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Prólogo

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Bônus
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Cap´tulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Quando isso acabar ela vai me agradecer. Agradecer por eu tê-la
levado ao paraíso.
Lorenzo Maldini

Isso foi o que um magnata disse ao conhecer sua bela e doce plebeia.
Uma plebeia que era quase uma gata borralheira. Quase, se não fosse o jeito
de tigresa brava. Entre tudo isso, nosso magnata era um perfeito insistente, no
qual o fato era que...
Se ele quisesse, ele teria.
Carolina Lelis iria entrar no jogo dele, e começava entre eles uma
coisa grande e muito boa, a ponto de eles quebrarem regras.
Eu devo ter jogado pedra na cruz. EU SOU AZARADA. Quero
dizer, eu entro em frias com tanta facilidade Pisquei, entrei em uma fria.
Anotem aí: Carolina entra mais em fria que o polo norte.
Se a culpa é minha? Juro que não! Devia ter ficando em casa. Quando
eu penso que estou evitado problema, arranjo um enorme. Ah, merda! Era
meu primeiro dia nesse trabalho Não podia esperar chegar no terceiro ou
alguns? Devia ser algum sinal do além. Só podia ser isso. Devia ser alguma
aparição maluca ou doente que queria se comunicar comigo.
Poderia pular a janela, mas seria suicida demais; poderia deixar a
torneira brilhosa ligada até inundar todo o lugar, mas não dava! Não podia
fazer mais coisas idiotas, já me bastava ter quebrado o trinco da porta. Não
era qualquer porta, era a porta luxuosa de madeira.
Deus que me livre de pagar prejuízo, nem peguei meu salário, pensei.
Tudo que vi no hotel, em meu primeiro dia, incluía luxo..
Carrinho luxuoso.
Bandeja luxuosa.
Roupas e pessoas luxuosas.
Até o vaso era luxuoso! O vaso para cagar. Só faltava o papel
higiênico ser de folhas de ouro, embora tivessefolha dupla com um cheiro
bom para caramba. Coisas simples no meu dia, mas lá não mostrava ser
assim. Muita sofisticação e coisas modernas. Sim, onde tem uma banheira no
banheiro, um box dividido, um vaso. Tudo bem feito e com a famosa estética
dos ricos.
Eu era incapaz de detalhar tudo. Sou imprestável em detalhes
pequenos e blá, blá, blá. E o que Carolina Lelis fez dessa vez? Carolina ficou
presa. Quanto tempo? Horas. Horas incalculáveis. Como ninguém percebeu
meu sumiço? Eu era tão inútil assim? Cheguei a gritar, mas nada. O medo de
passar a noite ali crescia a cada momento. Minha irmã sentiria minha falta, eu
tinha certeza. Mas, quando?
Meu estômago começou a fazer sons estrondosos de fome e logo a
irritação predominava. O silêncio mortífero se juntou aos meus pensamentos.
Bati mais uma vez com o pé na porta. Nada!
Já podia concluir que seria demitida, e por quê? Minha culpa? Não,
culpa daquela porta do cão. Da porta que decidiu me fazer de trouxa. Saí de
casa feliz, limpei o primeiro quarto ao lado daquele, mas quando chegou
nele... Porra!
Sentei-me, sabendo que não sairia dali naquele dia. Me ferrei por
completo.
— Fim de história para você, Carolina! — murmurei para mim mesma.
Ultimamente eu vinha tendo tantos impedimentos. Na faculdade, que
por falta de dinheiro e pela mesma ter barrado meu retorno, assim, do nada.
Sem dizer que eu sempre fui dedicada, sem dizer que envolvia desejo e
vontade.
Levantei-me novamente e comecei a abrir tudo que podia. Abri o
armário e o vi bem arrumado, sinal que me fez notar que alguém estava no
lugar. Não podia confirmar, foi tempo de entrar e ir para o banheiro tirar o
lixo, só lembrava de estar tudo arrumado. Mas, olhando para aqueles
produtos, a escova de dente... Sim, alguém reinava naquele quarto. Se bem
que era algum lorde do luxo, para viver tão bem. Olhei para o creme de
barbear e o abri, sentindo o cheiro gostoso e masculino. Peguei alguns
potinhos com pílulas, calmantes e analgésico, deixando tudo no devido lugar
em seguida, e abrindo as duas gavetas abaixo da pia.
Nada.
Abaixei-me e abri o armário. Ali tudo funcionava tão bem, por que a
porta não podia funcionar?
Peguei a caixa de primeiros socorros, a inspecionei e não vi nada que
me animasse, mas enquanto a revirava, fiquei espantada com o pacote de
camisinhas que achei. Peguei e vi o sabor destacado. Morango, ainda. Passei
meus olhos pelo pacote e fiquei surpresa.
Ah, Carolina, não faça essa cara.
Achados surpreendentes da noite.
Era, no mínimo, inusitado. Isso não faz parte de uma caixa de
primeiros socorros, ou faz? Você está lá e de repente se machuca, ou
simplesmente precisa de uma na hora H. Se no caso eu estiver no meio dessa
hora H, e o cara disser “pegue a camisinha no kit de primeiros socorros”,
acharia muito broxante. Eu ainda faria uma piada de humor obscuro com o
cara. E, deduzindo pelo pacote, vi que o dono era bem nomeado. Já vi muito,
em particular, mas pouca coisa me impressionava.
Não pense em sexo, Carolina. Você está sozinha, presa na merda de
um banheiro, caramba!
Devolvi tudo ao devido lugar e fui até a porta, batendo forte
novamente.
Já devia ter me acostumado com o frio. Não que estivesse fazendo,
mas eu precisava de algo quente para me cobrir, e algo me dizia que ali não
teria nada que me servisse. O uniforme era um vestido de botões na frente,
com um belo avental e o cabelo bem amarrado.
Camila devia estar preocupada. Perguntei-me se ela já havia ligado
para o meu celular.
Com certeza, sim.
Devia estar achando que eu tinha sido abduzida, ou morta por aquelas
bandas.
Ela prometeu se cuidar e ficar em casa.
Sou meio mandona e autoritária, um pouco porque sempre me viu
como exemplo. Camila Lelis é a única família que tenho. Minha menina
inocente. Sei muito dela, sei que beijou dois carinhas até agora, que é virgem,
que nunca deu uns amassos.
Ela me dizia tudo e eu ria. Era ativa, mas não falava disso com ela
ainda. Não queria deixá-la com a mente aberta. Ela sabia que eu gostava de
sexo, que tinha meus “amigos”, mas não entrávamos em detalhes. A menos
que ela visse, então ela contestava. Ela, aos dezenove anos, estava bem, mas
por dentro se sentia excluída. Seu jeito calmo era sua marca. Ela mancava de
uma perna e isso para mim nunca foi problema. Sempre encontramos saída
para tudo.
Prontos para ouvir a parte triste?
Ela ficou com esse problema aos 12 anos, e junto com os movimentos
da perna dela, se foi o meu pai, tudo em um acidente. Depois de sete anos
minha mãe partiu, após ter se afundado com a morte do marido. É difícil
entender como tudo se complicou, mas eu sei que segurei a mão de minha
irmã e caminhei ao lado dela. Nem na frente e nem atrás. Ao lado dela.
Cuidando da garota.
Com unhas e dentes.
Nunca deixei ninguém maltratar minha irmã, e olha que até uma tia
nossa já foi maldosa, então, o que esperar dos outros? Não queríamos pena de
ninguém. Quando Camila ficava para baixo eu a ajudava a melhorar, sendo a
irmã mais velha. Eu fui por ela, eu sou por ela, e ela e por mim.
Comecei a trabalhar no hotel para melhorar nossa vida, e daria certo,
se não fosse a tal porta.
Levantei e agredi a porta de novo e de novo.
Dessa vez bati forte na porta, meu pé doía e eu dei um grito.
Azarada! É isso que você é! Quem você acha que pode vir tirá-la
daqui? O Superman? O Batman?
— Quem está aí? — perguntaram e eu congelei.
Ai, meu Deus!
Voltei a agir e a voz retornou.
— Eu estou presa, me tira daqui, por favor! — supliquei, me
aproximando da porta e esperando por uma resposta.
— Consegue abrir a porta? — questionou uma voz profunda de
homem, com um leve sotaque.
— Não.
— Há quanto tempo está aí?
— Muito tempo! Me tira daqui.
Suspirei aliviada e ao mesmo tempo angustiada.
Com o ouvido na porta, prendi a respiração pesada e passei a escutar
duas vozes.
“O que você vai fazer?”
“Ela está presa. O que você acha?”
Depois disso as vozes se afastaram e fiquei ali mais uns minutos, até
que a mesma voz se pronunciou.
— Vão abrir a porta. Gire a maçaneta quando...
— NÃO TEM O TRINCO DA PORTA! — gritei em plenos pulmões.
— Quebrou, moço!
— Você quebrou a porta? — perguntou o homem que falou comigo
antes, mas, dessa vez, firme. — Já vão abrir a porta.
Ouvi a voz ficando mais alta, me afastei e só aguardei. Já estava até
com vergonha de sair dali. Respirei fundo e quando finalmente vi a porta se
abrir, soltei todo o ar que estava preso. Um homem com um macacão cinza
entrou e me olhou. Senti um enorme alívio em ver o rosto dele.
— A senhorita está bem? — indagou, e por um segundo busquei a
outra voz, a firme e com um leve sotaque, mas não a escutei e desviei o foco
para o que importava.
Saí do banheiro.
— Sim, muito obrigada.
Estava abalada. Quando saí do quarto vi mais um homem de macacão e
uma mulher. Essa “mulher” eu conhecia bem. Ela quem ministrou minhas
aulas práticas antes de eu começar no trabalho. Vi seus olhos atentos em
mim.
— Então era aqui que você estava?! — Ela pegou o carrinho e começou
a puxar. — Vamos descer.
E assim eu fui. Não escutei a voz do homem, não vi quem era. Apenas
segui com a mulher para a parte de baixo do hotel. Ela era alta e estava bem
vestida, e só foi dizer algo quando deixou o carrinho e me olhou.
— Você está bem?
— Sim, eu... eu fiquei presa e não consegui sair. Gritei, mas ninguém
me ouvia — disse, desabafando, já tentando aliviar a minha barra para não
perder o trampo. — Me desculpe.
— Você passou horas lá. De qualquer maneira, agora está tudo bem.
Vamos até a cozinha e você toma alguma coisa. Peço para alguém te levar.
Parecia tudo tão simples.
A mulher me levou até a cozinha, comi um prato de comida e logo
estava mais calma. Ninguém me fez perguntas, apenas me perguntaram se eu
estava bem.
Melhor assim. A única que ficou atenta foi a mulher, que disse que era
responsável pelo setor e por quem trabalhava nele. No caso, eu. Ela me
analisou, mas logo saiu para conversar com outra pessoa.
Era nova ali, não sabia como funcionava, só sabia o que fazer. Eu era
funcionária.
— Acabou? — perguntou, balancei a cabeça e me levantei. — Peço
desculpas a você pelo incidente, mas é muita gente para ministrar.
— Não se desculpe, foi um acidente de trabalho. — Tirei o avental e
suspirei. — Eu só peço que não me demitam, preciso do emprego.
— Creio que não precise disso. Só pedimos que não espalhe por aí o
que aconteceu. — Bingo! Agora eu entendi tudo. Eles não queriam que eu
fizesse um escândalo. Claro que não faria, sabia ficar quieta. — Bem, tudo
resolvido agora?
— Com toda certeza!
— Agora que resolvemos tudo, troque o uniforme. Tem como ir para
casa?
— Tenho sim. — A primeira mentira do dia foi essa. Arrumaria um
táxi, o que sairia caro para mim, mas não liguei. — Vou me trocar e já estou
indo.
— Até amanhã.
— Até amanhã.
Eu não havia perdido o emprego, e isso significava que nem tudo
estava perdido. Era só eu voltar no dia seguinte e pronto, continuaria o que eu
parei.
Simples. Muito simples.
—O que aconteceu ontem não pode acontecer novamente — disse com
firmeza. Não queria pegar pesado com ela. Patrícia podia parecer o doce de
mulher que fosse, que tratava a todos bem e tinha convívio comigo por
bastante tempo, mas ela sabia o que era uma ordem. Sabia fazer, cumprir,
sabia que tinha que estar em seu lugar. — Ainda bem que foi no meu quarto.
Evitou problemas para o RH.
— A garota é nova aqui, um dos motivos de ter acontecido. Não vai se
repetir.
— Sei que não. Ela ainda trabalha para nós?

— Sim.
— Não tive tempo de conversar, saber como se sentia. Estava com uma
mulher e não pude. Quero fazer isso pessoalmente, evitar futuros problemas.
— Me levantei e ajeitei minha gravata, olhei para fora da janela e vi o trânsito
movimentado. Teria um caminho extenso para chegar à empresa, mas não
faria esse percurso naquele momento. Pelo menos relaxaria um pouco. — E
quanto a verificação. A adiantou?
— Sim. Estou organizando por setor.
— Ótimo. — Respirei fundo e tentei não pensar mais no assunto, por
ora. — Vou ficar aqui na parte da manhã, aproveito e faço algo menos
estressante. Quando encontrar a mulher, a traga até mim. Pode ir.
— Tudo bem.

Olhei para o sol que entrava pela janela, então livrei-me do terno e
vesti minha calça de treino. Caminhei pelo corredor e logo entrei na
academia, onde abri as duas janelas e encarei o espelho. O silêncio que
pairava no ar me deixava relaxado. Peguei as bandagens e passei por minhas
mãos, começando em seguida a esmurrar o saco de pancadas que se movia a
cada golpe que eu dava com vontade, descarregando e criando novas
energias, repetindo os movimentos.
Em meia hora consegui sentir o calor do meu corpo, que transpirava
muito, e interrompi o exercício para beber um pouco de água e secar o meu
tórax. Segui até a cozinha e escutei a campainha. Me virei e fui até a porta,
quando a abri tive uma bela surpresa.
Fiquei olhando para a moça de uniforme, que piscou duas vezes como
se quisesse garantir que não via uma miragem.
Era comigo? Não, Lorenzo, não é com você.
— A que devo a visita? — indaguei em tom travesso.
Segure seu instinto, Lorenzo!
— A Sra. Patrícia me mandou. Disse que o senhor queria conversar
comigo. Sou... a moça que ficou presa no banheiro.
Isso, meu anjo, fale mais. Movimente seus lindos lábios avermelhados.
Estou atraído por eles.
— Entendo. É, você, então?!
Sabe aquelas fantasias sexuais bem explícitas? Criei uma naquele
momento... Uma garota, cabelos pretos, com um belo e organizando uniforme
de camareira. No preto e branco.
— Sim — ela disse parecendo sem jeito, me olhando por inteiro.

Primeiro ela fitou meus olhos, depois desceu com seu olhar pelo meu
peito exposto e, por último, ela demorou-se um pouco analisando a minha
calça de moletom. Gostei dela. Não devia, mas era um fraco. Quando foi que
contratamos uma mulher tão sexy? Eu cuidava de muita coisa, menos dos
funcionários contratados, como a garota a minha frente.
Maldini representava uma firma diversificada, com negócios amplos.
Podíamos ter associações e firmas, podíamos dar oportunidade a uma
empresa falida e poderíamos mexer com a hotelaria, tudo deixava pessoas
felizes no fim do mês.
Mas ali descobri que tinha uma funcionária que podia me deixar feliz
e infeliz no fim do mês.
— Entre — chamei e dei espaço para sua entrada. — Chamei a
senhorita aqui para ver como está.
— Estou bem. Só foi um incidente, não vai voltar a acontecer —
prometeu e abriu um sorriso. — Não se preocupe.
— Tenho que me preocupar. Você está na minha folha de pagamento
— eu disse, calmo. — Sente-se, vamos conversar.

Uma fogueira se acendeu em mim. Coloquei uma expressão qualquer


no rosto, tentando disfarçar a maldita excitação que tomava conta de mim.
Sentei-me no sofá de frente para a poltrona que ela estava sentada,
reta e com postura. Percebi que ainda me olhava e desviava o olhar por
diversas vezes. Podia imaginar o que se passava pela cabeça dela. Um
homem grande, suado e forte à sua frente. Poderia ser o engajamento para
algo maior.
— Como tudo aconteceu? — Já era para aquilo ter terminando, mas eu
não queria. Queria ver até onde podia ir. Era como se eu estive sem sexo há
tempos, coisa que era totalmente sem cabimento. A última mulher esteve
comigo há poucas horas, mas aquela mulher de uniforme... uau! Queria
conhecer o potencial dela.
Ah, vão se acostumando comigo.
Se eu queria, eu tinha.
— Eu me virei, a porta se fechou e fim. — Ela foi sucinta, parecendo
ter percebido meus planos. Já era, Lorenzo. Ela percebeu, seu descarado. —
Não deu para chamar ninguém, até que o senhor chegou.
Desci meu olhar para o busto dela, logo imaginando o que estaria por
debaixo daquele uniforme... seus seios.
— Não me agradeça.
— Não agradeci.
Não vai acontecer. Ponto final, Lorenzo.
Era isso. Fim de conversa. Ela não queria dizer mais nada.
Caso encerrado, seu idiota.
Meu Deus!
Não use o nome de Deus, seu imoral!
— Não vai me agradecer, senhorita...?
— Carolina — disse ela.
— Me diga, por que não me agradece?
Inclinei-me um pouco para frente e a pergunta saiu com um tom que
disfarçava o tesão dentro de mim. Eu sei. Não conseguia me controlar.
— Não vejo necessidade. Qualquer pessoa poderia ter feito o que o
senhor...
— Lorenzo. Lorenzo Maldini. — Seus olhos se estreitam um pouco.
— ... o que o senhor fez, senhor Lorenzo — continuou. — Era só isso,
senhor?
Eu voltei a me ajeitar no sofá de couro, admirando-a profundamente.
Meus olhos a mediam de um modo errado. Devia perguntar sobre o trabalho.
Caralho! Ela era uma camareira, trabalhava para mim, então eu devia usar o
maldito profissionalismo. Eu sei disso. Mas não consegui me importar.
— Creio que sim. Só peço que isso não volte a acontecer — respondi
com ar sério. — Eu não quero ter que pedir para alguém parar de me chupar
por conta de algo como aquilo — soltei, e com um sorriso feroz, eu a
questionei em seguida: — Não a estou deixando desconfortável, estou?
— Não. Você trata todas as suas funcionárias assim? — Ela soltou um
sorriso sarcástico. — Porque, tenho que te dizer, você pode sofrer um
processo judicial por assédio.
— Eu não trato todos assim, só as que eu quero — rebati, sentindo
frustração e raiva. Raiva por ela estar certa. Não gostava das mulheres certas,
não nesses momentos. São mais difíceis. — Você deve estar me entendendo
errado.
— Você é o dono disso, sabe o que faz. — Seus lábios se apertaram
com força, e sua expressão se tornou séria. — Agora eu preciso ir, senhor.
Ela se levantou, mas gesticulei para que se sentasse novamente. E ela
o fez.
Sempre faça algo antes do adversário. Não importa quando, apenas faça
antes, lembre-se disso. Probabilidades: o que pontua primeiro, ganha no fim.
— Você está bem e continua trabalhando aqui... — declarei e nesse
momento o som da campainha soou, me tirando do meu momento. Ela me
olhou, esperando uma resposta, então me levantei e caminhei até a porta, a
abrindo e dando de cara com Pedro Maldini. Droga! — O que faz aqui?
— Trouxe rosquinhas! — Eu. Não. Podia. Acreditar. — Que cara de
bunda é essa, priminho?
Ele passou por mim e entrou, até que viu a linda Carolina. Olha,
lembrei o nome dela...
— Desculpa. Não sabia que estava com visita. — Ele foi direto para o
sofá, fechei a porta e logo o vi se sentar. O loiro estava com a boca aberta, de
terno, segurando um saco de rosquinhas. Caralho! — Você é...?
— Carolina.
— O que faz aqui com meu primo?

— Pedro, cala a boca! — Me aproximei e a encarei. Ela se levantou e


mostrou-se firme. Até demais. — Senhorita, vamos terminar essa conversa
depois.
— O senhor já não terminou? — O tom de voz dela me fez olhar para
todo seu corpo. Perca a linha, garota. — Preciso voltar ao trabalho.
Seu tom de voz me fez pensar coisas loucas, me encheu de esperança.
Tinha que prolongar nossa conversa para depois, criar um bendito motivo
para isso.
— Por ora é isso. — Comecei a dar passos até a porta e ela foi junto,
aproveitei para observar o movimento de suas pernas, que eram muito
bonitas. — Tome cuidado com as portas.
— Tomarei, senhor Maldini.
— Desculpe qualquer incômodo — eu disse com um sorriso no rosto.
— Um bom dia para você. Depois terminamos o que começamos.
Ela balançou a cabeça e saiu, fazendo-me ter uma visão de sua bunda.
Ela era muito gostosa. Fiquei com a imagem daquela bunda e não percebi
Pedro se posicionar ao meu lado. Loiro filho da mãe!
— Quer rosquinha? — ele perguntou.

— Palhaço! — reclamei e entrei novamente, me jogando no sofá. Perdi


uma chance de diamante. — O que está fazendo aqui?
— Há poucos segundos estava vendo seu jogo de conquista barata...
Levantei minha mão e implorei:
— Por favor, pare por aí!

— Você tem quase trinta. Trinta anos, cara! Que idiota...


— Você é um fodido — provoquei. — Rosquinhas... Eu vou enfiar
essas rosquinhas no seu rabo, animal!
— Eu deixaria, mas você não estava fazendo nada de interessante. —
Ele sorriu e me jogou o saco com rosquinhas. — Ou iria comer a garota com
essa calça?
— Ainda vou ter oportunidade.
— Vai sim. Agora vai colocar uma roupa de homem. Temos negócios
fora daqui. Chega de bancar o dono do hotel.
Ele se levantou e pegou o controle da TV. Fiquei encarando Pedro
sem sabe o que fazer. Ele era da família, o que explicava a loucura Maldini.
Balancei a cabeça e tentei passar de excitado à normal.
Talvez fosse a bunda deliciosa da moça que me fez ficar assim, talvez
fossem meus pensamentos de querer segurar o quadril dela, agarrá-la e nunca
mais soltar. Senti a agitação bem familiar na região mais ao sul.
— Vou tomar banho. Não mexa em nada.
— Tem algo na geladeira?
— Você é um poço sem fundo — resmunguei e joguei o saco de
rosquinha para ele, então me virei, caminhando direto para o banheiro.
Eu precisava colocar as mãos naquela pele nua, tinha que sentir os
músculos dela relaxarem sob meu toque. Não gostava nada dessa reação...
Lorenzo, segura seu pau, caralho!
Tirei a calça e entrei direto no box, ignorando tudo.
Em um momento você quer algo menos estressante,
então aparece uma mulher e te excita muito, aí entra no chuveiro e sente
a excitação aumentar.
O que Lorenzo precisa fazer? Vocês sabem.
Boquiaberta.
Perplexa.
Alucinada.
Mas... Que homem quente e gostoso era aquele? Cheguei extasiada ao
complexo dos funcionários, sentindo meu ser feminino sexual sair do seu
estado normal. Passei a mão no rosto. Não imaginava que fosse tão
controlada, afinal, o cara foi mais que bom. Por poucos segundos me esqueci
que ele era o chefão. Principalmente quando abri a porta e dei de cara com o
homem usando aquela calça. Mas não era qualquer calça, e sim uma que
marcava suas coxas tão bem que... Não que eu tenha me imaginado as
baixando e... Longe de mim!
A questão foi que o senhor “grandão” ficou com suas inéditas
indiretas. Conheci e vi que não passava de um playboy, dono daquilo tudo,
que vivia a favor de seu pau. Já esbarrei com esse tipo. Querem apenas
loucura, sexo, enfiar o pau na “gostosa” do momento. Já me aventurei uma
vez, mas não faço isso. No fim, você vai se sentir como um objeto, vai se
sentir uma fracassada, em que só sua vagina vai valer algo. Mas, tenho que
admitir, arrepios passaram pelo meu corpo. Era um homem bem trabalhado, o
corpo gostoso e... aqueles braços fortes, que eu adoraria segurar.
Sem safadeza, Carolina, se controle!
Se bem que os lábios sorriram perfeitamente.
Chega! Daqui a pouco eu precisaria de um bom banho. Imagine ele te
olhando... Convite para o inferno, aquilo.
Ele foi o mesmo que me tirou do banheiro, que me achou, que “pediu
para alguém parar de chupá-lo” a fim de me ajudar. Ou seja, estava bem
acompanhado. E ligando essas palavras ao pacote de camisinha, sim, ele era
ativo. E, bem, não é de se estranhar que além de ser lindo ele é... grande. Eu
não havia visto, mas a especificação em um pacote de camisinha diz muito,
não diz? Você não vai comprar um G para uma coisa P, vai? Não vai.
Droga! Não conseguiria esquecer isso fácil. Não com aqueles
músculos deliciosos, aquele cabelo negro úmido pelo próprio calor corporal,
uma pele que era de uma cor fascinante. Daquele tipo de homem que todas,
digo, “todas” as mulheres vão apalpar e sentir a virilidade. E ainda iriam
puxar o cabelo escuro fortemente.
Se eu queria, duvido muito que outras mulheres não quisessem.
Não havia nada suave em Lorenzo Maldini. Nada suave e fácil
naquele homem. Exceto o sorriso. Seu sorriso foi sacana, e em uma fileira de
dentes brancos, mostrou os lábios bem trabalhados. O que os lábios de um
homem não despertam em uma mulher, hein?! Você pode imaginar os lábios
de um homem passando pelo seu seio — nada mais sexy. Em uma coisa você
é igual a um homem. Adora aquele contato, olho com olho, enquanto ele te
chupa. Admita! Mas isso não vem ao caso, muito menos o loiro das
rosquinhas. Primo Maldini. A diferença dos dois era a fisionomia, mas o
olhar era o mesmo. Isso era certo! Sem dizer a genética. Devem ter sido feito
com muito amor e carinho.
O primo tinha mostrou ter bom humor e eu quis rir das rosquinhas. Mas
se fizesse isso, eu estaria perdida. Dando chances.
Puxei o carrinho pelo corredor, antes de me virar vi a mulher loira, era
uma espécie de nojenta. Por que todo lugar tinha esse tipo de mulher? Que
merda! A loira veio caminhando com seu vestido cinza acompanhado pelo
cabelo “liso” e solto. Se fosse mais humilde, se não fosse podre por dentro,
eu a acharia bonita. Mas, por ora, eu a considerava nojenta.
Desculpa, mas é isso que ela mostra ser, tentando passar algo que não
é. Nunca na vida passe algo que você não é, isso acaba com você. Arruína
uma futura amizade. Nariz empinando e se achando, é difícil lidar com esse
tipo de pessoa.
—Olá! Fiquei sabendo do incidente ontem à noite. — Ela parou de
maneira imponente na mina frente. Podia estar com uma sapatilha e de
uniforme, mas não me sentia nada diminuída por ela. Eu tinha orgulho
próprio e amor também. — Como tudo aconteceu?
— A porta trancou e não consegui abrir.
— Deve tomar cuidado. Você é nova, não deve estar acostumada com
tudo aqui, com as coisas, pessoas... — ela insinuou.
Me senti a Alice no país da babaquice.
—Não estamos acostumados com nada, não é verdade? Agora preciso
continuar meu serviço. Passar bem.
Gooool!
Entrei no quarto me sentindo aliviada. Respirei e vi o cômodo um
pouco desorganizado. Era fácil arrumar, nada de difícil. Só de lembrar o
salário mais os benefícios, já me deixava mais animada.
Dinheiro é algo relativo. Você precisa dele, mas ele não precisa de
você.
Logo depois de arrumar tudo, peguei o almoço no complexo dos
funcionários e me dirigi ao escritório para finalizar minha contratação. Bati
na porta e entrei.
— Senhorita, aqui está o contrato pronto para a assinatura.
— Obrigada — agradeci, peguei as três folhas e passei os olhos em
tudo, até as vírgulas. Assim que terminei, perguntei: — Tem uma caneta?
— Claro — ela me respondeu e me entregou, então rapidamente eu
assinei o documento. — Aqui está a chave do seu armário, você vai encontrar
os uniformes e tudo que precisa. Aqui temos normas que preciso que siga.
Todo os funcionários que passaram por aqui, trabalharam bem. Conto com
isso.
— Eu preciso desse trabalho. Preciso e vou cumprir meu papel da
melhor forma possível — garanti, sendo sincera. Olhei para a placa em cima
de sua mesa e dei um sorriso. — Muito obrigada, dona Patrícia.
— Mais uma coisa. Dividimos aqui por setor. Temos seis setores, o seu
é o segundo. Você e mais outras mulheres ficarão encarregada dele. A
limpeza é diária e não podem pular nada.
—O segundo setor é o que estou?
— Não, esse é o quarto. O setor dois é o da parte em que você estava
ontem.
— Entendi — menti, sabendo que eu precisaria entender melhor como
funcionaria aquilo.
— As meninas vão te explicar melhor. — Ela se levantou e eu me
levantei também, estendeu a mão e eu a apertei. Foi fofo da parte dela.
patrícia passava uma imagem de chefe legal. — Passar bem, querida.
— A senhora também. Com licença.
Saí do escritório e fui para a parte dos armários, procurando pelo de
número 154, até que o encontrei e abri, visualizando mais três uniformes,
todos iguais. Fechei o armário e logo fui para a parte onde era a minha
garagem, quer dizer, do meu carro de trabalho. Se eu me esforçasse, eu
caberia ali dentro.
Fiquei em frente ao cartaz que estava na parede de saída do complexo,
onde era bem organizando, tinha as divisões, vestiário, cozinha, armários.
Passei meus olhos pela marcação dos setores. Os hotéis Maldini eram duas
torres gêmeas que ficavam lado a lado, com 27 andares. Era tudo muito
arrumado e organizado demais.
— Qual o setor, gata? — Levei uma mão ao coração com a voz fina ao
meu lado. Me virei lentamente e olhei para a mulher. — Desculpa, não quis te
assustar. Se você for a menina que ficou presa ontem, é do meu setor.
— Sou eu. Carolina, muito prazer — apresentei-me, olhando para a
figura a minha frente, que tinha o cabelo roxo amarrado e também usava um
uniforme. — Você é...?
— Me chame de Jack — ela disse e se virou para pegar seu carrinho,
me olhou e sorriu. — Eu sou normal, vamos.
E, pela primeira vez, alguém agiu de forma natural e não como um
alienado. Talvez as loucuras de alguns sejam normais para mim. De qualquer
maneira, a garota ao meu lado — que nos encaminhava para um novo
corredor — sabia o que fazer, e não era igual às outras pessoas que mal
falavam. Talvez mudasse com o tempo, bastava eu me acostumar com tudo.
— Quantos anos tem? — perguntou Jack.

— 24.
— Por que aqui?
— Preciso do emprego.
— Não reclamo de trabalhar aqui, tenho 26 anos e já vi de tudo,
trabalho aqui há quatro anos, mas trabalhar aqui esse tempo todo, não é legal.
— Ela fez uma pausa e sorriu. — Você passa a conhecer as pessoas, as
pessoas te conhecem. Você aprende a lidar com todos.
— Quatro anos? — Arqueei a sobrancelha, surpresa.
— Sim — confirmou. — Já até quiseram me promover, mas não quis.
— Por quê?
— Eu parei de estudar aos 17, tenho uma filha para cuidar. Aqui tenho
meus benefícios, Carolina, consigo pagar uma boa escola para ela. Sei fazer
isso e isso me mantém.
— Uau! Você é bem direta — falei, em seguida peguei o saco e
coloquei dentro do carrinho. Encarei a mulher a minha frente, seu rosto fino,
seu cabelo roxo. — Eu tenho um curso de secretariado. Poderia ser
secretária, mas não é fácil achar um emprego, menos ainda escolher em que
trabalhar.
— E se você achar, se tiver que trabalhar para um homem, ele acaba
querendo mais que uma secretária. Faculdade?

— O que você cursava?


— Contabilidade. É algo bom de se fazer e era para eu estar bem
adiantada hoje.
— Matemática? Além de linda, é inteligente — ela elogiou, abriu a
porta e sorriu. — Não desista.
— Como se chama sua filha?
Mudei de assunto.
— Ana, e ela é linda. Você tem filhos, Carolina?

— Não, mas tenho uma irmã que precisa de mim. Ela tem um problema
na perna, então trabalho por nós duas.
— Qual é o nome dela?
— Camila, dona FBI — brinquei, abrindo a porta e me virando com um
sorriso nos lábios. — Um conselho para a notava aqui?
— Tenho três. — Ela me olhou, me encarando longamente.

— Quais?
— Primeiro, sempre que precisar, fale com dona Patrícia. As outras são
nojentas e te ferram em questão de segundos. — Ela olhou para o corredor.
— Segundo, não converse muito.
— É por isso que todos têm esse silêncio crucial? — Balançou a
cabeça, confirmando.
— E, por último — Jack deu um sorriso. — Fique longe desses homens
daqui. São como deuses, mas fique longe. Eles podem te causar sérios
problemas. São pervertidos por natureza. E se eles querem algo, eles vão
atrás. Digamos que você é gostosa demais para ser apenas uma “funcionária”.
O que de fato não era mentira, pensei comigo, lembrando de mais
cedo na presença do homem bonitão.
— Só isso?

— E sempre saiba lidar com eles, que são caridosos, às vezes. Aqui tem
luxo e dinheiro. Mas fique longe dos hóspedes problemáticos.
— Isso será fácil.
— Pode ser, Carolina, mas fique atenta.
Ficar atenta.
Ficar atenta.
Claro que iria ficar. Só o aviso dela que me deixou curiosa. Mas isso
não importava naquele momento.
Não naquele momento.
Faltavam alguns minutos para meu turno acabar.
Me enfiei em uma despensa de produtos de limpeza, estava fazendo
meu trabalho, organizando o que havia sobrado. Depois dali, casa! Banho!
Comida! E até que fazer isso não era tão ruim. Era sexta feira, isso me
alegrava, minha primeira semana de trabalho estava terminando. Por isso
estava cantarolando uma música.
Foquei na caixa ao lado, onde coloquei todos os vidros e fechei.
Suspendi a caixa e a coloquei no lugar. Já havia organizado quase tudo, agora
era colocar algumas coisas enfileiradas e, pronto. Arrumação das coisas que
fazem arrumação. Era até fácil tudo por ali, pois não estava bagunçado.
— Não tem mais nenhuma caixa para erguer? — Uma voz baixa, séria
e grossa, ecoou pelo ambiente.
Peguei o meu avental enquanto me virava, deparando-me com um
homem. A primeira coisa que notei foi a mandíbula, e logo a pele com uma
cor bronzeada. Meu cérebro mandou os sinais para meu corpo e as palavras
para minha boca.
— Você?
Muito mal-educada, Carolina! Isso são modos?
Senti algo me faltar. Como era mesmo o nome daquilo que me fazia
viver? Lembrei!
Ar!
— Sim. Não achou que deixaria pra lá o restante da nossa conversa,
achou?
Era ele.
Lorenzo Maldini. De chefe tinha tudo, mas de descarado também.
Encarei seus olhos e engoli o nó que se formava em minha garganta.
Percebi que gostava da cor escura dos olhos dele. A última dose de
bom senso estava sendo injetada nas minhas veias. Mantive a cabeça firme,
buscando pensar que ele não estava sem “camisa”, nem com a “calça” do
outro dia. Não! Ele estava... bonito, com uma expressão séria. Eu não estava
gostando do jeito que ele me olhava. Nem de seu visual.
Homem de negócios...
Luxuoso...
Calça bem alinhada...
— O gato comeu sua língua? — ele disse, se aproximando de uma das
bancadas e se encostando enquanto dobrava as mangas da camisa branca que
usava com um colete por cima, apenas para o deixar mais vistoso para os
olhos da maníaca que, no caso, era eu. Do que ele estava falando mesmo?
Gatos que malham? Concentre-se, Carolina. Força, mulher. — Gosta de
gatos?
— O senhor precisa falar comigo?
Ele me olhou e sorriu. Estava bem, era grande e os músculos saltavam
sob o tecido fino da camisa. Fiz de novo. Eu arderia no fogo do inferno.
— Queria conferir se estava bem. — Ele me analisou, parando seu olhar
nos meus seios. Sabia quando alguém os observava. — Não tive tempo de
conversar com você.
Lorenzo desviou o olhar dos meus seios e lembrei que o uniforme nem
era decotado. Mas a imaginação dele podia ser grande. Enorme. Colossal. Eu
esperava que Lorenzo Maldini não os estivesse imaginando. Seria maldade se
estivesse fazendo isso.
Homem como ele, ou qualquer outro, que deixa você empolgada
demais, pode ser perigoso.
Comecei a achar que o queria dentro de mim. Mas só a achar. Era
muito Lorenzo em um ambiente só, Deus! O cara tinha aquele rosto moldado,
sério, com lábios de fazer os piores momentos de sua vida... fazer você pedir
por mais.
— Muito obrigada pela preocupação, mas estou bem.
— Não se enrolou com nenhuma porta? — perguntou, sorrindo e me
analisando. Peguei as coisas e andei na direção da porta, ajeitando os últimos
produtos. Tudo sob a vigilância dele. — Por que camareira?
Parei e me virei.
— Oi?

— Por que esse trabalho?


— Porque eu preciso.
— Sua irmã não trabalha?

— O quê? Como sabe sobre isso?


— Sei de muita coisa, Carolina Lelis. Tudinho que eu preciso saber.
Posso te levar para casa?
Ele propôs depois de bancar o agende do FBI, como se me conhecesse
ou quisesse conhecer.
Eu estava trabalhando. Precisava me livrar das perguntas, já que de
fato ele parecia saber da minha vida. Eu não tinha por que esconder nada de
ninguém, mas a pergunta, vindo dele, me deixou surpresa.
Tinha que reagir à esperteza dele.
— Sr. Maldini, conhece o filósofo Jagger?
Eu era louca de fazer isso, mas se ele estava brincando comigo, faria o
mesmo com ele. Nunca que o deixaria estar por cima. Nunca.
— Você não respondeu a minha pergunta, Carolina Lelis?
— E qual foi?
— Aceita uma carona para casa?
O gostoso estava indo fundo, achando que eu cairia, cederia ao seu
charme.
Ha ha ha
Eu cairia, mas ele não precisava saber. Homens já têm ego grande
demais. O senhor a minha frente também. Vamos vencê-lo pela dureza e
cansaço.
Nosso primeiro encontro não foi dos mais normais. Eu havia olhado
demais, mas ele pedia para ser olhado, vestindo aquela roupa.
Com aquele tanque que era maravilhoso. Era grande. A pele quente,
molhada. O pacote de camisinha indicando grande...
Bem, a culpa não foi minha. Sou uma pervertida.
Ele também.
Encontrá-lo daquela forma, depois de, supostamente, estar malhando,
fazendo algum exercício.
Não fui a culpada.
Se estivesse de cueca eu também olharia. Sem culpa alguma. Mas não
queria algo com o Sr. Dono De Tudo.
— Bem, o senhor não conhece o filósofo. — Dei um sorriso e o encarei
sem medo. — Mas ele já disse isso: você não pode ter sempre aquilo que
quer...
Bingo!
Aquilo era só para me deixar mais confiante. Era algo que eu faria de
novo.
O encarei e vi seu semblante. Se eu perdesse o emprego, estaria
perdida. Mas, dar um fora no senhor gostoso... Me sentia bem fazendo isso.
Ele balançou a cabeça, seu cabelo tinha uma cor linda, era preto,
chamativo. A sala em que estávamos era iluminada somente pela luz, nada de
natural.
— Você me conhece, Carolina? — Eu não gostava da calma dele.

Caramba!
— Não, senhor, não o conheço. Agora preciso me retirar, se não se
importa.
— Espera.
Filho da puta! Deixe-me sair. Eu não vou chegar perto de você, sentir
seu perfume. Isso não, por favor.
— Acho melhor seguir as regras, senhor Maldini.
— Carolina, eu fiz as regras, mas as ignoro.
— Aí já é problema seu.
— Nosso problema, querida. Nosso.
Ele deu um sorriso e minha calcinha... minha calcinha estava a ponto de
pagar sua sina com aquele homem. O debochado ainda sorria da minha cara.
— Melhor tirar esse sorriso do rosto. Não irei para a cama com você!
— Cuspi as palavras. — Isso é imprudência. Quebrar regras não é comigo. O
senhor é imprudente de tentar algo.
— Não quando tenho pessoas que seguem essas regras. Aí surge um
pouco de prudência — argumentou e eu só precisava sair, mas era teimosa.
Ele ficou em silêncio por um segundo, olhou o relógio em seu pulso e
suspirou. — Você acaba de perder o ônibus.
Meu queixo caiu e entrei em pânico, completamente.
Definitivamente, ele jogava sujo.
— O... que... Seu filho da mãe! — xinguei, fazendo isso muito mais em
pensamento.
Saí pela porta apressada, passando por alguns funcionários e logo
entrando no complexo. Olhei para o relógio e percebi que devia estar
entrando no ônibus, já angustiada por saber que passaria duas horas
esperando o próximo. Já não adiantaria trocar o uniforme com tanta pressa.
Eu acho que há uma primeira vez para tudo, porque ali estava eu.
Tinha acabado de perder o ônibus por conta de um cara mal-educado, um
tanto arrogante e gostoso.
Ele calculou isso.
Instantes depois eu me sentava no banco do ponto de ônibus e
colocava a bolsa no colo.
A única coisa que eu sabia com certeza, era que eu precisava continuar
no emprego.
Um homem quando quer algo, faz tudo que pode para atrapalhar nossa
vida. Ele fez isso por que quis? Um bom motivo para ficar longe. Babaca!
Peguei o celular e disquei para Camila, abaixando o telefone
lentamente quando um carro preto parou na minha frente, os vidros escuros,
sem reflexo de ninguém. Naquele carro só poderia ser um homem, uma
pessoa, o que me deixou irritada.
Cadê o tijolo?
Eu o ignorei por ser um descarado.
Ele vai te foder, Carolina.
O vi sair e me olhar, mesmo de longe pude perceber seu sorriso
debochado novamente. Deu a volta e me encarou.
Respira, Carolina. Ele é só um conquistador barato.
— Aceita uma carona?
Que merda é essa? Que coisa sem fundamento é essa?
— Não! — respondi.
— Você não precisa esperar pelo ônibus — ele rebateu, dando-me um
sorriso perfeito.
Eu queria deixa-lo banguela.
— Já disse que não.

— Você vai entrar nesse carro. Não fiz você ficar aqui ? Faço você
aceitar meu pedido.
— Você me atrasou — confirmei, mas queria deixar claro que ele não
mandava em mim. — Mas eu sou paciente. Não vou a lugar nenhum com
você.
Ele respirou fundo, parecendo estar quase calmo. Bufei, com raiva,
sabendo que nunca tinha sido tão paciente na porra da minha vida. Homem
nenhum me fazia de trouxa.
— Entre — o moreno pediu, estendendo a mão.
— Eu não estou no meu “trabalho”. — Olhei fixamente para ele. —
Você não manda em mim. Sabia que posso te mandar para o inferno?
— Isso está me excitando de tal maneira... Ande, aceite e não reclame.
Já era para... para nós...
— Você vai enfiar seu pau no seu rabo!
— Olha a boca suja, linda. — O encarei, perplexa, admirando o homem
sexy parado na minha frente, com um sorriso divino. — Se não aceitar, posso
esperar aqui com você.
Se contenha, Carolina!
— Você não faria isso — desdenhei, vendo o quanto o homem podia
me enlouquecer. Fascinada naqueles olhos pretos que me encaravam. — Eu
não quero nada com você, não gosto desse tipo de brincadeira.
— Vamos, linda, preciso que entre. Não vou fazer nada — afirmou ele
e senti seu olhar sobre todo meu corpo. Aceitar ou não? Minha mente foi
aberta e dentro dela foi implantada a ideia de aceitação. — Bem, sei que vai
aceitar.
Disse ele com uma cara de safado.
Foco, Carolina.
— Eu vou furar seus pneus se não sair da minha frente!

— Aí vou ser obrigado a ir de ônibus com você, sentar do seu ladinho.


Melhor, posso ir de ônibus com você.
Ele fez menção de se sentar, mas parou e ficou me olhando.
— O que você quer?
— Quero leva-la para casa, Carolina. Como amigo.

— Amigo?
— Sim, sou homem de família e bem respeitoso.
— E eu sou a Xuxa!
— Então vai aceitar?
— Não vou te dar nada.
— Não me lembro de ter te pedido nada. Só quero te dar uma coisa,
Carolina. — Ele fez uma pausa. — Uma carona.
Filho da mãe!
— Eu aceito.
— Ótimo — ele disse e se afastou o suficiente para abrir a porta, então
voltar a me olhar. — Entre, Carolina. Apenas faça isso.
Eu me levantei e olhei para ele por segundos decisivos.
Você não pode entrar.
Ele sabia o que queria. Sabia o que estava
fazendo e agia sem medo de falhar.
Espere o ônibus.
— Não vai acontecer nada, Sr. Maldini.

— Fiz você perder o ônibus, o mínimo que posso fazer é ajudá-la a


chegar a casa no horário e em segurança. — Olho para ele, chocada. — Vai
negar?
O desgraçado debochou de mim.
Entrar naquele carro me parecia perigoso. Olhar para Lorenzo era
perigoso.
Não precisava que palavras saíssem da minha boca. Nenhuma palavra
era necessária para dizer o que eu já sabia. Eu estava atraído por Carolina
Lelis, não tinha medo nenhum de admitir. Era um fato.
Agora me diz: querer Foder Carolina Lelis, até nos cansarmos, era algo
certo? Não, não era certo. Não era certo a gostosa estar ao meu lado,
respirando o mesmo ar que eu. Quem foi o idiota que a fez perder o ônibus?
Pode rir, mas não me julgue. Odeio esse papel, mas o que eu não fazia
para foder uma mulher e conhecer mais uma boceta?
Olhei para ela e abri meu largo sorriso. Observei seus joelhos juntos,
suas pernas, logo subindo para onde ficava seu centro. A vontade que tinha
era de enfiar as mãos ali, mas sabia que queria comer esse prato devagar,
queria chupar cada parte, morder, lamber. Tudo precisava ser consensual.
O dinheiro para mim sempre foi uma coroação do meu trabalho.
O sexo sempre foi a minha coroação para uma conquista. Como se
você fizesse uma comida boa e não a comesse. Você tem que provar, você
tem que comer.
Em outros tempos, com o tesão que eu estava, já teria dito para ela se
abaixar de uma vez ou teria desistido, mas não ia fazer isso. Eu também não
estava com essa bola toda, por isso iria com o pé no freio. Ela estaria no hotel
quando eu quisesse, mas dentro do meu carro não seria todo dia.
Ela permaneceu calada durante o trajeto.
Mas eu sabia que algumas das palavras que ela havia me dito tinham
um fundo de malícia. Ela estava negando, só que eu sabia.
— Que tal conversar? — sugeri sem parecer muito imoral.
— Não seria boa ideia.
— Medo de pecar, minha cara? — Dei uma risada. Medrosa! — Posso
lhe trazer todos os dias. Acha que vamos ser grandes amigos, Carolina? —
Queria continuar perguntando, mas também estava pensando em parar o carro
e devorar aquela boca, ver novamente os seios deliciosos. — Me diga algo,
estou agitado.
— Você está dirigindo, não quero atrapalhar.
Esperta.
— Eu só quero conversar. — Virei meu olhar para ela e vi que me
encarava. Tinha que ir devagar, precisando ganhar terreno.
— E eu só quero chegar em casa.
— E vai. A menos que queira sair do caminho.
Eu já estava ansioso para apresentar meus hábitos sexuais para ela.
Minha mente estava aberta demais.
— Você vai sair do caminho, Sr. Maldini? — indagou, abrindo um
sorriso que me provocava. Era como se ela se controlasse em um momento e
no outro se soltasse. Ela jogava com essa mudança, isso era bom e ruim.
— Posso fazer isso. — Contive meu sorriso, começando a jogar de leve
com ela. Ele está aqui dentro. — Transar aqui não está nos meus planos, mas
eu não tenho um plano.
Joguei a cabeça para trás e dei uma risada divertida. Seu queixo caiu e
ela arregalou os olhos. Segurei firme no volante, atento.
— Não vai haver sexo entre a gente — rebateu ela secamente.

— Hoje, talvez não, mas já estou louco para tê-la nua ao meu dispor —
arrisquei, jogando alto. — Tudo com seu consentimento, claro!
— Seu plano é me levar para a cama? — perguntou, olhando para
mim, o que me fez prender seu olhar ao meu.
— O lugar não importa, Carolina. Isso responde a sua pergunta?

— Não estou negociando contigo, senhor Lorenzo — respondeu,


decidida.
— Eu não negocio dessa maneira com uma mulher. Sou direto com
elas.
Ah, caralho! Eu quero essa mulher, quero sua boca, sua língua em
minha boca e em outras partes do meu corpo.
— Claro que não. Você joga sujo. Perdi o ônibus, agora estou aqui.
Você jogou desonestamente. — Ela voltou a sorrir e eu respirei fundo. Não
estava aguentando vê-la sorrir daquela maneira. Se ela imaginasse o que eu
queria fazer com seu cabelo preto e sua pele branquinha... Soei como um
maníaco falando assim. Lorenzo, menos pensamentos. — Você faz isso nos
seus negócios? — questionou, calma, e eu passei a sentir a ereção comprimir
a calça. Quando não era o cérebro funcionando, era o meu pau. — Mais uma
pergunta, senhor. Como sabe o caminho da minha casa?
Merda!
Respirei fundo antes de responder.
— Eu me informo sobre a vida das pessoas que estou interessado.
Você, não?
— Você não é o dono do mundo, Lorenzo Maldini.
— Não. Eu não sou, mas tenho só uma parte do mundo, o meu mundo.
— Estreito os olhos de forma ameaçadora para ela. — Você vai sair
comigo...
— Não...
— Vai, Carolina, eu sei disso. O que eu quero, eu tenho!

— Já sabe que não vou.


— Vou lhe deixar em casa, Carolina Lelis. — Paciência era para ser
meu nome. A calma emanava de mim. — Sua irmã a está esperando, não
está?
— Como sabe tanto de mim?
Ela se virou e me encarou.
— O que eu quero, eu tenho. Só precisa saber disso. Eu sei de tudo
sobre você. Quer dizer, quase tudo.
Sabia pouco, mas eu jogando verde colheria maduro. Bem maduro.
— O que sabe?
— Carolina Lelis, 24 anos e com um secretariado no currículo.
Faculdade trancada. — Fiz uma pausa e olhei para ela. — Vive sozinha com
a irmã, Camila Lelis, que tem um problema na perna. Vocês são
independentes, uma pela outra.
— Como... como...

— O que eu quero, eu tenho!


Então ela riu. Uma risada feminina que fez um arrepio passar pelo
meu corpo. Eu já não via a hora de puxar seu longo cabelo, desfazer aquele
rabo de cavalo escuro.
— Você joga pesado.

— Muito. Você já me deu um prazer grande da sua companhia —


afirmei e não era mentira. — Estamos chegando, amor.
— Amor?
— Isso ajuda a controlar as coisas, até na área sul do meu corpo —
falei, tentando controlar a excitação. Passei a mão sobre meu pau e a vi
tentando desviar o olhar. — Pode olhar, sem medo.
— Eu...

— Chegamos.
Parei em frente ao prédio no qual havia pego o endereço mais cedo.
Era tudo organizando, uma boa estrutura, pintura... Tinha uma escadaria que
levava para a entrada e uma fraca iluminação se propagava nela. Isso não
importava. Não naquele momento, nem depois.
Desci calmamente e dei a volta no carro para abrir a porta dela.
Ofereci minha mão para ajudá-la a descer, a qual ela aceitou sem reclamar.
Fiquei surpreso, mas não disse nada.
— Muito obrigada — agradeceu.
Carolina tinha o corpo tentador. Suas pernas eram longas, bem
escondidas por baixo da calça jeans escura, e nos pés usava uma sapatilha. A
camiseta era normal, sem nada de chamativo, mas era branca e vocês sabem o
que branco faz com volume, seja de seios ou pênis.
— Não vou lhe convidar para entrar — disse ela, de repente.

