca fosse compreender totalmente o sentimento de gratidão que Lexa, Anya e Lincoln
tinham por Abby. Mas, naquele momento, com os olhos fixos em Geleia, entendi em
parte. E essa parte da compreensão fez-me ver o motivo pelo qual Lexa nunca
conseguia dizer não à sua mãe adotiva, ou porque me enfrentava sem pestanejar sempre
que eu estava disposta a arruinar a vida dela. Não adiantava, ela sempre a defenderia e
protegeria, pois ela a tirara de sua própria vitrine invisível.
Suspirei.
Não importava o que eu fizesse, meu ódio pela mosca morta ia estar sempre entre nós.
Uma barreira quase palpável. Eu sabia que ela não era a bruxa malvada da Branca de
Neve, pois já tinha me ajudado algumas vezes. Mesmo assim, não conseguia eliminar o
sentimento de raiva dentro de mim. Após a conversa com meu pai ontem, vi que podia
conviver com o casamento dele, porém, não podia forçar uma convivência totalmente
pacífica com Abby. A palavra madrasta repelia as tentativas de mudar minha opinião,
Fechei os olhos e tentei não pirar. Nesse momento, me veio em mente a imagem de
Lexa, Kane e Abby. Haviam duas pessoas em minha vida que amavam aquela mulher
mais do que eu podia entender. Talvez, só talvez, eu fosse forte suficiente para lutar
contra mim mesma e conseguir gostar ao menos um pouco da mosca morta. Isso,
provavelmente, seria meio caminho andado para conquistar definitivamente a Woods.
Não tinha certeza se conseguiria, mas sabia que poderia tentar. Estava mais que na hora
de guerrear contra meus fantasmas interiores. Se eu vou vencer essa batalha? Bem, acho
que vou descobrir em breve.
Sentia-me muito confiante, desde que li o bilhete de Lexa. Procurei me agarrar àquela
confiança, pois precisaria dela.
Geleia mexeu-se no sofá e isso trouxe meu foco de volta à ela. Ali estava algo que eu
podia controlar, acho, podia evitar que a menina voltasse para sua vitrine. Como minha
Rose dizia: para todo problema existe uma solução.
Mas o que faria a seguir? Ela precisava de pais e eu não sabia onde arranjar isso. Era
melhor eu me concentrar em um problema de cada vez ou acabaria não conseguindo
resolver nada.
Tudo bem, Clarke, faça a lista: evitar que a Geleia volte para o orfanato; convencer a
cabeça dura da Lexa a apoiar isso; tentar ser gentil com a... Argh... Mosca morta;
arranjar um emprego...
Logo que o dia amanheceu, saltei da cama e procurei por Geleia, que ainda dormia.
- Daqui a pouco, a Lexa vai aparecer aqui para te levar à assistência social e...
- Aiiii... – A soltei, irritada. Se você pensa que ela se importou, engana-se. – Se tocar
em mim de novo, eu vou te bater, sua esquisitona! – Exibiu o pequeno punho cerrado.
- Esquisitona? Olha só quem fala! – Cruzei os braços e Geleia fez o mesmo. – Está
querendo levar um chute, tampinha?
- Tente! – Desafiou, correndo em direção à porta. Sorri ao vê-la lutar com a maçaneta.
Óbvio que eu tinha trancado.
- Eu tenho um plano... – Me joguei no sofá. – Mas você terá que ser boazinha comigo,
projeto de gente! – Pisquei para ela.
Lexa PDV
A porta do apartamento das garotas estava entreaberta, por isso, adentrei sem bater. Não
me surpreendi nem um pouco em ver todos reunidos na sala, em volta da mesinha de
centro, tomando café da manhã, inclusive meus irmãos.
Revirei os olhos.
Eles olharam entre si como se me escondessem algo e eu não gostei nada daquilo.
- Ela pegou uma grana emprestada comigo e se mandou. – Explicou Octávia receosa.
- Não acredito que deixaram! Alguém aqui além de mim sabe que a Clarke é louca? –
Me irritei.
- Relaxa, Lexa... – Lincoln interveio. - ... Logo, logo, ela aparece por aí. Vem comer
alguma coisa.
- Isso mesmo, mundiça, aquieta tua periguita aí. – A bichona atrevida falou. Anya
gargalhou alto. - A bonequinha só ri, porque já sai de casa comida, todo dia.
HU!...OHOHOHOHOHO!
Minha irmã empurrou o viado para fora do sofá e ele caiu no chão, sentado.
- Bate, mundiça! Bate em que te ama! Um dia tu ainda vai ser minha! – Choramingou.
Não pude evitar, ri muito da cara chocada de Anya. O lunático masoquista, nem um
pouco bobo, tratou de se esconder atrás de Raven, que estava quase engasgando com o
cereal.
- Gostei do duplo sentido dessa frase. – Comentou Bellamy, implorando por uma
sentença de morte.
- Olá! – Falou meu frango, passando por mim sozinha. Todos paralisaram ao sentirem
falta do mesmo que eu: Geleia.
- Clarke, er... Será que você não esqueceu de nada por aí? – Indagou Rae. Já Octávia,
estava totalmente pálida. Talvez minha declaração de que a pirralha era louca estivesse
passando pela cabeça deles agora.
- Onde está a menina? – Pela minha visão periférica, vi Bellamy querendo levantar o
braço outra vez, então, o encarei furiosa. Isso foi suficiente para ele se encolher,
abraçando Rae.
O som de espanto que saiu de minha boca foi o mesmo que todos os outros fizeram.
- Não é hora para brincadeiras, Clarke! – lógico que perdi um pouco o controle. A
garota estava sendo muito irresponsável.
Fitei meu frango, depois, a sua miniatura e balancei a cabeça, incrédula. Reprimi um
sorriso ao perceber que a Geleia... quero dizer, Nessie estava limpa e com roupas novas.
Uma calça jeans, camiseta, tênis e o tal boné azul. Tudo bem que a roupa não era
apropriada para uma menina, mas resolvi não dar importância aquilo. Já Octávia...
- Não acredito... – voltou do corredor com umas sacolas que deviam estar escondidas lá.
- ... Quem comprou essa porcaria! – Fuzilou a prima com o olhar.
- Você! – Octávia apontou, raivosa, para a responsável por aquilo. – É uma terrorista da
moda e criou uma mini-terrorista. Vou passar mal... – Cambaleou. - ... Vou ter um
derrame! – Lincoln veio ajudá-la.
- Ei, não temos tempo para isso. Nós vamos sair agora. – Alertei.
- Não entendeu ainda, bocó? – Griffin começou a tagarelar. – Nessie não vai para um
orfanato. Vai ficar aqui até arranjarmos um lugar melhor pra ela.
– MANEIROOOOO!
- Me diga que você está brincando. Essa garota não tem condições de ficar aqui. É
loucura!
- Loucura é a deixarmos ir parar em qualquer lugar. Além do mais, não estou pedindo
sua permissão. – Fechou a cara.
- BEM DOIDO! – Clarke esbravejou e Bellamy não gostou. – Ela não vai a lugar
algum. Deixa que resolvo esse assunto. Vou ajudar Nessie, sem que ela tenha de voltar
para a vitrine.
Ok, a parte da vitrine eu não entendi, mas ela só podia estar querendo me contrariar de
propósito. Era típico. Duvido que realmente se importasse com a menina.
- Não vou discutir isso com você! – Dei um passo em direção à porta. Infelizmente, a
garota se pôs à minha frente, bloqueando-me.
Foi aí que vi, não sei como, o porco, com pata engessada e tudo, passando em frente à
porta em cima do skate, super rápido. Um segundo depois, Anya e Geleia passaram
correndo atrás dele, pelo corredor. Então, ouvi ao longe:
- TOICINHO! VOCÊ É DOIDO, SEU DANADO? – lógico, tinha que ser a bisonha.
- Eu já disse... – Griffin falou por entre os dentes. - ... Eu resolvo esse assunto.
Clarke PDV
- Posso falar com você a sós? – Perguntei, olhando pro grupo de bisbilhoteiros que
comiam, nos assistindo como se fôssemos personagens de uma tele-novela.
Sentei na ponta da mesa e ela cruzou os braços, há menos de meio metro de distância de
mim. Não precisava da permissão dela, só precisava de sua ajuda. Ia ser dureza
enfrentar aulas, trabalho e ainda achar um lar para a monstrinha. A missão necessitava
de um trabalho em equipe e a única que ameaçava pôr tudo a perder era justamente a
garota que eu nunca conseguia dobrar.
Meu plano A era bater o pé no chão e impor minha decisão. Como não estava
resultando em nada, tive que mudar para o plano B, ou seja, apelar... E muito!
Lembrei das dicas mais eficazes que LEXAZINHA havia me dado durante as aulas de
sedução no verão passado.
- Clarke, não temos condições de cuidar da menina. Ela tem necessidades que não
podemos suprir.
- Todo mundo aqui estuda ou trabalha. Quem vai ficar com a Ge... Nessie durante o dia?
PERFEITO!
- Você tem uma cabeça grande, também deve ter um cérebro grande. Pense! – Lhe
lancei meu melhor sorriso. Infelizmente, ela balançou a cabeça negativamente, mas eu
sabia que aquilo não era uma decisão definitiva.
- Acordo? – Questionou baixinho e hesitante. Segurei o riso ao perceber que ela estava
distraída com a isca.
- Ninguém vai saber, por isso, a fiz trocar de apelido. Devem conhecê-la como Geleia
ou qualquer outro nome e não como Nessie, nossa prima. – Tentei ser o mais persuasiva
possível. – Além disso, ela só vai ficar por aqui uma semana, no máximo. – Sorri.
Ela abriu os olhos e vi, através deles, vestígios de uma rendição. Não perdi tempo.
- Adoro essas cenas dramáticas. – Bellamy partilhou um lencinho com Octávia quando
disse isso.
Procurei encaixar esses nomes e palavras em frases e todas indicavam que teríamos
problemas em breve. O tamanho e gravidade deles? Cara, só esperando para saber. Senti
a falta da badgirl e sua corja de babacas na UA. Nem mesmo Costia estava nas
redondezas.
Guaxinim:
Clarke:
[NEM SINAL DA NIYLAH. ISSO É BOM OU RUIM? ACHA QUE COLLINS VAI
DEVOLVER AS MOTOS?]
Guaxinim:
Clarke:
Ela demorou tanto tempo pra responder que cheguei a achar que não queria mais falar
no assunto. O meu celular vibrou, atiçando-me.
Sorri e escrevi:
Clarke:
Guaxinim:
Chateada, enviei:
Clarke:
Guaxinim:
Achei que o bate-papo acabaria ali. No entanto, outra mensagem apareceu no visor.
[E AS TATUAGENS? DESISTIMOS?]
Clarke:
Por que fiz isso? Simples, queria ter um encontro oficial com Lexa. Uma chance de
estar com ela longe de nossa família. Como qualquer boa jogadora, estava apenas
pegando os lances ruins para transformá-los em boas jogadas. Essa noite eu teria que
marcar um gol. LEXAZINHA ia comer na minha mão!
Guaxinim:
[OK!]
- FILHA DA... – Tanto ela como os alunos fitaram-me. Então, com um sorriso amarelo,
fui obrigada a completar. - ... SENHORA SUA MÃE. BICHINHA TÁ BOA?
***
Eu estava pronta. Desci as escadas, vestida pra marcar meu “gol”. Calça jeans preta bem
justa, minhas botas favoritas, blusa vermelha com alguns botões abertos, criando um
bom decote, jaqueta de couro e cabelo preso em um rabo de cavalo, cuidadosamente
feito por Octávia, assim como a maquiagem de tonalidades escuras para destacar o azul
dos meus olhos.
- O que disse?
- Que você já vai dar... Uma voltinha. HU!... HOHOHOHO! Essa raxa tem uma mente,
viu...!
Ouvi um estrondo vindo do quarto de minha irmã. Parecia um vaso pesado caindo no
chão.
- Experimentar uns vestidos, tomar umas biritinhas e falar mal dos outros... Você sabe,
o de sempre. – Brincou com uma mecha em sua testa.
Ignorei e saí sem me despedir. No corredor, me preparei pra bater à porta dos Woods.
Sobressaltei quando ela foi abruptamente aberta pelo lado de dentro.
- Loira! Estava escondendo essa roupinha sexy no seu banheiro? – Perguntou Anya com
uma empolgação diferente.
- Manda eu parar!
- Para!
- Espera! – Fiquei confusa. – Onde a chimpanzé pensa que vai? – A encarei, perplexa.
- Planejei quase tudo. Não quero que as coisas fiquem fora de controle. Temos a
estranha tendência de nos meter em situações nada agradáveis. Minha mana aqui vai
garantir que não passemos dos limites bebendo e, claro, nos levar para tirar as tatuagens
no momento propício. – Explicou muito séria.
A bisonha não estava incluída no meu pacote de noite romântica. Engoli o grito que
subia pela minha garganta e resolvi dar o troco, equilibrar as coisas. Se a Wosds queria
tornar minha noite menos agradável me impondo à presença da irmã sem massa
cefálica, eu iria pagar aquilo na mesma moeda.
Fomos todos no jipe de Anya até Manchester. Achei que iríamos a um bar ou coisa
parecida, porém, quando adentramos o parque de diversão, comecei a desconfiar que
Lexa estivesse tirando sarro da minha cara.
- Rá, rá, rá! Já ri, agora vamos embora! – Pus as mãos na cintura chateada.
Parecia que a Woods estava evitando qualquer local que proporcionasse um clima. A
atitude dela me incomodou, só que eu não estava disposta a desistir logo no primeiro
tempo.
Ficamos sentados em volta de uma mesa grande de madeira, com canecas gigantes de
chopp e umas batatas fritas para ajudar. O parque até era legal, tinha vários brinquedos,
bastante gente se divertindo, mas o que me chamava a atenção realmente era o ringue de
patinação no gelo, há alguns metros de nós.
- Só tem criança lá! Por favor, né?! – Lexa comentou, dando um gole na bebida.
- Já sei! – Dei um tapa na mesa. – Vamos virar essas canecas. Se algum de vocês
esvaziarem elas antes de mim, não falamos mais no assunto, só que... – Esfreguei as
mãos. - ... Se eu ganhar, vamos todos curtir no gelo.
- Um... Dois...
Enquanto eles bebiam apressados, peguei minha caneca e joguei o chopp todo no chão.
- Falei esvaziar a caneca, não tenho culpa se são burros. Dãããh! – Sorri exibindo-a
vazia. – VAMOS PATINAR! – levantei-me triunfante.
***
Sabe quando eu achei que Lexa Woods era boa em tudo? Bem, eu estava redondamente
enganada.
- WOOOOOW! – Alarmou ela, indo ao chão pela quarta vez. E o melhor foi que levou
Anya e Bellamy junto!
Gargalhei.
Lexa, de joelhos e lutando pra ficar em pé, tentou puxar a calça da irmã pra cima, a qual
se desequilibrou e caiu sobre ela.
Ri alto. Tudo bem que foi judiação, mas era tão bom vê-la indefesa e sem seu ar de
sabe-tudo.
- Está viva?
Lexa ergueu debilmente a mão, procurando por mim com o rosto colado no gelo.
Voltamos para nossa mesa, felizes. Tudo bem, só eu estava feliz. Os manés, irritados,
andavam como se tivessem borrado as calças. Um se apoiando no outro, gemendo a
cada passo dado.
Acredite, nós bebemos com gosto até ficarmos bem soltos. E quando falo bem soltos,
quero dizer a ponto de Lexa e eu pararmos no pula-pula, junto com a criançada, que
estava ficando meio grogue com nosso bafo.
Anya PDV
MUAAAAAAAAHAHAHAHAHA!
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Foi nesse momento que senti braços agarrarem minha cintura por trás. Virei-me
abruptamente e dei de cara com:
- Olha, você está filmando? Fabuloso! Me filma! – Fez pose com dedo na boca. Logo
depois, colocou as mãos nos joelhos.
Só tinha vontade de apertar o pescoço magricela e torcer até ele ficar sem cor.
- Quero que a Clarke e a Lexa façam as maiores palhaçada possíveis, preciso gravar a
bagunça. Vai lá e dê seu jeito! – Mandei carrancuda.
- BEM DOIDO!
- Você vai fazer o que eu mando ou vou te encher de porrada! – Ameacei, estalando o
punho.
Lexa PDV
Clarke e eu soltamos uma dose de vodca dentro da caneca de chopp e viramos tudo de
uma só vez. Só consegui tomar metade e meu frango também.
- Olha... – Apontou o pavão. - ... Uma máquina de karaokê, vamos lá! É só colocar uma
moedinha!
Minha irmã e seu novo chamego correram atrás dela, tentando alcançá-la. Os segui só
pra garantir que Anya não colocaria nada da Celine Dion.
- Vai à merda, Anya, bota aí Bon Jovi! – Clarke tentou empurrar minha mana.
De repente, Black Eyed Peas - Lets Get it Started começou a tocar e eles estagnaram
surpresos. O que eles queriam? Haviam apertado todos os botões.
Meti-me entre eles, olhando pra tela do karaokê, onde a letra conhecida passava. Tomei
o microfone da mão do Bellamy e eu mesmo, zoando, comecei a cantar:
- “In this context, there's no disrespect. So when I bust my rhyme. You break yo necks.
We got 5 minutes for this to disconnect. From all intellect and let the rhythm effect”
(Neste contexto não há falta de respeito. Quando solto as minhas rimas, vocês partem
seus pescoços. Temos 5 minutos para desligar. De toda a inteligência e juntar o efeito
do ritmo)
- “Apt to lose this inhibition. Follow your intuition. Free your inner soul. And break
away from traditio” (Obstáculos não funcionam. Segue a tua intuição. Liberta a alma e
rompe com a tradição)
- “Coz when we beat out, girl it's pullin without” (Porque quando tocamos, garota, é
encantador)
- “Everybody, (yeah) everybody, (yeah) lets get into it, (yeah) get STOOPID. (come on)
get retarded, (come on) get retarded, (yeah) get retarded. Lets get retarded (ha), lets
get retarded in here. Lets get retarded (ha), lets get retarded in here. Lets get retarded
(ha), lets get retarded in here. Lets get retarded (ha), lets get retarded in here” (Todo
mundo, (yeah) todo mundo, (yeah) vamos nessa, (yeah) torne-se estúpido. Vamos
animar, vamos animar, vamos animar. Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui,
Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui, Vamos animar (ha), vamos animar isso
aqui, Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui ...)
Bellamy PDV
COISA DE MUNDIÇAAAAA!
QUIS GRITAR!
Que coisa de pobre, morri! Morri de novo! E acho que vou ressuscitar só pra morrer
outra vez!
Lexa tentou virar-se pra irmã. A impedi rapidamente, fazendo-a olhar para frente,
enquanto as distraía cantando:
- “Lets YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA...”
Assim vou ser barrada na próxima Parada Gay! Como pode?! O que eu não faço para
agradar a bonequinha?
Lexa e Clarke, distraídas demais, nem notaram que cada ação delas estavam sendo
filmadas.
- Vamos na roda gigante? – Lexa perguntou para a raxa uó. Ela estava mais bêbada que
a Britney Spears quando raspou a cabeça. A mundiça rebocou a parceira de copo. Fiquei
pra trás?
Clarke PDV
- Pode deixar que se eu for fazer isso, você será o alvo. – Brinquei.
Só para me irritar, a idiota mexeu-se novamente, fazendo-nos balançar pra frente e pra
trás.
- Juro que quando eu descer daqui, vou te dar um chute. – Minhas mãos congelaram na
barra.
Fomos nos aproximando do chão. Respirei aliviada, soltei a barra e ergui a mão para dar
um tapa atrás da cabeça de Lexa. Não sei como ela preveu meu ato, mas deteve minha
mão.
- Sempre tão irritadinha. – Disse, pousando gentilmente minha mão em sua coxa.
- Acho que às vezes gosto de te ver brava, fica muito engraçadinha. – Confessou sem
me olhar.
Por alguma razão, ri. Estávamos chegando à parte mais alta, quando Lexa voltou a
balançar a cadeira. Estremeci.
- É seguro, Clarke!
- Não é não!
- Eu garanto!
E foi nesse exato momento que tudo ficou escuro. A roda parou em um solavanco.
As pessoas na roda gritavam por socorro. Olhei para baixo e vi muitas luzes vindas de
lanternas apontando para nós.
Meus olhos se acostumaram com o breu e a luz da Lua ajudou, iluminando suavemente
o parque.
- Que tipo de acidente? – Perguntou Lexa, sem deixar o homem terminar de explicar.
- EITA, AINDA BEM QUE EU NÃO FUI AÍ, HEIN? ATÉ A PROXIMA VIDA,
PESSOAL!
- CALA ESSA BOCA, SUA BICHA HISTÉRICA. – Uma voz masculina ecoou.
Até Lexa estava gritando aquilo. Ela devia estar adorando a adrenalina do momento
caótico.
- Bellamy... – Disse-lhe me inclinando, na tentativa de vê-lo. - ... Quem fala o que quer,
escuta o que não quer. – Ri.
Assenti, segurando forte no ferro. Ela não acreditou em mim e tentou me tranquilizar.
As mãos dela foram desprendendo vagarosamente meus dedos da barra. Tensa, a
observei pôr minhas mãos frias entre as suas.
- Não vai acontecer nada. – Sorriu singela. – Não fique olhando pra baixo. Vai ficar
enjoada.
- Er... – Tenho certeza que era para eu falar algo, mas nada me ocorreu.
- Ali! – Apontou pro céu. – Fique olhando pra cima, enquanto dão um jeito de nos tirar
daqui.
Pareceu-me uma boa idéia. Suspirei, fitando o céu parcialmente limpo, as estrelas
pareciam gotas de luzes próximas à imponente Lua. Evitei pensar muito e me concentrei
no brilho que irradiava de vários lugares lá em cima. Senti paz em meio à branda
escuridão. O contorno das nuvens e o vento suave em meu rosto, tudo muito... Lindo.
Por uns dois minutos, ficamos caladas, apenas esperando que nossos corpos
abandonassem a tensão do momento. Funcionou como mágica.
- É legal o que está fazendo pela Ge...Nessie. – A mulher ao meu lado sussurrou.
- Acha que vamos cair daqui ou coisa parecida? – questionei, mudando de assunto.
- Não.
- E se fôssemos? Quero dizer, e se soubesse que nossas vidas acabariam nesse minuto?
– As palavras eram para serem pensamentos silenciosos e íntimos. Por algum motivo,
brotaram como uma pergunta, no mínimo, estranha.
A fitei, notando que também observava o céu. Desejei ter sido capaz de conter as
bobagens que falei.
- É... Difícil saber. Não posso ter certeza do que passaria pela minha mente.
- Humm... Acho que está certa. Uma boa forma de se despedir da vida seria justamente
desfrutando-a até o último segundo.
Ela pareceu concentrado e eu rocei sutilmente minha face em seus cabelos perfumados.
Sorri, na esperança de que ela relaxasse. Deu certo. Ela retribuiu com seu mais
esplendoroso sorriso.
- Deixa eu te ajudar a descobrir o que sentiria. – Minha voz tremeu um pouco, em uma
mistura de timidez e nervosismo.
Permaneceu imóvel, facilitando as coisas para mim. Meus dedos trêmulos tocaram seus
lábios. Os contornei, sentindo a temperatura do meu corpo variar entre o frio e o calor.
Ousei, afagando-lhe a face. Lexa não fechou os olhos, pelo contrário, os manteve
abertos e totalmente concentrados em mim. Incapaz de negar à minha pele um contato
maior, rocei a ponta do meu nariz no seu. Era tão difícil viver sem aquele toque!
Desfrutando de um momento que podia não se repetir, fiz uma linha invisível com o
nariz, do queixo dela até a orelha. Por alguns segundos, fiquei totalmente absorta pelo
cheiro familiar e cativante da mulher que tinha mais de mim do que qualquer outra no
mundo.
Não houve uma guerra interior entre o coração e a razão. Eu estava vazia de sentimentos
controversos, não tinha pensamentos irônicos ou piadas para maquiar minhas neuras.
Éramos só Clarke e Lexa. Mal nos tocávamos e ainda assim, era tão íntimo quanto um
casal fazendo amor.
Não havia como não sentir a intensidade do momento. Impulsionada pelo sentimento
que rompia lentamente dentro de mim, levei minha boca até seu queixo, onde depositei
um singelo e despreocupado beijo. Afastei meu rosto do local e nossas bocas ficaram
alinhadas.
Nem sequer pensei em resistir. A boca dela chamava-me, conhecia-me e, por isso,
passei a ponta da língua no lábio inferior de Lexa, o qual retribuiu a carícia. Também
tive o prazer de sentir o toque macio e úmido da língua dela.
Repeti o ato, só que dessa vez, meu alvo foi o lábio superior. Como da primeira vez, fui
compensada com a mesma carícia deliciosa. O movimento seguinte foi conseqüência da
intimidade quase casta de nosso semi-beijo. Lambi a boca dela e fique feliz quando ela a
abriu, juntando sua língua à minha. Fechei os olhos e não havia pressa na forma como
nossos lábios moviam-se, não existia motivo para desperdiçar a chance de saborear
vagarosa e torturantemente a boca um do outro. Eu era capaz de prolongar aquilo por
horas, quem sabe, dias... Em alguns momentos, respiramos delicadamente apenas pelo
nariz, só para não descolarmos os lábios e não nos privar da umidade, sabor e textura de
um ato, que pareceu implorar para ser consumado.
Senti que a roda gigante voltou a se mover, não fiquei triste com isso. Eu tinha
conseguido, em meio àquele incidente, o que buscava há tempos. Se não estivesse com
a boca ocupada, seria capaz de gritar:
GOOOOOOOOOL!
Nos separamos suavemente, sem nenhum movimento brusco e sem trocar palavras
desnecessárias. Saímos do brinquedo, enquanto as pessoas à nossa volta tagarelavam
coisas que eu não conseguia prestar a mínima atenção, devido o meu estado de
transitório de sonho para realidade.
Loucura? Não! Eu já sofri o bastante nos últimos 10 anos para saber que, se eu não
aproveitasse os pequenos prazeres com medo de enfrentar as conseqüências doamanhã,
certamente já seria meio caminho andado para uma existência medíocre.
Anya trouxe duas canecas de chopp tinindo de geladas e, depois daí, tudo ficou bastante
confuso.
CONFUSO MESMO!
***
A primeira coisa que vi foi o teto do meu novo quarto. Suspirei aliviada, estava em casa.
Isso era bom! Olhei pro lado e arregalei os olhos ao ver Anya deitada ao meu lado. E de
cabelo laranja?
Eles acordaram com meu grito e quando se viram, não deu outra...
- AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!
Ela cambaleou com as mãos na cabeça e, ao abrir os olhos, se deparou com a cena
grotesca na cama.
Cobri o rosto com o edredom e só para garantir, gritei outra vez, na esperança de
acordar. Não adiantou. Botei a cabeça pra fora, quase chorando.
- Você sabe que isso não significa nada. – Anya pareceu mais preocupada com o fato do
pavão estar no recinto do que qualquer outra coisa.
- Está!
- Se não fomos à loja tirar as tatuagens... – Lexa coçou a cabeça. - ... O que fizemos
ontem após o incidente na roda gigante? Não consigo me lembrar! E por que raios estão
com os cabelos coloridos?
- Guaxinim, o seu está verde! Eu gostei! – O viado lhe deu uma piscadela.
Clarle PDV
Revirei os olhos. Por mais que eu quisesse explicações, sabia também que não poderia
perder a aula.
Não havia tempo para mais blá, blá, blá. Eram 8:00h.
O tempo era curto, por isso, fomos voando até UA do jeito que estávamos, ou seja,
roupas amassadas, cara de ressaca e cabelos coloridos. Pilotei minha Ducati e Lexa deu
uma carona à irmã, em sua Suzuki.
Ao entrar na sala, continuei usando a mochila como escudo e me xinguei por não ter
arranjado um chapéu para cobrir as madeixas roxas.
- Uma advertência para a Srta. Griffin pelo atraso. – Informou o professor Tio
Chico,escrevendo algo no quadro.
Olhei à minha volta, procurando Niylah e nem sinal dela. Afinal, onde aquela badgirl
foi parar?
Fingi que estava prestando atenção na aula. Ao invés disso, forcei minha memória a
funcionar.
Às 8:35h, meus olhos pesavam tanto que foi quase impossível mantê-los abertos. Então,
o celular vibrou em cima do caderno.
Para: Draga uÓ
Meus olhos quase saltaram para fora do rosto. Um calafrio anormal percorreu meu
corpo. Pus as mãos na cabeça, não querendo acreditar. Desesperada, enviei uma
mensagem para Lexa.
Para: Guaxinim
De: Clarke
Para: Clarke
Para: Draga uÓ
[HU!...OHOHOHOHOHO! Brincadeirinha!]
- Maldito! – Sibilei. Agora, era obrigada até a ler a risada ridícula da bicha barraqueira.
De: Clarke
30 segundos depois...
Para: Clarke
***
O primeiro horário passou rápido. Talvez, por ter cochilado em alguns momentos. Segui
para a aula de História da Música.
De: Anya
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Como uma louca, corri pelo campus até a biblioteca, cheguei à entrada quase colocando
os bofes para fora. Esperei alguns segundos ou ia ter um pirepáque. E foi aí que vi
Trocamos um breve olhar e depois, invadimos a biblioteca. As poucas pessoas lá, não se
importaram com nossa presença. Fomos direto para a sessão de pesquisas onde ficavam
os computadores. Lexa sentou-se diante do primeiro computador que viu e, como a
máquina já estava ligada, apenas digitou o endereço que a irmã anta dela nos fornecera.
Não demorou para que a página abrisse.
Ao ver o conteúdo do website, meu queixo despencou. Até a Woods ficou surpresa.
Havia uma foto minha, toda descabelada fazendo careta e mostrando o dedo. Logo
abaixo, em letras garrafais, o título: EU ODEIO CLARKE GRIFFIN.
O plano de fundo era preto e os tópicos, vermelhos. Nos cantos da página, anúncios
sobre a candidatura do maldito porco à mascote oficial da UA. Minhas mãos tremeram,
enquanto o ódio ameaça explodir.
Não fui capaz de conter minha expressão de surpresa. Cerrei os lábios e me mantive
calada enquanto ela mexia no site.
Gritei mentalmente.
Havia uma sessão inteira com os vídeos mais toscos que eu podia imaginar. O mais
recente era o mais acessado. O título em si já era suficientemente assustador: OS
MELHORES MOMENTOS: LOIRA X GUAXINIM:
Olhei de um lado para outro e, como não tinha ninguém próximo, sussurrei:
- Aperta o play!
O que veio a seguir foi, no mínimo... Bem... preciso inventar uma palavra nova pra isso.
Uma espécie de videoclipe mal feito foi produzido. Misturavam-se cenas sem nexo de
nós, um tanto embriagadas, com um punk rock como trilha sonora. Quando achei que
não podia piorar, apareceu em letras vermelhas:
XXX
A imagem estava trêmula. Fiquei chocada com o fato de parecer que eu mesma tinha
gravado a atrocidade.
XXX
CENA 03 - DESAFIO
- Sim!
- Ok! – Joguei as mãos pro alto. – Se eu pintar o cabelo, todos vocês pintarão também.
– Pus as mãos na cintura, determinada.
- Quando esse sem pregas vai calar a boca? Ele não tem botão de mute? Ô, cacete! –
Praguejou a tosca-maníaca-assassina-que-não-mata-nem-viado.
- Não vai ter coragem, Clarke! Repito! – A Woods aproximou o rosto ainda mais,
parecendo que ia me beijar.
XXX
- Mãe, olha, palhaços! – Disse uma garotinha, estagnada diante de nós, que já
estávamos de volta à mesa. Anya, obviamente, filmava, pois estava fora de foco.
Pareci ignorar.
Ela encurtou a distância entre nós, jogando-se em cima da mesa e tapando minha boca.
XXX
- Está bêbada, não vai acertar nada! Me dá isso aqui! – Reclamei puxando a carabina
das mãos da Woods. Ela tentava se dar bem na barraquinha de tiro ao alvo.
- Não!
Ele urrou, sendo atingido bem no meio da bunda. A câmera filmou nossa fuga imediata.
XXX
CENA 05 - A FUGA
A imagem tremia e quase nada se podia ver. Apenas borrões escuros e sem formas. Os
grunhidos inteligíveis era o maior indício de que algo errado acontecia. Então, fez-se
um horripilante silêncio, até que o rosto de Anya ficou em foco, sendo a única coisa
visível em meio à escuridão. Isso me fez lembrar uma cena clássica do filme A Bruxa de
Blair.
- Não sei se sobreviveremos à essa noite. – Disse ela com a voz embargada. – Lamento
muito pelas vidas de Lexa, Clarke e...
- ME FILMA! – A face do viado surgiu na tela, mostrando mais de seu nariz do que
gostaríamos de ver.
- Vai dirigir! – Uma mão que possivelmente era a minha, puxou a orelha da bisonha.
XXX
- “Near, far, wherever you are (Perto, longe, onde quer que você esteja) I believe that
the heart does go on (Creio que o coração continua...)”
Podíamos ver claramente Anya dirigindo seu Jipe, cantando aos berros. O pior é que
estava acompanhada por um coro nada afinado feito por mim e LEXAZINHA. Bellamy
é quem devia estar filmando tudo, do banco de passageiro.
- “Once more, you open the door (Uma vez mais, você abre a porta) And you're here
in my heart (E você está aqui, no meu coração) And my heart will go on and on… (E
o meu coração continuará e continuará…)”
XXX
- Porra, sua bisonha! Não dava para ter abastecido antes de irmos ao parque? –
Reclamou minha Woods, aborrecida, caminhando em uma pista escura e carregando,
nas costas, o que parecia ser uma pessoa.
- Estou com medo! Nyninha, me carrega também! – Pediu o viado, mordendo o punho
cerrado.
- O que?
#CENSURADO!#
O aviso piscou por alguns segundos enquanto um close foi feito no rosto da bicha, que
permanecia de olhos arregalados e boquiaberta, ouvindo os prováveis palavrões
incomuns e cabeludos ditos por Anya.
- Apressa o passo! – Lexa pediu a Anya, antes que o pavão iniciasse o barraco. Ouvia-
se claramente a respiração ofegante dos dois. A câmera sacudia para cima e para
baixo, denunciando o desespero da cinegrafista.
O replay da cena dela projetando-se para frente ao tropeçar em uma pedra e nossos
rostos assustados, repetiu três vezes.
XXX
CENA 08 - O ARBUSTO
- Amarrando o sapato! – A voz de Lexa, que vinha do arbusto, pôde ser ouvida, alta e
clara.
- Oh, Lexa... Mais... – Sim, a voz que vinha do arbusto era minha!
- Eita! É agora, é agora que eu me faço! É muita pimbada nessa vida, rapá! –
Sussurrou Anya, se aproximando, apressada, do local de onde vinham os gemidos. –
Senhoras e senhores... – Continuou narrando aos murmúrios. – A natureza é bela, a
gente é que fode ela!
- Desiste, Clarke, ninguém vai parar numa estrada escura para dar carona a quatro
estranhos de cabelos coloridos. – Lexazinha sentou-se no chão, possivelmente exausta
e eu permanecia próxima à estrada, com o polegar erguido.
- Você quem pensa, Guaxinim. Depende muito de quem está pedindo a carona. –
Bellamy ajeitou o cabelo, indo para a pista. Parado no acostamento, abriu os botões da
camisa verde-cheguei, exibindo o peito branco. Depois, colocou uma mão na cintura e
ergueu a outra, fazendo sinal de carona.
O veículo chegou ainda mais perto, a janela do passageiro foi aberta e de lá, jogaram
um resto de sanduíche na cara de Bellamy, gritando:
XXX
- Eu não vou desistir! – Falei muito doida, acenando para um Furgão que se
aproximava.
A imagem no vídeo ficou congelada no rosto esquelético coberto por um capuz preto ao
lado da foice sombria. A bisonha-cinegrafista, certamente tinha virado uma estátua.
XXX
A visão de nós, amontoados com os festeiros fantasiados dentro do Furgão, surgiu meio
borrada. Depois, um novo cinegrafista focalizou um barril de cerveja com Anya ao lado
dele, segurando uma caneca cheia.
Assisti-me nos braços da Woods que, ao invés de ficar chateada por sua roupa estar
encharcada, beijou-me ferozmente. As risadas dos outros no veículo, tornaram a cena
tosca, mas, com certeza, para nós, o momento deve ter sido diferente, pois parecíamos
muito envolvidas.
XXX
- Near, far, wherever you are... – Anya cantou e o ronco veio logo a seguir.
- HU!...HOHOHOHOHOHOH!
FIM
O ROMANCE DO BANHEIRO
Créditos:
Participações especiais:
Mulher do Spray
Patrocínio:
xxx
NÃO ESQUEÇA!
xxx
Ouvimos risadas ecoando na biblioteca. Duas garotas, há uns dez metros de distância,
viam algo no computador. Uma delas olhou para mim e voltou a gargalhar.
Eu estava em estado de choque, minhas reações eram limitadas e sutis. Só que, por
dentro, explodia em raiva e vergonha.
Ao sairmos do prédio, um silêncio desconcertante formou uma barreira entre nós. Se ela
estivesse se sentindo como eu, o que era bem provável, devia estar sem saber o que
dizer sobre o beijo que assistimos, em um estado de quase transe.
- Romance do banheiro!
- VOU MATAR SUA IRMÃ! – Avisei, com a ira atingindo o ponto mais alto.
- ESPERE!
Corri por cerca de cinco minutos com Lexa em meu encalço. Meus olhos se estreitaram
ao ver Anya no campo, acompanhada por suas colegas de time. Ela também me viu e
sorriu, presunçosa.
Ignorei e parti para cima da pior e mais retardada cunhada do mundo, metendo-me no
meio da formação de ataque. O time continuou jogando, enquanto eu caçava minha
vítima.
Não pensava em mais nada, pois sabia que nunca mais ia me livrar das chacotas por
causa daquele vídeo.
Não importava o quanto a otária corresse, eu não iria parar. Vi a bola de rugby passar
por cima da minha cabeça e, em reflexo, a peguei. Por alguma razão, as garotas do time
passaram a correr atrás de mim também, mas não tirei os olhos do alvo. Rosnei para a
futura defunta que se amedrontou. Uma delas jogou-se contra mim e desviei facilmente.
- Vai, Clarke, vai! – Lexa, fora do campo, tentava acompanhar meu ritmo, sinalizando
para que eu continuasse e indicando um local à frente. Não entendi merda nenhuma!
Só queria pôr minhas mãos em Anya, que continuava disparada e ninguém sabia se ela
chorava ou se ria.
No momento em que atravessei uma linha branca, quase no final do campo, todos
gritaram:
- Touchdown!
Não me deixei distrair por aquilo, lembrei da bola em minha mão e lancei com força
contra o indivíduo à minha frente, sem capacete. A bola, milagrosamente, atingiu a
cabeça da bisonhenta, a qual tombou no chão.
Ri exausta. Olhei para trás e todo o time ofegava, mais cansadas do que eu.
- O que foi?
- É melhor irmos lavar os cabelos antes que te convençam a entrar pro time! – Zombou.
Lexa PDV
- Bom dia pra você também, cara! – Ironizou, com o rosto inchado e sonolento.
Olhei pro sofá, pensei em sentar e resolver tudo pacificamente, mas estava tenso demais
para isso. Já meu companheiro de racha, aparentava muita tranquilidade enquanto se
espreguiçava.
As malas no canto da sala me chamaram a atenção. Era muita bagagem pra uma pessoa
só.
- Os caras vieram da Europa para me ajudar na paradinha das motos. – Seu semblante se
encheu de satisfação.
- Prefiro não saber os detalhes do seu vacilo, só quero tirar Niylah do meu pé. – Fechei
os olhos, contendo-me.
Minhas pernas fraquejaram e precisei sentar-me. A ameaça de Carter logo passou pela
minha cabeça. Não estava preocupada comigo, e sim, com o resto da minha família que
nada tinha a ver com aquilo. Pessoas que, talvez, eu não pudesse proteger.
