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Copyright @2022 Edilene P.

Silva
1º edição

Título: A noiva do bilionário – Casamento por contrato


Capa: Liberty Designer
Revisão: Letícia Tagliatelli
Diagramação: Katherine Salles

Todos os direitos reservados a Edilene P. Silva


Proibida a reprodução de todo ou parte
em quaisquer meios sem autorização prévia, por escrito, da
autora.
Índice
AVISO
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPITULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
REDES SOCIAIS
SOBRE A AUTORA
Vou começar deixando claro que essa história faz parte de uma
duologia, porém, cada livro trata de um casal em especial.
A história da Eloá e do Thales, se passa no mesmo tempo que a
história de Scarlett e Joseph.
Este aviso foi feito para deixá-los cientes que vão ler algumas cenas
no ponto de vista da Eloá ou do Thales sobre fatos que aconteceram no
livro “O bebê do bilionário”.
Pode ter algumas cenas de encontros das amigas, conversas de
Thales e Joseph, mas nada profundo que possa dar spoiler sobre a história.
Contudo, aconselho para aqueles que não conhecem o livro da Scarlett e
Joseph para tirarem um tempinho para conhecê-lo, pois a história está
maravilhosa.
A duologia pode ser lida fora de ordem que não haverá problema no
entendimento da história que está linda e bem gostosa de se ler.
Afirmo ainda que a gargalhada está garantida.
Quero que estejam cientes que Eloá é o oposto de Scarlett, pois
quem leu “O bebê do bilionário”, viu como ela é maluquinha.
Eloá tem seu próprio encanto e espero que se apaixonem por ela
assim como se apaixonaram por Scarlett.
Agora que já estão avisados, vamos para o que interessa, uma ótima
leitura.
Beijo da Diih!
Thales Boseman é manipulador e intenso. Um predador nato vestido
em manto de bilionário implacável.
Ele está à procura de uma noiva e quando seus olhos cruzam com os
da doce e ingênua, Eloá, sabe que é a noiva perfeita para um casamento
por contrato.
Eloá Moore, garota humilde, sonhadora e que vê beleza em
pequenas coisas.
Contudo, infelizmente, coisas ruins acontecem com pessoas boas
como Eloá.
Um acontecimento faz com que ela deixe seu sonho de lado e passe
a não acreditar mais no amor, como consequência ela não permite que
ninguém chegue tão dela. Porém, isso muda quando seu caminho se cruza
com o de Thales Boseman e seu sorriso sexy de molhar calcinha.
A doce garota não viu o lobo que se escondia na pele de um
cordeiro encantador e sorridente. Por outro lado, ele a manipula, tudo por
causa de um contrato de casamento.
No fim, ela estava certa em não acreditar no amor.
CAPÍTULO 1
Eloá Moore

— Para, por favor, para, tá doendo!


As mãos insistem em continuar e a dor latejante entre as minhas
pernas faz com que um grito desesperado suba do fundo da minha
garganta.
— Aaaaaaah! — Dou um sobressalto, abro os olhos e coloco a mão
no peito sentindo meu coração bombear rápido.
A porta do quarto abre e minha melhor amiga, Scarlett, com os
olhos em alerta, entra.
— Outro pesadelo? — pergunta quando se aproxima da cama.
— Sim.
Ela enche um copo com água da jarra que se encontra no criado-
mudo e me entrega. Seguro o copo com a mão trêmula, bebo metade, então
o coloco de lado.
Scarlett sobe na cama ao meu lado e me abraça.
— Você continua encontrando a psicóloga?
— Sim.
— Ela não passou nada para você conseguir dormir?
— Ela passou, mas evito tomá-los — confesso.
— Eles são para o seu bem, amiga. Por que não os toma?
Seguro sua mão.
— Me faz dormir profundamente — digo triste.
— Mas isso não é bom?
— Não quando não consigo acordar e fico presa naquele dia.
— Você quer que eu passe a noite aqui?
— Sim, obrigada.
— Eu te amo, Eloá. Você é a minha melhor amiga.
— Você também é a minha.
— Vamos nos deitar mais um pouco e tentar dormir.
— Sim!
Nos deitamos com ela enrolada em mim e alguns minutos depois,
Scarlett começa a roncar.
Ela adormeceu, no entanto, não vou conseguir dormir depois desse
pesadelo. Olho para o relógio no criado-mudo que marca quatro da manhã.
Fico olhando para o teto quando começo a fazer o exercício de respiração
que a doutora Miranda, minha psicóloga, me ensinou.
Trinta minutos de exercício e me sinto mais calma, sob controle.
Lentamente afasto os braços de Scarlett, saio da cama, calço minhas
pantufas e sigo para a cozinha, onde preparo uma xícara de chá.
Com a xícara em mãos, me sento no sofá, ligo a TV e coloco no
filme que Patrícia, uma colega de trabalho, me indicou. O nome do filme é
Continência ao amor.
Dou um longo gole no chá, sem afastar meus olhos da televisão.
Assim que termino o chá, coloco a xícara na mesinha e aproveito
que o cobertor de Scarlett está aqui para me enrolar nele, me deitando no
sofá. Uma coisa espeta minhas costas, levanto passando a mão por baixo do
cobertor e encontro uma embalagem de biscoitos recheados.
Scarlett não muda nunca, afinal sempre foi bagunceira.
Eu a trouxe para ficar no meu apartamento até que encontre um
trabalho e um lugar para ficar. Ela foi despejada porque não conseguiu
pagar o aluguel e tê-la aqui está sendo maravilhoso. Algumas vezes me
sinto tão sozinha, porém, com Scarlett aqui, tenho alguém para conversar
quando chego em casa, não ficando mais tão solitária.
Mesmo que sua bagunça me deixe louca, ainda é bom tê-la aqui.
Paro de pensar na minha vida para assistir ao filme, uma história
linda de amor.
Afirmo que amor no filme é lindo, mas na vida real é outra coisa e
quero distância.

— Parece que a noite passada foi boa, hein? — Olho confusa para
Patrícia que é ajudante na cozinha.
Algumas vezes, como nesse momento, ela dá uma escapada para vir
falar comigo.
— Por que você acha isso?
Ela empurra meu ombro em um gesto brincalhão e não pensem que
somos tão próximas para ela se comportar assim comigo. Patrícia é
extrovertida e meio desligada da vida, o tipo de pessoa que você não
consegue ficar com raiva e faz amizade com todos.
Bem diferente de mim, que trabalho no restaurante Delights há
quase dois anos e não converso com quase ninguém.
Eu me pareço mais com Oliver, o gerente calado e na dele.
— Você está bocejando e é a décima vez que faz isso.
Humm, não dormi e esse é o ponto, depois do pesadelo amanheci o
dia assistindo televisão e quando deu sete da manhã, vim para o trabalho,
mesmo que meu turno só começasse às onze.
Simplesmente, não conseguia me sentar e esperar, precisava de algo
para me distrair e nada melhor que o trabalho.
— Eu assisti aquele filme que você indicou, Continência ao amor,
depois dele fui assistir outro e quando dei conta, a noite já tinha passado e o
dia amanhecia.
Ela dá uma risadinha.
— O que você achou do filme?
— Posso ser sincera?
— Sim, por favor.
— Sem palavras para descrever tamanha perfeição. Eu amei, valeu
pela dica.
— Eloá, vou depois te passar uma listinha de filmes e séries que
você vai amar.
— Patrícia, Michael está te procurando para lavar a louça.
Ela se assusta com a súbita chegada do senhor Oliver.
— Já estou indo, senhor, depois nos falamos, Eloá.
Assinto para ela que sai correndo e Oliver aperta os olhos para onde
Patrícia fugiu, suspirando.
— Se essa garota não tomar jeito, vai acabar sendo demitida.
— Ela é uma boa pessoa — comento e ele me olha com a testa
franzida.
— Boas pessoas têm que ter responsabilidade, senhorita Moore.
— Sim, senhor.
— O que você tá fazendo aqui? Seu horário é… — Ele olha para o
relógio no pulso e se volta para mim. — Às onze e são nove agora.
Olho para minha mão.
— Eu… Tive um pesadelo e ficar em casa não era uma opção.
Oliver sabe dos meus problemas, afinal quando fui contratada passei
por uma entrevista com ele que fez algumas perguntas e tive que responder.
Falei das consultas que teria que ir uma ou duas vezes na semana, com a
psicóloga, mas não contei a causa do meu problema. Porém, ele sabe um
pouco, como por exemplo, da insônia e pesadelo.
— Depois do almoço vai tomar um sorvete.
Rapidamente levanto a cabeça.
— Mas, senhor… — Paro de falar quando ele levanta a mão.
— É uma ordem, senhorita Moore.
— Sim, senhor.
Ele assente e sai.
Oliver é um homem de poucas palavras.
Ando pelo salão para ver se as mesas estão organizadas, pois, logo
será a hora do almoço e tudo precisa estar perfeito.
— Michael, o pedido da mesa oito.
Em plena sexta-feira, o restaurante está uma verdadeira loucura na
hora do almoço e Billie e eu estamos de um lado para o outro para dar conta
de tudo.
Entrego o pedido que estava pronto de outra mesa e volto para o
salão para atender as pessoas que aguardam. Depois de anotar os pedidos,
levo as comandas para Michael e pego, enfim, o pedido da mesa oito que
acabou de ficar pronto.
— Deseja mais alguma coisa? — pergunto para as três mulheres.
— Não, estamos bem.
Eu me afasto e não dou dois passos quando meu corpo bate com um
corpo quente e forte. Braços agarram minha cintura e olho para o rosto da
pessoa com o coração batendo acelerado por quase ter caído.
— Me desculp… — As palavras morrem no fundo da garganta
quando sou engolida por íris azul gelo.
Perco a capacidade de respirar e o tempo parece congelar a nossa
volta.
Seus olhos estão atentos em mim e seus lábios se puxam de lado em
um lindo sorriso.
Dentes alinhados, lábios cheios, barba loira rala, como se estivesse
de dois a três dias sem se barbear, nariz reto, maçã do rosto bem-marcada e
tão lindo.
— Você está bem? Precisa de ajuda?
Sua voz é grave, como se quase não usasse e minhas mãos coçam
para tocá-lo, mas me controlo.
— Moça, você tá bem?
Ele volta a perguntar, mas não tenho condição para responder, então
apenas balanço a cabeça para cima e para baixo.
— Bom, vou soltar o seu corpo, afinal acho que não seja algo
apropriado para a ocasião.
Olho em volta dando conta que estamos no meio do restaurante.
— Obrigada — agradeço, me recompondo.
Fujo para a cozinha e no meio do caminho vejo Oliver que está me
olhando com a sombra de um sorriso no rosto.
— Meu Deus, parecia cena de filme — Patrícia diz quando me
entrega o pedido.
— Uma cena que eu quase estaria com a cara no chão. Que cena! —
ironizo.
— Mas não caiu... Caiu nos braços do bonitão.
— Tá, Patrícia, depois nos falamos.
Vou servir a mesa quatro e quando termino, passo pela mesa do
príncipe de olhos de gelo.
É assim que o chamo mentalmente.
O senhor que o acompanha faz o pedido, já o príncipe de olhos de
gelo só quer uma dose de uísque.
Percebo que não tem mais um sorriso em seu rosto e ele parece estar
com raiva de alguma coisa.
Saio para pegar seus pedidos, porém, quando volto, ele não está
mais e o senhor dispensa a bebida.
Sem pensar direito, saio para a calçada a procura dele, contudo, não
o encontro. Sorrio desanimada, afinal quem quero enganar?
Nunca deixei um homem se aproximar de mim e ele não seria
diferente.
Volto a trabalhar e depois do almoço saio rumo a uma pracinha
próxima, onde tomo um sorvete como o senhor Oliver mandou.
Só volto para o trabalho quase às quatro da tarde, ajudo Billie com
as mesas e quando terminamos vou embora, para voltar no dia seguinte e
fazer as mesmas coisas.
E assim que venho vivendo...
Por volta das seis da noite chego em casa e ao passar pela porta
encontro Scarlett arrumada, passando o meu batom vermelho.
Não me importo dela usar minhas coisas, até porque já perdi as
contas de quantas vezes ela veio no meu apartamento para pegar algo para
usar, como hoje que ela usa minhas roupas.
— O que aconteceu que você está tão feliz?
Ela ri.
— Miguxa, consegui um trabalho.
Eu me jogo no sofá sorrindo.
— Estou tão feliz por você! Ai, meu Deus, onde é e quando
começa? — pergunto animada.
Vejo uma linha de preocupação no meio da sua testa, mas logo
desaparece e um sorriso radiante toma conta do seu rosto.
— Vou te falar tudo, mas não agora. Estamos indo comemorar o
meu novo emprego.
Solto um gemido.
— Estou cansada, Scarlett, e tenho que trabalhar amanhã.
O restaurante abre de segunda a sábado e tenho folga apenas no
domingo, portanto, ter uma noitada e ir trabalhar no dia seguinte vai acabar
comigo.
— Amiga, é para comemorar meu novo emprego. Eu pago tudo!
Hoje é por minha conta.
Suas mãos se juntam como se estivesse implorando e seus lábios se
puxam em um biquinho.
— Tão madura, fazendo biquinho. — Tento não rir.
— Estou conseguindo te convencer?
Reviro os olhos enquanto ela pula e dá gritinhos de animação.
— Ok, mas não vou voltar muito tarde.
— Tudo bem, voltamos por volta das quatro da manhã.
— Scarlett… — pronuncio seu nome em tom de aviso e ela
gargalha.
— Tá bem, tá bem, a hora que você quiser vir, voltamos.
— Tudo bem, vou tomar um banho e me arrumar.
— Fica bem gostosa, pois, vamos ver se encontramos alguém para
você cavalgar.
Olho com a cara feia em sua direção e ela ri.
— É brincadeira, amiga.
— Eu odeio você! — comento indo para o quarto.
— Você me ama como eu te amo e só para constar, se até os trinta
não se casar vou me casar com você. Vamos colocar as aranhas para
brincar.
— SCARLETT, FICA QUIETA! — berro e a safada ri.
Minha amiga não conhece a palavra filtro, fala o que pensa sem um
pingo de vergonha.
Entro no quarto ainda escutando sua risada e meus lábios se puxam
em um sorriso.
Ela é louca, mas me diverti muito.
Tiro os sapatos, solto o cabelo ruivo natural e me dispo do uniforme
que é um terninho preto com camisa branca. Nua, entro no banheiro que
fica no quarto.
Scarlett usa o do corredor.
Debaixo do chuveiro, com a água quente beijando minha pele,
consigo relaxar um pouco. Passo a mão pelo cabelo, fechando os olhos, e o
cara que vi no restaurante mais cedo aparece nítido na minha mente.
Ele é o homem mais lindo que meus olhos já viram. Aposto que é
educado, divertido e beija bem.
Aqueles lábios grossos e rosados, os dentes alinhados e…
— ELOÁ, DEIXA PARA SER DJ[1] QUANDO VOLTARMOS.
— CALA A BOCA OU OS VIZINHOS VÃO OUVIR — berro do
banheiro.
As paredes do prédio são finas e sei quando a vizinha ao lado tem
companhia. Seus gritos são um aviso e não quero que as pessoas pensem
que fico me tocando.
Mas com Scarlett gritando, o país inteiro vai saber.
Saio do banheiro, enrolada na toalha, ligo o secador e seco o cabelo.
Não vou fazer nada com ele, afinal no natural, fica lindo.
Meu cabelo é ondulado e volumoso.
Com o cabelo seco, abro o guarda-roupa, pego a calça jeans com
costura reta de cintura alta, cropped sem decote que mostra um pedacinho
da minha barriga e nos pés uso um All Star preto. Passo apenas delineador
nos olhos e batom vinho
Não gosto de muita maquiagem, pois, amo minhas sardas e nunca
passaria nada que pudesse cobri-las.
— UAU, que linda! — Scarlett diz quando a encontro na sala.
— Obrigada, amiga.
— Como sou mulher suficiente vou te falar, tenho inveja de você.
Lá se vem ela...
— Por que você tem inveja de mim? Você é linda, tem esse corpo,
cabelo maravilhoso e esses olhos azuis perfeitos.
— Por que tenho inveja de você? Deixa-me ver, começa com seu
cabelo... Você dorme e parece que acabou de sair de um salão de beleza. O
rosto só precisa de um batom e delineador para estar dizendo, “foda-me”, e,
para completar, seu corpo é perfeito. Preciso passar pelo menos seis horas
colocando massa no rosto para chegar perto da sua perfeição. Oh, vida
injusta!
Rio abraçando a minha amiga louca.
— Deus, como eu te aguento?
— Porque você me ama. Agora vamos.
Pegamos nossas bolsas e saímos.
Scarlett é linda, não gosta de usar tanta maquiagem como eu e sua
beleza é natural.
Mas essa é Scarlett Lee, louca e intensa.
CAPÍTULO 2
Thales Boseman

Com um copo com dois dedos de uísque e uma pedra de gelo em


mão, faço um movimento circular antes de beber o líquido que desce
queimando a garganta enquanto olho para a cidade daqui de cima. A vista é
linda, dá para ver o parque, restaurantes, arranha-céus e as pessoas correndo
de um lado para o outro como formigas operárias.
É assim que é a vida...
Corremos atrás do que almejamos, alguns menos e outros sonham
com grandeza. Eu, particularmente, não me encaixo em nenhuma das
opções que citei.
Não corro atrás do que quero, pego sem pedir licença o que acredito
ser meu e foi assim que fiz ano passado.
Com trinta e dois anos não fazia nada além de comer bocetas e curtir
a vida o máximo que podia.
Não me entenda mal, achando que parei de comer bocetas,
principalmente, as bocetas maduras que não irão me dar uma dor na bunda,
querendo casamento e essas merdas. Continuo com a minha vida de
devasso. Contudo, decidi começar uma empresa de games sem um centavo
da minha mãe, que faleceu me deixando tão rico que posso viver dez vidas
e ainda não conseguiria gastar tudo que ela me deixou. Porém, essa empresa
foi erguida com o meu esforço e acredito que se ela estivesse viva sentiria
orgulho do homem que me tornei.
Pensando dessa forma, o principal motivo que me fez começar essa
empresa foi ela, a senhora Boseman.
Um vestígio de um sorriso puxa de lado em meus lábios.
A palavra felicidade, não descreve o que estou sentindo, pois, é uma
mistura de orgulho e admiração por mim mesmo.
Há dois anos venho trabalhando duramente na minha empresa de
games e hoje meu contador acabou de mandar um e-mail, avisando que fiz
meu primeiro milhão.
Essa é a puta de uma vitória para mim e para minha empresa.
— Foda-se! — Engulo o resto da bebida.
— Parece que cheguei em um bom momento.
Viro para encontrar o ex-advogado da minha mãe.
Confesso que não esperava a sua visita, por isso me pegou de
surpresa.
— Pode dizer que sim, estou feliz.
— Essa felicidade tem a ver com o seu primeiro milhão?
Não me surpreendo que ele já saiba, afinal empresários estão sempre
de olho na concorrência e os advogados sabem de tudo, esse deve ser o caso
de Steven.
— Sim, esse é o motivo. — Estudo seu rosto, percebendo que
parece estar preocupado.
— Essa não é uma visita casual, você veio para quê, Steven?
Conheço Steven desde sempre e acredito que ele viu trocar as
minhas fraldas. Ele era o advogado da minha mãe e depois da sua morte
continuou tomando conta das minhas coisas, foi o que ela deixou escrito em
seu testamento, alegando que ele só poderia ser demitido, por mim, quando
eu estivesse com dezoito anos.
Eu era apenas um moleque de dez anos na época e depois que fiz
dezoito continuei o deixando à frente de tudo.
Se Steven estava fazendo um ótimo trabalho não tinha motivo para
me intrometer.
— Você se parece com Lila, a determinação e a impaciência de ir
direto ao ponto.
Não é a primeira vez que falaram que me pareço com a minha mãe,
mas vindo de Steven, acredito que ele a conhecia melhor que qualquer um.
— Sente-se e me diga o que te trouxe aqui.
— Que tal irmos almoçar e então conversar? Está na hora do almoço
e pulei meu café da manhã. Um velho da minha idade não pode fazer mais
isso.
— Tudo bem, vamos lá.
Saímos da empresa, rumo ao restaurante que fica na esquina do
prédio, onde minha empresa se situa.
Passamos por alguns comércios até parar na porta do restaurante,
empurramos o vidro e entramos.
— Sua mãe adorava esse restaurante, deve ser por ter sido o
primeiro.
Olho para ele confuso, pois não sabia que esse foi seu primeiro
restaurante.
— Primeiro… — Paro de falar quando um corpo pequeno choca no
meu.
Por puro reflexo, seguro a pessoa e vejo apenas o cabelo vermelho
preso em um coque.
— Você está bem?
Sua cabeça se levanta, nossos olhos se encontram e penso que estou
segurando um anjo em meus braços.
Não pode ser possível que essa garota não seja um anjo...
Rosto delicado, lábios cheios e vermelhos como deliciosas cerejas,
presos entre seus dentes, algumas sardas enfeitando a maçã do seu rosto e o
seu nariz arrebitado.
Meus olhos voltam para os dela notando que são verdes como a
água do mar e por poucos segundos quero me afogar nessa água. Contudo,
lembro que a minha sujeira vai manchar a pureza dessa garota.
Pergunto novamente se ela está bem e quando confirma que sim, a
deixo sobre seus pés, me afastando com Steven que se senta em uma mesa
ao lado da janela.
Tempo depois, ela volta com o cardápio, fazemos nosso pedido e ela
se afasta.
O cheiro persistente de cereja fica na mesa depois da sua saída.
— Então qual era o assunto?
Odeio suspense, então se quer falar algo, faça.
Steven bebe um pouco da água e olha para a rua, me preparando
para o que vem por aí, pois, sinto que não é algo bom.
— A empresa da sua mãe está tendo um desfalque e é preciso que
você saiba. Ou você toma a frente, ou tudo que sua mãe construiu acabará.
— Isso não pode ser possível! Quem está por trás desse desfalque,
Steven?
— Seu pai fez alguns investimentos arriscados e teve muitos gastos
com mulheres, viagens, além de muita extravagância. Até aí tudo bem,
porque ele estava usando o dinheiro que a sua mãe deixou para ele.
Entretanto, tenho uma forte suspeita que ele pode estar cometendo esses
desfalques.
Fecho as mãos em punhos, pois estou tão puto.
— Aquele filho da puta está gastando o dinheiro da minha mãe com
suas putas é isso? Como não fiquei sabendo disso, Steven?
— Você sabia que sua mãe deixou para ele uma pequena fortuna.
Achamos que ele estava usando esse dinheiro até essa semana, quando
descobrimos que algumas pessoas da empresa estavam ajudando seu pai a
desviar dinheiro, mas já cuidei disso. Porém, ainda é preciso de você, como
herdeiro, estar à frente da empresa Boseman, Thales.
Meu peito bate forte pelo fluxo de sangue que está bombeando.
Estou com tanta raiva que sou capaz de fazer uma merda.
Aquele filho da puta de merda toda semana troca de menina, isso
mesmo, suas putas têm entre dezenove e vinte anos e o pior está usando o
dinheiro da minha mãe.
— Eu vou revogar o meu legado, Steven, e estarei à frente da
empresa a partir de agora.
Estou feliz por minha empresa estar indo bem, entretanto, abrirei
mão dela para não deixar que o legado da minha mãe morra.
— Você não pode fazer isso, Thales.
Meus olhos assassinos devem dar um vestígio do meu humor,
porque vejo que Steven engole com dificuldade.
— E, por que não posso revogar o que me pertence, Steven? —
rosno.
— Você nunca quis ler o testamento da sua mãe... Quando fez
dezoito anos fui te procurar, mas você não quis escutar, Thales. Só que
agora você precisa saber que para ter total acesso aos seus bens, sua mãe
deixou certos requisitos para revogar sua herança.
Nunca fui uma criança fácil de se lidar e depois da morte da minha
mãe as coisas pioraram. Fui mandado para uma escola para garotos até
meus dezoito anos e quando saí estava mais revoltado com o mundo do que
antes.
Não queria saber o que ela tinha deixado para mim.
O homem que se diz ser meu pai, seis meses depois da sua morte
estava com várias mulheres e eu não queria saber de nada, então levei
minha vida na ignorância.
— Quais são os requisitos que ela deixou em testamento?
Ele abre a pasta e limpa a garganta.
— Há uma carta que ela deixou para você.
Steven empurra um envelope em minha direção que pego e abro.
Dentro dele encontro um papel branco com escrita à mão.
“Querido Thales, meu pequeno garotinho rebelde que agora deve
ser um lindo homem.
Quero que saiba que nunca planejei deixá-lo.
Oh, querido, meu maior desejo era vê-lo crescer e se tornar um
lindo homem como acredito que esteja hoje. Mas como sabe, o câncer
veio de uma forma repentina, sem aviso e nem todo dinheiro que possuo
pode salvar a minha vida, meu menino. Por esse motivo, estou deixando
um certo requisito no testamento.
Espero que não fique chateado com essa mãe sonhadora, que
acredita no amor.
Quando se tem amor, o dinheiro é apenas um detalhe, Thales.
Então, para você tomar posse da sua herança, precisa estar casado e
morando na mansão Boseman. O local onde sonhei ver cheio de crianças
correndo, você feliz com sua esposa e a frente da empresa que não pode
ser vendida. Ela será passada para seus filhos e depois para os filhos
deles.
Essa aquisição é vitalício.
Eu quero que você esteja casado com uma mulher maravilhosa
que vai te fazer feliz, meu menino.
Saiba que dinheiro não é tudo, mas o amor sim.
Aproveite cada minuto e segundo ao lado da pessoa que escolheu
para ser sua esposa e seja muito feliz.
Eu te amo hoje e para sempre irei amar o meu garotinho rebelde.
Com muito amor,
Lila Boseman.”
Uma lágrima molha a ponta da carta.
Não tinha percebido que estava chorando até sentir meu rosto
úmido. Puxo um lenço do bolso do terno e limpo o rosto.
— Eu preciso me casar para revogar minha herança? — indago com
a voz rouca.
— Sim, mas primeiro precisa se mudar para a mansão Boseman e
começar a trabalhar na empresa.
— Dickson, está na mansão? — pergunto sobre o doador de sêmen.
Ele nunca deixou a mansão e só estive naquele lugar com dez anos
de idade, pois, desde que saí não voltei mais.
— Sim, mas posso resolver isso.
— Não precisa, faço questão de chutar aquela bunda velha da casa
da minha mãe. — Dobro a carta colocando no bolso do terno e me levanto.
— Tem mais alguma coisa, Steven?
— Não, mas lembre-se que estarei aqui para te ajudar.
— Obrigado, Steven. Ainda assim, preciso fazer isso por ela, afinal
já a decepcionei muito. Tudo o que minha mãe queria, eu não me importei.
O que está acontecendo é minha culpa.
— Não foi sua culpa, Thales, foi o Dickson.
— Sim, foi minha culpa. Ele só fez o que fez porque deixei. — Viro
para sair quando ele pergunta atrás de mim:
— E como vai encontrar uma noiva?
Em um rompante inesperado, olho para a garota ruiva que esbarrei
na entrada. Ela está atendendo uma mesa.
Balanço a cabeça, afinal ela seria a noiva perfeita.
— Eu darei meu jeito. Certamente, não será difícil encontrar uma
noiva para um bilionário.
— Não, não é.
Saio do restaurante, o deixando para trás.
Quando acordei essa manhã, imaginei que meu dia seria como uma
sexta qualquer, trabalharia e então a noite iria para a casa noturna Dig Dog,
do meu melhor amigo, Joseph Russell. Toda sexta esse é meu lugar
favorito, no entanto, hoje não é como antes, pois, estou com a carta da
minha mãe no bolso próximo ao meu coração e preciso me casar para
revogar uma herança que rejeitei por muito tempo. Definitivamente não é
como qualquer outra sexta-feira.

Noite no Dig Dog...

— Cara, não entendo o que você faz aqui quando poderia estar na
ala vip, pegando algumas gostosas — Bent, o barman que trabalha no Dig
Dog diz enquanto agita uma bebida e serve para uma garota.
Iria ficar em casa, mas isso não iria resolver o que tenho que fazer
na segunda-feira.
Vim para a casa noturna para relaxar e como toda vez que estou aqui
fico no bar servindo.
— Cara, essa é minha forma de encontrar carne boa. Lá em cima só
tem patricinha metida que não sabe chupar um pau. Agora, aqui, tem
variedade. As gatas adoram um barman e não um bilionário, isso deixo para
Joseph que desempenha um ótimo papel.
— Então, você está aqui para pegar mulher?
— Isso aí. Você não achou que era por você.
— Eu não ligaria de comer um bilionário — diz rindo.
— Eu não ligaria em socar seu nariz se chegasse perto da minha
bunda.
Gargalhamos.
— Olha, aquela morena ali está de olho em você.
Ele olha para a direção onde mostrei e vai atender a morena.
— Então o que você vai querer essa noite, princesa?
Uma loira ri com as amigas e faz o pedido de bebidas doces com
guarda-chuvas. Eu sirvo as garotas e ficamos trocando uma ideia.
Acho que se tudo der certo até o fim da noite tenho uma ménage[2]
marcada. Meu pau se agita com a possibilidade.
— Thales, a morena está perguntando seu nome — Bent se
aproxima falando no meu ouvido e sorrio.
— Poxa, cara, achei que ela queria você.
— E quer.
— E, por que ela quer saber o meu nome? Se for para um trio, já
arrumei um e é melhor que ver o seu pau.
— Não é pra ela, é para a amiga, a ruivinha ali. — Ele ri.
Olho para a direção que ele falou e vejo a mesma menina do
restaurante. Ela parece não estar em seu ambiente natural, seus ombros
estão tensos e ela parece assustada, diferente da amiga que está agitada.
— Thales, ela não é o seu tipo, é suave pra caralho e até parece uma
virgem.
Rio disfarçando meu interesse.
— Eu gosto de uma virgem, assim como um desafio e ela parece ser
ambos, então diga o meu nome.
— Já falei. Ela quer saber se você quer ficar com a amiga.
— Fala para a ruiva me encontrar nos fundos.
Bent, sai para falar com elas enquanto fico observando tudo.
Esse anjo não deveria ter entrado no meu caminho, a primeira vez
eu deixei ir, só que uma segunda é atentar demais.
— A amiga falou que se você quiser elas estarão na ala vip ou na
pista.
Encolho os ombros olhando para a mulher que sai puxando o meu
anjo, então continuo com o atendimento sem afastar meus olhos dela.
Vejo quando Joseph se aproxima da amiga e ela sai com ele,
deixando a ruivinha sozinha. Observei que ela passou o tempo todo com a
amiga sem beber nada e acho que a morena nem percebeu isso.
Depois que a amiga sai com Joseph, ela dança mais uma música e
vai embora, então jogo o pano para Bent.
— Estou indo e Joseph saiu com sua possível foda, acho melhor ir
atrás de outra.
— Porra, ela parecia ser fogosa, mas se o chefe a pegou, procuro por
outra. Até mais, cara.
— Até. — Saio em direção à porta que ela saiu.
Vou pegar o que me pertence.
CAPÍTULO 3
Eloá Moore

— PRECISAMOS DE MAIS BEBIDAS — Scarlett grita por cima


da música e balanço a cabeça concordando.
Não estou bebendo hoje e em todas as vezes que fui pegar as nossas
bebidas pedi um coquetel sem álcool.
Prometi para minha amiga que iria me soltar hoje e me divertir,
contudo, não é tão simples assim, pois não me sinto confortável em lugares
como esse, ainda mais sob efeito de álcool.
Agarrada em minha mão, ela nos leva para o bar.
Viemos para uma casa noturna comemorar o novo trabalho de
Scarlett que passou por muita coisa nos últimos meses. Ela ficou
desempregada, as contas acumularam e acabou sendo despejada do seu
apartamento.
Nunca ia deixá-la na rua, por isso a chamei para passar algum tempo
no meu pequeno apartamento. Estou bem em ter minha amiga morando
comigo, porém, sei como Scarlett é. Ela é independente e não aguenta ficar
sem trabalho, tanto que em duas semanas morando comigo, ela não passou
um dia sem sair de casa à procura de emprego. Agora, Deus a abençoou e
ela conseguiu um.
Confesso que a ver relaxada e rindo e maravilhoso.
Não quero mostrar que uma parte minha egoísta se sinta mal por
Scarlett estar indo morar no seu cantinho, afinal nunca admitiria que me
sinto sozinha e que o tempo que ela ficou comigo está sendo maravilhoso.
Olho para Scarlett que não afasta os olhos do barman com traços
coreanos. Bonitinho, por assim dizer.
— CONHEÇO ESSE OLHAR! NÃO ACREDITO QUE
VOLTAREI PARA CASA SOZINHA. — Reviro os olhos e ela gargalha.
Não será a primeira vez que volto para casa sozinha e acredito que
não será a última.
— ESTOU SEM SEXO HÁ TEMPOS, NECESSITO DE UM
RALAR E ENROLA.
Sou grata pelo barulho da música ser alta o suficiente para abafar
seus gritos e o que ela acabou de falar.
Scarlett começa a flertar com o barman, então suspiro e olho em
volta à procura de outro barman para conseguir minha bebida. Porém, o que
vejo faz meu corpo ficar petrificado no lugar.
Não é possível!
Seria uma coincidência ou destino?
Ele gira um copo de inox em seguida derrama a bebida em uma taça
e entrega para uma mulher que se derrete com seu sorriso encantador. Seu
cabelo está arrepiado dando uma aparência que deve ter passado a mão
inúmeras vezes.
Ele está tão diferente de quando o vi no restaurante…
O terno sob medida deu lugar a uma jaqueta de couro, camiseta
preta e jeans.
Enrugo a testa o observando.
Ele é barman?
Nada contra, mas ele parecia ter tanto dinheiro no restaurante.
Encolho os ombros enquanto penso que pode ser um hobby, de
qualquer forma não posso deixar mais uma vez de admirar sua beleza
escandalosa.
Rosto másculo, queixo quadrado com uma camada de barba que o
enfeita, nariz reto, lábios incrivelmente desenhados...
Como seria ser beijada por ele?
— VEJO QUE NÃO SOU A ÚNICA A QUERER UM BARMAN.
Eu me assusto com a voz de Scarlett.
— O QUÊ? NÃO, NÃO É ISSO. — Tento explicar me atrapalhando
com as palavras.
— RELAXA, ELOÁ, NÃO ESTOU TE JULGANDO. VOCÊ VEIO
PARA SE DIVERTIR E É ISSO QUE ESTÁ FAZENDO.
— EU NÃO IREI FLERTAR COM ELE COMO VOCÊ TÁ
FAZENDO.
Sou o oposto de Scarlett que não tem qualquer problema em chegar
em um homem, pois tenho problema em ter uma conversa com qualquer
pessoa independente do sexo.
— MIGUXA, SE VOCÊ NÃO FALA NADA, OUTRA FALA. ELE
É GATO E VEJA O TANTO DE MULHER AO REDOR DELE.
Encolho os ombros.
Embora ela esteja certa, não sou assim. Nunca que iria lá pedir seu
telefone ou fazer uma proposta para ter sexo.
Scarlett volta a falar com seu barman, pois deve ter visto que não
vai ganhar nada comigo. Ele entrega nossas bebidas e seguimos de volta
para a pista. Dançamos um pouco e sem notar ela bebe as duas bebidas,
enquanto damos muita risada das suas palhaçadas.
— OLHA ESSA — falo e imito um robô fazendo nós duas
gargalhar.
Em algum momento, Scarlett, para de dançar e olha para um cara
que vem na sua direção. Os dois conversam algo e logo ela vem me avisar
que já está indo. Diz algo sobre o barman, que se ele não veio para a pista,
não é para ir para os fundos e admito que não entendo nada. Em seguida,
ela vai embora.
Não fico chateada por Scarlett me deixar aqui sozinha, afinal essa é
ela, intensa e se encontra uma oportunidade aproveita.
Admito que algumas vezes queria ter sua coragem, mas enquanto
esse dia não chega, vou para casa. Cama, série e um balde de pipoca me
parecem ser bem atraentes para terminar a noite.
Faço meu caminho para fora, passando por algumas pessoas suadas
e pegajosa. Ando pela calçada até o carro velho estacionado, um Cadillac,
1980 que ganhei do meu pai.
Tenho o maior carinho por essa lata velha e se tivesse dinheiro
mandaria arrumar, contudo, ele está me servindo muito bem.
— Belo carro para uma garota.
Eu me atrapalho com as chaves na mão, tanto que as deixo cair
quando escuto a voz grave atrás de mim. Abaixo para pegar a chaves e ao
levantar a cabeça encontro o homem do restaurante.
Se eu for honestar comigo mesma, falaria que é o homem mais lindo
que já vi.
— O… Oi… Oi — gaguejo.
Mesmo tendo apenas a luz do poste da rua para nos iluminar, posso
ver a intensidade que seus olhos transmitem ao estarem na minha boca e
rosto.
— Você queria o meu número e está indo embora?
Franzo a testa.
— Não compreendo.
Ele passa a mão pelo cabelo rindo de lado.
— Sim, meu amigo falou que sua amiga pediu o meu número pra
você.
Fecho as chaves na mão, apertando-as.
— Vou matar a minha amiga. Me desculpe, mas não pedi o seu
número e nem sabia o que ela tinha feito.
— E você quer?
— Quero o quê?
— O meu número.
Eu seria tão corajosa se falasse que sim...
Mas quem sou eu para me enganar?
Nos olhamos como se o mundo tivesse parado apenas para dar esse
momento a nós.
O jeito que esse homem me olha, me faz ter uma coragem
desconhecida.
— Que tal começarmos pelo nosso nome e depois o telefone?
Ele sorri e acabo acompanhando seu sorriso.
— Thales, Thales Boseman.
O nome é bonito quanto o dono, já seu sobrenome exala poder e
dominação.
— Eloá Moore.
— É um prazer conhecê-la, Eloá.
— Afirmo o mesmo, Thales.
Ele diminui a distância entre nós e minha respiração se prende no
fundo da minha garganta.
Não compreendo...
Sinto medo ou pavor de estar cozinha com um homem, afinal a
última vez não saiu tão bem. No entanto, aqui estou dividindo minha
respiração com Thales e não sinto medo, pelo contrário, anseio que ele me
toque e quero fazer o mesmo.
— Cerejinha.
O sussurro que sai da sua boca me faz sentir o cheiro do seu hálito
de menta misturado a álcool.
— Cerejinha? — repito em tom de questionamento.
— Sim, seus lábios se parecem com a fruta, vermelhos e suculentos.
O batom que estava usando saiu com os coquetéis que bebi e em
uma ida ao banheiro acabei de tirar o resto que estava borrado, então ele
está falando da cor natural da minha boca.
— Não sei o que responder quanto a isso, afinal ninguém nunca me
falou tal coisa.
Thales ri e percebo que suas mãos estão inquietas, como se quisesse
me tocar...
“Então toque, eu anseio por isso”, penso.
— Não precisa me dar essa resposta, mas, em contrapartida, me
daria a permissão de tirar uma dúvida que tenho?
Levanto a sobrancelha.
— Sim, qual a dúvida?
Espero por uma resposta, mas o que tenho são seus lábios sobre os
meus. Demora um pouco para corresponder ao seu beijo e então não faço
ideia como estou movendo meus lábios junto com os dele.
Thales Boseman não faz ideia de que acaba de dar o meu primeiro
beijo, pelo menos é assim que considero, afinal os beijos que recebi antes
dessa noite quero esquecer.
Minhas mãos agarram sua jaqueta para me sustentar enquanto as
suas enrolam em volta do meu corpo e ele se alimenta da minha boca com
uma imensa fome.
Não faço ideia quanto tempo ficamos nos beijando até que ele
quebra o beijo e cola nossas testas.
— Definitivamente, quero o seu número, Cerejinha.
Sorrio.
— Você não falou qual era a dúvida.
Ele passa a língua sobre seus lábios deixando um gemido escapar.
— Não era para falar, mas para sentir. Queria saber se seus lábios
eram tão doces e suculentos como imaginei, mas estava errado.
O desapontamento me abraça.
— Acho que sinto muito.
— E você deveria sentir mesmo, Cerejinha, porque sua boca é a
melhor coisa que já experimentei. Você me estragou para qualquer mulher.
O sorriso volta em meus lábios e me derreto em seus braços.
— É melhor você ir, para não ficar muito tarde — Thales fala depois
de mais alguns beijos.
— Eu já vou indo…
— Só mais um beijo e te deixo ir.
Nos beijamos e assim que desgrudamos entro no meu carro, então
ele para na janela do meu lado e a abro.
— Te ligo para ver se chegou bem.
— Eu não te dei o meu número, vou passar…
Thales me para.
— Eu descobrirei... Você vale a pena, Eloá, e o que vale a pena
requer esforço. — Ele se afasta da janela. — Dirija com cuidado.
— Irei dirigir. Boa noite, Thales.
— Boa noite, Eloá.
Ligo o carro e me afasto enquanto o observo pelo retrovisor até a
distância fazer com que ele desapareça.
— Foi o destino. — No silêncio do carro respondo à pergunta que
fiz a mim mesma quando o vi. — Você não foi o único a estar estragado
para outra pessoa, Thales. — Sorrio passando a mão sobre meus lábios
sensíveis devido o beijo.
O meu primeiro beijo de verdade.
CAPÍTULO 4
Thales Boseman

Paro o carro na entrada da mansão Boseman.