— Não pedi isso — rebati e nesse momento imaginei a minha mão


espalmando forte a bunda dela, enquanto a comia por trás. — Como vai me
agradecer pela carona?
— Você não fez mais que a sua obrigação como cavalheiro — falou,
firme. — Agradeço a sua “gentileza”.
Ela se virou, tão calma e linda. Ela tentou fugir, mas eu a detive,
segurando em seu braço. O contato me deixou com um calor gostoso de
sentir.
— Preciso entrar.
— Um café?
— Não.
— Sério que vai fazer isso? Seja boazinha. — Ela se livrou da minha
mão e ficou frente a frente comigo. — Olha pra gente, Carolina. Aceite sua
sina.
— Você perdeu.
— Querida, você trabalha para mim. Eu sei onde te encontrar...
— Sr. Maldini, isso para mim não importa — me cortou. — Se eu não
quero, não faço!
Uau! Ela devia se orgulhar de si mesma.
Eu também senti orgulho dela. Mas, apenas um pouco. Guardaria meu
orgulho por ela para mais tarde. Só mais tarde.
Queria trepar com ela de maneira dura, forte e selvagem, mas ela não
estava facilitando. Olhei para os lados e fiz questão de me aproximar um
pouco mais, o suficiente para vê-la de perto. Despejei meu olhar faminto por
todo aquele corpo, demorando-me nos volumes dos seios arredondados e
empinados, escondidos através da camisa.
— Deixa eu te dizer uma coisa — comecei, refletindo o fato de estar
realmente me prestando a tal papel. — Eu vou te encontrar fora daqui, vou
fazê-la minha.
— Não! — rebateu ela, tentando ser firme e se distanciando aos
poucos.
— Não só vou fazer isso, como teremos uma noite apenas para nós.
Uma noite completa. Acha isso bom? — interroguei, malicioso. — Você
ainda vai me olhar como olhou da primeira vez. Você quer isso. Quer ver
como podemos ser bons juntos, Carolina.
— Melhor pegar sua bunda e sair daqui.
Ela deu um passo maior para trás, tentando desvencilhar-se para longe
de mim, porém, fui rápido e cravei minha mão com força em sua cintura.
— Se afasta, por favor!
No impulso, fui para o escuro, na direção da parede. Assim que sentiu o
concreto atrás de si, ela tentou sair, debateu seus finos braços. Vi os lábios
dela se abrirem para tomar um fôlego maior.
— Qual é o seu problema? Me solta, babaca!
— Diga sim, Carolina. Só um beijo, por favor.
— Não posso burlar as regras do hotel. Você é o meu chefe e não é
muito legal funcionárias que transam com os chefes.
— Isso é um sim?
— Você não escutou o que eu disse?
— Escutei. Aqui você não é minha funcionária...
— Só quero me livrar de você.
— Um beijo, Carolina.
Eu olhei para os olhos delas e os vi brilhar.
— Viu que o lugar não importa? — Cravei meus lábios na curva do seu
pescoço, chupando-o com vontade.
— Me deixe sair. Só isso está ótimo, Lorenzo.
Não ia forçá-la a nada, por isso a soltei e fiquei apenas parado a sua
frente.
Mas, antes que eu tentasse pronunciar qualquer palavra, ela invadiu
meus lábios com força, sua língua tomando a minha sem pedir licença.
Ela havia me beijado, e eu aceitei, apenas pegando o que era meu.
Seria meu prazer.
Ela me puxou até ficar colado nela.
— Caralho! — Chupei sua língua, sentindo o quente de sua boca e lhe
apertando a cintura. Desejava sentir mais, mas não iria avançar muito.
Afastei-me e olhei para aquela boca.
Ela abriu os olhos e sorriu. Foi... ela sorriu depois de tudo. Não
entendi, mas levei minha boca novamente até a sua. Carolina era um pouco
mais baixa que eu, o que me permitia esfregar-me nela com vontade. Ela
sentia, eu sabia.
Mas seu sorriso... Porra!
Levei meus lábios ao seu pescoço, querendo pegar tudo dela. Liberar
meu pau e... não dava! Ela não se mexia, apenas suas mãos que estavam no
meu cabelo. Grande ponto para ela.
— Para! — pediu.
— Tem certeza que é o que quer? Você está gostando que eu sei, eu
sinto. — Ergui minha mão e passei levemente pelo seio dela. — Está
molhada para mim?
— Você não vai saber isso — disse com malícia em meu ouvido,
mordendo de leve o lóbulo da minha orelha. Foi tão bom que os pelos do meu
braço ficaram totalmente levantados. — Agora me solte, por favor.
— Solto se puder fazer isso sem sua resistência. Quero sua permissão.
— Solte-me. Confie em mim. — E assim eu fiz, sentindo a libertação
em sua voz. Seu olhar desejoso. — Bom... uau!
— Isso aqui também é bom — falei, apontando para meu pau
endurecido dentro da calça. — Saia comigo.
Ela se livrou de mim e passou as mãos nos lábios. Eu já estava fodido.
Meu pau estava duro. Ela se afastou e ajeitou a blusa, ajustando a bolsa no
ombro.
Era minha.
Era só uma questão de tempo.
— Você foi um vadio — acusou Carolina e riu na minha cara, em
seguida piscou e mandou um beijinho.
Não entendi nada quando a vi se virar e subir os degraus do prédio,
pouco se importando em olhar para trás. Apenas abriu a porta e entrou.
O que eu tinha que fazer? Gritar para ela voltar?
Não!
Apenas fiquei com meu sorriso vitorioso e um meu pau duro.
Ok, tínhamos tempo.
Eu tinha que respirar fundo.
Final de semana sendo adiado com sucesso pelo belo motivo de um
cansaço físico causado pelo trabalho. Camila também iria me abandonar. Se
bem que ela não estava ligando para a minha solidão. Poderia ficar ali
comigo, comemorar a minha primeira semana de trabalho, uma semana que
tinha sido... uau!
Eu queria dizer um não bem grande para ela, mas a cara de pidona não
estava sendo fácil de combater. Ela se levantou e fez um coque em todo seu
cabelo preto. Observei sua boca e olhos pequenos. Era minha pequena. Uma
figura quase exata de mim a seis anos atrás.
Minha irmã caminhou devagar e foi até a mesa, pegou um papel e me
entregou.
— O que você vai fazer em um acampamento? — perguntei.
— Passear, me divertir. Jess e eu já combinamos. Voltamos amanhã à
noite.
— É seguro? — perguntei mais uma vez.
— Eu sou apenas manca, não uma inválida. Por favor, quero ir. — A
lei da proteção com a manada não servia para mim. Quem seria eu para negar
algo assim a ela? — Então?
— Promete se cuidar?
É claro que a faria prometer. Promessas são dívidas. Ela sabia que, se
prometesse algo, teria que cumprir. Sempre!
— Sim, eu prometo. — Ela se aproximou e beijou meu rosto, logo se
sentou no sofá, aguardando sua partida, que seria em algumas horas.
— Não vai fazer suas malas?
— Já estão feitas, Carol. É só ir, agora. — Ela me olhou e sorriu. Eu
criei um monstro. — Você já fez isso, não me olhe assim. Vai descansar da
sua primeira semana de trabalho porque eu vou apenas fazer algo útil. E
outra, é melhor que ficar sem fazer nada. Você me trata como se eu fosse
uma criança.
— Jess vem daqui a pouco?
— Já deve estar passando.
Melhor amiga e irmã. Eu ama minha irmã mais do que tudo, e seria
capaz de mover o Everest por ela. Secar as cataratas. Camila era meu
equilíbrio. Tinha um pouco de mim nela, mas ela se diferenciava, tinha a
parte sonhadora, romântica. Achava que um dia encontraria alguém, um
Felipe Dylon.
Era bom ela ter isso. Só não podia cair na lábia de qualquer idiota. Já a
havia visto por “amor” não correspondido e não gostava disso. Eu era a irmã,
dizia o que pensava. Aconselhava em suas escolhas, suas consequências.
Ela já passou seus maus bocados, começou a passar outros. Precisava
se descobrir mulher porque era linda e tinha apenas um problema na perna.
Seu coração era bom, tinha educação e caráter. Seu interior era bom. Era uma
daquelas garotas boazinhas.
— Ontem você demorou — Camila comentou.
— Tive alguns imprevistos.
— Que tipo imprevisto?
Ela puxou a bacia de pipoca e pausou o filme.
— Perdi o ônibus.
— Quem a trouxe?
— Ninguém — respondi e foquei na TV.
Camila se contentou com essa resposta, felizmente, porque eu não iria
dar detalhes. Não mesmo. Não demorou muito para ela sair e eu estava
confiando nela. Era apenas um final de semana, nada demais. Eu poderia
curtir um pouco, aliviar minhas necessidades.
Era sábado, quase oito da noite. O que eu podia fazer? Sair?
Na sexta ele me trouxe e me beijou... Tudo bem, eu o beijei. Sabia
que estava sendo crítica demais, afinal, ele sabia como fazer algo bom. Mais
que bom. Ele fez minha respiração ficar falha, me fez sentir seu cheiro.
Você sempre acha que não vai cair e, tecnicamente não cai, mas eu dei
bola para ele. Ele sabia conquistar um beijo, tanto que eu não parei de querer
beijar sua linda boca. Eu estava precisando de sexo.
Devia agradecer pela saída da Camila, porque depois disso eu entrei
no banho e me senti uma musa, senti meu corpo até mais leve.
Queria me animar e sair.
Tinha acabado de pegar meu celular no momento em que a
campainha tocou.
Saí do quarto e logo escutei a campainha mais uma vez.
— Já vai! — gritei.
Quando abri a porta, perdi o ar e as forças nas minhas pernas por
completo. Olhei para quase dois metros de homem a minha frente, meu rosto
foi se desfazendo aos poucos. Definitivamente, não era alguém que me
visitava frequentemente. Eu fiquei vazia e entrei em pânico. Ele não estava
com uma caneca para pedir açúcar. Ele não era meu vizinho.
— O que...
— Visita. Surpresa! — falou rapidamente, com aquela voz profunda.
Palhaço!
— O horário de visita já acabou, senhor. Volte outra hora.
Tentei fechar a porta, mas o moreno colocou a mão nela, impedindo
minha ação. A vontade foi de fazer um purê das mãos dele. Mas não fiz.
— Eu só quero conversar, Carolina.
— Estou de saída.
— Vai sair desse jeito? — questionou e seu olhar desceu pelo meu
corpo, os olhos chegaram a sorrir. Eu usava um shorts curto e uma regata. Era
sábado à noite, portanto, não estaria de bata, pronta para rezar um terço. —
Sua roupa influencia meus pensamentos.
— Sério? E o que eu tenho a ver com seus pensamentos? Nada, não é?
Preciso ir. — Com rapidez ele abriu a porta e entrou. — O senhor precisa ir
embora.
— Seja pacífica comigo.
— Não sou oceano para ser pacífica. E... e eu... — Onde estava a porra
das palavras quando precisei delas? Senti seu olhar sobre meu corpo. Ele
não era da Terra!
As imagens na minha cabeça se multiplicaram. A camisa era preta,
não revelava muito, a calça jeans ficava marcada, como a de moletom e a
social de sexta. Uau! Ele olhou por toda a sala e caminhou por ela, sentando-
se no sofá com as pernas abertas.
— Você não vai embora? — perguntei, fechando a porta com força.
Não que estivesse irritada. Não... jamais!
— Não — respondeu. — Onde está sua irmã, Carolina?
— Saiu.
Passei a pensar em um motivo para ele estar no meu sofá, às oito horas
de um sábado, e os motivos sempre eram sexuais. Sexo! Ele, o tipo de
homem que fazia tudo o que queria. Se estava com vontade, fazia! Isso ficou
claro. E sexo era algo que ele queria.
Fala sério, ele não viria até a minha casa apenas para conversar. Viria?
Se fosse para perder tempo, iria gastar dinheiro.
— Ela volta quando?
— Isso não é da sua conta.
— Não volta cedo, isso é bom — ele disse com um sorriso orgulhoso
no rosto. — O que vamos fazer? Ver um filme, conversar?
— Eu não lhe convidei para nada, nada mesmo!
Fiquei parada na frente dele enquanto falava.
— Ontem você não me ofereceu um café, hoje eu aceito.
— Café?
— Também gosto de suco. — Merda! Mil vezes, merda! Ele
continuou: — Ou algo forte.
— Forte? — Prendi o riso enquanto olhava para ele, mas acho que
não surtiu muito efeito, porque um sorriso calmo e sexy se abriu em seu
rosto.
— Você me fez desistir de beber algo. Não quero beber nada, nada
mesmo. Não vai se sentar? — Balancei a cabeça, negando. — Você é uma
mulher livre, não é? Então...
— Não termine, senhor Maldini.
— Sou direto. Já percebeu que quero algo que você pode me dar. —
Ele sorriu e analisou minha reação. Eu não fiquei nem um pouco surpresa.
— Carol, quero que me dê prazer...
— Sr. Maldini...
Alguém poderia avisar a ele, para essa arma sexual gostosa, que ficar
com ele não está nos meus planos?
— Já lhe mostrei o que quero e sei que você quer corresponder a
mim. — Ele se levantou, e foi nesse momento que me afastei. — Quero te
dar prazer, quero sentir prazer, te fazer gozar como nunca gozou, entendeu?
Apenas um momento.
O que eram as Cataratas do Niágara nesse momento, perto da minha
calcinha? Santo Pai! Gozar! Vi seus músculos deliciosos se movimentarem.
Não era louca, não era cega. Ele se aproximou com calma para não me
assustar.
Primeiro, não estava tão assustada assim. Segundo, eu estava excitada,
de uma maneira nova. Meu corpo reagia bem, juntava uma adrenalina louca.
Mas, uma coisa que me assustava era adrenalina com excitação.
O moreno me olhava com aquele par de olhos pretos.
— Você não estava brincando quando disse que não seguia as regras.
— Você agora vai ficar bem perto de mim.
— Eu...
Dois passos dele e logo senti uma mão ágil na minha cintura, puxando-
me até estar colada a ele.
— Você ontem me disse que não ia se recusar, lembra? — Lorenzo
baixou a cabeça e deu um chupão no meu pescoço. — Eu quero muito foder
você. Não sou malvado, nem mentiroso. Eu vim aqui com a intenção de te
comer, mas será para que nós dois saiamos satisfeitos disso que está nos
queimando por dentro.
— Você não tem vergonha? Nem sabe se eu quero algo — retruquei,
me sentindo insegura de repente. — Desgraçado!
— Gostosa do caralho. — Meus seios estavam imprensados em seu
peitoral, seu olhar sobre mim e aquele sorriso. — Meu pau está gritando
dentro dessa calça para entrar na sua bocetinha, Carolina.
— Seu vocabulário é ótimo, senhor.
— Eu sei. Já imaginou se meu pau falasse?
A pior parte era que ele me provocava. Me atacava aos poucos. Para
quê? Estratégia para ganhar território.
Eu estava prestes a ser fodida por aquele homem e essa ideia me
animava. E quando ele teve a confirmação, partiu para a minha boca. Nada
calmo, mas ágil. Passou seus lábios pelos meus e logo me invadiu com sua
língua, sugando-me, agarrando meus quadris e colando seu corpo no meu.
Movendo-se e mostrando que estava duro.
— Carolina Lelis, quero você nua.
Senti a mão dele se espalhar pelo meu corpo e apertar a minha bunda
fortemente. Senti o pau dele já duro, e isso me instigou, me fez libertar para
aquele momento. Levei minha mão até aquela parte dele, porque isso foi mais
forte que eu. Minha mão estava parada, mas logo senti a mão dele por cima,
fazendo movimentos, me deixando ainda mais... quente!
Era o pau dele sendo estimulado, não eu.
Mas pegar um pau era incrível, e o dele eu queria ver, tocar... Era mais
forte que eu.
O membro dele estava na palma da minha mão, crescendo e querendo
“respirar”. Lorenzo firmou uma das mãos no meu quadril e a outra foi
descendo, até que desabotoou a calça e logo sorriu.
— Me toque!
Olhei para baixo, foi tempo suficiente para eu poder ver seu membro...
Cavalo! Foi a primeira palavra que veio na minha mente.
Caralho!
Meu Deus!
Ele pensava com o pau, tinha vida própria.
— Vamos, gostosa, quero você! — Sua mão logo abriu meu shorts,
como um rato procurando a toca. Seus dedos agiram rápidos e ele invadiu
minha vagina sem cerimônia. — Não disse que você iria me dar prazer.
Ele deu alguns passos e senti quando minhas costas tocaram a parede.
E, mais uma vez, ele estava comigo sendo submissa.
Ele e eu, e claro, uma parede.
E ele me beijou, acariciando minha boceta, logo senti sua mão passar
por debaixo da camisa. Isso... meus seios. Seu toque foi bom. Eu queria. É
claro que queria aquilo.
— Olha para mim — pediu com firmeza. — Você quer isso?
Ele ficou parado, esperando a resposta, cauteloso, como se aquilo
servisse para ver se eu estava segura e bem com o que estava acontecendo ali
entre a gente.
Então eu balancei a cabeça em afirmativa e deixei rolar, porque eu
queria aquilo.
— Tudo bem — eu sussurrei.
— Ótimo, ótimo!
Sua voz era tensa. Ele estava louco, também. Queria seu pau dentro de
mim sem demora. Ele beijou meus lábios e vi quando retirou os dedos da
minha intimidade, os chupando bem lentamente, devagar.
Logo sorriu e me beijou, o que fez com que eu sentisse meu gosto em
sua boca. Minha língua dançava, entregue, mas notei quando ele levou a mão
ao bolso. Só demorou um pouco até eu ver o pacote.
Então era isso.
Seria na parede.
Eu não me importava.
— Você ou eu? — perguntou quando olhou para o próprio pau e
sorriu.
Engoli em seco e tentei não pensar muito. Peguei o envelope e abri,
seus olhos estavam brilhando.
Iria conhecer o pau dele, do qual ele parecia sentir muito orgulho.
O cara era rico em todos os pontos. Lindo e gostoso. Lorenzo não me
conhecia, eu não o conhecia. Mas quem se importava quando estava prestes a
ter alívio? Um alívio tão natural...
Minha vagina já estava se antecipando para tomá-lo e eu queria que
ela o engolisse. O moreno levantou minha perna direita, encaixando-a em seu
quadril e logo apertando minha bunda. Gemi e senti algo. Lentamente, senti
seu pênis entrar em mim, apenas a glande. Eu estava apertada por conta do
prazer que estava sentindo e, começar a penetração daquela maneira, fazia
meu tesão triplicar.
— Carolina, que bocetinha mais perfeita...
— Caramba! — exclamei baixinho.
Ele entrou lento e precisei buscar o ar. Foram dois movimentos, apenas
dois! Ele segurou-me em seus braços e meus dedos se afundaram na
camiseta, logo o senti tirando tudo e batendo de volta, me rasgando até onde
eu aguentava. Gemi alto, mas iria ficar forte. Era uma vontade enorme de
sentir tudo dele. E ele iria me fazer sentir. Eu realmente esperava que ele me
fizesse sentir
Eu estava indo fundo.
Estava me afundando muito naquela mulher.
Uma semana de tesão acumulado, sendo encerrada com sucesso.
Eu era bom nisso. Carolina estava se mostrando uma mulher boa. O
sexo estava perfeito! Eu já conseguia sentir a pressão aumentando
absurdamente, meu pau batendo forte contra sua boceta deliciosa enquanto
tinha sua perna levantada. Estávamos como dois adolescentes naquela parede.
Mas era ser feliz, era sentir o prazer.
Era só gozarmos e tudo ficaria perfeito. Eu estava atraído por ela, o
que era engraçado, pois isso era raro. Porra! Eu merecia isso. Rebaixe-me
indo até lá, merecia prêmio.
Sua pele branca estava corada, num tom que eu gostei. Seus lábios
vermelhos, o cabelo preto desarrumado de quem havia perdido a linha.
Perdido a linha comigo.
E eu... Bom, eu a comia forte, rápido, indo até as bolas, com golpes
brutais que faziam o corpo se sacudir. Carolina estava gemendo, acho que eu
também. Não era só eu apreciando o passeio selvagem. Estava quase gozando
diante de tantas estocadas, alargando-a com meu pau enquanto a bela mulher
parecia estar apreciando a visita, apreciando gostosamente, e meu corpo todo
se arrepiando com o prazer de sua boceta apertada.
Eu a queria nua, queria seus seios livres, longe daquela blusa do
caralho. Não queria impedimentos que escondessem ser corpo e, claro, muito
menos no meu. Beijei seus lábios e levei uma mão até a vagina dela, e puxei
seu ponto.
— Sinta isso.
Dedilhei a carne macia e logo o acariciei, ouvindo um grito escapar dos
lábios dela. Seu corpo já anunciava que estava prestes a gozar e soltei uma
risada só para ela.
— Você é muito safado, caramba! — ela gemeu e se contorceu. Eu,
como um jogador, parei os movimentos e mexi o quadril lentamente, logo
sentindo a reação e as palavras dela. — Você... Ai, meu Deus! Por favor!
— Agora, bem devagar, você vai sentir meu pau.
Eu queria tudo dela, mas queria que fosse devagar, aos poucos.
Acredite, era difícil fazer isso. Ir devagar.
Carolina não ficou parada. Ela mordeu os lábios e começou a me
acompanhar com seu quadril. Tomei sua boca num beijo molhado, um beijo
que eu queria, notando seus olhos escuros ficarem mais brilhantes.
Então ela gozou e seu corpo disse o que eu já sabia.
Era algo muito mais que bom.
Segurei seu corpo delicado e delicioso que se chocou com o orgasmo,
orgulhando-me pelo prazer dela, que passava a ser meu.
A sensação de sentir meu pau escorregando pela boceta de Carolina
era prazeroso demais. Apenas me movi lentamente.
— Senhor Maldini, mais! — ela pediu, sussurrando.
A encarei enquanto suas mãos passavam por meus braços. Encarei toda
a mulher que estava em baixo do meu corpo. Seus braços esguios, pescoço e
ombro com uma tonalidade e formatos perfeitos.
Ali eu senti um potencial. Carolina gostava de sexo.
Eu era um malvado por querer que ela sentisse prazer novamente?
Gozar no meu pau parecia bom. Seu controle era algo que estava me fazendo
querer roubá-la para mim.
Ela se abriu mais, senti sua mão passando por minhas costas e
agarrando minha bunda. Quis rir daquilo, mas eu sabia que sua intenção era
me colar ainda mais nela. Eu estava reprimindo meu orgasmo para explodir
em poucos minutos fortemente.
— Sabe qual a vantagem de entrar em você lentamente, Carolina Lelis?
— Levei minha boca até a sua, chupei sua língua e soltei a perna dela. — Eu
posso te sentir mais, e eu adoro saber que uma mulher gosta do meu pau.
— Senhor... — Sua voz veio rouca e deliciosa.
Garotinha boba, bobinha.
Apertada demais, quente, molhada, a bocetinha parecia sugar meu
pau. Ela gemeu, mas não vou comparar a alguma música, todo gemido é algo
único. Ela mordeu meu pescoço e por um segundo senti sua respiração mais
forte. Lambeu meu pescoço e suas unhas se afundam nas minhas costas. Sua
boceta começou a se comprimir novamente. Eu pressenti seu gozo emergir,
mas, de novo?
Ela era boa.
Eu era mais.
E eu era apenas uma arma que a ajudava a ser melhor ainda. Havia
acabado de ter seu primeiro orgasmo comigo e eu me segurava, deixando
meu pau fazer se movimentar levemente. Porra! Ela gozava pela segunda vez
no meu pau. Quem diria que o orgasmo dela seria a coroação disso tudo?! Eu
tinha orgulho de mim e do meu pau também. Carolina passou a ter
respirações mais profundas e a gemer, seu corpo ondulando. Eu não durei
muito, meu gozo veio logo, totalmente entregue e impetuoso, descontrolado.
Não perdi nada enquanto ela esteve gozando. A deixei se mover livremente,
vi seu corpo convulsionar, arquejar. Sua boceta apertou meu pau com os
espasmos. Quando a beijei eu senti. Senti que que ela ficou quietinha
embaixo de mim, sua vulva ainda apertando meu pau. Delicioso.
O perfume dela penetrou minhas narinas. Okay que era algo sexual.
Mas era gostoso assim. Apoiei-me e olhei para ela, ainda parada. Quando
notou que eu a encarava, me olhou fixamente.
— Você gozou bem gostoso — falei e suspirei profundamente. Meu
corpo estava explodindo, tinha muitos sinais. — Você é uma delícia.
— Você também — ela disse de volta e balançou a cabeça, sorrindo em
seguida. — Você foi uma calcinha atolada no cú, Lorenzo Maldini!
Oi?
Carolina Lelis dizia o que pensava.
Ela deu uma gargalhada e sorri maliciosamente.
— A cerquei, Carolina — revelei, ouvindo-a suspirar e aceitar a
derrota. — Você terminou bem o trabalho.
— Acabou?
— O que exatamente é acabar para você, querida?
Ela apenas deu uma olhada pra baixo. Okay, ainda estava dentro dela!
— Você me dá medo, senhor Maldini.
— É para sentir medo mesmo — falei e lentamente saí de dentro dela.
— Você está muito ferrada na minha mão.
— É sobre sexo, certo? — Ela estava me deixando intrigado. Afastei-
me um pouco dela e a vi subindo a calcinha branca e o shorts. Dei um sorriso.
— Terminamos como chave de ouro. Uau!
— Quem disse que terminei, Carolina?
— Você não presta!
— Onde me livro disso? — perguntei, referindo-me a camisinha,
enquanto a tirava do meu pau e o voltava para dentro das calças.
— Embaixo... tem um lixo...
Ela estava com vergonha. Que linda, não?!
Ela acendeu a luz da cozinha, que era um pouco ligada à sala. Tudo
organizado, em cores claras. Percebi uma janela, visualizei o lixo e logo me
livrei da camisinha.
Precisava de um banho. O cheio de sexo com certeza estava em mim, e
se não tomasse um banho, não pararia de pensar nisso.
Encontrei Carolina fechando o shorts e percebi o quanto as coxas dela
ficavam lindas e chamativas nele.
Me aproximei e sentei no sofá, então a olhei enquanto abria um
sorriso.
Precisava de ar.
— Agora você pode me oferecer algo, depois continuamos — eu disse,
calmo. Ela me encarou e sorriu. — O que tem a me oferecer?
— Bem, eu... eu... um suco?
— Tudo bem, um suco.
Com isso ela saiu e me deixou ali. Passei a mão sobre meu pau e vi que
ainda estava duro, o que não era um problema. Eu a tiraria dali e levaria para
um lugar do meu gosto e lazer.
Comecei a observar tudo que tinha naquela sala, passando o olho pela
mesa de centro, em seguida o rack bem arrumado, com livros, TV, fotos,
objetos sem importância. Logo vi o quadril, as pernas... ergui meu olhar e
deparei-me com o dela.
— Obrigado — agradeci e peguei o suco, saboreando o gosto do
morango que foi um alívio para minha boca seca. Estava adorando ter o olhar
de Carolina em mim. — Onde está sua irmã?
— Saiu.
— Carolina, lhe convindo a terminar a noite comigo — falei
calmamente, comendo-a mais uma vez com os olhos. — Só que na minha
cama.
— Desculpa, mas não vou aceitar.
— Por quê?
Ela não podia fazer isso. Fiquei um pouco irritado.
Qual era a dela? O que havíamos acabado de compartilhar não era o
bastante? Teria que ficar com outra, que não era ela?
— Porque não.
— Você está brincando comigo?
— Não, cara. Foi sexo, não disse que teria uma “segunda parte” — ela
esclareceu, firme.
Nervoso, larguei o copo no primeiro lugar que encontrei e me levantei,
sentindo como se tivesse sido usado como objeto de prazer pela linda moça.
— Você foi legal, tem pegada, mas não vou a lugar nenhum com você
— Carolina continuou. — Foi um prazer tudo isso, mas é só.
Rá! Prazer o caralho!
Eu não havia acabado, eu ainda a queria. Ela não via o óbvio? Deixei
uma loira gostosa para ir até ali. Carolina teve minha atenção, então eu queria
a dela.
Isso não era justo.
— Olha, eu estava no meio de uma foda incrível, mas aí lembrei de
você, linda, Carolina, e vim até aqui fazer o que nós dois tanto queríamos.
Isso foi muito rude?
Acredito que sim.
— Então veio terminar o que começou? — ela indagou e fez uma
pausa. — O que outra não conseguiu fazer? Acho melhor dizer para seu
amigo que ele não é o dono do mundo, Lorenzo!
Abri minha calça — sim, eu fiz isso — e olhei brevemente para os
olhos dela. Eu estava duro, meu pau pulsante. Tirei o pau para fora e sorri.
— Escutou a moça, amigo? Ela disse que você não é o dono do mundo.
— O acariciei lentamente. — Então, não liga para o que ela disse. Você vai
ficar bem.
Coloquei novamente o meu pênis dentro da calça, a encarei novamente
e vi sua boca entreaberta.
Ela devia se sentir bem. Não era todo dia que eu rejeitava uma mulher
por outra. Mas eu disse de uma maneira nada agradável de se dizer.
Você é um miserável, Lorenzo. Agora aguente o que sua boca grande
faz.
Foi um simples erro. Um deslize da língua. Nada mais. Acontece que
ela não gostou.
Seja arrogante de maneira certa, merda!
— Você é meio retardado.
— Carolina, esqueça o que eu disse.
— Vai embora, seu cretino! — ela exigiu, caminhou até a porta e a
abriu. Ficando mais gostosa enquanto irritada. — Você, como “dono do
sexo”, devia saber de uma regra sobre sexo casual: nada de falar sobre a vida,
ainda mais com quem se trepa.
— O quê?
— Lorenzo, você gostaria de saber onde sua comida passou até chegar
a você?
— Isso não importa.
— Exatamente.
— Carolina...
— Saia!
— Eu não vou passar por aquela porta. A menos que seja para fechar a
porta e tomá-la contra ela.
De novo!
Eu era um maluco.
— Fora!
— Eu não estou ligando — rebati. — Vai ter que vir me tirar à força.
Eu não tenho vergonha de fazer esse papel, querida!
Finalizei e dei uma gargalhada.
— Então, vem, quero ver se é homem.
Fui dando passos lentos, querendo entrar na mente dela. Queria entrar
nela! Cheguei bem perto, gostando muito daquele jogo. Ela se virou um
pouco e ficou diante de mim. Com um sorriso, colocou a mão no meu peito e
foi subindo. Só senti a mulher colocando força no braço e me empurrando.
Fui enganado.
— Ei! — protestei e tentei segurar o braço dela, mas só tive tempo de
ver a porta se fechando. Boom! Na minha cara. Ainda consegui escutar uma
risada. — Isso foi maldade. Abra!
Ninguém batia a porta na minha cara.
— Não! — negou Carolina, brava. Nossa!
— Estávamos nos dando superbem até agora há pouco.
— Você é um pau ambulante, isso vai me causar problemas.
— Eu só quero ser feliz com meu pau. É pedir demais, Carolina?
— Se vira, amigo. Não quero saber do seu amigo cavalo!
Porra de mulher teimosa. Gostei dessa garota.
— Vai dizer que não me quer aí dentro? — questionei, irritado.
Eu não era homem de desistir fácil. Estava pior que criança em
supermercado, eu sei, mas queria que se fodesse.
Se eu desejava algo, eu lutava por isso!
— Você é um tarado.
— Quem teve dois orgasmos agora há pouco? Quem, Carolina Lelis?
— perguntei, vitorioso.
— Se eu quiser vou ter mais, não preciso de você ou de nenhum
homem. Tenho mãos, querido. Agora vá embora.
— Você é implicante, gosto disso.
— Siga as regras.
— Lorenzo Maldini cria as regras, ele não as segue — argumentei e me
afastei da porta, dando-me por vencido.
Por ora.
— Vamos nos cruzar muito ainda, tenha isso em mente — comuniquei.
— Muito obrigado pelo alívio, Caroline Lelis. Você foi incrivelmente
gostosa, sua vagina me deixou louco. — Dei um sorriso e disse algo
profundo. — Pense em mim quando se tocar.
— Espero que seu pau não suba.
Ela gritou, escutei sua voz baixa e logo uma risada.
— Impossível! Mas se ele fizer isso por praga sua, eu vou te dizer, sem
vergonha alguma. — Minha vontade era de entrar e segurá-la pelo quadril.
Era tão fácil eu ficar duro... Eu era viril demais. — Passar bem. Nos vemos
por aí, Carolina.
O silêncio foi o que recebi. Não liguei, dei meu melhor sorriso e
caminhei para as escadas. Noite, doce noite...
Uma cueca de maracujá cairia bem.
Suspeitei que havia entrado em outra fria.
O medo era grande, afinal, não era fácil entrar na sala dela. A mulher
podia ser um docinho, mas tive receio do possível motivo para ter sido
chamada por dona Patrícia. Ela não esteve prensada em uma parede. Ela não
tinha um motivo para ser mandada embora.
Eu tinha.
Tinha minhas contas mensais, essas eu tinha mesmo. Não tinha jeito.
— A senhora pode me adiantar o assunto? — perguntei assim que me
sentei na cadeira à frente dela. Ela se levantou e deu um sorriso.
Sem dizer uma palavra, pressenti que estava em apuros, porque logo
veio aquele velho formigamento atrás do pescoço.
— Não sou eu que quero conversar com você, querida. Vou deixar
vocês a sós. Com licença, senhor.
Só quando ela terminou de falar eu percebi que havia alguém atrás de
mim.
—Vocês? — ainda perguntei antes de direcionar meu olhar para onde
ela olhava.
Ali parado, com uma pasta nas mãos, estava ele... Oh, meu Deus!
Olhei incrédula para ele, o observando enquanto aguardava a saída de
Patrícia. Ele deu a volta na mesa e sorriu, sentou-se e me encarou.
Não podia perder o emprego. O que tivermos tinha acontecido a
quilômetros dali. Então, no trabalho, isso não importava. Não importava que
ele tivesse me feito ter dois orgasmos fodidamente maravilhosos, nem o
nosso pequeno desentendimento. Ele era um babaca, e eu meio que também
era.
Eu era uma desprovida de vergonha, mas não podia perder o emprego.
Sexo! Palavra infeliz!
Oh, Deus!
— O senhor... o senhor precisa de algo?
— Hmmm... — ele murmurou, fazendo-me sentir um calafrio percorrer
toda a minha coluna. — Bem, quero fazer muita coisa com você, mas agora
pretendo apenas fazer uma proposta...
— Você é insistente! — retruquei. — Eu vim trabalhar, não me
atrapalhe, por favor.
— Não vou. Quero te fazer uma proposta de emprego. Sei que você
tem um secretariado no currículo, mas não tem experiência. Veja.
Ele pegou a pasta e me entregou um papel. O encarei, sem acreditar
quando vi o formulário. Cada detalhe fez meus olhos se alegrarem. Era... era
maravilhoso! Mas tão maravilhoso que ficava difícil de aceitar. Era incrível,
mas senti a necessidade de colocar o papel de volta em cima da mesa.
— Você vai achar alguém para a vaga, o formulário está ótimo —
disse, olhando com firmeza para ele. — Mais alguma coisa, senhor?
— Não vai aceitar? — perguntou com aquela voz rouca. — Eu quero te
ajudar.
— Eu até aceitaria, se você não tivesse ficado até as bolas em mim. Se
a gente não tivesse transado como dois animais em uma parede. —
Analisando-o enquanto fazia meu discurso, deparei-me com a gravata em seu
pescoço e tive que molhar os lábios que prontamente se ressecaram. Homem
lindo! — Isso não vai dar certo. Não quando você é o louco por sexo que já
mostrou ser.
— É um emprego melhor que esse — ele argumentou.
— Aqui é um bom emprego, essa vaga de secretária também é, mas
entre aqui e essa vaga... — Dei um sorriso. — Aqui veio porque eu busquei,
não o contrário.
— Eu não disse que estava... Nossa! — Ele ficou sério e respirou
fundo. — Só quero abrir uma porta para você, Carolina.
— Você quer abrir duas portas: essa e a de um quarto. Me corrija se eu
estiver errada.
Cuspi as palavras.
Era uma ajuda e tanto essa vaga, mas... merda! Isso não daria certo.
Não queria nem detalhes, só queria sair daquela sala e voltar ao meu trabalho.
— Aceitando ou não, você ainda vai trabalhar para um Maldini, então,
ainda posso abrir uma porta. — Ele se levantou e fechou o terno, vi seus
músculos darem volume à peça.
A vontade que eu tinha era castrá-lo só pelo atrevimento.
Carolina Lelis se prestando a um papel estúpido. A que ponto chegou,
em plena segunda-feira. Eu devia parecer uma ridícula diante daquela
situação que ele estava criando para mim.
Ele era o dono daquilo.
Dono do “sexo”.
Poderia me trazer problemas e com ele não valia a pena discutir,
perder esse tempo, porque eu acabava perdendo. Lorenzo Maldini tinha que
saber que não existiria continuação, que ali eu devia respeito ao meu trabalho
e a quem estivesse nele. Isso incluía a ele, meu chefe, mesmo que tivéssemos
transado e eu tivesse visto seu delicioso brinquedo.
— Terminamos? Posso ir? — Fui calma com o pedido, mas por dentro
tremia, tinha receio de quais seriam seus próximos movimentos.
Ele foi imprevisível ao me levar até ali.
— Bem, pode ir — ele respondeu e eu me levantei, olhando para ele.
— Tem certeza que não vai aceitar? Você tem que buscar sempre novas
oportunidades.
— De maneira certa e limpa.
— O sexo não foi sujo e minha proposta está vindo do profissional que
sou, só isso — Lorenzo justificou, seu olhar me alisando profundamente. Ele
ficava ainda mais bonito com o cabelo bem arrumado. Seu olhar era
malicioso, isso me deixou em alerta. Afastei-me o quanto pude. — Eu tenho
muitos negócios e, ajudar alguém que conheço é algo fácil de fazer, sem
segundas intenções.
— Em nenhum momento pensou em se aproveitar da ideia, pedir algo
em troca?
— Sim, mas antes de tudo eu pensei que você ficaria grata e quisesse
me agradecer, sem eu pedir.
A imaginação dele era um pouco perturbadora.
Chegava a dar pena, não é?
Quase fiquei com pena dele. Quase!
— Bem, então está tudo certo. Volto para o meu trabalho e pronto!
Ninguém viu, ninguém veria nada!
Poderia dar certo, se Lorenzo Maldini não fosse um cachorro. Lorenzo
era o tipo de homem que, por mais que levasse um fora, não conseguia
resistir, ele vinha devagar, ganhando espaço.
Ele deu dois passos em minha direção, mas me afastei dando mais um
para trás.
De novo não... por favor!
— Vou voltar ao meu trabalho, com licença.
Eu estava perdendo a calma com aquele homem. Virei para andar até a
porta, antes que caísse em tentação, mas ele agarrou meu braço.
— Eu não disse que podia virar as costas para mim.
— Não quer que eu fique de joelhos, quer?
Falei da boca para fora. Minha boca já estava seca.
Ele não tinha um pingo de limite e agia como se nada estivesse fora do
seu alcance. Eu não tinha medo dele, somente uma curiosidade infinita, e eu
tinha mais medo da minha curiosidade do que de Lorenzo. Como se minha
curiosidade quisesse saber o que ele faria comigo, como seu pau agiria
comigo.
Minha curiosidade “feminina” não possuía fundo, não havia chão para
parar. Minhas transas já tinham sido movidas pela curiosidade. Qual era o
tamanho, se tinha uma pegada legal... Toda mulher quando vai foder, tem
interesse em saber esse tipo de coisa, e comigo não era diferente.
Lorenzo queria arrematar meu corpo, isso era fato. Mas como seria
isso?
Mera curiosidade, viu?!
Ele se aproximou e me virou para ficar frente a frente comigo. Ele não
estava com seu vocabulário sujo, isso era bom para mim.
O homem me encarou com seu olhar quente e eu não podia pensar
muito.
— Desculpe, senhor, se estou sendo rude. Eu...
— Isso não foi rude, querida. Isso seria rude...
Antes que eu pudesse impedi-lo, seus lábios estavam nos meus.
Meu sangue realmente começou a bombear freneticamente. Sua língua
queria contato direto com a minha, queria chamá-la para brincar. Antes de
liberar a minha boca, ele pegou meu lábio inferior entre os dentes e puxou.
Foi bom, duro. Com os seus lábios vibrando contra a minha boca, ele deu um
sorriso.
Queria bater nele, mas agarrei seu rosto entre meus dedos e aproximei
sua boca da minha.
Eu não iria bagunçar o cabelo dele, isso não. Apenas beijei seus lábios
e logo senti uma mão na minha cintura. Chupei a boca de Lorenzo e em
seguida mordi seu lábio inferior carnudo.
— Quer brincar de morder, Carolina? — A boca dele era gostosamente
pecaminosa. Minha cabeça vagava no que ele poderia fazer com essa língua
em outros lugares no meu corpo, e isso me manteve em um estado de
excitação que beirava à loucura. — Ahh! Eu sabia que você queria isso —
falou entre os beijos. — Quero te ver completamente nua e você vai estar na
minha cama. Vou te apresentar meus hábitos.
Eu precisava de ar e de um orgasmo.
O pior é que eu queria aquilo, mesmo sabendo que era errado, pois ele
não passava de um safado metido a gostosão.
Da porta até a mesa, ele me empurrou, deitando-me delicadamente em
cima dela. Aquele uniforme iria facilitar, mas eu o deixaria fazer o que bem
entendesse?
Nesse momento eu estava completamente a sua mercê.
— Silêncio. Segure seus gemidos!
Ele me prendeu com seu corpo e logo senti sua mão em minha coxa.
Ele abriu minhas coxas, abriu e colou-se ainda mais em mim, em
seguida sua mão grande foi subindo até encontrar a barreira. Nem a cor da
minha própria calcinha eu lembrava.
De fato, estava molhada, e ele iria saber disso. Que maneira louca de
descobrir algo assim. Eu vejo que um homem me quer se estiver duro, e vejo
se eu o quero se eu estiver molhada. Ou seja... Exatamente!
Era uma química legal.
Ele foi descendo sua boca, subindo o uniforme, então logo o rosto
estava entre minhas pernas.
Eu não estava com estabilidade alguma.
Poderia até mesmo cair daquela mesa.
Mas ele não ligava, ele fazia tudo em silêncio. Senti a ponta de seus
dedos me tocando, tocando minha vagina. Quase oito da manhã e eu estava
ali, com o dono daquilo tudo quase me chupando.
Ele não era homem de cerimônia, então logo senti dois beijos, um em
cada coxa minha, para então ter a boceta abocanhada com força. Tremi e tive
um espasmo forte.
Ele lambia e chupava com gula meu clitóris. Foi mais rápido que a
luz. A língua dele tinha a parte quente, a parte áspera que fazia eu querer
esfregar-me nele. O calor úmido de sua boca explodiu em torno de mim,
meus quadris queriam se mexer e ele levou as mãos até eles.
Ele iria me segurar. Oh, meu pai!
Minha nossa senhora das mulheres necessitadas, que boca era
aquela?! Fez cursinho SOS?
Eu não estava bem.
Levantei meu quadril para encontrar com a boca dele, querendo-o
todo.
Eu estava sendo exigente.
Ele não precisava de mais nada. Eu havia gozado e quase tive uma
queda, não só da mesa, como de pressão. Gozei tapando a minha boca com as
mãos para que ninguém pudesse ouvir aquela pouca vergonha.
Longe dali eu teria gritado. Puxado o cabelo dele. Iria fazê-lo sentir
também.
De repente eu não podia esperar mais para tocá-lo.
Ele havia começado o fogo!
Levei minha mão até o cabelo dele, senti sua língua sugar e gemi.
Após isso ele se ergueu, ficando entre minhas pernas, seus lábios úmidos.
Lindo.
A primeira coisa que ele fez foi pôr a mão no cinto que segurava sua
calça e olhar para mim.
Sempre fiz ótimos investimentos em mulheres. E, no fim, costumava
ter minha coroação. Eu juro que antes de atacar e ir para cima dela eu fiz
minha boa ação, ou tentei. Mas ela não aceitou. Frustrante, não?!
Carolina era o tipo de mulher que fazia um homem virar seu escravo e
eu poderia até fazer uma música para ela.
Não, ela não merecia. Carolina Lelis é quem deveria cantar uma
música para mim, só para mim. Até podia escutá-la...
Quem vai querer a minha piriquita, a minha piriquita, a minha
piriquita?
Lorenzo Maldini, Lorenzo Maldini!
Eu não fiz isso, meu Deus! Ah, merda! Que imaginação! Se superando
em seus casos, Lorenzo, resmunguei internamente e olhei para o corpo dela
em cima da mesa, desejando rasgar sua roupa.
Não posso.
Não devo.
Não vou.
Eu refletia, me sentindo um insolente de merda. Atrevido, malcriado,
desaforado.
Eu merecia, ela merecia. Nós merecíamos! Passei a saber o porquê de
as lojas de SexShop venderem fantasiosas como o uniforme das camareiras.
Isso mexe tanto com um homem que ele passa a não saber nem o próprio
nome.
Estava com uma tara maligna naquele pedaço de pano, mas ela negou
minha proposta, mesmo eu realmente querendo que ela aceitasse.
Depois de ela ter me mandado embora pelo meu pequeno deslize de
língua, juro que tentei esquecer e seguir com meu pau erguido, sem pensar
naquele momento delicioso. Mas eu a desejava e meu pau só pensava nela.
Tive que usar meus recursos, primeiro a mão, depois outra mulher, agora
isso.
Saibam que não me orgulho disso. Eu sabia que ela tinha uma película
que a protegia de mim e isso era bom... para ela.
Mas ela tinha a sua parte não protegida e eu adorava essa. Ela me
desejava, eu ia à loucura.
Ela queria, e compartilhar isso comigo era o melhor a ser feito. Assim
ela não me faria de gato e sapato só porque tinha uma boceta entre as pernas.
— Lorenzo... Senhor... — ela me chamou de “senhor” e eu tinha que
dizer para ela parar com a porra da formalidade. — Você...
— Vou fazer você minha aqui! Relaxa, ninguém vai escutar seus
gemidos.
Abri o botão da calça e o zíper, aliviando um pouco a pressão. Queria
colocar a camisinha e entrar nela de uma vez.
Levei minha mão até os botões do uniforme, quando cheguei ao
último dei um sorriso. Enlouqueci ao ver sua pele, seus seios por baixo do
sutiã, sua calcinha preta... Levei minha mão à barriga dela e a acariciei,
lentamente meus dedos foram até seus seios e os tirei daquela prisão
tenebrosa. Fiz minha massagem, devagar, enchendo minhas mãos.
Perfeito.
Eu tinha que controlar minha respiração, morrer ali não seria legal.
Toquei bem próximo à intimidade de Carolina, deslizei sua calcinha e
logo a guardei comigo. Ela andaria sem aquela, mas eu esperava que tivesse
outra. Não era bom andar por aí sem calcinha.
Não mesmo.
Okay, ela não podia andar sem calcinha, mas eu queria a peça bonita
que me faria sentir como se a tivesse comigo.
Baixei minha calça e logo tirei meu pênis para fora. Eu tinha
paciência... Tirei minha carteira e, antes de jogá-la na mesa, peguei uma
camisa.
Então, com rapidez, muita rapidez, eu estava totalmente pronto. Agora
era só segurar os gemidos. Segurar seu corpo para não cair. Deixar minha
gata gozar e logo fazê-la aceitar meu mais novo convite. Um jantar, uma
noite, minha cama sendo dela!
Abri suas pernas e coloquei meu pau em sua entrada. Em seguida,
olhei para o rosto dela e vi que sorria de canto, como se eu fosse um
retardado.
Talvez fosse. Mas, de qualquer jeito, eu iria tê-la. Só minha, do meu
jeito. Ela devia achar que havia planejei isso, porém, a verdade é que, não,
não planejei nada. Nunca planejava quando iria gozar. Se queria gozar,
apenas gozava! E eu estava querendo isso.
Abaixei o quadril com força e meu pau deslizou como um soco dentro
dela. Ela anuiu e soltou um gemido fraco.
Eu foderia a boceta dela do mesmo jeito com que ela fodia com minha
cabeça. Perder-me às vezes era ótimo, me perder ali naquele corpo quente e
convidativo demais... era perfeito
Finalmente o corpo dela me convidava.
Passei a me movimentar, mãos nos seus seios e meu pau indo e
voltando rápido. Ela gemia, colocava a mão nos lábios, mordia.
Profundamente.
Carolina cruzou as pernas no meu quadril, nos unindo de vez. Seus
olhos me diziam que estava tão afetada quanto eu. Carolina rebolava, louca e
descontrolada.
Fechei meus olhos e me movimentei ainda mais rápido. Não queria
olhar para ninguém, nem para ela. Só movi meu membro dentro dela, numa
pressão perfeita. Se ela me apertasse, saberia o que fazer. Sua vulva estava
sendo invadida pelo meu pau, e ela, como boa e deliciosa garota, estava
permitindo... gostando!
Carolina era minha e, se ela achava que depois que eu gozasse e a
fizesse gozar teríamos terminado, ela estava muito enganada.
Meu pau estava muito descontrolado dentro dela. Com muito gosto eu
queria me mostrar para a minha garota. E ela teria que me ver, me escutar,
fazer o que eu quisesse.
— Lorenzo!
Abri meus olhos e vi seu rosto corado.
— Toma cada centímetro do meu pau!
— Lorenzo... meu Deus! — choramingou quando dei outro golpe bem
mais duro. — Sim... — ela gemeu, gozando em volta do meu pau.
Puxei seu quadril ainda mais contra o meu e senti que meu alívio
estava a uma estocada mais perto.
Carolina era sensível ao toque. Tudo nela era como “terras não-
mapeadas”.
— Caralho! — exclamei e estoquei mais duas vezes antes de me
derramar dentro da camisinha. — Adoro você, garota! Adoro sua boceta!
Adoro seus seios! Adoro o caralho do seu corpo!
A mesa era própria para mim e para ela.
Continuei dentro dela, sentindo-me aliviado. Profundamente aliviado.
A garota tentou se mover e a olhei, balançando a cabeça.
Não mandei a descer.
— Continue parada! — eu disse, firme, fazendo dois movimentos de
vai e vem, lentamente, sentindo sua entrada apertada. — Você é gostosa,
gostosa e gostosa! Gosta disso? O que está sentindo?
— Dolorida. Eu... posso levantar?
Ela podia? Sério? Não, ela não podia. Ela até parecia inocente falando
assim, por isso resolvi sair de dentro dela lentamente.
— Você pode se levantar, sim — respondi em tom malicioso.
Virei e me livrei da camisinha, ansiando por um banho refrescante.
Olhei para ela e a vi se sentar, começando a se vestir. Primeiro cobriu os
seios, colocando meus preciosos de volta, logo deu um pulo da mesa e fechou
o uniforme. A calcinha era minha a partir dali.
Devolveria? Não.
Não mesmo.
— Você viu... — ela iniciou a pergunta, mas fez uma pausa quando dei
um sorriso e tirei a lingerie do bolso. — O que...
— Minha!
— Você acha que vou sair por aí sem calcinha? Meu Deus! Isso não,
Lorenzo!
— Eu até te devolveria, mas é sua, estava em você. Não posso perder
essa oportunidade de ouro. — Coloquei novamente a calcinha no bolso e
fechei minha calça. Tinha que sair daquela sala sem vestígios de Carolina. —
Fica sem, querida.
— Se eu deixar você ficar com ela, vai me dar sua cueca? — perguntou
ela quando desprendeu o cabelo, logo juntado todos os fios pretos e
prendendo-os novamente. Por fim passou a mão no rosto e alisou o uniforme
no corpo.
Era o inferno.
Ela era natural.
Ela queria a calcinha.
Ou a cueca.
— Eu estou trabalhando.
— Vai te ajudar a deixar suas pernas fechadas.
— O quê? Você é louco! Olha, é sério, eu preciso dela.
— Eu também.
— Pegue de outra, Lorenzo.
— A sua, Carolina. Quero a sua! — declarei e olhei para o relógio. —
Vou viajar hoje, daqui uns cinco dias eu volto. Você vai buscá-la. Na minha
cama.
— Esquece, tenho outras!
Tão bonitinha!
Aproximei-me e segurei sua mandíbula, sorri e beijei o canto da boca
dela.
— Ou é aqui ou lá, você escolhe. — Eu beijei o canto da boca de
Carolina, olhei em seus olhos e analisei o que eu precisaria usar. — A
proposta que te mostrei também está de pé.
— Macho reprimido... Já terminou? Eu posso ir?
— Carolina, eu vou deixar você ir, mas sem calcinha. Você vai saber
quando eu voltar de viagem. — Me afastei dela e sorri. — Agora pode ir.
— Não vai mesmo me devolver?
— Não, Carolina, é minha. Vou deixar debaixo do meu travesseiro. Só
tirarei quando você for para a cama comigo.
— E se eu não for, Lorenzo? Acha que ligo para ela?
— É sua calcinha, mas, se quer me desafiar... — Pisquei para ela e
mordi o lábio. — Eu a trago no nosso próximo encontro. Você ainda vai
jantar comigo, me fazer companhia e ser muito cobiçada por mim.
— Senhor Lorenzo, você é doente.
— Tenho ideia disso. Mas se quero, eu tenho. Volto em breve para
você.
— Vai para o inferno!
Consegui irritá-la ainda mais. Isso era ótimo.
— Já imaginou, eu com outra e sua calcinha me fazendo companhia?
— Você não faria isso. — Ela me olhou de cima abaixo. — Você faria,
sim, não é?!
— Não duvide do que eu falo. Sua calcinha vai ficar bem — prometi.
— Agora, venha aqui, quero me despedir dessa boca deliciosa que você tem.
Olha que ainda você nem me chupou...
— Seu pervertido!
— A puritana falando...
— Eu... passar bem!
Eu tinha que deixa-la ir, por isso me aproximei da porta e a abri. Olhei
para ela e segurei seu braço com firmeza.
— Você vai ser uma boa menina. Quando voltar, eu te quero.
Entendeu? — Ela respirou fundo e não respondeu, aquilo me deixou irritado.
— Entendeu?
— Entendi. Eu entendi, Lorenzo Maldini.
Ela puxou o braço e me deu as costa. Então, lentamente, caminhou para
longe de mim. Longe do meu olhar, do meu corpo, do meu pau.
Eu não gostei disso.
Charlie Chaplin: não desistiu!
Elvis Presley: não desistiu!
Oprah Winfrey: não desistiu!
Steve Jobs: não desistiu!
Lorenzo Maldini: não desistiu!
Tinha que ser positivo depois de toda a merda que havia feito. Ah, eu
era um amorzinho de rapaz, mas tinha meus lados negativos em relação a ela.
Fiquei igual a um palhaço. Sem prazer. Sem Carolina.
Mesmo assim, não desisti!
Ainda que ela tivesse me dado as costas mais uma vez, deixando-me
lamentavelmente mal, fiquei com a calcinha.
Acontece que não a tinha dentro, então, o que valia?
Tudo que eu tinha era um pedaço de pano, o qual fiquei olhando
quando cheguei de viagem. Era como uma revista pornô ou um filme.
Estimulava meus pensamentos e me incentivou a ir até lá.
Carolina tinha algo comigo, algo que estava bem guardado, e eu não
desistiria. Eu a queria.
Respeitaria a decisão dela, mas, enquanto tivesse oportunidades,
chances, eu tentaria. Faria de tudo, mesmo que fosse 1% de chance.
Se quero, eu tenho! Não é assim?
Olhei para fora da janela e cogitei a possibilidade de ela estar sozinha.
No dia anterior eu a havia deixado ir, não a rodeei, não me aproximei. Eram
muitos os riscos e eu não queria ser maltratado por ela. Estava sendo
trabalhoso, mas eu tinha uma empolgação por ela, o que era fodidamente
perturbador.
Desci do carro e suspirei.
Eu voltei!
Você não manda em mim!
Mando sim, você vai ver.
Era frustrante ter que responder meus próprios pensamentos.
Subi as escadas e passei pelo primeiro estágio. Quando estava em
frente à porta do apartamento dela, fiquei completamente imóvel.
De novo aqui, Lorenzo?
Eu era cabeça dura!
Dura, mesmo!
Dei duas batidas, em seguida mais algumas, até que ouvi a porta sendo
destrancada por dentro e me repreendi por não ter levado nada para ela.
Talvez um chocolate, que é algo que mulher costuma gostar.
Deveria ter feito isso. Tinha poucas chances, qualquer agrado ajudaria.
Se bem que havia a cueca branca, podia tirar e começar a balançá-la.
Em sinal de ar para meu pau e rendição a ela.
Isso não iria ajudar. Ficar pelado fugia dos planos. O que eu queria era
que ficássemos pelados juntos!
Olhei ansioso para a porta, mas meu rosto se entristeceu com o que viu.
Não era ela. Era outra, de cabelos pretos e um rosto calmo, boca pequena,
bochechas com um tom avermelhado.
— Camila? — perguntei, surpreendendo-me com os genes daquela
família de mulheres bonitas.
— Sim, sou eu. Quem é você? — Ela me olhou com uma expressão de
espanto.
Essa era Camila Lelis e imediatamente me preocupei com o que dizer.
— Meu nome é Lorenzo. Sua irmã está? — me apresentei, reparando
que ela tinha um olhar muito bom. Os olhos eram os mesmos da irmã, os
quais eu já parecia conhecer bem.
— Não, ela saiu há pouco. Foi para uma festa...
— Festa? Que festa?
Carolina havia me trocado? Não, não aceitava isso.
— Se não se importa em responder... — Ela olhou para mim e suspirou.
— O que você é dela?
O que eu era? Nada! Eu não era nada. Mas ela não podia estar com
outro. O outro seria eu. Eu queria isso. Carolina sabia como deixar um
homem na mão. Literalmente. E eu precisava dela para não ficar na “mão”.
Como faria isso? Ela não podia ficar com a bunda em casa? Tinha que
sair? Festa...
Eu faria uma festa para ela! Bastaria que aceitasse e eu estaria nela.
— Posso entrar? — indaguei, encarando Camila.
Teria que ser esperto ou não conseguiria reverter o jogo a meu favor.
Eu era carismático, estava arrumado, tinha um rosto bonito, mas a garota não
me conhecia.
— Não lhe conheço, não posso deixar você entrar — ela disse,
exatamente como eu havia previsto. — Quem é você, exatamente?
Ela quis saber mais uma vez, desconfiada e com toda razão de estar.
Use sua lábia. Use seu poder de negociação. Você faz isso todos os
dias. Não é tão difícil, minha mente incentivava.
Tinha que usar meu poder de persuasão. Eu comprava empresas de
porte mundial, fazia algo pequeno se tornar grande, e aquela menina não
chegava nem perto de ser como os abutres com quem eu trabalhava. Tinha
que saber o que dizer, mas eu tinha que deixá-la ciente do que eu precisava.
— Sua irmã nem liga para mim. — Comecei pelo caminho mais curto.
— Eu... eu estou gostando dela, mas ela não me quer. Acho que tenho algum
problema e só queria uma chance.
Eu estava agindo de maneira que parecia ser um inútil, mas faria isso
por ela, no final ficaria orgulhoso se desse certo.
Não machucaria ninguém e isso era bom. Não iria me deixar com um
peso na consciência.
— É sério isso?
— Sim — confirmei. Ela só tinha que acreditar. Só isso. — Eu quero
falar com ela.
— Cara, eu só tenho problema na perna, não na cabeça.
— Eu não disse isso...
— Você trabalha com ela?
— Sim, nos conhecemos há duas semanas, assim que ela entrou. Eu a
ajudei quando ela ficou presa no banheiro. — Isso era verdade e fiquei
satisfeito quando vi a menina dar um sorriso. Confiança... Okay! — Eu não
sei o que vou fazer para ela me notar.
— Vem, entra. — Ela abriu a porta e entrei, observando o quanto tudo
era organizado.
Pude ver melhor como era a Camila, que usava uma regata e calça
comprida, era mais baixa que Carolina e tinha os cabelos maiores, sem um
corpo de mulher, como era o caso de sua irmã. Os traços do rosto elas
compartilhavam e muito.
— Sente-se — ela pediu, fechando a porta em seguida.
Notei uma bengala na mão dela e me lembrei do que Jack falou sobre a
irmã de Carolina mancar de uma perna. Comecei a observar sutilmente e vi
que puxava a perna direita. Havia ali uma grande dificuldade para ela.
— Ela saiu faz muito tempo? — perguntei.
— Não. — Ela se sentou e me encarou. — Você é o cara que está
dando em cima dela?
O que essa garota sabia? Deveria me preocupar com isso?
Mulheres sempre falam demais. Entre elas saem de tudo.
— Foi você que esteve aqui no final de semana passado, no sábado? —
ela indagou novamente.
— Sim.
— Você é o maluco que estava gritando?
— Sua irmã tem um temperamento difícil. Pode me ajudar com ela?
Sensacional.
Magnífico.
Incrível.
Único.