Collins gargalhou alto e aquilo foi a gota d’água pra mim. Levantei-me, querendo socá-
lo.
- Merda! – Chutei a mesinha de centro. – Você não conhece a Niylah, ela não vai deixar
barato, vai infernizar nossas vidas... Ou melhor, é capaz de acabar com elas!
- Quando te conheci, tu era ousada. O que é agora? Uma frangote covarde? – Finn
irritou-se.
O encarei com meu olho esquerdo tremendo, tamanha era minha raiva. Então, percebi o
que meu ex-amigo estava querendo fazer.
- Da Itália. Está se vingando de mim por causa da Clarke! Por causa da competição
idiota que acha que disputamos!
- Fala sério! Isso não tem nada a ver. Já que vou ficar por aqui, estou conquistando meu
território. Além disso, essa cidadezinha merecia um pouco de agitação.
Não acreditei. Voei pra cima dele, o empurrando com força. Finn cambaleou, mas não
perdeu o controle como eu.
- Não estou a fim de sair no braço essa hora da manhã. – Bocejou. – Nem tomei café
ainda.
- Droga, Finn. Eu confiei em você e me traiu, veio da Itália só pra me ferrar! Esqueça a
Clarke.
- Não? Então me fala, qual a sua? Por que está sendo tão filho-da-mãe comigo? –
Zombei, expressando a raiva que fervilhava em mim.
- Por que se dar ao trabalho de peitar a Niylah? Logo você vai embora, essa cidade não
é pra você. Nem gosta de cidades pequenas! – Enxuguei o suor da testa. – Nossa
parceria está desfeita, vamos pegar as motos de volta e poderá ir embora. – Informei
com convicção.
- Mesmo que não seja mais minha parceira, ficarei. – Declarou determinado.
Estreitei os olhos, sem conseguir deixar de pensar que ele estava se vingando. Me senti
traída, pois sempre confiei muito nele, afinal, Finn era meu melhor amigo. Crescemos
juntos.
Encaramos-nos a ponto de explodirmos em uma briga que, com certeza, deixaria muitas
cicatrizes exteriores e interiores. Minhas mãos tremeram quando lhe disse:
Eu não conseguia imaginar o que prenderia um nômade como ele em Arkadia, que não
fosse uma conquista. E quando falo em conquista, não me refiro à rachas, pois Collins
já tinha vencido muitos e, competir contra Niylah, era simplório demais. Óbvio que eu
só podia pensar em algo que nem eu, nem ele tínhamos: Clarke.
- Não vou mais competir com você. – Falei, cerrando o punho. – Muito menos por causa
de mulher.
- O que quer?
- A do seu irmão.
Octávia? A revelação me deixou tão confusa que quase toda a minha raiva se dissipou,
enquanto o fitava perplexa.
- Diz para mim que você está brincando! – Pedi, não conseguindo raciocinar direito.
- Eu sei que parece loucura e errado, mas... Não posso evitar, cara, estou apaixonado por
Octávia.
- Por que não? Olha, não sou bom com essas coisas... E por isso, não sei como explicar.
Só sei que a baixinha está em cada pensamento meu, ela mexe tanto comigo que,
quando não está por perto, me sinto sufocado. Não planejei nada disso, nos
aproximamos devagar, almoçávamos juntos todos os dias. Passávamos horas
conversando e rindo... – Finn esfregou o rosto. - ... Ela me faz sentir tão bem.
- Eu sei! Eu sei! – O vi lutar para achar palavras e não conseguia me lembrar quando foi
a última vez que o vi daquele jeito. – Não vou magoá-la, posso ser bom para ela.
- Esqueça a garota, ela é comprometida, sabe disso. Além do mais, ela não está
interessada em você.
- É aí que você se engana! – Ergueu a cabeça. Enruguei o cenho, outra vez, aturdida.
- Não! – Respondeu de imediato. – Não temos nada ainda... Só amizade, mas não sou
idiota, Lexa. Sei que ela também está balançada por mim. Consciente ou
- Quando impediu que Clarke fosse para Paris comigo, não pensou no sofrimento dos
envolvidos. Apenas agiu porque precisava dela... – Finn pôs uma mão no meu ombro. -
... Octávia me contou e agora, eu a entendo. Por favor, não seja hipócrita me dizendo
para desistir de quem amo.
- Viu como é injusto? Ele provavelmente nem sabe se gosta de verdade dela, pois nunca
esteve com outras para comparar. Já eu... Estou há muito tempo nessa vida errante, à
espera de alguém que...
- Chega! – Me afastei, lutando para não me identificar com Finn, pois ficaria do lado de
Lincoln. Já estava decidido, embora soubesse que as palavras do meu amigo eram
sinceras e as compreendia melhor que qualquer um. – Não quero mais falar disso.
Sentei-me, sendo confrontada por um dilema. Deveria eu contar tudo aquilo ao meu
irmão? Preveni-lo? Tomar-lhe as dores? Apoiar Finn, que sempre fora incompleto como
eu? Ou... Não me meter? Droga! Era melhor eu ficar de fora. O pensamento de quase
alívio foi bombardeado por uma imagem mental de meu irmão mais novo, me acusando
de trair-lhe por não lhe alertar.
- Escuta... – Ele sentou-se ao meu lado. – Vou resolver o assunto das motos. Nem você
ou sua família serão prejudicados... Assim como eu não quero que a minha seja.
Deu-me um tapa nas costas e sabia que ele estava me dizendo que eu era parte de sua
família. Era uma pena Collins só ter a mim, o pai, que mal mantinha contato e os
motoqueiros que trabalhavam para ele. Isso me fez sentir mal por ter escolhido Lincoln,
mas não fui capaz de voltar atrás em minha decisão.
- A minha galera está na cidade. Niylah e sua corja de filhinhos de papai não são páreos
para nós! – Riu.
O encarei, reprovando. Claro que eu não ia ficar de fora. Meu amigo era impulsivo e
arrogante demais, claramente subestimava Carter.
Clarke PDV
- QUEM VAI LIMPAR ISSO? – Gritou o suposto maconheiro, enquanto apontava para
as paredes de seu apartamento, as quais estavam cheias de marcas de patas de porco nas
mais diversas cores, misturadas com as marcas das pequenas palmas infantis.
Ergui uma sobrancelha, encarando-a como quem pergunta: Nós quem, cara pálida?
- O Toicinho não teve culpa. – A idiota da Anya abraçou seu porco fantasiado de
skatista, com um gorro verde e camiseta detonada. Para mim, parecia mais um
trombadinha.
- Dessa quem, lombrigão? – Nessie peitou o maluco. – E você, seu burro... – Olhou para
a maníaca assassina. - ... É lógico que o Toicinho estava no comando da parada! Quem
você acha que deixou aquelas marcas revolucionárias?
- Revolu... O que? – Anya grunhiu sem entender. – Pode ter sido qualquer porco. –
Quase choramingando.
- E por que ele está com as patas sujas de tinta? – Lincoln questionou por entre os
dentes, alterado.
- Bem... É a moda das ruas. Ele gosta de inovar! – A bisonha sorriu, achando-se esperta.
O maníaco por limpeza rosnou, quase voando no pescoço da irmã.
No momento em que Lexa chegou em casa, seus irmãos e Nessie tagarelaram juntos,
queixando-se à ela, em uma mistura de vozes que nem mesmo eu fui capaz de entender.
A Woods olhou para as paredes e passou por eles, indo direto para seu quarto. Então,
bateu a porta, trancando-se lá e deixando todos nós confusos.
Não era típico de Lexa ignorar as pessoas ou os problemas. Algo estava muito errado
com ela.
- Vou à biblioteca da UA. Quando voltar, é bom esse... – O maníaco por limpeza trincou
os dentes. - ... Ai... É bom o apartamento está desinfetado!
Ok, Clarke, não é difícil. Você precisa de apenas três palavras: está – tudo – bem?
Respirei fundo e fui até o quarto. Hesitei diante da porta. Fiz um grande esforço para
destravar a voz na garganta.
- Está tudo bem? – Pronunciei alto. Não houve resposta. Repeti a pergunta por mais
duas vezes e nada.
- Lexa, ok. Acabou a brincadeira. Abre essa porta! – Disse-lhe, alterada. – Se não abrir,
vou arrombar, hein? – Esperei alguns segundos em vão e ela parecia nem estar lá
dentro. – VOCÊ QUEM PEDIU! – comuniquei, afastando-me para ter o impulso
suficiente.
Analisei o obstáculo e vi que eu ia literalmente quebrar a cara, mas podia ser que, com o
estrondo, a Woods se assustasse e abrisse a maldita porta.
CORAGEM! CORAGEM!
- Pronta ou não, lá vou eu! – E fui mesmo. Corri sabendo que ia ser doloroso.
Neste exato momento, Lexa abriu a porta, mas fui incapaz de parar. Pude ver a
expressão surpresa dela antes do choque de nossos corpos que, inevitavelmente, foram
ao chão.
Ela ficou com a pior parte, já que seu corpo amorteceu minha queda.
- Você abriu! – Exclamei feliz, mas com uma tremenda dor no tórax.
A vi abrir a boca para responder, no entanto, de lá, apenas saiu um gemido rouco e
doloroso.
- Opa... – Sorri sem jeito, saindo de cima dela. – Que fiquei bem claro que avisei.
Estendi-lhe a mão e fui rejeitada, pois ela levantou-se rudemente. Lexa estava com cara
de poucos amigos, era melhor guardar as piadinhas para mim mesma.
Ela voltou a deitar-se na cama como se eu não estivesse ali, ou fosse um objeto a mais
na decoração. Fitei timidamente a saída, na dúvida se deveria permanecer ali.
Não podia fugir da situação só porque ela estava me ignorando. Só sairia daquele
apartamento, depois de saber o que causara a estranha mudança em seu humor. De
Droga, eu não era boa com diálogos e sutileza, com certeza, não era uma de minhas
qualidades, mas precisava tentar.
- Está tudo bem? – Sussurrei, brincando com o anel em meu dedo. Depois, impaciente,
vociferei. – Caramba, desembucha logo, LEXAZINHA! Não tenho a noite toda!
A princípio, senti raiva, depois, confusão e, por fim, uma súbita paciência,
possibilitando-me permanecer ali. Senti que a estava abordando de forma errada, então,
silenciei-me enquanto articulava um jeito de convencê-la a se abrir comigo.
Definitivamente, conversas complexas não eram o meu forte.
Olhei para a mulher jogada na cama e desisti de tentar entender o que se passava.
Levantei e atravessei a porta, disposta a esquecer as questões que martelavam em minha
cabeça.
Covarde!
Até quando eu fugiria? Eu não sabia conversar ou confrontar problemas sem uma ação
explosiva, mas talvez estivesse chegando a hora de aprender.
Minhas palavras chamaram a atenção dela, que ergueu a cabeça. Percebi um certo
choque atravessar seu olhar. Nesse momento, ela devia estar se perguntando por que eu
estava sendo tão cortês.
- Não! – Murmurou.
- Estou cansada... – Fez uma longa pausa e esperei. - ... Cansada de me preocupar tanto.
Existem tantas coisas que quero resolver, tantas pessoas que preciso ajudar. Por vezes,
sinto que não consigo ajudar nem a mim mesma. Fico tentando organizar minha vida e
meus afazeres em pequenos arquivos mentais, só que na maior parte do tempo, tudo está
fora de controle. – Passou as mãos pelo cabelo e notei que elas tremiam levemente. –
Existem bombas que estão prestes a explodir diante de mim e não posso evitar. Queria,
mas não posso... – Fitou-me receosa e algo dentro de mim alertou que não se referia só
ao roubo das motos. Era algo sobre mim, eu tinha certeza! O telefonema misterioso que
atendeu no banheiro um dia atrás tinha a ver com isso? Lexa desviou o olhar ao notar
que percebi mais em sua declaração do que ela desejava.
- E... – Toquei-lhe a mão esquerda. - ... Isso nos afetará muito? – Me referi à família,
porém, Lexa pareceu entender diferente.
- Algumas coisas não... Eeu acho... Mas não deixo de ter certas responsabilidades com
isso. Outras... Afetarão muito!
Perdi a voz por alguns segundos. Nem adiantava insistir, sabia que ela não me daria os
detalhes. Talvez conseguisse descobrir sozinha.
A mão esquerda dela voltou a tremer e isso me fez perder a linha de raciocínio. O
estresse e preocupações prejudicavam a saúde dela, confesso que me apavorei.
A observei cabisbaixa e exausta. E foi nesse momento que senti um impulso quase
incontrolável de confortá-la. Meus dedos quase tocaram sua bochecha, mas os recolhi
covardemente.
Me coloquei de pé e falei:
- Precisa relaxar, ter uma noite normal, esquecer um pouco os problemas! Anda, vai
tomar um banho quente... – Apontei para o banheiro, autoritária.
- Eu não...
- Vai cozinhar?
Lexa PDV
O banho demorado realmente ajudou, mas, minha cabeça ainda parecia que ia explodir a
qualquer momento. Passei a tarde tentando contatar Niylah e não a encontrei, nem
mesmo Costia. Isso me deixou apreensiva. Tomei uma aspirina e fui atrás da pirralha no
apartamento das garotas.
- O que é isso? – Apontei em direção à mesa cuidadosamente posta para duas pessoas.
Não queria comer. Mesmo assim, o fiz e só aí percebi o quão faminta estava.
Clarke PDV
Fiquei muito satisfeita em vê-la comer. Distraí-me de tal maneira que mal toquei no
meu pedaço.
Quase suspirei.
- É melhor gostar mesmo, porque gastei meus últimos 20 dólares! – Dei-lhe uma
piscadela.
- Não faça isso! É importante para mim! – Pedi com tamanha seriedade que ela foi
obrigada a assentir.
- Não! – Torci a boca, tristemente. - Tem um lance aí de tocar guitarra na noite, mas...
- Mas?
- Por que?
- Está enganada!
- Naquele bar onde teve a calourada. – Mal sabia ela que eu tinha planejado ir lá aquela
noite. Estaria perdendo a minha chance? Afastei o pensamento.
Certamente, há essa altura, a vaga já devia ter sido preenchida. Procurei não demonstrar
minha preocupação.
- Poxa, Clarke, se você se esforçar, eu sei que consegue tocar qualquer coisa.
- Esqueça, ok?! Não vamos falar de problemas essa noite. – Tentei mudar de assunto.
Após o jantar, fomos ao terraço. Meu local favorito no prédio. Estava um pouco frio.
Caminhamos lentamente pelo terraço, observando a paisagem. O vento soprou fazendo
meus cabelos chicotearem em minha face, cegando-me. Tentei tirar as mechas do rosto
e a Woods me ajudou. Paramos no meio do terraço. Lexa, por algum motivo, manteve
as mãos em meu rosto, aquecendo-me as têmporas.
- Você sabe do que estou falando. Sei que é difícil para você er... Ser paciente e
compreensiva.
- Não, nem um pouco! – Brinquei. Hesitei por um momento antes de dizer: - Não pode
carregar o mundo nas costas, nem tudo pode resolver sozinho.
Uma gota de chuva tocou meu rosto, avisando que torrentes cairiam em breve.
Lexa enxugou minha bochecha com o dedão.
- Eu... Não... É que... – Não consegui formular a frase. - ... Eu quero... – Lutei, liberando
a declaração sincera. – Conta comigo! – me contraí e continuei. – Sei que sou uma
pessoa difícil, mas estou aqui! Posso te ajudar... Se quiser.
Sua expressão obscura e penosa foi tornando-se brilhante, conforme seu sorriso emergia
de seus traços perfeitos. Havia ali, um triunfo secreto que consolou meu coração aflito.
Sorri por vê-la feliz.
- É que... – Baixei a cabeça. – De uns tempos para cá, notei que a vida não é exatamente
como eu imaginava. Alguma coisa mudou aqui dentro. – Coloquei uma mão sobre meu
peito. – Às vezes... – Minha voz tremeu. - ... Tenho medo de não conseguir acompanhar
as mudanças.
Suspiramos em sincronia.
- Conseguirei! – Assenti.
Sutis gotas de chuva tocaram a face da mulher que virou meu mundo de cabeça para
baixo. Ela não se moveu, limitando-se a me observar. Como estava frio demais para
permanecer longe de seus braços, dei um passo à frente, colocando por terra a última
barreira que nos separava no momento. Lexa me acolheu gentilmente, por isso, afundei
o rosto em seu pescoço, o qual exalava uma fragrância maravilhosa.
PAZ
Era isso que eu sentia. Pela forma como o corpo da Woods relaxava contra o meu, notei
que ela sentia o mesmo. Fechei os olhos, abandonando o mundo exterior ao me
embriagar com a sensação cálida e viciante de um sentimento complexo demais para um
ser racional entender completamente.
- Clarke, já te beijei várias vezes... – Surgia ali uma ameaça à minha paz? - ... Mas em
nenhuma delas, te pedi permissão. Faço isso agora. – Suspirou nervosa. – Posso beijá-
la?
- Sempre pôde.
Seus lábios quentes encaixaram-se nos meus, liberando as emoções. Colei meu corpo ao
dela o máximo que podia, a envolvendo em meus braços desejosos. Enfim, um ato
consciente e com consentimento mútuo. Um progresso em meio ao caos de nossas
vidas.
O sabor delicioso da boca dela era minha perdição e minha salvação. As mãos que
pressionavam-me contra ela eram a prisão na qual eu nunca imaginei desejar ficar para
sempre. Arrepios. Os mesmos arrepios que eu sentia desde nosso primeiro beijo se
fizeram presentes. Uma prova tangível de que minha pele sempre a reconheceria como
o ser de meus desejos mais profundos.
Não sentia mais frio. O calor produzido por nossos corpos, envoltos na paixão, foi
suficiente para aquecer cada minúscula parte de mim. Isso só tornou mais impossível o
fim do beijo.
Ela me agarrou com vivacidade, distribuindo beijos entre minha boca e meu pescoço. O
frio em si ou a quase inexistente garoa não foram empecilhos, pois chamuscávamos.
Lexa PDV
Tomei Clarke em meus braços e ceminhei para dentro do quarto onde depositei-a na
cama e por alguns momentos ficamos nos olhando, o azul no verde. Muitas palavras e
sentimentos foram ditos através daquele olhar tão intenso.
Me coloquei em cima dela e tomei seus lábios com os meus. Beijei-a tão intensamente
que tivemos que buscar ar. Suas mãos passeavam pelas minhas costas enquanto as
minhas iam de sua cintura até a nuca. Puxei Clarke para que ficasse sentada comigo em
seu colo, logo em seguida retirei sua blusa e aproveitei e tirei a minha também, iniciei
outro beijo avassalador.
As mãos delas que estavam em meus cabelos desceram para desabotoar o meu sutiã e eu
copiei o seu gesto retirando o dela liberando seu seios fartos. Não perdi tempo e levei
minha boca até eles degustando dos seus mamilos. Clarke puxou meus cabelos enquanto
eu chupava e dava leves mordidas em seu mamilo e acariciava com a mão o outro. Ela
soltava gemido e clamava meu nome a cada sucção que eu fazia. Quando estava
satisfeita dele passei para o outro deixando-os sensíveis e avermelhados.
Deitei a Clarke novamente sobe mim e retirei o short e a roupa íntima que ela estava
usando. Me levantei e retirei as minhas também, tudo sob o seu olhar cheio de desejos.
Voltei a me posicionar em cima dela e capiturar seus lábios contra os meus. Nossas
línguas travam uma dança de dominação nas nossas bocas enquanto eu sentia seu centro
pulsante sob mim todo encharcado quando eu movia meu quadril sobre ela. Cada vez
que eu fazia um movimento e tocava meu sexo no seu ela gemia com sua voz rouca e
cravava suas unhas nas minhas costas. Apesar de sintir dor eu gostava era prazaroso e
indicava que ela estava sentindo prazer que eu lhe dava.
Minha mão percorreu todo o seu corpo até chegar na sua coxa, na qual dei um forte
aperto que a fez gemer entre meus lábios. Lentamente fui deslizando minha mão pela
parte interna até chegar onde ela desejava. Já estava bem encharcado, do jeito que eu
queria. Com um dedo comecei a fazer movimentos descompassados em seu clitóris e
por toda sua extensão. Clarke começou a fazer movimentos com seu quadril buscando
mais contato com minha mão. Desci meus lábios pelo seu maxilar até chegar no seu
pescoço e lá passei a ponta da minha língua no seu ponto de pulso e deu uma leve
morda lá. Ela gemia coisas inelegíveis no meu ouvido enquanto eu a mastubava
lentamente.
E, então, sem aviso penetrei dois dedos na sua entrada e comecei fazer movimentos de
vai e vem numa velocidade lenta a fazendo arquear as costas e mover o quadril mais
rápido implorando mais contato.
Não perdi tempo e aumentei a velocidade das estocadas enquanto descia meus lábios
que ansiavam prová-la. E com a boca em seu sexo e os dedos entrando e saindo me
preocupei em dá-la o máximo de prazer que eu pudesse. Lambia e chupava seu clitóris
inchado e sensível equanto dava estocadas mais fortes e rápidas com os dedos. Eu só
conseguia distinguir o meu nome no meio dos seus gemidos que ficavam cada vez mais
altos e ferozes.
Em um momento ela retirou uma das mãos que estavam em meus cabelos para acariciar
seu seio. Já começava a sentir as paredes de seu sexo se contraírem indicando o
orgasmo vindo, então tratei de providenciar isso ao meu frango.
Depois de mais algumas estocadas e chupadas que eu lhe dava, senti seu corpo todo
estremecer e seu gozo deslizar pelos meus dedos que eu tratei de chupar cada gota que
vinha. Fui diminuindo os movimentos até que seu corpo relaxasse sob mim me fazendo
retirar os dedos de dentro dela e chpando os resquícios do líquido que ainda escorria.
- Também te quero! – Confessei voltando os meus lábios nos seus a fazendo sentir o seu
gosto.
***
Clarke PDV
Era possível que eu estivesse sonhando. No entanto, ali estava ela, agarradinha a mim
na cama, com minhas estrelas falsas e lindas como testemunha. No calor dos cobertores,
permanecemos em silêncio, não ousando macular a paz e perfeição do momento. Os
dedos dela desenhavam linhas invisíveis em minhas costas desnudas e eu mantive a
cabeça repousada em seu peito quente e confortável.
- CLARKE, ABRA! – Reconheci a voz de Raven. – LEXA ESTÁ AÍ? ABRA, É UMA
EMERGÊNCIA!
Clarke PDV
Quando chegamos ao pequeno hospital local, Lincoln já havia sido internado. Ficamos à
espera de notícias por cerca de uma hora. O clima tenso me manteve alerta na sala de
espera. Tentei focar minha atenção na chuva densa que batia contra as janelas de vidro
próximo à minha cabeça, mas infelizmente o choro baixo de Octávia agarrada a
Bellamy fez-me ficar encolhida sem conseguir tirar meus olhos dela ou de Lexa, que
permaneceu quieta, cabisbaixa e extremamente pensativa. Ao lado dela, Anya sentava e
levantava a cada dois minutos. Já Rae ficou encarregada de cuidar de Nessie no
apartamento.
Foi então que o som de passos em meio ao mórbido silêncio hospitalar chamou nossa
atenção. Um homem de jaleco se aproximou de olho na prancheta em sua mão.
- Como ele está? – Minha prima tomou a frente segurando o braço do médico.
- Sou o Dr. Blauner. O paciente passa bem, teve fraturados o braço esquerdo e duas
costelas. As outras escoriações são leves. Segundo o relato do próprio Sr. Lincoln, ele
foi espancado por alguns vândalos. Não se preocupem, nós o tratamos e medicamos.
Quando o dia amanhecer poderão vê-lo.
Embora as notícias fossem um tanto tranquilizadoras, notei que Lexa não relaxara. O
Dr. respondeu mais algumas perguntas de Octávia e se retirou.
A Woods insistiu para que fôssemos embora, só que nenhum de nós estava disposto a
sair do hospital. Ela e Anya discutiram em voz baixa se deveriam ou não avisar Abby
sobre o incidente. Depois de um tempo, Lexa se opôs severamente à ideia. Me perguntei
por que ela privaria a própria mãe de um fato tão importante e não encontrei uma
resposta satisfatória. Fiquei ainda mais intrigada.
Desde que encontrei meu pai em N.Y evitei contato com Polis. Não queria saber
detalhes de sua reconciliação com a futura esposa. Só porque decidi não interferir mais
em sua vida amorosa não significava que desejava assistir de camarote a vitória de
Abby. Ainda era difícil e doloroso aceitá-la como um membro de minha família, no
entanto, algo estava afetando Lexa e talvez ela pudesse me ajudar a solucionar a
questão. Seria esse o momento certo de ligar para Polis?
Finn não se moveu mesmo sendo sufocado pelas mãos trêmulas e fortes da sua
agressora. Os olhares trocados eram de acusação e defesa. Collins, compassivo, esperou
como se não acreditasse que a amiga fosse muito além daquilo. Assim como os demais,
assisti a cena sem entender completamente o que estava se passando ali.
Lexa continuou sufocando Finn por mais alguns segundos, até que este pôs uma mão
em seu ombro. Para o alívio de todos, ela recuperou a razão, se afastando.
Ao ouvir a declaração, a ficha caiu. Lexa estava culpando Collins pelo incidente com o
irmão. Supus que só havia um motivo para Finn querer machucar Lincoln: Octávia!
Lembrei-me da recente e estranha amizade dela com o homem por quem um dia achei
que estava apaixonada. Talvez não fosse só eu quem estivesse chegando àquela
conclusão naquele momento, pois todos permaneceram calados com um misto de
confusão e perplexidade.
- Não fui eu! – Ele repetiu com mais convicção em sua voz, encarando a Fofolete.
Minha prima se sentou escondendo o rosto entre as mãos. Fitei ela, Finn e, por fim,
Lexa. Então, disse-lhes:
- Niylah?
- Não consegui recuperá-las. – Ele suspirou em desgosto. – O cara pra que vendi passou
elas pra frente.
- Não te interessa!
A encarei determinada e disposta a ignorar a cortina de água que se punha entre nós.
- Não faça isso! – Pedi, sabendo que ela iria atrás de Niylah e as consequências
poderiam ser desastrosas.
Lexa PDV
- Clarke, por favor, sai da minha frente. Não quero brigar agora!
O peso da culpa me esmagava, não havia defesa contra aquilo. Uma mistura de ira e
remorso fazia a adrenalina queimar em mim. Eu queria Niylah Carter!
A maldita covarde certamente tinha despejado sua fúria em Lincoln, que nada tinha a
ver com a situação criada por Collins e eu. A princípio tive vontade de matar Finn, mas
isso não aplacaria minha dor. Machucou-me questionar se meu amigo teria sido capaz
de um ato tão inescrupuloso. Tomado pela incerteza e revolta, quase o estrangulei.
Quando a razão circulou por meu cérebro, dei-me conta de que Finn tinha muitos
defeitos e era com certeza um idiota, porém ele nunca fora um covarde. Ainda assim,
isso não anulava sua parcela de culpa naquela droga de confusão. Cuidaria do cara
depois. No momento, só conseguia visualizar meu mano mais novo sendo espancado
pela gangue de Niylah, levando os socos e chutes destinados a mim e que, infelizmente,
foram voltados para ele. Como? Como poderia voltar a encarar Linc? O tormento é que
me impelia a desejar ter Niylah em minhas mãos, acertar as contas do jeito dela, com
muito sangue e violência.
- Lexa! – Griffin me chamou em voz alta em uma tentativa inútil de me fazer parar de
pensar em Carter. – Eu sei que está aborrecida, mas vamos pensar em uma solução
juntas!
- Você não entende! – Disse-lhe por entre os dentes enquanto rajadas de vento
chocavam-se contra nós.
Precisei me concentrar em Niylah para não cometer a injustiça de explodir com Clarke.
Com o braço esquerdo, empurrei Griffin para o lado, ela não se deu por vencida e
puxou-me de volta, me fazendo cambalear para trás.
- Mesmo? Você tem provas para sustentar a acusação contra Niylah? Porque se eu bem
conheço a cretina, Lincoln não deve ter visto nada além de homens encapuzados!
Clarke calou-se diante dos fatos que lhe expus. Dei-lhe as costa caminhando até a moto
lentamente, preparando-me para o que estava por vir. Meu celular tocou e fui obrigada a
pegá-lo no bolso achando que era minha mãe. Quando vi o nome Costia, no visor, parei
e atendi imediatamente.
- Olá, querida. Soube o que aconteceu com seu irmão. Sinto muito!
- Sente mesmo? – Ironizei. – Será que você não sabia o que ia acontecer?
- Lógico que não! Querida, eu estava fora da cidade com os outros, chegamos esta
noite!
Sabia que onde Niylah estivesse Costia também estaria e no momento essa era a única
informação que eu precisava.
Vire-me e dei de cara com ele, Clarke e Anya, que segurava o braço de Bellamy, o
impedindo de fugir. Respirei fundo enquanto a chuva caia ainda mais forte sobre nós.
- Se for sozinha, será suicídio! Todos juntos será uma briga justa! – A bisonha sorriu
animada e Griffin assentiu, concordando.
- Que seja! – Falou Collins, demonstrando sua estranha e questionável fidelidade a nós.
- Êpa! – A maníaca assassina correu uns dois metros atrás dele. – Hora de virar homem,
sem pregas!
- BEM DOIDO! – Se encolheu, sendo puxado pela parte de trás do colarinho. Seus pés
quase saíram do chão enquanto a bisonhenta o rebocava de volta. – Não quero brigar!
Sou muito delicada!
Prendi o riso e dei um tapa nas costas da Woods, mostrando que eu não ficaria de fora.
Ela me lançou um olhar de reprovação.
- Tente me tirar dessa e vai saber o que é uma verdadeira surra! – Falei usando meu
jeitinho grosso de resolver as coisas.
- Essa richa acabará hoje! Não voltaremos a fazer isso! – Fez uma pausa. – Por Lincoln!
Observei todos e percebi um entusiasmo contido, mas que transbordava em seus olhos.
Fomos para nossos respectivos veículos. Dei uma carona a Bellamy, que não parou de
murmurar coisas pessimistas. Isso não influenciou o ânimo dos outros. Lexa, tendo
Anya como passageira, partiu à frente em sua Suzuki, Finn e eu a seguimos. Fora do
estacionamento, posicionei-me do lado direito de LEXAZINHA e Collins do lado
esquerdo.
Minha Ducati atingiu os 140km/h ao dobrarmos a esquina. Esta nos levou a avenida
principal, onde estava localizado o Bar Hippy Shake. O que não esperávamos era a
muralha de motos em frente ao bar, criando uma barreira no meio da pista. Niylah e sua
corja já nos esperavam, ignorando a chuva.
Maldita Costia!
Descemos das motos ao mesmo tempo. Nós nos distanciamos delas só um pouco, nos
alinhando um ao lado do outro.
- Procurando por mim? – Gritou Niylah, descendo de sua moto e se pondo à frente dela,
acompanhada por seus motoqueiros.
- Vejo que recuperaram seus veículos! – Lexa se pronunciou alta o suficiente para que
ouvissem.
- Fui eu quem roubou as motos... – Finn deu um passo à frente. – Por que não vieram
acertar comigo? – Provocou abrindo os braços.
Ouvimos murmúrios ininteligíveis vindo dos motoqueiros. Costia, que estava do lado
direito da badgirl, cochichou algo em seu ouvido e em seguida caminhou sozinha em
nossa direção parando no meio do caminho. Lexa moveu-se para ir até ela e eu a impedi
pondo um braço à sua frente. Ela me olhou confuso e por isso falei:
- Deixa comigo!
Alguns metros atrás de mim, os garotos esperaram atentos e alguns metros à frente os
motoqueiros sorriram, prepotentes.
- Querida... – A nojentinha insistiu falando por cima do meu ombro. - ... Não somos
seus inimigos, basta nos dar a grana que receberam pela venda das motos e fica tudo
bem!
- Viu só? Paz e amor mundiças! – Bellamy tentou se safar. – Vamos dar as mãos e
cantar: We are the world, we are the children... – Me diz se isso é hora do maldito viado
cantar? - ... We are the ones who make a brighter day… (Nós somos o mundo, nós
somos as crianças...Nós somos os únicos que fazem o dia brilhante...)
- Foi um infeliz incidente, querida... – Sério, se ela a chamar de querida novamente, vai
engolir os próprios dentes! – Venha aqui vamos conversar!
- Ô criatura, não tem papinho que resolva isso! Acha que eu não conheço esse teu
tipinho de biscalinha duas caras? – Insultei irritada. – Fica fazendo joguinho aqui e lá?!
Você poderia ter salvado a pele do Lincoln se quisesse! Agora vem aqui fazer papel de
amiguinha de todo mundo? Vai tomar no...
- Lexa, me recuso a falar com essa pessoinha desclassificada aqui. Por favor, venha! –
Pediu me interrompendo.
- Ela quer saber quem eu sou... – Destilei sarcasmos. - ... Isso tem que começar de
alguma forma, certo? Então me deixem fazer as honras!
Virei-me para Costia já com o punho cerrado e lhe dei um merecido soco no rosto. Ri
quando ela caiu sentada.
- É agora! – Sussurrei.
E era mesmo!
A Guaxinim e a badgirl rolaram na pista. Não tive certeza de quem estava apanhando ou
batendo ali, até que vi Lexa usar o cotovelo para atingir a face de Niylah. Meus olhos
correram para Finn que caíra sentado em uma luta injusta com dois caras. Respirei
fundo e fui ajudá-lo.
Corri pegando impulso para saltar nas costas do grandalhão com cabelo moicano. O
envolvi com minhas pernas e tentei sufocá-lo com os braços. Infelizmente, senti alguém
me puxando pelo cabelo. Com dor soltei o cara e cai de costas no chão. Despreparada,
fiquei sem ação ao ser chutada na barriga por Costia. Encolhi-me, sentido os músculos
abdominais se contraírem, sem ar. Tentei me levantar e fui novamente chutada. No
terceiro golpe, desabei totalmente, achando que vomitaria.
- Isso é para aprender a não se meter comigo, sua vadia! Não sabe com quem está
lidando!
Bellamy PDV
- ÊPA! BEM DOIDA! – Exclamei ao ver a chapeuzinho masoquista ser chutada feito
latinha velha por uma draga uÓ.
Vocês sabem que eu sou uma pessoa culta, de boa índole e que não gosta nadinha de
barraco, mas aquela cena eu não podia aturar. Não! Não! Não!
Corri feito bicha pobre em liquidação de shopping. Cheguei foi na voadora! A draga
caiu no ato... E eu? Também!
- Morri! – Gemi com as costas doloridas. Mal vi quando a bonequinha caiu em cima de
mim, provavelmente atingido por algum malfeitor. - Ao menos fui pro céu! HU!...
OHOHOHOHOH – A abracei com força.
Engatinhei, quase me afogando nas poças. Clarke ficou de pé com as mãos na barriga.
- Ei! – Gritei. – É melhor saber fazer mais que aquilo! – Abri os braços.
Esperei que se levantasse, então, corri até ela. Tentei lhe dar um murro, mas a vaca
segurou meu pulso com as duas mãos. Sorri ao agarrar seu cabelo, Costia gritou,
inclinando-se para trás tamanha a força que usei. Pisei em seu pé direito e ela largou
minha mão, a qual foi direto pro seu rosto.
Lexa PDV
Niylah tentou se erguer e a impedi, segurando-a pela perna. Tombou de bruços no chão.
Enxuguei rapidamente o sangue que escorria da minha boca. Coloquei um joelho nas
costas dela e sem piedade agarrei sua cabeça com as duas mãos disposta a enfiar o rosto
dela no asfalto, mas, para meu ódio, puxaram-me para trás. Eu estava praticamente
cega, só via Carter à minha frente. A cólera me impedia de assimilar o que acontecia ao
meu redor.
Um dos homens de Niylah prendeu meu braço em minhas costas. A dor me deixou
quase sem defesa. Curvei-me, sem conseguir me desvencilhar.
Carter aproveitou a desvantagem e atingiu meu maxilar. Prendi o gemido. Por sorte,
Finn apareceu e chutou a parte de trás das pernas dela. A idiota caiu de joelhos
imediatamente. Respirei fundo, cerrei o punho e apliquei um gancho no sujeito que
tentava me imobilizar. Livre, procurei me recuperar.
Há um metro e meio de distância, Collins e Carter brigavam. Ela não viu que eu me
aproximava por trás e puxou um canivete no bolso. No momento em que se preparou
para usá-lo contra meu amigo, me apressei e chutei a mão dela. A arma voou para
longe.
- Ela é minha! – Avisei para Finn, que devia ter lido em meus olhos o quanto desejava
aquilo.
Niylah correu em minha direção e eu na dela. Nós chocamos pela segunda vez.
Clarke PDV
Soltei o cabelo de Costia e fui socorrer o pavão antes que os três o depenassem. Por
mais ridículo que pareça, escorreguei e cai numa poça, mesmo assim berrei:
Foi nesse exato momento que um motoqueiro o socou. A bicha rodou e, em seguida,
caiu feito fruta podre. Como se já não bastasse o corpo estendido no chão, ainda fizeram
o favor de rolar em cima. Explico! Collins, que estava brigando próximo a ele, caiu,
agarrado a um sujeito que devia ter uns dois metros de altura. Bellamy chacoalhou a
mãozinha pedindo por socorro embaixo dos grandalhões. Fui socorrê-lo e o puxei com
muito esforço para longe da muvuca.
- Eu sei lá?!
- Acho que meus poucos por cento de homem vão reagir! – Se tremeu todinho.
- Você vai ver! – Virou-se para o lado onde a confusão era maior e gritou: - Saí da
frente, ralé, que vai voar bifa, bordoada, solá, vou dar uns sacodes em todo mundo! –
Chacoalhou os punhos parecendo gente.
Meu queixo caiu ao notar que pessoal da gangue correu em direção a suas motos.
A luz de faróis me fez olhar para trás. Um carro preto estacionou e de lá sairam cinco
rapazes. Eu os reconheci logo, eram os homens de Finn. Bem, isso explicava a fuga
repentina dos motoqueiros. Bellamy nem se tocou de que ele não fora a causa do fim da
confusão e continuou se auto-elogiando.
Carter estirada no chão era esmurrada por minha Woods, que rosnava extremamente
irada. O resto do pessoal apenas assistiu assim como eu.
- NÃO MEXA... – Continuou a socar. - ... COM A MINHA FAMÍLIA! – Percebi sua
exaustão. Niylah mal se movia.
Nunca vi Lexa daquele jeito, tão alterada e violenta. Engoli em seco dando um passo à
frente. Pousei minha mão trêmula em seu ombro dizendo:
Lexa permaneceu de joelhos, cabisbaixa. Fiz sinal para que o pessoal dispersasse e eles
entenderam o recado. Ajoelhei-me na frente dela, ergui sua cabeça para checar a
gravidade dos ferimentos. Fiquei feliz ao constatar que nenhum era grave.
Ouvi o falatório dos rapazes contentes com a vitória e me preocupei por não ver o
mesmo contentamento na expressão da minha Woods.
- Você está bem? – Perguntei segurando seu rosto entre minhas mãos. Ela apenas
assentiu debilmente. – Acabou! – Murmurei. – Foi uma loucura, mas acabou!
- Temo que esse seja o início e não o fim. – Rouca e exausta, argumentou.
- Não pense nisso, ficará tudo bem! – Tentei consolar sem muito sucesso.
Suspirei e tentei algo totalmente inusitado. A abracei com força, encostando minha
cabeça em seu peito. Tive uma estranha vontade de protegê-la. Eu não costumava ser
assim!
- Aiiii... – Gemeu.
- Opa! – Constrangida percebi que ela estava bastante dolorida. – Como se sente agora?
– Fui incapaz de conter minha curiosidade ou esconder meus anseios.
- Ah... – Afastei minhas mãos dela me odiando por ter sido tão precipitada.
Agora viria o momento em que ela diria que todos os acontecimentos daquela noite,
incluído nosso momento no terraço, haviam sido erros?