Poderia ter um motorista como Joseph, mas sempre gostei de dirigir.
No entanto, sei que de agora em diante as coisas vão mudar e começaremos
com a minha moradia permanente na casa da minha mãe.
Hoje tomo posse da mansão e a empresa depois do casamento.
Algo que já estou resolvendo.
Olho para a mensagem na tela do meu celular e sorrio, um bom dia
com emoji de coraçãozinho que Eloá me mandou essa manhã e não
respondi ainda propositalmente.
Tudo é um jogo e temos que saber como jogar.
Estou conversando com a doce e ingênua, Eloá, há três dias e hoje é
a segunda mensagem de bom dia que ela me manda.
A primeiro eu respondi, mas essa só vou responder à noite, assim
ela vai passar o dia se questionando se a quero e o porquê não respondi.
Como falei, tudo é um jogo e quem é o rei?
Sou eu.
Saio do carro andando a passos firmes e queixo erguido. Paro na
porta e toco a campainha.
Cinco minutos se passam para porta ser aberta por uma senhora que
mesmo que se passasse mil anos, a conheceria.
— Oh, meu Deus, é o menino Thales!
Não sou mais o menino que ela conheceu, contudo, parece que ela
ainda me vê assim.
Ruth joga seus braços em volta do meu corpo e descansa o rosto em
meu peito enquanto a abraço de volta escutando seu choro.
Essa senhora me viu crescer e a última vez que nos vimos foi
quando eu tinha dez anos.
Sinto o peso da culpa, afinal não só abandonei esse lugar como as
pessoas que estavam nele.
— Diga para essa velha senhora que você veio para ficar.
Seu rosto está molhado de lágrimas enquanto me olha com
expectativa. Movimento o corpo para o lado, o bastante para ela ver a mala
ao meu lado e seu rosto se ilumina de alegria.
— Vim para ficar, Ruth.
Ela volta a me abraçar e quando se afasta, faz uma reverência com a
cabeça.
— Seja bem-vindo de volta ao lar, meu menino.
Beijo sua testa.
— Obrigado, Ruth.
— Não há necessidade de agradecer. Você não faz ideia o quanto
esperei para que o senhor voltasse para casa. Sua mãe adoraria isso.
— Sim, ela adoraria, diferente dele… Onde está?
Ela franze a testa.
— No quarto, em breve descerá para tomar o café.
— Ótimo, esperarei enquanto mato minha fome com sua comida.
Você ainda cozinha tão bem?
— Melhor! E, pra mim, você continua sendo aquele moleque que
corria por essa casa. Vem, vamos para a cozinha, acabei de tirar alguns
biscoitos do forno.
Faço menção de pegar a mala e ela manda deixar no lugar que
Chris, o motorista, irá levar para o meu quarto.
— Não, deixa por enquanto aqui. Preciso ter uma conversa com o
meu pai primeiro, então depois que o quarto master estiver pronto, ele leva
pra lá.
Seus olhos me dizem o que ela está pensando, então confirmo.
— Sim, Ruth, ficarei no quarto master.
— Assim será, filho.
Andamos para a cozinha e durante o percurso reparo que nada
mudou.
— Tudo continua como quando era criança.
Os quadros, as luminárias até mesmo o quadro que fiz, uma bagunça
de cores que fizeram minha mãe sorrir radiante.
— Sim, seu pai não deixou ninguém mexer em nada, só temos
permissão para limpar.
Maneio a cabeça sem dizer nada.
Ao entramos na cozinha, encontro duas pessoas, um homem que
deve ter uns vinte e poucos anos, e uma menina que sem dúvida tem a
mesma idade dele ou quase.
— Chris e nica, esse é o senhor, Thales Boseman.
Eles me cumprimentam com uma reverência e imagino que isso seja
coisa do meu pai.
Conversamos até ter ambos rindo, pois, com todo o dinheiro que
tenho não me sinto bem em ter pessoas ao meu redor, cautelosos, como se
estivessem com medo de mim.
Minha mãe era como eu, ou melhor, sou como ela, tanto que perdi a
conta de quantas vezes eu a vi nessa cozinha ajudando a Ruth.
— Onde estão todos? E o meu café que ainda não foi colocado na
mesa?
Os sorrisos cessam com a voz do meu pai e então ele entra na
cozinha.
— Thales — fala meu nome como se tivesse feliz em me ter aqui.
— Bom dia, pai, como tem passado?
Ele me estuda, voltando para Ruth.
— Sirva meu café, tenho que sair — ordena e então se vira para
mim. — Você vem tomar café comigo.
Eu o fuzilo, querendo saber qual é seu jogo da vez.
— Ela não vai te servir e não irei ter qualquer refeição ao seu lado.
— Como disse, garoto?
— Acredito que mesmo com a sua idade avançada conseguiu ouvir
o que falei.
Ele se aproxima ficando a um passo de mim.
— Você continua com a sua rebeldia, garoto? Achei que a escola
interna tinha acalmado seu temperamento. Lembre-se que sou seu pai.
Rio.
— E acalmou, pai, porque senão estaria segurando você pela
garganta quando arrastasse sua bunda velha para longe da minha casa. Mas,
veja bem, não estou fazendo. O senhor deveria ligar para a senhora Miller e
agradecê-la por me educar enquanto o senhor a fodia quando dizia que ia
me visitar.
Seu rosto fica vermelho e o assisto tentar se controlar enquanto
como um biscoito que a Ruth fez.
— Ruth, seus biscoitos estão uma delícia.
Ela olha entre meu pai e eu, e assente.
— Eu nunca toquei em uma mulher depois que a sua mãe faleceu.
Todas as vezes que fui te visitar você não quis me ver.
— Besteira! Tudo que sai da sua boca é a porra de uma mentira.
— Não é. Mas pelo que vejo, Steven o envenenou contra mim e
agora você não consegue ver a verdade.
— Estou revogando minha herança, começando por essa casa.
Quando voltar não quero ver você aqui.
Ficamos nos encarando.
Ele parece estar triste, mas sei que é parte do seu jogo.
— Estou saindo, porém, quero que tome cuidado com o Steven. As
pessoas podem ser manipuladoras quando se tem dinheiro envolvido.
— Fala por experiência?
Ele não diz nada, vira e vai embora.
Volto a comer os biscoitinhos enquanto penso se Eloá vai adorar
esse lugar. Com certeza ela vai gostar do jardim.
Em breve a senhora Boseman chegará nessa casa.
CAPÍTULO 5
Eloá Moore

Quando passo pela porta do meu apartamento a solidão me agarra,


sabendo que Scarlett não voltou. Na minha mente paranoica passa vários
cenários e todos incluem coisas ruins, afinal a última vez que nos vimos foi
na casa noturna e desde então ela não voltou para casa ou deu notícias.
Não é como se já não tivesse acontecido, pois, já aconteceu e não foi
nem uma, nem duas vezes que minha amiga saiu com alguém e ficou sem
dar notícias.
No entanto, agora é diferente...
A última vez que Scarlett fez essa façanha foi ano passado e fiquei
tão puta com ela que ficamos sem nos falar por alguns dias, então ela me
prometeu que nunca mais faria algo parecido e não fez até esse último fim
de semana.
Angustiada, me troco, coloco uma roupa confortável e vou para a
cozinha.
Sempre que estou preocupada o que me ajuda a distrair é a culinária,
mesmo tendo que cozinhar apenas para mim.
Decido fazer bolo de caneca, afinal dá para uma pessoa e não irei
desperdiçar comida. Partiria meu coração fazer algo desumano como
desperdiçar comida, quando tem tantas pessoas no país passando fome.
Com os ingredientes em uma tigela, mexo tudo até ficar uma massa
homogênea, pego gotas de chocolate e coloco.
Um bolo de chocolate com gotas de chocolate, uma bomba para
quem faz dieta.
Algo que não é o meu caso, afinal minha genética não me faz
ganhar peso, então como de tudo.
Pego a caneca que ganhei da Scarlett.
“Vai me comer ou vai ficar olhando?”, ela mandou fazer
personalizada especialmente para mim.
Scarlett e suas piadas...
Antes de despejar a massa, duas batidas fortes à porta me faz parar o
que ia fazer. Corro para a porta com a esperança de ser Scarlett que
esqueceu as chaves.
Ao abrir percebo que não é minha amiga, mas…
— Thales?
Ele está como o vi no restaurante, de terno azul-marinho e cabelo
penteado para trás, mas prefiro bagunçado.
— Oi, Eloá, como tem passado?
Franzo a testa.
— Bem, como você descobriu onde moro?
Ele ri.
— Eu te falei, você vale a pena, não só em descobrir seu número
como seu endereço.
— Isso soa como um perseguidor. — Faço uma piada me
surpreendendo.
Não sou piadista, entretanto, com ele, sou uma pessoa que não
conheço e confesso que gosto dessa versão minha.
Thales joga a cabeça para trás, rindo.
— Acho que esse é o momento em que escondo que sei onde você
trabalha.
Estreito os olhos fingindo estar chocada.
— Sim, esse é o momento.
Rimos.
— Quer entrar? — Estamos parados na porta há alguns minutos, que
educada eu sou.
— Sim!
Dou espaço e ele passa por mim.
Seu perfume amadeirado faz o meu corpo estremecer.
Nem um homem me fez ter essa reação apenas sentindo o seu cheiro
e aqui estou com meus seios duros e uma palpitação entre as pernas apenas
por sentir o cheiro desse homem.
— Seu AP é legal. — Ele olha em volta.
— Não é luxuoso como o que você deve morar, mas é o meu
cantinho. Fui eu que decorei tudo, comprando os móveis e as decorações.
Amo esse lugar.
Thales me olha intensamente então seus olhos descem para o meu
corpo e sinto como se estivesse nua com o peso dos seus olhos azuis.
Engulo ao lembrar que estou com um blusão da Minnie e short de
algodão para dormir.
Ele deve estar vendo os bicos dos meus seios duros pelo blusão.
— Você é adorável Eloá, pode-se dizer que única. Realmente o meu
apartamento é maior que esse. É luxuoso, mas não tem o que há no seu.
— O que seria?
— Vida, paixão... Olho para cada cantinho e posso idealizar você
colocando aquele relógio na parede ou o quadro. O meu AP foi decorado
por uma equipe de designers.
Sorrio mordendo os lábios. Vou até o quadro, o tiro da parede e levo
até ele.
— Eu fiz com macarrão.
Ele pega e inspeciona a peça.
— É lindo! Que talentosa você é.
— Obrigada, isso é um dos meus hobbies.
— Os meus hobbies envolvem mãos, mas nada como isso aqui.
Minhas bochechas coram com sua insinuação.
— Eu também adoro cozinhar. Vem para a cozinha que faço um
bolo de caneca para você, o melhor bolo que já comeu. — Mudo de
assunto, pois não estou pronta para estar em um lugar sozinha com um
homem e falar sobre sexo ou insinuar.
— Caneca? Nunca vi falar sobre um bolo assim.
Sorrio do seu rosto confuso.
— A massa é como de um bolo normal de forno, no entanto, no
lugar de pôr em uma forma e levar ao forno, coloco em uma caneca e asso
no micro-ondas.
— Interessante, tô curioso para experimentar.
Sua expectativa em comer algo que fiz me anima.
— Você tem alergia a chocolate?
Estava preparando para mim e não imaginei que ele apareceria. Sei
que Scarlett não tem alergia a nada, mas Thales pode ter.
— Não tenho alergia a nada.
— Ótimo, estou fazendo bolo de chocolate, uma bomba de
chocolate.
— Vai me comer ou vai ficar olhando.
Olho para Thales que está com minha caneca na mão com o rosto de
diversão, então levanto o queixo desafiante.
Não vou me atrever a ficar vermelha de vergonha.
— Piada interna da minha melhor amiga.
Thales olha para mim com um sorriso dançando em seus lábios.
— Então, vamos fazer o bolo ou vamos ficar nos olhando?
— Depois que você lavar as mãos, começamos.
— Tudo bem, onde posso fazer isso?
— Vem, vou te levar até o meu quarto…
— Achei que a gente ia com calma, mas você já quer me levar para
o seu quarto?
Reviro os olhos.
Convivo tanto com Scarlett que o que ele fala não me atinge.
— Relaxa que a sua virtude estará intocada, vou apenas te levar ao
meu banheiro.
— Espero que sim, dona Eloá, sou um moço de respeito que
acredita no casamento e depois o rala e rola.
— Jesus, você se parece com a minha amiga. Vem logo antes que
me arrependa.
Ele ri, atrás de mim.
Não mandei Thales para o banheiro que Scarlett usa porque não sei
o estado que se encontra. Conhecendo minha amiga tenho até medo do que
podemos encontrar lá, por isso meu banheiro é mais seguro, limpo e
cheiroso sempre.
Thales entra olhando tudo em volta, mas antes de começar com suas
perguntas, escuto a voz da minha amiga.
— Só um minuto, acho que minha amiga chegou. Você pode ficar à
vontade. — Deixo o Thales no banheiro e vou para a sala onde encontro um
homem com Scarlett.
Ele está olhando em volta quando comenta que ela não bagunça
aqui, então mostro minha presença ao responder:
— Ela morreria se bagunçasse o meu apartamento.
Ele volta a sua atenção a mim e seus olhos me estudam da cabeça
aos pés. Devolvo o mesmo olhar.
— Eloá, amiga dessa aí. — Estendo a mão.
Ele pega, leva até a boca e dá um beijo demorado.
— Joseph. É um prazer finalmente te conhecer.
Puxo a mão do seu contato, afinal em menos de duas semanas é o
segundo homem que me elogia, me fazendo corar.
Olho para Scarlett que está nos olhando com a testa franzida.
— Uau, ainda é cavaleiro. — Volto para ele com a sensação de que
já o vi antes.
— Não nos conhecemos?
Com a minha pergunta seu corpo fica tenso e logo Scarlett entra
entre nós dois.
— Impossível, amiga. Aproveito para te contar que Joseph também
é o meu chefe.
Meus olhos ainda estão colados no homem que agora sei que se
chama Joseph, mas então por um breve momento lembro que Scarlett sumiu
sem dar notícia e a fuzilo.
— Por onde você estava, Scarlett? Fiquei preocupada, pois, nem o
celular levou. E o cara com quem saiu? Achei que estava com ele —
sussurro para que seu chefe não nos escute.
Scarlett faz uma cara como se estivesse sentindo dor e me preparo
para o que vem.
— Miguxa, o cara era tão ruim de cama que estou com raiva de ter
pedido meu tempo, mas essa não é a pior parte.
Conhecendo minha amiga como conheço, imagino que tem muito
mais, afinal ela adora deixar a frase no ar como uma forma de suspense.
— Qual é? — A curiosidade me agarra, pois, adoro as suas
aventuras e sempre me arrancam muita gargalhada.
— O pau dele, Eloá, não tinha visto um pau tão pequeno na minha
vida como daquele cara. Estávamos lá e tal, não tinha como voltar atrás, até
porque já estava bem excitada. No entanto, quando ele colocou nem fez
cosquinha, amiga. Queria gritar de frustração.
Gargalho tanto que meus olhos se enchem de lágrimas.
Como falei, Scarlett sempre se mete em coisas assim.
— E como vocês se encontraram? — Depois que a crise de riso
passa faço a pergunta lógica, afinal é muito estranho ela passar o fim de
semana fora e voltar com um suposto chefe.
— É, Scarlett, como nos encontramos? — Joseph pergunta virando
para minha amiga que olha estranho para ele.
Em seguida, ela ri afastando o rosto tenso.
— Quando estava vindo para casa, Joseph, me encontrou e pediu
para ajudá-lo em alguns documentos que eram muito urgentes.
Está explicado!
No caminho para a casa noturna, ela tinha comentado que seu
trabalho era de assistente pessoal e pelo que sei, o momento em que o chefe
ligar tem que estar disponível.
Deus é mais de um trabalho assim.
— Ah, que bom que seu fim de semana não foi mais desastroso. —
Tento não rir, lembrando do que ela acabou de falar.
— Sim, mas enfim, amiga, vim aqui pegar minhas coisas. A
empresa fica longe daqui e o senhor Joseph precisa que eu fique mais a sua
disposição. Vou mudar para um AP próximo ao trabalho que já está
mobiliado.
Tento rir porque estou feliz por ela, mas aquela parte egoísta me faz
sentir tristeza por estar mais uma vez sozinha nesse apartamento.
— Tô feliz por você, Scarlett, mas me prometa que sempre vai vir
aqui e vamos nos encontrar.
— Eu prometo. Te amo demais e sou muito grata por tudo que fez
por mim.
— Minha casa é a sua casa. — Jogo os braços em volta do seu
pescoço e ficamos abraçadas o máximo de tempo que temos.
— Miguxa, tenho que ir, ainda vamos voltar para a empresa.
Relutante a solto.
— Tudo bem, vou te ajudar a pegar as suas coisas.
— Não precisa, já deixei tudo arrumado. Só vou pegar a escova de
dente no banheiro.
Fico contente por Thales estar no meu banheiro.
Será que ele não saiu por não querer ver a minha amiga?
Não sei, mas fico aliviada em não ter que dar explicação para
Scarlett sobre o motivo de ter um homem no meu quarto na frente de Thales
e Joseph que sinto que já vi em algum lugar.
— Aceita um café ou uma água? — pergunto a Joseph.
Estamos parados nos encarando e o mínimo que posso fazer é
oferece algo.
— Não, obrigada.
Scarlett reaparece, pega uma mala e coloca suas coisas pessoais,
depois entrega a mala para seu chefe.
— Você poderia descer com ela, chefe?
Um clima tenso fica entre eles.
— Claro, vamos. Foi um prazer te conhecer, Eloá.
Agito a cabeça.
— Foi um prazer também, Joseph.
Levo os dois até a porta e ao ver que sumiram na escada, tranco a
porta, me virando para encontrar com Thales que está com suas mãos nos
bolsos.
— Oi — digo.
Ele está me olhando de uma forma tão intensa que me faz ter
consciência da reação do meu corpo. Sua língua rosa sai e molha seus
lábios.
— Quem são eles?
Sua voz grave faz meu corpo se arrepiar.
— Minha melhor amiga, Scarlett, e seu chefe.
Suas mãos saem dos bolsos e ele dá dois passos parando na minha
frente, sem afastar seus olhos de mim. Sua mão passa pelo meu braço em
uma carícia até segurar meu queixo.
— Vamos fazer o bolo, ou vou fazer outra coisa que envolve nós
dois nus.
Meus lábios se parte em um perfeito O.
Thales é direto e não são só seus olhos que dizem o que ele quer,
mas também sua voz grave.
Ele se afasta virando e segue para a cozinha, enquanto puxo uma
lufada de ar e o sigo.
CAPÍTULO 6
Thales Boseman

Porra, por pouco não fui pego por Joseph!


O que tenho preparado para Eloá quero que fique entre nós.
Tenho Joseph como um irmão, no entanto, ele está fodendo a amiga
da Eloá e só ela parece não perceber isso. No quarto, apenas ouvindo a
conversa, senti a atração dos dois. Porém, a inocente Eloá não percebeu e
por esse motivo ela é a noiva perfeita para mim.
Mas sua amiga pode ser uma pedra no meu caminho…
Porém, sou bom em remover empecilhos e esse é o motivo que não
quero que Joseph nem a amiga da Eloá saibam de nada, porque não vou me
importar de tirar Scarlett do meu caminho, mas com Joseph a história é
outra.
— E aí?
A expectativa nos seus olhos verdes, me mostra como meu apreço é
importante para ela.
— O melhor bolo que já comi em toda minha vida. — Não é uma
mentira, pois, Eloá cozinha bem pra caralho.
Estamos sentados no seu sofá, cada um com uma caneca, onde na
minha está escrita, sou uma princesa.
Ela riu muito com a minha escolha.
— Não precisa exagerar para entrar nas minhas calças — ela diz em
tom brincalhão.
— Pode ter certeza de que o que estou dizendo é a mais pura
verdade, pois tenho outra maneira para entrar na sua calça. — Dou uma
piscadela antes de colocar uma generosa colherada de bolo na boca, sem
afastar meus olhos do seu rosto feliz.
— Obrigado, eu adoro essa bomba de chocolate.
Engulo apontando a colher para ela.
— Eu gostei de ver esse seu lado.
Ela franze a testa.
— Cozinheira?
Balanço a cabeça.
— Não, descontraída, leve e sorridente. As duas vezes que nos
vimos, estávamos em lugares diferentes, no entanto, você estava tensa,
como se a qualquer momento sairia correndo.
Eloá desvia seus olhos por um momento dos meus e quando retorna
há um brilho desconhecido em suas íris.
— Aquela lá que você viu no restaurante e na casa noturna, sou eu.
Agora essa aqui sou eu com você. — Ela mexe a colher, mas não pega o
bolo.
Sinto que ela não terminou de falar, então espero o seu tempo.
Eloá olha para mim, sorrindo.
— Você me faz ter uma versão nova de mim e eu gosto disso. Falo o
que vem na minha cabeça, sem estar tensa com nada.
Deixo a caneca na mesinha de centro e me arrasto para mais perto
dela. Pego a sua caneca fazendo o mesmo que fiz com a minha, seguro seu
rosto entre as minhas mãos, aproximo nossos lábios e beijo sua boca
sentindo o gosto do chocolate na sua língua tímida que escorre para dentro
na minha boca.
O beijo começa lento e casto, mas logo se transforma em algo
primitivo. Escorrego minhas mãos para sua cintura enfiando por baixo da
camisa, mas não chego a passar da sua barriga quando seu corpo fica tenso
e ela se afasta, quebrando o beijo.
— Eu sinto muito — ela diz nervosa, olhando para seu colo.
— Qual é o problema? — questiono confuso, afinal não fiz nada
para ter essa sua reação.
— É complicado. — Ela se levanta passando a mão pelo blusão que
usa.
— Sente-se e me diga o que há de errado — digo em um comando
que faz Eloá retornar para onde estava.
Eu não preciso do seu amor, preciso averiguar o que aconteceu para
saber como posso forçá-la a se casar comigo, ou se quero fodê-la.
Porra, isso sem sombra de dúvida.
No entanto, tem coisas mais importantes que meu pau, por exemplo,
essa atitude dela. Primeiro não quer que a toque e quando dou um comando
vejo a submissão em seus olhos.
Não posso negar o quanto sua atitude alimenta uma parte minha
escura.
— Eu não quero falar sobre isso. — Seus olhos estão nas canecas na
mesinha.
Seguro seu queixo para nivelar nossos olhos.
— Você me quer aqui? Preciso saber disso.
Seus olhos verdes me encaram.
— Sim!
— Posso te beijar?
— Sim!
— O que não posso fazer, Eloá?
Mais uma vez ela tenta desviar os olhos, mas não deixo.
— Eu não sei, meu corpo está tendo reações que não senti antes e
isso me assusta. Confesso que não sei se deixo ou corro dos seus toques.
Seus beijos aquecem o meu corpo.
— Você é virgem? — Não há outra explicação para isso, afinal é
nítido que ela não conhece seu corpo.
— Não. — Não deixo de notar a dor que passa em seus olhos.
— Eu gosto de sexo e não vou fingir que sou um santo pra você,
quando estou dolorido para afundar meu pau na sua boceta e a ter amarrada
em uma cama.
Seus lábios se abrem.
Penso que ela vai afastar a minha mão e me pedir para que eu saia,
mas isso não acontece.
Aquele brilho anterior nos seus olhos encara os meus, sem quebrar a
conexão então escorrego minha mão da sua, subo pelo seu antebraço, passo
por seu ombro até estar com ela em seu pescoço, sem apertar.
Seus lábios puxam uma respiração profunda e sua reação é pura
excitação. Ela está tão excitada que se eu colocar meus dedos entre suas
coxas vou encontrá-la molhada. Deixo nossos rostos próximos, tão
próximos que tocamos o mesmo ar.
— Eu fico duro só de imaginar você na cama nua, com os braços e
pernas presos, imobilizada para o meu deleite.
Sua língua escorrega para fora dos seus lábios, passa neles, os
deixando úmidos.
— Você gosta de BDSM? — ela murmura e rio.

— Não, querida. Sabe o que significa Kink[3]?


Eloá balança a cabeça de um lado para o outro.
— Não.
O meu polegar acaricia seu pescoço e noto como meus dedos ficam
bem em volta dele.
— Kink, é uma prática conceituada em fantasia sexuais e fetiches.
Não me considero um praticante do BDSM, mas no Kink, uso cordas,
chicotes, mordaça e alguns brinquedos.
Estudo seu rosto analisando suas reações.
— Você quer isso? — Puxo seus lábios com os dentes.
— Não tenho uma resposta. — Seus olhos ficam entre a minha boca
e meus olhos.
— Sim, você sabe, só está assustada pelo desejo sujo que esconde aí
dentro, mas quero que saiba que posso lidar com qualquer coisa, Cerejinha.
Pode ter certeza de que isso não é errado. — Levanto a outra mão e passo o
polegar por seu lábio inferior. — Preciso ir, mas voltarei e vamos terminar o
que começamos. — Dou um beijo casto em sua boca e me levanto.
Seus olhos seguem o meu movimento sem falar nada, pego a
caneca e vou embora do seu apartamento.
Dessa vez tenho certeza de que seus pensamentos vão ter só uma
pessoa, eu.
Pensei que ficando sem responder a sua mensagem ela estaria
ansiosa para me ver, no entanto, Eloá estava mais preocupada com o
paradeiro da sua amiga do que uma resposta minha. Porém, dessa vez é
diferente.
Entro no meu carro no outro lado da rua e antes de ligar o motor, o
celular toca. Puxo da calça e vejo o nome do Steven aparecer na tela.
— O que foi, Steven? — Escuto um chiado na linha antes da sua
voz.
— Tenho notícias do seu pai que não vai agradá-lo muito.
Aperto o celular.
— O que ele fez?
— Ele e o seu advogado estão entrando com uma cláusula que o
senhor não pode ser o CEO da empresa Boseman sem estar casado,
aconselho agilizar o que está fazendo.
Ranjo os dentes.
— Preciso de mais uma semana, esse é o tempo que irei resolver
tudo.
— Assim espero. Liguei apenas para informá-lo.
Desligo o celular e coloco no suporte do painel.
Não posso propor casamento a Eloá sem um plano em vista, afinal
acabamos de nos conhecer e ela nunca vai aceitar, mas…
Se a conhecê-la e souber seu ponto fraco que posso usar para
manipulá-la, farei com que ela se case comigo.
Uma semana é o tempo que tenho.
CAPÍTULO 7
Eloá Moore

O sol das três da tarde beija minha pele já aquecida com as


lembranças que tenho de Thales. Coloco a língua para fora e passo na bola
de sorvete de chocolate, deixando minha língua dormente e gelada.
O gelo é um ótimo amigo para o fogo que há entre as minhas coxas.
Penso se é essa sensação que Scarlett falava quando tinha uma noite
com alguém, afinal meu corpo nunca experimentou tal coisa.
Quatro dias foi o tempo que passou desde a visita de Thales ao meu
AP e o simples pensamento do seu nome faz coisas engraçadas no meu
corpo. Sei que não deveria estar com esses pensamentos quando ele planeja
me amarrar e me ter imobilizada ao seu deleite e seja lá o que mais.
Eu não deveria...
Mas, por que não consigo parar de desejar e pensar nele fazendo
todas essas coisas?
Pelo meu histórico deveria estar correndo a boa distância dele,
porém, se for para correr quero correr para os seus braços. E, por uma vez,
deixar alguém no controle, deixá-lo me guiar e cuidar de mim.
Estou tão cansada de estar na liderança que só queria entregar as
cordas a uma pessoa.
E Thales é essa pessoa.
Eu me sinto confortável na sua presença e seus olhos azuis gelo me
deixam hipnotizada.
Penso o que meus pais achariam disso e posso imaginar seus rostos
perplexos.
Fui criada por pais conservadores, eles me criaram bem e
planejaram um futuro para mim, até que uma noite as coisas mudaram…
Meus pensamentos estão indo para um lugar feio e obscuro quando
uma bola acerta minha perna. Sou puxada para o presente, onde uma
garotinha negra de cachos corre na minha direção.
— Moça, me desculpa, não quis jogar a bola em você.
Ela deve ter uns dez anos.
Abaixo, capturo a bola com a outra mão que não está com o sorvete
e entrego a ela.
— Não tem problema, isso acontece.
Ela pega a bola, olha para o meu sorvete com a testa franzida e
acompanho seu olhar para ver que a bola derreteu.
— Acho que vou precisar de outro sorvete.
Ela ri, agradece e sai correndo com sua bola. Vejo que se aproxima
de um casal que presumo ser seus pais, pela aparência de ambos, e juntos
brincam com a bola.
Não me lembro dessa idade estar brincando em algum parque ou
qualquer outro lugar. Certamente, estaria dentro do meu quarto estudando,
porque queria ser a melhor em tudo, tanto que com quatorze anos, já sabia
falar vários idiomas fluentemente.
Minha família não é rica, entretanto, tem uma estabilidade boa.
Minha mãe tinha uma vida perfeita planejada para mim, contudo, quando
completei dezoito anos decidi fazer gastronomia e em todas as aulas que fui
obrigada a fazer a que fazia com prazer era culinária.
Era meu sonho cursar gastronomia.
Mesmo sem sua aprovação, me matriculei em uma universidade que
ficava uma hora da nossa cidade e poderia ir e voltar tranquilamente.
Ainda posso me lembrar de como estava feliz.
Mas quatro meses foi o tempo que durou essa felicidade, então meu
mundo e sonhos foram destruídos.
Sinto a garganta fechar e meus olhos arderem com a emoção, mas
empurro tudo para um lugar que me protege de toda essa dor. Levanto do
banco, jogo o sorvete derretido no lixo e sigo para o restaurante, onde passo
as próximas horas trabalhando sem me permitir a pensar em nada que não
seja o trabalho.
Por volta das sete da noite, chego no meu prédio.
Hoje cheguei um pouco mais tarde porque passei no mercado e
comprei alguns mantimentos que estavam faltando.
Minha caminhada pela escada é cansativa, pois a bolsa e algumas
sacolas pesadas dificultam minha viagem.
Estou ofegante quando chego no meu andar e paro de andar quando
meus olhos encontram os azuis gelo de Thales.
Ele olha para meu rosto, em seguida minhas mãos e em passos
longos me alcança, pegando as compras das minhas mãos.
— Se soubesse que você estaria vindo com compras tinha esperado
lá embaixo.
Saio do meu momento, estupefata pela sua presença, para te
responder:
— Não é preciso, Thales, faço isso sempre e não sabia que você
viria hoje.
Ele passa a mão pelo cabelo e me olha com seu jeito intenso e
sorriso de lado.
— Ajudar você é uma honra, queria ter vindo antes, mas tive que
fazer uma viagem a trabalho.
Assinto, abro a bolsa, pego a chave e abro a porta. Entro com ele
logo atrás de mim que deixa as compras na cozinha. Voltando para ele, um
pouco ansiosa e nervosa, mordo os lábios e digo:
— Vou tomar um banho, fica à vontade.
Tenho dele um balanço de cabeça, então sigo para meu quarto com o
corpo vibrando em antecipação do desconhecido desejo. Dentro do quarto
me dispo, entro no banheiro e tomo um banho de água fria para me acalmar.
Não demoro no banho, na verdade, nem conseguiria se quisesse.
Visto um blusão, pois tenho alguns desse, coloco um short de
algodão e enfio os pés na pantufa nada sexy. Volto para a sala e encontro
Thales distraído, olhando para o quadro de macarrão que fiz.
Ele falou que achou bonito, mas tenho para mim, que ele gostou o
suficiente para querer.
— Pode levar, sei que é algo tolo e sem valor — falo na divisora
entre o corredor e a sala, onde estou parada.
Ele afasta os olhos da peça para mim.
— Eu não poderia recusar e tenho plena certeza de que essa peça
tem um valor inestimável, contudo, não vim aqui por ela, vim por você…
Thales olha para minhas pernas nuas, sobe pela minha barriga, seios
até parar no meu rosto.
— Vem aqui.
Com Thales não tenho pleno poder do meu corpo que segue o que
ele ordena. Sento próximo a ele e a todo momento seus olhos estão me
estudando.
Sinto que ele está monitorando a minha reação.
— Você pensou no que conversamos?
Minha cabeça chocalha para cima e para baixo.
— Palavras, Eloá, quero que você abra essa boca linda e responda às
minhas perguntas.
— Sim, não parei de pensar no que falou.
Ele não segura minha mão ou me toca, mas de onde estou sinto o
calor do seu corpo e esse é meu único conforto para acalmar meu coração
ansioso.
— Quais foram seus pensamentos?
Minha garganta trabalha para engolir e molho meus lábios.
Thales espera o meu tempo para me organizar mentalmente.
— Que é errado — afirmo.
— A verdade, agora.
Ele espera por minha resposta e me debato para responder.
— Uma parte minha ficou curiosa sobre se submeter a você.
— E a outra parte?
— Acredita ser errado, portanto, ainda assim, desejo uma vez na
minha vida abrir mão do controle e deixar alguém cuidar de mim. Por tanto
tempo foi só eu… Mas…
— Você tem medo de dar esse poder a alguém — ele completa os
meus pensamentos.
— Sim!
O tempo se arrasta e quando estou quase perguntando o que ele vai
fazer, Thales fala:
— Quero experimentar algo com você hoje, se não gostar, não
faremos mais, mas antes quero que escolha uma palavra de segurança[4].
Uma palavra que você não usa com frequência.
— Por que preciso dessa palavra de segurança? — pergunto
confusa.
— A palavra de segurança serve para parar qualquer coisa que
estiver fazendo com você. No momento que você disser, tudo acaba e paro
o que estou fazendo.
Fico pensativa.
— E se você estiver quase… Você sabe. — Não quero falar as
palavras em voz alta, mas seu olhar me diz que ele quer ouvir da minha
boca.
— Se eu tiver o quê, Eloá?
Olho para o outro lado da sala para não olhar em seus olhos e
minhas bochechas coram.
— Olha para mim e responde.
Volto a olhar para ele e encontro as íris azuis gelo, me analisando.
— Perto de gozar.
— Eu pararei no momento, controlo o meu corpo e não o contrário,
Eloá.
— Não sei se posso controlar o meu.
— Este é o meu trabalho, farei por você.
Thales se levanta.
— Vou preparar o seu quarto e enquanto trabalho lá, pensa na
palavra, mas quando voltar, eu a quero.
Observo Thales se abaixar, pegar uma mochila no chão e ir para o
meu quarto. Até esse momento não tinha notado que ele estava de mochila.
Dá para perceber como Thales tira todo o meu foco, pois quando
estamos em uma sala só existem nós dois e nada mais.
Minha mente vagueia para a palavra que ele pediu para escolher e
fico pensando em como irei fazer isso, já que é algo que vai definir a
trajetória da minha vida.
Os segundos passam e ele volta para sala.
Seus passos suaves não fazem barulho e me vejo assustada com a
sua chegada.
— Escolheu a palavra?
— Sim!
— Qual é?
— Passado.
Ele me estuda e então acena com a cabeça.
— Lembre-se, quando você falar essa palavra, paro o que estou
fazendo.
— Para sempre?
— Não, mas faremos outra coisa em um outro dia que você esteja
disposta, mas por agora me dê sua mão.
Confusa, entrego minha mão a ele que segura e nos leva para o
quarto. Ao entrar, percebo que tem algumas cordas vermelhas no meio da
cama e alguns brinquedos que nunca vi e não sei como usar.
Thales solta a minha mão para ficar atrás de mim, segura meus
ombros enquanto olho para minha cama e o hálito quente acaricia minha
orelha.
— Você sabe o que é Shibari[5], Eloá?
Minha garganta trabalha para conseguir responder a sua pergunta.
— Não.
Ele faz um barulho como se fosse um grunhido enquanto suas mãos
sobem e descem pelo meu antebraço e ombro. Seu peito cola nas minhas
costas e seu perfume lascivo me abraça como um cobertor.
— Tão inocente... Tão pura para alguém como eu. Uma pena para
você que sou tão egoísta.
Sinto sua boca depositar um beijo em meu ombro, então sua voz
autoritária diz:
— Shibari é a prática que irei usar em você. Ela vai nos ajudar na
nossa conexão… Aqui não é apenas uma sessão, é mais que isso… É
confiança. Você está depositando essa confiança em mim e vou te retribuir
da melhor forma possível.
Ele se afasta e quero gemer com a súbita falta do seu calor.
— Dispa-se e se alongue antes da prática, pois preciso do
alongamento para a circulação do sangue.
Sem me virar para ele, tiro o blusão, pois não sei olhar em seu rosto
vou ter coragem para me despir.
— Agora, vire-se.
Estou de calcinha de vovó e sutiã do mesmo material.
Meu rosto aquece quando viro para encará-lo, mas diferente do que
pensei, Thales está com aquele mesmo olhar de lobo faminto.
Minha lingerie não mudou nada.
— Alongue-se.
Tenho apenas um segundo para me recompor e fazer o que ele
mandou.
Nos próximos minutos me alongo sem olhar para Thales que está
parado, assistindo ao que faço.
— Terminei — aviso e uma fina camada de suor cobre minha pele.
— Lembra da palavra de segurança? Essa não é uma prática que
precisa, contudo, é sua primeira vez e pode ser que queira parar em algum
momento. Lembre-se a palavra é pra isso.
Mordo meus lábios antes de responder.
— Lembro sim.
— Perfeito!
Thales, caminha em minha direção enquanto olha em meus olhos
como se quisesse ver se estou bem.
O seu cuidado comigo é comovente e foi assim que ele ganhou
minha confiança.