Absoluto.
Perfeito.
— O que quer fazer com Carolina?
Surpreendi-me com a pergunta ampla.
— Conversar — respondi e completei em pensamento: fazê-la
conversar também.
— Entendo. Mas o que quer exatamente?
— Poderia me dar o endereço dessa festa?
— Você é algum maluco?
— Não! Eu só quero vê-la, quero dizer o que sinto.
— Está parecendo que o que mais quer é sexo. Sério que está
apaixonando por ela?
— O quê?!
Ela começou a rir da minha cara. O que essas mulheres tinham? Isso
me deixou irritado. A diversão dela era ver meu rebaixamento?
— Cara, me desculpe pela risada. Você não está mentindo, né?!
— Não. Sua irmã tem algum problema com relacionamentos?
A pergunta saiu e, imediatamente, minha consciência queria me
expulsar dali, tamanho o papelão que fazia.
— Não, nenhum. Ela só é muito ativa. Sabe como é, né?! Hoje é
sábado, creio que nem durma em casa.
— Como assim?! Ela tem que vir para casa.
— Ela chega tarde. Carolina não gosta que mandem nela.
Querida, eu sei disse. Sei disso há muito tempo, pensei.
— Ela me disse sobre você — comentei.
Seu puxa saco! Ela não vai cair nessa, minha mente lembrou.
— O que ela disse?
— Pouca coisa — falei e dei um sorriso. — Que vocês são sozinhas,
uma pela outra.
— Sim, somos. Mas, devo dizer, se você quer me adular para ganhar o
endereço... — Ela sorriu e logo ficou séria. Essas mulheres tinham gênios
muito complexos — você não vai conseguir.
— Por favor.
— Sem autorização dela, não. Ela não gosta disso. Se você chegar lá e
fizer confusão... Melhor não.
— Tudo bem. Não vai me dizer?
Olhei para ela e me forcei a ser educado.
— Não confio em você — afirmou Camila.
Carolina, você me paga, prometi internamente.
— Olha, eu trabalho com sua irmã, estou querendo conversar com ela
desde ontem. — Fiz uma pausa e olhei no fundo dos olhos dela. — Sua irmã
tem o temperamento muito difícil, mas eu quero apenas conversar.
Houve um silêncio mortífero enquanto a garota me analisava, em
seguida ela suspirou.
— Você...
Ela ia dizer, mas seu telefone tocou e ela o puxou do bolso, atendendo e
falando como se eu não estivesse ali.
Aquela situação patética não estava me deixando nada feliz. Eu queria
apenas uma noite com a Carolina em meus braços, mas estava mais frustrado
do que quando havia chegado ali.
Atentei-me ao que a guria dizia.
— Eu não sei... — Ela suspirou. — Eu quero ir, mas como vou
conseguir os ingressos? — Ela pegou uma agenda e anotou alguma coisa
nela. — O teatro vai ser algo calmo e...
Se sua lábia como negociador não dá certo, use seu poder extremo.
Diga as vantagens.
— Arrumo as entradas se você me passar o endereço de onde sua irmã
está — anunciei enquanto ela ainda estava na ligação. — Eu sou amigo,
prometo até trazê-la para casa.
Eu faria o que fosse, mas iria vê-la.
Ficaria com ela.
Ela não iria dormir na casa, talvez nem dormisse, mas estaria comigo.
A Camila apenas não precisava saber disso.
Eu cheguei ao endereço e o fim do mundo devia ser ali. Carolina teria
que me ressarcir por tudo que havia perdido. Como? Ela logo saberia. Entrei
no lugar e olhei para os lados. A irmã dela garantiu que era ali e pensei que
seria calmo, mas de calmo o lugar não tinha nada e mal dava para enxergar as
pessoas. Tudo que havia era um brilho forte e um som alto do caralho.
Lorenzo modo irritado estava ativado e nesse momento me subiu uma
enorme revolta. Sabia que precisava ficar calmo e inspirei profundamente,
buscando isso, mas a vontade era de bater o pé como uma criança de dois
anos.
Não! Não estava nada bem! Se ela estivesse com alguém, quebraria a
cara da pessoa e a levaria comigo, mesmo sabendo que era insano. Ela não
podia me trocar.
Poderíamos estar longe daquele lugar, apenas ela e eu. Poderia levá-la a
um lugar mil vezes melhor que aquela merda de boate, estar com ela em um
lugar calmo, com luz, vendo apenas ela.
No entanto... Porra!
Rodei sem parar por quinze minutos e estava quase bufando quando a
vi. Eu, certamente, estava como um ogro irritado. Dei alguns passos e vi o
momento exato em que um cara entregou um copo para ela. Parei e respirei
fundo.
Será que não ensinaram a ela que não se aceita copos de estranhos em
uma boate, em um lugar como aquele? Havia algo em torno dela que parecia
atrair os olhares dos homens. Devia ser as pernas, o rosto e os seios. Mas
talvez, pudesse ser o sorriso. Era fácil ver algo chamativo nela.
Aproximei-me por trás e vi um homem em torno dela, sorrindo,
quando o idiota me olhou, balancei a cabeça e sorri para ele. Parecia um
psicopata, mas isso não me afetou e eu sorri. Sorri de ironia, raiva, e queria
extravasar aquilo que estava sentindo. Cheguei perto, mas teria que ficar
frente a frente com ela. Toquei em sua cintura e fiquei sério. Ela se virou, no
mesmo momento vi a palidez se formar.
— Lorenzo? — Ela parecia surpresa.
— Não estava me esperando, não é?
— Você o conhece, linda? — o cara perguntou e eu olhei para ele.
— Obrigado por cuidar de algo que não era seu — falei, seco e bruto,
para o homem. — Ah, você não tem o direito de chamá-la de linda!
— Sabe quem eu sou? — o homem voltou a indagar e eu dei uma
gargalhada. — Seja mais educado!
— Eu tenho cara de que vou ser educado com você? Vai embora! —
Fiquei muito decepcionando quando ele se virou e foi embora. Não quis
brincar comigo? Olhei para Carolina e ela parecia confusa. Não tinha reação
no seu rosto. — Até que enfim te encontrei.
— O que você quer dessa vez?
Cuspiu as palavras na minha cara, mesmo antes de eu dizer algo em
minha defesa.
Mulher difícil!
— Quero você! — Fui descendo meus olhos pelo enorme decote do
vestido preto de mangas, então toquei em seu quadril, apertando-o de um
modo meio rude.
Apenas concorde comigo, Carolina.
— Me solta! Tira essas mãos de cima de mim. Não é como se você
tivesse passe livre em mim, babaca bonitão!
— Fala, fala mesmo. Vou tentar até o último minuto. Você não podia
ficar em casa, Carolina? Tinha que vir para esse lugar? Porra!
— Não, não podia. Meu Deus do céu!
— Me dá uma chance — pedi e aproximei minha boca da dela. —
Você está linda com essa roupa. Mais linda que tudo e isso é como o inferno!
— Como veio parar aqui? Por que está me dizendo isso? Tem certeza
de que vai fazer esse papel?
— Venha comigo.
Desejo despido, desinibido.
Ela não precisava de muito para me deixar com uma ereção, mas eu
tinha que me controlar, ou passaria por um maníaco.
— A última vez que estive com você, transamos na mesa de... Eu não
quero a calcinha, pode ficar para você.
— Vem comigo, Carolina — repeti o convite. — Não faremos nada
que você não queira, certo?! — prometi e comecei a beijar os lábios dela, que
não se entregou fácil. Seu beijo era tenso, relutante. Girei o corpo dela e
prendi ao meu. Ela era tão boa que não havia em mim vontade ou capacidade
de parar. — Agora você vem comigo?
— Eu não sei se concordo com isso.
— Por favor, não vou fazer mal a você.
Beijei seu pescoço, mordendo e chupando sua pele sensível, deixando
rastros vermelhos por causa da barba por fazer.
— Lorenzo... — ela sussurrou. — Você quer me usar.
Sexo era como uma forma de poder, e ela tinha que me dar esse poder.
— Não, não.
Ela segurou meu rosto entre suas mãos e esbravejou.
— Merda, Lorenzo. Não faça isso! Eu não quero lembrar dele.
— Dele? — perguntei, sem entender.
Seria perfeito se eu entendesse o que ela estava falando.
— Eu também não quero me lembrar dessa bocetinha deliciosa, mas eu
preciso lembrar e gosto de lembrar. Quer que eu implore? Fique de joelhos
aqui?
— Depois de ver o que vi... — Ela tentou se soltar. Que gata brava! —
Sei exatamente que espécie de homem você é. Não quero me envolver com
você. Uma vez, tudo bem, duas é aceitável, mas, você aqui?
— Não estou aqui para receber lição de moral, mas se quer me dar, me
diga, que tipo de homem eu sou, Carolina?
— Eu... eu... Patético, isso — ela disse sem alterar a voz, uma
expressão gelada no rosto. A observei por alguns instantes, segurando o riso.
Oh! Ela tinha uma língua afiada. — Seu cachorro!
— Sua cadela! — rosnei de volta.
— Vai embora, quero terminar minha noite...
— Se quer dar essa boceta, que seja para mim. — Não dei tempo para
ela cuspir mais ofensas, apenas peguei seu braço e, com firmeza, comecei a
arrastá-la por todo o caminho para fora daquele lugar. A luz, o barulho, tudo
ficando para trás. Pessoas abriram passagem e me olhavam espantadas. —
Ela vai VOMITAR!
Menti, tentando me lembrar das minhas nobres intenções. Provavelmente, eu
estava sendo o cara mais insensível do mundo.
Um ogro, e dos piores.
Mas tinha algo dentro de mim que queria sair, isso me deixava
afobado. Ela me deixava assim.
— Eu não vou...
— A gente já está chegando! Não VOMITA! — gritei e soltei uma
risada. Pessoas abriram passagem para nós, espantadas, outras rindo da cena
que ela fazia tentando se soltar, ficando rígida, firmando os pés. Assim que
senti o ar mais fresco, bateu o alívio e parei. Olhei para ela e vi seu rosto
feroz. — Chegamos. Meu carro...
Senti meu rosto arder com o tapa que ela desferiu em mim, uma fúria
subiu sobre meu corpo. Bufei e fechei os olhos. Carolina me olhou e se
afastou.
— Não adianta, Carolina, não mesmo. Agora você me paga!
— SAI! — Carolina gritou a plenos pulmões quando a joguei por cima
do ombro sem qualquer cerimônia, caminhando entre algumas pessoas.
Ela gritava fodidamente alto, como se eu a estivesse torturando.
Queria bater em sua bunda, castigá-la por ter a ousadia de bater na
minha cara. Mas não fiz isso.
— Me solta! — Ela me estapeava e puxava minha camisa. — EU NÃO
QUERO NADA COM VOCÊ! Você ficou com outra, cara, isso é sujo!
O meu carro estava no meio do nada, onde era mais escuro que a
noite, e aquilo me irritou. Não tinha um plano, mas assim que a coloquei no
chão, vi seu corpo pertinho do meu e aproveitei a oportunidade para acalmar
as coisas.
— Fica comigo agora, é o que eu peço. Não me mande ir embora,
Carolina!
Senti o coração acelerar, talvez fosse a adrenalina.
— Que merda você quer? — questionou, então dobrei-me e fiquei de
joelhos na frente dela. — Levanta daí, seu maluco! Ficou doido?
— Me dá outra chance? — eu sussurrei.
Amava esse tipo de emoção, por isso criei um plano automático.
Fodidamente perfeito e maligno.
Ela segurou meu braço e me puxou, eu fiquei novamente de pé, na
frente dela, olhando para seus olhos.
— Você um lunático! — Abriu a boca e eu a puxei, virando-a e a
fazendo se debruçar sobre o capô do meu carro. — Seu pervertido! Alguém
pode... Para!
— Não quer meu pau nessa boceta, minha delícia? Me diz! Isso me
excita para caralho, Carolina!
Fui rude nessa atitude? Um pouco. Mas ser rude em palavras era uma
característica minha.
— Eu preciso da sua permissão para isso — falei.
— O quê?
— Permissão. Não posso te forçar a algo que você não consente.
— Depois de tudo você me pergunta isso? Francamente!
— Sim. Quando dois querem, acontece.
— De onde foi que você saiu?
— Eu não saí, e sim caí do céu.
— O que você quer agora, Lorenzo?
— Você sabe e, se quiser, vai ser maravilhoso!
Ela ficou pensativa e eu a observava, ainda segurando-a contra mim,
mas então ela balançou a cabeça e eu sorri, seguindo pelo caminho que tanto
desejava.
Eu precisava senti-la.
Enfiei uma das minhas mãos por baixo do seu vestido e me aproximei,
até encontrar o que procurava, a intimidade dela.
Era um ótimo sinal ela estar molhada. Mostrava que queria aquilo
tanto quanto eu.
— Tudo bem, mas seja rápido.
Abri minha calça apenas o suficiente para o meu pau ser livre e
procurar a grutinha preciosa dela. Separei suas coxas e olhei para a toda a
situação. Como se não fôssemos o centro. Como se eu apenas fosse um
observador. Era a necessidade de tê-la que me fazia ser rude. Aquilo era
dominante e me fazia não ter o lado racional.
Nem razão eu tinha.
Quando você se segura, segura para ir no banheiro... Aquilo era
doloroso, chegava a me deixar neurótico. Mas e a libertação? Queria me
enterrar nela tão fundo, com força para fazê-la gemer melhor do que quando
gozou na mesa.
Eu seria duro, como ela tinha sido comigo. Mas eu a deixaria
satisfeita, como eu ficava satisfeito estando com ela.
— Começou a noite — sussurrei no ouvido dela.
Segurei firme em seu cabelo, puxando sua cabeça para trás ainda mais,
a fim de senti-la mais próximo. Beijei o pescoço dela enquanto ajeitava meu
pau em sua entrada.
Eu olhei para o lugar escuro e senti-me desconfortável naquele lugar,
mas era o que tinha. Dois loucos no meio de um breu enorme e com tesão.
Sentia o sangue correr rápido, o que restou de sangue em meu corpo descia
com força, deixando meu pau mais duro que nunca.
Lentamente eu me movi para fora e novamente para dentro dela. Senti
seu desconforto, mas aos poucos ela foi se soltando e começando a se mexer.
— Respire, minha gata. Você vai relaxar e isso vai ser fodidamente
maravilhoso — falei no ouvindo dela, fazendo carícias circulares em seu
clitóris.
Carolina se mexia, movia o quadril na minha mão, buscando o próprio
prazer e indo de encontro a mim. Soltei seu cabelo e enfiei a mão no decote
chamativo, acariciando seus seios lentamente por baixo do tecido, então, com
um sorriso, os apertei.
Carolina empinou a bunda e eu segurei forte o seu quadril, sentindo
uma agonia. Uma agonia perfeita enquanto batia meu pau com força dentro
dela.
Uma satisfação pulsava em minhas veias, eu precisava trepar muito
com ela, meter tudo dentro dela. O prazer quente se espalhou por minha
barriga e minhas pernas. A senti mais apertada e queria controlar meu corpo,
juro que queria, mas as estocadas começaram e eu as controlei até senti-la se
contorcer e gemer, quando senti os espasmos que se alojavam pelo meu corpo
e iam até a ponta dos dedos.
Senti quando ela gozou, cada parte do seu corpo, cada centímetro
úmido dela, se contraindo, feliz ao redor do meu pau, junto com meus dedos
nela, acariciando o ponto úmido e inchado.
— Caramba, Lorenzo, caramba!
E então ela se contraiu embaixo de mim mais uma vez, com um
último espasmo. Nesse momento eu desisti. Impulsionei de novo e de novo,
depois gozei. O prazer esparramou para cada parte do meu corpo ao gozar.
Minha cabeça caiu para trás e meus olhos se apertaram quando xinguei um
palavrão, logo levando minha mão para o capô do carro, o que impediu que
eu tombasse em cima de Carolina, chegando a achar que que tivesse
amassado meu carro.
Passado o momento, segurei a cintura dela e a ergui. Ela ficou com as
costas no meu peito e aproveitei para beijar seu ombro, sentindo seu corpo se
mover.
— Precisamos sair daqui — ela disse, me olhando por cima do ombro,
com um sorriso casto no rosto. Não conseguia me mexer. — Vamos ou
precisa de tempo?
— É só o meu pau vibrando, Carolina. Ele adorou. — Levei a mão até
a calcinha dela e a subi, colocando sobre sua intimidade e, aí sim, tirei meu
pau, o guardando. Precisávamos de um bom banho e de uma hidratação. —
Vou te levar a um lugar muito especial para mim.
— Lorenzo, é melhor não. Já deu o que tinha que dar.
— Carolina, somos só nós dois e sexo, não tenha medo.
— Eu não tenho.
— Ótimo. — Ah, lógico, estava apenas começando com ela. —
Vamos?
Falei de forma tão serena, calma... Mil coisas passando na minha
cabeça.
— Onde seria esse lugar tão especial, Lorenzo? — Dei um sorriso e a
virei. Ela me encantava com seus olhos.
— Na minha cama, Carolina Lelis.
Tirei os sapatos e logo peguei duas panelas no armário. Ela iria me
pagar. Lembrei do quanto foi oportunista. Eu poderia me ajoelhar a sua
frente, agradecer, mas eu precisava deixá-la irritada, assim como me deixou.
Mesmo que fosse uma irritação passageira.
Camila iria me pagar por ter me dedurado.
Eu estava dolorida depois de ter virado a noite com... Não queria nem
pronunciar o nome dele, muito menos lembrar. Seu ENORME pau serviu de
molde para pensamentos nada bons ou certos.
Fiquei ao lado da cama de Camila e o barulho foi alto. Ela abriu os
olhos, assustada e surpresa. A madame tinha que ficar acordada comigo
também!
— Levanta.
— Hoje é domingo, me deixe dormir!
— Você é uma traidora. — Deixei as panelas e puxei a coberta. — Não
vai dormir mais nem um segundo nessa casa!
— Você o encontrou... ótimo! Me deixe dormir — ela pediu e abriu um
sorriso manhoso. — Não precisa me agradecer.
— Te agradecer? Eu vou é te jogar da ponte. — Camila se levantou
com calma e me olhou. — Você não podia ter feito isso. Minha segurança
vale dois ingressos?
— O cara foi um fofo — defendeu-se. — Ele queria te ver, acabei
ficando com pena.
— Você é uma vaca!
— Você nem dormiu em casa. Ou seja, aceitou o cara. — Ela me olhou
e sorriu. — Ele é lindo e você é... Vocês não se comeram o suficiente,
Carolina?
— Olha a boca!
— Maninha, há uns oito dias eu fui tirar o lixo da cozinha e achei uma
camisinha, no mesmo dia a Dona Beta me disse sobre uma pequena discussão
no corredor e um carro cantando pneus.
— Você... fofoqueira!
— Eu sou esperta! Era ele, não é?! — Ela pegou as panelas e me
entregou, então puxou o lençol e começou a fazer a cama. Eu fiquei olhando,
sem saber o que dizer, depois de minha irmã ter ligado os fatos. Agora iria
contestar e eu odiava isso. Era como se estivesse certa e eu errada. — Leve
suas panelas daqui. Em vinte minutos eu imprimi dois ingressos com ótimos
lugares. Ele te queria, aceite. Já passou.
— Foi perigoso o que você fez.
— Perigoso é me acordar assim. Lembre-se que eu durmo ao lado de
um pedaço de madeira. Não posso sair correndo, mas posso te dar uma
madeirada no meio da fuça! Eu vou a uma peça na quarta-feira que queria ir
há semanas, com entrada exclusiva.
— Oportunista!
— Carol, eu fiquei namorando mentalmente Colton Haynes enquanto
você estava na zona de conforto com um boy magia.
— Te espero na mesa para o café, trouxe pão — avisei, saindo do
cômodo.
— Viu?! Eu estou certa! Não precisa mudar de assunto. Nada que você
faça, me pega, sei como você é!
— Sua atrevida!
— Foi tão ruim assim, Carolina?
— Camila! — Dei um sorriso irônico para ela. — Te espero na mesa.
Saí com calma, sentei na cadeira e olhei para meu decote, já estava
mais sóbria. Antes eu também estava, mas era bom fingir que não.
Precisava trocar de roupa, refrescar minhas ideias. Tadinha da minha
amiga lá em baixo. Lorenzo foi o cara mais primitivo que eu passei a
conhecer. Não admiti isso da noite para o dia, para homem nenhum! Todos
aqueles orgasmos tinham suas consequências desastrosas!
Isso devia ser preocupante para mim. Foi como se não tivesse sexo há
muito tempo, uma terra sem chuva. O homem era uma máquina
assustadoramente boa no que fazia, e era difícil admitir o que ele fez comigo.
Mas, eu tentaria. Deliciosamente talentoso e capacitado para dar
prazer. Deus!
Conseguia lembrar nitidamente de cada detalhe. Até de mim o
chupando... e como foi bom. Por mais que ele fosse fundo, eu ia junto, não
vendo só estrelas, vendo até os planetas mais ocultos do universo. E isso
era... uau!
Ele ainda me fodeu com classe e não me refiro ao carro. Teve um
deslize ali na hora, estávamos altamente excitados e acabou acontecendo ali
mesmo. Foi bom para caralho, eu admito. Mas depois dali ele me colocou
sentada no carro, foi até uma casa, me guiou para uma cama e fez comigo
coisas que me fizeram delirar.
Lorenzo gostava de receber um boquete e eu dei isso a ele, no auge de
nosso tesão. Foi a primeira vez que senti seu gosto. Eu não sei o que me deu,
mas acabei o apertando na hora em que gozou. Não o pênis, mas a bunda
dele, e fiquei excitada com isso. O que foi de aperto que eu dei nele...
tadinho! Lorenzo devia estar pensar que eu era uma maluca, mas ele tinha
mão para parar e... dedos atrevidos. Eu sempre achei que dedos fossem como
um consolo. Não só os meus, mas tive uma noite louca com um homem
primitivamente safado e com dedos longos e ágeis. Da próxima vez minha
vagina agradeceria aos dedos dele.
— Não vai tomar café? — Camila entrou na cozinha e se sentou, seus
olhos estavam pequenos pelo sono. Tinha uma ironia ali. Tinha uma ironia
nos meus pensamentos também. — Você não está brava comigo, está,
Carolina? Eu só fiz para te deixar feliz.
— Feliz... sei disso.
Eu precisava dormir. Não que estivesse de mau humor, nada disso.
— Você não está chateada comigo, né? — Camila repetiu, pegou
minha mão e a acariciou. — Eu espero que você tenha lavado a mão...
— Camila!
Ela riu.
— Não fica brava não. Vai ficar brava comigo?
— Por que ficaria, Camila?
— Ele me pareceu legal. — Legal? Lorenzo Maldini era fodidamente
não-legal. Tudo, menos legal. — Onde vocês foram?
— Ele me levou para a cama, viramos a noite — disse abertamente. —
Foi bom.
— Ele é bonito. — Ela me olhou e sorriu. — Você às vezes é muito
sem sentimento, é pior que a Malévola.
— Tem certas coisas que você ainda não entende.
— Claro que entendo. O homem era um pouco prepotente, eu sei
analisar uma pessoa. — Ela deu um outro sorriso. — Mas ele se
comprometeu e também me ajudou, em troca de saber sua localização.
— Da próxima vez eu vou te levar comigo. Ele é enorme, não é fácil
não. Ele é homem, Camila.
— Não vou com você, jamais! O que é seu, é seu.
— É um modo de dizer que ele me esgotou.
— É grande?
— Me recuso a dizer.
— Hmmm! A senhora Malévola ficou saciada. — Ela pegou duas
xícaras e entregou uma para mim. — Vamos bater um lero, Carol. Sabe o que
eu estava lendo ontem? Que briga e discussão aumentam o tesão e até a
química entre o casal.
— Acho que tem um pouco da verdade, Camila.
— É sério! Não ri, tá legal?! — Ela serviu seu café e olhou para mim.
Minha irmã era o tipo de pessoa inteligente com as palavras, uma qualidade
dela que eu admirava. — Vamos supor que você seja uma tigresa e vai se
acasalar com seu “macho”...
— Acasalar? Camila, o que...
— Calma! Antes de ficar junto com o tigrão, elas o enfrentam, brigam
como se fosse a guerra mundial. Coisa de inimigos, cão e gato, gato e rato.
— Aonde quer chegar?
— Elas vão se aproximando, o tigre vai se aproximando. Sabe o que a
tigresa faz, Carolina?
— Se acasalam e logo nascem os lindos tigres!
Respondi, segurando o riso.
— Não! Elas brigam com eles, querendo liberar toda aquela ebulição
hormonal.
— Se elas tivessem dedos ao invés de patas, não teriam essa ebulição
hormonal!
— Carolina, eu...
— Você está querendo dizer que... que eu estou extravasando “ebulição
hormonal” com Lorenzo?
— Não terminei, Carol. Se o tigre for bonzinho e a deixar extravasar,
ela libera e ele se aproxima, então ele acaricia a tigresa, começando a adular,
mesmo, até que os dois cedem e acasalam.
Lorenzo foi firme no que queria e eu acabei dando um pequeno tapa
no seu rosto dele, que apenas me pegou e... eu fiquei com raiva, fui idiota
com essa atitude. Mas, ebulição hormonal? Credo!
— Camila... — Será que era assim? Eu não o queria perto, mas
depois... depois de liberar palavras, Lorenzo foi bom! — Pode ser verdade.
— Alguns homens acham graça na irritação que provocam. Você é
irritada impulsivamente, ou seja, para o homem fazer o que fez ontem, ele
queria acasalar com você. E você também. Então não precisava bater panelas
como uma doente.
— Eu precisava fazer aquilo.
— Já imaginou se eu não tivesse falando onde você estava? Eu estaria
sem os ingressos e você não teria tido essa noite. Sexo adiado é sexo perdido,
não é assim que você fala?
— Musa do conhecimento — ironizei. — Eu não estou brava com
você.
— Tudo que é ruim de passar, acaba sendo bom de contar, não é assim?
— É tudo uma questão de saber o que está fazendo, Camila.
— Não, não é, Carol. Na vivência orgástica, não se consegue pensar
direito, saber o que está fazendo.
— Continue lendo, nerd!
— Não vou. Puxei a você, eu acho, mas só um pouco, não sou safada.
— Muito engraçado você dizer isso.
— Sei que é assim. Ah, mais uma coisa: o almoço é seu, Carol. Arrumo
as coisas e você a comida.
— Eu estou cansada.
— Eita! — Ela se levantou e começou a pegar o que havia usado
enquanto tomava café. Mal toquei no meu. — Vocês usaram camisinha?
— Sim. — Baixei minha cabeça na mesa e fechei os olhos. Eu
precisava dormir pelo menos um pouco, meu corpo pedia por isso. — Eu
também tomei pílula do dia seguinte, não se preocupe.
— Ele me pareceu engraçado, Carol.
— Ele é gostoso, divertido e muito excitante. Você devia arrumar
alguém para você também.
— Eu estou como um asilo, sabe?! — ela disse e suspirou. — Só atraio
olhares dos velhos tarados.
— Você é gostosa da sua maneira.
— Eu sei disso. Vai pra cama, eu cuido de tudo. — Ela se aproximou e
acariciou meu cabelo. — Quem é que faz a melhor comida, não é mesmo?!
Você também precisa tomar um banho e eu até te daria um beijo no rosto, um
abraço, mas sei lá...
— Uma vez fiz um cara gozar tão forte, Camila, que teve até porra na
lâmpada — contei e dei uma risada irônica.
— Que nojo! Carolina, você... eu não precisava ouvir isso.
— Maninha, não devia te dizer isso, mas você precisava saber. — Abri
os olhos e me levantei. Olhei para ela, magrela com o pijama amarelo. —
Saiba fazer um homem gozar!
— Sou muito pura para isso, maninha!
— Eu também já fui assim, há muito tempo.
Lorenzo provou um pouco da minha pureza, será que seria demais ele
pegar mais um pouco?
Eu estava como aquelas crianças gripadas, que passam o dia em casa
fazendo vários nadas. Okay, dormir foi legal. Até sonhei, cheguei a virar os
olhos de tão bom que o sonho havia sido. Com flores, perfumes, cachoeiras...
Resumindo no meu bom vocabulário: tirei o vestido de flores da Carolina,
inalei seu perfume. Não só o sintético, mas o natural, e fiz Carolina gozar,
liberando seu doce como cachoeira.
Era uma imaginação guiada à necessidade.
Eu sou fofo!
A desgraçada nem disse um tchau. Nem um “até logo”! E isso meio
que me motivava a pensar que não tivemos um final, um ponto final. E até
casos precisavam de um ponto final.
Sonhar com ela indicava que eu não estava satisfeito. A gente sonha
com aquilo que quer ter e eu ainda a queria.
Porra! Cheguei a me iludir quando sonhei com ela. Só fui acreditar
que ela havia ido embora quando vi a porta destrancada. Foi sem ninguém
ver, a minha gata da noite.
O dia seguinte poderia ter sido ainda melhor. Eu fui pior que um
sanguessuga em cima dela, mas mão me arrependia e queria mais.
Deitei na cama enquanto imagens de Carolina começavam a fazer uma
dança erótica do caralho na minha cabeça depois de uma semana me ferrando
com o trabalho. Muito trabalho e “pouca” diversão fazia com que eu me
tornasse um garoto mal-humorado. Eu era um saco quando estava assim.
Eram onze da noite.
Vire para o canto e durma, seu menino malcriado!
Aquilo estava sendo até divertido. Controlar meus sentidos não era
fácil, tinha ficado em um estado de dureza durante todo o dia e, apenas a
visão de sua boceta engolindo meu pau já fazia tudo ficar ainda mais difícil.
O quarto estava vazio.
Levantei e comecei a dar voltas pelo quarto, parei e me sentei na
cadeira, abrindo o zíper do meu jeans. Carolina me tinha semiduro apenas
com o pensamento, até que meu pau estava apontando para cima, lembrando
da deliciosa boceta de Carolina o engolindo. E ela nem estava ali.
Engolindo...
Engolindo...
Caralho! Era uma praga, só podia ser. Talvez pudesse fazer a segunda
melhor coisa que existia, ela me comendo com sua boca. Isso era uma
perfeição de se imaginar.
Eu me inclinei um pouco e peguei o celular. Meu dedo deslizou rápido
e logo vi ali Carolina Lelis. Esperava que estivesse dormindo... longe de
qualquer pessoa. Queria que Carolina escutasse somente minha voz.
Um, dois, três... O celular só chamava até que caiu. Liguei de novo, e
no segundo toque senti que a coisa ficaria boa para o meu lado.
— Alô? — Carolina atendeu com voz de sono.
Eu acordei a princesa?
— Oi, Carolina.
Na verdade, ela era muito tentadora para não continuar com isso.
— Que... Lorenzo? É você? — Por alguns segundos ela não falou nada.
Nem eu. — Alô?
— Sim, sou eu. — Me ajeitei na cadeira, desconfortável. — Poderia ter
ficado comigo hoje. Medo de acordar ao meu lado?
Direto demais? Com infames investidas sexuais nela? Talvez.
Poderia ser um homem melhor, uma boa pessoa.
— Não, não tenho medo de você. — Agora isso estava ficando ridículo.
Ela queria me deixar pra baixo? — Lorenzo, eu estava dormindo, não sou
dona nem da minha casa, eu trabalho. Você tem alguma razão para me ligar?
— Só queria ouvir sua voz, Carolina. Não queria ouvir a minha? —
perguntei e ela deu uma risada.
Ela estava rindo de mim? Meu pau gostou disso.
Olá, amigo, bem-vindo à vida adulta.
— Acho que você consegue ser um bom mentiroso quando quer,
Lorenzo Maldini.
— Eu aguento isso, querida. — Ri também. — Eu tenho sua calcinha
aqui, sabia? Ela é tão bonitinha...
— Use. Vai ficar lindo nesse traseiro. — A voz dela saiu debochada,
mas eu notei o tom quase... quase amigável. Àquela altura eu estava feliz.
Enrolei minha mão em volta do meu pau e lentamente me acariciei. — Ainda
está aí?
Amava a tecnologia e a minha mão.
— Carolina... — Fiz uma pausa e respirei fundo. Talvez eu fosse um
cara sem moral alguma, que estava sendo abusado com ela. — Onde você
está?
— Você me ligou para quê? Eu vou mandar você se foder se fizer
alguma graça.
Poderia foder outra coisa.
— Não, não vou fazer graça.
— Lorenzo... o que você está fazendo?
Me masturbando, porra!
EU QUERIA A PORRA DA VOZ DELA NO MEU OUVIDO.
— Carolina, eu estou com a mão no meu pau e estou tão duro...
A ironia é mesmo um pé no saco, não é?
— Bem — ela começou, mas então a linha ficou muda por um bom
tempo —, eu não posso fazer nada.
— Eu estou falando com você e imaginando sua boceta engolindo meu
pau.
— Imaginação fértil.
Fértil era sonhar com ela e acordar duro. Lembrar que poderia comê-la
como meu café da manhã preferido. Isso era ter uma imaginação fértil. E se
ela pensava que eu sofreria com aquele calor do caralho, ela estava pensando
certo.
— Eu ainda não peguei o suficiente, Carolina — admiti. — Nesse
momento eu estou inclinando para trás, minhas pernas estão abertas e meu
pau está sendo massageado pela minha mão. Lembra dela?
— Eu espero que seus dedos façam o mesmo serviço que fez comigo
— ela disse e, de alguma forma eu sabia que também estava se tocando. —
Lorenzo, eu preciso ir.
— Como você se masturba, Carolina? — Dei um sorriso e apertei meu
pau. — Você é como eu, querida. Você é suja como eu. Eu adoro isso em
você.
— Tudo tão escorregadio, Lorenzo...
Mas, Deus do céu, isso doeu!
— Eu gostaria que fosse meu pau em vez dos seus dedos. Eu acho que
você vai ter que fazer bem mais coisas para mim.
— Você... — Sua curta palavra foi seguida de um pequeno suspiro que
fez meu pau se agitar.
— Quero fazer algo para você, Carolina. Confie em mim, garota suja.
Puta merda!
Eu queria aquilo.
A mente era a melhor coisa. Valia como um livro, revista, foto, até
filme. E se você a estimulasse bem, teria algo ótimo.
— Lorenzo, eu posso ouvir sua respiração — ela disse e eu conseguia
escutar o sorriso em sua voz, junto com a necessidade.
— Quer me ver, Carolina?
Era hora do show.
— Muito engraçado você dizer isso, senhor Maldini. — Ela soltou uma
gargalhada e tive que afastar o celular do ouvido, ligando o viva-voz.
A porra estava feita! Acionei o vídeo enquanto me tocava.
— Eu não quero ser engraçado.
Nós dois estávamos sendo irracionais.
— Eu também não.
Imediatamente voltei-me para os pensamentos em que sugava a boceta
dela. Masturbar-me pensando em como era estar dentro dela não era algo que
iria matar minha vontade de me enterrar até as bolas em Carolina. Não! Isso
não daria certo!
O frio que comecei a sentir no abdômen indicava o orgasmo que
estava por vir.
Eu acho que daria um bom astro pornô.
Lorenzo Maldini, o astro pornô!
— Carolina — chamei, respirando fundo. — Fazer uma mulher gozar é
um desafio que sempre cumpro. Você vai gozar, quer apostar?
— Não aposto para perder, querido.
— Aceitando a derrota?
Puta merda, como me senti bem.
Sua boceta em volta do meu pau, logo suas pernas nas minhas coxas,
suas mãos em meus ombros enquanto eu chupava seus lindos seios... Toda
essa imaginação fez meu corpo se contrair.
Eu apertava e o movimento saía perfeito. Minha voz virou um gemido
e meu pau se sentia nas nuvens, levando minha cabeça junto.
Dolorosamente, eu senti o prazer, o gozo sendo expelido do meu pau.
Impulsionei a mão em meu pau de novo e de novo, fazendo uma
bagunça, pulsando e jorrando, imaginando que cada gota de mim estivesse
sendo derramada nela. Sobre sua pele branca e cheirosa.
Minha mão parou e minha respiração desacelerou, a realidade era eu
gravando meu próprio pênis.
Lorenzo iria fazer algo louco.
Deslizei meu dedo pela tela e fiz um arquivo, uma mensagem, e lhe
enviei o vídeo. O que ela iria dizer, sinceramente, eu não sabia.
— Você deve receber uma mensagem, Carolina. Pensa com carinho e
pense nele quando estiver com os dedos na sua boceta.
— Mensagem? O que... — ela gemeu segundos depois. — Lorenzo!
Isso foi seguido de um suspiro sutil.
— Pense em mim. Pense, minha gatinha. — Minhas palavras foram
seguidas de suspiros e uma respiração ofegante. Ela ficou em um silêncio
crucial, até que ouvi um “ai”, e não era de dor. — Essa é você, gozando para
mim.
— Você... gravou? Agora? Meu Deus!
— Meu pau é bem gostoso, não é?
— Puta merda! — Ela tinha uma coisa com esse palavrão que era
delicioso de ouvir. — Você é demais, Lorenzo.
— Caralho, Carolina! — Sim! Era tão bom que eu faria isso de novo, e
de novo... Meu pau iria adorar tremer sob esse clima.
— Lorenzo, eu... pode me ligar quando quiser.
Eu ri.
— Quero você, já que gostei tanto de nós dois juntos. Vamos aproveitar
juntos.
— Preciso desligar.
Essas palavras dela me fizeram querer beijá-la e estrangulá-la ao
mesmo tempo.
— Não precisa.
— Lorenzo, até logo. — Até logo? — A gente se vê por aí, me liga
quando precisar.
Ela era direta, clara. Muito clara.
— Carolina...
Clique!
Eu. Não. Estava. Acreditando.
Que vaca! Por que desligou? Merda! Que porra, infeliz! Ela estava, e
muito, feliz.
Vídeo do caralho!
Talvez eu ainda a quisesse no dia seguinte, e depois também. Era
estranho isso, muito estranho.
Ela devia estar pensando que eu havia me esquecido dela. Enganava-
se muito, porque eu só fiquei longe por um tempo. Passei a mão pelo cabelo a
fim de me livrar um pouco da ansiedade que me fazia querer sacudi-la e
dizer: Minha!
Eu decido meus fracassos e sucessos, em todos os aspectos.
Já criei muitas situações, como na faculdade, fiz um idiota torcer o pé
e logo peguei sua acompanhante. Eu quis, ela quis, claro que ela não
precisava saber de alguns detalhes. Só dá parte que eu me autoconvidei para
ir no lugar do idiota, o motivo era banal. Esperava que ela estivesse em bons
lençóis. Aquela garota tinha uma boca rosada do tamanho de um aspirador.
Carolina tinha que ser corajosa comigo, tinha que se arriscar no meu
colo.
Sem medo.
Eu já tinha tentado. Veja bem, tentei me colocar no lugar dela.
Quando se tem um pênis é difícil se colocar no lugar de qualquer mulher, mas
eu tentei. Na maioria das vezes, as tentativas de me colocar no lugar dela me
deixaram como uma pedra. Mas, uma pedra nos rins. Era como se meu
amiguinho tivesse esquecido como se bombeia sangue. Meu pênis tinha que
viver comigo, pensar comigo. Ser ativo enquanto se era jovem. Não ficar
dolorido por uma mulher do caralho!
— Se toda vez que você estivesse frustrado por uma mulher, fizesse
umas oito pilhas assim de papel... — Escutei uma risada diabólica. —
Estaríamos mais alto do que já estamos, primo.
Ergui meus olhos para a porta do escritório. Era um empresário,
cuidava de muita coisa ao mesmo tempo. Eu gostava de adiantar as coisas,
deixar tudo pronto. Assim podia ficar mais relaxado, ou até mesmo dar
atenção para outras coisas.
Coisas bem mais interessantes e muito mais divertidas.
— Fez o que te pedi? — Pedro estava parado na porta, com alguma
coisa escondida atrás do corpo. — O que está escondendo, Pedro?
— A caixa foi entregue com sucesso! O que tinha dentro? — Uma
coisa bem bonitinha e um bilhete, mas ele não precisava saber dos meus
detalhes pessoais.
— Nada de especial.
— Eu abri antes de enviá-la.
— Você o quê?
Ele era um vadio
— O que tinha dentro para aborrecer a doce princesa? — Ele sorriu e se
jogou na cadeira de frente para minha mesa, se aproximou e revelou uma
rosa. Olhei sem entender e ele repousou a porra na minha mesa, com um
sorriso. — Apenas duas coisas te deixam assim, Lorenzo.
— Qual o motivo da rosa?
— Para ela. Garanto que vai gostar. É para deixá-la mais liberal, dar
uma de romântico. Ela ficará do jeito que você gosta, primo.
Pedro Maldini tinha quase o mesmo valor que eu. Nenhum. Mas
também dependia do mercado.
— Já tenho o que quero, não vou fazer isso com a garota. Ela vai me
dar porque quer, não por mim. Ou por algo que não sou.
— Ela é gostosa! Pelo menos foi boa de cama?
Sim, ela era gostosa. Apesar dessa observação ter sido verdadeira, eu o
ignorei. Ela era boa de cama.
Até por telefone!
Não foi nada bonito. Era uma maldição, na verdade. E o pior é que eu
fiquei na dúvida sobre o que ela fez com o vídeo. Não revelava nada de mim,
apenas do meu lindo e maravilhoso pênis desejando Carolina Lelis.
— Sim.
Tinha planos para aquela noite. Deixá-la sozinha enquanto a irmã saía,
não me deixava feliz. Veria até aonde poderia ir com ela.
Se fosse preciso, compraria. Compraria o que ela pudesse vender para
mim. O lado sanguessuga queria sugar tudo. O lado beija-flor queria cheirar
muito. O lado viciado, queria ter uma overdose.
— Ontem não jantou no Domenico. Não havia reserva?
Eu encolhi os ombros, relaxando na cadeira.
— Tinha, mas fiquei em casa. Fiz um pouco de exercícios e fui dormir.
— Bem, essa Carolina que pegou você e seu pênis parece uma mulher
legal, Lorenzo. Talvez devesse levá-la para jantar. Sei de um restaurante que
serve uma ótima comida.
Ele estava, indiretamente, implicando, o que me fez revirar os olhos.
— Meu terreno é pequeno.
— E o dela? Já pensou em concorrência, priminho?
— Já. — Lancei a ironia. — Você me ajuda a enterrar o que sobrar.
— Qual é o seu problema, seu descontrolado?
— Pedro, seu pai gozou e você nasceu!
— Eu espero que Carolina saiba que você é uma má influência, Lolô.
— Acha que sou uma nuvem negra?
— Que isso?! Jamais!
Inspecionei o celular e... nada. Eu criei, sim, uma expectativa para ela,
e isso me deixava fodido. Ela devia receber a caixinha, ler o bilhete, me ligar
e dizer: você vai me buscar?
— Você vai fazer mais um favor para...
— Lorenzo, não. Quer dizer... A menos que me passe o número da
atendente do McPunk.
Pedro tinha suas intenções e eu não dizia nada quanto a elas. Em
poucos segundos passei o número para o loiro.
— Eu vou fazer um pedindo de rosquinha.
— Você vai é comer a rosca dela, Pedro.
— E daí? Ela quer que alguém faça isso.
— Homem prestativo, você, não?!
— Demais. Qual o favor?
— Eu quero que você busque e leve Carolina para a minha casa.
O infeliz abriu um sorriso e depois começou uma risada histérica.
Merda! Qual era o problema?
— Qual a piada, Pedro?
— Quer que eu sequestre sua garota?
Uma boa ideia?
Claro que não iria fazer isso.
— Eu vou ligar para ela e dizer que você não é nenhum maníaco, e que
poder ir com você.
— Que legal!
— É minha, tá legal?!
— Daqui a pouco vai querer que eu nem respire o mesmo ar que ela. —
Arqueei uma sobrancelha. O sorriso que estava estampado em minha cara
não poderia ser tirado facilmente dele. O mesmo sorriso indicava que
Lorenzo iria aprontar. — Você vai assustá-la.
— Jura, Pedro?
— Pegando a camareira... quem diria. Se rebaixando, priminho?
— Eu a quero.
— Ótimo! Vou finalizar algumas coisas, em meia hora estou indo. Faço
um desvio e deixo a garota na sua casa.
— Ótimo! — concordei.
— Você vai acabar tudo isso para depois ir?
— Claro. Vou terminar o que comecei.
— Mulheres odeiam esperar — opinou ele, se levantou e sorriu. —
Mas, em troca, adora que a gente espere por elas. Espere muito, primo.
Okay! A partir de então era só fazê-la entrar no carro dele, mas,
como? Faltava bem pouco para dar o horário dela, que teria tempo suficiente
para trocar o uniforme. A noite viria logo em seguida.
Peguei o telefone e liguei direto para a sala da coordenação de setores.
Não conheceram minha voz, o que foi ótimo.
— Boa tarde. Aqui é do hospital regional, a irmã de uma das
funcionárias acabou de dar entrada no hospital. Preciso falar com ela.
— Qual o nome?
— Carolina Lelis.
— O senhor pode esperar enquanto a chamo?
Até amanhã, se quiser, respondi em pensamento.
— Claro.
E assim a linha ficou em silêncio. Por um bom tempo, o que
pareceram minutos, até que escutei uma voz linda, maravilhosa, gostosa e
calma... Por breves segundos foi calma.
— Alô?
— Carolina Lelis...
— O que aconteceu com minha irmã? Ela está bem? Meu Deus! — A
aflição na voz dela me fez começar a pensar que havia feito uma pequena
besteira. Toquei em algo delicado para ela. — Alô?
— Sou eu, Lorenzo, sua irmã está bem.
Pela primeira vez fiquei com vergonha de uma atitude assim.
— Seu... seu idiota! Quase caí de uma escada! Que susto!
— Desculpa.
— Você... que susto, cara! Não brinque com isso. — Ouvi um suspiro
do outro lado da linha. — Ligou para saber se chegou? Lorenzo, minha
calcinha chegou, não se preocupe.
Foi ríspida comigo. Não gostei disso.
— Posso lhe buscar?
— Me dê um motivo para dizer sim.
Ganhei! Quase ri como o Pedro, como um histérico.
— Bem, sou a única pessoa que pode ficar com você esta noite. Sua
irmã vai sair, então... Os ingressos são para hoje, não são?
— Você quer dar uma de bom menino e me levar para sair?
Sair, não. Não tinha planejado isso. Planejei tê-la comigo, pelada.
— Bem, fica comigo hoje.
— Não vai rolar, saio tarde...
— Você está mentindo para o dono da porra toda!
— Calma aí, tenho meus direitos.
— Tem, você os tem. E eu vou quebrá-los, então você vai ter que saber
ou meus, querida.
— Vai me levar para a cama de novo?
— Não — respondi e suspirei. — Vou te levar para fazer o que fizemos
na cama.
— Só me diga onde, hoje eu vou aceitar. Mas, amanhã cedo, tchau! —
Decidida demais para mim, mas tinha que aceitar o que ela sugerisse. — O
que vai ser?
— Vão te buscar e levar para minha linda residência. Você precisa de
algo? Roupa, comida, alguma coisa?
Sempre prestativo.
Aprendam!
— Comida. Antes não vai ter comida? — Curiosa. Fui premeditado,
então tinha que deixá-la a vontade para pedir o que quisesse.
— O que você gosta de comer?
— Sei lá — disse, descontraída, e senti que ela estava com um sorriso.
— Pizza é bom.
A mulher me pediu uma pizza, simples assim. De tanta coisa que
poderia comer, ela me pedia isso. Surpreendi-me, talvez porque ninguém
nunca tivesse me pedido... pizza. Ninguém mesmo.
— Mas alguma coisa?
Controlado demais, não é Lorenzo?
— Não. Um suco para acompanhar já estará bom.
— Suco, Carolina?
— Não gosta, Lorenzo?
A voz dela saiu baixa. Pizza e suco... legal, mas simples demais para
mim.
— O que você quiser. Mais alguma coisa?
— Não. Você vem me buscar?
— Meu motorista.
— Está legal.
— Você vai me ver em breve, Carol.
— Tenho que desligar.
— Te vejo mais tarde. Posso te dizer algo antes?
— O quê?
— Vai ser a melhor pizza que você já comeu na sua vida. Pode apostar!
Houve um silêncio.
Até eu achava que iria comer a melhor pizza da minha vida.
Ah, merda! Eu não queria me sentir culpada por ter aceitado. Não
podia.
Carolina, sua safada!
Pizza... Eu já até imaginava o sabor: calabresa com catupiry.
Eu olhei para a sala mais de mil vezes, tinha uma visão de um quadro
cheio de linhas escuras, pendurado na parede creme, um jogo de sofás lindos,
tudo de acordo com a decoração. Algumas portas levavam para... bem... eu
não sabia bem para onde. Eu tinha que manter a calma, centrar no objetivo.
Qual era o objetivo? Não fazia a mínima ideia. Talvez meu objetivo
fosse descobrir qual era o objetivo. Devia ser isso.
O cara loiro era o motorista, mas suspeitei que também fosse o primo
dele. E ele ainda estava ali. Eu ouvia um barulho que vinha de um dos
corredores, mas o lugar era tão grande que eu nem sabia a dimensão, menos
ainda conseguia me localizar. Tudo indicava Lorenzo.
Tinha que acalmar a criação de borboletas no meu estômago. Era uma
criação enorme, parecia que o pai delas estava chegando. Eu queria tirar
aquela roupa, me ver livre da camisa e da calça, queria que meu corpo
pudesse respirar e sentir.
Eu tinha uma arma. Tinha um vídeo e nunca o apagaria.
— Fica à vontade, Lolô já deve estar chegando. — Olhei para a porta e
vi e loiro comendo... chocolate. O recado vinha dele. — Aceita?
Aceitava Lorenzo. Ele tinha Lorenzo para me oferecer?
— Não, obrigada.
O cara sorriu e atravessou a sala, depois se sentou no braço do sofá.
Solto, como se nada demais estivesse acontecendo.
— Fica à vontade — repetiu. — Se você seguir esse corredor, vai
encontrar algumas portas. Na quarta fica o quarto de hóspedes e há um
banheiro nele.
Ele falou, calmo. Tinha o mesmo olhar que Lorenzo, olhos atentos,
espertos. A pele de Lorenzo era mais morena, a do loiro mais branca. Era
gostoso, também.
— Obrigada.
Ele se levantou e foi até um canto da sala. O vi pegar uma garrafa e
dar uma risada.
— Quer beber alguma coisa? Meu primo tem várias bebidas — ele
ofereceu e pensei em Lorenzo bêbado. Não dava para imaginar, não mesmo.
— Não fique com vergonha perto de mim. Lorenzo é indiscreto e me diz
muita coisa que ele faz.
— Não tenho vergonha.
Senti um arrepio. Ele era indiscreto a que ponto?
— Ele me disse isso. — O homem me lançou um sorriso e olhou para a
garrafa como se fosse uma coisa rara. — O miserável disse que não tinha o
francês. Idiota! Eu vou indo. Sinta-se em casa.
Ele levou a garrafa. Quase gritei para ele voltar e abrir aquela garrafa.
Fiquei encarando o nada e já estava ficando inquieta. Olhei de novo
para o quadro, como se fosse o melhor programa de TV.
— Vejo que veio mesmo... — Encarei a porta e o vi ali, parado, com
uma bendita calça e camisa cinza. Logo vi seus dedos, calmos. Eu sou uma
tarada por dedos, sempre gostei deles. São manipuláveis. — Desculpe te
fazer esperar. Espero que Pedro tenha sido legal com você.
— Foi.
— Eu trouxe o que você pediu, já deixei na cozinha. — Ele se
aproximou e se sentou perto de mim. O olhei e pisquei diversas vezes. —
Ande, gatinha, não fique com vergonha. — Ele deu um sorriso, vi sua
mandíbula menos tensa, uma fileira de dentes brancos e uma língua. Oh, a
língua quente que passou pelos lábios... — Como foi seu dia, Carolina?
— Bom, e o seu?
— Bom, também. Eu preciso de um banho antes de qualquer coisa.
Posso te pedir uma coisa, Carolina?
Ele olhou para mim enquanto fazia a pergunta.
Qualquer coisa, pensei.
— Peça, Lorenzo.
— Tira a sua blusa. — Juro que pensei que ele iria tomar um banho.
Ele ficou me olhando como se eu fosse uma boneca. — Quer ajuda?
Ajudar? Não! Não seria uma boa ideia.
— Tudo bem...
Era só tirar a blusa. Já tinha estado em cima dele, seus seios estavam
balançando enquanto ele estava dentro de você, então, por que a vergonha,
não é mesmo?
Lorenzo abriu alguns botões da camisa e vi seu tórax sendo exposto.
Era tão vaidoso... isso era notável. Mas tinha aquela coisa que o deixava
sexy, atraente, com uma pegada visual. Aquilo era pecado. Me inclinei para
trás, deixando-me afundar no sofá enquanto eu o via relaxar.
Lorenzo estava tranquilo. Ele aproximou a mão do meu rosto e o tocou.
— Eu gostei dessa Carolina calada. Já aceitou que é minha?
Seus dedos correram sobre os meus seios, logo ao topo de um até o
mamilo, por cima da camiseta. Levei minha mão à borda e tirei a camisa por
cima da cabeça, em seguida o sutiã branco. Vi seus olhos correrem por eles.
Ele me observou com um brilho nos olhos e se inclinou de repente para
frente.
— Eu acho seus seios gostosos, você não acha?
No momento em que senti os lábios dele no meu seio, um maremoto
de prazer disparou pelo meu corpo até minha boceta. Foi em linha retinha!
Ele puxou a ponta, esticando-o, raspando sobre ele com os dentes. Levou a
palma de sua mão sobre minha barriga, passando... passando...
— Eu quero você nua, quero ver e sentir sua boceta.
Acredite quando digo que dedos às vezes são mágicos. Os dele ficaram
por cima da calça e entraram em contato com a minha... Ele apertou.
Fodidamente bom.
Era uma carícia.
Circular...
Lenta...
— Senhor, eu... Meu Deus!
— Deus não vai te fazer gozar, querida. Aqui também é Lorenzo. Seu
Lorenzo, amor!
— Lorenzo, preciso tirar...
Precisava tirar aquela calça. Precisava concluir o pensamento, mas
parecia impossível.
— Você, não. Eu vou.
Ele não abriu a calça, só a puxou para baixo. Foi duro, mas ele
conseguiu que fosse tudo junto para o meu joelho. Tirou minha sapatilha e
logo, exatamente como ele queria, ele me tinha pelada.
Eu cheguei ao mundo assim.
Mas eu era inocente, muito inocente.
Lorenzo nasceu inocente e se tornou confiante.
Homem confiante. Ele era. Ele podia.
Eu queria.
Meu corpo ficou um pouco tímido, mas, meu pensamento, não. Aquilo
me estimulava. Ele veio até minha boca e me deu um beijo.
Sua língua vasculhou, explorou, até chupou a minha. Enquanto isso,
sentia a barba um pouco grande, sentia o cheiro dele entrar e se apropriar do
meu nariz.
Acho que até sabia o que a língua dele dizia para a minha: vou te trair
com a vagina dela.
A sua boca desceu, distribuiu alegria. Ele beijou os pequenos pontos
que eu sabia que distribuía mais prazer para o corpo inteiro. Chegava a ser
doloroso o que ele iria fazer ali comigo naquele sofá. Ele iria mesmo me
chupar no sofá?
Entre minhas pernas, a ponta de sua língua provocou em torno da
minha carne, até ficar frente a frente com ela. O sofá que nos aguentasse.
Suas mãos foram trabalhando no meu quadril, e era a capacidade de
dominação que um orgasmo... quer dizer, a vontade de ter um, que me
deixava sem linha de raciocínio. Sem ideia, sem pudor, sem vergonha. Muito
menos constrangida.
Senti os beijos sobre meu estômago, logo a ponta de sua língua
provocando em torno do meu clitóris. Ele abriu minhas coxas e...
Pouco tempo antes eu havia feito uma depilação cavada, ritual que
costumava manter. Na minha primeira vez, doeu, ardeu, eu gritei. Foi difícil.
Para ficar do jeito que queremos, é difícil. Mas eu sabia o motivo da bendita
depilação cavada, de toda a dor que senti naquela parte sensível.
Cada movimento na parte superior estava me levando, me fazendo
remexer naquele sofá.
— Carol... eu vou te morder! — Eu não tinha ideia do que aquilo
significava, até que ele mordeu e achei que fosse desmaiar, mas então veio a
sucção e... Pai amado! Lorenzo amado! — Carol, você tem que gozar — ele
sussurrou e logo veio mais uma sucção nervosa, os músculos ainda se
contraindo.
A mão dele foi para baixo, entre as dobras da minha vagina. O que era
minha vagina, comparado ao oceano? Os dedos eram agentes secretos que
estavam investigando tudo.
Minha vagina ficou escorregadia. Ele moveu sua mão livre para um
dos meus seios, os dedos fizeram sua parte puxando a pedrinha dura e
colocando seu dedo médio na minha entrada.
Questionei-me onde estava o pau dele para que eu pudesse apertar.
— Eu vou enfiar meu dedo, garota. — Olhei para ele, só faltava eu
pedir “por favor”. Seria minha entrega. — Eu quero sentir sua boceta
segurando meu dedo. — Homem às vezes tem a voz de arrebentar, pior que o
próprio pau. — Meus dedos só vão ficar se você os mantiver lá, agarrando-se
cada vez que eu sair, Carol. Entendeu?
Para me mostrar o que queria, ele lentamente foi puxando sua mão
para trás e, eu quis, naquele momento, usar sua mão como pau artificial, seus
dedos como vibradores malignos.
Eu protestava.
Não teria golpe!
Deslizei meu corpo pelo sofá e logo senti seu dedo. Quando ele
começou a enfiar o dedo, eu quis dar um grito. Era tão bom aquele dedo que
minhas pernas se abriram para dar tudo de mim. Dei praticamente a chave da
minha cidade.
Ele mereceu.
E eu também merecia.
E foi quando ele tocou meu clitóris e enfiou dois dedos que eu me
forcei a não gritar. Fiquei tensa, meu corpo, minha boceta tremeram. E eu
senti o primeiro orgasmo invadir meu corpo.
Foi o primeiro.
— Ahhh — gemi.
— Boa, garota. Agora quero mais. — Lorenzo continuou a empurrar os
dedos dentro da minha boceta. Podia jurar que ele ria de mim. — Me segure,
Carol.
Lembrando-me das instruções dele, eu contraí e logo liberei. Se eu
contraísse mais dez vezes, eu gozaria, era uma certeza absoluta.
— Pronta para o que vem agora?
— O quê? — Sua língua foi para meu clitóris e o sugou. — Caralho...
— Olha a boca! Quer que a foda também?
Eu fechei os olhos e comecei a tremer, sentindo tudo. Ele não deixou
brechas, não deixou nada que não fosse uma coisa: gozar como uma louca.
E foi o que fiz. No primeiro minuto minha boceta tremeu e... Okay,
aquele era o segundo orgasmo em uma noite.
Minha vagina tremeu fortemente.
Não sabia o porquê de ele não ter parado, mas a língua dele e seus
dedos continuaram. E quando o cara não para, você pode ver o céu! Sentir
que você pegou uma estrela. Sentir uma emoção incrível. E foi aí que senti o
terceiro orgasmo, em um intervalo de minutos, até que meu corpo,
precisamente meu estômago, tremeu, e logo a minha “amiga”.
Ela e eu estávamos em choque.
Não poderia recusar aquilo, mas a pressão arterial ia aumentar, e ele
não ia parar.
— De novo, Carolina. Vamos ver até onde você pode ir. Se você tiver
potencial, ela vai conhecer meu pau, vai ser fodida por ele.
Eu achava que a língua dele e seus dedos já eram o suficiente, porque,
né, o pau dele...
Depois disso? Droga! A sucção aumentou e eu senti quando, em vez
de seus dedos, foi a língua.
Já no quarto, foi a vez da boceta, minha barriga, braços e pernas
amolecerem.
E agora, pensando bem, eu sei o que um homem quer dizer quando diz
“se eu te pego, te desmaio”.
Lorenzo gostou dali.
Foi aí que senti sua língua por toda a minha vagina, de ponta a ponta,
até que senti um carinho dedal. Infeliz de merda!
Senti uma liberação nas minhas coxas e logo uma mão no meu rosto.
— Chega, eu preciso de tempo!
Eu permanecia de olhos fechados desde o segundo orgasmo.
Como se abria os olhos e encarava alguém depois daquilo?
— Abra os olhos, minha garota. Quer dizer algo para mim? — Senti
meus lábios sendo corroídos por um calor delicioso, a língua ser invadida e,
ao abrir os olhos, vi os olhos negros de Lorenzo e sua boca sobre a minha. —
Vamos comer? Você consegue?
Conseguia. Minha boca ainda estava intacta.
Se ele achava que era o rei dos truques, eu provaria quem eu era. Só
precisava de um ar.
— Consigo. Podemos ter um tempo?
— Você vai descansar. Preciso de você renovada, porque eu sei
aproveitar uma mulher. — Ele se levantou e me puxou pela cintura. Me senti
tão leve e... mole. Porra! — Agora sua bocetinha vai descansar enquanto
comemos.
— Vamos continuar?
Não sabia se ficava indignada ou agradecida por darmos aquele tempo.
— Claro. Quero que sua boceta goze tranquilamente no meu pau. —
Natural ele dizer isso, mas eu só sabia que estava apenas ensaiando para dar
alguns passos. — Você é muito gostosa. Seu cabelo...
— Você é sujo!
— Depois te mostro exatamente como fazer as coisas ficarem sujas.
Ele era um trem desgovernado, eu era apenas uma passageira.
Precisava de ar, mas depois eu queria fazer algo louco.
— Posso tomar um banho, Lorenzo?
— Podemos tomar um banho, Carolina.
Eu achei meu carrasco sexual!
Enquanto isso, longe dali...