- Como?
Lexa pegou meus braços e pôs em volta de seu pescoço, depois me abraçou
carinhosamente. Entendi que daquela forma não doía tanto para ela e sorri feito uma
boba.
- EITA PORRA! ESSA VAI PRO SITE! – Anya riu com o celular em mãos.
Octávia PDV
As 4:30h não consegui mais ficar dentro do hospital. Sai do prédio em busca de ar
fresco e Finn me acompanhou em silêncio. A chuva havia cessado um pouco e as
nuvens escuras dissipavam-se lentamente. Encostei-me em uma parede fitando o
estacionamento quase vazio.
Mesmo sabendo que Lincoln não corria risco de morte, continuava imensamente
preocupada. Queria vê-lo e constatar por mim mesma que estava bem.
- Sabe que não fui eu, certo? – Repetiu pela quinta vez aquela madrugada.
Em nenhum momento cheguei a pensar que ele tinha sido o responsável pelo bárbaro
ataque ao meu namorado.
- Então por que não está falando comigo? Você é sempre tão tagarela. – Havia uma
pequena dose de humor em sua voz.
- Sei que fui eu que roubei as motos, mas juro que nunca imaginei que Lincoln se
machucaria. O lance era entre mim e Carter. Nunca tive a intenção de incluir mais
ninguém nessa disputa. – Colocou-se a minha frente. Sua face cheia de traços sérios e
sofridos parecia angustiada ao se defender.
- Não vou acusá-lo. – Não era típico de mim fazer tal coisa.
Finn tocou minha bochecha, seus dedos quentes acariciaram o local confortando-me.
- Está tudo bem! – Balancei a cabeça esperando que o céu dissesse amém.
Seus olhos negros estavam cheio de perguntas silenciosas às quais eu temia responder.
Então, sinalizei com a cabeça um não.
- Gostaria de ter o talento de animar as pessoas como você tem. Só para poder dizer algo
agora que a fizesse sorrir.
Sorri. Frases doces não combinavam com a aparência selvagem e intimidadora dele, um
contraste interessante entre o bem e o mal, egoísmo e altruísmo. Poderiam essas
características coexistir num individuo?
- Ficarei bem assim que todos nós sairmos desse hospital. – Garanti para que relaxasse.
Finn se calou e meus olhos estudaram os ferimentos em seu rosto. Senti um aperto
grande no peito, vê-lo assim fazia minhas pernas vacilarem.
Fiquei na ponta dos pés e o abracei. Senti-me grata por ele estar ao meu lado. Finn
retribuiu o abraço me envolvendo em seus braços musculosos. Senti-me pequenina
contra o peito largo, no entanto me pareceu um lugar muito seguro no momento. Estava
abalada e cansada, por isso me aconcheguei ali, na intenção de logo voltar para dentro
do prédio onde o clima continuava tenso demais para mim.
Lexa PDV
Os dois dias após a briga foram tranquilos. Lincoln já estava em casa, enfaixado na
região do tórax e cintura. Ele pareceu se adaptar bem ao gesso no braço. Na UA, todos
fincaram sabendo da pancadaria, mas ninguém ousou comentar em nossa frente. Niylah,
humilhada pela derrota, me evitou e eu fiz o mesmo. Sabia intimamente que ela não
aceitaria aquela situação por muito tempo.
Mantive as noticias ruins longe de Polis, só que isso não evitou as perguntas
desconfiadas de Abby. Garanti-lhe que estava tudo bem e me concentrei em manter as
aparências. Era necessário!
- Ei, pessoal sabe o que não fazemos há algum tempo? – Perguntei fingindo
empolgação.
- Não temos uma noite dos Woods desde que fomos para Itália. Porque essa noite nós
não...
- A Guaxinim quer ter uma noite com uns Woods! – Minha irmã riu.
- É uma noite em que nos reunimos para beber, conversar, jogar cartas...
- ÊBA! – O viado deu um pulinho. – Vamos jogar batalha naval! Bonequinha podemos
trocar, você brinca com o meu que eu brinco com o seu! HU!...OHOHOHOHOHOH!
- Ninguém vai brincar com o de ninguém aqui! – Bufei. – É NOITE DOS WOODS! –
Pronunciei cada palavra lentamente na esperança de que elas entendessem e se
retirassem.
- Para de repetir essa besteira! – Clarke murmurou. – Eu digo que podemos ficar!
- Deixem eles com a noitezinha dos Woods... – A morena fez pouco caso. - ... Nós
também podemos ter uma noite das Griffins! – Sorriu.
- Boa, Sebosa! – Minha Griffin cruzou os braços. – Vai ser muito melhor que a
reuniãozinha de vocês! Vão implorar para entrarem em nossa festinha particular!
- Os ignorem, meninas, vamos para a nossa noitada! – Raven botou lenha na fogueira.
- Ainn... Estou tão dividida! – O pavão veio para meu lado. - ... Não sei se fico aqui
onde está a bonequinha... – Depois voltou para perto de Rae. - ... Ou se fico lá aonde a
noite vai bombar!
- Sr. Bellamy Pintolar, se ficar não deixarei mais provar os meus sapatos! – A morena
ameaçou.
Lexa PDV
- Então... Er... – Suei frio. - ... Linc, como está a sua vida?
- AIIII! – O coitado quase todo enfaixado, gemeu. - Está bem, eu acho... – Respondeu
receoso. Respirei aliviado. Dei um gole grande em minha bebida. – Desconfio que
Octávia esteja me traindo! – Espirrei cerveja por todo lado.
- TOICINHO VEM AQUI! – O estranho filhote veio correndo ao chamado de sua dona.
O mais absurdo é que tinha um isopor médio preso nas costas. O animal parou próximo
a nós. Anya retirou do isopor uma cerveja e o fechou.
- Ele é um porco de mil e uma utilidades, oras! – Comentou com um sorriso de orelha a
orelha. – Estou ensinando uns truques bacanas para ele.
- Toicinho, rola!
- Faz todo sentido já que a irracional está sentada à mesa. – Linc brincou.
O porco, que já estava deitado, pendeu a cabeça no chão e fechou os olhos. Rimos
diante da cena inacreditável. Cutuquei o suíno com o pé e ele nem se mexeu.
- Boa amigão! – Anya afagou-lhe a cabeça. – Viu só? Mostramos pros manés que você
é o tal!
- Não lembro... – Ela sentou na cadeira vaga, sorrindo. - ... Mas posso lembrar por cinco
pratas!
- Elas estão rindo muito lá na sala. De vez em quando cochicham. Rae falou alguma
coisa sobre a cabeça-oca aí... – Apontou para a mano. – Não entendi direito! Acho que
ela disse alguma coisa com língua e não faz direito!
Gargalhei.
Confesso que também estava. Como podiam falar de nós pelas costas?
- Isso vai custar mais cinco dólares. – A Mini-Clarke tamborilou os dedos na mesa.
Clarke PDV
- Não ligaram muito. – Deu de ombros. – Falaram que vocês são bandidas!
- Filhos da P... – Tive que tapar a boca do viado antes que o palavrão ecoasse pelo
prédio.
- Isso mesmo! – Octávia apoiou. - Quem eles pensam que são nos excluindo desse jeito?
Pela minha visão periférica notei que Bellamy ergueu a mão como se aquilo fosse uma
pergunta não uma afirmação. Nós o fuzilamos com o olhar.
- Nada disso! – Entreguei cinco pratas à garota. – Fala só que estamos dançando. –
Sorri. Sabia que Lexa curtia dançar.
Lexa PDV
- Fala logo, tampinha! O que elas estão fazendo? – Anya se corria de curiosidade.
- Essa eu quero ver! – A bisonha tentou se levantar. Lancei-lhe um olhar sombrio. Ela
percebeu que eu ia matá-la e por isso voltou a sentar derrotada. – É... Parece que eu não
quero não. – Se entristeceu.
- Absoluta!
- Tudo culpa dessa Zé Ruela! – Minha mana se irritou. – Estamos largadões aqui
enquanto do outro lado rola a maior... – Tapou os ouvido de Ge...Nessie que não gostou
nadinha. – SACANAGEM! – Completou.
- Verdade! Não vamos dar o braço a torcer! – Anya se pôs de pé. – Vamos ligar para
umas totosas!
- Podíamos só fingir. – Linc não estava querendo entrar na da bisonha e eu também não.
- Desse jeito essa criança vai nos deixar lisos! – Comentou o voador.
Clarke PDV
- O QUE ACONTECEU?
- A bisonha burra tapou meus ouvidos, mas ouvi alguém dizer que ia ter totosas e
sacanagem!
- Eu vou lá! Não acredito que Lincoln fará isso! – Octávia estava magoada e confesso
que eu também.
Lexa PDV
Anya e eu nos levantamos ao mesmo tempo. Lincoln quase todo enfaixado, tentou fazer
o mesmo e o máximo que conseguiu foi cair pra trás na cadeira. Mal percebi seu grito
de dor, pois estava estupefata.
Engoli em seco sem saber o que dizer. Não estava preparada para aquele tipo de
situação.
- Striper... É... – Suspirei. - ... Pessoas que animam festas! – Sorri amarelo.
- Tipo palhaços?
- Nossa... Eu nunca tinha pensado por esse lado! – A bisonha coçou o queixo refletindo.
- Porque não chamam apenas de palhaços? – Dá pra acreditar que ela ainda estava
interessada no assunto?
- Por quê?
Revirei os olhos.
- Preciso responder? – Pela minha cara para ver que a resposta era NÃO.
Clarke PDV
- Tudo bem querida, venha! – Fofolete arrastou a mini-mim para seu quarto.
Octávia demorou uns dois minutos e depois de encostar a porta voltou dizendo:
- O que faremos?
- Seja o que for, não vamos trazer homens estranhos para cá! – Tentei convencê-las. –
Bellamy, cancele os serviços que contratou!
- BEM DOIDA! – Se jogou no sofá indiferente. – Eles vêm de uma agência nova de
Manchester, ou seja, nem passando por cima do meu cadáver fashion!
- Fica na sua, catiroba mal vestida! Pedi um policial durão e um bombeiro fogo puro!
Essa noite vai ser quente! HU...OHOHOHOHOH!
- Não estou brincando. Nessie está aqui e nem temos dinheiro para essa loucura!
- Na verdade... – A Sebosa interveio. - ... Temos grana sim, vendemos muito aquele dia
na rua, então, vamos nos divertir um pouco! – Gargalhou.
- É por isso... – Bellamy saltitou até Raven. - ... Que essa raxa é minha alma gêmea! Eu
me casaria com ela se eu não tivesse aversão a uma perseguida!
- Não vou falar pela terceira vez! Cancelem os stripers! – Apontei para os dois sem
vergonhas. – Irei de mansinho colar meu ouvido na porta do apartamento dos garotos e
averiguar se tem mulheres lá.
Saí fechando a porta devagar. Investiguei o corredor, cautelosa, tentando não ser
flagrada. Encostei meu ouvido na madeira e me forcei a ouvir algo. Infelizmente escutei
apenas zumbidos incompreensíveis. Olhei através da fechadura e pude ver Lexa
gesticulando como se estivesse dando explicações.
Lá onde?
PUTA MERDA!
Eu é que não queria passar pela humilhação de ser chamada de mentirosa. E sem falar
que eles imaginariam que estávamos nos mordendo de ciúmes e inveja para inventar
todas aquelas histórias que a mini-mim foi contar.
As doidas, sem saber o que fazer, correram de um lado para outro feito baratas tontas.
Tínhamos dito hipocritamente que íamos – Fazer e acontecer – E, no entanto,nos
limitamos a provocá-los. Como eu disse antes: HUMILHAÇÃO!
- Pelo amor de nosso orgulho, finjam que estão enlouquecendo de tanta diversão! –
Grunhi.
Lexa PDV
Não podíamos confiar em tudo que a Geléia disse. Era só uma criança! Decidimos que
um de nós, discretamente, iria dar uma espiadinha no apartamento das garotas e ver se
as suspeitas tinham fundamento. Lincoln sugeriu que Anya fosse a enviada. Na mesma
hora precisei argumentar:
- Cara, a bisonha é tão discreta quanto uma bala de canhão! Eu vou lá!
Fui até a porta e a abri vagarosamente. Bastou uns três passos largos para chegar ao meu
destino.
Primeiramente, não soube o que pensar diante da cena. Elas dançavam no meio da sala.
Rae segurava um chicotinho masoquista, Bellamy tinha uma calcinha vermelha enfiada
na cabeça, Octávia segurava várias notas de 1 dólar e Clarke... Bem, esta estava
abraçada a dois litros de vodca.
- Como eu ia adivinhar que estava aí? – O ergui do chão pela segunda vez aquela noite.
– Você está bem? – O olhar raivoso dele me fez preferir não ter perguntado.
- Tenho uma notícia boa e outra má. Qual querem ouvir primeiro?
Não entendia como meu plano de ter uma conversa relaxada com meus irmãos se tornou
nossa coroação como os novos cornos do pedaço. PERFEITO!
Clarke PDV
CACETETE ALADO!
Ao ser pega em flagrante, fechei os olhos, derrotada. Ergui-me lentamente fazendo uma
careta daquelas. Abri um olho só e vi minha Woods fitando-me com um semblante
surpreso e sarcástico.
Lexa fechou a porta atrás de si, pois o suposto maconheiro e Anya mantinham os olhos
vidrados em mim.
- Noite quente, hein?! – Ri sem humor. – Será que vai chover? – Desejei ter uma agulha
e linha para costurar a boca.
VIU? FUNCIONA!
- Hum...
Lexa PDV
Realmente eu não sabia o que falar. Não queria admitir que estava indo bisbilhotá-la
outra vez.
- Sua expressão... – Tentou controlar o riso. - ... Lembrou-me a expressão que usava na
Itália quando brigávamos sem parar. Para ser mais exata, me recordei agora daquela
noite em que sua mãe teve a idéia maluca de nos fazer trocar de papéis por 24h. Lembra
do que disse toda metidona? – Imitou ridiculamente minha voz. – Eu não transaria com
você nem que fosse a última mulher do mundo!
Griffin não caiu na mentira e riu ainda mais da minha cara. Inevitavelmente recordei
aquele momento.
Até parecia que estava estampado na minha cara o quanto me recordava daquela noite,
pois meu frango olhou-me meiga. Seu típico olhar firme, decidido, porém, inteiramente
amável.
- Então... – Ela pigarreou. - ... Eu não faço seu tipo, né? – Debochou.
Tínhamos uma relação muito louca. Alguns momentos parecia que Griffin
simplesmente não me entendia, outros eu podia fingir o quanto quisesse que ela saberia
ler cada linha de minhas expressões e as mudanças sutis de meu humor.
- Sim! – Meu corpo se projetou automaticamente para frente, como se fossemos feitas
de ímãs.
- Você também não faz meu tipo! – Falou se afastando ainda mais. Eu a segui me
concentrado eu seus olhos.
- Eu sei.
- Eu te odeio, LEXAZINHA!
Excitada, pressionei meu corpo ainda mais ao dela murmurando contra sua boca:
Nossos lábios ansiosos se encontraram. Não existia beijo como o daquela garota
problemática. Era tão cheio de vida e paixão. Só ela me fazia perder totalmente a
cabeça. O mundo exterior desaparecia quando nos permitíamos aqueles momentos,
pouco importava as consequências. Era sempre assim, impensado, arriscado e completo.
A maciez da língua dela contra a minha era com certeza minha perdição. Como uma
viciada, não conseguia parar. Não existe um basta quando o desejo e a necessidade te
comandam.
Minhas mãos deslizaram pelas costas do meu leãozinho, por dentro da blusa. Não tive
como impedir que elas chegassem até ali. Sorri intimamente ao sentir sua pele
arrepiada. Revezamos entre beijos sensuais e selinhos carinhosos. A boca de Clarke
derrapou de meu queixo até a curva do meu pescoço. Tive dificuldades de manter a
respiração. Ao fazer o trajeto de volta mordeu-me. Sorri. Ela estava tão mudada, menos
tímida.
Incrível como demorei tanto tempo para perceber o quão fortalecida me senti ao lado de
Griffin. Por mais que os problemas me afligissem, quando ela estava por perto eu
acreditava que podia ser forte o suficiente para peitar o mundo. Ah, se ela soubesse
disso... Será que entenderia que eu tinha problemas, mas ela era minha solução? Minha
luz no fim do túnel. Talvez ela nem percebesse que me atraía para caminhos tortuosos e
confusos, mas que no final eram sempre certos.
Meu leãozinho beijou os machucados não totalmente sarados do meu rosto, maxilar,
supercílio, boca. Cuidadosa e sexy. Quem diria que Clarke Griffin se tornaria a mulher
que secretamente sempre desejei ter só para mim.
Isso me encheu de esperança. Poderia, a final, o plano de Abby dar tão certo?
- GUAXINIM! – Agora era Anya quem atrapalhava. Ambos esperando na sala, alheios
ao que acontecia no corredor.
SACO!
- Mate-os! – Pediu.
- Por que me perguntou mais cedo como estava minha vida? – O voador finalmente
entendeu a parada. Eu já nem estava tão a fim de ter aquela conversa.
A campainha tocou.
Anya foi correndo atender a porta e eu nem me dei o trabalho de virar para checar quem
era. Encarei Linc que me encheu de perguntas silenciosas.
- Fue daqui que pediram dos stripers? – Estranhei a voz masculina com sotaque.
- COMO É POSSÍVEL?
Clarke PDV
O líquido adentrou minhas narinas e boca. Juro que minhas mãos tremeram, querendo
voar no pescoço do pavão. Bellamy, percebendo meu olhar irado, escondeu-se atrás de
Rae, covarde e prepotente.
- Nada de briga! – Octávia interferiu, antes de a chapa esquentar. – Nós, garotas, temos
que ficar unidas!
Tentei enxugar o rosto com as mãos. Não tirei os olhos da bicha e lhe ameacei, através
de gestos.
- O que aconteceu com sua boca? – A Sebosa me olhou estranho. – Está avermelhada.
Obviamente, eu havia esquecido que ninguém tinha privacidade ali. Bellamy estreitou
os olhos, me estudando. Em seguida, falou alto:
Rosnei irritada.
- Conta para nós como foi. – Minha prima deu um sorriso romântico e sonhador.
- Foi incrível! Nós estávamos... – Interrompi o relatório ao ouvir uma música alta, vinda
do apartamento dos Woods. – Ouviram isso?
Fomos atingidas por um ciúme incontrolável e lutamos para sair de casa, todas ao
mesmo tempo. No corredor, trocamos olhares antes de eu mesma empurrar a porta do
apartamento dos garotos. Do mesmo jeito que abri, a fechei logo em seguida.
Sem equilíbrio, cambaleei, indo parar nos braços do colombiano. Fiz careta quando ele
piscou para mim.
Eu ainda estava perplexa. O que costumava usar lencinho (o mais falante) estava
fantasiado de policial e o outro, que um dia vi deitado com Bellamy, fantasiado de
bombeiro. O policial, o qual segurava um rádio portátil, parou a música e falou, em uma
mistura de nossa língua com um espanhol fajuto:
- Ora, ora, ora... Olhem só o que os ventos ilegais nos trouxeram. – Bellamy sorriu para
o bombeiro.
- Trabajo, muchacha!
- Ok... – Gesticulei chateada. - ... Quem foi o idiota que pediu la danadita a domicílio?
– Lógico que fitei Lincoln, o suposto maconheiro.
- Não tá vendo que ela não está aqui? – Anya cutucou o bombeiro, rindo de mim. – Um
dia, ainda vou conhecer essa danada, ah, se vou! – Gargalhou.
- Es una vida muy dura. – Fizeram uma cara de sofrimento. – Cruzamos la frontera
com unos hermanos mexicanos em busca de un nuevo começo en Estados Unidos.
Ahora, somos dançarinos y vendemos produtos de buena qualidade vindos do Japão. –
O bombeiro abriu o casaco e nele estavam pendurados em exposição, óculos escuros,
relógios e celulares.
- Espera, espera, espera! – Eu tive que interromper. – Estão me dizendo que largaram o
tráfico para viverem de prostituição e contrabando?
Assentiram orgulhosos.
- Não vou pagar! – Raven cruzou os braços. – Pedimos boys bonitões e não, esses
latinos feiosos.
Os narcos trocaram olhares e, para nosso pesadelo, deram o play no rádio e o reggaeton
começou a tocar. Visão dos infernos! Garanto!
A definição de sexy passava longe deles enquanto rebolavam. O pavão foi o único a
gostar, até alisou o braço do seu bandidão. Devo ressaltar seu péssimo gosto para
homens?
- Anya sabe que eles vão tirar a roupa? – Perguntei para Lexa, assistindo sua irmã
dançar com los cucarachos.
- Chega, chega, chega! – Lexazinha tratou de empurrar os trastes para fora. – Desculpa
aí, compadres, mas vocês atraem muita confusão e eu já estou atolado nelas. Boa sorte
em suas vidas criminosas. Hasta la vista! – Bateu a porta na cara deles.
- NÃOOOOOOOOOO! – Anya gritou. – Vou com eles! Se eu não voltar até amanhã,
me procurem num cabaré no México! – Riu. – Arriba, arriba!
Na sexta, pela primeira vez, tive vontade de matar aula. O clima na universidade estava
pesado. Os alunos ainda comentavam sobre minha briga com Niylah e eu desejava
intensamente esquecer o acontecido. Lógico que eu não devia ser a única, já que Carter
estava se sentindo humilhada. Com certeza, ele não ia deixar barato.
Quando saí da UA, foi que tive a ideia de tirar Lincoln da cidade. Longe da pressão
acadêmica, conversaria com ele sobre suas suspeitas relacionadas à Octávia. O melhor
lugar para se estar naquele momento era Polis. Seria ótimo rever minha mãe e desabafar
com ela.
Partilhei a ideia com os demais e todos se animaram para curtir o fim de semana fora.
No apartamento das garotas, chegamos a um impasse.
- Vamos viajar, vamos viajar... – Anya cantarolou, correndo para nosso apartamento.
Aposto que ia preparar a bagagem de seu porco. Era capaz de esquecer a própria!
- Bem... – Octávia fitou Rae. - ... Nós não podemos viajar agora. Nesse final de semana,
vamos encontrar as costureiras e fazer os últimos ajustes nas roupas da grife.
- Bem doida! – Bellamy, que estava sentado, levantou-se, revoltado. – Não vou deixar
de piscar em Polis, para ficar trabalhando que nem uma escrava! Tire seu pocotó da
chuva!
Clarke PDV
PERFEITO!
Ir até Polis era exatamente o que eu precisava. Apressamo-nos para pegar a estrada
antes das 17:00h. Anya foi em seu jipe, acompanhada por Lincoln. A cabeça-oca jogou
o Toicinho, que tinha uma faixa vermelha na testa, todo aventureiro, no banco de trás.
Preferi não perguntar por que o animal precisava de um cobertor gigante. Vindo da
bisonha, podíamos esperar tudo.
Lexa saiu na frente, em sua Suzuki. Depois, seus irmãos a seguiram e eu fiquei para
trás. Dei uma última olhada nos pneus da Ducati, a fim de saber se eles suportariam a
viagem.
Respirei fundo antes de acelerar. Com o viado mais louco do mundo em minha garupa,
a viagem ia ser infernal. O ponteiro do velocímetro disparou, conforme eu aumentava a
velocidade. O som do vento batendo no capacete confundia-se com os gritos
desesperados de um Bellamy amedrontado.
- Meus meninos!
Rindo, eles se amontoaram em frente à ela, quase desintegrando-a com tantos abraços
apertados. Meu pai deu alguns passos vindo até mim. Sinalizei, impedindo-o. Eu não
era boa com manifestações de afeto em público, sentia-me perdida com aquilo.
Fui deixar a moto na garagem. Bellamy estava tão petrificado que quase esqueci dele.
Com força, me livrei das mãos dele, presas em volta de minha cintura, como se fossem
feitas de aço. Ao fazer isso, ele despencou no chão.
- Estou assado! – Murmurou, rastejando no chão. Para quem não tinha costume de
viajar de moto, o excesso de tempo na mesma posição, causava dores das articulações e,
no caso dele, assadura entre as pernas.
MENTIRA!
Fui para meu antigo quarto, tomei um banho bem demorado e me preparei para o
almoço. Enquanto penteava o cabelo em frente ao grande espelho, senti arrepios
percorrerem meu corpo. Ao invés do quarto me trazer lembranças de minha infância e
adolescência, só me trouxeram recordações das semanas que passei ali, depois de ter
voltado da Itália. Foi uma época em que tentei fugir da realidade e da dor que me
oprimia e dilacerava. Girei o corpo e meus olhos percorreram todos os lugares do
cômodo. Era como se eu conseguisse me assistir ali. Via uma Clarke fragilizada,
rolando na cama sem conseguir ter uma única noite tranquila de sono. Via a garota sem
rumo chorar pelos cantos, se perguntando como pôde acreditar nas palavras de uma
mulher falsa, a qual levara consigo todas as suas forças. Perto da janela, as notas do
violão enchiam o quarto com uma melodia tão triste quanto o semblante de sua
compositora. Vi Clarke socar a parede, tentando lutar contra o que sentia. Querendo
esmagar as lembranças de um passado que estava marcado na sua pele, em forma de
tatuagem.
Obriguei-me a fechar os olhos, procurando escapar das lembranças. Não queria mais me
ver tão despedaçada. Os espasmos em meu peito fizeram meus joelhos fraquejarem.
Apoiei-me na parede, tentando unir as duas partes de mim que, naquele momento, se
confrontavam. Uma sofria pelo abandono sem justificativas. Essa parte sangrava,
incapaz de perdoar ou seguir em frente. A outra tinha um objetivo específico:
reconquistar Lexa. Era ela quem me comandava em Arkadia, permitia que eu fizesse as
maiores loucuras e se deleitava a cada recaída minha.
Era difícil conviver com elas. Querer Lexa perto de mim não significava que eu tinha
esquecido o que ela me fizera. Às vezes, achava que podia ser nobre e perdoá-la sem ela
nunca ter me pedido perdão, mas quando as lembranças me circundavam, percebia que
era impossível. A dor estava ali, acompanhada por uma revolta, raiva e amargura. No
entanto, existia um sentimento que se sobrepunha a todos os outros. Ele era tão grande
que não o entendia. Muitas vezes, me entreguei cegamente a esse sentimento, como
aconteceu no terraço em Arkadia. E nesses momentos, eu era feliz. O mais triste é que
nunca durava tempo suficiente, as circunstâncias voltavam a me rachar ao meio, me
dividindo constantemente.
Desejava poder viver apenas com uma parte de mim, a parte que lutaria por Lexa até o
fim. Ah, se eu tivesse forças suficientes para matar a parte que me dizia: fique longe
dela! Ela sempre zombava de mim, declarando que eu não era nada para Lexa.
Mantinha-me alerta, esperando por um novo abandono. Jogava-me na cara mil razões
para odiá-lo.
Balancei a cabeça e saí do quarto rapidamente, antes que sucumbisse. Enquanto descia
as escadas, doces notas musicais ecoavam pela sala. Em um canto do cômodo, Lexa
brincava com as teclas do piano, absorta. A fitei por alguns segundos. Depois, me
arrastei até a sala de jantar.
Os outros ainda não haviam descido para o almoço. Somente Anya estava à mesa,
olhando algo debaixo dela.
- Vai à merda! – Xinguei, levantando a toalha. Enfiei minha cabeça lá embaixo. Quando
vi o que Anya escondia, quase perdi o controle. - TÔ FODI... Deixa pra lá!
- Tive que trazê-la! O Toicinho ia sentir falta da mini-loira. – Ela respondeu, também
aos sussurros.
Kane ia me matar, parecia até que conseguia ouvi-lo esbravejar: o que estava pensando,
Clarke? É uma criança, não um animal de estimação!
Meu pai certinho ia surtar quando ficasse sabendo que eu estava cuidando de uma
menina. Ele me considera uma irresponsável problemática. Certamente, chamaria o
serviço social.
- Ok, escute... – Apontei para a anta. - ... Ninguém pode sonhar que Nessie está nessa
casa, entendeu?
Anya PDV
Clarke puxou a rainha da extorsão (como diria a guaxinim) pela mão, tirando-a do
esconderijo. Levantei-me para pegar o Toicinho, mas, ao ouvir passos do povo se
aproximando, empurrei os três, com força, para debaixo da mesa. A mini-pirralha devia
ter caído de cara, pois gemeu alto. Ajeitei a toalha e me sentei à ponta da mesa.
- Estou tão feliz de estarem aqui. – Disse minha mãe, acompanhada pelo resto da rural.
Sorri, tentando disfarçar, enquanto empurrava com a mão a cabeça de Clarke. Ela
tentava sair por entre minhas pernas.
- Fica aí! – Murmurei por entre dentes. A burra estava prestes a estragar tudo.
- Ainda não acredito que Lincoln foi atropelado. – Minha mãe comentou tristonha,
desdobrando o guardanapo.
- Vocês não disseram que tipo de veículo o atropelou. – O comedor de mães tinha que
investigar.
- Nunca conheci ninguém que tenha sido atropelado por uma carroça. – Meu futuro papi
era um lesado.
- Acontece todo dia! – Estiquei o braço, pegando o pãozinho no cesto à minha frente.
- É... – O olho esquerdo da Guaxinim tremeu. - ... Acontece todo dia! – Confirmou.
- Ela esteve aqui... – Interrompi. – Mas... – Senti a dona do banheiro puxando a perna da
minha calça. - ... Disse que estava com uma dor de barriga desgraçada e saiu correndo. –
Sorri. Foi nesse momento que... – AAAAAAAAAHHHHHH! – Ela mordeu minha
panturrilha. Todos pararam para me encarar. – Aaaaaiii! – Estiquei os braços, fingindo
me espreguiçar.
Clarke PDV
Eu queria estraçalhar aquela jumenta. Nessie riu de meu desespero. O suíno roncou,
fuçando o chão. Tratei de tapar-lhe a boca e quase desmaiei de nojo.
Assim que a futura linguiça se aquietou, posicionei minha cabeça entre os joelhos de
Anya e levantei a toalha, erguendo-me um pouco. Pude vê-la se entupir de comida,
enquanto eu estava faminta. O ódio que me deu não tinha tamanho. Controlei-me, pois,
se o pessoal resolvesse dar uma espiada em nosso esconderijo, eu estava frita.
- Você está bem, bonequinha Barbie? – Bellamy questionou. – Qualquer coisa, o seu
Ken está aqui, viu? – Mordeu o dedo mindinho.
Olhei para baixo e a Loira estava mudando de cor. Empurrei a cabeça dela novamente.
Clarke PDV
Puta que pariu! Que pesadelo! O porco estava soltando umas bombas. Às vezes, me
esquecia que o bicho tinha necessidades básicas, ele era tão bizarro que não me
surpreenderia se o visse usando o banheiro. Nem Nessie quis ficar perto dele. Coloquei
as mãos no nariz, passando mal. Fedia demais!
- Não entendo, a comida parecia estar tão boa. – Disse a mosca morta.
Não dava para aguentar, eu tinha que respirar. Me enfiei novamente entre as pernas de
Anya, puxando a toalha para cima. Quando ela me fitou, sussurrei lentamente, para que
lesse meus lábios.
- Vai me montar?
Anya PDV
- Eu disse que... – Engoli em seco, então encarei o sem pregas. – O viado está roubando
os talheres! – Apontei, mentindo.
- Isso era uma pergunta retórica! – Bateu a mão na mesa. – Eu tô é loucaaaaa! Nunca fui
tão ofendida... – Começou a choramingar, chacoalhando os braços.
- Que vergonha... – Soltou uma risadinha safada. - ... Entendam-me, vida de pobre é
mais dura que pau... Sem duplo sentido. HU!... OHOHOHOHOHO!
EITA PORRA!
- FUI EU! – Levantei gritando, antes que ela visse algo. Fui alvo de todos os olhares. –
Estou me sentido mal como a Clarke, acho que passamos pra dentro um rango estragado
na estrada.
A rural em peso fez careta, pegaram os pratos e ralaram peito, indo para cozinha.
Ergui a toalha e vi Clarke e sua miniatura passando mal, sem conseguir respirar.
Então, eu disse:
Olhei para o Toicinho e ele estava deitado, tipo nem aí, sacou?
Clarke PDV
Escondi Nessie no meu quarto até que tivesse uma ideia melhor. Almoçamos juntas e
ela me contou como se divertiu na viagem em que embarcou clandestinamente.
Por voltas das 14:00h, a deixei vendo TV e fui iniciar minha investigação. Hesitei
diante do quarto que agora, era de Kane e Abby. Como ela era uma das poucas pessoas
que podia esclarecer minhas dúvidas, bati à sua porta, constrangida. Abby respondeu
imediatamente:
- Entre!
Empurrei a porta e, ao vê-la, desejei não ter ido até lá. A mosca morta terminava de
arrumar seu vestido de noiva no manequim.
Evitei olhar para o vestido, fechei a porta e me aproximei da usurpadora. Não sabia
como iniciar aquela conversa.
- Ele não é lindo? – Indagou, mostrando-me o vestido como se fosse uma vendedora.
Apenas assenti. – É o modelo criado por Octávia e Raven. Mandaram por Lincoln.
- Sim.
- Conte-me tudo! O plano tem dado certo? Tem feito ela comer na sua mão? – Riu.
- Bem... Eu não faço ideia. Nos metemos em muitas confusões e tivemos várias
recaídas. – Admiti, envergonhada.
- Ela está tão estranha! Não sei o que se passa com a garota. É como se Lexa estivesse
fugindo de mim, isso me confunde toda. – Curiosamente, o semblante de Abby
modificou-se, parecia triste. Continuei mesmo assim. – Há essa altura, depois de tantos
momentos de... – Pigarreei novamente. - ... Intimidade, imaginei que me pediria em
namoro, e, no entanto, ela está me cozinhando em banho-maria, me enrolando como se
não se interessasse totalmente.
- Tenha paciência. Talvez, ela esteja esperando por... – Pôs a mão na testa, suspirando.
- Por? – Impaciente, bufei. – Não está esperando por nada. Lexa não gosta de mim tanto
assim. Ela fica comigo quando lhe é conveniente, apenas isso. – Eu tinha que começar a
aceitar a verdade.
- Não! – Se alterou. Gesticulou irritada, só que não comigo. Não entendi foi nada. –
Nem repita um absurdo desses! Vamos resolver essa questão!
- De forma alguma. Se ela não quis reatar o namoro, não vou forçá-la. – Meu orgulho
predominou.
De repente, a mosca morta parecia que ia, de fato, morrer. Ficou pálida e cabisbaixa.
Sozinha, me permiti olhar melhor para o vestido. Ele era realmente maravilhoso. A seda
branca fazia um lindo contraste com o bordado bem trabalhado no busto e cintura,
adornados por pequenos cristais reluzentes. A calda era pequena e as alças eram de uma
- Quer prová-lo?
- Por favor, ia me ajudar muito, pois ele, no manequim, fica meio sem vida e se eu o
vestir, não vou conseguir admirá-lo de todos os ângulos. Prove-o, Clarke, eu faço
questão. – Sorriu. – É o sonho de quase toda mulher vestir algo assim. Irá se divertir, eu
garanto!
O reflexo da mulher no espelho confundia-me totalmente. Sabia que era eu, mas,
definitivamente, não parecia. Até meus cabelos caídos sobre os ombros ficaram mais
bonitos. A seriedade daquele traje devia estar me fazendo parecer alguns anos mais
velha, porém, isso não era ruim, pois a beleza que ele transmitia enchia a vista.
Senti um frio na barriga, minhas mãos suaram. Senti-me tão nervosa quanto uma noiva
de verdade. Era uma sensação tão estranha que chegava a ser engraçada.
Abby não falou nada, apenas abraçou-me. Inicialmente, permaneci quieta e indiferente,
mas, depois, a emoção peculiar fez-me retribuir o abraço. Para minha surpresa, me senti
segura e feliz.
Desafiando minha sanidade, sem sarcasmos, raiva ou preconceito, ri. Minha futura
madrasta acompanhou minha risada e se afastou, arrumando meu cabelo. Me mexi um
pouco, divertindo-me com o balançar da barra do vestido.
Lexa PDV
Finalmente, finalmente mesmo, eu estava a sós com Lincoln em meu quarto para
conversarmos. Fiquei sentada na cama e ele, numa cadeira à minha frente. Consertava
uma peça da filmadora de Anya, que havia quebrado durante a viagem.
Respirei fundo.
- Sabe, eu sei o quanto você é apaixonado pela Octávia e eu, como sua irmã, estou
preocupada!
- Também estou. Ando tão chateado comigo mesmo... – Fitou-me. Depois, voltou os
olhos para a filmadora. – Me passa a super cola. – Pediu, apontando para a sacola
plástica próxima a mim.
Refletindo sobre as palavras que deveria usar, enfiei a mão na sacola, totalmente
distraída. Ao sentir minha mão totalmente lambuzada, grunhi:
- Droga! – Sacudi a palma. – A porcaria da cola vazou dentro do saco! – Olhei para os
lados, sem saber onde limpar aquilo.
Clarke PDV
- CLARKE GRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIFFIN!
Só existia um motivo para meu pai surtar, a ponto de berrar daquele jeito: Nessie!
Como uma louca, corri de um lado para outro no corredor, sem saber o que fazer. Kane
ia me arrancar o couro. Há essa altura, devia estar supondo que eu tinha sequestrado a
garota, ou pior, dado a luz aos onze anos. Os gritos autoritários vinham da cozinha e eu
não estava nem um pouco a fim de enfrentar aquilo sozinha. Corri até o quarto onde a
Woods estava instalada, bati na porta, quase derrubando-a. Ela abriu imediatamente. Fui
logo dizendo:
- CLAAAAAAAAKE! – Kane berrou novamente e ele nunca agia assim. Isso é que me
amedrontava.
- Espera, espera, espera! – Gritou e eu ignorei, a puxando com toda minha força pelas
escadas.
Nos últimos degraus, tropecei na barra do vestido, desabando com tudo no chão e, claro,
levando a LEXAZINHA comigo. Não sabia o que doía mais, a queda ou ser esmagada
pela Guaxinim. Puxei minha mão e ela não a soltou.
- Larga! – Pedi.
- COMO? – Perplexa, puxei minha palma e percebi que estava mesmo grudada. – O
QUE VOCÊ FEZ?
Rosnei, tentando levantar e foi aquele auê! Com o longo vestido e colada à Woods,
quase não saímos do lugar. Foi preciso sincronizarmos os movimentos para finalmente
conseguirmos ficar de pé. Caminhamos de mãos dadas até a cozinha e me preparei para
a bronca. O pior não era isso e, sim, o fato de que Kane iria chamar a assistência social,
talvez até a polícia.
- Pai. – Murmurei.
- Casaram? – Sentou-se com a mão no peito. – Ainda não estou preparado para isso.
- Não! – Me justifiquei. – Esse vestido nem é meu... E bem... Não conseguimos ficar
separadas.
Meu pai balançou a cabeça, confuso. Lincoln, Anya, Abby e até Bellamy, se
aproximaram para saber o motivo do alvoroço.
- Até a draga uÓ consegue casar e eu não?! Deprimi! – O viado puxou o lenço do bolso
do paletó e, de lá, caíram no chão, alguns chaveiros de ouro do Kane. – Merda! Por que
isso não para de acontecer?! – Nem se preocupou em ficar envergonhado. Pegou os
chaveiros do chão, dizendo. – Considerem isso uma doação para a ONG: ajude uma
bichinha pobre.
- Não faço a menor ideia! – Anya tirou o corpo fora. Quis estrangulá-la.
- Meu nome é Nessie. – Ela sorriu, olhando para todos, sem desconfiar que a situação ia
ficar preta.
- Clarke, fui até seu quarto e encontrei essa criança lá. Ela veio correndo para a cozinha,
faminta. O que está havendo?
- O que estava pensando, Clarke? – Vociferou. – Ela é uma criança, não um animal de
estimação!