Thales Boseman
Coloco meu corpo atrás do da Eloá, estudando sua resposta.
Ela está tensa e não é por menos, pois é sua primeira experiência
com Shibari. Pego a corda que trouxe, pronta para essa prática. Elas foram
compradas especialmente para Eloá, pois vermelho vai ficar lindo em
contraste com a sua coloração da sua pele. Pego o meio da corda, faço uma
boca de lobo[6], passo a corda por cima dos seus seios, propositalmente,
pois depois que essas cordas forem removidas da sua pele, seus seios
estarão muito sensíveis. Nesse momento, consigo restringir os movimentos
dos seus braços.
— Mãos para trás — ordeno e ela obedece.
Puxo a corda, desço uma parte, em seguida passo por seu antebraço
esquerdo, indo para o direito. Deixo a corda nos seus cotovelos para não
agredir sua pele. Faço um nó e desço uma polegada da corda até os seus
pulsos e aproximo a boca do seu ouvido.
— Você está bem? — pergunto.
Cada pessoa tem seu limite e mesmo prestando atenção no corpo
dela, não sei o que está em sua mente…
Ainda tem a questão dela estar arisca quando a toquei outro dia.
— Estou bem.
— Não esqueça que estamos trabalhando na nossa confiança, Eloá.
Do mesmo jeito que você está confiando em mim, vou confiar em você para
saber como está seu estado mental.
Seu coração se encontra acelerado, mas seu corpo não está mais
tenso. Sei disso porque estou acompanhando seu estado físico.
— Estou falando a verdade.
Dou um beijo no seu ombro.
— Que bom. — Termino a amarração e pego a outra corda, ficando
na sua frente agora.
Passo a corda por seu pescoço e não aperto, mas vejo medo em seus
olhos. Abaixo a cabeça e beijo seus lábios.
Ela não precisa dizer a palavra para eu saber seu limite, pois seus
olhos são tão expressivos que posso ver a sua alma inocente.
Desfaço a amarração do seu pescoço, deixando apenas seus braços
contidos e seguro seu rosto entre minhas mãos.
— Me descreva o que você está sentindo.
Seus olhos focam nos meus.
— Medo por estar com os movimentos restritos e segurança. Não
sei como explicar, apenas sei que você não vai deixar nada acontecer a
mim. Mas o que sobressai é paz, sinto como se o peso que carrego todo esse
tempo fosse retirado das minhas costas.
No fim da sua fala, seus olhos já estão transbordando de lágrimas
que escorrem livres pelo seu lindo rosto. Eu a pego em meus braços e a levo
para cama, onde a embalo no casulo que são meus braços, a ninando.
Esse sentimento que Eloá está experimentando se chama, rope
space é algo semelhante ao momento alto durante uma corrida. Seus
[7]

hormônios são atingidos e o praticante de Shibari tem essa reação[8].


Em algum momento, ela para de chorar, desamarro e a pego de volta
em meus braços, onde faço movimentos circulares para o sangue voltar a
circular onde as cordas estavam.
— Como você está agora?
Com a bochechas coradas ela sorri.
— Obrigada, nunca estive tão bem, melhor que uma sessão na
psicóloga.
Acaricio sua bochecha, limpando o vestígio de lágrimas que há nela.
— Fico feliz que você esteja bem, pois foi a melhor experiência da
minha vida. Você é perfeita e não deveria carregar o peso do mundo nas
suas costas.
— Não importa, você tirou.
Beijo sua boca, então a seguro até estar adormecida e mesmo assim
não saio do seu lado. Passo a noite vigiando seu sono até o dia amanhecer.
Saio da sua casa, deixando minha mochila, pois vou voltar essa noite e as
próximas noites que vierem.
CAPÍTULO 8
Thales Boseman

— Como estão indo às coisas para o casamento, Thales? — No


outro lado da linha Steven pergunta.
— As coisas estão melhores do que planejei e em breve serei um
homem casado. Não se preocupe pelo menos por enquanto, já cuidei do
meu pai também.
Ele faz um barulho no outro lado da linha.
— Seu pai é ardiloso, não abaixe a guarda achando que ele não
está planejando nada, Thales.
Rio.
— Sou filho dele, Steven, e posso ser ardiloso como ele. Se for só
isso, preciso cuidar de uma coisa.
— Sim, era só isso.
Termino a ligação, sem afastar meus olhos da mulher de cabelo
vermelho e rosto angelical que ajuda uma senhora a atravessar a rua.
Todas as pessoas passaram pela senhora e não deram assistência,
diante disso, Eloá, parou para ajudar a senhora. Ela não me viu ainda, pois
estou em frente ao seu prédio, encostado no carro.
A senhora fala algo que faz Eloá rir e é a coisa mais encantadora
que meus olhos já viram.
Posso ainda sentir seu corpo pequeno em meus braços.
Não deveria estar tão fascinado por essa mulher quando vou quebrar
seu coração. Eu sei separar as coisas e o que sinto por ela é fascinação, mas
quando ela me olha, vejo em seus olhos que está se apaixonando e esse é o
seu segundo erro…
O primeiro foi entrar no meu caminho naquele dia no restaurante.
Sua cabeça ergue de modo que nossos olhos se encontram e por um
instante a vejo parar sua caminhada.
Não é medo que vejo em seus olhos, é surpresa, pois, não esperava
me ver depois de ontem.
Eloá não sabe que passei a noite com ela, acordado, vigiando seu
sono.
A senhora segue seu caminho e Eloá se aproxima com algumas
sacolas nas mãos.
— Oi, boa noite. — Sua voz é tímida e recatada.
Com dois passos decididos, estou invadindo seu espaço pessoal,
segurando seu rosto e beijando sua boca. Ela a princípio fica sem reação,
mas logo está me acompanhando em um beijo ardente. Endureço na calça e
se não me afastar agora, irei arrastá-la para o meu carro e fodê-la no banco
de trás.
— Boa noite, como foi o seu dia? — pergunto quando afasto nossas
bocas, sem soltar seu rosto.
— Foi como sempre, e o seu?
Passo o polegar nos lábios vermelhos naturais.
— Passei o dia querendo beijar sua boca, então o seu corpo e estar
no seu calor.
Suas bochechas coram.
— Eu também pensei muito em você.
Eu sabia disso, mas é bom ouvir da sua boca.
— Vamos subir? Te esperei hoje aqui para ajudar com as coisas. —
Pego as sacolas das suas mãos e entramos no seu prédio.
Subimos as escadas em silêncio, contudo, sinto que ela quer me
falar algo.
Quando chegamos ao seu apartamento, sigo para a cozinha onde
deixo suas sacolas na mesa e volto minha atenção para ela que está parada
na sala, me olhando.
— O que você quer saber? — pergunto.
— Como você sabia que queria fazer uma pergunta?
— Você mexe com os dedos quando está ansiosa, então, o que é?
Ela olha para o meu rosto.
— Acordei e você não estava aqui... Não sou assim, Thales.
Saio da cozinha, parando a uma certa distância dela.
— E como você é, Eloá?
Deixa a bolsa cair no sofá, endireita os ombros e quero socar o ar
em contentamento, quando vejo fogo em seus olhos.
A gatinha tem garras.
— Eu não tenho um caso de uma noite. Nunca tive um namorado
porque homem nenhum despertou qualquer desejo em mim... Isso até você
chegar, contudo, não quero começar algo sem saber se estamos na mesma
página. Não quero fazer o que fizemos ontem e acordar em uma cama,
sozinha…
— Eu passei a noite com você em meus braços e deixei um bilhete
dizendo que estaria hoje aqui novamente. Dessa vez, vamos terminar o que
começamos. Deixei alguma dúvida?
Sua boca se abre com minha confissão.
— Você realmente passou a noite aqui?
— Essa é a dúvida? — Rio — Sim, passei a noite e no lado da sua
cama tem um recado, achei que tinha visto.
— Eu não vi. Quando não recebi nem uma mensagem sua hoje,
achei… Deixa pra lá.
— Achou o quê? Quero saber.
— Que você não me queria mais…
Dissolvo a distância entre nós, seguro sua nuca e minha boca devora
a dela.
Dessa vez não paro.
Desço minhas mãos para agarrar suas nádegas, a levanto para suas
pernas estarem em volta da minha cintura e a levo para seu quarto.
Eloá se desmancha em meus braços.
Eu a deposito na cama ficando por cima, faço um trabalho
minucioso e tiro suas roupas, a deixando de calcinha e sutiã, entre beijos e
murmúrios.
— Você pode me parar a qualquer momento, basta dizer a palavra.
— Eu quero você… — Sua voz é desesperada.
Afasto minha boca para beijar seu ombro e sigo meu caminho para
seus seios. Abocanho a carne por cima do tecido, mas ela me empurra, a
procura da minha boca.
Coloco uma mão entre nós e vou para sua boceta. Não afasto a peça
ou coloco a mão dentro, acaricio sua boceta por cima da calcinha, sentindo
sua umidade molhar o tecido.
— Tão molhada... Estou tão duro para comer, sua boceta, Cerejinha.
— Mordo forte sua carne e ela grita.
Eloá está ensopada apenas com meu toque, suas mãos arranham
meus braços e ela grita fechando os olhos, prestes a gozar.
Paro o que estou fazendo, grunhindo próximo a sua boca.
— Você só goza quando eu ordenar. — Eu me afasto dela, a
deixando de pernas abertas.
Ela me dá uma boa visão da sua boceta molhada, seios quase
escapando do sutiã, lábios vermelhos, olhos pesados de desejo e rosto
corado.
Encontro a mochila que deixei na noite passada e pego o que irei
usar nessa noite…

Eloá Moore

Meu corpo não deveria corresponder dessa forma...


Não deveria estar desesperado pelo contato das mãos de Thales, ou
minha boceta estar molhada e pulsando a procura de algo que nunca
experimentou antes, como a promessa de orgasmo que vejo nas profundezas
das íris azuis gelo que me estudam como se pudesse ver além de mim.
Será que ele pode?
Se for possível, não quero que ele veja a feiura que escondo a todo
custo de todos.
Tento me cobrir, mas suas mãos logo estão lá segurando meus
pulsos acima da cabeça.
— Não se esconda de mim! Me entendeu?
Balanço a cabeça, para em seguida meus olhos se arregalarem com a
picada do tapa que recebo na coxa próxima a minha boceta.
— Palavra! Não gesto.
Parece que ele percebe o quanto me afetou com esse golpe.
— Sim, nunca vou me esconder.
Thales não volta a segurar meus pulsos, então olho para a cabeceira
ao sentir a corda em volta deles substituindo suas mãos.
Não fico com medo quando ele me contém, porque sei que Thales
não vai fazer nada para me machucar.
Presa na cama, suas mãos passeiam pelo meu corpo até estar
segurando cada lado da calcinha e puxar pelas minhas pernas. A próxima
peça é o sutiã, então estou nua e exposta aos seus olhos intensos.
— Linda, sua pele fica perfeita com a corda vermelha.
Gosto de saber que ele me achou perfeita com sua corda.
Um frasco aparece no meu campo de visão, ele abre a tampa e
despeja na mão depois passa em minha boceta e sinto uma refrescância.
— Oh, meu Deus! — choramingo.
O que ele passou na minha boceta parece ser um vibrador, o que não
tem lógica já que não vejo um, fazendo meu clitóris pulsar e toda minha
parede interna se contrair, implorando para ser preenchida.
— O que você passou em mim? — Esfrego as pernas à procura de
um alívio.
É como se estivesse prestes a gozar e, ao mesmo tempo, fosse
impossível.
— Um gel estimulante que vai te deixar três vezes mais excitada.
Mordo os lábios gemendo.
— Eu preciso de você…
Ele ri.
— Vou cuidar de você, mas terá que ter paciência.
Limpando a mão do gel, ele pega outro frasco e coloca uma boa
quantidade na mão. Esfrega uma mão na outra então leva para minhas
pernas, onde massageia.
Suas mãos nas minhas pernas me dão a impressão como se ele
estivesse trabalhando na minha boceta.
Tenho certeza de que embaixo de mim, o lençol está molhado.
As mãos de Thales passam por minha barriga até chega em meus
seios.
Ele massageia a carne e em determinado momento seu polegar e
indicador beliscam os bicos dos meus seios, me fazendo gritar.
— Thales, por favor, não aguento mais — suplico, puxando meus
braços da amarra.
Só preciso chegar até minha boceta.
— É isso que você precisa — fala como se não estivesse vendo meu
desespero por seu toque.
Dedos invadem minha boceta e grito pelo espasmo que rodeia meu
corpo. Thales acerta um ponto dentro de mim, que faz ver estrelas.
Estou tão perto quando sua mão se afasta e meus olhos se enchem
de lágrimas, frustrada sexualmente.
— Thales… — choramingo.
Ele sai da cama e penso que vai pegar outro óleo ou gel, mas não faz
nada disso. Suas mãos abrem os botões da sua camisa, embora ele termine
estourando o resto que falta.
Não paro de esfregar as pernas, quando sua calça desce e seu pau
pula para fora. Pareço que vou entrar em colapso e meus quadris empurram
para cima. Sua mão enrola no seu pau, movimentando da ponta a base.
Estou tão excitada que não sinto vergonha de ser pega olhando para
o seu pau.
Thales coloca a camisinha, volta para a cama e enrolo minhas
pernas em volta do seu quadril. Seu pau pincela minha boceta antes de
empurrar a cabecinha para dentro.
Mordo os lábios com o prazer que esse movimento me causa.
Com mais uma investida, ele para.
— Por favor, não para — imploro.
— Você é tão apertada, porraaa!
Ele volta a empurrar enquanto seus braços apoiam ao meu lado para
sustentar seu corpo. Sua boca sedenta encontra meus seios onde ele se
alimenta, no mesmo momento, que entra e sai da minha boceta.
Queria estar com a mão solta para abraçá-lo, no entanto, estando
assim aumenta mais a minha luxúria.
O quarto se enche com o barulho de corpos se batendo. Sua boca
deixa meu seio e vai para minha orelha onde ele morde, dando o comando
que esperei tanto.
— Agora você pode gozar!
Não sei se é possível, porém, com um comando, o meu corpo
obedece.
Grito seu nome quando sou tomada pelo melhor orgasmo que tive
na minha vida.
O corpo de Thales vibra, sua boca esmaga a minha e ele vem dentro
de mim.
Mesmo a borracha da camisinha não interfere de senti-lo.
Ele solta os meus pulsos, me puxando para seus braços. Minha
cabeça descansa em seu peito, escutando as batidas do seu coração.
— Quero mais — falo fazendo seu peito vibrar pela gargalhada
sonora.
— Não seja por isso, vou descartar a camisinha e coloco outra.
Ele sai da cama, sem um pingo de vergonha em estar nu e realmente
não deve ter.
Thales tem um corpo lindo, a pele bronzeada e um pau magnífico.
Olho para o teto e rio.
Preciso contar para Scarlett, o que aconteceu...
Ela é minha melhor amiga e necessito falar para alguém de
confiança como foi minha primeira vez, mas por agora posso esperar.
Thales sai do banheiro com um olhar de quem não irá me deixar sair
dessa cama, e, para ser sincera, não ligo de morrer fazendo sexo com esse
homem.
— Pronta para o próximo round, Cerejinha?
CAPÍTULO 9
Thales Boseman

Eu precisava apenas de uma semana, foi assim que falei para


Steven, no entanto, depois de estar dentro da Eloá de todas as formas
possíveis, adiei em dar a notícia que fará com que ela me odeie.
Não estou satisfeito ainda...
Seis semanas se passaram e a quero até mais do que queria antes. Só
de lembrar dessa manhã como foi incrível, de ver meu pau sumir na sua
boca, me faz ficar duro em uma sala de reunião com mais de dez homens à
minha volta.
— Boseman, você tem certeza desta decisão? A empresa está indo
bem — Wagner, um dos meus advogados, questiona.
— Esse ano, o senhor, ganhou seu primeiro milhão, para uma
empresa que acabou de abrir as portas, está na melhor fase — Jason, o outro
advogado acrescenta.
Marquei essa reunião para tratar do fechamento da minha empresa e
todo dinheiro será transferido para a empresa Boseman. Os advogados
estão tentando me fazer mudar de ideia, contudo, a minha decisão já foi
tomada.
— Tudo que vocês falaram eu já sei. Como é do conhecimento dos
senhores, abri essa empresa sozinho e cheguei aonde estou. Porém, estou
em uma situação que preciso abrir mão dela por outra coisa mais importante
para mim, a empresa Boseman que é da minha mãe. — Faço uma pausa
olhando para o rosto de cada um. — Quero continuar com o trabalho de
vocês, mas na empresa Boseman. Preciso que prepararem a documentação
e a transferência de todo o fundo para a outra empresa. — Levanto
fechando o paletó. — Era só isso, senhores, reunião encerrada.
Eles assentem e deixo a sala de reunião indo para a minha.
Minha secretária, que era temporária, já não trabalha mais e os
poucos funcionários que a empresa tinha mandei para a empresa de Joseph,
afinal não quero ter que deixar ninguém desempregado.
Tive uma conversa com Joseph e ele me ajudou nisso.
Paro na porta da minha sala, surpreso por encontrar alguém a minha
espera, sentada atrás da mesa.
— Será que pensei tanto em você que estou vendo uma miragem?
— Tranco a porta atrás de mim, voltando a olhar para Eloá.
— Uma miragem faria isso? — Com os dedos ágeis, abre botão por
botão da camisa, coloca a peça na mesa e me dá uma visão quente dos seus
seios coberto pelo sutiã branco de algodão.
Coloco a língua para fora passando sobre meus lábios, lembrando da
maciez que é sua carne.
— E isso? — A próxima peça é a saia jeans.
O sorriso sexy que enfeita seu rosto me deixa mais dolorido.
Eloá é uma rosa que estava fechada até colocar minhas mãos nela e
agora que se abriu para o prazer, não há timidez ou pudor quando estamos
juntos.
Ela floresceu.
— Você é melhor do que qualquer miragem que poderia ter tido. —
Em passos rápidos a alcanço, seguro sua cintura e a coloco na mesa com
suas pernas em volta de mim.
— Tenho uma hora de almoço — ela fala ofegante.
— Um ótimo tempo para fazer o que quero com você. — Deito seu
corpo na mesa e abro suas pernas.
Estou salivando para sentir o seu gosto, por isso afasto sua calcinha
para o lado, passo o nariz nos seus lábios e solto um gemido com o cheiro
da sua essência.
— Tão doce... — Esfrego a barba na sua coxa e em resposta ela
suspira.
Beijo suas coxas próximo a sua boceta intocada, raspando a barba
rala por sua pele delicada.
— Thales, por favor… — Sua mão se enche dos fios do meu cabelo
e puxa para onde ela quer a minha boca.
Sorrio na sua pele, amando sua impaciência. Coloco a língua para
fora, dou uma lambida na sua pele até estar com a boca na sua boceta
molhada. Dou uma pincelada antes de beijar sua boceta de boca aberta e
mergulhar a língua no seu canal. Levo as mãos para os seus seios, os
fechando em minhas mãos e massageando quando aperto a ponta
endurecida. Eloá grita se contorcendo até gozar na minha língua.
Ela é viciante...
No fundo da minha mente, sei que deveria acabar com isso e dar um
basta com essa luxúria, entretanto, ficar sem o seu sabor é como estar sem
me alimentar por dias.
Empurro essa preocupação para o fundo da minha mente e me afasto
dela para abrir o zíper da calça, liberando meu pau duro. Pego uma
camisinha na carteira, visto em meu pau e sigo em sua direção, ansioso.
Pego Eloá e a levo para o sofá no lado que é mais confortável.
Acomodo seu corpo em meu colo, me posicionando entre as suas pernas, e
empurro meu mastro na sua boceta apertada. Há um pouco de resistência a
princípio, mas com paciência ela me recebe. Seguro seu quadril, guiando
para cima e para baixo.
— Tire-os. — Puxo com os dentes o sutiã e ela percebe o que quero
que ela tire.
Com as mãos atrás das costas, Eloá tira o sutiã e abocanho sua
mama.
Porra, ela rebola no meu pau enquanto mamo em seus seios.
Seu sabor é incrível!
Coloco uma mão entre nós e encontro aquele pequeno nervo onde
acaricio como se estivesse desenhando o número oito.
— Você pode gozar, Cerejinha, assim… Com o meu pau fundo na
sua boceta apertada.
Eloá cavalga para obter seu clímax, então com uma mordida no seu
seio e um comando, tenho seu corpo tremendo e ela gritando o meu nome
quando goza forte no meu pau.
Sua boceta é como um punho forte me estrangulando, minhas bolas
apertam, solto um grunhido e encho a camisinha de porra.
Ela cai em cima de mim e a abraço, beijando sua testa.
— Esse foi o melhor almoço que poderia ter tido.
A risada é o que tenho de resposta.
— Você está bem? — Aliso seu cabelo e ela faz um som como se
fosse uma gatinha.
— Sim, nunca estive tão bem.
Inalo seu cabelo, sentindo o cheiro de cereja.
— Tudo bem, eu ter vindo? Tenho uma hora de almoço e não pensei
muito se você iria gostar, queria tanto te ver.
Acaricio a pele do seu braço, pois gosto quando ela está assim
comigo.
— Tudo bem, eu amei a surpresa. Como você sabia onde era minha
sala?
— Encontrei a faxineira que me falou que você estava na sala de
reunião e que essa era sua sala, então entrei para te esperar.
— Estou feliz que você esteja aqui, porém, quero que saiba que não
trabalharei mais aqui, irei trabalhar na empresa Boseman.
— Não sei onde fica.
Falei onde trabalhava, só não a tinha trazido aqui e muito menos
comentado sobre a empresa da minha mãe até agora.
— Eu vou te levar lá e confesso que surpresa como essa vai deixar o
meu dia melhor.
Eloá levanta a cabeça, seus olhos verdes encontram os meus e vejo a
indecisão no seu rosto.
— O que foi?
— Uma vez por mês, vou visitar meus pais. Vou no sábado e volto
no domingo à noite. Eu sei que não falamos sobre namoro, mas queria que
fosse comigo, essa semana.
Levanto a mão, passo pelo lado do seu rosto e tiro alguns fios de
cabelo no caminho.
— O que temos é mais que um rótulo de namoro, Eloá, é além...
Mas se você precisa disso… Nós estamos namorando. — Aproximo nossos
rostos, puxando seu lábio inferior com os dentes. — É melhor você ir, ou
vou te comer outra vez e outra vez. Não vou deixar você voltar para o
trabalho.
Relutante ela sai do meu colo, a ajudo se limpar e vestir, então nos
despedimos.
Eloá vai embora com a certeza de que essa noite estarei no seu AP e
estaremos terminando o que começamos aqui.

— Oh, meu Deus, você poderia colocar uma música melhor do que
Taylor Smith?
Eloá ri.
Estamos no carro, viajando para a casa dos seus pais e não faço
ideia de como vai ser esse encontro.
Passamos o resto da semana entre irmos para o trabalho e transar a
noite toda. Toda vez que estou com ela, à minha mercê, esqueço de tudo e
existe apenas nós dois.
Não estou apaixonado, mas o filho da puta do meu pau se viciou na
sua boceta apertada. Porém, irei cuidar disso.
— Essa vai ficar, já troquei cinco vezes e todas você não gosta.
Batuco os dedos no volante, rindo.
— Como vou gostar quando você só coloca Miley Cyrus, Selena
Gomez e Demi Lovato. Sinto que estou namorando uma adolescente.
Ela gargalha jogando um salgadinho no meu rosto.
— Você tá parecendo um velho, isso sim, e elas cantam muito.
Quando era adolescente assistia à série Hannah Montana e aos filmes da
Disney que a Demi fez.
Finjo surpresa.
— Quando era adolescente? Achei que ainda era — eu a provoco.
— Para de implicância com a minha escolha de música. Que tal
você escolher, senhor que entende de música boa? — Ela tenta engrossar a
voz para parecer com a minha.
Sem afastar a atenção da estrada, pego o celular no console do carro
e coloco na minha playlist. A música Earned it, do The Weeknd,
preenche o som do carro.
Olho rapidamente para Eloá e dou uma piscadela para ela que está
usando um vestido de verão de alças finas.
Esse fim de semana o clima está agradável, tanto que estamos indo
para a casa dos seus pais de roupa de verão. Estou de bermuda, camisa polo
e tênis.
Deixo o celular de volta no lugar, descanso a mão na sua perna e ela
solta um suspiro.
— Então, que tal minha escolha para uma viagem a dois?
Um toque meu e a sua postura muda. Ela lambe os lábios e suas
pernas esfregam uma na outra.
Adoro ver como tenho o poder de em um simples olhar ou um toque
a deixar molhada.
— Fiz uma pergunta.
Eloá deixa o salgadinho de lado e bebe um pouco de água, antes de
responder.
— Uma ótima escolha, contudo, não deixo de preferir o meu.
Meus lábios se puxam de lado.
— Tenho por mim que você vai gostar da minha escolha sempre que
sairmos em uma viagem.
— Ah, é? Por que acha isso? — Dou uma olhada rápida para ela,
voltando em seguida minha atenção para a estrada.
Mesmo que a rodovia esteja calma essa noite, sempre pode aparecer
um carro, um animal, ou qualquer outra coisa.
São quase sete da noite, saímos do apartamento da Eloá às seis e
pelo GPS, vamos chegar às oito. São três horas de viagem e tenho muito
tempo para brincar com ela.
Massageio seu joelho, levando um tempo nele, então subo para sua
coxa e sua respiração acelera. A massagem continua, um aperto aqui, outro
ali, saboreando a reação que seu corpo me proporciona. Meus dedos raspam
o forro da sua calcinha, mas não a toco.
Ainda não...
Brinco com sua perna, escutando seus gemidos e choramingo, o
melhor som que quero ouvir.
— Desliga o som — ordeno e ela obedece.
Agora, o único som que se escuta no carro é o que sai dos seus
lábios.
— Thales, por favor…
Eloá se remexe no banco, inquieta, levo a mão na sua calcinha e
dessa vez afasto a peça para encontrar sua boceta molhada. Meus dedos
enroscam no pelo suave. Eloá não se depila como algumas mulheres, ela
apara os pelos que são macios e ruivos.
Minha boca chega a salivar para estar comendo a sua boceta.
Empurro três dedos dentro dela enquanto com o polegar acaricio seu
clitóris.
— Oh, Thales… — ela geme olhando para mim.
Seus olhos estão pidões, lábios presos entre os dentes e a visão que
nunca irei esquecer.
— Preciso de você dentro de mim…
— Estou dentro de você, querida, Cerejinha.
Sua boceta aperta meus dedos e seu rosto fica desesperado enquanto
se contorce de prazer.
— Seu pau, oh! Preciso que me foda…
— Amo quando você fala de uma forma suja, mas temos que chegar
na casa dos seus pais e se parar para te comer vamos chegar atrasados para
o jantar.
Balança a cabeça.
— Não me importo, quero você, por favor. — Seus olhos enchem de
lágrimas.
Se eu entrar dentro dela, não chegaremos hoje na casa dos seus pais
e não é seguro ficar parado em uma estrada.
Jamais irei colocar a Eloá em perigo.
— Eu me importo!
— Mas…
Movimento mais rápido os dedos, fazendo com que ela se cale.
Eloá pulsa em meus dedos, seu corpo estremece e seus olhos
encontram os meus no segundo que começa a gozar.
— Você é perfeita!
Ela está tão perdida no seu orgasmo que acredito que não pode me
ouvir.
Afasto meus dedos depois que ela termina de gozar, levo até os
lábios e chupo seu mel.
— A minha sobremesa — comento.
— Eu ainda quero você… — diz com a voz abafada.
— Eu sei, também estou dolorido por sua causa, mas por agora
temos que nos contentar com seu gosto na minha língua e meus dedos na
sua boceta.
Eloá arruma sua roupa e quando termina seguro sua mão até
estacionar o carro em frente à casa da família Moore.
A casa é um sobrado antigo, contudo, bem conservado, com uma
varanda com cadeiras, balanço e banco para se sentar. Na entrada tem a
garagem e um jardim com plantas e rosas.
Tudo muito simples, mas lindo.
Logo que saímos do carro, um casal sai da casa e Eloá se afasta para
abraçar os seus pais.
O senhor tem a pele branca e o cabelo grisalho, onde ainda dá para
ver algumas mechas ruivas. Usa óculos, porém dá para notar a sardas ao
redor do nariz.
Agora sei com quem Eloá se parece.
Já sua mãe é um pouco mais baixa que seu pai e loira.
É nítida a felicidade deles por ter sua filha em casa.
Fico ao lado do carro, assistindo o sorriso nos lábios dos três.
Essa é realmente uma família...
Eloá tem uma sorte grande por ter seus pais e eles a amarem tanto,
afinal não são todos que tem o mesmo.
Entre os dois, Eloá olha para mim, fazendo um gesto com a mão
para me aproximar, então cautelosamente me aproximo deles.
O casal me estuda, mas não com um olhar hostil, é mais do tipo
surpreso por sua filha trazer um homem para a casa deles.
— Papai, mamãe, esse é o Thales. — Dando um sorriso, ela
completa: — Meu namorado.
Estico o braço, estendendo a mão para eles.
— Me chamo Thales Boseman, é um prazer conhecer vocês.
Seu pai ignora minha mão estendida, me puxando para um abraço,
como ele fez com sua filha. Quando me solta é a vez da sua mãe. Em
seguida os dois me colocam entre eles e olho para Eloá que está rindo.
— Seja bem-vindo, Thales, não sabia que a nossa menina ia trazer
alguém… — sua mãe fala, então seu pai continua:
— Um namorado, contudo, estamos muito felizes por vocês. Vamos
entrar, acabei de tirar uma fornada de biscoitos no forno.
Eles praticamente saem nos arrastando para dentro da casa e
passamos por um curto corredor, onde tem um suporte para colocar as
chaves e um armário para os casacos em tempo de frio. Seguimos em frente
e entramos em uma sala ampla, com design antigo, dois sofás, com
almofadas bordadas a mão e uma mesa de madeira bruta no centro. A
poltrona de couro marrom no canto, tenho para mim, que é do pai da Eloá, e
a televisão está instalada no painel de madeira que tem algumas prateleiras
com fotos.
A sala fica para trás e em nossa frente está a cozinha de onde o ar
vem carregado com o perfume delicioso de biscoitos.
No ambiente há uma mesa com seis cadeiras e ao centro da mesa
estão os biscoitos. Olho em volta e percebo que não é uma cozinha
moderna, pois não tem os eletrônicos que usamos, sem máquina de lavar e
admiro muito sem micro-ondas.
— Meu pai faz os melhores biscoitos, Thales, prova isso.
Eloá pega um biscoito, me entrega e dou uma generosa mordida.
— Humm, delicioso.
— Te falei, aprendi a cozinhar com ele. — Ela beija a bochecha do
pai.
— Thales, eles não são os únicos na cozinha aqui, por isso não coma
muito porque tenho uma lasanha no forno — a mãe de Eloá, que descobri se
chamar Isla, diz e o ciúmes em sua voz não nos passa despercebido,
inclusive ela faz bico.
Seu marido se aproxima, a abraça e ela se derrete em seus braços.
— Thales, foi o amor da minha vida quem me ensinou a cozinhar.
Tudo o que sei foi graças a ela. — Ele beija seus lábios.
Eloá olha para eles rindo, como se essa atitude deles fosse algo
natural.
— Você foi um ótimo aluno e é por este motivo que estamos juntos
até hoje.
— E estaremos por muitos e muitos anos.
— Sim, meu amor.
O semblante da mãe de Eloá de chateada dá lugar a um feliz.
— Thales, enquanto as mulheres terminam o jantar, vamos pegar a
mala de vocês no carro.
— Sim, senhor.
— Apenas George, garoto, não me faz parecer velho na frente da
minha garota. — Ele dá uma piscadela para a esposa que cora.
— Desculpa, essa não foi minha intenção, você está em ótima
forma.
— Estou mesmo.
Rio, o seguindo para fora da cozinha.
Estou adorando essa família.
CAPÍTULO 10
Thales Boseman

Entrego o último prato para George.


Depois do jantar nós dois ficamos responsáveis pela louça, já que
Isla cozinhou e Eloá arrumou a mesa.
Ambas foram para a varanda e nós dois viemos cuidar da cozinha.
— Essa é sua primeira vez lavando o que sujou? — George pergunta
e encolho os ombros.
— Está tão na cara assim? — Seco as mãos.
— Sim, tive que pedir para lavar novamente dois pratos, para minha
senhora não puxar as nossas orelhas.
— Sinto muito, mas digo que foi uma experiência agradável.
Sempre tive alguém para fazer tudo por mim, mas aqui, com vocês, percebi
que são unidos em tudo e não deixam o peso apenas para um, vocês
dividem.
Ele coloca a mão em meu ombro dando um aperto.
— Isso se chama família, Thales, se apenas um carregar um saco de
arroz para casa, ele vai chegar, porém, irá demorar e estará cansado. Isso
não quer dizer que não possa carregar, mas se dividir esse peso, irá chegar
mais rápido e não se cansará. Minha esposa já passou horas cozinhando,
sendo assim é mais que minha obrigação a ajudar.
Reflito, notando como ele tem razão.
— Eloá, tem sorte de tê-los.
— Não seja bobo, Isla e eu temos sorte de tê-la como nossa filha. E
seus pais, como eles são?
Meu corpo fica tenso.
— Ambos já morreram — respondo vendo seu semblante ficar
triste.
— Sinto muito, Thales, perder os pais é muito triste.
— Não me lembro deles, pois morreram quando eu era pequeno...
A voz de Isla entrando na cozinha nos interrompe.
— Meu amor, já terminou com as louças?
Ele vai até ela e a abraça.
— Sim, querida.
Em apenas uma troca de olhar já percebemos o carinho que ambos
sentem um pelo outro.
— Vamos para a sala para tomar nosso licor da noite — Isla diz pata
o marido.
— Claro, querida. — George responde para a esposa e depois se vira
para mim. — Thales, quer se juntar a nós?
— Não, pode curtir a sua garota que vou atrás da minha.
— Isso mesmo, garoto — George diz sorrindo.
Sussurrando um para o outro, eles saem da cozinha, pego duas taça
de sorvetes e caminho para a varanda onde encontro Eloá esticada no
balanço com espaço para duas pessoas.
Ela me vê e dá um sorriso relaxado.
— Aí está você! — Eu me aproximo.
— Aqui estou eu, você demorou.
Solto um gemido e entrego o sorvete a ela.
— Não me julgue, foi minha primeira vez lavando louça.
Ela ri.
— E como foi?
Dou de ombro.
— Bem, seu pai é paciente e me ajudou.
Eloá pega uma colherada de sorvete e coloca na boca. Ela leva seu
tempo, deixando a bola descongelar na sua boca e aproveito para tomar o
meu sorvete.
— Sim, ele é. Nunca conheci alguém tão paciente quanto meu pai.
— Seus olhos se perdem em um ponto, mas sei que sua mente está indo
para longe, a prova é o sorriso doce que estica em seus lábios. — Sabe,
algumas garotas são apegadas à mãe. Elas querem crescer e ser como a
figura materna que teve, mas eu não fui assim.
“Desde pequena tenho uma conexão especial com meu pai.
“Lembro que quando caí de bicicleta, minha mãe estava surtando e
chorando, então meu pai se abaixou na minha frente ficando na minha
altura, olhou em meus olhos e falou: “você está bem garotinha?”.
“Meus olhos estavam borrados de lágrimas, então balancei a cabeça
e respondi: “estou com medo, papai”.
“Ele deu um sorriso e falou: “eu também”. Olhei confusa sem
entender, como uma pessoa tão grande poderia sentir medo.”
Ela dá uma risada como se estivesse vendo a cena dela pequena com
seu pai, aposto que esteja.
— Com os lábios tremendo, perguntei: “medo de quê? Você é
grande papai”.
“Seus olhos foram para minha mãe que tinha parado de falar, mas
ainda estava chorando. Ele estendeu a mão para ela que a pegou e se
agachou na minha frente.
“Ele falou: “temos medo de você se machucar, garotinha, sua
mãe e eu daríamos qualquer coisa para estar no seu lugar quando se
ferir”, então me ajudou a levantar e continuou me ensinando a andar de
bicicleta até estar fazendo sozinha.”
Ela vira o rosto na minha direção e empurra meu ombro com o dela.
— Meus pais são meu tudo, mas tenho um mundinho que é para
mim e meu pai. Quando tive meu primeiro coração partido fomos tomar
sorvete e ele falou que aquele garoto era apenas o primeiro de muitos outros
que eu teria pela frente. Mas para uma garota de quinze anos, era como o
fim do mundo. Mal sabia que com vinte e seis anos, estaria com você, aqui,
nessa mesma varanda onde chorei nos braços do meu pai.
Deixo a taça de sorvete no suporte para colocar copos e viro meu
corpo para estar de frente com ela.
— Isso foi uma declaração de amor? — Sorrio de lado.
— Não, essa foi só eu dizendo que tenho um namorado.
Aperto os olhos.
— Você tá mentindo e é seu traseiro que vai pagar com cada golpe
que receberá.
Com a pouca luz que tem na varanda dá para ver seu rosto corar,
aproximo nossas bocas e puxo seus lábios entre meus dentes.
— Sossega esse fogo, não vou tocar em você na casa dos seus pais.
Adorei os dois e não posso açoitar sua filha com eles estando sob o mesmo
teto.
Dou um beijo nela e minha língua mergulha na sua boca sentindo o
gosto do chocolate. Ela tenta se aproximar, mas me afasto antes que as
coisas vão longe demais. Principalmente quando Eloá usa uma saia que
posso removê-la com apenas um movimento.
— Vamos entrar, amanhã vamos para a igreja cedo, é bom você
descansar, a viagem foi longa.
— Vamos ficar aqui mais um pouco — pede com a voz manhosa.
— Não, sei o que você quer e não vai ter. Agora, vamos entrar.
Relutante, Eloá me segue para dentro da casa. Eu a deixo no seu
quarto e então vou para a sala, com um cobertor e travesseiro.
Seus pais não falaram nada sobre eu dormir no quarto da sua filha,
mas não acho isso certo.
Deito no sofá que é confortável e logo fecho os olhos para dormir.