O lugar estava um tanto cheio. Algumas pessoas estavam tendo sua


tórrida noite de sexo, como o merdinha do Lorenzo. Eu teria, mas não
naquele momento, porque tudo que eu queria beber algo.
Eu era um atirador direto e ao meu lado estava a coisa que mais me
fazia bem.
Ela era da França, tinha suas curvas, seu brilho, sua capa de marca.
A garrafa era tão linda e, tão somente minha... Chegava a ter orgulho
dela. Não era como se eu fosse tomar um café ou um leite. Todo mundo ali
iria embora muito bêbado. Algumas pessoas nem voltariam para suas casas.
Principalmente, as mulheres que eu escolhesse.
Peguei o copo no balcão e me levantei, então fui caminhando em
direção a uma das mesas. Nada melhor que sentar e curtir o momento. No dia
seguinte tinha coisas a fazer, então, meia garrafa me bastaria. Estava
caminhando quando só senti o baque forte no meu ombro e a garrafa indo
para o chão.
Foi uma trombada tão rápida, que me virei e só tive a chance de olhar
e desviar dos cacos no chão. Para evitar que a mulher caísse, a segurei e logo
a afastei do pequeno mar de vidro.
Que furacão... Ótimo! Que beleza!
Respirei fundo e olhei para a garota. Ela olhou para o chão e, assim
que virou o rosto em minha direção, tudo em mim se aliviou. Eu engoli um
seco enorme e, quando ela encarou meus olhos, senti que algo não estava
bem.
Para mim, estava, mas, para ela, não.
Em meio às lágrimas, tentou se soltar.
— Me perdoe, desculpa, eu não queria... DROGA! — ela falou e eu ri
daquilo. — Eu... eu preciso ir, me solta!
— Você está bem? O quanto você bebeu, garota? — perguntei,
preocupado, e tentando não parecer zombeteiro.
Ela não era tão extravagante, mas havia um jeito angelical nela que a
tornava uma mulher linda.
Ela era gostosa, também.
— Sim, estou... eu só bebi um pouco. — Se ela não estava bêbada, eu
não era loiro! — Eu vou embora, só preciso esquecer o que aconteceu hoje...
Meu Deus!
O nervosismo dela estava elevado, mas logo pareceu se acalmar.
Eu tinha 28 anos e nem quando era adolescente fiz uma besteira dessas,
beber e ficar sem rumo. Aquela garota precisava de ajuda, e eu, como bom
moço, tinha que ajudar. Não era todo dia que alguém quebrava uma garrafa
que valia 10mil dólares.
Levantei o rosto dela e vi seus olhos pretos, sentindo uma leve
impressão de que já os havia visto antes. Olhos pretos e brilhantes. Olhei para
sua perna e vi que estava machucada. Tinha algum problema?
Ela tinha que abrir a boca para mim.
— Qual é o seu nome? — Seu cabelo e escuro brilhava até mesmo na
meia-luz do bar.
— Eu... eu não... me lembro. Me deixe aqui, vá embora.
Ficou nervosa de novo, a ponto de eu conseguir ouvir sua respiração,
curta e profunda, como se estivesse tentando não chorar.
— O que tem na perna? Se machucou? — Ela me olhou, deu uma
risada sem graça e tentou se soltar de novo. A segurei e apertei contra mim,
tentando não parecer rude. — Fique parada.
Eu era grande, não podia assustar a garota.
— Vou contar até três para que me solte, idiota — ela exigiu e eu me
afastei, mas olhei de novo para sua perna. A linda olhou para mim e vi uma
lágrima descer de seus olhos. — Não me olha assim! Tenho um problema na
perna. Sabia que meu pai morreu em um acidente? Ainda dói... eu estava lá,
aconteceram muitas coisas... Eu não sei o que eu estou fazendo aqui. Um cara
me ajudou e me deu uma bebida. Eu preciso ir embora, está tudo girando!
Minha vida é uma merda!
— Está tudo bem. Fica calma.
— Você vai rir de mim, imbecil? — A tagarela mandou tudo rápido
demais.
Vestia uma roupa que me fazia questionar... o que aquela garota fazia
ali?
— Você é linda e eu não vou zombar de você. Só está um pouco
confusa, não é? Como veio parar aqui?
— O outro cara disse que ia me mostrar uma coisa, só que eu não quis
ir para a casa dele, eu só queria esquecer tudo... Eu nunca bebi... só quero
esquecer, você me entende? Diz que sim, por favor!
Balancei a cabeça, indagando a mim mesmo o que estava fazendo ali.
Respirei fundo e tomei fôlego. Eu não queria escutar uma má notícia no dia
seguinte sobre algum crime brutal contra uma jovem que tinha uma vida de
merda, como ela mesmo disso, pela frente.
Sim, ela desabou na minha frente. Sim, ela tinha me impressionado. E
ela era linda demais para ficar ali, ainda mais confusa do jeito que estava.
Tinha um problema na perna, mas eu não ligava para isso. Eu
conhecia a porra daquele lugar, sabia o que tinha que fazer e o que era certo,
e o certo era tirá-la dali.
Talvez eu estivesse me iludindo, mas juro que enxergava beleza
nadando naquelas belezas escuras. E se eu enxergava isso, outros também
enxergavam.
— Meu nome é Pedro e eu vou te levar para sua casa. Não é seguro
você estar aqui, entendeu?
Se tinha como piorar tudo? Sempre tem. Do nada a garota fechou os
olhos e cambaleou, o que me fez entrar em pânico.
— Garota, por favor, não desmaia. — Eu estava fodido! — Não me
mata do coração não, por favor!
Ela quase caiu e, agindo por impulso, a peguei pela cintura e coloquei
no meu colo. Eu estava tremendo de medo.
Tinha que colocar algo como objetivo.
Repita em voz alta o objetivo, Pedro. Ande, crie um.
— Preciso te levar para casa — falei alto e olhei para ela em meus
braços. — Vou te levar para o meu carro, mas, pode confiar em mim. Preciso
que me diga onde é o seu endereço, ouviu, garota? Porra, acorda!
— Está tudo girando... deixa eu fechar meus olhos.
— Seu endereço.
Gostaria que fosse tão fácil assim. Eu caminhei por entre as pessoas,
elas me olhavam e eu tentei parecer confiante.
— Rua Benz, 207...
— Qual é o bairro?!
— Zoyte... Quin...
— O quanto você bebeu?
Abri a porta e tentei não ficar com raiva e medo.
— Eu estou triste... Me leva embora, por favor.
Coloquei o cinto nela e fechei a porta. Assim que entrei, vi o corpo
quase sem vida, mole como uma geleia. Ajeitei seu rosto para que não
batesse na janela, logo a observei. Tinha semelhança com alguém, eu só não
me lembrava quem... Era estranho...
Me ajeitei e fiquei reproduzindo as meias coordenadas que ela tinha me
passado, quando dei por mim, parava em frente a um prédio verde. Era ali?
Desfiz-me do cinto e me virei para a garota. Segurei seu rosto e a
chamei. Demorou, mas vi que ela reagiu.
— É aqui? — Ela se virou e balançou a cabeça.
— Eu sou burra, às vezes. Eu acho que estou sonhando...
— Vamos. — Desci e fui abrir a porta para ela.
— Quem é você? Havia um outro cara, ele me pagou um monte de
bebida e... você vai fazer isso?
— Não, não vou fazer isso.
— Eu quebrei sua garrafa.
— Não tem importância. — Ela ficou me olhando enquanto eu retirava
seu cinto. Passei a mão por baixo do seu joelho e a levantei. Ela ficou parada,
imóvel.
— Você parece um príncipe. Se eu fosse perder a virgindade, queria
que fosse com você.
— Você é louca!
— Você é um cara legal.
— Antes de me conhecer você não pode dizer isso.
— Você é tão cheiroso...
— Garota, não coloque mais álcool na sua boca. — Eu olhei para ela,
vendo-a com os olhos fechados e um pequeno sorriso. — Qual é o andar?
— Segundo. Porta 207. — Ela levou a mão até a bolsa e tirou um
chaveiro. Pegou minha mão e colocou as chaves nela. — Obrigada.
— Não me agradeça.
Subi as escadas rumo ao apartamento dela, torcendo para que ninguém
nos visse. Afinal, caso algo acontecesse, eu poderia ser dado como o culpado.
— Você chegou. Onde a coloco?
— Sofá, cama, mesa... se quiser, pode ser aqui no seu colo. Você é
forte — ela falou, sonolenta.
Vi tudo branco, minha visão só focou no sofá. Andei apressado até
chegar nele e puxei duas almofadas, em seguida a acomodei neles. Assim que
me levantei, a vi se entregando para o sono. Olhei para os lados e vi tudo
escuro, até que encontrei uma mesa cheia de fotos, me aproximei e peguei
uma delas.
Meus olhos se arregalaram.
Fiquei encarando a foto de duas garotos e a semelhança. Era isso?
Aquela não podia ser a irmã de Carolina. Eu... eu havia estado com Carolina
horas antes, a levei até a casa de Lorenzo...
Quem era essa garota no sofá?
Enquanto uma fodia, a outra ficava louca de bebida?
Isso só podia ser um engano. Estava desorientado ou o quê?
Quando me virei para ir embora, a voz dela me fez parar.
— Qual é o seu nome?
— Pedro. Não coloque bebida na sua boca, você é muito nova para
desistir das coisas.
Foi o que disse antes de fechar a porta e trancar. Joguei a chave por
baixo da porta e suspirei. Eu precisava ir embora.
Siga o roteiro, Pedro.
Não dormi direito. Eu estava com um cansaço físico e pélvico, mas
isso não impedia e não podia me deixar esquecer o trabalho. Era cedo e eu
estava prestes a sair para o hotel. Depois do trabalho precisaria de uma cama,
mas, pensar que tive uma noite como aquela, louca e uma das melhores que
já tive... não era o suficiente para diminuir a excitação em mim. Imaginar
euzinha gozando naquele sofá maravilhoso era como assistir meu próprio
filme pornô ao vivo.
Estava na cozinha, encostada na pia, quando ouvi uma voz dizer:
— Olha só quem chegou! A ratinha fez a festa fora? — Abri meus
olhos lentamente quando a realidade me bateu. Uma realidade que estava
zombando de mim. Camila usava um pijama amarelo. — Bom dia. Onde
estava?
— Bom dia — falei, me aproximando e olhando para seus olhos
fundos.
Ela se virou e se sentou, mas continuei observando-a, notando sua pele
já branca empalidecer ainda mais.
— Eu saí com um cara aí. Você não ia dormir fora também? O que
aconteceu? Você andou chorando? Como foi ontem?
Comecei a metralhar minha irmã com perguntas.
— Não, não andei chorando, e meio que depois do show foi uma
merda. — Ela balançou a cabeça e ajeitou o cabelo atrás da orelha. — Você
vai trabalhar?
— O que tinha nesse lugar para te deixar assim? Por que está com esse
desânimo? Ontem você só faltava andar pelas paredes.
— Foi tudo bem, eu me diverti.
— Alguém disse alguma coisa para você? Camila...
— Carolina, se você disser ou fizer mais uma pergunta — Ela se
levantou, pegou uma xícara e me olhou —, eu te jogo essa xícara e vou para
o meu quarto. Não me faça perguntas. Senta, preciso conversar.
Eu fiz o que ela pediu e dei uma rápida olhada no relógio. Antes de
começar, ela me serviu uma xícara de café e respirou fundo. Abri a boca
algumas vezes e fechei, vendo-a sorrir diante do meu gesto indeciso e
confuso.
Carolina, fique calma, a Camila precisa falar, meu subconsciente
gritou.
— Eu vou começar a trabalhar na segunda-feira, como vendedora —
ela contou e fiquei paralisada, sem reação. — Consegui com a Betânia, no
Shopping, das sete às cinco. E uma decisão minha, eu não posso mais ficar ou
aceitar que você me trate como uma pessoa incapaz.
Sem saber o que dizer, apenas pisquei, sentido o sangue bombear em
minhas veias.
— Camila... — Travei, como uma porta quebrada. Muita coisa em
minha cabeça. Lorenzo, Camila... meu dia estava sendo duro! — Você...
— Eu cheguei em uma fase da minha vida, irmã, em que não posso
ficar mais parada. — Ela se levantou e começa a caminhar de um lado para o
outro. — Eu quero sair mais, quero poder fazer as coisas que uma garota
normal faz. Você parou a faculdade por minha causa. Se eu trabalhar a gente
vai poder se segurar juntas. Você aceitou ser camareira por minha causa. Se
continuar assim... eu quero que você dê aquele passo na sua vida. A
faculdade.
— Não foi só por sua causa.
— Contabilidade é o seu sonho — ela me interrompeu e continuou seu
discurso. — Desde pequena você brincava com uma merda de calculadora.
— Me levantei e me aproximei dela. — Quando a vaca da mamãe morreu,
sua vida parou. Eu quero que você siga, eu quero seguir. Não quero ver você
limpando chão! Eu preciso ajudar, assim você volta para a faculdade.
— Qual é o seu problema? Você é sangue do meu sangue, eu vou
cuidar de você. Você cuida de mim, eu cuido de você. Não é assim?
— Carolina. Eu. Não. Quero. Apenas. Viver!
Arregalei meus olhos. Ela tinha batido o prego diretamente na cabeça.
— Camila, eu te amo — murmurei e ela me olhou, com lágrimas nos
olhos. — Estamos juntas.
— Lembra da tia? Ela disse que eu seria uma forma de peso na sua
vida, e eu estou sendo. Tenho que tentar, por você! Eu quero melhorar, sair
dessa casca, desse medo que tenho.
— O que aconteceu? Me diz, por favor. O que aconteceu para você
estar me dizendo isso?
— Jess não foi comigo e eu não sei o que aconteceu — ela falou e
então chorou, suspirando e olhando para mim. — Eu fui sozinha e tinha uma
turma de pessoas na saída depois do show, e eles me disseram tudo que eu
não gosto de ouvir, foi como o inferno. Eu não queria passar por isso, mas foi
inevitável. Comecei a chorar e eles continuaram a rir. Eu... lembro apenas
disso.
— IDIOTAS! — esbravejei, sentindo uma raiva enorme. Fechei meus
olhos e voltei a abri-los. — Você não vai, não deve mudar por ninguém!
— Carolina...
— Aquele carro... Você, o papai... foi um acidente. Foi uma tragédia na
nossa vida, maninha. — Sorri forçadamente. — Você não tem que tentar por
mim. Quer uma mudança? Ótimo! Mas que seja por você, pelo que passou.
Essa sua perspectiva não é boa.
— Eu sei, mas é difícil mudar.
— Não seja estúpida. Não ligue para o que os outros dizem. Eu não
ligo, Camila.
— Você é perfeita, você é inteligente, sabe fazer de tudo, é saudável,
gostosa! Sabe trabalhar... Você é tudo que uma mulher precisa ser.
— E sou isso graças ao que passei. E continuo a ser por mim, por você.
— Você é a minha única família. Se em algum momento alguma coisa
acontecer comigo, você vai ficar sozinha, e isso me apavora.
— Me desculpa, isso tudo é... Me desculpe, Carolina.
— Não peça desculpa para mim. Peça a você mesma!
Eu cerrei os olhos quando a imagem do rosto da mamãe com seu
cabelo preto esvoaçante, surgiu, enquanto meu pai beijava seu rosto.
Porra!
Camila se parecia com ela. As duas tinham um rosto com um formato
de coração e os olhos pretos, enquanto eu me parecia com meu pai.
Ela se aproximou e me abraçou, eu a recebi. Não iria cair com ela. Era
bom ela me falar isso, agora poderia ajudá-la a mexer os pauzinhos.
— Da próxima vez, você me liga. É melhor estar com alguém em um
momento difícil.
— Só me perdi, mas agora estou aqui. Eu vou melhorar.
Ela parou de falar e a encarei, seu olhar estava distante.
— Da próxima vez que me ameaçar com uma xícara, te ameaço com
uma panela! — Me afastei dela e limpei as últimas lágrimas, dando um
sorriso. — Agora, me diga, vai começar a trabalhar mesmo? A única Betânia
que conheço tem uma loja que vende produtos eróticos.
Ela deu um sorriso tímido e tinha um brilho nos olhos.
— Um Sexy Shop, ela mesma.
— Vendedora? — Era inacreditável. Camila sabia o que era um pênis,
mas não havia sentido um. Bem, isso era o que eu achava. — Pelo menos vai
usar sua lábia para algo... diferente.
— Então você permite?
— Você é maior de idade — afirmei, mesmo preocupada, porque da
última vez que ela trabalhou, saiu e voltou péssima. Uma diferença física
pode fazer você se tornar um monstro para a sociedade. — Eu, dessa vez, não
vou te alertar, ou tentar fazer com que mude de ideia. Vou esperar que o
melhor aconteça.
— Eu te amo, Carolina. Se tem uma coisa que amo, é você! — Olhei
para ela e tentei relaxar. — Eu vou te deixar orgulhosa.
— Vendendo pênis de borracha?
Brinquei e tirei um sorriso dela, mas logo mudou de assunto.
— Estava com o cara? Lorenzo? — Olhei para ela e arqueei uma
sobrancelha. Ela obteve a resposta. — Esse Lorenzo faz o que no hotel?
— Ele? — Dei um sorriso. — Ele, Camila, ele é o dono daquela porra
toda. Ele paga o meu salário.
Ela soltou uma risada e logo ficou séria.
— É sério, o que o cara faz? — Fiquei encarando-a, dando a reposta
com meu olhar. — O cara não pode ser um Maldini.
— Pode, sim.
— Está brincando?! Ele é um Maldini? O seu chefe? Dono das
empresas Maldini? Você está saindo com ele?
— Sim, fodi com ele a noite inteira, estou até com as pernas tortas.
— Carol, você está... Porra! Quando iria me contar?
— Ei, relaxa, é apenas sexo!
— Sou mais iludida que você.
Ela sorriu.
— Quando se trata de homem, sou bem pé no chão. Só tem um homem
que vai me tirar do chão, Camila, e não é o Lorenzo.
— Ele me pareceu legal.
— Ele é um cara fodástico.
— Você o está tratando como uma questão sexual...
— E é isso que ele é. Ele é um miserável que faz algo bem gostoso!
— Sem detalhes.
— Camila, quem é que vai ter que vender pênis de borracha? Já tenho
algo para ganhar no meu aniversário.
— Para!
— Aprenda, você tem que deixar a pessoa à vontade, criar aquela
confiança. Entendeu? É como vender roupa. Você vai poder palpitar e vender
seu produto.
— Eu sei. Eu vou ser a melhor vendedora daquela loja. Ontem eu
também... — Ela parou de falar e ficou me olhando. — Nada!
— Nada? — perguntei e ela sorriu. — Agora eu preciso ir. Você vai
ficar bem?
— Vou. Quando chegar, a casa vai estar um brilho! A janta comigo, tá
legal?!
— Quero um bom risoto! — falei e puxei a chave, jogando-a na mesa.
— Eu achei sua chave caída perto da porta da sala.
— Eu não...
— Não perca a chave.
— Carolina, eu... Foi...
Me levantei e me aproximei dela, passei a mão em seu rosto e beijei
sua bochecha. Olhei para ela e passei toda a confiança que eu tinha.
— Fica bem!
— Obrigada! Agora vai, você tem que trabalhar. Ver seu chefe, não é?
Eu precisava mesmo trabalhar.
— A essa hora o cara está desmaiado!
Provavelmente ele ainda estava dormindo. Esperava que acordasse com
uma bendita ressaca sexual.
Algo me dizia que eu não veria o cara tão cedo.
Após onze milhas, eu estava coberto de suor e respirando duramente,
aumentando o volume da música para que ela abafasse todo o resto.
Porra!
Assim que entrei em casa, quase caí no chão de raiva. Cada músculo
da minha coxa e panturrilha pedia descanso prolongado. O suor... Meu Deus,
eu poderia inundar a casa. Sempre que eu estava frustrado e irado, eu fazia
isso.
Eu não estava superando Carolina. Eu tentava, mas era só pensar nela
que eu a queria comigo. Já não sabia mais o que fazer, o que começava a me
assustar.
Lembrar dela, pensar nela, me fazia certamente parecer uma
adolescente obcecada pelo Harry Styles.
Não ria por essa observação. Eu não me importava de fazer esse papel
com ela. Mas, fazer esse papel excessivamente? Isso não era para mim, que
nunca precisei.
Eu me odiava por pensar compulsivamente naquela mulher e o
pensamento me deixou deprimido por algum motivo. Já não sabia mais o que
estava fazendo da minha vida. Ela era boa, mas não era o meu tipo. Porra!
Carolina não era, e nunca seria, o meu tipo. Isso é como um sapato que você
quer muito, mas não é o seu estilo de sapato, apenas serve em você, porém,
não é o modelo que você quer no seu pé.
Ela servia em mim, eu servia nela. Por favor, entenda que ela
encaixava-se muito, mas muito bem! Mesmo ela não sendo o meu tipo.
Completamente diferente das mulheres com quem eu transaria mais de uma
vez. Ou seja, ela deveria ficar de lado depois que nos divertíssemos.
Acontece que eu a quis depois daquela fodida mesa. Lembra-se da mesa? Eu
me lembro.
Entrei em minha sala, odiando me sentir um ingênuo. Joguei-me no
sofá e olhei para a almofada ao meu lado. Eu tinha que criar uma nova regra
sobre o sexo. Sexo no sofá era bom, mas as lembranças não eram lá muito
agradáveis. Eu a comi, eu a chupei ali.
Como uma coisa simples como ela se tornou tão complexa, tão
complicada?
Olhei para o relógio e cogitei a hipótese de sair às oito da manhã à
procura de alguém que me fizesse esquecer Carolina. Ela agia com muita
indiferença, e isso não era o que eu esperava de alguém, de uma mulher. Na
verdade, acho que isso era o mais difícil de lidar.
A única mulher que convivi realmente foi a minha mãe. Então, em
matéria de profundidade com uma mulher, profundidade mesmo... eu não
sabia como lidar. Eu sabia a parte superficial. A sexual. A que eu usava.
Acho que você agora pode saber que não é como se eu fosse sensível ou
carinhoso. Não!
Sempre fui sincero, verdadeiro, o que podia gerar conflitos.
Tinha uma mente curiosa, criativa, e produzia, fazia as coisas
acontecerem. Não falo sobre mim. Nunca falei. Nunca falarei. E assim segue
o jogo.
Eu não queria ter uma trepada ruim pensando em outra garota. Não!
Sem dizer que viajaria no dia seguinte, e não a veria. Acordar e correr
não adiantou.
Peguei meu celular e já disquei o número dela.
Desesperado? Muito!
Se ela pensava que poderia me negar, estava seriamente enganada. Ela
teria que me atender.
O telefone chamou pela terceira vez, fazendo-me sentir uma enorme
agonia.
O tempo estava passando e eu não conseguia superar Carolina. Dias se
passavam, mas ela estava praticamente em todo lugar, ela me atraía mesmo
de longe.
— Alô? — Estranhei, porque a voz não se parecia com a dela — Alô?
— Fiquei em silêncio e me ajeitei no sofá. — Alô?
— Com quem eu falo? — perguntei, fingindo normalidade.
— Camila. Quer falar com a Carolina?
— Sim. Ela está?
— Olha... — A menina começou e fez uma pausa antes de completar a
frase. — Ela está dormindo. Trabalhou até tarde. Tem como ligar depois?
Quer deixar algum recado?
— Camila, sou eu, Lorenzo. Lembra de mim?
Bem, vivendo e aprendendo. Tinha que lidar com tudo que viria pela
frente, e isso incluía passar pela irmã dela.
— Você! Minha irmã deve ter tido algum problema com você. Ela
xingou você do nada.
Fiquei decepcionado com essa informação.
— Não houve nada, eu juro. Só preciso falar com ela.
— Desculpa, mas não gosto de acordá-la. Ela me mataria, depois
mataria você!
— Entendo. Ela falou mais alguma coisa sobre mim? — perguntei, um
pouco confuso.
— Não, só mandou você ir para o inferno.
— Queria convidá-la para sair.
— Uau!
Eu também falaria isso se fosse ela.
— Tem como você me ajudar? Fazer com que ela aceite?
Usar seu poder como irmã, dizendo que sou um cara foda, um cara
legal, me ajudaria para caralho, completei em pensamento.
— Se ela não quer, não force a barra. Não se iluda com falsas
esperanças.
— Eu não estou...
Nunca fui iludido, nunca quis nada a sério. Alguém tinha que explicar
isso. Eu não era um cara que bebia por mulher, apenas vivia a vida, a vida me
levava, meu coração batia, bombeava. Nunca tive um amor ou algo não
correspondido.
— Está, sim!
Outra para jogar as coisas na minha cara? Era um grupo especializando
para me deixar frustrado?
— Vocês duas são sinceras.
— Sim, somos. Mas, pensando bem... Já que quer vê-la, aceita almoçar
com a gente?
O paraíso devia ser como aquela sensação que havia acabado de ter.
Era sério o que ela dizia?
Gostava de como aquela garota pensava.
— É sério? — perguntei, desconfiado.
— Se você aceitar...
— Camila... Bem, acho que isso seria uma coisa legal?
Ela fez o convite, eu iria aceitar. Aceitar de qualquer maneira. Mas eu
precisava fazer o cara indiferente. Aquele cú doce.
Qual é?! Eu tinha que me fazer de difícil.
— Chegue de surpresa, finja que eu não o convidei — ela sugeriu.
— Ela não vai aceitar essa ideia.
Acho que, se fosse eu, também não acharia aceitável. Acharia
perseguição.
— Ela não te odeia, então vai dar certo.
Não, ela não me odiava... só tinha me mandado ir para o inferno.
— Sua irmã é osso duro de roer. Ela pode me colocar para fora — falei,
lembrando como ela tinha feito uma vez, fechando a porta em minha cara
depois de termos feito algo tão gostoso. — Já até imagino a cara dela. Não
sei, Camila...
— Tem certeza?
Pensei por um tempo e decidi.
— Okay, eu aceito — falei com um sorriso. Meu lema estava sendo “só
se vive uma vez”. É claro que eu iria aceitar. — Você está insistindo muito,
não posso negar o convite.
Não leve a minha ironia tão a sério. Ela já tinha me deixado fazer
muita merda.
Eu poderia dizer “não”, sendo educado, ficando em casa e comendo a
comida genérica que sempre comia. A tarde ficando de cueca, trabalhando,
era o que fazia toda tarde de domingo. E a noite poderia liberar o tesão com
outra mulher.
— Você foi legal comigo — ela declarou.
Valeu a pena? Claro!
— Você me ajudou — rebati. Se uma mulher te ajuda com outra, pode
considerá-la alguém de bom convívio. — Como vai ser o almoço?
— É um almoço, comida. Normal.
— Que horas tenho que ir?
Poderia ser agora, se quiser, penso.
— Aproximadamente uma da tarde, hora que costuma sair o almoço no
domingo.
— Tudo bem. Precisa de algo? Quer que eu leve alguma coisa?
— Não, beleza. Tenho tudo que preciso.
— Ótimo.
— Vê se não pira com a Carolina, assim, caso ela ache ruim. — Pirado
eu estava naquele momento. — E só insistir que ela cede.
Tudo bem, teria que ser do jeito difícil.
Por que eu não estava surpreso? Ela estava me avisando, eu sabia que
a fera ficaria brava.
Mas o belo aqui tinha o toque muito, muito delicado, e sabia dar o
beijo na fera, fazendo-a virar uma princesa bem calma.
Estava jogado no sofá, escutando tudo o que ela dizia.
— Tenho paciência — garanti. Ser paciente era uma coisa, mas ser
ansioso era outra muito pior. — Te vejo em breve. Se precisar de qualquer
coisa, me liga. Eu resolvo em minutos.
— Tudo bem. Até logo.
Desliguei e me levantei do sofá, quase fazendo uma dança da vitória.
Uau! Eu tinha um almoço e estaria muito bem acompanhado. Isso
realmente era verdade?
Se você fica tempo demais sem comida, e de repente chega um grande
prato, você não vai comer pouco, porque precisa matar sua fome. Você não
irá jogar o resto fora sem ter se enchido o suficiente.
Eu comeria cada parte, cada pedaço. Até as migalhas que me descem.
Acho que isso era meio sem sentido. Carolina estava matando meu tesão, ou
seja, ela me alimentava cada vez que ficava comigo, cada vez que eu gozava,
que tinha orgasmos. E isso eu valorizava, portanto, corria atrás.
Notaram? Era isso que eu estava fazendo. Estava aproveitando até que
eu estivesse cheio dela.
Não, ela não era obrigada, mas se eu a fizesse querer...
Ela podia não ser meu tipo, aquele fixo em mim, mas era meu número.
Simples assim! Carolina teria que me engolir mais um pouco.
Não ria do amplo sentido da frase. Em um dia ela apareceu na minha
porta, seus olhos brilhando.
Carolina era uma garota boa, muito boa mesmo, mas não comum!
E eu era um rapaz que sempre valorizava isso.
Eu era um bom rapaz!
Bati na porta e sorri, como uma criança ao oferecer biscoitos a alguma
senhora de meia-idade. Eu levava um buquê de lírios e não fazia ideia do por
que das flores, apenas as levei. Não eram para a ingrata. Era para a minha
mais nova amiga.
Assim que a porta se abriu, eu vi Camila. A minha grande amiga!
— Oi — eu disse e ela me olhou como se não acreditasse que era eu.
Qual a surpresa? Ela pensou que eu estava blefando? Eu jamais fugia
dos meus compromissos, e Carolina era meu novo compromisso. Pelo menos,
por ora.
Ela abriu a porta lentamente e notei que ficou tímida, recuando
quando entrei. Ela não disse nada e eu apenas fiquei parado, a esperei fechar
a porta e anunciar:
— Carol, você tem visita. — Camila piscou para mim. Eu sabia que a
gente tinha que improvisar. — Ela está no sofá. Vem.
Carolina me analisou enquanto eu entrava na sala. Ela estava com uma
almofada na mão, cobrindo as pernas. Seus olhos se moveram sobre mim.
— O que está fazendo aqui? De novo?
— Vim te ver.
Queria saber o que estava se passando pela cabeça dela. Na minha era
só a vontade de me sentar no sofá, de preferência com ela. Depois
poderíamos apenas olhar para a parede, eu não me importava, porque ela
trazia boas memórias.
— Lorenzo... o que faz aqui? — ela repetiu a pergunta. — Já nos
acertamos.
A voz dela soou firme.
— Vim ver você porque estava com saudades.
Ela me olhou de cima abaixo, me analisando.
— Flores para mim? — Desviei o olhar e olhei para as flores. Se fosse
para ela, ela iria jogar em cima de mim, uma por uma.
— Não. Trouxe para alguém especial — respondi e abri um sorriso.
Olhando para o lado, vi a garota. — Para você!
— Para mim? — Eu entreguei o buquê a ela, que sorriu. — Bem... —
Camila olhou para a irmã como se analisasse, como se tivesse receio de
aceitar. — Obrigada. Não... não precisava.
Carolina poderia querer flores, mas ela merecia?
Me virei e segurei o riso diante da cena. Carolina estava com a boca
formado um grande “o”. Mas, querendo ou não, veio para cima de mim. Não,
ela não deu uma de assassina, mas seus olhos chegaram perto disso.
Vendo-a melhor, pude notar o que vestia. Uma blusa fina de algodão,
daquelas folgadas, mas justas, e sem parte de baixo. Só calcinha.
Era um pijama? Se fosse, era bem modesto.
Onde estava a almofada que cobria tudo?
Quem me ofereceria água ou um suco para refrescar aquele fervor?
Carolina tinha seios lindos, grandes, bem redondos, daqueles que te
dão arrepio só de lembrar como são. Eles estavam ali, na minha frente, com
aquela blusa marcante, revelando muito para mim. Suas pernas eram longas,
mas pelo menos a calcinha não era tão reveladora.
Uma tesoura e quatro movimentos, seria o suficiente.
— Não serei eu a segurar essa vela! — a irmã dela falou e a olhei. —
Lorenzo, obrigada pelas flores, me deixou sem palavras. Agora eu vou
colocar as flores em algum lugar e terminar a comida. É meu convidado para
o almoço, se você quiser.
— Camila! — Carolina exclamou, claramente repreendendo a irmã. —
Está me convidando?
— Eu não quero atrapalhar. Era para ser só uma visita. — Cínico pra
cacete! — Posso ir embora, Carolina, eu estou acostumado a almoçar
sozinho, sem ninguém, em dias de domingo.
— Mentiroso — ela falou, fazendo uma cara de indignação.
— É sério, Carolina, acredite. Eu só passei para dizer um oi.
— Carolina, não há nada demais nisso — Camila comentou e vi os
olhos de Carolina darem uma volta completa.
Dei uma piscadela para minha cúmplice voltei a focar na mulher
seminua a minha frente.
Quase me senti mal por invadir seu espaço.
Quase.
— Está tudo bem — ela concordou. — Então fique.
— Carolina, melhor ir vestir uma roupa. Temos um convidado.
— Está brincando, Camila? Lorenzo já me viu em diversas posições e
peladona!
Nisso eu tinha que concordar com ela. Concordar muito.
— Com certeza isso já aconteceu, não é? Com licença — disse a
garota, que se virou e saiu.
Eu estava me sentido cômico.
— Seja bem-vindo, Lorenzo, mas foi sujo isso.
— Carolina, eu sou limpo, tá legal? Sujo é o que a gente não está
fazendo. — Me aproximei e ela se afastou. — Sua irmã é mais carismática
que você.
— Ela é inocente, diferente de você, seu pretensioso do caralho!
Carolina podia ser teimosa, mas não era feita de pedra. Eu sabia disso.
— Você dorme assim todos os dias?
— Não. Durmo sem a blusa.
Ela sorriu e se virou, nem ligando para mim quando deixou a sala.
Okay, Carolina, vamos brincar, pensei.
Eu olhei para os lados e não vi ninguém, então senti que podia
aproveitar o momento.
Não fuja, garota.
Fiquei sério e caminhei na direção em que Carolina tinha ido.
Foi o meu Beijo. Foi a minha língua. Foi a minha noite. Ela era minha.
De modo previsível, eu andei pela casa e deparei-me com três portas.
Duas de frente uma para outra, a terceira no fim do corredor. Abri lentamente
a porta do quarto e tive uma bela visão.
Eu invadia tudo, não?
Ela estava de costas, parecia procurar algo dentro do armário.
Observei as paredes de cor creme, a cama de solteiro no centro do quarto bem
arrumada. Entrei e fechei a porta sem fazer nenhum ruído, encontrando-a só
de calcinha, de costas para mim, já acordando meu grande amigo.
Carolina parecia focada em escolher uma roupa, e eu parado ali.
Deus!
Deus, não, seu filho da mãe!
Eu seria capaz de gozar sem as mãos. Seria o primeiro cara da história
capaz de se masturbar sem ao menos tocar no pau.
Incrível?
Olha, mãe... sem as mãos.
Carolina passou a mão pelo pescoço e se virou. Só vi sua expressão
assustada, como se estivesse vendo um fantasma.
— Cara, que susto! — Ela puxou uma blusa e cobriu os seios. — Por
que não avisou que estava aí? — ela indagou como se não se importasse com
mais com nada. Como se desistisse de tentar me repreender. — Você está
dentro da minha casa, me perseguindo, é sério que vai continuar com isso?
— Até você me deixar ficar perto de você — argumentei, franzindo a
sobrancelha, esperançoso. — Acho que me apeguei a você, querida.
— Sem o “querida”.
— Espero que não se importe de eu ficar para o almoço. — Me virei e
caminhei pelo quarto, analisando, ganhando espaço. — Fiquei uma hora em
frente ao espelho, me arrumando para você.
— Se fosse realmente para mim, estaria pelado, Lorenzo — retrucou
Carolina. Sua boca se abriu para cuspir o que eu tinha certeza que seriam
mais palavras inflamadas. — Você foi convidado por Camila, entendeu? Não
por mim. Então, não faça nada que...
Eu a interrompi de repente, com minha voz calma, racional.
— Eu vim aqui para falar que senti sua falta.
Tecnicamente, isso não era mentira, porém, o rosto dela se contorceu
em desgosto.
— Você é um desgraçado manipulador! Eu não vou cair nessa.
— Não estou tentando manipular você.
Ah, bem, eu estava, sim! Mas só um pouco.
Ela foi até o armário e tirou um vestido de lá, o qual jogou na cama,
me ignorando no processo. Garota esperta.
Me aproximei da cama, sonhando em poder tê-la ali, mas acho que ela
me jogaria da janela, se fosse possível.
— Vamos ficar na paz.
— Eu preciso trocar de roupa. Você poderia estar fazendo várias coisas,
bem longe daqui. Não é o fodão?!
— Poderia ter pego outra, mas quem eu quero está aqui. — Ela se virou
para mim e me encarou com raiva nos olhos. — Eu falo sério. Se quero, eu
tenho. Quero você e você tem que me querer também. Temos química.
— Vai se arrepender de estar aqui.
— Vai fazer o quê? Eu não passo pela janela. — Sorri abertamente. —
Você precisaria ser inteligente para tentar me derrubar. A menos que...
— Não termine! — Ela baixou a blusa e pegou o vestido. Eu ergui
minha mão e segurei seu rosto, descendo lentamente até a mão dela e a
segurando.
— Eu não quero confusão. Finja que sou seu amigo.
— Amigo? — Levei minha outra mão de encontro à dela, que a firmou
na na blusa, mas aos poucos meus dedos conseguiram fazer com que ela
liberasse a pressão. — Não te considero como amigo.
— Eu também não. — Eu puxei a blusa e fiquei frente a frente com os
seios dela. — Você é gostosa para caralho para eu ser só seu amigo, Carolina.
Apertei um seio, dei dois passos e colei-me nela. Meus lábios
encontraram o caminho até seu pescoço, que estava fresco, pedindo por um
beijo, enquanto minha mão deslizava para a frente dela e logo deslizava por
sua barriga.
— Carolina, eu só vim por sua causa, você é o motivo. Vou ficar seis
dias longe da cidade, sabia? E o que é melhor antes disso?
Senti sua respiração acelerar. Nossos lábios se encontraram, mas,
antes de continuarmos, minha curiosidade foi maior e eu recuei.
Você estava esperando por essa parte? Onde eu a pego e a beijo? Tiro
a calcinha e a como? Meus pêsames. Não pode acontecer. Não se trata mais
só de mim e de meu tesão enorme. Não mais. Eu tinha que provar isso para
Carolina. Eu odiava a Carolina mole, rendida a um possível orgasmo.
Gostava dela ousada.
Faça por merecer, meu subconsciente resmungou.
Então eu me controlei, mas não pense que foi fácil, pois não foi. Não
havia nada que eu quisesse fazer mais do que enfiar minha boca na dela e
lembrá-la de como era bom o que estava acontecendo com a gente.
Como ainda podia ser bom.
Inclinei-me e colei minha testa na dela. Ela fechou os olhos e
aproveitei para passar meu nariz no dela, então respirei, tentando me
concentrar.
— Gente, vocês estão bem? — Camila chegou perguntando e dei uma
risada, abrindo os olhos. — Se vocês não se importam, eu... Ai, meu Deus!
Alguém me ajuda a colocar a mesa? Só se quiser. Podem ficar aí, também.
Minha amiga empatou algo.
— Estou indo, Camila. Já vou! — Carolina gritou, balançando a cabeça
e me afastando de si.
Eu sabia o que estava fazendo e tudo era parte do plano, o qual havia
criado naquele momento.
— Se cubra. Eu a ajudo.
Ofereci, abrindo e fechando a porta na velocidade da luz. O que a irmã
dela poderia pensar desse bom moço aqui? Sozinho, com ela quase nua?
— Fico feliz que não tenha atrapalhado nada — Camila disse quando
me viu sair do quarto.
— Quer ajuda? — Desviei o foco, o assunto, de tudo que ligasse
Carolina diretamente a mim. Camila saiu caminhando devagar, puxando a
perna menos que da outra vez, mas notei o sapato diferente. — Esse sapato te
ajuda?
— Sim.
— Qual é o problema da sua perna?
Ela entrou na cozinha e se virou para mim.
— Perdi o movimento dela, do joelho para baixo. Não tenho 100% dos
movimentos, só 40%. O sapato é uma espécie de sapato especial, ele me
ajuda a não a puxar tanto. Tenho que me acostumar com ele para o trabalho.
— É de nascença? — Ela abriu o armário e tirou os pratos, os
entregando a mim junto com os talheres. Me olhou e balançou a cabeça.
— Não, foi um acidente quando eu era mais nova.
— Não tem retorno? — perguntei, começando a dispor os pratos na
mesa. — Os médicos não disseram nada a respeito?
— Sim, mas não é algo que se diga... Nossa, a perna dela vai voltar ao
normal! — Ela se aproximou e colocou uma travessa com risoto no centro da
mesa. — Tem chances, mas são cirurgias, são cortes, hospital...
Parei e olhei para ela.
— Você tem medo ou é algo de estética? — questionei, sincero.
Veja bem, a garota estava linda, era linda. E, sinceramente, ela se
cuidava visualmente. Mesmo por trás daquele shorts e aquela camisa, mesmo
sendo algo de menina, ela tinha por baixo um corpo bonito. Muito atrativo,
por sinal, e muito bem cuidado.
Dos Lelis, eu já tinha a Carolina.
— Não, não. É medo de sangue, hospital... Eu odeio aquele branco...
Aquelas máscaras.
Vi que ela recuou e fiz o mesmo. Eu odiava hospital, também.
— Consigo entender isso — falei com um sorriso amarelo no rosto,
conhecendo aquele medo. — Acha que ela vai demorar? Sabe, acho que ela
gostou da minha presença... Ela é meio difícil de lidar, sincera e inflamável,
mas curtiu eu ter vindo, Camila. Eu sei disso.
Fiz uma pausa e finalizei a arrumação da mesa. Camila colocou outra
travessa e olhou para mim.
— Ela está atrás de você. — Me virei e ela estava ali, usando um
vestido florido. Poderia até dizer “nossa, que menina da igreja”. — Pronto,
Carol, nosso almoço está pronto.
— Preparei seu lugar ao meu lado — avisei, olhando para ela antes de
puxar as mangas da camisa até o antebraço. Estava começando a gostar
daquilo.
— Obrigada, mas não precisava.
— Depois de tanto tempo temos companhia para o almoço de domingo
— comentou Camila.
— Pode me convidar quando quiser.
— Seria ótimo. A última vez foi um cara que dormiu... — A menina
começou a tagarelar, até que percebeu que era informação demais e se calou.
Sabe o meu sorriso? O perdi de vista.
— Camila, que coisa feia falar da vida pessoal na frente de um
estranho! — Carolina disse, se sentando enquanto eu continuava sério.
— Desculpa, não quis... Desculpa, Lorenzo.
— Não sou estranho, sou um amigo, agora. Não é?!
Eu falei isso encarando a Carolina.
— Bem, acho que é.
— Richard era um cara legal, Camila. Poderia chamá-lo para almoçar
algum dia desses. — Implicante! — Depois vemos isso.
Camila notou o meu desapontamento, mesmo eu tentando não ser tão
claro.
— Camila, mudei de ideia, amiga. Senta você ao meu lado. Vai que
ela quer trazer algum convidado para sentar ao lado dela, não é?
Eu me sentei como um robô e Carolina se sentou do outro lado,
afastada de mim. Ela sorriu, vitoriosa.
Grande palhaçada!
Carolina era uma debochada que me fez até perder a fome, porém, eu
sabia brincar em território inimigo.
Sabia fazer isso muito bem.
— Alguém quer mais suco? — Camila ofereceu. Somente ela tentava
puxar assunto. Balancei a cabeça, aceitando. — Mais, Carol?
— Não.
— O suco está ótimo! — elogiei.
— Minha irmã foi quem me ensinou — Camila disse e eu a olhei. —
Agradeça a ela, Lorenzo.
Eu deveria sair daquela cadeira, mas não queria. O almoço foi
silencioso, mas as poucas palavras eram suficientes. Eu não desistiria
facilmente.
— Claro que vou agradecer — afirmei, em seguida coloquei a mão
sobre a de Carolina, passando levemente o dedo em um carinho. —
Obrigado.
Ela puxou a mão, me renegando. Mais uma fodida vez. Sabe, às vezes
as coisas podem ficar estranhas...
No fundo eu sabia que ela queria me matar com seu garfo. E, não, não
era nada legal. Todas as ações dela pareciam calculadas, inclusive suas
palavras, era o que a postura ereta me dizia. Só estava mantendo a
compostura pela irmã.
— Carolina é uma boa funcionária no hotel? — Camila quis saber,
curiosa.
— Eu não fico muito no hotel. Não posso te dizer isso, Camila.
— Como se conheceram? — Pisco, surpreso com a pergunta. Por essa
eu não esperava.
— Sua irmã ficou presa em um banheiro, era o banheiro do meu quarto.
Depois eu... conversei com ela e lhe dei uma carona para ela, foi assim que
nos conhecemos.
— Mentiroso! — exclamou Carolina. — Você me obrigou a entrar
naquele carro.
Joguei a cabeça para trás, rindo.
— Você gostou! Ele está ali fora, posso te “obrigar” a entrar nele de
novo. — Carolina sorriu gentilmente, mas com um pouco de maldade. Eram
esses detalhes que me faziam não perder a esperança nela. — O almoço
estava ótimo. Muito obrigado, Camila. Tudo uma delícia, principalmente o
risoto!
— Valeu, Lorenzo — contente pelo elogio, Camila me respondeu,
dirigindo-se logo em seguida à irmã de forma cautelosa. — Você vai sair,
Carol?
Carolina olhou para a irmã e sorriu, como se fosse um código entre as
duas.
Eu poderia levá-la a algum lugar.
— Talvez à noite, com um amigo. — Vaca! — Vou sair com um cara...
— Vai sair com outro cara? — perguntei, incrédulo. Uma onda de
ciúmes indesejada e suspeita surgiu no meu peito com força.
— Talvez. Ele é fácil e descomplicado.
— Quando foi que eu fui difícil para você? — rebati.
— Lorenzo... — Camila tentou me acalmar. — Carolina, você...
— Se for isso... — Eu dei um sorriso só para desfazer o bico de
frustração e raiva. — Eu estou aqui. Ninguém consegue ser mais fácil do que
eu.
— Não gosto de homens oferecidos, Lorenzo, lamento.
As mulheres sempre falam que querem que os homens sejam honestos
com elas. Eu era honesto com ela, mas a mulher só me dava patada.
— Vaca! — falei e ela me olhou como se estivesse chocada.
Rude, eu sei.
— Você me chamou de vaca? Quem você...
— Chega, os dois! Carolina, ele é nosso convidado, pelo menos aqui
mantenha o respeito. Não é certo a implicância que vocês criaram. Lorenzo...
— Concordo — eu disse e olhei para Carolina. — Não quis te chamar
de vaca.
Ah, eu quis, sim.
— Mas chamou, idiota!
— Não leve tudo para o pessoal, Carolina. Saiu sem eu querer.
— Idiota!
— Palhaça! — retruquei, tomando o último gole do meu suco.
Um grande e tenebroso silêncio se instalou na mesa, e eu fiquei
quieto.
— Terminou, mocinha? — Camila se levantou, olhou para a irmã e
começou a retirar a mesa. — Me ajuda a retirar a mesa e organizar as coisas,
Lorenzo já fez a parte dele.
— Grande ajuda...
Depois da ironia, Carolina começou a ajudar a irmã e eu aproveitei o
momento para observá-la, perdendo um tempo em sua linda bunda. A voz de
Camila me tirou do momento.
— Carol, vou encontrar a Jess. Lá pelas quatro estarei de volta — ela
comunicou e parou antes de sair da cozinha, voltando-se para mim. —
Lorenzo, foi um prazer. Gostei de conhecer um tiquinho de você. Volte
sempre!
A garota saiu, me deixando com a fera, que em seguida se ausentou
também, mas logo voltou e me olhou como se perguntasse se eu iria ficar.
— Não me olhe assim. Não fui tão ruim nesse almoço, ou fui?
— Quer que eu te leve até a porta?
— Vai me chutar de novo?
— Você merece, meu querido. Merece muito.
— Você pode me chamar de “querido” e eu não posso?
— Minha casa, minhas regras.
— Posso te dizer uma coisa?
— Diga.
Mordi os lábios, tentando manter a pose.
— Sabe a Jack? Jaqueline Ladeia? Então, ela é uma grande amiga. Sou
como um padrinho para a filha dela, e me contou tudo sobre você!
— Então era isso... Ela...
— Sim, eu não apareci aqui também por acaso, eu fui convidado. Viu
como eu controlo algumas coisas? Lembra quando você entrou no meu carro?
Que eu lhe comi naquela mesa, no capô do meu carro...
— Aonde quer chegar?
— Se eu quero, eu tenho!
— Jogando sujo, até eu.
— Eu estou aqui. Não era só para dizer o quão estúpido fui ontem, mas
dizer também que meu pau está ereto desde que vi você na sala. Então, me
aceite de uma vez.
— Não vai dar em nada. Sexo você consegue com outra.
— Eu pensava assim. Até cogitei a irmã do Caio, mas não tem jeito de
escolher por quem meu pau vai subir.
— Você tem duas mãos, não precisa de mim. Eu não preciso de você,
Lorenzo, você só está querendo sexo. Eu não ligo para o que você fez, eu
esqueço, só não quero você invadido meu espaço. Aqui é a minha casa,
minha irmã, minhas regras!
Eu vi que era minha deixa. Não para ir embora.
Lembra-se do beijo que não dei? Então... mas eu tinha que dar uma de
durão. Ser doce com ela não daria certo.
— Invada o meu espaço, se você quiser — falei e olhos dela diziam
tudo o que ela não quer me dizer.
— Você não tem senso de autopreservação, não é?
Balancei a cabeça.
— Não, não nesse momento. Estou muito focado em... fornicação.
Escreva no seu mural sobre mim!
Precisava empurrar.
Precisava foder.
— À noite vou escrever no meu diário: “Querido diário, adoro dar
minha grutinha, adoro homem, adoro pênis, pênis e pênis!”
— “Adoro o de Lorenzo” — completei. Eu não a perderia. — Agora,
me diga, vai ser oito ou oitenta, vai ou racha? Você decide, Carol.
Aproximei-me e ela também.
Se ela falasse “não”, seria um pouco resistente.
Não usar a parede.
Não usar móveis.
Cama.
Não sabia se seria só um beijo.
Queria transar com ela até que eu não pudesse ir embora.
— Eu quero estar dentro de você — eu disse, me inclinei para frente e a
beijei. Ela piscou para mim e, em seguida, seus olhos se fecharam quando eu
aprofundei o nosso beijo. Foi algo forte, poderia dizer isso pelo jeito que ela
suspirou. Ela estava longe de mim como eu estava dela. E então eu deslizei
meus dedos para baixo, coloquei minha mão grande para trabalhar, entrando
por baixo daquele vestido, deslizando sob sua calcinha de algodão. Ela
gemeu contra a minha mão quando eu cheguei lá. — Você é boa, Carolina,
muito boa!
Deus, eu amava a boceta dela!
Eu comecei em seu clitóris, circulando forte e rápido, amando o jeito
com que ela se contraía contra a minha mão. Beijei seu pescoço enquanto
enfiava dois dedos dentro da boceta dela, que já estava muito molhada,
excitada.
E, sabe... não era só ela.
— Nós vamos gozar juntos, Lorenzo! — ela disse em forma de
sussurro.
Só depois notei que ela enfiava os dedos na frente da minha camisa e a
arrancava do meu corpo, fazendo os botões se espalharem pelo chão da
cozinha.
Ela tinha acabado de rasgar minha camisa?
Sair pelado não era algo legal.
Ficar era muito legal!
O quanto isso é excitante?
Carolina afastou seus lábios e passou as mãos pelo meu peito e
abdome. Observei meus próprios dedos passarem pelo seu colo até o centro
de seus seios perfeitos, e depois por aquele vale que amava, antes de chegar à
cintura dela.
Meu pau estava em seu melhor momento, grande, duro e com muito
desejo.
Por ela! Para ela!
Estava fascinado? Devia saber o motivo disso? Não.
— Você é tão...
— Perfeito?
Terminei a frase para ela.
— Gostoso!
Ela pegou a minha mão e começou a me puxar, a todo momento me
olhando e sorrindo. Como uma criança ao ganhar um presente.
Que eu fosse o presente daquela criança e seu brinquedo.
Ela se soltou, sem mais receios, apenas aproveitando a diversão.
Quando abriu a porta de seu quarto, me olhou e eu passei a confiança que ela
precisava, depois a segurei.
Tínhamos problema, a camisinha ainda estava fechada, meu pau
dentro da cueca e tínhamos uma cama de solteiro.
Tínhamos um problema de espaço. Meu pau precisava de espaço. Não
era fácil foder em uma cama pequena.
Sentei-me na cama, levando-a comigo, com seu tronco apoiado no
meu, suas pernas fechadas a minha volta.
O quanto quis isso?
O quando queria avançar?
Ela sugou minha boca para os dela, a fim de me dar outro beijo, a fim
de fazer tudo ficar, especialmente, grande!
Estávamos sem ar e nos encarando, quase nos atacando com os olhos.
Ela mordeu os lábios e suas mãos foram para o vestido, logo o retirando.
Minha imaginação enlouqueceu e se encheu de detalhes.
Isso estava muito foda.
Puxei a carteira e tirei a camisinha, deixando-a no travesseiro perto de
mim. O travesseiro tinha flores.
Deus do céu! Ela se ajoelhou entre minhas pernas e desabotoou minha
calça, mantendo seus olhos fixos nos meus. Eu me levantei e ela tirou minha
calça e cueca. Meu pau subiu, orgulhoso, duro e totalmente pronto.
— Você é lindo! — Ela me olhou e, pode-se dizer que era gracioso
aquele brilho que ela tinha nos olhos.
Ela olhou para baixo e me examinou.
A deixei aproveitar ao máximo, não tinha vergonha. Meu pau era
como a oitava maravilha do mundo. Quer dizer, os seios dela também.
Tínhamos um impasse. Então, nós dois fodendo éramos a oitava maravilha e
não se fala mais nisso. Eu gostava do jeito que ela olhava para mim, para o
meu pau.
Mas, quando um sorriso perverso apareceu em seus lábios e ela se
inclinou em direção ao meu pau, eu a agarrei e a puxei para cima. A levantei
pela cintura e seus joelhos se apoiaram um em cada lado de meu corpo. Ela
pegou a camisinha e abriu o pacote, rapidamente a encaixando em meu
comprimento.
Ela ainda apertou. Apalpou. Mexeu.
Segurei-a com uma mão, enquanto a outra empurrava a renda entre
suas pernas para o lado. Enfiei dois dedos dentro dela e... Céus! Ela também
estava pronta. Eu deslizei meus dedos até o fundo e nós dois gememos alto.
Tirei sua calcinha, querendo-a nua, sem nada para atrapalhar. Pelada!
Meus olhos estavam fixos nos dela, escuros. Os meus deviam estar
brilhantes, com as pupilas dilatadas.
Devagar, ela sentou-se em mim, e por um momento nenhum de nós se
mexeu ou respirou.
— Você é grande — ela disse, dando uma risada e beijando minha
bochecha. — Muito molhada para algo muito duro!
Ela estava apertada... Porra... A senti se apertando para mim, peguei
seu rosto e a trouxe para mim. Não conseguia beijá-la, por isso me apoiei na
cabeceira da cama, a fim de me controlar.
— Essa cama é o inferno, Carolina.
— Seu espaçoso! Quer parar?
— Já disse que vou para o inferno, não disse?
Ela subiu, deixando-me quase todo para fora antes de deslizar
suavemente para baixo, levando-me para dentro de novo. Minhas mãos
agarraram seus quadris, ajudando-a a montar meu pau com arrancadas firmes.
— Lorenzo, eu estou firme!
Sentei-me reto, pois sabia que a pressão adicionada contra seu clitóris
deixaria mais gostoso para ela.
E não estava errado.
Carolina me olhou e tentou manter a pose, vindo para mim mais forte,
rápido, minhas mãos apertando seus quadris.
— Tudo bem assim?
Comecei a impulsionar, metendo nela, empurrando seus quadris para
baixo o mais forte que conseguia. Duro, profundo, encharcado. Ela jogou sua
cabeça para trás e começou a gemer, se contraindo em volta de mim, sua
boceta em volta do meu pau, suas pernas nas minhas coxas, suas mãos nos
meus ombros. Tudo estava contraído e tenso.
E estava na mesma situação que ela. Meu pau sendo sugado. Cada vez
que ela subia, eu ia junto, cada vez que descia, eu também ia junto. Os
movimentos eram repetidos, mas ela conseguia rebolar.
— Goze, Carolina, vai fundo!
Eu impulsionei de novo e de novo.
Sua bochecha estava pressionada na minha quando ela gozou. E
enquanto seu orgasmo prendia meu pau, também gozei, de um modo tão
delicadamente longo e forte que eu apertei o quadril dela.
Vi meus dedos se apertarem na sua carne, em alívio.
Depois que os espasmos acabaram, meus braços envolveram Carolina,
unindo nossos peitos e fazendo sua cabeça encostar no meu pescoço. Senti a
batida de seu coração começar a voltar ao normal, em seguida ela deu uma
risada baixa, de satisfação.
— Deus... isso foi tão... tão... Lorenzo, eu não estou acreditando.
Nesse momento eu também estava sorrindo e fitando os olhos dela. O
modo como ela me olhava, como se estivesse me dando um presente que era
só meu...
E era ela.
Ela se virou para mim, sorriu e beijou minha bochecha novamente.
Foi a última coisa que vi. Não controlei o cansaço que me tomou e, sem nem
mesmo tirar a camisinha, exausto por tudo aquilo que havia reprimido
durante a refeição, me entreguei ao sono.
Sorri quando senti algo macio em meus lábios, era a boca dela, então
apaguei.
Como pude dormir tanto?!
— Pai, eu viajo amanhã de manhã, não se preocupe — falei, calçando o
sapato, fazendo uma acrobacia fantástica. — Vai ver seu filho querido.
— Eu sei que vou. Por que demorou tanto a responder minhas
ligações? — Conrado Maldini podia ser bem inconveniente.
Muito estilo dele, isso.
— Estava dormindo.
— Seu primo disse que não estava em casa. Ele esteve lá...
— Pai, olha só, eu estou na casa de uma mulher, entendeu? Eu fodi
com ela, dormi e fui acordado por um cara. Entendeu o que estou fazendo?
Notou quem é o cara?
Já era noite. Dormi praticamente a tarde inteira e não aproveitei nada.
— Usou camisinha? Estou novo para ter netos.
— Pai! Esquece. Amanhã encontro o senhor aí. — Precisava de uma
camiseta. Precisava sair daquele quarto. Onde está a Carolina? Me deixou
sonhando sozinho? — Mais alguma coisa?
— Não, nada, só liguei para não perder o costume. Aqui pode ser bem
chato, às vezes.
— Volta para casa.
— Que graça teria?
— Uma hora suas férias acabarão, Sr. Maldini. Os cabelos brancos
estão chegando, sabe disso, não sabe? — Dei um sorriso. — Ou será que
você será um senhor de idade careca?
— Você me respeita. Você tem metade da minha idade e não estou
jogando isso na sua cara.
— Eu não tenho 50 anos — brinquei.
— Filho da mãe! — Ele odiava parecer velho, era muito vaidoso.
Aqueles senhores que curtem, de pernas para o ar. — Até amanhã, humano
caótico. Tenho um jantar para aproveitar.
— Até amanhã.
Desliguei e peguei a carteira em cima da mesa de cabeceira. Olhei para
tudo organizado e notei que somente a cama que não estava assim.
Abri a porta e caminhei até a sala, então vi Carolina em um sofá, no
outra sua irmã mexendo no celular. Assim que Carolina me notou, ela se
levantou, já não usava mais o vestido e sim um shorts curto com uma regata.
Estava melhor que eu.
Minha cara devia estar maravilhosa.
— Olha, a bela adormecida acordou!
— Por que não me acordou? — perguntei, me aproximando
lentamente.
— Eu tentei, mas você só gemia. Deixei você dormir, cuidei. — Ela
parou de falar e balançou a cabeça. Eu sabia o que ela iria dizer. Lembrei da
parte em que NÃO acordei com uma camisinha no meu pau e constatei que
havia sido ela. — Deixei você... Nem para atender seu telefone você
levantou. Fiz mal em não te chamar?
— Não — respondi, mas lamentava por ter perdido o dia dormindo,
poderia ter fodido. — Eu agora preciso ir, tenho uma mala para organizar,
alguns papéis...
— Eu... — Carolina olhou para mim, bem no fundo dos meus olhos, e
eu não entendi, mas, olhei fundo nos dela também. — Arrumei os botões da
sua camisa.
— Minha irmã é muito tarada! — A voz de Camila me fez sorrir.
Carolina umedeceu os lábios, seus olhos ficaram nos meus.
Lembrar de tudo me causava arrepios.
— Eu gosto dela assim! — falei e ela balançou a cabeça. No fundo ela
gostava do meu jeito também.
Tinha que gostar. Ela se virou e pegou a camisa na mesa de centro da
sala, me entregou e esperou que eu colocasse, então fechou os botões.
Logo passou por nós uma Camila sorridente.
— Está acontecendo de novo! — disse ela e saiu.
— Você dorme como uma pedra
Carolina não deu continuidade no que a irmã havia dito e me dirigiu um
sorrisinho.
— Estava cansado, dormi pouco.
— Notei isso, Lorenzo. Nem conseguiu tirar a camisinha e fechou os
olhos ainda rindo.
— Não cometerei o mesmo erro na próxima.
Estávamos falando de Carolina Lelis. Ela não merecia minha pessoa
dormindo. Eu a comeria como café da manhã todos os dias da semana e duas
vezes aos domingos.
Isso só no café. E meu pau subiria todas as vezes. Não conheço um
homem que não concordaria comigo no quesito “pau duro por Carolina”.
Mas, vamos pensar só no meu.
Queria beijá-la, mais do que queria respirar.
Eu coloquei um fio de cabelo dela atrás de sua orelha e me aproximei.
Podia estar indo embora, mas iria muito satisfeito.
O som estridente do meu celular nos atrapalhou. Pisquei como se
estivesse acordando do transe e peguei o telefone.
— Alô? — atendi olhando para ela.
— Ô bundão, onde você se enfiou? Eu estou ligando para você a tarde
inteira. — Era Pedro e ele parecia zangado. — Eu não vou trabalhar no
avião, eu vou dormir! Você vai se foder!
— Porra, que bicho te mordeu?
— Seu cú, Lorenzo. Quero você aqui no meu apê! — Dei uma risada.
— Ainda hoje!
— E quem vai fazer minhas malas, terminar as coisas em casa?
— Dá tempo. Onde você está? — A mesma pergunta no mesmo dia.
— Em algum lugar. Hoje é domingo.
— Está comendo alguma mulher... Faça o favor de colocar o trabalho
na frente da boceta!
Era Carolina, não era só uma boceta. Era o beijo na bochecha que ela
me deu e a cama dela.
— Ei...
— Meia-hora.
— Pedro era neurótico com tempo. Com tudo, na verdade. O medo de
não cumprir prazos. Mas, eu o entendia.
— Estou indo.
— Ótimo!
— Já comeu sua ração? Come muito não, Pedro. — E assim ele
desligou na minha cara. Cachorro! — Era o loiro. Preciso ir. O mundo
decidiu fazer tudo contra mim.
Foda-se!
Segurei o rosto dela e beijei, contente por ela estar recebendo bem o
contato. Como se não quisesse nunca mais parar. Isso funcionava muito bem
para mim. Arrastei minha mão desde sua coluna até sua nuca, passando meu
polegar por todos os cantos da pele macia de seu pescoço.
Minha respiração ficou acelerada, o pau ficou duro, mas não era hora
pra isso.
— Muito obrigado, garota. — Quando terminei, ela apenas ficou
parada ali, olhando para mim. — Por que está olhando assim para mim?
Por um segundo, fiquei impressionado.
Ela queria isso, tanto quanto eu.
Minha nossa!
— Olhando como?
— Como se eu fosse seu ídolo preferido. Eu sei, Carolina, sei que você
queria me matar com aquele garfo na mesa.
— Você me fez ficar calma, mas só um pouco. Ainda quero fazer muita
coisa com você.
— Inclui meu pau nisso. Ele é o grande culpado.
— Não é só ele. Agora acho melhor você ir
— Se eu quiser, posso voltar? — Éramos instáveis, então melhor
garantir algo.
— Se você voltar sem fazer uma coisa idiota, pode. — Ela levou a mão
até meu cabelo e o ajeitou. — Vou estar trabalhando, você sabe onde.
— Me excita com aquele uniforme.
Vê-la trabalhando, realmente, me deixava excitado. Aquele uniforme
ainda era muito gostoso. Isso me fazia duro. Me fazia querer pegá-la e levar
até a minha cama, e mostrar-lhe o que ela fazia com o meu corpo... o quanto
ela significava para mim. Espere. Descobríamos essa última parte juntos.
Apenas assim.
Mas, vamos olhar para ela. Pôr a parte sexual na frente.
Abaixei a cabeça e beijei seus lábios.
Era impressionante, mas eu já considerava o sexo com ela o melhor
que havia tido na vida. Com certeza, o melhor sexo que já fiz.
Eu nunca me senti atraído assim por uma mulher. Nunca senti tanto
tesão. Carolina era uma mulher boa, que provocou toda aquela porra, e eu
ainda nem a conhecia direito. Dava medo de pensar o que ser de mim quando
eu a conhecesse por inteira. E teríamos tempo, eu sabia disso. Conhecer uma
pessoa era uma aventura longa, e com Carolina algo bom de se fazer,
empolgante.
Antes era só fogo de palha, como na viagem a Las Vegas que fiz e
dormi com várias mulheres. Mesmo sentindo tesão, não passava disso.
Eu sempre valorizava as mulheres pelas quais me atraía, e entregava
tudo de mim, mas nenhuma era como a mulher que eu beijava naquele
momento.
Eu estava assustado e pensativo. Ela seria a primeira? Sim,
exatamente, e eu estava fodido.
— Agora, vai, não quero ser motivo do seu atraso.
— Você nunca será.
— Para onde vai viajar?
— Para longe, mas volto no sábado. Sai comigo?
— Te levo até seu carro — ela ignorou minha pergunta.
— Não é como se eu fosse uma donzela que pode se quebrar.
— Você é uma donzela, sim, só não sabe.
— Engraçado você falar isso, Carolina, porque posso provar que não
sou uma donzela.
— Nasceu com pênis, isso já prova muita coisa, Lorenzo.
— E você com...
— Não termine. Não vamos abrir nosso vocabulário sujo.
Não mesmo, ela estava certa.
— Isso te deixa molhada?
— Isso te faz duro? — Esperta.
— Muito. Tenho várias palavras instantâneas.
Ela puxou o celular do bolso de trás do seu shorts e foram segundos
até que ela colocou algo em reprodução, um tal vídeo...
Aquilo me provocou.
Era um vídeo meu.
— Melhor que palavras “instantâneas”.
— Você é imoral.
— Você faria sucesso, meu querido. Não sabe o quanto é delicioso. —
Ela logo passou para uma foto e fez questão que eu visse.
— Caralho! Você... — Ela estava apenas de calcinha, seus seios
empinados, o cabelo solto. — Poderia me dar a foto.
Ela guardou o celular e sorriu.
— Ao vivo.
— Apaga o meu vídeo, então. Você tem atividades minhas no seu
celular, não é justo. Tenho meus direitos. — Ela pegou minha mão e
começou a caminhar comigo ao seu lado. Eu odiava aquela porta. — Vou
sentir falta daqui.
— Vai nada, logo esquece.
— Eu adoro essa casa, principalmente sua cama pequena e a parede.
— A parede deliciosa... Também adoro aquela parede! — Saímos do
apartamento dela e começamos a descer. Pelas escadas.
Estávamos chegando no último degrau quando nos deparamos com
uma senhora, que olhou de um jeito estranho para Carolina. Esta, por sua vez,
tentou chamar minha atenção para si.
— Algum problema, senhora? — perguntei e ela me olhou, balançou a
cabeça e ajustando os óculos fundo de garrafa. — Estamos sujos, fedendo?
— Esse prédio é uma pouca vergonha!
Gargalhei.
— Pouca vergonha? Pode me dizer o motivo?
— Lorenzo, deixa isso...
Ela balançou a cabeça e começou a caminhar. Não gostei daquela
velha, e olha que adoro muitas das que já conheci.
— Pouca vergonha é cuidar ou julgar a vida alheia, em termos que a
senhora entenda... Vai dizer que nunca deu a boceta para seu marido? Nunca
fornicou por aí com ele ou com outro? Para de hipocrisia. É a vida!
— Que absurdo! Eu...
— Vai para sua casa, com seus gatos. Gato não tem sete vidas? Cuide
delas. Século 21, senhora. — Ela estava toda vermelha, era raiva. — Pode
continuar seu dia, vai lá xingar nós dois de sujos.
— Aqui é um lugar de família.
— Eu sou de família, senhora, não se preocupe. Cuidado para não cair
das escadas. Pessoa hipócrita pode ir para o inferno.
Me virei e continuei a andar. Carolina segurava muito o riso. Quando
saímos, descemos o lance de escadas da entrada, ela riu tão alto que até eu me
assustei.
Mas, foi um belo som. Risada alegre e divertida.
— Era minha vizinha com... Você é louco! Os gatos, porra! Jogada de
mestre.
— Ela tem gato mesmo?
— Três!
— Ela é uma vaca!
— Ela me odeia desde sempre. Nunca bati de frente, mas você...
— O mundo não precisa de gente como ela. Cadê a paz e o amor?
— Adorei! — Olhei para meu carro e depois para ela.
— Até breve. Me espera que eu venho te buscar.
— Quando volta?
— Sábado, talvez.
Na minha opinião, sábado poderia chegar logo. Eu a queria. Queria
poder conhecer minha parceira.
Bem, o sexo era uma ótima forma de fazer isso.
Havia uma coisa muito pesada sobre o meu peito, estava tudo escuro,
em um minuto eu estava de olhos fechados, no outro aberto, mas mesmo
assim, tudo continuou escuro.
Eu morri?
Eu bebi?
Senti minhas mãos ganharem vida.
Primeiro, senti algo macio e com uma curva.
Cintura?
Subi e encontrei algo arredondado, aparei e segurei com a mão. Senti
o seio e comecei a subir com minha outra mão. Mas, dessa vez, eu senti outra
coisa arredondada. Era uma bunda.
Meu anjo da guarda, o que você fez dessa vez?
Eu devia estar ficando louco. Eu me lembrava de tudo que fazia.
Assim que subi, adiante senti a pele quente e macia. Mexi a perna e vi
que estava com meu pau duro. Levei minha mão até um cabelo que estava
jogado pelas costas da estranha.
Que burrice eu fiz dessa vez?
Quando foi que servi de travesseiro?
Caralho!
Balancei o ombro da moça e ela só gemeu.
Balancei de novo.
Não me lembrava de ter levado uma mulher comigo ou ficado com
alguma... Balancei a mulher de novo.
— Dorme! — Eu me arrepiei todo com essa voz.
Todo o cabelo que tinha no meu corpo se levantou com esse arrepio.
Todos!
— CAROLINA?! — falei alto enquanto me levantei depressa... mas aí
veio a luz.
Eu apenas senti a luz na minha cara, sentindo que estava suado.
Era um maldito sonho com ela!
Olhei para o lado e vi o notebook aberto, a agenda telefônica... e
minha agenda pessoal. E quando notei, estava de shorts e com meu pau duro,
passei a mão e senti o que ele queria.
— Também a quero amigo, mas ela não facilitou para mim.
Droga! Me levantei todo dolorido, estava morto em plena quinta-feira,
às dez da manhã.
Passei a mão no rosto, recuperando o controle.
Nem para ela me deixar em paz nos sonhos.
Peguei o telefone na mesa de cabeceira e vi a hora, assim como as
ligações perdidas, delas só retornei a de Pedro.
— Me ligou? — falei logo. Precisava de um banho, relaxar e pensar.
— Primo querido, preciso de você.
— Só depois do almoço.
— Preciso agora.
Sem mau humor, Lorenzo. Sem mau humor. Pega leve com o rapaz
loiro.
— Pedro, acabei de acordar.
— Aposto que já começou com um café da manhã. — Debochado. —
Tem alguém com você?
— Não, Pedro, não tem. Só para isso que me ligou? Para conferir
minha vida sexual?
— Sim, e não. Titia ligou, vai para a cidade na sexta, vamos ter que
pegar a ponte amanhã de manhã.
Me joguei novamente na cama.
— Visita de rotina... — Titia era uma mulher adorável, mas não queria
ter que me preocupar com uma visita, já tinha muita coisa na cabeça. — Mais
alguma coisa?
— Preciso da sua mão para assinar algumas coisas. Posso falsificar sua
assinatura, se você demorar demais.
Pedro elaborou essa tática na escola, para só nós dois usarmos. Eu sei
fazia a assinatura dele e ele a minha. E, claro, a gente tinha nível superior na
assinatura do meu pai.
— Depois do almoço estou aí. — Olhei para o notebook e o arquivo
PDF com os dados pessoais de Carolina. Deparei-me com a foto e sorri. Era
uma foto 3×4, ela tinha o cabelo preso e blusa simples. — Tenho que
desligar.
Encerrei a chamada e deixei o celular de lado. Olhei a logotipo do
hotel, e pensei: ela tinha que ter aparecido?
Grande inferno.
E, eu... não podia fazer nada.
Maldição! Soube, então, como se sentia Edward, no filme Uma linda
mulher, entendi tudo que ele fez.
Quando foi que isso aconteceu?
Gostei da mulher desde a primeira vez que fiquei frente a frente com
ela, quando ela me comeu com os olhos e eu também a comi com os olhos.
Foi nesse momento que soube que precisava entrar no meio de suas pernas,
tê-la... era um vício pesado.
Por que não previ isso antes? Era quase uma desgraça na minha vida.
Quase.
Ainda tinha chances.
Peguei a agenda e vi um número e um nome.
Essa coisa de querer mais que sexo complicava minha vida, já
imaginava que me ferraria bonitinho.
Carolina conheceu o homem que queria sexo, que tinha um alvo certo.
Como ela confiaria em mim? Tinha um novo alvo. Eu ser dela e ela
ser minha. Peguei o telefone e disquei para o meu pai. Antes era Pedro, mas
ele foi idiota, então, meu pai podia dizer algo que ajudasse. Chamou e eu
esperei.
— Alô? — Meu pai era o meu exemplo de homem. Ele sempre sabia o
que fazer. — Lorenzo?
A voz dele era calma, serena.
— Pai. Oi... E aí? — perguntei enquanto formulava algo sobre
Carolina.
Como poderia falar dela? Já sabia que ele ficaria puto por se tratar de
uma funcionária do hotel, por não ser ético. Ele já me puniu muito por
quebrar regras. E por ser filho do chefe, eu devia ter a barra limpa.
— Tudo bem, filho? Qual o motivo da ligação? — Parecia que ele já
estava desconfiado de algo. Merda!
— Saber como o senhor está, dizer que correu tudo bem ontem — eu
disse, calmo.
— Parabéns por isso! Fez um bom trabalho! Estou em Veneza...
Veneza é linda, filho, você iria adorar.
Ele tinha dito isso no mês passado, quando ele estava em outro lugar,
como acostumar acontecer onde quer que estivesse.
Já tive viagens alucinantes, meu pai estava tendo isso. A ideia de
viajar sempre esteve nele. Digamos que fossem longas férias.
— Quando vem para casa? — perguntei.
— Tenho mais lugares na minha lista, mas estarei aí para o seu
aniversário.
— Caramba, já havia me esquecido. Não farei nada. Bem, acho que
não.
— Onde está o seu espírito festeiro? Onde está o meu filho? — Senti o
tom bem-humorado.
— Conheci uma mulher.
— Uma mulher? — O tom de brincadeira e o humor sumiram.
— Sim.
— Você vive conhecendo mulheres, Lorenzo. Como assim?
— Fiquei com ela, porém, eu... eu gostei dela. E ela me dispensou,
meio que estamos em estado crítico agora.
— Filho, que lindo!
A desgraça da minha vida!
— Pai, não é lindo. É quase tudo, menos lindo — resmunguei em tom
desesperado, tentando não ver flashes de imagens dela.
Aquela vaca perfeita!
— Você está apaixonado, gostando dela mais do que você mesmo. É
normal.
Costumava ser solitário quando se tratava de mim. Não era o cara que
confia no que os outros dizem. Não compartilhava sentimentos. Me bastava
apenas a minha opinião. Mas, conversar com meu pai sobre aquilo era como
conversar comigo mesmo. Como se eu estivesse me olhando no espelho e o
EU do espelho pudesse responder. Não só falando de mulher, mas de
negócios, até coisas banais. Meu pai tinha um pouco de mim, eu tinha um
pouco dele.
Qual é? Ele me fez na noite mais maravilhosa da vida dele!
Olha o que eu sou. Ele fez um chuchu!
Tinha interesse em escutar o que ele podia me dizer.
— Ela é diferente de mim. Como vou explicar... não é como eu, em
aspecto financeiro.
— Não é da sua classe social, não tem dinheiro como você? Filho, isso
não importa. — Escutei com calma. — É a pessoa que ela é que vai
importar, entende?
— Entendo.
— Ela tem que gostar de você, não do que você tem.
— Eu sei disso, e ela não me quer pelo dinheiro, pelo meu sobrenome.
Acho que ela acha que não quero nada sério.
Antes fosse isso. Mas já não era só isso.
E como era minha primeira vez naquela batalha, eu lutaria. Poderia
sair morto e carregado, mas lutaria.
— Se ela for confiante demais, Lorenzo, ela sempre vai confiar nos
passos que ELA der, sempre vai estar com um pé na frente e outro atrás,
também.
— Carolina é brilhante, tem um jeito de mulher que eu admiro, pai.
Admiro mesmo.
— Onde vocês se conheceram? — ele perguntou.
— No hotel. Eu corri atrás dela, a quis.
Houve um pequeno silêncio.
— A conhece o suficiente?
— Um pouco.
— Então, vai conhecer, coloque-a do seu lado, Lorenzo, mostre quem
você é, mas também a faça se mostrar para você. Quem ataca primeiro...
— Sempre ganha — completei. — Eu sei disso.
— Conheça quem está do seu lado, se é de boa índole, caráter... uma
boa pessoa.
— Como faço isso?
Escutei uma risada. Até meu pai ria de mim.
— O que você faria por Carolina? — Parei por um momento, então
focalizei na pergunta. Minha resposta era simples: qualquer coisa! —
Lorenzo?
— Faria muita coisa.
— Já é um começo. Vai atrás dela. As mulheres, Lorenzo, como vou
dizer... se apaixonam mais rápido do que a gente. Eis um motivo pelo qual
elas se iludem. Mas, quando é a gente, nós vamos ao fundo do poço se
ignorados.
— Não estou no fundo do poço!
— Então, qual o motivo de estar tão fixado nessa... Carolina?
— Eu gosto dela.
— Não se esqueça de que a forma mais rápida de aprender é
colocando em prática e errando.
— E se eu levar um não dela de novo?
— Pelo menos você tentou.
— Ela vai é pisar em mim... — disse, pensativo. — Que seja, pai. Vou
tentar... porque... Carol vale a pena.
— Trate-a bem. Vai ser bom você gostar de uma mulher. Gostar é
querer algo que vai além das transas casuais. — Eu sorri. — Estarei aí para
seu aniversário. Vamos fazer uma aposta antes?
— Pai, eu...
E ele era assim. Me desafiava, me analisava, e eu gostava disso no
meu pai.
— Vamos aos prêmios, primeiro. — Sr. Conrado tinha tudo, então, isso
o influenciava a me fazer passar por várias... bagunças. — Se eu ganhar,
filho, você deverá fazer um novo corte de cabelo.
— E se eu ganhar você faz o mesmo?
— Sim, Lorenzo. Fechado com tudo?
— Claro. Só dizer como não perder.
— Se você conseguir levar Carolina, essa moça que você está
gostando, para o seu aniversário... você ganha! Mas, se não levar, eu ganho.
— Filho da mãe! E fácil, isso — falei.
— Então faça. O que me diz, filho?
— Já me ferrei por apostar uma vez. — Passei a mão no cabelo e
pensei brevemente. — Tudo bem, fechado.
— Ótimo! Ótimo! — Isso me serviria de motivação. — Eu tenho que
desligar.
— Até logo.
— Não desista dela, mesmo que ela pise em você com o salto quinze
dela, Lorenzo. Se você quer, você tem!
— Me consolou com as últimas palavras.
— Lembre-se das rosas. Espinhos por fora para sua própria proteção.
— Minha rosa é uma bazuca que atira espinhos, pai!
— Lorenzo!
— É sério!
— Pelo menos sei que a mulher é selvagem com você, mas sei que você
gosta. — Pensar por esse lado era incrível! — Te ligo quando puder.
— Fica bem!
Enfim, era isso.
Várias ideias apareceram e até surgiu um ânimo maior. A primeira
ideia era concluir a de ontem, a segunda levá-la para um jantar... talvez
pudesse ir onde ela estava... Não!
Partiria para o ataque, mas não pelos cantos, pelo meio.
Quando eu a pegasse para mim, eu estaria completo. Ela me
agradeceria por eu tê-la levado ao paraíso.
E quem estaria no paraíso?
O sortudo do Lorenzo!
Eu aprenderia a cuidar dela e tudo ia dar certo.
Se quero, eu tenho. Se quero, vou atrás.
Me levantei da cama novamente e peguei minhas coisas, ajeitei tudo e
saí direto para o escritório. Assim que cheguei, abri as janelas e senti o sol
das dez invadir tudo. Era importante eu usar meu modo calmo e controlado,
era algo que eu iria fazer para ela.
A vaca era minha prioridade.
Abri o notebook e deixei aberto todos os dados que tinha a partir da
ficha dela. Então peguei a agenda e logo disquei o número que havia nela.
No segundo toque, uma voz profissional atendeu.
— Universidade Bristol, no que posso ajudar?
Eu começaria a mover montanhas por ela.
Minha semana seria fechada com sucesso, com algo que me fazia
feliz. Fazia quase um ano que não havia tido retorno da faculdade, e dependia
da bolsa de estudo. Comecei, mas no terceiro período eu fui cortada, pois a
bolsa ficou off. Quando descobri, fiquei muito chateada, com raiva. Fiz de
tudo para reativar, mas, nada! Receber aquela ligação no final da semana, me
dando a notícia... foi como receber um orgasmo.
Só eu sabia o quanto queria me formar naquilo que eu escolhi para
mim. Eu até pensei em não aceitar, pelo trabalho, mas não perderia a chance.
Mudaria de emprego, se fosse preciso.
Não desistir.
Certo. Eu. Não. Vou.
A universidade me ligou, disse que minha bolsa de estudo havia sido
renovada. 100% renovada!
— Deu certo a mudança de horário?
— Conversei com dona Patrícia, ela autorizou que eu saísse uma hora
mais cedo. Eu disse que poderia repor essa hora retirando do meu almoço,
mas ela disse que não precisava.
— Quantos períodos de faculdade faltam, Carolina?
— Já fiz três completos, Jack. São oito, então agora faltam cinco. Dois
anos e meio de estudos. — Valia muito a pena eu agarrar aquela chance e
sairia formada. — Amo o que escolhi.
— Números?
— Sim, Jack, é algo que gosto. Você não pensa em fazer nada?
— Quando era mais nova, antes de ficar grávida, faria gastronomia ou
publicidade. — Dei um sorriso. Imaginando a cabelo roxo cozinhando. —
Mas aí aconteceu, eu engravidei, mamãe me expulsou de casa e virei a ovelha
malvada da família.
— Gastronomia?
— Sim, eu gosto de tudo que envolve comida.
— Realmente, envolve muita coisa gostosa.
— Temos meia hora de almoço ainda, sexta-feira longa. — Jack fez
drama. — Lorenzo está aqui hoje, eu o vi. Ele te viu?
— Não. — Mudei de expressão. Lorenzo estava sendo algo
complicado, já. — Decidi me afastar, muita areia para meu caminhãozinho.
— Só por isso?
— O Sr. Maldini é grande, Jaqueline. Mesmo que ele tenha gostado de
mim, ou do que fazemos, eu tenho que me manter segura, certo?
— Segura dele?
— Dele e de mim. Ele é meu chefe, eu devia ter tido ética profissional.
Isso pode me dar problemas. Jack, se envolver com Lorenzo é algo
complexo, é praticamente como se ele fosse casado para mim. Difícil,
complicado, algo que não daria certo.
— Pelo dinheiro dele que você não quer, porque se ele fosse um cara
simples, já teria cedido. Te conheço pouco, mas... você tem medo de caras
com dinheiro, medo que eles te deixem de lado depois que você estiver
apaixonada.
— Não sou uma boneca, não quero que brinquem comigo.
— Carolina Lelis, você odeia sofrer por amor! Confesse!
— Exatamente — eu disse e tentei não ficar frustrada. — Quando ele
cansar de mim... Jack, ele irá me deixar de lado, como um bendito negócio
falido. Sempre assim.
Não tem nada que eu odiasse mais que sofrer por alguém, que chorar,
que ser deixada de lado.
— A escolha é sua. Sempre tem alguns compradores de negócios
falidos. Mas tudo que você disse, está certo — Jack falou e senti uma
amargura na voz dela.
— Já passou por algo assim?
— O pai da Ana era rico, bem de vida, mas casado. Novo, bonito,
sedutor! — Uma surpresa invadiu meu rosto. Jack me olhou e sorriu, como se
aquilo fosse algo natural. — Me envolver com ele foi um erro, mas eu não
sabia que ele era casado, só sabia que ele era um grande homem. Apenas um
pouco mais velho que eu.
— Foi por isso que sua mãe não aceitou numa boa?
— Foi, Carolina. Foi um grande escândalo na cidade onde eu morava.
A esposa dele brigou comigo em uma festa onde quase toda a cidade estava.
Foi um caos!
— E ele?
— Ficou atrás dela, me olhando, enquanto ela me difamava, me
chamando de puta para cima.
— Você já sabia que estava grávida?
— Não, ainda não. Depois descobri, falei para ele... Ele me levou para
a cama de novo, depois me chutou.
Engoli em seco.
— Sinto muito pelo que você teve que passar.
— Foi difícil, mas hoje sou o que sou! Conheci muitos homens, alguns
eu queria desconhecer.
Sorri.
— Acho que entendo você.
— Não fui a única a passar por isso, tem várias com histórias como a
minha, às vezes até pior.
— Todas as mulheres vão entrar em alguma estática, a sua é de mãe
solteira.
— Qual é?! O cara que me deixou entrou na estática também: idiotas!
— Idiota é pouco.
— Te dizer uma coisa... — Ela ficou séria. — Lorenzo tem caráter, ele
é um dos poucos homens que defendo. Ele sempre foi verdadeiro no que
quer, ele não mente.
Pisquei algumas vezes, enquanto tudo que ele me disse aquela noite
veio na minha cabeça com força.
— Lorenzo é um cara bacana, vai achar alguém legal para a vida dele
— eu disse por fim. Jack era firme nas palavras, ela sabia que o que dizia me
fazia lembrar dele.
— Dona Patrícia está vindo para cá.
Olhei disfarçadamente para trás e a vi.
Assim que ela parou a nossa frente, eu olhei para ela.
— Carolina, poderia me acompanhar? — ela perguntou, calma, mas
senti um arrepio.
Olhei para Jack e depois me levantei.
— Claro. Até logo, Jaqueline. — Ela começou a caminhar e logo eu fui
atrás. — Aconteceu alguma coisa, senhora?
— Não, querida. — Seguimos direto para a sala dela, na verdade, sala
da administração. Ou seja, dele também. Era estranho lembrar daquela sala e
do que tive com Lorenzo. Estive ali para conversar sobre o horário que teria
que mudar, e em alguns momentos eu lembrei do orgasmo que tive em cima
daquela mesa com ele.
Assim que ela entrou, eu entrei junto, logo olhei para a mesa, na
verdade, para o homem que estava sentado atrás dela, conversando ao celular.
Senti um arrepio.
Um batimento cardíaco mais forte.
Uma fisgada.
Patrícia olhou para mim e depois para Lorenzo, que logo pediu um
segundo. Quando ele desligou o telefone, sorriu para ela e me olhou com uma
expressão séria.
Deu um medo...
— Patrícia, muito obrigado — ele falou, se levantado da cadeira. —
Minha tia Stella está para chegar do aeroporto, quando ela chegar pode vir me
avisar?
— Claro, senhor. Mais alguma coisa?
— Não. — Patrícia saiu e logo que fechou a porta senti o ar indo
embora. — Carolina... há quanto tempo.
— Oi — murmurei, direcionando meu olhar para o rosto dele.
— Fiquei sabendo que você mudou um horário aqui.
Me ferrei, sabia!
Essa era a hora em que ele se vingaria de mim?
— Sim, verdade. Conversei com Patrícia sobre eu passar a sair uma
hora mais cedo. — Respirei fundo. Ele me olhava como antes. — Voltei à
faculdade, então preciso disso.
— Hmm, entendi. Então voltou à faculdade? — ele perguntou, me
analisando.
— Sim, teve um retorno da minha bolsa. — Sorri.
— Está feliz?
— Está brincando?! Lorenzo, eu estou nas nuvens! Não podia deixar
passar essa oportunidade.
Ele sorria para mim.
— Fico feliz em te ver feliz. É um grande passo para você.
— Você precisa de alguma coisa?
— Sim, preciso. — Ele levou a mão até a gravata cinza e afrouxou um
pouco, me olhando com seriedade. — Você sabe do que eu preciso!
Olhei para ele sem acreditar.
— Cheguei de viagem mais cedo e quis ver seu rostinho. Te chamei
para fazer um convite, passar o fim de semana comigo.
— Lorenzo, eu não posso.
— Algum compromisso?
Sim...
Comer e dormir.
— Não, mas a gente já conversou sobre isso.
Insisti no não.
— Conversou e já se passou quase uma semana. Qual é?!
Então no dia seguinte seria outra vez, e assim seguiria.
Balancei a cabeça e ele se levantou, dando a volta na mesa. Eu fiquei
sentada, tendo o prazer de vê-lo se aproximar. Ele o fez e se sentou na ponta
da mesa, bem perto de mim.
Não faça isso, implorei em pensamento.
Estava perto demais.
— Não posso aceitar.
— Pode sim, sabe que pode. — Eu olhei para ele. — Vamos, eu só
quero ficar com você. Perto o suficiente de você.
Eu também queria, mas querer não é poder.
— O que faríamos nesse final de semana? — indaguei, sentindo um
grande receio.
Eu sei que só essa frase já abria uma possibilidade, tanto para mim,
quanto para ele, mas por algum motivo tinha uma possibilidade de eu aceitar.
Me chamem de louca ou sem noção, mas acho que senti falta dele.
— Bem, eu... não sei, meus planos são te persuadir aqui nessa sala. Se
você aceitar, aí vejo o que faço.
— Você não vai me persuadir. — Balancei a cabeça, incrédula. — Isso
é errado, cara. Acabou, né?!
Muito interessante o que havia acabado de dizer.
Lorenzo era uma carga positiva. Aquela que recarregou algo na minha
vida. Ele apareceu de repente, foi claro, direto, e a mulher exigente, direta, foi
para a batalha. Não perdeu, se é isso que você está imaginando.
Muitas vezes me vi excitada por ele.
Se o sexo te liga a uma pessoa, significa que você está à mercê.
Qual é? Já disse que Lorenzo era um cara praticamente dominador das
artes sexuais que dão belos orgasmos. O dono do sexo!
Ele estava na minha frente, com suas pernas longas, coxas fortes... de
terno... gravata...
Me orgulhava de ter passado a mão em cada parte daquele corpo. Uma
coisa da qual me lembraria quando estivesse com 70 anos.
— Só acaba se não tiver mais caminhos. Nós temos caminhos para
seguir ainda. — Ele ficou de pé e deu a volta, ficando atrás de mim, logo
senti as suas mãos no meu ombro. — Fala sério, amor, você tem que pensar
grande. Me deixe ficar com você.
Amor?
Ficar comigo?
Quê?
Lorenzo suavizou o aperto de suas mãos e eu senti um calor.
Seus lábios relaxaram em meu pescoço, então rapidamente me vi
caindo de novo. Eu me levantei, respirando fundo.
Tudo aquilo era um jogo.
— Sem massagem!
Estava decidida a não... A não...
O que mesmo?
Ele passou a mão pela minha cintura e tentei sair. Senti uma trilha de
beijos subindo pelo meu pescoço e parando atrás da orelha, onde ele passou a
língua levemente.
Seu perfume me invadiu, tomando conta de mim.
— Posso fazer algo para você... Posso, Carolina? — ele murmurou
baixinho novamente, e eu me contorci enquanto me perguntava mentalmente
o porquê de ele falar tão baixo.
Lorenzo se abaixou na minha frente e me virou para si.
— Lorenzo, o que...
— Eu estou de joelhos por você.
— De novo, não, por favor!
— Shiiiiii. — Então ele subiu meu uniforme e passou as mãos por toda
minha perna, apertando e acariciando.
Ele puxou o lado esquerdo da minha calcinha para baixo e passou o
nariz por toda a expansão interna da minha coxa, primeiro na esquerda e
depois na direita. Senti a língua passear lentamente até minha boceta.
— Eu estava com saudades de sentir o gosto dessa bocetinha. Saudades
da minha língua, Carol?
Eu só tive tempo de pegar minha próxima respiração e, então, senti
tudo o que ele poderia me dar. Isso apenas com a língua. Ele passou a língua
lentamente pelo clitóris, de cima a baixo, deixando tudo mais molhado.
Recuse esse oral.
Recuse, Carolina!
Eu abri ainda mais as minhas pernas, apenas para que ele tivesse todo
o espaço possível para me chupar.
Fiz o que eu queria e ele queria.
Levei a mão até o cabelo dele e foi ainda melhor para mim, senti sua
língua ainda mais fundo, mais rápida, fazendo a sucção. Dançando com meu
clitóris. Mexendo sua língua, me dando prazer.
E eu não recuso prazer. Não recuso algo que gosto, de alguém que EU
GOSTO!
Lorenzo conseguiu. Vamos seguir com ele.
— Caramba, Lorenzo, caramba!
Ele segurou meu quadril e quando eu estava vendo o universo... Puff!
Escutei uma voz e parei, segurando os gemidos para tentar escutar
novamente. Mas não escutei. Coisa da minha cabeça?
Lorenzo continuou até que eu afastei seu rosto da minha boceta.
— Lorenzo? — Uma voz feminina e firme surgiu entre a gente.
Paralisei na cadeira e, com os olhos arregalados, ele olhou por cima do
meu ombro, até que disse:
— Tia?
Então eu fiquei em choque.
Olhei para Lorenzo, implorando por socorro, para saber quem estava ali que
o havia presenciado de joelhos entre minhas pernas e eu gemendo.
— Quer que eu volte depois? Mil desculpas, eu não sabia.
Eu olhei sutilmente para trás, encontrando uma mulher de cabelos
pretos e óculos escuros, segurando uma bolsa.
— Me tira daqui — sussurrei.
Foi então que vi a boca de Lorenzo, os lábios vermelhos.
Puta merda!
Puta merda!
Puta merda!
Caramba, Carolina, caramba!
— Tia?! O que faz aqui?
Eu comecei a colocar as coisas no lugar, tentando pensar em algo... mas
nada aconteceu, não tinha ideia de como disfarçar o que estava fazendo.
Olhei para ela e tentei parecer, ao menos, sério e controlado, mas era algo
difícil de se fazer quando se estava excitado.
Carolina estava indo tão bem...
Passei a semana esperando aquele dia chegar para tentar fazer com
que ela ficasse comigo ao menos uma parte do fim de semana.
A senhora Carolina era bem gelada, vai por mim, e isso me irritava,
mas eu gostava. Então eu corria atrás, gostando dela o suficiente para ficar de
joelhos e fazer algo que ela adorava.
Só para receber um “sim”.
Se alguém chupasse meu pau como eu havia chupado a boceta de
Carolina... eu faria qualquer coisa. Acho que pelo menos o coração dela eu
tinha conseguido amolecer com um bom orgasmo. A vida tinha que ter
prazer!
Eu sabia que ela cederia quando se sentisse bem comigo novamente,
recebendo uma atenção e um carinho especial. Dava gosto de fazer algo por
ela. Fiquei muito feliz quando disse da faculdade, e mais ainda por saber que
tinha meu dedo ali. Mas, ela não precisava saber.
Carolina naquele momento ficou pálida, vermelha, rosa... Cores que
indicavam vergonha e constrangimento.
Uma louca mistura. Eu levantei a calcinha dela e fiz o que pude. Ela
só baixou o uniforme e ficou ereta na cadeira. Com aqueles olhos pretos
arregalados, encarando minha tia, que continuava parada na porta.
— Lorenzo, meu querido, desculpa — Tia Stella se lamentou. — Não
sabia que estava com uma mulher... Quer que eu volte depois?
Nada que minha tia já não tivesse visto. Qual é?! Ela era praticamente
casada com uma mulher.
Normal chupar uma boceta.
Carolina nem clima tinha mais. Olhei para ela e ela balançou a cabeça
em negativa para mim.
— Não precisa, já terminamos. — Carolina arregalou os olhos e quase
pulou da cadeira. — Quero te apresentar...
— Lorenzo, eu vou matar você — Carolina disse bem baixo. Eu peguei
na mão dela e levantei seu corpo da cadeira, tendo que segurá-la pela cintura,
porque estava mole. — Filho da mãe!
Apertei sua cintura e tentei não rir da situação toda. Ela parecia estar
com as pernas bambas de nervoso, quase caindo no chão. Ainda bem que eu
sou cara de pau por nós dois.
— Lorenzo, não... — Quando olhou para minha tia, tenho certeza de
que ela ficou com vergonha. Baixou o rosto e só olhou para o chão. Minha tia
era alta, tinha um ar sério, e isso fazia dona Stella passa por uma mulher
severa.
Carolina tinha medo disso, se sentia mais constrangida por esse “ar”
severo. Mas eu sabia que não tinha nada de severo em Stella Maldini.
— Calma — eu disse para Carol, que apenas ficou parada.
— Querida, é normal sexo oral, faz bem à saúde. — Foi a vez de
Carolina levantar o rosto, chocada e surpresa. — Comi danone sem colher
com meus sobrinhos, sei que eles são bons.
— Tia, não... — Agora era eu que não acreditava no que ela havia dito.
— Me apresente a moça.
Pela primeira vez, vi Carolina tímida e com vergonha. Ela ficava bem
assim.
— Essa e Carolina, Carol essa e mina tia Stella.
— Preciso voltar ao trabalho.
— Que isso! Vou dar algumas voltas e rever as amigas. — Minha tia
colocou os óculos e ajeitou o cabelo preto. — Podem terminar o que estavam
fazendo, só passe a chave na porta.
— Não precisa. Já... eu tenho que voltar para o meu trabalho, senhora.
Fique!
— Que isso, querida?! Você estava gostando, nem teve seu orgasmo...
— Segurei o riso. — Lorenzo, quando quiser, podemos indo. Estou morta
pela viagem. Morrendo de fome, também.
— Sim, senhora.
E o furacão Stella passou.
Eu sabia que depois ela viria e falaria dos riscos que estava cometendo
ali e blá, blá.
— Me belisca, porque não estou acreditando! — Eu me aproximei do
pescoço dela e dei uma leve mordida.
— Continuamos? — tentei.
— Claro que não, Lorenzo! Quem é essa louca? Danone com os
sobrinhos... quê?!
Eu a abracei e senti seu corpo quente, ela só ficou parada.
— Ela é minha tia. Me desculpe por isso.
— Que vergonha, meu Deus! — ela disse e logo tentou se afastar, mas
eu a segurei.
— Não precisa ir. Vamos terminar o que começamos.
— Não tenho clima... Foi broxante o que aconteceu. Estou morta de
vergonha. — Ela levou a mão até a calcinha novamente, ajeitando-a. — Peça
desculpa por mim.
— Minha tia não liga para isso. Ela é gente como a gente. — Segurei o
rosto dela e beijei seu rosto. — Ela sabe o que é chupar uma mulher, então
ela nos perdoa.
— Ela tem o mesmo nível da loucura que você — Carolina ironizou. —
Pelo menos foi simpática. Lorenzo, agora eu realmente preciso ir.
— Aceita passar o fim de semana comigo? — perguntei.
— Sério?
— O que você acha? — Olhei sério para ela. — Quer que eu repita
tudo que disse para você aquele dia?
— Não, não precisa.
Ainda bem, porque dessa vez eu seria dramático.
— Então, vai aceitar ficar comigo esse final de semana? — Ela ergueu
sua mão e acariciou meu rosto. — Domingo também é meu aniversário, caso
pense em não aceitar.
Senti-me um puta sortudo por poder usar esse pretexto.
Fiquei tão aficionado por ela que não preparei nada para o meu
aniversário naquele ano. Eu queria até falar o histórico de cada festa que eu
dei nesta data querida, mas não podia, era proibido falar delas.
Já viram o filme Clube da Luta? Qual a primeira regra do clube da
luta? Você não fala do Clube da Luta.
No meu caso é: você não fala sobre o aniversário do Lorenzo.
Apenas isso, certo?!
— Fazemos assim. Não quero deixar Camila sozinha esse final de
semana — ela disse, pensativa. — Janta com a gente amanhã, domingo eu
sou sua.
— Jantar com você e sua irmã? Tudo bem para mim. Domingo você é
minha?
Gostei. Camila era legal, então sem problemas para mim.
— Sim — disse finalmente, sua voz baixa.
— Vai ter parede especial amanhã? — perguntei e me afastei dela,
ajeitando novamente minha gravata. — Sabe o quanto gosto da sua parede,
não sabe?
— A parede é memorável, mas, não, sem parede. Camila é uma alma
boa entre a gente.
— Entre a gente? — Fingi-me de ofendido. — Espero que não esteja
chamando minha alma de suja, depravada e malvada.
— Que isso, Lorenzo, você é quase um anjo.
— Hmm, sério? Estou me sentindo o anjo que gostou do diabo!
— Eu?! Você que é o diabo!
— Sou, Lorenzo Maldini. Sou único!
— Espero não ver Stella Maldini pelos corredores.
— Você já vai voltar para o seu trabalho? — indaguei, tentando
redirecionar os meus pensamentos de volta para a normalidade.
Queria que ela aceitasse minha ajuda para um trabalho melhor,
esperava conseguir isso.
— Sim — ela sussurrou. — Eu vou.
— Velho, eu estou muito puto! — falei e suspirei.
Carolina se aproximou e beijou minha boca, do jeito que ela sabia que
me controlava. Eu queria aquela boca dizendo meu nome. Gritando. Eu a
queria sem ninguém para atrapalhar.
Queria dar o que aquela garota merecia.
E ela merecia o melhor.
— Terminamos da próxima vez, certo? — disse ela, vendo minha cara
de frustração.
— Proposta suja!
— Olha quem diz... Lorenzo, você estava de joelhos... em uma sala...
Porra! — Ela riu alto de novo, a risada que acendeu um fogo em minha
barriga. — Se sua tia não tivesse entrado, eu teria tido um orgasmo
maravilhoso, e não duvido que estaria agora retribuindo.
Menina suja.
— Te ligo para organizamos as coisas para amanhã.
— Vou adorar ouvir sua voz.
Viu?! Ela provocava!
— Tem meu vídeo ainda? — perguntei e ela ficou me olhando. —
Caramba, gostou tanto assim?
— Não disse que tenho, mas... não disse que não tenho.
— Vai logo, Carolina. Eu preciso colocar as coisas no lugar — disse e
me afastei dela de vez, dando a volta na mesa e me sentando.
Coloquei meu cinto de castidade.
Se é que tinha um.
— Te vejo em breve. — Olhei para o rosto dela mais uma vez. —
Posso dizer mais uma coisa?
— Diga.
— Você fica gostosa nesse uniforme.
— E você gostoso nesse terno! Até logo, Lorenzo. — Ela caminhou até
a porta e fiquei olhando o modo como ela caminhava.
Era o uniforme pequeno ou a bunda grande demais?
A bunda dela era firme, fofa... um tamanho proporcional. E gostosa.
Dava para morder.
Pouco depois que ela saiu, me levantei da cadeira escutei o barulho de
batidas na porta, então me sentei novamente.
— Entre — autorizei e minha tia atravessou a porta, sorrindo. Aquele
sorriso de “eu sei o que você fez”. Pelo menos não estava comendo a
Carolina, apenas chupando. — Tia linda do meu coração!
Falei, meloso.
— Que Situação! Deviam trancar a porta antes. — Ela jogou a bolsa
em cima da mesa. — Aqui é um hotel, Lorenzo, quarto e cama é o que não
falta.
Repreendeu-me.
— Eu sei, foi sem querer.
— Ainda bem que era você de joelhos e não ela de quatro. — Minha tia
se aproximou de mim e me empurrou até a outra cadeira. — Sente-se lá, não
quero sentar ali, nunca se sabe.
— Não rolou nada nela, graças à senhora — resmunguei e me joguei na
cadeira, de frente para a mesa e para tia Stella.
Será que deveria falar da mesa?
Que já havia ficado com Carolina ali?
Não. Melhor não.
— O que achou dela, tia?
Perguntei, curioso.
— Geme como uma gata no cio! — Olhei horrorizado para minha tia.
— Isso é o que eu acho que vi. É linda, adorei o rosto dela e os seios.
— Credo! A senhora diz umas coisas...
— Lorenzo, sou sua tia, sabe o quanto sou sincera com você! —
Balancei a cabeça.
Minha tia, Stella Maldini, era a mais nova entre três irmãos. Ela era o
tipo de mulher que “foda-se, sou eu!”. Era bissexual, mas o que gostava
mesmo era de vagina. Mulher. Assim como eu.
Aprendi muito com ela sobre isso. Em como tratar uma mulher na
cama e fora dela. E minha tia sempre foi uma boa professora.
Ela foi uma figura feminina na minha vida.
Eu adorava a mulher que estava a minha frente.
— Não vai falar sobre ela trabalhar aqui?
— Não, Lorenzo, não sei o que você tem com a moça. — Ela pegou
uma caneta e começou a girá-la entre os dedos. — Devo perguntar se é só
sexo?
— Pergunte.
Ela parou de rodar a caneta e olhou para mim.
— É só sexo?
— Gosto dela.
— Sério? — indagou, surpresa. — Gosta como, Lorenzo? Que milagre!
Deve ser por isso que está chovendo.
— Criei um carinho maior por ela. Algo que me faz a querer, querer
apenas ela.
— Para um cara que come muito, é bem estranho você dizer que gosta
de uma única mulher. E também é estranho você gostar de uma mulher de
nível superior ao seu. Já a conhece o suficiente?
— Sim... O nosso interesse é mútuo, queremos o mesmo.
— Certeza? — minha tia perguntou e eu sabia que ela estava apenas
querendo saber se Carolina não estava interessada somente no dinheiro.
— Ela é evasiva comigo porque acha que eu só quero sexo e depois
tchau.
— Eu, se fosse ela, já teria te dado um chega para lá. Você é uma
bomba! — Olhei para ela. — Espera, ela já tentou...
— Sim, algumas vezes. Mas eu a quero, gosto dela e vou ficar com ela.
— Meio possessivo?
— Que mal tem isso?
— Não seja burro, Lorenzo! Pode até ser que você esteja gostando dela,
mas, filho... vai com calma. Talvez seja apenas tesão. — Minha tia fez uma
pausa e suspirou. — Vão com calma, seja calmo.
— A gente é calmo, estamos nos conhecendo.
— Vi como...
— Desculpa pelo que viu.
— Nada, só faltou a pipoca. — Sorriu, serena. — Enfim, vim para o
seu aniversário. Catharina está na cidade também.
— Vai ficar em casa ou com ela? — perguntei e minha tia riu, então eu
já sabia a resposta. — Vai querer almoçar? Eu não almocei ainda.
— Pedro está chegando. Em matéria de restaurante, ele é expert!
— Aquilo lá come igual a um cavalo, não sei como não engorda — eu
disse. — Vamos almoçar todos juntos no domingo. A Carolina vai, talvez
convide a irmã dela.
— Está apaixonado, pelo que vejo. Vai sem medo. É sua primeira vez
passando por isso.
Apaixonado.
Agora estava achando essa ideia razoável. Mas não queria pensar
demais.
— Vai gostar da Carolina — comentei. — Ela tem o gênio forte e já a
irmã mais calma. — Sorri. — Meu pai chega amanhã à tarde. Seremos
apenas você, Pedro, meu pai e eu. Pode levar a Catharina, se quiser. Ela já é
da família.
— Catharina me disse que conheceu essa moça, disse que pareceu
simpática e que gosta de números. — Minha tia voltou a rodar a caneta entre
os dedos. — Gostei disso. Vou esperar ansiosamente para conhecê-la.