- Não parece saber, não! Se quer, procurou descobrir se é mesmo uma órfã? Pode ser
uma criança perdida, talvez sequestrada! Sabe ao menos o nome dela?
- Tudo bem, chamarei o serviço social e descobriremos quem você é. Não tenha medo.
- NÃO! – Gritou, vindo se esconder atrás de mim. – Não vou voltar para o orfanato! Eu
fujo, fujo de novo!
- É preciso, pequenina, é para seu bem. Não pode ficar em Arkadia. – Meu pai tentou
convencê-la. – Precisa ter a vida de uma criança normal, necessita de pais que cuidem
bem de você.
- Desculpa, mini-mim. – Tentei não olhar pro rostinho dela. – Você tem que ir... – Não
consegui terminar a frase devido o aperto no peito.
Passei a mão no rosto, tentando não chorar também. Com a voz embargada, disse-lhe:
Fiz um esforço sobre-humano para não chorar. Não porque eu me envergonhasse, mas
porque sabia que isso tornaria a situação ainda mais dolorosa para nós duas.
- Eu sou a mãe da menina – A fitamos confusos. – Não sou a mãe biológica, mas
cuidarei dela como se fosse.
- Eu sou o pai dela. – Disse Lincoln, pondo uma mão no ombro da irmã.
Entendi o que estavam fazendo ao se declararem pais de Nessie. Nenhum deles estava
disposto a deixá-la sair de nossas vidas. Não só porque se apegaram à garota, como eu,
mas, também, porque já estiveram no lugar dela. Se eles achavam que conseguiríamos
cuidar da mini-mim juntos, eu não iria duvidar. Falei:
Nós quatro encaramos Bellamy, que se acabava de chorar, num canto da cozinha.
- Ah, que se dane... – Jogou as mãos pro alto. - ... Eu também sou a mãe. – Juntou-se a
nós.
- Então é isso? – Kane cruzou os braços. Entendia porque ele estava sendo tão duro
conosco. Afinal, se tratava de uma vida, do futuro de uma garotinha. Ele jamais
brincaria com coisas desse tipo. – Todos vocês acham que podem cuidar dessa criança?
Assentimos.
- Sei que parece fácil, mas não é! Ela precisa de educação, afeto, atenção... É muita
responsabilidade. – Ele mostrou-se irredutível. – Vocês ainda não têm maturidade para
tal coisa. Além disso... – Fez uma pequena pausa. - ... As autoridades nunca darão a
guarda dessa menina para quatro estudantes e um... homossexual.
Nisso, ele estava totalmente correto. Olhei para Abby, que assistia a tudo calada. Vi
nela, uma luz no fim do túnel. Engoli todo meu orgulho e lhe pedi:
- Clarke... Eu... – Olhou para meu pai. - ... Estou passando por um momento... – hesitou.
- ... Delicado... Isso me pegou desprevenida. Não sei se consigo dar a Nessie tudo que
ela merece.
Fui até a mulher que sempre considerei uma inimiga. Arrastei Lexa comigo e a mini-
mim não largou minha cintura. Parei à sua frente, fitei-a intensamente e disse:
Ela olhou para a mini-mim. Depois, para sua filha e, por fim, me encarou.
- Meu amor, você... – Kane, no meio da frase, cerrou os lábios, reprimindo algo que fez
sua futura esposa chamar-lhe em um canto.
Me pareceu que ele ficou preocupado com ela e não com a situação pendente.
Esperamos eles trocarem breves palavras em sussurros ininteligíveis.
- Muito bem, ligarei para meu advogado e tratarei da adoção da menina. – Minha
madrasta mostrou-se bem disposta e animada.
- Vamos pensar em um jeito de Nessie ficar um pouco com vocês e um pouco conosco,
lógico, sem atrapalhar os estudos dela. – Informou Kane.
- Sim. – Minha Woods riu. – Quem sabe, não ensina alguma coisa pra Anya.
- O que você quis dizer com isso? – A bisonha ergueu uma sobrancelha.
- Não vai dar para passar a alça do vestido por seu braço, já que sua mão está colada. –
Explicou Abby.
Nessie seguia Bellamy pelos cômodos, o vigiando, para saber o que mais o lunático
roubaria. Já Anya e o maníaco por limpeza... Bom, esses eu não fazia ideia de onde
estavam.
- Não verá nada que já não tenha visto antes, garanto! – Se levantou puxando-me.
- Graças a Deus!
- Ah, por favor, até parece que é a primeira vez que te ouço urinar.
- O que faremos?
De tanto ela enrolar, quem estava ficando com vontade de fazer xixi era eu. Aí sim, eu
ia preferir morrer.
- Vamos até a cozinha, beberei muita água e depois mandarei ver. – Piscou o olho,
divertindo-se às minhas custas.
- Continuem! – Anya apareceu com sua maldita filmadora. – Finjam que não estou aqui.
Chateada, reboquei a Guaxinim até a sala. Lá estavam Bellamy e Nessie, com camisetas
similares, escrito: VOTE NO TOICINHO! Até o porco estava metido numa. Somente
Lincoln mantinha-se distante, armado com um borrifador de álcool.
- Sua filha da... – Me irritei. Anya nem ligou, procurando nosso melhor ângulo. Tentei
dar um tapa na câmera e não consegui.
- Colaborem, esse vídeo vai bombar no site. Eu Odeio Clarke Griffin é a web mais
visitada na UA.
- Credo! Por que acha que eu pegaria nesse animal? – Fiquei enojada.
- Vamos trabalhar, meu povo... – Puxou do bolso um papel e estendeu para sua irmã. –
Preciso que façam uma propaganda pedindo para o povão votar no meu camarada e, de
quebra, falem que as camisetas já estão à venda, on-line.
- Está nos usando em uma jogada de marketing? – Lexa nem acreditou na irmã.
- Não, sua idiota! – Esbravejei. – Ela está nos usando para ganhar dinheiro! – Encarei
Anya, a reprovando. – Nunca vi coisa tão baixa, ambiciosa, repugnante, egoísta...
- Eu falo o texto e Lexa segura o porco! – Mandei na lata. Minha Woods se surpreendeu
com minha atitude. – Tá olhando o quê? Eu preciso de dinheiro!
Comecei a ler:
Era o jeito.
- Porque ele é o único que promete festas após os jogos, barris de cerveja na
concentração do Umaas, farra todo final de semana e muito, muito mais!
- Quis encerrar com umas palavras bonitas que achei no dicionário. – Anya riu,
julgando-se esperta. – Passe o papel para Lexa. É a vez dela!
Assim o fiz. O porco se remexeu quando o peguei com uma mão só.
- Vou pular essa parte sem nexo do discurso. – Minha Woods avisou mal humorada. –
Se votarem no super porco, eu, Alexandra Guaxinim Woods, juro que irei deixar de
ser... – Ela tirou os olhos do papel e irritada vociferou. – Não vou ler isso!
- Vai, cara! – Lincoln incentivou, porque não era ele pagando mico.
- Ah, qualé? Leia logo! – Pedi, querendo encerrar o show de horrores. – Anda, mulher!
- Ok, foi você quem pediu! – Fez cara feia para mim. – Juro que vou deixar de ser uma
molenga e vou arrepiar no banheiro com a Loira, ao vivo para todo mundo ver!
- O QUÊ? – Gritei.
- VOTE ANIMAL...
- COMPREM AS CAMISETAS!
Meia hora depois, eu já não suportava estar colada à Lexa. Era muito desconfortável.
- Seu pai falou que existe um dissolvente comercializado pela mesma marca da super
cola, só que ele não achou o produto em Polis, por isso, teve que ir até Portland.
À nossa frente, observei a chuva cair através da parede de vidro. Como tínhamos
passado a madrugada na estrada, me sentia exausta.
- Certamente, eu não deveria estar dizendo isso, mas... Está linda nesse vestido.
Pisquei os olhos, confusa, não esperava aquele elogio. Baixei a cabeça, corando.
Ela girou o corpo, ficando de frente para mim. Meu nervosismo aumentou.
- Por quê?
- Por quê?
Meu cabelo cobria minha face rubra, o que eu não esperava é que Lexa soprasse
suavemente mandando algumas mechas para longe. Ela parecia estar se divertindo, me
vendo tão desconcertada e tímida.
- Essa mesma! Mostrei para um pessoal que conheço no bar Hippy Shake e eles
gostaram muito. Marcaram um teste para você na Quarta. Querem ver como se entrosa
com o resto da banda.
Fiquei imóvel, incapaz de esboçar qualquer reação. Fui atingida por um pavor
inexplicável.
- É brincadeira!
- Mesmo?
- Se acalma, eles me passaram uma lista de músicas que você precisa ensaiar antes da
apresentação.
- Músicas? – Nunca um plural me meteu tanto medo. – Eu não sei! Eu não vou! – Me
agitei.
- Acho que entendeu errado. – Não se importou com minha desgraça. – Fica fria, eu te
ajudo se quiser.
- Canalize metade da coragem que tem para brigar e use-a ao tocar, e dará tudo certo.
- Você! – Enfiei o dedo na cara dela, brava. – Não tinha o direito de fazer isso!
A idiota nem ligou e mordeu levemente meu dedo. Respirei fundo sem saber o que
fazer, eu não estava preparada para aquilo. Uma vez, cogitei a possibilidade, porém,
saber que tinha data e hora marcada, fez minha cabeça girar.
- Shhh... – Lexa roçou o dedo em meus lábios. – Nós formamos uma dupla bizarra, mas
muito eficaz. Conseguiremos dar um fim nesse seu medo de palco. – Aproximou a boca
de meu ouvido. – Confie em mim! Eu sou boa nisso, até te fiz perder o medo de trovões.
– Sussurrou.
***
À noite, antes do jantar, fui tomar um banho para me tranquilizar. Enquanto sentia a
água escorrer por meu corpo, pensava no que faria na Quarta. Tinha calafrios só de me
imaginar tocando para estranhos. Como alguém tão apaixonada por música como eu
podia ser azarada ao ponto de quase enfartar ao ouvir a palavra: palco?
- Don't be stupid, you know i love you (Não seja estúpido, você sabe que eu te amo)
Don't be ridiculous, you know i need you (Não seja ridículo, você sabe que eu preciso
de você) Don't be absurd, you know i want you (Não seja absurdo, você sabe que eu
quero você) Don't be impossible (Não seja impossível...)”
Quando dei por mim, não só estava cantando alto, como também, dançando. Quem
diria, hein? Esse era o tipo de coisa que nunca sairia daquele banheiro. Eu podia me
soltar um pouco, afinal, eu precisava de um momento a sós comigo mesma. Dancei
despreocupada, usando a ducha como microfone. Ri muito de mim mesma.
- “I'm mad about you (Eu sou louca por você) Can't live without you (Não posso viver
sem você) I'm crazy 'bout you (Eu sou louca por você) So don't be stupid, you know i
love you (Não seja estúpido, você sabe que eu te amo...)”
Inesperadamente, ouvi uma gargalhada estrondosa. Como o boxe estava fechado, não
tive certeza se o som vinha mesmo do banheiro. Torci para que não. Então, a gargalhada
se repetiu.
Engoli em seco antes de abrir um pouquinho o boxe. O que vi, me fez arregalar os
olhos. Lexa estava sentada na ponta da pia de mármore, fazendo malabarismo com
minhas escovas. Fechei o boxe tão rápido que ele chacoalhou audivelmente.
Arfei.
- Onde está a privacidade dessa casa? – Me revoltei. – Estou tomando banho, caramba!
- Percebi. – Riu alto. – Não estou vendo nada, mas ouvi tudo!
- Vá embora!
- Não está cantando mal. – Zombou. – Nem sabia que você cantava no chuveiro.
O pior é que eu não cantava, no dia que abri uma exceção fui flagrada. Cara, cadê a
minha sorte?
- Continue.
- Sai daqui!
- Quanta preocupação, pirralha... – Quando foi que ela ficou mais sarcástica que eu? - ...
Já conheço seu corpo como a palma da minha mão. – A idiota falou como se aquilo
anulasse minha timidez.
Certo que ela já me vira nua, mas ali no banheiro me senti exposta. Se ao menos, ela
também estivesse...
CALA A BOCA!
Gritei mentalmente para a parte de mim que era absolutamente louca por aquela babaca.
Chateada, peguei o vidro de xampu que estava perto de mim e o joguei com força contra
a sujeita. Infelizmente, ela desviou facilmente.
Lexazinha a estendeu para mim, tentei agarrá-la, mas ela a puxou de volta.
Gargalhou altíssimo.
- Às vezes, sim! Quero dizer, é divertido quando brigamos por coisas bobas. Poucas
pessoas me fazem rir tanto.
Que estranho bom humor atingiu a Woods? Nem parecia a mesmo de Arkadia.
Lembrei-me do semblante dela, Abby e Kane mais cedo. Era como se, de repente, ela
transbordasse confiança e esperança.
Ok, ok, não sou burra. Sei que a garota ficou contente por presenciar as palavras que
troquei com a mosca não tão morta, porém, eu não tinha dito nada que modificasse
permanentemente nossa situação. Ou tinha?
Aiiii... Que ódio! Ela conhecia meus pontos fracos. Óbvio que eu não ia ficar por baixo.
Queria aquela porcaria de toalha e iria tê-la.
- Viu só? – Ela riu triunfante. - Quando você se concentra no objetivo, esquece a
timidez. Vai se sair bem na Quarta!
Só aí percebi o que ela fizera. Fiquei pasma ao notar que a garota estava certa. Nossa!
A insinuação dela encheu minha cabeça de imagens que fizeram meu coração disparar e
minha pele arrepiar-se.
Porra! Concentra, Clarke, concentra! Se ela te quiser agora, vai ter que parar de te
enrolar e te pedir em namoro... Outra vez!
A Woods desceu da pia e foi para a porta. O inacreditável veio depois. Debochado, me
imitou ao cantar:
- “So don't be stupid, you know i love you (Não seja estúpido, você sabe que eu te
amo...)”
Lexa PDV
Ri muito enquanto andava pelo corredor, cheirando a toalha que roubei do meu frango.
Não sabia se era Polis, a Clarke de noiva ou ver ela tão madura e altruísta que estava me
fazendo parecer uma bobona apaixonada.
Era ótimo sentir que o futuro podia não ser tão terrível quanto imaginei. Talvez, no
final, desse tudo certo. Será que a pirralha me entenderia quando chegasse a hora
decisiva? Entenderia a todos nós?
Totalmente absorta, só notei que Linc falava comigo quando me arrastou pela camisa
até seu quarto. Bateu a porta com força atrás de si e vociferou, irado.
- Já chega, Lexa, para de fugir! Quero a verdade! Não me venha mais com rodeios, me
diga o que sabe sobre a Octávia agora!
- Finn está apaixonado por ela. Acho que vai roubá-la de você!
Lexa PDV
- Calma aí! – Me aproximei. – Quem disse que ela te traiu? Finn me garantiu que não
aconteceu nada entre eles. Cara, eu não acredito que Octávia seja capaz de algo assim.
Só porque o Collins está interessado nela, não significa que sua garota esteja
retribuindo.
Minhas palavras não surtiram o efeito que eu esperava. Linc continuou alterado,
andando de um lado para outro. Não queria ter bombardeado meu irmão daquela forma,
mas, infelizmente, não havia outro jeito. Não consegui achar as palavras adequadas, se é
que existiam. Seu sofrimento era visível e isso me incomodou.
- Já faz um tempo que tenho notado Octávia indiferente e distante. Agora eu sei por quê.
No fundo, acho que já esperava por uma coisa assim. Acredito que exista algo entre os
dois. Podem não estar juntos, mas devem estar há um passo disso.
Ele socou o ar, revoltado, grunhiu algumas frases ininteligíveis e o esperei extravasar.
De repente, me encarou enfurecido.
- Desculpe! – Me sentia tão mal que nem soube o que lhe dizer. Metade de mim se
sentia traindo Finn e a outra metade, Linc.
- Isso é definitivamente um problema! Entendo que ela é sua primeira namorada e que
se sente inseguro por vários motivos. Só que não pode deixar o medo que tem de perdê-
la se transformar em desconfianças sem fundamento. – Hesitei antes de lhe falar a
verdade. – Acredito que o grande problema não é nem Finn, nem Octávia, e sim, você!
Lincoln assentiu.
- Preciso de um tempo para pensar, um tempo comigo mesmo. – Senti que ele entendera
bem o que falei sobre o problema estar nele.
- Tudo bem. – Caminhei até a porta. – Se precisar de qualquer coisa, por favor, conte
comigo. – Não queria deixá-lo, mas precisava.
Tinha esperanças de que Lincoln se encontrasse. A insegurança sempre foi uma sombra
em sua vida.
Octávia PDV
- Os garotos viajaram. – Falei, imaginando que talvez estivesse procurando por Lexa.
- Comida congelada? Hum, minha preferida! – Brincou. – Por que não retornou minha
ligação ontem?
- Droga! – Passou a mão pelo cabelo. – Não sei como fazer isso!
- Isso o quê?
Collins me deu as costas e caminhou pela sala, lutando contra um inimigo invisível.
- Finn! – Insisti.
Seus olhos negros pousaram sobre mim, melancólicos e, ao mesmo tempo, tensos.
Encurtou a distância entre nós com alguns passos largos.
- Que...?
- Meu Deus, Finn, o que você tem? Nós somos tão bons dialogando, quebramos tantas
barreiras nesse último mês! Por que agora não consegue conversar comigo?
Collins segurou-me pelos ombros. Fiquei pequenina diante dele, mas isso não me
intimidava nem um pouco.
- Deve! – Incentivei.
O que eu não esperava é que ele fosse me agarrar, pressionando seus lábios nos meus,
com um furor que me deixou sem ação.
Arregalei os olhos, primeiramente chocada, depois, foi que entendi o que ele estava
querendo me dizer. Enquanto sua boca esmagava a minha, tentei respirar em meio à
confusão. Tentar me desvencilhar era humanamente impossível. O beijo de Collins era
abrasador, intenso e cheio de confiança. Era algo tão diferente do que eu estava
acostumada, que, por um breve momento, cedi. Logo depois, me desesperei.
Soltei um grito abafado contra os lábios dele e isso o fez se afastar, cauteloso.
- É isso que vim te dizer! – Ergueu as mãos, mostrando que não repetiria o ato.
- Só me dirá isso?
- Não tenho o que dizer! Por que fez isso? Por quê? – Questionei, aflita.
- Porque é certo!
- Sei que está preocupada com seu namorado, mas, Octávia, entenda, Lincoln é um bom
rapaz, só que você precisa de um bom homem! – Apontou para si.
- O quê? – Balancei a cabeça. – Não diga isso! Somos amigos, Finn, é assim que somos
bons, como amigos!
- Para de lutar contra. – Collins sussurrou. – Eu sei que você também me quer.
Dizer que eu não adorava passar um tempo com Finn seria mentira. Ficava contente ao
seu lado. Seria possível estar mesmo gostando dele?
Não! Não!
Então, por que aquilo estava acontecendo? E pior: por que estou pensando nisso tudo se
o que preciso dizer é que nós nunca seremos um casal?
- Vou te dar um tempo para absorver as coisas... – Afagou meu rosto e me afastei, em
reflexo. – Me procure! – Saiu, deixando um rastro de dúvidas atrás de si.
O que aconteceu foi tão errado, que a culpa me assolou sem piedade.
Lexa PDV
- Sei os acordes e estou tocando no tempo e no tom certos... Até sei as letras! É só que...
– Passou as mãos pelos cabelos. - ... Não sai natural, entende? Pareço um robô, está
tudo mecânico e tem horas que eu, mesmo sabendo o que tenho que fazer,
simplesmente, não consigo.
- Esqueça!
Ela bufou, cedendo. Clarke teve dificuldades de tocar os primeiros acordes. Era como se
simplesmente nunca houvesse pegado em um violão antes. Foi muito estranho, mas não
fiz comentários. De repente, o que era ruim, ficou pior. Ela embaralhou as notas e eu
não consegui saber o que estava fazendo.
- Não está ruim... Está horrível! – Tive que falar a verdade. Abruptamente, se levantou
chateada com a crítica. – Ei, Clarke! Calma, você tem tempo...
Não adiantou tentar reverter a situação. A garota entrou em casa e subiu as escadas,
quase correndo. Olhei para o degrau, desanimada, e percebi que ela deixara o Ipod lá. O
peguei, percebendo que a música que tentou me mostrar, ainda tocava. Resolvi, então,
ouvir, na esperança de ter alguma ideia de como ajudar meu frango.
Anya PDV
No conforto da minha cama, com o notebook sobre as coxas, conversei com Raven
através do Skype. Fazia algum tempo que nos pegávamos, lógico, sempre às
escondidas, na maior safadeza e promiscuidade. Do jeito que a Bandida gosta!
Não deu para evitar, fiz a dancinha da vitória. Eita, calor bom! Digitei rapidinho...
Cuandu eu ti pegar num vai sobrar nadinha! Vou ti dar uma pau-mada bem gostosa.
Hehehehe
Estou ansiosa por isso! Vamos fazer agora, tigresa, não aguento esperar! ]
Tirei a camisa rapidão, pronta para ligar a webcam. De repente, a porra de uma janela
no Skype começou a tremer e piscar. Cliquei em cima e li a mensagem.
COMO PODE?
Não entendia como o maldito Sem Pregas tinha entrado novamente no meu Skype. Eu
tinha excluído aquela porra várias vezes! Digitei, furiosa...
Seu filho de uma cadela véia! Larga de mim açonbração! Vai roubar o Kane!
Que merda! Além de ouvir a risada escrota dele agora tinha também que ler? Quase
afundei as teclas do computador ao digitar...
- Não! – Fechei o notebook com força e o joguei no chão. – Vou matar aquele viado!
- Esfria a cabeça aí! – O voador se aproximou, todo estranho. – Tenho uma coisa para te
pedir.
- O quê?
- Você tem que me ajudar a ser um cara mais... Descolado, você sabe!
Ele suspirou, então, começou a falar bem rápido. Com tanta informação, meu queixo
despencou.
***
Clarke PDV
- Lexazinha... – Gemi.
- Como é? – Gargalhou.
Ao ouvir a risada, abri os olhos, sentando-me rapidamente. Meu coração quase saiu pela
boca ao descobrir que eu não estava sonhando. De fato, a Woods estava sentada ao meu
lado.
- Puta que merdaril! – Sem querer, grunhi uma mistura de puta merda com puta que
pariu. Isso fez Lexa gargalhar com mais vontade. – O que está fazendo aqui? – Me
aborreci.
- Esqueça!
Abri um olho e constatei que Nessie não estava na cama. Logo em seguida, o fechei,
tentando voltar a dormir.
- O que falou?
- Como você é molenga! – Reclamou, se levantando e puxando meus braços para que eu
fizesse o mesmo.
Fingi que a idiota nem estava ali e pendi o corpo para trás, dificultando o máximo que
eu podia. Já era muito difícil ter que lidar com o medo de não conseguir tocar na Quarta
e, com Lexa me criticando, era impossível. Sentia-me derrotada com ela me analisando
e julgando, como fizera na noite passada.
Ignorei as tentativas dela de me tirar da cama, fingindo dormir como uma pedra. Fiquei
irritada quando a insistente me jogou em seu ombro. Mesmo assim, continuei parecendo
Abri os olhos e adivinha só... Não, não adivinhe! Você já sabe que ela me colocou
embaixo do chuveiro.
ÓDIO!
Fechei a ducha o mais rápido que pude, tremendo dos pés à cabeça. Lexa saindo do
banheiro, falou:
- Você tem cinco minutos para ficar pronta e ir até o meu quarto ou...
- Conto pro seu pai esse lance aí de: vem com tudo, vem!
Dentro do prazo que a babaca estabeleceu, fui até seu quarto, estacando em frente à
porta, com meu violão em mãos. Suspirei antes de empurrar a porta, dizendo:
- Tudo bem. Nós... O QUE É ISSO? – Apontei, vendo-a de calça e jaqueta jeans,
camiseta branca, botas e chapéu de cowgirl.
Pisquei os olhos duas vezes antes de explodir em uma estrondosa gargalhada. E não foi
uma gargalhada qualquer, foi uma daquelas que você perde as forças e não consegue
respirar.
- Muito! – Ironizei.
- Que bom, porque tenho uma roupa para você também! – Apontou para a cama e minha
alegria evaporou imediatamente.
Lexa PDV
Griffin, trancada no meu banheiro, vestia a roupa que lhe comprei naquela mesma
manhã. Ela ainda discutia, achando que eu estava ouvindo atentamente, só que eu já
- Não, vou ficar e estudar um pouco. – Respondi. Seria apropriado dizer que estudaria a
filha dele? Provavelmente, não.
- Ela deve estar dormindo. Nossa viagem para cá foi bem cansativa. – Tive que mentir,
mas Abby notava quando eu fazia isso. Ela me encarou e depois sorriu, talvez achando
que eu e a pirralha desejávamos ficar um pouco a sós.
Na verdade, ela não estava totalmente errada. Iríamos ficar sozinhas, mas não
pretendíamos namorar ou coisa do tipo.
- Coloquei ele para estudar também! – Anya disse, todo orgulhosa. A fitamos, confusos.
– Ele está proibido de sair do quarto até terminar as lições que lhe passei.
- É o céu! – Bellamy jogou as mãos para o alto. – Luzes, glamour, roupas, bofes...
Quando eu morrer, me enterrem lá!
- Quando vou deixar de ser tão humilhada? Isso é uÓ! – Jogou-se nos braços de Kane. E
lá vinha a rainha louca do drama! – Por que eu? Gente, eu nunca fiz mal a uma mosca
para ser tão pisada e escarrada!
- Parou com tudo! – Arrancou a bolsa das mãos da Mini-Clarke. – Eu tenho pedigree,
tenho sangue azul. Uma bicha da minha categoria não se rebaixa jamais! E quer saber?
Eu nunca gostei mesmo de vocês, carniças sem classe! Morram! Au revoir! – Se
despediu em francês, já abrindo a porta.
- Fique. Não ligue para as brincadeiras delas. – Minha mãe tinha uma paciência...
- Eu falei odiar? Quis dizer RESPEITAR... – Saltitou de volta, com uma cara de pau
sem tamanho. Depois, abraçou Abby. - ... É tão maravilhosa essa nossa ligação familiar.
Temos uma química incrível!
Revirei os olhos.
- Vamos logo, antes que comece a chover. – Pediu meu padrasto. – Anya, você também
vai ficar para estudar?
Eu já tinha percebido que, sem querer, as abobrinhas do pavão tinham entrado para
nosso vocabulário.
- Porra! – Ela xingou, marchando porta afora. O chão até tremeu. Lógico, o viado fulêro
foi atrás dela.
- Não vamos demorar. – Kane se despediu dando um tapinha nas minhas costas.
Virei-me para subir as escadas e avistei Clarke no topo dela, dentro das roupas que lhe
dei. Sorri satisfeita. Ela esperneava, mas sempre fazia o que eu pedia.
O problema é que não parecia muito satisfeita com o jeans detonado, a camiseta
mostrando a barriga, botas vermelhas e o chapéu de cowgirl.
- Nossa, você é um gênio, Woods! Sabe que eu nem desconfiava que o motivo era esse?
- Obrigada. – Sorri. – E é por isso que estamos vestidas assim. Você precisa se sentir
uma musicista Country, precisa gostar do ritmo e, principalmente, incorporar o gênero.
Pode fingir que está interpretando um personagem, se quiser.
- É o meu charme! – Gargalhei. Ela, irritada, revidou, mostrando o dedo. – Viu? E esse
é o seu! – A puxei pela mão até meu quarto.
- Temos mesmo que fazer isso? – Percebi que ficou tensa, por isso, tentei descontrair o
ambiente.
- Ôxi, muié! Tu num sabe que nóis tem que fazer ocê tocar bem?
Clarke PDV
Que porra de sotaque caipira era aquele que a Lexa estava fazendo?
Você não vai rir! Não vai rir! Não é hora para isso!
- Pare, por favor!” – Implorei baixando a cabeça, mas a infeliz notou que eu estava
quase caindo na sua brincadeira ridícula.
- Anda, muié, se avexe aí e toque, modiquê nóis cair num arrasta pé!
É, não deu pra aguentar! Eu ri feito uma tapada. A Woods da roça era muito engraçada!
Mesmo a Lexa tentando manter o ambiente descontraído, ainda não consegui tocar bem.
Na quinta tentativa, soltei o violão no chão e coloquei as mãos no rosto.
Frustrada, arrastei o violão porta afora. A Woods esperava muito de mim e, não atingir
suas expectativas, me machucava. Senti que ela me seguia. Mesmo assim, entrei em
meu quarto e fechei a porta na cara dela, dizendo:
- Me dá um tempo, ok?
Encostada na porta, deslizei até cair sentada. Perto de Lexa, minhas mãos tremiam, as
notas pareciam se misturar em minha mente, meu estômago embrulhava como se eu
fosse vomitar.
Pousei a testa nos joelhos, frustrada. Em que mais trabalharia? Eu não era boa em nada.
- Clarke... – Lexa murmurou. - ... Você tocou tão bem no vídeo que fez para mim. Tenta
novamente!
Após minha declaração o silêncio foi perturbador. Senti um peso sobre meus ombros, o
peso da derrota!
Lexa PDV
Queria encontrar palavras de incentivo que ainda não houvesse usado durante as cinco
vezes que meu leãozinho tentou tocar a canção.
Sabia que Clarke podia, só não imaginava como me fazer útil naquele momento. A
música que ouvi várias vezes ainda ecoava na minha mente. Olhei para o teto, distraída
e cantarolei, me concentrando em um jeito de ajudar a pirralha.
- “Everybody wants a little piece of my time (Todos querem um pedaço do meu tempo)
and still I put you at the end of the line (E ainda coloco você no fim da linha) how it
breaks my heart to cause you this pain (Como ela quebra meu coração para causar
essa dor) to see the tears you cry fallin like rain (Para ver as lágrimas que você chora
caindo na chuva )…”
Clarke PDV
Surpresa, escutei atentamente. Era baixo, mas sua voz rouca e sexy me impelia a querer
ouvi-la mais.
- “Give me the chance to prove (Me dê a chance de provar) and i'll make it up to you (E
eu farei para você)”
Agora, ela estava cantando um pouco mais alto, ao ver que eu estava reagindo àquilo.
- “With a love that will always be (Com um amor que sempre será) standin so strong
and true (Tão forte e verdadeiro) baby I still believe in you and me Baby, (eu ainda
acredito em você e eu)”
Percebi que Lexa se esforçava muito e sem ganhar nada em troca. Como eu podia
desistir de mim mesma se ela não desistia?
- “Somewhere along the way i guess i just lost track (Em qualquer lugar ao longo
caminho, acho que perdi a noção) Only thinking of myself never looking back (Apenas
pensando em mim, nunca olhando para trás) for all the times i've hurt you, I
apologize (Para todas as vezes que machuquei você, peço desculpas) I'm sorry it took
so long, for me to realize (Desculpa por ter demorado tanto tempo, para perceber) give
me the chance to prove (Me dê uma chance para provar) that nothing's worth losing
you (Que nada vale a pena perdendo você)”
Lexa PDV
- “Give me the chance to prove (Me dê a chance de provar) and i'll make it up to you (E
eu farei para você)– I still believe in you (Eu ainda acredito em você)...”
Sim, a pirralha sabia o que fazia. Só faltava se dar conta de o quanto era boa.
- “With a love that will always be (Com um amor que sempre será) standin so strong
and true (Tão forte e verdadeiro) Baby I still believe in you and me Baby, (eu ainda
acredito em você e eu)”
Clarke PDV
A harmonia fluiu, encaixando-se com o timbre da Woods. Foi tão fácil tocar com ela se
expondo e abrindo caminho para que eu me expusesse também. Isso fez a insegurança
dissipar-se. Senti que podia tocar o restante da canção tranquilamente na presença dela,
ou de qualquer outro. Porém, não ousei interromper aquele momento.
- “Give me the chance to prove (Me dê a chance de provar) and i'll make it up to you (E
eu farei para você) I still believe in you (Eu ainda acredito em você) With a love that
Hum, o tal Country estava começando a subir no meu conceito. Eu, como uma típica
roqueira, normalmente acharia a canção brega e melosa. No entanto, com Lexa
cantando, a letra soava... Pura e... Não sei,... Sincera? Seria possível? Talvez a música
estivesse me influenciando a ponto de achar tal coisa. De qualquer forma, quem a
compôs, parecia ter colocado muito de si nela e isso requeria coragem, coisa que
admiro.
Levantei cheia de energia e abri a porta rapidamente. Lexa desabou no chão. Estranhei,
mas me limitei a fitá-la. Ela me lançou seu mais brilhante sorriso. Então, mostrou o
polegar em sinal de positivo.
Eu tinha tocado muito bem e tinha plena consciência disso. Era como se eu estivesse me
encontrando musicalmente. Sim, eu podia tocar qualquer gênero!
Nem deveria, mas pulei feito uma criança. Só eu sabia o quanto aquilo era importante
para mim. Sempre toquei para mim mesma, me limitando ao Rock. Aquela foi a
primeira vez que tentei algo diferente, e não era só, também era a primeira vez que
acompanhei alguém. Agitada, me joguei contra Lexa dando-lhe um forte abraço. Enchi-
me de esperanças de me dar bem no Hippy Shake, pois percebi que conseguia tocar
dignamente, só precisava me permitir tal coisa.
Quando me afastei, ela deu um passo atrás, colocando as mãos nos bolsos ao responder:
- Ah, não foi nada. – Ao invés de ficar metida como eu esperava, ficou meio tímida. O
que eu achei muito, muito bonitinho.
- Tudo bem... – Revirei os olhos. - ... Pode ficar metida agora, mas só um pouquinho!
- Vai lá, eu sei que você está doida pra ficar metida. – A cutuquei. – Eu deixo, hoje
mereceu.
- Bem... – Suspirou. - ... Nesse caso... – Cruzou os braços. - ... Eu já sabia que eu ia
conseguir te ajudar. Você sabe, eu me garanto!
Eu aguento!
Ela caminhou pelo corredor, toda vaidosa. Pulei em suas costas, como antigamente
quando eu a chamava de minha pangaré. A Woods nem reclamou. Então, me perguntou:
- Vamos ensaiar?
Lexa e eu passamos um bom tempo ensaiando, ela cantou todas as vezes, me ajudando.
Meu progresso era quase inacreditável. Talvez refletisse minha momentânea felicidade.
Por volta das 18:00h, saí do meu quarto e fui falar com Abby. No corredor, quase fui
atropelada por uma mini-mim elétrica em cima do skate novo. O porco estranho corria
atrás dela.
- É radical!
Sorri. Quando passei em frente ao quarto de Lexa, me perguntei se ela estaria no banho.
Queria tanto me vingar do que ela me fizera no Sábado. Olhei de um lado para o outro,
e como só havia Nessie brincando no final do corredor, me inclinei e espiei pela
fechadura.
DROGA!
O quarto estava vazio. Colei o ouvido na madeira e percebi que lá estava mais
silencioso que um túmulo, nem um barulhinho de ducha para me dar esperanças. Queria
pegá-la desprevenida, só de toalha e lhe dar o troco. Resolvi dar uma espiada.
Assustada, cambaleei para trás, derrubando um vaso de flores que eu nem percebi que
estava atrás de mim. Olhei para Lexa e ela ainda me encarava, plantada próxima à porta.
- Claro que não... – Debochou. - ... Estava confraternizando com minha porta.
Assenti, passando por ela mais vermelha que uma pimenta. Desci as escadas, tão
envergonhada que não ousei olhar para trás.
Na cozinha, encontrei a mosca não tão morta arrumando uma macarronada na travessa.
Assim que olhei para o prato, falei incapaz de me conter:
- Sim. – Ela sorriu. – É a primeira vez que faço desde aquele dia.
- Quero.
- Odeio sua filha! Passamos o dia juntas e foi tão legal! O que ela está esperando para
ficar comigo? Estou ficando desesperada, hein?!
- É? – Franzi o cenho.
- Sim! É hora de ir à luta! Estabeleça uma meta, diga para si mesma que voltará à
Arkadia com ela sendo sua namorada.
- Já tentei antes e foi desastroso. Além disso, nas vezes em que nos beijamos ou...
Ficamos juntas ela agiu como se nada tivesse acontecido. Lexa não quer um
relacionamento! – Garanti emburrada.
- Sério? Ela não quer? Então, por favor, me responda: Lexa te ajuda sempre que está
com problemas?
- Sim.
- Te defende? Compra presentes? Passa a maior parte do tempo livre dela com você?
- Sim...
- Não sei, mas se me permite um conselho, vista algo bonito e a seduza de vez, esta
noite em Port Angeles. Extrapole seus limites. É por uma boa causa!
- Sim. A ouvi combinando com Anya. Parece que vão ver uma banda.
- Continuo acreditando que ela irá te convidar. E quer saber? Se eu estiver certa, você
será a primeira a provar minha macarronada!
- E se estiver errada?
- Ok! – Assenti sabendo que ela estava totalmente errada. Lexa tinha passado o dia
comigo, era natural que quisesse sair com a irmã e pegar umas biscalinhas. A ideia me
deixou muito inquieta.
Nos minutos seguintes, tristonha, ajudei Abby a pôr a mesa para o jantar até que a
Woods apareceu, absolutamente linda com seu jeans azul, blusa preta de alça fina que
mostrava um pequeno decote, que não passou despercebido por meus olhos, jaqueta de
couro e as botas que usou pela manhã. Além disso, usava uma maquiagem leve que
realçava ainda mais seus olhos verdes. Procurei não encará-la, me concentrando nos
guardanapos.
- Obrigada.
- Kane, você permite que a Clarke vá à Port Angeles conosco? Me responsabilizo por
ela, prometo!
- Não vejo problema algum, só tomem cuidado e não voltem muito tarde. – Respondeu
meu pai.
Encarei Abby e ela já enchia meu prato com sua macarronada. Como eu tinha apostado,
tive que voltar para mesa. Confesso que comi feliz, nem reclamei por Lexa e Kane
agirem como se eu ainda fosse menor de idade.
***
Lexa PDV
- O Lincoln não vai? – Perguntei para Anya, que entrava no seu jipe.
- Já falei que o voador não vai sair do quarto. O cara está estudando! – Bufou mudando
de assunto. – A Loira está demorando muito.
- Deus me livre, eu não posso falar nada que já me metralham. Isso é uÓ! – Sentou-se
no banco de passageiro do Jipe. Isso fez minha irmã arregalar os olhos, ficando
vermelha.
Aquilo foi a gota d’água para Anya, que voou no pescoço da bicha. Sem muita vontade
fui socorrer Bellamy, que sacudia as mãos para o alto, roxo.
- Chega, Anya, não vamos estragar nossa noite por causa disso.
- Ele vai se comportar, não é Bellamy? – Fitei o coitado que já revirava os olhos. –
Além disso, nossa mãe vai ficar uma fera quando souber que machucou o amigo do
Kane.
- Prestígio, meu amor! Eu sou das altas rodas, tá? Ou você acha que comecei a piscar só
agora?
- Por favor... – Implorei. - ... Não precisamos saber quantas vezes você já piscou na
vida.
Virei-me e, ao vê-la, não pude disfarçar minha cara de bobona. A pirralha estava muito
linda. Seus olhos, realçados pela maquiagem escura, faziam um contraste sensual com a
boquinha vermelha. Meus olhos percorreram o restante de seu corpo e constatei que a
blusa bege de mangas compridas, até era comportada. O problema era o excesso de
botões abertos, exibindo o busto em um decote quase obsceno. Torci para que as
pessoas se distraíssem com a sua gargantilha que tinha um pingente em formato de
guitarra e não com o pedacinho do sutiã que aparecia. O jeans preto era muito justo, mas
ficou legal com as botas vermelhas que lhe dei.
Eu tinha certeza que sabia como respirar, só não conseguia. Fiquei nervosa feito criança
em primeiro dia de aula.
Clarke PDV
- Bellamy está falando com você faz um tempão. – Atordoada, fitou o viado, que lhe
encarou super aborrecido.