O cheiro de café recém passado enche minhas narinas mesmo antes


de abrir os olhos. Eu me estico no pequeno sofá sentindo uma leve dor nas
costas.
O sofá é confortável, mas nunca dormi em um antes e acho que meu
corpo não levou isso muito bem.
Abro os olhos, puxo o cobertor para fora do meu corpo, sento
jogando os pés para o tapete fofinho e inalo o cheiro de café que vem da
cozinha.
A casa está silenciosa.
Imagino que é a mãe da Eloá na cozinha, então enfio meus pés nos
chinelos e sigo para onde posso obter uma caneca de café.
— Espero que não tenha feito barulho para te acordar? — George,
coloca um bolo amarelo com cobertura de chocolate na mesa.
Ele é quem está fazendo o café.
— Foi o cheiro do café que me acordou — respondo e ele ri.
— Sirva-se do café, logo as garotas descerão, vim adiantar as coisas.
Encho uma caneca com café.
Não posso imaginar meu pai se levantando para preparar o café da
minha mãe como George que faz isso feliz.
— Achei que era Isla que estaria aqui.
Ele coloca ovos mexidos e bacon.
— Pensou isso, por quê?
Encolho os ombros.
— Não sei.
— Acredito que você sabe. A maioria dos homens acha que preparar
o café é obrigação das mulheres, fui criado assim, mas não acho justo.
Desde que me casei com Isla que nos fins de semanas faço nosso café. Na
semana trabalhava e os fins de semana que estávamos em casa a deixava
dormir até quando quisesse. Casamento é parceria e aquela mulher é minha
parceira, amiga e amante, não minha empregada.
Bebo meu café e George se senta em uma cadeira. Vejo mais dois
pratos que são das mulheres.
— Vamos tomar nosso café, elas vão demorar um pouco para descer.
George fala como se fosse algo que acontece sempre e acho que
acontece sim.
Corto uma fatia de bolo e coloco em meu prato. Como uma
colherada e percebo que está uma delícia.
Como um pouco de cada coisa na mesa.
— O bolo está delicioso.
— É bolo de cenoura com cobertura de chocolate, o preferido da
Eloá.
— Ele pode ser o meu preferido também, sem dúvida.
Ele ri e olha para a porta da cozinha antes de voltar para mim. Vejo
tristeza em seus olhos mesmo quando ele ri.
— Eu achei que nunca iria voltar a ver o sorriso no rosto dela. —
Afasta os olhos da porta para mim. — Ou que algum dia traria um garoto
aqui, até a noite passada. A minha garotinha voltou a sorrir e seus olhos
brilham, obrigado por isso, Thales.
Deixo a colher no lado do prato.
— O que aconteceu com a Eloá? — Quando a conheci notei que
tinha algo errado com ela, mas agora seu pai falando assim tenho certeza.
— A história não é minha para te contar e tenho certeza de que no
tempo certo, ela mesma irá falar. Mas, por agora, quero agradecer por fazer
minha filha feliz.
— Aí está vocês, comendo sem esperar a mamãe e eu.
Não tenho chance de fazer mais perguntas com a chegada repentina
da Eloá.
Seu pai ri, ela vai até ele e dá um beijo na sua bochecha.
— Você demorou para acordar e estávamos com fome, não é
mesmo, Thales?
— Sim, e não pude resistir ao bolo de cenoura do seu pai.
Seus olhos me fuzilam.
— Você comeu o meu bolo primeiro do que eu? — Seus olhos
voltam para o seu pai. — Papai, não posso crer que fez isso comigo. — Faz
um ar dramático.
— Filha, Thales é convidado.
— E esse é o meu bolo. — Faz biquinho se jogando ao meu lado.
Corto o bolo servindo um generoso pedaço a ela depois pego um
pouco com a colher e levo até a sua boca.
— Abra a boca...
Ela abre e empurro a colher na sua boca.
A partir daí, a alimento com tudo que está na mesa. Seu pai sorri
com nossa interação e quando sua mãe chega na cozinha, comemos
conversando como uma família grande e unida.
CAPÍTULO 11
Eloá Moore

— De quatro, com o rabo para cima.


Uma eletricidade passa pelo meu corpo se alojando na minha boceta
que fica úmida apenas com o seu comando. Engatinho na cama até a
cabeceira e seguro na madeira.
Sinto seu corpo atrás do meu e me preparo para os golpes que virão
a seguir.
Thales brinca comigo, ficando parado atrás de mim.
Ele quer que o desafie e olhe para trás, com esse erro estarei
recebendo mais do que cinco golpes no meu traseiro.
A mulher que era algumas semanas atrás não o desafiaria, ela iria se
encolher e pensar como é errado sentir tanto prazer como estou, prestes a
ser espancada no traseiro.
Mas não sou mais ela, sou alguém diferente, pois esse homem
despertou o meu desejo mais sombrio.
A primeira noite em que ele me teve nessa cama amarrada, chorei e
não foi por medo ou nada do tipo. Aquilo foi a minha liberdade, foi me ver
livre do peso que carregava há anos.
A dor, o medo e a raiva de tudo...
Com as sessões que estamos tendo, percebi que o que estava
sentindo não era errado.
Algumas pessoas sentem prazer com carinho, beijos e fazem amor.
Thales e eu fazemos amor, porém, do nosso jeito.
Sinto prazer em agradar meu mestre e quando seu cinto, chicote ou
vara toca a minha pele, sou libertada da minha dor.
Estico o pescoço e olho por cima do ombro. Nossos olhos entram
em uma pequena guerra, mas os seus brilham por ter conseguido o que
ambos desejamos.
Meus olhos descem por seu peito.
Thales usa camisa preta de manga que está dobrada até os cotovelos,
calça jeans com a frente aberta deixando à mostra o caminho de pelo que
vai até o seu pau. Já na sua mão há um chicote com tiras de couro.
Ele não usou esse ainda em mim, não até hoje.
Thales, estava se arrumando para ir trabalhar, o provoquei e agora
vou receber o meu castigo, que almejo tanto.
— Dez, dez golpes e cada um você vai contar comigo, Putinha.
Engulo em seco.
— Sim, mestre. — Volto para minha posição.
Dessa vez, ele não me deixa esperando por mais tempo. O primeiro
golpe me faz dar um grito, a ardência na minha pele me faz querer encolher,
contudo, não me encolho, volto para a minha posição.
— Um — conto.
Outro golpe acerta minha pele aquecida.
— Dois. — Agarro na cabeceira.
— Três. — Os meus dedos estão brancos pela força com que seguro
na madeira.
— Quatro. — Escorrem lágrimas dos meus olhos.
— Cinco. — Meu traseiro parece estar em carne viva.
Eu sei que ele não chegaria a tal ponto, mas é essa a sensação que
tenho.
— Seis. — A ardência faz meu clitóris pulsar, um toque seu e serei
capaz de gozar.
— Sete. — O líquido escorre pelas minhas coxas.
— Por que estou te castigando, Putinha?
O chicote golpeia minhas nádegas.
— Oito — choramingo e contínuo.
— Porque desobedeci ao meu mestre.
O sorriso que ele dá é predatório.
— O que você não deveria ter feito?
Esfrego uma perna na outra e minha boceta deve estar inchada de
tão excitada que estou.
— Nove. — Solto um gemido e o suor escorre por minha testa.
— Não deveria ter me tocado, mas fiz no banheiro. Abre as pernas.
Com esforço abro e o chicote acerta no meio das minhas pernas. A
dor misturada com o prazer me leva a magnitude do prazer, então grito
soluçando.
— Dez… — Meu corpo estremece quando tenho um orgasmo.
Ainda no clímax, tenho meu corpo puxado para a beira da cama e
suas mãos mornas acariciam meu traseiro aquecido.
— Sua bunda está uma obra de arte. — Sua voz brutal sussurra no
meu ouvido, em seguida se afasta.
Sinto seu pau e logo ele está entrando dentro de mim, com suas
mãos agarradas em cada lado do meu quadril. Seu pau mergulha na minha
boceta, entra e sai em uma velocidade deliciosa. Em resposta, dou um
gemido, clamando pelo seu nome.
Ele me dá tudo que quero e aperto em torno do seu pau gozando
uma segunda vez.
Meu mestre sai de dentro de mim e então sinto um líquido quente
tocar minhas costas.
— O seu amor pode acabar por mim, mas irei deixá-la escrava do
meu toque e pau. A única pessoa que irá fazer você gozar será seu mestre.
Essas palavras venho escutando há muito tempo.
Como Thales pode imaginar que, algum dia, irei deixar de amá-lo?
Nós só temos um amor na vida e ele é esse amor para a vida toda.
Ele se afasta, mas não demora para estar de volta. Ele passa uma
pomada nas minhas nádegas ardidas, olho para ele, sorrindo e ele estreita os
olhos.
— Você está bem?
Thales, sempre depois de uma sessão pergunta como estou.
— Estou ótima, ardida, mas bem. — Sorrio.
— Seu castigo não terminou. Você irá passa o dia com a minha
porra no corpo.
Se ele acha que isso é um castigo quem sou eu para discordar,
contudo, vai ser maravilhoso senti-lo.
— Sim, mestre.
Terminando de cuidar de mim, ele guarda a pomada.
— Vista-se que a deixo no trabalho.
Desvio o olhar.
— Não é preciso, tenho que passar em um lugar antes.
Ele está arrumando a camisa, mas quando falo seus olhos voltam
para mim, como se quisesse perguntar algo, mas não faz. Por fim, assente.
— Tudo bem, à noite nós vemos.
Thales dá um beijo nos meus lábios e sai do quarto.
Um tempo depois, escuto a porta da frente sendo aberta e depois
fechando. Saio da cama, percebendo como vou ficar sem me sentar por
alguns dias.
No lugar de colocar calça, visto um vestido solto sem calcinha para
não irritar a pele.
Quando estou pronta, saio do apartamento e já no estacionamento
entro no meu carro.
Um tempo depois estaciono em frente a um prédio comercial, pego
minha bolsa, saio do carro, atravesso a rua, entro no prédio e pego o
elevador até o quarto andar.
Essa é a rota que faço há mais de três anos, só que estou sem vir
aqui desde que comecei a sair com Thales.
Paro em frente à porta que está escrito, Doutora Miranda, empurro
e entro.
Ela está a minha espera.
Eu a encontro sentada em uma cadeira próxima ao divã.
— Bom dia, Miranda — digo a cumprimentando, me sento na sua
frente e fico contente pela almofada ser fofa o suficiente para que não doa o
meu traseiro.
Ela dá um sorriso agradável.
— Bom dia, Eloá, como tem passado?
Suspiro pesado, dando a explicação que ela espera pacientemente
que eu diga.
— Estou bem, tão bem para ficar essas semanas sem vir às
consultas.
Miranda abre a agenda, folheia algumas páginas, então volta sua
atenção para mim. O sorriso amigável some do seu rosto.
— Eu sou sua psicóloga, Eloá, a pessoa que decide se você pode
parar as consultas ou não. — Sua postura é rígida.
Miranda está na casa dos trinta e cinco anos, cabelo escuro que está
sempre em um coque apertado, pele retinta, é bonita e sabe ser assustadora
como agora.
— Me desculpa, não vai se repetir — asseguro.
— É o que espero. — Seus olhos atentos me estudam.
— Como está indo seus dias?
Naturalmente um sorriso aparece em meus lábios ao lembrar como
está sendo o meu dia.
— Estou namorando.
Seu semblante é de surpresa.
— Teve algum gatilho?
Balanço a cabeça, negando.
— Não, com ele me sinto diferente.
— Como é esse diferente?
Escorrego meu corpo no divã, olhando para o teto.
— Quando estou com ele, me sinto próxima do que eu era antes, e,
ao mesmo tempo, alguém diferente. Posso, inclusive, pensar em um futuro.
Não deixei de vir às consultas propositalmente, quando estou com ele é
como se o mundo parasse e quero ficar presa naquele momento para
sempre. Você me entende, Miranda? — Abro os olhos e ela está com o rosto
relaxado, quase com um sorriso nos lábios.
— Sim, entendo. Agora me conta como se conheceram.
Digo a ela como foi no restaurante e na boate, enquanto Miranda
escuta atentamente.
— Fizemos sexo e ele conheceu os meus pais.
— Você ficou bem em ter sexo?
Meu rosto se aquece.
— Sim, a melhor experiência da minha vida. — Omito a parte de
como sinto prazer.
— E a relação dos seus pais com ele?
— Bem, eles se amaram. Eu me senti em casa quando estava lá e
acho que meus pais sentiram também. Eles não estavam tensos ao meu
lado, estavam relaxados.
— Isso é muito bom, Eloá. Você teve uma grande evolução em um
curto prazo. — Anota algo na agenda antes de continuar. — Você contou a
ele o que te aconteceu?
Meu corpo fica rígido.
— Não.
— Por que não?
— Tenho medo dele me rejeitar, sentir nojo de estar comigo.
— Você não teve culpa do que aconteceu e ninguém vai sentir nojo
de você, Eloá. Tenha seu tempo então conte a ele, um relacionamento não
pode ser construído à base de mentira.
— Eu sei, Miranda, mas acredito que não seja o momento. — Esse é
o meu lado covarde se escondendo da verdade.
— Quando você estiver pronta, e quiser trazê-lo aqui, explicarei o
que você não consegue.
— Obrigada.
— Nossa hora acabou. Próxima semana, mesma hora.
— Sim. — Levanto da divã e pego minha bolsa.
— Até logo, Eloá, qualquer coisa me liga.
— Ligarei.
Deixo seu consultório me sentindo tensa, insegura de que se Thales
souber o meu passado, ele irá me deixar, contudo, por hora, posso usar a
ignorância.

Pode ser coisa da minha cabeça, porém, toda vez que meus olhos se
encontram com os de Thales no outro lado da mesa, imagino que ele esteja
sabendo do meu passado.
Por que Miranda teve que falar sobre aquilo hoje de manhã?
Estava tão bem.
Agora fico paranoica e se não fosse por esse assunto estaria
aproveitando o jantar maravilhoso que meu namorado preparou para mim.
A tarde quando estava no restaurante, recebi uma mensagem de
Thales avisando que tinha feito uma reserva em um restaurante essa noite.
Quando ele passou o endereço para nos encontrar no local, fiquei perplexa.
Este restaurante é conhecido por seus frequentadores ser da alta sociedade e
não sei se minha roupa está à altura do lugar, contudo, ao lado desse homem
as pessoas não dão tanta importância para a minha escolha de vestimenta.
Estou com um macacão verde escuro de cetim, estilo calça, de mangas
longas com decote atrás, saltos agulha e maquiagem delicada.
Observo em volta e percebo as mulheres com joias extravagantes.
Devo ser a única que está usando um anel simples que ganhei do
meu pai aos quinze anos e brincos pequenos.
— Sua beleza é única... Todas as outras com suas roupas e joias
extravagantes não conseguem prender os olhos do seu acompanhante como
você, prende os meus.
Sua voz é calma e faz meu corpo reagir ao seu encanto.
Thales está olhando para mim, com aquela intensidade que me faz
ficar com a boca seca.
— Se estou te prendendo, como pode ter notado as outras? —
Aperto os olhos.
Ele bebe um gole do seu vinho tinto enquanto tenho uma taça ao
meu lado, intocada, pois decidi ficar apenas na água.
— Eu não as notei, mas notei seus parceiros que não afastaram os
olhos do que me pertence. — Dá uma risada forçada e continua: — E isso,
minha cara, me dá um forte desejo de arrancar os olhos deles, por olharem
você.
Com a mão trêmula pego a taça com água e dou um gole antes de
colocar de volta no lugar. Ele fica parado, esperando para ver o que irei
dizer e se não disser a verdade, Thales irá saber.
— Presumo que deveria estar assustada por essa declaração?
Seus olhos descem pelo meu pescoço parando nos meus seios, então
volta para meu rosto.
— E como você está?
Thales sabe a verdade, mas ele quer ouvir de mim.
Abaixo a cabeça para o meu colo e murmuro.
— Excitada!
Não escuto barulho de nada até que uma mão grande é colocada no
meu campo de visão.
— Venha.
Seguro sua mão e ele nos leva para longe da mesa.
Devido a ansiedade não consegui comer muito e esperava que
pudesse aproveitar a sobremesa, mas vejo que terei outro tipo de doce.
Entramos em um elevador e Thales aperta um botão que não dou
muita importância, pois o seu perfume me distrai brevemente.
— Estamos indo para onde?
Não importa onde ele vá me levar desde que estejamos juntos, só
perguntei, pois, não sabia que esse restaurante tinha andares.
Será que há outro restaurante privado?
Minha mente para de girar com a voz de Thales.
— O restaurante é lá embaixo, aqui em cima é o hotel.
Meus lábios se abrem, mas antes que possa falar qualquer coisa,
chegamos ao nosso destino. Andamos por um corredor até pararmos em
frente a uma porta onde ele insere um cartão que tirou do bolso.
A porta abre, entramos e me afasto dele para contemplar a cama
com dossel clássico. Passo a mão pela estrutura de madeira bruta com
cortinas delicadas.
Sorrio ao olhar para Thales por cima do ombro, que está com as
mãos nos bolsos, me observando.
— Você lembrou?
— Sim, queria te dar algo antes de tudo…
Franzo a testa sem compreendê-lo.
— Antes de quê?
Thales anda tão misterioso há duas semanas, mas essa está pior que
antes. Algumas vezes, o pego me olhando de um jeito frio, mas quando
percebe que estou olhando, coloca aquele sorriso sexy que me faz esquecer
até o meu nome.
— Hoje não, amanhã conversamos… — Sua mão chocalha para
cama e seu rosto suaviza. — Era como imaginou?
Sorrio voltando para a cama.
— Não! É melhor, porque você está aqui — afirmo, voltando a
explorar a cama.
Pouco depois de conhecer Thales, comentei quando estávamos
assistindo um filme antigo onde apareceu uma cama com dossel
clássico, que sonhava na minha adolescência ter uma noite com
alguém especial em uma cama dessa. Ele não falou nada, apenas
obtive um barulho como um arranhar da garganta e acabamos
transando no meu sofá.
Mas aqui vejo que Thales me ouviu, mesmo quando pensei que não.
Não noto sua aproximação até ter suas mãos rodeando minha cintura
e seu hálito quente faz coçar minha orelha.
— Você está linda, creio que não tenha dito isso antes.
Ele falou três vezes pelo menos, quando nos encontramos na entrada
do restaurante, ao puxar a cadeira para me sentar e ao servir minha taça de
vinho.
— Mesmo que tenha falado, ainda quero ouvir você dizer que sou
linda — murmuro sem me virar.
Suas mãos saem da minha cintura, passa pelas minhas costas em
uma carícia íntima e fecho os olhos contemplando o seu toque.
— Você é a mais bela de todas, uma pedra preciosa nas minhas
mãos.
Suspiro com o meu zíper sendo aberto. Ele remove a peça que cai ao
redor dos meus pés, me deixando apenas de calcinha e sutiã. Ele morde meu
ombro e deixo um grito escapar pela súbita dor, mas logo Thales está
beijando e sugando a pele, acalmando a dor que ele causou. Ele sobe
lambendo meu pescoço e ao parar no ouvido, sussurra:
— Eu serei o único a te ferir, mas também serei o único a te curar.
Meu corpo vira uma gelatina dentro dos seus braços.
Thales beija meu pescoço e ombro quando suas mãos estão
massageando meus seios duros e pesados.
— Diga o quão você está molhada?
Choramingo.
— Muito, estou escorregando.
Ele ri.
— Terei que provar. — Deixando meu seio, sua mão desce
mergulhando dentro da calcinha.
Mordo os lábios para conter o gemido que sobe pela minha
garganta. Ele toca meu clitóris e estou gemendo e esfregando a bunda no
seu pau enquanto seus dedos entram e saem de dentro de mim.
— Oh, é demais…
Minhas paredes se contraem e gozo em seus dedos.
Estou com a respiração pesada quando tenho dois dedos empurrados
na minha boca e meu clímax explode em minha língua.
— Esse é seu doce sabor, o qual irei ter na minha língua. — Afasta
as mãos de mim. — Deite-se na cama de pernas abertas para mim.
Tiro os saltos e subo na cama fazendo como foi mandado. Olho para
meu homem que olha para o meu corpo como se fosse comer e não duvido
que ele faria tal coisa.
Thales sobe na cama ficando entre as minhas pernas, ele remove a
calcinha e o sutiã. Seu corpo paira sobre o meu então sua boca faminta me
devora.
Ele me beija como se fosse a última vez, mas sei que não será.
Nunca terá uma última vez entre nós.
Sua boca desce passando pelo meu corpo até meus seios onde ele se
alimenta da minha carne macia. Gemendo, morde meu seio esquerdo e
então faz o mesmo com o outro.
Ele continua a explorar o meu corpo, passando pelo umbigo onde
afunda a língua. Agarro seu cabelo loiro implorando para ir aonde quero sua
boca.
Mas esse homem sabe o que é uma provocação e brinca comigo até
estar ao ponto de ter um segundo orgasmos sem ter tocado na minha boceta.
Estou ofegante quando sua boca encontra minha carne sedenta.
Jogo a cabeça para trás sem largar seu cabelo e grito seu nome
quando balanço meu corpo, gozando.
Sua língua gira no meu clitóris e sua voz rouca se faz presente:
— Uma suculenta cereja.
É assim que ele se refere ao meu botão do prazer.
Thales se afasta apenas o tempo de colocar uma camisinha e voltar
para cama se posicionando entre as minhas pernas. Seu pau grande e grosso
encontra a passagem apertada da minha boceta. Ele empurra ganhando
espaço e quando está completamente dentro, nossos olhos duelam.
Thales entra e sai com suaves estocadas, ele não me fode, ele faz
amor.
Nosso corpo é uma mistura de membros se esfregando.
Minhas unhas vão deixar marcas nas suas costas amanhã, como
meus quadris ficarão com marcas onde suas mãos apertam, porém, não nos
importamos, afinal somos apenas duas almas que se conectaram para
sempre.
— Eu te amo. — Eu nunca falei essas palavras, mas meus olhos já
falaram, contudo, quero que ele escute essas três palavras saindo dos meus
lábios.
Ele me olha antes de abaixar a cabeça e beijar meus lábios, suave e
carinhoso, no mesmo ritmo que entra e sai. Seu pau pulsa no mesmo
momento em que minha boceta aperta e um arrepio desce por minha
espinha.
Thales quebra o beijo, voltamos a nos olhar e gozamos assim, um
assistindo à expressão do outro.
Depois que nosso corpo se acalma, ele sai de dentro de mim, me
puxando para seus braços, onde descanso a cabeça em seu peito, ouvindo
seu coração.
Parece que passou muito tempo até que ele quebrar esse silêncio
confortável.
— Você é uma das poucas pessoas com quem me importo.
Será essa a forma de Thales dizer um eu te amo?
Não me importo se for, pois, vejo isso nos seus olhos.
— Eu vejo — digo sonolenta.
— Também vejo — ele responde.
Fecho meus olhos deixando o sono me levar.
Esse dia foi o melhor, fiz amor com o cara que amo em uma cama
que sonhei em ter a minha primeira vez.
Nada vai estragar essa felicidade...
Sorrio e durmo.
CAPÍTULO 12

Eloá Moore

Eu não sabia que o amor nos faria tão feliz, afinal não consigo parar
de sorrir e minhas bochechas devem estar coradas com as lembranças que
rodeiam minha mente do que aconteceu noite passada.
Thales me amou até o sol entrar pela janela, nos avisando que a
noite passou e era um novo dia, cheio de possibilidade.
Quando ele me deixou em casa, me deu o beijo mais longo que já
tivemos, então olhou nos meus olhos e falou, “te vejo a noite”.
Queria dizer, “vamos passar o dia na cama”, mas sei que ambos têm
compromissos que não podem faltar.
— Tem duas mesas que precisam ser atendidas, senhorita Moore.
Deixa para sonhar quando estiver no seu horário de descanso.
Me assusto com sua voz grave de Oliver, que está parado ao meu
lado e balanço a cabeça.
— Desculpa, senhor, isso não irá se repetir. — Me viro para sair.
Dou dois passos de distância quando ele me chama.
— Estou contente que esteja feliz, senhorita Moore.
Olho em sua direção, mas Oliver já se foi.
Ele é rígido, porém, do jeito dele gosta de todos aqui do restaurante,
até dá Patrícia que o tira do sério falando muito.
Atendo as mesas e passo as próximas horas assim. No meu horário
de descanso normalmente vou para o parque, mas hoje prefiro ir para o
quartinho que é disponibilizado para os funcionários e cochilo por uma
hora.
Estou com sono, afinal não dormi absolutamente nada noite passada
e o cochilo é bem-vindo.
Depois desse tempo, volto ao trabalho me sentindo melhor.
Quando chega a minha hora de ir embora, passo no mercado, pois,
meu sorvete acabou e quero comprar pipoca para assistir a um filme com
Thales.
Hoje não terá sexo, quero apenas curtir a companhia do meu
namorado.
Meu empenho de subir a escada aumenta quando vejo seu carro
estacionado no outro lado da rua.
Quando chego no meu andar, estou ofegante, mas não paro, empurro
a porta e entro, o encontrando no meio da sala, de terno.
Um homem implacável.
— Essas roupas não vão servir para o nosso programa de hoje —
comento abrindo as sacolas e falando o que comprei. — Pipoca para o filme
que deixarei você escolher, sorvete para logo depois, o que você me diz? —
Sorrio, porém, meu sorriso morreu quando começo a notar coisas que deixei
passar com minha euforia quando o vi.
Ele não veio me beijar como de costume, mas acima de tudo o
homem parado no meio da minha sala não é o mesmo que se despediu de
mim, essa manhã.
Deixo as sacolas em cima do sofá e me aproximo dele,
cautelosamente.
— Oi, aconteceu alguma coisa? — pergunto com cuidado.
Seus olhos frios sustentam os meus então um papel é erguido e
posto no meu campo de visão.
— Preciso que você assine estes documentos.
Thales não responde a minha pergunta e quando me manda assinar
os papéis, não sinto calor na sua voz, ela é fria e calculista.
— Do que se trata esses papéis?
Suas sobrancelhas se levantam.
— Não tem importância... Teria se você tivesse uma escolha, coisa
que você não tem.
Com a mão trêmula, passo pelo cabelo tentando encontrar a graça
no que ele fala, mas não consigo.
— Como que não teria uma escolha? Você está brincando? Porque
não tem graça, Thales.
Ele me olha como se eu fosse um inseto que pudesse pisar a
qualquer momento. Minha vontade é de encolher, mas não faço isso,
levanto o queixo à espera de uma explicação que não demora a chegar.
— Esse é um documento que já está assinado por mim, e no exato
momento que você parar de ser uma tonta e assinar, estaremos casados.
Sorrio e ele me olha parecendo perturbado com minha reação ou
falta de uma.
— Essa é a forma de você me pedir em casamento? — Rio
enrolando meu cabelo que estava no meu rosto e o deixo preso no topo. —
Temos pouco tempo de namoro, não podemos nos casar assim, vamos com
calma, tá bem?
— Você é mais inteligente do que isso, Eloá. Não seja a porra de
uma burra que não entende o que está acontecendo aqui. Você vai assinar
esses papéis agora.
Dou um passo para trás.
— Você perdeu a cabeça? Não irei me casar e você não pode me
forçar a isso. Agora sai do meu apartamento. — Viro, indo abrir a porta,
mas não chego a alcançar a maçaneta, pois paro assim que ele começa a
falar.
— Você sabia que a minha empresa, a Boseman é proprietária de
vários restaurantes, inclusive o que você trabalha?
Ele está com um sorriso predatório.
— E o que isso tem a ver com essa loucura de casamento?
— Essa é a pergunta que esperava que fizesse, ou você assina os
papéis e nos casamos ou vou demitir todos que trabalham lá. E tenho poder
para fazer com que eles nunca consigam trabalhar em outro lugar.
Balanço a cabeça.
— Por quê? O que eu te fiz? Você não é assim.
Thales, não é esse homem sem uma humanidade nos olhos.
— Esse sou eu de verdade, minha cara. Você conheceu a
personagem que criei para conquistar sua confiança e saber todos os seus
pontos fracos. É isso que eu faço, estudo meu adversário e quando sei onde
atacar, dou minha jogada final. Você se importa com aquelas pessoas e fará
qualquer coisa para não ferrar com suas vidas, não é mesmo?
Com passos lentos me aproximo dele, sentindo meu rosto banhado
de lágrimas.
— Você está mentindo, não faria isso.
Thales puxa do bolso o celular.
— Quer experimentar? — cantarola.
— Eu te amo. — Seguro seu olhar, voltando a repetir. — Eu te amo,
Thales. Eu te amo tanto que as suas palavras são como punhais no meu
coração. — Encosto a testa em seu peito sentindo o cheiro do seu perfume.
Suas mãos seguram meus pulsos, me afastando dele.
— Não me importo com seu amor, quero aqueles papéis assinados
agora.
Engulo algumas vezes para conseguir falar.
— Depois que eu assinar não irei te perdoar. Eu não vou perdoá-lo,
você está ciente disso?
— Não me importo com amor, Eloá, existem coisas mais
importantes que essa besteira.
Fico em silêncio, ele mostra o celular e sei que não tenho mais
tempo.
— Tudo bem, eu assino, mas com uma condição.
— Você não está em posição de fazer exigência, Eloá.
— Não ligo, é pegar ou largar. Quero um documento garantindo o
trabalho dos meus amigos e se eles forem demitidos, ganharão uma boa
grana e conseguirão encontrar trabalho onde quiserem. — Mesmo com os
olhos escorrendo lágrimas, olho para ele, firme. — Eu não assino nada sem
esse documento!
O tempo estende entre nós até que ele assente.
— Tudo bem, minha noiva, vou te dar o seu presente de casamento.
Agora já está tarde para resolver este tipo de documento, mas amanhã você
será minha.
O deboche em sua voz me ferve o sangue.
— Você tinha dito que tem pipoca…
— SAIA, SAIA DA PORRA DO MEU APARTAMENTO!
Ele fez isso de propósito, eu sei disso.
Passando por mim, Thales sai, tranco a porta e então caio no chão.
Um grito sofrido sobe pela minha garganta e o deixo sair junto com as
lágrimas. Meu peito parece que está se rasgando ao meio, então choro e
grito até não ter mais forças para sair do chão.
Passei anos sem acreditar no amor, afinal depois de tudo que passei,
o amor de um homem não era algo que queria na minha vida, mas o
encontrei. Thales me fez ver o mundo com outro olhar e quando ele olhava
para mim e sorria, me apaixonava mais um pouco. Até que ele veio e
arrancou meu coração do peito e esmagou entre os dedos.
Não sei se vou sobreviver depois disso.
CAPÍTULO 13
Eloá Moore