Espera... eu falei sobre esse almoço com Carolina?


Caramba, não disse.
Mas ela iria aceitar.
Bem, primeiro precisava pensar no jantar com ela.
Respirei fundo, me acalmando.
Pelo menos no dia seguinte a teria para mim.
Apenas minha.
Eu apenas dela.
Coloquei o vídeo para rodar mais uma vez no celular. Estava nervosa
e esperava que Martha Stewart me ajudasse. Aprendi alguns truques com ela,
mas, fazer camarão... bem, não era a coisa mais fácil do mundo.
Sou a pessoa mais básica na cozinha. Quem cuidava das coisas
gostosas por em casa era Camila, e eu me recusava a chama-la na cozinha. Eu
me recusava.
Precisava fazer algo bom, ou Lorenzo comeria a pior comida da vida
dele.
Eu não sabia fazer pratos difíceis, e era esses que Lorenzo estava
acostumado a comer.
Queria fazer algo diferente do tradicional.
— Camila — berrei, analisando toda a cozinha, toda a pia e o balcão
desarrumados.
Lorenzo merece.
Lorenzo merece.
Caramba Carolina, caramba!
— Aqui. — Ela entrou na cozinha e olhou para tudo. — O que está
tentando fazer? Risoto de Camarão ou uma nova cozinha?
A encarei, repreendendo sua ironia.
— Maninha, eu acho que errei na receita. Assim, um erro bem
pequeno... — Ela se aproximou e olhou para dentro da panela. — Pode me
ajudar?
— Isso é camarão?
— Bem, sim...
— Você cozinhou isso? — perguntou, pegando um camarão com um
garfo. — Carolina, você precisa de ajuda?
Tudo bem, estava tudo errado, eu admitia.
— Você precisa cozinhar o camarão para misturar com o restante das
coisas. Com a água que você cozinhou, você vai cozinhar o arroz...
— Não era só colocar com o restante das coisas, Camila? Martha não
disse nada sobre cozinhar os camarões.
— Quê?
— Martha é uma vaca!
Sentei na mesa e baixei a cabeça. Atravessei praticamente a cidade para
comprar os ingredientes para aquele jantar, só pedi ao Lorenzo para levar
algo que fôssemos beber. Eu queria fazer algo gostoso para ele. Algo que ele
achasse incrível.
Cheguei ao ponto de querer impressioná-lo.
Quando se é adolescente, você se destaca por coisas simples.
Agora, quando se é uma mulher, você tem que se destacar por outras
coisas. Tipo na comida.
— Quer impressionar ele, não é? — Levantei meu rosto e encarei a
Camila. — Vou te ajudar, não se preocupe. Lorenzo vai comer a melhor
comida da vida dele, feita por duas Lelis!
Olhei para Camila, emocionada.
— Valeu! Eu quero impressionar, Camila, quero ganhar o Lorenzo —
falei, confiante, e me levantei. — O que faremos?
— Comida.
— Obrigada por me ajudar. Não ia pedir sua ajuda, mas... — Peguei a
bagunça e comecei a colocar na pia — a receita desandou.
— Só desandou? — zombou, me gozando. — Pelo menos fez um bolo
maravilhoso, qualquer coisa foca na sobremesa... ou na pizzaria.
— Vamos pensar que tudo vai dar certo. Estou nervosa, Camila. — A
garota me olhou, surpresa. Eu também me olharia assim. — O que devo fazer
agora?
— Vamos começar essa receita do zero. — Ela olhou em volta da
cozinha. — Dá uma organizada aqui, pois vou no meu quarto buscar um
remédio.
— O que você tem? — Parei no meio da cozinha com duas panelas na
mão.
— Dor na perna. Começou de manhã, fazia tempo que não doía, acho
que é pela nova rotina.
— Caramba! — exclamei e deixei a louça na pia. — Está doendo
muito?
— Um pouco, mas logo passa. Vou te ajudar aqui e vou me jogar
naquele sofá com Tom Hard, quem sabe também com uma pipoca... — ela
falou, com um sorriso, e soube que não estava doendo pouco pelo simples
fato da risada de lado. — Não quero atrapalhar sua noite. Até comprei um
fone do ouvido, vai que eu preciso.
A danada deu de ombros no final da frase.
— Se estiver muito ruim, Camila, me diga que vou à farmácia. Assim
posso comprar um remédio melhor e mais eficiente — sugeri e olhei para ela
firmemente. — E se esse trabalho estiver causando incômodo, pode sair.
— É só uma dor, vai passar.
— Você disse isso uma vez, mas gemeu de dor, lembra? — Geralmente
as dores aumentavam. Eram nos músculos da perna.
A última vez que ela sentiu incômodo na perna desse jeito, deu febre
junto com a dor, a pressão subiu. Não era bom lembrar desse acontecimento.
— Vai arrumando aqui, já volto. Temos pouco tempo antes que seu
lorde chegue. Vai ser bom você se aproximar dele, ele quer te fazer bem.
— Assim espero. Se ele não me fizer bem, eu que farei mal a ele.
— Palhaça!
— Vai tomar o seu remédio, e se continuar me avise. Paro aqui e vou à
farmácia.
Dava até culpa pedir ajuda para ela.
Enquanto ela era um belo lírio delicado, eu era uma rosa com
espinhos.
Havia falado com Lorenzo pelo telefone e ainda me sentia
constrangida pelo que sua tia tinha presenciado, mas, pelo que ele me contou,
os dois se pareciam muito.
Valeu muito a pena trocar o sono para conversar com ele. Ficamos um
tempinho no telefone, coisa pouca, mas o suficiente para conhecermos
algumas coisas um do outro.
Ele era persistente e ia fundo nas coisas até conseguir.
Se ele estava fazendo algo por mim, era porque tinha um fundo de
verdade ao dizer que estava gostando de mim. Eu queria curtir isso com ele,
porém, precisava ser cautelosa. Sabia do que ele era capaz.
Sei tudo que acarretava estar com um Maldini, e não se tratava apenas
de dinheiro, mas também a influência que aquele homem tinha. Eu precisava
agir com precaução.
Lorenzo tinha uma seriedade pela qual era quase impossível não ficar
abalada.
Imagina um avião, aqueles grandes, dos mais sofisticados. Que é
influente, que sabe ser funcional... imagina o melhor avião.
Certo.
Agora imagina um buzão.
Entendem meu ponto de vista? O avião é praticamente Lorenzo, eu
fico sendo o ônibus.
A diferença entre ele e eu era gritante.
Porém, não parecia. Lorenzo era um cara tão relaxado que parecia não
notar, parecia não ver as diferenças entre a gente.
Diferenças das quais eu não poderia me importar.
Ele... Ele... Ele só faz. Sem ligar para nada.
Não ligava se eu era sua funcionária, se não tinha dinheiro, status.
Claro que tinha um ego enorme, a confiança absoluta, mas o modo
como se saía comigo era algo que eu valorizava.
Não é porque ele era uma espécie de taradão que não mostrava que era
uma cara florzinha ao tratar uma mulher.
Ele cuidava de mim quando eu estava com ele, mas não era só cuidar
na cama, era diferente em outros sentidos.
E em meio a esses pensamentos que o jantar ficou pronto.
— Carol? — Camila me chamou e eu olhei para ela. Terminei de
arrumar a mesa e dei um sorriso. — Terminamos! Eu estou fascinada com o
que conseguimos em pouco tempo.
— Isso se chama companheirismo.
— Não, Carolina, isso se chama Lorenzo, o incentivador. — Ela retirou
o avental e colocou a travessa com salada na geladeira. — A última vez que
te vi cozinhar dessa maneira, foi...
Ela fez uma pausa.
— Quando foi, Camila? — a desafiei a me responder.
— Nunca. — Ela me analisou. — Está apaixonada!
Constatou.
— Vai tomar seu banho. Ele chega daqui a... — Olhei para o relógio da
parede e me assustei. Meia-hora? Oi?! — Corre!
Falei, rapidamente e ansiosa.
— Como assim?
— Meia-hora para ele chegar, e eu preciso de um banho também. —
Olhei para tudo organizado. Quando digo tudo, era tudo! Até a última gota de
sujeira foi limpa, exterminada da cozinha. Só faltavam os dois micróbios que
ficaram. Ela e eu. — Não vou receber o cara cheirando à vinagre de maçã
com óleo!
— Termino rápido, vai dar tempo. — Ela seguiu direto para o quarto
dela e eu olhei mais uma vez para as coisas.
Não era certo ele me pegar daquele jeito.
Fui até a sala e por um segundo mordi o lábio, lembrando-me da
parede. Éramos dois sem vergonha.
Mas, vamos levar em conta... faça aquilo que deixa você satisfeito e
feliz. Se o que Lorenzo fez comigo naquela parede não nos fez satisfeitos
nem felizes, éramos seres infelizes.
Só que não!
Fui até o quarto e olhei o vestido leve e confortável que escolhi. Era
rodado, até o joelho, justo na cintura, sem decote e com uma estampa azul de
flores pequenas no tecido branco.
Depois da Camila, foi a minha vez de entrar no chuveiro e aproveitar o
momento para pensar em tudo que aconteceria, uma ansiedade enorme me
atingindo.
Vontade de me jogar naquele jantar.
Ficar com ele depois do jantar.
Comer Lorenzo de sobremesa.
Ele me usar como sobremesa.
Me apressei em sair da água e comecei a arrumar os cabelos,
prendendo-os num coque informal. Antes de colocar o vestido, encarei meus
seios no sutiã preto com orgulho dos meus gêmeos. Saí do banheiro pronta,
só dei alguns retoques no quarto.
Assim que cheguei na sala, respirei aliviada.
Tempo recorde!
Camila estava com o notebook em seu colo, e uma música baixa
tocava. Era Adele.
— Vai ficar parada aí me olhando? — perguntou ela.
— Tenho só isso para fazer, agora é esperar por ele — respondi,
orgulhosa. — Melhorou das dores?
Ela sorriu.
— Sim, um pouco. Amanhã vou estar novinha em folha, você vai ver.
— Ela olhou para o relógio da parede. — Marcou às oito?
— Sim.
— Ele está atrasado?
— Sim — eu disse, calma.
— Ele é pontual?
— Não sei. Primeira vez que marco algo com ele — expliquei e peguei
meu celular, então mandei uma mensagem perguntando se tinha acontecido
alguma coisa, se ele iria demorar. — Se ele não vir, Camila, eu pego aquela
comida toda, atravesso a cidade e pulo o muro da casa dele... só para jogar
tudo na cara dele.
Camila se espantou com minha ameaça.
— Respira, hein?! São só uns minutos de atraso.
— Isso me deixa ansiosa — falei e dei um sorriso. — Coloca uma
música pra gente.
— É pra já! — E assim ela colocou as faixas do Max Frost, logo me
acalmei.
Isso só nos primeiros cinquenta minutos.
Depois desse tempo me levantei e fui até a cozinha, encontrando
Camila comendo. Não a deixaria com fome ou esperando por ele.
Ele tinha furado comigo.
Nos primeiros minutos pensei que estivesse preso no trânsito; depois,
que o carro tivesse dado problema.
Mas, após uma hora e quarenta minutos, não restava pensamento
coerente. Todas as piores coisas passavam pela minha cabeça, por fim aceitei
que ele realmente não apareceria.
E naquele momento eu queria algo perfurante e ele na minha frente.
Porque se fosse para me detonar ou me deixar frustrada, eu ficava com
meu hormônio da TPM. Camila sabia como agir nesses casos, me deixava
quieta, calada. Fiz a menina me ajudar com a perna doendo, para ele não ir?!
Idiota!
Abri o armário e peguei uma garrafa.
— Vai beber? — Olhei para minha irmã e acenei. — Deixa disso.
Vodka não vai melhorar em nada, Carolina.
Peguei um copo e fui direto para a sala. Sentei, fui até o notebook e
coloquei uma música. Eu não queria beber, mas queria relaxar, então fiquei
ali em estado vegetativo.
E quando eu notei, as luzes estavam apagadas e Camila havia ido para
seu quarto, só tinha eu ali, também um copo cheio na mesa de centro.
Havia cochilado por minutos!
Quando ouvi o barulho da campainha, eu me assustei. A campainha
continuou.
Eu estava chateada com tudo.
Levantei, fui até a porta e a abri.
Quando eu olhei para o homem a minha frente, eu só arregalei meus
olhos e bati a porta novamente. Terminei de acordar e fiquei com raiva.
— Carolina, desculpa... — Uma voz abafada surgiu. Lorenzo era cara
de pau. Peguei o copo cheio de vodka e fui até a porta.
Respirei fundo antes de abrir, mas quando o fiz de novo, joguei todo
copo de vodka nele e sorri, antes de fechar a porta e trancar.
— CAROLINA! — ele gritou meu nome. Era raiva e surpresa.
— La, lá, laaa — cantarolei para ficar relaxada.
Vi meu celular e o peguei, ele estava me ligando. Ignorei a primeira
vez, então notei algumas ligações perdidas.
Várias, na verdade.
Depois que abri a minha caixa de mensagens, quase tive um troço.

Lolo Maldini - 22:13


Eu estou na empresa, tive problemas com alguns funcionários e com
um cliente. Vou me atrasar. Quer dizer, já estou atrasado. Desculpa por isso,
gata. Depois explico a você.

Lolo Maldini - 22:20


Reponde!
Lolo Maldini - 22:29
Não quero que fique com raiva de mim, não queria que fosse desse
jeito. Poderia ao menos atender a merda do celular. :(

Lolo Maldini - 22:40


Palhaçada você não me responder nem atender o celular. Tive
problemas sérios e agora você me ignora. Vaca!

Lolo Maldini - 23:10


Vou aí na sua casa conversar com você.