- Mundiça uÓ! Conecte-se à terra, por favor! Fiquei anos luz aqui te perguntando se
vamos todos juntos ou separados!
- Eu sempre tive uma dúvida. – Anya me encarou. - Por que tudo junto escreve
separado e separado escreve tudo junto?
- Ah, pelo amor de Deus, vamos embora antes que meus ouvidos comecem a sangrar! –
Arrastei Lexa até a Suzuki.
Ela subiu na moto e eu, na maior cara dura, me escalei para uma carona. Coloquei o
capacete e esperei ela fazer o mesmo, para por meus braços em volta de sua cintura.
Deixei que minhas mãos deslizassem para dentro de sua blusa, acariciando a
Uma pessoa?
***
Quando chegamos ao bar Cadillac Ranch foi que entendi porque a Woods havia me
dado botas de presente. Ali era um típico bar Country, rústico e com uma decoração que
me lembrava o Velho Oeste. A pista de dança estava repleta de pessoas vestidas a
caráter. O estilo cowboy predominava. Uma banda estabelecia o ritmo, agitando a
galera. Fiquei surpresa em ver até um touro mecânico.
- Não acredito que me arrumei toda para vir me misturar com esse povo TPM! –
Bellamy pôs a mão no peito. – Me sinto praticamente uma plantadora de milho!
- Muié, ocê planejou tudin desdo cumeço, num é? – Imitei o sotaque que ela fizera pela
manhã.
- Vejam isso! – Mostrou um folheto. – Estão pagando 400 pratas para quem conseguir
ficar 20 segundos em cima do touro mecânico.
- Não é tão fácil quanto parece. – Lexa sentou-se, rindo do nosso desespero.
- Quer saber... – Estreitei os olhos, passando um braço em volta do pavão. - ... Nós
podemos conseguir!
- Tudo bem. Fechado! – O viado estendeu a mão para mim e eu a apertei, fazendo uma
aliança que provavelmente me arrependeria.
Com força, arrastei a bicha para a fila que se formava perto do touro mecânico.
Havia umas vinte pessoas à nossa frente e aquilo me desanimou um pouco. Obviamente,
Bellamy não respeitou a fila e saiu empurrando as pessoas até chegar na frente. Eu,
idiota, o segui.
- Ei, sabia que existe fila por um motivo? – Reclamou um cowboy atrás de nós.
- É, sai daí, seu maricas! – Até a galera no final da fila estava indignada.
- Eu tava até sendo educada, sabe, mas vocês que pediram, seu bando de Jecas,
comedores de milho dos infernos! Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira! – Bateu o
pé no chão.
- Daqui não saio, daqui ninguém me tira! Vão se ferrar suas carniças e mundiça!
- Um dia desses, você ainda leva um tiro. – Falei, olhando para a saída e me
perguntando se era hora de dar o fora.
O viado e eu erguemos a cabeça lentamente para conseguir encará-lo, pois o sujeito era
muito alto.
Estava chegando nossa vez e eu, que não era besta, coloquei o viado pra se ferrar
primeiro.
- Ai, meu Deus, estou com medo! – Ele murmurou, mordendo o punho.
- Não há motivo para temer! – Apontei para o touro e foi aí que ouvimos:
O grito veio do último competidor, que foi jogado para fora do colchão inflável, o único
item de segurança que havia.
- Fica na sua, Draga da roça! – xingou, depois colocou as mãos nas bochechas. – Raxa,
eu odeio esse cafuçaral! Odeio!
- Isso, Bellamy!
- O quê?
- Use sua raiva! Li em algum lugar que a raiva canalizada aumenta a força muscular.
- É verdade?
- É sim... – O segurei pelos ombros. - ... Agora vai! – O empurrei em direção ao desafio
e o maldito deu meia volta.
- Sim! Fedorento, feio, lascado, escroto... TUDO... Menos fodido! E não é só, você
nunca piscará na galáxia porque é um... – Ele já lacrimejava com as mãos tremendo. - ...
POBRE!
Bellamy, fora de si, tentou me dar uma bofetada. Rapidamente, me abaixei e a mão dele
atingiu a cara da mulher atrás de mim.
E ele foi!
O idiota não conseguiu subir no touro, sempre que saltava para tentar montá-lo, o povão
ria e gritava, o provocando:
Para minha alegria e do pessoal que se amontoou ali perto para ver o espetáculo, o
lunático montou no touro.
O cara que comandava a brincadeira ligou o cronômetro eletrônico. O touro mexeu para
frente e para trás lentamente. A bichona, satisfeita, me deu um tchauzinho. O brinquedo
então se tornou mais rápido, chacoalhando forte.
Que novidade!
Assenti, me acovardando.
- Fala! – Grunhi.
- A galera usa toda a força logo no início, quando o touro se mexe pouco. Precisa
relaxar as mãos no começo e segurar firme quando ele girar rápido, pois todo mundo cai
quando o troço gira!
Respirei fundo, fitei rapidamente Lexa, que ria feito uma paspalhona e fui em direção ao
touro. Já Bellamy, rastejava de volta.
Subi no colchão inflável e, com alguma dificuldade, subi no touro. O bar em peso me
assistia.
Engoli em seco, pegando na alça do bicho. Encarei as Woods e elas gargalhavam, quase
passando mal.
Força, mulher!
- ESTOU PRONTA!
Não me preocupei com o cronômetro e sim com a dica de Anya. Não segurei com muita
força quando o touro chacoalhou indo para frente e para trás. Achei que conseguiria, até
que o troço começou a ficar mais rápido. Usei toda a força das minhas pernas para me
manter firme no local. Infelizmente, meu corpo hora se projetava para frente, hora para
trás. A máquina tremia abaixo de mim, fazendo um barulho esquisito no momento que
aumentou o ritmo. Não deu para aguentar, fechei os olhos e simplesmente...
- AAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!
- 5... 4... – O pessoal fez a contagem regressiva incentivando. Já eu, berrava feito louca,
balançando para todos os lados. Meu cabelo não ajudou, entrando na minha boca.
Minhas mãos, doloridas, deslizavam perigosamente. - ... 3... 2.. 1!
Foi nesse exato momento, que fui jogada no ar, caindo de cara no colchão. Nem
consegui me mexer. Pouco me importava os aplausos. Eu estava morta!
***
Anya e Bellamy ficaram animados e me arrependi de ter feito acordo com eles. Como
haviam me pagado os 400 do prêmio com oito notas de 50 dólares, a divisão seria fácil.
- Vou dividir devagar para ninguém achar que estou enrolando. – Avisei arrumando as
notas na mesa. – Primeiro, duas notas de 50 para a Anya... – Empurrei para perto dela. -
... Duas para o Bellamy e para mim também! – Peguei quatro notas.
- Espera! Isso não está certo. Você está nos roubando! – Esbravejou a maníaca
assassina.
- Ela tem razão, sua Draga safada! – A bicha tinha que intervir.
- Nossa, tudo bem! – Resmunguei. – Vamos trocar, então. Fiquem com o meu que fico
com o de vocês! – Empurrei meu dinheiro e recolhi o deles, o que deu no mesmo.
Fitei Lexa que tomava tranquilamente sua cerveja e coloquei minha mão por debaixo da
mesa apertando-lhe a coxa, sem cerimônias. A idiota engasgou imediatamente. Antes
que pudesse reagir, aproveitei a nova música que começou a tocar e lhe puxei para a
pista. Ela cambaleou confusa, mas me seguiu. Só quando ela parou à minha frente, foi
que percebi o problema. Eu não sabia dançar aquele estilo. Pareciam todos dançarinos
de Country profissionais, com suas botas estalando no piso de madeira e as mãos nas
fivelas dos cintos em uma coreografia legal, mas impossível para mim de acompanhar.
- É simples... – Lexa tentou me ajudar. - ... Passa um pé atrás do outro, depois bate o pé
esquerdo no chão e gira!
Fiquei atenta, só que aquilo era muito difícil. Eu mais parecia uma velhinha caquética
tentando esmagar baratas. Enfim, desisti e soltei a franga, dançando de qualquer jeito.
Girei, joguei as mão para o ar, rebolei e foi bem mais divertido assim. A Guaxinim
também desistiu e me acompanhou, curtindo.
Lexa me girou e quando voltei a encará-la, dei de cara com Anya, próxima a nós, toda
animada. Não sei o que me deu na cabeça, mas fui até ela e a puxei para dançar. O
bizarro foi ela aceitar. Confesso que foi divertido, porque a maníaca me ergueu no ar
algumas vezes. Só para completar, Bellamy chegou pipocando no salão. Me aproximei
dele e nós dançamos algo que se assemelhava a um tango, na maior zorra.
Bellamy a girou na pista mandando-a de volta para meus braços. Ela estava radiante e
sua boca mais tentadora que nunca.
Clarke PDV
- Ufa! – Diminuí o ritmo, dançando bem devagar. – Até suei! – Peguei a mão da Woods
e, sem sua permissão, passei por meu pescoço úmido, deslizando-a um pouco para
baixo.
Ela abriu a boca, depois a fechou como se não soubesse o que dizer. Estranhei quando
desviou o olhar do meu e fitou a cantora no palco. Puxou a mão e acenou para ela,
sorrindo. Óbvio que fiquei muito chateada.
Encarei a loirinha de cabelo curto, vinte e poucos anos, talentosa e que sorria demais
para o meu gosto. Lexa parou de dançar para ficar assistindo a garota cantar.
Mal humorada, cruzei os braços me sentindo uma completa tapada. Olhei para os lados
e Anya já tinha sumido, provavelmente passava a lábia na mulherada. Bellamy
rodopiava sozinho no salão, espantando os homens metidos a machões.
Cansei de ficar ali parada e me mandei para o bar, a fim de molhar a goela. Enfiei-me
no meio da multidão e sentei no balcão, na maior cara de pau. Isso chamou a atenção do
bartender que foi obrigado a me atender.
- Só saio daqui quando me der uma dose dupla de qualquer coisa! – Afirmei
determinada.
- Ei, Josh, atende a garota! – Falou o cowboy que se aproximou com um belo sorriso.
Ele devia ter uns 25 anos, cabelos e olhos castanhos, traços faciais muito perfeitos e
super simpático.
O bartender serviu minha bebida e no momento que me preparei para descer do balcão,
o tal homem teve a ousadia de me pegar pela cintura, me pondo no chão.
Lexa PDV
Fiquei alguns minutos procurando Griffin pela pista de dança, depois voltei para a mesa
acreditando que ela tivesse ido ao banheiro.
Sozinha, tomei a cerveja que havia deixado de lado. De repente, Anya apareceu
ofegante.
- O que foi?
Ela apontou e eu finalmente entendi o que quis dizer. A pirralha estava dançando uma
música romântica com um cara qualquer. Primeiramente, me levantei irada, depois
voltei a sentar ao lembrar que eu não tinha o direito de exigir nada dela. Então, me
limitei a assistir.
Clarke PDV
Dei uma breve espiada por debaixo do braço de Danny e ri da cara da Woods. Depois,
voltei a encarar o rapaz que estava me tratando com delicadeza e respeito. Ele fazia bem
o estilo de bom moço do interior.
No início, fiquei feliz, mas no decorrer da música, fui ficando triste ao cogitar a
possibilidade de Lexa não se importar tanto comigo como eu imaginara. Afinal, ela não
moveu uma palha para impedir que eu dançasse com aquele cara. Suspirei confusa.
- É o que você quer? – O cara questionou com Clarke, hesitando em soltar meu frango.
Clarke PDV
QUE PEGADA!
Lexa, séria manteve-se calada, enquanto nossos corpos seguiam o ritmo leve e
agradável.
- Por quê?
Enquanto ela não podia ver meu rosto, sorri abertamente. Voltei a ficar de frente para
ela, mantendo a fachada de indiferença. Era até irônico já que eu vibrava por dentro.
Quando girei Griffin, através dos espelhos da decoração a vi sorrir. Certamente ela não
sabia disso. Rocei meu polegar em sua bochecha e me esforcei para manter meus lábios
longe daquele local. De qualquer forma eu estava feliz, pois tinha evitado que outro se
aproveitasse do meu frango. O que posso dizer?
- Lexa, você não disse que me trouxe aqui para conhecer alguém?
- Ok!
Clarke PDV
Quando nosso momento na pista acabou, não voltamos para nossa mesa como eu
imaginava. Ao invés disso, fomos para outra mesa, longe da agitação no bar, nos fundos
perto das sinucas. Sentamos-nos e eu fitei a Guaxinim, toda confusa. Antes que eu
perguntasse qualquer coisa, ela falou:
- Aí vem ela!
- Olá! – Nos cumprimentou sorridente. Sentou-se sem ser convidada, ao menos não por
mim.
- Clarke, essa é Samantha... Samantha essa é Clarke! – Lexa nos apresentou e não me
senti muito à vontade com aquilo. Por que a idiota estava me apresentando uma de suas
paqueras? – Bem... Vou deixá-las a sós um pouco!
Meu queixo desabou enquanto a via se distanciar. A risada da tal Samantha me irritou e
a encarei, emburrada.
- Lógico!
- A conheci através do meu marido Jesse, meu guitarrista. Há uns dois anos atrás, acho
que no período das férias, Lexa trabalhou como bartender em um dos bares em que
tocávamos.
- Ah... Entendo. – Baixei a cabeça, me sentindo tola por ter tido um ciúme meio
descabido. – O que quis dizer com ‘exatamente como ela descreveu’?
- Está aqui por causa da música, Clarke. Lexa acha que posso te ajudar. – Sorriu cortês.
– Ela me mandou um vídeo de você tocando.
- Não sei o que dizer. – Fiquei muito envergonhada, afinal, ela era profissional.
- Você é muito boa, mas precisa saber que tocar Country não é como tocar Rock. De
todos os gêneros musicas, o Country é o mais... Sincero, porque sempre fala de amor e
relacionamentos. Não importa se as letras são sobre perdas, conquistas, traições ou
paixões platônicas. O Country é simples e direto como as pessoas que o inventaram e o
aprimoraram. Precisa passar sentimento! Eu era como você, uma típica roqueira e não
curtia nadinha esse estilo que muitos julgam caipira. Depois que meu pai morreu, me
mudei para Nashville buscando me encontrar na vida e foi lá, através das letras sempre
tão verdadeiras do Country, que me achei. Tive que ralar muito para me tornar uma
compositora e só quando consegui me pôr nas letras que cantava foi que superei vários
traumas e adversidades.
Não pude deixar de me identificar com Samantha. Senti-me próxima dela de um jeito
que eu não sabia explicar e só por isso confessei:
- Não sei se sou capaz. Na maior parte do tempo eu não consigo nem falar o que
realmente sinto. É como se meu coração estivesse amordaçado.
- Tem que continuar tentando, Clarke. Acredite em mim, quando conseguir pôr seus
sentimentos para fora, tudo se tornará mais fácil... – Ela tocou minha mão. - ... Em todos
as áreas da sua vida.
- Alguém um dia fez isso por mim e agora estou fazendo por você! Bem... Então, agora
vamos tocar? – Riu.
Tocar com Samantha foi relativamente fácil. Ela era uma ótima cantora e fez de tudo
para me deixar à vontade. Passamos um tempo conversando sobre música e ela me deu
muitas dicas. Também falamos sobre nossas composições e ela me fez prometer que um
dia iríamos compor algo juntas.
Clarke PDV
Voltamos para Polis quase sóbrios, sem estrelar nenhum vídeo constrangedor, nem
distribuirmos socos e o melhor; com a ficha policial limpa. Ou seja, a noite foi um
sucesso!
Guardamos os veículos na garagem, Anya estava feliz pela grana mole que ganhou e foi
correndo contar para Lincoln. Já Bellamy, tinha bebido bem além da conta e por isso
tagarelava feio um rádio velho. Esse, fiz questão de empurrar para fora da garagem.
Lexa guardou a Suzuki atrás da Mercedes de Kane e antes que ela conseguisse sair de
lá, falei:
- Me espera aqui! Vou levar Bellamy para dentro e já volto, preciso falar com você!
Fora da garagem, procurei o viado e ele estava dançando can can sozinho na entrada do
casarão.
- UM DIA SEREI RICA POR QUE EU SOU UMA MATERIAL GIRL! – Berrou.
Corri e tampei-lhe a boca, antes que acordasse meus pais. Hein? Quis dizer meu PAI!
- Ai, raxa... – Se jogou nos meus braços. Nem consegui me mover de tanta raiva. Aquilo
era hora da bichona dar trabalho? - ... Você acha mesmo que sou fedorento, feio,
lascado, escroto, TUDO menos fodido?
- Não! – Menti. – Vamos subir! – Passei o braço do filho da mãe por meu ombro e o
reboquei para dentro. Foi complicado subir as escadas, porém, foi um alívio deixá-lo em
seu quarto.
O joguei em cima da cama e ele abriu os braços rindo feito uma hiena.
Realmente assustador!
- Entra no carro!
- O quê?
Ela, totalmente aturdida, se pôs no banco do carona. Minutos depois, dirigi pelas pistas
úmidas de Polis, em alta velocidade, evitando encará-la, mas pela minha visão
periférica, percebi que ela me fitava como se eu tivesse enlouquecido. Talvez eu
tivesse!
- Onde vamos?
- Hein?
Prendi o riso.
Lexa PDV
Achei melhor não contrariar enquanto ela deixava a rodovia principal e seguia por uma
estrada carroçal. Guiou por uma subida íngreme e após alguns minutos, estacionou.
Ela pretendia me matar? Por qual outro motivo pararíamos no meio do nada, às 3:30h
da manhã?
Era um mirante. De lá dava para ver toda Polis iluminada. Eu nem sabia que a cidade
tinha um mirante.
Clarke PDV
Passei as mãos pelo rosto, concentrando-me nos motivos que me levaram ali. Eu estava
com tanto medo! Medo de continuar sonhando com aquela mulher e, mais cedo ou mais
tarde, me decepcionar. Não queria me transformar em uma nova Costia. Alguém com
quem ela tinha um pouco de passado e nenhum futuro.
E eu estava disposta a tal coisa. O problema é que não queria mais brincar de gato e
rato, sempre jogando, planejando, articulando. Desejava fazer apenas uma única e
completa tentativa. Se a ganhasse, não existiriam mais meios termos, seríamos uma da
outra. No entanto, se eu falhasse ou se ela não me quisesse, ao menos teria a plena
certeza de que fiz tudo que podia por aquele sonho e assim, seria mais fácil seguir em
frente, pois nunca teria que me perguntar: como teria sido se eu tivesse lutado até o fim?
Ao ouvir meus passos, ela virou-se com um sorriso que me tirou o fôlego.
- Adorei esse lugar! – Pegou a bebida que lhe ofereci. – Não sabia que Polis era tão
bonita. O misto da vida urbana com a floresta quase intocada é incrível!
Dei um gole na cerveja, evitando falar. Seria vergonhoso gaguejar naquele momento.
- Está tudo bem? – Ela percebeu meu humor repentinamente alterado. Limitei-me a
assentir.
Voltei para o carro com o rabo entre as pernas. Ser tão covarde me chateava demais, não
era típico de mim. Aproveitei a distração de Lexa com a paisagem e forcei as duas
partes de mim que constantemente se confrontavam a se unir, na esperança de que isso
me enchesse de forças para arriscar tudo.
Uma única vez, Clarke! Sua última cartada! Se ela não for sua agora, nunca mais será!
- L-lexa?
- Porque o espanto?
- Sério? – Dei um meio sorriso. – Então, vem cá. Deixa eu te agradecer melhor. –
Descruzei as pernas à sua espera.
Erguia uma sobrancelha e, ainda sorrindo, estiquei o braço, puxando-a pela blusa para
junto de mim. Entre minhas pernas, Lexa tomou um gole grande da bebida e eu
considerei aquilo, um sinal de nervosismo.
- Que você me... – Também bebi um pouco da cerveja. - ... Falasse porque pensa tão
mal de mim.
- Não penso mal! Quero dizer, já pensei muitas coisas sobre você, mas grande parte
disso evaporou quando te conheci melhor.
Suspirou e eu esperei.
- Só quando quer.
- Acha que estou sendo má agora? – Passei a língua na boca da garrafa, virando em
seguida.
- Er... – Nossa! Aquilo era uma gotícula de suor na testa dela? - ... Te acho bem esperta.
– Desconversou, mas gostei da resposta, sinal de que estava sacando onde eu queria
chegar.
- Tive uma boa professora. – Com minhas coxas, apertei o quadril dela. Lexa colocou a
garrafa sobre o capô e a imitei. – Gosta dessa música?
- Sim.
Ousada, pendi o corpo para trás, encostando parte de minhas costas no capô e a cabeça
no vidro.
- Essa noite está tão linda. Olha aquelas estrelas! – Apontei, fingindo-me de inocente. O
suspiro audível só podia vir da minha vítima. – Sou louca pela noite, escuridão, lua,
estrelas... Entende? – Fitei Lexa e ela estava com os olhos fixos no meu corpo.
Eu já tinha chamado à atenção dela. Já havia mostrado onde queria chegar, agora, era
hora de usar um pouco de honestidade.
- Nesse momento te... Odeio muito! – Suspirou quase colocando as mãos em minhas
coxas, que ainda a aprisionavam.
As reações dela me motivavam a continuar. Sentei-me e fixei meus olhos nos dela.
- Será que me odeia o suficiente para... – Cometi o erro de olhar para a boca entreaberta
dela, a qual nebulou meus pensamentos.
- Para? – Bastou tocar minha bochecha para minha pele reagir. De forma inacreditável,
me arrepiei dos pés à cabeça.
A mão de Lexa deslizou vagarosamente da minha bochecha e passou pelo pescoço, mas
parou antes de chegar ao decote.
- O quê? – Me alterei, descendo do carro. Eu não era mulher de ouvir um não daqueles
sem saber o motivo.
- Não podemos? – Gritei. – Por que, Lexa? O problema sou eu? – Minha voz embargada
era a moldura de uma dor que ela não parecia enxergar.
- Esperar pelo quê? Que eu enlouqueça sem saber o que há entre nós? – Agarrei seu
braço com força. – Se não me quer, só tem que dizer! – As palavras rasgaram minha
garganta. A soltei me afastando como quem se afasta do fogo, fugindo de uma dor que
eu não suportaria.
- Não parece! – Revidei. – Não quero mais tentar adivinhar o que se passa pela sua
cabeça. Hora você está comigo, hora não, por que isso? – Não consegui me conter. Meu
peito ameaçou explodir, tamanho era o esforço para colocar aqueles pensamentos para
fora.
- Não consigo entender... – Engoli o choro, me protegendo como podia da dor. - ... E
não quero mais! – Tapei os ouvidos.
- Eu quero te contar... mas... – Chutou o carro irada. - ... Não depende só de mim. Tudo
o que eu queria é poder te dizer agora o que sinto! Mas não posso prever o que
acontecerá. – Lutou para achar palavras. – Me sinto andando na corda bamba entre te
perder de vez e te ganhar! Me entenda!
- Lexa, não me importo! – Abri os braços. – Não me importo com nada disso! Nem em
como vai dizer o que precisa, mas, por favor, faça isso agora, grite, escreva, mande
sinais de fumaça, só não me deixe enlouquecer! Preciso saber! – Bati no peito. – Preciso
saber se sou quem você quer... Namorar... Porque... Poxa! – Solucei mesmo sem chorar.
– DÓI!
- Vou te mostrar o que precisa saber. O que palavra nenhuma conseguiria explicar!
Lexa veio rápida em minha direção e eu na dela. Frenéticas, nos abraçamos, chocando-
nos diante do carro. Ela me beijou com vigor, quase violenta, devorando-me os lábios.
Retribuí, agarrando seu cabelo, mantendo-a junto a mim, enquanto meu coração entrava
em um verdadeiro frenesi diante de uma paixão que fazia o ar parecer totalmente
desnecessário.
Sugamos a língua uma da outra, tão desesperadas que quase caímos ao cambalearmos
em direção ao carro. A Woods lançou-me sobre o capô e, com as mãos trêmulas, abriu
de uma só vez minha blusa, rompendo os botões fechados. Não descolamos as bocas
nem mesmo quando abri sua calça e tentei lhe arrancar a camisa. Infelizmente, isso foi
necessário quando ela a tirou, jogando-a longe.
Lexa PDV
Precisava tanto dela que chegava a doer. Existiam tantas coisas para serem ditas, mas
ali, àquela noite, seriam ditas por nossos corpos. Meus pensamentos seriam desenhados
em sua pele, minhas esperanças expressas através dos beijos verdadeiros que se rendiam
diante da mulher que fazia meu mundo girar.
Nunca declarei meu amor por ninguém, só que Clarke merecia bem mais que palavras
ou promessas. Se eu falasse eu te amo, não só seria pouco, mas também seria uma
maneira deficiente de tentar persuadi-la. Precisava que ela sentisse na pele, no ar, dentro
de si. Queria que tocasse e abraçasse tudo o que eu sinto por ela. E então, quando o dia
amanhecesse, procuraria nossos pais e, com a ajuda e permissão deles, contaria a Clarke
os motivos de meus temores. Não seria fácil, talvez ela não me perdoasse quando
descobrisse que a deixei propositalmente na Itália, esperando que isso a fizesse crescer.
Só que ali, com nossos sentimentos expostos através de nosso desejo, tudo,
absolutamente tudo parecia ser possível. Até mesmo um final feliz.
Fiz um trajeto com a boca, do pescoço dela até o ombro, acariciei suas costas, depois
desabotoei o sutiã. A pirralha respondeu minhas ansiedades, pondo a mão dentro da
minha calça e invadindo minha intimidade. Gemi ao seu toque ousado e muito gostoso.
Fechei os olhos, entregando-me à sensação deliciosa que me proporcionou com vigor e
habilidade. Senti a umidade se espalhar por meu sexo cheio de tanto tesão por meu
frango.
Infelizmente, precisei tirar a mão dela do local para poder passar as alças do sutiã por
seus braços. Com a parte superior totalmente desnuda, a deitei sobre o carro e tive a
visão que desejei a noite inteira. Clarke manteve os olhos abertos, assistindo-me
umedecer os lábios, sedentos por seus seios.
Antes de me saciar, desabotoei sua calça e me afastei um pouco para puxá-la até as
coxas, depois, com algum esforço, me livrei da peça, juntamente com as botas. Minha
pirralha não esperou que eu lhe tirasse a calcinha e me puxou de volta. Novamente, me
coloquei entre suas pernas. O roçar de nossas partes íntimas me enlouquecia. Será que
Clarke sabia que cada centímetro de mim inflamava-se de desejo por ela, quase
rompendo minha sanidade?
Voltamos a nos beijar, lambendo a boca uma da outra, entre gemidos de provocações e
entrega. Minhas mãos percorreram suas curvas da cintura até os seios, os quais, apalpei
e acariciei. Quentes e macios, eram só meus! O feito da pele dela contra a minha foi
devastador. Meu lado mais primitivo rugia como um leão, desejando devorá-la. Já o
lado apaixonado almejava prolongar aquilo até que Griffin percebesse que eu já não
podia ficar sem ela.
Clarke arqueou as costas, gostando dos meus dedos brincando com seus mamilos. E
essa foi a minha chance para lambê-los.
Com as mãos apoiadas no capô deixei que Lexa me tivesse do jeito que ela gostava.
Hora mordendo-me, hora sugando-me. Ela estava me enlouquecendo e sabia disso, pois
como dissera outro dia, conhecia meu corpo como a palma de sua mão.
A química entre nós, na intimidade, era perfeita. Ela havia sido minha primeira em tudo,
por isso, meu corpo a reconhecia e a idolatrava. Eu não precisava pedir e ela não
precisava perguntar.
Lexa puxou ainda mais meu quadril para junto do seu. Era impossível não perceber o
quanto ela estava me querendo. Com uma mão, ergui sua cabeça procurando por seus
lábios. Trocamos um beijo molhado antes de eu lhe morder o maxilar. Pretendia
espalhar selinhos por toda sua seu pescoço, só que me desconcentrei completamente no
momento que senti seus dedos me tocar intimamente.
Gemi um pouco mais alto e isso a impulsionou a continuar me estimulando. Lexa era
tão boa naquilo que me deixava sem fôlego. Contorci-me segurando firme sua nuca,
depois, subi a mão até seu cabelo, minha boca logo encontrou sua orelha que foi
mordiscada e lambida.
Sons roucos brotavam de sua garganta, conforme me explorava, até que ela pareceu não
conseguir mais se conter e afastou-se, puxando minha calcinha preta. A ajudei a se
livrar da peça. A vi, ansiosa, retirar sua calça, botas e roupas íntimas.
Pouco tempo depois, nossos olhares se encontraram, firmes e irredutíveis. Nosso desejo
forjado em um fogo que tinha consumido muitas diferenças, problemas e obstáculos,
agora, finalmente, podia se manifestar por completo.
Ofegamos juntas. Então, colamos nossos corpos e, ela me penetrou com seus dedos
facilmente. O prazer transpassava meu corpo como eletricidade. Meu coração palpitava
frenético e, naquele momento, senti que Lexa Woods era minha.
Os movimentos que ela fazia distribuíam descargas de sentimentos que nos atingiram.
Faíscas de prazer ondulavam por meu corpo e respirar era quase impossível. Lexa me
penetrava com movimentos rápidos e fortes, eu podia sentir que o seu corpo também
sentia o prazer que aqueles movimentos me trazia. Descolamos nossos lábios e ela
colou nossas testas ofegando, e com as estocadas mais fortes e selvagens, eu senti todo
o meu corpo estremecer e o orgasmo chegar. Sentir que ela também havia chegado ao
clímax, pois seu corpo estremeceu e relaxou junto ao meu.
Após nossos corpos relaxarem, ela me ajudou a levartar do capô do carro e me conduziu
até o banco traseiro do carro, onde sentou-se no banco e me colocou sentada sobre seu
colo. Lexa puxou meus cabelos expondo meu pescoço e começou com beijos e à
medida que eu me remexia em seu colo, passou a me morder com agressividade. A sua
mão direita começou uma massagem lenta no meu seio esquerdo.
- Quero você gozando em meus dedos. – Lexa me encarou. Levei minhas mãos até os
cabelos e levantei minimamente, ela logo levou dois dedos à minha entrada e enquanto
eu descia sobre eles joguei a cabeça para trás mordendo o lábio inferior. Lexa levou a
mão esquerda até minha bunda, espalmando-a antes de apertar com força, me guiando
em meus movimentos.
E assim o fiz. Com um gemido agudo, olhos apertados e a boca entreaberta, sentindo
meu corpo perder as forças, a visão ficar turva e finalmente explodir em um orgasmo
avassalador. Porém Lexa não parou, aproveitando os movimentos e meu corpo mole,
passou a fazer um massagem em meu clitóris, colocando a mão livre em seu próprio
sexo. Desviei o olhar para o encontro dos nossos corpos e observei como Lexa fazia os
movimentos em nós duas.
E mais uma vez cheguei ao clímax sentindo os espasmos do corpo de Lexa embaixo de
mim, indicando que elaa também chegara.
***
Após fazermos amor, nos aninhamos no banco traseiro e, com o teto do conversível
levantado, assistimos o nascer do sol. Nenhuma de nós ousou falar, enquanto
assistíamos o céu servir de tela para os tons de rosa e laranja que pintavam o céu da
manhã de Segunda.
Lexa, deitada, mantinha-me em cima dela, com a cabeça na curva de seu pescoço. Me
abraçava e protegia como sempre fazia em todas as circunstâncias.
Eu estava tão feliz que tinha esquecido todas as minhas aflições. Durante aquele tempo
apenas vivi, não me importando com o futuro. Uma música antiga tocava no rádio, um
som distante que faz aquele momento parecer ainda mais surreal. Não demorei a notar
que se tratava de uma canção do Elvis. Quando eu menos esperava, Lexa cantarolou aos
sussurros um trecho do refrão, o mesmo titulo da música:
- “For I can't help falling in love, with you... (Pois eu não posso deixar de me
apaixonar, por você...)”
Erguia lentamente a cabeça e a fitei sem saber o que falar. A Woods mexeu-se, tentando
se sentar e eu saí de cima dela. Nos acomodamos no banco, uma de frente para a outra.
Ela pegou minha mão direita e a abriu, acariciando a palma e deixando a superfície
plana. Ela me pareceu nervosa ao sorrir torto, olhando para baixo.
Ela parou, suspirou e, então, com o dedo indicador, fez um desenho invisível na palma
da minha mão. Prestei bem atenção e notei que ela escrevera um N, logo depois um A e
a sequência foi ficando fácil de entender... M O R A R ?
- Comigo? – Murmurou.
Minha boca se abriu automaticamente, só que nada saiu dela. Demorei alguns segundos
para cair na real. Eu quis gritar de felicidade, mas ao invés disso, peguei a mão dela e,
na palma, escrevi: S I M.
Subi no colo dela, uma perna de cada lado, tomei-lhe o rosto entre minhas mãos e a
beijei com todo fervor.
***
Ao voltarmos para casa, fui direto para meu quarto trocar de blusa e Lexa foi caçar
alguma coisa na cozinha para comermos, estávamos famintas.
- Claro!
A idiota simplesmente tirou uma lasca da torta e a comeu na minha frente. Fiz uma cara
de falsa surpresa.
- Qual?
- Diz que é meu frango! – Mexeu as sobrancelhas para cima e para baixo toda malandra.
- É seu pai! – Lexa jogou a travessa sobre a mesa. – Ele vai me matar se souber que te
trouxe para casa só agora!
Aflita, sussurrei:
- Debaixo da mesa!
Mal terminei de falar e a Guaxinim e eu já havíamos nos escondido lá. Rimos baixinho
de nossa infantilidade.
- É impressão minha ou ouvi Bellamy gritar ontem à noite? – Perguntou Abby, que
acabara de entrar na cozinha.
- Odeio aquele viado! – Sussurrei baixíssimo e Lexa tapou imediatamente minha boca.
- Meu amor, acho que vou contar para Clarke hoje... – Disse meu Kane.
Saí de debaixo da mesa, aturdida. Fitei a Woods e ela se posicionou ao lado de sua mãe.
- Eu sempre pude... – Encarou Kane. - ... Mas queria gerar meu filho com um homem
digno e que amasse. Como demorei muito tempo para encontrar, adotei meus meninos
que precisavam de um lar. Mas agora... Encontrei o que sempre procurei.
Queria estrangulá-la!
Baixei a cabeça, respirando fundo. Como não fazer uma tempestade? Abby não era mais
a noiva de meu pai, alguém que um dia podia sair de nossas vidas e simplesmente
desaparecer como se nunca tivesse existido. Agora, ela era a mãe do filho de Kane e por
isso nunca, nunca mais sairia de nossas vidas, pois um laço de sangue havia se formado.
Uma criança?
Ouvi zumbidos ininteligíveis vindo do casal à minha frente, porém, meu cérebro não
absorvia as informações, pois estava preso a uma revelação para a qual eu não estava
preparada. Sem mover nenhum músculo, permaneci calada, mas raciocinando.
Não conseguia considerar o filho da mosca morta, meu irmão. Passei a mão na testa e
senti que perderia Kane de vez. Se com a noiva, ele simplesmente me deixou de lado,
com um bebê na história, eu seria esquecida.
ESQUECIDA.
- Eu sempre soube!
Olhei a barriga de Abby e só agora, prestando muita atenção, notei o leve volume
disfarçado por um vestido largo.
- A gravidez dela é de alto risco. Minha mãe não podia nem estar ouvindo essa
conversa. Qualquer emoção forte pode ser... Fatal... – Ela olhou para a mosca morta.
- Íamos te contar quando chegasse o momento propício. – Não queria ouvir o lamento
de Abby.
- É por isso que não podia me falar nada no mirante? O que isso tem a ver conosco? Por
que isso a impede de falar que gosta de mim?
- Temi que a gravidez de Abby trouxesse à tona aquela velha Clarke que é impossível
de se conviver... Uma Clarke que não vou conseguir manter na minha vida. Realmente,
não quero que isso aconteça. Por isso, estava esperando ter certeza de que você tinha
mudado de uma forma irreversível, esperei que tivesse maturidade para lidar com isso
da melhor forma possível.
- Do que está falando? Estava esperando que eu passasse um atestado de boazinha para
ficar comigo?
- Caso não se lembre, não conseguíamos nos dar bem na Itália, era um caos, eu estava
ficando maluca e você também! – Alterou um pouco a voz. – Olha como está agindo
agora. Parece que vai perder a cabeça a qualquer momento. Achei que aceitaria melhor
novas circunstâncias.
Ela certamente estava percebendo minhas mãos trêmulas e minha respiração acelerada.
- Aceitar melhor? Meu pai decide casar e eu fui a última a saber, agora vai ter um filho e
novamente sou a última a saber? Sério, como esperam que eu reaja? Que solte fogos?
Eu não quero nada disso! – A última frase saiu em forma de gemido.
- É assim que as coisas são agora, Clarke. Precisa aceitar! Logo se acostumará com a
ideia de que posso ser seu pai e da criança que está por vir. – Kane se impôs e isso me
irritava muito.
Balancei a cabeça tentando realmente aceitar, mas era tão difícil. Eu queria muito agir
como eles esperavam. Infelizmente, meu coração estava apertado, pois me sentia
pressionada a aceitar algo que eu não queria ou perderia Lexa e possivelmente Kane.
Era tão injusto! Quer dizer que, se eu pirasse, eles esqueceriam os sentimentos que
diziam ter por mim?
- Clarke, se esforce. – Lexa tentou ser persuasiva. – Você estava indo tão bem, mudou
tanto, cresceu. Por favor, não retroceda agora!
Cabisbaixa, ergui uma mão sinalizando para que ela se calasse. Então, falei com muito
esforço.
- Era preciso!? – Ironizei. – Era preciso me largar para satisfazer seu capricho de me ver
aceitando a mosca morta? – Não quis ofendê-la, mas eu já havia me acostumado a
chamá-la assim.
- Por favor, não a culpe... – Abby segurou a mão da filha. - ... Ela gosta tanto de você. A
ideia foi minha!
- Como?
- Abby, não vou permitir. – Kane tentou segurá-la, mas ela não deixou. Ele devia estar
com medo de levá-la a força, por conta de seu estado.
- Clarke, foi tudo ideia minha. Fui eu quem disse para Lexa te deixar. Achei que você
fosse...
Fui atingida pela mesma dor que me dilacerou àquele dia em Verona. Um misto de
amargura, raiva, desespero e aflição.
- Abby não tem nada a ver com isso. Fui eu quem tomou a decisão, achei que seria bom
para nós. Foi muito difícil no começo, mas olha só onde chegamos! Tanta coisa
mudou...
Expirei com muita força, prendendo o ar nos pulmões, não suportando o espasmo
violento em meu peito. Para meu total desespero, as lágrimas começaram a escorrer por
meu rosto. Tentei engolir o choro, mas foi impossível.
Os três ameaçaram falar ao mesmo tempo e os impedi, fazendo sinais com as duas
mãos, pedi um tempo.
Como podiam ter planejado com tanta frieza um dos piores momentos da minha vida?
- Você me usou! – Fitei Abby. – Me manipulou! Se fingiu de boa madrasta para me tirar
do seu caminho. Me impediu de destruir sua felicidade destruindo a minha! Parabéns! –
Aplaudi. – Você conseguiu ser mais baixa que eu! Nunca fui falsa com você, quando te
odiava mostrava isso e quando não... Também. É um gênio, me manteve ocupada
sofrendo, enquanto armava todo esse seu joguinho.
- Isso nunca foi a minha intenção, juro! – As lágrimas dela não me comoveram. – Não
fui falsa com você. Clarke, eu desejo sinceramente sua felicidade!
- E você... – Encarei Lexa, me afastando um pouco mais. - ... Me partiu ao meio! – uma
nova torrente de lágrimas acompanhou a acusação. – Me fez sofrer tanto que... Que... –
Era muito difícil falar. - ... Que passei a te querer de qualquer jeito, não importando as
circunstâncias ou as loucuras que teria de fazer, só para acabar com o vazio no meu
peito! O pior é que aceitei, me conformei, abandonei tudo que eu acreditava só para te
ter de volta! – Meu soluços eram tão altos quanto a minha voz.