— Acalme-se — digo a mim mesma quando espero o farol fechar


para atravessar a rua até um café.
Antes do farol fechar, um senhor com deficiência visual, tenta
atravessar, mas o seguro, avisando que não é hora de atravessar. O farol
abre então o ajudo a atravessar a rua. Ele segue para seu destino e eu para o
meu.
Preciso de alguém para conversar e esse alguém é a minha melhor
amiga, Scarlett. A última vez que a vi foi quando pegou suas coisas e
depois disso nos falamos pouco, pois ela está sempre ocupada.
Mas dessa vez a fiz vir me ver, fazendo uma ameaça sem fundo
algum, ou ela vinha me ver, ou ligaria para a polícia.
Só não estava pronta para ver minha melhor amiga com um
barrigão.
Ela está grávida!
Meus olhos seguem entre a enorme barriga e seu rosto.
— Você tá grávida, você tá grávida, você tá grávida. — Começo a
balbuciar e ela segura em cada lado do seu rosto.
— Respira e solta o ar devagar. Vamos tomar um chá, então
conversamos.
Balanço a cabeça concordando, mas a verdade é que é um gesto
automático.
Entramos na cafeteria onde marcamos de nos encontrar e nos
sentamos em uma das mesas.
Scarlett, me deixa na mesa, vai fazer nossos pedidos e ao voltar se
senta na minha frente.
Não falamos nada, apenas olhamos uma para a outra. Foco na sua
barriga, afinal não são todos os dias que sua melhor amiga some e reaparece
grávida.
Uma atendente traz nosso chá, bebemos o líquido quente e na
metade da caneca, falo:
— Há quanto tempo você está grávida? Meu Deus, você foi
estuprada é isso? Se for isso vamos na polícia. Algumas mulheres têm
medo, mas você não precisa ter, Scarlett.
Minha mente gira em todos os cenários possíveis e ela me olha
horrorizada.
— Eu não fui estuprada, pelo amor de Deus! Acalme-se, Eloá, que
irei contar tudo do começo.
Balanço a cabeça, concordando.
— Okay, vamos lá.
Respiro fundo e ela começa a narrar tudo o que aconteceu a ela
nesse intervalo de tempo que ficamos sem nos ver. Quando Scarlett termina,
olho para ela como se estivesse olhando para uma estranha.
Não posso crer que ela passou por tudo isso e não me contou nada.
Afasto a mão que estava segurando a sua por cima da mesa, pois
necessito de um pouco de espaço.
Há menos de vinte e quatro horas, descobri que o homem a quem
entreguei meu coração mentiu e agora outra parte minha está dilacerada ao
saber que mais uma vez fui enganada.
— Eu achei que éramos amigas, melhores amigas — me esforço a
dizer, pois, minha garganta trabalha para engolir e sinto que tem um bolo
atravessando minha garganta.
— Nós somos, Eloá — fala apressadamente.
— Não, não somos. Eu nunca esconderia algo assim de você, afinal
meu momento mais doloroso eu dividi com você. E, agora, descubro que
você passou meses sem me falar o que estava acontecendo a você. — As
lágrimas que estava a todo custo recusando a derramar, escorrem livre pelo
meu rosto.
Estou decepcionada e magoada.
— Se não tivesse ameaçado ir à polícia você ia me falar? —
pergunto com a esperança de ter uma possível chance dela querer ter me
contado, mas quando sua cabeça se abaixa, a verdade está diante de mim.
— Não.
O silêncio entre nós se quebra com a minha risada, mas não é uma
risada feliz, é uma dolorosa, uma cheia de tristeza e decepção.
Não ligo de limpar as lágrimas que vazam dos meus olhos.
— Por quê? Por que você não quis me contar? — Minha voz é um
sussurro.
— Você é certinha demais, nunca iria concordar com essa minha
decisão.
Certinha, eu?
Deixei um homem fazer coisas comigo, por isso não diria que sou
santa, mas uma coisa sei que nunca faria, nunca julgaria a escolha de vida
de ninguém, muito menos da minha amiga.
— Eu não tenho que concordar com nada, a vida é sua, Scarlett.
Pode ter certeza de que não iria te julgar nunca.
Seus olhos enormes refletem arrependimento e lágrimas escorrem
silenciosamente.
— Eu sinto muito por ter escondido, me perdoa, Eloá. — Scarlett,
puxa minha mão, suplicando.
— Prometa que nunca irá mentir novamente, seja o que for? — Não
sei se posso lidar com mais mentiras.
— Eu prometo.
— Então eu te perdoo. Você é minha amiga, eu te amo e não posso
te odiar.
— Também te amo.
Sorrimos entre lágrimas.
— Você não o ama? — Aponto o dedo para sua barriga.
Ela falou que é apenas uma barriga de aluguel e que terá que
entregar o bebê ao pai. Não posso imaginar, ter um filho e não poder ficar
com ele.
— Eu o amo, mas não deveria. Depois do seu nascimento não vou
mais vê-lo.
— Eu sinto tanto. Não posso imaginar ter um filho e não poder ficar
com ele. Você e Joseph não tem nada? Do tipo querer ser um casal de
verdade?
O corpo de Scarlett fica tenso com a minha pergunta, então limpa as
lágrimas antes de responder.
— Ele não me quer, era apenas sexo. Joseph quer um herdeiro e está
me pagando para isso.
O olhar de apaixonada em seu rosto me faz ver como ela queria
estar com o pai do seu bebê.
— Oh, amiga, vejo que você se apaixonou. Achei que esse dia
nunca ia chegar e quando chegou se apaixonou logo por um bilionário
babaca. — Rio para quebrar o clima tenso.
— Me apaixonei por quem não me quer, grande sortuda que sou. —
Suspira parecendo estar cansada.
— Ele sabe dos seus sentimentos?
— Não e não importa. Como falei, Joseph só se importa pelo bebê e
nada mais.
— Quando tudo acabar, o que você vai fazer?
— Ainda não sei. Estou vivendo apenas o agora e falando nisso, o
bebê está mexendo.
Em um impulso saio da cadeira para pôr a mão na barriga da
Scarlett e sorrimos ao sentir o pequeno chute.
— Forte como a mãe — comento e ela sorri toda boba.
Volto para o meu lugar e continuamos a tomar nosso chá enquanto
Scarlett pergunta sobre minha vida. Quando a chamei aqui foi para contar
tudo o que estou passando, ter alguém para ver a situação por outro ângulo
e possivelmente encontrar uma saída.
Mas não posso falar nada quando ela está grávida e cheia de
problemas. Forço um sorriso, que presumo que ela possa acreditar, e falo
que minha vida está a mesma chatice de sempre.
Scarlett não faz mais perguntas e fico grata.
— Não precisa me levar para o trabalho, Scarlett, posso ir de ônibus
ou pegar um Uber.
Depois que saímos do café, ela insiste em me levar para o trabalho,
só que não quero ir hoje e não posso falar que não vou ou Scarlett vai
desconfiar.
— Estou com o James e ele pode me levar para qualquer lugar. E,
não é como se eu tivesse outra coisa para fazer. Será bom passar mais um
tempo com você.
— Se não estou atrapalhando, então vou aceitar. — Não vejo outra
saída a não ser aceitar, pois, ela sabe que não fico sem trabalhar.
— Você não tem outra escolha.
Rimos.
O caminho passa mais rápido do que imaginamos, conversamos
sobre coisas aleatórias e quando o carro parou em frente ao restaurante, nos
despedimos e marcamos de nos encontrar outra vez. Saio do carro e espero
ele sumir na esquina, logo em seguida ando para um ponto de ônibus, afinal
não quero falar ou ver ninguém.
Não chego no ponto quando um carro preto para na minha frente e
Thales abre a porta.
— Entra.
Uma única palavra sendo rosnada para mim, é o suficiente para ter
meu sangue fervendo de raiva, mas entro no carro.
Não é como se eu tivesse outra escolha, não é mesmo?
Ficamos apenas nós, as sós, já que um vidro escuro nos separa do
motorista.
Outra coisa que não sabia desse homem, foi que ele tinha motorista.
Eu sabia que Thales vinha de uma família rica, contudo, ele não
escancarou sua riqueza, até hoje.
Seus olhos me olham como se ele estivesse aborrecido com algo que
fiz e nem tenho conhecimento do quê.
— Você contou a ela? — Vira no assento em minha direção e
encolho os ombros.
— Não sei do que você está falando. — Oh, como sei, mas não vou
facilitar a vida desse filho da puta.
— Não lute quando você sabe que irá perder, Cerejinha.
Sua voz é branda, quase amorosa e se não fosse seus olhos frios,
poderia acreditar que ele está falando isso para o meu bem, só que estou
diante de um bilionário, filho da puta, implacável.
— Não me chama mais assim, nunca mais. — Fecho as mãos em
punho.
— E, por que não? — debocha.
— Porque lembro quando acreditava que aí dentro do seu peito batia
um coração. Só que agora sei que você é tão vazio quanto os seus olhos que
um dia amei quando me olhava com paixão fingida. — As palavras
escorrem da minha boca com tamanha facilidade que só me dou conta do
que falei ao fechar a boca.
Thales, me olha por um segundo, então seu rosto é virado para rua e
um envelope é posto nas minhas coxas.
— Assina, agora — diz em um grunhido.
— Não vou até que…
— Segunda página, está o que pediu — diz me cortando quando
seus olhos voltam para mim.
— Essa será a única vez que irei aceitar um pedido seu, Eloá, não
esqueça disso. Poderia ter feito você assinar da minha maneira, só que sou
um noivo que tenta fazer as vontades da sua amada noiva — diz com um
sorriso debochado.
Abro o envelope e dentro encontro três folhas. Leio cada uma até
aquelas letrinhas pequenas. Ele já me ferrou uma vez, não me surpreenderia
tentar uma segunda, só que não vou permitir que isso aconteça. A primeira
folha está falando sobre o casamento, onde diz que não tenho direito a pedir
o divórcio e a multa é mais do que se eu vivesse cem vidas poderia pagar.
Não tenho direito a sua fortuna, mas terei direito aos caprichos de uma
mulher de um bilionário. Cartão sem limites, joias, roupas e uma equipe
para me arrumar. A segunda folha é sobre o sigilo que terei que cumprir.
Meus pais, amigos, qualquer um não pode saber de nada sobre isso, ou os
pedidos que fiz que está na terceira folha, sobre o trabalho das pessoas que
trabalham no restaurante será anulado e eles nunca conseguirão encontrar
um novo trabalho. Pego a caneta que está dentro do envelope e assino meu
nome, devolvendo para ele logo em seguida.
— Então, querida, esposa, você falou para sua amiga algo sobre
nós?
Quero gritar, não há um nós, mas não digo nada.
— Não falei nada, foi apenas uma conversa de amigas.
Ele estuda meu rosto e presumo que seja para ver se estou mentindo.
Quando não encontra nada, assente.
— Ótimo que continue assim para o bem dos seus amigos. Agora
saia e seja bem-vinda a sua nova casa.
Não tinha percebido que o carro parou até Thales falar.
— Eu preciso pegar minhas coisas — murmuro olhando para fora da
janela, onde uma mansão se estende.
— Você não precisa de nada que está naquele apartamento, tudo que
precisa já foi providenciado.
“Não, nada que preciso está aqui”, penso.
Ele sai e sigo para a minha nova vida.
CAPÍTULO 14

Eloá Moore

Paro meus passos para contemplar a linda fonte em frente a mansão


que tem três estátuas de tamanhos diferentes. A maior, no topo, segura um
jarro onde brota água dele e escorre para a jarra da segunda estátua
mediana, que faz o mesmo para a pequena que, por fim, finaliza o percurso
da água na fonte cristalina.
É lindo!
Dou um passo para mergulhar minha mão na água quando a voz me
para.
— Não tenho o dia todo para ficar olhando uma fonte. Vamos logo
entrar, quero mostrar a casa e acabar com isso.
Percebo que não há animação na sua voz quando fala que vai
mostrar a casa. Sinto como se fosse o seu jeito de dizer, “sua linda prisão
dourada”.
Deixo a fonte para trás e sigo Thales. Mesmo quando vejo um
jardim não paro, tenho esperança de que por sorte fique longe dele depois
que mostrar a casa.
Subimos um lance de escada pintada de branco até a área que leva a
porta que se abre antes que a alcançássemos, e de dentro sai uma senhora
que parece ter a idade da minha mãe. Ela usa uma touca na cabeça e está de
uniforme, imagino ser uma das empregadas da casa.
Só que essa tem privilégios, sei disso, pois quando vê o filho da
puta, sorri ao cumprimentá-lo calorosamente.
Por incrível que pareça, ele sorri para ela como sorriu uma vez para
mim.
— Vejo que trouxe companhia. — A senhora dá um sorriso
carinhoso para mim.
Porém, não devolvo.
Se é próxima a ele, deve saber o que o filha da puta faz e, por Deus,
deve até compactuar com tudo.
Ele me puxa para seus braços, e meu corpo enrijece perto dele.
— Não é uma companhia qualquer, Ruth, essa é a minha esposa,
Eloá Moore Boseman.
A senhora nos olha como se quisesse fazer alguma pergunta, mas,
por fim, sorri.
— Seja bem-vinda, senhora, sou Ruth, a governanta e cozinheira,
espero que possamos ser amigas.
Assinto sem dizer uma única palavra, então ela volta a Thales que
discretamente está apertando meu braço.
— O senhor quer algo especial para comer?
— Não, Ruth, mas a minha esposa possa querer…
Eles viram para mim e encolho os ombros.
— Vamos ver a casa, lembro que estava ansioso para me mostrar —
falo com deboche.
Eles com esse showzinho bizarro estão me deixando com os nervos
à flor da pele.
— Prepara carne assada e você pode escolher o que pode
acompanhar — ele diz.
— Sim, senhor — com um comprimento ela volta para dentro, tento
me afastar, mas ele me para aproximando o rosto do meu.
— Você não vai ser uma cadela com a Ruth. Essa senhora tem o
meu respeito. E, para ficar claro, ela não faz ideia do nosso acordo e espero
que continue assim — ele rosna cada palavra. — Se nessa cabecinha está
passando que a trouxe para uma casa que as pessoas são como eu, está
enganada. — Seu dedo passa sobre meus lábios e mordo com vontade, o
fazendo rir. — Ninguém é como eu, querida. Agora seja a pessoa doce que
é e cumprimente todos com respeito, estamos entendidos?
— Você pode me forçar a me casar com você, mas ser doce,
tradução de otária, não pode. — Me solto do seu aperto entrando na casa.
Ele vem logo atrás de mim e antes de nos guiar para o interior,
murmura:
— É aí que você está enganada, Eloá. Posso fazer qualquer coisa
com você que ainda vai pedir por mais.
Eu o ignoro, seguindo para um tour na mansão.
Passamos por duas áreas gourmet bem decoradas que estão
preparadas para receber grandes festas e mentalmente peço a Deus que tão
cedo ele não invente em dar uma festa.
Pelo tamanho do espaço, concluo que comporta muitos convidados.
No andar de baixo há três quartos, dois banheiros, um lavabo,
cozinha com despensa, mas não chego a entrar na cozinha.
Thales parece estar com muita pressa para acabar logo com isso.
Saímos por uma porta que dá acesso ao quintal onde uma piscina
enorme toma conta de uma boa parte do quintal, onde algumas mesas e
cadeiras com espreguiçadeiras enfeitam o seu redor.
Thales nos leva para a área da academia, então voltamos para
dentro, subimos a escada até o quarto que ele diz ser o master.
— Os outros quartos você pode olhar com o tempo, afinal tempo é o
que você mais terá. Esse é o nosso quarto, suas coisas já estão no banheiro e
no closet. A casa é sua, pode mudar qualquer coisa e fazer o que quiser.
Thales, continua falando, mas não escuto nada depois do que ele
falou sobre o quarto ser nosso. Olho para a cama king size com lençóis de
seda preto e depois de volta para ele.
— Eu quero um quarto apenas para mim.
Seus olhos putos miram em mim, mas antes de falar qualquer coisa
seu telefone toca.
— Fala, Steven.
Ele se afasta para a varanda, fala no telefone e quando volta aponta
para cama depois para nós.
— Esse é o nosso quarto e quero você nele, não tem acordo, Eloá. A
minha esposa dorme ao meu lado.
Cruzo os braços.
— Não têm medo de te matar quando estiver dormindo? — digo em
um grunhido.
— E você não tem medo de que a foda?
— Vá à merda!
Ele gargalha.
— Te vejo à noite, esposa.
Thales passa por mim, saindo do quarto, então me dou alguns
minutos para respirar.
Dormir com ele?
Nunca!
Vejo um sofá no canto do quarto que será a minha cama. Não tenho
qualquer animação para ver o guarda-roupa e nada nessa casa.
Decido ir para a cozinha e me redimir pela atitude que tive com a
senhora.
Encontro uma mulher e um homem que estão falando sobre mim,
mas ao me notar param e Ruth sorri carinhosa.
Eu me sinto até culpada por tê-la tratado daquela maneira.
— Oi — cumprimento meio sem jeito.
— Deseja algo, senhora?
Ruth para o que está fazendo para vir ver se preciso de algo.
— Não, só queria conhecer os demais e pedir desculpa pela forma
que agi na entrada.
— Não se preocupe, senhora, como falei vamos ser boas amigas.
Essa é Verônica, a ajudante e o Chris, o motorista.
Ela me apresenta os dois que estão na cozinha. Verônica, faz um
gesto com a cabeça na minha direção e Chris abre um grande sorriso.
— Se precisar ir a algum lugar pode me chamar, senhora.
— Pode deixar que chamarei. Peço que me chamem apenas de Eloá.
Ruth franze a testa.
— Mas você é a senhora desta casa, precisa ser tratada como tal.
“Não foi minha escolha ser a senhora”, penso.
— Eu sei, Ruth, mas ser chamada de senhora não me faz sentir bem,
prefiro somente Eloá.
— Tudo bem, Eloá, deseja tomar uma bebida para se refrescar?
— Não, mas posso ficar aqui?
Todos me olham como se tivesse perdido a cabeça, mas mais uma
vez Ruth com seu jeito alegre me faz sentir bem.
— A cozinha como toda a mansão é sua, pode ficar onde quiser.
— Ótimo, vou ajudar a descascar os legumes.
Ela assente me entregando o que preciso e logo estou interagindo
com eles de igual para igual.

Thales Boseman

— Os acionistas estavam ansiosos para te conhecer. Essa reunião era


para eles saberem se não iria cometer um erro em estarem investindo na
empresa Boseman, Thales — Steven fala sentado em uma cadeira na minha
frente.
Por uma hora e meia, participei de três reuniões com pessoas que
são importantes para a empresa.
Hoje tomei a frente da empresa e como esses filhos da puta não
perdem tempo, quiseram marcar uma reunião com urgência.
Estava mostrando a casa para Eloá quando Steven ligou falando que
eu precisava estar aqui.
— Eu sei como as coisas funcionam, Steven. Agora eles estão
tranquilos, fiz com que eles sentissem que seu dinheiro está bem investido e
seguro.
O rosto velho de Steven se enruga em um sorriso.
— Agora que está tudo resolvido, você poderia me deixar à frente
de tudo e curtir com sua ruiva.
A imagem do rosto da Cerejinha aparece na minha mente.
Tenho certeza de que ela não irá curtir nada comigo, até porque se
casou por causa de ameaças, todavia, não importa se ela gosta ou não de
mim, tinha um trabalho para fazer, fiz e pronto.
— Não preciso, Steven, está tudo sob controle. Se caso precisar de
algo falo com você.
Ele força um sorriso que não alcança seus olhos envelhecidos.
— Tenho mais experiência que você com essa empresa, Thales. Não
é como se fosse a sua empresa que tinha acabado de entrar no mercado, essa
vale bilhões.
— Não tenta fazer parecer que não entendo como cuidar de uma
empresa, Steven. Não sou mais o moleque que você conheceu, sou Thales
Boseman, CEO da empresa Boseman. — Faço uma pausa, olhando com
meus olhos frios. — Quando precisar te chamarei. Agora, se não tem nada
para dizer, retire-se, pois tenho que trabalhar.
Tenho respeito por esse senhor, contudo, o meu respeito com ele vai
até onde o dele vai por mim, e Steven me desrespeitou, afinal o deboche na
sua fala não me passou despercebido.
— O meu telefone estará à disposição. — Ele se levanta fechando o
terno e sai.
Ligo para minha secretária e peço para ela trazer a movimentação da
empresa nos últimos três anos, pois esse foi o tempo que Steven falou que
meu pai estava desviado dinheiro.
Antes de qualquer coisa, quero saber o valor e como a empresa
funciona.
Essa semana será trabalhosa.
CAPÍTULO 15
Thales Boseman

Ajusto a visão com o escuro do quarto quando a escuto se mexer no


meu lado da cama.
Cheguei tarde em casa, mas consegui adiantar bastante coisa. Não
tenho um número exato da quantia desviada, porém, já tenho uma noção de
como a empresa funciona. Pretendo contratar uma equipe para rastrear para
onde o dinheiro foi parar, desta forma saberei se foi realmente o meu pai.
Assim que cheguei em casa, Eloá já estava na cama e sabia que ela
não estava dormindo. Como já tinha comido algo no caminho, tomei um
banho e me deitei. Só que agora depois de fazer barulhos como se estivesse
dormindo, minha esposa está tentando fazer algo.
Espero Eloá abrir a porta e tentar sua fuga, mas me surpreendo ao
vê-la se afastar nas pontas dos pés até o sofá e se deitar.
Esse é o seu plano, dormir no sofá para não dividir a cama comigo.
Fico na cama até escutar sua respiração pesada e detectar que
adormeceu.
Eloá vai entender que dormirá ao meu lado de um jeito ou de outro.
Saio da cama, vou até o sofá, a pego com cuidado para não a despertar e a
coloco na cama, então a embrulho me deitando no outro lado.
Por enquanto, deixo ela ter seu espaço, não tentando aproximá-la.
Acordo com um murmúrio baixo.
Eloá está com a mesma roupa de ontem em frente a penteadeira,
arrumando o cabelo, então me estico na cama e coloco os braços atrás da
cabeça.
— Onde você pensa que vai?
Ela não se assusta e sei que sua guarda está levantada mesmo eu
estando dormindo.
Garota esperta!
— Trabalho, para onde mais iria?
Eu me preparo para começar o dia com discussão.
— Você não vai, é a senhora Boseman e não uma garçonete
qualquer.
Seu pescoço gira em um ângulo meio estranho e seus olhos furiosos
se direcionam a minha pessoa.
— Como é que é? Eu não sou a porra do seu fantoche, Thales, tenho
uma vida que não vou abrir mão.
— Essa vida não existe mais, você não entendeu ainda, Eloá? Você
nunca mais vai trabalhar em qualquer lugar que não seja as obrigações de
uma senhora Boseman. — Saio da cama, estou apenas com a calça do
pijama, e me aproximo dela depositando uma mão em cada ombro.
Nossos olhos se encontram no reflexo do espelho.
— Será mais fácil se você não lutar — falo vendo seus olhos
encherem de lágrimas não derramadas.
— Eu te odeio! — as palavras escorrem da sua boca e meus lábios
se puxam em um sorriso divertido.
— Me sinto feliz porque ainda desperto um sentimento em você,
Cerejinha. — Beijo sua cabeça antes de me afastar. — Eu a quero na mesa
para tomar nosso café da manhã em quinze minutos. — Sigo para o
banheiro, onde descarto a calça e entro no box.
Quinze minutos depois, estou chegando na sala para tomar café e
não a encontro como tinha ordenado.
— Ruth, onde está a minha esposa?
Ela me olha com cautela.
— Está na cozinha terminando o café.
Aperto a caneca com raiva, pois mais uma vez ela está me
desafiando.
— Avisa que a quero aqui, Ruth.
— Sim, senhor.
Minutos mais tarde, Eloá entra na sala.
— Por que você não está na mesa comendo comigo?
— Porque eu não quero. Isso não é motivo o suficiente?
— Não, não é, você sabe que…
Ela levanta a mão, me interrompendo.
— Não deveria lutar e blá, blá, blá, só que você esqueceu de uma
coisa, querido esposo, não sou obrigada a comer nenhuma refeição ao seu
lado e você não pode fazer porra nenhuma. — Ela ri antes de continuar. —
Porque não estou quebrando nenhuma cláusula do contrato. Você pode
comer suas refeições sozinho e, por sorte, se engasgar com algo e morrer,
seu imbecil.
Observo minha esposa sair da sala com o queixo erguido.
— NÃO É SEMPRE QUE VOCÊ VAI GANHAR, ELOÁ — grito
para as suas costas.
— Não, mais uma vez é satisfatório pra carai.
Rio, pois é esse fogo nela que me deixa duro, tanto que ajusto meu
pau na calça social.
— Tão cedo não entraremos naquela boceta apertada — resmungo
jogando o guardanapo na mesa e saindo.
Não suporto ter que comer sozinho.

Os murmúrios cessam quando as portas do elevador abrem e saio.


Ontem quando estive na empresa com os acionistas, os funcionários não
sabiam que eu seria o novo CEO, mas vejo que as notícias correram.
Passo por eles e entro na sala de reunião.
Mais uma de muitas que prevejo daqui por diante...
Hoje são com os advogados e alguns responsáveis de cada setor.
Quando notam a minha presença ficam de pé, ando até a cadeira da
presidência e ocupo o assento. Com um gesto de mão, peço para que todos
voltem a se sentarem.
— Bom dia, senhores, não irei ocupar muito o nosso tempo, dessa
forma irei ser direto. — Olho para cada rosto que está aqui e continuo: —
Estarei fazendo algumas mudanças, incluindo cortes nos orçamentos e
demissões. Peço que cada um de vocês selecione na sua equipe os que são
necessários nesse momento. Alguma dúvida?
— Por que cortes e demissões, podemos saber? — o responsável do
RH pergunta.
— É um assunto que por enquanto é sigiloso, mas logo estarei
deixando vocês a par de tudo. Mais alguma coisa?
Todos balançam a cabeça negando, então saio da cadeira arrumando
meu terno.
— Reunião encerrada. — Saio da sala e vou para a minha.
Uma quantia muito alta foi desviada e uma equipe está trabalhando
para descobrir onde foi parar. Nada aponta para o meu pai e a única prova
que tenho é a palavra do Steven que descobriu as transferências e apontava
para o meu pai. Mas quando fui averiguar, era só especulação.
Porém, de uma coisa estou ciente, quem roubou é esperto e cobriu
todo os seus rastros. Contudo, estou aqui agora e vou caçar quem roubou a
minha empresa.
Achei que treinar boxe com meu amigo me faria relaxar dos
problemas da empresa e principalmente da Eloá, afinal as semanas
passaram e as coisas entre nós dois só pioraram. Ela me evita a todo custo,
inclusive todas as noites a pego no sofá e a levo para cama.
Eloá passa mais tempo com os empregados do que comigo.
Sei que mereço isso, mas fico puto por querer fodê-la e não
conseguir foder outra.
Desvio de um soco que Joseph tenta acertar no meu rosto, só não
desvio no que ele acerta em meu estômago e me faz agachar.
— Porra, o que deu em você, caralho?
Saímos do ringue tirando as luvas, pegamos uma garrafa de água e
bebemos, ofegantes pelo treino.
— Estou sem sexo e isso está afetando meu humor — ele rosna e
gargalho.
— Porra, bem-vindo ao clube. O que aconteceu com você e a
maluquinha? A última vez que a vi, vocês estavam se comendo.
Joseph nunca está de bom humor e sem sexo é a porra de uma dor
no traseiro.
— Semana passada meus pais foram nos ver depois disso, Scarlett
ficou estranha e me evita a todo custo.
— Humm, será que ela não ficou com medo de vocês estarem indo
para algo mais sério? Se fosse outra garota tenho certeza de que ficaria
feliz, mas não a maluca que você escolheu para ser a mãe do seu filho.
Parece que ela corre de compromissos.
— Não sei, cara, falei para ela que era só sexo depois disso ela ficou
estranha e não sei lidar com essa versão.
— E você dizendo sem complicações.
— Ela é a minha complicação favorita.
— Tá, quanto tempo de gravidez ela está?
— Sete para oito meses, por quê?
— Vi falar que mulheres ficam estranhas quando estão grávidas,
deve ser isso.
— Pode ser... Mas e você, está sumido?
Encolho os ombros, pois não falei para ele que estou à frente da
empresa da minha mãe, Joseph sabe apenas que fechei a minha empresa.
Sem contar que tem o meu casamento que logo ele vai descobrir, mas, por
agora, prefiro não falar nada.
— Eu sou o novo CEO da empresa Boseman, tomei posse da minha
herança.
— Achei que para você fazer isso teria que se casar?
Rio.
— Casar, eu? Não, consegui uma brecha no testamento.
— Entendo, vê se aparece lá em casa. Agora tenho que ir, preciso
passar no restaurante e pegar algo para Scarlett comer.
— Beleza.
Nos despedimos e ele vai embora.
Joseph está fodido com mulher e filho, pois só com a Eloá estou
pirando e não quero pensar em como seria com um filho.
CAPÍTULO 16
Eloá Moore

— Amiga, estou indo para sua casa, você tá aí?


A urgência na voz da minha amiga preenche meu ouvido logo que
atendo. Scarlett, está chorando e já fico em alerta, pois ela nunca chora.
— Sim, estou em casa. O que aconteceu? E o bebê? — Deixo a
revista cair do meu colo quando fico em pé, alarmada.
— O bebê tá bem, quando chegar aí falo tudo. Preciso de você,
Miguxa.
— Vou te esperar.
Ela termina a ligação e saio à procura de Chris para me levar até
meu apartamento antes que Scarlett chegue lá, afinal ela não sabe que não
moro mais lá.
— O que aconteceu?
A voz de Thales me faz parar, postergando a minha missão de
encontrar o motorista.
— Scarlett está indo para o meu apartamento, acho que aconteceu
algo.
Ele empurra mais a porta, dando passagem.
— Vem, que eu te levo.
Se fosse em outra situação, mandaria ele se foder, mas estou
preocupada.
E se algo grave aconteceu com a minha amiga?
Sigo Thales para fora e percebo que seu motorista não tinha
guardado o carro. Presumo que sua visita no meio do dia era algo
importante.
Ele diz para o motorista o meu endereço, assim que entramos, então
se volta para mim, com o rosto visivelmente preocupado.
— Agora me diga que diabos está acontecendo?
Franzo a testa.
— Eu não sei, se soubesse não estaria tão preocupada como estou?
— Não sei, você poderia muito bem, estar orquestrando algo.
Gargalho e quando para a minha crise de riso, enxugo meus olhos
úmidos.
— O manipulador, mesquinho, coração de gelo e desprezível aqui é
você. Eu não faço ideia do que está acontecendo com Scarlett e mesmo que
não te interessa, estou muito preocupada com ela que está grávida.
Thales faz um gesto com a cabeça, não dizendo mais nada.
Eu me viro para a janela e o resto do caminho passa em silêncio.
Ao chegar no meu prédio, subimos a escada rapidamente, pois não
sei qual distância Scarlett está daqui. Sigo para o meu quarto, faço um
trabalho rápido em tirar as roupas chiques e colocar as minhas habituais.
Ao virar, pego Thales me comendo com os olhos.
Fico puta com o meu corpo por corresponder a forma com que ele
me olha, limpando a garganta, fazendo um gesto para meu corpo.
— Por que isso?
Reviro os olhos.
— Essas não são roupas que eu uso e Scarlett vai fazer perguntas
que não posso responder.
— Bem pensado, vou te esperar aqui enquanto você se resolve com
sua amiga.
Quando ele entra no quarto, todas as lembranças de nós aqui, nesse
lugar, enchem a minha mente.
Não acho que sou só eu, pois a forma que ele está olhando para
mim, me faz ver isso.
Thales, dá um passo na minha direção, mas o momento é
interrompido com a batida à porta.
— Ela chegou — aviso já me retirando do quarto.
Não posso me deixar levar pelas lembranças.
Ao abrir a porta, braços são jogados em volta do meu pescoço.
— Amigaaa — diz chorando em meus braços.
— O que aconteceu, Scarlett?
Ela soluça se afastando um pouco para olhar no meu rosto.
— Joseph, aquele cretino me enganou.
Minha língua coça para dizer, “bem-vinda ao clube”, mas me limito
a perguntar o que Joseph fez. Puxando sua mala para dentro de casa, a levo
para o sofá onde me sento e logo ela deita sua cabeça em meu colo. Mexo
no seu cabelo enquanto ela me conta o que aconteceu.
A conversa que tivemos no café foi ouvida pela cadela da Lídia,
uma ex, ou seja, lá o que ela era do Joseph. Ela foi na mídia e disse tudo o
que ouviu naquele dia. Pelo que minha amiga acabou de dizer, Joseph está
com Lídia e quer criar o bebê junto com ela.
— Tem que ter uma brecha na justiça que me faça ficar com o bebê.
Concordo.
— Vamos dar um jeito, não vou deixá-lo tirar o bebê de você.
Farei isso mesmo que tenha que usar o status de senhora Boseman,
afinal aprendi com Thales que com dinheiro podemos comprar tudo e não
vou deixar Joseph tirar o bebê de Scarlett.
— Obrigada — ela murmura.
— Estarei sempre aqui por você, não se esqueça disso — digo
alisando seu cabelo.
Ela chora por mais um tempo e quando cessa afasto sua cabeça do
meu colo.
— Não vai — pede com a voz chorona.
— Você precisa de sorvete e tenho um pote grande para isso.
Um sorriso aparece em seu rosto, me dirijo até a geladeira e capturo
o pote de sorvete que comprei no dia que Thales estourou a minha bolha de
felicidade. Com o pote e duas colheres volto para a sala e entrego uma a ela.
Antes de me sentar, batidas fortes à porta são ouvidas e suspirando
vou atender.
Quando vejo a pessoa que está no outro lado, tento fechar, mas ele
coloca o pé, me impedindo.
— Scarlett, está aqui? — Joseph parece uma mistura de desespero e
chateação.
— Não! — Tento fechar a porta.
Porém, ele dá um empurrão que não me machuca, mas entra na casa.
Meus olhos capturam a presença de Thales que deve ter visto Joseph me
empurrando.
Seu rosto está furioso.
Faço sinal para ele voltar para o quarto e imploro com os olhos.
Para o meu alívio, ele volta para onde estava, afinal não preciso de
mais drama do que já tenho.
Minha amiga conversa com Joseph, ele explica o motivo de ter
saído da forma que fez e que não tem nada com a Lídia. Ainda completa
dizendo que está apaixonado por ela também. Assisto os dois se acertarem e
só interfiro quando as coisas começam a esquentar.
Eu me despeço dela, me fazendo prometer nos ver mais.
Sorridentes, os dois vão embora.
Fico no meio da sala olhando para a porta, pensando como senti
falta de nós duas aqui, comendo besteiras e assistindo algo na TV, parece
que passou uma eternidade desde que isso aconteceu pela última vez.
— Joseph sempre te trata assim? — Thales rosna furioso atrás de
mim.
— Não, os poucos encontros que tivemos ele me tratou bem. Hoje,
ele só queria ver a minha amiga e eu estava o impedindo de fazer isso.
— Ele não tem a porra do direito de tocar em você.
Viro para ele e a forma que seus olhos estão, tenho medo dele
perseguir Joseph.
— Estou bem, nada aconteceu, podemos ir agora. — Ficar aqui, não
consigo, ainda mais com ele.
— Sim, vamos.
Guardo o pote de sorvete, saímos do apartamento e voltamos para a
mansão no perfeito silêncio.
— O motivo que me fez vir no meio do dia foi para avisar que
daremos uma pequena festa, algo íntimo — fala quando estou subindo a
escada.
Enrugo a testa.
— Por quê?
Thales passa a mão pelo cabelo, visivelmente aborrecido.
— Nos casamos há alguns meses e as pessoas estão comentando o
motivo de mantê-la escondida e do casamento ter sido feito às pressas. Não
ligo para essas merdas, mas a agência que cuida da imagem da empresa
sugeriu darmos essa festa.
— E o que você quer que eu faça?
— Organizar, contratar uma equipe, peça ajuda a Ruth. Não sei,
Eloá. Faça o que uma esposa faria.
Viro e termino de subir a escada, afinal não vale a pena dar uma
resposta espertinha ou me aborrecer com ele.
Thales quer uma festa?
Então ele terá a maldita festa.
Olho para ele uma última vez antes de sair, fechando a porta atrás de
mim.
CAPÍTULO 17
Eloá Moore

Alguns meses depois...

Seguro o celular na mão, já se passaram trinta minutos ou uma hora,


não sei ao certo, porém ainda posso escutar a tristeza na voz da minha
melhor amiga.
Dou um sorriso triste e afasto os olhos do celular para a aliança em
meu dedo.
Como poderia olhar em seus olhos e mentir?
Como poderia?
É simples, não posso.
Agora posso entender o motivo de Scarlett não ter me contado sobre
sua gravidez, ela tinha medo do meu julgamento e por ironia do destino
estou quase na mesma situação que ela.
Porém, há uma diferença, não conto para ela e não é porque tenho
medo do seu julgamento, mas porque tem uma cláusula que me impede de
contar qualquer coisa. A outra diferença é que entrei nessa merda toda
porque acreditei no amor.
Amor, um sentimento tão nobre que não passa de uma mentira como
todo luxo que me cerca.
Tudo mentira!
Com a mão delicada limpo as lágrimas que teimam em cair.
Não vou dar esse gostinho a ele de me ver chorando, nunca.
Serei capaz de sair disso tudo algum dia?
— Senhora. — Ruth, a governanta dessa monstruosidade que
chamam de mansão, entra na sala, parando alguma distância de mim.
— O que você precisa? — Minha voz sai em um resmungo.
— A senhora deseja algo especial para o jantar?
Comida era minha maior paixão...
Cozinhar, ver as pessoas comerem e os elogios que vinham a seguir,
era maravilhoso, mas, hoje, me esforço para engolir qualquer coisa.
— Não precisa fazer nada, não vou jantar.
Seus olhos me olham com pesar.
— Mas, senhora, o senhor Boseman não ficará feliz em saber que
não comeu.
Quero gritar, mandá-lo ir se foder, mas respiro fundo, me
controlando.
— Prepara uma sopa.
Ela assente, saindo.
Uma sopa consigo engolir.
Pensando bem, o que venho fazendo muito bem é…
Engolir.
Thales Boseman
Entro pela porta da mansão cambaleando, James tenta me pegar
quando quase caio, subindo a escada.
— Eu posso andar, porra! — rosno com a voz enrolada.
— O senhor Russell me pediu para ficar com o senhor.
Bufo uma risada.
— Joseph não manda no caralho da minha vida, agora saia da minha
casa.
— Não trabalho para o senhor e não recebo suas ordens. Mas é
muito bom não ter que ficar lhe aturando, por isso estou indo.
James vai embora batendo a porta atrás dele.
Bêbado, sigo para o meu quarto.
Não queria estar aqui e ter que olhar para o rosto triste da minha
esposa. Contudo, seria pior ficar longe dessa mulher. Eloá é como um ímã
que sempre me puxa de volta para o seu encanto.
Não posso estar apaixonado, o que sinto é tesão e luxúria, esta é a
resposta para a confusão de sentimentos que sinto em meu peito.
— A culpa é sua, você tá fodendo com a minha cabeça! —
Cambaleio para dentro do quarto, a encontrando deitada no sofá.
— O que está acontecendo? Você bebeu? — pergunta se sentando.
— Bebi e bebi muito para tentar tirar seus olhos tristes da minha
cabeça.
— Vai à merda com seu traseiro bêbado. Se não me quer aqui então
me deixa ir embora.
Passo a mão pela cabeça.
— Eu não posso! Você não consegue entender? — Eu me jogo na
cama de barriga para baixo, murmurando. — Não posso deixar você e nem
a empresa. — Meus olhos se fecham e antes de adormecer, escuto sua voz:
— Então você não me ama.
Ela está certa, não a amo, porque se a amasse estaria os dois
ferrados.
CAPÍTULO 18
Thales Boseman

Cumprimento os convidados sem afastar meus olhos da Eloá, que se


comporta como uma verdadeira matriarca.
Não queria dar festa alguma, nunca gostei dessas merdas,
principalmente quando tenho que ser o anfitrião. No entanto, foi preciso
fazer isso.
No início da semana saiu uma matéria em uma revista falando sobre
o casamento repentino do bilionário solteirão que saiu da pista, que no
caso sou eu. Para calar esses burburinhos, mandei Eloá preparar essa festa e
estou impressionado com o belo trabalho que ela fez.
— Então o meu amigo se casou e não fui convidado? Feriu meus
sentimentos. — Joseph para ao meu lado.
Ele está usando smoking e segura uma taça com champanhe.
Eu previ que ele logo saberia, afinal o nosso mundo é pequeno e a
notícia na revista deve ter chegado rapidamente até ele.
— Foi algo discreto. — Encolho os ombros. — Sabe como é?
Pedido da noiva.
Ele estreita os olhos em minha direção e depois em Eloá que está
um pouco afastada.
— Desde quando você é discreto? — Ele me estuda com suspeita e
suspiro.
— Diga logo o que você quer saber e acaba logo com isso, Joseph.
— O que você está tramando?
— Eu a conheci, nos apaixonamos e nos casamos, qual é o
problema? Você não fez o mesmo?
— Eu não precisava ganhar a minha herança com um casamento,
amigo.
Rio.
— Você precisa relaxar, amigo, tudo está como deveria ser. Agora,
onde está sua esposa?
— Em casa, o Ethan estava enjoadinho hoje.
— Humm, crianças.
Eloá nos vê e anda em nossa direção. Mas antes dela se aproximar,
Joseph pergunta:
— Esse casamento é o motivo dela estar evitando a minha esposa.
— Não faço ideia.
Ele ri.
— Você não vai querer ter a Scarlett furiosa por não poder ver a
melhor amiga, Thales.
— Isso não é comigo, você é o marido, então controle sua mulher
que vou controlar a minha.
— Eu não irei permitir que você faça algo com a Eloá, ela é a
melhor amiga de Scarlett e é uma boa pessoa.
Solto um grunhido.
— Não se intrometa na minha vida, Joseph, Eloá não é problema
seu.
Antes que ele possa rebater, ela nos alcança.
— Joseph, você por aqui? Onde está a Scarlett?
— Ela não pode vir, Ethan está enjoadinho e vim dar os parabéns ao
meu amigo e você, é claro.
Ela nos olha com a testa franzida.
— Vocês são amigos?
— Sim, somos! Meus parabéns, Eloá, que você seja feliz. E faça
uma visita a nós qualquer dia desses, Scarlett sente sua falta. Qualquer coisa
me liga.
Filho da puta!
Ele está falando na minha cara que se ela precisar de ajuda é só ligar
para ele. Coloco um braço na cintura da minha mulher, a puxando para
perto.
— Obrigado por sua presença, Joseph. Agora temos que
cumprimentar os outros convidados.
— Foi um prazer revê-los, Thales, e sejam felizes. Já estou indo, até
logo, Eloá.
— Até logo, Joseph, manda um beijo para a Scarlett.
— Mandarei.
Levo Eloá para longe do meu amigo que nos olha com o cenho
franzido.
Espero que Joseph não seja uma pedra no meu sapato.
Eloá Moore