Havia outras mensagens e me dei conta de que havia sido vaca com ele.
Fiz merda! Ele ligou mais uma vez e então atendi.
Passei a ser a errada da história, o que fez eu me sentir mal.
Isso era culpa?
— Carolina? — Eu sabia que a voz dele mostrava um pouco de raiva.
— Acabei de ver as mensagens, acho que cometi um erro.
— Abra a porta. — Fiquei paralisada.
— Fiquei chateada com...
— Abra a porta, Carolina.
— Me desculpa...
— Abra a porta, Carolina, só faça isso. — Escutei o suspiro dele. —
Vamos conversar olhando um para o outro.
Desliguei o celular e fui até a porta.
Pelo tom de voz dele, estava levemente com raiva.
Carolina abriu a porta e eu balancei a cabeça várias vezes até dar um
sorriso irônico para ela.
— Tem mais alguma coisa para me jogar? — perguntei, tentando ao
mesmo tempo não falar, fazer ou agir de forma bruta com ela.
— Desculpa, Lorenzo, desculpa mesmo! — Fiquei parado na porta,
bufando e tentando não ser explosivo.
Já tentou contar até 1000?
Eu estava no número 456.
Carolina pegou minha mão e me fez entrar de vez. Me puxou até eu
estar no seu sofá, sentado. Ela tirou o celular da minha mão, junto com o
terno preto.
— Vou buscar uma toalha.
Ela parecia nervosa.
Não disse nada, entrei e permaneci sentado no seu sofá, com a camisa
ensopada.
Não fique com raiva...
Não fique com raiva... Merda!
Já estava irritado demais com assuntos da empresa.
Ela tinha que me jogar... vodka?!
— Aqui. — Ela apareceu na minha frente e me entregou uma toalha. —
Quer tomar um banho? — Não respondi. — Você não vai dizer nada?
Caroline perguntou e eu ergui meu olhar para ela.
— Eu estou fedendo a vodka!
Eu não tinha culpa disso, era inocente dessa vez.
— Já pedi desculpas.
Fiquei calado. Eu fiquei calado para não falar coisas que fosse me
arrepender depois. Mas minha vontade era gritar. Não só pelo que ela fez
comigo, porém, também pelo meu dia de bosta. Acontece que eu estava
tentando relaxar.
Ela não merecia o meu lado explosivo, até porque, era quem me
relaxava.
— Me desculpe por não aparecer no horário — disse e comecei a abrir
os botões da camisa social branca. — Queria ter vindo.
— Me desculpe por ter feito isso em você.
— Você é temperamental! — falei e comecei a passar a toalha no meu
peito, tentando eliminar o cheiro forte da bebida. — Não podia ter
simplesmente me mandado ir à merda?
— Podia, mas já passou, não passou? — Ela veio até mim e se sentou
ao meu lado. Pegou a camisa social e me olhou. — Estava trabalhando?
— Trabalhando... Não, Carolina, estava passando raiva na empresa. —
Eu me aproximei dela e a olhei. — Já está tudo resolvido, lá e aqui.
— Vem comigo. — Ela se levantou e pegou minha mão, tentando
puxar-me, mas fiquei parado. — Vem.
— Carolina, eu estou há uma semana com meu pau duro para foder
você... Se eu não fizer isso hoje, eu acho que meu pau cai! — Ela me olhou.
— Desculpa a sinceridade, mas eu digo a verdade. Uma semana sem sexo é
meio complexo para mim.
— Vem. Vamos aproveitar.
Me levantei.
— Aproveitar... certo. Como? — perguntei.
Estava tão neurótico com tudo, que eu queria só ser levado. Pelo
menos naquele momento.
— Vem, só não faça barulho — ela disse, e pelo horário podia deduzir
que a metros da gente estava sua irmã.
Carolina me guiou até seu banheiro, o que me empolgou. Assim que ela
entrou, fechou a porta. O banheiro não era grande, mas era médio. Tinha
cheiro de flores e tudo organizado. Era o banheiro de duas mulheres, isso
explicava muito.
Havia o box também. E, cara... era o suficiente para mim.
Quando se tem uma vida agitada, sempre aprendemos a usar o que a
gente tem. Principalmente lugares pequenos. Olhei para Carolina, chateado
porque usava roupas demais. Então ela se virou e se aproximou de mim.
Fiquei ansioso por isso, até me preparei para um possível beijo, só que não
aconteceu beijo nenhum. Ela tirou o vestido que usava e ficou apenas com o
básico.
— Estou querendo isso há tempos — ela falou e logo soltou o sutiã, eu
paralisei.
— Carolina... — tentei dizer e passei a mão no meu pau por cima da
calça. Olhei para ela e tentei não parecer tão louco. — Já disse que você é
linda? O quanto está linda?
— Fala a verdade, Lorenzo.
— Também é gostosa, tem os seios mais fodas que eu já vi — emendei.
— Tira a calcinha.
Ela balançou a cabeça.
— Tira a cueca.
Eu sorri.
Eu disse, não disse?
Isso era relaxante. Me desfiz da calça e de meus sapatos, e logo fiquei
de cueca, mas antes eu olhei para ela.
— Quais são as palavras mágicas para eu poder tirar? — perguntei e
levei a mão até o cós da cueca.
Cueca que era branca. Cueca que revelava minha situação. Qual era
minha situação?
Meu pênis ereto, ou seja, pau duro.
— Por favor? — Ela deu uma risada baixa. — Anda, Lorenzo, tire.
Tirei minha cueca e logo estava pelado, como ela queria. Em seguida
ela baixou a calcinha e sua boceta me deixou ainda mais preocupado.
Minha pressão subiu.
Já pensou ser achado morto e pelado no banheiro? Eu adorava as
preliminares, principalmente com Carolina, tínhamos o grau de fazer isso
como um pré-sexo.
Ela se aproximou e me deu um beijo. Eu odiava quando ela fazia isso,
não beijava como eu queria, fazia um doce, indo com essa calma... paciência.
Ela provocava dessa forma.
Carolina trilhou uma linha reta com seu dedo até chegar lá.
Sabe... lá? Então, direto lá.
Ela colocou sua mão direto no meu pau, em volta, na posição que era
perfeita.
— Me deixe te chupar. — Havia uma diversão ali naquela voz. — Me
deixe te fazer bem, Lorenzo.
Não parecia a louca que havia me jogado um copo com vodka
enquanto ela me dava umas bombeadas.
— Então faça, garota, me faça bem. — Minha voz soou abafada.
Pressionei minha testa na dela e uni nossas mãos, automaticamente
parando seus movimentos para que pudesse falar algumas palavras que
fizessem algum sentido.
— Tenta fazer silêncio — ela só disse isso.
Minha boca tentou se pressionar contra a dela e minha língua
implorou por uma entrada, mas ela não deixou, foi então que ficou de
joelhos.
Eu só gemi.
Era a coisa mais fofa... digo... gostosa... sensual... E quando ela
apertou meu pau com sua mão, eu senti um terremoto dentro de mim.
Fiquei brevemente adormecido e fitei seus olhos.
Ela apenas me olhou, com meu pênis entre as mãos.
Saibam que o contato visual no sexo oral é importante. É algo que
passa um sentimento a mais do que só prazer. Era como se os dois estivessem
falando.
Homens, sempre olhem para a mulher quando ela estiver te chupando.
Mulheres, quando um cara estiver no meio de suas pernas, olhem para
ele!
Sem medo.
Como Carolina estava me olhando.
Como se estivesse esperando algo de mim, mas ao mesmo tempo,
como se estivesse me dando algo precioso.
Que era só meu.
Apenas meu.
Unicamente, exclusivamente, meu.
Ela o abocanhou inteiro e o chupou com força, tirando da boca
devagar.
Caramba! Ela repetiu e moveu a língua em volta da cabeça como se
estivesse com um sorvete em sua mão. Carol me esfregava com a mão e
sugava com força na ponta, com sua boca quente. Eu tinha me esquecido que
a boca daquela mulher era como o meu melhor sonho.
Puta merda! Como estava me sentido bem!
Ela manteve os olhos nos meus, como se me desafiasse e pedisse que
puxasse seu cabelo, o que eu aceitei e fiz.
Fui mais fundo em sua garganta. Ela sorriu em torno do meu pau e...
porra! Eu queria ir mais rápido, mais ágil, então senti um aperto.
— Carolina, amor, estou... Se você não sair agora... eu vou...
Falando isso eu continuava a invadir sua boca.
Acho que ela me entendeu, porque só a vi segurar minhas coxas e pegar
ainda mais ritmo para ir mais fundo.
Ela iria até o final, mas, eu não.
Eu não iria gozar sem aquela mulher. Eu iria para o inferno se fizesse
isso, portanto parei os movimentos, enfiei meus dedos no seu cabelo ainda
mais e trouxe seu rosto até o meu.
— Pronta? — perguntei no mesmo momento em que ela nos puxou
para o box e a água morna caiu sobre nós.
— Agora é a sua vez, Lorenzo. Nossa vez juntos!
Eu beijei o pescoço dela, chupei e ela cravou suas unhas em mim.
A girei e a deixei de costas para mim, então beijei suas costas, seus
ombros, sua orelha. Em seguida, ela se inclinou, flexionou a cintura e se
apoiou na parede.
— Abra suas pernas para mim, Carolina. — Ela as abriu. — Abra mais.
E de novo ela me obedeceu e eu entrei dentro dela. Querendo fazê-la
gozar e querendo o mesmo. Escorreguei para dentro dela e tentei fazer isso o
mais lento possível, só para estimular o seu melhor ponto. Gememos juntos e
ela jogou a cabeça no meu ombro, arranhando minhas costas. Suspirei com a
sensação e acelerei um pouco mais o ritmo.
Peguei suas mãos e as cobri com minhas próprias mãos, cruzando
nossos dedos, entrando e saindo dela sem pressa alguma.
— Mais rápido — ela pediu. — Rápido!
Nada era melhor que isso.
Deixei uma mão na parede e coloquei a outra em seu clitóris. Ela
estava molhada, mas não pela água. Ela queria rapidez e estava excitada o
suficiente. Não dependia só de mim, dependia dela também. Comecei a
estocar mais forte, tão fundo e rápido, até que ela ficou prensada contra a
parede, com sua bochecha contra o azulejo de flores. Eu me movimentei
rápido e com força.
Ela segurou os gemidos, o barulho, e eu sabia o porquê, mas a queria
ela livre.
Vim primeiro, sentindo-me sereno ao gozar, depois a ajudei a vir com
meu pau e dedos. Apertei o quadril dela quando precisou de um apoio, e ela
se moveu, então a puxei para mim.
Assim que o prazer foi diminuindo, ela se virou e colocou os braços
ao redor do meu pescoço, me beijando relaxada.
— Mais calmo, Lorenzo?
Joguei minha cabeça para trás e gargalhei.
— Mais que calmo, relaxado. Satisfeita, Carolina? — Ela balançou a
cabeça e se aproximou ainda mais de mim, então encostou a cabeça em meu
peito e ficamos em pé, deixando a água levar tudo. — O que vem agora?
— O resto da noite. Vai ficar, não vai, Lorenzo? — Ela me olhou,
mordendo os lábios e tirando o cabelo molhado dos meus olhos. — A cama
não é de casal, mas se arrumar bem...
— Ótimo assim. — Ela se virou brevemente e pegou o sabonete,
começando a passar pelos meus ombros. Eu suspirei. — Está bom assim.
— Eu sei. Cada vez que fico com você, é melhor — Carolina admitiu e
novamente beijou minha boca.
Era um gesto até simples demais, mas ele tinha emoção, empolgação.
Não era só mais sexo ou tensão sexual.
O olhar estava carinhoso, o que me fazia crer que ela gostava de mim
também.
Isso era a confirmação.
Eu a admirei por um momento, me embebedando com a estranha
alegria que me envolvia apenas por observá-la. Por observá-la passar suas
mãos pelo meu corpo.
Não queria deixá-la ir embora.
Ela era tudo o que pensei nunca querer, e faria qualquer coisa por ela.
Se tratava de sexo bom. Se tratava de ela ser a garota firme ou o fato
de ela ter me dado trabalho, ou ser tão confiante e impulsiva a ponto de me
desafiar. Ela fazia coisas que ninguém nunca tentou ou conseguiu fazer
comigo.
Me jogar na parede.
Me jogar vodka.
Era muito mais que tudo isso.
Bem, era tudo isso.
Era ela.
Ela me olhava como minha mãe olhava para o meu pai e falo isso do
fundo do coração. Soando muito sentimental para um cara como eu?
Se sim... bem, segurem essa...
— Carolina, eu estou apaixonado por você. Somos um casal, agora!
Eu queria decidir por nós dois, a queria perto de mim.
E então, era oficial.
Escutei uma voz me chamar e ela não parecia muito distante. Alguém
poderia avisar para ela que eu não queria acordar, que era domingo e a cama
estava gostosa, me chamando para dormir mais um pouco? Ela tinha que
fazer isso comigo?
— Lorenzo — alguém chamou e ignorei. — Lorenzo, acorda, seu
celular está dando tique nervoso. — Eu me mexi. — Anda, gato, levanta. Já
são dez da manhã. Vai dormir o dia inteiro?
Vejam, pessoas, essa era a Carolina carinhosa que eu tinha.
EU TINHA!
Ela estava sentada na beira da cama, com uma mão no meu cabelo. O
quanto isso era bom?
100% revigorante?
Muito mais que isso.
— Desliga o telefone — sussurrei.
— Acho que é o seu pai. Tocou uma vez e vi na tela escrito “Maldini”
— ela falou, cautelosa. — Tem mensagens chegando, também.
Me mexi na cama com dificuldade. Cama de solteiro era um saco!
Precisava de mais espaço.
Abri os olhos e, assim que a vi, senti um arrepio gostoso se apossar do
meu corpo.
— Oi — falei, me erguendo e notando que estava nu, sem nada. Era
bom assim. Me cobri com o lençol e Carolina seguiu tudo com o olhar,
prendendo as mãos no colo. Quando já estava sentado, ainda meio sonolento,
dei um sorriso satisfeito para ela. — Dormiu bem?
— É seu aniversário?
De repente ela perguntou e eu arqueei a sobrancelha. Ela não estava
com uma expressão muito boa ao fazer a pergunta. Já havia dito a ela que era
meu aniversário. Bem, eu achava que tinha dito.
— Sim, por quê? — respondi e ela se levantou, ficando de pé na minha
frente, encarando-me com aqueles olhos pretos.
Ela estava com o mesmo vestido do dia anterior, e então pude ver o
quanto ficava bonita nele.
— Seu celular apitou a manhã inteira, Lorenzo. — Fiquei sem
entender, mas logo ela balançou a cabeça de um lado para o outro. —
Lorenzo, só tem mulher ligando para o seu celular. Não só uma ou duas... são
várias!
Olhei para o celular na mesa de cabeceira, tentando entender o que ela
queria dizer com as mensagens e ligações. Era meu aniversário, muita gente,
quer dizer, mulheres sabiam disso.
Isso explicava muito.
Eu comecei a formular uma reposta para ela, depois de ter assumido
no dia anterior que era dela e ela era minha.
Namoro? Provavelmente.
Juntos? Sim.
Se eu sabia como isso funcionava? Não.
Era meu aniversário, tudo bem até aí. Devia me preocupar com as
ligações e mensagens? Sim, muito. A expressão dela era de ciúmes e eu não
gostava de ciúmes. Já estive muito próximo de quem tinha esse sentimento e
era um pesadelo.
Um vulcão em erupção.
Um cano quebrado.
Ciúmes são uma desgraça.
— É normal isso acontecer. Querem desejar felicidades — expliquei,
calmo, não querendo deixar transparecer que estava tentando jogar isso fora,
para bem longe da gente.
— Hmm...
— Só “hmm”? — perguntei, preocupado. — Eu vou desligar o
telefone...
— Não, não desligue. Se está comigo, é comigo, Lorenzo — declarou
Carolina, me deixando surpreso. — Confio em você e em mim, só não gosto
dessa situação, entendeu?
Senti uma pequena mentira no “confio em você”, mas não falei nada.
Confiança vem com o tempo.
Ela pareceu aliviada, pelo menos um pouco. No entanto, eu fiquei
muito aliviado.
Demais!
— Não vai se repetir — prometi e logo escutei o celular tocar. O alívio
foi ainda maior quando vi o nome e o número do meu pai no visor. — É o
meu pai.
— Eu vou buscar sua roupa. Consegui lavar e colocar na secadora, já
volto.
Ela saiu e eu atendi a chamada.
— Pronto.
— Filho? — A voz dele soou com preocupação.
— Não, senhor, é do centro de estética. No que posso ajudar? — Dei
uma risada com o sarcasmo.
— Quero marcar uma massagem. Minha pele está muito seca...
— Senhor, é a idade!
— Aff, Lorenzo, não sabe brincar, não desce para o play! — ele falou e
eu ri. — Onde você está?
— Na casa da minha garota — respondi, me levantei e dei alguns
passos pelo quarto, parando por um momento na penteadeira dela, cheia de
coisas pequenas e delicadas, bem organizadas. — Prepara um bom almoço
por aí, por favor. Vou levar uma convidada.
— Certo, almoço. Cuidarei de tudo — ele concordou e escutei uma
risada, era do Pedro. — Temos um problema, Lorenzo.
— Qual? — perguntei.
— Tem algumas coisas chegando aqui que... não soariam bem para
você. — Fiquei pálido na hora. Não podia ser possível. — Estavam
acostumados com o seu aniversário.
Merda!
— Quero que pegue tudo que chegar e guarde. Não, esconda! Não
deixe nada exposto. Depois dou um jeito nisso — falei e voltei para a cama,
onde me sentei. — Não quero que Carolina veja nada, entendeu?
— Tudo bem. Seu primo já está aqui, vou colocá-lo para trabalhar. Sua
tia virá para o almoço com a mulher. — Passei a mão no cabelo, preocupado.
— Não me deixe muito ansioso, quero conhecer essa menina. Seu primo até
me disse um pouco dela.
— O que ele disse sobre ela?
— Ele falou bem dela, Lorenzo, não se preocupe. Sei o que preciso
saber. Agora tenho que desligar.
— Até logo — Que Deus me ajudasse. Encerrei a ligação e desliguei o
celular.
Algo me dizia que eu tinha que evitar contatos femininos com
segundas intenções.
Sempre tive uma relação boa com as mulheres, entendem? E elas
nunca tiveram problemas comigo, não problemas sérios. Tinha meus
contatos, mas se estar com ela significava me afastar desses contatos, eu o
faria. Quer dizer, os dois fariam isso, porque a lei era para ambos.
Estar em um relacionamento não quer dizer que temos que ser santos,
mas devemos fidelidade para com o outro, isso era importante.
Tinha minha parte ogra, porém, eu conheci o que era ser um homem
para uma mulher. Um homem que ultrapassaria ainda mais o ogro. Eu devia
respeito a todas, mas, principalmente, a minha mulher.
Acompanhei pouco da relação dos meus pais, afinal, minha mãe
morreu quando eu só tinha seis anos, depois disso fomos somente meu pai e
eu, e ele me ensinou a ser um homem de verdade. Um homem que a
sociedade quer, que as mulheres querem e, principalmente, o tipo de homem
que EU admiro.
Levantei novamente e caminhei até a penteadeira. Algumas coisas,
que pude ver com mais calma, chamaram minha atenção. Primeiro uma
fotografia de Carolina com a irmã, depois um pote que tinha aquele aroma
familiar que atingiu meu nariz, fazendo-me inalar profundamente.
Como um viciado em crack.
Cara... que cheiro gostoso!
— Lorenzo? — Eu olhei para a porta e a vi. — Está tudo bem?
— O que é isso? — Coloquei o frasco perto do nariz e inspirei de novo.
— Isso é bom para caralho!
Ela sorriu, mas em seguida fez uma careta.
— É creme hidratante.
— Você costuma passar isso? — perguntei e dei outra fungada
profunda. — Cheira a você.
Sua risada diminuiu, mas o sorriso ainda estava lá.
Deixei o frasco e fui até ela, que havia deixado a roupa dobrada na
cama.
— Posso te perguntar uma coisa? — Balancei a cabeça em afirmativa.
— Você fica sempre excitado com cremes hidratantes?
Olhei para baixo, para onde o lençol cobria. Bem, isso era natural. É
excitante como algumas mulheres cheiram.
— Isso geralmente não acontece — falei. — Ficamos empolgados.
— Acredito. Fofo! — ela disse em tom de deboche. — O que vem
agora?
Um filme passou por minha cabeça e era um filme adulto, explícito,
mas mudei esses pensamentos para um documentário investigativo e blá, blá,
blá...
— Almoça comigo? — Passei minhas mãos pelo seu ombro e a levei
até a cama. Ela se sentou e eu me abaixei até ficando da altura dela. — Hoje é
o meu aniversário e eu queria almoçar com as pessoas importantes da minha
vida. Já falei com meu pai, meu tio também estará, provavelmente minha tia,
mas ela você já conhece. Tudo bem?
Viu como ela ficou sem reação?
— Você está brincando, não está?
— Não, não estou brincando.
— Sua família? — ela perguntou.
— A própria, Carolina. Geralmente faço algo mais amplo, mas eu meio
que fiquei focado em outras coisas essa semana.
Ela pareceu surpresa.
— Lorenzo, eu não estou pronta. — Ela suspirou e olhou no fundo dos
meus olhos. — Seu primo não gosta de mim. Acha que sou uma...
— Uma pessoa que me faz bem. — Ela mudou a expressão. — Não me
deixe na mão.
— Eu odeio que me julguem, ainda mais sem me conhecer — ela disse
e pegou minha mão. — Estamos juntos, Lorenzo, mas somos diferentes.
Estamos nos gostando, mas, acima disso, eu sou Carolina, e se alguém falar
algo que me ofenda ou magoar, eu vou saber me retirar ou revidar.
Ela disse, firme, e eu entendia seu lado. Entendia porque eu já tinha
visto como Pedro agiu com ela. Se eu pudesse evitar isso, eu iria.
Porém, com a minha família, eu não me preocupava. Pedro era só um
idiota que tinha muito a aprender. Ele não conhecia Carolina, então eu
relevava o lado dele.
Eu deveria contar como meu pai era? Não, melhor não.
Meu pai era um amorzinho de pessoa.
— Por mim, tudo bem, eu conheço quem está ao meu lado. — Eu me
aproximei e beijei a boca dela. Ficar pelado naquela posição não era bom,
não era legal, então me levantei. — Quer levar sua irmã?
— Não seria uma boa ideia.
— Se eu quiser, posso convidá-la? — perguntei.
— Lorenzo!
— Ela é minha amiga, já me ajudou, vamos juntar o útil ao agradável
— argumentei. — Agora somos da mesma família, tenho que agradar a sogra.
— Sogra?
— Não é assim que se fala da irmã da mulher?
— Não, se diz cunhada. Mas é tão brega.
— Pelo menos uma pessoa que concorda comigo.
— Quando vamos ficar sozinhos? — ela perguntou.
— Seja mais romântica.
— Sou muito romântica, não duvide disso. Daqui uma hora a gente sai.
— Ótimo! Mais alguma coisa?
— Passaremos na farmácia no caminho, precisamos de camisinha...
— Eu tomei a pílula do dia seguinte — ela falou, me olhando. — Volto
com a medicação fixa amanhã, e você com a camisinha hoje.
— Tudo bem. Posso fazer uma observação? — pedi enquanto fechava a
calça, sorrindo.
— Pode.
— Acho que gosto mais sem camisinha. — Vesti a camisa e logo
fechei os botões.
— Você é mais quente.
— Você é mais molhada — disse quando peguei minha carteira e
coloquei no bolso. — Temos muito o que compartilhar.
— Temos mesmo, mas vamos esperar. Já que estamos juntos, vou
tomar a medicação. Esperamos um tempo e continuamos. Somos limpos,
vamos fazer isso juntos. — Ela abriu o armário. — Não quero ficar igual a
uma louca tomando pílula do dia seguinte sempre.
— Tudo bem para mim.
— Seu terno e seu sapato estão na sala. Vou me arrumar e já vamos.
— Ótimo, ótimo! — Me aproximei e a puxei para mim, segurei seu
queixo e lhe dei um beijo. — Te espero na sala.
Me virei e saí do quarto. Assim que cheguei à sala, vi Camila, e no
ambiente Aerosmith tocava.
— Olá, Camila — a cumprimentei, logo avistando meu sapato perto do
sofá, em frente à garota. — Tudo bem?
Perguntei. cauteloso.
— Bem, e você?
— Bem. Vou almoçar na minha casa com sua irmã, quer vir? —
indaguei enquanto me sentava e puxava o sapato.
— Não, mas obrigada pelo convite — ela disse e deixou o notebook de
lado. — Posso falar algo com você?
— Sobre?
— Sobre o que você está tendo com a Carolina.
Parei de colocar o sapato e olhei firme para ela.
— Carol e eu estamos juntos, e o que eu puder fazer por ela, eu farei.
Se você precisar de qualquer coisa que seja, bem, e só me chamar ou ligar.
Sou seu amigo e companheiro da sua irmã.
Vi seus olhos atentos.
Ela balançou a cabeça.
— É namoro ou só ficar por ficar? Sabe, Lorenzo, você deve ter notado
que sou somos apenas ela e eu. Não a magoe, por favor. Você está com ela...
faça bem a ela. — A garota era a irmã, no lugar dela eu faria a mesma coisa.
— Ela nunca namorou e nem teve algo sério, mas se está com você...
valorize.
— Quero o bem dela.
— Querer o bem de uma pessoa não é fazê-la feliz.
— Eu...
— Faça bem, queira o bem dela e a faça feliz! — Ela sorriu. — Nunca
pensei que você seria o cara que a ganharia, vai por mim.
— Eu cuido dela.
— Não é só na cama, tá?
— Em qualquer lugar.
— Espero que entenda meu lado.
— Eu entendo.
— Imagina só. Você magoa a Carolina, ela perde o emprego. —
Camila balançou a cabeça e continuou: — E então ela começa a beber todos
os dias, dia após dia ela se afunda no álcool. Quando eu voltar do trabalho ela
vai estar de ressaca nesse sofá. E à noite, se ela não tiver dinheiro para
bebida, ela vai para a rua se prostituir, e alguém vai fazê-la ficar viciada em
droga, e então um dia eu vou chegar e vou vê-la caída no banheiro, Lorenzo.
Vou ligar para a ambulância e logo depois vou descobrir que ela teve
overdose.
— Ei... Meu Deus!
— Eu só tenho ela. A gente mata e morre uma pela outra — ela
suspirou. — Então, antes de fazer algo com ela, que futuramente possa
arruiná-la, lembre-se de que eu sei usar uma faca e sou esperta.
Fiquei assustado.
—Tenho sua aprovação, não tenho?
— Sim, tem minha aprovação. Mas, lembre-se do que eu lhe disse.
— Eu lembrarei.
Camila me surpreendeu. Mesmo me assustando, de certa forma. Sabia
que a gente ia dar certo.

Conhecer meu pai, aí vamos nós!


— Carol? — chamei e parei na porta do closet.
— Você não usa relógio, então por que tantos? — Ela olhou para os
relógios e para mim. — Sério, esse lugar é puro exagero, Lorenzo.
— Está me chamando de exagerado? — perguntei, sorrindo. — Faço as
coisas para você estar sempre feliz, bem e satisfeita... Carolina, quem ganha
fazendo isso sou eu. Quanto mais eu faço, mais eu ganho.
— Deva-o! — Ela sorriu e passou por mim, direto para o quarto. Assim
que fui atrás dela eu quis jogá-la na cama e mordê-la.
— Sua irmã poderia ter vindo, não é legal nesse domingo ela ficar em
casa — falei.
— Ela quis assim, ela é mais pacífica e acho que ela vai sair também.
— Sei, pacífica... — Rapidamente lembrei das suas estáticas e suas
ameaças. — Diferente de você, ela está dentro do armário, você já saiu.
Falei, pensativo.
— Como sabe que ela é virgem? — Eu arregalei meus olhos e olhei
para ela.
Eu quase fiquei chocado com o que ela me disse. Quase.
— Eu não sei. Bem, agora eu sei... quando digo sair do armário, Carol,
estou dizendo ser mais aberta às coisas — justifiquei com cautela e tentei não
rir.
— Explique melhor — ela pediu, calma e pacífica demais. — Não fale
sobre o que eu te disse com ninguém. Não quis dizer isso. Camila é mais
fechada, mesmo, é uma característica dela.
— Devo imaginar.
— Meu pai morreu quando eu estava prestes a completar 18 anos.
Acidente de carro, por causa de um motorista imprudente. — Ela fez uma
pausa e se sentou na beira da cama, fui logo me sentar ao seu lado. — Depois
disso foi tenso para mim, minha mãe estava sempre ocupada.
— Ela caiu, não foi? — perguntei. Eu sabia o que era ver alguém tão
próximo cair. Todos passamos ou vamos passar por isso um dia.
— Sim, meu pai era o amor da vida dela, e depois que ele morreu ela
tentou se manter funcionando, tentando ficar sã.
— Você a achou egoísta, Carolina?
— Por um tempo, achei, Lorenzo. A forma como decidiu se fechar e
esquecer-se da gente. Eu que fiquei com a Camila, no acidente a perna dela
foi prensada pela ferragem do carro — ela explicou, suspirando. — Ficou
sem o movimento parcial da perna, mas isso só foi o começo para ela. Ela
sofreu quando voltou para a escola e foi um inferno para ela, foi doloroso.
Mas eu entrei com tudo, só que depois de um tempo foi minha mãe, parada
cardíaca. Eu vi minha mãe morrer, a vi ficar pálida e perder os sentidos.
Eu me arrepiei. Senti um breve dejávù com aquela informação e
ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Continua — falei firme para ela continuar contando. Ela precisava
se abrir, eu queria isso dela. Talvez ela precisasse me contar isso para eu
entender de onde vinha seu escudo.
Sua marca.
A parte orgulhosa e tudo que ela era para se proteger e proteger as
coisas ao seu redor.
— Não tem muito a dizer sobre mim, mas depois que minha mãe
morreu estávamos sozinhas, minha irmã tinha 15 anos e eu 20, foi uma
confusão.
— Vocês estão bem agora.
— Sim, mas não foi sempre assim — dizendo isso ela fez uma pausa.
— Minha tia se intrometeu, eu não tinha muita coisa para dizer. Para mim ela
estava querendo ajudar, mas só vendeu a casa que nossos pais deixaram pra
gente e pegou o dinheiro. Só deu 2% do valor e roubou todo o dinheiro.
— Só havia ela de família?
— Sim, só ela... Mas hoje somos Camila e eu, não temos nenhuma
ligação com ela.
— Depois disso vocês fizeram o quê?
— Entrei com tudo, arrumei um trabalho, tinha dias que eu mal dormia
pelo começo da faculdade e trabalho, tinha que ficar perto de Camila, ajudá-
la superar tudo. E também tinha a parte dos estudos. Tudo era uma luta para
mim. Nunca quis ser fraca ou dependente de alguém. E eu quis isso para
Camila também, porém, eu me abri para qualquer coisa, mas Camila se
encontrava na casca, ainda. Agora ela está começando a trabalhar, tem metas
pessoais a cumprir, ela vai saber lidar com tudo. Tem sido assim há muito
tempo.
Eu fiquei paralisado na dela.
Era amargo.
Senti uma coisa ruim.
Carolina tomou todo meu consciente. Uma coisa era saber um pouco
dela, mas, aquilo?
Puta que pariu!
Agora eu entendia um pouco mais dela, daquele orgulho. A
proteção. O jeito de mulher.
Eu sorri para Carolina. Sorri sabendo que era a melhor coisa para se
fazer. Fiquei sem palavras, só tinha essa atitude.
— Você... — Ouvi duas batidas na porta, olhei para Carol e ela olhou
para mim.
— Lorenzo? — A voz do meu pai me fez despertar do transe.
Eu iria voltar naquele transe, mas não naquele momento.
— Pronta, Srta. Carolina? — perguntei e me levantei depressa. — Sr.
Maldini está atrás da porta.
— Estou bem assim? — ela perguntou, se levantando e se ajeitando.
— Melhor nua — disse e ela me olhou, incrédula. Me aproximei da
porta e a abri. Ali estava meu pai, na minha frente, com uma camisa de
mangas curtas, branca e um shorts. O velho estilo “estou em casa com a
família”. Eu adorava esse estilo. — Olá, papai. Vejo que sentiu saudades do
seu melhor filho.
Brinquei.
Me aproximei e o puxei para um abraço. Era aquilo que indicava
realmente que o velho havia chegado. Meu velho que tinha o dobro da minha
idade. Assim que me afastei, vi que ele estava curioso.
— Hoje tenho alguém para te apresentar.
— Hmm... Quer que eu espere na sala enquanto se veste? — perguntou,
recuando.
— Não é preciso. Não estávamos fazendo nada, só conversando. É isso
que temos que fazer, certo?
— Está me coagindo ou me enrolado? Eu espero na sala...
Acho que pensou que estávamos no 1×1.
— Pai, essa é Carolina. — Meu pai ficou na frente dela, e Carolina
sorriu timidamente, graciosa. — Querida, esse é o meu pai.
— Prazer. — Ela estendeu a mão, meu pai acompanhou e a apertou. —
Carolina Lelis.
— Oi, prazer — meu pai disse, suspirou e sorriu. Vi uma cena
embaraçosa se formando ali entre os dois. — Conrado Maldini, ao seu dispor.
Carolina olhou para mim com um pedido de ajuda.
— Devidamente apresentados?
— Espera. — Meu pai olhou para mim e eu odiava quando ele fazia
aquilo. Carolina olhou para mim, eu também não gostava daquilo. —
Carolina, quais são as suas intenções com o meu filho?
— Pai! — Saiu rápido da minha boca.
— Eu preciso saber. A moça é bonita, tem seu jeito e tudo o que você
me disse... mas você é o meu único filho — ele falou, olhando para mim e me
mandando ficar quieto, porque ele sabia o que estava fazendo. Típico dele. —
Então, quais são suas intenções, minha linda jovem?
Meu pai era direto.
Carolina ficou branca.
Era fácil responder isso. Era só dizer que as intenções dela eram as
melhores. Era fácil dizer, só que ela estava sem reação. Sem palavras.
Me preocupei.
— Bem — ela começou, porém parou. — São as mesmas que ele tem
comigo.
Ela sorriu.
Ela jogou a responsabilidade para mim? Foi isso?
— Quais são suas intenções com ela, Lorenzo? — Fiquei irritado.
Qual era o papel que meu pai estava querendo fazer?
— Isso não vem ao caso agora, gente.
Carolina ficou me olhando.
— Claro que vem. Uma relação deve ser saudável para os dois
envolvidos na relação — meu pai disse, como se tivesse lido algum manual.
Parei por segundos.
Não, não podia ser verdade.
Ele leu.
Ele leu um manual.
Prazer, esse era o meu pai, que precisava aprender uma coisa em cada
situação. A biblioteca dali mostrava isso. Ele buscava auxílio, desde um livro
de como fazer paçoca, a um exemplar de anatomia. Era desses.
— Pergunto o nome do manual que você leu agora ou depois? —
perguntei e passei por ele, puxando Carolina comigo. — Pai, não precisa
fazer esse papel.
— Meu papel é o de pai.
— Que leu um manual para saber agir nessa situação. Não sei quem
está mais comédia, você ou Carolina. — Eu gargalhei e levei uma cotovelada.
— Isso doeu.
— Só estamos nervosos.
Ela falou, pacífica, como se não tivesse me dado uma cotovelada.
— Temos um dia inteiro. Vamos descer. Hoje é o meu aniversário,
quero prioridade.
Eu sorri.
Havia uma alegria enorme dentro de mim. Nunca tinha envolvido
mulher nenhuma com minha família, tanto com meu pai quanto com os
outros membros. Carolina era a coisa mais nova para eles, e até para ela isso
era novo.
Eu sabia que podia esperar de tudo vindo da parte dela, mas,
principalmente, podia esperar algo bem inusitado deles.
Qual é?!
Eles são da família.
São Maldinis.
São iguais a mim.
Okay, não vamos ficar tão apavorados com essa última parte.
Está bem, só um pouco apavorados.
Relaxa, Lorenzo, vai dar tudo certo.
Eu acho.
Saímos do quarto de Lorenzo e descemos direto para a sala, o que foi
um alívio. A conversa que tive com Lorenzo sobre a minha vida foi um
pouco difícil. Podia não parecer, mas foi. Não é fácil falar de nós mesmos.
Me fale algo de você.
Viu?! Não consegue.
Não se tratou só de mim, foi mais além. No entanto, acabou sendo bom. Na
verdade, foi ótimo! Consegui, de certa forma, me abrir para um homem.
Só que aí veio o papai querido dele.
Que coroa do caramba! Lorenzo, com toda certeza, servia até mesmo
para fazer filhos bonitos. Seu espermatozoide seria premiado.
Não querendo elogiar, mas já elogiando... Que homem lindo!
Era um homem maduro, que já tinha seus cabelos grisalhos. O tipo de
homem que EU pegaria, que não negaria fogo, e que se fosse igual ao
Lorenzo... aí que não negaria fogo mesmo.
Estávamos sentados na sala, Lorenzo estava com sua mão na minha
perna. Um tipo de gesto possessivo que ele acabava de me mostrar que
possuía. Mas, cá entre nós, eu sabia o que aquilo significava. Sinal de uma
coisinha acumulada.
— Carolina, já namorou? — Desviei minha atenção diretamente para
senhor Conrado, olhando-o por breves segundos antes de responder.
— Não, nunca.
— Lorenzo também não. Acha que isso ajuda os dois?
Lorenzo nunca tinha namorado?
Eu olhei para ele, estranhando aquela informação. Isso era mesmo
verdade? Como assim?
— Eu disse que tudo era novo para mim. — Sorriu. — Eu não queria
entrar em detalhes sobre outras.
Qual é?! Meu ciúme era bem profundo e escondido.
— O senhor mora aqui nessa casa? — perguntei, curiosa, e para dar
assunto.
— Sim e não. Aqui é a casa X — ele falou e fez uma pausa. — Todos
os Maldini um dia vão passar por aqui e depois se vão, mas aqui é a raiz.
— A família é grande?
— Não, não... — O pai de Lorenzo fez uma pausa, olhou para o filho e
o filho olhou para ele. — Precisamos aumentar a família, mas com dois
homens como Pedro e Lorenzo... bem, está difícil.
Eu ri.
— Quer netos? — A voz de Lorenzo saiu alta e grave, eu olhei para ele
ainda rindo. — Você nunca me disse isso. O que o senhor faria com uma
criança?
— O que um avô faz.
— Pai, o que um avô faz?
— Ora, Lorenzo, um avô faz muita coisa.
— Não está pronto para ser vovô.
Lorenzo disse, por fim.
— Carolina, aí estão os meus filhos. Pedro ainda é pior que ele. — A
voz de lamentação eu senti. — O pior é que Stella também nem vai ter filho!
Lorenzo afastou a mão da minha perna e se levantou, ansioso e rápido.
— Vou buscar algo para bebermos e o morto de fome do Pedro, já
volto.
Eu fiquei o olhando sair, até que não soube mais se ficava ali ou ia
atrás dele.
— Pelo menos Lorenzo nunca se meteu em nenhuma encrenca grande.
Voltei o olhar para o homem e tentei relaxar, era o pai de Lorenzo,
afinal, devia ser meu amigo.
— Você criou Lorenzo bem, ele tem juízo — falei e o pai dele me
lançou um olhar surpreso. — Um pouco. Não é aquela coisa que se diga:
nooossa, Lorenzo tem juízo. É mais aquela coisa que se diga: sabe o que faz.
Ele riu do que eu disse e fiquei observando como sorria. O sorriso dele
não se parecia com o de Lorenzo, talvez fosse da mãe.
— Já conheceu o Pedro? — Balancei a cabeça em afirmativa. — Ele e
Lorenzo foram criados juntos. Pedro veio para mim com 7 anos e Lorenzo
desde o útero, mesmo.
— São como irmãos.
— Sim, são. Com doze anos esses dois já quebravam muita lei, dentro e
fora de casa.
Alguém avisa que o Lorenzo ainda quebrava muita lei?
Assim que abri a boca para dizer alguma coisa, ouvi uma voz alta e
fina gritando o nome do Lorenzo, a qual reconheci rapidamente.
Era a tia dele? Qual o botão que apertava para me enfiar em um
buraco?
Caramba, Carolina, caramba!
Só fui comprovar isso quando a mulher passou sorridente pela porta.
Não estava sozinha, mas o sorriso e o olhar que lançou para mim era até
cômico. Logo ela desviou o olhar e foi direto para o pai de Lorenzo.
Fiquei estática, não queria atenção nenhuma sobre mim.
— Onde está o lorde? — perguntou a mulher de longos cabelos. Não
aguentei e olhei para a mulher ao lado dela, que estava como eu, parada,
sorrindo e calada. — Vejo que temos uma bela e corajosa convidada. É ótimo
ver você de novo.
Foi a vez de todos os holofotes ficarem sobre mim.
Cacete! A tia me olhou com aquele olhar de quem sabia demais.
— Carolina é minha convidada e a garota de Lorenzo — o pai dele
falou e de imediato notei a surpresa estampada no rosto da mulher. —
Lorenzo foi na cozinha buscar algumas coisas. Stella e você já se conhecem?
— Catharina e eu já a encontramos. Em momentos diferentes, mas a
conhecemos quando estava com Lorenzo.
— E como sempre, eu fui o último... Filhos!
Todos caíram na risada, e assim que Pedro e Lorenzo apareceram na
sala, todo o ambiente ficou cheio. Cheio demais para mim.
— Agora que todos chegaram, podemos almoçar? — o loiro perguntou.
— Pedro acabou de sair da cozinha! — Lorenzo repreendeu e se
aproximou da tia, deu um abraço nela e um aperto de mão na mulher da tia.
— Como vocês estão?
— Ótimas, felizes e maravilhosas! — ela respondeu, se afastou de
Lorenzo e se aproximou de Catharina, beijando o rosto dela e sorrindo para
todos. E pensar que aquelas duas eram exemplos para mim. — Depois da
tempestade vem a calmaria? Namorando, meu querido?
Lorenzo se colocou ao meu lado e novamente fez um gesto possessivo
sobre mim, em seguida enlaçou minha cintura e a apertou.
— Sim, não sou um caso perdido.
— Pensei que você iria ficar para titio... Que decepção!
— Credo! Não está na minha lista segurar vela para você e a Catharina.
— Trancamos a porta, pelo menos isso.
Ela sorriu.
Que pessoa mais cara de pau!
Depois de uma dessa, não precisava nem dizer meu estado ao olhar
para a tia dele, ou ficar ali. Lorenzo não se incomodou nem um pouco.
Vadio! Estava no meio de Lorenzo e do pai dele, que era um cara
calmo e pacífico, mas que sabia o que dizer. Pedro estava alheio a tudo, com
uma garrafa de cerveja na mão. Stella estava ao lado de uma Catharina
relaxada e sorridente.
E aquilo virou uma loucura. Agora eu sabia de onde Lorenzo Maldini
tinha vindo, e ele me colocou ali.
Eu entrei naquilo um tanto rápido demais.
Minutos se passaram até que uma mulher, cabelos castanhos e de
uniforme, apareceu na sala e avisou algo para Lorenzo. Não entendi, mas
Lorenzo saiu da sala mais uma vez, e o que foi mais estranho foi que eu senti
uma cautela na atitude dele.
Quando o homem faz algo com cautela, no caso ele analisou bem a
situação antes de sair da sala, algo tem!
— Com licença! — disse quando me levantei e peguei o mesmo
caminho.
Se eu não estivesse errada, estava indo direto para a cozinha. Nunca
estive em situação parecida ou irregular como aquela. Então, qualquer sinal
eu ficaria ligada.
Como naquele momento.
Assim que atravessei a cozinha, vi Lorenzo de costas falando com a
mesma moça que o chamou, percebi que ele não estava com uma voz normal.
Estava com a voz levemente alterada, vi também que havia outra
mulher, também de uniforme, que cortava legumes.
— Não quero que nada entre aqui dentro, entendeu? — A mulher
balançou a cabeça. — Leve tudo para o meu escritório, depois vejo o que
faço.
— Desculpe mesmo, senhor. Eu não sabia onde colocar.
— Tudo bem. Preciso voltar e não estou em casa para ninguém, nada
de me passar ligação, principalmente de alguma mulher, entendido?
Aquilo me despertou. Eu disse que havia algo...
— Eu entendi. Vocês entenderam? — falei com a voz mais bosta que
eu tinha e todos na cozinha me olharam.
O olhar que eu mais queria era o dele.
Não sabia o que fazer.
O que ele estava escondendo?
— Carolina — Lorenzo disse meu nome lentamente, como se eu fosse
uma louca que pudesse gritar caso ele falasse algo errado.
Ainda bem que ele fez isso, porque se não ficasse pianinho, eu
gritaria.
Não gostava de barraco, mas faria se precisasse. Não queria precisar
disso.
Me virei e comecei a caminhar.
Assim que passei daquela parte da casa, eu senti que ele estava se
aproximando.
3,2,1...
Ele me puxou pelo braço e me fez encará-lo.
— Carolina? — chamou e não falei nada. — Diz alguma coisa.
— Me solta.
— O quê?
— Meu braço. Solta!
— Por que está assim?
Conte até 10, conte até 10! Caramba, Carolina, caramba!
— Lorenzo, meu querido, espero que EU seja a única mulher que tem
estado com você, e que você não esteja me escondendo nada!
— Eu só estou com você.
— Mas me esconde algo? Devo me preocupar com isso? — perguntei
com um pouco de deboche.
— Não.
— Não? Lorenzo, tem coisas nessa vida que não se divide, como pau e
boceta. Já pensou se você tivesse que me dividir com outro? Melhor, se você
dividisse sem saber que está dividindo?
Ele piscou, surpreso, balancei a cabeça. Parecia nervoso.
Eu estava igual a uma sociopata do caramba.
— Olha, desculpa, estou te escondendo algo, mas...
— Seu filho da mãe! — Ele começou a caminhar, puxando meu braço,
e por alguns segundos doeu. — Meu braço está doendo, me solta!
Falei e surtiu um pouco de efeito. Não tanto quanto eu gostaria, mas
mesmo depois de aliviar o peso da sua mão sobre meu braço, ele continuou
me puxando até parar em uma área da casa que eu não fazia ideia de onde
era.
— Aqui. Vamos, entre! — ele falou rapidamente, abrindo a porta, me
levando até o meio do escritório e me fazendo ficar na frente de uma mesa
cheia de embrulhos. Presentes. — Aqui está o que eu não quero que você
veja. Vai ficar muito neurótica se eu disser que eu estou recebendo coisas
desde cedo, a maioria de mulheres?
— Eu não sou neurótica, grosso!
— É sim, mas eu não quero que você fique mal por minha causa.
Muitos me conhecem, querida, antes mesmo de você me conhecer.
— Sim, mas...
— Eu não terminei de falar. — Ele já estava partindo para o lado
arrogante. — Eu odeio traição, não traio e também quero ser traído. Eu vou
lhe dizer uma vez... nunca mais fale que vai me trair ou que pensa nisso.
— Loren...
— Eu sei o que estabiliza o que temos, e você sabe sobre isso. —
Apontou para os presentes. — Não é algo que vai ser legal, então eu escondo
e depois dou um jeito.
Eu não sabia nem mais o que dizer. Era a mesma coisa das ligações e
ele estava parcialmente certo. Tinha uma vida na qual, eu ou qualquer outra
mulher, nunca esteve.
Talvez eu devesse tomar cuidado com o que fazia. Ele tinha sua
inocência e, provavelmente, eu tivesse acabado de fazer um papel de idiota.
— Desculpa, Lorenzo, tá legal?! Eu só não sabia do que se tratava.
Eu me aproximei dele e por um breve segundo ele recuou.
Me assustei, mas logo ele se aproximou e sorriu de uma maneira que
eu não conhecia. Era raiva com a mistura cômica dele.
Eu não estava totalmente errada, só um pouco.
— Eu não gosto que duvidem de mim e do que eu faço. Entendeu,
amor da minha vida?
Não sabia e nem tinha a mínima ideia do que dizer ou fazer, só me
aproximei dele e o abracei de forma tosca e desajeitada.
Caramba, onde eu fui me enfiar?!
Carolina era uma vergonha nas cartas.
Vergonha era pouco!
Chegava a ser humilhante vê-la perdendo.
Pedro e meu pai nem se fala, se divertindo da situação, mas no lugar
deles eu faria o mesmo.
Depois do almoço, de todos os parabéns, o que é bom? Sexo.
Okay, iríamos nós de novo.
O que é bom depois de um tempo com a família? Distração.
No meu caso, seria tentar não perder a cabeça no jogo. Ela sabia jogar,
mas era o básico do básico, mesmo. Às vezes como se ela estivesse perdendo
porque queria, e pior que isso é que ela não queria parar. Tínhamos dinheiro
envolvido, uma aposta de quinhentos dólares.
Ela em Las Vegas sairia até sem a roupa do corpo. Um ótimo lugar,
mas sem Carolina. Eu não diria nada, no entanto, porque ela estava se
divertindo.
Eu não sabia que teria que aceitar perder de forma tão humilhante, por
causa de uma mulher. Por ela. Uma mulher que me deixava como uma
cadeira: de quatro e duro.
— Carolina, acho que fechamos mais uma rodada — Pedro falou e eu
quis morrer. Carolina fez uma expressão de surpresa e deu um sorriso amigo
para Pedro, como se não houvesse problema nenhum em perder. — Quatro
rodadas nossas e nenhuma de vocês.
Não era competitivo, maaas...
— Lorenzo é um ótimo jogador, ele pode te ensinar alguns truques.
Papai falou, calmo, olhando para ela. Carolina me encarou como se
quisesse dizer algo que a fizesse bem.
— Você é uma vergonha para as cartas, mas eu posso reverter isso.
Suprirei e puxei meu copo. Caramba, não tinha como reverter aquilo.
— Mas eu sei jogar. Só estou esperando o jogo certo. Vou pagar os
seus 200 dólares, Lorenzo, não se preocupe.
Meu pai riu e juntou as cartas.
— Vão jogar mais? — Olhei para meu pai e logo para Pedro, que me
lançava um olhar debochado.
— Vamos mais uma, certo, Lorenzo?
— Não precisa jogar, se não quiser.
— Eu quero, confie em mim.
Eu confirmei com a cabeça e olhei para Pedro.
— 250 de cada — falei, desafiando, puxei o dinheiro e coloquei sobre a
mesa. O valor equivalia a mim e a ela. Sorri por ser louco, mas não liguei. —
Vamos?
— Casal corajoso, mas vamos lá. — Meu pai e Pedro fizeram o mesmo
colocando dinheiro na mesa. Assim que terminamos o ajuste dos valores,
fomos ao jogo. — Boa sorte, Carolina, vai precisar.
Claro que olhei para Carol e... caralho! Ela sorria como se não
estivesse preocupada com porra nenhuma.
Assim que as cartas foram entregues, eu fiquei firme na minha
cadeira.
Pedro seguiu com os sorrisos e meu pai na jogatina pacífica dele.
Passou se dez minutos da rodada e já estava pronto para perder. Senti
o pé de Carol na minha perna e olhei para ela por cima das cartas, ela fez um
sinal com os olhos.
Como ela conhecia aquele sinal? Eu abri e fechei a boca.
— Sério? — indaguei e sorri finalmente. Ela balançou a cabeça em
afirmativa. — Vai em frente, querida, é sua vez.
Eu queria pensar que ela estava falando sério, que não iria errar na
jogada. Depois que se perde quatro partidas, é normal pensar que vai perder
mais uma.
— Fechei rodada completa. — Ela baixou as cartas, então eu acreditei.
— Foi um prazer jogar com vocês!
— Filha da mãe! — Pedro falou e entregou as cartas. — Como... como
conseguiu tão rápido esse jogo?
— Pensamento e organização.
Senti-me orgulhoso.
Meu pai se levantou e sorriu.
— Pedro, vamos entender uma coisa sobre a namorada de Lorenzo. Ela
sabe jogar cartas, poderia ter ganhado todas as rodadas também, estou certo?
Carolina confirmou.
— Um bom jogador sabe quando parar e continuar.
— Ela enganou a gente, só esperou as apostas ficarem altas para limpar
tudo.
Pedro falou e se levantou.
— Ela foi esperta, digna de um jogador de Vegas.
— Vamos levá-la da próxima vez, fazer fortuna. — Pedro pegou o
dinheiro na mesa e entregou para ela. — Use com responsabilidade. Não vá
gastar com bebidas.
Ela dividiu o dinheiro em duas partes e me entregou uma.
— Esse é seu.
— Pegue, você merece. — Ela recusou o dinheiro, balançando a cabeça
e me lançando um olhar de “não preciso dele”. — Você tem que aprender a
aceitar o que vem de mim.
Ela balançou a cabeça em negativa e eu revirei meus olhos de
frustração.
— Você revirou os olhos para mim?
— Não. — Me aproximei e beijei seu rosto com calma. Ainda perto do
seu rosto, consegui sussurrar o motivo que me fez revirar os olhos. — Eu não
fiz isso para você, fiz isso pelo seu orgulho idiota. — De imediato eu obtive
resposta. Ela colocou a mão no meu peito e me deu um leve empurrão. —
Não faça essa carinha.
— Engraçadinho.
— Me diga, Carol, o que vai fazer com sua parte? Vai me dar alguma
coisa de presente? — perguntei.
— Não vou te dar nada, você já tem tudo. — Sincera como poucas. —
O que eu puder lhe dar, darei. Me consegue um papel e uma caneta?
— Pedro, vamos lá em cima. Papai, leve Carol para a piscina e me
espere.
Dei uma olhada rápida na direção do meu pai. Ele sabia o que fazer
com ela.
Comecei a caminhar e logo senti uma mão bater nas minhas costas.
— Gostei dela. Sério, você fez uma boa escolha. — Pedro fez uma
pausa, aquilo significava controlar a própria língua. — Vou dizer uma coisa...
Senti que ela curte você, mas do mesmo modo... primo, você tem certeza de
que ela vai aguentar você, tudo o que você é?
Nessa altura havia parado de andar e estava olhando para Pedro.
— O que quer dizer?
— Sexo, atração ou tesão, não é algo que tem algum tempo grande de
duração.
— Se fosse só isso, Pedro, eu a teria deixado. Não ontem, não semana
passada... eu a teria deixado no dia em que ela falou “não” para mim. Gosto
de brincar, mas sei quando não é brincadeira.
Pedro balançou a cabeça e colocou a mão no meu ombro.
— Eu sei que você não está brincando ou perdendo tempo com a
garota. Você sabe como conduzir tudo isso?
— Não, não sei.
— Lorenzo, eu não quero lhe fazer ficar mal com isso... vai com calma
com ela, o choque de realidade é grande.
— Eu sei, Pedro...
— Não, Lorenzo, você não sabe. — Ele fez uma pausa e suspirou
profundamente. — Você sabe que o meu jeito é diferente...
— Preparar, comer e pronto?
— Sem ironia. O que quero dizer é que ela, aquela mulher que está na
sala, não vai ser fácil de compartilhar algumas coisas com você.
— Qual o motivo de vocês acharem que somos tão diferentes?
— A garota não está acostumada a um cara que faz tudo que você faz,
que tem tudo que você tem. Lorenzo, ela trancou a faculdade para só voltar
quando estivesse com condições, com esforço próprio. Orgulhosa e
dependente, gosto disso nela. Vai longe. Mas você foi de cabeça, lacrou a
faculdade toda dela, fez um escudo sobre o trabalho dela no hotel... Enquanto
ela, só entrou na sua vida e te chamou para alguns jantares na casa dela, sem
pressão. Entendeu? Como diria meu tio: não queira misturar sal com açúcar
tão rápido. Vai com calma.
— Você está falando demais.
— Não é só a pedido do meu tio, é a meu pedido também. Carolina
Lelis girou sua cabeça e você a dela. Vai com calma, seu afobado!
— Vamos. Eu preciso pegar um papel e uma caneta, também as coisas
dela. Vou ficar lá em baixo.
Eu abri a porta do meu quarto e entrei, peguei a bolsa dela e o papel e
a caneta.
— Ela vai passar a noite com você? — Pedro perguntou da porta.
— Sim. — Ele sorriu e eu tentei não entrar no jogo dele. — Por que
pergunta?
— Eu vou pegar meu caminho, tenho que colocar o meu novo plano em
prática.
— Mulher?
— Sim, essa é especial.
— Conheço?
— NÃO... Digo, você não conhece.
— É casada? — A última mulher com quem Pedro havia se relacionado
era casada. Pior que isso, casada com um cliente da empresa. Um cliente mal-
humorado e chato, até. — Não fique com mulher casada, Pedro, é feio.
— Olha quem fala, o cara que comeu a professora casada gostosinha no
colégio.
— Vai à merda, Pedro!
— Pelo menos não fui eu quem foi pego em pleno dia, no hotel, com a
cabeça enfiada no meio das pernas de uma mulher.
— Quem lhe... Minha tia é uma fofoqueira!
— Ela te ama, também.
— Ha ha, engraçadinho.
— Vou me despedir da sua garota e do meu tio — ele avisou e o olhei,
tentando buscar alguma pista do que estava aprontando. Tudo que ele fazia,
costumava me dizer, mas então vinha com todo aquele mistério e aquelas
graças. Não, eu conhecia o loiro. — Não esquece que amanhã nós viajamos
às dez.
— Agenda mudou?
— Sim, mas não quero falar de trabalho hoje.
Pedro estava aprontando, disso eu tinha certeza, mas não era isso que
me preocupava.
Eu precisava conversar com Carolina. Esse era o jogo de uma pessoa
maluca por outra, e ela era o amor da minha vida.
Aquela mulher que, se não ficasse na minha vida, eu não teria paz.
Vocês acham que eu não tinha medo? Medo de ela ir embora e levar
minha paz?
Pensava muito nisso.
Estava no meio do mar. Mas, vamos deixar claro uma coisa: no mar
tem vários peixes, principalmente, piranhas. Esse era o meu ponto de vista.
Claro que Lorenzo diria que no mar também havia tubarão.
Acabava de descobrir que sentia ciúmes.
Quero deixar claro, também, que, meia hora antes, uma ordinária loira
me parou só para perguntar dele.
Então, sim, ciúme tinha origem e nome, até cor de cabelo, e isso me
deixava com um ciúme da porra.
Vocês acham que não tenho ciúmes? Se tenho...
Aí eu penso:
Vou conter meu ciúme, não vou falar mais nada.
Mas então as coisas ficam ainda piores.
Eu sabia que ele era bom no sexo, no que ele fazia. E se alguém já o
teve... Porra! Quando você come brigadeiro, você não vai querer comer de
novo por que é muito gostoso? Do mesmo jeito era ele. O homem estava em
algum lugar, muito longe de mim. O próximo dia da visita... bem, ele disse
que até quinta estaria de volta à cidade. Ele tinha negócios a resolver, mas
sendo um cara importante, não me impedia de organizar coisas para fazer
junto com ele, pelo contrário, até já tinha dado o aviso do acampamento em
que iríamos fazer juntos. Confesso que quando contei, ele pareceu assustado.
Pálido. Com medo. Isso aconteceu às seis e meia da manhã, estávamos no
carro e ele ainda estava praticamente de pijama, me deixando em casa.
Porém, não iria desistir de levá-lo para o mato comigo.
Precisava disso.
Claro que comecei a organizar as coisas na hora do meu almoço. Fiz
algumas ligações, a reserva fora da cidade, onde já fiquei acampada com
Camila e ainda permitiam visitantes. Lorenzo só entraria com o carro e os
braços para colocar as coisas no porta-malas. Claro que isso seria até que
chegássemos lá, depois ele entraria com outras coisas.
Para Lorenzo tudo parecia fácil, confiante demais, e comigo não
funcionava assim. Lorenzo ainda me pegou em uma fase boa da vida. Eu
sempre passei por fases, e em duas, em especial, eu morri, de certa forma.
Perdi meu pai e minha mãe. Uma vida para cada um.
Em um videogame você sempre tem a própria vida e mais três vidas.
Eu já perdi duas. A que me restava eu cuidava muito bem.
Por algum motivo, eu sempre tentei não incluir homem nenhum
nessas vidas.
Mas — ainda me perguntava se estava certa em adicioná-lo a essa
equação —, havia o Lorenzo.
Em poucas palavras, eu estava apaixonada por ele, vivendo uma
paixão que esperava ser amor e não ilusão.
Entenderam?
Sempre tive medo disso. Para ele podia ser apenas um caso, por isso
era sempre bom manter os pés no chão.
Já imaginou cair da Torre Eiffel?
Pés no chão, cabeça no trabalho e nos estudos.
Disquei o número da Camila enquanto arrumava a bolsa e os
materiais. Ainda estava no hotel, dali ia direto para a universidade.
— Pronto? — A voz de Camila soou feliz, o que me deixou
satisfeita.
— Camila, já está em casa?
— Sim. Já está chegando?
— Não, daqui vou para a faculdade. Desculpa não jantar com você.
— Peguei a bolsa e os dois cadernos enquanto caminhava. — Quer que
mande algo para você comer?
— Não, não... vou sair com uma amiga.
— Ótimo. Qual amiga? — Um breve silêncio se formou. —
Camila?
— Do trabalho. Chego cedo em casa. Só vamos comer fora, nada
demais... Carolina, posso usar aquele brinco que você comprou, o da bolinha
branca?
Brinco? Que milagre!
— Claro. Vai realmente só sair com uma amiga? Sabe que não
precisa ficar com medo de falar que vai sair com um cara.
Fui sincera.
— Não! Carolina, não tem... não tem cara nenhum. É só comer uma
besteira fora e achei os brincos bonitos, só isso. Preciso desligar.
— Juízo! — Recebi um suspiro dela e desliguei o telefone sorrindo.
Assim que passei pelo vestiário e adentrei o corredor principal, dei de
cara com a loira. O que me chamou mais atenção foi o olhar debochado que
lançou em mim.
Depois de um bom tempo trabalhando ali, eu descobri o tipo de
mulher que Samantha era. Não era o tipo mais agradável, tinha arrogância e
ganância nela. Ela mesma deixava claro o gosto por dinheiro e por mandar
nos outros.
— Vejo que já terminou o seu trabalho — ela comentou e passei a
fazer notas mentais de paz e amor. — Pensou no que te disse mais cedo?
— Você não tem nada com a minha vida.
— As notícias correm, garota. Quanto tempo até te chamarem de a
preferida do chefe?
— Vai à merda!
É cada ciúme que a gente não deveria sentir, mas sente. Olha, a culpa
não é só minha, mas dele também.
— Lorenzo só está com você pelo sexo. Não seja idiota de se achar
única por dormir com ele. — Me segurei para não pular nela, mas fui
adiante e dei-lhe as costas, sentindo que ela tinha mais coisas para falar.
Ainda de costas, a escutei dizer: — Lorenzo já teve muitas, quem garante
que não está comendo uma nesse exato momento?
Contei até dez.
— Quem garante, caramba? Eu garanto! — Uma voz muito diferente
me fez virar, meu rosto foi tomado por todos os reflexos de surpresa. —
Senhorita, qual é o seu nome?
Era o pai de Lorenzo quem havia dito as palavras. Por estar atrás, não
consegui ver a expressão da loira, mas pagaria para ver.
— Samantha, senhor. Sou do RH. Estava...
— Você sabe quem eu sou, e devo dizer que saiu muito do seu cargo
ao conversar sobre assuntos que não te dizem respeito, e pior, no seu turno de
trabalho.
— Perdão...
— Não foi na minha vida que você se intrometeu, foi na vida da
garota atrás de você. Para mim você só deve um bom trabalho nesse hotel,
agora, principalmente.
Vi a loira balançar a cabeça e sair a passos firmes. Quando encarei o
homem, sorri, envergonhada.
— Obrigada.
— Disponha — falou ele, dando passos até ficar na minha frente.
— A mulher é bem sutil, posso cuidar para que não te atrapalhe.
— Não precisa. Lorenzo está com o senhor?
— Senhor, não — ele disse, calmo. — Lorenzo não está comigo.
Para onde vai com os cadernos?
— Faculdade.
— Vamos, te dou uma carona e assim a gente conversa.
Eu engoli um nó que se formou na minha garganta. Como sair dessa?
— Não precisa...
— Vou ficar chateado se não aceitar — rebatei enquanto pegava meu
braço e passava por baixo do seu, de forma casta. — Sabe escolher flores?
E quando ele começou a caminhar, eu tive que ir junto. Talvez isso
fosse bom para conhece-lo. Lorenzo ficaria feliz.
Okay...
Talvez, preocupado.
— Acho que sim.
— Ótimo. Sou uma tragédia nisso até hoje. — Assim que passamos
pelo saguão, eu vi olhares bastante sugestivos em minha direção. Eita,
caramba! — Lorenzo comentou que você gosta muito de contabilidade. Por
quê?
— Me identifiquei.
— Sabe, eu só cursei uma faculdade e faz um bom tempo. Admiro
quem faz estuda algo no qual realmente queira trabalhar. No meu caso, era só
pelo diploma. A sociedade tem que cobrar isso.
Eu sorri pela sinceridade. Chegamos até um carro preto, estiloso. O
senhor Conrado fez questão de abrir a porta para mim. O pai de Lorenzo
tinha um estilo nada casual e bastante formal. Usava uma camisa social
branca, mas o que me chamou atenção foi o cabelo grisalho, e os olhos, que
eram os mesmos de Lorenzo.
— Eu havia feito uma pausa de um ano — contei enquanto colocava
o cinto e via o carro começar a se movimentar comigo e meus livros lá
dentro. — Retornei há um mês.
O Sr. Conrado me olhou brevemente e sorriu.
— Quando estiver no período de estágios, fale com o Lorenzo. Nos
hotéis não vai se encaixar em sua área, mas na empresa tenho certeza que
sim. Pode ser um grande começo para você. Temos boas referências. Lorenzo
vai continuar te ajudando nesse sentido também.
— Faltam dois anos e meio para chegar na fase dos estágios, mas é algo
a se pensar.
Assim que chegamos a uma das avenidas principais, o carro parou
bem em frente a uma floricultura. Conrado desceu e eu fui junto, um tanto
calada demais. O lugar era cheiroso, com muitas flores diferente e cores.
— Se você estivesse com raiva de um homem... que tipo de flores iria
querer receber como um pedido de desculpas?
Fiquei chocada. Bem imprevisível essa pergunta.
— Bem... rosas?
— Não é muito “fiz alguma coisa errada”?
— Tem razão — concordei, refletindo no que eu ia querer ganhar se
estivesse no lugar da mulher. — Ela está muito brava?
Perguntei e ele balançou a cabeça.
Lembrei da noite em que fiquei com raiva de Lorenzo. Muito brava, a
ponto de jogar bebida nele. O que eu quis que ele fizesse para me acalmar?
Bem, talvez o que fazemos não se aplica aos outros. Não mesmo.
— Eu não sou muito de flores, então sugiro que deixe as flores para
depois. Primeiro converse, fique com ela, leve-a para comer algo. Se um cara
tivesse sido meio idiota e me desse flores, eu as jogaria nele, então é bom
resolver tudo antes de dar flores. — Voltei a olhar para ele, que me olhava
assustado. — Oh, desculpa, claro que isso vai de pessoa para pessoa.
— Farei o seguinte: a chamarei ela para jantar e, só quando ela estiver
no carro, a caminho do restaurante, eu entrego as flores. Que tal? Muito
ruim?
— Ótimo! Faz um buquê com vários tipos de rosas ou só com a rosa
que ela gosta.
— Eu realmente espero que dê certo. Por falar nisso, você e Lorenzo
marcaram algo para o fim de semana?
— Nós vamos acampar.
— Lorenzo? Sério? Como conseguiu isso? Eu adoro acampar, mas
Lorenzo não é muito adepto ao mato.
Fiquei sem entender.
— Ele não gosta? — perguntei, um tanto preocupada.
— Gostar, gosta, mas evita ir desde menino. Digamos que ele, Pedro e
eu, já tivemos alguns momentos não muito legais.
— Por quê?
— Tentamos ir na primeira vez, só que deu tudo errado, a barraca não
estava boa, o tempo, a comida, os mosquitos... No fim, eu traumatizei os dois.
— Caramba, não sabia disso!
— Vai na fé — ele aconselhou. — Lorenzo só precisa de apoio e
mostrar que é homem, então ele vai com você.
— Foi bom senhor me dizer isso, porque explica a cara dele quando
contei que iríamos — falei enquanto Conrado pegava uma rosa de cada cor.
— Talvez eu deva mostrar que está tudo bem, que vai ser legal.
— No próximo fim de semana, quero vocês dois em um dos eventos da
empresa e um almoço comigo e Tina. Posso contar com você?
Eu o acompanhei com o olhar, aguardando pagar pelas flores que em
seguida a atendente começou a organizar em um buquê. Enquanto isso,
escutava o convite e tentava pensar rápido.
— Se Lorenzo for e me quiser com ele, sim.
— Ótimo! Vou apresentar minha noiva. Nunca apresentei ninguém
depois da mãe dele. É muito difícil.
A flor era para uma mulher, quer dizer, para uma noiva. Lorenzo não
sabia disso, sabia? Não seria eu a contar.
— O senhor tem medo que ele não goste ou não aprove?
— Tenho medo que eu não saiba lidar com a situação toda — admitiu o
homem. — Fui casado com apenas uma mulher, outra na minha vida pode me
deixar até sem palavras.
— Você acha que não vai saber lidar com a situação, mas tudo na vida
se aprende.
Assim que a atendente entregou o buquê, fomos direto para o carro.
— Você tem razão, Carolina. Eu pensava que era uma espécie de
frigideira sem tampa, isso depois que perdi, Isabel, mas vi que tenho uma
tampa de vidro, e que ela precisa de mim.
Sorri com a última parte. Ele era verdadeiro quando falava, isso me
deixou mais calma. Muito mais calma.
— Mulher nenhuma gosta de ficar atrás de um homem, fato!
— Isso mesmo, lado a lado — concordou e parou o carro. —
Chegamos. — Ele sorriu, olhando para mim. — Gostei de você. É uma garota
gentil.
Gentil... Ninguém nunca havia me falado que eu era gentil. Ninguém
mesmo.
— Eu que agradeço. Nos veremos em breve. Espero conhecer sua
noiva.
— Ah, mais uma coisa. — Ele levou a mão ao buquê que estava no
banco de trás, e de lá tirou uma rosa branca. — Para você.
Peguei a rosa e sorri, emotiva. Muito emotiva.
Okay, TPM, já entendi que você está chegando.
— Obrigada — agradeci e abri a porta, então desci do carro com a rosa
em uma mão, meus livros e a bolsa na outra. — Foi um prazer.
— Até a próxima!
Depois que eu fechei a porta do carro, fiquei o observando se afastar e
ir para outros rumos.
Pensei em Lorenzo e senti uma vontade imensa de ligar e contar para
ele o que tinha acabado de acontecer. Mas, me convite. Esperaria até mais
tarde para ligar, mesmo que fosse uma chamada pela qual eu estava ansiosa.
Tem a primeira vez para tudo, meus caros, até mesmo para ter saudade
de um homem.
Tem mulheres — a maioria — que não sabem ganhar um “não”, que
não aceitam que os planos dão errado.
É uma realidade.
Não sejam esse tipo de mulher. Por favor, facilitem as coisas.
Sabe o que é estar em um mercado no qual é estável, que você pode e
deve ter o controle? Não, provavelmente vocês não sabem.
Vejamos...
Vamos dizer duas palavras: confiança e controle. Para uma firma
como a Maldini era sempre bom ter essas duas palavras. Porém, as palavras
negócio, confiança e controle, não podem se juntar a sexo. Sério, algumas
noites de prazer não valem a dor de cabeça.
Eu tinha uma mulher que fez merda. Eu estava nos planos dela e ela já
não estava nos meus. Era mais uma que seria uma boa profissional e nas
horas livres uma mulher de classe e boa de cama. Mas... algumas mulheres
nunca vão entender o “não”. Nunca vão entender que não é ela na história.
Não pensem que sou um idiota. Preciso que fiquem do meu lado.
Esqueça que fui eu que comecei a sair com a garota. Eu quis e ela quis
naquele tempo. Não tinha uma bola de cristal para saber que teria Carolina
comigo.
Eu só sei que Miry Oitol fez uma grande merda.
E aí, o que acontece? Planeja e lança a lama sobre mim e todo lugar?
Sabe o que é pior? Bem, não é nem ter que refazer e passar mais de
quinhentas folhas a limpo em menos de onze horas. Ou ficar neurótico.
Não, isso não é o pior. Pior é quando nada disso dá certo e isso ainda
afeta outros planos, inclusive me faz ter que desligar o celular e pegar um voo
para conversar pessoalmente com a minha mulher.
Parece difícil entender, mas eu sei que eu teria que falar e pedir
desculpas pessoalmente para uma moça.
Uma moça que me xingaria pra caramba.
Estraguei os planos dela. Mais uma vez. Na última que fiz isso com
ela, ganhei um copo de bebida na cara, lembram?
Dessa vez foi pior. Eu sabia que ela estava empolgada. Sabia que ela
queria que eu fosse com ela, que a gente estivesse bem longe da cidade, no
mato, àquela hora. Mas, Lorenzo... bem, ele era um idiota! Não vou dizer que
não estava com medo dela, não vou dizer que não estava com vontade de
apertá-la toda. De explicar o porquê eu novamente fiz merda sobre os planos
dela, planos que ela organizou com tanta empolgação.
Parecia que as coisas só continuavam a ficar ruins para mim, graves a
ponto de me tirar dela.
O acampamento era algo que ela queria muito.
Eram dez da noite e eu estava em uma pista de 50, indo aos 100km
por hora. Eu gostava demais dela para deixa-la com raiva ou pensando
qualquer coisa ruim sobre mim.
Caramba, era por querer ser só dela, que eu estava com problemas.
Poderia ter ido e comido a garota, mas eu não fiz isso, não quis mais
aquilo, não me encaixei.
Não era Carolina, não era a minha mulher.
Não era a mulher pela qual eu ficava com tesão.
Não, não era ela.
Só conseguia pensar na Carolina enquanto me desviava das investidas.
Quando consegui, tive um balde de água fria sobre mim. Mas valeu a pena e
faria de novo. Eu ainda tinha trabalho e não era pouco, mas gostava muito da
minha vida, também, por isso larguei tudo e estava parando o carro na frente
do prédio verde, sentindo um frio na barriga e um medo enorme.
Cheguei a ficar algum tempo raciocinando. Pensando. Tentando
colocar algo coerente em mim. Mas não adiantava.
Primeiro eu tinha que vê-la.
Subi as escadas em alta velocidade, mas me demorei um tempo parado
em frente à porta quando cheguei até lá.
Tomei coragem e bati, não só uma vez, mas duas e depois três, quatro.
Eu já devia saber que ela estaria com raiva e não ia querer me atender.
Olhei para o relógio e vi que já era muito tarde.
Continuei batendo quando de repente a porta se abriu, mas só um
pouco dela.
— Lorenzo, que diabos é isso? — A voz de Camila me aliviou
totalmente. — Está tarde. Onde está a Carolina?
Meu rosto se fechou instantaneamente.
Eu gelei.
Eu fiquei sem ar.
— Carolina não está em casa? — perguntei, tentando manter a calma.
— Onde ela está?
— Pensei que estivesse com você. Ela disse que não ia acampar, mas...
O que você fez com ela?
Foi um soco na minha cara.
— Eu não fiz nada. Acabei de chegar de viagem.
Camila abriu a porta e me deixou entrar de uma vez.
Calma, Lorenzo. Calma!
Calma o caralho!
— Vocês não iam acampar?
— Sim, mas tive problemas e não pude chegar mais cedo — respondi e
sentei-me no sofá, buscando o celular. — Não sabe para onde ela foi?
— Não. Eu só sei que ela se arrumou e saiu.
Camila se sentou no outro sofá e me olhava como se eu fosse o
culpado.
Eu havia provocado aquilo.
— Droga! Ela não atende! Você não quer ligar? — perguntei e ela
pegou o celular na mesa, então o entregou a mim.
— Vocês brigaram?
— Ainda não. — Esperei alguns segundos para ligar do celular da
Camila, disquei e fiquei quieto até que ouvi chamar. — Carol?
Havia uma música baixa no fundo.
— Pronto, pode falar, Camila. — A voz dela estava viva e calma,
também. — Camila?
— Não, não é ela, sou eu. Onde você está? — A pergunta saiu tensa da
minha boca, parecia que eu iria gritar, jogar para fora tudo que estava dentro
de mim nos dois dias de bosta que eu havia tido. — Fala comigo, porra! Onde
você está? Por que não está na sua casa?
— Quer mesmo saber? Caramba, Lorenzo! Você me deixou a manhã e
a tarde inteira esperando — ela falou e eu suprirei. — Sabia o quanto eu
queria fazer isso com você. É a segunda vez que você me deixa esperando.
Eu não vou mais fazer esse papel de idiota.
Ela nem esperou que eu falasse mais nada, e desligou.
Bufei de ódio, disquei o número novamente e ela atendeu.
— Carolina, não desligue a porra desse telefone, por favor! — Aquilo
seria difícil para a porra. Eu estava cansado e com raiva, também, muita
raiva. — Tive problemas. Me diga, por favor, onde você está? Eu vou te
buscar.
— Para facilitar, só suma da minha casa, sabe?! Chega disso.
— O quê? Do que você está falando?
— Não quero te ver hoje, Lorenzo.
Eu dei uma risada nervosa. Rindo de nervoso. Nada poderia ficar pior.
— Amanhã vai querer me ver, amor da minha vida?
— Vai pra porra!
Vi Camila se levantar e sair da sala.
— Desculpa. Desculpa, Carol, deixe-me explicar tudo.
— Eu deixo você explicar, mas não hoje, amanhã. Não quero ter que
olhar para você agora.
— Carolina, vem pra casa. Eu quero te ver.
— Eu também queria te ver, te disse isso quando me ligou, lembra? Eu
não vou fazer suas vontades se você não fizer as minhas.
— Caralho, Carolina! Caralho! — Passei a mão no rosto e olhei
novamente para o relógio. — Não faz isso comigo.
— Você podia ter ligado antes. Com tanto dinheiro, podia até ter
mandado um cartão por pombo-correio.
— Não é assim...
Ouvi a risada dela e quis jogar o telefone longe.
— Você não pode fazer isso comigo. Eu tenho minhas expectativas a
serem alcançadas. Sabe o que é isso, Lorenzo? Sabe o que é esperar demais
algo e no fim não dar em nada?
— Não queria ter feito isso.
— Não queria, mas fez. Porra, Lorenzo! Era só ligar e dizer que estava
com coisas mais importantes para resolver, ao invés de sair com uma mulher
para algo tão patético.
— Não era patético...
— Será mesmo?
— Carolina!
— Carolina, não! Presta atenção. Era uma coisa simples, mas era a
MINHA coisa simples para agradar você. Era importante para mim, deveria
ser para você também.
Ficamos calados por inúmeros segundos, até que escutei um suspiro
diferente. Aquilo me deu a pior sensação que eu podia sentir.
Porra!
— Você é importante para mim. Foi por su...
Eu ia começar a falar, mas calei a minha boca.
Completamente.
Totalmente.
A culpa.
De quem era a culpa?
Apenas minha.
Eu não ia falar que o motivo havia sido os problemas que tive com a
administradora. Não era justo. Por mais que eu quisesse, eu não podia.
Ela tinha razão de fazer isso.
— Hoje não quero te ver, Lorenzo — ela afirmou com veemência. —
Sou capaz de falar e fazer o que não devo.
— Eu gosto de você, Carolina, acho que é amor. Só preciso saber que
está bem.
Declarei, calmo demais. Nunca pensei que essa palavra sairia da minha
boca em uma hora como aquela.
Nunca.
Deus! Caramba!
Me imaginei falando para ela em qualquer outro momento. Mas não
naquele.
— Não precisa falar isso só para me alcançar — ela retrucou.
— Te alcançar? Porra, não foi para isso que... não disse isso para...
Cara, eu fui sincero.
— Também fui, Lorenzo. Agora vou desligar.
— Espera. Eu... quero ver você.
— Hoje não quero ver você. Pode ser amanhã.
— O que diabos você quer que eu faça? Me diga, faço qualquer coisa.
Tive que esperar por longos segundos até que voltei a ouvir a voz dela.
— Quero flores amanhã.
Arqueei a sobrancelha, confuso.
— Flores? — perguntei.
— Sim. Agora eu vou desligar.
— Não faz isso.
Foram as últimas palavras que disse até ouvir o bipe do fim da ligação.
Carolina era dura até na hora sensível.
Levantei-me e olhei para Camila, que estava sentada na mesa da
cozinha.
— Eu já vou indo.
Puta merda! Estava fodido.
— Ela está bem?
— Fisicamente, sim. Amanhã eu volto — respondi e Camila se
levantou, indo até mim. Ela pegou o telefone e sorriu, um sorriso que dizia
tudo. — Obrigado por ajudar. Agora tenho que ir.
Eu sabia que não havia muito a ser feito. Mas, o fato de ela estar longe
daquela forma não me agradava.
Sozinha.
Sem mim.
Fiquei minutos dentro do carro sem saber se eu ia, se eu ligava de
novo... A imaginando me xingar pra caramba e pensando que tinham certas
coisas que eu teria que evitar.
Sabe quando você cria um escudo? Que só tem um objetivo, proteger
a paz?
Tirar a paz que reinava entre mim e Carolina era como criar uma
guerra mundial. A guerra estava prestes a acontecer e, mulher quando fica
com raiva, é fogo. Carolina deixou clara a frustação e o desejo por flores.
Flores. Eu nunca tinha dado flores para uma mulher. Não como
naquele caso. Tentei dar flores para Carolina, lembro bem disso, mas ela
negou e com isso passei para a irmã dela.
Agora, me diga... flores? Ela quer flores?!
Eu poderia falar que isso era fácil. Uma grande surpresa para mim.
Mas se ela quisesse flores, era teria um já jardim inteiro, uma floricultura.
Qualquer merda que a deixasse bem.
Ela esperava as coisas de mim.
Eu esperava as coisas dela.
Essa era a lei.
Pronto.
Oh, droga!
Ela não estava ali comigo.
— Está terminando? — Camila me perguntou pela milésima vez.
— Não. Agora fique quieta — falei e ela olhou para as horas no celular.
— Estou fazendo esse penteado e fiz sua maquiagem, até agora você só disse
que vai sair com as meninas do trabalho. Tem certeza?
Perguntei novamente e ela não respondeu, ignorando-me.
Eu juro que queria entender, juro que queria, pelo menos, que ela me
falasse algo para eu não ficar tão curiosa e tão preocupada. Era difícil bancar
a irmã mais velha.
Ela não podia apenas me dizer algo vago, sem detalhes.
Eu sabia que tinha mais coisas.
Algo não estava certo.
Havia um buraco naquela história de sair com as colegas de trabalho.
— Eu perdi minha virgindade com dezessete anos, sabe?! Foi bem
louco. — contei e dei risada das minhas próprias palavras. — Você já sabe
toda história, sabe tudo o que acontece comigo. Eu confio em você, não pode
confiar em mim, Camila?
Joguei a rede, sabendo que esse papo não iria dar nem um pouco
certo. Que ela não cairia.
Virgens têm esse problema. Elas não admitem.
Nunca.
Camila era uma.
Eu sabia que a qualquer momento ela poderia ter sua primeira vez,
sabia que ela era bonita, que tinha seu encanto, mesmo sendo estilo nerd e
caseira. Mesmo além de toda a calmaria, tinha o charme e a sensualidade.
Mesmo assim, ela não tinha confiança nela mesma, por ter passado por
muitas coisas desde o acidente.
Eu sempre tentei abrir algumas coisas para ela, para que ela se sentisse
mais confiante.
Para que quando chegasse a hora, ela não ficasse tão perdida.
— Carolina, não tem ninguém. São só as meninas do trabalho, algo
mais formal. Não quero ir de qualquer jeito.
Ajeitei a última mecha de cabelo dela, fazendo-a ficar solta de
maneira que despojada e charmosa. O coque havia sido primordial, sem erro.
A maquiagem básica. O vestido que ela usava era diferente, algo que eu
nunca a imaginei usando.
Quando ela se virou para mim, eu tive certeza de que havia alguma
coisa diferente de tudo que já a vi fazer.
— Tem certeza que quer continuar negando que não tem um cara no
meio?
— Carol, são quase sete da noite, olhe ao nosso redor, o que você vê?
— Eu olhei e vi todas aquelas flores, o que lembrava a minha vida amorosa.
Lorenzo era o cara mais exagerado que eu havia conhecido. Isso podia ser um
defeito, mas, no caso dele, não era. — Não acha melhor cuidar disso e depois
se preocupar com qualquer coisa relacionada a mim?
Eu abri e fechei a boca, sem saber o que responder a ela. Não sabia
nem o que fazer ou falar.
— Você nunca falou assim comigo.
— Desculpa — ela disse e olhou para mim. — Você está mais
neurótica que o normal. E você sabe o porquê.
Eu ignorei o que ela falou.
Veementemente.
Eu me sentia uma porcaria, mano.
Realmente.
Era difícil pra porra gostar de um homem. Gostar e ter problemas tão
sérios com ele.
Lembro bem quando eu não precisava me preocupar com homem.
Era um paraíso.
Aí vocês devem estar pensando:
Que mulher idiota.
A única desculpa que vou usar, é:
Nunca passei por isso.
Pronto.
Agora podem parar de me colocar adjetivos.
— Pelo menos pode me dizer para onde você vai? Assim, o lugar?
— Jantar, só não sei onde.
Havia homem no meio. Se fosse algo entre amigos o lugar estaria bem
mais planejado. Muito mais.
Homem tem essa arte.
— E ainda quer que eu não pense que tem um cara no jogo?
— Eu sei me cuidar.
Eu disse essa mesma frase para minha mãe uns bons anos antes.
Na época, eu havia feito algo novo demais para uma garota de
dezessete anos. Agora sabia o que significava o olhar que minha mãe havia
me dado naquele dia. E, por Deus, eu esperava que o homem que ela
estivesse conhecendo soubesse que ela era alguém para se levar a sério. Sem
brincadeira.
Eu seria capaz de ir ao inferno buscar o infeliz e o mandar de volta.
— Eu dividi muitas coisas com você, até o útero, então eu posso dizer
para tomar cuidado e, por favor, se proteja e não deixe que um cara faça algo
que você não quer.
Falei com sinceridade.
No fim, eu já havia passado por tantas, que falar para ela tomar
cuidado era o mínimo. Eu esperava isso. Minha mãe e meu pai não estavam
mais ali, eu devia, de certa forma, fazer esse papel.
Se bem que no quesito homem, a minha vida estava bem bosta.
— Não tem com que se preocupar.
— Escuta o que eu digo. Não vai querer ouvir Adele a tarde inteira
depois.
— Você ouviu porque quis. Seu celular estava do seu lado — Camila
rebateu. Ela estava ficando bem ágil com as palavras. Era verdade atrás de
verdade. — Lorenzo só faltou chamar a polícia e ir atrás de você, tive pena
dele ontem. Não devia ter fugido como uma covarde.
— Covarde? Camila, de que lado você está?
— Do meu. Seja mais leve com ele, aprenda a não vê-lo como um
inimigo — aconselhou e se aproximou de mim, entregando-me uma caixa. —
É para você. Algo que vai fazer sua noite ficar melhor.
Eu sorri com o presente em mãos.
— Não precisava. O que é isso?
— Algo que vai deixar você na paz, se é que posso falar isso.
Desfiz o laço, mas com medo de abrir o embrulho. A última coisa que
pedi de presente, foi um P.A.
Qual é?!
Ela trabalhava como vendedora em um Sex Shop.
— Cara, se for o que eu estou pensando...
— Anda, eu já estou para sair.
Quando abri a caixa, vi um papel com um número e o meu celular.
Eu não estava acreditando que ela havia feito isso.
Porra!
Era para ser engraçado?
— Ha ha ha! Muito engraçado!
— Sorria — ela falou, com o celular na mão, gravando a cena toda. —
Gostou? Não precisa agradecer.
— Que isso, faço questão! — Peguei o número e vi que era de Lorenzo.
— Que merda, Camila! Não brinca com meus sentimentos, caramba!
— Sei que estava esperando aquilo, mas não tenho coragem de pegar
um pênis de borracha e embrulhar para pressente. É vergonhoso.
— Não é, não.
— É sim. — Notei o celular dela apitando e ela leu algo, dando um
sorriso no final. — Eu preciso ir. Vou de táxi e ele já deve estar chegando.
— Uau! Isso tudo é para o cara fugir de mim? Diga para que faço
questão de fazer um almoço para ele.
— Carolina, sua comida e péssima! E não tem cara nenhum!
A vi pegar a bolsa e ajeitar o vestido. Eu só observava.
— Diga que tem família e que você gosta de respeito. Entendeu?
Camila me deu as costas e, antes de fechar a porta, ela olhou para
mim, dando um sorriso feliz.
E eu dei outro que expressasse que eu estava ali.
Recolhi as coisas que havia usando enquanto a arrumava, em seguida
minhas roupas em cima do sofá, partindo em seguida para o chuveiro, onde
escorreguei em um banho.
Direto.
Sem pensar muito.
No fundo eu precisava de algo. Algo muito específico. De um metro e
oitenta, cabelos escuros.
Porra!
Essa coisa de brigar é ruim. Quando teríamos todo aquele clima de
reconciliação?
No fundo, até meu consciente mandava vozes do além para me dar
conselhos. Essas vozes sempre apareciam para me acalmar, geralmente no
banho, como era o caso naquele momento.
Mesmo assim, eu ainda tinha questões a resolver, como ele.
Fiquei longos minutos ali, debaixo da água. Depilei-me totalmente,
lavei os cabelos... Fiz um extra naquele banheiro, até não sobrar pelos e nem
sujeira. Nada. Limpa.
Só não deu para lavar as ideias. Não havia como tirar o cérebro e lavar
as ideias do caramba que passava ali.
Era difícil.
Estava me sentindo uma maldita adolescente com problemas de
menina apaixonada, que não admitia o que queria e ficava com um orgulho
besta.
Eu queria o Lorenzo!
Mas, depois do dia anterior, era difícil escolher as palavras para ligar,
e ainda tive a infeliz ideia de pedir flores.
Flores. Eu, Carolina, pedindo flores.
Flores.
Flores.
Que solidão era aquela?
Puta que pariu.
Por isso minha casa tinha várias flores. Todas diferentes.
Uma mais linda que a outra, até.
Só que era a coisa mais estranha que um cara havia feito para mim.
Flor. Flor a gente dá é para morto, eu sempre falei isso. Não sou de
flores. Eu pedindo flores era como se eu tivesse gritando que não estava
bem. Não foi algo tão banal de se pedir, e graças a Deus não pedi outra coisa
para ele, acho que foi a minha forma de lidar com a crise toda. Eu tinha que
me preocupar apenas em onde guardaria todas elas.
Abrir uma floricultura era uma boa.
Terminei o banho, pronta para ligar para ele e conversarmos. Coloquei
um shorts, uma regata, e arrumei o cabelo.
Pronta para tudo.
Prestes a terminar realmente, escutei o meu celular tocar. Eu sabia
quem era. Quando deslizei o dedo e coloquei no ouvido, eu estava pronta
para tudo.
— Pronto?