- Também sofri, você não imagina o quanto! Te deixar foi a coisa mais difícil que já fiz!
- Clarke, por favor, tente se acalmar. – Pediu meu pai, mais preocupado com a sua noiva
que chorava em seus braços.
- Não sou mais o problema de vocês! – Repeti friamente. – Kane, pode ter sua mulher!
Abby, pode ter seu marido, filho, casamento... Tudo que sempre quis. E você Lexa... –
A raiva era o combustível da minha dor. - ... Pode ter o que plantou!
Dei as costas para eles e corri para a sala. No porta chaves, peguei a chave da Ducati e
rompi porta à fora. Já perto da garagem, Lexa me alcançou e abraçou-me por trás,
prendendo-me.
- ME SOLTA! – Berrei sem forças para me desvencilhar, tamanha era minha angústia. –
Me dei tanto para você, desde o começo fiz tudo o que queria com as aulas e todo o
resto. É assim com você, não é? Estabelece uma meta e consegue. Vocês jogaram com o
que eu sentia, montaram estratégias para me ver submissa. ODEIO TODOS! ODEIO
- Não, Clarke, o que aconteceu entre nós nunca foi planejado. Foi inesperado, sabe
disso!
Chorei alto. Antes, eu queria tanto ouvir aquilo, no entanto, agora não havia nenhum
sentimento em mim que retribuísse o que ela disse. Só existia espaço no meu coração
para um sentimento de cada vez, e aquela era a vez da mágoa. Nunca me recuperei
totalmente do abandono e, os acontecimentos trouxeram todos os traumas a tona. Já não
existiam mais duas partes de mim e sim, várias. Eu estava estilhaçada.
- Me desculpe por ter te magoado tanto! – Manteve seus braços como vigas de aço à
minha volta e isso foi a única coisa capaz de me manter de pé. – Clarke, você tem razão,
eu não tinha o direito de fazer o que fiz! Achei que estava salvando o que tínhamos, mas
infligi muita dor a nós. Agora, só quem pode salvar o que temos é você.
- Não! – Solucei.
Ela me largou e olhou para a entrada da casa, assustada. Depois, me fitou com lágrimas
nos olhos.
E ela se foi.
Me arrastei até a garagem e subi na Ducati. Forcei e a chave não entrou na ignição. A
olhei e vi que tinha pego a chave errada. O símbolo da Suzuki estava nela.
Incapaz de voltar para dentro da casa, montei na Suzuki e dei a partida. Acelerei forte, o
ronco alto do motor quebrou o silêncio da manhã. Deixei a garagem e logo, as
proximidades da casa. Não pensei, simplesmente acelerei.
Kane PDV
Não consegui tirar os olhos da entrada da casa, tinha esperanças de que minha filha
voltasse. Os garotos haviam saído para procurá-la. Eu, como médico, tinha obrigação de
ficar com Abby. Inquieto, não consegui ter paz.
Olhei de relance para minha noiva, verificando se havia lhe dado soro suficiente. Nem
isso eu estava fazendo direito. Depois, meus olhos automaticamente voltaram-se para a
janela.
Era difícil administrar a preocupação e remorso que sentia naquele momento, por isso
não pude deixar de pensar: sou um péssimo pai!
Entendia que ela sofria e que tinha problemas, mas todas as vezes que lhe tentei ajudar
no passado, até mesmo com ajuda profissional, ela se recusou e eu não podia forçá-la. É
impossível ajudar quem não quer. Agora, sempre que tentava lhe transmitir algum
carinho, ela se afastava, erguendo uma barreira entre nós. Simplesmente, não sabia
como driblar essas barreiras sem invadir seu espaço. Tentava ser um pai firme, mas não
autoritário, compreensivo, mas não liberal, presente e não controlador e, ao meu ver,
estava falhando em tudo.
Não era fácil ser pai e mãe ao mesmo tempo. Com Raven, as coisas eram relativamente
mais fáceis, pois ela sempre vira a vida sob uma perspectiva diferente. Já Clarke, era
frágil e confusa. Toda sua rebeldia e jeito agressivo eram apenas uma armadura forjada
à muita solidão e dor. Era exatamente por isso que eu ainda não havia casado com a
mulher que amava, não queria lhe infligir mais sofrimento e tinha esperanças de que
pudéssemos resolver nossas diferenças antes. Esperava pacientemente que ela aceitasse
minha escolha.
Por que tudo tinha que ser tão difícil? Será que Clarke não conseguia ver que estava
sendo um tanto egoísta? Ela mesma estava começando a fazer escolhas na vida que não
me incluíam, como; faculdade, carreira, namorada, talvez, futuramente um matrimônio.
E eu? Ficaria solitário para sempre? Seria um daqueles velhos que moram sozinhos e os
filhos só visitam em feriados? Eu também queria ser feliz! E isso nunca, absolutamente
nunca mudou meu amor por ela e nem minha vontade de tê-la por perto. Talvez, um dia,
quando Clarke tivesse seus próprios filhos, finalmente me entendesse.
Enxuguei qualquer vestígio de lágrimas e fitei Abby. Lógico que fiquei chateado com o
que ela e Lexa fizeram. Clarke não merecia ter sido enganada. Mas aquele assunto, eu
conversaria com as duas em um momento propício, pois, sinceramente, não acreditava
Ficamos felizes com a atitude de Clarke ao pedir para Abby adotar Nessie, era uma das
provas tangíveis de seu amadurecimento, que, infelizmente, aconteceu em más
circunstâncias. Todos ficamos esperançosos, pois ela demonstrara o quanto havia
bondade em seu coração. Gostaria de poder dizer a ela o quanto me orgulhei de seu ato.
Se Clarke não voltasse até o anoitecer, eu varreria o Estado atrás dela, precisava ter
minha menina em meus braços. Clarke sofria e, por isso, eu sofria!
Abby PDV
Permaneci de olhos fechados, fingindo dormir, para não ter que encarar Kane. A culpa
mal me deixava relaxar. Não conseguia entender como meu plano, que naquela altura
pareceu-me tão bom, acabou se virando contra todos nós. Realmente desejava que
Clarke e Lexa se acertassem. Elas brigavam muito na Itália e sofriam, incapazes de
levar aquele romance de verão adiante. Achava que ambas precisavam de um choque de
realidade e ver como seriam suas vidas, longe uma da outra. Elas podem até ter
descoberto que não serão felizes separadas, mas o preço que pagamos acabou sendo alto
demais. Temo que Clarke nunca me perdoe, Kane me culpe pelo sofrimento de sua filha
e Lexa seja infeliz. Ainda assim, eu tenho esperanças, tenho fé de que tudo terminará
bem.
Deus, como queria que ela entendesse que nunca usei Lexa par persuadi-la! Nunca foi
minha intenção manipular suas ações. Tu conheces meu coração e sabe que isso é a
mais pura verdade. Por favor, ajude Clarke a entender que nenhum de nós está contra
ela e sim, com ela. Nessa história, não existem vilões ou mocinhos, somos todos seres
falhos. Cada um tentando fazer seu melhor do jeito que pode, às vezes acertando, às
vezes errando, mas no final, estamos todos certos e todos errados. Senhor, ajude Clarke
a perceber isso. Ajude-a a se encontrar.
Lexa PDV
Meus irmãos e eu procuramos Clarke por todos os lugares possíveis. Era lamentável
voltarmos para casa de Kane de mãos vazias. Enquanto Anya dirigia, me mantive
quieta, observando a chuva através do vidro. Na estrada fria e vazia de Polis, minha
consciência trouxe-me lembranças de Verona, da conversa que tive com minha mãe.
Um momento em minha vida que desencadeou uma série de acontecimentos
incontroláveis e imprevisíveis. Aquela não era a hora certa para tais lembranças, mas
elas insistiam em me confrontar. A voz de Abby ecoava na minha cabeça, misturando-
se ao rosto que eu via sempre que fechava os olhos. Sim, o rosto de Clarke.
- Irão discutir e se reconciliar várias e várias vezes até que, um dia, uma de vocês ou
ambas irão desistir. Não tem amor que resista a tanto conflito. Já vi isso acontecer
antes.
...
Passei as mãos pelos cabelos, torturada demais para manter uma linha de raciocínio
coerente.
...
- A menina está travada, por causa dos traumas e medos. Ela precisa quebrar essas
correntes que a envolvem ou nunca conseguirá ser feliz. Clarke precisa se confrontar
e decidir o que é mais importante, a redoma que criou em volta de si ou os
sentimentos por você...
...
Na época, achava que Griffin era forte como rocha e suportaria minha escolha, meu
erro. Eu não tinha outras opções, nós nunca conseguíamos dialogar porque acabávamos
brigando. Como eu podia adivinhar que aquele plano idiota, no final, seria motivo de
tanta angústia? E pior: como eu podia adivinhar que Clarke sofreria tanto a ponto de
chorar? Ela nunca chorava. Me culpei por não ter enxergado todos os possíveis
resultados de minhas ações. Estava concentrada em não perdê-la e acabei perdendo-a de
várias formas.
...
- Você... Me partiu ao meio! Me fez sofrer tanto que... Que passei a te querer de
qualquer jeito, não importando as circunstâncias ou as loucuras que teria de fazer, só
para acabar com o vazio no meu peito! O pior é que aceitei, me conformei, abandonei
tudo que eu acreditava só para te ter de volta!”
...
Irônico! Sentia-me exatamente como ela. Fiz de tudo só para estar perto de Clarke,
mesmo que isso significasse entrar nas confusões que ela atraía. Assim como Griffin,
me sentia dividida. Existiam duas de mim. A primeira era aquela que sempre se
colocava à frente de tudo, tentando solucionar os problemas, achando que era forte o
suficiente para arcar com as consequências. No entanto, agora, não conseguia ajudar a si
própria. Sentia-se totalmente deslocada. A segunda era a viciada, a qual não ligava para
mais nada além de Clarke e todas as suas facetas, pois a amava igualmente: fosse a
rebelde, a encrenqueira, a tímida, a sexy, a madura, a medrosa, a sarcástica, a sensível, a
carinhosa e a problemática... Todas elas ainda eram a minha pirralha, ainda eram o meu
frango!
- PARA O CARRO! – Precisei gritar para ela perceber que eu falava sério.
A bisonha freou abruptamente e, sem pensar duas vezes, falei, já abrindo a porta.
- Saiam!
Eu tinha consciência dos meus erros, mas não ia me esconder atrás deles. Clarke podia
desistir de mim, mas eu não ia desistir dela.
Dei a volta no carro e abri a porta do motorista. Arranquei Anya de lá, dizendo:
- Lexa, ficou doida? Clarke não vai voltar para casa! É melhor esperar ela entrar em
contato. – Lincoln tentou me persuadir, preocupado.
Em segundos, acelerei o suficiente para que eles e todas as dúvidas ficassem para trás.
Não conseguia conviver com aquele vazio dentro de mim, incomodava e me deixava
fraca. Assemelhava-se à fome, só que mil vezes mais doloroso. De repente, me lembrei
do dia que contei à Pirralha porque a chamava de meu frango.
Na autoestrada, fiz o Mercedes atingir os 180km/h. Como eu sabia que Clarke voltaria
para Arkadia? Simples, eu podia não conhecê-la completamente, mas a conhecia mais
do que qualquer um. Clarke podia lutar, resistir, demorar, mas voltaria. Não podia fugir
do que vivemos, não podia esquecer as marcas que deixamos uma na outra.
Clarke PDV
Pilotei sem rumo por um longo tempo, atordoada demais para notar qual caminho
seguia. Só quando a chuva se tornou uma grossa cortina de água à minha frente, foi que
parei em um motel barato de beira de estrada. Minha localização era um mistério até
para mim mesma, porém, devia estar mais perto de New Hampshire do que de Polis.
No quarto simples, joguei sobre uma mesa as chaves da moto, meu celular desligado e o
pouco dinheiro que ganhei no Cadillac Ranch. Não tinha documentos e nem sabia para
onde ir. O mais estranho é que não me importava com isso. Despi-me lentamente. Em
seguida, me escondi embaixo das cobertas.
Tentei fugir das vozes que emanavam de minha memória e enchiam o quarto, como se
gritassem para mim. Sozinha, meu coração me levou à uma viagem ao passado. Ali
estava eu, refém de meus próprios sentimentos.
...
- Querida, esses jovens são os filhos de Abby. – Kane nos apresentou em Polis.
...
Eu bem lembrava do dia em que bati a cabeça ao tentar limpar o banheiro da Woods por
causa de sua chantagem boba.
...
- Eu me importo.
...
Por um momento, até me senti na ponte Pietra, quando fiz um acordo com minha rival
que mudaria minhas motivações de vida.
...
- Simples, você só tem que deixar minha mãe e meus irmãos em paz. Não interferir no
relacionamento de nossos pais.
...
Coloquei as mãos no rosto, tentando não lembrar do beijo que ela me dera aquele dia.
...
Lexa aproximou ainda mais seu rosto do meu, seus lábios roçaram nos meus, em um
toque sutil, despertando sensações em mim que jamais sentira. Sua mão direita
percorreu vagarosamente meu braço até chegar a minha nuca, e seus dedos
entrelaçaram-se em meus cabelos me fazendo estremecer. Pude sentir a ponta da
língua dela em meu lábio inferior. Em seguida, ela sugou levemente meu lábio, meus
olhos fecharam-se, quando me entreguei a aquela sensação...
...
Sentei-me, com vontade de gritar por ser incapaz de lutar contra as recordações. Minha
reação causou um típico espasmo de angústia em meu peito, fazendo cair sobre mim,
uma torrente de frases ditas por ela, frases que me castigavam.
...
- Duvido que Finn note como você ruboriza quando está envergonhada, ou como
mente mal só para não dar o braço a torcer; não sabe que você pisca os olhos
rapidamente ao ficar confusa; ele não reconhece seu olhar melancólico, ou como fica
engraçada quando fala palavrão, jamais perceberia que gagueja nos momentos em
que fica constrangida. Ele não sabe que você estremece quando é beijada.”
...
...
- É mesmo estranho estarmos aqui hoje, juntas. Parece até que estamos desafiando o
destino.
...
- ... Vou pedir carne, porque é mais a minha cara. Daí, o sujeito da mesa ao lado pede
frango. Quando o pedido dele chega, percebo o quão lindo e tentador é aquele frango.
No início, podia ser um pouco de inveja ou algo parecido. Mas depois que roubei e
provei o frango dele, notei que nunca havia comido nada tão gostoso. Me satisfez,
deixou-me feliz. Passei a adorar frango, mais do que qualquer coisa. Se eu ficar sem
ele, sentirei fome, sabe?... Aquele vazio, que te perturba a todo segundo? Você é bem
assim, te odiava no início, Raven fazia mais o meu estilo. Porém, quando começamos
as aulas para você conquistar Finn, percebi o quão linda e encantadora é. Não havia
mais como resistir, te queria para mim, e fui atrás disso. Consegui a minha pirralha,
e, uma vez que estou contigo, ficar longe de ti é como abrir um buraco dentro de mim.
...
...
- Caramba! E daí que eu te decepcionei? Me desculpe, não fiz de propósito. Isso não
significa que vou ser uma cretina sempre. E você consegue enxergar isso? Claro que
não! Porque insiste em ficar focada no passado... Sua mãe morreu já faz bastante
tempo, supere isso,... Aprenda a lidar com perdas, porque, de um jeito ou de outro,
elas sempre existirão... Não complique, olhe pro seu futuro, poxa!
...
- Vou te mostrar o que precisa saber. O que palavra nenhuma conseguiria explicar!
- Também sofri, você não imagina o quanto! Te deixar foi a coisa mais difícil que já
fiz!
...
- Eu te amo!
...
Era desesperador tentar odiá-la e não conseguir. Eu podia gritar em plenos pulmões que
odiava todos, porém, não era o que sentia. Estava ferida e quebrantada, no entanto, não
conseguia nutrir a ira que explodiu em Polis. Como era possível? O que estava
acontecendo comigo?
Não consegui esquecer as coisas ruins que me fizeram, nem as boas. A ideia de que
nenhum deles aceitava quem eu era, imperava sobre mim, me mantendo prisioneira
naquele quarto. Eles forçavam-me a ser e dar o que eu não podia. O pior é que a
frustração de não alcançar tais expectativas feria-me. Tinha medo de me olhar no
espelho e já não me reconhecer. O que eu era agora? O fruto das consequências das
vontades deles? Submissa à ponto de não conseguir odiá-los? E o bebê de Abby? Como
podia abominar uma criatura que não tinha culpa de nada, mesmo que eu ainda não o
visse como meu irmão? Esperava sinceramente que a criança estivesse bem, talvez ela
se encaixasse melhor naquela família do que eu.
Lincoln PDV
Na Terça pela manhã, estacionamos em frente ao nosso prédio, em Arkadia. Vim com
Anya no jipe e os demais vieram atrás com Kane. Assim que saí do carro, avistei
Octávia e Finn, do outro lado da rua, papeando. Sentindo-me traído, me lembrei de
todos os conselhos dados por Lexa e Anya e resolvi abordá-los. Caminhei lentamente
enquanto o restante de minha família adentrava o prédio, ainda preocupados com o
sumiço de Clarke.
Octávia, que estava de costas para mim, não notou minha presença até que o idiota do
Collins a avisou.
Octávia PDV
- Finn, por favor, entenda, você é um cara muito legal, mas não posso retribuir o que
sente, pois... – Eu não sabia como explicar a ele minha relação especial com Lincoln.
Aturdida, me virei rapidamente. Não pude reagir, ainda buscava o antigo Lincoln nos
olhos daquele novo Linc.
Suas roupas eram diferentes das que eu estava acostumada. Havia uma diferença era em
sua fisionomia. Sua face jovial e concentrada, deixou-me sem palavras. Sem dúvida, ele
ficara lindo. Só que eu estava confusa demais para expressar isso.
- Lin-coln?
Fiquei entre os dois, tensa. O que eu deveria fazer diante dos olhares raivosos de
ambos?
- Eu já sei o que está havendo por aqui. – Disse meu novo-moreno com um tom de
acusação. Meu coração se apertou diante da mágoa estampada em seu rosto.
- Ela não precisa explicar nada! – Finn deu um passo à frente e eu me apavorei.
Lincoln parecia não ter mais o tórax enfaixado e os curativos haviam sumido, mas eu
não tinha dúvidas de que ele ainda estava machucado.
- Tudo bem, gente... – Sorri sem graça, tentando diminuir o estresse. Não queria que
acontecesse uma briga boba por minha causa. - ... Vamos manter a calma, certo?
Lincoln PDV
Manter a calma? Como? A fitei, tristonho, seus olhos castanhos eram doces e sinceros
como sempre foram. Não havia vestígios de falsidade em Octávia, o que tornava tudo
mais difícil.
- Você está com ele? – Fui direto, na esperança de tornar a situação menos dolorosa.
Encarei Collins e a gota d´água foi ele ter afagado o ombro de Octávia, apoiando-a de
forma estúpida. Ela deu um passo para o lado, distanciando-se dele. Porém, não foi isso
que me fez estreitar os olhos, surpreso, e sim, o pulso de Finn, onde havia um bracelete
prateado com o desenho de um lobo gravado. Eu já vira aquele bracelete antes...
Os homens encapuzados fizeram um círculo à minha volta e não entendi porque não
tentavam pegar minha carteira e celular. O último homem se aproximou, ficando de
frente para mim e fechando o círculo onde eu era a única vítima. Nervoso, puxei a
carteira do bolso e o telefone. Depois, os joguei ao chão, dizendo:
Nenhum dos cinco homens se moveu. O que pareceu ser o líder, deu um passo à frente,
me estudando. Paralisado, esperei. Ele andou lentamente à minha volta e deteve-se
atrás de mim. O cara passou o braço em volta de meu pescoço, me imobilizando e
impedindo-me de respirar. Desesperado, procurei me desvencilhar e, com força, tentei
puxar seu braço, que me estrangulava. Em uma de minhas débeis tentativas, arranquei
o bracelete dele, o qual caiu no chão. Meu agressor me empurrou ao solo. Quando caí,
olhei deliberadamente para o bracelete e nele vi um lobo gravado no aço. Não tive
tempo de raciocinar, pois os chutes e socos me atingiram cruelmente. Encolhi-me,
tentando resistir. Me forcei a ficar de pé e minha tentativa foi frustrada pelo chute no
estômago dado pelo líder, o que ergueu-me pelos cabelos. Ele me fez ficar de pé,
depois, socou meu rosto com força suficiente para me fazer desabar, sem nenhuma
resistência. Meu estado passivo os motivou a continuar me agredindo até que eu
perdesse a consciência.
Balancei a cabeça, incrédulo. Quando me prepararei para falar, Lexa chegou. Devia ter
sido alertada por algum dos meus familiares que me vira conversando com Octávia e
Finn.
Analisei Collins, que mantinha seus olhos fixados em mim. Meus punhos
automaticamente fecharam-se.
- Não! – Octávia não quis acreditar ao balbuciar diversas vezes. – Não pode ser... Não!
Linc, isso não tem nada a ver. Nós já resolvemos isso. – Pude sentir a dúvida no tom de
voz de Lexa.
Lexa PDV
- Cara, fala para ele que não foi você! – Tive esperança de que a richa entre os dois
fosse resolvida pacificamente.
- Ele está certo... – Suspirou. - ... Posso ter subestimado a inteligência de vocês. Nunca
pensei que o mané lembraria de um detalhe idiota como o bracelete, já que apanhou pra
caramba. – Deu de ombros.
- Espera! – Dei um passo à frente, erguendo um braço para impedir que Linc avançasse
sobre Collins. Recapitulei rapidamente a briga que tivemos com Carter e seus
motoqueiros.
...
- Deveriam ter pensado nisso antes de agredir covardemente meu irmão! – Gritei para
Costia.
...
- Droga! – Gemi. – Não acredito que fez isso. – Era difícil aceitar.
- É verdade? – Octávia soluçou, agarrando o braço do traidor. – Por favor, diga que é
um mal entendido. – Era visível a decepção no rosto da garota.
- Foi preciso.
Senti a dor de mil punhaladas nas costas. Meu velho e melhor amigo me traíra e jogara
anos de cumplicidade e amizade fora por causa de uma conquista. Logo agora, quando
achei que as coisas não poderiam piorar!
- Não acredito que fez isso! – Socou inutilmente o peito dele. – Nós éramos amigos, eu
confiava em você, Finn, como pôde?
- Planejou tudo, não é? Roubou as motos do pessoal do Carter para ter em quem pôr a
culpa. – Quis espancá-lo, mas fui impedida por um sentimento maior que a raiva e,
outra vez, me vi em Collins. Isso me desarmou de uma forma que eu não esperava.
Tive vontade de chorar, pois agora realmente entendia porque Clarke fugira. Sentia-se
traída, da mesma forma que eu me sentia naquele momento. Não éramos apenas
amantes, não era outra briga tola de namoradas, nós éramos amigas, uma família, e eu a
traíra, escondendo a verdade e mentindo para alcançar meus objetivos. Como podia
julgar Finn e sua falta de princípios se eu tinha agido da mesma forma? Que diferença
fazia se ele tinha espancado Linc e eu ferido Clarke? Ambos não medimos esforços para
satisfazer nosso coração. Tive vergonha do que nos tornamos. Não queria ser daquele
jeito!
- Não quis magoá-la. – Finn murmurou, tentando tocar Octávia. Ela se afastou,
revoltada.
- Você estava lá comigo, me abraçou, me consolou, sendo que você mesmo foi quem
provocou minha dor. Acreditei que fosse melhor do que mostrava ser. Achei que existia
um homem sincero e bom atrás dessa máscara de lobo solitário que sustenta! Mas, quer
saber? – Enxugou as lágrimas. – Eu estava enganada. Você merece exatamente o que
tem, ou seja, nada! Nem amigos, nem amor... Nada! Porque não se importa com
ninguém.
Se eu bem conhecia Collins, ele ia preferir sair daquela história como um vilão do que
como um pobre coitado. Ele ergueu a cabeça e deixou que seu super ego o dominasse.
- Não preciso de sua amizade, hipócrita. Se prefere ficar com esse otário, ao invés de
um homem de verdade, o problema é seu. Acredito que não estou perdendo muita coisa.
– Afastou-se dela e Lincoln quase passou por cima de mim, tentando chegar até Finn. O
detive. – Já você, Lexa, não me faça essa cara de sofredora, não é muito melhor do que
- E por quê? – Vociferou. – Vai me dizer que realmente está chateada com toda essa
merda? Nós já fizemos esse joguinho muitas vezes, e daí? Quem se importa? Sempre
existirá uma nova conquista. Ontem Clarke, hoje Octávia... Quem sabe amanhã? – Riu
pondo uma mão no meu ombro.
Não pensei duas vezes. Pronunciei as palavras que machucariam Collins mais do que
qualquer surra:
Minha declaração teve exatamente o efeito que eu esperava. Meu ex-amigo afastou-se
com os olhos marejados e rosto contorcido. Deu-me as costas, caminhando em direção à
sua moto, estacionada há alguns metros dali.
Ontem Clarke?
A imagem dela quando a conheci povoou meus pensamentos. Uma Clarke rebelde,
cheia de energia e determinada. Hoje era uma garota magoada e perdida. Foi difícil
admitir para mim mesma que eu era um dos fatores que causara sua mudança. Primeiro,
por causa das aulas. Depois, por tê-la forçado a lutar por mim. Talvez a própria Griffin
tivesse se perdido durante seu trajeto por tantos caminhos tortuosos. Era possível que
ela acreditasse que nós não a aceitávamos como era, sempre querendo que ela nos desse
mais do que podia.
Corri para dentro do prédio o mais rápido que pude. Dentro do elevador, não consegui
ficar quieta até chegar em meu apartamento. Empurrei a porta e, na sala, estavam todos:
Kane, Abby, Anya, Rae, Nessie e Bellamy. Perturbada, anunciei:
Meus olhos percorreram o rosto de cada um deles. Pessoas que estiveram comigo e
Clarke, assistiram nossa história. Podia ver em suas expressões que entendiam o que eu
estava falando, pois a palavra família e todos os seus significados era o que ainda nos
mantinha unidos.
- Lexa tem razão. – Raven pronunciou-se. – Nós a colocamos contra a parede desde o
início das férias.
- Eu sei. – Kane baixou a cabeça. – Gostaria de dizer a ela que podíamos recomeçar.
Minha irmã veio até mim e, sem mais nem menos, rasgou as mangas da minha camiseta
e colocou sobre minha cabeça um boné que usava.
Lincoln PDV
Fitei Collins e ele ainda não havia ido embora. Compenetrado, observava sua moto.
Ambos caminhamos em silêncio em direção ao prédio e foi nesse momento que senti o
impacto em minhas costas. Meu corpo automaticamente projetou-se para frente, caindo
no chão. O golpe provocou dores em minhas costelas não saradas. Gemi tentando
levantar-me. Olhei para cima e vi um Finn irado me provocar.
- Não vou sair daqui assim. – Pareceu que o cara queria descontar toda sua frustração
em mim.
- Por favor... – Octávia correu para me ajudar a ficar de pé. - ... Finn, essa conversa está
encerrada. Vá embora, vá embora agora! – Vociferou.
Ele revirou os olhos e, com uma mão, a empurrou para longe, fazendo-a cair sentada em
uma poça de lama. Minha visão ficou turva, um ódio que eu nunca senti antes percorreu
meu corpo, acompanhado pela adrenalina.
Impulsivo, Collins tentou me socar e eu desviei, agarrando seu braço com toda minha
força. Com o outro punho, ele acertou meu estômago. Curvado, me afastei tentando
Caí ao solo e, com minha audição afetada, ouvi um zumbido distante. Demorei a
perceber que se tratavam dos gritos de Octávia. Com muita dificuldade, fiquei de
joelhos, e só quando olhei para baixo notei que pingava sangue de meu nariz. Finn,
parado à minha frente, falou:
- Isso é patético, não vale nem a pena brigar com você. Não é um homem, é um fraco! –
Ajeitou sua jaqueta e lançou-me um olhar de desdém antes de sair.
Limpei o nariz. Em seguida, me coloquei de pé, respirando pela boca. Passei toda minha
vida sendo considerado fraco e tímido, não queria mais ser merecedor de tais palavras.
Eu era bem mais que aquilo. A parte corajosa e guerreira dentro de mim implorava para
sair, desejava ser ouvida e respeitada. (N/A: a parte grounder dele! hahahaha)
Collins virou-se para mim, surpreso. Esperou por uns segundos, então correu em minha
direção. O cara teria ficado em vantagem se eu não tivesse me jogado no chão e lhe
dado uma rasteira. Ele caiu com a cara na lama, mas logo se recompôs. Joguei-me sobre
o corpo caído e, com toda minha força, dei-lhe uma cotovelada no rosto. Aproveitei a
vantagem e lhe apliquei um merecido e esperado soco no nariz. Infelizmente, ele reagiu,
agarrando meu braço no exato momento em que ia lhe golpear novamente. Com o braço
imobilizado, minha única alternativa foi usar a cabeça, literalmente. Violentamente,
choquei minha cabeça contra a de meu rival. Finn gemeu, pondo as mãos na testa.
Tonto, porém bem mais capaz que ele, me levantei e chutei suas costelas, ao lembrar-
me das minhas. No quarto chute, Collins deteve minha perna e a girou fazendo-me cair.
Rolei pelo afasto, mais rápido do que podia esperar. Coloquei-me de pé, já Finn teve
dificuldades em fazer o mesmo. Podia tê-lo atacado, só que não o fiz. Não me igualaria
a ele. Não sei dizer o que o motivou, mas o sujeito ergueu as mãos, rendendo-se.
- Tudo bem... Vou considerar isso um... Empate. – Falou com contra sua vontade.
Avancei sobre ele e lhe dei um soco no maxilar e outro no peito. Finn pôs as mãos no
machucado caindo de joelhos no asfalto.
Meu impulso inicial foi continuar a esmurrá-lo, só que fui detido por uma vontade
incontrolável de dizer:
- Você precisa rever seus conceitos sobre o que é ser um homem, pois pode ter
músculos e dinheiro, mas eu tenho caráter e força de vontade. E é por isso que eu sou o
homem certo para Octávia!
Collins bufou de ódio, me encarou raivoso enquanto erguia-se. Mantive meus olhos nos
dele disposto a continuar a briga se assim ele desejasse, mas ao contrário do que eu
esperava, ele fitou Octávia, decepcionada, uma última vez e mancou até sua Yamaha. O
Virei-me na direção de Octávia, seus olhos azuis e marejados eram os mesmo pelos
quais me apaixonei: doces, meigos e altruístas.
- Me desculpe. – Murmurou.
- Vai ser preciso muito mais que um bad boy para me fazer desistir de você. – Me
aproximei. – Posso ter sido um bobão por muito tempo, posso não te ter valorizado o
suficiente, mas estou agora te pedindo uma segunda chance, pois posso não ser um cara
perfeito, mas por você... Vale à pena tentar. – Dei um meio sorriso. – Eu te amo,
Octávia.
- Você é perfeito, Lincoln, aos meus olhos apaixonados, sempre será. Eu também te
amo. – Ela deu um passo em minha direção, porém deteve-se ao perceber o quão suja
estava. – Desculpe! – Tentou limpar o rosto. – Sinta-se beijado. - Lançou-me um
singelo beijo. Ri de sua atitude.
Por um momento perdi-me na beleza de seu rosto, em cada detalhe sutil que me fizeram
desejar aquela garota desde a primeira vez que a vi. Então, sem nenhum receio, encurtei
a distancia entre nós, coloquei uma mão em sua nuca e outra em sua cintura e a beijei
com todo o meu amor. Não foi como os beijos gentis que costumávamos trocar, esse era
o beijo. Um ato de desejo e cumplicidade que selava nosso recomeço... O meu
recomeço.
Mesmo machucado, ergui Octávia em meus braços, carregando-a como a princesa que
eu tinha certeza que ela sonhava ser.
- Não acredito que me beijou mesmo eu estando toda suja de lama. – Vibrou. – Você é o
meu herói! – Brincou.
- Isso não foi nada, não vai acreditar é nas coisas que farei com você! – Apartei-a ainda
mais contra meu peito.
- Lições que aprendi com Anya nesse final de semana. Cancele seus compromissos,
amor, esta noite você será toda minha.
Ri satisfeito, pois pela primeira vez na vida consegui deixar minha garota ruborizada.
16:00h de Terça-feira, este era o dia, esta era a hora. Dirigia o jipe pelas ruas do
campus, acompanhada por minha comitiva de caras de pau: Rae, Nessie e o sem pregas.
Todos vestíamos as camisetas da campanha do meu camarada. O que pretendíamos?
Coisa básica, né? Só uma boca de urna bem discreta.
Estacionei em frente a um dos prédios principais onde rolavam soltas as votações. Olhei
para a galera e gritei:
Nessie saltou do carro carregando o toicinho acima de sua cabeça para que todos os
vissem. Raven foi para o lado dela vestindo seu antigo uniforme de líder de torcida do
colegial. Agitou os pompons a valer. A bandida não queria colaborar, mas como a grife
dela estava patrocinando a campanha, foi forçada. O maldito viado foi logo subindo no
capô do carro armado com um megafone. Tudo bem, aquilo fazia parte do plano.
Fui correndo pegar uma caixa cheinha de balas que tinham a cara da Guaxinim impresso
na embalagem. A Loira do Banheiro e a LEXAZINHA faziam o maior sucesso na
internet e toda a galera da universidade estava acompanhando os vídeos do Romance do
Banheiro, e eu que não sou fraca me aproveitei daquilo.
- Já estou gritando! – Berrou no megafone. – Não me pressione. Sou uma estrela! Tenho
que me concentrar, TÁ LEGAL?
Bellamy PDV
Porque minha bonequinha não tirava os olhos da sebosa? Que raxa maligna!
- Ô raxa egoísta... Cuidado se não uso meus poderes em você! – Puxei com força os
pompons de suas mãos e dei uma megafonada na sua bunda.
- Tudo bem, vamos ver o que você sabe. – Cruzou os braços com a cara azeda.
Já havia pessoas lá pegando as balas das mãos de Anya e eu aproveitei para jogar o alto
astral lá em cima ensinando a mundiça como ser uma galáctica.
- É um, é dois, é um, dois, três – Cantei com todo o glamour dançando um can can pra
lá de fashion. – VOTE ANIMAL, VOTE RADICAL, VOTE DIREITINHO, VOTE NO
TOICINHO! – Saltei para um lado, depois para outro, por fim dei uma rodadinha e
terminei com uma clássica abertura. – Tcharam. – Abri os braços. – Viu só como se faz
bruxa do mar? – Fitei Raven.
- Parem com isso! – Anya reclamou. – Façam o povo votar no meu porco! Trabalhem,
trabalhem!
- Isso é escravidão gay! Exijo minha carta de alforria. – Coloquei as mãos na cintura.
Nessie PDV
- ÊPA! – Arrancou o filhotinho das minhas mãos. – O Toicinho não está gordo, está
rechonchudo! – Ela fez cara feia.
- É mentira!
- A droga do suíno está gordo, o que têm dado para ele? – A sebosa me defendeu.
Enquanto os malucos brigavam entre si por causa das balas que Bellamy enfiava nos
bolsos, me lembrei da minha mãe Clarke. Sentia saudades e torcia para que minha outra
mãe Lexa a encontrasse. Todo mundo agora era meu pai e minha mãe, mas os que eu
mais gostava eram a Pirralha e da Guaxinim. Não seria o máximo se um dia se casassem
e me levassem para morar com elas? Tudo bem, eu tava feita na vida, Abby e Kane
tinham uma ideia bem legal para fazer todo mundo ficar junto.
Bellamy PDV
- Já disse que não estou roubando! – Choraminguei. – Meu passado vai me condenar?
Não querem logo me amarrar num tronco? Só quero pegar algumas balas para mim. –
Enfiei mais algumas nos bolsos.
- NÃO VEM FORTE NÃO, HEIN?! FIQUE NA SUA OU TE FRITO COM MEUS
RAIOS LASERS... TCHIZZZZZZZZZZZZN! – Chacoalhei as mãos perto da cabeça
dela.
Concentra, poderosa, concentra que você precisa fazer esse porco carente ganhar essa
eleição!
Anya PDV
Logo depois, ele alinhou a gravata, tomou a mesma postura de antes, ajeitou o cabelo e
continuou:
- Obrigado pela cooperação. – As pupilas se moveram para um lado e para outro, como
se procurassem algum engraçadinho sobrevivente. Como o silêncio permaneceu,
prosseguiu:
Meu estômago fez um barulho alto e todos olharam para mim. Disfarcei legal,
apontando para o Bellamy, como se ele fosse o culpado. A assistente se aproximou com
um envelope nas mãos. Aquele era o envelope do terror, envelope perverso. Tenho
medo dele, pois era a única coisa que separava o Toicinho de seu título. Meu amigão
estava tão tenso que mais parecia um presunto. Nem mesmo piscava os olhos.
Saco! Sempre que uma única pessoa tem uma determinada informação que todas as
outras não têm, ela se acha no direito de torturar as demais.
O QUÊ?
Todo mundo saiu pulando, foi a coisa mais legal que já me aconteceu. Eu me misturei à
galera abraçando todo mundo, até quem nunca vi na vida.
- A dona do mascote, por favor, traga-o até o palco. – Pediu o velhote cafona.
- Declaro este porco... – Tagarelou pegando uma faixa azul e vermelha. - ... Mascote
oficial do time de ruby da Universidade de Arkadia! – Colocou a faixa no Toicinho e
uma outra em mim.
Sem a permissão do reitor, tomei o microfone de sua mão e fui para o centro do
palanque.
Clarke PDV
Não podia ficar escondida para sempre. Mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar
Kane, Abby e... Ela... Novamente. O que eu diria? Aquela era uma pergunta sem
resposta.
Liguei o celular e haviam chamadas não atendidas e várias mensagens. Quase todos
tentaram entrar em contato: Kane, a mosca morta, Octávia, Rae e a Woods. Não tive
coragem de abrir nenhuma das mensagens, mas teve uma que me chamou a atenção. Era
uma mensagem de Anya. Motivada pela curiosidade abri e a li:
[Loirinha, se escondeu no seu banheiro? Vai voltar e matar todo mundo? MEDO! ...
VAI LOGO VER O SEU SITE MULHER!!!
IDIOTA!
Site? Ela se referia ao “Eu Odeio Clarke Griffin”? Oh, meu Deus! O que será que
aquela bisonha fez?
***
Minutos depois eu já estava em uma Lan House, roendo as unhas de tanta curiosidade.
Temia que a maníaca assassina tivesse dado fim ao que sobrou da minha reputação.
Nervosa, acessei o site. A página abriu e eu procurei logo na sessão de vídeos. Arregalei
os olhos quando vi que havia um vídeo recente com mais de dez mil exibições em
poucas horas. Acredite, pensei o pior...
Engoli em seco e minha mão suou quando apertei o botão do mouse dando play no
vídeo.
Inclinei a cabeça tentando entender a imagem na tela. Um tênis velho estava em foco e
aos poucos a câmera foi mostrando as pernas de uma calça detonada, depois foi a vez da
blusa preta sem mangas. Por fim a câmera focalizou o rosto do individuo.
Involuntariamente afastei-me, quase levantando do assento.
Lexa? Aproximei meu rosto do monitor só para ter certeza, e sim, era a Woods!
Paralisei. Quando consegui reagir, olhei para os lados e não vi ninguém na Lan House
com exceção de mim e o dono, pois ele acabara de abrir o local. Bestificada, voltei a
encarar a tela.
- Eu sei que dirá não, mas o que tenho para falar é importante.
- Tá certo! – Respondeu.
- Sinto muito ter mentido e escondido algumas coisas de você. Não pense que não te
entendo, pois te conheço mais do que pode imaginar. – Retirou o boné da cabeça com
um semblante derrotado. Ficou em silêncio por alguns segundos e por um momento,
achei que desistiria do que pretendia falar. De repente sua expressão modificou-se e
passou a encarar a câmera com seriedade. – Quer saber, eu não sito muito! Não
mesmo! – Eu já deveria esperar, ela nunca iria dar o braço a torcer daquela forma.