— Que festa linda, estou impressionada! Sinto que estou em uma


festa que foi organizada por Lila.
Uma senhora se aproxima para me cumprimentar e ao seu lado está
uma jovem que aparenta ter a minha idade.
Thales de longe nos observa enquanto conversa com algumas
pessoas e dou um sorriso simpático.
— Fico feliz que esteja agradando a senhora. Tenho que confessar
que tive ajuda, pois é minha primeira festa como senhora Boseman.
A senhora franze a boca.
Percebo que ela é educada para não gostar de mim, mas vem me
cumprimentar e elogia a minha festa.
— A senhora Boseman era para ser a minha filha, Sabrina…
Presumo que Sabrina seja a mulher que está ao seu lado, me olhando
dos pés à cabeça, como se eu não pertencesse a esse lugar.
Uso um vestido prata, elegante, meu cabelo está preso em um
penteado simples e não uso muita maquiagem, como sempre.
— No entanto, o destino e o amor me trouxeram para a vida de
Thales e agora estou aqui. — Bebo a água na minha taça, vendo seus rostos,
furiosos.
Thales deixou bem claro que precisamos parecer estarmos
apaixonados e não cairia bem se respondesse que ficaria mais que feliz em
deixá-la no meu lugar.
— O destino pode mudar, senhora — Sabrina fala com um sorriso
então olha para Thales que devolve o olhar.
Eu sei que eles já tiveram algo e ela quer ser a senhora nessa casa.
Minha garganta aperta e sinto algo no meu coração...
Traição, ciúmes?
Não sei dizer ao certo, só sei que é uma sensação desagradável.
— Afirmo a você que pode, mas ainda serei a senhora e você a puta
que trepou com meu marido.
Seus olhos se arregalam e sorrio abertamente.
— Se me derem licença, vou cumprimentar os outros convidados,
sintam-se à vontade.
Não vou aceitar que ninguém me coloque para baixo como essas
duas tentaram, já suporto o suficiente para aguentar mais isso.
Meus passos me levam para a porta dos fundos e sigo para o jardim.
Mereço quinze minutos longe dessa palhaçada.
Faz uma hora que essa festa começou, desfilei segurando no braço
de Thales, sorri e gargalhei como uma esposa apaixonada faria. Então, sim,
mereço respirar.
Sento no balanço e impulsiono o corpo para frente e para trás. Olho
para o céu escuro da noite com as estrelas brilhando, o vento acaricia meu
rosto e fecho os olhos apreciando a sensação de liberdade.
— Para alguém recém-casada, não me parece estar feliz.
Abro os olhos, assustada com a voz grave que sai de uma parte
escura do jardim.
— Quem tá aí? — pergunto e a sombra se aproxima.
Por um minuto, penso ser Thales até ver o homem sob a luz da lua.
Cabelo grisalho, olhos azuis gelo e penetrantes me olham com interesse.
Observo que ele usa smoking.
Não sei quem é, mas certamente faz parte da família Boseman.
— Quem é você? — pergunto parando o balanço.
Ele se aproxima e ocupa o outro balanço ao meu lado.
— Sabe, em noites como essa, ficava aqui com a minha esposa,
observando as estrelas. — Seus olhos se afastam do céu, para mim. — Sou
Dickson Boseman, ou você pode me chamar de sogro. Você se casou com
meu filho, não é mesmo?
— Não sabia que Thales tinha pai. — Minha perplexidade é
tamanha que deixo escapar essa informação. E parece não ser surpresa para
ele que ri como se eu tivesse dito uma piada.
— Imaginei quando você olhou para mim. Pensou que eu era da
família, pela aparência, suponho, mas não o pai do seu marido.
Mordo os lábios por ele conseguir me ler tão bem.
— Não se sinta mal, porque eu não me sinto. Sei o que meu filho
pensa sobre mim, mas a questão aqui é você.
— Eu?
— Sim, uma doce menina, inocente em um mundo cheio de leões
famintos. Não acredito que entrou nessa porque quis.
Encolho os ombros.
— Eu posso lutar as minhas batalhas, senhor. Não pense que sou
inocente como meu rosto aparenta ser, entrei nessa vida por amor.
E foi verdade, entrei por amor só que não é pelo meu marido.
Ele dá um sorriso baixo.
— Você não parece ser alguém apaixonada.
Rio.
— E como seria alguém apaixonado?
Ele impulsiona o balanço como fiz e o acompanho.
— Seus olhos não brilham como os de alguém apaixonado, tem
muita tristeza.
Olho para o céu.
— Estou completamente apaixonada pelo seu filho.
— Você não sabe mentir e não precisa fazer isso para mim. O fardo
que está carregando pode ser mais leve se dividir.
Sorrio, pois, a última vez que confiei em alguém, ele mentiu para
mim. Agora, por ironia do destino esse homem que pede para confiar nele
tem o mesmo sangue de quem me traiu. Então não, não vou confiar nele.
— Não tenho nada para dividir.
— Você me lembra a minha Lila, Deus a tirou de mim, muito cedo.
Se Thales tivesse sido criado por ela e eu não o tivesse colocado em uma
escola para garoto, não seria quem é hoje. — Faz uma pausa, ficando
pensativo, como se estivesse lembrando da sua esposa. — Ele te obrigou a
se casar, eu sei disso, tudo por causa da empresa.
Quero perguntar mais sobre o que tem a empresa e o casamento,
mas não faço. Se fizer isso confirmarei que fui obrigada a me casar.
O pai de Thales para o balanço e firmo meus pés também, parando.
Ele tira um cartão do bolso e me entrega.
— Aí estão todos os meus contatos pessoais, se precisar de qualquer
coisa pode me ligar. Não sou o inimigo, Eloá.
Aceito o cartão e ele me olha mais uma vez.
— Você pode lidar com o fardo, mas ainda pode dividir.
— Como falei, não tenho nada para dividir.
Ele ri.
— Até logo, Eloá Moore Boseman. — Ele caminha para outra parte
do jardim e some na escuridão.
— O que você está fazendo aqui fora? Estou te procurando faz um
tempo.
Afasto os olhos de onde Dickson desapareceu e sigo para Thales que
me olha furioso.
— Vim tomar um ar fresco, mas já estou indo.
— Você estava com alguém?
Penso em falar a verdade, mas não sei se ele vai ficar feliz.
Thales pode achar que falei algo para seu pai como pensou que falei
para Scarlett e, outra, ele tinha dito que seus pais estavam mortos.
Vou deixar Thales achar que eu não sei de nada, afinal informação é
poder, não é mesmo?
— Não, estou sozinha — respondo.
Ele me olha e em seguida estende a mão.
— Vamos.
Não pego sua mão e passo por ele, empurrando o cartão
discretamente entre meus seios.
De volta à festa, Thales nos guia para a escada, subimos dois
degraus, cada um com uma taça de champanhe na mão e ele faz um barulho
que chama a atenção dos convidados.
— Boa noite, senhores e senhoras, eu e minha esposa queremos
agradecer a presença de todos aqui essa noite.
Sorrio, erguendo minha taça.
— Um brinde a nós e ao nosso casamento.
Todos erguem a taça e em seguida bebem. Imito o gesto, porém, não
bebo, apenas encosto a taça na boca.
— UM BEIJO... VOCÊS PASSARAM A NOITE DESFILANDO E
MOSTRANDO O QUANTO SÃO FELIZES, MAS NÃO VIMOS NEM
UM BEIJO — um cara grita, fazendo todos os reunidos concordarem.
Thales chama o garçom para pegar nossas bebidas e sussurro:
— Eu não posso fazer isso.
Ele sorri como se realmente estivesse apaixonado.
— Pode, sim. Não é como se já não tivesse feito e gostado de ser
beijada e possuída por mim.
— Não…
O restante do que ia dizer é impedido com sua boca que cobre a
minha e me beija profundamente, fazendo todos a nossa volta,
desaparecerem.
Agarro seu terno, me segurando para não cair quando tenho minhas
pernas fracas. Meu coração bombeia rápido e forte.
Por um breve momento, sinto como se estivesse morta e voltasse a
vida para depois morrer quando ele vai findando o beijo lentamente até que
nossas bocas estejam apenas próximas.
— Você não deveria me amar, não depois de tudo — Thales fala em
um murmuro, apenas para eu ouvir.
— Eu não te amo.
Ele sorri como antes.
— Não deveria mesmo, mas ainda assim, ama.
As pessoas aplaudem.
— Boseman, se tínhamos dúvida desse casamento, não temos mais.
— O mesmo cara ergue a taça rindo.
Voltamos a nos juntar às pessoas, mas dessa vez não nos separamos.
Não vejo o pai de Thales dentro da casa.
Sorrio até o último convidado ir embora, então subo e vou para o
meu quarto. Removo toda a maquiagem e me dispo para um banho.
Thales não dorme na cama ao meu lado. Ele sumiu e, para ser
sincera, foi bom. Preciso me recompor depois daquele beijo que pode não
significar nada para ele, mas significou para mim.
Não deixamos de amar uma pessoa porque nos feriu, nosso coração
é uma parte pulsante e rebelde que não percebe que vai se ferir ainda mais.

Thales Boseman

Com uma garrafa de vodca na mão, paro no pé da cama e vejo Eloá


dormindo tranquilamente.
Posso sentir ainda o gosto dos seus lábios nos meus.
Esse foi o primeiro motivo que fez com que me trancasse no
escritório e começasse a beber, pois, o gosto dela tinha que sair, ou iria
marchar até o nosso quarto e fodê-la. O segundo motivo foi que se tivesse
vindo mais cedo e me deitado ao seu lado, teria a fodido e quando chegasse
o amanhã, a comeria outra vez e outra vez, e não daria uma merda para
nada.
Só que não posso fazê-la sofrer mais.
Tudo o que fiz foi por um propósito, precisava dela para conseguir
minha herança e foi o que fiz. Embora, uma foda iria deixá-la arrasada e
amanhã o arrependimento acompanhado da tristeza que viriam para ela.
Mas eu não sentiria culpa porque a quero.
Eu a desejo.
Porra, meu pau está dolorido desde o beijo!
Dou um passo para trás quando todo o meu instinto pede para subir
na cama, entrar por baixo dos cobertores e me enroscar no seu corpo
pequeno até o meu pau encontrar o calor entre as suas coxas.
Paro na porta e olho para ela uma última vez antes de sair, a
fechando atrás de mim.
CAPÍTULO 19
Thales Boseman

Uma vez li em algum lugar que não me lembro nesse momento ao


certo onde foi, algo assim… “o amor é livre como um passarinho, você
não pode prender um pássaro, assim como não se pode forçar alguém a
amar”.
Naquele momento, pensei que fosse besteira, entretanto, hoje vejo
que quem nasceu para ser livre não pode ser feliz engaiolado, mesmo que a
gaiola seja dourada. Ele sempre vai preferir a liberdade e quando não tiver
essa liberdade o brilho vai se dissolvendo aos poucos até que não resta mais
nada.
Eloá, mudou e essa mudança foi tão pequena que não me dei conta
até agora.
Quando cheguei em casa hoje, fui recebido por Ruth que me avisou
que Eloá passou o dia no jardim e não comeu nada. Mandei preparar um
sanduíche e vim trazer para ela, mas a tristeza que exala de Eloá dá para
sentir de longe.
E o causador da sua tristeza fui eu.
Ela se afastou de tudo, não foi no casamento de Scarlett que é sua
melhor amiga e nem no nascimento do bebê.
Admito que prefiro que ela lute comigo do que ficar assim.
Existe algo em seus olhos, que vi desde a primeira vez em que nos
encontramos, que só foi suavizado quando ela ria e estava feliz ao meu
lado. Mas eu tirei essa felicidade dela.
Eloá é boa demais para mim e para esse mundo horrível, é por isso
que tenho que a proteger até mesmo de mim. Me manter afastado é o
melhor, até porque ela me odeia e isso é melhor para nós dois.
Eu posso lidar com o depois de uma noite de prazer, mas ela não.
Ela sempre vai querer mais, porque me ama. Nem sei se ela pode lidar com
esse casamento...
Algo precisa mudar ou o seu brilho vai se apagar para sempre.
Me questiono se valeu a pena, forçá-la a esse casamento, afinal
nitidamente ela está infeliz.
Quanto tempo uma pessoa pode viver assim?
Não vou deixá-la definhar aos poucos sem fazer nada.
— Coma. — Empurro o sanduíche, na sua frente.
— Não tenho fome.
Puxo sua mão, coloco o sanduíche nela e em seguida sento ao seu
lado. Ela não come, assim como não diz nada.
— Está planejando fazer greve de fome?
— Não que seja da sua conta, mas esse não é o meu plano. Estou
apenas sem fome.
O silêncio se estende entre nós, até que o quebro.
— Quer fazer um acordo comigo?
Eloá ri, como se eu tivesse feito uma piada.
— Você não faz acordo, Thales, você manipula e então força a
pessoa fazer o que você quer.
Encolho os ombros.
— Você tem razão, mas não hoje…
Eu me aproximo mais do seu corpo, deixando nossos ombros
tocarem, escorrego a mão, pego a dela e entrelaço nossos dedos.
— Eu não sou bom, a maioria das pessoas me odeia. — Sorrio. — E
elas têm motivos, mas não dou a mínima, entretanto, nenhuma delas é você.
Não quero que esteja triste e desistindo como é o que parece ser.
Seus olhos verdes olham para mim, com suspeita.
— Então quer terminar esse casamento? Éramos felizes sem ele, nós
podemos até…
Puxo a sua mão.
— Não, não podemos e não posso terminar o casamento, a empresa
é mais importante. — Levanto do banco.
— Eu já fui importante para você, Thales?
Seguro seu olhar angustiado.
— Não, você não foi. Você é importante para mim, da minha
forma, e não quero machucá-la. Amanhã, o Chris estará te levando para ver
seus pais. Isso é o máximo que posso fazer para vê-la feliz.
Eu a deixo seguindo para fora do jardim, mas não vou muito longe
quando sua voz me para.
— Eu ainda o amo, mas vou fazer de tudo para arrancar esse amor
do meu peito. Ninguém pode ser feliz estando preso, Thales, ninguém.
Sigo para longe.
Ser amado por essa mulher é uma dádiva que não mereço, mas sou
muito egoísta para abrir mão desse amor.
Eu quero o seu amor e quero a empresa, nunca abrirei mão dos dois.
Eloá Moore

O carro para em frente à casa dos meus pais e fico no banco olhando
para a casa.
A última vez que estive aqui foi com Thales...
Naquela varanda foi onde sentamos e contei as histórias da minha
infância. Cada canto dessa casa traz uma lembrança de nós dois juntos.
Não me arrependo em ter dito ontem que o amava.
Sim, eu ainda o amo e uma parte tão tola minha espera que um dia
antes que esse amor acabe, ele diga que me ama também.
A cada dia que passo naquela mansão, me sinto mais longe de mim
mesma. No início era a raiva que me mantinha firme, mas com o passar dos
dias a raiva foi se dissolvendo, então me vi vazia e sozinha.
Ele me jogou naquela mansão para ser sua esposa e mal conversa
comigo. Passei o dia de ontem no jardim para não ter que olhar nos rostos
dos empregados e ver pena.
— Eloá, quer que a espere?
Eu me afasto dos meus pensamentos com a voz do Chris.
— Não, pode voltar para casa, Chris, vou ficar aqui por alguns dias,
não é necessário você ficar.
— Como quiser. Ajudarei com a mala.
— Obrigada, não é necessário. — Pego a pequena mala e saio do
carro.
Espero na calçada até que Chris vai embora para seguir para a porta
da casa dos meus pais.
Faz meses que não venho aqui, mas sinto como se fossem anos.
Nas ligações que tive com a mamãe, ela me contou que meu pai
sempre falava com Thales. Não falei nada para ele que sabia desse contato
que estava tendo com meus pais, pois presumi que era sua forma de ficar de
olho para ver se eu tinha dito algo a eles.
Abaixo em frente a porta e pego a chave embaixo do tapete, aprendi
isso com a minha mãe, de deixar uma chave embaixo do tapete, tanto que
no meu apartamento tem uma.
Destranco a porta e entro seguindo o barulho da televisão. Encontro
os dois sentados no sofá, mamãe tricotando e meu pai assistindo ao jogo.
— Então é assim que vocês ficam quando estão sem mim? — Deixo
a mala no chão para correr até eles e me jogar entre os dois.
— Oh, que surpresa mais agradável! Sentimos saudade, filha —
mamãe diz.
— O que estava acontecendo que ficou sem nos ver? Você nunca fez
isso, Eloá — meu pai pergunta.
Meus olhos enchem de lágrimas com a voz triste do meu pai, mas
engulo para eles não notarem e dou uma desculpa.
— O restaurante teve alguns ajustes e acabei ficando fazendo horas
extras para treinar os novos funcionários. Contudo, estou aqui e quero
aproveitar esse momento com vocês.
Eles trocam um olhar, mas não faz perguntas.
— Você tá com fome? Deve ter passado horas na estrada. Veio de
carro?
— Não, pai, vim de ônibus.
— O que aconteceu com o seu carro? — Ele se afasta um pouco
para olhar em meu rosto, que tento esconder a todo custo para ele não
perceber a mentira.
— Nada, só não queria dirigir.
Papai me encara, talvez à procura de mais explicação, contudo, não
tenho uma para te dar.
— Vou esquentar a macarronada do jantar de ontem.
Minha mãe vai para a cozinha, deixando meu pai e eu, então deito a
cabeça em seu colo e ele acaricia meu cabelo como fazia quando era
pequena. Pisco os olhos algumas vezes afastando as lágrimas.
Estar aqui com eles deixa as minhas emoções à flor da pele.
— Você sabe que estou aqui por você sempre, né, filha?
Balanço a cabeça, concordando.
— Sim, eu sei.
— O que está acontecendo? Você não tá bem. A última vez que
esteve aqui tava tão feliz. Teve alguma recaída?
— Não, pai, não tive nenhuma recaída, mas não quero falar nada,
não quero ter que contar uma mentira para o senhor.
Ele suspira pesado.
Entendo que meu pai só quer me ajudar, mas não posso falar a
verdade, tanto que o anel de casamento deixei na mansão.
— Tudo bem, mas tem algo que quero de você?
Viro no sofá para estar com a barriga para cima e vejo o meu pai.
— O que o senhor quer?
Ele bate o dedo na ponta do meu nariz e ri.
— Quero que enquanto estiver nessa casa, tudo o que está
acontecendo para te deixar assim fique lá fora. Aqui você pode rir,
gargalhar e ser feliz sem pensar em mais nada. Você pode fazer isso,
garotinha?
— Posso, eu posso fazer isso, pai.
— Perfeito, vamos almoçar e então ir para a garagem dar uma
olhada no meu carro. Você ainda sabe sujar as mãos?
Sorrio.
— Sei, e melhor do que você.
Na cozinha, minha mãe nos chama, avisando que a comida já está
quente. Levantamos e seguimos para a cozinha. Ocupo meu lugar na mesa,
assim como meus pais.
— Eloá, poderíamos ir à praia, o que acha? Já faz um tempo que não
vamos.
Engulo uma porção de macarrão antes de responder minha mãe.
— Acho perfeito, mas estou sem biquíni. — Não planejava ir à
praia, então não trouxe roupa adequada.
— Tenho alguns maiôs, um deve servir em você.
— Tudo bem, mãe.
Continuamos a comer e quando terminamos, meu pai e eu ficamos
com as louças enquanto mamãe volta para o seu tricô.
Com a cozinha organizada, seguimos para a garagem.
— Pai, vou dar um pulo no meu quarto e já volto.
— Não tenta fugir.
— Não vou, velho.
Entro no meu quarto, vou até o guarda-roupa e vasculho dentro até
encontrar o macacão que usava na oficina. Ao vestir, percebo que fica um
pouco justo na bunda, mas dá para usá-lo.
Volto para a garagem e papai ri quando me vê.
— De volta aos velhos tempos?
— Sim. O que quer que eu faça?
— Troca o óleo que vou consertar o farol que um idiota quebrou
semana passada.
— E como foi isso?
O trânsito é uma coisa de louco, por isso meu pai é muito tranquilo e
respeitoso, não posso imaginá-lo em uma briga de trânsito.
— Foi no mercado. Passei para comprar o ingrediente que faltava do
bolo que estava querendo assar. Foi questão de cinco minutos, entrei e
quando voltei, encontrei meu farol assim. Falei com os seguranças e eles
viram nas câmeras. Um barbeiro[9] não soube estacionar e fez isso. O pior é
que não esperou, ligou o carro e foi embora.
— Que imbecil! O senhor pegou a placar?
— Não peguei, não vale a pena a dor de cabeça, filha.
— Realmente, e olha o lado bom, vamos trabalhar juntos.
— Tá, vendo? Sempre tem um lado bom.
Rimos e então começamos a trabalhar no seu carro.
Quando era pequena, passava os domingos aqui, na garagem, com
meu pai, e foram momentos maravilhosos, como está sendo agora.
CAPÍTULO 20
Eloá Moore

Quando acordo, encontro aos pés da cama um maiô branco de


bolinhas vermelhas.
Presumo que minha mãe o colocou aqui.
Tomo um banho e visto o maiô que cabe perfeitamente em mim.
Acredito que esse maiô é antigo da mamãe, ela não tem mais corpo
para servir nesse maiô. Coloco um vestido de flanela e desço para encontrar
meus pais na cozinha preparando o café da manhã.
— Precisam de ajuda? — pergunto ao entrar na cozinha.
Eles se viram e me cumprimentam com sorrisos felizes.
— Você pode colocar os pratos na mesa, garotinha — papai
responde.
Pego três pratos no armário e distribuo na mesa, no lugar de cada
um. Meu pai coloca o bolo na mesa enquanto minha mãe coloca os ovos
mexidos e bacon, então todos sentamos e começamos a comer.
— Não vai experimentar o bolo, filha? — papai pergunta.
Olho para o bolo e lembro que Thales falou que esse seria seu bolo
preferido.
— Não, pai, estou cheia.
Ele estuda meu rosto.
— Você não falou nada sobre o Thales, como vocês estão?
Encolho os ombros.
— O senhor já sabe, anda falando com ele. — Uso a informação que
mamãe me contou contra ele.
— Falamos sobre jogos, trabalhos e quando pergunto sobre vocês,
ele fala que estão bem e felizes. Agora quero saber da minha filha como ela
está com seu namorado.
— Estamos bem. Thales queria ter vindo, mas o trabalho o impediu,
fica para a próxima.
— Fico feliz em ouvir isso. Vocês são lindos juntos.
— Obrigada, papai. — Bebo um gole de suco de laranja.
Talvez, algo doce na boca ajude a diminuir o amargor que sinto ao
falar de Thales.
— Como passou a noite, filha? — mamãe questiona e sorrio, feliz.
— A melhor noite em muito tempo. No momento em que descansei
a cabeça no travesseiro, só acordei hoje de manhã.
O restante do café conversamos sobre coisas aleatórias e quando
terminamos, arrumamos a cozinha e os ajudo a fazer nossos lanches para
levar à praia.
— É melhor sairmos, gosto de chegar cedo na praia, antes que o sol
esteja alto — papai fala, levando as coisas para o carro.
— Eu já tô pronta — respondo.
— Pegou o protetor solar, Eloá? Você sabe que não pode ficar sem
usar.
Reviro os olhos para minha mãe que ainda me trata como uma
criança.
— Sim, mãe. Já podemos ir?
— Sim, vamos — papai responde.
Fico no banco de trás, meu pai ocupa o do motorista e minha mãe
logo ao seu lado, então seguimos para a praia.

— Filha, você vai querer um sanduíche? — mamãe pergunta quando


abre o cesto de comida que trouxemos.
— Não, mãe, quero dar um mergulho. — Empurro os óculos de sol
para cima do meu cabelo.
— Tudo bem, mas é melhor você beber um pouco de suco. Está
muito tempo no sol.
— Farei isso quando voltar.
O sol aquece tanto a minha pele que quando vejo fica vermelha. Sou
muito branca e não consigo obter um bronzeado, se ficar muito no sol vou
acabar parecendo o Siriguejo[10].
Levanto da toalha que estendi no chão para me sentar, tiro o vestido,
pego o protetor solar na bolsa e despejo uma quantidade na mão. Esfrego
uma mão na outra, espalhando o creme na mão, em seguida passo pelos
braços, barriga e pernas, tendo o corpo e rosto coberto do creme. Caminho
em direção ao mar e quando me aproximo da água afundo os pés na areia,
tendo a sensação gostosa de serem cobertos. Primeiro molho os pés na água
que está gelada e então caminho mar adentro. Pulo algumas ondas pequenas
e vou até ficar com a água abaixo dos meus seios e mergulho.
A sensação é bem-vinda e dou algumas braçadas indo mais longe.
Meus pais preferiram ficar na parte rasa, já eu gosto de ir mais
fundo. Paro de nadar e deixo meu corpo flutuar com os olhos abertos,
olhando para o céu azul.
Me sinto tão bem.
Tive uma noite maravilhosa e agora estou aqui, deixando o mar
segurar o meu corpo. Contudo, essa tranquilidade não dura por muito
tempo…
Fico tensa ao sentir um movimento abaixo de mim, tento mudar
minha posição, ficando em pé, entretanto, não tenho tempo. Logo braços
fecham em volta da minha cintura e luto para afastá-los, mas eles são fortes
e me seguram de costas para a pessoa. Grito pelo meu pai, porém, estou tão
longe que acredito que ele não possa me ouvir. Esse pensamento aumenta
mais o meu terror.
— Relaxa, princesa, pois o que vou fazer com você, prometo que irá
gostar.
A voz que sussurra próxima ao meu ouvido faz meu estômago
revirar.
— Mateo — murmuro.
Ele solta meu corpo, apenas para me virar de frente para ele.
— Voltei, princesa. Quando te vi andando em direção ao mar, não
pude acreditar que era você.
Ele olha para os meus seios e passa a língua sobre os lábios.
— Tá mais gostosa que antes.
Com as mãos trêmulas, o empurro, o afastando.
— Não chega perto de mim — digo ganhando mais espaço entre nós
e Mateo ri.
— Eu posso chegar perto de você. Posso fazer qualquer coisa e
ninguém vai ver. Vamos lembrar os velhos tempos, princesa.
— Não, não... NÃOOO — grito me afastando dele.
Começo a nadar desesperada e não olho para trás para ver se ele está
me seguindo, pois, só quero sair daqui. E com esse sentimento de medo e
angústia, a única pessoa que queria que estivesse na praia à minha espera
era Thales.
Não entendo esse meu desejo da sua proteção.
Sinto que ele nunca iria deixar nada e nem ninguém me machucar,
pois, se tem alguém que pode me machucar é Thales, mas ele nunca iria me
machucar como Mateo fez.
Consigo chegar até a praia e avisto meu pai que logo que me vê,
corre ao meu socorro.
— O que aconteceu, garotinha?
Tento falar algumas vezes, mas a única coisa que faço é mover a
boca sem som.
Quando consigo emitir algum som, as palavras que saem são essas:
— Eu preciso do Thales.
A partir daí não vejo ou escuto mais nada e o passado enfia as garras
em mim.
CAPÍTULO 21
Thales Boseman

Estou digitando quando o telefone na minha mão começa a tocar e


não preciso levá-lo ao ouvido para saber que algo aconteceu com Eloá.
E, por Deus, que isso não me deixe insano.
Sem perder mais tempo, atendo a ligação.
— O que aconteceu com ela, George?
No outro lado da linha o pai da Eloá faz um barulho como se
estivesse chorando.
— Diga alguma coisa, ela está viva? — Penso o pior.
Não sei descrever o que senti alguns segundos atrás, um aperto no
peito e o desespero de pegá-la em meus braços foi tão forte que fiquei
congelado.
— Ela teve uma recaída e não sabemos como ou o porquê…
— Estou chegando. — Enfio o celular no bolso sem saber se
desliguei ou não, pego a chave da minha moto na gaveta e saio correndo do
meu escritório.
A viagem de carro irá demorar muito e não tenho tempo.
Aperto o botão do portão da garagem e é o tempo dele abrir para
tirar a capa da moto. Subo nela ligando e o rugido é o aviso que tenho para
estar pilotando para fora da mansão.
Até hoje nunca tinha dado o máximo dela, no entanto, entro na
rodovia costurando entre os carros, deixando todos para trás, com um único
foco, chegar até ela.
O tempo que levei para estar na casa dos pais da Eloá na última vez
foi de três horas, porém, dessa vez, faço em uma hora.
Quando paro a moto em frente à casa, estaciono de qualquer jeito e
corro para a porta que abro ao perceber que está destrancada.
— ONDE ELA ESTÁ? — berro para seus pais que encontro no
caminho.
— No quarto…
Eu os deixo e subo a escada correndo.
Abro a porta do quarto dela e a visão que tenho é tão esmagadora
que me faz fraquejar no caminho até sua cama.
Não penso se ela vai me mandar à merda ou não querer o meu
toque, nada disso me importa agora.
A única coisa que me importa é ela.
Eu a pego em meus braços, a colocando no meu colo, como as mães
fazem com seus bebês. Suas mãos puxam minha camisa e então seu rosto
banhando de lágrimas afunda em meu, inalando o meu cheiro.
— Você veio… — murmura chorando e beijo sua têmpora.
— Eu sempre virei — afirmo a apertando próximo ao meu coração.
— Sempre a encontrarei.
Eloá faz um som angustiado.
— Dói tanto, tanto — sussurra.
— Me dá essa dor, Cerejinha. Divida essa dor comigo. — Eu a
seguro enquanto coloca para fora o que está dentro dela em forma de choro
e grito.
Mesmo depois de horas assim, não a solto, tanto que ela acaba
adormecendo e permaneço como estou.

Não faço ideia de que hora seja, acredito que já é madrugada quando
Eloá desperta. Ela não fala ou abre os olhos para que eu saiba que já está
acordada, contudo, há tanto tempo observo seu sono que reconheço quando
está acordada. Inalo o aroma do seu cabelo, detectando o cheiro do mar.
Ela esteve na praia, presumo.
— Como você está se sentindo? — murmuro.
Ela não responde de imediato, levando seu tempo e respeito isso.
— Segura.
A batida em meu peito falha.
Quero afastá-la e dizer que não pode ter esse sentimento ao meu
respeito, entretanto, não faço isso. Eu a seguro mais forte, dizendo sem
palavras que sim, ela estará protegida em meus braços.
— Você não quer saber o que aconteceu? — pergunta com a voz
fraca.
— Quero, mas posso esperar o seu tempo e quando quiser falar
estarei aqui.
Sua mão que tinha afrouxado quando dormia, agarra minha camisa
com um aperto firme.
— Eu tinha vinte anos quando tudo aconteceu… — Faz uma pausa,
puxa uma respiração profunda e contínua: — Meu pai não queria que eu
fosse cursar gastronomia na cidade vizinha, inclusive tivemos um
desentendimento por conta disso.
“Mas eu sou tão teimosa quanto ele e não desisti.
“Ao perceber que não cederia, ele me deu o meu carro. Assim,
poderia ir e voltar todos os dias.
“Aceitei prontamente, afinal meu maior sonho era ser uma excelente
chefe de cozinha.”
Fecho a mão por cima da dela, transmitindo força e dizendo, “estou
aqui e mataria um dragão por você”.
— Por cerca de dois meses fiz a trajetória de casa para a
universidade. Consegui fazer alguns amigos e foi bom, porque sempre tive
dificuldade para me comunicar com as pessoas. Entre esses amigos, conheci
um garoto.
“A família dele é daqui, mas ele preferia morar no campus.
“Nos aproximamos e como nunca tinha tido um namorado ou
alguém como ele interessado em mim, fiquei superfeliz…”
Seu corpo estremece.
— Estou aqui — asseguro.
Eloá continua com os olhos fechados, como se estivesse revivendo o
acontecimento.
— Seu nome é Mateo Viegas. Ele era tudo o que as garotas
desejavam e quando andamos pelo campus, todos nos olhavam e
comentavam o quanto éramos perfeitos juntos.
“Então, Mateo deu uma festa e eu não queria ir porque tinha um
trabalho para entregar no dia seguinte.
“Ele ficou puto, porque tinha uma namorada e nem na festa que ele
daria, ela iria.
“Mesmo relutante, me arrumei e dirigi para a tal festa”.
O primeiro soluço corta o quarto, acompanhado de outro e mais
outro. Ela chora baixinho e mesmo quando volta a falar, as lágrimas não
param.
— Ele me fez beber. Eu não queria deixá-lo bravo e bebi, o
deixando contente.
“Não sei ao certo quando Mateo me levou para o seu quarto, mas
lembro o que ele fez comigo ali dentro…
“Primeiro, foram minhas roupas rasgadas, aí vieram os tapas que ele
dava em meu rosto quando eu gritava e implorava para ele parar.
“Ele nunca parou...
“Ele não só me estuprou naquele quarto, ele me violou como
mulher. Eu não era dona do meu corpo e não podia me defender por conta
da embriaguez”.
Eloá levanta a cabeça e com seus olhos vermelhos olha para mim,
com tanta dor, como nunca vi antes.
— Depois disso tudo, vivi com medo. Tenho acompanhamento
semanal com uma psicóloga e desisti do meu sonho, enquanto ele continuou
com os dele.
Engulo o ódio que sinto e suavizo a voz para falar com ela.
— Você não foi a polícia?
Eloá ri dolorosamente.
— Ir à polícia? Eu fui, mas o pai do Mateo era o prefeito da cidade.
Ele conseguiu me desmentir até quando tinha os exames que fiz como
prova. Mateo alegou que éramos namorados e que foi consensual tudo o
que ele me fez. Para completar, ainda afirmou que o ameacei em troca de
uma quantia, que se ele não me desse o valor pedido iria na polícia acusá-lo
de estupro. Aqueles que achava serem meus amigos, depuseram a favor
dele. — Suspira pesado. — Era a palavra de uma mulher contra a palavra
de um homem e filho de um prefeito. Que chance eu tinha?
Rosno.
— Todas as chances. Você é a vítima de um abuso bárbaro e esse
desgraçado deveria apodrecer na prisão.
— Mas vivemos em uma sociedade que não liga para a vítima, mas
para o dinheiro.
Eloá não está errada e sei disso, mas não deixa de ser revoltante.
— O que aconteceu hoje que te fez ter um gatilho[11]?
Seu corpo fica tenso.
— Ele voltou e me encontrou na praia.
Minha voz sai carregada de ódio que não é direcionada a ela.
— O que ele te fez?
O medo em seus olhos atiça a fúria em mim.
— Ele prometeu fazer tudo outra vez.
Prendo a respiração para conter o impulso de fazer algo nesse
momento, onde ela ainda está tão frágil em meus braços.
— Eu nunca deixaria isso acontecer. Você confia em mim?
— Quando ele falou aquilo, me senti naquele quarto. Mas, no fundo
do meu coração, sabia que ele não poderia me fazer nada, porque a única
pessoa que pode me machucar é uma e ela é você, Thales.
Passo a mão em seu rosto sentindo suas lágrimas molharem meus
dedos.
— Eu sou o único a te machucar, entretanto, nunca te machucaria
assim. A partir desse momento serei bom para você, Eloá. Pode acreditar
que não irei te decepcionar e nem o amor que tem por mim.
Seu rosto se aproxima do meu, então nossas bocas se tocam e a
beijo suavemente. Ao nos afastarmos, olho em seus olhos.
— Descansa mais um pouco, estarei aqui quando acordar.
— Tudo bem. — Ela dá um sorriso lento em seguida deita a cabeça
em meu peito.
Seu emocional deve estar tão abalado que ela não demora para
voltar a dormir, mas dessa vez, não fico velando seu sono. Eu a deixo na
cama e saio de fininho para não a acordar. Calço os sapatos que tinha
chutado enquanto Eloá dormia, a cubro, dou um beijo na sua testa e em
seguida saio do quarto. Desço a escada e ao chegar na sala encontro George
sentado em sua poltrona olhando para o nada.
— Ela está bem?
Eu me aproximo dele, me sentando ao seu lado.
— Não, mas ficará.
— Ela te contou? — Sua cabeça vira e seus olhos verdes como os da
filha me olham com curiosidade.
— Sim, me contou tudo.
Ele assente.
— Ela chamou por você… — Ele dá um sorriso triste — Eloá nunca
chama por ninguém, nem por mim, mas ela chamou por você.
Aperto o maxilar.
— Você tem um taco de beisebol por aí?
Seus olhos se estreitam.
— Isla deixa um atrás da porta.
Levanto e vou até à porta onde encontro o taco. Dou uma
inspecionada e sei que vai servir.
— Eu o levo. — George me encontra na porta com as chaves do seu
carro na mão.
— Não vai ser bonito de se ver. Você quer ir mesmo assim?
— Foi com a minha filha que aquele desgraçado mexeu. Você quer
mesmo saber se eu quero ir?
— Não, vamos.
Seguimos para a garagem e cada um ocupa seu espaço. George
dirige para a casa do homem que vai aprender a nunca mais colocar suas
fodidas mãos no que não te pertence.
CAPÍTULO 22
Thales Boseman

Olho para casa logo à frente, dou uma inspecionada para ver se tem
câmeras e então saio do carro com George.
O dia não irá demorar para nascer, por isso precisa ser rápido.
— Eles não têm câmeras e nem seguranças? Se acham tão deuses
assim? — murmuro para George.
— A cidade é pacífica e todos amam a família dele.
— Porque não sabe quem são — resmungo estudando a estrutura do
muro, de costas para George que com certeza tem a mesma conclusão que
eu.
— Você será o motorista da fuga.
Suspirando, ele responde:
— Tudo bem, se eu fosse mais jovem iria pular com você.
— Não tenho dúvidas. Vou pular e então você joga o bastão.
Ele assente, saímos do carro e caminhamos para o outro lado da rua
que está deserta, para a nossa sorte. Paramos próximo ao muro, entrego o
bastão para George, encontro um apoio e escalo o muro.
— Pode jogar — aviso e ele joga o bastão para mim. — Me espera
no carro. Qualquer coisa vai embora, eu sei me cuidar — murmuro para ele.
— Estamos juntos, vou te esperar!
Vejo que ele é tão teimoso quanto a filha.
— Vou tentar não demorar, mas não garanto nada.
Sigo para a casa indo para a porta dos fundos que sempre é a mais
fácil de se abrir. Com a ponta do bastão quebro o vidro, enfio a mão na
abertura que criei e destranco a porta.
Não paro para reparar na casa.
Faço uma vistoria pelos cômodos no andar de baixo e ao não
encontrar ninguém, subo a escada fazendo o mesmo pelo caminho.
É madrugada de domingo e presumo que os empregados estejam de
folga.
Não encontro ninguém, então me dirijo para a última porta no fim
do corredor. Abro e no meio da cama está o filho da puta, nu.
Sei que é ele, porque no caminho fiz uma pesquisa em suas redes
sociais, afinal não quero pegar a pessoa errada.
Com passos lentos me aproximo da cama, levanto o taco acima da
minha cabeça e quando ele desce acerta o meio das suas pernas. Os berros
que ele dá são como uma linda música que irei ouvir bastante essa noite.
— Você está prestes a saber, em primeira mão, o que um estuprador
de merda merece…
Seus olhos arregalam de horror.
Ele ainda não viu nada, mas vai ver, ou melhor, vai sentir.