— Olá, amor da minha vida. Hoje você quer me ver?


A pergunta veio de supetão, tão rápida e tão firme que fiquei nervosa.
— Sim, hoje eu quero te ver. Não quer vir aqui para conversarmos? —
Tinha até medo da resposta.
— Eu já estou na frente do seu prédio.

Não fiquei nem um pouco surpresa. Ele era atirado, de todas as


maneiras. Se não fosse por isso, a gente nunca teria ficado.
— Suba.
— Não, você que tem que vir aqui. — Eu estranhei, ficando alguns
segundos em silêncio. — Você precisa vir aqui, Carolina.
— Por quê?
— É uma surpresa.
— O que você está aprontando?
Aquilo me preocupava.
— Não estou aprontado nada. Agora mexa essas pernas deliciosas e
desça até aqui.
— Nada? Lorenzo... — Fui até a janela da sala e, assim que a abri e
olhei para baixo, para a calçada, para ser mais exata, fiquei perplexa com o
que vi.
Sem saber que reação eu devia esboçar diante daquilo.
Quase surtei.
Eu fiquei olhando para baixo, assimilando aquilo.
Lorenzo estava encostado em seu carro e havia uma rosa branca em
sua mão, mas não era isso que me preocupava. Na verdade, nem um pouco.
— Lorenzo o que é tudo isso?