Fiquei enojada. – Sabe por que eu não sinto muito? Porque antes de te conhecer eu
achava que sabia tudo sobre a vida, até mesmo como seria o meu futuro. Só que
depois de ter feito com você aquele acordo durante o verão tive a honra de conhecer
uma Clarke que se escondeu do mundo todo. Uma garota incrível, que tem o dom de
me enlouquecer de todas as formas possíveis. Quando te deixei em Verona, foi a
primeira vez que realmente me senti sozinha... – Suspirou. - ... Logo eu, que fui
abandonada quando criança e me considerava autossuficiente. Menti, manipulei e
errei... Mas todas essas coisas, mesmo tendo nos machucado, serviram para me
mostrar que nem de longe sou o que precisa, mas sem dúvida... – Desviou o olhar
como se disfarce a vontade de chorar. Seu rosto ficou em close. Cada detalhe de sua
face ainda fazia a minha respiração enfraquecer. - ... Sou a mulher que mais te ama,
porque mesmo com minhas trapalhadas eu continuo tentando ficar com você,
cegamente, às vezes sem medir as consequências. Vou sempre fazer o que estiver ao
meu alcance para te ter e se quiser me julgar por isso... E por todos os meus defeitos
eu não me importo, desde que um dia você me dê a chance de acertar. E eu preciso
acertar, Clarke. Tudo isso tem um porém, eu preciso de ajuda, preciso da sua ajuda. –
Era a primeira vez que Lexa me pedia ajuda daquela forma, geralmente era eu que
corria para ela em busca de soluções. – Tem certas coisas que você é tão melhor do
que eu.
- Ela tem razão! – Me surpreendi quando meu pai apareceu ao lado de Lexa, vestido de
forma estranha. – Do seu jeito, me mostrou generosidade e amor quando foi me
procurar em NY. Você lutou contra seus sentimentos para me apoiar naquele dia e
me consolou como ninguém mais poderia ter feito. É fato que muita dor poderia ter
sido evitada se tivesse sido mais flexível no início do meu noivado, e eu, bem...
Poderia ter procurado me fazer mais presente e lutado contra a redoma que você
criou em torno de si. Minha filha, todos nós temos aprendido com nossos erros. Eu
Tive dificuldades de acreditar no que via, principalmente quando Abby, vestida como
uma roqueira se posicionou ao lado deles.
- Clarke, às vezes fico imaginado se teríamos sido amigas se tivéssemos nos conhecido
em outras circunstâncias. Se tudo seria diferente... – Uma vez eu mesma já me fiz
aquela pergunta. – O problema é que você me vê como uma usurpadora. Nunca foi
minha intenção roubar o lugar de sua mãe ou lhe afastar do seu pai. Sei que essas
palavras não irão te fazer entender isso completamente e que somente o tempo
revelará a verdade, pois como deve ter percebido, mentira nenhuma perdura. Então,
por favor, deixe que o tempo te mostre quem eu sou e aí, quem sabe, um dia possamos
ser as amigas que sempre deveríamos ter sido. – Ela segurou a mão de Kane, como se
falasse para nós dois. – Desculpe ter interferido em questões que eu não tinha o
direito. Hoje te peço para reconsiderar todo o ódio que sente e se permita dar um voto
de confiança à sua família... – O restante do pessoal se juntou a eles. - ... Que está
aqui hoje para assumir seus erros e para perdoar os teus, pois tudo nessa vida passa:
experiências, vitórias, derrotas, mas isso que temos juntos permanecerá se formos
fortes o suficiente para lutar.
Minha face estava úmida, não tinha certeza de quando havia começado a chorar. Eu não
estava seca por dentro, não era mais a garota que não se importava com nada. Desejava
mudar o passado, duas ou três escolhas diferentes poderiam ter dado outro rumo à
minha história.
- Clake, não deixe que o que aconteceu atrapalhe seu sonho. Vá para o Hippy Shake
na Quarta à noite e nós estaremos lá para te apoiar. – Lexa sorriu fraco. – Tem uma
última coisa que gostaria de te dizer, algo que eu deveria ter dito desde o início em
Verona: Pirralha... Seja você mesma!
O vídeo acabou e eu permaneci olhando para o monitor. Existiam muitas coisas que eu
necessitava colocar para fora. Meu íntimo gemia, como se minha alma precisasse se
expandir.
Clarke PDV
Na recepção do motel arranjei uma folha de papel e uma caneta, sentei na calçada e
comecei a rabiscar. Não era capaz de controlar a letra da música que fluía ali. Sabia
exatamente em que canção encaixaria aqueles versos. Existia uma música que compus
nas três semanas que passei em Polis depois das férias. A melodia sempre estava em
minha cabeça, mas só agora eu tinha encontrado a letra perfeita para ela.
***
O som das minhas botas no asfalto era a única coisa que eu podia ouvir enquanto
caminhava em direção a moto. A noite já havia caído e era provável que eu não
chegasse a Arkadia a tempo, pois já passavam das 18:00h.
Montei na Suzuki ciente de que ela era a única com potência suficiente para me fazer
chegar ao bar a tempo. Nem mesmo minha Ducati seria capaz de tal proeza. Isso me fez
questionar se eu realmente teria vencido o racha que disputei com Lexa ou se ela me
deixou cruzar a linha de chegada antes dela.
Dei a partida na moto e acelerei aos poucos. Sem capacete, documentos ou receio,
deixei a máquina rugir abaixo de mim enquanto o ponteiro do velocímetro movia-se
fazendo meus cabelos, agora em tons avermelhados, esvoaçar. Não demorei o dia
inteiro para compor a canção, aquilo fiz em vinte minutos. O que roubou todas as
minhas horas foi a busca por novos conceitos, que moldaram-se a antigos. Precisei
encontrar a coragem necessária para perguntar a mim mesma no que havia me
transformado.
Atingi os 240 km/h como objetivo de fazer uma única parada. Chegaria em casa,
trocaria de roupa, pegaria minha guitarra e correria para Hippy Shake. O mundo
precisava ouvir minha música!
Finn PDV
Parei minha moto no sinal próximo ao apartamento de Octávia. Desejei vê-la pela
última vez, mas fui impedido pelo orgulho. Certamente ela nunca mais iria querer falar
comigo. Lamentei o fato de ela estar certa.
Sentia-me alvejado. Não pela briga, mas pelas palavras de todos eles. Bem, eu não iria
choramingar por isso. Pegaria a estrada onde era o meu lugar.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som do motor de outra máquina parando
no sinal junto a mim. Levantei a viseira do capacete para fitar o motoqueiro e ele fez o
mesmo.
- Oi. – Cumprimentei, vendo que o sinal já havia mudado e eu nem tinha notado. Acabei
ficando preso em outro sinal vermelho.
Não precisava ser um gênio para saber que a garota fugia de seus sentimentos por Lexa.
Era bem típico de mulherzinha mesmo. É, mas até parece que posso zombar.
Bufei.
- Talvez 66.
- Estrada limpa e boa de se pilotar em alta velocidade. – Suspirou. – Acho que vou
nessa também!
Preferi me calar.
Ela acelerou a máquina trocando olhares entre mim e o semáforo que estava prestes a
abrir. Então pensei:
Por que não? Talvez viajar acompanhado não seja tão ruim.
Já se passavam das 21:00h e o bar Hippy Shake estava lotado como eu nunca vi antes.
Estávamos sentados em uma mesa a poucos metros do placo. Esperávamos por Clarke,
só que a banda havia começa a tocar já fazia um tempo. Me preocupei.
Minha mãe encarou-me com dúvidas nos olhos. Percebi que ela não queria perder a
esperança e nem eu.
Concordei assentindo.
Clarke PDV
Por algum motivo as pessoas afastavam-se para que eu passasse. Riam, murmuravam,
apontavam-me e eu não compreendia o porquê. Muitas delas usavam as camisetas da
campanha do Toicinho, as quais atrás tinham escrito o título de “O ROMANCE DO
BANHEIRO”.
Me concentrei no palco, pois foi a única forma que encontrei de fazer minhas pernas
continuarem a se mover.
Subi pela lateral do palco e esperei que alguém da banda me desse a chance de explicar
os motivos de meu atraso. Enquanto o vocalista terminava de cantar olhei para o meio
do bar e vi o pessoal esperando por mim. Eles haviam cumprido a promessa. Isso fez
meu estômago embrulhar. Por sorte o vocalista veio até a parte mais escura do palco
onde eu tentava inutilmente me esconder.
- Está atrasada, perdeu sua chance. – Ele me avisou enquanto bebia um pouco de água.
- Eu sei, mas foi um sufoco chegar até aqui, tem que me deixar tocar.
Me aborreci.
Passei as mãos nos cabelos sem saber o que fazer. Então, apelei.
- Olha aqui... – Agarrei a gola da camisa do vocalista, peitando-o. - ... Não sabe o que
passei para ter essa chance e você não vai tirar isso de mim!
O restante da banda veio socorrer o seu líder. Eu já até me via sendo jogada para fora do
bar.
- Ei! – Berrou o baterista puxando-me para longe de seu amigo. – Qualé afobadinha!
Esquece, ok? Já era!
- Não vamos criar confusão, por favor, saia do palco. – Falou em voz alta o baixista.
Rejeitada, pus a mão no peito disposta a implorar. E foi aí, que alguém gritou do meio
do bar:
- DEIXA ELA TOCAR! – Procurei e avistei Lexa e Anya de pé. Não consegui saber
quem gritou aquilo.
- RAXA, CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER! DRAGA, CADÊ TU? SÓ
SAIO DAQUI QUANDO EU DAR O... – Octávia tapou a boca do infeliz.
Mesmo a bichona tendo sido silenciada, o pessoal que estava lá por causa dos vídeos do
site Eu Odeio Clarke Griffin gritou repetidas vezes:
Eu, que não sou besta, incentivei gesticulando com as mãos. A pressão da plateia era o
meu único trunfo.
Os rapazes da banda não eram burros, sabiam que a galera da UA em peso estava lá por
causa de mim e meus companheiros de confusão. Aquelas pessoas haviam assistido ao
vídeo que Lexa e os outros fizeram, sabiam o que estava acontecendo e desejavam ver
como aquilo tudo se resolveria.
ISSO!
Comemorei com toda a energia, mas isso nem se comparou com a comemoração do
público.
- Estamos topando não só por causa da pressão. – O líder sussurrou para mim.
Escondi o rosto entre as mãos, envergonhada. Arkadia inteira já estava infectada pelas
loucuras de Anya. O que eu podia fazer? Tirar proveito da situação, lógico!
Tirei minha guitarra do Gig Bag e liguei nela o cabo que o guitarrista gentilmente me
ofereceu.
- Pessoal, eu sei que não ensaiamos, mas tentem me acompanhar. É um Country Pop,
nós começamos com uma sequência harmônica de Sol Maior, depois baixem dois tons e
voltem ao original, ok?
- Um, dois,... Um, dois, três! – Disse o baterista fazendo sua parte eu não pude seguir
em frente.
Em um súbito, dei as costas para o público, disposta a sair correndo daquele local. Eu
me enganara, não estava preparada para aquilo. Tinha medo, muito medo!
Tentei me livrar da guitarra e a banda não soube o que fazer. Passei rapidamente a
correia da Fender por sob minha cabeça, desistindo. O balanço fez o colar de minha
mãe, que estava preso do braço do instrumento, cair. Minhas mãos vacilaram e a Fender
também foi ao chão.
Não quis olhar para trás, não podia encarar aquelas pessoas. Minha reação foi a pior
possível. Fechei-me de tal forma, que tudo que podia ouvir era o som distante de vozes
anônimas. Estava sucumbindo àquilo.
Só de me imaginar abrindo minha alma naquele palco através da canção que compus,
minhas forças se esvaíam.
Não sei dizer como isso aconteceu, mas fiquei presa em um curto momento, apenas um
segundo. Talvez, devido às emoções, meu cérebro tenha trabalhado rápido demais, me
fazendo imergir na ilusão de que o tempo havia parado só para mim. O brilho da joia
que eu tanto queria ser merecedora de usar me hipnotizou e não tive como tirar meus
olhos dela.
Minha mãe, doente, estava deitada na cama de seu quarto, na nossa casa em Polis.
A doença já consumira a maior parte de suas forças e, mesmo que em alguns momentos
ela parecesse bem o suficiente para passar algum tempo em casa, sempre pairava no ar
o medo do futuro.
- Mãe, o que você acha que vai acontecer? – Perguntei, deitando ao seu lado na cama.
Era pequenina demais, até para uma menina de 12 anos.
- Você vai morrer? – Encarei seu rosto pálido e ela sorriu fracamente.
Assenti.
- Não pode viver com medo, o medo neutraliza todas as nossas forças, nos deixa sem
esperanças.
- Não posso evitar. – lamentei, tocando sua face. – Às vezes, eu sinto tanto medo que
gostaria de me esconder. – Me encolhi. – Não entendo...
- O quê?
- Sempre diz que para todo o problema existe uma solução, mas... E para o seu
problema?
- Sabe, minha filha..., a morte nem sempre é um problema. Às vezes, ela é o alívio para
quem sofre. Existem tantas coisas mais, além do que vemos com os olhos carnais. É por
isso que acredito no que te digo... Sempre haverá uma solução, só que, às vezes, precisa
Eu era pequena demais para entender tudo aquilo. Porém aquele momento ficou
gravado em mim.
- Clarke... – Sussurrou.
- Sim?
- Esqueça todos os seus medos, esqueça tudo que te impede de viver bem. Apenas, deixe
de lado. – Beijou minha testa.
Ainda presa na fenda que minha consciência abriu entre o passado e o presente, girei
parte do corpo e, com os olhos, percorri o recinto até localizar o rosto de Kane. Depois
da tempestade de acusações que fiz em Polis, agora podia ver algumas coisas
claramente. Kane não era um mau pai, só um pai meio despreparado. Talvez solitário
demais, pois quando se apaixonou por Abby voltou a agir como um adolescente. Não
era de se admirar que, em algum momento, isso fosse acabar mau. Me lembrava muito
bem de como éramos antes da chegada dos Woods na nossa vida. Achava que tinha toda
a sua atenção e carinho pelo fato de ele se preocupar com cada mínimo detalhe do meu
cotidiano, até mais do que se preocupava com Rae. Muitas vezes, desejei que ele
simplesmente me deixasse em paz para poder fazer o que eu quisesse. Quando meu
desejo se tornou realidade, sofri, pois senti falta de nossos momentos juntos. O
problema é que eu era muito leiga para notar que ele só queria amar novamente. Como
eu poderia entender de um sentimento que até ali, nunca havia experimentado? A culpa
nem era de Abby, qualquer mulher que tivesse se aproximado de Kane teria sido vítima
de meu ódio irracional. Eu teria feito tudo igual, ou pior, porque temia as mudanças.
Quando soube o que Lexa havia feito, juntamente com Abby, quase enlouqueci. Julguei
aquela mulher a pior pessoa do mundo, até pior do que eu. Mas, se ela não tivesse feito
as coisas que fez, certamente eu não estaria em cima daquele palco. A convivência me
mostrou que Abby também tinha qualidades e a principal delas era o amor incondicional
por Kane. Ela suportou todas as minhas afrontas, sabotagens e xingamentos, sem se
alterar ou revidar. Qualquer pessoa em seu lugar teria se alterado e revidado. Não sei se
ela realmente desejou minha felicidade, mas talvez com o tempo... Eu possa descobrir.
Tempo... Meu tempo, seu tempo... Limitado demais para ser desperdiçado com
sentimentos pobres que um dia não terão mais sentido.
Fui trazida de volta à minha realidade cheia de cor e vida, dor e amor. O meu momento
especial que estava para escapar por meus dedos. Inspirei, piscando os olhos, quando o
vocalista da banda perguntou:
- Hoje, dedico essa música a todas as pessoas que tem me ensinado... – Suspirei. - ... A
viver. Obrigada!
Olhei para o tecladista e pedi para ele improvisar uma introdução com base nos acordes
que lhe forneci. Era tempo suficiente para controlar minha respiração.
“There's some things that I regret, (Há algumas coisas que eu lamento,)
Some words I wish had gone unsaid, (Algumas palavras que eu desejo não ter dito,)
That had some bitter endings, (Que tiveram alguns finais amargos,)
Been some bad times I've been through, (Tendo atravessado maus momentos,)”
I wish I could do all all over again, (Eu desejaria poder fazer tudo, tudo mais uma vez.)
Life gets that much harder, (A vida fica muito mais difícil,)
It makes you that much stronger, (Isso lhe faz muito mais forte,)
And every tear that had to fall from my eyes, (E todas as lágrimas que tiveram que cair
dos meus olhos)
Everyday I wondered how I'd get through the night, (Todo dia eu
imagino comoconsegui passar a noite)
Every change, life has thrown me, (Toda mudança que a vida tem feito)
I'm thankful, for every break in my heart, (Sou agradecida por cada pedaço quebrado
em meu coração)
Quando cheguei ao refrão, a música já havia tomado conta de mim. Sentia como se as
amarras que me oprimiam estivessem sendo rompidas. Agora eu podia cantar em plenos
pulmões o que sentia.
There's mistakes that I have made, (Há erros que tenho cometido,)
Some chances I just threw away, (Algumas possibilidades que eu apenas descartei)
Been some signs I didn't see, (Muitos sinais que não vi)
That I wish I could have one more chance to mend, (Que gostaria ter mais uma chance
para curar)
You get the life you're given, (Você fica com a vida lhe é dada)
And every tear that had to fall from my eyes, (E todas as lágrimas que tiveram que cair
dos meus olhos)
Everyday I wondered how I'd get through the night, (Todo dia eu
imagino comoconsegui passar a noite)
Every change, life has thrown me, (Toda mudança que a vida tem feito)
I'm thankful, for every break in my heart, (Sou agradecida por cada pedaço quebrado
em meu coração)
And all the things that break you, (E todas as coisas que lhe destroem)
Are all the things that make you strong, (São coisas que lhe tornam mais forte)
You can't change the past, (Você não pode mudar o passado)
And you just gotta move on, (E você apenas deve seguir em frente)
Desejava que não tivéssemos chegado àquela encruzilhada. Seria eu capaz de fazer a
escolha certa? E o que era certo, afinal? Tentar reconstruir minha vida o mais longe
possível daquela mulher que me machucou tanto? Será que em alguns anos a terei
esquecido completamente? Ela seria apenas um borrão vago em minha memória ou
ainda estaria viva em cada parte de mim? Naquele momento, eu era mais verdadeira do
que jamais fui e essa Clarke diferente dependia de um coração que já batia fraco de
tanto lutar contra Lexa Woods.
And every tear that had to fall from my eyes, (E todas as lágrimas que tiveram que cair
dos meus olhos)
Everyday I wondered how I'd get through the night, (Todo dia eu
imagino comoconsegui passar a noite)
Every change, life has thrown me, (Toda mudança que a vida tem feito)
I'm thankful, for every break in my heart, (Sou agradecida por cada pedaço quebrado
em meu coração)
Entreguei minha guitarra a um dos músicos, recebendo muitos aplausos. Era impossível
não ficar feliz. Eu tinha conseguido! A energia que a plateia me transmitia era
indescritível, como mágica! Naquele momento, eu soube que meu lugar era ali, em um
palco. Não importava quantas pessoas me ouvissem cantar, eu só queria mostrar minhas
composições, minha alma ao mundo.
Sim, haviam muitas lições aprendidas e algumas delas foram dificílimas. Mesmo assim,
eu suportei, sobrevivi. Não era uma vítima e nem queria me intitular como tal. Sou
apenas uma garota tentando conquistar seu lugar ao Sol.
Eu estava tão orgulhosa do meu frango. Ela surpreendera a todos. Era impossível não
ficar tocada com sua canção. Eu não podia estar mais feliz! Eu a aplaudi com toda a
sinceridade.
Havia um brilho espetacular em sua face, tentei imaginar como se sentia por dentro.
Centenas de pessoas a aclamavam e a banda lhe parabenizou. A letra de sua música
mexeu comigo de uma forma singular e todas as palavras ainda circundavam meus
pensamentos. Pelo visto, o público ali presente sentia o mesmo.
Não queria estragar a noite de Clarke. Ver-me ali depois de tudo que aconteceu, devia
estar deixando-a desconfortável. Além disso, não havia mais nada que eu pudesse lhe
dizer. Queria que minha pirralha saboreasse sua conquista completamente e, por isso, só
por isso, resolvi me retirar. Antes, me dei ao luxo de observá-la mais uma vez, radiante
e linda. Todas as melhores características dela estavam presentes em cada detalhe.
Enxerguei em seu sorriso a Clarke insana que conheci em Verona e, nos olhos, uma
garota mais sábia e profunda. As roupas, de uma roqueira independente. E... Poxa,
como eu amava tudo isso nela! Sem me despedir do pessoal, apenas me direcionei até a
saída.
Clarke PDV
- Ei, você é muito boa. – Elogiou o vocalista. – A propósito, meu nome é Dick.
- Você tem mais do que consegue ver. Tem presença de palco, retirando o pequeno
vacilo inicial, mas é normal para uma iniciante. Tem uma voz bonita e carisma, até já
tem seus próprios fãs.
- Bem... Acho que vou pensar no caso de vocês. – Fiz charme e os bobões acreditaram.
– É ÓBVIO QUE ACEITO! – Ri maravilhada.
Olhei para a mesa onde estava Lexa, louca para contar-lhe a novidade e meu sorriso
desapareceu quando não a vi lá. Vasculhei o bar com os olhos e não a encontrei. Ela
tinha ido embora?
Confesso que fiquei nervosa. O que aquilo significava? Não tê-la por perto era
perturbador e eu já sentira aquela sensação por tempo demais. Não conseguia mais
suportar.
Arranquei o colar de Rose da guitarra e pulei do palco. Saí, abrindo caminho por entre a
multidão, tentando chegar à saída. Por sorte, alguns estudantes colaboraram. Rompi
porta afora e muitos me acompanharam. Olhei para a direita e nada. Olhei para a
esquerda e a vi andando sozinha na rua, distanciando-se cada vez mais.
Não queria infligir mais um segundo de sofrimento a nós, aquilo precisava acabar.
NECESSITAVA DE UM FIM! Corri cerca de dez metros atrás dele, gritando:
- Lexa, Lexa!
Para o meu alívio, ela se virou. Sua expressão foi a de mais pura surpresa e nervosismo.
Olhei para trás e vi uma multidão nos assistindo, o que tornou tudo muito mais difícil. A
Woods não se moveu e eu também não. A distância ente nós não era grande, a única
coisa grande ali era a barreira que eu mesma criei por meses.
- Shhh! – Coloquei o dedo junto aos meus lábios. Ela engoliu em seco, fitando o chão. –
Tenho uma confissão a fazer. – Respirei fundo. – Sou culpada! Culpada por permitir
que o medo que eu sentia distorcesse meus atos e dificultasse nossa vida.
Você acha que sou estúpida? Lógico que ia escolher a segunda opção!
- Não vamos ficar nos lamentando pelo que houve e nem ficar buscando alguém para
colocar a culpa. Posso fazer uma lista dos meus erros e dos seus e mesmo assim
encontraria um número infinito de motivos para não desistir do que sentimos. Lexa,
estou pronta! – Ergui bem a cabeça. Até podia sentir a ânsia de nossos expectadores. –
Agora eu consigo! – Me concentrei em seu rosto. – Consigo dizer que... – Apertei com
força o colar de minha mãe. - ... Que... EU TE AMO! – Gritei a última frase. Eu
precisava fazer aquilo, pois estava exausta de reprimir aquela declaração. – Eu te amo! –
Repeti com a voz torturada. A sensação foi maravilhosa. Dizer a verdade colocou por
terra toda e qualquer barreira que um dia eu já ergui. Eu estava livre! Podia, finalmente,
amar e ser amada.
- De quê?
- Disto!
Colocou-me no chão, segurou meu rosto entre suas mãos e, para o delírio de todos, me
beijou. O alvoroço atrás de mim foi grande, haviam palavras de incentivo e muitos
aplausos, mas eu não me importei com nada, apenas com o beijo libertador que
LEXAZINHA e eu trocamos.
Como eu sentia falta daqueles braços, mãos, pele, lábios e tantas outras coisas que meu
cérebro não era capaz de numerar. Lexa, esfomeada, sugou meus lábios e eu, os dela.
Minhas mãos foram direto para sua nuca e ela me envolveu em seus braços. Seu hálito
me embriagou e a maciez de sua língua contra a minha fez meu coração bater forte e
saudável. Era impossível não gemer com tanta satisfação. Então, só para me
enlouquecer, ela deu pequenas mordidas em meus lábios; aquilo era uma das coisas que
tornavam o beijo da minha Woods inesquecível. Uma característica tão dela quanto o
cheiro delicioso da sua pele.
Ofegamos, mas de forma alguma separamos nossos lábios. Meus braços a envolviam
com vigor, destemidos, pressionando-a contra mim. Sua língua penetrou minha boca,
me levando ao êxtase. Eu a senti trêmula e eu adorava isso. Eu a queria tanto que, feliz,
abriria mão do meu fôlego só para continuar beijando-a por toda a noite.
Me esqueci de tudo, absolutamente tudo. Só existiam minha pirralha e eu. Ela era o meu
fogo, me consumiria ali, se assim desejasse. Calor, vontade, paixão e força: palavras que
pareciam ter sido criadas para nos descrever. Nunca nos senti tão inteira, nenhum beijo
trocado ou noite de prazer desfrutada se comparava àquele momento. Havíamos
evoluído, traspassado todos os obstáculos. O que poderia nos separar agora? O ódio,
orgulho, ciúme, mágoa, mentira, burrice? Nenhum deles, pois nós já havíamos
confrontado todos. Agora seriam eles que se renderiam diante do amor que despertamos
uma na outra.
Clarke PDV
- Sim, querida. – Respondeu a mosca não tão morta. – Pode olhar agora.
Acenei para o pessoal timidamente e minha Woods e eu partimos, caminhando pela rua
pouco movimentada. O alvoroço ainda era audível atrás de nós e isso me fez rir. De
repente, ouvimos incrédulas a voz de Anya:
- Isso é bom! – Deu uma risadinha. Então, começou a cantarolar. – Você me quer...
Você me quer... Meu frango me quer...
Rimos juntas.
Clarke PDV
Havia se passado pouco mais de uma semana desde minha apresentação no Hippy
Shake. Até podia ser um Sábado divertido se o pânico, a histeria e o caos não tivessem
se instalado no ambiente. O que aconteceu? Simples. O tal viado Max estava
divulgando um desfile na loja dele com direito a 10 por cento de desconto em sua
mercadoria, no mesmo dia do desfile de inauguração da grife e boutique BEM DOIDA.
Super golpe sujo para acabar com a concorrência! As garotas e a bichona tinham
decorado um galpão que serviria de cenário para um grande evento com direito a buffet
e DJ. O problema é que agora corriam o risco de ficar a ver navios, por conta da
sacanagem da bicha loira.
Bellamy PDV
Senti a brisa no meu rosto. Abri um só olho e vi Octávia me abanando com um folheto.
Fechei novamente o olho e prendi a respiração. Eu ia me suicidar ali mesmo!
Quando eu soube que a boneca de Vodo estava tentando boicotar minhas chances de
subir na vida, as estrelas piscantes da minha galáxia se apagaram. Se o cambalacho da
grife não emplacasse, eu ia acabar como uma bicha totalmente falida vendendo Avon de
porta em porta.
De repente, fui atingida por um pó branco infernal no meio das fuças. Pó químico!
ESTAVAM USANDO A PORRA DO EXTINTOR DE INCENDIO EM MIM!
ÓDIOOOOO!
- Êpa, errei o alvo, o fogo dele é no rabo. – Anya zombou, só cuspindo no prato em que
um dia comerá.
- Vou papocar a mão na sua cara, sua... Sua... Catiroba! – Rosnei. – Morra!
- Bellamy tem razão. Daqui a algumas horas, as modelos chegarão e não haverá
ninguém para vê-las. Dois eventos na mesma cidade? Arkadia é pequena demais para
tamanha concorrência. – Lamentou Octávia.
Lexa PDV
- Ela tem razão. Vocês ainda têm algumas horas, façam algo para chamar a atenção do
público. Precisam de boa jogada de marketing. – Incentivei.
- O que você disse de tão especial? – Perguntou Clarke tocando meu braço.
- Você e Clarke farão um comercial para nós, como fizeram para a campanha do
Toicinho. – Octávia bateu palmas, feliz. – São celebridades, todos amam vocês!
Ela apontou para Clarke. A encarei incrédula. A pirralha olhava para o teto, fingindo
estar alheia à discussão.
- O quê? Qual o problema? Uma garota não pode ganhar a vida explorando a namorada
gostosa?
- Não vamos participar disso, chega de nos expor! Isso está virando uma bola de neve. –
Reclamei em voz alta. – Além disso, Clarke nunca vai topar... – Apontei para meu
leãozinho. - ... Ela tem princípios!
FALA SÉRIO!
Clarke PDV
- Vocês precisam fazer isso por mim. – O viado bateu o pé no chão. – Me devem muito!
- Nem vem que não tem. Quem te ajudou a procurar a draga sumida, semana passada?
Eu, a fabulinda! – Bellamy apontou para si mesmo. Depois, fitou a bisonha. – Quem
ajudou na campanha do porco carente? Quem deu a vocês a honra de me conhecer?
Estão nessa comigo até o talo!
- Gente... – Octávia suspirou. – Não sabemos mais o que fazer. Talvez isso do comercial
no site nem dê certo, mas precisamos tentar ou perderemos todo o trabalho e esforço
que tivemos. Investimos tudo que tínhamos nesse projeto.
Bufei, depois puxei Lexa até um canto para ter uma conversinha particular.
- Está muito brava? – Esperta, alisei as costas dela por dentro da blusa. A Guaxinim deu
de ombros, relaxando. – Sabe por acaso quanto estou faturando com esse lance do site e
O Romance do Banheiro?
- Não.
- O suficiente pra comprar duas passagens para Miami. Ou seja, você e eu, próximo
final de semana, quarto de hotel e nenhuma roupa.
# COMERCIAL #
A primeira a aparecer no vídeo fui eu, tristonha, varrendo o chão do galpão, com um
lenço velho na cabeça, vestido largo e óculos fundo de garrafa. Mais parecia uma
retirante!
De repente, surge quem? Lexa, toda linda, de óculos escuros, passeando despreocupada
por ali. A encaro com a boca escancarada, e é aí que vem minha primeira fala:
- Psiu... Psiu!
Meu rosto desolado ficou em foco. Tremi o lábio inferior, retirei do bolso um colírio e
apliquei rapidamente sobre os olhos. Em seguida, desabei no chão aos prantos.
- Isso não tem desculpas, sua malcriada! Irá limpar tudo novamente! – Jogou uma
esponja em mim.
- RÃ, RÃ, RÃ! AI, AI, AI, AI – Fingi chorar mais que solteirona vendo o final de
Titanic. – Preciso de ajuda, preciso de uma fada madrinha... – Gesticulei na direção
onde a fada deveria aparecer e nada. - ... Eu disse... PRECISO DE UMA FADA
MADRINHA! – Nada. Emputei! – CADÊ O BAITOLA DA FADA MADRINHA?
Lincoln colocou uma música estranha exigida pelo lunático metido a estrela. Não sei
explicar como ainda não me matei! O viado estacionou à minha frente, soltando o bafão
no meu rosto.
- Sou sua fada madrinha, criança. – Jogou um punhado de glitter na minha cara, a
maior parte entrou na minha boca. - Qual seu problema?
- Vamos combinar que feia é bondade, HU!... HOHOHOHOH! Você mais parece
uma periquita mal lavada!
- Ah, qual é?! Ele pode dizer isso? – Cruzei os braços, irritada, esperando que os
produtores meia boca resolvessem a parada.
- Espero que ele esteja falando de um pássaro. Então, continuem. – Kane rindo, não
apareceu no vídeo, mas a sua voz ficou registrada no comercial.
- Meu sonho é ser uma princesa. – Me mantive dentro do roteiro escrito por Octávia.
- Juro que se não fizer isso direito, vou te enfiar esse cabo de vassoura. – Ameacei.
- Não tente me agradar agora. – Balançou a varinha de condão em ameaça. – Acha que
gosto de gravar esse vídeo? Eu podia tá matando, eu podia tá roubando, me
prostituindo, você sabe, essas coisas divertidas. Mas estou aqui ralando feito uma
operária para piscar na galáxia. Então, baixe sua bola!
- Você é a pior fada do mundo todo! – Praguejei. Nós já havíamos saído totalmente do
roteiro.
- Viiiixi... Não toco minha varinha numa raxa desde ... NUNCA! Assim não rola! Sou
alérgica a essas coisas, você vai ter que se conformar com meus conselhos.
- Que conselhos?
- Não precisa de mágica, o que precisa é ir à boutique BEM DOIDA dar um trato no
visual. Ficará fabulinda em instantes e conquistará todos os corações. – Jogou
novamente um punhado de glitter na minha cara com toda força.
- Sim e muito mais. Olha, como você está muito desesperada, vou usar meus super
poderes e vesti-la com um dos maravilhosos modelitos da BEM DOIDA. Vou tocar
em você com a minha varinha, mas não se acostume não, hein? Vou sair daqui toda
empolada! – Fez um caretão.
- Aiiiiii! – Gemi.
Graças à edição de vídeo, meu visual gata borralheira foi substituído instantaneamente
por uma versão sexy de Cinderela da savana, pois o vestido curto que usava era
adornado com penas de pavão. Aquele era o vestido principal da coleção, a capa do
catálogo deles.
- Oh, estou linda! – Girei, dando ênfase à roupa que nem era tão feia assim.
- Viu só? Quem precisa de fada madrinha quando se tem a grife BEM DOIDA?
- Viram só? – Falou para a câmera. – Tudo é possível quando se veste um BEM
DOIDA! Venha para a inauguração da boutique no galpão central da Rua Flames,
as 19:30h, assistir ao maior e melhor desfile que o Estado já viu e compre tudo que
quiser com vinte por cento de desconto! É apenas hoje, mundiça, aproveitem! – Deu
um sorriso sórdido.
- Ei, Anya, você vai reeditar esse vídeo antes de divulgar na net, certo? Está muito
louco. – Falou minha irmã.
Até parece que ela ia perder a oportunidade de nos fazer passar vergonha.
Lexa PDV
- Ia ser radical!
- Por que não foi para o galpão com minha mãe e Kane?
- Quero ir com vocês. Quero andar de moto! – Sorriu, mostrando a janelinha que
recentemente se abriu entre seus dentes. – Posso te perguntar uma coisa? – Tamborilou
os dedos no queixo, estudando-me.
- Sim.
- É! Na televisão, os namorados casam, têm filhos e vivem felizes para sempre. O que
você está fazendo de errado? – Fechou a cara, mais implacável que Kane quando
descobriu meu relacionamento com a pirralha.
Precisei tomar um gole do vinho que estava sobre a mesinha de centro. Depois, gaguejei
sem querer.
- Não! – Cruzou os braços, ranzinza. – Vou te dizer o que deve fazer! Peça Clarke em
casamento, compre uma casa com um jardim bem grande e um cachorro. Depois, me
leve para morar com vocês e... Ah, claro, arranje um quarto para a Anya e o Toicinho
morarem lá até morrerem.
Era para eu ter rido, mas ela falou tão séria que me assustei.
- Não. – Revirou os olhos. – Deixa de ser burra, Lexazinha, você tem que fazer a parada
acontecer. Não seja molenga!
- Por quê?
- Aqui é tão mais divertido, tem sempre alguma doidice acontecendo. Aquela Polis é
chata!
- Por que não posso ficar com vocês? Por que não se casam?
- Clarke e eu somos muitos jovens, temos muito para viver antes de decidirmos casar.
As coisas têm que acontecer no seu tempo certo.
- Mas você vai pedir ela em casamento? – Me encarou com os olhos esperançosos.
- Claro que sim, é uma das coisas que mais quero, só que agora não. Ainda nem
terminei a faculdade.
- Então quando?
- E eu?
- Prometo! – Apertei sua palma selando nosso acordo. – Mas não pode contar nada para
Clarke. Nem toque nesse assunto de casamento.
- Por quê?
- A Bisonha.
Clarke PDV
Finalmente, estava pronta. Meu visual me agradou, o vestido branco foi presente de
Octávia para que eu usasse especialmente hoje. Então, caprichei na maquiagem,
tentando agradá-la e economizar o sermão que devia estar preparando para mim.
- Já... Umas cinco vezes. – Exagerei na resposta, mas ela ficava sexy, quando
envergonhada.
- Fecha os olhos!
Peguei duas taças com o garçom que passava por perto e dei um gole em cada bebida,
tentando controlar o nervosismo de ser fotografada. Aliás, estavam fotografando tudo.
Lexa deixou Nessie com Abby, e me puxou para os bastidores, onde tínhamos
esperanças de estar mais calmo.
Logo que entramos na tenda, tentei fugir, mas minha Woods não permitiu. Aquilo mais
parecia um campo de concentração nazista. Tinha pessoas esqueléticas com pouca roupa
para todo lado.
- EU JÁ DISSE PARA SAIR DAQUI! – Berrou minha irmã, batendo em Anya com um
vestido, tentando a expulsar.
- Ela estava escondida atrás das cortinas secando as modelos! – Respondeu Rae,
apontando para um tipo de provador improvisado.
As modelos pareciam não se importar, mas minha irmã estava uma fera. Estaria com
ciúmes?
Lexa me deu um breve beijo e saiu arrastando Anya, antes que a Fofolete mostrasse seu
lado homicida.
Não sei como isso aconteceu, mas acabei no meio da muvuca entre roupas, sapatos e
acessórios. Fiquei pequena no meio de tanta mulher alta, na verdade, me perdi ali. Os
gritos e excesso de spray para cabelo me deixaram tonta. Nunca vi nada igual, era um
campo de batalha. Será que eu sobreviveria? Não tinha certeza de quanto tempo fiquei
- Raxa! – Bellamy agarrou meus ombros, me fazendo parar de girar pela tenda. – Segure
isso! – Enfiou um vestido em minhas mãos. – É a peça chave da coleção, guarde como
se fosse a sua vida.
- É passarela.
- Tanto faz. Vamos pôr o Toicinho pra desfilar também. – Pediu chacoalhando o animal.
- É melhor não.
- Vamos sim! – Saiu correndo em direção aos degraus que levavam à passarela.
FERROU!
- NÃO, NÃO, NÃO! – Gritei correndo atrás dela. – Segura isso! – joguei o vestido para
uma funcionária do buffet, então, pude agarrar Nessie.
- Sim!
É, ia ser engraçado.
Só quando falei o nome dele é que me lembrei do vestido. Olhei para os lados e nem
sinal da funcionária.
OPA!
- Como assim, perdeu o vestido? – Questionou Octávia que ouvira minha confissão.
Viramos estátuas diante da histeria dela. Foi nesse momento que vi a funcionária
tentando sair de fininho da tenda.
Ela nos encarou. Bellamy, então, reconheceu Max por debaixo da peruca e maquiagem.
Bellamy disparou em direção ao seu rival que tentou escapar na maior cara de pau. Só
faltava isso para completar a putaria. O pavão chegou bem perto de pegar Max.
Infelizmente, tudo o que conseguiu foi tropeçar e cair no chão levando consigo a peruca
do intrometido. Que bicha escorregadia!
Pensei que o loiro estava encurralado na tenda, porém, quando o vi correr em direção à
passarela, a única saída liberada, percebi que a situação ia piorar.
Foda!
Me livrei dos sapatos e corri o mais rápido que pude, adentrando a passarela onde Max
já havia causado uma comoção. Sua fuga foi atrasada pelas modelos lesadas que se
amontoaram sem saber para onde ir. Peguei impulso e, na frente dos flashes, luzes
coloridas e uma multidão, me joguei com tudo em cima do safado.
Tirei meus cabelos do rosto, o que me possibilitou ver o que não deveria: os
expectadores me encarando embasbacados.