Eloá Moore
Desperto com o rosto colado em um peito quente e em um
rompante, me afasto. Olho para cima e encontro os olhos azuis gelos que
me olham atentamente e em seguida sorri.
— Bom dia!
A voz grave de Thales me cumprimenta.
— Bom dia! — respondo fechando os olhos quando o
acontecimento do dia anterior preenchem minha mente.
Ele deve ter notado a mudança sutil do meu corpo, porque logo suas
mãos estão segurando meu rosto.
— Estou aqui e não pretendo sair. Nada de mal irá acontecer a você.
Abro os olhos para encontrar com os dele e então faço a pergunta
que desde que começamos a namorar tive medo de fazer.
— Você ainda vai ficar?
Uma linha aparece na sua testa.
— Não pretendo ir à lugar algum.
— Não entendo, você não está com nojo de mim, depois de saber de
tudo? — Estudo seu rosto e não encontro nojo, mas raiva.
— Eu nunca sentiria nojo de você, Eloá. Sempre será o anjo
inocente que eu corrompi. No entanto, estou furioso por tudo o que passou.
Seu rosto se suaviza e ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto
colocando atrás da orelha.
— Você não me falou antes, por que tinha medo de não a querer
mais?
Mordo os lábios.
— Sim, esse foi sempre o meu medo.
Ele ri.
— Você não vai se livrar de mim, tão cedo, Cerejinha.
Encostamos nossas testas e fechamos os olhos, aproveitando esse
momento de conexão.
— Vou te dar um banho e então te alimentar, seus pais estão
ansiosos para vê-la.
Eu me afasto dele.
— Posso tomar banho sozinha. Sinto muito por eles terem me visto
assim. — Abaixo a cabeça triste, por ter tido uma recaída na frente dos
meus pais.
— Eu faço questão de te dar banho. Não quero nada a mais do que
lavá-la e cuidar de você. Não se desculpe pelo que aconteceu, ou com o que
não está em seu controle. Seus pais te amam, só querem vê-la bem e estão
preocupados.
— Tudo bem.
Saímos da cama e Thales me leva para o banheiro, onde me ajuda
tirar o vestido, o maiô e então entra no box comigo. Ele liga o chuveiro, me
guiando para baixo da água quente.
Molho meu cabelo, em seguida despeja uma quantidade de shampoo
na mão, levando para minhas madeixas ruivas. Ele massageia meu couro
cabeludo e fecho os olhos, apreciando seu cuidado e carinho.
Eu o sinto duro em meu estômago, entretanto, em nenhum momento
ele tenta algo.
Durante todo processo do meu banho, ele não faz nada erótico com
uma segunda intensão. Ele me enrola em uma toalha e nos leva de volta
para o quarto, onde sento na cadeira em frente a penteadeira. Pega minha
escova de cabelo e penteia meu cabelo, desembaraçando os fios.
— Acho melhor deixá-los secar naturalmente, o dia estará quente —
ele comenta deixando a escova de volta no lugar onde estava.
— Tudo bem.
Seus olhos encontram os meus pelo reflexo do espelho, olhamos um
para o outro então ele se afasta, não demorando para voltar com uma troca
de roupa.
— Vista-se que vou tentar encontrar outra camisa com o seu pai, não
trouxe mala.
Franzo a testa, pois não tinha percebido até agora que ele não usa a
camisa dele, mas uma do meu pai.
— Onde foi parar a sua camisa?
Thales encolhe os ombros.
— Sujei ontem e seu pai me emprestou uma.
Sem me dar chance para fazer mais perguntas, ele me deixa no
quarto, sozinha.
Visto a roupa que ele deixou em cima da cama, um short de algodão
e blusão. Ao terminar, saio do quarto e encontro Thales no corredor.
— Você está linda.
Minha coluna fica ereta.
Ontem estava em um momento delicado onde não pensava com
clareza, entretanto, quando estava me vestindo, meus sentimentos foram
postos no lugar e tudo que vivi nesses meses voltaram com força. O homem
que acabou de dizer que sou linda, fez parte de tudo que passei nesses
meses, o mesmo que desprezou meu amor.
— Você já pode ir, estou bem e como tinha permitido que eu ficasse
dois dias, voltarei amanhã.
O sorriso em seu rosto morre, ele dá um passo em minha direção e
não me afasto.
— Só vou quando você for. Vamos descer para você comer alguma
coisa.
— Thales não vamos seguir por esse caminho, onde você vai me
enganar e fingir que me ama para em seguida quebrar o meu coração.
O homem é alguns centímetros maior que eu, tanto que preciso
olhar para cima. Suas mãos seguram em cada lado do meu rosto e sua
cabeça abaixa.
Imagino que irá me beijar, mas ele não faz isso, apenas murmura
próximo a minha boca.
— Eu queria ter essa conversa na nossa casa, entretanto, vejo que
você precisa dela agora… — Seus lábios vão para minha orelha onde ele
morde para em seguida chupar a pele dolorida.
Meu corpo estremece de luxúria.
— Tá sentindo? Esse é o tipo de dor que quero te causar. Não quero
vê-la triste, Eloá. — Seus lábios dão uma última lambida antes de afastar,
para estar com nossos olhos nivelados. — Esse casamento começou do jeito
errado, mas você me ama e, para mim, você é o meu coração. Será que isso
não é o suficiente para tentarmos? Eu não posso mais chegar em casa e
encontrá-la triste. — Seus lábios raspam os meus, mas ele não me beija. —
Não é armação, ou estou planejando algo contra você, só quero ser a pessoa
que você ama e ver você sorrir quando olha para mim.
Esperei tanto por Thales falar algo parecido com o que está dizendo,
mas achei que nunca iria chegar esse momento até agora…
Não vejo mentira em seus olhos.
Thales não percebeu, mas quando ele tentava me seduzir acabou se
apaixonando.
Você pode até fingir amar alguém, mas seus olhos são outra coisa.
Os olhos desse homem refletem amor todas as vezes que me olha.
Até mesmo agora, quando espera por uma resposta minha.
Fico na ponta dos pés, levanto os braços e coloco em volta do seu
pescoço.
— Eu posso perdoá-lo uma vez, não duas, guarde bem isso, Thales.
— Meus lábios tocam os dele e sorrimos com nossos lábios ainda colados.
O beijo é quente, cheio de saudade, medo e promessas.
Nos afastamos ofegante e ele desce meu corpo lentamente, pois em
algum momento durante o beijo, Thales me ergueu.
— Devemos descer ou vou acabar fazendo algo que não seja
apropriado para ser feito na casa dos seus pais.
Dou uma risadinha.
— Sim, melhor irmos.
Agarrado a minha mão, descemos a escada.
Ao passar pela sala, a televisão está ligada em um jornal local e
meus pais estão assistindo.
— O que vocês estão assistindo? — pergunto.
Os dois viram com os semblantes assustados enquanto uma imagem
aparece na televisão, fazendo meu corpo ficar tenso. Então, a imagem fica
atrás quando a jornalista dá a notícia.
— Bom dia! A notícia que vou dar hoje não é boa. O que temos até
agora é que o filho do ex-prefeito, Viegas, foi espancado essa madrugada
em sua residência.
“Tudo indica que os bandidos invadiram a casa para roubar e ao
encontrar Mateo Viegas dormindo, eles o espancaram.
“Seus pais não estavam na residência.
“O senhor e a senhora Viegas não emitiram qualquer nota sobre o
incidente, ou retornaram as nossas tentativas em entrar em contato.
“Temos apenas a nota do hospital sobre o atendimento de Mateo,
onde informa que o jovem foi espancado nas suas partes e há uma grande
chance dele não poder ter filhos.
Mas essa última parte ainda é uma especulação.”
A jornalista continua explicando que a população está assustada.
Não consigo entender o que ela continua falando, porque meu pai
desliga a televisão antes de conseguir ouvir mais alguma coisa. Giro a
cabeça para Thales que está tão tranquilo que chega a ser assustador.
— Foi você? — questiono, lembrando da troca da camisa. — A sua
camisa... Foi por isso que não está a usando?
Ele dá de ombros.
— Ele só teve o que mereceu. Não vou mentir para você dizendo
que não fui eu, porque foi e só não o matei por causa do seu pai.
Com os olhos arregalados, olho para o meu pai.
— PAPAI? — berro.
Ele faz o mesmo gesto de Thales, dando de ombros.
— Ele mereceu. Deveria ter feito isso bem antes, assim ele não tinha
vindo atrás de você.
Passo a mão pelo cabelo.
— Vocês podem ter um monte de problemas com a polícia. Jesus
Cristo, papai!
Thales me puxa para seus braços.
— Relaxa, nada vai nos acontecer, afinal Mateo não vai dizer nada.
Ele vai continuar com o relato que foi um bandido. Agora para de se
preocupar e vamos comer.
Tento debater o assunto, mas ele me para com um beijo, então
seguimos para a cozinha.
Não sinto nem um pouco de dó de Mateo e se Thales tivesse
arrancado seu pau e bolas, seria um bem que ele faria para a humanidade.
Minha principal preocupação é ele entrar em problemas, mas já que não vai,
fico tranquila.
Sentamos na mesa e tomamos nosso café, entre risos e conversas
fiadas.
Peço a Deus, que dessa vez essa felicidade seja para sempre.
CAPÍTULO 23
Thales Boseman

A água escorre por seus seios que balançam com cada investida que
dou, entrando e saindo da sua boceta escorregadia. Os bicos rosados
endurecidos me deixam tão duro, ao ponto de querer estar derramado todo
meu clímax em seu interior, entretanto, seguro o máximo que posso.
Seus olhos verdes brilham implorando para gozar em resposta, rio,
puxando seus lábios entre os dentes, grunhindo.
— Não sei se posso ficar longe de você.
Seu rosto toma uma expressão entre estar quase gozando e triste por
nos separar.
— Então não vá.
Beijo seus lábios furiosamente e quando me afasto, vejo que eles
estão rosas devido o beijo.
— É preciso, mas prometo voltar o mais rápido possível.
Eloá crava suas unhas por trás do meu pescoço.
Seu corpo está esmagado entre a parede do banheiro e o meu corpo,
suas pernas em volta dos meus quadris enquanto a fodo com força.
Um até logo nunca foi tão quente e doloroso como está sendo esse.
Sua boceta apertada se contraí com o clímax, ordenhando meu pau,
tirando cada gota que tenho para dar. Próximo ao seu ouvido, murmuro:
— Eu te amo.
Sua cabeça se afasta do meu pescoço para estar com seus olhos
duelando com os meus.
— O quê? — questiona surpresa.
— Eu te amo.
Sua boca se parte em um grande sorriso então ela está me beijando,
apaixonadamente.
Essa foi a primeira vez em que falei essas três palavras.
— Também te amo, não demore.
Saio de dentro dela, colocando Eloá sobre seus pés.
— Eu não vou, pois, até se quisesse não conseguiria ficar longe de
você.
— Nem eu.
Terminamos o banho e seguimos para o quarto.
Eloá veste um roupão com uma toalha enrolada na cabeça enquanto
me arrumo.
Alguns meses passaram desse que nos acertamos e durante esse
tempo venho aproveitando cada segundo com essa mulher.
Mas por ser o CEO da empresa Boseman, preciso fazer algumas
viagens, só que consegui adiar o máximo possível para não ficar longe dela.
Contudo, agora preciso cumprir com a minha obrigação.
Irei em uma viagem de duas semanas que não posso adiar mais.
Termino de arrumar a gravata e me dirijo para a cama.
— Vem aqui — eu a chamo.
Ela se arrasta na cama até mim e seguro seu rosto entre as mãos.
— Prometa que vai ao médico da família.
Ela faz biquinho.
— Estou bem.
Estreito os olhos e ela revira os seus.
— Mas, irei ao médico, por mais que saiba o resultado, comi algo
que não me fez bem.
— Pode ser que sim. No entanto, só ficarei tranquilo quando saber
que está bem.
Seus olhos enchem de lágrimas e ela pisca rapidamente.
— Não faz isso... Pensa nessa viagem como algo que vai só aquecer
ainda mais o nosso casamento.
— Eu posso pensar em algo que não seja ficar longe de você para
aquecer o nosso casamento.
Sorrio.
— Também posso. — Abaixo a cabeça e tomo seus lábios nos meus
para logo em seguida, relutante, me afastar. — Eu te amo... — Três palavras
que achei que nunca falaria para Eloá, mas que agora escorrem com tal
facilidade dos meus lábios.
— Também te amo.
Seguro sua mão e saímos do nosso quarto.
Descemos a escada e Eloá me leva até a garagem onde meu
motorista me aguarda e a pequena mala já está no porta-malas. Me despeço
da minha esposa e entro no carro, mas antes de partir, olho para ela que está
a ponto de chorar.
Ela fica parada até o carro sumir e não a ver mais.
Prometo a mim mesmo que se for fazer outra viagem a levarei
comigo, mas por agora me contentarei em vê-la em quinze dias.
Estou indo nessa viagem sem a preocupação que o filho da puta do
Mateo possa querer se aproximar dela, já que está preso.
Mandei um investigador procurar algo que poderia levá-lo à prisão,
afinal pessoas como ele, tendo a proteção dos pais, não iria parar apenas
com o que ele fez com a minha mulher e sabia que iria encontrar algo.
Só não imaginei que seria tanto.
Ele está sendo acusado de violentar vinte mulheres no total. Quando
a primeira apareceu, deu forças para as outras terem coragem de ir à
delegacia. Contratei advogados especializados nesse caso para defendê-las,
pois não só tenho a intenção de fazê-lo sofrer, como também não acho certo
o que elas passaram e não teve ninguém para ajudá-las.
Eloá teve seus pais, mas a maioria dessas mulheres não e farei de
tudo para que a justiça seja feita.

Eloá Moore

Quatro dias foi o tempo que passou desde que Thales saiu em uma
viagem de negócio e sinto tanto a sua falta.
As ligações que tivemos durante esse tempo só aumentou a saudade
que sinto dele.
Como prometido, fui ao médico, fiz alguns exames e seguro o
resultado na mão nesse momento, com uma pitada de medo do que irei
encontrar no envelope.
— Você quer um chá, Eloá? — Ruth pergunta parada na minha
frente.
Foi ela quem trouxe o resultado que foi entregue por uma
transportadora.
— Não, Ruth, estou bem. — Forço um sorriso. — Poderia me
deixar a sós?
— Claro, Eloá, qualquer coisa estarei na cozinha.
Espero a governanta sair para abrir o envelope, pois tenho uma
pitada de suspeita do que irei encontrar.
Pouco depois que Thales viajou, abri minha gaveta no banheiro à
procura de um curativo, pois tinha cortado o dedo quando ajudava a Ruth
na cozinha e o que encontrei na gaveta, me fez passar esses dias sem
dormir, ansiosa para o exame chegar.
Suspiro pesado enquanto seguro o papel e leio o que está escrito.
Uma emoção forte toma conta de mim e descanso a mão na barriga
lisa que em breve estará arredondada.
Estou grávida!
Como Thales vai receber essa notícia?
Com risos ou raiva?
Um sentimento de proteção e possessividade me agarra, e se ele não
quiser, terei esse bebê, afinal é meu filho ou filha.
Levanto da cadeira para pegar o telefone, pois quero dar a notícia e
no último minuto, decido não ligar para ele. Porém, preciso falar com
alguém, por isso ligo para o meu pai.
— Estou grávida — digo logo que ele atende o telefone.
— O QUÊ? — ele grita do outro lado.
— Isso mesmo que ouviu, pai, estou grávida.
Ele grita pela minha mãe.
— Isla, vamos ser avós, nossa garotinha está grávida.
A linha faz alguns ruídos então a voz da minha mãe aparece.
— Oh, meu Deus! Você tá grávida, filha? Que notícia maravilhosa!
— Acabei de abrir o resultado, mãe, vocês são os primeiros a saber.
— Quando vai falar para o Thales? — meu pai pergunta.
— Quando ele voltar, ele está em uma viagem.
— Ele vai ficar muito feliz, garotinha. Estou ansioso para nos ver no
próximo fim de semana.
— Também estou, pai.
Logo eles entraram em um assunto que preciso ter alguns cuidados e
a conversa rende, só terminamos a ligação porque eles me fazem prometer
que vou comer algo, pois acabo falando que não tinha almoçado bem.
Depois que desligo, me dirijo para a cozinha para pedir para Ruth
preparar um lanche e depois disso vou para o jardim, onde passo boa parte
do tempo.
Tento conter a ansiedade que estou para contar a novidade a Thales.
— Seu pai vai ficar tão feliz quando souber de você — falo com a
minha barriga.
Ele me ama e vai amar um pedacinho nosso.
CAPÍTULO 24
Thales Boseman

Bebo a vodca que pedi.


Puxa vida, daria qualquer coisa para estar com a minha Cerejinha!
Hoje foi um dia de merda, por isso vim para o bar do hotel beber e
tentar relaxar um pouco, entretanto, estarei logo voltando para o quarto.
Daqui a pouco a Eloá vai estar ligando e não irei perder sua ligação.
Passei o dia preocupado, pois ontem quando nos falamos ela parecia estar
pálida e mesmo me garantindo que foi ao médico e que está bem, não me
convenceu muito.
— Uma dose de uísque.
A voz da pessoa que se senta ao meu lado, me tira dos meus
pensamentos. Giro no banco para encontrar o meu pai.
— É foda! O que diabos você está fazendo aqui?
O barman traz a bebida que ele pediu e quando se afasta, meu pai
dirige a palavra a mim:
— Preciso falar com você, mas é difícil quando não atende as
minhas ligações e não me recebe na empresa.
— Empresa a qual você roubou — debocho.
— É sobre isso que quero falar. Nunca roubei a empresa da sua mãe,
filho, você precisa acreditar em mim.
Rio dando um gole da minha bebida.
— Então toda investigação que fiz, o dinheiro que encontrei na sua
conta fora do país, tudo isso não é verdade?
Meu pai dá um soco na bancada, atraindo olhares de curiosos.
— Porra, não roubei nada! Nunca toquei na herança que sua mãe
deixou para mim, afinal eu a amava e não o seu dinheiro. Daria qualquer
coisa para tê-la de volta.
— Você está mentindo! Tudo que sai da sua boca são mentiras! Seis
meses depois da morte da minha mãe você estava com outra, eu nunca vou
te perdoar.
Ele me olha com tristeza, balançando a cabeça, dando um sorriso
triste.
— Steven fez um ótimo trabalho em fazer você me odiar. Abre os
olhos com ele, filho. Steven é uma cobra que se arrasta pelos cantos e
quando menos espera vai dar o bote.
— Querendo me colocar contra o Steven? Sério? Ele seria uma
cobra e você seria o quê?
Ele se levanta do banco sem tocar na bebida.
— Eu sou um pai que ama o filho e quer que ele acredite nisso. —
Com o semblante triste, caminha para longe.
Bebo o resto da bebida e sigo para o elevador.
Foda-se ele!
Tudo o que Dickson fala são mentiras.
Antes da viagem, a equipe que contratei para rastrear onde o
dinheiro que foi desviado estava, o encontrou em uma conta no nome do
meu pai fora do país.
Ele acha mesmo que sou tão idiota para acreditar nas suas palavras
de merda?
Eu o quero o mais longe possível da Eloá e de mim.
Lembro que estou alguns minutos atrasado para nossa ligação,
apresso meus passos para chegar ao meu quarto logo.

Eloá Moore

Fico em frente ao espelho que pega todo o meu corpo, levanto a


camisa e em seguida me movimento de um lado para o outro. Pode ser
tolice, entretanto, procuro por alguma mudança na minha barriga.
Passaram alguns dias desde que descobri sobre a gravidez, em três
dias Thales estará chegando e saberá que estou grávida.
Aliso a barriga sentindo a emoção em estar carregando um ser tão
pequeno dentro de mim.
Meus olhos transbordam de lágrimas, ao mesmo tempo, em que
sorrio.
— Será que você já consegue me ouvir? — pergunto para a barriga
e em seguida balanço a cabeça rindo. — Se tiver me ouvindo, acostume-se
com a minha voz, pois vamos conversar muito… — Paro de falar quando
escuto duas batidas à porta.
Abaixo a camisa antes de Ruth entrar no quarto toda sorridente.
— Carta para você, Eloá.
Franzo a testa, pois desde que estou aqui não recebi uma carta, além
dos resultados dos exames.
— Sabe de quem é, Ruth?
Ela balança a cabeça negativamente.
— Presumo que seja do menino, Thales.
Ansiosa pego a carta da sua mão e Ruth sai me deixando sozinha.
Não contei sobre a gravidez a ela ou a ninguém da casa, os únicos a
saberem são meus pais. Acredito que o pai deve saber antes de todos, por
isso não falei nada.
Franzo a testa ao encontrar dentro apenas um pen drive, procuro
dentro do envelope se tem mais alguma coisa, entretanto, não encontro
nada. Encolho os ombros indo até meu notebook que se encontra na cama,
pois planejava fazer uma ligação via vídeo para Thales.
Abro o notebook que já se encontra ligado e conecto o pen drive que
abre diretamente em um vídeo.
A tela está preta e não dá para ver o conteúdo.
No momento em que aperto play, o quarto se preenche com o som
de gemidos e corpos se chocando. A tela enche com a imagem do meu
marido fodendo uma mulher que a princípio não dá para ver quem é até que
ela grita.
— OH, DEUS, THALES, ME FODA!
Sabrina?
Pelo movimento que seus corpos se encontram não dá para ver com
clareza, mas a voz reconheço bem e meu mundo desmorona mais uma vez.
Ele mentiu e eu acreditei...
Só que não sabia que poderia piorar até o vídeo parar e outro
começar. Neste, Sabrina está na cama, rindo para a câmera. Ela faz um
gesto colocando um dedo na boca, como se dissesse que precisa ficar calada
e uma voz, no fundo, fala furiosa:
— Porra, como essa merda aconteceu? Eu não quero explicação,
Steven, quero que você a faça dar fim na criança. Não quero ser pai nem
agora e nem nunca.
Sabrina sai da cama nua e anda para algum lugar.
— Como é que você falou mesmo? — Ela faz uma cara pensativa
então continua: — Ah, que você seria a esposa e eu a puta, mas veja bem,
não é o meu bebê que ele está rejeitando. Eu quero assistir quando essa
criança for tirada de você…
Fecho o notebook encerrando o que ela ia dizer e passo a mão pelo
meu rosto, limpando as lágrimas. Enfurecida, levanto da cama.
— Não, eu não vou deixar ninguém fazer mal a você, meu filho,
nem mesmo o homem que deveria amá-lo.
Tudo o que Thales fez a mim, eu perdoei e ele ter transado com
Sabrina não me feriu tanto como ouvi-lo pedir para dar fim ao nosso filho.
Ele não é uma pessoa é um monstro que quer matar um ser inocente.
Eu sacrifiquei minha felicidade pelos meus amigos, no entanto,
agora as coisas mudaram e eu farei de tudo para proteger o meu bebê.
Troco de roupa, calço um tênis, pego a bolsa com meus documentos
e saio do quarto.
Não levarei nada daqui, afinal tudo é dele e só levarei o meu filho.
O táxi para em frente a um portão preto e cravo as unhas na palma
da mão, me perguntando se estou fazendo a escolha certa de vir até aqui.
Qual é a chance dele ser pior do que Thales?
A pergunta fica no ar quando um punho bate no vidro da minha
janela e olho para o senhor de sorriso amigável com a aparência idêntica ao
seu filho.
Ele faz sinal para que desça, então pago o motorista e saio.
— Mais uma vez nos encontramos, Eloá, e infelizmente em uma
situação não tão boa. Por favor, me acompanhe.
Dickson segue para o portão que abre assim que ele digita a senha e
seguimos por um caminho estreito. Caminhamos por uma estrada de pedra
cercada por grama.
Seguimos até estar em um jardim quase parecido com o da mansão
Boseman e nos acomodamos em um dos bancos que há ali.
— Tentei fazer esse lugar ficar parecido com o jardim de Lila, mas
nada pode ser como aquele lugar.
Limpo a garganta.
— Dickson, sei que não expliquei bem quando te liguei, mas estou
em uma situação que não posso perder tempo falando de jardim. Espero não
o ter ofendido.
— Não ofendeu. Me desculpa estar falando sobre coisas que não são
importantes agora, quando você está tão angustiada. Diga o que aconteceu?
Por instinto coloco a mão na barriga em uma posição protetora.
— Não irei enrolar. Estou grávida e o seu filho quer que eu tire o
bebê. Mas não irei fazer isso, Dickson. Vim em busca de refúgio, pois
Thales é importante e tem muito dinheiro. Fugir de alguém como ele,
sozinha, não terei muita chance, mas se você me ajudar...
Ele segura a minha mão.
— Eu irei, mas antes vou dar a surrar que nunca dei no meu filho
por ele ter feito algo tão baixo, como isso.
Eu me apresso em dizer.
— Não, você não pode dizer nada. Ele não pode descobrir que está
me ajudando.
— Tudo bem, você pode ficar aqui. Meu filho nunca irá te procurar
aqui e te ajudarei no que for preciso, afinal esse bebê na sua barriga é o meu
neto.
— Obrigada, Dickson.
— Não tem motivo para agradecer. Você precisa que eu pegue suas
coisas ou mande alguém pegar?
— Não é preciso, já peguei as coisas que deixei no meu
apartamento. Não peguei muita coisa até porque logo precisarei comprar
mais roupas.
— Entendo, vamos entrar. Vou te mostrar onde vai ficar e poderá
descansar um pouco, pois já passou por muita emoção em um dia.
Saímos do jardim e voltamos a caminhar.
— Não me entenda mal, mas alguém além de você mora aqui?
Ele ri.
— Você está com medo de encontrar algumas garotas da sua idade
aqui? Não se preocupe, tudo o que falaram ao meu respeito são apenas
boatos.
Assinto e seguimos rumo a casa.
Sabia que a casa dos meus pais seria o primeiro lugar que Thales iria
me procurar, por isso vim aqui atrás de um refúgio.
Antes de vir para cá, passei no restaurante e expliquei aos meus
amigos tudo, pois a decisão que estava tomando se referia a eles de alguma
forma e todos estão preparados para a fúria de Thales. Então, viajei até a
casa dos meus pais, onde sentamos e expliquei tudo sobre o casamento, o
momento em que conheci Thales e até agora. Meu pai queria me mandar
para casa de uma irmã dele, no entanto, sabia que não tinha ninguém nesse
mundo que poderia me esconder dele além do seu pai.
Depois de resolver todas as minhas pendências, vim para a casa de
Dickson e espero estar fazendo a coisa certa.
Ele sai, me deixando sozinha no quarto que será meu por algum
tempo.
Acredito que Thales vai encontrar alguém e esquecerá de mim, só aí
poderei voltar.
— Mas, por hora, somos nós dois contra o mundo, meu amor.
CAPITULO 25
Thales Boseman

Dois anos depois…

Eu não sabia o que era dor até perdê-la e ser abandonado por Eloá...
Não existe uma palavra para descrever o quão doloroso foi chegar
de viagem em casa e não a encontrar.
Desesperado, saí à sua procura em todos os lugares que imaginei
que ela poderia estar. Contratei os mais renomados detetives para encontrá-
la e nada.
Depois de dois anos, ainda espero encontrá-la, olhar em seus olhos e
perguntar o motivo de sua partida.
Por que me deixou quando a amava tanto?
Essa é a pergunta que continuarei aguardando resposta até o meu
último dia nessa Terra. Todos os fins de semana, paro meu carro em frente à
casa dos seus pais e espero ela aparecer, mas nunca aconteceu.
Sua mãe me olha com ódio, já seu pai toda semana que me vê, acena
com a cabeça e se senta na varanda.
Não nos falamos, entretanto, vejo tristeza e desapontamento no rosto
dos dois.
Eu sei que fiz muita coisa com Eloá, mas ela me perdoou, estamos
bem e felizes. Então, o que aconteceu para ela me deixar?
Será que Steven tem razão e Eloá fez o mesmo que fiz com ela?
Será que ela me fez amá-la para depois quebrar o meu coração?
Mesmo que ela tenha feito isso, não me importo. E se ela voltar,
rastejarei diante dos seus pés, implorando para que nos dê mais uma
chance.
— Algo mudou?
Sou puxado dos meus pensamentos com a voz do Joseph.
Ele me entrega uma cerveja e se senta ao meu lado em uma
espreguiçadeira.
— Não, tudo está do mesmo jeito. Você perguntou a ela se sabe de
alguma coisa? — Aponto a garrafa de cerveja para Scarlett, esposa de
Joseph que brinca com o filho dos dois na piscina, o pequeno Ethan.
— Thales, se Scarlett soubesse onde Eloá se encontra, ela não
falaria nada. Somos amigos e elas são amigas, da mesma forma que não
falaria nada de você, minha mulher não vai falar onde a sua está.
Solto um grunhido.
Dois dias depois que Eloá foi embora, essa maluca invadiu a minha
casa com Joseph segurando Ethan logo atrás dela. Ela descobriu tudo e foi
arrancar meu pau, suas palavras, é claro.
Ela queria saber onde a amiga estava e quando não a encontrou, foi
embora.
Agora toda vez que ela olha para mim, dá um sorriso do tipo que
diz, “sei onde Eloá está, mas não irei dizer. Quero que você sofra
lentamente”.
— Eu me contentaria apenas em saber se ela está bem. Porra, não
tenho uma noite de sono sem ter pesadelos de que algo ruim aconteceu com
ela.
Joseph, olha para sua família na piscina, enrugando a testa.
— Eu te entendo, pois, não posso me imaginar longe da minha
família.
Coloco a garrafa na mesa, me levantando.
— Preciso ir, cara, nos vemos depois.
Vim hoje com um fio de esperança de que Scarlett poderia falar
onde Eloá está, no entanto, seu rosto deixou mais do que claro que nada
mudou.
— Você vai encontrá-la — Joseph diz e rio tristemente.
— Espero que sim.
Caminho para longe dali, dirijo para casa e quando estaciono o carro
na garagem não tenho forças para sair. Deito a cabeça no banco, fecho os
olhos e meu celular toca no console. Abro os olhos e vejo o nome de um
dos detetives que contratei. Penso em não atender, já que será a mesma
resposta, porém, por fim atendo.
— Diga, alguma notícia? — Espero por ele dizer que não.
— Eu a encontrei, senhor.
Me endireito rapidamente.
— O que disse? — Não posso acreditar que escutei bem o que ele
falou.
— Eu a encontrei, a sua esposa. Ela está em um enterro.
Ordeno que me diga onde é o lugar e ele me passa o endereço. Ligo
o carro e vou atrás da minha esposa que me abandonou.
Eloá Moore

Meu cabelo é puxado quando fico de olhos fechados fingindo estar


dormindo. Escuto risadinhas e em um movimento rápido, abro os olhos,
agarrando os dois pestinhas.
— Vocês não estão deixando a mamãe dormir.
Os dois riem quando faço cosquinha na barriga de ambos e dois
dentinhos aparecem na boquinha deles.
Meus filhos...
Isso mesmo, filhos, no plural.
Sou mãe de uma princesa e um príncipe.
Com quatro meses de gestação descobri que estava esperando
gêmeos e quase surtei. Embora logo em seguida estava amando a ideia de
ter dois bebês.
— A alegria da mamãe. — Beijo suas bochechas gordinhas.
— Eles devem estar com fome, trouxe as mamadeiras. — Dick entra
no quarto rindo para os netos.
— Onde está a Patrícia?
Mantive contato com meus amigos do restaurante e quando os
gêmeos nasceram, a Patrícia se ofereceu para ser a babá. Dickson queria
contratar uma profissional, no entanto, fiquei com ela.
Patrícia é louquinha, mas ela adora criança e cuida muito bem dos
meus filhos.
— Ela está terminando de arrumar as bolsas deles.
— Tudo bem, você me ajuda a dar a mamadeira a eles?
O vovô babão sorri.
Ele não consegue ficar longe dos gêmeos, assim como meus pais
que hoje estou indo vê-los. Nossos encontros de fim de semana foi mudado
para a semana e nos encontramos em uma outra casa que é de Dick, onde
passamos de dois a três dias lá.
Não posso ficar sem vê-los por muito tempo, já que durante a
gravidez não conseguimos nos encontrar sempre.
Thales praticamente acampou na porta deles e eu não podia ficar
muito tempo na estrada. A casa do Dick fica em uma cidade próxima,
mesmo assim são quatro horas de viagem.
Meus pais ficaram muito tristes sem me ver pessoalmente durante
um tempo, mas quando os bebês nasceram, eles estiveram ao meu lado.
Dick conseguiu deixar tudo em sigilo, já que um dos detetives que Thales
contratou, me encontrou por causa das minhas consultas semanais com
Miranda. Porém, Dick pagou para ele não dizer nada.
Tenho por mim, que ele ameaçou o detetive também e as consultas
com Miranda depois disso se tornaram online.
— Claro — ele fala empolgado para as crianças. — Quem quer
tomar mamadeira com o vovô, Di.
Não é nem uma novidade que os dois esticam os braços.
— Não se iluda, eles querem as mamadeiras — digo dando risada.
— Agora você partiu meu coração dizendo que essas fofuras não me
amam.
Rio.
— Eles amam mais o que está na sua mão.
Dickson pega a Lila e eu pego London, então damos a mamadeira
para eles que devoram rapidamente, depois colocamos para arrotar.
— Você já vai sair? — Dick pergunta enquanto Lila brinca com sua
camisa.
Dei a minha menina o nome de Lila em homenagem à esposa de
Dickson que é a avô dos meus filhos. Conversamos muito e ele me falou
sobre o desejo que ela tinha de ter a casa cheia de crianças. Quando falei o
nome que daria a minha menina, ele ficou muito emocionado.
Dick seria um bom pai se o filho não fosse o Thales.
Faz dois anos que não o vejo, pelo menos pessoalmente, pois pela
televisão algumas vezes já vi. Porém, algumas vezes basta olhar para os
meus filhos para ver o pai.
Os gêmeos têm os cabelos ruivos, algumas sardas no rosto, mas os
olhos são azuis gelos iguais aos do pai.
— Sim, não gosto de dirigir tarde e… — Sorrio quando meu celular
toca e na tela aparece o nome da minha mãe.
— Minha mãe já deve estar à nossa espera.
— Me dê esse garotão que vamos te esperar na sala. Quero ficar
com meus netos antes que eles vão encontrar os outros avós.
Rio entregando London que vai todo feliz e atendo a ligação depois
que eles saem.
— Oi, mãe, já estou saindo daqui — digo rindo.
— Eloá, filha. — Sua voz corta com o soluço.
— O que aconteceu? — pergunto desesperada.
— Seu pai.
— O que tem o meu pai, mãe?
— Ele morreu!
O celular escorrega da minha mão, batendo no chão.
— Não, Não, NÃOOOO — grito no mesmo momento em que
lágrimas grossas escorrem pelo meu rosto.
MEU PAI NÃO!
CAPÍTULO 26
Eloá Moore

Me ajoelho na lápide do meu pai, sentindo que meu peito está


sangrando.
As doze horas que passaram desde que recebi a notícia da sua morte,
tentei ser forte por minha mãe, mas agora, sozinha, posso deixar toda essa
dor sair em forma de choro e grito. Puxo a frente do meu vestido, rasgando
o tecido.
Sinto como se estivesse me sufocando e o barulho da chuva ao meu
redor abafa os meus berros.
— Não me deixe, por favor, papai, não me deixe. — Deito na poça
de lama e choro.
Não tenho forças para sair daqui e mesmo se tivesse não iria.
Eu não posso deixá-lo sozinho, não posso.
Escuto passos rápidos então um guarda-chuva é posto em cima de
mim. Viro a cabeça para ver quem é a pessoa e encontro os olhos azuis
gelo.
Thales me encontrou…
Thales Boseman

Seu cabelo, seu rosto...