Então a linha ficou muda, indicando chamada encerrada. Ele olhou para
mim lá de baixo, com um grande sorriso nos lábios, na sequência acenou para
um dos caras que estava com uma faixa branca nas mãos, e quando ele abriu
a faixa, vi do que se tratava. Com as letras das palavras escritas de forma bem
grande, uma curta frase:
“Para o amor da minha vida”
Olhei para Lorenzo e comecei a balançar a cabeça, sem acreditar em
nada daquilo.
Provavelmente, eu estava com uma expressão de muito assustada.
Quatro homens ladeavam Lorenzo, um deles o que segurava a faixa,
dois com violões, e um não tinha nada na mão, mas vestia o mesmo terno que
os outros três.
Um conjunto.
Deus, me diz que não é o que eu estou pensando.
Não.
Não.
Todo mundo em volta olhava para mim, como se eu fosse uma
espécie de atração.
Eu me apavorei, sentindo-me a ponto de ter um ataque.
Mas, como tudo sempre pode piorar,
Os homens dos violões começaram a tocar, e o outro, para minha
ruína, começou a cantar.
Na verdade, começou a gritar uma música melosa.
Olhei para Lorenzo, que segurava o sorriso, controlando a risada
histérica que eu sabia que ele queria soltar diante da minha reação.
Então ele se encostou no carro e continuou olhando para mim, mas
dessa vez moveu os lábios. Eu conhecia bem aquela boca para entender o que
os lábios pronunciavam.
Vem aqui!
Quase gritei, negando ao pedido silencioso que ele fazia.
Mas eu tinha que tomar uma decisão, e rápido, antes que o prédio
inteiro descesse só para ver tudo aquilo.
Ela parecia horrorizada enquanto descia as escadas. Bem, isso
enquanto escutava a música de fundo.
Estava toda vermelha. O quarteto fazia um ótimo trabalho.
Não era a melhor ideia, eu sabia disso. Carolina era a prova que não
estava entendendo nada de nada. Eu, como bom homem, tinha que arrumar as
coisas.
Pelo menos tentar.
Espero que não achem que sou um louco obsessivo ou algo assim.
Mandei flores o dia inteiro.
Eu não fiquei com orgulho nenhum. Mas e ela? Ela ligou? Mandou
mensagem? Sinal de fumaça? Eu queria fazê-la engolir o orgulho, mas como?
Como?
Por fim, decidi enviar flores, música e o quarteto. Foi difícil para
caralho arrumar esses caras. Eu tentei me segurar, decidi pegar as ideias mais
convincentes. Como o cara com um cartaz ou os que estavam cantando.
Carolina era fria e o olhar que ela mandava para mim e para os
músicos, indicava isso. Eu deveria ter tentado outra coisa? Provavelmente,
não, não deveria. Era bom ela saber que sou desses desesperados. Assim ela
não brigaria mais comigo.
Eu sei, eu sei, sou um gênio.
Carolina estava me tornando um obsessivo.
Quando ela parou na minha frente, fiz questão de dar um passo até ela
e ficar frente a frente. Ela estava bonita, cabelos molhados, uma regata e um
shorts. Eu adorava os shorts dela, mas isso não vinha ao caso.
— O que significa isso? Quer me matar de vergonha?
Balancei a cabeça.
— Nossa, isso foi cruel!
Cadê o beijo?
O obrigada?
— Lorenzo, peça para eles pararem. — Ela me encarou por um
segundo. — Por favor, não precisa disso.
— Claro que precisa, querida.
— Lorenzo!
— Carolina!
Sim, era muito sensual ter uma discussão como essa. Dava para ver
que estava ficando sem controle.
Certamente, pelos olhares de algumas pessoas nessa parte da noite.
Tadinha.
Podia ser diferente, mas ela não colabora.
Carolina tinha que aprender que eu poderia ir à lua por ela.
Ergui minha mão e acariciei seu rosto.
— Você é o amor que a vida escolheu para mim. — Mesmo eu falando
isso, ela permaneceu em silêncio e não respondeu nada. — Desculpa por
ontem, garota.
Meu peito se apertou porque eu sabia a razão pela qual ela não falava
nada.
Dar o braço a torcer não fazia o estilo dela, e eu já estava ficando de
saco cheio disso.
Ela era aberta para tanta coisa — muita coisa mesmo —, mas, para
outras... Putz!
— Vamos subir.
— Não — falei com firmeza.
— Não? — ela indagou, com surpresa em seu rosto.
É, amigos, era aqui que vocês esperavam que tivesse sexo de
reconciliação?
Não teria. Quer dizer, iria depender dela, do que ela diria para mim.
Não colocaria sexo em algo assim. Não naquele momento. Ah, sexo é bom,
vem acompanhado de tesão, paixão, mas quando se tem o afeto amoroso...
O amor.
Ah, o amor é do caralho!
Complica tudo. Envolve de tudo um pouco.
No nosso caso, envolvia desavenças.
— Lorenzo, peça para essa música parar, por favor. — Eu me inclinei
próximo a ela, que repetiu: — Vamos subir.
O cheiro de seu hidratante me pegou e fiz um sinal para os músicos,
que pararam, pelo menos por alguns instantes.
— Suba. Resolvo aqui e vou também.
Minha voz estava baixa, persuasiva.
Eu beijei o topo da cabeça dela que... bem, ela apenas se virou e saiu.
Isso não era bom para mim. Não era bom para ela. Resolvi tudo em questão
de minutos, não querendo nem pensar que era algo perdido. Queria me iludir
pensando que ela, ao menos, tinha me entendido.
Eu não era romântico, mas ela também não era. Só queria
impressioná-la, fazer alguma coisa. Provavelmente ela devia estar me
achando um babaca.
Havia acabado a brincadeirinha.
Travei o carro e respirei fundo quando me encaminhei para lá.
Ah, amorzinho eu sou duro na queda.
Mesmo cansado, com uma dor de cabeça das fortes por estar há dois
dias sem dormir.
Se não fosse o banho demorado que tomei horas antes, eu estaria
parecendo um estudante prestes a entregar o TCC.
Eu disse que tive problemas com os negócios.
Abri a porta e a vi na sala, com todas as flores espalhadas.
Orgulhoso.
Eu sou um cara orgulhoso de mim.
Nunca tinha me visto nesse papel, mas estava me sentindo tão bem...
Vi Carolina sentada no sofá, olhando para mim, com seus olhos
curiosos, esperando que eu falasse algo.
Mas eu não falei.
Queria ver se ela conseguia deixar o orgulho de lado, pelo menos um
pouquinho. E era a vez dela, eu já havia feito muito.
Sentei-me ao seu lado no sofá e esperei por alguns minutos, até que
ela se virou para mim com uma expressão de “estou pronta”.
— Desculpa por ontem. Devia ter encarado as coisas de frente. — Ela
mexeu as mãos em sinal de nervosismo e eu me aproximei dela, segurando-
as, apertando e tentando não sair do controle também. — Fiquei chateada. Foi
a minha forma de lidar com tudo.
Por um segundo, enquanto olhava seus olhos, vi um brilho diferente.
Podia jurar que vi tudo o que ela não disse.
Ela só não tinha coragem.
Queria ter visto mais daquilo.
Escutado mais daquilo.
Só que ela pulou em cima de mim e me apertou com um abraço,
me abraçando com força.
Ela sabia o que fazer.
— Vamos ficar na paz, Lorenzo. — Eu sorri. — Você não tem ideia do
que se passou na minha cabeça. Ontem... eu estou ficando neurótica!
— Não faça o que você fez ontem, Carolina. Seja realista e me encare
antes de correr de mim. — Olhei diretamente para seus olhos, enquanto
segurei seu rosto entre minhas mãos. — Quero ter brigas limpas.
Beijei os lábios dela de leve.
— Fiquei nervosa.
— Eu sei, eu também fiquei. Mas fugir de mim?
— Eu...
— Não faça mais aquilo, Carolina. Quando tiver que falar alguma
coisa, fale na minha cara, olhando para mim.
Eu falei aquilo tão sério. Veio bem do fundo.
— Por que não me ligou para avisar que não viria ontem? Eu planejei
muita coisa e... caramba! Não me deixe no escuro, por favor.
— Não sabia o que você diria se eu falasse que eu não ia vir por alguns
problemas. — Ela se aproximou de mim e segurou meu rosto entre suas
mãos. Eram tão macias... — Eu não fui o mais inteligente, mas tentei resolver
tudo. Como agora. Se você tivesse me esperado...
— Teríamos evitado toda essa situação? — ela questionou e eu dei um
sorriso em afirmativa. — Seus olhos estão fundos.
— Ah, isso? Estou bem cansado.
— Estou me sentido uma covarde.
— Que bom que está se sentindo assim, porque desse jeito você para de
ter medo das coisas.
Foi mais um desabafo do que uma piada.
Eu estava quase a chacoalhando e falando:
— Mulher, eu gosto de você, mostra que gosta de mim também,
caramba!
— Eu não sou romântico, nem sei o que fazer para melhorar isso...
Plagiei a ideia das flores, dos cantores lá embaixo.
— Foi a coisa mais ridícula que eu já vi, Lorenzo.
— Nossa, Carolina, caramba! Você que me incentivou ontem, não
lembra?
— Foi um ridículo-fofo.
Era inacreditável. Carolina era a mulher mais antirromântica que eu
conhecia.
Mas, devo admitir. Graças a Deus ela era assim. Não saberia o que
fazer se ela fosse diferente.
— Da próxima vez vou fazer de tudo, menos ser romântico — falei e
me aproximei dela. — Acho que você prefere um estilo mais diferente de
reconciliação.
— Gostei do que você fez.
— Mentirosa.
— Eu não minto para você.
— Só a verdade? — Passei minha mão por seu pescoço e fui subindo
até chegar ao ponto X, atrás do pescoço dela. — Se eu te perguntar algo, vai
dizer a verdade, só a verdade?
Ela se aproximou e sorriu bem próximo do meu rosto.
Aquilo era bom pra caramba. Foi uma semana dramática sem contato
com outra pessoa.
Sem ela.
Sem a risada.
Sem a risada que ela dava na hora do sexo. Sem os gemidos e sem o
contato do meu corpo com o dela, dentro dela.
— Eu nunca iria mentir para você, Lorenzo. Nunca.
Eu não duvidava dela. Carolina era assim. Doesse quem tivesse que
doer.
Se ela falasse, falava. Se ela não falava, não falava.
Eu beijei por baixo de seu queixo e chupei a pele suave de seu
pescoço.
— O que você vai fazer?
— Eu vou comer.
— Lorenzo... — Nada nunca foi tão bom, nada. Mas então eu parei,
mesmo antes de chegar à boca dela. — O que foi?
— Carolina, eu quero comer, mas não é você — revelei, encarando seu
olhar de raiva momentânea.
— Como? — A vingança era um prato que se comia quente.
— Eu estou com fome, muita fome, mas é de comida, mesmo.
Veja o troco.
Viu?!
Foi o mesmo olhar que eu dei quando ela disse que era ridícula a ideia
do músico. O mesmo olhar.
— Porra, você cortou tudo, agora! — Ela se afastou e se levantou do
sofá, e eu fiquei rindo de orelha a orelha. — Fez isso de propósito, não foi,
Lorenzo?
— Tadinha do meu amor. Foi iludida com propostas indecentes —
zombei e me joguei no sofá, recebendo em seguida uma almofadada na cara.
— Não fica brava, amor da minha vida. Nosso sexo sujo de reconciliação
ainda vai rolar.
— O que quer comer? — ela perguntou e, deitado no sofá, na altura das
pernas dela, estendi meus braços e as puxei, o suficiente para poder envolver
as duas com os meus braços. — Você vai me derrubar, cuidado!
— Vai cair em algo muito fofo, não se preocupe. — Eu beijei cada
coxa dela e depois a encarei. — Que tal uma pizza?
— Eu ligo ou você liga? — Olhei para ela, sorrindo. — Você precisa
descansar. O conheço bem, seus olhos estão fundos demais. Você precisa
dormir.
— Preciso de energia para poder ficar acordado a noite inteira com
você, Carolina.
— Eu vou e fazer um macarrão instantâneo para você. Nada melhor.
— Macarrão instantâneo? Vai fazer isso para mim?
Ela gargalhou lindamente.
Na verdade, a última vez que comi isso foi na faculdade, sete anos
atrás.
Ela me oferecer isso era estranho. Eu podia comprar um restaurante
inteiro, Carolina sabia disso. Mas, mesmo assim, me ofereceu macarrão
instantâneo. Eu tinha que rir disso.
— Eu gosto da sua simplicidade. E depois dos três minutos, o que
vamos fazer?
— Não sabe, Lorenzo?
— Não. Mas gosto do jeito como você pensa, sua safada!
Então ela se abaixou o suficiente para me beijar. Foi ela quem me
beijou dessa vez.
Carolina me beijou afundando suas unhas no meu queixo enquanto
invadia minha boca. Eu a segui, amando aquilo.
Carolina tinha mais a me dar do que ela já estava dando. Ela só
precisava entender isso.
E quanto a mim...
Eu era todo dela, eu daria tudo a ela.
Tudo que eu pudesse e tudo que ela pedisse.
Eu era dela.
E, por Deus, eu realmente esperava que ela fosse minha.
Completamente.
Eu tentei ligar novamente.
E de novo.
E de novo.
Sábado de manhã, onze e meia da manhã, eu havia acabado de chegar
do trabalho e Camila não estava.
Precisava arrumar uma mala para sair às três da tarde, tinha que
organizar as coisas e teria que subir em um avião.
E onde estava Camila, desde o dia anterior, às sete horas?
Ela não havia dormido em casa e isso me apavorava de uma maneira
descomunal. E ainda tinha a viagem com Lorenzo.
O silêncio na casa era, praticamente, ensurdecedor. Sentei-me na cama
e fiquei paralisada, pensando em Camila.
Onde ela está?
Onde está essa garota?
Assim que ouvi o barulho da porta da sala, eu me levantei e fui ver se
era ela.
Não era. Era ele. Era para eu sorrir, mas não consegui.
— Trouxe almoço pra gente... — Lorenzo ia falando enquanto fechava
a porta, e quando olhou para mim, sorriu. — Está tudo bem?
Eu balancei a cabeça e me sentei no sofá, com a cabeça baixa.
Lorenzo se sentou ao meu lado e ergueu a mão até meu rosto, o virando e me
fazendo olhar para ele, pedido pela resposta da pergunta.
Caramba, isso era difícil.
— Camila não voltou para casa, desde ontem.
— Como assim? — perguntou.
— Não voltou. Ela saiu ontem e até agora nada. Eu liguei para o celular
e só dá na merda da caixa de mensagem, Lorenzo. — Engoli o nó que se
formava na minha garganta. — Estou ficando apavorada!
— Carol, calma. Talvez ela esteja com alguma amiga.
— Não, não mesmo! Impossível!
Merda, Carolina. Você tem que parar.
— Pelo menos sabe com quem ela saiu ontem? Você tem noção de
alguém com quem ela possa estar?
Eu balancei a cabeça em negativa, em seguida me levantei e comecei a
andar para lá e para cá.
— Ela nunca fez isso. Nunca. Se acontecer alguma coisa com ela...
— Ei, para. Não vai acontecer nada. Eu vou te ajudar.
— Como você vai me ajudar?
Por favor, por favor, por favor, eu imploro silenciosamente ao
universo, não deixe que aconteça alguma coisa com ela.
— Não faço a mínima ideia, mas quando precisar de ajuda, eu vou estar
lá. Nem que tenha que contratar a NASA.
Eu balancei a cabeça e ri.
— Só você para me fazer rir agora.
— Acha que estou brincando ou contando alguma piada?
— Não, não. Ela tem até uma hora para aparecer.
— Tem certeza?
— Que tal comermos? — sugeri, desviando-me do assunto. — O que
você trouxe?
— Comida mexicana. Conheço um restaurante ótimo e... — Quando
ele se levantou e pegou as sacolas, eu forcei um sorriso — consegui que eles
organizassem algo pra gente.
Eu não conseguia nem prestar atenção no que ele dizia. Passava tanta
coisa na minha cabeça, de onde Camila poderia estar... Não havia como
relaxar ou colocar outra coisa na mente. Era a minha irmã e ela nunca havia
feito isso.
Nunca.
Nunca mesmo!
Então assim, do nada, ela decide começar a mudar suas atitudes?
Não, não é nada normal.
Eu sabia que devia ter tentado fazer com que ela se abrisse. Tinha
quase certeza que isso era dedo de algum cara. Camila estava saindo, sim,
com alguém, e eu devia ter tentado saber pelo menos o nome.
Idiota!
Idiota!
Eu tinha medo de pensar o pior, mas por mais que não quisesse
pensar, as coisas vinham na minha cabeça como bomba. Era uma garota que
estava longe de casa sem dar notícias.
— Carol? Carolina?! — Lorenzo se aproximou. — Vai ficar tudo bem,
ela vai chegar.
— E se não chegar?
— Ela deve chegar de um jeito ou de outro, você sabe disso.
— Eu ainda nem arrumei minha mala, caramba!
— Primeiro isso, depois vemos as outras coisas — ele falou e puxou a
cadeira, me fazendo sentar nela. — Agora vamos almoçar, certo?
— Certo. Eu só...
Foi instantâneo. Quando ouvi o barulho da porta, levantei tão rápido
que quase caí, mas Lorenzo me segurou a tempo, e sorriu quando comprovou
que era ela.
Camila fechou a porta atrás de si e, quando nos viu, abriu um sorriso.
Eu fiquei sem entender o motivo.
Respirei fundo e olhei para ela.
Na verdade, eu olhei para o vestido que ela usava. Não conhecia
aquela roupa. Era o estilo de vestido que ela usaria, mas aquele não era dela.
Por um lado, alívio. Por outro, preocupação.
— Está tudo bem? — Assim que ela se aproximou de mim, notei o
cabelo molhado. — Olá, Lorenzo. Carol?
— Vai me explicar agora ou depois o que aconteceu?
Bomba.
Boom!
— Como assim?
— Pode me esperar no quarto, Lorenzo? — Olhei brevemente para
Lorenzo, que me deu último olhar e saiu. — Senta!
— O que é isso?
— Vamos conversar, anda. Coloca sua bunda nessa cadeira, Camila.
Ela ficou me olhando brevemente, então se sentou e eu também.
Por fora eu estava calma. Mas, por dentro... Ah, por dentro estava bem
ruim.
Eu precisava dessa conversa.
— Primeiro: onde você estava? A verdade, por favor.
Ela ficou séria.
— Não precisa disso.
— Responda, caramba!
— Carolina, eu saí com a Stely, ela mora do outro lado da cidade.
Ela parecia pensativa enquanto inventava toda a mentira.
— Vai mentir para mim? Fale a verdade e apenas diga que está tudo
bem, que você só se esqueceu de me ligar.
— Carolina, pelo amor de Deus! Precisa disso?
— Precisa disso? É isso que você tem para me falar, depois da minha
histeria?
— Eu não...
— Camila, eu sou sua irmã mais velha, não tenho autoridade nenhuma
sobre você por isso, mas quando foi que eu menti para você? Você está
mentindo para mim há mais de semanas, não está?
Ela ficou me olhando, parecia chocada.
— Eu já disse que estava na casa da...
— Você fez de novo. Mentiu de novo. Fala a verdade, por favor!
— Não tem verdade nenhuma.
Eu me levantei, ficando de costas para ela enquanto pensava em algo.
Por Deus! Era difícil pra caramba manter a calma.
Eu inspirei e expirei. Quando me virei, ela estava me olhando.
— Fala. — Fiz uma pausa. — Pelo menos me diga que eu não preciso
me preocupar. Fale apenas que da próxima vez vai me ligar e falar que está
tudo bem. Que não vai me deixar preocupada, por favor.
Tomei um pouco mais de tempo em silêncio dessa vez.
— Você não precisa se preocupar com nada, Carolina. Eu estou bem e
vou continuar bem.
— Mais que bem, não é, Camila? — A ironia ficou tão clara que ela se
levantou.
— O que está querendo de mim? Quantas vezes você fez isso? Eu só
não liguei. Acontece, entende?! Não quero brigar com você.
— Ah, Camila, mas eu quero brigar com você. Quero que fale a
verdade. Para de mentir!
— Eu não estou mentindo...
— Deixe-me adivinhar... Você está omitindo? É isso, Camila? Acertei?
— Eu estou aqui, não estou? Então pronto, Carolina. — Ela olhou para
mim e depois se aproximou, mas eu me afastei. — Não fiz nada que você não
faria. Ou seja, não fiz nada de errado.
— Se não quer confiar em mim, só posso lamentar.
— Não seja dramática, Carolina.
Não adiantaria. Ela não iria falar, por mais que eu tentasse.
E eu tentei.
— Eu vou viajar à tarde.
— Você já me disse. Espero que se divirta.
Eu sorri em derrota.
— E eu espero que você pense no que eu te disse, Camila. — Ela
balançou a cabeça e eu quis dar uns tapas naquele rosto. — Ah, não desligue
o telefone enquanto eu estiver fora.
Ela sorriu.
Ahhh, ordinária do cacete!
— Um abraço? — ela perguntou e eu arqueei a sobrancelha, sem
acreditar.
Depois de mentir?
Vir com essa cara de pau para cima de mim?
Não. Eu não conseguia. Já era demais.
— Não tem abraço!
Falei isso e saí, indo direto para o quarto.
Família era isso. Arruma uma e vê se não tem problema. Pelo menos
eu tinha meu homenzinho, que me fazia muito bem. Porém, dormia que era
uma beleza, ou fingia.
Ele estava jogado na minha cama e com os olhos falsamente fechados.
Meus olhos se prenderam em sua bunda avantajada por baixo da calça.
— Nossa, que pena. Pensei que iria pegar um certo moço acordado...
Tantos planos.
— Planos? — Eu olhei para ele. — Tenho vários planos também, amor
da minha vida.
Eu tentei não parecer tão sentimental quando me aproximei dele e me
abaixei.
— Vamos, amor da minha vida, levanta.
Quando as palavras saíram da minha boca, senti que ele havia notado e
gostado, pelo modo como me olhava.
Por mais foda que isso fosse, já era tarde demais.
Eu entendia exatamente o que ele sempre quis de mim.
Porra, eu estava literalmente afundada nessa história toda.
E, a partir disso, eu tinha que assumir ou sumir.
Literalmente.
Finalmente.
Eu estava a ponto de surtar, sozinha no hotel Maldini, onde havíamos
nos hospedado, pois o senhor Maldini estava em reunião e até então não tinha
voltado.
Ah, filho da mãe!
Não faz essa cara não, colega.
Alguém poderia dizer para ele, que se eu soubesse, eu teria ficado em
casa, fazendo os dois trabalhões da faculdade? Além de ter que subir em um
avião, ficar com náuseas a viagem inteira... infeliz!
Você vai gostar, Carolina.
Estava vendo como eu ia gostar. Era frustrante e eu também não podia
reclamar, afinal, era o trabalho dele, era o que ele era, a vida dele. E eu tinha
que saber fazer parte, mas, caramba, era difícil. Estava a ponto de pular da
janela só para sentir uma ação diferente. Eu precisava dele ali, pertinho. Já
estava perto de dez da noite, não sabia se eu tomava um banho ou pedia algo
para comer, não sabia nem falar a merda do idioma. Bem capaz de eu pedir
um reles macarrão e chegar banana.
Deus, o senhor sabe que eu às vezes faço algumas besteiras, mas
lembra das vezes que eu fiz o bem. Lembra, tudo bem?
Olhei para a banheira cheia de água quentinha, percebendo que
absurdamente inexplicável o que se passava por minha cabeça.
Tirei o roupão, soltei o cabelo e entrei, sentindo a água quente invadir
tudo, relaxando-me. Um alívio para as minhas frustações. Peguei o celular e
comecei a olhar as últimas fotos, principalmente as que havia tirado de
Camila. Tinha algo na minha irmã que eu não sabia dizer o que era... E saber
tudo sobre ela era algo que eu deveria dominar.
Precisava entender o que estava se passando, mas quando chegava
perto ela saía, e eu acabava mandando tudo para a casa do caramba.
Eu odiava ficar com alguma coisa na cabeça. Já bastava Lorenzo, que
invadia até meus sonhos. Não, não dá!
Era muita coisa para uma cabeça só.
Fechei os olhos e tentei não pensar muito, só sentir o aroma vindo da
água, a temperatura, até que uma mão repousou sobre meus cabelos.
Dei um sorriso, satisfeita, e me remexi dentro da água.
— Espero que eu caiba aí dentro — Lorenzo falou e abri os olhos para
encontrar os dele, me olhando, me analisando de ponta a ponta. — Se não
couber, vamos ter que achar outra.
— Com jeito tudo se encaixa, Lorenzo — respondi e ele balançou a
cabeça, se aproximando e colando os lábios nos meus, os sugando, levando
junto um pouco da frustração que antes eu sentia. — Pensei que iria ficar
sozinha a noite inteira.
Minha voz saiu firme. Eu não conseguia ser docinho, preferia mandar
as indiretas bem diretamente.
— Eu precisava cuidar de tudo para amanhã — ele explicou e começou
a desabotoar os botões da camisa social branquinha. — Amanhã só me
levanto para ir ao evento à noite. E por falar nisso, você vai comigo.
— Oi?
— Você é minha mulher, aceite!
— Lorenzo, não...
— Não o caralho, Carolina. Se você falar alguma coisa eu vou te tirar
daí e vou dar uns tapas nessa bunda deliciosa — ameaçou e tirou a camisa,
indo para o sapato. — Não vou sozinho, você vai comigo. Não aguento mais
ter que justificar para outras mulheres que eu sou comprometido. Não dá!
— Como assim?
— Você entendeu.
— Entendi o caramba! Pode me explicar isso melhor, Lorenzo — exigi,
me ajeitando na banheira, já subindo uma raiva repentina.
— Não é só mulher que sofre assédio, entendeu? Se quiser me deixar ir
sozinho, tudo bem.
Ele sorriu, cínico.
— Se eu fosse você, não falaria isso, e pode ir tirando esse sorrisinho
do rosto — resmunguei, firme. — Se você soubesse o que eu sou capaz de
fazer estando com ciúmes, você nunca mais chegaria perto de mulher
nenhuma!
Nesse momento eu quase falei alto demais. Segurei meu tom de voz
no limite. Lorenzo tirou a calça e ficou apenas com a box preta.
— Agora eu não sei se quero, ou não, você com ciúmes — ele disse e
se aproximou. — O bom do ciúme é que o sexo sai melhor. Se bem que eu
acho que não vamos precisar de nada disso.
— Lorenzo...
Tentei falar, mas um toque de celular miserável, vindo das profundezas
do inferno, cortou o clima entra a gente.
Ele se virou e se abaixou, tirando o celular do bolso e fazendo uma
careta.
— Eu preciso atender. — Ele mostrou a tela e vi o nome de Pedro. —
Alô? — A voz de Lorenzo estava calma. — O que você fez dessa vez? Eu
não posso fazer nada daqui, lamento. — Ele passou a mão pelo cabelo e
sorriu. — Sim, ligue lá em casa e veja com alguma delas. Se precisar com
urgência... Espera. Pra que você quer isso?
Lorenzo olhou para mim, que estava só observando o homão da porra
que ele era.
— Pedro, estou ocupado, você consegue... — Lorenzo se aproximou e
eu passei minha mão pelo seu abdômen lentamente, até chegar lá em baixo.
— Pedro, meu celular vai cair acidentalmente e a ligação vai cair.
Foi o que ele fez, mas só desligou o aparelho e o colocou no balcão.
— Terminou? — perguntei e ele pegou minha mão, se abaixou e me
beijou, antes de colocá-la por cima da cueca preta e começar os movimentos.
— Entra!
Chamei, vendo-o sorrir de um jeito safado e com um olhar muito
peculiar sobre mim. Eu adorava isso. Ele se afastou, o suficiente para tirar
todo o pedaço de pano que ainda havia em seu corpo.
— Minha boca está quente.
— E meu pau duro por ela — ele revelou e fiquei de cara com o
Lorenzinho, que deslizava pelos meus lábios lentamente, como se estivesse
entrando no paraíso. — Eu precisava disso, Carolina.
Engoli até o fundo, sentindo cada parte dele. Sentindo-o segurar meus
cabelos.
Consegui acomodar boa parte dentro da minha boca e comecei os
movimentos de vai e vem na minha boca.
— Eu vou entrar! — ele avisou e se afastou da minha boca, em seguida
entrou de uma vez na banheira. Aquilo fez com que transbordasse água da
banheira e eu confesso que ri. Lorenzo era um mundo de homem e que
parecia estar em uma caixa de sardinha.
Ele conseguiu ficar dentro da banheira, só que teríamos que ficar um
por cima do outro.
E eu, realmente, esperava que fosse eu.
— Vem aqui — Lorenzo chamou e eu fiquei sentada no colo dele,
sentindo a ele e a água quente. — Quero tentar algo com você, Carolina.
— E o que seria? — perguntei, puxando e começando a acariciar seu
peito, deslizando meu dedo por ele.
— O que você acha?
Eu parei e olhei para os olhos dele, que encaravam os meus, sentindo
sua mão na minha cintura, segurando e apertando, deslizando para baixo, até
chegar na minha bunda.
— Ai... — Minha voz saiu abafada, muito tensa e surpresa.
— Nunca tentou? — Eu neguei com a cabeça, em seguida ele
escorregou um dedo para uma região que eu desconhecia, fazendo-me sentir
um frio na barriga. — Quer tentar?
— Lorenzo, olha... — Os movimentos dele eram feitos sem pressa, até
que ele tentou entrar com um dos dedos e eu me mexi. Lorenzo me segurou
com a mão livre, mantendo-me segura. — Eu não sei se gosto disso.
— Quer que eu pare?
— Não sei, Lorenzo. Você quer aí?
— Não se trata de apenas eu querer, mas você também tem que sentir
vontade.
A voz dele soou firme, um tanto áspera, admito, e isso era estranho.
Muito estranho para mim.
Lorenzo estava só esperando minha permissão.
Relaxei e usei o que sempre usei com ele, a confiança.
— Vai fundo! — foi o que eu consegui dizer.
O senti segurar minha bunda e apertá-la, se posicionando.
— Está com medo, amor da minha vida?
Eu nunca pensei que diria isso, mas estava com um pouco de medo. Já
havia pensado em fazer isso, mas numa fiz e não fazia ideia se era o que
realmente queria.
Se doesse e fosse ruim, eu gritaria e o mandaria parar.
Mas, se eu gostasse... aí eu não sabia como seria. Ainda mais sentindo
Lorenzo duro e perfeito a minha frente.
— Não estou com medo.
— Você falou isso mais cedo, quando estávamos no avião, e quase
arrancou meu braço. — Eu me contorci quando senti um dedo. — Relaxa, eu
vou te mostrar que é bom.
Caramba, Carolina, caramba!
Senti a cabeça do pau dele na minha entrada.
Vai querer fazer sexo na banheira, Carolina? Olha o resultado aí, um
homem que vai te comer por trás!
Eu me mexi primeiro, sentindo-o empurrar para dentro.
— Relaxa. — Ele me invadiu mais um pouco.
Por um segundo doeu, queimou, abriu tudo, e eu parei até de respirar,
segurando firme.
Ele parou por alguns segundos, enquanto eu fechava os olhos,
tentando absorver tudo e não gritar como uma louca.
Lorenzo então ficou completamente parado, a água quente era a única
coisa que eu sentia.
Só!
Só ela!
— Está tudo bem, Carolina? — A pergunta me faz abrir os olhos.
— Um pouco bom e um pouco ruim.
— Eu vou me mexer.
— Vai fundo, amor da minha vida. — Diante do meu pedido, ele
segurou no meu quadril com força e senti seu pênis pulsar dentro de mim. —
É a coisa mais estranha que eu já fiz.
Então eu me inclinei um pouco para trás, para que meu bumbum
ficasse exatamente no rumo dele. Para facilitar e ajudar.
Ele deslizou as mãos do meu quadril para a minha bunda, e só assim
eu soube o que era tomar no cú.
Gritei com o primeiro movimento e ele saiu, tirando de mim um
gemido, quando voltou eu dei um grito.
Lorenzo me olhou e eu não consegui manter o contato. Era diferente
por ali.
Eu levei uma das mãos até meu seio e apertei, sentindo o bico duro, e
fui descendo até chegar a minha boceta. Quando ele apertou o centro, senti
algo diferente, sensações completamente incomuns, mas que eram legais e
estimulantes para continuar aquilo.
A mão de Lorenzo apertando minha bunda era uma sensação.
O pau dentro de mim era outra.
Minha mão estimulando minha boceta, outra.
Eram coisas diferentes, mas ligadas umas nas outras.
— O que está sentindo, Carol? — Eu suspirei, tomando e buscando um
fôlego que eu não sabia se tinha.
— Caramba, Lorenzo!
Com isso ele teve sua resposta. Esperava que a partir disso, só dessa
vez, eu não precisasse mais abrir minha boca.
— Eu amo você. Amo você!
Aí você pensa:
Que fofo ele falando que a ama na hora do sexo.
Ele falava a verdade, disso eu não podia duvidar.
Maaas...
Queridos, ele falou isso para poder me acalmar, depois de aumentar as
estocadas dentro de mim. Me fazendo arfar e me masturbando cada vez mais
rápido, buscando por algo completamente diferente.
Foi nesse momento que senti Lorenzo tremer por inteiro, suas mãos
parando os movimentos de subida e descida.
Ele havia chegado lá e, por um segundo, eu pensei que eu não
chegaria, mais então senti a mão dele por cima da minha, que fazia
movimentos rápidos na minha boceta. Senti-lo ali, fazendo aquilo, depois de
tudo que havíamos feito, não tinha preço.
Eu o satisfazia e ele me satisfazia, de várias formas, algumas de um
jeito que eu nunca pensei sentir desejo.
Não sei o motivo, mas estava cheia de lágrimas nos olhos enquanto
tinha um orgasmo alucinante.
Ele era o amor da minha vida.
Eu tinha a leve sensação de que minha bunda estava enorme, colossal!
Olhei para o espelho e tentei ver se eu conseguia identificar algo para
entender o porquê do bundão maior.
Poderia ser o vestido?
Não.
Poderia ser Lorenzo, que desencadeou uma alimentação mais
reforçada, estar com ele era comer bem. É, devia ser isso. De qualquer forma,
não era só o sexo que me ajudaria a perder o havia ganho. Mas também podia
ser pelo dia anterior. Não sei por que, mais comecei a olhar meu bumbum
com outros olhos, e era estranho para cacete pensar assim.
Eu havia ocupado algumas das minhas horas da parte da manhã,
enquanto Lorenzo dormia, para comprar um vestido. Fui literalmente puxada
de surpresa para algum desses eventos. Lorenzo ainda me fez pegar um dos
cartões dele, o que me deixou um pouco sem jeito. Poderia passar mil anos,
mas eu ainda iria ter o orgulho em mim. Não era eu que tinha orgulho, era o
orgulho que me tinha.
Eu tinha meu dinheiro, trabalhava para isso, mas Lorenzo... Ah,
Lorenzo era insistente. Eu devia já ir me acostumando com isso. Por fim,
aceitei. Se bem que no período em que fiquei com o cartão, só o usei para o
vestido, o salto, e com maestria para um lingerie. Ainda tive a ousadia de
comprar uma gravata para ele, que foi bem cara pela fodida marca, mas essa
eu tive o prazer de comprar com meu próprio dinheiro a fim de presenteá-lo e
combinar com meu vestidinho foda, e para poder estar em sintonia.
Nem sei de onde tirei isso, mas já até havia deixado junto com a roupa
que ele havia separado, antes de me trancar no banheiro e fazer meu ritual.
Era quase uma magia negra.
Quase.
Era preparação. Ansiedade. Meu vestido tinha uma marca de cintura
bem marcada e saia bem rodada, quase estilo Charleston. Quase. De um
vinho puxado para uma cor ainda mais escura. Eu olhei para o vestido na loja
e o vi me chamando, quase me gritando.
E aí eu tive que escutar o pobrezinho, quer dizer, na verdade, ele não
tinha nada de pobrezinho. Se fosse para eu comprar um desse, com o que eu
ganho, bem, eu teria que vender o meu rim. E para o sapato eu teria que
vender o outro.
Saí do banheiro divina, perfeita. Eu poderia estar até me sentindo um
pouquinho.
Quando olhei para Lorenzo, notei que ele ainda não havia terminado
de se arrumar, estava só com a calça e o sapato, a camisa estava estendida na
cama, junto com a gravata e o smoking.
Ele estava falando com uma voz alterada ao celular, o que me
preocupou. Não era a primeira no dia que eu o via assim, falando no celular
com essa voz.
E, se eu estivesse certa, eram problemas com o primo. Agora, o que
era esse problema, eu não fazia a mínima ideia.
— Escuta, Pedro, você vai me contar detalhe por detalhe. — Ele fez
uma pausa e olhou para mim, me analisando dos pés à cabeça. — Eu não
quero saber... Você ficou louco ou está fazendo merda? Qual a porra do seu
problema, cara? Quando foi que agiu assim? Eu só chego amanhã. Até lá, não
faça mais besteira.
Ele encerrou a chamada e eu me aproximei.
— Problemas?
— Está acontecendo alguma coisa com o Pedro — ele disse isso e me
coloquei a sua frente para fechar a camisa de botões. Tive que colocá-la para
dentro da calça antes. — Se ele não estiver comendo ou trabalhando, pode ser
um problema.
— O conhece assim tão bem?
— Conheço, e algo me diz que está rolando algum problema com ele.
— Eu peguei a gravata e passei pela gola da camisa, começando a fazer o nó.
— Família é foda!
— Não me viu com a Camila? Acontece.
— Camila ainda e calma, Carolina. Mas o Pedro... Ah, aquilo quando
apronta, apronta bonitinho — ele comentou e senti suas mãos no meu quadril.
Quando olhei para o rosto dele, para seus olhos, fiquei acesa. — Posso
elogiar você?
— Pode.
— Puta que pariu, caramba! Você está lindamente gostosa, amor da
minha vida!
Falando isso ele se aproximou e tentou me beijar, mas eu desviei.
— Estou com batom, não quero te sujar.
— Carolina! Pode me sujar — ele pediu e me aproximei, dando um
selinho nele, apenas para o deixar mais satisfeito, até que senti uma mão na
minha bunda, apertando-a fortemente. — Eu odeio quando você me nega um
beijo. Isso é um plano seu para me provocar, não é?
— Não. É que eu gosto de sentir seus lábios. São quentes, carne de
primeira.
Falando isso, ele me soltou.
— Vou provocar tanto você essa noite, mas tanto, Carolina, que você
vai implorar. Pode esperar.
Assim que ele pegou o terno, retirou do bolso uma caixinha
retangular, preta e aveludada.
Eu evitei revirar os olhos.
Quem aí quer apostar que é uma joia? Quem? Mil dólares, pegar ou
largar.
Não? Ninguém?
Eu já havia dito a ele que não gostava de presentes caros, que me
levasse para caminhar, pular, fazer qualquer coisa com ele, até comer, mas
que não me desse coisas materiais.
Olhei para o colar com uma corrente fininha e um belo dourado, com
um pingente na frente que era uma bolinha com um cristal pequenino. Para
acompanhar, outras duas bolinhas também, só que esses eram os brincos.
— O que lhe disse da última vez?
— Que você me adora e que eu sou o dono do sexo, não lembra?
Ele retirou as coisas da caixinha e se aproximou, tirando os brincos que
eu usava.
— Eu já disse que não quero presentes caros, coisas assim, Lorenzo.
— Isso aqui para mim não é caro, é como comprar doce...
— Para mim é como se fosse o meu apartamento.
— Você fica bonita com eles. Eu gosto disso.
— Onde eu vou usar isso depois?
— Você vai estar sempre comigo. Eu quero você deslumbrante, tudo
que é meu é seu. — Ele passou a corrente pelo meu pescoço e senti a
respiração dele perto. — Vou continuar te dando tudo de mim e tudo o que
tenho.
— Eu pago isso como?
— Quer realmente que eu lhe responda isso, Carolina, quer? — Ele
terminou de colocar tudo, finalizando com um beijo. — Agora vamos,
estamos meia-hora atrasados.
Eu sorri enquanto passava meu braço por debaixo do dele. Fomos o
caminho inteiro conversando, de cabo a rabo. Sem interrupção. E quando
atravessamos a entrada e ficamos de frente para o salão, na verdade, quando
eu fiquei de frente para o salão, eu vi tudo muito diferente.
Havia algo muito sofisticado ali, as mesas pelo lugar, a pista de dança,
o palco, até uma banda que já estava posicionada, toda de preto. E as
pessoas... Ah, caralho!
— Você não me disse que seria tudo tão... Wow!
— Relaxa, querida, você está comigo — falando isso, voltamos a
caminhar e eu notei algumas mulheres, na verdade, uma que olhou Lorenzo,
no fundo da alma dele, e aquilo me incomodou. — Eu preciso antes de tudo
fazer algo, procurar um amigo e o chefe da noite, quero que você o conheça.
— Eu estou ficando nervosa. Muitos estão olhando para você.
— Estão olhando para nós. O casal da noite, o casal Maldini. — Ele
sorriu e nos arrastou para uma ala diferente. Assim que Lorenzo viu um
homem todo de branco, ele se aproximou, sorrindo. — Eu espero não ter que
quebrar alguns pratos na cozinha dessa vez.
— E espero não precisar enfiar meu rolo de massa no seu rabo. — Eu
cheguei a me assustar com a pré-apresentação. — E aí, cara, quanto tempo?!
— Vejo que tirou o cabelo fajuto — Lorenzo falou e por um segundo
olhei para os olhos castanhos do homem, que me remetiam a alguma pessoa.
— Essa é a minha mulher. Carolina.
— Prazer, Malik.
— Prazer — o cumprimentei e apenas sorri.
— E a Ana, ela está bem?
Ana? Quem era Ana? Por que Lorenzo conhece uma Ana?
— Sim, está linda, cada dia mais.
Vi os olhos dos dois marmanjos brilharem.
— Quem é Ana? — A pergunta saiu antes mesmo de eu pensar direito.
Lorenzo sorriu.
Ah, infeliz!
— Acho que você não conhece.
Ele respondeu isso eu me senti a excluída, a curiosa. Enquanto o
bonitão cozinheiro falava e o gostosão de smoking escutava, eu só imaginava
maneiras de poder jogar Lorenzo no chão e bater na cara dele. Depois de dez
minutos ali, parecida com uma estátua que sorria e acenava, fomos até a
mesa.
Eu fiquei calada, pacífica, mas só até chegar à mesa, onde ele puxou a
cadeira para mim e eu fiz questão de puxar a minha própria cadeira e sentar.
Ele ficou me olhando, contrariado.
— Por que não se sentou aqui?
— Cadê a Ana? Chama a Ana.
Foi aí que ele deu uma gargalhada.
Ah, filho da mãe!
Lorenzo estava pedindo para levar uma facada, com uma faca dos
talheres da mesa.
Ele se sentou, rindo, porém, eu não achei nada engraçado.
— Para de rir! — exigi, irritada.
— Está com ciúme?
— Não.
— Está sim, Carolina.
— Estou, estou com ciúmes, mesmo! — desabafei.
— Mas não precisa. A Ana e só uma criança — ele revelou e eu fiquei
parada, apenas olhando para ele. — Aquele cara é o pai da filha da Jack, a
cabelo roxo.
Então eu liguei os pontos. Os olhos! Era isso. Eu havia visto a garota
duas vezes, por acaso, e era isso. Mas aí eu parei.
— Jack disse que não sabia onde o pai da... Você... Ele...
— Jack não sabe e nem pode saber. Ele é casado e se envolveu com ela.
Ela não sabia. Engravidou, parou no hotel, eu estava lá e o conhecia. O resto
você sabe.
— Ele não assumiu a criança, Lorenzo? — perguntei.
— Ele não pode.
— Não pode? Que tipo do homem não assume que engravidou uma
mulher?
— O tipo que tem a família mais suja que tudo e que ainda é casado.
Carolina, eu sou padrinho da garota, mas também sou amigo do Malik.
— Você não pode esconder isso dela.
— Isso aí já não é problema meu. Espero que não conte o que eu te
falei. — Havia um tom forte de aviso, então eu só consegui balançar a
cabeça. — Ótimo. O conheço desde o colégio, eu sei que se pudesse ele
assumiria a garotinha. Ele, mesmo longe, nunca a deixou passar a vontade de
nada, nada mesmo! Eu acompanho essa missa há muito tempo.
Concordei com ele.
— Quer me explicar que evento é esse? — perguntei, desviando o
assunto. Eu conhecia Jack, e quanto menos eu soubesse, era melhor.
— Vamos ter um jantar, logo um leilão em prol de alguma coisa que eu
não sei. — Lorenzo fez uma pausa enquanto pegava duas taças de
champanhe, me entregando uma. — Estou aqui pelos negócios. No canto
direito do salão está o senador, do seu lado o senhor Barlow. Ele não sabe,
mas vai vender o que sobrou de suas empresas para mim.
Eu ri.
— E se ele não quiser? — perguntei, vendo a expressão pacífica no
rosto dele.
— Mas ele quer. — Ele fez um gesto com a mão e voltou a olhar para
mim. — Vim aqui para isso. O que eu disser para ele, vai decidir o acordo.
Ele e tradicional, só se desfaz da firma por alguém de confiança. É tipo um
pai prestes a entregar sua filha virgem para um moço, no caso eu sou o moço
e tenho que mostrar que sou o melhor.
— É engraçado o modo como você faz sua colocação.
— Mas é um fato.
Vi um homem de preto parar ao lado dele.
— Já comuniquei que o senhor quer vê-lo. Ele está lhe aguardando.
— Ótimo, Stuart. Vá à cozinha e pegue a lembrança. É o de 85.
Eu fiquei olhando a postura sobre a situação, a maneira dele de emitir
ordens sem fazê-las soar como ordens. Perguntei-me se ele sabia disso.
O homem de preto saiu e Lorenzo se levantou, estendendo a mão para
mim.
— O quê? — perguntei.
— Você vem comigo?
— Conversar com o homem? Não, acho melhor apenas você ir. Vou
atrapalhar.
— Claro que não! — ele fala e se aproxima de onde estou, o encaro
fixamente. — Tudo bem. Prometo voltar logo.
Falando isso ele colou sua boca na minha e se afastou com um
sorrisinho no rosto. Senti vontade de correr e pular nas costas dele, mas me
segurei, enquanto pegava a taça e experimentava o líquido... azedo.
Que merda!
Fiz uma careta com o sabor e deixei a taça de lado.
— Então é a senhorita que o acompanha?
Ainda com o sabor azedo na boca, ergui meu olhar na direção da voz
fininha, encontrando uma mulher alta, com um vestido longo e branco, todo
delicado. O cabelo preto caía sobre os ombros dela como cascata.
— Como? — perguntei e a vi balançar a cabeça.
— Por que ele lhe trouxe? — O sotaque indicava que ela se esforçava
para falar o mesmo idioma que o meu. Fiquei pensando qual seria o rumo da
conversa e se a garota sabia com quem falava. — Você não fala esse idioma?
Cazzo.
— Estou te entendendo.
— O que você tem com ele?
— Com ele? — perguntei para ter certeza.
— Você é burra ou surda? Você é a vadia barata que está com
Lorenzo?
Fui pega de surpresa com a ofensa. Literalmente. A principio fiquei em
choque, mas me recuperei, tomei ar e dei um sorriso.
— Primeiro, sim eu estou com Lorenzo e ele está comigo. Segundo,
não ouse me colocar adjetivos.
— Oh, agora está falando minha língua. — A voz dela se tornou mais
chata e insuportável. Olhei para os lados, tentando localizar Lorenzo, e nada
dele. Eu não sabia o que podia fazer. — Os boatos correm, ainda mais de um
homem como Lorenzo, poderoso, com muita influência e rebaixado a uma de
suas reles funcionárias. O que você usou que eu não usei? Você não é melhor
na cama do que eu.
— Eu acho melhor você ir para longe de mim!
Eu segurava o ar.
Fique calma. Você não pode surtar.
Por Lorenzo.
— Oh, você se ofendeu? Desculpa, mas deixa eu te dizer. Lorenzo é
um fanático por sexo e você é só isso para ele. Não pense que com roupinha
cara e colar, vai indicar algo para ele, porque você é só mais uma.
— Repete.
Eu senti meu sangue esquentar, pouco a pouco.
— Você é só mais uma para ele — ela reafirmou e eu me levantei.
Precisava de ar e de ficar longe de objetos cortantes. Dei as costas para a
garota e o meu primeiro passo a fim de me distanciar, sem tremer, firme no
salto. — Aonde pensa que vai?
— Pro inferno. Quer ir?
— Você e só mais uma puta — ela disse e eu parei. — Que só está com
ele por dinheiro. — Eu me virei para ela, que continuou: — Você é quase
uma prostituta. Quase.
E aí, bem... aí eu não aguentei e tive que revidar.
Eu não sabia o que falar quando ficava nervosa, e até tentei ficar
calada, mas a vaca não foi embora e nem parou de me perturbar.
Eu tentei evitar. Vocês estão de prova.
Mas o que as pessoas do salão iriam presenciar... não era nem um
pouco bonito.
Eu fui para cima dela e o choque foi tão grande que nós duas caímos.
Eu lembro que ela deu um grito fino, irritante. Medonho. Eu fiz questão de
ficar por cima, senti as unhas dela se afundarem no meu braço e machucar,
enquanto minha mão dava repetidos tapas naquele rostinho cheio de
maquiagem.
— PARA, PARA! — Ela só sabia gritar isso? — ALGUÉM TIRA
ESSA MULHER DE CIMA DE MIM. ELA VAI ME MATAR! SUA
VADIA!
— Eu vou arrebentar sua cara, piranha!
O rosto dela foi ficado vermelho. Senti quando meu único anel passou
áspero pelo rosto dela, na bochecha esquerda, e então vi uma linha fina de
sangue aparecer. Continuei batendo e vi mulheres, homens, olhando aquilo.
Eu estava querendo que ela desaparecesse da minha frente com cada
tapa meu, foi aí que senti algo me puxar pela cintura e entrei em desespero.
— Me solta! EU VOU QUEBRAR A CARA DESSA MULHER! —
gritei e vi a mulher se levantar, passando a mão no rosto rapidamente e
começando a chorar pelo sangue.
— OLHA O QUE VOCÊ FEZ!
— Eu vou fazer muito pior, muito pior! — gritei e tentei ir para cima,
só conseguia ouvir aquela mulher e ver a cara nojenta dela na minha frente.
Eu via vermelho de raiva.
— VIU?! É ESSE O TIPO DE MULHER QUE VOCÊ QUER COM
VOCÊ, LORENZO? UMA POBRETONA E AINDA ESCANDALOSA E
VIOLENTA?
— SEU RABO, ORDINÁRIA! — gritei de novo, começando a
arranhar o braço que me segurava forte. Eu batia os pés, tentava a todo custo
me soltar. Em seguida algumas mulheres se aproximaram da outra. —
REPETE O QUE VOCÊ ME DISSE, REPETE!
Foi aí que senti um puxão mais forte para trás, e uma voz falou perto
do meu ouvido.
— CHEGA, CAROLINA, ACABOU!
Era o grito de Lorenzo, que parecia um trovão.
Era ele que me segurava.
Eu me arrepiei e parei de aranhar o braço dele.
Eu atravessei a porta do banheiro com raiva. Muita raiva e muita
frustação. Soltei o braço dela e comecei a andar de um lado para o outro
dentro daquele cubículo, sentindo a respiração pesada.
Boa parte dos meus dois pulsos estava ardendo como o inferno. Se
não fosse o smoking, eu teria ficado, certamente, a ponto de carne. Por culpa
dela.
Havia ainda uma raiva estampada no rosto dela e eu irradiava raiva
também, por tê-la visto no chão dando tapas em outra mulher, parecendo dois
animais.
Como se a qualquer momento eu fosse ouvir a voz do narrador do
Animal Planet.
— Lorenzo. — A voz dela ecoou pelo banheiro.
Eu ia fazer merda se não tomasse uma atitude logo.
— Eu vou sair desse banheiro e você vai ficar aqui, Carolina. Vou
resolver tudo lá fora e me acalmar para não falar qualquer merda para você.
Passei a mão nos cabelos e senti vontade de gritar com ela, de gritar
com Carolina.
Eu tinha que pensar. De uma hora para outra, a calma que estava no ar
acabou. Saí no meio de uma conversa para conter a minha mulher, que estava
aos tapas com outra.
Foi horrível todos olhando para ela como só fosse uma psicopata.
— Eu quero sair daqui. — A voz dela saiu baixa e não me olhava,
embora dessa vez eu quisesse isso, para que ela visse o quanto eu estava
decepcionado.
— Você não vai sair daqui agora. Me espere aqui, Carolina.
Assim que eu saí, vi Charlotte e cheguei a ter náuseas. Não pelo rosto
vermelho ou pelo vestido que havia sido manchado com as gotas de sangue
dela.
Carolina era violenta.
Vi os olhares sobre mim, mas o principal era o dela, e aquilo me
deixou ainda mais puto.
— Você cuidou daquela maluca? — disparou na minha direção.
— Ela me contou tudo. Qual é a sua versão? — menti.
— Eu fui perguntar sobre você, para te dar os cumprimentos. —
Mentira um. Ela havia me visto antes e poderia ter feito isso. — Perguntei
quem ela era e aí ela veio com ironia comigo. — Mentira dois. Carolina não
faria isso. — E aí ela, do nada, veio para cima de mim. Aquela mulher vai me
pagar e eu já tomei minhas providências, Lorenzo.
Suspirei e olhei para ela.
— Peço desculpa por ela. Agora, se me der licença...
Quando ia me virar, eu senti a mão dela em meu braço.
— Você vai atrás dela?
Sim ou com toda a certeza?
— Ela é minha mulher, Charlotte, e eu acredito que você seja a culpada
pelo que aconteceu. Agora me dê licença.
— Va al diavolo.[1] — Eu sorri para ela com o xingamento em italiano.
— Stai andando![2] — dizendo isso ela sorriu, na minha cara, e vi
quando Malik puxou meu braço e sussurrou em meu ouvido:
— Onde ela está?
— O quê?
— A Polícia. Ela chamou a Polícia! — Foi então que eu olhei para a
mulher, rindo e me olhando descaradamente.
Ah, filha da mãe!
Eu quis apertar o pescoço dela.
Vi os dois homens de fardas se aproximando e entrei em pânico, em
desespero. Eles não iriam colocar a mão em nenhum fio de cabelo da
Carolina. Se fizessem isso, eu não me chamaria Lorenzo.
— Policiais, eu quero prestar a ocorrência e quero que peguem aquela
mulher. — Charlotte se colocou na frente dos homens. Eu respirei fundo e
comecei a pensar em algo coerente em defesa da minha mulher. — Olhem o
que a mulher fez comigo, olhem!
— Onde está a outra envolvida?
— Charlotte — chamei e ela me olhou, rindo. — Não faça isso.
— Fazer o quê? Aquela mulher tentou me matar e eu não vou medir
esforços para que a levem, nem que seja para dormir em uma cela fedida!
Malik segurou meu braço quando tentei me aproximar diante das
palavras dela.
— Onde está a outra senhorita? — A pergunta me fez ficar calado.
— No banheiro. O que vão fazer com aquela mulher?
Cacete!
— Vamos levá-la, assim como a senhorita, para prestar depoimento.
Para formalizar a queixa.
— Oh, claro. Só a tirem daqui e a deixe longe de mim. Eu irei de carro
para a delegacia.
— Vocês não podem leva-la — eu falei e os policiais olharam para
mim. — Ela não fez nada.
— Ela vai ser detida por agredir uma pessoa, então, meu senhor, ela fez
alguma coisa.
— Isso é necessário? — perguntei aos dois homens. — Se esse for o
caso, eu mesmo a levo para esclarecer tudo. Vocês não vão podem fazê-la
passar por isso, ela não merece.
— Senhor, estamos aqui pelo chamado. Você tem exatamente cinco
minutos para estar seguindo nosso carro com sua mulher. — Eu engoli em
seco. — Certo?
Balancei a cabeça e comecei a caminhar. Malik me acompanhou até a
porta, e antes de entrar eu me virei para ele.
— Procure Stuart, rápido, e peça para ele encontrar o pai da estúpida.
Quero que ele esteja na delegacia quando eu chegar lá. — Eu suspirei fundo.
— Tenta ficar calmo, você não pode explodir.
— O mafioso aqui e você, Malik. — Eu sorri para o homem a minha
frente. — Se aquela mulher acha que vai atacar a Carolina, ela está muito
enganada!
Falando isso eu entrei no banheiro, encontrando Carolina encostada no
balcão de mármore, com os dois braços debaixo da torneira. Me aproximei e
vi o quanto estava vermelho.
— Por que foi brigar? Por que, caramba?
Segurei seus dois braços e vi as marcas. Aquilo me doeu.
Ela se olhou, retirei o smoking e passei por seus ombros, vendo-a abrir
um sorriso, enquanto eu fiquei sério.
— A gente precisa passar em um lugar antes de ir para o hotel. — Eu
não queria pensar em nada de ruim, pelo menos não naquele momento. —
Vamos ter que ir à delegacia, Carolina. Ela vai prestar queixa contra você.
Eu olhei bem nos olhos delas. Ela não falou nada. Não se moveu. Não
esboçou reação nenhuma, ficando alguns bons segundos paralisada, até que
balançou a cabeça.
— Quero terminar logo com isso, Lorenzo, então vamos rápido.
Eu apenas peguei a mão dela, apertei e comecei a caminhar. Passamos
pelos policiais e a levei direto para o carro. Tentei nem olhar para ela, nem
falar por toda a viagem, pois não sabia o que falar.
Talvez não naquele instante.
Paramos em frente à delegacia e, antes de descer, eu olhei para ela.
— Eu não vou deixar que nada aconteça com você — prometi e ela
olhou para mim.
— Você acredita em mim, não acredita, Lorenzo? — Ela levou a mão
no meu rosto. — Eu juro que não queria começar a fazer aquilo. Ela... ela me
chamou de... de prostituta! EU NÃO SOU PROSTITUTA! EU NÃO SOU!
Foi aí que ela caiu no choro. Um choro abafado. Eu nuca visto esse
lado dela. Eu nunca pensei que a veria chorar.
Segurei sua mão e a beijei.
— Vai ficar tudo bem, amor da minha vida.
Desci do carro e tive que ajudá-la a descer. Quando entrei na delegacia,
eu vi o quanto o corpo de Carolina estava pesado, o quanto ela estava tensa.
Eu jurei que depois dali iria beber algo bem forte, e ela iria comigo.
Eu vi de relance a vaca, percebendo que ela não estava mais sozinha.
Vi ao seu lado uma mulher que eu conhecia bem, uma que me fez passar
noites sem dormir, que me causou dor de cabeça na empresa por semanas.
Então era isso?
Era o clube da Luluzinha das que não aceitam um não?
Caralho!
Eu nem olhei a segunda vez para a dupla. Apertei Carolina contra
mim e segui em frente.
— Me acompanhe — um homem disse e, antes que eu pudesse segui-
lo, vi o pai de Charlotte passar pela mesma porta que eu havia passado.
Era uma pena que eu tivesse que fazer aquilo.
Era uma pena eu ter que misturar as coisas.
Olhei para Carolina e vi seus olhos vermelhos.
Valia a pena.
Por ela, valia.
Onde estava o sorriso dela que eu não estava visualizando?
—Só um momento. — Me virei para Carol e sorri, confiante. — Fique
aqui. Eu preciso resolver isso de uma vez.
A deixei parada ali, enquanto me aproximava do homem bem vestido
e que me olhava assustado. Estendi a mão cordialmente e ele a apertou.
Vi a garota se aproximar e colar nele.
Eu respirei e então sorri, para então jogar as cartas na mesa.
— Wiliam, sua filha procurou problemas com a minha mulher e ainda
quer sair como a certa. Você sabe o quanto odeio isso e sabe que eu defendo
a honra da minha família, então, a menos que não queira cortar os negócios
comigo, faça sua filha entrar naquela sala e evitar que minha mulher entre,
certo? Seria muito ruim para você, que acabou de se levantar das cinzas do
mercado, perder a ajuda dos Maldini até a sua vigésima geração.
Falando isso eu dei um sorriso.
O típico sorriso de quando eu termino de fechar um negócio.
— Pai, o senhor não...
— CALA A SUA BOCA, Charlotte. — Ele tirou os óculos e voltou a
olhar para mim. — Peço desculpas por fazê-los passar por isso, ainda mais
por capricho de uma mulher mimada.
— Obrigado por entender meu lado.
Agradeci e voltei para o lado de Carolina, passando a mão pela sua
cintura. Nem fiz questão de olhar para o ódio que era lançado sobre a gente
— E agora?
— Agora, Carolina, as coisas são você e eu.
— O que vai fazer comigo?
— Precisamos conversar, definitivamente.
Eu vou para o quarto.

— Carolina? — Ela parou no meio da sala e voltou a olhar para mim.
— Você não disse nada o caminho inteiro.
Tudo bem, estava assustador para caralho, podia admitir isso.
— Eu não quero falar com você agora, Lorenzo.
— Mas eu quero — rebati e ela respirou fundo, mordendo o lábio com
força.
Carolina seria o trem desgovernado, e eu o carinha que estaria
amarrado nos trilhos.
Merda.
Isso era apavorante.
— O que você quer comigo, Lorenzo? — Ela deu um sorriso frio. —
Deixa eu adivinhar... Quer a porra do divórcio, amor da minha vida?
Ela provavelmente não quis soar tão dura.
Minha respiração ficou acelerada e Carolina deu dois passos até mim,
até ficar frente a frente comigo. Eu respirei fundo, vendo os olhos calmos
dela.
Calma demais.
— A gente ainda não é casado para você me dar o divórcio, Carolina —
falei, divertido, tentando quebrar o clima.
— E nunca vai ser.
Eu a estava perdendo. Ela me deu as costas e eu fiquei ali, parado,
parecendo um idiota. Fiz de tudo por ela, fiquei do lado dela e ela me
agradecia assim? Não pode ser. Não dava para entender a porra das ideias que
se passavam na cabeça dela.
Eu só queria a minha Carolina, aquela que era um doce, não aquela
que era um cubo de gelo e que pisava em mim daquele jeito mirabolante.
Fui direto para o quarto atrás dela. Quando entrei, tive a visão dela
sem o vestido, sem os saltos, colocando uma das minhas camisas, soltando o
cabelo e tirando as joias.
Depois a vi indo para a cama a fim de pegar um dos travesseiros e
uma das cobertas, e se virando para mim.
Por que ela estava olhando para mim daquele jeito?
— O que vai fazer com isso? Você não vai sair desse quarto,
Carolina. Não vou aceitar isso.
— Eu não vou sair de lugar nenhum. — Ela caminhou até mim,
parando na minha frente. — É você quem vai sair daqui.
Eu fiquei parado enquanto assimilava a melhor piada da noite.
— Por que diabos você está agindo desse jeito comigo? Ficou o cacete
do caminho inteiro sem falar nada comigo, e agora está me expulsando do
quarto, da cama?
— Eu preciso ficar sozinha.
— Já fodeu parte da noite, não vai foder com o restante dela, Carolina.
Não mesmo!
Ela ficou me olhando, enquanto eu fiquei firme.
Isso mesmo.
Eu nunca desisto.
— Você dormiu com aquela mulher?
— Quê?! — Então a ficha caiu. Ela ainda estava com raiva de mim. Na
verdade, eu nem sabia o que usar como argumento.
— Ela é melhor na cama do que eu?
A nova pergunta me fez ficar ainda mais confuso.
— Carolina, eu dormi com ela, sim, e não, ela não é melhor na cama
que você. Se fosse, eu estaria com ela e não com você — falando isso, eu me
aproximei e ela se afastou. — Por que está fugindo de mim?
— Você ainda pergunta? Você viu o que eu fiz? Se eu tivesse pego um
B.O., eu poderia perder a bolsa da faculdade, sem falar no papelão que eu fiz
em público por causa de um dos seus antigos casos.
Ela cuspiu as palavras e eu ri. Ri de nervoso, mesmo, bem na cara
dela.
— Sua faculdade já está paga há muito tempo, eu paguei! — falei e
parei de rir, vendo Carolina me olhar bem nos olhos.
E então ela foi para cima de mim com toda força que restava nela.
Como uma galinha descontrolada.
— Seu grande filho da mãe! — ela gritou. — Você não pode fazer isso
comigo. — Ela começou uma sequência de murros no meu peito, e eu apenas
deixei. — Vou matar você!
— Carolina, pare! Pelo amor de Deus, mulher! — Eu tentei segurar a
mulher, mas só consegui abrir espaço para ela me dar mais tapas e socos. Vi
o cabelo bagunçando, descontrolado, invadindo o rosto dela. — Chega,
Carolina, chega!
Eu queria parar com aquilo e rir, rir até a barriga doer.
— Você e um mentiroso! Um mentiroso! — Então eu segurei os braços
dela e fui empurrando-a, até jogá-la na cama. — Seu infeliz!
Eu tentei me aproximar, mas levei dois chutes, um na perna e um no
Lorenzinho.
— Para, sua maluca! — gemi pela dor na parte sul. — Você quer
machucá-lo?
— Maluca é a sua avó — esbravejou e em seguida se levantou de novo,
mas eu consegui segurá-la, forte e firme. Segurei seu braço para baixo. —
Por que não me disse que foi você quem me ajudou? Ia me esconder até
quando? Até quando precisasse, para jogar na minha cara que foi você quem
pagou, achando que eu iria agradecer de joelhos?
— Não, eu só quis ajudar. — Precisava que ela ficasse calma. — Eu
vou te soltar e você vai ficar calma, está legal?
— Seu rabo que eu vou ficar calma! Eu vou te acertar tão forte que vai
doer muito, muito mesmo, Lorenzo!
Eu respirei fundo e então fiz algo que nunca achei que ia fazer diante
de uma briga. Me aproximei do rosto dela e beijei a bochecha direita dela,
igual ou parecido com os que ela me dava quando eu estava agitado.
— Para, amor da minha vida, vamos conversar e não brigar, eu estou te
implorando! — implorei, mentalmente cansado.
— Você é um idiota! É tudo culpa sua! — Então ela se afastou de
novo, dessa vez andando no quarto de um lado para o outro.
— A culpa não é minha. De onde está vindo essa porra, Carolina?
Ela se abaixou, e em câmera lenta pegou um sapato. O sapato de salto
que ela havia usado, em seguida eu vi o sapato de salto voar. Bem na minha
direção.
E, por Deus, se eu não colocasse o braço, ela teria me acertado no
rosto.
Caralho! Eu já havia me machucado com ela.
— Você! — Aí eu vi outro sapato, mas esse acertou meu braço. —
PARA, PORRA!
— Sai daqui, Lorenzo, anda! — Ela estava alterada.
Completamente.
Eu suspirei.
Ela já devia me conhecer e saber que eu não iria sair dali.
— Eu não vou sair daqui, Carolina. Entendeu? — falando isso eu me
joguei na cama, de onde eu não sairia, mesmo correndo o risco de ser
asfixiado com um travesseiro.
— Então é assim?
— Sim, é assim!
Ela se aproximou de mim, se curvou em minha direção, e quando
pensei que a mulher tinha terminado, ela pegou o travesseiro e o cobertor.
— Ei, que merda é essa? — questionei.
— Não fala comigo! — exigiu ela.
— Para onde você está indo?
— Pro inferno, Lorenzo. Para o inferno! — Antes de ela chegar na
porta, eu já estava de pé e segurando seu braço. — Eu vou gritar.
— Para onde você vai, caramba? — perguntei, um tanto preocupado.
— Se você não vai sair desse quarto, eu saio! E não venha atrás do
mim. — Ela se soltou da minha mão. — Só me deixe sozinha!
Falando isso ela saiu, depois de agir como uma doente.
E eu fiquei ali, completamente derrotado após descobrir uma coisa
importante.
Eu odiava brigar com mulher. Principalmente a minha mulher.
Caralho, eu ficaria completamente louco se dependesse da Carolina.
Por alguns segundos da madrugada eu senti meu corpo flutuando,
senti o corpo dele junto ao meu. Ele havia me tirado do sofá e me colocado
na porra da cama, feito algo por mim de novo.
Isso horas antes.
De madrugada.
Eu estava cansada demais para abrir os olhos.
Só queria ter ficado calada. Só isso. Totalmente calada, tanto antes
como depois. Não havia saída, não havia escapatória. Eu já havia dito que
precisava sumir ou assumir.
Agora é aqui, amigos, que chega ao fim ou continua.
Isso mesmo. Ou vai ser o fim ou a continuação.
Mas, sabe quando você acha que cavou a própria cova, o próprio
buraco, pulou de muito alto, alto o suficiente para não só quebrar um osso ou
uma clavícula, mas ir para o hospital já morta?
Bem, olha a Carolina ali, mais perdida que tudo.
Apesar de tudo, Lorenzo foi bem firme e corajoso para fazer aquilo.
Ele me colocou em primeiro lugar.
Para mim que, praticamente, nunca fui o primeiro lugar de ninguém,
aquilo era importante e bom.
Eu estava com raiva de mim, dele, daquela vaca, do sol que entrava
pelo quarto, de todas as coisas na minha vida serem complicadas o suficiente
a ponto de eu mesma querer facilitar, mesmo que para isso eu tivesse que
desistir ou sofrer como uma condenada.
Por um lado, vocês vão me achar fraca.
Eu também acharia e falaria:
“Olha ela fazendo drama.”
Uma coisa era pensar que eu desistiria. Eu sou uma Lelis, não desisto,
e não queria desistir de Lorenzo, mesmo que no fundo quisesse dar na cara
dele por ser tudo e me fazer com que eu me sentisse uma criança amparada
pela UNICEF.
Ele que me fez voltar para a faculdade, caramba! Ele! Lorenzo
Maldini. O gostosão que entrou como um abalo sísmico e agora virou o
caralho de um terremoto.
Mesmo assim eu tinha um homem que me amava dentro e fora de uma
cama, que mais parecia ter me colocado em uma espécie de pedestal e não
queria me tirar de lá.
Está brincando?! Vocês são testemunhas da minha tentativa de
assassinato com um sapato.
Outro homem não aceitaria, eu sei disso.
E vocês também sabem.
Agora conseguem ver a mulher sentada na cama, olhando para a
janela enquanto ela está vendo o sol subir até iluminar o quarto? Ela está com
a camisa dele, do amor da vida dela, mas ele não está na cama com ela.
Eram nove da manhã e eu já me sentia derrotada. Estava me sentindo
um saco de lixo.
Meu cupido só podia ser do Paraguai.
Deus estava me criando, aí chegou na parte de colocar os problemas,
Ele exagerou demais e ali estávamos.
Me levantei da cama, tomei coragem e saí do quarto, então fui
caminhado por todo o lugar, que estava vazio, solitário. Parei na sala e olhei
para a mesa de centro, onde havia várias garrafas.
Aquilo já não me cheirava bem.
Vi um vaso quebrado na parede perto da porta, depois outro.
Eu respirei fundo e só fui sentir a presença dele quando cheguei
próximo ao sofá. Ele estava no chão, deitado de barriga pra baixo, vestindo
apenas a calça.
Me aproximei e me abaixei.
— Que merda você fez?! — Tentei virá-lo. — Lorenzo?
— Hummm. — Coloquei o rosto dele em meu colo e passei a mão em
seu rosto. — Você vai me deixar?
A voz dele estava grossa.
— Você bebeu? — perguntei.
— Só um pouco... muito. Estava uma delícia, você podia vir beber
comigo. — Então ele se levantou meio torto, sentando-se e olhando para
mim, mas com os olhos quase fechados.
Caramba, agora eu estava na merda!
— Você está sóbrio? — perguntei.
— Se for falar ou ficar brava comigo, eu estou mais bêbado que a
própria cerveja. — Ele sorriu e se erguia do chão. — Agora, se for pedir
desculpas, eu estou bem, sem álcool nenhum no meu corpo.
Falando isso ele me deu as costas e eu levantei, seguindo-o até o
quarto.
Dentro do meu peito algo se apertou.
— Você... você...
— Ontem você deixou claro algumas coisas para mim. — Eu engoli a
bola de pelo que se formou dentro da minha garganta. — Eu tentei, Carolina,
e você... você quase conseguiu. Eu não quero deixar que tudo isso fique mais
sério para depois você me deixar.
— O que você está falando?
— Sua histeria me deixou bem perturbado durante a noite e você podia
ter voltado atrás de muita coisa, mas você não voltou por seu orgulho e,
provavelmente, sempre vai ser assim.
— Não!
Ele ficou parado, me olhando.
— Eu tenho que me reunir com alguns...
— Lorenzo, o que você está fazendo?
— O que você não teve coragem de fazer ontem, conversar direito.
— Você...
— Você praticamente me levou ao limite, Carolina, e não foi o limite
que eu gostaria que fosse, foi o limite da raiva, mesmo.
— Você quer que eu vá embora? — Ele foi caminhando em minha
direção, passo a passo, até segurar meu rosto entre seus dedos. Sentia o
cheiro do álcool irradiar dele.
— Não, não.
— O que vai fazer?
— Fazer algo que eu devia ter feito desde o terceiro capítulo desse
livro. Tirar os olhos de você e seguir com a minha vidinha, se for preciso.
— E eu? — perguntei.
— Você? Você vai ficar com o seu orgulho, caso decida ficar longe de
mim.
Eu estremeci totalmente, sentindo como se uma faca invadisse meu
peito e como se alguém batesse na minha cara enquanto ria.
— Desculpa. Por ontem e por tudo.
— Esse é o seu problema. Mas, agora, isso aqui... — Se afastou de
mim. — Não se trata de problemas, se trata de soluções.
Puta que pariu!
Paralisei e fiquei olhando para ele, em pé, de costas para mim,
tomando uma decisão que eu não sabia se seria boa ou ruim.
Eu tinha que o alcançar novamente, o homem que estava na minha
frente.
Então eu me levantei, tomei a decisão mais irônica e mais absoluta da
minha vida, por impulso.
Ele não queria solução? Ele teria.
Eu tive que segurar as lágrimas e o riso antes mesmo de eu declarar
tudo.
Aproximei-me dele e o puxei pela mão, ficando com a esquerda dele
apertada debaixo da minha. Eu deixei uma lágrima... assim, uma bem
pequenininha, cair.
E então eu sorri.
E ele... Bem, ele me olhava com uma expressão confusa e misteriosa.
— Lorenzo — eu falei, sussurrando. — Quer casar comigo?
Essa porra não podia estar acontecendo logo comigo.
Eu estava jogando tudo que tinha dentro de mim dentro da merda de
um vaso. Era vergonhoso. Quer dizer, eu fazia isso enquanto Carolina estava
na porta do banheiro, me olhando depois de ter me pedido em casamento.
Querem que eu soletre “casamento” ou “vomitando”? De qualquer
maneira, nada tornava o momento uma grande confusão. Eu estava
vomitando!
Muito.
Olhei para ela e disse:
— Carol. — Mais uma vez a bile subiu. — Por favor, me
espera no quarto.
— Lorenzo — ela chama, preocupada.
— Anda, amor, não quero que você me veja assim...
— Lorenzo, eu não me importo.
— Mas, eu, sim. Anda, eu já te dou sua resposta — falei alto e
ela até tentou se aproximar, mas eu balancei a cabeça em negativa e aí sim ela
saiu do banheiro.
Respirei fundo. Se eu soubesse disso, não teria bebido tanto.
Okay... casamento.
Queria beber de novo.
Levantei e encarei meu reflexo no espelho, observando a barba sem
fazer, os olhos fundos... Peguei minha escova e a pasta de dente. Eu precisava
de uma desinfecção na boca.
O gosto da cerveja era terrível!
Casamento.
Carolina e eu casados.
Comecei a achar que podia aceitar isso.
Não, espere... por que raios ela queria isso? Depois do dia anterior, de
dormir longe de mim, de querer meu fígado em um prato de cristal.
Ela tinha tanto medo assim de me perder?
De perder a gente?
Isso indicava que não era só eu nisso. Sabe aquela parada de apenas
um tentando? Então, agora eram os dois.
Talvez fosse uma maneira precipitada, mas era a maneira dela.
E, caramba, eu ainda estava tonto com tudo aquilo.
Indicava que ela não gostava de brigar comigo, com o amor da vida
dela.
Que fofo!
Ah, e claro, ela era o amor da minha vida também.
Ela nunca me esqueceria e eu jamais a esqueceria tão fácil. Não tinha
jeito. Havia terminado, acabado. Desligaríamos as televisões, o celular,
fecharíamos o aplicativo e olharíamos para o horizonte, imaginando nós dois
no altar. Não, espera... Eu precisava melhorar isso, certo?
Ela estava vindo em minha direção, toda de branco e... por Deus!
Minha imaginação ainda estava sob efeito do álcool.
Balancei a cabeça e, depois de duas escovações completas, dei um
sorriso confiante para o espelho.
Eu conseguiria.
Eu conseguiria ser o pilar de uma empresa de milhares de
funcionários.
Conseguiria fazer o possível e alguns impossíveis.
Saí do banheiro e eu olhei para ela, sentada em um lado da cama,
encolhida. Me aproximei e juntei-me a ela.
Eu estava com um grande nervosismo.
— Pronto. Estou pronto, Carolina. — Ela me encarou por
alguns segundos, depois olhou para o chão. — Você me pegou de surpresa.
Ainda mais depois que me disse ontem que a gente nem ia se casar, lembra?
— Desculpa, eu só estava... irritada.
Era compreensível. Eu também estava.
Respirei fundo, sabendo que precisava falar.
— Eu pensei em tudo, se eu te fazia bem, e acho que eu
sempre quis bem a você. Eu sou assim, Carolina. Sou aquilo que você
conheceu nesses meses comigo, sou isso e mais um pouco, e algumas coisas
você vai conhecer com o tempo, detalhe por detalhe.
— Eu sei, eu também sou isso que você conheceu, mas tenho
mais coisas dentro do mim e pode não ser agora e nem amanhã que eu vou
conseguir dizer ou lhe mostrar tudo o que sou, Lorenzo. — Eu sorri para ela,
passando confiança. — Mas, uma hora acontece e pode ser divertido ou
muito trágico.
— Eu sei, eu sei — falei e me virei para ela, que fez o mesmo.
— Quero três motivos para fazer o pedido. Três, querida.
Ela pareceu pensativa, mas, ao mesmo tempo, sem medo nenhum.
Aquela era a mulher que eu havia escolhido.
Eu poderia citar várias coisas, porém, não era desses. Eu sei e não vou
dividir com ninguém.
— Eu confio em você, Lorenzo. Ficaria na frente do seu carro
e não teria medo disso. Você tem qualidades perfeitas como homem para uma
mulher, ou com os outros, e eu amo você, caramba! Você é um homem de
virtudes e caráter, mesmo sendo todo esse safado e com o ego enorme. Você
é bom em fazer as coisas, como amigo, como pessoa e como homem.
Ela suspirou. Parecia satisfeita.
Agora era a hora, mas eu precisava confirmar se era para sempre. Eu
só me casaria uma vez. Apenas uma.
Essa era minha promessa de vida. Você devia fazer o mesmo.
— Você vai me querer quando eu estiver com meus oitenta
anos? Com minha dentadura e meus cabelos brancos, Carolina? Com minha
incontinência ou... ou careca? Meu avô era careca.
Okay, soou muito mal incontinência. Mas eu precisava saber se era até
o fim.
E tinha uma ponta de emoção dentro de mim.
— Vai me aceitar também quando for velinha? — Ela sorriu e
se levantou. — Você é a quarta pessoa que eu mais amo nessa vida, Lorenzo.
Eu sei disso.
— Quarta?
— Minha mãe, meu pai e Camila. Eu levaria um tiro por eles.
— Ela pegou minhas duas mãos e as apertou. — E agora você entrou nisso.
— Eu aceito.
Falei rápido. Nem sabia o porquê, caramba! Eu havia ficado tão
nervoso ao pronunciar a palavra, acho que estava emocionado.
Sério, emocionado mesmo.
Profundamente, como nunca pensei estar.
Então eu respirei fundo e senti meus olhos cheios d’água.
Homem chora, saibam disso. E, não, não precisa chorar comigo e
muito menos rir.
Carolina se aproximou e me abraçou, então eu decidi apenas apertá-la
e fechar os olhos.
Por algum motivo eu me lembrei do meu pai, e logo da minha mãe,
aquilo fez algo dentro de mim se apertar forte.
Meu pai perdeu minha mãe, eu a perdi. Eu sempre tive família e
lembro que minha mãe preferiu ir para casa a ficar no hospital antes de
morrer.
Eu já disse que odeio hospital, e é exatamente por isso, porque sempre
que eu entrava em um, algo me dizia da morte. Meu pai amou minha mãe na
saúde e na doença, até que um dia, em um piquenique, ela deu seu último
suspiro. Eu estava ao lado dela, desenhando, e meu pai também. Meu pai foi
separado dela pela morte. Não porque quis.
E agora, com Carolina, eu sentia algo assim, que só a morte poderia
fazer algo com a gente.
Eu comecei a chorar no ombro dela. Carolina enfiou os dedos no meu
cabelo e eu senti um conforto.
— Você... você... está chorando, Lorenzo? — A voz dela veio
fraquinha, como se tivesse algo muito triste ou surpreendente acontecendo.
— Só me abraça, amor. Só me abraça.
Quero deixar claro que eu ainda estava sob o efeito do álcool. Só um
pouco.
— Vou te fazer muito feliz, Lorenzo.
— Eu sei, amor da minha vida. Eu sei.
— Por que está chorando?
— Eu estou feliz, Carolina. Feliz demais e um pouco alterado,
ainda, mas eu sei que eu disse sim para você.
— Quer tomar um banho?
Eu me afastei do aperto dela e olhei para seus olhos, levando minha
mão até sua bochecha e a vendo se encostar nela. Depois baixei meu rosto e
beijei o caminho até o ombro dela, levado pelo momento, mordi a carne.
— Carol, me promete uma coisa? — Ela balançou a cabeça e
gemeu. — Se nossos filhos perguntarem, você diz que foi eu quem te pediu
em casamento?
Então eu terminei tudo como eu comecei. Com o amor da minha vida.
Ontem, hoje, amanhã, dali a meses e anos, até que a morte — somente
ela e nenhum outro filho da puta — separasse a gente.
Eu podia estar com os olhos vermelhos, com uma excitação
monstruosa, mas tudo tinha nome. Tudo tinha uma razão.
Carolina Lelis.
E, caramba, para um cara que só olhou para os peitos primeiro, se
apaixonar e amar era fodidamente louco.
Você não quer só o hoje com essa pessoa, você quer o amanhã.
Enquanto eu vivesse, ela me chamaria de amor.
Enquanto ela vivesse, eu a chamaria de amor.
Ah, claro, sem me esquecer...
Enquanto nós vivêssemos juntos, ela sempre iria me gritar e dizer o
quanto eu era bom, o quanto eu era legal, o quanto era ótimo em ser o seu
dono.
E, por fim, o quanto era bom em ser o dono do sexo.
Para um Maldini, tudo tem continuação.
O dia estava bonito, os pássaros cantavam do lado de fora da
janela, longe de mim, porque eu não gostava de pássaros.
Havia um sol que iluminava o dia, o céu limpo e com previsão de
pancadas de chuva para a parte da noite.
Eu tinha algo muito importante à noite. Algo fodidamente bom
demais.
Na verdade, eu estava prestes a anunciar para minha doce e adorável
família sobre o noivado com a Lelis. Havia pedido ao meu pai que sua nova
mulher, minha tia e companheira, estivessem presentes.
— Lorenzo, eu preciso falar com você agora! — Eu olhei para a
porta, desviando toda a atenção dos papéis e dos meus pensamentos, para o
loiro que havia entrado como um furacão na minha sala. — Aqui — falou,
jogando a chave do meu carro na mesa e puxando a cadeira para mais perto.
Ele estava só com a camisa branca, seu cabelo era uma zona e tinha os olhos
fundos.
— Fico satisfeito com sua rapidez em resolver o problema com
meu carro.
— Me custou alguns zeros, mas está aí — ele disse rápido, e eu
o olhei com preocupação.
— Algum problema, Pedro?
Houve uma pausa.
— Não... sim. Eu fui fértil, Lorenzo, muito fértil.
Fiquei parado, olhando para o loiro, não sabendo o que dizer.
Na verdade, eu estava paralisado no lugar.
Que porra era aquela?
— Como assim? — perguntei.

— Eu preciso que você prometa que vai estar do meu lado,


aconteça o que acontecer. Promete, Lorenzo?
— Que papo é esse?
— Lorenzo... eu engravidei uma mulher. Ela está esperando um
filho meu — Pedro revelou e se levantou da cadeira, começando a andar de
um lado para o outro. — Você vai ser tio.
Eu balancei a cabeça, sem entender nada. Olhei para o loiro, que agora
andava de um lado para o outro, impaciente, nervoso.
— Isso e sério, Pedro?
Ainda desconfiava que pudesse ser brincadeira.
— Sim, muito sério.

Bem, não era brincadeira.


Foco no loiro Lorenzo. Foco!
— Deixa eu ver se entendi. Você acha que engravidou uma
mulher? O filho é seu?
— Sim, meu!

— Okay. Era isso que você estava fazendo todo esse tempo? É
por isso que me ligou... — Eu parei. — Pedro, você vai ser pai?!
— Sim, eu vou ser pai, e a mãe é a Camila. Não é foda?!
Eu abri e fechei a boca.
Fiquei assimilando a parte irônica e sarcástica da fala de Pedro
Leonel.
— Camila? Que Camila? — Foi aí que eu senti o ar me faltar. O
loiro parou e ficou me olhando, eu me levantei. — Pedro, que Camila é essa?
Responda, seu infeliz!
Tentei me aproximar dele, mas o filho da mãe se afastou.
— Você disse que iria ficar do meu lado.
— Pedro, que Camila é essa? — gritei.
— Lorenzo, eu preciso que fique calmo. Não queremos um
enterro.
— Vá à merda, filho da mãe! Me responda o que te perguntei,
seu arrombado!
Eu tentei me aproximar de novo.
— Fique aí onde você está — ele pediu, indo para atrás da
minha mesa. — Eu não queria que as coisas chegassem até aqui, você sabe,
mas essas coisas acontecem, Lorenzo.
— Pedro, pelo amor de Deus, não me diga que é a Camila que eu
estou pensando! — Eu senti o chão sumir dos meus pés. — Eu fiquei noivo
da Carolina nessa viagem, então me diga que você não engravidou a irmã
dela. Só me diga isso, por favor.
— Você vai casar?!
Eu vi os olhos de Pedro.
Ele piscou várias vezes.
Ele balançou a cabeça, confirmando tudo.
— Me desculpe, primo, mas foi a irmã da Carolina mesmo que
eu engravidei.
Eu arregalei meus olhos.
Não.
Não.
Não.
Não.
Não poderia ser possível. Carolina iria me odiar.
Vi Pedro se aproximar de mim.
Puta que pariu, eu vou matar você! — falando isso, eu fui

para cima dele com toda a raiva do mundo.
Pedro não havia só começado a terceira guerra mundial ao fazer
aquilo com Camila, mas havia tirado toda a estabilidade que se encontrava
entre mim e Carolina.
E aquilo, aquilo agora era problema dele. Ele iria se virar para colocar
a paz na porra toda.
Ah, isso depois que eu quebrasse pelo menos um osso do corpo dele.

[1]
Vá para o inferno.
[2]
Vá você!

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