- Ô bicha burra! Quem rouba é ladra, não ladrona. – O loiro retrucou, arrancando risos
dos expectadores.
- É mesmo, dona estudada?! Quem ladra é cachorro! E você, meu amor, é uma
cachorrona!
- Esse Max está acabando com nosso desfile. – Fofolete estava chateada.
- E eu não sei? Tou aqui me tremendo todinha. Vou é dar na cara dessa bicha horrorosa
do cão, criatura mal feita! – O lado gladiadora de Bellamy aflorou.
- Você é uma carniça, pistoleira, uma alma sebosa! – O pavão estava com a macaca.
- Bicha, vamos fazer as pazes. – A ladra tentou persuadir Bellamy, alisando seu ombro.
– Amigas?
Até eu achei que a pancadaria ia ser violenta, mas nós tivemos que assistir os dois
ridículos chacoalharem as mãozinhas. Só a ponta dos dedos se tocavam, nem devia estar
doendo, mas berravam como se estivessem travando uma batalha épica.
- Nós usamos os tecidos mais nobres, criamos os modelos mais ousados e agora o que
resta? Uma briga gay?! – Minha irmã falou alto irada. – Nada vai nos impedir de chegar
ao sucesso! – Ela empurrou Bellamy para o lado e deu um tapa super forte em Max.
Ele praticamente voou para fora do palco, depois saiu correndo.
O desfile tinha ido por água abaixo, nada restava além de olhares espantados em nossa
direção. Fitei as meninas e elas estavam totalmente desoladas.
De repente...
- O editor de uma importante revista de moda. Abby mexeu uns pauzinhos e conseguiu
trazê-lo. – Murmurou pelo canto da boca.
***
# Sábado 8:40h #
Forcei minhas pernas a correrem ainda mais rápido. O sol daquela manhã de verão
brilhava intenso no céu, o vento morno refrescava meu rosto, enquanto gotículas de suor
escorriam por minha testa. Dobrei a esquina, quase caindo na calçada escorregadia.
Saltei por cima de um vira-lata, mas mantive o ritmo.
A cretina continuou a maratona até chegarmos à frente do casarão. Mesmo com uma
vontade danada de bater na minha Woods, eu estava feliz por estarmos de volta à
Verona.
- Você é uma fracote, Clarke. Só faz uma hora que estamos correndo.
Bastou eu fechar a boca pra ela correr em direção a casa, comigo em seu encalço.
Passamos por debaixo de uma mesa que os funcionários do buffet ergueram, tentando
decorar o jardim para a cerimônia e festa que logo ocorreria ali.
Dentro da casa, Lexa parou. Tentei tomar meu boné, mas ela o colocou em sua cabeça e
me jogou em seu ombro. Me debati em vão, a garota me segurava firme.
- Não dá, Clarke. Quem sabe, na próxima. – Riu sem tirar os olhos do jornal.
- Abby, socorro!
- Estou pesada demais para levantar. – Passou a mão no barrigão. Ela já estava com oito
meses de gestação.
Lexa levou-me para seu quarto. Depois, fechou a porta com o pé e me jogou na cama.
- Hum, sei. Não disse isso ontem? – Deu um sorriso pretensioso. Fingi nem notar seus
olhares maliciosos. – Banho, maninha?
- Na verdade, sou sim! – Saltei da cama animada. A alcancei antes que atravessasse a
soleira. – Não fique convencida, ainda te odeio. – A agarrei, mantendo a mentirinha já
manjada de nosso velho joguinho de gato e rato.
- Você sabe que também te odeio, meu frango. – Puxou minha camiseta para cima,
tirando-a.
***
# 13:00h #
Anya e Rae tinham revelado que elas estavam tendo um rolo. No entanto, não paravam
de discutir. Lexa as estudava, como se nos enxergasse ali.
- Não... – Vi minha irmã dar um tapa na bisonha. - ... Tínhamos mais classe.
Tínhamos nada! Até rolamos no chão discutindo. Sem falar no festival de palavrões.
- Ainda somos as melhores brigando. – Passou o braço pela minha cintura. – Esse título
ninguém nos rouba.
- Com certeza!
- Lady Rô... – Virou-se para o gay moreninho. Ele vestia um terninho rosa cintilante da
grife BEM DOIDA, que, aliás, era sucesso. - ... Agende uma hora para eu dar na cara
dessa ralé.
- Você tem hora marcada com a magnânima? Acho que não, imundícia! Ele não está
disponível agora.
- Quantas vezes eu tenho que dizer que não é imundícia, e sim, MUNDIÇA?! – Bellamy
deu uma bolsada em seu assistente. – Gente, que viado uÓ! Que viado uÓ!
- Lady Rô, não me decepcione! Eu odeio essas bichas que não arrasam. Desse jeito, vou
ter que tirar o seu título de Lady.
- NÃO, Bellamy! – Se jogou nos pés dele. – Não faz isso comigo, tudo menos isso!
Meu sonho é piscar na galáxiããã! – Se agarrou às pernas do Pavão.
- Que... Bicha... Fuleragem! Eu não aguento! – Bellamy o empurrou para longe. – Vai
embora da minha vida, vai, fanhoso uÓ!
- Não! Nunca! – Choramingou outra vez. – Quem vai marcar os seus encontros? Quem
vai apanhar por você? Bicha, nós arrasa!
- Tá bom, mas não apronte, Lady Rô. Eu sou uma Pop Star da alto costura, você tem
que se sentir honrada em ser minha assistente e discípula.
- Rae, o que você queria falar? – Bellamy questionou, erguendo uma sobrancelha.
- Vi a roupa que usará no casamento e é maravilhosa. – Minha irmã sacou que não era
uma boa hora para contar sobre o rolo com a Anya. Afinal, o viado lunático podia
arruinar tudo.
- Lógico que é! Eu mesma desenhei. Mesmo assim, fiquei com pena da noiva e vou
tentar não ficar tão fabulinda HU!... OHOHOHOHOHO!
- Bellamy, tem um senhor aqui querendo falar com você. – Meu pai se aproximou
acompanhado por um sujeito engravatado.
- Não estou aqui para te acusar de nada. – O coitado até ficou assustado.
- Sou advogado da sua avó. Estou aqui para te dizer que, infelizmente, ela morreu.
- Tem certeza que ela morreu bem morrida? Não estou a fim de vê-la ressuscitar
novamente. – O sem vergonha empinou o nariz.
- O enterro foi há duas semanas atrás. Sinto muito. Aqui está o atestado de óbito. –
Estendeu o papel para o Pavão, que surpreendeu a todos ao beijar o óbito.
- Acho que vou chorar... – Bellamy pegou um lencinho no bolso. - ... De felicidade.
- Como assim?
- Você só poderá herdar a fortuna se estiver casado com uma pessoa do sexo feminino.
- AAAAAAAAAHHHHHHH! QUE ÓDIO! É POR ISSO QUE VOCÊ ESTÁ AÍ, SUA
VELHA HIPÓCRITA! – Berrou para o chão como se sua parenta estivesse no inferno.
– QUEIME! QUEIME! – Depois, desabou nos braços de Lincoln, em prantos.
PUTS!
- Claro que você vai ter que se comprometer em investir trinta por cento da bolada na
nossa grife. – A Sebosa não dava ponto sem nó.
- Raxa, tou nem aí. Não vou ser mais pobre, vou é investir 50 por cento. AGORA,
AGUENTA CONCORRÊNCIA!”
Aquilo era o tipo de coisa que não se via todo dia: dois viados e duas loucas berrando e
rindo de felicidade. Nossa!
Lexa PDV
# 18:00h #
O idiota estava deitado no meio da rua esperando um carro passar por cima dele.
Infelizmente, nenhum veículo apareceu.
Quanta babaquice!
- Não quero mais viver! – Falou com sua voz fanhosa, muito engraçada. – Magnânima,
você é maquiavélica!
- Repito! Tiro de novo seu título. Olhe! – O psicótico rasgou um papel imaginário,
depois o jogou no chão, pisando em cima. Rô abriu o berreiro.
Clarke estava ruborizando? Era o que parecia. Beijei levemente sua orelha até que a
imbecil da minha irmã berrou na nossa cara:
- Anya, esqueça isso, sua mané. Nós já saímos desse banheiro já faz tempo. – Clarke
respondeu de imediato.
Percebi que ela se esforçou para não sorrir também, preferiu não dar o braço a torcer. O
mais estranho é que eu adorava isso nela.
- Ah, sim... – As tirei de dentro da bolsinha de mão que eu carregava. - ... Não tem
chance de elas saírem de perto de mim. Não quero correr o risco de perdê-las.
- Legal, será que cabe em mim? – Sem que eu esperasse, Anya me tomou as alianças.
- Hum, que biju barata! – Bellamy roubou as joias da minha irmã vacilona.
Clarke PDV
Minha namorada realmente pirou quando usamos a caixinha das alianças como peteca.
Ela passou de mão em mão enquanto ela, inutilmente, tentava recuperá-la.
De repente...
- Ainda vai ter bolo, certo? – Nessie foi uma das últimas a chegar até nós.
Lexa se apoiou nos irmãos, nitidamente passando mal. Octávia começou a soluçar e
Nessie abraçou o porco.
- Vou dizer o que vamos fazer. Só temos uma hora antes do casamento, os convidados
logo vão chegar, então, Octávia, Lincoln, Mini-mim e Rô vão ficar para manter as
aparências, enquanto o restante de nós vai a um shopping, caçar um par de alianças
semelhantes às que perdemos. Kane e Abby não podem sonhar com o que está
acontecendo. Então, se virem!
- É uma boa ideia. – Minha namorada concordou, dando sinal para um táxi.
No táxi, Lexa ficou no banco da frente, enquanto Rae, Anya, Bellamy e eu nos
amontoamos atrás. O viado teve que ir no meu colo, mas, a todo instante, fingia cair, só
para desabar nos braços de sua bonequinha.
Vinte minutos depois, chegamos ao maior shopping da cidade. Lá, existiam duas
joalherias de grande porte, o tipo de lugar granfino demais até para mim. Na primeira
loja, não achamos nada parecido com o que perdemos. Já na segunda,...
- É essa, eu tenho certeza! – Lexa apontou para a joia dentro do balcão de vidro. O
atendente de meia idade, todo delicadinho e esnobe, pegou as alianças como se
estivéssemos mendigando.
- Essas alianças são feitas de ouro branco com um fio de ouro dourado contornando-a.
Excelente escolha.
- Pelo amor de Deus, embrulhe logo isso! – Me impacientei. Afinal, estávamos correndo
contra o tempo.
OPA!
- O que tinha gravado nas alianças? Só o nome deles? – Minha irmã perguntou.
- Quanto tempo vai demorar para gravar os nomes? – Lexa estava aflita.
- 48 horas.
- Vamos levar assim mesmo, quando eles notarem, já estaremos a léguas de distância. –
Disse-lhes.
O silêncio pairou. Ninguém ali tinha dinheiro suficiente para comprar algo tão caro. O
vendedor percebeu isso e tratou de nos humilhar.
- Peço que se retirem da loja. Se não vão comprar, não vou ficar aqui perdendo meu
tempo.
- Ei, bicha jurássica... – Bellamy abriu caminho por entre nós e ficou cara a cara com o
vendedor. - ... O buraco aqui é mais embaixo! Com quem você pensa que está falando?
Eu tenho o rabo cheio de dinheiro, então passa essa droga no cartão! – Retirou, do bolso
do paletó, um cartão de crédito que até brilhava.
Eram 18:40h e nós ainda estávamos longe de casa. A cerimônia estava marcada para as
19:00h. O que aconteceria se não chegássemos a tempo? Sinceramente, eu não sabia.
Do lado de fora do shopping, mais uma vez bateu o desespero por não encontrarmos
nenhum táxi vago. Era um dia de grande movimento por ali.
- E agora? Kane está uma fera porque não estamos lá. – Informou Anya, que acabara de
falar com Octávia pelo celular.
- Mantenham a calma, nós vamos chegar a tempo. O pior já passou. – Lexa tentou nos
tranquilizar.
- Qual é! Acordem! Não vai dar tempo. Precisamos agir! – Bellamy correu para o meio
da rua, acenando para um táxi. O seguimos e tivemos que ver o carro passar por nós, já
ocupado.
- NÃO! – A resposta foi coletiva. Não havíamos esquecido o que ela nos fez passar.
- Não vou entrar nesse ônibus de jeito nenhum! – Falou Lexa, encarando a maluca.
- Ah, pela hora da morte! E temos escolha? – Fui a primeira a subir no ônibus do terror.
Como era uma emergência, a galera me seguiu. O veículo, por dentro, continuava o
mesmo pardieiro. NOJO! Lexa disse o endereço à Roberta e as portas se fecharam.
A cretina acelerou a todo gás e fomos ao chão, em uma espécie de efeito dominó. Quase
morri com tanto peso em cima de mim.
Com esforço, ficamos de pé. E para quê? Só pra cairmos novamente. Dessa vez, um
solavanco nos jogou para o lado esquerdo. A três Oitão fez uma curva e lá vamos nós
voando para a direita.
- BANDIDA! – Anya correu para socorrê-la, pois ela batera a cabeça. Ela a ajudou a se
levantar e a colocou sentada no banco.
- Não vou mais te deixar cair. – A bisonha colocou os braços nos dois lados da poltrona,
criando uma proteção para Rae.
- É claro que me preocupo! O que eu vou fazer se você se machucar? Não suportaria.
Não sei se os hormônios já estavam afetando a garota ou se ela vira nos olhos da
Bisonha uma mulher diferente do que julgava, mas minha irmã simplesmente a beijou.
Lexa me cutucou e rimos baixinho. Só que, havia uma coisa ali da qual havia me
esquecido: Bellamy.
Procurei a bichona e ela estava no fundão, perto do velhote sinistro, parente de Roberta.
- Bellamy, não considere isso uma traição. Não planejei, apenas aconteceu. – Rae se
levantou.
O Pavão ficou paradão, atônito. Aproximei-me e passei minha palma rente à face dele.
O maluco nem piscou.
De repente, sem mais nem menos, Bellamy sobe em um banco, abre a janela e põe a
cabeça para fora berrando:
- Sai daí, seu viado idiota! – Vociferei. Só o que faltava era um barraco do cretino.
- AAAAAAAAIIIIIIIII! – O pavão gritou quando foi atingido por uma latinha de coca
vazia, jogada por algum espertinho na rua.
- Deixa ele! Não vamos atrapalhar, né gente? É falta de educação. – Anya falou
satisfeita.
O ônibus fez uma curva bem fechada, nos jogando contra a lataria e empurrando a
bichona para mais perto da morte.
Me recompus e fui salvá-lo. Lexa e eu o puxamos com força pelas pernas, só que ele
estava mesmo entalado na pequena janela. Rav discutia com Valentina tentando fazê-la
parar o ônibus. Já Anya, bem... Essa não estava nem aí.
Foi preciso um novo solavanco para, milagrosamente, arrancarmos o Pavão dali. Nós
três fomos ao chão, exaustos.
- Sua morena sebosa, falsa e traidora! Nunca mais fale comigo! Vamos casar, vou pegar
minha grana e sumir pelo mundo. Vou criar uma nova grife e esmagar a sua!
- Que é isso, Bellamy? É assim agora? E nossa parceria e amizade? Vai deixar a Anya
acabar com tudo isso? – Minha irmã pareceu mesmo magoada.
- Não acredito nisso! Quando não tinha nada, eu te ajudei. Agora que tem o bolso cheio
e uma herança, age assim? Talvez eu fique com Anya ou não. Já você, precisa aprender
a conviver com isso. Nesse momento, está sendo egoísta. E te digo mais, não está
piscando nem um pouco na galáxia!
- Eu pisco!
- Não pisca!
- Eu pisco!
- NÃO PISCAAAAAAA!
***
Roberta nos escorraçou para fora do ônibus em frente à nossa casa. Lexa pagou a
corrida, mesmo com vontade de processá-la. Enfileirados, em frente ao portão,
observamos o jardim cheio de convidados. Pudera, já eram 19:20h.
Não havia motivo para reclamar, estávamos atrasados, mas safos. Raven e Bellamy
continuavam brigados. Vira e mexe, se xingavam.
- Certo. – Respondeu, enfiando as mãos na bolsa de mão que carregava. Eu estava bem
até ela dizer... - ÔPA!
- Não sei, não está comigo. Deve ter caído no ônibus com tantas quedas e confusão. –
Passou as mãos nos cabelos, descontrolada.
10 Minutos depois...
- Já enrolamos demais, vamos entrar. Eu conto para Kane o que aconteceu. – Lexa se
pronunciou.
Levantei-me, sacudindo o vestido para me livrar da poeira e foi nesse momento que o
inacreditável aconteceu. O caminhão de lixo passou bem na nossa frente.
Graças aos céus, gritamos alto o suficiente para que o motorista parasse. Nos
amontoamos em frente à porta e Lexa falou, ofegante.
- É uma emergência, bofe feio. Precisa deixar elas subirem lá atrás. – Disse Bellamy.
- Tem certeza, mundiça? – O novo ricaço do pedaço balançou uma nota de 50 Euros
para o motorista.
O homem pegou o dinheiro e nos deu cinco minutos para procurar as alianças.
- Não temos tempo e isso vai ser como procurar uma agulha no palheiro. Quero todo
mundo em cima desse caminhão agora! – Minha Woods foi a primeira a subir.
- Merda! – Murmurei.
- Loira, usa seu poder sobrenatural do Banheiro. – Anya ainda tirou sarro de mim.
Lexa me ajudou a subir e, morrendo de nojo, comecei a revirar o lixo com um pedaço
de pau.
Aquilo era uma das coisas de que nunca me esqueceria na vida. O que me deixou mais
furiosa foi o fato de Bellamy e Raven simplesmente terem sumido. Na verdade,
evaporaram, deixando Guaxinim e Anya e eu na maior roubada.
***
Lá estávamos nós, na sala, sendo colocados em uma fila organizada pela Cerimonial.
Octavia e Anya seriam as primeiras a passar pelo tapete vermelho. Eu fiquei para trás, a
fim de conduzir o noivo. Logo atrás delas Lexa e Raven. Lincoln, provavelmente,
estava esperando a noiva no andar superior.
Balancei a cabeça, me fazendo de desentendida. Anya olhou para trás e riu ao dizer:
ÓDIO!
Fiquei nervosa ao vê-los atravessar a porta. O estranho é que meu pai parecia muito
tranquilo.
- Espera!
Segurei firme sua mão e nossos olhares se encontraram. Existiam milhares de coisas
que desejava lhe falar naquele momento, mas uma frase resumia todas elas.
- Pai, eu te amo.
Nos abraçamos.
Ele se afastou um pouco para me encarar. Ergui a mão bem fechada e ambos a
observamos. Aos poucos, meus dedos foram cedendo até que minha palma se abrisse
por completo. O brilho que radiava do colar de minha mãe encheu-me de paz.
Kane sabia o que eu queria e, sem falar nenhuma palavra, pegou o colar. Virei-me,
erguendo os cabelos. Então, ele pôs meu amuleto, passado e esperança em volta do meu
pescoço.
Pela primeira vez na vida, sentia-me digna de usar aquele colar, pois acreditava que
havia me tornado uma pessoa de quem minha mãe se orgulharia.
Olhei para meu pai e sorrimos. Me vi refletida em seus olhos e soube, dentro de mim,
que ambos havíamos encontrado um caminho para a felicidade.
- Dr. Kane... – Ajeitei o nó da gravata de seu meio fraque. - ... Está na hora de casar.
Tudo estava lindo, tornando o momento ainda mais encantador. Os convidados eram
poucos, cerca de cem. Entre eles, os amigos de trabalho do meu pai e alguns parentes de
Abby. Bellamy, sentado na primeira fileira, segurava o Toicinho, o qual usava uma
gravatinha booboleta e cartola. Até Lady Rô estava presente, já preparando o lencinho
para seu chefe chorar rios.
Não demorou até que Lincoln entregasse formalmente sua mãe aos cuidados de meu
pai. Eles trocaram um aperto de mão cheio de significados e Lincoln foi para o lado de
Lexa e Anya.
Após a famosa frase: eu os declaro marido e mulher, senti que uma fase de minha vida
estava indo embora. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas estava feliz por ter
vivido tão intensamente.
***
Participamos de tudo, fotos, bolo, primeira dança do casal, etc... Então, chegou um
momento especial: o brinde dos padrinhos aos noivos. Lincoln e Raven ficaram
responsáveis. As palavras deles sobre família, amor e futuro foram realmente tocantes,
no entanto, me sentia inquieta. Olhar para os recém casados mexia comigo de tal forma
que eu precisava partilhar o que estava sentindo. Assim que minha irmã terminou seu
brinde, sem que ninguém esperasse, me levantei da mesa.
- Com licença. – bati levemente o garfo na taça de cristal. – Sei que não estava
programado, mas gostaria de dizer apenas algumas palavras. – Todos me fitaram,
curiosos. Respirei fundo e tentei expressar, da melhor forma possível, meus
pensamentos. – O que é amor? Sério, alguém sabe? – Meus olhos percorreram as mesas,
analisando o rosto de alguns convidados. – Essa palavrinha de quatro letras é tão usada,
reinventada e banalizada que, para enfatizar um sentimento profundo, a maioria das
pessoas usa a expressão verdadeiro amor. Se não é verdadeiro, não é amor! Chega a ser
irônico como é difícil acreditar que exista esse sentimento que alguns idealizam. Eu não
sei vocês, mas passei muito tempo ridicularizando todos os significados de amor. Só
que ano passado... – Involuntariamente encarei Lexa. - ... Percebi que algumas de
Bebi meu champanhe, enquanto ainda era aplaudida. Todos brindaram ao casal, mas
principalmente ao amor e às várias facetas que meu discurso subitamente trouxe à tona.
Bellamy PDV
Olhei para a bruxa do mar e minha bonequinha, sentadas tão pertinho que quase virei a
mulher gato só para arranhar elas.
- Mais champanhe! – Ergui a taça para que ela enchesse. Bebi tudo de uma vez e falei,
chamando a atenção de todos à mesa. – Sebosa, quem vai encher a cara com você quase
todas a noites? Quem vai ficar te ajudando a provar os vestidos caros até o dia
amanhecer?
- Bellamy...
- Ô gente burra! Quantas vezes preciso dizer que sou alérgica a uma perseguida? Estou
apaixonado pela personalidade gananciosa, superficial, fashion, biriteira e tarada dela,
pois me identifico total! Somos as melhores amigas do mundo e não quero que isso
acabe porque minha Bonequinha não sabe manter seus dedinhos quietos.
- O QUÊ? – Anya largou o porco e nos deu atenção. – NADA DE DIVIDIR! NADA
DE DIVIDIR!
- Nunca dividi meus brinquedos, mas acho que vai ser tudo de bom! HU!...
HOHOHOHOHOHO!
- ISSO! Você não boicota o meu lance e eu não atrapalho o seu! – A bruxa do mar ficou
feliz.
- NÃO! NÃO! NÃO! – Ela esbravejou furiosa. Ambas colocamos a mão próximo ao
rosto dela, a ignorando.
- Raxa, isso é muito bem pensado. Já que vamos casar, tudo que é meu será seu e tudo
que é seu... – Encaramos Anya.
Lógico que eu não ia abandonar meus bofes italianos, afinal, eu só tinha uma quedinha
pela minha bonequinha, e uma bicha vive de dois, três, quatro bofes escândalos... UI!
Porém, a bonequinha ia ser sempre minha musa, disso eu não abria mão.
***
Clarke PDV
- Qual?
Não precisei responder, ela reconheceu a canção assim que ela começou a tocar.
- Se lembra, Lexazinha?
- Claro! Ela tocou durante nossa aula de dança, antes da festa à fantasia. Poxa, você era
horrível dançando. – Riu.
- Então? – Abri um pouco os braços. – Vai me dar a chance de mostrar como melhorei?
Ela pôs as mãos em minha cintura e colou meu corpo ao seu. Passei meus braços em
volta de seu pescoço e fechei os olhos. Fomos envolvidas pelo ritmo que ditou cada um
de nossos movimentos. Ficamos um tempo em silêncio, apenas curtindo o momento,
então, indaguei:
- Tudo, entende? Agora que nossos pais estão casados e todos estão tocando suas vidas,
acha que finalmente teremos uma rotina? Uma vida tranquila quando voltarmos para
Arkadia?
- Está brincando? Não conhece nossa família? Atraímos confusões, não dá para evitar!
Olhei para a mesa onde eles estavam reunidos e observei Anya, empurrando o Toicinho
para os braços do suposto maconheiro. Nessie usava um estilingue para jogar docinhos
nos vestidos das garotas, as quais gritavam como se fosse o fim do mundo e Bellamy
dava bolsadas em seu assistente fanhoso.
A abracei com vontade, gostava das coisas como eram, imprevisíveis e loucas.
- Sou incrível! – Falei inesperadamente ao me dar conta de que tinha exatamente o que
queria: ela.
- Está se achando, mas não esqueça que foi você quem ficava arrumando desculpas para
invadir meu quarto, só para me ver pelada. – Se vangloriou.
- Olha só quem fala! Quem inventou aquela baboseira de aulas para me dar uns
amassos?
- Sério? E qual desculpa vai inventar para não admitir que é tão louca por mim que até
se disfarçou para ir no jantar, hein?
- Anya! – Sorri.
- Ainda estou ganhando, afinal, foi você quem torrou uma grana preta para me comprar
em um certo leilão. Oh, tão ciumentinha! – Apertou minha bochecha.
- Não sou ciumentinha! – Resmunguei. – Além disso, não fui eu que tive SAD.
Ela gemeu revirando os olhos. Seus irmãos ainda faziam piada com aquilo.
- Mesmo?
- Sim.
- Então, LEXAZINHA... – Mordi o lábio sedutoramente. - ... Vou te fazer ter uma
overdose hoje.
***
Anya PDV
- Nem morto! Você esperou todos esses meses só para me cobrar essa aposta idiota? Vai
ver se eu estou na esquina, Anya! – Esbravejou irritado.
- Eu queria que fosse em um momento especial, para que todos vissem seu amor
incondicional por meu camarada. Agora, aproveita a musiquinha romântica e deslize
pelo salão.
Tratei de empurrar meu mano para o meio da pista de dança, enquanto gritava para o
povão se afastar.
Ele me lançou uma olhar de morte, então, cedeu. Manteve o Toicinho o mais longe
possível, enquanto suas pernas mexiam para lá e para cá.
- Cara, quanto mais rápido acabar com isso, mais rápido tomará um banho de álcool. –
Guaxinim ajudou.
Lincoln, farto, aproximou a boca devagar da cabeça do meu porco. Então, quase
chorando, o beijou.
ISSO!
***
Os demais casaizinhos que a viagem de meu pai formou, também dançavam, próximo a
nós.
De repente, a música cessou sem mais nem menos. Olhamos para o pequeno palco,
montado pra o DJ e meus olhos não creram no que viram.
Não aguentei.
- QUEM CONVIDOU ESSES... – Será que eu devia falar narcotraficantes em voz alta?
- ... COLOMBIANOS?
Olhamos para um Kane despreparado e confuso. Anya fez cara de pidona e o bobão do
meu pai cedeu:
- Eu... Acho que sim. – Ele não sabia onde estava se metendo.
- Esconda a carteira. – Murmurei ficando atrás de Lexa. Nós já havíamos sido assaltados
por eles antes.
- É AHORA QUE LA FIESTA VAI COMEÇAR! – O novo DJ colocou uma música para
tocar.
Foda!
A princípio, só os latinos dançavam, mas o ritmo logo foi se espalhando pelo ambiente
e, aos poucos, os convidados foram se soltando. Os mal encarados, festejavam a valer,
se aproveitando da boca livre. Eles ofereciam tequila até para as velhinhas
conservadoras.
Eu não sei que tipo de magia existia na tal Macarena para fazer quase todos correrem
para a pista de dança, a fim de se esbaldar na coreografia.
Olhei à minha volta e lá estavam Rae, Anya, Octávia, Lincoln, Bellamy e Lady Rô no
meio da muvuca, liberando total.
Ela sorriu, e sem que eu esperasse, fez a famosa coreografia bem na minha frente. Caí
na gargalhada.
Puxei Lexa para o meio do salão lotado e nos juntamos aos farristas.
Eu nunca pensei que faria aquilo novamente, no entanto, lá estava eu, arrasando na
macarena.
Heeeeeeeeey Macarena!
Ao lado dele, estava o outro hermano, trocando olhares com o safado do Bellamy.
Como ele foi parar ali tão rápido?
Meus parentes pararam e encaramos uns aos outros, pensativos. Ficamos cerca de cinco
segundos nisso, então, voltamos à Macarena.
Foi nesse momento que olhei para Abby e a vi com a mão na barriga. O chão abaixo
dela estava molhado.
***
Ao lado dela, meu pai falava ao telefone, avisando à maternidade que estava levando
sua esposa para lá. Graças a seu diploma e prestígio, eles permitiram que ele mesmo
realizasse o parto em suas instalações.
Olhei para trás e vi os faróis do Jipe de Anya. O restante do pessoal nos seguia
apreensivos.
- Respire, amor, respire! – Meu pai olhou para trás, tenso. – Clarke, ajude-a a respirar!
- O período entre as contrações está muito curto, ela dará a luz em breve. – Meu pai
falou baixinho para Lexa. – Não era para acontecer agora, só daqui a algumas semanas.
Acho que toda a agitação do casamento... – Ele se interrompeu ao perceber que Abby e
eu podíamos ouvir. Dei graças a Deus, afinal, aquele não era o momento para
explicações e, sim, para amenizar as dores da grávida.
Minha Woods olhou para trás temerosa. Eu precisava fazer alguma coisa.
- Abby, olhe para mim! Olhe para mim! – Pedi com seriedade e ela me fitou. – Vai dar
tudo certo, não entre em pânico, ok? Você está preparada para isso, só fique calma.
Segure minha mão.
Se Abby tivesse outra contração, nós duas íamos estourar os tímpanos dela. A mulher
não soltava mais minha mão.
A pressão psicológica ajudou e minha Woods deu um jeito de aumentar ainda mais a
velocidade. Só que isso não impediu a grávida de ter mais algumas contrações e,
consequentemente, me fazer gritar de dor junto com ela.
***
Já passavam das 2:00h da manhã e nós ainda esperávamos notícias de Abby em uma
sala. O clima tenso mantinha o ambiente silencioso e isso só servia para me deixar ainda
mais nervosa.
De repente, meu pai entra na sala, nos fazendo levantar em expectativa. Percebi que ele
estudou o rosto de cada um de nós, antes de puxar a máscara cirúrgica e falar:
- Nasceu. É um menino! – Pelo sorriso enorme no rosto dele, notava-se que tudo correra
bem.
Corri para os braços de Kane e lhe dei um forte abraço. Subitamente, o clima de
celebração encheu a sala. As garotas e os Woods riram, aliviados. Depois,
cumprimentaram meu pai com a mesma empolgação que eu.
Um bom tempo depois, Kane cumpriu sua promessa e nos levou para o quarto onde sua
esposa descansava. Assim que ela nos viu atravessar a porta, sorriu, mostrando que
mesmo inchada e com o semblante exausto, estava feliz.
- Queridos, conheçam seu irmão. – Apontou para o berço de maternidade a meio metro
dela.
- Eu quero ver, quero ver! – Nessie não estava conseguindo enxergar e Lexa a pôs nos
braços.
- Ele quase não tem cabelo. – Mini-mim colocou as mãos na boca, tapando o riso.
- Acho que ele parece bastante com Kane. – Minha Woods comentou.
Até aquele momento, eu havia olhado para a criança apenas de relance, distraída com as
diversas reações da galera. Decidi parar de dar importância aos comentários bobos e
fixei meus olhos no bebê.
Seus cabelos ralos eram loiros como os da Abby, o nariz, no entanto, me pareceu
semelhante ao de meu pai. Eu me preparava para fazer meu primeiro comentário sobre
sua aparência engraçadinha quando ele abriu vagarosamente os olhos. Ao contrário do
que imaginei, seu olhar não era sem foco ou disperso. Eu podia está ficando doida, mas
o bebê parecia estar olhando diretamente para mim.
Involuntariamente, sorri. Foi nesse momento que realmente tomei consciência de que
aquele era meu irmão. Por meses, não o consegui intitulá-lo como tal, porém, ao
observar seus olhos inocentes, algo dentro me mim mudou. Ele era tão pequeno e
indefeso, que me arrependi de ter temido aquele momento. Um sentimento novo
rompeu dentro de mim, liberando os últimos vestígios de preconceito que existiam. Não
foi difícil me ver como uma boa irmã mais velha.
Aden? Gostei!
Ficamos conversando um pouco com nossos pais sobre o bebê e o parto, até que chegou
o momento do pequeno Aden mamar e tivemos que nos retirar. Nos despedimos com a
promessa de que, em breve, voltaríamos para uma nova visita. Como fui a última a sair,
segurei a maçaneta e dei uma última olhada no quarto.
A visão dos recém casados e seu bebê não me torturou. Não me senti excluída ou
roubada, pois percebi que meu pai não tinha formado uma nova família, e sim,
adicionado novos membros à nossa. Vê-los felizes me deixou feliz, não havia como
lutar contra aquilo, nem motivo.
Aquela era uma cidade antiga, com uma grande arquitetura e muita história. A minha,
no entanto, era só mais uma das milhares de histórias anônimas ali, porém, não
permitiria que se perdesse.
Acabamos indo parar na ponte Pietra, o local de nosso primeiro beijo. Ela estava mais
linda agora do que naquele dia. Talvez as circunstâncias moldassem sua beleza.
Lexa PDV
- Lexa... – Virou-se para mim e deu um passo atrás. - ... Tem algo que estou planejando
te perguntar faz algum tempo. E acho que esse é o momento perfeito para isso.
- Para o quê?
Ela respirou fundo, puxou um pouco a barra do vestido e se ajoelhou bem na minha
frente. Fiquei atônita, minha voz ficou presa na garganta.
Só quando ela colocou o conteúdo do saquinho em sua palma, foi que percebi que não
eram alianças.
- Sei que isso não é convencional... – Começou nervosa. - ... Sei que sou irritante,
provocadora e meio maluca, mas você é a mulher da minha vida e não posso deixá-la
escapar. Então... Você quer se comprometer comigo completamente? Dos pés à cabeça?
Felizmente, logo compreendi as intenções dela. Minha garota queria algo além de um
namoro, queria garantias de um futuro juntos.
- Meu frango... – Pigarreei. - ... Sei que sou meio chata, implicante e metida, mas você é
a pirralha da minha vida e não posso deixá-la escapar. – Fechei os olhos. - ... Você quer
se comprometer comigo completamente? Dos pés à cabeça? – Abri os olhos e vi uma
lágrima escorrer pelo rosto de Clarke.
- Isso é um sim?
- É, Lexa, é um SIM!
- Também te amo.
Em um ímpeto, roubei seu fôlego ao lhe beijar com gana e paixão, selando nosso
compromisso. Eu até podia estar machucando ela com a força com que lhe agarrava, só
que Clarke não reclamou, pelo contrário, entrelaçou seus dedos nos meus cabelos,
pressionando desesperada minha boca contra a sua.
Naquele momento, senti que não existia mundo longe dos braços da minha Pirralha.
Clarke PDV
- Não sei, talvez ainda falte algumas coisas, como fugir. – Riu.
- Seria bom passar uma semaninha longe das trapalhadas da nossa família. – Sugeri.
- Acho que nossos pais não se importarão. Podemos ligar para eles depois.
Mantivemos os olhos uma na outra enquanto refletíamos por cerca de três segundos.
Então, aos poucos, foi surgindo em nossa face um sorriso de cumplicidade.
Uma vez, Lexa me falou que estarmos juntas era como desafiar o destino. Na época,
nos perguntamos se o venceríamos.
FIM
Bellamy PDV
Gente, preciso contar o que aconteceu seis meses depois, não aguentoooo!
Finalmente, coloquei as minhas mãos na fortuna da minha avó. Com a grana, abrimos
três filiais da minha boutique. Com dinheiro e glamour, não para de chover pepino na
minha hortinha.... Se é que você me entende! HU!...OHOHOHOHOHOH! Mesmo com
todos os bofes escândalo da minha lista do “Peguei” ainda continuo babando por minha
bonequinha. Desistir? JAMAIS! HU!... HOHOHOHOHO!
Por causa de minha performance nos vídeos do Romance do Banheiro, recebi o convite
de uma rede de Tv para ser o apresentador e estrela única de um talk show. Não dei
ainda minha resposta, estou pensando no caso da ralé.
Já o viado uÓ que se autodenomina Lady Rô, fugiu com metade das minhas roupas
babado de grife. A maldita enlouqueceu quando lhe tirei outra vez o título de Lady. O
que eu fiz? Coloquei a polícia atrás da safada! A vaga de assistente-escrava está em
aberto.
Niylah
Finn e Costia
Hermanos
Eles continuam foragidos. Se os virem por aí, não liguem para o disque denúncia.
Kane e Abby
O Doutor sonso e sua esposa estão felizes da vida com o bebê que já está crescidinho.
Clarke passa bastante tempo com eles, por causa de Nessie e do Aden. Abby e a Draga
hoje são grandes amigas e confidentes. Loucura, né?
A carnicinha é bem apegada à Clarke e Lexa. Passa quase todo seu tempo livre no
apartamento de ambas. O único problema é que ela continua se recusando a se vestir
como uma criança fashion, a nojenta da Clarke ainda a apoia. Pode um negócio desses?
Lincoln e Octávia
Ela está criando vários modelos de arrasar para o BEM DOIDA, é o coração de nossa
equipe. Quando algo sai mal, sempre tem uma palavra de incentivo que nos põe para
cima.
Toicinho Woods
É um sucesso na UA. Dizem que graças a ele, o time ganhou o título estadual que não
conquistava há seis anos. Esse povo acredita em cada coisa...
Não é normal um leitão gostar tanto de se fantasiar. Está sempre com roupinhas
diferentes. O bicho nasceu para o show business.
Brigam e fazem as pazes o tempo todo. A bruxa do mar deita e rola, fazendo de minha
bonequinha sua escrava. O pior é que a maldita gosta. ÓDIO! MORRA, ANYA!
Ela continua usando o site “Eu odeio Clarke Griffin” para atormentar a vida de Clarke
e Lexa. A diferença é que agora está lucrando muito com as camisetas, agendas,
chaveiros e um monte de quinquilharias.
Seu novo objetivo é convencer Clarke a deixá-la organizar um fã clube para ela. A
catiroba está quase cedendo. Coisa boa daí é que não vai sair.
Rae é a mulher do dinheiro! É ela que tem tomado de conta das finanças da BEM
DOIDA e está sendo super mão fechada. MORRA TAMBÉM!
Ok, ok...
Durante as férias, o casal fujão passou uma semana inteira sumido! Só Kane e Abby
sabiam o paradeiro delas e se recusaram a nos contar. uÓ TOTAL! Bem depois foi que
soubemos que se esconderam em Paris.
A Guaxinim já é uma residente no mesmo hospital que o doutor gostosão. Vira e mexe,
participa de alguns rachas organizados por Niylah, apenas por diversão ou para
provocar a namorada, que muitas vezes, é uma das competidoras.
O vocalista da banda de que a Clarke participa, recebeu uma proposta para um trabalho
solo. Com isso, a raxa assumiu o vocal principal e a liderança do grupo. Graças às suas
composições, a banda está chamando a atenção de algumas gravadoras.
Uma das coisas que me deixa mais intrigada é a capacidade dessas duas de provocarem
uma à outra. Talvez seja isso que mantenha o fogão da paixão delas aceso. E quando me
refiro à fogão, quero dizer labaredas gigantescas, porque em todos os meus anos
rodados de vida, nunca vi duas criaturas se amarem tanto.
Não sei se ouvi direito, mas parece que elas estão economizando para comprarem seu
primeiro apartamento. Se fosse eu, abria o bocão e pedia aos papis ricos, mas os
pobretões curtem esse lance de independência.
BEM DOIDAAAA!
FIM
***