Ela está toda suja de lama e seus olhos estão mais mortos do que em
qualquer momento da sua vida.
Eu me ajoelho na sua frente e a puxo para os meus braços, como fiz
quando a encontrei enrolada na casa dos seus pais. Suas mãos lutam para
me afastar, no entanto, não deixo e Eloá quebra em soluços.
— Meu pai morreu, Thales. Dói tanto que não consigo respirar.
Seus olhos verdes me encaram e estão vermelhos.
— Eu vou te segurar, meu amor. Você não estará sozinha e passarei
com você por toda dor.
— Eu te odeio e não te quero perto de mim.
Ela me empurra e a aperto mais forte.
— Não ligo, ficarei mesmo assim.
Ela não é a única a chorar, pois meus olhos vazam em lágrimas.
George era um amigo e a pessoa mais próxima de um pai que já
tive.
— Eu não tenho forças para continuar sem o meu pai, não consegui
dizer adeus.
— Você é forte como ele e irá encontrar forças para continuar, ele
iria querer isso. Eu sinto tanto, Eloá. Seu pai era o mais próximo que tive de
um pai e o decepcionei.
Meu corpo estremece com força e as lágrimas escorrem. Ela levanta
o rosto do meu peito e olha para mim.
— Ele nunca deixou de te amar. Ele via algo bom em você, então
não pensa que o decepcionou.
Não digo nada.
Ficamos em silêncio, lidando com a nossa perda entre lágrimas e
soluço.
Não sei quanto tempo passa, mas a chuva aumenta de intensidade,
nos chicoteando.
— Temos que ir, ou você vai ficar doente — digo e ela se encolhe.
— Não tenho forças — murmura.
Eu a pego em meus braços, me levanto com ela em meu colo e noto
que está mais cheia do que antes.
Caminho até meu carro, faço um esforço para abrir a porta e a
coloco no banco do passageiro. Dou a volta e entro no lado do motorista.
Ela se encolhe no banco com a cabeça entre as pernas, ligo o carro e
o coloco em movimento. Dirijo para o meu antigo apartamento, pois levá-la
para a mansão trará lembranças que não é bom nesse momento.
Quando estaciono o carro na garagem subterrânea, pego Eloá no
colo e a levo para o elevador até o meu apartamento.
Ela não está aqui, pois sua mente está em algum outro lugar.
Dou banho nela e a coloco na cama. Sigo para a cozinha, onde
preparo um chá e coloco algumas gotas de um remédio para ela dormir. É o
remédio que me ajuda a dormir e Eloá precisa dormir um pouco.
Ela bebe o chá, logo seus olhos se fecham e ela adormece. Eu a
embrulho e me sento em um sofá no canto.
— AS CRIANÇAS? ONDE ESTÃO OS MEUS FILHOS?
Sobressalto do sofá com os gritos da Eloá e corro para a cama.
— O que foi?
Seus olhos não encontram os meus, então olha para cada lado da
cama, puxando os cobertores.
— Os meus bebês, onde estão?
Levanto e a seguro em meus braços antes que ela saia do quarto.
— Do que você está falando? Que bebês?
Seus olhos olha para mim, como se tivesse me notado só agora.
— Thales, o que você tá fazendo aqui?
— Eu a encontrei no cemitério. Seu pai, lembra? — falo com
cuidado.
Ela passa a mão pelo cabelo depois olha para seu corpo vestido com
a minha camisa.
— Onde estão as minhas roupas? Eu preciso ir embora, onde mesmo
estamos?
— No meu apartamento, deixa que eu te levo. Vista uma calça
minha de moletom.
Saio para pegar a calça e quando volto, ela não está mais no quarto.
— Puta que pariu! Onde ela foi?
Saio correndo, entro no elevador, torcendo para encontrá-la antes de
chegar na rua.
Porra, Eloá, usa apenas a minha camisa!
Chegando na portaria, pergunto ao porteiro se ele viu uma mulher
sair de camisa e ele fala que não. Sigo de volta para o prédio para ver se a
encontro nas escadas, quando a vejo.
Anda apressadamente para fora do prédio e quando me vê, tenta
correr, mas sou rápido e a alcanço.
— Que diabos você está querendo fazer saindo vestida assim? Eu te
levo.
Ela puxa o braço da minha mão.
— Eu não quero que você os veja e nem chegue perto deles.
Enfurecida, Eloá consegue se desvencilhar e começa a se afastar. Eu
a pego pela cintura, a jogo por cima do ombro ignorando os olhares e sigo
para o estacionamento. Abro o carro e a coloco dentro, travando a porta do
seu lado.
Dou a volta do carro, entro e me sento ao seu lado. Viro para ela que
me olha com raiva estampada no rosto.
— Você poderia fazer o favor de me explicar quem são eles? E, por
que está agindo assim?
Eloá afasta o cabelo do rosto e me olha.
— Você achou mesmo que tinha feito o aborto? Eu não sou um
monstro como você, Thales. Eu tive as crianças e eles são o meu tudo. E
não tente fazer nada, porque sou capaz de tudo pelos meus bebês.
Olho para ela sem dizer uma palavra, tentando processar tudo que
ouvi.
Eu sou pai de bebês?
— Abortar? Você queria?
Eloá ri, mas não é algo feliz, é um sorriso triste.
— Eu nunca quis, mas você sim. Você queria que eu tirasse os
bebês. Como pude me enganar ao seu respeito?
— Como iria querer que você tirasse o bebê se nunca soube da
existência da sua gravidez, Eloá.
Ela balança a cabeça.
— Você está mentindo, eu te ouvi falar, não precisa mentir. Eu ouvi.
Agarro seu rosto.
— Olha nos meus olhos e veja a verdade... Eu não sabia da sua
gravidez. Jesus Cristo, um filho com você era o que sempre quis ter.
Seus olhos me encaram.
— Eu não sabia. Juro por tudo que eu não sabia.
Seus olhos enchem de lágrimas e ela começa a chorar. Afasto o
banco para poder abraçá-la.
— Eu não sabia, acredita em mim, meu amor. — Beijo o topo da sua
cabeça.
— Não posso acreditar em você quando vi o vídeo.
— Qual vídeo? — pergunto confuso.
— O que você estava com a Sabrina. Você me traiu naquela viagem
e quis matar meus bebês.
Eu a afasto para ver a verdade em meu rosto.
— Eu nunca toquei em uma mulher desde que estou com você e
nunca mandaria você fazer isso com o nosso filho, nunca.
— Não precisa mentir mais, não precisa.
— Mas não estou mentindo, me mostra esse vídeo.
— Está em uma gaveta na mansão.
Volto para meu lugar e ligo o carro.
— Vamos para a mansão e você me mostra. — Pelo canto do olho,
vejo que ela coloca o cinto.
A nossa viagem até a mansão é rápida, afinal o AP não é longe.
Entramos na casa, indo direto para o quarto.
A casa não tem ninguém hoje, pois é a folga dos empregados.
Eloá vai até sua gaveta que por esses dois anos está como deixou e
pega um pen drive.
— Onde tem um computador?
— Meu escritório, me siga.
Seguimos para o escritório, ligo o computador e quando ela conecta
o pen drive as imagens que aparecem na tela faz meu estômago revirar. Mas
assisto até o final e compreendo o motivo de Eloá ter ido embora.
— E agora, vai dizer que não é você?
Olho para ela.
— Sim, sou eu.
Ela balança a cabeça como se não pudesse acreditar que afirmei
isso, mas quando vira para sair, contínuo a falar:
— Esse primeiro vídeo foi feito um ano antes de te conhecer. E, por
sinal, esse quarto é do dono da festa. Estava em um evento, encontrei a
Sabrina e acabamos transando.
“Depois disso, ela e a mãe vieram com uma conversa de casamento.
Corri e nunca mais toquei um dedo nela.
“Eu não sabia que ela tinha filmado.
“Acredito eu, que era para fazer algum tipo de chantagem”.
Adianto o vídeo e vou para o outro.
— Esse não faço ideia de onde Sabrina está. No entanto, quando
tive essa conversa com Steven, eu estava com dezenove anos.
“Fazia um ano que tinha saído da escola de meninos e estava
transando com tudo que respirava.
“Acabei transando com uma garota que alegou que estava grávida
de mim. Eu não tinha ninguém e Steven foi algumas vezes me visitar na
escola, por isso fui procurá-lo e foi quem me ajudou.
“Só não entendo o motivo dele ter gravado isso.
“Só para constar, a garota não estava grávida.”
Olho para ela.
— Você acredita em mim, agora? — Vejo a dúvida em seu rosto e
não é por menos.
— Eu não sei, Thales. Em menos de vinte quatro horas passei por
muita coisa.
Suspiro passando a mão pelo cabelo.
— Eu vou provar a minha inocência, mas, por agora, me deixa vê-
los, pelo menos isso. Me deixa ver os meus filhos.
Eloá me olha com suspeita e até acho que ela vai dizer que não,
quando responde:
— Você pode vê-los, mas se fizer qualquer coisa, arranco alguma
parte sua, estamos entendidos?
— Sim, podemos ir.
Ela assente e me levanto da cadeira o mais rápido possível.
Pelo jeito que ela fala, não tenho dúvida que arrancaria uma parte
minha, afinal estamos falando de uma mãe leoa que é capaz de tudo para
proteger seus filhotes.
CAPÍTULO 27
Thales Boseman

Estamos na estrada há pelo menos umas três horas e não falamos


nada, se um alfinete cair podemos escutar.
— Como foi que ele morreu? — Faço a pergunta e não foi para
quebrar o silêncio entre nós, mas desde que soube da morte de George essa
questão não se afastou dos meus pensamentos.
George era saudável e forte.
— Um ataque cardíaco foi a causa da sua morte. Pelo que minha
mãe falou ele não sofreu, estava na sala assistindo um jogo enquanto ela
terminava de se arrumar para sair. Quando ela chegou na sala já o encontrou
sem vida. — Sua voz falha e ela olha para a janela.
— Eu perdi minha mãe quando tinha dez anos, pequeno demais para
saber o significado da sua morte, mas grande o suficiente para sentir sua
falta. — Limpo a garganta. — Não é fácil agora e nem uma palavra que
ouvir vai diminuir sua dor, contudo, com o tempo você vai aprender a se
acostumar com ela.
Ela não diz nada, fica calada por um tempo até que murmura.
— Qual era o seu medo?
Meu rosto molha com as lágrimas que caem e não me importo em
limpar.
Não tenho vergonha em admitir que a morte de George mexeu
muito comigo.
— Esquecer o rosto dela.
Ela se desmancha em lágrimas.
— As crianças não vão conhecê-lo — diz entre soluços.
— Vamos contar a eles o quanto o avô foi o melhor pai e um homem
maravilhoso. Eles irão conhecê-lo através das histórias que contaremos e as
fotos que irão ver. George estará sempre em nosso coração.
Eloá faz um som sofrido, paro o carro no acostamento e a pego em
meu colo. Ela chora e fico com ela em meus braços, sem dizer uma palavra.
Não sei quanto tempo passa quando ela se arrasta para seu banco
sem dizer nada e continuamos a viagem.
Agora entendo o porquê foi difícil encontrá-la, a casa em que vive
não é fácil de achar.
Quando paro o carro em frente à casa que meus filhos estão sinto
como se minha barriga tivesse borboletas.
Nunca estive tão nervoso em toda minha vida como agora.
— Você vai sair? — Eloá pergunta quando percebe que paramos e
não fiz nem um gesto para sair do carro.
Balanço a cabeça.
— Será que eles vão gostar de mim? — O medo de ser rejeitado
pelos meus filhos me mantém no carro.
Pela primeira vez desde que nos encontramos, Eloá sorri.
— Eles são bebês, Thales, estão começando a conhecer as coisas
agora e acredito que vão gostar de você, até porque sua aparência não é
novidade para eles.
Não entendo o que ela quer dizer com isso e não tenho chance para
perguntar, porque no minuto seguinte Eloá sai do carro. Faço o mesmo e a
acompanho até o portão onde ela coloca uma senha que o abre e percebo
que a casa fica um pouco distante.
Caminhamos pela curta estrada e ao alcançar a porta, entramos na
casa. No saguão ela tenta dizer algo quando uma voz interrompe.
— Estava preocupado com você, Eloá. Fui ao cemitério e não a
encontrei… — Ele para de falar quando me vê.
— Thales?
— Pai? O que está fazendo aqui?
Meu pai se aproxima de nós com os olhos suspeitos.
— Eu tive um encontro com seu filho, por isso não vim antes. Onde
estão as crianças? — ela responde enquanto ele que não afasta os olhos de
mim.
— No jardim com Patrícia. Choraram um pouco chamando por
você, acho melhor ir vê-los.
— Obrigada por cuidar deles, Dick. Vou tomar um banho, me trocar
e já encontro com eles — Eloá vira em minha direção e estou com a
sobrancelha erguida.
Ela chamou meu pai de Dick?
Não falo nada porque sei que não é o momento.
— Thales… — ela diz, sendo interrompida por meu pai novamente.
— Vá se cuidar e ver seus filhos que vou ter uma conversa com
Thales, depois nos reunimos.
— Tudo bem. — Ela o abraça e quando se afasta segue por um
corredor, nos deixando a sós.
— Vem, vou te servir uma bebida e então conversamos.
Caminho com ele até o bar onde ele serve nossas bebidas e nos
sentamos no bar.
— Foi você quem a tirou de mim?
Dickson aperta os olhos quando bebe sua bebida calmamente.
— E, por que eu a tiraria de você? — pergunta com ironia.
— Porque você quer sempre me ferrar — rosno.
— Eu nunca quis te ferrar e a única coisa que fiz foi acolher Eloá e
os meus netos. Você ferrou tudo por conta própria.
— Eu já expliquei para ela que não era eu no vídeo, eu nunca faria
aquilo — afirmo revoltado.
— Não, você não faria. O que você faria era amedrontar uma garota
fazendo com que ela se casasse com você. — Faz uma pausa e sinto a raiva
que emana dele.
— Quando essa garota foi me procurar ela estava assustada. Você
não tem ideia do medo que ela tinha de você encontrá-la e forçá-la a tirar o
bebê. Os detetives que você colocou atrás dela, todos a encontraram, no
entanto, paguei para eles dizerem a você que não sabiam de nada. Tenho
dinheiro e poder para isso, Thales.
Meu pai vira o copo ingerindo toda a bebida então se aproxima de
mim, ficando cara a cara.
— Aquela garota perdeu o pai, mas não pensa que ela está sozinha e
poderá ameaçá-la. Você pode ser o lobo, mas não esquece que tudo que
você é, eu sou mil vezes pior. Fui paciente por todos esses anos, mas agora
é diferente. Não vou deixar nada de mal acontecer com ela nem com os
bebês. Eu não te ferrei como acha, mas posso fazer isso se tentar algo
desprezível — Dickson fala com fúria e devoção.
Não tinha visto esse lado do meu pai, protetor. Não tenho ciúmes
dele com a Eloá, porque tá na cara que ele a tem como filha e fico feliz por
ela ter tido ele ao seu lado.
— Obrigado, obrigado por cuidar dela e dos nossos filhos durante
esse tempo.
— Eles são minha família. Você sabe o significado disso?
— Eu sei, pai, George me mostrou isso. Eu errei com Eloá em
muitas coisas, no entanto, tínhamos nos acertado e estávamos felizes
quando alguém armou isso tudo. Eu a amo e queria fazer nosso casamento
ser feliz. Na verdade, ainda quero, porque não teve um dia que deixei de
amar aquela mulher. Eu vou descobrir quem fez tudo isso e fazê-lo pagar
por tudo que nos fez passar. — Empurro a bebida para longe, ficando em
pé. — Vou esperar Eloá na sala.
Para mim, essa conversa já acabou.
— Eu acredito em você, pois sei quando alguém está apaixonado.
Não a decepcione e não deixe ninguém separar vocês, Thales.
— Eu não vou.
Ele assente.
— Vamos até o jardim para conhecer os seus filhos. — Ele ri. —
Lila e London são as crianças mais fofas desse mundo.
— Lila? O nome da mamãe — digo surpreso por Eloá escolher o
nome da minha mãe para a nossa filha.
— Sim, ela sabia o quanto sua mãe queria ter netos e achou que a
primeira neta deveria ter seu nome.
Engulo a emoção, assentindo e o sigo.
Quando entramos no jardim escuto o som de risadas e minhas mãos
suam com cada passo que dou. No fim de uma curva, meus olhos
encontram dois bebês sentados em uma toalha de piquenique e a mulher
que está com eles ri, enquanto eles comem frutas e sujam um ao outro.
— Jesus Cristo, como eles se parecem com Eloá. — Não consigo
afastar meus olhos dos bebês.
— Os olhos são seus — Eloá, murmura ao meu lado.
Estou tão encantado com os bebês que nem vi a Eloá se aproximar.
Em seguida, ela segue para onde os gêmeos estão. Ao vê-la, eles esquecem
as frutas para ir para o colo da mãe e seguram na perna dela.
Lentamente me aproximo deles, agacho na toalha e seus olhos
curiosos me olham, então seus braços se esticam, se oferecendo para mim.
Compreendo o que Eloá falou no carro, que eles não iriam me
estranhar, afinal me pareço muito com meu pai e eles já estão acostumados
com ele.
E mais uma vez, hoje, estou chorando.
Lila beija minha bochecha, babando meu rosto, suas mãos grudadas
puxam meu cabelo, enquanto London bate palmas e pula no meu colo. Rio,
ao mesmo tempo em que as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Viu? Eles adoraram você.
Afasto os olhos dos meus filhos para Eloá que sorri, depois olho ao
redor e percebo que meu pai e a mulher que estava com as crianças não
estão mais aqui.
— Obrigado por me dar esse presente, eu os amos tanto.
Ela assente passando a mão pelo rosto, secando as lágrimas que
escorrem.
Eu sei que eles ainda não conseguem entender, mas digo mesmo
assim, o quanto os amo e o quando me fazem o homem mais feliz nesse
mundo.
Mentalmente, prometo protegê-los de tudo.
CAPÍTULO 28
Eloá Moore

Troco as flores do vaso no túmulo do meu pai.


Três meses se passaram e ainda sinto como se estivesse acabado de
perdê-lo, pois a dor não diminui. Volto para minha mãe que está abatida,
seguro sua mão, fazemos uma oração e voltamos para o carro.
— A senhora quer ir para algum lugar?
Seus olhos estão tristes.
— Não, só me leva para casa.
Queria que ela ficasse comigo, mas minha mãe não aceitou sair da
casa que viveu tantos anos com o meu pai.
— Preciso resolver algumas coisas hoje, a senhora poderia ficar com
as crianças.
Poderia deixar os gêmeos com Patrícia, no entanto, eles trazem
alegria para minha mãe, como agora em que vejo a sombra de um sorriso
em seu rosto.
— Eu amo ficar com eles. Fica tranquila, faz o que tem para fazer e
não se preocupe.
— Obrigada, mãe.
Thales descobriu quem nos separou e vai me levar para encontrar a
pessoa. Já sabemos que Sabrina está envolvida, mas tem mais alguém e ele
sabe quem é.
Deixo minha mãe com as crianças na casa dela e sigo para o
endereço que recebi.

Thales Boseman

Disseram que a traição sempre vem da pessoa próxima a você. E,


sabe por quê?
É mais fácil para ela te trair, porque te conhece bem e sabe que você
nunca vai questionar sua lealdade.
Eu nunca questionei a lealdade de Steven, até ver o vídeo que Eloá
me mostrou alguns meses atrás e ter uma conversa com meu pai.
Um homem que pintei de pior pai e pessoa para todos, não faria o
que ele fez pela mulher que amo. Certamente, ele teria usado isso para me
punir.
Mas meu pai não fez e até vem me ajudando a me aproximar da
Eloá.
Ela permite que eu veja meus filhos, mas não quer conversar
comigo, pois ainda não está certa de que não fiz aquilo que ela viu no vídeo.
— Como você descobriu? — Steven, pergunta do outro lado da
mesa rindo, quando olha para mim, meu pai e Eloá.
— Não foi difícil. Quando ouvimos atentamente o áudio que Eloá
ouviu, sabia quem estava tramando tudo. Aquela conversa eu só tive com
você, Steven. Sabrina não saberia de nada se você não tivesse gravado e
dado a ela.
“Porém, algo que o meu pai falou, me fez perceber que quando
pagamos a pessoa certa, ela pode mentir para nós.
“Contratei outra equipe e mandei investigarem aquele desvio de
dinheiro que você acusou injustamente meu pai.”
Olho para ele, mantendo a minha raiva contida.
— Eles descobriram que o dinheiro estava indo para uma conta sua
e depois quando começaram as investigações, a quantia foi transferida para
a conta que está no nome do meu pai. Você pagou aquela empresa para
mentir e falar que meu pai tinha roubado, seu filho da puta. Para completar,
sei que Sabrina é sua amante. No final, tudo foi se encaixando. Mas o que
não entendo, Steven, é porque você fez tudo isso?
Ele se levanta e vai até o bar, gargalhando.
— Você, seu pai e essa puta abusada são uns imbecis — ele diz
rindo.
Tento chegar até ele quando meu pai me para.
— Não vale a pena sujar a mão com esse monte de merda — meu
pai diz e Eloá segura meu braço, me puxando para ela.
Eu me afasto de Steven para o bem dele e vejo o quanto foi bom
meu pai estar aqui, assim como Eloá, ou já tinha quebrado a cara do filha da
puta, manipulador.
— Acalme-se aí, garoto, que não contei a melhor parte. — Ele bebe
o que serviu e volta para a sua cadeira. — Vou começar pelo começo...
“Conheci sua mãe primeiro que esse filho da puta aí e me apaixonei
por ela no segundo em que coloquei meus olhos nela.
“As coisas estavam indo como eu queria, mas estávamos no último
ano da faculdade quando ela conheceu seu pai.
“Ainda lembro dela me dizendo o quanto o amava e que iria se casar
com ele.
“Fiz de tudo para fazê-la mudar de ideia, mas Lila quando tomava
uma decisão nada a faria voltar atrás.”
Steven morde a boca olhando para o meu pai, furioso.
— ELA ERA MINHA E VOCÊ A TIROU DE MIM! — Ele joga o
copo na parede que se estilhaça, espalhando os cacos pelo chão.
— Ela nunca foi sua — meu pai diz em um grunhido.
— Ela era, mas se casou com você e tiveram esse merdinha que se
acha a porra de um príncipe. Quando ela morreu deixando tudo para vocês,
planejei acabar com tudo junto com minha irmã.
“Para conseguir derrubar um castelo, o primeiro passo é
enfraquecer as colunas.
“O ponto fraco de Dickson era você e o seu era seu papai, então
fazer você o odiar foi a parte mais divertida do que fiz.”
Steven ri como se estivesse contando uma piada.
— Lembra quando a minha irmã te convenceu a mandar Thales para
uma escola de garotos, Dickson? Ele tinha acabado de perder a mãe e a
escola faria bem para o amadurecimento dele e seu.
Olho para meu pai, sem entender.
— Quem te a aconselhou a me mandar para uma escola de meninos?
Antes que meu pai responda, uma voz responde atrás de nós:
— Fui eu, eu o aconselhei.
Viramos na direção do som e a mulher entra no escritório de Steven,
revelando sua identidade.
— Ruth? — Eloá e eu falamos em uníssono.
Ela ri e caminha até ficar ao lado de Steven.
— Você sabia que eles eram irmãos? — pergunto para meu pai que
balança a cabeça negativamente.
— Não, eu não sabia. Mas pensando bem, foi ele quem a indicou
para Lila.
— Temos sobrenomes diferentes, afinal temos a mesma mãe, mas os
pais são diferentes — Ruth diz.
— Ruth, você faz parte disso? — O espanto na minha voz, faz a
mulher gargalhar.
— Claro que faço. Você achou mesmo que gostava de limpar suas
merdas? Tudo que Steven fez foi com a minha ajuda.
— Mana, me deixa terminar de contar a eles tudo, estou adorando
ver suas caras de” aaah, como não vi isso antes”, simples somos espertos.
Eles riem.
— Voltando aonde estava...
“Era eu quem fodia a diretora da sua escola. Dava um dinheiro para
ela falar para você que seu pai não foi te ver e dizer a ele que você não
queria vê-lo.
“Por anos, eu mantive isso e quando você saiu de lá odiava seu pai
como planejei. Então, eu poderia ficar à frente da empresa, porque você me
colocaria e conseguiria acabar com tudo.
“Mas Lila mesmo morta protegeu os seus bens, não deixando
ninguém que não carregasse o sangue Boseman tomar conta da empresa.”
Ele segura a mão de Ruth.
— Então minha irmã deu a ideia de quebrar a empresa por dentro,
desviando dinheiro. O problema é que os acionistas começaram a
desconfiar e iriam procurar seu pai.
Mas me antecipei, fui atrás de você e o convenci a tomar a frente da
empresa.
“Você é a porra de um bad boy e imaginei que não ficaria à frente da
empresa. Até tentei persuadi-lo a me deixar tomar conta, mas você não quis.
“Então voltei para o plano inicial que era desviar dinheiro, mas
agora bem embaixo do seu nariz.
“Só que essa puta ficou grávida e Ruth ouviu quando ela falou para
seus pais sobre a gravidez.”
Eloá olha para Ruth magoada, mas não o quanto que eu.
— Esses bastardos vieram no momento perfeito. Você estava
completamente apaixonado por ela e essa tonta por você.
“Sabrina tinha um vídeo de vocês e eu a gravação de quando foi
pedir minha ajuda. Fizemos uma montagem com o vídeo e o áudio,
colocamos em uma caixa de som e tudo foi perfeito.
“Você ficou com o coração quebrado, tirou a atenção da empresa e
conseguimos o que queríamos, falir a empresa.
“Eu sei que vocês tem bilhões em suas contas, mas aquela empresa
vou fazê-la virar pó.
“E aí gostaram da história?”
Eles olham para nós rindo e encolho meus olhos.
— Então, doutor Morgan, gostou da história de Steven e da sua
cúmplice?
Uma equipe de policiais e o delegado entram na sala enquanto os
olhos de Steven e de Ruth aumentam de tamanho.
— Uma boa história que eles vão contar na prisão. Você, Steven e
Ruth estão presos por crimes de furto, apropriação indevida e por
divulgação de conteúdo íntimo.
— Doutor Morgan, tenho mais acusações a fazer contra esses dois,
depois irei à delegacia com meu advogado — digo ao ver os dois sendo
presos.
Ruth implora para que eu a ajude.
— Hora de irmos — meu pai fala.
Pego Eloá e saímos da casa do Steven.
Na garagem, meu pai entra no seu carro dizendo que vai nos esperar
na sua casa, entro no carro de Eloá e ela nos leva para a casa do meu pai.
Chegando lá, o encontro no bar bebendo algo, e em passos largos
me aproximo dele, o abraçando.
— Me perdoa por tudo que falei, pai.
Ele dá uma batida nas minhas costas.
— Não tem o que te perdoar quando eu também errei em ter
mandado para aquele colégio. Pessoas ruins nos separaram, meu filho, mas
agora estamos juntos e vamos ser uma grande família.
— Sim, quero ter mais tempo com o senhor.
Ele sorri.
— Eu adoraria. Quero que saiba que não irei deixar a empresa da
sua mãe acabar.
— Vamos trabalhar juntos, pai. Nós dois vamos reerguê-la.
— Vamos.
Meu pai olha para atrás de mim, sigo seu olhar e vejo Eloá nos
observando.
— Vou deixar vocês dois conversarem, depois falamos mais — ele
diz sorrindo.
Concordo e ele vai para algum canto da casa.
Eu me aproximo dela, pego sua mão e levo para o sofá.
— Você falou a verdade — ela comenta.
— Sim, não menti para você. Eu te amo demais, no entanto, nosso
relacionamento começou do jeito errado. Eu nunca a deixei ter uma escolha,
mas agora… — Sorrio. — Estou te dando a escolha de ficar comigo. Eu te
amo e o amor é liberdade. Você está livre, Eloá, só peço que me permita ver
os meus filhos e dar o meu sobrenome a eles. — Com a garganta fechada
me levanto, dou um beijo no topo da sua cabeça e então me afasto dela.
Cada passo que dou é mais difícil que o outro, contudo, é preciso.
Meu pai estava certo quando falou que a amedrontei e a prendi.
Agora é hora dela voar, mesmo que seja sem mim.
— E é assim? Você vai embora sem deixar eu falar?
Paro na porta do meu carro, virando para encontrar com ela que vem
correndo e se joga em meus braços. Suas pernas em volta da minha cintura
e sua boca rouba um beijo meu.
Quando nos afastamos, ela diz:
— Eu te amo e estou escolhendo ficar com você para o resto das
nossas vidas. Você topa, senhor Boseman?
— Sim, sim, meu amor.
Bocas se encontram em beijos cheios de saudade e paixão.
Entramos de volta para a casa e não sei dizer como chegamos até o
quarto de Eloá. Mas quando dou por mim, estamos na sua cama, nus.
Paro para contemplar seu corpo, sua barriga tem a marca que foi
esticada por nossos bebês, seus seios estão maiores e ao redor dos mamilos
estrias.
Ela está tão diferente.
— Você é a mulher mais perfeita que já vi, o meu anjo de olhos
verdes.
Ela ri.
— E você é o meu príncipe de olhos azuis gelo.
A cabeça do meu pau encontra sua entrada úmida e com um leve
empurrão, o mergulho no seu calor.
Meu corpo paira sobre ela e a beijo, no mesmo momento em que
ganho espaço no seu corpo. Faço amor com Eloá do jeito que imaginei que
faria por todos esses dois anos.
Quando chegamos ao nosso clímax, a seguro nos meus braços.
— Você não usou camisinha e não estou tomando nada — diz
depois de um tempo que estamos enrolados.
— Eu ficaria feliz de ter colocado mais dois bebês aí dentro.
Ela levanta a cabeça do meu peito com os olhos arregalados.
— Você enlouqueceu? Lila e London são pequenos para ter irmãos.
Viro nosso corpo colocando Eloá por cima.
— Ah, já que é assim, vamos só praticar.
— Vamos.
Eloá movimenta o quadril, me tendo onde ela quer. Agarro em cada
lado da sua cintura quando fazemos amor e prometo passar dias conectado a
minha mulher.
Eloá Moore

Cinco anos mais tarde...

Entro na cozinha sentindo o aroma do bolo de chocolate, quando


Michael me vê e sorri.
— Acabei de rechear o bolo, Patrícia já leva.
— Já estou indo para a piscina mesmo, deixa que eu levo, Michael.
Deixa um pouco dessa cozinha e aproveita o dia na piscina com a gente.
— Prefiro ficar aqui, vou criar uma nova receita.
— Tudo bem. — Pego o bolo e saio da cozinha.
Voltei a morar na mansão e trouxe os meus amigos para trabalhar
aqui. Thales demitiu Chris e Verônica, afinal foi Ruth que os tinham
contratados e ficamos com medo dela algum momento sair da prisão e vim
fazer algo a nós. Sabemos que os dois tem um carinho por ela que pode usar
isso ao seu favor. Por isso, foi melhor contratar pessoas novas.
Dick e minha mãe vieram morar com a gente, não queria deixá-la
sozinha, principalmente quando a distância é de três horas de carro. Não foi
fácil convencê-la a vir morar comigo, mas usei os gêmeos para convencê-la.
Dick e meu marido se aproximaram e juntos salvaram a empresa Boseman
da falência. Então, dia após dia, durante esses anos, os dois voltaram a ser
pai e filho.
Eles são tão parecidos.
Fiquei muito feliz deles terem retomado a relação de pai e filho.
Chego no quintal, coloco o bolo na mesa, grito para as crianças que
estão na piscina e eles vêm correndo.
— ETHAN, SEGURA SEU IRMÃO PARA ELE NÃO CAIR —
minha amiga grita para as crianças que correm quase derrubando o
pequeno, Enzo.
Scarlett e Joseph tiveram mais um garoto que agora está com três
aninhos.
Nos reunimos todo fim de semana na piscina, virou um costume
nosso. Deixando do jeito que Dick falava sobre Lila querer ver essa mansão
cheia de crianças, risos e felicidade.
As crianças seguem para a mesa onde meu marido, Scarlett e Joseph
estão.
— Michael, os mimam de mais — Scarlett diz.
— Logo ele aparece ou manda a Patrícia vir com alguma guloseima
— comento e Thales me puxa para seu colo.
— Devemos fazer mais bebês, Eloá.
Reviro os olhos.
— É o que eu falo para a Scarlett — Joseph diz olhando para a
esposa.
— Vocês não querem ter bebês, vocês querem praticar fazer bebês
— minha amiga fala, fazendo todos rirem.
— Papai, papai! — Lila vem correndo chorando.
Ela é muito apegada ao Thales, já London é apegado a mim. Saio do
seu colo para nossa filha se sentar.
— O que foi, meu amor? Por que está chorando?
Quando ele age assim com ela, me lembro do meu pai e olho para
minha mãe que está em uma mesa afastada, fazendo tricô com Dick ao seu
lado. Eles se tornaram grandes amigos e, acredito eu, os dois dividem a
mesma dor de ter perdido sua alma gêmea.
Ela acena com a cabeça, como se compreendesse que estou me
lembrando do meu pai.
— Ethan falou que não vai casar comigo porque sou uma pirralha
chata. — Ela chora ainda mais e Joseph se aproxima dela.
— Garotos são um pouco burros, não dê atenção ao Ethan.
Lila faz biquinho enterrando o rosto no pescoço do pai que está com
o semblante aborrecido.
— Minha princesa não vai se casar, ela vai para um colégio de
meninas, ou então para o convento.
Ela sai do colo do pai batendo o pé.
— Eu quero me casar com o Ethan, ele é o meu príncipe.
— Ele não é o seu príncipe — Thales diz.
— É sim, papai.
Os dois se encaram e em seguida Thales fuzila Joseph que ri.
— Deixa seu filho longe da minha princesa.
— Relaxa, meu amigo.
— Relaxa? Não vou te dar uma resposta apropriada só porque tem
crianças aqui. — Olha com carinho para a Lila e diz: — Vai brincar,
princesa, e deixamos para ter essa conversa depois. Mas brinca bem longe
de Ethan.
Rimos quando Lila se afasta correndo.
— Além de amigos vamos ser parentes, Thales — Joseph diz e meu
marido faz menção de se levantar, porém, me sento em seu colo, o parando.
— Joseph só quer te provocar, meu amor. — Beijo sua bochecha e
sussurro no seu ouvido a maneira que vamos praticar fazer bebês.
Scarlett dá uma piscadela e compartilhamos um sorriso.
Eu nunca estive tão feliz como estou com a minha família e a única
pessoa que falta para essa felicidade estar completa é o meu pai.
Mas eu sei que de onde ele estiver estará olhando por nós.
Thales e eu falamos para os nossos filhos sobre o avô, pois jamais o
esqueceremos.
Olho para a minha família unida e só posso agradecer a Deus por
essa benção.

FIM.
Olha eu outra vez aqui, meus amores.
Gente, o que tenho para falar dessa duologia que é
MARAVILHOSAAAA?
Que simplesmente amei escrever a história desses dois casais, cada
um com seu encanto.
Tenho que confessar que a história da Eloá e Thales veio quando
estava escrevendo o capítulo dela com Scarlett na casa noturna.
Ali foi que dona Eloá veio com tudo.
Confesso que pensei em deixar o livro “O bebê do Bilionário” para
escrever, “A noiva do bilionário”, no entanto, o livro de Scarlett e Joseph
tinha que ser o primeiro.
O que tenho a dizer é que estou imensamente feliz em entregar esse
livro para vocês e fechar essa duologia maravilhosa.
Depois me digam o que acharam do plot twitter?
Podem vir no meu Direct que vou adorar responder a todos.
Vamos aos agradecimentos...
Agradeço a Deus e a minha santinha, Nossa Senhora Aparecida, que
me dão forças todos os dias.
Aos meus filhos.
As minhas amadas leitoras que surtam junto comigo em cada livro e
espero ter conseguido dar nessa história o que vocês esperavam.
E vou dar o crédito a minha amiga e revisora, Letícia, essa mulher é
mais que uma revisora, ela é a pessoa que está comigo na criação da
história. Se tenho a ideia falo para ela que me escuta e dá conselhos
valiosos.
Obrigada, Lê.
Gente, beijos da Diih e até logo suas lindonas.
Amo todas vocês.
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SOBRE A AUTORA

Edilene P Silva é uma jovem escritora brasileira nascida na Bahia.


Afrodescendente, atualmente mora em São Paulo e é mãe de duas crianças
que são a verdadeira razão por ela se esforçar todos os dias para sempre
melhorar. Sagitariana, imagina como deve ser a pessoa (risos).
Escreve desde a adolescência quando descobriu a vocação para a
escrita, em 2015, lançou seu primeiro livro, Aaron, e foi aí que se viu
escrevendo histórias românticas carregadas de certo erotismo, mas que
retratam a realidade da sexualidade humana.

[1]
Quando Scarlett, se referiu a DJ, ela quis dizer que Eloá estava se masturbando no banheiro.

[2]
A expressão francesa ménage à trois se refere a uma relação erótica e afetiva que envolve três
pessoas.
[3]
Kink ou perversidade é o uso de práticas, conceitos ou fantasias sexuais não convencionais,
desviantes ou peculiares. O termo deriva da ideia de uma "curvatura" no comportamento sexual de
alguém, para contrastar esse comportamento com os costumes e as tendências sexuais "regulares" ou
"baunilhas". É, portanto, um termo coloquial para comportamento sexual não normativo.

[4]
Palavra de segurança qualquer que seja a prática de BDSM deve ter consenso então após usar a
palavra de segurança a outra pessoa deve parar imediatamente.

[5]
Shibari é uma técnica japonesa de amarração com cordas.
[6]
Boca de lobo é como alguns chamam a forma de pegar a corda no meio e fazer um laço.

[7]
Os praticantes conhecem estes momentos de reação do corpo e mente como rope space.
[8]
Durante a prática de Shibari pode resultar em um aumento dos níveis de diferente hormônio,
como a dopamina e endorfinas, criando uma espécie de transe.
[9]
No século 15, o termo “barbeiro” era atribuído a atividades mal executadas. Com o tempo, passou
a ser relacionado aos motoristas. Daí a expressão “motorista barbeiro”, ou seja, mau motorista.
[10]
É um personagem fictício da série animada de televisão, Bob esponja.
[11]
Os gatilhos emocionais podem ser pessoas, palavras, opiniões ou situações que desencadeiam
uma reação emocional intensa e excessiva dentro de nós. Entre as emoções mais corriqueiras quando
um gatilho é desencadeado estão raiva, tristeza, ansiedade e medo.

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